a poesia concreta e visual de augusto campos em ambiente virtual

Transcrição

a poesia concreta e visual de augusto campos em ambiente virtual
FAPAM-FACULDADE DE PARÁ DE MINAS
Curso de Licenciatura em Letras
Sandra Aparecida De Jesus
A POESIA CONCRETA E VISUAL DE AUGUSTO CAMPOS
EM AMBIENTE VIRTUAL
Pará de Minas
2013
Sandra Aparecida De Jesus
A POESIA CONCRETA E VISUAL DE AUGUSTO CAMPOS
EM AMBIENTE VIRTUAL
Monografia apresentada à coordenação do
Curso de Letras da Faculdade de Pará de
Minas como requisito parcial para conclusão
do curso de Letras.
Orientadora: Dra. Ana Paula Ferreira
Pará de Minas
2013
Sandra Aparecida de Jesus
A POESIA CONCRETA E VISUAL DE AUGUSTO CAMPOS
EM AMBIENTE VIRTUAL
Aprovada em: ________/___________/__________
_____________________________________________
Dra. Ana Paula Ferreira
Professora Orientadora
_____________________________________________
Ma. Míriam Marmol
Professora Examinadora
Todo homem que em si não traga música
E a quem não toquem doces sons
concordes,
É de traições, pilhagens, armadilhas.
Seu espírito vive em noite obscura,
Seus afetos são negros como o Erebo:
Não se confie em homem tal...
Shakespeare
Resumo
Poesia Concreta é um estilo de poesia de vanguarda que surgiu no início da década
de 50. Sua principal característica era o rompimento com o tradicional estilo de
poesia típico do modernismo. Possuía uma forma sintética, limpa e objetiva,
utilizava-se também da espacialidade para se compor, de forma que pudesse ser
lida e vista simultaneamente. Antes de falar do Concretismo, voltou-se ao Brasil da
década de 20, para se compreender o quadro cultural daquela época, período inicial
do Modernismo. Só depois desse breve estudo, conheceu-se a origem do
Concretismo. O Presente estudo propõe analisar a Poesia Concreta dentro do
espaço virtual, por acreditar-se que, após a transposição para esse ambiente, são
processadas mudanças bastante significativas que justificam esse estudo. Acreditase que nesse espaço a Poesia Concreta é ainda mais objetiva, fluida, enfim ela se
concretiza. Para se chegar a tal objetivo, analisaram- se quatro poemas de Augusto
Campos, um dos fundadores do Concretismo. Os poemas foram analisados na
versão impressa no papel e também no ambiente virtual, para que se apontassem
as diferenças processadas. As conclusões obtidas confirmam que, como se
supunha, as mudanças processadas com a transposição para o digital são
significativas e a apropriação de ferramentas tecnológicas para uso de produções
poéticas é positiva e permite múltiplas possibilidades de criação.
Lista de Figuras
1 – “O Ovo Novelo”
2 – “Cidade/City/Cité
3 – “Cidade/City/Cité
4 – “Poema Bomba”
5 – “Poema Bomba”
6 – “Poema Bomba”
7 – “Poema Bomba”
8 – “S.O.S”
9 – “S.O.S”
10 – “S.O.S”
11- “Cidade/City/Cité”
12 – “Cidade/City/Cité”
13 – “Cidade/City/Cité”
14 –“Cidade/City/Cité”
15 – “Greve”
16 – “Greve”
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 6
1
PERSPECTIVAS TEÓRICAS ......................................................................................... 8
1.1 Vanguarda e Poesia Concreta no Brasil ................................................................... 8
1.2 Concretismo ................................................................................................................ 10
1.3 A Poesia Concreta: Estrutura ................................................................................... 13
2 METODOLOGIA................................................................................................................ 16
3 AUGUSTO DE CAMPOS E SUA OBRA ........................................................................ 18
3.1 Tradução Digital e Augusto de Campos .............................................................. 20
3.2 Análise de Poemas: Augusto Campos ................................................................ 22
3.2.1 Poema Bomba .......................................................................................................................... 22
3.2.2 S.O.S .......................................................................................................................................... 27
3.2.3 Cidade/City/Cité ......................................................................................................................... 29
3.2.4 Greve ........................................................................................................................................... 31
3.3 Suporte Papel x Suporte Digital: Considerações ................................................. 33
4 POESIA CONCRETA: ALGUMAS CONCLUSÕES .................................................. 35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 36
6
INTRODUÇÃO
Através deste estudo, pretende-se conhecer um pouco a Poesia Concreta
que, em algumas vezes, é denominada “poesia visual”. Estudar-se-á sua origem
dentro do quadro cultural em que se encontrava o país quando do seu surgimento,
mas, principalmente investigar-se-ão as mudanças implicadas e estabelecidas no
poema concreto, quando ele se encontra no meio digital, ou seja, quando tratado
eletronicamente.
Serão estudados alguns aspectos do histórico da Poesia Concreta, desde sua
origem até os dias de hoje, suas fases e o seu diálogo com outras artes.
O poeta escolhido para estudo é Augusto Campos, um dos criadores da
Poesia Concreta. A escolha desse poeta se deve ao fato de que ele, desde o início
do movimento, procurou trazer a tecnologia para poesia e também pelo fato de o
autor manter um site pessoal onde, além de publicar seus poemas antes publicados
em papel, adapta seus textos para a linguagem digital.
Como a tecnologia hoje se encontra bastante avançada, e grande parte da
população tem acesso a ela, o foco principal desta pesquisa é investigar as
mudanças implicadas nos textos poéticos concretistas quando estes migraram para
o meio digital. Nesse sentido, justifica-se a escolha pela análise de Campos.
As perguntas que conduzem a pesquisa são: de que forma a tecnologia digital
transforma a linguagem poética da Poesia? De que forma se deu essa transposição
para o espaço virtual? Quais foram os primeiros poemas de Augusto de Campos a
migrarem para o virtual? Quais mudanças ocorreram após a tradução digital?
Os objetos de análise serão quatro poemas de Augusto Campos: “Poema
Bomba”, “S.O.S”, “Cidade/City/Cité” e “Greve”. A escolha desses poemas se deu
devido ao fato de todos se encontrarem na versão suporte papel e digital, e pelo fato
de todos estarem disponíveis online, uma vez que a linguagem digital é parte da
presente pesquisa. Para melhor organização, esta monografia está estruturada em
seções.
Após a presente introdução, apresenta-se a segunda seção com a
abordagem das perspectivas teóricas e dos principais autores pesquisados para
7
desenvolvimento do trabalho. Nessa parte, enfocam-se questões em torno do
conceito de vanguarda e do Modernismo que antecedeu o movimento Concretista e,
em seguida, os principais aspectos, no movimento Poesia Concreta.
A terceira seção aborda a metodologia utilizada pra elaboração do trabalho.
A quarta seção possui duas subseções, abordando Augusto Campos e suas
principais obras e enfoca-se sua relação com a tecnologia.
A quinta seção é a análise de poemas concretos dentro e fora do ambiente
digital. Em seguida, comparam-se as versões, escrita e digital, dos referidos
poemas.
Para finalizar, na sexta seção, apresenta-se a conclusão do trabalho.
Objetivo Geral
Analisar a Poesia Concreta de Augusto Campos, antes publicada na versão
papel em sua apresentação em ambiente virtual, para análise das mudanças
decorrentes no suporte digital.
Objetivos Específicos:
Analisar as formas de poesia com as quais Augusto Campos trabalha, de um modo
geral e, especialmente, em suas modalidades digitais.
Investigar as mudanças processadas na poética do poema de Augusto Campos,
quando o autor traduz textos anteriormente publicados em suporte papel para o
ambiente digital.
Incentivar o leitor, através das análises dos poemas, a interagir com a poesia visual
e com o movimento concretista brasileiro através do uso do computador.
8
1
PERSPECTIVAS TEÓRICAS
Para auxiliar no que se refere a questões teóricas e históricas, pesquisaram-
se alguns autores para a confecção deste trabalho: Philadelpho Menezes, Ricardo
Araujo, Ana Paula Ferreira, Audrei Aparecida Franco de Carvalho e Augusto
Campos.
Philadelpho Menezes, em Roteiro de Leitura: Poesia Concreta e Visual
(1999), aborda várias questões relacionadas à Poesia Concreta, como: o contexto
histórico, o surgimento do movimento, o diálogo com outras artes, o sucesso
inusitado do estilo, o reconhecimento internacional e se refere também à relação da
Poesia Concreta com a tecnologia.
Ricardo Araujo, em Poesia Visual Vídeo-Poesia (1999), aborda a transposição
da Poesia Concreta para o meio digital, assim como traz várias entrevistas, inclusive
com Augusto de Campos enfocando a poesia no espaço virtual.
Também foram fonte de pesquisa Ana Paula Ferreira (2010), em sua tese de
doutorado, em que aborda questões da espacialidade da poesia no ambiente virtual
e Audrei Aparecida Franco de Carvalho (2007) em sua dissertação de mestrado que
aborda Poesia Concreta e Mídia Digital.
Por meio do direcionamento desses textos lidos, faz-se, na presente seção,
um estudo sobre o histórico da Poesia Concreta e suas principais características.
1.1 Vanguarda e Poesia Concreta no Brasil
Vanguarda é um termo de origem militar que designa a parte do exército que
vai a frente, abrindo caminho para o resto da tropa. Nas artes, passou a ser usado
na França no início do séc.XIX para nomear artistas que se engajavam nas lutas
políticas de sua época. O termo se consagrou quando foi usado por Charles
Baudelaire no texto Meu Coração desnudado (1862/4), que criticava o uso do
francês de metáforas militares para as artes. Mas foi somente no início do séc.XX,
com movimentos artísticos como o Cubismo e o Futurismo, que a palavra vanguarda
passou a se referir a uma conduta estética de artistas que renegam o passado e a
9
tradição e intentam com sua arte criar um novo homem e um novo mundo.
“Vanguardas Históricas” são os movimentos artísticos das três primeiras décadas do
sec.XX. “Vanguardas Tardias” são os movimentos artísticos que se assumiram como
vanguarda no período do pós-guerra, como o Concretismo.
Antes de falar da “Poesia Concreta”, objeto desse estudo faz-se necessário
uma retomada ao início do sec.XX, para que se compreenda como se encontrava o
quadro cultural do país quando surgiu o “Concretismo”.
O movimento Modernista se iniciou em 1922 com a Semana De Arte Moderna
que ocorreu entre 13 e 18 de fevereiro no Teatro Municipal de São Paulo, com
participação de artistas de São Paulo e Rio de Janeiro. O movimento foi liderado
pelas pintoras Tarsila do Amaral e Anita Mafaltti e pelos escritores Menotti Del
Picchia, Mario e Oswald de Andrade e contou com a participação de dezenas de
intelectuais e artistas como Manuel Bandeira, Di Cavalcanti, Graça Aranha,
Guilherme de Almeida entre outros. Foram apresentados quadros, obras literárias e
recitais inspirados em técnicas das Vanguardas européias, como o Dadaísmo, o
Futurismo, o Expressionismo e o Surrealismo, misturados a temas brasileiros. Os
modernistas ridicularizavam o parnasianismo e propunham uma ruptura definitiva
com a arte tradicional.
O Modernismo contou com três fases: A primeira de 1922 a 1930
caracterizou-se pelas tentativas de solidificação do movimento renovador e pela
divulgação de obras e idéias modernistas. Os escritores defendiam a reconstrução
da cultura brasileira sobre bases nacionais e promoviam uma revisão crítica do
passado histórico e tradições culturais apegadas a valores estrangeiros. Destaque
para quatro movimentos culturais desse período: “Pau Brasil”, Verde - Amarelismo,
Antronpofagia e Anta. O “Pau-Brasil” defendia a criação de uma poesia primitivista,
construída com base na revisão crítica de um passado histórico e cultural. A
“Antropofagia”, Oswald de Andrade propõe a devoração simbólica da cultura do
colonizador europeu a exemplo dos rituais antropofágicos dos índios brasileiros.
Verde-Amarelismo e Anta defendiam um nacionalismo ufanista, com evidente
inclinação para o Nazifacismo. Os principais escritores da primeira fase do
Modernismo foram Oswald de Andrade, Mario de Andrade, Manuel Bandeira,
10
Alcântara Machado, Menotti Del Picchia, Raul Bopp, Ronald de Carvalho e
Guilherme de Almeida Menott.
A segunda fase modernista inicia-se em 1930 e se estende até 1945. Foi um
período em que a produção literária refletia um conturbado momento histórico no
plano nacional e internacional. Ocorria a queda da bolsa de Nova York, a Segunda
Guerra Mundial e o avanço do Nazifacismo. No Brasil, a ascensão de Getúlio Vargas
e a consolidação do Estado Novo.
Na poesia, novos poetas como Murilo Mendes, Cecília Meireles, Jorge de
Lima, Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade se juntam aos poetas da
primeira fase e apresentam uma produção mais amadurecida que a do primeiro
momento modernista. Surge uma nova postura que questiona com força a realidade.
Surge uma literatura mais construtiva e politizada que reflete as transformações
desse período. Aparece também uma corrente voltada para o intimismo e o
espiritualismo.
Na prosa, escritores como Raquel de Queiróz, Jorge Amado, Érico Veríssimo,
José Américo de Almeida, Graciliano Ramos e José Lins do Rego resgatam o
romance regionalista, que são verdadeiros documentos da realidade brasileira, são
caracterizados pela denúncia social e pela relação do “eu” com o mundo.
A partir de 1945 inicia-se a terceira fase modernista também chamada de
“pós-modernista” e caracteriza-se pela renovação da estrutura narrativa, devido a
aguda consciência do fazer literário, na poesia uma preocupação de caráter formal,
busca pela essência do ser poético, os poetas demonstram aguda consciência
estética, manifestações ao intelectualismo e hermetismo e o desenvolvimento do
teatro e da crítica literária.
Na prosa, destacam-se Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Adonias Filho. Na
poesia, João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade.
1.2 Concretismo
O movimento Concretista se desponta no Brasil no início da década de 50,
momento em que o Brasil se encontrava em plena efervescência cultural, na política,
11
estava saindo do período da ditadura de Getúlio Vargas e se acostumando com a
democracia, que mais tarde seria interrompida pelo golpe militar de 1964. No campo
econômico o país estava saindo de uma estrutura essencialmente agrária e
entrando em um acelerado processo de industrialização, concentrando-se em
grandes centros urbanos, e também com pobreza às margens do desenvolvimento.
Ampliavam-se os sistemas de comunicação em massa como, a chegada da
televisão, trazida em 1950 por Assis Chateaubriant, que permitia a fusão de
divertimento e informação. Diante de todo esse contexto, surgia uma cultura nova,
urbana, sob influência direta da cultura dos países desenvolvidos.
A Poesia Concreta, como afirma Philadelpho Menezes (1998), se marca pela
negação de dois elementos: a cultura rural e o intimismo subjetivista. Ela propõe, a
visão da cultura como processo universal que se realiza nos grandes centros
urbanos, em conexão com a comunicação de massa e o avanço técnico.
Haroldo e Augusto de Campos conheceram Décio Pignatari em 1948 através
do Clube Da Poesia que concentrava os maiores poetas daquela geração. Décio
Pignatari em 1950 lança o livro Carrossel, Augusto em 1951 lança Rei Menos O
Reino e Haroldo em 1950 Auto do Possesso, todos pelo Clube da Poesia. Em 1951
eles se afastam do Clube e em 1952, eles se reúnem em torno de uma intenção
experimental de inovação da linguagem poética, formando o grupo de nome
Noigrandes e uma revista de mesmo nome com intenção de publicarem seus
artigos. De 1952 a 1962 foram publicados cinco números da revista em espaços
diferentes de tempo e mais de 100 artigos publicados. O período entre 1952 a 1956
foi considerado uma preparação da “Poesia Concreta”. Foram lançados dois
números da revista, sendo o segundo sem a participação de Décio Pignatari, que se
encontrava na Europa. Nessa fase, o verso ainda estava presente nos poemas
exceto em Poeta Menos em que Augusto elimina o verso e através de um jogo de
cores cria uma dimensão gráfica e sonora do mesmo.
O ano de 1955 é considerado, de fato, o ano do surgimento da Poesia
Concreta. Foi quando o grupo paulista se encontrou com o poeta Eugen Gomringer.
Nesse encontro ocorreu uma verdadeira troca de influências. O grupo se decidiu
12
pelo nome de “Poema Concreto” para designar seu estilo de poesia. Segundo
Menezes.
...a poesia concreta só se delineia claramente como uma estética definida
razoavelmente e distinta das outras formas das vanguardas após o ano
marco de 1955, quando o grupo paulista entra em contato com o poeta
suiço-boliviano EugenGomringer .Dessa aproximação pode-se dizer que há
uma comunhão e uma troca de influências: O grupo paulista sugere a
criação do nome “Poesia Concreta” e a idéia de organizar um movimento
internacional da nova poesia (MENEZES.1998 p.33).
Em 1956, o grupo se aproxima do poeta Ferreira Gullar e juntos decidem
realizar a Exposição Nacional de Arte Concreta. A exposição exibia poemas em
pôster e também apresentava outras obras como pintura e esculturas, ligadas a
estética da arte concreta. A primeira versão aconteceu em dezembro de 1956, no
Museu de Arte Moderna de São Paulo, porém, não despertou nenhum interesse da
imprensa. Já em fevereiro de 1957, a exposição foi para o Ministério da Cultura do
Rio de Janeiro, ganhando grande repercussão na mídia.
Segundo a estudiosa Audrei A. Franco de Carvalho inicia-se o período
considerado ortodoxo, da Poesia Concreta, e que pode ser dividido em duas fases:
A fase orgânica e a fase matemática. A fase orgânica caracteriza-se pela
espacialização e ordenamento irregular das palavras. Fazem parte dessa fase os
poemas da série Poetamenos (1953) de Augusto Campos; o â mago do ô mega
(1955-1957) de Haroldo Campos; Um Movimento (1956) de Décio Pignatari. A fase
matemática caracteriza-se pela relação dos signos que são regulares e são
ordenados no espaço de forma geométrica, existe uma simultaneidade homogênea
no sentido de que as relações entre os signos são regulares e mantém uma
distância entre si equivalente. Existe uma equivalência entre ideograma e poema.
Um exemplo dessa fase é o poema Cristal, (1957) de Haroldo de Campos.
As idéias dos concretistas foram se sedimentando ao longo dos anos e o
trabalho do grupo chegou a ser reconhecido
internacionalmente, seus poemas
participaram de mostras que fixavam a obra concretista no Brasil e também no
mundo. A revista americana Time em 1964 publicou uma série especial dedicada ao
movimento como afirma Philadelpho Menezes.
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...Um momento de reconhecimento internacional da importância da Poesia
Concreta foi a inclusão do movimento numa série especial do suplemento
literário da revista Time, em 1964, dedicada a poesia experimental no
mundo...(Menezes,1998,p.43)
Segundo Philladelpho Menezes (1998), em 1967 percebe-se um declínio do
movimento com a publicação de Na Anthology of Concret Poetry por Emmet
Williams. Para ele, esta tenha sido a última grande publicação da poesia concreta
enquanto movimento, pois a cultura internacional se encontrava em um quadro de
contestação das vertentes racionalistas do construtivismo e do caráter constitucional
que precocemente alcançavam suas variantes, da pintura à poesia, da escultura à
arquitetura. Muitas dessas críticas foram formuladas a partir das concepções do que
se chama de Pós-Modernismo no campo da filosofia.
No Brasil, o declínio não se deu diretamente por esse fator, já que idéias da
pós-modernidade chegaram somente no início dos anos 80, mas sim devido ao
delicado quadro cultural do início dos anos 60, com forte crise social, política e
econômica.
Com o fim do movimento os poetas se dedicaram a outros projetos fora da
poesia concreta.
1.3 A Poesia Concreta: Estrutura
A Poesia Concreta é também chamada de “Poesia Visual”, segundo
Philadelpho Menezes (1998) chega a ser discordante, delimitar onde começa e
termina uma e outra, mas é importante ressaltar que a Poesia Concreta é uma das
ramificações da Poesia Visual, e nasceu num dado período histórico, como visto
anteriormente na década de 50 e possui características bem definidas. Já o termo
“Poesia Visual” se refere a toda espécie de poesia ou texto que utilize elementos
gráficos para se somar às palavras, em qualquer época da história em qualquer
lugar. Ou seja, a grosso modo, pode se dizer que toda Poesia Concreta é poesia
visual mas nem toda poesia visual é uma Poesia Concreta.
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A Poesia Concreta ou poesia visual está presente no cotidiano das pessoas,
em vários espaços e ambientes, sobre isso Menezes (1998) diz:
...a poesia visual faz parte do nosso cotidiano e da nossa sensibilidade. É
uma poesia que migrou para outros espaços, ganhou asas e voou para fora
do modelo tradicional que conhecemos: o texto escrito em verso. Isso
aconteceu porque ela se deixou penetrar por outras linguagens, como a
tipografia, o desenho, as artes gráficas, a fotografia, o cinema, a
publicidade. (MENEZES.1998. p.7)
A Poesia Concreta se fundamenta em um diálogo com a geometria que
caracteriza a arte concreta e procura distanciar-se da poesia figurativa, onde a
estrutura é imposta ao poema, exterior as suas palavras, que tomam a forma do
recipiente, mas não são alteradas por ele.
O termo “verbivocovisual” é muito utilizado na Poesia Concreta e tem um
significado especial para os poetas concretistas. Ele representa a forma de
apresentação de um poema em que o texto é organizado segundo critérios
relacionados aos aspectos gráficos e fonéticos das palavras, uma integração do
verbal, visual e sonoro, ou seja, a dimensão "verbivocovisual" da poesia, conceito
esse criado pelo poeta irlandês James Joyce (1882-1941).
Augusto de Campos criou um dos mais conhecidos poemas do movimento.
Ele o construiu na forma de poema figurativo, já que mimetiza um novelo de lã ou
um ovo estilizado. O texto faz referência ao poema clássico de Símias de Rodes
(Grécia Clássica).
FIG. 1- Poema “Ovo Novelo”(1956)
Fonte: imagem extraída da internet
15
“A forma do poema figurativo é mantida, caso contrário o poema não teria
sentido; afinal o que está em questão é precisamente a idéia de que a
última manifestação da vanguarda se alimenta do mais antigo poema visual.
Mas o poema figurativo é rejeitado categoricamente pela poesia concreta,
assim como a pintura figurativa, que representa pessoas, natureza e
objetos, é completamente rechaçada pela pintura concreta, só de figuras
geométricas em estrutura organizada” (Menezes, 1998 p 68)
A estrutura do poema concreto típico se organiza de forma geométrica e
também simétrica. O poema se transforma em objeto visual, valendo-se do espaço
gráfico como agente estrutural: uso dos espaços em branco, de recursos
tipográficos, etc. para que o poema possa ser simultaneamente lido e visto.
A concepção de texto está inteiramente modificada. Não há frases a serem
lidas, apenas palavras. O Concretismo restabelece a palavra como unidade mínima
do poema. Ocorre a abolição de verso tradicional, sobretudo, através da eliminação
de preposições, conjunções, pronomes, gerando uma poesia objetiva, concreta, feita
quase somente de substantivos e verbos.
Trata-se de uma linguagem necessariamente sintética, dinâmica, homóloga à
sociedade industrial. Palavras sonoramente semelhantes são colocadas numa
configuração geométrica na página, de maneira simétrica. A forma da letra, no
poema concreto ortodoxo, é dada, pelo tipo “futura,” (fonte desenhada em 1927 por
Paul Renner) e apresenta formas limpas e simplificadas, adotadas pelos concretistas
devido à simplicidade e exatidão de suas linhas.
Pode ser observada a utilização de neologismos, estrangeirismos, separação
de prefixos e sufixos, repetição de morfemas, valorização da palavra solta (som,
forma visual, carga semântica) que se fragmenta e recompõe-se na página.
Exemplos de poemas de todas essas características da Poesia Concreta podem ser
vistos/lidos na próxima seção.
16
2 METODOLOGIA
Inicialmente foi feita uma vasta pesquisa bibliográfica para aquisição de
instrumental de análise para a pesquisa e responder as questões problematizadoras
e objeto desse estudo.
A pesquisa bibliográfica foi dividida em assuntos. Inicialmente, fez-se um
breve histórico sobre o surgimento do Pré-Modernismo e do Modernismo no Brasil.
Foi necessário retomar esse período para que se compreendesse como se
encontrava o quadro cultural do Brasil antes do surgimento do Concretismo.
Iniciou-se, em seguida, um estudo profundo sobre a Poesia Concreta.
Investigou-se sua origem, analisaram-se os principais ideais de seus criadores, no
caso, Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e Augusto Campos, a formação do Grupo
Noigrandes e a criação da revista de mesmo nome, onde foram publicadas os
primeiros textos com os ideais concretistas. O estudo prosseguiu-se sobre todo o
histórico do movimento concretista, os primeiros poemas, o contato e troca de
experiência com outros poetas, a aproximação com outras artes, como música e
pintura, que se enquadravam nos padrões concretistas. Foi possível conhecer ao
longo do estudo; o auge desse movimento em termos de reconhecimento. As
primeiras e exposições da arte concretista, a publicação na revista americana Time
sobre o movimento, momento de grande repercussão internacional, assim como
suas exposições e mostras internacionais. Investigou-se também o declínio do
movimento, apontados como causa, o quadro cultural delicado, em que se
encontrava o país na década de 60. Com o fim do movimento os poetas do
Noigrandes se dedicaram a outros projetos.
Foi elaborado um estudo sobre Augusto Campos, cuja obra foi objeto de
análise da pesquisa. Investigou-se desde seus primeiros poemas concretos até seus
outros trabalhos como traduções de outros autores.
Analisaram-se quatro poemas de Augusto Campos: “Poema bomba”, “S.O.S”,
“Cidade/ City/Cité” e “Greve”. Estes poemas foram escolhidos devido ao fato de que
todos existem na versão bidimensional (suporte papel) e tridimensional (suporte
digital) e também por estarem disponíveis na internet e, portanto, de fácil acesso ao
17
leitor. Os poemas foram analisados primeiro na versão suporte papel e depois na
versão digital.
Feitas as análises, possibilitou-se verificar implicações trazidas para o texto
enquanto no meio digital. Percebeu-se que a versão digital garante grande interação
com o leitor, que se vê diante de um poema com cor, movimento e sonorização,
percebeu-se que no meio digital o leitor pode imergir-se ainda mais completamente
no
poema.
Tais
análises
permitiram
responder
claramente
as
perguntas
problematizadoras da pesquisa.
Aplicou-se para este trabalho pesquisa bibliográfica, de material já publicado,
uma pesquisa básica, sem aplicação, com abordagem qualitativa e exploratória,
analisando exemplos para que se alcançasse o objetivo do trabalho, que era
comprovar através de análises de poemas concretos em suporte papel e virtual,
para que se verificasse as mudanças decorrentes quando da transposição dos
poemas para o meio digital.
18
3 AUGUSTO DE CAMPOS E SUA OBRA1
Está disponível no site pessoal de Augusto Campos a biografia do autor, o
qual foi consultado para esse trabalho, com a finalidade de conhecer sua trajetória
dentro e fora do movimento concretista, assim como suas obras, desde o início de
sua carreira até a atualidade.
Augusto de Campos nasceu em São Paulo, em 14 de fevereiro de 1931, é
poeta, tradutor, ensaísta, crítico de literatura e música. Em 1949, iniciou sua carreira
como poeta, publicou seus primeiros poemas na revista Novíssimos vinculada ao
Clube da Poesia de São Paulo, da geração de 45. Em 1951, publicou o seu primeiro
livro de poemas, O Rei Menos O Reino.
No ano de 1952, com seu irmão Haroldo de Campos e Décio Pignatari,
lançaram a revista literária Noigandres, origem do Grupo Noigandres que iniciou o
movimento internacional da Poesia Concreta no Brasil. Em 1955, lançaram o
segundo número da revista que continha sua série de poemas em cores
denominados Poetamenos, escritos em 1953. Estes foram considerados os
primeiros exemplos consistentes de poesia concreta no Brasil. Em 1956, como se
sabe participou da organização da Primeira Exposição Nacional de Arte Concreta
(Artes Plásticas e Poesia), no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Sua obra veio
a ser incluída, posteriormente, em muitas mostras, bem como em antologias
internacionais como as históricas publicações Concrete Poetry: Na International
Anthology, organizada por Stephen Bann (London, 1967), Concrete Poetry: a
WorldView por Mary Ellen Solt (University of Bloomington, Indiana, 1968), Anthology
of Concrete Poetry, por Emmet Williams (NY, 1968).
Grande parte dos seus poemas são encontrados em Viva a Vaia (1979), Despoesia
(1994) e em Não, que vem acompanhado de um CD de seus Clip-Poemas,
publicados em 2003. Em 1974, foi Poemóbilies e em 1975, Caixa Preta, coleções de
poemas-objetos em colaboração com o artista plástico e designer Julio Plaza.
Augusto de Campos especializou-se em traduzir, e em recriar a obra de autores de
vanguarda como Pound, (The Cantos), Joyce (Finnegans Wake), Gertrude Stein e
1
Para o estudo da vida e obra de Augusto de Campos, teve-se como base o seu site pessoal
19
Cummings, ou os russos Mayakóvski e Khliébnikov.Traduziu também Inventores do
Passado,de Arnaut Daniel e os trovadores provençais, Donne e os poetas
metafísicos. Mallarmé e os Simbolistas franceses.
Augusto Campos, com Haroldo de Campos e Decio Pignatari, é ensaísta é
co-autor de Teoria Da Poesia Concreta 1965, e autor de outros livros tratando de
poesia de vanguarda e de invenção, alguns desses livros são: Poesia Antipoesia
Antropofagia, publicado em 1978, O Anticrítico, em 1986, Língua Viagem, em 1987 e
À Margem Da Margem em 1989. Com Haroldo e Pignatari buscou revalorizar a obra
de Oswald de Andrade, e também redescobriu a obra do poeta maranhense
Sousândrade (1832-1902). De 1968 a 1974, reuniu seus estudos pioneiros sobre o
Tropicalismo e a MPB assim como as suas intervenções no campo da música
contemporânea. Ensaios posteriores enfocando a música e a poesia de Cage e as
obra radicais de Varèse, Antheil, Cowell, Nancarrow, Scelsi, Nono, Ustvólskaia, entre
outros, foram recolhidos no livro Música De Invenção (1998).
A partir de 1980, como será apresentado detalhadamente na próxima seção,
intensificou os experimentos com as novas mídias, apresentando seus poemas em
luminosos, videotextos, neon, hologramas e laser, animações computadorizadas e
eventos multimídia, abrangendo som e música. Seus poemas holográficos, em
cooperação com Moyses Baumstein, foram incluídos nas exposições Triluz em 1986
e Idehologia em 1987. Um videoclip do poema Pulsar, com música de Caetano
Veloso, foi produzido por ele em 1984, numa estação Intergraph, com a colaboração
do grupo Olhar Eletrônico. “Poema Bomba” e “SOS”, com música de seu filho, Cid
Campos, foram animados numa estação computadorizada Silicon Graphics da
Universidade de São Paulo, 1992-3. Sua parceria com Cid, iniciada em 1987, ficou
registrada em Poesia É Risco, CD editado em 1995 pela PolyGram e se
desenvolveu no espetáculo de mesmo nome, uma performance "verbivocovisual" de
poesia/música/imagem com edição de vídeo de Walter Silveira, apresentada em
diversas cidades do Brasil e no exterior.
Suas animações digitais – os Clip-Poemas - foram exibidas em 1997 em uma
instalação que fez parte da exposição Arte Suporte Computador, na Casa das
20
Rosas, em São Paulo. Atualmente sua obra, seus textos, poemas e clip-poemas se
encontram disponíveis em seu site.
Augusto de Campos é um poeta de grande importância no campo da poesia
experimental, e seu trabalho em atualizar a forma poética para o mundo
contemporâneo, desde os tempos do movimento Concretista é bastante conhecido,
criador junto como irmão Haroldo de Campos e Decio Pignatari, dessa corrente tão
importante como o Concretismo, Augusto se mostrou ainda mais sensível com as
questões das novas tecnologias e o relacionamento da poesia com a ciência.
Augusto percebeu que os novos instrumentos tecnológicos, poderiam acrescentar
ainda mais a Poesia Concreta, ou mesmo transformá-la, apropriou- se dessas novas
ferramentas e transformou sua poética.
3.1 Tradução Digital e Augusto de Campos
Segundo Menezes (1998), O diálogo significativo da poesia visual nas
últimas décadas foi com as novas tecnologias. Exposição em videotextos,
holografias, laser e outras tecnologias ainda são usadas. No Brasil, são vários
artistas que se utilizam dessas técnicas para suas produções. No entanto, grande
parte das mostras são, dos poetas do Noigrandes junto com novos poetas que se
formaram sob a ótica do Concretismo. A maioria das produções, são traduções de
poemas no papel para as mídias digitais, mantendo sempre a forma concretista na
sua concepção.
A obra de Augusto Campos é marcada pela criatividade e originalidade, pela
tradução crítica e criativa de outros autores, traduções estas que em alguns casos
deixa de ser somente verbal e adquire qualidades verbicovisuais. Tais traduções são
denominadas pelo poeta de “Intraduções”. Mas a produção do autor é marcada
sobretudo, pelo diálogo com os meios tecnológicos de cada época. O autor sempre
esteve a frente, em busca de novas tecnologias para compor sua obra e recriar os
poemas já publicados na versão papel, para o meio digital, conferindo- lhes novas
21
possibilidades de leitura. Sobre o interesse pela tecnologia Augusto Campos afirmou
em entrevista a Clemie Blaud:
A idéia de conjurar a palavra som e imagem esteve presente nas propostas
da Poesia Concreta desde o início. Nós usávamos a expressão
verbivocovisual, que é uma palavra extraída do vocabulário de James
Joyce, para sintetizar essa conjugação. Embora, em geral, se acredite que a
Poesia Concreta só possua este aspecto visual privilegiado, ela desde o
início, pensava em utilizar o som ao lado da imagem. Tanto que meus
primeiros poemas desta fase da Poesia Concreta, da série Poetamenos,
foram apresentados no Teatro de Arena, em 55, por um grupo musical que
interpretava várias vozes, correspondendo as várias cores do poema (
BLAUD, Clemie,1993, apud ARAUJO,1999.P.50)
O primeiro poema do poeta a ser trabalhado eletronicamente foi
“Cidade/City/Cité”, escrito em 1963. Posteriormente em 1975, foi feita uma tradução
intersemiótica, por Erthos Albino de Souza, sob orientação do poeta, foi usado um
cartão perfurado, uma espécie de mídia para armazenamento de dados em código
binário, onde cada letra correspondia a um furo.
O poema escrito em 1963 se apresentava assim: linha única com150 letras a
partir de raízes de palavras terminadas em cidade, city.
Atrocapacaustiduplielastifeliferofugahistoriloqualubrimendimultipliorganiperiodiplastipublirapareciprorustisagasimplitenaveloveravivaunivoracidade
FIG.2- Poema “Cidade/City/Cité” (1963)
FONTE: Imagem extraída da internet
Após a transposição em 1975:
FIG.3 – Poema “Cidade/City/Cité”(1975)
Fonte:Imagem extraída da internet
O resultado foi esse, um efeito de cidade noturna com luzes acesas nas
janelas dos prédios. Esse poema será analisado posteriormente.
22
A partir de 1980, Augusto de Campos passa a usar de tecnologias ditas
anteriormente,
como
Holografia,
tela
de
computador,
videotextos,
painéis
eletrônicos, laser e performances multimidiáticas, para, alem de traduzir seus
poemas já publicados, também compor novos. O computador ampliou suas
possibilidades criativas tanto na composição quanto nas “Intraduções”.
Augusto Campos utilizou o computador pela primeira vez em 1984 em um
projeto artístico com computadores da Intergraph, seu poema “Pulsar” foi digitalizado
sob a orientação do poeta e convertido em clipe.
Em 1985, através do hológrafo Moisés Baumstreum, o poeta passou a utilizar
a holografia, que consiste em reprodução de imagens tridimensionais com efeito de
luz para obtenção do efeito desejado.
Em 1991, de posse de computador pessoal Augusto Campos criou as
primeiras animações para poemas já existentes. Em 1992 “Poema Bomba”
publicado originalmente em 1986 e “S.O.S” em 1983, foram traduzidos para o meio
digital através do Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da USP.
Esse laboratório na época possuía uma série de recursos de hardware e softwares
especializados em computação gráfica, que possibilitava a pesquisa no campo de
processamento de imagens e computação gráfica.
No caso do “Poema Bomba”, o trabalho dos técnicos consistia em dar
movimento ao poema, já que desde a versão em papel este sugere movimento de
explosão. As palavras “poema” e “bomba” são dispostas, calculadamente, de forma
que as letras pareçam estilhaços que partindo do centro da tela simulem uma bomba
explodindo. Depois da transposição o poema ganhou movimento e sonorização de
Cid Campos, como será analisado posteriormente.
3.2 Análise de Poemas: Augusto Campos
3.2.1 Poema Bomba
O “Poema Bomba”, como dito anteriormente, foi publicado em 1986 na
contracapa do caderno literário Folhetim do jornal Folha de São Paulo. O poema tem
23
como base as oposições sonoras e visuais das palavras “poema” e “bomba”,
dispostas na página de forma a simularem uma explosão. Essa versão foi impressa
na cor preta e sem cor de fundo. A fonte utilizada foi “Pump” da “Letraset”. Todo
poema é composto pelas palavras “poema” e “bomba” distribuídas espacialmente
pela página de modo simular uma explosão. Há variações tipográficas e de
tamanho, dando a impressão de tridimensionalidade e movimento ao poema, há
uma explícita relação de semelhança com o fenômeno de explosão.
FIG.4- Poema “Poema Bomba” (1986)
Fonte: Imagem Extraída da Internet
Como já se afirmou as letras estão dispostas milimetricamente calculadas
para que se crie no leitor a idéia de explosão.
E em 1987, antes de sua versão em vídeo-poema, foi criada uma versão em
holografia conferindo ao texto um resultado melhor que o da versão impressa. Foi
produzido por Moysés Baumstein e apresentado na exposição “IDHEOLOGIA”.
24
FIG. 5- Poema “Poema Bomba”(1987)
Fonte: Imagem extraída da internet
Em 1992, o poema foi transferido para o terreno da computação gráfica. Foi
criada a sua versão digital. Neste projeto Augusto contou com a ajuda de Ricardo
Araújo e engenheiros da LSI (Laboratório de Sistemas Integráveis).
Basicamente, três elementos foram acrescentados ao poema na animação:
movimento, trilha sonora e a cor. O movimento é contínuo e unidirecional.
Inicialmente, o texto aparece no centro da tela em tamanho reduzido. À
medida que a animação avança no tempo, vai aumentando de tamanho, até
ultrapassar os limites da tela, em uma expansiva explosão cinética-catódica,
para fora do vídeo tentando atingir o leitor- expectador (ARAUJO.1999,p.41)
25
FIG.6 – Poema “Poema Bomba”(1992)
Fonte: Imagem extraída da animação na internet
O poema ganhou as cores vermelha e amarela, assim como também a
sonorização feita por Cid Campos e elaborada por Augusto de Campos. Esses
recursos possibilitaram a sugestão do efeito explosivo do poema. As letras vão
sendo ampliadas até ultrapassarem o campo visual, sugerindo sua “saída” da página
e produzindo no leitor uma espécie de imersão no poema. Segundo Araújo (1999):
...o poema-bomba em sua versão computadorizada, é um clip-poema, uma
poesia visual, e empenha em sua construção teórico-estética elementos que
em suas primeiras versões estavam apenas virtualizados, devido a
impossibilidade técnica de operacionalizar plenamente aquele sentido
verbivocovisual que, paradoxo poético, apresentava estrutura do poema em
suas primeiras versões. ( ARAUJO,1999,p.49)
26
FIG.7 – Poema “Poema Bomba”
Fonte: Imagem extraída da animação internet
De acordo com Ana Paula Ferreira (2008), foi produzida uma ampliação frame
a frame do diagrama e, assim, das letras que, ao se encaminharem em direção à
superfície, proporcionam, em conjunto com a disposição diagramática, uma visão de
profundidade mais intensa que a da bidimensionalidade do papel. Há a
intensificação do processo intersemiótico, ou seja, se antes havia a união verbal com
o visual sugerindo o sonoro (na versão suporte papel), agora o vídeo une verbal e
visual, propondo, além da linha de imagem, uma linha de áudio e o fator
tempo/movimento. Quanto à sonoridade, na leitura feita pelo poeta, ocorre a
sobreposição de vozes com tempos diferentes – leitura caótica, “explosão verbal” e
potencialização da metalinguagem.
E ainda, segundo a estudiosa, talvez devido a questões técnicas, alguns dos
videopoemas não se tornaram melhores esteticamente que os seus anteriores por
fecharem, na versão em vídeo, as possibilidades de leitura, como no caso de
"Poema Bomba”, cuja versão em holografia parece mais complexo que o
videográfico. Porém, em termos de vibração poética, não se pode deixar de
reconhecer o valor de tal trabalho, considerando a tecnologia disponível na época, o
esforço técnico para exploração do cinético e do plástico e, principalmente, a
27
proposta de mesclar o visual, o verbal e o sonoro numa potencialização do fator
verbivocovisual já defendido para a poesia pelo Concretismo.
3.2.2 S.O.S
Este poema foi elaborado em 1983 e sua primeira versão foi publicada em
1991. Na composição do poema, o autor utiliza fundo preto e letras na cor branca,
os versos formam círculos concêntricos em torno do significante “S.O.S”. São os
versos: “ego, eu Richio jêyo e / sós pós nós / que faremos após? / sem sol sem mãe
sem pai/ na noite que anoitece / vagaremos sem voz /silencioso / S.O.S”.
FIG.8-Poema “S.O.S” (1983)
Fonte: Imagem extraída da internet
O primeiro verso é composto pelo pronome “eu” grafado em oito idiomas
diferentes, essa repetição remete à solidão perante o universo, ao questionamento
sobre a origem e a mortalidade humana.
Augusto Campos o define como “uma viagem centrípeta ao buraco negro do
desconhecido. Da ego-trip à S.O.S- trip do enigma do pós-vida”.(CARVALHO,2007
p.63)
Em 1992, foi feita a versão animada do poema, com o auxílio dos técnicos do
LSI (Laboratório de Sistemas Integráveis). Na versão animada, as letras recebem a
28
cor amarela. Percebe-se que a sensação de solidão sugerida pelo poema, é
ampliada pela sonorização elaborada por Cid e Augusto Campos.
A animação se inicia com o surgimento de letra por letra, como se estas
estivessem nascendo pequenas estrelas em um ambiente negro, sugerindo o
universo. Também é incorporado movimento ao poema onde a primeira, terceira e
quinta camadas giram em sentido anti-horário, as demais giram em sentido horário.
As “estrelas” vão crescendo à medida que o tempo vai passando e se transformam
em letras, palavras.
Sobre isso Araújo diz:
...Essa polarização em torno do “S.O.S”, conseguida através das três
dimensões, dá ao poema uma idéia de buraco negro: de reter toda
luminosidade evidenciada nos seguimentos dextrógiros e levógiros. A
união de pronomes pessoais, girando em sentido , com uma palavra
universal como “SOS” aponta para um sentimento de cosmicidade e
solidão, tão peculiar ao homem moderno, levando-nos a inferir que o poema
aponta para uma sensibilidade cósmica, uma busca do sujeito poético que
quebra sucessivas capas, sucessivos segmentos para se chegar a
confraternização cósmica, no sentido homem e universo entederem a
mesma mensagem, mesmo depois de perder toda esperança (“sem sol sem
mãe sem pai” na eterna “noite que anoitece” ) descobrir, depois do silêncio
da não-palavra, o verbo se faz som “SOS”(substantivo símbolo universal e
adjetivo, qualificando a solidão) (ARAUJO.1999.p.40)
FIG.9 e 10- Poema “S.O.S” (1992)
Fonte: Imagem extraída da animação na Internet
O poema aborda a solidão do homem pós-moderno, suas aflições e até
mesmo desespero. No meio digital esse pedido de socorro se torna ainda mais
29
evidenciado, quando o significante S.O.S, aparece em tamanho reduzido e, como
ato final da animação, aumenta de tamanho até encobrir todo poema.
3.2.3 Cidade/City/Cité
Segundo a estudiosa Carvalho (2007), esse poema é o mais vertido para
outros meios. Como já foi visto anteriormente, este foi o primeiro poema de Augusto
Campos a receber tratamento eletrônico.
Foi escrito em 1963 e em 1975 foi
elaborada uma nova versão através de cartão e código binário.
O texto é composto por uma única linha com 150 letras, não há divisão de
frases palavras e parágrafos. O texto representa a confusão existente nas grandes
metrópoles, várias vozes ao mesmo tempo.
Atrocapacaustiduplielastifeliferofugahistoriloqualubrimendimultipliorganiperiodiplastipublirapareciprorustisagasimplitenaveloveravivaunivoracidadei
Fig.11- “Poema Cidade/City/Cité” (1963)
Fonte: Imagem extraída da Internet
Em 1975, versão eletrônica elaborada por Erthos Albino sob orientação de
Augusto Campos.
30
FIG.12- Poema “Cidade/City/Cité”(1975)
Fonte: Imagem extraída da internet
O resultado, como dito anteriormente, é semelhante a uma cidade noturna
com luzes acesas nos prédios.
No site de Augusto de Campos é possível encontrar mais duas versões do
poema. Uma outra versão é encontrada ampliada e foi divulgada no prédio da
Fundação Bienal em 1987.
FIG. 13: Fundação Bienal Projeto Julio Plaza
Fonte: Imagem extraída da internet
31
Outra versão disponível é trabalhada virtualmente. É incorporado ao poema o
fundo preto e cores nas palavras, também são acrescentados movimento e
sonorização que é elaborada por Cid Campos do CD “Poesia é Risco” de 1994.
Inicialmente, há uma sequência de palavras iniciadas pela palavra “cidade”,
que correm pela tela em fundo negro, as palavras “Cidade” “City” e “Cité” surgem de
forma aleatória, e em cores variadas.
Percebe-se que, neste vídeo as várias cores apresentadas são usadas
propositalmente para representar visualmente vozes diferentes e, ao mesmo tempo
a poluição visual, típica das grandes cidades.
Outro elemento perceptível é a rápida velocidade das palavras pelo vídeo,
imitando a correria das pessoas e carros nas grandes metrópoles.
FIG.14- Poema “Cidade/City/Cité”
Fonte: Imagem extraída da animação na internet
3.2.4 Greve
O poema “Greve” foi escrito em 1962. Nele, o poeta usa invenção de
linguagem com temas de caráter político e social. Nessa versão, háuma espécie de
sobreposição de palavras, onde pode ser observado, em primeiro plano, cinco
versos com as palavras: “arte”, “longa”, “vida”,” breve”, “escravo”, “se”, “não”,
“escreve”, “escreve”, “só”, “não”, “descreve”, “grita”, “grifa”, “grafa”, “grava”, “única”,
“palavra”. Em um segundo plano, aparece quarenta e quatro vezes a palavra
“greve”. O fundo é branco a palavra “greve” tem a cor cinza e as demais palavras cor
preta. Há dois textos intercalados, um linear e outro que ocasiona a sua
32
fragmentação. O poeta usa esse jogo de palavras para representar os movimentos
grevistas.
.
FIG.15- Poema “Greve”1962
Fonte: Imagem extraída da internet
Na versão digital são incorporados cor e movimento, o fundo adquire a cor
preta, palavra “greve” fica na cor vermelha e demais palavras na cor branca.
Em primeiro plano, aparecem os cincos versos na cor branca, subitamente
surgem a palavra “Greve” em cor vermelho, em efeito aparece e desaparece, de
modo intermitente.
FIG.16- Poema “Greve”
Fonte: Imagem extraída da internet
33
Tal efeito sugere um grito mecanizado que vai e volta, exaustivamente. O
modo como o poema se encontra editado lembra os gritos e palavras de ordem de
manifestações quase sempre presentes em movimentos grevistas. Percebe-se que,
no virtual, o efeito que isso causa é intensificado, uma vez que texto está “piscando”,
produzindo um efeito real de gritos.
3.3 Suporte Papel x Suporte Digital: Considerações
Ao analisar os poemas acima, observa-se uma acentuada diferença entre o
poema no suporte papel e no suporte digital.
A comunicação com o leitor torna-se mais óbvia, mais fluida, existe de certa
forma uma preocupação em como este poema vai chegar até o leitor, ou seja, o
poema é trabalhado para ser agradável, de fácil leitura, este propósito da Poesia
Concreta, já existia desde o início, porém, com a adaptação para o vídeo o objetivo
é alcançado de forma mais evidente, como o próprio Augusto Campos afirmou em
uma entrevista a Clemie Blaud, ao ser questionado sobre a adaptação da poesia a
linguagem do vídeo:
O que a gente observa é que há uma compatibilidade muito grande entre
este tipo de sintaxe espacial, mais reduzida, que foi modelo, digamos assim,
das experiências da Poesia Concreta, e a linguagem do vídeo. Ocorre o
seguinte: o texto muito longo, muito discursivo, fica muito cansativo, e até
difícil de ler no vídeo, no estágio em que está a imagem hoje. E esta
linguagem mais ágil, que não tem mais conectivos, de curso não- linear, ela
é apropriada para o vídeo, então há uma certa facilidade de adequação. Por
outro lado você tem o som e a imagem. Isto tudo parece que dá muito certo
( BLAUD, Clemie,1993, apud ARAUJO,1999.p.50)
Ana Paula Ferreira, a mudança mais profunda ocorre no sentido da abertura
da textualidade na versão digital:
A mudança mais profunda ocasionada em função da inserção no meio
digital é a abertura da textualidade. A poesia já não é em sua origem, um
texto fechado em termos de leitura. O que o digital faz, nesse sentido é
ampliar as possibilidades do próprio texto. Essas variações por sua vez
podem abrir espaço para a atuação dos leitores que se tornam
34
colaboradores do processo ( nesse caso a interatividade é fundamental) ou
para combinatória por meio de programas (poesia generativa)
(FERREIRA,2010.p.15).
Foi observado ao longo deste trabalho que o poema no suporte papel,
embora muitas vezes sugira idéia de movimento, como no caso de “Poema- Bomba”,
“Greve” e os demais analisados, na prática, é apenas sugestão de movimento.Na
verdade, o poema é silencioso, estático, sugere o movimento, mas não o apresenta,
cabe ao leitor imaginá-lo. Na versão digital, o poema realmente movimenta-se. Em
alguns casos, tem voz (sonorização) é como se o poema “tocasse” o leitor e o
envolvesse, o poema não é mais estático, possui movimento, não é silencioso e as
cores são em tons mais vibrantes e impactantes. É um convite à imersão do leitor no
poema.
Hoje a poesia concreta está presente no cotidiano das pessoas, está nos
jornais, revistas, capas de Cds, nos anúncios publicitários, na internet. Além da
abertura da textualidade, que transforma as possibilidades de leitura do poema,
nota-se que esse se encontra aberto a múltiplas possibilidades de interação, é mais
dinâmico.
É percebido que o uso da tecnologia favoreceu e favorece a criação de
poemas, uma vez que estes se diferenciam dos padrões existentes até então
produzidos na bidimensionalidade do papel. Menezes (1998) também argumenta a
favor do uso da tecnologia, na composição de poemas. Para o autor, a posse da
tecnologia para uso em produções poéticas acrescenta múltiplas possibilidades de
criações como afirma:
...Todas essas mostras e exibições apresentam o mesmo e único teor:
mostrar que a poesia deve apoderar-se da tecnologia e que se apresenta ali
é a abertura de um horizonte inesgotável e absolutamente novo
(MENEZES, 1998, p.115)
Augusto de Campos obviamente considera positiva a possibilidade de
trabalhar com mídias digitais como se observa:
...estas mídias são muito estimulantes e inspiradoras e proporcionam uma
multiplicidade de meios, que podem realmente conduzir a horizontes
inesperados (ARAUJO,1999,p.52)
35
4 POESIA CONCRETA: ALGUMAS CONCLUSÕES
A Poesia Concreta surgiu no Brasil em um momento que o país se
encaminhava para a pós-modernidade, estava se industrializando, tornando-se cada
vez mais urbano e moderno. Talvez esse tenha sido o motivo pelo qual os poetas do
grupo Noigrandes tenham idealizado uma poesia totalmente inusitada, moderna,
diferente de tudo que o Brasil vira, em termos de cultura.
Esse movimento propunha romper com a cultura rural e com o intimismo
subjetivista daquela época. Sua estrutura se compunha de objetivismo, clareza, os
versos eram curtos, diretos, quase sempre formados por verbos e substantivos,
eliminando todo excesso de palavras.
A poesia surgida desse movimento pode ser considerada produto de
exportação
brasileira,
pois
foi
um
estilo
nascido
no
Brasil
e
imitado
internacionalmente. Os poetas concretistas conseguiram grande repercussão
internacional. Foram muitas as publicações sobre o movimento, várias as
exposições e mostras de poesia no Brasil e no exterior que tomaram esse estilo
como tema. O movimento durou praticamente uma década, mas, mesmo com o seu
fim, os poetas continuaram outros projetos sem deixar de lado as heranças deixadas
pela Poesia Concreta.
Percebeu-se ao longo desse estudo que o poeta Augusto Campos, assim
como os demais do grupo Noigrandes e seus seguidores, transpuseram a poesia
para além da bidimensionalidade do papel. Ao trazer a poesia concreta para o
terreno digital puderam enriquecê-la ainda mais como, acrescentando sonorização,
cores mais vibrantes e movimento. A poesia no espaço virtual é moderna, mais
criativa, envolvente.
Nesse estudo foram analisados somente poemas de Augusto de campos por
questões didáticas e devido à concepção do trabalho que aqui se realizou
(monografia de conclusão de curso).
36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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modernista. São Paulo, Edusp, 2005
ARAUJO, Ricardo. Poesia Visual, vídeo poesia. São Paulo: Perspectiva, 1999.
ARBEX, Márcia. A visualidade na poesia: Os precursores do concretismo.
Disponível em<http://www.revistadeletras.ufc.br > acesso em: 22 out.2013
BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Editora Cultrix, 1997.
CAMPOS, Augusto. Biografia Disponível em <www2.augustocampos/biografia.htm>
acesso em 22/10/2013.
___________.Poemas Disponível em <www2.augustocampos/poemas.htm> acesso
em 22/10/2013.
CARVALHO, Audrei. Poesia concreta e mídias digitais: o caso Augusto
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FERREIRA, Ana Paula. Espaço e poesia na comunicação em meio digital.
2010.173f. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica) PUC-SP, São Paulo,
2010.
MENEZES. Philadelpho. Poética e Visualidade. Uma trajetória da poesia
brasileira conteporânea. São Paulo: Editora Unicamp, 1991.
___________Roteiro de Leitura: Poesia concreta e visual. São Paulo: Editora
Ática, 1998.
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