CASTRIOTA, Leornardo. Urbanização brasileira

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CASTRIOTA, Leornardo. Urbanização brasileira
URBANIZAÇÃO BRASILEIRA: REDESCOBERTAS
Leonardo Barci Castriota
Como se define, hoje, a urbanização brasileira? Com essa questão, Milton Santos abria,
em 1993, seu livro A urbanização brasileira, encadeando a ela uma série de outras
indagações, que continuam nos inquietando nesse início de século XXI.
Como, nas cidades, vive a maioria dos brasileiros? Quais as suas condições de trabalho e
não-trabalho? Qual a sua renda? Que acesso têm aos benefícios da maternidade?
Quais as suas carências principais?
Como se distribuem, na cidade, as pessoas, segundo as classes e os níveis de renda?
Quais as conseqüências da marginalização e da segregação? Quais os problemas da
habitação e da mobilidade, da educação e da saúde, do lazer e da seguridade social?
Como definir os lugares sociais na cidade, o centro e a periferia, a deterioração
crescente das condições de existência? (p. 10)
Naquele momento, tendo como base os dados do recenseamento de 1991, que
mostravam um certo arrefecimento do crescimento urbano, principalmente das
et poles,à oà ge g afoà dis o da aà f o tal e teà deà
a dia à aleg e e teàtaxasàdeà es i e toà e o à
uitosà desu a istas à ueà
uitasà ezesàape asài agi
ias à
daà populaç oà e à e tasà idadesà g a des .à Osà ú e osà ap ese tadosà e a à lidos de
forma diferente por ele, que contestava:
Mas que significa, verdadeiramente, cair a taxa de urbanização numa aglomeração
como São Paulo, aonda chegam centenas de milhares de pessoas por ano? Que
significado tem esse símbolo estatístico, quando a população rural e agrícola baixam
consideravelmente? (p. 120)
Pa aà“a tos,à
oàseàpode iaàfala àdeà desu a izaç o ,àse doàaàu a izaç oà es e te,à
deàfato,àu aà fatalidadeà esteàPaís,àai daà ueàessaàu a izaç oàseàd à o àau e toàdoà
desemprego, do subemprego e do emprego mal pago e a presença de volantes nas
idadesà
diasàeà asà idadesàpe ue as .à p.
aà e dade,à
ààOà ueàesta iaàa o te e do,àaàseuà e ,à
aisà ueà u aà desu a izaç o ,à se iaà u à o oà a a joà espa ialà doà
território brasileiro, marcado, entre out os,àpeloàau e toàe à ú e oàdeà idadesàlo aisà
eàsuaàfo ça ,àassi à o oàdeà e t osà egio ais ,àaoàpassoà ueàasà et polesà egio aisà
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tenderiam a crescer relativamente mais que as próprias metrópoles do Sudeste, como
Rio e São Paulo. Nesse novo sistema u a oàha e ia,àaoà es oàte po,àu aà te d
es e teà à dife e iaç oà eà à o plexifi aç o ,à se doà asà idadesà
adaà ezà
iaà
aisà
dife e tesàu asàdasàout as. à p.à
Por outro lado, um outro fenômeno, muito mais profundo, estaria em curso: a própria
urbanização deveria ser vista de forma diferenciada, com o fim da contraposição tão
rígida entre o urbano e o rural. Com isso, o geógrafo baiano chamava a atenção para o
fatoàdeà ueàesta ía osàdeixa doàaàfaseàdaà
e aàu a izaç oàdaàso iedade àpa aàe t a à
em out aà aà ualà osàdef o ta osà o àaàu a izaç oàdoàte it io .
A chamada urbanização da sociedade foi o resultado da difusão, na sociedade, de
variáveis e nexos relativos à modernidade do presente, com reflexos na cidade. A
urbanização do território é a difusão mais ampla no espaço das variáveis e dos nexos
modernos. (p. 125)
Frente a este quadro, qual seria, então, o destino da urbanização em nosso país? Para
Santos, interrrogar-se pelo futuro da urbanização seria interrogar-se pelo próprio futuro
do país,àse doàeste,à o oàtodoàfutu o,ààfo
adoà peloà o ju toàdeàpossi ilidadesàeàdeà
o tades ,à à ueà depe de ia ,à oà pla oà so ial,à doà uad oà geog fi oà ueà fa ilitaà ouà
est i ge,à auto izaà ouà p oí eà aà aç oà hu a a .à à ássi ,à aà ta efaà se ia,à aà seuà e ,àà
interrrogar-seàpelasà te d
eà oàB asilàdeàfo
iasàatuaisàdeà eo ga izaç oàdoàte it ioà oà u doài tei oà
aàpa ti ula à p.à
,à ueàdepe de ia,àe t eàout os,àdaà flexi ilizaç oà
tropical em nossas cidades, em contraponto à decantada flexibilização oriunda do
prog essoàte ol gi o,à iado a,àali s,àdeà igidez. à
Também nós, arquitetos, temos nos perguntado pelo destino de nossas cidades, e,
o oà o stataà Fl ioà Villaçaà e à seuà a tigoà esteà li o,à essaà p eo upaç oà te à sidoà
es e teà asà últi asà d adas .à à “eà aà crescente presença da temática urbana na
formação do arquiteto já seria, por si só, um dos indicadores desta tendência, a
u a izaç oà o ti ua ia,à oàe ta to,àaàse àai daà p edo i a te e teàe a adaàdeàu à
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ponto de vista excessivamente estatístico-demográfi oàeàe o
i o :à Estuda-se se as
metrópoles estão crescendo mais ou menos que as cidades médias, quer econômica,
quer demograficamente; se estaria havendo ou não uma suposta desmetropolização e
uma desindustrialização metropolitana e outros aspectos semelha tes. àà
Neste quadro, onde se negligencia a componente espacial, cabe-nos perguntar pela
contribuição que os arquitetos e urbanistas teriam a dar numa leitura do fenômeno
urbano contemporâneo no Brasil. Qual seria a sua perspectiva específica ao
interroga e à oà
o teúdoà eà oà sig ifi ado à daà u a izaç oà
asilei a?à à Co oà seà
analisariam, sob sua ótica, as transformações trazidas às nossas cidades pela
globalização e reorganização produtiva das últimas décadas? Essas questões são
respondidas, ainda que parcialmente, por este livro, que reúne contribuições de
pes uisado esà daà
eaà
ueà pa ti ipa a à doà
Redes o e tas ,à o ga izadoà oà
ol
uioà
á uitetu aà B asilei a:à
itoà doà XVà Co g essoà B asilei oà deà á uitetosà
(Cuiabá, setembro de 2000), que teve como tema justamente a ocupação de nosso
território.
Reorganização produtiva e novos arranjos espaciais
Se a cidade brasileira é hoje o país, como afirma Flávio Villaça, caberia então se
perguntar qual Brasil está estampado em nossas cidades. O quadro não é animador:
Nossas cidades são hoje o locus da injustiça social e da exclusão brasileiras. Nelas estão
a marginalidade, a violência, a baixa escolaridade, o precário atendimento à saúde, as
más condições de habitação e de transporte e o meio ambiente degradado. Essa a nova
face da urbanização brasileira.
Na década de 40, como aponta Ermínia Maricato, quando apenas 31% da população
asilei aàe aàu a a,à asà idadesàe a à istasà o oàoàladoà ode oàeàa a çadoàdeàu à
paísàp edo i a te e teàag
ioàeàat asado .ààNoài ício do século XXI, quando 82% da
populaç oàdoàpaísàj à àu a a,à aài age àdasà idades,àespe ial e teàdasà et poles,à
se apresenta bastante diversa daquela de sessenta anos antes. Violência, enchentes,
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poluição do ar, poluição das águas, favelas, desmoronamentos, infância abandonada,
et ,àet . àà
Se este quadro, profundamente negativo, é agravado ainda mais pelo avanço da
segregação social e espacial – tema recorrente em grande parte dos textos deste livro,
também podem ser notados nos últimos anos outros desenvolvimentos no tecido
urbano brasileiro, aparentemente contraditórios com esse quadro mais geral, como o
su gi e toàdasàde o i adasà ilhasàdeàp oduti idade ,àaà aio àpa teàdelasà oltadaàpa aà
o comércio internacional.
Não haveria, no entanto, contradição: a ocupação do
território estaria refletindo, na verdade, um processo mais amplo de reestruturação
produtiva em curso em nosso país. Como apontam Benny Schvasberg e Neio Campos
oàa tigoà Te d
iasàeàp o le asàdaàu a izaç oà o te po
eaà oàB asil , uma das
expressões da crise econômica da década de 80 teria sido justamente o arrefecimento
dosà i esti e tosà i dust iaisà o po ifi adosà e à pla tasà i dust iais ,à p edo i a doà
osà últi osà a osà oà pad oà deà i esti e toà deà pe ue oà po teà e à o asà ati idades
i dust iais,àlo alizadas,àe àg a deàpa te,àfo aàdosà e t osà et opolita os .
Nos anos 90, parece se reforçar, portanto, aquela tendência já apontada por Milton
Santos uma década antes: o arrefecimento do crescimento metropolitano e o
aprofundamento da frag e taç oà daà est utu aà p oduti aà
asilei a,à
o à oà
crescimento, por exemplo, da agroindústria, agricultura irrigada, empreendimentos
oltadosà àexplo aç oàdeà e u sosà atu ais,àaàa ele adaàu a izaç oà aàf o tei a ,àe t eà
outros. Assim, viria se acentuando a diferenciação na configuração espacial brasileira e
osà it osà deà dese ol i e toà e t eà osà di e sosà siste asà ueà o p e à aà edeà
u a a ,à
aà
ualà pode à se à ide tifi adasà desdeà edesà deà idadesà de sasà eà
consolidadas até aquelas em processo de consolidação, com fluxos predominantemente
o ie tadosàpa aàasà et polesà egio ais,à ueàe a eça àoàsiste aàu a o. ààCo àisso,à
enquanto regiões metropolitanas como a de São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte
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apresentam forte desaceleração demográfica, cidades como Campinas e Vitória
registram um expressivo crescimento.
No entanto, essa nova configuração não se apresenta de forma mais equilibrada que a
situaç oà a te io :à pe siste,à o oà a ota à “ h as e gà eà Ca pos,à u aà e o
eà
diferenciação na configuração espacial e nos ritmos de desenvolvimento entre os
di e sosà siste asà ueà o p e à aà edeà u a a ,à ap ese ta doà ai daà asà idadesà
asilei asà fo tesàdispa idadesà asà o diç esàdeà idaàeàdeàa essoàaosàse içosàpú li os,à
que se manifestam na própria estruturação do siste aà u a oà aà ueà pe te e
.àà
Neste novo quadro, agravam-se ainda mais as fortes desigualdades sócio-espaciais e a
heterogeneidade interna que já marcavam a urbanização brasileira.
A cidade dual: segregação e exclusão
Ainda em 1991, Sassia Sasken, em seu livro The Global City, apontava para a emergência
deà u aà idadeà dual à f utoà dasà t a sfo
aç esà e à u soà aà e o o iaà u dializada.àà
Para ela, com a economia tornando-se mais globalizada, a aglomeração das funções
centrais passaria a se dar em poucos locais no mundo, mais propriamente naquelas que
de o i aà idadesàglo ais à– No aàYo k,àLo d esàeàT
uio.ààáà geog afiaàso ial àdessasà
cidades seria dual: por um lado, uma imensa concentração de riqueza nas classes média
alta e alta, com os processos do consumo conspícuo e da gentrificação residencial e
comercial; por outro, o aumento da concentração de pobreza e de decadência física.
Yuppies e sem teto, altos executivos financeiros e faxineiras latinas dividem a mesma
cidade, mas constituem mundo que quase não se tocam – e cujo encontro só se dá
apenas por acaso, como no conhecido livro A Fogueira das Vaidades, de Tom Wolfe. O
títuloà doà apítuloà à doà li oà deà “asse à esu eà e à seuà diag
sti o:à Reest utu aç oà
econômica enquanto polarização espacial e de classe .à
Dez anos depois, o Relatório do United Nations Centre for Human Settlements
(HABITAT), Cities in a globalizing world, aponta para esses dois aspectos centrais da
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globalização, a reestruturação das manufaturas e serviços e a ampliação da
desigualdade ou polarização:
O processo que leva da globalização à desigualdade é claro; ele resulta do uso de uma
tecnologia avançada de comunicação e transporte para permitir a concentração de
riqueza nas mãos de uns poucos, em detrimento – em termos comparativos, e às vezes
absolutos – da maioria. A crescente mobilidade do capital e a crescente extensão do
controle que é possível recentemente, resultou numa concentração de riqueza no topo,
e uma crescente distância entre os detentores da riqueza e os pobres do mundo.
(HABITAT, p. 32)
Éà desteà
es oà o textoà ueà falaà Ma ga ethà áfe heà Pi e taà oà a tigoà U aà o aà
po ezaà u a a ,à o deà seà dis ute à asà alte aç esà s io-espaciais trazidas pela
reorganização produtiva mundial e seus efeitos no espaço urbano brasileiro. Que
alterações em termos de vínculos e identidades social o processo de reestruturação
social vem acarretando?
Tentando responder a essa questão, a autora parte da
constatação, no campo da economia, da substituição progressiva de um regime de
acumulação fordista por um novo regime de acumulação flexível, no qual se pode
o stata à aàp ess oàexe idaàso eàaàfo çaàdeàt a alhoàeàaàp e a izaç oàdaàesta ilidadeà
eà dosà í ulosà e p egatí ios .à à Naà pla taà daà f
i a,à adaà ezà
aisà i fo
atizada,à
to a-se raro o trabalho vivo e a presença do trabalhador é substituída por máquinas
menores e mais eficientes, alterando o lay out eàoàta a hoàdasàfi
as .àà“eà osàpaísesà
centrais este processo ainda encontra uma contraparte no que restou do Welfare State,
nos países perif i os,à o oàoàB asil,à aà iseà e àju ta -seà àex lus oàest utu al .
As sucessivas modernizações sem desenvolvimento, que acompanharam todo o
processo histórico nacional, não fizeram senão acumular uma multidão de excluídos da
cidade e do campo que, sem proteção do Estado e sem conhecimento de uma prática
de cidadania, vêm receber a flexibilização das relações de trabalho, impostas pela crise,
de forma desarmada.
Noà B asil,à aà iseà e à a e tua à aà dife e iaç oàe t eà osà doisà i uitosàdaà e o o ia ,à
o deà a difusão cada vez mais acelerada das técnicas modernas no espaço da cidade
convive com a expansão de atividades urbanas instáveis e precárias alterando
apida e teà aà paisage à u a a .à à Estaà aià seà desde sifi a do ,à ua doà asà g a desà
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empresas passam crescentemente a se apoiar no trabalho doméstico e em pequenas
oficinas, localizados na periferia das cidades, em pequenas cidades ou mesmo em áreas
rurais. A cidade desaparece, assim, da vida dos trabalhadores.
Pulverizados no espaço ou retraídos no cômodo domiciliar adaptado ao trabalho fabril,
perdem a possibilidade de identidade e de associação. No ambiente da empresa ou se
deslocando entre residência e trabalho encontrava-se a contribuição do lugar, do
espaço de aproximação que poderia facilitar a superação de sua condição de
expropriado. Os frágeis laços sociais, restritos ao trabalho ou à circulação urbana, são
agora dissipados. É uma pobreza com maiores obstáculos para sua superação.
O agravamento da exclusão social é acompanhado no Brasil pelo agravamento da
segregação territorial, traço que tem marcado o processo de urbanização no país, como
ost aàE
í iaàMa i ato,à oàseuàa tigoà Co he e àpa aà esol e àaà idadeàilegal .
Regiões inteiras são ocupadas ilegalmente. Ilegalidade urbanística convive com a
ilegalidade na resolução de conflitos: não há lei, não há julgamentos formais, não há
Estado. À dificuldade de acesso aos serviços de infra-estrutura urbana (transporte
precário, saneamento deficiente, drenagem inexistente, difícil acesso aos serviços de
saúde, educação, cultura e creches maior exposição à ocorrência de enchentes e
desabamentos) somam-se menores oportunidades de emprego, maior exposição à
violência (marginal ou policial), difícil acesso à justiça oficial, difícl acesso ao lazer,
discriminação racial. A exclusão é um todo: social, econômica, ambiental, jurídica e
cultural.
A segregação territorial atinge também os espaços públicos, que, como locais de
i te
ediaç oàdasà elaç esàso iais,àdeà esoluç oàdasà uest esà oleti asàouàjuízoàe
e
pe d
iasài di iduais ,àse p eà efleti a à aoàlo goàdaàhist iaàdasà idades,àasàfo
asà
deà ex lus oà p ati adasà e à adaà so iedade .à à Esteà aspe toà à a o dadoà po à Ma iaà Elisaà
Baptista,à e à áà o st uç oà deà u à espaçoà deà f o tei a:à espaçoà pú li oà eà idada ia ,
o deà seà dis uteà aà uest oà dosà espaçosà i te sti iaisà deà f o tei a ,à espaçosà e à ueà osà
diferentes grupos sociais – tão apartados no Brasil – se encontram em relação de
vizinhança. Quais as possibilidades desses lugares intersticiais – onde a proximidade
muitas vezes é só física – de recompor a noção de espaço público, é a indagação da
autora, que toma como estudo de caso a intervenção realizada em meados dos anos 90
na Barragem Santa Lúcia, em Belo Horizonte. De fato, aquele território, onde convivem
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a fa elaà eà u à ai oà deà lasseà
dia,à o stituià u à li iteà e t eà
o fologiasà deà
ocupação distintas, provimento de infra-estrutura desigual, acesso da população ao
t a alho,à à e da,à aoà t a spo te,à edu aç oà eà saúdeà o pleta e teà dife e iados. àà
Nesse artigo aparece claramente a dimensão propositiva da perspectiva do arquiteto e
urbanista, quando se analisa em detalhes um projeto de tratamento de uma área dessa
natureza, e as implicações das diversas escolhas espaciais. Para a autora, a crença de
que o mundo – e mesmo uma realidade urbana como a nossa – pode ser transformado
pela ação humana deve incluir hoje, como nos lembra Milton Santos, a compreensão de
ueà aà idaà
oà à u à p odutoà daà t
i a,à asà daà políti a,à aà aç oà ueà d à se tidoà à
ate ialidade .ààà
A cidade dual: os enclaves fortificados
O relatório Cities in a globalizing world (HABITAT,2001) constata que a ligação entre
desigualdade e espaço urbano não vai se apresentar mais, como no século XIX, apenas
através da divisão da sociedade em duas partes, a dos ricos e a dos pobres, mas na
fo
aà aisà ext e aà daà idadeà seg egada .à à áà desigualdade,à oà se tidoà aisà a plo,à
extensivamente documentada como um fenômeno mundial, apresentaria hoje quatro
aspectos distintos: um crescimento no número relativo de ricos e de pobres; um
aumento na distância entre eles; uma diferenciação cada vez maior, dentro dos grupos,
entre os mais ricos e os mais pobres e uma diferenciação mais aguda dos grupos entre
si. Esses quatro aspectos do processo de polarização vão se refletir no espaço das
cidades, particularmente através da articulação das áreas residenciais num padrão
marcado pela segregação, cuja forma mais radical é representada hoje pelos chamados
e la es .à à áp ese ta do-se sob a forma de cidadela do poder, área gentrificada,
subúrbio exclusivo ou bairro de imigrantes, os enclaves contemporâneos, que
acompanham a globalização, representariam, de forma similar aos enclaves dos poderes
i pe iaisà asà a tigasà ol
ias,à esfo çosà pa aà p otege à algu sà de t oà eà a te à out osà
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deà fo a .à HáBITáT,à p.à
-34) Assim, os enclaves fortificados, que se espalham pelo
u do,à oàse ,à o oàdefi eàTe ezaàCaldei a,à espaçosàdeà esid
t a alho,à ueà s oà p i atizados,à fe hadosà eà
ia,à o su o,àlaze àeà
o ito ados ,à eà ueà at ae à a uelasà
camadas ueà est oàa a do a doàaàesfe aàpú li aàt adi io alàdasà uasàpa aàosàpo es,à
osà a gi aisà eà osà se à asa .à Usa doà oà edoà daà iol
iaà o oà u aà deà suasà uitasà
justificativas, as camadas mais altas desertam da cidade, entrincheirando-se em
territórios exclusivos e fechados. Nessas cidades fragmentadas pelos enclaves, como
têm demonstrado vários exemplos ao redor do globo, fica difícil manter-se os princípios
da abertura e da livre circulação, talvez os mais significativos dos valores organizativos
das cidades modernas, o que provoca também uma mudança no caráter do espaço
público e da participação cidadã na vida pública. (CALDEIRA, p. 114)
Tal padrão fica bastante claro em cidades como Los Angeles, que teria se tornado para
alguns autores como Edward Soja uma espécie de janela paradigmática através da qual
se deve olhar para a urbanização da segunda metade do século XX: uma paisagem
urbana pós-fo dista,à epletaà deà siste asà
aisà flexí eisà deà p oduç o,à o su o,à
explo aç o,à espa ializaç oà eà o t oleà so ial .à à Deà fato, em seu livro de 1989,
Postmodern Geographies – The Reassertion of space in Critical Social Theory, Soja já
apontava para o fato de Los Angeles ter ultrapassada a Grande Nova York em empregos
e na produção industrial, através justamente das indústrias de alta tecnologia;
fenômeno este que era acompanhado, significativamente, também por uma expansão
deà e p egosà deà aixaà e u e aç o,à deà t a alhoà pa ialà eà aleat io .à à Co à oà
fechamento de fábricas nos setores da indústria pesada teriam aumentado a pobreza e
o desemprego, ocorrendo uma intensificação da discriminação residencial, e a maior
concentração de população sem teto dos Estados Unidos. Segundo ele, existiriam em
Láà u aà Bosto ,à u aà Baixaà Ma hatta
Ci gapu a à(pp. 233-235)
,à u à “ulà doà B o x,à u aà “ oà Pauloà eà u aà
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Mike Davis, professor da Southern California Institute of Architecture, aponta um outro
aspe toàdesteà fe
Quartz deà
e o,à fala doà deà u aà Fo talezaà Losà á geles à e à seuà li oà City of
.ààEstaà
ilita izaç o àdaà idaà aà idadeàseg egadaàpoderia ser flagrada, a
seu ver, em vários aspectos da vida urbana, desde o isolamento dos bairros pobres pela
polí ia,àat a sàdeà a i adas,à o oàpa teàdaà gue aà o t aàasàd ogas ,àat àaà iaç oàdeà
pseudo espaços públicos para consumidores ricos, formados por shopping centers,
centros de escritórios e acrópoles culturais, repletos de sinais invisíveis que impediriam
aàe t adaàdoà out o ,àdaà su lasse .ààPa aàoàauto àha e iaàu aàesp ieàdeà se i ti aà
totalit ia à fo
adaà deà pa apeitosà eà a eiasà deà id oà espelhados e passarelas
suspe sas ,à ueà te ia à suaà o t apa teà oà espaçoà pú li oà e à p ojetosà o oà oà deà
bancos de ponto de ônibus nos quais é impossível se dormir, projetados contra a
apropriação pelos sem-teto e pobres, numa clara convergência entre os objetivos da
arquitetura contemporânea e da polícia.
A preocupação com a segurança seria
onipresente na cidade segregada: guardas e patrulhas residenciais se espalhariam pela
cidade, formadas e mantidas pelo setor privado, explorando empregados não
sindicalizados e mal remunerados..
Te ezaà Caldei a,à e à seuà a tigoà Fo tifiedà E la es:à Theà Ne à U a à “eg egatio ,à
compara o fenômeno americano com o caso brasileiro, focalizando especialmente São
Paulo.à à Pa aà ela,à asà últi asà d adas,à aà p olife aç oà dosà ha adosà e claves
fo tifi ados à te ia,à deà fato,à
iadoà u à o oà
odeloà deà seg egaç oà espa ialà eà
transformado a qualidade da vida pública em muitas cidades ao redor do mundo. No
caso do Brasil, onde a desigualdade social é óbvia e profunda, esses processos de
segregaç oà espa ialà
oà se à ta
à pa ti ula
e teà isí eis,à exp essosà se à disfa eà
ouàsutileza .à
Algumas vezes, observar uma forma exagerada de um processo é uma maneira de
iluminar algumas de suas características que poderiam passar desapercebidas de outra
forma. É como olhar para uma caricatura. De fato, com seus muros altos e cercas,
guardas armados, tecnologias de vigilância e contrastes de riqueza ostentatória e
extrema pobreza, a São Paulo contemporânea revela com clareza um novo modelo de
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segregação que se espalha por cidades ao redor do mundo, mesmo que de modo geral
em formas menos severas e explícitas. (CALDEIRA, p. 115)
Este processo é amplamente discutido neste livro por artigos que abordam diferentes
ângulos desse fenômeno contemporâneo nas cidades brasileiras.
Couto,à e à áà Ba aà daà Tiju a à eà aà o teà a u iadaà daà idadeà
pa aà oà tipoà deà t a sfo
Beatriz d´Araújo
a a ilhosa ,à apo taà
aç oà ueà e à at a essa doà ossasà idades,à o deà deà u à
tecido coeso, que decorre da lógica do valor de uso da habitação e da cidade,
representado pelo processo de urbanização colonial que criou cidades memoráveis e
espaços da feira, da festa e da revolução – passamos a lugares contemporâneos onde a
segregação derruba processos seculares de produção do espaço urbano e atinge formas
eà o
asài pe s eisàh à e àpou asàd adas. ààE àoposiç oàaàu àusoàeàap op iaç oà
saud el àdoàespaçoàpú li oà a a te ísti oàdeà ossaà u a izaç oàp eg essa ,àaàauto aà
aponta para a emergência dos condomínios fechados na história urbana recente do
Brasil, prática que começou a se instaurar na década de 60.
É significativo que o caso da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, cujo plano original deriva
do urbanista Lúcio Costa, o mesmo de Brasília, seja abordado em dois artigos que
procuram entender esse fenômeno: afinal, não há caso que ilustre de forma mais
paradigmática o surgimento e a evolução dos condomínios privados no Brasil, além de
propiciar uma análise detalhada de sua ligação com os pressupostos do cânone do
Urbanismo modernista, tão fortemente presente em nosso país. De fato, a Barra da
Tijuca se presta à perfeição para a análise desse processo, na medida em que nesse caso
e o t a osà ta toà u à dis u soà p ofissio alà explí ito à – no caso o de Lúcio Costa –
ua toà u à p o essoà deà expa s oà u a aà aà a goà doà apitalà i o ili io ,à a
osà
fartamente documentados.
Segundo Beatriz Couto, é importante perceber como o processo de implantação e
adaptação social dessas proposições decorrem de um processo de avaliação e aplicação
seletiva, como pode ser percebido, por exemplo, no discurso dos promotores
imobiliários, no qual se mesclam conteúdos advindos do cânone modernista.
No
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discurso daquele setor sobre a barra da Tijuca, a autora identifica cinco temas
principais: a adoção da padronização programática e técnica nas soluções construtivas e
a segregação de circulações e usos; a promessa da modernidade representada pelo
acesso aos avanços da tecnologia; a naturalização da forma da expansão urbana
capitalista – assumida como superior a priori à prática tradicional – e a tentativa de sua
autonomização frente ao tecido urbano pregresso; a promessa de implementar a utopia
cidade-natureza e, finalmente, o caráter exclusivo do local. Se, como se vê, os três
primeiro implementam as propostas do cânone modernista, e o quarto pode ser visto
como a preocupação com a questão da qualidade ambiental da cidade, o quinto – a
exclusividade do espaço – aiàlheàse àopostoàeà ep ese taà expli ita e teàaàideologiaàdaà
exclusão-seg egaç o .à à á ui,à o deà seà o t ap e à oà dis urso dos empreendedores ao
do urbanismo profissional, o discurso da segurança, desenvolvido pelos primeiros, vai
e o t a à e oà asào ip ese tesàde a dasàpo àsegu a çaàdaàpopulaç o .àà Éàoàesfo çoà
desesperado de manter o espaço de iguais pela exclusão econômica e física dos que se
e o t a à oà pata a à dife e iadoà deà e da. ,à diag osti aà aà auto a,à ueà a es e ta,à
ti a:àà Co oàseàtalàsituaç oàpudesseàseà a te àse àoàt a alhoàdosàdife e tes .
Acompanhando a linhagem modernista do projeto da Barra, os artigos terminam por
des ela à ta
à osà
asosà o u i a tes à e t eà oà pla eja e toà u a oà ode ista,à
a io alistaà eà apa e te e teà igualit io,à eà oà
o oà u a is o à dosà e la esà
fortificados. A Barra da Tijuca seria, neste sentido, um caso paradigmático: projetado
pelo mesmo urbanista de Brasília; aquela área se torna o modelo seguido por
condomínios fechados no país inteiro. Teresa Caldeira ta
àfalaàe à i st u e tosà
ode istas,à espaçosà seg egados :à à Pa aà ati gi à seusà o jeti osà deà isola ,à dista ia à eà
selecionar, os enclaves fortificados usam alguns instrumentos de projeto que são, de
fato,à i st u e tosà doà pla eja e toà u a oà eà doà p ojetoà a uitet
(CALDEIRA, p.
i oà
ode os. à
). Para ela, uma das surpreendentes similaridades está no ataque à rua
como um tipo e um conceito de espaço público, e que teria se cristalizado no Brasil a
pa ti à daà o st uç oà deà B asília,à oà fi alà dosà a osà
.à à Naà B asíliaà ode istaà ta toà
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quanto em partes de São Paulo e Los Angeles, os pedestres e as interações anônimas na
vida pú li aà ueà a a a àaàPa isà ode aàte de àaàse àeli i ados. ààNoàe ta to,àseà
os resultados tendem a ser os mesmos, o projeto original do modernismo e dos espaços
fechados de hoje são radicalmente diferentes: enquanto esses se originam de uma clara
intenção de segregar, a arquitetura e o planejamento urbano modernistas tinham como
utopia o apagamento da diferença social e a criação da equidade na cidadde racional do
futu o,à o seguidosàpeloàa uitetoàdeà a gua da. à
-128)
O planejamento urbano modernista, que partia da crítica radical às cidades e sociedades
industriais, pretendiam transformá-las através da remodelação radical do espaço. Pela
aç oàdoàEstado,àse ia àeli i adasàasàdife e çasàpa aàseà ia àu aà idadeà a io alistaà
u i e sal àdi ididaàe àsetores funcionais tais como residencial, trabalho, recreativo, de
transporte, administrativo e cívico. Se Brasília vai ser a encarnação mais perfeita tanto
do novo tipo de cidade quanto da vida pública criada pelo planejamento urbano
modernista, ela também demonstra à perfeição como este novo tipo de espaço urbano
realiza o oposto das intenções do planejador. Tereza Caldeira observa:
Brasília é hoje a cidade brasileira mais segregada, e não a mais igualitária.
Ironicamente, os instrumentos do planejamento modernista, com uma pequena
adaptação, se tornam os instrumentos perfeitos para produzir desigualdades, e não
para apagar as diferenças. Ruas só para tráfego de veículos, a ausência de passeios,
fechamento e internalização das áreas comerciais, e vazios espaciais isolando
edificações esculturais e áreas residenciais ricas são instrumentos perfeitos para gerar e
manter a separação social.
Nada mais distante, no entanto, do ideário do Urbanismo modernista que, como aponta
Beat izàCouto,à se p eàpe souàaàmodernidade como a possibilidade de implementação
daà p opostaà ilu i istaà oà pla oà u a oà pa aà oà o ju toà daà populaç o .à Hoje,à
o t a ia e teà à tudoà ueà e xe ga osà à aà utilizaç oà deà suaà a io alà pa aà sepa a ,à
excluir, privatizar, dando margem à ilusão de que atrás dos muros todo balão cairá, toda
aç à as e ,àouàseja,à aàli guage àdaàPsi a lise,à ueàfi a e osàli esàdaà ast aç o. à
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O processo histórico desta passagem é também acompanhado, por outro ângulo, pelo
artigo de Gerônimo Leitão, que segue as diversas etapas da ocupação da Barra da Tijuca,
dosà a osà
à aosà diasà deà hoje,à desdeà aà faseà pio ei aà dosà des a ado esà espo s eisà
pela ´colonização´ da nova fronteira, até a estruturação da ´cidade planejada para o
século XXI`, ou, como preferem alguns, a ´Mia ià asilei a´ .ààCa a te izadaà osàa osà
à
como a grande área de expansão da cidade do Rio de Janeiro, e procurada inicialmente
como local de veraneio, a região sofre, a partir dos anos 80, um grande boom,
transformando-seà u à pa aísoàdoà e adoài o ili io .àà“egu doàoàauto ,à essasàduasà
fases diferentes tipologias arquitetônico-urbanísticas traduziriam de forma emblemática
osà u osà daà o st uç oà desteà eldo adoà u a o ,à
a adoà pelaà seg egaç oà s io-
espacial: dos condomínios privados da década de 70 – e à ueàe aàpossi elà
o a ào deà
seàgosta iaàdeàpassa àasàf ias à– à home office dos anos 90, onde se mora onde se pode
trabalhar, verificou-seà aà o st uç oà deà u aà idadeà de t oà daà idade,à ta toà pelaà
expressão de seu desenvolvimento econômico, quanto pelas suas características
o fol gi as .à
O artigo seguinte, de Juca Villaschi, toma como objeto um empreendimento desta
natureza, projetado e implantado nos anos 90 – o Condomínio Alphaville Lagoa dos
Ingleses, em Nova Lima (MG) – e mostra seu impacto na região metropolitana de Belo
Horizonte.
Concebido para abrigar comércio, serviços e atividades de lazer, este
condomínio, pertencente à segunda geração dos Alphavilles, constitui também uma
e dadei aà i itaç o àdeà idade,à i etiza doàdeàfo
aàseleti aàeàsegregada o urbano –
fora e longe do centro urbano.
Hoje, graças aos avanços da tecnologia da comunicação e à globalização da economia e
dos processos de produção, as relações de trabalho têm se flexibilizado ao ponto de
alterar a dimensão temporal, tornando a variável espacial progressivamente menos
determinante e intensificando a migração de camadas sócio-profissionais mais elevadas
da população para condomínios residenciais cada vez mais afastados dos centros
urbanos.
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Assim, o mesmo processo apontada na Barra da Tijuca se repete aqui, numa escala
regional: ao longo do vetor sul da região metropolitana de Belo Horizonte, atraídos
pelaà a aà elezaà
i aà daà egi o à eà po à seusà at i utosà paisagísti osà eà li
ti os ,à
multiplicam-se os condomínios fechados, ocupados por casas inicialmente destinadas ao
lazer e repouso de final de semana, e que se transformam, posteriormente, em
residências principais. O impacto deste tipo de implantação vai ser profundo, tanto do
ponto de vista do meio ambiente – a região, montanhosa e contendo os mananciais que
abastecem a cidade, faz parte de uma APA –, quanto do contexto sócio-econômico,
onde esses empreendimentos impactam pequenas aglomerações semi-rurais.
Naà es aàli ha,àoàp xi oàa tigo,à No osàlotea e tos,à elhosàpa adig as àdeàái to à
Portilho Bueno, mostra o desenvolvimento de loteamentos turísticos numa cidade
litorânea como Florianópolis e seus impactos sobre um meio físico e uma urbanização
pregressa bastante particulares. Praticamente intocada até o final dos anos 60, a região
daà apitalàdeà“a taàCata i aàassisteà àpassage àdeàu aàsituaç oàdeàu a izaç oà p i dust ial ,à aà u aà paisage à o te po
eaà a adaà po à u aà ati idadeà tipi a e teà
pós-industrial – oàtu is oàdeàà assa.àà E t eta to ,àa otaàoàauto ,à aàposiç oàque o país,
e mais ainda a cidade, se colocam na dinâmica da globalização, claramente em papéis
secundários, tem impelido a transformação de sua estrutura urbana por meio saltos
localizados, nem sempre correspondentes aos benefícios que a atividade poderia
t aze .ààássi ,àosàpa adig asà ueàt
ào ie tadoàaàp oduç oàdoàespaçoàu a oàda uelaà
idade,à o igi adosàdeàu aà es aà at izà ode o-dese ol i e tista ,àte à ost adoà
u à altoàpode àdeàdege e aç oàs io-a
ie tal ,àpo doàe à is oàaàp p iaàat ati idadeà
turística da região, como de resto tem acontecido em todo o litoral brasileiro.
O desafio da conservação do existente
O desafio da conservação do existente, seja em sua dimensão ambiental, seja em sua
dimensão cultural, também emerge com força nas últimas décadas no Brasil, quando as
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chamadas políticas de patrimônio vão mudando de perspectiva e passam a se dirigir às
cidades e às áreas urbanas, e não só às edificações excepcionais. O fato é que,
principalmente desde o final da 2a Guerra Mundial, o próprio conceito de patrimônio
passa por importantes mudanças, sofrendo uma ampliação que altera a natureza do seu
a po,à espe ial e teà o à aà i t oduç oà doà o eitoà deà pat i
ioà u a o à e,à aisà
e e te e te,à o à p eo upaç esà o à aà suaà di e s oà i ate ial à ouà i ta gí el 1.
Nesseà o oà uad o,ào deàaàid iaàdaà o se aç oài teg ada àpa e eàdese pe ha àu à
importante papel, as políticas de patrimônio passam a ser vistas como um dos mais
importante elementos do planejamento urbano e regional, campo do qual pareciam
inteiramente dissociadas até então.
Este vai ser o fio articulador do próximo bloco deste livro, onde se analisam os diversos
tipos e facetas das políticas para o patrimônio desenvolvida nos últimos anos no Brasil e
seus efeitos nas cidades, seus encontros e desencontros com as políticas urbanas mais
ge ais.à à Nestaà li haà aià oà textoà Nasà e
uzilhadasà doà dese ol i e to:… ,à deà i haà
autoria, que, tomando o caso de Ouro Preto, e mais especificamente do Largo do
Coimbra – um espaço típico do urbanismo português nas Américas –, acompanha as
políticas desenvolvidas naquele núcleo histórico e suas consequências. Ali se mostra
como as políticas de preservação implementadas em Ouro Preto dos anos 30 até hoje,
voltadas principalmente para a manutenção dos valores estéticos do conjunto, não
conseguem se articular minimamente com estratégias de desenvolvimento, causando
uma indesajada contraposição entre preservação e desenvolvimento. Com a exclusão da
populaç oàlo alàeàoàapaga e toàsiste
ti oàdaà
e o a ilidade à eal dos lugares, este
percurso parece-nos representar bem a trajetória das políticas de preservação no Brasil,
para as quais continuam válidas as palavras de 1986 de Carlos Nelson Ferreira dos
Santos.
Do jeito que vem sendo praticada, a preservação é um estatuto que consegue
desagradar a todos: o governo fica responsável por bens que não pode ou não quer
conservar; os proprietários se irritam contra as proibições, nos seus termos injustos, de
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uso pleno de um direito; o público porque, com enorme bom senso, não consegue
entender a manutenção de alguns pardieiros, enquanto assiste à demolição inexorável e
pouco inteligente de ambientes significativos. (SANTOS, 1986)
Não há como contestar a atualidade desse texto, cujas afirmações poderiam, sem
maiores problemas, ser dirigidas ainda hoje ao estado das políticas de patrimônio no
Brasil, perdidas entre discursos, que incorporam de maneira superficial idéias e
conceitos em voga no exterior, e práticas muitas vezes regressivas, que repetem, sem
crítica, procedimentos em curso desde os anos 30.
Se este é a quadro geral, principalmente no que se refere à (falta de) política federal de
patrimônio, alguns Estados e municípios têm procurado manter o compasso com as
transformações em curso. Este vai ser o caso do IEPHA-MG (Instituto Estadual do
Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais), cuja trajetória é acompanhada no
texto seguinte de Flávio Carsalade, que mostra as modificações na atuação daquele
órgão dos anos 70 até hoje, quando se desenvolvem políticas de proteção do
patrimônio com ênfase em sua dimensão urbana. O fato é que, usando mecanismo de
redistribuição tributária, o Estado de Minas Gerais tem realizado nos últimos anos a
mais ambiciosa política de descentralização e municipalização da gestão do patrimônio
do país, com mais de 300 municípios implementando políticas próprias.
Ainda de Minas, o texto seguinte, de Fernanda Borges, descreve em detalhes a situação
atual das pequenas aglomerações urbanas, tomando como estudo de caso os distritritos
de Mariana. Num período marcado pelo processo da urbanização estensiva e pela
rápida modernização das estruturas urbanas, Minas Gerais ainda conserva fortes
resquícios de sua rede urbana colonial, com um expressivo conjunto de cidades e
pequenas aglomerações originárias do ciclo do ouro e do diamante. Com o esgotamento
da produção mineral, muitas dessas aglomerações entram num processo de estagnação
que se manteve até os dias de hoje, conservando de forma surpreendentemente intacta
suas estruturas arquitetônicas, urbanas e paisagísticas desse período. Sem autonomia
política e com baixas densidades populacionais, esses núcleos apresentam hoje uma
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situação curiosa: ao mesmo tempo em que é flagrante a fragilidade de suas estruturas
sócio-econômica e urbana, são ainda o ju tosà i os ,àdife e te e teàdeàOu oàP eto,à
o deàhou eàaà o st uç oàdeàu à e
io ,àe,àdeàfo
aà aisàg a e,àdeàTi ade tes,ào deà
o processo de gentrificação pode ser detectado de forma avançada, com a total
expulsão da população local do centro histórico.
Este processo de gentrificação, comum na paisagem urbana pós-moderna, onde
a o te eà u aà esp ieà deà desdife e iaç oà g adual à dosà í eisà e o
o à oà p p ioà e o
i oà seà to a doà ultu al,à aoà es oà te poà e à ueà oà ultu alà
gradualmente seà t a sfo
fo
aà oà e o
i o à Ja eso ,à
aàa gutaàpeloàp xi oàtextoà Duasàsafe asàeàu aà a
P tioàdeà“ oàPed oàdosàCl igos,à oàRe ife ,àdeà“
autoras analisam t sà i te e ç esà deà
p ti aà o te po
i oà eà ultu al,à
,à p.à
,à à a o dadaà deà
ia:àaàhist iaà e e teàdoà
iaàMa uesàeàCl udiaàLou ei o.ààáliàasà
esgate à deà u à espaçoà pú li oà e à Re ife,à
eaà ueà te taà i teg a à asà aç esà deà pla eja e toà u a oà
daà p ese aç o,à o se aç oà eà suste ta ilidade .à Ult apassa doà oà
itoà daà
uelasà
e aà
preservação, este tipo de operaç oà p eà oà o u e toà esgatado à f e teà aà u à o oà
desafio:à de o st a àsuaàefi
iaà oà e ado .àà ássi àse do ,àexpli a àasàauto as,à aà
adoção de modelos, espelhados em Docklands, Barcelona, ou outros, impõe uma
discussão não apenas dos sucessos, mas também dos fracassos ou dificuldades, bem
o oàdaàsuaà ia ilidadeàe à o textosàlo ais.
2
Analisando intervenções no Pátio de São
Pedro, da década de 70 aos dias de hoje, Marques e Loureiro parecem confirmar uma
experiência que se evidenciaria na experiência i te a io al:à “e àge t ifi aç oà
suste ta ilidade ,à e u ia .à Oà asoà e ife se,à ali s,à e à o fi
oàh à
a doà aà eg a:à
´maquiadas´, áreas populares encontram-se em franca decadência, como o Pólo Pina ou
desati adas,à o oàoàP loàTo e.
Fechando este bloco,à u à textoà doà “ulà doà país,à áà e-a uitetu aà daà idade ,à deà Li euà
Castello, discute um outro fenômeno recente: a necessidade de reocupação dos
o
fields à
asilei os,à a plasà
easà o
al e teà oà e t oà dasà idades,à ueà
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abrigavam estruturas industriais e de transporte hoje desativadas – fábricas, estações
de trem, etc. São os restos da primeira industrialização, numa prova cabal da rapidez da
ode izaç oàeàdaàsuaà apa idadeài fi d elàdeà ia à uí as à e e tes,àes azia e toà
ueà t azà e
iosà tipi a e te pós-industriais à paisagem urbana mesmo de cidades
latino-a e i a asà o oà Po toà áleg e .à à á alisa doà u aà exte saà faixaà ostei aà aà
porção noroeste da capital gaúcha, Castello aborda esses novos fenômenos urbanos,
i estiga doà asà possi ilidadesà deà eutilização e recomposição dos lugares e dos
edifí iosàp ese tesà essasà eas .
Novas fronteiras espaciais e disciplinares
A questão da fronteira – espacial e disciplinar – ressurge no último bloco do livro.
Interrogando as novas dinâmicas da urbanização brasileira, Roberto Luís Monte-Mor no
textoà Out asà f o tei as:à o asà espa ialidadesà aà u a izaç oà
asilei a ,à dis uteà aà
desarticulação e a rearticulação da própria idéia do fenômeno urbano em sua fase
contemporânea. Fazendo eco das observações de Milton Santos, que há uma década
apo ta a,à o oà i os,à aà passage à daà
e aà u a izaç oà daà so iedade à pa aà aà
u a izaç oà doà te it io,à oà auto à a o daà oà fe
ossoàpaís,à oà ualàj àseàpode iaàfala àlef
e oà daà u a izaç oà exte si a à eà
ia a e teà deàu aàso iedade virtualmente
u a a àà o oà sí teseàdial ti aà i tual àdaà elhaàdi oto iaà idade- a po .àà
É essa espacialidade social resultante do encontro explosivo da indústria com a cidade –
o urbano – que se estende com as relações de produção (e sua reprodução) por todo o
espaço onde as condições gerais (e consumo) determinadas pelo capitalismo industrial
de Estado se impõem à sociedade burocrática de consumo dirigido, carregando,
entretanto, no seu bojo, a reação e organização políticas que são próprias da cidade.
Essa é a realidade – a sociedade urbana – que se impõe hoje como virtualidade e
objetividade no Brasil, constituindo-se em condição para a compreensão do espaço
social contemporâneo.
Esseàp o essoà ia iaà
o asàf o tei as ,ài o po a doàpe ife iasài ediatas e distantes,
rearticulando sistemas urbano-rurais e micro-regionais e, finalmente, (re)definindo
fronteiras no próprio interior da malha urbana. Ao tomar tal perspectiva, Monte-Mor
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explo aàoàp p ioà o eitoàdeàf o tei aà ueà t azài plí itoàu àse tido de limite, como
também de espaço de tensão e transformação (ou de nova formação), podendo assim,
tanto marcar o avanço de uma territorialidade sobre outra quanto demarcar diferenças
eà hete oge eidades ,à
oà
ueà seà ap oxi aà dosà
o eitosà deà hete otopiaà eà
heterotopologia desenvolvidos por Lefèbvre e Foucault.
Neste sentido, a fronteira aponta também para uma terceira posição, para a
possibilidade da reinvenção do diferente, da relação com o outro, da ambiguidade
necessária à complexidade contemporânea e das opções diversas que se anunciam
como virtualidades a partir do confronto implícito nas veelhas dualidades dicotômicas.
Entre o campo e a cidade, inúmeras outras posições possíveis estão contidas e sugeridas
pela urbanização extensiva. Entre a cidade e seu entorno, as muitas periferias mutantes
e mediadoras se reinventam a partir das velhas realidades que as constituíram e
informaram, produzindo tanto novas centralidades periféricas como espaços marginais
centrais. Assim também entre a sociedade urbano-industrial e a selva, inúmeras
posições terceiras se inscrevem, exemplificadas nas múltiplas fronteiras amazônicas, nos
variados e complexos limites entre cidade e selva, nos novos e inclusivos encontros
entre a ´barbárie´ e as (pós)modernidades.
Finalme te,à oà últi oà textoà doà li o,à Cidadesà
asilei as:à elhosà p o le as,à o asà
leitu as ,àJo oàJúlioàVit alàdis uteàu àout oàtipoàdeàf o tei a,àasàf o tei asàdis ipli a es,àà
frente ao desafio da compreensão do urbano contemporâneo no Brasil. O autor insiste
nesta especificidade: mesmo num mundo em que a globalização avança, com seu poder
homogenizador aproximando as diferentes realidades urbanas, as cidades em nosso
país guardariam características próprias que as distinguiriam de outros tipos de
aglomerações, como as cidades européias ou norte-americanas. Não é possível, a seu
ver, aplicar indiscriminadamente a cidades específicas esquemas explicativos forjados a
partir de ealidadesà di e sas.à à “eà u aà g a deà et poleà o à taxasà de es e tesà doà
crescimento industrial e uma elevação das taxas de crescimento do setor terciário fosse
o suficiente para atestar a transição da cidade industrial para a cidade pós industrial, a
idadeà deà Be li à j à seà e o t a iaà aà faseà p sà i dust ialà desdeà oà fi alà doà s uloà XIX. àà
Frente a isso, João Júlio se interroga sobre o tipo de produção teórica que se tem
produzido sobre a cidade brasileira, apresentando uma resenha cuidadosa da mesma,
numa perspectiva genealógica. Depois de acompanhar as diversas ondas de recepção de
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modelos explicativos que vêm sendo aplicados na interpretação de nossa realidade
urbana, indaga-se, então, sobre a questão da multi (ou trans-) disciplinariedade, e a
pertinência deste tipo de abordagem para um objeto tão multifacetado quanto o
urbana. Esta perspectiva parece-lhe fértil, especialmente se, de forma diferente das
interpretações tradicionais, que têm lido a cidade brasileira a partir da industrialização,
a proposta seja olhá-laà aà pa ti à deà u à olha à a
ie talista .à à Nu aà pe spe ti aà
ecológica, numa visão que dialogaria, por exemplo, com a termodinâmica, caberiam
idéias como a de entropia, que viriam iluminar por outro ângulo nossa trajetória urbana,
permitindo- os,à
u aà esp ieà deà utopiaà et o e sa,à olha à pa aà t s,à olha à aà
industrialização pela qual optamos, juntamente com outros países latino-americanos, e
osàpe gu ta àseà
oàse iaàpossí elàu àout oà odo .à
Referências bibliográficas:
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Urbanização Brasileira: Redescobertas
Leonardo Barci Castriota
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RESUMO:
Se a urbanização vem sendo cada vez mais discutida no Brasil, ela ainda continua a ser
encarada predominantemente de um ponto de vista estatístico-demográfico e
econômico.
Neste quadro, onde se negligencia a componente espacial, cabe-nos
perguntar pela contribuição que os arquitetos e urbanistas teriam a dar numa leitura do
fenômeno urbano contemporâneo no Brasil. Qual seria a sua perspectiva específica ao
i te oga e à oà
o teúdoà eà oà sig ifi ado à daà u a izaç oà
asilei a?à à Co oà seà
analisariam, sob sua ótica, as transformações trazidas às nossas cidades pela
globalização e reorganização produtiva das últimas décadas? Essas questões são
respondidas por este livro, que reúne contribuições de pesquisadores da área das
principais universidades brasileiras.
NOTAS:
1
No que se refere especificamente ao patrimônio arquitetônico, a sua concepção inicial, muito
presa ainda à idéia tradicional de monumento histórico único, vai sendo ampliada: tanto o
conceito de arquitetura, quanto o próprio campo de estilos e espécies de edifícios considerados
dignos de preservação expandem-se paulatinamente. Assim, ao longo do século XX, vão
penetrando no campo do patrimônio conjuntos arquitetônicos inteiros, a arquitetura rural, a
arquitetura vernacular, bem como passam a se considerar também etapas anteriormente
desprezadas (o ecletismo, o Art Nouveau), e mesmo a produção contemporânea. Aqui, aos
critérios estilísticos e históricos vão se juntando outros, como a preocupação com o entorno, a
ambiência e o significado. Françoise Choay, num importante trabalho de delimitação teórica da
questão, chega a identificar uma tripla expansão desse conceito: cronológica, tipológica e
geográfica. (CHOAY, 2001).
2
Segundo o Relatório do United Nations Centre for Human Settlements (HABITAT), Cities in a
globalizing world, nos últimos anos pode-se detectar em muitos lugares “uma mudança na atitude
dos governos urbanos de uma perspectiva gerencial para uma baseada no empreendedorismo”.
Essa última visaria a cidade “como um produto que precisa ser divulgado”. “Essa perspectiva de
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marketing e a ênfase na reestruturação da cidade de maneira que ela atraia o capital global, levou
à dominância dos interesses econômicos no processo de tomada de decisão no planejamento
urbano.” (HABITAT, p. 26)

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