Correção final monografia 09-06-2009_2 - BVS Homeopatia

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Correção final monografia 09-06-2009_2 - BVS Homeopatia
MONICA LUISA RAPP SCHMIDT
HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA
SÃO PAULO
2008
MONICA LUISA RAPP SCHMIDT
HOMEOPATIA, UMA PROPOSTA TERAPÊUTICA PARA A DISLEXIA
Monografia apresentada como quesito à
conclusão do Curso de Homeopatia do
Instituto de Cultura Homeopática (ICEH
Escola de Homeopatia) para Médicos, orientada
pela Profª. Dra. Maísa Misiara.
SÃO PAULO
2008
Dedico esse trabalho a todos os Disléxicos. Que
nós, médicos homeopatas, possamos ajudá-los a
alcançar os mais elevados objetivos de suas
existências.
III
AGRADECIMENTOS
Agradeço a toda equipe do Instituto de Cultura Homeopático que ao longo do curso
foi fundamental para a minha formação.
À minha orientadora, médica e amiga, Maísa Misiara, pelo seu apoio incondicional.
Aos meus pais, Hans e Ursula, por me ensinarem as primeiras lições da vida.
Ao meu marido Fabio, agradeço por todas as vezes que me apoiou, por toda a
verdade que me fez enxergar e por toda a alegria que trouxe para a minha vida.
Meu mundo é um lugar melhor por sua causa.
Ao meu filho Mauricio, razão desse trabalho, agradeço por podermos compartilhar
essa experiência juntos, aprendendo juntos o significado da palavra superação.
IV
RESUMO
Dislexia é uma dificuldade de aprendizagem de origem neurológica, caracterizada
pela dificuldade ao decodificar e soletrar as palavras. Essas dificuldades resultam
tipicamente do déficit no componente fonológico da linguagem que é inesperada em
relação a outras habilidades cognitivas consideradas no grupo de mesma faixa
etária. Segundo a Associação Brasileira de Dislexia, 5-17% da população mundial é
disléxica. A maior parte desses disléxicos se encontra à margem da nossa
sociedade, cujo aprendizado é baseado na escrita e leitura.
A ausência do
diagnóstico correto e tratamento adequado resultam na alta correlação entre Dislexia
e Depressão, Distúrbios da Ansiedade, Transtorno de Déficit de Atenção, Enurese
noturna e Encoprese, presentes com freqüência nos Disléxicos. O médico
homeopata, pela natureza de sua atividade e pela proposta da medicina que pratica,
reúne condições para o diagnóstico desta disfunção.
Mas para isto deve estar
preparado para o adequado reconhecimento dos sintomas, segundo a sua
ocorrência no tempo. Não é infreqüente, na anamnese homeopática, a valorização
dos sintomas relacionados às comorbidades. Neste trabalho mostramos a relevância
do reconhecimento, diagnóstico e tratamento da Dislexia na infância e na idade
adulta. Baseados nas evidências científicas atuais, verificamos a dificuldade de se
obter na anamnese os sintomas primários de dificuldade da escrita e leitura.
Através da análise do caso clínico, mostramos como o tratamento homeopático pode
ser eficaz na melhora/cura de sintomas disléxicos. Não existe na literatura nenhum
tratamento para Dislexia que tenha sido tão eficaz, rápido e não exaustivo. Pelo
exposto acima sugerimos a homeopatia como uma proposta terapêutica a ser
considerada na abordagem da Dislexia.
V
SUMARIO
INTRODUÇÃO..............................................................................
07
Material e métodos........................................................................
09
HISTÓRICO...................................................................................
10
EPIDEMIOLOGIA..........................................................................
15
FISIOPATOLOGIA........................................................................
17
DIAGNÓSTICO ANATOMICO-FUNCIONAL...............................
22
DIAGNÓSTICO CLÍNICO.............................................................
31
COMORBIDADES........................................................................
39
TRATAMENTO.............................................................................
41
Programa de leitura.......................................................................
41
Acomodações................................................................................
42
DISLEXIA E HOMEOPATIA.........................................................
48
CONCLUSÃO................................................................................
66
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................
68
INTRODUÇÃO
A leitura é frequentemente a chave para a realização dos sonhos que um pai
tem para seu filho. Já muito cedo, as crianças são monitoradas, e seu futuro com
freqüência se determina no ambiente escolar. Na sala de aula, a leitura é
fundamental e essencial para o sucesso acadêmico. Os problemas de leitura têm
conseqüências para um indivíduo em todo o seu desenvolvimento, inclusive na vida
adulta. Por isso é tão importante identificar a Dislexia com precisão e precocemente,
tomando as atitudes adequadas para que a criança aprenda e goste de ler.
A maioria das crianças deseja aprender a ler e, de fato, o fazem rapidamente.
Para as crianças disléxicas, contudo, esta experiência é muito diferente. A leitura,
que outras crianças atingem sem esforço nenhum, é algo além de seu alcance.
Existem várias propostas para melhor definir a Dislexia. Dentre elas, a de maior
aceitação no nosso meio é a da “International Dyslexia Association (2002)”:
“Dislexia é uma dificuldade de aprendizagem de origem neurológica. É caracterizada
pela dificuldade no reconhecimento e fluência corretos e por dificuldade na
decodificação e soletração. Essas dificuldades resultam tipicamente do déficit no
componente fonológico da linguagem que é inesperada em relação a outras
habilidades cognitivas consideradas no grupo (faixa etária).”
Para a Dra. Sally Shaywitz, neurocientista, pesquisadora, co-diretora do
Centro de Estudos do Aprendizado e da Atenção da Yale University e Membro do
Painel Nacional de Leitura dos Estados Unidos, que há mais de 20 anos vem se
dedicando ao estudo da Dislexia, pode-se suspeitar de Dislexia “em toda criança
que tem grande capacidade de expressar-se verbalmente, que é muito inteligente e
curiosa, mas não consegue ler e escrever como seria esperado para a sua idade”.
Tão nocivo quanto qualquer vírus que ameaçam tecidos e órgãos, a Dislexia
pode infiltrar-se em todos os aspectos da vida de uma pessoa. Era frequentemente
descrita como uma incapacidade oculta, pois não havia evidencias de lesões
estruturais. Na verdade, a Dislexia, só se oculta àqueles que não têm que viver com
ela e sofrer seus efeitos. No passado, as dificuldades de leitura eram entendidas
como parte de um processo sindrômico, com múltiplas possíveis causas e sem
possibilidade de caracterização de nenhum processo em especial.
Este fato ocorria pelo pouco entendimento dos processos de leitura e pelos
métodos diagnósticos, ainda não tão desenvolvidos. Atualmente já existem
instrumentos suficientes para se estabelecer o diagnóstico de Dislexia. Este
diagnóstico está baseado em uma avaliação multidisciplinar. Esta compreende
testes de leitura, de compreensão, de inteligência e avaliação psicológica. Além
destes testes são necessárias a avaliação oftalmológica e fonoaudiológica com
avaliação do processamento visual e auditivo, respectivamente. Recentemente, ao
se utilizar a Ressonância Nuclear Magnética Funcional, podem-se visualizar as
áreas cerebrais ativadas pela leitura. Nos disléxicos foi observado a não ativação
esperada das áreas próprias referentes à leitura. Este fato possibilita o diagnóstico
topográfico, portanto é possível localizar a manifestação da Dislexia no Sistema
Nervoso Central.
A Dislexia é um distúrbio complexo que tem suas raízes nos mesmos
sistemas cerebrais que permitem ao homem entender e expressar-se pela
linguagem. Por este motivo é entendida como um distúrbio de linguagem.
Hoje sabemos que 5 a 17% da população mundial são disléxicas1. Nos Estados
Unidos, segundo a pesquisadora Sally Shaywitz, da Universidade de Yale, uma em
cada cinco crianças, é disléxica2, o que nos leva a conclusão de que a Dislexia é
uma condição de alta prevalência.
Na literatura homeopática não encontramos estudos publicados sobre esse
tema. A literatura médica é rica na descrição de outros distúrbios de aprendizagem
menos frequentes, como o Transtorno de Déficit de Atenção, pois para esta
condição está disponível tratamento alopático. Temos nas Matérias Médicas
Homeopáticas uma grande variedade de medicamentos que apresentam sintomas
de dificuldade de leitura e escrita/sintomas disléxicos. Certamente atendemos
pacientes disléxicos em nossos ambulatórios e consultórios. Muitos desses devem
apresentar a melhora ou a cura dos sintomas de dificuldade de leitura e escrita com
o tratamento homeopático. Não encontramos, até o presente momento, estudos
científicos demonstrando a possibilidade de melhora dos sintomas disléxicos com a
intervenção medicamentosa exclusiva.
Propomos com esse trabalho, o início de uma linha de pesquisa.
Material e métodos
Nosso trabalho baseou-se no levantamento bibliográfico e no estudo de um
caso diagnosticado como Déficit de atenção e distúrbio de hiperatividade publicado
em 2004, em uma monografia de conclusão de curso de Homeopatia3.
Iniciamos com o levantamento da literatura especializada sobre a doença e os
tratamentos convencionais. Pesquisamos através da BIREME e na Web, livros texto
e artigos sobre o assunto. Procedemos à tradução e a leitura minuciosa deste
material, buscando um aprofundamento de nossos conhecimentos sobre a definição
da doença, suas formas de apresentação e seu tratamento convencional.
Prosseguimos com a análise de um caso, de uma criança de 11 anos, do sexo
masculino, com diagnóstico de Déficit de Atenção e Hiperatividade, seguido no
consultório pediátrico da Escola Paulista de Homeopatia, de maio 2003 a outubro de
2003. Procedemos a re-análise do caso clínico, com base nos conhecimentos sobre
Dislexia.
HISTÓRICO
O caso mais antigo de dislexia foi relatado por um médico alemão, Dr.Johann
Schmidt, em 1676.
O Dr. Johann publicou suas observações sobre Nicholas
Cambier, homem de 65 anos que havia perdido a capacidade de ler, depois de um
derrame. À medida que o conceito evoluía, surgiam casos na literatura médica que
descreviam homens e mulheres, como Cambier, que liam normalmente e após um
derrame, tumor ou lesão traumática, perderam a capacidade de ler, condição
chamada de alexia adquirida.
Em 1877, Dr. Adolf Kussmaul deu-se conta que poderia existir uma total
cegueira para textos, apesar da visão, o intelecto e a fala estarem intactos. Fato que
o Dr. Kussmaul deu o nome de “ Wortblindheit” (cegueira verbal).
Uma monogarfia “Eine Besondere Art der Blindheit”, escrita por Dr. Rudolf
Berlin em 1887, apresentava seis casos que ele próprio acompanhou. Dr. Berlin
usou pela primeira vez o termo Dislexia para o que considerava uma forma especial
de cegueira verbal em adultos que perderam a capacidade de ler depois de uma
determinada lesão cerebral. Ele definiu que se a lesão fosse total, seguia-se uma
incapacidade absoluta de leitura, a alexia adquirida. Caso o problema fosse apenas
parcial, poderia haver apenas uma grande dificuldade em interpretar símbolos
escritos e impressos.
Na edição de 21 de dezembro de 1895 foi publicado no “The Lancet” o seguinte
relato do Dr. Hinshelwood4 sobre o caso de um senhor de 58 anos, de nível de
escolarização elevado, professor de francês e de alemão:
Em uma determinada manhã descobriu que não conseguia ler o exercício de francês
que um aluno lhe dera para corrigir. No dia anterior, ele havia lido e corrigido os
exercícios normalmente. Profundamente intrigado... e chamando a sua mulher,
perguntou-lhe se ela conseguia ler o exercício, o que ela fez sem a menor
dificuldade. Depois ele pegou um livro para ver se conseguia ler e descobriu que não
conseguia ler uma palavra sequer. Ficou nessa condição até o dia em que fui vê-lo.
Ao examinar sua acuidade visual com os caracteres tipográficos utilizados para
testes, descobri que ele não conseguia ler nem as letras nos maiores tipos
disponíveis. Disse-me que podia ver todas as letras com clareza, mas não conseguia
me dizer o que elas significavam... Descobri mais tarde, ao examiná-lo com
números, que ele não tinha a menor dificuldade em lê-los, sem cometer qualquer
espécie de erro. Ele conseguia ler os números impressos na escala Jaeger No 1, a
menor dos tipos utilizados nos testes. Com base em outros testes, ficou evidente que
não havia nenhuma perda na acuidade visual... Depois de observado muito
cuidadosamente, nenhum problema mental foi constatado. (Morgan, 1986)
O relato sobre a ‘cegueira verbal adquirida’, publicado pelo Dr. James
Hinshelwood, oftalmologista em Glasgow, desencadeou o artigo subseqüente do Dr.
Morgan.
Por volta de 1896 o Dr. W. Pringle Morgan, de Seaford foi o primeiro a
considerar o uso do termo “cegueira verbal congênita” (o termo Dislexia ainda não
era usado de maneira corrente) como uma disfunção de desenvolvimento que ocorre
em crianças saudáveis.
No dia 7 de novembro 1896 o Dr. W. Pringle Morgan5 publicou o seguinte relato
no British Medical Journal:
Percy sempre foi um menino brilhante e inteligente, rápido nos jogos e em nenhum
aspecto inferior aos colegas da mesma idade. Sua grande dificuldade foi – e
permanece – sua incapacidade de ler. Está na escola ou sob a supervisão de alguém
desde os 7 anos, e muito tem sido feito para ensiná-lo a ler, mas, apesar do
treinamento trabalhoso e persistente, é só com dificuldade que ele consegue soletrar
palavras de uma sílaba... Depois testei sua capacidade de leitura de números e
descobri que fazia tudo com facilidade. Ele diz gostar de aritmética e não ter
dificuldades com ela, mas que palavras impressas ou escritas ‘não tem significado
para ele’, e o exame que fiz com ele me convenceu que sua opinião é correta... Ele
tem o que Adolf Kussmaul (neurologista alemão) chamou de cegueira verbal. Eu
poderia acrescentar que o menino é esperto e de inteligência média em seus
diálogos. Seus olhos são normais...e sua visão é boa. O professor que lhe ensinou
durante alguns anos diz que ele seria o menino mais bem preparado da escola se o
ensino fosse totalmente oral. (Percy, 1896)
É fácil inferir o quanto Morgan, depois de ler o relato de Hinshelwood, ficou
empolgado quando encontrou a mesma série de sintomas e descobertas em seu
jovem paciente. Embora o relato de Hinshelwood se refira a um adulto que antes lia
perfeitamente, as similaridades entre as dificuldades experimentadas por Percy, que
jamais havia aprendido a ler, e o paciente de Hinshelwood eram impressionantes.
Ambos tinham os sintomas de “cegueira verbal” e não eram capazes de ler, mas,
como Morgan e Hinshelwood enfatizam, podiam ler números e realizar cálculos
mentalmente sem qualquer hesitação.
O atento relato de Morgan desencadeou grande número de novas publicações
descrevendo casos similares vivenciados por outros médicos, quase que
exclusivamente cirurgiões oculares, e em sua grande maioria na Grã-Bretanha, mas
também da Europa, da América do Sul e, finalmente, dos Estados Unidos.
Hinshelwood passou então a se dedicar à cegueira verbal congênita e após
anos de estudo e publicar vários casos, passou a defender a urgente necessidade
de uma identificação prematura das crianças com “cegueira verbal congênita”6.
É uma questão de maior importância identificar tão cedo quanto possível a verdadeira
natureza deste problema, quando uma criança o tem, pois isso ajudará muito a não
perder o nosso precioso tempo e impedir que a criança passe por um tratamento
cruel. Quando uma criança manifesta grande dificuldade em aprender a ler e não
consegue acompanhar seus colegas, a causa é geralmente atribuída à burrice ou
preguiça, e nenhum método sistemático é aplicado no treinamento dela. Um pouco
de conhecimento e uma análise do caso em pouco tempo deixaria claro que a
dificuldade se deve a um defeito na memória visual que se tem das palavras e das
letras; a criança seria assim avaliada corretamente como alguém que tem um defeito
congênito em uma determinada área do cérebro, um defeito que ,contudo, pode ser
tratado com perseverança e persistência. Quanto mais cedo se identifica a natureza
do problema, maiores são as chances de a criança melhorar ... (Hinshelwood, 1902)
A Dislexia passou a ser cada vez mais percebida e relatada não apenas por
médicos da Grã-Bretanha, mas também da Holanda (1903), da Alemanha (1903) e
da França (1906). A consciência do distúrbio logo atravessou o Atlântico até a
América do Sul (Buenos Aires, 1903) e depois os Estados Unidos. No ano de 1909,
o Dr. E. Bosworth McCready, um médico de Pittsburgh descreveu 41 casos de
Dislexia e observou a associação paradoxal entre Dislexia, Criatividade e
Superioridade Intelectual. Psicólogos e educadores do início do século deram pouca
importância aos distúrbios específicos da linguagem, concentrando-se no aspecto
pedagógico da questão. Paralelo a isto, classe médica negligenciava o problema na
sala de aula, o que contribuía para estabelecer uma grande lacuna entre a
recuperação das crianças e o seu problema.
Em 1925, teve inicio em Iowa, uma pesquisa sobre os motivos de se
encaminharem crianças para unidades de saúde mental. A dificuldade de ler,
escrever e soletrar surgiu como uma das principais causas.
Foi então que surgiu, como um grande interessado no campo do distúrbio do
aprendizado, Dr. Samuel Orton, psiquiatra, neuroanatomista, que fez vários estudos
post-mortem em cérebros humanos. Orton propôs várias hipóteses para a ocorrência
da Dislexia, bem como vários procedimentos para a redução das suas dificuldades.
Em continuação aos estudos de Orton, que atribuía a causa do problema a
distúrbios de dominância lateral, encontramos Penfield e Roberts (1959), Zangwill
(1960), Sperry (1964), Masland (1967), Miklebust (1954-71) e atualmente Alberta
Galaburda, que descreveu a Dislexia de forma mais complexa.
Em 1983, teve início na faculdade de Yale, o primeiro estudo longitudinal
prospectivo sobre Dislexia: Connecticut Longitudinal Study7. Esse estudo é
coordenado até hoje pela Dr. Sally Shaywitz. Nesse estudo foram selecionadas
crianças que estavam na pré-escola, em 24 escolas públicas aleatoriamente
escolhidas no estado de Connecticut. Especialistas em estatística acompanharam o
desenho e a execução desse estudo.
Nesse estudo cada criança passou
individualmente por um teste de leitura e por um teste de inteligência. Usando essa
metodologia, demonstrou-se que 20% das crianças estavam lendo em nível inferior
à sua idade, série ou capacidade. Constatou-se também, que menos de um terço
das crianças que estavam lendo em um nível inferior à sua idade haviam sido
identificadas pelas escolas. Os participantes desse estudo têm sido monitorados até
hoje.
Em 2006 teve inicio na Europa, o Neurodys8 estudo longitudinal prospectivo,
com a participação de 9 (nove) países europeus. Os primeiros resultados desse
estudo serão divulgados em 2009.
EPIDEMIOLOGIA
Segundo a Associação Brasileira de Dislexia, de 5 a 17% da população mundial
é disléxica1. A grande variação nos números da prevalência pode ser explicada pela
particular natureza do diagnóstico da Dislexia. Embora tenha base biológica, a
Dislexia se expressa no contexto da sala de aula, o que faz com que sua
identificação dependa de procedimentos escolares. Portanto, para que se possa ter
uma idéia verdadeira da prevalência da Dislexia é necessária à existência de um
sistema educacional atento, com professores instruídos para o auxílio e diagnóstico.
Como sabemos esta não é a condição observada em uma série de países, incluindo
o Brasil, portanto encontramos uma notória sub-identificação das crianças com
dificuldade de leitura. Este fato é especialmente preocupante, pois, mesmo quando a
escola realiza a identificação da criança que apresenta problemas, tal identificação
ocorre relativamente tarde, na 3ª ou 4ª série, depois da melhor idade para a
intervenção. Além deste fato, outros fatores contribuem para as grandes variações
observadas na prevalência mundial, são eles: as diferenças culturais e
principalmente a construção de linguagem de cada idioma.
Entretanto, apesar dos fatores descritos acima, não resta dúvida de que nos
defrontamos com uma condição de alta prevalência e grande impacto na sociedade.
Os números da Dislexia são bem maiores, por exemplo, quando comparados com
outro distúrbio do aprendizado, como o Transtorno do Déficit Atencional. Este último
apresenta menor prevalência, e pode ser encontrado em 3 a 5%9, na população
mundial.
A Dislexia acomete igualmente homens e mulheres e é hereditária. Quando um
dos pais é portador de Dislexia, a probabilidade de seu filho ser disléxico está na
faixa de 40%.
Esse distúrbio da aprendizagem não é apenas muito comum, é persistente.
Segundo dados obtidos através do “Connecticut Longitudinal Study”7, determinou-se
de maneira bastante conclusiva que a Dislexia é uma condição crônica e que não
representa um atraso temporário no desenvolvimento da leitura.
Figura 1
FISIOPATOLOGIA
As operações que ocorrem no sistema de linguagem são rápidas e
automáticas, e não temos controle sobre elas. Nos níveis superiores da linguagem
estão, por exemplo, os componentes presentes na semântica (vocabulário ou
significado das palavras), na sintaxe (estrutura gramatical) e no discurso (frases
encadeadas). No nível mais baixo da hierarquia, está o módulo fonológico, que se
dedica ao processamento dos diferentes elementos sonoros da linguagem. A
Dislexia envolve uma disfunção especificamente no nível do módulo fonológico. O
fonema é o elemento fundamental do sistema lingüístico, o elemento essencial de
todas as palavras, faladas ou escritas. Combinações de fonemas produzem dezenas
de milhares de palavras da língua portuguesa. Da mesma forma como as proteínas
devem primeiramente ser fragmentadas em aminoácidos antes de serem digeridas,
as palavras devem ser também “segmentadas/divididas” para serem processadas
pelo sistema lingüístico. A linguagem é um código, que é decodificado através do
código fonológico.
Tal código é importante tanto para a fala quanto para a leitura. Consideremos
primeiro a fala. Quando pretendemos falar a palavra tipóia, por exemplo, acessamos
o nosso “dicionário interno” ou léxico. De lá retiramos e ordenamos em série, os
fonemas adequados: t, i p, o i, a. Após este processo a palavra tipóia é verbalizada.
Nas crianças disléxicas os fonemas não são tão bem desenvolvidos. Elas terão
muitas dificuldades para selecionar o fonema de que necessitam, podendo, em vez
disso, selecionar um fonema cujo som é semelhante. Ao invés de tipóia, ela pode
dizer jibóia. A criança sabe exatamente o que quer dizer, mas não consegue buscar
a conjunção correta de fonemas para a formação da palavra certa, ao invés dela,
menciona outra, cujos fonemas são semelhantes.
O disléxico pode também ordenar os fonemas incorretamente, e o resultado
pode ser, por exemplo: “As crianças martenal” (ao invés de maternal); ”Sabe mãe, o
problema não é o calor, é a humanidade” (ao invés de umidade); “Bem vindo a essa
agradável recessão”(ao invés de recepção). Em cada um dos casos a confusão foi
de caráter fonológico (baseada no som de uma palavra) e não refletiu uma falta de
compreensão do significado da palavra em questão. Infelizmente esses erros são
normalmente atribuídos a uma falta de discernimento de quem os comete. Tais
confusões sonoras são bastante comuns na linguagem falada dos disléxicos.
Ler é o processo inverso de falar. O trabalho de quem lê é converter as letras
em sons e considerar que a palavra é composta por segmentos menores. As
crianças e os adultos disléxicos têm dificuldades para desenvolver a percepção de
que, as palavras faladas e escritas são compostas por esses fonemas ou blocos
sonoros. A maior parte das pessoas é capaz de detectar os sons ou fonemas que
compõe uma palavra. As crianças disléxicas, entretanto, percebem uma palavra
como uma “mancha” amorfa, sem perceber sua natureza segmentada. Elas não
conseguem perceber a estrutura sonora interna das palavras.
O modelo fonológico nos diz quais as medidas exatas devemos adotar para
que uma criança passe de um estágio em que vê as letras como uma confusão de
formas rabiscadas a um estágio em que reconheça e identifique essas mesmas
formas como palavras.
A primeira descoberta que uma criança faz quando está aprendendo a ler é a
de que as palavras são compostas por partes. Rapidamente a criança percebe que a
palavra que ouve pode ser dividida em pedaços menores de sons e assim adquire o
que chamamos de consciência fonêmica. Ao adquirir a conscientização da natureza
segmentada da linguagem verbal, a criança passa a reunir os elementos básicos, ou
seja, as partículas da linguagem verbal, fonemas e sons com os quais poderá
relacionar as letras adequadas. As letras conectadas aos fonemas passam então a
ter sentido, assim se dá à linguagem. Traduzidas em código fônico, as palavras
impressas são agora aceitas pelos circuitos neurais já preparados para processar a
linguagem verbal. Decodificadas em fonemas, as palavras são processadas
automaticamente pelo sistema de linguagem. O código de leitura está então
decifrado. Cerca de 80% das crianças aprendem a transformar símbolos impressos
em código fonético, sem muita dificuldade. Para as demais, contudo, os símbolos
escritos permanecem uns mistérios. Elas não conseguem converter imediatamente
os caracteres alfabéticos em código lingüístico. A criança pequena deve desenvolver
a consciência fonêmica para se tornar um leitor. Isso significa que ela deve entender
que as palavras verbalizadas são feitas de unidades menores de fala, os fonemas.
Todos os leitores - inclusive os disléxicos - devem seguir os mesmos passos. A
diferença é simplesmente o esforço envolvido e o tempo que se leva para dominar o
princípio alfabético.
Ainda hoje não se sabe como as crianças desenvolvem a consciência
fonêmica. Sabe-se que nas crianças disléxicas, uma falha do sistema de linguagem
observado no nível módulo fonológico, prejudica a consciência fonêmica e, assim, a
capacidade de segmentar a palavra verbalizada em seus sons subjacentes. Como
resultado desse problema, as crianças têm dificuldades para descobrir/dominarem o
código da leitura.
O processo de leitura consiste em dois grandes componentes. O primeiro deles
é a decodificação, que resulta no reconhecimento imediato das palavras, e o
segundo componente é a compreensão.
Uma deficiência fonológica do sistema de linguagem prejudica apenas a
decodificação. Todo o equipamento cognitivo, as capacidades intelectuais de ordem
superior necessárias à compreensão, ou seja, vocabulário, sintaxe, discurso
(compreensão de texto) e raciocínio estão intactos. Todos os processos que
envolvem a compreensão, formação de conceitos e para a compreensão do texto
escrito estão em plena capacidade funcional e não são afetados pelo déficit
fonológico. No entanto, a deficiência básica na decodificação das palavras bloqueia
o acesso à possibilidade de obter significado a partir do texto. Podemos então
compreender porque os disléxicos - normalmente dotados de uma inteligência
superior, vocabulário excelente e curiosidade ilimitada - não conseguem decifrar
mesmo a mais simples das palavras ou ler uma passagem em voz alta.
Os pesquisadores britânicos Lynette Bradley e Peter Bryant constataram que a
aptidão fonológica de um aluno na pré-escola indica como será sua leitura três anos
depois11. Mesmo para alunos do ensino médio, a consciência fonológica é o melhor
indicador da capacidade de ler as palavras com precisão e rapidamente12.
O fato, de a Dislexia ser o resultado de uma deficiência fonológica, faz com que
outras conseqüências desse funcionamento deficiente possam também estar
presentes. Há 10 anos, o trabalho do pós-graduando Robert B. Katz, documentava
os problemas que os leitores disléxicos tinham em nomear os objetos que viam em
figuras ou fotos13. Katz demonstrou que quando os disléxicos chamam um objeto
pelo nome errado, estas respostas incorretas tendem a compartilhar características
fonológicas com a resposta correta. Dar o nome errado a um objeto não é o
resultado de uma falta de conhecimento, mas da confusão dos sons da linguagem.
As capacidades fonológicas não estão relacionadas à inteligência e, na
verdade, são independentes dela. Muitas crianças com inteligência superior são
disléxicas, enquanto outras com nível de inteligência muito mais baixo lêem com
relativa facilidade. O fato de que a consciência fonêmica, e não a inteligência é o
que indica a facilidade para leitura, surpreende boa parte das pessoas.
A memorização imediata e o acesso às palavras são também especialmente
difíceis para os disléxicos. Mesmo quando um disléxico conhece a informação, a
necessidade de ter de rapidamente reter e apresentar tal informação em geral
resulta na utilização de um fonema semelhante, tal como trocar umidade e
humanidade. Como resultado o disléxico pode parecer muito menos capacitado do
que é. Por outro lado, quando tem tempo e não é pressionado a dar respostas
instantaneamente, ele pode apresentar um excelente desempenho oral. Da mesma
forma, ao ler, os disléxicos frequentemente precisam recorrer ao contexto para
identificar determinadas palavras. Essa estratégia faz com que demore um pouco
mais e ajuda a explicar porque a disponibilidade de tempo extra como auxílio é tão
necessária para os disléxicos demonstrarem seus conhecimentos.
DIAGNÓSTICO ANATÔMICO-FUNCIONAL
Em 1861, Paul Broca, estabeleceu claramente que a base da leitura, linguagem
e fala originava-se no lobo frontal esquerdo do córtex cerebral. Antigamente
pensava-se que a fonte lógica de nossa capacidade de falar fosse à língua. A
descoberta de Broca abriu as portas para que se aprendesse como o cérebro lê.
Broca estudava o cérebro de pacientes afásicos mortos, procurando as áreas de
tecido danificado e correlacionava essas áreas com os sintomas dos pacientes. A
identificação da área da broca, como um local fundamental para a linguagem, foi o
primeiro passo para a busca do mapa do circuito neural da leitura.
No inicio dos anos 80, foi possível aos cientistas, através da Tomografia de
Emissão de Positrons (PET), verem pela primeira vez, o cérebro de uma pessoa
normal em funcionamento.
Atualmente a Ressonância Nuclear Magnética Funcional é capaz de observar a
atividade cerebral desencadeada por uma determinada tarefa. Estudos sofisticados
feitos com a obtenção de imagens, por Ressonância Nuclear Magnética, durante o
processo de leitura permitem o rastreio e o registro da palavra impressa, quando ela
é primeiramente percebida como ícone visual, sendo depois transformada em sons
(fonemas) da linguagem. Este processo faz com que simultaneamente, ocorra a
ativação do seu significado, guardado no “dicionário” interno do cérebro.
Os
primeiros
estudos
utilizando
Ressonância
Magnética
Funcional
evidenciaram uma diferença surpreendente entre os padrões ativados para a leitura
nos homens e nas mulheres. Como aparece nas imagens cerebrais, os homens
ativam o giro frontal inferior esquerdo, ao passo que as mulheres ativam tanto o
direito quanto o esquerdo. Enquanto todos os homens ativam apenas o lado
esquerdo do cérebro, a maioria das mulheres ativa ambos os lados14.
Figura 2: Diferenças na organização do cérebro de homens e de mulheres no que diz respeito à
linguagem. As áreas em preto indicam locais de ativação em homens e mulheres quando rimavam
palavras sem sentido, demonstrando que os homens ativam o lado esquerdo do cérebro e que as
mulheres ativam tanto o esquerdo como o direito. As figuras menores são as imagens obtidas por
Ressonância Nuclear Magnética Funcional demonstrando as ativações cerebrais.
Isso representou a primeira demonstração de uma diferença visível entre os
sexos, no que diz respeito à organização cerebral da linguagem. Exatamente a
mesma região cerebral que demonstrou as diferenças entre os sexos, o giro frontal
inferior, estava também envolvido na leitura.
Os estudos feitos a partir das imagens cerebrais identificaram, pelo menos, dois
caminhos neurais da leitura: um para quem está começando a ler e para a
verbalização lenta das palavras e outro mais rápido para quem já lê bem. O exame
cuidadoso dos padrões de ativação cerebral revelou uma falha nesse último circuito
para os leitores disléxicos.
Quando
lêem,
os
bons
leitores
ativam
sistemas
neurais
altamente
interconectados que incluem regiões das partes posterior e anterior do lado
esquerdo do cérebro.
Figura 3: Sistemas cerebrais para a leitura.
Não é surpreendente que o circuito necessário à leitura, inclua regiões
cerebrais dedicadas ao processamento das características visuais (isto é, das linhas
e curvas que compõe as letras), à transformação das letras em sons da linguagem e
à compreensão do significado das palavras. A maior parte da região do cérebro
responsável pela leitura fica na sua porção posterior. O chamado de sistema de
leitura posterior é composto de dois diferentes caminhos para a leitura de palavras.
O primeiro, em posição mais alta do que o outro no cérebro, localiza-se
principalmente na região média do cérebro, a região parieto-temporal. O caminho
inferior passa próximo da base do cérebro, é o local em que dois lobos cerebrais o
occipital e o temporal se encontram, esta é a área occipito-temporal. Essa região de
intensa atividade atua como um núcleo para o qual as informações oriundas de
diferentes sistemas sensoriais convergem, e onde, por exemplo, todas as
informações relevantes sobre uma palavra, ou seja, sua aparência, seu som, e seu
significado, são reunidos e armazenados.
Esses dois subsistemas desempenham papéis diferentes na leitura, e suas
funções tem sentido à luz das necessidades variáveis dos leitores. Os leitores
iniciantes, em primeiro lugar, analisam a palavra. Já os leitores experientes,
identificam as palavras instantaneamente. O sistema parieto-temporal funciona para
o leitor iniciante. Lenta e analítica, sua função parece estar nos primeiros estágios
da aprendizagem de leitura, isto é, quando se começa a analisar uma palavra,
subdividindo-a e conectando suas letras aos sons. Ao contrário do procedimento
passo a passo do sistema parieto-temporal, a região occipito-temporal é uma via
expressa para a leitura, sendo utilizada por leitores experientes. Quanto mais
experimentado o leitor, mais essa região é ativada. Ela responde muito rapidamente
– em menos de 150 mil segundos - à palavra visualizada15; em vez de analisar a
palavra, a área occipito-temporal reage quase que instantaneamente à palavra
inteira como sendo um padrão único. Basta um breve olhar para que a palavra seja
identificada.
A criança, ao analisar e ler corretamente uma palavra, por várias vezes, forma
um modelo neural exato dessa palavra. Este modelo, caracterizado pela forma da
palavra, que reflete a ortografia, a pronúncia e o significado da mesma, é
permanentemente armazenado no sistema occipito-temporal. Após a conclusão este
processo, basta ver a palavra impressa para que o sistema e todas as informações
relevantes sobre a palavra sejam imediatamente ativados. Tudo acontece
automaticamente, sem esforço ou pensamento consciente.
Quando os leitores experientes lêem com grande velocidade, este processo se
dá em sua máxima capacidade e ocorre o reconhecimento instantâneo, uma palavra
depois da outra. Assim, há uma forte relação entre a capacidade de leitura e a
dependência dessa área ou região.
Um terceiro caminho de leitura, localizado na área da Broca - na parte frontal
do cérebro - também ajuda na fase de análise lenta das palavras. Há, portanto, três
caminhos neurais para a leitura: dois caminhos mais lentos e analíticos, o parietotemporal e o frontal, que são usados principalmente pelos leitores iniciantes, e uma
via rápida, a occipito-temporal, utilizada por leitores experientes.
Mapear os caminhos neurais nos bons leitores abriu a porta para o
entendimento da natureza da dificuldade dos leitores disléxicos. Quando lêem, os
bons leitores ativam a parte posterior do cérebro e também, até certo ponto, a parte
anterior. Ao contrário, os leitores disléxicos demonstram uma falha neste sistema,
ocorrendo a menor ativação de caminhos neurais na parte posterior do cérebro.
Conseqüentemente, eles têm problemas iniciais ao analisar as palavras e ao
transformar as letras em sons e, mesmo quando amadurecem, continuam a ler
lentamente e sem fluência.
Em todas as idades, os bons leitores demonstram um padrão consistente, ou
seja, grande ativação da parte posterior do cérebro, com menor ativação na parte
frontal. Ao contrário, as ativações cerebrais nas crianças disléxicas parecem mudar
com a idade. As imagens revelam que as crianças disléxicas mais velhas
demonstram uma ativação aumentada nas regiões frontais, de maneira que, quando
chegam à adolescência, demonstram um padrão de super-ativação da região de
Broca, isto é, passam a usar com freqüência cada vez maior o lobo frontal para a
leitura. É possível que esses leitores estivessem usando os sistemas da parte frontal
do cérebro, para compensar o problema da parte posterior.
O padrão de sub-ativação na parte posterior do cérebro apresenta uma espécie
de assinatura neural para as dificuldades fonológicas que caracterizam a Dislexia.
Figura 4: Mudança nos padrões de ativação cerebral de acordo com a idade: As crianças disléxicas
mais velhas usam regiões frontais do cérebro. Estes mapas fazem correlações. As áreas em preto
têm uma forte correlação com a idade. À medida com que as crianças crescem, estas áreas se
tornam mais ativas. Na imagem da esquerda, os leitores normais demonstram pouca mudança na
ativação do cérebro de acordo com idade, por isso há poucas áreas pretas. Ao contrário, na direita,
as crianças disléxicas demonstram uma ativação crescente da região frontal do cérebro à medida que
envelhecem como indicam as áreas em preto.
Essa assinatura parece ser universal, aplica-se aos disléxicos em todas as
línguas e de todas as idades. Mesmo alunos universitários de excelente
desempenho, com histórico de dislexia na infância e que são leitores precisos, mas
lentos, continuam a demonstrar esse padrão.
Figura 5: A marca neural da dislexia. Subativação dos sistemas neurais na parte posterior do
cérebro. À esquerda, leitores normais ativam sistemas neurais que estão em sua maioria na parte
posterior do cérebro (áreas sombreadas); à direita, leitores disléxicos subativam esses sistemas de
leitura da parte posterior do cérebro e tendem a superativar as áreas frontais.
A partir destas evidências, podemos concluir que a falha nas crianças
pequenas, indicativa da presença da alteração nos circuitos cerebrais, está presente
desde o início da leitura. Não é, portanto, o resultado final de anos de leitura
deficiente. Aprendemos que as crianças e os adultos disléxicos utilizam sistemas de
leitura compensatórios. Além de depender mais da área da Broca, os disléxicos
também usam outros sistemas auxiliares de leitura, localizados no lado direito e na
parte anterior do cérebro. Apresentam um sistema funcional, mas não automático.
Figura 6: Os leitores disléxicos usam sistemas compensatórios para ler. O leitor normal, à esquerda,
ativa sistemas neurais que estão em sua maioria na parte posterior esquerda do cérebro; o leitor
disléxico, à direita, ativa sistemas do lado direito e na parte frontal esquerda do cérebro.
Os fatos expostos acima, explicam o intrigante achado que temos de leitores
adultos disléxicos que melhoraram sua precisão de leitura, mas para quem ‘ler’,
continuava a ser uma atividade lenta e desgastante. A falha dos sistemas
posteriores impede o reconhecimento rápido e automático das palavras; o
desenvolvimento do lado direito e da parte anterior como sistema auxiliar, permite
que haja uma leitura precisa, ainda que relativamente lenta. Esses leitores disléxicos
têm de depender de um sistema “manual” em vez de um sistema automático de
leitura.
O avanço das pesquisas, nesta área, indica que estamos prestes a conseguir
separar em dois grupos os leitores deficientes.
O primeiro, o grupo disléxico clássico, ou seja, aquele que nasce com uma
falha em seus sistemas de leitura posteriores. Esse grupo tem capacidades verbais
mais altas e é capaz de compensar o problema, melhora a precisão, mas continua a
ler lentamente.
O segundo grupo parece ter-se desenvolvido como resultado da experiência.
Pode ser o resultado de uma combinação de ensino deficiente de leitura na escola e
de um ambiente lingüístico problemático em casa. Neste segundo grupo, a conexão
dos sistemas de leitura posterior pode estar pronta, mas nunca foi adequadamente
ativada. Sem uma intervenção eficaz, os indivíduos deste grupo continuam sendo
maus leitores, lendo de maneira lenta e imprecisa.
Uma das aplicações mais interessantes das imagens cerebrais só agora está
sendo utilizada nos Estados Unidos: a avaliação direta dos efeitos de determinadas
intervenções de leitura sobre os sistemas neurais de leitura.
Em estudos realizados na faculdade de Yale, pela Dra. Sally Shaywitz,
usou-se a Ressonância Nuclear Magnética Funcional para estudar meninos e
meninas que tinham dificuldade em aprender a ler, que passaram por um programa
experimental de leitura por um ano. As imagens obtidas depois da intervenção
demonstraram que os sistemas do lobo esquerdo utilizados por bons leitores,
tentavam surgir e que também havia o desenvolvimento de caminhos secundários
de leitura no lobo direito. O conjunto final de imagens obtidas, um ano após o início
do estudo, foi surpreendente. Não apenas os caminhos auxiliares do lobo direito
eram muito menos proeminentes, como, havia maior desenvolvimento dos sistemas
neurais do lobo esquerdo.
Isso pode explicar porque as crianças que passam mais cedo por intervenções
eficazes, tornam-se leitores precisos e um pouco mais fluentes.
No Brasil não temos ainda a Ressonância Magnética Funcional para
diagnóstico e acompanhamento de intervenção, nem tampouco a intervenção
apropriada, ou seja, programa de leitura específico, validado para o tratamento de
leitores disléxicos.
DIAGNÓSTICO CLÍNICO
Na maior parte das vezes, as crianças verbalizam as suas primeiras palavras
por volta de 1 (um) ano de idade e as primeiras frases por volta de 1 ano e 6 meses
a 2 anos. As vulneráveis à Dislexia, talvez não comecem a pronunciar as primeiras
palavras antes de 1 ano e 3 meses de vida e talvez não pronunciem frases antes de
completar 2 anos. O atraso é modesto e os pais geralmente o atribuem a um
histórico familiar de começar a falar mais tarde. Portanto o primeiro sinal indicativo
da Dislexia pode ser um atraso na fala.
Ao iniciar a fala, a criança disléxica comete erros de pronuncia. As dificuldades
na pronúncia podem ocorrer no desenvolvimento normal de qualquer criança, porém
sua persistência, além do tempo normal, pode ser entendida como mais um sinal.
No desenvolvimento normal, por volta dos 5 ou 6 anos, a criança deve ter
poucos problemas para pronunciar a maioria das palavras corretamente. Tentativas
de pronunciar uma nova palavra pela primeira vez ou de verbalizar uma palavra
longa e complicada, podem revelar problemas relativos à articulação. É como se
houvesse um acúmulo de fonemas no aparelho articulatório, fato este que
compromete a linguagem verbal. Os fonemas se atropelam quando são
pronunciados. Excluir os sons iniciais de algumas palavras caracteriza uma das
pronúncias equivocadas típicas. São exemplos desta alteração a pronuncia paguete
ao invés de espaguete, ou lefante em vez de elefante. Além da exclusão, existe
também a inversão, ou seja, inverter os sons internos de uma palavra, como por
exemplo, aninal em vez de animal, ernegia ao invés de energia. Mesmo as crianças
maiores e os adultos não estão imunes a pronunciar as palavras de maneira
desordenada ou atropelada, quando tentam pronunciar palavras novas ou
complexas.
As crianças disléxicas têm problemas quando tentam penetrar na estrutura
sonora das palavras sendo, portanto, menos sensíveis às rimas. Essa sensibilidade
é um indicador precoce de estar pronto para a leitura.
À medida que a criança cresce, ela pode utilizar palavras que necessitam de
precisão ou especificidade para cobrir suas dificuldades, isto é, usar palavras vagas
como coisa ou negócio em vez do nome verdadeiro do objeto. Ela sabe exatamente
o que quer dizer; a dificuldade está em encontrar a palavra correta. Essas
dificuldades de linguagem acompanham o amadurecimento da criança. Ela pode ser
quieta, parecer inarticulada ou experimentar dificuldades de expressão, o que é um
padrão freqüente, mas não invariável. Algumas crianças podem ser bastante
articuladas quando falam.
Os pais e os professores podem ficar irritados com a criança porque ela parece
inteligente, e não conseguem entender por que ela pronuncia a palavra errada.
Contudo, a frustração dos adultos não é nada se comparada à vergonha
experimentada pela criança quando diz a palavra errada. Á medida que a criança
disléxica passa à idade adulta, sua fala continua a dar provas das dificuldades que
tem para chegar à estrutura sonora das palavras. A fala está cheia de hesitações; às
vezes, há muitas pausas longas, ou ela talvez fique buscando a palavra certa,
usando muitas palavras indiretas, no lugar da palavra correta que não consegue
encontrar. Ela não é loquaz nem fluente na linguagem verbal.
Por vezes, o diagnóstico de Dislexia é estabelecido tardiamente, pois a criança
não demonstra um ou mais dos sintomas patognomônicos dessa disfunção. Um dos
mais duradouros equívocos é o de que a criança disléxica vê as letras e as palavras
de trás para frente e que escrever de maneira invertida é um sinal disso. Pelo fato de
tais crenças sobre a Dislexia prevalecerem, muitas crianças que não fazem
inversões não são diagnosticadas.
Escrever com a mão esquerda, dificuldades na localização espacial, disfunções
práxicas, como ter dificuldade para amarrar os sapatos e ser desastrado são fatores
associados à Dislexia. Essas constatações não são certamente tão importantes ao
ponto de as encontrarmos na maioria das pessoas com Dislexia.
Em que pesem as características satélites do quadro da Dislexia, é importante
ter em mente que, a grande maioria da população de disléxicos compartilha uma
deficiência fonológica (cerca de 88%)16.
Segundo a Dra. Sally Shaywitz 2 , os sinais de Dislexia são:
a. Primeira infância
•
Problema de aprendizagem de rimas infantis comuns;
•
Falta de interesse pelas rimas;
•
Palavras mal pronunciadas;
•
Dificuldade em aprender (e lembrar) o nome das letras;
•
Deficiência em saber o nome das letras em seu próprio nome.
b. Pré-escola e 1ª série
•
Deficiência em entender que as palavras podem ser divididas em partes;
•
Incapacidade de aprender a associar letras e sons, tais como aprender a
associar a letra b com o som “b”;
•
Erros de leitura que não demonstram conexão nenhuma dos sons com as
letras, por exemplo, ao invés de pronunciar a palavra casa, pronunciar a
palavra faca;
•
Incapacidade de ler palavras simples de uma só sílaba, ou de pronunciar
mesmo as palavras mais simples;
•
Reclamação sobre o quanto é difícil ler; correr e esconder-se quando é hora
de ler.
c. A partir da segunda série
c.1. Problemas na fala:
•
Discurso não fluente, com pausas ou hesitações freqüentes, muitos
“hummmm” durante a fala, pouca loquacidade;
•
Uso de linguagem imprecisa, tais como a utilização da palavra coisa ou
negócio em vez da utilização do nome correto do objeto;
•
Não ser capaz de encontrar a palavra correta, confundindo palavras que
tenham sonoridade semelhante, como umidade e humanidade;
•
Necessidade de tempo para elaborar uma resposta oral, ou incapacidade de
dar uma resposta verbal rápida quando é questionado;
•
Dificuldade de lembrar partes isoladas de informação verbal (memória
imediata) e problemas ao lembrar datas, nomes, números de telefone e listas
aleatórias.
c.2. Problemas de leitura:
•
Progresso muito lento na aquisição das habilidades de leitura;
•
Falta de estratégia para a leitura de palavras novas;
•
Problemas ao ler palavras desconhecidas (novas, não-familiares), que devem
ser pronunciadas em voz alta; tentativa de adivinhar a palavra ao lê-la; falhas
na organização dos sons das palavras quando as pronuncia;
•
Inabilidade para ler palavras funcionais, como entre, sobre, aquilo...;
•
Tropeço ao ler palavras polissilábicas, ou deficiência ao ter de pronunciar a
palavra inteira;
•
Omissão de partes de palavra ao ler; deficiência na decodificação das partes
que compõe uma palavra, como se alguém tivesse feito um buraco no meio
da palavra, degacia no lugar de delegacia;
•
Medo acentuado de ler em voz alta; evita ler em voz alta;
•
A leitura em voz alta é contaminada por substituições, omissões e palavras
mal pronunciadas;
•
A leitura em voz alta é entrecortada e trabalhosa, não é fluente nem suave;
•
A leitura em voz alta não tem inflexão e parece a leitura de uma língua
estrangeira;
•
Dependência do contexto para compreensão do que lê;
•
Melhor capacidade de entender palavras no contexto do que ler palavras
isoladas;
•
Desempenho desproporcionalmente fraco em testes de múltipla escolha.
•
Incapacidade de terminar os testes no horário estabelecido;
•
Substituição de palavras de mesmo significado quando não consegue
pronunciar, tais como carro no lugar de automóvel ou espinha no lugar de
coluna vertebral;
•
Ortografia desastrosa, em que as palavras não são sequer parecidas com a
palavra original; algumas palavras não são identificadas pelo corretor
ortográfico;
•
Problemas na leitura dos enunciados dos problemas de matemática;
•
Leitura muito lenta e cansativa;
•
Deveres de casa incompletos e intermináveis, necessitando com freqüência
da ajuda dos pais para ler os enunciados;
•
Escrita à mão confusa, mas grande facilidade ao utilizar o editor de textos,
rapidez ao digitar;
•
Extrema dificuldade para aprender uma língua estrangeira;
•
Falta de entusiasmo em relação à leitura; evita ler livros ou mesmo uma frase;
•
Leitura cuja precisão aumente com o tempo, embora permaneça sem fluência
e seja trabalhosa;
•
Auto-estima em declínio, presença de sofrimentos nem sempre visíveis.
d. Em jovens adultos e em adultos
d.1. Problemas na fala:
•
Persistência de dificuldades precoces da linguagem oral;
•
Pronúncia equivocada de nome de pessoas e de lugares; ignora partes de
uma palavra;
•
Dificuldade para lembrar nome de pessoas e de lugares e confusão quando
os nomes se parecem;
•
Esforço para se lembrar de uma palavra; “estava na ponta da língua”;
•
Falta de loquacidade, especialmente quando está em situação de destaque;
•
Vocabulário expressivo, oralizado, que parece menor do que o vocabulário
receptivo, escutado. Hesitação ao pronunciar palavras que possam ser malpronunciadas.
d.2. Problemas na leitura:
•
Histórico infantil de problemas de leitura e de ortografia;
•
A leitura pode se tornar mais precisa, mas continua lenta e exige um grande
esforço;
•
Falta de fluência;
•
Constrangimento causado pela leitura em voz alta. Evita grupos de estudo da
Bíblia, leitura durante a páscoa judaica ou ter de falar em público;
•
Problemas ao ler e pronunciar palavras incomuns, estranhas ou singulares,
tais como o nome de pessoas, de ruas e de locais, nome dos pratos de um
menu (em geral, pede ao garçom o prato do dia ou então diz “vou querer o
mesmo que ele pediu”, para evitar o constrangimento de ter de ler o menu);
•
Problemas persistentes na leitura;
•
Substituição de palavras que não consegue ler por outras inventadas, como
pronunciar a palavra mitan, por exemplo, em vez de metropolitan. É incapaz
de reconhecer a palavra metropolitan quando ela aparecer de novo ou for
pronunciada em uma palestra no dia seguinte;
•
Fadiga extrema depois de ler;
•
Leitura lenta de tudo: manuais, legendas em filmes estrangeiros;
•
Muitas horas utilizadas na leitura de material escolar ou de trabalho;
•
Sacrifício freqüente da vida social para estudar e preferência por livros com
ilustrações, gráficos ou tabelas;
•
Preferência por livros com menos palavras por página ou com grandes áreas
em branco entre os parágrafos;
•
Falta de vontade de ler por prazer;
•
Ortografia que permanece problemática e preferência por palavras menos
complexas ao escrever;
•
Desempenho especialmente fraco em tarefas habituais de escrita.
Existem outros sintomas que podem acompanhar a Dislexia, mas que não
estão necessariamente presentes:
•
Dificuldade na coordenação motora fina (desenhos, pinturas etc.);
•
Dificuldade na coordenação motora grossa (ginástica, dança etc.);
•
Desorganização geral;
•
Dificuldades visuais, com impacto na organização do trabalho no papel e na
postura da cabeça para escrever;
•
Confusão entre direita e esquerda;
•
Dificuldade em manusear mapas, dicionários;
•
Dificuldade na memória de curto termo, como as que se referem às
instruções, dígitos, tabuadas, etc;
•
Dificuldade em copiar de livros ou da lousa;
•
Dificuldade na matemática e desenho geométrico;
•
Grande desempenho em provas orais.
COMORBIDADES
A Dislexia pode infiltrar-se em todos os aspectos da vida de uma pessoa. A
sensação de frustração pode levar, em seu grau extremo, a distúrbios psiquiátricos.
Observamos uma alta incidência de distúrbios psiquiátricos nos indivíduos
disléxicos. É tão importante essa correlação, que atualmente grande parte das
pesquisas, diagnóstico e acompanhamento de pacientes disléxicos vem sendo
realizada por Psiquiatras.
Segundo Estudo Longitudinal de Mannheim17, conduzido pelo Psiquiatra
infantil, especializado em Dislexia, Dr. Gerd Schulte-Koerne, 43% das crianças
disléxicas apresentam algum sintomas psíquico aos 8 (oito) anos. Aos 18 anos o
número de sintomas psíquicos cai para 34%, mas continua muito elevado. Dos
sintomas psíquicos observados a depressão foi o mais freqüente. Esse pesquisador
observou que o tratamento do quadro depressivo com medicamento e/ou
psicoterapia, sem a intervenção no distúrbio da leitura, se mostrava ineficaz.
Vários estudos recentes mostram que dos alunos que receberam o diagnóstico
de “learning disabilities” (distúrbios da aprendizagem), 50% apresentavam quadro
depressivo. Desses, 80% eram disléxicos18.
Os índices de agressividade também são exageradamente elevados nessa
população. Em estudos realizados nos Estados Unidos, pela National Center for
State Court, demonstrou-se que 85% de todos os infratores juvenis apresentavam
problemas à leitura19. Um outro estudo, realizado na Inglaterra pelo “Learning and
Skills Unit” (LSC) em conjunto com “Offenders Learning and Skills Unit” (OLSU), com
o apoio do “The Dyslexia institute”, evidenciou que 20% dos detentos apresentavam
“Learning disabilities”. Desse grupo 68% eram disléxicos. Observou-se que a taxa de
reincidência de delitos diminui quando esses presos eram submetidos a programas
de educação específicos, que os ensinava a ler20. Essa correlação entre Dislexia e
agressividade é tão evidente, que tem levado pesquisadores a estudar se há uma
explicação genética para esse fato.
Encontramos também uma associação positiva entre Dislexia e Déficit de
Atenção. Cerca de 60% dos pacientes diagnosticados com Déficit de Atenção, tem
Dislexia, e se não forem apropriadamente tratados para sua dificuldade de
linguagem, permanecerão com baixo grau de alfabetização21, mesmo recebendo
medicação específica. Nesses casos, classifica-se o Déficit de Atencão como
secundário ao distúrbio de linguagem.
Existe ainda uma forte correlação entre Dislexia e enurese noturna e
encoprese17, mas não dispomos ainda de números confiáveis.
TRATAMENTO
Não existe tratamento medicamentoso para a Dislexia, somente para seus
efeitos secundários como a depressão, déficit de atenção e agressividade, dentre
outros.
Segundo o estudo de meta-análise realizado por H. L. Swanson em 1999, a
única intervenção que se provou significativamente efetiva nos casos de Dislexia, foi
o trabalho fonoaudiológico apropriado22.
Programa de leitura
Atualmente, através dos estudos realizados pela Dra. Sally Shaywitz, utilizando
a Ressonância Magnética Funcional, mostrou-se que a aplicação de um programa
específicos de leitura é efetivo.
Os pontos essenciais desses programas de leitura são:
•
A consciência fonêmica, ou seja, o treino de perceber, identificar e manipular
os sons da linguagem oral;
•
Fônica, ou seja, perceber como as letras e os grupos de letras representam
os sons de linguagem;
•
Pronunciar as palavras (decodificação);
•
Ortografia;
•
Leitura de palavras à primeira vista;
•
Vocabulário e conceitos;
•
Estratégias de compreensão de leitura;
•
Prática na aplicação dessas habilidades na leitura e na escrita;
•
Treinamento em fluência;
•
Experiências lingüísticas enriquecedoras: ouvir, falar sobre um determinado
assunto e contar histórias.
Os estudos mostram que a parte mais importante dessa intervenção, é o
trabalho da consciência fônica e da própria fônica, aliada ao ensino de como as
crianças devem aplicar esses conhecimentos à leitura e à escrita2.
No Brasil não dispomos desses métodos validados, no entanto, temos em São
Paulo, um grupo de fonoaudiólogas especializadas em Dislexia pela Universidade
São Paulo, que aplicam estratégias derivadas do método proposto acima.
O ensino da leitura para o leitor disléxico, deve ser ministrado com grande
intensidade23, de 4 a 5 vezes por semana. Uma criança, com problemas de leitura e
que não seja identificada cedo, pode exigir cerca de 150 a 300 horas de ensino
intensivo (pelo menos 90 minutos por dia todos os dias da semana por 1 a 3 anos)
para que a lacuna entre ela e seus colegas seja preenchida. Quanto mais tarde for
realizado o diagnóstico da dificuldade do ensino de leitura, maior será o esforço
necessário para que a criança possa se aproximar do nível de seus colegas1.
É importante salientar, que a aplicação desse método torna a leitura do
disléxico precisa, mas ela permanecerá lenta na grande maioria dos casos. A escrita
não se altera significativamente com essa intervenção.
Acomodações
Além do treino acima descrito, existem outras medidas que podem ajudar
muito, e são chamadas de ‘Acomodações’. Estas abrangem uma série de medidas a
serem propostas aos educadores e à escola. As principais acomodações a serem
sugeridas são:
•
Tempo extra: Como explicado anteriormente, nos leitores disléxicos, as
características das palavras não foram todas integradas propriamente, sendo
assim, eles não desenvolvem a automaticidade da área de reconhecimento
imediato da palavra. A conseqüência é a de que devem recorrer a outros
sistemas cerebrais, para descobrir a palavra de maneira não automática e
chegar a seu significado. Esse processo toma muito mais tempo. Os adultos
disléxicos que são capazes de alcançar níveis médios de precisão têm de
fazê-lo por meio dessas rotas neurais secundárias, que são mais lentas. A
equação para os leitores adultos disléxicos é esta: Habilidade de pensamento
de alto nível + contexto + tempo extra = significado;
Figura 7: Pelo fato de o caminho direto para o significado não estar disponível ao leitor disléxico, ele
deve aplicar sua inteligência, vocabulário e raciocínio ao contexto da palavra em questão para obter
seu significado. Isso significa tomar um caminho secundário de leitura que exige tempo extra.
•
Língua estrangeira: Pelo fato de os alunos disléxicos terem de aprender a
fonologia básica da língua materna, é com muita dificuldade que se tornam
proficientes em outra língua quando jovens. Logo, deve-se tentar obter uma
dispensa ou isenção dos exames de língua estrangeira. Essa é uma
acomodação que impede o sofrimento desnecessário, a perda de tempo e de
energia do aluno, sem deixar de lhe proporcionar oportunidade para que se
concentre em disciplinas que tenha reais chances de dominar. Seria
adequado evitar que crianças disléxicas fossem expostas a uma educação
bilíngüe;
•
Textos gravados: Além do trabalho escolar, a Dislexia compromete a própria
independência do adolescente que está amadurecendo. Os textos em fita
podem abrandar isso. As gravações podem ser o “passaporte” do aluno ao
mundo do leitor. Ouvir os livros e fitas, ou CD-ROM permite que participe de
cursos e estude em seu nível de compreensão, em vez de ser impedido de ir
adiante por causa de sua leitura lenta. É por essa razão que nos Estados
Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Nova Zelândia, Austrália, Japão
e outros, já existem livros escolares, livros de um modo geral, jornais e
revistas semanais na forma de áudio. Nos Estados Unidos, a biblioteca da
Recording for the Blind and Dyslexic (RFB&D) contém mais de 90 mil títulos
de uma ampla gama de assuntos, em todos os níveis acadêmicos, da préescola até a pós-graduação. Se um determinado livro ou texto não tiver ainda
sido gravado, a Recording for the Blind and Dyslexic fará a gravação, caso
haja um pedido. Os cegos e os disléxicos se beneficiam muito dessa forma de
mídia. No Brasil temos pouquíssimos áudios livros, não temos nenhum livro
escolar com esse formato e muito menos jornais e revistas. A fundação
Corina Nowill, para cegos, disponibiliza algumas revistas, jornais e livros, mas
só para cegos. Logo, aqui no Brasil, o papel fundamental do áudio livro deve
ser desempenhado pelas mães ou qualquer pessoa que acompanhe os
estudos do aluno disléxico;
•
Permitir a gravação das aulas;
•
Orientar o aluno a gravar os seus trabalhos e depois solicitar a alguém que os
transcreva;
•
Os trabalhos escritos devem receber nota pelo conteúdo e não pela forma ou
problemas ortográficos;
•
Se possível, realizar provas orais;
•
Permitir a utilização de laptops em salas de aula e aceitar trabalhos escritos
realizados com o auxilio destes, incluindo uso de corretor de texto.
Essas acomodações deveriam começar por volta da 2ª ou 3ª série e seguir até
a idade adulta, abrangendo o ambiente de trabalho. A Inglaterra já possui leis
trabalhistas específicas para indivíduos disléxicos.
No Brasil temos ainda enormes obstáculos a ser transpostos quando falamos
de Dislexia. O primeiro é o diagnóstico, pois não possuímos profissionais
adequadamente treinados nas escolas. Além disto, muitas escolas não realizam
testes de leitura em sua rotina, como também não possuem fonoaudiólogos em seu
quadro de funcionários.
O segundo grande obstáculo ocorre na hora da intervenção. Ainda existe
grande desconhecimento por parte de médicos, fonoaudiólogos, psicopedagogos e
pedagogos, a respeito do que é Dislexia e do que se mostrou ser eficiente no seu
tratamento. Isso se deve ao fato de os principais avanços na compreensão da
Dislexia terem ocorrido somente nos últimos 15 anos. Muitos profissionais
encontram-se ainda desatualizados. Este fato pode ser exemplificado na matéria
publicada no jornal de psicologia do CPR-SP, Psi, edição 155, de maio de 2008,
escrito pela psicóloga Beatriz Belluzzo, coordenadora da comissão de educação do
CRP-SP, cujo título é “Ciência e profissão. Quem procura acha” 24.
Abaixo, transcrição de algumas partes desse artigo:
Ao longo do último ano, vários projetos de lei com o objetivo de identificar e tratar
clinicamente supostos portadores de Dislexia surgiu em diferentes partes do Brasil.
Em São Paulo, a Assembléia Legislativa do Estado aprovou o projeto de Lei 832 de
2007..... Esses projetos têm sido estimulados por profissionais voltados ao
diagnóstico e tratamento da Dislexia e ganharam impulso extra com a exposição de
Clarissa, personagem na novela Duas Caras, da TV Globo, apresentada como
portadora do distúrbio.
O CRP - SP, lado a lado com outras entidades das áreas de Saúde e da Educação,
tem combatido essas iniciativas. Não porque seja insensível às dificuldades de
expressão ou de compreensão vividas pelas pessoas, mas porque acredita que o
problema está distorcido e fora do lugar.
“Nós questionamos desde o diagnóstico propriamente dito até o uso que vem se
fazendo dessa questão para retirar da escola uma responsabilidade que lhe
pertence”, afirma a conselheira e coordenadora da Comissão de Educação do CRP SP, Beatriz Belluzzo.
“O campo cognitivo, onde se situa a questão de Dislexia, é uma área de
complexidade. Reduzir o seu entendimento à simples existência de um marcador
biológico é insuficiente para explicar o que acontece” diz Wagner Rannã , médico
(com formação em psicoterapia), pediatra docente da Faculdade de Medicina da
USP, que atua há 40 anos na área de saúde mental da criança.”outros fatores
inclusive sociais, podem contribuir para a explicação desse fenômeno.”...
Para Maria Aparecida Moyses, Professora titular de Pediatria no departamento de
Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, faltam dados palpáveis
para se fazer um diagnóstico confiável, com o rigor que se deve exigir para os
diagnósticos de uma doença neurológica. “A não exigência exames se deve à
ausência de exames que reconhecidamente consigam fazer tal diagnóstico”....
Não é fácil a vida de alguém que precisa provar que não existe - algo que nunca
ninguém provou que existe - como gosta de repetir a professora Maria Aparecida
Moyses....
... abordar crianças e jovens que enfrentam graves problemas na aquisição da leitura
e da escrita como portadores de uma patologia é a melhor solução diante de um
atendimento que é, em sua essência, pedagógico.
... a criança é levada a crer que ela tem um problema e que não pode evoluir da
mesma forma que seus colegas, reforça suas chances de fracasso escolar e vê-se
alijada de oportunidades futuras no mercado de trabalho.
Opiniões como estas, de especialistas brasileiros, estão em desacordo com o
que os pesquisadores do mundo todo têm provado sobre o diagnóstico e tratamento
da Dislexia. Os governos dos Estados Unidos e de vários países da Europa têm
investido milhões de dólares em estudos, uma vez que reconhecem o forte impacto
que essa alteração tem na alfabetização das crianças e conseqüentemente no seu
futuro profissional. Os estudos nesses países mostram que esses indivíduos ficam
dependentes do Estado, em parte pela alta prevalência de desemprego, e vivem à
margem da sociedade. Esta situação custa ao Estado milhões de dólares. Deduz-se
que não é o diagnóstico da Dislexia que leva ao fracasso escolar, ou a perda das
oportunidades no mercado de trabalho, como sugerido no artigo supracitado, e sim a
não intervenção apropriada.
Não há intervenção farmacológica específica no tratamento desse distúrbio de
aprendizagem. Talvez por este motivo, também não haja grande interesse na sua
divulgação.
DISLEXIA E HOMEOPATIA
A Dislexia é um distúrbio de aprendizagem. Apresenta alta prevalência,
provocando um forte impacto na vida diária de seus portadores.
Apesar dos
avanços desta última década, no que se refere ao diagnóstico e ao tratamento,
pouco se divulga sobre esse distúrbio. Além disto, nas áreas de psicopedagogia e
psicologia ainda predomina a idéia de que a criança disléxica desenvolve o medo e
bloqueio relacionado à linguagem escrita.
Não é um tema abordado frequentemente, nos eventos médicos, alopáticos e
homeopáticos. Poucos são os casos descritos e raras pesquisas são realizadas
neste campo. Por estes motivos, a produção científica observada no nosso país não
é representativa. Portanto, os médicos formados em nossas universidades não
recebem adequada instrução a respeito desta disfunção, bem como não são
expostos a novas informações quando realizam seu processo de educação
continuada nos eventos médicos e ao assinarem revistas científicas. Estes mesmos
médicos serão aqueles que não irão reconhecer a Dislexia e por este motivo, a
grande maioria dos casos no Brasil não é diagnosticada. Uma das conseqüências
deste contexto é o elevado índice de evasão escolar. A outra, é a prescrição cada
vez mais freqüente de medicamentos específicos para déficit de atenção e
antidepressivos em crianças. Este fato certifica nossa pouca capacidade de realizar
intervenções com precocidade.
Os sintomas nucleares da Dislexia são aqueles que comprometem a leitura, a
escrita, e por vezes a fala. Estudos bem conduzidos mostram que os disléxicos,
melhoram a sua fluência à leitura quando submetidos a método específico de
alfabetização aplicado diariamente, por um prazo de no mínimo 1 ano. Este
compreende o treino da consciência fonêmica seguido da aplicação de um método
de leitura apropriado. Apesar da melhora, nunca se alcança à fluência de um bom
leitor. A leitura sempre será muito cansativa para este paciente. Outro dado
importante evidenciado pelos estudos é que na área da escrita a melhora não é
relevante, ou seja, os erros persistem.
Temos na Homeopatia uma série de medicamentos que apresentam na sua
patogenesia sintomas disléxicos. Os sintomas de dificuldade de leitura e escrita são
antigos, raros, característicos, peculiares e intensos e devem ser valorizados para a
escolha do medicamento homeopático. Devemos acompanhar a sua evolução no
seguimento do caso.
Sabemos, no entanto, que a grande maioria dos pacientes que apresentam
esses sintomas não os relata. No consultório homeopático, frequentemente
avaliamos crianças com queixas de Déficit de Atenção, baixa auto-estima, Enurese
Noturna, Encoprese, agressividade e Depressão. Os questionamentos referentes ao
processo de leitura e a escrita dessas crianças devem ser realizados, pois este
hábito
amplia
nossa
capacidade
de
investigação.
Caso
estejam
em
acompanhamento fonoaudiológico ou psicopedagógico, será útil entrar em contato
com esses profissionais. Esta ação irá aprimorar nossa capacidade de modalizar os
sintomas encontrados.
Entre os adultos o relato espontâneo destes sintomas é ainda mais raro. Esses
pacientes se encontram nos consultórios homeopáticos com os diagnósticos de
alcoolismo, depressão, ansiedade, problemas de memória, isolamento social,
agressividade, etc. A grande maioria dos adultos disléxicos tem vergonha de admitir
as suas dificuldades de leitura e de escrita, perdendo-se desta forma, na consulta
homeopática, a oportunidade de reconhecer esses sintomas. O histórico de evasão
escolar, a constante mudança de emprego, o desemprego, a dificuldade para
nomeação de objetos, pessoas e lugares, a ocorrência de erros ao falar, podem ser
indícios de distúrbios da leitura/escrita. Relatos como “Odeio ler” ou “Nunca gostei
de estudar”, podem servir de alerta para a suspeita diagnóstica.
A relativa desinformação a respeito da Dislexia atinge igualmente alopatas e
homeopatas. Entretanto, pela natureza de sua prática, o médico homeopata possui
maior possibilidade de conhecer os seus pacientes. A cura torna-se plausível
quando o homeopata alia o conhecimento ampliado, valorizando o sintoma primário
e não apenas os secundários, à ampla gama de medicamentos homeopáticos.
Podemos encontrar os sintomas característicos de Dislexia no repertório digital,
Dr. Ariovaldo Ribeiro Filho, como:
A. Sintomas da leitura:
MENTAL - confusão mental- lendo
MENTAL – confusão mental- lendo-entender (o que lê), se ele tenta
MENTAL – embotamento, lerdeza, dificuldade de pensar e compreender.
MENTAL – inquietude- lendo
MENTAL – Ler- incapaz de ler-crianças, em
MENTAL – memória- fraqueza de- letras- nome das letras, para os
MENTAL – memória- fraqueza de- letras- unir vária letras, sobre como
MENTAL – memória-fraqueza de-leu, para o que - acabou de ler, para o
que
MENTAL – memória- fraqueza de- letras- iniciais, letras.
B. Sintomas da escrita
MENTAL – erros- escrevendo
MENTAL – erros escrevendo- acrescenta letras
MENTAL – erros- escrevendo-confunde letras
MENTAL – erros- escrevendo- erradas- figuras e letras
MENTAL – erros- escrevendo-erradas, palavras
MENTAL – erros- escrevendo-omite letras
MENTAL – erros- escrevendo-omite sílabas
MENTAL – erros- escrevendo-aversão a
MENTAL – erros- escrever-incapacidade para
MENTAL – escrever- incapacidade para
MENTAL – escrever- incapacidade para - aprender a escrever em crianças,
para
MENTAL – memória- fraqueza de – ortografia, para
MENTAL – erros- escrevendo- transpõe- letras
C. Sintomas da fala
LINGUAGEM, CONVERSAÇÃO E VOZ – erros ao falar
LINGUAGEM, CONVERSAÇÃO E FALA – erros no falar- palavraspronuncia mal
LINGUAGEM, CONVERSAÇÃO E VOZ – erros no falar- erradas sílabas
LINGUAGEM, CONVERSAÇÃO E VOZ – erros no falar- palavraserradas, usando palavras
LINGUAGEM, CONVERSAÇÃO E VOZ – erros no falar- palavraserradas- usando palavras- nomes errados, chama as coisas pelos
LINGUAGEM, CONVERSAÇÃO E VOZ – erros no falar- soletrando
LINGUAGEM, CONVERSAÇÃO E VOZ – erros no falar- palavrasestranhas e são soletradas
MENTAL – fraqueza de – expressar-se para
Passaremos agora à transcricao de um caso clínico extraído de uma
monografia apresentada para conclusão de curso de homeopatia, no ano de
2004, cujo título é: “Hiperatividade e déficit de atenção com tratamento
homeopático”3. Esse caso foi atendido e tratado seguindo a técnica unicista, que
determina que a escolha do medicamento deve ocorrer através da valorização
dos sintomas raros, característicos, peculiares e intensos de cada paciente.
Através da análise desse caso, pretendemos exemplificar como podemos
aprimorar nossa semiologia homeopática e faremos uma reavaliação da
evolução do caso baseados nos conhecimentos sobre a Dislexia.
Descricao de caso
Nome: L. P. Z.
DN: 13/03/1992
Idade: 11 anos
Nome do pai: P. R. Z.
Nome da mãe: S. P. Z.
Procedência: Itatiba - SP
Naturalidade: Itatiba – SP
Data da primeira consulta: 24/05/2003
Motivo da consulta:
Meu filho é muito desatento
Relato de caso pela mãe
O L. P. Z., desde o jardim, começou com problemas emocionais e problemas
de fono. Tinha problemas de fala também, trocava letras ao falar (“R” com “L”). Os
problemas de fono ele conseguiu corrigir, o que está complicado é que ele está
muito disperso, fora que a leitura dele está muito ruim, e também ele é muito
inseguro. A professora solicitou que eu o levasse a um neuropediatra, e o mesmo
constatou que ele só tem problemas de dispersão, receitando o Tofranil. Tomou o
medicamento por 6 meses no ano passado e deu uma melhorada, porém agora
voltou a piorar e o médico disse que ele vai ter que tomar o remédio novamente,
mas eu não queria ficar dando este tipo de remédio para o meu filho. A professora
mandou uma avaliação, dizendo que ele é esforçado e dedicado, sempre apresenta
suas atividades em dia, é responsável, mas, ao mesmo tempo mostra-se
extremamente inseguro, sempre pergunta se está bom, leva tudo para ela ver se
está certo. Tem também dificuldade para escrever, se esquece de letras ou sílabas,
confunde fonemas, não pontua. Se recusa fazer exercícios oralmente, gagueja
bastante durante a leitura (fica nervoso, e a professora diz que é por insegurança
dele). Existem palavras que não consegue ler. Para apresentar trabalhos sem ler se
sai bem. O seu relacionamento com os colegas na sala de aula, é muito bom. Não é
difícil de fazer amizades. Outra coisa que a professora falou, é que ele não coloca
tudo o que sabe por insegurança. Antes das provas ele sempre vai pensando que
vai mal. E vai bem? Geralmente se sai bem, às vezes tira algumas notas baixas.
Nunca fomos de cobrar notas. Não gosta de estudar em casa, pois não tem
paciência. Só faz a lição se estou junto. Televisão, se o filme lhe interessa assiste
todo. Quando joga no computador ele acompanha o jogo com o corpo. Durante o
filme, fica dando pulinhos no sofá. Para comer só come se for à frente da televisão.
- Como ele é? Ele é muito obediente, até demais. Ás vezes retruca um pouco, mas é
raro e acaba sempre aceitando, aceitando até demais. Faz tudo que os colegas
querem. Ele não é muito organizado com as coisas dele, larga o tênis, roupa, tudo
em qualquer lugar. É cuidadoso, não é de quebrar. Ele é muito sentimental, porque
se nós chamamos sua atenção, seus olhos se enchem de lágrimas. Não gosta de
tomar banho, tem preguiça, mas também quando entra, não quer mais sair.
- Medo? Não acho que tenha, é mais insegurança. Dorme sempre sozinho, com luz
apagada, não me lembro de nenhum medo.
- Sono? Dorme bem, sono pesado, às vezes reclama de pesadelo de monstro. Às
vezes comenta que não dormiu bem, mas acho que é coisa dele, porque dorme a
noite toda, e tem preguiça para levantar. Ele se mexe muito durante o sono. Posição
de lado e costas com mais freqüência, e se cobre até a cabeça.
- Como reage com a temperatura? Ele não gosta de frio, pois é friorento, se sente
melhor no verão.
- O que gosta de comer? Arroz, feijão, peixe. Não gosta de carne vermelha, nem de
frutas e nem de verduras. Não gosta de doces caseiros, só de chocolate.
- Sede? Bebe muito pouca água. Bebe muito suco na hora das refeições.
- Transpiração? Transpira muito na cabeça, no couro cabeludo, e tem muito chulé,
cheiro muito forte nos pés.
- Como funciona o intestino? Ele sempre foi muito ressecado, demora para evacuar
e tem as fezes sempre duras desde pequenininho.
- O que mais? O pé dele descasca um pouco.
- Antecedentes pessoais: Nasceu de parto cesárea, bem, com 3500g e 51 cm. Ele é
alérgico desde pequeno, teve bronquite asmática até os 5 anos, e também dermatite
atópica. Já teve catapora, roseola e rubéola. O leite piorava sua pele por isso dei
muito tempo leite de cabra.
- L. P. Z.: Lembro-me de um sonho quando era pequeno, que acabava a luz, eu subi
no quarto para pegar uma vela, e quando desci novamente não tinha mais ninguém
e então eu fiquei sozinho. Não gosto de tomate nem de carne vermelha. Não tenho
muita sede.
Exame físico:
Peso: 50.700g Estatura: 1,57 m.
Otoscopia e orofaringe: sem anormalidades Ap. CV: Bulhas rítmicas normofonéticas
sem sopros. Abdômen: sem alterações.
Axilas com cheiro forte. Pés com leve
descamação. Restante do exame físico sem anormalidades.
A – Síndrome mínima de valor máximo
A1 – MENTAL – Complacente; disposição dócil; obediente
Paciente – “Ele é muito obediente, até demais”! Ás vezes retruca um
pouco , mas é raro e acaba sempre aceitando, aceitando até demais.”
A2 – Sensível; hipersensível
Paciente – “Ele é muito sentimental, porque se nós chamamos a sua
atenção, seus olhos se enchem de lágrimas.”
A3 – MENTAL – Erros leitura
Somado com;
MENTAL - erro escrevendo
Paciente - “Fora que a leitura dele está muito ruim”. “Recusa-se a fazer
exercício oralmente, gagueja bastante durante leitura.” “Existem palavras
que não consegue ler.” “Tem também dificuldades para escrever, se
esquece de letras ou sílabas, confunde fonemas, não pontua.”
A4 – BOCA – linguagem; fala; gagueira
Paciente – “Se recusa a fazer exercícios oralmente, gagueja bastante
durante a leitura.”
A5 – RETO – Constipação; difícil evacuação
Somado com:
FEZES – Fezes duras
Paciente – “Ele sempre foi muito ressecado, demora para evacuar, e tem
as fezes duras desde pequenininho.”
A6 – BEBIDAS – ALIMENTOS – leite agrava
Paciente – “O leite piorava a sua pele, por isso dei muito tempo leite de
cabra.”
A7 – BEBIDAS – ALIMENTOS – Carne de vaca; aversão
Paciente – “Não gosta de carne vermelha.” “Não gosto de tomate nem de
carne vermelha.”
A8 – BEBIDAS – ALIMENTOS – frutas; aversão
Paciente – “Não gosta de carne vermelha nem de frutas”
A9 – CABEÇA – Transpiração de couro cabeludo
Paciente – “Transpira muito na cabeça, no couro cabeludo”.
A10 – EXTREMIDADES – Odor de pés; repugnante sem transpiração
Paciente – “Tem muito chulé, cheiro muito forte nos pés.”
B – Diagnóstico clínico:
B1 – Clínico – Transtorno do desenvolvimento da fala e da linguagem
(Dislalia: troca de letras ao falar e Gagueira)
Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, com
predomínio de desatenção
Constipação intestinal crônica
Bronquite asmática
Dermatite atópica
B2 – Miasmático – Etapa secundária da psora, segundo Masi Elizalde
B3 – Lesionabilidade – paciente funcional
B4 – PCD – Melhora sem agravação
B5 – Medicamentoso – Silicea terra
C – Conduta:
Silicea terra: LM2; LM3; LM4; LM5. Tomar 1 gota uma vez ao dia, quinze dias cada
frasco.
Retorno em 2 meses.
Avaliação da escola:
L. P. Z. é um garoto esforçado e dedicado. Sempre apresenta suas atividades
em dia, é responsável. Ao mesmo tempo mostra-se extremamente inseguro. Todas
as atividades que efetua traz para que eu as veja, perguntando se está bem feita.
Apresenta muitas dificuldades para redigir, se esquece de letras os sílabas, não
reconhece os “rr”, confunde fonemas, não pontua. Ás vezes, quando é solicitado
para fazer um exercício oralmente, se recusa a faze-lo, não o forço. Na leitura
gagueja bastante e há palavras que não consegue ler. Quanto à oralidade (sem
texto em mãos para ser lido), se sai muito bem. Apresentou um trabalho sobre a
linha do tempo para a classe e o fez muito bem, sem gaguejar, sem confundir-se. O
seu relacionamento com os colegas, na sala de aula, é muito bom. (Professora
Denise Zanatta)
Avaliação neurológica:
L. P. Z. apresenta uma predominância de Déficit de Atenção, porém preenche os
requisitos que o enquadram como portador de TDAH. Predominam a desatenção,
dificuldade em concentrar-se, problemas relacionados com o desenvolvimento da
linguagem escrita e falada e uma leve ansiedade.(Dr. Carlos Alberto Lemos CRM
66.674 – Neurologista)
1º Retorno: 26/07/2003
- Como está L. P. Z.? Mãe: Acho que está mais alegre , mais brincalhão. Ontem
teve reunião de pais na escola, e as professoras disseram que já teve melhora. Foi
na fonoaudióloga e esta também achou que a sua interpretação está bem melhor, e
também achou ele bem mais atento. Voltaram algumas lesões de pele, nas flexuras
dos braços, que ele tinha quando menor, ele sempre teve dermatite atópica.
- Quanto tempo após o início da medicação? Aço que mais ou menos 20 dias após
(estava no 5º dia do LM3 ), mas logo melhorou.
- Usou alguma coisa? Não. Ele também não reclamou mais dos pesadelos. Na
escola a professora acha que ele está mais solto e está entendendo melhor os
textos. Está comendo melhor e está indo mais animado para as aulas.
- L. P. Z.: Eu acho que estou menos ansioso, não estou tão preocupado. Melhorou
bem meu desempenho em relação aos outros colegas. Estou conversando mais e
colocando mais as coisas. Nas apresentações dos trabalhos, estou ficando menos
tenso, estou me sentindo melhor na leitura, mais à vontade. Ainda estou gaguejando
nas leituras porém bem menos. Não estava tendo mais pesadelos, até que um dia
quebrei o braço, e logo após a redução da fratura tive um sonho: Estava em um
lugar onde havia um cachorro, que foi crescendo. O lugar parecia uma garagem,
onde as portas se fecharam quando tentei fugir do cachorro, e isso me deu medo.
Outro dia também sonhei que estava andando de bicicleta, quando veio um cachorro
grande atrás de mim, e eu quase caí, e eu então entrei na casa do meu amigo.
- O que representa o cachorro? Tenho medo, mas não sei o que é.
- O que você acha que precisa melhorar? Gostaria que melhorasse ainda mais
minha concentração, porque às vezes ainda vôo quando a professora fala.
Exame físico:
Peso: 54.200g. Est.: 1,59m.
Pele um pouco ressecada, restante sem anormalidades.
Discussão:
O paciente apresentou melhoras significativas no seu estado mental (mais
alegre, mais brincalhão, mais solto, mais atento, menos ansioso, menos tenso); no
intelecto (sua interpretação está melhor); no seu apetite. Houve retorno de sintoma
antigo (voltaram algumas lesões de pele). Não estava mais tendo pesadelos, até
que surgiu um noxa (fraturou o braço).
Conduta:
Mantido Silicea terra: LM6; LM7; LM8; LM9.
Retorno em 2 meses.
2º Retorno: 24/09/2003
- Como está L. P. Z.? Mãe: Diminuiu muito a ansiedade dele, está ficando bem
menos irritado e melhorou muito o medo de ficar sozinho. Não esta mais trocando
tanto as letras na hora de escrever. Está bem mais tranqüilo na hora de assistir
televisão.
- Como assim? Não fica mais inquieto no sofá como ficava antes do tratamento.
- Sono? Tranqüilo, só que vai dormir tarde e para acordar cedo é um sacrifício.
Apetite continua o mesmo, e também a desorganização. O intestino melhorou bem,
as fezes já não estão tão ressecadas e não sangrou mais. Continua mais solto,
alegre e brincalhão. Acho que a pele também melhorou bem.
- E você L. P. Z., o que tem a dizer? Acho que estou bem menos nervoso e quase
não estou mais gaguejando na hora da leitura na escola. Também quase não troco
mais letras. Minha sede continua a mesma, não bebo muita água. Não lembro de
nenhum sonho, mas também não tive pesadelos.
- O que mais? Mais nada a dizer.
Exame físico:
Peso: 56 kg Estatura: 1,62 m.
Leve escoriação em flexura de braço esquerdo. Restante do exame físico sem
anormalidades.
Discussão:
O paciente continua melhorando o seu estado mental (menos irritado, diminuiu o
medo de ficar só, a troca de letras na hora de escrever e a inquietude na hora de
assistir televisão. Quase não está mais gaguejando na hora da leitura.) Houve
também melhora dos sintomas gerais e locais (intestino funcionando melhor, fezes
menos ressecadas, pele menos seca). Não apresentou mais pesadelos.
Conduta:
Silicea terra: LM10; LM11; LM12.
Retorno em 45 dias.
3º Retorno: 7/11/2003
- Como esta L. P. Z.? Mãe: Está mais tranqüilo. Semana passada teve provas na
escola e não ficou nervoso e ansioso como ficava antes. A própria professora fala
que ele está bem mais tranqüilo e atento.
- E você L. o que acha? Realmente, dessa vez não fiquei tão nervoso para fazer as
provas. Durante as leituras não estou mais gaguejando, mas acho que gostaria que
ainda melhorasse mais a minha atenção. Estou dormindo bem, meu intestino está
funcionando bem, nunca mais prendeu meu intestino.
Mãe: Não está mais tendo problemas de leitura, esta conseguindo colocar melhor as
idéias. Acho que está mais independente, se virando melhor. A pele também
melhorou bastante. A professora o tem elogiado muito.
L. P. Z.: Estou me achando mais desinibido, mais solto. Não estou mais ficando
nervoso antes das provas.
Exame físico:
Peso: 58.500 g. Estatura: 1,64 m.
Pele bem hidratada sem lesões. Suor com cheiro forte nas axilas. Restante do
exame físico sem anormalidades.
Discussão:
Paciente mantendo melhora do seu estado mental (diminuiu a ansiedade por
antecipação, mais atento, menos inibido, mais solto, não esta gaguejando durante
as leituras, mais independente), do seu intelecto (conseguindo colocar melhor as
idéias), e dos sintomas gerais (melhora da obstipação intestinal e do ressecamento
da pele).
Conduta:
Silicea terra LM13; LM14; LM15; LM16
Reavaliação do caso considerando a dislexia
A partir do exposto nesse trabalho, faremos uma reavaliação do caso transcrito,
usando os conhecimentos atuais sobre os Distúrbios da fala e da linguagem.
1. O diagnóstico de “Transtorno do desenvolvimento da fala e da linguagem”, dado
pelo neurologista, é um diagnóstico sindrômico, que compreende, entre outros, a
Dislexia. Os sintomas característicos de Dislexia apresentados pelo paciente eram:
a. sintomas da fala
- “começou com problemas emocionais e problemas de fono no jardim “
b. sintomas da leitura
- “leitura ruim”
- “gagueja bastante durante a leitura”
- “existem palavras que não consegue ler”
- “se apresenta trabalhos sem ler se sai bem”
- “não compreende o que lê”
c. sintomas da escrita
- “dificuldade para escrever, se esquece de letras ou sílabas, confunde
fonemas”
-“ apresenta dificuldade para redigir, se esquece de sílabas, não reconhece
o rr, confunde fonema, não pontua”
d. outros
- “insegurança”
- “sempre pensa que vai mal nas provas”
- “ansiedade”
O diagnóstico de déficit de atenção é uma das possibilidades diagnósticas. Os
sintomas acima são suficientes para concluir o diagnóstico de Dislexia. Segundo
dados obtidos através do “Connecticut Longitudinal Study”7, a dificuldade para ler e
escrever ocorre tanto nos pacientes com Déficit de Atenção como nos pacientes
com Dislexia. A natureza da dificuldade nos permite distinguir claramente os dois
grupos. Os portadores de Déficit de atenção apresentam dificuldade para ler e
compreender, pois pulam palavras, pulam linhas inteiras, mas quando solicitados,
conseguem ler as palavras isoladamente. O segundo grupo, formado pelos
portadores de Dislexia, comete erros de natureza fonêmica à leitura e à escrita.
Dentre estes, os mais freqüentes são: inclusão ou exclusão de letras ou sílabas,
confusão de fonemas, incapacidade de ler ou compreender uma palavra conhecida;
2. O relato da professora e do paciente foi bastante preciso, fato não muito comum.
Este relato auxiliou na repertorização do caso e conseqüente escolha do
medicamento adequado;
3. Os sintomas da linguagem, utilizados para compor a Síndrome Mínima de Valor
Máximo, poderiam ter sido melhores pesquisados e modalizados. O sintoma
gagueira, parece ser relacionado à dificuldade de leitura, pois somente se manifesta
quando o paciente lê. Não ocorre em outros momentos da vida diária. Talvez tenha
havido um engano na compreensão deste sintoma;
4. O paciente apresentava sintoma de troca de fonemas, troca de letras ou sílabas ,
dificuldade para ler algumas palavras e dificuldade de compreensão de textos.
Esses ocorrem devido à deficiência do sistema neural, responsável pela consciência
fonêmica,
localizado
na
área
occipito-temporal
esquerda,
segundo
dados
consistentes obtidos através do Connecticut Longitudinal Study7, com o recurso da
Ressonância Magnética funcional. Após 6 meses de tratamento homeopático houve
melhora da velocidade de leitura e da compreensão de texto. O paciente parou de
gaguejar ao ler e parou de cometer erros escrevendo.
Essa melhora substancial, não encontra explicação na grande maioria dos
estudos realizados até os dias de hoje. Esses estudos mostram que a dificuldade de
escrita permanece sempre, independente das intervenções para melhorar a fluência
à leitura.
A velocidade de leitura e a compreensão do material lido podem
apresentar melhora. Esta só ocorre com a aplicação diária de métodos de leitura
específicos para Dislexia, por um período de 1 a 3 anos.
Quando analisamos os distúrbios da fala e da leitura a partir dos
conhecimentos atuais obtidos através da neurociência, podemos concluir pelo
exposto acima, que a evolução desse caso foi uma evolução inesperada.
O
tratamento
e
homeopático
atuou
melhorando
a
consciência
fonêmica
consequentemente a leitura e a escrita. Houve melhora do humor, melhora da
ansiedade e do Déficit de Atenção apresentados pelo paciente. As evidências
científicas mostram que a melhora na leitura e escrita levam a melhora espontânea
dos sintomas secundários como Depressão, Déficit de Atenção, agressividade, e
outros.
Entendemos, baseados no exposto acima, que a Homeopatia pode ser uma
opção para o tratamento da Dislexia. Com um medicamento único, podemos tratar a
totalidade sintomática do paciente disléxico, com eficácia superior aos tratamentos
não medicamentosos preconizados atualmente.
CONCLUSÃO
A Dislexia é o mais prevalente distúrbio da aprendizagem. A partir dos avanços
da neurociência, que tem mostrado como o cérebro lê e processa a linguagem,
podemos compreender como a Dislexia se manifesta na estrutura cerebral, e quais
métodos de intervenção são efetivos e necessários para a adaptação dos indivíduos
disléxicos à sociedade alfabetizada. Os estudos mostram hoje, de forma bastante
conclusiva, que os pacientes disléxicos podem melhorar sua habilidade lingüística,
porém essa melhora só ocorre quando são submetidos a treinamentos específicos.
Quando o diagnóstico e a conseqüente abordagem terapêutica são realizados com
prontidão, podemos diminuir a incidência de uma série de comorbidades e
alterações de comportamento, freqüentes nos disléxicos.
A queixa de dificuldade na leitura e escrita é raramente citada no atendimento
homeopático, em especial pelos adultos. A ênfase recai quase que exclusivamente
nas conseqüências destas alterações. Mesmo quando citados, não são relevados,
pois não estamos treinados para modalizar esses sintomas.
O reconhecimento
desses sintomas e a sua modalização poderão nos permitir uma melhor escolha do
medicamento a ser dado.
No caso pesquisado e reavaliado, os sintomas de dificuldade de leitura e
escrita foram relatados na anamnese e usados para compor a Síndrome Mínima de
Valor Máximo e posterior escolha do medicamento, sendo observado uma melhora
da fluência na leitura e uma melhora na escrita, decorridos 6 meses de tratamento
homeopático.
Essa melhora na fluência ao ler só é observada nos indivíduos disléxicos
quando submetidos a um programa de leitura diário por no mínimo 1 ano. A melhora
na escrita não ocorre na maioria dos casos.
O fato acima nos permitiu concluir que o tratamento homeopático foi
responsável pela evolução positiva do caso, nos encorajando a recomendar que
esse trabalho dê início a uma nova linha de pesquisa na medicina homeopática
visando:
- Promover a realização de patogenesias com os medicamentos que apresentam
sintomas disléxicos e proceder a Ressonância Magnética funcional antes e durante
a experimentação. Este estudo seria realizado com a finalidade de demonstrar se
ocorrem mudanças nos padrões de ativação da Ressonância Magnética funcional
nos experimentadores que desenvolveram sintomas disléxicos. Esse estudo
demonstraria a ação do medicamento homeopático;
- Realizar estudos com crianças disléxicas que tenham sido submetidas à
Ressonância Magnética funcional. Rever o padrão desse exame funcional após o
tratamento homeopático. Este estudo teria a finalidade de observar o impacto do
tratamento homeopático e a correlação entre a evolução dos sintomas disléxicos e
alteração nos padrões observados à Ressonância funcional;
- Realizar estudos em parceria com a Associação Brasileira de Dislexia observando
a evolução dos sintomas disléxicos, pré e pós tratamento homeopático, dos casos
de Dislexia diagnosticados nessa instituição.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Associação Brasileira de Dislexia. Disponível em: www.dislexia.org.br.
Acesso em 02/10/2008.
2. SHAYWITZ,S. Entendendo a dislexia. Um novo e completo programa
para todos os níveis de problemas de leitura. Porto Alegre: Artmed,2006
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Acesso em 22/07/2008.
25. RIBEIRO FILHO,A. REPERTÓRIO DE HOMEOPATIA DIGITAL, 2006. 1CDROM, 1 manual. Programa eletrônico para repertorizacao.
Ficha de avaliação de Monografia – cópia aluno
Monica Luisa Rapp Schmidt
Homeopatia, uma Proposta Terapêutica Para a Dislexia
Conceito:
Tópicos de análise
Ótimo
Bom
Médio
Regular
Fraco
2.3 DESENVOLVIMENTO
2.3.1. O tipo de pesquisa é caracterizado do
ponto de vista metodológico
1. DA ESCOLHA DO TEMA (30% DO PESO)
PESQUISA DE CAMPO (SE FOR O
CASO)
1.1. O tema selecionado é coerente e
adequado à área de estudo
2.3.2. A área de abrangência do estudo é
delimitada e explicada
1.2. Corresponde às necessidades e
expectativas da prática profissional
2. DA ESTRUTURA OU CORPO
ORGANIZACIONAL DO TRABALHO ( 50% DO
PESO)
2.1. O trabalho explica claramente:
INTRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO e
CONCLUSÃO, de forma conexa e
integrada
2.2. INTRODUÇÃO
2.3.3. A população e amostra são bem
definidas
2.3.4. A amostra (sujeitos) é bem descrita
e caracterizada
2.2.1. Explica a justificativa ou razões do
estudo, mostrando sua importância e
significado
2.2.2. Aborda a problemática de forma
ampla, apresentando os problemas
gerais que envolvem o tema
2.2.3. Delimita e especifica claramente a
ou as questões específicas que pretende
investigar
2.2.4. A ou as questões abordam
especificamente o ponto investigatório
da pesquisa
2.3.5. Os instrumentos de coleta de dados
apresentam coerência de elaboração,
validação e aplicação
2.3.6. As etapas metodológicas da
pesquisa são descritas com precisão
2.3.7. Os materiais e recursos
orçamentários (se for o caso) são definidos
e coerentes
2.3.8. Se for o caso (pesquisa de campo),
os dados são apresentados e analisados
com técnicas precisas, permitindo a
confirmação ou não, da(s) idéia(s)
sustentada(s) (hipótese e/ou
pressupostos)
PESQUISA TEÓRICA
2.3.9. O pesquisador apresenta as etapas
de levantamento e seleção de material
bibliográfico
2.3.10. As fontes (bibliografia pertinente)
são exploradas em sua amplitude e
necessidade
2.2.5. Uma idéia ou um conjunto de
idéias é claramente explicitado(a) em
forma de hipóteses ou pressupostos,
salientando aquilo que o pesquisador
pretende comprovar ou rejeitar. A tese é
explícita.
2.3.11. As teorias, princípios, fundamentos
e conceitos são explorados com
propriedade
2.2.6. As variáveis (para pesquisas
quantitativas) ou pressupostos (para
pesquisas qualitativas) são claras (os) e
determinadas (os)
2.3.12. As idéias são trabalhadas com
características precisas e criativas,
permitindo a organização de um “corpus
teórico” e não apenas a justaposição
(mosaico) do que foi extraído da leitura
2.3.13. A linguagem é clara, correta e
adequada
2.2.7. Os termos básicos são definidos
com clareza e precisão
2.4. CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS E
JULGAMENTO FINAL DO AVALIADOR:
(caso necessite de maior espaço, utilize as
costas da folha)
2.4.1. A conclusão retoma (retrospectiva)
os problemas, as hipóteses e/ou
pressupostos, bem como os objetivos e
fundamentos metodológicos e teóricos,
dando uma visão de todo trabalho
2.4.2. A partir de tópicos do item anterior,
a pesquisa apresenta conclusões claras,
precisas e coerentes com as idéias
(hipóteses e/ou pressupostos) que
pretende sustentar
2.4.3. A pesquisa apresenta sugestões
para outros estudos e abre novos pontos
a serem aprofundados
3. DA FORMA E APRESENTAÇÃO (20% DO
PESO)
3.1. A datilografia (digitação) é realizada
com precisão, revisão e estética
3.2. A datilografia (digitação) segue os
padrões de folha guia, margens,
separação de sílabas, espaçamento,
títulos e enumerações
3.3. Autores e obras são citados de
acordo com as normas da A.B.N.T.
3.4. A referência bibliográfica é precisa e
de acordo com as normas da A.B.N.T.
3.5. Capa, folha de rosto, sumário,
gráficos, tabelas e anexos são
apresentados de acordo com as normas
da A.B.N.T. e da EPH (em situações em
que a A.B.N.T. é omissa)
3.6. A organização (e os tópicos) do
trabalho permite a compreensão da
estrutura do mesmo, facilitando o
entendimento de seu conteúdo
3.7. O trabalho usa folhas de sulfite A4
brancas
Critério para a nota
Ótimo = O
Bom = B
Médio = M
Regular = R
Fraco = F
O conceito para aprovação será uma
média de BOM e ÓTIMO.
Avaliador: Núcleo de Metodologia
Científica
Avaliação final: _____ (__________)

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