Ficção Científica e Cyberpunk: Uma breve introdução

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Ficção Científica e Cyberpunk: Uma breve introdução
Ficção Científica e Cyberpunk: Uma breve introdução
Denison Carlos Sousa Barbosa, Rafael Alexandrino Malafaia e
Tailson Rodrigues de Lima1
A ficção, segundo Walty (1985), é o estilo de narrativa que contém personagens
e estória verossímeis ou não, ambientada em um tempo e espaço diferenciados do
nosso, podendo inclusive ser organizados ou caóticos. Logo, a Ficção Científica (aqui,
referir-nos-emos a ela como FC) parte deste princípio, tornando-se ímpar a outros
gêneros literário pela assimilação da ciência em seus escritos literários.
E, como a ciência é nada menos do que o resultado de séculos de pesquisa e
desenvolvimento humanos para a melhor adaptação e sobrevivência em determinado
tempo e espaço, os autores de FC (sendo cientistas ou não) usam esta mesma erudição
como base para a confecção da realidade segundo conceitos de diferentes áreas de
estudo, da sociologia para a genética, da matemática até o estudo de vida em outros
planetas. Traçando uma possível linearidade entre Kerslake (2007) e Cândido (2006), a
FC fala não somente sobre a ciência, mas dela como instrumento de socialização entre
homens e mulheres e como estes se vêem sob diferentes aspectos, exagerando ou
traçando de modo sutil realidades nas quais as histórias se desenrolam.
Entretanto, a ficção científica tem sido – e ainda é – considerada como literatura
“menor”, se comparada a outros gêneros literários. Sendo assim, o objetivo deste
trabalho é apresentar de modo sintético e introdutório como a FC e seu último e talvez
mais ilustre representante – o Cyberpunk – se configuram através não somente das
características apontadas e defendidas pela literata inglesa Patricia Kerslake em sua obra
Science Fiction and Empire, de 2007, mas também pela pesquisadora brasileira Adriana
da Rosa Amaral em sua dissertação de doutorado chamada Visões Perigosas: uma
arqueologia do Cyberpunk – do romantismo gótico às subculturas. Comunicação e
cibercultura em Phillip K. Dick, defendida em 2005 para a Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul. E, com isso, mostrar como a FC é tão relevante quanto
qualquer outro gênero artístico no sentido de estudo, avaliação, crítica e denúncia ao
1
Denison Carlos Sousa Barbosa e Tailson Rodrigues de Lima são graduandos do curso Licenciatura em
Letras: Habilitação em Língua Inglesa, da Universidade Federal do Pará. Rafael Alexandrino Malafaia é
graduando do curso Licenciatura em Letras: Habilitação em Língua Alemã, da Universidade Federal do
Pará.
paradigma que nos é imposto como comum e a ser seguido não somente com rédeas e
viseiras, mas de modo inquestionável.
Ficção científica
Enquanto o gênero literário possui elementos, temáticas e temas comuns ao
corpo de obras que constituem e fundamentam este gênero específico, uma obra se
fundamenta enquanto Ficção Científica por ser escrita de forma a conduzir possíveis
reflexões sobre questões pertinentes à ciência (conhecimento científico), à
epistemologia (teoria filosófica sobre a ciência), à metodologia científica e/ou à
tecnologia, de forma implícita ou explícita.
A FC, ao contrário de outros gêneros literários, é um meio de expressão e
reflexão da realidade através da criação dos chamados “experimentos do pensamento”,
ou seja, refletindo sobre as consequências dos acontecimentos históricos e sobre as
mazelas de nosso tempo através de realidades literárias que relevam nosso
conhecimento sobre o mundo – o Weltschauung – revelando assim a visão que o
homem possui do paradigma atual, e projetam estes para escrever sobre um tempo
futuro ou uma realidade alternativa, uma espécie de previsão ou possível cenário que
poderia ocorrer em tempo-espaço que ainda não chegou ou que não conhecemos em
nossa realidade, porém é prevista na realidade fictícia.
Características da Ficção Científica
Os elementos que caracterizam a Ficção Científica enquanto gênero literário
variam em relevância de era para era e de autor para autor, porém estão sempre inclusos
de modo ou outro dentro deste gênero. Kerslake (2007) afirma que cada obra terá uma
ou mais destas características principais, explícita ou implicitamente.
O “Império”
Convém aqui designar por “Império” os elementos que explanam as estruturas
de poder, i.e., a política e economia e a ideologia por elas gerada em uma determinada
obra. O Império caracteriza-se por abordar questões ideológicas ainda pertinentes à
época do imperialismo, como a exploração de regiões “não civilizadas”, embate entre
culturas e assimilação cultural - traçando referência à época das navegações e
colonizações, quando houve a dominação dos europeus sobre povos nativos. Assim,
trata também de questões de poder o Outro, o diferente de mim. O “Império” é uma
releitura do já conhecido Reino-sede e suas “colônias”, mas também é uma metáfora
para uma divisão dicotômica entre estrato social dominante e dominado, sendo também,
respectivamente, centro e periferia no elemento do Império.
O “Outro”
Característica essencial responsável por grande parte da análise antropológica,
filosófica e sócio-cultural da FC. Contrapondo os seres dotados de inteligência comuns
à Ficção Científica (alienígenas, androides, computadores inteligentes) aos seres
homens e mulheres, é possível refletir sobre os seres humanos enquanto espécie e sobre
a humanidade – o que nos torna humanos. Em relação aos seres fictícios ou mesmo
outros seres humanos (os terráqueos e, por exemplo, os “marcianos” da trilogia Marte,
de Kim Stanley Robinson), relevam-se os aspectos de centro e periferia comum às
teorias pós-colonialistas, no que se refere não somente às diferenciações sociais, mas,
principalmente, às diferenças culturais e de ideário.
Logo, o “Outro” é um tipo de metáfora para diferenciação sócio-cultural, como,
por exemplo, a incorporação da temática do preconceito e da intolerância à FC. Outra
característica pertinente a este elemento é a exclusão social através de fatores prédeterminados, como a questão da “superioridade” ou “inferioridade” racial humana em
relação ao Outro. Um dos exemplos clássicos é a divisão entre humanos e autômatos em
Asimov – os humanos se cercam de poder sobre os androides pelas “Três Leis da
Robótica”, impostas na programação dos robôs por estes serem mais poderosos física e
intelectualmente que a humanidade.
Primeira Lei: Um robô não pode fazer mal a outro ser humano ou, por omissão,
permitir que um ser humano sofra algum tipo de mal. [...] Segunda Lei: Um robô
deve obedecer às ordens dos seres humanos, a não ser que entrem em conflito com a
Primeira Lei. [...] Terceira Lei: Um robô deve proteger a própria existência, a não
ser que essa proteção entre em conflito com a Primeira ou a Segunda Lei (ASIMOV
1986: 128).
Relação com a Ciência: Extrapolação e Especulação
Este elemento trata do avanço da ciência abordado neste gênero. Os autores se
valem de teorias científicas já estabelecidas ou em fase de proposição para utilizar em
suas obras ou até criar outras proposições baseadas na ciência, assim como se referem a
tecnologias que podem ser plausíveis ou não no âmbito de nossa realidade. Ou seja: a
Ficção Científica é o lado imaginativo da ciência atual.
A menção de fatos e fatores da ciência atual e/ou uma utilização de elementos
científicos e tecnológicos possíveis no futuro de nossa realidade, relevando-se o
conhecimento científico real da humanidade contemporânea caracteriza a extrapolação
da FC; os elementos referentes à ciência que são sabidamente fantasiosos ou com pouca
possibilidade de realização (viagens no tempo para o passado, teletransporte do corpo,
utilização de buracos-negros portáteis etc.) são considerados especulações.
A extrapolação ou especulação da ciência na FC é muito comum em narrativas
ambientadas em tempos futuros ao que foram escritas, antevendo ou supondo não
somente aparatos tecnológicos e novas descobertas científicas, mas incluindo à
realidade tecnológica e científica da realidade literária a característica do “experimento
de pensamento” – possíveis configurações de poder e estruturações sociais, resumindo,
um futuro melhor (eutopia) ou pior (distopia) para a humanidade.
Subgêneros
A FC se divide em dois subgêneros – o Hard e o Soft –, que abordam variadas
temáticas e variados temas – do primeiro contato com seres extraterrenos até as
realidades alternativas.
Hard: próximo às ciências exatas e utilização de conceitos técnico-científicos
reais. Ex.: [literatura] Eu, Robô (Isaac Asimov, 1950), Tao Zero (Paul Anderson, 1970).
Soft: mais próxima da fantasia e/ou das ciências humanas. Ex.: [literatura] A
Máquina do Tempo (H. G. Wells, 1895), 1984 (George Orwell, 1949).
A Ficção Científica, ao contrário de diversos outros gêneros, é diretamente
ligada a problemáticas tanto científico-tecnológicas quanto sócio-culturais, por meio de
um espelhamento textual condizente ao momento histórico do texto, o que produz uma
realidade literária que releva e metaforiza os problemas, fatos e fatores componentes da
realidade histórica. Portanto, a relevância de certas características e elementos, assim
como temas e temáticas do gênero, é mais comum em determinadas obras de certo
período histórico do que em obras de outro momento na história da cronologia da
Ficção Científica, apesar de nunca desaparecerem por completo de uma era para outra e,
por vezes, sofrerem uma releitura para se adequar um novo paradigma da realidade a
qual estava sendo reintroduzido.
É importante perceber que as “eras” da Ficção Científica mudam,
principalmente, de acordo com os momentos históricos que permitem modificações nos
paradigmas científicos, e ajudaram a compor a realidade da atual ciência
contemporânea. É importante também relevar a visão de homem e de mundo em relação
à ciência e seus paradigmas, ou seja, tornar a FC um instrumento crítico-literário do
conhecimento científico e da tecnologia e de sua relação com o ser humano.
Periodização da Ficção Científica
Período
Era Clássica
Era de Ouro
Era New
Wave
Era
Cyberpunk
Cronologia
Autores destacados
1820-1920
Júlio Verne
H. G. Wells
Arthur Conan Doyle
Edgar Allan Poe
1930-1960
Isaac Asimov
J. W. Campbell
Ray Bradbury
Robert Heinlein
Arthur C. Clarke
1960-1980
J. B. Ballard
Samuel Delany
Michael Moorcok
Normal Spinrad
Harlan Ellison
1980-hoje
William Gibson
Bruce Sterling
Lewis Shiner
Vernor Vinge
Características
- Melhoramento do homem
pelo saber e a técnica
- Monstros alienígenas e
viagens interplanetárias
- Mocinhos cientistas ou
técnicos
- Fé no progresso científico
- Base em conceitos de hard
science
- Mocinhos intrépidos
- Alienígenas e robôs
- Ativismo político
- Aproximação com as
ciências humanas
- Mocinhos solitários,
angustiados e/ou paranoicos
- Alienação em um futuro
high-tech
- Frustração com as
promessas da ciência e da
técnica
- Adição de elementos da
cultura de massa
- Anti-heróis ciborgues lutam
contra o “sistema”
- Cenários de alta tecnologia,
caos urbano e domínio de
megacorporações
Fonte: MARTINS, Marcos Lobato. Utopia e Ficção Cientifica: a “geografia real” e os futuros
improváveis.
CYBERPUNK
O último período da FC é chamado Cyberpunk – a união da palavra “cyber”,
referente à alta tecnologia e à computação/mundo virtual, e “punk”, referente ao modo
de ser e aparentar desta “tribo” urbana que nasceu em meados dos anos de 1970 na
Inglaterra e nos Estados Unidos. Neste sentido, podem-se perceber elementos da
vivência altamente tecnológica da era atual, especulando ou extrapolando ramos da
ciência e da tecnologia de ponta como a cibernética e a computação da realidade virtual,
assim como a idéia de contravenção individual, uma rebeldia pessoal baseada no
movimento punk – estar contra o sistema dentro do sistema.
O cyberpunk destaca-se na e da periodização da FC por ser mais que um
período literário da história de um gênero específico; o Cyberpunk nasceu no atual
paradigma Pós-Moderno (ao contrário dos outros períodos da FC) e releva fatos e
fatores da chamada cybercultura e do punk, tais como a subcultura hacker e a
subcultura dos neo-góticos e neo-vitorianos, além de estar ligado aos ramos da ciência
próprias do século XX que produz a denominada tecnologia de ponta, como é o caso
da Cibernética e suas múltiplas áreas de atuação.
Elementos da FC no Cyberpunk
O Cyberpunk “transforma” os elementos característicos da FC para melhor
acomodá-los ao atual paradigma pós-moderno e às subculturas urbanas às quais o
Cyberpunk constantemente se reporta. Apesar de certos subgêneros encontrados no
cyberpunk (Steampunk e Mannerpunk) terem referências e ambientações do passado
histórico, a maioria das obras ainda encontra-se em um futuro em megalópoles como
Los Angeles e grandes conturbações, como Boston-Atlanta .
O “Império”
Os “mundos” cyberpunks são mais próximos à nossa realidade, portanto, a
estrutura do poder econômico e político está mais espelhada no atual paradigma
capitalista em que vivemos. O que antes era o poder do Estado nos períodos anteriores
ao cyberpunk passa a ser visto sob o poderio das mega-corporações, uma “evolução”
do capitalismo monopolista e neoliberal do paradigma atual. Neste sentido, podemos
observar como cenário no cyberpunk a cidade e o mundo virtual e, como elemento
dicotômico, o Centro/Periferia, os grupos sócio-culturais mantenedores do status quo
que estão aliados ou alienados ao sistema, versus os excluídos ou invisíveis deste
mesmo sistema.
O “Outro”
O “Outro” caracteriza-se aqui mais como uma diferença e/ou luta entre grupos
sócio-culturais urbanos e as implicações deste embate. Mas o elemento mais importante
do Outro é a temática dos que nos torna humanos em relação às possibilidades
tecnológicas, o Homem x Máquina/Tecnologia. Assim, temos incorporado aos “temas
do Ser Humano” a dicotomia corpo/mente encontrados no embate entre real e virtual e
a relação Homem-Máquina na figura do Cyborg - não mais um ser artificial ou
alienígena inteligente como Outro, mas sim um ser parte orgânico e parte artificial se
encontra em uma categoria à parte da humanidade comum.
Relação com a Ciência: Extrapolação e Especulação
A especulação e a extrapolação no domínio do cyberpunk se encontram em áreas
científicas que são relevantes ao paradigma pós-moderno e/ou à tecnologia de ponta.
Para o pós-moderno, são importante as tecnologias da informação e o uso de suas
linguagens e da semiótica (estudo dos signos, i.e., símbolos/figuras/imagens que
formam conjunto de significados e discursos), encontrado nos ramos da computação e
na figura da Rede (a internet) e da realidade virtual. A tecnologia de ponta é incorporada
ao Cyberpunk na figura do ramo interdisciplinar e multifacetado da Cibernética, área
de estudo dos sistemas de seus reguladores/controladores e da incorporação destes à
realidade – resumindo como a tecnologia se integra ao ser humano e o modifica.
Características
Aqui percebemos algumas das características e temáticas amplas e específicas
do gênero cyberpunk (AMARAL 2005: 193). Enquanto McCafery (1994) apresenta as
(características e temáticas) amplas, Heuser (2003) expõe as específicas.
McCafery (1994)
Paranóia
Violação psíquica e sexual
Desejo de transcendência através das
drogas, religião ou pela dança de dados
gerados por computador.
Decadentismo
Linguagem: das ruas e jargões técnicos
Sabine Heuser (2003)
Estilo: roupas pretas de couro, maquiagem
Mutilação corporal, cirurgias, piercings,
implantes, tatuagens
Urbanismo: luzes de neon e chuva
incessante
Decadência
Barulho: rock e música eletrônica industrial
Fonte: AMARAL, Adriana da Rosa. Visões perigosas: uma arque-genealogia do cyberpunk: do
romantismo gótico às subculturas: comunicação e cibercultura em Phillip K. Dick. Dissertação de
Doutorado. Faculdade de Comunicação Social, PUC-RS. Porto Alegre: 2005.
Subgêneros do Cyberpunk
Sub-gênero
Biopunk
Temática
Manipulação genética. Mostra do lado
underground da sociedade biotécnica.
Referências
Na literatura: Ribofunk, Paul
Di Filippo, 1996
No cinema: Robocop (Paul
Verhoeven, 1987)
Steampunk
Variante onde o ambiente é de estética
Vitoriana – ou seja, uma realidade
alternativa de final de século tem acesso
à tecnologia, mantendo a atitude punk. A
distopia cyberpunk ainda está presente,
só que contemporânea às máquinas de
vapor (steam).
Existem variações deste estilo devido à
incorporação de outros elementos e/ou
cenários históricos, tal como o
Clockpunk, Sandalpunk, Bronzepunk e
Stonepunk.
Os seguidores desta tendência são
chamados de neo-vitorianos.
Subgênero de horror – e não de FC –
surgido no mesmo período do cyberpunk,
que mostra cenas de violência
apresentadas de forma ainda mais gráfica
e detalhista do que as gerações anteriores.
Na literatura: The Difference
Engine, de William Gibson e
Bruce Sterling, de 1992.
No cinema: Steamboy, 2004,
Katushiro Otomo.
Ns HQ’s: A league
extradorinary of gentleman,
de Alan Moore e Kevin
O’Neil.
Splatterpunk
Mannerpunk
Subgênero de fantasia, cunhado pelo
crítico Donald G. Keller em um artigo
chamado The manner of fantasy,
publicado na revista The New York
Review of Science Fiction, em 1991.
Literatura: Clive Barker.
Cinema: Hellraiser (de
1987, adaptação da novela
The Hellbound Heart, de
Clive Baker – ele também
dirigiu a película)
Literatura: Steven Brust (The
Khaavren Romances) e
Pamela Dean (The Dubious
Hills, 1994)
Fonte original: AMARAL, Adriana da Rosa. Visões perigosas: uma arque-genealogia do cyberpunk: do
romantismo gótico às subculturas: comunicação e cybercultura em Phillip K. Dick. Dissertação de
Doutorado. Faculdade de Comunicação Social, PUC-RS. Porto Alegre: 2005. 291 páginas.
Conclusão
Não se deve desconsiderar que uma das problemáticas a ser abordada no estudo
da FC dentro do currículo de literatura é o fato da relevância deste gênero literário e
suas vertentes frente ao chamado homem comum e o quanto o avanço da ciência o afeta.
Ao passar das eras, com o desenvolvimento da camada social que detém a produção e a
distribuição da tecnologia, as tecnologias então desenvolvidas foram sendo
gradativamente difundidas, adquiridas e assimiladas pela camada da sociedade que não
somente não detém tal poder, mas também não é estimulada a pensar de forma crítica.
É aqui que devemos atentar à relevância literária e cultural da FC, uma vez que
estamos indefinidamente mais próximos de adquirir muito do que foi proposto e
“sonhado” em páginas e película e imagens verbais e não-verbais. E estes aparatos
influenciam nossa vida de tal modo que se tornam extensões de nós mesmos, nos
capacitando a nos tornarmos independentes destes em nosso dia-a-dia devido às novas
divisões sociais de trabalho, e como devemos nos capacitar para alcançar tais prérequisitos, assim freando não somente nossa individualidade, mas inclusive nosso senso
crítico, transformando-nos em “mais um número”.
Logo podemos concluir que o estudo de Ficção Cientifica deve ser incluído no
currículo de literatura de língua alemã, devido este gênero ser característico a tal idioma
porque, em momento algum, não deve-se invalidar os vieses políticos e contestadores
de muitos dos autores mais importantes de tal idioma, que sempre foram críticos ora
sutis ora mordazes dos sistemas vigentes e acontecimentos relevantes de suas épocas e
como estes influíram nas vidas dos homens comuns de quaisquer classes sociais, e que
pode-se traçar um paralelo de tais observações às descrições das realidades distópicas de
muitas obras. Assim, com a leitura de tais produções literárias, o alunado terá não
somente novas perspectivas sobre a história das relações sociais e do ser humano com o
meio ambiente ao seu redor, seja qual for, mas inclusive uma capacidade de avaliar seu
tempo com novos olhos e valores.
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