Trovadorismo e Humanismo

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Trovadorismo e Humanismo
TROVADORISMO
Depois da queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C) a Europa viu-se na miséria e as causas para isso foram a corrupção,
as invasões bárbaras, o excesso de fundos para o exército, o despotismo, o crescimento desordenado das cidades, as
hostilidades entre as classes sociais, a escravidão e as pestes.
Os povos bárbaros, que acolheram aspectos do cristianismo, a materialização de certos dogmas, causando a vulgarização e o
desvirtuamento da doutrina mais os problemas graves que assolavam a Europa contribuíram para a popularização do
cristianismo.
Os feudos começavam a se estruturar pois as invasões e as guerras faziam com que as pessoas indefesas procurassem
pessoas poderosas que possuíam fortalezas e exército estruturado para defesa própria.
No feudalismo, as classes sociais eram as seguintes:
Senhor (suserano): dono das terras.
Vassalo (Servo): receptores das terras do suserano, trabalhavam e respeitavam o senhor em troca ganhavam alimentos para
sobreviver, proteção militar e judiciária. Muitos deles começaram a receber lotes como pagamento tornando-se também senhores
feudais.
Camponeses: Pessoas simples donas de pequenas propriedades.
Através da igreja católica foi forjado o trabalho dos vassalos e a moral da época, além disso, a Igreja possuía mais de 2/3 das
terras da Europa, sendo a instituição mais rica da Idade Média.
Tanto nas correntes filosóficas gregas quanto no trovadorismo pode ser notada a idéia de uma inteligência superior e perfeita e
ambas pregam a necessidade do aprimoramento do espírito por meio do sofrimento e/ou resignação.
Filósofos da Igreja: Santo Agostinho (Alta Idade Média) / São Tomás de Aquino (Baixa Idade Média)
Santo Agostinho acreditava que a perfeição não podia ser alcançada neste mundo mas sim em outro plano. Acreditava também
que a verdade estava no Cristianismo e que a interiorização era o caminho para a verdade. Para Santo Agostinho, Deus era uma
síntese do mundo das idéias de Platão E estariam inscritas nEle as verdades perfeitas e as formas essenciais imutáveis.
Havia também a escolástica, um pensamento que contrariava as premissa básica da racionalidade filosófica, já que considerava
que tudo emanava da vontade de Deus e que o dever dos filósofos era provar esta verdade.
São Tomás tentou demonstrar que a fé e a razão não são incompatíveis mas apenas duas fontes diferentes de conhecimento e
que uma pode oferecer elementos preciosos para a reafirmação da outra. Este é considerado o mais certo.
As semelhanças entre Aristóteles e S. Tomás são que os dois acreditavam que o movimento eterno e contínuo do tempo e das
mudanças emanava de um princípio gerador.
As diferenças é que Aristóteles acreditava que Deus não conhecia o mundo, passando a eternidade se autocontemplando e S.
Tomás acreditava que Deus havia criado o universo então o conhecia conhecendo a si mesmo.
A Idade Média pode ser dividida em três períodos culturais distintos:
-Economia Natural (Início);
-Cavalaria Galante (Alta Idade Média);
-Cultura burguesa urbana (Fim).
Os pontos de divergência entre as artes medievais eram os clássicos e os cristãos. Os primeiros acreditavam na beleza formal (o
corpo) e os cristãos acreditavam nos desígnios do espírito (o interior).
As artes na Idade Médias passam a ser um instrumento de estudo de religião no período.
Trovadorismo é um estilo literário da Idade Média que se inicia oficialmente com a composição da Cantiga da Ribeirinha (Cantiga
da Guarvaia), escrita por Paio Soares de Taveirós, em 1189 (ou 1198).
Os poemas dessa época eram chamados de cantigas pois eram todos eles cantados, acompanhados de instrumentos musicais
como violas de arco, flautas, alaúdes, pandeiros, saltérios e sonalhas. (Assim como acontecia na lírica grega).
As cantigas trovadorescas se dividem em:
LÍRICAS: Falam sobre amor e amigos;
Cantigas de amor: tem eu-lírico masculino, lamenta que seu amor não pode ser realizado por ser de classe social diferente. Tem
origem na cidade de Provença (França).
Cantigas de amigo: tem eu-lírico feminino (embora o autor fosse homem), lamenta a ausência do amigo (amante). Tem origem
na península Ibérica.
SATÍRICAS: Falam sobre escárnio e maldizer.
Cantigas de Escárnio: Falam mal de uma pessoa indireta e sutilmente.
Cantigas de Maldizer: Falam mal de uma pessoa diretamente, usando linguagem chula.
O eu-lírico ou eu-poético é a pessoa que expressa os sentimentos na poesia, podendo ou não ter o mesmo sexo do autor.
Na península ibérica, durante o trovadorismo, o idioma falado era o GALEGO-PORTUGUÊS.
O apogeu do trovadorismo português ocorreu no reinado de D. Afonso III, seu filho, D. Dinis foi o grande trovador da época, que
escreveu 138 cantigas de vários gêneros numa linguagem vibrante e harmoniosa.
Cancioneiros são livros ou coletâneas de cantigas, os mais importantes são o Cancioneiro da Vaticana, o Cancioneiro da Ajuda e
o Cancioneiro da Biblioteca Nacional.
Os trovadores, para dar sentido ao texto, utilizavam o senhal, que era um pseudônimo ou metáfora poética, no lugar de seus
nomes.
Além das cantigas, o trovadorismo teve seu gênero narrativo, semelhante as epopéias greco-latinas, já que contavam aventuras
dos cavaleiros errantes da Idade Média nas Cruzadas, a obra que marca o início deste gênero é a Canção de Rolando, escrita
por Turold, no século XI.
As novelas de cavalaria tinham vários ciclos:
Ciclo Bretão ou Arturiano: Conta os feitos heróicos do rei Arthur e dos cavaleiros da Távola Redonda em busca do Santo Graal
(Cálice sagrado contendo o sangue de Cristo);
Ciclo Amadis: Conta os feitos de Amadis de Gaula, cavaleiro bretão, filho de um amor proibido;
Ciclo Carlovíngio: Conta os feitos militares de Carlos Magno, imperador francês;
Ciclo Greco-Latino: conta tradições mitológicas desses povos, dando uma roupagem medieval a elas.
Abaixo um quadro comparativo entre as cantigas de amor e as de amigo:
CANTIGA DE AMOR
CANTIGA DE AMIGO
Eu-lírico Masculino (senhora/dona);
Eu-lírico Feminino (amigo/ amado);
Amor impossível (eu-lírico de classe diferente, gerando a
Coita-D'amor);
Amor possível, físico;
Vassalagem Amorosa [a mulher é "mais bela" (panegírico,
elogio impossível)];
O homem está sempre fora, na guerra ou a serviço do rei
(Coita-D'amor);
Ambiente Palaciano e Linguagem Formal;
Ambiente Campestre e Linguagem Informal;
Contém refrão;
Contém refrão;
Teocentrismo;
Pode ou não haver teocentrismo;
Não ocorre diálogo.
A mulher faz confidências à mãe, às amigas ou à natureza.
Dependendo do tema amoroso, as cantigas de amigo podem ser classificadas em:
ROMARIAS: tema religioso;
BAILIAS: bailes;
BARCAROLAS: vida litorânea, ligadas ao mar;
ALBAS: amantes que se separam ao amanhecer;
PASTORELAS: ligadas à vida pastoril;
SERRANILHAS: ligadas à vida serrana;
leixa-pren: deixa-e-prende: recurso de repetição de certos versos, formando o refrão.
HUMANISMO
Humanismo é o período intermediário entre o mundo medieval e o mundo clássico e inaugura um período que a história chamou
de Renascimento. Neste período o homem passou a ser o centro dos pensamentos, em substituição ao teocentrismo.
A dinastia de Avis surgiu quando D.João I, filho bastardo de D.Pedro I, irmão de D.Fernando, liderou uma revolução contra a
rainha, já que queria anexar Portugal à Espanha, e foi vitorioso, tornando-se rei, fundando a dinastia de Avis. Como D. João I era
um homem culto ele contribuiu com o início de um novo período da Literatura Portuguesa.
O humanismo português tem seu início controvertido: alguns acham que foi em 1418, quando Fernão Lopes foi designado
guardador-mor da Biblioteca da Torre do Tombo. Outros acham que foi em 1434, ano que Fernão Lopes foi nomeado Cronistamor do Reino. O humanismo dura até 1527, data do início do classicismo.
Fernão Lopes foi chamado de "Pai da História Portuguesa" e de "Um Historiador superior a seu século". Escrevia crônicas de
caráter histórico com sensibilidade, inteligência e habilidade de concatenar os fatos. Escreveu a história tomando por base
documentos fiéis a realidade.
A prosa didática foi desenvolvida a partir do século XV e contribuiu com o aumento do conhecimento popular, tinha a finalidade
de doutrinação dos fidalgos e nobres, educando sobre procedimentos adequados à vida cortesã. As principais obras foram feitas
por reis, e vale destacar:
Livro de Montaria, de D. João I;
Livro de Falcoaria, de Pêro Menino;
Leal Conselheiro e Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela, de D. Duarte;
Livro da Virtuosa Benfeitoria, D. Pedro.
As poesias produzidas no humanismo se diferenciam das poesias trovadorescas no sentido e na qualidade, a poética era mais
estilizada e a natureza do amor passou a ser mais discutida. Foram reunidos no Cancioneiro Geral, mais de mil poesias de 286
poetas, o cancioneiro do humanismo.
O teatro de Gil Vicente, ou Vicentino, é caracterizado por ser uma arte popular, com tal valor, talento e graça que pode ser
apreciada tanto pelo nobre quanto pelo povo.
As personagens de Gil Vicente eram divididas entre as PERSONAGENS TÍPICAS, que eram tipos extraídos do cotidiano,
representando várias posições sociais: o sapateiro, a freira, o ladrão, o camponês, o nobre.... Tinham também os TIPOS
FANTÁSTICOS, que originavam da imaginação: santos, anjos, demônios, estações do ano...
Além desses personagens, existiam os TIPOS ALEGÓRICOS, que representam instituições: como a Igreja Católica, vícios e
virtudes da sociedade.
As produções vicentinas são escritas em linguagem simples, em versos, e se dividem em quatro categorias:
Autos: Peças de teatro curtas com fundamento religioso. Exemplos são a Trilogia das Barcas (de 1517/18), compondo o "Auto da
barca do inferno" / "Auto da barca da Glória" / "Auto da barca do purgatório";
Teatro romanesco: Temas extraídos de novelas de cavalaria;
Fantasias Alegóricas: As personagens representam instituições, vícios e virtudes sociais. Ex.: Nau de Amores (1527)
Farsas: Peças curtas que criticam os costumes populares. Ex: Farsa do Velho da Horta (1512).

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