Ciências da Humanidade III

Transcrição

Ciências da Humanidade III
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CENTRO DE PROCESSOS SELETIVOS
MOBILIDADE ACADÊMICA EXTERNA 2009
EDITAL N.º 02/2009
ÁREA V: CIÊNCIAS DAS HUMANIDADES III
__________________________________________________
NOME DO(A) CANDIDATO(A)
______________________
N.º DE INSCRIÇÃO
29 de novembro de 2009
BOLETIM DE QUESTÕES
LEIA COM MUITA ATENÇÃO AS INSTRUÇÕES SEGUINTES.
1
Este BOLETIM DE QUESTÕES contém a proposta de redação e 40 questões objetivas (20 de Língua Portuguesa, 10 de
Literatura e 10 de Filosofia). Para cada questão objetiva, são apresentadas cinco opções de resposta, identificadas com as
letras (A), (B), (C), (D) e (E). Apenas uma responde adequadamente à questão.
2
Esta prova está redigida conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990). Para a redação, serão aceitas como
corretas ambas as ortografias, isto é, a forma de grafar e acentuar as palavras vigente até 31 de dezembro de 2008 e a que
entrou em vigor em 1º de janeiro de 2009.
3
Confira se, além deste BOLETIM DE QUESTÕES, você recebeu o CARTÃO-RESPOSTA destinado à marcação das respostas
das questões objetivas e o FORMULÁRIO DE REDAÇÃO para elaboração do texto definitivo da redação proposta.
4
Confira se a prova está completa e sem falhas, bem como se o seu nome e seu número de inscrição conferem com os contidos
no CARTÃO-RESPOSTA e no FORMULÁRIO DE REDAÇÃO. Em caso de divergência, notifique imediatamente o fiscal de
sala. Após a conferência, assine seu nome no espaço próprio do CARTÃO-RESPOSTA.
5
A marcação do CARTÃO-RESPOSTA e a transcrição do texto definitivo da redação no FORMULÁRIO DE REDAÇÃO devem
ser feitas com caneta esferográfica de tinta preta ou azul.
6
Não dobre, não amasse, não rasure nem manche o CARTÃO-RESPOSTA ou o FORMULÁRIO DE REDAÇÃO, bem como
não faça qualquer registro fora dos espaços destinados à marcação das respostas e ao texto definitivo da redação.
O cartão e/ou o formulário só poderão ser substituídos se contiverem falha de impressão.
7
Quando terminar a prova, entregue ao fiscal de sala este BOLETIM DE QUESTÕES, o CARTÃO-RESPOSTA e o
FORMULÁRIO DE REDAÇÃO e assine a LISTA DE PRESENÇA. Sua assinatura deve corresponder àquela que consta no seu
documento de identificação.
8
O tempo disponível para esta prova, incluído o de elaboração da redação, é de cinco horas. Recomenda-se que você não
ultrapasse o período de uma hora e meia para elaborar sua redação. Se você for pessoa com deficiência, disporá de 1 (uma)
hora a mais para fazer a prova, desde que tenha comunicado previamente a sua deficiência ao CEPS.
9
Reserve os 30 minutos finais destinados à prova para a marcação do CARTÃO-RESPOSTA. Os rascunhos e as marcações
assinaladas no BOLETIM DE QUESTÕES não serão considerados na avaliação.
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MARQUE A ÚNICA ALTERNATIVA CORRETA NAS QUESTÕES DE 1 A 40.
LÍNGUA PORTUGUESA
Leia o texto abaixo para responder às questões de 1 a 20.
ASCENSÃO SEM COTAS
A universalização do ensino e o crescimento da economia reduziram a desigualdade entre negros e brancos
01
02
03
04
05
06
07
08
09
O fosso que separa negros e brancos declarados no Brasil se estreitou em um ritmo sem
precedentes desde meados da década passada. A diminuição dessa desigualdade pode ser constatada
quando se verificam as estatísticas de aumento da renda e de escolaridade, que foi bem mais intenso
no caso dos negros do que no dos brancos. A diferença de salários entre eles, ainda grande, encolheu
14% desde 1995. No campo da educação, os resultados são ainda mais expressivos. Antes, apenas
dois em cada 100 negros concluíam a faculdade. Agora, sete em 100 obtêm diploma de curso superior
– um crescimento de 250%. A proporção de brancos formados cresceu menos: 115%. A redução do
analfabetismo também foi maior entre os negros: 74%, contra 60% entre os brancos. A diferença no
número de anos que os dois grupos frequentam a escola, vantajosa para os brancos, também diminuiu.
10
11
12
13
14
15
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17
18
19
20
21
A redução da iniquidade não tem nenhuma relação com a criação de cotas para negros em
universidades ou no serviço público. Deve-se a outros fatores, como a universalização da educação
fundamental e a melhoria da qualidade do ensino médio oficial. Essas conquistas foram obtidas quando
o governo passou a dar prioridade ao ensino básico, o que ocorreu a partir de 1995. A mudança de
orientação favoreceu os estratos mais pobres, que concentram a maior proporção de negros. "No Brasil,
a pobreza é predominantemente negra. Por isso, quando a distância entre pobres e ricos se estreita,
eles são os mais beneficiados", diz Marcelo Paixão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Os
aumentos do salário mínimo, que superaram a inflação em 120% desde 1995, contribuíram para elevar
a renda de quem está na base da pirâmide social – entre eles, os negros. O crescimento do mercado de
trabalho, fruto da extraordinária expansão da economia desde a implantação do real, proporcionou
também a ascensão dos negros. Mais educados, eles passaram a ter acesso a empregos antes
reservados aos brancos.
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24
25
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30
Uma pesquisa do Instituto Ethos mostra que, em 2003, os negros ocupavam 8,8% das
gerências das maiores empresas do país. Em 2007, essa proporção já alcançava 17%. Nos postos
executivos, a participação dos negros passou de 1,8% para 3,5%. A paulistana Íris Barbosa, de 42
anos, integra esse último contingente. Filha de um pequeno comerciante e de uma empregada
doméstica, Íris sempre estudou em escolas públicas. Ingressou no McDonald’s para ajudar a mãe nas
contas de casa e pagar a faculdade de pedagogia. Terminado o curso, ela conseguiu que a empresa
pagasse sua pós-graduação em administração. Há três anos, é a diretora de treinamento do
McDonald’s na América Latina. "Meu problema nunca foi ser negra. Foi ser pobre", diz Íris. A frase
expressa a verdadeira questão social brasileira.
Raquel Salgado
Veja/2 de setembro de 2009/página 94.
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1 Considerando os tipos de texto, pode-se afirmar que
o texto “Ascensão sem cotas” é predominantemente
(A)
descritivo.
(B)
narrativo.
(C)
dialogal.
(D)
poético.
(E)
dissertativo.
5
Levando-se em consideração
utilizados no texto, pode-se dizer que
2
Segundo o texto, o fosso que separa negros e
brancos no Brasil se estreitou e isso se deve
(A)
ao crescimento da economia e à criação de cotas
para negros em universidades.
(B)
à melhoria do ensino médio e ao aumento da
proporção de brancos formados.
(C)
à criação de cotas para negros em universidades
e à redução do analfabetismo entre eles.
(D)
ao aumento de renda e de escolaridade, bem
mais acentuado no caso dos negros do que no
dos brancos.
(E)
(A)
a desigualdade entre brancos e negros decorre
da diferença racial.
(B)
a desigualdade entre brancos e negros é de
natureza social e econômica.
(C)
não há desigualdade entre brancos e negros,
visto que no Brasil vigora uma democracia
racial.
(D)
a desigualdade entre brancos e negros
aumentou consideravelmente nos últimos anos.
(E)
o crescimento econômico favoreceu a população
branca em detrimento da negra.
O vocábulo, em destaque, empregado para indicar
a adição de argumentos em favor de uma ideia do texto
é
(A)
“A redução do analfabetismo também foi maior
entre os negros: 74%, contra 60% entre os
brancos”. (linhas 07 e 08)
(B)
“A diferença de salários entre eles, ainda
grande, encolheu 14% desde 1995”. (linhas 04 e
05)
(C)
“Antes, apenas dois em cada 100 negros
concluíam a faculdade”. (linhas 05 e 06)
(D)
“Agora, sete em 100 obtêm diploma de curso
superior – um crescimento de 250%”. (linhas 06
e 07)
(E)
“A proporção de brancos formados cresceu
menos: 115%”. (linha 07)
3
A ideia de estreitamento da desigualdade entre
negros e brancos, explicitada no primeiro período do
primeiro parágrafo, é retomada no decorrer do texto por
meio das seguintes expressões:
as estatísticas de aumento de escolaridade e de
renda; a diferença de salário.
(B)
a diferença de
analfabetismo.
(C)
a diminuição dessa desigualdade; a redução da
iniquidade.
(D)
a criação
educação.
(E)
a mudança de orientação; a ascensão dos
negros.
de
salário;
cotas;
a
a
redução
universalização
do
7
No período: “Deve-se a outros fatores, como a
universalização da educação fundamental e a melhoria
da qualidade do ensino médio oficial” (linhas 11 e 12), o
verbo destacado encontra-se no singular porque seu
sujeito é
da
4
No texto, a autora cita as palavras de Marcelo
Paixão: “No Brasil, a pobreza é predominantemente
negra” (linhas 14 e 15), para ressaltar que
(A)
a classe pobre é majoritariamente constituída de
negros.
(B)
no Brasil existem mais negros do que brancos.
(C)
não há negros ricos.
(D)
os brancos são majoritariamente ricos.
(E)
no Brasil há mais pobres do que ricos.
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argumentos
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à equiparação do número de anos em que
brancos e negros passam na escola.
(A)
os
3
(A)
a redução da iniquidade. (linha 10)
(B)
a criação de cotas. (linha 10)
(C)
outros fatores. (linha 11)
(D)
a universalização da educação fundamental.
(linhas 11 e 12)
(E)
a melhoria da qualidade do ensino médio oficial.
(linha 12)
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11 No texto, a autora, ao construir sequências
argumentativas, recorre ao discurso direto em:
Em “‘Meu problema nunca foi ser negra. Foi ser
pobre’, diz Íris. A frase expressa a verdadeira questão
social brasileira.” (linhas 29 e 30) , pode-se entender que
a verdadeira questão social brasileira é
(A)
a existência de uma democracia racial em nosso
país.
(B)
que “a pobreza é predominantemente negra”.
(C)
o “fosso que separa negros e brancos”.
(D)
a distância entre pobres e ricos.
(E)
a falta de educação dos negros e dos brancos.
(A)
"‘No Brasil, a pobreza é predominantemente
negra. Por isso, quando a distância entre pobres
e ricos se estreita, eles são os mais
beneficiados’, diz Marcelo Paixão”. (linhas 14 a
16)
(B)
“A paulistana Íris Barbosa, de 42 anos, integra
esse último contingente. Filha de um pequeno
comerciante e de uma empregada doméstica,
Íris sempre estudou em escolas públicas.
Ingressou no McDonald’s para ajudar a mãe nas
contas de casa e pagar a faculdade de
pedagogia”. (linhas 24 a 27)
(C)
“O crescimento do mercado de trabalho, fruto da
extraordinária expansão da economia desde a
implantação do real, proporcionou também a
ascensão dos negros”. (linhas 18 a 20)
(D)
“Uma pesquisa do Instituto Ethos mostra que,
em 2003, os negros ocupavam 8,8% das
gerências das maiores empresas do país. Em
2007, essa proporção já alcançava 17%. Nos
postos executivos, a participação dos negros
passou de 1,8% para 3,5%”. (linhas 22 a 24)
(E)
“No campo da educação, os resultados são
ainda mais expressivos. Antes, apenas dois em
cada 100 negros concluíam a faculdade. Agora,
sete em 100 obtêm diploma de curso superior –
um crescimento de 250%”. (linhas 05 a 07)
9
O enunciado “O fosso que separa negros e brancos
declarados no Brasil se estreitou em um ritmo sem
precedentes desde meados da década passada” (linhas
01 e 02) está adequadamente parafraseado em:
(A)
O fosso que separa negros e brancos declarados
no Brasil encurtou em um ritmo avassalador
desde meados da década passada.
(B)
O abismo que separa negros e brancos
declarados no Brasil se estreitou em um ritmo
assustador desde meados da década passada.
(C)
O buraco que separa negros e brancos
declarados no Brasil se estreitou em um ritmo
imprescindível desde meados da década
passada.
(D)
A distância que separa negros e brancos
declarados no Brasil diminuiu em um ritmo nunca
antes visto desde meados da década passada.
(E)
10
12 Pode-se afirmar que a seguinte citação: “Meu
problema nunca foi ser negra. Foi ser pobre” (linha 29),
é, no texto, um recurso para
O abismo que separa negros e brancos
declarados no Brasil se destrói em um ritmo
acelerado desde meados da década passada.
Pode-se concluir que Raquel Salgado
(A)
apresentar o ponto de vista estritamente pessoal
de uma mulher negra, apenas.
(B)
argumentar que a desigualdade entre negros e
brancos decorre da diferença racial.
(C)
fortalecer a ideia de que a desigualdade entre
brancos e negros decorre de diferenças
socioeconômicas.
(A)
defende o sistema de cotas para negros.
(B)
afirma que o crescimento econômico do país
favoreceu apenas os negros.
(C)
acredita que os negros podem ascender
socialmente sem o sistema de cotas.
(D)
diversificar as formas de expressão do texto
somente.
(D)
argumenta, exclusivamente, em
diferença entre negros e brancos.
(E)
mostrar que o racismo é coisa de pobre.
(E)
acredita que, só quando os negros ocuparem
os empregos antes reservados aos brancos,
teremos igualdade racial.
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favor
da
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13 O trecho em que a predicação verbal é construída
com verbo modalizador que indica possibilidade é
(A)
“A diminuição dessa desigualdade pode ser
constatada [...]”. (linha 02)
(B)
“Deve-se
a
outros
fatores,
como
a
universalização da educação fundamental [...]”.
(linhas 11 e 12)
(C)
“[...] o governo passou a dar prioridade ao
ensino básico”. (linha 13)
16 A análise correta dos conteúdos pressupostos nos
termos destacados está em
(A)
“O fosso que separa negros e brancos
declarados no Brasil se estreitou em um ritmo
sem precedentes desde meados da década
passada” (linhas 01 e 02). Pressuposição: o
fosso entre negros e brancos atinge também os
não declarados.
(B)
“No campo da educação, os resultados são
ainda
mais
expressivos”
(linha
05).
Pressuposição: os resultados no campo
econômico não são expressivos.
(D)
“Mais educados, eles passaram a ter acesso a
empregos antes reservados aos brancos”.
(linhas 20 e 21)
(E)
"Meu problema nunca foi ser negra. Foi ser
pobre". (linha 29)
(C)
“Essas conquistas foram obtidas quando o
governo passou a dar prioridade ao ensino
básico” (linhas 12 e 13) . Pressuposição: antes o
governo não dava prioridade ao ensino básico.
Há presença de sentido figurado em
(D)
“A diminuição dessa desigualdade pode ser
constatada quando se verificam as estatísticas
de aumento da renda e de escolaridade”.
(linhas 02 e 03)
"No Brasil, a pobreza é predominantemente
negra” (linhas 14 e 15) . Pressuposição: todos
os negros no Brasil são pobres.
(E)
“O crescimento do mercado de trabalho, fruto
da extraordinária expansão da economia desde
a implantação do real, proporcionou também a
ascensão dos negros” (linhas 18 a 20).
Pressuposição: com o crescimento do mercado
de trabalho, os negros se igualam aos brancos.
14
(A)
(B)
“Essas conquistas foram obtidas quando o
governo passou a dar prioridade ao ensino
básico”. (linhas 12 e 13)
(C)
“Há três anos, é a diretora de treinamento do
McDonald’s na América Latina”. (linhas 28 e
29)
(D)
"No Brasil, a pobreza é predominantemente
negra”. (linhas 14 e 15)
(E)
“Filha de um pequeno comerciante e de uma
empregada doméstica, Íris sempre estudou em
escolas públicas”. (linhas 25 e 26)
17 A alternativa em que o termo em destaque no
enunciado expressa o grau máximo de intensidade do
adjetivo que acompanha é
(A)
“A diminuição dessa desigualdade pode ser
constatada quando se verificam as estatísticas
de aumento da renda e de escolaridade, que foi
bem mais intenso no caso dos negros do que no
dos brancos”. (linhas 02 a 04)
(B)
“O fosso que separa negros e brancos
declarados no Brasil se estreitou em um ritmo
sem precedentes desde meados da década
passada”. (linhas 01 e 02)
“A diferença de salários entre eles, ainda grande,
encolheu 14% desde 1995. No campo da
educação, os resultados são ainda mais
expressivos”. (linhas 04 e 05)
(C)
“Essas conquistas foram obtidas quando o
governo passou a dar prioridade ao ensino
básico [...]”. (linhas 12 e 13)
“Mais educados, eles passaram a ter acesso a
empregos antes reservados aos brancos”.
(linhas 20 e 21)
(D)
“Eles [os negros] são os mais beneficiados”.
(linha 16)
(E)
“A redução do analfabetismo também foi maior
entre os negros”. (linhas 07 e 08)
15
O trecho em que o segmento destacado NÃO
expressa, exclusivamente, circunstância de tempo é
(A)
(B)
(C)
“Terminado o curso, ela conseguiu que a
empresa pagasse sua pós-graduação em
administração”. (linhas 27 e 28)
(D)
“Há três anos, é a diretora de treinamento do
McDonald’s na América Latina”. (linhas 28 e
29)
(E)
“Meu problema nunca foi ser negra. Foi ser
pobre". (linha 29)
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18 Sobre o emprego dos vocábulos ainda e já,
considere as seguintes afirmativas:
20 O enunciado em que o segmento assinalado
expressa a ideia de causa é
I. Em “A diferença de salários entre eles, ainda
grande, encolheu 14% desde 1995” (linhas 04
e 05), o vocábulo ainda serve para expressar a
ideia de continuidade temporal.
(A) “Mais educados, eles passaram a ter acesso a
empregos antes reservados aos brancos”.
(linhas 20 e 21)
II. Em “No campo da educação, os resultados são
ainda mais expressivos” (linha 05), o vocábulo
ainda introduz mais um argumento em favor de
determinada conclusão.
(B)
“A mudança de orientação favoreceu os estratos
mais pobres, que concentram a maior
proporção de negros”. (linhas 13 e 14)
III. Em “[...] essa proporção já alcançava 17%”
(linha 23), o vocábulo já indica uma relação de
causa entre ideias do texto.
(C)
“O crescimento do mercado de trabalho, fruto da
extraordinária expansão da economia desde a
implantação do real, proporcionou também a
ascensão dos negros”. (linhas 18 a 20)
(D) “Filha de um pequeno comerciante e de uma
empregada doméstica, Íris sempre estudou em
escolas públicas”. (linhas 25 e 26)
Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s)
(A)
I, apenas.
(B)
II, apenas.
(C)
III, apenas.
(D)
I e II.
(E)
II e III.
19
(E)
“Por isso, quando a distância entre pobres e
ricos se estreita, eles são os mais beneficiados".
(linhas 15 e 16)
No trecho:
“A diminuição dessa desigualdade pode ser
constatada quando se verificam as estatísticas de
aumento da renda e de escolaridade, que foi bem
mais intenso no caso dos negros do que no dos
brancos.” (linhas 02 a 04)
É correto afirmar que o verbo da oração em destaque
está no plural porque
(A)
se trata de uma oração com sujeito
indeterminado, por isso o verbo está na terceira
pessoa do plural.
(B)
concorda com o sujeito “as estatísticas”.
(C)
concorda com
“escolaridade”.
(D)
se trata de uma oração subordinada.
(E)
é um verbo transitivo e está seguido por seu
complemento.
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os
termos
“renda”
e
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REDAÇÃO
O texto “Ascensão sem cotas”, de Raquel Salgado, suscita uma reflexão sobre a desigualdade existente
entre brasileiros, determinada por fatores de natureza socioeconômica e racial. Sabe-se que, em vista dessa
desigualdade, o Governo Federal instituiu a política de cotas nas universidades públicas federais, criando-se, então,
cotas raciais, reserva de vagas destinadas a negros e índios, e cotas sociais com reserva de vagas para estudantes
de escola pública.
Considerando essa medida do Governo, escreva um texto, em prosa, em que você se posicione sobre
a política de cotas raciais nas universidades brasileiras.
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22 No episódio do Gigante Adamastor, situado no
canto V d’Os Lusíadas, as falas deste abrangem duas
situações distintas: 1) profecias acerca de futuros
navegantes portugueses e 2) narrativa de sua própria
história, que culmina com a metamorfose. A primeira
situação está exemplificada, corretamente, em:
LITERATURA
21 Autor de 9 cantigas, Pero Meogo (século XIII) foi
um trovador galego. Considere o texto a seguir, deste
escritor.
[Levou-s’ a louçana,] levou-s’ a velida:
vay lavar cabelos, na fontana fria.
Leda dos amores, dos amores leda.
5
[Levou-s’ a velida,] levou-s’ a louçana:
vay lavar cabelos, na fria fontana.
Leda dos amores, dos amores leda.
Vay lavar cabelos, na fontana fria:
passou seu amigo, que lhi ben queria.
Leda dos amores, dos amores leda.
10
15
(A)
“Ouve os danos de mi que apercebidos /
Estão a teu sobejo atrevimento, / Por todo o
largo mar e pola terra / Que inda hás-de
sojugar com dura guerra.”. (V, 42, vv. 5-8)
(B)
“Amores da alta esposa de Peleu [= Tétis] /
Me fizeram tomar tamanha empresa; / Todas
as Deusas desprezei do Céu, / Só por amar
das águas a Princesa.”. (V, 52, vv. 1-4)
(C)
“Enfim, minha grandíssima estatura / Neste
remoto Cabo converteram / Os Deuses; e, por
mais dobradas mágoas, / Me anda Tétis
cercando destas águas.” (V, 59, vv. 1-4)
(D)
“Pois os vedados términos quebrantas / E
navegar meus longos mares ousas, / Que eu
tanto tempo há já que guardo e tenho, /
Nunca arados d’estranho ou próprio lenho;”.
(V, 41, vv. 5-8)
(E)
“Assi contava; e, cum medonho choro, /
Súbito d’ante os olhos se apartou; / Desfez-se
a nuvem negra, e cum sonoro / Bramido
muito longe o mar soou.”. (V, 60, vv. 1-4)
Vay lavar cabelos, na fria fontana:
passa seu amigo, que a muyt’ amava.
Leda dos amores, dos amores leda.
Passa seu amigo, que lhi ben queria:
o cervo do monte a áugua volvia.
Leda dos amores, dos amores leda.
Passa seu amigo, que a muyt’amava:
o cervo do monte volvia a áugua.
Leda dos amores, dos amores leda.
(CV 793 e CBN 1188)
(In: AZEVEDO FILHO, Leodegário A. de. As cantigas de
Pero Meogo. 2. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro;
Brasília: INL, 1981. p. 73.)
Vocabulário:
áugua = água
fontana = fonte
leda = alegre
levou-se = levantou-se
lhi = lhe
23 Segundo Péricles Eugênio da Silva Ramos, há
uma coexistência, no Barroco, de Cultismo e de
Conceptismo:
louçana = formosa
muyt’ = muito
velida = bela
volver = turvar a água
“Na verdade, dois estilos coexistem no Barroco,
por um lado, o Culteranismo ou Cultismo, e por
outro o Conceptismo. [...] Os culteranos dirigem-se
aos sentidos, os conceptistas à inteligência. A
linguagem culterana é cheia de metáforas puras:
nela, cristal significa água, orvalho, rio, pele
branca, diamantes são dentes, céu pode ser o
rosto, neve é a tez branca, o lírio, o linho, a pluma
branca de uma ave, cravo ou rubi é a boca, etc.”
Sobre o texto, é correto afirmar:
(A)
No verso inicial — “[Levou-s’ a louçana,] levou-s’
a velida:” —, os adjetivos “louçana” e “velida”
caracterizam a figura feminina em um ambiente
cortês.
(In: MOISÉS, Massaud; PAES, José Paulo
(orgs.). Pequeno Dicionário de Literatura
Brasileira. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1980. p. 78.)
(B)
O refrão traduz a alegria da namorada ante o fato
de o amigo ter afastado o “cervo do monte”, que
turvava a água da fonte.
(C)
Nos versos 14 e 17, a alternância “a áugua volvia”
/ “volvia a áugua” se explica pelo princípio do
paralelismo da cantiga de amor.
Considerando as características de linguagem
apontadas por Silva Ramos, a alternativa que
exemplifica, na obra de Gregório de Matos Guerra
(1633-1696), o estilo cultista é:
(D)
No verso “Passa seu amigo, que a muyt’amava:”,
a presença do amigo permite a classificação do
texto como cantiga de amor.
(A)
(E)
A referência à “fontana fria” (vv. 2, 5, 7 e 10)
caracteriza a natureza como amiga e confidente.
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“A cada canto um grande conselheiro, / Que
nos quer governar cabana, e vinha, / Não
sabem governar sua cozinha, / E podem
governar o mundo inteiro.” (Soneto “A cada
canto...”)
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(B)
“Ardor em coração firme nascido! / Pranto por
belos olhos derramado! / Incêndio em mares de
água disfarçado! / Rio de neve em fogo
convertido!”. (Soneto “Ardor em coração firme...”)
(C)
“O alegre do dia entristecido, / O silêncio da noite
perturbado / O resplandor do sol todo eclipsado, /
E o luzente da lua desmentido!”. (Soneto “O
alegre do dia...”)
(D)
“Vai-se com temporal a Nau ao fundo / carregada
de rica mercancia, / Queixa-se da Fortuna, que a
envia, / E eu sei, que a submergiu Deus
iracundo.”. (Soneto “Isto, que ouço chamar...”)
(E)
“Neste lance, por ser o derradeiro, / Pois vejo a
minha vida anoitecer, / É, meu Jesus, a hora de
se ver / A brandura de um Pai manso Cordeiro”.
(Soneto “Meu Deus, que estais pendente...”)
25 Gonçalves Dias (1823-1864), poeta romântico,
é autor de Primeiros Cantos (1846), Os Timbiras
(1857), Últimos Cantos (1861), entre outras obras.
Considere o poema a seguir, deste escritor.
ESPERA
Quem há no mundo que aflições não passe,
Que dores não suporte?
Mais ou menos d’angústias cabe a todos,
A todos cabe a morte.
5
24
Leia o trecho a seguir, sobre Cláudio Manuel da
Costa (1729-1789):
10
“De todos os poetas ‘mineiros’, talvez seja ele o mais
profundamente preso às emoções e valores da terra,
embora uma inspeção superficial da sua obra possa
sugerir o contrário. De fato, como se arraigou pela
inteligência e disciplina estética aos padrões eruditos
da Europa, levou por vezes até o formalismo a
estilização dos seus temas mais caros, fazendo
coexistir com o bairrista mineiro um afetado
coimbrão.”
15
20
(CANDIDO, Antonio. No limiar do novo estilo:
Cláudio Manuel da Costa. In: Formação da
Literatura Brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia, 1993.
v. 1, p. 84.)
“Leia a posteridade, ó pátrio Rio, / Em meus
versos teu nome celebrado; / Por que vejas uma
hora despertado / O sono vil do esquecimento
frio:”. (Soneto I)
(B)
“Nise? Nise? onde estás? Aonde espera / Acharte uma alma, que por ti suspira, / Se quanto a
vista se dilata, e gira, / Tanto mais de encontrar
te desespera!”. (Soneto XIII)
(C)
“Onde estou? Este sítio desconheço: / Quem fez
tão diferente aquele prado? / Tudo outra
natureza tem tomado; / E em contemplá-lo tímido
esmoreço.”. (Soneto VII)
(E)
“Brandas ribeiras, quanto estou contente / De ver
nos outra vez, se isto é verdade! / Quanto me
alegra ouvir a suavidade, / Com que Fílis entoa a
voz cadente!”. (Soneto VI)
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Quantos cabelos temos, ele o sabe;
Ele pode contar
As folhas que há no bosque, os grãos d’areia
Que sustentam o mar.
Como pois não será ele conosco
No dia da aflição:
Como não há de computar as dores
Do nosso coração? [...]
Sobre o poema, é correto afirmar:
“Se sou pobre pastor, se não governo / Reinos,
nações, províncias, mundo, e gentes; / Se em
frio, calma, e chuvas inclementes / Passo o
verão, outono, estio, inverno;”. (Soneto V)
(D)
Por que então maldiremos este mundo
E a vida que vivemos,
Se nos tornamos do Senhor mais dignos,
Quanto mais dor sofremos?
(DIAS, Gonçalves. Novos Cantos. In: Poesia e
Prosa Completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1998. p. 276-277.)
O trecho que exemplifica a afirmação de Candido quanto
à presença de emoções e valores da terra em Cláudio
Manuel da Costa é:
(A)
A vida é um fio negro d’amarguras
E de longo sofrer;
Semelha a noite; mas fagueiros sonhos
Podem [sic] de noite haver.
9
(A)
O verso inicial — “Quem há no mundo que
aflições não passe,” — expressa uma
temática social, própria da última fase do
Romantismo.
(B)
Exemplifica o individualismo ultra-romântico
em função do tema da dor nele explorado,
sobretudo nos versos 1, 2 e 3.
(C)
O eu lírico estabelece uma relação entre dor
e dignidade humana diante de Deus, o que,
de certa forma, legitima o sofrimento.
(D)
A morte, no verso “A todos cabe a morte.”, é
uma saída individualista de recusa aos
valores sociais.
(E)
O verso “A vida é um fio negro d’amarguras”,
dado o teor melancólico de sua formulação,
expressa a descrença e o vazio existencial,
característicos
da
primeira
fase
do
Romantismo.
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26 Massaud Moisés traça a seguinte evolução para a
poética de João da Cruz e Sousa (1861-1898), principal
autor do Simbolismo brasileiro:
“Em Broquéis, tem-se o poeta atraído pelo
esteticismo, pelo ‘literário’, o que significa a presença
do Simbolismo como ideal artístico [...]. Na segunda
fase, representada por Faróis (1900), acicatado pela
desventura, abandona o esteticismo para cultivar um
confessionalismo cosmicamente revoltado, nítida
transposição, para altos planos, da sua angustiante
“dor de existir”. O estágio final, expresso nos Últimos
Sonetos (1905), traduz o momento da ascensão, pela
caritas [caridade], ao mundo das Essências.
Superados os padecimentos circunstanciais, o poeta
se entrega ao conforto das ‘verdades aladas’ do
Cristianismo, nas quais vislumbra solução para sua
angústia de ‘emparedado’ ”.
(B)
“Deixai-me navegar, morosamente, a remos, /
Quando ele estiver brando e livre de tufões, /
E, ao plácido luar, ó vagas, marulhemos / E
enchamos de harmonia as amplas solidões.”.
(“Cabelos”)
(C)
“Num castelo deserto e solitário, / Toda de
preto, às horas silenciosas, / Envolve-se nas
pregas dum sudário / E chora como as
grandes criminosas.”. (“Reponso”)
(D)
“Dez horas da manhã; os transparentes /
Matizam uma casa apalaçada; / Pelos jardins
estancam-se os nascentes, / E fere a vista,
com brancuras quentes, / A larga rua
macadamizada.”. (“Num bairro moderno”)
(E)
“Sentado à mesa dum café devasso, / Ao
avistar-te, há pouco, fraca e loura, / Nesta
Babel tão velha e corruptora, / Tive tenções
de oferecer-te o braço.”. (“A débil”)
(In: Pequeno Dicionário de Literatura Brasileira. 2.
ed. São Paulo: Cultrix, 1980. p. 405.).
Levando em consideração o esquema proposto pelo
referido professor, o trecho que exemplifica o estágio
final da poesia de Cruz e Sousa é:
(A)
“É livre, livre desta vã matéria, / Longe, nos
claros astros peregrinos / Que haveremos de
encontrar os dons divinos / E a grande paz, a
grande paz sidérea.”. (“Longe de tudo”)
(B)
“Indefiníveis músicas supremas, / Harmonias da
Cor e do Perfume... / Horas do Ocaso, trêmulas,
extremas, / Réquiem do Sol que a Dor da Luz
resume...”. (“Antífona”)
(C)
“Nos Santos óleos do luar, floria / Teu corpo
ideal, com o resplendor da Hélade... / E em toda
a etérea, branda claridade / Como que erravam
fluidos de harmonia...”. (“Em sonhos”)
(D)
(E)
28
O volume Batuque, publicado, em 1939, pelo
poeta modernista Bruno de Menezes (1893-1963),
apresenta, entre outros, os seguintes temas: o
erotismo, o corpo, o mundo do trabalho, a tradição afrobrasileira e a cultura popular. A alternativa que
exemplifica o último tema é:
“Que soluço extravagante, / Que negro, soturno
fel / Põe no teu ser doudejante / A confusão da
Babel?”. (“Canção do bêbado”)
“Pai João sonolento e bambo na pachorra da
idade / cisma no tempo de ontem. / De olhos
vendo o passado recorda o veterano / a vida
brasileira que ele viu e gozou e viveu!” (“Pai
João”).
(B)
“Junho! Mês joanino do Santo Antônio de
Lisboa, / [...] Tua alegria é feita de fogueiras
crepitantes, / de crespas rodinhas estreladas,”
(“São João do Folclore e Manjericos”)
(C)
“Surrado vendido / mas tendo na alma / seu
santo Orixá./ Sem nunca esqueceres a selva
do Congo, / os verdes coqueiros os teus
bananais, fizeste o açúcar o mel a cachaça /
que esquenta o teu sangue, que te dá
coragem.” (“Cachaça”).
(D)
“Na maloca na senzala / na trabalheira do
eito, / como agora nos guindastes nos porões
nas usinas, / quem teria ensinado que o teu
fumo faz dormir?” (“Liamba”).
(E)
“Quando termina a missa nas manhãs de
domingo, / e que as moças de branco as
velhinhas de chale, / os homens em ar de
festa vão saindo da igreja, / os três sinozinhos
dizendo que voltem no outro domingo,”
(“Igreja de arrabalde”).
“Fim de tarde sombria. / Torvo e pressago todo o
céu nevoento. / Densamente chovia. / Na estrada
o lodo e pelo espaço o vento.”. (“Ébrios e cegos”)
27 Cesário Verde (1855-1886), poeta realista
português, teve seus poemas publicados postumamente
por Silva Pinto em O livro de Cesário Verde. Nesta
coletânea, a crítica tem acentuado, entre outros
aspectos, a sensorialidade, associada à experiência
urbana. Esse traço da escrita do autor português está
presente em:
(A)
(A)
“Dizem que tu és pura como um lírio / E mais fria
e insensível que o granito, / E que eu que passo
aí por favorito / Vivo louco de dor e de martírio.”.
(“Vaidosa”)
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29 Publicado em 1940, o livro Sentimento do mundo é um dos mais importantes de Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987), poeta modernista mineiro. O poema “Elegia 1938”, mostrado a seguir, foi retirado do livro mencionado.
ELEGIA 1938
5
10
15
20
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
(In: ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. In: Poesia e Prosa. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1983. p. 136-137)
Levando em conta o poema, é correto afirmar:
(A)
A fuga pela noite é negada pelo eu lírico na medida em que esta evasão não permite ao homem libertar-se
dos problemas cotidianos, como se vê em “Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra / e sabes
que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.” (vv. 9-10)
(B)
No verso “Caminhas entre mortos e com eles conversas / sobre coisas do tempo futuro e negócios do
espírito.”, critica-se a atitude de valorização excessiva do presente como forma de alienação.
(C)
Os versos iniciais “Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, / onde as formas e as ações não encerram
nenhum exemplo.” expressam, no lirismo maduro de Sentimento do mundo, um sentido de esvaziamento da
existência humana.
(D)
O recurso à forma verbal na segunda pessoa do singular (trabalhas, sentes, amas, caminhas, sabes, etc.)
permite descrever ações humanas de caráter elevado e recusar a ideia de um mundo caduco.
(E)
Os heróis a que se refere o verso 5 (“Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,”) preconizam
a virtude, a renúncia, o sangue-frio, valores defendidos pelo eu lírico em contraposição ao vazio da condição
humana.
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30
Os músicos Milton Nascimento e Caetano Veloso,
FILOSOFIA
ao interpretarem o conto “A terceira margem do rio”,
pertencente à coletânea Primeiras Estórias, de
Guimarães
Rosa
(1908-1967),
fizeram
uma
caracterização poética da figura do pai, marcada pelo
silêncio: “Risca terceira / Água parada dura / Água da
palavra / Água de rosa dura / Proa da palavra / Duro
silêncio, nosso pai / Margem da palavra / Clareira, luz
madura / Rosa da palavra / Puro silêncio, nosso pai.” (“A
terceira margem do rio”). Tal descrição apoia-se no
seguinte trecho da narrativa rosiana:
(A)
31 Com a expressão “ruptura epistemológica”, o
filósofo Gaston Bachelard entendia uma mudança na
maneira de formular novas teorias científicas.
Segundo o filósofo, é lícito afirmar que a referida
ruptura caracteriza-se por
“Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo
(A)
rompimento de uma cadeia de argumentação
indutiva em virtude do desconhecimento de
um novo fenômeno a ser explicado.
(B)
refutação de várias teorias por outra no
interior de um mesmo âmbito epistemológico.
(C)
desqualificação da razão como instância
legisladora do campo epistemológico por
outro órgão de cognição.
(D)
reconhecimento da mudança dos juízos
epistemológicos por novos juízos de valor.
(E)
uma descontinuidade e uma diferença
temporal entre as teorias científicas.
remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela
por igual, feito um jacaré, comprida longa.”
(B)
“Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o
chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem
falou outras palavras, não pegou matula e
trouxa, não fez a alguma recomendação.”
(C)
32 Hegel contrapõe o termo eticidade à
moralidade, uma vez que esta se funda na
subjetividade. A Filosofia do Direito, no entanto,
unifica a subjetividade da liberdade com a
objetividade da instituição substancial. Considere
entre os itens abaixo os que explicitam essa
unificação.
“Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia
ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente
fazia que esquecia, era só para se despertar de
novo, de repente, com a memória, no passo de
outros sobressaltos.”
(D)
“Às vezes, algum conhecido nosso achava que
I. a unificação da objetividade da vontade geral
com a subjetividade do poder estatal.
eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas
eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo,
II. a libertação
substancial.
de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de
sol.”
(E)
do
cidadão
pela
liberdade
III. a vinculação da subjetividade da eticidade
com a objetividade da moralidade.
“Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a
nenhuma parte. Só executava a invenção de se
permanecer naqueles espaços do rio, de meio a
IV. a supressão da subjetividade e da
objetividade graças ao poder da instituição
substancial do Estado.
meio, sempre dentro da canoa, para dela não
saltar, nunca mais.”
V. o reconhecimento do Estado como a instância
instituidora de leis de validade universal.
Estão corretos os itens
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(A)
I e II.
(B)
I e IV.
(C)
II e V.
(D)
I, II e III.
(E)
III, IV e V.
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33 Entendida como um sistema ordenado e coerente
de leis universais que encerram um valor prospectivo, a
teoria científica permite
(A)
conceber novos conhecimentos a
baseados nas teorias já constituídas.
(B)
prever a ocorrência de fenômenos submetidos
às leis científicas sob idênticas condições.
(C)
projetar novos enunciados baseados nas leis
científicas estabelecidas por princípios a priori.
(D)
julgar a ocorrência de fenômenos em quaisquer
condições empiricamente observáveis.
(E)
estabelecer a priori novas leis baseadas nos
princípios já consolidados teoricamente.
36 Segundo Kant, os imperativos categóricos
entendidos como regras da razão prática, distinguemse dos imperativos hipotéticos. Sobre o entendimento
de Kant acerca dos imperativos categóricos,
considere os enunciados a seguir.
priori
I. regras da razão prática sem ponto externo de
referência.
II. regras cujo fundamento se encontra na
positividade das leis.
III. regras a que a
incondicionalmente.
se
submete
IV. regras baseadas nas categorias a priori do
entendimento.
V. regras que o sujeito moral identifica como
produtos da razão pura.
34 Tanto o subjetivismo quanto o relativismo não
consideram o conhecimento como universalmente válido.
A distinção entre ambos se deve ao fato de o
Conforme esse filósofo, os imperativos categóricos se
definem como
(A)
I e II.
subjetivismo julgar o conhecimento como
produto
de
fatores
concernentes
às
circunstâncias da história dos homens, e o
relativismo, como produto de fatores psíquicos.
(B)
I e III.
(C)
II e IV.
(D)
I, III e V.
(B)
relativismo derivar da teoria da relatividade, e o
subjetivismo da mutabilidade do próprio
conhecimento.
(E)
III, IV e V.
(C)
subjetivismo conceber o conhecimento como
produto do espírito do tempo, e o relativismo,
como produto da cultura dos povos.
(A)
vontade
37
Para Schiller,
(D)
subjetivismo fazer depender o conhecimento de
fatores inerentes ao sujeito cognoscente, e o
relativismo, de fatores externos.
“Numa forma de arte verdadeiramente bela, o
conteúdo não deve ser nada, a forma tudo: só por
meio da forma atuamos sobre o homem como
totalidade, através do conteúdo só atuamos sobre
as forças dele separadas.”
(E)
relativismo basear-se na idiossincrasia do
sujeito, e o subjetivismo, nas condições
espaço-temporais.
(SCHILLER. Cartas sobre a educação estética,
apud HUISMAN, D. A estética. São Paulo: Difel,
1961, p. 40-41)
Sobre o significado desse comentário, é correto
afirmar que
35
Na Arte Poética, Aristóteles define a “tragédia
[como] a mímesis dos seres maiores que o vulgo e
melhores que o vulgo” (ARISTÓTELES, Arte Poética, apud
HUISMAN, D. A estética. São Paulo: Difel, 1961, p.23). De
acordo com o filósofo, o poeta trágico deve
(A)
imitar os homens não como eles são, mas
como deveriam ser.
(B)
copiar as melhores ações praticadas pelos
homens.
(C)
copiar as ações dos melhores cidadãos dentre
todos os homens.
(D)
copiar as ações praticadas pela aristocracia
ateniense.
(E)
imitar de forma perfeita as ações praticadas
com as melhores intenções.
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(A)
o grande artista deve desprezar todo teor
material da obra de arte em favor da forma.
(B)
somente o músico e o poeta são dignos de
serem considerados verdadeiros artistas, já
que não tratam de conteúdos materiais.
(C)
o segredo da verdadeira arte consiste na total
abstração do seu conteúdo em benefício da
pura forma.
(D)
o homem só pode ser representado
artisticamente na sua totalidade por meio de
uma técnica capaz de reproduzi-lo em todos
os seus detalhes.
(E)
o verdadeiro segredo do grande artista
consiste na destruição da matéria por meio da
forma.
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38 Sobre a relação entre forma e conteúdo, Hegel
considera que “a beleza é a manifestação sensível da
ideia, o conteúdo da arte é a ideia; sua forma, a
configuração sensível e imaginativa”. (apud HUISMAN, D.
40 Aristóteles, ao tratar da concepção de beleza,
afirma que
“um ser ou uma coisa composta de partes
diversas só pode ter beleza na medida em que as
partes
componentes
são
dispostas
em
determinada ordem e possuem, além disso, uma
dimensão que não pode ser arbitrária, pois o belo
consiste na ordem e na grandeza.”
A estética. São Paulo: Difel, 1961, p. 43)
Para que os dois aspectos da arte se interpenetrem, é
preciso que
(ARISTÓTELES, Arte Poética, apud HUISMAN, D.
A estética. São Paulo: Difel, 1961, p 23-24).
(A)
forma
e
conteúdo
sejam
imaginados
simultaneamente para se atingir o ideal.
(B)
a ideia seja captada de seu conteúdo sensível
por meio de um processo de abstração.
(C)
o conteúdo constitutivo da arte se revela capaz
de transformar-se em pura racionalidade interna
do real.
I.
A beleza é composta de partes diversas
distribuídas conforme a grandeza da ordem
concebida pelo artista.
(D)
o artista opere um ajuste da ideia ao conteúdo
empírico racionalmente dado.
II.
A disposição das partes maiores deve
obedecer à ordem natural da dimensão das
coisas.
(E)
o sensível seja previamente imaginado em sua
idealidade empírica.
III.
A dimensão das partes constitutivas deve ser
integrada segundo um ordenamento gradual
da beleza estética.
Sobre a relação entre a filosofia e a arte, Schelling
afirma que
IV.
O belo será, pois, a ordem estrutural de um
mundo encarado sob seu melhor aspecto.
“A filosofia não descreve as coisas reais, mas suas
ideias; o mesmo sucede com a arte: essas mesmas
ideias, de que as coisas reais, como prova a filosofia,
constituem cópias imperfeitas, aparecem a [na] arte,
objetivas como ideias e, por conseguinte, em sua
perfeição; elas representam o intelectual no mundo
refletido.”
V.
A beleza deve ser analisada segundo os
critérios de simetria e de unidade.
Avalie as afirmativas abaixo,
concepção aristotélica de beleza.
39
De acordo com o texto acima, é correto afirmar:
Assim como para a filosofia, as ideias são formas
perfeitas das coisas sensíveis, para a arte a
representação dessas coisas sensíveis é produto
de uma intuição transcendental objetivada.
(B)
A arte descreve as mesmas ideias, enquanto a
filosofia reflete essas mesmas ideias de forma
objetivada.
(C)
A filosofia reflete as ideias por meio de uma
intuição intelectual objetivada, enquanto a arte as
concebe no plano transcendental idealizado.
(D)
A filosofia e a arte refletem as coisas reais
descritas em sua perfeição.
(E)
Arte e filosofia descrevem as ideias das coisas
perfeitas por intermédio de uma intuição sensível
transcendental.
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a
Estão corretas as afirmativas
(SCHELLING, F. Filosofia da obra de arte, apud
HUISMAN, D. A estética. São Paulo: Difel, 1961, p. 41)
(A)
considerando
14
(A)
I e II.
(B)
III e IV.
(C)
IV e V.
(D)
III e V.
(E)
I, II e III.
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