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Caderno2 Apoio CLUBE ROENTGEN Este encarte é parte integrante da edição 422 do Jornal da Imagem | Outubro de 2013 CASO 1 CLUBE ROENTGEN Figura 1 Formação expansiva retroperitoneal com realce heterogêneo delimitando áreas de necrose/liquefação. Observa-se ainda tênues focos de calcificação Caso apresentado no Clube Roentgen de 11 de setembro de 2013 História clínica Mulher, 71 anos, referia aumento progressivo do volume abdominal e edema do membro inferior direito há aproximadamente 1 ano. Exame físico: massa não dolorosa em região do flanco e fossa ilíaca direitos, além de edema do membro inferior direito. Figura 3 Figura 4 Reconstrução coronal. Nota-se remodelamento ósseo do osso ilíaco direito bem como perda dos planos de clivagem com a veia cava inferior Reconstrução coronal em modo MIP evidenciando trombose de veia ilíaca externa Figura 2 TC de abdome. Fase portal. Presença de extensa circulação colateral em torno da formação expansiva, inferindo natureza hipervascular da mesma CASO 2 CLUBE ROENTGEN Caso apresentado no Clube Roentgen de 14 de agosto de 2013 História clínica Figura 1 Formação nodular intramuscular, com sinal intermediário nas sequências ponderadas em T1, apresentando discreto foco de alto sinal periférico Paciente do sexo masculino, 21 anos, com nódulo palpável na região posterior da perna direita há 2 anos. Relata também dor noturna e após atividade física. Figura 2 Figura 4 Lesão hiperintensa nas sequências ponderadas em T2 com supressão de gordura, discretamente heterogênea Imagem de subtração demonstrando o intenso realce pelo meio de contraste Figura 3 Intenso realce pelo meio de contraste paramagnético administrado por via intravenosa CASO 1 • CLUBE ROENTGEN Autores: Drs. Marcelo Racy, Agnes Watanabe, Fábio Lewin, Adriano Solino – Santa Casa de Misericórdia de São Paulo Tumor fibroso solitário retroperitoneal (TFS) Descrito em 1942 por Stout e Murray que atribuíram sua origem aos pericitos de Zimmerman, Com o avanço das técnicas de imunohistoquímica, atualmente é considerado sendo originário dos fibroblastos. Acomete adultos com faixa etária entre 20 e 70 anos, sem predileção por sexo. Depois das extremidades inferiores o retroperitônio é o segundo sítio mais comum. Os sintomas se mostram insidiosos, em decorrência do lento crescimento tumoral, o qual promove compressão sobre as estruturas adjacentes (aumento do volume abdominal, polaciúria, constipação etc), estando o caso em conformidade com a literatura revisada. Os métodos de imagem, embora inespecíficos, permitem estudar as relações com as estruturas adjacentes , orientando uma melhor programação cirúrgica. A Tomografia computadorizada (TC) comumente evidencia formação expansiva hipervascular de limites definidos associada a áreas de baixa atenuação que podem representar necrose/ liquefação, bem como deslocamento e/ou invasão das estruturas adjacentes. O caso, além das características acima descritas, também exibia tênues focos de calcificação, bem como remodelamento do osso ilíaco e trombose da veia ilíaca externa. O diagnóstico definitivo se dá através de estudo anatomopatológico que evidencia proliferação de elementos vasculares envoltos por células fusiformes. A imunohisto- CASO 2 • CLUBE ROENTGEN química geralmente evidencia positividade para CD34 (80–90%), CD99 (70%), Bcl-2 (30%), antígeno epitelial de membrana (30%) e actina de músculo liso (20%). O tratamento de eleição consiste na ressecção cirúrgica completa do tumor. Quimioterapia e radioterapia são pouco eficazes neste tipo de neoplasia, estando seu uso limitado aos casos de tumores inoperáveis ou recidiva tumoral. O prognóstico irá depender da possibilidade de ressecção total ou não do tumor, bem como do comportamento biológico do mesmo: dimensões maiores que 6,5cm, invasão de estruturas adjacentes e elevada atividade mitótica estão relacionadas a um pior prognóstico. Desta forma, o TFS deve ser considerado no diagnóstico dife- rencial das neoplasias de partes moles hipervascularizadas com origem no retroperitônio. Leitura sugerida 1.Alampady K. Shanbhogue, Srinivasa R. Prasad, Naoki 2.Takahashi, Raghunandan Vikram, Atif Zaheer, and Kumaresan Sandrasegaran. Somatic and Visceral Solitary Fibrous Tumors in the Abdomen and Pelvis: Cross-sectional Imaging Spectrum. Radiographics March-April 2011 31:2 393-408; doi:10.1148/rg.312105080. 3. Victoria Carnerero Herrera, Angel Domınguez-Perez, Raquel Gonz ́alezMartın, Veronica Nacarino-Mejlıas y Maria Alcazar Iribarren-Marın. Tumor fibroso solitario abdominal. Una rara neoplasia de origen vascular. Gastroenterol Hepatol. 2010;33(8):578–581. Autora: Juliana Veras Rios Lamounier – Fellow de Musculoesquelético da Medimagem Sarcoma sinoval O sarcoma sinovial é uma neoplasia maligna de origem mesenquimatosa que acomete principalmente adolescentes e adultos jovens entre 15 – 40 anos, sem predileção por sexo. Corresponde a aproximadamente 10% de todos os sarcomas de partes moles, sendo considerado o 4o mais comum na população geral e o mais comum dos sarcomas não-rabdomiossarcomatosos em crianças e adolescentes. Geralmente acometem as extremidades (85 – 90%), sendo mais de dois terços nos membros inferiores, especialmente na fossa poplítea. Apesar do nome, os sarcomas sinoviais raramente originam-se na articulação (5 – 10%), sendo que a maioria ocorre adjacente a elas, distando até 5 – 7 cm (60 – 75%). O comprometimento articular é mais frequente por invasão de uma lesão extra-articular. 2 | Caderno 2 Clinicamente apresentam-se como massas de crescimento lento (tempo do diagnóstico: 2 – 4 anos) que podem vir acompanhadas de dor e edema. Este crescimento lento nas fases iniciais é um dos fatores que pode levar à suspeita incorreta de tratar-se de uma lesão benigna. Classicamente os sarcomas sinoviais estão localizados profundamente e no diagnóstico apresentam-se com mais de 5 cm, aparecendo nos exames de imagem como massas bem delimitadas, com contornos multilobulados e heterogêneas devido à presença de áreas contendo células tumorais viáveis, áreas necróticas / hemorrágicas (73%) e calcificações (30%). Nas sequências de ressonância magnética ponderadas em T2 essa heterogeneidade origina o aspecto de “triplo sinal” (necrose é alto sinal; células tumorais viáveis é sinal in- termediário; calcificações é baixo sinal). Quando exibem septações, têm aspecto de “cacho de uvas”. Outro fator de confusão com lesões benignas ocorre especialmente em crianças e nas lesões superficiais das extremidades, quando o diagnóstico é precoce e a lesão ainda é pequena (menor que 5 cm), apresentando-se como uma massa bem delimitada, com contornos lisos e aspecto homogêneo nos diversos estudos de imagem. Dependendo do tipo celular predominante na lesão o sarcoma pode ser classificado em bifásico (células fusiformes e epiteliais), monofásico (células fusiformes) e pouco diferenciado, sendo este último o tipo histológico mais agressivo. O sarcoma sinovial é uma neoplasia de moderado a alto grau de agressividade que apresenta altas taxas de recorrência local após a res- secção cirúrgica e origina metástases distantes a curto e longo prazo. As metástases mais comuns são as pulmonares, que com frequência calcificam. Outros sítios são ossos, linfonodos e partes moles. O tratamento de escolha é a ressecção da lesão com margens de segurança. O emprego de radioterapia após a cirurgia reduz as taxas de recorrência local. Referências bibliográficas 1.M D Murphey, et al. Imaging of Syno- vial Sarcoma with Radiologic-Patologic Correlation – Radiographics 2006; 26:1543-1565. 2. S D Bixby, et al. Synovial Sarcoma in Children: Imaging Features and Common Benign Mimics – AJR 2010; 195:1026-1032. 3.P J O’Sullivan, et al. Radiologic Features of Synovial Sarcoma – The British Journal of Radiology 2008, 81:346-356. CASO 3 Figura 1 Tomografia computadorizada do tórax evidenciando nódulos pulmonares sem calcificações evidentes nos lobos superiores e médio CLUBE ROENTGEN Caso apresentado no Clube Roentgen de 14 de agosto de 2013 História clínica Paciente de 77 anos, feminino, com dispneia aos mínimos esforços há 2 anos evoluindo com desequilíbrio, tontura e zumbido com piora progressiva, seguida de melhora do quadro pulmonar. Antecedentes de diabetes mellitus, dislipidemia e tabagismo. Figura 2 Figura 3 Figura 4 A primeira ressonância magnética (RM) do encéfalo evidenciou siderose superficial e focos de hipersinal em FLAIR no lobo parietal direito Ressonância magnética do encéfalo um ano após, evidenciando hemorragia subaracnóide recente e aumento da siderose superficial no lobo parietal direito RM do encéfalo evidenciando aumento da siderose superficial e dos focos de hipersinal e surgimento de realce leptomeníngeo no lobo parietal direito CASO 4 CLUBE ROENTGEN Caso apresentado no Clube Roentgen de 14 de agosto de 2013 História clínica Paciente de 69 anos, masculino, aposentado, referindo nódulo cervical à direita há cerca de 4 anos, indolor, sem outras queixas. Tabagista. Sem outras comorbidades. Figura 1 Tomografia do pescoço demonstrando linfonodomegalia com áreas de baixa atenuação e calcificações no triângulo posterior do pescoço à direita Figura 2 Estudo radiográfico do tórax evidenciando proeminência do hilo pulmonar esquerdo Figura 5 Material obtido por biópsia de linfonodo cervical, corado pelo vermelho Congo (A) e submetido à luz polarizada (B) Figuras 3 e 4 Cortes tomográficos coronal e axial do tórax demonstrando linfondomegalias mediastinais e hilares com as mesmas características Edição 422 – Outubro de 2013 | 3 CASO 3 • CLUBE ROENTGEN Autores: Melina Barreto Nascimento, Pedro de Pádua Tenório Siqueira. Orientador: Victor Hugo Rocha Marussi. Serviço: Medimagem – Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Granulomatose de Wegener A granulomatose de Wegener (GW) é uma vasculite granulomatosa sistêmica rara, sendo o tipo mais comum de vasculite associada à presença de anticorpos anticitoplasma de neutrófilo. A tríade clássica é caracterizada pelo comprometimento da via aérea superior, via aérea inferior e glomerulonefrite. É mais comum na 5a e 6a décadas de vida, podendo ocorrer em qualquer faixa etária, sem predileção por gênero. As manifestações pulmonares ocorrem em até 90% no curso da doença. Podem se manifestar como múltiplos nódulos e massas pulmonares (90%) de tamanhos variados, com escavação em até 50% dos casos; áreas de consolidação e opacidades em vidro fosco; derrame e/ ou espessamento pleural; linfonodomegalias mediastinais ou hilares; entre outras manifestações. Órbitas, coração, pele e articulações também são frequentemente CASO EXTRA envolvidas. O sistema nervoso central (SNC) é frequentemente afetado (22-54% dos casos), se manifestando mais comumente como neuropatia periférica ou mononeurite multiplex. Envolvimento cerebral ou meníngeo são incomuns, ocorrendo em somente 2-8% dos pacientes. Três maiores mecanismos foram propostos para exlicar o envolvimento do SNC: invasão granulomatosa por extensão contígua a partir de locais externos ao SNC (cavidade nasal, paranasal, órbitas); lesões granulomatosas remotas (parênquima cerebral ou dura) ou vasculite (sugere-se que esta pode ser a etiologia responsável dos raros casos em que hemorragia subaracnóide, hemorragia intracraniana, ou acidente vascular cerebral isquêmico complicam a doença). A tomografia computadorizada do tórax da paciente evidenciou formações nodulares nos lobos superiores e médio e a ressonância magné- tica do encéfalo demonstrou hemorragia subaracnoide, hemossiderose superficial, depósitos de hemossiderina intraparenquimatosos e focos de hipersinal em FLAIR no lobo parietal direito, com piora progressiva e aparecimento de impregnação leptomeningea com trajeto vascular, o que infere ingurgitamento e lentificação de fluxo desses vasos. A paciente foi submetida a biópsia de nódulo pulmonar, que evidenciou processo inflamatório crônico e a dosagem de c-ANCA foi positiva. O diagnóstico é estabelecido pela presença de vasculite granulomatosa necrotizante em biópsia de pele, pulmão ou vias aéreas superiores, em associação com glomerulonefrite. Autoanticorpos contra antígenos intracitoplasmáticos de neutrófilos e monócitos (ANCA) tem alta sensibilidade e especificidade para o diagnóstico. O tratamento consiste em glicocorticóides e ciclofosfamida. Conclusão Em pacientes com envolvimento cerebral e meníngeo da GW, existe um grande espectro de achados de imagem, que refletem as três maneiras que o sistema nervoso central pode ser afetado pela doença: extensão direta a partir da doença nasal, paranasal ou orbital; lesões granulomatosas remotas; e vasculite, sendo que a hemorragia subaracnóide é uma complicação rara desta doença. Referências bibliográficas 1.Murphy JM et al. Wegener granulomatosis: MR imaging findings in brain and meninges. Radiology 1999; 213: 794-799 2.Provenzale JM, Allen NB. Wegener Granulomatosis: CT and MR Findings. AJNR Am J Neuroradiol 1996; 17:785–792. -3.Miles JD et al. Subarachnoid Hemorrhage in Wegener Granulomatosis: A Case Report and Review of the Literature. CNS Spectr. 2011;16. Autor: Eduardo Marques da Rocha Trevisan (Fellow do Corpo da Medimagem – Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo). Orientadores: Pablo Rydz Pinheiro Santana, Roberto Antonio Pinto Paes, Antônio Carlos Portugal Gomes. Amiloidose Linfonodal Amiloidose é uma doença incomum, caracterizada pela deposição extracelular anormal de produto amilóide, um material protéico inerte, podendo ser classificada como primária (idiopática) ou secundária (decorrente de processos inflamatórios crônicos) e se apresentar de forma localizada (1020%) ou sistêmica (80-90%). A apresentação clínica varia desde pacientes assintomáticos até a disfunção orgância múltipla, dependendo da localização e extensão desses depósitos. A amiloidose sistêmica é frequentemente distinguida da amiloidose localizada pela demonstração de proteínas amilóides na gordura subcutânea, mucosa rectal, medula óssea, urina ou plasma, aspectos não encontradas na amiloidose localizada, que é caracterizada por discreto depósito amilóide focal. 4 | Caderno 2 As manifestações torácicas da amiloidose são relativamente incomuns, e o envolvimento linfonodal mediastinal sem comprometimento pulmonar é extremamente raro. Os achados de imagem do paciente evidenciavam linfonodomegalias no triângulo posterior do pescoço à direita, mediastinais e hilares bilaterais, com calcificações grosseiras e áreas de baixa atenuação, sem evidência de comprometimento pulmonar significativo. O diagnóstico histopatológico é feito pela caracterização de depósitos amilóides, que histoquimicamente se coram pelo vermelho Congo e mostram birrefringência verde à luz polarizada. Nas formas de amiloidose primária sistêmica e naquela associada ao mieloma múltiplo, a identificação na imunoeletroforese de uma cadeia leve monoclonal (kappa e lambda) pode auxiliar na suspeita diagnóstica. O diagnóstico diferencial da forma linfonodal é feito principalmente com doença metastática, linfomas, sarcoidose e outras doenças granulomatosas, como a tuberculose. O tratamento da amiloidose depende tanto do tipo quanto da severidade da doença, tendo a doença sistêmica pior prognóstico. Entretanto, a forma localizada tem bom prognóstico, usualmente não necessitando de tratamento, sendo eventualmente necessária ressecção das lesões, quando sintomáticas. Linfonodomegalias mediastinais com áreas baixa atenuação e calcificações é um achado característico da amiloidose, entretanto, é uma manifestação muito rara de amiloidose torácica quando achado isolado. No entanto, em pacientes que apresentam linfodomegalias de crescimento lento, com baixa atenuação e calcificações, a amiloidose deve ser considerada no diagnóstico diferencial, mesmo quando este é o único achado. Leitura recomendada 1.HS Yong, OH Woo, JW Lee, S-I Suh, Y-W Oh, E-Y Kang. Primary localized amyloidosis manifested as supraclavicular and mediastinal lymphadenopathy. The British Journal of Radiology, 80 (2007), e131–e133 2.Marchiori E, Souza Jr AS, Ferreira A, Azevedo KC, Fialho SM, Crespo SJV. Amiloidose pulmonar: aspectos na tomografia. Radiol Bras 2003;36(2):89-94. 3. Georgiades CS, Neyman EG, Barish MA, Fishman EK. Amyloidosis: Review and CT Manifestations. RadioGraphics 2004; 24:405– 416.