DIVERSO 18 – Sonho Adiado

Transcrição

DIVERSO 18 – Sonho Adiado
ESPEC IAL
SONHO
ADIADO
Cada vez mais bem sucedidas no mercado
de trabalho, as mulheres têm alterado suas
prioridades e adiado o sonho da maternidade
por thaís casagrande fotos divulgação arte rebeca guedes
S
e antes o plano principal consistia em encontrar o “príncipe encantado”, constituir e
cuidar da família, atualmente a formação e a carreira profissional têm ocupado o topo da
lista de prioridades femininas. Halle Berry, por exemplo, aos 46 anos anunciou recentemente que está grávida do noivo Olivier Martinez. Ela não foi a única, Madonna teve
seu filho Rocco com 42 anos. Carla Bruni foi mãe de Giulia, fruto de seu relacionamento
com Nicolas Sarkozy, aos 43 anos. Uma Thurman, Mariah Carey, Nicole Kidman, Celine Dion
e Jennifer Lopez também estão na lista das famosas que decidiram engravidar por volta dos 40
anos, e renovaram a esperança de muitas quarentonas que tentam engravidar.
A gravidez madura das famosas reacende também a discussão sobre os riscos e os
benefícios da maternidade tardia. Segundo dados divulgados pelo Hospital das Clínicas de São
Paulo, houve um crescimento superior a três vezes nos atendimentos de gestações tardias. O índice saltou de 5%, na década de 1970, para 16,6%. Em Goiás, outro estudo mostra um salto ainda
maior, de cinco vezes nos últimos dez anos.
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Mas, infelizmente, o relógio biológico continua a correr. E isso pode dificultar o
sonho da maternidade, uma vez que as chances
de engravidar diminuem drasticamente com o
passar do tempo. Alguns especialistas chegam
a dizer que após os 45 anos, é praticamente impossível uma mulher conceber um bebê usando seus próprios óvulos.
No entanto, muitas mulheres com
mais de 40 anos conseguem ficar grávidas,
seja naturalmente ou através de tratamentos
de fertilização. E mais: estudos recentes mostram que podem haver muitos benefícios em
ter filhos mais tarde, tanto para as mães quanto para os bebês.
“Hoje, é bastante comum sermos
procurados por mulheres acima dos 40 anos,
que querem iniciar uma família, ou estão em
busca do segundo ou terceiro filho”, conta o
médico da clínica Origen, Dr. Selmo Geber. “A
melhoria das técnicas de reprodução assistida
também é um fator de destaque, melhorando
cada vez mais os resultados e ‘ampliando’ a
idade fértil da mulher. Assim, elas se sentem
mais seguras para encarar uma gravidez depois dos 40 e mais confiantes no sucesso dos
tratamentos”, explica.
Um estudo recente publicado na revista médica americana “Fertility and Sterility” mostrou que: mulheres de 40 anos que se
submetem a tratamentos para engravidar têm
25% de chance de conceber um bebê com
seus próprios óvulos. Aos 43, esse número
cai para 10%, enquanto aos 44, a chance despenca para apenas 1,6%.
Da esquerda para a
direita: Halle Berry,
Jennifer Lopez e Carla
Bruni grávidas
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Pesquisas comprovam o que já era
de se imaginar: mulheres mais velhas em geral
têm mais sabedoria do que as mais jovens e
tomam decisões melhores em relação aos cuidados e à educação dos filhos. As mães de 40
anos ou mais, na média, têm mais disposição
para amamentar e, segundo pesquisas, também
escolhem alimentos mais saudáveis para suas
crianças, preferindo frutas, legumes e verduras
a doces, refrigerantes e comidas processadas.
Esperar para ter um bebê também
traz vantagens financeiras. Pesquisadores do
Reino Unido descobriram que as britânicas
economizam muito mais a cada ano sem filhos
dos que as que se tornaram mães mais jovens,
além de terem mais segurança para voltarem
ao trabalho após o fim da licença-maternidade.
Como tudo na vida, ser mãe com
mais de 40 anos tem suas vantagens e desvantagens. De acordo com a pesquisa da “Fertility
and Sterility”, entre as mulheres que conseguiram engravidar, 24% das que tinham 40
anos acabaram sofrendo aborto espontâneo,
enquanto entre as de 43 anos, a taxa foi de
38%, subindo para 54% entre as grávidas de
44 anos. Na população em geral, o índice de
aborto espontâneo fica entre 15% e 20% do
total de gestações.
O especialista Selmo Geber faz o
alerta para os riscos, que não são nulos e quanto
mais tarde a mulher optar por engravidar, maiores são as chances de gestações de risco ou alterações genéticas na criança. A principal anomalia é a Síndrome de Down, mas há também as
síndromes de Edwards e de Patau, entre outras.
A esquerda
Dr. Selmo Geber e
a direita Dr. Renato
Tomioka
De acordo com Selmo Geber, quando a mãe tem 20 anos,
apenas um bebê em cada 1.500 tem Síndrome de Down. Em
filhos de mães de 35 anos, a ocorrência é seis vezes maior:
uma criança a cada 250 nascimentos. “Aos 40 anos, a chance
de se gerar de um filho com Síndrome de Down é de 1%. Já
aos 45, as estatísticas chegam a 4%, ou seja, um filho a cada
25 nascimentos”, explica o especialista.
Hoje existem, inclusive, exames que podem ser
feitos na criança - ainda no útero da mãe - para detectar alterações genéticas. Porém, não é possível corrigi-las. Por isso,
as mulheres que desejam engravidar devem estar conscientes
do risco. E, acima de tudo, fazer um bom pré-natal. “Por mais
que avancemos, a idade será sempre o pior fator prognóstico.
Mesmo com todas as melhorias, não recomendamos o adiamento da gravidez para depois dos 35 anos”, ressalta.
De acordo com o ginecologista especialista em
infertilidade, Dr. Renato Tomioka, da Clínica Vida Bem
Vinda, o congelamento de óvulos por razão “social”, deve
levar em consideração não só a idade, mas também o número de folículos ovarianos e os planos de vida de cada
mulher. “É um tratamento muito individualizado. Sabemos
que a fertilidade feminina declina após a 4ª década de vida,
substancialmente após os 37 anos. Assim, a época mais
fértil é antes disso. Não existe idade limite para congelar
óvulos. Existem casos descritos de gestações e partos bem
sucedidos através de fertilização in vitro com óvulos congelados em mulheres com mais de 40 anos”, afirma.
Com o objetivo principal de reduzir as taxas de
gestações múltiplas, que implicam maiores riscos obstétricos, o Conselho Federal de Medicina determinou novas normas em dezembro de 2010 estabelecendo o número máximo
de embriões transferidos por ciclo de fertilização in vitro,
para cada faixa etária. “Mulheres com até 35 anos: até dois
embriões; de 36 a 39 anos: até três embriões; com 40 anos ou
mais: até quatro embriões”, explica Dr. Renato Tomioka.
OS RISCOS
Os riscos obstétricos de maior incidência após os 40
anos podem ser classificados em precoces e tardios.
Riscos precoces:
- Abortamento espontâneo (3 vezes maior que o de
uma mulher com 30 anos de idade);
- Gestação ectópica (geralmente nas tubas uterinas; 4
vezes maior que a de mulheres mais jovens);
- Alterações cromossômicas e genéticas e
malformações congênitas.
Riscos tardios:
(surgem com o decorrer da gestação)
- Diabetes gestacional (três a seis vezes maior que
mulheres de 20 a 29 anos);
- Doença hipertensiva específica da gestação (também
conhecida como pré-eclâmpsia, ocorre cerca de três
vezes mais que em mulheres em geral);
- Placenta prévia, quando a placenta está posicionada
à frente do feto, muito próxima ao colo do útero, que
pode gerar sangramentos (até dez vezes maior que
mulheres de 20 a 29 anos);
- Descolamento prematuro da placenta, também
associado à hipertensão;
- Parto prematuro;
- Baixo peso ao nascimento;
- Óbito fetal, decorrente de doenças
maternas mais frequentes após os 40 anos,
como hipertensão e diabetes;
- Dificuldades durante o trabalho de parto, aumentando
a taxa de cesáreas.
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