2012/01/25 Alexandre Reis Rodrigues O Irão, quando se refere à

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2012/01/25
O IRÃO
AMEAÇA ENCERRAR O
ESTREITO
DE
ORMUZ!
Alexandre Reis Rodrigues
O Irão, quando se refere à possibilidade de encerrar o
Estreito de Ormuz, como resposta ao agravamento de
sanções a que vai ficar sujeito brevemente, está a dar um
sinal de irracionalidade e de irresponsabilidade que nem
mesmo uma situação de desespero consegue explicar.
Mesmo tendo em conta a apetência que o regime mostra por
fazer declarações radicais e a natureza mais retórica do que
prática da ameaça, temos um agravamento da situação que
não pode deixar de merecer preocupação.
Teerão conhece perfeitamente os custos económicos,
políticos e diplomáticos que iria pagar por causar tão grave
crise internacional ao fornecimento de petróleo proveniente
do Médio Oriente por via marítima (40% do total) e não ignora que estaria a dar aos EUA uma
oportunidade de intervenção militar que, ao contrário de outras anteriores, não teria dificuldade em
recolher aprovação, ou pelo menos a não- condenação aberta internacional; possivelmente, nem
mesmo da China, que importa mais de 20% do petróleo iraniano.
É verdade que não é a primeira vez que Teerão faz este tipo de ameaça; o exercício que realizou
recentemente (“Velayat 90, 24 Dezembro 2011 a 3 Janeiro 2012), bem como outros anteriores, de
natureza semelhante, indicam, precisamente, a intenção de aperfeiçoar as capacidades militares de
conduzir operações de “negação de uso da área”. Desta vez, porém, os fundamentos usados para a
renovação da ameaça são diferentes; anteriormente, estavam ligados à possibilidade de ser
atacado; desta vez, passaram a ficar associados à possibilidade de o País sofrer sanções
equivalentes a um embargo petrolífero.
Esta nova situação vem alimentar a perspetiva pessimista de que não existe qualquer solução “não
militar” para resolução do problema que o Irão está a levantar ao persistir, contra várias Resoluções
do Conselho de Segurança, na continuação de um programa nuclear que a AIEA já não hesita em
caracterizar como encaminhado para a construção de armas nucleares.
A continuação de sanções vai, com certeza, pesar mais na economia já muito debilitada do País e no
dia-a-dia da população mas tudo indica que existe disposição interna suficiente para pagar os
respetivos custos, pelo menos por enquanto; o alto preço do petróleo está obviamente a ajudar
Teerão a enfrentar as dificuldades financeiras e económicas. A sociedade iraniana, embora
incluindo setores de descontentamento, como ficou provado pela reação à forma como decorreram
as últimas eleições presidenciais, não contestará o regime; não só porque a repressão tem sido
eficaz mas também porque a oposição está fraca e mal organizada. Não existe numa zona de
entendimento que permita encarar a realização de negociações diplomáticas como uma
possibilidade de saída da crise.
Não obstante estas circunstâncias, existem possibilidades de progresso se a comunidade
internacional se conseguir manter minimamente unida sobre a necessidade de agravar a pressão. A
decisão da União Europeia de adotar as sanções propostas pelos EUA visando o Banco Central
iraniano, por onde passam as transações de petróleo e gás, depois de sinais de falta de
entendimento interno, é um passo que Teerão não deixará de encarar como uma nova contrariedade
importante.
Outra potencial contrariedade que o regime enfrenta liga-se com a situação interna na Síria. Se o
Presidente Assad não resistir ao crescendo de indignação interna e internacional pela forma como
lida com a oposição, então Teerão perderá um dos seus trunfos principais da estratégia de
liderança regional. É, no entanto, questionável que esse possível desfecho se possa repercutir de
forma útil sobre um eventual abandono das pretensões nucleares, conforme exige o Conselho de
Segurança.
Teerão continuará a encarar o seu possível futuro estatuto de potência nuclear como a única garantia
de perpetuação do regime islâmico que adotou em 1979. O raciocínio assenta na ideia de que uma
vez na posse de armas nucleares, a comunidade internacional acabará por preferir aceitar a
situação e integrar o País na arquitetura de segurança internacional, sob o receio de que poderá ser
mais perigoso provocar qualquer instabilidade interna.
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