Livro da UEM – Comentário - O Cobrador
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Livro da UEM – Comentário - O Cobrador
Livro da UEM – Comentário - O Cobrador - Rubem Fonseca I – Biografia: Rubem Fonseca nasceu em Juiz de Fora, mas vive no Rio desde os 18 anos. Formado em Direito, trabalhou no Departamento Federal da Segurança Pública. A partir faz curso de Administração e Relações Públicas na Fundação Getúlio Vargas do Rio, onde também foi docente. Estreou na literatura com o livro de contos: Os prisioneiros (1963). Em 1965 publica Coleira de Cão. Em 1969 vence o concurso de contos da Fundação Educacional do Paraná com o livro de contos Lúcia McCartney. O livro Feliz Ano Novo é proibido pelo Regime Militar. A temática da violência e a linguagem cinematográfica são características de sua arte. Suas personagens são colhidas no submundo da zona sul carioca: lutadores de boxe, policiais assassinos; ninfomaníacos. O romance A grande arte (1983) foi adaptado para o cinema em 1989. Agosto (1990) deu origem a uma minissérie de TV em 1993. Livro-O Cobrador Compõe-se de dez contos. Foi publicado em 1979. Tematiza a violência em suas várias manifestações (contos: O Cobrador, Encontro no Amazonas e O jogo do morto), e as complicadas relações amorosas (contos: Pierrô da Caverna e Mandrake). Desprovido de idealizações mostra a realidade exata, nua, crua, transparente e cheia de vigor. A cada conto novas chagas do mundo atual se fazem presentes: os desequilíbrios, a pederastia, a desagregação familiar, a sexualidade, o aborto, o jogo, a banalização da morte. O Cobrador Narrado em 1ª pessoa, o conto estrutura-se em partes que focalizam momentos da vida da personagem-narrador. 1º momento Na porta da rua uma dentadura grande, embaixo escrito Doutor Carvalho, Dentista. Ele entra no gabinete... a dor que sente é similar a de qualquer paciente e o dentista também. O dentista lhe pergunta como deixara o dente chegar àquela situação, terá de arrancá-lo. Se não cuidar, vai perder todos os dentes. O dentista lhe mostra o dente de raiz podre: - “São quatrocentos cruzeiros”. Ele se nega a pagar. O dentista quer impedi-lo de sair. O narrador afirma: “O meu físico franzino encoraja as pessoas. Odeio dentistas, comerciantes, advogados, industriais, funcionários, médicos, executivos, essa canalha inteira. Todos eles estão me devendo muito”. Ele tira o revólver “- que tal enfiar isso no teu cú?” O dentista fica branco, recua. Ele destrói o consultório e grita: “Eu não pago mais nada, cansei de pagar!, (...) agora eu só cobro”. E deu um tiro no joelho do dentista. Devia tê-lo matado. 2ª momento Na rua cheia de gente e ele insiste na idéia de que todo mundo está lhe devendo (o narrador usa a técnica cinematográfica de flashes-enumeração de substantivos para sugerir a agitação urbana). “De manhã não se consegue andar na direção da Central, a multidão vem rolando como uma enorme lagarta ocupando toda a calçada”. 3º momento “Me irritam esses sujeitos de Mercedes”. Ele atravessa a rua pensando na Magnum com silenciador que desejava comprar. Assustou-se com buzina do bacana, não havia ninguém na rua, era noite, sacou o 38 e atirou no pára-brisa... o carro pára, ele ameaça o motorista: “o cara, quer que eu te dê o tiro de misericórdia? Não, não, ele disse com esforço, por favor”. Um sujeito observava da janela, com certeza chamara a polícia. Pensou que deveria ter dado um tiro na capota e em cada porta. Vai andando calmamente para a Cruzada. 4º momento Encontrou o cara da Magnum. Queria comprar outros objetos. Enquanto o vendedor vai buscar, ele examina a arma. O muambeiro volta com o rádio de pilha e ele pediu para aumentar o som. “Puf. Acho que ele morreu logo no primeiro tiro. Dei mais dois tiros só para ouvir puf, puf’. 5º momento “Estão me devendo colégio, namorada... sanduíche de mortadela... bola de futebol!”. Fica na frente da televisão para aumentar seu ódio e realimenta-lo. Tem vontade de cortar os dois lados da bochecha do rapaz que faz anúncio de uísque. “Meu arsenal está completo: tenho a Magnum com silenciador, um Colt Cobra 38, duas navalhas, uma carabina 12, um Taurus 38 Capenga, um punhal, um facão. Pensava em decapitar alguém como via em um filme: um golpe seco e a cabeça rolava, o sangue esguichando. 6º momento Na casa de uma mulher que o apanhou na rua. Ela diz que estuda à noite. Ele diz que seu colégio foi o pior do mundo,que já está demolido. Ele afirma que é poeta e como ela lhe pede, ele recita uns versos, sobre os ricos que dormem até tarde e desprezam os que trabalham por comida. Ela o interrompe, quer saber se ele gosta de cinema. Ela nada entende de poesia. Ele continua a recitá-la. A mulher fingia indiferença por ele. “A farsanteza das mulheres”. Ela confessa que tem medo dele. Ele a acha uma fodida. Pergunta se ela quer que ele a mate. Ela diz que quer que ele a foda. Ele pensa que poderia esgana-la. Mas, não uma infeliz daquelas. Ele descreve a mulher fisicamente: peitos murchos, chatos, celulite... ele se deita sobre ela. “Fodemos. Ela agora está dormindo. Sou justo”. 7º momento O jornal não noticia a morte do muambeiro; o bacana morreu no Miguel Couto. Faz um poema que denomina “Infância ou Novos Cheiros de Buceta com U”; o poema termina com o verso: “Quando não se tem dinheiro, é bom ter músculos e ódio”. Quer viver muito para matar a todos que comem, bebem... 8º momento Ele fica observando a festa na Vieira Souto. A elegância dos homens, das mulheres. O facão amarrado nas pernas dificulta os movimentos. Pensam que é um aleijado. Um casal chama a sua atenção: o carro vermelho, o vestido azul esvoaçante não fizeram a entrada triunfal que imaginavam. Ele se dispõe a esperar. Quando o casal sai da festa, ele os surpreende na escura rua lateral. Seguiram pela Barra da Tijuca. Em frente ao Hotel Nacional, o homem lhe oferece o dinheiro, o carro... mas que os deixasse descer. “Só rindo”. Lógico que ele ia avisar a polícia. Seguiram pelo Recreio dos Bandeirantes até uma praia deserta. Todos desceram. Não adiantou o homem dizer que a mulher estava grávida. Era o primeiro filho. Ele deu um tiro no umbigo e outro na têmpora. Amarrou o homem, tirou a gravata e com o facão deu-lhe vários golpes no pescoço até a cabeça rolar na areia. “Ergui alto o alfanje e recitei: Salve o cobrador! Dei um grito alto que não era nenhuma palavra, era um uivo comprido e forte, para que todos os bichos tremessem e saíssem da frente. Onde eu passo o asfalto derrete”. 9º momento Consegue entrar em um condomínio dizendo ser bombeiro. Tenta vários apartamentos, mas só consegue no primeiro andar. Depois de estuprar a dona do apartamento, ironiza “Vê se não abre mais a porta pro bombeiro” e sai (cena com toque naturalista). 10º momento “Saio do sobrado da rua Visconde de Maranguape...” Ele chega à praia e vê duas mulheres conversando, têm corpo bonito, a bunda da clara é a mais bonita que ele já viu. Elas se insinuam para ele. Ele afirma que na praia todos são iguais: os fodidos e os outros. Elas se despedem, a branca vai para Ipanema. Ele a segue. Não sabe o que dizer. É tímido... o cabelo dela é fino e tratado, o seu tórax é esbelto, os seios pequenos, as coxas são redondas e musculosas e a bunda é feita de dois hemisférios rijos. “Corpo de bailarina”. Ele não acredita que alguém possa ser tão bonita. Mente para ela, diz que mora em Ipanema. Ela lhe mostra um prédio todo de mármore. 11º momento Volta à rua Visconde de Maranguape. Faz hora para ir à casa de Ana, a moça branca. Os jornais noticiam o crime que cometera (justiçara, eram filhos de ricos que exploravam os paus-de-arara). Os jornais trazem manchete, já não há segurança nas ruas. “Só rindo”. Novos versos: “Eu sou uma hecatombe/ Não foi nem Deus nem o diabo/ Que me fez um vingador/ Fui eu mesmo/ Eu sou o Homem Pênis/ Eu sou o cobrador.” Ele vai ao quarto de Dona Clotilde, a dona do sobrado. Ela está deitada há três anos. Ele lhe dá a injeção e diz que a doença está na cabeça dela. “Qualquer dia dou-lhe um tiro na nuca”. 12º momento Ele reafirma a satisfação que lhe dá quando satisfaz seu ódio. Sente-se eufórico. Quem quiser mandar nele vai morrer. Ele deseja matar um figurão que aparece na TV. Ele vai até a casa de Ana que o espera sentada na sala. Ele não tem carro. Ela tem um Puma conversível. Ele pede para dirigir e vão pela estrada de Petrópolis. Lá param em um restaurante, ele diz que não tem fome e nem dinheiro. Ela tem os dois. Alguns executivos bebem e falam alto. Ele os odeia. Voltam para o Rio, ele dirige como um raio e pára na rua Visconde de Maranguape. Ela lhe pergunta se vai vê-lo de novo. Enquanto sobe a escada, ele ouve o barulho do carro afastando-se. 13º momento Ele vai a um “Top Executive Club”. Surpreende um homem bem sucedido (coluna social, comprista, eleitor da Arena, católico, cursilhista...). O homem tenta conversar... mente que não mora no Rio... confessa que tem três filhos... a personagem-narrador mata-o com três tiros no peito (um para cada filho), e outro na cabeça (para a mulher). 14º momento Para esquecer Ana (a moça do edifício de mármore) vai jogar futebol. Depois, conversa com um crioulo que lê o jornal O Dia. O crioulo não lhe dá o jornal, mas ele não se aborrece, o coitado não tem nem dentes. Compra cachorrosquentes, coca e reparte com o crioulo. Lê no jornal que estão procurando o louco da Magnum. Também leu uma manchete sobre uma grande festa de Natal-Primeiro Grito de Carnaval... convidados de vários países... “o parasitismo internacional”. “Só rindo”. Lê outras notícias. 15º momento Ele aplica a injeção de Trinevral em Dona Clotilde. Ele faz tudo no sobrado. Tocam a campainha: era Ana Palindrômica. Ele a leva para o sobrado e pede a Dona Clotilde se pode levá-la para o quarto. Ela concorda, mas quer conhecer a moça, rezava sempre para que ele encontrasse uma moça como Ana. Os dois vão para o quarto onde se amam com intensidade, hipnotizados. O perfume dela transpassa para as paredes do quarto. Ana acordou antes dele. A luz está acesa. Ela comenta sobre os livros de poesia e as armas. Pega a Magnum. Pergunta se ele já matou alguém e o que sentiu. Ele lhe responde que sim, que sentira um alívio. “Como nós dois na cama? Não, não, outra coisa. O outro lado disso.” Ana diz que não tem medo dele. Ele lhe diz que a ama. Depois de servir café para Dona Clotilde e levá-la para a cama, ele sai com Ana. 16º momento “Hoje é dia vinte e quatro de dezembro, dia do Baile de Natal ou Primeiro Grito de Carnaval”. Ana saiu de casa e mora com ele. “Meu ódio agora é diferente. Tenho uma missão. Sempre tive uma missão e não sabia.. agora sei. Ana me ajudou a ver... Ana me ensinou a usar explosivos... matar um por um é coisa mística e disso me libertei. No Baile de Natal, mataremos convencionalmente os que pudermos. Será meu últimos gesto romântico inconseqüente... escolhemos para a nova fase os compristas... de um supermercado da zona sul. Serão mortos por uma bomba de alto poder explosivo. Adeus, meu facão, adeus meu punhal, meu rifle, meu Colt Cobra... hoje será o último dia em que vocês serão usados... explodirei as pessoas, adquirirei prestígio; não serei apenas o louco da Magnum, também não irei mais ao parque do Flamengo... já não perco meu tempo com sonhos”. “O mundo inteiro saberá quem é você, quem somos nós, diz Ana”. Eles lêem várias notícias sobre o Natal. Ela diz que é um bom dia para essa gente pagar o que deve. Ele diz que vai matar o Papai Noel do Baile com o facão. Ele lê para Ana o manifesto de Natal que mandará para os jornais. Antes ele não sabia o que queria, desperdiçava seu ódio, sem objetivo definido. Agora ele sabia quem era o inimigo. Ana lhe ensinara. “E o meu exemplo deve ser seguido por outros, muitos outros, só assim mudaremos o mundo. É a síntese do nosso manifesto”. Colocam as armas no carro, despedem-se de Dona Clotilde. Vão ao Baile de Natal. “Não faltará cerveja, nem perus. Nem sangue. Fecha-se um ciclo da minha vida e abre-se outro”. Comentário: É um dos contos mais violentos do livro. Merece destaque o comportamento contraditório do narrador, capaz de amar e odiar ao mesmo tempo. Vale ressaltar a linguagem chula do narrador, reflexo de sua origem e de seu comportamento. Livro das Ocorrências Um policial relata três histórias presenciadas por ele na delegacia. 1ª história: violência doméstica – uma mulher presta queixa contra o marido violento; depois se arrepende. O policial resolveu ir à casa dela conversar com o marido violento (Ubiratan), que se mostra valentão. O policial atira na perna de Ubiratan, leva-o para o hospital; depois para a delegacia. 2º história: atropelamento – um ônibus atropela um garoto de dez anos e passa sobre a cabeça dele. O guarda consegue deter o motorista e isola o local para esperar a perícia, mas uma mulher consegue furar o cerco e se atira gritando sobre o garoto. Os policiais têm dificuldade para afastá-la. Depois o policial conduz o motorista à delegacia. 3º história: suicídio – o policial vai à residência do morto que está pendurado no banheiro. O filho e a mãe, atônitos vêem o corpo ser retirado pelo policial e pelo investigador Azevedo. Comentário: O que mais impressiona nas três histórias é a frieza e o distanciamento com que os fatos são narrados, fazendo-nos perceber que a rotina dos policiais, torna-os insensíveis em relação aos fatos que vivenciam. O próprio título do conto;”Livro de Ocorrências já antecipa o tom e a linguagem do texto.narrativas leves, linguagem seca o que é reforçado por um narrador- testemunha Pierrô da caverna O personagem narrador, um escritor de 50 anos, separado da mulher Maria Augusta, afirma que é um homem movido pela paixão. Atualmente mantém um caso amoroso com Regina, uma mulher casada. Através do fluxo da consciência, fragmentado e neurótico, ele se desnuda: da separação restaram apenas livros e discos; recebe telefonemas anônimos e se sente observado através da cortina. Os livros mantêm o elo com a esposa e freqüentemente vai à casa dela buscar algo de que se esquecera, deseja escrever um novo livro e registra as idéias em um gravador portátil. Em sua vida não há amigos, contatos próximos, exceto as mulheres e suas relações amorosas. Seu caso com Regina não era suficiente para suprir seus devaneios amorosos. Ele sente desejos por uma garota de doze anos, Sofia, que é sua vizinha. Pesquisa vários autores que se envolveram em casos amorosos com crianças (pedofilia), para justificar seu comportamento. Para suprir seus desejos mantêm um caso com a mãe da garota: Eunice, casada com Milcíades, sempre embriagado. Embora não sejam de Sofia os telefonemas, ele descobre que era ela quem o espiava através da cortina. Sofia o visita e ele a desvirgina, passando a viver um romance com ela. O pai da menina descobre, mas não toma nenhuma atitude. Ele descobre que Sofia está grávida e leva-a para uma clínica de abortos. O médico, o Dr. Boris Godunov acaba descobrindo a idade de Sofia, e o repreende “por que não usou pílula, diafragma... fazem besteira e depois vêm correndo para cá. É um pobre país este, cinco milhões de abortos por ano”. Em casa, Sofia diria estar com dor de cabeça e os curativos seriam na casa do personagem- narrador. “o telefone toca várias vezes. Nada mudou, nada vai mudar”. Comentário: É interessante notar que todas personagens do conto são degradadas, mulheres infiéis , um pai bêbado que sequer tem coragem de contestar verdadeiramente a atitude da filha, um escritor pervertido, uma garota de 13 anos voluptuosa.mas ninguém se sente culpado por sua atitude.Quanto ao título, provavelmente faz alusão ao fato de que nosso narrador , como o Pierrõ carnavalesco é sentimental e apaixonado,porém não com a ingenuidade do Pierrô,mas sim com a fúria sexual do homem das cavernas. A caminho de Assunção O narrador faz parte de um grupamento militar dos Dragões Reais de Minas. Ele pertence ao 2º Regimento de Cavalaria, o qual esfarrapado, depois de tantas batalhas, da Guerra do Paraguai, tenta rumar para Assunção. O Coronel Procópio , comandante deste regimento, tenta manter seus soldados impecáveis , ainda que seus trajes militares estejam em petição de miséria.Ele não quer que seus comandados usem roupas civis como os gaúchos do 5º. Numa madrugada de dezembro, quando rumavam para atacar o Avaí, os militares brasileiros foram atacados pelas tropas inimigas. Como já estavam desfalcados, com cavalos mortos, muitos soldados combatiam a pé, a batalha foi um verdadeiro massacre: o coronel Procópio e o tenente coronel Rubião estavam mortos . Então o major Rias, doente de tifo como tantos outros militares que foram assolados por outras doenças assume o comando do regimento , embora muitos dissessem que ele não estava no seu juízo perfeito..Rias coloca a tropa em pé , mesmo os que estão feridos, para que o General Osório possa passar as tropas em revista. O sargento Andrade, dado como morto, dá um último suspiro , levantando-se para bater continência para o General, caindo em seguida. Osório cessa sua ordens e segue para o acampamento do 5º. Comentário: Este conto retrata as mazelas da guerra e o sofrimento daqueles que dela participam..Assemelha-se a várias Cavalaria Vermelha de obras do gênero, como A Isaac Babél, escritor russo muito apreciado por Rubem Fonseca e com cuja obra ele dialoga no romance Vastas Emoções e pensamentos Imperfeitos . Textos como esses descrevem de maneira crua a inutilidade da guerra e de suas devastações O tom narrativa, bem como a verossimilhança ,é aguçado pela presença de um narrador –protagonista. Encontro no Amazonas Este conto é povoado por uma atmosfera de suspense que só se desfaz no desfecho.O narrador, como a maioria dos narradores dos contos anteriores, é protagonista,extremamente interessado em mulher e sexo. Com seu companheiro, Carlos Alberto, procura um fugitivo; durante toda a narrativa ficamos na expectativa , pois não se pode saber ao certo se o homem procurado é bandido ou não e quem seria o narrador e seu companheiro. Como o homem procurado por ele estava em , no Museu Goeldi, fazendo anotações,mas quando ele chegaram lá, o homem já havia partido para Manaus. Para ter mais chances em sua busca, os dois resolvem fazer roteiros diferentes e fazem um sorteio. O narrador vai pelo rio, na embarcação Pedro Teixeira e Carlos Alberto segue de avião até Manaus. Durante a viagem o narrador descreve os passageiros que estão no barco, na 1ª classe junto com ele, há vários turistas nacionais e estrangeiros , a maioria em busca do exotismo da paisagem mercadorias na Zona Franca amazônica e desejosos de comprar de Manaus.Na terceira classe, estão os pobres, de quem o narrador faz questão de frisar , pois tem ojeriza, As acomodações são precárias, sua comida é de má qualidade, , devem ter seus próprios pratos e copos. Em cada parada do Pedro Teixeira o narrador desce da embarcação e procura pistas do fugitivo. Finalmente, em Oriximiná um garoto-vendedor de peixes e frutas diz que conhecia o procurado e sabia onde ele estava. Após tanto tempo de procura, o homem finalmente fora encontrado.O narrador não o conhecia pessoalmente, apenas sua descrição,mas se sentia tão íntimo que sabia que iria reconhecê-lo.Quando o procurado lhe abriu a porta ele se assustou e desferiu-lhe dois tiros que o derrubou no chão. Os olhos azuis da vítima sugeriam que ele era inocente, mas, mesmo assim, ele atirou em seu peito mais uma vez. Comentário:-A presença do narrador-protagonista ajuda a densar o clima de suspense da narrativa, visto que ele só nos revela aquilo que quer e no momento que achar importante. Além disso, vale reparar que este é mais um dos personagens masculino de caráter duvidoso e aficcionado por sexo. Mandrake Este é mais um conto policial. Narrado pelo próprio Mandrake o advogado Paulo Mendes . O conto nos traz a história de um crime no qual está envolvido um rico homem de negócios. Doutor Paulo Mendes Campos, advogado, apelidado por um amigo como Mandrake, jogador de xadrez é especialista em casos de extorsão e estelionato. É único, inescrupuloso, competente. Certo dia, Marly, a amante de Rodolfo Cavalcante Méier (50 anos, suplente de senador por Alagoas) foi assassinada com um tiro, mas nada lhe fora roubado. Ameaçado por um sujeito chamado Márcio Amaral, um motoqueiro chantagista, fornecedor de drogas, que o denunciaria à polícia como o criminoso, Méier contrata os serviços de Mandrake que vai em seu lugar ao encontro do chantagista. Mas Márcio foge, depois de conversar com uma moça, sem que Mndrake consiga falar com ele O motoqueiro combina um encontro na casa de Méier e o advogado irá passar por seu secretário. Mas o motoqueiro exige que Méier fique sozinho com ele. O advogado viu, na casa, a mesma moça que conversara com o motoqueiro. Estranhamente, após a conversa com Márcio, Méier dispensa os serviços de Mandrake. Ele resolve investigar por conta própria. O porteiro lhe conta que a jovem de cabelos negros é Lili, a sobrinha de Méier. A chantagem poderia comprometer o casamento de Eva, filha de Méier. Mandrake descobre, com seu sócio e amigos da polícia, que Marly era secretária de Méier, na firma Cordovil & Méier. Ele suspeita do sócio, Arthur Rocha, mas a hipótese é descartada. O advogado também é mulherengo e se apaixona por Eva, apesar de viver um romance com a jovem Bertha. Consegue falar com Eva que se mantêm evasiva. Márcio aparece morto. Não foi suicídio, foi assassinado com a mesma arma que matara Marly. Tudo aponta para Méier que era dono de um 38 como o do crime. O delegado Guedes está decidido a prender Méier. Eva procura Mandrake, e afirmando a inocência do pai, conta-lhe que Lili fora viciada em cocaína e que Márcio era o fornecedor, por isso ela conversara com Márcio, em sua casa, para saber se a prima voltara a se drogar. Mandrake resolver auxiliar Eva por quem estava interessado e encontra Méier chorando. Este afirma ser culpado e o manda embora. Lili acompanha Mandrake e lhe conta toda a verdade: ela tinha um caso com o tio que rompera o romance com Marly, mas esta o ameaçava com um escândalo. Por isso, ela marcou um encontro com Marly e a matou para defender o amado. Muito nervosa, procurara Márcio para comprar cocaína. Acabou dormindo na casa dele e a carta de Marly foi tirada de sua bolsa. Com a carta ele começa chantagear Méier. Lili o procura, mas ele já estava drogado, embriagado e ela o mata. Mandrake convence Lili a entregar a arma e procurar um bom advogado. Perdera Eva para sempre. Comentário:-É muito interessante destacar criminalista Mandrake e seu sócio que o brilhante advogado Wexler reaparece em várias outras obras de Rubem Fonseca , tais como A Grande Arte e Do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto.Eles são uma espécie de Sherlock Holmes e Watson á brasileira, sendo que a astúcia e a malandragem , o charme e a mania de Mandrake por vinhos e charutos o tornam ímpar.Além disso, há que se notar que seu nome é uma alusão ao famoso personagem de quadrinhos, que também resolvia as coisas num passe de mágica, devido a sua astúcia. Onze de Maio O título do conto é o nome de um asilo para velhos. Um prédio de dois andares, com oito alas e uns 60 cubículos em cada uma. José, o narrador, fora professor de história. Ele conta que os “irmãos” que cuidam do asilo pouco se importam com os velhos. O diretor Edmundo só conversa com os velhos quando eles desobedecem as regras que são muito rígidas. A punição é ficar sem uma das três refeições. Não permitem comida nos quartos, nem objetos diferentes. Os quartos tem TV, mas os programas são controlados. José sempre contraria as regras porque gosta de sair do quarto para conversar. Poucos têm família, quando têm, como Baldomiro raramente aparecem. A maioria não dura mais que seis meses. Os amigos de José são: Cortines, professor de educação física que se mantêm saudável com exercícios; Pharoux, um ex-policial que perdeu um olho. José estranha que os doentes, além de não serem atendidos por nenhum médico, desapareçam de uma hora para outra. José é sempre repreendido, mas não se intimida. Quando tem uma crise de diarréia, dão-lhe um remédio estranho, mas ele não o toma. Procura Cortines e eles concluem que é veneno, por isso os doentes morriam tão rápido. Surpreendido no quarto de Cortines, é obrigado a tomar o remédio. De volta ao quarto, dão-lhe outro remédio com o café da tarde. Desconfiado, joga fora.não era veneno, mas era um sonífero, por isso ficavam sonolentos e dormiam toda a noite. Os amigos dormem entorpecidos. Conta sua descoberta aos amigos. Não tomam o café e à noite estão todos bem dispostos e acordados. Conversam e concluem que o forno ali existente talvez não fosse para queimar lixo e sim para cremar corpos. Talvez até de vivos que incomodavam. Decidem fazer um motim. Vão até a ala do diretor, mas não conseguem entrar. José disfarça a voz e chama o diretor dizendo ser emergência. Quando este abre a porta, os três o rendem juntamente com a moça nua que estava com ele. Cortines e Pharoux aproveitam as guloseimas e cervejas do diretor e José adormece no sofá. Comentário:Várias coisas são interessantes nesse conto. Primeiro o narrador-personagem alterna verbos no presente e no passado, o que torna a narração mais intensa e verossímil. Segundo a temática forte e inusitada , que denuncia a maneira absurda com que os velhos são tratados em uma sociedade que valoriza apenas o aqui e agora.Por fim, a escolha do espaço, semelhante a um presídio , que ajuda a dar a dimensão na narrativa. O conto é uma denúncia sobre o descaso da sociedade e a ineficiência das instituições que têm a função de atender e proteger os idosos. Almoço na serra no domingo de Carnaval Zeca, o personagem conta que está indo a um almoço, sua viagem para o referido almoço do título.Na subida da serra, uma mulher vestida extravagante pede carona, mas, quando vê que é um travesti, não a leva. Ainda na estrada é tomado por temores e dúvidas, deseja desviar-se daquele caminho e tem uma crise de choro. Antes de chegar a casa tem uma crise de choro, o que, segundo ele, não era comum.Quando chega, o mordomo o recebe e ele pergunta por Sônia. Ela está ma piscina e ele se oferece para acompanhá-lo, mas ele diz que conhece o caminho. Ao chegar, é abordado por calção., mas parece estar Suely,irmã de Sônia, ela insiste que ele coloque de mau humor. Sônia o vê e quer beijá-lo e ele um se esquiva do beijo .Ela também fala do calção , assim como seu pai que vai conhecer o namorado da filha.Durante as conversas, Sônia descobre que Zeca já morara naquela casa e que algo estranho acontecera ali. Ele insiste em saber o que fizeram com o lagarto e fica mais transtornado quando sabe que o mataram. Rudemente, conduz Sônia até a cachoeira. Tira a roupa dela que protesta, mas ele a possui a força. Depois vai embora sem nada dizer. Na descida da serra, nova crise de choro. Comentário: Temos aqui mais um narrador-protagonista e outra história, como a anterior,que possui final aberto.Zeca traz também a marca típica de Rubem Fonseca : personagens misteriosos e problemáticos. H.M.S. Cormorant em Paranaguá Conto ambientado no segundo império (1850 mais ou menos), quando o cruzador inglês H.M.S. Cormorant aportou em Paranaguá para tentar deter o tráfico de escravos, já proibido por lei, mas ainda acontecia no Brasil.A questão foi conflituosa,pois os locais não aceitavam a intervenção inglesa no caso. O conto apresenta um jovem de 20 anos, nascido em 1831, poeta virgem que luta com seus delírios de febre e inicia o conto com a pergunta: - Quem sou? Esta história começa num baile para pessoas ilustres da corte.A personagem principal veste-se de mulher para brincar com o Conde italiano Ostiani. O rapaz volta ao quarto, troca-se ajudado pela irmã Luísa. O rapaz fala coisas desordenadas referindo-se a uma bela moça chamada Teresa: uma pseudo cortesã que existiria para satisfazer os homens; diferente da delicada e bela Luísa, irmã do poeta. e começa a falar coisas desordenadas , referindo-se a uma moça chamada Teresa, que mais tarde é posta como uma espécie de cortesã e a um tal Dr. Bustamante que o trataria de uma suposta doença. No restante do conto temos esta personagem que se apropria da biografia de Álvares de Azevedo, desvaneando vários episódios da vida do poeta: suas febres, seus delírios com Byron, suas visitas ás tavernas , seu amor pela irmã.A impressão que se tem é que Manuel, o rapaz, está doente, mas não se sabe, em virtude do número de devaneios, se se trata realmente de Álvares de Azevedo ou se a personagem apenas delira.O jovem poeta frequentemente encontra-se com Byron, que o faz “viajar” e tornar latente a pederastia, a dor, a decepção, a angústia, a revolta, o amor, a justiça social. Há ricos diálogos entre eles, com interação do real e do fictício. Byron só desvanecerá com a entrega de Manoel aos desejos incestuosos por Luísa. Após essa entrega, a presença da morte é anunciada por Byron. O ano, na parede, uma data incompleta, finalmente será preenchida por Manoel: vinte e cinco de abril de 1852. “Cormorant só invadiu Paranaguá porque Byron, Keats e Shelley invadiram antes a minha mente”. “Byron e Schomberg (o almirante do navio) eram iguais – a Poesia e o Canhão a serviço da dominação”. Doutor Bustamante é o médico que estabelece o desnudamento da capa onírica e lírica, respondendo ao questionamento inicial do conto: - Quem sou? “Não é Álvares de Azevedo ... A vida lhe esvai”. Comentário: O que mais chama a atenção é que o narradorpersonagem é confuso e mistura fatos reais da vida brasileira com os da vida de Álvares de Azevedo , para retratar a época do Império. O Jogo do Morto Conto narrado em 3ª pessoa. Nesta história temos uma trama ímpar envolvendo quatro amigos:, Marinho (dono da farmácia), Fernando e Gonçalves (sócios em um armazém) e Anísio (dono de um bar, na Baixada) têm o hábito compulsivo de jogar a dinheiro. Fazem qualquer tipo de jogo.Reúnem-se todas as noites no bar do Anísio. São todos comerciantes de classe média, ambiciosos que moram em São João do Meriti, na baixada fluminense. Certa noite, como estivesse perdendo muito dinheiro, Anísio propôs um jogo diferente: apostar em quantas pessoas seriam mortas pelo esquadrão da morte por mês na cidade. Ele apostava mil pelo número de mortos, mil pela etnia e mais mil pela idade do mais moço e do mais velho. Marinho anotaria as apostas; o árbitro seria o jornal O Dia, o que sair publicado lá valerá e assim fazem. Combinavam as regras do jogo, quando aparece no bar um homem misterioso que Anísio apelidou de “Falso Perpétuo” porque ele se parecia com um matador implacável do mesmo nome que vivera ali. Os amigos se intimidam com a presença desse homem. O tempo passa, continuam as apostas, mas Anísio continua perdendo. Está atolado em dívidas, a lanchonete não rende, a mulher gasta demais... resolve apostar duzentos mil que neste mês o esquadrão mataria um comerciante e uma menina. Todos acham uma loucura, não eram mortes comuns, mas a aposta é feita. Nesta noite, Anísio fica bebendo, em vez de ir para casa como era de costume, até a uma hora da manhã. Quando o Falso Perpétuo chega, Anísio se enche de coragem e o contrata para matar Gonçalves e a filha dele, para, assim, ganhar a aposta.Eles combinam dez mil pelo serviço e saem juntos rumo á casa do comerciante.O assassino desce, executa os dois, e também a velha de lambuja. . Vão até a casa de Anísio, e quando ele paga ao homem resolve contar que o chama de Falso Perpétuo porque se parecia com o outro Perpétuo. O homem saca da arma e executa Anísio. Comentário: ‘Se alguém começar a leitura de O Cobrador , de Rubem Fonseca, pelo conto O Jogo do Morto, ficará com a impressão de que o escritor está apresentando um tipo de história com que adquiriu já nos acostumou e na qual um domínio invejável a conto de violência e banditismo, descritos frequentemente com simplicidade, num tom cotidiano e isento de patético, como se a morte nestas circunstâncias fosse algo normal e aceitável.” Assim define este conto o crítico Bóris Schnaidermann e com muita propriedade, visto que o que chama a atenção do leitor é justamente a frieza das personagens diante da morte.