das imagens - Base Integradora da TV Escola

Transcrição

das imagens - Base Integradora da TV Escola
As linguagens
das imagens
morte e vida severina
PROFESSORES
Bruno Alvarez Língua Portuguesa
Francis Wilker Artes Cênicas
Sinopse do Programa
Morte e Vida Severina é um livro onde a saga
do sertanejo nordestino é contada em dramáticos versos que revelam o duro percurso entre
o sertão e o litoral, entre a morte evidente e a
esperança. É fundamental para os estudantes
de Ensino Médio. Por isso a TV Escola produziu
Morte e Vida Severina em Desenho Animado, o
casamento perfeito entre o texto forte de João
Cabral de Melo Neto e o traço árido do artista
João Falcão. No programa “Sala de Professor”
os convidados reúnem conhecimentos de Língua
Portuguesa e Artes Cênicas para desenvolver um
trabalho que estimula a produção de textos e a
adaptação para diferentes linguagens artísticas.
Apresentação
O filme em linguagem de animação inspirado no
poema Morte e Vida Severina é uma excelente
ferramenta para os professores de Língua Portuguesa e de Artes Cênicas desenvolverem seus
conteúdos em parceria. A Língua Portuguesa
tratará dos aspectos formais do texto e do vídeo,
aprofundando-se na verificação dos usos e das
funções das figuras de linguagem nas duas obras.
O campo da Arte explorará as questões conceituais relacionadas à arte engajada e à construção
de sentido nas diferentes linguagens artísticas a
partir da combinação de signos e elementos próprios de cada linguagem.
Um olhar para o filme
a partir da língua portuguesa
Ao analisar os elementos que compõem o Morte e
Vida Severina em desenho animado e o poema no
qual o vídeo foi baseado, podemos considerar, do
ponto de vista da Literatura, ao menos dois conteúdos a serem trabalhados em sala de aula. Primeiro,
o trabalho poético de João Cabral de Melo Neto e
sua dimensão no panorama literário brasileiro; posteriormente, o papel crucial exercido pelas figuras de
linguagem, tanto na criação das duas obras, quanto
na transposição de uma produção para outra.
A partir disso, o professor poderá abordar na atividade conceitos como figura de linguagem,
adaptação literária e comparação intertextual.
Nesse sentido, pode-se propor aos alunos do 2º
ano do ensino médio que comparem as obras, em
um verdadeiro trabalho de Literatura Comparada
(tão prescindido nas escolas brasileiras). O objetivo
é fazê-los conhecer a poesia cabralina, retomar
conhecimentos a respeito das figuras de linguagem e, por consequência, avaliar os processos
que permitiram a adaptação de uma obra literária em um desenho animado.
Como primeira etapa, o professor poderá iniciar
uma discussão sobre poesia:
O que é poesia?
Em que momentos ela ocorre em nossas vidas?
O que é um poema?
Qual a diferença entre os dois termos?
A fim de aproximar-se com mais facilidade do universo cultural do aluno, será interessante apresentar
uma música. Preferencialmente uma canção que
contenha traços similares aos de Morte e Vida Severina. A música Eduardo e Mônica, da banda Legião
Urbana, traz uma narrativa característica, que poderá
servir de mote para uma comparação intertextual.
sala de professor
Seria interessante que, após uma breve análise
da letra da música, o professor expusesse, lado a
lado, excertos dos dois textos, como segue:
Eduardo e Mônica – Legião Urbana
[...]
Eduardo e Mônica
um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
Um carinha do cursinho do Eduardo que disse
“Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir”
Festa estranha, com gente esquisita
“Eu não tô legal, não aguento mais birita”
E a Mônica riu, e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
“É quase duas, eu vou me ferrar”
Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard [...]
Morte e vida severina
João Cabral de Melo Neto
Agora afinal cheguei
nesta terra que diziam.
Como ela é uma terra doce
para os pés e para a vista.
Os rios que correm aqui
têm água vitalícia.
Cacimbas por todo lado;
cavando o chão, água mina.
Vejo agora que é verdade
o que pensei ser mentira
Quem sabe se nesta terra
não plantarei minha sina?
morte e vida severina
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Algumas das relações possíveis – podendo ser
acrescentadas outras – vêm na tabela abaixo:
formalidade
(“está”, “há”)
informalidade
(“tá”, “tem”)
redondilhas maiores
versos livres
regionalismo
temática urbana
Ao final desta etapa, sugerimos a exibição do desenho animado.
Em uma segunda etapa, deverá ser observado o
papel das figuras de linguagem na construção de
textos com função poética. Para isso, é fundamental que se pressuponha tal conhecimento, isto
é, os alunos já devem ter aprendido as figuras de
linguagem, de modo que agora tal atividade servirá
apenas como revisão, ou ainda como uma prática
da teoria adquirida.
Uma revisão das figuras de linguagem, divididas
nos quatro grupos em que geralmente são separadas, também seria conveniente neste momento.
Figuras sonoras
Figuras de palavra
assonância
comparação
aliteração
metáfora
onomatopeia
metonímia
paronomásia
catacrese
sinestesia
Figuras DE CONSTRUÇão
Figuras de pensameno
anacoluto
antítese
anáfora
paradoxo
elipse
eufemismo
hipérbato
ironia
pleonasmo
gradação
polissíndeto
personificação
Seria importante que o professor avaliasse, ao lado
dos alunos, quais as ferramentas utilizadas para a
construção da imagem e de símbolos nos poemas
de Cabral, dado o papel fundamental que exercem. É
nesse sentido que se estudará a importância do uso
de figuras de linguagem, sobretudo da metáfora, que é
encontrada em Morte e Vida Severina com frequência.
O professor deverá apontar a importância de construções como:
Serra
magra e ossuda e paisagem defunta (prosopopeia),
Somos muitos Severinos (metonímia),
o sangue
que usamos tem pouca tinta, ave-bala,
só os roçados da morte
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morte e vida severina
compensam aqui cultivar, quem sabe se nesta terra
não plantarei minha sina (metáfora),
é tão bela como um sim
numa sala negativa (antítese),
entre outros muitos exemplos.
É essencial que o professor explicite que o apelo
da imagem e da plasticidade, bem como a multiplicidade de sentidos proporcionada, deve-se ao uso
constante das figuras de linguagem que reforçam
a temática profundamente associada à miséria, e
principalmente à morte.
O filme – do qual os trechos escolhidos já foram
apresentados aos alunos – também faz com que se
destaquem elementos da narração e, naturalmente
sala de professor
(uma vez que se trata de uma obra audiovisual),
dos recursos imagéticos elaborados por Cabral.
Poderá ser feita uma análise do uso das figuras de
linguagem no filme, tanto com relação à adaptação
daquelas já presentes no poema para o desenho
animado, quanto na criação de novas, baseadas, de modo apropriado, na estética do poema
e em suas ideias centrais. Poder-se-á chegar à
conclusão de que tais recursos expressivos são
fundamentais para a adaptação da linguagem do
poema para outra: a do desenho animado.
Ao longo de Morte e Vida Severina em desenho
animado são percebidos, principalmente, dois
procedimentos básicos no que tange ao uso das
figuras de linguagem. São eles, possivelmente, as
principais ferramentas para a transposição dos gê-
Figura 1: Imagem representada da bala-ave.
neros: por um lado, o autor do filme recria imagens
produzidas por Cabral, como a metáfora da bala-ave
(Figura 1). Por outro lado, o processo de releitura é
bastante criativo, já que não se limita a representar
aquilo que já aparecera no texto original.
É interessantíssimo o procedimento de apropriação da temática do texto com o fim de se
produzirem novas e belíssimas imagens, como
se vê na Figura 2, em que se personificam pás
utilizadas na escavação de covas, o que está
profundamente associado à ideia de morte que
permeia o texto de Cabral. Certamente tal figura de linguagem, associada aos efeitos sonoros
que, ao acompanharem a cena, apelam à dramaticidade, torna o filme muito mais expressivo,
representando de maneira original, visto que tal
imagem não se encontra no poema.
Figura 2: Imagem das pás. Figura de linguagem
criada pelo autor do desenho.
Nesta última etapa, caberá ao professor analisar com os alunos como são trabalhadas as figuras de
linguagem no filme, tanto as que são originadas no texto, quanto aquelas criadas especialmente para
o desenho animado. É possível, para que se tenha uma visão mais objetiva desta atividade, construir
coletivamente uma tabela como a seguinte:
trechos
figuras de linguagem
Metáfora
Comparação
Personificação
Metonímia
Morte e Vida Severina
x
serra/ magra e ossuda
x
paisagem defunta
x
Somos muitos Severinos
x
o sangue/
que usamos tem pouca tinta
x
ave-bala
x
tão bela como um sim/
numa sala negativa
sala de professor
Antítese
x
morte e vida severina
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MATERIAL
Caderno ou folhas de fichário;
Lápis, caneta, borracha;
Livros com o poema ou equipamento para
reprodução de cópias;
Equipamento para exibição do documentário.
ETAPAS
Leitura comparativa de trechos selecionados de
Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo
Neto, e de Eduardo e Mônica, da Legião Urbana;
Apresentação de trechos do documentário;
Estudo da importância das figuras de linguagem
– especialmente as figuras de palavra – na construção dos sentidos do texto e do desenho animado.
veja mais
Aula A linguagem figurada dos textos poéticos, de Mirian Chaves Carneiro. Disponível em: <portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=21853>.
Um olhar para o filme
a partir das artes cênicas
A obra Morte e Vida Severina, tema do filme em questão, pode ser “olhada” de diferentes perspectivas a
partir das Artes Cênicas. Do ponto de vista da história
do teatro brasileiro, a montagem desse texto feita pelo
TUCA -Teatro da Universidade Católica de São Paulo,
em 1965, com coordenação de Roberto Freire e músicas de Chico Buarque alcançou bastante sucesso
e representou o Brasil no festival de Teatro de Nancy,
na França, onde foi agraciada com o primeiro lugar.
Depois disso, realizou temporadas em outras cidades
da Europa. Pesquisar um pouco da encenação dessa
obra de João Cabral já coloca em discussão questões
como: arte e engajamento social; recursos de encenação; relação entre a poesia e a cena, entre outras.
O filme proposto é uma excelente oportunidade
para o professor de Arte desenvolver os conceitos
de: paisagens sonoras, estruturas corais e monológicas, dimensão acústica e arte engajada.
As atividades aqui propostas são convergentes
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morte e vida severina
com competências e habilidades propostas na
Matriz de Referência para o ENEM 2011 para a
área de Linguagens, destacamos a competência
de área 4 - “Compreender a arte como saber
cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da própria
identidade”, e a sua habilidade H12. Sugerimos a
seguir três exemplos de atividades que podem ser
desenvolvidas pelo professor de Arte.
Atividade 1
As muitas maneiras de dizer
Iniciaremos o trabalho da disciplina com a música
Eduardo e Mônica, do grupo Legião Urbana. A partir da letra da música, sugerimos que o professor
experimente com os alunos outras possibilidades
sonoras e de registro vocal para expressar a história dos jovens Eduardo e Mônica.
sala de professor
Algumas possibilidades práticas
Algumas possibilidades práticas
Experimentar dizer o texto da música como
quem conta uma história; como quem diz um
poema; como quem está dando uma aula;
como quem está lendo uma receita culinária;
como quem está dando ordens a um exército;
como quem está rezando uma missa, etc.;
Realizar uma leitura coletiva do texto Morte e
Vida Severina procurando incorporar o trabalho
realizado na atividade anterior. Desse modo,
um grupo pode ler e o outro tem como objetivo criar a atmosfera sonora da passagem que
está sendo lida. Ex.: coro de rezadeiras; sertão
durante a noite; homens trabalhando na terra;
chegada de Severino na cidade, etc.
Criar paisagens sonoras (utilizando recursos
vocais, corpo, objetos) a partir das imagens
que a letra da música sugere. Ex.: “festa estranha” - quais sons poderiam ajudar a compor essa imagem sugerida pela música?
O que está em jogo nessa atividade?
Trabalho com diferentes registros vocais para
a cena;
Discussão sobre as possibilidades de intenção com que um texto é dito;
Reflexão sobre a dimensão acústica da cena e
os diversos recursos sonoros que podem “atuar”
quando criamos/analisamos um trabalho cênico.
Ao final da proposta, você encontrará na bibliografia mais sugestões de leituras que podem contribuir
na discussão desse3s temas.
Realizar uma leitura procurando explorar as
possibilidades de monólogo e coro que o texto apresenta. Nesse caso, dependendo do
interesse do professor é possível fazer uma
discussão sobre a função de um coro, como
esse recurso coral aparece no teatro, onde os
alunos já viram ações de um coro, etc.
Após essas atividades, é fundamental que o
professor possa conversar com os alunos sobre
aspectos do texto: quem, quando, onde, o quê.
Seguem alguns exemplos:
• Quais personagens podemos identificar?
• Onde se passa a ação?
• Quais as principais ações narradas?
• Há diferentes vozes na narrativa?
• Que aspectos sociais estão presentes no texto?
Atividade 2
As muitas vozes do texto / da cena
• Que imagens apareceram na cabeça de vocês
durante a leitura?
• Alguém fez uma associação entre o texto e
algum fato ocorrido no país?
Analisar uma obra de arte envolve reconhecer as
diferentes “vozes” ali presentes. No caso do teatro,
poderíamos pensar na “voz/traços” da cenografia,
das sonoridades, do texto, da ação dos atores, do
ponto de vista da encenação do diretor, etc. No
caso de um texto que é utilizado para uma cena,
várias são as variáveis que precisamos compreender, como: conhecer o seu contexto; identificar
os diferentes personagens; perceber as principais ações presentes; visualizar as paisagens/
cenários descritos; distinguir as características
desses personagens; destacar a citação de outras obras e referências, etc.
Professor, esse é o momento de abordar a relação
entre o poema de João Cabral e os Autos, como
o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.
Embora com características formais diferentes, os
dois textos apresentam questões relacionadas ao
regionalismo (Nordeste) e uma dimensão transcendente/religiosa que talvez possa ser notada
no próprio “triunfo da vida” diante de um cenário
social bastante desafiador.
sala de professor
morte e vida severina
• Alguém fez uma associação entre o texto e
alguma história bíblica?
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O que está em jogo nessas atividades?
Reconhecer características textuais;
Análise de um texto para a cena;
Perceber o funcionamento de estruturas corais e monológicas dentro na cena;
Identificar como um texto pode fornecer “pistas” para todos os criadores envolvidos em uma
montagem teatral (atores, diretor, cenógrafo, figurinista, sonoplasta/músico, iluminador, etc.);
Refletir sobre o contexto social de uma obra
artística.
Talvez possa ser interessante contar para a turma um
pouquinho sobre a primeira montagem desse texto e
as reverberações provocadas por ele. Não deixe de
trazer nos momentos de avaliação outras percepções
que possam ir além das competências cognitivas. Ex.:
a turma está conseguindo trabalhar em grupo? Estão
exercitando a capacidade de falar e ouvir? Conseguem
ouvir e respeitar os diferentes pontos de vista trazidos
pelos colegas? Descobriu algo sobre você nas atividades e discussões que fizemos até agora? Alguma
discussão que fizemos se relaciona com o conteúdo
de outra disciplina que vocês estão estudando?
Nosso papel é sempre o de buscar e em uma
oportunidade educativa, dar luz para o desenvolvimento das quatro competências!
Atividade 3 – Os universos da arte e os sentidos gerados
O objetivo aqui é ajudar os alunos a perceber como
um tema pode ser tratado de diferentes modos
no rico universo da arte. Como cada linguagem
artística se expressa a partir de uma “gramática
própria”? Como um discurso pode ser transposto
para outra linguagem? Que sentidos podem ser
gerados? Como a produção artística dialoga com
a realidade social e política que a cerca?
Depois disso, mostre uma pintura de Cândido Portinari e explore as impressões e percepções deles.
Como essa obra dialoga com tudo o que foi discutido até agora? Que características encontramos
nessa pintura? O que chama a atenção de vocês?
Algumas possibilidades práticas
Mostre três cenas do filme em desenho e discuta as características que eles percebem. Sugestões de perguntas para fomentar a conversa: Qual a diferença entre ler o texto e ver esse
desenho? Que elementos a equipe que criou o
desenho utiliza? Como se dá a relação com o
espaço no desenho? Com luz e sombra? Com
a voz e a sonoridade? Como o corpo é trabalhado no desenho? Como o leitor/espectador
é “demandado” no texto e aqui no desenho?
Depois de ter explorado um pouco a linguagem
do desenho, mostre uma cena da série feita em
1981 pela TV Globo a partir do poema Morte
e Vida Severina, disponível em: <http://www.
youtube.com/watch?v=REbI_nS_12M>.
Que diferenças vocês percebem entre o texto,
o desenho e a série para a TV? O que está em
primeiro e segundo plano? Como a câmera guia
o nosso olhar? Onde encontramos mais subjetividade e abstração, no desenho ou na série?
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morte e vida severina
Retirantes (1944) – Cândido Portinari
Após a conversa sobre a obra de Portinari, mostre
um trecho do espetáculo “Sebastião”, da companhia
brasiliense de dança contemporânea baSiraH, criado
a partir de fotos do fotógrafo Sebastião Salgado.
sala de professor
Pesquisar no youtube
baSiraH dança Sebastião
baSiraH dança Sebastião (parte 2)
Após o vídeo, comente as características verificadas
na linguagem da dança.
• O que os movimentos dos intérpretes nos
provocam?
• O que somos capazes de “ler” nas imagens
propostas por esses corpos?
• Como se dá a relação com o espaço?
• E com a luz?
• Que demandas são postas ao espectador
nesse tipo de trabalho?
• Como as sonoridades estão presentes?
• Em que superfície os bailarinos estão dançando?
Depois desse “passeio” feito por diferentes linguagens, procure discutir com a turma que questões
sociais estão presentes em todas as obras analisadas:
• De qual povo e país elas estão falando?
• Que discurso esses artistas estão colocando
nos seus trabalhos?
• Como essas obras nos afetam?
A partir dessa conversa procure traçar uma reflexão sobre a produção artística e o contexto social
e político onde ela é produzida.
Além disso, essa pode ser uma rica oportunidade
para falar sobre arte engajada. Que características têm essa produção? Uma relação possível
é com a própria época em que o TUCA montou
Morte e Vida Severina, no contexto da ditadura
militar no Brasil. Este momento trazia forte participação do movimento estudantil e de artistas,
onde os CPC - Centros Populares de Cultura, da
UNE – União Nacional dos Estudantes procuravam criar espaços de discussões e produções
artísticas mais politizadas. Talvez seja importante
não firmar um juízo de valor entre a produção
artística de caráter engajado e aquela de caráter mais “essencialista”. Mesmo sem trazer um
discurso social explícito, tendo como objetivo a
“arte pela arte”, a produção de uma obra de arte
nunca está “descolada” de um contexto histórico,
social, político e psicológico ao qual foi criada.
Para alimentar essa discussão com temas sociais
mais atuais, o professor pode mostrar as duas
imagens abaixo e perguntar como elas dialogam
com o texto de João Cabral de Melo Neto.
Pergunte aos alunos sobre o tema dessas duas fotos. O que elas dizem? Alguém sabe a que se referem?
Depois disso, revele que são imagens encontradas na internet sobre o massacre de Eldorado do Carajás, ocorrido em 1996, no Pará.
Relacione as fotos ao trecho de Morte e Vida Severina: “É a terra que querias ver dividida, é a parte que
te cabe deste latifúndio”. O que significa olhar para
essas fotos e ler a frase? O que essa nova combinação de elementos produz para quem lê? Vejam
que uma obra de arte é feita de escolhas e de um
discurso que vai sendo elaborado processualmente, um processo que está cheio de referências, de
idas e vindas, de elementos mais objetivos e outros
mais subjetivos e de influências de toda ordem.
sala de professor
morte e vida severina
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Para concluir esse momento, pergunte aos alunos:
Como a arte dialoga com as questões sociais de
nosso tempo? Vocês conhecem alguma música,
filme, livro que aborde essas questões? Procure
ouvi-los, deixe que tragam para a sala de aula o seu
repertório; tente gerar análises sobre essas referências tendo como foco elementos da linguagem e não
juízo de valor (se é uma obra de arte maior ou menor,
boa ou ruim). Por fim, o professor pode mostrar o trabalho de um artista chamado Rapadura Xique Chico,
que faz uma inovadora combinação entre elementos
da cultura popular nordestina e o rap.
Pesquisar no youtube
RAPadura (Norte Nordeste me Veste)
O que está em jogo nessas atividades?
MATERIAL
TV e vídeo;
Vídeos da internet previamente gravados;
Cópias do texto Morte e Vida Severina.
veja mais
A série “Salto para o futuro” apresenta cinco programas dedicados à linguagem teatral e práticas
pedagógicas. Disponível em: <http://tvescola.
mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=item&item_id=4770>.
Especificidades das diferentes linguagens artísticas;
As diversificadas possibilidades artísticas para
tratar um tema;
A relação entre arte e contexto social e político;
Arte engajada;
A combinação de diferentes signos para a
elaboração de um discurso;
Dimensão processual da criação artística.
ETAPAS
As muitas maneiras de dizer;
As muitas vozes do texto / da cena;
Os universos da arte e os sentidos gerados.
UMA CONVERSA
ENTRE AS DISCIPLINAS
A proposta aqui apresentada traz um trabalho colaborativo entre os professores de Língua Portuguesa
e Arte (Artes Cênicas). O principal objetivo é criar
um espaço privilegiado para que os jovens possam
colocar em prática os conhecimentos e habilidades
trabalhadas nas aulas anteriores, em que o filme
Morte e Vida Severina foi o “disparador temático”.
Desse modo, nas próximas atividades os alunos poderão aplicar suas aprendizagens e descobrir outras,
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morte e vida severina
em um exercício concreto no qual terão de trabalhar
em equipe, planejar, executar e avaliar suas ações.
Na perspectiva da disciplina de Língua Portuguesa, eles serão convidados a produzir textos e a
fazer uso das figuras de linguagem. Já nas Artes
Cênicas, encenarão os textos produzidos fazendo
uso de diversificados signos na busca de construção de sentidos.
sala de professor
Etapa 1: Aquecendo
os motores poéticos
O professor de Língua Portuguesa pedirá para que
os alunos tentem responder a questão abaixo por
meio de uma fotografia – a ser trazida na aula seguinte – que pode ser tirada com o próprio celular.
Caso prefira, o aluno poderá desenhar ou fazer
uma colagem:
Onde vejo encanto e espanto
nas ruas por onde ando?
Na aula seguinte, todos apresentarão suas imagens e comentarão o que motivou suas escolhas.
Em seguida, o professor perguntará quais as cinco
imagens que foram mais instigantes, e mais sensibilizaram a turma. A partir das escolhas, os alunos
formarão cinco times de trabalho.
Dentro do time, cada aluno terá cinco minutos
para produzir um breve texto sobre o que ele sente
quando olha para essa imagem. O professor precisa orientar o compartilhamento dos textos dentro
de cada time. O próximo passo será a produção
de um único texto para todo time, com os pontos
mais importantes dos textos e as figuras de linguagem de cada integrante do grupo.
Importante frisar que os alunos devem guardar
todo esse material que está sendo produzido, pois
será utilizado na aula de Artes Cênicas também.
Após um breve aquecimento físico, o professor de
Artes Cênicas pedirá para que os alunos experimentem movimentos a partir das fotos escolhidas na aula
de Língua Portuguesa. Durante o trabalho, o professor poderá sugerir comandos que afetem ritmo,
velocidade, peso, deslocamentos, etc. A seguir, cada
aluno escolherá os três movimentos mais importantes durante sua pesquisa de movimento e criará com
eles uma “frase de movimentos”, um em seguida do
outro. O ideal é que todos possam mostrar sua “frase
de movimentos”. O professor poderá dar retornos,
destacando qualidades de movimento e sugerindo
outras variantes para os alunos melhorarem a qualidade do trabalho. Em seguida, o professor orientará
os alunos na escolha de uma frase do texto que produziram na aula de Língua Portuguesa. O próximo
sala de professor
passo será expressar a frase em movimentos e integrar a frase escolhida no texto.
Outros dois exercícios podem ser realizados ainda
nesta etapa: no primeiro, os jovens criam improvisações a partir das imagens, experimentando os
diferentes tipos de falas e situações. No segundo,
eles trabalham com objetos em uma roda. Nesse
último exercício o professor colocará uma garrafa com água ou qualquer outro objeto no centro
da roda, e os alunos precisam ir ao centro e criar
um uso diferente para esse objeto. Por exemplo,
o objeto pode ser um sapato e alguém pode demonstrar sua utilização como se fosse um celular.
Etapa 2: Grupos de trabalho
em processo de criação
Nessa etapa os grupos criam um experimento cênico a partir do texto produzido, experimentando
criar uma encenação do mesmo. Será fundamental
a participação dos dois professores que circularão
pelos grupos lançando perguntas, ajudando-os a
planejarem o que pretendem fazer.
Os professores precisam saber reconhecer os
diferentes potenciais presentes no grupo. Por
exemplo, um aluno pode não desejar participar
da atividade como ator, mas trabalharia, por
exemplo, na trilha sonora da apresentação. O
grupo deve se atentar para os diferentes elementos que compõem a cena: texto, figurino,
cenário, objetos, maquiagem, trilha sonora, iluminação, atuação, coreografias, etc.
É importante o incentivo a cada grupo, estimulando o
aprofundamento na linguagem que se deseja expressar. Desse modo, pode ser que um grupo prefira fazer
um vídeo, outro trabalhe apenas com movimentos
corporais, outro com manipulação de objetos, etc.
Etapa 3: O encontro com o público
Sugerimos que os professores combinem com o
colégio uma data para a apresentação dos grupos.
Essa pode ser uma atividade que envolva toda a
morte e vida severina
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escola no exercício da apreciação estética. Apoie
os grupos no tão esperado momento da apresentação. É fundamental contextualizar na reunião de
coordenação pedagógica qual foi o ponto de partida do trabalho e as aprendizagens em questão.
Para a avaliação, sugerimos que os professores
fotografem as apresentações.
Propomos que a avaliação das atividades seja
realizada em uma aula que reúna os dois professores e os grupos. Para iniciar, peça para que os
grupos se reúnam e coloque no centro da roda a
foto escolhida pelo grupo, o texto produzido e a
foto da apresentação. Peça para que observem
os três materiais produzidos e tentem responder a
questão: O que eu aprendi nesse processo?
Os integrantes precisarão escolher um relator para
responder a pergunta do grupo e durante o processo é
importante que anotem em uma folha todas as outras
questões que surgirem. Após cerca de vinte minutos
de conversa, abra novamente para uma plenária com
os relatores de cada grupo as questões levantadas.
Nesse processo, é fundamental que os professores
valorizem as conquistas de cada grupo, ajude-os a
identificar as diferentes aprendizagens e habilidades
exercitadas e também aponte os desafios para que os
alunos saibam onde podem e devem avançar.
SUGESTÕES DE LEITURA E OUTROS RECURSOS
Livros e Revistas
BOAL, Augusto. Jogos para atores e não atores. 12ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
BOGARTE, Anne. A preparação do diretor: sete ensaios sobre arte e teatro. Tradução Anna Viana. São Paulo:
Editora WMF Martins Fontes, 2011.
CORADESQUI, Glauber (org.). Teatro na Escola: experiências e olhares. Brasília: Fundação Athos Bulcão, 2010.
DESGRANGES, Flávio. A pedagogia do teatro: provocação e dialogismo. São Paulo: Editora Hucitec: edições Mandacaru, 2006.
MARTINS, Marcos Bulhões. Encenação em jogo: experimento de aprendizagem e criação do teatro. São Paulo:
Hucitec, 2004.
SALLES, Cecilia Almeida. Redes da criação: construção da obra de arte. 2ª ed. São Paulo: Editora Horizonte, 2008.
SALLES, Cecília Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo: Annablume, 1998.
SEABRA, Aline, et al. (org.). Concreto em 7 atos. Brasília: Organização Cultural Filhos do Beco, 2011.
SPOLIN, Viola. O jogo teatral no livro do diretor; tradução Ingrid Dormien Koudela e Eduardo Amos. São Paulo:
Perspectiva, 2008.
SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro; tradução Ingrid Dormien Koudela e Eduardo Amos; 4ª ed. São Paulo:
Perspectiva, 2003.
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morte e vida severina
sala de professor
FOTO
Um documentário da TV Escola. Um ponto
de partida para grandes trabalhos com os
alunos. Assim é o Sala de Pofessor. O programa incentiva os professores de Ensino Médio
a desenvolverem projetos que mudem a rotina em sala de aula. Em cada programa, dois
professores convidados criam um projeto a
partir de documentários exibidos na TV Escola. São sempre propostas e experimentos
inovadores, que podem ser reaplicados em
qualquer escola do país.
Os trabalhos apresentados são detalhados
em dicas pedagógicas como essa e ficam
disponíveis no site da TV Escola. Os professores também podem usar as artes criadas
para o programa: são animações, tabelas,
mapas e infográficos que tornam os conteúdos mais visuais e interativos. As dicas
pedagógicas e as computações gráficas foram transformadas em fascículos interativos
para tablets. E o professor também pode
navegar pelo material extra do programa no
blog do Sala. Para ter acesso a esses produtos, acesse o site tvescola.mec.gov.br ou
curta a fan page da TV Escola no Facebook.
FOTO

Documentos relacionados