Ocorrência de enfermidades ou condições sistêmicas

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Ocorrência de enfermidades ou condições sistêmicas
16/01/2015
Ocorrência de enfermidades ou condições sistêmicas detectadas após avaliação pré­operatória da saúde de 2.475 pacientes
2006 | V3N4 | Páginas: 346­352
Ocorrência de enfermidades ou condições
sistêmicas detectadas após avaliação pré­
operatória da saúde de 2.475 pacientes
Morbidity rate after pre­operative evaluation of 2.475 surgical patients
Autor(es):
Paulo Sérgio Perri de Carvalho* Oscar Luiz Mosele**
* Professor titular do Departamento de Cirurgia e Clínica Integrada ­ Faculdade de Odontologia de Araçatuba ­ Unesp; Professor
titular do Departamento de Estomatologia da Faculdade de Odontologia de Bauru e coordenador do curso de Especialização em
Implantodontia da APCD ­ Regional de Araçatuba. ** Mestre pelo Programa de Pós­Graduação em Odontologia ­ Área de
Concentração em Implantodontia ­ Faculdade de Odontologia de Araçatuba ­ Unesp.
Resumo:
Neste trabalho foi realizado levantamento da ocorrência de enfermidades ou condições sistêmicas após avaliação pré­
operatória da saúde de 2.475 pacientes, considerando­se a idade e o gênero. Os pacientes foram divididos em dez
faixas etárias: menos de 20; 20 a 29; 30 a 39; 40 a 44; 45 a 49; 50 a 54; 55 a 59; 60 a 64; 65 a 69 e 70 e mais
anos. Do total de prontuários analisados foram detectadas 966 respostas positivas de uma ou mais enfermidades, ou
seja, 39,03% dos pacientes requeriam cuidados especiais para atendimentos odontológicos e, principalmente, para
procedimentos cirúrgicos. A prevalência do total de prontuários avaliados foi das desordens cardiovasculares com 222
casos representando 8,96%. Considerando a resposta positiva de doenças, a faixa etária "menos de 20 anos"
representou 7,33%; 20 a 29 anos 15,75%; 30 a 29 anos 39,03%; 40 a 44 anos 44,28%; 45 a 49 anos 58,33%; 50
a 54 anos 69,14%; 55 a 59 anos 71,60 %; 60 a 64 anos 71,09%; 65 a 69 anos 78,82%; 70 ou mais anos 90,10%.
Houve a prevalência da anemia e da osteoporose no gênero feminino. Com base nestes resultados e considerando que
os consultórios odontológicos estão sendo visitados com maior freqüência por pessoas de mais idade, notadamente os
consultórios cujos profissionais exercem a Implantodontia, é fundamental a realização cuidadosa da avaliação pré­
operatória da saúde de pacientes que irão se submeter a algum tratamento odontológico (cirúrgico ou não), assim
como o correto preenchimento e análise da questionário de saúde respondido pelo paciente.
Unitermos:
Avaliação pré­operatória; Doenças sistêmicas; Pacientes especiais.
Abstract:
The health of 2.475 patients was evaluated along this research, where were considered the relation between the
diseases and their systemic conditions with the age and sex (male or female). The patients were divided into ten age
groups: younger than 20, from 20 to 29, from 30 to 39, from 40 to 44, from 45 to 49, from 50 to 54, from 55 to 59,
from 60 to 64, from 65 to 69, from 70 years old on. After evaluation all of the medical/dental questionnaire, there
were 966 (nine hundred and sixty six) positive answers of diseases or systemic condition, which showed that 39,3%
of the patients required special care in case of surgical procedures or not. Some patients reported more than one
positive answer. Regarding age, the group of patients from 30 to 39 years old reported the highest in occurrences of
abnormalities, and the one above 20 years old reported the lowest number. As for the related 966 (nine hundred and
sixty six) positive incidences, the youngest group represented 7,33%; the next, from 20 to 29 years old represented
15,75%; from 30 to 39 , 39,03%; from 40 to 44, 44,28%; from 45 to 49, 58,33%; from 50 to 54, 69,14%; from 55
to 59, 71,60%; from 60 to 64, 71,09%; from 65 to 69, 78,22%; and, the oldest group (from 70 years old on),
90,10%. Taking that into account and the fact that older people are looking for dental treatment more frequently than
ever, the emphases on using dental/medical questionnaire on surgical or non ­ surgical patients must be highly
considerate.
Keywords:
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Health history; Systemic disease; Special patient.
Introdução
A condição sistêmica dos pacientes que irão se submeter a tratamentos dentários, candidatos ou não à
cirurgia, deve ser conhecida pelo cirurgião­dentista, visto que, quadros sistêmicos que interferem no
planejamento do tratamento têm sido relatados por diversos autores5, 12,7,28,19,25,24,17,1,2,8.
Deve­se salientar que o cirurgião­dentista realiza a maioria dos procedimentos clínicos, inclusive os
procedimentos cirúrgicos, sob anestesia local, que já se constitui, por si só, em uso de droga que deve
ser metabolizada pelo organismo do paciente. A terapêutica medicamentosa também consiste em
método auxiliar e complementar de procedimentos cirúrgicos e que também tem repercussão orgânica.
E somando­se a estes dois itens citados, o consultório odontológico está, cada vez mais, sendo
freqüentado por pacientes com idade avançada, o que torna imperioso avaliar o paciente desde sua
queixa principal até a condições médicas pregressas e atuais.
Para se avaliar a saúde do paciente, são necessários questionamentos sobre a história da doença atual,
história médica anterior, medicamentos que faz uso, hospitalizações ocorridas e por qual motivo, história
familiar, social e profissional, vícios e hábitos, como também deve ser traçado o perfil psíquico do
paciente. Além destes itens, os exames complementares laboratoriais, exames radiográfico e de imagem
auxiliam fortemente no pré­operatório. Alguns autores24 afirmam que a identificação do paciente e sua
queixa principal revestemse de grande importância para o profissional e ainda indica que o pré­
operatório tem por objetivos: 1. Determinar os diagnóstico; 2. Conhecer as condições médicas pré­
existentes; 3. Descobrir doenças concomitantes e desconhecidas; 4. Controlar emergências e urgências;
5. Tratar o paciente.
Assim, para prevenir as complicações trans e pósoperatórias, o profissional deverá ter uma conduta
cuidadosa de avaliação da saúde do paciente por meio de questões que possam indicar enfermidades
sistêmicas, hábitos, vícios, perfil psíquico e social e, finalmente, uma seleção correta do paciente, baseada
no princípio da necessidade e oportunidade do procedimento clínico ou cirúrgico.
Proposição
O objetivo do presente trabalho foi o de identificar a ocorrência de enfermidades e condições sistêmicas
em pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico odontológico ou implantes osseointegrados,
considerando a faixa etária e o gênero.
População e Método
Para desenvolver o presente trabalho, foram analisados 2.475 prontuários pertencentes aos cursos de
Atualização em Cirurgia Bucal e Implantodontia e cursos de Especialização em Implantodontia da APCD e
Unesp.
Os prontuários foram preenchidos por vários profissionais com diferentes tempos de graduação, no
entanto, com a mesma orientação de questionamentos e preenchimento.
Quando as respostas que não foram conclusivas ou houve a demonstração de desconhecimento do
paciente frente a determinada pergunta, foram solicitados exames complementares e, em alguns casos,
o médico foi contactado e solicitada uma avaliação que permitisse elucidar o estado de saúde do paciente
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envolvido.
Resultados
Foram analisados 2.475 prontuários sendo detectadas 966 respostas positivas de enfermidades
(39,03%). Alguns pacientes apresentavam mais de uma resposta positiva de enfermidade.
As doenças ou condições encontradas nos prontuários, e considerando a amostragem de 966 casos
positivos, estão demonstradas na Tabela 1, onde consta o percentual de cada doença ou condição
relacionando o total geral.
Tab1
​
Faixa etária Os pacientes foram divididos em dez faixas etárias, desde menos de 20 anos até mais de 70 anos. A faixa
etária que obteve maior número de prontuários foi a de menos de 20 anos e a com menor incidência foi
a de 65 a 69 anos. No entanto, a faixa etária que apresentou um maior número de respostas positivas
foi a dos 70 anos e mais, representando 90,1% (Figura 1).
fig1
No levantamento efetuado dos 2.475 prontuários foram detectados 966 representando 39,03% casos
positivos de alterações sistêmicas. Alguns prontuários apresentaram mais de uma anormalidade sistêmica
ou condição alterada, cuja relação encontra­se na Tabela 2 que relaciona a enfermidade detectada com a
faixa etária. Considerando a incidência de doenças relatadas por faixa etária a de menos de 20 anos
representou 7,33%; 20 a 29 anos 15,75%; 30 a 39 anos 39,03%; 40 a 44 anos 44,28%; 45 a 49 anos
58,33%; 50 a 54 anos 69,14%; 55 a 59 anos 71,60%; 60 a 64 anos 71,09%; 65 a 69 anos 78,82%;
70 anos ou mais 90,10%.
​
Relação do gênero com as enfermidades relatadas
Das 966 respostas afirmativas de enfermidade sistêmica ou condição sistêmica, 353 pacientes eram do
gênero masculino representando 36,54% e 613 pacientes eram do gênero feminino representando
63,45%. Entre as enfermidades, mostraram­se alarmantes as diferenças encontradas no grupo dos
anêmicos, 2 para o gênero masculino e 38 para o gênero feminino; e das doenças metabólicas ósseas, 1
para o gênero masculino e 16 para o gênero feminino; problemas cardíacos, 27 para o gênero masculino
e 49 para o gênero feminino; distúrbios psíquicos, 12 para o gênero masculino e 37 para o gênero
feminino e para a febre reumática, 5 para o gênero masculino e 17 para o gênero feminino, como mostra
a Tabela 3.
tab2­tab3
Discussão
A avaliação de saúde do paciente que será submetido a um tratamento odontológico reveste­se de
grande importância, porque pode ser considerado um método preventivo de intercorrências trans e pós­
operatórias como também, oferece ao profissional melhores condições de diagnóstico para tratar
urgências ou emergências24. Devese considerar que a vida média do brasileiro teve um aumento
substancial nos últimos anos e como conseqüência, a clinica odontológica é visitada com maior
freqüência por pessoas de mais idade e que, na sua maioria, necessitam de tratamento cirúrgico ou, pelo
menos, o uso de medicamentos tais como, o anestésico local2.
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Assim, pelo perfil do profissional da Odontologia e pela característica da profissão, com predominância de
procedimentos ambulatoriais, e até mesmo, pelo atendimento de pacientes em faixas etárias avançadas,
torna­se imperioso o conhecimento da história médica do paciente que vai se submeter a um tratamento
odontológico.
Neste trabalho, foram anotadas 966 (39,03%) respostas afirmativas de alguma alteração sistêmica
(enfermidade ou estado) de um total de 2.475 prontuários analisados. Este resultado apresenta uma
ocorrência semelhante de enfermidades, do que o apresentado por outros autores5 que verificaram
alterações sistêmicas em 40,37% dos 4.000 prontuários avaliados.
Uma advertência feita no trabalho desses autores5, de que há negligência e pouca importância dos
profissionais quanto ao preenchimento dos prontuários, é valida para este trabalho.
No entanto, a literatura mostra resultados diferentes aos encontrados neste trabalho. Weyant29 (1994)
detectou enfermidades sistêmicas em 65,7% dos 392 pacientes avaliados e Lopes e Nascimento15
(1996) encontraram apenas 15,69% de respostas positivas em 714 prontuários examinados. Deve­se
ressaltar que o trabalho realizado por Weyant29 (1994) foi realizado em 598 pacientes, onde apenas 61
pertenciam a faixa etária menor do que 40 anos e 537 pacientes pertenciam a faixas etárias mais
avançadas (destes 278 pacientes pertenciam à faixa dos 60 a 69 anos de idade), o que pode explicar a
maior incidência de enfermidades.
Nos trabalhos de alguns autores5,29,15 a enfermidade sistêmica mais detectada foram os distúrbios
cardiovasculares. Neste trabalho as doenças cardiovasculares representaram 22,97% das enfermidades
detectadas e foram representadas pelos problemas cardíacos, doenças de Chagas e hipertensão. Entre
estas, a mais incidente foi a hipertensão com 14,9%, dado este que coincide com os resultados de
outros autores5.
Nos casos das enfermidades cardiovasculares, o médico deve ser consultado para se ter o conhecimento
real das condições do paciente e, inclusive, para saber quais medicamentos que são utilizados. Quando o
procedimento odontológico for autorizado, ele deve ser realizado em sessões rápidas para evitar o
estresse do paciente ou, em caso de haver necessidade de sessões mais demoradas, o ambiente a ser
escolhido é o hospitalar.
O que chama a atenção é que, entre as doenças cardiovasculares, muito embora a maior incidência seja
após a faixa etária dos 50 a 59 anos, é possível detectar sua presença em faixas etárias mais precoces
(entre 30 e 39 anos) o que indica que os pacientes, independentemente da faixa etária em que estejam,
não podem ter a avaliação de saúde negligenciada.
Com relação ao gênero, a incidência das doenças cardiovasculares está presente em 26,34% nos homens
e 21,04% nas mulheres, mostrando uma discreta predominância do gênero masculino sobre o feminino.
Além das doenças cardiovasculares, as enfermidades com maior ocorrência foram: reação alérgica a
medicamentos (15,21%); diabete (6,93%); distúrbios gástricos (úlcera e problemas hepáticos) (6,61%);
anemia (4,14%); doenças metabólicas ósseas (1,75%) e alguns estados de vício como etilista (5,07%) e
fumante (5,69%). Os distúrbios psíquicos tiveram resposta positiva em 5,07%, muito embora não tenha
sido relatado qual o tipo de distúrbio.
Outras enfermidades foram detectadas com menos incidência: história de hepatite (2,79%) e história de
febre reumática (2,27%) entre outras.
As reações alérgicas (a medicamentos e outras alergias) que perfazem 27,12% das respostas positivas
apresentam uma predominância marcante do gênero feminino (182/80) sobre o masculino, enquanto
que não há diferença entre as faixas etárias.
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O levantamento realizado por Barros et al5(1976) acusou 7,55% dos pacientes com sensibilidade a
drogas, sendo que neste trabalho houve a ocorrência de 15,32 % de respostas positivas. Ao especificar o
tipo de medicamento que mais causa alergia os autores5 identificaram 81,45% com história de alergia a
penicilina, enquanto que este trabalho evidenciou 42,56% das reações alérgicas serem ao mesmo grupo
de antibióticos. Esta diferença pode ter ocorrido devido ao direcionamento das questões da anamnese
onde o paciente não discrimina reações alérgicas cutâneas características (prurido, eritema, tumefação)
de outras sintomatologias (dores de cabeça). Esta confusão por parte do paciente deve­se a sua falta de
informação. Por esta razão é que o profissional deve fazer questionamentos adequados ao grau de
esclarecimento do paciente para que os dados obtidos sejam mais confiáveis.
O cuidado que deve ser tomado pelo profissional é com relação às reincidências de uso de medicamentos
em pacientes que têm história de reações alérgicas. Nestes casos, para se evitar acidentes que poderão
ter desdobramentos desagradáveis, o paciente deverá ser encaminhado previamente ao médico para
avaliação e identificação dos medicamentos que poderão ser utilizados.
A diabete, neste trabalho, apresentou uma incidência de 6,93 %, com predominância pelo sexo
masculino (9,34%) em relação ao do gênero feminino (5,54%). Barros et al5 (1976) encontrou 0,93%
de casos de diabete, ou seja, 37 casos em 4.000 prontuários. Os casos de pacientes diabéticos
controlados são considerados como pacientes normais, devendo­se intervir em horário próximo ao da
ingestão do medicamento, quando fizer uso dele e prescrever a antibióticos profilaticamente.
A presença de distúrbios gástricos relatados pelos pacientes apresenta uma incidência maior nas faixas
etárias de 45 a 49 e 50 a 54 anos, sem haver predominância entre os gêneros. Esta informação é de
grande importância pela necessidade que o profissional tem em utilizar medicamentos e que possam
provocar efeitos colaterais, por exemplo, os antiinflamatórios, e pela possibilidade de agravar quadros
sistêmicos, como por exemplo, quadros de gastrite, úlcera ou doenças intestinais.
Os quadros sistêmicos de anemia apresentam predominância pelo gênero feminino, sendo que a última
incide mais na faixa etária dos 40 a 49 anos e nas idades mais avançadas. O quadro de anemia exige
cuidados no trans e no pós­operatório e dependendo dos seus níveis, deve­se evitar procedimentos
cruentos ou realizá­los em ambientes hospitalares24.
Da mesma forma que a anemia, as doenças metabólicas ósseas (osteoporose) também apresentam
predominância no gênero feminino. Os fatores de risco para a osteoporose, segundo Jeffcoat, Chesnut14
(1993) são idade avançada, tabaco, uso de esteróide, predisposição genética, consumo de álcool e café,
e menopausa. Alguns autores16 afirmam que estes pacientes apresentam o risco de perder implantes
2,55 vezes maior do que pacientes saudáveis.
Outras enfermidades detectadas foram a hepatite e a febre reumática. Enquanto que a primeira não tem
predominância por gênero, a segunda foi altamente incidente no gênero feminino e com distribuição por
todas as faixas etárias.
Os cuidados dos pacientes que apresentam história de hepatite são os cuidados com anti­sepsia e
esterilização para se evitar a infecção cruzada (hepatites B e C). E os pacientes convalescentes de doenças
hepáticas poderão apresentar hemorragias transoperatórias devido a carência de vitamina K.
Os pacientes com história de febre reumática deverão receber antibioticoterapia profilática antes de
qualquer procedimento odontológico que tiver sangramento para prevenir endocardite bacteriana8.
Os casos de pacientes com doenças hemorrágicas, detectados na anamnese, devem ser encaminhados
ao médico, antes de qualquer procedimento cirúrgico­odontológico. A carência de vitamina K provoca
atraso no reparo, já anticoagulantes como a warfarina, quadros de hemorragia9.
Neste levantamento foram detectados alguns quadros, tais como distúrbios psíquicos e vícios com o
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álcool ou tabaco que podem contra­indicar alguns procedimentos odontológicos, tais como a instalação
de implantes. Estes quadros não apresentam predominância por faixa etária; no entanto, o vício do
álcool, é mais freqüente no gênero masculino enquanto que os distúrbios psíquicos o são do gênero
feminino.
Como foi escrito no início deste trabalho, a importância de avaliar a saúde torna­se cada vez maior
devido a idade média do brasileiro ter aumentado nos últimos anos e, como conseqüência, ter nas
clinicas odontológicas uma presença mais freqüente de pessoas com idade avançada e que apresentam,
como é natural, comprometimentos sistêmicos que precisam ser identificados, avaliados quanto a
necessidade e oportunidade do procedimento e, caso esteja indicado, o profissional deverá estar
consciente dos cuidados desde o pré­operatório até a conclusão do tratamento8.
Neste trabalho, foi identificado que a porcentagem de enfermidades conforme a faixa etária aumenta
quase que geometricamente até a faixa dos 40­44 anos e se estabiliza ao redor dos 70% de respostas
positivas, entre os 50 a 64 anos e voltando a aumentar na faixa dos 70 anos chegando a ter 90% de
respostas afirmativas. Este é um dado de grande importância para a Odontologia atual.
Com relação às interferências sistêmicas no processo de reparo de uma ferida cirúrgica ou mesmo de um
implante osseointegrado, a maioria dos autores refere­se que as falhas dos implantes devem­se mais a
fatores locais do que aos sistêmicos23,26 ou ao fumo e ao álcool3,29.
O tabagismo promove um atraso generalizado nos eventos biológicos do reparo6, e por essa razão,
outro autor10 contra­indica os implantes osseointegrados para pacientes fumantes. Neste trabalho foi
encontrada predominância no uso de tabaco na faixa etária dos 30 aos 49 anos, não apresentando
preferência por gênero. A faixa etária de maior incidência foi de 30 a 39 anos.
Muito embora alguns trabalhos experimentais têm demonstrado que as enfermidades sistêmicas
prejudicam o reparo alveolar7ou mesmo atraso na neoformação e quantidade de osso em contato com a
superfície dos implantes27,18 estudando a associação entre perda dos implantes e fatores de risco,
constataram aumento significativo de perda de implantes em pacientes fumantes, diabéticos, irradiados
na cabeça e pescoço, em casos de mulheres na menopausa, mas não consideram que estes quadros
sistêmicos se constituem em contraindicação absoluta aos implantes osseointegráveis. Todos os casos e,
principalmente, aqueles que têm algum comprometimento sistêmico, necessitam de um criterioso
planejamento que se inicia na primeira consulta e se estende até a finalização do plano de tratamento.
Assim, a utilização de questionários de saúde para a análise dos pacientes permite a observação de vários
fatores: a análise da incidência de anormalidades sistêmicas, reconhecimento de doenças ou condições
que podem afetar o tratamento odontológico, indicar quando da necessidade de medidas pré­
operatórias para a proteção paciente e profissional, evitar possíveis reações medicamentosas de uso
odontológico e possibilitar ao paciente, por vezes, a descoberta de seu estado real de saúde.
Conclusão
De acordo com a metodologia empregada neste trabalho, os resultados permitem concluir que:
1. Os quadros sistêmicos mais freqüentes foram: história de distúrbios cardiovasculares, reação alérgica a
medicamentos, diabete, distúrbios psíquicos, anemia, história de hepatite, história de febre reumática,
doenças metabólicas ósseas. 2. Os vícios mais freqüentes foram o tabaco e o álcool. 3. A freqüência das respostas afirmativas de quadros sistêmicos é idade­dependente. 4. Na maioria das respostas positivas de quadro sistêmico não há predominância pelo gênero, com
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exceção de anemia e doenças metabólicas ósseas (osteoporose).
5. A avaliação de saúde no pré­operatório de qualquer procedimento odontológico deve ser obrigatória,
especialmente considerando a freqüência com que pessoas de mais idade procuram atendimento.
Endereço para correspondência: Paulo Sérgio Perri de Carvalho
Faculdade de Odontologia de Araçatuba ­ FOA ­ Unesp Departamento de Cirurgia e Clínica Integrada Rua José Bonifácio, 1.193 ­ Vila Mendonça ­ Caixa Postal: 341
16015­050 ­ Araçatuba ­ SP
Tel.: (18) 3636­3237 [email protected] (mailto:[email protected])
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