Melhorias no Sistema de Gerenciamento de Lâmpadas contendo

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Melhorias no Sistema de Gerenciamento de Lâmpadas contendo
PROPOSTAS PARA MELHORIA DO SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE LÂMPADAS
DE DESCARGA PÓS-CONSUMO EM INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR
SUGGESTIONS OF IMPROVEMENTS OF POST-CONSUMER DISCHARGE LAMP
MANAGEMENT SYSTEM IN ACADEMIC INSTITUTIONS
Ulisses Bifano Comini1*
Mônica de Abreu Azevedo2
Gabriel Vieira Mostaro²
Belmiro Zamperlini¹
Abstract
The artificial lighting technology changed by substitution of candescent lamps by discharge lamps in large scale in
Brazil as a result of the energy crisis of 2001. Although more efficient, discharge lamps need controlled disposal due to
the presence of mercury in its composition. The post-consumer discharge lamp management is a concern poorly existing
across the country, but already observed in many academic institutions in Brazil. In the Federal University of Viçosa,
management steps and handling procedures of discharge lamps are still unknown, although 35 thousands lamps were
disposed in the last three years. This work aims to diagnose the steps of lamp management in the institution that permit
the definition of critical points of intervention that are able to minimize the risks of exposure to mercury. The qualitative
diagnosis of the lamp management steps occurred during the second semester of 2013 through accompaniment of the
maintenance and collection equips. Thereafter we defined the critical points of intervention in four lines of action,
considering immediate needs that are independent of major investments and that are focused in minimizing the exposure
risks to mercury by workers and the environmental
Keywords: Discharge Lamps, Fluorescent Lamps, Hazard Waste, Mercury Lamps.
.
1
Diretoria de Logística e Segurança, Universidade Federal de Viçosa.
Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa.
* Diretoria de Logística e Segurança, Universidade Federal de Viçosa, Av. P.H. Rolfs, Campus Universitário, Viçosa, Minas Gerais.
CEP: 36570-900, Brasil. E-mail: [email protected]. Tel: +55-31-3899-1022.
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1
Resumo
A troca de tecnologia da iluminação artificial por meio da substituição de lâmpadas incandescentes por lâmpadas de
descarga ocorreu em grande escala no Brasil como decorrência da crise energética de 2001. Embora mais eficientes, as
lâmpadas de descarga necessitam de destinação final controlada devido à presença de mercúrio em sua composição. O
gerenciamento das lâmpadas de descarga pós-consumo é uma preocupação ainda pouco existente em todo o país, mas
que já é observada em diversas instituições de ensino superior do Brasil. Na Universidade Federal de Viçosa, embora
tenha-se encaminhado a processos de destinação 35 mil unidades nos últimos três anos, as etapas de gerenciamento e os
procedimentos de manuseio das lâmpadas de descarga ainda são desconhecidas na instituição. Desta forma, este trabalho
tem como objetivo diagnosticar as etapas de gerenciamento destas lâmpadas na instituição que permita a definição de
pontos críticos de intervenção capazes de minimizar os riscos de quebra e consequente exposição ao mercúrio. A
realização do diagnóstico qualitativo das etapas de gerenciamento das lâmpadas ocorreu durante o segundo semestre de
2013 através do acompanhamento das equipes de manutenção e coleta. A partir de então foram definidos os pontos
críticos de intervenção em quatro linhas de atuação, considerando necessidades imediatas independentes de grandes
investimentos que sejam focadas na minimização de riscos de exposição e contaminação ao mercúrio aos trabalhadores e
ambiente.
Palavras Chave: lâmpadas mercuriais, lâmpadas de descarga, lâmpadas fluorescentes, resíduos perigosos.
Introdução e Justificativa do Trabalho
O uso de Lâmpadas de Descarga
Após a crise energética de 2001 no Brasil, que se denominou popularmente de “crise do apagão”, a necessidade de
redução de consumo de energia elétrica para evitar racionamento ainda mais severo impulsionou diversas ações e
projetos vislumbrando a melhoria da eficiência no consumo de energia. Neste momento, as lâmpadas incandescentes,
utilizadas de forma majoritária na iluminação artificial, entram em discussão e começam a dar vez as lâmpadas de
descarga.
Diferentemente das lâmpadas incandescentes, com iluminação resultante da incandescência de um fio percorrido por
corrente elétrica em meio gasoso inerte ou vácuo, as lâmpadas de descarga, mais eficientes energeticamente, possuem
em seu interior um gás ou vapor ionizado, que pode ser também combinado com fósforo depositado na parte interior dos
bulbos, que, ao receber descarga elétrica continuada, provoca luminescência pela excitação dos componentes citados
(Bastos, 2011). Estas podem ser: fluorescentes compactas, fluorescentes tubulares (LFT), de vapor de mercúrio sob alta
pressão, de luz mista, de vapor de sódio de alta pressão e de vapor metálico (Eletrobras, 2002). Em relação a seu
consumo, as lâmpadas fluorescentes compactas (LFC), por exemplo, consomem 75% a 80% menos energia em relação
as incandescentes, com vida útil 10 vezes superior (Energystar, 2010; IDEC, 2008). No Brasil, para iluminação pública
utiliza-se um total aproximado de 14760000 lâmpadas, sendo utilizadas em maior escala as lâmpadas de vapor de sódio
(62.93%), Vapor de Hg (31.84%), Vapor Misto (2.22%), Incandescentes (1.42%), Fluorescentes (0.81%), Multi Vapores
(0.73%), sendo as demais outros tipos não citados (Eletrobrás, 2008).
No Brasil, em 2000, fabricava-se de dois a três milhões de lâmpadas fluorescentes, e em 2003 esse número já alcançava
72 milhões de unidades. Atualmente, estima-se que cerca de 120 milhões de unidades são produzidas (ABILUX, 2010,
apud Knuth, 2010), embora valores na literatura relacionados à comercialização deste produto, indiquem números
próximos a 190 milhões de LFC, 95 milhões de LFT e 18 milhões de LFC sem reatores integrados (Mourão & Seo,
2012).
Porém, estes números devem aumentar nos próximos anos, uma vez que, a partir de 2016 fica proibida a
comercialização de lâmpadas incandescentes no país que não atendam aos padrões mínimos de eficiência determinados
pela Portaria Interministerial Nº 1007/2010. Na prática, salvo as exceções permitidas pela mesma Portaria, a
comercialização de lâmpadas incandescentes deverá ser quase inexistente já que os níveis de eficiência energética a
serem permitidos para este produto estão muito aquém dos observados atualmente para esta tecnologia, que se limita a
uma faixa de 5% (Bastos, 2011).
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A retirada das lâmpadas incandescentes do mercado levará a ampliação da utilização de lâmpadas de descarga em um
primeiro momento, já que as lâmpadas de LED (Light Emitting Diode) ainda estão iniciando sua consolidação no
mercado e devem, em um segundo momento, ser largamente utilizadas por apresentarem vida útil e eficiência energética
ainda melhores que as lâmpadas de descarga atuais.
O mercúrio nas Lâmpadas de Descarga
As lâmpadas de descarga utilizadas atualmente, entretanto, devem ser tratadas de forma diferente das incandescentes na
etapa de pós-consumo, uma vez que se enquadram como resíduos sólidos perigosos, principalmente, pela presença de
mercúrio em sua constituição (Burini Junior et al., 2012). As concentrações de mercúrio nas lâmpadas de descarga
(Tabela 1) variam em torno de 0.003g até 0.030g (Zanicheli et al, 2004).
Tabela 1 - Tipos de lâmpadas de descarga e quantidade de mercúrio existente.
Tipo de Lâmpada
Faixa de Potência
Quantidade Média de
Hg
15 W – 110 W
0.0015 g
Fluorescentes
Tubulares
5 W – 42 W
0.004 g
Fluorescentes
Compactas
160 W – 500 W
0.017 g
Luz Mista
80 W – 400 W
0.032 g
Vapor de Mercúrio
70 W – 1000 W
0.019 g
Vapor de Sódio
35 W – 1000 W
0.045 g
Vapor Metálico
Fonte: Zanicheli et al (2004).
Variação das Médias
de Hg por Potência
0.008 g a 0.025 g
0.003 g – 0.010 g
0.011 g – 0.045 g
0.013 g – 0.080g
0.015 g – 0.030 g
0.010 g – 0.017 g
Como principal componente de maior toxicidade das lâmpadas em questão, o mercúrio pode ser liberado na forma de
vapor caso haja rompimento do bulbo durante qualquer etapa de utilização da mesma. No ambiente, o mercúrio pode,
combinado com átomos de carbono, ser convertido em metilmercúrio, que é ainda mais tóxico que a forma elementar e
inserido na cadeia alimentar por sua característica de bioacumulação em organismos aquáticos (EPA, 2006).
A Portaria do Ministério da Saúde nº 2914/2011, define entre os padrões mínimos para potabilidade da água que o Valor
Máximo Permitido (VMP) de mercúrio para que uma água seja considerada potável é de 0.001 mg/L. Considerando este
VMP, o mercúrio existente uma única lâmpada fluorescente compacta, que contém os menores valores médios de
mercúrio por unidade, poderia tornar não potável um volume de 4000 L de água. A NR 15 também define limites de
tolerância de exposição ao mercúrio de trabalhadores, com sendo de 0.04 mg/m³.
Embora existam estes limites de tolerância estabelecidos legalmente, o Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental
e Saúde do Trabalhador, do Ministério da Saúde, afirma em parecer técnico do ano de 2010, não haver limites de
tolerância seguros quando estamos tratando de substâncias neurotóxicas e mutagênicas, o que é valido também para o
caso das lâmpadas de descarga contendo mercúrio. Afirma também que, em locais de armazenamento de lâmpadas
mercuriais, novas ou de pós consumo, em caso de quebra, por meio de cálculos teóricos, é possível concluir que o limite
para a NR 15 é excedido. Neste caso, ações educativas, treinamentos e uso de EPI são formas de minimização de riscos
aos que trabalham diretamente com esses materiais.
Apesar de considerada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (Brasil, 2010), a logística reversa para lâmpadas de
descarga contendo mercúrio é ainda inexistente no país, sendo alvo de discussões recentes entre os setores que formam a
cadeira de produção e consumo e o Governo Federal. Grande parte de nossas lâmpadas mercuriais seguem sendo
descartadas de forma inadequada, causando impactos em água, ar e solo e, se não diretamente, chegando até nós, seres
humanos, através cadeia alimentar.
Dados de empresas que atuam no gerenciamento de lâmpadas mercuriais apresentados por (Mourão e Seo, 2012),
indicam que apenas 6% das lâmpadas de descarga descartadas possuem algum tipo de tratamento, sendo que destas, 95%
têm origem na indústria, comércio e serviços e apenas 5% são advindas de residências. Considerando os números já
apresentados neste trabalho para comercialização no país, apenas para lâmpadas fluorescentes compactas, de 586 kg a
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1955 kg são descartados de forma inadequada no ambiente anualmente. Esses valores são maiores se considerarmos os
demais tipos de lâmpadas apresentados.
Papel das Instituições de Ensino Superior
As Instituições de Ensino Superior, fundamentadas em seu papel estratégico no contexto da formação profissional e
cidadã, também têm buscado formas de gerenciamento adequado destes resíduos perigosos em suas unidades. A
Universidade do Estado de São Paulo, por exemplo, encaminha suas lâmpadas fluorescentes à descontaminação desde
1996, por meio do Programa USP Recicla, tendo encaminhado entre 2009 e 2011, 11235 unidades para descontaminação
(USP RECICLA, 2012). Diversas outras instituições possuem programas voltados ao gerenciamento desses resíduos,
incluindo destinação de lâmpadas fluorescentes de pós-consumo, entretanto, a divulgação destas informações ainda é
restrita.
A Universidade Federal de Viçosa (UFV) também tem trabalho no sentido das melhorias de gerenciamento de resíduos
em seus campi, tendo ações efetivas, através da Gerência de Resíduos e Rejeitos, nas áreas de coleta seletiva, resíduos
químicos e demais resíduos de serviço de saúde por exemplo. As lâmpadas de descarga também são uma preocupação
embora já existam ações de destinação adequada das lâmpadas, o gerenciamento deste resíduo perigoso carece de
diagnóstico que identifique a origem dos resíduos, agentes atuantes no processo, etapas realizadas e pontos críticos que
permitam maior controle da atividade. Neste sentido, este trabalho vem de encontro a esta necessidade de melhor
caracterizar o sistema de gerenciamento atual, considerando aspectos relacionados à origem, transporte, armazenamento
e destinação final. Pretende-se também apresentar pontos críticos de intervenção para melhoria imediata dos processos
existentes atualmente.
Metodologia
As informações apresentadas neste trabalho tiveram como unidade fundamental de estudo a UFV, campus Viçosa, a
partir das atividades das equipes de manutenção de edificações e de coleta de resíduos, ao longo do ano de 2013. Optouse pelo acompanhamento dos dados de saída do Almoxarifado Central e não pelo número de unidades licitadas, uma vez
que as compras são realizadas através do sistema de registro de preço. A instituição conta com área construída de
369.924,71 m², disposto em um número aproximado de 140 edificações, que atendem a 16804 estudantes, 977 docentes
e 2.361 técnicos-administrativos.
Este é um de estudo de caso, com abordagem qualitativa e natureza aplicada à descrição dos procedimentos adotados em
cada uma das etapas de gerenciamento de lâmpadas de descarga de pós-consumo na UFV. O estudo não contempla
informações a respeito de lâmpadas que não se caracterizam, após uso, como resíduo perigoso, como por exemplo, as
incandescentes e halógenas.
Durante o acompanhamento das atividades foram identificadas etapas de gerenciamento de produto e resíduo (lâmpadas
pós-consumo). Além disso, avaliou-se também pontos positivos, falhas e necessidades que pudessem propiciar, ao final
deste trabalho, pontos críticos de atuação para melhoria dos procedimentos de gerenciamento de lâmpadas de pósconsumo, considerando aspectos de saúde e meio ambiente.
Etapas desenvolvidas
Este trabalho foi desenvolvido em duas etapas: diagnóstico e identificação de pontos críticos para intervenção imediata
no gerenciamento de lâmpadas de descarga de pós-consumo contendo mercúrio.
Como parte preponderante da elaboração de projetos relacionados ao gerenciamento de resíduos (lâmpadas de descarga
de pós-consumo), o diagnóstico é passo fundamental para o planejamento a curto, médio e longo prazo. O diagnóstico
consta com informações a respeito da origem, volume, forma de transporte, armazenamento e destinação final.
(Ministério do Meio Ambiente, 2012). Desta forma, o diagnóstico foi dividido nas seguintes etapas:
a. – Caracterização qualitativa e quantitativa do resíduo;
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b. – Caracterização das etapas de gerenciamento do resíduo;
c. – Levantamento de histórico de destinação de lâmpadas de descarga de pós-consumo.
Por fim, como forma de avaliação crítica do diagnóstico, foi elaborada uma avaliação dos pontos críticos para
intervenção no gerenciamento de lâmpadas de pós-consumo como forma de direcionamento inicial das melhorias nos
procedimentos adotados pela instituição.
Resultados e discussões
Caracterização qualitativa e quantitativa das lâmpadas de pós-consumo
Inicialmente é importante ressaltar que a UFV possui duas fontes de geração de lâmpadas fluorescentes: a primeira, a
atividade de substituição das unidades queimadas em todo o campus, realizada por serviço exclusivo de manutenção; a
segunda em pontos de coleta de resíduos especiais para atendimento à comunidade, sendo coletadas pelo de corpo de
bombeiros (COB) da instituição.
Entre os anos de 2006 e 2013 a UFV utilizou para iluminação artificial de seu campus lâmpadas fluorescentes compactas
e tubulares, lâmpadas de vapores metálico, vapor de sódio e de luz mista. Em geral as fluorescentes compactas e
tubulares são utilizadas em salas de aula, laboratórios, biblioteca e restaurantes. As lâmpadas de vapor metálico, luz
mista e de vapor de sódio são utilizadas para iluminação de avenidas, ruas, estacionamentos e outros espaços multiusos,
como quadras e pista de atletismo. Observou-se a existência de lâmpadas fluorescentes em alguns pontos como
recepções de edificações, estufas e banheiros. Foram observadas também a existência de LEDs, mas apenas para
sinalizadores de saída de emergência e escadas.
A aquisição das lâmpadas é realizada anualmente com o intuito de atender a demanda de substituição das lâmpadas
queimadas no ano, usando sempre como base o ano anterior, acrescido de um percentual de segurança. O controle de
unidades trocadas é realizado no Almoxarifado de Materiais, através de um sistema que permite controlar saídas e
entradas de materiais. O número de LFT é bem superior aos demais, havendo maior destaque às de 40W até o ano de
2012, quando, por ausência de reatores apropriados, foram substituídas pelas LFT de 32W e 20W (Figura 1). Em média,
troca-se anualmente 6758 unidades de LFT, 51 de Vapor Metálico, 547 de Luz Mista e 524 de Vapor de Sódio.
Anualmente tem-se, em média, um total de 7879 unidades de lâmpadas de descarga a ser destinada na UFV.
Figura 1- Número de lâmpadas de descarga trocadas entre 2006 e 2013.
Caracterização das Etapas de Gerenciamento
Durante a troca das lâmpadas (Etapa 1), a lâmpada nova é retirada de sua embalagem original (de papel ou papelão), que
é destinada ao lixo reciclável ou, em algumas ocasiões, utilizada para armazenar a lâmpada queimada. A lâmpada
retirada é encaminhada pela equipe de manutenção a um dos pontos de armazenamento (Etapa 2), mesmo que
temporariamente. Atualmente, o armazenamento das lâmpadas inservíveis ocorre em duas localidades no campus, em
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um galpão da equipe de manutenção (Etapa 3 – abrigo temporário) e outra em sala específica para armazenamento de
lâmpadas de pós-consumo (Etapa 5 – abrigo central), ambos localizados na UFV (Figura 2).
As responsabilidades no gerenciamento são divididas entre três setores: as etapas de 1 a 4 são realizadas pelas equipes de
manutenção e COB, enquanto a etapa 5 e a realização da etapa 6 são de responsabilidade da Gerência de Resíduos e
Rejeitos.
Figura 2 - Etapas de gerenciamento de lâmpadas fluorescentes na UFV.
Em ambos os abrigos (temporário e permanente) não são observadas condições apropriadas de armazenamento das
lâmpadas. No abrigo temporário não se observa proteção contra agentes externos, como sol e chuva, e condições que
minimizem risco de inalação em caso de quebra de algum bulbo das lâmpadas quebradas. No abrigo central, embora
coberto e com controle de acesso, faltam prateleiras para armazenamento, o que dificulta a organização das lâmpadas e
aumenta o risco de quebra. Nos abrigos também não foram observadas a existência de identificação de risco que atente à
proximidade em relação aos resíduos perigosos armazenados.
As etapas 2 e 4, apresentadas na Figura 2 são relacionadas ao transporte das lâmpadas, internamente, pela equipe de
manutenção ou pelo corpo de bombeiros. Nestas etapas o risco de rompimento de bulbos, mesmo com medidas de
controle, é elevado, e podem causar situações em que possibilitem contaminação por inalação dos vapores mercuriais ou
por absorção cutânea. Mesmo existindo riscos, não foram observados procedimentos de segurança e utilização de
Equipamentos de Proteção Individual (EPI) que considerem os perigos provenientes do contato com mercúrio existente
nas lâmpadas. Em geral, apenas os riscos de choques elétricos e quedas são observados.
Histórico de Destinação de Lâmpadas
Embora haja necessidade de melhorias no gerenciamento, a destinação final adequada das lâmpadas de descarga (Etapa
6) ocorre desde 2011 junto a empresas licenciadas. Em consulta à Gerência de Resíduos e Rejeitos da instituição
verificou-se que entre 2011 e 2012 foram destinadas, respectivamente, 10.000 e 25.000 unidades.
Anteriormente a 2011, a inconstância (ou inexistência) dos processos de destinação de lâmpadas de descarga permitiu
acúmulo em diversos pontos do campus. A falta de informações sobre a quantidade acumulada dificultou o planejamento
das coletas de 2011 e 2012, o que reflete na quantidade existente atualmente a ser destinada. As coletas realizadas em
2011 e 2012 consistiram na eliminação de lâmpadas existentes em abrigos diversos na forma de passivo.
As lâmpadas que serão destinadas em 2014, referentes aos anos de 2012, 2013 e 2014, são estimadas em 50.000
unidades. Ressalta-se que no ano de 2013, devido a problemas relacionados ao processo licitatório, não houve destinação
destes resíduos, justificando o elevado número de lâmpadas a serem destinadas no presente ano.
Pontos Críticos de Intervenção
Os pontos críticos de intervenção são escolhidos para possibilitar a promoção de melhorias de forma imediata, sem
exigir elevados custos à instituição. Justifica-se essa decisão pelas dificuldades enfrentadas na busca de espaço físico e
recursos para investimentos elevados e pela necessidade de realizar mudanças a curto prazo para melhoria do
gerenciamento das lâmpadas de descarga. Os pontos críticos de intervenção sugeridos são: Definição de
responsabilidades; Segurança ocupacional; Redução de riscos no transporte e armazenamento; Melhoria no controle de
entrega das lâmpadas de pós-consumo.
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a.
Definição de Responsabilidades
A falta de um procedimento estabelecido dificulta na compreensão de responsabilidades de cada funcionário no
gerenciamento das lâmpadas de pós-consumo. A partir deste diagnóstico é possível definir a função de cada agente
dentro das etapas de gerenciamento, que passa a ser entendido com um processo mais amplo que envolve várias etapas.
A definição de responsabilidade passa por um objetivo mais amplo que é o gerenciamento e não mais a simples troca de
lâmpadas queimadas, por exemplo.
b.
Segurança Ocupacional
As intervenções relacionadas à segurança ocupacional são importantes para redução dos riscos de exposição das equipes
de manutenção e COB nas atividades que envolvem lâmpadas de descarga contendo mercúrio. A inexistência de
procedimentos e orientações básicas documentadas para segurança durante o trabalho refletem muitas vezes a falta de
conhecimento sobre a existência de riscos relacionados ao mercúrio. A manutenção de um programa de capacitação
frequente aos funcionários é extremamente indicada.
c.
Redução de Riscos no Transporte e Armazenamento
A possibilidade de quebra dos bulbos das lâmpadas eleva os riscos de exposição ao mercúrio durante o gerenciamento.
Dessa forma, procedimentos simples, com a utilização das caixas das lâmpadas novas para armazenamento das lâmpadas
de pós-consumo podem reduzir os riscos associados à atividade. Da mesma forma, simples intervenções no abrigo
central, implantação de prateleiras pode evitar quebras no processo de armazenamento e retirada das lâmpadas.
d.
Controle de Entrega
As dificuldades de planejamento de contratação de empresas para destinação final podem ser reduzidas se
implementados procedimentos de controle de entrega de lâmpadas no abrigo central. Dessa forma é possível a
frequência necessária de destinação final, evitando-se acumulo excessivo de unidades, que pode sua vez reduzirá
também riscos de quebras e exposição ao mercúrio.
Conclusões e Recomendações
O conhecimento sobre o resíduo a ser gerenciado é passo fundamental para o sucesso no processo de gerenciamento. As
quantidades geradas, os cuidados a serem tomados, os impactos sobre saúde e meio ambiente e as necessidades para
destinação devem acompanhar sempre as etapas iniciais de elaboração dos procedimentos de gerenciamento do resíduo.
Partindo desta premissa, este estudo possibilitou o conhecimento sobre resíduo, agentes e etapas envolvidos no
gerenciamento das lâmpadas de descarga na UFV. Partindo deste levantamento foram propostos pontos críticos de
intervenção imediata que podem permitir avanços significativos a curto prazo no processo. Estes pontos críticos
permitem a intervenção rápida e de baixo custo, com impactos significativos na redução dos riscos de exposição ao
mercúrio e de contaminação do ambiente. São entendidos como um passo importante àquelas instituições de ensino
superior que desejam prover melhorias no gerenciamento dos resíduos de lâmpadas de descarga mas não possuem
recursos financeiros, humanos e infraestrutura ou dependem de acordos institucionais, geralmente morosos, para
intervenções maiores no processo.
Embora existam ações simples que possam melhorar efetivamente o gerenciamento, é imprescindível pensar a médio e
longo prazo, vislumbrando melhorias de infraestrutura para transporte, armazenamento e a substituição de tecnologia
que possibilite, se não a eliminação do resíduo perigoso, sua redução. Neste sentido, recomenda-se, como
prosseguimento deste trabalho, uma avaliação técnica, econômica e ambiental para substituição de lâmpadas de descarga
por tecnologia emergente no mercado, o LED.
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Agradecimentos: Agradecemos à Universidade Federal de Viçosa, através da Gerência de Resíduos
e Rejeitos da Pró-Reitoria de Administração e do Laboratório de Engenharia Sanitária e Ambiental
do Departamento de Engenharia Civil pelo trabalho conjunto realizado neste e em outros projetos.
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