O esporte das multidões - Projetos de pesquisa em Jornalismo

Transcrição

O esporte das multidões - Projetos de pesquisa em Jornalismo
FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL - UNIBRASIL
ALLAN JEAN SCHEID
CASSIO DECONTO MILÉO
O ESPORTE DAS MULTIDÕES:
VÍDEODOCUMENTÁRIO GONZO SOBRE CORRIDAS DE RUA
CURITIBA
2012
ALLAN JEAN SCHEID
CASSIO DECONTO MILÉO
O ESPORTE DAS MULTIDÕES:
VÍDEODOCUMENTÁRIO GONZO SOBRE CORRIDAS DE RUA
Trabalho de conclusão de curso apresentado
como requisito parcial à obtenção de grau de
Bacharel em Comunicação Social – Habilitação
em Jornalismo, das Faculdades Integradas do
Brasil – UniBrasil.
Orientador: Prof. Paulo Finger.
CURITIBA
2012
Dedicamos este trabalho a nossas
famílias,
pois
sem
o
apoio,
compreensão, amor e paciência, não
estaríamos aqui com este trabalho
concluído.
AGRADECIMENTOS ALLAN
Gostaria de agradecer especialmente a minha família, a qual eu considero a base de
tudo na minha vida. Graças ao apoio, amor e carinho da minha mãe Ana Clara
Scheid, do meu pai Arnildo José Scheid e do meu irmão Alex Jonathan Scheid
consegui enfrentar esses quatro anos de jornada acadêmica.
Ao meu parceiro de trabalho Cássio Deconto. Que além de contribuir muito na
elaboração desse documentário em conjunto, é um grande companheiro de boas
risadas, rodas de cerveja, UFC no game e narguilé.
Deixo meu especial reconhecimento e muito obrigado aos colegas de faculdade
Lucas Sarzi, Jéssika Alves e Jéssica Soares, que foram fundamentais no apoio de
conclusão do projeto.
Aos grandes amigos de faculdade com os quais aprendi muito fazendo e ajudando a
desenvolver o programa de rádio e site Sintonia. Em especial ao trio de “bacurís”
Lucio Woytovicz Junior, Louize Fischer e Denis Barbosa.
Agradeço também a todos professores do curso que de alguma maneira
compartilharam seus conhecimentos, e acima de tudo, transmitiram grandes valores
para minha formação. Em especial, Elaine Javorski que nos orientou durante os
meses de fevereiro e setembro na elaboração do projeto e Paulo Finger que deu
dicas
importantes
nos
ajustes
finais
do
trabalho.
Também
deixo
meu
reconhecimento ao professor Pena pelas valiosas aulas de Direito e Ética no
Jornalismo, para Felipe Harmata Marinho pelas aulas de rádio e novas mídias e
Valter Cunha Filho pelas riquíssimas aulas de História do Brasil e Teoria Política.
Não poderia deixar de citar minha gratidão a grandes amigos e amigas que fazem
parte do meu dia a dia. Pessoas com quem eu sei que posso contar em todos os
momentos: Andressa Didyk, Thiago Vile, Everson Aparecido, Leandro Kleinschmidt,
Maysa Rocha, Flávia Nunes, Bruno Kleinschimdt, Altair Silva, Tais Mara Marques,
Talita Luterek, Henrique Kleinschmidt, Jefferson da Silva, Jessica Pavoni, Gabriel
Schizzi de Moraes e Felipe Schizzi de Moraes.
AGRADECIMENTOS CÁSSIO
Em primeiro lugar quero agradecer a minha família, as duas mulheres da minha
vida, pois sem elas nada disso seria possível. Minha mãe, Eliana de Fátima
Deconto, que sempre me ajudou a acordar no horário para não perder as provas,
que ocorriam de manhã e os meus compromissos, me apoiando a todo o momento.
Minha irmã, Amanda Deconto, com seu bom exemplo, dedicação e empenho em
seus estudos sempre me dando, indiretamente, um gás a mais para a conclusão do
projeto e do produto em si.
Ao meu amigo e companheiro de projeto, Allan Scheid. Parceiro para todas as
horas. Uma boa convivência faz toda a diferença e o Allan é uma pessoa super
tranquila. Foram poucos os momentos de discussão, o diálogo sempre prevaleceu
nesta dupla.
Tenho muito a agradecer aos meus amigos, Rafael Krüger Vilas Boas e Joel Alves
Ferreira, que sempre me chamavam para festas e reuniões informais das quais
muitas eu não pude participar, mas sempre estiveram ao meu lado. Victor Alexis
Opazo Chandia, companheiro de corrida e um grande amigo conquistado durante
este ano. Jéssika Alves, Jéssica Soares e Lucas Sarzi, que contribuíram muito
durante os quatro anos de graduação, e, em especial, na conclusão deste trabalho.
Fabio Smaniotto Bernardes, com sua boa vontade em ajudar.
Gostaria de agradecer também aos mestres presentes durante toda esta trajetória
acadêmica. Não vou agradecer nominalmente a cada um, pois talvez possa
esquecer de alguém e cometer uma injustiça. Agradeço a todos vocês que
contribuíram de alguma forma para a conclusão deste curso de graduação.
Agradeço aos meus amigos que estão comigo desde que me conheço por gente, e
aos novos também. Quero mandar um grande abraço também aos meus amigos
Deacanos, que há cerca de dois anos têm feito uma grande diferença na minha vida.
RESUMO
Este projeto explica os fundamentos para a construção do videodocumentário
intitulado “O Esporte das Multidões”, desenvolvido com o intuito de colocar em
prática algumas técnicas do jornalismo gonzo na cobertura das corridas de rua. O
objetivo é explorar a narrativa em primeira pessoa e o jornalismo participativo dos
documentaristas para obter junto aos entrevistados informações de relevância social
ao telespectador. O trabalho utilizou de método observacional acompanhado de
pesquisa bibliográfica para obter informações sobre as técnicas de entrevista que
são similares as concepções do jornalismo gonzo. O método observacional também
foi utilizado para analisar a veiculação de notícias referentes às corridas de rua em
um programa televisivo com temática esportiva. Outro ponto de estudo são as
diferenças entre o atleta amador e o profissional, baseada em pesquisa documental
da Lei Pelé 9.615/98. Constatado por estudos de artigo o interesse do público em
temas relacionados ao esporte, o projeto utiliza o jornalismo esportivo para abordar
questões relativas aos aspectos emocionais e éticos que envolvem essa corrente
jornalística.
Palavras-chave: Jornalismo Gonzo. Corridas de rua. Atleta amador. Jornalismo
Esportivo.
SUMMARY
This project explains the fundaments for the production of the video documentary
called "The Sport of Crowds” developed with the aim of putting into practice some of
the gonzo journalism techniques in the coverage of street racing. The aim is to
explore the first-person narrative of participatory journalism and documentary
filmmakers to obtain information of social relevance to the viewer from interviews.
The study used observational method accompanied by bibliographical for information
on interview techniques that are similar conceptions of gonzo journalism. The method
was also used for observational and also field research, analyzing the dissemination
of news related to street racing in a sports-themed TV show. Another subject of study
are the differences between the amateur and professional athlete, based on research
of Law Pelé 9.615/98. Evidenced by articles study, the public interest in related to
this sport, the project uses the sports journalism to address issues relating to
emotional and ethical aspects involving this journalism style.
Keywords: Gonzo Journalism. Street Racing. Amateur athlete. Sports Journalism.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 5
2. DELIMITAÇÃO DO TEMA .............................................................................................................. 6
2.1 Corridas de rua: origens, termos e distâncias ....................................................................... 6
2.2 Corridas de rua: o atleta amador e o atleta profissional ...................................................... 8
2.3 O crescimento das corridas de rua ....................................................................................... 10
2.4 Apresentando os conceitos da sociabilidade e sua influência no esporte...................... 12
2.5 Fatores motivacionais das corridas de rua: a teoria da mente flow e aspectos de
ordem física e psicológica ............................................................................................................. 18
2.6 Relação da mídia televisiva com o esporte (análise do GE- Curitiba) ............................ 21
2.7 Problematização ...................................................................................................................... 23
3. OBJETIVO GERAL ........................................................................................................................ 24
3.1 Objetivos Específicos .............................................................................................................. 24
4. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................................. 25
5. REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................................... 29
5.1 O Jornalismo Gonzo ................................................................................................................ 29
5.2 O Jornalismo Gonzo na abordagem dos entrevistados..................................................... 30
5.3 As formas de produzir um documentário em paralelo ao papel do jornalista esportivo 35
5.4 A Teoria da Convergência e os componentes sistemáticos dos web documentários .. 39
6. METODOLOGIA............................................................................................................................. 44
6.1 Bases lógicas da investigação – os fatores motivacionais dos atletas atrelados ao
crescimento das corridas de rua .................................................................................................. 44
6.2 Procedimentos técnicos da investigação – conhecendo aspectos do esporte, a
estruturação dos documentários e a análise do programa Globo Esporte de Curitiba ....... 46
6.3 Formato da pesquisa – definindo o perfil do corredor de rua e a busca da informação
sobre o esporte ............................................................................................................................... 48
6.4 Apresentando os resultados da pesquisa descritiva .......................................................... 49
6.4.1 Fatores motivacionais para praticar a corrida de rua.................................................. 50
6.4.2 Como os atletas se informam sobre as corridas de rua (datas, trajetos, inscrições)
....................................................................................................................................................... 51
6.4.3 Avaliação da cobertura dos veículos de comunicação............................................... 53
6.4.4 Divulgação na mídia ......................................................................................................... 54
7. DELINEAMENTO DO PRODUTO ............................................................................................... 55
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 61
9. CRONOGRAMA ............................................................................................................................. 62
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................ 63
APÊNDICES ........................................................................................................................................ 66
1. INTRODUÇÃO
O videodocumentário “O Esporte das Multidões” pretende, por meio dos
preceitos do jornalismo gonzo, narrar e registrar como são as corridas de rua. O
produto audiovisual é narrado em primeira pessoa, estabelecendo um contato direto
dos documentaristas com os atletas. O objetivo do jornalismo gonzo é trazer um
método diferente do convencional na abordagem dos documentários que existem no
mercado e trazer uma visão diferenciada do assunto. Essas técnicas do gonzo
elencadas por Czarnobai (2003), em que o repórter participa ativamente do
acontecimento e tem liberdade para construir uma narrativa diferente das técnicas
tradicionais do jornalismo.
A intenção dos documentaristas com este projeto foi de conhecer um pouco
mais da vida dos atletas, bem como descobrir e averiguar quais são os principais
motivos que os fazem praticar o esporte e quais são suas motivações.
Durante a trajetória de nossa pesquisa, constatamos que os atletas se
reúnem muito entre si, sociabilizando-se uns com os outros em prol de um objetivo
pessoal. Segundo Alves e Pierranti (2007), o esporte contribui significativamente na
prevenção de drogas, na evasão escolar, no combate a criminalidade e na
ampliação de políticas públicas.
Outro fato para a escolha da produção de um videodocumentário foram os
estudos de Teresa Noll Trindade (2010), que comprovam que o documentário,
sobretudo o esportivo, é o mais bem aceito pela plateia.
Antes de sair a campo para as filmagens, fizemos uma pesquisa concreta
com mais de 200 atletas para tentar descobrir o perfil deles, quais seus interesses,
suas necessidades e suas expectativas no esporte.
Esses estudos serviram como base para produção de um documentário sobre
corredores de rua.
5
2. DELIMITAÇÃO DO TEMA
2.1 Corridas de rua: origens, termos e distâncias
A corrida é um esporte popularizado na Inglaterra no século XVIII e
expandido, posteriormente, na Europa e Estados Unidos no século seguinte.
Ganhou maior notabilidade no cenário mundial quando foi oficializada a distância do
percurso em 42.195 metros na Maratona Olímpica de Londres, em 1948. O ato de
praticar essa atividade está relacionado a um vasto campo de sentidos e
significados que se adequam aos diferentes momentos da existência humana. Os
registros sugerem que tanto as caminhadas quanto as corridas já eram praticadas
nas civilizações mais primitivas, principalmente por necessidade. Nossos ancestrais
percorriam cerca de 20 a 40 km por dia realizando pesca, caça e outras atividades
que exigiam um bom preparo físico (OLIVEIRA, 2010).
No Brasil, a maratona mais tradicional é a São Silvestre e o fato curioso é que
sua origem data do início do século XX. Na época, a prova não foi disputada com o
percurso de uma maratona, mas teve o número de 60 inscritos e foi organizada pelo
jornalista Casper Líbero, do periódico “A Gazeta”. O idealizador promoveu o evento
inspirado por uma prova noturna que a assistiu na França. Essa prova teve sua
largada às 23h40 do dia 31 de dezembro de 1925 (DALLARI, 2009).
Dor, superação ou risco de fracassos, são alguns termos bem recorrentes e
ligados a essa atividade esportiva, principalmente se tratando de longas distâncias
como a maratona. Essa tese é comprovada na história da “famosa e legendária
façanha que dá origem a maratona, a morte encerra a narrativa sobre um
mensageiro, colocando o drama físico em evidência e apresentando o cerne da
corrida de resistência” (OLIVEIRA, 2010, p.19).
A lenda fala sobre um soldado
grego que correu mais de 35 km entre as cidades de Maratona e Atenas para
comunicar a vitória dos gregos sobre os persas e morreu exausto após cumprir a
missão, fato que originou o nome da modalidade mais longa das corridas de rua
(OLIVEIRA, 2010).
6
O país grego pode ser considerado o pioneiro das corridas. Considerando que
a primeira competição esportiva1 que se tem notícia foi uma corrida nos jogos de 776
A.C, na cidade de Olímpia. A prova foi batizada pelos gregos de “stadium” e tinha
cerca de 200 metros.
A relação da corrida também com a palavra atletismo é
divagada pelo fato de ser considerado um esporte-base, ou seja, sua prática
corresponde a um movimento natural do ser humano, que é correr. Definição que
também é abrangente em modalidades de saltos e lançamentos que utilizam os
movimentos naturais da musculatura humana.
Entre os termos presentes na linguagem específica do corredor de rua,
encontra-se a expressão “fazer cooper”. Este termo encaixa-se na definição de
pessoas “não atletas” que praticam corridas em parques e locais públicos em que o
desempenho e o resultado não estão em primeiro plano. Esse tipo de prática
conceitua um dos princípios do atleta amador, que tem na sua base a participação
no esporte sem fins lucrativos (MIRANDA, 2007).
A origem do nome cooper é do médico americano Kennetth Cooper. O doutor
criou na década de 1970 a chamada corrida despreocupada, batizada de “teste do
cooper”. A atividade consistia em percorrer qualquer distância utilizando técnicas de
aeróbia que condicionavam o atleta a ter uma resistência maior e consequentemente
superar limites. O cooper virou “grife” de boa preparação física (OLIVEIRA, 2010).
A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAT)2 utiliza a regra 240 do manual
de competição da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF) para
estabelecer normas para as realizações das provas e reconhecimento dos
resultados. Somente a entidade internacional tem a autonomia para alterar essas
medidas. As distâncias reconhecidas como oficias são as provas de 10km, 15km,
20km, meia maratona (21,0975km), 25km, 30km, maratona (42,195km), 100km e
maratona de revezamento.
Outra exigência é que as corridas sejam realizadas
durante todo o trajeto em ruas pavimentadas.
1
Site da Confederação Brasileira de Atletismo – Origens do esporte http://www.cbat.org.br/atletismo/origem.asp. Acesso em 25/ago/2012
2
Mais informações sobre as Normas disponíveis no site da Confederação Brasileira de Atletismo
http://www.cbat.org.br/corrida/por_dentro_normas/artigo.asp?news=3
7
Medidas de segurança como postos de hidratação ou abastecimento de água
também são obrigatórios e a quantidade dos locais é estipulada conforme
determinação da Confederação. Nas provas também devem ter os chamados carros
madrinhas equipados com relógio digital para cronometrar, auxiliar e orientar os
líderes no trajeto a ser percorrido. É proibida qualquer ajuda externa ao atleta,
também é obrigatória a participação de árbitros uniformizados das federações de
atletismo e do delegado técnico da CBAt para observação e validação da prova. Os
resultados e relatórios do evento são preenchidos em súmula. Todas as definições
apresentadas aqui são válidas somente nas provas que contam com a organização
ou colaboração da CBAt.
2.2 Corridas de rua: o atleta amador e o atleta profissional
Para compreender melhor o âmbito esportivo em que está inserido tanto o
atleta amador como o profissional, é necessário avaliar a importância da prática no
cotidiano das pessoas. O esporte é conceituado como uma prática de sociabilidade
e que adquiriu no decorrer dos últimos anos uma nova concepção. A prática
esportiva engloba os valores relativos à educação, à saúde e ao lazer. Outro
aspecto importante condiz com questões ligadas à promoção do esporte por meio do
Estado. O artigo 217 da Constituição Brasileira impõe diversos direitos que
competem aos esportistas, dos quais podemos destacar a destinação de recursos
para a promoção prioritária do desporto educacional, o tratamento diferenciado no
desporte profissional e não profissional e a proteção e incentivo às manifestações
desportivas de criação nacional (BARROS, 1998).
Conforme o artigo 3º da Lei Pelé 9.615/98, a prática esportiva pode ser
manifestada em três instâncias. Classificado como desporto educacional, desporto
de participação ou desporto de rendimento. O primeiro deles visa o desenvolvimento
integral, classificando a manifestação como um ato de cidadania e prática de lazer, a
prática caracterizada como educacional é promovida nos sistemas de ensino
(colégios, faculdades) e não apresenta seletividade na escolha dos praticantes. Já o
manifesto de participação é praticado de maneira voluntária, quando o cidadão se
8
disponibiliza a participar da prática desportiva inserido no contexto de promoção a
saúde, ao meio ambiente e na plenitude da vida social. Por fim, o manifesto de
rendimento é doutrinado pelas regras que compreendem a prática esportiva em
níveis nacional e internacional. A finalidade deste manifesto é obter resultados
expressivos e integrar as pessoas do país (formar uma equipe/representantes) com
as de outras nações.
A definição do desporto de rendimento é o guia para a distinção entre os
profissionais e amadores, conforme parágrafo único do artigo 3º da lei. O atleta
profissional é caracterizado com os seguintes princípios:
I - de modo profissional, caracterizado pela remuneração pactuada em
contrato formal de trabalho entre o atleta e a entidade de prática
3
desportiva (Fonte: Site JUSTIÇA DESPORTIVA) .
A definição de atleta amador foi revogada conforme o Código Brasileiro da
Justiça Brasileira no ano de 2000. Anteriormente, atleta amador era definido como:
(revogado pela Lei nº 9.981, de 14.07.2000) - b) amador, identificado pela
liberdade de prática e pela inexistência de qualquer forma de remuneração
ou de incentivos materiais para atletas de qualquer idade (Fonte: site
JUSTIÇA DESPORTIVA).
O amador desde então, passou a ser reconhecido como atleta nãoprofissional:
II - de modo não-profissional, identificado pela liberdade de prática e pela
inexistência de contrato de trabalho, sendo permitido o recebimento de
incentivos materiais e de patrocínio. (alterado pela Lei nº 9.981, de
14.07.2000) (Fonte: site JUSTIÇA DESPORTIVA).
Essa mudança de designação do termo atleta amador para atleta não
profissional colaborou para uma melhoria na infraestrutura dos esportes no Brasil.
No caso das corridas de rua, essa permissão de incentivos materiais e patrocínio, é
disponibilizada pelas empresas que sediam os eventos e colaboram com os atletas
3
Site Justiça Desportiva – Lei Pelé. Link: http://justicadesportiva.uol.com.br/jdlegislacao_Pele.asp
acesso em 31 de março de 2012
9
tanto profissionais como os não-profissionais, distribuindo o chamado “kit corrida”. O
kit é composto com alimentos nutricionais, o número de inscrição do atleta e em
alguns casos, com o brinde de uma camisa estampada com os patrocinadores e
apoiadores do evento.
Outra característica que diferencia o atleta profissional do amador deriva da
identificação que os profissionais carregam ao representar o país em uma Olimpíada
ou em uma competição de grande porte. Essa identificação com o profissional é
comprada através da imagem, da cobertura dos meios de comunicação de massa
(MARTINS; REZER; CASTRO, 2002). Essa ideia é claramente elucidada no trecho
abaixo:
O esporte profissional é viável e tornou-se possível porque existe um
público disposto a pagar para apreciá-lo, para torcer, ser espectador
passivo, para transformar-se em fanático consumidor do espetáculo
esportivo, nem sempre belo, mas muito excitante e diversificado. O esporte
contemporâneo tem sido descrito como “trabalho”, “grande negócio”,
“espetáculo” modelado de forma a ser consumido por espectadores à
procura de um entretenimento excitante. O esporte vem se tornando uma
parte cada vez maior da indústria do lazer, e um fator decisivo para isto é o
papel desempenhado pelos meios de comunicação, em especial a televisão
(MARTINS; REZER; CASTRO, 2002, p.7).
Em razão dessas diferenças, os manifestos educacionais e de participação
citados na Lei Pelé se encaixam mais ao desempenho proposto pelo atleta amador
(não profissional), o qual desempenha a prática esportiva sem interesses lucrativos,
contando, apenas, com incentivos necessários para uma boa prática.
2.3 O crescimento das corridas de rua
A capital paranaense e o território nacional contabilizaram, nos últimos anos,
um notável crescimento na prática das corridas. No Brasil, a maratona de maior
visibilidade no cenário nacional é a tradicional prova da São Silvestre, que acontece
anualmente no dia 31 de dezembro, em São Paulo. Conforme os dados
apresentados no portal de notícias O Globo4, a 87ª edição realizada em 31 de
4
Portal de Notícias O Globo – São Silvestre terá número recorde de inscritos. Link:
http://oglobo.globo.com/blogs/pulso/posts/2011/12/23/sao-silvestre-tera-numero-recorde-de-inscritos423097.asp, acesso em 31 de março de 2012.
10
dezembro de 2011 teve número recorde com 25 mil inscrições, sendo 20.250 (81%)
participantes homens e 4.750 (19%) mulheres.
Conforme dados publicados no site da Agência de Notícias de Curitiba5 serão
realizadas aproximadamente, 65 provas em 2012, representando um aumento de 18
em relação ao ano anterior. No trecho abaixo, a matéria publicada também aponta o
crescimento no número de participantes, no Brasil e no cenário curitibano.
Um dos esportes que mais cresce no país, as corridas de rua movimentam
hoje mais de R$ 1 bilhão por ano. No Brasil, são mais de 600 provas, que
resultam em um investimento total estimado em R$ 50 milhões.
Curitiba tem se destacado dentro do cenário de corridas de rua, com um
crescimento de aproximadamente 10% de corredores ao ano. Para 2012,
com a realização de 65 eventos oficiais, a expectativa é contar com
aproximadamente 115 mil inscritos para as provas (Fonte: site Agência de
Noticias de Curitiba).
Segundo Fonseca (2012), em artigo publicado no mês de janeiro, na revista
digital EFDeportes, o crescimento no número de praticantes amadores se deve ao
fato de ser uma modalidade democrática e que não exige nenhum tipo de habilidade
específica. O baixo custo e a prática individual são outros pontos que influenciam no
aumento.
Seguindo essa linha de raciocínio, Truccolo e Maduro (2008) citam que além
de não exigir habilidades específicas, o surgimento de assessorias esportivas criou
um estereótipo de “profissionalização” em quesito de organização dos eventos e,
consequentemente, passou a atrair um maior público. Um ponto que justifica esse
indício, segundo os pesquisadores, é o aumento da participação de brasileiros em
maratonas internacionais, na Maratona de Nova Iorque, em 1982, apenas 2
brasileiros disputavam as provas; em 2004 esse número cresceu para mais de 500
inscritos. Conforme informações publicadas no portal Esporte Alternativo6, que
pertence ao grupo de comunicação da Rede Record, em 2011 a Maratona de Nova
5
Agência de notícias de Curitiba – Março terá quatro corridas de rua. Disponível em:
http://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/marco-tera-quatro-corridas-de-rua/25724. Acesso em: 31 de
março de 2012.
6
Publicação no portal Esporte Alternativo sobre a Maratona de Nova York de 2011. Disponível em:
http://www.esportealternativo.com.br/es/esportes/feiras-e-congressos/1-home-page/3836-maratonade-nova-york-anuncia-mudancas-nas-inscricoes-da-prova. Acesso em: 14 de agosto de 2012.
11
Iorque teve 358 brasileiros inscritos, sendo o 16º país em número de corredores e o
primeiro entre os países sulamericanos.
Um estudo produzido por Salgado (2006) avaliou o crescimento das corridas
de rua em São Paulo com base na participação dos atletas. O pesquisador utilizou
os dados da Corpore (Corredores Paulistas Reunidos), maior organizadora de
corridas de rua da América Latina, e fez um levantamento sobre o número de
corredores inscritos nas competições e também o número de pessoas que estão
associadas a instituição. O estudo constatou um super crescimento no número de
corredores entre 1997 e 2005. Na década de 90, eram 800 o número de associados
e 9.430 atletas inscritos nas provas promovidas em 1997. Em 2000, o número de
associados era cinco vezes superior, com 4.200 associados e 28.413 inscrições em
corridas. O salto se deu mesmo nos anos seguintes atingindo, em 2005, um total de
8.100 associados e com um total 103.260 inscritos nas provas da capital paulista
(SALGADO, 2006).
Para justificar tamanho crescimento Salgado (2006) justifica que ele advém
dos benefícios que as organizações de corridas de rua promovem aos atletas. Além
de buscar uma melhora na qualidade de vida, os praticantes ficam extremamente
orgulhosos de receber medalhas, camisetas e materiais que, de certa forma,
representam conquistas no ambiente familiar, e até mesmo, de trabalho.
Dados mais recentes publicados pelo portal da revista Runner´s World7 da
editora Abril, o número de corridas no Brasil tem aumentado significativamente,
sendo a cidade de São Paulo o local em quem mais são disputadas provas. Em
2010 foram 374 competições com um total de 416.210 corredores inscritos. Segundo
a Federação Paulista de Atletismo (FPA), no ano de 2001, apenas 11 provas eram
reconhecidas como corridas de rua oficiais.
2.4 Apresentando os conceitos da sociabilidade e sua influência no esporte
7
Dados do portal da Revista Runner’s World sobre o aumento do número de corridas no Brasil.
Disponível em:http://runnersworld.abril.com.br/noticias/corridas-rua-tem-maior-crescimento-ultimosquatro-anos-280713_p.shtml. Acesso em: 10 de setembro de 2012.
12
Na obra “O Conhecimento Comum”, de Michel Maffesoli (1988), o sociólogo
francês aponta diversos aspectos que caracterizam os movimentos de uma
sociedade. Utilizando de referências do campo da sociologia, o autor apresenta
definições que podem colaborar para uma análise de novas formas de sociabilidade.
Uma delas é o recurso metodológico da “forma”, na qual se obtêm uma noção da
sociedade estruturada pela imagem (MAFFESOLI, 1988).
As formas como os grupos da sociedade são compostos condizem com uma
descrição dispares de elementos que o pesquisador utiliza para analisar e comparar.
Criando, assim, uma espécie de afinidade morfológica, ou seja, essa “simpatia”
sujeita a mutações é interligada aos campos de pesquisa resultantes da experiência,
do acaso ou da subjetividade de quem está avaliando. Sendo assim, a “constelação
de imagens”, termo adotado por G. Durant e citado por Maffesoli, refere-se aos
pontos de observação do estudioso e as noções da organização metódica da
sociedade (MAFFESOLI, 1988).
A composição dos grupos da sociedade, citado no parágrafo acima por
Maffesoli, pode ser aplicado no esporte a três diferentes tendências, segundo Marco
Bettine Almeida (2011). A primeira delas é o esporte como componente do Mundo
da Vida, a segunda tendência coloca o Estado (governo) como propulsor do esporte,
e, por fim, a última tendência aponta o Mercado (dinheiro, capital) como motivador
das práticas esportivas.
A partir dessas diretrizes, o esporte e a sociabilidade entre os esportistas
estão constatados dentro de diferentes esferas que envolvem:
(a) a finalidade do indivíduo em fazer a atividade (partilhar, divertir, ganhar,
sobreviver); (b) os objetivos que está buscando (estética, saúde, trabalho,
sociabilidade, prazer, competir); (c) o espaço social em que ocorre a
atividade (jogos olímpicos, escola, parque, praia, clube); (d) as trocas com
outros sujeitos (sociabilidade, vencer, aprender); e (e) a ação a ser
considerada pelo agrupamento sobre a forma de expressão do esporte,
como a pedagógica, a de alto-rendimento ou a amadora (ALMEIDA, 2011,
p. 104).
A organização metódica da sociedade, mais especificamente de um
acontecimento dentro de um determinado grupo social, é explicada por Maffesoli por
via do pensamento do sociólogo G. Simmel:
Para julgarmos um acontecimento, não nos vamos orientar mais por um
13
objetivo final, situado fora deste acontecimento e que serviria para outorgarlhe sua medida..isto quer dizer que será preciso apreciá-lo em si mesmo,
como um atalho ou concentração da existência inteira. Nesta perspectiva, o
que se passa tem direito às suas credenciais justamente porque se passa.
O que não impede que o acontecimento seja passível de reflexão – mas
esta sabe reconhecer a profundidade fatual (MAFFESOLI, 1988, p. 212).
Considerando as esferas apontadas por Almeida (2011) e o acontecimento
fatual de Maffesoli (1988) baseado em Simmel, o web-documentário consiste em
averiguar se a sociabilidade acontece por meio dessas esferas na presença física e
prática dos documentaristas nos locais da prova.
Ao estudar os grupos sociais, os pesquisadores possuem uma noção
individual em relação ao objeto de observação. Essa ocorrência tange a uma
desproporcional parcialidade do pesquisador no que ele pretende mostrar. Nesse
caso é importante que o indivíduo tenha a noção de esquecimento que permita
constituir um novo olhar (MAFFESOLI, 1988). Dentro dessa concepção sugerida de
apagar da memória, o web-documentário visa estabelecer uma ideia de como se
relacionam os corredores de rua e quais os fatores motivacionais ligados a essa
prática esportiva.
Segundo Bickel; Marques e Santos (2012), a sociabilidade está inserida nos
espaços esportivos, e consequentemente, no cotidiano dos praticantes do esporte.
Locais como praças esportivas, parques, escolas, academias agregam uma série de
valores a respeito desse contexto. A liderança, o trabalho em equipe, o respeito as
regras são provenientes em todos os formatos de prática esportiva, valores que são
vivenciados e colaboram para uma consolidação de um grupo.
Além de trabalhar o aspecto da imagem como formador de um conceito do
pesquisador e de todos os envolvidos na sociedade, o sociólogo francês também
apresenta o “elogio do pluralismo”. Essa referência parte do princípio de B. de
Jouvenel, que disse que o espírito humano “prefere a unidade à realidade, porque é
possessivo e porque é mais fácil possuir a unidade do que a diversidade”. Em outros
termos, Mafessoli ratifica que o homem busca na sociedade o “ser/estar no mundo”
ou ser/estar-junto-com que consiste em representações coletivas dos indivíduos por
meio das realidades jurídicas, dos papéis sociais e da vida estabelecidas entre si
(MAFFESOLI, 1988).
14
No esporte, essa representação coletiva dos indivíduos é apresentada na
tendência que Almeida (2011) definiu como “Mundo da Vida” consistente no ideal de
que os indivíduos procuram na modalidade um espaço social com compartilhamento
de experiências e aprendizados. O exercício muscular é um canal de sociabilidade
que envolve diversão, estética, saúde e diversos outros termos formadores de um
grupo social (ALMEIDA, 2011).
Essas representações do homem na sociedade podem ser capturadas na
“ética do instante”. Em resumo, o pluralismo e as formas como os grupos se formam
são encontrados e esgotados nos atos da vida cotidianas, vivenciado no presente,
no momento do ser estar-junto com (MAFFESOLI, 1988).
E o que estabelece essa relação entre o pluralismo como formador de um
grupo social? Maffesoli recorre ao sociólogo francês E. Durkheim, que define “o
vínculo da simpatia” como ponto primordial para unir indivíduos por determinados
rituais festivos, ocasiões esportivas ou “amontoados” de todas as espécies.
Esse efeito afetivo da simpatia é que une indivíduos é potencializado no
esporte. Uma partida de futebol, uma corrida automobilística e a própria corrida de
rua são grandes fenômenos de socialização. Por meio do esporte é que as pessoas
se relacionam, formam amizades e criam vínculos ao primeiro contato, sem nunca
terem se visto, tudo em função da simpatia em desfrutar de um mesmo gosto
esportivo (BICKEL; MARQUES; SANTOS, 2012, p. 2).
Não só o pluralismo e o vínculo da simpatia podem ser explorados como uma
forma de constituir uma sociabilidade. No esporte, mais especificamente, a
sociabilidade pode ser relacionada a um vasto campo de relações humanas. “A
importância da educação para a prática esportiva e, ao mesmo tempo, uma
educação do esporte enquanto fenômeno social está na sua capacidade de
transmitir valores em qualquer ambiente” (ALMEIDA, 2011, p.107).
Avaliar um determinado fenômeno, como no presente estudo as corridas de
rua, requer uma abordagem polidimensional. O que se procura são diversos
diálogos para compreender um determinado fator. No campo das ciências sociais
isso significa que em função de determinadas situações, do mesmo modo, em
função do acaso, as hipóteses servem como modelos de explicação para uma
15
fecundidade de um “pluralismo coerente”, um grupo se forma por suas semelhanças
e diferenças que servem como base do vínculo da simpatia (MAFFESOLI, 1988).
Para fortalecer essa concepção do pluralismo, Maffesoli cita a “trama da vida
social” apresentada por Georges Balandier. O termo designa as noções de
equilíbrio, participação e integração que remetam ao processo organizacional de
uma sociedade ou determinado movimento, em que diversos elementos devem ser
considerados para compor um todo social. O pluralismo propõe uma fórmula
eloquente: “a sociedade é vários” (MAFFESOLI, 1988).
Uma prática muito comum dentro de equipes de corridas de rua é a
integração e o processo de colaboração que os indivíduos possuem. A troca de
vivências é um dos pontos dessa sociabilidade, ela contribui para que a pessoa
enxergue além de si mesma. Ajudar um companheiro, superar obstáculos e
dificuldades, desafiar os limites são alguns dos pontos mais recorrentes durante a
prática esportiva (BICKEL; MARQUES; SANTOS, 2012, p. 2).
No entanto, todas as especificidades apontadas do pluralismo remetem a
“conexões causais concretas”, o que, segundo Maffesoli, é um problema por não
explicar de maneira mais esclarecedora um determinado fenômeno social.
Não seria possível ser mais claro ou, ao menos, mais preciso. Esta
remissão às conexões causais, além do fato de que se constitui índice de
um ceticismo intelectual, dá satisfatoriamente conta deste complexo
arquitetônico das paixões e das situações que é o próprio do social. Quando
um fenômeno pode ser reduzido, diretamente ou em última instância a uma
única explicação, a imposição política, tendo a razão por base, já se
avizinha. Há uma grande ingenuidade por parte dos intelectuais ao
determinarem soluções unívocas – e esta ingenuidade não deixa de ter
consequências (MAFFESOLI, 1988, p.67).
Isso significa elaborar um sistema conceitual que fornece uma única chave
para compreensão de um determinado fenômeno social (MAFFESOLI, 1988). O que
não caracteriza a proposta desse estudo, que além de analisar o corpo coletivo das
corridas de rua, busca encontrar diversas chaves para compreender a prática do
esporte.
Um dos pontos da produção do documentário com corredores de rua
direciona para o que Maffesoli definiu como a sabedoria grega. Para ele, o
pensamento do pesquisador é marcado pelo equilíbrio, em que espírito e sensações
se mesclam, bem como a estética não entra em conflito com a intelectualidade. Em
16
outros termos, não se busca uma verdade incontestável para entender o fenômeno
social, o que se procura são verdades locais que permitam ao espectador se situar
no presente e avaliar qual a relevância desse grupo na sociedade (MAFFESOLI,
1988).
Para exemplificar, a relevância de um grupo no esporte, pode ser aplicada no
seu caráter educacional:
A educação consiste em transmitir normas de comportamento técnico
científico (instrução) e moral (formação do caráter), que podem ser
compartilhadas por todos os membros da sociedade. Por isso, a primeira
deve ser entendida como inseparável de princípios éticos como igualdade,
liberdade e justiça. Pode-se pensar a educação esportiva no ensino das
modalidades, das técnicas, das táticas, da visão espacial, no estímulo das
capacidades sensoriais, no desenvolvimento fisiológico, na busca pela
saúde e sua manutenção pela prática reiterada no tempo. Ao ensinar uma
modalidade, por exemplo, estar-se-á, também, estimulando padrões de
conduta, baseados em uma ética que é esportiva e social (ALMEIDA, 2011,
p. 108).
Entre os aspectos citados anteriormente: imagem, pluralização e equilíbrio na
busca da verdade são os componentes referenciais para a formação do corpo social.
O que significa dizer que a definição de que “a sociedade é vários” está intimamente
ligada as diferenças que ressurgem mais cedo ou mais tarde, pois os indivíduos
dentro do corpo social possuem sua individualidade em relação às preocupações,
desejos, ilusões referentes à prática de sociabilidade em que está inserida. É este
movimento que explica e justifica a “pluralidade” das razões. Não existe uma
verdade concreta. O que existe são verdades constituídas por hipóteses e indivíduos
(MAFFESOLI, 1988).
As representações sociais de um grupo também estão conectadas a
ideologias, conforme cita Maffesoli:
A ciência é fragmentária e incompleta; avança de maneira lenta e não
chega nunca a concluir-se: já a vida não pode esperar. Teorias são
destinadas a fazer viver, a fazer agir, são obrigadas a adiantar-se às
ciências e a completa-laspre naturamente.”(...) Estamos aqui em presença
de um verdadeiro reconhecimento da ação preeminente da ideologia no
querer-viver social. É claro que este reconhecimento é apenas provisório, e
o aspecto complementar das representações, que poderia inaugurar uma
linha de reflexão interessante, é julgado prematura. Não é menos verdade
que a ação humana, enquanto viver e enquanto fazer, acha-se embasada
em histórias, em discursos que sempre (se) antecipam à justificação
científica (MAFESSOLI, 1988, p. 94.95).
17
A ideologia remete a uma comunidade de ideias. Os grupos sociais que se
formam são “ideias em ato”. As ideologias só valem na medida em que se reúnem e
constituem uma sociedade. Essas são teses de E. Durkheim, apresentadas na obra
de Maffesoli, que argumenta que essas enumerações consistem em reconhecer que
as ideologias são perecíveis e efêmeras. Esse aspecto é que enaltece a grandeza
das representações de um grupo, acompanhando novas gerações e sendo moldada
e modificada por desejos, nostalgias, projetos que cedem espaço para novos
imaginários (MAFFESOLI, 1988).
O fenômeno da sociabilidade ou socialização amplamente debatido por
Mafessoli está presente nas corridas de rua em grande parte pelos trabalhos feitos
em equipe, que representam uma espécie de grupo social. A socialização é um dos
principais fatores no aumento das corridas de rua, os trabalhos em equipe são
fundamentais para manter o entusiasmo e servir como apoio durante momentos
difíceis em uma corrida de rua (FRANCO, 2010).
Focando-se especificamente ao termo da sociabilidade, ela designa da
linguagem (discurso) e realidade (ação) movida por um estilo. Basta prestar atenção
no estilo para obter nos diálogos notações que não possuem, necessariamente,
vínculos lógicos, um grupo social pode ser observado pela teatralidade ou
representatividade da vida cotidiana e dos seus gestos em si (MAFFESOLI, 1988).
2.5 Fatores motivacionais das corridas de rua: a teoria da mente flow e
aspectos de ordem física e psicológica
O videodocumentário tentará compreender que motivos levam as pessoas a
iniciarem as atividades físicas e quais são os fatores psicológicos que motivam os
atletas.
Uma das bases para compreender aspectos psicológicos que influenciam na
prática de atividades físicas é a teoria do flow criada pelo psicólogo americano
Mihaly Csikszentmihaly, que apresenta a motivação intrínseca como aspecto que
determina o prazer de um determinado indivíduo em realizar alguma determinada
função. Esse prazer causa no corredor de rua sentimentos intensos de satisfação
pessoal. O flow tem sido estudado e desenvolvido em países como Alemanha,
18
Japão, Itália, Estados Unidos, Canadá, Austrália. No Brasil, ainda existe uma
escassez de estudo a respeito do assunto (MASSARELA, 2009).
Para Napoli e Sene (2008) a motivação é elemento determinante para atingir
um bom desempenho na prática de atividades físicas e esportivas. Funcionando
como uma espécie de combustível no estímulo da ação humana, despertando um
estado emocional em que o praticante desprende-se de esforços para atingir seus
objetivos.
Vários fatores motivacionais nas corridas de rua, segundo Fabio Massarela
(2009 citado por Csikszentmihalyi,1992), são ligados a teoria do flow. Ela apresenta
atividades intrinsecamente motivantes realizadas pelo simples fato do bem estar
individual do ser humano.
Sobre o estudo da teoria:
Para Csikszentmihalyi (1988, 1992, 1999), o flow acontece em condições
específicas, quando a atenção está totalmente focada na atividade e
sentimentos, desejos e pensamentos estão completamente alinhados.
Foram identificados oito elementos que definem essa experiência: equilíbrio
entre desafio e habilidade; metas claras e retorno (feedback); concentração
total na atividade e no momento presente; fusão entre ação e consciência;
sensação de controle; perda da autoconsciência; perda da noção do tempo;
experiência autotélica. Quando as pessoas refletem sobre o que sentem
quando vivenciam uma experiência muito positiva, elas mencionam pelo
menos um desses oito elementos (CSIKSZENTMIHALYI,1992, apud
MASSARELA, 2009, p.48,49).
Sobre a motivação, Massarela (2009) aborda dois modelos: extrínseca e
intrínseca. A primeira tem como objetivo atingir um meio externo, tal como status ou
recompensa financeira, sendo mais propensa também a elevar a pressão e os níveis
de ansiedade e estresse sobre o atleta. Já a intrínseca não é direcionada a uma
recompensa, ela parte do príncipio de envolvimento e empenho do corredor com a
modalidade.
As práticas das atividades físicas, como as corridas de rua, estão interligadas
por um vasto leque de ordem psicológica. Conforme os estudos apresentados, o
flow é responsável pela concentração total na atividade, objetivos lúcidos e equilíbrio
nas
atividades
desenvolvidas.
Os
demais
componentes
do
estudo
de
Csikszentmihaly decorrem das percepções do estado mental sobre o corpo
(MASSARELA, 2009).
19
Os fatores de ordem psicológica também estão relacionados ao bem estar
físico. Muitas pessoas procuram as atividades físicas como forma de manutenção de
saúde e combate as doenças provenientes do sedentarismo.
Conforme Bohme
(1994), o sinônimo da saúde é uma condição humana caracterizada por aspectos
físicos, psicológicos e sociais ligados a pólos positivos e negativos. A positividade
está associada a ideia de resistir e superar os desafios do cotidiano, além de
apreciar a vida. Enquanto a negativa é elucidada pela morbidade, em casos
extremos, a mortalidade (NAPOLI e SENE, 2008).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu a saúde em sua constituição
de 1946, como um estado completo de bem estar físico, mental e social. Não
consistindo, simplesmente, num estado de ausência de doença ou enfermidade
(DALLARI, 2009).
Outro ponto que Napoli e Sene (2008) apontam condiz com a pressão
existente no ambiente esportivo, sendo esse fator determinante para que os atletas
busquem um modelo ideal de corpo, aumentando gradativamente suas qualidades
físicas como velocidade, músculos, força, resistência físicas, etc. Esse aspecto pode
ser relacionado também a uma das definições de Massarela (2009) sobre o flow,
em que o corredor de rua define metas e um feedback (retorno) por meio da
concentração das atividades desenvolvidas.
Conforme o estudo do flow, as metas são iniciadas a partir de uma intenção
em obter êxito na atividade exercida. A partir desse ponto, o tempo de dedicação e a
intensidade com que se mantém essa motivação são fundamentais para determinar
a autoestima. Por meio dessa definição é que os sentimentos que o ser humano tem
a seu próprio respeito é que definem a harmonia interior e o controle sobre fatores
psicológicos externos (MASSARELA, 2009).
Alternando entre os fatores físicos e psicológicos, o método do médico
Kenneth Cooper já citado no tópico sobre as origens e os termos de corridas de rua
é considerado uma das bases de orientações de exercícios para uma vida saudável
segundo Dallari (2009). Para a autora, o Cooper é um método que tem forte caráter
relacionado à motivação, já que apresentou à socidade técnicas e hábitos de
simples aplicação as corridas de rua e também rápido retorno na melhora do
condicionamento físico, tornando-se essencial na autoestima.
20
Outro fator que pode ser atribuído a uma ordem psicológica e social é a
competitividade. A competição é uma forma de avaliar o nível de preparo de uma
pessoa disposta a vencer; em que a sensação de superioridade e destaque é
determinada pelo status em que ela atinge em um desporto ou atividade física
(NAPOLI e SENE, 2008).
No entanto, nem todos que participam de uma competição estão lá para
competir propriamente dito em relação ao que é estipulado pelos padrões de uma
boa performance. Muitos que estão inseridos em um contexto esportivo buscam,
simplesmente, obter a satisfação de acordo com seus objetivos pessoais. Isso
significa que o modo de competição é variável, o que possibilita diferenciar,
claramente, um praticante profissional de um amador (NAPOLI e SENE, 2008).
Com base nas ideias debatidas nesse tópico, encontramos uma definição
presente no artigo de Dallari (2009) que trata dos fatores em discussão.
Correr é o caminho clássico para o autoconhecimento, a auto-observação e
a autoconfiança. Independência é a característica que se destaca no
corredor. Ele experimenta a cruel realidade das suas limitações físicas e
mentais quando corre. Ele aprende que dedicação, sacrifício e
determinação pessoal são seus únicos meios para melhorar. Corredores
são promovidas pelas próprias conquistas (NOAKE,1991, apud DALLARI,
2009, p.107).
Partindo destes princípios e teses relacionadas a fatores de ordem
psicológica e fora do contexto “real” da prática esportiva, pretendemos com o
documentário traçar o perfil dos corredores de rua e levantar algumas informações
sobre as motivações da prática esportiva, o comportamento do atleta durante a
corrida, bem como as sensações físicas antes, durante e depois das provas.
2.6 Relação da mídia televisiva com o esporte (análise do GE- Curitiba)
Para avaliar a cobertura dos meios de comunicação referentes à divulgação
do esporte em Curitiba, analisamos o programa Globo Esporte de Curitiba,
transmitido em TV aberta, na emissora Rede Globo (pela filiada RPC /TV), de
segunda a sábado, das 12h50 às 13h20.
21
O período de análise foi feito durante os dias 14 de abril até 15 de maio, no
qual foram contabilizadas oito provas, conforme o calendário disponibilizado pela
Secretária Municipal de Esporte e Lazer de Curitiba.
Abaixo o calendário de provas:
*Reprodução site: agências de notícias de Curitiba, acesso em 02 de abril de 2012. Estudo de veiculação de corridas no Globo
Esporte entre 14/04 e 15/058.
Na primeira semana de pesquisa, aconteceram duas corridas de rua no dia 15
de abril – a Etapa Copel e a 9º Corrida do exército, nenhuma delas foram veiculadas
nas edições do Globo Esporte dos dias 13,14, 16 e 17 de abril.
Na segunda semana de pesquisa, aconteceu apenas uma corrida, no dia 22
de abril, a Maratona de Revezamento do Parque Náutico. A prova não apareceu nas
edições do programa televisivo nos dias 20,21, 23 e 24 de abril.
A terceira semana teve mais duas provas, o Circuito de Corrida pela Paz –
Regional Pinheirinho e a 5º Corrida do Rebouças que aconteceram no dia 29 de abril
e não foram noticiadas nas edições do Globo Esporte Curitiba dos dias 27,28, 30 de
abril e 1 de maio.
Na quarta semana, aconteceram duas corridas no dia 6 de maio, a 1º Etapa
Infantil de Corridas e o Circuito de Corridas Rústica das Indústrias – Etapa SESI,
8
Agência de notícias de Curitiba – Março terá quatro corridas de rua. Link:
http://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/marco-tera-quatro-corridas-de-rua/25724 acesso em 31 de
março de 2012.
22
que, novamente, não foram veiculadas nos noticiários do Globo Esporte Curitiba dos
dias 4, 5, 7 e 8 de maio.
Na última semana de observações, aconteceu a 2º edição da Volta de Santa
Felicidade, prova realizada em 13 de maio e não noticiada nas edições dos dias
11,12, 14 e 15 de maio.
2.7 Problematização
Como constatado, nenhuma das edições do Globo Esporte Curitiba veiculou
noticias referentes às corridas que aconteceram na capital paranaense. Partindo
deste pressuposto de problematização com escassez das notícias referentes às
corridas de rua, constituímos um questionamento.
Como criar uma nova possibilidade de transmissão destes eventos utilizando
técnicas de jornalismo gonzo na produção de um web documentário?
23
3. OBJETIVO GERAL
Produzir um web documentário sobre corredores de rua amadores utilizando
as técnicas do jornalismo gonzo.
3.1 Objetivos Específicos
- Explorar o método e as técnicas do jornalismo gonzo para a produção do
documentário.
- Levantar discussões referentes ao incentivo do atleta amador (Lei de apoio ao
esporte amador).
- Apontar hipóteses sobre quais meios de comunicação os corredores de rua
utilizam para se informar sobre o esporte.
- Questionar porque apenas os eventos de grande porte ganham destaque na mídia.
- Incentivar o conhecimento do esporte por parte do público.
24
4. JUSTIFICATIVA
A escolha de uma modalidade esportiva como aspecto central do
documentário é justificada pelo caráter de ação social presente em sua prática.
Segundo Alves e Pierranti (2007), o esporte contribui, significativamente, na
prevenção de doenças, na evasão escolar, no combate as drogas e na
criminalidade, colaborando diretamente na ampliação de políticas públicas voltadas
para o esporte.
Outro ponto considerado em relação à veiculação de um documentário de
caráter esportivo é a grande receptividade da população, comprovado pelo estudo
de Teresa Noll Trindade (2010). No artigo “O documentário e seu público”, Trindade
apurou o crescimento das produções de programas audiovisuais e a valorização
destes produtos no cenário brasileiro, analisando a preferência do público conforme
o número de vendas das bilheterias. Para avaliar a preferência do público quanto
aos tipos de filmes documentados, Teresa estabeleceu seis grupos temáticos:
documentário de personagem, de questões sociais, de personalidades, de mote
esportivo, de mote musical e de aprofundamento temático. O estudo apontou em
uma análise desse tipo de filme produzidos entre o período de (1996-2006), a
quantidade lançada com as temáticas e a repercussão nas salas de cinema. Entre
os quatro produtos de maior bilheteria, três eram de mote esportivo: “Todos os
corações do mundo”, “Pelé Eterno” e “Surf adventures”. O artigo também ressalta
que o documentário esportivo foi o que menos teve lançamentos durante o período
estudado, foram apenas dez filmes lançados, em um total de 85 documentários
lançados nas temáticas avaliadas. A autora justifica que o filme “Pelé Eterno” não
entrou na categoria de personalidade pois o documentário representa um ícone que
tem o seu nome muito mais associado ao futebol, do que a personalidade
propriamente dita do ser humano.
Além do caráter social e da aceitação junto ao público, justifica-se a
especificidade do documentário ser destinado a corredores de rua pela grande
25
abrangência de praticantes. O portal Folha de São Paulo9 publicou, no dia 30 de
dezembro de 2011, que participariam da tradicional corrida de São Silvestre 24.843
atletas amadores.
Os aspectos que justificam um número significativo de praticantes nesta
modalidade são expostos por Massarela (2009), segundo levantamento, a maioria
das pessoas aderem às práticas de corridas de rua por influência de vínculos
afetivos com familiares e amigos, que iniciam as atividades por puro lazer.
A ideia de praticar o jornalismo gonzo é fundamentada nas definições
presentes nesta corrente jornalística. O documentário será produzido de forma
experimental e sem compromissos com as tradicionais técnicas de abordagem do
jornalismo, utilizando a narrativa em primeira pessoa e mudando o conceito da figura
do jornalista como “senhor da informação”. A narrativa em primeira pessoa permite
que ele mude este status para o da figura de um participante comum da noticia, que
experimenta e divide os resultados da sua experiência. Essa forma de narrativa
coloca o jornalista envolvido ativamente na ação, relatando o fato por meio do que
esta vivenciando, transmitindo ao telespectador as suas próprias sensações e sendo
a principal fonte de informação do fato narrado (CZARNOBAI, 2003). Além das
perspectivas do gonzo, escolhemos o documentário audiovisual para tentar captar
as três principais funções presentes na linguagem documental citados por Nichols
(2010): a representação reconhecível do mundo ou de um fato, o interesse que esse
fato representa a um determinado público e a ética, considerado por Nichols um guia
de conduta na representação de um documentário audiovisual.
Elencamos alguns fatores para justificar a escolha do programa Globo
Esporte como fonte de pesquisa sobre a divulgação das corridas de rua. Um deles é
poder aquisitivo da emissora Rede Globo. Segundo matéria divulgada pela repórter
Heloisa Tolipan, do Jornal do Brasil10, a Globo é o segundo maior canal do mundo
9
Folha de São Paulo ONLINE – Especialistas dão dicas para atletas amadores da São Silvestre.
Link: http://www1.folha.uol.com.br/esporte/1027866-especialistas-dao-dicas-para-atletas-amadoresda-sao-silvestre.shtml acesso em 01 de maio de 2012.
10
Matéria publicada pela repórter Heloisa Tolipan do Jornal do Brasil, informações obtidas no link:
http://www.jb.com.br/heloisa-tolipan/noticias/2012/05/09/globo-sobe-em-ranking-e-torna-se-segundamaior-emissora-do-mundo/ , acesso em 11 de maio de 2012.
26
em termos de arrecadação comercial, sendo assim, consideramos que a sua filial
RPC/TV poderia veicular matérias ou pequenas notas sobre as corridas de rua em
Curitiba no programa Globo Esporte de Curitiba, pelo fato de ser o único programa
diário da emissora (segunda à sábado) com conteúdo exclusivo de esporte.
Outro aspecto considerado é a temática da programação do Globo Esporte
(GE) Curitiba que possui aspectos que o diferenciam dos concorrentes. Abordamos
dois pontos que distinguem a programação do Globo Esporte de duas outras
emissoras que possuem programas esportivos diários em horários próximos. Vale
destacar que essa análise é restrita à programação transmitida à população de
Curitiba e Região Metropolitana e é fundamentada, apenas, sobre pequenas
observações que fizemos no decorrer do desenvolvimento do projeto.
O primeiro ponto de avaliação é o nome Globo Esporte que remete a
assuntos mais abrangentes em tese, diferente dos seus concorrentes Bandeirantes
(Programa Jogo Aberto) em que a abertura em cada bloco de intervalo mostra as
linhas que demarcam um campo de futebol e uma bola indo em direção à rede. No
SBT (Programa Show de Bola), também o destaque visual é uma bola sobre um
gramado no plano de fundo do apresentador. No GE as imagens alternam ao fundo
do apresentador conforme o esporte que está sendo noticiado, não possui uma
temática exclusiva do futebol.
A segunda observação é em relação ao conteúdo. Constatamos que no GE o
futebol é o assunto mais noticiado no programa. Porém, esportes como basquete,
futsal, vôlei, automobilismo e lutas também são constantemente noticiados e com
informações veiculadas. Já na Band, o programa local é, exclusivamente,
direcionado ao futebol, com pequenas inserções sobre a Fórmula Indy e a Fórmula
Truck, competições automobilísticas que o canal costuma transmitir aos finais de
semana. Na Rede Massa, filial do SBT, a abordagem principal é o futebol, inclusive
com participações diárias de ex-jogadores que comentam sobre os três times da
capital paranaense.
Em razão dessas pequenas observações feitas é que escolhemos o Globo
Esporte como programa de referência. Acreditamos que pela variedade de temas
27
que apresenta em relação aos concorrentes e pelo grande aporte financeiro da
Instituição, poderia ser dado um destaque na programação com a veiculação de
notícias sobre o crescimento de corridas de rua e os demais aspectos abordados
como sociabilidade, saúde, fatores motivacionais em geral.
28
5. REFERENCIAL TEÓRICO
5.1 O jornalismo gonzo
O estilo gonzo que será adotado no videodocumentário foi definido por Hunter
S. Thompson, considerado o pai dessa corrente jornalística e que o traçou pela
primeira vez em 1970, no artigo “The Kentucky Derby is Decadent and Depraved”, o
qual tinha como proposta inicial ser uma cobertura sobre o mais famoso evento
esportivo da cidade de Louisville, nos Estados Unidos. No entanto, Thompson
transformou o evento em uma crítica ao modo de vida da população local,
baseando-se naquilo que vivenciou e sobre o que sentiu vontade de escrever
(CZARNOBAI, 2003).
Thompson passou então assinar seus artigos e matérias como “gonzo
jornalismo”, uma espécie de jornalismo baseada em captação participativa, narração
em primeira pessoa e dificuldade em discernir a ficção da realidade, parte dessa
dificuldade estava ligada também ao fato de Thompson consumir drogas e viver
constantemente embriagado (CZARNOBAI, 2003).
O Gonzo é considerado uma escola que sucedeu ao New Jornalism, uma
espécie de “filho bastardo” que tinha como diferencial o investimento no conteúdo,
nas descrições detalhadas.
(...) Este tipo de reportagem exigia um trabalho de coleta de dados muito
mais intenso, minucioso e, por conseguinte, demorado do que se aplica
normalmente. Os praticantes do New Journalism desenvolveram
particularidades de dispensar grande tempo para cobrir cada história,
chegando a passar dias – e, em alguns casos, até mesmo semanas – com
as pessoas sobre as quais escreviam (...) (DEMÉTRIO, 2007, p.82).
O jornalismo gonzo é abusivo, ele não possui ícones e padrões para a
construção das informações. Não é ditado por regras, assim como o New
Journalism, no entanto, difere deste por não ter perspectivas presas à literatura. As
nuances da corrente jornalística que iremos apresentar no videodocumentário são
excêntricas, sem compromisso com os padrões estéticos e visuais de um
documentário padrão. O idealismo do gonzo é baseado na fuga de rótulos, na
29
pluralidade
de
referências
e
personalidades,
e,
sobretudo,
na
liberdade
(CZARNOBAI, 2003).
Considerando os ideais de liberdade presentes no gonzo, a produção do
documentário focará algumas técnicas de abordagem, de produção audiovisual e
também de como essas características podem ser exploradas no meio esportivo.
5.2 O Jornalismo Gonzo na abordagem dos entrevistados
A entrevista jornalística é uma técnica de obtenção de informações que
recorre ao particular, por isso sua forma individualizada lhe dá crédito, sem
preocupações científicas. Passa por quatro níveis implícitos ou explícitos do
jornalista, indo da história, passando pela interação social almejada pelo autor, a
criação de novas nuances, até quebrar as rotinas e tentar desvendar o real
(MEDINA, 2001).
Para analisar a melhor forma de abordar os entrevistados, é necessário
averiguar primeiro qual o papel que o jornalismo exerce na sociedade e como o
profissional deve se portar diante dos fatos. Conforme Cremilda de Araújo Medina
(2001), a entrevista pode ser apenas uma técnica para obter respostas pré-pautadas
por um questionário. Porém, não será o braço da comunicação humana se for
tratada apenas como uma simples técnica. Ela sugere que se quisermos aplacar a
consciência profissional do jornalista, deve-se aprimorar a técnica da entrevista, e se
for para trabalhar pela comunicação humana, que se dialogue. Ainda segundo a
autora, o telespectador sabe e sente quando há emoção, autenticidade no discurso
do diálogo entre entrevistador e entrevistado. Há uma ligação entre os envolvidos
numa forma de vivência mútua.
Segundo Nilson Lage (2003) encarar o jornalismo como formador de opinião
pública é um grande erro. O profissional da área precisa apenas ter a convicção de
que a sua função é primordial e positiva quando exercido de maneira correta. Como
citado anteriormente, o gonzo não é ditado por regras na hora de produzir o material
de informação, esse ponto de vista é paralelo e similar a ideia do jornalismo
progressista que não adota apenas a valorização do fato considerado o mais
importante do evento, o que deve ser valorizado é o registro do evento com
amplitude e honestidade na transmissão das informações, ou seja, cabe ao jornalista
30
e as fontes o papel de emitir as ideias do acontecimento com transparência. É essa
visualização de valores estéticos e informais que o jornalista precisa captar para
assim obter a convicção do papel do jornalismo na sociedade (LAGE, 2003).
As perspectivas apontadas por Lage condizentes a
um jornalismo
progressista e verídico pode ser reforçada pelo aspecto de “osmose” presente na
forma de entrevistas presentes no jornalismo gonzo. A osmose é o termo que define
a vivência plena do fato, o profissional mescla-se ao acontecimento e vice-versa
(JUNIOR, 2007 apud AUGUSTO, 2006).
A participação dos repórteres narrando os acontecimentos em primeira
pessoa em alguns trechos do videodocumentário visa justificar a importância do
termo definido como osmose. Conforme Julião e Magalhães (2006), o jornalismo
gonzo transforma o repórter em protagonista do acontecimento, no qual o relato das
suas experiências pessoais caracteriza o gonzo como a corrente mais subjetiva das
práticas de jornalismo. Para eles, a subjetividade contundente é que torna o relato
mais sincero e, consequentemente, mais próximo do real.
A ideia de transmitir a realidade é reforçada no modo em que se elabora a
entrevista, que, em suas diferentes aplicações, é uma técnica de interação social e
de interpenetração informativa. Ela pode, em alguns casos, quebrar os isolamentos
grupais, individuais, sociais; pode também servir à pluralização de vozes e à
distribuição democrática da informação (MEDINA, 2001). Quem também segue essa
linha de raciocínio é Bill Nichols (2010), para quem a entrevista serve para juntar
relatos diferentes em uma única história, o sentido do fato ou evento narrado é
construído pela interação de diferentes vozes sobre determinando assunto. Na
criação do videodocumentário utilizando o jornalismo gonzo como ferramenta, um
dos focos foi entrevistar os atletas sem pré-pautas elaboradas e recorrer a essa
interação para debater determinado assunto apontado no ato da corrida de rua.
Outro autor que analisa as maneiras de vivenciar a reportagem e levantar
aspectos importantes na comunicação é Edgar Morin (1973 apud MEDINA, 2001),
seu pensamento é fundamentado na prática do diálogo, dizendo que esse formato é
uma práxis, por isso deve ser restaurado como prática humana, sobretudo no
jornalismo, cuja finalidade última é a comunicação. Neste produto, dialogamos com
os atletas e estabelecer um tipo de narrativa diferente expondo nossas próprias
31
vivências junto aos entrevistados. Essa prática do diálogo de Morin também é
conceitualizada por Medina (2001), que apresenta quatro tipos distintos de
entrevistas.
Dois
se
enquadram
no
documentário
é
a
entrevista-diálogo,
caracterizada por uma conversa colaborativa entre entrevistador e entrevistado em
busca da verdade. A outra é a entrevista-rito, as palavras como ritos que completam
a cerimônia. As outras duas citadas pela autora são as neoconfissões, quando o
entrevistado toma controle da cena, e a entrevista cai em profundidade da psicologia
social. E, por último, a entrevista anedótica, forma onde o entrevistador busca utilizar
de conversações frívolas, anedotas picantes, para tentar arrancar alguma coisa do
entrevistado.
Abrangendo as perspectivas da entrevista e do diálogo, a presença do
repórter no local do evento tem sua função devidamente justificada conforme Nilson
Lage (2003).
O repórter está onde o leitor, ouvinte ou espectador não pode estar. Tem
uma delegação ou representação tácita que o autoriza a serem os ouvidos e
olhos remotos do público, selecionar e lhe transmitir o que possa ser
interessante. Essa função é exatamente a definida como a de agente
inteligente (LAGE, 2003, p.23).
Para ser um agente inteligente, o profissional do jornalismo tem que ter
autonomia e competência comunicativa. A informação obtida deve ser traduzida ao
público por meio da linha de pensamento construída pelo repórter, ou seja, a
interpretação dos fatos é característica primordial na seleção e confronto de
diferentes perspectivas, permitindo que o leitor, ouvinte ou espectador oriente-se
diante da realidade (LAGE, 2003).
A função do agente inteligente também é comparativa ao modo como
Thompson trabalhava suas reportagens. Conforme Júlio Bezerra (2007), Thompson
tinha como diferencial a provocação ao entrevistado, até mesmo por meio de
xingamentos, isso fazia com que a reportagem rendesse, tivesse uma reação
provocada pelo diálogo e uma perspectiva de como o entrevistado reagia à realidade
em que estava sendo inserido.
Todas as entrevistas são uma dinâmica de bloqueio e desbloqueio. O que
acontece é que as pessoas andam armadas umas em relação às outras. Ainda mais
quando o assunto é com jornalistas. Pretendemos trabalhar com este quadro, da
32
impressão de que todo jornalista é um invasor, um perturbador da privacidade,
aquele tipo que quer tornar público o que nem sempre o outro quer exibir (MEDINA,
2001). Essas condições de bloqueios e desbloqueios podem ser exploradas no
jornalismo gonzo. A provocação que Thompson fazia conseguia romper com uma
linha de diferenciação entre entrevistador e entrevistado, tornava o fato apresentado
ao leitor mais humanizado e tangível, consequentemente mais próximo ao retrato tal
como ele realmente aconteceu (BEZERRA, 2007).
Contradizendo algumas das premissas do jornalismo gonzo que não tem
como obrigação estabelecer uma pauta, Medina diz que uma ela bem elaborada
enriquece o trabalho dos entrevistadores e que pode ser apenas colocada oralmente
ou escrita de uma maneira esquemática. Tendo um bom preparo, o profissional
consegue encaminhar um bom assunto. Se não tiver repertório suficiente, é porque
ainda não tem a experiência adquirida, visão do político, social, sensibilidade, etc.
Para ajudar neste quesito, indica-se a leitura dos textos da pasta, ou as pastas do
assunto, trata-se de uma técnica fundamental. Doravante, a personalidade do
entrevistador também tem um caráter primordial na entrevista (MEDINA, 2001).
Analisando as formas de selecionar e realizar uma entrevista, a abordagem
entre o entrevistador e o entrevistado deve conter objetivos e circunstâncias de
realização bem definidos. Em relação ao ponto de vista dos objetivos da entrevista,
Nilson Lage (2003) elenca quatro modalidades com características diferenciadas:
ritual, temática, testemunhal e em profundidade.
O ritual é a entrevista breve, focalizada mais na voz e representatividade da
figura, do que o de fato, ele tem a dizer. No ritual as declarações são consideradas
irrelevantes ou de mera formalidade, como as declarações dos jogadores ou
técnicos de futebol após uma derrota ou vitória. Na temática é suposto que o
entrevistado tenha condições e autoridade para discorrer sobre o assunto abordado.
Na testemunhal, o relato é feito do ponto de vista particular do entrevistado, expondo
os fatos que teve acesso e as impressões subjetivas, por fim, a entrevista em
profundidade é uma espécie de novela ou ensaio sobre o personagem entrevistado,
o tema ou acontecimento específico fica em segundo plano (LAGE, 2003).
Dentre as quatro definições, a testemunhal é a técnica de abordagem que
utilizamos para produzir o documentário audiovisual sobre as corridas de rua. Essa
33
escolha é dada pela subjetividade explícita nas falas dos entrevistados,
subjetividade semelhante ao relato de repórteres que utilizam o jornalismo gonzo
como vertente de discurso, participando da ação e narrando em primeira pessoa,
como citado anteriormente por Julião e Magalhães (2006).
As circunstâncias de como será transcorrida a entrevista também é dividida
por Lage em quatro espécies: ocasional, confronto, coletiva, dialogal. A circunstância
de confronto é presente nas entrevistas de caráter denunciativo, o entrevistador
despeja suas acusações sobre o entrevistado. A entrevista coletiva é utilizada
quando um grande número de repórteres tem o interesse em uma mesma figura,
assim facilita-se o repasse das informações através de uma reportagem aberta a
todos os meios interessados. A dialogal é a entrevista mais comum, marcada com
datas, horário, local e tema previamente estabelecido e combinado com
entrevistador e entrevistado (LAGE, 2003).
Na proposta documental das corridas de rua, utilizamos entrevistas de
circunstância ocasional. Definida como:
Ocasional – é não programada – ou, pelo menos, não combinada
previamente. O entrevistado é questionado sobre algum assunto e o
resultado pode ser interessante porque, sem se ter preparado e preso ao
compromisso da veracidade e relevância de qualquer conversa (as
máximas de Grice), dará provavelmente respostas mais sinceras ou menos
cautelosas do que se houvesse aviso prévio (LAGE, 2003, p.75).
Medina escalona tipos de narrativas para as entrevistas. A que mais satisfaz a
nossa proposta na narrativa de terceira pessoa é a onisciência imediata, sem
comentários elaborados, os pensamentos do narrador tomam a aparecia de virem à
tona no momento. E quanto à narração em primeira pessoa, a variável proposta é a
do foco narrativo mutante, onde ocorre uma mutação, sem pedir licença, de, por
exemplo, um narrador observador em primeira pessoa, para um narrador onisciente
de terceira pessoa.
Há outros tipos de onisciência, como a neutra externa, quando o narrador
descreve dados externos das personagens e dá a aparência de não-participante. Na
onisciência externa interpretativa o narrador sabe de tudo que está se passando e
faz comentários. Já na neutra plena, o autor penetra na intimidade dos
34
entrevistados, mas permanece como não fizesse parte do plano (CARVALHO, apud
MEDINA, 2001, p 71).
Nesses parâmetros da narrativa em primeira pessoa, pretendemos ser “o
jornalista de primeira pessoa de Thompson” definido como a negação da
imparcialidade jornalística, narrar os fatos não é o suficiente, o narrador tem que ser
um personagem da história, tem que vivenciar o fato e relatar a sua experiência
(BEZERRA, 2007).
5.3 As formas de produzir um documentário em paralelo ao papel do jornalista
esportivo
A definição de documentário é sempre relativa ou comparativa. Pode-se
chamar de “conceito vago”. Todo filme é um documentário. Mesmo a maior das
ficções mostra detalhes da vida e vivência das pessoas que participaram das
gravações. Existem dois tipos de documentários: os de satisfação de desejos,
normalmente chamados de ficção, e os de representação social, documentários
propriamente ditos, que mostram aspectos do mundo. Transmitem as verdades que
os cineastas querem focar (NICHOLS, 2010).
Nichols afirma que os documentários ajudam a fortalecer ideias e a ressaltar
acontecimentos históricos. Tendo em vista que os documentaristas, muitas vezes,
assumem o papel de representantes do povo. Os documentários retratam uma
representação reconhecível do mundo e coisas que podem ser vistas fora do
cinema. Podem também defender os interesses de um cliente. A voz dada a este
documentário é o meio pelo qual esse ponto de vista se dá a conhecer. Essa voz
pode defender uma causa, apresentar um argumento ou transmitir um ponto de
vista.
No meio esportivo, a forma como são transmitidas todas essas vertentes que
englobam o documentário devem ter um cuidado especial com o receptor da
informação considerando a ressalva de João Batista de Lima Junior (2011).
A linguagem do esporte, menos provida de reverência do que a de outros
segmentos, quando bem utilizada nas transmissões e noticiários, é um
poderoso vetor da emoção que o jogo exala. O bom uso do jargão esportivo
aproxima o torcedor (seja espectador, seja ouvinte, seja leitor) da ação e
cativa um público segmentado – que pode gostar mais de um clube, de um
time ou de um atleta do que do noticiário em si. Compreender as
necessidades desse receptor, que cobra mais do que apenas informação ou
35
prestação de serviço, mas também opinião e interpretação, é fundamental
para o jornalista desse segmento (JUNIOR, 2011, p12).
O esporte, como uma das especialidades de maior abrangência no jornalismo
deve receber um cuidado redobrado do repórter e produtor, pois ele envolve,
principalmente, o contexto emocional que o receptor tem inserido com a atividade
noticiada (LAGE, 2003).
Essa voz que defende uma causa ou transmite um ponto de vista, é fruto do
viés autoral que diferencia o documentário de uma reportagem. No documentário a
narrativa tem um espaço temporal bem definido, a articulação discursiva é ampla e o
ponto de vista do documentarista, geralmente, é exposto, diferente da reportagem
que ,normalmente, tem curta duração e ausência do ponto de vista. O documentário,
com isso, obtém um aspecto similar a narrativa fílmica, em que o espaço e tempo da
narrativa são definidos conforme interesse do produtor, ou seja, a exposição do
ponto de vista do documentarista e o contexto emocional que envolve o ramo
esportivo são aspectos que devem ser considerados no momento de registrar a
ação (RAMOS, 2007).
Em relação à transmissão da narrativa do acontecimento documentado, há,
pelo menos, três histórias diferentes que se entrelaçam: a do cineasta, a do filme e a
do público. Os documentários não abordam um conjunto fixo de técnicas (NICHOLS,
2010). Lembrando que, ainda segundo o autor, públicos diferentes veem coisas
diferentes e que experiências anteriores não podem e nem devem ser rejeitadas.
Essas ideias são similares ao projeto pretendido, pois abordaremos o jornalismo
gonzo como ferramenta de execução.
Conforme Nichols (2010), utilizaremos o uso de comentários com voz de
Deus, formato em que os documentaristas usam as entrevistas e cortes para mostrar
as imagens que ilustrem determinadas situações e temas. Há duas escolas
nomeadas pelo autor. Os documentaristas europeus e latino-americanos que
utilizam formas subjetivas e retóricas. Já os britânicos e norte-americanos enfatizam
as formas mais objetivas e observativas.
Há seis modos principais de fazer documentário, segundo Bill Nichols:
O modo poético, que utiliza de um padrão de vanguarda modernista,
sacrificando as convenções das montagens em continuidade, para dar uma ideia
36
diferente de tempo, espaço e ritmos temporais. Além disso, os personagens são
complexos psicologicamente e possuem uma visão definida de mundo.
O modo expositivo possui uma estrutura mais retórica e argumentativa, não
dando tanta importância ao estético ou poético. Esse tipo de documentário depende
de uma lógica de transmissão informativa verbal, as imagens possuem papel
secundário a fim de fomentar o que está sendo documentado através da voz. O
orador possui voz de Deus, pois aparecem suas falas, porém ninguém o vê.
O modo observativo pressupõe que o cineasta deixe a câmera parada, sem
intervenções, para observar espontaneamente a experiência vivida, com as pessoas
ocupando dos seus afazeres. Com isso, acabou criando-se filmes sem comentário
com voz-over, ou seja, sem quaisquer efeitos sonoros complementares ou legendas.
As imagens geradas lembram, em sua maioria, as obras dos neorrealistas italianos.
O foco no modo reflexivo é a negociação entre cineasta e expectador. Neste
modo há um pensamento acerca dos problemas do mundo e das representações. O
tipo de documentário reflexivo questiona o lema que diz que só é bom quando seu
conteúdo é convincente. Trata-se geralmente de realismo através de técnicas de
montagem de evidência ou em continuidade, desenvolvimento de personagem e
estrutura narrativa. Este modo desafia essas técnicas e convenções.
Abordaremos basicamente dois. O Modo Participativo, que interage cineasta
e tema, com entrevistas ou outras formas de envolvimento direto.
O pesquisador vai para campo, participa da vida de outras pessoas,
habitua-se, corporal ou visceralmente, à forma de viver em um determinado
contexto e, então, reflete sobre essa experiência, usando os métodos e
instrumentos da antropologia ou da sociologia. “Estar presente” exige
“participação” e “estar presente” permite observação” (NICHOLS, 2010, p.
153).
Por essas características Rouch apud Nichols define o modo participativo
como cinema vérité, que significa cinema-verdade. Jean-Luc Godard apud Nichols
declarou que o cinema é verdade 24 vezes por segundo, e o documentário
participativo satisfaz. E o Modo Performático onde enfatiza o aspecto subjetivo ou
expressivo do documentário. Aqui, há bastante espaço para o impacto emocional e
social sobre o público (NICHOLS, 2010).
37
Os modos de participação e performático de Nichols podem ser também
relacionados ao contexto emocional no qual é inserido o repórter esportivo, a
emoção é fundamental para contextualizar uma brilhante representação do fato.
Este inclusive pode ser o diferencial de um profissional, segundo Paulo Vinicius
Coelho (2004).
A noção de realidade que o jornalismo esportivo carrega nos tempos atuais
torna a cobertura esportiva tão brilhante quanto qualquer outra no
jornalismo. O ponto-chave é que, muitas vezes, tal cobertura exige mais do
que noção da realidade. (...) Esse tipo de cobertura sempre misturou
emoção e realidade em proporções muitas vezes equivalentes (COELHO,
2004, p.22).
Outro ponto relevante é que o jornalista esportivo deve valorizar e transmitir
os aspectos éticos do esporte aos leitores, ouvintes e espectadores. Apontando a
função educativa e a respectivas contribuições para a saúde física e mental.
Definindo o meio esportivo como um verdadeiro catalisador de tensões sociais
(LAGE, 2003).
Barbeiro e Rangel (2006) também destacam na obra “Introdução ao manual
do Jornalismo Esportivo” o compromisso com a ética. Assim como os repórteres de
outras editorias, o jornalista esportivo deve cumprir as premissas básicas de checar
os fatos, captar dados e transmitir a informação com total veracidade. No entanto, os
autores, apontam um problema recorrente nos meios esportivos, o jornalista
confunde o esporte com puro entretenimento, muito por esse aspecto emocional
presente em excesso no meio esportivo, ele perde o seu foco que é a função social
de educar e informar.
Entre as ideias dos autores, encontramos uma contradição. Enquanto Paulo
Vinicius Coelho (2004) vê com bom os olhos o aspecto emocional presente na
narrativa dos repórteres, Barbeiro e Rangel (2006) acreditam que a emoção,
sobretudo quando usada de forma desmedida, prejudica a função social de educar e
mostrar todos os lados de
uma história,
a
emoção
torna
o
jornalista
demasiadamente parcial.
Todos os aspectos relacionados à emoção que envolve o jornalismo esportivo
e a forma como ele deve ser retratado e apresentado ao espectador apontam para a
38
ética citada anteriormente por Nilson Lage (2003) . Sobre as formas de
representações no documentário Bill Nichols aponta:
Todas essas questões apontam para os efeitos imprevisíveis que um
documentário pode ter sobre o que estão representados nele. As
considerações éticas tentam minimizar os efeitos prejudiciais. A ética tornase medida de como as negociações sobre a natureza da relação entre o
cineasta e o seu tema tem consequências tanto para aqueles que estão
representados no filme como para os espectadores. Os cineastas que têm a
intenção de representar pessoas que não conhecem, mas que tipificam ou
detêm um conhecimento especial de um problema ou assunto de interesse,
correm o risco de explorá-las. Os cineastas que escolhem observar os
outros, sem intervir abertamente em suas atividades, correm o risco de
alterar os comportamentos e acontecimentos e de serem questionados
sobre sua própria sensibilidade (...) (NICHOLS, 2010, p.36).
A complexidade do aspecto emocional que envolve o jornalismo esportivo e
os efeitos imprevisíveis na produção do documentário relatado por Nichols serão
considerados no documentário dos corredores de rua amadores, em que a intenção
é utilizar a técnica do gonzo e a narrativa em primeira pessoa para ser uma espécie
de “jornalismo confessional” termo, definido por Czarnobai (2003), que representa
legitimidade e veracidade na transmissão dos fatos.
5.4 A Teoria da Convergência e os componentes sistemáticos dos web
documentários
A produção audiovisual para internet pode ser vivenciada como um momento
de experimentação de novas linguagens e formatos. É possível reunir em um
mesmo produto múltiplas narrativas, histórias paralelas e interrelacionadas, bem
como construir a elaboração que homem procura há tanto tempo: uma visão pessoal
da história (CASTRO e FREITAS, 2010).
Altualmente, a convergência de mídias torna-se cada vez mais comum.
Acontece quando as velhas e as novas mídias colidem, se cruzam ou até o poder do
produtor de mídia e o poder do consumidor interagem de maneiras imprevisíveis.
Convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas,
mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que
imaginam estar falando e representa uma transformação cultural à medida que
consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em
meio a conteúdos de mídia dispersos (JENKINS, 2009).
39
Convergência não significa perfeita estabilidade ou unidade. Ela
opera como uma força constante pela unificação, mas sempre em
dinâmica tensão com a transformação...Não existe uma lei imutável
da convergência crescente; o processo de transformação é mais
complicado do que isso (POOL,1983, apud JENKINS 2009, p.36).
Sobre as múltiplas narrativas e as possibilidades acarretadas pelo uso da
internet Gregolin, Sacrini, Tomba (2002) definem:
Mais que a simples convergência de linguagens para um único meio, a
Internet determinou a configuração de novas formas de uso dessas
linguagens, de acordo com a possibilidade da tecnologia envolvida. Isso
significa que, ao transpor um produto para a Internet, cujo suporte original é
diferente, não teremos a sua “versão” para a web, necessariamente.
Quando determinada editora ou autor torna disponível na web o conteúdo
integral de um livro, não quer dizer que seja uma revolução em si, a
produção de um livro “para a Internet”, mas significa apenas a possibilidade
de decodificação do texto em um novo meio (GREGOLIN, SACRINI,
TOMBA, 2002, p.25).
A narrativa sempre foi um componente que o produtor deslocou uma atenção
especial. A narração surge de um acontecimento real ou imaginário, oral ou textual,
que é atualizada conforme o ambiente de representação criado pelo espectador.
Compartilhar histórias é o que sustenta a cultura, os valores, os conhecimentos de
geração para geração. No entanto, essas narrativas sempre foram presas ao
formato da história com início, meio e fim. O que se considera com a integração das
novas mídias é a perspectiva que cientistas, artistas, pesquisadores, jornalistas e
tantos outros sempre tentavam realizar: a subversão dessa ordem. Não ser um
produto linear e tão pouco sequencial, criar um ambiente imersivo e participativo, do
qual podemos extrair interação dos sentidos e apropriar a representação da
realidade pelo público (CASTRO e FREITAS, 2010).
A produção de um documentário tanto para veiculação em uma sala de
cinema, quanto para tv ou web não significa que o produto e sua linguagem devem
ser diferenciadas. O que de fato acontece é que se muda apenas a relação do
corpo do leitor/telespectador. A velocidade e uma adequação no formato não
querem necessariamente dizer que o produto deixa de ser um documentário
“convencional”. A narrativa e o formato podem simplesmente pressupor que o webdocumentário em si propõe uma produção específica, incorporando formas de
organização e características próprias da tecnologia envolvida. No entanto, as
40
evoluções no uso da linguagem para web representam um desenvolvimento de
técnicas simbólicas que são suscetíveis ao meio, e podendo, em alguns casos, ser
aplicada a uma produção documental comum e vice-versa (GREGOLIN, SACRINI,
TOMBA, 2002).
A digitalização permitiu uma convergência de mídias e a expansão do
conteúdo audiovisual pode ser feita por várias plataformas. Essa diversidade pode
propiciar uma interatividade que depende das sensações despertadas pelo conteúdo
e das possibilidades de um grupo participar ativamente, seja por meio da linguagem
ou dos meios utilizados para os formatos de expressão (CASTRO e FREITAS,
2010).
Um processo chamado “convergência de modos” está tornando imprecisas
as fronteiras entre os meios de comunicação, mesmo entre as
comunicações ponto a ponto, tais como o correio, o telefone e o telégrafo, e
as comunicações de massa, como a imprensa, o rádio e a televisão. Um
único meio físico – sejam fios, cabos ou ondas – pode transportar serviços
que no passado era oferecido por um único meio - seja a radiodifusão, a
imprensa ou a telefonia – agora pode ser oferecido de várias formas físicas
diferentes. Assim, a relação um a um que existia entre um meio de
comunicação e seu uso está se corroendo (POOL, 1983, apud JENKINS,
2009, p.39).
Outra conotação destacada é de como a migração digital tem afetado o
comportamento da audiência. O padrão de emissor e receptor não é mais
unidirecional (único sentido). O ambiente digital oferece a oportunidade do diálogo,
de produção e interação entre as partes, o receptor recebe a mensagem e cabe a
ele o papel de interagir e poder não só representar a realidade, como também
construir essa realidade (CASTRO e FREITAS, 2010).
Esse comportamento da audiência envolve também os interesses pessoais do
telespectador. “O documentário clássico em nada diferencia do webdocumentário se
escolho olhar de longe. Inversamente, se entro no jogo, ele me permite escapar da
entrada principal e saber um pouco mais sobre tal ou tal aspecto...” (JOST, 2011,
p.99). Para François Jost, o webdocumentário permite que o indivíduo construa seu
próprio itinerário em função dos interesses pessoais, a possibilidade de ver o filme e
navegar possibilita dois modos de apreensão daquela realidade visitada, a primeira
é o escópico, apenas assistir ao produto e a segunda é manual, o espectador pode
41
interagir com outros conteúdos visualizando pelos seus cliques manuais os assuntos
que interessam e envolvem a produção .
Segundo Castro e Freitas (2010), o público que acessa um programa
audiovisual nas plataformas atuais não tem compromisso com a relação de
linearidade com a imagem. O espectador das novas ferramentas é habituado a uma
atitude mais ativa, determinada pelo contato com os meios de comunicação desse
formato, em que a informação é obtida por um fluxo fragmentado e dividido.
Como Pool (1983) previu, estamos numa era de transição midiática, marcada
por decisões táticas e consequências inesperadas, sinais confusos e interesses
conflitantes e, acima de tudo, direções imprecisas e resultados imprevisíveis.
Sobre a adequação do público as convergências midiáticas, o francês Jost
(2011) define como um processo de luta de intermídias em que os veículos apenas
agregam novas possibilidades. Ocorre uma substituição de um meio por outro,
porém, não se abandona definitivamente os meios mais antigos de comunicação.
Existe uma coexistência como definida no trecho abaixo:
Não se deve considerar como um dado evidente de determinismo
tecnológico que aparelhos, ou aplicativos, ou mesmo funcionalidades
potenciais produzam, necessariamente, mecanicamente, diria, novos
comportamentos. As crianças do computador substituíram as crianças da
TV, que haviam substituído as crianças do rádio... E essas três classes de
uso coexistem na sociedade (JOST, 2011, p. 94).
O que é o diferencial da internet é a sua comunicação integrada. O produtor
(emissor) do conteúdo pode explorar os recursos interativos de acordo com a
linguagem do meio em que está inserido. Exemplificando, situações interativas que
não podem ser resolvidas no ritmo imposto na TV, podem receber um tratamento
minucioso na rede (CASTRO e FREITAS, 2010). Essa perspectiva é uma das
nossas propostas na produção do documentário, interagir com o público em redes
sociais para compreender qual a visão do receptor, no caso, os corredores de rua.
Ainda discorrendo sobre o uso dos meios de comunicação audiovisual como a
televisão e internet, Jost (2011) salienta a importância das redes sociais e os canais
de compartilhamento de vídeos. O pesquisador afirma que essas ferramentas
serviram para um propagação de conteúdos. Para ele, se ontem discutíamos as
noticias televisivas por um número restritos de canais que “garantiam” que quase
42
todos havíamos assistido ao mesmo programa, hoje os sites de redes sociais
promovem acessos a outros conteúdos pela multiplicidade de canais, a televisão em
si não perdeu seu espaço, pois grande parte dos conteúdos compartilhados são
oriundos de uma réplica ou edição de algo exibido na televisão. Esses são fatores
positivos que permitem a continuidade da televisão que ganha espaço também na
internet, além disso ocorre uma maior expansão de conteúdo possibilitando atender
todos os públicos por meio da web.
Jenkins (2009), compartilha desta opinião quando diz que os novos meios não
substituem os antigos. Pois eles se adaptam as mudanças.
Desde que o som gravado se tornou uma possibilidade, continuamos a
desenvolver novos e aprimorados meios de gravação e reprodução do som.
Palavras impressas não eliminaram as palavras faladas. O cinema não
eliminou o teatro. A televisão não eliminou o rádio. Cada meio antigo foi
forçado a conviver com os meios emergentes. É por isso que a
convergência parece mais plausível como uma forma de entender os
últimos dez anos de transformações dos meios de comunicação do que o
velho paradigma da revolução digital. Os velhos meios de comunicação não
estão sendo substituídos. Mais propriamente, suas funções e status estão
sendo transformados pela introdução de novas tecnologias (JENKINS,
2009, p.41).
Para Jost (2011) essa adaptação dos meios as mudanças constantes
constituem uma “ludo-realidade”, uma espécie de realidade lúdica em que para
conseguir obter a atenção do telespectador em relação a informação é necessário
que se disponibilize ferramentas de interatividade e entretenimento. O usuário utiliza
o meio para informação, mas também com o intuito de se divertir.
43
6. METODOLOGIA
Para atingir os objetivos propostos, o presente trabalho desenvolveu sua
metodologia baseada no livro “Métodos e Técnicas de Pesquisa Social” de autoria
de Antonio Carlos Gil (1999), no qual o autor apresenta dois grandes grupos para
facilitar a identificação dos formatos do método científico. Um grupo é constituído
das bases lógicas da investigação científica, enquanto o outro é caracterizado por
um vasto campo de procedimentos técnicos que podem ser aproveitados.
6.1 Bases lógicas da investigação – os fatores motivacionais dos atletas
atrelados ao crescimento das corridas de rua
Conforme Gil (1999) os procedimentos lógicos devem ser seguidos na fase de
investigação científica dos fatos da sociedade e da natureza. É desenvolvido para
estabelecer o alcance das investigações, bem como as regras de explicação e a
validade das generalizações presentes no estudo.
Entre os métodos que proporcionam as bases lógicas da investigação, Gil
(1999) elencou cinco tipos de métodos. São eles: método dedutivo, indutivo,
hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico. Abaixo apresentamos os conceitos
do autor a respeito de cada um dos formatos de investigação.
O método dedutivo parte das ideias e princípios definidos como verdadeiros e
indiscutíveis. É proposto pelos racionalistas que fundamentam a razão como
responsável por obter o conhecimento verdadeiro. Esse método é bastante comum
nos campos da Matemática e da Física em que as fórmulas e enunciados são
tratados como leis. No campo das ciências sociais, esse método tem uso restrito
pela dificuldade de construir argumentos que não possam ser questionados em
relação a veracidade da pesquisa (GIL, 1999).
A metodologia indutiva consiste em observar fatos e fenômenos cujas
ocorrências o pesquisador pretende conhecer. Enquanto na dedução o pesquisador
chega a conclusões consideradas verdadeiras e indiscutíveis, na indutiva, apenas
são apresentadas conclusões que são prováveis, passíveis de questionamento (GIL,
1999).
44
Outro caminho que pode ser seguido em uma pesquisa é o método hipotéticodedutivo. Sua principal característica é procurar evidências que derrubem as
hipóteses construídas na pesquisa. É um método que não tem muito espaço no
campo das ciências sociais pelo fato de que nem sempre as hipóteses podem
construir a dedução dos fatos observados (GIL, 1999).
A pesquisa dialética (método dialético) é constituída por uma interpretação
dinâmica e total da realidade. O investigador que utiliza esse caminho para
fundamentar sua pesquisa científica deve considerar todos os aspectos que
constituem a sociedade, tais como a economia, a política, a cultura, etc (GIL, 1999).
Uma das possibilidades de estudo é o método fenomenológico. Esse tipo de
estudo consiste apenas em “mostrar o que é dado e esclarecer esse dado”. Rejeita
explicar os fenômenos por leis, por gêneses psicológicas ou explicações de
especialistas. Para a fenomenologia não existe uma única realidade, a construção
delas derivam de diferentes interpretações e comunicados que são consideradas no
que vem imediatamente na consciência, o objeto de estudo por meio de um
fenômeno (GIL, 2009).
Esclarecidas as diferenças entre as bases que constituem a lógica de uma
investigação, optamos pelo método indutivo como base do projeto “O esporte das
Multidões”. Justificamos nossa escolha pelo processo em que adotamos durante o
desenvolvimento da pesquisa, em que seguimos o roteiro indutivo partindo da
observação de um determinado fato ou fenômeno, nesse caso, o aumento das
corridas de rua nos últimos anos comprovada por meio de divulgações de artigos e
matérias divulgadas em canais de comunicação que apontam um crescimento no
número de praticantes, bem como, as possíveis relações envolvidas nesse
crescimento com estudos da área de Psicologia, Saúde e Sociabilidade abordadas
por alguns dos respectivos autores que delimitam a pesquisa, como Massarela
(2009), Dallari (2009) e Mafessoli (1988).
Para apresentar essas prováveis conclusões foram utilizadas pesquisas
baseadas no capítulo “Métodos que indicam os meios técnicos da investigação”
presentes na obra de Gil (1999).
45
6.2 Procedimentos técnicos da investigação – conhecendo aspectos do
esporte, a estruturação dos documentários e a análise do programa Globo
Esporte de Curitiba
Os meios técnicos da investigação têm como objetivo orientar o pesquisador
para garantir a precisão e a objetividade do estudo. Geralmente são utilizados dois
ou mais métodos técnicos para compor a pesquisa. São divididos em seis modelos:
experimental, observacional, comparativo, estatístico, clínico e monográfico (GIL,
1999).
O método experimental é aplicado quando o pesquisador submete o seu
objeto de estudo a determinadas variáveis que são do seu conhecimento e controle
do próprio, visa apenas obter resultados por meio da aplicação dessas variáveis. O
método observacional é semelhante, a diferença é que o pesquisador não interfere
com variáveis e experimentos, seu procedimento visa apenas observar algo que
acontece ou aconteceu (GIL, 1999).
Outro procedimento é o comparativo, em que se procura na investigação
diferenças e semelhanças de indivíduos, classes, fenômenos, etc. No método
estatístico, os números de uma determinada pesquisa são utilizados como uma
espécie de auxílio para valorizar a informação obtida por outros métodos, não deve
ser considerado como absolutamente verdadeiro, mas dotado de boa probabilidade
de ser verdadeiro (GIL, 1999).
Outros dois procedimentos técnicos são o clínico e monográfico, o primeiro é
mais direcionado ao campo da psicologia, em que o pesquisador recorre a
psicólogos para obter ajuda no objeto da pesquisa. O segundo, é voltado a análise
de um caso de forma aprofundada, podem ser direcionado a indivíduos, instituições,
comunidades, entre outros (GIL, 1999).
Para formular a pesquisa e obter os resultados referentes aos fatores
relacionados ao crescimento no número de praticantes do esporte, recorremos a três
procedimentos técnicos: comparativo, observacional e estatístico.
O método comparativo foi usado na pesquisa documental a respeito da Lei de
apoio ao esporte amador (Lei Pelé). Nesse método, procuramos esclarecer as
principais diferenças entre um atleta amador e profissional, principalmente no que
diz respeito aos incentivos financeiros e na sua representação social. No entanto,
46
esse método comparativo foi utilizado apenas na delimitação do tema, não sendo
aplicado na pesquisa descritiva após constatarmos junto aos atletas que os temas
que mais repercutem são a sociabilidade e a saúde.
O método observacional foi constantemente utilizado. Segundo Gil (1999), em
qualquer pesquisa das Ciências Sociais é comum esse formato aparecer em
diversos pontos da pesquisa. Observamos a sociabilidade por meio de pesquisa
bibliográfica e a relacionamos com o poder de socialização do esporte. Para
fundamentar tal observação, utilizamos dos conhecimentos de Mafessoli (1988),
Almeida (2011), Bickel; Marques e Santos (2012) e Franco (2010) que apontaram as
corridas de rua e a sociabilidade como movimentos sociais que derivam de
interesses particulares e individuais, mas que de certa forma quando compartilhados
formam um determinado grupo social que visa os mesmos fins.
Para introduzir o leitor ao assunto sobre corridas de rua, realizamos pesquisa
bibliográfica dos artigos de Oliveira (2010), Dallari (2009) e Miranda (2007), que
discorrem sobre as primeiras corridas de rua no mundo e o método de Cooper como
um dos fatores que ajudou a acelerar o processo de popularização do esporte.
Visando contextualizar a temática esportiva também ao produto jornalístico,
realizamos o método observacional juntamente de pesquisa bibliográfica para
compreender os formatos de documentários. Primeiramente, apresentamos um
breve histórico sobre os conceitos relacionados ao surgimento do jornalismo gonzo,
o qual foi oficializado na década de 70 por Hunter S. Thompson, considerado o pai
desta corrente jornalística. Em seguida, observamos características presentes nos
métodos de entrevista conforme Nilson Lage (2003) e Medina (2001) semelhantes
às técnicas de entrevistas utilizadas no jornalismo gonzo, tema que foi apresentado
por Julião e Magalhães (2006), Bezerra (2007) e Czarnobai (2003).
Foram observadas também, conforme os estudos de Nichols (2010), Ramos
(2007), Junior (2011), Coelho (2004) e Barbeiro e Rangel (2006), a contextualização
principalmente da narrativa utilizada em produtos jornalísticos esportivos e os
formatos das narrativas de modo geral utilizadas em documentários.
Para agregar todos os aspectos que compõem a fundamentação do produto
(webdocumentário) utilizamos a teoria da convergência de Jenkins (2009) sobre a
adaptação dos novos meios tecnológicos na comunicação e as pertinentes
47
observações de Castro e Freitas (2010), Gregolin, Sacrini, Tomba (2002) e Jost
(2011) sobre a adaptação dos formatos do documentário da tv para a web. Todos
esses estudos observacionais foram aplicados à pesquisa bibliográfica, ajudando na
formatação do produto em termos técnicos.
No campo da área de Comunicação em relação ao tema, procuramos
compreender se o fenômeno (crescimento das corridas de rua) estaria relacionado a
uma possível divulgação do esporte em canais de televisão, para isso fizemos uma
breve análise por meio do método observacional sobre a exibição de corridas de rua
no programa Globo Esporte.
O programa Globo Esporte da Rede Globo de Comunicação vai ao ar
diariamente (de segunda a sábado) entre 12h45 e 13h15. Em Curitiba é veiculado
pela filiada da emissora, a RPC/TV. A análise foi realizada no período entre os dias
14 de abril e 15 de maio e o objetivo foi estudar a veiculação ou não das corridas de
rua em um meio televisivo de grande porte. Os programas foram assistidos nos dois
dias que antecederam as provas (sexta e sábado) e nos dois dias subsequentes à
prova (segunda e terça). Foi constatado que nenhuma das oito provas presentes no
calendário da Secretária Municipal de Esporte e Lazer de Curitiba foi noticiada nas
20 edições do Globo Esporte Curitiba. Também não foram divulgadas notícias sobre
as corridas de rua em âmbito nacional.
A não veiculação de notícias a respeito do esporte nos levantou uma nova
incógnita. Em quais meios de comunicação os corredores de rua obtêm informação
a respeito das corridas de rua ?
6.3 Formato da pesquisa – definindo o perfil do corredor de rua e a busca da
informação sobre o esporte
A pesquisa tem por finalidade de ordem intelectual ser um estudo que busca
no conhecimento a simples ação para agir. A pesquisa divide-se em três diferentes
formatos: exploratória, descritiva e explicativa (GIL, 1999). A pesquisa exploratória
visa desenvolver, esclarecer e até mesmo mudar ideias e conceitos. São
constituídas puramente por levantamento bibliográfico e documental. Seu objetivo
principal é proporcionar uma visão geral acerca de determinado fato, por isso é
48
considerado o formato menos rígido em relação a veracidade das informações (GIL,
1999).
A pesquisa com formatação descritiva tem como principal fundamento a
descrição das características de determinada população, fenômenos ou relações
entre variáveis. Uma das características mais utilizadas nesse processo é a coleta
de dados.
A terceira espécie de pesquisa é a explicativa, fazem parte desse grupo os
estudos que têm como preocupação central identificar fatores que determinam ou
contribuem para a ocorrência de determinados fenômenos. É considerada a
pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, por explicar a razão, a
causa e todos os itens que envolvem determinados fatores. É o tipo mais complexo,
já que o risco de cometer erros aumenta consideravelmente quando se procurar
definir uma verdade (GIL, 1999).
Devidamente conceituadas as três formas de pesquisa, o projeto “O esporte
das Multidões” utilizou de pesquisa descritiva acompanhada do método indutivo. Por
meio do sistema de coleta de dados, elaboramos um questionário disponibilizado na
internet e divulgado especificamente em grupos e assessorias esportivas de corridas
de rua presentes em redes sociais para traçar o perfil do atleta, considerando
aspectos como idade, categoria (amador ou profissional), frequência e locais de
treinamento, frequência de participação e distância das corridas que participa.
Também foi feita a coleta de dados para apontar quais meios de comunicação o
atleta utiliza para se informar sobre as corridas de rua (trajetos, locais, valores de
inscrição) e quais meios ele se informa sobre as técnicas (produtos, planilhas de
treinamento) e benefícios do esporte em relação a saúde. Nessa análise está
incluída a frequência com que os corredores acessam esses meios para se informar
e como avaliam a cobertura das mídias de uma maneira geral. Por fim, a pesquisa
também apurou quais assuntos os atletas consideram mais importantes de serem
abordados pelos veículos de comunicação.
6.4 Apresentando os resultados da pesquisa descritiva
Definidos os parâmetros da pesquisa, obtivemos uma série de resultados que
colaboraram para conceituar o método indutivo, que buscou estabelecer os
49
prováveis fatores que contribuíram para o crescimento das corridas de rua. No total,
235 participantes responderam o questionário, sendo 233 atletas da categoria
amador e apenas 2 da modalidade profissional. O documento ficou disponível para
respostas entre os dias 1 e 15 de setembro. A maioria dos entrevistados
compreendem a faixa etária entre 31 e 40 anos. (Mais detalhes – Gráfico 1 – Idade –
Anexo p.66 / Gráfico 2 – categoria – Anexo p.66 )
6.4.1 Fatores motivacionais para praticar a corrida de rua
Para elaborar um perfil do corredor, procuramos compreender o principal fator
motivacional para que ele saia correndo pelas ruas e participe de competições.
Foram listadas as seguintes opções: preparo físico e qualidade de vida, convívio
social, participação em equipes de corridas de rua, metas pessoais, hobby (correr
simplesmente por prazer) ou todas alternativas.
Confira o gráfico:
Como observado, quase a metade dos atletas procura praticar as corridas de
rua para obter um bom preparo físico e os respectivos benefícios à saúde. Dentro
50
dessa perspectiva, mais de 50% dos entrevistados diz que a “média de
treinamentos” é de três a quatro dias da semana. As vias urbanas são os locais em
que 35% utilizam para treinar, outros 29% utilizam além das vias urbanas, parques e
academias para realizar a preparação para competições. Em relação à “distância
das corridas” disputadas, a mais popular é a de 10 km com 96 votos. A pesquisa
aponta também uma grande variedade na frequência de participação em provas
disputadas por ano por esses atletas (Mais detalhes: Gráfico 4 – média de
treinamentos – Anexo p.67 / Gráfico 5 – locais de treinamento- Anexo p.68 –
Gráfico 6 – tipos de competição – Anexo p.68 / Gráfico 7 – participação em provas
– Anexo p.69 ).
A representatividade do preparo físico e a qualidade de vida (saúde) para os
atletas condizem com o delineamento da pesquisa bibliográfica a respeito do esporte
elaborada por Napoli e Sene (2008), Dallari (2009), Massarela (2009) que apontam a
saúde como um dos principais fatores para a prática das corridas de rua. Com o
auxílio do método estatístico, ficam estabelecidos os benefícios à saúde como uma
das prováveis hipóteses para o crescimento das corridas de rua no Brasil.
6.4.2 Como os atletas se informam sobre as corridas de rua (datas, trajetos,
inscrições)
Esse questionário procurou descrever qual veículo de comunicação o atleta
tanto amador como profissional utiliza para se informar sobre as corridas,
considerando informações como trajetos, distâncias, inscrições, número de vagas e
premiações. Também foi verificada a periodicidade desses acessos.
Entre os 235 participantes, a grande maioria optou por plataformas
disponíveis na internet. Os locais de maior acesso são os sites, com 116 votos. As
redes sociais tiveram a preferência de 75 participantes, com predominância do
Facebook sendo citado por 73 deles. O Twitter e os blogs e o rádio tiveram apenas
uma indicação.
51
A frequência de acessos a esses meios de comunicação é feita, diariamente,
por 169 dos 235 entrevistados, porcentagem equivalente a 69%. (Mais detalhes:
Gráfico 9 – frequência de acesso – Anexo p.70 )
Somando o número de pessoas que acessam sites ou as redes sociais como
principal fonte de informação, totalizamos 191 entrevistados e uma porcentagem
equivalente a 81%. Esses números advindos do método estatístico podem ser
considerados como uma hipótese provável para responder o questionamento sobre
os locais em que os corredores de rua obtêm informações. Os dados também
confromtam a Teoria da Convergência de Jenkins (2009) que aponta a adaptação de
produtos de comunicação antes exclusivos da rádio e da televisão, para a internet.
Nesse caso, salientamos a importância da produção de um documentário com
características para ambas as plataformas, sendo utilizado tanta para televisão
como para internet.
No quesito como os atletas se informam sobre o benefício do esporte, os sites
mantiveram a preferência com um voto a menos em relação à pesquisa anterior (115
votos). As redes sociais diminuíram seu poderio comunicativo, no entanto,
permaneceram como a segunda opção com 54 votos (23%), seguida pelas revistas,
com 49 votos (21%). Esta teve um aumento considerável em relação ao item
anterior, em que a revista recebeu apenas 17 votos, o equivalente a 7% dos
52
entrevistados. Do total de entrevistados, 124 corredores procuram esses tipos de
informações diariamente. (Mais detalhes – Gráfico 10 – Meios de comunicação
sobre técnicas e benefícios do esporte – Anexo p.70 / Gráfico 11 – frequência de
acessos – Anexo p.71 )
6.4.3 Avaliação da cobertura dos veículos de comunicação
Procurando estabelecer um grau de satisfação do corredor de rua em relação
à cobertura dos veículos de comunicação, disponibilizamos cinco opções de
qualificação: péssima, ruim, regular, boa e excelente.
A pesquisa descritiva apresentou um grau de satisfação considerado regular
pela maioria (90 votos – 38%). No entanto, vale ressaltar que somados o número de
atletas que consideram a cobertura ruim (75) e péssima (36) representam um
percentual de 47% do total, valor aproximado da metade dos entrevistados: 111. A
insatisfação dos atletas com os veículos de comunicação são indícios de que existe
uma necessidade de se produzir conteúdos destinados a esse público. A produção
de um documentário pode ser considerada uma alternativa que atenda aos
corredores de rua nas duas principais fontes de informação utilizada por eles
53
conforme os gráficos 8 e 10 , no caso, os sites e as redes sociais. Podendo ser
explorado também o seu formato audiovisual em canais televisivos.
6.4.4 Divulgação na mídia
A pesquisa também buscou conhecer quais assuntos os corredores de rua
acham mais interessantes para serem abordados nos veículos de comunicação. Os
assuntos selecionados foram a relação do esporte com a saúde, os vínculos de
amizades entre os atletas, formas de treinamento, dicas sobre como se comportar
em uma prova e os equipamentos necessários na competição.
Metade dos pesquisados acredita que todos os assuntos têm relevância e
devem ser tratados na mídia. A saúde e os aspectos motivacionais aparecem como
opção mais escolhida entre as alternativas que poderiam ser votadas de forma
individualizada. Os números reforçam a probabilidade de que os corredores de rua
gostariam de ter produtos que relatam o seu principal aspecto motivacional que é o
bem-estar físico, conforme o gráfico de fatores motivacionais apresentado
anteriormente.
54
7. DELINEAMENTO DO PRODUTO
O nome do projeto “O Esporte das Multidões”
foi definido durante as
gravações do documentário. Entre as quatro provas que participamos fazendo
entrevistas e conhecendo o clima das corridas de rua, o que impressionava era a
forma como as pessoas preparavam-se nos minutos que antecediam as provas. Por
todos os lados era possível observar grandes rodas de competidores fazendo
aquecimento e realizando pequenos treinos técnicos para as competições. Essas
aglomerações e o fato de a corrida de rua ser um esporte que reúne uma grande
quantidade de esportistas em uma mesmo evento (diferente das partidas de futebol,
basquete, tênis e outros inúmeros esportes) foram identificados como pontos de
definição do título.
Título: O Esporte das Multidões
Duração: 20 minutos.
Formato: DVD
Sinopse: Os jornalistas Allan Scheid e Cássio Deconto resolveram descobrir o
universo das corridas de rua. Em um documentário jornalístico do tipo gonzo,
inspirado nas técnicas de Hunter S. Thompson, os repórteres encaram o desafio de
participar das competições. Durante os circuitos de rua, os “novos atletas” interagem
com os atletas amadores, aprofundando-se nas perspectivas sociais, motivacionais
e físicas que levam as pessoas a praticar o esporte. E você? Tá esperando o que
para vestir seu tênis e correr pelas ruas da cidade? Let´s go!
Descrição dos personagens/entrevistados: Durante a produção do documentário,
seguimos o planejamento das técnicas do jornalismo gonzo de Hunter S. Thompson,
sem fazer agendamento de entrevistas e elaboração de pautas. Os entrevistados
foram selecionados durante abordagens feitas nos locais da prova. A ideia
estabelecida era conversar com os personagens nos momentos que antecedem a
corrida e no pós-prova, para sentir o clima das corridas de rua e verificar durante
esse diálogo se assuntos como saúde, sociabilidade e o incentivo ao esporte
amador estudados em nossa delimitação do tema faziam realmente parte desse
universo. Também não estipulamos um número específico de entrevistados, a
intenção era conhecer diferentes perfis.
55
A conversa com os atletas amadores revelou que boa parte deles praticam o
esporte pela saúde. Muitos iniciaram na modalidade para largar problemas do
sedentarismo, como má alimentação, ingestão de bebidas alcóolicas e tabagismo.
Ao todo, foram entrevistados 16 atletas, foram aproveitadas somente 12 entrevistas,
quatro entrevistas não foram aproveitadas por problemas técnicos, sons externos e
conversas paralelas que atrapalharam a entrevista. Durante as abordagens feitas,
percebemos indiferença e falta de conhecimento dos atletas amadores em relação à
Lei de incentivo ao esporte amador, para eles a estrutura mínima (águas e ruas bem
sinalizadas) já são fatores suficientes para participar da prova.
Outro ponto constatado com os entrevistados é que não existe uma diferença
no relacionamento de atletas amadores e profissionais. Todos se tratam igualmente
e com respeito mútuo, essa relação amistosa determinou um outro ponto presente
no documentário. A ausência do GC foi pensada no sentido de não diferenciar o
atleta amador do atleta de elite (profissional), todos são apresentados como
corredores. Com isso fica esclarecido que um dos objetivos específicos do trabalho,
que era a diferença entre atletas amadores e profissionais, não foi constatada de
forma explicita e por isso não foi comprovada e cumprida nos itens do objetivo
específico do projeto.
Durante as gravações, tivemos a oportunidade de conhecer também duas
atletas profissionais conhecidas nacionalmente nos cenários das corridas de rua.
Maria Zeferina Baldaia e Conceição Oliveira conversaram conosco e demonstraram,
em suas falas, toda dificuldade em ser um atleta profissional. Exploramos dessas
mulheres principalmente a experiência como competidoras de elite no quesito de
preparação para as corridas de rua e os sacrifícios que devem ser feitos para
conseguir viver apenas com os rendimentos do esporte.
Abordagem/linha editorial: a ideia inicial era fazer uma abordagem de um caráter
totalmente participativo dos jornalistas nos quatro blocos do documentário atuando
também como personagens do produto. No entanto, ao iniciarmos as gravações e
participarmos efetivamente do ambiente das corridas de rua, percebemos que era
preciso dar mais espaço aos atletas pela riqueza de suas histórias e por declarações
que exaltam termos presentes em nossa parte bibliográfica a respeito do tema. A
forma de abordagem e a linha editorial tiveram, nos dois primeios blocos do
56
documentário, uma voz mais ativa dos entrevistados, nós (repórteres) aparecemos
de forma discreta em poucos momentos mediando a fala do personagem com
algumas perguntas.
Nos dois primeiros blocos ficou caracterizado o que Medina (2001) definiu
como pluralização de vozes, em que a interação social com os entrevistados
apresenta uma distribuição democrática da informação presente no discurso. O que
também confronta ao pensamento de Nichols (2010) sobre juntar relatos para
construir uma única história (narrativa).
Essas readaptações feitas,
não
representam um abandono do jornalismo gonzo, afinal as percepções de todo o
ambiente que envolve esses eventos esportivos estava em fase de concebimento.
Os blocos 3 e 4 do documentário representam o chamado processo de
osmose conceituado no referencial teórico por Augusto (2006) e Julião e Magalhães
(2006) e que são definidos como a grande essência do jornalismo gonzo. Durante
os dois blocos utilizamos narrativas em primeira pessoa e a vivência plena do fato
(corridas de rua). Foi a plena definição da osmose, registrando nossa participação
no Circuito de Corridas Caixa passamos do papel de jornalista para personagem
relatando nossas experiências durante 5 km percorridos.
Estrutura (Pré-roteiros)
O pré-roteiro do presente projeto em tese não foi elaborado. O que foi
pensado antes de iniciar as gravações foi de simplesmente seguir as características
do gonzo, misturar uma dose de bom humor, conversas descontraídas e realizar o
processo de osmose. A não elaboração e uma espécie de “falta de planejamento”
em si, foi o método experimental que resolvemos adotar, justamente, para seguir a
conceituação de não elaborar pautas e não agendar entrevistas. O documentário “O
esporte das Multidões” queria, simplesmente, mostrar como são as corridas de rua
da forma mais natural possível, tanto que durante as gravações, naturalmente,
surgiram alguns “palavreados” de forma natural por parte dos repórteres, algo que
ocorria com frequência nos livros de Thompson. O roteiro elaborado para a edição
do material pode ser visualizado nos anexos do projeto. (Mais detalhes – roteiro –
Anexo p.72 )
57
Linguagem visual: antes das gravações, estudamos a possibilidade de utilizar
como principal recurso de linguagem estar sempre em “movimento”, dar ao
telespectador a sensação dos ritmos acelerados das corridas e realizar entrevistas
durante as provas. No entanto, mudamos essa perspectiva quando constatamos na
prática que era “impossível” ou tecnicamente muito complicado entrevistar os
personagens durante a corrida em função dos enquadramentos e também pelo fato
de, ocasionalmente, atrapalhar o desempenho de alguns competidores.
Com isso a linguagem visual adotou uma estética bem variada, com
enquadramentos distintos: primeiro plano, plano médio, close, super close na
entrevista dos atletas. Quando as gravações foram feitas em primeira pessoa,
utilizamos a câmera na mão e adotamos nesse trecho a perspectiva de movimento
que era a ideia inicial do projeto. Outro recurso bastante utilizado foram trilhas
sonoras como estratégia para dar maior ritmo ao documentário e prender a atenção
do telespectador.
Locais de exibição: Canal Esporte Interativo (EI)
Sobre Esporte Interativo: Uma das propostas com a conclusão do projeto é
divulgar as corridas de rua em meios que possibilitem utilizar materiais audiovisuais
tanto na plataforma da web como da televisão. Avaliando essa possibilidade
acreditamos que o Esporte Interativo (EI) por ser o primeiro canal da TV aberta
brasileira com programação 24 horas de esporte e único do país a dar acesso ao
seu conteúdo por meio de TV, internet (http://br.esporteinterativo.yahoo.com),
celulares, tablets, Facebook (www.facebook.com/esporteinterativo) e portais é o
mais apropriado para a proposta do documentário.
O canal foi fundado em 1999 e detém, atualmente, o direito de transmissão de
mais de 700 eventos ao vivo por ano. No início de outubro de 2012, o EI fechou
parceria com o grupo Yahoo, os dois veículos recebem, em média, cinco milhões de
visitas por mês em seus portais. As informações foram publicadas pelo portal do
Estadão11. Antes de firmar a parceria O Esporte Interativo sempre divulgava seus
vídeos produzidos no Youtube, canal de compartilhamento de vídeos que é o local
11
Portal Estadão – Yahoo Brasil faz parceria com Esporte Interativo e reforça conteúdo. Link:
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,yahoo-brasil-faz-parceria-com-esporte-interativo-e-reforcaconteudo,942182,0.htm acesso em 10 de outubro de 2012.
58
em que pretendemos divulgar o projeto e que faz parte do Google, concorrente do
Yahoo. Com essa mudança recente no grupo, salientamos que nossa proposta
inicial ainda se mantém em divulgar os vídeos no Youtube. Mas, se a proposta for
comercializada pelo EI, os vídeos passarão a ser exibidos na plataforma de vídeos
do
site,
o
Y!Screen
que
pertence
ao
grupo
Yahoo.
Em Curitiba, o Esporte Interativo disponibiliza o conteúdo em TV aberta no
canal 14. O EI também atua em outros nove estados brasileiros (SP, AP, ES, RO,
PA, MA, SC, RS e AM), além das parabólicas em todo o Brasil. O Esporte Interativo
atinge mais de 110 milhões de pessoas em todo o país por ano. O investimento nas
redes sociais visa estabelecer troca de informações e discussões entre esportistas e
apaixonados pelas mais variadas modalidades esportivas.
Conforme pesquisa do socialbakers.com, o Esporte Interativo é o maior grupo
de mídia brasileiro nas redes sociais e está entre os 50 maiores do mundo, são mais
de cinco milhões de seguidores de seguidores e 40 atletas olímpicos gerando
conteúdo exclusivo via Facebook e Twitter.
Público alvo: O público alvo do documentário “O Esporte das Multidões” são todas
as pessoas que acompanham a programação do esporte interativo pelas redes
sociais. A intenção é que o documentário gere repercussão e seja um produto que
contribua para o crescimento tanto do esporte como da respectiva emissora. Com
base no estudos da teoria da convergência e do surgimento frequente de novas
plataformas midiáticas acreditamos que as redes sociais e os sites podem ser um
excelente meio de troca de informações entre atletas e pessoas que tenham
interesse em iniciar no esporte, contemplando um dos objetivos do projeto que é
incentivar novos praticantes.
Plano orçamentário: o período de produção do documentário gerou uma planilha
orçamentária com gastos e investimentos feitos no período entre setembro e outubro
de 2012. Nesses dois meses diversas necessidades foram requeridas para executar
todo processo de gravação, edição e conclusão do documentário. Abaixo listamos
os itens utilizados e os respectivos preços:
59
Tabela de orçamento - setembro e outubro de 2012
Produto: Câmera Go Pró Hero 2 – Investimento: R$1230 – Quantidade: 1 unidade.
Produto: Câmera Canon SX30IS – Investimento: R$ 1500 – Quantidade: 1 unidade
Produto: Cartão de memória SD 32gb – Investimento: R$125 – Quantidade: 2 unidades.
Produto: Mini HD externo LG XDS 1tb – Investimento: R$ 328 – Quantidade: 1 unidade.
Produto: Notebook – Investimento: 1.800 – Quantidade: 2 unidades.
Produto: Computador para edição – Investimento: 2.500 – Quantidade: 1 unidade.
Produto: Editor freelance – Investimento: R$ 300 – Quantidade: 1 profissional
Investimento total: R$9708 *Não foram inclusos gastos com transportes e alimentação.
Caso a proposta seja aceita pelo Esporte Interativo ou outro veículo de
comunicação que demonstre interesse em financiar o projeto, estão previstos gastos
empregatícios com salário mensal de R$ $ 2.323,68 para cada jornalista, com base
no piso salarial do estado, do Paraná disponível no site da Federação Nacional dos
Jornalistas12.
12
Link da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) - http://www.fenaj.org.br/pisosalarial.php#LON
– acesso em 14 de outubro de 2012
60
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A elaboração do projeto “O esporte das multidões” serve como um parâmetro
de reflexão sobre diversos assuntos que estão envolvidas no ato esportivo. Durante
a produção do documentário e de toda estruturação base fundamentada em
teóricos, é perceptível que fatores como a saúde e a sociabilidade contribuiram
amplamente para o crescimento do esporte nos últimos anos.
Constatamos que as vertentes do jornalismo gonzo que eram aplicadas por
Thompson em sua escrita com narrativa em primeira pessoa e abordando as suas
experiências vivenciadas podem ser tranquilamente transferidas para um produto
audiovisual. Principalmente pelo fato da imagem fortalecer o grau de veracidade do
testemunho do jornalista, participando ativamente da ação e demonstrando isso nas
filmagens.
A pesquisa com os atletas também reforçou as hipóteses de que a melhora
na qualidade de vida (saúde) é o fator que mais agrega motivação nesse universo
das corridas. Também fortaleceu nossas noções de como a internet por meio das
redes sociais e de sites podem servir como um forte canal de interação social que
não fica restrito apenas às telas de computadores e tablets. Ela funciona como um
processo de sociabilidade que une grupos com interesses comuns e transporta sua
convivência “virtual” para o relacionamento “pessoal”.
Antes de sermos inseridos, literalmente, no campo das corridas de rua, ou
seja, de estarmos presente em todo ambiente que cerca esses eventos esportivos,
não tinhamos a noção de como a sociabilidade se fazia presente na corrida.
Descobrimos grandes histórias de vida e fizemos diversas amizades em curto
espaço de tempo. A receptividade se fez tão presente que fomos convidados para
participar do grupo “Amigos da Corrida de Curitiba”, criado no Facebook, e que
agrega pessoas de todas as idades, raças, religiões. Todos com
apenas um
interesse em comum: a corrida de rua.
Aceitamos o convite e pretendemos descobrir mais peculiaridades desse
fascinante esporte das multidões.
61
9. CRONOGRAMA
Planejamento de atividades do projeto – 2012
Atividades
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Pré-banca
X
Revisão do projeto
X
Planejamento do calendário
X
X
X
Gravações e entrevista
X
Decupagem
X
Edição e conclusão do projeto
Banca de qualificação
X
X
X
62
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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65
APÊNDICES
66
Gráfico 1 – Idade dos Corredores
Gráfico 2 – Categoria
67
Gráfico 3 – Fatores Motivacionais da Prática do Esporte
Gráfico 4 – Média de Treinamentos
68
Gráfico 5 – Local de Treinamentos
Gráfico 6 – Tipos de Corrida
69
Gráfico 7 – Frequência de Participações
Gráfico 8 – Meios de comunicação utilizados para informações sobre trajetos, locais
de prova e inscrições
70
Gráfico 9 – Frequência de acesso para informações sobre trajetos, locais de prova e
inscrições
Gráfico 10 – Meios de comunicação utilizados para informações sobre benefícios do
esporte e técnicas de treinamento
71
Gráfico 11 - Frequência de acesso para informações sobre benefícios do esporte e
técnicas de treinamento
Gráfico 12 – Como os atletas avaliam a cobertura dos veiculos de comunicação
72
Gráfico 13 – Quais assuntos os atletas consideram mais importantes na produção de
um documentário
Roteiro do video documentário – O Esporte das Multidões
Nosso documentário foi dividido em quatro vídeos menores, conforme o
delineamento do produto.
O primeiro deles, “O ambiente das corridas”, começa com imagens de corte
intercalando a contagem regressiva para a largada de uma corrida com imagens de
aquecimento dos atletas, dos corredores antes da corrida. Logo após entra a tela em
preto com o título do documentário e o restante da contagem até a largada de duas
provas, seguindo do quadro com os nomes dos produtores.
Após apresentado o trabalho, mostra-se imagens feitas com uma câmera Go pró
instalada na cabeça de um dos colaboradores. Até então toda a edição acompanha
trilhas em BG.
Com 1’07” entra o entrevistado Luiz Silva Filho. DI: o que eu faço... DF: ser um
cara persistente.
Corte seco.
73
Aos 1’17” entra Maria Zeferina Baldaia dando seu depoimento. DI: É o que eu
gosto... DF: aí fica mais fácil.
Corte seco.
Conceição Oliveira fala a partir dos 1’28” DI: Eu digo que... DF: correr
principalmente.
Corte seco.
Bento Barbosa Bezerra entra logo em seguida ao 1’41”. DI: Não existe outra coisa
melhor... DF: sem medo de errar.
Corte seco.
02’08”- Aparece o trio Carlos Toshikatsu Taira, Marcelo YudyYamakawa e Ane
Oliveira. DI: você ta treinando... DF: sua casa e pronto.
Corte seco.
02’45”- Linderson Johann Holler fala sobre a amizade nas corridas. DI: O que é
interessante na corrida. DF: conheceu só na corrida.
02’57” - Alberto Vitor Senk cita: Todo mundo tem que ter uma missão.
02’58” Entra quadro negro com trilha sonora e com o dizer “A corrida...”
Com 03’04” imagens de corrida com os colaboradores como atletas e outras
corridas.
O segundo vídeo, intitulado como “Os atletas” conta um pouco mais sobre a vida
deles.
Começa com o vídeo escuro com uma voz anônima dizendo: “já foi atleta de
ponta”. Logo são apresentados dois novos personagens do documentário: Reinaldo
Frehner e Renato Pires Machado, contando sobre a prática do esporte e como
começaram.
01’13” - Volta Luiz Silva Filho. DI: Eu comecei pelo seguinte... DF: Comecei a
fazer prova...
Aos 02’21 Alberto Vitor Senk conta como começou e acerca da alimentação do
atleta. DI: O esporte eu comecei com 31 anos... DF: que mais dura no corpo...
03’18” - Conceição Oliveira explica que é preciso ter orientação de profissionais. DI:
tem que ter todo um “preparamento”... DF: o treinamento ser mais puxado.
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03’45” - Maria Zeferina Baldaia sobre a preparação para as provas. DI: usamos
muito essas... DF: no ritmo da competição
04’06” – Entra Lucio Mario Milczevski, falando de treinos e sua viagem à
Disneylandia. DI: Treino.. geralmente estava treinando DF: todo mundo é um
vencedor.
Entra imagem de corte, comemoração linha de chegada.
05’08” – Allan conversa com Ademiro Reis de Lisboa. DI: E depois que você... DF:
mais uma missão comprida.
05’19” - Novamente o trio Carlos Toshikatsu Taira, Marcelo YudyYamakawa e Ane
Oliveira . DI: A sensação é ótima... DF: A gente acorda e acorda bem.
05’58 - Cássio conversa com Maria Zeferina Baldaia. DI: Você acorda cedinho?
DF: Vou dormir
06’58” - Bento Barbosa Bezerra comenta sobre saúde e sociabilidade. DI: Isso é
muito importante... DF: To com 70 anos com total saúde.
O terceiro vídeo da série chama-se “A prova” e ele se inicia com o quadro preto e o
título em branco, acompanhado de trilha sonora.
Aqui entra o Gonzo propriamente dito no trabalho, ou seja, os colaboradores do
documentário assumem o papel de atletas. No início, o aquecimento para a prova,
sempre com trilha sonora de fundo. (até 00’51”).
00’52” – Início das imagens da pré-corrida.
02’18” – Sobe trilha, atletas cruzam a linha de chegada é feito um speed até... 02’28”
quando Allan entra. DI: Que maravilha de gravação... DF: Por enquanto só
curtindo um ar. Novo speed com trajeto da prova até 03’10” quando Allan entra
novamente. DI: gente de todas as idades... DF: interior de São Paulo.
03’24” – Speed novamente até 03’48”.
03’49 – Conversa entre Allan e Cássio. DI: Fomos dormir quase... DF: Com o
perdão da palavra.
04’20 – A dois km do final os atletas conversam com quem está assistindo. DI:
Estamos a dois... DF: concluirmos a prova
75
05’08”- Final da prova, passando a linha de chegada.
05’15” – DI: Já da pra ver... DF: Isso aí, até mais.
O vídeo quatro, intitulado “primeiros passos”, traz o relato pós-corrida dos
colaboradores Allan Scheid e Cássio Deconto.
00’01” DI: bom, chegamos ao final... DF: vamos lá.
00’38” – Speed do atleta tirando o chip do tênis até 00’45” quando eles pegam as
medalhas e o kit com o lanche ao final da prova.
00’13” – Cassio explica um pouco sobre o kit. DI: Este é o kit... DF: repor as
energias.
Corte seco.
01’23” – DI: Terminamos a prova... DF: um abraço, até mais...
Logo após o encerramento da dupla, a imagem desaparece lentamente e entram os
agradecimentos ocupando um pedaço da tela, e do outro, imagens dos corredores
dizendo o que precisa para os novos iniciarem no esporte.
Aos 04’03” sobe trilha sonora com imagens do ambiente das corridas.
76