Claudio Bezerra de Carvalho e outros
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Claudio Bezerra de Carvalho e outros
1829 1830 ANÁLISE DOS IMPACTOS DA CONEXÃO DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA NA REDE DE DISTRIBUIÇÃO Claudio Bezerra de Carvalho1 Renato Araújo2 Tinn Freire Amado3 RESUMO Unidades geradoras de menor porte são mais fáceis de serem financiadas, o que permite a diversificação dos agentes, podendo ser construídas mais próximas aos centros consumidores, reduzindo a necessidade dos sistemas de transmissão e distribuição, bem como as perdas elétricas nestas redes e demandando menos controle centralizado. Neste trabalho são analisados os impactos da conexão de pequenos geradores na rede de distribuição de energia elétrica e as principais vantagens e desvantagens ocasionadas com esta conexão. A análise dos impactos da conexão foi realizada através de artigos publicados na literatura. Os aspectos regulatórios e as políticas que estimulam a implantação da geração distribuída também foram analisados neste trabalho. 1. INTRODUÇÃO Até o início década de 90, os sistemas elétricos se desenvolveram de forma centralizada, motivados pelos seguintes fatores: busca de economia de escala; minimização dos impactos e dos riscos ambientais nos centros densamente povoados, no poder que tinham ou que buscavam - os empreendedores de grandes obras, fossem eles empresas ou governos, e, dando suporte às soluções então propostas; e na alta confiabilidade dos sistemas de transporte de eletricidade em alta tensão [Walter, 2000]. Doutorando do curso de Planejamento de Sistemas Energéticos da Universidade Estadual de Campinas UNICAMP. Professor da Universidade Salvador UNIFACS / COELBA - Mestre. 3 Consultor da Amado Steele Consultores Associados - Mestre. 1 2 1831 Atualmente está havendo uma mudança de tendência para a utilização da Geração Distribuída, principalmente motivada pela multiplicação do número de agentes no setor elétrico. Unidades geradoras de menor porte são mais fáceis de serem financiadas, o que permite a diversificação dos agentes, podendo ser construídas mais próximas aos centros consumidores, reduzindo a necessidade dos sistemas de transmissão e distribuição, bem como as perdas elétricas nestas redes e demandando menos controle centralizado. Além disto, unidades de menor capacidade também se ajustam melhor ao crescimento da demanda, diminuindo os riscos associados ao planejamento da expansão. A saturação das redes de transmissão e distribuição é outro fator que estimula a geração distribuída. A maioria das tecnologias empregadas para a Geração Distribuída consiste em certo número de pequenos módulos, que podem ser instalados em um curto espaço de tempo na planta de energia. Além disso, cada unidade modular pode começar a operar tão logo seja instalada no local, independentemente da situação dos outros módulos. Caso um módulo falhe, os outros não são afetados. Como cada módulo é pequeno quando comparado com o tamanho unitário de uma grande planta de energia centralizada, o efeito da falha de um módulo sobre a energia total disponível é consideravelmente pequeno. A estrutura modular permite maior flexibilidade na operação e instalação, podendo os módulos serem deslocados para outras localidades, caso seja requerido. Para as tecnologias como turbinas a gás de ciclo combinado, motores de combustão interna, turbinas a combustão, gaseificação de biomassa, motores de ciclo Stirling, bem como células a combustível, é possível a produção combinada de calor e energia, que tem a vantagem de alta eficiência caso o calor seja utilizado localmente[Walter, 2000]. Quanto às categorias de uso, a geração distribuída pode ser dividida em: geração de emergência, geração para atuar no pico de carga , co-geração e dispositivos de armazenagem e geração de emergência. 2. REGULAMENTAÇÃO Ao instituir a figura do produtor independente de energia elétrica PIE, através da lei 9.074/95 foi dado um importante passo para promover a geração descentralizada. Esta lei permite também a comercialização de energia elétrica e vapor diretamente com o consumidor independente da classe. O decreto n° 2.003/96 regulamentou a produção de energia elétrica pelo autoprodutor e produtor independente. Um importante incentivo à geração descentralizada utilizando fontes renováveis foi à regulamentação da lei 10.438/2002 que entre outras criou o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica PROINFA. Este programa tem como objetivo a diversificação da matriz energética brasileira e a busca por soluções de cunho regional com a utilização de fontes renováveis de energia, mediante o aproveitamento econômico dos insumos disponíveis e das tecnologias aplicáveis, a partir do aumento da participação da energia elétrica produzida com base naquelas fontes, no Sistema Elétrico Interligado Nacional - SIN. O Programa promoverá a implantação de 3.300 MW de capacidade, em instalações de produção com início de funcionamento previsto para até 30 de dezembro de 2006, sendo assegurada, pela Centrais Elétricas Brasileiras S.A - ELETROBRÁS, a compra da energia a 1832 ser produzida, no período de 20 anos, dos empreendedores que preencherem todos os requisitos de habilitação descritos nos Guias e tiverem seus projetos selecionados de acordo com os procedimentos da Lei 10.438/02. O PROINFA será administrado pelo Ministério de Minas e Energia que estabelecerá o planejamento anual de ações a serem implementadas, avaliando o impacto decorrente do repasse de custos aos consumidores finais, de modo a minimizá-los. Estabelecerá e divulgará os valores econômicos, obedecidas às diretrizes metodológicas definidas, definirá medidas de estímulo ao avanço tecnológico que se reflitam, progressivamente, no cálculo dos valores econômicos; e submeterá ao Conselho Nacional de Política Energética - CNPE o planejamento anual do PROINFA, demonstrando a necessidade de realização de chamadas públicas e o impacto previsto das compras de energia em relação ao atendimento do mercado e sobre os pagamentos efetivados pelos consumidores finais. 3. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA 3.1. Impactos Positivos A Geração Distribuída está associada geralmente a baixos impactos ambientais e à utilização de fontes renováveis de energia. Por estar próxima à carga, dispensando o uso de linhas de transmissão, contribui para diminuir as perdas de energia associadas ao transporte por longas distâncias, que teriam que ser compensadas por geração adicional. Esse acréscimo na geração, conseqüentemente acarretaria no aumento das emissões, o qual é evitado quando a mesma quantidade de energia é gerada e consumida sem o uso de linhas de transmissão. A presença de agentes geradores de energia elétrica no sistema de subtransmissão e distribuição causam impactos positivos e desejáveis na operação do sistema, tais como [Lemos, 2003]: l Suporte de tensão através do fornecimento de energia reativa local; l Melhoria na qualidade do suprimento; l Melhoria do fator de potência; l Liberação da capacidade de atendimento; l Possibilidade de ilhamento para atendimento de carga local; l Melhoria na curva de carga; l Redução nos custos de expansão da rede; l Prorrogação de novos investimentos na construção de grandes usinas; l Redução das perdas. Estes recursos devem ser aplicados para a solução dos pontos críticos de carregamento ou de tensão da rede. 3.2. Impactos Negativos A conexão de agentes geradores de energia elétrica na rede de distribuição pode provocar impactos negativos, tais como [Lemos, 2003]: 1833 l Aumento nos níveis de curto-circuito; l Coordenação da proteção; l Harmônicos devido a conversores; l Efeito Flicker; l Competição por regulação de tensão. Outro fator crítico relacionado com a geração distribuída é a flutuação de geração de potência ativa, a qual esta condicionada à disponibilidade da fonte primária (ventos, sol, água, etc). 3.3. Viabilidade A característica da curva de carga fornece a primeira indicação da tecnologia de geração a ser aplicada. Fatores de carga baixos indicam tecnologias com baixa parcela no investimento, com certa folga no custo variável. Em contrapartida, fatores de carga elevados indicam intensidade de uso, privilegiando tecnologias com eficiências elevadas [Negri, 2001]. O nível de confiabilidade requerido indicará a modulação adequada ou a reserva estratégica. Além do fornecimento de energia elétrica cabe uma análise integrada para o atendimento de outros energéticos: calor ou frio, em função do processo industrial que venha a ser aplicado, o que aumentará a eficiência energética do sistema como um todo. A solução otimizada de geração ou cogeração é obtida através de um estudo de viabilidade que indica a decisão a ser tomada. A viabilidade econômica da instalação de um sistema depende do custo de produção de eletricidade cobrir os custos suplementares em relação ao sistema de atendimento convencional [Silveira, 2001]. 4. CONEXÃO A REDE A conexão das unidades de Geração Distribuída com o sistema elétrico da concessionária trás à tona questões como: proteção, confiabilidade e a própria operação do sistema. Outro fator a ser considerado é o custo da interconexão, que envolve o projeto do equipamento, normas industriais e o processo de aprovação por parte da concessionária. Estas são algumas das barreiras para a aplicação da Geração Distribuída em sistemas de potência. À medida que o número de geradores conectados à rede de distribuição aumenta, os problemas de interconexão surgem com maior intensidade. Esta questão gera uma indagação sobre como os mesmos serão representados nos programas de simulação computacional uma vez que ainda não existem modelos apropriados de geração distribuída para as ferramentas tradicionais de estudos de estabilidade. Nos modelos atuais de despacho, o sistema de distribuição é normalmente equivalentado, sendo representado por uma carga no ponto de conexão do sistema de transmissão com a distribuição. Com o aumento da penetração da Geração Distribuída, há necessidade de representação mais detalhada da rede de distribuição, para se avaliar o impacto da mudança, em termos de localização de geração e na segurança dinâmica do sistema. 1834 Dependendo do tipo de tecnologia utilizada na Geração Distribuída, o fornecimento de energia elétrica poderá ser realizado em corrente contínua (CC) ou alternada (CA). A corrente alternada é padrão de fornecimento nas redes de distribuição, porém caso a tecnologia produza energia em corrente contínua são utilizados conversores (estáticos ou dinâmicos) para transformá-la em corrente alternada. Resultado de Simulações da Conexão Neste tópico serão apresentados os resultados de simulações do efeito da conexão da geração distribuída à rede de distribuição de acordo com as referências bibliográficas: [Silva, 1999] e [Castro, 1999]. Foram realizadas diversas simulações para diferentes cenários em uma rede com grande quantidade de geradores localizados em instalações industriais que poderiam estar recebendo ou injetando energia na rede de distribuição nos diversos turnos e períodos da semana. Com relação aos níveis de tensão, o impacto dos cogeradores traduz-se pelo aumento da tensão nos nós da rede em todos os cenários de exploração. Este aumento verifica-se mesmo nos cenários de horas de baixo carregamento em que as instalações de cogeração não fornecem energia reativa à rede de distribuição, consumindo mesmo parte da energia reativa referente ao consumo no período de baixo carregamento das unidades industriais associadas. Valores elevados, superiores a 1,05 p.u., ocorrem, fundamentalmente, nos barramentos dos cogeradores, no ponto de interligação à rede de distribuição e nos nós vizinhos deste. Quanto ao congestionamento da rede, não foi verificado qualquer problema de sobrecarga nos ramais, tanto no caso dos cogeradores estarem em serviço ou fora de serviço. A análise dos resultados das simulações efetuadas permite afirmar que, globalmente, o impacto dos cogeradores na carga das linhas da rede de distribuição é positivo durante os dias de semana, conduzindo à sua diminuição, e negativo nos fins de semana, conduzindo ao seu aumento, embora de menor valor. Conclui-se então que a ligação dos cogeradores contribui de um modo global para o descongestionamento dos ramais da rede de distribuição sob análise. A ligação dos cogeradores à rede de distribuição conduz em todos os cenários de exploração a uma diminuição substancial da carga dos transformadores, mesmo no caso dos cenários do fim de semana em que é injetada energia na subestação. Em relação às perdas elétricas, o impacto dos cogeradores nas perdas ativas e reativas em relação à saída de cada subestação depende quer das características da interligação com a rede de distribuição, ou seja, da localização do ponto de interligação e do comprimento do ramal respectivo, quer da potência injetada na rede pela central de cogeração respectiva em cada cenário de exploração. Foi verificado que durante os dias da semana, nos quais os cogeradores injetam menos energia na rede de distribuição, as perdas ativas e reativas são menores enquanto que nos finais de semana estas perdas são aumentadas, ainda que em menor amplitude. Estes efeitos são justificados, fundamentalmente, pelo sentido e a amplitude dos trânsitos de potência ativa e reativa na rede serem diferentes naqueles períodos e para as situações dos cogeradores ligados ou desligados. As variações de tensão resultantes do desligamento intempestivo das centrais de cogeração são consideravelmente menores no caso de estas não fornecerem potência reativa, com a conseqüente diminuição da atuação dos reguladores de tensão dos transformadores das subestações, que resulta no aumento da sua vida útil. 1835 5. CONCLUSÕES Existem diversas tecnologias que podem ser empregadas na geração distribuída em diferentes estágios de desenvolvimento, custos de instalação e eficiência energética. Um fator determinante para a utilização de determinada tecnologia de geração é a disponibilidade dos insumos como biomassa, ventos, potencial hídrico, insolação e etc. A viabilidade econômica depende da abundância destes recursos naturais, confiabilidade requerida pelo consumidor, possibilidade de cogeração, carregamento das linhas de transmissão e acesso às mesmas, além de incentivos governamentais para a diversificação da matriz energética e ganhos sociais com o desenvolvimento regional. Considerando os incentivos que serão dados pelo PROINFA através de incentivos nas tarifas e linhas de créditos, a geração a partir de biomassa, eólica e PCH poderão ser bastante atrativas. Estes recursos naturais são abundantes no estado da Bahia. A geração fotovoltaica também é uma forte candidata para inserção no Estado conforme pode ser verificado no mapa de insolação do estadual. 6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Albuquerque, et al, Análise dos Efeitos da Geração Distribuída em Sistemas Elétricos de Potência sob o Enfoque da Qualidade de Energia Elétrica, Seminário Brasileiro sobre Qualidade da Energia Elétrica, Aracaju, Sergipe, 2003. Castro, R. M. G., Produção Descentralizada: O problema da Potência Reactiva, 4º Encontro Luso-Afro-Brasileiro de Planejamento e Exploração de Redes de Energia, Rio de Janeiro, 1999. Domschke, A. 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O sistema foi instalado em dezembro de 2002 e os resultados obtidos ainda são preliminares, mas demonstram que a viabilidade econômica deste tipo de sistema ainda está longe de ser alcançada. Palavras-chave: Sistemas Fo t ovoltaicos Conectados à Re d e ; Sistemas Fotovoltaicos; Energia Solar Fotovoltaica; 1.0 - INTRODUÇÃO Os sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica (grid-connected PV systems) constituem a aplicação de energia solar fotovoltaica que tem apresentado a maior taxa de crescimento anual no mundo. Segundo as publicações [1,2] da Agência Internacional de Energia (IEA International Energy Agency) datadas de 2003 e referentes somente a seus países membros, 74% da potência de pico fotovoltaica total instalada nestes países já é conectada à rede, perfazendo um valor de 968.7MWp (dentro de um total de 1.330MWp) e suplantando todas as demais aplicações terrestres da tecnologia fotovoltaica reunidas, o que já ocorre desde 1999. *CEPEL Centro de Pesquisas de Energia Elétrica - Avenida Hum, s/num. Cidade Universitária Ilha do Fundão - CEP 21941-590 Rio de Janeiro RJ - e-mail: [email protected] 1837 A figura I apresenta o crescimento no período 1998-2002 dos sistemas conectados à rede em 5 países selecionados (JP- Japão, AL Alemanha; EU Estados Unidos; HL Holanda; SU Suíça), também segundo dados da IEA. Figura I sistemas fotovoltaicos conectados à rede (JP-Japão; AL-Alemanha; EU-Estados Unidos; HL-Holanda; SU-Suíça) S 600,00 : 0 500,00 DG 400,00 ODD WV 300,00 Q, DL 200,00 FQ rW 100,00 R3 0,00 1998 1999 2000 2001 2002 JP AL EU HL SU Os dados da IEA também indicam que desde 1997 o crescimento médio anual da potência FV instalada conectada à rede tem sido superior a 30% no conjunto de seus países membros. Este significativo crescimento tem sido localizado basicamente nos países desenvolvidos e é alavancado principalmente pelos grandes programas governamentais subsidiados do Japão (New Sunshine Program, entre outros), da Alemanha (Hundert Tausend Dächer Programme - "programa cem mil telhados", entre outros) e dos EUA (a Million Roofs Program - "programa um milhão de telhados"), além de outros países A figura II mostra um condomínio residencial no Japão com sistemas fotovoltaicos conectados à rede instalados nos telhados (denominados rooftop - de telhado). Figura II - condomínio residencial no Japão com sistemas fotovoltaicos tipo rooftop Fonte: SHARP Entendemos que estes fatos representam uma importante mudança de paradigma, pois até bem recentemente se acreditava que a principal aplicação dos sistemas fotovoltaicos seria na eletrificação rural, sob forma de sistemas autônomos para o atendimento a cargas em locais isolados, distantes da rede elétrica convencional 1838 Contudo, apesar do já mencionado acentuado crescimento verificado nos últimos anos, a instalação destes sistemas conectados à rede, realmente em massa, com algum impacto na matriz energética nacional, ainda não foi alcançada em nenhuma nação. Todavia, caso a tendência de crescimento se mantenha, isto irá acontecer a médio prazo. O Japão é atualmente o líder mundial na produção de células e módulos fotovoltaicos, bem como na instalação de sistemas fotovoltaicos conectados à rede, com uma potência fotovoltaica instalada total de aproximadamente 550MWp. Entretanto, esta potência instalada e a contribuição destes sistemas no balanço energético nacional ainda podem ser considerados irrisórios, em comparação com a capacidade total instalada de geração de energia elétrica de cerca de 200GW e sua produção anual de aproximadamente 1000TWh. A Alemanha e os EUA, que estão, respectivamente em segunda e terceira colocação em potência fotovoltaica conectada à rede, recaem no mesmo caso (dados de fins de 2002). 2.0 - DESCRIÇÃO DA TECNOLOGIA Os sistemas fotovoltaicos conectados à rede geralmente são associados a uma edificação e realizam a injeção direta de toda a energia gerada na rede elétrica, sem qualquer armazenamento em baterias. Nos países desenvolvidos, as instalações têm contemplado escolas, prédios públicos, empresas, etc, além de edificações residenciais. A sua instalação depende de uma regulamentação técnica e, principalmente, comercial, para possibilitar as instalações em grande número, conforme já vem acontecendo há vários anos no primeiro mundo. No Brasil este tipo de regulamentação ainda está em desenvolvimento. A integração dos painéis fotovoltaicos na arquitetura das construções tem recebido especial atenção, sendo denominada BIPV - Building Integrated Photovoltaics. A Figura III contém um esquema simplificado de um sistema FV residencial conectado à rede (rooftop). O sistema, na verdade, consiste apenas em dois componentes: o painel fotovoltaico e o inversor. A eles, é necessário adicionar apenas dispositivos de proteção (disjuntores, proteção contra surtos, etc) e de medição, caso necessário. A injeção de energia é efetuada por um inversor cc/ca especial, o qual é um dispositivo eletrônico que realiza a conversão de tensão/corrente cc produzidas pelo painel fotovoltaico para tensão/corrente ca compatíveis com a rede elétrica, injetando potência ativa, sob forma de corrente ca em fase com a tensão da rede. Os inversores são equipamentos microprocessados e atendem a requisitos severos de segurança para interligação à rede, monitorando continuamente qualidade da rede e desligando-se automaticamente em caso de qualquer perturbação (desligamentos, subtensões, sobretensões, variações de freqüência, picos, etc). Eles também efetuam continuamente a busca do ponto de máxima potência do painel fotovoltaico (MPPT Maximum Power Point Tracking). No caso de sistemas residenciais, cujo porte típico é de algumas unidades de kWp, a injeção é feita geralmente na baixa tensão (110Vca ou 220Vca), embora sistemas de maior porte possam injetar em níveis de tensão mais elevados. A operação do sistema é totalmente automática sem necessidade de intervenção de um operador humano. 1839 Figura III - esquema simplificado de sistema fotovoltaico tipo rooftop (fonte: NEDO (1) Japão) Caso instantaneamente haja excedente de potência (a geração seja superior ao consumo da edificação), esta energia extra é alimentada na rede pública e torna-se disponível aos demais consumidores. Em função do balanço entre a potência fotovoltaica instalada no sistema e o consumo da edificação associada, a cada período mensal, o sistema fotovoltaico pode ser capaz de proporcionar apenas alguma redução de consumo de energia elétrica, ou então pode gerar excedentes de energia. Nos países já citados, empregam-se medidores-tarifadores bidirecionais (net metering tarifas iguais para energia gerada e consumida) ou dois medidores (tarifas diferenciadas). Em alguns países, como a Alemanha, o kWh gerado tem um valor superior ao consumido e a conta de energia pode ser negativa, com o consumidor recebendo mensalmente pagamento da concessionária local, a qual tem, normalmente, obrigatoriedade de compra desta energia.1 3.0 - EXPERIÊNCIA BRASILEIRA Conforme é sabido, no Brasil, esta tecnologia é incipiente e existe um número muito pequeno de sistemas fotovoltaicos conectados à rede, instalados em sua maioria em universidades ou outras instituições, com objetivos de demonstração, pesquisa e ensino, muito embora já se tenha conhecimento de algumas instalações particulares. As instituições que abrigam estes sistemas são: CHESF (sede em Recife - sistema FV conectado à rede mais antigo do Brasil); IEE/USP - São Paulo (5kWp); Labsolar/ UFSC - Florianópolis (2kWp). Seguindo esta linha, o CEPEL implantou um sistema fotovoltaico conectado à rede em sua sede no Rio de Janeiro, com o qual espera contribuir para uma maior divulga1840 ção desta tecnologia para aumentar o seu conhecimento em nosso país. O objetivo básico que norteia a implantação deste sistema é a obtenção de experiência real no projeto, especificação, aquisição, instalação e operação de um sistema desta natureza, visto que o CEPEL tem uma vasta experiência anterior em sistemas fotovoltaicos autônomos, para vários tipos de aplicação. Acreditamos que esta experiência irá auxiliar na criação de competência no Brasil, na área dos sistemas fotovoltaicos conectados à rede, além de fomentar de uma maneira geral o desenvolvimento da aplicação de energia solar fotovoltaica no país. 4.0 - O SISTEMA DO CEPEL O sistema do CEPEL foi adquirido por meio de uma licitação internacional [3] do tipo menor preço, vencida pela empresa BP Solar do Brasil, e instalado em dezembro/2002. O sistema do CEPEL tem potência nominal de 16.32kWp e está instalado sobre o telhado de um dos prédios (Bloco J) de sua sede na Ilha do Fundão, injetando energia na rede de baixa tensão de 220Vac. Nos sub-itens 4.1 a 4.3 abaixo são apresentados detalhes técnicos deste sistema. A potência fotovoltaica instalada e a energia gerada pelo sistema são pequenas em relação à potência instalada no CEPEL e a seu consumo. Portanto, o impacto do sistema no consumo do CEPEL é pequeno e não é gerado qualquer excedente de energia para injeção na rede pública. 2.1 - Painel Fotovoltaico O painel fotovoltaico é constituído por 204 módulos fotovoltaicos BP580F, associados 17 módulos em série e 12 em paralelo. Os módulos BP580F [4] são em Silício monocristalino e são considerados os mais modernos módulos comerciais disponíveis atualmente. Suas células são construídas com a tecnologia denominada LGBG (Laser Grooved Buried Grid grade frontal enterrada em canaletas escavadas a laser), por isso têm eficiência nominal na faixa de 16%-17%. As características dos módulos nas Condições Padrão de Teste (STC(2 ) Standard Test Conditions) são as seguintes: l potência nominal (Pmax): 80Wp l tensão de circuito aberto (Voc): 22.0V l corrente de curto-circuito (Isc): 4.7A l tensão de máxima potência (Vmp): 18.0V l corrente de máxima potência 4.44A l número de células: 36 (em série) l peso: 7.5kg l dimensões: 530mm x 1188mm NEDO - New Energy and Industrial Technology Development Organization/Solar Energy Department (Japan) Intensidade de radiação de 1000W/m 2; temperatura das células de 25ºC; espectro da radiação AM1.5 (air mass 1.5). 1 2 1841 A conexão de 17 módulos BP580F em série produz uma tensão em aberto de até 374Vcc, que apresenta riscos à segurança pessoal. Por essa razão, a conexão do painel fotovoltaico tem de ser feita por pessoal habilitado e dotado de equipamento de proteção adequado. A montagem do painel fotovoltaico sobre a cobertura de uma edificação que originalmente não previa este equipamento mostrou ser o principal problema enfrentado pelo CEPEL na instalação do sistema. Figura IV estrutura de fixação no telhado Figura V vista geral da instalação A solução tecnicamente perfeita seria re-projetar e reformar totalmente a cobertura do prédio para receber o painel fotovoltaico. Contudo, esta solução foi descartada por seu custo elevado, de forma que optou-se pela instalação dos módulos em postes ao longo das platibandas da cobertura, usando estruturas idênticas às usadas para instalações fotovoltaicas no solo, conforme mostrado nas figuras IV e V. Cada estrutura suporta 8 ou 9 módulos fotovoltaicos. Esta solução reduziu sobremaneira o custo de instalação do sistema. Outra preocupação do CEPEL é a proteção contra descargas atmosféricas, que foi implementada por meio de varistores (Vrms=460V; Vdc=615V; Imax=8kA) e centelhadores a gás conectados aos condutores dc provenientes do painel fotovoltaico, conforme mostrado no diagrama esquemático da figura VI, que representa uma das caixas de junção do painel fotovoltaico, instaladas no telhado (a caixa de junção é visível à esquerda na figura IV). Os diodos de bloqueio (Id=12A; Vrrm=600V) também são instalados nas caixas de junção. Figura VI - diagrama elétrico da caixa de junção 1842 Além disso, todas as partes metálicas (estruturas e caixas de junção) foram aterradas nos condutores horizontais que conectam os captores Franklin instalados ao longo do perímetro da cobertura do prédio. Onde necessário, os captores foram rearranjados para compatibilidade com as localizações das estruturas de suporte do painel fotovoltaico. 4.2 Inversores O sistema utiliza 6 inversores SMA Sunny Boy SWR 2500U, cujas especificações, segundo documentação do fabricante [5,6], são as seguintes: Potência nominal na saída: (Pca-nom): 2200W Potência máxima na saída (Pca-max): 2500W Tensão da rede (Vac): 211-264V Freqüência da rede (fca): 59.3-60.5Hz Distorção harmônica total (THD): <4% Tensão cc de entrada faixa de MPPT (Vpv): 234-550V Tensão máxima cc de entrada (Vpvoc): £600V Corrente máxima cc de entrada (Ipv): 13A Potência máxima cc de entrada (Ppv): 2710Wp Consumo próprio : < 7W Eficiência máxima (hmax): >94% Figura VII - conexão dos inversores em ∆ Ainda segundo a documentação do fabricante, este inversor é certificado de acordo com as normas para a interligação à rede da maioria dos países, incluindo os EUA (UL1741 - Underwriters Laboratories Inc. e NEC 690 - National Electric Code Article 690), a Austrália ("Australian Gudelines" e IEC950 - International Electrotechnical Commision), a 1843 Inglaterra ("Engineering Recommendation G77") e a Alemanha (regulamentação da VDEW - Verband der Eletrizitätswirtschaft\Associação das Empresas de Eletricidade Alemãs e DIN-VDE 0126 - Deutsches Institut für Normung). No sistema do CEPEL, os inversores são conectados ao secundário de um dos transformadores abaixadores que alimentam o prédio do Bloco J, com primário de 480V conectado em e secundário de 220V conectado em Y com neutro aterrado, cuja potência nominal é de 225kVA. Os inversores são conectados em ∆, dois a dois em paralelo entre as fases do secundário em Y, conforme mostrado na Figura VII. Os inversores são certificados em classe de proteção NEMA(3) 4X, adequada para instalações externas (outdoors), embora o fabricante proíba sua exposição à radiação solar direta e recomende evitar a exposição à chuva. Desta forma, poderiam, em princípio ser instalados diretamente na cobertura do prédio, entretanto, o CEPEL optou por instalá-los internamente, no cubículo do transformador (subestação), que é um ambiente mais protegido, pois existe dúvida quanto à sua resistência às condições ambientais tropicais brasileiras. A figura VIII mostra o quadro de inversores, onde se pode observar os 6 inversores (vermelhos, acima) e os disjuntores de proteção. Cada inversor é protegido por um disjuntor monopolar de 20A no lado cc e por um outro disjuntor bipolar de 16A no lado ca. O sistema é protegido por um disjuntor trifásico de 50A (não visível na figura VIII). A proteção automática do inversor contra perturbações elétricas atua da seguinte forma: l sub/sobretensão - o inversor desliga automaticamente em 0.1s, caso a tensão ca saia dos limites especificados (213Vac - 262Vac). l desvio na freqüência - o inversor desliga em 0.1s, caso a freqüência saia da faixa especificada, (59.3Hz - 60.5Hz) enquanto a tensão ca estiver entre os limites de -30% e +15% do valor nominal (faixa de tensão para medidas confiáveis de freqüência). l taxa de variação da freqüência - o inversor desliga em 0.2s, caso a freqüência da rede varie bruscamente (>0.5Hz/s). l impedância da rede - o inversor se desliga em 5s, caso a impedância da rede varie bruscamente ou atinja um valor muito elevado. l fuga à terra - o inversor se desliga, caso detecte fuga de corrente cc à terra no painel fotovoltaico. l ilhamento (islanding) - detecção baseada na tensão e na freqüência ca, de acordo com algoritmo da norma UL1741. l cuto-circuito - detecção baseada no valor da corrente ca. Esta proteção interna do inversor é efetuada por dois controles independentes e redundantes. Os parâmetros que controlam a atuação da proteção (faixas admissíveis e taxas de variação das grandezas monitoradas) são configuráveis na instalação. Todavia, esta configuração é feita por uma EPROM que só pode ser gerada pelo próprio fabricante, o que 3 National Electrical Manufacturers Association - EUA 1844 pode representar uma dificuldade. No caso do CEPEL, este problema efetivamente ocorreu, uma vez que a faixa de excursão default da tensão ca não se mostrou adequada e teve de ser modificada. Para tanto o fabricante (Alemanha) enviou uma nova EPROM. Seria desejável que estes parâmetros pudessem ser configurados diretamente pelo usuário. Figura VIII - quadro de inversores 4.3 Monitoração/Acompanhamento O sistema fotovoltaico é totalmente monitorado por um sistema de aquisição de dados, com objetivo de aquisitar e armazenar em tempo real as medidas elétricas e ambientais relevantes para a análise de suas condições operacionais. O sistema de monitoração é baseado em um computador do tipo PC dedicado, com software desenvolvido em ambiente MS-Windows 98, que permitirá o acesso às grandezas medidas, tanto de forma local (monitor e teclado) quanto de forma remota através da rede interna do CEPEL (intranet). Espera-se no futuro disponibilizar estes dados em tempo real, no sítio do CEPEL, na internet. Os intervalos de aquisição dos dados serão de 10s e serão armazenadas médias a intervalos de 10min em arquivos no disco rígido. O computador será dotado de uma unidade de gravação de CD-ROM para cópias dos dados. As grandezas monitoradas serão as seguintes: l radiação solar global no plano do painel fotovoltaico (W/m2), medida com piranômetro padrão secundário; l radiação solar global no plano horizontal (W/m2), medida com piranômetro padrão secundário; l temperatura ambiente (°C); l umidade relativa do ar (%) l velocidade (m/s) e direção (°) do vento; 1845 l temperatura do painel fotovoltaico (°C), medida por meio de NTCs em 2 pontos; l tensão (V) e corrente (A) cc produzidos pelo painel fotovoltaico, independentemente para cada um dos inversores; l potência cc (W) produzida pelo painel fotovoltaico, independentemente para cada um dos inversores; l corrente (A) ca rms, injetada por cada um dos inversores; l tensão (V) ca rms nas 3 fases; l potência (W) ca injetada na rede por cada um dos inversores; l freqüência na rede (Hz); Foram também instalados medidores de energia monofásicos convencionais (tipo relógio medidor-tarifador, visíveis na Figura VIII) na saída de cada inversor, proporcionando de forma independente e confiável um registro da energia gerada pelo sistema. 5.0 - AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO Com o conhecimento das características dos componentes (inversor e módulo fotovoltaico), foi feita uma simulação computacional, numa tentativa de prever seu desempenho a priori. A simulação baseou-se em modelos computacionais simplificados para os componentes, semelhantes aos já utilizados no CEPEL em outros trabalhos [7]. A simulação foi alimentada com um ano de dados de radiação solar (radiação solar global no plano horizontal valores médios em intervalos de 10min) e temperatura ambiente reais, medidos por uma estação meteorológica do CEPEL, dotada de piranômetro. Tabela I - previsão inicial da geração 0rV (QHUJLDN:K jan 1901.1 fev 2108.0 mar 1740.7 abr 1392.3 mai 1257.7 jun 1072.4 jul 1223.3 ago 1536.4 set 1374.1 out nov dez 1921.2 1682.4 2234.6 7RWDO 1846 Os resultados obtidos neste trabalho são apresentados na tabela I, onde pode ser verificado que se previu um total de geração anual de cerca de 19.5MWh. Este resultado foi considerado preliminar e tomado como um limite inferior para o desempenho do sistema, face às simplificações adotadas nos modelos. O sistema fotovoltaico foi instalado em dez/2002, mas o sistema de monitoração foi instalado somente em mar/2003. Todo o sistema foi considerado em operação experimental até mai/2003, sendo que neste período foram necessários diversos desligamentos para manutenção. Além disso, foram verificados diversos problemas técnicos no sistema de aquisição de dados. Como resultado, até o presente ainda não dispomos de um ano contínuo de dados confiáveis acerca do desempenho do sistema. Os dados disponíveis (8 meses) são apresentados na tabela II abaixo. A inspeção das tabelas I e II demonstra que a previsão da geração foi subestimada. Tabela II - dados de geração medidos 0rV (QHUJLDN:K mai/03 1722.8 jun/03 1509.6 jul/03 1540.8 ago/03 1654.2 set/03 1634.7 out/03 2049.4 mar/04 2094.3 abr/04 1666.2 7RWDO Com base no conjunto de dados confiáveis disponíveis pode-se traçar o gráfico apresentado na figura IX abaixo, relacionando a energia solar diária com a geração do sistema. A partir deste gráfico, pode-se obter por regressão a curva de geração do sistema (kWh/ dia) em função da radiação solar diária (kWh/m2.dia), também mostrada nesta figura (0.984x2 + 21.956x 8.499). 1847 Figura IX - curva ajustada aos dados Aplicando a equação obtida pela regressão dos dados medidos disponíveis aos mesmos dados de entrada utilizados na simulação inicial, obtém-se como resultado uma nova previsão de geração, significativamente mais realista, mostrada na tabela III. A comparação entre a previsão inicial e esta nova previsão mostra que aquela está subestimada em cerca de 15.7%, no total anual. Tabela III - previsão da geração 0rV (QHUJLDN:K jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez 2176,4 2366,7 2026,5 1661,1 1506,9 1287,1 1472,6 1801,7 1601,6 2190.5 1917.5 2493.2 7RWDO 6.0. CONCLUSÃO No presente artigo, foi fornecida uma visão geral de diversos detalhes técnicos de instalação e dos equipamentos do sistema fotovoltaico conectado à rede do CEPEL, instalado em dez/2002. 1848 A partir dos dados até o momento disponíveis, foi feita uma previsão de seu desempenho, apresentada na tabela III. Os dados da tabela III permitem as seguintes interpretações: l o fator de capacidade do sistema é estimado em 15.7%, com uma geração média diária anual de 61.6kWh/dia e uma produção anual de 1378.8kWh por Wp fotovoltaico instalado. l sabendo-se que o consumo fora de ponta do CEPEL encontra-se na faixa de 250MWh/ mês a 300MWh/mês, a geração fotovoltaica proporciona uma redução de consumo irrisória, na faixa de 0.6% a 0.7%. l considerando-se a tarifa de energia elétrica paga pelo CEPEL(4) em abr/04, de R$0.12366/ kWh (US$0.03899(5)), o valor anual da energia gerada seria de R$2782.57 (US$877.23), de forma que o investimento no sistema fotovoltaico não será pago durante a sua vida útil, estimada em 30 anos, mesmo sem levar em conta uma análise econômica detalhada (taxa de juros, correções financeiras, depreciação, custos de manutenção, etc). l por outro lado, considerando-se a tarifa paga por um consumidor residencial(6) em abr/04, de R$0.44172/kWh (US$0.13925), o valor anual da energia gerada seria de R$9939.50 (US$3132.25), de forma que o custo inicial do sistema seria pago num período aproximadamente igual à sua vida útil, de 30 anos, ainda sem as outras considerações econômicas necessárias. O sistemas fotovoltaicos autônomos (stand-alone) já são uma realidade na eletrificação rural em todo o mundo, incluindo o interior do Brasil, sendo considerados economicamente viáveis para atender a cargas relativamente pequenas e distantes da rede elétrica. Contudo, a viabilidade econômica dos sistemas fotovoltaicos conectados à rede não foi alcançada em nenhum lugar do mundo, conforme corroborado pelos resultados apresentados neste trabalho, e ainda depende de alguma forma de subsídio. Acreditamos que ela virá a ocorrer a médio prazo no futuro com a redução do custo dos sistemas e/ou o aumento das tarifas de energia. 7.0. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] - IEA International Energy Agency. PVPS Photovoltaic Power Systems Programme. Annual Report 2002. [2] - IEA International Energy Agency. PVPS Photovoltaic Power Systems Programme. Trends in Photovoltaics Applications; Survey Report of selected IEA Countries between 1992 and 2002; August 2003. [3] - CEPEL Centro de Pesquisas de Energia Elétrica; Tomada de Preços 07/2002; Anexo I; Especificações Técnicas de Fornecimento do Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede do Bloco J do CEPEL; julho de 2002. [4] - BP Solar; BP Solar Modules Technical Specifications. [5] SMA; Sunny Boy Technical Description; Issue 1.2. [6] SMA; Sunny Boy Installation and Operators Manual; Issue 1.2. [7] Soares, George A.; Galdino, Marco A.; Lima, Jorge H.; de Medeiros, Marcus B.; Otimização de Sistemas de Bombeamento Solar; XVI SNPTEE Simpósio Nacional de Produção e Transmissão de energia Elétrica; CampinasSP; 21-26 de outubro de 2001. O CEPEL está enquadrado na tarifa horo-sazonal azul (Grupo A4 13.8kV). No cálculo leva-se em conta somente o custo do kWh fora de ponta (a geração do sistema fotovoltaico nos horários de ponta e seu impacto na demanda do CEPEL são desprezíveis), sem os encargos (ICMS, capacidade emergencial). 5 Cotação Dólar Comercial 26/5/04 R$3.172/US$. 6 tarifa B1, Light RJ, sem encargos; 4 1849 INDICADORES DE CONSUMO DE ENERGIA NO SETOR HOSPITALAR BRASILEIRO1 Jeferson Borghetti Soares* Alexandre Salem Szklo* Maurício Tiomno Tolmasquim* RESUMO O objetivo deste trabalho é a elaboração de indicadores de consumo de energia para o setor hospitalar brasileiro, resultantes dos diferentes perfis de oferta de serviços médicohospitalares. Estes indicadores facilitam a realização de estudos setoriais associados ao uso eficiente de energia, a estudos de substituição interenergéticos e a comparações internacionais. A partir da análise de diagnósticos energéticos em hospitais brasileiros, foi possível a classificação destes estabelecimentos em cinco categorias segundo seus indicadores específicos de consumo de energia. 1. INTRODUÇÃO O objetivo principal deste artigo é estabelecer um conjunto de indicadores de consumo de energia em hospitais brasileiros, contemplando aspectos qualitativos e quantitativos correlatos a este consumo, tais como o porte e regularidade da demanda e o tipo de serviço energético requerido. As instalações hospitalares no Brasil constituem um conjunto bastante heterogêneo e abrangente de consumidores de energia. Esta diversidade manifesta-se segundo a propriedade, o porte do estabelecimento, o número de leitos e a área construída, o padrão de uso *CENERGIA Centro de Economia Energética e Ambiental Programa de Planejamento Energético - COPPE/UFRJ [email protected], [email protected], [email protected] Caixa Postal 68.565 - Ilha do Fundão - Rio de Janeiro - RJ Tels.: 21 2562 8775 /21 2560 8764 / 21 2560 8995 r. 224 1 Trabalho desenvolvido no ano de 2002 e financiado pelo Fundo Setorial de Petróleo e Gás (CTPetro). 1850 da energia, a complexidade dos serviços e a eficiência dos equipamentos empregados em cada uso final. Não obstante, foi possível identificar um padrão de consumo energético em hospitais brasileiros, a partir da base de dados disponível e dos diagnósticos energéticos realizados em uma amostragem de hospitais brasileiros. Com a finalidade de elaborar estes indicadores, foram cumpridas as seguintes etapas: (1) análise da base de dados disponíveis para o setor no Brasil; (2) realização de diagnósticos energéticos para uma amostragem de hospitais; (3) elaboração de indicadores de consumo de energia; e (4) proposição de tipologias conforme o uso da energia nos estabelecimentos de saúde. Neste sentido, as próximas seções deste artigo realizam uma breve análise das bases de dados energéticos atualmente disponíveis no país e, em seguida, o artigo trata dos indicadores de consumo de energia e da tipologia de hospitais elaborada neste estudo. 2. Bases de dados energéticos de hospitais brasileiros Os dados energéticos empregados para hospitais brasileiros derivaram de informações contidas em diagnósticos energéticos realizados nestes estabelecimentos para o PROCEL/ ELETROBRÁS,2 bem como informações técnicas de hospitais obtidas em periódicos nacionais/internacionais e visitas técnicas. Nestas visitas técnicas, constatou-se a dificuldade em obter dados quantitativos de consumo de energia para os hospitais brasileiros, tanto por razões de despreparo da equipe de engenharia de manutenção do hospital, quanto por razões organizacionais da diretoria do hospital. Apesar da importância da qualidade do seu fornecimento de eletricidade, observa-se ainda pouco nível de informação dos administradores de hospitais acerca do papel desta variável em seu planejamento operacional. Em linhas gerais, as equipes de engenharia dos hospitais, consultadas durante este estudo, mostraram-se pouco informadas sobre: l Alternativas tecnológicas para suprimento de energia, como, por exemplo, a geração de frio em ciclos de absorção; l Características técnicas específicas dos equipamentos existentes no próprio hospital; l Possíveis arranjos tarifários mais favoráveis para o hospital. Como resultado, constatou-se a existência de equipamentos fora de uso, sobredimensionamento da capacidade centralizada de geração de vapor, inadequação da capacidade de distribuição do vapor gerado e, por fim, problemas de harmonização entre o planejamento da expansão da oferta de energia e o tempo para expansão desta oferta. Por exemplo, em alguns casos, o tempo de implantação de um motor a diesel em um hospital superou seis anos, entre a decisão de compra e a própria entrada em operação do gerador. Além disso, verificou-se em hospitais mais antigos, uma mudança significativa no aproveitamento espacial da área construída, o que compromete a operação otimizada dos sistemas inicialmente dimensionados. Dados obtidos a partir de diagnósticos energéticos realizados pela Ecoluz em diversos hospitais brasileiros em anos diferentes. 2 1851 O levantamento de dados energéticos de hospitais brasileiros aqui realizado baseouse principalmente em diagnósticos energéticos, distribuídos de forma abrangente o bastante para cobrir três regiões do país, englobando os seguintes estados: Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Ceará, Pernambuco, Minas Gerais e São Paulo. A estes diagnósticos, a análise aditou relatórios anuais de atividades de alguns hospitais, que indicam os equipamentos disponíveis e os serviços prestados nestes hospitais, favorecendo a realização e a comprovação da tipologia elaborada neste estudo (Ecoluz, 1998 e 1999). A análise das informações das bases de dados energéticos revelou a existência de determinados padrões homogêneos de consumo de energia, seja na destinação do consumo, seja no tipo de equipamento empregado. Ademais, existe uma correlação entre o número de internações e de leitos de um hospital e sua demanda de água quente, assim como entre a complexidade dos serviços médico-hospitalares e a demanda por condicionamento ambiental. Normalmente hospitais com maior nível de conforto tendem a concentrar maior proporção de leitos em quartos individuais, equipamentos médicos mais sofisticados e maior demanda de condicionamento ambiental por área construída. Quanto ao perfil de posse de equipamentos, os hospitais variam conforme a tipologia do estabelecimento, mas tendem a se uniformizar dentro de uma mesma tipologia. Por exemplo, hospitais de maior porte tendem a possuir caldeiras para geração de vapor centralizado e, em sua totalidade, possuem serviço de lavanderia. Por outro lado, em hospitais com atendimento exclusivo ao SUS, o atendimento de demanda por condicionamento ambiental se dá preferencialmente através de aparelhos de ar condicionado do tipo janela. São constatações deste tipo que serviram de base para a elaboração dos indicadores físico-energéticos e das tipologias de consumo de energia para hospitais brasileiros neste estudo. 3. Elaboração de Indicadores de consumo de energia e de tipologias de hospitais A análise dos diagnósticos energéticos dos hospitais brasileiros (Ecoluz, diversos anos), associada à base de dados primários da Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária de 1999 do IBGE (2000), permitiu a elaboração de tipologias de hospitais conforme sua demanda por serviços energéticos. Definiram-se, assim, seis tipologias de hospitais: (1) Hospitais de grande porte - GP; (2) Hospitais de médio porte com alto nível de conforto - MP(c); (3) Hospitais de médio porte com médio ou baixo nível de conforto - MP(nc); (4) Hospitais de pequeno porte (PP); (5) Hospitais de capacidade inferior a 50 leitos (<50); e (6) Hospitais que atendem exclusivamente o SUS (Só SUS). A Tabela 1 resume os principais resultados relativos aos indicadores de consumo de energia para hospitais brasileiros. 1852 Tabela 1: indicadores físico-energéticos médios para hospitais brasileiros. ,QGLFDGRUHV *3 'HQVLGDGHGHOHLWROHLWRP ,QWHQVLGDGHPHQVDOWRWDON:KOHLWR 03F 03QF 0,0048 0,0143 3.301 2.682 33 6y686 0,0155 0,0191 0,0310 0,0300 952 977 619 248 (QHUJLDHOpWULFD Participação da eletricidade (%) Fator de carga elétrico 63,6 61,9 57,0 62,0 74,4 52,3 75,7 52,0 85,4 40,0 71,5 40,0 26,04 41,02 4,76 71,81 23,45 27,23 8,57 59,24 21,85 23,89 12,36 58,10 21,80 24,84 13,03 59,67 30,40 51,20 15,30 97,00 30,00 15,40 25,80 71,10 Iluminação (W/m2) 5,83 2 Condicionamento central (TR/100 m ) 1,58 Água quente para banho (m3/leito/mês) 2,27 Participação de condicionamento 54,10 central na TR instalada (%) 11,71 1,65 2,33 5,07 0,54 2,04 9,94 1,54 2,20 11,10 1,54 1,35 3,30 0,31 0,93 61,00 0,00 15,30 0,00 0,00 ----- ----- --- --- 8VRILQDOGDHOHWULFLGDGH Iluminação Central de ar condicionado Aquecimento de água Total ,QGLFDGRUHVItVLFRV (QHUJLDWpUPLFD Fator de carga térmico (%) Eficiência – central de geração de vapor (%) 45,26 49,51 41,30 ----- 74,55 80,00 50,00 --- Hospitais de Grande Porte (GP) Compreendem hospitais com mais de 450 leitos, atendendo ou não à rede SUS e de cunho geral i.e., prestando assistência sanitária nas quatro especialidades básicas de clínica: médica, cirúrgica, gineco-obstétrica e pediátrica. Estes hospitais possuem leitos de CTI, gerador de emergência e equipamentos médicos de relativa complexidade. Em todos, os serviços de lavanderia localizam-se dentro do estabelecimento hospitalar, e a grande maioria possui área construída acima de 100.000 m2. A participação de sistemas de condicionamento central a base de chiller centrífugo é também relativamente alta (Tabela 1). Do consumo total de energia nestes hospitais, a eletricidade participa, em média, com 64%. A análise da destinação do consumo de eletricidade revela a concentração deste consumo nos usos finais: iluminação e condicionamento ambiental, com destaque maior para a última (mais de 40% do consumo). Verificou-se a tendência de ocorrer uma relativa simultaneidade entre as cargas elétricas e de condicionamento deste tipo de hospital, especialmente no verão, quando 60% da capacidade instalada em condicionamento estão em operação no momento do pico da carga elétrica. Como estes hospitais tendem a funcionar continuamente, esta também é a característica observada na demanda por condicionamento, embora variável ao longo do tempo. E a capacidade instalada em condicionamento, medida em TR/100m2, mostra que estes hospitais se situam na faixa superior da média brasileira. 1853 Em relação à demanda de energia térmica, hospitais GP normalmente utilizam sistemas centrais de geração de calor,3 queimando preponderantemente óleo combustível BPF. Assim, há dependência de uma rede em circuito fechado que distribui o calor, o que resulta também em perdas de isolamento e de geração, pois, sendo o dimensionamento do sistema realizado para a demanda térmica máxima, a central opera quase sempre abaixo de seu rendimento nominal. O baixo fator de carga térmica é explicado principalmente pela operação descontínua da cozinha, que responde por grande parte da demanda de vapor do hospital de grande porte. Registra-se, ainda, nesta tipologia, o consumo de GLP para cocção de alimentos, quando a cozinha não é atendida pela rede de distribuição de vapor, e óleo diesel para partida de caldeiras e em geradores de emergência. Hospitais de Médio Porte com Elevado Nível de Conforto (MP(c)) Hospitais de médio porte com elevado nível de conforte compreendem os hospitais com capacidade entre 150 e 450 leitos e atendimento não exclusivo à rede SUS, que possuem leitos disponíveis em CTI e gerador de emergência. Para a classificação destes hospitais na Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária do IBGE (2000), assumiu-se, arbitrariamente, que o padrão de conforto de um hospital de médio porte estaria condicionado pela proporção de leitos oferecidos em quartos individuais. Em geral, hospitais com maior número de quartos individuais tendem a apresentar maior demanda por condicionamento ambiental e a atender uma classe de renda da população brasileira, cujas exigências de serviços não apenas hospitalares, mas também hoteleiros, dentro do estabelecimento de saúde, são maiores. Por definição, considerou-se que ou hospital MP(c) possuía mais leitos disponíveis em quartos do que em enfermarias ou este hospital deveria atender à seguinte condição: (HQIHUPDULDV ⋅ GH ⋅ 2OHLWRV × 2 + HQIHUPDULDV ⋅ GH ⋅ SHORV ⋅ PHQRV ⋅ 3 ⋅ OHLWRV × 3) 1 ≤ /HLWRV ⋅ 7RWDLV ⋅ GR ⋅ +RVSLWDO 2 Em relação especificamente à demanda de condicionamento ambiental, adotou-se, como critério distintivo, que os hospitais MP(c) deveriam ter uma capacidade instalada superior a 0,85 TR/100 m2. Dois fatores explicam este critério: primeiro, a partir deste limite, o consumo de energia elétrica dos hospitais de médio porte da amostragem se torna elevado e converge para indicadores de consumo por leito relativamente próximos, e, segundo, hospitais com alta capacidade instalada de condicionamento por área construída tendem a concentrar os serviços mais complexos disponibilizados pelos hospitais de médio porte da amostragem elaborada. Por exemplo, o Hospital Universitário da UFRJ possui uma caldeira operando 19 horas por dia, consumindo óleo combustível BPF e gerando a vapor com título de 90% a 8,43 kgf/cm2, com eficiência média de 69,5%. O HSE possui três caldeiras (capacidade total de 1.500 kg/h de vapor saturado a 12,50 kgf/cm2), operando 10 horas por dia e gerando vapor a 7,00 kgf/cm 2, com eficiência média de 79,6%, consumindo gás manufaturado. Neste hospital, três linhas independentes partem do coletor principal de distribuição de vapor: esterilização, destilação de água e cozinha. Não se recupera o condensado, o que aumenta seguramente o consumo de combustível da caldeira. No hospital da UNICAMP, por sua vez, a máxima demanda de vapor de 3.600 kg/h é atendida por caldeiras que produzem vapor saturado a 7,50 kgf/cm2 (Silveira et al, 1995). A geração de vapor atende a demanda de vapor da cozinha (800 kg/h ou 2,00 kg/h por leito), a demanda de vapor da lavanderia (2160 kg/h de vapor ou 5,40 kg/h por leito) e outras demandas energéticas, como, por exemplo, parte da demanda por água quente a 60oC. 3 1854 Em relação ao indicador de consumo total por leito (Tabela 1), nesta tipologia verifica-se um consumo específico 19% menor do que o da tipologia anterior. No entanto, como a densidade de leitos em hospitais MP(c) é maior do que em hospitais GP, o consumo total de energia por área construída nos primeiros se torna 142% maior do que nos últimos. Em relação à capacidade instalada de condicionamento, existe na tipologia MP(c) uma grande variação entre os hospitais da amostragem, com o indicador variando entre 0,87 e 3,17 TR/100 m2. Do consumo total de energia desta tipologia, a eletricidade participa, em média, com 57%. Novamente, como no caso dos hospitais GP, o restante do consumo de energia é praticamente todo baseado no combustível empregado no sistema central de geração de vapor, sendo, normalmente, empregado óleo BPF. Há ainda consumo praticamente desprezível de óleo diesel para geração de emergência. Assim como ocorre com a tipologia anterior, aqui o baixo fator de carga térmica é explicado principalmente pela operação descontínua da cozinha, que responde por grande parte da demanda de vapor do hospital. Hospitais de Médio Porte com Médio ou Reduzido Nível de Conforto - MP(nc) Hospitais de médio porte, que atendem não exclusivamente ao SUS, são aqueles cuja capacidade varia entre 150 e 450 leitos. Os hospitais com menor nível de conforto não têm leito de CTI e, em sua maioria, usina de produção de O2 medicinal. Ademais, para a classificação de hospitais nesta categoria, assumiu-se o critério especular ao adotado para hospitais MP(c): (enfermarias ⋅ de ⋅ 2leitos × 2 + enfermarias ⋅ de ⋅ pelos ⋅ menos ⋅ 3 ⋅ leitos × 3) 1 ≥ Leitos ⋅ Totais ⋅ do ⋅ Hospital 2 Assim, novamente assumiu-se que o padrão de conforto de um hospital de médio porte estaria condicionado pela proporção de leitos oferecidos em quartos individuais. Em relação especificamente à demanda de condicionamento ambiental, assumiu-se que os hospitais na amostragem de diagnósticos energéticos que se enquadravam na tipologia aqui estabelecida deveriam ter uma capacidade instalada inferior a 0,85 TR/100 m2. Em relação ao indicador de consumo total de energia por leito (Tabela 1), nesta tipologia verifica-se um consumo 64% menor do que o da tipologia anterior, o que se justifica nas próprias características dos hospitais de menor conforto, havendo uma correlação entre conforto e complexidade de serviços para hospitais de médio porte. Neste grupo de hospitais, a participação do condicionamento ambiental no consumo de energia elétrica, igual a 24%, somente não é menor, porque a maior parte dos aparelhos empregados é do tipo de janela. Do consumo total de energia de hospitais MP(nc), a eletricidade participa, em média, com 74%, pois a maioria dos estabelecimentos não possui sistema de geração de calor central. Em geral, o insumo energético utilizado além da eletricidade é o GLP, queimado de forma descentralizada para atendimento das demandas de água quente da cocção e da lavanderia, principalmente. Nos poucos casos em que o hospital tem caldeira, o combustível majoritariamente empregado é ainda o óleo BPF. O baixo rendimento apresentado pelas caldeiras destes hospitais (quando existentes) justifica-se tanto no sobredimensionamento dos equipamentos quanto na sua idade elevada e manutenção inadequada. 1855 Hospitais de Pequeno Porte - PP Hospitais de pequeno porte, que atendem não exclusivamente ao SUS, são aqueles cuja capacidade varia entre 50 e 150 leitos. Diante da heterogeneidade dos hospitais para a tipologia aqui estabelecida, não é possível afirmar se o hospital possui ou não leito de CTI. No Brasil, conforme os dados do IBGE (2000), em 1999, 31,1% dos hospitais PP tinham leito de CTI, havendo, porém, significativa disparidade regional, já que 48,9% desta categoria de hospitais no Sudeste possuíam leito CTI, enquanto que, no Nordeste, este número se reduzia drasticamente para 6,7% e no Norte, chegava a 3,2%. No entanto, é possível constatar que existe um certo padrão para: l Existência de serviços de lavanderia nos hospitais; l Existência de mamógrafo no hospital; l Existência de condicionamento central; l Contratação da energia elétrica, no que tange ao enquadramento tarifário. Em relação à amostragem de diagnósticos energéticos, comprovou-se que a tipologia aqui estabelecida compreende uma vasta gama de hospitais, abarcando aqueles que consomem exclusivamente eletricidade (mesmo para aquecimento de água destinada à cocção) até outros cuja área construída é da mesma ordem de grandeza, mas com mais do dobro do número de leitos. Este último caso situa-se na faixa limítrofe de capacidade que caracteriza a tipologia, gerando calor em sistema centralizado com consumo de gás em caldeiras e em equipamentos da cozinha. Não obstante, apesar da heterogeneidade da tipologia estabelecida, optou-se por mantêla, já que os hospitais nela agrupados não se enquadram nem na categoria anterior nem nas categorias subseqüentes. Em média, embora tenham resultados semelhantes aos dos estabelecimentos MP(nc) para indicadores como consumo total de energia por leito (977 contra 952 kWh/leito), os hospitais PP têm, em geral, maior capacidade instalada específica de condicionamento (1,54 TR/100 m2 contra 0,54 TR/100m2), fazem maior uso de condicionamento central, e apresentam maior potência instalada por área construída para iluminação. Na comparação entre hospitais PP e MP (nc), também se percebe que os primeiros podem apresentar serviços mais complexos, como mamografia, e têm maior quantidade de leitos por área construída. Do consumo total de energia desta tipologia de hospitais, a eletricidade participa, em média, com 76%. O fator de carga elétrica destes hospitais, de 52% é inferior à média das duas primeiras tipologias analisadas neste documento, enquanto se aproxima do valor estabelecido para a tipologia MP (nc). No entanto, diferentemente do que ocorre na tipologia MP (nc), para a qual a variação entre as observações na amostra se dá entre 49 e 55%, aqui a variação abrange a faixa entre 43 e 59%, corroborando a própria característica de maior heterogeneidade da tipologia. Finalmente, em relação à demanda de energia térmica, majoritariamente, o seu atendimento se baseia no consumo de GLP ou de gás manufaturado, especialmente para produção de água quente e do calor usado no aquecimento direto das cozinhas. 1856 Hospitais de Capacidade Inferior a 50 Leitos - (<50) Hospitais de capacidade inferior a 50 leitos, que atendem não exclusivamente ao SUS, são aqueles de menor capacidade, conforme dados de IBGE (2000). Novamente, neste caso, diante da reduzida base de informações energéticas e, também, de uma relativa padronização das informações obtidas, não se realizou a distinção entre hospitais de maior e menor nível de conforto. Em geral, poucos hospitais de reduzido porte têm ar condicionado central e muitos não possuem serviço de lavanderia. Em relação ao indicador de consumo total de energia por leito (Tabela 1), nesta tipologia verifica-se um valor 37% menor do que o da tipologia anterior. No entanto, o consumo específico mensal por área construída, estimado em 230 kWh/m2 a partir da densidade de leitos por área construída da amostragem, é apenas inferior ao da tipologia MP(c), igual a 460 kWh/m2. A alta densidade de leitos da tipologia <50 é razoável, pois, nos hospitais desta tipologia, deve haver mais espaço disponível por área construída para leitos: menos de 80% dos estabelecimentos possui leitos de CTI e quase 20% terceiriza o serviço de lavanderia, por exemplo. Do consumo total de energia desta tipologia de hospitais, a eletricidade participa, em média, com 85%, havendo casos em que quase o todo o consumo energético é elétrico e casos em que o consumo de GLP ou de gás natural para cocção se mostra representativo. Para a destinação condicionamento ambiental, a elevada participação no consumo de energia elétrica se deve, mormente, ao uso praticamente exclusivo de aparelhos de janela. Como estes equipamentos têm menor desempenho, reduzida vida útil e dificuldade de adequação às normas técnicas de hospitais, devido a limitações de seu controle de temperatura, o consumo de eletricidade para condicionamento torna-se elevado, embora este resultado não signifique maior nível de conforto do hospital. Também é comum, como indicaram alguns diagnósticos energéticos (Ecoluz, diversos anos), a existência de aparelhos de janela com filtros ou serpentinas sujos, o que afeta o funcionamento do compressor. Hospitais de Atendimento Exclusivo ao SUS - (Só SUS) Conforme ressaltado nas tipologias anteriores, diante da base de dados disponível, optou-se por realizar, primeiramente, a distinção entre hospitais com atendimento exclusivo ao SUS e hospitais que atendem não exclusivamente ao SUS. Isto, porque se averiguou que hospitais que atendem exclusivamente ao SUS tendem a: l Ter maior número de leitos por área construída (independente da capacidade do hospital), o que aproxima esta tipologia daquela estabelecida para hospitais com capacidade inferior a 50 leitos, cuja densidade de leitos média foi de 0,031; l Ter menor capacidade instalada em condicionamento e utilizar preferencialmente sistemas individuais, o que aproxima esta tipologia daquela estabelecida para hospitais de médio porte com menor conforto (MP(nc)); l Disponibilizar, relativamente aos hospitais de maior porte, menor número de leitos de CTI, o que aproxima esta tipologia da definida para hospitais com capacidade inferior a 50 leitos;4 Conforme a base do IBGE (2000), na rede de hospitais que só atendem ao SUS, 4,3% do Nordeste têm leitos de CTI, 6,5% do Norte têm leito de CTI, 7,4% do Sul têm leito de CTI, 8,3% do Centro-Oeste têm leito de CTI e 27,5% do Sudeste têm leito de CTI. 4 1857 l Ser majoritariamente de propriedade pública, o que sugere restrições de ordem orçamentária para investimento; l Apresentar uma menor proporção de serviços/equipamentos complexos e de geradores de emergência. Por exemplo, enquanto a tipologia GP acusa a ocorrência de gerador de emergência em cerca de 80% dos estabelecimentos de saúde, na pesquisa primária do IBGE (2000), a rede de atendimento exclusivo ao SUS (independentemente da capacidade do hospital) acusa a freqüência de ocorrência de 30,1%; l Ter porte reduzido, em geral abaixo de 50 leitos por hospital, salvo para a Região Sudeste cujo porte médio supera 100 leitos por estabelecimento, levando a média nacional para um valor ligeiramente superior a 50 leitos por hospital. Os dados de um hospital na Bahia com atendimento exclusivo ao SUS são bem emblemáticos para distinguir esta tipologia das outras aqui estabelecidas. Por sua capacidade, este hospital (com 1.100 leitos) seria classificado na primeira tipologia, estabelecida para hospitais com mais de 450 leitos. No entanto, tem ele o consumo mensal específico por leito de cerca de 260 kWh/leito, enquanto um hospital GP tem o consumo específico médio total de energia equivalente a 3301 kWh/leito (Tabela 1). Em relação a este indicador, esta tipologia apresenta um valor, em média, cerca de 13 vezes menor do que o obtido para a tipologia GP, e cerca de 2,5 vezes do é o obtido para hospitais <50. Trata-se de um resultado importante especialmente para as regiões Nordeste e Norte, onde a oferta de leitos desta tipologia chega a quase 50% dos leitos oferecidos nas regiões. Do consumo total de energia, a eletricidade participa, em média, com 71%, o restante do consumo derivando do uso de GLP para geração de calor descentralizada (em equipamentos com rendimento entre 50 e 60%). Merecem também atenção os baixos índices de condicionamento (0,31 TR/100m2) e de iluminação (3,30W/m2). A destinação da eletricidade também condiciona o baixo fator de carga elétrico dos hospitais aqui agrupados, porquanto a destinação aquecimento de água tende a ter seu uso concentrado em algumas horas por dia (elevando o pico de carga elétrica dos hospitais). 4. Estimativa do consumo de energia em hospitais brasileiros A partir da elaboração dos indicadores físico-energéticos para cada tipologia, é possível, então, realizar-se uma estimativa do consumo de energia do setor hospitalar brasileiro (Tabela 2). Ao se comparar estes resultados com aqueles disponíveis no Balanço Energético Nacional de 1999 (MME, 2000),5 verifica-se que o setor hospitalar tem um peso relevante dentro do consumo total de energia do setor comercial, especialmente em relação ao consumo de combustíveis fósseis. Trata-se de um resultado importante que revela o impacto dentro do setor comercial da substituição dos combustíveis consumidos no setor hospitalar, o que revela oportunidades para a inserção do gás natural na matriz energética destes estabelecimentos. Utiliza-se o ano-base de 1999 porque a base do IBGE de dados primários corresponde a este ano. Em relação ao uso do setor comercial na comparação, adotou-se a classificação do Balanço Energético Nacional que insere o serviços de saúde dentro do setor comercial, independente da natureza do estabelecimento de saúde. 5 1858 Tabela 2: Participação do setor hospitalar dentro do consumo de energia do setor comercial (QHUJLD 3DUWLFLSDomR Elétrica 8,86% Combustíveis Fósseis 18,90% Total 10,63% Fonte: elaborado a partir das estimativas e dos dados do BEN (MME, 2000) Adicionalmente, em termos de consumo de energia por tipologias (Figura 1), percebese que três tipologias se destacam, representando, somadas, 77% do consumo total de energia, 84% do consumo de combustíveis fósseis e 74% do consumo de eletricidade. São elas: hospitais de grande porte sem atendimento exclusivo ao SUS (GP), hospitais de médio porte com alto nível de conforto e sem atendimento exclusivo ao SUS (MP(c)) e hospitais de pequeno porte sem atendimento exclusivo ao SUS (PP). Hospitais GP e MP(c) justificam este resultado em seu maior consumo específico, já que em termos de oferta de leitos constituem um pouco mais de 15% da oferta total brasileira. Hospitais PP, por sua vez, têm consumo específico inferior ao das outras duas tipologias e superior ao das demais tipologias, e representam 30% da oferta de leitos do país. Figura 1: Distribuição do consumo total de energia estimado para o setor hospitalar brasileiro Energia Total <50 SUS 4% 7% Norte 3% Nordes te 21% CentroOes te 7% Energia Total GP 22% PP 23% Sudes te 48% MP (nc) 5% Sul 21% MP ( c) 39% 5. Conclusões Embora o setor hospitalar seja emblemático para estudos energéticos no setor comercial, as dificuldades enfrentadas inicialmente para a condução deste estudo revelaram a carência de uma base de dados energéticos no Brasil, adequada a estudos de potenciais de conservação de fontes primárias de energia ou de substituição interenergéticos, por exemplo. Tais estudos não têm cunho somente acadêmico. Muito pelo contrário, no atual contexto do setor energético brasileiro, eles revelam potenciais de aproveitamento técnicoeconômico para fontes energéticas emergentes na matriz brasileira, como o gás natural, e também nichos de mercado para eventuais alternativas de eficiência energética. Também são sobremodo importantes para estudos de comparação internacional e, mesmo, para análises de mercado de equipamentos de consumo de energia. 1859 Neste sentido, este estudo acaba por revelar as lacunas relacionadas às bases de dados energéticos brasileiros, que precisam ser substancialmente melhoradas. Em outros termos, este estudo tem o condão de apontar a necessidade de que haja uma coleta maior de dados energéticos de segmentos do setor terciário da economia brasileira coleta, esta, que poderia ser realizada através da coordenação entre a universidade, órgãos do governo (como o próprio Ministério das Minas e Energia, responsável pelo Balanço Energético Nacional), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e associações de empresas ou de classes. No contexto de transição por que passa o setor energético brasileiro, é mister enfatizar o papel cada vez mais estratégico e relevante que a informação assume. De fato, boa parte da tarefa de regulação de agências governamentais consiste em manter-se sempre o mais bem informadas possível. Isto, enquanto as deixa menos sujeita à captura do agente regulador pelo mercado, as coloca na posição privilegiada de continuamente fornecer sinais adequados ao mercado, servindo também de esteio à formulação e aplicação de políticas energéticas. Agradecimentos Os autores agradecem a colaboração do engenheiro João Carlos de Souza Marques nas etapas preliminares de realização deste estudo. Também agradecem à CAPES (Programa PRODOC), ao CNPq, à FINEP e ao Fundo Setorial de Petróleo e Gás (CTPetro) pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS ECOLUZ [Ecoluz Consultores Associados]. Avaliação do potencial de redução de consumo e custos com uso de energia. Hospital São Lucas da PUC/RS (Porto Alegre/RS). Salvador/Bahia. 1999. ECOLUZ [Ecoluz Consultores Associados]. Avaliação do potencial de redução de consumo e custos com uso de energia. Hospital Mãe de Deus (Porto Alegre/RS). Salvador/BA. 1998. ECOLUZ [Ecoluz Consultores Associados]. Diagnósticos energéticos realizados em hospitais brasileiros. Diversos anos. IBGE [Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]. Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária 1999. Rio de Janeiro/RJ, Brasil. 2000. MME [Ministério das Minas e Energia]. Balanço Energético Nacional. Ano base 1999. Brasília. 2000. Silveira, J. L.; Walter, A. C. S.; Luengo, C. A. Co-geração para pequenos usuários: estudo de casos no setor terciário. Eletricidade Moderna. Junho/1995. Szklo, A. S.; Soares, J. B.; Tolmasquim. M. T. Economic potential of natural gas-fired cogeneration in Brazil: two case studies. Applied Energy. Vol. 67 (3): 245-263. November 2000. Tolmasquim, M. T.; Szklo, A. S. Analysis of Brazils cogeneration legal framework. Energy conversion & management. 44 (3): 369-380. February. 2003. 1860 ANÁLISE OPERACIONAL DE UM SISTEMA FOTOVOLTÁICO DE BOMBEAMENTO DE ÁGUA1 Evandro M. Kolling2 Samuel N. Melegari de Souza 3 Celso E. Lins de Oliveira3 RESUMO O bombeamento de água é uma das atividades mais difundidas quanto ao emprego da energia solar fotovoltaica; porém, apesar de se apresentar como uma alternativa interessante, o alto custo, baixa eficiência dos sistemas e projetos inadequados, restringem sua aplicação. O uso racional, baseado na utilização mais eficiente de seus equipamentos está vinculado ao conhecimento do comportamento operacional destes sistemas. No presente trabalho objetivou-se avaliar o comportamento de um sistema fotovoltaico de bombeamento de água diretamente acoplado, sob diferentes condições de irradiância solar, por meio da montagem de uma bancada de testes, submetendo-o a diferentes alturas manométricas e determinando a vazão fornecida. A análise dos resultados permitiu estabelecer um modelo de regressão para estimativa de vazão do sistema em função da irradiância e altura manométrica. Concluiu-se que a potência gerada pelo painel e a vazão fornecida pela moto-bomba estão diretamente relacionadas a irradiância solar e a altura manométrica e, influenciam na eficiência do sistema. A máxima eficiência do painel foi de 8%, 39% para a moto-bomba e, 2,3% na interação dos componentes. Palavras-chave: irradiância solar, carga de bombeamento, vazão do sistema. INTRODUÇÃO Muitas propriedades e comunidades rurais no Brasil, principalmente na Região Norte e Nordeste, não são atendidas com energia elétrica, pois estão distantes das centrais de geração de eletricidade. Uma das formas de garantir o suprimento de energia elétrica, nessas propriedades ou comunidades rurais isoladas seria a implantação de sistemas energéticos baseados em fontes alternativas de energia. Dentre elas, a energia solar é uma das mais 1 Parte da dissertação de Mestrado do primeiro autor, Mestrado em Engenharia Agrícola/UNIOESTE. Eng. Agrícola, MSc. COAMO - Cooperativa Agrícola de Campo Mourão/PR, Doutorando UEM. 2 3 Prof. Adjunto do Curso de Mestrado em Eng. Agrícola UNIOESTE/CCET-Cscavel. E-mail: [email protected]. Rua Universitária 2069, CEP 85814-110 Cascavel/PR 1861 promissoras, podendo ser utilizada no aquecimento de água por meio dos coletores termossolares e geração de eletricidade por meio de painéis fotovoltaicos para iluminação e bombeamento de água. O dispositivo conversor da energia solar em eletricidade é a chamada célula fotovoltaica e, a associação destas, compõe os chamados painéis fotovoltaicos. A maior ou menor capacidade de geração de energia utilizando-se painel fotovoltaico depende do arranjo dos painéis, em série ou paralelo, e da radiação solar local, o qual tem influência direta na corrente elétrica, ALMEIDA et al. (1999). Tal sistema pode ser acoplado diretamente a um motor elétrico e bomba centrífuga ou de diafragma, para bombeamento de água nos momentos onde ocorre a disponibilidade de energia solar. Para LOXSOM & DURONGKAVEROJ (1994), um sistema fotovoltaico de bombeamento diretamente acoplado é constituído de três componentes principais: um conjunto fotovoltaico, um motor de corrente contínua e uma bomba dágua. O painel fotovoltaico converte energia solar em corrente elétrica que alimenta o motor, o qual é acoplado à bomba dágua. Quando o painel supre o motor com potência elétrica suficiente, ele produz torque mecânico e a bomba começa a trabalhar. O rendimento e capacidade de bombeamento dos sistemas fotovoltaicos são particularmente dependentes de certas condições de trabalho. Conforme SILVA (2000), a radiação solar aplicada sobre o módulo gera energia elétrica para o bombeamento de água e a vazão bombeada mantém relação com a altura manométrica e capacidade de geração dos módulos fotovoltaicos. THOMAS (1987) esclarece que as bombas de diafragma e de pistão são as mais adaptadas e recomendadas aos sistemas fotovoltaicos diretamente acoplados, porque a produção independe da carga, sendo diretamente proporcional ao volume varrido pelo diafragma ou pelo pistão e por responderem melhor às variações de potência provocadas pela irradiância solar. Segundo KOU et al. (1998), utilizando-se de um sistema SIEMENS M75 composto de 10 módulos e uma bomba SCS 5.7 160, operando na combinação de seis módulos em série e quatro em paralelo, os autores observaram que o sistema exigiu 300 W/m2 para acionamento da moto-bomba de diafragma e a vazão fornecida aumentava com a irradiância e diminuía com a carga. A máxima vazão verificada no estudo foi de 2,2 litros por segundo, livre de carga e a máxima altura manométrica vencida pelo sistema foi de 25 m com vazão de 0,5 l/s. As moto-bombas de diafragma, como já foi mencionado, são as mais adaptadas à aplicação direta em sistemas fotovoltaicos, porém ainda são raros os estudos relacionados ao seu comportamento operacional, nessa condição de aplicação. PROTOGEROPOULOS & PEARCE (2000) observaram o comportamento de uma moto-bomba SHURFLO 9325 de diafragma, operando a 12 e 24V, acionada por módulos fotovoltaicos de diferentes potências. Nas condições de 12 V a máxima vazão observada foi, aproximadamente, de 370 l/h a uma altura manométrica de 5 m. Sob as mesmas condições, verificou-se que os módulos de 110 e 165Wp de potência não provocaram variações de vazão quando a irradiância alcançava 700 W/m2. A eficiência hidráulica chegou próxima de 60%, nas condições de 20 e 40 m de altura manométrica. Para a situação de operação em 24 V e 5m de 1862 altura manométrica, a vazão instantânea ficou em torno de 500 l/h, com 110 Wp de potência e irradiância entre 700 e 1000 W/m2. A máxima eficiência hidráulica observada para tal tensão foi de 50% para altura manométrica de 40 a 50 m. A vazão de um sistema fotovoltaico de bombeamento diretamente acoplado depende de certas condições de funcionamento, baseado nisso, JAFAR (2000) analisou o comportamento de um destes sistemas (não é especificado), operando em cinco alturas manométricas, variando de 2,9 a 13,8 m, com o objetivo de modelar o fluxo de água fornecido. Segundo o autor, a vazão depende basicamente de dois fatores, da carga de bombeamento e da irradiância solar e, em geral, a vazão aumenta com a irradiância solar, mas não linearmente. Concluiu-se que uma equação de segunda ordem ajusta-se bem aos dados de vazão em relação à irradiância, porém, devido às inúmeras possibilidades de cargas de bombeamento, as equações são vinculadas a cada carga de trabalho. Neste trabalho, objetivou-se obter informações quanto ao comportamento dos parâmetros operacionais de um sistema fotovoltaico de bombeamento de água, tais como eficiência energética global e vazão de água, submetendo-o a diferentes alturas manométricas e níveis de irradiância solar e, finalmente, estabelecer um modelo para estimativa de vazão de água do sistema em função da altura manométrica e irradiância. O sistema foi composto de uma moto-bomba SHURFLO modelo 2088, acionada por um painel fotovoltáico SOLARIS modelo Ap6150. Tal observação visou intensificar os estudos aplicados a estes sistemas e dar respaldo a um dimensionamento mais adequado as necessidades comuns de operação. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado na UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná Campus Cascavel - Pr, a uma latitude de 24º 53 Sul, longitude de 53º 23Oeste, com uma altitude média de 682 metros. A análise foi feita mediante montagem de uma bancada de testes, junto a Estação Agrometeorológica e Laboratório de Hidráulica do referido Campus, composta por duas caixas dágua em diferentes níveis. O sistema de bombeamento foi composto por uma moto-bomba SHURFLO modelo 2088 acionada por um painel fotovoltaico SOLARIS modelo Ap6150. A metodologia empregada na análise de sistemas fotovoltaicos de bombeamento de água foi vinculada à determinação da vazão, altura manométrica, tensão e corrente do motor e irradiância global no plano do painel. Desta forma, fez-se necessário a montagem de uma bancada de ensaios, a qual permitiu submeter o sistema a diferentes condições de trabalho. O experimento foi composto de duas caixas dágua de 250 litros em diferentes níveis. A moto-bomba acionada pela potência do painel solar fotovoltaico foi montada em uma bancada sobre a caixa inferior e, acoplado um manômetro diferencial de mercúrio entre a tubulação de sucção e recalque, o qual permitiu, por meio do deslocamento da coluna de mercúrio, a leitura da pressão de trabalho e conseqüentemente a altura manométrica. A tubulação de recalque foi composta por um registro de gaveta que permitiu variar a pressão no sistema, diferenciando, assim, a altura manométrica de trabalho, conforme metodologia de teste citada por LASNIER e ANG (1990). A caixa em nível superior recebia o volume de água bombeado e, munida de um ladrão (sistema de descarga), 1863 permitia o retorno da água à caixa em nível inferior que por sua vez alimentava novamente o sistema, mantendo constante o volume de água da caixa e fechando o ciclo de trabalho. A Figura 1 mostra a montagem do experimento. Figura 1. Diagrama esquemático do experimento. As diferentes alturas manométricas estudadas, num total de seis, foram determinadas por meio de testes preliminares, buscando equivalência com as cargas do catálogo da moto-bomba, respeitando os limites da bancada de testes. Seguindo a observação, as alturas manométricas empregadas foram de 4, 7,5, 11, 13, 15 e 19 m. Por meio de uma prévia calibração, os pontos equivalentes a cada altura manométrica em análise foram referenciados no manômetro, os quais no momento da tomada de dados eram alcançados com o registro de gaveta. O nível de irradiância solar aplicada ao painel para conversão em potência elétrica, em cada situação e instante de trabalho foi fornecido pela Estação Agrometeorológica, obtidos por um Piranômetro KIPP & ZONEN modeloCM3 e um sistema Micrologger CAMPBELL SCIENTIFIC-INC modelo CR10x de aquisição de dados. A potência gerada pelo painel e aplicada a moto-bomba, foi determinada por meio da tensão e corrente fornecidas pelo painel a moto-bomba, com auxílio de um Voltímetro digital MINIPA modelo ET-2060 e um Amperímetro digital BRYMEN modelo BM600. A potência hidráulica (kW) oferecida pela moto-bomba foi calculada segundo PROTOGEROPOULOS & PEARCE (2000), baseando-se no peso específico da água na carga de bombeamento e na vazão fornecida pela moto-bomba. A eficiência do painel foi obtida pela relação entre a potência elétrica gerada e potência de irradiância solar disponível (irradiância solar W/m2 multiplicada pela área do painel, 1,26 m2). A eficiência da moto-bomba foi definida pela relação entre a potência hidráulica e a potência elétrica gerada e, a eficiência global do sistema pela relação da potência hidráulica e a energia solar disponível. 1864 RESULTADOS E DISCUSSÃO Comportamento da eficiência do sistema Foram empregadas na análise seis alturas manométricas, variando de quatro a 19 m. Os resultados encontrados permitiram verificar que para menores alturas manométricas obteve-se maiores vazões, porém não representam a maior eficiência do conjunto. O sistema é mais eficiente quando submetido a cargas mais elevadas, visto que sua eficiência é função da potência hidráulica que aumenta de forma proporcional ao aumento da carga (altura manométrica). Na condição de 19,0 m de altura manométrica (Figura 2b), verificou-se a maior eficiência da moto-bomba de 39%, e a máxima eficiência global do conjunto de 2,3%. A eficiência global do sistema é baixa devido a baixa eficiência de conversão do painel. A máxima eficiência do painel foi de 8%, para a uma altura manométrica de 4 m (Figura 2a), onde se verificou também a máxima vazão fornecida pelo sistema. Figura 2. Comportamento da eficiência do sistema em relação a irradiância solar disponível. 50 30 Ef.p4 Ef.b4 Ef.G4 Ef.p19 45 25 Ef.b19 Ef.G19 40 35 20 Eficiência (%) Eficiência (%) 30 15 10 8 7 6 5 4 3 2 1 0 200 300 400 500 600 700 800 900 25 20 15 8 7 6 5 4 3 2 1 0 400 1000 2 500 600 700 800 900 1000 2 Irradiância (W/m ) (a) Irradiância (W/m ) (f) *(Ef.p Eficiência do painel, Ef.b Eficiência da moto-bomba, Ef.G Eficiência global). A eficiência global é influenciada principalmente pelo comportamento da moto-bomba do sistema, cuja eficiência e variação são mais significativas que no caso do painel fotovoltaico do conjunto. De uma forma geral, o aumento da eficiência global com a irradiância é crescente (até 600 W/m2) e depois decrescente. Isso se explica pelo fato de que a potência hidráulica é limitada e a irradiância solar disponível não o é, assim haverá um determinado ponto em que esse limite ocorre para um potencial de irradiância solar maior, ocasionando a diminuição da eficiência global. Capacidade de bombeamento do sistema para diferentes alturas manométricas A Figura 3 apresenta os gráficos referentes ao comportamento da vazão fornecida e potência empregada na moto-bomba, com relação à irradiância solar disponível. Observou-se que a melhor utilização da potência elétrica gerada pelo painel fotovoltáico foi obtida a uma carga de 11m, alcançando 74W dos 75W que o painel pode fornecer segundo o fabricante (Figura 2, (c)). 1865 Figura 3. Comportamento da potência elétrica gerada e vazão fornecida pelo sistema em relação a irradiância disponível. 14 80 14 80 12 70 12 70 6 Altura de 4 m Vaz. Pot. 4 Vazão (l/min) 40 Potência (W) 50 8 40 6 Altura de 7,5 m Vaz. Pot. 30 4 30 20 20 2 2 10 200 300 400 500 600 700 800 900 10 200 1000 300 400 600 700 800 900 1000 2 2 Irradiância (W/m ) (a) Irradiância (W/m ) (b) 14 80 12 70 12 70 60 10 50 8 40 6 Altura de 11m Vaz. Pot. 4 Vazão (l/min) 80 Potência (W) 14 10 Vazão (l/min) 500 60 50 8 40 6 Altura de 13 m Vaz. Pot. 30 4 Potência (W) Vazão (l/min) 50 8 60 10 Potência (W) 60 10 30 20 20 2 2 300 400 500 600 700 800 900 10 10 1000 300 400 500 600 700 800 900 1000 2 2 Irradiância (W/m ) (d) Irradiância (W/m ) (c) Na Tabela 1, permitiu-se analisar a capacidade de bombeamento de água do sistema nas diferentes condições de altura manométrica ao qual foi submetido. O nível médio de irradiância varia entre as cargas, devido a começarem e finalizarem sua operação em níveis diferentes de irradiância. A vazão, como esperado, diminui com a carga, porém exige que mais energia seja disponibilizada para operação. O número de horas de operação também varia com a carga e, como é conhecido apesar de não tão bruscamente, também com o dia, justificando a determinação dos níveis de irradiância inicial e final de operação, através dos quais se pode determinar o número de horas de funcionamento do sistema. Quando sujeito a cargas maiores, o sistema opera menor tempo em um mesmo dia, visto que são exigidos níveis maiores de irradiância, o que, conseqüentemente, afeta o volume total de água bombeado durante o dia. Para as condições de melhor desempenho do sistema, com vazão média de 5.565 l/dia a 4m, seria possível alcançar 2031,0 m3 de água bombeada por ano. 1866 Tabela 1. Vazão média fornecida pelo sistema em diferentes cargas de bombeamento. Horas de Irrad. Média Vaz. Média operação Vazão Diária (W/m2) (l/min) (horas) (l/dia) 4 685 10,91 8,50 5565 7,5 717 9,89 8,25 4941 11 755 9,31 7,75 4329 13 769 8,36 7,50 3761 15 784 8,15 7,00 3425 19 809 6,52 6,25 2445 Carga (m) Modelo de estimativa de vazão A vazão de um sistema fotovoltaico de bombeamento diretamente acoplado depende basicamente do nível de irradiância solar e da carga de bombeamento (altura manométrica), ou seja, a vazão é função da irradiância e da carga (Q = f(G, H)), sendo que a vazão em relação à irradiância solar não apresenta uma linearidade definida. Dessa forma, analisando-se a regressão de melhor ajuste dos dados experimentais da Tabela 1 e Figura 3, obtevese uma função quadrática ou, polinomial de segunda ordem, como a mais ajustável, convergindo com o modelo de comparação. Um modelo polinomial de terceira ordem também poderia ser utilizado, porém não representa diferença significativa na estimativa da vazão e, contudo, torna o modelo baseado na metodologia de JAFAR (2000), mais complexo. Dessa forma, de acordo com o ajuste encontrado, o modelo proposto pôde ser definido por um polinômio de segunda ordem, cujo produto da equação é função de três coeficientes, obtido por: Q = b0 + b1 (G) + b2 (G2) (1) em que, G - irradiância solar, (W/m2); b0, b1 e b2 - coeficientes da equação. Os coeficientes b0, b1 e b2, devido às diferentes cargas de bombeamento, são restritos a cada situação. O que leva a entender que dependem da altura manométrica. A Tabela 2 mostra as equações ajustadas. 1867 Tabela 2. Equações ajustadas para cada carga em função da irradiância solar Carga (m) Equações de melhor ajuste (r2) 4 Q = 0,1057 + 0,0291 G – 2 x 10-5 G2 0,96 7,5 Q = - 8,8346 + 0,0505 G – 3 x 10-5 G2 0,97 11 Q = - 8,0428 + 0,0379 G – 2 x 10-5 G2 0,97 13 Q = - 6,1755 + 0,0297 G – 1 x 10-5 G2 0,98 As cargas de 15 e 19m submetem os coeficientes do modelo estudado às situações pouco ajustáveis, gerando erros conseqüentes na estimativa, ou seja, não são passíveis de boa estimativa de vazão por este modelo. O comportamento da vazão real e estimada pelo modelo pode ser visualizado na Figura 4(a, b, c, d). Como se observa, o modelo inicia subestimando a capacidade de bombeamento do sistema e, com o aumento da altura manométrica, o comportamento é invertido, de forma a superestimar a vazão. Conclui-se também que o modelo é mais adequado às condições de até 11 m de carga de bombeamento, em que descreve um comportamento bem similar à situação real. 14 14 12 12 10 10 Vazão (l/min) Vazão (l/min) Outra observação obtida é que o modelo é adequado para o total de casos até um nível aproximado de 700 W/m2, a partir do qual os valores gerados começam a distanciar-se dos valores reais obtidos no experimento. Figura 4 - Comparação entre a vazão medida e a estimada pelo modelo. 8 6 Vaz. Medida Vaz. Estimada Altura de 4m 4 8 6 Vaz. Medida Vaz. Estimada Altura de 7,5m 4 2 2 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 200 300 400 2 500 600 700 800 900 1000 2 Irradiância (W/m ) (a) Irradiância (W/m ) (b) 14 14 12 12 10 Vazão (l/min) Vazão (l/min) 10 8 6 Vaz. Medida Vaz. Estimada Altura de 11m 4 8 6 Vaz. Medida Vaz. Estimada Altura de 13m 4 2 2 300 400 500 600 700 800 900 1000 300 2 Irradiância (W/m ) (c) 400 500 600 700 800 2 Irradiância (W/m ) (d) 1868 900 1000 O modelo apresenta um desvio, calculado através do erro médio, variando de 3,4% a 13% para alturas manométricas de até 11m e 18,8% para 13m, que representa um desvio médio na ordem de 7,5% até 11m e 13,2% para o total de cargas; o que reforça a afirmação do modelo ser mais apropriado às condições de até 11m de altura. O desvio encontrado por JAFAR (2000) em estudo similar foi da ordem de 8%, relativamente mais próximo aos dados reais, apesar de apresentar ajuste menos significativo. Conclusões A máxima eficiência obtida para o painel fotovoltaico foi de 8% para uma carga de bombeamento de quatro metros. A moto-bomba apresentou uma eficiência máxima de 39% e o sistema alcançou um a eficiência global máxima de 2,3%, ambos nas condições de maior carga, no caso 19,0 m. O melhor potencial de exploração de potência do painel foi verificado para a carga de bombeamento de 11,0 m, com 74,0 W. O sistema pode fornecer uma vazão média de 6,52 a 10,91 l/min de água ou, ainda, de 2445 a 5565 l/dia, que será função do nível de irradiância solar disponível e da carga de bombeamento empregada no sistema. O modelo de estimativa de vazão teve um melhor ajuste para alturas manométricas até 11,0 m e melhor ajuste para alturas menores (4,0 m). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, L. M. G.; PERDIGÃO, M. S. D.; FRANCISCO, N. M. T. Painéis solares activos. Trabalho final de Mecatrónica. 1999. Disponível em: <http://alumni.dee.uc.pt/~torrao/rel/final/Psolar.html> Acesso em: 7 fev. 2001. JAFAR, M. A model for small-scale photovoltaic solar water pumping. Renewable Energy,v.69, p. 85-90, 2000. KOU, Q.; KLEIN, S. A.; BECKMAN, W. A. A method for estimating the long-term performance of direct-coupled pv pumping systems. Solar Energy, v.64, p.33-40, 1998. LASNIER, F.; ANG, T. G. Photovoltaic engineering handbook. New York-USA, 1990, p.548. LOXSOM, F.; DURONGKAVEROJ, P. Estimating the performance of a fhotovoltaic pumping system. Solar Energy, v.52, p.215-219, 1994. PROTOGEROPOULOS, C.; PEARCE, S. Laboratory evaluation and system sixing charts for a second generation diretct PV-powered, low cost submersible solar pump. Solar Energy, v.68, p.453-474,2000. SILVA, C. D. Potência gerada e eficiência dos módulos fotovoltáicos em função da radiação global incidente para bombeamento de água. In: I SEMINÁRIO DE ENERGIA NA AGRICULTURA, 2000, Uberaba. Anais... Uberaba: Fazenda Energética, 2000. p.92-97. THOMAS, M. G. Water pumping: the solar alternative. Center Photovoltaic Systems Design. Estados Unidos, S.N.L.,1987. 67p. 1869 POTENCIAL ECONÔMICO DE COGERAÇÃO A GÁS NATURAL NO SETOR HOSPITALAR BRASILEIRO1 Jeferson Borghetti Soares* Alexandre Salem Szklo* Maurício Tiomno Tolmasquim* RESUMO A demanda de energia em hospitais caracteriza-se pela exigência de alta qualidade e garantia de fornecimento. A existência de usos cativos de eletricidade, bem como o porte das suas cargas elétricas e térmicas mais regular do que o apresentado pela grande maioria dos empreendimentos do setor terciário da economia são aspectos que ressaltam a atratividade destes empreendimentos para a instalação de unidades de cogeração a gás natural. O objetivo deste trabalho é estimar o potencial econômico de cogeração a gás natural em hospitais brasileiros, utilizando-se sistemas baseados em motores a gás associados a sistemas de refrigeração por absorção. A concretização do potencial de cogeração nestes estabelecimentos, de aproximadamente 500 MW, mostrou-se sensível tanto a limitações inerentes ao próprio setor hospitalar brasileiro quanto à existência de ações específicas de incentivo, das quais o acesso a capital para investimento (financiamento) é a de maior impacto. 1. INTRODUÇÃO O objetivo principal deste artigo é estimar o potencial econômico de consumo de gás natural em hospitais brasileiros em sistemas de cogeração, a partir da análise de variáveis econômicas e institucionais que impactam este tipo de aproveitamento. Hospitais normalmente reúnem atributos relevantes para inserção do gás natural na sua matriz de consumo de energia como a relativamente considerável demanda por serviços energéticos, forte pressão para redução de custos, demanda de continuidade no seu fornecimento de energia final e o atendimento de especificações físicas do produto fornecido 1 Trabalho desenvolvido no ano de 2002 e financiado pelo Fundo Setorial de Petróleo e Gás (CTPetro). *[email protected], [email protected], [email protected] CENERGIA Centro de Economia Energética e Ambiental - Programa de Planejamento Energético - COPPE/UFRJ Caixa Postal 68.565 - Ilha do Fundão - Rio de Janeiro - RJ - Tels.: 21 2562 8775 /21 2560 8764 / 21 2560 8995 r. 224 1870 (por exemplo, tensão de fornecimento para eletricidade). Esta última condição gera a percepção crescente da importância da qualidade do serviço energético, sendo este aspecto é um motivador especialmente importante para a instalação de unidades de cogeração a gás natural em hospitais brasileiros. No sentido de avaliar tanto o potencial de consumo de gás existente para cogeração no setor hospitalar brasileiro quanto o impacto relativo das forças motrizes a este desenvolvimento, este artigo, na sua seção dois, estabelece a metodologia utilizada para a estimativa dos potenciais técnico e econômico do setor hospitalar, sendo estes potenciais calculados, de fato, na seção três deste artigo. Por fim, o artigo conclui, analisando tanto a necessidade de se transporem barreiras de mercado existentes à expansão do consumo do gás natural no setor hospitalar brasileiro quanto o impacto relativo de ações de incentivo frente possíveis ambientes nos quais se insere o potencial investidor em unidades de cogeração no país. 2. Metodologia empregada no estudo A visão geral da metodologia de análise aqui adotada para estimativa do potencial econômico de consumo de gás natural para cogeração no setor hospitalar brasileiro é apresentada na Figura 1. Esta metodologia foi estabelecida de modo a contemplar a heterogeneidade do perfil de uso nestes estabelecimentos, bem como permitir testarem-se ações de incentivo sobre variáveis com notável impacto na viabilização do mercado brasileiro de gás natural. Assim, esta metodologia incorporou variáveis técnicas (ligadas à viabilidade técnicocomercial de cada tecnologia), variáveis econômicas (sinais de preço da energia e equipamentos) e variáveis institucionais (mecanismos de incentivo a determinados fatores intrínsecos ao uso do gás natural). 2 A relativa heterogeneidade de uso de energia em hospitais brasileiros, as diferenças no perfil de oferta de serviços médico-hospitalares destes estabelecimentos, somado à insuficiência de bases de dados energéticos de hospitais brasileiros demandou a tarefa de se encontrar uma solução de compromisso que permitisse, ao mesmo tempo, considerar esta heterogeneidade de uso de energia, bem como possibilitar a estimativa de demanda de cargas (térmicas e elétricas) sem a necessidade de realização de pesquisas de campo no universo de hospitais brasileiros.3 Assim, a constatação da existência de padrões bem definidos de conversão de energia final em energia útil em determinados grupos de hospitais permitiu agrupá-los em tipologias bastante específicas.4 Neste sentido, seis foram as tipologias resultantes de hospitais brasileiros, segundo seu perfil de consumo de energia e de oferta de serviços médico-hospitalares (Tolmasquim et al, 2003a): (a) hospitais de grande porte; (b) hospitais de médio porte com alto nível de conforto; (c) hospitais de médio porte com médio ou baixo nível de conforto; (d) hospitais de pequeno porte; (e) hospitais com capacidade inferior a 50 leitos; (f) hospitais com atendimento exclusivo ao SUS. A venda de excedentes elétricos à rede é um exemplo de fator intrínseco à viabilização de unidades de cogeração a gás natural quando se analisam unidas de cogeração dimensionadas para priorização de cargas térmicas. 2 Ao todo, aproximadamente 8.000 hospitais, segundo dados da Pesquisa de Assistência Médico-Sanitário do IBGE realizada em 1999 (IBGE, 2000). 3 A este respeito, vide outro artigo publicado neste congresso, intitulado Indicadores de consumo de energia no setor hospitalar brasileiro. 4 1871 1872 Elaboração de tipologias de Identificação das variáveis relevantes para a análise de viabilidade econômica de cogeração e Amostragem de diagnósticos Levantamento e análise de banco de Levantamento de dados técnicoeconômicos de Estimativa do consumo de energia por Elaboração de linhas narrativas para famílias de cenários conforme Elaboração de indicadores de consumo específico de energia por Classificação dos consumidores nas bases de dados Estimativa do potencial técnico de cogeração a Definição do porte individual da tecnologia de Agregação dos resultados por tipologia Análise de viabilidade econômica por hospital segundo as Estimativa Estimativa do potencial do econômico potencial de cogeração econômico a gás natural de sob a ótica da cogeração demanda Figura 1: Representação esquemática da metodologia de avaliação de potencial econômico de cogeração a gás natural. Esta classificação permitiu estimar o porte de consumo de energia de hospitais brasileiros, informação que serviu de base para o dimensionamento dos sistemas de cogeração a serem empregados em estabelecimentos hospitalares brasileiros, e a estimativa do potencial técnico de cogeração nestes estabelecimentos. A tecnologia adotada para este fim baseou-se em motores a gás, devido à sua eficiência para operações em carga parcial, com menores perdas de eficiência em relação às observadas para as turbinas a gás (CHP Club, 2001). Isto é especialmente interessante para usuários com demandas irregulares ao longo do dia, como é o caso do perfil de carga de hospitais. A relativa insensibilidade dos motores à escala do equipamento tanto em termos de custo de investimento quanto pela eficiência, faz com que seja uma tecnologia bastante apropriada para aplicações modulares, permitindo ao cogerador lidar com variações sazonais de sua demanda. A instalação de motores a gás deve ser exatamente a tônica de hospitais, uma vez que seu fator de carga elétrica dificilmente supera 70%. No mesmo sentido, a experiência mundial no setor hospitalar também aponta nesta direção, como é o caso deste setor na França e nos Estados Unidos (Szklo, 2001; EIA, 2000; Ceren e Erdyn, 1996). Outro comentário relevante diz respeito aos sistemas de condicionamento ambiental avaliados neste estudo. Foram avaliados sistemas de refrigeração por absorção de estágio simples (COP I) e duplo estágio (COP II), que se diferenciam quanto à eficiência no consumo de gás para refrigeração e nos custos de capital envolvidos5. Neste caso, avalia-se o trade off entre o custo de investimento e os custos operacionais em sistemas de estágio simples e de duplo estágio. Finalmente, é mister ressaltar a abordagem aqui adotada na estimativa do potencial econômico de cogeração. A análise foi realizada adotando-se o conceito de linhas narrativas, a exemplo do que ocorre em estudos do IPCC (2001). A Figura 2 ilustra este conceito, apresentando um dos ramos desta árvore de cenários, que totalizam 120 possibilidades. Assim, são consideradas, primeiramente, variáveis relacionadas ao ambiente onde se insere o potencial investidor i.e., representam contextos externos à esfera de influência de políticas de incentivo à aquisição e operação de um equipamento de consumo de gás natural, mas interferindo drasticamente na viabilização econômica do potencial técnico estimado. Na Figura 2, estas variáveis de contexto correspondem aos três primeiros níveis de análise (preço de combustíveis substitutos, taxa de câmbio e tarifa de eletricidade). Por exemplo, o preço do petróleo e a taxa de câmbio afetam, sobremaneira, a parcela de commodity do gás natural e, consequentemente, os custos operacionais do equipamento de consumo de gás natural. Também afetam o custo de equipamentos de cogeração, cuja maioria dos componentes é importada. Os demais níveis da árvore de cenários (níveis 4, 5 e 6 da Figura 2) buscaram apreender os efeitos de possíveis políticas de incentivo à instalação de unidades de consumo de gás natural, conforme as linhas narrativas elaboradas, constituindo as variáveis de ação dos cenários. Tais políticas centram-se na existência de uma política de incentivo de venda de excedentes elétricos cogerados, em linhas de financiamento amplamente disponíveis para financiar estes investimentos e também na existência de políticas fiscais de incentivo, centrando-se na renúncia fiscal parcial tanto no preço final do gás quanto no incentivo à adoção de depreciação acelerada. Sistemas de absorção de duplo estágio permitem atender a mesma demanda de condicionamento a partir da queima de menor volume de gás natural (demanda de 3,88 kg/h/TR contra 6,39 kg/h/TR para sistemas de um estágio) mas, ao mesmo tempo em que implicam menor custo operacional, também apresentam maior custo de capital. É possível estimar em US$ 600/TR o custo FOB de sistemas de 2 estágios, com capacidade acima de 400 TR (Tolmasquim et al., 2001); abaixo desta capacidade, chega-se a valores FOB entre US$900 e 1000/TR (Tolmasquim et al, 2003b; Datum, 1999). Sistemas de 1 estágio, por sua vez, têm custo fixo aproximadamente 15% menor (por TR instalada). 5 1873 1874 1tYHO 1tYHO 3UHoR GR SHWUyOHR Referência Alto 1 Baixa 2 Média Alta 1 Baixa 2 Alta 3 H[WD H[WE H[WE H[WD H[WE H[WE 1 2 H[WD 1 Sem 2 Com )LQDQFLDPHQWR 1tYHO H[WD 3UHoRVLQWHUQDFLRQDLV 7D[DGHFkPELR 7DULIDGHHOHWULFLGDGH GRSHWUyOHR 1tYHO Sem Com H[WE H[WD H[WE H[WD 1 2 'HSUHFLDomRDFHOHUDGD 1tYHO H[WE H[WD H[WE H[WD 1 2 3ROtWLFDGHYHQGDGHH[FHGHQWHV Sem Com 1tYHO Figura 2: Representação de um ramo genérico da árvore de cenários de avaliação de potencial econômico de cogeração no setor hospitalar brasileiro. 3. Estimativa de potencial de cogeração a gás natural no setor hospitalar brasileiro A Tabela 1 apresenta a estimativa de potencial técnico de cogeração para hospitais brasileiros segundo as tipologias estabelecidas, totalizando aproximadamente 500 MW. Trata-se de um valor expressivo, que deve ser lido, porém, com cautela, já que dificilmente empreendimentos de menor porte ou situados em hospitais com baixa capacidade de investimento serão economicamente viáveis. O consumo de gás associado é apresentado para os dois sistemas de refrigeração por absorção avaliados: estágio simples (COP I) e duplo estágio (COP II). Tabela 1: Potencial técnico de cogeração a gás natural em hospitais brasileiros 7RWDO 1RGH (FRQRPLDGH &RQVXPRGHJiV PLOPPrV 3RWHQFLDO 3RUWHPpGLR VLVWHPDV HOHWULFLGDGH 0:KPrV &23, &23,, WpFQLFRN: N: 496.861 176 2.828 71.616 109.607 100.967 Um comentário importante refere-se à distribuição regional do potencial aqui identificado. Deste potencial, 51% se encontram na região Sudeste, 17% na região Sul e 21% na região Nordeste. Em verdade, existem diferentes padrões de uso da energia em hospitais brasileiros que, em grande extensão, refletem as disparidades regionais e sociais do país. Hospitais de maior porte tendem a se concentrar na região Sudeste, enquanto que hospitais de maior complexidade tendem a ser de maior porte e a exigir um maior grau de conforto. Por sua vez, na região Norte, onde, de a oferta total de leitos em hospitais ser menor do que nas outras regiões, predominam os hospitais com atendimento exclusivo à rede SUS, que contribuem com apenas 3% deste potencial técnico. A estimativa do potencial econômico de cogeração no setor hospitalar brasileiro adota um critério conservador de viabilização econômica em que a taxa interna de retorno dos projetos deve ser, pelo menos, igual a 25% a.a.. A Tabela 2 sumariza os resultados obtidos dentro de cada linha narrativa, considerando-se tanto a ausência quanto a aplicação, isolada ou combinada, de diferentes políticas de incentivo, considerando-se o uso de dois sistemas de refrigeração por absorção (SRA) distintos, para atendimento das cargas de condicionamento ambiental do estabelecimento de saúde. Em linhas gerais, os resultados, além de contrastarem as diferenças entre os sistemas de refrigeração/condicionamento empregados, mostraram-se bastante elucidativos quanto aos efeitos de possíveis políticas de incentivo para cogeração a gás natural no setor hospitalar brasileiro, até porque a falta destas políticas tornou economicamente inviáveis todos os sistemas avaliados neste estudo (ou resultou em potenciais econômicos de cogeração nulos). Primeiramente, observa-se o pequeno impacto de políticas de incentivo fiscal sobre o potencial econômico de cogeração a gás neste setor. De fato, este impacto é marginal e de aproximadamente 1 a 2% a.a. sobre a taxa de retorno dos sistemas avaliados, como um todo. O melhor resultado obtido (ramo 1 do sistema de duplo estágio) representa menos de 10% do potencial técnico total de cogeração estimado neste estudo para o setor hospitalar brasileiro. Assim, mantido o critério conservador de viabilidade econômica (taxa interna de retorno acima de 25% a.a.), pode-se afirmar que o incentivo fiscal contribui com o incremento do potencial econômico de cogeração no setor hospitalar brasileiro, desde que combinado a outras políticas de incentivo. Neste caso, seus efeitos são impressionantes, em alguns cenários, como no ramo 8 da árvore de cenários (alto preço do petróleo, menor taxa de câmbio e crescimento moderado da tarifa de eletricidade), quase dobrando o potencial econômico obtido apenas com a política de financiamento. E, no caso dos ramos 6 e 12, o seu efeito, combinado ao da política de financiamento, é ainda mais drástico, viabilizando os sistemas cuja taxa de interna de retorno, após a adoção apenas da política de financiamento, estava em torno de 20 %a.a. 1875 1876 0 26.396 0 46.418 34.585 52.624 3.034 61.556 3.034 66.407 63.597 66.407 0 0 0 23.054 0 44.511 34.050 49.820 0 0 1.010 58.472 1.010 65.125 63.167 65.125 5DPR 0 0 5DPR 0 5DPR 0 5DPR &23, &23, 0 14.966 0 34.692 14.966 44.101 0 0 5DPR 0 41.141 0 63.113 56.713 63.113 0 0 5DPR 0 14.013 0 34.161 17.276 63.113 0 0 5DPR )DPtOLDGH&HQiULRV 0 44.428 0 63.994 55.997 63.994 0 0 5DPR )DPtOLDGH&HQiULRV 0 30.346 0 47.271 34.513 47.271 0 0 5DPR 0 33.269 0 49.544 37.327 49.544 0 0 5DPR 0 4.220 0 22.455 8.405 26.740 0 0 5DPR 0 4.220 0 24.565 13.592 28.627 0 0 5DPR 2.769 50.363 2.769 58.405 55.639 58.405 0 0 5DPR 4.387 52.376 4.387 58.484 56.819 58.484 0 0 5DPR 0 28.979 0 52.312 40.792 53.716 0 0 5DPR 0 32.494 0 52.923 40.071 54.235 0 0 5DPR &23,, 0 19.991 0 38.527 27.153 49.799 0 0 5DPR 0 45.148 0 55.283 49.818 55.283 0 0 5DPR 0 17.746 0 37.547 24.143 48.892 0 0 5DPR )DPtOLDGH&HQiULRV 322 47.973 322 56.590 49.325 56.590 0 0 5DPR &23,, )DPtOLDGH&HQiULRV 0 35.040 0 51.729 41.235 51.729 0 0 5DPR 0 36.901 0 52.197 43.584 52.197 0 0 5DPR 0 4.104 0 29.558 8.755 33.235 0 0 5DPR 0 5.037 0 31.270 9.688 35.698 0 0 5DPR Conforme ano-base de 1999 da pesquisa do IBGE (2000). Considera-se ainda um porte mínimo de 50 kWe para o sistema de cogeração. Notas: O ramo 1 corresponde ao cenário referencial de preço de petróleo, à taxa de câmbio de 2,6 R$/US$ e ao crescimento de 10% a.a. da tarifa de eletricidade. O ramo 2 equivale ao ramo 1, salvo no crescimento dos preços finais de eletricidade, que neste cenário é igual a 5%a.a.. O ramo 3 equivale ao ramo 1, salvo para a taxa de câmbio que passa a ser igual a 3,0 R$/US$. O ramo 4 equivale ao ramo 3, salvo no crescimento da tarifa de eletricidade, que passa a ser de 5% a.a. O ramo 5 equivale ao ramo 1, salvo para a taxa de câmbio que passa a ser igual a 3,5 R$/US$. O ramo 6 equivale ao ramo 5, salvo no crescimento da tarifa de eletricidade, que passa a ser de 5% a.a. Os ramos de 7 a 12 equivalem aos ramos de 1 a 6 salvo para o cenário de evolução do preço do petróleo, que passa a ser o cenário de alto preço de World Energy Outlook 2000 (EIA, 2002). No cenário de evolução de referência, o preço do petróleo atinge os valores de 23, 24 e 25 US$-2000/bl, respectivamente em 2010, 2015 e 2020. Para o cenário de evolução de alto preço de petróleo, onde o mesmo chega a 30 US$2000/bl em 2010 e 2015, e a 31 US$-2000/bl em 2020. Sem qualquer incentivo Redução da tarifa de “EDFNXS” (A) Política fiscal (B) Financiamento (C) (A, B) (B,C) (A,C) (A,B,C) SUHoRVGHSHWUyOHR &HQiULRGHDOWRV Sem qualquer incentivo Redução da tarifa de “EDFNXS” (A) Política fiscal (B) Financiamento (C) (A, B) (B,C) (A,C) (A,B,C) GHSUHoRVGRSHWUyOHR &HQiULRWHQGHQFLDO Tabela 2: Potencial econômico de cogeração a gás natural (1000 m3/mês) no setor hospitalar brasileiro de acordo com combinação de políticas de incentivo. Por sua vez, a política de financiamento, isoladamente, é a variável de ação com maior impacto dentro das famílias de cenários aqui elaboradas,6 embora o grau de impacto seja bastante afetado por: l Diferentes contextos de crescimento da tarifa de eletricidade. Por exemplo, no cenário tendencial de preços de petróleo, para o sistema de condicionamento de 1 estágio e no contexto de taxa de câmbio de 3,5 R$/US$, o crescimento moderado da tarifa de eletricidade reduz as receitas do sistema de cogeração ao ponto que o potencial econômico praticamente se reduz em 15 vezes, mesmo quando se adota uma política de financiamento. Em outros termos, a política de financiamento somente logra êxito no contexto em que o investidor em cogeração prevê um crescimento relevante da tarifa de eletricidade; l Diferentes contextos de taxa de câmbio. Em verdade, o contraste entre as diferentes linhas narrativas consideradas (ou famílias de cenários) sugere a existência de nós relacionados à taxa de câmbio da economia. De fato, existe um valor desta taxa acima do qual se verifica tanto a pressão sobre o preço de energéticos substitutos ao gás natural (GLP e óleos combustíveis), quanto a pressão sobre os custos dos equipamentos importados para a cogeração a gás natural. Em termos objetivos, para a hipótese de crescimento alto da tarifa de eletricidade e a política de incentivo baseada no financiamento, chega-se ao potencial de cogeração a gás economicamente viável de 52.376 mil m3/mês, no ramo 1 (SRA em duplo efeito e cenário referencial de preços de petróleo), à taxa de câmbio de 2,6 R$/US$. Este potencial cai para 36.901 mil m3/mês. quando a taxa de câmbio se eleva para 3,5 R$/US$. No quadro de percepção mais negativa de um eventual investidor em cogeração (taxa de câmbio de 3,5 R$/US$ e crescimento da tarifa de eletricidade em 5% a.a.), o financiamento isolado é insuficiente para viabilizar o potencial técnico identificado, restringindo esta viabilização a aproximadamente 7% do potencial técnico estimado, mesmo diante de uma política intensiva de financiamento ao custo de capital dos projetos. Finalmente, em vista dos resultados obtidos nos cenários considerados, percebe-se que é reduzido o impacto de políticas isoladas de incentivo, à exceção da política de financiamento de equipamentos de cogeração nas famílias de cenários de taxa de câmbio inferior a 3,0 R$/US$. Assim, o impacto da combinação das políticas de incentivo é bastante claro. No todo, os cenários aqui estabelecidos revelam ser possível concretizar parcela substancial do potencial econômico remanescente de cogeração a gás natural no setor hospitalar brasileiro desde que haja a combinação simultânea de políticas de incentivo fiscal e de financiamento num contexto de taxas de câmbio moderadas e tarifas de eletricidade elevadas. Ademais, na comparação entre os dois sistemas de condicionamento avaliados (duplo e simples estágio), verifica-se que, em quase todos os casos, o sistema em duplo estágio leva a um maior aproveitamento do potencial técnico de cogeração a gás natural em hospitais brasileiros. Em outros termos, o maior custo de capital deste sistema é compensado, normalmente, pela redução de custo variável (combustível) decorrente da sua maior performance, exceção feita somente: Variável de ação é aqui definida como um fator sobre o qual é possível atuar dentro de determinados limites práticos, ao contrário de variáveis, como taxa de câmbio e preços internacionais de petróleo, ditas de contexto, para as quais o ambiente é dado e distribuído de forma mais abrangente na economia como um todo. 6 1877 l Na linha narrativa do ramo 1, para incentivo isolado do financiamento, onde a pressão de maior consumo de gás natural, que este sistema acarreta, é amenizada pelo menor preço do energético, pela menor taxa de câmbio e pela trajetória de menor preço dos óleos combustíveis, sobre cujos valores está indexado o preço do gás natural; l Na linha narrativa do ramo 6, para os incentivos combinados de financiamento e redução da tarifa de back up. Neste caso, a elevada taxa de câmbio deve estar afetando, sobremaneira, o desempenho econômico de determinados sistemas em duplo estágio, comprometendo a sua viabilidade. Como se percebe, as diferentes combinações possíveis de políticas de incentivo apresentam também resultados distintos, e o ponto almejado do porte do mercado de gás natural dependerá não apenas da efetividade destas políticas, mas também das linhas narrativas percebidas pelos eventuais investidores. Isto salutarmente preserva uma componente de prudência nos resultados obtidos, indicando que não apenas importa propor políticas de incentivo à cogeração e capacitar/informar eventuais usuários desta alternativa, mas também impende compreender as percepções dos investidores em relação às variáveis macros de sua avaliações econômicas. 4. Conclusões A estimativa do potencial de cogeração em hospitais brasileiros, apresentou um valor significativo da ordem de 500 MW, e cuja viabilização depende, além de ações de incentivo adequadas, da superação das barreiras de mercado para sua implementação.7 Uma política energética específica para este fim deve, portanto, contemplar medidas em relação tanto a variáveis econômicas, como custos de equipamentos e tarifas de energia, quanto a barreiras de mercado. Neste sentido, algumas barreiras foram apontadas a partir da análise efetuada em Tolmasquim et al (2003a) para hospitais brasileiros: l Indisponibilidade de recursos financeiros para investimento no curto prazo; l Relativo grau de desinformação das equipes de engenharia de hospitais acerca da tecnologia de cogeração, ainda mais diante da demanda dos estabelecimentos por serviços energéticos de alta confiabilidade; l Falta de treinamento ou preparação das suas equipes de engenharia e administração para a transição institucional do setor elétrico brasileiro, que envolve a percepção do novo papel de cada agente dentro do setor, inclusive no sentido de renegociar tarifas de energia quando ao consumidor é concedido o direito de tornar-se livre; l Falta de mecanismos de interação entre as suas equipes de engenharia e as equipes de planejamento de concessionárias de energia elétrica ou de gás natural. Assim, algumas barreiras ao investimento em cogeração poderiam ser superadas através de programas de informação e capacitação dos recursos humanos dos estabelecimentos de saúde. Outro ponto importante neste contexto é o maior envolvimento das concessionárias de energia no desenvolvimento ou no incentivo à cogeração, especialmente nos setores em que o serviço energéticos demandam alta qualidade. 7 Sobre as barreiras de mercado à cogeração, vide Szklo e Tolmasquim (2001). 1878 Efetivamente, os resultados obtidos em hospitais brasileiros ratificaram que o potencial de cogeração a gás natural dependerá não apenas da efetividade das políticas de incentivo propostas, mas também dos contextos percebidos pelos eventuais investidores. Por exemplo, no caso da linha narrativa de baixo crescimento da tarifa de eletricidade, percebe-se uma redução drástica do potencial econômico de cogeração em estabelecimentos de saúde brasileiros, conforme a taxa de câmbio prevista: o aumento desta taxa de 2,6 para 3,5 R$/ US$ reduz em quase 50% o potencial econômico de cogeração estimado no setor hospitalar brasileiro quando se aplicam três políticas de incentivo combinadas (financiamento, depreciação acelerada e venda favorecida de excedentes elétricos). Isto indica que não apenas importa propor políticas de incentivo à cogeração e capacitar/informar eventuais usuários desta alternativa, mas também importa compreender as percepções dos investidores em relação às variáveis macros de sua avaliações econômicas. O mapeamento de mercado de potenciais consumidores para o gás natural constitui uma informação de caráter relevante num momento em que se busca flexibilizar o impacto das cláusulas rígidas de contratação deste energético, por meio da criação de um mercado secundário de gás natural. Como se depreende dos resultados obtidos, a formação do mercado secundário de gás pode constituir uma resposta progressiva à questão, desde que se estabeleçam metas e políticas de incentivo ao consumo de gás natural nos setores de consumo de energia final, e se realizem investimentos em infraestrutura, capazes de ampliar a rede de distribuição atualmente existente no país. Como última ressalva, lembra-se ainda que os resultados apresentados contemplam a perspectiva do mercado de gás natural do ponto de vista do consumo, não abrangendo aspectos ligados à oferta i.e., não é objeto deste estudo abordar questões relacionadas à malha de abastecimento dos eventuais futuros usuários de gás natural. Desde já, identifica-se, segundo o ano-base de 1999, um potencial de cogeração a gás em hospitais brasileiros que vai até cerca de 500 MW. O aproveitamento deste potencial, no entanto, depende de uma miríade de fatores que vão desde a percepção do risco (e das incertezas) dos investidores no país, até a capacitação das equipes de engenharia nos hospitais, até a efetivação de políticas de incentivo. Resta, neste caso, esquadrinhar qual a fração do potencial técnico de cogeração em hospitais brasileiros que se pretende incentivar. Aliás, isto significa avaliar também as alternativas de ganhos de eficiência energética nos estabelecimentos de saúde brasileiros, que competem com a cogeração, e qual o poder de barganha destes estabelecimentos dentro do mercado de energia do país. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a colaboração do engenheiro João Carlos de Souza Marques nas etapas preliminares de realização deste estudo. Também agradecem à CAPES (Programa Prodoc), ao CNPq, à FINEP e ao Fundo Setorial de Petróleo e Gás (CTPetro) pelo apoio financeiro. 1879 BIBLIOGRAFIA Ceren e Erdyn. Le potentiel de cogénération en France. Dezembro de 1996. Paris: ADEME, 1996. CHP Club. The managers guide to custom-built CHP systems. United Kingdom. Available at: http:// www.chpclub.com. 2001. Datum. Diagnóstico energético e análise de viabilidade técnica e econômica. Rio de Janeiro. 1999. EIA. Annual Energy Outlook 2002. Projections to 2020: petroleum products prices. Disponível em www.eia.doe.gov. Consultado em 2002. EIA. The market and technical potential for combined heat and power in the commercial sector. Prepared for EIA/DOE. Washington. 2000. IBGE [Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]. Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária 1999. Rio de Janeiro/RJ, Brasil. 2000. IPCC. Climate Change 2001: Synthesis Report. A Contribution of Working Groups I, II and III to the Third Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. [Watson, R. and the Core Writing teams (eds)]. Cambridge University Press. Cambridge, UK. 2001. Szklo, A. S.; Soares, J. B.; Tolmasquim. M. T. Economic potential of natural gas-fired cogeneration in Brazil: two case studies. Applied Energy. Vol. 67 (3): 245-263. November 2000. Szklo, A. S.; Tolmasquim, M. T. Strategic cogeneration fresh horizons for the development of cogeneration in Brazil. Applied Energy. (69): 257-268. 2001. Szklo. A. S. Tendências do desenvolvimento da cogeração a gás natural no Brasil. Tese DSc. COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro. 2001. Tolmasquim. M. T.; Szklo, A. S.; Soares, J. B. Mercado de gás natural na indústria química e no setor hospitalar brasileiro. E-papers editora. Rio de Janeiro. 2003a. Tolmasquim. M. T.; Szklo, A. S.; Soares, J. B. Potencial de cogeração a gás natural. Setores industrial e terciário do estado do Rio de Janeiro. Edições CENERGIA. Rio de Janeiro. 2003b. 1880 GERAÇÃO DISTRIBUÍDA PCHS ASPECTOS TÉCNICOS E AMBIENTAIS Moacyr Trindade de Oliveira Andrade1 Edna Lopes Ramalho2 RESUMO O sistema elétrico brasileiro vem apresentando significativas mudanças em sua estruturação organizacional, de forma a adequar-se às políticas do novo governo, às características do mercado e às necessidades de expansão dos sistemas de geração (oferta), transmissão e distribuição (transporte) e comercialização (demanda) de energia. A estrutura estatal propiciava o controle absoluto da união na introdução de novas plantas, buscando uma priorização em relação aos respectivos Custos Unitários da Energia, utilizados como Índice de Mérito e expressos por US$/MWh, com ordenamento dos custos de forma crescente. Esta alternativa não contemplava as questões ambientais, visava apenas os aspectos técnicos e os custos de implementação. As questões sócio-ambientais eram relegadas à segundo plano, avaliadas à toque de caixa, quando do enchimento do lago, apenas para dar um tom de humanização aos projetos. O significativo interesse dos construtores priorizava, de forma inequívoca, às grandes obras, uma vez que a realização simultânea de diversas obras de porte, viabilizava a consolidação de um fluxo de recursos constante ao grupo, que sedimentava a longevidade da situação e garantia a harmonia no mesmo. Este trabalho tem por objetivo discutir e apresentar as vantagens da geração distribuída de energia elétrica, com características de complementação da oferta, porém, com vantagens para as micro regiões em que são implantadas, tomando por base questões técnicas, econômicas e sócio ambientais. Comissário Chefe do Grupo Comercial e de Tarifas da CSPE - Prof. Dr. Curso de Planejamento Energético da UNICAMP - Endereço: Edifico Cidade 1 Rua Boa Vista, 170, 4º andar blocos 4 e 5 CEP 01014001 - Telefone: 55 11 3293 5111 e 5113 Fax : 55 11 3293 5114 / e-mail: [email protected] 1 2 Doutora em Planejamento Energético UNICAMP - Consultora da CSPE 1881 INTRODUÇÃO A opção do setor elétrico nacional pela incorporação de Grandes Obras na ampliação da oferta de energia era decorrente da forte atuação do Lobby dos Barrageiros que viviam à cata de obras de porte que promovessem a locupletação deste grupo. A introdução dos custos ambientais relacionados; a elaboração do Estudo do Inventário Ambiental e do Relatório de Impacto ao Meio Ambiente; a tramitação de aprovação destes documentos junto aos órgãos oficiais; e a elaboração e execução de um projeto ambiental que viabilizasse a implantação da obra pela mitigação ou compensação dos impactos identificados nos estudos, obviamente, introduziriam significativa parcela de custos, o que poderia, no mínimo, implicar em reordenação dos projetos. A herança deste período se deu na consolidação da tecnologia empregada para as grandes obras, formando o conceito de geração hidráulica nacional, com índices de mérito associados aos grandes potenciais, o que descaracterizou, de forma cabal, a viabilidade de integração de pequenas obras de geração, que apresentavam custos unitários de geração superiores à média das grandes obras, porém, com impactos ambientais significativamente menores. De toda a sorte, com índice de mérito inadequado ou não, pelos padrões das obras de porte, a situação econômica e financeira do Setor Elétrico passou a inviabilizar as grandes obras pelo custo do empreendimento, independentemente do custo unitário de geração, passando a haver interesse dos construtores nos outros tipos de aproveitamentos. De forma complementar, a reestruturação do setor elétrico introduziu uma série de novos procedimentos, regulamentações e atores. Estes mesmos agentes deveriam viabilizar novas alternativas para a expansão da oferta de energia, não necessariamente através dos grandes empreendimentos, como ocorrido até então. Com a introdução dos novos agentes, caracterizados principalmente pelo Produtor Independente de Energia e Auto-Produtor, privados ou não, e a possibilidade de formação de consórcios, inclusive com a participação das concessionárias, passa a ser viável a expansão da oferta de energia de forma distinta, descentralizada e competitiva no mercado, introduzindo pequenas e médias obras com diversas alternativas de fonte, como as PCHs - Pequenas Centrais Hidroelétricas, a Biomassa, as Fontes Eólica e Solar, estas com incentivos de planos governamentais como o PROINFRA, além de outras unidades não Convencionais, ou a Gás Natural etc, uma vez que por parte da demanda foi aberto o acesso aos Consumidores Livres, provocando uma ampliação de alternativas de comercialização à preços competitivos, uma vez que o valor de referência para o consumidor passa a ser aquele de seu enquadramento tarifário, significativamente superior àqueles ofertados pelas concessionárias, consolidando os mercados atacadistas (MAE) e o de varejo (SPOT). As concessionárias e o poder regulador, ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, devem promover a viabilização de introdução desses novos atores, porém devem ser identificados os requisitos mínimos para uma operação segura e confiável da energia ofertada pelos novos agentes. As implicações da introdução da geração proveniente destes novos empreendimentos, em consonância com o desempenho do sistema elétrico como um todo, é o fulcro deste 1882 trabalho, destacando-se as necessárias adequações às regulamentações existentes e a serem introduzidas, identificando-se as vantagens e dificuldades relativas a estes aproveitamentos, bem como os óbices decorrentes do processo de licenciamento ambiental. Atendimento à Carga A integração das curvas de produção e de carga delimita o problema a ser equacionado pelo despacho de geração, acrescido dos aspectos de perdas no sistema de transmissão e distribuição e da alocação de reservas para o sistema de geração. O acompanhamento da evolução da carga no tempo é de fundamental importância, no sentido de promover a disponibilidade de novas plantas de geração de energia elétrica prioritariamente aos requisitos do mercado. Desta forma, deve-se antever as tendências de crescimento do mercado consumidor de energia elétrica, uma vez que, como anteriormente citado, o sistema elétrico deve estar apto a suprir todas as solicitações do mercado consumidor no instante em que as mesmas se fizerem necessárias. Uma hidroelétrica de médio porte, independentemente de problemas ambientais ou de outra espécie, leva cerca de 5 a 10 anos de construção para se concretizar. Obviamente, deve-se iniciar o processo de introdução desta no sistema elétrico em período anterior ao prazo de maturação da obra. Assim sendo, devem ser conhecidos os requisitos de carga por um período superior àquele necessário para a implantação da obra. Este é a principal explicação do resultado da pesquisa respondida por profissionais e empresários do setor elétrico, durante o 3º Fórum Brasileiro de Energia Elétrica (INFRA 2003), temendo por nova crise de abastecimento no biênio 2006/2007. Atualmente, em face da consolidação do patamar inferior de mercado provocado pela atuação generalizada de conservação de energia decorrente do racionamento, identifica-se uma condição desfavorável de abastecimento a partir do ano 2008. Considerando-se uma programação de obras coincidente com o crescimento de mercado e a alocação de reserva para eventuais deficiências de máquinas ou de sistema de transporte e da Manutenção Programada, a produção ideal do sistema deveria coincidir com a curva de carga, incluindo-se nesta última, as perdas elétricas decorrentes do transporte de energia até os pontos de consumo, a cada instante. Isto não é possível, especialmente no Brasil, em virtude das dimensões das unidades geradoras, enfatizando-se suas características individuais de Grande Porte. Desta forma, a Energia Firme, a Potência máxima, a Produção de pico, são todos parâmetros condicionados às características das vazões afluentes da bacia de acumulação, associados a cada empreendimento, bem como às dimensões das unidades a serem introduzidas. Desta forma, o aumento de carga será suprido pela introdução de uma nova máquina ou usina disponível, nem sempre adequada à solicitação momentânea da carga. A curva de produção será, portanto, função da disponibilidade da geração (máquinas) e da diversidade hidrográfica de todas as bacias que compõem o sistema interligado, o que implica em utilização das usinas com diferentes fatores de capacidade a cada período, como evidenciado pela figura 1. 1883 Figura 1 - Despacho de Geração para o atendimento à curva de Carga Potência Ponta Demanda Máxima Intermediária / Modulação Demanda Média Envoltória da Capacidade Curva de Base de Geração à cada Patamar da Carga Curva de Carga Horas Os fatores de capacidade típicos para cada tipo de operação das usinas são: De ponta : 13 a 20%; Intermediária : 30 a 75%; de Base : 75 a 100% Os problemas mais evidentes de aproveitamento das condições disponíveis de geradores ou usinas estão condicionados aos grandes blocos de energia que introduzem estes equipamentos, nem sempre compatíveis com o montante requerido pela carga. Esta é uma característica predominante dos sistemas hidroelétricos de grande porte, como acabou por se configurar o sistema elétrico brasileiro. Uma alternativa mais racional de atendimento aos requisitos de carga no tempo é dispor-se de unidades de diversas dimensões e com diversidade de fontes, o que caracteriza o sistema hidrotérmico de suprimento, ou pelo menos, uma maior diversidade nas dimensões das unidades hidroelétricas disponíveis, para a constituição da curva de produção (despacho) requerida pela carga. O sistema hidrotérmico viabiliza a opção da unidade mais adequada a ser introduzida, vinculando-se o montante de potência ou energia solicitado pela carga, à disponibilidade de recursos hídricos ou de outras fontes, e a estratégia de alocação de reservas distribuídas por todo o sistema. Mesmo para um sistema predominantemente hidráulico como o nacional, caso o lobby dos barrageiros e a conivência das concessionárias e do poder concedente à época, permitissem a alocação de pequenas unidades hidráulicas, as PCHs, com parâmetros de avaliação distintos aos dos grandes projetos, principalmente com relação ao índice de mérito, se disporia de módulos menores, mais adequados para a constituição da envoltória de capacidade de geração, de modo muito mais coeso com a evolução da carga no tempo, evitando-se os problemas evidenciados. Esta nova situação se configura bem mais factível com a reestruturação do setor elétrico nacional, uma vez que a competição na geração e na comercialização da energia elétrica suscitará a introdução de novas plantas geradoras, que devem se caracterizar por curto 1884 tempo de maturação e não serem intensivas em capital. Estas características configuram as PCHs, as termoelétricas e as fontes não convencionais como alternativas viáveis, frente às premissas identificadas do perfil do novo investidor privado do setor elétrico, o que permite maior coesão da curva de produção (despacho) com curva de carga do sistema elétrico. Adicionalmente, o incentivo do setor para estas alternativas as torna atrativas aos empreendedores e na premissa introduzida para a readequação do setor elétrico promovida pela Lei nº 10.848 de 15 de março de 2004, viabilizando a alternativa de disponibilidade do novo potencial às distribuidoras, através de leilões de cotas, estabelece um potencial de garantia ao empreendedor que, apesar de restringir a otimização de preço, oferece a garantia de introdução do novo potencial ao mercado. Assim, o empreendedor pode optar pela caderneta de poupança que seriam os leilões ou pelo mercado de risco que seria a comercialização de sua produção a consumidores livres. Outrossim, a própria legislação criou alternativas de estímulo tanto da produção quanto da demanda, através de viabilização de investimento para o financiamento de novas plantas PCH, Biomassa e Eólica e a possibilidade de opção dos consumidores com demanda superior a 500 kW em se tornarem livres ao adquirirem energia destas plantas. Obviamente se alterou o cenário do mercado para os investidores nestas alternativas energéticas, pois a concorrência não se dará com os grandes empreendimentos, com menor custo por MW associado, e sim com as tarifas pagas pelos consumidores, com valores significativamente superiores àqueles da comercialização do suprimento. Assim, um consumidor de médio porte pode optar por aquisição de energia de PCH, Biomassa ou Eólica, a um preço inferior à sua tarifa como consumidor cativo. Este mecanismo incentivou, ainda, a consolidação do comercializador, que passou a buscar fornecedores e compradores, constituindo uma alternativa de negócio do tipo ganha ganha, ou seja, ganha o empreendedor pela caracterização de significativa parcela do mercado e ganha o consumidor que passa a contar com uma alternativa de aquisição mais propícia que aquela imposta por sua condição de cliente cativo. Esta característica pôde ser observada pela CSPE no grande número de novos empreendimentos, térmicos e de PCH, em fase de regularização na Comissão, evidenciando que o próprio cliente busca se tornar empreendedor, visando ampliar o seu ganho. Isto também motivou, as concessionárias, a promoverem alternativas de comercialização de energia a preços mais interessantes aos consumidores cativos de porte, principalmente no horário de ponta, buscando reduzir os prejuízos decorrentes da eficientização do consumo promovida pelos consumidores em decorrência do aprendizado imposto pelo período de racionamento. A Integração da Geração aos Sistemas de Potência Uma das típicas funções dos estudos de mercado é prover uma perspectiva de evolução do montante e da forma com que a energia disponível será utilizada pelos consumidores. De acordo com as características de disponibilidades das fontes de energia em cada região, ou país, é desenvolvida toda uma estratégia de sua evolução, comumente designada como Oferta, em função da velocidade de crescimento do consumo, denominada Demanda. 1885 Cabe ao Setor Energético, responsável pelo equilíbrio entre a oferta e a demanda, prover um plano de ação no sentido de disponibilizar a oferta de energia, incorporando os demais aspectos estratégicos do governo, tais como crescimento econômico, produção industrial, desenvolvimento tecnológico, disponibilidades de recursos, premissas sócioambientais e metas de qualidade de vida, entre outros. Em países com organização suficiente para ponderar todas as premissas e prioridades, em relação às metas técnico-econômicas e sócio-ambientais, este trabalho é traduzido pela Matriz Energética Nacional, que reflete o consenso dos diversos atores e baseia-se nos planejamentos dos setores produtivos do país, inclusive o elétrico. O setor elétrico tem significativa responsabilidade no cumprimento das metas nacionais, tendo em vista a sua necessidade de viabilização do suprimento aos requisitos de consumo e de desenvolvimento, pretendidas pelos planos específicos dos diversos atores do processo. A Matriz Energética Brasileira, devido ao restrito entrosamento entre estes atores, tem se constituído numa aglutinação dos planejamentos setoriais individualizados, de forma a contabilizar, apenas, os requisitos particularizados. A Matriz Energética deveria, entretanto, ser um indicador para os planejamentos individualizados, de forma a priorizar os interesses nacionais, sobrepondo-os aos setoriais. O Setor Elétrico vinha se propondo a efetuar parte do trabalho de homogeneização das premissas nacionais, através da transparência de suas pretensões de longo prazo (cerca de 25 anos), abrindo os mesmos às criticas, num primeiro momento ( Plano de Recuperação do Setor elétrico Nacional - 1986 e o Plano 2010 - 1988/89 ), passando a discutir com a sociedade as premissas e condições econômicas e sócio-ambientais do país, visando obter um plano de evolução do crescimento da oferta e do sistema elétrico , que contemplasse, também, as perspectivas nacionais e dos demais setores. O Setor Elétrico e a Geração de Energia Elétrica É pratica comum aos órgãos de planejamento do setor elétrico das nações, a busca de alternativas de evolução da oferta através da maximização do aproveitamento de recursos energéticos próprios. No caso brasileiro, a geração de energia elétrica tem preponderância na utilização da base hidráulica, em face da grande disponibilidade destes recursos, sendo, atualmente, responsável por cerca de mais de 96% do total de energia elétrica gerada. A geração térmica é tida como complementar, com exceção no sul do Brasil (RS carvão) e em pontos isolados da região norte (óleo), sendo as demais unidades mantidas como alternativa a possíveis estiagens e acidentes que tornem indisponível o pleno atendimento do mercado com as fontes hidráulicas, caracterizando um complemento tarifário denominado ECE Encargo de Capacidade Emergencial, função do incentivo à implantação de novas unidades térmicas, a Gás Natural em sua predominância, ou um componente da parcela A da tarifa, denominada como CCC- Conta de Compensação de Combustível, associado á necessidade de geração a óleo combustível em unidades estrategicamente implantadas ao longo do sistema elétrico interligado, associado á complementação da oferta em condições específicas decorrentes do esgotamento ou restrição do aproveitamento das reservas hidráulicas em caráter temporário. 1886 Os estudos das bacias hidrográficas caracterizam os melhores pontos de constituição das usinas hidroelétricas, considerando os aspectos de quedas dágua e de área disponível para os reservatórios. Estes estudos são denominados como inventário da bacia hidrográfica. A fonte hidráulica de geração da energia elétrica, mesmo sendo um processo considerado limpo, implica em diversas agressões ao meio fisico-biótico da região. Este assunto será tratado posteriormente no tópico sobre impactos ambientais dos serviços de energia elétrica. Os reservatórios de usinas hidroelétricas, entretanto, vem sofrendo inúmeras mudanças em seus objetivos principais, tendo em vista a possibilidade de seu multi-aproveitamento, caracterizado pelas várias finalidades imputadas aos reservatórios, tais como a navegação fluvial, irrigação, controle de cheias, abastecimento urbano, piscicultura, lazer, etc. Para a determinação da potência disponível em usinas hidroelétricas se faz necessário o pleno conhecimento de variações anuais e plurianuais da bacia hidrográfica, que faz parte dos estudos de inventário da bacia, bem como dos montantes requeridos pelos demais usuários do reservatório a ser constituído. De posse das características das vazões e da topologia da bacia, determina-se os pontos ideais para a constituição das usinas hidroelétricas, obtendo-se a sucessão de vazões parcialmente regularizadas do ponto selecionado; as correspondentes alturas de queda em função das curvas topográficas e do nível do reservatório (cota dágua a montante e a jusante); a caracterização da vazão mínima garantida do ciclo; a determinação da área superficial de água e a evaporação média esperada, em função da cota do reservatório, (portanto, a montante); e os volumes requeridos para as demais funções do reservatório e perdido por evaporação. Uma vez caracterizada a vazão mínima garantida ou contínua, pode-se determinar a energia firme disponibilizada pela usina, através do cálculo da potência firme. Potência firme de uma usina hidroelétrica é, portanto, aquela obtida com a vazão mínima garantida da bacia hidrográfica no ponto de geração, que estará SEMPRE disponível, mesmo na pior condição de estiagem. Obviamente, poderão ser obtidos valores de geração sempre superiores ao firme durante a vida útil da usina hidroelétrica. Em função da introdução da comercialização na geração, proveniente da reestruturação do setor, o valor mínimo esperado para o ano em curso (Energia Firme + Vazão adicional esperada), se caracteriza a denominada Energia Assegurada, a qual pode ser comercializada, pelo detentor do empreendimento, aos concessionários, através de leilões, conforme expresso pela Lei nº 10.848 2004 ou através do mercado SPOT, aos comercializadores, exportadores ou consumidores livres do setor elétrico nacional. Em relação, exclusivamente, aos serviços de energia elétrica, a usina hidroelétrica tem como aspectos principais as suas características de capacidade de acumulação e regularização das vazões, o que habilita a garantia de suprimento constante em qualquer período do ano, mesmo com baixos índices pluviométricos. O reservatório, portanto, é responsável pela energia do sistema enquanto o conjunto de geração é responsável pela demanda ou potência instantânea requerida pela carga. A usina pode gerar demanda até o limite da capacidade de suas máquinas, porém, isto pode significar uma drástica redução do volume de água armazenado no reservatório, 1887 causando o seu deplecionamento (diminuição do volume ou redução da cota a montante), o que pode implicar em futura indisponibilidade de energia e demanda para a carga, se mal administrado o despacho da usina hidroelétrica. (Despacho é a determinação do volume dágua turbinável ou a potência gerada a cada instante ou período considerado). Como se pode notar, a usina hidroelétrica deve ser administrado tanto em relação à demanda (valor instantâneo), quanto em relação ao consumo (montante associado ao requisito de tempo, curva de carga diária), o que requer diferentes características de máquinas e reservatórios instalados no sistema elétrico, para atender as mais diversas condições de solicitação da carga. Vantagens Atribuídas à Geração Descentralizada O sistema elétrico brasileiro, nas últimas décadas, apresentava forte atuação do Estado, atribuindo à Eletrobrás, através de seus órgãos de Planejamento - GCPS e Operação GCOI, o controle da expansão e operação da produção de energia elétrica (Oferta), caracterizando uma atuação centralizada sem grande participação de agentes privados. Com a reestruturação do setor, a missão de expansão e operação da oferta inclui novos agentes, que deverão se submeter à regulação do Estado, mas que influirão de maneira a incluir obras e despachos de geração que tenham um caráter mais localizado e de atuação mais restrita, o que caracterizaria uma nova opção de geração de energia elétrica, denominada de geração descentralizada. Neste sentido, algumas vantagens são normalmente atribuídas à geração descentralizada, como evidenciadas por Walter (1994). l a geração descentralizada pode possibilitar a minimização dos investimentos e a redução dos custos globais de produção e transporte de eletricidade: em sendo uma alternativa de suprimento basicamente local, haverá redução dos custos de transporte. A concessionária, como compradora da energia disponibilizada pela nova fonte, não se aterá às questões de econômicas de escala, enfrentada pelo vendedor; l o período de construção de pequenas obras é, em geral, bastante reduzido em relação às alternativas convencionais; l a possibilidade de utilização de insumos energéticos de menor valor comercial ou, ainda, de fluxos residenciais, permite a minimização dos custos operacionais de um projeto de multi-aproveitamento, com influência direta nos custos operacionais da geração de eletricidade, passando esta a ser uma componente do processo; l a promoção do desenvolvimento local, através da utilização de recursos próprios da região, com evidentes vantagens sob o enfoque econômico e social para a região; l a minimização dos impactos ambientais redundantes do porte das instalações e maior dispersão espacial; l a flexibilização dos sistemas elétricos pela introdução de degraus de produção menores, passíveis de constituir uma envoltória de geração mais próxima às solicitações do mercado no tempo; l o maior mix na geração pode levar a uma maior confiabilidade e segurança no aprovisionamento energético; 1888 l no caso da co-geração, pode ser atribuída à vantagem de um maior eficiência energética no uso da energia com reflexos no ponto de vista ambiental, frente a produção exclusiva de calor e potência, por exemplo. A nova configuração da oferta A reestruturação inicial do setor elétrico, associada ao PND Plano Nacional de Desestatização, propiciou a introdução de novos agentes que devem participar da competição do mercado de venda de energia elétrica, caracterizando a descentralização da oferta, porém, com perspectivas de controle, fiscalização e regulação pelos novos órgãos a ANEEL, o MAE, o ONS, e o Planejamento Indicativo. De forma prática, a concessionária que promovesse a compra da energia junto aos novos empreendimentos, deveria adequar-se à nova condição de suprimento, auferir os benefícios do mercado e enfrentar os problemas inerentes à introdução de um novo agente, nem sempre com vivência no serviço a ser prestado. A revisão do setor propiciada pela edição da Lei nº 10.848, não introduz mudanças significativas nas questões operacionais, pois a adequação requer apenas a participação das concessionárias nos leilões de oferta de energia, que serão divididas em cotas e repassadas a todos integrantes e adquiridas pela melhor oferta, visando a redução do custo de aquisição e, consecutivamente, propiciando a modicidade de preço requerida. Desta forma, a introdução do PIE e do Auto-produtor deve manter e evoluir uma regulamentação específica, visando permitir um efetivo controle por parte do ONS e das concessionárias que viabilizará a introdução do potencial ofertado por estes agentes ao sistema interligado nacional. O PIE - Produtor Independente de Energia e o Auto Produtor, com suprimentos de forma firme e sazonal, respectivamente, vêm promovendo tratativas junto ao setor elétrico para a incorporação dos potenciais disponibilizados pelos mesmos, visando a comercialização do produto Energia Elétrica. A aquisição de energia excedente de auto-produtores foi pela primeira vez regulamentada em 1981, em relação ao abastecimento de regiões isoladas. Em 1986, nova portaria do DNAEE (nº 246) regulamentou a compra de longo prazo, por um período de 10 anos, da energia excedente de auto produtores, reavaliada em 1989 em relação aos requisitos de faturamento, simplificando-os. Esta portaria estabelece as condições de confiabilidade e qualidade exigidas para a comercialização. Ainda em 1989, foram regulamentadas as condições de compra de energia de curto prazo (um ano), garantindo-se a remuneração por energia e potência fornecidas. A introdução destes novos agentes, na fase anterior à reestruturação do setor elétrico, foi caracterizada por um conflito de interesses, tanto por parte do setor elétrico quanto por parte dos novos agentes, praticamente limitados ao setor sucro-alcooleiro, que enfrentava, no período, as distorções decorrentes da crise do Proálcool. Com uma regulamentação adequada em relação a custos, confiabilidade e qualidade dos serviços a serem prestados, estes novos agentes passaram a ter uma postura diferenciada daquela apresentada nas últimas décadas, bem como são incluídas novas alternativas de 1889 insumos energéticos, incentivados em decorrência de legislação específica (PROINFRA) e em face das características de adequação de um mercado competitivo para uma demanda voraz e uma oferta titubeante, devido à saída do Estado, e à dúvida do setor privado frente a história Brasil de regulação. Desta forma, os consórcios envolvendo agentes privados, governamentais e as próprias concessionárias, que evoluem as novas plantas de médio e grande porte, até o limite de suas forças, abrindo licitações para a inclusão de sócios em cada empreendimento, vem sendo o modo de inserção mais em prática no país nos últimos anos. A perspectiva de introdução de um novo energético de forma abundante, que é o gás natural via acordo internacional, e o próprio interesse de ampliação da oferta pela Petrobrás, viabiliza a introdução de novas plantas que caracterizariam uma forma de atuação descentralizada e com características de energia com a qualidade, confiabilidade e custos compatíveis com a atual condição do mercado, que se implantaria contando com a sólida estrutura de empresas internacionais, com larga experiência em geração térmica e com a vantagem de constituição de empreendimentos menos intensivos em capital e com menores prazos de maturação. Os agentes nesta categoria se constituiriam em novas empresas de geração que participariam da oferta via leilões de mercado, função da nova legislação, ou através de negociações independentes com o mercado, SPOT, se efetivando como Produtores Independentes. Associado a este potencial, os processos industriais com características de plantas de cogeração, lastreados no gás, petróleo ou em biomassa podem, também, tornar a venda de energia elétrica como mais um produto a ser ofertado, constituindo os Auto-Produtores ou mesmo Produtores Independentes, dependendo das características das instalações e adequação de produção de vapor, por exemplo, necessárias aos processos industriais próprios, o que incluiria os agentes do setor sucro-alcooleiro, que já desenvolvem namoro de longo prazo com o setor elétrico nacional. Cabe aos órgãos de fiscalização, regulação e controle, associados às concessionárias, comercializadores e consumidores livres, compradores deste novo potencial de energia a ser disponibilizado, identificar os parâmetros mínimos a serem seguidos pelos produtores de forma a promover a inserção definitiva destes novos agentes no sistema elétrico nacional, amenizando as premências oriundas da espera da entrada em operação das grandes obras, e caracterizando um novo patamar de custo de operação, índice de mérito e área de atuação do novo espectro de oferta propiciada por estes agentes. Critérios Para Análise da Expansão da Geração A expansão do parque gerador nacional, até o início do processo de reestruturação, foi desenvolvida pelo GCPS - Grupo Coordenador do Planejamento do Sistema Elétrico que apresentava os planos de expansão de médio e longo prazos, respectivamente, o Plano Decenal de Expansão e os Planos de Referência (25 anos). Este planejamento consolidava a introdução determinativa do cronograma de obras de expansão do sistema, incluindo a geração, e como já evidenciado, priorizava as obras de geração através dos respectivos índices de mérito. 1890 A reestruturação do setor elétrico alterou as funções do planejamento, tornando o cronograma de obras de expansão da geração, ainda priorizado nos moldes anteriores, com caráter indicativo, de forma a que os novos agentes privados avaliem a oportunidade de negócio, optando por uma das obras indicadas como de interesse para o setor, ou solicite a concessão de uma outra obra, não incluída no plano, de interesse particularizado. Os aspectos básicos orientadores da expansão da geração, de uma forma geral, são os custos e a qualidade do produto, traduzidos como a busca de se oferecer eletricidade com mínimos custos e qualidade satisfatória aos anseios do cliente. Neste cenário, as concessionárias distribuidoras, os comercializadores e os consumidores com demanda contratada entre 500 e 3.000 kW, fariam o papel de clientes preferenciais dos pequenos produtores, tendo em vista as características físicas de integração destas pequenas centrais de produção. A definição final dos parâmetros de qualidade e confiabilidade da produção, num país continental como o Brasil, com significativas disparidades, depende da localização em que se processará a comercialização dos serviços de venda de energia, bem como do tipo e características da carga da região. Com a introdução do mecanismos de leilões, há mais esta alternativa de competição para a geração descentralizada, como já mencionado, evidenciando uma possível redução de preços, porém, com maior segurança em sua viabilização de longo prazo. Além destes possíveis novos atores, a perspectiva de introdução de fontes termelétricas no sistema está associada às características favoráveis das mesmas, como a independência de regimes hidrológicos; os projetos menos intensivos em capital; o menor prazo de maturação das obras; e da maior flexibilidade na localização estratégica das plantas, além do suporte propiciado pelo Encargo de Capacidade Emergencial, assegurando suporte econômico aos empreendimentos, como a reserva e a complementação das medidas, no caso da necessidade de fornecimento de energia por estas unidades que atenderam às regras de energia termoelétrica prioritária que foram estabelecidas durante o período de racionamento vivenciado pelo país. A introdução de geração termelétrica em um sistema eminentemente hidráulico deve atender à alguns pré-requisitos básicos para que se torne atrativa, como o de apresentar custo unitário de geração de energia competitivo, em relação aos custos marginais e, dependendo do porte da instalação, viabilizar a operação estratégica do sistema interligado. A introdução de plantas geradoras mais próximas à carga pode redundar em significativas melhorias operativas, bem como promover o adiamento de obras de porte significativos nos sistemas de subtransmissão ou transmissão. Exemplos destes benefícios podem ser constatados nas contingências de maior extensão onde se pôde caracterizar ilhas de preservação do suprimento mesmo durante black-out como no caso das zonas prioritárias de atendimento dos grandes centros, como São Paulo e Campinas ou mesmo na região de Nova York nas ultimas ocorrências de porte nestes sistemas elétricos. Os principais aspectos a serem considerados, quando da introdução de uma nova fonte no sistema, se referem à avaliação dos impactos à operação da rede e ao meio ambiente. 1891 Os estudos técnicos que devem prescindir à inserção de uma nova fonte no sistema primário de distribuição de energia elétrica já foram equacionados. Após certa relutância dos concessionários, se promoveu de forma simples a integração de novos empreendimentos à Malha Básica ou ao sistema de distribuição, imputando às partes as suas responsabilidades quanto as obras de conexão. Algumas concessionárias já dispõem de plantas geradoras particulares integradas ao sistema próprio, bem como a operação conjunta tem passado por uma série de experiências e regulamentações, visando obter resultados satisfatórios a todos os envolvidos: fornecedores, compradores e consumidores. Entretanto, a consolidação da ampliação da oferta vem enfrentando problemas em relação a sua consolidação por questões ambientais, ou seja, passam a enfrentar problemas no licenciamento destes empreendimentos. Apesar de suas características de menor impacto, todo empreendimento interfere no meio ambiente, suas conseqüências precisam ser devidamente avaliadas, e um plano / programa de mitigação e compensação destes impactos precisa ser efetivamente consolidado. Entretanto, os mecanismos e exigências que se apresentam carecem de uma maior adequação às características destes novos atores, uma vez que as premissas de análise dos impactos ambientais estão coadunadas com a história do setor produtivo, ou seja, dos grandes empreendimentos. De forma geral, poder-se-ia dizer que, atualmente é mais fácil obter-se o licenciamento para grandes obras do que para as pequenas. As restrições impostas às primeiras são compensadas por suas dimensões, enquanto nos pequenos empreendimentos as mesmas o inviabilizam. As tabelas 1 e 2 apresentam a relação de empreendimentos no Estado de São Paulo, que se encontram em compasso de espera, em função de suas pendências para com os órgãos de licenciamento ambiental, exemplificando o exposto. Tabela 1 - PCT´s - pendências na obtenção de licenças ambientais 3&7327Ç1&,$ 081,&Ë3,2 5(62/8d2 /8&e/,$ 0: 6-22%,2*È6 0: *8$5$1, 09$ 6$17$(/,6 $ 0: Lucélia 770 - 12/02 São Paulo Olímpia - SP Sertãozinho SP &20(17È5,26 O RAP está em análise pela SM A desde 09/02. 328 - 06/02 O RAP insuficiente pela SM A. EIA RIMA em elaboração. 294 - 06/03 RAP encaminhado - LP em 08.02 e L.I em atraso 214 - 04/0 RAP encaminhado em 08/02 e ainda não aprovado. Fonte: CSPE - 2003 1892 Tabela 2 - PCH´s - pendências na obtenção de licenças ambientais 3&+ 327Ç1&,$ &$55$3$726 N: 62-2$48,0 N: 6$17$,1Ç6 N: 62-26e N: &$0%858 N: 3$5$,7,1*$ N: *8$5$Ò N: &$6&$7$ N: $1+$1*8(5$ N: 5(7,52 N: 3$/0(,5$6 N: Fonte: CSPE - 2003 081,&Ë3,2 (035(6$ &20(17È5,26 Caconde AES Tietê Res.665 - 12/01 AES Tietê Res.733 - 12/01 AES Tietê Res.754 - 12/01 AES Tietê Res.730 - 12/01 SERVENG Res.548 - 10/02 ELETRORIVER Res.362 - 12/99 SABESP Res.402 – 10/00 SABESP Res.405 – 10/00 SEBAND Res.541 – 10/02 SEBAND Res.549 – 10/02 SEBAND Res.706 – 10/02 Dificuldade na obtenção da LI. Processo de renovação M ar/03, SMA solicita inf. Complementares – Prev. 07/03 M ar/03, SMA solicita inf. Complementares – Prev. 07/03 SM A passou a exigir o RAP – Prev. 07/03 Atraso na obtenção das licenças ambientais(Arquivamento doc.) Bloqueio da LI pela SM A Q 7.10 – Em avaliação (CSPE) P. Básico concluído em 12/02 LP em tratativa - s/ Previsão P. Básico concluído em 06/02 LP em tratativa - s/ Previsão Licença Ambiental da CPFL. Transferência em tratativa. Licença Ambiental da CPFL. Transferência em tratativa. Licença Ambiental da CPFL. Transferência em tratativa. S João B Vista S João B Vista S João B Vista Caraguatatuba Cunha São Paulo M airiporã S Joaquim Barra e Guará S Joaquim Barra e Guará S Joaquim Barra e Guará De toda sorte, esta CSPE procurou se ajustar à situação, criando uma equipe própria de apoio tanto aos empreendedores quanto aos órgãos de licenciamento. Porém, a ANEEL, optou por não reconhecer esta estrutura, desmobilizando-a. Ao mesmo tempo, durante o biênio 2001/2002, promoveu um convênio com a Secretaria de Meio Ambiente do Estado que se mostrou ineficiente, pelo menos em relação aos processos em trâmite na CSPE. Novamente, a ANEEL volta à questão, solicitando um representante da CSPE para promover o trâmite e apoio às partes nos processo de licenciamento ambiental, o que, no entender desta CSPE, se mostrou insuficiente, a partir de 2003, pois na realidade a necessidade requer a configuração de parâmetros exclusivos à estes empreendimentos. Entretanto, o que se mostrava inadiável seria a integração dos organismos de Estado na consolidação de um plano de evolução da oferta de energia, uma vez que, em relação ao potencial hidrelétrico de grande porte, não se dispõem de maiores recursos, passando-se a buscar os potenciais de médio e pequeno porte que, face as características anteriores, foram abandonados, à época, ou relegados a segundo plano. Com a grande vantagem de reconfiguração dos sistemas de distribuição local, decorrente da introdução da nova fonte, PCH, cita-se, dentre elas: o seu reduzido impacto ambiental; reservatórios com área inferior a 3km2; possibilidade de multi-aproveitamento; geração de recursos ao município; redução de perdas nos sistemas das concessionárias de distribuição, e, no conjunto da transmissão, se faz mister a identificação de parâmetros específicos de avaliação ambiental, de forma a que se possa promover a adequação de ampliação da oferta às oportunidades do mercado. 1893 Precisa ficar bem evidente que estas alternativas têm caráter regional e não são suficientes para o atendimento da evolução do mercado. Entretanto, se torna coadjuvante com reflexos positivos na economia e no próprio setor. Assim, em conjunto com a Secretaria de Estado de Energia, Recursos Hídricos e Saneamento, solicitou-se uma ação integrada com a Secretaria de Meio Ambiente, de forma a se promover tanto um levantamento do potencial hídrico remanescente do Estado quanto da criação de uma matriz energética que busque promover a ampliação da oferta sob a ótica de política pública e de oportunidades remanescentes. Esta situação poderia ser melhor avaliada e desenvolvida quando da consolidação do Conselho de Energia do Estado, criado por lei Estadual em 2002 e ainda em fase de formação, que passaria a identificar os pontos de estrangulamento do processo e a melhor alternativa de evolução da oferta e da disponibilidade de recursos ao setor produtivo. A CSPE através de convênio firmado com à ANEEL, acompanha o andamento das obras de geração de PCH´s e PCT´s do Estado de São Paulo. O trabalho consiste, basicamente, na verificação do cumprimento dos eventos / marcos definidos no cronograma da autorização emitida pelo poder concedente, através de visitas ao local do empreendimento (a obra em andamento) ou o empreendedor encaminha à CSPE, mensalmente, as ações desenvolvidas (caso a obra não tenha sido iniciada). Além das visitas, a CSPE recebe do empreendedor informes mensais da evolução das obras, repassadas para a ANEEL. As informações apresentadas pelas Tabelas 1 e 2, que são baseadas, exclusivamente, nas informações do empreendedor, durante as fiscalizações. Paralelamente, no ano de 2003 a integração de esforços entre empreendedores, especialistas do setor, a Secretaria de Energia e Recursos Hídricos, a Secretaria de Meio Ambiente e a CSPE, passaram a analisar as condicionantes impostas aos empreendimentos evidenciando alternativas para a viabilização das mesmas com ótica particularizada, onde quesitos básicos como os índices Q7-10 (Mínima Vazão Identificada na série hidráulica de 10 anos, no ponto previsto para o empreendimento) seja substituído por uma outra referência ao mesmo tempo que se inclui a obrigação de monitoramento do leito de rio que seria influenciado por este novo referencial, visando consolidar as especificidades para as PCHs. O resultado deste trabalho, ao final de 2003, fez caracterizar duas alternativas onde as vazões mínimas são caracterizadas como percentuais do índice padrão de grande porte, Q7-10, cuja definição final caberá ao Secretário de Meio Ambiente, uma vez que, apesar de não se caracterizar um consenso entre os participantes, promoveu-se um acordo de acatar a decisão do Secretário como início de adequação dos mecanismos de avaliação ambiental dos empreendimentos de pequeno porte, o que, no entender desta CSPE, foi um avanço. Comentários Finais Os novos agentes e as concessionárias de energia elétrica, passam por significativas transformações, em função de diversos fatores como: o plano nacional de desestatização, a reestruturação do setor elétrico e sua adequação introduzida pela Lei nº 10.848 de 15/03/ 2004, e as grandes transformações econômicas internacionais, com reflexos diretos na produção e disponibilidade de bens e insumos que alteram os modus operandis de ambos atores; e outros, redundando em alterações significativas na operacionalização e no relacionamento entre as partes do novo mercado de energia e, em particular, o de energia elétrica. 1894 A sociedade busca caminhos e soluções para o equacionamento do crescimento sustentável, tanto em relação às questões sócio ambientais quanto às técnico e econômicas. Estas transformações, sem dúvida, desfigurarão o planeta como um todo, impondo uma nova cara, que será o resultado das mudanças que se está implementando em todos os setores de infra-estrutura em diversos países. A manutenção de regiões em eterno processo de desenvolvimento, outros em condições de precariedade, com desesperadoras mutilações da população por requisitos básicos de vida, como a alimentação, a moradia e a segurança, não encontra respaldo no arranjo sócio-econômico da moderna economia globalizada, baseada no desenvolvimento sustentável. O setor elétrico, como meio integrador do desenvolvimento, busca caminhos para disponibilizar os montantes de energia requeridos pelo mercado consumidor e deve propiciar, em conjunto com os órgãos de desenvolvimento social e ambiental, os meios para que sejam estendidos, a toda população, os benefícios inerentes a disponibilidade da energia elétrica como vetor de consolidação de evolução social a todo o país. A privatização deste setor no Brasil torna esta missão mais ousada. Porém, identifica as responsabilidades dos diversos atores que devem buscar, na integração de propósitos e objetivos, os caminhos para incentivar o desenvolvimento, calcado em estratégias nacionais, mantendo, entretanto, a viabilidade e os objetivos comerciais dos diversos agentes do novo setor elétrico. Neste cenário, as pequenas centrais de geração de energia elétrica desenvolvem papel importante, uma vez que elas podem se associar tanto ao gigantismo do sistema interligado, com vantagens relativas de um melhor espectro de adequação da oferta às solicitações da demanda, quanto aos sistemas isolados ou inexistentes, se constituindo em importante vetor de desenvolvimento localizado, técnico, econômico e social. O contexto exige a integração dos órgãos de regulamentação, financiamento, planejamento e operação do setor elétrico aos organismos de política e desenvolvimento social do país, de forma a buscar-se uma redução dos contrastes do planeta, eliminando-os internamente ao Estado e ao País. Um destes mecanismos pode vir a se concretizar através da consolidação do Conselho de Energia do Estado, de forma a propiciar os Rumos da energia e da economia no Estado. Deverão ser priorizados o meio ambiente e o desenvolvimento social, ao mesmo tempo em que se consolida o chamado Desenvolvimento Sustentável, pela implantação de um programa que garanta a melhor utilização dos recursos naturais do Estado, ao mesmo tempo que promova as condições necessárias de infra-estrutura sócio-ambiental com regras claras e dirigidas ao estágio de evolução em que o Estado e o País se encontram, respeitando-se as particularidades e as vocações regionais. 1895 BIBLIOGRAFIA ANEEL - Regulamentação / Legislação do Setor Elétrico Brasileiro 2001 Andrade, MTO & Ramalho, Edna L. Restruturação e a sobrevivência do setor elétrico Brasileiro - Seminário Internacional de Sevilha - Espanha , 2000 Andrade, MTO & Sassi, Paulo M. Os novos agentes da comercialização de Energia Anais do Congresso Latino Americano de Geração e Transmissão de Energia Elétrica - Viña del Mar Chile 2000 Andrade, MTO Geração Distribuída PCHs Aspectos Técnicos e Ambientais Anais do Congresso Latino Americano e do Caribe Rio de Janeiro Abril 2004 Bajay, Sergio V, Planejamento da Expansão do Setor Elétrico Congresso Brasileiro de Energia - Rio de Janeiro - Anais, 1990 p. 883-890 ELETROBRÁS - Planos Nacionais de Energia Elétrica PRS; Plano 90; Plano 2000; Plano 2010; Plano 2015; (1973 1992) Rio de janeiro INFRA 3º Fórum Brasileiro de Energia elétrica São Paulo 2003 MME Proposta de Modelo Institucional do Setor Elétricos Brasília Junho de 2003 Reis, Lineu B Geração de Energia Elétrica Ágil Gráfica USP São Paulo Agosto de 1998 Silveira R, Critério para Dimensionamento de Usinas Hidroelétricas, DNAEE/CESP - Rev. Água e E.E. Walter, Arnaldo C.S. Viabilidade e Perspectivas da Cogeração e da Geração Termelétrica do Setor Sucroalcooleiro Campinas: UNICAMP, 1994 - Tese de Doutoramento Faculdade de Engenharia CSPE Relatório de Fiscalização de PCHs e PCTs 06/2003 Nivaldo, Relatório de Progresso do Grupo de Trabalho de Metodologia de Avaliação Ambiental de Empreendimentos de pequeno e médio portes PCHs Secretaria de Meio Ambiente Dezembro / 2003 Lei nº 10.848 de 15 de março de 2004 Dispõe sobre a comercialização de energia elétrica, alterando as leis... e dá outras providências. Lei nº 10.847 de 15 de março de 2004 Autoriza a criação da Empresa de Pesquisa Energética EPE e dá outras providências 1896 AVALIAÇÃO DE UM MÓDULO FOTOVOLTAICO POLICRISTALINO NA CONVERSÃO DE RADIAÇÃO SOLAR EM ENERGIA ELÉTRICA Odivaldo José Seraphim 1 Jair Antonio Cruz Siqueira2 Carliane Diniz e Silva3 Jair de Jesus Fiorentino4 João Alberto Borges de Araújo5 RESUMO Os sistemas convencionais de fornecimento de energia elétrica, nem sempre se apresentam como a melhor opção para satisfazer as necessidades do setor rural. Por isso, há necessidade de pesquisas envolvendo a utilização de fontes alternativas de energias, dentre elas a solar fotovoltaica, sendo que a produção de energia no meio rural promove crescimento econômico e desenvolvimento social. Esta pesquisa experimental teve a finalidade de apresentar uma metodologia para analisar e avaliar o desempenho de conversão do módulo fotovoltaico de 45 e 60 WP, constituído por células de silício policristalino, quanto à eficiência energética em função da disponibilidade de radiação solar e da energia elétrica gerada. Os módulos apresentaram baixa eficiência média diária e mensal, quando instalados em condições de campo, sendo que este desempenho está relacionado diretamente a variação da radiação solar média diária integralizada, temperatura de operação do módulo, orientação e inclinação do módulo em relação à latitude local. Palavras-chave: módulo fotovoltaico, ângulo de inclinação, radiação solar, eficiência. Prof. Adjunto do Depto. de Engenharia Rural UNESP/FCA Cx Postal 237, CEP 18.603-970 Botucatu/SP. Fone/ Fax (14) 3811 7194 e-mail [email protected] 1 Doutorando em Energia na Agricultura UNESP/FCA [email protected] 2 Dra em Energia na Agricultura UNESP/FCA Campus de Botucatu. 3 Doutorando em Energia na Agricultura UNESP/FCA [email protected] 4 Prof. Dr. do Depto. De Engenharia de Produção FATEC/Botucatu SP 5 1897 INTRODUÇÃO Com a escassez das fontes convencionais de produção de energia, outras opções devem ser consideradas, como a utilização de recursos energéticos renováveis, que oferecem múltiplas vantagens: possibilitam o uso da mão-de-obra local, não degradam o meio ambiente e facilitam a possibilidade econômica de energia útil em pequena escala. Uma das opções para o fornecimento de energia para os usuários rurais é o sistema solar fotovoltaico. A energia solar fotovoltaica, entretanto, ainda apresenta um custo elevado, principalmente quando se refere ao público que seria mais beneficiado com este tipo de fonte descentralizada, ou seja, a população da zona rural. Existem programas que fomentam a implantação de pequenos sistemas solares fotovoltaicos para população mais carente. Em muitos casos, estes sistemas são instalados e não são sistematicamente acompanhados, comprometendo o seu funcionamento e, conseqüentemente o seu rendimento. Segundo Fedrizzi (1997), o serviço de eletrificação rural tradicional é basicamente caracterizado pela grande dispersão geográfica da população, baixo consumo de eletricidade, alto investimento por consumidor, elevado custo operacional, resultando num baixo retorno ou até mesmo prejuízo financeiro à concessionária de energia elétrica. No entanto, segundo Costa (2001), essas características podem ser interpretadas como vantagens quando se trata do uso de fontes alternativas de energia adequadas, em particular, a solar fotovoltaica. A possibilidade de ser usada em pequena escala e gerada localmente, não necessitando de redes de distribuição, resolveria o problema de abastecimento de pequenas propriedades e comunidades isoladas. Já se atinge com novas técnicas de fundição de células policristalinas eficiências de 15 a 19%, enquanto que para filmes finos a eficiência encontra-se em torno de 7% (ELETROBRÁS, 1994). Para Al-Ismaily & Probert (1998), somente o silício monocristalino tem chegado próximo à tensão e corrente máxima teórica. O maior problema é o seu custo elevado. Embora estas células forneçam um bom balanço custo-eficiência e confiabilidade. Embora as células de silício amorfo podem alcançar uma eficiência de 10%, este valor não é mantido por longo tempo diminuindo para 7%. As células policristalinas são feitas de silício puro, mas não por um único cristal, sua eficiência é menor do que as monocristalinas. Porém o silício policristalino é de fácil produção e, portanto, células de mais baixo custo; sua eficiência é somente um pouco menor do que as células monocristalinas. As células de filme fino são também feitas de silício, mas com uma técnica de produção mais avançada, com consumo de silício no processo. A desvantagem do filme fino, particularmente o de silício amorfo, é sua eficiência de conversão ser muito inferior do que aquela do silício cristalino. O silício policristalino, constituído por um número muito elevado de pequenos cristais da espessura de um cabelo humano, dispõe de uma quota de mercado de cerca de 30%. As descontinuidades da estrutura molecular dificultam o movimento de elétrons e encorajam a recombinação com as lacunas, o que reduz a potência de saída. Por esse motivo 1898 os rendimentos em laboratório e em utilização prática não excedem os 18% e 12%, respectivamente. Em contrapartida, o processo de fabricação é mais barato que do silício cristalino (CASTRO, 2003). Atualmente o silício policristalino conta com aproximadamente 50% das células de silício fabricados no mundo, é a tecnologia fotovoltaica dominante. Pela primeira vez, a eficiência desta célula solar alcançou 18% (OLIVEIRA, 1997). Qualquer alteração na eficiência do modulo afeta a geração de energia que, de acordo com os próprios fabricantes, é baixa sua eficiência, mesmo nas Condições Padrão de Teste (CPT). Contudo, é preciso efetuar teste em condições de campo, que em algum momento se aproxima das CPT para observar-se o comportamento de sua eficiência. Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo, desenvolver uma metodologia para analisar e avaliar a energia gerada e a eficiência de conversão da energia solar em energia elétrica de dois módulos fotovoltaicos de constituição policristalina, instalados em condiçlões de campo, sendo ambos da mesma marca, com potência de pico de 45 e 60 Wp. Para tanto, considerou-se a disponibilidade de radiação solar global, a variação das inclinações dos módulos em relação à latitude local e em relação às estações do ano. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi desenvolvida no Departamento de Engenharia Rural, da Faculdade de Ciências Agronômicas, da Universidade Estadual Paulista (FCA/UNESP), localizada no município de Botucatu, São Paulo, com localização geográfica definida pelas coordenadas 22° 51' Latitude Sul (S) e 48° 26' Longitude Oeste (W) e altitude média de 786 metros acima do nível do mar, com clima subtropical úmido e temperatura média anual de 22oC. A monitoração dos dados meteorológicos e elétricos do módulo foi realizado no Laboratório de Energização Rural, utilizando-se de uma torre meteorológica de 10 metros, equipada com sensores e coletor de dados. Sendo que as características técnicas do módulo estão descritas na Tabela 1. Tabela 1. Características elétricas dos módulos fotovoltaicos com radiação solar de 1.000W.m-2. 'DGRV7pFQLFRVD:P 3RWrQFLD 7HQVmR 7HQVmR &RUUHQWH &RUUHQWH 'LPHQVmR 0yGXOR 1RPLQDO 1RPLQDO HPDEHUWR $ HPFXUWR &[/[$ 9 9 $ PP x PP x PP :S 0 45 15,0 19,2 3,00 3,10 573 x 652 x 54 0 60 16,9 21,5 3,55 3,73 751 x 652 x 52 Fonte: Catálogo técnico do fabricante: Para se quantificar e verificar a influência da radiação solar sobre a energia gerada e na eficiência dos módulos fotovoltaicos, foram instalados dois módulos e direcionados para o norte magnético, com os ângulos de inclinação e respectivos períodos de permanência, para as seguintes condições abaixo: 1899 Módulo M1: Inclinação: (23o ) = Latitude aproximada do local Período: (01 a 20/12/2002) Inclinação: (13o) = Latitude local 10o Período:(21/12/2002 a 20/03/2003) Inclinação: (23o) Período: (21/03 a 20/06/2003) Inclinação: (38o) = Latitude local + 15o Período: (21/06 a 31/07/2003) Módulo M2: Inclinação: (33°) = Latitude local + 10° Período: (01/12/2002 a 31/07/2003) Para a realização dos objetivos desta pesquisa foram realizadas medições de grandezas meteorológicas e elétricas, e calculados os dados instantâneos a cada 10 segundos, dos parâmetros abaixo: Temperatura do ambiente - TA, em (oC), Umidade relativa - UR, em (%), Radiação solar incidente no plano horizontal (RH), no plano inclinado variável (RIV) e no plano inclinado fixo (RIF), em (W.m-2), Corrente de carga - IC , em (Ampere), Tensão de carga - VC , em (Volt), Energia gerada nos módulos - EG, em (Wh.m-2), Eficiência do modulo - EF, em (%). Para determinar a potência fornecida pelos módulos, foram inseridas lâmpadas de 48W/ 12V CC, medindo-se a corrente de carga denominada de IC e a tensão de carga (VC), as quais foram registradas pelo coletor de dados através de um divisor de tensão de relação 1:10, e a corrente de carga (IC), medida através de um resistor shunt (RS) de relação 30A/ 150mV (FC = 0,2) e enviada como sinal de tensão, em mV. Esses valores foram corrigidos pelo programa de cálculo através de fatores de correção, determinados para a realização desses cálculos, com base na equação de potência elétrica em CC e do esquema elétrico da Figura 1, calculadas através das Equações 01 e 02. Para medição e determinação da corrente e tensão de carga e da potência dissipada pelas cargas, utilizou-se da ligação representada pelo diagrama elétrico da Figura 01. Figura 01. Esquema de medição da corrente de carga (IC) e da tensão de carga (VC). 0Ï'8/2 & (-) , 9 P WQ X K 6 / 9& 1900 IC= mV x FC [A] (01) P = VC x IC [W] (02) Onde: IC = corrente de carga, em Ámpere [A]; mV = tensão do resistor shunt, em [mV]; FC = fator de correção = 0,2; VC = tensão de carga, em Volt [V]; P = potência elétrica dissipada na carga, em Watt [W]. O sistema de comunicação para a transferência de dados entre o Equipamento de Aquisição de dados ( Datalogger CR23X) e o computador foi realizado através de um sistema de transmissão de dados via modem, em tempo real. Os módulos foram submetidos às condições de campo para verificar seus desempenhos, sendo os dados coletados no período de 01 de dezembro de 2002 a 31 de julho de 2003. O software utilizado nesta pesquisa foi o PC208W 3.3, interligado ao coletor de dados CR23X, com programação de uma sub-rotina de trabalho de coleta de dados, com dados medidos a cada 10 segundos e média a cada 5 minutos, das grandezas meteorológicas e elétricas. Os dados coletados de radiação solar global e potência elétrica foram convertidos para valores de irradiância e potência por unidade de área e integralizados diariamente, respectivamente. A eficiência dos módulos foi calculada pela razão entre a irradiância e a potência por unidade de área de cada módulo, com médias diárias e mensais, utilizando a energia solar incidente no plano do módulo fotovoltaico (Hcol), com uma superfície de capitação (S), e com a energia elétrica gerada (EG), pode-se calcular a Eficiência Energética de conversão do módulo (EF), através das Equações 03 e 04, adequadas das metodologias de Lorenzo (1994) e Salviano ( 2001): A radiação solar global no plano inclinado dos módulos (H Inst ) RIV e RIF, foi calculada pela Equação 03, e a irradiância integralizada diária sobre os módulos (Hcol) pela Equação 04: 1 + LQVW = + FRO = Σ + PHG 1 (03) 1 W =1GLD ∫ + ,QVW (GW ) (04) W =0 1901 Onde: H radiação solar global instantânea medida, em W.m-²; Inst - N - total de tempo do intervalo de medição, em s; Hcol - radiação solar diária incidente no plano do módulo (média diária), em Wh.m-²; HInst(dt) - radiação solar instantânea incidente no plano do módulo em um dado tempo (média de 5 minutos), em W.m-². Utilizando-se a energia solar incidente no plano do módulo fotovoltaico (Hcol), com uma superfície de capitação (S), e com a energia elétrica gerada (EG), pode-se calcular a Eficiência Energética de conversão do módulo (EF), através das Equações 05 e 06: W =1GLD (* = ∫ ( , & × 9& )GW (03) (* + FRO × 6 (04) W =0 () = Onde: EG = energia gerada, em Wh; EF = eficiência do módulo, em %. RESULTADOS E DISCUSSÃO Analisando os dados de janeiro na Tabela 02, observou-se que nos dias de céu limpo como no dia 08 obteve-se o valor máximo de radiação para o módulo M1-45, sendo de 7,72 kWh.m-2 , e a energia gerada igual a 462 Wh.m-2 e a eficiência de conversão alcançou 6,0 %. Neste período a inclinação do módulo era de 13o, que corresponde à latitude do local menos 10o, potencializado para o verão. O mesmo não ocorreu no módulo M2-60, com radiação de 6,73 kWh.m-2, energia gerada de 248,52 Wh.m-2 e eficiência de 3,7%, verificando-se neste caso que o o módulo de menor potência de pico apresentou melhor conversão de energia solar em energia elétrica, como pode ser verificado nas Tabelas 02 e 03. Para o mês de abril, analisando o dia 13, no qual o módulo M1-45 (Tabela 2) estava com inclinação de 23o, próximo à latitude local, potencializado para o outono, verificou-se que a radiação máxima no mês foi de 7,34 kWh.m-2, a energia gerada de 449 Wh.m-2 e a eficiência de conversão foi de 6,12 %, sendo ligeiramente superior à obtida em janeiro. Isto demonstra que a mudança do ângulo inclinação teve uma interferência positiva na absorção de energia. Por outro lado, no módulo M2-60 (Tabela 03) verificou-se que a radiação máxima foi de 7,45 kWh.m-2, a energia gerada de 530,15 Wh.m-2 e a eficiência de 7,11%. Conforme observa-se para o módulo M1-45, para o mês de julho, a radiação máxima foi de 6,23 kWh.m-2, com energia gerada de 387 Wh.m-2 e eficiência de 6,22 %, o ângulo de inclinação nesta época era de 38o (latitude mais 15o), potencializado para o período de inverno. 1902 Tabela 02. Dados médios diários da Radiação Solar Integralizada, Energia Gerada e Eficiência de Conversão em Janeiro, Abril e Julho de 2003, incidentes no módulo M1-45. Dia 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 0pGLD Radiação So lar Energ ia Ge rada no Integralizada Módulo (Wh.m-2 ) (kWh.m-2 ) Janeiro Abril Julho Janeiro Abril Julho 6,52 5,99 389,58 337,23 5,37 6,88 5,79 242,66 437,98 313,06 4,34 6,80 6,06 157,07 416,30 332,81 3,14 0,73 5,90 91,68 0,87 319,13 1,75 3,47 5,81 19,21 128,19 305,08 5,71 1,99 5,34 286,64 25,07 276,61 7,74 4,84 2,55 456,05 254,58 72,72 6,80 5,73 444,14 305,02 7,21 5,37 5,72 432,13 223,07 297,91 5,77 2,12 0,50 341,83 22,83 0,50 6,61 3,65 3,87 333,13 139,73 169,95 3,18 6,14 76,03 340,07 1,34 4,33 5,37 179,14 4,36 6,82 5,12 98,55 409,80 272,04 5,40 4,73 5,89 260,72 213,35 341,37 4,91 5,66 5,87 255,63 331,13 341,58 5,78 6,58 5,41 304,95 401,41 341,58 4,79 5,30 5,66 262,40 287,98 324,32 6,01 3,43 6,12 338,74 147,70 370,08 5,15 2,02 251,14 19,37 3,83 2,70 6,20 224,33 72,35 375,97 2,97 6,36 5,78 1,76 371,17 317,03 1,90 6,52 6,10 2,45 382,29 370,92 3,31 6,47 5,07 71,18 376,35 16,92 1,37 6,31 3,43 2,02 354,84 117,79 2,39 6,26 3,58 18,63 360,50 99,62 1,77 6,28 3,68 16,92 356,09 120,57 2,14 6,00 5,78 31,85 344,39 341,77 3,76 5,99 4,67 116,62 323,27 225,28 3,38 5,69 5,01 88,70 289,51 268,64 4,42 5,23 5,70 133,50 283,28 1903 Efic iência de Conversão do Módulo (%) Janeiro Abril Julho 4,52 3,62 2,92 1,09 5,02 5,89 5,99 5,92 5,04 2,39 0,40 2,26 4,82 5,21 5,28 5,48 5,63 4,87 5,86 0,06 0,13 2,15 0,15 0,78 0,96 1,49 3,10 2,62 3,02 5,98 6,37 6,12 0,12 3,69 1,26 5,26 6,53 4,15 1,08 3,83 6,01 4,51 5,85 6,10 5,44 4,30 0,96 2,68 5,83 5,86 5,81 5,62 5,75 5,67 5,74 5,39 5,09 5,63 5,41 5,49 5,41 5,25 5,18 2,86 5,32 5,21 0,10 4,40 5,54 4,14 5,31 5,80 5,82 6,32 5,73 6,05 6,07 5,48 6,08 0,33 3,43 2,79 3,27 5,91 4,83 5,36 4,97 Tabela 03. Dados médios diários da Radiação Solar Integralizada, Energia Gerada e Eficiência de Conversão em Janeiro, Abril e Julho de 2003, incidentes no módulo M2-60 Dia 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 0pGLD Radiação So lar Integralizada (kWh.m-2 ) Janeiro 5,06 4,65 3,87 2,80 1,55 5,05 6,74 6,20 4,81 5,73 2,84 1,24 3,97 4,93 4,15 4,83 4,16 5,42 4,66 3,49 2,68 1,71 2,99 1,27 2,17 1,59 1,92 3,48 3,15 3,96 Abril Julho 6,44 5,91 5,74 6,68 6,05 0,68 5,84 3,37 5,71 1,88 5,24 4,85 2,55 6,85 5,38 5,61 2,03 0,53 3,58 3,89 7,22 6,18 4,37 7,01 5,15 4,87 5,95 5,76 5,86 6,74 5,35 5,66 3,35 6,09 1,95 6,25 2,72 6,16 6,64 5,85 6,81 6,12 6,69 5,11 6,51 3,49 6,49 3,69 6,55 3,75 6,14 5,80 6,26 4,71 5,88 5,03 5,73 Energ ia Gerada no Módulo (Wh.m-2 ) Janeiro 206,57 130,43 92,30 50,52 9,33 161,11 247,65 249,02 192,15 185,42 44,83 3,09 54,97 149,84 144,80 171,94 148,34 196,98 154,26 20,92 43,56 10,52 45,28 1,18 12,02 11,01 20,03 69,54 57,01 84,43 Abril 426,27 466,35 0,58 120,84 24,58 245,37 507,02 248,67 23,12 143,95 537,83 485,65 243,92 387,83 49,07 11,47 9,85 10,15 9,16 432,05 473,19 470,01 444,05 452,52 447,97 430,59 408,38 366,20 1904 Julho 378,35 350,85 373,82 360,51 345,29 317,13 83,89 336,51 0,46 185,62 383,71 190,06 309,20 386,25 386,51 370,24 419,55 438,33 426,21 361,01 420,90 11,01 130,64 112,30 137,73 390,40 247,81 305,12 324,68 Eficiência de Conversão do Módulo (%) Janeiro Abril Julho 4,09 6,62 6,40 2,80 6,11 2,38 6,98 6,18 1,80 0,08 6,17 0,60 3,58 6,05 3,19 1,31 6,05 3,67 5,06 3,29 7,40 4,02 4,62 6,00 3,99 1,14 0,09 3,24 4,02 4,77 1,58 7,45 6,21 0,25 4,35 1,38 6,93 6,01 3,04 5,01 6,50 3,49 6,74 6,59 3,56 0,73 3,57 0,21 6,54 3,63 0,29 6,89 3,31 0,52 7,01 0,60 0,34 6,92 1,62 6,51 6,17 0,62 6,95 6,87 1,51 7,02 0,22 0,09 6,82 3,74 0,55 6,98 3,04 0,69 6,84 3,67 1,04 7,01 6,73 2,00 6,52 5,26 1,81 6,23 6,07 2,13 5,66 Para o módulo M2-60, observou-se que a radiação foi de 6,25 kWh.m-2, energia gerada de 438,33 Wh.m-2 e eficiência de 7,01%. Observa-se que os valores foram superiores ao do módulo M1-45, invertendo-se a situação no período de dez/02 a abr/03. Com os dados fornecidos pela Tabela 04 e ilustrados na Figura 02, pode-se observar esta variação em função dos meses correspondentes ao período de coleta de dados. 400 7 350 6 300 5 250 4 200 3 150 Eficiência (%) Energia Gerada (Whm-2) Figura 02 Variação da energia gerada e eficiência dos módulos nos meses analisados. 2 100 1 50 0 0 DEZ/02 JAN/03 FEV/03 MAR/03 ABR/03 MAI/03 JUN/03 JUL/03 MÊS/ANO Energia Gerada - M1-45 (Whm-2) Energia Gerada - M2-60 (Whm-2) Eficiência - M1-45 (%) Ef iciência - M2-60 (%) Na Tabela 04, pode-se verificar a diferença percentual de geração de energia e eficiência, entre os módulo M1-45 e M2-60, que até o mês de abril, o M1-45 apresentou valores superiores ao do M2-60 para ambas as variáveis. A partir do mês de abril o M2-60 apresentou valores superiores. Tabela 04. Eficiência energética média e máxima mensal dos módulos M1-45 e M2-60 e a diferença percentual M1/M2*, de DEZ/2002 a JUL/2003. Inclinação Energ ia Gerada (Wh m-2) Mês Média Efic iência (%) Média M1/M2 Máx Média Max Média M1*/M2* M1 M2 M1-45 M2-60 DEZ/02 23o 33o 228,21 126,17 % M1-45 M1-45* M2-60 M2-60* % 80,88 6,15 3,99 3,96 2,54 57,09 185,84 103,79 79,05 6,22 3,51 4,09 2,26 55,31 FEV/ 03 13o 33o 301,43 203,99 47,77 6,08 4,90 4,85 3,59 36,49 24,66 6,23 1,82 5,11 1,51 20,53 -5,20 6,53 4,79 7,45 4,81 -0,42 263,48 342,79 -23,14 5,75 4,66 7,21 5,66 -17,67 JUN/ 03 23o 33o 240,81 310,90 -22,54 5,77 4,58 7,06 5,76 -20,49 -11,38 6,22 4,83 7,18 5,45 -11,38 o JAN/03 13 o MAR/03 13 o 33 o 33 101,25 81,22 ABR/ 03 23o 33o 281,21 296,62 o MAI/03 23 o JUL/03 38 o 33 o 33 263,41 297,22 1905 As Figuras 03 e 04 representam a curva de tendência entre a energia gerada e eficiência com relação à radiação solar integralizada diária, referentes ao mês de abril, mostrando que os maiores valores de radiação incidente sobre os módulos, se encontram na faixa de 5.500 a 7.500 Wh.m-2 . Figura 03. Média diária da radiação solar integralizada no plano dos módulos e energia gerada nos módulos. (Abril/03). 600 E GM 1 = 5E-06x2 + 0,0298x - 40,037 R 2 = 0,976 Energia Gerada (Whm-2) 500 EGM2 = 1E -05x2 - 0,0175x + 1,3751 R 2 = 0,7768 400 300 200 100 0 500 1500 2500 3500 4500 5500 6500 7500 Radiação Solar Média Diária Integralizada (Whm-2) M1-45 M2-60 Figura 04. Média diária da radiação solar integralizada no plano e a eficiência dos módulos (Abril/03). 8 7 E F M1 = -1E -07x2 + 0,0018x - 1,4911 R 2 = 0,9494 Eficiência (%) 6 E F M2 = 4E -08x2 + 0,0008x - 0,8627 R 2 = 0,6676 5 4 3 2 1 0 500 1500 2500 3500 4500 5500 Radiação Solar Média Diária Integralizada (Whm-2) M1-45 1906 M2-60 6500 7500 CONCLUSÕES A mudança de inclinação é recomenda para maximizar a absorção da radiação incidente, deixando o módulo mais perpendicular ao fluxo de radiação. Com estas modificações do ângulo de inclinação os módulos tiveram relações proporcionais quanto à conversão de energia solar em energia elétrica. Portanto, pode-se concluir que a metodologia apresentada quanto a variação do ângulo de inclinação dos módulos, foi aplicada corretamente. Devido à interferência dos elementos climáticos que os módulos foram submetidos em campo, os módulos não atingiram a eficiência que seu fabricante determina, apresentando baixos valores de energia gerada e de eficiência média inferior a 50 % dos valores, quando comparados com os dados fornecidos pelos fabricantes. O comportamento da eficiência de conversão de energia solar em energia elétrica, é diretamente dependente da irradiância média diária e integralizada no período de maior incidência, do ângulo de inclinação dos módulos e também varia com o tipo e o fabricante dos módulos fotovoltaicos. Existem ganhos de energia gerada e eficiência de conversão na mudança de inclinação dos módulos, dependendo da época do ano, indicando assim que se adotem inclinações de 23° na primavera, 13° no verão, e 33° no outono e inverno. AGRADECIMENTOS À FAPESP, pelo financiamento do projeto de pesquisa e ao CNPq pela concessão da bolsa de doutorado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AL-ISMAILY, H.A.; PROBERT, D. Photovoltaic electricity prospects in Oman. Applied Energy, Londres, v. 59, n. 2-3, p. 97-124, 1998. Disponível em: <http://probe.usp.br/pdflinks/04010311272008232.pdf>. Acesso em: 06 set. 2002. CASTRO, R.M.G. Introdução à energia fotovoltaica. Disponível em: <http://enerp4.ist.utl.pt/ruicastro>. Acesso em: 25 juh. 2003. CENTRO DE PESQUISAS DE ENERGIA ELÉTRICA/CENTRO DE REFERÊNCIA PARA ENERGIA SOLAR E EÓLICA SÉRGIO DE SALVO BRITO (CEPEL/CRESESB). Sistemas fotovoltaicos: manual de engenharia. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ, 1995. 238 p. COSTA, H.S. A qualidade de energia de sistemas fotovoltaicos domésticos em áreas rurais. Energia Rural, São Paulo, v.31, n. 5, p.172-181, set. 2001. DENG, X., LIAO, X., HAN, S., POVOLNY, H., AGARWAL, P. 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Ett RESUMO As células a combustível são dispositivos que convertem continuamente energia química diretamente em energia elétrica e térmica graças à alimentação constante de um combustível. A reação química resultante da operação gera, além de energia, calor e água. Com o grande desenvolvimento na área de materiais a tecnologia em células a combustível, associada à crescente exigência de baixo impacto ambiental, tornou-se bastante promissora no cenário mundial de energia. Estas representam, já em médio prazo, uma alternativa tanto para motores a combustão (unidades móveis), como para geradores de energia de médio porte (100 kW) e até plantas de alguns MW de potência (unidades estacionárias). Esse artigo apresenta os resultados de um projeto realizado entre a Electrocell, a Universidade de São Paulo e a AES Eletropaulo que teve como objetivo desenvolver e testar uma célula a combustível de polímero sólido (PEMFC) de até 50 kW, com saída 220 V/127 V para geração estacionária. Palavras chave: Hidrogênio, Célula a Combustível, Polímero Sólido, Geração Estacionária. I. INTRODUÇÃO ESTE artigo apresenta os resultados de um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento realizado entre a Electrocell, a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e a AES Eletropaulo que teve como objetivo desenvolver e testar um protótipo de célula a combustível de polímero sólido (PEMFC Proton Exchange Membrane Fuel Cell) para posterior fabricação em escala industrial no Brasil. Esse tipo de célula, anteriormente desenvolvido para uso veicular, passou a ser encarado como uma alternativa atrativa para geração estacionária. 1908 O desenvolvimento ficou a cargo da Electrocell, empresa que já havia desenvolvido anteriormente uma célula completa e acabada para 1 kW e que detinha a capacitação e tecnologia para tal projeto. O desenvolvimento foi acompanhado e validado na Universidade de São Paulo através do Departamento de Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP-PEA). II. célula a combustível As células a combustível são, em princípio, baterias (pilhas) químicas, ou seja, dispositivos que convertem energia química diretamente em energia elétrica e térmica, possuindo, entretanto uma operação contínua, graças à alimentação constante de um combustível. [1] Ao ser utilizado como fonte de energia numa célula a combustível, o hidrogênio libera energia e não gera poluentes. A reação química resultante da operação gera, além de energia, calor e água pura. O hidrogênio pode ser obtido a partir da eletrólise da água, da reforma de vapor de hidrocarbonetos leves (cadeias carbônicas situadas entre o metano e a nafta), da gaseificação de resíduos agrícolas e, da dissociação do metanol, etanol e do gás natural. O reformador é um equipamento que quebra a molécula do combustível liberando os átomos de hidrogênio (H2). Ele trabalha com vapor de água em temperaturas relativamente elevadas e, para tanto, utiliza parte da energia do combustível que geralmente é da ordem de 20%. O início da pesquisas de células a combustível ocorreu há mais de 150 anos, por Sir William Grove. Com o grande desenvolvimento na área de materiais nos últimos 15 anos, a tecnologia em células a combustível, associada à crescente exigência de baixo impacto ambiental, tornou-se bastante promissora no cenário mundial de energia. Estas representam, já em médio prazo, uma alternativa tanto para motores a combustão (unidades móveis), como para geradores de energia de médio porte (100 kW) e até plantas de alguns MW de potência (unidades estacionárias). O estudo e desenvolvimento de célula a combustível associam outras áreas de conhecimento, como, por exemplo, a produção de hidrogênio a partir da reforma de outros combustíveis (fósseis, de biomassa, etc.), incluindo-se aí o etanol, estratégico para o Brasil. Esta conversão ocorre por meio de duas reações eletroquímicas parciais de transferência de carga em dois eletrodos separados por um eletrólito apropriado, ou seja, a oxidação de um combustível no ânodo e a redução de um oxidante no cátodo. Escolhendo-se, por exemplo, hidrogênio como combustível e oxigênio (do ar ambiente) como oxidante, temse na denominada célula ácida, a formação de água e produção de calor, além da liberação de elétrons para um circuito externo, que podem gerar trabalho elétrico. As reações nos eletrodos são: Ânodo: H2 Cátodo: Reação Total: H2 + ½ O2 → 2H+ + 2e- (1) ½ O2 + 2H+ + 2e- → H2O (2) → H2O (3) 1909 Tabela I - Geração de Energia x Impacto Ambiental (fonte mct - ministério da ciência e tecnologia) Tipo de Impacto Ambiental (Valo res em Kg de poluentes por MWh) geração de Co mbustão a óleo Co mbustão a carvão Cé lula a co mbustível energia Co mbustão a gás particulados 0,2 0,2 0,2 0,0000045 NOx 0,3 0,5 1,1 0,028 a 0,2 SOx - 1,2 1,9 0,00036 Opacidade Opacidade Opacidade Desprezíve l Fumaça Um esquema simplificado de uma célula a combustível de eletrólito polimérico sólido é apresentado na figura 1. Os prótons produzidos na reação anódica são conduzidos pelo eletrólito até o cátodo, onde se combinam com o produto da redução do oxigênio, formando água. Fig. 1 Desenho Esquemático de uma Célula a Combustível III. Tipos de células a combustível Existem vários tipos de células a combustível, classificados segundo o eletrólito que utilizam, o qual define a temperatura de operação. A tabela II relaciona os tipos de célula a combustível considerados hoje os mais promissores para aplicações terrestres com suas características principais, a sua temperatura de operação, e suas aplicações mais relevantes. Estas células possuem materiais constituintes distintos e técnicas de construção diversas. 1910 Tabela II - Tipos de Células a Combustível Célula Combustível (Tipo) Eletrólito AFC (Alcalina) PAFC (Ácido Fosfórico) KOH (OH-) H3PO4 (H3O+) PEMFC (Polímero Sólido) DMFC (M etanol Direto) Temp eratura Eficiência Aplicação (°C) Típica (%) Disp onibilidade Custo a curto/ médio Prazo (2005/2010) (US$/kW) 50 a 120 55 a 60 Veículos Demonstração US$ 750 / 550 180 a 210 42 a 47 Comercial US$ 1.400 / 1.275 Membrana (H+ ) 60 a 110 45 a 65 Geração Estacionária Veículos Geração. Estacionária Membrana (H+ ) 45 a 100 50 a 55 630 a 650 55 a 60 800 a 1000 40 a 45 MCFC (CO32- ) (Carbonato Fundido) SOFC ZrO2 (Óxido Sólido) (O2+ ) Veículos Pré-comercial US$ 250 / 100 Pré-comercial US$ 1.500 / 1.000 Pré-comercial US$ 750 Geração Demonstração Estacionária Pesquisa Geração Estacionária Pré-co mercial US$ 1.900 / 1.600 US$ 1.450 / 1.250 Como se trata de uma tecnologia pouco utilizada a quantidade de dados relativos ao seu uso comercial ainda são poucos. A primeira unidade comercial disponível foi a PC-25 desenvolvida pela International Fuel Cells Corporation (IFC) em 1991. Trata-se de uma célula tipo PAFC (Phosphoric Acid Fuel Cell) de 200 kW, 480/277 V, 60 Hz e 400/230 V a 50 Hz. A eficiência dessa célula está em torno de 40% e chegando à aproximadamente 80% com aplicações em cogeração. Uma unidade acumulava em agosto/2000 mais de 50.000 horas de operação. Uma das unidades alcançou operação ininterrupta de 9.500 horas. IV. Sistema desenvolvido Esse projeto teve como objetivo desenvolver um protótipo de Célula a Combustível de Polímero Sólido (PEMFC) para posterior fabricação em escala industrial no Brasil buscando-se um elevado grau de nacionalização. O projeto inicial previa a construção de 5 módulos (stacks) de até 10 kW cada, porém diversos fatores impediram o alcance desse objetivo. Por isso o projeto foi reduzido para 3 módulos, mantendo ainda o objetivo global do protótipo/pesquisa. O maior objetivo proposto pelo projeto de desenvolvimento de sistema de geração distribuída a partir de células combustíveis foi o domínio local de capacitação nesta tecnologia de geração alternativa. Este seria um efetivo primeiro passo para o futuro desenvolvimento de aplicações sustentáveis de geração distribuída a partir da tecnologia de célula combustível, tipo PEM já reconhecida como a mais adequada a sistemas de geração distribuída. Além do domínio local de capacitação tecnológica o projeto tinha por objetivo a criação de aplicação que viesse garantir mínimo impacto ambiental permitindo a criação de fontes de geração alternativas que evitem os problemas comuns dos geradores a diesel (poluição sonora e ambiental - resíduos sólidos no ar e líquidos no solo-, necessidade de espaços restritos e com condições especiais, e principalmente riscos de explosão e incêndio). 1911 Foi requerido também a possibilidade de operação com cargas isoladas sem alteração de performance. A configuração modular, tanto dos stack como o do sistema total, deveria permitir evitar os problemas de transporte e as paradas pelas manutenções freqüentes exigidas pelos geradores a diesel. Além disso, o requisito da saída trifásica em estrela 220V permitiria a futura conexão em paralelo com a rede, permitindo que o sistema funcione futuramente como um no-break e um retificador de forma de onda oferecida à carga tirando picos e eventuais quedas de nível de tensão, tornando a aplicação ideal para situações onde a energia elétrica é bastante crítica. Os módulos de células a combustível desenvolvidos foram compostos por 180 MEAs (Membrane Electrode Assembly - Conjunto de Membrana - Eletrodo), sendo 40 no módulo 1, 80 no 2 e 60 no 3, que fornecem tensão e corrente contínuas, por isso é necessário um módulo de eletrônica de potência (inversor) para que ela possa fornecer tensão e corrente alternadas. Esse módulo consiste de um inversor formado por pontes de IGBTs (Insulated Gate Bipolar Transistor Transistor Bipolar de Porta Isolada), filtros e transformador. A figura 2 apresenta uma foto do sistema construído. Fig. 2 Rack fechado (4m2) e aberto com Células a Combustível (direita), módulo de controle (centro) e módulo de eletrônica de potência (esquerda) A figura 3 apresenta a configuração física simplificada das células, eletrônica de potência e transformador na configuração inicial de 5 módulos de até 10 kW cada. 1912 Fig. 3 Esquema simplificado (célula + eletrônica de potência) da configuração inicial Inversores (PWM) Transformador Fase A Filtros MOD. A Contator Inversor Fase B Stack 3 MOD. A MOD. B Stack 2 Stack 1 Células a Combustível Contator Rede MOD. B Carga Stack 5 Fase C Stack 4 MOD. A MOD. B V. TESTES EFETUADOS O sistema desenvolvido consiste em célula a combustível, inversor e transformador. Devido a essa modularidade e também ao fato de que esses itens foram construídos em períodos diferentes, os testes foram efetuados para cada parte do sistema. Primeiro foram efetuados os ensaios no transformador. Esses ensaios foram os de vazio e de curto-circuito, para se determinar os valores das reatâncias de magnetização, perdas no ferro e equivalentes. Após os testes no transformador foram efetuados os testes no módulo de eletrônica de potência. Esse módulo é composto por um inversor e filtros de harmônicas. Esses ensaios determinaram o rendimento do módulo, as formas de onda de corrente e tensão para diferentes cargas. Em seguida foram efetuados os ensaios da célula a combustível que utilizaram o sistema completo, ou seja, célula a combustível, módulo de eletrônica de potência e transformador. VI. ENSAIOS DA CÉLULA A COMBUSTÍVEL Os ensaios foram realizados utilizando-se um, dois ou três stacks. Em alguns ensaios foi necessária a utilização de baterias em série com a célula devido à necessidade de uma tensão mínima de funcionamento do módulo de eletrônica de potência. 1913 Foram medidos: a potência elétrica resultante da célula, a potência fornecida às cargas, o consumo de hidrogênio e oxigênio e as temperaturas dos gases. Os primeiros testes foram realizados com apenas um stack alimentado com ar do ambiente. Em seguida esse stack foi alimentado com oxigênio e verificou-se com isso um aumento na potência fornecida pela célula. Os demais testes foram realizados alimentando-se a célula com oxigênio e utilizando mais de um stack que foram ligados em série. Como carga foram utilizados 12 lâmpadas halógenas (potência total de 6 kW), um forno elétrico (4 kW) e uma prensa (2,4 kW). Com essas cargas foi possível testar desde a condição em vazio (célula a combustível alimentando apenas sistemas auxiliares) até a potência de 11.540 W. Dos ensaios na célula a combustível têm-se os rendimentos elétricos e químicos. A figura 4 apresenta uma foto das lâmpadas sendo alimentadas através da energia elétrica gerada pela célula a combustível. Fig. 4 Célula a combustível alimentando lâmpadas. A. Desempenho Elétrico Os ensaios realizados foram utilizados para determinar o desempenho elétrico da célula a combustível. Para isso foram medidas a corrente e tensão geradas pela célula e a potência fornecida à carga. A tabela III apresenta alguns desses valores. As duas primeiras colunas apresentam a tensão e a corrente geradas pelos stacks mais baterias. Já a quarta e quinta colunas apresentam a tensão e corrente dos stacks. 1914 Tabela III Desempenho Elétrico Total Na célu la VCC (V) ICC (A) PCC (W) VCC (V) ICC (A) PCC (W) 93,7 91,0 113,1 79,8 73,2 74,6 86,2 84,9 144,7 111,3 6.990 7.844 9.602 11.547 8.147 49,7 47,6 43,1 39,0 78,5 74,6 86,2 84,9 144,7 111,3 3.707 4.103 3.659 5.643 8.737 Potência Stacks Rendimento (%) Carga (W) Usados 6.520 93,3 2 7.416 94,5 2 9.151 95,3 2 11.540 99,9 2 6515 84,0 1, 2 e 3 A figura 5 apresenta a curva V x I dos ensaios realizados. No eixo das ordenadas são apresentados os valores das tensões em cada MEA da célula a combustível. Observa-se, para os casos com stack 2 e 3, que há um aumento no rendimento para o caso em que as reações eletroquímicas são realizadas com oxigênio em relação às que são realizadas utilizando-se apenas ar. Fig. 5 Curva V x I de todos os ensaios. 9[, 0,9 Stack 2 e 3 c/ Ar 0,8 Stack 2 C/ O2 9 0,7 R mV Q H 0,6 7 Stack 2 e 3 C/ O2 Stack 1, 2 e 3 C/ O2 0,5 0,4 0 50 &RUUHQWH$ 100 150 B. Rendimento Químico O objetivo do cálculo do rendimento químico é verificar qual a vazão necessária para geração de uma determinada quantidade de potência elétrica. Para isso foram medidas as vazões de hidrogênio e oxigênio, e a potência elétrica gerada. O cálculo da vazão de hidrogênio estequiométrico é dado por: 9 + = 1,05 × 10−8 × 2 3H 9F kg/s 1915 onde: Pe é a potência elétrica resultante; e Vc é a tensão média por célula unitária. Vc=0,56V (em fase inicial de ativação) Densidade do H2 = 0,084 kg/m³ logo: 9+ = 0,0075 × 2 3H l/min 9F A tabela IV apresenta os valores das vazões dos gases e a potência elétrica gerada pelos stacks para os casos em que apenas um stack foi utilizado. A sexta coluna apresenta a vazão teórica para a potência elétrica obtida. A sétima coluna apresenta a potência que deveria ser obtida com a vazão utilizada. Tabela IV Rendimento Químico (1 stack) Vazão H2 Vazão O2 I (A) VCC (V) (l/ min) (l/ min) CC 85 70 95 135 68 80 90 130 77,0 86,2 84,9 144,7 49,0 47,6 43,1 39,0 Pot. Cé lula (W) 3.773,0 4.103,1 3.659,2 5.643,3 Vazão H2 Teórico (l/min) 50,5 55,0 49,0 75,6 Pot. Teórica para Rendimento Vazão Utilizada (%) (W) 6.347 59,4 5.227 78,5 7.093 51,6 10.080 56,0 Nos testes o valor recomendado para ajuste de vazão deve ser 20% acima do recomendado para não faltar combustível e umidificação nas últimas células do stack. Este fator diminui a eficiência no consumo de gás. VII. Conclusão O projeto não atingiu completamente o objetivo técnico proposto. Do módulo de 80 MEAs esperava-se 50 Volts com 200 Ampères sendo que o maior valor obtido foi 39V e 145A. Isso se deve em parte ao fato de que os testes foram efetuados com as células ativadas há pouco tempo e parte devido a eficiência obtida no projeto. Com o procedimento de ativar e desativar as células (ciclagem) há um aumento da tensão fornecida (aumento de 0,5 V a 1 V a cada ciclagem). Um outro fator se deve ao fato de que o Stack 1 encontra-se com baixa eficiência por ter sido utilizado demasiadamente com as experiências iniciais de construção do protótipo da célula. Mesmo não tendo sido possível atingir o objetivo inicial do projeto (5 x 50 kW) todas as fases da pesquisa foram cumpridas e avaliadas. Além disso, os rendimentos elétrico e químico estão próximos do esperado embora nos testes foi utilizado hidrogênio em excesso. O conjunto de célula a combustível e eletrônica de potência funcionaram adequadamente suprindo tensões de 127/220V nclusive para cargas isoladas. 1916 Dos ensaios e testes e a partir da experiência acumulada durante as diversas etapas do projeto uma grande carga de conhecimento foi adquirida. Seguem alguns exemplos de experiências acumuladas que garantem o incremento da relação custo/ benefício de novos projetos: l Deve-se sempre finalizar a etapa de ativação do catalisador antes da operação para se obter a potência máxima da célula, visto que a cada nova medida tem-se obtido uma melhor eficiência. l É importante o uso de um sistema de purificação de hidrogênio, para podermos utilizar o hidrogênio comercial que custa um quinto do preço do grau 4.0 utilizado no projeto. Além disso, deve-se inserir um compressor na saída dos Stacks para reaproveitar todo o gás excedente. l O sistema de resfriamento deve garantir o aproveitamento do calor gerado para fornecimento de água quente para sistemas de utilidades como esterilização ou ar condicionado. l Deve-se sempre garantir a possibilidade de ligação em paralelo a rede para suprir melhores resultados na aplicação em geração distribuída e mesmo garantir que o sistema funcione como um no-break permitindo o fornecimento não só de uma energia limpa, silenciosa e segura, mas também de excelente qualidade em termos de forma de onda e nível de tensão. Os resultados alcançados e os esforços dedicados ao projeto de desenvolvimento de sistema de geração distribuída a partir de células combustíveis na tecnologia PEM garantiram que um verdadeiro salto fosse dado na capacitação tecnológica local não só na aplicação de células a combustível em si, mas também no conjunto de partes, acessórios e módulos complementares necessários para garantir que as aplicações em células combustíveis tornem-se economicamente viáveis para geração distribuída. VIII. REFERÊNCIAS [1] Website do Grupo Electrocell - www.electrocell.com.br [2] BLOMEN L J M J, JOHANSON T B Fuel Cells Lund University Press 1989 [3] EG&G Services Parsosns, Inc., Science Applications International Corporation, Fuel Cell Handbook - Fifth Edition, October 2000, U. S. Department of Energy. [4] NYSERDA New York State Research and Development Authority. 220 kW Fuel Cell Monitoring and Evaluation Program; Providing Independent Performance Data on Phosphoric Acid Fuel Cells- Final Report 97-3 fevereiro 1977 [5] Silva, W. M.; Paula, P. P.; Janólio, G; Ebessui, A. e Ett, G. Design and Operation of a Fuel Cell System Prototype for Electric Vehicles EPE2001- European Power Electronics Conference. [6] J. L. P. Pinheiro, O suprimento de energia através das células de combustível, MSc. dissertation, Dept. Energia e Automação, University of São Paulo, Escola Politécnica, 1998. 1917 DIFERENCIAIS DO EMPREGO DO MÉTODO DE MONTE CARLO NA ANÁLISE DE RISCOS DE PROJETOS - APLICAÇÃO A UM CASO DE CO-GERAÇÃO1 Haroldo Monteiro Ribeiro Junior RESUMO O trabalho busca apresentar a propriedade da aplicação de modelos de simulação dinâmica baseados nos métodos de Monte Carlo na avaliação de riscos de projetos de energia, particularmente sujeitos a várias incertezas. Como forma de ilustrar a relevância dessa proposta no processo de tomada de decisão, uma aplicação real de um projeto de co-geração industrial é apresentada como estudo de caso, permitindo a confrontação dos indicativos dessa metodologia com os da análise de sensibilidade determinística tradicional. 1. INTRODUÇÃO Em essência, a análise econômica de projetos de investimentos constitui um processo ordenado, planejado e imparcial de avaliação que tem como objetivo estabelecer indicativos quanto ao valor e riscos envolvidos na sua implantação, requerendo o tratamento qualitativo e quantitativo de uma complexa interação de variáveis para formulação desse julgamento. Do ponto de vista financeiro, a análise de investimentos é profundamente afetada pelo comportamento dos fatores de risco ditos sistemáticos, que atingem de maneira global todos os investimentos, particularmente na definição dos custos de capital e rentabilidades esperadas. Originária das teorias de gestão de ativos financeiros, esta abordagem parte da hipótese de ser esta a parcela relevante para a definição das estratégias do investimento, uma vez que a diversificação de ativos propicia a eliminação dos riscos específicos (não sistemáticos) de cada atividade. Entretanto, quando aplicada à carteira de projetos de uma corporação, essa premissa reveste-se de uma dificuldade prática, levando a que a diversificação dos investi1 O artigo é baseado em um capitulo da dissertação de mestrado do autor ( vide Referências Bibliográficas). 1918 mentos mantenha-se como uma prerrogativa dos acionistas, porém, não necessariamente da empresa, a qual restringe-se a atuações enquadradas em seus objetivos estratégicos. Sob essa perspectiva, cada projeto, quando visto de forma isolada, requer uma análise específica de sua viabilidade e do grau de contribuição na geração de valor para a empresa, determinando o foco da análise sobre seus aspectos (riscos) específicos. Neste sentido, o uso de padrões de avaliação mais elaborados passará a refletir mais fielmente os riscos do empreendimento, permitindo incorporar maior grau de informação e certeza à tomada de decisão. Nesta proposta, a utilização dos métodos de Monte Carlo qualifica-se como de particular propriedade no tratamento de incertezas de projetos, gerando indicativos de maior qualidade para o analista e de onde devem ser maximizados os recursos de gerenciamento de riscos nas etapas de desenvolvimento e implantação do projeto. 2. ANÁLISE DE RISCO DE PROJETOS Análises de investimentos, por envolverem necessariamente um trade-off entre risco e retorno, baseiam-se preponderantemente em critérios quantitativos, traduzidos por indicadores que buscam refletir a viabilidade econômica de cada alternativa avaliada, associada a suas expectativas de realização. Portanto, o grau de informações e o nível de confiança fornecido por cada método de avaliação constitui um diferencial na segurança da tomada de decisão pelo investimento. 2.1. Análise Tradicional A estipulação do Valor Presente Líquido (VPL) esperado a partir da montagem do fluxo de caixa descontado constitui-se no processo mais usual de avaliação de projetos de investimentos, estando a confiança dos indicativos gerados vinculada, primordialmente, à qualidade de representação e tratamento de suas variáveis de incerteza. Nesse aspecto, entretanto, residem as limitações da análise de risco dita tradicional, baseada na construção de cenários determinísticos, face a sua incapacidade de traduzir adequadamente um risco global para o projeto. Denominado análise de sensibilidade, esse processo caracteriza-se pela representação das incertezas de um grupo restrito de variáveis a partir de valores discretos, usualmente relacionados a suas expectativas máximas, esperadas e mínimas. Dada a dificuldade de se estabelecer as múltiplas possíveis combinações entre estas variáveis e, principalmente, de se promover um julgamento sobre a viabilidade de ocorrência das mesmas, um único input é variado a cada seqüência de simulação do método, mantendo-se inalterados os demais, em geral, em seus respectivos valores esperados. Como resultado, são obtidos diferentes cenários econômicos para o projeto, cada qual relacionado ao comportamento de um fator de risco isoladamente, representado discretamente em sua faixa de incerteza. Um maior detalhamento da variação conjunta dos diferentes inputs pode ser obtido através de uma análise paramétrica, na qual conjuga-se a variação de uma variável x1 a uma seqüência de diferentes valores de outra variável x2 . Entretanto, a restrição prática desse processo a um limitado número de incertezas mantém as limitações do método, inviabilizando a simulação de interdependência entre as variáveis e mascarando seus efeitos sinérgicos. Como regra geral, portanto, sua utilização em análises de maiores complexidades apóia-se mais na função de filtragem das incertezas que devem merecer maior foco do analista do que na tradução de indicativos confiáveis quanto a magnitude dos riscos globais do projeto. 1919 2.2. Análise Dinâmica - Método de Monte Carlo A análise de projetos com grande número (e relevância) de variáveis requer, em geral, um maior apuro na representação e tratamento de suas incertezas, no sentido de quantificar mais adequadamente os riscos aos quais estão sujeitos. Nessas situações, as análises de sensibilidade tradicionais devem ser substituídas por técnicas de simulação dinâmica2, usualmente baseadas nos métodos de Monte Carlo, que permitem subsidiar o analista de informações quantitativas mais representativas e sólidas, apoiadas em critérios probabilísticos e estatísticos. Utilizando-se de distribuições de probabilidades padrão para representação do comportamento das variáveis, cada combinação de diferentes incertezas configura um cenário específico no processo de simulação, gerando, por sua vez, uma saída correspondente. O processo é, então, repetido sucessivas vezes, constituindo ao seu final uma amostra de possíveis resultados, construída a partir da interação aleatória das distribuições de probabilidades das variáveis de entrada e também apresentada sob esta forma. A possibilidade da configuração simultânea de todas as variáveis de incerteza do projeto e de explicitar suas correlações, particularmente importantes nos processos de análise de investimentos, constitui uma característica relevante das técnicas de Monte Carlo, permitindo refletir a interação entre seus diferentes parâmetros não de forma localizada, mas sobre todo espectro de variabilidade das incertezas. Em geral, a representação de correlações resulta numa combinação mais intensa dos valores extremos das variáveis do que quando tratadas com independência entre si, resultando em perfis de distribuição com maiores dispersões (variâncias) em relação aos valores centrais, revelando um maior grau de risco aos outputs da simulação. Por outro lado, a associação dos valores extremos da distribuição de saída a baixas freqüências de ocorrência, raramente coincidentes aos valores máximos e mínimos da análise de sensibilidade tradicional, reforça a propriedade do método dinâmico em contra-partida às análises estáticas, as quais desprezam o fato das diferentes variáveis não serem necessariamente todas correlacionadas entre si e, portanto, a possibilidade de ocorrências extremas simultâneas ser muito improvável. Esta característica indica a pouca utilidade destes valores no processo de decisão, sendo passível de indução a equívocos, dada a baixa probabilidade de virem a ocorrer na prática3. Um aspecto de usual interesse na utilização dos métodos de Monte Carlo é a possibilidade de se correlacionar cada variável com os resultados da simulação para identificação do grau de associação das diferentes incertezas ao risco global do projeto. Atente-se, entretanto, que embora o índice destine-se a representar o efeito de cada variável, o aspecto de amostragem aleatória simultaneamente aplicada aos demais parâmetros determina a influ- RUBINSTEIN (1981) refere-se ao termo simulação dinâmica como aplicável a uma diversidade de modelagens e/ ou técnicas matemáticas que explicitamente consideram a interação da variável tempo em seus processos de resolução. Neste trabalho, o termo estará associado a métodos de simulação em que a representação de variáveis de incertezas se dê de forma randômica e probabilística ao invés de comportamentos determinísticos e estáticos, sendo de particular enfoque as técnicas de Monte Carlo. 2 Tal consideração aplica-se particularmente à avaliação de riscos em projetos, a menos de considerações relacionadas a situações catastróficas. Porém, o emprego de rotinas associadas à ocorrência de valores extremos é uma política geral na gestão de riscos de ativos financeiros, no sentido de monitorar e controlar a exposição das instituições a eventos raros, determinantes de grandes perdas. O Value-at-Risk (VaR) é exemplo de metodologia de larga utilização para esse fim. 3 1920 ência também das demais incertezas no seu cálculo. Assim, os índices de correlação obtidos constituir-se-ão numa medida global da associação de cada variável em relação aos outputs da simulação, na qual seus efeitos individuais serão ponderados com a contribuição conjunta de todos os demais parâmetros. 2.2.1. Distribuição de VPL como Indicativo de Risco de Projetos A despeito da grande recorrência às técnicas de Monte Carlo na avaliação de riscos de projetos, alguns autores argumentam quanto à sua impropriedade, no sentido de que a tomada de decisão pelo investimento deve necessariamente envolver um único indicativo de rentabilidade (o VPL único) e não um conjunto de possíveis valores, ainda que estes se apoiem em um maior grau de informação, traduzido na sua associação a probabilidades de ocorrência. Partidários dessa abordagem, BREALEY e MYERS (2000) argumentam que ao se utilizar processos dinâmicos para obtenção de distribuições de VPL, estes devem se dar à taxa livre de risco e não ao custo de oportunidade de capital, uma vez que se esse valor é conhecido, o risco do projeto também é, não havendo necessidade de simulações para sua quantificação. Ainda nessa linha, FERREIRA et al (1993) sustentam que a utilização do custo de oportunidade para a obtenção da distribuição do VPL incorre no conflito de duplicar as considerações de risco (na própria taxa de desconto aplicada e na dispersão do output da simulação) e que mesmo a utilização da taxa livre de risco é inadequada, por induzir a uma valoração indevida do projeto que, se adequadamente descontado, poderia dar prejuízo. Alguns pontos em contraposição a essa linha de argumentação merecem ser destacados. Primeiramente, quanto à taxa de retorno aplicada à análise de VPL já traduzir uma quantificação do risco do projeto, há de se considerar que corporações, em geral, não lidam com taxas de riscos individuais, relacionadas a cada projeto isoladamente, em vista das dificuldades de ordem prática em que tal procedimento incorre. Por sua vez, os modelos de precificação de ativos, particularmente o de uso mais geral, o CAPM, retratam apenas os riscos sistêmicos associados às empresas (e, quando possível, à suas diferentes atividades), não incorporando, aqueles relacionados às especificidades e incertezas de cada projeto. Nesse sentido, sob a ótica da pretensa duplicidade das considerações de risco, mesmo uma simples análise de sensibilidade tradicional, realizada de maneira determinística, poderia ser definida como um conceito errôneo, uma vez que também parte da aplicação de um custo de capital pré-estabelecido, caso essa não seja uma variável de incerteza do processo de simulação. Quanto à consideração de que a distribuição probabilística de VPL não constitui uma ferramenta de análise conclusiva, enquanto o VPL determinístico a seria, mostra-se, a nosso ver, como um conceito redundante e, este sim, errôneo, visto a proposta da análise econômica, independente da metodologia utilizada, ser primordialmente de caráter indicativo, nunca definitivo. Assim, entende-se que a aplicação das técnicas de Monte Carlo sobre o fluxo de caixa de um projeto constitui-se numa extensão da análise de sensibilidade sobre as incertezas específicas de cada empreendimento, que visa identificar, sob um enfoque probabilístico, as expectativas de realização dos retornos expressos pelo CAPM / CMPC ( ou outro índice qualquer). 1921 3. ESTUDO DE CASO - PROJETO DE CO-GERAÇÂO DA REPLAN Os elementos abordados no capítulo anterior serão aplicados a um estudo de caso real, com o objetivo de promover uma confrontação entre os resultados obtidos nas simulações tradicional e dinâmica, permitindo uma discussão acerca dos indicativos oferecidos por cada método. O projeto constitui-se num sistema de recuperação energética associado à unidade de Craqueamento Catalítico Fluido (UFCC) da Refinaria do Planalto - REPLAN, localizada em Paulínia - SP, que contempla um conjunto turbo-expansor-gerador e uma caldeira recuperadora para geração de 16 MW de energia elétrica e 100 ton/h de vapor de alta pressão. Esse sistema será integrado à atual Central Termelétrica (CTE) da refinaria, destinando parte desta energia para consumo interno, gerando ainda a disponibilidade de comercialização de excedentes da ordem de 8 MWe. Para a proposta desse estudo de caso, limitamo-nos a considerar as incertezas relacionadas às variáveis técnicas do projeto (riscos específicos) tais como o custo do investimento, tarifa de compra de energia elétrica, preço de venda de energia elétrica, preço de energia de back-up, fator operacional do conjunto, custo de O&M, abstraindo-nos dos aspectos financeiros como custos de capital, inflação, níveis ótimos de alavancagem, etc. 3.1. Análise Tradicional O gráfico 3.1 apresenta as perspectivas de VPL do projeto com base nas projeções pessimista - esperado - otimista das diferentes incertezas, considerando a contribuição individual de cada variável em toda sua faixa de variação estimada, as demais sendo mantidas em seus valores esperados. Os perfis obtidos indicaram o investimento e o preço de compra de energia como as variáveis de maior potencial impacto sobre a rentabilidade do projeto. Verifica-se no gráfico 3.2 que, considerando premissas otimistas para os demais parâmetros, a variação do investimento induziu sempre à região de aceitação do projeto (VPL > 0), embora implicasse em diferentes níveis de rentabilidade. Por outro lado, a faixa pessimista, a menos de variações negativas extremas do custo do investimento, induziu à sua rejeição para todo intervalo de incertezas. Assim, ainda que focando a avaliação de sensibilidade sobre um único parâmetro, as possibilidades econômicas do projeto se mostraram bastante amplas, representadas por toda região de VPL situada entre as faixas pessimista e otimista (- 4500 a 9500 US$ mil) . Essas mesmas considerações foram feitas quando da simulação para o outro parâmetro de relevância, o preço de compra de energia elétrica, apresentada no gráfico 3.3. 1922 Gráfico 3.1 Gráfico 3.2 6HQVLELOLGDGHGR93/DRV3DUkPHWURV &UtWLFRV 6HQVLELOLGDGHGR93/DR&XVWRGH ,QYHVWLPHQWR 10000 6 8 OL 5000 P 0 / 39 12000 minimo -5000 esperado 10000 6 8000 6000 8 OL 4000 P 20000 /3 9 -2000 -4000 maximo YDORUHVGRVSDUkPHWURV -20% -10% -5% base 5% 10% 20% -6000 Investimento Preço de compra de EE Fator operacional Preço de venda de EE YDULDomR faixa otimista faixa pessimista Levando-se em conta a baixa probabilidade de valores limites dos diferentes parâmetros serem observados simultaneamente, foi ainda efetuada uma análise paramétrica com base na variação conjunta dos dois fatores de maior potencial impacto sobre o projeto, mantendo os demais em seus valores esperados, conforme gráfico 3.4. Gráfico 3.2 Gráfico 3.3 $QiOLVH3DUDPpWULFD 93/;,QYHVWLPHQWR;3UHoR&RPSUD(( 6HQVLELOLGDGHGR93/DR3UHoRGH&RPSUDGH(( 10000 10000 6 7500 8 OL 5000 2500 P 0 /3 -2500 9 -5000 7500 LO 5000 P 6 2500 8 / 0 3 9 -2500 35 40 45 50 -20% -5000 -10% base 10% 20% YDULDomRGRLQYHVWLPHQWR -7500 7DULIDGH((860:K faixa otimista 3UHoR0:K faixa pessimista 30US$ 35US$ 45US$ 50US$ 40US$ Como indicativos desta análise conjunta, observa-se que : Ø caso as tarifas de compra de energia elétrica situem-se num patamar superior a 45 US$/MWh, a atratividade do projeto independe do nível de variação do custo de investimento (em seu intervalo de incerteza); Ø apenas a partir da faixa de 35 US$/MWh, a viabilidade do projeto mostra-se adequada para o valor esperado (base) do investimento implicando, porém, em VPL negativos para qualquer pequena variação positiva no investimento; Ø o valor esperado para a tarifa de energia elétrica (40 US$/MWh) implica numa faixa de aprovação do projeto até cerca de 110 % do valor do investimento esperado, a partir do qual projeta-se um VPL negativo; Ø em relação ao patamar de tarifação atualmente praticado (30US$/MWh), a viabilidade econômica do projeto somente se manifesta a partir de uma redução de, pelo menos, 10 % no investimento em relação ao seu valor esperado. Com base nesses indicativos, verifica-se que a análise econômica do projeto sob o modelo tradicional, embora centrado na avaliação de seus fatores críticos, demonstra-se frágil no tocante ao auxilio à tomada de decisão, visto que : 1923 Ø embora remeta à faixa de aceitação do projeto, não existe qualquer grau de confiança associado ao cenário econômico esperado, uma vez que, probabilisticamente, sua ocorrência não se distingue de qualquer outro possível resultado (dentre os limites de variação admitidos para os parâmetros de incerteza); Ø o nível de informação agregado pelas simulações de sensibilidade é restrito, por não considerar o efeito conjunto de todos os parâmetros de incerteza, mas apenas aqueles que individualmente determinam maior variabilidade econômica ao projeto; Ø a limitação anterior impede que os impactos de desvios de previsão sobre variáveis de menor peso, ainda que com menores consequências, possam ser devidamente consideradas no processo de decisão, relegando suas incertezas a um plano secundário. A aceitação ou rejeição do projeto, portanto, reveste-se de uma componente predominantemente subjetiva, imputável não apenas à propensão ao risco do investidor, visto a impossibilidade de quantificá-lo adequadamente. Em decorrência, a tomada de decisão irá se basear, prioritariamente, na percepção do investidor quanto à sua capacidade de gestão sobre os parâmetros sob seu controle, nesse caso, limitada ao custo de investimento (ainda que de forma restrita). 3.2. Análise Dinâmica A análise dinâmica com base no método de Monte Carlo constituiu-se na segunda fase da análise econômica do projeto turbo-expansor, passando a incorporar elementos probabilísticos na representação dos parâmetros de incerteza e na determinação dos resultados das simulações de VPL, como indicado na tabela 3.1 a seguir. Para efeitos comparativos, os modelos de distribuição propostos buscaram estabelecer condições de contorno semelhantes às das simulações anteriores. Assim, no caso dos preços de energia e investimento, considerou-se maior expectativa sobre um valor central (esperado) e limites extremos de variação e, para os demais parâmetros, probabilidades iguais ao longo de todo intervalo de simulação. Tabela 3.1. Representação das Variáveis de Incerteza 9DUL iYHO 9DO RU HV SHUDGR Preço de compra EE (US$ /MWh) Preço de venda EE (US$ /MWh) /L PLWHV GH YDUL DomR PtQL PR Pi[L PR 'LV WULEXLo mR GH SU REDELOL GDGH 40 35 50 Triangular 35 30 40 Triangular Preço EDFN XS (US$ /MWh) 45 40 50 Triangular Investimento (mil US$) 17000 13600 20400 Triangular Fator operacional (%) 95 93 97 Unifo rme Custo O&M (% Investimento) 3 2 4 Unifo rme 1924 Os gráficos 3.5, a seguir, indicam alguns dos resultados da primeira etapa da simulação, em que cada parâmetro foi isoladamente avaliado. Como na análise determinística anterior, o custo do investimento mostrou-se como parâmetro de maior potencial impacto sobre os resultados do projeto e o único que, se mantidas as condições esperadas das demais variáveis, poderia implicar em VPL negativos. Observa-se que o nível de risco associado a esse parâmetro situa-se na faixa de 15%, ou seja, essa é a probabilidade de que o projeto se mostre inviável em razão de variações em relação ao seu custo mais provável. Evidencia-se que também recai sobre o custo de investimento a única expectativa de o projeto apresentar um maior padrão de rentabilidade, visto ser a única variável com potencial de elevação do VPL acima do patamar de US$ 3000 mil, embora a probabilidade de que tal padrão ocorra seja ligeiramente inferior a 10%.Quanto aos demais parâmetros, se considerados individualmente, não indicaram riscos à aceitação do projeto, embora implicassem numa larga variação de sua faixa de lucratividade. Assim, numa decisão baseada unicamente no critério de VPL positivos, poder-se-ia indicá-los como fatores pouco relevantes à aprovação do projeto, porém, de razoável influência em sua rentabilidade, com maior relevância para a tarifa de compra de energia. A próxima etapa de análise passou a incorporar todos os parâmetros técnicos de risco do projeto simultaneamente, modelados segundo a tabela 3.1. Verifica-se no histograma (gráfico 3.6) obtido que a distribuição de VPL resultante estabelece um perfil probabilístico fortemente aproximado ao de uma distribuição triangular (inputs), centrado em uma faixa de VPL de US$ 1600-2400 mil e valores extremos (US$ -1200 / 5200 mil) simetricamente estabelecidos em torno deste intervalo. Recorrendo à distribuição cumulativa do gráfico 3.6, verifica-se que a ocorrência de VPL iguais ou inferiores ao valor esperado do cenário base (US$ 1200 mil) está associada a um intervalo de confiança de 25%, indicando uma razoável expectativa (p75) de obtenção de resultados mais lucrativos para o projeto. Por outro lado, associando o conceito de valor esperado à mediana (p50) da distribuição obtida, identifica-se a perspectiva de uma rentabilidade esperada bem mais significativa, em torno de US$ 2000 mil, adicionando um nível de robustez ao projeto não captada pela análise anterior.Já os limites máximo e mínimo dos VPL obtidos são, em valores absolutos, bastante inferiores aos das faixas otimista/pessimista da análise tradicional, confirmando a hipótese de baixa probabilidade de ocorrência simultânea das diferentes variáveis do projeto em seus valores extremos. Se para efeitos de decisão fosse estabelecido, por exemplo, um limite mínimo de 30% para o índice benefício-custo (US$ 5100 mil), verificar-se-ia que a chance de ocorrência dessa hipótese é praticamente nula, dando ao analista um forte indicativo de não aprovação do projeto, a despeito do elevado nível de confiança associado à obtenção de VPL positivos. 1925 Gráficos 3.5 H G DG OLL E D E UR S 'LVWULEXLomR9 3/9DULDomRGR 'LVWULEXLomRGH93/9DULDomR3UHoR ,QYH V WLP H QWR GH9HQGDGH(( 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 DY WLD O X P X F H GD GOL LE DE RU S 1 DY 0,75 WLD OX 0,5 P XF 0,25 70 0 80 0 90 0 10 00 11 00 12 00 13 00 14 00 15 00 16 00 34 00 25 00 16 00 70 0 -2 00 0 -1 10 0 -2 00 0 93/86P LO 'LVWULEXLomRGH93/9DULDomR&XVWR %DFNXS 20 1 H G DG LLO E DE R US DY 0,8 LW DO 0,6 X 0,4 P XF 0,2 0 1680 1560 1440 1320 1200 960 93/86PLO 'LVWULEXLomRGH93/ YDULDomRGRIDWRURSHUDFLRQDO 'LVWULEXLomR93/9DULDomR3UHoRGH &RPSUD(( 1 H GD GOL LE DE RU S D 0,8 LYW 0,6 DO X 0,4 P X F 0,2 1 DY 0,8 LW DO 0,6 X 0,4 P XF 0,2 93/PLO86 1926 00 27 00 24 00 21 00 00 18 15 00 12 1500 90 0 1200 93/86PLO 60 0 900 30 0 0 0 0 600 1080 840 600 74 14 68 62 14 56 14 14 50 44 14 38 14 32 14 26 14 20 0 14 14 1 DY 0,8 LW ODX 0,6 0,4 P XF 0,2 93/86PLO H GD GLO LE DE RU S 93/86PLO 'LVWLEXLomRGH93/9DULDomR3UHoR(( 720 H GD GOL LE DE RU S Gráficos 3.6 'LVWULEXLomRGH93/9DULDomRGH7RGRVRV 'LVWULEXLomRGH93/9DULDomRGH7R GRV 3DUkPHWURV RV3DUkPHWUR V H GD GLO LE DE RU S 0,14 0,12 HG 0,1 GDLO 0,08 LE DE 0,06 URS 0,04 -1 00 0 20 0 -4 00 40 0 12 00 20 00 28 00 36 00 44 00 52 00 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 -2 -1 -2 00 0 20 0 -4 00 40 0 12 00 20 00 28 00 36 00 44 00 52 00 0,02 0 D LYW DO X P XF 93/86PLO 93/86PLO Uma ultima abordagem da simulação foi a representação de correlações perfeitamente positivas (r =1) entre as variáveis da classe preços de energia elétrica (compra, venda e backup), no sentido de reproduzirem tendências similares em seus movimentos. Observe-se, nos gráficos 3.7, não terem sido verificadas grandes modificações nos valores extremos (máximo / mínimo) da distribuição ainda que tenha havido o deslocamento das medidas centrais de média (p50) e moda, para em torno de US$ 2400 mil, cerca de 20% acima dos anteriores. A probabilidade de ocorrência de VPL negativos também manteve-se baixa, na faixa de 7%, assim como de valores extremos (ocorrências críticas), indicando por efeitos relativamente tímidos advindos da hipótese de forte correlação entre as variáveis da classe de preços de energia. Gráficos 3.7 'LVWULEXLomR&XPXODWLYD93/ &RUUHODomRHQWUH9DULiYHLVGD&ODVVH 3UHoRV(( 'LVWULEXLomR93/&RUUHODomRHQWUH 9DULiYHLVGD&ODVVH3UHoRV(( 0,14 93/PLO86 5100 4200 3300 2400 1500 600 -300 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 -1200 0 -1 0 20 0 -3 00 60 0 15 00 24 00 33 00 42 00 51 00 -2 1 -3 0 00 0 DY WLD OX P X F -2100 H G DG OLL E DE R US -3000 HG 0,12 DG 0,1 OLL 0,08 E DE 0,06 R US 0,04 0,02 93/PLO86 O correlograma do gráfico 3.8, a seguir, apresenta os índices de correlação obtidos entre as distribuições de cada variável e do VPL, denotando-se, uma vez mais, a forte predominância dos parâmetros investimento e tarifa de energia elétrica que, embora em sentidos contrários, guardaram igual intensidade de associação com as variações de VPL. Já o preço de venda de energia mostrou-se como fator de menor impacto, ainda que a potencia disponibilizada para comercialização (8 MWe) fosse igual à parcela de geração prevista para consumo interno. As considerações de menores limites (máximo e mínimo) de preços e a menor faixa de variação para essa variável explicam esse comportamento, enquanto os índices relacionados aos demais parâmetros indicam sua fraca associação com as variações de VPL. 1927 Sob esse aspecto, ressalta-se, primeiramente, que todos esses índices mantêm uma ordem de relação com os resultados de VPL semelhante às obtidas na análise tradicional. Porém, embora as correlações sejam calculadas para cada parâmetro, os valores de VPL obtidos recebem contribuições de todas as demais incertezas configuradas, diluindo o efeito individual de todas as variáveis no perfil do VPL.Em conseqüência, os índices de correlação obtidos mostram-se inferiores aos da análise convencional, determinando que razoáveis variações nesses fatores de incerteza sejam necessárias para produzir sensíveis mudanças no perfil de resultados do VPL (valor esperado, intervalos de confiança, médias, medianas, etc). Por essa razão, decisões baseadas em análises tradicionais podem determinar o sobre-dimensionamento de medidas de mitigação sobre determinado parâmetro, trazendo a falsa impressão de eficácia na gestão de risco do projeto. Gráfico 3.8 &RUUHODo}HVGR93/ investimento tarifa de compra de EE preço de venda de EE fator operacional O&M custo de back up -8,00E-01 -6,00E-01 -4,00E-01 -2,00E-01 0,00E+00 2,00E-01 4,00E-01 6,00E-01 8,00E-01 1,00E+00 FRHILFLHQWHGHFRUUHODFmR 3.3. Análise Comparativa A tabela 3.2, a seguir, apresenta os indicativos disponibilizados por cada método de simulação: Tabela 3.2 - Análise Comparativa dos Indicativos ,QGLFDGRU $QiOLVHWUDGLFLRQDO $QiOLVHGLQkPLFD VPL esperado 1240 mil 2000 mil VPL máximo 7500 mil 5200 mil VPL mínimo -4000 mil -1200 mil VPL (p50) nd * 2000 mil Intervalo de confiança VPL > 0 nd* 95 % Variáveis de incerteza Investimento e tarifa de EE Todas nd - não disponível * 1928 Denota-se, assim, que: Ø o estabelecimento de um valor esperado para o VPL a partir da análise tradicional não é garantia de um indicativo de confiança, em função da extensa faixa de possibilidades entre seus valores máximo e mínimo; Ø essa percepção é reforçada pela ausência de qualquer associação quantitativa (probabilidade) à obtenção desse resultado, sendo fruto, unicamente, de uma condição específica (determinística) idealizada pelo analista; Ø a não consideração das variáveis de menor impacto no processo de sensibilidade tradicional, mesmo ao restringir o foco de análise, não impediu o alargamento do intervalo de possibilidades do projeto, uma vez ter desprezado o efeito interativo das diferentes incertezas sobre os resultados do VPL; Ø o indicativo de atratividade do projeto mostra-se muito mais claro a partir dos resultados da simulação dinâmica, traduzido em uma menor faixa de possíveis (incerteza) VPL, um valor esperado mais robusto e com uma probabilidade de ocorrência (p50) associada, um elevado nível de confiança (p95) na obtenção do retorno mínimo exigido (VPL > 0), além do conforto da consideração de todas as incertezas técnicas idealizadas pelo analista. 4. CONCLUSÃO Uma vez que a aceitação de projetos de investimentos envolve questões e estratégias mais abrangentes do que unicamente VPL positivos, os indicativos dessa análise comparativa entre os métodos de sensibilidade tradicional e o dinâmico com base nas técnicas de Monte Carlo demonstram claramente a contribuição deste processo na análise de risco de projetos de investimentos, oferecendo maior robustez aos valores obtidos, a associação de maior relevância aos resultados da avaliação e, por conseguinte, maior confiança à tomada de decisão. Há de se ressaltar, entretanto, que nenhum desses métodos de análise, mesmo o dinâmico, tendem a substituir a atividade gerencial sobre as incertezas do projeto, ou seja, a otimização de seus resultados por meio de interferências ou ações que busquem minimizar seus riscos de insucesso. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BREALEY, R. A., MYERS, S. C., 2000, Principles in Corporate Finance. 6 ed. New York, USA, McGraw Hill. DU, X., CHEN, W., 2000, A Methodology for Managing the Effect of Uncertainty in Simulation-Based Design, American Institute of Aeronautics and Aerospace Journal, v.38, n.8 FISHMAN, G. S. , 1996, Monte Carlo Concepts, Algorithms and Application. New York, Springer-New York, Inc. MORGAN, M.G., HENRION, M., 1990, Uncertainty: A Guide to Dealing with Uncertainty in Quantitative Risk and Policy Analysis. New York-USA, Cambridge University Press KRANTZ, L. , THOMASON, A., 1999, Strategic Investment Decisions. London-UK, Financial Times - Prentice Hall. OLIVEIRA, C. A. P. , DIAS, M. A. G. , BASTOS, J. L. C., 1993, Considerações sobre Risco na Avaliação Econômica de Projetos In: Seminário de Planejamento e Finanças do DEPRO, pp.114-1171, Salvador. RIBEIRO, H. M. Jr; 2002, Analise Econômica de Projetos : Foco na Avaliação de Risco com Aplicação a um Projeto de Co-geração; Dissertação de Msc., COPPE/UFRJ/ Programa de Planejamento Energético, Rio de Janeiro, Brasil. RUBINSTEIN, R.Y., 1981, Simulation and The Monte Carlo Method. New York-USA, John Wiley & Sons. 1929 TENDÊNCIAS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA NO BRASIL Maurício Cardoso Arouca1 Marcello Matz2 1 - RESUMO O objetivo deste artigo é apresentar o desenvolvimento da geração distribuída3 no Brasil segue a tendência internacional e averiguar possíveis instrumentos de estímulo a esta forma de geração. 2 - INTRODUÇÃO A instalação do primeiro sistema elétrico de geração de potência ocorreu em 1880, quando Thomas Alva Edison projetou e construiu a estação de Pearl Street Power na cidade de Nova Iorque. O sistema era muito pequeno, fornecendo energia elétrica para aproximadamente 400 lâmpadas incandescentes de 83 W cada uma. A idéia teve logo enorme aceitação, sendo instalados sistemas similares nas maiores cidades do continente. No entanto, essas pequenas centrais de geração possuíam uma característica em comum: sua disposição era próxima das cargas. Isto é, em essência, o que hoje em dia chama-se de geração distribuída ou descentralizada de energia elétrica (ACKERMANN, 1999). Com o desenvolvimento dos transformadores, a corrente alternada passou a ser a tecnologia dominante e possibilitou a conexão de centrais de potência, com cargas situadas longe delas. Já em 1920, cada centro da Europa Ocidental possuía seu próprio sistema de potência e, depois com a introdução das linhas de transmissão de alta tensão, possibilitou-se o trânsito de energia através de distâncias ainda maiores. A interconexão das diferentes centrais de geração tornou-se uma realidade. Este foi o formato organizacional que o sistema elétrico vem adotando em quase toda sua trajetória: grandes centrais de geração e uma extensa rede de linhas transmissão e distribuição, o que se conhece como geração centralizada de energia. D.Cs., Professor do Programa de Planejamento Energético, COPPE/UFRJ, e-mail: [email protected]. Tel: 21-2562-8762. 1 2 M.Cs, doutorando do Programa de Planejamento Energético COPPE/UFRJ, e-mail:[email protected], tel: 21-2535-5017. 3 Define-se Geração distribuída como a produção de energia próxima do consumidor final. 1930 Toda vez que o crescimento da demanda exceder os limites de capacidade do sistema, a solução tradicional é a construção de novas unidades de geração, em geral de grande porte, e o aumento da capacidade de transporte e distribuição desta maior quantidade de energia comercializada. As razões para tal formato de organização são identificadas (WALTER et al., 2000): - Na contínua busca de economias de escala e conseqüente redução dos custos unitários de capital; - Na conveniente minimização dos impactos e dos riscos ambientais nos centros mais densamente povoados; - No poder que tinham os empreendedores de grandes obras, fossem eles empresas ou governos, dando suporte às soluções então propostas; e - Na alta confiabilidade dos sistemas de transporte de eletricidade em alta tensão. Esta concepção de se planejar a expansão da oferta e eletricidade do setor elétrico vem sendo questionada, a partir da década de 80. Com a introdução de novas tecnologias que reduzem, de maneira significativa, o custo da energia elétrica produzida, tem-se passado por unidades de pequeno ou médio porte, localizadas cada vez mais próximas dos centros de carga, dando origem, portanto, à valorização da geração distribuída - GD. 3 - Definição de Geração Distribuída Não existe ainda um consenso quanto à definição de GD, embora características inerentes a este tipo de geração possam ser identificadas como essências ao que a GD representa (TURKSON & WOHLGEMUTH, 2001). Vale destacar alguns conceitos encontrados na literatura: A GD consiste na produção de energia (elétrica e/ou térmica), de forma descentralizada, no próprio local do uso da mesma, ou o mais próximo (SKZLO et al., 2000); A geração distribuída nada mais é que a geração descentralizada de energia elétrica através: de fontes alternativas como a energia eólica, pequenas centrais hidrelétricas, da combustão de diversos materiais, tais como derivados de petróleo, gás natural, resíduos da cana-de-açúcar e agroindústria. Esta geração pode ser convertida em energia elétrica ou utilidades4 por meio de equipamentos como a máquina a vapor, os motores de combustão, cogeração, grupos geradores ou turbinas a gás (TOMASQUIM, et Al, 2002). GD é uma planta de 20 MW ou menos, situada no centro de carga ou próxima a ele, ou situada ao lado do consumidor, e que produz eletricidade no nível de voltagem do sistema de distribuição. São quatro as tecnologias apropriadas para a GD: turbinas de combustão, motores recíprocos, células a combustível e módulos fotovoltaicos (TURKSON & WOHLGEMUTH, 2001); GD indica um sistema isolado ou um sistema integrado de geração de eletricidade em plantas modulares pequenas na faixa de poucos kW ate 100 MW, seja de concessionárias, consumidores ou terceiros (PRESTON & RASTLER apud ACKERMANN et al., 1999); 4 Pode-se denominar utilidades como: trabalho mecânico, ar comprimido, vapor etc. 1931 GD é definida como o uso integrado ou isolado de recursos modulares de pequeno por concessionárias, consumidores e terceiros em aplicações que beneficiam o sistema elétrico e/ou consumidores específicos. O termo tem sinonímia com outras expressões normalmente usadas como: auto-geração,geração in situ, cogeração e geração exclusiva (EPRI, 1997 apud TURKSON & WOHLGEMUTH, 2001); Geração Distribuída é o termo que se usa para a geração elétrica junto ou próxima do(s) consumidor(es), com potências normalmente iguais ou inferiores a 30 MW. A GD inclui: cogeradores, geradores de emergência, geradores para operação no horário de ponta, módulos fotovoltaicos e pequenas centrais hidrelétricas (PCH´s) (Instituto Nacional de Eficiência Energética INEE, 2001); GD são tecnologias de geração de pequeno porte, tipicamente inferior a 30 MW, estrategicamente localizadas próximas dos consumidores ou centros de carga, proporcionando benefícios aos consumidores e suporte para a operação econômica das redes de distribuição existentes (GAS RESERCH INSTITUTE, 1999). Essas diferentes definições mostram uma falta de consenso no que diz respeito ao tipo e tamanho da tecnologia elegível para GD, bem como no nível de tensão para a eventual interconexão da unidade de geração com a rede elétrica. No entanto, existem aspectos comuns ao conceito de GD: - A percepção da GD como um recurso flexível de energia em comparação aos sistemas convencionais de geração e transmissão centralizados de grandes blocos de energia; - O modo de operação sugere que a GD é vista como um recurso de geração de energia que não é associado às complexidades das operações do sistema de geração convencional, tais como planejamento de despacho, pool princing, e o despacho propriamente dito; - A disposição da unidade de geração é tipicamente ao nível de baixa tensão do sistema de distribuição local, para caracterizar a maior diversificação de número de agentes participantes, incluindo-se assim, os consumidores industriais e comerciais que podem investir em equipamentos para sua auto-suficiência energética e mesmo para vender energia elétrica para a rede. 4 - Mercado Internacional da Geração Distribuída Segundo A World Alliance for Decentralized Energy - WADE, a participação de Geração Distribuída (GD) no mercado internacional de geração de eletricidade é estimada em 7%. Esta parcela é, ainda, pouco significativa frente às outras formas de geração de eletricidade, mas vale registrar que vem crescendo ao longo dos últimos anos. A transição do modelo de geração centralizada para um sistema híbrido (hybrid central DE) ainda não parece ter se consolidado. Contudo vale destacar que a capacidade instalada total de GD no mundo é de 247 GW, a maior proporção deve-se à cogeração que representa cerca de 70%. Segundo o WADE, os mais importantes mercados de GD são o da Europa e da América do Norte devido aos incentivos implementados. Nos Estados Unidos, o mercado de cogeração cresceu significativamente até 2002, porém poderia ser ainda maior se eliminadas as barreiras regulatórias e contornado o aumento do preço internacional do gás. 1932 O mercado europeu de GD estava em queda até 2003. Em função dos compromissos ambientais assumidos na Rio +10, em Johanesbourg, e nos fóruns de Mudança Climática, a Comunidade Européia se comprometeu que, até 2010, 21% da demanda de eletricidade seriam atendidas pelas fontes alternativas, 18% em projetos de cogeração. As plantas de cogeração estão difundidas em todos os países europeus e, em praticamente, todos os setores. As plantas oscilam entre 1kW a mais de 500 MWe e utilizam todos os tipos de combustíveis: carvão, gás, óleo combustível, bio-combustíveis e energia solar. A cogeração reduziu as emissões de carbono em 200 milhões de toneladas, o equivalente do consumo de energia da Áustria. Segundo o Relatório do WADE, alguns países em desenvolvimento como a China, o Brasil e a Índia, que estão começando a introduzir a GD, podem ser considerados mercados emergentes. No que concerne à China e à Índia as últimas reformas institucionais vem acelerando a competição nos respectivos países, o que pode se traduzir num mercado potencial para a GD. As novas descobertas de gás em Roncador, no Sudeste, podem propiciar novo rumo para cogeração em São Paulo e Rio de Janeiro. 5 - Situação Brasileira O perfil eminentemente hidrelétrico do parque de geração nacional pressupõe um sistema de geração centralizado, com as ter melétricas 5 operando apenas na complementação do sistema em determinados momentos pontuais ao longo do ano. Cerca de 87% da capacidade instalada de geração ainda é de origem hidráulica - em termos de produção efetiva essa proporção chega, em média, a 95%, uma vez que o atual modelo de despacho do Operador Nacional de Sistema prioriza a geração a partir do menor custo marginal (ELETROBRAS, 2003). Gráfico 1 - Capacidade Instalada de Geração de Energia Elétrica no Brasil 2003 Hidrelétrica 87% Térmica Conv. 8% Geração Distribuída 1% Carvão 2% Nuclear 2% (fonte: Eletrobrás) 5 Principalmente com potências instaladas superiores a 200 MW. 1933 Segundo a Eletrobrás (2000), as principais alternativas de expansão da geração de energia elétrica no caso brasileiro se dividem: ou em grandes hidrelétricas, que exigem volumosos recursos, geram irrefutáveis impactos ambientais6 e que serão localizadas na região amazônica7, distante dos grandes centros de consumo, e, portanto com grandes perdas na transmissão (ELETROBRAS, 2000); ou através da geração distribuída, próxima ao grande mercado de consumo de energia na região sudeste e nordeste, onde há possibilidade de expansão com um menor custo, reduzindo as perdas da transmissão e impactando menos o meio ambiente8 (INEE, 2003). A projeção de elevados déficits do sistema elétrico brasileiro confere importância ao investimento em geração distribuída. Sistemas de geração distribuída podem representar uma solução rápida e descentralizada para a expansão da capacidade de geração elétrica, bem como um fator de aumento de confiabilidade do sistema elétrico brasileiro. Segundo o INEE (2002) do total de energia consumida no Brasil, a co-geração representa cerca de 3% da geração de eletricidade no Brasil. Do total a Biomassa é responsável por 2/3, ficando o carvão e gás com o restante. O potencial de geração distribuída no Brasil por fonte é significativo: Cogeração de cana de açúcar - entre 11 e 17 GW; Energia Eólica 12GW; Biomassa 15GW; Combustíveis Fósseis (GN, carvão, óleo diesel e Combustível) - 64 GW (ANEEL, 2000); rejeitos urbanos 14GW lixo e gases de esgoto. 3RWHQFLDOGH*HUDomR'LVWULEXtGDQR%UDVLO *: 70 60 50 40 30 20 10 0 Cana-de-Açúcar Energia Eólica Biomassa Rejeitos Comb. Fósseis Existe, entretanto, uma série de fatores que tornam desfavorável a expansão da geração distribuída no Brasil, dentre os quais pode-se destacar: As recentes reformas do setor elétrico que privilegiam grandes unidades geradoras de energia elétrica, porém esquecem do real custo de transmissão da energia gerada até o centro de carga; Estudos apontam para perdas que variam de 10% a 15% (ELETROBRAS,2000). 6 7 Subentende-se as hidrelétricas do Rio Madeira e Belmonte no rio Xingú. 8 Pois muitas vezes aproveitam em muitos casos os rejeitos dos processos. 1934 As inovações tecnológicas nos sistemas de geração que aumentam a oferta de formas de geração vis-à-vis as tradicionais9, mas possuem um custo ainda muito alto a médio prazo; A cogeração a gás natural devido ao aumento do seu preço internacional e a certos critérios de despacho atualmente adotados pelo Operador Nacional do Sistema10 (ONS). 6 - Benefícios da Geração Distribuída As vantagens atribuídas à GD, em relação às opções convencionais de geração de grande porte são as seguintes: Pelo lado do consumidor Alguns investidores se interessam pela GD pelo fato do seu sistema elétrico não tolerar variações de freqüência e/ou tensão, bem como interrupções no abastecimento. Essa eventual qualidade e confiabilidade superiores do abastecimento através de tecnologias de GD são aspectos que podem justificar como o custo unitário de produção relativamente maior; Do ponto de vista econômico, o investimento próprio em GD interessa o consumidor se a eletricidade gerada tiver um custo menor do que o abastecimento via concessionária de eletricidade, ou via comercializador. Do lado do setor elétrico Para uma concessionária de energia elétrica, a GD pode ser economicamente atraente em função das reduções de custos que ela possibilidade. A GD reduz perdas nas linhas de transmissão e distribuição, proporciona maior estabilidade à tensão elétrica, reduz perdas reativas de potência, bem como adia investimentos em subestações de transformação e em capacidade adicional para transmissão (HOFF et al., 1996); Unidades de menor capacidade ajustam-se melhor a taxas variáveis de crescimento da demanda, reduzindo o risco associado a erros de planejamento que podem resultar em sobre capacidade e, também podem proporcionar uma boa dose de flexibilidade as oscilações de preços ao sistema elétrico (WALTER et al., 2000); Nas regiões onde o potencial de expansão dos sistemas de transmissão ou distribuição é limitado, por exemplo, por razões políticas ou ambientais. Do lado da sociedade Contribui para aumentar o mix (gama) de geração, levando a uma maior segurança do suprimento energético; Permite a promoção do desenvolvimento local através do uso de recursos próprios da região em que a instalação é inserida, além da dinamização das atividades econômicas e geração de empregos em função da maior produção industrial e do maior volume de serviços; Considera-se fonte tradicional de geração de eletricidade: a hidreletricidade e a termeletricidade (carvão, nuclear, óleo combustível e óleo diesel). 9 Este critério despacha primeiro a energia pelo seu menor custo, não levando em consideração certos aspectos tais como a proximidade do centro de carga. 10 1935 A redução dos impactos ambientais associados à geração (térmica e hídrica de grande porte), seja pelo porte da instalação ou ausência ou menor impacto quanto às emissões líquidas de dióxido de carbono, no caso de uso de fontes renováveis. 7 - Tendências de uma maior difusão da geração distribuída O histórico dos países que tiveram sucesso em expandir a capacidade instalada em geração distribuída (cogeração) nas décadas de 70 e 80, tais como EUA, Holanda e Dinamarca a partir de políticas de incentivo, em especial a obrigatoriedade da compra dos excedentes elétricos gerados tarifados administrativamente ao custo evitado de geração. Por sua vez, as recentes transformações por que passaram os setores elétricos destes países afetaram as tendências de desenvolvimento de geração distribuída, conferindo-lhes um certo grau de incerteza quanto à compra dos excedentes gerados com o fim dos subsídios (SZKLO, 2001). A emergência da questão ambiental culminada pelo estabelecimento de metas de redução das emissões dos gases de efeito estufa nos países industrializados, abriu um nicho de mercado para a geração distribuída, tida como a medida mais custo-efetiva de redução das emissões atmosféricas da geração de eletricidade, de outro, a abertura de mercado de energia acabou por gerar três conseqüências de diferente impacto para a geração distribuída: As duas medidas básicas de abertura de mercado foram em princípio favoráveis aos cogeradores, livre acesso às redes de transmissão e distribuição das concessionárias e a criação de um mercado livre de energia, dependendo do país; A abertura de mercado, ao estabelecer consumidores livres, ou consumidores que poderiam mudar de fornecedor, criando o agente comercializador de energia, um agente capaz de inter-relacionar o mercado para os blocos de energia disponibilizados por pequenos geradores, afetou o comportamento estratégico das empresas de energia no mundo. Estas empresas passaram a assumir condutas defensivas de preservação do seu mercado e ofensivas de aumento da diversificação das suas atividades. Ora, entre estas condutas, estava o investimento em geração distribuída de modo a evitar a entrada de novos concorrentes no seu mercado, bem como garantir o atendimento localizado de determinadas regiões e a oferta de energia elétrica própria e finalmente, salvaguardar a lealdade dos consumidores livres com tendência a mudar de fornecedor (SZKLO, 2001). A maior competição no segmento de geração e comercialização de eletricidade e condutas defensivas das concessionárias de energia, como os sistemas de cogeração, especificamente nos EUA, promoveu uma revisão dos contratos de longo prazo dos excedentes de elétricos, resultando numa grande volatilidade nos preços da energia elétrica. A questão ambiental vem garantindo a instalação e manutenção de algumas unidades de geração distribuída, mas a falta de mecanismos adequados de intervenção governamental no mercado, no curto prazo, não reverte a tendência de investimentos se concentrarem nas fontes de geração de maior poder de barganha no mercado de energia, isto é, seu porte, sua localização, qualidade da energia para o consumidor. Em termos do mercado internacional, os blackouts de 2003, incluindo o da América do Norte e da Itália acarretaram numa revisão das políticas e na busca de se minimizar novos cortes de energia. A isto se adiciona a questão de segurança, uma vez que as centrais é que atraem as ações de terroristas. 1936 8 Fontes Alternativas11 na Geração Distribuída Em termos internacionais, a incorporação de fontes alternativas para a geração distribuída de energia elétrica está associadas às pressões ambientais sobre o uso de energia nuclear, a partir dos acidentes de Three Mile Islands, em 1979, nos Estados Unidos, e mais tarde, em 1986 em Chernobyl na Ex-União Soviética. Neste contexto, de procura de fontes limpas e renováveis, criou, a partir da década de oitenta e, sobretudo, na década de noventa, um ambiente favorável para o desenvolvimento de fontes alternativas de energia, em particular a eólica. Assim, países como a Alemanha, Dinamarca e Estados Unidos engajaram-se, com sucesso, no desenvolvimento de tecnologia e expansão do parque industrial (Dutra, 2001). No Brasil, em função da logística existente na produção de cana de açúcar e de álcool voltada inicialmente à substituição da gasolina e na disponibilidade de áreas agrícolas e de expansão da fronteira agrícola, a ênfase em fontes renováveis acabou se concentrando na biomassa. Em 2002, a produção de cana de açúcar é de 300 milhões, a capacidade instalada de cogeração por biomassa é de 2GWe. A baixa produtividade de cogeração está associada à baixa produtividade das plantas cuja grande maioria foi instalada no final da década de setenta e na década de oitenta. A partir de 2000 36 novas plantas totalizando 530MWe foram aprovadas e estão em distintos estágios de construção. Segundo DNPE/SE/MME (2000), contabiliza-se 33O destilarias de etanol, 163 anexas e 167 autônomas, concentradas notadamente na região centro-sul (72%), sendo 41% em São Paulo. A Companhia Paulista Força e Luz aumentou suas compras do setor canavieiro de 180 GWh, em 1999, para 1300 GWh em 2003 (GAZETA MERCANTIL, 2003). Tabela: Potencial de Geração de Biomassa por região no Brasil 5HJLmR &HQWUR2HVWH 6XO 1RUGHVWH 1RUWH 7LSRGH%LRPDVVD Cana de Açúcar Resíduos de Madeira Resíduo agrícola Cana de Açúcar Resíduos de Madeira Resíduo agrícola Cana de Açúcar Resíduos de Madeira Resíduo agrícola Cana de Açúcar Resíduos de Madeira Resíduo agrícola %DL[R 0pGLR $OWR 158 70 1561 515 67 4664 132 35 830 4 103 1035 306 94 2082 584 89 6216 270 50 1050 4 137 1379 611 104 3122 584 133 9328 550 70 1350 8 205 2069 Fonte: INEE (2004) De forma reduzida e pontual alguns segmentos industriais eletrointensivos, como a siderurgia, estão aproveitando resíduos energéticos para gerar energia. É o caso da Companhia Siderúrgica Nacional e da Companhia Siderúrgica de Tubarão. Disse-se que as fontes são alternativas a produção de energia de maior geração, no caso brasileiro, alternativa a hidreletricidade. 11 1937 Criado em 26 de abril de 2002, o PROINFA 12 foi revisado no final de 2003 e lançado oficialmente, no dia 30 de março último, o Programa de Incentivo Às Fontes Alternativas de Energia Elétrica, fundamental para a diversificação da nossa matriz energética. O Programa será coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, e estabelece a contratação de 3.300 MW de energia no Sistema Interligado Nacional SINproduzidos por fontes: eólica biomassa e pequenas centrais hidrelétricas - PCHs, sendo 1.100 MW de cada fonte. PROINFA13 será um complemento à energia hidráulica, responsável por mais de 90% da geração do país. A produção de 3,3 mil MW a partir de fontes alternativas renováveis dobrará a participação na matriz de energia elétrica brasileira das fontes eólica, biomassa e PCH, que atualmente respondem por 3% do total produzido e, em 2006, podem chegar a quase seis por cento. Mas, há outras questões na parte econômica, por exemplo, o BNDES criou um programa de apoio a investimentos em fontes alternativas renováveis de energia elétrica. Essa linha de crédito prevê financiamento de até 70% do total investido. As previsões são que os investimentos do setor privado fiquem na ordem de R$ 8,6 bilhões. Principais vantagens do setor Sucar-alcooleiro na geração de energia elétrica. O inexpressivo preço do combustível é uma das principais, além de várias outras que podem ser enumeradas: - Prazo para implementação das plantas relativamente curto, se comparado com a energia hidráulica (12 a 18 meses). - Baixo custo de implantação. - Diversificação dos produtos do setor (açúcar, álcool, levedura), através de um novo segmento de negócios que é a geração de energia elétrica.- Utilização de tecnologia nacional, com prazos de entrega de máquinas e equipamentos relativamente curtos.- Este tipo de geração de energia qualifica as usinas a receber créditos no mercado de carbono, utilizando-se dos mecanismos do Protocolo de Kioto.- Aproveitamento de parte da palha da cana-de-açúcar, com rendimento energético maior que o bagaço, resultante da mecanização da colheita. - Custo de energia independente de fatores externos, como câmbio.- Estágio de evolução tecnológica que já permite a utilização de caldeiras e processos a preços competitivos. Para o Setor Elétrico Brasileiro as vantagens de utilizar-se desta energia também são previsíveis - Expressivo potencial de energia renovável. - A possibilidade de produção de energia em época de estiagem nas regiões sul, sudeste, promovendo um perfeito acoplamento às vazões, complementando a produção de energia com base hidrelétrica. - Geração de energia na proximidade dos centros de consumo, reduzindo perdas e custos de transmissão e distribuição geração distribuída. Programa que estimula a diversificação da matriz energética brasileira por meio de fontes alternativas de geração de energia. Visa garantir a democratização no processo de produção de energia, o Proinfa prevê uma restrição máxima por estado, que é de 20% da potência total destinada às fontes eólica e biomassa e 15% para as PCHs. 12 13 Prevê-se a construção de novas fontes de 3.300 MW, sendo 1.100 MW de energia eólica, 1.100 MW de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e 1.100 MW de biomassa. Todas as instalações de produção selecionadas estarão em funcionamento até dezembro de 2006 e terão da Eletrobrás garantia de compra da energia por 20 anos. 1938 Outras vantagens dizem respeito à criação de empregos. A geração de energia por fontes de biomassa é reconhecida como a mais mão-de-obra intensiva dentre as demais. Isto diz respeito ao emprego direto na colheita e nas usinas, sem contar com os empregos indiretos gerados nas indústrias de equipamentos e montagem. Agrega-se a isto o fato da tendência destas indústrias em aumentarem suas competitividades internacionais devido a saltos tecnológicos, proporcionados por pesquisas demandadas pelas carências de modernização do Setor Sucar-alcooleiro. A energia eólica é bastante incipiente no país, apesar dos estudos de viabilidade indicarem claramente a sua vanguarda em relação às novas energias renováveis, ela não tem conseguido atrair o interesse político. O primeiro mapa eólico brasileiro foi feito somente no ano de 2000, quando se descobriu que potencialmente pode-se introduzir na matriz energética capacidade de até 20% superior à do sistema hidrelétrico instalado. O litoral do nordeste do País é umas das melhores áreas para a produção eólica. Na região é possível conseguir uma produção de até 20 mil MW, mais do que a capacidade da hidrelétrica. (CAMARGO AMARANTE, 2000). Entre 1998 e 2001, a potência instalada em CHP a gás cresceu cerca de 500 MW, havendo ainda a previsão de instalação de mais cerca de 1 GW até 2003. Respondem por cerca de 90% desta previsão de acréscimo de potência até 2003 os setores química, refino de petróleo e siderúrgica, estes dois últimos aproveitando, em conjunto com gás natural, combustíveis residuais do processo industrial (MME, 2002). 9 - Conclusão A transição de um sistema centralizado para um sistema híbrido que introduza GD não é uma tarefa simples, pois implica numa revisão da própria noção de economia de escala. A geração distribuída comparada à geração hidro-térmica convencional, resulta na economia de fontes primárias de energia e na redução da emissão de gases de efeito estufa. Além disso, centrais geradoras de eletricidade instaladas próximas aos centros de carga normalmente garantem o atendimento do mercado de energia elétrica sob menores investimentos nas redes de transmissão e distribuição, assim como, uma menor perda de energia na transmissão (POOLE et Al.1995; OLANO, 1995; SZKLO et Al., 2000). Adicionalmente, a geração distribuída pode representar o adiamento de investimentos de grandes usinas para a expansão geração de energia elétrica, uma vez que, que estas usinas logo após a conclusão de suas obras não gerem todo seu potencial instalado (HOFF et Al., 1996). No Brasil pós-racionamento não se pensa mais em expansão da geração desconsiderando as demais alternativas de energia, principalmente aquelas que são realidade, biomassa e cogeração, dada a robustez tecnológica, potencial, caráter renovável, benefícios ambientais e inúmeros valores econômicos agregados, dentre eles a criação de empregos, estabelecimento de novas indústrias, etc. Por muito tempo, as fontes alternativas de energia ficaram segregadas, por se entender estarem distantes de oferecerem preços digeríveis pelo mercado, sobretudo frente às ofertas de energia de grandes hidrelétricas e termelétricas a gás natural, que apareceram aos investidores como a alternativa ideal frente à dependência hidrológica. Esta tendência está sendo alterada com uma efetiva implantação do PROINFA. 1939 Com a realização da primeira chamada pública do PROINFA, foram ofertados 6.600 MW, finalizada no final de junho de 2004. Observou-se que o número de projetos habilitados superou a capacidade de contratação nas áreas de energia eólica e de pequenas centrais hidrelétricas. A grande atratividade destes empreendimentos decorre da garantia de compra da Eletrobrás e do financiamento de 70% oferecido pelo BNDES. Assim, cabe destacar que, políticas de incentivo governamental para fontes de geração distribuída como as atendidas por este programa são fundamentais para a diversificação da matriz energética brasileira. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AROUCA, M. C. Potencial for Reduction of Alcohol Production Cost in Brasil, In: Revista Energy, V. I., 1998. AROUCA, M. C., Gestão Ambiental de Projetos Energéticos, IBAMA-DIDER, 1994, Brasília. BNDES, Cadernos de Infraestrutura Setor Elétrico, 1999, Rio de Janeiro. 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Este potencial foi determinado através da simulação da operação de um parque de cogeração implantado concomitante a setores industriais que hoje consomem energia térmica fornecida pela queima de derivados de petróleo, de um parque acoplado a setores terciários consumindo energia elétrica para condicionamento de ambientes e de um parque acoplado ao setor de açúcar e álcool. Os resultados de um Plano de Inserção Incentivada de Cogeração indicam um potencial de 45.200 MW até 2013, a ser acrescido ao atual parque de geração. Como parte deste montante será acionado por gás natural, prevê-se um acréscimo no consumo de gás, apenas nesta geração, de 33x109 m3/ano também até 2013. Ao final do trabalho se colocam as condições de incentivo que deveriam ser implementadas para que a cogeração aconteça no âmbito nacional, permitindo um melhor aproveitamento dos recursos naturais e alavancagem da penetração do gás natural, recurso nacional de relevância para o desenvolvimento. 2. INTRODUÇÃO A Cogeração pode ser definida como geração coincidente de calor e potência elétrica e/ ou mecânica, como também geração de potência elétrica e/ou mecânica advinda da recuperação de calor de processo rejeitado a altas temperaturas. 1 Doutor, PIPGE/Universidade de São Paulo - [email protected] - Universidade de São Paulo Instituto de Eletrotécnica e Energia Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia Professor Doutor, PIPGE/Universidade de São Paulo - [email protected] - Av. Luciano Gualberto, 1289 Cidade Universitária - 05508-900 São Paulo/SP - Fone (011) 3091-2632 - Fax (011) 3091-2632 (011) 3293-5100 - (011) 9649-7612 2 1941 Além de assegurar vantagens como o aumento da confiabilidade no abastecimento de eletricidade, também contribui para a redução dos custos de produção em decorrência do aumento do rendimento térmico global da operação. Se por um lado o aumento da confiabilidade no fornecimento de eletricidade pode ser condição fundamental, por outro avaliações dirigidas à comparação de alternativas de alocação dos recursos valorados segundo os critérios de mercado indicam que projetos de sistemas de cogeração, desde que tecnicamente consistentes com o atendimento da demanda de usos finais combinados, tem viabilidade econômica favorável. Torna-se importante observar que a cogeração é processo corriqueiro em vários setores industriais que a adotaram ou por tradição, ou devido à localização isolada da planta em relação à rede, ou por ser extremamente vantajosa ao processo. Este fato ocorre na indústria química, petroquímica, celulose e papel e no setor onde esta geração é mais significativa, a indústria sucro-alcooleira. As avaliações das condições de implantação de sistemas de cogeração costumam levar em consideração aspectos de melhoria do desempenho técnico e econômico dos processos industriais. Complementarmente, examinam-se critérios de melhoria da qualidade da energia elétrica disponível, blindagem sobre aumentos das tarifas de energia elétrica, proteção contra o risco de desabastecimento, perspectiva de geração de receitas adicionais e/ou corte de custos. A seguinte pergunta central então se coloca: se a cogeração tem desdobramentos tão positivos, porque seu emprego no Brasil tem sido modesto em comparação com outros países? A resposta a este questionamento não é trivial. A primeira constatação que se chega está na maneira como se planejava e se atendia a demanda de energia elétrica no passado. Na regulamentação do passado os planos de expansão do setor elétrico, impositivos num determinado momento e depois indicativos, coordenavam a implantação dos novos empreendimentos de geração, privilegiando-se as ofertas das empresas estatais existentes, que impunham usinas hidroelétricas neste planejamento. Outras explicações também podem ser alinhadas, como o excepcional potencial hidráulico das bacias brasileiras, a vocação destas empresas para grandes obras civis, o relativo baixo custo dos aproveitamentos, o conforto do excesso de capacidade instalada e das supermotorizações dos projetos implantados, dentre outras. Ofertas termoelétricas de vulto só se realizavam no Sul, decorrentes de pressões de lobbies de mineradoras de carvão mineral. As distribuidoras pelo seu lado sempre se apressavam em desestimular qualquer projeto de autoprodução, oferecendo tarifas para inviabilizar os projetos, ou mesmo impondo tarifas elevadas de back-ups. O processo se encerrava pela inexistência de um órgão regulador isento. Conclui-se então que neste ambiente tornava-se difícil exercer-se qualquer pressão na direção de se incentivar uma expansão da cogeração, não só em função do desestímulo a autoprodução, como também pela inexistência dos recursos energéticos mais adequados a esta operação - o gás natural, nem tampouco a disponibilização de tecnologias mais eficientes como as novas turbinas a gás e os motores alternativos a gás. O consumidor, por outro lado, em função da relativa condição satisfatória de atendimento também não se encorajava a investir em sistemas mais complexos de autoprodução, mesmo tendo vantagens. Só recentemente implantou-se legislação específica de incentivo a cogeração. 1942 3. Metodologia de Avaliação de Potenciais de Cogeração 3.1 Critérios de Avaliação A criação de uma metodologia original no estudo da cogeração não é uma tarefa trivial, haja vista a existência de centenas de trabalhos acadêmicos e projetos desenvolvidos por inúmeros centros de pesquisa focados nesta alternativa de geração. O atual trabalho no entanto diferencia-se dos estudos existentes, em primeiro lugar por tratar a oferta de cogeração sob a forma de energia e não de capacidade e depois por adotar uma avaliação sistêmica da sua influência. O trabalho então investigou o montante de complementação que a cogeração pode agregar ao Sistema Interligado e inferiu o padrão de funcionamento do parque de geração atual e suas expansões programadas com e sem estas fontes de autogeração. Esta simulação da operação do parque gerador convencional complementado com as ofertas de cogeração foi conduzida através do ferramental usual do setor elétrico, simulando-se produção, consumo e transporte de energia entre sistemas e regiões geográficas. 3.2 Setores Industriais A estimativa do potencial foi ancorada no levantamento do consumo de calor em setores selecionados e fundamentou-se na metodologia da paridade térmica, isto é, dimensionouse a capacidade elétrica das instalações de cogeração em função da quantidade de calor rejeitada e consumida nos processos. Através do levantamento de informações referentes a consumo de tipos específicos de combustíveis, desagregadas segundo os vários setores comerciais e industriais, pode-se inferir o consumo espacial e setorial de calor dos segmentos passíveis de agregar capacidade de cogeração. Esta base de dados temporais fornecida pela ANP foi classificada por data de entrega ao consumidor, tipo de derivado de petróleo, município consumidor e setor econômico, dentre outros atributos. As totalizações foram mensais, mesma base temporal das simulações energéticas do Sistema Elétrico Interligado. Após este levantamento aplicaram-se critérios de montagem de arranjos para o processamento, agregando-se os setores a uma base de trabalho que limitasse o esforço computacional por um lado e que fosse suficiente para se aplicar de maneira satisfatória os sistemas diferenciados de cogeração por outro. Os mais de 300 gêneros classificatórios das séries de transações com óleos diesel e todos os tipos de óleo combustível foram concentrados em um conjunto de 29 gêneros industriais e 16 gêneros de serviços. A determinação dos potenciais de cada modalidade de geração foi obtida da aplicação de operadores, como os definidos em trabalhos da EFEI - método á - â generalizado, ao consumo de energia térmica de cada setor, função do consumo levantado de derivados. Os operadores foram selecionados e ajustados em função do gênero de consumo e da temperatura média do processo médio a que irão suprir, compilados da literatura. A escolha de cada sistema de cogeração a ser aplicado no gênero médio selecionado decorreu de interpretação de pesquisas em projetos similares e, de certa forma, representativos deste aplicação. Estas informações foram selecionadas de processos de solicitação de autorização para implantação de expansões de geração termoelétrica de empresas junto aos órgãos reguladores (ANEEL e CSPE). 1943 A concepção do método pode ser acompanhada pelo mecanismo da Figura 1, onde se aplica um sistema de cogeração que fornecerá alternativamente o calor que um processo industrial existente está consumindo. Como os sistemas de cogeração têm características básicas que se repetem, define-se o adimensional â que reflete o tipo de arranjo e combustível selecionados, como turbo-geradores a gás, moto-geradores a gás ou mesmo caldeira a óleo/biomassa e turbo-geradores a vapor em contra-pressão. As Equações 1 e 2 representam a formulação da metodologia á - â. Figura 1. Aplicação da Cogeração em Paridade Térmica (1) Os gêneros industriais sintetizados foram qualificados em relação à temperatura do processo, um dos condicionantes que induzem o tipo de sistema de cogeração aplicado, a partir de dados da literatura. Os operadores â foram selecionados e ajustados em função do sistema de cogeração e da temperatura média do processo médio a que irão suprir. Os operadores â são calculados e corrigidos em função das temperaturas do processo e de escape dos sistemas geradores, o que reflete a capacidade de aproveitamento de correntes térmicas não suficientemente utilizadas. O Quadro da Tabela 1 mostra para cada gênero industrial os valores adotados para temperatura de processo, equipamento utilizado, â calculado e â corrigido (â). A determinação dos potenciais de cada modalidade de geração foi obtida da aplicação dos operadores definidos na Tabela 1 ao consumo de energia térmica de cada setor, função do consumo levantado de derivados. 1944 Tabela 1 - Quadro Demonstrativo dos Parâmetros Operacionais de Cogeração por Gênero Industrial Gerou-se tanto para dados baseados em óleos diesel como combustíveis, planilhas anuais com resultados setoriais mensais para cada estado, posteriormente totalizados por região. Estas tabulações forneceram a energia elétrica mensal produzida com a incorporação de sistemas de cogeração capazes de fornecer a quantidade de calor solicitada pelo setor, bem como as necessidades de gás natural. 3.3 Setores de Serviços Existem, por outro lado, setores como açúcar e álcool, shoppings, hospitais e outros de serviços em que o método não pode ser empregado, uma vez que seu consumo energético é baseado em biomassa ou energia elétrica, não tendo nenhuma aderência entre o consumo de derivados de petróleo e o consumo energético dos processos. Para estes desenvolveram-se outros mecanismos de avaliação. Nos setores independentes de derivados de petróleo as estimativas foram baseadas em uma base de dados unitários formada por um universo de estabelecimentos comerciais compilado por entidades como ALSHOP, ABRASCE, IBGE, EMBRATUR e ABIH. Aplicaram-se índices unitários desenvolvidos por órgãos de pesquisa como a COPPE e INEE aos índices unitários ABL, número de leitos por m2, áreas de unidades habitacionais, unidades por estabelecimento e outros, obtidos dos levantamentos organizados pelas associações acima, estimando-se por região e categoria de estabelecimento a carga de refrigeração destas unidades operacionais. O critério de inserção incentivada da cogeração nestes setores independentes foi o de se promover uma substituição parcial e programada dos chillers das centrais de ar condicionado existentes por chillers de absorção. Ao lado desta substituição, promoveu-se um programa de implantação de sistemas de cogeração em unidades que não dispõem de 1945 unidades centralizadas de condicionamento de ar. Após a determinação da carga de refrigeração e da fração real que será implantada, calcula-se o calor consumido pelos chillers de absorção e ajusta-se para cada região e categoria a tecnologia de cogeração e os índices â adequados, chegando-se ao potencial de cogeração estimado. As Tabelas 2 e 3 mostram de forma resumida os passos desenvolvidos no processo de se estimar potenciais de cogeração em setores de serviços. Tabela 2 - Exemplo do Cálculo de Potencias de Cogeração no Setor Hospitalar da Região Sudeste &$5*$ &$5*$ &21680 7(&12 (1(5*,$ (1(5* &$3$ &$7(*248$17, È5($ &$5*$ 3$57,&, &255, 7(50,&$ $18$/ /,48, &,'$'( 3$d2 &+,//(5 /2*,$ *(5$'$ * $18$/ 5,$ '$'( (m2) 75 (%) (Gcal/ano) (Gcal/ano) MWhx103 MWhx103 0: 75 Gporte 16475 3425 54117 55 29986 460 511 TGAS 923 991 250 MPorteCF MPortSCF 23514 14215 1644 917 27132 4952 66 60 17934 2971 275 46 305 51 MTALT VPOR42 698 7 746 3 172 1 Pporte <50 Leitos 64841 23558 3395 760 52280 11703 60 50 31368 5852 481 90 534 100 VPOR42 76 0 64 0 16 0 Só SUS 59553 202156 1985 6154 12126 156338 50 - 3077 91188 47 1399 52 1553 VPOR42 - 7 1711 3 1807 1 440 727$/ Tabela 3 - Exemplo do Cálculo de Potencias de Cogeração no Setor Hoteleiro Nacional &$5*$ &$5*$ &$5*$ &2(), (1(5*,$ (1(5*,$ &$5*$ 7e50,&$ 7(50,&$ '(0$1'$ &,(17( $18$/ /,48,'$ 7e50,&$ 5(*,®(6 &216,'(5$'$ $18$/ &+,//(5 *(5$'$ $18$/ &216,'(5$'$6 75 (Gcal/ano) (Gcal/ano) M Whx103 M Whx103 75 68'(67( 187767 84495 1295 1439 1,81 2600 2776 68/ 68250 27300 209 233 2,29 531 537 &B2(67( 34031 6806 104 116 1,81 209 221 125'(67( 80384 16077 246 274 2,29 626 654 1257( 15968 3194 49 54 0,14 8 13 727$/%5$6,/ 386400 137872 1904 2116 3974 4202 3.4 Setor de Açúcar e Álcool A determinação mais elaborada do montante de excedentes potenciais de energia elétrica em cogeração que seriam disponibilizados pelo Setor Sucro-alcooleiro ao Sistema Interligado envolve a análise da evolução das seguintes variáveis: área vinculada a esta atividade agrícola, nível de produtividade, velocidade da evolução da tecnologia empregada, padrão operacional da cogeração e possibilidade de complementação com outros combustíveis - gás natural. Também existe incerteza na forma de manuseio do bagaço gerado, isto é, se as usinas ou destilarias irão processá-lo internamente ou enviar para geradores independentes. Mais importante, qual será a duração ou padrão operacional da cogeração: gera-se apenas durante a safra, ou durante todo ano, complementando-se com bagaço estocado, sobras de colheita ou outro combustível como gás natural. A partir da estimativa da base agrícola, ajustaram-se estimativas de tecnologias de geração para diferentes regiões, dividindo-se o setor em diferentes centros de operação; a estes centros aplicaram-se critérios baseados em índices de estimativa de geração originados de trabalhos de pesquisa do CENBIO, estimando-se os potencias de geração. 1946 A Tabela 4 mostra as diferentes abordagens praticadas a cada região produtora de açúcar e álcool, as tecnologias selecionadas e seus potenciais de geração de energia elétrica. Tabela 4 - Critérios de Estimativa do Potencial de Cogeração - Setor de Açúcar e Álcool 5(*,®(6 &216,'(5$'$6 &(17522(67( 1257( 125'(67( 68'(67( 68/ )$725'( 3(5Ë2'2 &$3$&,'$ 7(&12/2*,$'( 327(1&,$/ '( &2*(5$d2 '( &2*(5$d2 '(6$)5$ $'27$'$ (dia/ano) 1$6$)5$ (kWh/tcana) (%) RANKINE 60 bar RANKINE 60 bar e GN RANKINE 42 bar RANKINE 60 bar RANKINE 60 bar RANKINE 60 bar RANKINE 80 bar RANKINE 80 bar e GN RANKINE 60 bar 30 180 95 140 7450 h - 20 30 150 150 95 95 30 40 110 180 180 7450 h 95 95 - 170 7450 h - 30 150 95 3.4 Critérios de Expansão da Oferta dos Potenciais Estimados Uma base de dados tão extensa que transita por distintos momentos da economia, com uma tendência natural de crescimento, torna complexa a fixação de um critério para aplicação dos operadores da estimativa de montantes de cogeração, pois incorpora tanto períodos de relativa despreocupação com padrões de consumo, como outros de iminente desabastecimento. O critério adotado foi o de se combinar três anos representativos de tendências: no primeiro, 1999, refletiu-se um crescimento segundo o padrão de consumo da década; no de 2000 agregou-se uma contração significativa em função da crise cambial de 1999 e por fim o de 2001, ano do racionamento e continuidade da tendência de contração do consumo de energia elétrica e derivados de petróleo. Acredita-se que a amostra construída com a média destes três anos, com pesos semelhantes, seja adequada para se compor uma base de apoio a estimativas de cogeração, uma vez que a tendência de contração reverteu-se em 2002. O resultado das tabulações forma o parâmetro potencial de expansão da cogeração neste horizonte de estudo, que passará a ser reconhecido como potencial de 2013. Justificase esta metodologia pelos condicionantes contidos nas expansões, isto é, se por um lado o início da implantação é extremamente modesto em comparação com os níveis praticados em outros países, por outro as forças que impelem o processo de expansão - oferta abundante e barata de gás natural - só atingirão sua plenitude num prazo de cinco anos. Espera-se então que haja um crescimento geométrico e gradativo destes montantes, chegando-se durante o programa de inserção incentivada à oferta total teórica calculada, coincidentemente com o período de maior intensidade das pressões de apoio do plano esta é a essência do método desenvolvido. Se, por um lado, a aplicação de coeficientes teóricos a processos industriais reais poderia ser classificada como uma estimativa do Po1947 tencial Técnico de cogeração, por outro, a transposição paulatina destes resultados para 2013, ano de total materialização das reservas, transforma esta classificação em Potencial de Mercado incentivado. 4. Entorno Econômico do Processo de Cogeração Na avaliação dos custos da energia elétrica gerada em cogeração necessita-se em primeiro lugar conhecer os custos dos energéticos que participam desta operação, assim como da energia elétrica que vai ser deslocada. Esta é uma avaliação complexa, uma vez que além das dificuldades inerentes à implantação em cada usuário de um sistema viável de cogeração pode-se eventualmente sofrer a pressão das distribuidoras de energia elétrica, como também das distribuidoras de óleos diesel e combustível, concorrentes dos fornecimentos de gás natural, combustível preferencial para aplicações de cogeração e da energia elétrica na iminência de ser deslocada. No caso da energia elétrica existem fatores complementares, como o tipo de ligação contratada com a distribuidora, isto é, CONVENCIONAL, AZUL e VERDE e a sua classe de tensão. Esta classificação tarifaria pode até ter uma influência mais pronunciada na avaliação da viabilidade de projetos de sistemas de cogeração do que as análises do desempenho do processo de produção com ou sem estes sistemas. Mesmo não se estimando os montantes de energia elétrica fornecida nem se levantando as tarifas de demanda e consumo praticadas em cada projeto, a análise mais simplificada da Tabela 5 não deixa de ser importante. Da tabela percebe-se que parcela significativa dos consumidores não tem acesso a tarifas mais baratas, como horo-sazonal em tensões elevadas; acredita-se que a impossibilidade física da conexão ou mesmo desinteresse do consumidor sejam as causas desta baixa participação. Tabela 5 - Tarifas Médias de Energia Elétrica Praticadas no Brasil &/$66('(&216802 1RUWH1RUGHVWH6XGHVWH 6XO &2HVWH %UDVLO 5(6,'(1&,$/ 206,82 190,47 255,31 232,64 220,46 236,34 ,1'8675,$/ 67,99 86,95 119,85 123,53 123,05 110,48 &20(5&,$/ 189,10 191,68 215,26 201,05 207,84 207,66 585$/ 147,56 119,17 115,54 120,49 130,63 134,24 32'(53Ò%/,&2 202,54 202,92 214,58 210,63 215,64 210,60 ,/80,1$d23Ò%/,&$ 122,22 118,36 136,81 123,48 120,52 128,47 6(59,d23Ò%/,&2 130,15 112,35 121,21 130,74 119,82 121,02 &21680235Ï35,2 200,98 216,24 102,43 106,46 234,66 121,28 7$5,)$0e',$727$/ 135,04 177,76 164,88 127,14 177,31 165,03 Obs.: Dados do Site ANEEL - Preços sem ICMS Janeiro a Outubro de 2003 - R$/MWh Desenvolve-se a seguir a título informativo uma análise comparativa do preço unitário de aquisição dos vários energéticos disponíveis à indústria e ao comércio. Para o gás natural indicam-se apenas as condições atuais de fornecimento na modalidade cogeração - tarifa 1948 COMGAS, comparando-a em seguida com o preço de outros combustíveis. No caso de óleo combustível consultou-se a PETROBRÁS DISTRIBUIDORA - BR e a SHELL; gasolina, óleo diesel e álcool foram compilados do site da ANP. Verifica-se o baixo preço do gás natural, mesmo nas condições hoje praticadas. Tabela 6. Visão genérica de Preços de Energéticos (1(5*e7,&2 &216,'(5$'2 Ï/(2$ Ï/(2$ Ï/(2$ *È61$785$/ *È61$785$/ *19 Ï/(2',(6(/ *$62/,1$ È/&22/ 35(d2 '( /,67$ R$ 928,50/t R$ 920,00/t R$ 808,06/t US$ 4.40/106Btu US$ 2.70/106Btu R$ 0,957/m3 R$ 1,393/l R$ 1,907/l R$ 0,978/l (1US$ = 3 R$) 32'(5 35(d2 35(d2 '(16,'$'( &$/25Ë),&2 81,7È5,2 6(0 ,1)(5,25 (kg/m3) 75,%8726 (US$/106 Btu) (kcal/kg) 714,95/t 708,40/t 622,2/t 4.4 2.7 0,766 1,142 1,564 0,802 1013 1013 1013 852 742 809 9700 9700 9700 8800(/m3) 8800(/m3) 8800(/m3) 10350 10550 6300 6,19 6,13 5,39 4,40 2,70 9,14 13,27 20,46 10.55 A avaliação das aplicações da cogeração indica sua competitividade em vários projetos. A extensão de sua participação na oferta de energia elétrica através de um plano de inserção incentivada deverá ser acompanhada de estímulos que a impulsionem para um patamar de maior viabilidade, sendo o preço do combustível o insumo determinante neste conjunto de incentivos. A análise econômica da aplicação da cogeração indica que as atuais tarifas de gás natural só viabilizam economicamente projetos de grande porte, em setores específicos e onde a confiabilidade do abastecimento é fator preponderante. A partir de US$ 2.70/ MM Btu, no entanto, já se vislumbram oportunidades efetivas de penetração, podendo-se admitir a possibilidade de crescimento sustentado destas ofertas, conforme Figura 2. Esta constatação pode ser balizada pela Figura 3 que mostra o comportamento de parâmetros de sistemas de cogeração quando comparados com a concorrência do fornecimento externo de energia elétrica, nas modalidades convencional e horo-sazonal. As condições de fornecimento de energia elétrica, por outro lado, variam significativamente através do universo das distribuidoras e das condições de atendimento praticadas no mercado. Em primeiro lugar deve-se constatar que os consumidores de maneira geral não têm total grau de liberdade para converter seus contratos de fornecimento para condições mais vantajosas, como horo-sazonal em A2, por exemplo. Da mesma maneira, a diferença entre as tarifas em A2 e A4 tende a se reduzir, verificando-se que as das modalidades de fornecimento em tensões mais elevadas têm experimentado taxas de reajuste superiores às das tensões inferiores. Pode-se concluir que a comparação entre tarifas de energia elétrica e custos operacionais de projetos de cogeração constitui uma tarefa complexa, não se devendo descartar de antemão a possibilidade da implantação de novos projetos de autoprodução nos casos em que a análise preliminar indicou resultados desfavoráveis. Observa-se ainda que a análise de preços, no momento atual, encerra algumas discrepâncias que podem levar a conclusões diferentes quando se desloca de uma região para outra. Os Estados dependentes de gás boliviano - São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, pagavam no início de 2004 US$ 3.36/ MM Btu pelo insumo, ao passo que Estados que são abastecidos pelo gás nacional, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e demais do Nordeste pagavam US$ 2.60/MM Btu. 1949 Figura 2 - Custos da Energia Elétrica de Cogeração em Função do Preço do Gás natural - Sistema Integrado K : 0 5 2 ® d $ 5( * ( ' 2 76 8 & M T - P E QU E N O 160,00 M T - M ÉD IO 140,00 M T - GR A N D E T G - P E QU E N O 120,00 T G - M ÉD IO 100,00 T G - GR A N D E 80,00 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 &8672'2*È68600%WX Figura 3. Variação dos Custos de Cogeração de Energia Elétrica com Turbo-Geradores comparada com Valores Correlatos de Fornecimentos Externos em CONVENCIONAL A4 e HORO-SAZONAL A2 - (Gás Natural a US$ 2.25/MMBtu) 5. Inserção da Cogeração no Sistema Elétrico Interligado 5.1. Critérios de Inserção O trabalho investigou o efeito do montante de complementação dos potencias calculados no Sistema Interligado através da comparação do padrão de funcionamento de dois cenários do parque de geração atual com suas expansões oficiais programadas, um isolado e outro agregado às fontes de autogeração. A avaliação do padrão de funcionamento se efetiva pela simulação da operação conjunta do parque gerador convencional com e sem as ofertas de cogeração utilizando-se do ferramental usual do setor elétrico, isto é, modelos de simulação estocástica da operação de sistemas hidrotérmicos 5.2. O Sistema Interligado Brasileiro O Sistema Elétrico Brasileiro está segmentado em dois parques distintos: Sistema Interligado e Sistemas Isolados. O Sistema Interligado, em função das diversidades regionais, também se divide em dois subsistemas: Sul/Sudeste/Centro-Oeste e Norte/Nordeste. No passado independentes, estão, desde 1998, interligados pelo tronco Norte/Sul. O sistema caracterizase pela predominância da geração em usinas hidráulicas, conforme Tabela 7 a seguir. 1950 Tabela 7 - Sistema Elétrico Brasileiro - Potência Instalada 2002 - (MW) +LGUiXOLFD 7pUPLFD ',6&5,0,1$d2 3RUWH *3RUWH (yOLFD 3&+ 3&7 727$/ 6,67(0$6,17(5/,*$'26 68'(67( 29107,4 4963,0 1,0 482,0 3414,2 37967,6 68/ 17013,0 2745,0 2,5 231,1 824,5 20816,1 125'(67( 10060,0 904,0 57,7 76,4 1935,6 13033,7 1257( 4270,0 0,0 0,0 33,9 0,0 4303,9 &(17522(67( 2177,5 610,0 0,0 225,7 305,5 3318,7 727$/%5$6,/ 62627,9 9222,0 61,2 1049,1 6479,8 79440,0 6,67(0$6,62/$'26 1257(&2(67( 506,0 1290,2 0,0 82,2 431,0 2309,4 727$,6 727$,6 63133,9 10512,2 61,2 1131,3 6910,8 81749,4 (77,3) (12,9) (0,0) (%) (1,4) (8,4) (100,0) Fonte: ELETROBRÁS - Planos Decenais de Expansão 2000/2009; 2001/2010 e 2003/2012. ANEEL (Site) - Cronogramas de Eventos 2003 - UTEs e UHEs (Grande e Pequeno Porte) PCH - Pequena Central Hidroelétrica; PCT - Pequena Central Termoelétrica. 5.2. Cenários de Simulação O Modelo NEWAVE, ou Modelo Estratégico de Geração Hidrotérmica a Subsistemas Interligados, desenvolvido pelo CEPEL por demanda da ELETROBRÁS, utilizado na programação da operação e da expansão do parque de geração é a ferramenta oficial de simulação do setor elétrico, sendo utilizado por todas as empresas geradoras e distribuidoras de energia elétrica e também por empresas de avaliação da expansão do Sistema. O Programa NEWAVE resolve os problemas de planejamento da operação interligada de sistemas hidrotérmicos empregando a técnica de programação dinâmica dual estocástica o objetivo do planejamento da operação de um sistema hidrotérmico é determinar metas de geração para cada usina do sistema, a cada etapa, atendendo a demanda e minimizando o valor esperado do custo de operação. A técnica de programação dinâmica dual estocástica permite considerar o intercâmbio entre os subsistemas como uma variável de decisão, evita a discretização do espaço de estados, permite o uso de um modelo comum de vazões sintética e calcula os custos marginais do sistema. A avaliação da influência da cogeração é obtida da análise comparativa entre os cenários plano de expansão convencional e plano com ênfase na autoprodução. Como se deseja comprovar a influência da agregação da cogeração ao Sistema Interligado, empregou-se a expansão do parque de geração contida no Plano Decenal de Expansão da Geração 20032012 editado pelo CCPE/MME como base do estudo, definindo-o como CENÁRIO DECENAL. O cenário de oferta com ênfase em cogeração foi montado levando-se em consideração os potenciais calculados agregados à expansão constante do Plano Decenal 2003-2012. Foi definido como CENÁRIO COGERAÇÃO. 1951 6. Resultados 6.1. Potenciais de Cogeração em 2013 Os potenciais para cogeração gerados pelo plano de inserção incentivada estão na Tabela 8 a seguir, onde se indica uma meta para um acréscimo de aproximadamente 45.281 MW na capacidade instalada de sistemas de cogeração em 2013, divididos pelos vários setores. Este montante tem a possibilidade de influir diretamente num acréscimo de 33.291x106 m3 na demanda anual de gás natural, ou 91x106 m3 por dia. Deve-se enfatizar, no entanto, que este cálculo levou em consideração apenas gás para cogeração. Considerando-se o consumo de processos a jusante e em complementações por sistemas paralelos, este montante poderá aumentar significativamente. O principal responsável por este acréscimo foi o setor industrial dependente de derivados de petróleo, respondendo por 82 % do montante do potencial de geração calculado, 37.070 MW e por 84 % do total do acréscimo na demanda de gás natural. Segue o de açúcar e álcool, 12 % e serviços, 6 %; serviços, no entanto é responsável por 14 % da demanda adicional de gás. Tabela 8 - Sistema Interligado Brasileiro - Potencial de Cogeração por Setor em 2013 5(*,®(6 &2(6 7( 1257( 125'(67( 68'(6 7( 68/ 727$/ ,1'8675,$/ $dÒ&$5( È/&22/ &$3$& &216*È6 0: P DQR &$3 &216*È6 $& P DQR 0: 3.444 1.624 5.002 20.530 6.470 37.070 2.177 1.009 2.922 16.586 5.033 27.727 914 8 424 3.812 323 5.481 216 750 966 6(725 6(59,d26 &$3$ & 0: &216*È6 P DQR 150 33 452 1.700 395 2.730 238 52 780 2.917 611 4.598 727$/ %5$6 ,/ &$3$ &216*È6 & P DQR 0: 4.508 1.665 5.878 26.042 7.188 45.281 2.631 1.061 3.702 20.253 5.644 33.291 As grandezas operadas pelo modelo de simulação são energias mensais geradas e consumidas em cada mercado. Compararam-se então os potenciais de energia calculados para 2013 com os valores do DECENAL, interpolado para 2013, e verificou-se que são equivalentes a 24 % destes montantes, conforme Tabela 9. Estes montantes de energia provenientes da cogeração projetados terão uma entrada gradual no Sistema Interligado, atenuando-se estes valores através de interpolação geométrica. Tabela 9 - Comparação dos Potenciais de Cogeração Calculados com as Projeções do Decenal &(1È5,26 3DUWLFLSDomRQR 3DUkPHWURV '(&(1$/ &2*(5$d2 '(&(1$/ &RPSDUDGRV ,1&(17,9$'$ (1(5*,$(/e75,&$ 537.510 126.831 24 % *(5$'$0:K[ &$3$&,'$'( 45.281 47 % (48,9$/(17(0: 96.622 1952 6.2. Avaliação das Condições de Atendimento no Sistema Interligado Brasileiro Os resultados alcançados pela comparação dos cenários de oferta com e sem ênfase em cogeração, contidos na Tabela 10 mostram o efeito positivo da sua entrada no Sistema Interligado. Existem oportunidades reais para a entrada da cogeração no Sistema Interligado, visíveis na comparação com o deck do Decenal. A comparação com deck ajustado, uma vez que as ofertas decorrentes da inserção de Angra-3 no final de 2008 e a da hidroelétrica Belo Monte na Região Norte no início de 2010 são de difícil materialização, indicam condições ainda mais vantajosas. As simulações do cenário Cogeração Ajustada, nas regiões Sudeste, Centro Oeste e Sul tiveram uma condição de atendimento oscilando no entorno da condição ótima, risco de déficit de 5 %, semelhante à do Decenal original. Esta comparação, no entanto, teria menor consistência, pois a oferta no Decenal estava superestimada e a entrada da cogeração foi importante para trazer a condição de risco a patamares satisfatórios. Para as regiões Nordeste e Norte as simulações do cenário Cogeração Ajustada indicam que a entrada do plano de inserção incentivada foi providencial, pois os riscos passaram de 23,4 % para 16,6 % no nordeste e 8,2 % para 8,5 % na região norte, em 2012, lembrando-se mais uma vez que a oferta do deck original estava superestimada pela entrada improvável daquelas ofertas. Tabela 10 - Sistema Interligado Brasileiro - Avaliação das Condições de Atendimento $126 $9$/,$'26 6 8'(6 7( &2(6 7( 6 8/ 125'(6 7( 1257( '(&(1 $/ &2*(5$d2 '(&(1 $/ &2*(5$d2 '(&(1 $/ &2*(5$d2 '(&(1 $/ &2*(5$d2 2,6 1,0 3,0 5,8 2,4 1,0 2,0 5,2 2,4 1,0 2,6 5,8 2,1 1,0 1,8 4,6 3,6 6,8 13,9 16,8 3,6 6,0 12,0 13,8 2,0 1,2 4,0 11,4 2,0 1,2 2,3 11,0 5,6 4,8 5,3 4,1 23,4 16,6 8,2 8,5 A evolução das condições de atendimento podem ser melhor visualizadas através das Figuras 4 e 5, que mostram a variação do risco de déficit para as regiões do Sistema Interligado. O risco de déficit exprime percentualmente a quantidade de vezes em que ocorreu desabastecimento do mercado durante a simulação do comportamento da expansão do parque hidrotérmico submetido às vazões de séries hidrológicas sintéticas referentes a 2000 anos de operação. 1953 Figura 4. Comparação da Evolução dos Riscos de Déficit das Regiões Sudeste e Nordeste em Simulações da Implantação de Programa de Inserção Incentivada de Cogeração no Sistema Elétrico Interligado SUDESTE - CENÁRIO "B" DE OFERTA MERCADO DE REFERÊNCIA RISCO DE DEFICIT MEDIO ANUAL NORDESTE - CENÁRIO "B" DE OFERTA MERCADO REFERÊNCIA RISCO DE DEFICIT MEDIO ANUAL 7,00 25,00 6,00 20,00 15,00 4,00 (%) (%) 5,00 3,00 10,00 2,00 5,00 1,00 - - 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Com Cogeração Original 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Cogeração - Sem Angra 3 - Belo Monte 2012 Com Cogeração Original Cogeração - Sem Angra 3 - Belo Monte 2012 Figura 5. Comparação da Evolução dos Riscos de Déficit das Regiões Norte e Sul em Simulações da Implantação de Programa de Inserção Incentivada de Cogeração no Sistema Elétrico Interligado NORTE - CENÁRIO "B " DE OFERTA MERCADO DE REFERÊ NCIA RISCO DE DEFICIT ME DIO ANUAL SUL - CENÁRIO "B" DE OFERTA MERCADO DE REFERÊNCIA RISCO DE DEFICIT MEDIO ANUAL 18,00 7,00 16,00 6,00 14,00 5,00 10,00 (%) (%) 12,00 8,00 4,00 3,00 6,00 2,00 4,00 1,00 2,00 - 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Com Cogeração Original Cogeração - Sem Angra 3 - Belo Monte 2012 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Com Cogeração Original Cogeração - Sem Angra 3 - Belo Monte 2012 7. Conclusões São viáveis e importantes as aplicações da cogeração em processos industriais e na área de serviços como hotéis, hospitais e em outros estabelecimentos que consomem moderadamente energia sob a forma de calor (ou refrigeração) e eletricidade em volumes significativos; estas aplicações são também úteis para a expansão da infra-estrutura, alavancando novas redes de gás e aliviando futuras expansões da redes de transmissão de energia elétrica. Da mesma forma, a avaliação da localização das gerações em pontos de maior necessidade de consumo, maior densidade populacional e de controle ambiental mais crítico também constituem pontos positivos em um projeto de incentivo à maior participação da cogeração na oferta do setor elétrico e uma forma mais eficiente de utilização da energia. A necessidade do uso racional e eficiente da energia visando a alocação eficiente de recursos, sob a perspectiva econômica, e a preservação do meio ambiente é amplamente aceita como princípio. A cogeração conjuga amplamente este princípio, além de viabilizar a faculdade de injetar quantidades significativas de energia no sistema interligado num horizonte de médio a longo prazo, como já ocorreu em vários países. 1954 Ao lado da investigação dos motivos da fraca penetração da cogeração, também é importante se conhecer os horizontes de expansão desta modalidade de geração, avaliando-se potenciais e custos a serem praticados e finalmente indicar-se os setores que reúnem melhores condições para sua implantação. Pode-se, desta maneira, organizar a complementação da oferta dos grandes geradores com as ofertas advindas da cogeração, buscando-se o estabelecimento de sinergias entre as duas modalidades de geração. Para os usuários de sistemas de cogeração na indústria, no setor de serviços e entre consumidores livres, enfim, a divulgação das conclusões do presente trabalho pode contribuir para a melhor compreensão das relações entre as geradoras e o mercado. O conhecimento das variações dos condicionamentos operacionais de geração dos vários segmentos de cogeradores em complementação ao de grandes geradores, certamente poderá indicar oportunidades de investimento. A adoção de incentivos à expansão da oferta de cogeração não é uma análise trivial, uma vez que estímulos muitas vezes socialmente justos podem impor custos adicionais a outros setores da economia não envolvidos nesta expansão. Apoiando-se em exemplos do passado, no entanto, acredita-se que a prorrogação dos incentivos para acesso, com reduções substanciais nas tarifas de transmissão e distribuição, viabiliza novas ofertas disseminadas pela rede de transmissão, buscando sempre os contra-fluxos da energia no Sistema e desta forma, reduzindo os programas de reforço destas redes. Outra ferramenta de grande importância e que mostrou em passado recente (crise de desabastecimento de 2001) sua eficácia é o apoio creditício aos programas de investimentos dos grupos empresariais interessados em autoprodução de energia elétrica. Finalmente, deve-se ampliar o porte e o prazo de validade de programas como o PROINFA de aquisição de energia de fontes eficientes como a cogeração. A existência destas ferramentas de apoio fecha o leque dos programas de incentivos aqui enunciados e confere consistência a uma ação integrada para aumentar a participação da cogeração no parque de geração brasileiro, alocando combustíveis pouco agressivos à geração termoelétrica. Conclui-se desta forma que a entrada da cogeração tem o poder de postergar investimentos no Setor Elétrico, podendo assumir ofertas termoelétricas a custos mais reduzidos e com impactos no meio ambiente mais reduzidos. Da mesma forma, a adoção de um programa de inserção incentivada de cogeração permitirá a reavaliação de projetos de geração de grande impacto, como o da UNE Angra 3, de 1.300 MW e da UHE Belo Monte, de 11.000 MW, podendo-se programá-los para períodos onde exista um maior esclarecimento da real necessidade destes empreendimentos. 8. BIBLIOGRAFIA PAULA, C. P. - GERAÇÃO DISTRIBUÍDA E COGERAÇÃO NO SETOR ELÉTRICO - AVALIAÇÃO SISTÊMICA DE UM PLANO DE INSERÇÃO INCENTIVADA - Tese de Doutorado - PIPGE/USP, Abril de 2004. CCPE - Comitê Coordenador do Planejamento da Expansão dos Sistemas Elétricos - Plano Decenal de Expansão da Geração 2003-2012. Brasília, Novembro de 2002. NOGUEIRA, L.A.H. et al. - Metodologia para Estimar o Potencial Técnico e Econômico de Cogeração. Eletricidade Moderna, Abril 1996. FUPAI/EFEI - Notas de Aula do Curso Cogeração e Geração Distribuída. Itajubá, Junho, 2001. 1955 COELHO, S. et al. - Levantamento do Potencial Real de Cogeração no Setor Sucro-alcooleiro. In: IX Congresso Brasileiro de Energia. Rio de Janeiro - 2002. POOLE, A et al. - Potencial e Viabilidade da Cogeração em Shopping Centers no Brasil. Eletricidade Moderna, Maio de 2000. TOLMASQUIM, M.T. et al. - Mercado de Gás Natural na Indústria Química e no Setor Hospitalar do Brasil. Edições Cenergia - COPPE/UFRJ, 2003. TOLMASQUIM, M.T. et al. - Potencial de Cogeração a Gás Natural - Setores Industrial e Terciário do Rio de Janeiro. Edições Cenergia - COPPE/UFRJ, 2003. ÚNICA - O Desenvolvimento do Mercado do Álcool e o Potencial para Geração Distribuída. In: Seminário de Cogeração e Geração Distribuída - INEE. Rio de Janeiro, Outubro de 2003. PAULA, C.P. - EXPANSÃO DA OFERTA DE ENERGIA ELÉTRICA - ASPECTOS PRÁTICOS E METODOLÓGICOS, COM ÊNFASE NA OPÇÃO TERMOELÉTRICA - Tese de Mestrado - PIPGE/USP - 1997. PELLEGRINI, M.C. et al. - Cogeração e a Regulamentação no Paradigma do Mercado da Indústria Elétrica. In: SNPTEE, XVI, Campinas, 2001 - ANAIS. SILVA, A.M.B. - PERSPECTIVAS DE UTILIZAÇÃO DA COGERAÇÃO A GÁS EM EMPREENDIMENTOS DO SETOR TERCIÁRIO DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO - Tese de Mestrado COPPE/UFRJ - 1997. 1956 GERAÇÃO DISTRIBUÍDA UM ENFOQUE ECONÔMICO DA VIABILIDADE DE SUA IMPLANTAÇÃO Alexandre Gomes Amendola1 Celso Barbosa Guimarães2 Sérgio Eduardo Fronterotta3 RESUMO Quando se instala uma geração distribuída em sistemas de Distribuição, os demais segmentos acima do ponto de injeção percebem esta instalação como uma redução de carga, aliviando toda a demanda solicitada por este sistema . A utilização da geração distribuída se justifica quando o seu custo de implantação for menor ou igual ao custo evitado no ponto de instalação, ambos anualizados e expressos em R$/kW ou R$/MWh . Tal avaliação pode ser corretamente traduzida com o auxílio dos custos marginais de longo prazo . O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma metodologia que permite realizar, de forma expedita, uma análise da viabilidade econômica da implantação de usinas a célula de combustível . Ao final, o texto apresenta aplicações práticas para 2 importantes Concessionárias brasileiras . 1. INTRODUÇÃO Apesar de existir certa variedade de fontes de energia, trataremos, neste texto, apenas dos aspectos relativos às usinas a células de combustível, injetada em um ponto do sistema de Distribuição . Quando se instala uma geração distribuída em sistemas de Distribuição, os demais segmentos acima do ponto de injeção percebem esta instalação como uma redução de carga, aliviando toda a demanda solicitada por este sistema . 1 Boa Vista Energia SA [email protected] End: Av. Cap. Ene Garcez 691 Boa Vista RR Tel. 95-6211458 2 Boa Vista Energia SA [email protected] End: Av. Cap. Ene Garcez 691 Boa Vista RR Tel. 95-6211407 Universidade Mackenzie [email protected] End: Rua da Consolação 896 8º and Higienópolis São Paulo SP Tel. 11-32368335 3 1957 A implantação da geração distribuída se justifica quando o seu custo de implantação for menor ou igual ao custo evitado no ponto de instalação, ambos anualizados e expressos em R$/kW ou R$/MWh . Tal avaliação pode ser corretamente traduzida com o auxílio dos custos marginais de longo prazo . O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma metodologia que permita realizar, de forma expedita, uma análise da viabilidade econômica da implantação de usinas a célula de combustível . 1.1. Conceituação do Problema Da mesma forma que as ações de DSM e de redução de perdas elétricas, o efeito da instalação de uma geração distribuída em áreas atendidas por sistemas de distribuição é percebido pelos segmentos do sistema elétrico, localizados à montante do ponto de instalação, como redução de carga. Em decorrência, esta instalação adia investimentos e despesas anteriormente programados na expansão desses segmentos. Os ganhos deste adiamento são os custos evitados, que são numericamente igual ao custo de fornecer uma unidade adicional de carga no ponto da instalação. À medida que se caminha ao longo do sistema elétrico, desde a geração até os consumidores finais de baixa tensão, estes custos vão crescendo, pela sucessiva incorporação de novos segmentos. Uma boa medida para avaliar esses custos evitados são os custos marginais de longo prazo, admitidos iguais aos custos incrementais médios de capacidade e de energia, que são calculados com base nos planos de expansão (capacidade) e de operação (energia) dos sistemas à montante . A viabilidade econômica da geração distribuída se justifica quando o seu custo for menor ou igual ao custo evitado no ponto de instalação, ambos anualizados e expressos em R$/kW ou R$/MWh. Embora tenha caráter implícito de solução localizada, o que remete à necessidade de informações mais detalhadas, a geração distribuída, abordada no presente trabalho, se direcionou para um enfoque propositadamente médio para toda a área de concessão, visando apenas proporcionar uma ordem de grandeza desta viabilidade. É claro que, para as áreas onde a situação técnico-operacional dos segmentos à montante for mais crítica, com os níveis de qualidade de serviço violados, certamente a geração distribuída será mais viável. Os custos marginais de um acréscimo de carga nestas áreas (= custo evitado) poderão ter valores extremamente elevados, pois os programas de expansão destes segmentos, além de incorporarem o atendimento do crescimento do mercado, deverão também considerar a necessidade da recuperação da qualidade do serviço. É onde se justifica prioritariamente a instalação da geração distribuída. O contrário ocorrerá para as áreas supridas através de sistemas folgados. Para os efeitos dos cálculos desenvolvidos neste trabalho, limitou-se, em princípio, que a instalação ocorra no barramento de baixa tensão das subestações distribuidoras, conforme Figura 1, a seguir. 1958 Figura 1 - Geração Distribuída *(5$d2 perdas 75$1605(3$57 perdas Potência,Energia perdas &216802$% )LJXUD, Com isso, seriam evitados (deslocados) os custos da expansão dos segmentos desde as subestações distribuidoras até a geração, conforme esquema abaixo. É claro que, em tese, a geração distribuída possa ser instalada em qualquer ponto das redes de distribuição, como, por exemplo, em alimentadores específicos. Conforme mencionado, quanto mais se caminha em direção aos consumidores BT, mais se viabiliza este tipo de geração em termos de R$/kW ou R$/MWh. No entanto, tem que se verificar a sua praticidade técnica. 1.2. Os Custos Evitados Desta forma, a potência gerada localmente para suprir parte (ou totalmente) o crescimento da demanda máxima atendida pelas SEs distribuidoras, adiará investimentos a serem feitos, não só, nos segmentos à montante, como também, nas próprias SEs, (ampliações e/ou novas SEs). Os ganhos deste adiamento equivalem ao custo marginal de capacidade (em R$/kW) até o ponto de instalação da usina, custo que é calculado com base nos custos marginais de cada nível e na responsabilidade do kW evitado na Distribuição sobre as demandas máximas das cargas vistas por cada segmento. Para a avaliação do impacto da redução da demanda máxima ao nível da Distribuição nos custos de capacidade de todos os segmentos à montante, é necessário então que se verifique a responsabilidade desta redução nas demandas máximas de cada segmento e a sua participação no fluxo de potência passante em cada segmento à montante. Para isso, são necessários conhecer-se as curvas de carga nas SEs distribuidoras e em cada um dos segmentos considerados e os fluxos de potência interníveis, que são estabelecidos através de estudos de load-flow. No presente trabalho, considerou-se que as demandas máximas fossem coincidentes, inclusive a da carga evitada na Distribuição, pois, em quase todos os segmentos, o período da demanda máxima é sempre ditado pela carga da Distribuição. Em casos específicos localizados, no entanto, podem ocorrer diversidades entre os períodos dessas demandas máximas. A responsabilidade para o estabelecimento do custo marginal de capacidade do kW evitado na Distribuição resultou, então, apenas da avaliação dos fluxos interníveis. A energia gerada localmente evitará a produção de energia pelas usinas dos segmentos à montante. 1959 Assim, sem considerar a melhoria de eficiência pela redução das perdas ( em potência e em energia) nos sistemas de transmissão desses segmentos, o custo evitado de energia será numericamente igual ao custo marginal de energia dos sistemas supridores e expresso em R$/MWh/ ano. Para as redes de transmissão, repartição e distribuição não se calculam custos marginais de energia .Dessa forma, o custo anual evitado pela instalação de uma usina a célula de combustível nas subestações distribuidoras, será dado pela seguinte fórmula: CEVC = CMCG+CMT+CMSE (1) CEVE = CMEG (2) onde: CEVC - custo evitado de capacidade, em [R$/kW] CEVE - custo evitado de energia, em [R$/MWh] CMCG - custo marginal de capacidade de geração, em [R$/kW] CMT - custo marginal de capacidade de transmissão, em [R$/kW] CMSE - custo marginal de capacidade das SEs distribuidoras, em [R$/kW] CMEG - custo marginal de energia da geração, em [R$/MWh] Para exprimir em conjunto CEVC e CEVE através de um valor anual, vem : CEV = CEVC x 1000/(FC x 8760) + CEVE (3) em R$ / kWh Ou: CEV = CEVE x FC x 8760 / 1000 + CEVC (4) em R$/kW 2. ALGUNS RESULTADOS OBTIDOS 2.1 Custos Marginais de Distribuição dos Sistemas Supridores - CEEE Os cálculos foram desenvolvidos (em estimativa preliminar) para a CEMIG e para a CEEE (antes do desmembramento) . Tomou-se por base informações disponíveis na ELETROBRÁS sobre os fluxos interníveis, conforme estabelecidos pelos Estudos de Custos Marginais das Redes de Repartição e Transmissão, trabalho desenvolvido em 1999. Foram, ainda, assumidos os custos marginais dos níveis, médios para as respectivas Regiões Sudeste/Centro-Oeste e Sul, para a CEMIG e CEEE, respectivamente . Para CEMIG, apresentaremos, apenas, os principais resultados . Para CEEE, o custo marginal em R$ / kW-ano utilizou-se os seguintes valores : A1 = 32 A2 = 48,3 A3 = 28,35 Para o nível A1, foram assumidos os custos marginais dos níveis, médios para a região SUL . A Figura 2 mostra os fluxos em %, para a CEEE . 1960 Figura 2 Os Fluxos entre Níveis Para a CEEE &((( Custos Marginais nas Redes da Concessionária 0$5*,1$/&2676,187,/,7<1(7:25.6 ,7$ , 3 8 R U (/ ( 7 5 2 6 8/ 2 7,5% E LE T R O S U L * ( 1 ( 5 $ 7 , 2 1 $ G*(1(5$7,21 eraç ão 4 5,4 % 7 2 ,4% 25,0% *(1(5$7,21 G eração 54,6 % $$ 10,1% 2,6% 75 ,8 % O th ers ( 1 4,1 % ) 'LVWULEXWLRQ Nível da Distribuição /HYHO A4 + B $% Considerando os fluxos interníveis estabelecidos pelos estudos citados em , foram obtidos os seguintes valores para os custos marginais da demanda da Distribuição, passante pelos segmentos de Transmissão e Repartição. CEEE = 57,30 R$/kW-ano Exprimindo estes valores em R$/MWh, vem: CEEE = 10,06 R$ / MWh Para a geração, foi adotado o valor de 40 R$/MWh, incorporando os custos marginais de capacidade e de energia. Dessa forma, considerando esta hipótese de fornecimento, resulta: CEEE = 40 + 10,06 ≈ 50 R$/MWh Caso se imagine o suprimento adicional por termelétrica a gás tipo Uruguaiana (30R$/ MWh), suprindo diretamente os sistemas dessas empresas, sem comprar de Furnas e nem da Eletrosul, podemos obter : CEEE = 30 + 10,06 ≈ 40 R$ /MWh Outros resultados estão listados na Figura 3, a seguir . 1961 Figura 3 Outros Resultados para a CEEE Custo Incremental Médio Horizonte: 8 anos Fator de Carga: 55% Taxa de Atualização: 10% Período de 10 anos CIMLP (R$/MWh) 16,37 Valor anualizado 2,46 CIMLP (R$/kW) 78,89 Valor anualizado 11,83 US$/MWh US$/kW 2.1.1 Custos Marginais das SEs de Distribuição Com base nos programas de expansão para as SEs de Distribuição da CEEE, foram calculados os respectivos custos médios incrementais de longo prazo (CIMLP), de acordo com a fórmula: H ∑ t=1 I (t) (1+a)t CIMLP = H ∆ M (t) ∑ t=1 (1+a) t obtendo-se: CEEE = 79 R$/kW ou 16,37 R$/MWh . Onde I (t) e ∆ M (t) são, respectivamente, o investimento e o acréscimo da carga (em kW e MWh) no ano t . H é o período do plano de expansão considerado. Anualizando-se CIMLP através de um fator = 15% (remuneração + depreciação + despesas de operação e manutenção), resulta: CEEE = 11,83 R$/kW ou 2,45 R$/MWh 1962 2.1.2 Custos nos sistemas a montante provocados pelo acréscimo de 1 kW adicional demandado pela Distribuição CEEE Assim, os custos marginais em R$/MWh dos segmentos à montante do ponto de instalação da usina serão: Hipótese I CEEE = 2,45 + 50 = 52,45 ≈ 52,5 Hipótese II CEEE = 2,45 + 40 = 42,45 ≅ 42,5 2.2 Resultados Importantes Para CEMIG Os custos marginais em R$/kW-ano utilizados para os níveis foram os seguintes: A0 = 51,0 A1 = 84,2 A2 = 41,7 A3 = 35,5 Para os níveis A0 e A1, foram assumidos os custos marginais dos níveis, médios para a região SUDESTE/CENTRO-OESTE . Considerando os fluxos interníveis estabelecidos pelos estudos citados em , foram obtidos os seguintes valores para os custos marginais da demanda da Distribuição, passante pelos segmentos de Transmissão e Repartição. CEMIG = 101,98 R$/kW-ano Estas diferenças entre os resultados obtidos na CEEE e CEMIG se explicam basicamente pela existência do sistema em nível A0 na CEMIG e pela discrepância entre os valores do nível A1, considerados para as duas empresas como médias das respectivas regiões. Exprimindo estes valores em R$/MWh, vem: CEMIG = 17,77 Para a geração, foi adotado o valor de 40 R$/MWh, incorporando os custos marginais de capacidade e de energia. . Dessa forma, considerando esta hipótese de fornecimento, resulta: CEMIG = 40 + 17,77 = 57,77 ≈ 58 R$/MWh Caso se imagine o suprimento adicional por termelétrica a gás tipo Uruguaiana (30R$/ MWh), suprindo diretamente os sistemas dessas empresas, sem comprar de Furnas e nem da Eletrosul, vem: CEMIG = 30 + 17,77 ≈ 48 R$ /MWh 1963 2.2.1 Custos Marginais das SEs de Distribuição Da mesma forma, com base nos programas de expansão para as SEs de Distribuição da CEMIG, foram calculados os respectivos custos médios incrementais de longo prazo (CIMLP), de acordo com a expressão (5) . Obteve-se, assim, CEMIG = 200 R$/kW ou 41,6 R$/MWh Anualizando-se CIMLP através de um fator = 15% (remuneração+ depreciação+despesas de operação e manutenção), resulta: CEMIG = 30,04 R$/kW ou 6,23 R$/MWh 2.2.2 Custos nos Sistemas a Montante provocados pelo acréscimo de 1 kW adicional demandado pela Distribuição Assim, os custos marginais em R$/MWh dos segmentos à montante do ponto de instalação da usina serão: Hipótese I CEMIG = 6,23+ 58 = 64,23 ≈ 64,2 Hipótese II CEMIG = 6,23 + 48 = 54,23 ≅ 54,2 3. ESTIMATIVA DE CUSTOS PARA AS USINAS A CÉLULA DE COMBUSTÍVEL As primeiras avaliações sobre os custos dessas usinas resultaram em valores que podem variar entre 120 R$/kW e 1800 R$ / kW (adotou-se, 1US$ = R$ 1,20, devendo este valor ser revisto), com vida útil entre 10 e 15 anos e já incorporando os custos anuais de combustível, atualizados. Considerando a taxa de atualização de 10% e três hipóteses de vida útil (10, 13 e 15 anos), fator de capacidade de 70% e fator de carga de 55%, os valores anualizados em R$/MWh estão apresentados na Figura 4, a seguir, em função das faixas dos custos das usinas citados no parágrafo anterior. Figura 4 - Valores Anualizados da Tarifa Para Vidas Úteis (10, 13 e 15anos) 100,0 80,0 RQ DK 60,0 : 40,0 0 5 20,0 0,0 0 500 1000 1500 9DORU$WXDOGRV,QYHVWLPHQWR&RPEXVWtYHO 5N: 1964 2000 4. CONCLUSÕES Levando em conta os resultados dos itens anteriores as hipóteses das diversas vidas úteis, as usinas a células de combustível são viabilizadas para a CEMIG e CEEE se os valores atuais dos seus custos forem, no máximo, iguais aos valores constantes da Figura 5, a seguir : Figura 5 - Valores Anualizados da Tarifa Para Vidas Úteis (10, 13 e 15 anos) VIABILIDADE DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA Limites do VALOR ATUAL do Investim.+Combust. Custos Marginais T = 10 anos T = 13 anos T = 15 anos 1 100 R$ / kW 1 300 R$ / kW 1 375 R$ / kW Hipótese II: 64,2 R$/MWh 1 325 R$ / kW 1 525 R$ /kW 1 625 R$ / kW 1 000 R$ / kW 1 075 R$ / kW Hipótese II: 52,5 R$/MWh 1 075 R$ / kW 1 250 R$ / kW 1 325 R$ / kW CEMIG Hipótese I: 54,2 R$/MWh CEEE - Sul Hipótese I: 42,5 R$/MWh 875 R$ / kW Apenas como referência geral admitindo uma vida útil de 15 anos para as usinas e custos marginais dos sistemas (da geração até as SEs Distribuidoras) de 43 R$/MWh - ano, a viabilidade ficará comprovada para custo do investimento da usina (acrescido dos valores atualizados dos custos anuais de combustível) até 1 100 R$/kW. Como, na prática, o apelo à utilização de geração local será maior nas áreas com problemas de suprimento e, por isso, com custos marginais maiores, a viabilidade ficará garantida mesmo para valores acima de 1100 R$/kW. Admitindo, por hipótese, um valor limite de 65 R$/MWh -ano para os custos marginais dos sistemas, o valor para a usina seria de 1 650 R$/kW, para 15 anos de vida útil. 1965 ANEXO I O CASO CEEE CUSTOS MARGINAIS DE TRANSMISSÃO+REPARTIÇÃO CEEE CUSTO MARGINAL NAS REDES DA CONCESSIONÁRIA (*) &RPSUDV,7$,38 YLD(68/ &RPSUDV 27,5% ESUL 3URGXomR $ 3URGXomR 45,4% 72,4% 2,6% Produção1tYHO25,0%1tYHO 54,6%$$ 10,1% Outros ( 14,1%) 'LVWULEXLomR 1tYHO $% Custos Marginais no Nível: A1 = 32,0 R$/kW.ano A2 = 48,3 R$/kW.ano A3 = 28,35 R$/kW.ano 1966 75,8% Custo Marginal nas Redes de Transmissão da CEEE (visto pela Distribuição): CMR =0,101*[48,3+0,454*32]+0,758*[28,35+0,724*32+0,25*(48,3+0,454*32)]=57,30 R$/kW.ano Expressando em R$/MWh, vem: CMR (R$/MWh) * FC*8760 = CMR (R$/kW-ano) *1000 Anual) @ 0,65 FC (Fator de Carga CMR = CMR * 1000/(FC * 8760) = 10,06 R$/MWh &((( &8672,1&5(0(17$/0e',2'(/21*235$=2&,0/3 3URJUDPDGH,QYHVWLPHQWRVDQRV )DWRUGH&DUJD$ 7D[DGH$WXDOL]DomR $QRV $ % *:K 4.412 4.706 4.954 5.214 5.465 5.770 6.080 6.401 6.734 $QRV ,QYHVW 8.434.190 5 10.253.150 6.617.600 600.000 1.200.000 1.400.000 2.300.000 1.500.000 0,55 0,1 'HOWD (QHUJLD *:K 'HOWD 'HPDQGD *: 'HOWD (QHUJLD *:K 'HOWD 'HPDQGD *: 9$ 9$ 9$ &,0/3 &,0/3 5 *:K *: 50:K 5N: 7.667.445 267 0,055348504 28,75 138,53 8.473.678 205 0,042603666 34,20 164,79 4.971.901 196 0,040591895 31,63 152,39 409.808 171 0,035476723 25,67 123,68 745.106 190 0,039403116 21,66 104,34 790.264 175 0,03623611 19,17 92,36 1.180.264 165 0,034267523 17,72 85,37 699.761 155 0,032184265 16,37 78,89 3HUtRGRGHDQRV CIMLP (R$/MWh) CIMLP (R$/kW) 16,37 78,89 9DORU$QXDOL]DGR 9DORU$QXDOL]DGR (*) - TENSÃO ≥ 69 kV. 1967 2,46 11,83 R$/MWh R$/kW 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 28,75 34,20 31,63 25,67 21,66 19,17 17,72 16,37 ANEXO II O CASO CEMIG CUSTOS MARGINAIS DE TRANSMISSÃO+REPARTIÇÃO CEMIG CUSTO MARGINAL NAS REDES DA CONCESSIONÁRIA (*) Produção 14,0% 86,0% 1tYHO1tYHO $$ Produção 84,0% Produção 8,3% 7,7% 6,2% 4,8% 1tYHO89,0%1tYHO $$ 77,04% Outros 0,01% 'LVWULEXLomR 1tYHO $% 22,95% Custos Marginais no Nível (R$/kW.ano): A0 = 51,0 A1 = 84,2 A2 = 41,7 A3 = 35,5 Custo Marginal nas Redes de Transmissão da CEMIG (visto pela carga da Distribuição) : (*) - TENSÃO ≥ 69 kV. 1968 CMR==0,7704*[41,7+0,84*5+0,077*(84,2+0,86*51)]+ 0,2295*[35,5+0,89*(41,7+0,84*51+0,077*(84,2+0,86*51))+0,062*(84,2+0,86*51)] = 101,98 (R$/kW.ano) Expressando em R$/MWh, vem: CMR (R$/MWh) * FC*8760 = CMR (R$/kW-ano) *1000 Anual) ≅ 0,65 FC (Fator de Carga CMR = CMR * 1000/(FC * 8760) = 17,77 R$/MWh &(0,* &8672,1&5(0(17$/0e',2'(/21*235$=2&,0/3 3URJUDPDGH,QYHVWLPHQWRVDQRV )DWRUGH&DUJD$ 7D[DGH$WXDOL]DomR 0,55 0,1 $QRV $ % 'HOWD (QHUJLD *:K *:K 36196 37428 38955 40268 41497 42994 'HOWD 'HPDQGD *: [WUDSRODGRVSRUDMXVWDPHQWRDRVGDGRVGRSHUtRGR $QRV ,QYHVW 5 38.913.000 68.917.000 80.212.000 63.795.000 90.893.000 49.895.000 73.703.000 38.035.000 35.570.000 14.945.000 'HOWD (QHUJLD *:K 'HOWD 'HPDQGD *: 9$ 9$ 9$ &,0/3 &,0/3 5 *:K *: 50:K 5N: 35.375.455 1.077 0,223593343 32,84 158,21 56.956.198 1.018 0,211328729 44,06 212,29 60.264.463 1.147 0,238119075 47,06 226,73 43.572.843 897 0,186134634 47,39 228,32 56.437.402 763 0,158387776 51,52 248,25 28.164.427 845 0,175387603 48,85 235,36 37.821.293 792 0,164449177 48,71 234,71 17.743.608 727 0,150854815 46,28 223,00 15.085.152 684 0,141894014 44,20 212,96 5.761.944 643 0,13355578 41,56 200,25 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 3HUtRGRGHDQRV CIMLP (R$/MWh) CIMLP (R$/kW) 41,56 200,25 9DORU$QXDOL]DGR 9DORU$QXDOL]DGR 6,23 30,04 R$/MWh R$/kW REFERÊNCIAS [1] Rocha, M. C., Custos Marginais de Sub-Transmissão e Distribuição Relatório 2, Rio de Janeiro, 1983 1969 32,84 44,06 47,06 47,39 51,52 48,85 48,71 46,28 44,20 41,56 USO DE BIOGÁS COMO COMBUSTÍVEL ALTERNATIVO EM MOTOR CICLO OTTO Juliano de Souza1 Samuel N. M. de Souza2 Celso E. Lins de Oliveira2 Paulo R. M. Machado3 RESUMO Em virtude do aumento no preço do petróleo, as pesquisas em busca de combustíveis alternativos estão se intensificando cada vez mais. O Brasil possui grande disponibilidade de biogás oriundo da digestão anaeróbia de resíduos no meio rural, do lixo urbano nos aterros sanitários e sistemas de tratamento de esgotos nos centros urbanos. Neste trabalho foi avaliado em dinamômetro um motor de ciclo Otto, alimentado com biogás, levantando-se as curvas características do motor para torque e potência. Primeiramente foram feitos ensaios testemunhas, com três tipos de combustíveis: gasolina, biogás e gás natural, utilizando os sistemas comercialmente disponibilizados para estes combustíveis, para servir de comparação com os demais ensaios. Em seguidas foram feitos ensaios para as diversas combinações de ponto de ignição, mesclador de gases e taxa de compressão. Pela análise dos resultados pode-se concluir que o melhor resultado de potência para o biogás foi obtido quando utilizou-se a taxa de compressão 12,5:1, mesclador de gases longo e ponto de ignição adiantado em 45°, pois nestas condições obteve-se a potência máxima, superior ao original biogás. Palavras-chave: Energia, Biomassa, Motor estacionário, Gerador. M.S. Eng. Agrícola/ UNIOESTE-CCET-Mestrado em Engenharia Agrícola - UNIOESTE-CCET-Campus de Cascavel, Rua Universitária, 2069 CEP 85814-110 Cascavel PR e-mail: [email protected] 1 2 Prof. Adjunto UNIOESTE-CCET-Mestrado Eng. Agrícola - e-mail:[email protected] e [email protected] Prof. M.S. UFSM-DEM Santa Maria/RS 3 1970 INTRODUÇÃO O acesso à energia é base importante da existência humana, essencial à satisfação das necessidades básicas. Porém a dependência mundial de combustíveis fósseis para a geração de energia e suprimento da demanda sempre crescente, tanto nos países industrializados como em desenvolvimento, ameaça a estabilidade ambiental da terra. A biomassa a principal fonte de energia limpa e renovável, reúne e transforma substâncias da natureza e as converte em energia, sempre sob a regência do sol. O processo de digestão anaeróbia, realizado em um biodigestor instalado numa propriedade rural, além de reduzir a carga orgânica e gerar o biofertilizante, produz também o biogás, que é uma mistura combustível constituída basicamente por metano e gás carbônico. O biogás pode ser utilizado como combustível alternativo em motores de combustão interna acoplados a geradores de energia elétrica instalados em áreas rurais. Os motores a gás funcionam segundo os mesmos princípios dos motores diesel e gasolina, bastando apenas algumas modificações no sistema de alimentação, ignição e também na taxa de compressão. No Brasil há empresas que produzem e comercializam grupos geradores para utilização do biogás, e sabe-se que algumas apesar de promoverem a alimentação do motor com gás, consideram o rendimento deste baseado nas curvas de torque e potência do motor com o combustível original, normalmente a gasolina. O objetivo geral deste trabalho foi analisar o desempenho de um motor ciclo Otto, utilizando biogás como combustível alternativo. Já os objetivos específicos foram analisar a influência das variáveis: ponto de ignição, taxa de compressão e o formato do mesclador ar/combustível, nas curvas de torque e potência. O resultado destes testes levaram a um maior conhecimento da influência destas variáveis sobre o desempenho do motor, trazendo sugestões de adaptações para os motores já existentes como forma de aumento de sua potência. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Biogás De acordo com (ALMEIDA, 2002), o biogás contém em média 55 a 65% de gás metano, 45 a 35% de gás carbônico, traços de gases sulfídricos e outros. Segundo (MIALHE, 1980) o gás metano, também conhecido como gás dos pântanos, é obtido por fermentação anaeróbia de esterco de curral, de palhas e de restos de vegetais e lixo. O gás assim obtido é constituído por cerca de 2/3 de gás metano e 1/3 de gás carbônico. O metano, principal componente do biogás, não tem cheiro, cor ou sabor, mas os outros gases presentes têm um cheiro semelhante ao do ovo podre. O biogás é composto por uma mistura de gases cujo tipo e percentagem, variam de acordo com as características do tipo de resíduo e às condições de funcionamento do processo de digestão (BARREIRA, 1993 & SANTOS, 2000). A Tabela 1 mostra a composição típica do biogás. 1971 Tabela 1. Composição típica do biogás Metano CH4 50 a 80% Dióxido de Carbono CO2 20 a 40% Hidrogênio H2 1 a 3% Nitrogênio N2 0.5 a 3% Sulfídrico e Outros H2S, CO, NH3, O2 1 a 5% Fonte: (CCE, 2000). Motores de ciclo Otto alimentados com gás Segundo (ZAREH, 1998), os motores a gás funcionam segundo os princípios dos motores diesel e gasolina. De fato, alguns motores a gás são motores diesel ou a gasolina, convertidos para funcionar com gás. A conversão consiste em algumas modificações nos sistemas de alimentação e de ignição e também na taxa de compressão. Os motores a gás, de ignição por centelha, possuem uma eficiência volumétrica menor que o equivalente motor com combustível de petróleo, pelo fato da adição de gás reduzir o volume de ar aspirado. Contudo, a menor eficiência volumétrica é, geralmente, compensada pelo fato de que os motores a gás conseguem funcionar com taxas de compressão elevadas, 12-13:1. Isto é possível porque o poder antidetonante do gás está ligado ao número de metano, ou seja, quanto maior a quantidade de metano maior será a resistência à detonação. Segundo (MUÑOS et al., 2000), em ensaios realizados com motor Honda 270 cm3, alimentado com biogás bruto e mantidos o ponto de ignição e a taxa de compressão da gasolina, as curvas de torque e potência tiveram um decréscimo de 50% em relação ao combustível original. (HUANGA & CROOKES, 1998) simularam biogás injetando metano e gás carbônico em proporções diferentes em um motor de ciclo Otto. A quantidade de gás que era injetada no motor era definida respeitando as proporções formadas nos biodigestores. Definiram como sendo a melhor taxa de compressão 13:1 por atender a todas as misturas. Para uma taxa de 15:1 em algumas composições, houve detonação. Conforme (CAÑAVATE, 1988), a taxa de compressão não pode exceder a 12:1, pois a composição do biogás não é constante, e isto pode levar à detonação em alguns momentos. Já o ponto de ignição deve ser avançado, pois a velocidade de combustão do biogás é mais lenta. MATERIAIS E MÉTODOS O motor utilizado na pesquisa foi um Volkswagen de fabricação nacional modelo Ap 1.8 L, que equipa diversas linhas de automóveis deste fabricante. Foi adquirido em uma concessionária e mantém todas as configurações originais para avaliação com gasolina (ensaio testemunha). Embora o objetivo do trabalho fosse determinar o rendimento de um motor de ciclo Otto alimentado com biogás, utilizou-se também o gás natural como parâmetro de comparação, em função da existência de formas de purificação do biogás que fazem com que este combustível fique com as suas características muito próximas a do gás natural. 1972 O experimento foi realizado no laboratório de motores de combustão interna do Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Santa Maria. O laboratório de motores de combustão interna é um dos mais antigos do Centro de Tecnologia e atende as disciplinas profissionalizantes do Curso de Engenharia Mecânica. O motor foi ensaiado em um dinamômetro de absorção hidráulica marca JM Motorpower, modelo 800V. Sua capacidade de absorção máxima é de 476,6 kW, (648 c.v.) para uma máxima rotação de 9999 rpm e um torque máximo de 50,99 daN.m (52 m.kgf). O freio hidráulico possui um indicador analógico de torque acoplado a uma célula de carga. A indicação do número de rotações é proporcionada por um de tacômetro digital (pick-up magnético) de 0-9999 rpm. O motor foi ligado diretamente ao eixo da turbina hidráulica (rotor) do dinamômetro através de um sistema composto por duas juntas universais do tipo cardan para prevenir quaisquer desalinhamentos durante o teste. O dinamômetro de absorção hidráulica permite que se imponham variações de carga passiva ao motor através da abertura ou do fechamento de um registro hidráulico tipo globo instalado no console do painel de comando do freio e da seleção do diâmetro do orifício de saída de água da carcaça do mesmo. Para determinação dos fatores de correção (redução) de potência, segundo o determinado pela Norma NBR 5484, foi utilizado um dispositivo para observação das temperaturas de bulbo seco (tbs) e de bulbo úmido (tbu) do ar atmosférico, tecnicamente denominado de psicrômetro de fluxo contínuo. Este psicrômetro é um dispositivo laboratorial, especialmente construído segundo as recomendações da ASHRAE, e que vem sendo normalmente utilizado em experimentos que envolvam a determinação das condições atmosféricas. Para a determinação do consumo específico dos combustíveis (biogás e gás natural), foi utilizado um anemômetro de fluxo, montado em um tubo de pvc. Este anemômetro informava a velocidade do gás nas rotações definidas, para que posteriormente fossem calculadas as vazões. As variáveis foram definidas buscando-se aquilo que já existia no mercado e também pesquisando outras escolas e outros pesquisadores. Algumas visitas técnicas a empresas que trabalhavam com gás natural, entre elas a Petrobrás, também foram feitas. A tabela 2 mostra os parâmetros analisados no motor. Tabela 2. Parâmetros analisados *iVQDWXUDOYHLFXODU %LRJiVVLPXODGR &±Venturi curto 7- Taxa de Compressão 1 (Original – 8.5:1) 7- Taxa de Compressão 2 (12.5 :1) 3 – Ponto de Ignição Adiantado em 40° Apms 3 – Ponto de Ignição Adiantado em 45° Apms 3 – Ponto de Ignição Adiantado em 50° Apms % - Venturi curto % - Venturi longo 7- Taxa de Compressão 1 (Original– 8.5:1 ) 7 - Taxa de Compressão 2 (12.5 :1) 3 – Ponto de Ignição Adiantado em 40° Apms 3 – Ponto de Ignição Adiantado em 45° Apms 3 – Ponto de Ignição Adiantado em 50° Apms 1973 Para cada tratamento foram feitas três repetições, com variações de 50 em 50 rpm, entre 3200 e 5000 rpm este intervalo foi definido tendo como critério a geração de curvas que englobassem as rotações de torque máximo e de potência máxima. RESULTADOS E DISCUSSÃO As Figuras 1 e 2 apresentam as curvas de torque e potência do motor na condição original biogás, original gasolina e original gnv (gás natural veicular), frente aos melhores resultados do biogás e do gnv. Observou-se um ganho de torque e potência no motor utilizando taxa de compressão 12,5:1 (T2), mesclador de gases longo (B2) e ponto de ignição adiantado em 45° (P2). Como o gnv apresenta uma composição maior de metano frente ao biogás, os resultados foram melhores, com isso o uso de sistemas de obsorção de dióxido de carbono do biogás pode contribuir para a obtenção de um combustível alternativo semelhante ao gnv. Figura 1. Variação do torque do motor nas condições originais e após a conversão P 1 DG HX TU 7R 5RWDomRUSP Melhor resultado Biogás Melhor resultado Gnv Original Gasolina Original Gnv Original Biogás Figura 2. Variação da potência do motor nas condições originais a após a conversão N: D LF Qr RW 3 5RWDomRUSP Melhor resultado Biogás Original Gnv Original Gasolina 1974 Melhor resultado Gnv Original Biogás Observou-se que o motor convertido com biogás pode produzir ma potência máxima acima de 45 kW, podendo com isso ser acoplado a um gerador de 35 kVA, tornando uma propriedade rural com disponibilidade de biogás, auto-suficiente em energia elétrica. O motor também pode ser acoplado diretamente a uma bomba para a irrigação da propriedade. CONCLUSÕES A maior potência do motor utilizado para o biogás foi obtida quando utilizou-se a taxa de compressão 12,5:1, mesclador de gases longo e ponto de ignição adiantado em 45°, pois nestas condições obteve-se a potência máxima 100% superior ao original biogás. Os ganhos com a utilização do gnv em substituição ao biogás chegam a 15% na rotação de 3600 rpm onde o motor vai gerar energia elétrica. O ponto de ignição e taxa de compressão com os melhores resultados obtidos para o biogás também são os mesmos utilizados com o gnv. Agradecimentos Agradeço ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pelo apoio financeiro para a realização desta pesquisa, segundo o processo: 478601/01-8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, F. A.; MELO, R. J. S.; VIDIGAL, R. C.; PEREIRA, E. M. D. Eficientização Energética da Fazenda experimental PUC Minas Biodigestor de Baixo custo. In: 4° ENCONTRO DE ENERGIA NO MEIO RURAL. Anais...CD ROM. São Paulo, 2002. BARREIRA , P. Biodigestores: energia, fertilidade e saneamento para a zona rural. São Paulo: Ícone, 1993. CANAVATE, O.J.;BAADER. W.; Biogás as fuel for internal combustion engines. Asae1988. CCE Centro para conservação de energia. Guia Técnico do Biogás. Ed. JE92 Projectos de Marketing Ltda, Algés, Junho, 2000. HUANG, J.; CROOKES,R.J.;Assessment of simuled biogás as a fuel for the spark ignition engine. Fuel Vol.77, nº 15, pp. 1793-1801. Editora Elsevier science Ltda. 1998 MIALHE, L. G. Máquinas motoras na Agricultura. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1980. p. 202-203. MUNÕZ, M; MORENO, F.; MOREA-ROY, J.; RUIZ, J.; ARAUZO, J.; Low heating value gas on spark ignition engines. Biomass e bioenergy. Vol 18, pp 431-439, 2000 SANTOS, P. Guia Técnico de Biogás. 1° ed. Portugal: Je92 Projectos de Marketing lda, 2000. ZAREH, A. Motores a Gás. Lubrificação, Rio de Janeiro, v. 81, n° 04 , p. 2-4, 1998. 1975 1976
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