CO 45: História da Matemática no Curso de Comunicação Visual
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CO 45: História da Matemática no Curso de Comunicação Visual
CO 45: História da Matemática no Curso de Comunicação Visual: um Projeto sobre a Matemática Maia Maria da Graça Teixeira Peraça Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (Campus Pelotas) [email protected] Rafael Montoito Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (Campus Pelotas) [email protected] RESUMO Ansiando por trabalhar a História da Matemática num projeto interdisciplinar, envolvendo as Coordenadorias de Matemática e do curso de Comunicação Visual, nasceu, cresceu e está se desenvolvendo o projeto Matemática e Arte – Uma Experiência Interdisciplinar. A primeira pesquisa proposta dentro deste projeto foi sobre a história da civilização maia: seu sistema de numeração, seus princípios de contagem, seu calendário, sua astronomia, sua religião, sua crença, seu esporte, a “criação” do zero etc foram temas que serviram de impulso para se estudar a Matemática. Nossa intenção foi inter-relacionar a matemática maia com a produção de um objeto (um produto) que utilizasse técnicas estudas dentro do curso de Comunicação Visual (CV) para sua confecção. Quatro alunas do curso de CV se voluntariaram para fazer parte do projeto, bem como duas professoras deste curso. Fizemos um levantamento histórico sobre a civilização maia e realçamos todo o conhecimento matemático que encontramos em nossas pesquisas. As alunas do grupo, por sua vez, escolheram um produto para confeccionar, onde fizeram a conexão entre a matemática estudada e a arte vista na comunicação visual. Desde a criação do projeto até a finalização desta primeira etapa, visamos à pesquisa e o conhecimento da História da Matemática de civilizações antigas (maia nesta primeira etapa); a identificação do conhecimento matemático dessas civilizações em suas mais variadas áreas; a construção e/ou a reprodução de produtos (objetos) que interligassem a História da Matemática pesquisada e as técnicas artísticas estudadas no curso de CV e a apresentação, em encontros e seminários, do resultado da pesquisa e do produto final criado pelo grupo. E vemos, tão importante quanto qualquer outro objetivo, a inserção desse grupo de alunas no mundo da pesquisa científica. Este primeiro passo do projeto gerou um conhecimento que, talvez durante o curso integrado, o grupo não tivesse acesso. Este grupo ansiava por um produto final que saísse dos “moldes” e se concretizasse em algo palpável e útil, exatamente do modo como o fizeram: acabaram por criar um conjunto de chá, com prato de sobremesa, pires e xícara, dentro de uma embalagem que conta a história da civilização maia de forma que, com palavras, é impossível descrever. O conjunto, baseado principalmente no calendário maia, pode ser replicado e, com as devidas permissões, patenteado e vendido. O grupo está pronto para seguir produzindo e deseja relatar, com mais detalhes, os resultados deste projeto e ouvir críticas e sugestões para aperfeiçoar seus futuros trabalhos. Palavras-chave: História da Matemática. Projeto de pesquisa. Matemática Maia “Procura-se uma educação que estimule o desenvolvimento da criatividade desinibida conduzindo a novas formas de relações interculturais” (D’AMBROSIO, 2001, p. 16) Introdução Nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia – as antigas Escolas Técnicas –, os cursos do ensino médio são chamados de “Integrados”, pois possibilitam ao estudante cursar as disciplinas da área comum, presentes em qualquer escola que equivalha ao seu nível de estudo, e as disciplinas específicas do curso técnico que escolheu ao ingressar. O termo “Integrado”, no entanto, sugere – na verdade, clama – que haja tal integração não no fato de o aluno estar fazendo uma escola que é, ao mesmo tempo, de ensino médio e profissionalizante; o termo se refere, também, à ideia de uma educação “integrada”, de uma escola que possibilite ao aluno, sempre que possível, aliar conteúdos das disciplinas de formação geral com as disciplinas das áreas técnicas. Infelizmente, na prática, isso acontece raras vezes. Por tantos motivos que não cabe aprofundar aqui o relato (conteúdos programáticos extensos, professores focados no ensino tradicional, alunos acostumados a aulas expositivas etc), são múltiplos os obstáculos que se entrepõem a um ensino “integrado” – especificamente falando, que utilize a metodologia dos projetos de pesquisa como catalisadora de novas e mais significativas aprendizagens. Pensando nisso, optamos por fazer um projeto de pesquisa com algumas alunas voluntárias do curso de Comunicação Visual, envolvendo uma parte da História da Matemática e as técnicas estudadas no curso para a produção e criação de objetos. É comum, em suas disciplinas do curso, elaborarem cartazes, folhetos, maquetes de móveis, embalagens de produtos, cartões de visita etc. A ideia principal do projeto – ao qual demos o nome de “Matemática e Arte: uma Experiência Interdisciplinar” – era estudar a matemática maia e, depois, produzir algo que as alunas escolheriam e que fosse representante e significativo das duas grandes áreas envolvidas nos estudos: a Matemática e a Comunicação Visual. Neste trabalho comentaremos, com maior destaque, a parte referente à Matemática, seja nos referenciais teóricos que mobilizamos para elaborar o projeto, seja nos resultados alcançados. 2 O Uso de Projetos de Pesquisa como Metodologia de Ensino e Aprendizagem De acordo com Martins (2007), o termo “projeto” refere-se a qualquer plano traçado para se fazer algo ou se resolver uma situação. Na escola, de um modo geral, o termo “projeto” e “pesquisa” foram, segundo este autor, banalizados: qualquer mural expositivo é resultado de uma pesquisa, qualquer investigação sobre determinado assunto é um projeto. No entanto, fazer um projeto de pesquisa requer uma maior organização e planejamento e, muitas vezes, segue procedimentos pré e bem determinados, que constituem quatro fases: planejamento, execução, avaliação e socialização. Um projeto de pesquisa deve visar um ou mais dos itens abaixo: – aprofundar o conhecimento de certos conceitos; – ampliar o saber sobre determinado assunto; – procurar a solução para um problema; – achar uma saída para uma dificuldade; – afastar uma preocupação que incomoda; – atender à necessidade de alguma coisa; – construir ou elaborar um certo produto; – realizar um desejo que se tem; – cumprir uma determinação ou obrigação (MARTINS, 2007, p. 33) Nosso projeto foca, mais diretamente, na primeira e na segunda destas afirmações no que tange à matemática, e na sétima, com relação ao curso das alunas. Ao estudar a civilização maia e, por conseguinte, sua matemática, abordamos com elas o sistema maia para a contagem do tempo, a construção de seu calendário, seus números e a “invenção” do zero, as relações da astronomia com seus ritos e crenças alguns significados das formas, elementos e medidas das construções de suas pirâmides. Martins (2007) define que, para se fazer um projeto de pesquisa com alunos, é preciso que se pense nos seguintes elementos: a) Uma causa motivadora (um assunto ou tema): para nós, a civilização maia. b) Uma intenção: conhecer/saber, produzir algo referente a essa civilização. c) A realização de algo: o produto final, que seria escolhido pelas próprias alunas. d) Os meios: as diversas técnicas utilizadas no curso de Comunicação Visual. 3 e) O resultado: o produto, a aprendizagem de uma “outra” matemática, o conhecimento da cultura de um povo que desapareceu, a “integração” entre as atividades do curso e as disciplinas de formação geral. O uso de projetos de pesquisa como metodologia de ensino e aprendizagem é amplamente defendido nos PCNs, para as mais diversas disciplinas. Na parte que se refere à Matemática, o documento organizado para balizar a educação brasileira diz: O ensino por meio de projetos, além de consolidar a aprendizagem, contribui para a formação de hábitos e atitudes e para a aquisição de princípios, conceitos ou estratégias que podem ser generalizados para situações alheias à vida escolar. Trabalhar em grupo produz flexibilidade no pensamento do aluno, auxiliando-o no desenvolvimento da autoconfiança necessária para se engajar numa dada atividade, na aceitação do outro, na divisão de trabalho e responsabilidades e na comunicação com os colegas. Fazer parte de uma equipe exercita a autodisciplina e o desenvolvimento de autonomia e automonitoramento (BRASIL, 202, p. 56). Do exposto acima – que reflete também nossa opinião pessoal –, percebe-se que a metodologia dos projetos de pesquisa não modifica apenas o modo de o estudante se relacionar com o conteúdo e com o que aprende, mas também com sua inserção no mundo e com a imagem que faz de si mesmo. Se nos referimos a este projeto como uma “experiência” é, principalmente, pela aura tradicional que paira sobre nossa escola septuagenária. Foi opção nossa desenvolver esta ideia com um grupo de alunas voluntárias e, posteriormente, apresentar os resultados tanto para a Instituição quanto para algumas turmas de alunos, numa tentativa de começar a criar em nossos estudantes, paulatinamente, o hábito da pesquisa em Matemática. Se o projeto fosse proposto a uma turma inteira, ou turmas, provavelmente alguns alunos não o fariam de boa vontade (fariam-no somente pela nota final), reclamariam que a matemática maia “não tem nada a ver” com o conteúdo do semestre etc. Esperamos que este primeiro projeto abra portas de integração entre a Coordenadoria de Matemática e o Curso de Comunicação Visual e que o produto final elaborado pelos alunos ajude a compreender que é preciso “optar por novo estilo docente – ou, melhor dizendo, pelo ‘reaprender a ser 4 professor’ – acostumar-se, em suas atividades, a procurar ver mais longe” (MARTINS, 2007, p. 39-40). Perrenoud (2000) cita dez novas competências às quais os professores devem se ater para ensinar aos alunos do século XXI. Algumas delas comungam profundamente com o que se espera e com como se deve desenvolver projetos de pesquisa com alunos: organizar e dirigir situações de aprendizagem, organizar e dirigir situações de aprendizagem e trabalhar em equipe. Esta mudança de atitudes, que ocorre tanto nos alunos que realizam o projeto quanto nos professores que o elaboram e o norteiam, juntamente com as relações interpessoais que cada um elabora e ressignifica com os conteúdos estudados e/ou descobertos no processo, conduzem àquilo que Hernández (1998) vai chamar de “globalização escolar”: Globalização, no ponto de vista escolar, significa somatório de matérias, conjunção de diferentes disciplinas ou ciências, centralizar múltiplos ângulos de um tema para descobrir conexões de saberes que conduzam a um determinado conhecimento (HERNÁNDEZ, 1998, p. 45). Em outras palavras, “globalizar”, no conceito escolar, é relacionar diferentes saberes e entender como se pode realizar uma aprendizagem individual com conteúdos de disciplinas distintas. Ao unir, pela primeira vez na nossa instituição, a Coordenadoria de Matemática e o Curso de Comunicação Visual, vivenciamos – professores e alunos – este processo de globalização, via História da Matemática. Um Projeto de Pesquisa com História da Matemática Dentre as atuais metodologias discutidas e amplamente incentivadas para o ensino de Matemática escolhemos, para alicerçar nosso projeto, a História da Matemática como abordagem didática, pois ela responde às perguntas que os alunos comumente fazem em sala de aula: “Quem inventou isso?”, “Para que estudar isso?”, “Para que serve isso?” etc. Ao estudarmos uma civilização antiga, cujos conhecimentos matemáticos não fazem parte do currículo escolar tradicional, possibilitamos que as alunas compreendessem que a Matemática é “humana”, que não nasceu pronta e não é mágica, mas sim o resultado de muitos anos – às vezes séculos – de experimentações, conjecturas, sistematizações, 5 refinamentos e aperfeiçoamentos, como bem nos diz Valdés (2006), Carvalho, Mendes et al (2013) Miguel e Miorim (2005), dentre outros. Cremos que este é um dos mais relevantes aspectos para se utilizar esta metodologia. Outra razão pela qual escolhemos trabalhar com História da Matemática são os quatro papéis que ela desenvolve no processo de ensino e aprendizagem, elencados por Miguel e Miorim (2005): papel interdisciplinar (quando conseguimos, através do tema escolhido, relacionar a Matemática com as disciplinas do curso técnico), didáticopedagógico (à medida em que o tema “civilização maia” norteia o estudo da matemática deste povo), psicológico-motivacional (percebemos que as alunas estavam sempre empolgadas e interessadas quando vieram às reuniões de estudo) e político-crítico (uma vez que conduz a outras discussões, tais como o porquê de a civilização maia ter se extinguido, o fato de não conhecerem e nem utilizarem a roda, por que seu sistema de numeração e calendário foram abandonados etc). Mostrar a matemática “em construção” e discutir sobre “as diferentes matemáticas” é, também, uma maneira de educar para a pluralidade e para o respeito às diversas culturas. Deste modo, no nosso projeto, a História da Matemática se amalgamou com a Etnomatemática, pois é ela que “empenha-se no diálogo entre identidade (cultural) e alteridade (mundial), terreno onde a Matemática e a Antropologia se intersectam” (VERGANI, 2007). Estas interlocuções apareceram nas discussões feitas no grupo de trabalho, pois o material pesquisado por vezes abordava tópicos que tangenciavam a etnoarquitetura, a etnoreligião, a etnoastronomia e, principalmente, a etnomatemática dos povos maias. As discussões, para as quais em alguns momentos as alunas traziam conhecimentos adquiridos em outras disciplinas que não estavam diretamente ligadas ao nosso projeto (como a História e a Sociologia), possibilitaram ver algo que D’Ambrósio (2001) insiste em alertar em seus livros: a Matemática dominante tem subjugado a cultural, muitas vezes fazendo-a desaparecer, o que resulta numa desvalorização da cultura de um povo, como se suas produções fossem menos importantes ou equivocadas (D’AMBRÓSIO, 2001). Quando D’Ambrosio fala que 6 o desafio é educar para promover a cidadania (indivíduo produtivo e integrado à sociedade mas crítico, capaz de desobedecer ordens e leis que violem a dignidade humana) e para promover a criatividade (auxiliando o indivíduo a atingir seu potencial criativo, mas sem criar instrumentos que favoreçam as guerras e desigualdades) (D’AMBRÓSIO, 2005, p. 98), percebemos que este projeto pode ser visto como um primeiro passo nesta direção: ao abordarmos e estudarmos a matemática maia, trouxemos à tona conteúdos matemáticos, técnicas artísticas e discussões sociológicas, históricas e culturais. Disso tudo podemos dizer que, além de uma metodologia de ensino, a História da Matemática ajuda o estudante na constituição das suas múltiplas potencialidades. E é inegável, também, que ela modifica a práxis do professor e sua relação com a disciplina que ensina. O Projeto “Matemática e Arte: Uma Experiência Interdisciplinar” Abordaremos aqui, a metodologia de desenvolvimento do projeto desde a escolha do grupo até a concretização do produto final. Após discussões sobre assumir mais um compromisso de projeto e a escolha do tema e do público (grupo de alunos) com quem gostaríamos de trabalhar, foi preciso pensar em como selecionar um pequeno grupo, uma vez que já foi colocado sobre as dificuldades de se trabalhar com uma turma inteira. Colocamos então nossas ideias para os professores do Curso de Comunicação Visual, em reunião de coordenadoria. Os professores foram unânimes em apoiar e incentivar o projeto, visto que anseiam em interligar disciplinas, em virtude da configuração dos cursos da escola, também já comentada. Duas professoras, em especial, se dispuseram a colaborar no que tange à parte artística, ajudando as alunas com as técnicas necessárias para o desenvolvimento do produto, técnicas estas que são por elas ministradas dentro de suas disciplinas. Essas professoras também se propuseram a divulgar, para sua turma de quinto semestre, nossa intenção de trabalho e, com isso, estariam plantando o desejo de participação em alguns alunos. Não foi por acaso que escolhemos trabalhar com o curso de Comunicação Visual. Um dos colaboradores do projeto já conhecia a equipe de professores do curso e sabia de 7 algumas técnicas por eles utilizadas, que auxiliariam na execução do produto, pois havia feito um curso semelhante a este curso por ocasião do seu ensino médio. Escolhemos a turma do quinto semestre por dois motivos: primeiro porque é a turma que está mais avançada no curso (o curso integrado de Comunicação Visual é recente e é fruto dos antigos cursos de Desenho Industrial e Design de Móveis; seu primeiro vestibular foi em 2011) e sendo assim, as turmas mais adiantadas já estudaram algumas disciplinas da área técnica, incluindo Desenho Técnico, Estudos Volumétricos e outras que abordam o estudo de cores e forma e a escolha de materiais para a elaboração de determinado produto. Tal conhecimento era indispensável para o desenvolvimento do projeto; o segundo motivo diz respeito ao fato de a turma ter aulas no turno da manhã, o que nos facilita trabalharmos em turno inverso. Em julho deste ano, começamos o trabalho de divulgação do projeto. Uma semana após as professoras do curso conversarem com seus alunos, fomos a sua aula para então resumirmos nossas ideias e nossas perspectivas de resultados. Fomos muito bem recebidos e, na primeira impressão, nos pareceu que teríamos público para trabalhar. Deixamos uma semana para que pensassem a respeito e tirassem suas dúvidas sobre suas atribuições como grupo. Tentamos incentivá-los ao máximo, alegando a importância de se trabalhar em um projeto de pesquisa, o qual seria para eles a primeira experiência de trabalho científico. Também ressaltamos o conhecimento que poderiam adquirir. Na semana seguinte tínhamos um grupo pequeno, de quatro componentes, mas muito, muito inspirador. Quatro meninas com muita vontade de trabalhar. Começou assim o nosso “grande” grupo: Dois professores da matemática, quatro alunas do curso de Comunicação Visual e mais duas professores deste mesmo curso. Fizemos uma primeira reunião para estabelecermos metas e métodos, dias e horários e acertamos que nas primeiras semanas nos encontraríamos todas as quartasfeiras, das 10:45h às 12:15h, já que este é um horário livre para todos os cursos, no turno da manhã. Combinamos também que depois de feita a pesquisa teórica, os encontros poderiam se dar quinzenalmente ou na medida em que fosse necessário. 8 Para os primeiros encontros, selecionamos vídeos e textos que resumiam a vida da civilização maia. Foram vídeos disponibilizados pela History Channel e episódios da série “Grandes Civilizações”, da TV Escola, todos coletados no youtube. Utilizamos uma sala de vídeo da Instituição e assistimos aos filmes durante os dois primeiros encontros. Nos encontros seguintes, lemos e discutimos textos e artigos sobre essa civilização. Estudamos, debatemos, pesquisamos mais, salientamos o que nos parecia mais interessante, recortamos tudo o que percebemos de matemática e arte. Somente depois disso é que as alunas escolheram o produto final a ser confeccionado. As meninas trouxeram diferentes ideias as quais ponderamos, para sua execução, as possíveis dificuldades e metodologias, ficando então decidido que fariam uma adaptação do calendário maia em um conjunto de chá: prato de sobremesa, pires e xícara, juntamente com uma embalagem para o conjunto. A embalagem, além servir para proteger o produto e chamar a atenção do cliente para a sua compra, também teria o papel de explicar, para o consumidor, aspectos relativos à cultura maia. Começou então a fase de execução da parte prática. Primeiro a fase de teste: Que material utilizar? Que técnica? Como fazer? Em duas semanas as meninas nos trouxeram o resultado de seus testes. Fizeram, então, a lista de material que precisávamos comprar para a aplicação final. Como este projeto está cadastrado na instituição, até o momento, como projeto sem ônus, todos os materiais necessários à confecção do produto final têm seus valores rateados entre os professores da equipe. A criatividade, a disponibilidade e o interesse desse grupo foram fundamentais para o êxito nos resultados obtidos: este projeto, “pioneiro” para nós, gerou um conhecimento que, durante o curso integrado, o grupo talvez não tivesse acesso. Hoje, as meninas e nós conhecemos um pouco mais sobre a civilização maia, suas técnicas de contagem, seu sistema de numeração, seu calendário, seu estudo sobre astronomia, sua crença, seu esporte e sua arte. As meninas foram “apresentadas” à pesquisa, à elaboração de resumos e relatórios de caráter mais científico. Um dos grandes anseios que elas compartilharam conosco foi de que até então haviam produzido somente moldes, maquetes etc., e tinham muita vontade produzir algo consistente, que não fosse apenas um modelo. Assim o 9 fizeram. O conjunto que criaram pode ser replicado e, com as devidas permissões, patenteado e vendido. O evento “XI Seminário Nacional de História da Matemática” é o primeiro no qual inscrevemos o projeto para uma apresentação fora da Instituição. Nosso objetivo é socializá-lo com o público do evento, trocar ideias, ouvir críticas e conceber novas propostas de pesquisa. Temos a intenção de dar segmento a este projeto nos próximos semestres. Queremos estudar outras civilizações antigas e suas contribuições para a Matemática. Para isso, vamos contar com esta mesma equipe e quem mais estiver interessado em pesquisar e trabalhar. Deixaremos para mostrar o produto final elaborado pelas alunas na apresentação deste trabalho: a riqueza de detalhes e a criatividade das alunas são, agora, marcas palpáveis de uma possível integração entre a História da Matemática e o curso de Comunicação Visual. Conclusão Considerando que “o sucesso da aprendizagem por projetos estará condicionado ao interesse que se conseguir despertar no aluno, valorizando-o como pequeno pesquisador, descobridor e expositor do que aprendeu com a condução do professor” (MARTINS, 2007, p. 52), podemos celebrar o término deste nosso primeiro projeto de pesquisa integrando a Coordenadoria de Matemática e o Curso de Comunicação Visual: as alunas sempre demonstraram um grande interesse no tema e foram muito participativas; outro dado relevante é a criatividade com que elaboraram seu produto final. Isso nos mostra que há, sim, possibilidades de se utilizar a metodologia de projetos de pesquisa aliados à História da Matemática para uma educação que extrapole o ensino conteudista e o livro didático. Lévi-Strauss, citado por Mendes (2006), adjetiva o professor como um artista que faz bricolagens, ou seja, se utiliza dos diferentes materiais para fazer uma obra de arte. Foi exatamente o que fizemos com este trabalho: nossos materiais foram os conhecimentos da disciplina de Matemática e das disciplinas específicas do curso de Comunicação Visual; 10 nossa cola foi a História da Matemática e, nosso trabalho artístico, o produto final elaborado pelas alunas. Referências Bibliográficas SILVA, Manoela Aleixo. Civilização Maia: Matemática e Mitologia. Disponível em: <www.ecsbdefesa.com.br/fts/Maia.pdf >. Acesso em 28/07/2014. BRASIL. Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. MEC-SEMTEC, Brasília, 2002. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/CienciasNatureza.pdf>. 14/07/2014. Acesso em: CARVALHO, Dione Lucchesi; MENDES, Iran Abreu et al. História da Matemática em Atividades Didáticas. São Paulo: Livraria da Física Editora, 2013. D'AMBROSIO, Ubiratan. Armadilha da Mesmice em Educação Matemática. 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