Teoria da Formação para a Educação do Terceiro
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Teoria da Formação para a Educação do Terceiro
Universidade do Sul de Santa Catarina Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Disciplina na modalidade a distância Palhoça UnisulVirtual 2007 teoria.indb 1 28/9/2007 16:12:39 Créditos Unisul - Universidade do Sul de Santa Catarina UnisulVirtual - Educação Superior a Distância Campus UnisulVirtual Avenida dos Lagos, 41 Cidade Universitária Pedra Branca Palhoça – SC - 88137-100 Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 E-mail: [email protected] Site: www.virtual.unisul.br Reitor Unisul Gerson Luiz Joner da Silveira Vice-Reitor e Pró-Reitor Acadêmico Sebastião Salésio Heerdt Chefe de Gabinete da Reitoria Fabian Martins de Castro Pró-Reitor Administrativo Marcus Vinícius Anátoles da Silva Ferreira Campus Sul Diretor: Valter Alves Schmitz Neto Diretora adjunta: Alexandra Orsoni Campus Norte Diretor: Ailton Nazareno Soares Diretora adjunta: Cibele Schuelter Campus UnisulVirtual Diretor: João Vianney Diretora adjunta: Jucimara Roesler Equipe UnisulVirtual Avaliação Institucional Dênia Falcão de Bittencourt Biblioteca Soraya Arruda Waltrick Capacitação e Assessoria ao Docente Angelita Marçal Flores (Coordenadora) Caroline Batista Enzo de Oliveira Moreira Patrícia Meneghel Simone Andréa de Castilho Coordenação dos Cursos Adriano Sérgio da Cunha Aloísio José Rodrigues Ana Luisa Mülbert teoria.indb 2 Ana Paula Reusing Pacheco Charles Cesconetto Diva Marília Flemming Eduardo Aquino Hübler Fabiano Ceretta Itamar Pedro Bevilaqua Janete Elza Felisbino Jucimara Roesler Lauro José Ballock Lívia da Cruz (auxiliar) Luiz Guilherme Buchmann Figueiredo Luiz Otávio Botelho Lento Marcelo Cavalcanti Maria da Graça Poyer Maria de Fátima Martins (auxiliar) Mauro Faccioni Filho Michelle Denise Durieux Lopes Destri Moacir Fogaça Moacir Heerdt Nélio Herzmann Onei Tadeu Dutra Patrícia Alberton Raulino Jacó Brüning Rodrigo Nunes Lunardelli Criação e Reconhecimento de Cursos Diane Dal Mago Vanderlei Brasil Desenho Educacional Daniela Erani Monteiro Will (Coordenadora) Design Instrucional Carmen Maria Cipriani Pandini Carolina Hoeller da Silva Boeing Flávia Lumi Matuzawa Karla Leonora Dahse Nunes Leandro Kingeski Pacheco Ligia Maria Soufen Tumolo Márcia Loch Viviane Bastos Viviani Poyer Acessibilidade Vanessa de Andrade Manoel Avaliação da Aprendizagem Márcia Loch (Coordenadora) Cristina Klipp de Oliveira Silvana Denise Guimarães Design Gráfico Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro (Coordenador) Adriana Ferreira dos Santos Alex Sandro Xavier Evandro Guedes Machado Fernando Roberto Dias Zimmermann Higor Ghisi Luciano Pedro Paulo Alves Teixeira Rafael Pessi Vilson Martins Filho Gabriela Malinverni Barbieri Jonatas Collaço de Souza Josiane Conceição Leal Maria Eugênia Ferreira Celeghin Rachel Lopes C. Pinto Tatiane Silva Vinícius Maykot Serafim Disciplinas a Distância Enzo de Oliveira Moreira (Coordenador) Vanessa Francine Corrêa Strambi Relacionamento com o Mercado Walter Félix Cardoso Júnior Gerência Acadêmica Márcia Luz de Oliveira Bubalo Gerência Administrativa Renato André Luz (Gerente) Valmir Venício Inácio Gerência de Ensino Ana Paula Reusing Pacheco Logística de Encontros Presenciais Graciele Marinês Lindenmayr (Coordenadora) Aracelli Araldi Cícero Alencar Branco Douglas Fabiani da Cruz Fernando Steimbach Letícia Cristina Barbosa Priscila Santos Alves Formatura e Eventos Jackson Schuelter Wiggers Gerência de Logística Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente) Francisco Asp Logística de Materiais Jeferson Cassiano Almeida da Costa (Coordenador) José Carlos Teixeira Eduardo Kraus Secretaria de Ensino a Distância Karine Augusta Zanoni Albuquerque (Secretária de ensino) Ana Paula Pereira Andréa Luci Mandira Andrei Rodrigues Carla Cristina Sbardella Deise Marcelo Antunes Djeime Sammer Bortolotti Franciele da Silva Bruchado James Marcel Silva Ribeiro Janaina Stuart da Costa Jenniffer Camargo Lamuniê Souza Liana Pamplona Marcelo José Soares Marcos Alcides Medeiros Junior Maria Isabel Aragon Olavo Lajús Priscilla Geovana Pagani Rosângela Mara Siegel Silvana Henrique Silva Vanilda Liordina Heerdt Vilmar Isaurino Vidal Secretária Executiva Viviane Schalata Martins Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coordenador) Jefferson Amorin Oliveira Marcelo Neri da Silva Pascoal Pinto Vernieri Ricardo Alexandre Bianchini Monitoria e Suporte Rafael da Cunha Lara (Coordenador) Adriana Silveira Andréia Drewes Caroline Mendonça Cláudia Noemi Nascimento Cristiano Dalazen Dyego Rachadel Edison Rodrigo Valim Francielle Arruda 28/9/2007 16:13:10 Apresentação Estimado(a) Cursista, Seja bem-vindo(a) ao Curso de Especialização em Ciências da Educação, desenvolvido pela UnisulVirtual em cumprimento ao Programa ALFA (América Latina – Formação Acadêmica), que é um programa de cooperação internacional entre instituições de ensino superior da Europa e América Latina. No âmbito do Projeto, existe um slogan: Não basta presumir que se sabe ensinar, e contemporaneamente, não basta presumir que se conhecem todas as técnicas didáticas para ser um docente de qualidade. É necessário saber, porém, que é necessário saber ensinar. O resultado deste processo tem consubstanciado modos distintos de ação no que se refere ao foco da formação para atuação docente. Na Europa, a atenção tem sido uma formação cultural e disciplinar. Na América Latina, a preocupação está focada sobre o intercâmbio nos aspectos metodológico-didáticos e reflexão sobre as práticas educacionais. Articular estas culturas e os distintos modelos, diante do problema de como configurar e desenvolver o perfil do docente e sua ação numa sociedade global, é um resultado cultural, de uma parceria de caráter inovador na articulação de conteúdos, metodologias e ideais. O ponto importante que desde o início, neste projeto, tem sido colocado em pauta foi “o convite ao pensar coletivo”, ou seja, oportunizar a todos os inscritos, momentos de reflexão sobre o que significa ensinar na sociedade do conhecimento. Estamos diante de uma prática distinta daquela que estávamos habituados e àquela que nos têm sido ensinada por muito tempo: de que ensinar consiste eminentemente em “transmitir” conhecimentos a partir de conteúdos pré-estabelecidos. Percebemos diferente hoje! Ensinar na sociedade do conhecimento não pode mais significar “transmitir conteúdos” codificados por outros; ensinar na sociedade do conhecimento teoria.indb 3 28/9/2007 16:13:10 significa perceber que o docente reconquista a função de produtor e socializador de novos conhecimentos numa perspectiva colaborativa. Mas ensinar não significa, também, só “produzir novos conhecimentos”, mas produzir novas regras, e descobrir regras com as quais seja possível inventar novas formas de aprender e ensinar. O desafio do projeto MIFORCAL (Máster inter-universitário na formação de professores de qualidade para a docência préuniversitária), que é um projeto de colaboração científica e técnica, que propõe a realização e experiência de um percurso conjunto de formação de professores, está em desenvolver a autonomia e o princípio colaborativo em rede, está, acima de tudo, em perceber o possível na permissão da liberdade pela palavra, que é um bem sagrado, para cuja conquista requer todo o esforço que os povos tem colocado em curso ao longo do tempo. Só assim, a liberdade da palavra vai sendo promovida, conservada e tutelada. Porém, cabe alertar que a liberdade da palavra sem a inteligência da palavra é um símbolo vazio, assim como a inteligência da palavra, sem a liberdade da palavra, é muda. Desejamos que este caminho conjunto autorize a cada um de nós maximizar necessidades culturais, assim como as necessidades de valores que o projeto tende, em alguma medida, realizar e assegurar à humanidade, tais como o pertencimento às comunidades nacionais, universitárias e internacionais. Esperamos, vivamente, que esta nossa primeira experiência de formação possa ser seguida de una série de outras iniciativas no campo da pesquisa, do intercâmbio de docentes, investigadores e que os sistemas educativos europeus e latino-americanos possam viver a comunhão de idéias e práticas. Desejamos, em síntese, que esta comunidade internacional promovida pela rede MIFORCAL possa converter-se numa rede de pessoas que se reconheçam, também, no uso de alguns termos, nos códigos lingüísticos, uma linguagem universal e, que esta possa propiciar a interiorização de uma consciência mais cidadã do mundo e com docentes de qualidade para fazer a diferença no processo educacional. João Vianney Diretor do Campus UnisulVirtual UNISUL Santa Catarina - Brasil teoria.indb 4 Umberto Margiotta Coordenador Geral do Projeto Diretor da SSIS do Veneto Universidade Ca’Foscari de Veneza – Itália 28/9/2007 16:13:10 Umberto Margiotta Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Disciplina na modalidade a distância Design instrucional Carmen Maria Cipriani Pandini Adaptação/complemetação Carmen Maria Cipriani Pandini Tradução Renato Luiz Benedet Palhoça UnisulVirtual 2007 teoria.indb 5 28/9/2007 16:13:11 Copyright © UnisulVirtual 2007 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Renato Luiz Benedet Prof. Gustavo Daniel Constantino (CIAFIC - Argentina) Profa. Iris Perla Señas - (Un. del Sur - Argentina) Profa. Valentina Zangrando (Ca´Foscari) Coordenação Organizativo-Administrativa Investigadores/Coordenadores Didáticos Locais Juliana Elisa Raffaghelli Ulisses Miranda Prof. Edimar Carvalho (Universo) Profa. Carmen Cipriani Pandini (UnisulVirtual) Profa. Flavia Lumi Matuzawa (UnisulVirtual) Profa. Maria Armanda Costa (Un. de Lisboa) Prof. José L. Lopes Brandâo (Un. de Coimbra) Prof. Antonio Miguel Seoane Pardo (Un. de Salamanca) Prof. Oscar Parra Trepowsky (UCNSA - Paraguai) Profa. Leonilda Ester Broll (UNRC - Argentina) Profa. Lourdes Moràn (Ciafic) Profa. Vânia Ben (Ciafic) Profa. Andrea Montano (Un. Nac. del Sur - Argentina) Profa. Juliana Elisa Raffaghelli (Ca´Foscari) Profa. Silvina Barroso (UCNSA - Paraguai) Profa. Cristina Garcia Pena (Un. de Salamanca) Profa. Rosário Liébana ( CIAFIC - Argentina) Prof. Martinho Soares (Un. de Coimbra) Profa. Maria Mafalda S. Azevedo (Un. de Lisboa) Prof. Delfim Ferreira Leão (Un. de Coimbra) Edição – Livro Didático Tradução Coordenador Geral do Alfa/Miforcal Prof. Umberto Margiotta Coordenador Referente no Projeto Prof. João Vianney (UnisulVirtual) Coordenação Didática Geral Umberto Margiotta Carmen Maria Cipriani Pandini Valentina Zangrando Adaptação /complementação Coordenação de Investigação Professores Conteudistas Carmen Maria Cipriani Pandini Design Instrucional Carmen Maria Cipriani Pandini ISBN 978-85-60694-96-9 Projeto Gráfico e Capa Equipe UnisulVirtual Diagramação Pedro Teixeira Gustavo Daniel Constantino Maria Alcina Testa Braz da Silva Comitê Científico Diretivo do Projeto MIFORCAL Prof. Umberto Margiotta (Coord. geral - Ca´Foscari) Profa. Alcina Maria Testa Braz da Silva (Universo) Prof. João Vianney (UnisulVirtual) Profa. Carmen Maria Cipriani Pandini (UnisulVirtual) Prof. Ines Duarte – (Un. de Lisboa) Profa. Maria do Céu Fialho (Un. de Coimbra) Prof. Antonio Lòpez Eire – (Un. de Salamanca) Profa. Yenny Aguilera de Zarza- (UCNSA - Paraguai) Profa. Alicia Sposetti di Croato – (UNRC - Argentina) Coordenação de Ambiente Virtual de Aprendizagem (Univirtual - Ca´Foscari) Dra. Monica Banzato Prof. Mimo Corcione 370 M28 Margiotta, Umberto Teoria da formação para a educação do terceiro milênio : livro didático/ Umberto Margiotta ; design instrucional Carmen Maria Cipriani Pandini ; tradução Renato Benedet ; adaptação Carmen Maria Cipriani Pandini. – Palhoça: UnisulVirtual, 2007. 328 p. : il. ; 28 cm. ISBN 978-85-60694-96-9 Inclui bibliografia. 1. Educação. I. Pandini, Carmen Maria Cipriani. II. Benedet, Renato. III. Título. Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul teoria.indb 6 28/9/2007 16:13:11 Sumário Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3 Palavras do professor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 UNIDADE 1 – A idéia do homem conforme Bruner: predisposição ao aprendizado e à organização do conhecimento . . . . 15 UNIDADE 2 – Criação e desenvolvimento das teorias sobre a operacionalidade da mente em J. Bruner . . . . . . . . . . . . . 55 UNIDADE 3 – A linguagem como instrumento da mente: em que medida a aprendizagem precede o desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 UNIDADE 4 – As teorias da educação: entre o fordismo e pós-fordismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 UNIDADE 5 – Currículos formativos ou programas de ensino? Questões centrais da pesquisa educativa e políticas educacionais contemporâneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177 UNIDADE 6 – A reforma do currículo e a formação de talentos: os eixos da conceitualização dos currículos formativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233 UNIDADE 7 – Após Piaget: modelos de aprendizado e modelos de ensino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 267 Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 323 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 325 Sobre o professor conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 327 teoria.indb 7 28/9/2007 16:13:11 teoria.indb 8 28/9/2007 16:13:11 Palavras do professor Caros(as) alunos (as), A condição de educadores os coloca em uma posição singular, que é aquela de aprender sempre na sociedade do conhecimento! Aquela de fazer ensino voltado à flexibilidade de um mundo que se modifica continuamente. Por isso, a escola, na sociedade vigente deve ser vista como um organismo mutante, que se converte em um espaço sem fronteiras, um espaço de diálogo social e intercultural, que absorve, por meio das vivências dos alunos, a narrativa cotidiana, as novas tecnologias, a influência de um mundo em constante alteração. E, se não faz muito tempo que essa influência externa ficava longe da porta da escola, e o docente era, de algum modo, capaz de decidir como transmitir um conhecimento que era estático, reprodutor de uma ordem social; hoje, a escola e o currículo se abrem em todos os seus limites, sem contar a sensação de incerteza que chega a alunos e docentes, diariamente. Como pode ser entendido este contexto? que lugar tem o currículo? e os modelos formativos? as teorias de aprendizagem? Muitas são as respostas... mas creio que uma coisa pode explicitar com mais segurança este momento, e talvez possa ser interpretado como uma oportunidade de discussão em torno da docência e da prendizagem, questionando a função do “professor transmissor” – e de “alunos receptores”. O que se pretende hoje? um voltar-se a pensar ambientes de aprendizagem centrados na riqueza que as múltiplas inteligências possibilitam, na cultura que os alunos possuem, no processo que oportuniza criar situações significativas de construção de conhecimentos, tendo como base docentes com capacidade de refletir com seus alunos sobre a própria função e condição social e intelectual, como também, sobre a própria contribuição, da escola e das disciplinas que eles ensinam. teoria.indb 9 28/9/2007 16:13:11 Considerar a sociedade do conhecimento uma maldição, significa negar os próprios filhos e o direito da esperança. Portanto, a sociedade do conhecimento, não tem outra possibilidade, senão ser assumida como um desafio radical de nossa inteligência, um desafio radical às possibilidades de reorganizar nossas representações da cultura e, portanto, um desafio radical no modo com o qual podemos pensar e viver o ensino como processo – um ensino capaz de promover o desenvolvimento de talentos em cada um dos alunos que a nós são confiados. Porque o educador, neste contexto, tem uma grande responsabilidade – a de interrogar a geração de conhecimentos e a de colaborar na construção de uma sociedade menos excludente e mais feliz. Este é o desafio que talvez uma comunidade internacional de docentes e alunos possa possa deixar de herança. A internacionalização da profissão docente, como proposta do Projeto Miforcal é a janela que se abre, ainda que timidamente, para a criação de uma comunidade que se pretende questionadora da própria profissão e que necessita confrontar-se para além das fronteiras da própria nação, da realidade local, da própria aula, e do âmbito do individualismo. Que esta disciplina suscite em cada um de vocês uma necessidade de buscar sempre o melhor para a educação no mundo, a começar pelo lugar em que atua! Cordiais abraços, Prof. Umberto Margiotta teoria.indb 10 28/9/2007 16:13:11 Plano de estudo O plano de estudo visa a orientar você no desenvolvimento da disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos. O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam, portanto, a construção de competências se dá sobre a articulação de metodologias e por meio das diversas formas de ação/mediação. São elementos desse processo: o livro didático; o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem - EVA; as atividades de avaliação (complementares, a distância e presenciais). Ementa As linhas de investigação a partir dos anos 60 e 70 em diante, ou seja, das teorias de formação e sobre o desenvolvimento do currículo formativo. Influências e contribuições levam a superar um enfoque ingênuo dos paradigmas de ensino. A relação da predisposição de aprender do aluno com a organização dos conhecimentos das distintas disciplinas. A organização dos currículos na educação do terceiro milênio. A de desenvolvimento intelectual em Vygotski e Bruner. A interação processo de aprendizagem que precede ao desenvolvimento e em que este sentido a aprendizagem precede o desenvolvimento, segundo Bruner. A inter-relação que conserva a aproximação estruturalista e as teorias modernas da aprendizagem na organização de ensino teoria.indb 11 28/9/2007 16:13:11 contemporâneo. A revisão do enfoque dos conhecimentos e seleção dos conteúdos de ensino depois da reforma. Conteúdos necessários à educação no terceiro milênio. O papel da escola e a função do ensino. Competências de formação. Carga Horária 60 horas – 4 créditos Objetivos Geral Analisar as teorias que embasam a formação para a educação do 3º. Milênio, e compreender as práticasde de ensino e aprendizagem buscando uma visão de organização do curricular focada no papel da escola, da sociedade de dos profissonais da educação como base para uma ação contextualizada. Conteúdo programático/objetivos Os objetivos estão explicitados em cada unidade e definem o conjunto de conhecimentos que você deverá deter para o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias à sua formação. Unidades de estudo: 7 Organize seu estudo conforme seu ritmo de aprendizagem e de acordo com sua rotina. As unidades são organizadas com características de livro didático e contêm alguns ícones que facilitam identificar destaques, pontos chaves, exemplos. Sugerimos que anote os pontos centrais desenvolvidos em cada unidade para facilitar o estudo, realize as atividades e, sempre que possível, consulte as indicações complementares. 12 teoria.indb 12 28/9/2007 16:13:12 Fundamentos Teórico-Metodológicos do Projeto ALFA-MIFORCAL Agenda de atividades/ cronograma Verifique com atenção o “EVA”, organize-se para acessar periodicamente o espaço da disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorização do tempo para a leitura, da realização de análises e sínteses do conteúdo e da interação com os seus colegas e tutor. Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço a seguir as datas com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA. Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas ao desenvolvimento da disciplina. Registre aqui sua rotina de atividades para lembrar o prazo! 13 teoria.indb 13 28/9/2007 16:13:12 teoria.indb 14 28/9/2007 16:13:12 UNIDADE 1 A idéia do homem conforme Bruner: predisposição ao aprendizado e à organização do conhecimento Objetivos de aprendizagem 1 Identificar as concepções de Bruner permitindo uma contextualização do chamado “instrumentalismo evolutivo” ao qual Bruner conecta com sua idéia de homem. Analisar o pensamento de Dewey e as bases da educação progressista. Verificar em que sentido a concepção antropológica de Bruner, que ele mesmo definiu como “instrumentalismo evolutivo” se diferencia ou se assemelha ao instrumentalismo e Dewey. Identificar a predisposição para aprender a partir da matriz evolutiva caracterizante da espécie humana. Identificar os pressupostos e as bases epistemológicas do conhecimento e analisar o processo de formação com base nas tendências do desenvolvimento humano e científico a partir desses autores. Seções de estudo Seção 1 Os Nós ou as Tramas Seção 2 Conceitos-chave da teoria de Bruner: evolução, vida, ambiente, homem Seção 3 As raízes do pensamento de Bruner: o pragmatismo, um sistema pedagógico para o novo século? Seção 4 J. Dewey e a educação progressiva Seção 5 A árvore da evolução e a centralidade do problema da mente com relação à formação teoria.indb 15 28/9/2007 16:13:12 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo O conceito antropológico de Bruner é profundamente devedor à tradição evolucionista e ao pragmatismo americano. Nem todos estes princípios podem ser considerados como deduzidos, e por esta razão se aprofundam tais tradições de referência ou correlação de forma a permitir uma correta contextualização do chamado “instrumentalismo evolutivo” ao qual Bruner conecta com sua idéia de homem. Mas esta idéia se faz também projeto em virtude de algumas características peculiares - exatamente funcionais - em virtude das quais se justifica a centralidade radical da educação nas metas de configurações de cada homem individualmente. Estas ele as encontra exatamente na predisposição para aprender e na capacidade de organizar de maneira produtiva e conseqüente o conhecimento. — Iniciemos o estudo desta unidade abordando algumas concepções ou teorias que, do ponto de vista deste estudo, torna-se fundamental conhecê-las. Vamos lá? SEÇÃO 1 - Os Nós ou as Tramas Iniciemos com uma discussão partindo dos conhecimentos advindos da antropologia. Como Bruner conceitua o homem e como é concebido nas diversas teorias da evolução? Você terá a oportunidade de ver um pouco mais sobre isso analisando o conteúdo a seguir. Sua presença crítica é muito importante para construir os conceitos mais apropriados para compreender a educação neste terceiro milênio. Vamos lá? O que é então a concepção antropológica? O conceito que Bruner tem do homem foi por ele mesmo definido no texto Instrumentalismo Evolucionístico que declara uma contribuição precisa tanto em comparação com o Instrumentalismo de J. Dewey, quanto em relação à tradição evolucionística do pragmatismo americano. 16 teoria.indb 16 28/9/2007 16:13:12 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio “O homem, segundo ele escreve no livro La sfida pedagógica americana, “O desafio pedagógico americano, (Armando, 1969, p. 66) – tem condições de utilizar a própria inteligência em virtude da capacidade por ele possuída de criar e utilizar utensílios, instrumentos, ou expedientes técnicos, que o colocam em condições de expressar e ampliar as suas faculdades. Isto é demonstrado de maneira particularmente clara, pela evolução do homem como espécie biológica”. A inteligência, então, é produzida principalmente pela capacidade de ampliação da faculdade de intervir sobre o ambiente circundante através da tecnologia. Com efeito, “foi em seguida ao desenvolvimento do bipedismo e do uso de instrumentos naturais em pedra, que o cérebro humano, em particular o seu córtex, pode se desenvolver. Ou para ser mais exato, a vida técnico-social dos seres humanos não foi originada pela ação de um hominídeo dotado de um cérebro muito desenvolvido. Vice-versa, o fator que transformou gradualmente a morfologia dos homens (favorecendo a sobrevivência daqueles capazes de utilizar um sistema de utensílios e colocando em condições de desvantagem aqueles que buscavam sobreviver com a ajuda de fortes maxilares, de dentaduras poderosas ou de peso descomunal) foi principalmente o esquema de vida baseado precisamente através do emprego de utensílios. Isto significa que através do processo evolutivo o sistema nervoso humano teria se tornado, no seu estado primitivo uma coisa qualquer que, para exprimir as próprias potencialidades, necessitava de meios e expedientes externos. Encontrados estes expedientes o progresso foi rápido.” (ibidem, p. 67). De tal tese se pode dar uma interpretação estritamente funcionalista que leva a conceber a inteligência como um instrumento para adaptar o homem às necessidades sempre mutantes apresentadas pelas mutantes situações da vida. Tal interpretação empobrece a significação e a potencialidade da inteligência, reduzindo-a uma dimensão orientada ao crescimento do “poder” do homem sobre o homem, e da qual é evidente a periculosidade ético-social. Porém, se pode, circunstancialmente, dar uma interpretação neo-pragmática. Esta pode encontrar-se confirmada no “instrumentalismo evolutivo”, teorizado por Bruner, pelo qual a rapidez das Unidade 1 teoria.indb 17 17 28/9/2007 16:13:12 Universidade do Sul de Santa Catarina transformações sociais e a consciência da sua dependência tecnológica induziram a considerar os objetivos principais da educação que deve promover: Conf. J. S. BRUNER, Verso una teoria dell’instruzione, 1966, Roma, Armando, p. 54. habilidade de criar e utilizar utensílios e instrumentos ou tecnologia, a capacidade de ver e imaginar, o desenvolvimento das operações simbólicas, particularmente aquelas metodologias que as tem tornado assim potentes nas suas expressões humanas e aquelas que [....] tornam capaz [o homem] de explicar e ampliar os seus poderes. Contra uma interpretação reducionista, em senso tecnológico da educação intelectual e o perigo que esta nivele por baixo e massifique a inteligência e as atitudes, valem outras declarações do mesmo Bruner, e, sobretudo, a difundida exigência que a incumbência da educação seja a estimulação da “criatividade”. Na realidade, Bruner afirma vigorosamente que a instrução, em vez de se adaptar as prospectivas existentes e aos modelos habituais que esta apresenta, deve se render introdutiva a novas prospectivas: “o fermento da educação é a idéia de perfeição, em forma diferente e relativa para cada indivíduo; é portanto a incumbência primeira da escola promover e apresentar os modelos de perfeição”. J. S. BRUNER, Dopo Dewey. IL processo di apprendimento nelle due culture, Roma, Armando, 1961, p. 19. A citação é obtida de W. KENNETH RICHMOND, La rivoluzione nell’insegnamento, Roma , Armando, 1967, p. 85. Por outro lado, outros estudiosos, retomando a reivindicação de Whitehead, para que a escola não despenda a energia imaginosa e aventurosa da inteligência, insistem a fim de que o momento da criatividade seja considerado o objetivo fundamental do desenvolvimento intelectual. Não podemos aqui adentrar nas complexas questões concernentes a tal conceito. Recordamos somente, para exemplificar, as sete qualidades que caracterizam a criatividade segundo J. P. Guilford Sensibilidade: uma imediata tomada de consciência dos problemas, das impressões sensoriais, das reações pessoais. Desenvoltura: a capacidade de produzir um fluxo de novas idéias e associações e de expressá-las verbalmente e graficamente. 18 teoria.indb 18 28/9/2007 16:13:13 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Flexibilidade: capacidade de adaptação a situações insólidas e inesperadas. Divergência: recusa em conformar-se, relutância em concordar com soluções obvias ou prontas. Redefinição: transformação do conhecido em qualquer outro não precedentemente conhecido. Analise: atenção ao particular significativo. Síntese: busca de conexões significativas ente idéias, fatos, e objetos separados (por ex.: na montagem de um quebra-cabeças). Com efeito se observa, de um lado, que o pensamento divergente pode fazer correspondência com o pensamento intuitivo, e por isso que este é complementar ao pensamento convergente, correspondente, por seu turno, ao pensamento analítico; por outro lado, o pensamento criativo não se desenvolve no vazio: enquanto este é direto de um material preexistente, não pode excluir as operações mentais próprias do pensamento convergente de onde deriva o dito material. Da pesquisa em curso resultam dois pontos importantes: a) possuir um alto quociente mental não garante um comportamento criativo; b) a criatividade não se identifica, como alguns têm sustentado, com o pensamento divergente (e isto é com “a tendência a tomar direções imprevistas, novas tangenciais”, em lugar de uma direção conhecida), mesmo se tal direção possa constituir uma componente da criatividade. Mas de onde provem esta particular concepção antropológica que gera o projeto homem de Bruner? Qu tal indagar as raízes na história do pensamento que tem contributos para formá-lo, não é mesmo? Vamos lá? Unidade 1 teoria.indb 19 19 28/9/2007 16:13:13 Universidade do Sul de Santa Catarina SEÇÃO 2 - Conceitos-chave da teoria de Bruner: evolução, vida, ambiente, homem O ponto de partida para o nosso discurso começa, obviamente, pelo conceito de vida. (Giuseppe Montalenti e Valério Giacomini: Corso di Biologia in 2 volumi, citato (Milano, Sansoni, 1963 e sg., più volte riedito). Nel Vol. 1, p. 9). O problema da natureza e das características da vida é mais grave e difícil. Cientistas e filósofos, desde os tempos imemoriais, tem buscado a solução. A biologia geral é aquela disciplina que procura deduzir do estudo dos fenômenos vitais individuais os princípios gerais e comuns a todos, a fim tentar um definição geral e sintética da vida. Nós não podemos dizer que possuímos uma única definição curta, completa, e satisfatória dos fenômenos vitais. Podemos entretanto indicar algumas características comuns a todos os seres vivos. Em primeiro lugar, nós devemos dizer que vida é um termo abstrato, e que na pratica nós temos sempre o que fazer com determinados organismos, com singelos indivíduos vivos. Podemos, então, considerar algumas características gerais e comuns a todos estes, que são as seguintes: Os seres vivos assumem sempre uma forma bem definida e constante, porem com variações individuais [...] O corpo dos seres vivos é constituído de partes e órgãos regularmente dispostos e harmonicamente coligados de modo a constituir um todo funcional [...] Os seres vivos têm a propriedade de saber construir o próprio corpo [...] Todos os organismos devem portanto manter contínuo relacionamento com o ambiente externo [...] Por fim, os indivíduos de cada espécie orgânica não são perenes: nascem, se desenvolvem e morrem. Mas antes de morrerem, normalmente, se reproduzem [...] . (Ibidem, p. 9, 10). O ser vivo, é portanto, objeto de uma troca incessante com o ambiente no qual está inserido: é inseparável do mesmo, ou melhor se for separado de um ambiente deve ser inserido em um 20 teoria.indb 20 28/9/2007 16:13:13 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio outro com o qual possa retomar suas trocas no tempo mais breve possível: caso contrário, sobrevêm à morte, cessa de existir a vida. É [...] típico da pesquisa biológica que a despeito da importância essencial revestida dos fenômenos atômicos, não é nunca possível controlar as condições externas cujo um único átomo é sujeito, na medida que isto resulta possível nas experiências fundamentais da física atômica. Em particular nós não estamos em condições de precisar quais são os átomos que pertencem efetivamente a um determinado organismo vivo, porque a cada função vital está associada uma troca de matéria pela qual os átomos são continuamente absorvidos e cedidos pela estrutura que constitui o ser vivo. A evidenciação é nossa. Este texto foi extraído de uma coleção de 15 textos, sob o título “ I quanti e la vita”, publicada em Turim por Boringhieri em 1965; tais escritos vão de 1929 até 1961; a citação está na p. 33. Estes textos, com outros elementos ali contidos têm fornecido a base para uma série de estudos fundamentalmente metodológicos e históricos sobre o relacionamento entre as Ciências Biológicas e as Ciências Físicas, com aplicações no campo da didática, e para elaboração de uma teoria original sobre o ensino integrado entre a física e as ciências da vida, chamada como para a mesma teoria de Bohr, “Complementarismo”. Tais estudos têm por núcleo a tese de aperfeiçoamento em Metodologia da Pesquisa Filosófica e em Filosofia das Ciências, que é lembrada na nota precedente. Dentre outro, observamos que também naquele caso, como em muitas outras espécies nos anos 1975/1985, encontramos a educação científica como um campo de aplicação, em muitos aspectos, ideal para uma elaboração pedagógica original e absolutamente geral. Isto é avaliado, por argumentos superficiais, como uma limitação do campo de interesse, em vez de como uma sua caracterização em realidade extensiva. Vida, portanto, neste sentido, é troca. E é troca contínua de matéria, de energia e de informação. Os dois primeiros são talvez mais visíveis, e freqüentemente se identificam. Porém, o terceiro não é menos importante, não menos essencial: e bastaria dar-se conta do fato que qualquer ser vivo, para obter matéria e energia das quais tem necessidade, deve saber como obtê-las. Unidade 1 teoria.indb 21 21 28/9/2007 16:13:13 Universidade do Sul de Santa Catarina A coisa se torna grandemente interessante quando se consideram os animais, sobretudo, os animais superiores. E aqui encontramos um dos pontos cruciais. O ambiente requer pelo seu intrínseco transformar-se, requer pela sua variabilidade que é presente, requer por outros fatores absolutamente análogos, não havendo em si algum programa apriorístico de compatibilidade com os seres vivos que o residem. O ser vivo para viver deve interagir com o ambiente, porém, não é dito que para isto (ou por outros motivos) tal interação seja possível na sua plenitude sem obstáculos ou dificuldades de algum gênero. É na realidade, geralmente o contrário: A existência de um relacionamento antagonista com a natureza, não é uma pérfida invenção humana, nem uma invenção da civilização hebraico-cristã: é a condição idêntica de existência para cada espécie de ser vivo. (Paolo Rossi) Este parágrafo, e outros que seguirão, foi retirado de um pequeno artigo daquele autor do qual vale a pena reportar o titulo completo: “O filosofo Paolo Rossi chama a atenção para o perigo de um exaurimento descontrolado do meio ambiente de velhas e perigosas utopias – Una scienza ragionevole puo’ salvare la natura. – Ilusório e arriscado sonhar com um retorno ao Éden que nunca existiu.” Este artigo foi publicado no jornal “Il Corriere della Sera” (Corriere Ciência), ano 117, n. 142 de terça-feira 16 de junho de 1992, p. 31 Da sua grande obra pela pesquisa histórico-científica italiana, basta lembrar os três volumes (de uma coleção de 5) da Storia della scienza moderna e contemporânea editada entre os anos 1988 e 1989 através da editora da UTET de Turim. Estas e as outras citações que daremos daquele artigo terão valores que permeiam por toda a Parte III, e não deverão ser considerados coincidentes com os parágrafos nos quais vierem inseridos. Esta interação pode ser, muitas vezes, possível e cômoda; porem pode ser, e de fato é freqüentemente, contrastada e conflituosa. Pode ser também idealístico pensar em uma natureza em pacifica harmonia. Porem assim a realidade natural não o é. Assim se exprimia a propósito C. S. Sherrington, ainda dentro do século XX, fazendo-se falar pela referida “Mãe Natureza” ao homem: 22 teoria.indb 22 28/9/2007 16:13:13 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Tu pensavas que eu fosse a moral, ora saibas que eu sou amoral. Como posso eu ser moral se sou cega de fronte à necessidade, se sou um evento puramente mecânico. Todavia, no fim tu irás adiante, tu que és moral. Sim tu és a única coisa moral em todo o mundo, e por inferência a única coisa imoral. Tu pensavas que eu fosse inteligente, e também sábia. Tu porém sabes que eu sou desprovida de razão, a maior parte de mim é desprovida de senso. Como posso raciocinar ou ter filhos se sou puro mecanismo? Se tu pensares um pouco, com o teu raciocínio poderás entendê-lo; tu, a única coisa pensante em todo o mundo, e conseqüentemente o único louco... Tu és meu filho. Não espere amor de mim. Como posso amar, eu que sou cega de fronte à necessidade? Eu não posso amar, nem posso odiar. Mas então que tenho levado adiante tu e teu gênero, lembra que tu és um novo mundo em ti mesmo, um mundo que contem graças a ti amor e ódio, razão e loucura, moralidade e imoralidade, bondade e maldade. Portanto deves amar quando sentir amor, ou seja, amar um ao outro. Recorda-te que em conhecer-me, talvez tu não aprendas outro que o instrumento de um Fim, o instrumento de uma Mão muito grande para a tua visão que agora te circunda. Procura portanto ensinar a tua vista a crescer. (Páginas 399 – 400 do Man on His Nature. Cambrige. Cambrige University Press, 1940. Citado em J. Eccles, op. Cit., pág. 153 -154). É de um certo interesse a comparação com o que escreve, de um ponto de vista diferente mas porem com convergência de conclusões em deferência a Karl R. Popper: Nós não podemos retornar a inocência e a beleza de uma sociedade fechada. O nosso sonho de um céu não se realiza aqui embaixo na terra. Assim que iniciamos a utilizar a nossa razão, a exercitar a nossa capacidade crítica, assim que advertirmos a chamada para a responsabilidade pessoal e com isto sentimos a responsabilidade de nos ajudar com o progresso do saber, neste momento não poderemos mais retornar ao estado de submissão, a magia tribal. Por ter experimentado da arvore do conhecimento, o paraíso foi perdido. [...] Se começarmos a reprimir a razão e a verdade, nós terminaremos, como conseqüência, com a destruição mais brutal e mais dura de tudo aquilo que é humano. Não existe nenhum retorno a um harmônico estado de natureza. E se nós nos voltarmos a isso, então deveremos percorrer a estrada inteira – deveremos tornarmo-nos animais.(Citado em D. Antiseri: Regole della democrazia e lógica della ricerca; Roma, Armando, 1977, 1977, p. 10). Unidade 1 teoria.indb 23 23 28/9/2007 16:13:13 Universidade do Sul de Santa Catarina E assim também, com Paolo Rossi: A idéia de que o homem possa voltar a submergir na natureza, como voltando ao útero de uma mãe benéfica, possa renunciar ao controle do ambiente, recuperando uma inocência perdida, é uma antiga e bem extremada ilusão. A idéia de que o homem, instigado por seus remorsos, possa regredir à infância da espécie e cancelar-se da natureza, não é só mítica como, mas é também absurda e perigosa. O mesmo vale pela forma, só aparentemente diferente, que esta idéia assume quando se apresenta como idéia da natureza.” (Artigo citado anteriormente). Assim se exprimia John Dewey: O homem se descobre vivendo em um mundo aleatório; a sua existência implica, dizendo-a cruelmente, um perigo. O mundo é a cena de risco; é incerto, instável, terrivelmente instável. [...] Os perigos do mundo são irregulares, inconstantes, não podem ser referidos a um tempo e a uma estação determinada. Por quanto persistentes, estes são episódios esporádicos. O momento mais escuro é aquele do alvorecer; a soberba precede a queda; o momento de maior prosperidade é aquele mais carregado de maus presságios, o mais oportuno para o mau olhado. A peste, a fome, a destruição das colheitas, a malaria, a morte, a derrota, estão sempre na curva da estrada, e assim também a abundancia, a força, a vitória, a festa e o canto. (Reportado por Renzo Tassi: obra citada; se refere, sobretudo, à Democrazia e educazione). A medalha da evolução tem duas faces Podemos dizer que o homem está exposto ao ambiente e ao risco da seleção natural, porém este se constitui na única espécie vivente em condições de transgredir desta necessidade biológica. O homem é também exposto às intempéries, porém, tem condições de obter dos animais e dos vegetais a sua proteção, e de construir para si refúgios, e de acender o fogo, fazendo com que também, aqueles indivíduos de sua espécie, que fossem menos adaptados a resistirem pudessem igualmente sobreviverem e, se for o caso reproduzirem-se. E, a propósito de Bruner, eis aqui um outro trecho em referência que faz pensar, em vez de a um Dopo Dewey, a um Dewey dopo Bruner ao qual Bruner aporta 24 teoria.indb 24 28/9/2007 16:13:14 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio qualquer coisa mais subjetivamente psicológico, lá aonde Dewey é todo atento ao homem sede de interações sociais: O retrato do homem desenhado por Bruner é aquele de um organismo que dispõe desde o nascimento, de um certo número de princípios ativos (estruturas ou idéias inatas) que, se de um lado explicam as primeiras formas da atividade cognitiva e comportamental do individuo, com relação ao mundo externo (processo adaptativo), por outro lado são sujeitos a transformações graças, sobretudo, ao seu habito social e cultural. (R. Tassi, obra já citada, p. 346). — A seguir, você vai estudar o fundamento do pensamento de Jerome Bruner. Quais suas bases e como ele percebia o processo pedagógico a partir dessas vertentes! SEÇÃO 3 - As raízes do pensamento de Bruner: o pragmatismo, um sistema pedagógico para o novo século? O Pragmatismo O fundador do Pragmatismo foi Charles Sanders Peirce (1839 - 1914); seus expoentes de relevo, nos Estados Unidos, foram William James (1842 - 1910), Georg Herbert Mead (1836 - 1931) e, aquele que mais contribuiu para o campo da educação e da democracia, John Dewey (1859 - 1952). A classificação dada a esta corrente do pensamento foi cunhada oficialmente em torno de 1872 por Ch. S. Peirce durante o encontro do “Club Metafísico” de Cambrige, Massachusetts, (do qual haveremos oportunidade de falar sucessivamente) compreendendo, dentre outros o próprio Peirce, estudantes e exestudantes de Harvard. Próprio da origem do nome deste movimento (derivado da distinção kantiana, entre as palavras praktisch e pragmatischl [14] ), Sini se propõe, como introdução ao trabalho, a dividir historicamente e filosoficamente em dois pragmatismos: aquele de Peirce, “que deseja exprimir um retorno às impostações originais Unidade 1 teoria.indb 25 25 28/9/2007 16:13:14 Universidade do Sul de Santa Catarina na convicção que tivessem sido obscuradas e confundidas”, salvaguardado com o nome de “pragmaticismo” (1904), e aquele de James, conhecido, então, na América e na Europa. Para a história do pensamento existe, assim, um pragmatismo oficial e um não oficial. Propriamente neste ponto, Peirce se destaca de James, julgando este desenvolvimento irracionalístico, “suicida”. Segundo Pierce, a função do pensamento é aquela de impor uma regra de ação, um “hábito”, um comportamento, ou seja uma “crença” (Belief). Porém, a tese de Peirce não teve a imediata ressonância, quase seguramente, como demonstra Sini, através do testemunho de James, Peirce era o “(...) mais curioso exemplo de homem rico de talentos que não conseguiu ser bem sucedido” (não obteve nunca uma cátedra universitária, nem conseguiu publicar aquelas dúzia de obras que tinha projetado de forma quase definitiva); enquanto isso, James, declarando de fazer um “uso mais amplo” da doutrina do significado de Peirce, quis traduzi-la em uma teoria metafísica e moral da “verdade”. James reivindicava o valor “prático” da fé religiosa, julgando-a dotada de um maior valor de verdade com relação ao intelectualismo científico. Vistos os desenvolvimentos, bastante diferenciados e a dupla alma inspiradora (lógica e “platônica” aquela de Peirce; voluntarística e empirística, de James), o pragmatismo tem por outro lado um único núcleo de convicções: uma concepção dinâmica e espontânea da inteligência (mind) e do conhecimento. Acolhida a tese darwiniana das variações espontâneas, que o ambiente tem a função de aceitar ou de rejeitar, mas não de produzir, o pragmatismo procura desenvolver evolutivamente e unitariamente o relacionamento indivíduo-coletivo em vários níveis: organismo-ambiente, sujeito-objeto, indivíduo-sociedade. Seguindo, assim, o trabalho de Sini, teremos três ordens de problemas: o problema da origem do pragmatismo no contexto cultural americano; 26 teoria.indb 26 28/9/2007 16:13:14 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio o problema daquilo que entendeu Peirce por pragmatismo; o problema do qual entendeu James por pragmatismo, não transcurando os vários aspectos secundários e as substanciais aplicações nas tentativas de renovar radicalmente a Psicologia e a Pedagogia. Kant contrapôs o valor “prático” (praktisch) da lei moral ao caráter “pragmático” (pragmatisch) dos imperativos da prudência. Conseqüentemente, Kant chama “antropologia pragmática” a consideração empírica do agente humano, distinta da “metafísica dos costumes”, que considerava em vez disso as ações debaixo do perfil moral puro. Peirce referindo-se a estas distinções kantianas construiu seu termo “pragmatismo para indicar a própria teoria lógica do significado, conexa aos “hábitos de resposta”. James adota o termo “pragmatismo”, referindo-se porém, não a Kant, mas ao étimo da palavra (do grego = feito, ação) e ao seu uso na doutrina conhecimento-moral de Protagora. Mas, como nasceu o pragmatismo? O nascimento do pragmatismo pode ser resumido em quatro pontos: o pragmatismo nasce como uma interpretação lógica do conjunto, proposta por Peirce; Peirce teve, mais do que todos, consciência viva do significado histórico dos encontros do Club Metafísico; o grupo teria um líder reconhecido em Chauncey Wright; o pragmatismo nasceu prevalentemente das discussões sobre o evolucionismo darwiniano de Wright, ele foi o representante reconhecido nos Estados Unidos. Wright é por isso o anel de ligação essencial de uma linha de desenvolvimento que vai do evolucionismo darwiniano ao pragmatismo nas suas diversas direções. Unidade 1 teoria.indb 27 27 28/9/2007 16:13:14 Universidade do Sul de Santa Catarina Quais os modelos explicativos segundo alguns autores citados neste estudo? Base de formação científica: Peirce era um químico, ocupandose também dos problemas de geografia; James era um médico com pesquisas em psicologia científica; Mead, um psicólogo; Dewey tinha tido uma formação equilibrada entre a filosofia e as ciências da vida. Entendendo melhor a máxima pragmática... A crença gera em nós um hábito, que se explicará no exercício da vontade: tornaremos claras as nossas idéias nas diferentes ações que as crenças fazer surgir em nós. Teremos assim vários significados nos diversos hábitos que uma crença produz; nascerá portanto, uma nova teoria do significado, ou seja o enunciado da máxima pragmática: “Considerados quais os efeitos, que possam ser concebíveis havendo importância pratica, nós pensamos (conceive = imaginamos) o que o objeto da nossa concepção tenha. Então, a nossa concepção destes efeitos é a inteira nossa concepção do objeto”. Porém, para serem claras verdadeiramente as nossas idéias, deveremos ter claro, antes de tudo, o conceito de realidade; provamos, então, aplicar a este a nossa regra: “a realidade consiste [...] nos efeitos particulares sensíveis que as coisas que participam a esta, produzem. O único efeito que as coisas reais tem é de causarem a crença. [...]. A questão, é portanto, como distinguir a verdadeira crença [...] da falsa crença [...] Porém, para a solução deste problema se recorre ao procedimento científico, que resulta ser a forma melhor de estabelecer a crença; se terá assim definida a realidade: “A opinião a cujo fato é que por último se encontre de acordo sobre esta todos aqueles que perguntam”; o objeto representado nesta opinião é de fato o real. A realidade é dependente do pensamento em geral, se bem que não dependa daquilo que qualquer homem possa pensar. 28 teoria.indb 28 28/9/2007 16:13:15 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Peirce julga, assim que por este conceito seja encontrada uma clarificação satisfatória, em virtude da aplicação da máxima, cuja verdadeira fecundidade aparecerá quando vir aplicada às regras do raciocínio cientifico: isto consentirá, também, em tornar verdadeiras as nossas idéias. Mas você já pensou como é possível tornar verdadeiras as nossas idéias? É muito simples: tornando pública a realidade: o método científico é o único pressuposto para tornar possível o acordo de uma realidade configurada como possível, um possível acordo das investigações objetivas com os fatos, o caráter emergente da experiência “social” ou “pública”. A realidade depende da ciência como pesquisa infinita, pública e universal. De tudo isto dependerá uma nova teoria da indução que se colocará em claro contraste com as lógicas de Mill e Wright, e propriamente destes diversos fundamentos nascerá a geral cumulativa “filosofia lógica” de Peirce. Não considerando os aspectos mais técnicos da teoria lógica de Peirce, vejamos como, no isolamento de Milford, 1890 – 1894, ele se esforçou em sintetizar o seu pragmatismo para dar-lhes um caráter de “sistematicidade e integralidade/complementariedade”: nascerá assim o pensamento cosmológico, porém o sistema filosófico permanecerá confiado à fragmentareidade de seus escritos. Nesta síntese, Peirce ressalta quais são os acordos e os desacordos com Wright e o darwinismo. Vinha rejeitado o mecanicismo newtoniano ao qual Wright opunha-se com argumentos de metodologia cientifica e Peirce os agregava com razões religiosas: o universo é um processo retilíneo de uma razão histórica, não um mecanismo retilíneo de uma razão geométrica: Wright sustentava que o universo fosse um conjunto de infinitos acasos, constituído de um “clima cósmico”, identificado por Peirce na teoria do Tiquismo. Um ou comum dissenso entre Wright e Peice é sobre o método de Spencer, no qual, as proposições gerais são fórmulas expositivas. Unidade 1 teoria.indb 29 29 28/9/2007 16:13:15 Universidade do Sul de Santa Catarina Mas, a verdadeira diatribe entre os dois se estendia ao modo de considerar o “fato” e a “forma”. Uma concepção evolucionistica não pode intuir o fato real na sua singulariedade e a forma como pura abstração mental: segundo Peirce, cada processo é um movimento, cada movimento é um escopo em tensão endereçado para a forma. Se vai da idiossincrasia do ser, até a conformidade do “pensamento geral”. A evolução é assim, a conquista de um escopo, que se transforma em desejo (volição); aquilo que vem desejado é sempre um fato que, na tentativa de ser obtido, o desejo faz-se sempre mais especifico. Um hábito se torna, assim a encarnação de uma idéia geral: o problema da natureza vem resolvido na chave pragmática. O pragmatismo de Peirce é, portanto, “a estreita ligação entre a teoria do significado e a análise evolucionística da natureza dos hábitos”. Para Spencer existia uma só ordem de fenômenos, porém James aceitou de bom grado a teoria de Darwin: “as variações espontâneas justificam o caráter criativo dos fatores da experiência”. Esta aproximação de James ao darwinismo é a primeira base para a sua teoria pragmática da inteligência e do significado, e nunca para James, o pragmatismo é uma aplicação do evolucionismo darwiniano; torna-se uma conseqüência que ultrapassa de muito os “limites” científicos de Darwin, aqueles epistemológicos de Wright e após aqueles lógicos de Peirce: o interesse de James será o caráter psicológico do pragmatismo. (22) James individualiza, assim, ao lado do desejo lógico, um desejo psicológico, porem a pergunta inicial será sempre a mesma, com relação ás coisas, mas não com o caráter teórico de Wright e de Peirce, mas com um significado prático: uma filosofia será aceita universalmente se definir o futuro de maneira adequada às nossa faculdades espontâneas. No texto científico de 81 “Reflex action e Theism” a elaboração teórica é vista como momento mediano entre dois extremos (das impressões sensoriais às ações). É interessante notar que existem portanto, três momentos: a impressão sensorial, a reflexão e a ação; esta última é o campo onde os pensamentos elaboram as decisões e propósitos. A mente é então um mecanismo teleológico: trabalha para atingir o fim da ação e é possível perceber como James teria tomado em serias considerações o conteúdo do texto científico de 78 de Peirce no 30 teoria.indb 30 28/9/2007 16:13:15 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio qual o pensamento tem como único significado o tornar possível a ação. Estes êxitos são justificados por James como um teísmo, enquanto Peirce como o processo da ciência. Perceba que a propósito de exaltar a Psicologia como Ciência, determinou em James, uma precisa impostação metodológica, que se refazia ao método das ciências naturais, porem este será um passo não privado de implicações filosóficas ou “metafísicas”. Nas primeiras páginas dos “Princípios” ele afronta esta estrada e subitamente se delineia qual será a sua teoria: ele afirma que a espontaneidade da mente é seletiva e reduz a totalidade do fenômeno a fatores parciais. A ação voluntária surge assim da interação de mais fatores; de tal forma o cérebro e a consciência podem operar em conjunto. Cabe destacar que este interacionismo não é nenhum outro que uma inteligente aplicação psicológica da teoria darwiniana: o progressivo automatismo dos centros nervosos é fruto da evolução. É de se estabelecer que esta evolução exista. O relacionamento entre a atividade mental e aquela cerebral tornase sempre mais intrincado, porque aquilo que primeiramente era ainda objeto de decisão agora se torna hábito. Observa-se como esta não apareça como o desenvolvimento da tentativa de Wright de explicar “A evolução da consciência e o surgimento da autoconsciência”, porém, este desenvolvimento esquece aquela teoria dos sinais que o próprio Wright transmitiu a Peirce e que servia para entender as atividades psíquicas e aquelas superiores. Aqui se nota o distanciamento entre James e Peirce, aquele distanciamento da lógica que terá lugar por uma diferente interpretação da “máxima pragmática”. Se disse primeiramente “hábitos”, portanto, James no capítulo IV dos “Princípios” a identifica com o conceito de matéria: tem a mesma propriedade da matéria. O hábito é fruto da “plasticidade” (Possuir um estrutura muito débil para aceitar a uma determinada influência, mas suficiente forte para não ceder tudo de uma vez”) dos materiais orgânicos de cujos corpos são compostos, porém o esforço de demonstrar como a atividade seja um nexo com aquela mental, tem perdido para o leitor de hoje a sua importância; muito mais interessante é, por outro lado, o estudo da mente “pela via introspectiva” que James expõe no capítulo IX: ele. afirma que o pensamento se pode dizer somente que existe e age. Unidade 1 teoria.indb 31 31 28/9/2007 16:13:15 Universidade do Sul de Santa Catarina Este é o inteiro complexo da corrente da consciência e a cada consciência pessoal é fornecida de um pensamento. No pensamento as sensações nunca se repetem, aquilo que vem sempre reconhecido é o objeto. Não se experimentam, portanto, as sensações, mas existem os contextos da experiência em continua mutação e as sensações sobrevêm como terminais de relações (teoria das relações). Os objetos das sensações são em seguida os escopos préescolhidos da atividade inteligente. O pensamento, assim não se forma sobre as relações, mas sobre os objetos levados por este. Em argumentação, James polemiza com os idealistas que negam que estes sejam as “ilusões verbais”, mas não o cortam entre os fatos da experiência; para James, as relações são uma realidade consciente, se bem que esses não sejam traduzíveis nos termos do linguajar comum; o importante não é aquilo que eles são, mas a coisa que esses fazem: nos dão sensações de coisa definidas. Nos capítulos sucessivos, James retira da inspiração peirceriana um elemento essencial do pensamento do amigo: o significado como escopo da pesquisa, mas ele não entende o valor inferencial que coloca uma nova lógica; a redução do significado em escopos práticos não é outro que a superfície da teoria pragmática do conceito. Para James o significado é teleológico. O verdadeiro conceito que James desenvolve e que para nós tem grande interesse é psicogênese: a tendência em pensar certas coisas como as relações lhe explicam; como a mente é a resultante dos fatores do ambiente. O resultado será muito contraditório porque como se lamentava Peirce, James não era de acordo em pensar de maneira lógica e se encontrava diante, talvez sem se dar conta, de erros grosseiros sob o ponto de vista filosófico; a questão se reduzirá a isto: se a ordem dos dados dos sentidos seja suficiente ao menos para explicar a ordem das coisas. A resposta é negativa e vêm indicadas em duas vias pelas quais uma raça animal pode lutar em meio às condições do ambiente: uma é aquela de adestramento de Spencer, a outra é aquela da variação acidental de Darwin. Nesta segunda hipótese James vê toda a relação entre a psicogênese e a realidade objetiva da experiência. — Mas vamos adiante! Analisemos os pressupostos da educação em Dewey. 32 teoria.indb 32 28/9/2007 16:13:15 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio SEÇÃO 4 - J. Dewey e a educação progressiva A nossa confiança vai portanto, na direção da mensagem do pragmatismo americano, e que depois com John Dewey obteve a sua concretização pedagógica altíssima também neste século. Confiança na educação progressiva. E, igualmente, confiança nas raízes mais autênticas do Ativismo Pedagógico, assim como, este é historicamente detalhado ou desenvolvido na Europa. Nós nos reportamos, para rigor e precisão, propriamente à corrente de pensamento e de trabalho que tinha a liderança de Pierre H. Bovet (1878 – 1965) quando ao final da década de 1910, criou a expressão; termo este que foi retomado depois por Adolphe Ferrière (1879 – 1960) nos anos seguintes, também a propósito das denominadas ècoles nuovelles; e não da sua releitura italiana, depois da segunda guerra. Dewey foi um educador progressista que criou as bases para o movimento da Escola Nova que teve grande repercussão no Brasil. A obra mais conhecida de Dewey é “Educação e Democracia”, Editora Colin, Paris, 1990. Efetivamente Dewey, um teórico de base do Ativismo Pedagógico “Histórico”, não prestava atenção tão e somente a um ativismo genérico e de qualquer tipo, porém, a uma pedagogia que se qualificava mediante instrumentos conceituais bem fundamentados como aqueles de continuidade e de interação. Assim dizia novamente Renzo Tassi: A transformar a escola autenticamente ativa no sentido desejado por Dewey não é propriamente a atividade, mas a idéia que a atividade deve ter um desenvolvimento, e isto é deve conhecer uma qualquer ação. (Itinerari pedagogici del Novecento; Bologna, Zanichelli, 1992, pág. 305). Note que Dewey, na realidade, preferia empregar o adjetivo progressivo, como o já mencionado Washburne, seu aluno e experimentador de suas teorias; mas esta terminologia fim, que também possui a sua importância, não impede de reconduzir a ele o Ativismo “histórico”, assim como de reconduzir o seu “Instrumentalismo lógico”, ao tronco do Pragmatismo, compreensivamente interpretado. Com base neste discurso, podem ser individualizados fatores como os que seguem: Unidade 1 teoria.indb 33 33 28/9/2007 16:13:15 Universidade do Sul de Santa Catarina centralidade do homem, não como pessoa e nem tanto como individuo, mas como elemento de uma espécie viva que tem as prerrogativas, sem alguma correspondência significativa em todas as outras; evolutividade, com atenção essencial para a evolução cultural, da qual somente o homem é capaz em forma não puramente com vestígios mas próprio em virtude das prerrogativas acima indicadas; centralidade da educação justificada e redefinida propriamente neste contexto; democracia como informadora da educação e, juntamente como seu produto, entendendo-se em senso progressivo, também com respeito aquele rousseauriano, assim como essa se evoluiu propriamente nos últimos decênios do século XX; cientismo essencial, no entanto, não exaustiva sem resíduos da temática educativa, que se manifesta essencialmente com respeito de regras peculiares da ciência como a problematicidade, o senso teórico, a coerência lógica, a controlabilidade factual, o senso histórico – crítico; atividade em educação, entendimento ou acordo, não naquele senso genérico (cfr. a citação referenciada de Calò) que consentido em aplicar a etiqueta do ativismo e experiências de todos os tipos, ma como já foi dito, atividade desenvolvida em seguida da posição de problemas, projetualmente, na interatividade estudada com o ambiente e com o educador, com continuidade, com processualidade, com finalização a evolução cultural humana; liberdade para o educando, que outro a não ser permissão (e em seguida admitir regras), a requer para ser maximizada nas suas potencialidades e no seu exercício juntamente a cada um; 34 teoria.indb 34 28/9/2007 16:13:15 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio sociabilidade em educação, como elemento caracterizado e específico (não se trata de justapor educandos, nem de reproduzir um ambiente social qualquer, mas de fazê-los trabalhar juntos para resolver problemas comuns segundo regras comumente aceitas, em uma ótica de espécie); crítica dos fins, necessariamente implícita e radicada com qualquer discurso, seja de pratica educativa ou de reflexão da educação, o que a faz outra que seja ciência ou somatório de ciências (domínios no interior dos quais, como notório a quem fala com conhecimento de causa e não somente por ter ouvido dizer, a critica dos fins, não existe); senso histórico, do se tornar histórico e da crítica histórica de tudo aquilo que é humano (e nada é mais humano que a educação e a cultura). e sempre, seja como for, a concepção da idéia pelo homem, em educação como em outro lugar, em todos os domínios igualmente humanos, sem nenhum espaço para o vice-versa. Para Saber mais! J. Dewey nasceu em 20 de outubro de 1859 em Burlington (Vermond, EUA) de uma modesta família de comerciantes. Estudou na universidade local. Se aprofundou em latim, grego, matemática, história antiga, ciências naturais; se encontra com o evolucionismo da escola escocesa e com o Com. Harris, o editor hegeliano da revista “Speculative Philosophy”, o encoraja a inscrever-se na John Hopkins University de Baltimore, onde é influenciado por Morris. De 1884 a 1886 trabalha na Universidade de Michigam, incluindo um ano transcurso na Universidade de Minnesota, primeiramente como instrutor e depois como professor. Neste meio tempo esposa-se com uma aluna sua, Alice Chipman, da qual tem seis filhos. De 1894 a 1908 esta em Chicago, onde tenta a experiência da University of Chicago Elementary School: um laboratório de psicologia e de pedagogia experimental. A experiência falha sobretudo pela incompreensão das autoridades acadêmicas e ele então se transfere para a Columbia University de Nova York, onde permanece até sua honrosa jubilação (1929). Daquele ano até a sua morte, ele se torna “o embaixador segue Unidade 1 teoria.indb 35 35 28/9/2007 16:13:16 Universidade do Sul de Santa Catarina intelectual dos Estados Unidos no mundo”: ministra cursos, conferências, contatos com colegas (Doodbridge, Montagne, Lovejoy), e alunos (Schneider, Randall, Kilkpatrik, Hook, Childs, Ratner) em todas as partes do mundo. Se interessa pela política liberal em senso progressista, porem falha na tentativa de criar na América, alem do partido Republicano e do Democrático, um partido radical. Sua longa vida de mais de noventa anos se apaga, após a experiência trágica da segunda guerra mundial, que influi também na revisão de alguns extratos de seu pensamento precedente, no dia 2 de junho de 1952 em Nova York A atividade de publicista, foi muito intensa em Dewey. Entre as suas obras principais, de acordo com a visão italiana, foram: Etics, publicada em colaboração com Tufts, em New York em 1908. How We think, Boston ,1910. School of tomorrow, New York, 1915. Democracy and Education, New York, 1916. Reconstruction in Philosophy, New York, 1920. Human Nature and Conduct, New York, 1922. Experience and Nature, Chicago, 1925; 2a ed. New York, 1929. Art as Experience, New York, 1934. A common Faith, New Heaven, 1934. Logic: Theory of Inquiry, 1938 (talvez sua obra mais orgânica). Theory of Evaluation, Chicago, 1939. Education today, New York, 1940. My Pedagogic Creed, New York, 1897. The School and Society, Chicago, 1899 e 1915 . Problems of Men, New York, 1946. From ,Absolutism to Experimentalism, autobiografico, da Coleção montado por J. H. Muirhead. Contemporary , American Philosophy, New York,1939. 36 teoria.indb 36 28/9/2007 16:13:16 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Neste contexto, poderemos considerar um corolário de tudo aquilo, que depois vem a se configurar como um outro pilar do mesmo sistema, a procura pelo melhor: pesquisa esta, nas coisas humanas que são para eles redigidas sempre imperfeitas e sempre perfectíveis, é possível em cada caso; e que a nossa visão de humanidade (Menschlichkeitanschauung, anotado), é humanamente deontológica. O que se contrapõe objetivamente a cada pretexto de impor uma qualquer forma de Bem absoluto que, nas coisas humanas e terrenas, não existe e não pode existir, e historicamente utilizado não para promover o homem, mas para imobilizálo a qualquer – a priori habitualmente prefi xado por quem deseja servir-se da educação para impor fins próprios. O que não é democrático, e também é anti-evolutivo: em suma humanamente incongruente Então está explicada o texto escrito no retro-frontíspicio. Predisposição para aprender e organização do conhecimento: o projeto homem Primeiramente, é importante dizer que as chaves conceituais são representadas pela idéia de “homo sapiens” e daquela de “homo faber”: não há importância neste momento entrar na análise profunda de uma ou de outra conotação da espécie humana, nem o nível de correspondência entre uma e outra. Aquilo que para nós é determinante é o fato que a espécie humana apresenta simultaneamente ambas as conotações. O homem é tal, com suas particularidades em relação a todas as outras espécies de seres vivos, por quanto é o único capaz de evoluir culturalmente. Faltando esta, é ele somente um animal como os outros, e não haveria nenhum fundamento e nem senso falar de educação, ou de didática de alguma disciplina (e em particular, daqueles tanto caros a certos pedagogistas anti-científicos do passado, que eram por eles mesmos definidos como “humanistas” com uma vangloriosa exclusividade que é agora claramente fora de lugar). Poder-se-ia falar apenas de imprinting ao nascer, e sucessivamente de adestramento, talvez. E relembramos que também aqui esta o especifico da pedagogia: a existência de seu objeto específico, o homem educável. Unidade 1 teoria.indb 37 37 28/9/2007 16:13:16 Universidade do Sul de Santa Catarina É ingênuo repetir que a natureza humana tende espontaneamente à democracia; a antropologia tem demonstrado que a tão falada natureza é essa mesma em grande medida um produto da cultura, e a cultura contemporânea favorece a dependência, a fuga da insegurança na busca por estabilidade e de autoridade [...]. (in: Renzo Tassi, obra citada, p. 302). Não existe, portanto, homem sem a natureza; mas o homem enquanto tal, é natureza humanizada mais cultura. Tem-se dito, que o homem, começa a ser homem no momento ao qual é sujeito da cultura, e não mais um simples fenômeno biológico (não mais somente uma vida). Nesta duplicidade , e na necessidade canônica de harmonização entre os dois termos, esta parte notável dos objetivos da formação. A evolução cultural e a história do homem Pode ser de qualquer indiscutível interesse a indagação sobre a função que revestem diversas peculiaridades somáticas do homem nesta sua singularidade evolucionista (e não somente). São finalmente de domínio comum os discursos, a exemplo, sobre o dedo polegar oponente, que possibilita uma habilidade para utilizar as mãos, excepcionalmente superior aquela dos primatas, e portanto lhe permite, seja de fabricar utensílios seja de empregá-los com eficácia muito maior. Ou então, andar de forma ereta e sobre a particular conformação dos pés, que consente de mover-se e de usar as mãos ao mesmo tempo, por exemplo, de permiti-lo em combater correndo, de grande vantagem na luta com alguns animais. Há ainda uma vantagem decisiva: e é aquilo que consente a cada geração de utilizar-se de tudo quanto foi adquirido pela geração precedente, de envolver, e de transmitir à sucessiva para que prossiga com tal processo. Trata-se da capacidade de evolução cultural. A problemática evolutiva nasce propriamente aqui: a educação como condição necessária da evolução biológica; tudo aquilo que, na comunicação inter-pessoal, seja ela como for veiculada, quer seja diretamente ou não, tenha sido lida na ótica da evolução cultural 38 teoria.indb 38 28/9/2007 16:13:16 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio do homem, é educação. E as ciências da formação lhe asseguram o estudo e a explicação. SEÇÃO 5 - A árvore da evolução e a centralidade do problema da mente com relação à formação Se a mente pode ser definida como qualquer coisa que tem experiências típicas, isto é que pensa em eventos ou em objetos que estão longe no tempo e no espaço do fluxo imediato das sensações; se uma intenção implica em imagens mentais de eventos futuros nos quais o sujeito imagina-se como participante; se a presença de imagens mentais e o seu emprego é usada para regular o comportamento, fornecem uma definição pragmática da consciência. Os dados da psico-biologia indicam a impossibilidade de negar uma aproximação unitária ao problema evolutivo e cultural da espécie. Como conseqüência não é mais possível sustentar um comportamento dualístico em confronto com o problema, mente – cérebro corpo. Não se trata somente de mecanismos “de base” quais sejam a memória e o aprendizado, o sono e o sonho, fundamentalmente iguais por quanto se compara a suas bases biológicas no homem como em muitos animais. Também os processos bem mais complexos como comportamento de decisões, as estratégias e os esquemas mentais, o aprendizado complexo e a comunicação simbólica, indicam que existe uma continuidade, e não uma fratura entre animais e o homem. Desde há alguns decênios atrás, a exemplo, se sustentava que a memória implicasse em mecanismos de adaptação tipicamente “humanos”, que prescindissem dos mecanismos instintivos que ao contrário, teriam guiado os animais: nos dias de hoje foi tornado claro como os mecanismos da memória animal, as bases bioquímicas da memória, não são diferentes daquelas humanas e como em geral, os processos miméticos representam a mesma base dos processos da inteligência. Unidade 1 teoria.indb 39 39 28/9/2007 16:13:16 Universidade do Sul de Santa Catarina Do ponto de vista evolucionista existe de fato, uma progressão que permite passar da memória de reconhecimento, presente nos invertebrados para aquela evocativa, própria dos primatas superiores e do homem, através de uma evolução que se realiza através da memória reconstitutiva. De outra parte, se da memória passamos ao setor dos esquemas mentais, nós tomaremos conhecimento, como o seu estudo nos animais, nos conduza diretamente ao problema do auto-conhecimento. Um exemplo indicativo nos é fornecido por D. Griffin e refere-se aos morcegos empenhados na eco-localização, nem tanto pelo sucesso e habilidade deles, mas quanto a situação na qual a sua orientação não é bem sucedida. O vôo deles é regulado pelos ultra-sons que eles emitem, e que permitem a eles de evitarem obstáculos e de capturar os insetos. Porem, quando voam em ambientes totalmente familiares, muitos morcegos confiam na memória e nos esquemas espaciais: mesmo continuando a emitir ultra-sons de orientação de maneira normal, os morcegos se chocam com os obstáculos colocados de ultima hora, entretanto evitam obstáculos removidos improvisamente. Isto demonstra que no seu cérebro deve existir qualquer forma de mapa interno que representa o ambiente familiar. A predisposição para aprender como fator genético – evolutivo Este tipo de comportamento pode ser assimilado com uma série de outras capacidades complexas que através do uso de processos de generalizações ou a formação de esquemas simbólicos, permitem aos animais adaptar-se ao ambiente com comportamentos extremamente sofisticados. Veja exemplos: 40 teoria.indb 40 28/9/2007 16:13:17 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio 1. Se um animal vê desaparecer atrás de uma tela um objeto, um pedaço de comida que se move ao longo de uma linha horizontal, ele prevê o reaparecimento andando a procurá-lo na parte oposta daquela cujo objeto desapareceu: e não são somente os mamíferos mais complexos, a darem prova deste comportamento de antecipação que, como tem indicado Bower, já é presente na criança a partir do 3º - 4º mês de vida. 2. Outro exemplo da formação de complexos esquemas mentais é claramente evidente nos estudos conduzidos em primatas não humanos, cujas necessidades cognitivas prescindem daquelas perceptivas: esses chegam de fato a fornecerem juízos baseados na quantidade de líquidos e sólidos e a conservarem os dois tipos de quantidades, apesar da transformação de suas formas, demonstrando assim o respeito aquelas “regras” que, como já havia indicado Piaget, são evidentes na criança de 5 a 6 anos. Em um livro escrito há dez anos por M. Black assegurava que seria inconcebível descobrir insetos ou peixes, pássaros ou símios, capazes de falar um com outro. O homem seria, de fato, o único animal capaz nem tanto de falar, mas quanto de usar símbolos, o único animal verdadeiramente capaz de compreender e se fazer compreendido. Sobre esta essencial habilidade se baseia tudo aquilo que nos chamamos de civilização: sem esta, segundo Black, a imaginação, o pensamento – até a autoconsciência – seriam impossíveis. Esta posição foi freqüentemente sustentada por Noam Chomsky que compartilha a velha teoria cartesiana segundo a qual os animais fundamentalmente, autômatos dotados de comportamento reflexo, enquanto a capacidade simbólica e a linguagem constituiriam a essência da humanidade. Hoje, e em particular no campo da comunicação: os experimentos completados nos últimos decênios, por B. Gardner e R. Gardner, por D. Premack e por D. M. Rumbaugh, com os chipanzés, indicam na realidade, que estes são capazes de uma produção simbólica e de uma linguagem icônica, porém de grandíssima simplicidade. Memória e aprendizado, mapas mentais e processos de generalização, capacidade simbólica e de comunicação, comportamento colaborativo e de decisão, que implicam numa intencionalidade qualitativamente não diferente Unidade 1 teoria.indb 41 41 28/9/2007 16:13:17 Universidade do Sul de Santa Catarina daquela evidente no homem, tem colocado sempre mais em crise, as posições dualistas mais radicais. Exortando os simpatizantes da dicotomia mente-cérebro, a pesquisarem em outros aspectos as diferenças comportamentais ou orgânicas a essência da verdadeira humanidade. Portanto aquilo que um tempo atrás era para Cartesio a glândula pineal, parece ser hoje, em nível mais sofisticado, o hemisfério esquerdo, a metade do cérebro que em todas as pessoas – salvo os canhotos – é encarregado das atividades lingüísticas: do mundo da consciência no senso objetivo, das produções intelectuais ou filosóficas, como as teológicas ou as cientificas – da linguagem e da cultura transmitida, o assim chamado mundo 3, segundo as teorias de Popper e Eccles. Se pudéssemos ter experiências e consciência a nível subjetivo, graças aquilo que os dois estudiosos definiram como um verdadeiro e próprio órgão de ligação entre cérebro e mente, entre o corpo e alma, e que não receberia interferência de uma contraparte simétrica estaria presente somente no cérebro humano, ou seja no hemisfério esquerdo. Seria este hemisfério a permitir a diferenciação clara entre o homem e os animais, de maneira a explicar em termos essencialmente mecanicistas somente o comportamento das espécies não humanas; neste sentido as assimetrias entre os dois hemisférios cerebrais, parecem apresentar características ideais: a assimetria não seria de fato presente nos primatas não humanos, que são incapazes de comunicação verbal. Um elemento complementar que jogaria a favor destas teses, deriva das pesquisas que R. W. Sperry conduziu em pessoas nas quais os dois hemisférios foram separados, por um trauma ou por motivos cirúrgicos, de uma secção do corpo caloso, a parte de matéria cerebral que une como uma ponte os dois hemisférios, o direito e o esquerdo. O “cérebro dividido” assim obtido, indica que a atividade dos dois hemisférios è completamente independente com relação às informações visíveis e táteis, que a estes chegam, assim como para os comandos motores que estes enviam às partes do corpo por eles comandadas. 42 teoria.indb 42 28/9/2007 16:13:17 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Nos pacientes cujo corpo caloso foi seccionado o hemisfério subordinado – o da direita – pode de fato reconhecer a distancia de tempo, os objetos dos quais tenha tido experiência precedente – e de cujo hemisfério esquerdo não tenha tido experiência através de um artifício técnico: contudo o sujeito é incapaz de identificar oralmente ou por escrito o objeto que ele tenha reconhecido indicando-o com o dedo. O hemisfério não dominante pareceria, portanto, desenvolver muitas das funções mentais que habitualmente são consideradas conscientes mas são privas da capacidade de referi-las verbalmente. Em essência, o hemisfério não dominante, que é normalmente em conexão com o esquerdo através do corpo caloso, mesmo que dando a sua contribuição à atividade do “cérebro de ligação” entre a mente e a matéria, e sendo as áreas das idealizações da linguagem colocados no esquerdo, não entraria em contato com o mundo 2, da consciência: o hemisfério menor assemelharia, portanto, o cérebro animal. Todavia, a programação genética do hemisfério esquerdo e daquele da direita, parece não ser assim rígida, de forma a impedir uma troca de papeis entre eles: em crianças com idade inferior aos cinco - seis anos, e em casos excepcionais também em idade um pouco mais avançada, as lesões da área lingüística do hemisfério esquerdo, podem ser compensadas por um desenvolvimento e pela plasticidade do hemisfério direito. Diante destes dados, a resposta dualística é de criar uma hipótese de que o órgão de ligação entre o mundo 1, dos objetos e do estado físico, e o mundo 2, dos estados de consciência, sejam transferíveis à vontade, da esquerda para a direita: Todavia a falta de uma “sede própria” do órgão de ligação não é somente o problema relacionado às posições dualísticas: as diferenças entre os dois hemisférios não são com efeito, limitadas a espécie humana, e em muitas espécies animais o hemisfério esquerdo é já caracterizado por funções diversas, indicando de tal modo que a especial diferença do cérebro esquerdo representa na espécie humana um produto original de uma longa evolução. Unidade 1 teoria.indb 43 43 28/9/2007 16:13:17 Universidade do Sul de Santa Catarina A organização do conhecimento: o desejo de construir escalas hierárquicas A unicidade da mente humana, a separação entre a mente e o cérebro, entre matéria e espírito, o chamado salto dialético do cérebro humano, tem representado um terreno de convergência, freqüentemente surpreendente, entre espiritualistas e marxistas; entre os simpatizantes da ameaça da máquina e os apoiadores da idéia de uma máquina como produto essencialmente histórico, como somente um fruto de tensões dialéticas. Mas, a tendência em separar com um corte preciso, o homem dos animais, a mente da matéria, pode também ser enquadrada em uma vasta propensão humana, aquela de construir escalas graduatórias, de ordenar a realidade em uma série de complexidade crescente, de colocar ao longo dos degraus de uma escala, objetos e idéias em progressiva evolução. Uma tendência que tomou corpo com Aristóteles e que tem desde então, permeado grande parte da filosofia, da metafísica e da ciência ocidental: o conceito de hierarquias e de ordens que permitem, com efeito, dar ao homem um posto no vértice da escala e no centro da criação, assim como antigamente existia uma visão geocêntrica do universo. Na tentativa de encontrar uma ordem lógica em um universo que parecia caótico, Aristóteles idealizou diversos tipos de esquemas para classificar os animais. Estas classificações, apresentadas no De partibus animalium, eram baseadas nas características mais diversas, como por exemplo o número de patas, sobre o fato de que uma espécie fosse ovípara ou ovovivípara, sobre mecanismos reprodutivos e assim por diante. Bastante sofisticado nos seus critérios de classificação, Aristóteles propôs também que as varias categorias de animais viessem colocadas ao longo da escala graduada de complexidade crescente, ou melhor de crescente perfeição em cujo vértice figurava o homem. Note que embora Aristóteles não pretendesse que esta classificação dos animais relembrasse cada uma de suas características, os seus discípulos, mais radicais que o mestre, 44 teoria.indb 44 28/9/2007 16:13:17 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio propuseram em seguida que os animais viessem classificados em relação a uma dimensão unitária, gradual e continua, sobre uma base de níveis crescentes de perfeição. Segundo este tipo de classificação, por Levejoy, denominada escala naturae ou a grande cadeia dos seres vivos, as esponjas e outros organismos considerados como informes, ocupam o posto mais baixo da escala, os degraus intermediários são ocupados por insetos, peixes, répteis, pássaros e mamíferos vários, enquanto que o homem se senta no degrau mais alto da escala. O conceito da escala naturae assume em seguida um significado teológico, em quanto Deus era um ser perfeito e as outras criaturas animais representavam copias de crescente imperfeição. Os anjos eram com efeito, as cópias menos perfeitas, o homem mais imperfeito ainda, os símios se destacavam em muito e assim por diante, ao longo dos degraus descendentes da escala, até as esponjas. O fascínio do conceito de escala naturae é atestado por sua persistência através dos séculos e por sua influência sobre o pensamento cientifico contemporâneo: o seu recente correspondente é a escala filogenética, um termo que é o equivalente evolucionístico da escala naturae, que implica os conceitos de hierarquia, de ordem e de crescente complexidade, e que vem freqüentemente usado em relação ao comportamento. A idéia geral é que, quando se sobe os degraus da escala, dos peixes aos primatas, os níveis filogênicos “mais elevados” são caracterizados por uma mais complexa determinação do comportamento: o significado de nível filogênico não vem geralmente definido mas é implicitamente subentendido que o nível comportamental de um organismo vem determinado em razão de sua vizinhança ao homem na escala natural. O conceito de escala naturae, da passagem do simples ao complexo, dos animais-máquina ao homem-espírito, do ame des betes ao ame des hommes é um conceito-chave de cada teoria cosmogônica, também de muitas teorias atuais. De outro lado, desde a Idade Media, o universo vinha sendo considerado nos termos de uma série de níveis ou extratos de crescente complexidade, segundo uma idéia que reflete concepções Unidade 1 teoria.indb 45 45 28/9/2007 16:13:17 Universidade do Sul de Santa Catarina baseadas em diferenças hierárquicas, e ordenada direcionalidade, como indica também a ordem das hierarquias celestes, serafíns, querubins e tronos, dominações, virtude e poder, principados, anjos e arcanjos. Veja que não é portanto, somente o homem um ser diferente na sua essência das outras espécies, sendo caracterizado por um resíduo não analisável em termos materialistas, mas são também criaturas que povoam a metafísica, a distanciar-se deles em uma escala de atitudes. Outro aspecto da tendência em ordenar por níveis de complexidade crescente, em estabelecer hierarquias no âmbito próprio da espécie humana, relembra os comportamentos com relação à infância: com efeito, quando era ainda no auge o cuidado de crianças através de babás, e os relacionamentos afetivos mãe-bebê eram bem escassos, ao menos nas classes mais favorecidas. Quando as crianças eram escassamente prezadas como indivíduos por causa da elevadíssima mortalidade infantil, que fazia com que fosse precária a sobrevivência, quando a família não era ainda tornada nuclear e as crianças consideradas como objeto de afetos intensos e totalizantes, a psique infantil era considerada como uma psique de segunda categoria, quase animal: o neonato era considerado como um autômato, capaz apenas de reflexos, e a criança como um pequeno selvagem a ser aculturado. Mano a mano, todavia, a psique infantil foi objeto de uma atenção crescente, como demonstra o enorme e recente desenvolvimento da psicologia infantil, como em seqüência a psicologia neonatal e, mais recentemente, o comportamento fetal. A fronteira entre o material e o espiritual esta se colocando sempre mais atrás, também por causa dos conhecimentos científicos e tecnológicos que nos permitem estudar as reações e os comportamentos elementares de um feto. Perceba que entre estas coordenadas se desenvolve o projeto homem de Bruner, da sua investigação contínua resulta profundamente marcado também a sua tentativa de construir uma teoria da instrução, adequada a uma sociedade americana 46 teoria.indb 46 28/9/2007 16:13:18 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio (aquela dos anos 70 e 80). Marcada por profundas mutações na composição social, nos mecanismos de representação e delegação, no aparecimento de novos sujeitos sociais, na assunção de desafios culturais e políticos dramáticos. J. Bruner não fecha nunca prematuramente os termos da pesquisa e das analises, mas as conserva abertas – nisto é fiel ao principio de lógica de abdução de Peirce. A um cíclico retorno na verificação das premissas conceituais das quais havia partido. — Leia, a seguir uma retomada dos pontos centrais da unidade, realize as atividades e dedique-se à leitura do texto complementar. Síntese A concepção antropológica A concepção que Bruner desenvolveu a respeito do homem, foi por ele mesmo registrada no seu Instrumentalismo evolucionistico que declara um débito preciso tanto em confrontação com o Instrumentalismo de J. Dewey quanto da tradição evolucionista do pragmatismo americano. As raízes do pensamento de Bruner: evolução, vida, ambiente, homem O ponto de partida para nosso discurso é, obviamente, o conceito de vida. Sobre isso podemos dizer que: O problema da natureza e das características da vida é o mais sério e difícil. Cientistas e filósofos, desde os tempos imemoráveis, tem buscado a solução. A biologia geral é aquela disciplina que busca deduzir do estudo dos fenômenos vitais individuais os princípios gerais e comuns a todos, a fim tentar uma definição geral e sintética da vida. Nós não podemos dizer que possuímos uma única definição curta, completa, e satisfatória dos fenômenos vitais. Podemos entretanto indicar algumas características comuns a todos os seres vivos. Em primeiro lugar nós devemos dizer que vida é um termo abstrato, e que na pratica nós temos sempre o que fazer com determinados organismos, com singelos indivíduos vivos Unidade 1 teoria.indb 47 47 28/9/2007 16:13:18 Universidade do Sul de Santa Catarina A medalha da evolução tem duas faces A medalha, se diria, tem duas caras, e nenhuma das duas existiria sem a outra, nem a medalha existiria sem ambas as faces. Por base, há a idéia genericamente enunciável como sendo a sobrevivência do mais forte, no senso do mais adaptado. Porém, mais adaptado a que coisa? Entre os muitos equívocos que são indebitavelmente lamentados a partir do século passado em diante sobre o Evolucionismo Darwiniano, além do impróprio reducionismo do cultural ao biológico, há também a maneira desorientada e desorientante para caracterizar em tal “força” evolutiva um caráter que os recompensa. Ou seja, tudo se reduz à capacidade de chegar à idade de reprodução, e a reproduzir-se: o ambiente seleciona, entre todos os indivíduos de uma espécie, aqueles que mais adaptados reproduzirem-se, premiando os seus caracteres e suprimindo tendencialmente os outros indivíduos; os caracteres hereditários entre aqueles possuídos pelos mais adaptados, tendem a fi xar-se nas gerações sucessivas. Tem então lugar a evolução biológica: a natureza avança propriamente graças àqueles indivíduos que melhor se adaptam ao ambiente (e a suas mutações), e sobre a supressão dos indivíduos da mesma espécie ou de seus embriões que menos são adaptados a reproduzirem-se; estes últimos podem também constituir grande maioria. O Pragmatismo O fundador do Pragmatismo foi Charles Sanders Peirce (1839 - 1914); seus expoentes de relevo, nos Estados Unidos foram, William James (1842 - 1910), Georg Herbert Mead (1836 - 1931) e, aquele que mais contribuiu para o campo da educação e da democracia, John Dewey (1859 - 1952). Existem diferenças de entonação e no campo das pesquisas entre os quatro estudiosos, tanto que para o primeiro se fala muito sobre o Pragmatismo Lógico, para o segundo de Empirismo Radical, e para Dewey de Instrumentalismo. Estes não deveriam perder de vista a base teorética unitária , que era muito firme. 48 teoria.indb 48 28/9/2007 16:13:18 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio A máxima pragmática No texto científico, Come rendere chiare le nostre idee, (Como tornar claras as nossas idéias), Peirce enuncia aquela que será a famosa “máxima pragmática”. De acordo com Peirce a “primeira lição que nós temos o direito de pedir que a lógica nos ensine, é como tornar claras as nossas idéias”. Para fazer isto, Peirce começa a analisar a dúvida; sobre isto nós estamos imediatamente conscientes ou mediatamente (indiretamente) conscientes: existem assim, elementos “presentes por cada instante durante sua existência, enquanto existem ações que coexistem em uma sucessão de sensações”. O pensamento é de se compreender não como uma unidade entre as sensações, mas como uma unidade para produzir uma crença. Williams James: o nascimento do pragmatismo oficial Sua primeira tendência foi aquela positivisticospenceriana. James se propunha em conduzir a psicologia ao nível de ciência natural e a Spencer se reconheceu o mérito de haver aberto o caminho para a psicologia cientifica. Wright porem, nos fez perceber quanto “determinístico” e “apriorístico” era o evolucionismo spenceriano, do qual James bem cedo se separou, rejeitando a redução “monística” do problema da psicologia: redução de caráter metafísico preferentemente ao cientifico. A educação progressiva: John Dewey A nossa confiança vai, portanto, na direção da mensagem do pragmatismo americano, e que depois com John Dewey obteve a sua concretização pedagógica altíssima, também neste século. Confiança na educação progressiva. E igualmente confiança nas raízes mais autênticas do Ativismo Pedagógico assim como este foi historicamente desenvolvido na Europa. Nós nos reportamos, para rigor e precisão, propriamente à corrente de pensamento e de trabalho que tinha a liderança de Pierre H. Bovet (1878 – 1965) quando ao final da década de 1910, criou a expressão; termo este que foi retomado depois por Adolphe Ferrière (1879 – 1960) nos anos seguintes, também a propósito das então denominadas ècoles nuovelles; e não da sua releitura italiana, depois da segunda Unidade 1 teoria.indb 49 49 28/9/2007 16:13:18 Universidade do Sul de Santa Catarina guerra. Efetivamente Dewey, um teórico de base do Ativismo Pedagógico “histórico”, não prestava atenção tão e somente a um ativismo genérico e de qualquer tipo, porém, a uma pedagogia que se qualificava mediante instrumentos conceituais bem fundamentados como aqueles de continuidade e de interação. Predisposição para aprender e organização do conhecimento: o projeto homem As chaves conceituais são representadas pela idéia de “homo sapiens” e daquela de “homo faber”: não convém neste momento entrar na análise profunda de uma ou de outra conotação da espécie humana, nem o nível de correspondência entre uma e outra. Aquilo que para nós é determinante é o fato que a espécie humana apresenta simultaneamente ambas as conotações. O homem é tal, com suas particularidades em relação a todas as outras espécies de seres vivos, por quanto é o único capaz de evoluir culturalmente. Faltando esta, é ele somente um animal como os outros, e não haveria nenhum fundamento e nem senso falar de educação, ou de didática de alguma disciplina (e em particular, daqueles tanto caros a certos pedagogistas anticientíficos do passado, que eram por eles mesmos definidos como “humanistas” com uma vangloriosa exclusividade que é agora claramente fora de lugar). Poder-se-ia falar apenas de “imprinting” ao nascer, e sucessivamente de adestramento, talvez. E relembramos que também aqui esta o especifico da pedagogia: a existência de seu objeto específico, o homem educável. A árvore da evolução e a centralidade do problema da mente com relação à formação Se a mente pode ser definida como qualquer coisa que tem experiências típicas, isto é que pensa em eventos ou em objetos que estão longe no tempo e no espaço do fluxo imediato das sensações; se uma intenção implica em imagens mentais de eventos futuros nos quais o sujeito imagina-se como participante; se a presença de imagens mentais e o seu emprego é usada para regular o comportamento, fornecem uma definição pragmática da consciência. Os dados da psico-biologia indicam a impossibilidade de negar uma aproximação unitária ao problema evolutivo e cultural da espécie. Como conseqüência não é mais possível sustentar um comportamento dualístico em confronto com o problema mente – cérebro - corpo. 50 teoria.indb 50 28/9/2007 16:13:18 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio A predisposição para aprender como fator genético – evolutivo Este tipo de comportamento pode ser assimilado com uma série de outras capacidades complexas que através do uso de processos de generalizações ou a formação de esquemas simbólicos, permitem aos animais adaptar-se ao ambiente com comportamentos extremamente sofisticados. A organização do conhecimento: o desejo de construir escalas de hierárquicas A unicidade da mente humana, a separação entre a mente e o cérebro, entre matéria e espírito, o chamado salto dialético do cérebro humano, tem representado um terreno de convergência, freqüentemente surpreendente, entre espiritualistas e marxistas. Entre os simpatizantes da ameaça da máquina e os apoiadores da idéia de uma máquina, como produto essencialmente histórico, como somente um fruto de tensões dialéticas. Atividades de auto-avaliação 1. Em que sentido a concepção antropológica de Bruner, que ele mesmo definiu de “instrumentalismo evolutivo” se diferencia ou se assemelha ao instrumentalismo e Dewey? Unidade 1 teoria.indb 51 51 28/9/2007 16:13:19 Universidade do Sul de Santa Catarina 2. Porque a predisposição para aprender é matriz evolutiva caracterizante da espécie humana? Saiba Mais Aprofundamentos: Texto 1 A irreducionabilidade do biológico ao cultural Nos emerge ainda uma vez, dentre outros, e sob o ponto de vista da perspectiva pedagógica, a absoluta irreducionabilidade do cultural ao biológico, e portanto a sem fundamentação de tantos reducionismos em tal senso, surgidos em mais retomadas na história e especialmente no século 19 e no século 20. Também a interação cultural, é efetivamente, a interação entre o homem e o ambiente, contrastada por fontes de discrepâncias, de desequilíbrio, de conflitos e também de perigos. Mas a analogia com aquela biológica é evanescentemente tênue, tanto que o referente biológico pode ao máximo, fingir com parcialíssima alegoria, como metáfora para colocar-se dentre os limites acuradamente restritos, e interpretar-se com muita perícia e atenção. Na dinâmica cultural, acima de tudo, se deve ter presente que o homem não é somente parte do ambiente, como acontece ao contrário, no biológico. O homem (a humanidade) é o ambiente 52 teoria.indb 52 28/9/2007 16:13:19 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio cultural, o que significa que a evolução do ambiente cultural é também a evolução do homem, e vice versa. Em biologia, como é destaque, a evolução do ambiente é outra fenomenologia da evolução da espécie: tanto que a primeira é de qualquer maneira um dado de fato, porem a segunda é somente uma eventualidade, cujo posto pode ser assumido também pela extinção da espécie propriamente dita. E isto sempre aconteceu, também bem antes da hominideização. Em segundo lugar, em biologia o mutante é excepcional e casual, e ainda mais excepcional é a funcionalidade para a sobrevivência da espécie: enquanto por outro lado, na cultura humana o mutante é a regra, e em uma sociedade democrática e pluralista corretamente ajustada a regra de ser por outro lado a funcionalidade humana ( e não pode constituir certa exceção!) Também isto é bem notado, ao menos para quem se move em um contexto cultural e pedagógico que seja democrático no senso atual do termo. E, sobretudo, próprio a superação de contínuas discrepâncias e de contínuo desequilíbrio (culturais) entre o homem e o ambiente humanizado, realiza aquela evolução cultural que, bem longe de limitar-se a uma sobrevivência biológica, dá a humanidade o senso mais alto da sua função de sujeito da história, e consente a todos de beneficiar-se em termos que se sobrepõem ao puro biológico, fazendo premio sobre este. “Considerais a vossa semente: feitos não fostes para viver como brutos, mas para seguir virtude e conhecimento” (Divina Comédia, Inferno, XXVI, 118-120). Acesse também: http://www.propp.ufms.br/ppgedu/geppe/ artigox11.htm Unidade 1 teoria.indb 53 53 28/9/2007 16:13:19 Universidade do Sul de Santa Catarina Aprofundamentos: Texto 2 As diferenças entre Peirce e James assinalam também formas com as quais a mensagem pragmatista se trama até Bruner Os dois pragmatismos, de Peirce e de James, têm duas formas referentes, ao primeiro, em senso lógico cronologicamente originário e contrario; ao segundo, por um movimento de “reação ao positivismo”. R. B. Perry escreveu que o movimento do pragmatismo não foi outro que o erro de entendimento de Peirce de parte de James, porem isto não foi de tudo exato, porque nós temos visto como James era bem consciente de estender a máxima pragmática, mesmo que não tivesse o consentimento de Peirce, em aplicações práticas. E se pode adicionar que toda a história do pensamento é tecida de episódios do gênero, a menos que, justamente, não se reconheça que as diversas idéias possam ser equivocadas á luz de experiências diversas. Dizemos enfim, que James teve uma formação intelectual completamente diferente de Peirce, assim para afastar qualquer hipótese que possa coligar os dois na “relação” de aluno e professor. A diferença substancial, como já vimos, se encontra na concepção de Peirce sobre o pragmatismo como uma definição do “significado” e para James como uma teoria da “verdade”. Longe de qualquer hipótese mantida à luz de quanto foi falado anteriormente, poderá ser identificado facilmente o relacionamento entre os dois pragmáticos através de uma carta na qual Peirce convida ao amigo a “pensar com mais exatidão”: A carta, segundo Bosco, indica claramente qual era a verdadeira raiz pela qual James não compreendia claramente as idéias de Peirce: James estava “embebido de muitos preconceitos psicológicos e de muito sensacionalismo” para poder entender a sua teoria pragmática. Bem outros foram os ataques de Peirce à teoria do amigo, tais de alongar a distância final entre eles, de forma irremediável; o mais extraordinário foi aquele do artigo “What pragmatism is”, no qual Peirce defende abertamente, não tanto o seu pragmatismo, quanto a sua raiz, a máxima pragmática: nessa a verdade é dada do significado do homem na sua palavra, na sua vida publica, na sua coerência, no seu ser “verdadeiro”, ser significativamente público no agir. 54 teoria.indb 54 28/9/2007 16:13:19 UNIDADE 2 Criação e desenvolvimento das teorias sobre a operacionalidade da mente em J. Bruner Objetivos de aprendizagem Compreender e analisar a natureza da percepção. Analisar o processo de aprendizado na perspectiva do modelo Human Information Processing. Identificar os processos de desenvolvimento do pensamento. Analisar a influência da Cultura sobre o modelo de desenvolvimento. Compreender as “inteligências múltiplas” com base na teoria de Gardner. Identificar aspectos que relaciona o desenvolvimento do homem e sua história evolutiva. Identificar os elementos do desenvolvimento cognitivo á luz da teoria piagetiana. 2 Seções de estudo Seção 1 A natureza da percepção Seção 2 Influência da cultura sobre o modelo do desenvolvimento Seção 3 Howard Gardner e a tese das inteligências múltiplas Seção 4 Relacionamento entre o desenvolvimento do homem e a sua história evolutiva Seção 5 A natureza da explicação do desenvolvimento cognitivo teoria.indb 55 28/9/2007 16:13:19 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Qual origem tem a experiência? É o resultado dos nossos poderes essencialmente associativos (Associacionismo) ou seja, é a conseqüência do uso das nossas categorias inatas de espaço e tempo (Inatismo); é reduzível apenas aos dados de experiência experimental que nós acumulamos como respostas aos estímulos ambientais (objetivismo); é a prova da natureza física e biológica dos nossos estados mentais (fisicalismo) ou seja, ao contrário, a afirmação da eficácia causal da própria mente (mentalismo)? SEÇÃO 1 -A natureza da percepção Para iniciar este estudo, que tal um questionamento? com quais meios os seres humanos se representam na sua experiência do mundo, durante o seu crescimento e, em que modo organizam para os usos futuros daquilo que eles encontram? O problema de partida pode ser assim resumido: o que nos informam as nossas observações com relação à natureza do mundo ou a natureza da mente? É possível separar umas das outras? Na origem, podemos situar um livro de E. Mach que fez escola. Publicado nos últimos anos do século passado The analysis of Sensation e traduzido para o italiano L’analisi delle sensazioni e il rapporto tra fisico e psichico, Feltrinelli, Milano 1995, o autor sustenta que é possível interpretar a experiência quer seja externa, isto é, como um mundo fora de nós, quer seja interna ou subjetiva. A. Einstein elaborou a tese de E. Mach da seguinte forma: o mundo, considerado do exterior, nunca pode ser autônomo com relação ao ponto de referência do observador. Isso assinala para o paradigma gnoseológico do nosso século, em que P. Manet lembra o caso de um pintor contemporâneo de E. Mach, que sintetizou assim o espírito da coisa: “A natureza não é senão uma hipótese”. 56 teoria.indb 56 28/9/2007 16:13:20 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Mas, se este era o estopim, a pólvora explosiva foi acesa por alguns jovens pesquisadores de Harvard que, logo após a segunda guerra, deram vida exatamente a um movimento de estudos sobre a percepção, que eles mesmos chamaram New Look on Perception. As atividades pelo menos formalmente, tiveram início, meio século atrás com uma série de publicações (Bruner e Postman, 1947; Mc Ginnies 1949; Postman, Bruner, Mc Ginnies, 1948) nos quais se sustentava que a percepção dos estímulos externos não é dissociada dos caracteres dos eventos internos: comportamentos, valores, expectativas, defesas psicodinâmicas são todos os fatores que influenciam a percepção. Esta posição se tornou notória com o termo genérico de New Look (M. Erdelyi, 1974). O aprendizado na perspectiva do modelo Human Information Processing Nesta perspectiva, se insere o modelo HIP: Human Information Processing (geralmente traduzido como “Elaborazione Umana dell’Informazione”, Elaboração Humana da Informação) que me parece ter oferecido uma contribuição fundamental seja ao seio das teorias cognitivistas, seja em relação ao estudo do aprendizado. Por quanto à tradição cognitivista tivesse encontrado ilustres representantes desde o início do século passado, e alguns destes (por exemplo: James e Bartlett) tenham sido utilizados também por recentes métodos HIP, se pode dizer que a orientação HIP tenha sido emersa com fortes elementos inovadores, consentidos não só da maturação da reflexão teórica e dos desenvolvimentos da pesquisa, mas também das novas possibilidades oferecidas por sofisticadas técnicas experimentais (se pensa, por exemplo, naquelas análises de tempo de resposta absoluta ou diferencial na ordem de milisegundos) e de simulações feitas no computador. O impacto do método HIP sobre os estudos acerca do aprendizado foi imenso, modificou radicalmente a maneira de considerar e estudar a área, produziu uma elevada quantidade de modelos e dados concretos, levou a algumas aplicações (a exemplo no campo do aprendizado de leitura, escrita, cálculo, linguagem) de grande sucesso, determinaram articulações e diversificações notáveis. Unidade 2 teoria.indb 57 57 28/9/2007 16:13:20 Universidade do Sul de Santa Catarina Não é evidentemente possível dar-se conta de tudo que aconteceu na história deste método, entre 1960 e hoje, mas poderemos brevemente recordar alguns conceitos fundamentais e, em seguida, determo-nos em uma das primeiras e mais clássicas exemplificações (o modelo de Atkinson e Shiffrin, pela primeira vez ilustrado em uma publicação de 1968). No meu modo de ver o método HIP tem o mérito de haver evidenciado o papel dos processos ativos de elaboração realizados pelo indivíduo e de ter desenvolvido metodologias, em condições de não se limitar a uma genérica descrição da atividade cognitiva humana, mas de precisar natureza, limites e relações dos processos subordinados. Para fazer isto, o método é baseado em alguns componentes fundamentais: estudar por si mesmo e por o seu relacionamento com o aprendizado; processos de análise de informação; atenção e consciência; memória breve; memória semântica e organização do conhecimento; processos de recuperação da informação. Os primeiros modelos HIP de memória distinguiam entre algumas estruturas fundamentais da memória (o registro sensorial, a memória de breve duração, a memória de longa duração) que eram concebidas como os arquivos (portando estruturas permanentes), com uma determinada capacidade. Com o tempo foram desenvolvidas posições teóricas e para tal os termos “arquivos” foram substituídos pelos termos “categorias diferentes de processos”: a memória de breve duração não seria um particular arquivo de memória, mas uma forma particular de elaboração (portanto de processo) volta a obter bons resultados com baixos custos na lembrança de breve duração. O fluxo de informações através do sistema mnemônico foi imaginado nos seguintes termos: inicia com a chegada de estímulos ambientais nos registros sensoriais (receptores + elementos internos), entra então no arquivo de breve duração (STS). Durante o período no qual ele permanece neste nível, a informação pode ser transcrita no arquivo de longa duração (LTS), enquanto uma informação, a esta correlata, que se encontra no LTS pode ser ativada e colocada por sua vez no STS. Supomos que observamos um triângulo, será fácil então recordar 58 teoria.indb 58 28/9/2007 16:13:20 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio o nome “triângulo”. Operações de controle localizadas no STS influenciam as transferências desta e para o LTS e, portanto, controlam o aprendizado, a recuperação da informação e o esquecimento. (Cf. ATKINSON E SHIFFRIN, 1971). Neste contexto, se desenvolve, portanto, a tendência de examinar, mediante aqueles processos o sistema-homem, que alcançava alguns objetivos fundamentais, quais sejam: transformar a informação externa reduzi-la, selecioná-la, elaborá-la, armazenála, e recuperá-la. A transformação se refere, sobretudo, ao processo inicial, mediante ao qual uma estimulação física (por ex. com raios luminosos), se transforma em uma informação nervosa percebida pelos sentidos (por ex. a fase da transdução sensorial). A informação que provém do exterior é bloqueada transitoriamente (por um tempo que vai de pouquíssimas centenas de milisegundos a poucos segundos) em um registro sensorial e em seguida, alcança a uma fase de reconhecimento perceptivo (no qual o sujeito coloca em relação a informação em acesso com os conhecimentos que possui e consegue decifrar progressivamente um número crescente de características particulares ou globais do estímulo) e a uma fase de memória mais longa, mas sempre temporária e conseqüentemente chamado de curta duração. Durante esta fase (que necessariamente são concebidas como sucessivas) o sistema-homem reduz, selecionando, a quantidade de informações que lhe eram chegadas e as elabora de forma que possa melhor interpretá-las com base nos conhecimentos que possui. Esta elaboração não serve somente para uma melhor “percepção” do estímulo (pelo qual, até este ponto poderemos pensar que sejam implicados processos perceptivos primários), mas serve implicitamente (se não havia a intenção a propósito do sujeito) ou explicitamente (se havia a intenção) no armazenamento da informação que, se tornou um vestígio mnemônico não tão preciso, reaparecerá ou deverá então ser reencontrada (ou - como hoje se diz – recuperada) no momento, o qual desta se terá necessidade. Unidade 2 teoria.indb 59 59 28/9/2007 16:13:20 Universidade do Sul de Santa Catarina Podemos descrever um processo humano como uma série de linhas de programas, mesmo que, às vezes, este puder correr o risco de levar a uma descrição excessivamente microscópica das fases que constituem o processo. Muitos modelos processuais (assim com muitas análises do trabalho) se voltam então, a individualização das fases fundamentais do processo que podem ser tais para comprometer uma vasta área cognitiva e inter-relações mais ou menos consistentes com outras fases, e que por outro lado devem permitir uma confirmação empírica. A última exigência pode ser, todavia, mais ou menos sentida: em certas linhas de pensamento da denominada “ciência cognitiva” e da pesquisa sobre a inteligência artificial que se contenta fundamentalmente em encontrar que os passos individuados constituem um conjunto coerente e são reproduzidos em uma máquina. Para outra linha de pensamento, mais ligada à pesquisa empírica ou mais em particular a pesquisa experimental – se requer que exista um indicador e uma prova empírica da existência e da relevância daquele passo. Mas se este é o caminho – em grandes linhas, que é desenvolvido nestes últimos quarenta anos.... Mas como conhecemos a realidade? O que é então a concepção antropológica? Observar é deformar, aproximar-se é dissolver. No entanto, classificar é necessário para perceber o existente e elaborar as nossas idéias. O pensamento não pode se desenvolver sem operar uma classificação seja com relação aos objetos dos quais os nossos sentidos percebem a existência, ou seja, com relação às idéias que elaboramos. Esta atividade – o classificar tão radicado em nós, que não estamos mais conscientes de exercitá-la, - consiste em delimitar o campo das diversas categorias por nós definidas: ao lado de cá de um determinado limite os seres humanos e os objetos classificados pertencem à classe A ou a classe B. Classificar equivale portanto a colocar limites. 60 teoria.indb 60 28/9/2007 16:13:20 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Toda a visão da realidade circunstante vem de tal modo colocada em discussão. A aposta em conseqüência nunca é alta. Todavia corremos continuamente o risco de nos fazer presos pelas atitudes, com o resultado de definir superficialmente classes totalmente arbitrárias e de resignar-se na ilusão dos resultados assim obtidos. Melhor dizendo, nos arriscamos em crer que os limites colocados por nós mesmos, sejam os dados objetivos, presentes na natureza das coisas, porém ao contrário não são outra coisa que o resultados abstratos do nosso raciocínio. Vamos a um exemplo: Uma das primeiras exigências de quem observava o céu, era aquela de classificar as estrelas. Era natural classificá-las segundo seu caráter distintivo mais evidente: a intensidade luminosa. Foram criadas então, categorias de grandezas; a cada estrela foi atribuído um grau que vai de “primeira grandeza” a “vigésima grandeza”. De tal forma que se corre o risco de acreditar que a grandeza seja uma propriedade intrínseca do astro, enquanto esta característica não é própria do objeto em si, mas da visão com a qual nós o percebemos; esta corresponde de fato, à soma de dois fatores: a luminosidade própria da estrela e a sua distância. Mas, tudo somado, uma visão distorcida com relação às estrelas, tem uma importância bastante relativa. O risco, ao contrário, é bem mais grave quando procuramos classificar os homens, traçando fronteiras entre eles, definindo assim as “raças”. Naturalmente estabelecemos as nossas classificações baseandonos nos aspectos exteriores: estatura, cor da pele, tipo de cabelo, conformação do crânio (dolicocéfalos ou braquicéfalos). Toda a antropologia do século dezenove obstinou-se em classificar as raças humanas baseando-se em determinadas características físicas, colocando muita atenção em métodos e técnicas de medições sempre mais precisas. Especializava-se em medidas que chegavam a por em evidência uma série de diferenças: por exemplo, entre os “nórdicos” (olhos azuis, cabelos loiros, forma Unidade 2 teoria.indb 61 61 28/9/2007 16:13:20 Universidade do Sul de Santa Catarina oblonga do crânio) e os árabes (olhos escuros, cabelos negros, crânio redondo). O erro deste método reside no fato de que não existe um critério para definir as características a serem examinadas. Foram acesas intermináveis discussões com relação ao número de raças humanas: hoje parece evidente que este número pode ser que seja 1 (a raça coincide com a espécie) ou seja, 4. 400.000.000 (as raças são tantas quantas o número de indivíduos existentes na terra). Todos os números intermediários são, portanto, válidos. Querer classificar baseando-se na aparência não leva a nada. No início deste século acreditou-se de se poder dar finalmente uma base objetiva à classificação das raças humanas, não considerando mais as aparências (fenótipos), mas os fatores hereditários (genótipo). Não se ocupava mais com a cor ou a forma, mas do sistema circulatório ou imunológico. Em um primeiro momento, mudando completamente a ótica, foram colocadas em foco certas diferenças entre as populações asiáticas ou populações do leste da Europa, ricas de genes B (do sistema ABO), e as populações do Oeste europeu pobres de genes B e ricas de genes A. Mas, progressivamente que os dados são aumentados, e foram multiplicados os sistemas estudados, as coisas se complicaram e o quadro se tornou confuso. Hoje, os estudiosos de genética admitem não ser possível definir as várias raças; pelo contrário são concordes na conclusão de que o conceito de raça humana não é operativo e deveria, portanto, ser excluído do campo da pesquisa científica. Pode parecer um paradoxo, que a aquisição de um número crescente de dados, acabem por esconder a realidade, em vez de esclarecê-la. Na verdade, trata-se de um processo constante, do qual os físicos do século vinte não tem feito outra coisa senão tolerar as conseqüências. No passado, se podia estudar a matéria somente nos aspectos observáveis pelo homem; com o progresso das técnicas mais ou menos sofisticadas de observação ao microscópio se é chegada a inesperada constatação que não se sabe mais de que coisa se fala, quando se nos apresenta uma “partícula”, um grão de matéria e onda ou freqüência ao mesmo 62 teoria.indb 62 28/9/2007 16:13:21 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio tempo (e ainda menos quando se trata de quark). Aproximandose do objeto, constatamos que ele esvai-se e desaparece. Esta barreira que desafia a nossa sede de conhecimento foi admiravelmente ilustrada por Michelangelo Antonioni no filme BloWup. Uma mancha sobre uma fotografia parece indicar a presença, em uma moita, de uma possível testemunha ou o autor de um delito. Para vê-lo melhor basta ampliar a foto, mas a cada ampliação a mancha se esfuma e em fim desaparece. Observar é deformar; aproximar-se é dissolver. Para concluir, nós não classificamos nunca objetos ou homens, mas representações particulares que arbitrariamente consideramos como essenciais. A classificação que lentamente se cria neste modo não é, talvez, mais arbitrária do que aquela obtida objetivamente partindo da descrição das atividades científicas e empregando competentes cálculos e princípios ordenadores? No fim das contas estas se fundam sobre pessoas mais que sobre os objetos estudados. Mas porque não deveria ser assim? O problema é que nós somos tentados, uma vez traçadas as fronteiras, de acreditar na sua realidade objetiva, de projetar sobre espaços delimitados os nossos instintos de propriedade e de defesa do território, também quando estes espaços são abstratos e pouco apropriados como as disciplinas científicas. SEÇÃO 2 -Influência da cultura sobre o modelo do desenvolvimento Segundo Bruner, o desenvolvimento tem lugar através um processo que vai tanto do interior para o exterior, quanto do exterior para o interior do sujeito humano. Tal processo consiste no desenvolvimento de amplificadores da capacidade motriz, sensitiva e reflexiva transmitida por uma cultura. Diversas culturas fornecem amplificadores diversos em épocas diversas da vida da criança: ou seja, o processo do desenvolvimento humano Unidade 2 teoria.indb 63 63 28/9/2007 16:13:21 Universidade do Sul de Santa Catarina não procede paralelamente nas diversas culturas, e todavia é legítimo comparar algumas uniformidades, apesar da diferenças, no desenvolvimento das diversas culturas humanas. Mas, atenção! Isto significa simplesmente que o desenvolvimento cognitivo é inconcebível sem a participação em uma cultura e da sua comunidade lingüística. O estudo da mente ou dos mecanismos do pensamento reativou, no curso dos séculos, um interesse sempre crescente. Aristóteles propôs por primeiro as regras para identificar a produção de processos inferenciais formalmente corretos, colocando desta forma os primeiros fundamentos da lógica formal. Deste tempo depois foi aberto porém, um grande problema de relacionamento entre o pensamento e a lógica. O que é em efeito a lógica com relação ao pensamento? Um modelo ideal de correto funcionamento através do qual este deve voltar-se? Neste caso, o pensamento deve ser considerado imperfeito com respeito à lógica, e então desejoso, para melhor se organizar, para aderir às prescrições desta. Vice-versa a lógica propriamente, porque produzida pelo próprio pensamento, deve fixar-se somente em um de seus modos de funcionamento; e então como tal, muito limitada com relação ao potencial desenvolvimento completo do próprio pensamento? Qualquer um que pense nas produções do pensamento no âmbito artístico, ou em outro setor criativo, pode confrontar que não existe alguma intervenção direta da parte da lógica formal. Seja como for, por muitos anos a lógica permaneceu como o único gênero de descrição dos mecanismos do processo do pensamento humano. 64 teoria.indb 64 28/9/2007 16:13:21 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Em épocas mais recentes se tem assistido, por outro lado, uma pesquisa sobre o comportamento do homem, ou seja, sobre o pensamento no sentido lato, que se é baseada sobre a pesquisa motivacional, utilizando-se talvez do único método possível neste setor: a pesquisa introspectiva. A introspecção porém, não pode ser considerada um método verdadeiramente científico porque é vago o objeto da pesquisa e porque todavia as sensações internas não são confrontáveis ou quantificáveis. Assim a lógica de um lado e a psicologia por outro, o estudo da racionalidade e o estudo dos impulsos, tiveram procedimentos semelhantes, até pelo menos os primeiros anos deste século, de forma em tudo autônoma e separada. Foi propriamente o desejo de objetividade na pesquisa do tipo psicológico que foi possível o advento do comportamentalismo. Segundo este tipo de impostação metodológica, o único objeto possível para uma psicologia cientifica é constituído do comportamento manifesto. O artífice desta revolução foi John Broadus Watson que em 1913 publicou um artigo - manifesto intitulado A psicologia segundo os comportamentalistas. O mérito do comportamentalismo foi aquele de ter reconduzido a observação psicológica somente aos aspectos reproduzíveis e mensuráveis: os estímulos de um lado e as reações a estes correspondentes por outro. Veja um exemplo: Uma observação conduzida segundo os cânones do comportamentalismo observa a ligação direta entre a visão e a percepção olfativa do alimento (estímulo) de um lado, e o aumento repentino da salivação (resposta) por outro lado. Nada a mais. Mas, o apanágio deste tipo de psicologia foram inevitavelmente as associações estímulo-resposta mais simples. O acesso interpretativo aos comportamentos mais complexos apresentava, ao contrário, um preço a ser pago: ocorria formular a hipótese de uma série de cadeias internas latentes de estímulos e respostas, antes que fosse possível observar uma resposta externa finalmente evidente. Isto em um certo sentido forçava os cânones de observabilidade desejados pela teoria. Estes arcos reflexos foram considerados mediações internas do tipo fisiológico, ou seja, ações nervosas–reações musculares. Unidade 2 teoria.indb 65 65 28/9/2007 16:13:21 Universidade do Sul de Santa Catarina Todavia, como é fácil intuir, a sua observação resultou antes, sempre problemática. Em setembro de 1948, ocorreu no campus do Califórnia Institute of Technology um congresso importantíssimo, indicado por muitos expertos, como o efetivo ato de nascimento da ciência cognitiva: o Hixon Symposium. Uma das intervenções mais apreciadas foi aquela do psicólogo Karl Lashley, o qual observou que o comportamento complexo como soar um instrumento musical ou falar, não é concebível uma elaboração seqüencial em cadeia, assim como vinha proposta pelo comportamentalismo. A execução de um trecho musical é costumeiramente muito veloz para que seja considerado como o tempo necessário para a retroação, isto é para que seja a nota precedente a fazer as funções de estímulo necessário para a produção da nota sucessiva (resposta). Na produção da linguagem o lapsus linguae, ou seja, a antecipação de palavras que deveriam comparecer somente muito mais avante no desenvolvimento da frase atestam que não é verdade que exista um desenvolvimento de tipo seqüencial. Existem mais verossimilmente, segundo Lashley, os planos gerais de ação que coordenam as ações mais específicas. Um passo ulterior para frente, produzido pela nascente ciência cognitiva, foi a reconsideração quanto a natureza daquilo que acontece no interior do homem uma vez recebido o estímulo. Tolhidos os vínculos fisiológicos ligados às exigências de observações com medições diretas dos efeitos, é possível conceber de maneira diferente também as “operações” internas. Estas são concebidas agora como verdadeiras e próprias operações de cálculo mental. 66 teoria.indb 66 28/9/2007 16:13:21 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio A análise de quanto acontece na fase de elaboração da informação (fase interna) é um tipo de investigação que pode ser conduzida no âmbito de seis disciplinas diferentes: filosofia, psicologia, neurociência, antropologia, inteligência artificial e lingüística. Cada uma destas é potencialmente interessada em decodificar a natureza e a tipologia das operações empregadas em um determinado processo elaborativo. Estas operações podem estar entre as mais variadas possíveis. Em muitos casos a sua individualização e a sua descrição não geram nenhum problema. A moderna ciência cognitiva se baseia sobre o assunto teórico, muitas vezes demonstrado, que é possível a individualização, para certos comportamentos ou para certos programas a ser seguido, de todas as operações que, uma vez coordenadas, nos permitem a execução ou a expressão. Karl Lashley tinha razão em afirmar que existem planos gerais de nível superior que – agora sabemos – dependem exclusivamente do programa a ser seguido, que coordenam os níveis inferiores, mais específicos, de ações as quais são contrárias na maioria das vezes ligadas às características do meio proposto a execução. A análise e a individualização destas operações podem ser conduzidas por cada uma das diversas disciplinas que compõem a ciência cognitiva; o setor de competência varia naturalmente em base ao programa pelo qual vem proposta a análise. Estamos, portanto, no ponto fundamental da teoria cognitivista: qualquer coisa ou pessoa estaria em condições – mediante os próprios mecanismos internos de atuação, qualquer um que seja – de exprimir um conjunto coordenado de operações assim como é expresso em um fluxograma, para a execução de uma determinada performance, demonstraria possuir naquele âmbito um comportamento inteligente. O nível mais alto de coordenação entre operações – independente, como se diz, dos níveis inferiores que controlam o meio e o método de execução – é o nível mental: aquele que melhor dizendo, exprime a inteligência. Manifestam-se por hora claramente duas coisas: a primeira é que a inteligência não depende de nada do meio que a exprime ou a suporta. Referindo-se ao computador, se pode afirmar que a inteligência resida preferivelmente no software, do que no hardware. A segunda é que não existe uma inteligência genérica, assim como não existe um software que esteja em condições de exprimir performances gerais, mas existem mais freqüentemente, softwares específicos para performances específicas, na mesma Unidade 2 teoria.indb 67 67 28/9/2007 16:13:22 Universidade do Sul de Santa Catarina medida nas quais são as diversas inteligências. Fala-se assim para máquinas, de software específico ou de programas aplicativos, e para o homem de inteligência múltipla. Existe uma teoria – conhecida mais precisamente como teoria da computabilidade – segundo a qual um fenômeno é de considerarse computável tão somente sendo possível a se individuar o seu algorítimo de funcionamento. Assim, certos fenômenos físicos são considerados computáveis tão logo sejam identificados os conjuntos de relações matemáticas em condições descrevêlos. São por exemplo computáveis todos os fenômenos de tipo mecânico. São de igual forma computáveis muitos comportamentos produzidos pelo homem. Em nível de produção industrial, são computáveis todos aqueles processos nos quais as máquinas podem substituir o homem, a exemplo isto acontece na quase totalidade dos processos de produção de um automóvel. De fato é possível descrever, mediante um específico fluxograma, o procedimento de construção e montagem dos equipamentos mecânicos. Para outros tipos de fenômenos são encontrados por outro lado muitas complicações. Por exemplo, não é simples individualizar e descrever as operações realmente implicadas nos fenômenos de uso da linguagem e nos fenômenos da visão, ou seja, nos processos de reconhecimento de frases e objetos produzidos a partir das informações contextuais. Deixamos por um momento à parte, cada consideração de mérito sobre o porquê desta dificuldade, dado que existem todavia, alguns métodos que tentam uma identificação das operações mentais implicadas neste tipo de performance ou procedimento. Mediante estes métodos não se individualizam as operações reais que são a base destes procedimentos, mas somente algumas regras gerais que, descrevem o seu funcionamento. Para originar este tipo de descrição é suficiente substituir as operações e os períodos ou as classes de um fluxograma com uma descrição um pouco mais geral de regras e de situações, para conservar a estrutura conceitual que caracteriza a ciência cognitiva. Foi esta a intuição de Bruner. São muitos os autores que atraem para si a organização teórica da ciência cognitiva e 68 teoria.indb 68 28/9/2007 16:13:22 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio que indagam para reconstruir as operações funcionais que são a base dos comportamentos inteligentes. — A teoria do conjunto de regras colocadas e interpretadas como verdadeiras e próprias operações mentais pertencem a um dos autores talvez hoje mais notório desta escola do pensamento: Howard Gardner. SEÇÃO 3 -Howard Gardner e a tese das inteligências múltiplas Gardner formula a própria definição de inteligência perfeitamente em linha – em nível de conceito – com aquela própria da ciência cognitiva, que se ocupa das operações e não de seu eventual suporte físico: Uma inteligência é a capacidade de resolver problemas, ou de criar produtos, que são apreciados internamente em um ou mais contextos culturais. Nota-se que aqui não se diz nada sobre fontes desta capacidade, ou sobre os meios apropriados para medi-los. Então, se soma para especificar que cada inteligência é constituída de um conjunto próprio de operações único e irredutível: Uma tese importante da minha teoria – também se espera ainda uma verificação adequada – é que cada inteligência é relativamente independente da outra, e que os dotes intelectuais de cada indivíduo, por exemplo, em música, não podem ser inferidas de suas habilidades matemáticas ou lingüísticas ou da sua capacidade de comunicar-se com outras pessoas. Um critério importante para a definição das inteligências individuais é a possibilidade de isolamento. Um tipo de inteligência, para ser específico, deve demonstrar a própria relativa independência das outras de maneira tal que ao variar a entidade de qualquer uma destas, não venha ser perturbado, em algum modo, o seu estado. Unidade 2 teoria.indb 69 69 28/9/2007 16:13:23 Universidade do Sul de Santa Catarina Surge neste ponto um problema do qual o próprio Gardner informa a existência: as performances potencialmente manifestadas são muitíssimas: por exemplo, uma habilidade (muito importante em certas culturas) é o reconhecimento de fisionomias; uma outra habilidade é a agudeza gustativa e olfativa; existem também as inteligências computáveis, as quais já foram mencionadas; e muitas outras ainda. Estas e outras performances satisfazem perfeitamente os requisitos de isolamento, mas não vêm comumente apreciados como forma de inteligência. Em certo sentido, a seleção parece ter sido efetuada por Gardner segundo as avaliações do senso comum. Assim, a lista das formas de inteligência que surge são definidas com base nos âmbitos disciplinares presentes na sociedade dos dias de hoje, em vez de critérios exclusivamente dedutíveis. As inteligências assim definidas resultam inscritas em seis contextos distintos: lingüística; musical; lógica-matemática; espacial, corpóreo-sinestésica; peculiar. Gardner propõe oito características para individualizar as inteligências. 1) isolamento de faculdades mentais em conseqüência de dano cerebral Se uma faculdade mental em particular puder ser destruída ou conservada, isoladamente, na presença de um dano cerebral, se pode definir como sendo uma inteligência autônoma. 2) idiots savants, prodígios e outros indivíduos excepcionais. Em muitos casos nos encontramos diante a desníveis consistentes com relação a uma única faculdade. Às vezes esta se acentua com relação ao nível médio de outras; ou por outro lado é a única faculdade que conserva um nível de normalidade em relação a um quadro cognitivo geral com forte degradação (como é o caso de algumas crianças autistas). Isto consente de individualizar, ainda uma vez, as inteligências autônomas. 70 teoria.indb 70 28/9/2007 16:13:23 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio 3) Uma operação ou um conjunto de operações centrais identificáveis. Sustenta Gardner: no coração de minha noção de inteligência há a existência de uma ou mais operações ou mecanismos basilares de elaboração da informação, em condições de ocupar-se de tipos específicos de input. Depois prossegue especificando o que se torna crucial para estar em condições de identificar estas operações centrais, localizar o substrato neural e demonstrar que estes núcleos são efetivamente separados. Vem então explicitamente evidenciada por Gardner esta atenção pela ciência cognitiva com relação a pesquisa das operações com base em performances inteligentes individuais. 4) Uma história de desenvolvimento característica, juntamente com um complexo definível de performances “terminais” competentes. Uma inteligência deve necessariamente ter uma história própria de desenvolvimento no curso de sua ontogênese. A identificação desta história de desenvolvimento, e a análise de sua disponibilidade a ser modificada através do aprendizado, tem a máxima importância na definição dos traços característicos desta inteligência. 5) História evolutiva e plausibilidade evolutiva. A pesquisa das fases evolutivas, conduzidas com relação à ontogênese, pode ser dirigida integralmente à filogênese. Neste caso, é essencial individualizar os fatores (um ambiente particular, a seleção casual de um determinado grupo com certas características prevalentes) que tem condicionado o desenvolvimento daquelas formas de inteligência que caracterizam a espécie humana. Ocorre, porém, prudência: neste setor as comparações objetivas particularmente insuficientes deixam o campo aberto ao desenvolvimento de teorias quase que totalmente especulativas. Unidade 2 teoria.indb 71 71 28/9/2007 16:13:23 Universidade do Sul de Santa Catarina 6) Provê a sostegno ou support tests fornecidos de pesquisas psicológicas experimentais A psicologia cognitiva pode por si mesma formular modelos em condições de explicar quais habilidades são a base de um determinado tipo de inteligência, e confrontar em seguida estes modelos experimentalmente. 7) Prove a sostegno ou support tests fornecidos de resultados psicométricos Os resultados de experiências psicométricas podem contribuir para convalidar as formulações teóricas com relação a certas faculdades. Também se alguns métodos do passado são hoje convenientemente em desuso (ex. Q. I.) permanece de qualquer maneira, aberta a possibilidade de operar de forma construtiva e eficaz um levantamento quantitativo que reveja determinados caracteres específicos e desenvolver sobre este as observações eficazes. 8) Propensão em codificar um sistema de símbolos Boa parte da representação e da comunicação humana ocorre através de sistemas de símbolos, assim com grande parte da informação transita propriamente através estes sistemas: linguagem, figuras, matemática, são apenas três destes sistemas que o homem utiliza para sua sobrevivência quotidiana. Parece que cada uma das áreas cognitivas particularmente desenvolvidas no homem, tenha requerido, em certo nível de desenvolvimento, a fruição de um sistema simbólico específico. O confronto de um sistema simbólico poderia ser então a individualização indireta de uma inteligência específica feita através daquela que parece ser uma exigência particular. Nesta oportunidade, é possível propor um pequeno resumo daquelas estratégias que em um contesto mais amplo são classificadas como inteligências. 72 teoria.indb 72 28/9/2007 16:13:23 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio INTELIGÊNCIA LINGUÍSTICA Na análise dos cânones basilares da composição poética, Gardner tomou a iniciativa de algumas sugestões de colocações gerais que T. S. Eliot ofereceu ao jovem poeta inglês Keith Douglas. Após este ter comparado ele mesmo uma coluna em uma casa de vidro, Eliot perguntou: Você diz entender que também é de vidro? Referindo-se depois a uma sucessiva comparação do poeta com um rato, Eliot denuncia a aparente contradição: Eu penso que você não deveria ser um pilar e se assemelhar a um rato na mesma estrofe. Estas sugestões valem, em geral, para toda a poesia proposta pelo jovem. Nesta, até o fim, se fala de uma casa e de uma senhora morta em seu quarto no andar superior; a poesia quer exorcizar a senhora morta para persuadi-la a abandonar a casa. Observa Eliot que o exorcismo acontece quando acontece – sobre os espíritos para induzi-los a abandonarem as coisas materiais; neste caso o ritmo descritivo contido na poesia parece mudar radicalmente a coisa: a senhora é descrita de maneira tal, em transformá-la de maneira muito mais material do que a própria casa que deveria abandonar. Eliot evidencia, em seguida, quer seja uma contradição na estrutura geral da poesia, quer dizer, entre os termos utilizados e as modalidades descritivas utilizadas, quer seja entre os termos usados nas figuras metafóricas. Observa Gardner: “Eliot estava simplesmente esclarecendo alguns dos processos pelos quais um poeta pode passar uma vez que escreve uma poesia”. O significado das palavras, argumenta Gardner, é constituído, além da precisa indicação fornecida pela palavra em si mesma (denotação), como também de toda uma série de encadeamentos potenciais com outras palavras e com outros significados que constituem a potência do termo (conotação). A poesia deve criar um balanceamento entre as palavras e avaliando atentamente também, os elos de interconexão que os termos lexicais portam consigo. Unidade 2 teoria.indb 73 73 28/9/2007 16:13:23 Universidade do Sul de Santa Catarina Se todas estas últimas operações podem ser atribuídas à esfera semântica, podemos entender que Gardner individualiza para a linguagem operações dispostas em dois níveis. Com relação ao nível sintático ele aceita o modelo de gramática gerativa proposta por Chomsky; sobre o plano semântico individualiza, sobre a representação das motivações de Eliot, uma aplicação de critérios de coerência interna entre os termos, as figuras retóricas usadas e as conotações destas. Após este ter comparado ele mesmo uma coluna em uma casa de vidro, Eliot perguntou: Você diz entender que também é de vidro? Referindo-se depois a uma sucessiva comparação do poeta com um rato, Eliot denuncia a aparente contradição: Eu penso que você não deveria ser um pilar e se assemelhar a um rato na mesma estrofe. O poeta é, portanto, aquele que consegue coordenar de maneira harmônica também as evocações longínquas que as palavras, que com suas presenças, induzem fatalmente. Estas são de forma geral, as operações necessárias à produção poética, mas são também ações que ostentam uma sua pertinência sobre todo o uso da linguagem. A tarefa do poeta é alcançar ao seu mais alto domínio. Gardner parece então haver identificado algumas operações gerais que caracterizam a produção poética. Sem descer as particularidades, se pode observar, com Gardner, que a linguagem satisfaz os requisitos de isolamento da performance, com tudo aquilo que isto comporta do ponto de vista das considerações sobre a inteligência primária. INTELIGÊNCIA LÓGICO–MATEMÁTICA Ao contrário do que acontece para as capacidades lingüísticas e musicais, a competência denominada por Gardner, “inteligência lógico-matemática” não tem origem na esfera auditiva-vocal. Parece de fato que ela seja gerada a partir dos primeiros contatos que o neonato tem com os objetos do mundo externo. Para compreender os processos de pensamento dos matemáticos, Gardner se utilizou das reflexões em mérito de Henri Poincarè. 74 teoria.indb 74 28/9/2007 16:13:23 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Partindo do pressuposto que a matemática utilizase dos mesmos enunciados da lógica, ele se perguntou como nunca alguém tenha dificuldade em compreendê-la? Poincarè formula a hipótese de que o raciocínio matemático seja uma seqüência de silogismos onde as conclusões do precedente sejam a premissa do conseqüente. Porque entre o momento em que encontramos uma proposição como conclusão de um silogismo e o momento no qual a reencontramos como premissa do sucessivo, transcorre um certo tempo, pode ocorrer que vários anéis da cadeia sejam interrompidos, ou que se tenha um defeito de memória com relação a alguma proposição. Se a memória fosse um elemento indispensável ao pensamento matemático, encontraríamos matemáticos excepcionalmente dotados do ponto de vista mnemônico. Porém isto não parece ser verdadeiro, concorda? O motivo pelo qual a memória não abandona um matemático no curso de seu raciocínio parece por outro lado, ser outro motivo, é o mesmo Poincarè a sugerir, sustentando que uma demonstração matemática não é “(...) simplesmente uma singela justaposição de silogismos, mas é constituída de silogismos dispostos em uma certa ordem, e a ordem em que estes elementos são dispostos é muito mais importante do que os próprios elementos. Se eu tenho o senso, a intuição por assim dizer, desta ordem, de modo a perceber com um só golpe de olho o raciocínio em sua inteireza, não tenho motivos para temer o esquecimento de um dos elementos já que cada um deles virá a assumir o posto que lhe foi designado na disposição geral, e tudo isto sem algum esforço de memória de minha parte.” O pensamento matemático parece desenvolver-se, portanto, a partir de uma visão global dos relacionamentos entre os vários elementos e esta visão do conjunto, denominada freqüentemente de intuição, é a base do raciocínio de tipo matemático. À observação de Poincarè se juntam aquelas do matemático contemporâneo Stanislaw Ulman que evidenciando afirma: “Muitos matemáticos relatam de terem percebido uma solução, Unidade 2 teoria.indb 75 75 28/9/2007 16:13:23 Universidade do Sul de Santa Catarina ou uma direção para um problema, muito tempo antes de terem elaborado cada passo particular.” Abstrações e intuições são, portanto, os processos primários que caracterizam o pensamento matemático; mas existem em complemento a estes também uma série de estratégias, mais utilizadas, que deveriam permitir ao pensamento uma profícua marcha aproximação em direção a solução de complexos problemas postos pela matemática. Diante a um problema muito complexo ou intricado, se aconselha ao matemático a possibilidade de encontrar um problema mais simples no interior daquele mais complexo, de buscar uma solução para este problema menor e depois trabalhar em cima de tal solução. Existem também indicações de procedimento mais gerais, como aqueles fornecidos por Herbert Simon e Allen Newell, segundo os quais os matemáticos deveriam perseguir processos heurísticos de generalização: ou seja, prosseguir de um conjunto dado de objetos do problema a um conjunto maior que contenha o conjunto dado. Estamos, portanto, no campo das estratégias do pensamento, ou seja, de um conjunto de operações gerais de nível mais elevado que requeiram, normalmente, para serem seguidas, uma série de sub-operações secundárias ligadas ao meio de execução. Do ponto de vista teórico a situação é idêntica àquela que se apresentava como a operação para “beber um copo de água”, só que neste caso as operações gerais do pensamento são de observação mais difícil: Gardner estabelece, de qualquer maneira, (como temos visto) que as principais entre essas, ou seja, aquelas que podem dar vida à estratégia operativa, são identificáveis. Não é raro, portanto, encontrar uma representação geral e coordenada destas operações no interior de um fluxograma, próprio como ocorre normalmente com os fenômenos considerados computáveis. Como se pode observar, a estratégia é sempre de tipo processual, ou seja, descreve as operações e os passos necessários para produzirem uma certa performance em alternativa, dita inteligência, mas não se ocupa em definir qualquer coisa com relação aos suportes físicos prepostos para sua execução. 76 teoria.indb 76 28/9/2007 16:13:24 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Este processo de combinações entre operações individuais, de um lado pode gerar uma enorme variedade de performances possíveis (inteligência múltipla), por outro lado, torna concebível uma intercambialidade no suporte da produção das mesmas performances (inteligência artificial). SEÇÃO 4 -Relacionamento entre o desenvolvimento do homem e a sua história evolutiva Pontos de explicações para Bruner: o acréscimo no potenciamento dos receptores sensoriais a distância, com relação aos primatas. O aparelhamento nervoso dos humanos tem, ao nascer, somente um quarto do volume do cérebro adulto, e completa este volume somente ao redor dos vinte anos de idade, enquanto os símios ao nascer têm um cérebro equivalente a dois terços daquele do adulto e completam o desenvolvimento até um ano de idade. É crescente afastamento da espécie através modificações exteriores e o uso de utensílios. Em suma, o débil aparelhamento nervoso e cerebral dos humanos ao nascer, parece ser feito de modo a favorecer a sua adaptação ao ambiente mediante os meios sociais e técnicos, em vez de mediante a uma adaptação morfológica. As perguntas que nós colocamos sobre os mecanismos cognitivos não podem ignorar as respostas das ciências biológicas, da antropologia, da história cultural do homem. Mente e cérebro, espírito e matéria, humanidade e animalidade, razão e sentidos, psique e corpo, não é outro que os diversos termos de uma contraposição dualística que tende em separar claramente as esferas espiritual daquela material, sustentando que no âmbito da mesma atividade psíquica e portanto do cérebro, existe um resíduo inacessível à analise humana, enquanto a mente – a alma se quisermos – guia o corpo-cérebro do exterior, essência impalpável e imaterial. Cavalo de batalha por muitos séculos de moralistas e filósofos dualistas, objeto de diatribe no período do renascimento, entre monísticos aristotélicos e dualistas platônicos. A separação entre uma psique imaterial e Unidade 2 teoria.indb 77 77 28/9/2007 16:13:24 Universidade do Sul de Santa Catarina um cérebro material aparenta, hoje, como um árduo exercício filosófico, necessariamente isolado de uma realidade científica, que é dificilmente interpretável em termos dualísticos, em contraste com a biologia evolucionista e com as ciências do comportamento. Do ponto de vista evolucionista existe de fato, como tem indicado Jean Piaget, uma progressão que permite passar da memória de reconhecimento, presente nos invertebrados, para aquela evocativa, própria dos primatas superiores e do homem, através de uma evolução que se realiza mediante a memória reconstitutiva (ricostitutiva). “Existem casos – escreveu Piaget – os quais a memória se dissocia da inteligência, mas a mesma memória bruta é sempre esquematizada em diversos níveis e esta esquematização mostra a sua parentela com os mecanismos da inteligência”. De outra forma, se da memória passamos ao setor dos esquemas mentais, nos damos conta como o seu estudo no animal, nos conduz diretamente ao problema da auto-consciência. Um exemplo indicativo nos é fornecido por D. Griffin e refere-se aos morcegos empenhados na ecolocalização, não tanto por seus sucessos e habilidade, quanto pela situação na qual a sua orientação não foi bem sucedida. O vôo deles é regulado pelos ultra-sons que emitem, e que permitem a eles de evitar os obstáculos e capturarem os insetos; mas quando voam em ambientes totalmente familiares a eles, muitos morcegos confiam na memória e nos esquemas espaciais: se bem que continuando a emitir os sons de orientação de forma normal, os morcegos se chocam contra obstáculos colocados de última hora, mas por outro lado, evitam obstáculos retirados improvisamente. Isto demonstra que no cérebro deles deve existir algum tipo de mapa interno que representa o ambiente familiar. Este tipo de comportamento pode ser assimilado com uma série de outras capacidades complexas que através do uso de processos de generalizações ou a formação de esquemas simbólicos, permitem aos animais adaptar-se ao ambiente com comportamentos extremamente sofisticados. 78 teoria.indb 78 28/9/2007 16:13:24 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Por exemplo, se um animal vê desaparecer atrás de uma tela, um objeto, um pedaço de comida que se move ao longo de uma linha horizontal, ele prevê o reaparecimento andando a procurá-lo na parte oposta, traseira, daquela cujo objeto desapareceu: e não são somente os mamíferos mais complexos, a darem prova deste comportamento de antecipação que, como tem indicado Bower, é presente na criança a partir do 3º - 4º mês de vida. Outro exemplo da formação de complexos esquemas mentais é claramente evidente nos estudos conduzidos em primatas não humanos, cujas necessidades cognitivas prescindem daquelas perceptivas: esses animais, chegam de fato a fornecerem juízos baseados na quantidade de líquidos e sólidos e a conservarem os dois tipos de quantidades, apesar da transformação de suas formas, demonstrando assim o respeito aquelas “regras” que, como já havia indicado Piaget, são evidentes na criança de 5 a 6 anos. Memória e aprendizado, mapas mentais e processos de generalização, capacidade simbólica e de comunicação, comportamentos colaborativos e de decisão, que implicam uma intencionalidade qualitativamente não diferente daquela evidente no homem, tem colocado sempre mais em crise, as posições dualistas mais radicais. O que você acha disto? Use o espaço para registrar suas impressões até aqui... suas dúvidas ou exemplos de situações ilustrativas. Unidade 2 teoria.indb 79 79 28/9/2007 16:13:24 Universidade do Sul de Santa Catarina Comentário: Sobre a questão acima, e explicando melhor, exortando os simpatizantes da dicotomia mente-cérebro, a pesquisarem em outros aspectos as diferenças comportamentais ou orgânicas a essência da verdadeira humanidade. Portanto aquilo que um tempo atrás era para Cartesio a glândula pineal, parece ser hoje, em nível mais sofisticado, o hemisfério esquerdo, a metade do cérebro que em todas as pessoas – salvo os canhotos – é encarregado das atividades lingüísticas: do mundo da consciência no senso objetivo, das produções intelectuais ou filosóficas, como as teológicas ou as científicas – da linguagem e da cultura transmitida, o assim chamado mundo 3, segundo as teorias de Popper e Eccles. Assim, se pudéssemos ter experiências e consciência em nível subjetivo, graças aquilo que os dois estudiosos definiram como um verdadeiro e próprio órgão de ligação entre cérebro e mente, entre o corpo e alma, e que não receberia interferência de uma contraparte simétrica estaria presente somente no cérebro humano, ou seja, no hemisfério esquerdo. Seria este hemisfério a permitir a diferenciação clara entre o homem e os animais, de maneira a explicar em termos essencialmente mecanicistas somente o comportamento das espécies não humanas; neste sentido as assimetrias entre os dois hemisférios cerebrais, parecem apresentar características ideais: a assimetria não seria de fato presente nos primatas não humanos, que são incapazes de comunicação verbal. Um elemento complementar, que jogaria a favor destas teses dualísticas, derivariam das pesquisas que R. W. Sperry conduziu em pessoas nas quais os dois hemisférios foram separados, por um trauma ou por motivos cirúrgicos, de uma secção do corpo caloso, a parte de matéria cerebral que une como uma ponte os dois hemisférios, o direito e o esquerdo. O “cérebro dividido” assim obtido indica que a atividade dos dois hemisférios é completamente independente com relação às informações visíveis e táteis, que a estes chegam, assim como para os comandos motores que estes enviam às partes do corpo por eles comandadas. 80 teoria.indb 80 28/9/2007 16:13:24 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Nos pacientes cujo corpo caloso foi seccionado o hemisfério subordinado – o da direita – pode de fato reconhecer a distância de tempo, os objetos dos quais tenha tido experiência precedente – e de cujo hemisfério esquerdo não tenha tido experiência através de um artifício técnico: contudo o sujeito é incapaz de identificar oralmente ou por escrito o objeto que ele tenha reconhecido indicando-o com o dedo. O hemisfério não dominante pareceria, portanto, desenvolver muitas das funções mentais que habitualmente são consideradas conscientes, mas, são tolhidas da capacidade de referi-las verbalmente. Em essência, o hemisfério não dominante, que é, normalmente, em conexão com o esquerdo através do corpo caloso, mesmo que dando a sua contribuição à atividade do “cérebro de ligação” entre a mente e a matéria, e sendo as áreas das idealizações da linguagem colocados no esquerdo, não entraria em contato com o mundo 2, da consciência: o hemisfério menor assemelharia portanto a um cérebro animal. Todavia, a programação genética do hemisfério esquerdo e daquele da direita, parece não ser assim rígida, de forma a impedir uma troca de papéis entre eles: em crianças com idade inferior aos cinco - seis anos, e em casos excepcionais também em idade um pouco mais avançada, as lesões da área lingüística do hemisfério esquerdo, podem ser compensadas por um desenvolvimento e pela plasticidade do hemisfério direito. Diante destes dados, a resposta dualística é de criar uma hipótese de que o órgão de ligação entre o mundo 1, dos objetos e do estado físico, e o mundo 2, dos estados de consciência, sejam transferíveis à vontade, da esquerda para a direita: Todavia, a falta de uma “sede própria” do órgão de ligação não é somente o problema relacionado às posições dualísticas: as diferenças entre os dois hemisférios não são com efeito, limitadas à espécie humana, e em muitas espécies animais o hemisfério esquerdo é já caracterizado por funções diversas, indicando de tal modo que a especial diferença do cérebro esquerdo representa na espécie humana um produto original de uma longa evolução. Unidade 2 teoria.indb 81 81 28/9/2007 16:13:24 Universidade do Sul de Santa Catarina SEÇÃO 5 - A natureza da explicação do desenvolvimento cognitivo Os eventos psicológicos exigem explicações em termos dos processos e estes não são adequadamente explicados quando são reduzidos em termos: sociológicos, fisiológicos, evolucionistas, lingüísticos ou lógicos. O desenvolvimento cognitivo é uma série de eventos psicológicos. Veja um exemplo: Uma criança não executa um certo ato em um certo modo em uma certa idade, porque a cultura em que ele vive, apresenta certos esquemas, porque pertence à evolução dos primatas que em vista seja do senso dominante, porque o seu linguajar tem ou não tem um modo fácil ou obrigatório de fazer uma distinção dotada de significado ou porque o ato da criança mostra uma adequada estrutura lógica. Estas causas finais são atraentes mas restam insuficientes, já que para uma explicação psicológica necessita de uma teoria psicológica. De que maneira uma cultura, na qual vive a criança, influência o seu modo de ver o mundo? O predomínio dos incentivos visuais e auditivos no início de sua vida ajudam orientado a atenção e selecionando a memória ou de qualquer outro modo? Porque algumas distinções disponíveis na linguagem não tocam o pensamento? Se uma distinção sintática se reflete sobre o pensamento de que forma isto ocorre?” (SSC, 1968 [1966], 19). A referência principal é o conjunto das teorias de J. Piaget sobre o desenvolvimento da mente. Vamos conhecer um pouco mais desse pesquisador? 82 teoria.indb 82 28/9/2007 16:13:24 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Jean Piaget e a psicologia genética Vida e obra Jean Piaget nasceu na Suíça em 1896. Discípulo de Paolo Janet, dedicou-se aos estudos de psicologia da infância, colaborando com Claparède nas atividades do Instituto Jean Jacques Rousseau de Genebra, e criando a sua volta uma escola (B. Inhelder, A. Szeminska, M. Lambercier, A. Rey). Piaget morreu em 1980. Entre os seus numerosos trabalhos escritos, traduzidos em todas as principais línguas, relembramos: A linguagem e o pensamento na criança (1923), O julgamento e o raciocínio na criança (1924), A representação do mundo na criança (1926), A casualidade física segundo a criança (1927), O julgamento moral na criança, O nascimento da inteligência na criança, A construção do real na criança, A gênese do número na criança, (em colaboração com B. Inhelder; 1942), Classes relações e números, A formação do símbolo na criança, O desenvolvimento da noção de tempo na criança, As noções de movimento e velocidade na criança, A representação de espaço na criança (em colaboração com A. Szeminska), A geometria espontânea da criança (em colaboração com B. Inhelder e A. Szeminska), A psicologia da inteligência (1947; traduzido para o italiano em 1952), (1949), A gênese da idéia de caso na criança (em colaboração com B. Inhelder; 1951), O desenvolvimento das estruturas lógicas elementares (1959), Sabedoria e ilusões da filosofia (1965), A psicologia da criança (1966), Biologia e conhecimento (1967), O estruturalismo (1968), Compêndio de epistemologia genética (1970), As ciências do homem (1970), Adaptação biológica e psicologia da inteligência (1974), Teoria e métodos da educação moderna (1972). Contra a confusão habitual dos caracteres próprios da infância e da idade adulta, autores como Stanley Hall e Claparède tinham reivindicado uma concessão genética, que reconhecia a infância, como um estágio preparatório, das próprias leis peculiares: a pedologia era assim elevada à dignidade de ciência, em certo senso autônoma, no âmbito da vasta antropologia. A distinção dos caracteres próprios dos dois diversos estágios de desenvolvimento, a infância e a maturidade, foi impulsionada ainda mais diante de Piaget. Segundo este autor, a psique Unidade 2 teoria.indb 83 83 28/9/2007 16:13:25 Universidade do Sul de Santa Catarina infantil é estruturada de modo fortemente egocêntrico e subjetivo, enquanto a psique do adulto é estruturada de modo largamente social e objetiva. A psicologia genética tem por outro lado, a tarefa de descrever o gradual transpasse de uma para outra estrutura para efeito da interação crescente entre o sujeito e o mundo (coisas, pessoas) que o circunda; a distância entre o ponto de partida e o ponto chegada, por quanto notável esta seja, não suprime, portanto, segundo Piaget a continuidade funcional que liga todas as manifestações da vida, das mais rudimentares formas biológicas as mais elevadas e complexas criações do pensamento. Os níveis do desenvolvimento vital Segundo Jean Piaget, a vida tem, entre os seus caracteres essenciais, um poder morfogenético, ou seja produtor de formas, que se explica em diversos graus ou níveis, unificando e coordenando em totalidade, sempre mais vastas e complexas uma variada multiplicidade de estruturas e funções. Níveis Característica Primeiro nível É aquele biológico próprio do organismo, que assegura as trocas materiais entre seus órgãos e o ambiente. Segundo nível é aquele dos instintos, que constitui um prolongamento funcional da estrutura dos órgãos: cada indivíduo de uma determinada espécie nasce não só com uma organização anatômica e fisiológica definida, mas também com uma dotação de instintos fundamentais. Terceiro nível corresponde às primeiras atividades de assimilação sensório motriz, a percepção e os hábitos. Dentre os seus limites de desenvolvimento se podem ulteriormente distinguir diversos estágios, que coincidem com outras etapas sucessivas do processo de crescimento do indivíduo. Quarto nível fundamentalmente do desenvolvimento é aquele do pensamento simbólico preconceitual, de um ano e meio-dois anos até seis anos. Neste período ocorre a aquisição sistemática da linguagem, que é acima de tudo tornada possível pelo exercício de uma mais generalizada função simbólica, ou seja, da representação de algumas coisas (significado) mediante a outras (significante). Esta função simbólica, que atua no princípio no jogo sem destacar-se da ação do sujeito, vem sucessivamente objetivando-se (uma pequena pedra alisada, ou objeto arredondado pode ser um pão) e através da imitação assume um sistema de sinais determinados pela convenção social. Na utilização dos primeiros sinais verbais se ajuntam os pré-conceitos, esquemas que ficam em meio da estrada entre a generalidade do conceito e a particularidade dos elementos que o compõem; a criança é ainda incapaz de distinguir entre “todos” e “alguns” e não pode compreender a noção de “classe”, mas possui já um esquema representativo capaz de evocar muitos objetos colecionados por semelhança e alguns exemplares-modelo. Do nexo destes pré-conceitos resultam os raciocínios primitivos ou transduções, que se verificam por analogia imediata, permanecendo, porém, dos processos de inclusão incompletos. 84 teoria.indb 84 28/9/2007 16:13:25 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Quinto nível corresponde ao pensamento intuitivo, dos quatro aos sete-oito anos. Este é ainda um pensamento por imagens, como o precedente, todavia se volta para configurações de conjunto e não mais para “coleções sincréticas” simbolizadas por exemplarestipo. O pensamento intuitivo imita as ações reais por meio de experiências mentais fundadas sobre imagens: esses dão lugar a ajustamentos e regulagens que constituem um esquema pré-lógico. Sexto nível é constituído das operações concretas, que vêm organizando-se entre os sete-oito e os onze-doze anos. Sétimo nível é constituído das operações formais que se elaboram entre os onze e os doze anos, até a complementação funcional da inteligência reflexiva. Operações concretas e operações formais são manifestações lógicas verdadeiras e próprias, todavia as primeiras são ainda de qualquer modo ligadas à intuição, dado que sobre estas são construídas, enquanto as segundas podem emancipar-se, agrupando conceitos, no todo, abstratos. No terceiro nível, encontram-se os estágios de desenvolvimento que são: a) o estágio dos reflexos, no qual se tem um início da assimilação reprodutiva, generalizativa e explorativa, dentre o mesmo quadro dos mecanismos regulados hereditariamente; b) o estágio dos hábitos elementares, no qual aos esquemas reflexos são incorporados novos elementos, que são verdadeiras aquisições experimentais: tais como o condicionamento e a extensão dos mesmos reflexos; c) o estágio das reações circulares (primárias e secundárias), ou seja da reprodução ativa de resultados obtidos a primeira vez por acaso e derivados de esquemas de ação adquiridos; este estágio, corresponde a uma idade entre 3 a 6 meses, já alcança uma articulação (irreflexa) da conduta em meio e escopo, ao menos como fase sucessiva de um mesmo comportamento global; d) o estágio das reações circulares inversas, no qual as duas fases do meio e do fim podem se inverter, de modo que o fim transforma-se psicologicamente, também se irreflexamente, precedentemente o meio; este estágio, corresponde a uma idade de 8 a 10 meses, já alcança a uma extensão mais ampla dos esquemas sensóriomotores, e utiliza estes mesmos esquemas para uma preliminar compreensão dos objetos através do seu uso. Unidade 2 teoria.indb 85 85 28/9/2007 16:13:25 Universidade do Sul de Santa Catarina e) o estágio das reações circulares terciárias, no qual a assimilação reprodutora é acompanhada de uma acomodação intencional; os esquemas já adquiridos como meios podem ser aplicados em situações em parte diversas, diferenciando-se e incorporando acontecimentos fortuitos; a este estágio corresponde a primeira conduta corretamente definida como inteligente, como o chamado “procedimento por tentativas” (tatonnement dos franceses, trial dos ingleses); f) o estágio da invenção, que ocupa uma parte do segundo ano de vida e leva ao cumprimento da inteligência sensório-motora; nesta os meios não são somente descobertos mediante a experiência ativa, mas também através uma rápida coordenação interna dos procedimentos novos, apresentando as “reestruturações bruscas”; a este estágio corresponde também a imitação diferida, ou seja a execução de uma cópia também após o desaparecimento do modelo, do campo perceptivo, e o aparecimento de formas elementares de jogo simbólico; estes dois fatos denunciam já a presença de processos de imagens, que iniciam as formas de inteligência representativa. — A seguir, você terá a oportunidade de estudar sobre a teoria da inteligência do ponto de vista da sua operação. Vamos lá? Anote suas dúvidas para perguntar ao seu tutor(a). A teoria operatória da inteligência Piaget define propriamente uma teoria operatória da inteligência. “As operações intelectuais, que no limite superior delas tem uma forma lógica e matemática, constituem, segundo esta teoria, das ações reais, seja enquanto produção própria do sujeito, seja como experiência possível em confronto com a realidade”. A inteligência é também uma forma de conduta e como cada conduta é uma adaptação, ou seja, um equilíbrio dinâmico, entre a ação do organismo sobre o ambiente (assimilação) e a ação inversa (acomodação); isto é que distingue a inteligência de outras formas de adaptação mais limitadas é a vastidão verdadeiramente universal de seu âmbito objetivo, enquanto que, ao nível formal, esta pode também prescindir das condições de espaço e de 86 teoria.indb 86 28/9/2007 16:13:25 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio tempo (hic et nunc). De qualquer forma, como conduta, também a inteligência é uma troca de ação-reação entre o sujeito e o ambiente; a linguagem, o sistema de sinais convencionais, é um artifício mediante o qual essa interioriza a ação. “A conduta verbal é uma ação que é, sem dúvida, restrita e que resta completamente interior; uma amostra de ação que corre continuamente o risco de interromper-se no estado de projeto, mas resta também sempre ação, substituindo simplesmente os objetos com os sinais, evocando os movimentos em vez de efetuálos, e operando mentalmente, através destas transformações. Um caráter essencial que distinguem todavia as operações lógicas das ações empíricas, de cujas essas são o prolongamento interior, é que as operações lógicas não se apresentam nunca no estado descontínuo, mas coordenadas em sistemas; assim por exemplo cada conceito de classe pressupõe uma classificação da qual faz parte, cada conceito de série pressupõe uma ordenação em série, cada número existe como um elemento da inteira sucessão de números, cada relação espacial ou temporal supõe uma unidade esquemática do espaço e do tempo, cada avaliação supõe uma escala de valores. Estes sistemas operadores de conjunto obedecem a algumas condições de equilíbrio; as estruturas de equilíbrio são chamadas por Piaget de reagrupamentos. “Comparado ao equilíbrio parcial das estruturas perceptivas ou motrizes, o equilíbrio dos agrupamentos é essencialmente um equilíbrio móvel, de fato as operações sendo das ações, o equilíbrio do pensamento operatório não é dado de um estado de repouso, mas de um sistema de trocas que se equilibram e de transformações contínuas compensando-se alternadamente”. O desenvolvimento das ciências exatas, pela contínua aquisição de novos elementos, é um consistente exemplo. Unidade 2 teoria.indb 87 87 28/9/2007 16:13:26 Universidade do Sul de Santa Catarina Os requisitos essenciais de cada conjunto de elementos são: a composição (A + B = = C; C + D = E; etc.); a reversibilidade (A – B = C; A – C = B); a associatividade [ I (A + B) + C = A + (B + C) = (D)]; a identidade geral (A – A = 0; B – B = 0); a identidade especial tautológica (A + A = A; B + B = B; válida somente no campo qualitativo). Os conjuntos, por sua vez, podem ser distinguidos em oito tipos fundamentais: quatro aditivos (classificação, série qualitativa, substituição, equivalência) e quatro multiplicativas (duas de tabelas com dupla entrada, duas de correspondência uma para muitos). O desenvolvimento da inteligência A análise dos procedimentos lógicos corresponde, afirma Piaget, de um lado à mais rigorosa axiomática lógica, de outro aos reais processos psicológicos operadores do pensamento. As condições de uma completa formalização da lógica são as mesmas condições de um completo equilíbrio dos sistemas operadores. Note que um sistema operatório esta em equilíbrio “quando estão em equilíbrio assimilação e acomodação, sujeito e objeto”. Até quando predomina a assimilação subjetiva, como ocorre durante a infância, os sistemas operadores são incompletos e unidirecionais, portando em certo modo rígidos; a maturidade da inteligência exige, por outro lado, que o sujeito se eleve à compreensão de trocas multidirecionais perfeitamente reversíveis. A progressiva ascensão de uma visão fortemente egocêntrica e subjetiva tal como é aquela da primeira infância, para uma visão descentrada e objetiva tal como é aquela do equilíbrio do pensamento operatório maduro, é assinalada das etapas de construção do objeto, do número, do espaço e do tempo, as quais Piaget dedicou muitas pesquisas. O “esquema do objeto” consiste essencialmente, segundo Piaget, na citação da “figura percebida para um suporte substancial de maneira que a substância e figura que representa o índice continuem a subsistir também fora do campo perceptivo”. 88 teoria.indb 88 28/9/2007 16:13:26 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio O autor destaca que o princípio de conservação da substância aflora em direção ao termo do terceiro estágio do terceiro nível (reações circulares), consolidando-se no quarto e quinto estágio. A construção da noção de espaço é contemporânea; assim também como aquela do tempo. È necessário, todavia, chegar em direção ao termo do quinto nível (pensamento intuitivo), ou seja, para os sete-oito anos, para que a criança esteja em condições de compreender a conservação simultânea de relações complexas, e seja capaz das operações constitutivas do conceito de número (também se já tenha primeiramente adquirido o processo nominal). De outra parte, o mesmo princípio de conservação da substância é desenvolvido nos seus aspectos passo a passo; aos sete-oito anos é reconhecida a conservação da quantidade de matéria; todavia, somente entorno dos nove-dez anos é reconhecida a conservação do peso, e somente entorno dos onze-doze anos a conservação do volume. Primeiramente desta última idade, por outro lado, todas as operações têm necessidade de um substrato intuitivo. O desenvolvimento intelectual prossegue segundo estágios que se sucedem de forma regular no curso do desenvolvimento infantil e da adolescência. Na primeira etapa, o sensório motor, é baseada na coordenação de ações e age sobre elementos concretos, até quando a criança chega a possuir a capacidade de representar mentalmente as ações antes de executá-las. É a fase préoperatória. Iniciam-se neste momento os avanços intelectuais que se desenvolvem em um contexto simbólico, em vez de sensório motor, também se a nível sempre concreto. Segue então a fase operativa, na qual a criança executa operações mentais sempre mais complexas (classificação, seriação, correspondência biunívoca etc.) Com o início da adolescência se elabora progressivamente o pensamento formal, caracterizado por um adequado relacionamento entre o real e o possível, da modalidade hipotético-dedutiva de pensar, como também do pensamento proporcional. O modelo genético de Piaget se baseia nos conceitos de assimilação, acomodamento e equilíbrio. A criança, primeiramente busca se adaptar aos esquemas dos quais já tem domínio, para a nova realidade com a qual ele se encontra pela primeira vez. Mas é obrigado a modificar os próprios Unidade 2 teoria.indb 89 89 28/9/2007 16:13:26 Universidade do Sul de Santa Catarina conhecimentos e as próprias condutas, acomodando os esquemas precedentes até chegar a um equilíbrio satisfatório. Cada fase do desenvolvimento propõe este ritmo: é assimilação, isto é repetição, exercício para a consolidação dos esquemas mentais apenas constituídos; é acomodação, isto é inovação, aquisição de novos esquemas mentais. Alguns aspectos desta teoria podem estar obrigatoriamente presentes na educação da criança na idade escolar: 1. É necessário basear a aquisição de conceitos e esquemas mentais mediante manipulação e buscando recursos constantemente nas experiências concretas. 2. É possível seja como for, adquirir um determinado esquema conceitual seja através da ação, seja através da percepção, seja através da linguagem (é evidentemente um caminho do simples ao complexo). 3. A superação de cada uma das etapas é possível mediante a elaboração de estratégias cognitivas. Não se pode apresentar a criança uma dificuldade intelectiva, sem ajudar-la contemporaneamente a construir as estratégias intelectivas válidas para afrontar tais dificuldades. As tarefas vão, portanto, graduadas, e devem ser proporcionadas às efetivas capacidades cognitivas de cada criança. A descentralização lógica e a cooperação social Cada uma destas aquisições, primeiramente conseguidas mediante regularizações intuitivas e enfim sistematizadas nos agrupamentos lógicos, constituem uma crescente descentralização. O sujeito consegue compreender em uma totalidade lógica os possíveis múltiplos pontos de vista de um mesmo objeto, e a possibilidade para este último, de modificar a sua volta. Quanto mais ele se torna consciente de seu egocentrismo inicial, deformador de prospectivas, tanto mais ele o desvincula e vai se liberando. 90 teoria.indb 90 28/9/2007 16:13:26 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Um fator potente de objetivação são os relacionamentos sociais, que a linguagem em certo senso pressupõe e em certo senso consolida. A sociedade se baseia sobre cooperação física, intelectual, moral. Piaget reputa sem dúvida que a cooperação intelectual, encaminhando ao equilíbrio das múltiplas subjetividades que se encontram em confronto, encaminha ao equilíbrio da reflexão (como diálogo interior). A lógica “acolhe regras e normas comuns, e representa uma moral do pensamento imposta sancionada pelo ambiente externo. Assim a obrigação de não cair em contradição não é somente uma necessidade puramente condicional ou “imperativo hipotético” para quem deseja manter-se nas regras do jogo operatório, mas se transforma em um verdadeiro imperativo moral “categórico” pelo fato que é indispensável a cada troca intelectual e à cooperação”. Poder-se-ia perguntar, se a sociabilidade pressupõe a inteligência e vice versa; Piaget reputa preferivelmente que a atividade operatória interna e a cooperação exterior são aspectos complementares de um todo, “sendo o respectivo equilíbrio deles em condições de recíproca interdependência”. Não se pode negar, segundo Piaget, que “um conjunto não pode atuar-se até quando as percepções e as intuições espontâneas do indivíduo se dividem do ponto de partida egocêntrico dele, para chegar a um sistema de relações que permita passar de um termo ou um relacionamento a outro, partido de uma qualquer prospectiva. Trata-se, então, de uma coordenação de pontos de vista de observadores diversos, ou seja de uma cooperação entre muitos indivíduos”. Hipótese explicativa de Bruner No início o mundo da criança é somente conhecido por ela, através de suas ações habituais (representação executiva) sucessivamente ela alcança a uma técnica de representação através da imagem, enquanto esta última é relativamente livre da imagem (representação icônica) depois ainda a criança conquista um potente método de traduzir ações e imagens na linguagem (representação simbólica). — Acompanhe, a seguir, uma síntese que remete a uma complementaridade de conteúdos tratados. Anote as questões que para você são centrais. Unidade 2 teoria.indb 91 91 28/9/2007 16:13:27 Universidade do Sul de Santa Catarina Síntese Primeiro tema: (seção 1) Sobre a natureza da percepção ou seja: com quais meios os seres humanos se representam na sua experiência do mundo, durante o seu crescimento e em que modo organizam para os usos futuros aquilo que eles encontram. O problema de partida é assim resumido: o que nos informam as nossas observações com relação a natureza do mundo ou a natureza da mente? É possível separar umas das outras? Na origem um livro de E. Mach que fez escola. Publicado nos últimos anos do século passado The analysis of Sensation (trad. para o italiano L’analisi delle sensazioni e il rapporto tra fisico e psichico, Feltrinelli, Milano 1995), o autor, sustenta que é possível interpretar a experiência seja como externa, isto é como um mundo fora de nós, seja como interna ou subjetiva. A. Einstein elaborou a tese de E. Mach da seguinte forma: o mundo, considerado do exterior, não pode ser nunca autônomo com relação ao ponto de referência do observador. Foi isto para assinalar o paradigma gnoseológico do nosso século. P. Manet, lembra o caso de um pintor contemporâneo de E. Mach, que sintetizou assim o espírito da coisa: “A natureza não é senão uma hipótese”. Mas, se este era o estopim, a pólvora explosiva foi acesa por alguns jovens pesquisadores de Harvard que, logo após a segunda guerra, deram vida exatamente a um movimento de estudos sobre a percepção, que eles mesmos chamaram New Look on Perception. As atividades ao menos formalmente, tiveram início, meio século atrás com uma serie de publicações (Bruner e Postman, 1947; Mc Ginnies 1949; Postman, Bruner, Mc Ginnies, 1948) nos quais se sustentava que a percepção dos estímulos externos não é dissociada dos caracteres dos eventos internos: comportamentos, valores, expectativas, defesas 92 teoria.indb 92 28/9/2007 16:13:28 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio psicodinâmicas são todos os fatores que influenciam a percepção. Esta posição se tornou notória com o termo genérico de New Look. ( M. Erdelyi, 1974. Segundo tema (seção 2) influência da cultura sobre o modelo do desenvolvimento Segundo Bruner tal desenvolvimento tem lugar através um processo que vai tanto do interior para o exterior, quanto do exterior para o interior da pessoa humana. Tal processo consiste no desenvolvimento de amplificadores da capacidade motriz, sensitiva e reflexiva transmitida por uma cultura. Diversas culturas fornecem amplificadores diversos em épocas diversas da vida da criança: ou seja, o processo do desenvolvimento humano não procede paralelamente nas diversas culturas, e todavia é legítimo comparar algumas uniformidades, apesar da diferenças, no desenvolvimento das diversas culturas humanas. Isto significa simplesmente que o desenvolvimento cognitivo é inconcebível sem a participação em uma cultura e da sua comunidade lingüística. O terceiro tema (seção 3) relacionamento entre o desenvolvimento do homem e a sua história evolutiva, em particular com o seu passado enquanto evolução dos primatas. Pontos de explicações para Bruner o acréscimo no potenciamento dos receptores sensoriais à distância, com relação aos primatas. O aparelhamento nervoso dos humanos tem, ao nascer, somente um quarto do volume do cérebro adulto, e completa este volume somente ao redor dos vinte anos de idade, enquanto os símios ao nascer têm um cérebro equivalente a dois terços daquele do adulto e completam o desenvolvimento até um ano de idade. Crescente afastamento da espécie através modificações exteriores e o uso de utensílios. Em suma o débil aparelhamento nervoso e cerebral dos humanos ao nascer, parece ser feito de modo a favorecer a sua adaptação ao ambiente mediante os meios sociais e técnicos, em vez de mediante a uma adaptação morfológica. Unidade 2 teoria.indb 93 93 28/9/2007 16:13:28 Universidade do Sul de Santa Catarina Quarto tema (seção 4) natureza da explicação do desenvolvimento cognitivo Os eventos psicológicos exigem explicações em termos dos processos e estes não são adequadamente explicados quando são reduzidos em termos: sociológicos, fisiológicos, evolucionistas, lingüísticos ou lógicos. O desenvolvimento cognitivo é uma série de eventos psicológicos. “Uma criança não executa um certo ato em um certo modo em uma certa idade, porque a cultura em que ele vive, apresenta certos esquemas, porque pertence a evolução dos primatas que em a vista seja o senso dominante, porque o seu linguajar tem ou não tem um modo fácil ou obrigatório de fazer uma distinção dotada de significado ou porque o ato da criança mostra uma adequada estrutura lógica. Estas causas finais são atraentes mas restam insuficientes, já que para uma explicação psicológica necessita de uma teoria psicológica. De que maneira uma cultura, na qual vive a criança, influencia o seu modo de ver o mundo? O predomínio dos incentivos visuais e auditivos no início de sua vida ajudam orientado a atenção e selecionando a memória ou de qualquer outro modo? Porque algumas distinções disponíveis na linguagem não tocam o pensamento? Se uma distinção sintática se reflete sobre o pensamento de que forma isto ocorre?” (SSC, 1968 , 1966, p. 19). 94 teoria.indb 94 28/9/2007 16:13:28 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Atividades de auto-avaliação 1. Apresente os componentes fundamentais do modelo HIP (Human Information Processing) e descreva asa características dele à luz do pensamento cognitivista. 2. Elenque os vários tipos de inteligência segundo a classificação elaborada por Gardner e destaque as características essenciais. Unidade 2 teoria.indb 95 95 28/9/2007 16:13:28 Universidade do Sul de Santa Catarina Saiba Mais Para complementar seus conhecimentos, leia o texto abaixo: Para compreender a importância da contribuição para o estudo do aprendizado na sociedade contemporânea, devemos identificar o seu ponto de partida e o seu ponto de chegada. Como os navegantes nos ocorre a figura de uma carta náutica. E para este propósito nos socorre o mesmo Bruner, o qual em sua Autobiografia (AUTO, 68 ss.) conta sua travessia pela psicologia como se fosse um marinheiro que se utiliza de uma carta oceânica. Nesta existem dados topográficos ou estruturais e dados atmosféricos ou variáveis. Entre os primeiros Bruner identifica os seguintes problemas fundamentais que estão na origem das transformações da psicologia contemporânea, da psicofísica em ciência da mente: 1. Como pode o mundo parecer (ou mostrar-se) assim como ele parece (ou mostra-se), com seus significados, seus eventos, os seus acontecimentos, nenhum dos quais tem lugar na sensação? 2. Qual a origem da experiência? É o resultado dos nossos poderes essencialmente associativos (Associativismo) ou é a conseqüência do uso das nossas categorias inatas de espaço e de tempo (Inatismo); é restrito somente aos dados de experiência sensorial que nos acumulamos como resposta aos estímulos ambientais (Objetivismo); é a prova da natureza física e biológica dos nossos estados mentais (fisicalismo), ou ao contrário, a afirmação da eficácia causal da própria mente (mentalismo)? Entre o segundo item, é possível reconstruir aquilo que o próprio Bruner descreve ao reconstruir a gênese do cognitivismo nos últimos quarenta anos: 1. Liberação, nos últimos quarenta anos, da percepção de um comportamento inflexível em um sensismo privado da mente. 2. Estudo direto do pensamento. 96 teoria.indb 96 28/9/2007 16:13:28 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio 3. Análise do modo pelo qual pode ter início a mente. 4. Como se adquire a linguagem, como se adquire o controle e como isso pode tornar-se um instrumento do pensamento. 5. Quais as conseqüências práticas que todas estas coisas têm sobre a Educação. Uma carta náutica“As cartas oceânicas dão em primeiro lugar as informações sobre a forma das massas de água, e sobre as massas continentais que as circundam; ainda contêm dados tangíveis sobre as correntes oceânicas seguras, sobre a profundidade marítima até ao limite alcançável dos instrumentos assim como sobre os usuais sinais de navegação. São os dados. Se for necessário obter mais informações, existem os almanaques astronômicos. ...As cartas todavia levam também informações mais efêmeras sobre o tempo provável o sobre rotas seguidas por outras embarcações. As informações efêmeras sobre cartas náuticas apresentam os riscos, entre as massas continentais e as profundidades oceânicas. Estas duas categorias encontram exata correspondência nos mapas que podemos traçar para os grandes espaços da psicologia e que podemos classificarlos em topográficos e atmosféricos. Aqueles topográficos compreendem os grandes e persistentes problemas que tem marcado por si o conhecimento, os paradigmas e as conjecturas clássicas. Aquelas atmosféricas nos dizem como sopram os ventos e como viajam as naves”. (AUTO, 69-70 ss.) Unidade 2 teoria.indb 97 97 28/9/2007 16:13:28 teoria.indb 98 28/9/2007 16:13:28 UNIDADE 3 A linguagem como instrumento da mente: em que medida a aprendizagem precede o desenvolvimento? 3 Objetivos de aprendizagem Compreender o funcionamento da mente no âmbito do desenvolvimento humano e escolar. Analisar como a interação social se coloca como processo de aprendizado que precede o desenvolvimento. Analisar a linguagem como instrumento da mente e suas correlações como o desenvolvimento escolar. Verificar em que sentido a aprendizagem precede o desenvolvimento para Bruner. Identificar o desenvolvimento da menta sob a teoria vigotskiana e piagetiana e as relações culturais e escolares. Seções de estudo Seção 1 Como tem início a mente? Seção 2 A interação social é um processo de aprendizado que precede o desenvolvimento: O influxo de Vygotski Seção 3 Em que sentido a aprendizagem precede o desenvolvimento para Bruner? teoria.indb 99 28/9/2007 16:13:28 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Para iniciar o estudo e aquecer o nosso debate, vamos analisar com a mente começa a ser tema de estudo e o que ela gera de questionamentos e conclusões. Embora seja um conteúdo denso, consideramos importante trazer as bases do desenvolvimento para tratar da compreensão do ensino, da prática docente e as variáveis que implicam na construção de um currículo. SEÇÃO 1 - Como tem início a mente? Com base em que pressupostos podemos fazer esta análise? Comecemos dizendo que desde os anos 50, Bruner estuda Piaget. Ele se dirigiu em visita a Genebra pela primeira vez em 1956, e certamente pode-se dizer que, durante os anos de sua permanência em Oxford (1972 – 1980), o seu pensamento foi profundamente e dialeticamente influenciado pelo estruturalismo de Piaget. E, todavia tal adesão foi constantemente animada por dúvidas e pesquisas. Como o próprio Bruner escreveu alguns anos mais tarde. “Creio que a adesão ao estruturalismo conduz como profunda conseqüência também a adesão a um “quietismo”, o que para um funcionalista é sempre desconcertante: um estuda como os desejos estruturais determinam as formas de ações; o outro – como no célebre ditado de Claude Bernard – o modo no qual a função cria a forma. E não é que uma posição seja mais verdadeira do que a outra. Se trata de dois modos diversos de analisar a natureza” (Auto, 149). Para Bruner, Piaget era, sobretudo, um epistemólogo e, em particular, um epistemólogo geneticista. Estava convencido que estudando o desenvolvimento da mente na criança seria possível reconstruir a evolução da ciência. O aparato psicológico no 100 teoria.indb 100 28/9/2007 16:13:28 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio interior de seu sistema de pensamento é decididamente limitado. Trata-se no mais de um aparato lógico dentre o qual é possível caracterizar a lógica inata no modo pelo qual a criança busca resolver um problema ou explicar por que agiu de uma forma e não de outra. A criança, segundo a teoria do desenvolvimento de J. Piaget, passa de um estágio de desenvolvimento para outro por meio de um processo de “equilibração” não melhor especificado entre os dois potentes movimentos psicológicos e evolutivos fundamentais: aquele da assimilação do mundo externo e aquele do acomodamento ao mundo externo. “Para a criança de Piaget que está crescendo, o mundo é um lugar tranqüilo. Encontrando-se virtualmente sozinho, o mundo lhe aparenta cheio de objetos que deve dispor no espaço, no tempo, nos relacionamentos causais. Inicia a sua viagem dominada pelo egocentrismo e deve atribuir ao mundo propriedade que acabará em dividir com outros. Mas os outros lhe serão de pouca ajuda. A reciprocidade social da criança e da mãe atribui um papel reduzido na explicação que Piaget fornece ao desenvolvimento, e a linguagem não fornece apoio nem oferece o meio para resolver os enigmas do mundo ao qual a linguagem propriamente se aplica. A criança de Piaget se descobre afrontando um problema enorme: aquele de levar as representações internas da mente a uma posição de equilíbrio com as estruturas da experiência. As crianças de Piaget são os pequenos intelectuais que vivem destacados da confusão da condição humana...” Com uma obstinação toda sua, Piaget bloqueou a idéia de que exista uma realidade psicológica ligada à cultura, em um “Mundo Três” qualquer, à Popper, que possa ser interiorizada ou fingir de antecipação para a mente. Para Piaget, o conhecimento é sempre uma invenção e as formas da invenção não incluem a aquisição de representações da cultura que tenham sido armazenadas para depois chegar ao conhecimento através da sua reconstrução. Assim a criança, que no mundo de Piaget, é pai do homem, é verdadeiramente uma criança calma e solitária”. (J. Bruner, Auto, pp. 148-149). Unidade 3 teoria.indb 101 101 28/9/2007 16:13:29 Universidade do Sul de Santa Catarina Mas, o conhecimento e os estudos sobre Piaget eram agitados, como se dizia então, na reflexão bruneriana como sendo um quebra-cabeça: que espaço tem o contexto e a cultura no desenvolvimento e na formação da mente da criança? É possível reconduzir todos os problemas ligados ao uso dos sistemas simbólicos usados por uma criança, por uma criança que cresce em um contexto enriquecido de interações, ao desenvolvimento de suas estruturas psicológicas e lógicas fundamentais como propõe Piaget? A resposta ao quebra-cabeça foi ocasionada, paradoxalmente , pelo “degelo” da guerra fria. Bruner já conhecia Vygotski através de seu artigo sobre os processos de aprendizagem infantil desde os anos 40, um dos dois então circulantes: a tese sustentada referia-se precisamente ao desenvolvimento do pensamento mediante a interiorização da linguagem. Mas foi após 1961, depois da “reabilitação” de Vygotski, na Rússia, aliado a um grande trabalho de contatos diplomáticos para obter os direitos, que foi possível publicar em inglês, pela primeira vez em edição mundial o Pensamento e Linguagem. O prefácio de Bruner tem data de 1956. O trabalho de escrever o prefácio fez com que Bruner descobrisse um novo Vygotski, e foi exatamente aquela a porta através da qual uma nova dimensão de estudos e prospectivas foram abertas para a pesquisa sobre os processos envolvidos na mente, na psicologia e na pedagogia contemporânea. “O mundo de Vygotski era um lugar totalmente diferente, daquele de Piaget, quase o mundo de um grande romance o de um drama russo, “à la” Tolstói ou “à la” Cechov. O desenvolvimento é determinado por uma contínua tomada de consciência e de controle voluntário, de aprendizados ligados à linguagem, para a descoberta de seu significado, de lenta aquisição das formas e dos instrumentos da cultura para após aprender a usá-los de maneira mais adequada.” (Auto, 149) Já em 1934, em Pensamento e Linguagem (1954) ele realçava o papel da linguagem verbal como meio para colocar em ordem entre os próprios pensamentos considerando a realidade e a experiência. Vygostski liga o pensamento e a linguagem também evidenciando a valência estruturante que esta última 102 teoria.indb 102 28/9/2007 16:13:29 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio reveste ao produzir, no qualificar e no personalizar o estreito relacionamento entre a atividade lingüística e a atividade cognitiva. Seja em sentido filogenético que ontogenético, as funções psicológicas superiores do homem (o recordar, o abstrair, o generalizar, o categorizar, conceituar e refletir), são conciliados pelos instrumentos que a sociedade fornece: a linguagem verbal torna-se o mais importante destes instrumentos. Para Vigotski, “a consciência e o controle aparecem somente em um estágio maduro do desenvolvimento de uma qualquer que seja função psicológica, e é somente após, que esta é usada e praticada de forma inconsciente e espontânea. Para poder submeter uma função ao controle intelectual e volitivo devemos primeiramente possuí-la”. Mas então que coisa ajuda a criança a desenvolver e adquirir o controle de seus atos mentais? Bruner colhe a grande relevância da zona de desenvolvimento proximal avançada de Vygostski. “O esboço de uma resposta da parte de V. era contida em uma idéia de nome pouco apropriado “zona de desenvolvimento proximal”. Esta consiste na capacidade que tem uma criança de fazer uso de alusões para utilizar-se da ajuda que os outros lhe fornecem para organizar os seus processos mentais, na esperança que ele esteja em condições de fazê-la sozinho. Utilizando-se da ajuda dos outros ele põe a própria consciência e a própria prospectiva sob controle e alcança um “nível mais elevado”. Assim para citar V. “os novos conceitos de ordem superior transformam o significado daqueles inferiores’. O adolescente que tem apreendido os conceitos da álgebra se faz forte de uma posição vantajosa da qual vê os conceitos da aritmética em uma prospectiva mais ampla” (Pensamento e Linguagem, 235, Apud Auto, 151). Unidade 3 teoria.indb 103 103 28/9/2007 16:13:29 Universidade do Sul de Santa Catarina Em conclusão, amadurece em Bruner o convencimento de que para resolver o quebra-cabeças do qual se dizia que o critério piagetiano faltasse o alvo: preferivelmente que procurar individualizar quais estruturas lógicas estavam se formando na mente da criança no curso do seu desenvolvimento (Piaget), parecia mais oportuno analisar a maneira pela qual a criança adota, aperfeiçoa e enriquece as suas estratégias mentais. E isto para verificar a relevância da intuição de Vygotski, segundo o qual o aprendizado precede o desenvolvimento. Estudando experimentalmente os “blocos de aprendizado” Bruner observa como as crianças aprendem e enfrentam situações problemáticas em ambientes comuns. Crê, também, que as crianças aprendem a andar através da informação dada reelaborando formas particulares de “pensamento produtivo” de maneira mais lenta em relação ao pensamento dos adultos. Portanto, qualquer coisa de progressivamente e profundamente diferente da prospectiva de pesquisa piagetiana. Para Piaget, o desenvolvimento se adianta por si, porque a criança tem um adequado incentivo de experiência ativa com o mundo. Basta apenas esperar. Os estágios de desenvolvimento se sucederão na mesma ordem, talvez acelerados por uma experiência mais rica, porém Piaget liquidou este último ponto como “la question americaine”. É possível que os estágios fossem monolíticos a tal ponto? E o desenvolvimento procede realmente com o passo lento e constante de uma geleira empurrada para frente por uma única força? Para mim parecia que atrás do desenvolvimento mental existisse um quadro bem mais rico do que este. (AUTO, 152). Segundo Bruner, neste ponto, a explicação piagetiana parece profundamente insuficiente. A ele parece, preferivelmente, que cada um de nós desenvolve o seu conhecimento do mundo em três maneiras. Em primeiro lugar através dos hábitos e das ações: saber que coisa fazer. O segundo lugar através da imaginação, personificandose, ou seja, em eventos e relações. O terceiro lugar através do conhecimento, que não é nunca somente contemplação: representando-nos as coisas, os eventos, e as categorias do mundo 104 teoria.indb 104 28/9/2007 16:13:29 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio em apropriados sistemas simbólicos (a linguagem, a matemática, a história, etc.) que pelo fato de resultar impregnados de imaginação e de experiência (ação), são amplificadores mentais potentes para a operacionalidade da mente. De resto, a experiência confirma que para adquirir padrões em qualquer campo, na maioria das vezes, é necessária que venham estudadas todas a três modalidades representativas do pensamento: a ativa, icônica a simbólica, segundo uma progressão não preordenada, mas que se combina e se re-desloca continuamente, em soma se “mixa” segundo as características do contexto e a intencionalidade do ator. Bruner, assim, retoma a inspiração de Vygotski quando fala de “amplificadores culturais” que determinam os processos cognitivos do homem. Dos três tipos de amplificadores culturais que ele identifica, os sistemas simbólicos, ou seja, a linguagem amplifica o desenvolvimento do pensamento. Piaget, mesmo considerando secundário no desenvolvimento mental da criança o papel da linguagem, reconhece que esta é indispensável para a ampliação e a mobilidade das operações lógicas. Por outro lado, a verbalização e a simbolização lingüística operam sobre o resultado dos processos cognitivos levando a descoberta original de conceitos a um nível altíssimo de abstração: “somente os tipos de problemsolving mais primitivos são possíveis sem a linguagem” (AUSUBEL, 1987). Mas, como anota Bruner, “A psicologia genebrina se baseava nos estágios de desenvolvimento cada um dos quais dotado da própria subordinada lógica de operações. Aquela parte de mim que era em sintonia com Vygotski se rebelou do “quietismo” da teoria dos estágios... a minha solução foi a de converter as minhas idéias sobre as modalidades de representação (ativa, icônica e simbólica) em estágios de desenvolvimento... e de adaptar as minhas em uma espécie de invólucro cronológico: primeiro a modalidade ativa, depois aquela icônica e por fim aquela simbólica” (AUTO, 153). Unidade 3 teoria.indb 105 105 28/9/2007 16:13:29 Universidade do Sul de Santa Catarina Qual objetivo? Chegar a compreender por esta via o funcionamento efetivo das estratégias mentais da criança no curso de seu desenvolvimento? Certamente era isso!! e... seguiram-se pesquisas em cima de pesquisas. Os contatos com Genebra se multiplicaram, sobretudo, graças a colaboração da maior especialista entre as colaboradoras de J. Piaget, Barbel Inhelder. Contemporaneamente também foram estabelecidos contatos, trocas e encontros com a psicologia soviética, em particular, com um dos mais inteligentes intérpretes de Vygotski, Alexander Romanovich Luria. E, progressivamente, a influência de Piaget debilita-se, o estruturalismo cede o passo a uma atenta análise do modo com a qual a linguagem faz a intermediação entre a cultura e a natureza do desenvolvimento da mente, e a autônoma capacidade da mente em se fazer ativa graças ao seu contexto cultural, e em contínua relação conflitante com o desenvolvimento biológico da espécie, leva Bruner e os seus colaboradores a optarem pelos seguintes protocolos explicativos: As características descritivas do desenvolvimento intelectual 1. O crescimento é caracterizado por uma crescente independência da resposta da natureza imediata do estímulo. 2. O desenvolvimento é baseado na interiorização de eventos em “um sistema de conservação” que corresponde ao ambiente. 3. O desenvolvimento intelectual implica uma crescente capacidade individual em dizer a si mesmo e aos outros, através de palavras e símbolos, aquilo que se fez, o que se pretende fazer, ou o que se fará. 106 teoria.indb 106 28/9/2007 16:13:29 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Características propositivas do desenvolvimento intelectual 1. O desenvolvimento intelectual depende de uma interação sistemática e contingente entre educador e educando. 2. O ensino é enormemente facilitado por meio da linguagem que termina por ser não somente o meio para a troca de informações, mas o instrumento que o mesmo discente pode usar em seguida para organizar o ambiente. 3. O desenvolvimento intelectual é caracterizado por uma capacidade crescente em considerar, simultaneamente, diversas alternativas tendo presente diversas séries de conexões durante o mesmo período de tempo e de subdividir o tempo e a atenção de forma adequada a estas simples demandas. Com a publicação dos Studies in Cognitive Growth, 1966 (O Desenvolvimento Cognitivo, Roma 1968) algumas aquisições são desde agora definitivas: a) não é por acaso que as crianças apresentam-se precocemente e extremamente hábeis em adaptar-se ao mundo que as circunda. b) do estudo da sucção, esta não serve apenas a para satisfazer os próprios desejos alimentares, ou o próprio desejo de bem-estar, mas ainda mais para controlar os aspectos do ambiente que não estão relacionados com a nutrição e com a auto-consolação. c) quando as crianças observam as imagens e desviam o olhar, isto ocorre não quando as imagens se desfocam, mas quando muda o escopo final do olhar. Em soma as crianças possuem desde a primeiríssima infância um “intuito meio-fim” particularmente sensível que lhe rende geradores de hipóteses e que fornece uma direcionalidade ao seu comportamento. Unidade 3 teoria.indb 107 107 28/9/2007 16:13:30 Universidade do Sul de Santa Catarina d) Tudo isto nos leva a sublinhar o fato que desde a mais tenra idade, as crianças obtêm sucesso combinando suas ações e o seu conhecimento do mundo para formar ou rotinas de ações de ordem superior ou mapas cognitivos mais generalizados de seu mundo. e) Enfim, o fato que a nossa espécie seja dependente de uma longa imaturidade e se torna inevitável o nosso ser sensível às interações com os outros, faz com que as crianças desde a tenra idade sejam sensíveis às pessoas. E é esta sensibilidade que estimula a aquisição da linguagem. Certamente, para Bruner, os elementos constitutivos da inteligência estão presentes desde o início sob as formas do componente que preside as capacidades potenciais, e em particular daquela que regula os relacionamentos meio-fim (ou seja, a intencionalidade). E, certamente, a capacidade de representar aquele que tinha sido coordenado é seguramente em ser desde o inicio como é demonstrado por uma longa série de estudos sobre a sensibilidade que a criança apresenta em relação aos desvios do habitual. As habilidades representativas iniciais devem incluir com cada probabilidade uma predisposição em relação ao espaço, ao tempo e por fim a casualidade: senão propriamente inata, certamente ativada pelas primeiras experiências. A curiosidade da criança não tem nem mesmo necessidade de ser estimulada. “O problema, portanto, não é onde ou quando a mente tem início. A mente, em uma qualquer forma operativa, é desde o inicio, exatamente onde deve estar. O problema é sempre aquele de individualizar as condições capazes de produzir mentes humanas mais ricas, mais fortes, mais confiáveis”. 108 teoria.indb 108 28/9/2007 16:13:30 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio SEÇÃO 2 - A interação social é um processo de aprendizagem que precede o desenvolvimento: o influxo de Vygotski Então, Bruner descobre Vigotski. Mas onde estão as raízes teóricas da pesquisa empírica de Vygostski? L. S. Vygostski foi um estudioso de Psicologia e de Pedagogia, que nos anos 20-30 na União Soviética (mas em estreito contato com as correntes mais importantes da pesquisa européia e americana), colocou as bases para a teoria do desenvolvimento e do aprendizado, fundamentada na centralidade das interações sociais e dos sistemas de signos ou sinais, como instrumentos essenciais para a comunicação e transmissão do conhecimento entre as gerações. Ele aspirava também a dar uma explicação, seja dos mais gerais processos culturais que são próprios da espécie humana e, portanto, comuns as mais diversas culturas, seja daqueles fenômenos que são, por outro lado, particulares de uma dada cultura, e que são os motores da transmissão sistemática do conhecimento que provém da escola. Em particular, juntamente com Luria, se preocupa em estudar aspectos que se referem à organização do conhecimento proposto pelo ensinamento escolar das nossas culturas complexas, a conceituação científica que esta propõe, a linguagem que se fala e, sobretudo, a aquisição da língua escrita como um sistema simbólico de segunda ordem, que constitui a mediação essencial, e que influencia, de forma que ainda não conhecemos suficientemente, o modo de categorizar, de raciocinar, de pensar dos homens. A interação social é vista por Vygostski não somente na mais direta interação inter-pessoal, tipicamente representada pela relação educativa adulto-criança mas, sobretudo, na sua articulada dimensão sócio-cultural, que inclui valores culturais, regras de funcionamento da sociedade e dos relacionamentos sociais mais abrangentes, sistemas e categorizações, concepções do mundo, conhecimentos científicos de vários tipos. Unidade 3 teoria.indb 109 109 28/9/2007 16:13:30 Universidade do Sul de Santa Catarina a) A interiorização das funções sociais Neste quadro de referência resulta, particularmente, relevante a sua concepção que considera os processos psíquicos superiores como a interiorização de funções sociais (Vygostski, 1974), Esta concepção põe sobre bases radicalmente diversas o processo de desenvolvimento e de aprendizado do indivíduo, porque não assume estes últimos como contrários. De fato “desenvolvimento” e “aprendizado” são ambos explicados por um mecanismo que vai do exterior verso o interior que o procede, ou seja, do social ao intra-pessoal (Vygostski, 1966) e não do individual ao social como é postulado correntemente na Psicologia do desenvolvimento. Ou seja, se pode dizer que o uso de uma capacidade cognitiva ou lingüística no contexto da permuta social é necessário precursor do padrão individual e autônomo desta mesma capacidade: em outros termos as funções psicológicas complexas de qualquer tipo (lingüísticas, lógicas, emotivas) aparecem primeiramente como funções sociais, e portanto no interior das interações sociais, e só sucessivamente se manifestam também no funcionamento mental autônomo do sujeito. A interação social, portanto, opera como um instrumento de facilitação para o desenvolvimento e o aprendizado da capacidade cognitiva, em extensa colaboração. De modo particular, isto ocorre no contexto da interação entre um sujeito mais competente, que pode ser o progenitor, o educador, o professor, mas também um coetâneo, e uma criança que ainda não é suficientemente competente para operar eficazmente sozinho: neste caso o mais competente ou mais esperto (mesmo havendo grandes diferenças de capacidades) pode sustentar a atividade cognitiva ou de “problem-solving” do outro, “recrutando-o” para a tarefa, simplificando o “setting”, focalizando a sua atenção sobre os aspectos salientes, dividindo-lhe oportunamente o problema. Em geral, o mais experiente sustenta a atividade do menos experiente ou menos competente, com uma espécie de “estrutura de sustentação”, segundo a metáfora do “scaffolding” que foi usada por Bruner em uma pesquisa orientada para a analise do tipo de ajuda eficaz que pode fornecer o adulto. Trata-se de uma estrutura (ou andaime) que pode ser progressivamente desmontada quando o sujeito torna-se cada vez mais capaz de agir sem a ajuda do outro mais competente. 110 teoria.indb 110 28/9/2007 16:13:30 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Nesta linha de pesquisa e de experimentações, no contexto de uma aproximação vigotskiana foram estudadas, sobretudo, os modos nos quais os adultos (prevalentemente mães) ajudam as crianças em idade pré-escolar a resolverem simples tarefas escolares, tais como copiar um modelo, completar um jogo de palavras, construir uma torre. A ajuda do adulto se manifesta, sobretudo, em colocar juntos os diversos passos que são necessários para se chegar à correta solução e em coordenar a seqüência de ações necessárias para atingir o objetivo final: como exemplo, observar ao modelo, escolher uma peça de jogo para colocar, coloca-lo no lugar previsto. As passagens sucessivas que conduzem ao funcionamento intra-psicológico e, portanto, individuais, são realizadas através uma progressiva diminuição do grau de regulação externa da atividade do discente: se passa assim, para uma ação que é em primeiro lugar desenvolvida e após somente endereçada pelo tutor para chegar a uma simples regulação indireta, coisa que a criança possa colher o significado funcional das ações e acostumar-se progressivamente dos meios adequados ao objetivo geral. b) A “zona do desenvolvimento potencial” Vygotski (1966) sustenta que a razão pela qual as crianças agem em um nível cognitivo superior com os conceitos científicos, primeiramente àqueles espontâneos, depende do fato de que o aprendizado dos conceitos científicos é sistemático, é mediado pela linguagem verbal, é portanto explícito e provém, para tanto, no contexto de uma “colaboração com um adulto que há tem explicado, perguntado, corrigido”. (ivi, p. 197). O desenvolvimento das funções psíquicas superiores liga à consciência das próprias operações cognitivas e procede da função de consciência que o adulto exercita de maneira “vicária” na interação social com a criança, até a primeira aquisição da linguagem (De Lemos, 1982). Resulta, nesta prospectiva crucial a função de interação com um adulto sensível aos níveis manifestos de competência da criança, e capaz de agir com a criança no “limite sempre crescente” de sua Unidade 3 teoria.indb 111 111 28/9/2007 16:13:31 Universidade do Sul de Santa Catarina competência atual (Bruner, 1986). Neste sentido, o adulto ser capaz de se dar conta da “zona de desenvolvimento potencial” do sujeito em evolução. Zona de Desenvolvimento Potencial, segundo Vygotski é reconhecida como aquilo que o sujeito não está em condições de fazer (ou de resolver) sozinho – que corresponde em vez ao seu nível de desenvolvimento atual, mas que pode chegar a fazer se lhe for oferecido uma ajuda: é o nível “potencial” em que corresponde aquilo que será o próximo nível de desenvolvimento do sujeito e que se pode apresentar muito diferenciado, também em sujeitos que ao “Testing” tradicional alcançam idênticos resultados. Perceba que é propriamente na área do desenvolvimento potencial que se encontram o agir da escola e o ensino quando buscam alcançar a intervenção eficaz no desenvolvimento daquelas capacidades da criança que são embrionariamente já presentes como funções simples mas que requerem ser exercitadas, coordenadas, contextualizadas, estar consciente e flexível ao uso, afim que o sujeito seja capaz de utilizar as suas capacidades também sem o suporte de outros. Portanto, neste quadro teórico, o ensino pode ser visto propriamente como facilitador da atividade daquele que aprende: age de fato na sua zona de desenvolvimento potencial, ma no mesmo tempo pode operar para estender-la, para ampliarla através o suporte social e a mediação oferecida pelos sistemas simbólicos próprios da cultura. 112 teoria.indb 112 28/9/2007 16:13:31 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Um bom exemplo de pesquisa de inspiração vigotskiana, que tem olhado de modo especifico para a área do aprendizado escolar, foi realizado por duas pesquisadoras estadunidenses, Ann Brown e Annemarie Palincsar (1984), as quais tem usado a interação social como instrumento para favorecer o desenvolvimento de uma importante capacidade do ponto de vista do alcance escolar: a capacidade de compreensão da leitura. Estas organizaram uma situação de “ensino recíproco” voltada para rapazes da escola média que tinham muita dificuldade de compreensão na leitura. A sua intervenção primeiramente utilizou os resultados da pesquisa sobre a compreensão do texto, identificando as quatro habilidades essenciais que os bons leitores colocam em pratica quando lêem e buscam entender aquilo que lêem: “prever” a possível continuação, “esclarecer” os pontos pouco claros, “sintetizar” aquilo que esta lendo, “colocar perguntas” sobre aquilo que está lendo. A modalidade de condução da pesquisa prévia que de fronte a um texto, cuja leitura coletiva era subdividida em parágrafos, a professora primeiramente e na seqüência os estudantes que compunham o grupo (que pode ser também em numero muito variável) faziam o papel de tutor, ou seja, de professor ou do aluno que busca fazer a pratica com os outros da habilidade que é objeto do aprendizado. Portanto, se requeria aos estudantes, quando faziam a parte de tutor, de cobrar a prática dos outros membros do grupo àquelas quatro habilidades requeridas como necessárias a compreensão, que assim tornavam-se objeto de ensinamento explicito. O resultado muito notável desta pesquisa é que, após umas dez sessões nas quais foram realizadas esta metodologia, foram notáveis as melhoras não só na capacidade de “liderar” por parte dos estudantes e como conseqüência uma explicita atividade sobre o texto, mas também (e de forma estável) as capacidades autônomas e individuais de compreensão de leitura dos rapazes submetidos ao tratamento experimental. Unidade 3 teoria.indb 113 113 28/9/2007 16:13:31 Universidade do Sul de Santa Catarina A idéia central que tornou particularmente famosa esta pesquisa relembra o uso do ensinamento recíproco e, conseqüentemente, a interação entre os estudantes, como instrumento para aprender: em outros termos, os rapazes aprenderam na medida que tinham o dever de fazer com que os outros usassem aquela estratégia, que eles mesmos não sabiam utilizar, em um contexto de exteriorização de procedimentos que normalmente resultam dissimulados e inconscientes. Neste caso, a situação social é usada também para tornar sensata, necessária e motivacional uma explicitação de estratégia que por outro lado resultaria fictícia e tediosa e conseqüentemente de difícil aprendizado. c) Aspectos caracterizantes do modelo de interação social A motivação social é uma motivação profunda nos seres humanos e em particular nas crianças. Em outros termos, se afrontam com mais facilidade os problemas, os aprendizados, os exercícios, as atividades são propostas pela escola, quando se divide com os outros as responsabilidade, a dificuldade, o empenho, a carga cognitiva e emotiva de “colocar-se diante do problema”. Neste ponto, é possível identificar com mais precisão os elementos caracterizantes do modelo de interação social. Mas, antes de tudo, cabe lembrar que neste modelo está definido que em primeiro plano estaria considerada a motivação “social”. A divisão e o compartilhamento do problema que se pode realizar no grupo pode facilitar – obviamente a certas condições de realização – o ponto de partida do ato de eficazes estratégias resolutivas, e pode, sobretudo, aumentar a motivação e o empenho na atividade, auxiliando na redução da ansiedade com relação a uma atividade que não se sabe resolver sozinho. Importante! Também os adultos encontram facilidade na resolução em grupo quando devem afrontar um problema novo, pelo qual não tenham já percorrido um caminho já traçado ou que lhe seja familiar. Em segundo lugar, o contexto social da díade, do pequeno e do grande grupo (correspondente mais ou menos a uma classe escolar) consente e pede aos interlocutores que explicitem aos outros as suas idéias, e as oferecem razões suficientemente claras do porque se possa escolher uma opção em vez de outra, que justifiquem as suas escolhas ou preferências em modo interpessoal. É propriamente esta necessidade e pedido de explicitação e explicação (como atividade na qual se apresentam razões fundamentadas daquilo que se faz ou que se deseja fazer) que transforma a situação social de resolução de um 114 teoria.indb 114 28/9/2007 16:13:31 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio problema particularmente eficaz no plano do crescimento da conscientização e em seguida também da competência autônoma individual. De forma particular esta situação pode favorecer o desenvolvimento da conscientização dos próprios atos do pensamento. De fato, aquela que hoje se define como meta-cognição (Flavell, 1976) e que desenvolve um papel determinante no aprender a aprender (Voss, 1987), é o produto de uma atividade social, que é então prevalentemente lingüística. Na qual se é incentivado a refletir em segundo lugar sobre o caminho perseguido ou sobre aqueles que se deseja domar, porque se deve negociar com outro a respeito da escolha preferível. Em uma série de pesquisas dedicadas ao uso do computador para a aquisição da língua escrita em classe de escola elementar e média, temos tomado conhecimento (Pontecorvo, Zucchermaglio, Taffarel, 1989), através de observações pontuais das interações entre crianças enquanto trabalham em simples programas de composição e de tratamento de textos mais ou menos acompanhados – pelo uso da normal vídeo-escritura ao emprego de um software didático que apresentava suportes e vínculos para a composição – como se verificam um aumento significativo das considerações de tipo metalingüístico, de tipo mais complexo nas interações entre crianças ao computador (com grupos de dois, três ou quatro crianças, em numero variável em função da idade e do programa utilizado). O uso social do computador, que é também uma necessidade, dado que o reduzido número de computadores dos quais se pode dispor em uma escola elementar ou media normal, produz resultados efetivamente positivos ao desenvolvimento da capacidade de revisão de textos, próprio e de outros, que se podem assim adquirir também naquelas idades nas quais as crianças parecem mais longínquas em revisar os seus próprios textos escritos. São efeitos que se podem explicar também através uma maior objetivização que o texto escrito assume em quanto destacado do sujeito seja pelo mesmo fato material da composição estar na tela do computador seja porque estar sendo objeto de uma analise e de uma reflexão coletiva e consciente. Unidade 3 teoria.indb 115 115 28/9/2007 16:13:31 Universidade do Sul de Santa Catarina A linguagem como instrumento da mente O fato que a mais importante e difusa forma de comunicação humana na linguagem verbal, nos leva a considerá-la como natural, subvalorizando a complexa e refinada dinâmica construtiva da mesma. Poderemos então definir-la como “um sistema de comunicação que utiliza sons ou símbolos com significados arbitrários, mas estruturais” (Smelser 1981), sobre a vertente da produção individual, mas propriamente em quanto sistema de comunicação esta exige formas e níveis de padronização que lhe assegura a eficácia. Não é, portanto, casual que H. Gardner (1983) definia a padronização lingüística como “a inteligência mais amplamente e democraticamente compartilhada entre os seres humanos”. A língua é, portanto, para ser considerada, seja como um produto de cultura seja, como aquela que “fala” a cultura, isto é aquilo através da qual opera a transmissão/ reprodução/ geração de cultura, através dos processos de inculturação (conhecimento da própria cultura) do que de aculturação, conhecimentomanipulação de culturas diversas da própria. A língua é, portanto, o instrumento essencial para atuar e para especificar processos de interação comunicativa, para transformar e permanecer como membros de um grupo, para exprimir e comunicar aos outros as próprias experiências, os próprios pensamentos, os próprios sentimentos, para persuadilos, para convencê-los, ou seja, para auto-regular os próprios comportamentos comunicativos em relação a aqueles dos outros. A língua permite reunir ordenadamente, as experiências em categorias gerais, objetivando-as em campos semânticos criados com o léxico, a gramática, a sintaxe (Berger-Luckmann 1969). A linguagem verbal tem, por outro lado, também uma valência heurístico-produtiva: é o instrumento privilegiado para explorar e conhecer a realidade, para formar progressivamente uma rede de significados, entre os quais inserir os fenômenos observados ou experimentados, para produzir “coisas”. A linguagem, então, não somente codifica o mundo e a experiência que deste se obtêm, mas cria o conhecimento da realidade: esta produz uma prospectiva na qual o homem observa o mundo, endereça o emprego da mente nos confrontos da realidade, que descreve em forma independente e criativa. O fenômeno da “amnésia infantil” (Pontecorvo 1986) a constitui 116 teoria.indb 116 28/9/2007 16:13:32 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio uma prova indireta: a aquisição da linguagem leva a assumir e a reproduzir “esquemas” de elaboração da experiência diferentes daqueles usados na primeira infância, quando não se tem ainda competência lingüística consolidada; não é possível recordar os eventos dos primeiros anos de vida em quanto estes últimos não resultam utilizáveis em seguida, por adultos. Mas voltemos para Bruner. O problema com o qual ele devia fazer as contas, neste ponto de sua pesquisa, era de conhecer se e como a linguagem do contexto condiciona e influencia o desenvolvimento intelectual e mental da criança. Na cultura cientifica anglo-saxônica, a referencia era constituída pelas teorias de Frederic Bartlett (Remembering, 1932): a linguagem servia essencialmente ao plano narrativo para reescrever um copião já presente e traçado na memória. Mas como anota o próprio Brune, foi Vygotski primeiramente, B. Lee Worf e por fim, N. Chomsky a modificar profundamente tais prospectivas e a fazer aquele passo avante que levou a superação daquele banal lugar comum segundo a qual a linguagem influencia a mente e o pensamento. “Vai ao seu mérito de haver sustentado que a linguagem deve influenciar e por fim dar forma ao pensamento, a linguagem não apenas como um relatório verbal ou etiqueta, mas como um sistema para dividir o mundo em categorias e em relacionamentos por meio da gramática e do léxico” (Auto,168). Os inputs Vygotski Vigotski fala de dois fluxos independentes de atividade mental: a) um fluxo do pensamento e b) um fluxo de linguagem. Na primeira fase da vida o pensamento, já tem as suas regras, a linguagem tem sua parte. Torna-se primeiramente um instrumento e depois um meio expressivo do pensamento: é o deposito para guardar utensílios, através do qual a cultura e a história tomam forma acabando por determinar a experiência e o pensamento. Unidade 3 teoria.indb 117 117 28/9/2007 16:13:32 Universidade do Sul de Santa Catarina Worf Se as nossas modalidades de pensamento são ressaltadas em duas: aquela analítica (raciocinativa) e aquela sintética (empírica). E certamente a forma forte é aquela própria da mentalidade analítica. Mas após tudo é a experiência do mundo e não a linguagem a dar forma a modalidade sintética. Wittgenstein (Philosophical Investigations) Determinados setores do saber podem ser compreendidos, mas não é dito que seja possível compreender-lhes melhor, incluindo-os com outros em setores mais gerais. Neste ponto, é conectado um princípio de intraduzibilidade porque cada esfera do discurso constitui um jogo lingüístico governado não tanto pelo próprio sistema de regras quanto de um sistema de vida. A traduzibilidade de um sistema de vida em um outro resta indeterminada, até aquela orientada para cima verso abstrações de ordem superior. Chomsky (Sintactic Structures) Não existem gramáticas no estado completo. Trata-se de gramáticas associativas que se baseiam em modo exclusivo sobre relacionamentos entre elementos imediatamente vizinhos a um período, gramáticas que não levam nunca em consideração a estrutura da frase do alto até em baixo. O comportamento verbal do neo-comportamentalista Skinner foi colocado na berlinda. Como é possível perceber o mundo sem distinguir a figura da paisagem, assim não é possível utilizar a linguagem sem impor a essa a estrutura do período, períodos com proposições nominais, proposições verbais e os seus elementos naturais de ligação. Não é, portanto, a experiência passada que determina um comportamento verbal quanto à natureza ativa da mente e do cérebro. Portanto, a linguagem deveria encontrar-se ali, desde o princípio como um gerador inato de hipóteses. Deveria tratar-se de uma competência pré-constituída, o poder peculiar de uma gramática profunda universal da qual as varias linguagens eram exemplos e realizações de superfície. 118 teoria.indb 118 28/9/2007 16:13:32 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Jakobson (funcionalismo lingüístico) Acima de tudo, antes de ser transmitido, o sentido deve ser fi xado, o que põe subitamente o problema do significar. Tal operação leva a fi xação do sentido de uma palavra na mente, juntamente com a imagem da realidade a qual esta reenvia. Significado é o particípio-nome que transforma em atual tal processo dinâmico. A palavra sentido, por outro lado, indica quanto permanece na mente do sujeito; esta reenvia à imagem mental, estática, imóvel, definitiva que resulta do processo de significação, estritamente ligada ao sinal que lhe fi xou. De um ponto de vista psicológico, o sinal torna-se o estímulo em grau de suscitar uma série de reações psicofísicas, capazes de reevocar a imagem memorial, de um outro estimulo que tenha agido precedentemente sobre nós, deixando um traço Partindo do assunto de que os nomes têm um caráter puramente convencional, e que o símbolo e a referencia são estritamente conexos com o referente e vice versa, vem introduzido também o referente (ou a coisa externa) no processo significativo. Disto deriva uma relação tricotômica, evidenciada no triangulo lógico de Ogden e Richards que representa símbolo, referência e referente, nos três vértices, como aparece na figura aqui em seguida. (nota do tradutor: no original não existe figura na seqüência) O triângulo de Ogden e Richards: o que é? A diferença que oferece esta simbologia com relação àquela saussuriana esta no fato que, enquanto para Saussure a imagem acústica e o conceito são pura e simples realidades mentais, aqui o símbolo contém seja a imagem acústica, seja a forma significante. Por outro lado, o símbolo tem um caráter puramente “referencial”, em quanto as palavras não significam nada por si, mas indicam somente o “referimento” a qualquer coisa, são “voltadas para” qualquer coisa e a palavra sentido esta para indicar a direção, o sentido de marcha, o símbolo, de fato, é voltado para o referente, mas passando pela referencia e vice-versa. Unidade 3 teoria.indb 119 119 28/9/2007 16:13:32 Universidade do Sul de Santa Catarina O significado não é uma componente do sinal, juntamente com o significante, mas resulta dos três vértices do triangulo: a palavra (ou símbolo), a referência (ou pensamento), o referente (ou evento externo). O símbolo toma lugar do referente, mas não comunica com ele exceto através dos lados do triângulo. A realidade externa é realizada pelo sujeito que leva na sua mente os traços ou as marcas das situações “segniche” (concernentes aos sinais) na qual se encontra. Estas marcas ou traços residuais (ou engrammi – isto é, as lembranças inconscientes de experiências passadas dolorosas ou angustiosas) que contribuem para “conhecer” o mundo. O “conhecimento” transforma-se em uma série sempre maior de situações “segniche” as quais repetindo-se produzem os automatismos verbais, assim como a compreensão é o nexo que liga a realidade externa com a realidade psíquica. Em fim o “significado” será o resultado dos efeitos mnésticos de um estímulo o somatório das associações e situações; SIGNIFICADO = USO, como afirma Malinowski. Portanto, quando tratamos do sinal não podemos se não falar de sua função na comunicação. O esquema saussuriano nos propõe: a) um falante, b) um ouvinte, c) uma coisa qualquer que se deseja comunicar, d) os sinais com os quais ocorre a comunicação. Notamos três tipos de fenômenos: 1. 1) psíquicos (conceito e imagem acústica); 2. 2) fi siológicos (fonação, audição); 3. 3) físicos (transmissão dos sons por meio das ondas). Por outro lado, o circuito pode ser dividido em: a) uma parte exterior (não psíquica); b) uma parte interior (psíquica); c) uma parte ativa (do centro de associação de A à orelha de B); d) uma parte passiva (da orelha ao centro de associação de B). Mas, o sinal portador de sentido tem a função de comunicar. Mas para evitar interferências e erros de interpretação deveria haver um só nome para cada sentido e um só sentido para cada nome. Na língua nos debatemos, por outro lado, continuamente 120 teoria.indb 120 28/9/2007 16:13:32 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio com palavras polissêmicas, as quais, por exemplo, “ordenação” (sacerdote ou de mercadorias); “chave” (instrumento para abrir ou revelar um segredo e sinal musical); a palavra “coisa”, o adjetivo “bom”, o verbo “fazer”, etc; que assumem significados diversos muitas vezes contrastantes, segundo o contexto nos quais figuram; e ainda sinônimos e homônimos, ou seja, termos diversos, mas com o mesmo sentido, ou iguais, mas com significados diferentes. Devemos, porém, dizer que todos estes usos das palavras assim bem alinhadas no dicionário, são virtuais, representam a “potencialidade” do léxico em quanto que na realidade do discurso um só e somente aquele se fi xa, se contextualiza. Cada palavra é, portanto, ligada ao seu contexto de onde traz o seu sentido preciso. O sentido contextual é inconfundível e se assemelha aquele de base somente na linguagem técnicocientífica (ex., aspirina, amígdalectomia, ampére, catodo vídeo transfert, Es, blackout, etc.) Mas os termos científicos são específicos, de pouco uso e também suficientemente raros. Entende-se então que uma palavra termine por ser entendida como diferente de si mesma, quando esteja ligada a um outro termo que lhe de precisão ao seu sentido. Todavia, no discurso se realizam outras associações significativas que vêm definidas como conotações em quanto colorem, especificam, atualizam o contexto sem alterar-lo criando um efeito de sentido dito estilístico. As conotações expressivas são evidenciadas, na língua escrita, pelos sinais de pontuação; no falado pelos gestos, pela expressão do rosto, pela acentuação de insistência e pela entonação. São todos expedientes que o locutor emprega (às vezes com leve astúcia ou sagacidade) para transmitir ao interlocutor a sua emoção, os seus desejos, as próprias idéias; esta técnica, quando por vontade própria e colocada em um ato deliberadamente por quem fala, é também chamada “captatio benevolentiae”. Em cada caso, que nos rendemos conta ou não, tais valores semântico-expressivos são intencionais, no sentido que o falante deve carregar a sua mensagem de “expressões” se deseja render-la convincente. As conotações sócio-contextuais, por outro lado, evocam no ouvinte a idéia de um certo ambiente, de um certo grupo social, do grau de instrução, da profissão de quem fala. Cada uma destas realidades é evidenciada por uma Unidade 3 teoria.indb 121 121 28/9/2007 16:13:32 Universidade do Sul de Santa Catarina palavra, por uma expressão específica, de um tom de voz, em soma por uma série de pequenos, mas claros indícios, facilmente notado por quem escuta que subitamente o colocam em grau de classificar quem fala. Tais conotações sociais não são desejadas pelo sujeito que, todavia, se lhe arrasta para traz e, às vezes, podem criar um efeito de estilo. Seja os “valores expressivos”, seja os “valores sóciocontextuais” são “associações extra-semânticas de origem natural”. Em ambos os casos, se tem uma associação secundária motivada que se junta com a associação primária convencional que acredita o sentido. Em cada palavra se encontram, então, quatro tipos de associações: a) o sentido de base, b) o sentido contextual, c) o valor expressivo, d) o valor sócio-contextual. Segundo os indivíduos e as circunstâncias, no interior da palavra se produzem as trocas constantes entre estas diversas associações. A função das três associações subsidiarias consiste em precisar e em colorir o sentido de base, mas desenvolvendo-se, estes podem deformá-lo, sufocá-lo ou, por fim, substituir completamente a este; este é o problema dos “desvios de sentido”. Se, portanto, a função do sinal é aquela de comunicar um sentido, as palavras que o veiculam se encontram no discurso, tocar em limites semânticos sempre novos, atraídos, como são, pelos campos semânticos dos termos que se entrecruzam e com os quais se unem momentaneamente ou estavelmente para formar os sintagmas. Tal influência externa os carrega de sentidos novos, às vezes inesperados e insuspeitados; e dos quais toma inicio o impulso que levará mais tarde ao “desvio de sentido” e as mudanças semânticas. Como a criação semântica é voluntária e consciente (tal é o ato de “parole” saussuriano), assim a evolução do sentido é, entretanto, espontânea e freqüentemente independente de quem tenha criado a própria palavra. Também o ser humano é desejado, na geração voluntária e consciente, mas uma vez saído do seio da mãe, ele se torna qualquer um que se constrói por si, com o concurso da sociedade e do ambiente que o circunda. O mesmo acontece com os animais e nas plantas que freqüentemente “traem” o jardineiro ou o tratador, de animais, com flores, frutos e espécies diferentes daqueles exemplares que ele tinha calculado em obter. 122 teoria.indb 122 28/9/2007 16:13:33 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Então, o sentido de uma palavra é o resultado de um equilíbrio complexo, mas também precário, porque é suficiente que intervenha um leve deslocamento para provocar uma reação em cadeia que co-envolve, não somente a palavra em questão, mas, freqüentemente, também aquelas que têm afinidade com esta ou que, neste caso, são a ela coligadas. A constatação da existência de uma certa afinidade semântica entre palavras, nos leva a considerar o conceito mais vasto de “campo semântico”. Considera-se o léxico de uma língua uma estrutura, um sistema que abraça e secciona, em um certo modo, aquelas porções de realidade que este reflete. Tal comportamento procede da teoria do “valor lingüístico “ já anunciado por Saussure, mais tarde desenvolvida por Hjelmslev e por seus discípulos da escola de Copenaghen. Saussure previa um relacionamento de valor entre as palavras existentes no interior de uma língua. Afirmava que o léxico não é uma soma de palavras, uma nomenclatura, uma lista de termos existentes cada um o próprio correspondente na realidade externa, mas um conjunto estruturado no qual os campos conceituais e aqueles lexicais se influenciam um a outro. A metamorfose de Bruner Aprender a codificar lingüisticamente o mundo para então operar sobre a linguagem ao invés de agir sobre o mundo: era este o último estágio do desenvolvimento cognitivo. A passagem da cultura oral para a escrita, adquire na primeira e segunda infância um significado profundo: a possibilidade de escrever não alivia o encargo da memória, mas a especifica e estende sua potencia; a linguagem escrita, sendo desvinculada do contexto, favorece o desenvolvimento das funções lógicas; os sistemas de escrita alfabéticas e a invenção da imprensa, tornou mais aceitável e, portanto, mais acessível e econômico o texto escrito; em fim, a linguagem escrita consente a cada ouvinte em diferenciar e de confrontar com um modelo argumentativo os próprios ritmos pessoais de analise e de aquisição. Hoje, em todas as sociedades desenvolvidas, a alfabetização é objetivo central da instrução de base e a língua é o multiverso (se entende como um conjunto de universos alternativos) através da qual se realiza a transmissão da cultura, a socialização, a personalização dos estilos cognitivos de cada um dos falantes. A ligação entre a escola e a língua é sublinhada pelos novos programas para a escola elementar, que são perpassadas pela concessão da centralidade da formação lingüística no currículo escolar de base. Por outro lado, a interação lingüístico-cognitiva vem indicada como um dos principais fatores da motivação Unidade 3 teoria.indb 123 123 28/9/2007 16:13:33 Universidade do Sul de Santa Catarina intrínseca da criança na escola: nesta se “aprende em uma situação de grupo onde se assumem papéis sociais através do dialogo e do discurso e onde se deve negociar de maneira explicita e profunda os significados” (PONTECORVO 1986). SEÇÃO 3 - Em que sentido o aprendizado precede o desenvolvimento para Bruner? Um decênio de estudos sobre a aquisição da linguagem serviu assim para convencer Bruner que não é possível estudar-la adequadamente somente como se fosse um processo psicológico procedendo simplesmente ao exame de ordem em qual emergem as formas gramaticais na experiência lingüística na criança. A formação dos projetos pessoais e intencionais de padrões lingüísticos, a sensibilidade de grau elevado, os modos de inserir a linguagem na ação e na interação são todos exemplos da existência de Un language Acquisition Support Sistem (LASS) que torna possível o funcionamento de uma Language Acquisition Development ala Chomsky. A necessidade de usar a linguagem na sua plenitude como instrumento para ser participante de uma cultura complexa é aquilo que fornece o motor para aquisição da linguagem. O programa genético da linguagem representa uma metade da historia inteira, a outra metade vai a busca no sistema de suporte, ou seja, se pode dizer que cada uma das duas contribui para o cem por cento da variação dos comportamentos mentais no desenvolvimento da personalidade. A escola como contexto para a interação social A prospectiva teórica até aqui escolhida, considera essenciais para o aprendizado próprio as características do contexto social, como contexto de discurso e de negociação, que são próprias da escola. De fato é no contexto social, nos quais são presentes sujeitos diversos, que a escola se pode definir como um lugar no qual é possível o aprendizado, É de outra parte a freqüente observação que em muitas situações escolásticas, em particular com o progresso da escolaridade, parece que o aprendizado verdadeiro e próprio como processo não 124 teoria.indb 124 28/9/2007 16:13:33 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio possa ter lugar na escola: como se este se fosse sempre realizado primeiro e após, em qualquer maneira não no tempo/espaço escolar, e a instituição tivesse somente o dever de solicitá-lo e verificá-lo. Os dados das pesquisas de observação, sobretudo, inspiradas na sociolingüística e na etnografia da classe, têm de fato demonstrado como predomínio na interação verbal entre o professor e alunos a seqüência em três partes constituída da “pergunta do professor, resposta do aluno e comentário-avaliação do professor”. A atividade de “colocar a pergunta” que é de há muito o comportamento mais freqüente do professor e que assemelha também diversos estilos de ensino, se caracteriza pelo fato que não se trata de “pergunta para saber” ou para entender, mas de pergunta que tem, na maioria dos casos, o objetivo de verificar se o aluno sabe aquilo que deveria saber. Como tem demonstrado um pesquisador (Mehan, 1979), já na primeira elementar as crianças têm aprendido o status particular destas perguntas, que é profundamente diferente daquilo próprio da vida cotidiana: responder buscando no mais em recordar aquilo que foi dito pelo professor ou o que foi lido no livro texto. É ao invés, vez possível “restituir” à escola o papel essencial de elaboração, precisação e ilustração dos “objetos do conhecimento” que lhe compete. O ponto de vista vigotskiano a interação social consente em colher o nexo fundamental que liga o desenvolvimento a educação e torna possível entender como a instrução escolástica – com as suas particulares modalidades de transmissão do conhecimento, com o seu continuo referimento a uma “realidade” baseada na língua escrita (Olson, 1979), sobre o conhecimento científico (Pontecorvo,1988), com suas práticas de alfabetização – possa produzir em modo cientifico, racional e abstrato de pensar e raciocinar. Nesta prospectiva, a interação social entre o professor e alunos desenvolve um papel fundamental porque esta se verifica prevalentemente através da “mediação semiótica” (Wertsch, 1985) oferecida pelos instrumentos técnicos próprios da cultura de pertinência dos complexos sistêmicos simbólicos, a exemplo, da língua escrita, da matemática, das ciências físico-naturais, das ciências sociais. Unidade 3 teoria.indb 125 125 28/9/2007 16:13:33 Universidade do Sul de Santa Catarina Interação social e conteúdos culturais: a discussão em classe Em outros termos, as origens sociais do funcionamento mental individual não podem ser repetidas unicamente na simples interação social com os adultos e com os pares e, portanto, no funcionamento inter-individual da díade que opera juntamente no discurso, na atividade de rotina, na solução de problemas. Também, neste caso, de fato são presentes objetos, praticas, discursos que têm sentido em referência a um contexto sociocultural mais amplo: se pensa no ambiente físico no qual tem lugar a atividade, na organização do tempo, na presença de objetos particulares, no “setting” particular. Tanto mais isto vale quando nos referimos a interação social que tem lugar na escola e nas novas formas de mediação semiótica que são próprias do conteúdo escolar nos seus vários níveis o que pelo menos o caracterizam: a presença dominante de textos escritos, a formalização e a abstração própria da matemática, a diferente sistematicidade dos ensinamentos científicos e daqueles histórico-culturais e daqueles histórico-sociais, a descontextualização. As especificidades das mediações culturais determinam diferentes formas de discurso, diversas “práticas discursivas” que são próprias da escola e que podem explicar as mudanças nas capacidades cognitivas e na organização conceitual que se verificam nas crianças nos anos da escolarização. Trata-se de modos de recordar, de fazer inferências, de explicar, de justificar, de argumentar, que transmitem a criança novos procedimentos do conhecimento, novas organizações conceituais, novos modos de ler e interpretar a realidade. Algumas pesquisas (Edwards & Middleton, 1988) têm mostrado como através as conversações entre mães e filhos (em idade entre os dois e seis anos) que olham junto álbum de fotografias, as crianças “aprendem a recordar”, a reconstruir e a argumentar as suas lembranças e as suas interpretações. Do conjunto das pesquisas precedentes (por hora recolhidas em Pontecorvo) foram obtidas como a situação de interação social em classe, que nós definimos como discussão, que comporte 126 teoria.indb 126 28/9/2007 16:13:33 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio processos lingüísticos e sócio-cognitivos particularmente relevantes com o fim da aquisição de estratégias e conhecimentos novos ou mais complexos. Estas precedentes pesquisas têm também mostrado que a discussão não se realiza “naturalmente” na escola: é resultado da introdução de um conjunto de condições que podemos definir como “experimentais”, em quanto definidas a priori e introduzidas nos contextos escolares naturais. Tais condições específicas são: a) uma experiência comum, preliminar a discussão, tal porem para não comportar uma única “leitura” ou solução; b) um discurso que re-elabora a experiência completada e que se estrutura como situação de “problem-solving” coletivo, no qual seja possível negociar significados, compartilhar e confrontar diferentes soluções ou interpretações de um mesmo material (a exemplo, um texto escrito) ou de uma mesma experiência (a exemplo, uma observação ou um experimento científico); c) uma mudança nas usuais regras de participação ao discurso escolar; os turnos de discursos não devem ser controlados pelo professor; as “usuais” perguntas do professor são em parte substituídas por repetições das intervenções dos alunos, do pedido de explicação e de intervenções que sublinham uma eventual discordância de posições. Temos observado que estas condições produzem modalidade de permuta sócio-lingüístico particularmente produtiva: a necessidade de responder a objeções e a oposições (Orsolini, Pontecorvo, Amoni, 1989) e de persuadir o interlocutor que mantém uma posição diferente, buscando mostrar a infundamentação, motiva uma sempre maior explicitação de “garantias’’ e “fundamentos’’ das próprias asserções (Toulmin, 1958; Pontecorvo, 1985). Portanto, a situação de discussão ativa e solícita, a colocação em atividade (poder-se-ia dizer “colocação em cena”) no contexto social da escola de operações cognitivas novas, que podem Unidade 3 teoria.indb 127 127 28/9/2007 16:13:33 Universidade do Sul de Santa Catarina sucessivamente ser interiorizadas como capacidade de raciocínio individual (Vygotski, 1974; Caron, 1983). Mas, é necessário que o discurso-raciocínio coletivo se articule na produção de argumentações em contraste e a sustento, e que os elementos cruciais da argumentação, próprios do objeto de conhecimento, possam ser elaborados, aprofundados e explícitados no discurso. Note, que neste contexto a produção de explicações da parte dos interlocutores tem a função essencial de produzir argumentos convincentes em sustento da própria tese. Mas, para que isto se verifique é essencial que a situação proposta ofereça interpretações alternativas, que sejam possíveis e admitam múltiplas prospectivas que, enfim, também as soluções não verificadas mantenham toda a sua valência de possibilidades, se forem defendidas com referência a critérios compreensíveis e compartilhados. Nesta, como em outras pesquisas (Pontecorvo & Pontecorvo, 1986), se pode constatar como efetivamente seja verdadeira a afirmação de Vygotski (1974) que nas crianças “a discussão precede o raciocínio”. Isto quer dizer que na situação social de discussão entre pares, as crianças constroem um “raciocínio” coletivo e exteriorizado; as capacidades que estes colocam em atividade, a exemplo daquelas de fornecer justificações e de fundamentar as próprias afirmações em função de argumentar com os outros, podem ser interiorizadas como capacidades individuais de raciocínio em uma fase sucessiva. Este processo que vai do social ao inter-pessoal pode ser hipotizado para aprender a explicar, como capacidade que se exercita primeiramente no contexto social do argumentar, do responder à oposições e à objeções colocadas por outros (Eisenberg & Garvey, 1981; Genishi & Di Paolo, 1982). Em pesquisas desenvolvidas do contexto escolar (Orsolini & Pontecorvo, 1989) é visto como é possível que crianças de escola materna (também que de escola elementar) discutam entre eles uma história que a sua professora tenha lido anteriormente, interrompendo-a em pontos cruciais e solicitando a cada interrupção que as crianças pudessem dizer como prosseguir: neste setting as crianças têm, acima de tudo, buscado adivinhar a continuação, utilizando os seus conhecimentos de histórias. Depois são empenhadas em recordar e dramatizar em conjunto a história ouvida, e enfim conseguem assumir pontos de vista pessoais e discuti-los, abordando elementos convincentes para justificar as suas posições com relação à astúcia da protagonista e da antagonista. É assim possível ver como as crianças podem aprender a padronizar uma modalidade de falar e de argumentar através da participação a uma particular “pratica de leitura” mesmo sem ter ainda acesso direto ao texto escrito: a mediação semiótica é constituída neste caso seja pelo texto e pelo modo o qual é lido pela professora, seja do modo pelo qual a professora propõe as crianças de discutirem a história e guiar esta discussão, aceitando negociar com as crianças a interpretação das diversas fases da tarefa proposta. A situação social de construção coletiva do conhecimento e da explicação, mais ou menos diretamente guiada pelo professor, 128 teoria.indb 128 28/9/2007 16:13:33 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio produz e consente em exercitar novas capacidades cognitivas. Justamente a este efeito é possível mostrar como também neste tipo de interação social as crianças não adquirem, por outro lado, simplesmente uma nova formação cognitiva, mas também uma consciência em relação ao seu uso. A situação de interação ligada ao conhecimento torna possível o desenvolvimento de capacidades meta-cognitivas, que são essenciais para o posterior aprendizado. Aprendendo a escrever, a resolver problemas científicos ou sociais, a explicar eventos narrativos em um contexto de permutas e comunicação com os outros, crianças e alunos são solicitados a justificar e a explicar as razões de suas escolhas: tornam-se assim conscientes das diversas atividades cognitivas que estão colocando em prática. Unidade 3 teoria.indb 129 129 28/9/2007 16:13:34 Universidade do Sul de Santa Catarina Síntese Utilize o espaço abaixo para você mesmo realizar a síntese desta unidade. 130 teoria.indb 130 28/9/2007 16:13:34 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Atividades de auto-avaliação 1. Descreva a forma de interação social que facilita a aprendizagem escolar segundo o pensamento de Vigotski e dos pequisadores ele se inspirou. 2. A aprendizagem em Bruner: por quais motivos a discussão, na sala, mediada pelo professor se revela fundamental nos processos de construção da razão e, em última análise, o desenvolvimento intelectual? Unidade 3 teoria.indb 131 131 28/9/2007 16:13:34 Universidade do Sul de Santa Catarina Saiba Mais Para saber mais sobre o assunto e aprofundar seus conhecimentos você pode ler: OLIVEIRA, M. K. Pensar a educação: contribuições de Vygotsky. In: CASTORINA, J. A. e outros. Piaget e Vygotsky - Novas contribuições para o debate. São Paulo: Ática, 1995. OLIVEIRA, Z. M. P. (org.). A criança e seu desenvolvimento: uma perspectiva para se discutir a educação infantil. São Paulo: Cortez, 1995. PIAGET, J. Gênese das estruturas lógicas elementares. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1970. PIAGET, J. Aprendizagem e conhecimento. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1979. PIAGET, J. A equilibração das estruturas cognitivas: problema central do desenvolvimento. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma Perspectiva Históricocultural da Educação. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1995. VIGOTSKY, Lev. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984. VIGOTSKY, Lev. S., LURIA A.R. e LEONTIEV. A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1989. 132 teoria.indb 132 28/9/2007 16:13:34 UNIDADE 4 As teorias da educação: entre o fordismo e pós-fordismo Objetivos de aprendizagem Identificar como acontece o desenvolvimento cognitivo e o aprendizado em Jerome e Dewey. Perceber o conflito cognitivo e pensamento formal sob o ponto de vista da teoria de Piaget e os aspectos da mudança de rumo na teoria bruneriana. Compreender a formação do espírito científico e as mudanças paradigmáticas. 4 Analisar do ponto de vista do Processo da educação, o estruturalismo educativo e a reforma do currículo no processo de aprendizado. Identificar as dimensões didáticas e culturais na relação do aprender e do fazer educação. Analisar a teoria da educação sob o enfoque do currículo e do processo formativo. Seções de estudo Seção 1 Desenvolvimento cognitivo e aprendizado em Bruner e Dewey: o método da inteligência Seção 2 Conflito cognitivo e pensamento formal: o influxo de Piaget sobre a mudança de rumo bruneriana Seção 3 A formação do espírito científico Seção 4 O destino do Processo da educação, o estruturalismo educativo e a reforma do currículo: o aprendizado por descoberta teoria.indb 133 28/9/2007 16:13:34 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Para iniciar o estudo desta unidade vamos viajar um pouco no tempo. Acompanhe a narrativa... Em 1959, Bruner foi encarregado pela National Academy of Sciences de Washington para presidir a comissão de reforma dos programas de ensino das ciências na escola americana. A comissão era composta por uns trinta expoentes de diversos extratos científicos: biólogos como Bentley Glass e Ralph Gerard, matemáticos como Carl Allendoerfer e Edward Begle, físicos como Zack e Franny, alguns psicólogos de clara fama como o psicometrista Lee Cronbach, a cognitivista Barber Inhelder, uma estreita colaboradora de Piaget, a única européia presente. George Miller, o próprio Bruner e muitos pedagogos entre os quais, John Fischer da Columbia University e Henry Chauncey, diretor do Educational Testing Service, um historiador do calibre de John Blum e um literato clássico. Vamos acompanhar este conteúdo e analisar os demais conteúdos... A Conferência de Woods Hole No verão de 1959, a comissão se reuniu em Woods Hole, sede de verão da Academy, e trabalhou durante três meses com pesquisas, debates e reflexões para a revisão dos programas de instrução da escola americana. Ao final dos trabalhos, foi redigida um relatório acurado pelo próprio Bruner, que foi publicada no ano de 1961, com o titulo de The Process of Education. A influência da proposta foi profunda e se difundiu em mais países contextualmente ao livro. Na União Soviética, a exemplo, iniciou um amplo debate sobre o dogmatismo da instrução daquele país. 134 teoria.indb 134 28/9/2007 16:13:34 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Na Itália, o livro colocou em discussão o academismo ideológico do debate progressista em torno de Dewey por um lado, e o formalismo conservador do modo de entender a vida escolar por outro: não casualmente, o editor que se dedicou à tradução (Armando Armando em 1966) intitulou a obra Dopo Dewey. Il processo di apprendimento tra le due culture. (Após Dewey. O processo de aprendizado entre as duas culturas). No Japão, a obra contribuiu para iniciar a luta contra o aprendizado mnemônico tradicional; muitos outros países tornaram a rediscutir os próprios fundamentos da instrução pública como ocorreu em Israel, no Egito, na Grécia e na Turquia.“Acredito – afirma o próprio Bruner – que o sucesso do livro seja resultado de um desejo, em escala mundial, de colocar em discussão as funções da educação escolar à luz da explosão do saber e da nova tecnologia pós-industrial”. - Antes de passar à seção 1, vamos contextualizar as proposições situando também o Brasil. Como Dewey foi aceito e como seus ensinamentos foram desenvolvidos na educação escolar? Vamos situar a escola nova? Unidade 4 teoria.indb 135 135 28/9/2007 16:13:34 Universidade do Sul de Santa Catarina Um movimento com intenções objetivas e declaradas que sugerem mudanças significativas nas tendências do ensino do Brasil tem início em 1932. Anunciava-se uma “ESCOLA NOVA”. A discussão girava em torno de que o professor não se comporta como o transmissor ativo e sim um facilitador de aprendizagem, onde o aluno é um “ser ativo “ centro do processo de aprendizagem. Era preciso construir uma escola democrática, uma escola proclamada para todos. A ESCOLA NOVA vai de 1932 (Getúlio Vargas) até a instalação da ditadura militar em 1964, período em que tem início a ESCOLA TECNICISTA, e o modelo americano é instituído em nosso país. Faça uma pesquisa e verifique como as escolas lidavam com esta tendência de educação, quais eram os métodos e qual o objetivo prático da educação escolar. Use o espaço abaixo para destacar os pontos centrais. 136 teoria.indb 136 28/9/2007 16:13:34 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Para contextualizar e saber um pouco mais! A concepção filosófica de educação e de sociedade que sustentou o ideário escolanovista e, em grande parte, a filosofia da educação de Anísio, é caracterizada por um humanismo-tecnológico, marcou uma ruptura com a tradição filosófica humanista-cristã. A fundamentação pragmática da educação e dos valores que deveriam ser apresentados e vivenciados na escola foi feita a partir da filosofia de John Dewey e da sociologia de Durkheim. As idéias destes dois autores possibilitaram aos intelectuais e educadores renovadores compreender o processo de modernização da sociedade brasileira e, conseqüentemente, a necessidade de um novo ensino e de uma nova escola. À democracia, à liberdade e à ciência como valores da sociedade moderna correspondia um estudo científico dos problemas educacionais brasileiros, abandonados, até então, a sua própria sorte. A educação brasileira, para Anísio, refletia, ainda nos anos 60, os modelos dos quais se originou. “Em linhas gerais, a filosofia da educação dominante é a mesma que nos veio da Europa e que ali começa agora a modificar-se sob o impacto das novas condições científicas e sociais e das formulações mais recentes da filosofia geral contemporânea. Também aqui, na medida em que nos fizermos autenticamente nacionais e tomarmos plena consciência de nossa experiência, iremos elaborando a mentalidade brasileira e com ela a nossa filosofia e a nossa educação” (TEIXEIRA: 1968:20). Anísio acreditava ser possível a reconstrução da educação brasileira em bases científicas, rompendo com o ensaismo e o empirismo grosseiro que durante muito tempo dominou a reflexão sobre as questões educacionais. Somente com um conhecimento das diferentes realidades escolares, em todas as dimensões, seria possível uma mudança significativa na formação dos professores. No entanto, a expressão conhecimento da realidade escolar, como tantas outras do discurso educacional renovador, foi aos poucos transformando-se apenas em um slogan educacional para a maioria dos profissionais da educação brasileira. segue Unidade 4 teoria.indb 137 137 28/9/2007 16:13:34 Universidade do Sul de Santa Catarina Seja como pensador crítico, como professor ou como homem público a serviço da educação Anísio Teixeira deu importante contribuição ao campo da educação no Brasil. Sua luta pela reconstrução da educação nacional, tendo como referência a democracia e a ciência, não pode ficar esquecida sob a justificativa de sua vinculação à filosofia pragmatista norte-americana. Fonte: http://www.centrorefeducacional.com.br/aniescnova.htm SEÇÃO 1 - Desenvolvimento cognitivo e aprendizado em Bruner e Dewey: o método da inteligência Parece ser evidente que The Process of Education sinalizou uma mudança profunda no modo de entender a instrução e a formação. Concorda? E a primeira vítima de tal transformação foi certamente o pensamento e o influxo do instrumentalismo educativo de J. Dewey. Convém, portanto, apontar os caracteres deste pensamento, para poder colher a relevância da contribuição de Bruner para a reforma da instrução na sociedade pós-industrial. Sobre um ponto Bruner e Dewey concordam, e não vejo porque não deveriam: a transmissão do saber é tarefa institucional de cada sistema formativo. Mas que coisa se entende por transmissão cultural na sociedade pós-industrial é com certeza uma matéria controversa. Cabe ressaltar que a pesquisa e transmissão do saber não estão em contraposição. E não é por acaso que a John Dewey (e em geral ao pragmatismo americano) foram refeitas muitas das experiências nacionais em matéria de educação pela evidência dada ao relacionamento escola-ciência-sociedade e pela centralidade que neste âmbito assume o tema da pesquisa como tema formativo por excelência. A sua reflexão se coloca historicamente em um momento no qual, em nível internacional, se expande a escolaridade de base e a escola é chamada a absorver uma função eminentemente social. 138 teoria.indb 138 28/9/2007 16:13:35 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio No centro dessa reflexão está o relacionamento entre conhecimento e pesquisa investigativa: se conhece, se aprende de verdade qualquer coisa e se sabe portanto, reutilizar nos momentos e nos lugares mais apropriados, somente se nós nos colocarmos em condições de experimentar uma verdadeira e própria pesquisa investigativa. Esta inicia no momento no qual a realidade, a experiência social e natural colocam em movimento o pensamento, em presença de um qualquer problema ou dúvida. A interação com o ambiente, de fato, não se apresenta sempre em modo linear e orgânico, enquanto de outra parte, o pensamento humano tende naturalmente a manter inalterada a organização dos dados da experiência precedentemente adquirida. Quando uma fratura qualquer se cria entre a realidade e pensamento, o último se ativa e procede, na atividade cognitiva, até quando não chegue a uma situação na qual resulte eliminado o motivo que tenha levado a “pensar”. Não se trata, todavia, de exceções: a função principal do pensamento é de superar situações problemáticas, ou seja aquelas situações as quais tenha sido verificado um obstáculo qualquer na interação normal entre o individuo e o seu ambiente. Não existe de fato, para Dewey, o pensamento “em abstrato”: se si puder falar apenas em quanto o se reconheça ligado a precisas contingências e situações temporais e espaciais. Os problemas que estes são chamados a resolver não são tarefas pré-dispostas, como se pode verificar em certas operações aritméticas. O problema é já a definição de uma situação determinada mediante a uma pesquisa investigativa” e desta se conhece os elementos e os termos que podem conduzir a uma solução. “Elaborar um problema que não nasça de uma situação, significa abraçar um trabalho estéril...”. Sobre a dimensão didática, freqüentemente é interpretada no momento da análise deweyana como a possibilidade de ligar o aprendizado aos problemas, ou apresentando a matéria a ser aprendida em unidades didáticas organizadas em forma tal que no inicio de cada uma destas viesse colocado um problema, ou interpretando a “situação problemática” como uma situação de deságio pessoal do aluno, o qual seria assim estimulado para executar uma atividade de projeto. Unidade 4 teoria.indb 139 139 28/9/2007 16:13:35 Universidade do Sul de Santa Catarina Em Dewey, todavia, não existe uma clara determinação dos aspectos técnico-didáticos e das situações específicas nas quais o pensamento pode encontrar a maneira de constituir e de se exercitar. O discurso deweyano se coloca sempre em um nível de máxima generalidade; e neste intencionalmente. Aquilo que a ele pressionava, de fato, era de indicar e rebater o caráter de mediação funcional própria do pensamento, nas formas tais que valessem em cada campo e em cada nível. Isto tem freqüentemente impedido à reflexão de Dewey de fazer-se pedra de comparação na multiplicidade de indicações didáticas; a ao sistema de formação de saída das experiências de aprendizado ativo com um patrimônio de idéias e de experiências para enriquecer e potencializar mais do esquecer. Retornando ao método da inteligência de J. Dewey, podemos assim recapitular os seus postulados fundamentais: a) a atividade cognitiva fundamental do sujeito é pensar; b) o pensamento se ativa em situações problemáticas; c) a situação problemática e a atividade cognitiva tornam possível a formulação e então a solução do problema. O problema é, portanto, um momento de um procedimento complexo (ou método científico) que prevê as seguintes fases: 1. advertência de uma dificuldade tal que requeira uma investigação; 2. sua colocação e definição em termos de um problema a ser resolvido; 3. formulação de uma hipótese de solução, para iniciar a guiar a observação no recolhimento de materiais; 4. elaboração da hipótese (raciocínio) 5. controle das hipóteses através da ação direta ou da imaginação. 140 teoria.indb 140 28/9/2007 16:13:35 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Dois, em particular, são os elementos que, neste ponto, devem ser levados em consideração: a) o conhecimento, na sua identificação como resultado da investigação; b) a referência ao fazer, para que o conhecimento propriamente dito seja eficaz e o c) saber a) o conhecimento, no significado mais autêntico da palavra, (compreendido, portanto, como alargamento efetivo das potencialidades humanas em controlar setores sempre mais variáveis de experiência real), então, o conhecimento não é nunca um fato imediato. Não se conhece somente porque se escuta ou se vê qualquer coisa: o conhecimento é o fruto da investigação executada pelo pensamento em relação à situação problemática na qual se é encontrado enredado. “Com relação a qualquer matéria, nós conhecemos qualquer coisa na medida da qual alcançamos deliberadamente em transformar situações de dúvida em situações resolvidas”. Como tal, o conhecimento é um processo de reestruturação, seja dos elementos frutos de aquisições precedentes de novos estímulos. Se conhecimento, enfim, é o resultado da investigação, esta pode estar em continua evolução. Mudando as situações se renova a exigência da pesquisa. “Porque vivemos em um mundo em evolução, o futuro, apesar da sua continuidade com relação ao passado não é mais que pura repetição”. b) Quanto ao fazer, a sua re-chamada é de outra forma interessante porque vem assim a focalizar-se um dos elementos do educar, hoje entre os mais submetidos a equívocos e a álibis: entendemos referir-se a operacionalidade. Não é de pouca conta, de fato, que na formação de um dos eixos formadores prioritários seja representado pela operacionalidade, entendida como uma ação direta do pensamento tecnológico. Não se trata, portanto, de puro exercício manual, mas de operações concretas que podem efetuar-se e revelarse formativas quando sejam precedidas e acompanhadas por raciocínio, do planejamento teórico, de um domínio Unidade 4 teoria.indb 141 141 28/9/2007 16:13:35 Universidade do Sul de Santa Catarina “inteligente” da situação do problema. O aparecimento da ciência moderna, por um lado, e a interação entre ciência e tecnologia por outro, confirmam o caráter de modelagem da realidade que a operacionalidade tem, isto é, de sua continua organização segundo quadros teóricos pré-constituídos. Segundo Dewey, a operacionalidade científica manifesta-se sob três características, vamos conhecêlas? A primeira é que todas as formas de experimento comportam formas de agir concretas e manifestas, a produção, isto é, de definidas modificações do ambiente ou das nossas relações com o mesmo”, parece ser bastante óbvia, não? A segunda é que o experimento não é uma forma de atividade casual mas é sempre dirigida por idéias que devem satisfazer as condições ditadas da necessidade do problema o qual tem origem na investigação de seus aspectos ativos. A terceira e ultima, é que o produto da atividade intencional é a construção de uma situação empírica nova, na qual os objetos são colocados em relacionamento diferente em relação de uns aos outros...”. O recurso da pesquisa permanece portanto, uma condição essencial para a aquisição do conhecimento. Conhecer é “natural”, pertence a espécie “homem”, é uma operação que se explica como atividade do pensamento reflexivo, somente após ser efetuada uma investigação, uma série de operações que podem conduzir ao desatamento dos nós problemáticos. 142 teoria.indb 142 28/9/2007 16:13:35 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio c) Saber, enfim, para Dewey, se identifica com o próprio fazer do saber, não o saber já sistematizado. “Somente a sistematicidade que conta é aquela que vem para fora do próprio contexto da pesquisa (...). E o desenvolvimento histórico do saber não é um processo explicativo com a junção, de conhecimento já consolidado, de ulterior conhecimento que pouco a pouco se adquire, ou com a construção de quadros teóricos, aptos a sistematizarem novos conhecimentos. A modificarem são em primeiro lugar as situações e então os problemas”. Consegue, pelo ensino, a necessidade de colher e encontrar relações intrínsecas entre o conhecer e o fazer. Propriamente o recurso ao método científico (observação, hipótese, tese e controle) deveria ser garantia de aquisição de conhecimento, de saber técnico e tecnológico, segundo as modalidades indicadas pela ciência. Experiência científica e tecnológica e experiência humana resultam, assim, colocadas em comunicação explicita também a nível formativo. Está para o professor organizar os momentos nos quais as duas experiências venham em contato, e fazer juntar a experiência do aluno aquele grau de sistematicidade e de racionalidade próprias da experiência cientifica e tecnológica. A anotação é importante por uma série de motivos, vamos estudálos: 1. reconhece “dignidade” de ser pensante ao aluno, porque lhe reivindica, a nível cognitivo, uma capacidade de organizar e reorganizar os estímulos ambientais em modo análogo aquilo que ocorre no campo científico; 2. nos consente de individualizar na obtenção de disposição mental cientifica, racionalmente perseguida e aplicada, um dos mais importantes objetivos da formação profissional; Unidade 4 teoria.indb 143 143 28/9/2007 16:13:35 Universidade do Sul de Santa Catarina 3. consente de criar uma continuidade ativa entre o senso comum e conhecimento cientifico e tecnológico, porque ambos são assinalados por processos análogos de interação com a experiência; 4. tende a garantir o crescimento permanente do individuo, em quanto indica no domínio conceitual e operativo sobre os processos científicos o objetivo mais alto para alcançar; e convida a escolher como adulto um itinerário de aprendizado continuo; 5. emerge em primeira instancia o discurso do método, e vai sublinhando o valor formativo de uma didática fundada no método da ciência. SEÇÃO 2 - Conflito cognitivo e pensamento formal: o influxo de Piaget sobre a mudança de rumo bruneriano Você que já estudou a teoria cognitiva, deve concordar que entre os 14 e 16 anos, segundo J. Piaget, o homem alcança o último estágio de seu desenvolvimento cognitivo, aquele que assinala a aquisição de operações lógico-formais, ou não? Bem, estas operações, tratando de experiência concreta, se destacam gradualmente, até o ponto que o sujeito está em condições não só de colher relações entre fenômenos, mas sobretudo de “pensar o possível”, mediante processos de formulações de hipóteses e de deduções de soluções. Em particular, então, o adolescente desenvolve uma sensibilidade para compor quadros de conjuntos de fenômenos examinados, para conectar-lhes entre eles, variando peso e valores, introduzindo variáveis diversas e mais significativas de interpretação e/ou solução quando o contexto, em cuja natureza os próprios esquemas de ação, o requeira. 144 teoria.indb 144 28/9/2007 16:13:35 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio São estas, as características típicas do pensamento adulto, que se irientam também pela possibilidade de “refletir sobre si mesmo”, elaborando assim, não somente operações lógicas, mas verdadeiras e próprias proposições, ou seja formulações de teorias ou de quase teorias sobre o homem e sobre a vida, assim como de idéias sobre as transformações que regulam o mundo, o trabalho e a sociedade. O adolescente inicia, assim, a construir uma própria concepção do mundo e a confronta com aquelas dos outros, em referência a critérios de coerência, de finalidade geral, de validade interna e externa que ele constrói passo a passo. Os processos fundamentais do pensamento que aqui são destacados, são do tipo dedutivo, e são aqueles ou seja que permitem cumprir operações lógicas a partir de afi rmações dadas, sem dever buscar recurso nos dados da experiência. É útil, por outro lado, sublinhar neste ponto, como uma série de estudos de psicologia inter-cultural (que para Bruner e para a sociedade americana dos anos 60 não eram de fato estranhas) tivessem já colocado em relevo que neste estágio do desenvolvimento cognitivo do sujeito não é um ponto de chegada obrigatório, dado que seja por fatores biológicos, naturais. No caso da Europa Ocidental, “os níveis de pensamento lógicoformal seriam alcançados na direta medida na qual as instituições formativas tenham refletido e transmitido, e na medida da qual os indivíduos sejam obrigados a utilizá-lo para a sua colocação na vida produtiva da sociedade”. Portanto, o pensamento formal poderia dar-se através das características da nossa cultura, mas o caráter que permeia com o qual a ciência moderna e as aplicações tecnológicas se enchem de si, formas e modos de nossa vida cotidiana e social são requeridas, de modo particular hoje, o desenvolvimento e o uso. A complexidade, então, dos processos científicos, o enorme desenvolvimento dos seus conteúdos, o nível de alta simbolização, com o qual operam, tem responsabilizado ainda mais o ensino e o sistema formativo. Algumas provas experimentais, conduzidas junto às populações analfabetas, não tem feito surgir nenhum tipo de tendência natural em relação a um processo cognitivo de tipo lógicoformal. Isto significa que na aquisição de um nível tal de desenvolvimento mental existe uma variável determinante: esta é a instrução, ou melhor o tipo de cultura da qual o sujeito é participante. Entrando no mérito do problema, educar através do pensamento formal, ou seja o pensamento científico, implica tomar em consideração: Unidade 4 teoria.indb 145 145 28/9/2007 16:13:36 Universidade do Sul de Santa Catarina a) como se constituem os novos níveis cognitivos e as novas metas formativas na evolução mental do adolescente; b) como as novas capacidades formais entram em estreita relação e em comunicação com os contextos nos quais serão exercitadas. Com relação a o item “a”, é de se considerar o fato que na origem existe sempre o conflito entre aquilo que a experiência nos apresenta como “problema”, em quanto nova situação que lhe pede uma intervenção e uma ação “diversa” com relação aqueles terminados e então completados. É claro que a contradição (o problema), mais que pertencente ao mundo exterior, encontra sua colocação no sistema cognitivo do individuo, que por outro lado, se revela inadequado para assimilar “naturalmente” o problema. O sujeito deverá, portanto, aplicar-se (e o fará por estimulo próprio) para desfazer aqueles nós que ele mesmo tenha se envolvido em um momento precedente, quando tenha produzido uma incompatibilidade no interior de seu sistema cognitivo. Ele assimilará o novo estímulo externo após uma série de tentativas que modificarão, progressivamente, a sua estrutura cognitiva e tornarão possível o aprendizado. Entender como se resolve um problema não é mais a tarefa fundamental: o é principalmente a exploração por parte do sujeito, dos mecanismos em virtude dos quais o problema é constituído, dos vínculos lógicos e lingüísticos a serem superados: o todo pelo objetivo, ativamente perseguido, de superar o desequilíbrio subseqüente às perturbações externas e de tenderem para um novo equilíbrio de padronização. Se conhece, portanto, e se aprende em virtude de uma operação, isto é de uma ação interiorizada que modifica o objeto do conhecimento. O modelo de aprendizado que resulta, se si deseja aderir as teorias piagetianas, é um processo de registro, de aquisição e de reestruturação ativa de novos dados na totalidade dos conhecimentos precedentes. Durante este processo o conflito cognitivo (ou situação problemática para Dewey, ou dissonância cognitiva para Berlyne), desenvolve um papel relevante aos fins, seja no desenvolvimento, que na utilização das estruturas cognitivas. Não se pode todavia, afirmar se o aprendizado será o resultado de uma pesquisa, aquilo dependerá igualmente nível de partida do sujeito: ou seja “a variável determinante é a “competência” do sujeito em dar-se conta das dificuldades e contradições que constituem o estimulo inicial, e em confrontar diversas alternativas de ações e os seus resultados”. 146 teoria.indb 146 28/9/2007 16:13:36 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Quanto ao item “b”, “se tem avançado mais, através de uma série de estudos e pesquisas, que as operações formais se desenvolvem e se consolidam no interior de conteúdos e de experiências as quais é particularmente exercitado o indivíduo, e que estas se diferenciam sempre mais a partir da adolescência, para o precisarse e diferenciar-se dos interesses e dos hábitos”. Esta afirmação conduz a dois relevos fundamentais: 1. quanto mais familiar e conhecido um conteúdo, mais se torna possível para o aluno efetuar formalizações e simbolizações, e, portanto: dissociar variáveis, ligar termos, colher relações complexas, sistematizar o conhecimento, organizar modelos, sistemas e planos de trabalho, recuperar premissas conceituais ou esquemas de elaboração. Mas isto significa que a familiaridade com os conteúdos de experiência ou de aprendizado, outro que não um processo sempre aberto de profunda assimilação das estruturas e dos paradigmas que “regulam” do interior a vida daqueles conteúdos; 2. na idade em questão, que é a idade orientativa por excelência de interesses e hábitos, bloquear o desenvolvimento/aprendizado de um aluno sobre um único setor, cultural ou profissional que seja, significa inibir uma orientação eficaz. Trata-se de fazer reintegrar o aluno o mais eficazmente possível com o número mais alto de disciplinas, para que cada uma desta ative no adolescente uma diversa gama de operações cognitivas. Não existem em suma, “disciplinas-cinderelas” entre as matérias de instrução. O processo formativo parte da análise das estruturas disciplinares Ao fim dos anos 50, inicia e se difunde um movimento decisivo, de caráter mundial, de reforma do ensino científico. Num giro de poucos anos, sobretudo nos Estados Unidos, contamse ao menos 70 projetos de reforma de currículo em diversas disciplinas científicas e técnicas, os quais tendem a dar uma imagem completamente nova ao ensino do ponto de vista dos conteúdos, das estratégias didáticas, das metodologias de ensino/ aprendizado, dos modos usuais em conceber a atividade do docente e do discente, das tecnologias de suporte mediático. Tal Unidade 4 teoria.indb 147 Nota do tradutor: cinderela, no sentido de pessoa tida como de pouca consideração, que fica sempre em último lugar, se diz também em sentido figurado para instituições, nações etc. 147 28/9/2007 16:13:36 Universidade do Sul de Santa Catarina processo de renovação se liga a um fato cultural complexo, ou seja, a relevante importância que naqueles anos assume a empresa científica na sociedade industrial. É também o momento da crise do “Sputinik”, que da ocasião ao mundo científico e econômico americano para denunciar os notáveis retardos acumulados na formação técnica e cientifica das novas gerações, e para indicar à escola a direção a ser tomada em sintonia com a evolução dos estudos e inovações tecnológicas. O debate se concentrou em torno de três aspectos fundamentais do processo de aprendizado: o aspecto normativo, isto é o corpo de conhecimento a ser transmitido; o aspecto cognitivo, ou seja a análise do papel, das tarefas e das metas formativas para o discente, para o docente, e para o inteiro sistema das oportunidades formativas; o aspecto técnico, consistente na definição, projeto e planificação das estratégias que haveriam consentido em alcançar os objetivos considerados. Do aprofundamento de tais aspectos surgiram modelos diversos de currículos. Em 1959, como já foi dito, em Woods Hole, Bruner presidiu uma Conferência convocada pela National Academy of Sciences: é o momento a partir do qual se estabeleceu convencionalmente como inicio daquele movimento de reforma de currículos científicos e técnicos dos quais primeiramente se dizia. Os elementos essenciais de discussão que surgiram durante e após a Conferência podem ser sintetizados. Vamos Conhecê-los? 148 teoria.indb 148 28/9/2007 16:13:36 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio a) Conexão entre conhecimentos existentes e adquiridos O desenvolvimento mental do sujeito é tomado em estreita conexão com os conhecimentos já adquiridos ou a serem adquiridos: o sujeito no qual tem lugar um crescimento cognitivo é o mesmo sujeito de fato que se encontra vivendo em um especifico contexto sociocultural, em manipular objetos e instrumentos, produtos e processos tecnológicos. Isto significa reconhecer, interiormente ao processo de conhecimento, um papel notável não só do sujeito que aprende, mas de todas as informações que ele recebe do exterior. Sobre o plano da instrução, é evidente que para Bruner, o crescimento do indivíduo é obtido em contato com as modalidades com as quais uma sociedade tem construído o seu relacionamento com a realidade, em seguida com as disciplinas, as linguagens, os instrumentos, os produtos. b) Organização do aprendizado: o que fazer com o que sabemos? Como organizar o aprendizado? Para Bruner, “...não importa aquilo que tenhamos aprendido: mas aquilo que podemos fazer com quanto tenhamos aprendido, este é o problema”. Por este motivo, não são úteis as informações isoladas, mas as informações estruturadas. Cada argumento tem uma sua estrutura (...). Esta estrutura é aquilo que confere ao argumento a sua fundamental simplicidade. E é aprendendo a sua natureza que alcançamos a compreender o significado essencial do próprio argumento. Em particular, a estrutura de uma disciplina é dada por suas idéias fundamentais e gerais: dos princípios organizadores que permitem enquadrar os conhecimentos e os dados da experiência em um contexto orgânico. Estes são os princípios que permitem a sistematização e o progresso do saber no âmbito das disciplinas individuais; são estes princípios, e não as noções isoladas, os objetos de uma instrução eficaz. Unidade 4 teoria.indb 149 149 28/9/2007 16:13:36 Universidade do Sul de Santa Catarina O saber é uma construção exemplar que tem o objetivo em dar um significado para motivos constantes na experiência e de inseri-los em uma “estrutura”. As idéias organizacionais de um conjunto qualquer de conhecimento são descobertas que objetivam concatenar e simplificar a experiência: em física é descoberta a idéia de força, em química aquela de combinação, em psicologia a idéia de motivação, em literatura aquela de estilo, com objetivo, sempre, de haver instrumentos de compreensão. A história da cultura é a história do desenvolvimento das grandes idéias organizativas e estruturais, idéias que inevitavelmente derivam de juízos e de hipóteses sempre mais profundas sobre o homem e sobre a cultura. A eficácia das grandes idéias organizativas não resiste somente em nos ajudar a compreender, e às vezes a prefigurarmos a modificar o mundo no qual vivemos, mas também em fornecernos instrumentos para a experiência. Assim, se introduz uma específica proposta metodológica centrada sobre um ensinamento de estrutura; e este com uma tríplice vantagem: 1. é possível ativar a motivação para aprender porque esta é baseada na “competência comunicativa” dos sujeitos, ou seja, sobre a capacidade deles de se exprimir e construir relações com as coisas e com os outros, estimulados por aquela natural curiosidade de conhecer e de agir que é típica da espécie humana; 2. se retém e se memoriza mais facilmente aquilo que é organizado e estruturado, em modo significativo; 3. Enfim, se realiza a transferência de aprendizado: ou seja, somente se aprendem idéias gerais (princípios ou estruturas), estas depois, podem ser usadas para afrontar os problemas que se apresentam em seguida em outros contextos, eventualmente também em outras disciplinas. 150 teoria.indb 150 28/9/2007 16:13:36 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio As matérias vêm ensinadas como “metodologia de pensamento” Na base de “metodologia” de pensamento, própria, de uma dada disciplina é um complexo de proposições gerais, conexas entre elas e em varias medidas implícitas. Na física e na matemática a maior parte das proposições gerativas fundamentais, como os teoremas da conservação, ou os axiomas da geometria ou as regras associativas, distributivas e comunicativas, de análise, são agora totalmente explícitas. Nas ciências do comportamento devemos por outro lado, contentarmo-nos dos princípios menos explícitos e trabalhar sobre a base de proposições indutivas: por exemplo, como as diversas atividades de uma sociedade sejam conexas entre elas em modo tal que, quando se conhece qualquer coisa entorno das respostas tecnológicas de uma sociedade e um ambiente, se possa estar em condições de formular hipóteses fundadas em seus mitos e em seus valores. Estas, portanto, são as estruturas: para a matemática e física um conjunto de proposições gerativas (das quais, ou seja, descendem logicamente outras); para as ciências do comportamento, conjunto de proposições indutivas (mediante as quais se alcança os princípios mais gerais). A obra educativa deve colocar o rapaz em condições de fazer próprias tais proposições e, se necessário, transpô-las de modo simbólico com as quais geralmente são representadas, de um modo mais acessível. Tudo, de fato, para Bruner, pode ser transmitido a todos, porque para cada idade e para cada um nível cognitivo se consiga determinar o modo de representação, aquela ativa (fundada na experiência), aquela icônica (fundada nas imagens), aquela simbólica propriamente dita (fundada nas palavras e nos números). Veja o exemplo: Uma vez julgado que a teoria dos grupos seja “fundamental” em matemática, se podem inventar atividades que, partindo do modo da representação ativa, conduzam a adquirir a noção do grupo matemático. Bruner refere a uma experiência conduzida em colaboração com Dienes, na qual foram ensinados, a meninos de nove anos, os elementos da teoria dos grupos, referindo-se a quatro movimentos de um livro, cuja capa foi desenhada uma flecha vertical: um quarto de volta para a esquerda, um quarto de volta para a direita, meio giro, deixada na posição inalterada. Unidade 4 teoria.indb 151 151 28/9/2007 16:13:36 Universidade do Sul de Santa Catarina Assim, os meninos, disse Bruner, aprendem a construir os seus outros grupos, a distinguir conjuntos de movimentos que tenham estrutura de grupo, de conjuntos de movimentos que não tenham, e a construir matrizes para estudar e confrontar estruturas”. Mas, aqueles que são os princípios fundamentais, as estruturas, de uma disciplina, em quais condições podem ser também para um sujeito que aprende? Como podem, tornar-se para ele importantes e significativas? Conhecer, de fato, as estruturas de uma disciplina não significa ainda padronizá-la, aprender ou seja a “pensá-la” segundo suas regras. O que pode acontecer somente em relação às modalidades com as quais estas venham apresentadas, as motivações que tenham suscitadas, as conexões que foram estabelecidas com outros conhecimentos. A exemplo, o currículo científico, elaborado pelo físico Karplus e colocado sobre idéias chaves, ou seja, sobre conceitos interpretativos fundamentais, é todavia, baseado sobre um procedimento didático pelo qual o professor apresenta situações diversas, oferece experiências em base das quais os alunos podem operar abstrações, então comunica o conceito correspondente como uma etiqueta a ser colocada na experiência analisada, conceito que o aluno deveria transferir para outras experiências (similares ou não). Mas, tudo isto basta para poder aceitar que os alunos dominem realmente o conceito-guia, somente porque este foi utilizado pelo professor em um contexto bem definido de atividade? É claro que o domínio de um conceito (de uma estrutura) não se realiza do conhecimento da palavra correspondente, mas, através da capacidade de utilizá-la. Trata-se de verificar, portanto, como os conceitos da ciência se transformam no sujeito que aprende em “operações conceituais”, ou seja, em habilidades operativas racionalmente corretas. 152 teoria.indb 152 28/9/2007 16:13:37 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Com esse argumento, Bruner remove o ponto de interrogação e nos solicita a perguntar o relacionamento ainda mais originário entre estruturas disciplinares e contextualizações. Se adotasse, de fato, ele sustenta uma aproximação ao conhecimento, seja do ponto de vista do desenvolvimento da tecnologia e da ciência, seja do ponto de vista de seu desenvolvimento nos indivíduos, tornaria possível iniciar um discurso muito mais apertado em nível formativo. Nas “estruturas portantes” com as quais é construída a ciência contemporânea, podem ser individualizadas aquelas mesmas estruturas que servem para organizar o relacionamento mais ou menos científico que cada indivíduo estabelece com a realidade: estruturas como aquelas de espaço/tempo, estado/transformação, conservação/invariabilidade são exemplo daqueles conceitos fundamentais que presidem tanto ao desenvolvimento da ciência como aquele da tecnologia. E não é obviamente por acaso que estes se encontram no desenvolvimento “cognitivo” natural do indivíduo. Certamente, permanecem notáveis as diferenças, as distâncias entre os dois aspectos do conhecimento aquele cientifico e aquele humano, tanto se consideramos elevada especialização e partição ou parcelamento alcançada pelo conhecimento científico no curso do tempo. Mas, recordamos que “...o problema que hoje se coloca não é mais somente aquele de ajudar os indivíduos e os grupos a assimilarem uma (nova disciplina) no modo mais econômico possível, mas aquele de colocar em condições de poder conseguir a máxima quantidade de ligações ou passagens de uma a outra, mantendo o máximo nível de controle do processo. Não se requer mais, em outras palavras, somente a qualidade de reflexões e explicações necessárias para cada um “aprender”, mas aquelas correspondentes a um “aprender”, que de necessidade comporta um radical deslocamento da estrutura, e uma reavaliação das economias do aprendizado.” É necessário analisar a um tempo a partir do que o indivíduo constrói conceitos , e das modalidades de conceituação que privilegiam a ciência e a tecnologia no seu desenvolvimento histórico. De uma série de experimentações conduzidas em âmbito psicológico, resultava, por outro lado, a Bruner, que os indivíduos Unidade 4 teoria.indb 153 153 28/9/2007 16:13:37 Universidade do Sul de Santa Catarina não aprendem conceitos um por vez e separadamente um do outro. Mas, estes existem no interior de uma rede conceitual, pela qual cada conceito consiste em um conjunto de relações referidas a si mesmo, aos lugares, as ações, aos outros objetos com os quais vem a ter contato. Por exemplo, o conceito de “trabalho” não é um conceito abstrato, mas é principalmente a síntese de relações funcionais, o núcleo em torno do qual aquele conceito progressivamente se enriquece. Em conseqüência, então, da interação repetida com coisas e pessoas, o núcleo funcional pode adquirir novas relações essenciais e perder aqueles muito específicos e próprios de contextos particulares: se elabora assim uma estrutura cognitiva sempre mais complexa, capaz de adquirir o essencial de novas experiências, saber formular previsões corretas, ser sempre mais versátil e flexível com respeito as novas situações. Estes consistem em organizar o próprio conhecimento prevendo situações, relações, interpretações, relativamente as novas informações que provem do exterior: em outros termos um processo qualquer de aquisição de conhecimento é determinado pelos esquemas já existentes. No momento, de fato, no qual estas redes conceituais se encontram com novos fenômenos, para a determinação de novos conceitos, estes fogem de esquemas. Cabe ressaltar que tais esquemas não são sempre os mesmos; são também sujeitos a transformações; e isto ocorre por acréscimo, por revisão, por reestruturação. “Esta última é a modalidade decisiva: isto ocorre quando as novas informações não se adaptam aos velhos esquemas ou quando a organização dos dados existentes não é satisfatória”. Os novos esquemas se constroem sobre a base dos velhos através do uso de analogias, metáforas, modelos que podem ser evidenciados pelo docente ou descobertos pelo discente sozinho. É importante destacar que se a aquisição de novas informações não avança por conceitos simples ou por simples unidades de informações, mas, sobretudo, pelo significado que assumem no interno do quadro de conhecimento do sujeito em que deriva uma revolução pelo mesmo ensino. Não mais os ensinamentos de elementos da hierarquia das disciplinas, mas um ensino que pode estabelecer relacionamentos com elementos já conhecidos e que, no fornecer novos elementos conhecidos, busca construir um tecido de conexões que podem ser sucessivamente tornar-se mais compacto e mais conciso. 154 teoria.indb 154 28/9/2007 16:13:37 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Torna-se então, extremamente claro o quanto é essencial conhecer aquilo que o aluno já sabe, visto que os conhecimentos precedentes são um fator determinante com respeito aquilo que se aprende. E este ainda mais se considerarmos que a ativação e a explicitação daquilo que o aluno sabe tem um efeito positivo sobre o sucessivo aprendizado, porque coloca em ação conhecimentos e procedimentos presentes mas não conscientemente disponíveis, e ajuda a desenvolver a reflexão sobre o próprio saber e o não saber, que são – como sabe a experiência didática cotidiana – momentos cruciais no desenvolvimento do conhecimento e das habilidades. Sucede de fato que, em adultos escolarizados, se descobre teorias e modelos de explicação de alguns fenômenos físicos e naturais claramente alternativos aos modelos científicos. Os ensinamentos, naquele caso, não interagiu com os esquemas de conhecimento dos sujeitos em questão: a teoria científica foi simplesmente “agregada” as modalidades de conhecimento do sujeito, não foi “radicada” neste. Portanto, o sujeito, quando precisa explicar um fenômeno, utiliza a teoria do senso comum, do qual habitualmente se serve para sentir-se integrado na realidade em que vive. Impõe-se, então, uma análise refinada dos conteúdos a serem transmitidos. Não se trata somente de identificar as estruturas, as idéias chave fundamentais ao interior das disciplinas, mas também de avaliar as dificuldades psicológicas, os obstáculos cognitivos que impedem a um argumento o a uma habilidade de transformar o objeto de domínio para um sujeito. Unidade 4 teoria.indb 155 155 28/9/2007 16:13:37 Universidade do Sul de Santa Catarina SEÇÃO 3 - A formação do espírito científico A propósito da formação do espírito científico, convém recordar aquilo que G. Bachelard tinha observado a muito tempo (1933): “ Em educação, a noção de obstáculo epistemológico é igualmente desconhecida. Tenho sido freqüentemente surpreendido, diz Bachelard, pelo fato que os professores de ciências, mais ainda do que os outros, se isto é possível, não compreendem que não se compreenda... Vamos entender isso melhor? Vejam... os professores de ciências imaginam que o espírito científico começa como uma lição, que se possa compreender uma demonstração repetindo-a ponto por ponto. Estes não têm refletido o fato que o adolescente chega a aula de física com os conhecimentos empíricos já constituídos: se trata então, não de adquirir uma cultura experimental, mas, sobretudo, de mudar a cultura experimental, de derrubar os obstáculos já acumulados na vida cotidiana”. E acrescenta: “Sem dúvida, seria mais simples ensinar apenas o resultado. Porém, o ensino dos resultados da ciência não é nunca um ensino científico. Se não se explicita a linha de produção espiritual que tenha conduzido ao resultado, pode ficar seguro que o aluno associará o resultado com as imagens que lhe são mais familiares. É obrigatório que o aluno “compreenda”. Não se pode julgar que tenham compreendido. Porque não lhe são dadas razões, ele alcança o resultado das razões pessoais”. Por razões pessoais se entende todo um modo de conceitualizar que liga os alunos ao ambiente circundante, as experiências sociais e familiares, a particulares contextos de mediação cultural (cinema, tv, computador, jornais etc.), nos quais é, por assim dizer, formada a sua interpretação do mundo. E quando uma mudança se manifesta esta tem profundas repercussões sobre o sistema cognitivo, afetivo, social, na totalidade do mesmo indivíduo. 156 teoria.indb 156 28/9/2007 16:13:37 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Não diversamente acontece em nível tecnológico. Refazendo-se de fato a análise realizada por Thomas Kunh, na obra A estrutura das revoluções científicas, relevamos o conceito de paradigma. Para que um paradigma entre em crise, e para que se tenha uma nova revolução cientifica é necessária uma reestruturação global, um novo modo de ver as coisas não muda a interpretação dos dados, muda a sua própria percepção e considerando não somente os cientistas, mas a sociedade humana inteira que condiciona e é por seu turno condicionada por tais revoluções: atrás da revolução copernicana. Veja exemplos: Existem os novos pedidos para atender as exigências da navegação, pela reforma do calendário e ocorreram agitações econômico-sociais, políticas e religiosas da época da Reforma Protestante. “Uma mudança em um campo diminui a obtenção dos estereótipos dos outros. Radicais inovações no campo científico têm ocorrido repetidamente durante períodos de agitações nacionais ou internacionais e a vida de Copérnico pertence a um período deste gênero.” Este é entendido como o resultado científico apto a definir, por um certo período de tempo, “os problemas e os métodos para numerosas gerações de cientistas em um determinado campo de pesquisa”. Ao par do esquema interpretativo individual, isto dá a possibilidade de resolver problemas de cada gênero reconduzindo anomalias e contradições da realidade a níveis de racionalidade e justificação. Perceba que as previsões quantitativas copernicanas pouco variavam com relação à hipótese ptolemaica, ou seja, uma brecha foi aberta no terreno da cosmologia aristotélica, e isto determinou outros problemas, enquanto não se chegou a aceitar a construção de uma nova estrutura conceitual, aquela do universo newtoniano, com as suas implicações que, além da ciência, tocavam o modo de entender a religião e tornavam possíveis novas concepções em matéria de filosofia política. O discurso tem uma relevância pedagógica notável, porque convida a transmitir e organizar tanto a ciência como as tecnologias em relação ao processo nos quais venham definir historicamente as técnicas e os instrumentos tecnológicos, a partir obviamente do fato que entre experiência comum e tecnologia existe uma relação estreita. Unidade 4 teoria.indb 157 157 28/9/2007 16:13:37 Universidade do Sul de Santa Catarina O inteiro discurso tem uma relevância pedagógica notável, porque convida a transmitir e organizar tanto a ciência como as tecnologias em relação ao processo nos quais venham definir historicamente as técnicas e os instrumentos tecnológicos, a partir obviamente do fato que entre experiência comum e tecnologia existe uma relação estreita. A teoria educativa que resulta pode inspirar uma formação consciente da multiplicidade das dimensões culturais e das suas problemáticas. SEÇÃO 4 - O destino do Processo da educação, o estruturalismo educativo e a reforma do currículo: o aprendizado por descoberta As conclusões da conferência de Woods Hole e a publicação do Processo da educação, levaram Bruner a desenvolver e aprofundar os interesses educativos. Em 1961 foi nomeado componente da Comissão de Instrução do Science Advisory Committee, instituído pelo presidente Kennedy e mantido pelo presidente Johnson, notoriamente ligado aos problemas escolásticos e educativos mais do que seu predecessor. Tratava-se de uma comissão de trabalho consultiva presidida por Jerry Wiesner, conselheiro de John Kennedy para a cultura e a ciência, e formada por altas personalidades da política e da cultura americana “liberal”. Trata-se de um encargo com toda diligência que o obrigou a cansativas viagens de Nova Iorque a Washington, a submeter-se a prolongadas sessões de trabalho que, por outro lado não produziram resultados de relevo. 158 teoria.indb 158 28/9/2007 16:13:37 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Neste âmbito, Bruner obteve pareceres sob diversos problemas da educação e, sobretudo contribuiu de modo decisivo para impedir a instauração de uma espécie de neo-colonialismo cultural e pedagógico, com a difusão da tecnologia educativa americana, então em grande desenvolvimento, em direção aos países do terceiro mundo, que algumas sociedades produtivas apoiavam por óbvios objetivos comerciais. Ele chegou de fato ao convencimento que era necessário não influir nos países em desenvolvimento com tecnologias de educação, após haver feito uma viagem de três semanas em paises africanos, durante as quais pode presenciar como o fornecimento de maquinas para ensinar e materiais áudio-visuais em geral, para aqueles paises, dariam resultados úteis somente os modos dos quais os próprios materiais fossem inseridos na organização didática nativas e no âmbito de um programa de desenvolvimento de uma instituição internacional como o Banco Mundial. Vice-versa, se utilizados com programas e mensagens culturais americanas, os meios tecnológicos teriam constituído somente um negócio para as empresas produtoras. A vontade de aprender O homem nasce em uma cultura cujas funções principais são a conservação e a transmissão do aprendizado passado. A educação em cada cultura, consiste no estudo dos fatores que rendem fontes satisfação no processo de aprendizado escolástico. Quase todos os jovens possuem motivos intrínsecos (independentes de uma recompensa externa) para aprenderem. E por taes se entende: a) curiosidade e sua redução a um ato voluntário b) competência c) modelo de identificação d) motivação para a reciprocidade e) pouca importância atribuída a recompensas e punições “extrínsecas” f) debilidade de reforço externo Unidade 4 teoria.indb 159 159 28/9/2007 16:13:38 Universidade do Sul de Santa Catarina Os colonialismos educativos e culturais não são outra coisa que manifestações de adaptação e defesa. Mas com relação a isto, a educação não pode nunca esquecer que: estes produzem reflexos decisivos no comportamento de adaptação e defesa da vida intelectual do homem a adaptação por outro lado respeita as exigências colocadas pelos problemas que encontramos mesmo que respeitando ao mesmo tempo a nossa integridade a defesa é uma estratégia cujo objetivo consiste em evitar ou subtrair-se daqueles problemas dos quais imaginamos que não exista nenhuma solução, que não violem a nossa integridade funcional a nível individual o estudo de tais mecanismos consente em individualizar a formação de blocos de aprendizado. É necessário dizer que foi uma decisão de não pouca conta, porque além da adversidade que se gerou no mundo da produção, ele provocou um debate multicultural e uma reflexão aberta sobre o papel que os meios da multimídia devem recobrir no processo educativo em termos próprios. Assim como sobre o procedimento próprio a ser seguido no processo de alfabetização e de aculturação dos povos em desenvolvimento. Além da determinante contribuição para a reforma dos estudos científicos, Bruner foi profuso em seu grande empenho também para a reforma dos estudos sociais no âmbito da Educational Sciences Inc. (ESI), uma financeira sem fins lucrativos, fundada por amigo seu, Jerrold Zacharias. Em geral, deste segundo empenho institucional se fala em termos inadequados, enquanto aquele para o qual Bruner dedicou muita abnegação recebendo desilusão e registrando insucessos. A partir do verão de 1962 no Endicott House, uma velha propriedade em Deedham, a dez milhas de Harvard Square, ora pertencente ao MIT (Massachussets Institute of Technology), se dedicou a reforma dos estudos sociais na escola americana. 160 teoria.indb 160 28/9/2007 16:13:38 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio A intenção de fundo, era aquela de unir a dimensão histórica (a reconstrução) a aquela analítica (a investigação) do estudo dos fenômenos sociais, as suas duas dimensões tradicionais não facilmente conciliáveis. Após meses de trabalho teórico juntamente com uma equipe muito qualificada de historiadores e sociólogos e de um período de trabalho experimental produzido junto a Underwood School de Newton, em Massachussets, foi revisado um programa didático resumido em um texto conhecido como Man: A Course of Study, que tornou-se famoso rapidamente em todo os Estados Unidos. Para saber mais! A proposta de reforma dos programas dos estudos sociais aos quais Bruner dedicou nos anos igual atenção, enfim, teve menor sorte daquela dos estudos científicos. Esta foi contrariada tenazmente pela política de direita, representada pela John Birch Society e pelos “criacionistas”, contrários ao evolucionismo, ao ponto que foi asfixiada e constrangida a findar-se. O movimento pela reforma dos programas, que durou mais ou menos um decênio, foi bloqueado também por um outro acontecimento que mudou o clima do país, a guerra do Vietnã a qual tomou parte também o filho de Bruner, Whitley, que retornando são e salvo, após uma especialização em Harvard, se dedicou a carreira diplomática. Todavia as idéias produzidas no “Man: A Course of Study” se difundiram não só em todo o território dos E.U.A., mas também em muitos outros paises: na Grã-Bretanha, na Austrália e em diversos paises europeus, entre os quais a Itália. Em geral, estas idéias se conotaram como estruturalismo educativo e influenciaram sobre tudo posições e modelos de organizações e reforma do ensino. Obviamente permanecia o problema perfeitamente pedagógico de como conjugar de maneira eficaz a organização do ensino da parte das estruturas formais dedicadas a instrução de uma parte, e a organização significativa do aprendizado dos alunos por outra. E o debate conseqüente assumiu a forma de uma pesquisa alargada sobre o relacionamento entre estruturas disciplinares e sintaxe da pesquisa que a cada processo formativo deveria garantir sob a forma de currículo de instrução. Unidade 4 teoria.indb 161 161 28/9/2007 16:13:38 Universidade do Sul de Santa Catarina Estando nas argumentações psico-pedagógicas primeiramente reportadas, a aquisição dos conceitos fundamentais das disciplinas de ensino não é de fato divisível dos procedimentos metodológicos que contra distinguem cada disciplina ou grupo de disciplinas entre elas. J.J. Schwab, conhecido biólogo, colaborador do Biological Sciences Curriculum Study, um dos mais importantes programas experimentais de biologia, identifica de fato, no conteúdo de cada disciplina sejam estruturas substanciais (conceitos, idéias fundamentais, quadros de valores), sejam estruturas sintáticas (procedimentos metodológicos, provas, critérios, modelos de pesquisa, instrumentos utilizados etc.). Umas não podem ser indagadas ou adquiridas sem a colaboração de outras e vice-versa. Ao contrário, mais especificamente: é a presença em nós de determinadas estruturas conceituais que nos conduzem a selecionar certos dados, a colocar certos problemas, a avançar certas hipóteses. Não existe, segundo Schwab, um método de pesquisa que parta do nada. No momento no qual nos é colocado um problema para ser resolvido e tenhamos a necessidade de recolher dados, é o mesmo problema a tornar-se para nós, para o pesquisador, o indicador-guia seja no recolhimento dos dados que na formação de hipóteses de solução. A atenção de Schwab é calibrada sobre a pesquisa, na sua intima conexão, porem, com as “estruturas conceituais” da disciplina em questão: são estas que permitem o surgimento dos problemas a serem resolvidos; que tornam possível e compreensível o uso de certos termos e que consentem em recolher dados e interpretá-los. Isto significa que ciências e tecnologias diversas se refazem em esquemas conceituais diferentes. Mas diferentes são também as suas estruturas sintáticas, ou seja, seus procedimentos metodológicos. 162 teoria.indb 162 28/9/2007 16:13:38 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Chega-se a excluir assim uma contra-posição clara entre “conteúdos” e “métodos” e se enfatiza como, em qualquer âmbito de pesquisa, métodos e conteúdos não são separáveis, e que os “métodos não são a vida para a construção da ciência, mas em vez disso fazem parte esses mesmos da ciência”. A referência à teoria deweyana, cuja identificação de fundo entre o método de aprendizado e o método da descoberta científica, podia fazer pensar: na existência de um único método cientifico valido para todos os campos do saber; na possibilidade de acreditar, de ter-se chegado a conclusões validas somente em virtude do método seguido pela pesquisa, com o risco que se educasse mais por um dogmatismo cientifico que a própria e verdadeira ciência. As fases do método de estudo para Schwab são, portanto, as seguintes: a formulação do problema, que nasce da justaposição de um principio da pesquisa (ou estrutura substancial) com alguns fenômenos indicadores; a pesquisa dos dados que sugira as possíveis soluções do problema; a reformulação do problema, para incluir estas possíveis soluções; a escolha dos dados necessários para resolver o problema; o planejamento da experiência e do recolhimento de dados; a interpretação dos dados por meio das estruturas substanciais e das noções precedentes já em posse do pesquisador; A pesquisa como se vê, nasce de um quadro conceitual bem preciso (o princípio da pesquisa) e não conclui se não com uma nova interpretação, já pronta para revisões e transformações. Unidade 4 teoria.indb 163 163 28/9/2007 16:13:38 Universidade do Sul de Santa Catarina Para o aluno, isto significa realçar e colher acima de tudo, a especificidade de cada corpus disciplinar (as estruturas substanciais e sintáticas da química são diferentes daquela da matemática ou da física), mas também o recurso à “sintaxe da descoberta”, em quanto habito cognitivo que contextualiza e relativiza cada nova afirmação no interior de um discurso disciplinar nunca dado uma volta para todos, mas sujeito a mudanças próprias pelo caráter auto-corretivo da ciência. Em termos mais concretos o aprendizado pode surgir por descoberta, através da investigação, para que o aluno esteja na posse daqueles nós conceituais relativos às disciplinas de estudo das quais somente podem emergir a necessidade e a possibilidade de uma pesquisa. Serão aqueles nós conceituais a orientarem a investigação em relação a certos dados em vez de em relação a outros, em relação a certos tipos de experimentos, de hipóteses, de interpretação. A importância atribuída então a “interpretação dos dados” mais que a conclusão da pesquisa (como ao contrário, ocorria com Dewey) reforça o ensino de estruturas conceituais, e não de leis ou de verdades e conhecimento “estáveis e eternos”. O conceito de estrutura refere-se com efeito, aquele de construção com as suas regras internas de ação e de equilíbrio. Por este motivo Schwab, liga as estruturas conceituais a um certo tipo de pesquisa, que ele chama fluida ou de longo termo: é de fato um tipo de pesquisa que tenta acrescer constantemente a validade das estruturas essenciais, individualizando a inadequação e a debilidade de um princípio de explicação e substituindo-o com uma nova estrutura, tal que se possa colher em sua maioria a complexidade do campo de estudo. 164 teoria.indb 164 28/9/2007 16:13:38 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio No ensino “a explosão científica e tecnológica não deve custodiar então, uma disposição estável e codificada do conhecimento, mas deve proceder entre incertezas, erros, tentativas, contradições. Os estudantes, devem por sua vez, praticarem a pesquisa, desenvolvendo a capacidade de análise crítica, e interpretação e de avaliação de uma pesquisa científica já concluída, mas pela qual se busca reproduzir certas condições originais da pesquisa e da lógica da descoberta”. Sobre esta estrada Schwab está em linha com Bruner, cujo método da descoberta, permite ao discente ser colocado de fronte aos problemas e aos objetivos pelos quais deve-se inventar métodos e meios de solução, em contradições entre fontes de informações das quais procurar o fio da meada, na individualização de estruturas ou de simetrias em situações nas quais tais caracteres não se apresentam de forma explicita. Simular o empreendimento científico e tecnológico desta maneira assim rica e articulada, com o envolvimento dos próprios recursos intelectuais e emotivos, significa haver dado possibilidade aquele que cresce para provar a complexidade dos procedimentos de uma pesquisa, mas sobretudo a consciência de trabalhar com tecnologias, é possível somente se nos colocamos em um comportamento de interrogação, de resposta, e de seleção continua das informações. Em direção a uma teoria da educação Segundo Bruner, todavia nos anos 60, a revolução mais profunda e significativa para a escola e a educação não foi tanto aquela da reforma dos programas de ensino das ciências físicas e matemáticas ou das ciências sociais a qual, dedicou outras tantas energias. Quanto o surgimento de uma “revolução cognitiva”, de uma verdadeira e própria nova concepção das faculdades mentais do homem e das potencialidades do conhecimento. Revolução assim vasta e incisiva que com esta mudaram ao menos três aspectos no âmbito do conhecimento psicológico e, de reflexo, o pedagógico. Unidade 4 teoria.indb 165 165 28/9/2007 16:13:39 Universidade do Sul de Santa Catarina Em primeiro lugar, a concepção da mente como dimensão privilegiada da personalidade, se colocando, como realidade ativa dotada de poderes lógicos e muito próxima à teoria da filosofia analítica de Gilbert Ryle. Em segundo lugar, foi entendido autenticamente o princípio piagetiano de que todos os conceitos podem ser aprendidos em qualquer idade por todos. Contanto que, sejam apresentados em modo que possam ser inscritos no nível de desenvolvimento ou da capacidade de abstração cujo sujeito obteve, diferentemente de quando se entendia comumente que certos conceitos e, portanto, certas matérias podiam ser ensinadas para as crianças somente quando este tivesse alcançado um adequado grau de maturidade. Por fim, o caráter gerativo do conhecimento, ou seja, a descoberta que o saber é gerado por outro saber, precedentemente adquirido. E existem muitas maneiras para galgar de um conhecimento ao outro. Todavia, todos dependem do conhecimento do elemento estrutural daquilo que se indaga, que é critério conjunto do modo com o qual aquele saber foi produzido. Naqueles anos tiveram inicio um debate na América cujos modos e dimensões são encontrados em um outro trabalho de Bruner, O desafio pedagógico americano de 1969, do qual encontraremos maneira de tratar mais adiante. Instrução, no contexto que será abordada deve ser entendida como “ensino – processo educativo” Na obra Verso una teoria dell’Istruzione, Roma 1967 (Cambrige – Massachusetts 1966) Bruner sistematiza definitivamente a mudança e, de qualquer modo, a superação da prospectiva deweyana. Quais seriam os objetivos relativos a uma teoria da educação? Os objetivos de uma teoria da educação podem, a seu dizer, serem reconduzidos fundamentalmente aos seguintes: harmonizar reciprocamente cultura e tecnologia, sem destruir o patrimônio da tradição ocidental e sem considerar a tecnologia como uma força hostil 166 teoria.indb 166 28/9/2007 16:13:40 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio não podem existir, em sede de atividades escolásticas, alguma separação entre os aspectos sociais, emotivos e intelectuais. Os modelos de crescimento em privilegiarem a diagnose e a cura dos processos formativos, recapitulando e selecionando entre as diversas prospectivas psicológicas a sua disposição (piagetismo, gestaltismo, comportamentalismo) são individualizados: a) na prioridade em atribuir ao estudo do desenvolvimento dos processos cognitivos b) na atenção constante, não somente científica mas também pratica e didática, em colocar as características fundamentais do desenvolvimento intelectual: 1. o crescimento é caracterizado por uma crescente independência da resposta da natureza imediata do estímulo. 2. o desenvolvimento é baseado na interiorização de eventos em um sistema de conservação que corresponde ao ambiente. 3. o desenvolvimento intelectual implica na crescente capacidade de um indivíduo em dizer a si mesmo e aos outros, através de palavras ou símbolos, aquilo que fez e aquilo que fará. 4. o desenvolvimento intelectual depende de uma interação sistemática e contingente entre um educador e um educando. 5. o ensino é enormemente facilitado por meio da linguagem, que termina por ser não só o meio para trocas, mas o instrumento que o próprio discente pode usar em seguida, para organizar o ambiente. 6. o desenvolvimento intelectual é caracterizado por uma capacidade crescente de considerar simultaneamente diversas alternativas, de ter presente, diversas séries de conexões durante o mesmo período de tempo, e de subdividir o tempo e a atenção em um modo adequado a estes múltiplos requisitos. Unidade 4 teoria.indb 167 167 28/9/2007 16:13:40 Universidade do Sul de Santa Catarina c) no convencimento que o aprendizado e o ensino se conjugam reciprocamente na medida em que coincidem com o envolver-se e o estruturar-se dos três sistemas de representação: (ativa, icônica, simbólica) cujo próprio Bruner, reconduziu o desenvolvimento cognitivo do homem e das culturas. d) no cuidado da linguagem e das linguagens como fatores decisivos ao desenvolvimento intelectual e multicultural. e) na ênfase continua do fato que uma teoria do desenvolvimento deve ser ligada quer seja a uma teoria do conhecimento, quer seja a uma teoria da instrução: isto se torna-se o protocolo fundamental da psicopedagogia do aprendizado na prospectiva bruneriana. Mas, assim, a educação representa, decididamente, como um produto contínuo de invenções sociais, e sob tal cifra esta intercepta e representa as instâncias fundamentais da sociedade pós-industrial. Em sintonia com a lógica evolutiva, de fato, a instrução deve fazer as contas – segundo Bruner – com pelo menos quatro mutações características do nosso tempo: 1. conhecimento sempre mais profundo da espécie humana. 2. a crescente compreensão da natureza do desenvolvimento mental do homem. 3. mais clara compreensão do processo educativo. 4. rapidez das mudanças na sociedade e redefinição mais fechada da instrução das novas gerações. Resultam da pesquisa educativa e pela ação formativa algumas conseqüências não indolores: 168 teoria.indb 168 28/9/2007 16:13:41 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio a) cada forma de instrução deve explicitar um decidido espírito de adequação à realidade, b) o psicólogo deve fornecer a gama de alternativas para empenhar a sociedade a uma escolha , c) a linguagem deve ser acurada como instrumento essencial da evolução , d) não se podem inovar currículos e modelos de formação sem se referir constantemente as mais recentes aquisições da pedagogia experimental: a propósito das pré-disposições para aprender se podem ensinar a pré-disposição ou se podem assegurar as condições favoráveis a sua maturação. a satisfação produzida pelos acréscimos das capacidades cognitivas ou intelectuais. necessidade de uma avaliação do sucesso das inovações educativas que seja paralela com o trabalho de experimentação. ocorre registrar a carência de uma teoria da instrução como guia da pedagogia. e) cada forma de educação deve interpretar (não somente adequar-se a) a contemporânea evolução social: objeto e objetivo fundamental do ensino torna-se a formação das capacidades perceptivo-imaginativa e das operações simbólicas de cada indivíduo. a estrutura do currículo deveria implicar no domínio de determinadas capacidades que por sua vez conduzem a aquisição de novas capacidades mais elevadas (de cada capacidade e conhecimento existe uma versão adequada para cada idade). o objetivo da formação na sociedade pós-industrial é aquele de assegurar o senso de continuidade nas mudanças. Unidade 4 teoria.indb 169 169 28/9/2007 16:13:41 Universidade do Sul de Santa Catarina e porque ocorre preparar as mudanças: a importância das ciências sociais. Conseqüentemente, uma teoria da educação é uma teoria normativa (fornece critérios e estabelece condições para satisfazêla) e é prescritiva (formula regras a respeito do modo mais eficaz para alcançar um conhecimento ou habilidade). Em resumo uma teoria da instrução deve: estabelecer quais experiências sejam mais aptas a gerarem no indivíduo uma predisposição para aprender, especificar o modo no qual um conjunto de cognições deve ser estruturado para que seja prontamente compreendido pelo discente ou uma estrutura é eficaz quando está em condições de: 1. simplificar a informação, 2. gerar novas proposições, 3. tornar mais manejável um conjunto de cognições que especifique a progressão ótima com a qual é apresentado o material e que descreva a natureza e o ritmo das recompensas e das punições no processo de aprendizado e de ensino. Uma teoria da educação tem assim o compromisso de instituir e de presidir uma relação recíproca e contínua entre duas ordens de pesquisa: o desenvolvimento intelectual e a pedagogia. E a própria educação por este caminho pode legitimamente constituir-se como âmbito de pesquisa autônoma cujas seguintes tarefas podem ser confiadas: a) estimulação do pensamento produtivo na escola, b) personalização do conhecimento: se assume aquilo que é familiar como exemplo de um caso mais geral para adquirir consciência, c) avaliação do trabalho que está sendo desenvolvido: 170 teoria.indb 170 28/9/2007 16:13:41 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio a avaliação é para ser considerada como uma forma de inteligência pedagógica para orientar a construção e o endereço didático do programa, a avaliação, para ter um bom resultado, deve a um certo ponto ser acompanhada por um esforço de ensinar de maneira tal que a resposta da criança a um particular processo de ensino possa ser avaliada, a avaliação pode ser útil somente quando existe uma equipe verdadeira e própria de programadores: o especialista de cada matéria individualizada, o encarregado da avaliação e os estudantes, a avaliação, na sua verdadeira natureza, é provável que crie suspeições e preocupações no sistema educativo convencional onde há uma tradição inadequada às atividades das quais se discute, de vez em quanto o avaliador deve pensar na instrução como um meio de controle e desenvolvimento das capacidades intelectuais gerais, um programa não pode ser avaliado sem dar-se conta de quem o ensina e de quem o aprende, a avaliação do programa, para ser valida, deve contribuir para uma teoria da educação. Unidade 4 teoria.indb 171 171 28/9/2007 16:13:41 Universidade do Sul de Santa Catarina Síntese Anote você mesmo os pontos centrais debatidos neste estudo. Selecione um ponto que considera importante para debater com seus colegas no fórum. 172 teoria.indb 172 28/9/2007 16:13:41 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Atividades de auto-avaliação 1. Relembrando os postulados fundamentais do método de inteligência de J. Dewey descreva os aspectos centrais e a fase a que estes pertencem. 2. Segundo Bruner o principal objetivo da ação educativa é chegar ao nível e condições de construir as estruturas disciplinares. Qual solução adotada pelo autor para orientar os alunos a padronizar os conceitos centrais e também a transformar em habilidades . Unidade 4 teoria.indb 173 173 28/9/2007 16:13:41 Universidade do Sul de Santa Catarina Saiba Mais DEWEY E A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO Anísio Teixeira A designação mais corrente de “pragmatismo” e a identificação dessa filosofia com a frase saber é o que é útil concorreram para incompreensões, deformações e críticas as mais lamentáveis. John Dewey, a quem coube a formulação mais demorada e mais completa dêsse método de filosofia (mais do que sistema filosófico), muito se esforçou para afastar as confusões e desinteligências, e a sua contribuição foi decerto das maiores, se não a maior, na emprêsa de integrar os estudos filosóficos de nossa época no campo dos estudos de natureza científica, isto , fundados na observação e na experiência, na hipótese, na verificação e na revisão constante de suas conclusões. Coube a Dewey a formulação do método, o método da “inteligência”, como prefere êle chamá-lo, para caracterizar a sua revisão do conceito de razão e experiência. Mas o que será a filosofia do nosso tempo ainda irá depender do trabalho de inúmeras pessoas que, devotando-se à filosofia, realizem, nessa esfera, o que os cientistas realizaram e vêm realizando no campo da ciência. A generalização do novo método do conhecimento humano ao campo da política, da moral e da organização social, em geral, será a grande tarefa das próximas décadas. John Dewey marcou os rumos e balizou as linhas para essa marcha da inteligência experimental por êsses novos campos, marcha que nos há de dar uma nova ordem, mais humana do que tudo que até hoje tenhamos conhecido. Nenhum grande filósofo moderno foi mais explícito do que Dewey na necessidade dessa transformação educacional, imposta pela filosofia fundada na nova ciência do mundo físico e nova ciência, do humano e do social. Chegou êle a formular tôda uma filosofia da educação, destinada a conciliar os velhos dualismos e a dirigir o processo educativo com espírito de continuidade, num permanente movimento 174 teoria.indb 174 28/9/2007 16:13:41 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio de revisão e reconstrução, em busca da unidade básica da personalidade em desenvolvimento. Dewey, cujo centenário de nascimento se celebra neste ano de 1959, continua a ser um simples precursor, não se revelando sua influência no sistema educacional dos Estados Unidos, onde nasceu e viveu, nem muito menos em outros países, senão em aspectos superficiais e secundários. Não há maior êrro do que supô-lo seguido e, ainda menos, dominante no sistema escolar norte-americano. Sem dúvida, foi profundíssima a influência da vida americana, do caráter prático de sua civilização, sôbre o pensamento de John Dewey. Êste pensamento, porém, na sua mais fecunda parte original, no seu esfôrço de conciliação das contradições e conflitos da vida moderna, ainda não logrou implantarse e está mesmo ameaçado de se ver submergido por um refluxo das velhas doutrinas dualistas, de origem platônica, hoje em franca popularidade no Leste e no Oeste. Antes que a influência de Dewey se possa estabelecer com qualquer extensão e profundidade, ter-se-á de resolver o problema que se poderia considerar o do materialismo cultural, isto é, se a conduta humana será suscetível de estudo científico. Para Dewey, isto será essencial a fim se restabelecer a eficiência da formação moral pela escola. De certo modo, Dewey, neste ponto, volta a uma concepção que não se distancia da de Platão, não no aspecto dualista de sua doutrina, mas no aspecto em que une o conhecimento e a virtude. O comportamento moral para Dewey é aquêle que leva o indivíduo a crescer, e crescer é realizar-se mais amplamente em suas potencialidades. E como tais potencialidades sòmente se desenvolvem em sociedade, o indivíduo cresce tanto mais quanto todos os membros da sociedade crescerem, não podendo o seu comportamento prejudicar o dos demais porque com isto o seu crescimento se prejudica. Com êste critério naturalístico de moral, abre-se a possibilidade de seu estudo científico, e com êle o da generalização de processos de conduzir a educação de forma objetiva ou científica. (Fonte: TEIXEIRA, Anísio. Dewey e a filosofia da educação. Boletim Informativo CAPES. Rio de Janeiro, n.85, dez. 1959. p.1-2). Unidade 4 teoria.indb 175 175 28/9/2007 16:13:41 teoria.indb 176 28/9/2007 16:13:42 UNIDADE 5 Currículos formativos ou programas de ensino? Questões da pesquisa educativa e das políticas educacionais contemporâneas 5 Objetivos de aprendizagem Identificar os conceitos de currículo e as tendências curriculares na escola. Analisar as definições de currículo na perspectiva das mudaças e renovações da escola. Identificar e anlaisar os modelos de currículo em vários países. Compreender a organização do currículo a partir das mudanças e renovações do mundo da escola. Seções de estudo Seção 1 O que é um currículo? Seção 2 Definições correntes de currículo: abrangência e contexto Seção 3 Currículo, mudanças e renovação da escola Seção 4 Análise dos modelos de currículo teoria.indb 177 28/9/2007 16:13:42 Universidade do Sul de Santa Catarina SEÇÃO 1 - O que é um currículo? Não existe dúvida que o termo “currículo” seja de importação pedagógica anglo-saxônica, não é?Também é menos verdade – como ao contrário do que se lê usualmente – que o conceito nos leve a contextos de autonomia escolar. Concorda com essa afirmação? Bem, o conceito nasce nos primeiros anos dos novecentos nos Estados Unidos como instrumento conceitual para permitir um controle e uma documentação unitária do decurso de ações didáticas ou formativas, portanto para consentir uma análise de eficácia ou, ao menos, uma verificação de correspondência entre objetivos propostos e aqueles efetivamente realizados. O currículo nasce, portanto, como um instrumento de planejamento no âmbito da cultura de planejamento e de organização do trabalho do qual Veblen e outros têm dado assim incisiva notícia com relação ao nascente capitalismo americano entre os últimos anos dos anos 80 e os primeiros vinte dos anos 90. No Saiba-mais desta unidade você pode consultar os autores que conceituam curriculo, a partir dos Estudos também no Brasil. De qualquer maneira, à palavra chave do conceito de currículo resta aquela de plano: a significar uma atividade projetada tecnicamente e, entretanto, tecnicamente controlada e realizada. Isto é um fato, que serve para nada, se removido. Assim como um outro fato (conexo estreitamente a dimensão tecnológica que acompanha a lógica e a prática de currículo) é que ocupar-se do currículo resta, de qualquer maneira, um fato político, envolve interesses, formação de opiniões, consolidadas hierarquias organizativas. Isto, como recordava Laporta, “é um fato a ser aceito sem reservas é um ponto de partida que evita equívocos e responde a realidade intuída por cada um”. (1978, p. 31). Em realidade o discurso de Laporta fi xava um relevante descriminativo e reflexivo, em suma uma distinção precisa, entre pesquisa sobre currículo, programa e programação: a pesquisa sobre currículo é a análise da formação escolar na sua dimensão crítica de projeto (de escolha isto é, entre as diversas teorias da instrução, diversas teorias da cultura assim como, de ponderações das teorias de aprendizado de referência): o 178 teoria.indb 178 28/9/2007 16:13:42 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio programa é a codificação dos conteúdos de ensino e dos critérios dos quais se decide coligar a sua organização; a programação é matéria de planejamento e de implementação do currículo. Tal distinção não foi colhida e claramente desenvolvida pela pedagogia e pela política escolar nacional por todos os anos 70 e 80, e só recentemente ela foi retomada com clareza. Pode dar-se entre este déficit, a temporada da não decisão política em matéria de reforma escolar daqueles anos, e a diáspora entre a psicologia do aprendizado, pesquisa pedagógica e pesquisa educativa e didática ocorrida no mesmo período, um nexo causal? Conforme N. Barbieri, Currículo, Programa, Programação, De Agostini, Milano 1997. Certamente não se trataria de uma relação linear. Mas deveríamos ter coragem de dizer que sim, é neste nó, não ainda suficientemente indagado historicamente, a origem, a responsabilidade e a causa de muitas das incertezas e erros da política escolar atual. Currículo ou programa? Onde nasce então, o problema para a reflexão pedagógica e para a formação dos professores? Nasce do fato que esta duplicidade semântica da idéia e do fato do currículo (reprodutibilidade técnica, politização imanente nas escolhas e aos atos da programação curricular) é reforçada sobre uma vulgata – aquela italiana porém, mais em geral da Europa Central – que tem sempre distinguido entre a seqüência dos tempos de escolarização de um sujeito (ritmada por programas e métodos) e o seu curriculum formativo. A primeira, reconduzida fundamentalmente ao programa de estudo (o qual se acrescentava ab aexterno a didática ou a metodologia do ensino como útil e necessária bagagem); o secundo como percurso formativo pessoal do individuo, compreendendo os ganhos por ele maturados graças, seja ao percurso escolástico, seja qualquer outro que tivesse contribuído a enriquecê-lo ou a qualificá-lo, por integração ou em excelência. Unidade 5 teoria.indb 179 179 28/9/2007 16:13:42 Universidade do Sul de Santa Catarina Como se vê, entre as duas prospectivas de interpretação do currículo (aquela continental, por um lado, e aquela anglo-saxônica por outro) existem interessantes pontos em comum: por exemplo, a exigência de interpretar um currículo a partir de resultados de aprendizado do percurso formativo do aluno; a necessidade de definir erga omnes objetivos, alvos e metas formativas coerentes com a vontade geral da população e do País, a necessidade de visar tempos e conteúdos validos para todos na distribuição da oferta formativa. Isto que por outro lado, constitui o hiato entre as duas prospectivas é a idéia de plano, que naquela anglo-saxônica e estadunidense corresponde fundamentalmente ao convencimento, pela qual uma ação educativa eficaz se vê com seus frutos, portanto, vai projetada em detalhes e constantemente monitorada para ter sucesso; e naquela européia do Estado moderno é, ao contrario, que o planificar é uma operação aplicativa, de qualquer maneira, subordinada e facilmente conseguível (do ponto de vista organizativo) às escolhas de conteúdo e de valores obtidos a propósito dos conteúdos da formação. Não há uma oscilação e uma substancial indeterminação com respeito à questão de que se o currículo deva entender-se como traço de determinados conteúdos disciplinares (portanto “programa”) ou como um conjunto ponderado e projetado de atividades escolares (conteúdos, objetivos, métodos, recursos, controles) ao alcance de declaradas metas formativas. Quais os antecedentes? Em querer tornar essencial a questão, poderemos reutilizar a definição que nos foi dada por Kerr, no agora, longínquo ano de 1968, (e retomada com a mesma ótica introduzida por C. Pontecorvo (1978,70) pelo qual, o currículo é o conjunto dos aprendizados planejados e guiados da escola, conduzidos a grupos ou individualmente, ao interno e ao externo da escola. Na realidade as 180 teoria.indb 180 28/9/2007 16:13:42 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio coisas não estão assim, nem sobre o plano histórico nem sobre aquele crítico. Fazia o ponto da situação, em 1978, o ótimo e já clássico, o trabalho Currículo e escola (coordenado por R. Laporta, com contribuições do mesmo e de C. Pontecorvo, R. Simone, L. Tornatore) que, pela primeira vez na Itália, demonstra como a reflexão sobre o currículo seja a um tempo a análise da consistência e da atualização cientifica dos conteúdos da educação e reexame dos relacionamentos destes últimos com a evolução das culturas por um lado e com aquela econômico-social dos mercados, das instituições e da convivência civil por outro. Assim se liberava a idéia do governo cultural e programático da escola e da formação, do impasse causado pelas diversas leituras ideológicas que haviam assinalado e ainda assinalam a análise da educação e das políticas escolars. Mas com isto de preâmbulo, propor-se os objetivos formativos para realizar um programa de atividades que compreenda seja a transmissão de saberes atualizados, seja o desenvolvimento de ações educativas estendidas para a promoção nos alunos de habilidades culturalmente robustas e adequadamente personalizadas. Então, tudo isto coloca problemas, levanta interrogações sobre concessões da educação que guiam determinadas escolhas sejam pedagógicas que organizativas, postula em suma, qualquer coisa que seja indagada e especificada. Isto que se ganha naqueles anos – da parte da pesquisa – é a conscientização que a análise e o desenvolvimento de um currículo tem necessidade de fundamentar-se conjuntamente sobre uma interpretação da sociedade e da cultura, sobre os estudos relativos ao sujeito que aprende e aos processos de aprendizado, sobre uma análise da natureza dos conhecimentos. Onde é com exatidão aquele “conjuntamente” a trazer problemas seja para a pesquisa, seja para a pratica escolar, para as inumeráveis recíprocas relações entre os diversos campos da pesquisa. Uma primeira classificação dos campos de pesquisa sobre o currículo surgiu com Pontecorvo no volume citado, articulandoo de modo a oferecer à inovação educativa e escolar algumas coordenadas de pesquisa e de projetos, a serem relembrados: Unidade 5 teoria.indb 181 Em breve as teorias do currículo tem menos que fazer com a política e mais com a ciência e com o conhecimento. E analisando com mais clareza distintamente a dimensão da pesquisa do currículo, por um lado, a aquela organizativo, realizadora por outro lado, o volume citado assinala de qualquer maneira (especialmente com as contribuições de C. Pontencorvo) o divisor de águas entre os precedentes históricos genéricos e intuitivos e uma impostação analítica dos tipos de teorias e dos pontos de referimento para esta pesquisa; e de fato enlaçava a pesquisa educativa e didática italiana àquela internacional. 181 28/9/2007 16:13:42 Universidade do Sul de Santa Catarina a análise dos relacionamentos entre currículos e contexto sócio-educativo: de que maneira o currículo interage como o contexto social e institucional de referência; a análise interna do currículo: individualização dos objetivos, análise de sua coerência com os conteúdos culturais e com os métodos; o modo com os quais os saberes disciplinares compõem e condicionam o currículo: como organizar as disciplinas tendo-se em conta a suas histórias e especificidades, mas também suas possíveis integrações; integração entre currículo e cultura de uma sociedade, numa incidência da história externa dos saberes e das disciplinas sobre as escolhas de conteúdo e conjuntamente com a análise dos condicionamentos sociais para o desenvolvimento do aprendizado escolar. Tabela 01 – Tipos de teorias e pontos de referência para a pesquisa sobre currículo. Teorias do currículo Esquemas neutros Justificação de propostas específicas Análise de conteúdos culturais Teoria da socialização Shipman Richardson Bernstein Dewey Pontos de atenção Currículo e contexto sócio educativo Coombs Análise interna do currículo Tyler Davies Merritt Gagné Taba Ausubel Shulman White Phenix Bruner Schwab Stenhouse Hirst Peter Schwab Bruner Strodtbeck Schutz Bourdieu Young Bernstein Dewey Dearden Currículo e disciplina Currículo e cultura de uma sociedade Bantock Fonte: Pontecorvo C., A pesquisa do currículo; teorias e práticas da inovação, em AA. VV., Currículo e Escola, IEI, Roma 1978, p. 80. Isto que por outro lado, já então surgia, mesmo que somente advertido, era a impossibilidade de adotar o modelo de racionalidade linear e conseqüente na elaboração de projetos e na mesma análise do currículo; um modelo de base ao qual, em breve, pudesse 182 teoria.indb 182 28/9/2007 16:13:43 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio valer a tese que, definidas convencionalmente os significados e os papéis para cada uma das fases de desenvolvimento do currículo e para cada um dos autores envolvidos, a observação do processo de atuação, a sua mesma programação didática e a variação dos resultados puderam ser interpretados segundo a lógica causa-efeito. A insistência, por outro lado, daqueles anos sobre a dimensão eminentemente social do currículo era de fato um indicio de uma cifra reflexiva que indicava, seja mais ainda confusamente, a principal contradição confrontada na lógica mesma do currículo: por um lado necessária enquanto plano de processos de aprendizado escolástico, por outro lado improvável e tudo somado imprevisível nos seus efeitos formativos, considerada a variabilidade dos processos de personalização do aprendizado iniciados pelo mesmo currículo. Que fosse esta uma contradição material, e não abstrata, dão testemunha subjetivamente os professores in primis e sobre a própria pele, mas ainda mais a utilização política que foi feita do currículo pelas autoridades centrais do sistema escolástico nacional italiano que aquela lógica tinha utilizado como instrumento de burocratização sistemática da vida escolar. A escola do currículo É intuitivo que o desenvolvimento da pesquisa educativa e didática nos últimos 20 anos, na Itália, tenha colocado acima de tudo um problema cultural e no rastro deste um problema organizativo, à difusão da idéia e da prática do currículo. Ao fim dos anos 70, de fato poderia dizer-se adquirida já a conscientização de que existe um vínculo preciso para qualquer forma de ensino. Para um professor elaborar um plano de desenvolvimento das próprias atividades sem saber quais os modelos escolher e a quais deve referir-se, torna a prática inviável, porque temos: a) modelos derivados das teorias da instrução; b) modelos elaborados das diversas teorias de aprendizado; c) modelos característicos das diversas tecnologias de projetos de intervenção didática; Unidade 5 teoria.indb 183 183 28/9/2007 16:13:43 Universidade do Sul de Santa Catarina d) modelos assumidos – mais ou menos conscientemente das diversas teorias da cultura ou da ciência. O conjunto ponderado, isto é, das escolhas relativas aos modelos dos diversos setores indicados, a avaliação de compatibilidade entre eles, a manipulação reflexiva de seus recíprocos relacionamentos e a adoção de um complessive box mental, que reconduzem as decisões adotadas, então este conjunto deveria consentir em planejar um currículo e de atuá-lo. Foi esta a confiança que animou nos anos 80 não só na Itália tantos componentes da didática militante, das experimentações escolars, do mesmo conjunto de publicações didáticas que, por razão ou erro, amava conotar-se como “didática cientifica” em oposição a didática precedente definida como empírica ou intuitiva. Tudo aquilo se reverberava no mesmo processo de formação das políticas escolares propunha na pratica, uma questão insistente: com o que se identifica o currículo? Com o plano de estudos, ou com os objetivos dos programas ministeriais? Com as premissas metodológicas aos vários programas ou antes, com a liberdade e a responsabilidade didática do professor individualmente. Nasce, então, um problema que, percebido inicialmente como semânticoterminológico, é revelado, por outro lado, mais radicalmente um problema cultural e político. Pesquisemos o que acontecia no Brasil na década de 60. A tradição didática italiana, de fato, tinha já desenvolvido um jargão próprio quando, entrando em contato com a pesquisa anglo-americana na segunda metade dos anos 60, era constrangida a traduzir e a assimilar não só e não tanto a terminologia inglesa curricular quanto a concessão metodológica e social que a inspirava. Prevaleceu no começo uma série adaptações passivas à terminologia inglesa, e se recorreu ao uso do currículo para entender ou interpretar um plano de estudos finalizado e formalizado nas suas linhas estruturais e de atuação. A equação currículo = plano de estudo, ou currículo = programa ministerial personalizado liberalmente, de forma individualizada pelo professor, torna-se bastante difusa. Em realidade se tratava de muito mais que uma simples substituição de termos. O plano de estudo ou o programa ministerial, de fato, é um plano de ensino, porque tanto na definição dos objetivos quanto na distribuição dos temas e dos conteúdos, vale como esquema 184 teoria.indb 184 28/9/2007 16:13:43 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio unitário (normativo ontem, orientação hoje) para todo o território nacional italiano, e para todos os ensinos de uma determinada ordem de instrução. Mas quanto o maior conhecimento do estado da pesquisa educativa anglo-americana levou a descobrir que esta se propunha, com o currículo, a oferecer a cada aluno a possibilidade escolher itinerários, ritmos, padrões de suplemento: assim como prever que um inteiro complexo das experiências de aprendizado e de vida social do aluno, adquira uma relevância decisiva para compreender a avaliar os seus sucessos e insucessos escolásticos; então o curriculum devia significar muito mais que um plano de ensino; sem duvida, por outro lado, um plano de aprendizado. A distinção entre currículo e plano de estudo ou entre currículo e programas de ensino não é traduzida, na presença da categoria docente com uma certa distinção. E isto se dá essencialmente por dois motivos: a) pela sobrevivência de uma cultura formalística na tradição didática italiana, penalizada pela ausência quase total, de uma formação inicial dos docentes no planejamento e na gestão de um currículo; Pesquise sobre a diferença de plano, programa e currículo para uma discussão mais contextualizada nesta formação. b) pelas implicações metodológicas e didáticas que, seja como for, também o currículo é entendido como plano de aprendizado, comporta para o professor individualmente e para a comunidade escolar. De resto, a noção de currículo implica sempre em uma “elaboração de vias alternativas, relativas a objetivos, conteúdos, materiais e verificações confiadas à responsabilidade do professor” (Pontecorvo, 1981). Mas, em quanto tal, pressupõe estruturas escolars não uniformes e sistemas formativos não centralizados: seja como for, tais para exigirem que a elaboração dos projetos didáticos dos professores constitua o especifico de sua responsabilidade educativa nas comparações da comunidade e do contexto local. Unidade 5 teoria.indb 185 185 28/9/2007 16:13:43 Universidade do Sul de Santa Catarina Mas qual é o exercício de responsabilidade no interior de um sistema escolar centralizado, burocratizado e governado por círculos ministeriais em ritmo continuo? È evidente que o problema cultural impacta em um organizativo, simbolizado na questão hoje dominante para a escola italiana: aquela da autonomia. De tudo isto, porém, não foi conseguida uma evolução significativa da concepção do currículo. Este compreende – na acepção geral – aquilo que normalmente se entende como programa disciplinar, mas somente em condições que comporte o tratamento de objetivos, de procedimentos e de experiências que fazem do programa um processo integrado e complexo de programações: a) a individualização dos objetivos educativos e didáticos; b) a articulação dos métodos e dos procedimentos de ensino; c) a seleção dos materiais, dos textos e dos subsídios e a sua adaptação à situação didática especifica; d) a observação dos níveis de aprendizado, na admissão dos alunos, relativamente aos conhecimentos, comportamentos, interesses; e) a participação na organização didática geral e as dinâmicas psico-sociais das instituições formativas; f) a ponderação das normas, dos valores, das expectativas dos protagonistas da situação escolar (professores, pais, alunos etc.) com respeito ao ensino, a avaliação, às reformas, à inovação educativa e didática; g) técnicas e procedimentos de avaliação intermédias e finais de análise dos resultados do aprendizado e dos mecanismos de retroação induzidos nos alunos pelo plano de aprendizado realizado; 186 teoria.indb 186 28/9/2007 16:13:43 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio h) ponderação dos reflexos (sobre o currículo perseguido) provenientes da inovação científica e da inovação social dos diversos contextos; i) correção dos objetivos, revisão dos procedimentos, alargamento do consenso interno da comunidade escolar interessada na planificação do currículo; j) definições e especificações das novas soleiras ou ingressos ou bases de planejamento curricular; identificação mais adequada dos obstáculos; descrição mais adequada dos procedimentos didáticos; plano de otimização dos recursos; melhor interação entre funções didáticas diversas; maior conscientização dos limites de exeqüibilidade do currículo; k) novo começo dos docentes individualmente e da comunidade escolar na realização dos currículos. Descontando o efeito de frustração que habitualmente tal definição da programação produz, vai evidenciando que esta qualifique a tradicional aspiração da escola italiana à “quadratura do círculo”. Certo, e em cada caso, a difusão por várias vias de apologistas da programação didática assinalava uma ruptura decisiva com a tradição didática. Ao mesmo tempo mudava lentamente o conceito de responsabilidade didática: do ser magistral ou magisterial ou centrado no magistério, esta comporta hoje uma relativização do professor: e prevê a necessidade de um padrão pluralístico das diversas posições culturais, cientificas e metodológicas que concorrem para enriquecer e potencializar a qualidade da instrução dos alunos, assim como a capacidade de curvarse à solução dos problemas didáticos emergentes nas mais disparatadas situações de ensino. As perguntas sobre o currículo modificam-se agora e se tornam as seguintes: a) como elaborar conjuntamente planos de ensino e planos de aprendizado em um contexto escolar ainda formal e rígido? Unidade 5 teoria.indb 187 A legislação escolar produzida entre 1974 (D.L. órgãos colegiais) e 1977 (mini reforma Malfatti) 1979 (novos programas da escola Media) 1982 (novos programas para os concursos para cátedra) 1985 (Novos Programas para a Escola Elementar) 1991 (Novas orientações para a Escola Maternal) 1992 (Programas “Brocca” para a Escola Secundária) roda de fato entorno da transformação da figura docente de professor a projetista de formação. 187 28/9/2007 16:13:43 Universidade do Sul de Santa Catarina b) como conciliar as metodologias educativas gerais, tese da potencialização da qualidade da instrução, com as didáticas especiais elaboradas por cada uma das áreas especificas das disciplinas de ensino? c) como, e segundo quais critérios, escolher os conteúdos de ensino, e como adaptá-los aos diferenciais de aprendizado dos alunos individualmente? A pesquisa didática, conseqüentemente, se preocupava em fornecer uma resposta unitária a interrogações semelhantes. Sustenta-se de fato, e justamente, que uma difusa prática científica da didática não pode ser o resultado de coerções normativas e “do alto”, mas podem somente acumular-se, no tempo, em virtude de um “trabalho de base” (De Bartolomeis, 1982) estendido para fazer integrar sistematicamente a pesquisa, atualização e experimentação. Tratava-se em verdade, de uma resposta que concerne, como se vê, freqüentemente no campo das micro-políticas escolars e educativas. Não fornecia indicações úteis a serem resolvidas os inumeráveis problemas de conceitualização e de experimentação que golpearam a prática dos docentes, e a unificar diversas aproximações possíveis (disciplinares, psicológicas, técnicas) ao currículo. De fato qualificava a atividade didática como um laboratório no qual, antes de transmitir os conhecimentos, ocorre descompor e recompor em sistemas hierárquicos de conhecimentos, tornados entre eles homogêneos (por convenção hipotética) e abertos (porque em quanto sistemas hipotéticos estes dependem dos desenvolvimentos da pesquisa e da comunicação científica). Graças, então, ao trabalho de grupos mistos de pesquisa (EscolaUniversidade), foi iniciado a afrontar, em chave não formal, os problemas da organização curricular das disciplinas cientificas. O que não era de fato casual, mas respondia a uma lógica de evolução interna do currículo, entendido como plano de ensino. O grande segredo da didática – como bem conheciam os iluministas – era de o professor estar em condições de esclarecer a subordinação e, portanto, a hierarquia dos conhecimentos. Mas a subordinação dos conhecimentos implica na objetividade deles próprios, então a transmissibilidade deles em quanto às considere, por convenção, homogêneas, segmentáveis, compartimentáveis. Isto chocava o naturalismo pedagógico e didático de tantos. Por outro lado, o caráter convencional do princípio didático anteriormente citado, não podia completar-se se não em correlação com a constatação contemporânea do caráter diferencial dos processos individuais de aquisição dos conhecimentos. Em breve, a escolha dos conteúdos de 188 teoria.indb 188 28/9/2007 16:13:43 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio ensinamento não podia se não que entrecruzar-se estreitamente com a observação contínua dos diferenciais de aprendizado. Estruturas do conhecimento e estruturas do aprendizado não se equivalem. Portanto, o seu tratamento em classe (objeto da metodologia e das didáticas) não podia eximir-se de revogar, em duvida, o naturalismo do qual se obtêm, que a maleabilidade das competências do conhecimento dos indivíduos e das culturas sejam infinitas. A sua maleabilidade é por outro lado, sujeita a limites observáveis, passiveis de descrição e, em quanto tais, para não serem removidos, mas certamente para serem valorizados. O tratamento metodológico e didático do plano de aprendizado terminava, assim, rejeitar o tradicional lugar platônico segundo o qual, os estudos são organizados (e isto é, escolhidos, planificados, orientados) com base nas atitudes individuais, porque as atitudes são na realidade atitudes para a escola, improcedentemente assumidos como medida abstrata de inteligência. Ao contrário, os diferenciais individuais de aprendizado (inclusos aqueles pertencentes às sub-culturas ou as classes desfavorecidas) são universos do conhecimento incomensuráveis com o universo do conhecimento escolástico, nas lembranças dos quais, não casualmente, manifestam mais que frequentemente “indiferença”. É lógico deduzir que o efeito de retorno amadureceu, também na Itália, da pesquisa científica sobre o ensino, consentiu numa clarificação e num detalhamento dos problemas de ordem diversas, relativos ao tratamento metodológico e didático do plano de aprendizado. Mas foram elevados ainda mais numerosos. Se, por exemplo, o relacionamento entre diferenciais de aprendizado e sistemas convencionais de escolha e de organização dos conhecimentos é claramente o fio da meada sobre o qual o professor-grupo é chamado a caminhar, como fazer corresponder, então, a seleção das competências do conhecimento (pretendido pela estrutura curricular) com a otimização das saídas formativas que a instrução de massa é chamada a realizar, em virtude do mandato vinculante da sociedade contemporânea? Em linhas gerais, já no fim dos anos 80, se responde que o problema está resolvido em dois tempos: Unidade 5 teoria.indb 189 189 28/9/2007 16:13:44 Universidade do Sul de Santa Catarina a) se nota, no entanto, como a passagem dos currículos de base humanística para aqueles de base científica tenha favorecido e favoreça o decair do convencimento de que as habilidades e as funções de direção (dos homens, dos povos, dos organismos sociais, produtivos e burocráticos) consistem ou dependem em geral do exercício das competências adquiridas dentro da escola ou em escolas especiais. Então é mais justo pensar, à ofensa da especialização das matérias e do predomínio tecnológico, que a seleção social das competências não coincide nem de direito nem de fato com a seleção do conhecimento das competências (na estrutura curricular). b) a isto se ajunta a consideração que o tratamento metodológico e didático dos planos de aprendizado, da parte dos professores, se escalona segundo ordens diferentes de instrução por um lado e segundo uma oposição – por outro – entre fautores de currículos integrados (como aproximação múltipla em matéria de socialização cognitiva, ou procedimentos flexíveis quanto as técnicas de ensino, com saídas e entradas múltiplas). Com a primeira observação (ordens diversas de instrução), se entende evidenciar como a escola do currículo tenha necessidade da psicologia, mas sem nivelar-se, obrigando pelo contrario, esta ultima, a readaptar as próprias observações sobre os pré-requisitos psicológicos da ordem de conhecimento da estrutura curricular. O aprendizado isto é, precede o desenvolvimento (Vygotski, 1969). O que induz a quebrar a divisão, entre os diversos ciclos de instrução (escola elementar, escola media, escola secundaria superior), colocar as premissas de um currículo unitário para as grandes áreas de desenvolvimento dos aprendizados; evidencia o caráter decisivo da continuidade metodológica e didática ao interno da escola da obrigação por exemplo; mas solicita também as mesmas didáticas disciplinares para quebrarem, por um lado, a recíproca e não mais legitimável recíproca incomunicabilidade e, por outro lado, a fictícia estrutura repetitiva cíclica dos programas ministeriais (de uma ordem de instrução a outra). Com a segunda observação se registra o fato que a compartimentação rígida dos conhecimentos e das matérias, não 190 teoria.indb 190 28/9/2007 16:13:44 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio sobrevive nunca a si mesma. De fato os fautores dos currículos “a coleção” – entre os quais se enumeram em particular os docentes de disciplinas técnicas e cientificas – privilegiam “as estruturas profundas” e os “paradigmas” das matérias de ensino, ou seja, aqueles “conceitos chave” graças aos quais é possível deduzir e padronizar as combinações infinitas das estruturas disciplinares, concisamente, os campos de extensão, de aplicação e de intersecção das disciplinas. Assim, tais docentes deviam progressivamente se atentar para o fato que querendo ministrar um ensino segundo paradigmas e estruturas disciplinares, o plano de aprendizado dos alunos os obrigava, todos, a perseguir o desenvolvimento e a extensão dos paradigmas além dos confins disciplinares de cada um. Dado, por outro lado, a insuficiente formalização de uma teoria interdisciplinar, foi mais corretamente desviada do seu propósito em considerar menos os estágios de conhecimento, e em evidenciar em demasia como o conhecimento se produz; ou melhor, como o conhecimento e a competência podem multiplicar-se ao longo do plano de aprendizado pessoal dos alunos (que é com exatidão o terreno dos fautores dos currículos integrados – ou da didática cultural como hoje se prefere dizer). Como se vê, em suma, a contradição de fundo (e isto a impossível relação entre uma lógica do plano e a variabilidade infinita dos processos de personalização do aprendizado) da idéia de currículo (em quanto assunto segundo um modelo de racionalidade linear) vem conceitualmente resolvida prevalentemente em virtude da utilização dos assuntos da psico-pedagogia de Vygotski. Isto tornou possível um deslocamento do baricentro da atenção do professor ao aluno. Mas a prática do currículo (ou seja a programação didática) resta ali, firmada ao ponto que, plano de ensino ou plano de aprendizado o que se quer entender, programar é necessário, e segundo a lógica de um plano. Um movimento análogo esta acontecendo em sedes de formação profissional ou de especialização para perfis particulares, onde ao conceito de prestação vem substituído o conceito de Unidade 5 teoria.indb 191 191 28/9/2007 16:13:44 Universidade do Sul de Santa Catarina competência ou de perfil formativo. Isto aparece em linha com o deslocamento de baricentro que amadereceum como temos visto, entre o fim dos anos 80 e os 90 na cultura escolar, mas ao mesmo tempo, conserva a mesma contradição: à componibilidade aberta do perfil ou da competência em vista corresponde a engenhosidade dos instrumentos e dos modos com os quais ocorre a programação didática. Que se trate de um problema de análise, e não somente político ou somente de pratica didática, o demonstra, em verdade, a reconstrução da paralela evolução da idéia do currículo nos últimos vinte anos em contexto internacional que nos predispomos a desenvolver. SEÇÃO 2 - Definições correntes de currículo: abrangência e contexto De que é feito no entanto, um currículo, segundo uma acepção que pode se dizer já globalizada? De uma seqüência aparentemente simples e linear também diversamente definidos e explicitados, recorrem em cada contexto de instrução, projeto educativo ou programa de ação formativa, os seguintes elementos: objetivo ou finalidade geral; objetivos entendidos como tarefas a serem executadas ou como habilidade, performance ou padrões de devem ser adquiridos pelos alunos; conteúdo de ensino e de informação, entendido seja como matérias de ensino ou disciplinas seja como conhecimento, seja como for, necessárias para alcançar os objetivos; métodos de ensino assumidos, técnicas didáticas escolhidas, procedimentos organizativos adotados, ou seja, como for, adotáveis; 192 teoria.indb 192 28/9/2007 16:13:44 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio experiências de aprendizado visadas e programadas na sua realização operativa seja sob o perfil do desenvolvimento cognitivo, que aquele cultural e pessoal dos alunos; verificação das experiências de aprendizado e das ações educativas empreendidas e realizadas, análise dos obstáculos, dos insucessos e dos resultados, sua recolocação institucional e cultural; avaliação do empreendimento curricular adotado e sua apreciação seja a respeito dos alvos que aos objetivos, aos meios, aos comportamentos realizados, seja a respeito à evolução do contexto social, institucional e cultural de referência. Mas qual a diferença entre currículo e programa de ensino, então? O currículo não é confundível com os programas de ensino. Vejamos o que cada um corresponde: O primeiro mais que indicar uma estrada, assinala os instrumentos conceituais, técnicos e organizativos de cuja bagagem é necessária dotar-se para meter-se a caminho e alcançar a meta. Os segundos são, somente um modo para organizar os conteúdos de ensino e para assegurar uma otimização dos custos de instrução e dos módulos organizativos estendidos para a obtenção dos objetivos de aprendizado pré-fi xados. Mas, é sem dúvida, que o ter fé na seqüência indicada, obriga à análise, escolhas e decisões (preliminares ou em curso de ação) que interessam a cada um dos passos da seqüência recordada, em conjunto com seus relacionamentos, e last but not least, uma constante avaliação do impacto sobre os efetivos ganhos formativos do aluno em conseqüência das escolhas e decisões adotadas. Isto explica a variedade das definições que em âmbito internacional vem sendo oferecidas da idéia e da prática do currículo. Unidade 5 teoria.indb 193 193 28/9/2007 16:13:44 Universidade do Sul de Santa Catarina Se relembramos da classificação proposta por Pontecorvo para as teorias do currículo em 1978, e aqui utilizada introdutoriamente, fica evidente como o desenvolvimento da pesquisa sobre o currículo tenha produzido, nestes últimos vinte anos, tais e tantas variedades de modelos e de aplicações e, conseqüentemente, tais tramas recíprocas que nos obrigam a reescrevê-la tendo presente que nenhum modelo efetivamente realizado tem podido eximirse de confrontar-se com a paralela co-evolução das políticas escolares. A variedade das definições registradas, enumeradas e reordenadas, em segundo lugar, com respeito às publicações dos últimos dez anos em matéria, e em âmbito internacional, evidência que o problema não é tanto na diferença de acento ou de ênfase quanto de preferência, no set de categorias conceituais e/ou de paradigmas que cada um modelo de currículo privilegia. Torna-se útil neste ponto representar de tal maneira, as variedades nas tabelas seguintes. 194 teoria.indb 194 28/9/2007 16:13:44 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Tabela 2 – Linhas de pesquisa do currículo nos USA e Canadá Categorias conceituais USA Longstreet and Shane (1993) USA Marsh and Willis (1995) USA Pinar et alii, (1995) Concepção de currículo Conceitos Prospectivas Bases filosóficas Planificação e teorização Teorias de embasamento do currículo Compreender o currículo e o seu desenvolvimento em uma sociedade globalizada e multi-étnica: Racial Test; Gender text; Autobiografical Text; Aestethic Text; Teological text. História do currículo Passado educativo Prospectivas sociais e históricas História do currículo Fundamentos históricos do currículo Contextualização histórica das origens e do desenvolvimento do currículo Políticas de Políticas escolares desenvolvimento do currículo Procedimentos para projetar e desenvolver o currículo Foco em: Aprendizado Avaliação Gestão colegial e escolar do currículo Princípios e tendências Desenvolvimento futuros Relevância das prospectivas futuras da sociedade com relação aos projetos de currículos Processos de decisão em matéria de Currículo Desenvolvimento de currículo Planejamento de currículo como pesquisa – ação e Inovação Avaliação Passado, presente e futuro do currículo Unidade 5 teoria.indb 195 USA Ornstein and Hunkins (1993) O desenvolvimento e a gestão do currículo como terreno de autoanálise Fins, alvos, objetivos do Currículo Design, Desenvolvimento e Inovação Avaliação Processos de socialização e desenvolvimento de currículos Problemas e possibilidades em contextos de internacionaliza-ção de ações dos processos formativos 195 28/9/2007 16:13:44 Universidade do Sul de Santa Catarina Tabela 2a - Linhas de pesquisa do currículo nos USA e Canadá Categorias conceituais Concepções do currículo USA Posner e Radnitsky (1986) USA Schubert (1986) USA Walker (1990) CANADÁ Robinson et alii (1985) Quadros conceituais e ecléticos de referência Modelos e Teorias de C.; Âmbitos de organização e desenvolvimento de currículos Estudar o C.; O currículo como percurso reflexivo para o professor. Procedimentos de deliberação operativa. Modelos de análise psicológica aplicada à gestão de currículos. Historia do currículo Políticas escolars em relação ao comportamento dos políticos. Contextos e interesses dos vários grupos de pressão. A decisão política com respeito aos destinos da escola e da comunidade. A importância do National Curriculum Objetivos, Conteúdos, Fases de planificação do currículo; Avaliação formativa Currículo em classe; Estratégias e modelos de planificação do currículo; Planos e materiais para governar as mudanças do currículo. História do currículo Políticas escolars Procedimentos para projetar e desenvolver o currículo Principio e tendências Desenvolvimentos futuros Como entender as saídas formativas Lógica para projetar as unidades formativas Como organizar unidades de aprendizado Estratégias de ensino Avaliação formativa Problemas de C. em relação às tendências evolutivas do sistema escolástico. 196 teoria.indb 196 28/9/2007 16:13:45 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Tabela 3 – Linhas de pesquisa de currículo na Austrália e Ásia Categorias conceituais Concepções do currículo Austrália Brandy (1995) Hong Kong Morris (1995) Austrália Print (1993) Austrália Smith and Lovat (1990) Disciplinas de estudo e modelos de C. Modelos e Teorias do ponto de vista epistemológico para a planificação do currículo. Modelos de planejamento do currículo Valor formativo das disciplinas e Modelos de Currículos. Método de procedi-mento ao desenvolvimento do C. Pondera-bilidade do C. Verifica-ções Avalia-ções Mudanças do C. História do currículo Análise dos processos decisórios envolvidos nos currículos História do currículo Políticas escolars Procedimentos para projetar e desenvolver o currículo Análise situacional Análise dos objetivos e das terminações formativas Métodos de seleção dos conteúdos Método de seleção das obrigatoriedades formativas Avaliações e Gestão do C. Programas de desenvolvimen-to do currículo Avaliação do C. Avaliação da escola como comunidade. Intencionalidades educativas e sociais do C. Conteúdos, métodos, Procedimentos de verificação dos aprendizados. Avaliação do C. e da escola. Inovações e mudanças dos modelos de C. Análise situacional Intencionalidade do C. Conteúdos; Atividades de aprendiza-do; Verifica-ções e Avaliações; Inovações e mudanças. Principio e tendências Desenvolvimen-tos futuros As conseqüências do método sistêmico para a análise do C. e para a vida escolar. Problemas de C. em relação às tendências evolutivas da sociedade e dos sistemas escolásticos Prioridades Desenvolpolíticas e sociais vimentos futuros e influência do C. do currículo. Que tal elaborar uma tabela com as tendências do curriculo no Brasil? Fica o desafio; a construção coletiva será oportuna! Depois podemos compartilhar. Unidade 5 teoria.indb 197 197 28/9/2007 16:13:45 Universidade do Sul de Santa Catarina SEÇÃO 3 - Currículo, mudanças e renovação da escola A análise feita até aqui reitera a idéia que a inovação educativa e didática se origina em níveis diferentes dos sistemas educativos, e que estes últimos se desenvolvem em virtude de uma grande variedade de estratégias. As próprias mudanças na organização dos saberes, como efeito reconhecido das pressões acadêmicas por um lado e do constante, dialético relacionamento do mercado global da cultura com este, constituem um forte impulso para a inovação da pesquisa sobre o currículo. Mudanças profundas nas teorias dos aprendizados escolásticos são portanto, a serem considerados como uma norma e não uma exceção, representando ao contrario, agora o currículo é a totalidade da experiência formativa que uma escola oferece. Ele deve portanto, resultar o mais aderente possível às necessidades de cada aluno. É este um convencimento difundido em todos os países, onde se reconheça que os currículos equipam os jovens de uma ampla e diversificada bagagem de habilidades e conhecimentos, não enquanto importantes em si, mas quanto coadjuvantes, coordenativas e formativas do desenvolvimento pessoal dos talentos e dos sistemas de padronização de cada um. Importante! Mas é evidente aqui a ruptura que a globalização dos mercados, dos conhecimentos e das comunicações está produzindo, mesmo considerando os modelos da tradição na pesquisa sobre o currículo. 198 teoria.indb 198 28/9/2007 16:13:45 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Para aprofundar conhecimentos Na maior parte dos países, uma estrutura de base ou um enquadramento portante do currículo (core curriculum) vem definido e promulgado em nível nacional ou central, às vezes completado ou integrado em dimensão local ou regional: é o caso a exemplo, das linguagens ou dialetos regionais. Na Noruega, a exemplo, tal sistema resulta aplicado em modo extensivo: a nível central são definidos os objetivos e as orientações válidas para todas as escolas; mas se provê também o fornecimento de um quadro unitário das áreas de conhecimento e de experiência que cada escola utiliza como o “núcleo central” do currículo então desenvolvido; como base isto é, sobre quais impostar programas e ações de formação contínua para os alunos; os professores são portanto, convidados a assumir numerosas e diversificadas decisões em ordem da forma mais justa e apropriada desenvolver, sejam as orientações nacionais, sejam programas específicos (não integrativos nem aplicativos das linhas nacionais, mas, tudo inteiramente originais) de suas escolas. Em outros paises, cada escola desenvolve, por outro lado, a sua proposta específica de currículo, debaixo do controle do respectivo dirigente ou do conselho da escola, no âmbito de diretrizes fixadas a nível nacional ou regional. Neste caso o professor individualmente, é responsável a nível individual, das decisões assumidas em matéria curricular, em quanto o desenvolve diretamente com os seus alunos. Não é em suma, um caso que as mudanças profundas na sociedade dos conhecimentos, a ênfase sobre as habilidades a serem transferíveis e a uma marcada orientação para o trabalho, as novas oportunidades de controle e de verificação das qualidades do ensino e do aprendizado; as sempre mais explicitas orientações sociais a favor da equidade e da coesão social, não somente, os mais recentes esforços estendidos para favorecer uma internacionalização dos processos formativos; em suma, não é um caso que, tudo isto tenha induzido numerosos países a encontra-los com ênfase diferente, razões substanciais para favorecer uma profunda mudança na idéia, na estrutura, na organização do currículo; e por esta via a necessidade de repensar radicalmente a própria “forma escola”. Unidade 5 teoria.indb 199 199 28/9/2007 16:13:45 Universidade do Sul de Santa Catarina A despeito dos relevantes progressos obtidos de fronte de tais desafios, tais incrementos dos cocientes de participação social, a diversificação da população escolar, currículos em crescente relevância didática, o uso de novas tecnologias no ensino, e outros, a instrução contemporânea afronta problemas formidáveis e imprevistos. As culturas de nossa sociedade e as formas das suas economias mudam rapidamente no mesmo momento em que resultam condições e são controladas das pressões diversas e múltiplas. Assim, para as escolas é confiada uma dura tarefa no momento em que, se pede a elas de adequar-se às necessidades produzidas pela mudança e às mutáveis expectativas da sociedade, cujas populações nem sempre tem claro que coisa realmente almejam da escola. Por exemplo, muitos lutam para resolver a tensão existente entre o anseio de unidade nacional forte e coesa e o desejo de maior autonomia para cada uma das comunidades que em conjunto formam o estado. Freqüentemente a isto se agrega o fato que a sociedade civil tende a erodir os poderes de controle central e os cidadãos a exigirem mais delegação e mais poderes, assim que um número crescente de cidadãos se encontra em condições de afrontarem situações que requeiram o exercício de novas e complexas formas de escolha e de decisões políticas a nível local. Nestes níveis e em tais contextos aumentam as solicitações sobre as novas gerações em reconhecer-se como responsáveis do próprio particularíssimo futuro. Entre os anos 1900 e 1990, a categoria laboral dos operários braçais reduziu de 30% para 6% do total da força de trabalho nos paises industrializados, enquanto aquela categoria dos trabalhadores “profissionais” (qualificados ou especializados) cresceu dos 10% para os 26%. Nos últimos dez anos, as atividades laborais, que requerem altos níveis de competência e de formação cresceram três vezes mais do que aquelas que requerem baixos níveis de formação e competência. As projeções para o próximo decênio indicam que mais da metade de todos os tipos de trabalho requererão uma formação de nível mais elevado. Todos concordam enfim, sobre o fato que no futuro mais e mais trabalhos requeiram o exercício de competências lógicas de tipo modal, de problem solving, de auto-regulação. Se então se observar as estatísticas da OCSE em matéria de instrução, nos damos conta, que entre 1970 e 1986 o percentual de menores em estado de pobreza, cresceu de 15 para 20% em média em todos 200 teoria.indb 200 28/9/2007 16:13:45 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio os paises industrializados. Naturalmente se estende a freqüência à escola maternal de forma crescente e uniforme em todos os países. Mas outros sinais crescem de forma preocupante: entre 1980 e 1991 aumenta para 25% o número de jovens entre 19 e 20 anos, que não completam a instrução secundaria superior. E o mesmo ocorre para os jovens entre 24 e 25 anos que não completam os estudos universitários. Concisamente, hoje dispomos de mais ou menos um terço da força de trabalho jovem que é incapaz de assegurar uma participação autônoma, produtiva e competitiva na solução de problemas das sociedades pósindustriais tecnologicamente avançadas. Assim, enquanto se continua a atualizar e a redefinir as finalidades da instrução e da educação, as nações encontram crescentes dificuldades em definir os valores e as finalidades essenciais – conhecimento, habilidade, comportamentos, valores* – a cujos currículos escolares deveriam promover a si mesmos e aos cidadãos futuros**. Ilustrando * Em outra vertente, e contextualmente, o mundo das crianças e dos adolescentes está mudando. As modificações intervindas na estabilidade das famílias significam menor segurança e sempre maior solidão para as novas gerações: e isto se reflete seja no seu relacionamento com o mundo dos adultos, que na sua cultura, mesmo dentro de suas próprias casas. De outra parte, o crescente poder da mídia, produzem crianças e adolescentes mais ricos em informações, até mais apropriados no falar, mas habituados a uma assimilação experimental; em suma, pouco ou nada autônomos em organizar experiências pessoais de aprendizado ativo. Em fim, não é de se sub-avaliar quanto de ameaçador, eles intuem nos assuntos de incerteza e de degradação que acompanham seja o futuro das ocupações, que a qualidade do ambiente. **A cultura escolar, ao contrário, resulta ainda hoje, prevalentemente focalizada em torno a um modelo de sociedade estática, na qual os conhecimentos retidos necessários, as competências e os valores são predefinidos e armazenados em currículos apropriados, em provas e manuais acreditados. Desde que a tecnologia moderna não tenha segue Unidade 5 teoria.indb 201 201 28/9/2007 16:13:46 Universidade do Sul de Santa Catarina causado as rápidas e crescentes transformações, a estrutura do trabalho era percebida como substancialmente estável e a oferta de trabalho nos serviços era relativamente invariável. Somente para algumas figuras bem definidas e posições de relevo em alguns setores ocupacionais (cultura, política, economia e forças sociais) existia requisito de qualidade dinâmica quais sejam, pensamento criativo, autonomia de pensamento, habilidade para cooperar, disponibilidade para assumir responsabilidade, flexibilidade em identificar e resolver problemas, pensamento reflexivo. E da escola, obviamente, se esperava que preparasse os jovens para que pudessem resolver de modo satisfatório, as tarefas confiadas a eles pelos outros, com a certeza que os estilos de aprendizado para se formarem neles, deveriam corresponder com os outros estilos de trabalho requerido pela demanda social dominante: diligência, senso de dever e disciplina. A cultura, por outro lado, resultava então caracterizada pelo domínio do conhecimento sistemático e da especialidade; o método prevalentemente transmissivo no ensino; da prevalência da comunicação hierárquica na grande maioria dos sistemas escolásticos internacionais. Se relembrarmos as radicais mudanças que ocorreram no mundo do trabalho para sublinhar o fato inédito e radical que está aumentando exponencialmente o número de estudantes que encontram dificuldade em conjugar a própria experiência escolar com uma visão positiva do futuro para si mesmos; e por isto, abandona a motivação em alcançar a escola. O sucesso acadêmico, definido em termos de domínio dos conteúdos disciplinares típicos da escola tradicional, não assegurará mais e ainda por muito tempo alguma garantia de sucesso no mercado de trabalho. Torna-se sempre cada vez mais improvável, por um número crescente, a cada dia, de cidadãos com a possibilidade de conservar de maneira permanente o seu próprio posto de trabalho. Preferencialmente eles se adaptarão para se transformar no futuro, para transformar-se em “portfóliopeople”, ou seja, gente hábil para venderem suas próprias competências em bases contratuais provisórias. Em suma, eles deverão continuamente mudar e reconstruir a própria bagagem de competências vendíveis (“portfólios”) através de processos de requalificação completada, porque as habilidades envelhecem rapidamente. É além disso, tornada mais difícil a 202 teoria.indb 202 28/9/2007 16:13:46 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio transição da escola para a instrução superior ou para a formação profissional, e ainda mais para o trabalho. Ulteriores problemas, se encontram em muitos paises, lá onde tais dificuldades se associam em forma particular com a desocupação juvenil, como, tem sido bem documentado pelo Relatório OECD Jobs Study (1996)... Assim, o desafio para professores e escolas começa a tornar-se sempre mais visível, especialmente que se deseja formar estudantes autônomos, capazes de auto-regular-se e de auto-avaliar-se; ou seja, quando se deseja desenvolver relações significativas entre casa e escola, entre escola e mundo do trabalho, entre escolarização e educação dos adultos. De modo que, três características da educação parecem ser essenciais no futuro, para a força e a estabilidade da sociedade: um apropriado equilíbrio de conhecimentos e habilidades, assim como a individualização para um melhor modo de utilizá-los, em situações inoportunas da vida; em acréscimo, a promoção de um difuso senso de solidariedade para com os outros, sensibilidade, coragem, e outros valores sociais e morais. [Mas quem será o responsável em definir estas virtudes e em promovêlas, quando o consenso é débil e as muitas pressões as erodem?]; equidade e justiça são essenciais, seja para promover harmonia em uma sociedade multi-cultural e multiétnica, seja para encorajar o desenvolvimento dos talentos, a colaboração de todos na luta contra a injustiça e os perigos sociais que perpassam os estratos mais em risco da população social e desocupada. Em condições assim obtidas, a tarefa da escola envolve e se especifica: esta deverá orientar, dirigir e governar o currículo como um percurso que ajude o jovem a criar um modelo de comunidade no qual o diálogo crítico e o trabalho cooperativo transformem as coordenadas ordinárias e habituais, capazes de sustentar um Unidade 5 teoria.indb 203 203 28/9/2007 16:13:46 Universidade do Sul de Santa Catarina cenário de equidade e coesão social e de formar no seu senso e para a formação do seu valor. Chefes de institutos e professores devem agora, focalizar o seu trabalho para construir personalidade e a crença de si mesmo, em cada aluno; devem em particular desenvolverem em senso inter-pessoal e colaborativo as suas habilidades e seus talentos; devem motiválos a aprenderem a refletir sobre a justeza e sobre a bondade dos objetivos e interesses, aos quais serviços cada aluno decide em colocar o patrimônio das próprias competências. Não é causal que em muitos paises a reforma dos currículos escolares finalizem estes últimos a fazerem amadurecer o conceito de cidadania, dos direitos, dos valores morais e espirituais, assim como ao desenvolvimento pessoal do individuo em quanto componente inter-subjetiva originaria do desenvolvimento da comunidade social. Os fatos, mais que os debates, levam agora, a cultura escolar internacional a individuarem no desenvolvimento da dimensão valorativa inter-subjetiva e na formação do multi-alfabeto, muito mais que a mera somatória de heranças do iluminismo e dos anos oitocentos. E, a entenderem preferencialmente a formação integral da pessoa como recurso humano essencial para o equilíbrio do sistema global, por isso, recurso econômico e social. A formação vai portanto, institucionalmente reorientada segundo tal prioridade. Se requer uma escola que contribua para a equidade e para a coesão social, transformando-se em uma comunidade de tal forma aberta que resulte em “inclusiva” com um “core curriculum” que seja comum e acessível a todos, e ao desenvolvimento, do qual todos os professores contribuam trabalhando juntos. Como conseqüência, as estratégias diversificadas de ensino e aprendizado devem tornar-se mais comuns a todos os níveis de escolarização. As teorias da informação podem tornar isto possível em um grau que não podemos hoje imaginar. Todavia, a ênfase sobre a individualização do ensino ou sobre a personalização dos aprendizados, não deve colocar em risco a busca constante, por parte da escola, a sua tarefa principal, que consiste em assegurar o desenvolvimento de uma linguagem e 204 teoria.indb 204 28/9/2007 16:13:46 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio de uma cultura comum, nem devem sobrepor-se aos benefícios até aqui obtidos com o estudo e o trabalho cooperativo e com o ensino voltado para toda a classe. SEÇÃO 4 - Análise dos modelos de currículo Agora vamos conhecer algumas tendências curriculares, que remetem aos modelos e oragnziação no contexto educacional: vamos lá? a) Um currículo por conteúdos ou por mapas conceituais Uma primeira definição, em verdade muito recorrente não somente na Itália, é aquela pela qual o currículo é um set de conteúdos de conhecimento ou de mapas conceituais. É interessante anotar como habitualmente a primeira acepção se acompanhe para uma forma precisa de currículo, que é aquela do syllabus, usualmente entendido como um sumário dos conteúdos de instrução que devem ser ministrados em um curso, muito frequentemente coligados a coleções de exercícios escolares e a testes de aproveitamento. A ênfase sobre o conteúdo a ser transmitido constitui o elemento focal de um syllabus, mas o currículo inclui muito mais do que isto. Por exemplo: o método que privilegie no conhecimento um conteúdo de instrução influencia seguramente o quê e o como lhe transmite ao aluno. E, analogamente, a ênfase colocada – nestes tipos de currículos – em individualizar quais estudantes resultam suficientemente preparados e motivados para aprenderem particulares conteúdos, influencia de muito aquilo que de fato vem apreendido. Mais atualizado, diferente daquele por conteúdos, é o modelo da didática curricular por mapas conceituais (ou Curriculum Frameworks), baseado na idéia de que cada saber é produção de conceitos e que a escola deve ensinar fundamentalmente a descobrir, utilizar e dominar as redes conceituais que o identificam, em vez de fornecerem noções (currículo por conteúdos) ou socializarem. Um Framework pode ser definido como um grupo de argumentos disciplinares correlatos que é possível encontrar juntos, de acordo com um set pré-determinado Unidade 5 teoria.indb 205 205 28/9/2007 16:13:46 Universidade do Sul de Santa Catarina O exemplo primeiro entre todos é o currículo do “Social Studies” que foi elaborado em 1984 nos USA pela National Education Association para descrever um currrículo com predominância histórica, mas que compreendia também redes conceituais de geografia, economia, políticas sociais e educação cívica. de critérios epistemológicos que consinta em cobrir de modo apropriado uma área de estudo. Um trabalho emblemático – em escala nacional – de tal prospectiva é aquela executada pelo Ispettorato di Sua Maestà, no Reino Unido, nos anos 80, e em vista daquilo que seria transformado no National Curriculum (Education Reform Act de 1988), para produzir precisamente um currículo comum, focalizado preferentemente sobre precisas áreas de conhecimento e de experiência. As áreas de aprendizado e de experiência préescolhidas eram exatamente as seguintes: 1) dimensão estética e criativa; 2) dimensão humana e social; 3) lingüística e literatura; 4) matemática; 5) moral; 6) formação física; 7) formação cientifica; 8) formação espiritual; 9) formação tecnológica. A escolha é significativa porque precede a determinação dos conteúdos de ensino e oferece um mapa de áreas culturais em quanto elaboração compreensiva das relações entre contexto sócio-educativo e metas formativas; entre estes e os conteúdos culturais e os métodos de cada uma área cultural ou disciplinar indicada; entre a história interna e aquela externa de cada contribuição disciplinar, com a valorização dos paradigmas de conceitualização julgadas mais fecundas ou com maior espectro explicativo; entre os eixos do currículo que assim vem a ser determinado, e a cultura de referência da sociedade inglesa. Nota-se por outro lado, que o National Curriculum não por isso, se é reduzido a um simples elenco dos conteúdos de conhecimento experiência propostos como common curriculum, mas foi elaborado em uma forma de redação compreendendo: uma plataforma metodológica e epistemológica que explicita a lógica do currículo proposto (o conhecido como Rationale), veja como se organiza: os objetivos e os parâmetros de organização dos conteúdos de conhecimento e de experiência para cada uma área cultural pré-escolhida; 206 teoria.indb 206 28/9/2007 16:13:46 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio as metas formativas e os objetivos didáticos referidos a cada argumento disciplinar para cada uma área cultural que faça parte do currículo; linhas guia para o projeto dos cursos; os conteúdos; princípios para o ensino e para o aprendizado; princípios e critérios para a avaliação dos aprendizados disciplinares; critérios para a certificação e a qualificação das matérias; possíveis desenvolvimentos futuros para cada uma das áreas culturais abrangidas pelo currículo. Surgido da crise do modelo pedagógico de J. Dewey (escola como ambiente prevalente de socialização), a idéia forte deste movimento curricular é que, se a experiência, também profissional, é produção continua e organização de rede de conceitos, o aprendizado tem como configurar-se como aprendizado de conceitos, e o ensino como organização de experiências aptas à transmissão e à fi xação de tais mapas conceituais. Para saber mais: O currículo por mapas conceituais, tem tido grande sucesso no Ocidente, a partir da crítica ao modelo educativo da socialização de inspiração deweyana formulada por J. Bruner na obra, Dopo Bruner. I processi di apprendimento tra le due culture, Armando, Roma 1968. Aquele que foi então definido como “estruturalismo pedagógico e didático” se apoiava sobre uma re-elaboração parcial das contribuições psicológicas de Jean Piaget e de Lev Vygotskij, mas sobretudo sobre uma metabolização da parte do pragmatismo americano das contribuições do neo-positivismo lógico (Gart Gustav Hempel, Rudolf Carnap,) e segundo Wittgenstein; se desenvolvia através as pesquisas sobre a estrutura do aprendizado significativo de David P. Ausubel e sobre as análises antropológicas do estruturalismo lingüístico de L. Jakobson e de C. Levi Strauss por um lado, e daquele simbólico de Margaret Mead por outro. A ênfase colocada Na mesma linha, além disso, nos fins de 1980, se moveram também a Austrália e a Coréia, com uma tarefa atualizada mais especificamente orientada para o modelo dos mapas conceituais; na Austrália em 1991 (Hannan, 1992; Grundy, 1994) e na Britsh Columbia (Canadá) a partir de 1989 (Case, 1992). Também nos USA numerosos estados procederam sob a mesma direção (Califórnia, 1989; Oregon, 1995) com maior atenção neste caso para uma seqüêncialização mais coerente da lista de conteúdos e objetivos, assim como a uma insistente atenção as formas individualizadas dos resultados formativos para os estudantes (Madsen, 1994). segue Unidade 5 teoria.indb 207 207 28/9/2007 16:13:46 Universidade do Sul de Santa Catarina no caráter produtivo de cada forma cultural, a evidência do caráter ativo do sujeito nos seus processos de seleção das informações e comunicação, orientada a codificar em estruturas conceituais os ganhos da experiência, tudo isto tem tido mérito de evidenciar o caráter concreto do trabalho intelectual que cada processo de aprendizado desenvolve. E, por esta via, em promover a superação entre cultura técnicocientífica por um lado e cultura humanística por outro, que afligia o currículo tradicional, centrado na transmissão de conteúdos. Deve-se recordar, por outro lado, que através do movimento dos “Grupos Escola-Universidade”, particulares benefícios tem sido obtidos de tal impostação, a renovação da pesquisa didática especialmente na área das matérias técnicas e cientificas. Devemos por outro lado, ao mesmo tempo registrar – a distância de vinte anos – na Itália – uma serie de equiparações neste, sobre esta prospectiva e a dificuldade, se não a resistência, para envolver através de linhas de pesquisa didática epistemologicamente mais abertas. O teórico mais apaixonado e robusto na Itália, da prospectiva indicada é seguramente E. Damiano, que com numerosos escritos e projetos monitorados de experimentação didática tem contribuído para difundi-la de forma perspicaz (conf. E. Damiano, L’azione didática, Roma 1993). Um trabalho educativo, do gênero, é seguramente um trabalho de formação cultural de grande qualidade: onde bem elaborado, promove estreitos relacionamentos entre a teoria e a prática; atualiza de um modo significativo seja da pedagogia ou da psicologia do aprendizado; e tem um forte impacto sobre os professores, em quanto for centrado na própria área disciplinar, e os encoraja a avaliarem a inteira área de aprendizado dos alunos como espaço de contínuo crescimento pessoal para a cultura e para a vida. Igualmente, os estudantes são habituados, sobretudo em selecionarem os conhecimentos e as experiências úteis, em vez de repetirem passivamente as forma das disciplinas tradicionais; o currículo resulta mais coerente em toda a sua estrutura do momento em que conserva a mesma lógica em todos os diversos graus de instrução e formação; novas habilidades e novos conteúdos podem facilmente ser integrados ao currículo comum ou de base, segundo diversas perspectivas multidisciplinares ou interdisciplinares promovidas localmente. 208 teoria.indb 208 28/9/2007 16:13:47 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Se examinarmos os limites, consistentes (segundo a crítica de L. Stenhouse 1975), na extrema dificuldade de acerto do aproveitamento real dos alunos e na singularidade do professor de qualidade como condição de sucesso para o currículo, o currículo por mapas conceituais certamente resolve o primeiro problema através uma atenta, e preliminar planificação das atividades didáticas numa conseqüência lógica da elaboração dos mapas completados por grupos multidisciplinares de docentes. Enfim, a planificação dos próprios mapas não foge a uma engenhosidade objetiva que desencoraja a maior parte dos docentes, ou seja, faz surgir um álibi reducionista, o fazendoos observar que em fundo, eles já praticam cotidianamente essa ação mesmo que de modo informal. O ponto é que o currículo por mapas conceituais – a despeito da riqueza de referimentos teóricos justificativos – falta propriamente o seu objetivo mais ambicioso, consistente em alcançar a conjugação de inter disciplinariedade, criatividade e ensino. Este modelo não alcança, o salto de qualidade como ocorre na passagem dos aprendizados naturais aos aprendizados científicos; isto é, a organização do currículo acompanha (e promove com bases em padrões competentes) a base de aprendizado proximal com o qual cada aluno personaliza e recria as linguagens científicas e culturais com as quais se defronta na escola. E, não rendendo fenomenologicamente relevante, tal passagem de transformação dos aprendizados está condenado a ser banalizado ou equivocado da maior parte dos professores. Feito o currículo, de fato, o maior problema que resta, é aquele de uma atualização eficaz dos docentes. Unidade 5 teoria.indb 209 209 28/9/2007 16:13:47 Universidade do Sul de Santa Catarina b) Um currículo por produtos Uma segunda definição é aquela que o currículo corresponde a um produto observável e analisável. Em alguns casos – em nível internacional – tal produto corresponde à documentação do currículo compreendendo detalhes sobre os objetivos, sobre os conteúdos, sobre as técnicas de ensino, sobre os recursos, sobre a avaliação e sobre as verificações dos aprendizados. Acontece, pelo contrário, de observar como estas documentações sejam explicitamente requeridas dos governos ou das agências por estes delegadas, prescrevendo seja o que, seja como, ensinar. Ora, importante recordar que a documentação do currículo (não raramente confusa na Itália com a conhecida programação didática) representa o currículo ideal, melhor do que aquele atual ou efetivo. É importante observar que um professor, de fato, pode não acertar tudo o que é escrito em um programa, ou pode ser considerado inidôneo para realizar o currículo em todos os aspectos previstos pelo programa, por carência de formação ou de compreensão. É este um caso verdadeiramente freqüente que relembra o presente e ainda mais o futuro das políticas escolares em matéria de inovação educativa. O gap entre o currículo intencional prescrito e currículo real, torna de fato inúteis e dispendiosas as políticas de formação em serviço e de atualização do pessoal docente, tanto que estas custem muito mais de quanto seria necessário para a simples modificação organizativa das escolas. Mas pode também acontecer, como foi recentemente lamentado, que os níveis de interesse e as orientações das famílias e dos estudantes, como também as prioridades das comunidades locais possam condicionar e prevenir os professores em desenvolver um currículo assim como previsto pelas autoridades centrais. Este tipo de currículo, vem eficazmente apresentado em âmbito internacional como um currículo fundamentado sobre uma programação decidida centralmente. O exemplo mais típico (alem daqueles do Reino Unido, National Curriculum 1986 210 teoria.indb 210 28/9/2007 16:13:47 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio e 1988) e da Austrália (National Collaborative Curriculum Development Project 1991-1994) é certo aquele de Hong Kong (1995) (Morris, 1995). As vantagens deste modelo são verificáveis no fato que pretende assegurar uniformidade de oferta formativa, encorajando e promovendo uma padronização do currículo; obtêm, se corretamente e unitariamente aplicado, economia de tempo e de recursos; assegura continuidade educativa e didática quer seja para os estudantes quer para os genitores; provê o desenvolvimento de relações significativas e reciprocamente apresáveis (tighter coupling), entre a escola e o sistema social de referência; pode permitir-se um controle de qualidade constante dos materiais didáticos oferecidos. As desvantagens são por outro lado, comparáveis pelo fato que um currículo assim feito, resulta de necessidade enfaticamente focalizado sobre um simples critério, inibe quer seja a diversidade, quer seja a criatividade e reduz as oportunidades de aprendizado em alguns âmbitos de conhecimento e de formação; por outro lado, reduz ao mínimo a iniciativa didática e formativa dos professores. A despeito de suas intenções, termina por alimentar uma baixa implementação da inovação educativa; transforma a padronização em burocratização, dependendo muito, nos fatos, de um modelo de racionalidade linear ou burocrática; e sobretudo pode facilmente incrementar, em vez de, resolver os problemas de acesso ou de abandono escolástico. c) Um currículo por objetivos de aprendizado Uma terceira definição é aquela que apresenta o currículo como um set de objetivos de aprendizado e/ou performance. Indubitávelmente este método pretende focalizar a atenção sobre habilidades específicas, conhecimentos ou domínio que um aluno deve adquirir ao término de um período de estudos, assim como, a necessidade de um deslocamento do baricentro escolástico do professor para o aluno, que é o verdadeiro e único cliente da escola. Se os professores – se sustenta – conhecem bem o alvo de experiências, de conhecimentos e de domínio entre os quais o aluno deverá navegar ao término de seu período de estudos, é certamente muito mais fácil para os professores organizarem Unidade 5 teoria.indb 211 211 28/9/2007 16:13:47 Universidade do Sul de Santa Catarina todos os outros elementos necessários para assegurarem eficácia na gestão do currículo (escolha dos conteúdos de instrução, técnicas didáticas e métodos de ensino, módulos organizativos etc.). Nos fatos deste ponto de vista produziu duas grandes linhas de desenvolvimento do currículo: um orientado para assegurar o fornecimento de prestações coerentes com os objetivos instrucionais rigorosamente definidos nos termos exatos daquilo que é possível obter “para determinadas condições” (E. Mager, 1984); outro orientado para analisar e compreender a natureza profunda dos resultados formativos dos alunos, lidos antes, como êxitos pessoais (outcomes) em vez de, como produtos (output) (Ellis and Fouts, 1993; OCSE, CERI, 1993-1996). E isto é conseguido pela problematização que, em âmbito psicopedagógico, é intervinda propriamente a propósito das teorias da instrução e daquelas do aprendizado, em base das quais se definia a natureza dos objetivos do aprendizado escolástico e, por isso, do currículo (Filograsso, 1981). No primeiro caso (objetivos de performance), as listas de objetivos do aprendizado foram transformadas, não raramente, em listas de prestações concebidas em chaves substancialmente comportamentais, por outro lado, tão longas e articuladas para resultarem nos fatos inaplicáveis e vazios. A lógica produtiva que anima tal prospectiva se transporta naquela por objetivos, ou por prestações, lá aonde, se entende que um currículo serve em quanto consente de definir objetivos comportamentais observáveis e replicáveis. Pouco importa o processo comunicativo, afetivo e meta-cognitivo com o qual o aluno personaliza os conteúdos e as experiências de aprendizado. Vai relevado, todavia que, a despeito, da demonização a qual é freqüentemente muito facilmente colocado este método, em determinados casos e por certas disciplinas, uma lista bem ponderada de objetivos instrucionais, conduz a altos níveis de competência os alunos, obviamente sob determinadas condições. Estas podem ser confrontadas pelo fato que os objetivos ajudam os docentes e alunos a focalizarem aquilo que deverá ser avaliado e apreciado ao término de um certo curso. Estes deveriam assegurar uma clara direção para os professores sobre aquilo que 212 teoria.indb 212 28/9/2007 16:13:47 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio deve ser feito (em seqüência) pelos alunos para poder assegurar uma competência evidente e observável das metas de instrução pré-estabelecidas. Como se vê, e independentemente da indébita generalização em que foi submetido o currículo por objetivos de performance, ele pode assegurar o respeito às seguintes condições: 1. dimensionamento ponderado dos objetivos perseguidos e da sua colocação em um mais amplo percurso formativo; 2. consistência cultural e metodológica dos objetivos; 3. relevância e perseguição efetiva dos objetivos em vista; 4. validade ou validação: os objetivos devem efetivamente refletirem o estado de competência que pretendem descrever; 5. serem factíveis: os objetivos devem resultar efetivamente alcançáveis pelos alunos; 6. especificidade: os objetivos devem evitar qualquer ambigüidade e serem praticamente articuláveis experimentáveis (Marsh, 1997,51). Vai por outro lado, dito que, embora a prática de tal modelo tenha contribuído para determinar comportamentos mais rigorosos na produção de objetivos educativos, a ilusão de poder instruir com eficácia somente em vista dos objetivos facilmente observáveis e mensuráveis tem terminado por produzir massas de alunos privados de senso diacrônico e de senso histórico. Aprendizados e valores são reconduzíveis, somente com extrema dificuldade, para lista de objetivos de resultado e de competência. No segundo caso (outcomes), o discurso se apóia sobre uma mais articulada análise das teorias do aprendizado (Piaget, Vygotskji, Bruner, Ausubel) e dos problemas colocados pela escolarização de massa às teorias da instrução. Nos anos 80 até os fins dos 90, numerosos países têm procedido a reverem não somente os programas e os modelos de currículo para recomendarem aos professores, mas também as políticas de escolarização, a partir da análise da natureza, das condições e dos efeitos que os êxitos escolares e formativos dos estudantes tem sobre sua vida ativa. Unidade 5 teoria.indb 213 213 28/9/2007 16:13:47 Universidade do Sul de Santa Catarina O movimento, assim, por currículos centrados nas competências formativas dos alunos (assim especialmente nos ambientes da formação e da especialização profissional (Vocational Education Training) vem re-proposto um currículo por objetivos) procede sob a iniciativa de duas linhas paralelas: por um lado a crítica a maneira tradicional de verificar os resultados do aprendizado (se da muito ressalto ao confronto entre estudantes em vez de à explicação das causas dos resultados) assim como o registro dos indesejáveis efeitos da repercussão sobre os ensinamentos produzidos daquele modo (Shepard, 1990); por outro lado, conscientização dos governos que ditava as leis, não dispondo de dados validos para assegurar condições sobre os relacionamentos entre currículo e resultados formativos. Em suma, são necessários métodos de avaliação que meçam o aprendizado significativo em um modo que corrobore o rendimento desejado e forneça informações confiáveis sobre os resultados, então, ocorre adotar definições pragmáticas de competência e/ou de resultado formativo; e não pensar mais que os resultados/objetivos de um currículo possam ser declarados em linha direta com as disciplinas individualmente. Estes são por outro lado, lidos como um mix personalizado de estratégias de aprendizado, de soluções de problemas, de adaptação e de generalização que cada aluno desenvolve em conseqüência dos percursos formativos ou de ensino a que é exposto durante a sua escolarização. Consequentemente por tais exigências, torna em auge por um breve momento, a taxionomia de Bloom et alii (1956) que distingue os resultados do aprendizado em três campos (cognitivo, afetivo, psico-motor) segundo um modelo hierárquico-cognitivo. Mas bem cedo, deuse conta, que tais taxionomias separavam artificialmente os nexos que existem entre os campos individualizados e que, sobretudo, em produzir-se os resultados/objetivos do aprendizado, a motivação e a auto-regulação emergem como fatores centrais para o sucesso das competências, graças ao ressalto que dão a “ação sob controle”, a “solícita e flexível adaptação” e a outras necessárias habilidades meta-cognitivas. O conseqüente reexame dos resultados de aprendizado produz uma série infinita de “mapas de eficiência pessoal e competência” que são visados como metas e objetivos de um currículo eficaz. 214 teoria.indb 214 28/9/2007 16:13:48 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio A motivação é no convencimento de numerosos autores (Crooks 1989, Burke, 1989, Stanton, 1989) que as estratégias de aprendizado que os estudantes adotam, fazem prever eficazmente os resultados escolásticos, tanto que a capacidade que se mostra em escolher e em aplicar as estratégias de aprendizado representa já um importante resultado escolástico. É evidente que este tipo de conceitualização dos objetivos/resultados do aprendizado fornece uma base para estruturar, seja o currículo que, os procedimentos de avaliação em termos de desenvolvimento da compreensão conceitual e disciplinar, de integração e de aplicação do aprendizado, assim como de transferir o aprendizado para novas situações em maneira dinâmica e personalizada. Mas a dificuldade maior deste modelo, é em entender os requisitos do contexto para o rendimento integral do estudante, e na tempestividade em provocar as necessárias modificações ou correções na pratica do currículo. É necessário, de fato, reconhecer que o modelo tenha tido hoje, sobretudo, o mérito de ter enfatizado e estimulado a pesquisa e a produção de indicadores de qualidade da Edicação (OCSE – CERI, 1994) sem que, porém tenha sido ainda conseguido um visível circulo virtuoso entre melhoramento das políticas escolars nacionais de um lado, e o incremento de eficácia na prática escolar do currículo de outro lado. Provavelmente, tal descolamento não foi reencontrado somente nas dificuldades objetivas que tem as políticas escolars para entrarem em classe, quanto sobretudo no fato que políticas escolars orientadas ao melhoramento dos alvos formativos terminam, bem ou mal, por assumirem óticas direcionais e sub-avaliarem a mudança profunda de prospectiva que consegue a mesma projeção das estratégias onde se considere o caráter não residual, mas central, do co-envolvimento ativo e do protagonismo das escolas e dos professores em dar forma ao melhoramento perseguido. É este o caso denunciado recorrentemente, em escala internacional, para o National Curriculum inglês, para o mesmo projeto gaulês, na Nova Zelândia, na França. Exemplos alternativos foram por outro lado, encontrados na Finlândia, na Noruega e na Holanda, onde a baixa densidade demográfica da população escolar induz a hipótese de que não Unidade 5 teoria.indb 215 215 28/9/2007 16:13:48 Universidade do Sul de Santa Catarina resultam suficientemente estudados os fatores econômicos e demográficos, de qualquer maneira, de contexto, para a aplicação generalizada do modelo. Procura-se, na verdade, de obviar às dificuldades assinaladas introduzindo um currículo por objetivosresultado que se baseia em um currículo comum, constituído daqueles que vem definidos “os fundamentais da cultura” como (é apenas o de citar-se) recentemente também, na Itália, se procura fazer. Tarefa da escola – segundo esta prospectiva – é aquela de assegurar os “tijolos” da formação, individualizados em fatores fundamentais de conhecimento e rendimento, que resultem observados bem aprendidos e que, por assim mesmo, são considerados replicáveis e combináveis ad infinitum na experiência de vida e de trabalho do individuo. Em verdade, é de se dizer que alguns ambientes de trabalho, alguns níveis de atividades laborais e por fim, alguns âmbitos de conhecimento, consentem – pela sua linearidade produtiva – com tais prospectivas. Possivelmente seria pouco inteligente, demonizá-la ou ainda pior, afirmar que ela tenha desaparecido nos dias de hoje, seja na Itália, que em âmbito internacional. Não existe duvida que ela se qualifica como o currículo do “denominador mínimo comum”. Por este caminho, os limites de tal currículo (risco de formalismo, substancial rigidez, risco de excesso de autoridade onde não mude a forma organizativa do sistema escolástico, a sub-avaliação dos estilos de aprendizado, inutilidade por bases complexas de aprendizado) são colocados entre parênteses por seus fautores, considerada o seu ponto de partida epistemológico: que é aquela de excluir por convenção, a priori, que a qualidade complexiva da educação seja o resultado de pontos de partida coaxiais e convergentes de inovação não somente da vida escolar, e não o produto em cascata, de boas leis, pensadas pelo centro. d) Um currículo para contextos integradores e/ou para situações Uma quarta definição prefere considerar o currículo como aquilo que é ganho em termos de instrução e de formação do estudante, seja dentro que fora da escola, sob a direção desta última. Isto a querer evidenciar como o aprendizado escolástico não seja confinado entre os muros da sala ou da escola, também se as únicas experiências de aprendizado consideradas significativas pelo aluno são aquelas dirigidas e governadas pelo pessoal escolástico. 216 teoria.indb 216 28/9/2007 16:13:48 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Uma variante desta concepção é aquela que vê no currículo o conjunto de experiências de aprendizado de um indivíduo como resultado de seu processo de escolarização. Aqui, a ênfase sobre o aluno como sujeito ativo e motivado de aprendizado e como o único, substancial, juiz dos resultados formativos do currículo. Todavia, foi amplamente observado como o aluno não aprende somente em conseqüência do currículo explícito ou oficial ou formal, que seja perseguido pela escola. Mas ainda mais, em virtude daquele que foi definido currículo implícito ou latente, renovável, seja em seus procedimentos de vida escolar, seja nos materiais didáticos, seja nos pontos de vista culturais e nas relações adotadas pelos profissionais da educação. A idéia forte sobre a qual se baseia esta perspectiva é aquela segundo a qual se dá o aprendizado real somente no interior de ambientes altamente relacionais, investidos de uma explícita afetividade. O aprendizado escolar vem, portanto, interpretado sobretudo como a pragmática da comunicação entre atores (os docentes e os alunos) os quais, em virtude, sobretudo da qualidade de relações que desenvolvem reciprocamente, crescem para uma visão estruturada (sistêmica) do ambiente escolástico, ponderando também o peso não secundário que a dimensão institucional deste ultimo joga na busca dos alvos formativos. É porém, o realismo que leva esta ultima análise para diferenciarse claramente daquelas precedentes. Em breve o ambiente escolástico e extra-escolástico pode modificar as estruturas do aprendizado, mas não aquelas da organização institucional. O problema não se resolve reduzindo hora um e hora outro, dos pólos do currículo, aquele que particulares e privilegiados influxos epistemológicos ou culturais fazem pensar ou julgar mais aceitáveis. Frequentemente é necessário adotar uma visão compreensiva de ambos, e esta é possível elaborar somente em termos de racionalidade limitada, onde cada um dos atores principais do processo formativo coloca em jogo continuamente a sua identidade, as sua escolhas e as suas esperanças, influenciando deste a relação do próprio aprendizado que instaura com os outros, com os saberes e as formas de vida com as quais se cimenta, e com os ambientes que atravessa. Isto significa na Unidade 5 teoria.indb 217 Como oportunamente examina N. Barbieri (op. cit.) os pressupostos de tais prospectivas são reconduzíveis à GestaltPsichologie (Psicologia da forma) por um lado, aos teóricos da pragmática da comunicação de Palo Alto, por outro (P. Watziawck, J. H. Beavin, D. D. Jackson, Pragmatica della comunicazione umana, Astrolábio, Roma 1971) às teorias do psicólogo D. W. Winnicot (cfr. sobretudo Gioco e realtà, Armando, Roma 1990) e à pedagogia institucional (cfr. sobretudo G. Lapassade, La pedagogia istituzionale, Isedi, Milano 1978). 217 28/9/2007 16:13:48 Universidade do Sul de Santa Catarina prática que o currículo transforma-se em um campo no qual se encontram e se confrontam os “projetos” de estudo, de aprendizado e de vida de cada um dos atores envolvidos. Isto comporta o abandono da rígida prospectiva de programação, e a transformação da dimensão prática do currículo em um fluxo contínuo e participado de projeções e re-projetos das atividades didáticas. Vai evidenciado um ponto que nos parece fundamental para o nosso discurso. Esta prospectiva põe por tema a idéia e o princípio da complexidade como o único modo para superar a contradição dilacerante que tem acompanhado a pesquisa sobre o currículo nestes últimos vinte anos. Lembra-se que o currículo para contextos integradores na Itália, foi elaborado por um grupo de Pesquisa-Ação animado por Antonio Canevaro trabalhando sobre o terreno da pedagogia do handicap. Cfr. A. Canevaro, G. Lippi, P. Zanelli, Uma scuola, uno sfondo, Nicola Milano, Bologna 1988. Uma evolução se encontra em P. Zanelli, V. Severi, Educazione, complessità, autonomia dei bambini, La Nuova Scuola, Firenze 1990. Para uma introdução ao currículo por situações cfr. W. Fornasa, Currículo, programação e projeto, em S. Mantovani (aos cuidados de), La scuola del bambino, Juvenilia, Bergamo 1990. A complexidade da organização é análoga aquela de cada processo de aprendizado e com esta se entrelaça de maneira tal para tornar ilusória qualquer hipótese de podê-la reduzir a uma lógica de plano. Frequentemente a dimensão de projeto do crescer e do aprender é forma originária que qualquer aluno leva consigo nas classes escolars. A esta vai reconduzida então a própria lógica da idéia e da pratica do currículo, para torná-lo, experiência significativa profunda na história de vida de cada sujeito. Mudando a prospectiva, mudam os instrumentos sob os quais se toma incentivo para projetar (não mais programar) o currículo, principalmente com relação: 1. à observação sistemática do processo de aprendizado (a partir da análise acurada da situação de partida dos alunos) e não mais planificação preliminar dos objetivos pré-fi xados; 2. aos núcleos de projetos de atividades de ensino/ aprendizado (e não mais unidades didáticas); 3. à reorganização continua e flexível dos ambientes de aprendizado e não mais fi xação de pensamentos e ações nas salas de aulas; 4. à grande tolerância com o erro e não mais preocupações com a conformidade aos cânones disciplinares codificados, do bem saber e do bem pensar; 218 teoria.indb 218 28/9/2007 16:13:48 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio 5. à multiplicidade de tipologias de subsídios didáticos a serem utilizados (especialmente aqueles de multimídia), e não mais a estereotipia dos materiais didáticos (prevalentemente em forma cartácea) como nas outras práticas curriculares; 6. à avaliação relacional e continua do perfi l formativo em evolução do aluno, e não mais avaliação “docimologica” dos seus resultados escolásticos. (N. T. “docimologia”, em italiano, é disciplina de caráter psicopedagógico que estuda os métodos e os critérios de avaliação do perfil escolar e das provas de exames finais e intermediários.) É interessante observar como tais prospectivas não se confirmam somente em contextos de estratégias para integração escolar dos inferiorizados (currículos para contextos integradores), ou seja, em contextos estruturados de educação dos adultos e de estratégias curriculares de educação permanente (currículo por situação). Sobretudo, em países como sistemas escolásticos descentralizados ou com uma forte disseminação de contextos institucionais de pequena dimensão, ou, todavia, não rígidos ou ainda não enrijecidos, a análise especifica do contexto e da situação resulta de fundamental importância. A análise da situação pode de fato ser definida como o exame do contexto (sistema complexo) pelo qual o currículo deveria ser desenvolvido e de cuja eficácia do currículo resulta condicionado, e também a aplicação desta análise para a organização realizadora deste. (Print, 1993,110). É evidente que em tal prospectiva a análise e a avaliação das necessidades formativas, assume relevância central: de onde por necessidade vem habitualmente compreendido a individualização da discrepância entre um estado aceitável e apreciável do interessado em posicionamentos e comportamentos de facilitação ao aprendizado e uma estado observado de aprendizado. (Mac Neil, 1985,74). Não porque logicamente coligado a esta prospectiva, mas em quanto configurável num contexto escolástico potencialmente Unidade 5 teoria.indb 219 219 28/9/2007 16:13:48 Universidade do Sul de Santa Catarina favorável e esta, é importante lembrar um modelo de desenvolvimento descentralizado do currículo focalizado na escola (Decentralized and School-based Curriculum Developement). O termo “descentralização” relembra primariamente a um modelo organizativo do sistema escolástico. Mas habitualmente, em audiência internacional o SBCD (School-based Curriculum Developement) foi considerado como uma interessante variação do conceito (Slattery, 1995, Marsh, 1997). Se distingue, de qualquer maneira, claramente entre a descentralização política que pode existir por si mesma, sem haver reflexos sobre o modelo de currículo realizado; e descentralização organizativa que vai preferentemente vista como uma técnica (Brown, 1990). Por outro lado, deve-se observar, como o termo descentralização ou autonomia é usado tipicamente para enfatizar processos de decisões não mais assumidos somente pelo centro e também os ganhos de eficiência da oferta formativa conexa; não deve ser excluída a dimensão emotiva que contra-distingue o funcionamento e a realização de uma prospectiva curricular conexa ao exercício da autonomia da parte de cada escola individualmente. A intervenção humana resta de fato, o aspecto crucial de cada processo formativo, seja ele de caráter autônomo ou centralizado. As características chaves do modelo de desenvolvimento autônomo do currículo podem, de qualquer maneira, ser relembradas nos seguintes pontos: 1. Horizontalidade, ou seja, dispersão da autoridade em vários níveis do sistema; 2. Caráter preponderantemente seletivo dos processos de decisão; 3. Flexibilidade: maior capacidade de resposta das escolas locais para as mudanças dos desejos educativos da comunidade; 220 teoria.indb 220 28/9/2007 16:13:49 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio 4. Equilíbrio potencial entre liberdade e conformidade; liberdade de variar o ensino em razão das situações e da variação dos desejos formativos locais, mas também conformidade aos alvos formativos gerais, atribuídos ao currículo, em circunstâncias nacionais. A rica literatura de análise das experiências de SBCD apresentam sombras e luzes: no fim todas as vantagens enunciadas pelos seus, se reconduzem todos ao potencial de desenvolvimento da prospectiva e do modelo; todas as desvantagens vem reconduzidas à maior dificuldade de assegurar “trend” equilibrados de desenvolvimento da oferta formativa para grandes regiões ou para estados, seja por quanto se busca uma distribuição equilibrada dos recursos, seja por quanto se busca níveis homogêneos de qualidade de instrução. Seguramente, o modelo SBCD obtém um resultado significativo na comunidade escolar local, do momento em que obriga os seus atores para serem fortemente envolvidos e responsabilizados a respeito dos processos de decisão relativos à qualidade compreensiva do produto final que cada escola se demonstrará capaz de assegurar: alem disso, não por um breve período, mas, sobretudo no médio. Na aplicação do modelo (Harrison, 1981; Skilbeck, 1984; Prideaux, 1988, 1993; Caldwell, 1990; Bem-Peretzm 1995) se registra a favor: o abandono de cada critério “top-town” na aplicação do currículo da parte dos professores; um incremento cultural da autonomia; as escolas resultam capazes de se relacionar verdadeiramente aos desejos formativos das comunidades locais e de realizar análises das situações formativas com visões sistêmicas alargadas. Assim como as comunidades de professores se envolvem em formas originais de trabalho cooperativo de planejamento, na atuação e na avaliação do currículo, construído programas específicos de ensino; o senso de auto-motivação e de realização dos professores, cresce visivelmente gerando um clima acolhedor e fazendo da escola um cenário positivo para o aprendizado dos alunos; a comunidade escolar é mais estável nos seus elementos e reforça o senso de instituição a todos os níveis de participação da vida escolar. Neste, contexto, são registrados também desfavores ao modelo: continuas perdas de tempo para planejar, refletir e desenvolver o Unidade 5 teoria.indb 221 221 28/9/2007 16:13:49 Universidade do Sul de Santa Catarina currículo; perdas, de vez em quanto, preocupantes de qualidade no conhecimento, na profissionalidade e nos alvos formativos obtidos; perdas econômicas; vínculos impostos do exterior da escola (empregados, pais e políticos) que nem sempre podem ser resolvidos se não em um quadro mais geral de negociação; riscos a cada passo, de falta de efetiva liderança ou resistência sufocante e silenciosa às inovações. Aquilo que, todavia, resta da análise é a conscientização que: se o projeto e a execução do currículo vem ambos governados pela escola individualizada, os professores devem confrontar-se com ambos problemas. Mas isto requer uma reserva de recursos econômicos e profissionais e serviços de assistência técnica e metodológica dos quais nem sempre uma escola individualizada pode dispor. ocorre evitar ao longo do percurso de realização da autonomia, que numerosos professores declarem interessados na realização do currículo, mantendo-se confinados a ensinar, enquanto outros colegas “pensam, projetam, supervisionam” o desenvolvimento do currículo; ocorre evitar que bem precisos lobbies seja interna que externamente à escola, imponham modelos curriculares não coerentes com a sua vocação, obtendo assim de faze-la escorregar sobre níveis culturais ou formativos criticáveis ou por fim errôneos. Em cada caso a prospectiva curricular SBCD requer professores e operadores fortemente motivados, capazes de relacionamentos abertos e intensivos, culturalmente excelentes. A experiência australiana, e a israelense, são consideradas exemplares. Na Austrália, o projeto SBCD iniciado nos fins dos anos 70, foi interrompido em 1986, obtendo resultados parciais (Prideaux, 1993): significando que o projeto foi limitado a alguns contextos; expostos para ignorar os conflitos e processos de resolução do conflito colocado em ação, para obter o consenso e superficial, do momento em que a estrutura geral do currículo não se modificou se não superficialmente, especialmente em vista do desejo de responder aos problemas de seleção social existentes. Na prática, a tão conclamada experimento se reduziu 222 teoria.indb 222 28/9/2007 16:13:49 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio a experimentar exatamente as margens de liberação organizativa das escolas individuais, dos controles burocráticos das autoridades centrais; os exames com comissões externas, os programas e os currículos impostos pelo poder central. A experiência israelense, por outro lado, se coloca em oposição a australiana, em relação a este assunto. Neste caso, parece que o processo de autonomia das escolas locais tenha sido acompanhado da aplicação de uma original forma de currículo, em parte orientado pela valorização dos alvos formativos dos alunos (outcomes) em parte ao currículo por situações. O segredo estaria no fato que cada comunidade escolar tenha podido contar com a assistência técnica e metodológica de centros de pesquisas educativas e didáticas constituídos por grupos de professores que ensinam a mesma matéria nas mesmas séries e na mesma escola e se oferecem como reserva adicional de ensino aos administradores de outras escolas; ajudam os colegas de outras escolas na preparação dos materiais; desenvolvem atividades de formação em serviço, em colaboração com outras escolas ou em regime de consorcio entre escolas. e) O currículo como pesquisa sistemática Publicada em 1963 e traduzida para o italiano em 1975, a obra de referência para esta prospectiva é aquela de L. Stenhouse segundo o qual o currículo é sobretudo um plano de ação, e consequentemente a pesquisa relativa a um estudo sistemático da sua execução. Os autores de tal plano não podem ser outros que não os docentes, aos tais se requer, portanto, não somente aplicarem, mas sobretudo de pensarem o currículo, que intencionalmente estes decidem executá-lo. O currículo se projeta em nível de instituto e se realiza em classe. O docente de quem pensa Stenhouse, é em realidade o mesmo que, em 1995, o CERI do OCSE, chamará de professor de qualidade, e isto é um profissional dotado de profissionalidade própria, capaz de querer o bem aos seus alunos de forma rigorosa e essencial; aberto a formas de trabalho cooperativo com os seus colegas, disponível a assumir encargos não somente de trabalho em classe, mas também de todas as outras atividades do instituto que concorrem para tornar um ambiente formativo para os seus alunos, protagonista na análise da eficácia do Unidade 5 teoria.indb 223 L. Stenhouse, An Introduction to Curriculum Research and Development, Heinemann Educational Books, London 1963 (trad. p/ italiano como Dalla scuola del programma alla scuola del curriculo. Politica, Burocrazia e professionalità, Armando, Roma, 1975. 223 28/9/2007 16:13:49 Universidade do Sul de Santa Catarina currículo que realiza e, portanto, auto-motivado para atualizar-se continuamente, seja em âmbito das disciplinas, que em âmbito psico-pedagógico, para encontrar soluções aos problemas de aprendizado de seus alunos. Em suma, um docente é um pouco tutor e um pouco pesquisador sobre este campo. Por este motivo a avaliação de qualidade é a alma conjunta do currículo e da profissionalidade em exercício do docente. Ele obtém uma prospectiva dinâmica de contínuo melhoramento do currículo, um crescimento profissional e um clima social positivo do grupo docente, uma real e progressiva autonomia cultural dos institutos nos quais tais docentes operam. O problema é que um docente tal, para um currículo baseado em pesquisa é uma idéialimite para a realidade escolar efetiva, em qualquer lugar. Por outro lado, deve-se recordar, o contexto dentro do qual, nasce e se desenvolve a proposta de Stenhouse (1971). Para aprofundar os conhecimentos Em 1985, o Istituto della Enciclopédia Italiana (Roma) publicava na Biblioteca de atualização para o pessoal da escola um volume aos cuidado de R. Semeraro (com contribuições de P. Boscolo, F. Giannattasio, G. Longo, P. Polato, R. Titone, G. Zanetto) intitulado Dinamica della conoscenza e comunicazione interdisciplinare, no qual se dava conta e se conceitualizava um interessante itinerário trienal de atualização e de experimentação na escola média. Recorda-se nesta circunstância – e com referência específica à prospectiva do currículo como pesquisa – porque não diferentemente, nos parece que possa ser colocada aquela obra. Provavelmente a orientação explicitamente voltada para a formação em serviço dos docentes, unido aos canais institucionais obrigatórios que o volume tenha seguido para a sua difusão, não tenha concedido que o volume entrasse em circulação normal, como por outro lado, merecia, no debate curricular daqueles anos. Tematizando, de fato em modo focal e convergente, o relacionamento entre currículo, criatividade e ensino, aquele volume fazia de fato cumprir um salto conceitual notável para pesquisa sobre o currículo daqueles anos na Itália. segue 224 teoria.indb 224 28/9/2007 16:13:49 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio O ponto central para um ensino renovado vem colhido de fato, no procedimento analógico que cada aluno cumpre através da pesquisa de dados e da observação dos eventos e dos fenômenos presentes no seu ambiente. A intuição de correspondências e similaridades dá lugar a hipóteses de interpretação, estas induzem a perceber as disciplinas e as linguagens como contextos de soluções de conhecimento e de praticas comunicativas, mas também em dar-se razão das regras e das estruturas conectivas que cada disciplina si dá no tempo. Uma vez descobertas e aprendidas, se determina um fecundo processo de intercambio, que não concerne somente os conhecimentos, mas também as diversas formas de vida entre as quais se instaura uma comunicação disciplinar, porque disciplinada também do tramite corpóreo que veicula juntamente senso e significado. A exploração contínua das correspondências entre operações didáticas e capacidades assim desenvolvidas pelo aluno, permite ao professor aquela compreensão profunda da dinâmica dos processos formativos que, enquanto tais, o motiva e o estimula para uma contínua reprogramação ou re-projeto do currículo e dos programas. O salto do qual se dizia, é haver conjugado o princípio de complexidade com uma análise fim, do espaço real de transformação dos aprendizados potenciais em competência. E de haver colhido tal espaço na criatividade e no movimento de pensamento na produção analógica. Poderíamos defini-lo como o movimento em direção ao currículo integrado, que especialmente nos USA, ostenta uma história rica de pesquisas e de experimentações. O famoso The Eight Year Study promovido pela Progressive Education Association entre os anos de 1934 e 1942, das numerosas experimentações realizadas durante os anos 60 e 70, vem geralmente recordadas os seguintes exemplos de currículo integrado: o The Humanities Project dirigido por L. Stenhouse e patrocinado pelo Schools Council e da Nuffield Foundation; assim como “Man: a course of study” (MACOS) que promovia um currículo integrado de ciências sociais na escola elementar e que foi dirigido por J. Bruner. Mais recentemente, não deve ser esquecido, o projeto colocado em atividades pelo Social Science Education Consortium Boulder do Colorado (Hickmann, 1987) e o Project 2061 iniciado em 1980 em numerosos estados dos USA, para produzirem um currículo integrado de ciência Unidade 5 teoria.indb 225 225 28/9/2007 16:13:49 Universidade do Sul de Santa Catarina com o suporte da Americam Association for the Advancement of Science (1989). O recente interesse para a formação de inteligências múltiplas (Gardner, 1986) tem suscitado novos esforços para realizar currículos integrados com largo suporte da Coalition for Essential Schools (Lear 1993) e com a transferência da atenção em particular, para a formação dos talentos segundo a classificação original fornecida por Gardner. A despeito, todavia, dos esforços profusos e do vivaz debate gerado, as resenhas críticas mais recentes sobre o currículo integrado resultam mais prudentes. Indubitávelmente o modelo consente em um aprendizado baseado no desenvolvimento de estratégias múltiplas de atenção, de conceitualização e de resolução dos problemas nos alunos (Willians and Reynolds, 1993; Gallagher, 1993). Todavia, o tratamento dos conhecimentos e das experiências de aprendizado em um currículo integrado obriga de fato, os professores a “terem em conjunto” para cada uma das áreas de conteúdo, três condições de significatividade que são essenciais para um real aprendizado da parte dos estudantes: isto é o “significado” do conteúdo; a “coerência” daquele conteúdo tratado interdisciplinarmente, seja em termos lógicos que em termos de habilidade necessária para aprende-lo; a “relevância” para o estudante. Como argumenta, Martin-Kniep (1995) verificando numerosos projetos de integração do currículo do estado de New York, é muito difícil para os professores conservar em equilíbrio as três características acima citadas. Em suma, a prática do currículo integrado, mesmo inspirando-se em um modelo dinâmico de pesquisa do currículo, requer muito, muito tempo dos professores. Como anotam, Jenkins e Tanner (1992), ocorreria que os professores que realizam um currículo integrado, deveriam, no curso de seu trabalho diário, dedicarem um período fi xo de tempo para refletirem sobre o currículo aplicado e adotarem especificas ações de implementação. Os problemas, então ligados à real aplicação de um currículo integrado, especialmente sobre vasta escala, são imensos. Certamente os ganhos para os estudantes em maturarem uma visão integrada da cultura e da vida são consideráveis. 226 teoria.indb 226 28/9/2007 16:13:49 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Síntese A síntese desta unidade deve ser elaborada por você. Anote os aspectos que você considera centrais em cada unidade de estudo. Além disso, aproveite para fazer um contraponto com a teorização da educação brasileira a respeito das políticas curriculares e as abordagem que se desenvolveram ao logo da história da educação, caso queira aprofundar seus conhecimentos. Unidade 5 teoria.indb 227 227 28/9/2007 16:13:50 Universidade do Sul de Santa Catarina Atividades de auto-avaliação 1. Segundo uma uma concepção que se pode dizer já mais global, diga, quais são os elementos do currículo e porque razão ele não pode ser confundido com programa de ensino? 2. Quais são as três características da educação que são essenciais no futuro para consolidar a força e a estabilidade da sociedade e como e em que condições se faz, e como a escola se envolve e afina a esta preocupação. 228 teoria.indb 228 28/9/2007 16:13:50 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio 3. Em que aspectos consiste o currículo por mapa conceitual. Destaque a eficácia e as limitações. 4. Por que razões o “princípio da complexidade” na teoria prospectiva curricular, seja por fundamentos integradores ou por situações, é o único modo para superar a contradição que tem acompanhado a pesquisa sobre o currículo dos últimos vinte anos. Justifique. Unidade 5 teoria.indb 229 229 28/9/2007 16:13:50 Universidade do Sul de Santa Catarina Saiba Mais *Fonte: In: PANDINI, C.M.C. Didática I. Unisul:Palhoça, 2006. Para compreender um pouco sobre como os currículos se constroem nas instituições, é interessante assistir ao filme indicado. Como o professor constrói sua prática, com base em quê? O que entra jogo nas instituições escolares quando temos múltiplas visões e interesses? Qual o papel da família no processo educacional? Vale a pena ver. Título: O Clube do Imperador Tempo de Duração: 109 minutos Ano de Lançamento (EUA): 2002 Direção: Michael Hoffman Música: James Newton Howard Sinopse: Um professor apaixonado por seu trabalho tem sua vida modificada após conhecer um novo aluno, com quem inicialmente trava uma guerra de egos, mas acaba desenvolvendo uma grande amizade. William Hundert (Kevin Kline) é um professor da St. Benedict’s, uma escola preparatória para rapazes muito exclusiva que recebe como alunos a nata da sociedade americana. Lá, Hundert dá lições de moral para serem aprendidas através do estudo de filósofos gregos e romanos. Hundert está apaixonado por falar para os seus alunos que “o caráter de um homem é o seu destino” e se esforça para impressioná-los sobre a importância de uma atitude correta. Repentinamente, algo perturba essa rotina com a chegada de Sedgewick Bell (Emile Hirsch), o filho de um influente senador. Sedgewick entra em choque com as posições de Hundert, que questiona a importância daquilo que é ensinado. 230 teoria.indb 230 28/9/2007 16:13:50 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Mas, apesar desta rebeldia, Hundert considera Sedgewick bem inteligente e acha que pode colocá-lo no caminho certo, chegando mesmo a inscrevê-lo na final do “Senhor Julio César”, um concurso sobre a Roma Antiga. Mas Sedgewick trai a confiança do professor arrumando um jeito de trapacear. Livros/textos MOURA, M.O, (2001). A atividade de ensino como ação formadora. In: CASTRO, A.D. de, CARVALHO, A. M. P. de (orgs.). Ensinar a ensinar: didática para a escola fundamental e média. São Paulo: Pioneira Thompson Learning, p. 143-162. MOREIRA, Antonio Flávio; SILVA, Tomaz Tadeu da.(orgs.). Currículo, Cultura e Sociedade. São Paulo: Cortez, 2005. LIBÂNEO, José Carlos. Sistema de ensino, escola, sala de aula: onde se produz a qualidade das aprendizagens? In: LOPES, C.Abreu MACEDO, Elizabeth (orgs). Políticas de Currículo em múltiplos contextos. São Paulo: Cortez, 2006. LEITE, C.O lugar da escola e do currículo na construção de uma educação intercultural. In: CANEN, A.; MOREIRA, A. F. Ênfases e omissões no currículo. Campinas: Papirus, 2001. p. 45-64. SANTOMÉ, JURGO. O Curriculo Oculto. Porto: Porto Editora, 1995. SILVA, Tomaz T. da (Org.). Identidade e Diferença. Petrópolis: Vozes, 2002. ________. da. Documentos de Identidade: Uma introdução à teoria do Currículo, 2a. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. Sites NOGUEIRA, Cláudio Marques Martins; NOGUEIRA, Maria Alice. A sociologia da educação de Pierre Bourdieu: limites e contribuições. Educ. Soc., Campinas, v. 23, n. 78, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0101-> Unidade 5 teoria.indb 231 231 28/9/2007 16:13:50 Universidade do Sul de Santa Catarina VEIGA-NETO, Alfredo. Estudos de currículo: novidade no front. Educ. Soc. , Campinas, v. 25, n. 89, 2004 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010173302004000400015&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 Sep. 2007. Veja os autores (e que podems er consultados) que abordam as questões do currículo tais como: cultura, identidade, práticas pedagógicas, formação, gênero, saberes, poder, (pós) modernidade, globalização, subjetivação, formação etc. Eles são os mais citados em trabalhos sobre currículo nos últimos anos: Michael Apple, Basil Bernstein, Deborah Britzman, Cleo Cherryholmes, Jean Claude Forquin, Gimeno Sacristán, Henry Giroux, Ivor Goodson, Peter McLaren, António Nóvoa, Thomas Popkewitz, Jurjo Torres Santomé, Valerie Walkerdine. Dentre os nacionais: Nilda Alves, Sandra Corazza, Paulo Freire, Alice Lopes, Antonio Flavio Moreira, Lucíola Santos, Tomaz Tadeu da Silva, Alfredo Veiga- Neto. Theodor Adorno, Jean Baudrillard, Pierre Bourdieu, Michel Foucault, Gilles Deleuze, Michel de Certeau, Félix Guatarri, Stuart Hall, Jurgen Habermas, Jorge Larrosa, Edgar Morin, Nikolas Rose, Boaventura de Sousa Santos, Raymond Williams. (Fonte: Cadernos de Pesquisa, n. 117, novembro/ 2002). 232 teoria.indb 232 28/9/2007 16:13:50 UNIDADE 6 A reforma do currículo e a formação de talentos: eixos da conceitualização dos currículos formativos 6 Objetivos de aprendizagem Identificar os modelos de currículo a partir do modelo formativo. Identificar a organização do ciurrículo a partir da teoria da cultura e educação. Analisar as faces da organização do ensino, percebendo o currículo nas suas dimensões políticas, culturais e dos sujeitos, processos e resultados. Contextualizar a escola, a didática e os professores na perspectiva da organização curricular. Seções de estudo Seção 1 Um currículo por bases de proficiências ou competências: um programa de pesquisa Seção 2 Modelos de perfil formativo Seção 3 Organização do ensino e as teorias da cultura Seção 4 Organização do ensino e as teorias da educação teoria.indb 233 28/9/2007 16:13:50 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Para iniciar nosso estudo apontamos algumas revisões em curso dos ordenamentos e dos currículos na escola. Estas não podem prescindir de uma substancial mudança de critérios que inspiram a organização didática e o trabalho escolar. Trata-se em realidade, de tornar difusa uma mudança que já se tornou viável em numerosas realidades, mas que não se tornou ainda massa crítica. Ela é revelável ou evidenciada, todavia, nos seguintes vetores de mudanças: a superação do modelo linear e cumulativo que preside a organização dos saberes disciplinares. Tal modelo, que inspira ainda por si a formação universitária dos laureados ou formados nos cursos superiores, na realidade vem sempre mais explicitamente colocados em discussão tal modo com os quais envolvem os ordenamentos escolásticos e a mesma pesquisa sobre o currículo formativo da escola. Aqui cada vez mais esta se desenvolvendo a necessidade de um ensinamento feito com nós e de relacionamentos, em vez de seqüências lineares. a superação de uma visão separatista, individualista e reducionista da transmissão do saber. É agora comum sentir a idéia de que os processos de instrução estão incluídos e remodelados no interior de um processo de cooperação intelectual que coincide com os processos de formação ao longo do curso da vida. a necessidade e a urgência de reorganizar em senso modular a implantação conceitual e didático do currículo escolar, de forma a realizar neste um ponto mediano entre acumulação dos conhecimentos e os estilos de personalização dos conhecimentos e das experiências que fazem a qualidade dos aprendizados e da instrução. Este por sua vez torna necessário repensar o percurso, através do qual se promovem os mesmos padrões do especifico disciplinar, não mais somente sob o perfil dos conhecimentos de base e de sua re-elaboração, mas sobretudo a respeito de um seu possível emprego em contextos de uso diferenciais e multilaterais; 234 teoria.indb 234 28/9/2007 16:13:51 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio a necessidade e a urgência de avizinhar visivelmente a escola do trabalho: portanto, não mais uma didática por competências e por objetivos; mas uma didática por bases de proficiência, utilizadas em vista da ocupação e não de setores e endereços muito específicos, fundados sobre uma integração pró-ativa do fazer e do ser do aluno. - Vamos acompanhar o conteúdo desta unidade de estudo. Sua compreensão crítica e relação com a eduacção brasileira será fundamental. SEÇÃO 1 - Um currículo por bases de proficiências ou competências: um programa de pesquisa O trabalho de pesquisa didática que desde muitos anos é conduzido junto à cátedra de Pedagogia e junto ao CIRED (Centro Inter-Faculdades de Pesquisa Educativa e Didática) da Universidade de Cà Foscari, parte destas premissas para desenvolver novos modelos de análise do trabalho didático e um novo modelo de planejamento educativo e didático que nós podemos definir como PSP (Programmazione per soglie di padronanza - Programação por bases de proficiência). Após Bruner e Piaget: é este, no entanto, o horizonte de senso a qual os recentes avanços da pesquisa epistemológica por um lado, e da ciência cognitiva por outro nos obriga. A partir da fecunda lição vigotskiana, a complexidade global do viver e do trabalhar nos obriga a substituir o paradigma piagetiano (lógica = psicologia) para um paradigma proximal e relacional (semântica = cultura) na análise e na explicação dos processos de aprendizado. Conseqüentemente, o modelo analógico e simbólico, proposto por J. Bruner como “modelo escolar” se revela insuficiente para explicar o modo no qual, efetivamente, a educação pode qualificar o aprendizado em antecipar o desenvolvimento. O limite objetivo de tal impostação reside no fato de que ela, no aumento da complexidade do sistema cultural e disciplinar de referência, rende ao aluno uma complexidade e ambigüidade, forma de compreensão científica e cultural. Unidade 6 teoria.indb 235 235 28/9/2007 16:13:51 Universidade do Sul de Santa Catarina Quando se fala, portanto, em análise e discussão de currículo não significa dizer que existem modos eficientes e infalíveis para a realização de práticas que consigam fazer com que os alunos aprendam os conhecimentos ou os conteúdos selecionados para um determinado currículo escolar, entretanto, deve-se considerar seriamente as intrincadas conexões entre o que se ensina nas escolas, nas respectivas salas de aula, e as relações que se estabelecem dentro e fora dela para atuar sobre os elementos essenciais do ensino e da aprendizagem na prática escolar: sujeitos, processos e resultados. Quando se fala, portanto, em análise e discussão de currículo não significa dizer que existem modos eficientes e infalíveis para a realização de práticas que consigam fazer com que os alunos aprendam os conhecimentos ou os conteúdos selecionados para um determinado currículo escolar, entretanto, deve-se considerar seriamente as intrincadas conexões entre o que se ensina nas escolas, nas respectivas salas de aula, e as relações que se estabelecem dentro e fora dela para atuar sobre os elementos essenciais do ensino e da aprendizagem na prática escolar: sujeitos, processos e resultados. (PANDINI, 20067 p. 23). Note que está sempre mais evidente que o relacionamento entre conteúdos de conhecimento e processos de aprendizado não é mais explicável somente em termos de seriedade analógica, mas também, (e talvez sobretudo) de homologia entre os primeiros e os segundos. Sinteticamente, se a escola faz perceber ao aluno que, estudando, ele não só aprende mas, sobretudo regenera e reinterpreta os saberes do mundo que, graças a esta, ele encontra e avalia; e que isto produz re-percorrendo não somente a sua história ou a sua gramática mas também, o senso e o projeto com os quais os saberes continuam a candidatar-se como essenciais ao futuro do mundo, então é por este caminho que os professores e alunos recompõem por bases diferenciais e divergentes a matriz unitária dos saberes, das experiências e das formas de vida que estudam. E estes últimos tornam-se tantas e infinitas bases de conhecimento entre as quais aprendem a navegar, controlando a ansiedade do desconhecido e cooperando em uma obra geral 236 teoria.indb 236 28/9/2007 16:13:51 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio de economia do conhecimento e da descoberta. Torna-se assim, o ensino significativo: re-percorrer saberes e aprendizados difundindo ativamente operante a recíproca homologia, numa relação entre a teoria e a prática. Perceba que “ As relações entre teorias pedagógicas e teorias do conhecimento dizem respeito às relações entre saber e conhecimento e, de acordo com Charlot (2002), a relação com o saber deve ser entendida como uma relação epistêmica, pois o aprender consiste em uma atividade de se apropriar de um saber que ainda não se possui, saber este que tem sua existência em objetos, pessoas, em si mesmo, locais etc. Significa que aprender é ter mais saber, e para ter mais saber passamos por um processo de construção do conhecimento que se dá pela atividade em relação com sujeitos e objetos mediados pela cultura, ou seja, com o mundo. Observe que para o sujeito – aluno em formação – o objetivo de perseguir um produto da aprendizagem favorável, ou seja, um saber [designado qualificante], se dá em função de conquistar um determinado espaço, alcançar um certo status, uma posição de destaque, ou, dito de outra forma, criar ‘uma interdependência e tornar-se alguém’. (Idem, p.72). A forma como cada professor atua nesse processo de organização das situações de ensino e aprendizagem orienta-se com base nas disposições de um dado currículo, às vezes oculto, que é formado, também, de saberes e experiências docentes e de outrem”. (PANDINI, 2007, p.28). É possível, em princípio, superar as velhas divisões, os fictícios e as “enjambradas pontezinhas” que no tempo são produzidas para manter de pé um edifício engessado e auto-referencial incapaz de comunicar-se fora da escola e das universidades. Certamente, torna-se muito difícil realizar tal aspiração em linha de fato. Unidade 6 teoria.indb 237 237 28/9/2007 16:13:51 Universidade do Sul de Santa Catarina E, todavia um dos pontos chaves de atuação da pesquisa sobre o currículo está constituída sobre a declinação detalhada e operativa do valor formativo dos saberes, que assume como ponto de alavanca, para tornar reciprocamente permeável e reorganizáveis, conteúdos de conhecimento, lógicas disciplinares dos diversos saberes e processos de aprendizado. Cabe ressaltar, no entanto que nenhuma disciplina pode ser ensinada, abstraindo dos métodos de trabalho e das estratégias que sinalizam a sua história interna e externa. E como os métodos de trabalho científicos não são independentes das estratégias colocadas para assegurar o necessário reconhecimento social, nenhuma disciplina pode ser ensinada se não forem chamados a participar do seu projeto interno e externo todos aqueles que a percorrem com a mente e com o coração. Em suma, não há mais tempo para as mediocridades disciplinares e para as abstrações formalísticas. Ocorre abraçar fortemente o arado da mente, e saber que o ensino é, conjuntamente e rigorosamente, formação da mente e do caráter dos alunos. Estamos, assim partindo de uma série de perguntas, as quais pretendemos fornecer respostas de bom senso, seja como for, formulando-as “do ponto de vista dos professores”, e isto é, de forma tal para poder atender as preocupações dos docentes, em mérito ao antigo problema de como assegurar ou melhor, elevar a eficácia da própria ação didática na escola. De acordo, com Pandini (2007), é interessante perceber que “existem múltiplas possibilidades de organização dos currículos e programas escolares, que se assim forem analisados rompem com a lógica tradicional e possibilitam aos gestores e professores desenvolverem marcos interpretativos condizentes com as diversas realidades escolares. E, neste sentido, a Didática, que é teoria e prática do processo de ensino, mantendo a unidade entre objetivos, conteúdos, métodos e formas organizativas do ensino, oferece os princípios para as conexões entre o ensino e a aprendizagem para desenvolver condições específicas para cada situação que 238 teoria.indb 238 28/9/2007 16:13:51 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio se cria nos diferentes modelos pedagógicos. Os métodos de ensino constituem, assim, uma categoria da Didática, tomando uma condição ou característica própria em relação a outros tipos de métodos epistemológicos e científicos, correspondentes ao processo de conhecimento e relativos às ciências e suas pesquisas, respectivamente”. (PANDINI, 2007, p. 29). As questões que propomos como articulação não somente lógica, mas, também formativa são as seguintes: 1. Qual é este sistema de conhecimentos e de experiências entre as quais e em virtude das quais nos reconhecemos e amadurecemos os nossos processos de aprendizado? Ou seja, o que isto é na mente do falante/homem? 2. De que maneira este sistema se forma na sua mente? 3. De que maneira ele utiliza este sistema para desenvolvê-lo e como aprende a desenvolvê-lo? 4. Como interagem entre eles os modelos hábeis de ensino e os mecanismos mentais de aprendizado que alimentam este sistema de conhecimentos e de experiências e consentem não somente o uso, mas também a sua personalização original? Temos conseguido resolver o problema assumindo a seguinte hipótese: os critérios de previsão de eficácia do ensino coincidem com os critérios que explicam o constituir-se de bases de padrões ou proficiência nos alunos. Assumimos que os critérios que presidem a constituição de um perfil formativo integrado no aluno, coincide com os processos que presidem nele ao desenvolvimento dos seus sistemas de conhecimento e de experiência. O que equivale dizer que, residem no desenvolvimento integrado e personalizado os seus talentos e a formação do seu caráter. Corolário da hipótese é a tese pela qual uma vez identificados os critérios para determinar as configurações significativas do perfil formativo integrado dos alunos empenhados em determinados percursos de instrução e de formação, torna-se possível: Unidade 6 teoria.indb 239 O Filme Clube do Imperador, indicado na Unidade 5 deste livro ilustra um pouco o que significaria uma instrução considerando a formação de talentos e caráter. Vale a pena ver. 239 28/9/2007 16:13:51 Universidade do Sul de Santa Catarina Seja explicar em que modo se compactam e se deslocam, em uma palavra se relacionam reciprocamente conjuntos homogêneos de habilidade e de competência; Seja ordenar os saberes, e os conhecimentos e as experiências que contribuem efetivamente para assegurar processos significativos de desenvolvimento do perfil formativo do aluno; Seja modular a oferta de percursos formativos eficazes que administrem e facilitem didaticamente a formação de sistemas de competências. Se assume que um perfil formativo integrado é dado se e somente quando o aluno demonstra conseguir desenvolver os seus aprendizados de forma significativa, isto é, deslocar-lhe, em termos por ele considerado como significativos, dentre o quadro dos seguintes protocolos de referência: O conhecimento é representado mentalmente em várias formas que compreendem as proposições, as produções, as imagens. Uma proposição é uma unidade informativa de base que corresponde, aproximadamente, a uma idéia e implica um preciso mapa cognitivo de referência; As proposições são ligadas entre elas na memória em redes proposicionais; as proposições que tem em comum o mesmo argumento, são associadas mais estreitamente com relação a aquelas que não o tem; Distinguimos as representações do conhecimento, em conhecimento declarativo, conhecimento dos procedimentos, conhecimento “imaginativo”. O conhecimento “declarativo” é saber que alguma coisa é pertinente, enquanto o conhecimento dos procedimentos é saber como fazer. O conhecimento imaginativo é saber para onde e porque fazer. O conhecimento dos procedimentos pode ser ativado mais velozmente e é mais reativa ao ambiente de quando não o seja o conhecimento declarativo. O conhecimento imaginativo é o menos veloz dos três, mas é o mais fecundo porque consente em orientar o deslocamento e ativar-se pelo conhecimento declarativo e do conhecimento dos procedimentos. 240 teoria.indb 240 28/9/2007 16:13:52 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio As produções representam o conhecimento processual. Eles são regras de condições-ações que executam ações específicas na presença de condições ou de regras ou de entregas específicas. As produções se configuram como sistemas de produção, a cada vez que a ação tomada em consideração por uma produção, cria as condições para outra produção. As imagens representam as informações em modo contínuo, em vez de em modo discreto. São usadas na memória de trabalho por contextualidade, entregas e tarefas específicas para os quais se requer o exercício de conhecimento declarativo ou seja, o exercício de conhecimentos processuais. Mas as imagens representam também as coordenadas de ordenação da memória de longo termo, e se consolidam em paradigmas de organização dos conhecimentos seja declarativos que processuais, de volta em volta, ativáveis pela memória de trabalho. Elas representam os códigos. Os eixos, portanto, ao longo dos quais se desenvolve de fato, e independentemente da escola, o perfil formativo de cada sujeito em aprendizado, são constituídos das formas de conhecimento e de experiência que ele deve aprender a organizar para adquirir competência significativa. Assumimos que as principais competências entre as quais reconduzir tais formas de conhecimento e de experiência sejam de fato, de tipo declarativo, de tipo processual e de tipo imaginativo-heurístico. O conhecimento declarativo consistirá no saber que qualquer coisa é pertinente; o conhecimento processual no saber como produzir regras com as quais inventar novas regras, o conhecimento imaginativo-heurístico no saber para onde orientar e como deslocar os próprios aprendizados. Vamos conhecer um pouco melhor essas preposições por meio de suas caracterizações? Unidade 6 teoria.indb 241 241 28/9/2007 16:13:52 Universidade do Sul de Santa Catarina O conhecimento declarativo tem conteúdos e alvos variados: é constituído por classificações de fatos, por generalização de códigos, de teorias, dos acontecimentos e dos comportamentos pessoais armazenados na memória de longo termo. Pode correlacionar áreas disparates de conhecimento assumindo um importante papel no pensamento científico e sistemático. A sua ativação é lenta e consciente e tem um caráter relativamente estático. A capacidade de verificar ou de rebuscar informações é o seu índice de medida; a sua unidade informativa de base é a proposição: mais proposições são organizadas entre elas na memória em redes proposicionais. O conhecimento processual pode desenvolver-se e se exercitar através do reconhecimento de modelos e pela construção de seqüências de operações simbólicas. Este funciona em um modo mais veloz e automático; tem um caráter mais dinâmico com relação ao conhecimento declarativo; por outro lado, está ligado estreitamente ao ambiente seja externo, que interno, na mente. O conhecimento processual é usado para operar sobre as informações no sentido de transformá-las; é representada pelas produções, que são regras de condições-ações (“se... então”) as quais executam ações específicas em condições especificas. Mais produções podem unir-se em sistemas de produção. O conhecimento imaginativo-heurístico permite representar informações constantes em forma analógica. Ele tem um papel importante no pensamento das relações abstratas e permite ao sujeito projetar-se no futuro e em ver as suas ações. O conhecimento imaginativo-heurístico é lento e favorece a organização e a ativação dos conhecimentos declarativos e daqueles processuais; ele é representado por imagens. 242 teoria.indb 242 28/9/2007 16:13:52 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Com relação à distinção entre os tipos de conhecimento e o seu relacionamento no processo de aprendizado estão presentes alguns elementos: Muitos dos conhecimentos processuais, em particular as seqüências de ações, são inicialmente apreendidas como conhecimentos declarativos; partindo desta, se cria uma representação proporcional do procedimento, então, através da prática e do feedback, a prestação se torna mais rápida, o seu desenvolvimento se automatiza e se passa a uma série de produções; o conhecimento declarativo e o conhecimento processual interagem no aprendizado: durante o aprendizado os conhecimentos de tipo declarativo facilitam a aquisição de conhecimento processual e vice-versa; no desenvolvimento de prestações o conhecimento declarativo fornece os dados para executar os procedimentos necessários para a execução da tarefa; a exata natureza destas interações não foi até aqui esclarecida; as principais diferenças entre os conhecimentos declarativos e aqueles processuais relembram a sua reatividade ao contexto e o tipo de prestação das quais são a base. Um perfil formativo pode, portanto, ser considerado como um espaço topológico de construção de si mesmo e de formação dos talentos que pode ser representado como deslocado e ritmado pelos seguintes eixos: No espaço contido entre os três eixos se deslocam os conteúdos de conhecimento e de experiência com as quais se imbricam e sobre as quais se exercitam os aprendizados; ele é o volume bioUnidade 6 teoria.indb 243 243 28/9/2007 16:13:52 Universidade do Sul de Santa Catarina cultural e multi-alfabeto no interior do qual, em um ambiente formativo, o aluno deveria ser colocado em grau de mover-se conscientemente até a alcançar o máximo grau possível de competência. Em termos didáticos é obvio, que no interior deste modelo deve ser possível descrever as relações que ligam as competências atribuídas às diversas formas de representação do conhecimento, as quais por sua vez, guiam o constitui-se das competências e a formação do caráter do sujeito. Indicamos algumas como exemplo: Os espaços de competência e os ativadores de habilidades. CONHECIMENTOS PROCESSUAIS - reconhecimento de modelos Classificação Discriminação Modelagem Apresentação associada de exemplos e de contraexemplos. Generalização - seqüência de ações Proceduralização Corroboração dos pré-requisitos Inferências Composição /regras de representação/substituição do problema - problem solving Restringir a pesquisa das soluções: análise meio/fim Resolver progressivamente Alargar a pesquisa das soluções segue 244 teoria.indb 244 28/9/2007 16:13:52 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Raciocínio por analogia Transferência dos conhecimentos Controle e avaliação CONHECIMENTOS DECLARATIVOS. OBSERVAR CLASSIFICAR Decodifica – Confronto – Re-codifica Compreensão literal – Acesso lexical Compreensão inferêncial – Integração Síntese CONTROLE DA COMPREENÇÃO Classificação com base em critérios Relativa operação inversa Classificação de um conjunto individual Classificação por dois critérios e operação inversa Classificação com intersecção Classificação com identificação do critério Classificação com identificação dos motivos da exclusão de um elemento do conjunto ou de um erro. PLANIFICAR Organizar Tornar coeso Coesão referencial Coesão conjuntiva Coesão lexical Frasing segue Unidade 6 teoria.indb 245 245 28/9/2007 16:13:52 Universidade do Sul de Santa Catarina Traduzir Rever CALCULO Calculo exato Calculo eficiente *Organizar CONHECIMENTOS IMAGINATIVOS RELAÇÕES Relações de univocidade (de um elemento parte uma, e uma só relação); Relações de equivalência, determinando partições; Relações reflexivas Relações de ordem Aqui o autor se refere à Itália. Revendo os esquemas apresentados, parece evidente como o ensino tradicional da escola moderna seja caracterizado pela predominância de uma oferta de competências declarativas. Nesta perspectiva, o conhecimento, a cultura e ciência – segundo uma lógica generalista ainda dominante na escola de base e nos Liceus do nosso país – são considerados códigos formados por estrutura de conhecimento e por ação que são ensinados, aprendidos, memorizados (em modo ativo e passivo) e aplicados. Portanto, o perfil formativo do aluno concluinte de um tipo de ensino deste gênero resultará “desbalanceado” com relação aos conhecimentos declarativos. A esta concessão se contrapõe uma lógica pragmática da ciência e do seu ensino. Segundo os seus assuntos, a ciência é uma linguagem reduzível a estruturas de conhecimento e pela a ação, e o seu ensino é orientado para criar “hábitos experimentais e técnicos”, em suma, conhecimentos processuais mediante os quais descobrir regras de invenção ou de aplicação com as quais inventar novas regras. Um ensino deste tipo produz um perfil 246 teoria.indb 246 28/9/2007 16:13:52 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio formativo fortemente desiquilibrado sobre uma representação dos procedimentos da ciência, da técnica e da cultura habitualmente acompanhado de uma mais ou menos vasta pobreza de contextualização genealógica dos fatos, dos princípios e dos mesmos procedimentos. Consegue-se que a maior responsabilidade desta escola é de haver consentido – na sua própria organização da oferta formativa – em persistir na separação entre duas culturas; com efeito, de bloquear, inibir, desviar ou reduzir o potencial de desenvolvimento dos talentos de cada um dos indivíduos que tenham sido confiados aos seus cuidados. É de fato a experiência geral que cada um, hoje, desenvolve seu perfil formativo, primeiramente e independente da escola, no modo de correlacionar continuamente conhecimento de tipo declarativo com experiência de tipo processual e imaginativo. O faz adotando perspectivas proximais, e ou seja, combinando e re-deslocando continuamente os seus modelos mentais, os seus esquemas e os seus mapas cognitivos em modo não sistemático, se bem que recursivo e integrado. Não basta assegurar-lhe competência: as suas experiências declarativas e aquelas processuais, ao fim resultarão estéreis e marcarão a sua seleção social, caso não gerem modelos gerais de identificação de si, e de competência dos conhecimentos e das experiências; imagens mentais daqueles modelos que os consentem em direcionar e de orientar o próprio projeto de vida. É aqui que se torna indispensável a formação e a escola. Sinteticamente, à escola não se pede para instruir transmitindo conhecimento, mas para formar; não para anotar, mas para interceptar de forma proximal com a qual cada sujeito desenvolve os seus talentos, facilitando e guiando a transformação de seu perfil formativo de “natural” em “expert”. Unidade 6 teoria.indb 247 247 28/9/2007 16:13:52 Universidade do Sul de Santa Catarina Para aprofundar conhecimentos: Segundo Bourdieu, citado por Nogueira (2002), “a cultura consagrada e transmitida pela escola não seria objetivamente superior a nenhuma outra. O valor que lhe é concedido seria arbitrário, não estaria fundamentado em nenhuma verdade objetiva, inquestionável. Apesar de arbitrária, a cultura escolar seria socialmente reconhecida como a cultura legítima, como a única universalmente válida”. Nessa perspectiva, Bourdieu compreende a relação de comunicação pedagógica (o ensino) como uma relação formalmente igualitária, que reproduz e legitima, no entanto, desigualdades anteriores. O argumento do autor é o de que a comunicação pedagógica, assim como qualquer comunicação cultural, exige, para a sua plena compreensão e aproveitamento, que os receptores dominem o código utilizado na produção dessa comunicação. Dito de outra forma, a rentabilidade de uma relação de comunicação pedagógica, ou seja, o grau em que ela é compreendida e assimilada pelos alunos, dependeria do grau em que os alunos dominam o código necessário à decifração dessa relação estabelecida. Desse modo, o ensino deve ser coerente com o objetivo da escolarização: construção de uma cultura que atenda expectativas da educação e do status perseguido, com vimos anteriormente. Perceba que Bourdieu defende a idéia de currículo modernizado pela introdução de novos conhecimentos e habilidades, necessários à vida contemporânea, trazidos pelo desenvolvimento científico e tecnológico e pelas inovações no campo pedagógico, focando preferencialmente em situações práticas, problemas do cotidiano envolvendo as experiências dos alunos e seus interesses. Nesse contexto, pode-se explorar os aspectos do conhecimento sistematizado para superar os mecanismos de exclusão escolar existentes no interior da escola – é valorizada nesta abordagem, a experiência dos alunos e professores, suas vivências e inserção cultural. (BOURDIEU apud NOGUEIRA & NOGUEIRA, 2002). No trabalho, “Princípios para a reflexão sobre currículo”, Pierre Bourdieu propõe sete pontos que levam em conta as inovações na sociedade e no interior da escola. segue 248 teoria.indb 248 28/9/2007 16:13:53 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio a) Os conteúdos escolares devem ser constantemente revistos. b) A educação deve dar prioridade para as áreas que desenvolvem o pensamento. c) Os currículos devem ser flexíveis, mas apresentar conexão vertical e horizontal entre os conteúdos. d) Pelo fato de o currículo ser compulsório, sempre deve ser considerada a possibilidade de problematização dos seus conteúdos. e) O ensino deve procurar melhorar a eficácia do processo de docência verificando os métodos de ensino constantemente. f) A prática curricular deve buscar integrar o trabalho dos professores de diferentes disciplinas, superando divisões existentes entre elas, já superadas pela evolução das ciências. g) Os currículos escolares devem conciliar o universalismo inerente ao pensamento científico, com o relativismo ensinado através das ciências históricas, refletindo a pluralidade de estilos de vida e de tradições culturais. (SANTOS, 2001, p. 52) (grifos nossos). Se estes objetivos pretendem a diminuição das diferenças e situam os alunos como agentes de transformação de nossa realidade social, então é preciso respeitar os educandos e suas singularidades e criar mecanismos para que os professores incorporem as metodologias adequadas para desenvolverem suas práticas. É urgente que esses mecanismos sejam criados nos espaços escolares locais em que as experiências coletivas sejam vivenciadas e façam sentido na vida escolar. (apud PANDINI, 2007, p.54-5). Unidade 6 teoria.indb 249 249 28/9/2007 16:13:53 Universidade do Sul de Santa Catarina SEÇÃO 2 - Modelos de perfil formativo Hic Rodus, hic salta: O que entender por “perfil formativo experiente (expert)”, sem recair na separação entre duas culturas? De que maneira conjugar juntamente, na formação do perfil formativo do aluno, os fundamentais disciplinares com modelos e sistemas de competência transversais e gerativos? Como conjugar dimensão generalista da formação de base e especialização das competências de área com respeito às várias formas de conhecimento, de trabalho e de vida? Nós sabemos de fato que: É praticamente impossível simular processos de pensamento muito universais: ex.: resolver problemas. Muitas pessoas vieram de uma escola que se chamava “humanística”. Esta se fundava sobre o assunto que estava em condições de formar enquanto se consentia em aprender a simular processos de pensamento universal. Tal assunto é hoje fortemente criticado. Não existe, de fato, um solucionador universal dos problemas. Pensar, portanto, que se esteja educando, porque se presume em fornecer modelos universais de compreensão da realidade ou de solução dos problemas equivale a mascarar atrás de um álibi, uma simples intenção. É praticamente impossível desenvolver estruturas gerais de pensamento e de aprendizado, capazes de explicar-se de forma abrangente, em cada contexto e tipo de gestão. Em particular: a) Cada estrutura tanto mais é geral quanto mais for personalizada. b) Nenhuma estrutura pode ser aprendida se não se domina o seu mecanismo de generalização. c) Não existe uma estrutura universal para modelar, para raciocinar, para resolver problemas: existe somente aquela em que cada um de nós, e portanto cada aluno, reconhece em si mesmo e, através do modo com que a reconhece em si mesmo, a reconhece nos outros. d) Não somente as estruturas dos saberes que podem ser generalizadas. 250 teoria.indb 250 28/9/2007 16:13:53 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Cada saber tem suas técnicas e responde a regras ou paradigmas internos. Tentar reduzir as estruturas das diversas disciplinas, matemática, física, ciências, etc., ao denominador mínimo comum, adequando depois a ele o percurso didático de ensino/aprendizado, é um erro que não podemos continuar a repetir. A lógica das estruturas mínimas das disciplinas, combinadas como aprendidas na escola, não rege a uma mínima falsificação, nem menos do ponto de vista da lógica interna às disciplinas. É antes, verdadeiro o contrário. O que conta é a possibilidade de individualizar os mecanismos que presidem à personalização daquilo que, para cada saber, aprendemos a dominar. É de fato, que estes mecanismos de generalização que cada saber se utiliza para codificar e interrogar a realidade, e não as suas estruturas. Os aprendizados são o resultado de “combinações disposicionais” entre memórias episódicas, memória de trabalho e memória semântica somente em quanto o processamento das suas recíprocas relações, produz e regenera imagens mentais no sujeito que aprende. Como muito bem aprofundou H. Gagnè, em seu recente texto Psicologia dell’Intelligenza e apprendimento scolastico (Torino 1993), se trata de combinações de tipo de “sistematização”, ou seja, constituído não só de diferentes produtos de ações, de análise, de leituras, mas sobretudo de ações mnemônicas. Se entrelaçam nesta ação sejam as memórias de trabalho (ou seja as memórias de curta duração que se permitem em codificar a experiência, fazendo-a entrar provisoriamente dentro de arvores de significado e de regras mais amplas), sejam as memórias episódicas (memórias de fato ocasionais que deixam uma leve marca), sejam, sobretudo, as memórias semânticas (as memórias de longa duração (long-term memory) onde são recolhidos e organizados os conteúdos, os conhecimentos, os conceitos, os procedimentos, etc.). Os aprendizados podem ser então descritos como mudanças de sistematização das memórias e, é a memória de longa duração (a memória semântica) o terreno fundamental sobre os quais são constituídos os modelos. A memória de longa duração é o espaço dentre os quais, cada um de nós, desde o nascimento e sobre o plano biológico, predispõe os segue Unidade 6 teoria.indb 251 251 28/9/2007 16:13:53 Universidade do Sul de Santa Catarina esquemas de organização das experiências: a modalidade fundamental de tal organização consiste em atribuir a cada uma experiência, um significado, construindo uma trama que se envolve no tempo. A primeira grande competência estratégica que cada um de nós desenvolve é aquela de alcançar para atribuir significados ao mundo dentro do qual operamos, habilidade, esta que precede certamente aquela da simbolização. Como efeito, esta habilidade de designação (deissi) não é somente um movimento ativo, em virtude do qual, por exemplo, o individuo começa a reconhecer os espaços dentre os quais se move, mas é também um indicador explicito de como cada um dos nossos alunos seja, substancialmente mais competente sobre o plano estratégico do que sobre o plano conceitual. O que significará portanto, construir um perfil formativo orientado ao desenvolvimento dos talentos? O que significará organizar o currículo de modo a favorecer sistematicamente a produção e a construção de mapas de significados da parte dos atores de um qualquer ambiente escolástico ou formativo? O que significa promover a aquisição de domínio de modelos mentais e de esquemas? Quanto mais os multiplico, tanto mais terei necessidade de reconhecer os percursos, conjuntamente eficazes e econômicos que nos assegurem a consistência e a utilização no tempo; tanto mais os tornarei experientes, e isto é tal de consentir-me ativar (no tempo mais breve possível e com o menor risco possível de desviar do alvo), o mapa cognitivo ou os esquemas mais idôneos para afrontar as dissonâncias cognitivas que qualquer situação ou contexto ou tarefa de conhecimento, por “normal e regular” que pareça, de certo me propõe. Por quê portanto, a escola se obstina em fornecer estruturas, quando o problema e conjuntamente o desejo dos alunos é o de alcançar o desenvolvimento de modelos sempre mais adequados de construção do seu ser e de dominar as formas de conhecimento, de experiência e de relação? Esta pesquisa consiste em dar uma resposta, então ao problema partiria do seguinte: como pode fazer a escola para fornecer modelos ou referências que enriqueçam, aumentem o valor agregado daquele que já cada aluno faz naturalmente? 252 teoria.indb 252 28/9/2007 16:13:54 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Por outro lado, nós sabemos que tanto no mundo do conhecimento quanto naquele da experiência, a vida é tornada possível pela a ação de “integradores evolutivos”. Nós havemos enumerado uma representação heurística individualizando três tipos de produção das experiências e dos conhecimentos, declarativo (mapping process), processual (procedural process), heurístico-imaginativo (imaginative process). Mas é a equivalência declarada que tem necessidade de ser sublinhada. Entre o mundo do conhecimento (disciplinas, conteúdos, culturas e saberes) e o mundo da experiência (ontogênese individual, desenvolvimento dos processos evolutivos psicológicos, desenvolvimento da mente etc.) existem menos diferenças de quanto até aqui temos pensado que houvesse. A nossa tese é que entre conhecimento e experiência, assim como entre aprendizado e desenvolvimento, não existe distinção de natureza, mas somente de forma e de grau. A escola, ao organizar a “transmissão” do saber, agrega para si a responsabilidade de produzir um novo conhecimento, diferente dos que se originaram da pesquisa científica. Entretanto, perceba que os conteúdos não são “resultados pura e simplesmente da ciência” ou da cultura, interagem com as diversas formas de dispersão social, mas o ensino vai significá-los considerando os objetivos de aprendizagem com metodologias próprias da docência, conforme você estudou anteriormente, realizando, assim, a transposição didática ou a simplificação dos saberes das ciências, transformando em saber escolar. Cabe ressaltar que a referência básica do processo de ensino são os objetos científicos (os conteúdos), que precisam ser apropriados pelos alunos; os conteúdos são uma construção social e trazem em si as experiências, os resultados da ciência, a cultura etc. (Apud PANDINI, 207, p, 186). Como amadurece o desenvolvimento dos “talentos” em cada um de nós, assim se realiza o procedimento das disciplinas, que para desenvolverem-se devem ensinar a si mesmos. Para desenvolver-se, de fato, cada disciplina deve ser ensinada e cada experiência deve ser comunicada. Ensinar não é portanto, somente produzir transformações na mente e nos conhecimentos dos alunos. Ensinar é também produzir transformações nos conhecimentos e nas experiências que são transmitidas. Unidade 6 teoria.indb 253 253 28/9/2007 16:13:54 Universidade do Sul de Santa Catarina A atividade de ensinar não se reduz a expor conteúdos, como também não pode ser vista como mera transmissão de conhecimentos; simultaneamente, não é sinônimo de método, exposição de estratégias, pelo qual se organiza uma aula, tampouco deve ser vista unicamente como uma organização do trabalho escolar. É uma atividade complexa que exige, segundo Libâneo (2006), um “lidar epistemologicamente”, “cientificamente” e “criticamente”, tendo em conta as múltiplas relações que se estabelecem entre sujeitos, cultura e fenômenos. (PANDINI, 2007, p. 199). A disciplina não cresce somente por mérito dos seus pesquisadores, mas se desenvolve graças também aos modelos do conhecimento declarativo, processual e imaginativo, que desde a mais tenra idade desta, nas suas mais diversas formas, aprendem a estimar o apreciar, a usar e semantizar quantos tenham modo de freqüentá-la. Assim que as ciências, os saberes e as formas de cultura se desenvolvem sobre um longo período, paradoxalmente, em dependência do modo com o qual a escola produz e desenvolve modelos de organização de conhecimentos com base na formação das competências. É aqui a homologia entre a organização dos ensinamentos e organização dos aprendizados. A distância e a separação que cada docente percebe entre os objetivos didáticos e os objetivos formativos de qualquer conteúdo de ensino depende freqüentemente da incapacidade (que já medimos) que temos de dar visibilidade plena ao potencial formativo do aluno. Nota do tradutor: “multialfabeta” em italiano tem como significado, “Estratégia de instrução, de training e de formação que assume como seu objetivo (goal) um aluno capaz de exprimir – ao término do currículo – competências integradas e multicódigos. O aluno praticamente aprende sozinho, dificilmente chegaremos ao fim deste círculo vicioso. Ocorre mudar, então, o ponto de partida: o professor seja aquele que sabe reconhecer os modelos de experiência e de conhecimento que o aluno aprende a reconhecer após haver-los aprendidos, é com o aluno e a comunidade de referência o processa, ou seja, o transforma em percursos e sistemas de competências multi-culturais e multialfabeta. 254 teoria.indb 254 28/9/2007 16:13:54 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Percebam que à escola, historicamente, foi atribuída a responsabilidade de “transmitir” conhecimentos, ela é tributária da instituição científica, que tem como finalidade produzir novos conhecimentos e inovações, porém, cabe a essa mesma instituição gerar novas possibilidades de compreensão dos fenômenos a partir de conhecimentos científicos existentes. À escola cabe transformar conhecimentos em competências e habilidades e isto por meio de estratégias e procedimentos que têm a função de fazer as transposições didáticas ou a simplificação do saber, ou seja, as articulações entre os conhecimentos científicos, a cultura e as experiências e gerar conhecimentos escolares. Neste sentido, a escola, com os seus métodos e técnicas, estabelece uma relação direta entre conhecimento escolar e conhecimento científico, sendo que muitos conteúdos são impostos à escola por fazerem parte do meio social, científico e cultural. (apud PANDINI, 2007, p. 185) A perspectiva paradigmática de referência muda assim profundamente. Às equações psico-pedagógicas dominantes (“lógica = psicologia”, ou então “observável = mensurável”), nós propomos substituir na didática (como já ocorre seja na pesquisa científica que na produção de muitos novos saberes) uma diferente equação entre Cultura e Semântica. A análise didática torna-se análise cultural, em suma análise dos significados que a cultura pode evocar no interior da formação de modelos mentais no aluno. A responsabilidade cultural dos professores tornase conseqüentemente muito elevada: para assumir este ponto de vista ocorre de fato modificar fundamentalmente muitos paradigmas dos quais estamos hoje fortemente condicionados. O problema do ensino, da condução e avaliação dos alunos, torna-se outro: aquele de tornar a interpretabilidade dos comportamentos dos alunos reconhecível e estimável aos olhos dos seus próprios atores. Unidade 6 teoria.indb 255 255 28/9/2007 16:13:54 Universidade do Sul de Santa Catarina SEÇÃO 3 - Organização do ensino e as teorias da cultura Segundo a perspectiva do modelo de currículo PSP, é importante aprofundar preponderantemente o problema sobre as coordenadas culturais essenciais sob as quais basearem a organização do ensino. A organização do ensino é profundamente dependente de dois ramos culturais: a teoria da educação e a teoria das ciências. O primeiro erro, de fato, a ser evitado ao projetar e organizar o ensino é aquele de considerar a teoria das ciências como um campo de batalha entre idéias novas, velhas e semi-novas. Uma idéia mais correta é por outro lado, aquela de representá-la como um processo contínuo de acumulação e de síntese na interação contínua entre velhos e novos modelos de explicação do mundo. Cada área científica desenvolve métodos de crítica e de crescimento do conhecimento, codifica estes métodos e os submete à regra de comportamento para os próprios sujeitos que participam. Como sublinha I. Lakatos (no Critica e crescita della conoscenza, edição Feltrinelli 1980) a teoria das ciências fornece metodologias normativas em cujos termos se pode reconstruir a sua história “interna”. Ela fornece uma explicação racional do crescimento do “conhecimento objetivo” dos conteúdos (ciência) e das regras (tecnologia). Estudando portanto, a “história” das metodologias normativas, dos métodos e das metódicas das várias ciências, encontramos modelos de referência e tramas conceituais, na medida, certamente maior do que se analisarmos somente os fatos, as noções, os conhecimentos específicos de cada ciência. É portanto, a “história” do método que nos ajuda a avaliar a diferença entre metodologias rivais; e tal história compreende a história “interna”, (isto é, aquela baseada nas transformações ocorridas nos métodos, nas regras, nas descobertas de cada uma das ciências); a história “externa”, aquela ou seja, que é reconstruível através das imagens que daquela ciência, tem as pessoas; assim como a avaliação do grau comunicabilidade daquela ciência ou disciplina. 256 teoria.indb 256 28/9/2007 16:13:54 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Portanto, de cada conteúdo físico, literário, social, o sujeito que aprende produz uma percepção e uma representação complexa, porque aquele conteúdo lhe participa seja com a sua história externa que interna, seja o grau de comunicabilidade que lhe é contido. Se do mesmo conteúdo a escola se limita a oferecer somente uma das dimensões citadas, não se limita apenas o grau de compreensão e de conhecimento, se inibe a re-deslocação semântica e, talvez, a própria regeneração. A história do “método” de uma ciência é a sua vida de aprendizado: em quanto tal, ela é a base inevitável para utilizar eficazmente uma teoria das ciências na formação e na instrução. Poderemos pelo contrario, acrescentar: a teoria das ciências sem a história das ciências é vazia. A história das ciências sem a história do método é cega. Os sistemas auto-regulamentação interna de uma disciplina não são portanto, aqueles elementos sobre os quais e estruturalismo nos requeria apontar em forma exclusiva no ensino, e isto é, que trabalhando sobre estruturas das disciplinas, o indivíduo é formado à competência e ao uso dos princípios de generalização dos conhecimentos. De outra parte, as mesmas ciências humanas e sociais são as primeiras a abandonar os critérios estruturalistas no momento em que se dão conta que para poder aprender estruturas era necessário aprender relações entre estruturas. Unidade 6 teoria.indb 257 257 28/9/2007 16:13:54 Universidade do Sul de Santa Catarina SEÇÃO 4 - Organização do ensino e as teorias da educação Aprendizado de estruturas disciplinares e conceitualização Se adotássemos uma aproximação do conhecimento, seja do ponto de vista do desenvolvimento da tecnologia e da ciência, seja do ponto de vista do seu desenvolvimento com relação aos indivíduos, tornar-se-ia possível empreender um discurso muito mais convincente a nível formativo. Nas estruturas com as quais se constrói a ciência contemporânea, de fato, se individualizam aquelas próprias estruturas que servem para organizar o relacionamento mais ou menos científico que cada indivíduo estabelece com a realidade: estruturas como aquelas de espaço/ tempo, estado/transformação, conservação/invariância, são exemplos de conceitos que presidem tanto ao desenvolvimento da ciência como o da tecnologia. E não é, obviamente, por acaso que eles se reencontram também no desenvolvimento “cognitivo” natural do indivíduo. Certamente, notáveis permanecem as diferenças, as distâncias entre os dois aspectos do conhecimento, aquele científico e aquele humano, tanto mais se considerarmos a elevada especialização e fracionamento, alcançado do conhecimento científico no curso do tempo. Recordamos porém que, “...o problema que hoje se coloca, não é mais somente aquele de ajudar indivíduos ou grupos a assimilarem uma (nova disciplina) no modo mais econômico possível, mas aquele de colocá-los em condições de poder cumprir a máxima quantidade de coligações ou passagens de uma a outra, mantendo o máximo nível de controle do processo. Não se requer mais, em outras palavras, somente as qualidades de reflexões e de explicitação necessárias a cada “aprender”, mas aqueles correspondentes a um “aprender”, que de necessidade comporta uma radical re-deslocação das estruturas, e uma reavaliação das economias de aprendizado”. (L. TORNATORE, Educazione e conoscenza, Torino 1974, p. 234). É necessário, então, analisar a um tempo seja como o indivíduo constrói conceitos, seja como modalidades de conceitualização privilegiam a ciência e a tecnologia no seu desenvolvimento histórico. Em conseqüência, então, da interação repetida com 258 teoria.indb 258 28/9/2007 16:13:54 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio coisas e pessoas, o núcleo funcional dos processos pessoais de aprendizado adquire novas relações essenciais e perde aqueles muito específicos relativos a contextos “muito” particulares: se elabora assim uma estrutura cognitiva sempre mais complexa, capaz de adquirir o essencial de novas experiências, saber formular previsões corretas, ser sempre mais versáteis e flexíveis com respeito às novas situações. No momento de fato, nos quais estas redes conceituais se encontram com novos fenômenos, para a determinação de novos conceitos, eles fogem de esquemas que permitem organizarem o próprio conhecimento prevendo situações, relações, interpretações, relativamente as novas informações que provêm do exterior. Em outros termos, um processo qualquer de aquisição dos conhecimentos é determinado pelos esquemas já existentes. Mas tais esquemas não são sempre os mesmos; são também sujeitos a transformações; e isto ocorre por acréscimo, por revisão, por reestruturação. “Esta última é a modalidade decisiva: isto ocorre quando as novas informações não se adaptam aos velhos esquemas ou quando a organização dos dados existentes não é satisfatória. Os novos esquemas se constroem sobre a base dos velhos, através do uso de analogias, metáforas, modelos que podem ser evidenciados pelo docente ou descobertos pelo aluno sozinho. M. ARCA’, P. GUIDONI, M. VICENTINI-MISSONI, Introduzione ai problemi di un curricolo per le scienze naturali, in Quale cultura per la nuova secondaria, Firenze 1980, p. 309. Enfim, se a aquisição de novas informações não procede por conceitos unitários ou por unidades de informação individuais, mas, preferivelmente, pelo significado que assumem no interior do quadro das experiências do sujeito, nasce uma revolução para o próprio ensino. Não mais ensino de elementos hierárquicos das disciplinas, mas ensino à trama, que pode estabelecer relacionamentos com elementos já conhecidos e que, em fornecerem novos elementos de conhecimentos, procura construir um tecido de conexões que podem ser sucessivamente tornados mais densos e mais compactos. Torna-se então, extremamente claro o quanto seja essencial conhecer aquilo que o aluno já sabe, visto que os conhecimentos precedentes são um fator determinante a respeito daquilo que aprende, ainda mais se considerarmos também que a ativação e a explicitação daquilo que o aluno sabe, tem um efeito positivo sobre o aprendizado sucessivo, dado que coloca Unidade 6 teoria.indb 259 J. DEWEY, Logica, Teoria dell’Indagine, Torino, 1949, p. 40. 259 28/9/2007 16:13:55 Universidade do Sul de Santa Catarina em ação conhecimentos e procedimentos presentes mas não conscientemente disponíveis, e ajuda a desenvolver as reflexões sobre o próprio saber e o não saber, que são – como sabe a experiência didática cotidiana – momentos cruciais no desenvolvimento do conhecimento e das habilidades. Sucede de fato, também em adultos escolarizados, que se descubram teorias e modelos de explicações de alguns fenômenos físicos e naturais claramente alternativos aos modelos científicos dominantes. O ensino naquele caso, não tem interagido com os esquemas de conhecimento dos sujeitos em questão: a teoria científica foi simplesmente “agregada” às modalidades de conhecimento do sujeito, não se é “radicada” com ele. Portanto, o sujeito, quando deve explicar um fenômeno utiliza a teoria do senso comum, do qual habitualmente se serve para sentirse integrado na realidade em que vive. Impõe-se, então, uma análise refinada dos conteúdos a serem transmitidos. Não se trata mais somente de identificar as estruturas, as idéias-chave fundamentais no interior das disciplinas, mas também de avaliar as dificuldades psicológicas, os obstáculos cognitivos que impedem a um argumento ou a uma habilidade que torne objeto de competência para uma pessoa. A propósito de formação do espírito científico, é bom lembrar o que Gaston Bachelard observa: “Em educação, a noção de obstáculo epistemológico é igualmente desprezado. Restam freqüentemente colhidos pelo fato que os professores de ciência, mais ainda do que os outros, se isto é possível, não compreendem que não se compreenda... Os professores de ciência imaginam que o espírito científico comece como uma lição, que se possa fazer compreender uma demonstração repetindo ponto por ponto. Eles não tem refletido no fato de que o adolescente chega a classe de física com os conhecimentos empíricos já constituídos: trata-se então, de não adquirir uma cultura experimental, mas antes de mudar a cultura experimental , de abater os obstáculos já acumulados na vida cotidiana” ( C. PONTECORVO, Concettualizzazione e insegnamento, em Concetti e conoscenza, Turim 1983 pag. 334-335.). E acrescenta: “Sem dúvida, seria mais simples não ensinar senão o resultado. Mas o ensino dos resultados da ciência não é nunca um ensino científico. Se não se explicita a linha 260 teoria.indb 260 28/9/2007 16:13:55 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio de produção espiritual que tenha levado ao resultado, se pode estar seguro que o aluno associará o resultado com as imagens lhe são mais familiares. É necessário que “compreenda”. Não se pode reter que estejam compreendendo. Porque não lhe são dadas as razões, ele chega ao resultado das razões pessoais.” (ivi). Recapitulando, podemos dizer que uma “teoria da instrução” se qualifica em três elementos, no mínimo: O conceito de perfil formativo (é o sistema de talentos e das competências que exprime a personalidade em desenvolvimento) de cada aluno e não mais o conceito de simples habilidades ou de conhecimentos. A escola desenvolve talentos e sistemas de competências. Uma cultura oferecida através de modelos baseados nas experiências de conhecimentos e “programas de pesquisa”. Um método não entendido como tal, mas como um sistema de imagens mentais que coordene a crítica e ao crescimento dos conhecimentos. O problema da qualidade da educação assume assim nova luz. O ensino é, sobretudo, um programa de pesquisa constituído de Fatos, Regras, Procedimentos, Princípios, o domínio das cujas relações recíprocas consente ao indivíduo personalizar de um lado suas escolhas, de outro de medir-se com os objetivos formativos da escola. A cultura é essencialmente uma trama de modelos e de redes de comunicações entre saberes disciplinares, e o professor é portanto chamado a fornecer “modelos” que coloquem o aluno em condições de “navegar” entre os conhecimentos. Para poder fazê-lo a escola deve fornecer modelos especiais de produção de conhecimento, ou seja, campos de significado. - Realize, a seguir sua propria síntese, as atividdaes de auto-avaliação e consulte as informaçãoes complementares no item saiba maise, siga para a última unidade. Unidade 6 teoria.indb 261 261 28/9/2007 16:13:55 Universidade do Sul de Santa Catarina Síntese Elabore a síntese com base nos pontos centrais apontados nesta unidade de modo a estabelecer as relações com os objetivos apresnetados. Esta é uma oportunidade der rever os conteúdos que podem ser melhor explicitados nos debates na sua comunidade de aprendizagem do curso. Atividades de auto-avaliação 1. Descreva brevemente sobre a “ trama narrativa dos modelos de ensino” com base nas teorias apresentadas. 262 teoria.indb 262 28/9/2007 16:13:55 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio 2. Qual a importantância de se pensar uma construção curricular baseada na teoria da cultura. Quais o lugar do aluno, das disciplinas e do conteúdo nesta perspectiva? Saiba Mais O saber escolar está diretamente ligado à construção de significados com base no desenvolvimento de atividades e à forma como esse aluno lida com o objeto de aprendizagem. A maneira como o aluno é mediado a problematizar a realidade e o conteúdo entra em jogo na forma como ele percebe a realidade. Cabe dizer que o professor não controla o processo de definição e seleção dos saberes sociais, que são transformados em saberes escolares, mas o papel do professor é fundamental na elaboração de estruturas de ensino para que o aluno problematize o conteúdo. A função real da escola na sociedade é então dupla. A instrução das crianças, que foi sempre considerada como seu objetivo único, não é mais do que um dos aspectos de sua atividade. O outro é a criação das disciplinas escolares, vasto conjunto cultural amplamente original que ela secretou ao longo de decênios ou séculos e que funciona como uma mediação posta a serviço da juventude escolar em sua lenta progressão em direção à cultura da sociedade global. No seu esforço secular de aculturação das jovens gerações, a sociedade entrega-lhes uma linguagem de acesso cuja Unidade 6 teoria.indb 263 263 28/9/2007 16:13:55 Universidade do Sul de Santa Catarina funcionalidade é, em seu princípio, puramente transitória. Mas essa linguagem adquire imediatamente sua autonomia, tornandose um objeto cultural (...). (CHERVEL, 1990, p. 200). Perceba que o trabalho docente realizado na escola é complexo e se faz sob duas esferas de saber – o conhecimento escolar e o conhecimento científico. Note, então, que o trabalho docente como atividade complexa, ao se efetivar, constrói também um saber diferente daquele produzido pela ciência. (apud PANDINI, 2007, p. 148). Para complementar seus conhecimentos acerca desta unidade sugerimos: MOURA, M.O, (2001). A atividade de ensino como ação formadora. In: CASTRO, A.D. de, CARVALHO, A. M. P. de (orgs.). Ensinar a ensinar: didática para a escola fundamental e média. São Paulo: Pioneira Thompson Learning, p. 143-162. MOREIRA, Antonio Flávio; SILVA, Tomaz Tadeu da.(orgs.). Currículo, Cultura e Sociedade. São Paulo: Cortez, 2005. MOREIRA, Antonio Flávio. Educação o & Sociedade, ano XXI, no 73, Dezembro, 2000. ________ . Currículos: Políticas e Práticas. Campinas. São Paulo: Papirus, 1999. ________. O campo do currículo no Brasil: os anos 90. In: CANDAU, Vera Maria (org.). Didática, Currículo e saberes escolares. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. p.70-67. MOREIRA, Antonio, SILVA, Tomaz T. da. Sociologia e Teoria Crítica do Currículo: uma introdução. In: Currículo, Cultura e Sociedade. São Paulo: Cortez, 1994. PÉREZ, Gomes. As funções sociais da escola: Da reprodução à reconstrução crítica do conhecimento e da experiência. In: SACRISTÁN, J. Gimeno e PÉREZ, Gomes. Compreender e transformar a escola. 4a ed., Porto Alegre: Artmed, 1998, p. 13-25. 264 teoria.indb 264 28/9/2007 16:13:55 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma Perspectiva Históricocultural da Educação. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1995. SACRISTÁN, J.Gimeno. Consciência e Acção sobre a Prática como Libertação Profissional dos Professores. In: Profissão Professor. (org. António Nóvoa). Portugal: Porto Editora, 1995. ________. O currículo: uma reflexão sobre a prática, Porto Alegre, Artes Médicas, 2000. Unidade 6 teoria.indb 265 265 28/9/2007 16:13:55 teoria.indb 266 28/9/2007 16:13:55 UNIDADE 7 Após Piaget: modelos de aprendizado e modelos de ensino 7 Objetivos de aprendizagem Analisar as faces do currículo no contexto das teorias do conhecimento. Compreender as interralações entre currículo, cultura, escola e escolarização. Compreenderas relações entre teorias de aprendizagem e currículo. Seções de estudo Seção 1 Modos de comunicar e desenvolvimento cultural do indivíduo em formação Seção 2 Os modelos culturais como fatores de aprendizado Seção 3 Em direção a escola modular: dos aprendizados e organização do ensino Seção 4 Coerência vertical para um currículo flexível? Seção 5 Coerência horizontal para um currículo flexível? Seção 6 Adotar um critério ou ponto de vista sistêmico? Seção 7 Desenvolver o currículo como uma rede de bases de conhecimento teoria.indb 267 28/9/2007 16:13:55 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Cada um de nós tem desenvolvido um certo sistema de conhecimentos e de experiências dotado de uma representação qualquer no interior da mente e, em última instância, no interior de seu cérebro segundo uma certa configuração biológica, não é mesmo? Todavia, para compreender adequadamente em que medida e em que modo os determinantes do ambiente e da vida interagem com os nossos aprendizados, é necessário dizer como aprendemos a desenvolver o nosso sistema mental. Em realidade, ao final, se compreenderá que as duas questões são a tal ponto conexas entre elas, para resultar que sejam equivalentes. Assumimos então, que interrogar-se sobre modelos de nossos processos de aprendizado e de ensino é o mesmo que interrogar-se sobre como aprendemos a aprender. Afrontaremos, por conseqüência, uma série de perguntas, as quais buscaremos fornecer respostas atualizadas, de qualquer maneira formulando-as “do ponto de vista dos professores”, e isto é de modo tal a resultarem coordenadas com as preocupações docentes em mérito do antigo problema, o de “como assegurar ou elevar a eficácia para a própria ação didática e escolar. - O que achou do que estudou até aqui? Um texto bastante exigente, não? Mas é necessário à compreensão de certos conceitos. Vamos adiante? SEÇÃO 1 - Modos de comunicar e desenvolvimento cultural do indivíduo em formação Nós sabemos que não poderia haver desenvolvimento cognitivo em ambiente formativo se entendêssemos promovê-lo através de uma série de sessões nas quais prover e exercitar as estruturas operatórias do pensamento. A “natural” evolução cognitiva do sujeito é também o resultado de um encontro-desencontro com a experiência, onde as operações basilares (classificar, ordenar, seriar, abstrair, etc.) vivem um significado próprio, relativo aos contextos nos quais são exercitados. O aluno, por assim dizer, entra nos vários “mundos formativos” com um seu patrimônio cultural, com as suas teorias de leitura e interpretação dos fenômenos circundantes, diversamente adquiridos. 268 teoria.indb 268 28/9/2007 16:13:56 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Para qualquer aluno, uitilizando um exemplo, a escolaridade de base tem um relevo notável positiva ou negativamente, e é condição freqüentemente determinante para as sucessivas metas formativas. Certamente, presume-se que ele tenha já encontrado a cultura; e já deveria ser operante nele todo um sistema de conhecimentos e de experiências capazes de transferir as novas experiências e conhecimentos disciplinares ao nível simbólicoformal. Na escola, não se tratará somente de continuar a enriquecer o seu curriculo. Por certos aspectos, tratar-se-á de reavivá-lo, como freqütemente, para os alunos, as divisões entre culturas são divisões entre sistemas de mundos, de regras, de experiências. Desaparece assim, a idéia de aprendizado como justaposição e acumulação de informações e/ou de adestramentos: toma pé, ao contrário, a necessidade de olhar o aprendizado como um processo interativo de conhecimentos/competências, governado pelas mesmas regras que caracterizam a vida como empresa. “Não se pode não comunicar”, recita o primeiro axioma da comunicação humana da análise que desta faz P. Watzlawich. Mas se isto é verdadeiro o é igualmente o fato que a capacidade de falar os saberes requer uma sintaxe complexa que não é patrimônio genético do individuo e é particularmente pouco representada na linguagem daqueles que pertencem as classes sócio-culturalmente carentes ou excluídos. A dificuldade de comunicar tem as suas próprias raízes em dois terrenos diversos e complementares que referem-se, e as “habilidades multialfabetas”e o comportamento em relação a experiência do comunicar. No primeiro caso entram todos aqueles indivíduos que, por uma multiplicidade de razões, tem, a um dado momento da vida, uma linguagem escassamente organizada, de eficácia limitada, porque utilizada “não para assinalar e simbolizar bastante explicitamente a separação e a diversidade do individuo, mas para acrescer o consenso. Possuir escassos instrumentos para comunicar verbalmente, conduz a uma decadente qualidade de vida. Mas, pelo contrário, considerar a comunicação como qualquer coisa de supérfluo ou perigoso é uma condição que endereça para comportamentos relacionais de forte deságio psicológico e de dificuldade não somente na própria socialização, mas também na participação ativa em direção de cada ordem de aprendizado. Unidade 7 teoria.indb 269 Conf. U. Margiotta, Pensare in rete. La formazione del multialfabeta, CLUEB, Bologna 1997). Conf. M. VICENTINI – MISSIONI, ob. cit., pg. 49-50, mas também L. TORNATORE, Scienza e sviluppo cognitivo, in Scienza e scuola di base, Roma 1981, p. 221, assim como L. TORNATORE, Educazione e indagine in Dewey, in Educazione alla ricerca e transmissione del sapere, Torino Loescher, 1981, p. 92. 269 28/9/2007 16:13:56 Universidade do Sul de Santa Catarina Os estudos que vêem um estreito paralelismo entre o tipo de habilidade lingüística possuída e, em qualquer medida, a colocação sócio-cultural do sujeito, são numerosas e, na maior parte, orientadas para individualizar critérios educativos favoráveis a “reduzirem” a desvantagem dos sujeitos provenientes das classes subalternas, em modo que também para estes seja hipotisável uma melhor qualidade de vida. Mesmo sendo objeto de polêmicas e também de autocrítica sucessiva da parte do mesmo autor, os estudos de Bernstein, foram consideradas um ponto de referência fundamental. Como é notório, o paralelo entre classe social, socialização e tipo de linguagem foi codificado por Bernstein, segundo duas categorias “linguagem pública” ou código estrito e “linguagem formal” ou código elaborado. Interação cultural e aquisição do conhecimento Com respeito a outros modelos de aprendizado nos quais nestes anos inspirados na escola e na prática didática, o modelo teórico que faz referência à interação social tem por um lado raízes teóricas longínquas, mas por outro, se apresenta com uma elaboração de pesquisa empírica relativamente recente, principalmente no que se refere à aplicação de contextos educativo-escolares. As suas raízes teóricas são comumente feitas para ressaltar a teorização e para a pesquisa empírica de Vygotski. Também seria possível encontrar em outros autores os pressupostos teóricos de tal modelo, a exemplo, da concepção exposta por G. H. Mead em “Mente e società”. L. S. Vygotski elaborou as bases para uma teoria do desenvolvimento e do aprendizado fundada na centralidade das interações sociais e dos sistemas de sinais, entendidos como instrumentos essenciais à comunicação e à transmissão do conhecimento. Ele aspirava a dar também uma explicação seja dos mais gerais processos culturais que são próprios da espécie humana e, portanto, comuns as mais diversas culturas, seja daqueles fenômenos que são particulares de uma dada cultura e que são o motor da transmissão sistemática do conhecimento que ocorre através da escola. Em particular, se interessou, junto 270 teoria.indb 270 28/9/2007 16:13:56 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio à Luria, em estudar todos aqueles aspectos que referem-se a particular organização do conhecimento proposto pelo ensino nas nossas culturas complexas, a conceituação científica que esta propõe, a linguagem que se fala e, sobretudo a aquisição da língua escrita como uma sistema simbólico de segunda ordem que constitui a mediação essencial, e que influencia, em forma de que ainda não conhecemos suficientemente o modo de categorizar, de raciocinar e de pensar dos homens. Ora, a intenção social é vista por Vygotski não somente na mais direta dimensão inter-pessoal, tipicamente representada pela relação educativa adulto/criança, mas sobretudo, na sua articulada dimensão sócio-cultural, que inclui valores culturais, regras de funcionamento das sociedades e dos relacionamentos sociais mais alargados, sistemas e categorizações, concepções do mundo, conhecimentos científicos de vários tipos. É função do ensino o desenvolvimento da capacidade de pensar e a aquisição de instrumentos necessários à ação, mediante a inter-relação entre o objetivo e o subjetivo, cuja essência é a experiência social em toda a sua complexidade, que se transforma em conhecimentos, habilidades e hábitos do educando, em idéias e qualidade do homem em formação, em seu desenvolvimento intelectual, ideológico e cultural geral e esta premissa deve considerar o local e o universal e a relação teoria e prática. Que a escola é a centralidade na organização das etapas de desenvolvimento não há mais como negar. E para cada uma das etapas, Davidov descreve uma atividade principal a ela articulada. Vamos conhecê-las? Entre zero a um ano Comunicação emocional direta com os adultos. Entre um e três anos Atividade objetal manipulatória. Entre três e seis anos Atividade de jogo. segue Unidade 7 teoria.indb 271 271 28/9/2007 16:13:56 Universidade do Sul de Santa Catarina Entre seis e dez anos A importância da escola como proposta de compreensão do desenvolvimento. Entre dez e quinze anos Etapa caracterizada como atividade socialmente útil. Tem na escola, também, um referencial cultural importante. Percebam que a escola é uma referência importante para o desenvolvimento, quer seja da criança assim como para o adulto. É no processo de realização das atividades de trabalho, de estudo, organização social, desportiva e artística, que surge nos adolescentes, por exemplo, a “aspiração de participar de qualquer trabalho socialmente necessário, a tendência a organizar a comunicação em diferentes coletivos levando em conta normas de interrelação (sic) neles aceitas, a reflexão sobre o próprio comportamento, a capacidade de avaliar as possibilidades de seu ‘eu’, isto é, a autoconsciência”. (DAVIDOV apud OLIVEIRA, 2003). Portanto, os professores têm de pensar nisso, a escola deve ser uma continuidade da prática social. E ali também existem regras e limites, são as relações entre o pensamento teórico e prático (reflexão e ação). (apud PANDINI, 2007, p. 180,181). Neste quadro de referência torna-se relevante a concepção que considera os processos psíquicos superiores como interiorização de funções sociais (Vygotski, 1974). Neste contexto se coloca sobre bases radicalmente diferentes os processos de desenvolvimento e de aprendizado do indivíduo, porque não se assumem mais como contrapostos. De fato, “desenvolvimento” e “aprendizado” são ambos explicados por um mecanismo que vai do exterior para o interior, que procede do social para o intra-pessoal (Vygotski, 1966) e não do individual para o social. Isto pode significar que o uso de uma capacidade cognitiva ou lingüística no contexto da interação social é o necessário precursor da competência individual e autônoma daquela mesma capacidade. Em outros termos as funções psicológicas complexas de qualquer tipo (lingüísticas, lógicas, emotivas) aparecem primeiramente como funções sociais e, portanto, no interior da interação social, se manifestam no funcionamento mental autônomo do indivíduo. 272 teoria.indb 272 28/9/2007 16:13:56 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio A interação social, portanto, opera como um instrumento de produção juntamente com o desenvolvimento e com o aprendizado de capacidades cognitivas. De modo particular, isto ocorre no contexto da interação entre um sujeito mais competente, que pode ser um pai, educador, professor, mas também contemporâneo, e uma criança que ainda não é suficientemente competente para operar eficazmente sozinha. Neste caso, o mais experiente (também se em graus diferentes de capacidades) pode suportar a atividade cognitiva ou de problemsolving do outro, “recrutando-o” para a tarefa, simplificando o setting, focalizando sua atenção sobre os aspectos salientes, dividindo-os oportunamente ao problema. Em geral, o mais experiente o sustenta a atividade do menos experiente com uma série de “andaimes de sustentação”, segundo a metáfora do scaff-olding que foi colocada por Bruner em uma pesquisa orientada para análise do tipo de ajuda eficaz que pode fornecer o adulto. Trata-se obviamente de um andaime que poderá ser progressivamente desmontado quando o sujeito torna-se sempre mais capaz de operar sem a ajuda de outro mais competente. A chamada “zona de desenvolvimento proximal”: como defini-la e o que representa? Vigotski a define como aquilo que o sujeito não está em condições de fazer (ou de resolver) sozinho; que corresponde ao seu nível de desenvolvimento atual mas que pode alcançar a fazer se lhe é oferecido uma ajuda: é o nível “potencial” que corresponde aquilo que será o próximo nível de desenvolvimento do sujeito e que se pode apresentar muito diferenciado, também em pessoas que no testing tradicional alcançam idênticos resultados. Pode-se dizer que é próprio na área de desenvolvimento potencial que se encontram em operação a escola e o ensino quando conseguem interferir eficazmente no desenvolvimento daquelas capacidades que são potencialmente já presentes como funções simples mas que requerem ser exercitadas, coordenadas, contextualizadas, tornadas conscientes e flexíveis no uso, afim de que o individuo seja capaz de utilizar as suas capacidades também sem o suporte de outros. Unidade 7 teoria.indb 273 273 28/9/2007 16:13:56 Universidade do Sul de Santa Catarina Situe um exemplo ou uma situação que pode definir claramente como pode ser visualizadas as Zonas de desenvolvimento Proximal e Potencial. Use o espaço abaixo. Depois socilize com seus colegas de turma. O modelo de interação social é a base do sistema dos modelos de trabalho. Não deve ser esquecido, de fato, que o objetivo fundamental do sistema metodológico que se propõe é aquele de suscitar, sobre o terreno dos saberes e do co-envolvimento nos “programas de pesquisas” dos vários percursos disciplinares, uma forte re-motivação para aprender nos alunos. Com o acréscimo que por tal via torna-se possível tal processo de se conotar como eminentemente relacional e social. Em outros termos, não se afrontam com mais facilidade os problemas, os aprendizados, os exercícios, as atividades que são propostas pela escola, somente quando se compartilha com os outros a responsabilidade, a dificuldade, o empenho, a carga cognitiva e emotiva de “colocar-se diante do problema”, mas quando se entende “porquê fazê-lo e se aceita a destinação; A divisão e a co-divisão do espaço semântico e processual do problema é o espaço formativo, o valor agregado, que se oferece a cada um indivdíuo para que se reconheça no grupo, certo que a sua participação coincida em ter sido aceito, por um grupo empenhado na realização de tarefas de mais experientes. 274 teoria.indb 274 28/9/2007 16:13:57 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Um bom exemplo de pesquisa de inspiração vygotskiana que tem referenciado em modo especifico a área de aprendizado escolar foi realizado por duas pesquisadoras estadunidenses, Ann Brown e Annemarie Palincsar (1984), as quais usaram a interação social como instrumento para favorecer o desenvolvimento de uma importante capacidade do ponto de vista do alcance escolar: a capacidade de compreensão da leitura. Elas organizaram uma situação de “ensino recíproco” que envolveu rapazes da escola media que tinham muitas dificuldades de compreensão da leitura. A sua intervenção primeiramente utilizou os resultados da pesquisa sobre a compreensão do texto, identificando as quatro habilidades essenciais que os bons leitores colocam em prática quando lêem e buscam entender aquilo que lêem: “prever” a possível continuação, “esclarecer” os pontos pouco claros, “sintetizar” aquilo que esta lendo, “colocar perguntas” sobre aquilo que está lendo. A modalidade de condução da pesquisa previa que diante de um texto, cuja leitura coletiva era subdividida em parágrafos, a professora primeiramente, e, na seqüência, os estudantes que compunham o grupo (que pode ser também em número muito variável) faziam o papel de tutor, ou seja, de professor ou do aluno que busca fazer a prática nos outros, da habilidade que é objeto do aprendizado. Portanto, se requeria aos estudantes, quando faziam o papel de tutor, de cobrar a prática dos outros membros do grupo aquelas quatro habilidades requeridas como necessárias a compreensão, que assim tornavam-se objeto de ensinamento explicito. O resultado muito notável desta pesquisa é que, após umas dez sessões nas quais foram realizadas esta metodologia, foram notadas as melhoras não só na capacidade de “liderar” por parte dos estudantes e como conseqüência uma explícita atividade sobre o texto, mas também (e de forma estável) as capacidades autônomas e individuais de compreensão de leitura dos rapazes submetidos ao tratamento experimental. segue Unidade 7 teoria.indb 275 275 28/9/2007 16:13:57 Universidade do Sul de Santa Catarina A idéia base que tornou particularmente famosa esta pesquisa relembra o uso do ensinamento recíproco e conseqüentemente a interação entre os estudantes, como instrumento para aprender: em outros termos, os rapazes aprenderam na medida que tinham o dever de fazer com que os outros usassem aquela estratégia, que eles mesmos não sabiam utilizar, em um contexto de exteriorização de procedimentos que normalmente resultam dissimulados e inconscientes. Neste caso, a situação social é usada também para tornar sensata, necessária e motivacional uma explicitação de estratégia que por outro lado resultaria fictícia e tediosa e conseqüentemente de difícil aprendizado. Somente em conseqüência daquilo que vem a se fi xar na mente e na memória do aluno, na forma de estratégias de aprendizado colocadas em ação por eficazes estratégias resolutivas, o incremento da motivação e empenho na tarefa, há redução dos estados de ansiedade nos confrontos que não se sabe resolver sozinho. Por outro lado, o contexto de aprendizado cooperativo que vem a ser determinado obriga os interlocutores a justificarem, a argumentarem e a concorrerem na determinação de “boas razões” em favor de um range de opções que nunca é somente de tipo de conhecimento, mas co-envolve sempre e, sistematicamente, a inteira personalidade dos autores da tarefa. De maneira particular, através da monitoração desta ou de situações co-semelhantes, o professor pode favorecer um desenvolvimento específico e determinado de conscientização nos alunos e dos próprios processos mentais. Perceba que o caráter transformador e as diferentes interpretações presentes na atividade estão inseridos na capacidade de “resolver os problemas” para poder agir sobre a situação criada pela problematização e construir o pensamento. Neste contexto, é muito importante que o professor perceba que toda a ação demanda uma pedagogia contextualizada, sendo, portanto, fundamental que ele reconheça que, segundo DEMO, 2000, p. 48), a) dialeticamente falando, toda a realidade é problemática, não porque contém defeito, mas porque é dinâmica, precisamente dialética, b) não há nenhuma inteligência na idéia de acabar com segue 276 teoria.indb 276 28/9/2007 16:13:57 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio os problemas, porque seria um modo de torná-los ainda mais problemáticos, c) saber questionar significa saber ver a realidade como sempre questionável, inclusive, significa ver o próprio questionamento, d) os problemas, em um certo sentido não são “problemas”, mas, expressão mais viva da sua dinâmica. (apud PANDINI, 2007, p. 171,172). A prospectiva teórica até aqui apresentada considera essenciais para a formação dos talentos e o desenvolvimento de competências próprias, as características de contexto social, como contexto de discurso e de negociação, em quanto próprias dos processos de produção do conhecimento e dos saberes anteriores a escola. Por outro lado, a esta última lembrança, vai recordado como os dados das pesquisas de observação, sobretudo inspiradas na sociolingüística e na etnografia da classe, têm demonstrado como predomínios na interação verbal entre professor e alunos a seqüência em três partes constituída da “pergunta do professor, resposta do aluno, e comentário-avaliação do professor”. O questionamento mais freqüente do professor e que assemelha também a diversos estilos de ensino, se caracteriza pelo fato que não se trata de “perguntar para saber” ou para “perguntar para entender”, mas de perguntar, na maioria dos casos, o objetivo de verificar se o aluno sabe aquilo que deveria saber. Como tem demonstrado um pesquisador (Mehan, 1979), já nas primeiras séries as crianças têm aprendido o status particular destas perguntas, que é profundamente diferente do que é vivido no cotidiano: responder buscando recordar aquilo que foi dito pelo professor ou o que foi lido no livro texto. É por outro lado possível, “restituir” à escola o papel essencial de elaboração, explicação e ilustração dos “objetos do conhecimento” que as compete. O método vygotskiano de interação social consente em colher o nexo fundamental que liga o desenvolvimento à educação e torna possível entender como a instrução escolar – com as suas particulares e de continua referência a uma “realidade” baseada na língua escrita (Olson, 1979), sobre o conhecimento científico (Pontecorvo, 1988), com as suas práticas de alfabetização - para promover o modo científico, racional e abstrato de pensar e de raciocinar, formar talentos e adquirir competências. Unidade 7 teoria.indb 277 277 28/9/2007 16:13:57 Universidade do Sul de Santa Catarina Nesta perspectiva, a interação educativa entre o professor e alunos desenvolve um papel fundamental porque esta verifica através de estratégias e relações com forte mediação semiótica (Wertsch, 1985) uma mediação oferecida pelos instrumentos técnicos próprios da cultura de pertinência, dos complexos sistemas simbólicos, a exemplo, da língua escrita, da matemática, das ciências físico-naturais, das ciências sociais. Em outros termos, as origens sociais do funcionamento mental individual não podem ser repetidas unicamente na simples interação social com os adultos e com os pares, e portanto, no funcionamento inter-individual da díade que opera juntamente no discurso, na atividade de rotina, na solução de problemas. Neste sentido estão presentes objetos, práticas, discursos em referência a um contexto sociocultural mais amplo: pensa-se no ambiente físico no qual tem lugar a atividade, na organização do tempo, na presença de objetos particulares, no setting particular. Tanto mais isto vale quando nos referimos à interação social, que tem lugar na escola e nas novas formas de mediação semiótica – que são próprias do conteúdo escolar nos seus vários níveis – ou que pelo menos o caracterizam: a presença dominante de textos escritos, a formalização e a abstração própria da matemática, por exemplo, a (diversa) sistematicidade dos ensinamentos científicos e daqueles histórico-culturais e daqueles histórico-sociais, a descontextualização. Mas as especificidades das mediações culturais que se realizam em torno da escola, determinam – por sua vez - diferentes formas de discurso, diversas “práticas discursivas” que a atravessam sem ser-lhes próprias: trata-se de modos de recordar, de fazer inferências, de explicar, de justificar, de argumentar, de comportar-se teatralmente de forma a transmitir para o individuo em aprendizado novos procedimentos do conhecimento, novas organizações conceituais, novos modos de ler e interpretar a realidade. Algumas pesquisas (Edwards & Middleton, 1988) têm mostrado, como através das conversações entre mães e filhos (em idade entre os dois e seis anos) que olham junto álbum de fotografias, as crianças “aprendem a recordar”, a reconstruir e a argumentar as suas lembranças e as suas interpretações. 278 teoria.indb 278 28/9/2007 16:13:57 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Em outras pesquisas tem também mostrado como a discussão não se realiza “naturalmente” na escola: ela é antes o resultado da introdução de um conjunto de condições de artefatos que consentem o processamento conjunto dos conteúdos, dos estilos e dos comportamentos que os atores colocam em jogo. Nesta, como em outras pesquisas (Pontecorvo & Pontecorvo, 1986), se pode constatar como efetivamente é verdadeira a afirmação de que fala Vygotski (1974), que afirma que a discussão precede o raciocínio”. A situação social de construção coletiva do conhecimento e da explicação é, em suma, a condição matriz que preside tanto ao desenvolvimento dos saberes e das disciplinas quanto aquele das competências, como temos definido neste estudo. Neste contexto é, então, possível mostrar, como neste tipo de interação social, os alunos não adquirem, somente novas formações cognitivas, mas também uma mais articulada e conjuntamente determinada consciência em relação ao seu uso dentro de contextos determinados. A situação de interação finalizada ao conhecimento torna assim possível o desenvolvimento e a metabolização de capacidades metacognitivas, que são essenciais para se organizar em sistemas de competências dos seus sempre mais experientes, processos de aprendizado. Unidade 7 teoria.indb 279 279 28/9/2007 16:13:57 Universidade do Sul de Santa Catarina Com o “saber como saber”, referimos-nos por outro lado, a todos os comportamentos potencialmente conscientes (estratégias) que colocamos em ação para adquirir conhecimentos; estes têm um caráter mais voluntário dos meros processos de saber, e se prefere defini-los “processos de controle” (Atkinson e Shiffrin, 1968). Os fenômenos do “saber em torno do próprio saber”, enfim, constituem-se os fenômenos de “meta-memória” (ou “meta-cognição”): uma pessoa desenvolve meta-cognição quando está em condições de avaliar quais coisas são para ela mais simples de recordar que outras, ou quando é consciente do fato que está para recordar uma certa informação, enquanto uma outra informação é para ela, naquele momento, de todo irrecuperável. Em síntese, haver tal capacidade significa (Brown, 1978), em primeiro lugar saber que uma certa coisa, se sabe ou não se sabe (Brown, 1978): feeling of knowing, ou sentimento de saber). Em segundo lugar, se nos são colocados ou se coloca autonomamente a uma certa tarefa (leitura, resolução de um problema, etc.) para adquirir ou aumentar a capacidade e os conhecimentos, ocorre saber : 1) fazer previsões (sobre o grau de dificuldade da tarefa, sobre as próprias capacidades de memória, sobre o alcance das próprias estratégias); 2) planificar a própria atividade; 3) verificar e controlar os resultados das próprias tentativas de aprendizado, compreensão e lembrança. Previsão e planificação constituem as fases que precedem a tentativa de resolução do problema; segue-se à tentativa propriamente dita, nas quais se colocam em ação as estratégias (capacidades cognitivas) sobre as quais em precedência, desenvolve-se o trabalho de previsão e planificação ou planejamento, e sobre cujo resultado se faz de novo operar a atividade meta-cognitiva de verificação e controle, até quando o próprio resultado não corresponde à representação que dele nós estávamos construindo. SEÇÃO 2 - Os modelos culturais como fatores de aprendizado Com relação ao aprendizado, seja para nós aquilo que o aluno já sabe quando entra na classe: este é determinante com respeito a que coisa, como, e quando ele aprende daquilo que a escola 280 teoria.indb 280 28/9/2007 16:13:58 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio desenvolve. Neste ponto, a opção de cada metodologia didática marcada por espírito de pesquisa deve propor uma estratégia metodológica que: privilegie um modelo de cultura ou de ciência e portanto de educação em permanente evolução; privilegie um modelo de interação educativa baseado na construção das modalidades cognitivas do sujeito em aprendizado; individualize entre cultura e formação individual um rico tecido de origens comuns e finalidades; privilegie um modelo de aprendizado no qual fazer, dizer, pensar, refletir e fazer tornam-se as coordenadas fundamentais para facilitar a personalização da intervenção formativa. Poderemos brevemente dizer que na nossa ação formativa, sobre a base da reconstrução prospectada, somos guiados por dois paradigmas fundamentais, pois cada intervenção formativa se configura como uma intervenção que tende a uma transformação dos saberes, saber fazer, saber ser, de um sujeito, em razão de seus talentos. Vejamos quais são, então: Tal transformação ocorre de maneira voltada para: a) a base dos fatores que presidem ao desenvolvimento mental do indivíduo; b) dos processos através dos quais se organiza o aprendizado dos conhecimentos e das experiências; Desse modo, ocorre que: a aquisição de conhecimentos, pesquisa e transmissão dos mesmos são aspectos inter-relacionados de uma intervenção formativa, no qual faz emergir paradigmas e procedimentos específicos e gerais de forma tal que o sujeito se reconheça como parte integrante e ativa da cultura científica e tecnológica que lhe é proposta; Unidade 7 teoria.indb 281 281 28/9/2007 16:13:58 Universidade do Sul de Santa Catarina o sujeito adquire habilidade e competência sempre mais específica nos setores de conhecimento para o qual é orientado; o sujeito esteja habilitado a transferir os modelos apreendidos de critério e de solução para outros setores do conhecimento. Aqueles que nós temos designado, portanto, como os paradigmas da intervenção formativa, estado/transformação, e pesquisa/ transmissão, são entre eles intimamente conexos: cada um destes de fato se explicita, no equilíbrio entre estabilidade ou imobilidade e dinamicidade. Entre estas duas coordenadas uma didática preparada para formação dos talentos, assume caracteres bem precisos, que conotam a educação como formação de competências multi-alfabetas. Adquirir competência significa, de fato, aprender as regras de combinação continua das informações, das habilidades, dos comportamentos adquiridos. Isto não exclui a performance, mas não a pressupõe. Estas não serão outras que as manifestações eficazes e diversificadas da contínua adaptação ao contexto, realizado de forma progressivamente competente do próprio indivíduo. A idéia fundamental que rege a ciência cognitiva no seu complexo é que a mente humana não é somente um complexo sistema de elaboração das informações; é ainda mais partner de um contínuo e recursivo processo de transformação e de conservação de redes de informações. Não se pode mais sustentar, simplesmente que as informações, que nos provem do mundo externo, em várias formas (visíveis, lingüísticas, etc.) são aqueles certos condicionamentos culturais que vem, então, decodificado, elaborados e integrados pela mente através de uma série de processos construtivos e organizativos que representam os aprendizados. O produto de tais transformações é, ao contrário e, ao mesmo tempo, aquilo que guia tais processos construtivos e organizativos da experiência; é aquilo que dá forma cultural aos mecanismos de elaboração das informações organizadas em forma estável e conservadas na memória de longo termo. São tais interiorizadas e personalizadas estruturas de informações que fornecem a “moldura” dentro da qual os novos eventos da experiência são construídos e integrados. 282 teoria.indb 282 28/9/2007 16:13:58 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Os modelos culturais tornam-se, assim, segundo a recente perspectiva cognitiva, a trama narrativa dos processos de aprendizado e de personalização dos mesmos. É na memória que as informações ganham estabilidade e recursividade. Cada processo de aquisição de novos conhecimentos podem portanto, considerar-se ao mesmo guiados pelos paradigmas e pelos modelos de experiência que já possuímos (conceptually driven) e guiado pelos novos que recebemos (data driven) (Bobrow e Norman, 1975; Norman e Bobrow, 1975). A aquisição de novos conhecimentos é determinado por aquilo que está presente na mente ou daquilo que, para a mente é novo, varia claramente caso a caso (às vezes prevalece a atividade de interpretação do novo com base naquilo que já se sabe, outras vezes ao contrário, é prevalente o peso dos elementos, ou dados, novos). Mas sempre, cada uma atividade de aquisição de novos conhecimentos se configura como cada atividade de “compreensão” ou integração de tais conhecimentos com as estruturas de conhecimento pré-existentes. Vem como conseqüência, para um símile “eco-sistema de redes mentais” o motor principal das contínuas interações, é um processo recíproco e multipolar de interpretação. Os modelos “experts” como estratégia de descoberta, de conhecimento e de experiência Ao retomar ao discurso até aqui desenvolvido, não se pode deixar de concluir que se os modelos produzidos pelas diversas tramas conceituais das disciplinas constituem as unidades organizativas da memória semântica de uma disciplina, igualmente eles, uma vez aprendidos e metabolizados, constituem os esquemas cognitivos dos quais é tecido o processo de personalização dos aprendizados no indivíduo. Os esquemas, de fato, são entendidos, em geral, como as “unidades organizativas da memória” (Norman, 1979), os “tijolos de construção da atividade do conhecimento” (Rumelhart, 1978). Eles são os elementos fundamentais dos quais dependem todo o processamento da informação, que por estes são guiados: de fato são utilizados no processo de interpretação dos dados sensoriais (sejam lingüísticos, sejam não lingüísticos), na recuperação da informação da Unidade 7 teoria.indb 283 283 28/9/2007 16:13:58 Universidade do Sul de Santa Catarina memória, na organização das ações, na determinação das metas e submetas, e na destinação dos recursos cognitivos (Bobrow e Norman, 1975; Rumelhart, 1978). Existem, em memória, esquemas de objetos, de situações, eventos, seqüências de eventos, ações e seqüências de ações. A noção de esquema parece portanto, a mais geral para assumir debaixo de si outras (elaboradas no interior da Inteligência Artificial no sentido de definir novas estruturas de dados para representar as descrições complexas do mundo), quais noções de frame (Minsky, 1975; Winograd, 1975; Charniak, 1975) de roteiro (script) ou de plano (Schank e Abelson, 1975; 1977). São para serem concebidos como “estruturas de dados” (isto é, conjuntos de conhecimentos e de associações entre conhecimentos) que servem para representarem as noções genéricas conservadas na memória, vale dizer, aquelas mais complexas que se encontram com maior freqüência (Rumelhart e Ortony, 1977; Thorndyke e Hayes-Roth, 1979). Neste sentido, os esquemas são semelhantes aos estereótipos ou aos protótipos dos conceitos que representam (Rosch e Lloyd, 1978) (Poggi,1991). Segundo Rumelhart (1978): Os esquemas são como os roteiros das comédias: como uma comédia tem os personagens que podem ser interpretados por atores diversos em tempos diversos sem que a comédia mude substancialmente, assim um esquema tem variáveis que podem ser associadas (coligadas) a aspectos diferentes do ambiente. Considera-se, por exemplo, o esquema do conceito “comprar”: ele implica substancialmente três elementos, que são “um comprador”, “um vendedor” e “qualquer coisa que seja comprada/vendida”. Estas são as constantes, que se repetem (como em uma comédia que trate deste argumento) podem ser “interpretadas” por indivíduos ou objetos diversos. Nem todos os indivíduos ou os objetos, de qualquer maneira, podem interpretar os papéis especificados pelo esquema: sobre variáveis de um esquema agem, isto é, dos vínculos particulares. Os esquemas são como as teorias, isto é, como as teorias servem para interpretar eventos, objetos ou situações e a formularem hipóteses e previsões sobre estes. 284 teoria.indb 284 28/9/2007 16:13:58 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Os esquemas são como as rotinas, no sentido que, como as rotinas são mecanismos computacionais e ativas e como as rotinas constam de sub-rotinas, também os esquemas constam de um conjunto organizado de sub-esquemas (os quais por sua vez constam de subesquemas, e assim por diante até a individualização dos constituintes primitivos). Por exemplo, o esquema de uma face consta de uma certa estrutura de sub-esquemas (da boca, do nariz e assim por diante), cada um dos quais representa um constituinte diferente de uma face. Ver Saiba mais no final desta unidade. Os esquemas são como analisadores gramaticais (parsers), isto é, são como mecanismos que, dada uma seqüência de símbolos, determinam se aquela seqüência forma uma frase (segundo as regras de uma gramática qualquer) e, no caso que a forme, determinam a estrutura em constituintes. Da mesma forma, encontrar e verificar o esquema apropriado para uma série de fenômenos, significa cumprir um processo de “análise” em elementos conceituais, encontrando constituintes e sub-constituintes entre os dados. Sintetizando, os esquemas têm variáveis; podem ser inseridos um dentro do outro; representam os conhecimentos em todos os níveis de abstração; representam conhecimentos, mais freqüentemente do que definições (Rumelhart e Ortony, 1977); são ativos; funcionam como mecanismos de reconhecimento e de controle para avaliar a sua adequação a render conto dos dados que são tratados (Rumelhart, 1978). Ora, se na mente existem tantos esquemas de objetos, quanto de ações, de eventos, de situações, e assim por diante, as diversas interações que se produzirão no indivíduo ativarão nele um grande número de sistemas de relações que giram em sua volta no processo geral de interpretação/compreensão gerando previsões e expectativas, e coligando entre eles os diversos conhecimentos e representações. Ao mesmo tempo, geram previsões, expectativas e interpretações, também outros tipo de esquemas ativados necessariamente dos próprios eventos. Unidade 7 teoria.indb 285 285 28/9/2007 16:13:58 Universidade do Sul de Santa Catarina A trama narrativa dos modelos de ensino Mas prevalentemente os condicionamentos culturais, e portanto também os saberes, assumem a vestimenta de histórias. Uma conclusão para a educação é que, para facilitar ao aluno no desenvolvimento de uma competência multi-alfabeta nos confrontos com o sistema cultural em evolução, ocorre que os “textos” com o qual ele entra em comunicação sejam as “histórias” (e não seqüências “artificiais” de fases), vizinho aos esquemas que eles já possuem no desenrolar dos eventos na realidade, e “bem conexos”. Isto significa dizer, por exemplo, que as histórias devem apresentar tanto continuidade (vale dizer conexões claras de uma frase para a seguinte, ou de um grupo de frases ao esquema, isto é para a trama, para a descrição de um personagem, para a situação), quanto a descontinuidade e conflito (entre os diversos objetivos e planos de ação dos diversos personagens da história) (Bruce,1978). Este último aspecto (o conflito) parece melhor analisado dos modelos de análise dos “planos”, que tem a vantagem de dar-se conta de histórias (certamente mais complexas, mas também mais reais) nas quais os personagens, e os conseqüentes objetivos, são mais de um (Black e Wilensky, 1979). Foi todavia, objetado por alguns (Brown, 1979) que os esquemas, assim como resultam caracterizados até aqui, funcionam substancialmente como esquemas de assimilação (no senso piagetiano). Rumerlhart e Norman (1991) têm proposto uma interpretação para estas questões. Segundo eles, obtêm-se o aprendizado todas as vezes que se ativa uma modificação qualquer na base de conhecimento de uma pessoa. Tal modificação ocorre segundo três modalidades fundamentais: a) por crescimento, b) sintonização (tuning) e c) reestruturação dos esquemas. a) O aprendizado por crescimento: é talvez o tipo mais comum de aprendizado e tem sido o mais estudado tradicionalmente pelos psicólogos. Ele consiste em uma acumulação de informações na memória que não leva a mudanças estruturais no sistema de processing das informações, isto é, não leva a formação de novos esquemas. Este tipo de aprendizado, que se baseia na 286 teoria.indb 286 28/9/2007 16:13:58 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio organização já presente na memória, é o aprendizado natural e direto, colateral do processo de compreensão. b) O aprendizado por sintonização: dos esquemas é por outro lado, um tipo de aprendizado mais significativo, em quanto implica reais mudanças nos esquemas que já possuímos, quando estes se demonstram inadequados para interpretarem novas informações. Coloca-se em “sintonia” de um esquema quando as estruturas de relações fundamentais dele permanecem imutáveis, e são modificadas somente em suas constantes e suas variáveis. A modificação pode ocorrer em três maneiras: a) melhorando o conhecimento dos vínculos cujas variáveis do esquema são submetidas, de modo a acrescentar precisão com a qual o sistema é aplicado (por exemplo, no decorrer da aquisição da linguagem, a criança que aplica uma certa regra sintática para todos os casos semelhantes, deve “sintonizá-la” aprendendo pouco a pouco as exceções, ou seja, as limitações às quais é submetida a aplicação da regra); b) generalizando a aplicabilidade de um esquema, isto é substituindo uma parte constante deste, com uma variável (por exemplo, quando, sempre durante a aquisição da linguagem, o significado de um termo vem aplicado para cobrir outros casos); c) especializando a aplicabilidade de um esquema, ou seja, cumprindo a operação inversa da precedente: fazer constante aquela que primeiramente era uma variável (por exemplo, quando uma criança se especializa no uso de uma palavra, não chamando mais “cachorro”, para todos os animais, ou “mamãe” para todas as mulheres). c) O aprendizado por reestruturação: é por fim, aquele que leva à criação de novos esquemas. A formação de novos esquemas pode ocorrer substancialmente em duas formas: a) o novo esquema pode ser “modelado” sobre um velho; o novo esquema consiste, isto é, em uma cópia do velho com algumas modificações. Muitos novos conceitos se formam deste modo, que é substancialmente o aprendizado por “analogia”; Unidade 7 teoria.indb 287 287 28/9/2007 16:13:59 Universidade do Sul de Santa Catarina b) o novo esquema pode ser “induzido” das regularidades das configurações espaciais e/ou temporais de velhos esquemas. Este tipo de aprendizado corresponde substancialmente ao clássico “aprendizado por continuidade”, mas segundo Rumerlhart e Norman (1978) ele não é relevante para o aprendizado de argumentos complexos. Por seu parecer, por outro lado, a maior parte dos novos esquemas são formados “por analogia”. Do conjunto destas pesquisas se beneficiava acima de tudo a convicção de que as pessoas dominavam as habilidades metacognitivas em medida diferente uma das outras, em quanto as representam na sua trama narrativa. Apreende-se de modo significativo portanto, quanto mais desenvolvemos sistemas de competências que nos ajudem a personalizar as nossas experiências e os próprios condicionamentos culturais como talentos. Mas como fazer? Não é por acaso, que se têm aprendizados de baixo conteúdo de complexidade em direção a aprendizados sempre mais refinados (como por exemplo, o aprendizado da sintaxe, os aprendizados semânticos, o desenvolvimento dos gráficos cognitivos, o exercício das atividades mnemônicas de tipo dinâmico). Não é por acaso, se repete, porque são estes os sistemas de competências fundamentais que consentem nos conhecimentos e nas experiências de regenerar-se e de personalizar-se de modo significativo. Ora, o fio vermelho de todo o percurso, e portanto, a base sobre a qual se atesta hoje aquele cruzamento que é resultante da convergência da ciência cognitiva, da psicologia do aprendizado escolástico, da didática cognitiva e da pedagogia fundamental, o fio vermelho de quanto até aqui temos sugerido, é próprio no conceito de mapping. Nós pensamos, e portanto, aprendemos, não produzindo inferências, mas acima de tudo, e por recorrência, produzindo significados (Nota do tradutor: it. ricorsivamente, do ing. Recursive functions). 288 teoria.indb 288 28/9/2007 16:13:59 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Os nossos modelos mentais não são silogismos, mas redes abertas de sistemas e nós de simbolização. Não é por acaso, que recentemente, em estreita conexão com o problema da qualidade da educação, se esteja difundindo o conceito de mapa cognitivo também na pesquisa educativa e na prática didática. Ainda, no mapa fazem parte a função e o uso dos vários elementos; todos os habitantes de uma zona urbana, por exemplo, normalmente, conhecem não somente onde é a parada de ônibus, mas também os horários daquele serviço público. Por outro lado, no mapa, de qualquer maneira, coexistem junto às informações objetivas, elementos de avaliação que se organizam em uma espécie de representação emotiva do próprio ambiente. Estes últimos aspectos ás vezes são definidos “imagens” de ambiente e frequentemente são a exteriorização de sentimentos, preconceitos ou também avaliações estéticas. Mais especificamente podemos definir o mapa cognitivo com uma útil metáfora. Na realidade uma metáfora ambígua porque integra dois processos mentais diferentes entre eles: mapa cognitivo é, seja, o processo cognitivo através do qual a mente organiza os seus dados de conhecimento (o cognitive mapping), seja, o produto de tal conhecimento, a representação simbólica de um setor da realidade externa. No primeiro caso, se tem os processos cognitivos que organizam os dados e as informações em forma espacial. Neste sentido, o mapa tem a inestimável vantagem da espacialidade, da simultaneidade das informações, e por isso, a possibilidade de descobrir relações novas entre os dados que não tinham sido armazenados em virtude das próprias características coercitivas. Assim, o mapa cognitivo se transforma em uma boa maneira para resolver os problemas, também de natureza não espacial. De um outro ponto de vista, porém, o mapa cognitivo é uma representação do conhecimento. Ora, para compreender a importância que este conceito reveste-se para os professores, recorremos da distinção entre conhecimento tácito e conhecimento explícito proposto por Polanyi (1964). Intuitivamente, um mapa cognitivo é uma espécie de pequenos mapas mentais de uma zona mais ou menos familiar da experiência, e é formada por elementos de informações das mais diversas naturezas. Temos informações de tipo espacial, como por exemplo, o deslocamento recíproco das várias partes do ambiente e os percursos que unem as várias zonas. Temos informações de tipo comportamental, sinestésico, temporal. Podemos ter tantos tipos de informações quantos são os campos da experiência e do conhecimento até aqui explorados. Nesta perspectiva, o conhecimento em si mesmo não tem uma “forma”, como se trata da capacidade de construir relações, inferências, conexões lógicas e assim por diante. Quando, porém, se entende comunicar o conhecimento tácito, este deve assumir uma forma qualquer dotada de senso. Naturalmente, Unidade 7 teoria.indb 289 289 28/9/2007 16:13:59 Universidade do Sul de Santa Catarina o conhecimento explícito não necessariamente deve ser exteriorizado. Pode tratar-se também de uma comunicação “interna” à mente, e promover-se como uma sucessão organizada de imagens mentais. O mapa cognitivo, portanto, enquanto se configura como uma modalidade explícita do conhecimento, é também modalidade de aprendizado. Naturalmente não se navega no vazio. E os mapas cognitivos cada mente, os forma através de mundos textuais infinitos, navegando entre universos de conhecimentos codificados, entre códigos simbólicos, icônicos, acústicos, gráficos. Percorrendo de fato, fadigosamente todos os percursos de habilidades que nos conduzem a desenvolver interrogações não somente pertinentes, mas também úteis e eficazes, das bases de conhecimento, nos iluminam sobre percursos análogos que a mente de um aluno cumpre para construírem-se os seus mapas pessoais cognitivos. Assim que os alunos reconhecem e memorizam os objetos no espaço cultural das suas experiências disciplinares por suas propriedades perceptivas intrínsecas. Demonstram encontrar dificuldades para colocá-las em relação umas com as outras dentre uma rede de relações espaciais gerais, mas tendem a recoligar o objeto no espaço com ação no espaço, ou seja, com a seqüência temporal dos movimentos físicos que tem englobado o próprio objeto. Os alunos têm necessidade de “macroestruturas conceituais” como pontos de referência porque destes se utiliza o seu “cognitive mapping” como atividade iminente de organização, catalogação e modificação dos percursos de pesquisa, exploração e equilíbrio pessoal no espaço cultural. Pontos de referência tornam-se os pontos de ancoragem sobre os quais se estruturam nas linhas de conjunção espacial, precisamente aqueles gráficos cognitivos dos quais se tratava no parágrafo precedente. Um ponto de referência de fato, não é nunca isolado por si, e também se não é inserido em um conjunto completamente organizado como um mapa implica pelo menos, uma relação de orientação corpo-objeto. 290 teoria.indb 290 28/9/2007 16:13:59 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Portanto, os alunos começam a estruturar uma construção cognitiva do modo com a qual percebem, atribuindo-a valores e significados absolutamente pessoais, o ambiente dentre os quais se movem. É precisamente o mapa no seu sentido incoativo, de mapa “por ilhas”. A sua representação do conhecimento procede assim por ilhas organizadas de conhecimento sobre a forma de mapas: grupos de objetos (saberes, técnicas, conhecimentos, comportamentos, estilos de vida e/ou de trabalho) são organizados de acordo com as suas relações espaciais recíprocas, mas não ainda com a inteira base de conhecimento. Por fim, os alunos procedem por adotar-se de um sistema objetivo de referência: é o equivalente do thesaurus e da relativa indexação deste último, do qual se tratava no parágrafo precedente. Neste ponto o sistema-mente tem alcançado bases de mobilidade interna e de reversibilidade que não podem se não fundamentarse sobre e gerar relações perspectivas. Em suma, deste ponto em diante, os diversos mapas cognitivos tornam-se redes semânticas, ou seja, modelos mentais: modelos de trabalho intelectual, modelos de comportamento da mente, modelos escolares e pessoais de organização da experiência. Vamaos conhecer um pouco mais sobre isso? CRITÉRIOS, SEQÜÊNCIAS PRODUTIVAS START Análise dos sistemas de competências requeridas para cada perfil profissional; representação dos conhecimentos dos sistemas de alimentação (conhecimentos, competências e performances) cultural do perfil. Seleção dos nós de competência. 1. Pesquisa das correspondências entre competências e conhecimentos, construção das correlações e explicitações dos pesos de contribuição dos diversos conhecimentos para a constituição do perfil formativo integrado de referência. Unidade 7 teoria.indb 291 291 28/9/2007 16:13:59 Universidade do Sul de Santa Catarina EFICAZ 2. Reagrupamento das correlações elaboradas em áreas formativas, cada uma referida a um sistema de competência individualizado como necessário, seqüêncialização das mesmas, conseqüente re-interpretação dos Programas à luz do percurso desenvolvido. ECONÔMICO 3. Trabalho de cada disciplina contribuinte. Apresentação dos fatos cujos argumentos reenvia, havendo cuidado de explicitar os princípios ou os modelos interpretativos que consentem a uma disciplina de lê-los em modo determinado. 4. Representação do conhecimento disciplinar como trama de modelos; desenvolvimento das famílias de conceitos relativos; explicitação dos nós de permutas internas/externas para a disciplina; Desenvolvimento dos esquemas-guias. ESPECIALISTA 5. Re-compactação dos conhecimentos e das competências perseguidas como modelos espertos para a competência. Sistematização dos quadros interpretativos. Exercícios de navegação analógica no interior dos quadros interpretativos requeridos pelos setores mercadológicos ou profissionais de referência. de novo... EFICAZ SEÇÃO 3 - Em direção a escola modular: aprendizados e organização do ensino Do ponto de vista estrutural vale dizer que uma escola que saiba modular a própria oferta cultural segundo as áreas de aprendizado escolhidas como prioritárias para assegurar a formação dos talentos em um multi-alfabeta, valoriza o aprendizado. Mas desenvolver um currículo em estrutura modular não é coisa fácil, e reconduz em primeira linha 292 teoria.indb 292 28/9/2007 16:13:59 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio muitas interrogações examinadas no panorama dos modelos de currículos precedentemente apresentados. Compreender e precisar os nexos de relação entre âmbitos disciplinares diversos, em modo que em cada um módulo resulte explicitadas analogias e diferenças entre as disciplinas e as relativas linguagens de mérito, significa mover-se segundo a lógica de um currículo por objetivos de aprendizado, ou seja, segundo aquela da pesquisa e em direção de um currículo integrado? É este um processo bastante delicado para o professor (ao qual talvez ele mesmo não está preparado); mas é também um passo fundamental para o futuro professor. Para obter a construção de um módulo, para que este venha organizado e usado como um mapa com ferramental de conhecimentos e experiência, ocorre buscar um dimensionamento, dos conteúdos e dos métodos, bastante sutis. O módulo deveria de fato sempre consentir ao aluno de conjugar de maneira sistemática o específico e o geral; o individual e o social, a experiência e os sistemas interpretativos da mesma; ser uma janela aberta para o mundo e ao mesmo tempo resultar-lhe útil para aquele que lhe serve. Como fazer? Quais os critérios construtivos a serem perseguidos? Seguramente, em respeito a uma visão hierárquica-naturalista da cultura e das disciplinas, o paradigma de referência que pode unir quantos se dispõem ao trabalho, não pode senão, ser o convencimento da coexistência de um pluralismo metodológico e disciplinar. Unidade 7 teoria.indb 293 293 28/9/2007 16:13:59 Universidade do Sul de Santa Catarina Cada disciplina, de fato, é constituída de fatos, de conceitos, de procedimentos e de princípios. A sua lógica de disposição interna coincide com a sua história. A sua fecundidade explicativa (ou seja, a potência explicativa de seus assuntos e o percentual de tendência de hegemonia cultural que exprime) coincide por outro lado, com a sua história externa e institucional. Ora, fatos, conceitos, princípios e procedimentos, se deslocam entre eles no tempo (a história da disciplina) e no espaço (a rede dos saberes, dos trabalhos, dos poderes com os quais a própria disciplina dialoga necessariamente) desenvolvendo tramas de teorias, quase teorias, paradigmas, empréstimos e trocas. São estas a formarem as tramas conceituais que identificam e especificam cada disciplina na sua região de conhecimento. A trama é configurável como uma rede: e cada rede tem os seus nós. Os nós das tramas conceituais são os pontos nos quais cada disciplina se declara competente no conhecimento ou na transformação dos fenômenos e dos fatos que indaga ou que trata. Porque em fazendo isto a disciplina deve adotar modelos, os nós da trama conceitual serão propriamente os seus modelos competentes, explícitos, assumidos e utilizados pela disciplina como instrumentos econômicos, eficazes e fecundos de análise e/ou de transformações da realidade. Particularidade interessante, é que tais modelos competentes não são quase nunca autóctones: mais freqüentemente de quanto não se crê, estes resultam gerados em outros campos disciplinares e por outros propósitos; vem portanto descobertos, plasmados e reconhecidos como conhecedores da disciplina em exame em virtude de sua evolução histórica, institucional, tecnológica. Consegue-se por outro lado, que a especificidade do trabalho científico, por isso os paradigmas sobre os quais se credita a comunidade dos saberes com relação aquela do trabalho e das profissões, não é mais identificável somente nos princípios de confirmação e de falsificação. Uma ciência tão mais verdadeira quanto mais ampla, advém do seu poder explicativo com relação aos objetos de pesquisa e de conhecimento. E a ciência se apresenta sempre mais como uma rede de analogias. 294 teoria.indb 294 28/9/2007 16:14:00 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Se aquilo que distingue uma disciplina de outra está fundada na fecundidade explicativa dos seus modelos e de seus paradigmas, nesta maneira a comunicação entre as disciplinas vem nos fatos que resultam obrigados de alguma coisa que é um conjunto comum e mais coercitivo tanto a lógica interna das disciplinas quanto a sua história externa ou institucional. Esta coisa é método ou os métodos adotados por cada disciplina para criticar e acrescentar os próprios conhecimentos e as próprias linguagens a respeito do mundo. E é ainda o método que guia para a crítica e para o crescimento dos conhecimentos e dos saberes, a produzirem linguagens: cada disciplina de fato, regionaliza o conhecimento do mundo imputando “atribuições de sentido”, ou seja significados, aos fenômenos sobre os quais se acha em condições de poder afirmar qualquer coisa que não seja banal. Mas por esta via não pode senão comunicar com outras regiões disciplinares, e assim reciprocamente. Nenhuma disciplina de fato pode desenvolver-se sem ensinar-se. Mas nenhuma disciplina pode ser ensinada, abstraindo-se dos métodos de trabalho que lhe tenham consentido de criticar-se, de acrescer-se e de estruturar os próprios conhecimentos. E como os métodos do trabalho científico não é outro que suas linguagens, nenhuma disciplina pode ser ensinada se não explicando os nexos e as relações que se integram, diferenciam as suas estruturas de conhecimento daquelas de outras disciplinas. É aqui o core problem do valor formativo das disciplinas. Uma prospectiva revira a ótica de isolamento, hierárquica, logística e taxionômica na organização dos saberes e na organização dos aprendizados do currículo por conteúdos. Não por acaso, Prigogine chama de “nova aliança” a perspectiva relacional semântica sob a qual se apóia ao mesmo modo de conceber a enciclopédia dos saberes: uma rede, isto é, não fechada e com os bordos franjados, de modelos e de paradigmas, através dos quais cada sujeito conhecedor navega obliquamente. Unidade 7 teoria.indb 295 Talvez este assunto possa ser melhor compreendido com a leitura de JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e Patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976. 295 28/9/2007 16:14:00 Universidade do Sul de Santa Catarina A organização do ensino O desenvolvimento sistemático de tal prospectiva é na pesquisa e na experimentação de um currículo definido “por bases de padronização” que de 1991 anima um grupo de Pesquisa-Ação junto a Cátedra de Pedagogia da Universidade Cà Foscari de Veneza. Para aprofundamentos cfr. U. Margiotta (aos cuidados de) Riforma del Currículo e formazione dei talenti, Armando, Roma 1987. Para ser formativa – transforma-se então, qualquer coisa de profundamente diverso daquele que é hoje; isto é num navegador entre mundos de conhecimentos e de experiências, utilizando modelos competentes e códigos de comunicação que consentem de utilizarem uma rota mais eficaz e mais econômica entre um mundo e o outro. Se tudo isto corresponde ao pluralismo metodológico e disciplinar dominante, e lhe está por trás, é evidente que o desenvolvimento de um currículo em estrutura modular de fazer corresponder os módulos a aqueles nós de comunicação disciplinar dos quais se falava. A tarefa de cada módulo formativo é a de controlar e estender os aprendizados significativos dos alunos; mas aprendizados significativos, funcionais aos comportamentos competentes requeridos do endereço profissional de referência. Se tratará portanto, de aprendizados significativos, em qualquer medida centrados diferentemente seja com respeito ao docente que ao aluno; e por outro lado, centrados sobre tarefas requeridas ao aluno pelo presumível exercício profissional dos sistemas de padronização aprendidos. Mas, se admitindo que os docentes e cultores disciplinares, aceitem em reorganizarem os conteúdos do ensinamento e aprendizado, e portanto também o livro texto, em vista de tal objetivo, como deveriam tratar o desenvolvimento dos argumentos disciplinares? Estes tem duas estradas a serem percorridas. A primeira é aquela da tradição racionalista ou clássica, mais conhecida hoje como estruturalista, ligada à preocupação de fornecer uma informação completa o mais possível do argumento, e de confeccionar a informação de modo a facilitar a memorização e a reprodução lógica. Obviamente o modo com a qual se organiza a informação e a confecciona-se didaticamente toma o seu critério de referência a lógica interna da disciplina e o modo com o qual esta se consolida. O critério estruturalista, até aqui seguido na análise disciplinar não se diverge fundamentalmente de tal assunto. O problema e o limite porém, de tal prospectiva são evidenciados propriamente no conceito da informação que esta tem utilizado. Se isto é que progressivamente toma consciência que quanto 296 teoria.indb 296 28/9/2007 16:14:00 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio mais complexo se faz o sistema das informações cientificamente estruturadas tanto mais neste aparecem as proposições das quais não é possível estabelecer se são verdadeiras ou falsas; tanto mais o sistema se revela estéril e impotente para orientar o aluno com relação à complexidade e a profusão de suas próprias linguagens. Portanto, o limite objetivo de cada premissa e dos elementos fundamentais do estruturalismo na análise disciplinar é no fato que esta, em crescer a complexidade e a ambigüidade, em uma palavra ate a profusão, que por outro lado caracterizam hoje, seja o exercício profissional, seja qualquer forma de compreensão científica e cultural, portanto qualquer situação de comunicação. A segunda via tende preferivelmente a partir daquilo que a primeira transcurava: isto é analisar os elementos fundamentais de informação nas quais se articulam os processos de conceitualização, de raciocínio, de solução dos problemas cujos produtos se caracterizam como novos ou originais. A partir, isto é, da task-analysis de um resultado (que deveria aparecer como novo original para o aluno em aprendizado) se individuam em suas componentes de base, permitindo assim de colher não somente as estruturas conceituais ou disciplinares de base, mas também as relações são consentidas da combinação original e “criativa”. A segunda via se distingue assim da primeira por dois motivos: a) porque mediante a recuperação da “novidade” como conseqüência da elaboração da informação subjacente a todos os processos cognitivos, isto tem significativamente contribuído para tirar o caráter de excepcionalidade dos procedimentos intuitivos e heurísticos e lançar uma hipótese num continuum preferivelmente que é uma oposição entre a modalidade criativa e não criativa de aprendizado; Unidade 7 teoria.indb 297 297 28/9/2007 16:14:00 Universidade do Sul de Santa Catarina É notório de fato, que Bruner opôs ao aprendizado intenso como simples recepção e memorização de estímulos a imagem de uma atividade cognitiva como elaboração da informação, do pensamento e da cultura como uso de estratégias, da mesma conceitualização científica e profissional como verificação de hipóteses, concisamente pela tendência do individuo em superar o próprios limites cognitivos utilizando aquela sua iniciativa continua (a intuição) para andar “além da informação dada”. O valor de tal impostação é a possibilidade de dar conta não somente em modo completo, mas também processual e histórico do desenvolvimento “ordenado” de um saber; se desenvolvida coerentemente esta asseguraria a aquisição das estruturas lógicas fundamentais da própria disciplina. A instrução deve portanto, desenvolver e potencializar as capacidades de elaboração, de armazenagem e recuperação das informações, que permitam ao aluno aprender a aprender e de controlar o próprio aprendizado. Assim, o desenvolvimento das metodologias didáticas e das tecnologias educativas, devem assegurar tais qualidades aos aprendizados escolares: estar juntamente responsáveis e conscientes, alem de que estruturalmente gerativos de novos conteúdos e novas habilidades. b) porque tem conduzido um estudo dos comportamentos cognitivos, em particular o estudo das analogias em relação ao transfer a individualizar precisas modalidades de interesse psico-pedagógico que consentem em superar o impasse do método estruturalista na análise disciplinar. Sobre este item, podemos dizer que em primeiro lugar mostram a utilidade do recurso à analogia em campos disciplinares diversos como procedimento para consentir ao aluno de “andar além da informação dada” sem necessidade que a informação dada seja completa e exaustiva. Em segundo lugar, põem acento sobre o fato que a tarefa dos momentos de instrução é para induzir esquemas (ou esquemas de “raciocínio em base a um caso análogo” ou seja, “raciocínio em base a um esquema”); e, portanto, as informações curriculares devem sempre tenderem a colocar em evidência a semelhança entre os problemas, ou 298 teoria.indb 298 28/9/2007 16:14:00 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio eventos ou semelhanças. Em terceiro lugar, elas evidenciam como a direção do professor é fundamental em fazer com que os alunos se tornem conscientes das analogias, desde o momento que as pesquisas experimentais mostram que sujeitos encaminhados a colherem analogias aprendem melhor (75%) de quantos não o sejam colocados diante às analogias (30%). Poderemos definir a segunda via como centrada sobre o transfer, e isto é convencida que a tarefa da instrução seja sobretudo aquela de favorecer com cada meio, a produção e o desenvolvimento aprendizado “competentes” nos alunos. Um estabelecimento de premissas assim feito, obviamente requer uma metodologia congruente, de caráter processual-experimental, que persiga o alvo explícito de colocar os alunos em condições de assumirem uma estrutura formativa com base em caracteres dinâmicos, que lhes transformem sobretudo capazes de “auto-adaptação”. SEÇÃO 4 - Coerência vertical para um currículo flexível? Uma dimensão de coerência, por um tal currículo pode ser concebida como vertical, e explicita-se como ênfase a favor de uma estrutura escolar conjuntamente consecutiva e continuativa. Se poderia propor uma conexão vertical da escola materna até a Universidade, configurando cada fase formativa em base do convencimento de que o aprendizado é ou deveria ser “ao longo de toda a vida”. Um critério de tal envergadura, requer porém, que superposição, déficit, ou dispersões e disfunções sejam drasticamente e em breve tempo eliminadas. Mas se pode também pensar em uma coerência horizontal, que atravesse os diferentes conteúdos do conhecimento e da experiência e as diversas áreas do aprendizado, oferecidas para cada nível de instrução e para cada ano de estudo. Isto tem significado todavia, uma interpretação degênere, confusa e substancialmente burocrática de modulação: tem de fato contribuído para confirmar a idéia que a escolarização nas nossas sociedades seja um lugar de “estacionamento”, e enquanto tal como um novo problema social; assim que aos professores – e não por acaso – se tem pedido de confrontar-se com novas, inconsistentes, matérias tais como: “AIDS, “meio ambiente”, “racismo”, “intercambio cultural”, “diversidade religiosa”, “drogas”; matérias que vem sendo juntadas aos currículos uma após outra, e em modo Unidade 7 teoria.indb 299 299 28/9/2007 16:14:00 Universidade do Sul de Santa Catarina independente de qualquer estratégia formativa em sentido próprio. Parece, por outro lado, neste ponto, evidente que os esforços de renovação tem sucesso apenas, se os paises alcançam a produzir um desenho integrado do currículo abrangente, com o qual capturar o cenário dos novos desafios colocados pela demanda social, os modos atuais de ensino e os “objetivos em vista” do aprendizado escolástico. É por outro lado, agora evidente, que os alunos possam desenvolver aprendizados significativos muito mais eficazes de quanto conseguirem dar-se conta. Pelo contrário, as bases reais de aprendizado significativo são conhecidas e dominadas quanto mais os alunos são ativamente envolvidos nos relativos processos. Por conseqüência, uma reconstrução dos programas de estudo que consinta aos alunos em modificarem os próprios saberes e os próprios comportamentos naturais em saberes e comportamentos sempre mais competentes constituem um real investimento educativo e somente se traduzirem em tarefas de aprendizado mais realísticos, mais relevantes para os indivíduos e por isso mais envolvente aos seus esforços. Somente por esta via a reforma dos programas escolares pode aspirar a produzir modos mais eficazes de aprendizado. Em síntese, o desafio do aprendizado, hoje, é essencialmente isto: que cada percurso de aprendizado deve compreender e obter mais ação, mais independência de julgamento, mais responsabilidade, crescente reflexão se pretende verdadeiramente ser formativa. A força crescente das conclusões experimentais relativas à necessidade de privilegiar modos e estratégias de estudo e de aprendizados, assim como a ênfase sempre maior que se tem colocado sobre o trabalho intelectual cooperativo, sobre o trabalho em equipes, sobre o conhecimento prático nos lugares de trabalho e a pergunta sempre mais estimulada, de personalizar o mais possível os ganhos do aprendizado. 300 teoria.indb 300 28/9/2007 16:14:01 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Pausa para pensar!! Perceba que tudo isto obriga sempre mais ensino e aprendizado escolar a caracterizarem-se como áreas que requerem reformas e mudanças. Mas realizar isto requer novas pedagogias e, sobretudo, requer que se reforme algo que se dá por previsível: à classe resta o ponto focal de cada inovação curricular. A uma observação rigorosa parece, de fato, que os processos de reforma escolar se confrontem com uma substancial impermeabilidade da ação didática em classe: ou seja – onde se adota um método crítico – prefere-se evidenciar o caráter impraticável ou inacessível de cada mudança na ação didática na escola e em sala. O que acha disso? O que será necesário para reformar os modelos curriculares da escolas. Onde você considera a escola mais problemática? Quais os maiores obstáculos? Registre suas conclusões. Unidade 7 teoria.indb 301 301 28/9/2007 16:14:01 Universidade do Sul de Santa Catarina Para fugir às limitações supracitadas, incluindo as que você destacou, muitos países têm buscado focalizar a reforma do currículo sobre um desenvolvimento do aprendizado individual dos alunos que se deseja, baixando a idade de ingresso (formal e semi-formal) na escola. Isto tem suscitado um grande debate, sobretudo em torno dos seguintes problemas: se existem efetivos ganhos na formação das crianças da escola materna, antecipando para 5 anos o seu ingresso na escola elementar; como suprir à carência de experiências significativas sobre vantagens formativas conexas a antecipação que de fato infelizmente ainda acompanha cada decisão política que vá por outro lado em tal sentido; por qual motivo cada decisão política a favor da antecipação da obrigação escolástica não se acompanha nunca de um sistema que consinta em informar aos professores e aos pais sobre os reais patamares de aprendizado maturados por cada aluno, ano após ano. Mas, a coerência vertical requer uma clara articulação dos objetivos para cada um dos degraus da tragetoria de estudos. E a necessidade de assegurar plena mobilidade aos jovens em busca de trabalho é assegurada eminentemente, pela qualidade intrínseca dos estudos e do nível de personalização dos aprendizados obtidos. 302 teoria.indb 302 28/9/2007 16:14:01 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Mais uma parada, agora para discutir o ensino fundamental de nove anos. O Ensino Fundamental de nove anos é a nova proposta para a organização do ensino. Segundo o MEC, tem como objetivo “assegurar a todas as crianças um tempo mais longo de convívio escolar, maiores oportunidades de aprender e, com isso, uma aprendizagem com qualidade” (MEC, 2005). Com a nova configuração do Ensino Fundamental, deverão ser incluídos dois elementos nas discussões pedagógicas e metodológicas: a) os nove anos do trabalho escolar; e, b) a nova idade que integra esse ensino. Isto leva, necessariamente, a repensar o ensino e o currículo como um todo e é o que as escolas e as agências de formação devem fazer: discutir as questões implicadas nessa nova organização. (apud PANDINI, 2007, p. 95). O que você sabe sobre isso? Você concorda com esta nova redefinição curricular? E o que deve acontecer para que seja efetivamente implantado atendendo às necessidades dos alunos e da escola? Registre suas conclusões. Unidade 7 teoria.indb 303 303 28/9/2007 16:14:01 Universidade do Sul de Santa Catarina SEÇÃO 5 - Coerência horizontal para um currículo flexível? Cada disciplina de ensino vem, de fato, solicitada a explicitar a contribuição efetiva que essa assegura à aquisição dos aprendizados de base, da parte dos alunos; como também a ajuda real (metodológica, competente e significativa) que esta fornece a cada aluno pela experiência e os padrões no domínio do conhecimento que explora. Tudo isto, estimula então, antes, para uma mais rigorosa coerência horizontal do currículo, porque requer mais trabalho cooperativo entre os professores, propriamente a partir das diversas matérias ensinadas. Certamente, para as habilidades de saber ler, escrever e fazer contas, tal instância soará familiar, em consideração aos recorrentes movimentos de inovação didática que tem promovido aproximações multidisciplinares ou integrados ao desenvolvimento do aprendizado escolar. Mas quando as mesmas habilidades mais gerais e, todavia , não renováveis, quais sejam a alfabetização tecnológica, ou a capacidade inter-pessoal de trabalhar em grupo resultam – apesar dos esforços profusos – presentes em quantidade e em qualidade na maioria da população escolar, então, professores e diretores de instituições sabem que se requer transformações profundas e difíceis, não somente na maneira de ensinar e nos conteúdos disciplinares do ensino, mas na própria estrutura organizativa da escola, no modo de dirigi-la e de alimentá-la culturalmente e socialmente. Não é necessário, de qualquer maneira, cair na armadilha de fazer uma análise muito estreita das disciplinas e dos conteúdos de ensino. Cada disciplina tem evoluído ao longo dos anos e continuará a se desenvolver de forma autônoma. Os saberes não são sistemas fechados ou estáticos, nem apresentam confins rígidos e imutáveis. Eles dialogam e se sintonizam reciprocamente, mesmo com dificuldade; e freqüentemente, pelo contrário, demonstram poder assegurar uma oferta cultural coerente com a necessidade social e adequada aos tempos. Deve-se também registrar o fato que esta sua evolução os leva freqüentemente a individualizar, na organização dos conteúdos do currículo, áreas de aprendizado completamente novas, que não encontram a sua origem em nenhuma disciplina tradicional. 304 teoria.indb 304 28/9/2007 16:14:01 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Fontes de tais áreas são antes, incrementos sociais e argumentos de atualidade. É obvio que, para serem adequadamente desenvolvidas, tais áreas são preenchidas com elementos tomados por empréstimo das disciplinas tradicionais de ensino. Produz-se, porém, uma dicotomia entre disciplina e área de aprendizado que, na ausência de uma cooperativa vigilância por parte dos professores, termina por não ser muito significativa e estéril aos olhos do aluno. Tal dicotomia não deve, portanto, traduzir-se em antagonismo: disciplinas e áreas de aprendizado são complementares, no sentido que se transformam ao longo das práticas do conhecimento e de habilitação nas quais o aluno é empenhado. Os conteúdos de ensino asseguram o contexto significativo a cada processo de aprendizado e de formação. Em cada caso, independentemente do significado que se atribui a tal encontro (disciplinas – áreas de aprendizado) é unanimidade o consenso sobre o fato que o currículo transcende, compreende e dá sinergia aos saberes e às disciplinas que o compõem. Mais freqüentemente, se adverte para a necessidade de enfatizar o contexto consistente propriamente em fazer com que o currículo assegure formação do raciocínio prático e habilidades sociais e cívicas. Segundo Pandini, 2007, “os estudos do currículo priorizam aspectos mais gerais e globais, que fornecem subsídios para uma compressão da base educacional, sendo assim, procuram dar visibilidade aos pressupostos de seleção e organização do conhecimento e de como se dá esse processo. Mostra que as tendências que mobilizam interesses, pertencentes a indivíduos e grupos. O enfoque curricular se dá sob os seguintes “pronomes”: o “que”, “ por que”, o “para que” e sob quais alicerces o ensino vai se desenvolver, situando os sujeitos da relação ensinoaprendizagem, que são objeto de estudo da didática. (Apud PANDINI, 2007, p. 32). Unidade 7 teoria.indb 305 305 28/9/2007 16:14:01 Universidade do Sul de Santa Catarina Porém, “para que os conteúdos curriculares cumpram sua finalidade são necessárias ações no sentido de construir as melhores estratégias, que estão diretamente articuladas a “conteúdo”, “objetivos”, “avaliação”, “contexto sociocultural e político” etc. A tendência atual considera imprescindível uma integração entre currículo e didática, que precisa estar articulada no sentido de favorecer o trabalho docente de forma contextualizada tornando o ensino e a aprendizagem eficientes. O currículo escolar deve ser visto como a expressão de interesses sociais determinados. Você já seu deu conta disso, não é mesmo? Porém, é importante que se diga que este deve ser compreendido, também, como produtor de subjetividades, ou seja, sob o ponto de vista da produção de identidades, pois, segundo Vorraber Costa, (2005, p.51) “é um lugar de circulação das narrativas, mas, sobretudo, é um lugar privilegiado dos processos de subjetivação, da socialização dirigida, controlada”. É em grande parte à escola que tem sido atribuída a competência para concretizar um projeto de indivíduo para um projeto da sociedade.(Apud PANDINI, 2007, p. 36). O incremento por outro lado, de conhecimentos fortemente contextualizados é necessidade complementar. Esta última por sua vez requer itinerários de aprendizado ativo, explicitamente conectados a situações e experiências do mundo real. Como conseqüência, que a idéia, o desenho e a arquitetura do próprio currículo escolar são modificados para introduzir novas tipologias de tarefas escolares. Isto é, as disciplinas tradicionais não são abandonadas: elas são reutilizadas e repensadas para servirem como recurso vital em equipar os alunos para afrontarem problemas complexos. Problemas – nota-se – que nenhuma disciplina (sozinha ou em condições de hegemonia sobre outras) pode permitir-se de sonhar em resolver em modo apropriado. Estamos avançando? Certamente, no passado, algumas inovações e algumas propostas didáticas têm conseguido responder a esta exigência, mudando 306 teoria.indb 306 28/9/2007 16:14:01 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio o caráter e o modo de representar o estatuto das mesmas. Assim foi feito para matemática, as ciências ou a história, que têm introduzido no aprendizado escolar um trabalho por projetos, com os quais os alunos são chamados a aplicar as habilidades e os conceitos por eles apreendidos no âmbito rigorosamente disciplinar para a solução de problemas mais vastos e complexos; ou seja, eles são induzidos a aprender habilidades e conceitos inéditos, mas a partir do contexto disciplinar estudado, necessários para resolver os problemas individuais. Nestes casos o ensino tem produzido uma fecunda interação entre os elementos estruturais do conhecimento disciplinar e o estudo e a solução realística dos problemas as quais, aqueles conhecimentos são aplicados. Casos exemplares relacionados a isso podem ser tratados pela educação ambiental, em muitos países: os alunos afrontam os problemas do meio ambiente nas suas proximidades não mais como um exercício, mas como uma real contribuição às controvérsias e ao debate local, recolhendo, avaliando e propondo novos dados e novas idéias; participando assim de um debate nas comunidades locais de forma não extemporânea. SEÇÃO 6 - Adotar um critério ou ponto de vista sistêmico? A produção autônoma, porém, de saberes e conhecimento densamente contextualizados, da parte das escolas, requer estratégias didáticas e um aprendizado ativo com forte personalização com posicionamento privilegiado nas situações reais da vida e do trabalho. Como conseqüência, que a inteira ótica pedagógica, formativa e de política escolar expõem o seu baricentro de atenção verso um trabalho prático que se desenvolve na escola e em sala de aula. Desde que isto seja acolhido no debate escolar internacional e tais mudanças sejam consideradas necessárias para adequar os estilos de ensino e de aprendizado à demanda social. Tudo isto corre o risco de ser um mero movimento de opinião, no caso que não intercepte a estrutura e a prática de gestão do currículo como campo privilegiado de intervenção e de ação. São com efeito, os conteúdos do currículo o espaço no Unidade 7 teoria.indb 307 307 28/9/2007 16:14:01 Universidade do Sul de Santa Catarina qual de fato prende corpo concreto e se re-deslocam as novas hierarquias de valores emergentes dos acordos locais e das formas de conhecimento e do saber, fortemente contextualizados. É na trama curricular (conteúdos, métodos, objetivos, os pontos de chegada, os resultados formativos esperados) que as novas, formas concretas de conhecimento filtram os abstratos universais dos saberes e da experiência para regenerar-se através personalíssimas vias de reprodução e de difusão. Trabalhando sobre problemas reais de referência aos cenários concretos de escolhas e decisões, o aluno desenvolve naturalmente o desejo de escolher ou de decidir segundo sua conveniência, eficácia e responsabilidade. Mas por isso mesmo ele descobre a dimensão concreta e para ele é significativa entre a qual orientar as suas escolhas morais, as implicações sociais de suas responsabilidades pessoais e educativas. Do que foi dito cabe ressaltar que tal aproximação tem sido pouco difundida pelos diversos países, em inspirar às próprias políticas de renovação da escola (não sendo alcançada pela maior parte destes em liberar-se da dependência do paradigma da racionalidade tecnológica), mesmo que o conjunto das instâncias, das aspirações e dos objetivos colocados como fundamento de algumas tempestivas reformas do currículo, nestes últimos anos, encontram na prospectiva apenas delineada a forma lógica conseqüente às alternativas encaminhadas ou iniciadas. De modo que, as duas maiores prioridades do ponto de vista sistêmico à reforma do currículo poderiam ser constituídas mais freqüentemente das seguintes ações, vejamos: desenvolver uma difusa, pública compreensão da mudança educativa; alargar, mas localizar a responsabilidade através da participação a cada mudança. Uma orientação tal, parece sugestiva, mas difícil de manter: o mesmo é, por aparato legal do qual dependem as decisões de cenário e de enquadramento; mas o que pesa mesmo é, pelo nível atual das percepções, das disposições mentais e das competências presentes no sistema administrativo e entre o pessoal o pessoal da educação. Um alto grau de flexibilidade e de interconexão entre as instituições e a focalização dos esforços de todos, 308 teoria.indb 308 28/9/2007 16:14:02 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio representa ainda hoje, pela complexidade e a viscosidade das relações entre os nichos, especialmente nos aparatos públicos, um ideal difícil até para ser enunciado. Certas saídas formativas são essenciais para o ideal sistêmico, assim como o é uma sistemática, concentrada atenção ao monitoramento dos progressos obtidos com os ajustamentos decididos e atuados no curso da obra. São estas características que refletem um convencimento difuso nos estados, cujas raízes políticas estão na insatisfação conseguida pelos confrontos das “reformas arlecchino”, (nota do Tr. Arlecchino é pessoa pouco séria ou fanfarrona, também como espécie de colcha de retalhos montada com tecidos de cores e padrões diversos) fragmentárias e contraditórias, dos decênios passados e na aspiração em promover um perfil alto no debate político sobre os problemas de instrução e da formação. Pontos de vista sempre mais inclusivos as políticas do desenvolvimento reduzem a probabilidade de que as inovações sejam frustradas dos improvisados terremotos políticos sucessivos, gerados por estes, ou de imprevistas dificuldades na alocação dos recursos. Eles, pelo contrário, maximizam as sinergias entre as diversas oportunidades em vista do objetivo de assegurar um suporte não deletério ás mudanças desejadas. O critério sistêmico encoraja políticos e administradores a planejarem e a controlarem valores e a eficácia das mudanças, dentro de uma escala temporal mais larga, e a confrontar-se realisticamente com o “ciclo de produção” dos sistemas educativos que requerem um período de pelo menos 10-12 anos para produzirem benefícios. Isto significa, por outro lado, coerência com as conclusões de muitos observadores internacionais em busca das condições de eficácia, necessárias para uma reforma gradual do currículo, em cuja ordem, continuidade e sistematicidade possam com certeza suportar a mudança no aprendizado escolar e na reconversão cultural e profissional dos professores. Unidade 7 teoria.indb 309 309 28/9/2007 16:14:02 Universidade do Sul de Santa Catarina Todavia, a reforma do currículo com o critério sistêmico não é uma panacéia. Ela representa mais uma orientação do que uma estratégia particular. Porém agora, estamos convencidos que temos mais freqüentemente necessidade de uma orientação que assegure mais senso, profundidade e substância aos nossos esforços que não de ulteriores análises cumulativas, por quanto rigorosas, de aspectos particulares das mudanças intervenientes em setores particulares do sistema escolar. E qual o lugar e o papel dos professores? Os professores desempenham um papel crucial tanto na mudança dos processos curriculares e das reformas, quanto nas mesmas possibilidades de sucesso para um amplo programa de renovação do currículo: situações práticas complexas tem necessidade de soluções específicas: de fato quanto mais elas resultam caracterizadas por iniciativas e objetivos ambíguos e parcialmente contraditórios, tanto mais elas exigem que se proceda em definir e isolar os problemas a serem resolvidos, antes que se possa encontrar a solução oportuna; a identificação dos problemas a serem resolvidos e as estratégias necessárias para aplicar as soluções às situações práticas, devem ser elaboradas e produzidas ao vivo na prática pelos mesmos atores das situações; e avaliadas em cooperação com os experts ou peritos profissionais, interessados e envolvidos nos diversos contextos locais; a inteligência da situação e o relativo domínio pelo assunto, ganho pelos operadores, refletindo sobre as ações, pode ser tornada acessível (mais que transmitida) a outros operadores para ser testada e ulteriormente ser desenvolvida por estes; 310 teoria.indb 310 28/9/2007 16:14:02 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio as mudanças educativas permeiam e são fluidas, e os professores e os diretores de escolas secundárias, operam em condições de incerteza, onde os valores são continuamente re-deslocados, e os objetivos e propósitos são sujeitos as interpretações múltiplas. Se a isto é reconduzível o paradigma da “racionalidade reflexiva”, é porém, de se recordar que uma constante nas mudanças educativas consistem no fato que a cada novo objetivo, método ou argumento de estudo, passa pela mediação da prática profissional dos professores. No âmbito deste processo a inovação tomará as vias que os professores de fato as farão assumir em dependência de como eles decidem em interpretá-las e de desenvolverem nas situações e para os problemas que o trabalho lhes impõe. Cada estratégia de reforma e cada teoria do currículo não pode ignorar o fato que para ser aplicada ela deve medir-se com aquilo que ocorre realmente dentro da sala de aula, fora de a qualquer controle dirigido da parte de agências externas à escola; e que a sua eficácia depende na sua origem, da visão particular que dela, e dos seus conteúdos e dos seus objetivos, os professores desenvolvem. Na figura a seguir, você consegue visualizar como se organiza um currículo e sob quais dimensões ele deve ser considerado. Figura 7.1: Esquema para uma teoria do currículo. Fonte: SACRISTÁN, Gineno J. O currículo: uma reflexão sobre a prática, PortoAlegre: ArtMed (2000. p. 36, apud PANDINI, 2007, p.39). Unidade 7 teoria.indb 311 311 28/9/2007 16:14:02 Universidade do Sul de Santa Catarina Pandini (2007), em um destaque à Teoria Crítica do Currículo, diz “que ela possibilita um novo entendimento sobre nosso papel no contexto educacional. Orienta no sentido de que trabalhar em determinado curso, ou área do saber, por exemplo, não é apenas transmitir conteúdos de forma neutra e destituída de fundamentação teórica, ideológica e política. É, antes de tudo, compreender que o conjunto de relações e representações econômicas, culturais, políticas e sociais englobam o desenvolvimento de determinados saberes e poderes constitutivos. (...) É necessário que, ao longo da sua profissão, os docentes, em seus mais diversos níveis, reflitam sobre os impactos dos valores do mundo globalizado nas mais diversas áreas do conhecimento e que, a partir dessa reflexão, tentem conceber uma prática em que o aluno seja sujeito do processo educativo, esteja no centro do processo ensino-aprendizagem e que o projeto pedagógico contemple uma prática para além do ensino do símbolo, do contar ou do ler unicamente, mas que os projetos tragam em si uma preocupação com a realidade social contextualizada e que o contar e o ler tenham significado – por meio de um ensino eficiente e devidamente aplicável às situações do cotidiano do aluno”. (Pandini, 2007). As conseqüências para a própria reforma do currículo não são de fato leves. Por exemplo, a instrução de base vem a ocupar, assim, uma colocação totalmente diversa com respeito ao passado, pela tomada retilínea que se impõe em ter sobre um contexto social que influencie a própria natureza dos conteúdos de conhecimento e ensino. Sinteticamente mais historiografia do que história, mais análise matemática do que cálculo algébrico; mais lógica dos relativos e da probabilidade do que lógica dos predicados na impostação paradigmática dos programas dos cursos, e na própria definição das habilidades de saída a serem verificadas. E em respeito às expectativas de instrução formal: não mais uma instrução de base como pedestal (ler, escrever, fazer contas) sobre as quais enxertar, por adições progressivas e repetidas, alargamento de noções e de informações; mas um aprendizado compreendido que seja tal para preparar os alunos às formas e aos níveis sucessíveis “aprendizado por feedback cíclico” fora da escola no curso de sua vida como adultos. A escola do futuro não poderá mais permitir-se de conservar-se, em nenhum sentido como uma instituição auto-suficiente e auto-referente; e 312 teoria.indb 312 28/9/2007 16:14:02 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio a instrução deverá ser identificada em modo sempre mais visível e coerente como parte de um processo de desenvolvimento contínuo e para todos, de formação multialfabeta. Mas se uma organização modifica as suas funções, as escolhas podem ser duas: ou se recruta novo pessoal de fora e o ajusta internamente, ou se provê para o pessoal existente, intervindo para que os mesmos melhorem e ampliem os conhecimentos profissionais. Descartada a primeira hipótese, resta a segunda. Mas também neste caso, a única e substancial diferença a respeito, em tempos recentes, nos quais se falava no nosso sistema escolar das ditas “novas figurações profissionais”, consistem no fato de que não se trata mais de pensar em acrescentar novas figurações profissionais àquela do docente, porque as coordenadas da nova forma de escola não só estão mudadas, mas exigem um diferente deslocamento dos papéis e das responsabilidades de todos os operadores, e incluem os dirigentes, administrativos e inspetores escolares. Isto significa que por meio de uma reforma preliminar, mas agora intransferível, consiste uma abolição da unicidade da função docente, por um lado, e a adoção de um sistema de avaliação das atividades dos profissionais de tipo goal setting. SEÇÃO 7 - Desenvolver o currículo como uma rede de bases de conhecimento As prospectivas apresentadas têm de fato reconduzido o problema à sua questão originária: as políticas escolares de reforma do currículo por estratégia múltipla, dependem, para ter sucesso, dos comportamentos e dos paradigmas de seus atores, em uma palavra daquilo que eles pensam da natureza e dos conhecimentos que produzem. Então, no específico dos sistemas educativos, as autoridades políticas e não poucos pesquisadores estão convencidos que a tarefa primária do trabalho científico consista em produzir conhecimento independente do contexto, e generalizável em algumas situações a determinadas condições. Unidade 7 teoria.indb 313 313 28/9/2007 16:14:02 Universidade do Sul de Santa Catarina Os professores e dirigentes escolares têm sempre mais propensão para pensarem que a pesquisa educativa contribua em escassa medida para os seus processos decisórios que estes advêm, do que na sala de aula e na escola, onde não operam nem os pesquisadores e nem os políticos; e que por suas escolhas, são permeados por juízos, conjecturas e de conhecimentos produzidos em relação direta com o envolver-se plural dos valores e das experiências concretas. O que você acha desta afirmação? Qual a importância da pesquisa na inovação curricular? Quiem faz pesquisa e a que serve? Quais os maiores obstáculos? Talvez eles não produzirão certos conhecimentos científicos, mas seguramente conhecimentos relevantes, em quanto produto e resultado de uma “prática reflexiva”. Tal conhecimento será então dependente do contexto; particularismo; ligada ao emergir real dos desejos dos valores; mas sobretudo semanticamente mais rica e geralmente mais válida do que aquela científica. A produção do conhecimento e a utilização desta última, não são institucionalmente divididas, porque mais freqüentemente fazem parte de um só continuum, no interior do qual as diferentes atividades do trabalho intelectual seriam mais utilmente descritas e explicita na recíproca cooperação. Intuições, esquemas explicativos, programas de trabalho, formas e métodos de 314 teoria.indb 314 28/9/2007 16:14:02 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio reflexão sobre a prática, podem oferecer – conforme o título – bases importantes de conhecimento para as decisões. Por outro lado, cabe dizer que outra importante contribuição para constituir as bases de conhecimento necessárias aos operadores (professores) no interior da escola provém dos procedimentos e dos programas administrativos, como também das ações de controle e monitoramento e dos programas de avaliações ativados em vários níveis em diferentes sistemas educativos. As características sobre educação e os indicadores de qualidade constituem um ulterior elemento importante que concorre para constituir-se de bases difusas de conhecimento participadas e alimentadas em modo articulado e diferente, por atores múltiplos e com objetivos plurais. É sem dúvida que esta visão permite ganhos significativos para a legitimação e a colocação de uma prospectiva de currículo que se desenvolva com ambições multilaterais e globais. No entanto a ênfase é removida sobre o processo de circulação dentre a qual em virtude da qual se produz, se dissemina e se reproduz um stock de conhecimentos configuráveis como base alargada dos conhecimentos educativos. Esta última não coincide tout court com os resultados somente da pesquisa do currículo ou somente da prática educativa, mas representa condições, interpretativas e significativas. Em segundo lugar, vem a superar o ponto de vista iluminista que distinguia entre linguagem de senso comum ou ordinária e linguagem cientifica ou rigorosa: distinções sob as quais apóia substancialmente a legitimação do modelo linear de produção e desenvolvimento de modelos de currículo por conteúdo e por objetivos. Mais em profundidade muda o mesmo conceito de conhecimento, o qual se qualificando como continuum reflexivo da experiência (e de uma experiência que não pode senão desenvolver-se neste ponto entre contextos de comunicação alargada e de cooperação intelectual) assinala que a universalidade do conhecimento não é mais atingível somente de parte do pesquisador, contrário a dimensão particularista e opinativo do operador. Porém, também este último contribui para a crítica e ao crescimento das bases de conhecimento sobre Unidade 7 teoria.indb 315 315 28/9/2007 16:14:03 Universidade do Sul de Santa Catarina o currículo enquanto padrão, em alguns casos privilegiado, de procedimentos reflexivos conhecedores na solução dos problemas e na tomada de decisões, assim como no monitoramento e na avaliação da efetiva eficácia dos processos de implementação do currículo. Em suma, um currículo como desenvolvimento cooperativo, multilateral, gerado por muitas fontes de bases de conhecimento da educação e sobre a educação é o término real de trabalho para a escola da autonomia. Síntese Elabore a síntese com base nos pontos centrais apontados nesta unidade de modo a estabelecer as relações com os objetivos apresnetados. Esta é uma oportunidade der rever os conteúdos que podem ser melhor explicitados nos debates na sua comunidade de aprendizagem do curso. 316 teoria.indb 316 28/9/2007 16:14:03 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Atividades de auto-avaliação 1. Por que m currículo flexível pode ser, numa dimensão de coerência, concebido como vertical? 2. O que significa um currículo como uma rede de base para o conhecimento? Unidade 7 teoria.indb 317 317 28/9/2007 16:14:03 Universidade do Sul de Santa Catarina Saiba Mais Da psicologia cognitiva são estudados, em relação a compreensão dos trechos, alguns dos tipos de esquemas que agem, em níveis diferentes, sobre o processo de leitura. Da estruturação e do funcionamento de tais tipos de esquemas (roteiros, planos, esquemas das história) são elaborados dos modelos (para os roteiros e os planos também de tipo simulatório) quem têm demonstrando um certo valor heurístico, isto é, são utilizados para fazer hipóteses e predições sobre como funcionam, nas pessoas certas operações de compreensão. O primeiro tipo de esquema, estudado em particular no interior da Inteligência Artificial, é o roteiro (Schank e Abelson, 1975; 1977). Por roteiro se entende o esquema de uma situação estereotípica e elementar que consta de seqüências de episódios altamente previsíveis enquanto bem conhecidos pela maioria das pessoas. Exemplos são as seqüências de ações nas quais consiste andar e comer no restaurante; ou mesmo tomar um ônibus, ou participar de uma festa entre amigos. Quando, em um trecho, encontramos uma situação deste tipo, e também os elementos que são dados para caracterizá-la são escassos, estão em condições, geralmente, de imaginar, ou reconstruir se requerido (os produzindo por inferência), as partes do roteiro, e as ligações temporais ou de explicação entre os indivíduos, as ações e os eventos que constituem o roteiro. Para demonstrar que as pessoas conhecem, são utilizados e amplamente divididos, os roteiros relativos a determinadas situações, foram concluídos alguns trabalhos experimentais. Destes saíram uma primeira série de resultados (Bower, Black Turner, 1979): foi descrito, em detalhes, às pessoas que coisa ocorre no curso de certa atividade para eles familiar, eles demonstram um notável acordo sobre a natureza dos “personagens”, dos elementos do contexto, das ações e sobre a ordem das ações em tais atividades; grande acordo se manifesta também sobre como são segmentadas as seqüências de ações “scene” constituintes, confirmando assim a hipótese que na memória existe uma organização hierárquica de tal atividade. segue 318 teoria.indb 318 28/9/2007 16:14:03 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Se se estuda a lembrança que as pessoas têm de um texto no qual se narra algumas ações que fazem parte de um “roteiro”, se encontra que os sujeitos tendem a confundir entre eles, na lembrança as ações das quais se falava no texto com outras implicadas pelo “roteiro” na ordem nas quais ocorrem normalmente, mesmo se no texto são apresentadas ações de um roteiro em forma “desordenada”. O tempo de leitura das frases varia segundo a “distancia” do roteiro em analise, isto é, é tanto menor quanto maior é a vizinhança ao roteiro. Por outro lado, as frases relativas à segunda metade de um roteiro são lidas mais velozmente do que aquelas da primeira metade. Enfim, os acontecimentos “atípicos”, que “desviam” do roteiro interrompendo o andamento, são recordados mais efetivamente que as ações que fazem parte do roteiro, porque inserem um elemento de novidade no andamento “rotinizado” do roteiro. Este ultimo dado é confirmado também por Graesser, Gordon e Sawyer (1979). Um outro tipo de conhecimento de tipo “esquemático” que as pessoas possuem, e das quais a Inteligência Artificial constrói modelos, são relativas aos planos de ação das pessoas (Schank e Abelson, 1975; 1977: Abelson 1975). Com respeito aos roteiros, seqüências de ação altamente rotinizadas, os “planos” constituem esquemas a um nível mais alto de abstração. Eles servem para interpretar o comportamento intencional e criativo das pessoas, descrevendo o conjunto de escolhas que uma pessoa tem a disposição para alcançar um determinado objetivo. Os esquemas deste tipo têm um papel importante na compreensão das narrações que incluem um ou mais personagens, em quanto permitem interpretar e prever os diversos alvos destes, as ações para alcançá-las, as reações que determinam no outro, e assim por diante. Também da estruturação e do funcionamento de tais esquemas, foram construídos modelos nos quais é analisado em detalhes como os diversos objetivos de uma pessoa se ordena hierarquicamente em um plano, nas diversas situações, em vista da obtenção de um determinado objetivo, (Wilensky,1978), ou como os diversos planos e os diversos alvos de diversas pessoas interagem entre eles, determinando conflitos. (Bruce e Newman, 1978). segue Unidade 7 teoria.indb 319 319 28/9/2007 16:14:03 Universidade do Sul de Santa Catarina Um tipo de esquema particularmente estudado pela psicologia cognitivista é aquele das narrações que tem uma organização estável e recorrente no interior de uma determinada cultura (contos populares, fabulas e mitos), a cuja estrutura foi amplamente estudada também por outras disciplinas, tais como a lingüística textual, a crítica literária, a semiótica. Dos esquemas segundos os quais são organizados as histórias, alguns psicólogos cognitivistas que se refazem mais explicitamente de Bartlett (1932), tem elaborado modelos formais detalhados, verdadeiras e próprias gramáticas das histórias (Rumelhart, 1975; Kintsch e Van Dijk, 1975; Thorndyke, 1977; Mandler e Johnson, 1977; Stein e Glenn, 1979). Estas gramáticas são usadas para analisar seja as histórias, seja a compreensão das histórias da parte das pessoas. Eles, isto é, de um lado deveriam servir para avaliar quais os textos são histórias e quais não o são, ou seja, quais apresentam uma “boa conexão” tanto de podê-las considerar histórias bem formadas, e quais não. Por outro lado, deveriam servir, como modelos da compreensão e da memória de uma história, que uma pessoa deve identificar para reassumir a história eficazmente (Rumelhart, 1977b), para prever os tipos de inferência que ocorre fazer para entender o desenrolar dos eventos na história (Warren, Nicholas e Trabasso 1979; Omanson, Warren Trabasso, 1978; Hildyard e Olson, 1978), para analisar e prever em geral as dificuldades de compreensão que podem surgir em quem não possui bem o esquema de uma história. Por exemplo, segundo a gramática de Rumelhart (1975), as categorias de partida são “história”, “situação”, “episódio”. Uma história consiste em (isto é, pode ser “reescrita” como) uma apresentação da situação (isto é, dos personagens, do tempo e do lugar), seguida de um certo número de episódios. Cada episódio compreende (isto é, pode ser escrito como) um evento e uma reação a este. Um evento pode ser tanto uma mudança de estado, quanto uma ação ou um conjunto de eventos. Os episódios e os eventos (e cada sua subparte: “tentativa”, “conseqüência”, “desejo”, “plano”, etc.) são coligados entre eles por relações semânticas de causa, condição, sucessão temporal, e assim por diante. 320 teoria.indb 320 28/9/2007 16:14:03 Teoria da Formação para a Educação do Terceiro Milênio Para aprofundar seus conhecimentos sobre curriculo, educação e formação do professor, você pode consultar: MCLAREN, Peter. A Vida nas Escolas: uma introdução à pedagogia crítica nos fundamentos da educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. MOLL Luis C. Vygotsky e a educação: implicações pedagógicas da psicologia sócio-histórica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. PÉREZ, Gomes. As funções sociais da escola: Da reprodução à reconstrução crítica do conhecimento e da experiência. In: SACRISTÁN, J. Gimeno e PÉREZ, Gomes. Compreender e transformar a escola. 4a ed., Porto Alegre: Artmed, 1998, p. 13-25. SACRISTÁN, J.Gimeno. Consciência e Acção sobre a Prática como Libertação Profissional dos Professores. In: Profissão Professor. (org. António Nóvoa). Portugal: Porto Editora, 1995. ________. O currículo: uma reflexão sobre a prática, Porto Alegre, Artes Médicas, 2000. SANTOMÉ, JURGO. O Curriculo Oculto. Porto: Porto Editora, 1995. VIGOTSKY, Lev. S., LURIA A.R. e LEONTIEV. A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1989. ZEICHNER, Kenneth. M. A formação reflexiva de professores: idéias e práticas. Lisboa: Educa, 1993. p.12-52. Unidade 7 teoria.indb 321 321 28/9/2007 16:14:03 teoria.indb 322 28/9/2007 16:14:03 Para concluir o estudo Caro aluno(a), Você estudou sobre teorias e modelos educacionais, teve a oportunidade de analisar estudos e pesquisas que contribuíram para consolidar, manter ou modificar modelos; se deparou com possibilidades de novas realizações; mas acima de tudo, deve ter percebido que nada está dado e acabado, tudo caminha conforme as ordenações da ciência, da cultura e da experiência prática, não há mais limites para o aprendizado e para as inovações dentro e fora da escola. A sociedade do conhecimento derrubou estes limites em diversos pontos, e os fez de tal maneira que conteúdos, valores, orientações de outros continentes, de outros países, de outras tribos, de outros grupos sociais penetram através dos mass media até o coração de nossas representações sociais, adentram as salas de aula e contagiam até ao mais céticos. Este dado se conjuga também com os crescentes problemas que a sociedade global têm vivenciado “precarizando”, muitas vezes, nossas expectativas, nossos projetos de vida e atinge diretamente a esfera educacional. Cabe, nesta conclusão, ressaltar que cada um de nós representa, com o talento que possui, o potencial de aprendizagem que se dispõe, saberes e experiências peculiares, um tesouro para toda a humanidade e uma esperança à educação de modo geral, se tivermos capacidade de construir caminhos alternativos com práticas significativas e que atendam as necessidades reais de vida e de escolarização. teoria.indb 323 28/9/2007 16:14:03 É necessário investir mais nestes talentos, colocando cada escola do mundo, de cada continente em condições de poder diagnosticar o desenvolvimento das capacidades e inteligências presentes em cada um dos estudantes que acessam a possibilidade de aprender e crescer. Este livro traz conceitos, algumas teorizações e pesquisas sobre práticas, mas não é o dono da verdade absoluta, perceba-o pode ser mais um artefato para se pensar uma educação para o terceiro milênio em face aos avanços tecnológicos, às dificuldades, à exclusão de toda sorte, às incoerências humanas, à marginalização e aos talentos que possuímos no mundo. A América Latina, aqui representada pelo Brasil, a exemplo da Europa, possui registros de experiência acumulada por uma imensa e frutífera trajetória educacional – de lutas, debates intensos e pesquisas. O desejo é que este livro possibilite contextualizar a “Teoria da Formação para a Educação para o Terceiro Milênio” em ambos os continentes, sob uma ótica compartilhada, buscando a contribuição de teóricos, cientistas, educadores para um diálogo intercultural, multilingüístico e didático-padagógico no sentido de construir bases sólidas para uma prática adequada em todos os níveis, por meio da organização e implementação de currículos coerentes. Com o desejo de muito sucesso e bom senso na escolha dos modelos e realização das práticas educacionais, deixamos um abraço carinhoso, Profa. Carmen Pandini e Umberto Margiotta teoria.indb 324 28/9/2007 16:14:04 Referências AUTO J. BRUNER, Autobiografia. Alla ricerca della mente (À pesquisa da mente), Armando, Roma. Trad. it. de S. Chiari, In Search of Mind. Essays in Autobiography, 1983 by J. Bruner, 1993. CMS J. BRUNER, Il conoscere. Saggi per la mano sinistra (O Conhecer. Ensaios pela mão esquerda), Armando, Roma, 1978, trad. de M. 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Atualmente se dedica fundamentalmente ao estudo de novas tecnologias educativas e métodos de avaliação de sistemas de formação. Fundou e dirigiu durante três anos o Centro Inter-faculdades para a pesquisa Educativa e Didática (C.I.R.E.D.) e foi Presidente do Centro Europeu da Educação (CEDE) durante cinco anos, além de ter feito parte do Conselho Diretor do CERI-OCSE de 1992 até 1.996. É Diretor da Scuola Interateneo di Specializzazione degli Insegnanti del Veneto (S.S.I.S.), foi Decano da Licenciatura em Filosofia. Dirige as coleções “Formazione e sviluppo” e “Classici dell’educazione” da editora Armando, de Roma e a coleção “Riforma dell’Educazione. “Saggi di Pedagogia Fondamentale” da editorial CLUEB, de Bolonha, e co-dirige com J. C. Barbier o Tratato Internazional de Ciências da formação (13 vols.) editado por Armando em co-edição européia. É coordenador Geral do Projeto ALFA-MIFORCAL. teoria.indb 327 28/9/2007 16:14:04 teoria.indb 328 28/9/2007 16:14:04