livro congregação parte iii - Missionários do Espírito Santo
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livro congregação parte iii - Missionários do Espírito Santo
TERCEIRA PARTE A RESTAURAÇÃO DA PROVÍNCIA (DE 1910 AOS NOSSOS DIAS) 255 Capítulo 28 1919 - A restauração da Província O P. Moisés Alves de Pinho foi a Chevilly fazer com os seus coetâneos a Consagração ao Apostolado e aí recebeu “obediência” para professor de Teologia no Escolasticado de Carnide. Não teve sequer ocasião de dar a sua primeira aula: durava ainda o Retiro Anual do Escolasticado, com que se inaugurava o ano lectivo e que ele orientava, quando estalou a Revolução de 1910. Foi preso e enxovalhado, como outros confrades e outros religiosos entre Artilharia Um e o Forte de Caxias, até que na tarde do dia 15 de Outubro foi restituído à liberdade, com a imposição de ou se expatriar ou renunciar à vida religiosa. Lá voltou para Chevilly. Ali e em Langonnet foi professor e até director do Escolasticado durante a Guerra de 1914, devido à mobilização do director efectivo. O P. José Maria Antunes, que vira o seu provincialato violentamente interrompido pela Revolução e que estava muito bem relacionado com a alta política, ficara em Lisboa, a fim de ir sondando o ambiente à espera de uma possível abertura na política vigente. E por sua sugestão fundara-se em 1913, sob a direcção do P. Cardona, uma casa de formação para os seminaristas menores portugueses, sob o título disfarce de “Academia de Lenguas de San Atilano”, a fim de se ir preparando a esperada mudança das coisas. Mas esta mudança demorava. Levou tempo até que as influências do P. Antunes e outros conseguiram que o Ministro das Colónias, Rodrigues Gaspar, abrisse de novo a porta aos institutos missionários. Em 1919, ao realizar-se em Chevilly, o Capítulo Geral da Congregação do Espírito Santo, o Superior Geral, Mons. Le Roy, nomeia o P. Pinho Provincial de Portugal, com a missão de restaurar a Província. Foi já nesta qualidade que ele tomou parte no Capítulo, como membro de direito. Acabado o Capítulo, o P. Pinho reentra em Portugal com 500 francos no bolso. Pedira ao Superior Geral um abono para as primeiras despesas e este deulhe um vale para ele poder levantar 500 francos na Procuradoria. Porém, nessa mesma tarde, recebeu a visita de um velho amigo, sacerdote bretão a quem se ligara de amizade nos seus tempos de Langonnet, que lhe disse: - Sei que vai partir e que é muito difícil a missão que leva. Tome lá esta pequena ajuda. Entregava-lhe mais 500 francos, que o P. Pinho agradeceu. Mal ele se retirou, porém, o seu primeiro gesto foi rasgar o vale do Superior Geral e não levantou 256 Adélio TORRES NEIVA nada na Procuradoria. Ia confiar totalmente na Providência, que lhe acabava de dar um tão claro sinal dos seus desígnios. E partiu para Lisboa. A situação da Província Nessa altura a Província portuguesa estava reduzida à Procuradoria das Missões em Lisboa, alojada em casa alheia, e a um embrião de Escolasticado Menor em Zamora, que, nascido na véspera da Grande Guerra de 1914, nunca chegou a desenvolver-se por falta de recursos. Um grupo de padres tinha-se juntado numa pequena casa na Covilhã. Desde 1870 tinham falecido nas colónias portuguesas 57 padres, 55 Irmãos e 7 escolásticos. A Província contava nessa altura, 46 padres, 64 Irmãos e 5 escolásticos professos. Os padres eram: Manuel Alencar, Jerónimo Almeida, João José Terças, Manuel António Alves, Lourenço André, Lúcio dos Anjos, José Manuel Antunes, Arnaldo Nunes Baptista, Manuel Barros, Luís Barros da Silva, Manuel Braz, Luís Cancela, João Cardona, António Cardoso, Joaquim Alves Correia, José João Cruz, Manuel Dias da Silva, Manuel Donado, Frederico Duff, Albino Faria, António Gomes Fernandes, Jerónimo Ferreira, José Maria Figueiredo, Miguel Fonseca, Isaías Fontes da Silva, Daniel Gomes Junqueira, Manuel Antunes, Manuel Misseno Grillo, Faustino Moreira dos Santos, Francisco Nunes da Silva, José Pacheco Monte, Álvaro Ferreira Alves, Joaquim Pereira, José Pinheiro, Moisés Alves de Pinho, António Ramoa Fernandes, Manuel Ramos Pinto, Joaquim Moreira, António Rodrigues Pintassilgo, Agostinho Rodrigues Pintassilgo, Aniceto Juliano, José Silva, Manuel Borga, António Ribeiro Teles, José Alves Terças, Domingos Vieira. Os escolásticos sobreviventes eram: António Baptista, José Cosme, Manuel de Jesus Raposo, Avelino Dourado e César Ferreira. Irmãos: Álvaro Moita, António Pereira, Adélio Cangueiro, António Silva, Albano Nascimento, Augusto Soares, Aleixo dos Ramos, Abel Martins, Ângelo Bicho, Manuel Alberto da Silva, Arnaldo Fonseca, Armando Claro de Oliveira, António Lourenço, António Pereira, Agostinho Alves da Trindade, Bento dos Santos, Brito da Silva, Belchior Ferreira, Boaventura Azevedo, Bernardo Nogueira, Camilo Jorge, Carlos de Sousa, Celestino de Oliveira, Cristiano Pacheco, Cláver Fernandes, Celerino Cordeiro, Caetano Maria Castelino, Domingos Martins, Duarte Vaz, Diogo Dias, Estanislau Carrilho, Ernesto Martins, Emílio de Oliveira, Francisco de Faria, Fernando Fernandes, Frutuoso da Silva, Francisco de Assis Martins, Juliano Dantas, Gonzaga Cabral, Geraldo Martins, Gregório Gomes, G. Antunes, Hermenegildo Nogueira, Hilário da Rocha, S. Alves, José Lopes de Sousa, Justino Sá Silva, Júlio Lopes, João de Deus Oliveira, Januário Ribeiro, João Baptista Ferreira, Luís Gonzaga da Silva, Lourenço Manuel, Lucas Ferreira, Luciano Ferreira, Marcelino Martins, Marcos Rodrigues, Mateus Tomé, Miguel da Silva, M. Couto, Narciso da Costa, Paulo Pinheiro da Silva, Protásio Gomes, Ricardo 1919 - A restauração da Província 257 Pereira, Silvano Gomes, Teodoro Ferreira, Teotónio Gomes, Francisco Xavier Moreira, Valfredo.258 Quanto ao aspecto material, a Província, durante a dispersão provocada pela revolução de 1910, tinha contraído uma série de dívidas, assim escalonadas: 1º desde 1885 a 1910, a Casa Mãe, por empréstimos sucessivos tinha emprestado ao Colégio de Braga 143.200.00 francos que com os juros a 5% de 1910 a 1920 somava 233.257.60 francos. 2º Em 1910 a Província tinha recebido da Casa Mãe diversas mercadorias. Desde 1910 a 1920 teve que pagar as despesas das viagens dos membros da Província de Portugal, refazer enxovais dos membros despojados de tudo, pagar pensão aos doentes, o que perfazia a soma de 258.196.70 francos. 3º Dívidas em Portugal: Em 1910, no dia da dissolução, o Colégio de Braga devia a diversos fornecedores e a pessoas da região, a soma de 74.805.95 francos.259 O projecto de restauração da Província Através da correspondência e das circulares do P. Moisés A. Pinho, podemos detectar algumas prioridades que ele trazia para a restauração da Província: 1. Reunir os confrades que, em razão da proibição de conviverem mais de três em cada casa, se haviam espalhado e viviam com o clero secular ou nas suas terras de origem e os que tinham partido para outras casas da Congregação fora do país. Efectivamente, sacerdotes e irmãos, com a dispersão de 1910, seguiram vários caminhos: muitos refugiaram-se em casas da Congregação no estrangeiro, outros ficaram nas famílias ou prestando serviços em paróquias. Todo este pessoal tinha de regressar às comunidades em Portugal. Era a primeira fase necessária e urgente a efectuar na restauração da Província. Não foi fácil este trabalho para o P. Pinho. No estrangeiro, as comunidades contentes com os serviços prestados pelos portugueses, sobretudo irmãos, iam adiando a autorização de regresso. O P. Pinho não desanima. Escreve, fala, insiste com os superiores para que lhes restituam os membros da sua Província. O P. Pinho chegou a escrever ao Superior Geral uma carta em que lhe dá conta desta dificuldade e chega mesmo a manifestar-lhe a sua vontade de desistir do trabalho de que o encarregou. Mas logo escreveu outra carta a pedir perdão de uma tal atitude. Para os que estão fora da comunidade em Portugal e quer que a ela recolham é sempre dialogante e preocupado com encontrar a melhor solução. 2. Uma segunda linha de força era promover o recrutamento vocacional, sendo para isso absolutamente necessário encontrar uma casa para acolher as vocações que a animação vocacional despertasse. 3. Angariar meios financeiros para desenvolver as obras da Província: pregações, retiros, fundar um órgão de comunicação social para a propaganda 258 259 AGCSSp. B. 461-D-4 Ibid. B 463 CH – VI 258 Adélio TORRES NEIVA (Revista Missões de Angola e Congo), restaurar a “Associação de Orações e Boas Obras pela Conversão dos Pretos” (Associação de Nossa Senhora de África), pedir empréstimos à Casa Mãe para obras de maior vulto, abrir uma rede de amigos, nomeadamente antigos alunos dos colégios da Congregação, pedir ao Governo subsídios para as missões e para a formação dos futuros missionários, solicitar a ajuda dos missionários e das missões na medida das suas possibilidades. Quando em 1919 chegou a Portugal o P. Pinho encontrou nos cofres da Congregação a magra quantia de 12.989$00. Este dinheiro era pouco, não dava para nada. As dívidas que a contabilidade Geral da Congregação tinha amontoado sobre as obras de Portugal eram de 37.634$00. Era preciso pagar esta dívida. Solicitou um abono à Administração Geral da Congregação, procurou descobrir benfeitores, obter donativos, aceitar trabalhos de colaboração paroquial para ele e para os que com ele cooperavam. Escreve cartas, circulares, publica pequenas revistas que põem os leitores ao par das necessidades das suas obras e Missões. Envia emissários aos Estados Unidos para a propaganda do ideal da Congregação e a confissão das suas dificuldades. 4. Para que as missões pudessem ter o pessoal português exigido pela lei, pedia e aceitava nas obras de formação da Província pessoal estrangeiro, ainda que doente e com algumas dificuldades, excepto em lugares de chefia nas obras de formação, para as quais seria necessário pessoal qualificado, tanto quanto possível português. 5. Estava particularmente atento às dificuldades dos familiares dos confrades, dando-lhes subsídios e ajudas, caso precisassem, a fim de que os confrades pudessem regressar à vida de comunidade. O itinerário da restauração A primeira coisa que P. Moisés Alves de Pinho fez ao chegar a Portugal foi prometer ao Sagrado Coração de Jesus que, se lograsse o seu intento de restaurar as obras da Congregação em Portugal, faria solenizar com especial devoção, em todas as casas de formação que na Província viessem a fundar-se, a “Primeira Sexta-Feira” de cada mês, fomentando ao mesmo tempo e por todos os modos, a confiança naquele Santíssimo Coração. Foi a 16 de Setembro de 1919.260 A 6 de Outubro, partiu de Braga para Lisboa, a fim de contactar com a Procuradoria das Missões, que então funcionava na Travessa Lázaro Leitão, a Santa Engrácia, com alguns confrades. Aí lhes pregou o retiro anual e os pôs ao corrente dos projectos que trazia para a restauração da Província. Em seguida, nomeou um Conselho Provincial, que o ajudasse na reorganização da Província: para assistentes escolheu o P. José Maria Antunes e o P. João Cardona; como conselheiros os P. António Ribeiro Teles e Clemente Pereira da Silva. Procurador das Missões: P. José Terças. Procurador ou ecónomo provincial: P. João Cardona. 260 AGCSSp. Carta de 4/2/1921 1919 - A restauração da Província 259 Na Procuradoria das Missões, ficavam o P. Cardona, como superior e ecónomo, e os PP. Antunes e Terças. Para os diversos serviços ficavam os Irmãos Augusto e Serafim. Depois, o P. Pinho visitou na capital algumas pessoas que o pudessem ajudar e fez uma digressão pelo país a fim de angariar e arregimentar de novo os poucos missionários que estavam de férias na Europa (os padres Alves Correia e Pacheco Monte) e alguns que, como o P. Antunes, haviam ficado em Portugal, espalhados e sem viverem em comunidade, pois a lei proibia terminantemente que se reunissem mais de três. Em Braga tinha encontrado o velho Irmão Francisco Faria, que ficara de guarda no Charqueiro e conseguira salvar alguns móveis e paramentos do Colégio do Espírito Santo. A Quinta do Charqueiro era uma pequena propriedade, na Rua Bento Miguel, nº 18, mesmo ao pé do cemitério de Braga, alugada pelo Colégio para cultura de hortaliças frescas para seu sustento, e onde o Irmão ficara após a revolução de 1910, sempre considerado como um criado, iludindo assim a legislação de perseguição às Congregações Religiosas. Era no local onde hoje está situado Colégio D. Diogo de Sousa. Em Braga encontrou também o P. Pinho alguns antigos Alunos deste colégio, cuja simpatia e permanente amizade pelos Antigos Mestres, foi para ele de grande conforto. Particularmente reconfortante foi o apoio que sempre recebeu do Arcebispo de Braga, D. Manuel Vieira de Matos. No Charqueiro abrir-se-ia a primeira comunidade a 15 de Outubro de 1919. O Charqueiro, porém, não era solução e poderia apenas remediar - mal - por um ano: casa de quinta, com dois ou três quartos; um barracão para capela; um palheiro que, dividido em duas partes, seria dormitório e sala de estudos. Foi para aqui que foram transferidos os alunos vindos de Zamora. Como no ano seguinte vagasse o Colégio de S. Tomás, à Rua Visconde de Pindela, perto da estação de Braga, o P. Pinho logo o alugou, confiando-o à direcção do P. Clemente Pereira da Silva, que há pouco acabara, na Universidade de Friburgo, os seus estudos teológicos. Aqui nasceu a nova comunidade do Santíssimo Redentor, em Setembro de 1920; nela couberam os alunos do 3º, 4º e 5º anos, vindos de Zamora, os do 2º saídos da Rua Bento Miguel e os novos admitidos naquele Outubro. Este colégio veio a servir até 1929. Entretanto o P. Pinho comprara a Quinta do Visconde de Valbom, no Fraião e em 1929 era aqui inaugurado o primeiro pavilhão da nova construção. Em 24 de Novembro de 1920, Bento XV aprovava, indulgenciava e concedia vários privilégios à Associação de Nossa Senhora de África. A 21 de Janeiro de 1921 o Superior Geral obtinha da Santa Sé autorização para a erecção e funcionamento de um Noviciado de Irmãos em Braga, podendo servir ocasionalmente também para clérigos. Em Janeiro de 1921 aparecia o primeiro número da revista Missões de Angola e Congo, órgão da Associação de Nossa Senhora de África e instrumento da propaganda das obras da incipiente Província. Neste mesmo ano de 1921, o P. Pinho propõe à Casa Mãe que os serviços 260 Adélio TORRES NEIVA prestados pelos Irmãos e outro pessoal português em França, desde 1911 a 1920 sejam para pagar as dívidas da Província à Casa Mãe e que a partir de 1 de Janeiro, a Província de Portugal tome a seu cargo as despesas com as casas de formação, pedindo que para os escolásticos e noviços seja estabelecida uma pensão igual à dos aspirantes de França.261 O P. Pinho pensava efectivamente que a partir de 1 de Janeiro de 1921 a Província estaria habilitada a arcar com todos os seus encargos. E pede à Casa Mãe para lhe mandar a factura de todas as despesas que a Província assumisse a partir dessa data.262 Efectivamente por decisão do Conselho Geral de 8 de Maio de 1921, a Casa Mãe perdoava à Província todas as despesas que Província de Portugal contraíra para com ela, de 1910 a 1921, entrando nessa data a Província de Portugal na situação de todas as outras Províncias. O texto desta decisão reza assim: “A pedido do Superior Provincial de Portugal, considerando que a Província de Portugal reconstituída, após 10 anos de interrupção, não pode suportar as dívidas que outrora tinha para com a Procuradoria Geral, e que por seu lado a Procuradoria Geral terá para saldar estas dívidas a indemnização dada à Congregação pelo Tribunal de Apelação de Haia, a cargo do Governo Português, o Conselho Geral considera desquitada a Província Portuguesa de todas as despesas feitas de 1910 até ao primeiro de Janeiro de 1921, por todos os membros desta Província, quer aspirantes quer reformados. No futuro, a partir do primeiro de Janeiro, a Província de Portugal entra na situação ordinária das outras Províncias, com as mesmas disposições sobre os seus recursos, as suas receitas e os seus encargos. Paris, 13 de Maio de 1921. O secretário Geral. (Extraído do Registo das deliberações)”.263 Em 1922 é nomeado Procurador das Missões e superior da Casa de Lisboa o P. Joaquim Alves Correia; o P. Miguel Fonseca é nomeado Procurador da Província. Neste mesmo ano é oferecida à Congregação pela Viscondessa de Montedor uma quinta na Abelheira, a quinta de Nossa Senhora das Sete Dores, que conviria para postulantes novos e padres em descanso. Mas o P. Pinho achou muito complicadas as condições impostas pela Viscondessa, pelo que a oferta acabou por ser recusada.264 Para conseguir alugar uma casa para Seminário de Filosofia e Teologia o P. Pinho teve de percorrer metade do país, conforme ele confessa em carta de 25 de Agosto de 1922. O P. Pinho tinha a promessa e a garantia da Casa Mãe de que aqueles cursos poderiam ser feitos em França. A ideia descansava-o, mas não o contentava. Custava-lhe ver partir para longe das famílias os alunos. As condições do clima não eram favoráveis aos filhos de uma terra onde o clima era bem mais ameno. Tinha diante dele a triste e desoladora estatística: o número de seminaristas portugueses da Congregação que no passado foram para a França ou Bélgica 261 AGCSSp. Carta de 1/1/1921 Ibid. B. 481 CH –I Ibid. Carta de 18/5/1922 e 4/2/1923 264 Ibid. 4/12/1923 262 263 1919 - A restauração da Província 261 continuar os estudos e lá faleceram devido ao frio e humidade do clima, era demasiado e não se podia considerar normal. A tuberculose, o frio e, durante a guerra de 1914-1918, a alimentação eram factores agravantes. Daí a ideia de abrir em Portugal um seminário para os alunos do Curso Superior. Abriu-o no Salgueiral, lugar de Godim, Régua, em Setembro de 1921 e aí reuniu os poucos jovens portugueses que estudavam nos seminários da Congregação em França. Depois em 1927 fundará o Seminário de S. José, em Godim. Foi uma solução provisória e o P. Pinho continuava a procurar até que lhe chegou uma sugestão da freguesia de Anha, nas vizinhanças de Viana do Castelo. Estava ali, passando férias, um aluno da “Academia de Lenguas” de Zamora, o jovem José Neiva Araújo. O P. Pinho escrevera-lhe, como era seu costume, a animá-lo e aproveitou para lhe perguntar se acaso saberia de qualquer coisa que pudesse servir para satisfazer a necessidade que o preocupava. O Neiva Araújo respondeu que sim, que talvez a solução se encontrasse no velho e arruinado convento das Ursulinas, sobranceiro a Viana, no sopé da encosta de Santa Luzia. O Padre Pinho foi ver. Ficou encantado. Mas ele não se entusiasmava facilmente. Ponderava e reflectia. Mandou lá o P. Clemente com os Irmãos Protásio e Marcelino, os dois grandes construtores das casas da Província. O acordo foi unânime. E o Escolasticado Maior passou, a título definitivo, do Salgueiral para Viana do Castelo. Instalaram-se os escolásticos na parte já utilizável do edifício em 1922; continuou-se a construção e a 8 de Outubro de 1923, instalava-se em Viana a secção B, o primeiro ano de preparatórios, que já não cabia em S. Tomás de Aquino: um grupo de 24 rapazinhos, 19 principiantes e 5 repetentes. Destes, nenhum perseveraria; dos 19 principiantes, três viriam a ser ordenados, entre eles os P. José Felício e Nogueira da Rocha. Em 1923, o P. Pinho anuncia que vai deixar Braga e fixar residência em Viana do Castelo pois é no norte do país que estão todas as obras de formação. No ano seguinte, em 1924, o bispo do Funchal ofereceu à Congregação uma fundação na Madeira, que não foi aceite por falta de pessoal.265 Em 1924 o P. Monte vai para a América visitar a família e passar férias. Aí ficará algum tempo angariando recursos entre os portugueses desse país para a Província, no que foi coadjuvado pelo P. Clemente Pereira da Silva, no ano seguinte. O futuro da Província dependia da consolidação de uma fonte de receita para manter as obras da formação. Nesta altura, estes recursos angariados na América eram a única fonte de receita que a Província tinha. Em 1924 o P. Pinho escrevia: “Desde este momento posso definir exactamente a situação financeira da Província em duas palavras: não temos dívidas nem temos reservas”.266 Em 1924 o P. Cardona parte para as missões, como Superior Principal das missões da Lunda. 265 266 AGCSSp. Carta de 7/3/1924 Ibid. Carta de 8/5/1924 262 Adélio TORRES NEIVA Em 1925, na Procuradoria de Lisboa estavam o Procurador das Missões, P. Joaquim Alves Correia e os Irmãos Xavier Moreira e Narciso Costa. Em Braga, a comunidade da Sagrada Família era composta pelos PP. Cândido Costa, director e ecónomo, Agostinho Pintassilgo, Manuel Vieira e os Irmãos Ricardo Pereira, João de Deus Oliveira, Ildefonso Afonso, Porfírio Pinto da Silva e José Maria Dias. No pequeno escolasticado, comunidade do Ss.mo Redentor, estavam os PP. Clemente Pereira da Silva, como superior e director, Isalino Alves Gomes, Miguel Fonseca e José Cosme e os Irmãos Alípio da Moita, Lucas Ferreira, Antero da Silva, Fortunato Pereira, Alberto da Silva e Lourenço Matias. Nesse ano, metade dos escolásticos menores foram para Viana do Castelo por falta de lugar em Braga. Mais tarde seguiriam para Godim, quando ali foi construído o seminário. O programa seguido no seminário era o mesmo programa dos liceus, dando maior relevo ao latim e reservando a maior parte das ciências naturais para a Filosofia. Em Viana do Castelo estavam os PP. Pinho, superior e director, Daniel Junqueira, Manuel Raposo, António Nunes e Joaquim Costa e os Irmãos Adélio Cangueiro, João Baptista Ferreira, Valfredo Pinheiro, Protásio Ferreira e Daniel dos Santos. Os escolásticos eram 8 no Curso de Filosofia e 2 no de Teologia. A igreja foi-nos confiada de entendimento com a confraria-proprietária e o bispo da diocese. O P. João Cardona, antes de partir para Malanje em 1925, deixou quase pronta a versão portuguesa das Constituições. Em Godim, com o seminário ainda em fase de construção, estavam os PP. António Teles, como director, Giocondo Adriani, ecónomo, e os Irmãos Augusto Queiroga, Serafim Rodrigues e Marcelino Martins. Neste mesmo ano de 1925 foi lançado pelo P. Alves Correia o “Cantai ao Senhor” com orações e cantos para os ofícios litúrgicos e as devoções tradicionais com 400 páginas, segundo o modelo publicado pelo P. Th. Gaeshy, adaptado aos países de língua portuguesa. Foi um manual pelo qual rezaram e cantaram muitas gerações de escolásticos espiritanos. A visita canónica à Província é feita pelo P. Riedlinger, que pregou também o retiro provincial. Em 1927 abre-se o seminário de Godim e em Braga começam as construções do seminário do Fraião. Em 1927, abandona-se a casa da Rua Vitorino Damásio em Lisboa e entra-se em plena posse da Procuradoria em Santo Amaro, depois da casa ter estado à venda; como a casa era muito grande, alugou-se uma parte, que ficava com uma entrada independente.267 Em 1927 é lançada a primeira pedra do seminário do Fraião. Em 1928 estavam já em Viana os Cursos de Filosofia e os dois primeiros anos 267 AGCSSp. Carta de 19/4/ 1927 1919 - A restauração da Província 263 de Teologia, num total de 32, sendo então a casa ocupada já totalmente pelos Escolásticos Maiores. A secção B passara para a nova Casa de Godim, que então o P. Pinho fizera construir e inaugurara em 1927. Em 1929 inaugura parte do seminário do Fraião. No velho solar que então ficava livre, criar-se-ia uma obra de regeneração de padres em crise sacerdotal. Em 1928 fundava-se a comunidade do Porto, na Rua Nova do Regado, destinada, no pensamento do seu fundador, à obra das vocações tardias e consagrada a Santa Teresa do Menino Jesus e assume-se a capelania do Monte Pedral. A 16 de Dezembro de 1928 morre em Paris, um pouco inesperadamente, o P. José Maria Antunes. Em 1929 prolonga-se em Viana do Castelo a ala principal e acrescenta-se um andar sobre parte da casa. Em Godim, nesta altura, o seminário estava já cheio com 73 escolásticos menores, ficando a Casa de Viana reservada para os Escolásticos Maiores. Em 1930 foram as primeiras ordenações em Viana do Castelo. A família do P. Luís Cancela ofereceu um terreno em Vale Mourisco para a Obra dos Irmãos, que se recrutariam na Beira Baixa. A propriedade foi visitada, o povo ajudaria com trabalho e meios, parecia ser uma oferta a aproveitar. Nos finais de 1931, o P. Pinho vai visitar as missões espiritanas de Angola. Enquanto o P. Pinho visitava as missões de Angola, organizava-se um novo seminário na Guarda-Gare, destinado a dar a primeira formação às vocações nascidas nas Beiras. Em 1932 aparecia o jornal de propaganda académica “Entre Nós”, que em 1940 será transformado na “Acção Missionária”. Em 1934 aparecia o Noviciado, sob a protecção do Santo Cura d´Ars, em Fraião, onde no topo do Monte Redondo já funcionavam em casa própria, a obra dos irmãos e o escolasticado menor; ali esperaria a transferência para a Silva. Bastou, portanto, pouco mais de meia dúzia de anos, para a Província não só se reorganizar, como atingir um desenvolvimento superior ao que jamais tivera. 265 Capítulo 29 O regresso a Braga: a Quinta do Charqueiro A pós a libertação do Forte de Caxias, o P. Pinho, por indicação dos seus superiores seguiu para Chevilly, para preencher a vaga de professor do Seminário Maior e dar assistência ao grupo de portugueses que lá continuavam os seus estudos. Uma vez chegado a Chevilly, na França, ali encontrou os seminaristas chegados de Portugal e que estavam dispersos pelos vários cursos. O P. Pinho foi encarregado de ensinar Teologia Fundamental e dar algumas lições de Liturgia. As férias de verão eram passadas na Bretanha, onde a Congregação tinha uma casa em Langonnet, para residência de missionários inválidos em razão da sua idade ou de doença. Esta comunidade tinha um colégio anexo, para a educação das famílias modestas da região. Com a perseguição de 1903, o Colégio ficara vazio, servindo então para alojar os seminaristas durante as férias. Em Agosto de 1914 rebentou a Primeira Grande Guerra e os seminaristas franceses abrangidos pela ordem de mobilização partiram em diferentes direcções consoante as localidades indicadas nas suas cadernetas. Mas houve logo a preocupação de não interromper a vida do seminário. Franceses que ainda não eram atingidos pela lei militar, um grupo bastante elevado de portugueses e irlandeses que frequentavam o Seminário Maior de Chevilly, alguns belgas e holandeses, alguns suíços, um polaco e um italiano formavam um bom número a que se vieram juntar os noviços que, por motivo de interrupção do noviciado, vinham adiantar os estudos. Este bom número de seminaristas, estava com o P. Pinho em Langonnet a passar férias quando rebentou a guerra. Ali permaneceu, de modo que o Seminário de Chevilly passou a funcionar na casa de Langonnet e ali esteve até 1918, ano em que a guerra acabou. Em Agosto de 1919, estando ainda o P. Pinho em férias na Abadia de Langonnet e pensando regressar de novo a Chevilly, para retomar as suas actividades, exercidas antes e durante a guerra, foi chamado pelo Superior Geral, Mons. Alexandre Le Roy. Estava nessa altura a decorrer em Paris o Capítulo Geral da Congregação e o Superior Geral perguntou se seria legal nomear um Provincial para Portugal, onde, na prática, não havia Província. À resposta afirmativa, o P. Pinho começou a fazer parte dos capitulantes e em Setembro seguinte o Superior Geral enviava-o a Portugal com a missão expressa de “com ou sem autorização” encetar a obra do recrutamento e formação de missionários para as Missões de Angola. 266 Adélio TORRES NEIVA É preciso dizer, que, entretanto, a situação em Portugal se ia modificando. Em Dezembro de 1917 tinha triunfado o movimento revolucionário chefiado por Sidónio Pais, que se propunha restaurar a ordem e pôr termo a uma agitação que durava desde 1910. Anulou as penas de exílio decretadas contra o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. António Mendes Belo, e contra o bispo do Porto, D. António Barroso e modificaram-se ou suprimiram-se alguns artigos vexatórios para a Igreja e restabeleceram-se as relações diplomáticas com a Santa Sé, interrompidas desde 1910. Por outro lado, a organização dos católicos para defesa da Igreja começava a ser uma força com que era preciso contar. O próprio P. João Cardona tinha já feito algumas tentativas para sondar o terreno em Fevereiro de 1919 e as coisas pareciam bem encaminhadas quando a tentativa de restauração monárquica no norte de Portugal, arrefeceu os ânimos. Em carta de 19 de Fevereiro de 1919, dirigida ao Superior Geral escreve ele: “Acabo de chegar de Braga, onde falei da fundação da nossa pequena obra ao Sr. Arcebispo e ele acolhe-a com muita simpatia. Penso que V. recebeu a carta em que lhe falava disso. De resto eu tinha já obtido por intermédio do P. Antunes o consentimento do Ministro das Colónias. Ele não me deu uma aprovação formal mas Braga - Escola Apostólica - 1920 disse-me para começar, que se houvesse reclamações, ele não nos inquietaria. Depois de ter falado a Monsenhor, procurava uma casa para isso com o Ir. Francisco. Nessa mesma tarde rebentou o movimento regalista. Aconselharam-me então, entre os quais o Sr. Arcebispo, a não alugar a casa, mas pedir em seguida ao menos a portaria do nosso colégio para aí me instalar. Falei disto a quem de direito, que se não opôs a isso; aconselharam-me, contudo, por muitos motivos, que seria por poucos dias. Então decidi-me a esperar; 15 dias se passaram e na perspectiva de ter de esperar ainda mais um mês ou talvez mais, tomei a decisão de vir a Zamora para lhe escrever, pois lá era impossível. De Braga escrevi-vos duas cartas: uma, a respeito do Escolasticado e a outra a respeito do Colégio do Espírito Santo, que o arcebispo de Braga, pede para abrir como muitos institutos. Em Zamora, espero pelas suas ordens. Se o movimento regalista triunfar em Portugal, as nossas obras retomar-se-ão por elas mesmas bastante facilmente. Em caso contrário será de novo a perseguição. Parece-me, contudo, de toda a necessidade, mesmo neste caso, uma residência em Braga, seja para tentar e recomeçar pouco a pouco o escolasticado menor, como eu ia fazer, seja pelo menos, se a criação do escolasticado se tornar impossível, o que eu O regresso a Braga: a Quinta do Charqueiro 267 não creio, para aí ver e ter os meninos antes de os enviar para aqui. Se quiser, eu irei com o P. Clemente, a quem associaremos um terceiro. De resto, o P. Clemente tem necessidade de mudar de clima, segundo o conselho do médico, pois a ferida não tem melhorado. O terceiro que conviria melhor ir para Braga seria o P. Fonseca e não ficaria descontente. Neste caso eu enviarei aqui o P. Raposo; eu me encarrego de lhe arranjar o passaporte, ele gosta de vir. Poderá também vir o P. Jerónimo Ferreira de Langonnet. Quanto ao Colégio do Espírito Santo, se é sua intenção abri-lo, eu gostaria de o saber para o dizer ao Sr. Arcebispo e a todos os que o perguntarem. A abertura só poderia acontecer, caso os regalistas triunfem. P. Cancela ”.268 Antes de deixar Paris, o P. Pinho, acompanhado pelo Superior Geral, foi ainda ao Ministério da Justiça, para colher informações sobre o recurso interposto no Tribunal de Haia contra a confiscação de alguns bens da Província de Portugal, nomeadamente sobre o Colégio do Espírito Santo, em Braga, aquando da implantação da República. Partindo para Portugal, o P. Pinho passou por Zamora, onde se deteve uns dias e nos princípios de Outubro de 1919 chegava a Braga. Era aguardado na estação pelo Irmão Francisco Faria e com ele se dirigiu para a chamada Quinta do Charqueiro, na rua Bento Miguel, nº 18. Esta Quinta tinha sido alugada pelo Colégio do Espírito Santo que a explorava para guardar os frutos e outros produtos bem como os animais. Com a Revolução de 1910 o Irmão Francisco lá continuou durante este tempo todo, esperando o regresso dos padres e guardando tudo o que pôde defender da pilhagem, sobretudo roupas, alfaias de culto, paramentos e livros. Alguns paramentos guardou-os mesmo na Póvoa de Varzim, sua terra natal. O proprietário da Quinta era o Barão de S. Lázaro. Ali passou o P. Pinho em 5 de Outubro, ouvindo as sugestões do velho Irmão Francisco e estudando o melhor modo de iniciar a restauração da Província Portuguesa. Em Braga, com a ajuda do Irmão Francisco, começou a procurar uma casa apta para seminário menor. Nada se conseguia, nem na cidade nem nos arredores até que o Irmão Francisco lhe deu a solução: “Fui a casa alheia e envergonhei-me, vim para minha casa e remediei-me”, disse-lhe o Irmão Francisco. E explicou: “Viveu-se aqui muitos anos sem o pavilhão novo construído pelo Colégio. Embora com algum sacrifício, podia-se voltar ao antigo, deixando livre o pavilhão novo para o adaptarem ao fim em vista”. A ideia pareceu viável e para meia dúzia de principiantes estava-se servido. Depois se veria. A comunidade escolhida para iniciar a obra era formada pelo P. Pinho, superior provincial e local, P. Clemente Pereira da Silva, ecónomo e director da obra, vindo de Zamora e Irmão Francisco. O primeiro dia da vida da comunidade foi a 15 de Outubro de 1919, dia de Santa Teresa de Jesus, a reformadora do Carmelo. O P. Clemente tinha chegado 268 AGCSSp. B 482 CH - V 268 Adélio TORRES NEIVA na véspera e o P. Pinho estava em Lisboa, na Procuradoria, a pregar o retiro aos confrades. Na véspera chegara também um pequeno escolástico de Zamora, o José Neiva Araújo, de Anha, que estava à espera de fazer o serviço militar. Capela não havia; ia-se à missa e ao terço à igreja de S. Vicente; para as restantes orações havia um pequeno oratório no refeitório. Este refeitório servia também de sala de comunidade, por sinal bastante frio, pois não tinha tecto. O Irmão Francisco partilhava o seu quarto com um jovem da Póvoa de Varzim, seu amigo, que pagava pensão e que estava a tratar da sua saúde. O P. Clemente, durante a ausência do Provincial, ia ficar na casa dos proprietários da quinta, quando eles vinham cá passar alguns dias. O Araújo ficava numas águas furtadas. O rés-dochão era ocupado pelo pessoal doméstico da Quinta e seus pertences agrícolas. Da parte de tarde foi-se ao Sameiro colocar a obra sob a protecção de Maria. No dia 19 foi a visita ao cemitério onde repousavam os confrades do Colégio do Espírito Santo. O Dr. Francisco Torres, antigo aluno do Colégio, foi dos primeiros a pôr-se totalmente à disposição dos Espiritanos. No dia 23, foi a visita ao Arcebispo de Braga, D. Manuel Vieira de Matos, a quem expuseram o projecto de abrir uma residência e um pequeno escolasticado. O Arcebispo prometeu toda a ajuda e facultou a ida às aulas às Oficinas de S. José, que eram a instrução primária do seu seminário diocesano, e permitiu que o escolástico José Neiva Araújo frequentasse as aulas de filosofia e latim no seminário de S. Barnabé. Depois de várias tentativas para encontrar melhor solução para o caso, o P. Pinho desejoso de reunir os aspirantes o mais cedo possível, decidiu-se a fazer ali as reparações necessárias para a casa poder albergar uns 20 pequenos escolásticos que se anunciavam para este primeiro ano. Um mestre-de-obras, amigo e conhecido de outros tempos, veio, achou o projecto viável e fez o orçamento. No dia seguinte, a quantia necessária para a adaptação das obras à sua nova finalidade, e que os padres atribuíram a S. José, foi oferecida por um dos seus devotos e pai de um antigo aluno de Zamora. A 4 de Novembro o P. Pinho, acompanhado do P. Clemente informava o Sr. Arcebispo da sua intenção de ficar na Quinta do Charqueiro e de aí fundar a obra, depois de algumas indispensáveis reparações. Nesse mesmo dia foram também visitar o antigo Colégio do Espírito Santo. Como os operários contratados eram demasiado lentos, o tio do P. Pinho, o P. Abel Alves de Pinho, pároco de Guizande (Feira) prontificou-se a mandar dois paroquianos – pai e filho – de sua arte carpinteiros. Vieram e foram as pessoas providenciais, de resto coadjuvados por mais três de S. Vicente. Dormiam numa dependência do quarto que o P. Pinho ocupava, começavam o trabalho às cinco horas da manhã, à luz de um gazómetro e terminavam-no às 9 da noite. As obras começaram a 6 de Novembro. A mobília veio de Moledo do Minho, onde o pessoal dos colégios de Braga e do Porto costumava ir passar as férias em casa alugada e que lá ficaram quando os colégios foram encerrados. O proprietário da casa não fez dificuldade e por precaução, mesas, carteiras, camas e louças, foram transportadas, durante a noite em carros de bois, por lavradores O regresso a Braga: a Quinta do Charqueiro 269 de Anha, freguesia do concelho de Viana do Castelo. A 12 de Novembro recebiam a visita de D. José de Lencastre, antigo aluno do Colégio, que se ofereceu para tudo o que fosse preciso, inclusive para emprestar o seu nome para o aluguer ou compra da Quinta. Entretanto, tanto o P. Pinho como o P. Clemente não se poupavam a fazer pregações e animação vocacional por diversas terras. A 18 de Dezembro, o P. Pinho parte para Lisboa para tratar de importantes negócios de propaganda e de administração, mas passou pela Guarda, onde o bispo desejava vivamente a presença dos Espiritanos na sua diocese, sobretudo para a direcção espiritual do seu seminário, actualmente ao cuidado do P. Agostinho Pintassilgo. Aproveitou também para visitar os confrades que depois da República viviam fora de comunidade como o P. Agostinho Pintassilgo, José Pinheiro, Jerónimo Almeida, todos da Covilhã. No dia 29 de Dezembro chegava o Ir. Antero, há muito esperado, acompanhado de dois postulantes da Covilhã, o Manuel da Silva Mateus e o José Maria Figueiredo, que seriam as primícias desta obra. E outros postulantes foram chegando pouco a pouco, estando o dia da entrada marcado para o dia 7 de Janeiro. Foi necessário pedir ao proprietário da Quinta algumas mesas, cadeiras, bancos e coisas necessárias para a capela. O pequeno grupo de estudantes, uma meia dúzia, começou as aulas de instrução primária nas Oficinas de S. José, a 8 de Janeiro. A 13 de Janeiro chegava o P. Joaquim Alves Correia, da missão da Nigéria, que veio colaborar como professor, o que permitiu iniciar as aulas do primeiro ano do curso do liceu. A inauguração da capela foi a 29 de Janeiro, sendo já 15 os alunos: sete ou oito eram do primeiro ano e os restantes da instrução primária. Nesta altura a comunidade estava já definitivamente formada: P. Pinho, provincial e superior local, P. Clemente, director da Obra e P. Alves Correia, professor. As aulas do primeiro ano eram dadas pelos Padres Clemente e Correia, ficando o P. Pinho mais livre para continuar a procurar uma melhor solução para o caso. As aulas começaram a 7 de Janeiro de 1920, suprimiram-se as férias da Páscoa, retardaram-se um pouco as do verão e assim o ano lectivo pôde ser vencido. Havia também algumas vocações para Irmão Auxiliar, ficando estas a cargo de um Irmão, vindo das Missões para retemperar a saúde.269 Entretanto, enquanto o P. Clemente se multiplica em pregações nas igrejas da cidade de Braga, o P. Pinho continua a procurar uma casa que possa albergar uns 50 rapazes. A 28 de Março começa a inclinar-se para o Colégio de S. Tomás de Aquino, que devia fechar esse ano. No dia 31 fala-se já em dificuldades ultrapassadas para se passar para o colégio de S. Tomás. E no dia 2 de Abril os três padres iam visitar o colégio. A 15 de Abril, vítima de um tumor nos intestinos, faleceu o Irmão Francisco 269 PINHO, D. Moisés Alves de. Memórias p. 138-141 270 Adélio TORRES NEIVA José de Faria, que ultimamente se encontrava doente. Foi uma grande perda para a comunidade, pois o Irmão Francisco era um pouco o elo de ligação entre o passado e o presente. O seu funeral, realizado na igreja de S. Vicente, foi uma grande manifestação de pesar e de simpatia para com a Congregação. Os seus restos mortais repousam no jazigo do colégio, no cemitério de Braga. A 29 de Abril chega da Irlanda o Irmão Protásio que vem dirigir os trabalhos de carpintaria e marcenaria. A 1 de Maio chegou de Zamora o P. Daniel Junqueira que veio ajudar no ministério das aulas. Pelo dia 21 de Maio começam a chegar os alunos de Zamora, com o P. Miguel Fonseca. A 12 de Junho o P. Pinho entra em negociações com o P. Peixoto, em ordem à aquisição do Colégio de S. Tomás. O charqueiro fechou com o fim do ano escolar, com 16 educandos e com a abertura do Colégio de S. Tomás de Aquino. A 1 de Outubro seguiram para a Rua Visconde Pindela, para o Colégio de S. Tomás de Aquino, o P. Clemente com o P. Manuel Raposo, os Irmãos João Baptista, Antonino, Fortunato e Augusto que foram dispor os recantos do extinto colégio para o transformar numa Escola Apostólica. A Comunidade tinha como padroeira a Sagrada Família e como o P. Pinho confessa, “era uma casa cheia, com vida e alegria. Era manifesta a satisfação de se viver em comunidade e num princípio de restauração das obras de formação. Não se ignoravam as dificuldades, mas era grande a confiança. Orava-se muito e a marcha dos acontecimentos veio mostrar que o Senhor estava connosco. A boa disposição de todos dava força e optimismo”.270 A Escola Apostólica dos Irmãos Em Outubro de 1920 na quinta do Charqueiro ficaram apenas os candidatos a Irmãos Auxiliares, sendo a equipa dos formadores constituída pelos PP. Provincial, Terças e Correia e pelos Irmãos Antero, Narciso, Valfredo e Protásio. Os postulantes eram seis para principiar. Havia oficinas de sapataria, alfaiataria e carpintaria. Na quinta exercitava-se a agricultura com “ciência e método”. A 5 de Dezembro chega de França o Irmão Marcelino. A 8 de Dezembro de 1920, festa da Imaculada Conceição, é inaugurada por Mons. Keiling a nova capela do Colégio de S. Tomás de Aquino. A 7 de Janeiro começam as aulas. A 19 de Janeiro de 1921, o P. Pinho, acompanhado dos Padres Terças e Junqueira vão ao Sameiro para oferecer a Nossa Senhora o primeiro número da Revista “Missões de Angola e Congo”, pedindo à Senhora a sua bênção para a nova revista. A 25 começa-se a fazer a expedição da revista. A 28 chegava o novo 270 PINHO, D. Moisés Alves de. Memórias p. 138-141 O regresso a Braga: a Quinta do Charqueiro 271 Irmão Francisco, especialmente encarregado da revista. No dia 4 de Abril de 1921, o P. Correia vem para esta comunidade para se ocupar da revista “Missões de Angola e Congo”. A 23 de Abril de 1921 instalava-se o telefone na comunidade, sobretudo por causa da revista. A 16 de Julho de 1922 é inaugurada a nova capela. A 6 de Setembro deste mesmo ano o P. Miguel Fonseca é nomeado ecónomo ou procurador provincial. A 7 de Setembro de 1922 o P. Joaquim Alves Correia partia para Lisboa como procurador das Missões. A 1 de Novembro de 1922 partiam para Viana os Irmãos Marcelino e Protásio para iniciarem as obras do convento das Ursulinas. A 19 de Agosto de 1923 teve lugar a primeira Reunião dos Antigos Alunos dos Colégios. No dia 14 de Julho de 1924 é nomeado novo superior o P. Cândido Ferreira da Costa. A 3 de Novembro de 1927 levava-se a mobília para o Fraião. E para lá partiu um grupo de postulantes com o Irmão Valfredo: Carreira, Miguéis, Manuel Ventura, Abílio Ventura, Pereira, Gonçalves, Rodrigues, Cunha e mais tarde apareceu o P. Superior que, já noite escura, acompanhado dos postulantes, benzeu a casa. A comunidade ficaria privada de sacerdote durante um mês, pois o P. Luís Cancela nomeado para esse fim, caiu gravemente enfermo, vindo a falecer. Todos os dias ia lá um sacerdote de Braga até que a nova casa foi confiada aos cuidados do P. Fonseca. O P. Miguel Fonseca instalou-se na nova comunidade a 5 de Dezembro e os alicerces da nova casa começam a ser abertos por um contingente de postulantes da Rua Bento Miguel. A 27 de Fevereiro de 1929 deixava-se a Quinta do Charqueiro e partia-se para o Fraião em camiões e carros de bois. As actividades que na casa se exerceram durante o período da vigência da Escola Apostólica da Formação de Irmãos eram sobretudo as de natureza agrícola: cultivo dos campos e da vinha e trabalho nas diferentes oficinas. A média da frequência era de umas trinta pessoas, incluindo os três padres e os Irmãos que trabalhavam na obra. De notar ainda a grande devoção a S. José, a quem se confiavam todos os problemas económicos que iam surgindo: a festa do Santo Protector e o mês que lhe era consagrado são sempre registados com grande relevo no Diário da Comunidade. A Revista Missões de Angola e Congo A 19 de Janeiro de 1921 era lançada na Quinta do Charqueiro uma revista ilustrada de propaganda missionária com o título de “Missões de Angola e Congo”, 272 Adélio TORRES NEIVA de que foi o primeiro director o P. Pinho. Destinava-se a suscitar interesse pela causa missionária bastante esquecida e ignorada devido a vários acontecimentos. Conseguiu-se um número considerável de endereços e mandou-se a revista com uma proposta de assinatura. O resultado foi melhor do que se esperava. Nesse mesmo intuito de promover o interesse pelas missões, restabeleceu-se a antiga “Associação de Nossa Senhora de África” para promover orações e boas obras pela conversão dos africanos. Esta Associação muito espalhada até 1910, ainda vivia na lembrança de muitas pessoas. Por isso, foi fácil reanimar os centros de associados com os seus zeladores e zeladoras. Tanto a Revista como a Associação muito contribuíram para despertar vocações e generosidades de que tanto se precisava. 273 Capítulo 30 O Colégio de S. Tomás na Rua Visconde Pindela O bedecendo aos desejos de Mons. Le Roy, Superior Geral da Congregação, animado pelo decreto que nos começos de 1920 apareceu a público e parecia favorecer as obras missionárias, o P. Pinho fundara o Seminário das Missões. Para o instalar, algumas obras se fizeram na pobre casa da propriedade alugada pela Congregação, na rua do Conselheiro Bento Miguel, nº 18 e lá viveu o seminário até meados de Julho desse ano de 1920; com as férias, os pequenos dispersaram-se pelas suas famílias. O ano vai-se concluir com 16 educandos. Mas dificuldades em manter aqui essa obra não faltavam. O seminário de Zamora não satisfazia as necessidades da nova Província que se queria relançar: a casa só comportava 15 educandos e não se podia aumentar; as comunicações com Portugal eram difíceis e a viagem de comboio era quase uma aventura. Impunhase, portanto, transferi-la para Portugal e juntar o pequeno grupo que lá estudara ao que começara já a existir em Braga. Assim se decidiu. A Casa Mãe deu a sua aprovação a 27 de Setembro de 1920. Mas a casa da Rua Bento Miguel acabou por se tornar insuficiente para os candidatos anunciados e o P. Pinho há já tempos que procurava uma solução para este problema. Constou que o Colégio de S. Tomás de Aquino, situado em Braga, na Rua Visconde Pindela, iria fechar no fim do ano lectivo 1919-1920. O seu proprietário vivia no Porto. A ideia era prorrogar o arrendamento do colégio pelo mesmo preço em que até aí estivera alugado. Os pátios não eram grandes para recreio, mas eram recatados e remediavam e até tinham abrigos para a chuva. Os dormitórios eram bons e arejados e as camas novas. A sala de estudo era igualmente de boas condições, o mesmo já se não podendo dizer das salas de aula e do refeitório. Mas como o primeiro ano era sempre o mais numeroso reservarse-lhe-ia para aulas a sala de estudo. E era ainda possível dispor de uma sala boa e de fácil acesso para capela. O mobiliário, à excepção das camas, era ordinário e velho, mas ainda poderia servir por algum tempo. O P. Pinho não hesitou em desde logo começar a dar os passos para que a casa nos fosse passada e que o mobiliário do colégio nos fosse vendido: poderia assim a obra do Seminário das Missões ter uma casa que albergaria pelo menos 50 a 60 alunos e, sobretudo, poderia funcionar regularmente desde o começo do próximo ano lectivo. Concluiu-se o contrato do aluguer do colégio bem como o da compra do mobiliário do colégio ao seu antigo director P. Peixoto Braga. Foi uma compra caríssima mas era uma necessidade inadiável e assim teve de ser 274 Adélio TORRES NEIVA feito. De resto seria ainda uma solução provisória, à espera de melhor solução. O P. Pinho dá-nos os pormenores deste contrato: “Aproveitando uma certa acalmia, há um ano que trabalhamos para reorganizar as nossas obras de recrutamento em Portugal. Instalados numa velha quinta, onde o Irmão Francisco se gastou com a maior dedicação a guardar o imóvel do Colégio em litígio em Haia, encontrámos um abrigo numa pobre granja ligeiramente transformada. Tolerados pelas autoridades civis e bem vistos pela população, precisávamos de andar para a frente. Era preciso encontrar lugar para o núcleo vindo de Zamora, assim como para mais de 20 novos que pediam para se juntar aos nossos 16 escolásticos do ano passado. Pudemos felizmente alugar o edifício de um modesto colégio da cidade que ia fechar e onde vamos alojar 45 rapazes. A granja da rua Bento Miguel será daqui para a frente para alojar só os postulantes irmãos. Que Deus abençoe os nossos humildes e penosos começos! Mobiliário. Há entre o antigo director do Colégio de S. Tomás e eu um contrato revestido de todas as formalidades legais. Segundo este contrato, o mobiliário é-nos alugado por um período de 18 anos. E se quisermos ao fim deste tempo, o director poderá ceder-nos o mobiliário por uma soma fixada no contrato. Além disso fica estipulado no mesmo contrato que a venda pode ser antecipada. Depois o contrato do aluguer cessa no dia em que eu apresentar uma peça “recibo de venda”, provando que depositei o preço da compra. Tenho esta peça, só falta datála, desde que terá lugar servir-se dela. Pelo primeiro contrato procurou-se garantir contra a espoliação ou saldo legal, se for esse o caso. O Sr. Peixoto reclamaria o mobiliário que lhe pertencesse e não sendo senão alugado. Desta maneira nós garantiremos que tinha sido comprado com o que nos trará com o tempo. Pelo segundo documento eu procurei garantir-me contra os herdeiros do Sr. Peixoto que poderiam tomar o contrato de habitar num sentido que nós não quereríamos. Aqui está em duas palavras a maneira de fazer que nos pareceu mais vantajosa. Mas ficou entendido que nos foi dada toda a facilidade para o pagamento. Versei o terço (6 contos); o resto será versado quando tivermos facilidade para isso, com a condição de pagar 5% de juros. Espero no entanto, abrandar esta condição. Isto a propósito do material. Obras. A dificuldade é maior no que diz respeito ao fraccionamento da obra nela mesma. Seminário das missões, com 3 padres somente, um pouco ao abrigo do famoso decreto de 2 de Janeiro de 1920? Seria muito perigoso. Primeiro, mesmo reconhecendo aos religiosos o direito de viver três a três, a lei não autoriza a ensinar, antes pelo contrário. O Colégio de S. Tomás na Rua Visconde Pindela 275 Depois, o Secretário Geral do Ministério das Colónias quer retocar o decreto de 2 de Janeiro e isto num sentido que nos será desfavorável. Segundo o P. Antunes, ele é o homem mais mal disposto para connosco, pois tem estado sempre lá desde 1910. É, portanto, necessário construir sobre um terreno menos movediço. Sidónio Pais modificou a lei da separação num sentido muito feliz. Suprimindo os mil detalhes arreliadores, reconheceu aos chefes das diferentes confissões religiosas o direito de organizar, como lhes parecesse, as casas para a formação de ministros do culto. Os nossos seminários puderam ser reorganizados graças a esta modificação feita à mais opressiva das leis. Desde que o seminário de Braga foi transformado em caserna, o Sr. Arcebispo viu-se na necessidade de abrir várias casas para alojar os seus seminaristas. Porque não fazer passar a nossa nova casa como uma nova dependência do seminário? O superior do Seminário Maior achou a ideia excelente e imediatamente se ofereceu para nos cobrir com a sua sombra. O Sr. Arcebispo encarregou em seguida o superior do Seminário menor de nos considerar como uma sucursal da sua casa. É um belo gesto da parte do Sr. Arcebispo. Ele não ignora, e eu já lho lembrei, que, em caso de novos movimentos hostis, tudo recairá sobre ele e sobre o seu seminário. “É meu dever fazer por vós tudo o que estiver em meu poder. Não tendes nada que me agradecer” - tal foi a resposta. É provável que o Sr. Arcebispo nos peça, se tivermos lugar e se ele tiver falta dele, para termos alguns alunos pensionistas do seminário menor. Este ano, seremos talvez levados, a aceitar esta combinação para alguns seminaristas. Desde o próximo ano teremos gente nossa para encher todo o seminário. A presença de alguns alunos do seminário ser-nos-á uma garantia, se bem que para começar, incomode um pouco, mas é necessário. As démarches do P. Antunes para obter a autorização oficial de ter um seminário para as missões, chamou a atenção do Governo sobre nós. A Comissão encarregada de vigiar sobre o cumprimento das leis de 1910 - 1911 indispôs-se. Sabendo quem temos, já disse ao P. Antunes para se abster no futuro de semelhantes démarches. Passar despercebido, nada pedir, seguir discretamente para a frente, tudo como se se estivesse autorizado, é o que me parece preferível. Em breve teremos cerca de 45 rapazes. Que o bom Deus nos conceda poder viver e prosperar. Braga 11 de Setembro de 1920. P. Pinho”.271 A entrada no colégio de S. Tomás fez-se a 7 de Setembro de 1920. O P. Pinho tomou posse da casa neste dia, tendo esta sido entregue pelos P. João Peixoto e 271 AGCSSp B 485 – CH – V 276 Adélio TORRES NEIVA P. Azevedo, que actualmente exercia o cargo de director do colégio. Decidiu-se que já da parte de tarde entraria o novo pessoal, constituído pelo P. Clemente e os Irmãos João Baptista, cozinheiro, e Antonino, refeitoreiro e organista. O P. Azevedo, ex-director do colégio, jantou também nesse dia com a nova comunidade. O padroeiro da Casa é o Santíssimo Redentor. No dia seguinte, a 8 de Setembro, festa da Natividade de Nossa Senhora, celebrou-se a primeira missa na comunidade e desde então o Santíssimo Sacramento aí ficou a morar. A 9 de Setembro chegou da Covilhã o escolástico Álvaro Misseno, que viera de França para a inspecção militar e ficara livre. Era um dos antigos de Zamora e poderia agora colaborar nesta obra. A 13 de Abril chega de férias o aspirante Delfim Tomás que foi o primeiro dos alunos a habitar nesta casa. A 17 de Setembro chegava o P. Miguel Fonseca que viria integrar a comunidade desta casa. O P. Daniel Junqueira continuaria na Rua Bento Miguel, também conhecida por Quinta de Cima, mas viria aqui dar aulas. No dia 24 de Setembro celebrava-se na comunidade a primeira Bênção do Santíssimo Sacramento. Entretanto as obras de adaptação iam prosseguindo e os alunos iam chegando pouco a pouco de férias. No dia 26 chega o P. Manuel Raposo, ficando o pessoal da nova comunidade constituído pelos Padres Clemente, como director, Miguel Fonseca e Manuel Raposo, professores, Sr. Misseno, como professor e prefeito e os Irmãos João Baptista, como cozinheiro, Antonino, refeitoreiro, Augusto, roupeiro e porteiro e Fortunato, enfermeiro e comissário. O dia 27 de Setembro foi o dia da entrada oficial dos antigos alunos, embora nem todos tenham comparecido. Eis os seus nomes como eram conhecidos, Azevedo, Peixoto, Lima, Matias, Rocha, Pinto, Silva, Sá, Junqueira, Dias, Lopes, Alves Moreira, Ramos. Com os que já haviam entrado, ficaram sendo 16. Depois foram chegando, o Mateus, o Carrola, o Guilherme, o Terças, o João Correia da Silva, o Atilano, o Mesquita, o Afonso, o António Vicente Soares, o Cândido Reis, o José Afonso Torres, o José Maria Figueiredo, o António Sá Ruivo, o Francisco Alves do Rego, o José Nunes Pinto, o Antero de Sousa e Silva e o Fernando Moreira da Silva, o Gomes da Silva, o José Baptista, o Pompeu Sá Leão Seabra, o Henrique Alves, o Angelino Oliveira Guimarães, o Joaquim Marques Pinto. Os alunos ficaram assim a ser 35, mais 15 seminaristas diocesanos que a pedido do Arcebispo de Braga, sendo admitidos ao seminário diocesano, não tinham possibilidades de pagar a pensão nesse seminário. Mas estes estiveram aqui pouco tempo. A 20 de Outubro falecia o primeiro seminarista, o Manuel Martins Carrola, vítima de uma febre tifóide. Do espólio do Colégio do Espírito Santo quis-se salvar o quadro de Nossa Senhora de África, que foi arrematado por um amigo por 162$00, que foi colocado na sala de visitas e futura capela a 6 de Novembro. O Colégio de S. Tomás na Rua Visconde Pindela 277 A 8 de Dezembro, sob a presidência de Mons. Keilling inaugurava-se a nova capela, que ficou instalada na sala de visitas do colégio. No tempo do colégio, a capela ficava nos baixos da casa num lugar muito escuro e pouco convidativo. A 24 de Dezembro uma comissão de Antigos Alunos do Colégio do Espírito Santo veio oferecer ao seminário uma estátua de Nossa Senhora que estava na sala dos “Grandes” no colégio e que tinham comprado por 300$00. À missa ajudou o Barão de S. Lázaro, sendo a imagem novamente benzida pelo P. Clemente Pereira da Silva. A 4 de Junho de 1921 chegavam a Braga as 17 malas que há dez meses haviam sido despachadas de Zamora. A festa do padroeiro da Casa, o Santíssimo Redentor, celebrar-se-á a partir de hoje, a 15 de Julho. Este ano não foi ainda possível obter o indulto que permitisse celebrar hoje tal solenidade. O ano lectivo de 1921-1922 começou com 49 alunos. A 17 de Outubro o Capitão Monteiro Pinto, antigo aluno do Colégio do Espírito Santo, começou a dar aulas de química e de matemática no seminário. Os outros professores eram o P. Luís Maciel dos Santos Portela, abade de Maximinos que dava aulas de latim, e os Padres Clemente, Raposo e os Srs. Misseno e Serafim Teixeira. Da Quinta de Cima vinham dar aulas o P. Correia e o P. Junqueira. A 5 de Dezembro partiram para a nova casa de Godim-Régua os três primeiros filósofos: José Rodrigues Araújo, Agostinho Vieira e Manuel Pestana. O P. Adriano tinha já sido nomeado professor de filosofia para essa casa. A 10 de Dezembro chega o P. Pintassilgo que vem substituir o Sr. Teixeira nas aulas, pois este foi para Godim-Régua para fazer a filosofia. A 2 de Fevereiro de 1922 teve lugar a primeira tomada de hábito, tendo sido admitidos a esta investidura três alunos do quinto ano: Manuel Azevedo, Júlio Mesquita e José Peixoto. Em cumprimento de um piedoso propósito, se não voto, do P. Provincial que ao princípio prometera ao Sagrado Coração de Jesus solenizar as primeiras sextas-feiras do mês, começou-se agora a celebrar nessas primeiras sextas-feiras uma Missa cantada solene, com homilia sobre a intenção mensal do Apostolado da Oração e adoração do Santíssimo durante todo o dia. A 27 de Abril celebrou no seminário a sua Missa Nova o P. Cândido Costa. A 25 de Junho chegou o Irmão Lucas que foi integrado na comunidade. A 6 de Setembro o P. Fonseca, nomeado procurador provincial, passou a residir na Quinta de Cima. A 7 partia para Lisboa, como superior da residência naquela cidade, o P. Alves Correia. A 24 de Setembro o P. Clemente, acompanhado dos irmãos Marcelino e Protásio foram a Viana do Castelo examinar o antigo convento das Ursulinas. A 25 de Setembro chegou o P. António Nunes Costa, destinado a esta comunidade. A 2 de Outubro de 1922 chegava o primeiro aluno desse ano lectivo: o Agostinho Lopes de Moura. O P. Adriano, tendo deixado a Régua, veio para S. Tomás como professor. 278 Adélio TORRES NEIVA Nesse ano lectivo, os alunos eram 62: 9 no quarto ano, 12 no terceiro, 13 no segundo e 28 no primeiro. Os professores eram: PP. Clemente, Nunes e Adriano. Da Quinta de Cima vinham dar aulas os Padres Cândido Costa e Fonseca; e externos eram o Capitão Monteiro, o P. Galvão, do seminário, e o Sr. Mesquita. A 10 de Janeiro de 1923, em virtude de uma promessa feita a S. José de cantar durante sete quartas-feiras seguidas uma missa em louvor do Santo Protector da Congregação, começou-se a celebrar essa missa. A 5 de Outubro de 1922, os alunos do primeiro ano foram para Viana do Castelo, ficando em Braga 41 pertencentes aos outros anos. O professorado ficou constituído pelo director P. Clemente, P. Agostinho, P. Isalino, P. Cosme, P. Santos Portela, abade de Maximinos, P. Cândido, director da Comunidade dos Irmãos da Quinta de Cima, e Capitão Monteiro. Os Irmãos em serviço eram os Irmãos Antero, Fortunato, Lourenço e Lucas. Em Novembro, o Dr. Louro inicia as suas conferências Ir. Marcelino médicas no seminário. A 13 de Janeiro de 1924 o P. Agostinho é colocado na Rua Bento Miguel e o P. Fonseca vem substituí-lo em S. Tomás. A 15 de Julho de 1924 a Festa do Santíssimo Redentor foi já celebrada com o ofício e missa própria, conforme indulto que foi concedido à Congregação. No dia 14 de Novembro de 1924 é inaugurado, em Braga, o Seminário Diocesano da Senhora da Conceição ou da Tamanca, na rua de S. Domingos. No ano lectivo de 1925-26 o P. Clemente, que vai para a América é substituído no cargo de superior pelo P. Daniel Junqueira. O P. Clemente regressará da América em Maio de 1927. Os professores eram praticamente os mesmos e os alunos somavam 48 ao todo. Em 19 de Fevereiro de 1927 os Padres Provincial, Superior e Arnaldo Baptista vão a Guimarães ver a Ir. Protásio possibilidade de instalarmos um Seminário na Quinta da Costa, mas o resultado desta visita foi nulo. A 2 de Maio de 1927 o Diário da Comunidade dá a notícia da compra da Quinta no Fraião, graças a S. José: a Quinta de Valbom. A Quinta começará a ser da Congregação a partir de 10 de Maio. No ano escolar de 1927-1928 os padres presentes eram: P. Junqueira, superior, P. Fonseca, ecónomo, P. Nunes, P. Cosme, Sr. Lima e Sr. Peixoto. No dia 5 de Dezembro de 1927 o P. Miguel Fonseca deixava a comunidade para ir para o Fraião. A 10 de Janeiro de 1928 morre o Ir. Alípio. Em Outubro de 1928, o corpo docente era formado pelo P. Miguel Teles como O Colégio de S. Tomás na Rua Visconde Pindela 279 director e pelos professores P. António Nunes, P. Cosme, Capitão Monteiro, Sr. Lima. Os escolásticos eram 69, sendo 13 do quinto ano, 24 do quarto, 32 do terceiro. A 26 de Julho de 1929, festa de Santa Ana, celebrou-se na comunidade a última missa, bem como o último almoço. Da parte de tarde, os alunos do quinto ano retiraram para o Fraião, onde já funcionava a comunidade dos Irmãos. Em S. Tomás ficaram apenas os padres Fonseca e Cosme, os irmãos Antero e Abílio e um empregado, todos por conveniência de serviço. A 31, os outros seminaristas abandonavam também a casa. O P. Cosme retirou definitivamente para o Fraião. A 2 de Agosto de 1929 celebrava-se a primeira missa no oratório provisório do Escolasticado, no Fraião. A 7 de Setembro de 1929 era benzida pelo P. Nunes Costa a nova capela do Escolasticado e levava-se para lá o Santíssimo Sacramento. A capela seria inaugurada no dia seguinte, 8 de Setembro, festa da Natividade de Nossa Senhora. * * * Durante o período da existência do Colégio de S. Tomás, as relações entre a Comunidade dos Irmãos da Quinta do Charqueiro ou Quinta de Cima e o seminário do Colégio de S. Tomás foram muito frequentes, participando muitas vezes, sobretudo nas festas, em comemorações comuns. De notar ainda a permanente devoção a S. José bem como ao Sagrado Coração de Jesus e de Maria. Os exercícios de culto a estas devoções eram muito frequentes. O Diário da Comunidade sublinha ainda a presença constante de alguns benfeitores, em geral, antigos alunos do Colégio do Espírito Santo: o Sr. D. José de Lencastre que visitava o seminário muito frequentemente aí colocou o seu filho António, o Dr. Jerónimo Louro que assistia os doentes e fazia conferências de higiene, o Capitão Monteiro Pinto que assumiu a responsabilidade das aulas de Matemática e Ciências Químicas, a Sr.ª D.ª Delfina Valença e o Sr. António Valença, grandes beneméritos da obra, além de vários sacerdotes nossos amigos. No princípio de cada ano lectivo ia-se sempre ao Capitão Monteiro Pinto Sameiro consagrar o ano a Nossa Senhora. A vida espiritual com todos os exercícios da espiritualidade da época era uma das escolas de formação mais insistentes na pedagogia do seminário. Merece também uma referência a situação económica e financeira da obra. Confessa D. Moisés que, então, se vivia modestamente, mas nunca faltou o necessário. “Amigos dedicados lembravam-se de nós e recomendavam-nos a quem nos pudesse ajudar também. A revista “Missões de Angola e Congo” começou a propagar a ideia da criação de Bolsas de Estudo. Confiamos os problemas materiais ao Glorioso Chefe da Família de Nazaré. E nunca nos faltou com a sua assistência. Ajudava-nos e fazia render o pouco que se podia obter, por várias formas de que só 280 Adélio TORRES NEIVA Ele tinha o segredo. Também se recorria continuamente ao Menino Jesus de Praga. Esta devoção teve dois centros importantes nos últimos anos da Monarquia: um na Procuradoria das Missões, em Lisboa e outro no Seminário da Formiga, em Ermesinde. Um antigo missionário de Cabinda (o P. Monte), natural dos Açores, veio à Europa retemperar a saúde e foi à América do Norte em visita a parentes próximos. Lá o retiveram para pregações nos aglomerados de açoreanos. Com o seu trabalho e propaganda, ajudou-nos de modo apreciável. Outro missionário, o P. Alves Correia, colaborador da primeira hora e com a saúde bastante abalada, achava meio de se refazer e ajudar nas aulas, ao mesmo tempo que lançava subscrições entre as principais empresas do norte, mediante conferências e artigos na imprensa. O bom Padre Antunes, também não ficava inactivo na capital. Muito conhecido e considerado, solicitava a generosidade de empresas e de particulares. A recepção de víveres foi-nos permitindo melhorar e dar mais variedade ao regime alimentar dos nossos alunos. A ideia das Bolsas de Estudo e da adopção de um aspirante à vida missionária, custeando-lhe as despesas da formação, foi abrindo caminho e ganhando vulto. Alguns dos nossos benfeitores, não podendo dar muito, eram dos que davam mais pela propaganda junto das pessoas com meios. Assim, o problema da subsistência, conservando embora a sua importância e demandando sempre trabalho, não era o que mais nos preocupava”.272 Circular do P. Pinho aos Missionários de Angola Terminamos este capítulo com uma circular que o P. Pinho enviou a todos os missionários espiritanos, pouco depois da abertura do Colégio de S. Tomás: “ Circular a todos os Missionários das Colónias Portuguesas. Braga, 01 de Maio de 1921. Possuímos duas obras: um escolasticado com 35 aspirantes – 1º e 2º anos, um rudimento de escola profissional missionária com 10 aprendizes de diferentes mesteres. Temos a Procuradoria de Lisboa e uma residência na Beira, no Fundão. Falta pessoal. Precisamos de três padres só para trabalho de Propaganda e de angariamento de subsistência para nós e para os estudantes. O pessoal escasseia. Os Pes. Clemente, Fonseca e Raposo estão no seminário. Aqui, na Quinta de Bento Miguel, o P. Correia com a revista e propaganda, o P. Junqueira com os candidatos a missionários auxiliares, as contas, e aulas no escolasticado. Eu só posso dar uma mão, quando não estou ausente e não me tomam os interesses de ordem geral. Fazem-nos falta os padres que estão fora da comunidade. Dos escolásticos, no estrangeiro de 1912 a 1917, faleceram 10, vitimados pela 272 PINHO, D. Moisés Alves de oc. p. 146-150 O Colégio de S. Tomás na Rua Visconde Pindela 281 tuberculose. Ao chegar a França tinham boa nota de saúde. Devido a isso, a Província vê-se obrigada à organização imediata dos estudos de Filosofia e Teologia dentro do torrão pátrio. Além de obreiros para o trabalho apostólico temos que dispender-nos a angariar recursos que nos faltam. Será adiantar a hora do envio de missionários o coadjuvarmos na obtenção de uma atmosfera económica desafogada. Alguns superiores de missão puderam já ajudar-nos com um subsídio. Todos os missionários poderiam ajudar-nos fornecendo material para a revista, fotografias, curiosidades das missões, riquezas materiais, costumes, possibilidades de colonização das diferentes regiões, qualquer bugiganga. Não podemos deixar de bradar bem alto a todos os nossos missionários de Angola e Congo: ajudem-nos, por amor de Deus, a tornarmo-nos conhecidos e apreciados pelas obras das Missões; será condição da possibilidade da nossa existência aqui na metrópole. A nossa existência não será tolerada como um facto, se não nos impusermos por respeito de elementos positivos palpáveis aos arruaceiros da Política que os governos menos sectários têm que acatar. O P. Antunes tem feito sacrifícios para acudir aos embates desses sectores vigilantes, para os quais a perda das colónias parece de pouca monta em comparação com os princípios salvos. A sua actividade tem incontestavelmente por efeito impedir medidas hostis e fatais; mais ainda, criou uma atmosfera de simpatia e interesse para com as missões. Deus sabe o que desde há muito nos teria sucedido se, sempre de atalaia, ele não fosse desfazendo numerosos preconceitos joeirados que o “homem inimigo” não perde ensejo de manter contra nós. Nos Bancos tem-nos ajudado a desanuviar-nos por algum tempo o horizonte económico e financeiro e a cobrir-nos do prestígio daquelas colectividades respeitáveis. A sua influência no regulamento de Janeiro de 1920, conseguiu que lá se introduzisse não tudo o que era desejável, mas tudo o que foi sofrível para nós, e pudesse ser tragado por este ambiente político mal disposto e doente; exige meses e meses de trabalho aturado e constante, que as frequentes mudanças de governo obrigavam a começar continuamente de novo”.273 276 AGCSSp. B 461 D-A 283 Capítulo 31 O Seminário de Godim - Régua N o ano de 1921, a Obra dos Irmãos Auxiliares funcionava modestamente na Quinta do Charqueiro em Braga, o seminário de preparatórios estava sediado no antigo colégio de S. Tomás e assim a restauração da Província ia abrindo caminho. Mas tratava-se de casas arrendadas e portanto sem possibilidade de se desenvolverem. Pelo contrário, em Viana do Castelo, a casa em vias de ser concluída pertencia à Congregação e com as condições requeridas para o fim a que se destinava. A grande preocupação era, pois, encontrar solução para o desenvolvimento da promoção vocacional e das casas de formação para os aspirantes menores. Pensava-se que uma propriedade agrícola, com oficinas e escola profissional, poderia fazer reviver a antiga Escola Colonial de Sintra para fornecer bons auxiliares à Obra da Evangelização. A experiência mostrava a importância da preciosa colaboração dos Irmãos na construção e adaptação das obras em curso. Sem eles, tudo seria mais difícil para não dizer impossível. Tornava-se portanto urgente conseguir uma propriedade em boas condições para a formação de Irmãos Auxiliares. Para evitar a absorção de muito pessoal, pretendia-se um local onde se pudesse instalar também um seminário menor amplo e bem apropriado. Ao P. Moisés Alves de Pinho agradava a ideia de ficar em Braga ou nos arredores. À cidade, de facto, prendia-nos o apreço e a amizade dos antigos alunos do Colégio do Espírito Santo, que continuavam a ser um ponto de referência para o apoio de que tanto precisávamos. Embora pensando em Braga, era preciso começar a tentar por onde houvesse mais possibilidades. E foi assim que se começou por Godim. Havia, de facto, um motivo especial para se pensar em Godim. Alguns anos antes, em 1920, numa das suas viagens de regresso de Paris, o P. Pinho, depois de passar por Zamora para decidir a extinção da obra que ali existia, no final do ano lectivo, deteve-se na Régua e procurou a direcção da Quinta do Casal, na freguesia de Godim. Desejava encontrar-se com D. José de Lencastre, antigo aluno do Colégio do Espírito Santo, que sempre ficara muito dedicado aos seus antigos mestres da Congregação. Natural de Santa Marta de Penaguião, tinha casado com uma senhora da Casa da Torre em Paços de Ferreira e ia à sua Quinta do Casal com frequência, por vezes com demora. O P. Pinho dirigiu-se então a Godim e entrou na igreja. Celebrava-se a missa e o ajudante era precisamente D. José de Lencastre. Como se aproximava a festa do Corpo de Deus, o abade, já alquebrado, pediu ao P. Pinho que ficasse para o 284 Adélio TORRES NEIVA ajudar na preparação dessa solenidade. O P. Pinho anuiu e pregou o tríduo preparatório para a festa. Este encontro com D. José marcou muito o P. Pinho que dali partiu com o pressentimento de que haveria de voltar a Godim. Este pressentimento nunca o abandonou e mais se radicou com a estada passageira de alguns alunos de Filosofia, na pequena casa do Salgueiral e com o acolhimento dispensado aos primeiros sacerdotes que ali permaneceram algum tempo.277 Ensaio de um Escolasticado maior em Portugal A 1 de Maio de 1921, o P. Pinho escreveu para a Casa Mãe um documento que intitulou “Ensaio de um Grande Escolasticado”, em que expõe os motivos que tornavam necessária a criação de um Seminário maior em Portugal. Diz ele: “O tempo e a experiência fizeram-me reforçar as razões que em 1905 deram lugar às nossas Obras, criadas primeiro em Sintra e depois em Carnide. Já nesse tempo se faziam sentir as sérias inconveniências que havia em enviar os aspirantes para a França, após os seus estudos de Humanidades. Um simples olhar retrospectivo, dá-nos fortes razões a respeito do futuro. Com efeito, só entre 1913 e 1919, a Província perdeu a maior parte dos seus melhores aspirantes, quando chegavam ou estavam prestes a chegar ao termo da sua formação. Dois, o Manuel Proença e o Marques, morreram em Gentinnes; três, António Marques, Oliveira e Dourado, em Montana; três, António Moutinho, Lopes e José Oliveira, em Langonnet; dois, Manuel Andrade e Manuel Lopes, vieram morrer a Portugal. De notar que estes dez escolásticos morreram todos tuberculosos e quase todos, se não todos, tinham boa saúde quando foram para a França e mesmo durante os primeiros tempos que aí passaram, tanto quanto se pode constatar pelos seus “dossiers” e pelos relatórios trimestrais. Dez em sete anos! Um verdadeiro desastre que não deixou de causar má impressão de modo a fazer paralisar o nosso recrutamento em certos meios. Os pais diziam, por vezes com lágrimas nos olhos - o nosso filho era robusto, nunca esteve doente e se tivesse continuado os estudos em Portugal, poderia hoje ser padre. Depois da guerra, novas dificuldades vieram, que tornaram difícil o envio dos aspirantes para a França, como: o preço muito elevado das viagens, os passaportes, os depósitos de dinheiro como caução para todos aqueles que não tinham sido isentos de todo o serviço militar, etc. Soluções: 1- Uma formação em território espanhol, para os lados de Tui, perto da fronteira. Para já, aí estava-se em segurança e em caso de nova dispersão, ter-se-ia um refúgio, as dificuldades da fronteira poder-se-iam evitar por vários meios. Por outro lado, o clima era sensivelmente o mesmo do norte de Portugal. Não se pode, no entanto, dissimular que o país vizinho é seriamente trabalhado 277 PINHO, D. Moisés Memórias. p. 150-151 O Seminário de Godim - Régua 285 por elementos subversivos. No entanto, as dificuldades provenientes da fronteira subsistiriam sempre em grande parte, pelo menos, e agravar-se-iam quando, por períodos, conviesse ao Governo fazer crer numa eminente invasão de emigrados políticos. Enfim, no que se refere a encargos, a vida é consideravelmente mais cara em Espanha que em Portugal – mais do dobro, quase o triplo. 2. Organizarmo-nos no próprio país. Desde há alguns anos que há uma forte corrente de simpatia em favor das missões. Porque não aproveitar disso? Mesmo tendo em conta os procedimentos adversos, está assente que, seja qual for a obra de formação, não é considerada como contrária às leis vigentes, se respeitar as seguintes condições: 1.ª Que não ocupe mais de três professos; 2.ª Que se ocupe unicamente de formação de missionários para as colónias. Há razões para esperar que nas condições que acabo de apontar, uma escola de Filosofia e de Teologia (ascética, dogmática, etc.) não apresentaria mais dificuldades que as já existentes. O indulto recentemente adquirido pelo Rev. Padre, facilitaria ainda mais as coisas. Uma obra no próprio país atrairia sempre muitas mais vocações e recursos e teria toda a espécie de vantagens. É ela viável com as leis vigentes? Parece-me poder responder afirmativamente. Em todo o caso, haveria esta sensível vantagem de se fazer um ensaio com os primeiros dos nossos aspirantes que terminam os seus estudos secundários, numa simples residência, por exemplo, na Covilhã ou por ali perto. Mais tarde, com uma outra residência ao lado, hospedando três padres sem quase outras ocupações, ter-seiam professos suficientes. Poder-se-ia também ter casas distintas para a Filosofia e a Teologia. Em suma, a melhor solução não seria preparar as coisas em ordem a organizar na diocese da Guarda os estudos superiores, pouco mais ou menos como se organizavam os estudos secundários em Braga? 3. Unirmo-nos a um Seminário Maior. Esta solução foi também considerada. Vistas as circunstâncias, não me parece possível pô-la em prática. De resto, mesmo na melhor das hipóteses, nada é como estar em sua casa. Conclusão. Um seminarista da Madeira, chegado ao termo dos estudos secundários e sobre o qual nos dão muito boas informações, pede insistentemente para ser missionário entre nós. Graças a um amigo dos mais dedicados, Manuel Araújo, foi colocado em férias, permitindo-lhe ganhar o ano escolar. Uma vez que nós não temos aqui Filosofia e não nos julgamos obrigados a recusar o primeiro candidato e não seria sem receio que o enviaria para o sul da França durante 7 anos, penso ser preferível fazer um ensaio aqui. Depois o tempo e a 286 Adélio TORRES NEIVA experiência nos dirão o caminho a seguir. Braga, 1 de Maio de 1921. P. M.Pinho”.275 Felizmente que surgiu uma oportunidade para fazer essa experiência no Salgueiral, em Godim. A casa das vitórias Foi D. Antónia Adelaide Ferreira, esposa do Conselheiro Wenceslau de Lima, senhora de muitas virtudes e de grande simpatia e cordialidade, que a pedido de D. José de Lencastre, conseguiu uma casa para residência dos quatro alunos de Filosofia que terminavam o ciclo preparatório em Braga e dois padres que os acompanhariam. A casa conseguida foi a “Casa das Vitórias”, situada no Pilar - Salgueiral, um lugar da freguesia de Godim. Era uma casa térrea, não grande, mas que tinha capela, sala de aulas, quartos para padres e irmãos, refeitório, cozinha e camarata para os quatro escolásticos. À entrada havia um jardim e ao lado, uma vinha. Os padres que foram enviados para ali em 1921, foram os PP. António Ribeiro Teles e Giocondo Adriani, que seriam os professores; os alunos eram: Serafim Teixeira, José Neiva Araújo, Agostinho Vieira e o Pestana, (estes dois madeirenses), bem como os Irmãos Augusto e Paulo. O P. António Teles ajudava o pároco e era capelão da D. Antónia Ferreira, sogra do Conde de Beaumont. A Régua quando soube que vinham os “Jesuítas” com um colégio, estremeceu, mas ao saber que eram missionários e só missionários, tudo ficou mais calmo276. Durante o primeiro ano, antes da inauguração, o P. Teles ficou hospedado na casa de D. José de Lencastre. Entre os amigos da primeira hora há que destacar D. Antónia Ferreirinha, D. José de Lencastre, Senhoras Reto e outros. Ali começaram o curso de filosofia os primeiros quatro escolásticos maiores da Província Portuguesa restaurada. A inauguração foi a 2 de Novembro de 1921 pelo P. Moisés Pinho, com missa celebrada na capela da casa. Com o aumento dos alunos era evidente que a “Casa das Vitórias” não era a solução de que se necessitava. A solução apareceria com a compra do convento das Ursulinas em Viana do Castelo e a construção de um seminário nesse local. Assim, em Novembro de 1922, os estudantes de Filosofia do Salgueiral, retirariam para Viana do Castelo. Mas a “Casa das Vitórias” não fechou; até para dar uma satisfação à delicadeza de D. José de Lencastre e da D. Antónia; passou a ser uma base para a animação vocacional. A partir daí, os Espiritanos desenvolveriam a sua animação vocacional, sobretudo no Seminário de Lamego, onde o P. António Ribeiro Teles continuava como director espiritual muito apreciado. A “Casa das Vitórias” ainda resistiu alguns anos; dela, já só resta o velho 275 276 AGCSSp. B 461. CH . VIII PINHO. Oc. O Seminário de Godim - Régua 287 “portão de ferro”. A Fundação do Seminário de Godim A acção pastoral dos padres da “Casa das Vitórias” era muito apreciada e desejada, tanto mais que nem a idade nem a saúde permitiam ao pároco a assistência necessária que uma freguesia populosa e extensa como Godim exigia. Uma obra de formação naquele local aparecia como garantia da continuação e da assistência a que já se estava habituado. Mas era evidente, que a querermos estabelecer-nos definitivamente em Godim, a “Casa das Vitórias” não servia para albergar uma obra de grande respiro. Forçoso era, portanto, procurar outra solução. A solução apareceu, quando não se via casa apropriada nem lugar para a construir. O P. Alberto Teixeira de Carvalho era pároco de Godim desde 1883. A freguesia não tinha residência paroquial e o abade vivia numa casa que mandara construir no seu quintal, com ligação para o adro da igreja. O desejo de salvaguardar o futuro, levou-o a vender tudo por morte, a pessoa da sua inteira confiança (D. José de Lencastre), de modo a que se respeitasse o destino desejado: a garantia de quem lhe viesse a suceder como pároco. Acordaram os proprietários presente e futuro em que um Seminário das Missões se construísse no quintal da residência paroquial, sobre o Vale de Jugueiros. Assim, em Julho de 1924 era benzida a primeira pedra do seminário por D. João Evangelista de Lima Vidal, bispo de Vila Real, diocese criada dois anos antes. As obras iniciaram-se logo a seguir, tendo a pedra descido do monte de S. Domingos, situado em Fontelo de Armamar. O lugar apropriado para a construção oferecia certas dificuldades: era em declive e não garantia a fixidez desejável, tanto mais que se pensava num edifício alto; mas a casa lá se construiu com as garantias necessárias. A construção levou três anos a concluir. Grandes beneméritos Godim - Régua - Seminário dessa construção foram a D. Antónia e o D. José de Lencastre. Dirigiu as obras o P. Ribeiro Teles como superior e superintenderam na construção o Ir. Marcelino (Sr. Martins) autor do projecto e o Ir. Protásio (Sr. Ferreira), que por sua vez dirigiu os trabalhos de carpintaria. No rés-do-chão ficaram a capela e o refeitório; no primeiro andar duas salas de aula, separadas entre si pela escadaria central, quarto do director e vestiário; no mesmo plano, a dispensa, o quarto do cozinheiro, a copa, o refeitório dos 288 Adélio TORRES NEIVA Irmãos e a cozinha; no segundo andar, a biblioteca e os quartos dos professores; no terceiro andar os dormitórios dos alunos. No dia 11 de Outubro de 1927 chegava a Godim o P. Pinho com 30 ou 40 alunos para inaugurar o seminário. A inauguração foi feita no dia seguinte, 12 de Outubro de 1927, com uma Eucaristia presidida pelo P. Pinho, acolitado pelos PP. Agostinho Pintassilgo e Isalino Gomes, respectivamente director e subdirector do novo seminário. Ao longo do dia foram chegando os restantes seminaristas. O P. Alberto Teixeira de Carvalho, falecido a 22 de Março desse ano, já não pôde assistir à inauguração. A sua memória faz parte da história deste seminário. Aqui ficaram instalados os dois primeiros anos de formação inicial: ao todo 78 alunos: 44 no primeiro ano e 34 no segundo. Como pároco ficava o P. Ribeiro Teles, que era também professor, além dos PP. Cândido Ferreira da Costa, Isalino Gomes e Agostinho Pintassilgo. Como colaboradores foram ali colocados os Irmãos Serafim, que permaneceria longos anos neste seminário, e Gerardo, como cozinheiros; Boaventura, refeitoreiro, Protásio, carpinteiro e o postulante Francisco, como ajudante. Mas logo no ano seguinte, Outubro de 1928, era empossada uma nova direcção: P. Agostinho Pintassilgo, superior e pároco; P. Daniel Junqueira, director dos seminaristas e director espiritual do seminário de Lamego; P. Isalino, professor e coadjutor do pároco. Ficavam também a fazer parte da comunidade os Irmãos João de Deus, Clemente, Casimiro e Gomes, escolástico maior. A 16 de Outubro de 1928, depois de ter trabalhado em Godim durante dez anos, onde era estimado por toda a gente, o P. Ribeiro Teles foi ocupar o lugar de superior e director na nova casa do Fraião que acabava de abrir. Ao longo dos anos Durante o percurso da sua história, o seminário sofreu algumas modificações, mas que não alteraram o seu traçado original. E viveu alguns momentos mais marcantes. Em 1929 é inaugurado o novo refeitório que se estava a construir. Em 1932-1933, os alunos do segundo ano eram 36 e os do primeiro 39. No ano seguinte, 1933-1934, o número dos alunos tinha passado para 27 no segundo ano e 73 no primeiro; número que continuou a subir no ano imediato: 29 no segundo ano e 84 no primeiro. Por determinação provincial, a festa do Patrocínio de S. José, padroeiro de Godim e do seminário, em vista das graças que S. José tinha concedido à Província, passou a ser celebrada com toda a solenidade. Em 1934 chegou o Irmão Marcelino Martins a fim de orientar as obras de ampliação do seminário; já neste ano se tinham realizado obras importantes com novas divisões na cave, para obviar à falta de espaço. Em 1936 construíram-se na cave duas grandes salas para arrumos, rouparia e O Seminário de Godim - Régua 289 enfermaria e aumentaram-se os dormitórios de modo à casa ficar com capacidade para albergar cem alunos. A 23 de Janeiro de 1938 foi inaugurado o Patronato de Godim pelo Sr. Bispo de Vila Real. Em 1940 –1941 continuariam aqui o segundo e terceiro anos de preparatórios; ao todo 96 alunos. Em Outubro de 1941 o seminário ficou reservado aos alunos do primeiro ano, deixando as casas de Viana do Castelo e da Guarda de receber alunos dos primeiros anos. Os outros anos de preparatórios e a Filosofia passaram para o Fraião e a Teologia para Viana do Castelo. No dia 8 de Dezembro de 1940 foi inaugurado o cruzeiro da Independência no adro da igreja. Em 1942 construiu-se o barracão para o recreio dos alunos em tempo de chuva, mais uma vez sob a orientação do Ir. Marcelino. Em 1944 chega o P. Joaquim Correia Castro para substituir o P. Cândido Ferreira da Costa na paróquia. O P. Cândido passou aqui seis anos como superior e pároco e três como director do escolasticado. O P. Castro partirá em 1946 para mestre de noviços dos Irmãos. Regressará como superior em 1952. A 15 de Dezembro de 1950 faleceu o Irmão Serafim, um dos irmãos da primeira hora deste seminário e que deixou uma recordação indelével em todos os seminaristas que o conheceram, sobretudo como refeitoreiro. Em Outubro de 1963, os alunos eram 107: 63 no primeiro ano e 44 no segundo. Em 1968, a casa sofreu grandes remodelações: foi inaugurado um novo pavilhão de aulas, no sentido norte-sul e deu-se aos antigos espaços das aulas uma nova funcionalidade. No primeiro piso do antigo edifício, construiu-se uma capela que foi benzida em 1969. A nova capela foi inaugurada a 8 de Janeiro de 1969. Em 1982, notava-se já a quebra no número dos alunos: 56, sendo 29 do primeiro ano e 27 do segundo. Em 1985 o seminário foi frequentado só pelos alunos do segundo ano: 19. A 3 de Março de 1986 faleceu com 86 anos de idade o P. Joaquim Correia de Castro, que aqui foi superior e 16 anos pároco. Em 1989 fizeram-se grandes obras de restauro da casa, tendo durante o ano seguinte, os alunos feito o sétimo ano no Fraião. Regressaram a Godim, concluídas as obras, um ano depois. Em 1990, um incêndio devorou a parte superior da residência paroquial. Três anos depois, em 1993, tendo surgido dúvidas sobre direitos de propriedade da dita residência paroquial, a paróquia e a Congregação, depois de demorado e aceso diálogo, chegaram a um acordo em que a propriedade da residência paroquial era reconhecida à Congregação e esta cedia à paróquia uma faixa de terreno (130 m2) que possuía a sudeste do seminário, em ordem à construção de uma nova residência paroquial. O acordo ficou expresso nas seguintes cláusulas: “1.a A Paróquia de S. José de Godim-Régua reconhece que a Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo é a única legítima proprietária do edifício onde 290 Adélio TORRES NEIVA se encontra a chamada “Residência Paroquial” e do terreno que lhe serve de logradouro, comprometendo-se consequentemente a não mais invocar quaisquer pretensos direitos de qualquer natureza que tenham por objecto os mencionados prédio e terreno. 2ª. Por sua vez, a Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo cede à Paroquia de S. José de Godim-Régua, uma faixa de terreno (130 m2) que possui a sudeste do seminário, contígua à outra já pertença da referida paróquia, faixa essa que será delimitada a norte, por uma linha recta que, partindo da ala norte do adro paroquial, se prolonga por uma extensão de 14m. 3ª. Além disso, para arranque da construção das obras da nova residência paroquial, a mesma Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo contribui com a quantia de dois milhões de escudos (2.000.000$00) a entregar no acto da assinatura do presente acordo. O presente acórdão foi lido e aceite pelas duas partes e assinado pelos seus legítimos representantes para valer como documento de propriedade futura. Godim, 08.06.93 P. José de Castro Oliveira (Provincial) P. José Pinto de Carvalho (Pároco de S. José de Godim) Três membros da Comissão Fabriqueira”.277 Em 1996, tendo em conta a pouca frequência de alunos, o sétimo ano era transferido para o Fraião, ficando o seminário de Godim limitado à assistência paroquial e animação missionária. Pensou-se então em pôr parte do seminário à disposição dos Serviços da Associação “Olimpicus” em favor dos jovens em situação de risco da região da Régua, mas o projecto não foi activado. Finalmente, a 27 de Junho de 2003, a Congregação arrendou, por um período de dez anos, à Associação da Região do Douro para Apoio a Deficientes (ARDAD) uma fracção do seminário, constituída pelo bloco norte-sul (perpendicular ao caminho público), espaços de prática desportiva, construções anexas aos mesmos, cozinha e cantina. Para a pequena comunidade espiritana a ARDAD comprometia-se a construir no rés-do-chão uma sala de jantar, cozinha e uma sala de visitas e um quarto para a empregada. Regra geral, o seminário esteve sempre ao serviço dos primeiros anos de formação inicial, mas ao longo dos tempos sofreu algumas variações conforme o organigrama dos estudos da Província o exigia. O seminário começou por albergar o primeiro e segundo anos de preparatórios no ano lectivo de 1935-1936 mas em 1939 admitiu também o terceiro. Em 1940 ficou apenas com o segundo e terceiro anos. Nos anos seguintes (1946-1956), por sua vez, em Godim funcionaria apenas o primeiro ano. Em 1956 frequentam o seminário o primeiro e segundo anos, mas em 1985 já só está o segundo. Depois de 1986 o seminário ficou limitado ao 7º ano (nova classificação), com um número de alunos, cada vez mais reduzido. 277 APPCSSp. O Seminário de Godim - Régua 291 A média dos alunos foi de algumas dezenas, chegando a 107 em 1963 e a 135 em 1936; a média mínima verificar-se-ia a seguir aos anos oitenta, na grande crise que então atingiu todas as vocações. Ao longo destes 35 anos, por ali passaram dezenas de espiritanos, que marcaram indelevelmente gerações sucessivas de jovens e adolescentes. Destacamos, como superiores da comunidade: P. António Ribeiro Teles (19271928), P. Daniel Junqueira (1928-1938), P. Cândido Ferreira da Costa (19381944), P. José da Fonseca Lopes (1944-1948); P. António Alves de Oliveira (1948-1953); P. Joaquim Correia de Castro (1953-1962); P. João Pinto da Silva (1962-1965); P. Manuel dos Santos Neves (1965-1971); P. Adélio da Cunha Fonte (1971-1975); P. Manuel Ferreira da Silva (1975-1979); P. Agostinho Brígido (1979-1985); P. Mário Pires (1985-1987); P. António Alves de Oliveira (1987-1990); P. José Pinto de Carvalho (1990-1994); P. Manuel João Magalhães Fernandes (1994-1996); P. Ricardo Meira (1996-2000); P. Francisco Fernandes Correia (2000-2003). Como directores dos escolásticos registamos: P. António Ribeiro Teles (19271928); P. Nunes Costa (1928-1931); P. Terças (1931-1938); P. Mário Silva (1928-1938); P. Fernando Moreira (1938-1941); P. José da Fonseca Lopes (1941-1948); P. António Alves de Oliveira (1948-1956); P. Henrique Sá Couto (1956-1957); P. Manuel dos Santos Neves (1957-1967); P. Manuel da Silva Martins Sebastião (1967-1971); P. Adélio Cunha Fonte (1971-1975), P. Ferreira da Silva (1975-1979); P. José Coelho Barbosa (1979-1982); P. Agostinho Brígido (1982-1988); P. Tarcísio Moreira (1988-1993); P. Magalhães Fernandes (19931996). Benfeitores do Seminário de Godim D. Carlota Barreiros Montez Champalimaud Pacheco Viúva do Engenheiro Joaquim Gaudêncio Pacheco, foi proprietária da Quinta e Casa dos Ciprestes (Godim) e da Quinta do Neto (Godim e Fontelas). Insigne benemérita da Congregação e grande benfeitora do seminário. Nos primeiros anos ajudou com vários géneros e donativos. Em vida entregou ao Seminário o Campo da Sederma com olival anexo. O testamento diz: ”uma parte da vinha grande, que há muitos anos serve para recreio dos seminaristas de Godim” onde o Seminário mandou fazer um campo de jogos em 1939 bem como o “Campo das Figueiras”, à beira-rio, os quais segundo o testamento ficaram a pertencer ao Seminário, em domínio pleno, à morte da D. Carlota. Pelo testamento, a raiz de toda a Quinta do Neto foi legada a este Seminário, ficando usufrutuária sua afilhada D. Maria Margarida Pacheco, sendo tudo livre de encargos. Quando o Seminário tomar posse definitiva desta propriedade entregará todos os anos quatro almudes de azeite à igreja da freguesia. 292 Adélio TORRES NEIVA No testamento pede ao Seminário a caridade de mandar celebrar ofício e missa solene de Requiem, um trintário gregoriano por alma dela e, enquanto existir este seminário, uma missa mensal por alma dela e outra por alma do seu marido Joaquim Gaudêncio Pacheco. Faleceu em Godim, com 87 anos, em 15 de Janeiro de 1954. O funeral realizouse no dia seguinte, na capela do Lodeiro. Ás 15 horas fez-se a trasladação do cadáver para a Igreja e Cemitério, tomando parte no cortejo todo o seminário. D. Rosa Carolina Pinto Barreiros Champalimaud Era mãe da D. Carlota, boa alma e de grande dedicação ao Seminário que ajudou com vários géneros. Faleceu em Godim com 86 anos, em 21 de Outubro de 1932. No funeral incorporaram-se todos os alunos e pessoal do Seminário. D. Antónia Adelaide Ferreira de Lima Viúva do Conselheiro Wenceslau de Lima, que foi Lente da Escola Politécnica do Porto e Presidente do Ministério de D. Manuel II. Moradora na Quinta e Casa das Nogueiras (Godim). Foi esta bondosa e benemérita senhora a grande benfeitora da primeira hora. Foi a seu pedido que a Congregação se veio estabelecer, no local chamado “Casa das Vitórias”, junto do Salgueiral, de que restam apenas algumas ruínas. Em sua vida sempre a sua generosidade se fez sentir em toda a espécie de dádivas em dinheiro, géneros e arranjo de roupas. Por sua morte deixou ainda cem contos para aumento e progresso desta obra. Faleceu em Godim com 79 anos, em 7 de Dezembro de 1937. Na tarde do dia 8 foram às Nogueiras apresentar pêsames os Padres Cândido Costa e Mário Silva. No dia 9 nas Nogueiras, foram celebradas três missas de corpo presente por sua alma. O corpo foi para o cemitério da Lapa, no Porto, acompanhando-o os Padres Teles, Junqueira, Mário e Olavo. D. José Maria de Queiroz e Lencastre Casado com D. Maria Haydée Cardoso da Silva e Lencastre, morador na Casa da Torre, em Paços de Ferreira, proprietário da Quinta do Casal em Godim. Benfeitor da primeira hora, sempre pronto a ajudar com toda a espécie de donativos. O vinho do Porto que o Seminário consumia, enquanto não tinha de sua colheita, era oferta da sua irmã D. Maria do Carmo, de Sanhoane. Todos os anos dava uma merenda de uvas e vinho a todo o Seminário no Casal, por ocasião das vindimas. Dava também água para lavar a roupa no tanque do “Lameiro”, que fica por baixo da Quinta do Casal. O Seminário de Godim - Régua 293 D. Joaquina Soares de Lencastre Mãe de D. José de Lencastre. Faleceu na Casa do Pinheiro-Sanhoane em 30 de Junho de 1948. Ao funeral no dia 1 de Julho assistiu todo o seminário. D. Maria do Carmo Queiroz de Lencastre Irmã de D. José de Lencastre. Como ele, oferecia o vinho do Porto consumido no Seminário enquanto este o não tinha de sua colheita. Foi proprietária da Quinta e Casa do Pinheiro, freguesia de Sanhoane, concelho de Santa Marta de Penaguião. Faleceu na Casa da Torre em Paços de Ferreira, a 4 de Dezembro de 1963. No “Diário da Comunidade de Godim” estão lançados vários donativos, ora em nome de D. Joaquina ora em nome de D. Maria do Carmo, desde Abril de 1922 até Fevereiro de 1939. Depois desta data foram lançados em nome de D. Maria do Carmo. P. José Carlos Pereira de Carvalho Natural de Godim, onde foi coadjutor em 1909 e de 1922 a 1927. Foi pároco do Loureiro. Foi assassinado no caminho do Vale de Godim a 1 de Janeiro de 1938, com 70 anos de idade, para ser roubado. A ele se deve a maior parte do terreno do actual quintal do Seminário. Em 16 de Julho de 1928 doou à Congregação a raiz do prédio “Pedregal”, guardando o usufruto para si em vida. D. Luís Muñoz Insua Casado com D. Filomena Carlos Pereira. Amigo dedicado do Seminário, ofereceu muito vinho do Porto, tanto para esta casa como para os confrades que daqui partiam para outros destinos. Faleceu em Godim, com 62 anos em 17 de Março de 1953. Foi proprietário da Quinta da Romeira, que a nossa Província arrematou, por intermédio do Sr. Abílio Teixeira Martins, irmão do P. Olavo, em hasta pública por 315.500$00, nos autos de inventário orfanológico por óbito de D. Luíz Muñoz e sua esposa em 1956. D. Matilde da Soledade dos Santos Pereira e filha D. Maria Adelaide. Moradoras no lugar do Vale de Godim, em frente à capela. No “Diário” estão lançados vários donativos, ora em nome de uma, ora em nome de outra. Como viviam juntas, aqui se juntam também os donativos. 295 Capítulo 32 O Convento das Ursulinas de Viana do Castelo As Ursulinas em Portugal278 A fundação do Instituto das Ursulinas é atribuída a Santa Ângela de Merici, nascida em Desenzano, junto do lago Garda, na Alta Itália, à volta de 1475. Santa Ângela foi pioneira não só pelo modo de conceber a Vida Consagrada, pois o seu instituto aparece como o primeiro instituto secular feminino, mas também por incluir entre os seus principais objectivos a educação de pessoas do sexo feminino, objectivo, para a época, totalmente inovador. Depois de um apurado percurso espiritual, Ângela fixou residência em Bréscia, onde fundou, a 25 de Novembro de 1535, uma irmandade ou companhia leiga de donzelas, que tinha por finalidade cuidar dos enfermos e a educação de meninas a que se veio a chamar Companhia de Santa Úrsula. Santa Úrsula tinha sido uma mártir dos princípios do século IV, por quem Ângela nutria particular devoção. Há diversos institutos religiosos com a denominação de Ursulinas; aqui trata-se do primeiro destes institutos, a Companhia de Santa Úrsula, contemporânea da fundação da Companhia de Jesus, mas, enquanto esta se dedicava à educação de rapazes, aquela era consagrada à educação de meninas. A novidade desta fundação era o facto de os seus membros viverem no seio das suas famílias, sem horário nem vida conventual, constituindo assim a primeira instituição secular de consagração feminina da Igreja. Santa Ângela previa, porém, que, segundo a oportunidade dos lugares e dos tempos, se pudesse alterar e transformar a forma e o método que tinha adoptado.279 De facto, a maior parte dos membros da Companhia passaria, primeiro a congregação local e depois, a ordem de clausura, com votos de Religião, ao mesmo tempo que outras continuavam como instituto secular. Santa Ângela faleceu a 27 de Janeiro de 1540, sem que o seu instituto tivesse sido reconhecido pela Santa Sé. Só quatro anos mais tarde, em 1544, é que Paulo IV aprovava o instituto, estabelecendo que “de acordo com o espírito da sua 278 Todas as informações relativas ao real Colégio das Chagas e seus antecedentes foram recolhidas da excelente obra “O Real Colégio das Chagas- Instrução de meninas de Viana (1778-1884) de Manuel Inácio Rocha, que constitui a sua tese de Mestrado. 279 Fundação. Livro em que se dá alguma notícia que se tem alcançado de algumas fundações e congregações de Ursulinas em França, Itália, Bahia e Portugal. Vianna Collª das Chagas em 13 de Janeiro de 1778-6 A M C. Manuscrito Fundo de Figueiredo Guerra p. 2-3. citado por Manuel Inácio Rocha oc- p. 71 296 Adélio TORRES NEIVA fundadora, as Ursulinas não tinham de viver em comum, assim se diferenciando das tradicionais monjas de clausura, podendo viver em casa de família e apenas se reuniam em certos dias para exercícios de piedade. A pobreza, a obediência e a castidade eram-lhes propostas como conselhos evangélicos; usavam vestuário secular de cor negra, com um véu.”280 De Bréscia, as Ursulinas espalharam-se rapidamente por toda a Itália e pela França, tendo, em 1572, obtido de Gregório XIII nova aprovação, com estatutos de Ordem Monástica, e em 1612 era elevada a Ordem Religiosa de Clausura, por breve de Paulo V, passando a emitir, além dos três votos solenes, um quarto voto, o de se dedicarem à instrução de meninas. A primeira comunidade de Ursulinas em Portugal, proveio da comunidade de Toulouse e estabeleceu-se num antigo recolhimento de Vila de Pereira, em Coimbra, em 1775, e seria deste convento que partiriam as fundadoras do convento de Viana do Castelo em 1778. Os Santos Mártires, Padroeiros de Viana “No alto da fachada da igreja do antigo Convento das Ursulinas, estão colocados em seus nichos, três esculturas de pedra - S. Teófilo, S. Saturnino e Santa Revocata - que, em tempos idos, tiveram o direito e a honra de ser considerados os “santos padroeiros e protectores de Viana”, e que hoje se encontram um pouco esquecidos, estando totalmente desactivada a Irmandade que recuperou e alimentou um devotado culto que se materializou nessa linda igreja, alicerce do célebre convento de que hoje, para além das respectivas paredes, muito transformadas, apenas sobrevivem referências toponímicas”.281 Sobre estes mártires de Viana temos vários testemunhos, nomeadamente do arcebispo de Braga D. Rodrigo da Cunha,282 do historiador vianense Cónego Boaventura Manuel Aranha,283 do P. António Machado Villas Boas,284 do P. Carvalho da Costa285 e outros. Limitemo-nos ao testemunho do autor da “História Eclesiástica dos Arcebispos de Braga” D. Rodrigo da Cunha.286 O P. Machado Vilas Boas informa-nos que “as relíquias dos santos estão sepultadas no monte em que estava situada esta antiga cidade”.287 Por sua vez, o P. Carvalho da Costa, na sua Corografia Portuguesa, referindo-se às várias capelas e ermidas existentes em Monserrate, diz-nos que “de novo se edifica uma ermida aos Santos Mártires Teófilo, Saturnino e Revocata, Padroeiros desta vila, que nela 280 Oc. p. 71 Ibid. p. 75 CUNHA, D. Rodrigo da - História Eclesiástica dos Arcebispos de Braga. Reprodução fac-similada I.Braga 1989 p. 153-154. Citada por M.Inácio Rocha 283 ARANHA Boaventura Maciel. Cuidados do Mestre Descuidos da Vida. Oficina de Francisco Borges de Sousa. Lisboa 1761 p. 354-355- Citada por M. Rocha 284 VILLAS BOAS. António Machado. Cathalogo dos Varoens Ilustres en Santidade, Letras e armas a Mui Notavel Villa de Viana do Lima (Manuscrito da BNL Nº 415- Fundo geral )Reedição do Instituto Cultural Galaico Minhoto. Braga 1984. Cit. Por M.Rocha 285 COSTA, António Carvalho da – Corografia Portuguesa. Tomo I, 2º ed. Braga, 1868. p. 170 286 Oc. p. 153-154 287 Oc. 281 282 O Convento das Ursulinas de Viana do Castelo 297 foram martirizados, cujas relíquias se conservam no monte de Santa Luzia, como diz a tradição e o afirmam alguns autores”.288 Foi a partir da crença nesta tradição, que venerava estes mártires como padroeiros e protectores de Viana, que Sebastião Barbosa Ribeiro, Vedor Geral da província do Minho, por sua devoção e com esmola, começou a edificar em 1726, no lugar da Boavista, na freguesia de Monserrate, uma capela dedicada aos Santos Mártires, padroeiros de Viana, cuja festa, por provisão do arcebispo de Braga D. Rodrigo da Cunha, de 17 de Janeiro de 1630, se devia celebrar e guardar dentro dos muros da cidade, a 6 de Fevereiro. Um século depois, nos finais de Setembro de 1730, a igreja era benzida com toda a pompa, tomando parte activa nestes trabalhos o vigário de Monserrate, António José de Santo Teodoreto.289 É de supor que esta construção, iniciada em 1726 por Sebastião Barbosa Ribeiro, não tenha sido o primeiro templo dedicado aos Santos Mártires, pois Carvalho da Costa afirma que “de novo se edifica uma ermida aos Santos Mártires Teófilo, Saturnino e Revocata, Padroeiros desta Vila”. O culto dos Santos Mártires de Viana remonta pelo menos a 1630, já que foi a 17 de Janeiro desse ano que D. Rodrigo da Cunha, respondendo a uma petição da Câmara e aos Capitulantes da Colegiada, instituíu a sua festa a 6 de Fevereiro, confirmada por provisão de D. Sebastião de Matos Noronha a 22 de Setembro de 1637.290 Nesse mesmo ano de 1637, a 6 de Novembro, “no caminho que vai para a ermida de pedreira no lugar que chamam Mosqueiros do termo da dita vila aí vieram em pessoas o Juiz e vereadores e procurador e mesteres e povo da dita vila a requerimento de Miguel Bezerra da Rocha(...) que ele quer fazer para veneração dos Santos Mártires Padroeiros desta vila Teófilo, Saturnino e Revocata.” A Câmara pôs as demarcações, ficando com o direito de participar nas festas e guardar a prata e ornamentos, e deu licença “para correr com a obra porquanto é em aumento deste Povo e ornato dele e mais veneração do culto e devoção dos Santos Mártires padroeiros desta vila e assim que o dito Miguel Bezerra se obrigava por si e por seus sucessores, a fabrica da dita Igreja e concerto dos caminhos e expediente das águas e para fazer a dita igreja, o que ele prometeu fazer.” 291 Segundo a tradição, o martírio dos Santos Vianenses ter-se-ia dado na própria citânia, onde estão sepultados os seus restos mortais, no local onde existiu a antiga capela de Santa Luzia e hoje se construíu o templo dedicado ao Sagrado Coração de Jesus. Migel Bezerra mandou construir a sua igreja mais no sopé do monte, no lugar chamado Mosqueiros, por a povoação se ter desenvolvido mais nesta zona. Mais tarde Sebastião Barbosa Ribeiro mandaria edificar no mesmo local, no lugar da Boa Vista, da freguesia de Monserrate, uma “espaçosa capela”. Supõe-se que o local fosse o mesmo onde hoje está a igreja dos Santos Mártires, até porque nomes como Boa Vista e Mosqueiros ainda por ali se conservam. 288 Oc. p. 170 GUERRA. Luís Figueiredo da. Archivo Vianense. Vol I Viana 1895. p. 87 AM.V.C. L.R. 6. fl 163 291 A M.V.C. L.ª 12 fls 24-24v Cit. Por M.Rocha 289 290 298 Adélio TORRES NEIVA O Recolhimento dos Santos Mártires ou das Beatas. Conta-nos ainda Manuel Inácio Rocha que junto a esta nova capela, havia uma casa térrea onde, em 1740, por concessão do P. Teodoreto se acolheu a Irmã Terceira, Isabel de S. Francisco, de Meixedo e uma outra devota que aí pretenderam fundar um convento de Religiosas Capuchas da Madre de Deus; mas como ela faleceu em 1745, o convento não se fundou, mas ali continuou, com a ajuda do arcebispo de Braga e uma doação testamentária de Ângela Cunha o edifício que albergava quatro ou cinco beatas. Este era o capital que constituía o património da capela dos Santos Mártires. Este recolhimento aparece com o nome de “Santos Mártires, Recolhimento das Beatas” numa planta de Viana de 1759. Será com base neste pequeno Recolhimento, onde algumas piedosas mulheres viviam já em comum, que o senado Vianense pede à Rainha D. Maria I, a fundação de um convento, graça que lhe foi outorgada por carta régia de 8 de Março de 1778, dando assim origem ao convento das Ursulinas de Viana. Em 1791 aparece já “com aula pública para meninas de fora e porcionistas de dentro”. Fundação do Real Colégio das Chagas de Viana da Foz do Lima O Real Colégio das Chagas de Viana teve a sua origem a partir da comunidade das Religiosas Ursulinas do Recolhimento de Pereira, em Coimbra. D. Miguel da Assunção, bispo de Coimbra, mandou vir os estatutos por que esta Ordem se regia em Toulouse, e neles fez instruir as recolhidas de Pereira, convertendo-as em Instituto de Ursulinas. Em 1753 aí professavam as primeiras 27 religiosas, tomando as mestras o hábito preto e as educandas o de lã azul. A Regra que professavam era a de Santo Agostinho, conservando porém, o colégio a denominação seráfica das Chagas de Cristo, nome que provinha do molde da primeira pedra, que tinha uma raja em relevo com as Cinco Chagas. Foi aí que as religiosas logo instalaram um colégio para a educação de meninas. Em 1778 daqui saíram as Religiosas que iriam dar início ao convento das Ursulinas de Viana da Foz do Lima. A iniciativa de aqui fundar um colégio partiu do Senado da Câmara de Viana que ofereceu para esse efeito ao convento de Vila Pereira o Recolhimento das Beatas. O facto veio a consumar-se algum tempo depois, tendo a Câmara obtido autorização régia para fundar o colégio, assim como metade do rendimento das sizas para a despesa dele e das Religiosas. A autorização régia é de 20 de Outubro de 1777. O projecto incluía o alargamento ou construção de um novo edifício com “dois andares altos”, aproveitando parte do antigo Recolhimento dos santos Mártires. Segundo uma planta da época, a obra tinha 20 cubículos e todas as oficinas necessárias. No frontispício da parte do colégio foi colocado, como ainda hoje se vê, o brasão das Chagas, e sobre o majestoso portão da entrada principal, as armas reais, sendo o novo estabelecimento de ensino, baptizado com o nome de “Real Colégio das Chagas”. A aprovação do arcebispo de Braga, D. Gaspar de Bragança, é de 5 de Junho de 1778. O Convento das Ursulinas de Viana do Castelo 299 As religiosas saíram do colégio de Pereira a 11 de Julho de 1778, e chegaram a Viana a 5 de Agosto desse ano. Foram recebidas em Viana, no cais de S. Lourenço (na margem esquerda do rio Lima), pelos vereadores da Câmara, que as foram esperar em barcos enfeitados. Estavam presentes todas as autoridades, muitas pessoas nobres, comunidades religiosas e outras pessoas distintas da cidade. Os sinos repicaram em todas as igrejas e as Religiosas foram levadas em seges para o novo colégio, acompanhadas do Senado e muito povo. Aí encontraram tudo preparado para iniciar as suas actividades. Eram 15 as freiras, mais uma irmã conversa e cinco meninas educandas, sob a direcção da própria superiora de Pereira, D. Luiza Maria das Chagas. Instaladas no seu novo convento, ainda em construção, logo a Madre Superiora pediu à Câmara para lhe conceder parte do terreno público e inculto, anexo ao convento, para cerca, horta, recreio e edifícios anexos, pedido logo satisfeito, procedendo-se a 12 de Agosto à respectiva demarcação, ficando salva a estrada pública que ia para a Areosa e livre o caminho que corria pela parte poente do mesmo colégio, ao redor do aqueduto que levava a água para o chafariz de S. Domingos. Era-lhes também concedido, tirar desse aqueduto um “anel de água perene, enquanto as suplicantes derem aula pública às meninas desta terra, que não forem Porcionistas ou viverem dentro do Claustro”.292 Assim, este colégio seria sempre justificado pelo ensino público que as Ursulinas ministravam às meninas que gratuitamente ali acorriam, embora com o estatuto de externas. No entanto, havia também as porcionistas ou pensionistas, com estatuto particular, que eram as educandas internas, com posses mais avantajadas. Deste colégio partiriam, em 1785, 9 religiosas que foram fundar um outro colégio das Ursulinas, em Braga, que ficaria instalado no antigo colégio de S. Paulo dos Jesuítas. Um ano após a chegada das Ursulinas a Viana, começaram a aparecer as primeiras postulantes, que após dois anos de noviciado, em 1781, faziam a sua profissão, segundo a Regra de Santo Agostinho, ao mesmo tempo que se organizavam as classes das meninas. De 1781 a 1829 professaram neste convento 52 Religiosas, tendo quase metade feito a sua profissão com menos de 20 anos, e o número de entradas para o noviciado foi de 62. As Irmãs Religiosas viviam cada uma na sua cela ou cubículo, as educandas internas viviam num apartamento separado, mas fechado dentro da clausura do mosteiro, e as educandas externas tinham instalações próprias, separadas das internas. O Real Colégio das Chagas de Viana do Lima Conforme afirma Manuel Inácio da Rocha “pode dizer-se que o carisma próprio da fundação de Ângela de Merici foi o da instrução do sexo feminino, 292 BEZERRA Manuel Gomes de Lima. Os estrangeiros no Lima Fac-simile da 1ª ed. Vol II p. 118 300 Adélio TORRES NEIVA sobretudo a partir da sua elevação à categoria de Ordem de clausura por breve de Paulo V de 13 de Junho de 1612, em que assumiu esta obrigação como 4º voto”.293 “Adrede ao mosteiro e como que fazendo parte da própria identidade conventual, existiam dois colégios de meninas: um de internas, chamado porcionistas ou pensionistas, geralmente constituído por meninas nobres e ricas que podiam pagar a sua hospedagem e educação; e outro público, gratuito, aberto à comunidade civil, destinado às educandas pobres ou de menos recursos. No entanto, embora as classes fossem separadas, pois as internas estavam sujeitas à disciplina da clausura, os objectivos e métodos pedagógicos eram semelhantes“.294 Além do ensino colegial, tinha o instituto ainda a obrigação de ensinar a doutrina cristã “às meninas de fora do convento e estas não entrarão dentro da clausura, mas na portaria, com a porta da rua fechada e nos dias e horas que a superiora determinar, aplicando também o seu zelo às pessoas de maioridade do seu sexo”.295 O Real Colégio das Chagas foi construído de raiz na parte norte do convento e integrado na clausura das Ursulinas, e incluía a albergaria destinada às educandas internas e a aula régia, onde decorriam as aulas. O convento comportava 30 celas no rés do chão e 40 no primeiro andar, 2 refeitórios e 2 cozinhas. A parte nova, que constituía propriamente o colégio ou aula régia, ainda hoje existe e tem sobre a porta principal o emblema das Cinco Chagas de Cristo, que as Ursulinas usavam no peito, e cujo nome – Chagas – era adoptado por todas na profissão solene. Era aqui que decorriam as aulas, tanto para as internas como para as externas, se bem que em compartimentos separados. O dormitório era constituído por salas com camas separadas por cortinas. O cemitério velho era atrás da capela-mor da igreja, mas em 1840 trasladaramse os ossos para dentro do templo e abriram-se 13 sepulturas no corpo da igreja, onde as religiosas foram enterradas até 1870; as últimas foram para a Ordem Terceira de S. Francisco. As festas que se celebravam no colégio, ainda em 1884, eram a dos Santos Mártires Vianenses no dia 6 de Fevereiro, que era Dia Santo de Guarda em Viana, por serem os padroeiros da cidade; as Chagas do Senhor na primeira Sexta-Feira da Quaresma e a de Santo Agostinho, no dia 28 de Agosto. O antigo portão do jardim tinha a data “Mayo, 30 anno de 1709”. A igreja estava no mesmo local onde hoje se encontra. A entrada principal do convento era formada por um portão monumental em estilo D. João V, tendo sido daí retirado em 1923, por iniciativa da Câmara Municipal e colocado entre o palácio Werneck e os jardins da Caridade, antigo convento de Santa Ana, no topo da Rua Cândido dos Reis. A frequência das alunas do Colégio das Chagas oscilou, ao longo de mais de um século, podendo talvez fixar-se numa média de 30 alunas internas e outras tantas externas. 293 294 295 Oc. p. 139 Ibid. Ibid. p. 139-140 O Convento das Ursulinas de Viana do Castelo 301 O ensino era considerado gratuito pelas Religiosas, sendo a propina paga pelas alunas internas destinada apenas aos gastos da alimentação e da hospedagem; as externas não pagavam nada. Este colégio constituíu “a partir de 1870, a mais importante e eficiente instituição de ensino de meninas a norte do Douro, e uma das mais antigas escolas do sexo feminino no nosso país“.296 Com as convulsões liberais e a perseguição religiosa, sobretudo com o decreto de 5 de Agosto de 1833 de Mouzinho da Silveira e o de 28 de Maio de 1834 de Joaquim Augusto de Aguiar, que proibiam que novas religiosas pudessem professar, o Real Colégio das Chagas foi entrando em morte lenta. A generalização e a laicização do ensino oficial do sexo feminino, levada a cabo, sobretudo a partir dos governos da Regeneração, com a criação de novos colégios e escolas públicas, agravou-se ainda mais a situação já precária do Real Colégio das Chagas. Durante quase um século, a primeira e única escola pública para o sexo feminino, no distrito de Viana do Castelo, foi a do Real Colégio das Chagas do convento das Ursulinas, mas durante as décadas de 60 e 70 todo o distrito de Viana foi coberto por escolas oficiais do sexo feminino.297 Entretanto, outros colégios se fundaram em Viana, mais consonantes com as novas tendências das famílias nobres, sobretudo no que ao ensino das línguas estrangeiras se refere. Devido a todos estes factores e também à decrepitude crescente das mestras Ursulinas, cada vez menos e sem hipóteses de renovação, o Real Colégio acabou primeiro com o ensino interno e depois com a aula pública, esta acontecida muito provavelmente em 1881, até fechar definitivamente em 1884, com a morte da última religiosa D. Francisca Rita Maria das Chagas Malafaia, falecida a 30 de Julho de 1884. Os destinos do Convento das Ursulinas Após o enterro da última freira, conforme a lei estabelecia, o convento foi entregue à Fazenda Nacional. Todo o edifício, incluindo o claustro, a casa do capelão e o colégio, a hospedaria foi avaliado apenas em um conto de réis, pois o estado em que tudo se encontrava era péssimo; por sua vez, a água da mina de Bade de S. Mamede, da freguesia da Areosa, a que o convento tinha direito, foi avaliada em seis contos. A igreja, bem como as alfaias litúrgicas e mais objectos de culto, foram entregues ao Arcipreste, ficando depois a pertencer à Confraria dos Santos Mártires de Viana, fundada em 1877, com estatutos aprovados a 7 de Novembro desse mesmo ano, pelo arcebispo de Braga, D. João Crisóstomo de Amorim Pessoa. 296 297 Oc. p. 162 Ibid. p. 191 302 Adélio TORRES NEIVA Os móveis pertencentes ao convento foram arrematados em hasta pública por uma ninharia. O convento e a cerca foram arrendados em hasta pública, mas os arrendatários desbarataram tudo. Em Abril de 1888, a Junta Geral do distrito pediu ao Governo o convento das Ursulinas e sua cerca, para aí estabelecer um “Asilo-escola para expostos e desvalidos ou desamparados maiores de sete anos” que lhe foi concedido, com exclusão de uma tira da cerca que fora do primeiro património dos Santos Mártires, casa do capelão, torres, claustros, casas de aulas, locutório e estalagem, que ficava para uso da Confraria dos Santos Mártires.298 Mas em 1892, o convento voltou à posse da Fazenda Nacional, degradando-se cada vez mais, até chegar a quase completa ruína. Igreja do Convento das Ursulinas Em 1895, o convento foi concedido à Santa Casa da Misericórdia e Hospital de Viana do Castelo, com a respectiva igreja e suas dependências, para aí se estabelecer o Recolhimento de S. Tiago para Órfãos, e um hospital para convalescentes. Mas esta concessão não se chegou a implementar e dois anos depois, o convento voltava para a posse da Fazenda. Nesse ano de 1897, a igreja era entregue, mais uma vez, à Confraria dos Santos Mártires, que a havia pedido, bem como as alfaias, vasos sagrados e demais objectos de culto. Na igreja existem ainda as imagens de Santa Ângela de Merici e Santo Agostinho, que, além do Senhor das Chagas, alimentavam a espiritualidade das Ursulinas. Entretanto o velho edifício continuou a degradar-se, até que a 2 de Julho de 1901 foi posto à venda, por um conto de réis, mas não apareceu comprador. A cerca do convento e os terrenos anexos foram objecto de um plano de urbanização. Foi então arrematado por Domingos José de Morais, por 801 réis. O novo comprador mandou reconstruir o convento e aí fundou uma escola de ensino primário gratuito, pelo método João de Deus, a que deu o nome de “Escola Domingos José de Morais”. Esta escola funcionou durante alguns anos, até que em 1915 o convento foi vendido à Câmara Municipal de Viana, para aí estabelecer o quartel da Guarda Nacional Republicana, contrato que depois foi anulado.299 298 299 D. G. nº 262 de 15.11. 1888. Decreto de 08.11.1888 ARAUJO, José Rosa, In Notícias. Suplemento de 07.02.1963 303 Capítulo 33 O Seminário de Viana do Castelo Primeiras diligências E m 1884, alguns meses após a morte da última religiosa do Convento das Ursulinas, o Dr. Fernando Pedroso, grande amigo dos Espiritanos, escreveu várias cartas ao P. José G. Eigenmann, superior da Congregação do Espírito Santo, em Portugal, propondo-lhe o estabelecimento por parte da Congregação de uma obra agrícola e de um escolasticado no antigo Convento das Ursulinas. Como o P. Eigenmann se mostrasse pouco interessado com a proposta, o Dr. Fernando Pedroso escreveu directamente ao Secretário Geral da Congregação em Paris, o P. Désiré Barillec insistindo na dita proposta.300 Segundo este projecto, a Congregação estabeleceria em Viana uma obra agrícola e apostólica e para aí transferiria o escolasticado. Em carta dirigida ao P. Barillec de 4 de Novembro de 1884, o P. Eigenmann, explica-lhe que o Dr. Fernando Pedroso pensava que o convento estivesse em bom estado, que fosse uma propriedade avantajada, cercada por uma extensa quinta com 40 ou 50 hectares. Ora o P. Eigenmann fora pessoalmente visitar o convento, e verificou que as coisas não eram como o Dr. Fernando Pedroso pensava. O convento não era tão grande como isso, encontrava-se muito degradado, o terreno arável da quinta não ia além dos 8 a 10 hectares e uma parte era totalmente improdutiva. O convento não tinha rendimentos, e para o activar seriam precisos pelo menos de 25.000 a 30.000 francos, verba que o Governo provavelmente não libertaria e de que a Congregação não poderia dispor, a não ser que o convento nos fosse efectivamente dado e não apenas alugado com uma espécie de usufruto e toda uma série de cláusulas, onerosas e vexatórias, como seriam as que o Dr. Fernando Pedroso propunha. Além disso, a igreja tinha já sido cedida a uma confraria de Viana. Se o convento estivesse em bom estado e fosse dado sem condições nem restrições, poder-se-ia estabelecer não tanto uma obra agrícola, mas um noviciado ou pequeno escolasticado. Mesmo assim, para esta obra poder subsistir, seria necessário acrescentar-lhe uma outra obra, por exemplo, um seminário menor. Mas neste caso, seria necessário fazer muitas construções, pois as que existiam 300 AGCCSSp. Portugal. 21/10/ 1884- Cit. por A. Brásio SMH Angola III – p. 257 304 Adélio TORRES NEIVA actualmente seriam insuficientes e ter-se-ia necessidade do dobro do pessoal que havia em Braga.301 Devido à insistência do Dr. Fernando Pedroso, o P. Eigenmann resolveu fazer uma segunda visita ao velho convento, fazendo-se desta vez acompanhar por um engenheiro, para se fazer uma avaliação mais qualificada da situação. Em carta desta vez dirigida ao Superior Geral da Congregação, P. Ambroise Emonet, o P. Eigenmann corrige bastante as reservas que pusera anteriormente ao projecto, e emite um juízo muito mais positivo sobre a viabilidade desta obra. O conjunto estava cercado por um muro sólido e elevado, poderia ter uma superfície de 18 a 20 hectares no máximo, era ocupado pelas construções, por 4 hectares de terras incultas e o resto era de campos e pomares. O convento tinha água corrente em abundância, avaliada em 40.000 francos, o que permitia uma cultura lucrativa dos terrenos cultiváveis. A situação era esplêndida, alcandorada numa pequena colina, virada para o mar; a cidade possuía um pequeno porto e era rodeada por uma grande parte do vale do Lima. O local era muito saudável e prestava-se admiravelmente para uma estação de banhos de mar. A capela do convento, pouco mais ou menos do tamanho da capela do Coração de Maria, da casa espiritana da Rua Lhomond, tinha sido cedida a uma confraria, mas teriam muito gosto em ceder o seu pleno uso aos padres que porventura ali se estabelecessem. O convento formava com a capela um rectângulo, com 45 metros de comprimento e 18 de largura. Os muros, as vigas, a armação do telhado, em geral estavam em bom estado, mas as portas, as janelas, o soalho e os tectos precisavam de uma remodelação completa. A hospedaria exterior poderia servir pouco mais ou menos tal como estava; mas a cozinha e suas dependências estavam em completa ruína, pelo que não poderiam ser utilizadas tais como se encontravam. As construções existentes, convenientemente reparadas, poderiam talvez receber uns 60 a 80 alunos, além do pessoal docente e de serviço. As construções destinadas às culturas, galinheiros, etc. estavam em bom estado. Em resumo, o convento poderia ser utilizado para um pequeno escolasticado com noviciado de irmãos. Até porque a cidade, além do liceu, não dispunha de nenhum colégio e, por sua vez, a população desta zona do Alto Minho era religiosa e relativamente fecunda em vocações eclesiásticas; era de prever que não faltassem também vocações para a vida religiosa. De notar, que os Jesuítas já por ali tinham feito as suas prospecções, mas devem ter abandonado a ideia, provavelmente por terem achado o convento muito deteriorado. E o P. Eigenmann termina, confessando que se precipitara no seu primeiro juízo e confessa que, se o Governo cedesse o convento, poder-se-ia aí estabelecer uma obra de recrutamento de vocações, com a faculdade de lhe anexar um 301 AGCCSSp. p. 391 O Seminário de Viana do Castelo 305 estabelecimento de instrução secundária, por exemplo, um seminário menor. Para aceitar este projecto, haveria que considerar duas hipóteses: na primeira, o Governo faria uma doação plena e inalienável do convento à Congregação ou à missão da Huíla, a qual assumiria as despesas de adaptação ou então, se o Governo não estivesse disposto a fazer uma doação plena, poder-se-ia receber o convento como usufrutuário se este usufruto fosse por um tempo bastante longo, de modo a permitir cobrir todas as despesas aí efectuadas. Na segunda hipótese, poder-se-ia aceitar o convento por um simples uso razoável, com a condição de o Governo cobrir todas as despesas de reparação e conservação, em favor da missão. Mas esta hipótese teria poucas probabilidades de ser aceite pelo Governo, e de resto não seria a mais desejável. O Dr. Fernando Pedroso tinha já feito as primeiras diligências e não se deveria pôr a ideia de parte sem mais. Até porque o Governo tinha já mandado suspender a ordem de venda e tinha-o alugado apenas por um ano. E o P. Eigenmann lembrava que um seminário menor exigia menos pessoal que um colégio, e quatro ou cinco professores seriam suficientes, e que o professor que leccionasse em Braga poderia também fazê-lo em Viana.302 No ano seguinte, a 13 de Janeiro de 1885, o P. Emonet, Superior Geral da Congregação, veio de visita a Portugal. Aproveitando a sua estada em Braga, deslocou-se a Viana do Castelo, em companhia do seu secretário o P. Barillec e o P. Eigenmann, a fim de visitar o convento das Ursulinas, e certamente, ajuizar melhor da viabilidade de o adquirir. O sítio era realmente esplêndido, situado à beira-mar, o terreno extenso e de boa qualidade, a água abundante, numa palavra, a propriedade ajustava-se perfeitamente ao fim que se pretendia.303 De regresso a Lisboa, o P. Emonet efectuou algumas visitas importantes, onde os assuntos da Congregação foram tratados, incluindo naturalmente o “dossier” do convento das Ursulinas: ao Núncio Apostólico, Mons. Vannutelli; ao patriarca de Lisboa, D. Neto, antigo bispo de Luanda, bem como ao seu coadjutor, o arcebispo de Mitilene; ao embaixador da França, M. de Laboulaye, muito aberto às obras religiosas; às Irmãs de S. José de Cluny de Carnide; aos Padres Lazaristas, de S. Luís dos Franceses; ao asilo das Irmãs da Caridade; ao Dr. Fernando Pedroso, que viera expressamente para tratar dos assuntos da Missão da Huíla, especialmente do convento das Ursulinas. Mas dos resultados de todas estas diligências, os documentos nada nos dizem, e do convento das Ursulinas não mais se falou até 1922, data em que o assunto seria retomado pelo novo Provincial de Portugal, o P. Moisés Alves de Pinho. A compra do Convento das Ursulinas para Seminário das Missões Em 1919, o P. Moisés Alves de Pinho era nomeado como já dissemos, novo Provincial de Portugal e incumbido pela Casa Mãe de restaurar a Província de 301 302 303 AGCCSSp. p. 305 BGCSSp. 1885-1886 p. 551 Ibid. 306 Adélio TORRES NEIVA Portugal, que a Revolução de 1910 tinha desmantelado. O P. Pinho começou por encontrar em Braga uma casa onde fundou um seminário menor. Mas logo depois começou a preocupá-lo a ideia de encontrar um segundo local para albergar os seminaristas, à medida que eles terminassem os estudos preparatórios. Como primeira solução aparecia o seminário maior que a Congregação possuía em França. Mas o clima húmido e frio do norte da França não parecia boa solução para os seminaristas portugueses. Já as épocas anteriores tinham sido marcadas por experiências negativas com esta solução, conforme vimos já. Primeiro, encontrou-se uma solução provisória em Godim, onde se conseguiu uma casa para três alunos de Filosofia e dois padres, mas que serviria apenas por um ano. Entretanto, acabava de chegar da Suíça, para onde tinha ido restabelecer-se da sua saúde abalada, um dos nossos estudantes, o Aquilino Câmara, que fora ordenado na capela do Paço, em Braga, tendo ido celebrar a Missa Nova à sua terra natal, perto de Leiria. O P. Pinho acompanhou-o como pregador da Missa Nova, aproveitando ao mesmo tempo para fazer um dia missionário nessa terra. Tendo comparecido na festa o superior de Lisboa, acompanhado de um amigo seu conterrâneo e também amigo da Congregação, este, ao saber das preocupações do P. Pinho, convidou-o a ir visitar uma propriedade ali das vizinhanças, pois talvez ela servisse para a obra que o P. Pinho pretendia lançar. A família teria gosto em facilitar a venda, tanto mais que se tratava de um seminário. A propriedade oferecia algumas vantagens, embora as obras a fazer, de mais a mais numa propriedade alugada, pusessem alguns problemas. Aconteceu, porém, que os jacobinos das redondezas, ao saberem das pretensões do P. Pinho, logo começaram a levantar o boato de que ali se estava a organizar “um coito de Jesuítas”, onde já se celebravam missas e novenas, de dia e de noite, a ponto de a família ficar atemorizada e decidir não arrendar a propriedade. O P. Antunes, usando das suas influências na capital, foi abordando o assunto, e foi aconselhado a procurar a solução de preferência no norte do país. Aconteceu por essa altura, que a Madre Catarina Ornelas, assistente geral das Irmãs de S. José de Cluny, em Paris, veio a Portugal, também à procura de uma casa para noviciado e postulantado da sua Congregação. Acabaria por encontrar uma solução provisória em Anadia. Entretanto pediu ao P. Pinho para a acompanhar a Viana do Castelo, onde desejava contactar com alunas do seu antigo colégio nessa cidade. Antes de fazer a viagem, o P. Pinho escreveu a um dos seminaristas dos arredores de Viana, o José Neiva Araújo, pedindo-lhe que procurasse saber se por ali haveria possibilidades de encontrar uma casa para ele e os outros seminaristas. O José Araújo, respondeu-lhe, sugerindo-lhe a hipótese do convento das Ursulinas. Chegados a Viana, do alto da casa de uma antiga aluna de S. José de Cluny, o P. Pinho pôde admirar o convento, da parte voltada para o mar. Parecia, efectivamente uma boa solução. Para lá se dirigiu, fazendo uma rápida visita à casa e à quinta, onde lhe foi dito que havia quem pretendesse a casa para um O Seminário de Viana do Castelo 307 hotel. O proprietário era professor no Reformatório de Caxias e estava disposto a vender. De regresso a Braga, o P. Pinho pediu ao P. Clemente Pereira da Silva e aos Irmãos construtores Marcelino e Protásio, para irem visitar a casa e colherem mais informações. Lá foram, entraram no convento, falaram com o guarda, visitaram tudo e regressaram com boas notícias. A parte da casa já acabada prestava-se a ser imediatamente utilizada. O restante, quase toda a casa, poderia concluir-se com o trabalho dos Irmãos construtores e os postulantes aprendizes. Era só fazer novas divisões e abrir uma escada a meio da ala principal. Souberam ainda que o proprietário não estava interessado na casa, e que a recebera como pagamento de uma dívida e a venderia por preço moderado. E mais disseram os técnicos: os materiais com que a casa estava feita, embora por acabar, valiam mais que o preço de toda a obra. Foi com estes dados que, numa bela tarde de Outubro, o P. Pinho se dirigiu a Caxias, a fim de contactar o proprietário da casa, o P. Manuel de Araújo Coutinho, natural de Vila de Punhe e residente na Escola Central de Reforma de Lisboa, em Caxias, que tinha adquirido o convento por venda feita por D. Rosa de Jesus Formigal de Morais, pela quantia de 1.400 escudos. O encontro com o proprietário foi, no dizer do P. Pinho, o melhor que se poderia desejar. Vendia por preço moderado, tinha gosto que o convento fosse transformado em Seminário das Missões e de bom grado fazia um desconto. O pagamento seria feito quando a Congregação o pudesse fazer. A única dúvida que restava era saber até que ponto a autoridade do distrito de Viana do Castelo acolheria bem a ideia, pois a política partidária estava ainda muito viva na época. Mas também aqui não se puseram dificuldades e a intervenção do autarca do distrito contribuiu mesmo para que tanto a Câmara como as Obras Públicas libertassem a parte da casa que tinham alugado para depósito de materiais de construção. Bom acolhimento seria também dispensado tanto pela população local como por parte do clero de Viana, a quem a ideia da ajuda pastoral por parte do seminário não deixava de sorrir.304 Foi assim, que a 3 de Novembro de 1922, era lavrada a escritura da venda do antigo convento das Ursulinas, no cartório notarial do Dr. António Gonçalves Videira, da rua de S. Julião, 134-1º - Lisboa. Vendia a propriedade o P. Manuel de Araújo Coutinho, morador na Escola Central da Reforma de Lisboa, em Caxias, e comprava-a D. José Maria Queirós de Lencastre, residente na Quinta do Casal, em Godim, por intermédio do seu procurador Dr. António Umbelino Cardoso da Silva, morador em Paços de Ferreira. O P. Manuel de Araújo Coutinho era o dono dessa propriedade, descrita na escritura como um prédio urbano e rústico, composto de uma parte com duas lojas e primeiro andar, e outra parte ainda em construção, tendo somente as paredes mestras, frentes e parte do vigamento e mais apetrechos destinados ao acabamento do prédio, tais 304 PINHO, D. Moisés Memórias p. 156-158 308 Adélio TORRES NEIVA como, mosaicos, madeiras e grades de ferro, e de terreno de horta e videiras para parreiras, no sítio das Ursulinas, freguesia de Monserrate, em Viana do Castelo. Confrontava a norte e poente com caminho público e a nascente e sul com a igreja das Ursulinas e caminho público. Este prédio fora de D. Rosa de Jesus Formigal de Morais, moradora na Rua da Bela Vista, à Lapa, nº20, em Lisboa, que o recebera como pagamento da sua meação, na partilha feita no inventário por falecimento do seu marido Domingos José de Morais. O P. Manuel Coutinho comprara-o a D. Rosa Formigal de Morais a 7 de Março de 1918. A venda do prédio era agora feita a D. José Maria Queirós de Lencastre, com todas as suas pertenças, serventias, logradoiros e acessórios, por 5.000 escudos. Como testemunhas desta venda figuram João Francisco Gomes e o P. Joaquim Alves Correia, residente na Travessa Lázaro Leitão, nº24, 1º andar, em Lisboa.305 Esta casa, a segunda que a Congregação do Espírito Santo possuía em Portugal, após a derrocada de 1910, destinava-se a servir de Seminário Maior, para os aspirantes ao sacerdócio. Fora comprada por intermédio de D. José de Lencastre, amigo e antigo aluno do Colégio do Espírito Santo, por medida de precaução contra possíveis expropriações revolucionárias, no futuro. Os primeiros tempos A 1 de Novembro de 1922, dia de Todos os Santos, chegavam ao velho convento das Ursulinas os primeiros trabalhadores: o Irmão Marcelino, construtor, o Irmão Protásio, mestre carpinteiro, mais os Irmãos Valfredo e Baptista, para iniciarem as obras de restauro e adaptação. Os primeiros escolásticos, Joaquim Correia de Castro, Aquilino e Mesquita, deram entrada no novo seminário a 24 de Novembro desse ano, acompanhados do novo superior, o P. João Cardona. Nesse mesmo dia prepararam a capela provisória, tão provisória, que, dois dias depois, foi necessário transferi-la para a sala que, durante uns dias, serviu de quarto para o superior. No dia 25, segundo o Diário da Comunidade e no dia 24, segundo o testemunho de D. Moisés, foi celebrada pelo P. Cardona, a primeira missa na comunidade, “no obscuro e humilde cartório, que mais parecia “uma nova La Neuville ou canto das catacumbas”, e a vida do seminário começou sob a protecção do apóstolo S. João Evangelista, modelo dos sacerdotes. O número dos escolásticos foi aumentando, com a chegada dos jovens, Peixoto, Misseno e Vieira, aos quais se juntou, no dia 19, o José Neiva Araújo. Ao todo eram oito: Álvaro Misseno, Joaquim Correia de Castro, Aquilino Câmara, José Neiva Araújo, Manuel Conceição Azevedo, Júlio Mesquita, José António Peixoto, Agostinho Martinho Viana Os professores eram: P. João Cardona (Moral), P. Manuel de Jesus Raposo (Filosofia e Direito Canónico), P. Daniel Junqueira (Dogma e História). 305 APPSSp. Arquivo do Economato Provincial O Seminário de Viana do Castelo 309 De notar que logo, nesse ano, o Visconde de Montedor abriu uma subscrição a favor do novo seminário, entrando ele com 500 escudos. De resto, foi o primeiro benfeitor a fazer uma visita ao Seminário, a 17 de Dezembro. No dia de Natal, 25 de Dezembro, seria a comunidade a retribuir-lhe a visita, indo celebrar missa da meia-noite à sua capela. Após três dias de retiro, de 30 de Novembro a 3 de Dezembro, a abrir o novo ano, começaram as aulas. Era o dia 4 de Dezembro. A 29 de Novembro de 1922, o P. Cardona comprava a Manuel Rodrigues da Silva uma pena de água da mina da Pedreira, do lugar dos Sobreiros, do Monte de Santa Luzia, tomada do cano da Câmara Municipal que passava a nascente do convento das Ursulinas, pela quantia de mil escudos. E a 18 de Dezembro era inaugurada a instalação da água canalizada; até aí tinha que se ir buscar ao fontanário público. A luz só foi instalada no fim do mês, a 30 de Dezembro. A 16 de Dezembro é inaugurado o novo refeitório, pois no antigo chovia. A 27 de Dezembro teve lugar a primeira Bênção do Santíssimo Sacramento com custódia, e a 16 de Janeiro de 1923 era inaugurada a capela. Uma grande parte das madeiras para as obras nos primeiros anos, pinheiros e eucaliptos, foram dadas pelos melhores lavradores das freguesias vizinhas. Houve várias procissões de carros vindos um dia de Anha, outro dia do Outeiro, outro da Areosa e depois de Santa Marta, etc. Como se vê, as condições, ao princípio, foram bastante precárias, mas pouco a pouco foram melhorando. Nos anos seguintes, foi possível prolongar a ala principal para norte, com um segundo andar, que acabaria por se estender a todo o edifício. Como a cerca do seminário era muito pequena e se ofereceu a oportunidade da compra do terreno adjacente, com cerca de 5.000 m2, composto por um quintal com dois prédios rústicos, que foram já pertença do convento das Ursulinas, mas que a proprietária D. Amélia Rosa de Jesus Formigal de Morais tinha vendido a Domingos Parente a 14 de Julho de 1917, D. José de Lencastre resolveu comprálo a 22 de Dezembro de 1927, com direito a meia pena de água. Uma outra compra, a de uma casa baixa, no bairro das Ursulinas, confrontando a norte e a nascente com caminho público, foi feita pelo P. Pinho, a 8 de Março de 1930, a Maria Miranda Coutinho e seu marido Manuel Inácio da Costa.306 A 21 de Abril de 1923 inauguram-se os nove quartos novos do lado norte do novo edifício. No dia 5 de Agosto de 1923 foram ordenados, no seminário de Braga, pelo arcebispo D. Manuel Vieira de Matos, os dois primeiros sacerdotes: os Padres Joaquim Correia de Castro e Álvaro Misseno. No dia 6, o P. Álvaro Misseno celebrava no seminário de Viana a sua primeira missa. A 7 de Setembro de 1923 despediu-se da comunidade o P. Cardona, que foi enviado para a missão de Malanje. 306 APPSSp. Arquivo do Economato Provincial 310 Adélio TORRES NEIVA A 23 de Setembro tinha lugar neste seminário o primeiro retiro dos padres da Província. Nele participaram os Padres António Teles, Joaquim Alves Correia, Clemente Pereira da Silva, Daniel Junqueira, Manuel de Jesus Raposo, Giocondo Adriani, Cândido Ferreira da Costa, Agostinho Pintassilgo, António Nunes Costa e os escolásticos: Joaquim Correia de Castro, Álvaro Misseno, Aquilino Câmara e José António Peixoto. Orientou o retiro o P. Pinho. No ano escolar de 1923-1924 abriu-se uma secção para aspirantes do primeiro ano de preparatórios, ao todo 26, de quase todas as dioceses de Portugal, e aqui se manteve por alguns anos, juntamente com o Grande Escolasticado, até à sua transferência para S. Tomás de Aquino, em Braga. Nesta altura os filósofos eram 8 e os teólogos 3. Em 1925-1926 o corpo docente era formado pelos PP. Moisés Alves de Pinho, Manuel de Jesus Raposo, Agostinho Pintassilgo, Joaquim Correia de Castro, Rost, António Nunes Costa. A primeira visita importante ao seminário foi a do Sr.Núncio Apostólico, a 16 de Julho de 1925; aqui permaneceria durante alguns dias, recebendo a visita dos padres do arciprestado de Viana do Castelo. No ano lectivo de 1925-1926 o pessoal da comunidade era formado pelos PP. Pinho, provincial, Raposo, Nunes Costa, Joaquim Castro, Rost, Agostinho Pintassilgo e Adriani. A 21 de Junho de 1926 chegavam de França as imagens do Imaculado Coração de Maria e de Santa Teresinha do Menino Jesus. A 11 de Outubro de 1926 celebrava no seminário a sua Missa Nova o P. José Neiva Araújo. A 24 de Setembro de 1927 tomava posse o novo superior da comunidade, P. José Pacheco Monte. A 9 de Maio de 1928 o P. Pinho reunia no seminário os provinciais das outras congregações religiosas: P. António Coelho, OSB, P. Cipriano do Vale, OFM, P. Cândido Mendes, SJ, P. Sebastião Mendes, CM, P. José Maria Coelho, PSS, P. José Lourenço, OP, P. José Nunes Monteiro. Foi como que o embrião da futura CNIR (Conferência Nacional dos Institutos Religiosos). A 15 de Outubro de 1928 começava o externato com três alunos, sendo seu director o P. Cândido Ferreira da Costa. A 1 de Outubro de 1929 falecia o primeiro confrade desta comunidade, o P. Rost. Em 1929-1930 a comunidade era formada pelos Padres Moisés Alves de Pinho, Provincial, Clemente Pereira da Silva, superior, Miguel Fonseca, Alberto Brun, Pagualt, Cândido Costa e Joaquim Castro. A 10 de Dezembro de 1929 iniciava-se uma nova construção no seminário com o lançamento da primeira pedra. No dia 6 de Maio de 1930 tomavam hábito os escolásticos Aníbal Rebelo e Cardoso. E a 5 de Outubro desse mesmo ano eram ordenados de presbítero os Padres Angelino Guimarães, José Terças, Francisco Alves do Rego, Manuel António de Sousa, Adriano Rocha e Déon. O Seminário de Viana do Castelo 311 Em 1931 frequentavam o seminário, além dos filósofos e dos teólogos, dois grupos de estudantes: o das vocações tardias e os alunos externos que frequentavam as aulas no seminário, mas não viviam lá. A 12 de Julho de 1931 foi a primeira festa da Consagração ao Apostolado: foram enviados em missão os Padres Angelino Guimarães, José Terças, Manuel António de Sousa, Francisco Rego e Adriano Rocha. A 13 de Maio de 1932, na secretaria notarial de Paços de Ferreira, perante o notário José Augusto da Costa Eiras, D. José de Lencastre e sua esposa D. Maria Haidée Cardoso da Silva Lencastre, faziam doação do prédio do convento das Ursulinas à Corporação dos Missionários do Espírito Santo de Angola, na pessoa do representante da dita Corporação, o P. Moisés Alves de Pinho, ali representado pelo seu procurador, o P. António Ferreira Lombo, pároco de Paços de Ferreira, para preparação e instrução dos missionários do nosso Ultramar. Se por qualquer motivo, a Congregação não quisesse ou não Viana - 1931 pudesse utilizar para o fim acima indicado, os supra aludidos prédios reverteriam para o doador ou seus descendentes. Esta doação foi avaliada em 6.700 escudos. 307 A 24 de Julho de 1932 ausenta-se para o Fraião, como superior dessa comunidade, o P. Joaquim Correia de Castro. A 28 de Setembro de 1932 falece em Braga D. Manuel Vieira de Matos, grande amigo da Congregação do Espírito Santo; no funeral, a comunidade de Viana fez-se representar pelo seu superior, P. Joaquim Alves Correia, além do P. Provincial, P. Clemente Pereira da Silva. A 11 de Outubro de 1932 toma posse do cargo de superior do seminário de Viana do Castelo o P. Joaquim Alves Correia. A 24 de Abril de 1933 começam novas obras, para a construção de mais um andar no antigo edifício; no centro do edifício haverá um terceiro andar, e na parte voltada para a cidade uma galeria aberta em toda a extensão. No centro ficaria um corredor e a parte do edifício próxima da igreja seria reservada para hóspedes. Em Junho de 1933 aparecia o primeiro número do jornal “Entre Nós”. A 29 de Setembro de 1935, por proposta do Director da escola Colonial Conde de Penha Garcia, os teólogos do IV Ano de Teologia partiam para Lisboa, a fim de frequentarem a Escola Colonial, tendo-os acompanhado o P. Alves Correia, e P. Manuel Raposo. Como superior da comunidade é nomeado o P. António Ribeiro Teles. 307 APPSSp. Arquivo do Economato Provincial 312 Adélio TORRES NEIVA A 7 de Novembro de 1935, o Provincial que até então residira no seminário de Viana, partiu para a sua nova residência, no Porto. Durante o ano de 1935 mudou-se para o campo e aumentou-se a pocilga, que ficou muito espaçosa, remodelou-se a cozinha e anexos, refeitório, museu, salão de teatro, etc. Em 1937, porque a Santa Sé impunha numerosas aulas no 4º ano de Teologia, e a sua presença em Lisboa não tinha condições para isso, o 4º ano de Teologia voltou para Viana. Em Outubro de 1938, os alunos eram 48: 4 do quarto ano de Teologia e 10 de cada um dos outros anos e 7 de Filosofia. Com os padres, trabalhavam no seminário os Irmãos Emílio, João Baptista, Clemente, Augusto, André e Martinho. Em 1940 o “Entre Nós” converte-se em “Acção Missionária”, sendo expedido de Viana. Neste ano foi decidido ficar em Viana um grupo de 20 aspirantes, para fazer a instrução primária; os outros principiantes iriam para a Guarda e para a Silva. A 12 de Maio de 1940, na Festa do Pentecostes, foi erecta canonicamente, na igreja do Seminário, a Confraria do Espírito Santo. A 20 de Setembro de 1942 era inaugurada uma nova capela. Em Outubro de 1942 o P. Duff partia para Cabo Verde juntamente com o P. Henrique Alves, e em Viana ficava apenas o Curso de Teologia com 39 alunos. O curso de Filosofia passou para o Fraião, e lá esteve até 1947, ano em que voltou para Viana. A 8 de Dezembro de 1942, fez-se a consagração da comunidade ao Coração Imaculado de Maria, associando-se assim à Consagração do mundo que o Papa fizera no anterior dia 31 de Outubro. Em 1945, a 30 de Maio, foi colocada na extremidade do jardim uma imagem do Coração Imaculado de Maria. Em 1947-1948 passou a haver em Viana além da Teologia, também o terceiro ano de Filosofia. O corpo docente era formado pelos PP. António Teles, superior, Cândido Costa, director, Fernando Moreira, Douce, António Rodas, Georger, Aníbal Rebelo, Domingos Salgueiro e Van den Berge. Os Irmãos eram: Emílio, Marcelino, Luís, Firmino, Manuel e Tito. Em 1949-1950, além da Teologia, havia o 2º e 3º ano de Filosofia. Sendo 47 os teólogos e 20 os filósofos. Em 1952, o Curso de Teologia parte para o seminário da Torre da Aguilha, que se acabava de construir. A partida do Curso de Teologia de Viana do Castelo para a Torre da Aguilha foi precedida de uma sessão solene de despedida, no Liceu da Cidade, a 7 de Outubro de 1952. O Curso teológico deixaria definitivamente o Seminário a 29 de Outubro de 1952, em carruagem especial da C.P. a caminho da Torre da Aguilha. O novo ano de 1952-1953, agora só com o curso de Filosofia começou com o P. José Pereira de Oliveira a superior, P. Francisco Lopes a director e, como professores, os Padres Domingos Rodrigues, Aníbal Rebelo, Avelino Vieira Alves, António Martinho e Henrique Alves. Os Irmãos eram: Manuel, O Seminário de Viana do Castelo 313 Antonino, Bento e Marcelino. A Filosofia incluía o primeiro e o segundo ano, num total de 33 alunos. Em 1955-1956 o director era o P. Fernando Moreira e os professores os PP. Aníbal Rebelo, José Aguiar, Oliveira Giroto e António Antunes Pinto. A 10 de Setembro de 1956 começaram as obras de adaptação do seminário a escolasticado menor. Desapareceu a maior parte dos quartos e, em seu lugar ficaram salas de aulas e dormitórios; a capela ficou onde era o salão de estudo. Em Outubro desse ano o Curso de Filosofia deixava Viana do Castelo, passando agora o seminário a ser um pequeno escolasticado. Este ano entraram 109 alunos que iriam frequentar os dois primeiros anos do Liceu. 69 eram do Iº ano e 39 do 2º. Destes, 17 vinham da Silva e 22 de Godim. No verão começaram a ir passar férias, em acampamento à Foz do Neiva. Neste ano de 1956-1957 o superior e director era o P. António Alves de Oliveira e os professores os Padres Domingos da Cruz Neiva, Jerónimo Ferreira, Joaquim Pinto, José Pereira Marante e Ernesto de Azevedo Neiva. Fazia também parte da comunidade o P. Adélio Torres Neiva a preparar a sua admissão à Universidade. No ano seguinte, 1957-1958, os alunos do segundo ano eram 42 e os do primeiro 54, num total de 96. Em 1959 chegou à comunidade o seu novo superior e director, P. Amadeu Gonçalves Martins. O Seminário de Viana - 1.ª Fase corpo docente era formado pelos PP. José Pereira Marante, Jerónimo Ferreira, Joaquim Pereira Pinto e João Baptista Pinheiro e o escolástico Francisco Janeiro. Os irmãos eram: Celestino Leitão, Belarmino Morais, Crisólogo Morais, Sílvio de Freitas. Os escolásticos 107. Em 1959-1960 construíu-se o grande barracão para recreio dos alunos. Depois de ter estado fechada durante sete anos, por ameaçar ruína, a 10 de Fevereiro de 1963 abriu ao culto, devidamente reparada pelo prior de S. Domingos, a igreja dos Santos Mártires. A partir de 6 de Abril ficará a ser a capela da comunidade, tendo os bancos da capela interior sido levados para a igreja. Em Abril de 1965 é nomeado superior da comunidade o P. Manuel Augusto Ferreira e director dos escolásticos o P. João Baptista Pinheiro, fazendo parte do corpo docente os PP. Abel Moreira Dias, João Pinto da Silva e José de Castro Oliveira, escolástico, que no ano seguinte foi substituído pelo António Luís. Nas férias de 1965 fizeram-se vários melhoramentos na casa, nomeadamente no refeitório, onde se colocaram azulejos e mosaicos novos. Os alunos eram 102. Em Outubro de 1972 fizeram-se melhoramentos importantes nos recreios. Em 1976-1977 os alunos já só eram 51. 314 Adélio TORRES NEIVA A 8 de Fevereiro de 1978 faleceu Mons. Daniel Machado, pároco de Monserrate e grande amigo da Congregação. Entretanto, no seminário os alunos continuavam a diminuir: apenas 36. Resolveu-se remodelar totalmente esta casa, adaptando-a a novas funções: casa de repouso para missionários e centro de animação missionária. Em Outubro de 1985, tendo em vista as obras de fundo que se vão efectuar nesta casa apenas ficaram na comunidade os PP. António Rodrigues Ferreira, António Luís Gonçalves e António Cardoso Cristóvão. Entretanto restaurou-se a pequena casa em frente do seminário que era propriedade da Congregação, para servir de residência à comunidade durante as obras. O P. António Rodrigues Ferreira, ecónomo e que deverá acompanhar as obras, foi para esta nova residência a 24 de Abril de 1986. No dia 1 de Maio foi morar para ali também o P. António Cardoso Cristóvão, enquanto o P. António Luís Gonçalves, capelão do Hospital Distrital de Viana do Castelo, foi ocupar as suas dependências no Hospital. A 11 de Agosto de 1986, depois de muitos e demorados estudos e plantas, as obras foram postas a concurso. Da meia dúzia de concorrentes, as obras foram entregues à firma de construções “Empreiteiros Casais”, de Braga. A 1 de Setembro iniciavam-se as obras que, conforme o estipulado no contrato, deveriam ser entregues em Outubro de 1987. Estas obras serão uma remodelação completa da casa: o interior será substituído por placas de cimento e a parte do edifício do lado da antiga garagem vai ficar reduzido às dimensões normais do edifício. A 30 de Novembro, o P. António Gonçalves partirá para a casa da Boavista no Porto, terminando o seu tempo de capelão no hospital. A capelania será entregue ao P. António Cardoso Cristóvão, a 1 de Dezembro de 1986. Efectivamente as obras prolongaram-se até Maio de 1988. A 16 de Maio deste ano de 1988, se bem que com as obras ainda por concluir, foi inaugurado o quase novo seminário. Desde 1 de Fevereiro deste ano residia já no seminário o P. António Rodrigues Ferreira, e desde 1 de Março o P. António Cardoso. A Casa da frente ficou livre para poder ser ocupada pelas empregadas. A 5 de Outubro foi nomeado superior o P. Belarmino Galhano e ecónomo o P. Rodrigues Ferreira que arcara com todas as responsabilidades das novas instalações do edifício, que passa a ser uma comunidade para idosos e animação missionária. A 17 de Setembro integrou a comunidade o P. Carlos Gouveia, que veio substituir o P. Martins Salgueiro na animação missionária. A casa tem continuado a funcionar como comunidade de confrades idosos e centro de animação missionária, tendo como superiores sucessivamente os PP. Belarmino Galhano, António Alves de Oliveira, Manuel dos Santos Neves e Adélio da Cunha Fonte. Na animação missionária têm trabalhado vários confrades. O Seminário de Viana do Castelo 315 A Igreja dos Santos Mártires Quando os Espiritanos tomaram conta do velho convento, a igreja dos Santos Mártires não estava em condições de abrir ao público. Necessitava de reparações de fundo. Logo se formou uma comissão de homens que percorreu a cidade, e depressa se juntou a importância necessária para se iniciarem as obras. Apesar disso, desde o primeiro ano da inauguração do seminário se começou a realizar a festa dos Santos Mártires de Viana, a 6 de Fevereiro. Mas só a 11 de Novembro de 1923 é que a igreja seria aberta ao público, com a presença da Confraria, ficando o seu uso a cargo do seminário, conforme protocolo então estabelecido entre o seminário e a respectiva irmandade. Segundo este protocolo, datado de 4 de Novembro de 1923, o Director do Seminário das Missões incumbia-se de todo o serviço religioso da igreja, mediante as seguintes condições: 1º- Comprometia-se o seminário a garantir uma missa, pelo menos, todos os dias naquela igreja, à hora que mais conveniente fosse e em conformidade com o regulamento da casa, sem que para tal serviço exigisse qualquer recompensa; 2º- O Seminário tomava a seu cuidado a guarda da igreja e de todas as alfaias de culto arroladas no acto da entrega, podendo fazer uso delas nos diferentes actos religiosos; 3º- O Seminário tomava a seu cargo custear as despesas ordinárias do culto, tais como, azeite, cera, hóstias, vinho, lavagens e concertos das roupas, excepto nas festas ou novenas ou quaisquer outros actos de culto que fossem da iniciativa da Irmandade; 4º- Ficaria também ao cuidado do Seminário a limpeza e asseio dos altares, sacristia e da parte da igreja reservada ao seu uso; 5º- Era direito do Seminário reservar para uso do seu pessoal, além da capelamor, a parte da igreja de que se pudesse precisar e separá-la da parte reservada ao público com grades; a ele também pertencia o uso exclusivo do coro, excepto em dias de festa, promovidos pela confraria; 6º- Ficaria à disposição do Seminário a faixa de terreno contígua à igreja do lado do poente, bem como meia pena de água pertencente à igreja; 7º- As esmolas das caixas ou dos peditórios feitos por ocasião dos actos de culto ficariam também à disposição do Seminário para custeio das despesas ordinárias do culto; 8º- Ficava o Seminário autorizado a abrir três portas que facilitem ao seu pessoal, comunicação com a igreja: uma na capela-mor, outra no corpo da igreja e outra para o coro e torre. Ficava, porém, entendido que esta autorização nunca poderia ser, nem para a Confraria nem para o Seminário, fundamento para direito de futura prescrição, de tal forma que, deixando, por qualquer motivo justo, de vigorar o presente acordo, seriam novamente muradas ou entaipadas aquelas portas, à custa da Confraria e do Seminário em igual proporção. 9º- O Director do Seminário das Missões seria proposto pela Irmandade à Autoridade Eclesiástica para capelão da igreja, segundo as normas do Direito 316 Adélio TORRES NEIVA Canónico, e poderia promover dentro dela e nessa qualidade, por si ou por outros, tanto para o pessoal do Seminário como para o público, todos os actos de culto que bem entendesse, sem mais ninguém a quem dar contas, senão à mesma Autoridade Eclesiástica.308 Quando a igreja foi aberta ao público, no altar lateral, à direita, estava o Senhor das Chagas, um crucifixo de altura natural; ao toque das Ave-Marias, de manhã, ao meio dia e à noite, tangiam-se mais cinco badaladas em honra das cinco chagas do Senhor; do lado esquerdo, estavam os Santos Mártires de Viana, Teófilo, Revocata e Saturnino; no lado direito da mesa da comunhão estava o Senhor dos Passos; frente a este altar estava o Senhor da Cana Verde. Na abertura da igreja, o sermão de circunstância foi feito pelo P. Pinho. Em 1924 tiveram início as pregações das sextas-feiras da Quaresma, como preparação para a Festa do Senhor das Chagas, devoção tão querida do povo de Viana. O seu primeiro orador foi o P. Manuel Raposo que desenvolveu o tema da Coroação de Espinhos. Em Setembro desse ano foi entronizada a imagem do Sagrado Coração de Jesus, que tinha pertencido ao Colégio do Espírito Santo, de Braga. Após a Revolução de 1910, esta imagem esteve por muito tempo escondida num armazém de Braga e foi, por fim, vendida a um pároco. Ao ter conhecimento do que se passava, o P. Pinho entrou em contacto com o seu proprietário e conseguiu que ele a cedesse. A 20 de Abril de 1924 estrearam-se uns paramentos riquíssimos feitos pelas freiras que outrora habitaram neste convento. Assim continuou a igreja dos Santos Mártires a sua história, como propriedade da Confraria ou da paróquia. Mas ao fim de um certo tempo começou de novo a ameaçar ruína e, porque não havia meios financeiros para a sua reparação, acabou por fechar ao culto durante seis ou sete anos. Em 1963, o pároco de então, P. Daniel Machado, abalançou-se à empresa da sua restauração, para beneficiar os paroquianos daquele bairro e, nessa reparação, gastou cerca de 200 mil escudos, sendo, ao que consta, cerca de metade, do seu património. Foi quase totalmente apeada a parede do lado norte, completamente renovado o soalho (cimentado e coberto de tacos), inteiramente renovado o tecto do corpo da igreja (tijoleira), modificado o coro, ampliada uma janela e deslocada outra; deslocados os altares laterais e o púlpito, alargado, cerca de um metro para cada lado, o arco da capela-mor e restituídos ao estado primitivo o supedâneo e escadas do altar. O projecto da reparação foi do arquitecto Júlio de Brito, professor da Escola de Belas Artes do Porto, que o fez gratuitamente, a pedido do P. José da Costa Parente e do seminário de quem é também amigo. Quanto à festa dos Santos Mártires de Viana passou a ser celebrada no Domingo a seguir ao dia próprio ou seja, 6 de Fevereiro, como o fizeram já em 1638 os vianenses depois que D. Rodrigo da Cunha fixou a festa nessa data. 308 BPPCSSp. 19 p. 1767-1970 O Seminário de Viana do Castelo 317 A inauguração dos melhoramentos foi feita pelo bispo auxiliar de Braga, D. Francisco Maria da Silva, a 10 de Fevereiro de 1963. Do plano da reconstrução, porém, só uma parte foi executada, ficando para melhores dias a reparação da capela-mor e da sacristia. Em 1966, esta reparação tornava-se urgente, pois o tecto da capela-mor e da sacristia ameaçavam ruína. Foi então que, a 18 de Agosto de 1966, atendendo a que a paróquia não dispunha de meios financeiros para custear as obras e que o espaço reservado aos seminaristas e demais pessoal do seminário era demasiado reduzido e sem condições para dar solenidade ao culto, de entendimento com o pároco, o Provincial da Congregação do Espírito Santo, P. Amadeu Martins, pediu ao arcebispo de Braga que a igreja fosse cedida ao seminário, como gesto simbólico da arquidiocese comemorativo do primeiro centenário da chegada dos Espiritanos a Portugal, que então decorria. A igreja continuaria não só ao serviço da população do bairro e da cidade, como também de sede da Confraria dos Santos Mártires e centro de catequese paroquial. Seria devolvida aos seus antigos proprietários, caso algum dia a Congregação abandonasse o seminário e a residência. A Congregação estaria ainda na disposição de reembolsar a paróquia das despesas ali efectuadas anteriormente, nas reparações já feitas pelo pároco. As diligências começaram com a boa anuência de todas as partes, mas veio-se a descobrir que o referido templo, legalmente, não pertencia à Confraria mas ao Estado. Em carta de 13 de Agosto de 1968, o Provincial dos Espiritanos, por intermédio do seu procurador junto do Governo, pedia à Secretaria de Estado do Tesouro, do Ministério das Finanças, a cedência do referido templo. Por carta de 20 de Novembro de 1969, o Chefe da Repartição informava o procurador que a 12 de Novembro desse ano de 1969, tinha sido autorizada a entrega da igreja dos Santos Mártires à Congregação do Espírito Santo. O auto da entrega fez-se a 3 de Dezembro de 1969, na Direcção das Finanças, pelo Secretário das Finanças João Agostinho Hormigo, na presença do procurador do Provincial P. António Alves de Oliveira. “Para a Província Portuguesa dos Espiritanos, a igreja dos Santos Mártires não era apenas um templo, lugar de oração. Era um relicário onde se guardavam como pedras preciosas, factos, solenidades, cerimónias, que ficaram indeléveis nas almas e as comprometeram oficialmente na vida da Congregação e da Igreja. Profissões, renovação de votos, ordenações, todos estes actos prenderam as almas consagrando-as ao serviço da Igreja. Além destes actos públicos, o que não se poderia dizer dos diversos diálogos na oração, entre os que se empenhavam na sua formação sacerdotal e Deus, suplicando luz, tomando resoluções e compromissos, numa doação total!.. Muitas gerações por ali passaram trabalhando a sua alma no fogo sagrado da liturgia oficial do culto ou da oração particular e solitária. Quantos não lembram a ordenação sacerdotal, a primeira missa, no seu altar-mor, o primeiro sermão no seu púlpito, o seu início de apostolado na catequese feita às crianças do bairro. Muita da história da Província passou por ali”.309 309 BPPCSSp. 19 318 Adélio TORRES NEIVA Nas vicissitudes do tempo. Dado o grande desenvolvimento que a Congregação começava a ter e o número dos aspirantes que aumentava de ano para ano, principiaram as obras de ampliação do seminário. Em 1931, o seminário tinha já sido acrescentado com 34 quartos e um vasto salão de estudo, além de outros acessórios. Primeiro acrescentou-se do lado norte e, em 1932, o 2º andar do antigo edifício. Em 1941 começou em Braga o 1ºano de Filosofia, ficando aqui o segundo, juntamente com a teologia. Em 1942 foi benzida a capela privativa do Seminário, feita do corredor chamado “anexo” do segundo andar e respectivos quartos. A 1 de Julho de 1944 foi instalada na capela e benzida a imagem de S. João Evangelista, depois transferida para a sala da comunidade. No claustro foi inaugurada, a 30 de Maio de 1945, a imagem em mármore do Sagrado Coração de Maria, que ficou colocada na extremidade do jardim. Em Novembro de 1952, o curso teológico passou para a Torre da Aguilha, ficando aqui apenas a filosofia, que, quatro anos depois, em 1956, seguiu também para Carcavelos. Aqui ficou o seminário menor do primeiro e do segundo ano, hoje chamado Ciclo Preparatório. Na adaptação do seminário de teologia a seminário de preparatórios distinguiu-se, entre outros, o P. José Pereira Marante. O primeiro ciclo liceal aqui permaneceu até 1980. Reduzida a uma pequena comunidade espiritana desde 1980, o problema do futuro deste seminário começou a colocar-se, tanto a nível externo como interno. Foram mesmo estabelecidas negociações com a diocese de Viana do Castelo, que andava à procura de instalações para a abertura do seminário diocesano. Mas não foi possível encontrar na cidade de Viana do Castelo uma casa adaptada à instalação da Seminário de Viana comunidade espiritana, que teria de abandonar o seminário. Aliás veio-se a descobrir, já na fase final destas negociações, analisando o dossier documental desta casa, que se este seminário deixasse de estar ao serviço da Congregação, reverteria novamente a favor do doador ou dos seus herdeiros por linha de primogenitura. Assim, a hipótese de transferir o Seminário para a diocese era totalmente inviável. Como solução surgiu a hipótese de a Congregação reparar profundamente a casa, de modo que a sua polivalência pudesse ter várias aplicações, vindo-se a optar por fazer dela uma casa de repouso para missionários idosos e um centro O Seminário de Viana do Castelo 319 de acolhimento para a animação missionária. A casa foi totalmente remodelada e transformada, tendo a sua reabertura sido efectuada a 16 de Maio de 1988. Algumas Efemérides Das efemérides acontecidas ao longo da história do Seminário de Viana do Castelo, registamos, entre outras: A visita de Mons. Luís Le Hunsec, Superior Geral da Congregação, que foi em passeio com toda a comunidade ao monte de S. Silvestre, em Cardielos, tendo subido o monte em carro de bois enfeitado e foi recebido pela população com grandes manifestações de festa e alegria. Por iniciativa do pároco Mons. Januário Viana, a 19 de Julho de 1931 era descerrada uma lápide no alto do monte, evocativa da sua passagem por ali. A 15 de Julho de 1929, os seminaristas deslocaram-se em passeio ao Monte de Santa Tecla, em Espanha, onde, entusiasmados pela beleza do panorama, entoam o Hino Nacional e o Salve Nobre Padroeira. A Ordenação Episcopal de D. Moisés Alves de Pinho, celebrada a 17 de Julho de 1932, na igreja de S. Domingos de Viana, tendo sido bispos ordenantes Mons. Luís Le Hunsec, Superior Geral da Congregação, em substituição do arcebispo de Braga D. Manuel Vieira de Matos, que não pôde comparecer por doença, D. João Evangelista de Lima Vidal, bispo de Vila Real e D. José Correia da Silva, bispo de Leiria. Estaria também presente o P. Daniel Brottier, então assistente geral da Congregação. O almoço da festa foi no Seminário de Viana. A Ordenação Episcopal de D. Faustino Moreira dos Santos, bispo de Cabo Verde, a 13 de Julho de 1940, também na igreja de S. Domingos, que reuniu em Viana quase toda a Província. Foram bispos ordenantes D. António Augusto de Castro Meireles, bispo do Porto, assistido por D. Rafael Maria da Assunção, bispo de Limira e D. Manuel Ferreira da Silva, bispo de Gurza. Em 26 de Maio de 1942, o seminário iria em passeio a Belinho, visitando o poeta António Correia de Oliveira, que correspondeu à visita escrevendo algumas poesias para a “Acção Missionária”. O Centenário da morte do Venerável Padre em 1952, além de várias sessões solenes na cidade, teve a marcá-la uma Exposição Missionária no Convento de S. Domingos, inaugurada a 1 de Junho de 1952, festa do Pentecostes. De salientar na vida deste seminário a consagração da Comunidade ao Sagrado Coração de Jesus, que depois se repetia todos os anos, no dia 25 de Novembro, dia da fundação da comunidade, e a peregrinação a Santa Luzia que todos os anos se fazia no princípio das aulas, para consagrar o ano ao Coração de Jesus. Visitas ilustres Das visitas ilustres que passaram pelo seminário podemos destacar o santo P. Cruz, que por ali passou várias vezes, Mons. Gay, bispo de Guadalupe, o Ministro da França em Portugal, o Cônsul francês, o prof. Jobi, do Instituto de 320 Adélio TORRES NEIVA Alta Cultura Francesa em Madrid e antigo Director da Acção Católica na França, vários arcebispos de Braga e bispos de Viana do Castelo, os párocos, D. Teodósio Gouveia, cardeal de Lourenço Marques, as autoridades civis de Viana do Castelo, nomeadamente o director do município Dr. Rocha Páris, o Dr. Manuel Múrias, director do Arquivo Colonial, o P. Matheo Crawley, apóstolo da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, o P. Moreira das Neves, o Ministro das Colónias, Vieira Machado, o subsecretário da Administração Ultramarina, Dr. Silva Cunha, o Núncio Apostólico, o escritor brasileiro Plínio Salgado, Mons. Avelino Gonçalves, director do jornal Novidades. Além de benfeitores bem conhecidos como, D. José de Lencastre, Capitão Monteiro Pinto, Antoninho Valença, Faria Barbosa, Dr. Élio Vasconcelos, Santos Pinto. Benfeitores do Seminário Dos Benfeitores há a registar os nomes de António Santos Pinto, Faria Barbosa, João Alves Cerqueira, Dr. Élio Vasconcelos, D. Rosa Maciel, D. José de Lencastre, Mons. Januário (Cardielos), Cónego Domingos Borlido, Mons. Quesada (Outeiro), Dr. Joaquim Proença, Dr. Eduardo Valença, Dr. José da Rocha Páris, Dr. José Alpoim, Dr. Rangel, Dr. Gaspar Ferreira de Castro, Dr. Luís de Monteverde, Dr. Carlos Souto Morais, Dr. António Delgado, Dr. José Maria de Carvalho, Dr. Espregueira Mendes, Dr. Carlos de Carvalho, Dr. Fernando P. Dias, P. António Torres (Cardielos) P. José Peixoto, Francisco de Cyrne, Albano Faria, Francisco de Paula Ferreira, D. Maria Zamith, D. Laura Franco, D. Maria Augusta Tinoco, D. Ana Fernandes. Padres ordenados neste seminário A 14 de Agosto de 1931: Mário Alves da Silva, Manuel António Meira, António Gomes da Silva, Pompeu de Sá Leão e Seabra, António Duarte Brásio. A 25 de Novembro de 1932: Manuel Dias Junqueira. A 8 de Outubro de 1933: José Pereira da Silva, João Domingos Terças, José Pereira de Oliveira. A 15 de Agosto de 1934: Álvaro da Cruz e Melo. A 22 de Setembro de 1934: Cristobal Valdez e Armando Alves Pinto. A 23 de Dezembro de 1934: Álvaro Soares da Silva. A 6 de Abril de 1935: Fernando Moreira da Silva. A 15 de Setembro de 1935: Manuel Albuquerque, João de Barros, Olavo Teixeira. A 3 de Novembro de 1935: Aníbal Rebelo. A 4 de Outubro de 1936: Bernardo Vieira de Melo, António Gonçalves, Manuel Moutinho, Domingos Salgueiro, Francisco Valente e António Moreira. A 26 de Setembro de 1937: Lindorfo Quintas, Abel Pinto de Sousa, João Pinto da Silva, António Silva, José Felgueiras, Abílio Saraiva, António Belarmino Galhano, Augusto Teixeira Maio, Daniel Araújo, José Felício, Alfredo Mendes, Jacques Bertrand, Emílio Danguy. O Seminário de Viana do Castelo 321 A 18 de Dezembro de 1937: Manuel Cosme. A 2 de Abril de 1938: Ismael Baptista. A 25 de Setembro de 1938: Francisco Nogueira da Rocha. A 17 de Dezembro de 1938: Pedro Alves Pereira, Manuel Geraldes Pereira e João Amorim. A 8 de Outubro de 1939: Agostinho Pinheiro, Firmino Cardoso Pinto, João Tavares, Abílio Teixeira e António Cardoso. A 7 de Junho de 1940: José Teixeira Marques. A 21 de Dezembro de 1940. Américo Ferreira, Joaquim Pinto, António Alves de Oliveira, Joaquim Martins, Albano Matos, Crispim Martins. A 29 de Março de 1941: José Maria Pereira, Ernesto Fernandes de Sá, Avantino de Sousa. A 28 de Setembro de 1941: José de Oliveira Andrino, Avelino Pereira da Costa, José Sequeira Ribeiro e Guilherme Carlos Ribeiro. A 21 de Março de 1942: Manuel Inácio Morais Correia, Joaquim Barata Freire de Lima, Herculano Lopes de Oliveira. A 19 de Dezembro de 1942: Joaquim Sobral Ferreira Esteves, Augusto Nogueira de Sousa, António Cardoso Botelho, Delfim da Silva Pedro. A 30 de Maio de 1943: Cidalino Ferreira de Melo. A 26 de Dezembro de 1943: José Gonçalves, António Rodas, Querubim Meireles, José Maria Felgueiras, Joaquim Antunes Pinto, Manuel Ferreira, Manuelino Oliveira, Joaquim Vaz e António Martinho. A 25 de Março de 1944: Manuel dos Santos. A 1 de Outubro de 1944: António Lourenço Braz e Camilo Neves Martins. A 8 de Abril de 1945: Meneval Andrade, Abílio Guerra, Manuel Ribeiro, António Figueira. A 7 de Outubro de 1945: Avelino Barreto, Agostinho Pereira, Edison Dantas, Manuel Augusto Ferreira, António Ventura, Eduardo Leitão, Alfredo Santos, Carlos Rodrigues Pinto. A 6 de Abril de 1947: Amadeu Martins, Celestino Belo, Joaquim Correia, Serafim Lourenço, António Ferreira da Silva, Alberto Gomes de Oliveira, António de Sousa Abreu, António Brojo, Carlos Alberto, Manuel Fonseca. A 28 de Março de 1948: José Alves, António Antunes Pinto, José de Aguiar, José Martins Vaz, José António Teixeira. A 19 de Março de 1950: José Coelho de Amorim, Américo Augusto Ferreira, Miguel Madeira, Laurindo de Jesus Marques, Manuel Domingues Vaz e Joaquim Ramos Seixas. A 26 de Março de 1950: José Domingos Sampaio e Horácio Silva. A 23 de Dezembro de 1951: José Carreira Júnior, Afonso Vieira Gomes, Francisco Mendes Pereira, José Afonso Moreira e José da Rocha Ferreira. A 19 de Março de 1951: Álvaro Miranda Gomes dos Santos, António Rodrigues Ferreira, António de Seabra Marques e Antero Alves dos Reis. A 30 de Setembro de 1951: Ildo Aníbal de Jesus Silva, Manuel da Purificação Azevedo e Nuno Gentil Tavares Ferreira. 322 Adélio TORRES NEIVA A 29 de Março de 1952: Manuel dos Santos Neves. A 28 de Setembro de 1952: Anacleto Gomes Baptista, Manuel Perfeito Martins Ferreira, João Gomes Gonçalves, José Joaquim Correia, Porfírio Duarte Lourenço, Óscar de Moura Guedes, Manuel Rodrigues Teixeira Neves, João Luís Cabral, João Eduardo Moniz. Superiores da comunidade 1922/23 1923/27 1927/29 1929/32 1932/35 1935/38 1938/44 1944/46 1946/49 1949/50 1950/52 1952/55 1955/56 1956/59 1959/65 1965/71 1971/72 1979/80 1980/86 1986/90 1990/97 1997/02 2002 P. João Cardona; P. Moisés Alves de Pinho; P. José Pacheco Monte; P. Clemente Pereira da Silva; P. Joaquim Alves Correia; P. António Ribeiro Teles; P. Joaquim Correia de Castro; P. António Ribeiro Teles; P. Francisco Alves do Rego; P. António Ribeiro Teles; P. Cândido Costa; P. António Teles; P. Firmino Cardoso; P. José Pereira de Oliveira; P. Firmino Cardoso; P. José Pereira de Oliveira; P. Francisco Lopes; P. Fernando Moreira; P. António Alves de Oliveira; P. Amadeu Martins; P. Manuel Augusto Ferreira; P. João Baptista Pinheiro; P. Carlos Salgado; P. António Luís Gonçalves; P. Belarmino Galhano; P. António Alves de Oliveira; P. Manuel dos Santos Neves; P. Adélio da Cunha Fonte; Directores dos seminaristas 1922 1928 1932 1935 1936 P. Moisés Alves de Pinho; P. Cândido Costa, director do Externato; P. Joaquim Correia de Castro; P. António Ribeiro Teles; P. Breitenstein; O Seminário de Viana do Castelo 1938 1944 1946 1949 1952 1955 1956 1959 1965 1973 1977 1978 P. Joaquim Correia de Castro; P. Francisco Alves do Rego; P. Cândido Costa; P. Firmino Cardoso Pinto; P. Francisco Lopes; P. Fernando Moreira da Silva; P. António Alves de Oliveira; P. Amadeu Martins; P. João Baptista Pinheiro; P. José Coelho Barbosa; P. José Reis Gaspar; P. José Ribeiro Mendes; Ecónomos 1928 1934 1935 1940 1947 1949 1952 1955 1956 1965 1966 1967 1973 1979 1980 1985 1992 1993 1994 1995 1996 1997 2000 P. Cândido Costa; P. Trutteman; P. António Gomes da Silva; P. José da Fonseca Lopes; P. Cândido Costa; P. Domingos Salgueiro; P. Francisco Lopes; P. António Antunes Pinto; P. Marante; P. Abel Moreira Dias; P. João Baptista Pinheiro; P. Óscar Moura Guedes; P. Manuel Augusto Ferreira; P. Carlos Salgado Ribeiro; P. Álvaro da Costa Campos; P. António Rodrigues Ferreira; P. Ernesto de Azevedo Neiva; P. Manuel da Purificação Azevedo; P. José Reis Gaspar; P. Alberto da Fonseca Lopes; P. António Alves de Oliveira; P. António Correia Andrade; P. Domingos da Cruz Neiva. 323 325 Capítulo 34 A compra da Quinta do Valbom, no Fraião A Quinta do Valbom A Quinta de Valbom de Cima, da freguesia de S. Tiago de Fraião, foi arrematada em hasta pública por Matias Dias da Fonseca, negociante, e sua mulher D. Rosa Maria de Jesus Fonseca da freguesia de S. João do Souto a 21 de Outubro de 1868 a António de Brito Rego Lira por 300 contos. 310 Na mesma data Matias Dias da Fonseca arrematou também em hasta pública ao mesmo negociante António de Brito Rego Lira o prédio chamado Tomada de Penouços, na freguesia de Nogueira e limites do Fraião e a Bouça de Penouços, situada próximo do lugar da Fonte Seca, na freguesia do Fraião.311 Após a morte de Matias Dias da Fonseca, a 12 de Dezembro de 1882, sua mulher D. Rosa Maria de Jesus Fonseca, Viscondessa do Fraião e sua única herdeira, receberia em herança, além de outros bens: - uma Quinta toda murada sobre si que se compunha de casas de habitação e caseiro e terreno com lagar e eira de pedra, campo e leiras de terra lavradia, com vinho, azeite e fruta, chamada de Valbom, situada na freguesia de Fraião, no valor de oito mil setecentos e quarenta e três escudos e noventa e dois centavos; - uma Quinta denominada da Fonte Seca, também em Fraião, que se compunha de casas para caseiros, coberto, eira, terreiro, com terra culta e inculta, que produz pão, vinho, fruta, mato e lenha, no valor de mil oitocentos e sete escudos e trinta centavos; - a Tomada e Bouça chamada Penouços de Baixo que produz mato e lenha no valor de trezentos escudos; - a Tomada denominada Penouços de Cima, que produz mato e lenha, no valor de cincoenta escudos; - um terreno de mato solto no Barral de Cima, no valor de cem escudos, na freguesia de Nogueira.312 D. Rosa Maria de Jesus Fonseca, por breve apostólico de 14 de Setembro de 1883 conseguia do arcebispo de Braga D. Crisóstomo de Amorim Pessoa licença para ter oratório particular em sua casa da Quinta de Valbom de Baixo e a 18 de 310 311 312 Sentença da arrematação da Quinta chamada do Valbom de Cima –1868 Sentença da arrematação da propriedade da Tomada de Penouços e Bouça de Penouços –1868 Certidão de 16 de Dezembro de 1907 326 Adélio TORRES NEIVA Outubro de 1883 o arcebispo de Braga D. António José de Freitas Honorato concedia-lhe licença para aí ser celebrada missa. Pouco depois, a 22 de Dezembro de 1883, era-lhe concedida também licença para ter confessionário no dito oratório, atendendo à distância que separava a sua casa da igreja paroquial e aos maus caminhos que tinha que atravessar.313 Por falecimento de D. Rosa Maria de Jesus Fonseca a 6 de Novembro de 1900, o seu único herdeiro foi seu segundo marido Francisco Manuel de Oliveira Carvalho, que herdaria também o título de Visconde do Fraião, morador na freguesia de Tenões. Este herdou entre outros bens a Quinta de Valbom e a de Fonte Seca, na freguesia do Fraião, as duas Bouças de Penouços e o terreno de mato no Barral de Cima, na freguesia de Nogueira. O Visconde do Fraião Francisco Manuel de Oliveira Carvalho faleceu no lugar do Bom Jesus do Monte a 18 de Maio de 1912. Por sua morte, a Quinta de Valbom foi repartida pelos seus três filhos: a Quinta de Valbom de Baixo pelos dois rapazes Alberto Manuel de Oliveira Carvalho e Francisco Manuel Pereira Dias de Oliveira Carvalho, ainda menor, e a Quinta do Valbom de Cima ficou para a filha Maria Armanda de Oliveira Carvalho Ferreira da Silva casada com o Dr. Álvaro Cândido Ferreira da Silva, lente da universidade de Coimbra e proprietário da Quinta da Capela em Santo Adrião, da freguesia de S. Lázaro e que possuía também a chamada Bouça de Dentro da Quinta, que se estendia até ao Fraião.314 Segundo o registo predial a que se procedeu a quando da venda da Quinta do Valbom de Baixo ao Dr. Moisés Alves de Pinho, por intermédio do seu procurador P. José Manuel Ribeiro Braga, a 10 de Maio de 1927, esta Quinta incluía os seguintes prédios: - A Quinta de Valbom de Baixo - do Pereiro - ou do Pomarinho - compunha-se de casas sobradadas que tinham para o lado do norte sete janelas de peitoril, com dois páteos com escadas de pedra, para o sul cinco janelas também de peitoril e para nascente duas, tinha coortes, adegas e lagar junto da casa. Tinha esta Quinta caminho privativo que vai da estrada para a mesma; e na frente da casa, um espaçoso terreiro com um tanque, que dá entrada por uma cancela para um jardim que tinha no centro um chafariz e ao lado uma casa de fresco. Toda esta Quinta era circuitada por parede e parte por valados, tinha dois cobertos, duas eiras, sendo uma de pedra, tinha laranjeiras, oliveiras, árvores silvestres, frutíferas e avidadas . Compunha-se de um olival chamado Cantinho, cinco leiras chamadas da Beira da Porta da Cozinha, Campo do Pescoço, Leira do Campo do Pescoço, Olival da Eira, Campo do Pinheiro; duas leiras chamadas da Beira do Tanque do Cipreste; Campo de Castelo; uma leira denominada Olivalzinho; outra chamada Oliveirinha; Leira da Beira da Eira ou do Tanque de Baixo; duas leiras denominadas da Beira da Poça do Penedo; prado junto à poça do Penedo; 313 314 Papeis pertencentes ao Oratório da Ex.ma Sra. D. Rosa Maria de Jesus Fonseca, erecto na sua casa e quinta de Valbom de Baixo, freguesia de S. Tiago do Fraião. Certificado de 29 de Outubro de 1931 A compra da Quinta do Valbom, no Fraião 327 Campo do Penedo; Campo Grande e junto ao dito Leira Longa, hoje chamada Leira Grande e que é toda murada; Pomar da Eira e um terreno para horta todo murado; e Campo do Pomar ou Devesa – o que tudo é de terra de lavradio tinha mais dois tanques de água sendo um chamado Tanque de Baixo ou da Eira e o outro Tanque do Cipreste, para os quais vinha a água das minas abertas na estrada pertencentes ao mesmo possuidor. Mais tinha uma poça de água nativa denominada do Penedo, cuja água servia para regar e limar. Tinha esta propriedade seis entradas das quais quatro eram de carro e duas pedestres. Estava situada no lugar de Valbom de Baixo, na freguesia de São Tiago do Fraião. Era de natureza de prazo. E confrontava pelo norte, sul e poente com prédio dos herdeiros de Francisco Manuel de Oliveira Carvalho e a nascente com a estrada da Falperra. A compra incluía ainda: - Um terreno baldio que produzia mato denominado Monte do Cachãozinho, situado no Monte Sameiro, atravessado pela estrada da Falperra para o Sameiro, na freguesia do Fraião; - Um Monte chamado do Tanque ou Monte Redondo que produzia mato e seibe e era cortado por caminho público na freguesia do Fraião; - A Tomada ou Coutada da Fonte Seca, prédio rústico situado próximo do lugar da Fonte Seca, freguesia do Fraião. Constava de terra de mato com carvalhos, circuitado sobre si; confrontava pelo norte com o caminho da Falperra e pelo sul e nascente com o caminho de Nogueira e a poente pelo caminho do Espírito Santo do Monte.315 A Quinta de Valbom de Cima que a filha do Visconde do Fraião D. Maria Armanda de Oliveira Carvalho Ferreira da Silva, casada com o Dr. Álvaro Cândido Ferreira da Silva, herdara de seu pai, constava de casas sobradadas e térreas, com lojas, lagares, cortes, coberto, varanda, eira e terras de lavradio com vidonho em árvores e ramadas, olival e água de mina para rega, confrontando pelo poente e sul com a estrada velha da Falperra, a nascente com o caminho da igreja e pelo norte com prédio do seu irmão. À herdeira pertencia ainda : - o Montado de Penouços, prédio rústico situado no lugar da Granja, na freguesia de Nogueira; - e o Montado de Santa Marta ou Bouça Escura, prédio rústico no lugar do Barral e Monte de Santa Marta, da mesma freguesia de Nogueira.316 Eram estas as Quintas de Valbom, de Baixo e de Cima, à data em que o Dr. Moisés Alves de Pinho as comprara em 1927. 315 316 Comarca de Braga Livro nº 108 –A Fls. 71 Comarca de Braga. Livro 104 fl.- 53 328 Adélio TORRES NEIVA A compra da Quinta de Valbom A obra da restauração da Província ia-se solidificando. O seminário de S. José de Godim abria as portas a aspirantes do Minho, Douro e Trás-os-Montes, facilitando também o recrutamento ao sul do Douro e nas Beiras, dado que as comunicações se iam tornando mais fáceis. Aqui ficaram instalados os dois primeiros anos de preparatórios. Em Braga, nas condições bastante precárias já referidas, continuavam os três anos seguintes. Mantinha-se de pé a ideia de a Congregação permanecer em Braga ou arredores. Mas urgia mudar das casas de renda (Quinta do Charqueiro e Colégio de S. Tomás), para uma propriedade que fosse pertença da Congregação em que se pudessem instalar as duas obras: seminário para os últimos anos de preparatórios e Escola Agrícola para Irmãos Auxiliares, onde também pudessem aprender artes e ofícios, actividades de grande importância e necessidade para as missões Havia o problema da falta de meios. Mas João Belo acabava de atribuir às missões do Espírito Santo um subsídio anual de 450 contos e um subsídio extraordinário de 500 contos para a formação dos aspirantes a missionários. Em Godim, o seminário cuja construção estava em vias de se concluir, absorvera já esse subsídio, mas de qualquer maneira a Congregação poderia abalançar-se a outra obra. Precisava-se de um terreno que fosse da Congregação e que tivesse espaço suficiente para que as duas obras se pudessem desenvolver e se estivessem juntas haveria imensas vantagens económicas e seria proveitoso sob todos os pontos de vista. Precisava-se de uma grande casa onde o espaço não faltasse e de uma grande propriedade para explorar. Começaram as pesquisas. Todo o ano lectivo de 1926-1927 se passou nesta busca: visitou-se o Ramalhão, em Sintra, onde ali perto estava ainda viva a memória da presença espiritana, visitaram-se terras em Aveiro, no Porto, perto de Guimarães, muitas propriedades se percorreram, sobretudo nos arredores de Braga. Sempre a mesma conclusão: não serviam ou se serviam eram demasiado caras. Uma propriedade parecia convir: terra muito extensa, embora fraca, casas magníficas que com pequeno dispêndio se poderiam adaptar e com a vantagem de estar apenas a cinco minutos da cidade de Braga e a um quarto de hora da estação do caminho de ferro. Mas o obstáculo principal era o preço: 600 contos. E nunca baixaram dos 500. Aconteceu que enquanto duravam as pesquisas, sem qualquer indicação particular, chegou ao conhecimento dos Espiritanos que ia ser posta à venda uma propriedade, a antiga Quinta do Visconde do Fraião, que poderia convir. O preço não era exagerado, mas a falta de concorrentes, se por um lado era tranquilizadora, por outro convidava a reflectir. Estava fora da cidade, mas a pouca distância. A Viscondessa residia então no Bom Jesus e da Quinta ocupava-se um caseiro. Um dos primeiros a ser informado desta venda e a visitar a Quinta foi o P. Arnaldo Baptista, na Rua Bento Miguel. Recebeu a informação por intermédio do P. Domingos Araújo, das Oficinas de S. José. A compra da Quinta do Valbom, no Fraião 329 O P. Pinho, depois de primeiro ter enviado o P. Junqueira, superior de S. Tomás a ir ver a quinta foi também visitá-la na companhia dos confrades de Braga. O P. Pinho voltou de lá com a impressão que formulou numa carta escrita nesse tempo: “Fraião não o quero nem pintado”. Mas o P. Luís Cancela e outros confrades que tinham também visitado a propriedade e a casa, não pensavam que o P. Provincial tivesse toda a razão. Insistiam pois por nova visita e desta vez, examinando tudo mais de perto, num belo dia de sol, o Provincial concluiu pela afirmativa. A propriedade convinha à Congregação; a casa era pequena e não poderia ser aproveitada, mas construir-se-ia outra. O P. Pinho acabaria por dizer que foi um verdadeiro achado a coroar tantas deslocações, por vezes a lugares bastante afastados em que apenas se tinham colhido desilusões. A propriedade estava vedada por muro alto e sólido, tinha água suficiente para consumo e rega e bons complementos de bravio nas encostas do Sameiro e da Falperra. Mas, mesmo assim, após um exame mais atento, as hesitações mantinham-se. Por falecimento de D. Rosa Maria de Jesus Fonseca a 6 de Novembro de 1900, o seu único herdeiro foi Francisco Manuel de Oliveira Carvalho, visconde do Fraião, falecido a 18 de Maio de 1912. Por sua morte, a quinta fora repartida por dois filhos do mesmo Visconde e uma filha casada com o Dr. Álvaro Cândido Ferreira da Silva, lente de Coimbra: à praça só ia a Quinta de Valbom de Baixo, ocupando dois terços do total da propriedade e pertença dos dois filhos; e a outra parte, a Quinta de Valbom de Cima, encravada dentro dos muros que cercavam a propriedade não fazia parte da venda, todavia, o P. Pinho sentia que precisava também dela para lá se levantarem os edifícios. Os terrenos da Quinta de Baixo eram mais produtivos e tinham além de água abundante, instalações residenciais e agrícolas com pomar. Mas estes edifícios não se prestavam ao fim em vista e para construir precisava-se de espaço amplo e contínuo para as instalações apropriadas e suas dependências. A Quinta de Baixo era em declive e em socalcos que, embora espaçosos, não realizavam as exigências do projecto. É certo que havia no extremo norte uma parte de terreno ampla, mas para construções apresentava inconvenientes: era numa baixa, menos arejado e bastante húmido. Além disso eram a parte mais produtiva da propriedade e seria pena não a aproveitar para as culturas. A todos agradava a perspectiva da aquisição e era com pesar que se encarava a hipótese de abandonar o que parecia reunir vantagens difíceis de encontrar noutra parte. Conta D. Moisés que numa tarde de verão quando estavam de novo em Braga todos os que se deviam pronunciar sobre o assunto, juntou-se a eles D. José de Lencastre e foram todos de novo à quinta. Como D. José se tivesse de ausentar, saiu por uma porta que dava para o caminho da Falperra. E quando a porta se ia fechar, a filha do caseiro, que era quem os acompanhava, apontou para o outro lado do caminho dizendo que o morro fronteiro, de terrenos que pareciam maninhos e abandonados, também pertencia à quinta e estava igualmente à venda. Curiosos, subiram o chamado Monte Redondo e logo viram ser esse o lugar ideal para construir: espaço nivelado com belos e largos horizontes, com 330 Adélio TORRES NEIVA espaço suficiente para as construções e campos de jogos. A quinta era, portanto, composta por duas partes devidamente muradas de um e de outro lado do caminho da Falperra. Tinha-se encontrado a solução. Nossa Senhora do Sameiro queria os Espiritanos sob o seu olhar e protecção materna. Abordado o Dr. Álvaro a quem a Quinta de Cima pertencia, fez saber que venderia a sua parte com a condição de lhe ser cedido um monte redondo situado ao lado da quinta e dela separado pela antiga estrada da Falperra, monte que era anexo ao Valbom de Baixo. Quando o P. Pinho soube que tal monte fazia parte da venda exultou, pois ele era de facto o sítio ideal para as construções e desde logo se decidiu a comprar a Quinta de Valbom de Baixo, prescindindo do Valbom de Cima, por não ser necessária. E as terras foram à praça para serem vendidas em hasta pública. O valor da propriedade era de oitocentos mil escudos. À Quinta pertencia ainda um terreno baldio denominado Monte do Cachãozinho situado no monte Sameiro e atravessado pela estrada da Falperra para o Sameiro e o Monte chamado do Tanque ou Monte Redondo, de mato e sebe, cortado por caminho público na freguesia do Fraião. Havia ainda a Tomada ou Coutada da Fonte Seca, prédio rústico situado próximo do lugar da Fonte Seca, na freguesia do Fraião. O Dr. Moisés Alves de Pinho, por intermédio do seu procurador, antigo aluno do Colégio do Espírito Santo, P. José Manuel Ribeiro Braga, comprou a Quinta pela soma de 200 contos, a 10 de Maio de 1927, sendo a escritura de venda passada no escritório do notário Bacharel Filipe Augusto Noronha Freire de Andrade, de Braga. Assinavam a escritura o P. José Ribeiro Braga, como representante do P. Moisés Alves de Pinho, Alberto Manuel de Oliveira Carvalho em seu próprio nome e José Vicente Taveira da Silva Catalão como procurador da Viscondessa do Fraião e de seu filho Francisco Manuel Pereira Dias de Oliveira Carvalho. A Quinta fora posta à venda em hasta pública por 200 contos, preço que o P. Pinho deu por ela.317 Além da parte “intra muros”, a compra incluía portanto o grande montado do Monte Redondo e outro montado no monte Sameiro, a Coutada de Fonte Seca. Em princípios de Julho foram entregues como sinal 6 contos. Efectuada a compra do Valbom de Baixo, da mobília da casa e do solar do antigo Visconde e resolvida a construção no Monte Redondo, tudo parecia concluído. Mas continuava a sorrir a ideia de comprar também o Valbom de Cima, pois se o seu actual proprietário, o Dr. Álvaro, era bom vizinho, não havia garantias que o mesmo acontecesse com os possíveis futuros proprietários. De resto, ele mesmo estava interessado em vender a propriedade. O terço da mulher dele era realmente maior que o dos dois irmãos, pois não tinha casas e sobretudo contrastava com o desleixo a que havia sido votada a parte dos dois rapazes. O Dr. Álvaro pedia quantia proporcional à dos cunhados, isto é: 100 contos, mas desejava que pelas melhorias ali efectuadas lhe déssemos além dos 100 contos a 317 Comarca de Braga Livro 108 –A Fl. 71 A compra da Quinta do Valbom, no Fraião 331 possibilidade de colher todo o rendimento do primeiro ano até ao S. Miguel de 1928 e nessa base o P. Pinho comprou também o Valbom de Cima. A escritura foi feita por intermédio também do procurador P. José Manuel Ribeiro Braga a 25 de Outubro de 1927, no mesmo cartório. Vendia D. Maria Armanda de Oliveira Carvalho Ferreira da Silva, autorizada por seu marido Dr. Álvaro Cândido Ferreira da Silva, lente em Coimbra e com casa na Quinta de Santo Adrião, em Braga.318 O Dr. Álvaro, que nas melhores relações com a Congregação lhe ofereceu no cimo do Monte Redondo uma faixa de terreno para dar saída para a estrada nova, vendeu a 12 de Novembro de 1927 ainda mais um pouco de terreno, ao longo do Monte Redondo, ao fundo da actual mata que alargava a faixa já dada: por ela e pelas árvores ali plantadas se pagou 3.500$00. Além disso o Dr. Álvaro ofereceu ainda toda a pedra necessária para a obra.319 Depois disso, com autorização da Câmara de Braga abriu-se a nova calçada ao longo do muro da Quinta para desfazer a antiga que ziguezagueava o Monte Redondo. Por escritura de 18 de Dezembro de 1929 o P. Pinho comprava ainda ao Dr. Álvaro Cândido Ferreira da Silva, para edificação de prédio urbano, uma faixa de terreno com 2.000 metros quadrados, correspondendo aproximadamente a uma trigésima parte da “Bouça de Dentro da Quinta” que o Dr. Álvaro, possuidor da Quinta de Santo Adrião ou da Capela, possuía e que confrontava ao norte com a estrada nova de Santa Marta e a nascente e sul com o caminho velho para Nogueira pelo monte Penouços e do poente com a faixa de terreno que foi adquirida por Manuel Monteiro Pinto, desta cidade. O preço da venda foi de 500 escudos. Todas estas compras, excepto a última, foram feitas em nome do Dr. Moisés Alves de Pinho por intermédio do seu procurador P. José Manuel Ribeiro Braga. A 29 de Fevereiro de 1940, D. Moisés, pelo seu procurador P. Clemente Pereira da Silva doava à Congregação do Espírito Santo a Quinta de Valbom, constituída nessa data pela Quinta de Valbom de Cima e de Baixo e a propriedade do Tanque ou Monte Redondo. Com todas estas compras ficou constituída a nova propriedade onde se fundaria a comunidade do Fraião, como filial da comunidade da Sagrada Família da Quinta do Charqueiro, com o mesmo superior, o P. Luís Cancela, e tendo sido a administração da nova comunidade confiada ao mesmo ecónomo o P. Manuel Vieira. Como, porém, o superior da Quinta do Charqueiro, o P. Luís Cancela, caísse doente, vindo a falecer pouco depois, foi nomeado para o substituir no Fraião o P. Miguel Fonseca. 318 319 Comarca de Braga Livro 104 Fl. 73 Comarca de Braga Livro nº 105-A fl. 1 333 Capítulo 35 O Seminário do Fraião S egundo o relatório que o P. Pinho enviou para a Casa Mãe, em 1922 a situação da Província era a seguinte: Na residência da Sagrada Família, da Rua Bento Miguel, residiam os PP. Pinho como director dos aspirantes irmãos, Cândido Costa subdirector e ecónomo, P. António Teles, encarregado da Associação da Senhora da África, P. Miguel Fonseca, professor. Os aspirantes eram 16 e os Irmãos 5: Ricardo Pereira, João de Deus Oliveira, Ildefonso Afonso, Lourenço e Daniel Santos. Na comunidade do Santíssimo Redentor, na Rua Visconde Pindela, 47, o superior era o P. Clemente Pereira da Silva colaborando com ele os PP. Agostinho Pintassilgo, Giocondo Adriani e Nunes Costa; Irmãos: Antero da Silva, Luís Ferreira, Serafim Rodrigues e Fortunato Pereira. Escolásticos menores: 60. Na comunidade de Viana do Castelo, o superior era o P. João Cardona, assistido pelos PP. Daniel Junqueira e Manuel Raposo. Os escolásticos eram 8, 5 dos quais não professos. Em Chevilly estavam 3 escolásticos maiores. Irmãos: Adélio Cangueiro, Augusto, Valfredo, João Baptista, Protásio e Marcelino. Em Lisboa, na Travessa Lázaro Leitão, 21, estava o P. Joaquim Alves Correia como director e procurador das Missões e redactor da revista “Missões de Angola e Congo”, P. José Maria Antunes fora de comunidade e os Irmãos Alípio Moita, Narciso da Costa e Francisco Antunes. A primeira comunidade do Fraião A 3 de Novembro desse ano de 1927, chegava ao Fraião vindo do Charqueiro, um grupo de postulantes mais velhos: Carreira, Migueis, Rodrigues, Abílio Ventura, Manuel Ventura, Pereira, Gonçalves e Cunha, que vinham acompanhados do Irmão Valfredo e que se instalaram no antigo solar do Visconde do Fraião. Mais tarde apareceu o P. Superior P. Luís Cancela que, já noite escura, benzeu a casa. Vinham para cultivar a quinta e iniciar os trabalhos da construção. O Irmão Bento Vicente juntou-se mais tarde ao grupo dos fundadores. No dia seguinte, o P. Moisés Alves de Pinho fez a inauguração, celebrando aí a primeira missa. A comunidade ficará sem sacerdote permanente por o P. Superior, o P. Luís Cancela, que devia vir, ter caído doente. 334 Adélio TORRES NEIVA No dia 2 de Dezembro, o P. Pinho benzeu o Monte Redondo onde se edificariam os novos edifícios para a Obra dos Irmãos e do Escolasticado. No dia 5 de Dezembro, chegou o novo superior, o P. Miguel da Fonseca. Veio trazê-lo toda a comunidade do Santíssimo Redentor, de S. Tomás. Nesse mesmo dia, 5 de Dezembro, começou no Monte Redondo a terraplanagem para a nova construção. Dirigiu-a o Irmão Marcelino que todos os dias subia a colina, vindo da Rua Bento Miguel. No dia 8, festa da Imaculada Conceição, todos foram para Braga celebrar a festa com os demais confrades. O mesmo acontecerá no dia de Natal. A 22, o Irmão Marcelino deixa a Rua Bento Miguel e instala-se no Fraião. Entretanto, na quinta, procedia-se à azáfama da apanha da azeitona, por sinal muito abundante nesse ano, no que colaboraram os restantes membros da Rua Bento Miguel. No dia 30, veio o primeiro carreto de pedra para as obras, usando-se para isso o gado da Quinta do Fraião. A 10 de Janeiro, uma quarta-feira, sob os auspícios de S. José, assentaram-se os alicerces do primeiro pavilhão, o pavilhão norte, destinado à Obra dos Irmãos. Por sua vez começaram a sua tarefa os dois irmãos carpinteiros José dos Santos e Alberto Santos, que tinham já colaborado em Viana e em Godim. O primeiro visitante que a obra recebeu foi o antigo aluno do Colégio do Espírito Santo, António Dias Costa, que muito contribuiria para a direcção das obras e que esteve no dia 12 de Janeiro. Nesse mesmo dia instalou-se na quinta o Ir. Protásio que dirigiria as obras de carpintaria. A 29 de Janeiro de 1928, o arcebispo de Braga D. Manuel Vieira de Matos, que desde a primeira hora dedicou paternal dedicação a esta obra, benzia às 16.30 horas a primeira pedra dos edifícios a levantar no alto do Monte Redondo (D. Moisés nas suas Memórias indica o 20 de Janeiro como data para esta bênção, mas deve ser engano, pois o Diário da Comunidade coloca esta celebração no dia 29, festa de S. Francisco de Sales). Presentes, estavam o P. Clemente Pereira da Silva em representação do Provincial, ausente em França, e todo o pessoal de Infias e de S. Tomás. A primeira pedra ficou colocada sob a soleira da porta central do pavilhão norte, que olha para a cidade. Ainda durante o ano de 1928, começaram a surgir os edifícios dos actuais pavilhões das oficinas e central. O primeiro serviria de base de apoio à construção em curso da futura Escola Profissional das Missões para Irmãos Auxiliares; o segundo, inicialmente só com o primeiro andar, seria a sede da Obra dos Irmãos. Aproveitando a visita do Sr. Arcebispo, antes da bênção da primeira pedra, realizou-se na capelinha do Fraião a administração do Santo Crisma aos aspirantes que ainda o não tinham recebido. A 8 de Junho, tinha lugar a assinatura de venda do Valbom de Baixo por parte de Francisco, filho mais novo do Visconde do Fraião e que fora emancipado há algumas semanas. Enquanto menor, essa escritura não teria podido fazer-se. A 17 de Junho, celebrando-se a festa do Espírito Santo na capelinha do Espírito Santo do Monte, o Fraião tomou à sua conta, este ano, o encargo da celebração da festa. O Seminário doFraião 335 A 14 de Julho, chegaram de madrugada vários carros de madeira trazidos gratuitamente. A 16 de Julho, vem para o Fraião o Ir. Clemente como carpinteiro. Assim, ficam a residir no Fraião um padre, 5 Irmãos professos, 1 agregado e 16 aspirantes, dos quais um cozinheiro, 3 carpinteiros e 12 cultivadores da terra. No dia 31 de Julho, começa o desaterro para a construção das oficinas, ao lado do Pavilhão Norte. E a 10 de Setembro, o desaterro para o Pavilhão Central. A 22 de Agosto passou a dirigir a casa como superior o P. Manuel Vieira, regressando o P. Miguel Fonseca à Rua Bento Miguel. A 15 de Setembro, Festa da Senhora das Dores, terminava no Fraião a obra de pedreiro do pavilhão Norte, pendurando-se o tradicional ramo de oliveira. Assim, a obra foi realizada por partes, começando-se pelo pavilhão virado para a cidade, o pavilhão norte, no extremo norte do conjunto projectado. Os trabalhos de pedreiro foram adjudicados a um empreiteiro por x por metro quadrado e por porta e janela. As condições do concurso foram elaboradas pelos Irmãos encarregados dos trabalhos que ficaram também com o cuidado da fiscalização. O resto foi feito por conta da Congregação sob a direcção dos Irmãos Marcelino e Protásio, que superintendiam nas obras com grande dedicação e competência. A partir de Outubro, o Fraião ficou encarregado de fornecer à comunidade do Santíssimo Redentor, em S. Tomás, o leite e a hortaliça. Como a distância era bastante longa, resolveu-se comprar um macho para esse efeito, o “Ruço”. “A sua entrada no estábulo foi saudada com uma zurrada que fez tremer o edifício”. A 30 de Outubro, a casa começou a ser telhada, no que colaborou toda a comunidade da Rua Bento Miguel e a 1 de Novembro a casa estava coberta de telha. O edifício começou a dominar as distâncias. A 10 de Novembro chegou o vidro oferecido pelo Sr. Manuel Carneiro e no dia 20, cinco janelas estavam já revestidas de cimento e os carpinteiros começaram a assentar os caixilhos. A 12 de Novembro falecia repentinamente o padre diocesano José Ribeiro Braga, procurador oficial das obras do Fraião e das diferentes compras ali efectuadas, que prestou relevantes serviços a esta obra. A 18 de Novembro, reuniram-se as diferentes comunidades de Braga, SS.mo Redentor, Bento Miguel e Fraião e levaram em procissão a imagem de S. José através da Quinta e das novas construções. S. José, desde o início, foi considerado o “ecónomo” da Província e a sua devoção começou a ser celebrada no Fraião desde o primeiro momento. Curioso que a primeira pedra do seminário Conciliar, da Rua de Santa Margarida, foi também lançada no dia 8 de Dezembro de 1928, tendo assistido à cerimónia toda a comunidade do Fraião. A 27 de Fevereiro de 1929, efectuava-se a mudança há tanto tempo desejada: desde pela manhã, um movimento desusado de carros e camiões transportava a mobília e outros apetrechos da Rua Bento Miguel. Depois do pôr-do-sol, apareceu o P. Arnaldo Baptista com os últimos elementos da Bento Miguel. Uma 336 Adélio TORRES NEIVA bênção na capela provisória para agradecer à Sagrada Família e em especial a S. José este grande milagre. Depois do jantar, tomam o caminho do novo edifício à luz de um archote. Os dias seguintes foram passados na arrumação da casa. Na Rua Bento Miguel apenas ficou o P. Labrousse para guardar a casa. A festa de S. José foi já no vasto salão da casa nova com a presença de todas as comunidades. A 31 de Maio, chegava a Braga o Superior Geral, Mons. Le Hunsec, que visitando o Fraião, confessaria ao P. Arnaldo Baptista, que o acompanhava, que “esta era a mais bela quinta da Congregação”. A 9 de Junho de 1929, teve lugar no Fraião a primeira Reunião dos Antigos Alunos dos Colégios do Espírito Santo e de Santa Maria. A 22 de Julho era instalado o telefone na nova casa. No dia 24, começava a chegar de camião a mobília da comunidade do Santíssimo Redentor. Foi neste dia, por sinal uma quarta-feira de S. José, que se operou a mudança. A 8 de Setembro de 1929, foi a inauguração da capela do Escolasticado (a antiga capela do pavilhão Norte), benzida no dia anterior pelo P. Nunes Costa. Entretanto, os escolásticos vão chegando pouco a pouco. O início das aulas na nova casa será a 9 de Outubro. A 8 de Outubro de 1929 os noviços-irmãos passam definitivamente para a sua nova casa no Monte Redondo. Na Casa de Baixo ficaram apenas os veteranos Ir. Bento e Inácio, em companhia do Ir. Valfredo encarregado das culturas e o P. Agostinho Labrousse como capelão. A casa da Rua Bento Miguel fora demolida e o material, inclusive a pedra, foi trazido para o Fraião. A 8 de Outubro de 1929 os Irmãos mudam definitivamente para o Monte Redondo. No dia 9, marcam-se as aulas. O corpo docente ficou assim constituído: P. Arnaldo Baptista, superior, P. António Ribeiro Teles, director, P. Nunes Costa, José Cosme, José Maria Figueiredo e Rocha (missionário no Haiti) e os escolásticos: Olavo Teixeira e Fernando Moreira; como ecónomo veio o P. Manuel Vieira. Nesse mesmo dia 9 é inaugurada a capela do noviciado dos Irmãos. No dia 10, a comunidade foi em peregrinação ao Sameiro a pedir a bênção da Senhora para o novo ano e para a nova casa. No dia 27 de Outubro, festa de Cristo Rei, será a primeira Tomada de Hábito no novo escolasticado. A 7 de Novembro, D. José de Lencastre oferece à comunidade uma bela sineta de 27 quilos. Em Fevereiro de 1930, plantam-se os eucaliptos no Fraião. Em 8 de Setembro de 1930, morre no Fraião o aspirante José Maria, o primeiro que do Fraião partiu para o Pai. Neste mesmo ano de 1930, a pedido do episcopado português, abriu-se na antiga casa do Visconde, na Quinta de Baixo, a Obra de Regeneração Sacerdotal, uma casa de retiros para regeneração de sacerdotes, confiada ao P. José Cosme. Em 1931, constrói-se a ponte sobre a calçada bem como a padaria. O Seminário doFraião 337 A 27 de Janeiro de 1932, planta-se a primeira linha de videiras ao longo do paredão paralelo às oficinas. A 24 de Julho de 1932, chega o novo superior da comunidade P. Joaquim Correia de Castro que substitui o P. Arnaldo Baptista. A 26 de Março de 1933, morre o P. Agostinho Labrousse. A 23 de Abril de 1933, D. António Bento Martins Júnior veio benzer a estátua do Santíssimo Redentor, o padroeiro do Escolasticado Menor. A 18 de Julho de 1933 vai para Viana o primeiro grupo de pequenos escolásticos, chefiados pelo P. Francisco Alves do Rego, que passaram para o sexto ano. A 4 de Setembro de 1934 a comunidade foi consagrada ao Sagrado Coração de Jesus, consagração que se renovará todos os anos, no aniversário da fundação da casa. A 7 de Setembro de 1934 faz-se a abertura solene do Noviciado dos Clérigos na Quinta de Baixo, com os Padres Brunn a mestre e Manuel Meira a sub-mestre. Entretanto terminou-se o desaterro central, concluiu-se o pavilhão sul que fica destinado a escolasticado, ficando no pavilhão norte a Escola Profissional dos Irmãos; fez-se um amplo coberto para os recreios em tempos de invernia, plantaram-se árvores nos recreios e alamedas. Na quinta, arrotearam-se novos campos; fizeram-se novos tanques e canalizaram-se as águas, levantaram-se ramadas e plantaram-se pomares e finalmente construiu-se uma vacaria. A 30 de Maio de 1935, festa da Ascensão do Senhor, é benzido o novo pavilhão, o pavilhão sul, pelo Arcebispo de Braga, D. António Bento Martins Júnior. Seis anos depois, começariam as obras finais de mais um andar no pavilhão central e interligação dos três pavilhões. Assim nasceria a actual capela. Decidiu-se também neste ano construir uma enfermaria, logo que terminasse a construção do pavilhão novo do escolasticado. A 15 de Julho de 1935, a capela do noviciado dos Irmãos passa a capela do escolasticado. Em Julho de 1935, o noviciado, postulantado e aspirantado dos Irmãos mudam para a casa nova, no Espadanido. Devendo os Dominicanos fundar um colégio no Porto e não podendo continuar com a direcção do Escolasticado e muito menos pensar juntar os seus aspirantes com os colegiais, pensaram em oferecer a uma congregação aqueles desses jovens que quisessem continuar no estado religioso: bateram à porta dos Espiritanos com esse intuito. Declararam que no fim dos preparatórios, se qualquer deles quisesse voltar para a Ordem, pagariam as despesas por eles feitas. A 15 de Fevereiro de 1938, o Conselho Provincial deu parecer favorável a esta proposta. Assim, os estudantes dominicanos foram aceites, ficando 4 no Fraião e 5 em Godim. No ano seguinte, vieram 7. Em 1942, havia ainda 6 alunos dominicanos. Em 1943, os dominicanos pedem ainda hospedagem para 6 no 1º ano e os outros no segundo. Em 1943, os dominicanos deixariam definitivamente as casas dos Espiritanos. Em 1938, decidiu-se construir a galeria que liga os diferentes edifícios, o coberto do recreio para os Irmãos em seguimento do dos escolásticos, a vacaria e uma capela para o noviciado dos clérigos. 338 Adélio TORRES NEIVA A 13 de Outubro de 1938, começam as conferências sobre higiene e cuidados médicos, que o antigo aluno do Colégio do Espírito Santo, o Dr. Jerónimo Louro, fará aos escolásticos todas as quartas feiras bem como um curso de enfermagem. A 27 de Maio de 1939, faleceu nesta casa o P. Blériot, último director do Colégio do Espírito Santo e que em 1936 viera para Portugal com saudades do tempo antigo. A 29 de Fevereiro de 1940, o P. Clemente Pereira da Silva, procurador de D. Moisés Alves de Pinho, doou à Congregação os seus bens imóveis, situados no Fraião, nomeadamente a Quinta de Valbom de Baixo e de Valbom de Cima e o Monte do Tanque, em Monte Redondo, pois até aí estes bens estavam registados em nome de D. Moisés. Em 1940, construiu-se na quinta a vacaria, depois seguida da pocilga e do galinheiro; este ano comprou-se também a Quinta da Fonte Seca, pertença do Sr. Joaquim Araújo. A 7 de Setembro de 1942 o Noviciado dos Clérigos é transferido da Quinta de Baixo para a Silva. Em 1943, foi decidido implementar um projecto de especialização de professores enviando dois padres novos para a universidade de Coimbra, um para Ciências e outro para Letras; outros poderiam ir para Salamanca especializar-se em Sagrada Escritura. A 30 de Setembro de 1944, reuniram-se extraordinariamente nesta comunidade os Antigos Alunos do Colégio do Espírito Santo para celebrar os 80 anos do seu antigo professor e director da secção dos “pequenos”, o P. Miguel da Fonseca. A 27 de Janeiro de 1941 iniciaram-se os trabalhos para a ligação dos dois edifícios – capela e refeitório dos Irmãos – construção destinada ao Noviciado dos Irmãos que deve ceder o seu lugar ao escolasticado menor, pois, segundo foi determinado, para aqui virão, os escolásticos da Guarda e da Silva. Em Godim ficarão todos os do primeiro ano e no Fraião todos os do segundo e terceiro ano. A 21 de Outubro de 1945, Dia das Missões, foi inaugurada a nova igreja do seminário, construída na ligação do pavilhão central com o pavilhão sul, e benzida pelo Arcebispo Primaz. Esta igreja tinha sido iniciada pelo P. José Maria Figueiredo com a ajuda da Associação de Nossa Senhora de África. Na sua construção colaboraram os Irmãos Marcelino e Protásio. Na nova igreja devemse cantar cem missas pelas almas daqueles que a ajudaram a erguer. A 26 de Junho de 1947, faleceu o P. Miguel Fonseca, última relíquia dos professores do Colégio do Espírito Santo; foi o seu corpo levado para a igreja de S. Vicente e enterrado no cemitério da cidade. A 22 de Novembro de 1948, começaram as obras da construção do altar de Nossa Senhora de África de que ficou especialmente responsável o P. José Maria Figueiredo, não só no que diz respeito ao altar como à renovação da capela-mor. O altar seria inaugurado a 15 de Julho de 1949 pelo Sr. Arcebispo Primaz, devendo a inauguração do grupo escultórico ficar para mais tarde, por ainda se O Seminário doFraião 339 não achar concluído. Foi a 5 de Fevereiro de 1962, que esse grupo aí foi colocado, sendo benzido a 30 de Março pelo bispo auxiliar de Braga, D. Francisco Maria da Silva. A 27 de Março de 1950, começou o Noviciado dos Irmãos no Espadanido, inaugurando-se a casa a 26 de Setembro desse mesmo ano. No dia 19 de Setembro de 1955, comprou-se o monte que está em frente do portão de entrada, junto da estrada Braga-Sameiro, que pertencia ao Dr. Faria, professor do Liceu D. João III de Coimbra, para impedir a construção de moradias junto ao seminário. A 19 de Novembro de 1955, faleceu o Abade da Loureira, P. José Augusto da Silva, grande amigo da Congregação, que deixou em testamento a casa da Boavista no Porto à Congregação. A 27 de Setembro de 1958 concluiu-se a construção do claustro, que levou dois anos a fazer. Iniciado pelo P. António Botelho, seria concluído pelo P. Joaquim Maria Mendes. A 19 de Março de 1959, o provincial de então, P. Firmino Cardoso Pinto, doa a Quinta da Fonte Seca às Irmãs do Espírito Santo, destinada à construção de uma casa de formação missionária, com a condição de o prédio reverter ao doador, nos casos de extinção da corporação donatária ou de alteração ou desvio da sua finalidade missionária.320 E a 2 de Maio desse ano era lançada a primeira pedra da Casa das Irmãs do Espírito Santo. A 10 de Novembro de 1966, as ossadas dos confrades foram transferidas do cemitério velho para o novo, na freguesia do Fraião. Foram os seguintes os confrades cujas ossadas foram trasladadas do cemitério antigo para o novo: José Neiva Araújo (seminarista, falecido em 1930), P. Agostinho Labrousse (1933), Ir. Lucas Ferreira (1933), Álvaro Martins (seminarista, 1933), Ir. Inácio Alves (1934), P. Manuel Vieira (1935), José Baptista (seminarista, 1939), Ir. Bento dos Santos (1940), Ir. Antonino Pereira (1940), Arnaldo Rocha Ferreira (seminarista, 1941), Ir. Adélio Cangueiro (1942), P. José Terças (1944), Ir. João de Deus Oliveira (1944), Ir. Paulo Pinheiro (1945) e P. Lindorfo Quintas (1945). Em 1967 fizeram-se obras importantes no segundo andar do pavilhão central, instalando-se aí um salão de festas com palco e uma nova sala de convívio. A 22 de Março de 1980, por proposta do Cónego Costa Lopes da Comissão de Toponímia da Cidade de Braga, foi dado pela Câmara Municipal o nome do P. José Eigenmann a uma rua de Nogueira, perto da capela do Espírito Santo. A 14 de Junho de 1980, festa do Imaculado Coração de Maria, celebrou-se solenemente o 50º aniversário do seminário do Fraião, tendo nela participado, além de D. Eurico Dias Nogueira, arcebispo Primaz, os seus bispos auxiliares. A 8 de Dezembro de 1985, celebrar-se-ia também o cinquentenário da fundação do Noviciado em Portugal. A 10 de Junho de 1986, chegaram ao Fraião, vindos de Espanha, os restos 320 Escritura de 19 de Março de 1952. 340 Adélio TORRES NEIVA mortais do P. José Maria Felgueiras, seguindo ao outro dia para as Taipas, sua terra natal. A 7 de Julho desse mesmo ano de 1986, uma família de Braga, que tinha comprado em leilão em 1910 uma imagem de Nossa Senhora de Lurdes, pertencente ao Colégio do Espírito Santo, no acto das partilhas, decidiu oferecêla ao seminário do Fraião. É uma imagem de 1,80m, de ferro fundido. Ficou colocada no fim da alameda das tílias. A 26 de Julho de 1987, no seminário celebrou-se a ordenação de quatro novos presbíteros espiritanos: os PP. Mário Silva, José Carlos Coutinho, José Manuel Sabença e Manuel de Sá Paula. A 16 de Março de 1992, inicia-se o corte de árvores para abertura da nova estrada da circunvalação que passará ao fundo da mata e em frente do Espadanido. Em 1992, procede-se ao levantamento do edifício e à definição dos espaços para as diversas obras, segundo as orientações do Conselho Provincial Alargado de 1991. Segundo estas orientações, o Fraião deveria ter um sector para a terceira idade e simultaneamente um espaço devidamente adaptado para acolher doentes altamente dependentes (nº365) e um espaço para formação do 8º e 9º ano. Devido ao plano urbanístico da Câmara de Braga para o Vale de Lamaçães, a casa do Fraião sofreu profunda remodelação nos pavilhões norte e central. As obras iniciaram-se no dia 1 de Julho de 1993. Ficaram de pé apenas as paredes. Os dois pavilhões ficaram com dois corredores com quartos de um lado e de outro, com certo conforto, embora sem luxos. São encimados por terraços donde se vislumbra um belo panorama. A casa foi remodelada com os seguintes objectivos: comunidade para os confrades idosos e doentes da Província, casa de retiros espirituais e encontros de animação missionária e vocacional. O exterior foi também completamente remodelado: duas secções para jogos dos alunos; uma parte ladrilhada e outra ajardinada. No meio uma acolhedora piscina. Os claustros dos dois pavilhões foram envidraçados. As obras terminaram no ano de 1996. Neste ano foi decidido que a Casa do Fraião remodelada, além da comunidade espiritana, integrasse o Centro de Animação Missionária, a funcionar no Pavilhão Central. A casa foi ainda dimensionada para acolher confrades dependentes. Dois anos mais tarde, procedeu-se também a um melhoramento mais rudimentar do Pavilhão Sul, tornando a casa apta para retiros e cursos, a cargo do CESM, que aí ficou sediado. A 12 de Janeiro de 2001, foi firmado um contrato com a Associação de Solidariedade Social de S. Tiago do Fraião, por 50 anos, a partir de 01.01.2001, pelo qual a Casa do Espadanido foi cedida para Lar de Terceira Idade, Centro de Dia e Apoio Domiciliário, Infantário e ATL. Durante este tempo, o Fraião foi visitado por quatro ministros das Colónias: em 10 de Abril de 1941, pelo Dr. Francisco Vieira Machado, em 30 de Março de 1946, pelo Dr. Marcelo Caetano; em 2 de Julho de 1948, pelo Comandante Teófilo Duarte; e em 2 de Novembro de 1963, pelo Dr. Joaquim da Silva Cunha. 341 Capítulo 36 O Fraião e as suas obras N o Fraião, podemos distinguir três obras diferentes, cada qual com o seu espaço e que acompanham a história deste seminário: a Obra dos Irmãos, o escolasticado Menor com o Curso de Filosofia, e o Noviciado dos Clérigos. A primeira casa a ser ocupada foi a Casa dos Viscondes, na Quinta de Baixo. Ao princípio, enquanto se construía o seminário em 1927, instalou-se ali, ainda que provisoriamente, o Postulantado e o Noviciado dos Irmãos, que em 1929 passaria para o novo edifício no alto do monte. Em 1930, a pedido do Episcopado, foi ali criada a Obra de Regeneração Sacerdotal para retiros de regeneração de sacerdotes. Em 1934, começou ali a funcionar o Noviciado dos Clérigos que se prolongou até 1942, ano em que o Noviciado foi transferido para a Silva. Em 1950, passou a funcionar ali o Noviciado dos Irmãos. Em 1971, com a casa remodelada e ampliada, instalou-se ali o Curso de Filosofia, a funcionar autonomamente e que foi interrompido em 1973 e reaberto em 1975. Foi a partir de então que a casa se começou a chamar “Casa da Filosofia”. Em 1985, voltou para ali o Noviciado dos Clérigos e em 1990 a casa foi transformada em Centro de Animação Missionária. Em 1995, a casa foi encerrada até que, em 2001, depois de profunda remodelação, foi cedida por um período de 50 anos à Associação de Seminário do Fraião em crescimento Solidariedade Social de S. Tiago do Fraião, para lar de terceira idade, centro de dia e apoio domiciliário, infantário e ATL. No Fraião propriamente dito, onde se construíram o seminário e a escola Profissional das Missões, funcionaram, desde 1929, a Obra dos Irmãos e o Escolasticado Menor. A Obra dos Irmãos, começou a funcionar juntamente com o Escolasticado no pavilhão Norte, depois de construído o pavilhão central, durante todo o tempo. O Escolasticado Menor passou por muitas vicissitudes; foi quase sempre um 342 Adélio TORRES NEIVA seminário do chamado ensino liceal, acolhendo os alunos que tinham feito o curso inicial nos seminários da Guarda, Godim, Silva ou Viana do Castelo. Aqui chegaram a funcionar todos os cursos de preparação para o sacerdócio, até à Teologia, mas a base fixa foi sempre o chamado curso liceal. A idade considerada ideal para o noviciado levou os Superiores da Congregação a colocar ali durante dez anos, desde 1937, o primeiro e depois o segundo e terceiro anos do Curso de Filosofia. Em 1944, os escolásticos menores ficam a ocupar o pavilhão sul e o Curso de Filosofia o pavilhão norte. Em atitude precursora e por muitos, na Seminário do Fraião altura, considerada revolucionária, obteve na década de quarenta alvará de estabelecimento de ensino secundário particular, sendo o ciclo complementar incluído no plano de estudos dos seminaristas espiritanos. Os seus alunos do quinto e sétimo anos brilharam em exames liceais e alguns deles obtiveram mesmo prémios nacionais. O seminário do Fraião foi considerado pela imprensa de determinada época como o estabelecimento de ensino com melhor aproveitamento escolar dos seus alunos em todo o país. Integrado na arquidiocese de Braga, o seminário do Fraião contribuiu com uma preciosa colaboração pastoral, quer no serviço eucarístico, quer em confissões e pregação, bem como na assistência espiritual no seminário diocesano e nas comunidades religiosas. Santo Adrião, Nogueira, Trofa, Sameiro, Irmãs de S. José de Cluny, Irmãs Teresianas, Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, Escravas da Santíssima Eucaristia, etc. são apenas alguns exemplos deste ministério do seminário. O seminário do Fraião foi ainda palco de sessões de reciclagem e assembleias provinciais, inclusivé o Capítulo Provincial de 1978, retiros e recolecções de votos perpétuos para escolásticos e irmãos e cenário de encontros de comissões europeias internacionais. O Escolasticado Menor No dia 26 de Julho de 1929 celebrou-se a última missa no colégio de S. Tomás e os alunos do V ano passaram para o Fraião, a nova casa e onde já funcionava a comunidade dos Irmãos. Eram ao todo 16. Os outros alunos, os do III e IV ano, iriam para férias e também viriam para o Fraião depois das férias. Ao todo, juntamente com os do V ano, eram 63. O I e II ano continuaram a ser ministrados em Godim. O padroeiro do escolasticado continuou a ser o mesmo: o Santíssimo Redentor. O Fraião e as suas obras 343 A 2 de Agosto, foi celebrada a primeira missa no oratório provisório do Escolasticado e a 7 de Setembro, a nova capela foi benzida pelo P. Nunes Costa e inaugurada solenemente no dia seguinte pelo P. Provincial. A 16 de Janeiro de 1930, foi inaugurado o recreio dos mais velhos, conhecidos na gíria do seminário, por “grandes.” A 27 de Junho, festa do Coração de Jesus, fez-se a renovação da consagração da comunidade ao Coração de Jesus. A 18 de Julho de 1932, chegou o Superior Geral, acompanhado do P. Brottier que vinham para a Ordenação Episcopal do Sr. D. Moisés. O Superior Geral teve palavras de muito apreço pela situação desta comunidade. No dia seguinte, a missa da comunidade foi celebrada pelo P. Brottier. Seguiu-se um passeio pela Quinta durante o qual muitos montaram no burro que o Ir. Inácio usava. A 30 de Maio de 1935, foi solenemente benzido pelo Arcebispo Primaz D. António Bento Martins Júnior o pavilhão, onde desde o fim do ano lectivo de 1934-1935 ficou a funcionar o Escolasticado Menor. Festa grande, inolvidável. Na capela principal da comunidade, o Sr. Arcebispo deu a bênção do Santíssimo, finda a qual se dirigiu em festiva procissão para o novo pavilhão, que benzeu com toda a solenidade. Seguiu-se uma sessão, onde o coral regido pelo escolástico Olavo Teixeira, pela primeira vez cantou o Hino do Fraião, com letra do escolástico Augusto Teixeira Maio e música do P. Manuel António Meira. Diversos jornais como o Diário do Minho, Correio do Minho, Novidades, O Comércio do Porto fizeram referência a esta celebração. A 15 de Julho de 1935, começaram os escolásticos a ter os seus exercícios de piedade na capela do novo pavilhão onde ficará instalado o escolasticado. Para essa capela passaram todas as alfaias do culto até agora pertencentes ao Noviciado dos Irmãos; estes, tanto noviços como professos, fazem os seus exercícios na capela da comunidade. De 1935 a 1940, tomaram o hábito 95 escolásticos. Em 1937, começou o I Ano de Filosofia a funcionar no escolasticado Menor. Em 1941, juntou-se-lhe o II ano, mas logo se reconheceu a necessidade de criar um espaço próprio para o Curso de Filosofia. Por isso, em 1942, a Obra da Filosofia ganhou personalidade distinta do Curso de Humanidades, com regulamento apropriado e director próprio, na pessoa do P. Olavo Teixeira. Em 1944, aumentou-se mais um ano ao Curso Filosófico, ficando o curso dividido por três anos, inserindo-se nele as disciplinas de História da Filosofia e a Psicologia Experimental. A Obra da Filosofia instalou-se então em pavilhão próprio, o pavilhão Norte, com director próprio. No ano lectivo de 1940-41, o Escolasticado Menor, que compreendia o 4º, 5º ano e a Filosofia, ocupava apenas o Pavilhão Sul. Na ânsia de se obter mais uniformidade no ensino, de se economizar e devido ao pequeno número de professores disponíveis, procurou-se arranjar alojamento em Braga também para o II e III ano. E em Outubro de 1941, aqui ficaram a estudar todos os aspirantes desde o II ano de preparatórios até ao II ano de Filosofia, inclusive. Neste ano introduziu-se o II Ano de Filosofia. Teve que se fazer uma nova distribuição dos 344 Adélio TORRES NEIVA espaços: o II e III ano ficaram no Pavilhão Norte, dirigidos pelo P. Miguel da Fonseca que em breve teve que deixar a direcção, entregando-a ao P. António Gomes; o IV e V e a Filosofia ficaram no Pavilhão Sul, com o P. Olavo Teixeira como director. Estas divisões mantiveram-se até Outubro de 1944. Neste ano introduzira-se mais um ano de Filosofia. E então ficou a Filosofia no Pavilhão Norte, com o P. Firmino Cardoso Pinto a director e no Pavilhão Sul ficaram o II, III, IV e V anos, confiados ao P. António Alves de Oliveira. Em 1944, foi introduzido o III ano de Filosofia. Em 1946, a Filosofia ficará de novo reduzida aos dois primeiros anos, por terem ingressado no Noviciado juntamente com os finalistas do III ano, os que terminaram o segundo. O III ano de Filosofia passou para Viana do Castelo, funcionando juntamente com a Teologia. Depois passaram também para Viana o II e III ano de Filosofia. Com a ida da Teologia para a Torre da Aguilha, em 1952, Viana ficou só com a Filosofia. Em 1956, o Curso de Filosofia passou também para a Torre da Aguilha. A 1 de Outubro de 1941, chegaram os escolásticos vindos de Godim para o segundo e terceiro ano subindo para 250 o número total dos escolásticos. A festa do Santíssimo Redentor de 1946 foi solenemente celebrada com “Jogos Olímpicos”, antes preparados pelo professor de Ginástica o alferes Ramalho: Recreios enfeitados, jogos de ginástica, assistência selecta, todas as janelas iluminadas à noite e uma grande cruz luminosa contribuíram para que essa festa de 15 de Julho perdurasse na memória de quantos a viveram. No dia 15 de Dezembro de 1946 inaugurou-se no Pavilhão Sul uma lápide comemorativa do tricentenário da Consagração de Portugal à Imaculada Conceição. Em 1946, teve início o VI Ano. A 29 de Dezembro de 1946, realizou-se uma festa de homenagem ao Senhor Capitão Monteiro Pinto a agradecer os 25 anos da sua presença como professor neste seminário. O seu retrato ficou exposto no salão de festas. Remonta também a esta época a divisão dos alunos em duas salas de estudo para os escolásticos menores: a Sala de Angola, para o II e III ano e a sala de Cabo Verde para o IV e V. Em 1950, a Obra dos Irmãos é transferida para a antiga Casa do Noviciado dos Clérigos, no Espadanido. As obras de adaptação começaram a 27 de Maio. Em 1955, aumentou-se mais um ano de estudos: o VII ano liceal. Em Outubro de 1956, o Fraião volta a ter um só director com dois subdirectores, tendo ficado o 2º ano em Godim e em Viana o primeiro ciclo. No Fraião permanecem o 2º e 3º ciclos juntos; no Pavilhão Norte - o 3º e 4º anos; e no Pavilhão Sul – o 5º, 6º e 7º anos. A 16 de Agosto de 1959, reúnem-se os Antigos Alunos dos nossos seminários. Foi a sua segunda reunião. No ano anterior realizara-se a primeira reunião, na Torre da Aguilha. Entre eles, contava-se o Senhor D. Paulo Lencastre, filho de D. José de Lencastre. De 4 a 11 de Agosto de 1961, teve lugar o primeiro estágio de 90 candidatos ao primeiro ano. O Fraião e as suas obras 345 A 17 de Fevereiro de 1965, recomeçaram as obras do futuro estádio desportivo já por duas vezes iniciadas. A 13 de Março de 1966, faleceu no Casal de Penouços o Senhor Capitão Monteiro Pinto que durante 43 anos (desde Outubro de 1921 até Outubro de 1964) leccionou gratuitamente Álgebra e Físico-Química nos seminários espiritanos. A 10 de Maio desse mesmo ano falecia a sua esposa D. Virgínia Pinto. A 2 de Junho de 1967, foram inaugurados os dois estádios: Estádio do Centenário da Congregação ou Estádio Libermann, no Pavilhão Sul, e o Estádio do Cinquentenário de Fátima, no Pavilhão Norte. Também neste ano, foi construído um depósito de 50 metros cúbicos de água, junto do Campo Escolar dos Escutas. Em 1968, o Pavilhão Sul sofreu profundas remodelações, sendo inaugurados, no espaço entre os dormitórios, três lavatórios além de três novas salas de banho. Tempos antes, tinham sido também inaugurados lavatórios individuais nos quartos do 1º andar. Em 1972/73, fazem-se obras nas salas de aulas do rés do chão do Pavilhão Sul, a sala de Angola ficando reduzida a metade; fazem-se também novas sanitárias no Pavilhão Sul. No Seminário do Fraião A 25 de Maio de 1975 fezse a reunião conjunta dos ASES e Antigos Alunos dos Colégios. Em 1976, começou o Ciclo Geral com o 1º, 2º e 3º ano. A 7 de Fevereiro de 1977, iniciaram-se as obras na sala do 2º andar do Pavilhão Central onde se instalou um salão de festas com palco. Em 1982, começa-se a recorrer a alguns professores externos. Em 1984, os alunos do 7º e 8º anos terão as aulas no pavilhão Sul. Em 1987, esteve transitoriamente no Fraião o Curso de Filosofia bastante reduzido, com o P. Agostinho Tavares a director e o P. Carlos Salgado como colaborador. Em1989 os alunos de Godim (7º ano) vieram para o Fraião devido à casa de Godim entrar em obras. O número dos alunos foi variando ao longo dos tempos: chegaram a 250! O número de alunos chegados de novo em cada ano foi: em 1929: 85 (5º, 4º e 3º ano); em 1930: 26 (5º ano); em 1931: 28 (3º ano); em 1932: 42 (3º ano); em 1933: 25 (3º ano); em 1934: 30 (3º ano), em 1935: 32 (3º ano); em 1936: 31 (3º ano); em 1937: 32 (3º ano), em 1938: 31 (4º ano); em 1939: 35 (4ºano); em 1940: 47 (4º ano); em 1941: 150 (4º, 3º e 2º ano); em 1942: 66 (2º ano); em 1943: 47 (2º ano); em 1944: 43 (2º ano); em 1945: 48 (2º ano); em 1946: 49 (2º ano); em 1947: 57 (2º ano); em 1948: 60 (2º ano); em 1949: 66 (2º ano); em 1950: 57 346 Adélio TORRES NEIVA (2ºano); em 1951: 82 (2º ano); em 1952: 54 (2º ano); em 1953: 48 (2ºano); em 1954: 52 (2ºano); em 1955: 67 (2º ano); em 1956: 1 (6º ano; o 2º ano ficou em Viana do castelo); em 1957: 57 (3º ano); em 1958: 64 (3º ano); em 1959: 60 (3º ano); em 1960: 62 (3º ano); em 1961: 55 (3º ano); em 1962: 69 (3º ano); em 1963: 72 (3º ano); em 1964: 77 (3º ano); em 1965: 75; em 1966: 57 (3º ano); em 1967: 61; em 1968: 68; em 1969: 53; em 1970: 58; em 1971: 65; em 1972: 82; em 1973: 68; em 1974: 63; em 1975: 42; em 1976: 38; em 1977: 35; em 1978: 44; em 1979: 46. A Obra dos Irmãos O Livro das Actas das Reuniões dos Irmãos remonta a 1925, mas a Obra dos Irmãos no Fraião começou com o postulantado na Casa do Visconde na Quinta de Baixo, em 1927. Construído o primeiro pavilhão no cimo do monte do Fraião, o pavilhão norte, para ali se deslocou o postulantado em 1929 iniciando-se assim a Escola Profissional das Missões, que durante algum tempo conviverá com o pequeno escolasticado. Os membros da Obra dos Irmãos eram 57. A 9 de Outubro de 1929, é inaugurada a capela do noviciado dos Irmãos. O padroeiro da comunidade continuou a ser o mesmo: a Sagrada Família. Em 1930-31, os padres adscritos à Obra dos Irmãos eram: PP. Arnaldo Baptista, Labrousse, Fernandes e Manuel Vieira. As oficinas construídas logo desde o início foram: a carpintaria, a alfaiataria, a sapataria e a tipografia-encadernação. A padaria seria construída pouco depois. Em 30 de Maio de 1935, é benzido o novo pavilhão, o pavilhão sul, e em Julho desse ano o noviciado, postulantado e aspirantado passam para a casa nova. Em geral, tanto o superior como o ecónomo estavam bastante ligados à Obra dos Irmãos. Depois do P. Arnaldo Baptista, o primeiro mestre de noviços dos Irmãos foi o P. Joaquim Correia de Castro, que ocupou este cargo de 1932 a 1938. Como sub-mestres estiveram o P. Miguel Fonseca e o P. Manuel Meira. Em 1939 assume o cargo de mestre de noviços o P. A “Obra dos Irmãos” Manuel António Meira que permanecerá no cargo até Outubro de 1943; como sub-mestre estiveram os PP. José Felício e Firmino Cardoso. Em 1944 assume o cargo de mestre de noviços o P. Olavo Teixeira, sendo sub-mestre o P. Querubim Meireles. O Fraião e as suas obras 347 De 1946 a 1948 o P. Joaquim Correia de Castro é novamente nomeado mestre dos noviços, continuando o P. Querubim Meireles a sub-mestre. Em 1948 assume o cargo de mestre de noviços o P. António Luís Gonçalves. Em 1950 o Noviciado dos Irmãos foi solenemente inaugurado na Casa dos Viscondes do Fraião, no Espadanido, presidindo à inauguração o Sr. D. Moisés Alves de Pinho; nesse mesmo dia tomaram hábito nove noviços irmãos. Como mestre dos noviços é nomeado o P. José Maria de Sousa, colaborando com ele o P. António Cardoso Botelho. Em 1956 é mestre de noviços o P. António Botelho, tendo o P. Meira como colaborador. Em 1957 a equipa da Obra dos Irmãos era constituída pelo mesmo Mestre, P. António Cardoso Botelho com a colaboração do Superior P. José Maria de Sousa e do P. Joaquim Maria Mendes, que viria a ocupar o cargo de Mestre em 1963. Em 1959, começou-se a estudar a possibilidade dos postulantes frequentarem o “Curso Complementar de Aprendizagem Agrícola,” criado pelo Ministério da Educação (Diário do Governo de 21 de Novembro de 1975 Iª série, nº 264). O primeiro período do curso, chamado “Instrução Geral” era de dois anos e compreendia as seguintes disciplinas: Língua e História Pátria, Aritmética e Geometria, Desenho e Conhecimentos da Natureza”. Este curso dava a possibilidade de ingresso nas Escolas Técnicas ou nas Escolas Práticas de Agricultura, oferecendo assim mais vantagens para os Irmãos que o Liceu. A frequência do 2º Período oferecia mais dificuldades pelas exigências que comportava. Assim, na reunião do Conselho da Obra dos irmãos de 22 de Abril de 1959, foi decidido solicitar do Ministério da Educação o estabelecimento do 1º Período do “Curso Complementar de Aprendizagem Agrícola” e a faculdade de apresentar os nossos aspirantes aos exames das Escolas Técnicas, sem obrigação de frequentar as aulas e de inscrição no sindicato, uma vez que tínhamos professores e dispúnhamos das respectivas oficinas. O curso constaria de quatro anos, sendo os dois últimos anos de habilitação profissional, administrada por um Regente Agrícola Oficial. Este pedido foi diferido pelo Ministério, devendo as aulas começar a 15 de Outubro, sendo assim criada no Fraião a “Escola Profissional Agrícola” e o “Curso Complementar de Aprendizagem Agrícola”, ficando a regente do Curso e director da Escola Agrícola o P. António Botelho. O curso seria frequentado por 40 alunos, entre pré-postulantes, postulantes, noviços e irmãos tanto do Noviciado como da Comunidade. No primeiro ano 34 alunos terminaram o curso com aproveitamento. O 2º ano do curso foi frequentado praticamente com os mesmos alunos do primeiro. Os resultados finais: só 2 reprovaram e 13 desistiram quase todos por terem mudado de lugar. Dos 28 aprovados no primeiro curso, 17 ingressaram no primeiro ano da Escola Profissional. O Curso repetir-se-ia nos anos seguintes, vindo depois a ser substituído em 1965 pelo Programa das Escolas Técnicas. Alguns alunos frequentariam depois a Escola Técnica, outros a Escola de Enfermagem e outros o Iº Ciclo do Liceu em ordem à inscrição na escola de Regentes Agrícolas. 348 Adélio TORRES NEIVA Em 1960 começa-se com o pré-postulantado na Casa dos Viscondes do Fraião. O Conselho de Obra era então formado pelos Padres José Maria de Sousa (Superior), António Cardoso Botelho (Mestre), Joaquim Maria Mendes, Joaquim Vaz e Rogrigues Pinto. Em 1961 foi também adscrito à obra dos Irmãos o P. Seabra Marques. Em 1961 o pré-postulantado, de que era director o P. Joaquim Maria Mendes, deixou o Fraião e foi para a Aguilha com o Ir. Estêvão. Em 1962 o Conselho de Obra era formado pelos Padres José Maria de Sousa, Mestre, ecónomo, Rodrigues Pinto, Seabra Marques e Meira. O pessoal do noviciado era formado por 13 Irmãos Professos, 7 noviços, 14 postulantes. As aulas estavam divididas por três cursos: instrução primária, instrução geral e instrução profissional. Em 1963, formavam a Obra um irmão no 2º triénio, 13 no primeiro triénio, 6 noviços e 16 postulantes. Em 1965 foram apresentados pela primeira vez a exame do Iº Ciclo 6 Irmãos. Em 1967 foi extinta a Escola Agrícola do Fraião, que funcionava com carácter oficial por se julgar mais útil enviar os alunos à Escola Industrial e Comercial de Braga, na qual se especializaram já seis Irmãos, frequentando dois o Curso de construtor civil, dois o de carpinteiro e dois o de serralheiro. Neste ano para os Irmãos iniciou-se um curso preparatório para o I Ciclo frequentado por 6 alunos. Em 1970 o Conselho Provincial resolveu transferir a Obra dos Irmãos para Coimbra, sendo nomeado seu director o Ir. Duarte Costa. Na Obra dos Irmãos trabalharam além dos Padres já mencionados os PP. José Finck, José Maria de Sousa, José Maria Figueiredo, Avelino Costa, Joaquim Vaz, João Pinto da Silva, Joaquim Rodrigues Pinto. Postulantado e Noviciado dos Irmãos Em 1929 houve 45 ingressos, em 1930, 28; em 1931, 30; em 1932, 37; em 1933, 17; em 1934, 20; em 1935, 14; em 1936, 20; em 1937, 22; em, 1938, 18; em 1939, 16; em 1940, 16; em 1941, 23; em 1942, 24; em 1943, 12; em 1944, 20; em 1945, 16; em 1946, 10; em 1947, 14; em 1948, 10; em 1949, 22; em 1950, 17; em 1951, 9; em 1952, 18; em 1953, 8; em 1954, 12; em 1955, 8; em 1956, 8; em 1957, 5; em 1958, 10; em 1959, 10; em 1960, 9; em 1961, 17; em 1962,7; em 1963, 20; em 1964, 6; em 1965, 7; em 1966, 6; em 1967, 7; em 1968, 3; em 1969, 2. Profissões: 1932: Ir. Silvestre da Silva Ir. João Evangelista (Francisco de Jesus Matos) Ir. Amado (Carmelindo da Costa Rodrigues) Ir. Venâncio (Armando Augusto Fidalgo) O Fraião e as suas obras 1933: Ir. Carlos (José da Fonseca Cardoso) Ir. Afonso de Ligori (António Fernandes Gomes) Ir. Eliseu (João da Silva Bagagem) Ir. José Maria (José da Silva Gouveia) Ir. Augusto (Domingos de Abreu Marques) Ir. Mateus (João Fernandes) Ir. Filipe (Clemente Vilela) Ir. Estanislau (Francisco de Sousa) Ir. João Berckmans (António Martins da Cunha) 1934: Ir. João Crisóstomo (António Teixeira) Ir. David (João da Costa) Ir. Albino (António Gonçalves) Ir. Gerardo (Albano Félix Pereira) Ir. Rafael (José Luís Soares) Ir. Messias (Francisco Marques Paulino) Ir. Moisés (Joaquim da Costa Correia) Ir. Fiel (Luís Rosa) Ir. Lino (Manuel Pereira Agostinho) Ir. Nuno (António Pedrosa) 1935: Ir. Jacinto (Raul da Costa Oliveira) Ir. Guilherme (António Gonçalves Frade) Ir. Afonso Rodrigues (Gaudêncio Gonçalves Henriques) Ir. Crispim (João Afonso de Sousa) Ir. Vital (Joaquim Fernandes) 1936: Ir. Vitorino (João Miguel Dias) Ir. Gabriel (Mário Nogueira Gonçalves) Ir. Daniel (António Cerqueira Roque) Ir. Cipriano (Nogueira da Cunha) Ir. Silvino (José Afonso Gonçalves) Ir. Martinho (Carlos Gomes) Ir. Venceslau (José Ferreira) Ir. Eugénio (Júlio Alves) 1937: Ir. Lucas (José Anacleto Pereira Ascensão). Ir. Inácio da Santíssima Trindade (José T. Cavalheiro) Ir. João Evangelista (Manuel José Ramos) Ir. Cândido (Manuel Lopes de Oliveira) Ir. Teófano Venard (António Joaquim Messias) 1938: Ir. Mário (Domingos Ribeiro dos Santos) 349 350 Adélio TORRES NEIVA Ir. André (Avelino Dias Peixoto) Ir. Abel (Abel Luís Grave) Ir. Simão (Joaquim Alves dos Santos) 1939: Ir. Hermenegildo (Albertino da Silva Lage) Ir. Norberto (Alfredo Martins Rocha) Ir. Vítor (Manuel Gonçalves Valente) Ir. Amaro (Luís Augusto de Oliveira) 1940: Ir. Diogo de Carvalho (Pedro Duarte Perry da Cunha) Ir. Adriano (Abílio Luís Lourenço) Ir. Francisco de Sales (Joaquim Pinto de Almeida) Ir. Redentor (Afonso Plácido) Ir. Bartolomeu (Mário de Jesus Pinheiro) Ir. Basílio (Joaquim Ferreira Pontes) Ir. Estêvão Pires (Manuel António Pires) Ir. Domingos (António Pires) 1941: Ir. Paulino (João Ferreira) Ir. Rafael (Manuel Joaquim Martins da Rocha) Ir. Eliseu (António de Sousa) Ir. Isidro (Joaquim Lourenço Leitão) Ir. Jorge (Adelino António Pereira) Ir. Paulo da Cruz (António Monteiro) Ir. Jacinto (José Ramos) Ir. Joaquim (José Afonso da Cunha) Ir. Salvador (Manuel Rebelo Monteiro) 1942: Ir. Manuel (Manuel de Sousa Carvalho) Ir. Daniel (José Lourenço Leitão) Ir. Celestino (José Lourenço Leitão) Ir. Trindade (António José Nunes do Vale) Ir. David (Armando Pinto) Ir. Nuno Álvares (António Gonçalves Moreira da Costa) Ir. Firmino (José Maria Sampaio) 1943: Ir. Bonifácio (Manuel Pinto da Silva ) Ir. Isaque (Manuel Augusto) Ir. Tarcísio (Manuel Fernandes Pereira) Ir. Tiago (Francisco de Oliveira) Ir. Vicente (José Franco Vicente) Ir. Tito (Manuel Marques Ferreira) Ir. Valentim (Adelino da Silva Carvalho) O Fraião e as suas obras 1944: Ir. João Baptista (Adriano Lopes) Ir. Francisco de Assis (José Vieira) Ir. Inocêncio (José Domingues) Ir. Gaspar (António Gaspar Faria) Ir. Fernando (Fernando Nunes) 1945: Ir. Adélio (Manuel Augusto de Freitas) Ir. Carlos (Inácio de Oliveira Martins Pontes) Ir. Gabriel de Nossa Senhora das Dores (Faustino dos Santos Ferreira) Ir. Bento (Manuel Gomes) Ir. Duarte (José Bernardino Duarte Miranda) 1946: Ir. Samuel (Bento dos Santos) Ir. Isaías (Joaquim Carlos Loureiro) Ir. Delfim (Agostinho Rodrigues Romeiro) Ir. João da Cruz (João Baptista Chaves) Ir. Ireneu (Francisco da Mata) Ir. Policarpo (José Rodrigues Cândido) Ir. Francisco (Mário Rodrigues Patrício) Ir. Brás (Manuel da Silva) Ir. Lúcio (Joaquim dos Santos Custódio) Ir. Leonardo (Francisco Maria) Ir. Modesto (Antero Moreira Martins Reis) Ir. Patrício (Agostinho de Sousa) Ir. Antonino (Armindo Fernandes Barbosa) Ir. Tomás (Adelino Alves) 1947: Ir. Eugénio (Avelino Afonso da Rocha) 1948: Ir. Henrique (Joaquim Ferreira de Campos) Ir. João de Deus (João Pinto Lamego) Ir. Domingos (Rogério dos Anjos Meireles) Ir. Tomé (José Manuel Fernandes) Ir. João Bosco (José Lucas dos Reis) Ir. Francisco (Filipe Duarte) 1949: Ir. João Crisóstomo (Joaquim Fernando Pinto de Magalhães) Ir. Frutuoso (Carlos Pereira da Costa) Ir. João de Brito (Licínio Alves) Ir. Jorge (Aires Moreira) 1950: Ir. Ambrósio (Julião da Silva Gonçalves) Ir. Clemente (Joaquim Ferreira Lobo) 351 352 Ir. Boaventura (Alexandre José Braga) Ir. Francisco Xavier (Belarmino Viveiro Cabral) Ir. Paulo da Cruz (Manuel Pinheiro dos Santos) 1951: Ir. Bruno (Amadeu Vieira) Ir. Salvador (António da Cunha) Ir. Cassiano (António Maria) Ir. Alberto (Carlos Alberto Marrecos Parreira) 1952: Ir. Crispim (Agostinho Teixeira de Carvalho) Ir. Redentor (José Azevedo Vieira) Ir. Benedito (Silvestre Reis Ramos) Ir. Gregório (António dos Santos Braz) Ir. Sávio (Augusto da Luz de Freitas) Ir. Paulo (José Francisco Coelho) 1953: Ir. Estêvão (Manuel Joaquim Duarte) Ir. Isidro (Fernando de Freitas) Ir. Faustino (Joaquim da Costa Manso) Ir. António (António Abrantes Registo) Ir. Sebastião (Luís Ferreira dos Santos) 1954: Ir. Lino (Amândio dos Santos Braz) Ir. Boaventura (Isaias Ferreira Gonçalves) Ir. André (António Gonçalves) Ir. Abel (José Augusto Cardoso) 1955: Ir. Eduardo (José Augusto Garcia) Ir. Juvenal (Vasco Santos Almeida) Ir. Acácio (José dos Santos Morais) Ir. Anselmo (António Ribeiro de Queiroz) Ir. Barnabé (José da Costa Magalhães) Ir. Ângelo (Manuel Tavares de Oliveira de Matos) Ir. Juliano (Miguel Duarte Miranda) Ir. Gualter (António Pacheco Pereira Júnior) Ir. Sílvio (José Morais de Freitas) 1956: Ir. Judas Tadeu (Francisco Lourenço Pires) Ir. Francisco Xavier (Jesus José Blanco Martinez) Ir. Pedro Crisólogo (Rafael dos Santos Morais) Ir. Roberto Belarmino (Francisco Rodrigues Morais) Ir. Efrém (Fernando da Costa Pereira) Adélio TORRES NEIVA O Fraião e as suas obras 1957: Ir. Luís de Gonzaga (Avelino Dourado Pontes) Ir. Camilo de Lelis (Manuel Gonçalves Martins) 1958: Ir. Frutuoso (José de Miranda) Ir. Henrique (Armando da Costa Andrade) Ir. Hermenegildo (José Veiga Freire) 1959: Ir. João Baptista (Miguel Fernandes Tomaz) Ir. Paulino (Manuel Nunes Afonso) Ir. Sivério (Armindo Augusto Fernandes Braz) Ir. Bartolomeu (José de Jesus Mendes) 1960: Ir. Benjamim (Agostinho Manuel Lopes) Ir. Dâmaso (Jerónimo de Castro Oliveira) Ir. Alexandre (Francisco dos Santos Morais) Ir. Tito (António Joaquim Ferreira) 1961: Ir. Rosário (Esteban Ruiz Moreno) Ir. José Maria (Germano Oliveira Duarte) Ir. Serafim (Serafim Salgado Mendes) 1962: Ir. Gabriel (Jacinto Pereira Parente) Ir. Emílio (António Manuel Fernandes Allen Perkins Cepa) Ir. Gaspar (António da Silva Marques) Ir. Sotero (António Capitão Fernandes Pereira) Ir. Romualdo (David Andrade Ferreira) Ir. Basílio (Eugénio Teixeira Mendes) 1963: Ir. Baltazar (Hipólito Baptista Gomes Furtado) Ir. Cecílio (Policarpo Mendes Furtado) Ir. Rafael (António Simão Morais Martins) Ir. Samuel (Américo Pereira de Sousa) Ir. João Macias (Raul Laço Dias Aparício) Ir. Salvador (Adriano Tomaz Santos) 1964: Ir. Venâncio (Armando Lourenço) Ir. Alfredo (Manuel de Jesus Abreu de Lima) Ir. Cândido (José Alberto Macedo Fernandes) Ir. Feliciano (José Marques Ferreira) 1965: Ir. Emanuel (Manuel Lopes de Sousa) Ir. Francisco José (Luís Jorge Guedes Nereu) Ir. Miguel (Amílcar dos Santos Pires) 353 354 Adélio TORRES NEIVA Ir. Abraão (Altino Gonçalves Fafiães) Ir. Jorge (Aníbal Barbosa da Cunha) Ir. João de Deus (Belmiro Chaves Ribeiro) 1966: Ir. Américo (Américo José de Almeida) Ir. João Baptista (Duarte Manuel da Silva Costa) 1967: Ir. João Pedro (Pedro Kitumba) Ir. Augusto Chitué (Augusto Chitué) Ir. Hermes (Lécio Silva Pereira da Lomba) Ir. Hugo (Hugo Lopes Fernandes) Ir. Higino (Manuel Domingues) 1968: Ir. Benedito (Benedito Roberto) Ir. Delfim (Manuel de Jesus Dias Vieira da Cruz) Superiores da Comunidade Os superiores foram os seguintes: 1927 - P. Cancela logo substituído pelo P. Miguel Fonseca; 1929 - P. Arnaldo Baptista; 1932 - P. Joaquim Correia de Castro; 1938 - P. Francisco Alves do Rego; 1944 - P. Manuel António Meira; 1950 - P. João Pinto da Silva; 1954 - P. Manuel António Meira; 1957 - P. José Maria de Sousa; 1963 - P. António Cardoso Botelho; 1966 - P. José Coelho Amorim; 1971 - P. Amadeu Gonçalves Martins; 1976 - P. Manuel Magalhães Fernandes; 1979 - P. Mário Pires; 1982 - P. Óscar Moura Guedes; 1991 - P. Manuel Martins; 1999 - P. José Carlos Coutinho 2000 - P. José Coelho Barbosa Ecónomos 1932 - P. Pompeu Seabra; 1937 - P. José Felício; 1944 - P. Querubim Meireles 1951 - P. António Cardoso Botelho; 1957 - P. Joaquim Maria Mendes; O Fraião e as suas obras 1963 - P. Eurico José Azevedo; 1971 - Ir. Sotero; 1974 - Ir. Custódio; 1975 - P. Manuel Cruz; 1981 - P. António Abreu; 1984 - P. Carlos Salgado; 1998 - P. Abel Moreira Dias; 2002 - P. Marcelino Duarte Lopes Equipas directivas do Escolasticado 1929 - P. António Ribeiro Teles, director; 1930 - P. Miguel Fonseca, subdirector; 1936 - P. Olavo Teixeira, subdirector; 1938 - P. Francisco Alves do Rego, director; 1940 - P Francisco Alves do Rego, director; P. Olavo Teixeira, subdirector; P. Miguel Fonseca, director do 2º e 3º ano; P. António Gomes, director do 2º e 3º ano; P. José Maria Pereira, subdirector; P. Alves de Oliveira, subdirector do 4º e 5º ano; 1941 - P. Olavo Teixeira, director do 4º, 5º ano e Filosofia; P. António Cardoso, subdirector; 1942 - P. Francisco Lopes, subdirector, (IIIª Secção); P. Firmino Cardoso, subdirector; 1943 - P. António Alves de Oliveira, director do 2º, 3º, 4º e 5º ano; 1944 - P. Firmino Cardoso, director dos Filósofos; P. António Rodas – subdirector dos Filósofos; P. António Alves de Oliveira, director do 2º, 3º, 4º e 5º ano; P. José Maria de Sousa, subdirector (2º, 3º, 4º 5º ); 1946 - P. Joaquim Antunes Pinto, director do 2º, 3º, 4º, 5º e 6º ano); P. Alberto Gomes de Oliveira, subdirector; P. Firmino Cardoso Pinto, director da Filosofia; P. António Lourenço Braz, subdirector dos Filósofos; 1948 - P. Celestino Belo, subdirector do PN (2º e 3º ano); 1950 - P. Joaquim Antunes Pinto, director; P. Celestino Belo, subdirector do PN (2º e 3º ano); 1953 - P. Amadeu Martins (director do PS: 5º, 6º e 7º); P. Henrique Sá Couto, director do PN 2º,3º,4º); 1954 - P. Amadeu Martins, director do PS (5º, 6º e 7º ano); 1956 - P. Amadeu Martins, director de todo o Escolasticado; 1957 - P. Manuel da Purificação Azevedo, subdirector do 5º, 6º e 7º ano; 1959 - P. António Alves de Oliveira, director do PS (3º e 4º ano); P. José Carreira Júnior, subdirector; 355 356 1961 1962 - 1963 1968 1970 1971 1973 1975 1977 1978 1979 1981 - 1982 1984 1985 1986 1988 1989 1990 - Adélio TORRES NEIVA P. José Fonseca, director do PN; P. José Pires, subdirector; P. Manuel Gonçalves, subdirector do 3º e 4º ano; P. Manuel Gonçalves, director do PS; P. Pires, director do PN; P. Pinto de Carvalho, subdirector; P. Manuel Martins Vaz, subdirector dos mais velhos; P. Paulino Évora, subdirector dos mais velhos; P. Pinto de Carvalho, director do PS; P. Moreira Dias, subdirector do PS; P. Manuel Areia; P. José Carreira Júnior - PN; P. Cardoso Soares, subdirector do PN; P. João Baptista Pinheiro (director PS, 1º ano); P. Manuel Durães Barbosa (director PN, 2º e 3º ano); P. Santana, director PN; P. Mário Pires, subdirector; P. Manuel Santana – director (PN); P. João Baptista Pinheiro (PS); P. Agostinho Brígido, subd. PS; P. José Carreira Júnior, dir. PS; P. Mário Pires, director - PN; P. Hermenegildo Teixeira Correia, subd. PS; P. Magalhães Fernandes, director (PN); P. Ferreira da Silva, Subd.; P. Hermenegildo, director PS; P. Martins Salgueiro subd. PS; P. João Baptista Pinheiro, director PN; P. Ferreira da Silva, subd. PS; Ir. Joaquim da Costa Manso, subdirector PS; P. Pinheiro, director (7, 8 e 9º); P. José Lopes de Sousa, subdirector; P. José Costa, director; P. José Lopes de Sousa; P. Manuel Martins; P. José Lopes de Sousa, director (8 e 9 ano); P. Manuel Martins, subdirector (8 e 9); P. Manuel Martins, director (8º e 9º ano); P. António Luís Marques de Sousa, subdirector; P. Tarcísio (director 7º ano); Ir. António (subd.); P. Manuel Martins (dir. 8º e 9º ano); P. João Crisóstomo Nogueira (subd.); O Fraião e as suas obras 357 1991 - P. Manuel Martins (director); P. Nogueira (subd.); 1993 - P. Manuel Martins, director; P. João Crisóstomo Nogueira; P. Tarcísio Moreira Mestres dos noviços-irmãos: 1924 - P. Joaquim Correia de Castro, sub-mestre de noviços; 1932 - P. Joaquim Correia de Castro, mestre; P. Miguel Fonseca, sub-mestre; 1934 - P. Manuel António Meira, sub-mestre; 1938 - P. Manuel Meira, mestre; P. José Felício, sub-mestre; 1944 - P. Olavo Teixeira, mestre; 1941 - P. Firmino Cardoso, sub-mestre; 1944 - P. Querubim Meireles, sub-mestre; 1946 - P. Joaquim Correia de Castro, mestre; P. Querubim Meireles, sub-mestre 1948 - P. António Luís Gonçalves, mestre 1950 - P. José Maria de Sousa, mestre P. António Botelho, sub-mestre 1957 - P. António Cardoso Botelho, mestre 1963 - P. Joaquim Maria Mendes O Noviciado dos Clérigos O Noviciado dos Clérigos foi inaugurado a 7 de Setembro de 1934, sendo Mestre de noviços o P. Alberto Brunn, sub-mestre o P. Manuel Meira e Confessor o P. José Finck. “Para glória e louvor da Trindade Santíssima a quem todo o cristão é consagrado, nós muito especialmente na pessoa do Espírito Santo, em união com o Sacratíssimo Coração de Jesus, que, por uma atenção especial do seu amor misericordioso, nos chamou aqui neste dia a Ele dedicado e será sempre o nosso verdadeiro Mestre; sob os auspícios da Virgem Santíssima, cujo nascimento, segundo canta hoje a Igreja, dá luz e brilho a todas as instituições eclesiásticas e, segundo reza a crónica da nossa Província Lusitana, tem sido o signo sob o qual se iniciaram as melhores das nossas obras, debaixo da protecção do amantíssimo S. José, para nós sempre Providência amorosa no temporal e modelo eficacíssimo no espiritual; à sombra de todos os Padroeiros da Congregação, especialmente dos Santos Apóstolos, por nós invocados com fervor em prol de obra tão humildemente iniciada, como esperançosamente fecunda; invocado particularmente o Arcanjo S. Miguel, sob cuja defesa contamos 358 Adélio TORRES NEIVA no presente ano colocar a Província toda; rogando a Santa Teresinha do Menino Jesus, a carinhosa Padroeira dos missionários e das missões, seja este ano e sempre a inspiradora de todos quantos aqui vierem haurir o espírito apostólico e religioso; sob o patrocínio, já antigo, do Padroeiro local desta casa, o Santo Cura d´Ars, modelo de todas as virtudes, mas especialmente do zelo sacerdotal; após a erecção canónica concedida pela Santa Sé a esta comunidade do Fraião e com a Casa do Espadanido - Braga autorização formal do nosso Superior Geral Mgr. Luiz Le Hunsec, declaramos oficialmente inaugurado a partir de hoje o Noviciado da Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo e do Imaculado Coração de Maria. Fraião, 07 de Setembro de 1934, Primeira Sexta-Feira do mês e Véspera da Natividade de Nossa Senhora”. Foi com estas palavras que o P. Clemente Pereira da Silva, Provincial de Portugal, declarou na capela da Quinta de Baixo, no Fraião, às 12.30h do dia 7 de Setembro de 1934, inaugurado o Noviciado em Portugal. Encontravam-se presentes, os 17 neo-noviços e os Padres Joaquim Correia de Castro, superior, Alberto Brun, mestre de noviços, P. Manuel António de Meira, sub-mestre dos noviços, P. Miguel Fonseca e P. José Alves Terças, confessor dos noviços. Até ao presente o noviciado era feito em França. Mas como as dificuldades aumentavam de dia para dia, forçoso foi optar por uma outra solução. Antes de mais, o número dos noviços tinha aumentado bastante. Orly já não podia receber todos os noviços e Neufgrange ia acabar como noviciado, pois não era fácil manter dois noviciados numa só Província. Em segundo lugar, as despesas desta deslocação eram consideráveis e a situação financeira da Província Portuguesa já não comportava tais despesas. Só para alimentação eram necessários 200 mil reis diários o que perfazia a soma de 73 contos por ano. Apesar disso, era desejo da Província continuar a enviar os noviços para a França pelo menos até se tomar posse da Casa da Silva, oferecida para esse efeito. Pelos argumentos invocados e outros mais fortes e como a Casa da Silva não estava ainda na posse da Congregação, optou-se pela Quinta do Fraião. Nesta Quinta funcionava desde há anos a “Obra do Santo Cura d´Ars”, sob a direcção do P. José Rodrigues Cosme. Pôs-se fim a esta obra para dar lugar ao noviciado. Por acaso feliz, o P. Faure, mestre de noviços em Orly, que veio nesse ano passar férias a Portugal, foi convidado a ver a casa e gostou do local, dando algumas indicações para a disposição das diferentes partes da casa. O Fraião e as suas obras 359 Para mestre foi escolhido P. Alberto Brun, professor de Teologia em Viana do Castelo; para sub-mestre o P. Manuel António Meira até então subdirector e professor no seminário da Guarda; para confessor o P. José Alves Terças e como auxiliar o Ir. Afonso. O P. Brun deslocou-se durante três meses a Orly a fim de se preparar melhor para o seu cargo e entretanto os Irmãos Marcelino e Protásio, procuraram adaptar o edifício ao fim em vista. Prepararam-se cerca de 30 quartos e todas as dependências necessárias para o bom funcionamento da obra. Na casa velha ficou instalada a capela. No dia 3 de Setembro começaram a chegar os primeiros noviços para ultimar os preparativos e no dia 7 estavam já todos presentes: Pedro Pereira, Manuel Geraldes, António Inácio, Henrique Pereira, Pedro Moreira, Amadeu Fontes, Firmino Pinto, Abel Dias, Vicente Araújo, José Maria Pereira, António Lemos, Ernesto Sá, Vital Antunes e Francisco Nogueira da Rocha, este chegado uns dias mais tarde. Depois de celebrada missa, às 12.30 foi a bênção da casa e abertura solene do noviciado, com Te Deum, conforme foi já indicado. No dia seguinte o noviciado começou a funcionar normalmente. De notar, a chamada leitura do “Rodrigues”, que ficou a fazer parte dos exercícios diários do noviciado. O padroeiro da comunidade continuou a ser o Santo Cura d´Ars e Santo Estanislau, padroeiro dos noviços. No dia 28 de Setembro, o P. Provincial avisou oficialmente que doravante o Padroeiro da Província seria o Arcanjo S. Miguel, devendo a sua festa ser celebrada no seu dia a 29 de Setembro. No dia 4 de Novembro, os noviços foram ao escolasticado menor, unindo-se aos escolásticos na consagração da comunidade ao Sagrado Coração de Jesus. No dia 8 de Dezembro faleceu o Irmão Inácio. O primeiro passeio grande foi para Tibães a 1 de Maio de 1935. A 30 de Maio de 1935 foi a inauguração do novo edifício do Fraião. A Profissão foi a 8 de Setembro. Professaram: Pedro Alves Pereira, Manuel Geraldes Pereira, António Inácio, João Amorim, Henrique Pereira, Amadeu Ferreira Fontes, Firmino Pinto, Abel Pereira Dias, José Maria Pereira, João Tavares, Joaquim Pereira Pinto, Abílio da Silva Teixeira e Ernesto Alves de Sá. Os noviços Nogueira da Rocha e Henrique Sá Couto professariam no dia 20 de Setembro. A 7 de Setembro entraram os novos noviços: António Ribeiro, António Cardoso, Francisco Lopes, António Alves de Oliveira, Joaquim Martins, António Carvalho, Albano Matos, Herculano Lopes de Oliveira, Miguel Duarte, Artur Barbosa, Manuel Morais, Mário Sá, Joaquim Sobral, Alfredo Barbosa, Joaquim Barata, Ismael Baptista, Crispim Martins, Teixeira Marques e Camilo Neves Martins. No ano de 1935-1936 o P. Mário Alves da Silva substituiu o P. Meira como sub-mestre dos noviços, continuando o P. Finck como confessor. No ano de 1936-1937 os noviços foram: Guilherme Ribeiro, José Andrino de 360 Adélio TORRES NEIVA Oliveira, José Cardoso, Abel Morais, Manuel Terças, Custódio Ferreira, Manuel Bártolo, José Baptista, Joaquim de Almeida Rodrigues, Avelino Costa, José Ribeiro Sequeira, Manuel de Almeida, Bernardino Novo, Adriano Almeida Strecht e Avantino de Sousa. Os que fizeram a profissão foram 16: António Ribeiro de Melo, António Cardoso, Francisco Manuel Lopes, António Alves de Oliveira, Joaquim Alves Martins, António Carvalho, Albano de Oliveira Matos, Herculano Lopes de Oliveira, Miguel da Silva Duarte, Artur Teixeira Barbosa, Manuel Morais Correia, Joaquim Sobral Esteves, Alfredo Teixeira Barbosa, Joaquim Rezende Barata Freire de Lima, Ismael Baptista e Crispim Alves Martins. No ano de 1936-1937 o P. Miguel Fonseca substituiu o P. Mário Silva no cargo de sub-mestre dos noviços. No ano de 1937-1938 entraram para o noviciado: Cidalino Melo, Augusto Nogueira de Sousa, António Cardoso Botelho, Cristóvão Freire Arnaud, Alípio Joaquim Quintas, Delfim da Silva Pedro, António Alves da Rocha, António Marques, Lourenço Afonso dos Santos. O busto do P. Libermann oferecido pelo Sr. Herculano Lopes foi inaugurado a 7 de Setembro de 1937. No dia 8 de Setembro fizeram a profissão os seguintes noviços: Guilherme Carlos Ribeiro, José de Oliveira Andrino, Firmino Cardoso Pinto Encerrabodes, Abel António Morais, Custódio Ferreira Lopes, José Bártolo Martins, Avelino Pereira Costa, Manuel Joaquim Almeida, Adriano Almeida Strecht e Avantino de Sousa. No ano de 1938-1939 os noviços foram: Avelino Alves Barreto, José Gonçalves da Silva, Manuel Joaquim Cerqueira dos Santos, António Augusto Martinho, António Rodas, Querubim da Cunha Meireles, José Maria de Sousa, Joaquim Antunes Pinto, Manuel Rodrigues Ferreira, Manuelino Pinto de Oliveira, José Vinhas, José Tavares Marques e Joaquim Francisco Vaz. Nesse ano de 1938 fizeram a profissão: Cidalino Ferreira de Melo, Augusto Nogueira de Sousa, António Cardoso Botelho, Cristóvão Freire Arnaud, Delfim da Silva Pedro, António Alves da Rocha, Lourenço Afonso dos Santos. No dia 3 de Abril de 1939 faleceu o escolástico José Baptista na enfermaria do Fraião. No dia 27 de Maio de 1939 faleceu na enfermaria do Fraião o P. Blériot, último director do colégio do Espírito Santo, que viera ultimamente para Portugal a pedido dos antigos alunos daquele colégio, para participar nas reuniões. Tinha 78 anos de idade. O funeral foi no dia 29 de Maio na igreja de S. Vicente, presidido pelo antigo aluno Cónego Novais de Sousa e acolitado pelo Dr. Paiva Freixo e P. Trutman. Foi sepultado no Jazigo Perpétuo dos Padres do Espírito Santo, no cemitério de Braga. No ano de 1939-1940 entraram 12 noviços: António Braz, Agostinho Pereira da Silva, José Maria Pereira, António Figueira, Manuel Ribeiro, Manuel Fernandes, António Ventura, Abílio da Fonseca Guerra, Manuel Andrade, O Fraião e as suas obras 361 Carlos Rodrigues Pinto, Edison Dantas e P. Hilário. Os neo professos foram: Avelino Alves Barreto, José Gonçalves, Manuel Santos, António Martinho, António Rodas, Querubim Meireles, Joaquim Antunes Pinto, José Maria de Sousa, Manuel Rodrigues Ferreira, Manuelino Pinto de Oliveira, José Vinhas e Joaquim Francisco Vaz. No dia 12 de Maio de 1940, festa do Pentecostes foi erecta no Fraião a Confraria do Espírito Santo. No ano de 1940-1941 os noviços foram: Camilo Neves Martins, Eduardo da Silva Leitão, Leonel Augusto, Amadeu Gonçalves Martins, Manuel Augusto Ferreira, Luís do Canto Pacheco, Celestino de Oliveira Belo, Alberto Gomes de Oliveira, Joaquim Correia da Rocha, António Costa de Sousa Abreu, e Alfredo dos Santos. Nesse ano professaram: António Lourenço Braz, Agostinho Pereira da Silva, António Figueira, Manuel Ribeiro, Manuel Fernandes, António Amâncio Ventura, Abílio da Fonseca Guerra, Manuel Andrade, Carlos Rodrigues Pinto, Edison de Oliveira Dantas. No princípio do Noviciado ia-se sempre ao Sameiro fazer a consagração do noviciado a Nossa Senhora. O Regulamento do Noviciado previa um retiro de um dia todos os meses, em geral na primeira Sexta-feira do mês, um retiro de três dias na abertura do noviciado e três grandes retiros durante o ano: o retiro da conversão, o da oração e o da profissão. Durante o verão todas as semanas havia em geral um passeio grande. Os destinos destes passeios, ao longo dos anos foram: Gerez, Sameiro, Tibães, Viana do Castelo, Aveleda, Marão, Silva, Penha, Taipas, Falperra, Póvoa de Varzim, Rio Cávado, Palmeira, Esporões, Ponte do Bico, S. Martinho, Guimarães, Soutelo, etc. Em 1934 entraram no Noviciado 20 noviços, professaram 17. Em 1935 entraram 18, professaram 17. Em 1936 entraram 15, professaram 11. Em 1937 entraram 9, professaram 7. Em 1938 entraram 13, professaram 12. Em 1939 entraram 11, professaram 10. Benfeitores A placa de mármore existente ao fundo da igreja regista os seguintes nomes de benfeitores da Igreja do seminário do Fraião: D. Daniel Junqueira; D. Idelfonso S. Silva; D. Maria Cândida Malheiro Reymão, viscondessa da Torre; Dr. Luís Baldaque Guimarães; P. Joaquim Correia de Castro; 362 Adélio TORRES NEIVA D. Maria do Carmo Morais Zamith; D. Carlota Champalimaud Pacheco; Calouste Gulbenkian; Companhia de Diamantes de Angola; L.I.A M.; Hermenegildo Mesquita; D. Maria H. de Mello Sampayo; D. Hermenegarda Guedes; Liceu Rainha Santa (Porto); P. Albino Alves; Seminário Conciliar (Braga); Seminário da Senhora da Conceição (Braga); Industrial Marmorista (Porto); Outros Benfeitores: D. Maria Gonzaga Abreu Fonseca; D. Maria Carolina Cunha Pimentel; D. Maria da Luz, Ana Rosa, Teresa Santos (doceiras de S. Vicente); P. Augusto Dias da Silva (Abade da Loureira); Comendador Augusto Nogueira da Silva; P. Manuel Lopes; Dr. José da Costa Júnior; Eduardo Amorim; D. Felicidade da Silva (Guimarães); Dr. Manuel Belo; Dr. Armando António Nogueira Arantes; Dr. António Forjaz; Dr. Jerónimo Louro; Dr. Ramalho; Cap. Monteiro Pinto; D. Maria Adelaide - Quinta da Boavista; Joaquim José Silva Araújo e esposa D.ª Júlia da Costa Araújo - Quinta da Fonte Seca; Dr. António Belo Moreira; Dr. João Ferreira Soares; Dr. António Villas Boas e Alvim; Dr. António Manuel Duarte Mendes; Dr. Augusto César Cerqueira Gomes; Dra. Emília Marques; Dr. Celestino Trindade; Dr. Narciso Rebelo da Silva; Dr. Bernardo Santos Ferreira; Dr. Boaventura Fernandes; Dr. Pedro do Rosário; Eng. Alberto José Vale do Rego Amorim; O Fraião e as suas obras P. Manuel Gomes Pereira (Abade de Santa Maria do Souto); D. Maria Martins Vilaça (Tadim); Cipriano dos Santos (Juncal); Alfredo Pinheiro da Fonseca Vales (Olival); Dr. Olímpio Barreto Murta (Alter do Chão); José Vieira (Guimarães); D. Caridade de Jesus Ferreira (Paços de Brandão); Miguel Marques (Taipas); Mário Fernandes da Silva (Ovar); Albino Gonçalves Mesquita (Porto); Eng. Fernando Nogueira Arantes (Nogueiró-Braga); 363 365 Capítulo 37 A residência do Porto V árias razões levaram o P. Moisés Alves de Pinho a abrir uma casa no Porto. Braga e Viana, onde a Congregação tinha já casa, não ficavam longe, mas havia assuntos que poderiam ser melhor tratados se houvesse uma Residência na capital do norte. Os três primeiros espiritanos, que vieram trabalhar para Braga tinham estudado juntos na Formiga – PP. Moisés Alves de Pinho, Clemente Pereira da Silva e Joaquim Alves Correia, e eram do Porto onde se podiam relacionar mais facilmente. O P. Alves Correia, sempre que tinha qualquer aberta em Braga, aparecia no Porto onde não tardou em conseguir boas relações entre pessoas influentes e nos próprios órgãos da imprensa que acolhiam de bom grado os seus artigos de propaganda missionária. Assim, com a coadjuvação de amigos dedicados e influentes, foi-lhe fácil adquirir apreciáveis fontes de receita, em tempos tão difíceis. Com a sua nomeação para a Procuradoria das Missões em Lisboa, este trabalho foi continuado com eficiência pelo P. José Pacheco Monte. É efectivamente com o P. José Pacheco Monte que vai começar a presença espiritana no Porto. Açoreano de origem, o P. Monte conheceu os Espiritanos, já subdiácono, através do Colégio-Instituto Fisher que eles tinham fundado nos Açores. Em Março de 1899 o P. Monte estava já em Grignon a fazer o noviciado. Foi ordenado a 8 de Julho de 1990. Deixada a França, lecciona no seminário da Formiga onde esteve até Setembro de 1910, ano em que foi nomeado Mestre de Noviços Clérigos, em Sintra. A 5 de Outubro desse ano, com a Revolução de 1910, o P. Monte retira-se para Fermentelos, para a casa do cónego José Nunes Geraldo, para em Agosto de 1911 seguir para a Bélgica como professor dos seminaristas portugueses que aceitaram exilar-se em Gentinnes. Em 1912 parte para Angola, sendo primeiro colocado na missão de Lândana, depois no Luáli, no Maiombe. Regressando à Europa em 1927 para descansar, vai para os Estados Unidos, onde promove várias campanhas de angariamento de fundos para a construção do seminário de Godim. Em 1927 é nomeado superior do seminário de Viana do Castelo, onde esteve apenas um ano, após o que é nomeado para o Porto, a pedido de D. António Barbosa Leão. 366 Adélio TORRES NEIVA Residência de Santa Teresinha do Menino Jesus, no Monte Pedral O Prelado da diocese, D. António Barbosa Leão, sabendo que os Padres do Espírito Santo desejavam estabelecer-se no Porto, pediu-lhes que se fixassem no Monte Pedral. Ao tempo, essa zona pobre da cidade era praticamente pagã. Muitos daqueles que conservavam ainda alguns sentimentos religiosos, frequentavam os protestantes que há muitos anos dominavam aquela zona. O padre, se ousava aparecer era insultado, o que aliás acontecia poucas vezes, pois era raro aparecer por ali. No dia 19 de Dezembro de 1928, a Casa Mãe da Congregação do Espírito Santo aprovava a fundação da Residência de Santa Teresinha do Menino Jesus, no Porto e o P. José Pacheco Monte recebia ordem de fundar imediatamente essa residência no Monte Pedral. Era-lhe confiada ao mesmo tempo a assistência à Capela de Nossa Senhora da Conceição, que o Prelado estava construindo naquele local. Os motivos que estão na origem desta obra são os seguintes: - acolhimento dos missionários que estivessem de passagem ou precisassem de vir ao Porto tratar da sua saúde. - recrutamento das vocações missionárias; efectivamente a diocese do Porto era uma das mais ricas em vocações. - um abrigo para vocações tardias, sem esquecer o auxílio aos mais pobres. A capela foi inaugurada pelo bispo coadjutor D. António Augusto de Castro Meireles, a 23 de Dezembro de 1928, tendo celebrado e pregado diante de um reduzido número de fiéis. O Santíssimo Sacramento ficou exposto até às 15.30, tendo havido nova prática e encerramento pelo mesmo prelado. Na escola da Creche ofereceu a Associação do Grupo de Mulheres Cristãs aos Pés de Maria, um almoço em que participaram além de Sua Excelência Reverendíssima, o Abade de Cedofeita Dr. Francisco dos Santos, PP Marques, José Monte e outras pessoas leigas. O P. Monte começou desde logo a dar largas ao seu zelo apostólico. Se bem que a primeira missa celebrada pelo P. Monte na nova capela fosse a 24 de Dezembro, só no dia 25 é que foi a inauguração solene. Neste dia já escreve com entusiasmo. “Natal! Apesar de já ontem ter celebrado na nova igreja que a Divina Providência nos confia, foi hoje o dia da estreia. Celebrei as três missas, duas às 7 e a terceira às 10. Houve concorrência apreciável, sendo escutado ao Evangelho com bastante atenção e reinando grande alegria quando o Santo Menino foi dado a beijar. Terço e bênção solene, prática e beija-menino. Parecia reinar grande entusiasmo na assistência. Digne-se o Divino Infante abençoar esta obra nascente”. Entretanto, o P. Manuel Lage, chegado a 13 de Janeiro de 1929, foi apresentado a 30 desse mês às Irmãzinhas dos Pobres, que o receberam como capelão e lhe deram hospedagem até à mudança da residência do Monte Pedral para a casa que elas gratuitamente ofereciam, anexa ao edifício que tinham na Rua do Pinheiro Manso. A residência do Porto 367 A 31 de Janeiro o P. Manuel Lage celebraria pela primeira vez na Capela das Irmãzinhas dos Pobres. Casa do Pinheiro Manso A 4 de Fevereiro de 1929 realizou-se a mudança de residência do Monte Pedral para a casa oferecida pelas Irmãzinhas dos Pobres, na Rua do Pinheiro Manso, nº173. Como a camioneta contratada para as mudanças chegou atrasada, a mudança teve que ser feita de noite, chegando-se à Rua do Pinheiro Manso pelas 20 horas. Acompanhou a mudança a benfeitora dos Espiritanos D. Joaquina, que pernoitou na nova morada. Outra benfeitora da primeira hora foi a D. Maria Coimbra Guimarães. A 6 de Fevereiro a comunidade recebeu a visita do P. Coutinho, prior de Ramalde, que veio pedir a nossa colaboração pastoral, quando a paróquia precisasse e a comunidade pudesse. A 14 de Fevereiro o P. Provincial celebrou a primeira missa na capelinha da residência, estando presentes as senhoras D. Maria José Pestana, que tinha emprestado o altar para esse efeito, D. Sílvia e D. Maria Coimbra Guimarães que ajudaram a preparar a capela. Tudo era pobre nesta comunidade nascente. Entretanto o P. Monte, superior da comunidade, continuava com as actividades pastorais no Monte Pedral. A 4 de Junho o Superior Geral da Congregação, Mons. Le Hunsec, celebrou pela primeira vez na capela da residência dando à tarde a Bênção do Santíssimo no Monte Pedral. Neste dia fez-se também a entronização do Sagrado Coração de Jesus, benzendo-se a sua imagem. A 2 de Agosto de 1929 o bispo do Porto, D. António Meireles, visitou a residência espiritana depois de ter administrado o Crisma na capela das Irmãzinhas dos Pobres. A 18 de Outubro de 1929 era inaugurado o altar-mor na capela do Monte Pedral. Casa da Rua de Monte Alegre Como a residência do Pinheiro Manso ficava longe da capelania do Monte Pedral, e esta lhe dava cada vez mais trabalho, foi alugada uma casa da Rua de Monte Alegre, nº100, perto do Monte Pedral. A casa começou a ser habitada a 1 de Maio de 1930, continuando entretanto o P. Lage a morar na antiga residência que só abandonou a 19 de Junho. Mas a mudança definitiva só se operou a 17 de Maio. A 10 de Julho de 1930 celebrava-se pela última vez na capelinha da residência do Pinheiro Manso, a Santa Missa, tendo-se depois transportado o altar e acessórios para o Monte Alegre. A 11 de Julho foi celebrado pela primeira vez o Santo Sacrifício da Missa na nova residência do Monte Alegre, tendo acolitado à missa o guarda-livros António Joaquim da Silva, que entraria na Congregação, vindo a ser missionário em Angola. 368 Adélio TORRES NEIVA A 29 de Agosto de 1930 era inaugurado o palco no salão anexo à capela do Monte Pedral, levantado pelos “Tarcísios Propagandistas”. A 15 de Setembro de 1930 abandonou-se definitivamente a capelania do Pinheiro Manso, que ultimamente vinha a ser servida pelo P. Fernandes. A 6 de Novembro de 1930 o P. Monte recebia notícia de que tudo se achava pronto para se efectuar a compra de uma nova casa na Rua do Regado, devendo fazer-se em breve a escritura. A 14 de Novembro procedeu-se à trasladação da imagem de Nossa Senhora da Conceição da Rua de Sá da Bandeira, onde se encontrava em exposição, para a capela do Monte Pedral, estátua esta que fora esculpida por José Ferreira Tedim e oferecida pelo Grupo das Mulheres Cristãs aos Pés de Maria, sendo destinada a um altar mandado fazer pelo mesmo grupo. A imagem seria benzida pelo bispo da diocese a 8 de Dezembro, festa da Imaculada Conceição. A casa da Rua Nova do Regado A compra definitiva da casa da Rua Nova do Regado fez-se a 27 de Novembro de 1930, pelas 16 horas da tarde e logo no dia seguinte um trolha começou as reparações a efectuar nessa casa. Esta casa era anteriormente uma fábrica de rebuçados com o nome de Vitória. A 6 de Dezembro de 1930, mudou-se definitivamente para a nova casa que ficava na Rua Nova do Regado, 250, não longe do Monte Pedral; a mudança foi feita sob uma forte bátega de chuva. A 7 de Dezembro o P. Lage celebrava aí a primeira missa. A inauguração solene da casa seria a 8 de Dezembro, presidida pelo bispo da diocese. Para além de acolher missionários de passagem ou confrades doentes que vinham consultar os médicos, a nova residência seria também um centro para recrutar vocações missionárias, nomeadamente as vocações tardias que fossem aparecendo. O P. Monte estava a alargar a nova residência para esse fim. A casa constava de rés do chão e dois andares, com sala de aulas e 14 quartos. Casa espiritana da Rua Nova do Regado Em 1937 numa sala do rés-do-chão o P. Monte instalou também uma escola para crianças, devido ao desamparo em que as crianças se encontravam e também para as desviar da escola protestante. “Meti-me com uma escolinha, mesmo na própria casa onde habito. Doía-me o coração ver tanto esfarrapadinho por essas vizinhanças, tantos filhos de operários ao abandono. O Sr. bispo comprou-me as carteiras, uma casa religiosa mais próxima dispensou uma Irmã e aí temos uma escola. São actualmente 35, porque a Irmã professora não pode ensinar mais. A grande escola, porém, é a que A residência do Porto 369 está instalada ao lado da igreja do Monte Pedral, distante da minha morada um quarto de hora. Essa tem 250 alunos e 8 professoras Religiosas Franciscanas de Calais. Também me dá grande canseira, sobretudo na véspera das primeiras sextasfeiras, quando das confissões de perto de 200 alunos e alunas. E os doentinhos? Os pobres tuberculosos? Tenho dias de preparar três e quatro: trabalho bem extenuante e penoso, visto as circunstâncias de miséria e falta de higiene em que vivem”.321 Tanto o bispo do Porto como o Dr. Luís Baldaque Guimarães ajudaram muito na fundação desta escola, com mobília escolar e o salário a duas professoras. A casa da Rua Nova do Regado era mais um aglomerado de três casas, as quais se foram construindo ao longo dos tempos. A primeira, situada na Travessa do Regado, sob o número 4917 em nome de Moisés Alves de Pinho, com o rendimento colectável de 6.046$00. A segunda, sob o número (artigo de matriz) 4943, também em nome de Moisés Alves de Pinho, com o rendimento colectável de 5.721$00, confrontava ao sul com a Rua Rosa da Costa e com a Travessa do Regado, ao nascente. A casa que veio a servir de garagem até à sua demolição, estava inscrita no artigo 4942 com o rendimento colectável de 2884$00, também em nome do mesmo proprietário; confrontava a nascente com a Travessa do Regado e a sul com a ilha N-234, a norte com os terrenos do mesmo dono. A primeira foi construída pelo P. Monte em 1932 e foi o alargamento da casa referida em segundo lugar, a qual era utilizada como fábrica de rebuçados “Encanto”, à qual se juntou mais tarde a marca “Vitória”. Era esta a casa que tinha dois andares com 14 quartos e uma sala de aulas, de que fala o P. Monte.322 A 10 de Janeiro de 1932 inaugurou-se no Monte Pedral, na casa anexa há pouco comprada pelo bispo da diocese, uma sopa económica para operários e pobres, ficando a cargo das Irmãs Franciscanas. A 3 de Outubro de 1932, o pequeno externato de vocações tardias era fechado por decisão do P. Provincial, pois não parecia ainda chegado o momento para este género de vocações. A capela da Senhora da Conceição do Monte Pedral, com o P. Monte tornarse-ia um centro de intensa vida cristã. Ali tinha as Escolas de Jesus, Maria e José, com centenas de alunos; a União dos Tarcísios do Porto, fundada por D. António Barbosa Leão para a propaganda da imprensa católica na diocese; o Apostolado da Oração que promovia todos os anos uma semana de pregação e confissões; o Grupo das Mulheres Cristãs aos Pés de Maria, a quem a capela deve grandes melhoramentos; a primeira secção da JOC fundada em Portugal; as duas Conferências de S. Vicente de Paulo. Foi também aqui que se fundou a primeira Cozinha Económica em Portugal. A Câmara Municipal do Porto reconheceu a dedicação do P. Monte dando o seu nome à rua do Nogueira, que passava em frente da capela do Monte Pedral. A 8 de Dezembro de 1943 seria o descerramento do seu retrato na sacristia do Monte Pedral. 321 322 Carta à sobrinha de 29/10/1934 DIAS, Augusto Alexandre da Cunha, Casas Missionárias Espiritanas 370 Adélio TORRES NEIVA A 17 de Fevereiro de 1937 instalava-se aqui a “Associação de Nossa Senhora de África”, vinda do Fraião, assim como a revista “Missões de Angola e Congo”, com o seu director P. José Maria Figueiredo, que aqui fixou definitivamente a sua residência. A Casa do Regado como Sede do Provincialato Logo no ano seguinte, em Outubro de 1938, depois do Capítulo Geral, o Provincial, P. Clemente Pereira da Silva, fixou também aqui a sua residência, tendo como secretário o P. Henrique Alves, que logo teve que retirar para Viana, a substituir o P. Schmit, chamado ao exército por causa da guerra. Em Junho de 1944 temos informação de que se reuniu aqui o Conselho Provincial. Outros conselhos se vieram também a reunir nesta casa. A 3 de Novembro de 1945, na Reunião Extraordinária do Conselho Provincial foi resolvido transferir para Lisboa o Provincialato e o Economato Provinciais. A mudança efectuou-se a 20 desse mesmo mês. Entretanto a casa prestava grande acolhimento sobretudo a missionários doentes que frequentemente procuravam os serviços dos Drs. Silva Leal, Lopes Rodrigues, Alves de Sousa e outros. Só em 1939 passaram por ali 477 confrades. A 3 de Outubro de 1937 era a Missa Nova do P. António Silva, natural do Monte Pedral e em que pregou o P. Henrique Alves. Em 1943 o P. Monte adoeceu gravemente, vindo a falecer no seminário do Fraião a 9 de Julho de 1944. Entretanto, a 21 de Setembro de 1943 chegava ao Porto o P. António Gomes da Silva, para substituir o P. Monte na direcção da capelania do Monte Pedral. Mas também este, pouco tempo depois, em 15 de Junho de 1946 falecia, depois de uma melindrosa operação cirúrgica. No ano de 1944-45, enquanto P. Gomes dirigia a residência de Coimbra, assumiu a direcção da casa do Porto o P. Cândido Ferreira da Costa. Mas logo no ano seguinte foi escolhido para Mestre dos Noviços, voltando o P. Gomes para o Porto até à sua morte. Sucedeu-lhe a 20 de Junho de 1946 o P. Francisco Lopes, como director, ecónomo e capelão do Monte Pedral. A 11 de Outubro de 1943 o P. José Maria Figueiredo deixava esta casa para ir leccionar em Viana do Castelo, pois que a Associação de Nossa Senhora de África instalada nesta casa era transferida para Lisboa, sendo dirigida conjuntamente com o jornal “Acção Missionária” pelo P. Agostinho Lopes de Moura. Em1943 o P. Manuel Ribeiro Teles oferece à Congregação uma casa de quatro andares, situada na Rua do Bonjardim, no centro da cidade, que lhe legou em testamento o seu falecido irmão José Ribeiro Teles. A casa foi visitada pelo provincial e outros conselheiros técnicos, em 20 de Dezembro de 1943, em vista de no futuro instalar aí a comunidade do Porto. Em 1945, a casa é pedida para compra por um industrial que queria fazer dela uma fábrica de farinha de pau. O pedido apresentado à casa do Regado a 5 de Novembro de 1945, explicitava: que o comprador Sr. Carlos Cabral tinha A residência do Porto 371 escritório na Rua José Falcão, 138-150, Porto e precisava para já do quintal, a fim de fazer armazéns, e da casa grande, incluindo o salão e adega. O Sr. Carlos Cabral indicava para a Congregação uma outra casa na Rua José Falcão, em frente ao estabelecimento “A Nacional”, que pertencia a uma família rica. Há dez anos pouco mais ou menos, que esta casa estava devoluta e a senhora já velhinha faria tudo o que o filho lhe dissesse. Parecia que o filho era meio desiquilibrado e era para onde lhe desse. Bem conversado poderia aceder à ideia. A hipótese era vender as duas casas e alugar a primeira, enquanto não se arranjasse melhor ou então vender o quintal e a casa grande, reservando a primeira para nós.323 No entanto, a venda não se efectuou e no mesmo dia o Superior Provincial dava ordens ao P. Gomes, então superior da comunidade do Porto, para efectuar as reparações necessárias da capela particular da mesma comunidade, graças ao donativo de uma anónima benfeitora que se prontificou a custear todas as despesas que para isso fossem necessárias. A 19 de Outubro de 1946 a Câmara Municipal do Porto decide dar à rua da Nogueira o nome do P. José Pacheco Monte. A 20 de Setembro de 1949 o P. Cândido Costa toma conta do Monte Pedral em substituição do P. Francisco Lopes que vai para Viana do Castelo. Mas a 1 de Outubro do ano seguinte, 1950, foi substituído pelo P. Manuel António Meira. O P. Ismael Baptista partiu para Lisboa como secretário provincial. Em Setembro de 1951 assume o cargo de superior o P. Querubim Meireles, sendo o restante pessoal formado pelos Padres José Maria Figueiredo, Domingos Vieira Baião, José Neiva Araújo, Lúcio Casimiro dos Anjos, e Irmãos Protásio, Bonifácio e Samuel. A 24 de Abril de 1952 o P. Querubim Meireles parte para Carcavelos como pároco ficando a substitui-lo como superior o P. José Neiva Araújo. Em 1953 assume a capelania do Monte Pedral o P. Joaquim Correia da Rocha. A 23 de Outubro de 1958 o P. Neiva Araújo foi para Angola ficando a substitui-lo o P. Correia da Rocha. A 11 de Outubro de 1961 o P. Joaquim Correia da Rocha partia para Godim, sendo substituído pelo P. Querubim Meireles no Monte Pedral e como superior vem o P. José Maria de Sousa. Durante o ano de 1962 fizeram-se importantes obras no Regado. A 28 de Março de 1963 faleceu o P. Querubim Meireles. Para o substituir no Monte Pedral foi nomeado o P. Belmiro Coelho da Silva. Em 1964 criou-se de novo no Porto um Centro de Animação Missionária, ficando este a cargo do P. António Rodas e do P. José Martins Vaz, que veio a ser substituído em 1967 pelo P. José Lapa. Em Outubro de 1964 o P. José Maria de Sousa é nomeado Superior Principal de Cabo Verde, vindo para o substituir como superior e capelão do Monte Pedral o P. Isalino Gomes. 323 Documento do P. José Pereira de Oliveira, sup. provincial 372 Adélio TORRES NEIVA A 28 de Setembro de 1971 o P. Isalino partiu para Coimbra. Veio substituí-lo o P. Francisco Lopes como superior da comunidade e capelão do Monte Pedral. Nesta altura, os membros da comunidade eram: PP. Francisco Lopes, José Maria Figueiredo, Francisco Rego, Joaquim Pereira Pinto, Irmãos António, Augusto Chitué (adstrito à LIAM e Obra das Vocações) e Hugo e Lúcio, estes dois últimos a acabar o curso de enfermeiros. Em 1972, o P. Francisco Lopes continuava a superior e capelão do Monte Pedral e o Centro da Animação Missionária era formado pelos PP. José Lapa, Abel Moreira Dias e José Pinto de Carvalho. A 1 de Março de 1973 a Casa da Boavista era entregue à Congregação; será para aqui que se irá transferir o Centro de Animação Missionária do Porto. A 17 de Outubro de 1973 o P. José da Lapa, depois de ter passado vários anos nesta comunidade partiu para Roma para um ano de reciclagem. A 17 de Novembro de 1973 era nomeado superior da comunidade o P. Henrique Sá Couto, em substituição do P. Francisco Lopes, nomeado secretário provincial, e ecónomo o P. Francisco Alves do Rego. Os PP. Abel Moreira Dias, José Pinto de Carvalho e Joaquim Pereira Pinto seguiram para a da Boavista, formando ali uma nova comunidade ao serviço da LIAM, no Norte. No Regado ficaram os Padres Henrique Sá Couto, superior, Francisco Rego, ecónomo e José Maria Figueiredo. Ao serviço da casa, a Sra. Maria de Jesus Marques. A 1 de Agosto de 1975 faleceu em Carcavelos o P. José Maria Figueiredo que foi dos primeiros responsáveis da propaganda missionária da Província. Em 1979 entrou como novo superior o P. Manuel Augusto Ferreira, continuando o P. Francisco Rego a ecónomo. A 7 de Setembro de 1984 chega o P. Manuel da Purificação Azevedo que dará aulas na escola Industrial e no Liceu D. Carolina Michaelis. O P. Martinho vai para Angola. Em Agosto de 1988 foi decidido a casa do Regado passar para o I Ciclo de Teologia, com aulas na universidade católica. Assim, a 18 de Agosto da comunidade da Boavista os PP. José Martins Salgueiro e António Luís Gonçalves vieram confraternizar com os do Regado para lhes dar as despedidas. Os PP. Augusto Ferreira, António Martinho, Henrique Sá Couto e Soares foram colocados em Viana do Castelo. Os PP. António Moreira e Serafim Marques da Silva foram transferidos para o Centro de Animação Missionária na Boavista. Eram 17.45h quando chegou a caminheta que levaria as bagagens e os confrades para Viana do Castelo. A comunidade do Regado, até à chegada do I Ciclo de Teologia, ficará reduzida ao P. Correia da Rocha e Maria de Jesus. O Regado, Casa do I Ciclo de Teologia No dia 15 de Setembro de 1988 chega o P. José de Sousa, que será o futuro director e ecónomo do I Ciclo de Teologia. No dia 19 chegaram os estudantes do I Ciclo de Teologia, os novos inquilinos desta casa. A residência do Porto 373 Este curso começou a funcionar no ano lectivo de 1988-89, tendo como Director e Responsável Provincial da Formação o P. José Lopes de Sousa e no serviço da Capelania do Monte Pedral o P. Joaquim Correia da Rocha. Em 1989 foi comprada a casa do Pinheiro Manso e depois da Animação Missionária também o Ciclo de Teologia passará para esta casa. O novo seminário foi inaugurado a 19 de Junho de 1993, para onde se havia mudado o I Ciclo de Teologia, poucos dias antes, deixando-se para sempre a Casa do Regado. Não tendo ido avante a ideia da fundação da Paróquia do Monte Pedral e estando já a cidade melhor servida de paróquias, e a do Carvalhido, a cujo território pertence o Monte Pedral, agora com igreja nova e servida dos respectivos espaços, a assistência pela Congregação da capela do Monte Pedral, se bem que marcadamente histórica, não passava de uma ilha na paróquia a que pertencia. Achou-se portanto bem, continuando a ajuda possível no Monte Pedral, como também na igreja paroquial, fazer a entrega ao respectivo Pároco do cuidado directo da Capela da Imaculada Conceição do Monte Pedral. A 5 de Junho de 1997 a Casa da Rua Nova do Regado foi vendida à Empresa “Empreiteiros Casais”, de António Fernandes da Silva, Lda. Ao longo da sua história esta comunidade além dos serviços específicos para que estava destinada prestou valiosa colaboração no acolhimento a missionários de passagem, na assistência especial às paróquias do Porto e a várias comunidades religiosas, nomeadamente as Irmãs Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus, Colégio de Nossa Senhora do Rosário, Hospital Maria Pia, Lar Universitário de S. José, Colégio do Sagrado Coração de Jesus, Lar do Monte de Burgos, Hospital do Carmo, Congregados, Paróquia do Carvalhido, etc. Directores da Casa do Regado (1937-1944) P. José Pacheco Monte; (1943-1944) P. António Gomes da Silva; (1944-1946) P. Cândido Ferreira da Costa; (1946-1949) P. Francisco Lopes; (1950-1951) P. António Manuel Meira; (1951-1952) P. Querubim da Cunha Meireles; (1952-1958) P. José Neiva Araújo; (1958-1961) P. Joaquim Correia da Rocha; (1961-1963) P. Querubim da Cunha Meireles; (1963-1964) P. José Maria de Sousa; (1964-1971) P. Isalino José Alves Gomes; (1971-1972) P. Francisco Lopes; (1972-1979) P. Henrique Sá Couto; (1979-1988) P. Manuel Augusto Ferreira; (1988-1993) P. José Lopes de Sousa. Benfeitores da Comunidade Dr. Lopes Rodrigues, que logo no início da obra operou gratuitamente o P. Rost e logo se pôs à disposição da Congregação para tudo o que fosse necessário; faleceu a 18 de Abril de 1971. D. Joaquina e D. Maria Coimbra Guimarães, benfeitoras da primeira hora que ajudaram na mudança do Monte Pedral para o Pinheiro Manso. 374 Adélio TORRES NEIVA Dr. Silva Leal, Armando Branco, Dr. Alves de Sousa, Dr. Luís Baldaque Guimarães, grande amigo do P. Monte, que muito ajudou a restaurar a Congregação em Portugal. Faleceu a 1 de Maio de 1952. Visitantes ilustres Entre outros, esta casa recebeu os seguintes visitantes: D. Sebastião Rezende, Mons. Le Hunsec, P. Daniel Brottier, Mons. Gay, Bispos do Porto, de Cabo Verde, de Nova Lisboa, Arcebispo de Luanda, Dr. Amorim Ferreira, subsecretário de Estado, antigo aluno do Colégio Fisher. 375 Capítulo 38 O Seminário da Guarda - Gare L ogo desde o início da restauração da Província, em 1919 e princípios de 1920 pensava o P. Moisés Alves de Pinho abrir uma casa no distrito da Guarda, que servisse de base de recrutamento nesta região, de novas vocações missionárias para o desenvolvimento das obras de formação espiritanas e para os seus projectos apostólicos. Com efeito, esta região fora sempre campo fértil em vocações religiosas e tinha fornecido bastantes vocações espiritanas no passado e o espírito cristão das populações levava a pensar que assim voltaria a ser desde que aí se lançasse um trabalho sério de propaganda. Em Dezembro de 1919, o bispo da Guarda D. José Matoso escreveu ao Superior Geral da Congregação, pedindo-lhe para ser fundada o mais breve possível uma residência da Congregação na sua diocese, que de todas as dioceses de Portugal era a que dava maior número de vocações às Ordens e às Congregações religiosas. E mais concretamente o bispo propunha a fundação no Fundão, vila importante, muito religiosa, a dois quilómetros do seminário diocesano. Bastaria deslocar da Covilhã para ali o P. Pintassilgo e um outro padre como superior, podendo aquele continuar com a direcção espiritual do seminário, “onde ele tem prestado muito bons serviços”.324 A verdade porém, é que aproveitando uma circunstância favorável veio o P. António Ribeiro Teles, a convite do bispo da diocese, em Outubro de 1920, para o Seminário do Fundão, como director espiritual. O Fundão era uma esperança para a Congregação de tal modo que ao descrever a situação da Congregação em Portugal, em 1919, o P. Pinho aponta o Fundão como uma das obras da Congregação. Os motivos imediatos que levaram à fundação desta comunidade explicitou-os o P. Pinho ao Superior Geral em carta de 21 de Outubro de 1920: 1º O convite do bispo da diocese para nos estabelecermos perto da Guarda a fim de fornecermos um director espiritual para o seu seminário; 2º A necessidade de cada vez mais intensificar o recrutamento dos Irmãos por meio de uma pequena obra local no melhor centro do país para vocações deste género; 3º A necessidade de ter uma casa na montanha podendo servir de lugar de repouso aos nossos aspirantes mais fracos de peito; Valmourisco estava muito perto da Guarda e quase à mesma altitude; 324 AGCSSp. B 461 –H – CH -V 376 Adélio TORRES NEIVA 4º A oferta de terrenos, materiais de construção pelas gentes da terra e das terras circunvizinhas que nos facilitariam muito a fundação. Mas por mais que se procurasse nas vizinhanças casa para lançar esta obra, não se conseguiu encontrar, pelo que se veio a desistir dela, retirando o P. Teles nos fins de Julho do ano seguinte para dirigir a fundação de Godim, que entretanto se iniciara. Posteriormente, o P. Cancela ofereceu, em Valmourisco (Sabugal), terra da sua naturalidade, um terreno para construção de uma casa e estabelecimento da projectada obra, de que ele próprio devia ser o propulsor. O seu falecimento, porém, obrigou a novo adiamento, tornando-se necessário aguardar nova oportunidade. O P. Pinho chegou a estar decidido a construir a casa em Valmourisco no terreno oferecido pelo P. Cancela e por um seu irmão muito dedicado à Congregação e chegou mesmo a ir ao local acompanhado dos dois Irmãos construtores estudar a viabilidade do projecto, mas foi obrigado a desistir devido à distância a que o local se encontrava de um centro de abastecimento e da dificuldade dos meios de transporte. De regresso à Guarda, numa noite escura e fria num camião de carga sem párabrisas nem travões, era já noite adiantada quando chegaram à cidade. Na manhã seguinte, o P. Pinho celebrou missa numa capela ao lado de uma casa grande e assombrada, pois na noite anterior um dos Irmãos que o acompanhava fora bater à porta a pedir que lhe preparassem as coisas para celebrar. Conseguiu e a família lá estava toda, de manhã cedo, para os receber e participar na Eucaristia. Conta D. Moisés que quando regressavam, o Irmão que pudera observar a casa e a capela lhe dissera: “Aquilo é que seria um arranjo para nós”. Entretanto chegou ao conhecimento do Bispo da Guarda D. José Alves Matoso que havia para alugar um prédio espaçoso que se prestava bem para a obra que o P. Pinho pretendia. Logo escreveu ao P. Pinho, manifestando-lhe o desejo de que aproveitasse a oportunidade e incumbia-se de convencer a proprietária a não tomar qualquer compromisso de arrendamento enquanto o P. Pinho não fosse ouvido. O P. Pinho logo respondeu a agradecer e a informar o prelado que dentro de breves dias estaria na Guarda. Tratava-se precisamente da casa em que celebrara anos antes! O proprietário falecera e a viúva, não podendo continuar com os negócios, desejava arrendar o imóvel. Era efectivamente uma casa ampla Guarda - Gare - Edifício do antigo Seminário Espiritano e de fácil adaptação. De facto, as despesas de instalação pouco iriam além do mobiliário. A casa foi alugada até porque para além dos motivos de fundo, oferecia não só a possibilidade de acolher confrades com problemas pulmonares para tratamento como também proporcionava à diocese a colaboração espiritana sobretudo para a direcção espiritual dos seminaristas. O Seminário da Guarda - Gare 377 O P. António Teles foi nomeado para lá, dispondo as coisas para a vinda dos Irmãos Serafim e Ildefonso, designados para o auxiliarem. Chegou aqui a 7 de Novembro de 1931, um sábado, ficando hospedado no seminário até à vinda dos Irmãos. Estes só puderam vir a 28 de Novembro por motivos de doença que os apanhou já a caminho. Os Irmãos chegaram acompanhados de um leigo, o Felisbelo, vindo para os ajudar. A primeira refeição não tiveram tempo de a preparar mas a senhoria da casa, a D. Máxima de Menino Jesus Mendonça, ofereceu-lhes a refeição. A 29 de Novembro, primeiro domingo do Advento, foi celebrada a primeira missa na comunidade espiritana, presidida pelo P. António Teles, superior da comunidade. Como padroeiro a comunidade adoptaria Santo António. E logo no dia 25 o P. Teles iniciava o seu ministério pregando um retiro aos ordenandos, enquanto o Ir. Ildefonso iniciava as campanhas de propaganda. O primeiro pároco a visitar os espiritanos foi o P. José Manuel Fragoso, pároco de Prúzio, prometendo fundar na sua paróquia um centro de Nossa Senhora de África e empenhar-se na promoção vocacional. A escritura do arrendamento só se faria a 1 de Abril de 1932, por no dia aprazado para esse efeito, 2 de Fevereiro, o co-proprietário José, filho da D. Máxima, não poder estar presente. A escritura foi feita no cartório do Dr. Alberto Diniz da Fonseca. A comunidade entretanto fora enriquecida com a presença do P. Manuel Lage, ficando assim constituída: P. António Teles, superior, P. Manuel Lage, Irmãos Serafim e Ildefonso e P. Cruz, como ecónomo. Os primeiros hóspedes ilustres da comunidade seriam o Superior Geral Mons. Le Hunsec e o seu assistente o P. Brottier, chegados a Vilar Formoso, no rápido da tarde do dia 13 de Julho, vindos para participarem na ordenação episcopal do Sr. D. Moisés Alves de Pinho, que seria ordenado bispo em Viana do Castelo no dia 17 desse mês. A 23 de Agosto começaram as obras de adaptação da casa a seminário. No dia 31 chegava o Ir. Marcelino, que veio ajudar nas obras. No dia 12 de Setembro chegou o P. António Meira que veio colaborar com o P. Teles. A 3 de Novembro de 1932 entravam os primeiros alunos. Segundo o testemunho de D. Moisés, este grupo do primeiro ano era numeroso e foi recrutado na maior parte, nas terras da Beira. O clero paroquial mostrava-se amigo dos espiritanos e dava-nos preciosa colaboração. A 28 de Março o Irmão Modesto integrava a comunidade como cozinheiro. A primeira profissão na comunidade, a do Irmão Elias, teria lugar a 13 de Abril de 1933, partindo pouco depois o Ir. Elias para a França como cozinheiro. Nesse mesmo mês foi decidido que ali ficaria o segundo ano, devendo o refeitório servir também para sala de aulas, e para dormitório o sótão. O primeiro ano concluiu-se com 19 alunos: Avelino Coelho da Silva, Manuelino Pinto Oliveira, Artur Jesuino da Cruz, José da Cunha Fernandes, Manuel Rodrigues, Nicolau Gomes Pinto, Lino Manuel da Cunha, António 378 Adélio TORRES NEIVA Rodrigues da Fonseca, António Andrino Júnior, Manuel Rodrigues Ferreira, Joaquim Mendes Pinto, Abel Rodrigues da Silva, Alberto Pinto da Silva, José Ricardo de Nápoles, Francisco Teixeira, Joaquim Carreira, José Vinhas, Joaquim Tomé Nunes, José Bernardino Fernandes. O novo ano escolar começou a 9 de Outubro de 1933 com cerca de 40 alunos, colaborando na formação o Ir. Mateus, o Sr. Joaquim Patriarca e o Sr. Cardoso. Leccionou-se o primeiro e o segundo ano de preparatórios. No ano lectivo seguinte, 1934-1935 o P. António Meira partia para o Fraião, como subdirector da Obra do Noviciado dos Irmãos. A sua passagem por terras da Beira foi juntamente com a do P. Teles, muito fecunda em apostolado, nomeadamente no lançamento da Cruzada Eucarística, e pregações contínuas. Foi uma presença de dois sacerdotes apostólicos e santos que muito marcaria a diocese da Guarda. A comunidade ficou formada pelo P. Teles, superior, Ir. Augusto, P. Lage e Ir. Mateus e Sr. Francisco Lopes e P. Cruz, como ecónomo. No ano seguinte, 1935-1936 é nomeado superior da comunidade o P. Arnaldo Baptista. Neste ano foi decidido ficar na Guarda só o 2º ano, tanto os que fizeram aqui o primeiro ano como os que o fizeram em Godim e em Godim ficará somente o 1º ano, tanto dos alunos admitidos lá como aqui. Assim, no dia 12 de Outubro chegaram à Guarda 24 seminaristas de Godim para o segundo ano e partiram daqui 26 para o primeiro ano em Godim. A casa poderia comportar uns 50 alunos. No ano de 1936-1937 o seu número foi de 44, todos no 2º ano. Ficou a integrar a comunidade o P. Fernando Moreira e no ano seguinte o escolástico Sr. Carvalho depois substituído pelo Sr. Teixeira. Em Setembro de 1938 o melhoramento efectuado foi sobretudo a condução da água da Quinta dos Covos, pertencente à D. Máxima, para o seminário. No ano de 1938-39 o P. Fernando Moreira deixa a Guarda para ir como director para Godim. Em 1938-39 vêm para a comunidade o Ir. Fiel, que vem substituir o Ir. Augusto, que vai para Viana e entra o Ir. Cipriano. A substituir o P. Fernando Moreira vem o P. Ismael Baptista. O Ir. Fiel partirá para Godim em 1940, sendo substituído pelo Ir. Francisco de Sales, que por sua vez será substituído pelo Ir. Fernando. Em Outubro de 1939 é nomeado director desta casa o P. Henrique Alves e subdirector o P. Abel Pinto de Sousa. Os alunos eram 36; no ano seguinte 33. Em 27 de Janeiro de 1941 o Conselho Provincial achava conveniente adquirir casa própria na Guarda, pois o aluguer da casa da Guarda-Gare era excessivamente custoso: 800$00 mensais. Entretanto decidiu-se passar todo o primeiro ano para Godim, ficando o segundo e terceiro no Fraião. Daí que o escolasticado da Guarda-Gare não tivesse mais razões para continuar a existir. Mas outro problema era continuarmos com uma residência na Guarda para animação vocacional e missionária. Uma hipótese seria continuarmos com a casa e alugarmos os baixos para uma escola de meninos. A 17 de Setembro de 1942 a opinião geral era que a residência fosse fechada O Seminário da Guarda - Gare 379 embora não para já. Entretanto como o bispo de Cabo Verde andava à procura de uma casa para os seminaristas que enviava para Portugal a fazer os estudos superiores, a casa da Guarda-Gare era uma hipótese possível. Outra hipótese em que se reflectiu foi a de comprar uma nova casa, própria para colégio ou seminário, com uma boa quinta anexa, fixando-se aí desde já uma residência. Assim se aproveitaria este local estratégico para as vocações em várias direcções: Guarda, Lamego, Coimbra, Viseu, continuando-se a prestar assistência ao seminário diocesano se o bispo assim o entendesse. No futuro se decidiria por um escolas-ticado ou um postulantado. Seminaristas da “Guarda-gare” Efectivamente uma casa apareceu em Celorico da Beira, que parecia ter as condições necessárias. A 16 de Julho de 1941 foi a festa de despedida dos alunos do seminário. No dia 17 os alunos partiam para não mais voltar à Guarda. A casa ficará apenas como residência. Nela permaneceram os Padres Teles, Laje e Abel bem como os Irmãos Mateus, Inácio e Estêvão. O Ir. Mateus e Estêvão partirão para as missões. A 23 de Agosto de 1944, atendendo às grandes vantagens que derivariam da passagem para o Fraião dos escolásticos do 2º e 3º ano, deixando só o primeiro todo em Godim, o Conselho decidiu suprimir o escolasticado da Guarda e da Silva; portanto, o 1º ano passaria para Godim e todos os demais escolásticos seriam reunidos no Fraião. Assim, optou-se por fechar a casa da Guarda, ficando lá apenas o P. Rebelo até ao Natal.325 Notas finais 1. Esta comunidade espiritana deixou marcas na diocese da Guarda sobretudo pelo ministério que exerceu na região. O seu superior durante todo o tempo foi o P. Manuel Ribeiro Teles. E foi sobretudo ele que ficou como memória desta comunidade. Sempre em movimento, pregando retiros sobretudo no seminário diocesano, fazendo conferências e pregações por toda a parte, a sua simpatia e disponibilidade apostólica ficará guardada na memória das pessoas, como a mais grata recordação da presença espiritana. Mas além dele, outros deixaram boa memória, como o P. António Meira, Fernando Moreira e outros que deram muito da sua vida ao ministério pastoral pelas terras da Beira. 2. Outra constante da comunidade da Guarda-Gare foi o acolhimento. Dada a 325 APPCSSp. Actas das reuniões de 24/1/1941, 17/9/1942 e 7/8/1943 380 Adélio TORRES NEIVA sua situação estratégica, junto da linha que ligava Portugal com a Europa, a paragem dos viajantes na Guarda era quase obrigatória. Efectivamente, a casa desenvolvia um movimento constante de presenças e de gente que passava com outros destinos. Mas a sua situação privilegiada no coração das Beiras e numa altitude fortemente recomendável para saúdes mais fragilizadas, fez com que seminaristas e padres das Beiras ou confrades em busca de descanso e de férias procurassem constantemente aquela casa. O encerramento da comunidade foi sem dúvida uma ferida que levou tempo a curar na memória daquelas gentes. Benfeitores Entre outros, é justo destacar o Dr. Ladislau Patrício, o Dr. Antero Marques, o Dr. Mário Cardoso e Irmão, o Dr. Câncio da Fonseca, o Dr. António Proença e D. Máxima do Menino Jesus Mendonça. 381 Capítulo 39 D. Moisés Alves de Pinho, um marco na história da Província A missão que foi confiada ao P. Moisés Alves de Pinho como restaurador da Província Portuguesa tinha sido: fundar novos seminários para formação de futuros missionários para as missões de Angola, restaurar as finanças, a fim de alimentar os alunos e pagar as dívidas antigas provenientes sobretudo dos gastos feitos com as viagens para o exílio em França dos que - Padres, seminaristas ou Irmãos - ali se quiseram refugiar ou continuar a sua formação; ou com os subsídios de alimentação aos que em Portugal se juntaram às suas famílias, esperando que depois da tempestade viesse bonança. A primeira vertente do P. Pinho, sem dúvida a que mais o evidenciou, foi a construção dos novos P. Moisés Alves Pinho seminários: Braga, Godim, Viana do Castelo e Guarda. Por outro lado, sacerdotes e irmãos, com a dispersão de 1910 seguiram vários caminhos. Muitos refugiaram-se nas casas da Congregação, no estrangeiro; outros ficaram nas famílias ou prestando serviços nas paróquias. Todo este pessoal tinha de regressar às comunidades em Portugal. Era a primeira fase necessária e urgente a efectuar na restauração da Província. Não foi fácil este trabalho. No estrangeiro, as comunidades contentes com os serviços prestados pelos portugueses, sobretudo pelos irmãos, iam adiando a autorização do regresso. Para os que se encontravam fora da comunidade em Portugal e quer que a ela se recolham, não é violento. A sua arma é o diálogo, no qual tudo é pesado e avaliado com o fim de descobrir se há razão para continuar fora ou para regressar ao Instituto. Espera que as suas palavras sejam escutadas e obedecidas, mas não ameaça nem apaga a chama que ainda fumega. Se, porém, houver escândalo público, então sim, será intransigente. Um outro objectivo do P. Pinho era restabelecer as finanças na Província. As dívidas que a contabilidade geral da Congregação tinha amontoado sobre as obras de Portugal era de 37.634$00. Para liquidar esta conta solicitou um abono à Administração Geral da Congregação, que perdoou toda a dívida. Descobrir benfeitores, obter donativos, aceitar trabalhos de colaboração paroquial para si e para os que com ele colaboravam, foi uma das suas preocupações permanentes. Escreve cartas, circulares, publica revistas que põem 382 Adélio TORRES NEIVA os leitores a par das necessidades das missões, envia emissários aos Estados Unidos, a fim de angariar fundos para a sua obra. Mas nunca aceitou doação alguma, por mais fascinante que fosse, se em troca tivesse de alienar ou sacrificar o que constituía a essência da Congregação, como foi o caso da oferta da quinta na Abelheira, que a viscondessa de Montedor lhe oferecia para ali funcionar um seminário menor e desenvolver a obra dos Irmãos Auxiliares. As condições que lhe exigiam eram demasiado gravosas e comprometiam a nossa liberdade de movimentos. “Nós fomos para a África para combater a escravatura e não devemos ficar escravos na Europa” – foi a sua resposta. O Arquivo Geral da Congregação guarda um sem número de cartas do P. Pinho, onde são abordados com o Superior Geral e o seu Conselho, os problemas que iam surgindo, a situação das obras e das pessoas, os projectos e as observações que os acontecimentos lhe provocavam. Por essas cartas podemos ver a sua solicitude de pastor, a sua capacidade organizativa e a sua fé inquebrantável numa obra em que acreditava. De 1921 a 1932 estão arquivadas mais de 230 cartas. “Missões de Angola e Congo” e “Associação de Nossa Sr.ª de África” Para dinamizar o povo de Deus e o motivar para a causa missionária, D. Moisés fundou a revista “Missões de Angola e Congo” e relançou a “Associação de Nossa Senhora de África”. A revista de que ele foi o primeiro director é lançada a 10 de Janeiro de 1921, na Quinta do Charqueiro. E destinava-se a suscitar interesse pela causa missionária, bastante esquecida e ignorada por um conjunto de factores que acabavam de ser superados. Conseguiu-se um número considerável de endereços e mandou-se a revista com uma proposta de assinatura, sendo o resultado superior às expectativas. Nela colaborou em grande escala o P. Joaquim Alves Correia. Em 1929 a revista contava 5000 assinantes. Com esse mesmo intuito de promover o interesse pelas missões, restabeleceu a antiga “Associação de Nossa Senhora de África”, para promover orações e boas obras pela conversão dos africanos. Ao lado do apostolado da imprensa, o apostolado da oração. Esta Associação, muito espalhada até 1910, ainda vivia na lembrança de muitas pessoas; por isso, foi fácil reanimar os centros de associados com os seus zeladores e zeladoras. Em 1929 a Associação contava 80.000 associados. Tanto a revista como a Associação, muito contribuíram para despertar vocações e generosidades de que tanto se precisava. A 13 de Outubro de 1926 saiu o Estatuto Oficial das Missões Católicas que permitiu aumentar o subsídio do Estado às missões e às obras de formação. Este estatuto mudou o nome oficial do Procurador das Missões, embora as funções continuassem a ser as mesmas. O seu nome agora é de “Representante das Missões junto do Governo”. Os arquivos guardam uma circular datada de 2 de Novembro de 1927 que o P. D. Moisés Alves de Pinho, um marco na história da Província 383 Pinho enviou a todos os missionários. Nessa circular dá-lhes conta das grandes dificuldades económicas com que a Província se debatia sobretudo para criar as estruturas necessárias e convenientes para as obras de formação. E pede-lhes colaboração tanto para a revista como para a Associação. E ia mais longe: pedia para que “durante quatro ou cinco anos, cada missão contribuísse para as instalações e desenvolvimento das obras de formação com um tanto por cento do total das dotações e vencimentos dados pelo Governo. O mínimo desta percentagem seria 5 %; mas cada missão, segundo as suas posses e boa vontade, não deixaria de acrescentar mais 2 ou 3 % pelo menos”. “A Província não tinha nem queria ter uma só obra que não fosse de formação”. Pioneiro da CNIR Mas a acção do P. Pinho em Portugal não se limitou à restauração da Província. Foi pregador, conferencista, director espiritual, animador de movimentos e instituições de carácter apostólico. Eram profundas as suas simpatias pelo Círculo Católico e seguras as orientações que dele receberam particularmente alguns dos seus membros. Foi ele a pedra angular sobre que repousa a que hoje se chama “Confederação Nacional dos Institutos Religiosos (CNIR).” Esta é fruto de um pequeno movimento de reuniões de Superiores Maiores que se realizavam, geralmente em Lisboa, na Casa dos Padres Espiritanos e que foram inspiradas e animadas pelo P. Pinho, então provincial dos Espiritanos. Foi nestas reuniões informais, espontâneas e sem qualquer protocolo nem estatuto, que assentaram as origens da Confederação dos Religiosos. A primeira reunião foi em Viana do Castelo a 10 de Maio de 1928 e a partir daí passaram a fazer-se todos os anos. A Santa Sé tomou conhecimento destas reuniões bem como de movimentos idênticos que também noutras nações iam surgindo, e resolveu incrementá-las e oficializá-las. Fundador das Irmãs Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus Em 1929, o P. Pinho fundou ainda a Congregação das Irmãs Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus com a Irmã Maria das Dores Paes de Sande e Castro. É uma congregação que à reparação amorosa do Coração de Jesus, ofendido pelos pecados e pelas ingratidões dos homens, junta como melhor meio para evitar o pecado, a catequese e a formação religiosa. Em carta de 14/6/1928 o P. Pinho conta que o bispo do Porto o convida para ser uma espécie de superior eclesiástico desta obra. À frente ficaria uma religiosa de uma antiga congregação “Pia Domus”. O P. Pinho pedia licença ao Superior Geral para aceitar este encargo, pois seria uma boa ocasião para tornar a Congregação conhecida no Porto, “onde ainda nada temos.”326 Neste mesmo ano, o Ministro das Colónias chamou o Procurador das 326 Carta de 14/6/1928 384 Adélio TORRES NEIVA Missões, P. Joaquim Alves Correia, pedindo missionários espiritanos portugueses para a Guiné-Bissau. O Governo temia a vizinhança das colónias francesas. O P. Pinho escreve para a Casa Mãe, dizendo que seria bom aproveitar a oportunidade para regular a situação jurídica desta nova missão, pois a Guiné dependia de Cabo Verde. Erigir a Guiné como Prefeitura ou ao menos como uma missão independente? De qualquer modo, diz o P. Pinho, de boa vontade faríamos todos os sacrifícios para não perder esta ocasião única de assumir esta missão.327 O P. Correia chegou mesmo a propor o encerramento da casa do Porto para se poder enviar missionários para a Guiné. Motivo semelhante tinha já levado o Reitor de S. Luís dos Franceses a pedir em 1920, espiritanos para Moçambique, desta vez não por causa da vizinhança dos franceses mas das colónias inglesas que ameaçavam o território moçambicano.328 Em 1931 o Arcebispo de Évora ofereceu em Borba um antigo convento à Congregação para casa de formação, mas o P. Pinho recusou por falta de pessoal. Em 1931, o P. Pinho foi enviado como visitador das Missões do Espírito Santo em Angola. E foi depois do seu regresso, em 1932, que a Santa Sé o nomeou Bispo de Angola e Congo. Nesta data, 1932, os Missionários do Espírito Santo contavam já três seminários de preparatórios em Godim, Guarda e Fraião; um para o curso superior em Viana do Castelo, uma Escola Profissional para a Formação de Irmãos Auxiliares no Fraião, além da Procuradoria das Missões em Lisboa e de uma residência no Porto. O número dos alunos nessa data era o seguinte: 20 no Curso de Teologia, 40 no de Filosofia, 14 noviços clérigos, 194 seminaristas menores e 72 postulantes e irmãos na Escola Profissional. Ao todo, um universo de 340 alunos. O P. Riedlinger, que veio fazer a visita canónica à Província Portuguesa, contactar pessoas, apontar faltas e remediar carências nas obras da Congregação, numa carta ao Superior Geral, não esconde a sua surpresa por ver, depois do vendaval de 1910 que tudo destruiu, a Província novamente a funcionar com os seus seminários cheios de alunos, padres e irmãos de mãos dadas no mesmo trabalho de construir uma Província nova e a boa ordem e disciplina que reinava por toda a parte. A sua carta toda elogiosa, termina deixando entender que o P. Pinho governava a Província com mão de ferro (“como Mussolini a Itália”, diz ele. O P. Pinho é tão indispensável aos jovens espiritanos como S. Martinho aos seus melhores monges).329 Realmente o P. Pinho era um homem de disciplina e amigo da ordem, mas não prepotente. 327 Carta de 12/10/1920 Carta de 14 de Agosto de 1929 Carta de 19 de Janeiro de 1920 329 Carta do P. Riedlinger de 1 de Novembro de 1925 “ É a terceira vez que mudo de comunidade em 10 dias, mas ainda não mudei de prato das refeições da noite: é sempre um prato de arroz. Isto dá-me uma primeira impressão que se a Congregação é a farrapeira da Santa Igreja, a Província de Portugal é a farrapeira da Congregação. “Shoking” diria um padre americano ou inglês se viesse a Portugal como visitador e visse os pequenos escolásticos descalços de inverno e de verão. O P. Pinho é indispensável aos jovens confrades como S. Martinho aos seus melhores monges. Viana cheia de pequenos, as comunidades cheias como um ovo. O P. Pinho, superior em Viana faz tão bem como Mussolini na Itália” * 328 D. Moisés Alves de Pinho, um marco na história da Província 385 Arcebispo de Angola e Congo O P. Pinho foi informado particularmente pela Nunciatura da sua nomeação para bispo de Angola, por carta de 5 de Abril de 1932. Tinha chegado da sua visita a Angola a 23 de Março e reunira os provinciais das várias congregações para uma reunião de rotina. Antes de se separarem foram fazer uma visita ao Núncio, o qual no final deu a carta da nomeação ao P. Pinho que, julgando-a sem importância, a meteu ao bolso e só a leu à noite. Imediatamente escreveu para a Nunciatura a pôr as suas reservas. “Logo que recebi a comunicação, escrevi à Nunciatura, para dizer em resumo o meu “paratus ad omnia” e para manifestar ao mesmo tempo a minha convicção de poder tornar-me mais útil à salvação das almas e à diocese de Angola, trabalhando na propaganda, D. Moisés com o P. Clemente e o abade da Silva no recrutamento e na formação dos missionários. Depois nada mais soube, o que me levava crer que a minha carta tinha seguido para Roma. Assim, conservo ainda a esperança de escapar ao fardo que me ameaça. Do que eu souber, eu lho comunicarei… mas é cargo para o qual não tenho nem vocação atracção nem mesmo outra”.330 A verdade, porém, é que a confirmação oficial chegou a 12 de Abril de 1932, em telegrama enviado pela Nunciatura. Estava o P. Pinho em Braga, numa D. Moisés com a Superiora Geral e algumas Irmãs Reparadoras, em Luanda (10-3-1963) Reunião do Conselho Provincial.331 A nomeação oficial apareceria na Acta Apostolicae Sedis a 2 de Maio de 1932.332 Os membros do Conselho Provincial foram unânimes em indicar o P. Clemente Pereira da Silva como seu substituto no governo da Província. 330 331 332 Carta de 9 de Abril de 1932 AGCSSp. B 483 AB CH –I Nº 5 Ano XXIV de 2 de Maio de 1932. p. 142 386 Adélio TORRES NEIVA D. Moisés foi ordenado bispo na igreja de S. Domingos em Viana do Castelo, a 17 de Julho de 1932, 49º aniversário do seu nascimento, sendo sagrante Mons. Le Hunsec, antigo bispo de Dacar e Superior Geral da Congregação. Com ele partiram a 8 de Outubro de 1932, 21 missionários para Angola: 4 padres espiritanos, 6 irmãs, um leigo professor, 6 padres seculares e 3 estudantes e um bispo. A 23 de Setembro de 1967, a Câmara Municipal de Viana do Castelo quis homenageá-lo dando o seu nome a uma das ruas do Bairro das Ursulinas na Cidade.333 333 BPPCSSp. 1967 p. 137-139 387 Capítulo 40 O P. Clemente Pereira da Silva e a consolidação da Província (1932-1943) O P. Clemente Pereira da Silva foi nomeado Provincial por decisão do Conselho Geral de 10 de Maio de 1932. O P. Clemente era já o braço direito do seu antecessor. Nessa qualidade, a obra da restauração da Província é, em grande parte, obra também da sua influência e dedicação. O Conselho Provincial ficou assim formado: P. Clemente, Provincial; Assistentes: PP. Daniel Junqueira e José Pacheco Monte. Conselheiros: PP. António Teles, Joaquim Alves Correia. Procurador ou Ecónomo Provincial: P. Miguel Fonseca. Em 1934 foi nomeado Procurador das Missões em Lisboa, o P. Arnaldo Baptista. Durante os onze anos do mandato do P. Clemente, a Província continuou a consolidar as posições conquistadas. O seminário da Guarda-Gare começou a funcionar já neste P. Clemente Pereira da Silva provincialato (Outubro de 1932); na Silva, em 1937, na propriedade que nos fora legada pela Senhora D. Antónia Alcoforado, abre-se mais um seminário menor; a casa era habitada já desde o Pentecostes de 1936, mas somente para ocupar a casa e guardar as culturas feitas pelos empregados e familiares. O P. Clemente, como procurador de D. Moisés Alves de Pinho, foi à Silva tomar conta da chave, depois do falecimento da senhora, a 16 de Dezembro de 1935. Em 1934, o Noviciado dos Clérigos que era feito em França, começa finalmente, a funcionar na Quinta de Baixo, no Fraião. Diz o P. Clemente em carta de 1 de Abril de 1934: “Segundo o desejo do R. P. Superior Geral começará no mês de Setembro próximo no Fraião, Braga, o Noviciado dos Clérigos. Erecção. Segundo um documento guardado nos Arquivos da Província, a comunidade do Fraião foi canonicamente estabelecida Noviciado da Província. Aí não se menciona nem clérigos nem irmãos; uns e outros ali fizeram os seus noviciados, v.g. os PP Laje e os escolásticos Soares, Olavo Teixeira, etc.. Não será portanto preciso talvez nova erecção. Casa: Estamos a adaptar a parte da casa onde recebíamos os padres seculares que os bispos nos enviavam para regenerar (Obra do Santo Cura d´Ars). Completamente isolada e independente do resto da comunidade, ela se presta bem para esta finalidade; aumentada poderá albergar uns vinte e até uns trinta noviços, com uma cela para cada um. A Obra do Santo Cura d´Ars é suprimida, por 388 Adélio TORRES NEIVA enquanto, até que o noviciado possa abrir, mas completamente à parte, o que poderá acontecer de um momento para o outro. Número de noviços. Este ano serão perto de uns vinte, nos dois anos de Filosofia, reunidos para isso. No futuro, juntar-se-ão para o noviciado os alunos do 1º Ano de Filosofia e os do último ano dos estudos secundários e a casa servirá alternadamente como noviciado e como casa para o 1º Ano de Filosofia; esta combinação permitirá separar os dois anos de Filosofia (até aqui reunidos em Viana), não ter no Grande Escolasticado senão professos; ter anos mais numerosos seja para o noviciado seja para o 1º Ano de Filosofia. Pessoal. É uma grande dificuldade para a Província: ela não poderia mesmo pensar em começar esta obra se o Superior Geral não tivesse prometido dar-nos dois padres no princípio do ano escolar, para substituir nos seus postos actuais os dois padres que é preciso libertar para o noviciado. Para mestre, os votos estão divididos entre o P. Bruno e o P. Castro; a escolha do primeiro tem muitas vantagens, permitindo ao segundo ficar à frente da comunidade de formação dos Irmãos, lugar que não é fácil de substituir. Como submestre o P. Meira faria isto bastante bem, apesar de ainda muito jovem, mas o submestre não é difícil de encontrar. Como confessor poderá ser um dos padres da comunidade, por exemplo o P. Cosme ou mesmo o P. Castro. Despesas. Para o sustento dos noviços. Elas serão bem menores que na França; para a adaptação e para a construção da parte indispensável para já, retardar-se-á, se necessário, a construção do pavilhão dos Irmãos já começada”. O noviciado começou efectivamente com o P. Bruno a mestre de noviços conforme já foi dito. Em 1941, realiza-se a transferência da incipiente Obra da Propaganda para Lisboa. Este facto foi de grande alcance e de muitas consequências para a irradiação da animação missionária. A herança da Senhora da Silva, que, contra a vontade da legatária, tantos aborrecimentos e trabalhos custou; o activo e ininterrupto prosseguimento da vastíssima obra do Fraião; o sustento da enorme avalanche de vocações que vinham bater à porta dos Espiritanos e pedir a formação religiosa e missionária, embora a grande maioria não viesse a perseverar, tudo isto atesta a soma de trabalhos e de sacrifícios que foram pedidos ao P. Clemente. Em 1937 foi aprovada a fundação da Casa da Silva, consagrada ao Menino Jesus de Praga. Merece relevo especial o apoio que desde o início deu à Obra da Propaganda, a Liga Intensificadora da Acção Missionária (LIAM), fundada pelo P. Agostinho de Moura e os escolásticos José Felício e Augusto Teixeira Maio, em Fátima, em 1937. Se não fosse o apoio e a confiança que o P. Clemente depositava no P. Moura, talvez a LIAM nunca chegasse a nascer. Uma das grandes preocupações do P. Clemente, durante todo o seu Provincialato, foi o envio de missionários para a África. Durante o seu mandato foram enviados para as missões nada menos que 48 missionários. Em 1933, fundava-se em Viana do Castelo o jornal “Entre Nós”, com o objectivo de fomentar a propaganda missionária. Em 1949 mudaria o seu título para “Acção Missionária”, adquirindo então grande expansão. O P. Clemente Pereira da Silva e a consolidação da Província (1932-1943) 389 Em 1935, o P. Provincial deixava a direcção do escolasticado de Viana do Castelo, para fixar residência na Procuradoria em Lisboa, juntamente com os teólogos do IV Ano, que para ali foram transferidos, para frequentarem a Escola Colonial. O Governo desejava que os missionários conhecessem melhor os futuros funcionários de Angola e se impregnassem do espírito colonial português. Em 1938, depois do Capítulo Geral, o P. Clemente escolheu o Porto como residência do Provincial, pois esta era uma comunidade que estava ao alcance fácil das casas da formação, onde trabalhava a maior parte dos confrades. Nesse ano, o P. Daniel Junqueira é nomeado Prefeito Apostólico do Cubango e o Conselho da Província passou a ser constituído pelos Assistentes: PP Pacheco Monte e Joaquim Castro; Conselheiros: PP. António Teles, Joaquim Alves Correia, Cândido Ferreira da Costa e Francisco do Rego. Também para o Porto foram transferidas em 1937 a “Associação de Nossa Senhora de África” e a revista “Missões de Angola e Congo”. Em 1938 o IV Ano de Teologia volta para Viana do Castelo, pois a formação que lhes era ministrada na casa de Lisboa não foi julgada satisfatória. No ano de 1939 apareceu pela primeira vez o “Boletim da Província”, em Português. No dia 12 de Maio de 1940 foi canonicamente erecta nas capelas das Comunidades de Viana do Castelo, Fraião, Godim e Guarda, a Confraria do Espírito Santo. O quadro das vocações, comparado com os tempos anteriores é o seguinte: Zamora (1913-1920): 15 admitidos, chegando ao fim da formação 5 padres e 2 irmãos: 20%. Bento Miguel: (1913-1920): 16 admitidos, concluíram 2 padres e 1 Irmão: 18%. Em S. Tomaz: 1920: 15 admitidos, 6 ordenados – 40 %. 1921: 16 admitidos, 2 ordenados e 1 Irmão. – 18 % 1922: 26 admitidos, ordenados 7 padres – 30 % Viana do Castelo: 1923: 26 admitidos, 3 ordenados – 11 % 1924: 28 admitidos, ordenados 5 padres e 1 escolástico maior – 21 % 1925: 34 admitidos, 8 ordenados – 23 % 1929: 36 admitidos, 5 ordenados e 2 Escolásticos Maiores – 19 % Ou seja: 230 admitidos e concluíram a sua formação entre padres e irmãos 50: 21% No dia 1 de Janeiro de 1940, a Província contava 76 padres, dos quais 42 nas missões de Angola, 1 em Montana e 1 na Amazónia; 51 escolásticos professos dos quais 3 empregados nas casas de Formação e 2 na universidade de Friburgo; 107 Irmãos, dos quais 56 nas missões de Angola, 3 na Casa Mãe, 1 em Roma, 1 na Amazónia e 2 no Zanzibar; 10 noviços-clérigos e 9 noviços-irmãos; 270 escolásticos não professos, incluindo o primeiro ano de Filosofia e 36 aspirantes a Irmãos. Das outras Províncias trabalhavam em Portugal o P. Alberto Brun, mestre de noviços, (vindo para Portugal em 1929 para substituir o malogrado P. Rost) coadjuvado pelo P. José Finck; em Viana, o P. Mass, leccionando Exegése e 390 Adélio TORRES NEIVA Moral; em Lisboa, o P. Georger, em regime de descanso. Trabalhavam também em Portugal, até que a França em 1940 os mobilizou para a guerra, os padres Truttmann e Schmitt. O P. José Breitenstein, esteve também em Portugal como director do Escolasticado Maior, durante dois anos. Este período ficou marcado pelo falecimento de um conjunto de antigos professores dos colégios da Província. Do Colégio Espírito Santo de Braga os Padres Blériot, Kempf, Knoebel e Dargnat, o primeiro tinha-se recolhido a Braga três anos antes de morrer. Do Colégio de Santa Maria, do Porto o P. Schurrer e o P. Celestino Descremps. O P. Descremps faleceu em Coimbra, quando vinha para a Reunião dos Antigos Alunos, ficando sepultado no cemitério da Conchada. Faleceu também o P. Xavier Kauffmann, do Seminário da Formiga. De 19 a 22 de Abril de 1941 visitou a Província o Ministro das Colónias, Dr. Francisco Vieira Machado, passando por Viana do Castelo, Silva, Fraião e Godim, sendo por toda a parte recebido com grandes provas de simpatia. Em 1940 o conselho provincial era assim formado: P. Clemente, superior provincial; assistentes PP. Pacheco Monte e Joaquim Castro; Conselheiros: PP. António Teles, Francisco Alves do Rego, Joaquim Alves Correia; Procurador provincial: P. Miguel Fonseca; Secretário Provincial: P. Henrique Alves; Prefeito Provincial dos estudos superiores: P. Agostinho de Moura; Prefeito dos estudos secundários: P. Fernando Moreira. Durante o Provincialato do P. Clemente, como já tinha acontecido no tempo do P. Pinho, vários retiros da Província foram pregados por membros da Casa Mãe: P. Lena assistente geral, em 1933, P. Cabon, secretário geral, em 1934. Em 1942 começou a funcionar na Silva o Noviciado, onde se tinham preparado 20 celas. Quando em 1943, o P. Clemente deixava a direcção da Província, esta contava: 39 alunos de Teologia, 42 alunos de Filosofia, 19 noviços-clérigos, 208 escolásticos menores e 36 alunos da Escola Profissional. Ao todo, 344 alunos. O P. Clemente foi uma figura muito marcante na vida da Província e do clero em Portugal. Culto, mas sem pretensões, sabendo valer-se de uma extraordinária facilidade para o uso da palavra declamada no púlpito, comunicada em conferências ou conversas familiares, em cartas que sempre escrevia com o coração, deixava sempre um amigo pessoal e da Congregação em quem o abordasse, logo à primeira vez. A maior parte dos padres e irmãos que trabalharam na Província, em Angola e Cabo Verde, tiveram-no como guia e mestre. Formador de muitos em Zamora (1914-1919), Braga (1919-1925), Viana do Castelo (1927-1932), depois de Provincial durante 11 anos, em 1945 foi nomeado Conselheiro Geral da Congregação e depois 2º assistente. Os últimos anos da sua vida foram passados em Angola, para onde partiu como missionário. 391 Capítulo 41 A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva A Casa da Silva tem raízes que a ultrapassam no tempo e no espaço. Ela nasceu da união de duas famílias, cujas origens remontam a uma época anterior à fundação da nacionalidade: a família dos Silvas e a família dos Alcoforados. Tanto Mendo Gomes, a quem o Conde D. Pedro atribui as origens da Casa Alcoforado, como Guterres Alderete da Silva, com que se inicia a linhagem dos Silvas, se situam num espaço histórico e cultural semelhante: o dos ricos-homens que acompanharam tanto D. Afonso VI como o Conde D. Henrique, na conquista ou reconquista do norte de Portugal. Os primeiros acabariam por se fixar na Torre de Alcoforado, lugar de Lordelo, no concelho de Aguiar de Sousa e cujo topónimo a família adoptou; os segundos, na Torre e Quinta da Silva, entre Vila Nova de Cerveira e Valença: também aqui o apelido Silva seria tomado da configuração silvestre e bravia que caracterizava a Quinta dos Alderetes. Depois, as suas famílias irradiaram por vários quadrantes, abrindo e ramificando a linhagem. Destas duas famílias merece particular relevo a dos Silvas, que no tempo de Filipe IV chegou a ter 61 títulos de nobreza e que inclui nos seus pergaminhos alguns dos nomes mais notáveis do Reino. Nem faltam na gesta dos Silvas, personagens ilustres ligados à história da Igreja como o Cardeal D. Diogo da Silva ou figuras que se impuseram nas vias da santidade como Santa Beatriz da Silva, a fundadora das Irmãs Concepcionistas. As duas famílias vieram a encontrar-se, – uma por linha directa – a dos Alcoforados – e outra pela lateral – a dos Silvas – no ano de 1556, quando António de Sousa Alcoforado casou com D. Maria da Silva, descendente dos Silvas, pela linhagem dos senhores de Vagos. Para este casamento, doava D. Margarida da Silva, mãe da D. Maria, a sua Quinta da Silva, em S. Julião do Calendário, com a condição porém, de a vincularem e instituírem em Morgado. Em obediência a esta cláusula, António de Sousa e sua mulher, pelo seu testamento de 1 de Janeiro de 1572, fundaram o morgado da Quinta da Silva e suas pertenças, a que seriam anexadas outras propriedades vizinhas, no âmbito dos itens do mesmo testamento. É com a criação deste morgado que, praticamente, começa a história da Quinta da Silva, em S. Julião do Calendário, até aí bastante discreta, nos anais dos Silvas. Como complemento desta instituição, António de Sousa Alcoforado, que passou a chamar-se António de Sousa da Silva, fundaria no ano de 1589, a capela 392 Adélio TORRES NEIVA de S. Bento, tendo o arcebispo de Braga, D. Frei Agostinho de Jesus, a 3 de Janeiro de 1592, passado provisão para nela se poder celebrar missa. Desde então, o Morgado da Silva foi-se afirmando cada vez mais, através de gerações de fidalgos, que foram alargando os seus domínios e consolidando de tal maneira a sua influência, que ele se tornou um ponto de referência obrigatório para as gentes do vale do Tamel. As suas propriedades e os seus direitos estendiam-se por uma vasta faixa da margem direita do Cávado, que começava por terras do Prado e se alongava quase até ao mar. Foi a Casa da Silva que originou a mudança do nome da freguesia de S. Julião do Calendário do Tamel para freguesia de S. Julião da Silva, na segunda década do século XVIII. O morgadio foi extinto a 12 de Julho de 1862, a pedido da morgada D. Maria Henriqueta de Sousa da Silva Alcoforado de Almada e Lencastre, por alegação de falta de rendimento legal que a lei de 30 de Julho de 1860 exigia. A última sobrevivente da Casa da Silva foi D. Maria Antónia de Sousa da Silva Alcoforado, viúva, sem filhos e mesmo sem parentes próximos, a não ser uma sobrinha, falecida a 16 de Dezembro de 1935, com 92 anos de idade. Por influência do seu director espiritual o então pároco da Silva, P. António Joaquim Lopes Júnior, grande amigo dos Missionários do Espírito Santo, D. Antónia, por testamento de 8 de Agosto de 1924, deixava a Quinta da Silva e quase todos os seus bens, ao provincial da Congregação do Espírito Santo, P. Moisés Alves de Pinho. Em testamento anterior, datado de 1 de Julho de 1922, D. Antónia especificava as intenções do seu legado: “perpetuar a memória dos senhores da Casa da Silva, servindo-se deste solar para a formação de missionários, clérigos ou leigos ou de sacerdotes que se destinem a outros ministérios mais humildes e penosos, nunca o desviando do fim que tenho em vista que é a glória de Deus e a salvação das almas”. D. Maria Antónia faleceu em 1935; dois anos depois, em Outubro de 1937, no velho solar dos senhores da Silva, abria-se o novo seminário para a formação de missionários da Congregação do Espírito Santo. Dos pergaminhos do seu passado, um novo futuro nascia para a Casa da Silva. A Casa da Silva “Junto às pitorescas margens do rio Minho, entre Valença e Vila Nova de Cerveira, na freguesia de S. Julião da Silva, foi fundada uma forte torre, ninho de ricos-homens, vindos da fronteira da Galiza, para ali fazerem seu assento. Nela, na arrogante torre da Silva, entrincheiraram-se eles e à linhagem dos seus senhores deu ela o nome. O seu mais remoto ascendente é D. Goterre Alderete da Silva, mencionado como progenitor da estirpe, no Livro velho das Linhagens e no Nobiliário do Conde D. Pedro” (Anselmo Braamcamp Freire).334 A Quinta da Silva, da qual nasceu o Seminário das Missões, não se confunde com a Casa da Silva; aquela era apenas uma pequena parcela desta. Na obra 334 In Brasões da sala de Sintra, II, nº3 A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva 393 monumental de D. Luís de Salasar y Castro, que tem por título “História genealógica de la Casa de Silva”, dividida em dois grossos volumes que perfazem um total de 1521 páginas, há apenas duas referências muito breves à “Quinta imediata à la villa de Barcellos, que es la que posseió Arias Gomes da Silva Viejo” dizendo a seguir que tinha o nome de Silva, por ter sido fundada pelos senhores desta casa. E Braamcamp Freire, nas 182 páginas que dedica ao brasão dos Silvas da Sala de Sintra, nunca faz menção desta Quinta. É certo que com a fundação do Morgado da Quinta da Silva, esta foi adquirindo uma importância crescente, creio bem que mais por mérito dos Alcoforados que por crédito da Quinta dos Silvas. De qualquer modo, a Casa da Silva, tem um horizonte muito mais vasto que o perímetro e a história deste velho solar. A Casa da Silva conta-se entre as mais ilustres casas da nobreza de Espanha e Portugal. De geração em geração, mercê de casamentos e alianças, o seu tronco foi-se ramificando por Portugal, Leão, Castela, Aragão, França, Nápoles, Sicília e até às Índias, chegando a ter 16 casas tituladas. As primeiras informações, a ela referentes, colhidas nos livros portugueses de linhagens medievais, são-nos fornecidos pelo Livro do Deão, que remonta aos anos de 1337-1340.335 Anterior a este livro, há apenas o Livro Velho de Linhagens, redigido provavelmente no princípio do reinado de D. Dinis, pelos anos de 1270-1280, que se limita a enumerar cinco famílias nobres, todas da parte meridional de Entre Douro e Minho, da região de Paiva e Bragança. O Livro do Deão, que dá a impressão de querer completar o quadro insuficiente do Livro Velho, enumera, além dessas cinco, mais 22 famílias, alargando o leque por todo o resto do Minho, Trás-os-Montes e Terra de Santa Maria; entre elas aparece a Casa da Silva. A Casa da Silva voltará a ser elencada, agora mais desenvolvidamente, no Nobiliário do Conde D. Pedro, do terceiro quartel do século XIV e que apresenta já 51 títulos, agora alargados à Beira, Estremadura e Ribatejo.336 No final do reinado de Filipe IV, a Casa da Silva arvorava nada menos que 61 títulos de Duque, Príncipe, Marquês, Conde, Visconde, adquiridos ou por sucessão hereditária ou por alianças matrimoniais. A esta Casa da Silva pertenceram alguns nomes dos mais notáveis do Reino, a quem foram confiados os mais altos cargos tanto da administração pública como do foro militar. Os altos funcionários da Corte eram o Mordomo-Mor, o Alferes e o Chanceler. O Mordomo era por assim dizer, o chefe da Casa civil do rei; o Alferes era um cargo de atribuições militares; os dois constituíam os postos máximos da aristocracia.337 Lembremos apenas alguns nomes da Casa da Silva que se guindaram a esta escala: D. Paio Guterres da Silva, vicarius regis de D. Afonso VI de Leão e que deve ter sido o principal representante da autoridade régia em 335 Portugaliae Monumenta Historica. Nova série. Vol. 7. Livros Velhos de linhagem. Academia de Ciências. Lisboa. 1981. ED. Crítica de José Matoso MATOSO, José PMH II 2 tit. VIII 337 Ibid. p. 116 336 394 Adélio TORRES NEIVA terras de Cávado; Aires Gomes da Silva, que foi aio de D. Fernando, alferes-mor e condestável do reino de Portugal; Alonso Tenório da Silva, adiantado perpétuo de Caçorla e notário-mor do Reino de Toledo; D. João da Silva, alferes-mor de Castela e mordomo-mor da rainha D. Maria; Afonso Gomes da Silva, alcaidemor de Coimbra e da Covilhã; João Gomes da Silva, senhor de Vagos, copeiromor e alferes-mor de Portugal; Aires Gomes da Silva, justiceiro-mor de Portugal, etc. Durante longas gerações, o posto de Regedor da Justiça, o de AposentadorMor e o de Mordomo-Mor estiveram confiados a esta casa. Do seu valor militar falam-nos com frequência as Crónicas dos reis de Portugal, nomeadamente as de Fernão Lopes; de facto, os pergaminhos da Casa da Silva acompanham de perto os méritos e as vicissitudes da reconquista e da defesa do território; só na batalha de Alcácer Quibir pereceram 13 membros da Casa da Silva. Nem faltam na história da Casa da Silva personagens ilustres A Casa da Silva, nas origens ligadas à história da Igreja ou que se notabilizaram nos caminhos da santidade. João da Silva Meneses, mais conhecido por Beato Amadeu, fundou a primeira reforma da Ordem de S. Francisco, na Itália e viu florescer, ainda durante a sua vida, vários conventos. A Santa Beatriz da Silva fundou a Congregação da Imaculada Conceição. À Casa da Silva pertenceram ainda dois Cardeais, vários Arcebispos de Braga, Granada e Saragoça, entre os quais o célebre D. Frei Diogo da Silva, bispo de Ceuta, primeiro Inquisidor Geral do Reino e Arcebispo de Braga. Segundo a descrição do Gabinete dos Estudos Heráldicos, as armas da Casa da Silva são: de prata, leão de púrpura armado e linguado de vermelho. Timbre: o leão das armas. Outros do mesmo apelido usam: de prata, leão vermelho, lampassado de azul e à Brasão da Casa da Silva roda do leão, em forma de era, uma silva verde, com flores e espinhos de oiro. Timbre: o leão das armas. 338 O escudo foi depois usado por diversos ramos da família, com ligeiras variantes. À frente veremos o usado pelos senhores da Silva, de S. Julião do Calendário de Tamel. Não é fácil desdobrar a meada de gerações que nos levam às raízes do 338 Enciclopédia Luso-Brasileira Vol. 17 A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva 395 progenitor “oficial” da família Silva, Guterre Alderete. Talvez possamos recuar até ao infante D. Ordonho, filho do rei de Leão, Froila II, que reinou em 924925. Este infante foi pai de D. Paio Guterres que era por sua vez pai de Guterre Pais, governador da terra da Maia, que então se estendia da margem direita do Douro até à esquerda do Lima, e avô de D. Paio Guterres da Silva, que viveu e foi governador de Alava (Espanha), no tempo dos reis de Leão D. Afonso V (999-1027), D. Bermudo III (1027-1035) e D. Fernando Magno (1035-1065). De D. Paio Guterres da Silva foi filho D. Guterre Alderete da Silva, rico-homem de Leão e Castela, no tempo do rei D. Afonso VI (1072-1109) e o primeiro conhecido com o apelido de Silva. É com este Guterre Alderete da Silva que tanto o Livro do Deão como o Nobiliário do Conde D. Pedro abrem a gesta genealógica da Casa da Silva. Trata-se, portanto, de uma família cujas origens poderiam estar como aconteceu com outras tantas dessa época, intimamente relacionadas com a Casa Real de Leão. Não sabemos se foi D. Guterres o primeiro a usar o nome Silva – D. Melchior de Teves diz que não – mas o que parece fora de dúvida é que foi ele o progenitor da Casa da Silva, conforme o atestam as genealogias de Castela e de Portugal. Veio a casar com D. Maria Pares de Ambia. O nome Silva por que era conhecida a Quinta, podia muito bem ter origem na natureza da própria propriedade: terreno inculto, com árvores bravias e plantas silvestres, identificava-se muito melhor como bosque ou selva (silva significa bosque) do que com uma herdade ou casal. O mesmo aconteceu, por exemplo, com a Quinta da Mata, a Quinta da Veiga ou os Sotomaiores. D. Luís de Salasar y Castro afirma que as outras terras e quintas da Galiza e Portugal, conhecidas com o nome de Silva, são filiadas desta, ou seja, terão sido propriedade dos senhores da Casa da Silva, que assim lhes deram o nome. Não sabemos como nem quando essas quintas nasceram. D. Luís não dá pormenores, dizendo apenas que são “fundações dos mais antigos senhores desta Casa”. A verdade é que conhecemos, de facto, outras quintas e propriedades com esse nome e que pertenceram à família Silva: a Quinta da Silva que em 1540 possuía D. Baltasar Sequeiros Sottomaior, a freguesia de Silva escura no bispado do Porto, a Quinta da Silva, perto de Barcelos, que possuía Aires Gomes da Silva e donde nascerá o Seminário da Silva. A linhagem de D. Maria da Silva Lima, primeira morgada da Quinta da Silva, em S. Julião do Calendário A primeira morgada da Quinta da Silva, D. Maria da Silva Lima entronca-se no ramo dos Silvas, senhores de Vagos. Gonçalo Gomes da Silva foi filho do segundo casamento de João Gomes da Silva, o Velho. Foi Gonçalo Gomes da Silva casado com Leonor Gonçalves e dela teve vários filhos. O filho primogénito, João Gomes da Silva, foi o primeiro senhor de Vagos, lugar que recebeu por doação e serviu a D. João I como copeiro-mor e alferes-mor. Casou com D. Margarida Coelho e deste matrimónio 396 Adélio TORRES NEIVA nasceu um filho varão Aires Gomes da Silva; uma das suas filhas Teresa da Silva, viria a casar com Fernando Anes, dos Limas, abrindo assim o ramo, donde proviria a Morgada da Quinta da Silva, em S. Julião do Calendário. Também a origem dos Limas se situa na Galiza, precisamente nas margens do rio Lima. Viviam nos reinos de Galiza, Leão e Castela, tendo alguns membros da família, passado temporariamente para Portugal, uns em serviço militar, outros por terem casado aqui. Fernão Anes ou Fernand´Anes de Lima, casou com D. Teresa da Silva, a quem chamaram a “Boa” e foi dama da Rainha D. Filipa de Lencastre. Por causa deste casamento, segundo Frei António Brandão, em memória de Teresa da Silva, os Limas aquartelaram ao escudo das suas armas o leão dos Silvas. Deste casamento nasceram dois filhos: Álvaro Rodrigues de Lima, que sucedeu pouco tempo na casa de seu pai, pois morreu novo e Leonel de Lima que o substituiu e que seria o bisavô de D. Maria da Silva Lima. Leonel de Lima casou com D. Filipa da Cunha, criada de D. João I. Segundo um documento de 25 de Setembro de 1450 teria comprado a Diogo da Silva a Quinta da Silva, no termo de Valença. Por ordem de D. Afonso V, Leonel da Silva levantou o castelo de Ponte do Lima que o rei lhe doará assim como Vila Nova de Cerveira, de quem foi feito visconde, sendo assim o primeiro visconde de Portugal e o único durante mais de meio século. O filho de Leonel de Lima, Fernão de Lima, foi copeiro-mor de D. João II e capitão de Guimarães. Uma das filhas de Fernão de Lima foi D. Maria da Silva que casou com Francisco Lopes, tendo nascido deste casamento Margarida Lima. Margarida Lima casou com Rui Mendes de Mesquita, que foi à Índia como capitão de uma nau. Rui Mendes de Mesquita e D. Margarida Lima tiveram como filha Maria da Silva Lima, que casou com António de Sousa Alcoforado e a quem sua mãe deu como dote de casamento a Quinta da Silva, em S. Julião do Calendário, perto de Barcelos. A Casa dos Alcoforados “Estou ainda em dúvida quanto ao local da Torre dos Alcoforados. Existem documentos que falam da Torre dos Alcoforados em Frazão; outros, da Torre dos Alcoforados, em Lordelo. O que inculca que havia duas Torres com esta denominação. Entretanto, por outro lado, parece que a Torre de Lordelo é que era o Solar dos Alcoforados. E consta que o primeiro que usara o apelido Alcoforado fora Pero Martins Alcoforado, que viveu no Reinado do Sr. D. Afonso II, entre os anos de 1210 e 1220”339 339 Carta de Manuel Vidal, arquivista da Casa da Silva, a Francisco de Sousa Alcoforado, de 5 de Outubro de 1851. Arquivo da Casa da Silva (ACS) A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva 397 Na origem do Morgado da Quinta da Silva, em S. Julião do Calendário, estão duas famílias: a família Silva, a quem a Quinta pertencia e a família Alcoforado a quem pertencia António de Sousa Alcoforado que casou com D. Maria da Silva Lima. Vimos já a linhagem dos Silvas; vamos agora dar alguns traços do perfil dos Alcoforados. Como acontece com a Casa da Silva, também as origens dos Alcoforados não são fáceis de precisar. De resto, elas devem-se situar numa fronteira histórica e cultural muito próxima da dos Silvas. O Conde D. Pedro faz remontar a origem dos Alcoforados a Mendo Gomes ou Gomes Mendes, cavaleiro descendente dos reis godos, que vivia com outros cristãos em Toledo, quando o rei D. Afonso de Castela investiu contra os mouros em 1085. Por testamento de 27 de Junho de 1562, D. Maria Rangel instituiu o Morgado, Capela e Vínculo de Ferreira, com os seus foros e propriedades a ela pertencentes. Nomeou seu primeiro administrador seu filho António de Sousa Alcoforado. A Francisco de Sousa Alcoforado sucedeu seu filho António de Sousa Alcoforado, que lhe herdou a casa e a Quinta dos Alcoforados, agora vinculada por sua mãe, que faleceu em 1569, sendo sepultada na mesma capela onde foi sepultado o seu marido, na Sé do Porto. António de Sousa Alcoforado foi servir para a África no tempo de D. João III que o agraciou com a Comenda de S. Pedro de Merelim e o tomou por seu moço fidalgo. António de Sousa Alcoforado casou em 1556 com D. Maria da Silva Lima, filha de Rui Mendes Mesquita, senhor do morgado de Outiz e da Quinta da Silva, em S. Julião do Calendário, no termo de Barcelos e de sua mulher D. Margarida de Lima da Silva, cuja linhagem entroncava nos senhores de Vagos, da Casa da Silva. Dois filhos e António de Sousa Alcoforado morreriam na Índia: Francisco de Sousa e Rui Mendes de Sousa. O brasão do solar dos Alcoforados, na freguesia de Salvador de Lordelo, tem um escudo esquartelado de prata (branco) e azul de sete peças em faixa e por timbre uma águia azul voante armada e enxequetada da banda direita, a metade a prata. A Quinta da Silva, na freguesia de S. Julião do Calendário Pinho Leal, referindo-se à vinda de D. Guterre Alderte da Silva para Portugal e ao seu estabelecimento na Torre e Quinta do Cerdal, perto de Valença, acrescenta que “esta família teve depois uma grande casa em S. Julião do Calendário, próximo da vila de Barcelos, mas o seu principal solar foi nesta Torre da Silva e no Cerdal”.340 Pinho Leal não nos diz porém, quando e por que vias, a casa de S. Julião do Calendário entrou na posse e nos anais da Casa da Silva. 340 LEAL, Pinho Portugal Antigo e Moderno Vol. IX P. 305 398 Adélio TORRES NEIVA D. Luís de Salasar y Castro que, através do seu livro sobre a História genealógica da Casa da Silva, por várias vezes se refere a terras e domínios relacionados com a Casa da Silva, sobre esta Quinta, perto de Barcelos, tem apenas duas breves referências e mesmo aí é muito vago sobre as suas origens. Nelas dá a entender que foi fundada pelos senhores da Casa (“tinha este nome por ser fundada pelos senhores da Casa”) e que Aires Gomes da Silva, o Velho, possuía esta Quinta. A alusão não é lá muito convincente: D. Pedro doou a Aires Gomes da Silva a Quinta da Silva, mas era a de Riba Minho. A ter por verídica a afirmação de Luís de Salasar y Castro, a Quinta da Silva, perto de Barcelos, se não remontava às origens da Casa da Silva, pelo menos era já propriedade sua nos meados do século XIV, que foi a época em que Aires Gomes viveu. As propriedades da Casa da Silva estendiam-se por uma área muito vasta e por isso nada repugna a aquisição desta Quinta pela família. Se D. Guterre Alderete se estabeleceu sobretudo na região do Alto Minho, seu filho D. Paio Guterres da Silva fixar-se-ia na região do Cávado, nomeadamente no circuito de Tibães e D. Maria Mendes da Silva, filha de D. Soeiro Mendes da Silva, o “Petit” tinha nomeadamente uma Quinta em Carapeços, que vendeu a seu filho Pero Coelho, em 1553, conhecida pelo nome de Quinta da Madureira. As relações da Casa da Silva com os Condes de Barcelos e outras famílias nobres de Entre Douro e Minho, eram indicação propícia à aquisição de terras naquelas paragens. De qualquer modo, faltam-nos elementos para uma certidão de nascimento desta Quinta da Silva, como parte integrante do património dos Silvas. A primeira referência precisa à Quinta da Silva aparece-nos numa nota acrescentada ao testamento de D. Brites da Silva, mulher de Gonçalo da Silva. Gonçalo da Silva e sua mulher viveram na primeira metade do século XVI. O testamento de D. Brites é de 15 de Outubro de 1535, tendo então já falecido o seu marido. Os dois viviam em Tomar, mas possuíam outras quintas, entre as quais uma “Dentro Douro e Minho”, no termo de Barcelos, de que ela fala no seu testamento e que devia ser a Quinta da Silva. No seu testamento, D. Brites deixa ordenado que se vendam “todas as quintas e casais e toda outra fazenda de raiz imóvel que se achar na hora da minha morte, entregue a quem mais der. E as outras quintas de então e minhas depois de andarem em pregão trinta dias dêem-se a quem mais der por elas”.341 De facto, a nota apensa ao testamento diz: “ Testamento de D. Brites, mulher de Gonçalo da Silva que deixou a hum sobrinho seu obrigação de vender a Quinta da Silva (com) Ruy Mendes de Mesquita por dous mil e tantos cruzados como consta do contrato de arrematação que se fez em Barcelos”. A Quinta da Silva foi, portanto, vendida por D. Brites, tendo-a arrematado Rui Mendes de Mesquita, de Guimarães, que estava casado com D. Margarida da Silva, outra descendente da linhagem dos Silvas. Quer dizer: em 1553, a Quinta da Silva era já propriedade dos Silvas e mudando de dono, dentro da família dos Silvas vai ficar. 341 ACs. Testamentos. Testamento de D. Brites da Silva de 15/6/1535 A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva 399 Mais tarde, D. Margarida da Silva, depois da morte do marido, doaria à sua filha esta mesma Quinta, como dote do seu casamento com Manuel de Sousa Alcoforado. A freguesia da Silva chamou-se primitivamente S. Julião do Calendário, depois S. Julião do Calendário de Neiva, S. Julião do Calendário de Tamel, mais tarde S. Julião do Calendário da Silva e finalmente S. Julião da Silva. Nas Inquirições de 1220 tem apenas a designação de “Sancto Juliano de Calendario”, de Terra de Neiva. Calendário era a reunião dos sacerdotes de uma região, na sede de uma freguesia, afim de tratar assuntos eclesiásticos. Chamava-se Calendário por, em geral, se fazer no primeiro dia de cada mês. A freguesia passou a chamar-se S. Julião da Silva, por influência da Quinta da Silva, aí pela segunda década do século XVIII. Em 1711, em documento datado de 27 de Junho, passado pelo tabelião de Barcelos, no qual António de Sousa da Silva pede uma forma pública do testamento do seu antepassado António de Sousa e sua mulher Maria da Silva, aparece ainda a freguesia de S. Julião do Calendário.342 Oito anos mais tarde, no testamento do mesmo António de Sousa da Silva, datado de 20 de Julho de 1719, aparece já S. Julião do Calendário da Silva.343 É a primeira vez que encontrei o nome de Silva a identificar a freguesia. Mas no codicilho desse mesmo testamento, com data de 29 de Julho de 1719, volta aparecer a freguesia de S. Julião do Calendário de Neiva, o que revela que a mudança do nome da freguesia, não estava ainda completamente assumida.344 Em 1724, na provisão pela qual o Cardeal D. Nuno da Cunha nomeia familiar do Santo Ofício da Inquisição, Francisco de Sousa Alcoforado, o nome de S. Julião da Silva, a identificar a freguesia, aparece já claramente adquirido.345 A instituição do Morgado da Quinta da Silva D. Margarida da Silva, viúva de Rui Mendes e Mesquita, como dote de casamento para sua filha Maria da Silva Lima com António de Sousa Alcoforado, doou-lhe por escritura de 12 de Junho de 1556346 os seguintes haveres: quatro mil cruzados, na Quinta da Silva; dinheiro contado, peças e vestidos. Seria a Quinta da Silva no que valesse e 500 reis em dinheiro e 500 reis em peças e vestuário. E se a Quinta da Silva valesse mais de 3 mil cruzados, o excedente se abateria no dinheiro contado e nas peças. Se valesse menos, se comporia diferença nas peças e dinheiro, soldo à livra. Entrava também no dote uma tença de 20 reis que a dotadora recebia de el-rei; e para o poder dotar, obteve ela a provisão de graça de Sua Alteza. 342 Ibid. Pedido de António de Sousa da Silva de 17/5/1711 ACs. Testamentos. Testamento de António de Sousa da Silva Ibid. Aprovação do testamento de António de Sousa 345 ACs. Provisão do Cardeal D. Nuno da Cunha de 1724 346 Ibid. escritura de dote de D. Margarida da Silva de 12 de Julho de 1556 343 344 400 Adélio TORRES NEIVA Como condição do dote, impunha D. Margarida da Silva à dotada e seu marido, a obrigação de instituírem Morgado. As arras prometidas foram de 500 reis. Na escritura do dote vinha ainda disposto o que se deveria fazer em caso de separação de matrimónio ou da falta de filhos. Estipulava-se que enquanto a dotadora não satisfizesse integralmente o dote, daria à dotada 20 reis anuais e para cumprimento desta obrigação ficava como fiador Fernão de Mesquita, filho da dotadora e irmão da dotada. A escritura foi celebrada em Guimarães. De notar, que não deixa de ser um pouco estranho que num acto tão solene como este, António de Sousa não tenha assinado com o seu apelido Alcoforado, mas simplesmente com o de Sousa. Em obediência a esta imposição de D. Margarida da Silva, António de Sousa Alcoforado e sua mulher, instituíram, pelo seu testamento de 1 de Janeiro de 1572347, o Morgado da Silva. A aprovação deste testamento é de 2 de Outubro de 1572. Determinavam os testadores que, falecendo qualquer deles, seria seu corpo sepultado na igreja da freguesia onde falecesse e que depois as ossadas seriam trasladadas para onde ordenasse a parte sobrevivente, de modo que quando o outro morresse, ambos ficassem enterrados na mesma sepultura. Declaravam neste testamento que, a quando do contrato do seu casamento, D. Margarida da Silva, sua mãe e sogra, estabelecera como condição de contrato que a legítima que sua filha Maria herdara por morte de seu pai, Rui Mendes Mesquita, assim como o restante dote, que ela D. Margarida lhe fizesse, seria vinculado em Morgado. Instituíam portanto, Morgado em toda a Quinta da Silva e suas pertenças e nos mil cruzados que também entraram na legítima, para que este dinheiro fosse empregado na compra de fazendas, as mais próximas da mesma Quinta. E anexavam ao dito Morgado as suas terças de alma e todos os mais bens de raíz que possuíam ou viessem a possuir e que directamente pudessem vir a ser vinculados. Neste testamento ficava também regulada a ordem de sucessão. Impunham aos sucessores a obrigação de usarem os apelidos Sousa e Silva, nunca antepondo o apelido de Silva ao de Sousa, sob pena de perderem o Morgado. E se acontecesse que algum sucessor viesse a herdar outro Morgado que tivesse como condição ser perdido no caso do sucessor não usar determinado apelido antes dos apelidos Sousa e Silva, neste caso especial poderia o mesmo sucessor adoptar em primeiro lugar o novo apelido antes de Sousa e Silva, para não perder tal Morgado, com a condição, porém de, logo depois do novo apelido, usarem o Sousa e Silva. O testamento previa ainda a hipótese de a geração se vir a extinguir: neste caso, o Morgado deveria ser dividido em duas partes iguais, ficando a pertencer cada meia parte ao parente mais chegado que houvesse dos pais deles testadores. Fundavam também o legado de duas missas semanais: uma, todas as sextasfeiras em memória das Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo; a outra, Sábado, em honra de Nossa Senhora. Estas missas deveriam ser celebradas, sendo 347 Ibid. Testamento de António de Sousa Alcoforado e sua mulher D. Maria da Silva de 1/1/1572 A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva 401 possível, na igreja em que seus corpos estivessem sepultados ou onde viessem a repousar os dos seus descendentes. Determinava-se ainda neste testamento que se fizesse tombo de todas as propriedades do Morgado, afim de se não perderem; proibiam os testadores que se emprazasse o assento da Quinta da Silva, assim cercado como estava. Recomendavam, além disso, que se não emprazassem também os campos do cavaleiro e do Sobrado, por serem necessários a quem estivesse na dita Quinta. Proibiam ainda a renovação do prazo da Quinta da Eira Vedra, sob pena de nulidade. Quanto aos demais bens do Morgado, determinavam que se poderiam apenas fazer prazos de vidas, mas não perpétuos. O testamento ordenava ainda algumas providências em benefício da filha dos testadores, Margarida, e determinava que o filho sucessor no Morgado vinculasse a legítima livre, que viesse a tocar-lhe. Impunham aos sucessores a obrigação de anexarem ao Morgado a metade das suas terças até que o mesmo Morgado viesse a render 500 reis. O testamento terminava dizendo que foi escrito pela própria mão dos testadores e que a testadora não assinara por impossibilidade de doença, pedindo a alguém que assinasse em seu nome. Este testamento foi feito em Guimarães, onde no momento os testadores residiam, vindo ser lançado nas notas do tabelião de Barcelos, Francisco Fernandes Pruão, no ano de 1714, sendo juiz de fora Manuel dos Reis Maciel. Sabemos que foi tresladado no Cartório dos Religiosos Capuchos da Franqueira, em cujo convento os testadores foram sepultados. O documento original conserva-se no Arquivo da Casa da Silva, mas está em muito mau estado de conservação. Algumas partes do documento são de leitura muito difícil, pois que o papel era fraco e por vezes a tinta passou de uma parte da folha para a outra e aqui e ali, faltam já pequenos pedaços de papel. Uma segunda cópia do testamento existente no Arquivo da Casa da Silva permite completar as falhas do primeiro. Este testamento tem apenso o documento da sua aprovação, datado de 2 de Outubro de 1573, em Guimarães, onde os dois testadores ao tempo residiam. Só algum tempo mais tarde, é que passaram a residir na Quinta da Silva.348 Depois da morte de D. Maria da Silva, António de Sousa faria um segundo testamento e codicilho datado de 12 de Maio de 1589, em que depois de se referir ao testamento já feito por ele e por sua mulher e de aprovar tudo o que aí ficou decidido, institui de sua Terça um novo Morgado em favor de seu filho João de Sousa, determinando que, no caso deste falecer sem descendência, passaria este novo Morgado para seu filho-neto, filho de outro seu filho, Rui Mendes de Sousa, falecido na Índia. Na falta deste, passaria ao filho segundo de D. Margarida, filha dele testador, já falecida e não ao primogénito dela, que ficara sucessor dos Morgados de seu pai António Pamplona. António de Sousa 348 Ibid. Aprovação do testamento de António de Sousa da Silva 402 Adélio TORRES NEIVA sublinhava ainda que este novo Morgado que instituía de sua Terça, de nenhum modo deveria passar para seu filho primogénito, Fernão Martins de Sousa.349 No Arquivo da Casa da Silva conserva-se um parecer negativo do Dr. António Homem sobre a legitimidade deste segundo testamento, que, de qualquer modo, não põe em questão a instituição do Morgado da Silva.350 Na “Cronica da Santa Província de Nossa Senhora da Soledade da Observância do Seráfico Padre S. Francisco”, publicada em 1762 por Frei Francisco de Santiago, Barcelense, da Província da Conceição de Portugal e Cronista da Soledade, quando trata do convento do Bom Jesus do Monte da Franqueira, diz o seguinte: “No claustro do convento está a capela do Capítulo de que é padroeira a nobilíssima Casa da Silva, sita na freguesia de S. Julião no Vale do Tamel, da outra parte da vila de Barcelos. Nesta capela se vêm no tecto esculpidas as armas daquela ilustríssima Casa e um carneiro (sic) onde se sepultam os Senhores dela, com o letreiro seguinte, na tampa dele: “Aqui jaz António de Sousa e sua mulher D. Maria da Silva que faleceo no ano de 1573”.Estes dois casados foram os instituidores do Morgado e Casa dos Silvas, segundo consta do seu testamento e instituição que se acha no Arquivo do Convento que foi feito e instituído no mesmo ano de 1573, sendo eles moradores na vila de Guimarães e sendo duque da mesma vila o Condestável do Reino o Infante D. Duarte; filho do felicíssimo rei D. Manuel. O letreiro sobredito está alguma coisa confuso por falar no singular, mas é certo que ambos os consortes foram ali sepultados: ele se chamava António de Sousa Alcoforado e ela D. Maria da Silva e Lima; e era fidalgo da Casa Real e Comendador de S. Pedro de Merelim da Ordem de Cristo, e ela, era senhora nobilíssima, filha de Fernando de Mesquita, senhor do Morgado de Outre, que foi um dos mais valorosos portugueses que em serviço do Reino ostentou o seu esforço, bisneta de Leonel de Lima, primeiro visconde de Vila Nova de Cerveira e Quarta neta de D. Teresa Pereira, irmã inteira do grande condestável D. Nuno Alvares Pereira”. E depois de falar dos antepassados e descendentes de António de Sousa Alcoforado, Frei Francisco de Santiago, explica-nos as origens do padroado da dita capela: “O padroado da dita capela e jazigo foi dado no Capítulo Provincial que se celebrou no Convento de Santo António de Évora, no primeiro de Janeiro de 1590, por patente do novo Ministro Provincial Frei João de Évora, assinado por toda a Mesa da Definição e passada em 5 de Outubro do mesmo mês e ano ao sobredito António de Sousa Alcoforado, instituidor do Morgado da Silva, de cuja geração era D. Henrique de Sousa, último Comendatário do Beneditino Mosteiro de Rendufe, que no ano de 1563, nos tinha mudado o convento para onde hoje está”.351 349 350 351 Ibid. Segundo testamento de António de Sousa da Silva de 12/5/1589 Ibid. Consulta e parecer sobre o 2º testamento e codicilho de António de Sousa da Silva SANTIAGO, D. Frei Francisco de, Chronica da santa provincia de Nossa Senhora da Soledad da Observancia do Serafico P. S. Francisco, Livro IV Cap. VI p. 302. Sobre este convento do Bom Jesus do Monte da Franqueira ler: António de Sousa Araújo, A Provincia Franciscana da Soledad. Notícia sobre o Convento da Franqueira In Itinerarium Ano XXVIII nº 112113 Jan-Ag 1962 p. 75-121 A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva 403 A fundação da Capela de S. Bento em 1589 No último testamento de António de Sousa Silva de 12 de Maio de 1589, podemos ler: “E se em minha vida não fiz hua ermida na Quinta da Sillva farcea honde a tenho marquada he sera da invocação de São bento com saom Guoncallo de hua parte he saom Bras de houtra e a virgem sagrada em sima he sera bem acabada com seus ornamentos”. Diz António de Sousa, Comendador de São Pedro de Merlim e hora morador na sua Quinta da Silva junto da Villa de Barcellos q elle mandou fazer dentro do circuito da dita Quinta hua Irmida de Invocação do glorioso São Bento a qual tem sua vestimenta calix e os mais ornamentos necessários e para se fabricar pello tempo em diante lhe fez doação de hum casal que rende quarenta e quatro alqueires de pão meado e hum carneiro como consta dos Instrumentos de compra e doação q apresenta pello q Pede a V.Ill.ma lhe de licença paar se dizer missa na dita Ermida e Receber a Justiça e merce”.352 Este pedido dirigido ao Arcebispo de Braga, não está datado, mas no mesmo documento se encontra uma nota que diz: “ Ao nosso provisor a 23 de Março de 91”. Trata-se evidentemente de 1591. Uma segunda nota apensa ao texto ordena para que se “traga do cura que jure como esta a hermida decentemente ornada para nela se poder celebrar. P. Freitas”. Daqui se infere, portanto, que em 1591, a capela estava já construída e que só faltava a autorização do Prelado da diocese para nela se poder celebrar missa. A data exacta Capela de S. Bento da construção da capela é-nos fornecida por uma inscrição da época, na própria fachada da capela que diz: “António de Sousa Alcoforado. 1589”. Para a fábrica da capela, ou seja, para a sua manutenção e para as despesas de culto, António de Sousa “hipotecava, dava e doava hum casal que tinha na freguesia de Lijó, que era dízimo a Deus e que tivera por título de renda do dr. Gonçalo Fernandes, morador em Barcelos, o qual casal tinha de renda quarenta e quatro alqueires de pão meado e um carneiro, por ano”. Este casal tinha-o ele comprado a 9 de Abril de 1585 a Fernando Gonçalo Fernandes, procurador de sua mulher, D. Catarina Pinheiro, que era sua proprietária, por 85.000 reis. Este casal estava agora a cargo de Bernardo Marques e de um cunhado dele, de Lijó. O que restasse das 44 rasas e do carneiro, reverteria em favor do “herdeiro 352 ACS, Pasta dos Documentos sobre a Capela de S. Bento 404 Adélio TORRES NEIVA que o herdar”, o qual era obrigado a fabricar a capela de tudo o que ela tivesse necessidade”.354 Neste documento datado de 20 de Dezembro de 1590, se diz que já então António de Sousa “tinha na dita sua Quinta da Silva mandado fazer hua jrmida da envocação do bem aventurado São bento dentro no circuito della. E pegado com as casas da dita Quinta a qual tinha ordenado de mandar fabricar e ornamentar de todo o necessário pera o culto devino e dizerem missa nella”. A 16 de Julho do ano seguinte, 1591, comparecia o tabelião em Lijó, para dar posse do dito casal e suas pertenças a Gonçalo Afonso, vigário da freguesia de S. Julião do Calendário, onde se situava a nova capela, a quem era dado o casal. Por ordem do Arcebispo Primaz se procedeu às diligências do estilo para averiguar se a ermida estava convenientemente construída e ordenada com a “decência” exigida para nela se poder celebrar. A informação do vigário de S. Julião do Calendário é de 25 de Junho de 1591 e permite-nos fazer uma ideia do que era então a capela: “Certifico eu Gouoncallo Afonso vigair.º De Sam Giam de Callendairo De Neiva do termo da Villa de Barcellos que he verdade que nesta Tera Vive o senhor Antonio de Sousa alcoforado em a sua quintam da Silva, her verdade que elle tem feita hua hermyda junto a dita quintam agora de novo da qual hermyda esta acabada em (sic) bem feita e forrada por Dentro com suas portas E tem seu campanairo E hum sino muito bom E asi mais tem hum altar forrado e por ora não tem ajnda pinturas somente tem hum retabuolo de mam pequeno Da imagem de nosso Senhor he esta toda cajada por dentro E muito bem telhada E precintada De três en três (cales?) / E asi mais tem hum calix De prata dourado, co sua mesa de corporais E sanguinho já bentos. E asi hua com pintura nova de cores vermelhas com veludos verdes. / E asi hua alva pano de linho E hum cordom com hua estola E manipolo/ o qual não he bento. / E asi tem suas galhetas/ E asi mais tem suas toalhas francesas E seus castiçais/ E somente falta hua pedra dara para dizer misa nella/ E declaro que esta hermyda esta junto a dita quintam dentro em hum sarrado E pumar da dita quintam mui.to conjunto as casas. E porque tudo isso posa na verdade dou minha fee. E juro pellas ordens que tenho conforme o mandato do Senhor Nosso Vispo E que tudo pasa verdade E assinei aqui o meu sinal raso Oie vinte e sinquo dias do mês de junho de mil e quinhentos E noventa e hum annos. /E asi tem mais hum misal no Rito Romano ut supra. P. e Guonçaloo Afonso”.355 Em Outubro desse mesmo ano, o Pároco faz novo certificado, declarando que tinha tomado posse do casal doado à capela e que esta possuía já a pedra de ara que lhe faltava.356 Diante dos elementos fornecidos, o Provisor da diocese P. Freitas, achou o dote suficiente para a conservação da ermida e assim reunidas todas as condições para ser passada licença para nela se poder celebrar missa. Esta foi finalmente concedida por provisão do Arcebispo de Braga, D. Frei Agostinho de Jesus, aos 354 355 356 Ibid. 20/12/1590 Ibid. Ibid. A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva 405 3 de Janeiro de 1592: “dom Frey Agostinho de Jesus por mercê de Ds e da Santa see ApP. ca Arceb.po e se.nnor de Braga primas das espanhas, etc. pella presente damos licença que se posa dizer misa na Irmida que ora de novo fiz na quinta da Sylva António de Sousa comendador de São Pedro de merelim que he da invocação do glorioso Sam Bento e isto por nos constar star decentemente ornada e fabricada dada em adita nosa cidade de Braga sob nosso sello e sinal do muyto R.do doutro Estácio Leitão Pinheiro de Janeiro de mil e quinhentos noventa e dous annos. Galhan Lopes Proença escrivão da camara a sobscreveu. Estacio Leitão Pinheiro. Sebastiam Gill.357 Esta pequena capela de S. Bento é a única relíquia que nos resta das construções do primitivo solar da Quinta da Silva. Por dentro tem um rico altar em talha renascença; o tecto é de madeira. A sua fachada renascença é encimada por uma sineira, por baixo da qual ostenta um brasão de armas, com a data de 1636. O material deste escudo é de granito. Em 1636 era senhor da Casa da Silva Francisco de Sousa da Silva Alcoforado, neto do fundador do Morgado António de Sousa da Silva. O escudo das armas é de composição esquartelada; a classificação é de heráldica de família. A leitura é a seguinte: I e IV é dos Sousas de Arronches; o II e III é dos Silvas. Mas a ordem dos quartéis está alterada: no I e no IV uma caderna de crescentes; no II e III, cinco escudetes que deviam estar postos em cruz (sem os besantes). Sem a bordadura com os castelos e sem o filete em contrabanda, no II e III. O II e III (Silva) é um leão. O timbre é Silva (um leão na pedra de armas passante). Sobre a porta há uma inscrição que diz: ANT.º de (geminado) SOVSA (O V incluso no O) ALCOFORADO (o O incluso no C e o O incluso no D).(Osório da Nóbrega. Pedras de armas e Armas Tumulares no Distrito de Braga. Vol.V Cidade de Barcelos e freguesias rurais do seu concelho. Tit. 21. Pg. 180) A capela não foi construída para ser jazigo de família; António de Sousa tinha a sua capela tumular no convento do Bom Jesus da Franqueira: seria aí que ele e sua esposa seriam sepultados. Mas no pavimento da capela encontra-se uma sepultura rasa, em cuja tampa de granito se lê: FRANCISCO DE SOUSA DA SILVA ALCOFORADO DE LANCASTRE. NASCEU A 27 DE FEVEREIRO DE 1797 E FALECEU A 12 DE MAIO DE 1870. Sabemos, de facto, pelo seu testamento, que este senhor da Silva, marido de D. Henriqueta da Silva Alcoforado d´Almada e Lencastre, últimos morgados da Silva, escolheu esta capelinha de S. Bento para seu túmulo. Os Morgados da Silva Segundo o exigia a instituição do Morgado da Silva, António de Sousa 357 Ibid. 406 Adélio TORRES NEIVA Alcoforado e seus sucessores, deixaram de usar o apelido Alcoforado para tomar o de Silva, a seguir ao de Sousa. Em 1719, porém, o apelido Alcoforado aparecerá de novo, a seguir ao de Silva, retomado por Francisco de Sousa Alcoforado, filho de António de Sousa da Silva. E a partir daí, outros apelidos viriam também a figurar nos nomes dos senhores da Silva. A António de Sousa Alcoforado, instituidor do Morgado da Silva, sucedeu seu filho Francisco de Sousa, que faleceria na Índia, sem ter chegado a casar e, portanto, sem descendência que assumisse a sucessão. Rui Mendes de Sousa, seu irmão, que o viria substituir no comando dos destinos da Casa da Silva, naufragou na viagem de regresso, também da Índia. A sucessão vai prosseguir com outro filho de António de Sousa Alcoforado, Fernão Martins de Sousa, que serviu também na Índia muitos anos, chegando a ser capitão de armada e capitão-mor de Chaul, tendo recebido até a comenda de S. Pedro de Merelim, na forma em que a possuíam os seus antepassados. Casou com D. Antónia de Sousa, sua prima, filha de António de Sousa Alcoforado e D. Isabel Madureira. D. Maria Henriqueta de Sousa da Silva Alcoforado d´Almada e Lencastre a última Morgado da Silva, a herdeira de seu pai, casou com o seu primo Francisco de Sousa da Silva Alcoforado de Lencastre Araújo Eça. Ao património da Casa da Silva pertencia também a Quinta chamada do Assento, no lugar da Igreja. Como a Quinta da Madureira, também a Quinta do Assento era de directa senhoria da capela de nossa Senhora da Glória, fundada por D. Gonçalo Pereira, na Sé de Braga. Estava ela emprazada a D. Henriqueta, prazo que viria a passar para seu filho D. Francisco.358 Em 1861 inicia Francisco de Sousa da Silva Alcoforado de Lencastre Araújo e Eça e sua mulher, um processo pedindo a desvinculação do Morgado da Silva, por falta de rendimento legal, segundo o artigo 38 da Lei de 30 de Julho de 1860. Por sentença de 12 de Julho de 1862, o vínculo do Morgado da Silva era anulado, sendo assim D. Henriqueta a última morgada. Francisco de Sousa da Silva Alcoforado de Lencastre, no seu testamento de 12 de Outubro de 1861 determina que o seu corpo seja sepultado na capela da Casa da Silva, desejo que foi executado depois da sua morte, acontecida a 12 de Maio de 1870.359 É o único dos senhores da Silva que repousa na capelinha de S. Bento D. Francisco e sua mulher tiveram dez filhos. À hora da sua morte, D. Henriqueta tinha apenas três filhos: D. Maria Margarida Isabel de Sousa, Gonçalo de Sousa da Silva Alcoforado, D. Maria Antónia de Sousa Alcoforado; os outros tinham falecido. Por escritura de 25 de Abril de 1887, D. Henriqueta doara às suas duas filhas Maria Francisca e Maria Antónia, reservando o usufruto, valiosos e vários prédios e domínios de prazo; entre eles a sua casa nobre e Quinta da Silva, com todas as suas pertenças. D. Maria Henriqueta, faleceu a 11 de Junho de 1887. D. Maria Antónia de Sousa Alcoforado casou com Sebastião do Sacramento 358 359 Ibid. Contrato de arrendamento entre Domingos da Costa Villas Boas e sua mulher D. Maria Henriqueta da Silva Alcoforado Ibid. Testamentos, testamento de francisco da Silva Alcofoardo de 12/10/1861 A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva 407 Leme Guedes Vieira de Macedo, moço fidalgo com exercício no Paço, senhor da Casa do Ribeiro em Marco de Canaveses ou Morgado de Vale do Couto em Mesão Frio. O casamento de D. Antónia realizou-se na Casa da Silva a 10 de Fevereiro de 1862. O pai do noivo doou-lhe e nomeou-lhe “todos os seus bens de raiz de vínculo, prazo e quaisquer outros e seus terços” e os pais da noiva doaram a esta, os terços do pai e o meio terço da mãe e uma Quinta. Mais tarde, pretensos herdeiros levantariam um processo de anulação de casamento, por suposta incapacidade do noivo. Por escritura de 21 de Setembro de 1908, D. Maria Francisca de Sousa Alcoforado comprou a Emídio do Vale Leite de Carvalho a Quinta da Pena Longa, em Santa Leocádia de Tamel, constituída por “ uma morada de casas torres com seus cómodos, cozinha, sala, varanda, corte, coberto, eira de casco, espigueiro, lagar e junto terreno de lavradio e de mato, com árvores avidadas e de fruta, oliveiras, pinheiros e carvalhos, tudo aos socalcos e com água de lima e de rega, vedada por muros”, o campo de Leirós, a Coutada das Matas, o Souto, junto do Moinho do Meio, dois pedaços de mato, duas Tomadias, a bouça do Parrido, duas boucinhas e um eirado, além de uma série de foros e laudemios, por cinco contos de reis, sendo quatro pelos prédios e um pelos foros”.360 O marido de D. Antónia faleceu a 11 de Novembro de 1912, não tendo deixado filhos e legando por testamento de 7 de Janeiro de 1894 toda a sua herança à sua mulher. A 16 de Agosto de 1920 falecia D. Francisca, então também já viúva e sem filhos. No seu testamento, feito na Casa da Silva, a 6 de Junho de 1920, instituiu por sua universal herdeira a sua irmã D. Antónia, com algumas obrigações. Aí se fala de uma sobrinha ainda viva, Maria das Neves de Sousa Alcoforado, a quem D. Francisca deixa quatro mil escudos; à sua criada Laurinda Alves da Costa deixa o usufruto da casa que possuía junto à igreja, na freguesia da Silva; à criada Florinda Teixeira deixa o usufruto do eirado, que tinha junto do rio; ao seu compadre Sebastião Pereira Brito deixa a Quinta de Santa Maria do Abade; etc. A Casa da Silva, por força deste testamento, passou assim para a única e última sobrevivente da família, D. Maria Antónia de Sousa da Silva Alcoforado; além dela, restava apenas a sobrinha Maria das Neves de Sousa da Silva Alcoforado, única filha de Gonçalo de Sousa da Silva Alcoforado. Por testamento de 08 de Agosto de 1924, D. Antónia institui por seu universal herdeiro o então provincial da Congregação do Espírito Santo, o P. Moisés Alves de Pinho (ACs. Testamento de D. Maria Antónia de Sousa da Silva Alcoforado de 8 de Agosto de 1924). Em testamento anterior elaborado a 01 de Julho de 1922, D. Maria Antónia, explica a finalidade desta deixa: “ Perpetuar a memória dos senhores da Casa da Silva, servindo-se deste solar para a formação de missionários, clérigos ou leigos, ou de sacerdotes que se destinam a outros ministérios mais humildes e penosos, nunca desviando-o do fim que tenho em vista que é a honra e a glória de Deus e a salvação das almas”.361 360 361 Ibid. Venda e quitação de 21/9/1908 Ibid. Testamentos de D. Maria Antónia da Silva Alcoforado de 1/7/1922 408 Adélio TORRES NEIVA Brasões dos Morgados da Silva Encontram-se na Casa da Silva três pedras de armas, que foram recolhidas do antigo solar, com brasões diferentes; uma, no frontespício da capela de S. Bento, datada de 1636, com quartéis dos Sousas de Arronches e dos Silvas, que deve ter pertencido a Francisco de Sousa da Silva Alcoforado, que foi senhor da Silva nessa data e que era neto do fundador do Morgado, António de Sousa Alcoforado. À leitura deste brasão se fez já referência ao falar da capela de S. Bento. Um outro escudo de armas, que antigamente se encontrava no muro da entrada e que depois da demolição do solar em 1961, passou para o parque de acesso à nova casa, é do século XVIII e tem quartéis dos Alcoforados, dos Sousas de Arronches e dos Silvas. O material das armas é de granito e a classificação é de heráldica de família. É escudo francês, assente numa cartela decorativa. Coronel de nobreza. A composição do escudo é esquartelada. A leitura deste brasão é a seguinte: I. Alcoforado (assim: xadrezado de sete peças em faixa e sete em pala. Os armoriais em Alcoforado não são concordes quanto ao número de peças de axadrezado: 6 em faixa e 7 em pala; 7 em faixa, não se indicando quantos em pala. II e III – Sousa de Arronches (com a ordem dos quartéis alterada; esquartelado, tendo no I e no IV uma caderna de crescentes e no II e III cinco escudetes postos em cruz (sem os besantes), sem a bordadura com os castelos e sem o filete em contrabanda, no II e no III. IV – Silva – um leão.362 O timbre é alcoforado: uma águia com o peito axadrezado. Um terceiro brasão, que se encontrava outrora no fontenário do jardim da entrada e que, com a demolição do solar passou também para o parque da entrada, remonta também ao século XVIII e tem as armas dos Araujos e dos Eças, família a que pertencia Francisco de Sousa da Silva Alcoforado de Lencastre Araújo e Eça. Este Francisco é o mesmo que está sepultado na capela do solar e que foi o último morgado da Silva. Trata-se de um escudo também de heráldica de família, de granito como os outros dois. Está assente numa cartela decorativa; a composição é esquartelada. A leitura é a seguinte: I e IV – Araújo (aspa carregada de cinco besantes e as armas dos Araújos (no I e no IV) estão reunidas com as dos Eças); II e III – Eça, cinco escudetes postos em cruz, os dos flancos apontados ao do centro, cada escudete carregado de nove basantes, 3,3 e 3 e um cordão de S. Francisco, com seus nós, passado em aspa e posto em orla, brocante sobre os escudetes, salvo o do centro.363 Os Tombos das propriedades da Casa da Silva No seu testamento de 1573, em que António de Sousa e sua mulher D. Maria da Silva instituíam o Morgado da Quinta da Silva, uma das ordens dos 362 363 NÓBREGA, Vaz Osório. Pedras e armas tumulares do Distrito de Braga Vol. I. Titulo 22 p. 182 Ibid, Titi, 23 p. 185 A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva 409 fundadores era que se fizesse “tombo de todas as erdades deste Morgado para que a todo o sempre se saiba quais são e se não percão”.364 Creio que este tombo pedido por António de Sousa não foi levado a cabo, pelo menos não consta no Arquivo da Casa da Silva, a não ser em 1653, pelo herdeiro da Casa nesta data, Fernão de Sousa da Silva. Deve ser este o primeiro tombo das propriedades do Morgado da Silva; só nesta altura, portanto, é que temos um elenco exaustivo dos teres e haveres deste Morgado, que eram realmente avantajados. O pedido de provisão deste tombo foi feito por Fernando de Sousa da Silva ao rei D. Pedro a 3 de Dezembro de 1652365 e a provisão do rei foi passada a 7 de Janeiro de 1653.366 Segundo este tombo o Morgado da Silva possuía, além da Quinta da Silva, numerosas outras propriedades na freguesia de S. Julião, hoje Silva, em Vila Cova, Vila Chã, a Quinta da Ferreira dos Alcoforados em S. Salvador de Lordelo, em Carapeços, Freixomil, S. Salvador do Campo, S. Fins de Tamel, Guinzo, S. Pedro de Alvito, Santa Maria de Abade, S. Martinho de Vila Frescainha, Vilar do Monte, S. João de Vila Boa, Santa Leocádia de Tamel, Perelhal, Mondim, Panque, S. Mamede de Marrancos, Galegos, Fonte Boa, Roriz, S. Jorge de Airó, Alheiras, S. Mamede de Escaris, Lijó, Cervães, S. Bartolomeu do Mar, Belinho, Marinhas e Vagos.367 Só na freguesia de S. Julião do Calendário as herdades emprazadas eram 160, distribuídas por 14 caseiros ou colonos; nelas se incluíam cinco casais com suas cercas e eirados. As rendas que o Morgado da Silva recebia subiam a 304 rasas ou alqueires entre pão meado, terçado, milho e centeio bem como galinhas, molhos de palha painça, manteiga, etc.368 Um segundo tombo, foi o de Francisco de Sousa da Silva, de 1 de Janeiro de 1685, de que existe também uma cópia no Arquivo da Silva, mas com algumas imprecisões e que não deve estar completo. Contém as propriedades da Casa da Silva nas freguesias de Santa Maria de Abade, S. Julião do Calendário, Lijó, S. Fins, Santa Maria de Anães, Calvelo, Carapeços, S. Tiago do Couto, S. Salvador do Campo, Roriz, Igreja Nova, S. Mamede de Escariz, Arcozelo de Albergaria, S. Mamede de Marrancos e Santa Marinha de Forjães. O terceiro tombo é de Francisco de Sousa da Silva Alcoforado que em 1721 pedia ao rei D. João alvará para fazer um novo tombo devido a “muitas propriedades se irem perdendo por não terem tombo há muitos anos e de, por falta de demarcações muitas se acharem alheadas e usurpadas em várias partes e pessoas, com quem demarcam e confrontam e em breve tempo padeceriam grandes detrimentos”.369 A provisão do rei é de 13 de Fevereiro de 1721.370 Este tombo é formado por dois grossos volumes, o primeiro dos quais contém 407 folhas e o segundo 346. No primeiro volume estão tombadas além das “terras que andam pela Caza e Quinta da Silva”, que portanto, não estavam emprazadas, os rendeiros das freguesias de S. Julião da Silva, Carapeços, Lijó, 364 Ibid. Testamento de António de Sousa Alacoforado e sua mulher D. Maria da Silva Ibid. Tombo do Morgado da Quinta da Silva Fls. 1 Ibid. Fl 1 –IV 367 Ibid. 368 Ibid. Ls 39-52 369 Ibid. Tombo de todos os foros e propriedades pertencentes à Casa e Morgado da Silva I Vol. fls. 2 370 Ibid. Fls. I-IV 365 366 410 Adélio TORRES NEIVA Santa Maria de Abade, Santa Leocádia, S. Fins de Tamel, S. Salvador do Campo, Roriz e várias outras terras em Vilar do Monte, S. Tiago do Couto, S. Pedro Alvito, Quirás, Santa Maria de Galegos e Vila Boa. O segundo volume371 tomba os caseiros das Marinhas, Belinho, Fonte Boa, Creixomil, Vila Chã, Alheira, Vila Cova, Perelhal, Parada de Gatim, Mingo, Igreja Nova, e outras localidades como Barcelos, Escaris, Cervães, Freiris, Forjães, Palme, Mondim, Panque, Barca do Lago. Se fizermos uma leitura comparativa entre o Tombo Velho (o de 1653) e o Novo (o de 1721) podemos destacar algumas linhas evolutivas. A primeira constatação é a mudança do nome da freguesia de S. Julião. Enquanto no tomo de 1653, ela aparece com o nome de S. Julião do Calendário, S. Julião do Calendário de Neiva ou S. Julião de Neiva, agora aparece com o nome de S. Julião da Silva. A mudança de nome deve portanto ter-se efectuado no espaço de tempo que medeia entre os dois tombos. Um segundo elemento emergente desta leitura é a ausência do morgado dos Alcoforados em S. Salvador de Lordelo no tombo de 1721, enquanto no de 1653 a descrição dos seus bens é minuciosamente referida. O mesmo acontece com as marinhas de Vagos que deixaram de constar no tombo de 1721. O Tombo de 1721 é indiscutivelmente mais cuidado e todos os títulos mais perfeitos que o seu anterior. Eu diria que é uma obra prima de documentação arquivística. É um livro de extraordinário valor histórico, sobretudo pela sua forma jurídica. Em geral, as freguesias constantes do primeiro tombo estão também presentes no segundo. Há algumas pequenas diferenças: por exemplo, Belinho desaparece no segundo tombo, enquanto Forjães e Palme não constam do primeiro. A constatação geral é de que a tendência do Morgado da Silva era para se consolidar e até aumentar tanto no que se refere a caseiros e bens, como ao rendimento das pensões. Há ainda o “Rol das medidas, foros e pensões da Casa da Silva, Madureira e Assento” de 1817372 que nos dá uma ideia dos rendimentos destas quintas. A soma total destas três quintas perfazia 5.529 medidas de pão (milho alvo, meado, milho grosso, cevada e centeio), 70 rasas de trigo, 2.366,5 copas de palha, 181,5 galinhas, 25 frangos, 31 quartilhos de manteiga, 30 arráteis de marrão, 2 carneiros e três quartos, 6 quartilhos de mostarda, 2 colmeiros e 57.632 reis em dinheiro. As terras da beira-mar pagavam sobretudo em trigo e cevada, enquanto as do interior o faziam em milho e centeio. A Casa da Silva possuía celeiros para recolher estas pensões na Silva, na Madureira e no Porto. O regulamento destes três celeiros era o seguinte:373 1º O celeiro da Casa da Silva está aberto às segundas, terças e quartas-feiras de cada semana, desde as 8 da manhã até às duas da tarde; 371 372 373 Ibid. Tombo do segundo volume dos bens e propriedades pertencentes à casa e morgado da Silva Ibid. Rol exacto de todas as medidas, foros, pensoens, que se pagam à casa da Silva, Madureira e Assento Ibid. regulamento dos celeiros da Casa da Silva, Madureira e Assento A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva 411 2º O celeiro da Madureira está aberto às sextas-feiras, desde as 9 da manhã até à uma da tarde; 3º Os caseiros que deverem atrasados, não poderão medir a pensão sem primeiro liquidar as atrasadas; 4º As pensões recebem-se por inteiro conforme determinam os prazos ou o livro do recibo e nunca divididas – e por isso, a pessoa encarregada do recibo, deve perguntar se traz toda a pensão e se paga algum género a dinheiro; neste caso, recebe-se primeiro o dinheiro e depois mede-se o resto da pensão; 5º Não se guardam pensões dos caseiros nos celeiros, dizendo que volta no outro dia pagar e fazer contas; o encarregado do recibo deve ter em conta esta observação a cumprir fielmente, porque depois o caseiro não volta e fica a pensão por medir e o caseiro pode alegar que lhe tiraram algum género do saco, como já aconteceu. 6º Se algum caseiro quiser pagar a sua pensão em dinheiro ou toda ou parte, pagará por uma tabela que estará patente nos celeiros dos géneros. Os preços são iguais para todos e podem variar conforme o senhorio o determinar. 413 Capítulo 42 No Solar da Silva, nasce o Seminário das Missões O último testamento de D. Maria Antónia de Sousa da Silva Alcoforado, de 8 de Agosto de 1924, em que nomeia seu universal herdeiro o P. Moisés Alves de Pinho, então provincial dos Missionários do Espírito Santo, não explicita os motivos desta opção da última senhora da Casa da Silva. Mas, num testamento anterior, elaborado a 1 de Julho de 1922 e aberto por ela para verificação de algumas disposições a 3 de Abril de 1924, esses motivos são explanados demoradamente: penso, portanto, que a leitura do primeiro testamento é necessária para interpretar o segundo. De resto, há mudanças substanciais entre um e outro e é interessante tê-las presentes para compreender a evolução que se deve ter dado no espírito e nas intenções de D. Maria Antónia. O 1º testamento Do primeiro testamento retirei alguns elementos mais sugestivos para o tema deste capítulo. D. Antónia começa por dispor que “onde quer que eu faleça, desejo que me vistam com o hábito de Nossa Senhora do Carmo, que me façam enterro pobre, sendo meu corpo depositado em caixão forrado a paninho preto e sem galões, levado por seis pobres para a Igreja e aí colocado sobre bancos e daí, depois do ofício fúnebre, transportado para o meu jazigo no cemitério da vila de Barcelos”. Mais à frente, D. Antónia insiste: “Da igreja serei transportada para o cemitério da vila de Barcelos, como seja possível, sempre sem pompas e com o menor dispêndio e, podendo ser, com o auxílio dos pobres”. No segundo testamento, D. Antónia disporá para seu corpo ser depositado, não no cemitério da vila de Barcelos, mas no cemitério da freguesia da Silva. Outras disposições dizem respeito directamente ao temporal: “Sou viúva, como disse, não tenho descendência, não tenho ascendentes nem irmãos vivos; nada me impede de dispor e faço-o com revogação completa dos anteriores testamentos, para que só este testamento valha e produza efeitos; tenho só uma sobrinha e mora em Viseu, salvo erro, é filha de Dona Maria das Neves de Souza da Silva Alcoforado; deixo-lhe a quantia de dez mil escudos (dez contos de reis) para ela ser usufrutuária enquanto viva com exclusão do marido, e a raiz ou propriedade dessa quantia deixo-a aos filhos dessa minha sobrinha nascidos e que ainda venham a nascer de seu legítimo matrimónio à face da Igreja Católica. Se 414 Adélio TORRES NEIVA porventura, esta minha sobrinha intentar anular este meu testamento ou impugnar o direito ao legado deixado no testamento de minha irmã Dona Maria Francisca perderá o direito ao legado que aqui lhe determino e instituo a favor dela e dos seus filhos. Deixo ao Padre Moysés Alves de Pinho, natural de Fiães, Vila da Feira, Aveiro, e simultaneamente ao padre Clemente Pereira da Silva, natural de Lourosa. Vila da Feira, Aveiro, o meu solar da Casa da Silva que se compõe da sua Casa Nobre, suas lojas e dispensas, Capela, casa de caseiros, cobertos e varandões, terrenos de lavradio, ramadas, mata de pinheiros e arvoredo, tudo fechado por muros e formando um só prédio; mais deixo os terrenos adjacentes a mesma Quinta, os campos do Rabudo, os Eirados de Mozelho, Bouça de Mozelho, tudo isto na freguesia da Silva e na de Santa Maria d’Abade a Tomadia do Monte do Meio, Bouças de Regueira de Vilar e Coutada do Monte. Todos estes bens ficam onerados com as obrigações perpétuas que os meus legatários Padre Moysés e Clemente escrupulosa e religiosamente cumpriram. Este legado é para perpetuar a memória dos Senhores da Casa da Silva, servindose deste Solar para a formação de Missionários, clérigos ou leigos ou de sacerdotes que se detinhem digo que se destinem a outros ministérios mais humildes e penosos, nunca desviando-o do fim que tenho em vista que é a honra e a glória de Deus e salvação das almas. Instituo esse legado com as obrigações e cláusulas seguintes: pagar todas as despesas inerentes ao meu funeral na forma a cima estabelecida; satisfazer o importe de todas as missas que acima refiro; além disso, todos os anos no dia do aniversário do meu falecimento celebrarão um oficio e missa em sufrágio da minha alma e dos meus antepassados e distribuirão nesse dia aos pobres em número de cincoenta, caldo e pão, rezando com os mesmos no fim na capela o terço sufragando a minha alma. Mais quero que cada sacerdote que ali seja educado celebre no primeiro ano da sua ordenação dez missas pela minha alma e dez pelas almas de todos os meus antepassados. Mais quero que todos os anos dêem ao Pároco da freguesia da Silva, estando sujeito ao seu Superior hierárquico, cinco carros de lenha grossa, isto é, que dê achas e seis carros de mato, as despesas de cortar sejam pagas pelo pároco onde os senhores da Silva indicarem. Mais quero que as despesas a fazer na Egreja Paroquial com a solemnidade do Triduo do Ss. Coração de Jesus fica a cargo desta Casa, fazendo-o sempre de harmonia com o Párocho, recebendo só os annuaes dos associados e as indicações do parocho para ocorrer ao brilhantismo desta solemnidade. Entregarão ao Párocho desta freguesia da Silva vinte alqueires de milho sendo dez para a associação da Cathequse e dez para a Congregação de Nossa Senhora. Darão ao alumno que mais se distinguir na Escola Official em applicação comportamento um fato, isto no fim do anno lectivo com a informação do professor; ao professor ou professora entregarão anualmente a quantia de vinte e cinco mil reis para papel e livros para os pobres, cobrando recibo indicando os contemplados. O fato acima instituído é annual. Darão ao Párocho da freguesia da Silva na ocasião do Natal, dez rasas de milho que elle distribuirá pêlos pobres annunciando-lhes previamente que têm de assistir a uma missa que será celebrada pelo Párocho ou sacerdote por elle indicado. No Solar da Silva, nasce o Seminário das Missões 415 Na occasião do Natal desejava que todos os sacerdotes que pernoitassem no solar celebrassem pela minha alma e de todos os meus antepassados”. Seguem-se depois algumas disposições relativas a obrigações com as criadas e outras pessoas, instituições religiosas e de beneficência. Nestas obrigações se incluía a quantia de vinte escudos a dar anualmente pelo Natal aos párocos da Silva, Lijó. S. Fins, Carapeços, Santa Leocádia e S. João de Vila Boa, para eles distribuirem pelos pobres das suas freguesias. Para ocorrer ao cumprimento dos vários legados que D. Antónia nomeia, deixava ainda aos mesmos Padres Moisés e Clemente vários outros prédios, entre os quais uma casa em Barcelos, no largo do Bom Jesus da Cruz, uma casa na cidade do Porto, na Avenida Rodrigues de Carvalho n°219, a Quinta de Entre os Rios, a Quinta de Lidrais e Loredo, a Quinta de Santa Marta de Penaguião, a Quinta de Lijó, etc. D. Antónia deixava ainda a Gaspar de Sousa Teixeira da Silva, a Quinta da Madureira, em Carapeços, a D. Maria dos Prazeres de Sousa Teixeira Alcoforado a Quinta do Assento na freguesia da Silva, a Sebastião Pereira de Brito, seu compadre e afilhado, a Quinta da Penha Longa “no empenho de concorrer para o grande fim de auxiliar a ordenação de bons padres que possam ser grandes luzeiros da Igreja, como tanto é mister”. Esta Quinta ficava onerada perpetuamente com a obrigação de todos os anos entregar à Santa Casa da Misericórdia 500 escudos anuais para custear as despesas com o Pavilhão dos tuberculosos; custear as despesas de um ou dois estudantes pobres do concelho de Barcelos, de preferência da freguesia da Silva, sobretudo se mostrarem inclinações para vida eclesiástica, etc.374 O 2º testamento Dois anos mais tarde, a 3 de Abril de 1924, D. Maria Antónia fazia novo testamento, este muito mais sucinto, deixando praticamente todos os seus bens de raiz ao P. Moisés Alves de Pinho, excepção feita à Quinta do Barreiro em Santa Maria de Abade do Neiva, que deixava, com todos os seus móveis e imóveis e todos os domínios directos, foros e censos pertencentes à sua casa. Diz o testamento: ‘A seis de Agosto de mil e novecentos e vinte e quatro, eu Maria Antónia de Souza da Silva Alcoforado, viúva de Sebastião do Santíssimo Sacramento Leme Guedes Vieira de Macedo, proprietária, natural da Vila de Barcelos, residindo na minha casa solar da Sylva, próximo de Barcelos e encontrando-me nesta data na mesma Casa, resolvi fazer o meu testamento. Encontro-me no pleno uso de todas as minhas faculdades e, livre de qualquer coacção, estando assim nas melhores condições para dispor da minha última vontade. Quanto ao espiritual, visto que sou Católica, Apostólica, Romana, quero que o 374 ACs. Testamento de D. Maria Antónia de Sousa da Silva Alcoforado de 1 de Junho de 1922 416 Adélio TORRES NEIVA meu enterro seja religioso, e se façam na Igreja Paroquial da Silva ofícios fúnebres pela minha alma, com o maior número possível de eclesiásticos; que o meu corpo seja conduzido ao Cemitério da Silva, por seis pobres dessa freguesia, que serão gratificados convenientemente; que o meu funeral seja pobre, sem eça nem armação, e sem convites; que se celebrem missas gerais pela minha alma no dia do meu enterro assim como nos dias terceiro, sétimo e Trigésimo; que nesses dias sejam distribuídas aos pobres da freguesia da Silva, Carapeços, Lijó e Santa Leocádia, à vontade do meu herdeiro: que dentro de um ano depois do meu falecimento ou quando muito dentro de dois anos, se celebrem as seguintes missas: mil por minha alma, quinhentas por alma do meu marido, duzentas pêlos meus pais, duzentas pela minha irmã Maria Francisca, cem pêlos meus avós, cem pêlos meus irmãos, cem pêlos meus sogros, cem pêlos meus cunhados, vinte pelas minhas criadas Narcisa, Teresa, Rosa e Ana; cinco pelo meu compadre Francisco Pereira de Brito, cincoenta pelo Reverendo Francisco Filipe Pereira Brito, cincoenta pelo senhor Francisco Xavier Viana, cincoenta pelo meu marido, vinte por meu tio Augusto de Souza, vinte pelo tio António Leme e cem pelas Almas do Purgatório. Quero que no aniversário do meu falecimento se faça permanentemente, se isso for possível, na minha Capela da Silva, um oficio com dez eclesiásticos, e por ocasião se dem esmolas aos pobres da Silva, Carapeços, Santa Leocádia, Lijó e Santa Maria de Abade do Neiva, à vontade do meu herdeiro, e que a reza anual pela minha alma e das pessoas da minha família se faça permanentemente, se for possível, na Igreja da Silva, gratificando-se por isso o reverendo Pároco. Quanto ao temporal, disponho o seguinte: Instituo meu universal herdeiro na raiz e no usofruto o Reverendo Moysés Alves de Pinho, natural de Fiães, Vila da Feira, Aveiro, e actualmente residente em Viana do Castelo. A este senhor ficam pertencendo todos os meus bens, de qualquer natureza que eles sejam, com as seguintes excepções: ao meu afilhado Sebastião Pereira de Brito fica, em raiz e usofruto, a minha Quinta do Barreiro, situada na freguesia de Santa Maria de Abade do Neiva, com todos os seus móveis e semoventes, e todos os domínios directos, foros e censos pertencentes à minha Casa. Ao dito meu herdeiro universal Reverendo Moysés Alves de Pinho imponho as obrigações seguintes: pagará todas as despesas do meu funeral e bens de alma; dará à minha sobrinha Maria das Neves de Sousa da Silva Alcoforado trinta mil escudos, por uma só vez; à minha prima Maria do Carmo de Sousa da Silva Alcoforado, todos os meses enquanto ela viver, cincoenta escudos; ao meu compadre Excelentíssimo Conselheiro Joaquim Gualberto de Sá Carneiro dez mil escudos por uma só vez; à minha afilhada Maria Beatriz de Sá Carneiro e à irmã desta, afilhada da minha saudosa irmã Maria Francisca, dois mil escudos a cada uma, por uma só vez. Ao solicitador João Baptista da Silva Correia, duzentos escudos por uma só vez; à minha afilhada Laura Alves da Costa deixo em usofruto a minha Casa e Quinta do Assento, situada na freguesia da Silva, e lenha para seu gasto e mato bastante para adubo da referida Quinta e do eirado que ela já possui na estrada de Ponte do Lima; à minha criada Florinda, se estiver ao meu serviço à data do meu falecimento, o Eirado do Rio, no lugar de Fonte de Calvos, na freguesia da Silva, No Solar da Silva, nasce o Seminário das Missões 417 em raiz e usofruto, e o campo do Ameal só em usofruto; é também na freguesia da Silva e foi comprado aos Sepúlvedas. Também quero que se lhe dê todos os anos lenha para o seu gasto de casa e mato para as duas propriedades. Na falta deste herdeiro ficará toda a minha herança, com as mesmas excepções e as mesmas obrigações, ao Reverendo Padre Clemente Pereira da Silva, natural de Lourosa, Vila da Feira, Aveiro, e actualmente residente em Braga, na Rua Visconde de Pindela. Quero que o meu testamenteiro seja o meu afilhado Sebastião Pereira de Brito, a quem imponho o encargo de satisfazer ao meu herdeiro a quantia correspondente a dois terços da contribuição de registo que a este for liquidada. É esta a minha última vontade, que espero seja religiosamente cumprida. Este testamento revoga qualquer outro que eu tenha feito até hoje e foi escrito pela minha própria mão (seguem-se algumas ressalvas). Casa da Silva, oito de Agosto de mil novecentos e vinte e quatro, Maria Antónia de Souza da Sylva Alcoforado”.375 Segue-se o auto de aprovação do testamento, feito pelo notário de Barcelos, A. Matos Lopes de Almeida a 29 de Agosto de 1924. Na decisão de D. Maria Antónia de deixar os seus bens para uma obra destinada à formação de missionários, influiu sem dúvida, o seu director espiritual e pároco da Silva, o P. António Joaquim Lopes Júnior, grande amigo dos Missionários do Espírito Santo. D. Maria Antónia Em 1934, por contrato de arrendamento de 22 de Outubro, o Solar da Silva, com o seu jardim, mata e pomar, era arrendado por um ano ao P. Joaquim Alves Correia, procurador dos Missionários do Espírito Santo, ficando D. Maria Antónia e o pessoal de serviço, por força do mesmo contrato, a morar na mesma casa.376 P. António Joaquim L. Junior D. Maria Antónia de Sousa da Silva Alcoforado faleceu a 16 de Dezembro de 1935, com 92 anos de idade; dois anos depois, em 10 de Outubro de 1937, no velho Solar dos Senhores da Silva, começava a funcionar um seminário para a formação de missionários da Congregação do Espírito Santo. A herança deixada a D. Moisés Alves de Pinho Por escritura de 27 de Novembro de 1947, o herdeiro dos bens e da casa da Silva, D. Moisés Alves de Pinho, doava à Congregação do Espírito Santo, na pessoa do seu provincial P. José Pereira de Oliveira, os seguintes bens, herdados por testamento da Sra. D. Antónia Alacoforado: 375 376 ACs. Testamento de D. Maria de Sousa da Silva Alcoforado de 8 de Agosto de 1924 Contrato de arrendamento entre D. Maria Antónia da Silva Alcoforado e o P. Joaquim Alves Correia, de 22 de Outubro de 1934 418 Adélio TORRES NEIVA 1. A Quinta e Solar da Casa da Silva, com várias casas, torres e águas furtadas, capela, dependências para arrumações, galinheiros, logradouro junto, vários terrenos de lavradio; 2. O Eirado de Moselhe, composto de casas térreas e junto terrenos de lavradio, situados no lugar de Moselhe, freguesia da Silva; 3. Uma bouça de mato com pinheiros, situada no lugar de Moselhe, 4. Uma leira de lavradio no sítio de Casais; 5. Outra leira de lavradio no sítio da Agulha de Baixo ou Agrela; 6. A Quinta do Assento, com casa e terrenos de lavradio; 7. Outra propriedade denominada do Assento, composta de engenho de serração e moinho com duas pedras e junto terreno de lavradio; 8. Uma bouça de mato com pinheiros no lugar do Pinheiro, freguesia de Abade do Neiva; 9. Uma bouça de mato com pinheiros, denominada “Regueiros de Vilar”, situada no lugar do Pinheiro, freguesia de Abade do Neiva; 10. Uma bouça de mato com pinheiros, no lugar de Berlindes, freguesia de Abade do Neiva; 11. Uma Bouça de mato com pinheiros, denominada Cachadas no lugar de Belindes, freguesia de Abade do Neiva; 12. Uma bouça de mato com pinheiros, denominada “Das Vicentas” na freguesia de Lijó; 13. Uma bouça de mato, também denominada “Das Vicentas”, no lugar de Paredes, freguesia de Lijó; 14. Uma bouça de mato no sítio de Santa Catarina, lugar de Barrete, freguesia de Carapeços; 15. Outra bouça de mato no sítio de Santa Catarina, lugar de Barroco, freguesia de Carapeços; 16. Uma bouça de mato, situada no lugar de Maceiras, freguesia de Carapeços; 17. Uma bouça de mato, situada no mesmo lugar e freguesia; 18. Uma bouça de mato com pinheiros, denominada S. Tomé, no lugar do seu nome, freguesia de Tamel de Santa Leocádia; 19. Uma bouça de mato com pinheiros, denominada do Vigário, no lugar do Porrido, freguesia de Tamel de Santa Leocádia; 20. Uma bouça de mato com pinheiros, denominada Gerosa, no lugar do seu nome, em Santa Leocádia; 21. A Quinta da Penha Longa, composta por quatro casas, duas torres e duas térreas, servindo uma de moinho, dependências de adega, cobertos, varandão e eira; e junto terrenos de lavradio e mato, situada no lugar de Vila Bassa, freguesia de Tamel de Santa Leocádia.377 377 Relação de bens doados à Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo, com sede na Rua de Santo Amaro, à Estrela, nº 49, desta cidade e Lisboa, pelo Sr. Dr. Moisés Alves de Pinho, em escritura feita perante o notário Carlos Alberto de Pinho, Rua Augusta, 100-1º Esq. De Lisboa em 27 de Novembro de 1947. No Solar da Silva, nasce o Seminário das Missões 419 O valor total era de 500.000$00. Estes prédios devem ser aplicados ao custeio da formação dos missionários e sustentação das missões das Províncias ultramarina portuguesas, que são os fins da donatária.378 A contestação do testamento D. Maria Henriqueta de Sousa da Silva Alcoforado de Lencastre, casada com o primo co-irmão Francisco de Sousa da Silva Alacoforado, faleceu a 11 de Julho de 1887, viúva, sobrevivendo-lhe quatro filhos: a) D. Maria Margarida de Sousa da Silva Alcoforado, casada depois com D. Carlos Faro e Noronha; b) Gonçalo de Sousa da Silva Alcoforado, casado que fora com D. Emília Beça Leite; c) D. Maria Francisca de Sousa da Silva Alacoforado, casada que fora com Francisco Filipe de Sousa Teixeira da Silva Alcoforado; d) D. Maria Antónia de Sousa da Silva Alcoforado, casada com Sebastião do Santíssimo Sacramento Leme Guedes Vieira de Macedo. Destes quatro filhos, apenas o Gonçalo teve descendência: uma única filha D. Maria das Neves Bessa Alcoforado. D. Maria Henriqueta finara-se com testamento serrado com data de 12 de Janeiro e aprovado a 19 de Janeiro de 1884. Por escritura – doação de 25 de Abril de 1887, doará D. Henriqueta às filhas D. Maria Francisca e D. Antónia (reservando o usofruto) vários prédios e domínios enfiteuticos, entre os quais a sua casa nobre e Quinta da Silva com todas as suas pertenças. Por testamento de 7 de Janeiro de 1894, o marido de D. Francisca deixou-lhe toda a sua herança. D. Maria Francisca finara-se a 15 de Agosto de 1920, tendo deixado por testamento, todos os seus bens à sua irmã D. Maria Antónia. D. Maria Antónia por testamento de 6 de Agosto de 1924 instituiu seu universal herdeiro o P. Moisés Alves de Pinho, provincial da Congregação do Espírito Santo, conforme vimos. D. Maria das Neves, única herdeira natural da D. Antónia e seu marido Carlos Maria Lopes da Silva, residentes em Viseu, que há muito tinha sido excluída do convívio das tias, que nem sequer a recebiam em casa, contestaram o testamento, alegando que D. Antónia fora vítima de pressão por parte dos herdeiros do testamento, pois a dominavam inteiramente, pondo e dispondo, sobretudo o seu pároco e confessor, de tudo quanto lhe aprazia, tudo guardando sob chave, alienando e adquirindo como se fosse dono de tudo, impedindo outras pessoas de visitarem a senhora, etc. O processo foi para tribunal, perdeu na primeira instância, perdeu na segunda, perdeu no Supremo, pois era absolutamente falso o seu fundamento, mas 378 Escritura de 27 de Novembro de 1947 420 Adélio TORRES NEIVA metendo a polícia no processo conseguiu arrastar até ao aljube a afilhada, que desde menina acompanhava a senhora como filha e as criadas, o motorista e o pároco. O processo demorou quase dois anos. Compreendendo que tinha a causa perdida a senhora pediu uma composição fácil com a qual a Congregação concordou, na Primavera de 1937, quando os Espiritanos estavam já na Casa da Silva. 421 Capítulo 43 O Seminário da Silva O objectivo principal que levou à fundação de um seminário na Silva foi o Noviciado dos clérigos. A esta intenção inicial, o seminário manterse-á bastante fiel, ao longo da sua história, não obstante algumas interrupções e a abertura a outros projectos. Começou por ser, embora provisoriamente, seminário menor, desde a sua fundação em 1937 até 1942; nesta data passou a ser efectivamente Noviciado dos clérigos. Em 1955, o Noviciado foi interrompido e o seminário albergou parte do primeiro ano de preparatórios; mas no ano seguinte, o Noviciado regressou para lá. Em 1959, o seminário foi demolido e construído um novo; durante as obras, provisoriamente, o Noviciado foi transferido para a Torre da Aguilha. Em 1962, o novo seminário é inaugurado e a sua nova configuração vai dilatar o seu espaço de acolhimento: o Noviciado regressa à Silva, mas em 1969 alojaram-se também no seminário os estudantes, que frequentavam as aulas na Faculdade de Filosofia em Braga. Em 1973, juntamente com o Noviciado foi instalado na Silva o Ciclo Complementar dos liceus, que ali se manterá, com algumas mudanças, até 2004. Em 1981, o Noviciado foi para Coimbra e depois para o Espadanido até regressar à Silva em 1991, onde se manteve até 2003. O Seminário Menor O Seminário Menor da Silva abriu em 1937, tendo como director o P. José Alves Terças e subdirector o P. Abel Pinto de Sousa, então aluno do IV ano de Teologia. Como professores figuravam além do director e do subdirector, os Srs. Manuel Alves Terças, Bártolo e Manuel Teixeira, este chegado de Roma a 9 de Janeiro, onde interrompeu os estudos por motivo de saúde. No ano seguinte o director continuou o mesmo, mas o subdirector foi o P. Alfredo Mendes e professores os Srs. Manuel Terças e Manuel Teixeira. A 3 de Maio de 1939 foi o primeiro passeio grande dos seminaristas: Esposende foi o seu destino; a 1 de Junho novo passeio, desta vez ao Bom Jesus de Braga, passando pela Quinta de Curvos, em Forjães. Em Agosto vieram passar aqui um mês de férias 30 escolásticos vindos de Godim. 422 Adélio TORRES NEIVA O P. José Alves Terças ausentou-se desta casa a 5 de Outubro de 1939, tendo-o substituído como director e superior o P. António Gomes da Silva. Os alunos entraram a 9 de Outubro. Neste ano de 1939-1940 o corpo directivo era assim formado: P. António Gomes, superior e director, P. José Cosme, professor, P. Vieira Baião, em repouso, Sr. José Maria Pereira e Miranda, professores e os irmãos Valfredo, encarregado da Quinta, Frutuoso, enfermeiro, Cândido, alfaiate e Simão, refeitoreiro. A entrada dos alunos, 24, foi a 9 de Outubro de 1939. Neste ano, na antiga cavalariça da casa fez-se um abrigo para os escolásticos passarem os recreios nos dias de chuva. No dia 29 de Outubro, festa de Cristo Rei, a freguesia celebrou a festa nesta comunidade, tendo o Sr. D. Moisés, entretanto nomeado bispo, feito as suas despedidas da Silva neste dia. No dia 15 de Dezembro foram transladadas do Porto para a Silva as ossadas da família da D. Antónia, tendo sido celebrada na capela de S. Bento missa e ofício por alma da Sra. D. Antónia. No dia 16, aniversário da morte da D. Antónia, ofício e missa de Requiem em S. Bento pela mesma intenção. Presidiu às cerimónias o P. Provincial. No final, as ossadas foram transportadas em procissão para o jazigo da D. Antónia, no cemitério da Silva. Ficou decidido fazer-se todos os anos a celebração por alma da D. Antónia, a 16 de Dezembro, aniversário da sua morte. Durante o mês de Dezembro fizeram-se obras importantes na capela. Estas obras foram concluídas no dia 24 de Dezembro, tendo a capela sido reaberta ao culto com a Missa da meia-noite de Natal, a que assistiu muito público, incluindo a Viscondessa de Montedor, vinda de Viana expressamente para essa festa. A 7 de Fevereiro de 1940 foi decidido que a festa do Menino Jesus de Praga, padroeiro da comunidade, seria celebrada no dia de Reis. A 25 de Fevereiro de 1940 inaugurou-se a luz eléctrica no seminário, por meio de um motor a gasolina; até ali a iluminação fazia-se por meio de gasómetros. No dia 29 de Março desse ano inaugurou-se a imagem de Nossa Senhora, “Tutela Domus”. Em Abril de 1940 fez-se um lagar novo e construiu-se a sacada em frente da casa, obras dirigidas pelo Irmão Marcelino. O ano de 1940-1941 teve como superior e director o P. António Gomes, e faziam parte da equipa directiva o P. Manuel Raposo, ecónomo, P José Cosme, professor e Manuel Inácio Morais Correia, escolástico, professor. Como irmãos ficaram o Ir. Valfredo, Frutuoso, Cândido e Simão. A 4 de Novembro de 1940 falecia neste seminário o Ir. Frutuoso, o primeiro a falecer nesta comunidade. No dia 16 de Dezembro todos os anos se celebrava missa e ofício por alma da D. Antónia; no princípio, vinham escolásticos de Viana participar na celebração. O ciclone de 15 de Fevereiro de 1941 causou grandes estragos sobretudo no pomar e na mata. Em Setembro de 1941 o P. António Gomes é nomeado director para o Fraião O Seminário da Silva 423 e o P. José Cosme superior desta comunidade. Nesta data terminou o Seminário Menor nesta comunidade, para dar lugar no ano seguinte ao Noviciado. Durante o breve interregno aqui permaneceram o P. Cosme e os Irmãos Valfredo e Simão. Entretanto começaram os trabalhos de adaptação desta casa a Noviciado dos clérigos; para orientar estes trabalhos veio o Irmão Marcelino. O Noviciado dos clérigos Já antes da morte da D. Antónia, o P. Moisés Alves de Pinho, provincial da Congregação, na perspectiva da casa vir a pertencer à Congregação, tinha feito o projecto de aqui estabelecer o noviciado da Província Portuguesa. Atendendo a que o noviciado em França não era mais viável, até porque o número dos noviços tinha aumentado, o P. Pinho decidiu fundar um noviciado no Fraião, pelo menos até que se tomasse posse da casa da Silva. Após a morte da D. Antónia, as circunstâncias não permitiram realizar imediatamente o projecto do P. Pinho. Em 1940 o número dos filósofos aumentou de tal maneira que a casa do Fraião se tornou insuficiente para albergar os filósofos e os noviços. Decidiu-se então que no ano seguinte não haveria noviciado, continuando os filósofos o segundo ano. As circunstâncias que então se viviam, em plena guerra, não permitiam as novas construções que então se tinham em vista e assim se resolveu instalar o noviciado no antigo solar da Silva, transformando o salão nobre e salas adjacentes num dormitório com 22 celas. Tudo isto, no entanto, era uma solução provisória, à espera de melhores dias em que se pudesse construir um edifício adaptado às necessidades do noviciado. O local era particularmente convidativo para o clima de noviciado. Para preparar a casa em ordem ao noviciado chegaram a 17 de Agosto de 1942 o P. Alberto Brun, mestre de noviços, e uns dias depois a 21 de Agosto, os neonoviços Coutinho, Almeida e Portugal, que tudo fizeram para ter a casa pronta a 5 de Setembro, dia da entrada dos noviços. Os noviços que inauguraram a casa foram: José Alves, António Brojo de Almeida, Alfredo Sanches Pinto, Serafim Lourenço, Manuel Antunes Bárbara, Aníbal Augusto Monte, Manuel de Lima Cauper, Walter Júlio de Morais, Ilídio dos Santos Portugal, António Ferreira da Silva, António Antunes Pinto, Germano Alexandre Coutinho, Joaquim Pinto de Oliveira, António Joaquim de Almeida, Carlos Alberto Martins Ferreira de Matos, Joaquim Augusto do Vale, António Pereira Rodrigues e Manuel Morais da Fonseca. Ao todo 19 noviços. O noviciado foi inaugurado solenemente nesta casa a 7 de Setembro de 1942, tendo presidido ao acto o P. Provincial e estando presentes os Padres Joaquim Correia de Castro, António Teles, Francisco Rego, Miguel Fonseca, Frederico Duff, Herculano Lopes de Oliveira, o abade da Silva P. António Joaquim Lopes e os escolásticos Manuel Teixeira, Gonçalves e José Maria. 424 Adélio TORRES NEIVA Como mestre de noviços e superior da comunidade continuou o P. Alberto Brun, confessor o P. José Finck, ecónomo o P. Cosme e como equipa de apoio os Irmãos Valfredo, para a quinta, Victor para o serviço interior e Justino, em convalescença. A cozinha que até aí era feita por senhoras, a partir de Outubro começou a ser confeccionada pelo Irmão Elias. No dia da Epifania celebrou-se, como todos os anos, a festa do Menino Jesus de Praga, padroeiro da comunidade. A 6 de Janeiro de 1943 fechou-se o grande portão da entrada, sendo para o futuro, a entrada pelo portão lateral. A 5 de Julho de 1943 o noviciado recebe a visita de Mons. Gay, que se fazia acompanhar do antigo provincial P. Clemente Pereira da Silva e do novo provincial que acabava de ser nomeado o P. José Pereira de Oliveira. A profissão foi como era tradição a 8 de Setembro. O noviciado foi interrompido durante o ano escolar de 1944-1945, devido à reforma do programa dos estudos, aumentando-se um ano ao curso de filosofia. Durante este ano de interregno, na comunidade estiveram o P. José Maria Figueiredo e os Irmãos Valfredo, Joaquim e Justino. A 6 de Setembro de 1945 foi a reabertura do noviciado. A equipa docente ficou formada pelos P. Cândido Ferreira da Costa como mestre de noviços, o P. José Finck confessor, o P. Aníbal Rebelo, ecónomo e os Irmãos Valfredo, Manuel e Joaquim. A 21 de Maio de 1946 foram trasladados os restos mortais de duas senhoras pertencentes à Casa da Silva que jaziam no cemitério de Barcelos, para o jazigo da D. Antónia no cemitério da Silva. No ano de 1946-47 o P. Cândido Ferreira da Costa é nomeado director do escolasticado de Viana e para o substituir como mestre de noviços veio o P. Olavo Teixeira Martins; o corpo docente fica constituído pelo P. Olavo Teixeira, mestre de noviços, P. António Gonçalves, submestre, P. Aníbal Rebelo, ecónomo, P. José Finck, confessor e os Irmãos Valfredo, Marcelino, Manuel e Tarcísio. A 8 de Dezembro de 1946 foi inaugurado o azulejo da Imaculada Conceição no frontão do solar, tendo participado na celebração o povo da Silva. A 2 de Março de 1947 o ecónomo provincial P. Avelino Costa visita o noviciado acompanhado de um arquitecto e um mestre-de-obras, em ordem à construção de uma nova casa para noviciado. No dia 9 de Março de 1947, celebrou-se no seminário a conclusão da visita que a Senhora de Fátima durante três meses fez a todas as casas da freguesia. No terreiro do seminário, uma grande vigília à noite, com o recinto ricamente enfeitado, reuniu todo o povo da freguesia e terras vizinhas, em comovente cerimónia de conclusão e adeus. O pessoal docente era formado pelo P. Olavo Teixeira, mestre de noviços, P. António Gonçalves, submestre, P. Finck confessor. Para comemorar os cem anos da fusão da Congregação do Espírito Santo com a Sociedade do Imaculado Coração de Maria, reuniram-se na terça-feira de Pentecostes de 1948, dia 18 de Maio, todos os seminaristas, padres e irmãos da O Seminário da Silva 425 Província no seminário da Silva. Estiveram presentes cerca de 300 pessoas. A festa começou com uma recepção no apeadeiro da Silva em que participaram além das autoridades locais, as crianças das escolas e muito povo. O almoço de confraternização foi na mata do seminário e a Bênção do Santíssimo com que a festa terminou na igreja paroquial. A 1 de Junho desse ano de 1948 foi a visita do Ministro das Colónias Dr. Teófilo Duarte. No ano de 1948-49 a equipa directiva foi formada pelos PP. Olavo Teixeira, mestre de noviços, José Maria de Sousa, submestre e José Finck, confessor. Registe-se a visita que os noviços fizeram ao poeta Correia de Oliveira na sua casa de Belinho, a 30 de Julho de 1949. No ano de 1949-50 o corpo directivo continuou formado pelo P. Olavo Teixeira, mestre dos noviços e o P. José Finck, submestre. O Irmão João da Cruz substituiu o Irmão Tito no cargo de cozinheiro. A 31 de Outubro de 1949 faleceu a D. Laura, dama de honra da D. Antónia e benfeitora do seminário. A 14 de Abril de 1940 o noviciado deslocou-se a S. Paio de Antas, à Quinta do poeta António Correia de Oliveira para participar na recepção da Senhora Peregrina. A 13 de Agosto, por sua vez, foi a coroação de Nossa Senhora durante uma peregrinação à Senhora da Portela, em que os noviços participaram activamente. No ano de 1950-51 o mestre de noviços continuou a ser o P. Olavo Teixeira e como confessor veio o P. Ribeiro Teles, em substituição do P. Finck, o P. José Alves, submestre e ecónomo. O grupo dos Irmãos era formado pelos Irmãos Valfredo, Justino, Tomás, João da Cruz e Policarpo. A 22 de Setembro os noviços foram a Godim participar na recepção que a freguesia no dia seguinte faria ao seu antigo pároco, agora bispo de Nova Lisboa, D. Daniel Junqueira. A proclamação do dogma da Assunção de Nossa Senhora a 1 de Novembro de 1950 foi solenemente celebrada no seminário da Silva, que nessa noite se transformou num mar de luzes e que foi comemorado com um solene pontifical e Te Deum presidido pelo arcebispo de Luanda, D. Moisés Alves de Pinho. No ano de 1951-52 ficou assim constituída a equipa directiva: P. Olavo Teixeira, mestre de noviços, P. José Alves, submestre e P. Ribeiro Teles, confessor. Os Irmãos eram: Valfredo, Justino, Tomás, Policarpo, João da Cruz e João Berchmans. No dia 6 de Janeiro de 1952, festa do Menino Jesus de Praga, fez-se uma procissão com a sua imagem até à capela de S. Bento e no final houve a consagração ao Menino Jesus. Na profissão de 8 de Setembro de 1952 professaram 16 noviços. No ano de 1952-1953 a comunidade ficou assim constituída: P. Olavo Teixeira mestre de noviços, P. José Alves, submestre e P. Teles, confessor; Irmãos Valfredo, Berchmans, Tomás, Policarpo e João da Cruz. Os noviços eram 22. No dia de S. Miguel, celebrou Missa Nova na Silva o P. João Eduardo Moniz. 426 Adélio TORRES NEIVA No dia 29 de Outubro a comunidade deslocou-se ao apeadeiro da Silva para saudar os teólogos que deixavam Viana a caminho do novo seminário da Torre da Aguilha. No dia 19 de Março de 1953 foi organizada pelo P. Olavo a marcha via-sacra dos rapazes de Abade do Neiva até Barcelos. Em Abril de 1953 era nomeado o P. José Alves como mestre de noviços devido ao P. Olavo ter sido nomeado provincial. A submestre ficava o P. Francisco Mendes Pereira, como confessor o P. Ribeiro Teles. No dia 7 de Setembro, como acontecia todos os anos neste dia, houve procissão com Nossa Senhora até ao lago, onde os antigos noviços entregaram a imagem da Senhora aos novos. No ano de 1953-1954 a comunidade ficou constituída pelos PP. José Alves, superior e mestre de noviços; Francisco Mendes Pereira, submestre e ecónomo; Augusto Ferreira, confessor. Neste Ano Mariano, os noviços incorporaram-se na peregrinação ao Sameiro no dia 13 de Junho, presidida pelo Cardeal Legado do Papa. A comunidade no ano de 1954-1955 ficou assim formada: P. José Alves, mestre de noviços; P. Mendes Pereira, submestre; P. Augusto Ferreira, Confessor. Irmãos: Valfredo, Berkmans, Tomás, Justino, Policarpo, Bonifácio e um postulante. No dia 1 de Novembro, ao mesmo tempo que em Roma era coroada Nossa Senhora, neste Ano Mariano, na Silva, foi também coroada a imagem de Nossa Senhora, com a presença de muito povo, sobretudo com “Apóstolos e Apóstolas do Coração de Maria”, movimento fundado pelo P. Olavo Teixeira. No dia 16 de Dezembro começou-se a Novena ao Menino Jesus de Praga, como preparação para o Natal passando a imagem um dia na cela de cada noviço. Mas no dia 29 começou-se uma nova novena a preparar para a sua festa. No dia 24 de Março de 1955 os noviços foram participar numa procissão de penitência realizada pelos Apóstolos do Coração de Maria em Barcelos. A 11 de Agosto chegaram à Silva os restos mortais do Ir. Valfredo, falecido em Viana no dia 10 de Agosto, que veio repousar na capela Jazigo da Casa da Silva. Em 7 de Setembro de 1955 a profissão foi presidida pelo Patriarca de Lisboa, o Cardeal Cerejeira. Foi oferecido um chá em honra do Sr. Cardeal Patriarca às pessoas mais gradas de Barcelos e aos benfeitores do Seminário. A festa foi abrilhantada pelos teólogos de Viana. Da parte de tarde vieram saudar o Sr. Patriarca os “Apóstolos do Coração de Maria.” A 15 de Setembro de 1955 a casa entrou em obras para ser adaptada a Escolasticado Menor. Efectivamente nesse ano de 1955-1956 a casa funcionou como parte do primeiro ano e preparatórios com o P. Manuel Augusto Ferreira como superior e director e o P. Domingos da Cruz Neiva e o escolástico Ernesto de Azevedo Neiva, como colaboradores. Mas no ano seguinte, o noviciado recomeçava. A 5 de Julho de 1956 a Casa da Silva recebeu pela primeira vez como noviços os escolásticos que tinham feito 7 anos de preparatórios, terminados em Julho de 1956. Isto sucedeu pelo facto de em 1950 se iniciar no Fraião o Curso Liceal que O Seminário da Silva 427 dura 7 anos e como até aí só havia 6 anos de preparatórios, o resultado foi que no ano de 1955-1956 não houve noviciado na Província. Em compensação ficou aqui parte do primeiro ano de estudos preparatórios. No dia 5 de Setembro chegaram os novos noviços. Entretanto a casa tinha sofrido algumas modificações: a sala junto da galeria Tutela Domus foi transformada em capela e a antiga capela foi transformada em refeitório; o refeitório anterior ficou transformado em capela da comunidade. As celas desapareceram e foram substituídas por um dormitório. Os novos noviços fizeram os seus estudos preparatórios no Fraião. A comunidade ficou assim constituída: P. José Alves, mestre de Noviços; P. Augusto Ferreira, submestre; P. Francisco Lopes, confessor. Irmãos: Bonifácio e Policarpo; em descanso Ir. Abel e Ir. Justino. Em Dezembro de 1956, o engenheiro Estêvão de Oliveira tomou conta da direcção técnica das quintas. O seminário comprometia-se a pagar-lhe dois mil escudos mensais e casa e os produtos necessários para a manutenção da família, provenientes das quintas. O contrato era válido por um ano: os criados foram substituídos por jornaleiros a seco, devido ao excessivo gasto feito com eles. No ano seguinte, em Fevereiro de 1957 o engenheiro Estêvão pedia a rescisão do contrato, pedido que foi aceite e que se tornou efectivo a partir do dia 10 de Fevereiro desse ano. Para remediar a sua falta, foi a quinta confiada ao Sr. Manuel Pires Laranjeira, homem experimentado no amanho de terras. Para os casos de necessidade de assistência técnica recorrer-se-ia a pessoa competente. Parte da Quinta da Penha Longa foi entregue ao casal Laurentino Fagundes e esposa, pagos em regime de criados e mais algumas benesses. Em Janeiro de 1958 seria alugada a outra parte da Quinta da Penha Longa. A 2 de Fevereiro de 1957, foi erecta canonicamente na capela de S. Bento a Arquiconfraria do Espírito Santo em Portugal, pelo Provincial com sede na capela de S. Bento. Fica agregada à Arquiconfraria do Espírito Santo, com sede na Casa Mãe, em Paris, cujo director é o Superior Geral. Foram lidos o Diploma da erecção e os Estatutos. No ano de 1957-1958, o corpo docente ficou formado: P. José Alves, mestre, P. Mendes, submestre (depois P. Sá Couto) e P. José Aguiar, confessor. Irmãos: Bonifácio e Brito e em descanso: Irmãos Abel e Justino. Os novos noviços eram 23. Em Novembro de 1958 veio para confessor e ecónomo o P. José da Fonseca Lopes. A 31 de Maio foram as Bodas de Oiro Paroquiais do Abade da Silva, P. António Joaquim Lopes Júnior, presididas por D. Moisés Alves de Pinho e com sessão em casa do Sr. Abade, tendo nela participado o noviciado. No princípio do noviciado era costume, nos primeiros tempos, ir-se em peregrinação à Senhora da Portela. Quando os novos noviços chegavam, todos, novos e velhos, iam em procissão 428 Adélio TORRES NEIVA até à mata, onde os antigos entregavam a Senhora da “Tutela Domus” aos mais novos. O noviciado foi marcado com variadas confraternizações dos noviços com os jovens, muitos dos quais faziam ali retiro, bem como com os noviços da região de Barcelos: os de S. João de Deus, Capuchinhos, La Salle, e outras congregações religiosas que escolhiam a mata ou a casa da Silva para confraternizar ou passar um dia de recreio. Por várias vezes os noviços da província de Espanha vieram confraternizar com os noviços da Silva, bem como os escolásticos do Espadanido, os teólogos de Viana do Castelo, vários núcleos da LIAM bem como os Apóstolos do Coração de Maria e jovens das freguesias vizinhas. Também muitos párocos vieram aqui fazer o seu retiro. Uma das actividades recreativas dos noviços eram os passeios semanais: estes podiam ser normais, semi-grandes (toda a tarde) ou grandes (todo o dia). Em geral escolhia-se para destino dos passeios grandes algum local de interesse histórico ou turístico. Assim, realizaram-se passeios para o Facho, Franqueira, S. Lourenço, Viana do Castelo, Bom Jesus, Fraião, Santa Luzia, Viana do Castelo, Senhora Aparecida, Penedo Ladrão, S. Paio de Antas, Vilar de Frades, Remelhe, Sameiro, S. Martinho de Galegos, Carvoeiro, Quinta de Curvos, S. Cristóvão, Moledo do Minho, Areias de Vilar, Alvarães, Remelhe, Mouquim, Navais, Guimarães, Esposende, Foz do Neiva. Alguns foram mesmo mais longe, uns de comboio, como S. Tiago de Compostela, Vigo, Aveiro, Lisboa e outros de autocarro, como Serra da Estrela, Senhora da Peneda, Soajo, Évora, Setúbal, etc. Chegou-se mesmo a fazer passeios de bicicleta, como aconteceu a 15 de Maio de 1951. As actividades extra-escolares eram também uma das constantes da vida do noviciado: além da limpeza da casa, os noviços trabalhavam na manutenção do jardim, na apanha da flor de tília, nas vindimas, na recolha da fruta, na esfolhada do milho, na apanha do tomate e da cenoura, na limpeza da mata, etc. Foram também numerosos os visitantes que passaram pelo noviciado: além dos Superiores Gerais e membros do Governo que visitaram todas as casas da Província, há a registar a presença de amigos como a Viscondessa de Montedor, o Dr. Eurico Lisboa, os bispos de Angola, Cabo Verde, como D. Moisés, D. Pompeu Seabra, D. Zacarias Kamwenho, D. Daniel Junqueira, D. Faustino Moreira dos Santos, D. Paulino Évora, arcebispos e bispos auxiliares de Braga, os benfeitores Dias Costa, Dr. Ramalho, Dr. Carlos Morais, Dr. Louro, D. José de Lencastre, Dr. Sequeira Campos, Comendador Duarte Martins, D. Mário Neto, Cardeal Patriarca Cerejeira, Dr. Manuel Monteiro. Noviciado na Torre da Aguilha A 9 de Setembro de 1959 o Noviciado foi transferido da Silva para a Torre da Aguilha, por motivo de obras na Silva. O noviciado estaria na Torre da Aguilha durante três anos, até 21 de Agosto de 1962. Por conveniência de crónica continuaremos a narrar aqui a vida do Noviciado, mesmo se ele agora fica situado na Torre da Aguilha. O Seminário da Silva 429 Durante o ano de 1959-1960 o noviciado ficou assim constituído: P. José Alves, mestre, P. Henrique Sá Couto, submestre e P. Manuel da Costa Andrade, confessor. Os noviços deste ano foram: António Vieira Parente, Francisco Gonçalves de Oliveira, Manuel Marinho Lemos, Bernardino Fernandes Amaral, Domingos de Matos Vitorino, Luís Andrade de Barros, Artur Parreira Marrecos, José Paulos da Silva, António Martins Fernandes, Daniel Rosa Junqueira, Porfírio Augusto Pires, Licínio Gomes Antunes, Armindo Martins Vilaça, Raul de Azevedo Saleiro, Artur Pia Osório. A partida para a Torre da Aguilha foi a 9 de Setembro de 1960, saindo da Silva de caminheta, pelas 7 horas, com almoço em Coimbra, no Penedo da Saudade; Batalha, Fátima, Santarém, chegando à Torre da Aguilha pelas 11.30 da noite. O noviciado ficou com espaços próprios, no bloco leste e seguia regulamento próprio. Os passeios grandes eram com os teólogos. No ano de 1960-1961 o pessoal do noviciado ficou assim constituído: P. José Alves, mestre, P. Henrique Sá Couto, submestre e P. Manuel Costa Andrade e P. Joaquim Macedo Lima. A comunidade era formada pelo P. José Alves, mestre de noviços, P. Augusto Ferreira, ecónomo, P. Andrade e P. Macedo Lima. Os novos noviços de 1961-1962 vieram do norte, com o P. José dos Santos Fonseca, pernoitando em Fátima na casa dos Monfortinos e visitando, os lugares das aparições. No dia 16 de Agosto de 1962 retirou-se o Santíssimo Sacramento da capela do noviciado e começaram-se a fazer as malas para o noviciado regressar à Silva. E a 21 desse mês de Agosto foi o regresso. Entretanto, nestes três anos em que o noviciado esteve em Carcavelos, na Silva a vida continuou. No ano de 1959-1960 o pessoal da casa ficou assim constituído: P. José da Fonseca Lopes, P. Abel Pinto de Sousa, P. Afonso Vieira Gomes, Ir. Lino dos Santos Braz e Irmão Barnabé da Costa Magalhães. A 15 de Março de 1960, na presença do P. Provincial, PP. Nogueira da Rocha e José Felício e dos Arquitectos Sousa Coutinho e Gama Pimentel e Engenheiro Arménio Diogo (técnicos do projecto) e de vários empreiteiros concorrentes, foram abertas as propostas para a demolição da casa velha e construção da nova. Concorreram nove construtores. Depois de ponderado exame, foi aceite a proposta que pareceu mais vantajosa, a do empreiteiro Camilo de Sousa Mota, de Recarei. No dia 19 de Março, festa de S. José fez-se oficialmente a adjudicação da obra. Conforme consta do contrato, o edifício deveria estar pronto dentro de 600 dias a contar de 1 de Abril desse ano. As obras iniciaram-se no dia 28 de Março. No ano de 1960-1961 o pessoal ficou assim constituído: P. José da Fonseca Lopes, P. Abel Pinto de Sousa, P. Afonso Vieira Gomes e Irmão Domingos e no ano seguinte com os PP. José da Fonseca Lopes, Abel Pinto de Sousa, Afonso Vieira Gomes; Irmãos Domingos e João Baptista. A 26 de Março de 1962 faleceu o grande amigo do seminário, o Abade da Silva, P. António Joaquim Lopes Júnior. Foi devido à sua interferência junto da Sra. D. Antónia, que a Casa da Silva foi legada à Congregação do Espírito Santo. 431 Capítulo 44 O “novo” Seminário da Silva A inauguração do novo seminário O regresso dos noviços à Silva foi a 21 de Agosto de 1962. Aqui encontraram uma casa nova, muito diferente da que tinham deixado. Ao chegar, a primeira coisa que fizeram foi ir à capela de S. Bento cantar o “Veni Creator” e o “Sub Tuum Praesidêum” e só depois visitaram a casa. À noite, à porta do seminário, estava uma representação de todas as autoridades da Silva, com o pároco à frente, a desejar as boas vindas; seguiu-se uma improvisada recepção com cantos e saudações festivas de parte a parte. No dia seguinte, 22 de Agosto foi a Festa do Imaculado Coração de Maria. Os novos noviços, que iriam começar o noviciado, chegaram no dia 1 de Setembro. A comunidade ficou assim constituída: P. José Alves, superior e mestre de noviços, P. Henrique Sá Couto, confessor e P. José dos Santos Fonseca, submestre e ecónomo, P. Abel Pinto de Sousa, Ir. Domingos. Ir. Justino. Noviços: Carlos Ribeiro Salgado, Albino da Silva, José António Blas, Carlos Cardoso Araújo, João Crisóstomo Nogueira, Adriano Pereira Rodrigues, Francisco Azevedo Gomes, João Carreira Mónico, Domingos Marques Vicente, Manuel de Matos Vitorino, Agustin Maldonado, Eduardo Augusto Osório, José Alves dos Santos, Manuel da Silva Santana, António Teixeira Machado, Alfredo Saldanha, Neftall Leon Ganzalez, José Maria Pereira de Sousa, António Torres Vieira, José Adelino Marques Cardoso Veiga, Timóteo Jorge Moreira, Agostinho de Freitas Tavares, José O Seminário da Silva Castro de Oliveira, Alberto Paiva de Castro, Joaquim José Azevedo Moreira, José Luís de Sousa Moreira Neto, Tomas Angel Pastores Gutierrez, António Joaquim da Rocha Coelho, Alberto Ribeiro de Melo, José Pinto Silveira Machado, Pedro Mora Campos. Ao todo: 31 noviços, o maior noviciado de todos os tempos. 432 Adélio TORRES NEIVA O P. José da Fonseca Lopes, que acompanhou as obras da casa nova, foi nomeado para Godim. As Irmãs do Espírito Santo, para as quais foram previstas instalações próprias, tomam a seu cargo o serviço da cozinha e da lavandaria, depois de contrato firmado entre a Superiora Geral das Irmãs e o P. Provincial. No dia 7 de Setembro foi a tomada de Hábito e a Bênção Solene da casa e da Igreja e sagração do altar por D. Moisés Alves de Pinho. A Igreja foi dedicada ao Menino Jesus de Praga, padroeiro da comunidade. A inauguração solene do Seminário seria no dia seguinte, juntamente com a cerimónia da Profissão. Demos a palavra ao cronista do Diário da Comunidade: “Logo de manhã cedo aqui à nossa volta se começou a notar a azáfama própria dos dias de festa, barulhenta e expansiva, tão ao gosto da nossa gente do norte. Aqui era a limpeza do recreio, ali um vai e vem de mãos de artistas a engalanar o caminho, que da estrada nacional dava acesso à nossa casa. O caminho parecia novo: o Rev. Pároco, a Junta de Freguesia e por fim a Câmara de Barcelos, quiseram também tomar parte na nossa festa, compondo um caminho à altura dos visitantes. Num sítio era a confecção de tapetes polícromos, de serradura e flores, noutro, a montagem de arcos embandeirados e garridos. Em suma, vimo-nos no meio de um arraial, em festa desusada para nós. Toda esta festa, todos estes preparativos, foram obra do bom povo da Silva, que assim quis mostrar a sua gratidão e alegria por nos ter no seu meio, habitando na sua terra. Ainda alguns trabalhos estavam em curso, quando começaram a chegar das redondezas, os curiosos, os amigos, os benfeitores e os pais de muitos, quer dos que começavam, quer dos que dentro de horas se vão entregar ao Senhor. De toda a parte começaram a chegar carros. Representações da Imprensa, da Rádio e da Televisão, autoridades civis e eclesiásticas. Entre estas foram chegando Sua Eminência o cardeal Patriarca de Lisboa, o Superior Geral da Congregação do Espírito Santo, Mons. Marcel Lefèbre, o Bispo Auxiliar de Braga em representação do Arcebispo Primaz, o D. Agostinho de Moura, Bispo de Portalegre e Castelo Branco, o Bispo de Silva Porto. Presente estava já o Arcebispo de Luanda, D. Moisés Alves de Pinho. Entre as autoridades civis contavam-se vários membros do Governo, os Governadores Civis de Braga e de Viana do Castelo, os Presidentes das Câmaras de Barcelos e de Braga. De notar ainda a presença dos Bombeiros Voluntários de Barcelos que montaram um posto de primeiros socorros para alguma emergência que pudesse suceder. Ao nosso meio chegaram também os Escolásticos Maiores, vindos de Braga. Enfim, estava reunida quase toda a família espiritana. Representações liamistas de todo o Portugal quiseram também mostrar a sua presença na inauguração desta casa que tanto ajudaram a construir. Por fim, chegou uma numerosa delegação dos alunos e alunas das Escolas do Magistério Primário que se encontravam num curso missionário em Viana do Castelo. Todos foram recebidos na varanda da casa pelo P. Provincial. O “novo” Seminário da Silva 433 Assim se dava início à inauguração do Noviciado, que viria a culminar com a Profissão religiosa dos antigos noviços e dos votos perpétuos dos Escolásticos Maiores, bem como pela renovação de votos por outros. A capela estava completamente cheia. Nos cadeirais tomaram lugar as autoridades. A cerimónia foi presidida pelo Sr. Cardeal Patriarca. No final foi servido um copo de água a todos os convidados. Aos brindes usaram da palavra o Cardeal Patriarca, o Arcebispo de Luanda, o Superior Geral da Congregação e P. Provincial. Foi uma festa de confraternização e alegre convívio entre tantos amigos irmanados no ideal missionário. Merecem relevo especial as liamistas, que foram de grande animação, com o P. José Felício à frente.” As Irmãs do Espírito Santo, em número de três, vieram para o seminário neste ano de 1962, sendo superiora a Ir. Antonieta. O noviciado ficou assim constituído: P. José Alves, mestre de noviços; P. José dos Santos Fonseca, sub-mestre e ecónomo; P. Sá Couto, confessor. No dia 16 de Dezembro missa de aniversário da morte da D. Antónia e do 50º aniversário da morte de seu marido Sebastião do Sacramento Lemos Guedes Vieira de Macedo. No dia 26 de Março de 1963, foi o 1º aniversário do falecimento do Abade da Silva. O Noviciado foi ao cemitério sufragar a sua alma. Os seus ossos repousam no jazigo do seminário. A 27 de Março de 1963 a Casa Mãe determinou que a leitura do “Rodrigues” fosse substituída pelos Escritos do P. Libermann. Acedendo ao pedido da Casa Mãe para a elaboração de um esquema dos textos que mais interessariam, o P. Mestre preparou uma antologia desses textos a enviar para Paris. A 19 de Março desse ano de 1963 foi a inauguração da vacaria. A pedido do Abade da Silva, o seminário cedeu algum terreno junto à igreja, para adro paroquial. No dia 26 de Abril de 1963 foi solenemente entronizada a imagem do Menino Jesus de Praga no seminário, trazida processionalmente da igreja paroquial. No dia 2 de Setembro chegaram os novos 29 noviços. O corpo docente era assim formado: P. José Alves, mestre, P. José dos Santos Fonseca, submestre e P. Henrique Sá Couto, confessor. Em Outubro de 1964, dia 8, foi a Reunião dos Noviciados Ibéricos da Congregação; os noviços espanhóis e os noviços clérigos e irmãos de Portugal. No dia 26 de Outubro chegou a Irmã Jacinta Marques como nova superiora das Irmãs Espiritanas nesta comunidade. A 15 de Abril de 1964 foram oferecidas à comunidade as imagens do Menino Jesus de Praga e Nossa Senhora da Assunção, Rainha do Mundo, que foram entronizadas solenemente na capela, a 26 de Abril de 1964, depois de benzidas na igreja paroquial. De 8 a 10 de Junho de 1964 os noviços foram em peregrinação a Santiago de Compostela, tendo pernoitado em Tortoreos. 434 Adélio TORRES NEIVA Em Dezembro de 1964 foi decidido dar aos noviços a Bíblia em vez do tradicional “Manuale Christianum”. No ano de 1965-1966 a direcção ficou assim constituída: P. José Santos Fonseca, mestre de noviços e superior, P. José da Fonseca Lopes, submestre e ecónomo, P. Firmino Cardoso, confessor, P. Abel Pinto de Sousa, Ir. Manuel Carvalho, Ir. Benjamim Rodrigues. De 1 a 3 de Agosto de 1966 os noviços foram a Santiago de Compostela, pernoitando em Tortoreos. Nos dias 8 e 9 de Outubro de 1966 os noviços, juntamente com os noviços espanhóis de Tortoreos, foram em peregrinação a Fátima. No dia 2 de Junho de 1966, festa do Coração de Jesus, os noviços foram ao Fraião para participar na inauguração dos dois estádios: o do Centenário (PN) e o do Cinquentenário (PS). No dia 9 de Julho de 1966, foi o Dia da Amizade e Cortejo de oferendas para a “Casa dos Apóstolos” em Carapeços. A 11 de Julho de 1966 houve um Curso de Pastoral para os padres da diocese de Braga aqui no seminário. A 11 de Agosto começou aqui a recolecção dos teólogos; encerrou a 31 de Agosto. Na profissão de 1967-1968 vieram participar os 12 noviços espiritanos espanhóis. No ano de 1967-1968: P. José Fonseca, superior e mestre de noviços; P. José da Fonseca Lopes, submestre e ecónomo; P. José Pereira de Oliveira, P. Abel Pinto de Sousa; Ir. Salvador Tomás Santos, Ir. Cândido Macedo Fernandes. Os noviços eram 10. No ano de 1968-1969 o pessoal é o mesmo, mais o P. Olavo Teixeira Martins. No ano de 1969-70 começaram também a morar aqui os alunos do Curso de Filosofia, que frequentavam a Faculdade de Filosofia em Braga. Pessoal no ano de 1969-1970: P. José Santos Fonseca, Superior, mestre de noviços e director dos escolásticos; P. Jorge Veríssimo Duarte, submestre e subdirector dos escolásticos; P. José Pereira de Oliveira, P. Olavo Teixeira Martins, P. José da Fonseca Lopes, ecónomo; P. Abel Pinto de Sousa, P. António Martins Fernandes, professor na Faculdade de Filosofia em Braga, Ir. Elias Ribeiro, Ir. Salvador Tomás Santos, Ir. Justino Barros Gil. Os alunos da Faculdade de Filosofia de Braga eram 14, sendo 9 professos e 5 não professos e os noviços eram 13. Neste ano funcionaram aqui simultaneamente o noviciado e o curso de filosofia, tendo estes as aulas na Faculdade em Braga. A morte de três espiritanos A 23 de Março de 1970 deu-se um grande desastre na linha do comboio em que faleceram os Padres José Santos Fonseca, António Rodas e António Martins Fernandes. O P. António Rodas e Martins Fernandes tinham chegado à Silva nesse dia à tarde. Cerca das 21 horas, logo a seguir ao jantar, os Padres António O “novo” Seminário da Silva 435 Rodas, José Fonseca, António Martins Fernandes e Jorge Veríssimo partiram no carro do P. Rodas para Barcelos. O P. Rodas ia fazer uma reunião da LIAM e os outros iam para um serviço de confissões na matriz de Barcelos. Dirigiram-se para a casa do Abade da Silva para o levar também. Quando atravessavam a linha do comboio, sem guarda de nível, junto à casa do pároco, o comboio surpreendeu-os em cima da linha; o carro paralisado foi arrastado pelo comboio até junto do apeadeiro da Silva, onde conseguiu parar. Projectados para fora do carro, os Padres Rodas e José Fonseca tiveram morte imediata. O P. Jorge Veríssimo, o primeiro a ser projectado, ficou em estado de coma. O P. António Martins Fernandes, o único que não foi projectado, ainda ficou vivo. Logo que chegaram os bombeiros, levaram os dois que ainda estavam vivos para o hospital de Barcelos, e dali para o hospital de Santo António no Porto, onde os médicos os procuraram salvar. Os dois mortos foram transportados para o hospital de Barcelos. Durante toda a noite os seminaristas por grupos velaram os queridos falecidos. No dia seguinte, 24, chegou a notícia que o P. Martins Fernandes tinha também falecido. O P. Jorge Veríssimo manteve-se em coma vários dias, acabando por ultrapassar a situação. À tarde chegaram o P. Provincial, assim como os familiares dos Padres Fonseca e Rodas e confrades de toda a Província. O P. Olavo que estava em Fátima a pregar um retiro chegou também nessa tarde. No dia seguinte, dia 25, chegaram notícias de ligeiras melhoras do P. Jorge Veríssimo e pelas 8 horas foi feita a autópsia dos falecidos. Às 17 horas, na igreja matriz de Barcelos, para onde foram transportados os três cadáveres, celebraram-se solenes exéquias, com missa concelebrada por mais de 30 sacerdotes. Presentes estiveram também o representante do Sr. Arcebispo Primaz, o arcipreste de Barcelos, o Governador Civil de Braga, o comendador Santos da Cunha, o presidente da Câmara de Braga, o reitor da Faculdade de Filosofia de Braga, numerosíssimos párocos e uma multidão de amigos que quiseram prestar a sua última homenagem de gratidão aos três missionários que o Senhor tinha chamado para si, de um maneira tão dolorosa. Presidiu à concelebração o P. Olavo Teixeira. Após a Santa Missa, os três foram transportados para as respectivas terras, onde se celebraram de novo as exéquias. Os noviços e escolásticos (filósofos), bem como a maior parte dos fiéis, dirigiram-se para S. Salvador do Campo, ali perto, donde era natural o P. Martins Fernandes. No dia 26 os noviços e escolásticos, com numerosas pessoas da Silva, seguiram para S. Cosmado, a fim de participarem no funeral do mestre de noviços, o P. José Fonseca Santos. O P. Fonseca fora um incansável animador espiritual da freguesia da Silva. Para o Soajo, donde era natural o P. António Rodas, seguiu o provincial e numerosos espiritanos, a fim de participarem no seu funeral. Neste dia, o P. Provincial nomeou o P. Olavo Teixeira Martins superior da comunidade, mestre de noviços e director dos escolásticos. O P. José Fonseca Lopes foi nomeado seu substituto. 436 Adélio TORRES NEIVA No dia 30, os noviços foram mandados para férias durante nove dias, o mesmo acontecendo aos filósofos que frequentavam a Faculdade de Filosofia em Braga. Entretanto, o P. Jorge Veríssimo, depois de uma intervenção cirúrgica a uma clavícula partida e outra aos olhos, foi tresladado para o Hospital de Santa Maria no Porto onde continuou em recuperação. O noviciado continuou a funcionar, agora com a colaboração do P. José Coelho Amorim, superior do Fraião e P. Francisco Lopes, e da Irmã Cecília, de S. José de Cluny, indo os noviços ao Fraião uma vez por semana. No ano lectivo de 1970-1971, a direcção do seminário ficou assim constituída: P. Olavo Teixeira Martins, superior e director dos alunos; P. José da Fonseca Lopes, subdirector e ecónomo; P. José Pereira Marante, confessor; P. Abel Pinto de Sousa; Ir. Elias Ribeiro, Ir. Salvador Tomás, Ir. Justino Barros Gil. Todos os alunos frequentam a Faculdade de Filosofia de Braga, onde se deslocam de autocarro todos os dias. No dia 13 de Junho de 1970 afogou-se na praia da Apúlia, para onde a comunidade tinha ido em passeio, o escolástico Manuel da Costa Mendes. As exéquias seriam no seminário no dia 15, tendo comparecido além de confrades das diferentes comunidades, os párocos das freguesias vizinhas, casas religiosas e alunos da Faculdade de Filosofia de Braga. O corpo foi levado para a sua terra natal, tendo sido acompanhado por toda a comunidade. No dia 8 de Julho o P. Jorge Veríssimo, quase recuperado, partia para a sua terra natal. A 30 de Julho de 1970 começou na Silva o retiro preparatório do Capítulo Provincial com a presença do Superior Geral, Ecónomo Geral e 28 capitulantes. Como equipa de apoio estiveram os noviços. O Capítulo começaria no dia 4 de Agosto. O Capítulo terminou no dia 28. Em Outubro de 1971 são eleitos como superior o P. José Pires e como ecónomo o Ir. Isidro. O P. Francisco Mendes Pereira será o secretário. Continuam as Irmãs na comunidade. Os escolásticos (filósofos) mudam-se para Braga, Espadanido. Em Janeiro de 1972 a Inspecção Superior do Ensino Particular outorgou a estadia do 3º ciclo nesta casa. O nome oficial é “Instituto Missionário do Espírito Santo”. Por carta de 3 de Março de 1973, a Provincial das Espiritanas, Irmã Maria da Conceição Santos Neves, pedia ao Provincial dos Espiritanos para desligar a sua Congregação do contrato feito a 14 de Agosto de 1962, em que se comprometiam a trabalhar no seminário, pois a presença das Irmãs no seminário não correspondia às prioridades actuais da Congregação; desejavam colaborar com os Espiritanos, mas mais na linha apostólica.379 O Provincial dos Espiritanos P. José Gonçalves Araújo, depois de consultar o seu conselho, a 19 de Março de 1973, aceitou o pedido das Irmãs.380 Efectivamente, no final do ano lectivo as 379 380 APPCSSp. Carta de 19/3/1973 Ibid. carta de 19/3/1973 O “novo” Seminário da Silva 437 Irmãs deixavam o seminário. Formularam-se várias hipóteses para as substituir: uma outra comunidade de religiosas? Um grupo de leigas? O Movimento Cor Unum? Acabou-se por não optar por ninguém. A 28 de Junho de 1973, o 7º ano decide abandonar o seminário colectivamente. No ano lectivo de 1973-1974 ficaram na casa o noviciado e o 3º ciclo. A comunidade era formada por: P. José Fagundes Pires, superior e mestre de noviços, P. Veríssimo Teles, director do Ciclo Complementar, P. Pereira de Oliveira, P. Abel Pinto de Sousa, P. Olavo Teixeira Martins, P. Francisco Mendes Pereira, P. Francisco Gonçalves de Oliveira, Irmão Isidro (Fernando de Freitas), ecónomo, 4 noviços, 5 alunos do 7º ano, 11 alunos do 6º ano, 5 empregadas (Rosário, Custódia, Glória, Lúcia e Conceição) a mãe do P. Mendes Pereira (Isabel Mendes), 2 empregados habituais (Barros e António) e mais 3 jornaleiros diários (2 raparigas e 1 homem). O noviciado de 1973 foi constituído por 4 noviços. O mestre foi o P. José Pires e submestre o P. Francisco Gonçalves. No dia 1 de Outubro de 1973 vieram para a Silva os alunos do 6º e do 7º Ano, vivendo embora separados dos noviços. Ao todo são 16. À sua frente ficaram os Padres Veríssimo Teles e Mendes Pereira. A 1 de Outubro de 1974 entraram também os alunos do Ciclo Complementar; ao todo 20; 10 do primeiro ano e outros 10 do segundo (6º e 7º ano). Os padres são os mesmos do ano anterior. O Irmão Isidro deixou a Congregação e para o substituir como ecónomo, a 6 de Janeiro de 1975, veio o Ir. Luís Pontes que há dois meses estava a trabalhar em Lisboa na LIAM. Em Julho de 1975 entraram para a comunidade, vindos de Angola, o P. Moutinho e o Ir. Salvador. A 27 de Setembro de 1975 chegaram os novos noviços e no dia 28 fizeram a profissão os noviços cessantes. A 1 de Outubro entraram os seminaristas do sexto e sétimo ano em número de 23. A 6 Outubro de 1975 o P. Veríssimo Manuel Teles começou com os trolhas a abrir os alicerces para a futura casa pré-fabricada da Foz do Neiva. Nos tempos imediatos foi-se construindo a casa. A 25 de Setembro de 1976 entraram 5 novos noviços. Veio como director do Ciclo o P. Manuel Durães. O P. Veríssimo Teles deixou esta comunidade. Fazem ainda parte da comunidade o P. Francisco Gonçalves, P. Serafim Coelho, P. José Pires e o Ir. Torcato. Em Outubro de 1976 a Congregação cedeu parte da Quinta do Assento para a construção do Centro Paroquial da Silva. A 23 de Janeiro de 1977 o conjunto CIMES, um conjunto musical do Seminário, actua pela primeira vez em público, em Arcozelo. A 6 de Julho de 1977 foi decidido que a Profissão Religiosa se fizesse a 29 de Setembro, dia de S. Miguel. 438 Adélio TORRES NEIVA A 1 de Outubro de 1977 tomou posse como superior da Comunidade o P. Francisco Mendes Pereira que, interinamente, viria a ser ecónomo antes que o cargo passasse para o P. Francisco Gonçalves. A 7 de Novembro de 1978 foi decidido colocar as ossadas do antigo pároco da Silva no jazigo do cemitério pertencente à Congregação. A 3 de Setembro de 1979 chegaram os noviços em número de 9. A 9 de Outubro de 1979 foi elaborada a escritura da cedência do terreno para o Centro Social da Silva. A 26 de Dezembro de 1979 chegou o P. Eduardo Miranda. Tomou posse como director do Curso Complementar a 11 de Março de 1980. O P. Manuel Durães tinha sido nomeado vice-provincial. A 29 de Fevereiro de 1980, realizou-se um encontro, no Espadanido, entre o noviciado e o pre-noviciado. A 8 de Setembro de 1980 o noviciado foi interrompido em razão do “curriculum studiorum” ter sido aumentado um ano. A 10 de Setembro o P. José Fagundes Pires deixou esta comunidade à qual pertenceu durante 8 anos e onde esteve como superior durante 6 anos e mestre de noviços 5 anos. Vai para Cabo Verde ligado à formação dos escolásticos. O Irmão Salvador que esteve aqui vários anos, vai para o Fraião. A comunidade fica assim constituída: P. Francisco Mendes Pereira, superior, P. Olavo Teixeira, P. Manuel Soares Moutinho, P. José Pereira de Oliveira, P. Manuel Durães Barbosa, Director do Curso Complementar, Ir. Luís Pontes, Ir. Sotero Pereira, Ir Benjamim, Ir. José (Assis), P. Serafim Coelho, Ir. Torcato, P. Carlos Salgado Ribeiro (sub-director), P. Francisco Gonçalves de Oliveira (ecónomo), P. Eduardo Miranda, destinado a director do Curso Complementar, mas ainda ao serviço das Forças Armadas, como capelão militar. Os alunos foram 5 do 12º ano, 10 do 11º e 10 do 10º ano. Ao todo 25. A 16 de Dezembro de 1980, inauguração da conduta de electricidade da cabine para o seminário. Em 1981 o Noviciado é transferido para Coimbra, onde permanecerá até 1983, com o P. Magalhães Fernandes a mestre de noviços. Em 1985, o Noviciado é mais uma vez transferido, agora para o Espadanido, onde permanecerá até 1988. Em Setembro de 1981 o P. Francisco Gonçalves foi para Coimbra, para o noviciado, e o P. Carlos Salgado assume o economato do Seminário da Silva. Em Janeiro de 1982 o P. Eduardo Miranda, terminada a sua actividade como capelão militar, tomou posse do cargo de director do seminário, para o qual estava já indigitado desde o ano anterior. Em Fevereiro de 1982, no Carnaval, realizou-se na Silva um curso de formação permanente para a Província. A 1 de Setembro de 1982 faz-se a inauguração da luz eléctrica na casa da Foz do Neiva. Em 1982-1983 é nomeado superior da comunidade o P. José Reis Gaspar. A comunidade ficou assim constituída: P. José Reis Gaspar, superior, P. Francisco O “novo” Seminário da Silva 439 Mendes Pereira, P. Carlos Salgado, ecónomo, P. Eduardo Miranda, P. José Maria Azevedo Moreira, P. Serafim Coelho, P. Abel Pinto de Sousa, P. Olavo Teixeira Martins, P. José Pereira de Oliveira, P. Manuel Soares Moutinho; Irmãos: Luís, Torcato, Assis Vieira, Benjamim e Sotero. Os alunos foram 20. A 15 de Junho de 1983, encontro, na mata do seminário, de vários grupos de noviços e noviças: Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, Irmãs do Espírito Santo, Imaculada Conceição, S. João de Deus e Capuchinhos. Formação da comunidade no início do ano escolar 1983-1984: P. José Reis Gaspar, superior, P. Eduardo Miranda, director, P. Carlos Salgado, ecónomo; P. Serafim Coelho, P. José Maria Azevedo Moreira, P. José Pereira de Oliveira, P. Olavo Teixeira, P. Abel Pinto de Sousa, P. Manuel Soares Moutinho, Irmãos: Torcato, Luís, Assis, Sotero e Benjamim. Os alunos foram: 7 do 11º ano, 9 do 10º ano. A 10 de Julho de 1983 almoço de homenagem aos médicos da casa e suas famílias. Estiveram presentes Dr. Mário Vaz e duas filhas, Dr. Mota Vieira, Dr. Hélio e esposa, Dr. Beleza, esposa e filhas, Dr. Quintas, director do hospital de Barcelos e esposa. A 21 de Fevereiro de 1984 foi instalada uma ordenha automática e uma sala de leite na vacaria, pelo Sr. António Covelo, empregado técnico de uma firma de Aveiro; para esta ordenha veio um novo empregado o Sr. Ilídio, natural de Travanca. A 24 de Fevereiro de 1984 foi inaugurada a nova capela da comunidade no coro da capela grande. A 10 de Março de 1984 chegou ao seminário a Marcha Jovem das freguesias do arciprestado de Barcelos, 250 jovens acompanhados pelos seus párocos. A concentração foi em S. João de Deus e vieram em Via Sacra até ao pinhal da casa da Silva, onde houve uma celebração. No dia 20 de Maio de 1984 foi a visita dos Conselhos Provinciais de Espanha e Portugal à comunidade da Silva. A 23 de Setembro de 1984 foi aqui a Reunião dos ASES. A 27 de Setembro de 1984 teve lugar aqui a reunião de Directores, professores e formadores de todas as casas de formação da Província, orientada pelo P. Miguel Ângelo Gomes, da diocese de Braga. Pessoal da comunidade no início do ano de 1984-1985: P. José Reis Gaspar, superior, P. António Abreu, ecónomo, P. Eduardo Miranda, director, P. Serafim Coelho, P. Olavo Teixeira, P. Abel Pinto de Sousa, P. José Pereira de Oliveira, P. José Maria Azevedo Moreira, P. Manuel Soares Moutinho; Irmãos: Luís, Benjamim, Torcato, José. Os alunos eram 5 do 12º ano, 12 do 11º ano e 17 do 10º ano. A 25 de Outubro de 1984 faleceu o P. Abel Pinto de Sousa. Ficou depositado na Capela da Casa da Silva no cemitério da freguesia. A 20 de Novembro de 1984 faleceu o Sr. Domingos Pereira que durante 20 anos esteve à frente da Quinta da Penha Longa. Durante esta fase houve muitos encontros de jovens, nomeadamente Jovens 440 Adélio TORRES NEIVA Sem Fronteiras e liamistas, na Silva, promovidos pelo P. Arlindo Amaro. Cinquentenário da abertura do seminário A 25 de Abril de 1987 foi a abertura do Cinquentenário do Seminário com uma velada missionária na igreja nova de Arcozelo, com a participação de jovens e liamistas vindas de diversas partes do país. A ideia promotora da celebração jubilar dos 50 anos do seminário, ao longo de todo o ano de 1987 obedeceu a uma dupla dinâmica: evocação de um passado para o qual se olha com são orgulho e muito sentido de gratidão e aposta num futuro que está aí a interpelar com novos desafios. A 9 de Outubro de1987 o cinquentenário foi evocado no Centro de Cultura e Recreio da Silva, com uma conferência do P. Eduardo Miranda e outra do P. José Maria Azevedo Moreira. Ao outro dia foi uma missa solene no seminário com a participação da paróquia. No dia 16 de Outubro desse mesmo ano foi a celebração solene no Salão Nobre dos Bombeiros Voluntários de Barcelos, com conferências do P. Adélio Torres Neiva sobre a história da Casa da Silva e outra do P. José Maria Azevedo Moreira sobre a presença dos Espiritanos no concelho de Barcelos. A sessão foi presidida pelo Provincial dos Espiritanos e teve a presença do presidente da Câmara de Barcelos e abrilhantada pelo Grupo Polifónico e Coral da Silva e Grupo Coral de Lijó. Entre os presentes destacavam-se o Ir. Guilherme como membro da primeira comunidade espiritana e os PP. Serafim Coelho e José da Rocha Ferreira, elementos do primeiro grupo de “pequenos escolásticos” que deram início ao seminário. Depois, outros acontecimentos foram levados a cabo no mesmo sentido: um Encontro diocesano dos Jovens Sem Fronteiras, um Encontro Arciprestal de Jovens, uma reunião dos ASES e uma exposição fotográfica. O encerramento foi a 18 de Outubro, Dia das Missões, no seminário com uma missa presidida pelo Arcebispo de Braga, D. Eurico Dias Nogueira e a presença das autoridades de Barcelos, benfeitores e amigos dos espiritanos e a participação de muito povo. No ano de 1988-1989 os alunos foram 26: 15 do 10º ano, e 11 do 11ºAno. A comunidade ficou assim constituída: P. Azevedo Moreira, superior, P. Eduardo Miranda, director, P. Veríssimo Teles, sub-director, P. António Abreu, ecónomo, P. Serafim Coelho, P. Olavo Teixeira, Ir. Luís, Ir. Redentor, Ir. Venâncio, Ir. Torcato. Em 1989-1990 o pessoal ficou assim formado: P. José Maria Azevedo Moreira, superior; P. Eduardo Miranda, director: P. Mário Faria Silva, sub-director; P. Domingos Neiva, ecónomo, P. Serafim Coelho, P. Olavo Teixeira, Ir. Luís, Ir. Redentor, Ir. Venâncio, Ir. Torcato. O P. Abreu foi para o Fraião. No ano de 1990-1991 os alunos foram 16 no 10º ano, 13 no 11º ano e 12 no 12º ano. Foi um número até aqui nunca atingido. Em 1991 o Noviciado volta para a Silva, desta vez com o P. Agostinho Tavares O “novo” Seminário da Silva 441 a mestre de noviços, colaborando com ele o P. Ernesto Neiva, P. José Gaspar e P. Eduardo Osório. Em 1991 assume o cargo de director do Ciclo Complementar o P. Mário Faria Silva, com o P. José Carlos Coutinho a subdirector, substituído pelo P. Tarcísio Moreira em 1995, que continuaria como subdirector quando em 2000 o P. José Carlos Coutinho assume a direcção do ciclo complementar do qual virá a ser o ultimo director dado o encerramento da casa para seminário menor em Junho de 2004. Nessa ocasião viam-se já as obras de adaptação da casa para a transformar na sede do CESM - Centro Espírito Santo e Missão. Benfeitores do Seminário Como benfeitores da comunidade registamos antes de mais a D. Antónia Alacoforado que nos legou a casa e a sua dama D. Laura (falecida a 31 de Outubro de 1949), o abade da Silva, P. António Joaquim Lopes Júnior (falecido em Março de 1962), Celestino Basto (falecido a 5 de Novembro de 1964), D. Maria Bastos (falecida a 11 de Setembro de 1967), os médicos Dr. Mário Vaz, Dr. Hélio, Dr. Beleza, Dr. José Torres (falecido a 7 de Maio de 1979), Dr. Torres, filho, Dr. Quintas, Dr. Mota Vieira, Dr. Reis, Dr. Aníbal Araújo, Dr. Teixeira de Sousa, Dr. Pedras, Dr. António de Sousa, Sr. António Machado, Dr. Mário Teixeira, D. Maria do Céu Veludo Garrido, Dr. Francisco Torres, D. Maria da Pena, Dr. Campos Costa, Dra Laura Pliego. Superiores do Seminário (1932) P. José Alves Terças; (1939) P. António Gomes da Silva; (1941) P. José Cosme; (1942) P. Alberto Brun; (1944-45) P. José Maria Figueiredo; (1945) P. Cândido Ferreira da Costa; (1946) P. Olavo Teixeira Martins; (1953) P. José Alves; (1955) P. Manuel Augusto Ferreira; (1956) P. José Alves; (1959) P. José da Fonseca Lopes; (1962) P. José Alves; (1965) P. José dos Santos Fonseca; (1970) P. Olavo Teixeira Martins; (1971) P. José Fagundes Pires; (1977) P. Francisco Mendes Pereira; (1982) P. José Reis Gaspar; (1985) P. Eduardo Miranda Ferreira; (1987) P. Azevedo Moreira; (1991) P. Agostinho Tavares; (1992) P. Mário Silva; (2000) P. José Carlos Coutinho. Ecónomos: (1937) P. José Alves Terças; (1939) P. António Gomes da Silva; (1940) P. Manuel de Jesus Raposo; (1942) P. José Cosme; (1945) P. Aníbal Rebelo; (1953) P. Francisco Mendes Pereira; (1955) P. Manuel Augusto Ferreira; (1958) P. José da Fonseca Lopes; (1962) P. José dos Santos Fonseca; (1971) Ir Isidro; (1975) Ir. Luís Pontes; (1977) P. Francisco Gonçalves; (1981) P. Carlos Salgado Ribeiro; (1984) P. António de Sousa Abreu; (1989) P. Domingos da Cruz 442 Adélio TORRES NEIVA Neiva; (1994) P. David de Sousa; (1998) P. Marcelino Duarte Lopes; (2002) P. Tarcísio Santos Moreira. Mestres de Noviços (1937) P. José Alves Terças; P. Abel Pinto de Sousa, subdirector; (1938) P. Alfredo Mendes, subdirector; (1939) P. António Gomes da Silva; (1942-44) P. Alberto Brun, mestre de noviços; (1945) P. Cândio Ferreira da Costa; (1946) P. Olavo Teixeira Martins; P. António Luís Gonçalves, submestre; (1948) P. José Maria de Sousa, submestre; (1950) P. José Alves, submestre; (1953) P. José Alves, mestre de noviços; P. Francisco Mendes Pereira, submestre ; (1955) P. Manuel Augusto Ferreira, director; (1956) P. José Alves, mestre; P. Manuel Auguto Ferreira, submestre; (1957) P. Mendes Pereira, mestre; P. Henrique Sá Couto, submestre; (1959) P. José Alves (na Aguilha) mestre; P. Henrique Sá Couto, submestre; (1962) P. José Alves, mestre; P. José dos Santos Fonseca, submestre; (1965) P. José dos Santos Fonseca, mestre; P. José da Fonseca Lopes. Submestre; (1969) P. José dos Santos Fonseca, mestre; P. Jorge Veríssimo, submestre; (1970) P. Olavo Teixeira Martins, mestre; (1971) P. José Pires, mestre; (1973) P. José Pires, mestre; P. Francisco Gonçalves, submestre; (1991) P. Agostinho Tavares, mestre. Directores (1973) P. Veríssimo Teles, director; P. Francisco Mendes Pereira, subdirector; (1976) P. Manuel Durães Barbosa, director; (1980) P. Eduardo Miranda Ferreira, director; (1980) P. Carlos Salgado, subdirector; (1987) P.Hermenegildo, subdirector; (1988) P. Veríssimo Teles, subdirector; (1991) P. Mário Silva, subdirector; (1991) P. Mário Silva, director; P. José Carlos Coutinho, subdirector; (1995) P. Tarcísio Moreira, subdirector; (2000) P. José Carlos Coutinho, director. 443 Capítulo 45 O Provincialato do P. José Pereira de Oliveira R elativamente novo e já totalmente formado em Portugal, após a restauração da Província, o P. José Pereira de Oliveira foi nomeado Provincial de Portugal a 8 de Junho de 1943. O seu cuidado voltou-se principalmente para as casas de formação. Chamou alguns novos para o Conselho Provincial e para outros postos de responsabilidade nas várias obras da Província. O provincialato do P. José Pereira de Oliveira será um provincialato particularmente difícil por causa da Segunda Guerra Mundial que atingiu as grandes potências do mundo e deixou quase toda a Europa em ruínas e pelas dificuldades que ela acarretou. Mas, apesar da penúria de meios, a Província conseguiu manter o seu ritmo de desenvolvimento sempre crescente. O Conselho Provincial em 1946 ficou assim formado: P. José Pereira de Oliveira, Superior Provincial; Assistentes: PP. Olavo Teixeira e Agostinho Lopes de Moura. Conselheiros: PP. António Ribeiro Teles, P. José Pereira de Oliveira Cândido Costa, Joaquim Castro, e Firmino Cardoso Pinto; P. Augusto Teixeira Maio, secretário provincial; P. Francisco Nogueira da Rocha, Prefeito Provincial dos Estudos. Procurador da Província: P. António Gomes. Nesta altura eram 48 os alunos de Teologia, 41 os de Filosofia, 9 os noviços clérigos, 6 os noviços irmãos, 205 os escolásticos menores. Em 1947, foi nomeado Procurador Provincial e das Missões o P. João Pinto da Silva, acumulando o cargo de Procurador das Missões. Segundo o Diário do Governo, IIª Série, nº 112 de 16 de Maio de 1941, o nome oficial da Província, passou a ser: “Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo. Os seminários deviam chamar-se “Seminários das Missões do Espírito Santo” e a Torre da Aguilha “Instituto Superior Missionário do Espírito Santo”. Em 1943, abre-se o Lar Académico de Coimbra, cujo primeiro director foi o P. Clemente Pereira da Silva. Este Lar foi criado para fomentar a propaganda no meio universitário, em vista de possíveis vocações e à criação na Cidade dos Doutores de mais facilidade de acolhimento, até para confrades que um dia fossem frequentar a universidade. Mas, no ano seguinte, 1944, o P. Clemente parte para Angola como visitador das missões, onde demorará cerca de dois anos. 444 Adélio TORRES NEIVA Em 1943, fez-se a unificação de todas as obras de Propaganda, ficando a sede central sediada na Casa de Lisboa. A substituir a revista “Missões de Angola e Congo”, ressuscita-se a “Portugal em África”, confiada aos PP. Joaquim Alves Correia, António Brásio e Nogueira da Rocha. O movimento liamista desenvolve-se, tomando grandes proporções, de modo que, se não fora ele, a Congregação não se poderia ter aventurado à compra da Quinta da Torre da Aguilha, perto de Carcavelos, destinada a construção do seminário de Teologia, o que se fez em 1948. Efectivamente o Escolasticado Maior de Viana do Castelo, já mal podia conter os alunos de Filosofia e Teologia, que ultimamente tinham crescido cada vez mais. Ao P. José Pereira de Oliveira cabe o mérito de dar a esta obra o indispensável apoio nos momentos oportunos. Em 1945, fecha-se o seminário da Guarda, por se julgar já não ser necessário ao recrutamento das vocações. O caso do P. Joaquim Alves Correia 1945 foi também marcado por um acontecimento que teria grande impacto no quadro político português. O P. Joaquim Alves Correia, procurador das Missões, desde 1922, era um espírito particularmente sensível às injustiças e à violação dos direitos humanos, nomeadamente no campo da política. Os seus artigos e a sua agressividade tinham já incomodado alguns superiores, nomeadamente o P. Pinho que, por vezes, se sentia indisposto com os seus escritos e o seu espírito crítico. Em algumas cartas, o P. Pinho sugere ao Superior Geral, o seu envio para as missões ou então para Chevilly, como professor de Teologia. O seu livro “A Largueza do Reino de Deus” teve muito impacto nos meios católicos de vanguarda. Em 1945, a política portuguesa vivia um momento delicado: estava-se na campanha para as eleições legislativas de 18 de Novembro. A 19 de Outubro, aniversário da revolução que em 1921 vitimou algumas das mais destacadas figuras do regime republicano, a União Nacional achou por bem, espalhar na capital, a partir de uma avioneta, “folhinhas manchadas de sangue com os nomes das vítimas a nadar na mancha e a denúncia dos governos anteriores ao 28 de Maio, como sendo aquilo mesmo, tendo por símbolo vivo o 19 de Outubro”.381 Apanhado na rua, o prospecto suscitou ao P. Alves Correia a mais viva indignação, que ele exprimiu no artigo “O mal e a caramunha”. O artigo, segundo o P. Alves Correia, “não passava de um protesto contra os partidários e sectários (do Governo), que faziam propaganda do ódio, acusando de criminosos numa revolução (a de 19 de Outubro de 1921), precisamente aqueles que pediam luz sobre estes crimes e que a censura actual obrigava a calar. “Uma imprudência da minha parte, mas um acto primo primi irresistível”, confessa o P. Alves Correia.382 381 382 AGCSSp. CORREIA, P. Joaquim Alves. Explicações a quem fica por cá Carta ao superior Geral de 24/1/1946 O Provincialato do P. José Pereira de Oliveira 445 O P. Alves Correia mandou o artigo para o “Jornal do Comércio e Colónias”, onde trabalhava o seu antigo aluno e amigo Raul Rego. Consciente do carácter polémico do artigo, o Director do Jornal recusou publicá-lo. Foi então que Raul Rego, por sua total iniciativa, sem nada dizer ao P. Correia, mandou o artigo para a “República”, o jornal da oposição.383 O artigo saiu na “República” de 23/10/1945. No dia 24, o P. Alves Correia é chamado ao patriarcado e o Patriarca, seu amigo, avisa-o “que se prepare, pois parece estar escolhido para vítima”. Às 17,00h, o P. Correia é intimado a apresentar-se ao 2º Comandante da Polícia, no Governo Civil. Dali foi para o Ministério da Justiça, onde, depois de uma longa espera, expõe ao Ministro as razões que o levaram a escrever o artigo, insistindo, porém, que não fora sua intenção publicá-lo no jornal da Oposição “A República”. Às 21,30h regressa a casa. No dia 25, o P. Alves Correia põe o Superior Provincial, então com residência no Porto, ao corrente do acontecimento e pede-lhe para vir para Lisboa e assumir o encargo de representação da Congregação junto do Governo, pois que ele próprio se demitia dessa função. Em carta de 30 de Novembro de 1945, escreve ao Superior Geral: “Estou em plena tempestade e a Congregação também, um pouco por minha culpa. Respondi energicamente a uma exploração política de partidários do Governo em defesa de uma família amiga e dos seus amigos democratas. O meu artigo foi publicado num jornal para o qual não tinha sido destinado, porque um jornal mais conservador teve receio de um “dies irae”. Eu queria publicar uma pequena nota no jornal católico admitindo claramente a indisciplina e a intervenção sem consulta dos superiores eclesiásticos e religiosos. O patriarca e um amigo de Salazar aconselharam-me a esperar e remeter-me para já a um silêncio completo. O Provincial não dirá portanto nada mais, a não ser depois de algum tempo mais ou menos longo. O Patriarca é de opinião que tudo terminará em bem. Estou certo, Monsenhor que V. me julgará só depois. Para já, reze connosco. Saberá os pormenores quando eu puder ser mais claro. Vosso filho (não assina, mas conhecese a letra). Entretanto o Ministério publica uma nota, ameaçando o P. Correia com os tribunais, por crime de calúnia.384 A publicação do artigo do P. Alves Correia e a reacção do Governo e da imprensa deixaram o Conselho Provincial em posição muito delicada. Por um lado, tratava-se de não cair no desagrado do Dr. Oliveira Salazar, cuja rudeza temiam viesse a projectar-se negativamente sobre a Congregação em Portugal e no Ultramar e, por outro, receavam-se as consequências da campanha desencadeada pela imprensa católica e nacionalista contra o P. Correia, de que não saía isenta a Congregação a que ele pertencia. Por sua vez, os bispos de 383 384 AGCSSp. CORREIA, P. Joaquim Alves. Explicações a quem fica por cá. Carta do P. Francisco Rocha de 25/10/1945 Carta do P. Alves Correia de 29/10/1945 Este tema está bastante desenvolvido no livro do P. Francisco Lopes. O P. Joaquim Alves Correia, ao serviço do Evangelho e da democracia. Rei dos Livros 1996. p. 158-160. 446 Adélio TORRES NEIVA Angola, escreveram ao Provincial dizendo que tinham apresentado ao Ministro das Colónias um documento em que se queixavam do P. Correia como seu representante. Entretanto, cruzavam-se cartas entre o Provincial e os seus conselheiros. A troca de correspondência levou o Provincial a convocar uma reunião do seu Conselho para o dia 3 de Novembro. Dali saíram as seguintes conclusões: - Substituir o P. Alves Correia, no cargo de representante junto do Governo, substituição já solicitada pelo interessado; - Afastá-lo de Lisboa ou até de Portugal, por algum tempo. - Dar uma satisfação ao Governo.385 Após a reunião, o Superior Provincial veio a Lisboa, encontrou-se com o Ministro da Justiça a quem garantiu que as ideias políticas do P. Alves Correia eram pessoais e não da Congregação. O Ministro aceita as desculpas, mas diz-lhe que se o P. Correia continuar em Portugal, será certamente condenado no processo que lhe mandará instaurar. A solução que restava ao Provincial era mandá-lo para o estrangeiro para não ser detido. Conhecedor de que os Superiores temiam o envolvimento da Congregação neste caso, o P. Correia, sem lhes dar prévio conhecimento, escreveu uma carta ao jornal “A Voz” em que declara que toda a responsabilidade do artigo é inteiramente sua; a Congregação nada tem a ver com o caso.386 Mesmo assim, a decisão do Conselho estava tomada: o P. Correia teria de deixar o país por algum tempo, para evitar o processo que lhe fora instaurado e o levaria à prisão. Discutidas as várias opções com o P. Alves Correia, só lhe restava o exílio para os Estados Unidos da América. De tudo o Provincial informa o Superior Geral num relatório datado de 12 de Novembro de 1945. O Provincial termina o seu relatório, acrescentando: “Importa dizer que o Padre Correia é um religioso exemplar, duma vida sobrenatural intensa, transbordante de bondade para com todos, com um coração cheio de compaixão pelos pobres e miseráveis”.387 O Superior Geral escreveu então ao Provincial da América um telegrama a pedir-lhe para encontrar para o P. Correia uma paróquia de língua portuguesa. O Provincial de Portugal estava de acordo. A 24 de Janeiro de 1946, o Padre Alves Correia entregou a Procuradoria e, a 17 de Fevereiro, partiu para os Estados Unidos, para junto da colónia portuguesa de San Diego. Em 1947, foi nomeado professor de Sociologia na Universidade de Duquesne em Pitsburgo, onde ficou até morrer, a 1 de Junho de 1951. Em 1980, o Presidente da República de Portugal condecorá-lo-á com o grau de GrandeOficial da Ordem da Liberdade.388 Como Procurador das Missões, era nomeado o P. Avelino Costa; mas, em 385 AGCSSp. 5 A VOZ, 2/11/1945 AGCSSp., 5 388 Ibid. Carta de 24/5/1945 386 387 O Provincialato do P. José Pereira de Oliveira 447 1947, é substituído pelo P. João Pinto da Silva. Neste ano de 1945, o Provincial fixa a sua residência em Lisboa, mudando também para aqui a Associação de Nossa Senhora de África. A Casa do Porto servirá sobretudo para acolhimento de confrades idosos e doentes, além da assistência ao Monte Pedral. Em 1947, esteve na Província como visitador o P. Harcher. Em Junho visitou a Província o Superior Geral, Mons. Le Hunsec, visita que já tinha feito em 1928 e 1932. De acordo com a Casa Mãe decidiu-se que, doravante, a Recolecção dos Padres da Província pode ser feita na França, o que oferece vantagens reconhecidas por todos. Na reunião do Conselho Provincial de 28/8/1948 foi decidido que o Noviciado dos Irmãos passasse para a Quinta de Carreço e que se começasse sem demora as obras da construção do novo seminário na Torre da Aguilha. O pedido para a Casa Mãe para abrir uma residência na Torre da Aguilha, sob a invocação de Nossa Senhora de Fátima, é de 1 de Dezembro de 1948. A 18 de Fevereiro de 1948, o Procurador de D. Moisés Alves de Pinho, Dr. Manuel Vitorino Rodrigues Teixeira, doava à Congregação os seguintes prédios que estavam ainda em seu nome: - A Casa da Rua Nova do Regado, 250, Porto; - Um prédio da Avenida Rodrigues de Freitas, na freguesia do Bonfim; - O Seminário de Viana do Castelo; - Um prédio rústico e duas leiras anexas de mato e lenha em Santo Adrião, freguesia de S. Lázaro, Braga;389 - O prédio do Monte de Penouços, na freguesia de Nogueira; - O montado de Santa Marta na freguesia de Nogueira; - A Quinta e Solar da Silva; - A Quinta do Assento; - A Quinta da Penha Longa e outras propriedades.390 Na reunião do Conselho Geral de 31 de Maio de 1949, foi nomeado Provincial de Portugal, em substituição do P. José Pereira de Oliveira, o P. Agostinho Lopes de Moura. Quando o P. Oliveira deixou o governo da Província, a 1 de Julho de 1949, contava ela: 36 alunos de Teologia, 46 de Filosofia, 29 noviços clérigos, 227 escolásticos menores e 29 alunos na Escola Profissional. 389 390 Alvará de 24 de Abril de 1980 publicado no Diário da República nº 148, 2ª série, de 30/06/1980 nº 10 Escritura de 4/3/1948 449 Capítulo 46 O Lar Académico de Coimbra N a Avenida Marnoco e Sousa Foi em Outubro de 1943 que, na cidade universitária portuguesa, se fundou o Lar Académico ou Residência de Nossa Senhora de Fátima, em Coimbra, para assistência espiritual e moral aos jovens estudantes da universidade e em vista das vocações missionárias que se poderiam encontrar entre os estudantes. Eram duas vivendas alugadas, o nº 20 e 22 da Avenida Marnoco e Sousa, ao Penedo da Saudade. Foi seu primeiro director o P. Clemente Pereira da Silva, que nesse mesmo ano deixou o cargo de Provincial, coadjuvado pelo P. Ismael Baptista, como ecónomo e pelo Irmão Eliseu, para o serviço da casa. A primeira acta da reunião da Comunidade remonta a 25 de Janeiro de 1944. No ano lectivo seguinte, 1944, tendo o P. Clemente sido nomeado como Visitador das Missões de Angola, foi escolhido para lhe suceder no Lar de Coimbra, o P. António Gomes da Silva, continuando como seu colaborador no economato o P. Ismael Baptista. Na reunião de 22 de Setembro de 1944, foi fixado o Regulamento que orientaria a vida dos universitários no Lar. No início do ano lectivo de 1945-46, o P. António Gomes da Silva era nomeado Director da Residência do Porto e o P. Ismael Baptista acompanhouo nesta deslocação. Foi nessa altura que o P. António Brásio deixou a Procuradoria de Lisboa e foi enviado para Coimbra como director deste Lar, coadjuvado pelo P. Manuel Laje. Neste Lar não se procurava tanto o recrutamento de vocações para a Congregação, como captar amizades e simpatias, entre os estudantes que serão num futuro próximo os homens públicos da nação. Em 1946, o número dos estudantes era de 17. Mas, já nesta data, o visitador P. Harcher, achava preferível reservar a casa para residência dos jovens padres espiritanos que devessem tirar uma formatura na universidade, o que para o visitador era uma prioridade a que se deveria atender, a fim de promover um maior interesse pelos estudos entre os jovens padres espiritanos e assim poder fundar escolas superiores nas colónias; era uma exigência do futuro das missões e da Igreja, nas terras de missão, onde os protestantes americanos levavam já grande vantagem.391 391 Escritura de 14/12/1947 450 Adélio TORRES NEIVA No início do ano académico de 1950-51, ainda sob a direcção do P. António Brásio, mas agora só na vivenda nº 20, a finalidade desta casa sofrerá efectivamente uma orientação diferente: continuaria como residência universitária mas apenas para sacerdotes espiritanos que ali se preparariam para professores nos seminários da Congregação. Nesta data para aqui vieram os dois primeiros estudantes espiritanos: os PP. José Coelho Amorim e Américo Augusto Ferreira, o primeiro para Ciências FisicoQuímicas e o segundo para Letras Românicas. Com eles veio também o Ir. Elias Moreira, como cozinheiro. Como os dois estudantes não conseguissem a entrada imediata na universidade por falta de habilitações académicas adequadas, tiveram que ir frequentar a Universidade Pontifícia de Salamanca, a fim de conseguir o diploma de licenciatura em Teologia. Voltaram devidamente credenciados no ano lectivo de 1951, ano em que começaram os seus estudos em Coimbra. Durante o ano lectivo de 1950-1951, a casa ficou apenas com o P. António Brásio e o Ir. Elias. Durante este ano há a assinalar a Semana Missionária que ocorreu nos princípios de 1951, iniciativa do P. António Brásio, a cujo encerramento presidiu o Ministro do Ultramar. No ano seguinte, chegariam, também licenciados por Salamanca, mais dois estudantes: os PP. Álvaro Miranda Santos, para Letras Histórico-Filosóficas e José Carreira Júnior, para Ciências Fisico-Químicas. A primeira capelania que a comunidade tomou foi a da Trémoa, pertencente a Miranda do Corvo. A 15 de Maio de 1952, o P. António Brásio era chamado para dirigir o jornal “Acção Missionária” em Lisboa e, para o substituir, foi nomeado o P. Manuel António Meira, então pároco de S. Domingos de Rana. O P. Meira, além de se consagrar à pregação, foi também confessor de várias comunidades religiosas, incluindo as Irmãs de Penacova, abrindo assim um ministério e uma presença, que mais tarde o P. Isalino Alves Gomes continuaria e intensificaria. Foi durante o governo do P. Meira que se aceitaram novas capelanias, como a da comunidade das Irmãs do Amor de Deus nos Sardões, a da Igreja de S. José e a do Carquejo. A primeira visita importante a esta casa foi a do Superior Geral, P Griffin, que aqui chegou a 10 de Maio de 1953, acompanhado do Assistente Geral, P. Clemente Pereira da Silva, e do Provincial, P. Olavo Teixeira, por motivos relacionados com a ordenação episcopal de D. Agostinho de Moura. Em Outubro de 1954, o P. Meira era nomeado superior do Fraião e para o substituir, foi nomeado o P. Isalino José Alves Gomes, que chegou a Coimbra em Novembro de 1954. Na primeira reunião da comunidade com o P. Isalino, a 10 de Dezembro, foi resolvido aceitar a capelania de Coselhas e no ano seguinte, a pedido do Sr. Bispo, a capelania do Refúgio de Santa Isabel e depois a do Lar das Doroteias, Servas de Maria, Irmãs de Jesus, Maria e José, Carmelo, etc. O P. Isalino bem depressa começou a ser solicitado como confessor de várias comunidades, nomeadamente no Seminário diocesano, convento da Visitação na O Lar Académico de Coimbra 451 Cruz de Morouços, Colégio de Santa Isabel, Lar das Teresianas, Servas de Maria, Irmãs de Jesus, Maria e José, Irmãs da Sagrada Família, Seminário Dehoniano, Franciscanas Missionárias de Maria, etc. Os outros padres, além dos estudos e da sua colaboração nas capelanias, assumiram também o acompanhamento espiritual a vários grupos de estudantes no CADC. A 19 de Julho de 1956, o P. Américo Ferreira concluía a sua formatura em Filologia Germânica, sendo o primeiro espiritano a ser licenciado nesta casa. Na Travessa do Instituto Geofísico (Espírito Santo) Em 1956, a Congregação viu-se na necessidade de comprar uma casa própria em Coimbra. O primeiro olhar foi logo para a casa do Dr. Rodrigo Gustavo Couceiro da Costa, lente catedrático da Universidade de Coimbra, na Travessa do Instituto Geofísico, antigamente Travessa do Observatório, à Avenida Dias da Silva, que acabava de falecer e cuja casa foi posta à venda. Momentos antes, o Comendador Duarte Martins, posto a par das intenções dos Espiritanos, havia apontado e insinuado a casa vizinha desta, pertencente também a um catedrático reformado, o falecido Dr. Anselmo Ferraz de Carvalho. Os Superiores da Província Portuguesa, depois de bem consideradas as coisas, acharam ser de toda a conveniência comprar as duas casas e, nesse sentido, se começaram a fazer as necessárias diligências. A 2 de Agosto de 1956, os PP. Nogueira da Rocha e Joaquim Correia Castro, do Conselho Provincial, encontraram-se com D. Eduarda, viúva do Dr. Ferraz de Carvalho e ultimaram-se os documentos para a transição das casas A Casa de Coimbra em questão tendo o P. Isalino acompanhado de muito perto todo o processo. A 21 de Agosto deste ano, seguiram para Lisboa, a fim de assinarem a escritura de venda da casa, a D. Eduarda Ferraz e seu filho, comandante da Marinha, que aqui se encontravam a retirar as suas pertenças. Por escritura de 22 de Agosto de 1956, a Congregação comprava a casa a D. Eduarda Hikcing Ferraz de Carvalho, viúva do Dr. Anselmo Ferraz de Carvalho; as chaves foram entregues a 30 de Agosto. A 3 de Setembro, começou o transporte dos haveres da Casa da Avenida Marnoco e Sousa para a Casa Ferraz, operação que se prolongou até ao dia 19 de Setembro. No dia 3 de Setembro, o P. José Carreira foi já dormir à Casa Ferraz. Por escritura de 21 de Setembro de 1956, a Congregação comprava também a Francisco Manuel Carriço Couceiro da Costa e Maria Helena Carriço Couceiro 452 Adélio TORRES NEIVA da Costa, solteiros, estudantes, a casa nº 10-12, na Azinhaga do Observatório, à Cumeada, por óbito de seu pai Dr. Rodrigo Gustavo Couceiro da Costa, professor da universidade de Coimbra, casado com separação absoluta de bens, com D. Maria Helena Franco Witnich Carriço Couceiro da Costa. No dia 22 de Setembro, a comunidade começou a fazer as suas orações num quarto adaptado para capela na Casa Ferraz. A 29 de Setembro, deixou a comunidade e seguiu para o Fraião, onde foi colocado como professor, o P. José Coelho Amorim. Para o substituir, veio a 1 de Outubro o P. António Oliveira Giroto, a fim de estudar Ciências Biológicas. A casa Couceiro começou também a ser ocupada, dividindo-se os confrades por ambas as casas. A partir de 13 de Dezembro, dia de Santa Luzia, foi entronizado na Casa Ferraz, o Santíssimo Sacramento. No dia 14 de Dezembro, tomou hábito nas Irmãs da Visitação no mosteiro da Cruz de Morouços, a Irmã Agostinha de Sales, (D. Gracinda) mãe do Sr. D. Agostinho de Moura, tendo presidido à cerimónia o Sr. D. Agostinho, acompanhado do Cónego Brito Cardoso e do P. José Felício. No princípio do ano seguinte, 1957 fizeram-se os arranjos necessários nos acessos da casa Ferraz para a Casa Couceiro, segundo as orientações do engenheiro Costa Alemão e do arquitecto que o acompanhava. E começaram as plantações de árvores de fruto, nomeadamente macieiras e laranjeiras, nos dois quintais. A 28 de Setembro de 1957, chega um novo estudante, o P. Manuel Martins Vaz, que veio fazer o 7º ano do liceu, a fim de frequentar Matemáticas na universidade. Entretanto, partirá para o Fraião, como professor, o P. José Carreira Júnior. Em Outubro de 1957, chega o P. Adélio Torres Neiva que vem fazer o Curso de História, na Faculdade de Letras. A 7 de Agosto de 1957, o P. Isalino, tendo ido acolitar a uma missa na Cruz de Morouços, na festa de Nossa Senhora das Graças, foi vítima de uma explosão de fogo de artifício, que destruiu a capela e que atingiu de maneira muito violenta o P. Isalino, que partiu a coluna vertebral e fracturou várias costelas, além de outras contusões. Conduzido à clínica da Sofia, ali permaneceria internado 43 dias, até ao dia 20 de Outubro, data em que partiu para o Fraião a completar o restabelecimento. Regressaria a Coimbra a 8 de Janeiro de 1959, quase completamente restabelecido. Entretanto, a 2 de Outubro regressava a Coimbra o P. José Coelho Amorim e nesse mês deixava Coimbra, a caminho das missões de Nova Lisboa, o P. António Giroto. A 16 de Março de 1959, a Câmara Municipal informava que a Travessa do Instituto Geofísico mudava o nome para Travessa do Espírito Santo, em conformidade com o pedido feito nesse sentido pelo P. Isalino. A 25 de Julho de 1959, era lançada na Cruz de Morouços a primeira pedra para uma nova capela que substituiria a que tinha sido destruída pela explosão do fogo O Lar Académico de Coimbra 453 de artifício. A 19 de Agosto de 1959, as duas casas foram marcadas respectivamente com os números 10 (Casa Couceiro) e 16 (Casa Ferraz). Também neste ano de 1959 se começou a construção da Clínica de Santa Teresa, na quinta do Dr. Diniz, logo a seguir à Casa Ferrraz, sendo seu director o Dr. Assis Pacheco, amigo dos Missionários do Espírito Santo. A 29 de Outubro de 1959, concluiu a sua formatura em Físico-Químicas o P. José Coelho Amorim. No ano lectivo de 1960-61, chegou um novo estudante, o P. Manuel Rodrigues Areia, que veio fazer o 7º ano do liceu, para frequentar Biológicas; neste ano a comunidade era formada pelo P. Isalino Gomes, superior, P. Manuel Martins Vaz, (4º ano de Matemática) Adélio Torres Neiva (5º ano de História) e Manuel Rodrigues Areia (7º ano do Liceu). Em Outubro de 1962, depois de ter concluído os seus estudos, deixou Coimbra o P. Adélio Torres Neiva, que foi colocado na comunidade da Estrela. A 16 de Dezembro de 1962, foi ordenado bispo de Aveiro, o reitor do seminário maior de Coimbra, o Cónego Manuel de Almeida Trindade. Em 1964, constituíam a comunidade os PP. Isalino Gomes, superior, Manuel Ferreira, Manuel Martins Vaz, Manuel Rodrigues Areia e Ir. Paulo Coelho. No ano seguinte, 1964-65, o P. Isalino foi transferido para o Porto como director da residência e capelão do Monte Pedral, assumindo o cargo de director da residência de Coimbra o P. Manuel Martins Vaz, o de ecónomo o P. Manuel Areia e fazendo também parte da comunidade o P. António Marinho Amorim da Costa, estudante de Biológicas e o Ir. Paulo. A 21 de Novembro de 1965, organizado pelo P. Martins Vaz, teve lugar o I Encontro - Convívio dos Antigos Seminaristas do Espírito Santo, que actualmente frequentavam a universidade de Coimbra. Compareceram 13, sendo a missa presidida pelo P. Cândido Ferreira da Costa. Foi eleita uma direcção promotora de futuros encontros deste género, constituída pelo Verdelho e pelo Sobral. No ano de 1965-66, vem para a comunidade o P. Manuel Arruda, a fim de estudar Filologia Românica. No início do ano escolar a cozinha passou para a Casa Couceiro e a 24 de Dezembro foi ali inaugurada a nova capela. Em Maio de 1966, o P. Martins Vaz faz as suas provas para professor extraordinário da Faculdade de Ciências, ficando em segundo lugar na classificação. A 27 de Outubro desse ano, o P. Manuel Areia concluiu a sua formatura em Ciências Biológicas, sendo em seguida colocado no Fraião. Veio para a comunidade o P. Olavo Teixeira, em serviço do Movimento dos Apóstolos do Imaculado Coração de Maria. Por portaria publicada no Diário do Governo de 12 de Setembro de 1968, foi nomeado professor agregado das cadeiras de Desenho e Cursos anexos, pela Universidade de Coimbra, o P. Manuel Martins Vaz. Em Outubro de 1968, deixou esta comunidade, sendo colocado na Silva, o P. Olavo Teixeira. A comunidade ficou a ser constituída pelos PP. Manuel Martins 454 Adélio TORRES NEIVA Vaz, director e professor na universidade, Manuel Arruda, estudante de Românicas, António Marinho Amorim da Costa, ecónomo e estudante de Química e o Ir. Paulo Coelho. Em Agosto de 1969, abandonou a comunidade o P. Manuel Arruda, depois de ter recebido de Roma o indulto da redução ao estado laical. Deixou também a comunidade o Ir. Paulo Coelho, que foi para Godim, como cozinheiro. Por sua vez vieram para esta comunidade o P. João Pinto da Silva e o Ir. Bonifácio. A comunidade ficou assim constituída: P. Martins Vaz, director, P. Amorim da Costa, ecónomo, P. João Pinto da Silva e Ir. Bonifácio. Em Outubro de 1970, o P. Pinto da Silva partia para a nova residência de Pedras Salgadas, sendo substituído pelo P. Firmino Cardoso Pinto. Novas valências da Casa de Coimbra Na sua reunião em Lisboa, de 8 e 9 de Outubro de 1970, o Conselho Provincial resolveu transferir para Coimbra a Obra dos Irmãos, sendo nomeado director do Postulantado o Irmão Duarte Costa. Pedida e concedida a autorização do bispo da diocese, D. Francisco Rendeiro, a transferência do Fraião para Coimbra começou a fazer-se com a chegada do Ir. Duarte Costa e do postulante Óscar, a 26 de Outubro de 1970. Os restantes postulantes José Paiva, Carlos Silva, Juvêncio Gonçalves, Machado, Queirós e Rocha chegariam a 25 de Novembro. Era então superior da Residência o P. Manuel Martins Vaz, subdirector da obra e ecónomo o P. Firmino Cardoso, cozinheiro o Ir. Bonifácio. Os aspirantes começaram por frequentar o externato “Os Lusíadas” e a Escola Industrial “Brotero” no primeiro e segundo ciclo. Esta obra funcionou nos anos 70 e 71. As desistências foram bastantes ao longo do ano, pelo que esta obra não teve continuidade. A 28 de Setembro de 1971, regressa a esta comunidade o P. Isalino Gomes e chega pela primeira vez o Ir. Eugénio (Avelino Afonso da Rocha) e no dia 30 o P. Joaquim Vaz. A comunidade ficou constituída pelos PP. Isalino Gomes, superior, P. Joaquim Vaz, e Irmãos Eugénio e Bonifácio. A 26 de Setembro de 1972, o Ir. Bonifácio foi gravemente atropelado por um automóvel, acidente de que veio a falecer no hospital a 11 de Outubro, sendo sepultado no cemitério da Conchada. A 1 de Janeiro de 1974, faleceu inesperadamente o P. Joaquim Vaz, sendo sepultado em Penela, sua terra natal. Para o substituir na comunidade veio, a 1 de Fevereiro de 1974, o P. Joaquim Correia da Rocha. Em 1975, veio para a comunidade o P. Felismino Gabriel Jacob, a fim de frequentar a faculdade de Medicina e, em 1976, o P. José Sequeira que assumiu o ministério de pároco em S. Paulo de Frades. Centro de Animação Missionária Em 1976, devido a uma nova organização da animação missionária da O Lar Académico de Coimbra 455 Província, foi criado um Centro de Animação Missionária em Coimbra, que começou a funcionar com os PP. Veríssimo Manuel Teles e Adélio Cunha Fonte. Nesse mesmo ano, as duas casas, sobretudo a Casa Ferraz, sofreram profundas remodelações. Em 1977, além do núcleo primitivo da casa formado pelos PP. Isalino Gomes, Joaquim Correia da Rocha e José Ribeiro Sequeira, funcionava o Centro de Animação Missionária, com os PP. Magalhães Fernandes, Veríssismo Manuel Teles e Adélio da Cunha Fonte. A 06 de Abril de 1977 o P. Isalino Gomes foi atropelado, sendo internado na clínica de Santa Cruz. A 30 de Julho de 1979 faleceu na clínica de Montes Claros o P. Joaquim Barata, sendo sepultado na Conchada. Em 1979/80 o Centro de Animação Missionária, instalado na Casa Ferraz remodelada, era formado pelos PP. Veríssimo Teles, Adélio Cunha Fonte, Magalhães Fernandes e Joaquim Correia da Rocha. Em 1980, juntamente com a Animação Missionária começou a funcionar na Casa Ferraz, a Obra dos Aspirantes Adultos, a cargo dos PP. Tarcísio Santos Moreira, como director, Norberto Cristóvão e Ir. André. Entretanto o P. Magalhães Fernandes foi para Espanha fazer um curso de preparação para Mestre de Noviços. Esta Obra de Aspirantes Adultos funcionaria aqui desde 1980 a 1983. Após várias diligências infrutíferas para localizar o noviciado dos clérigos na diocese de Aveiro – uma dessas hipóteses foi a paróquia de Tamengos, junto da Curia, mas a que faltavam as condições mínimas – o noviciado foi erigido, na Casa Couceiro, nº 10. A autorização da Casa Generalícia é de 28 de Agosto de 1981 e a aprovação do bispo da diocese é de 6 de Julho de 1981. Assim, com o P. Magalhães Fernandes a mestre de noviços e o P. Francisco Gonçalves a sub-mestre, começou a funcionar o noviciado a 4 de Setembro de 1981, com os noviços António Pinto, João Teixeira, José Cunha e Tony Neves. Como cozinheiro veio o Ir. Paulo Coelho. A Profissão foi a 8 de Setembro de 1982. O noviciado permaneceria nesta comunidade desde 1981 a 1983. A 12 de Fevereiro de 1981, o P. Isalino teve uma queda que o obrigou a hospitalizar-se de novo. Quando o noviciado saiu desta casa, ela continuou mantendo como principal actividade a Animação Missionária, com os PP. Adélio da Cunha Fonte, Veríssimo Teles e Magalhães Fernandes. Como ecónomo, ficou o P. Francisco Gonçalves. Em 1991, veio como animador missionário, o P. António Luís Marques de Sousa. O P. Isalino Gomes faleceu a 2 de Janeiro de 1986. O seu zelo apostólico nunca conheceu tréguas e, sobretudo nos últimos anos, foi um grande conselheiro de inúmeros sacerdotes e leigos através do ministério da reconciliação. A casa Ferraz, nº14-16 em Fevereiro do ano 2000, foi arrendada a Leonor Condesso Aires, pelo prazo de cinco anos para a instalação de um Lar de Acolhimento a Jovens do sexo feminino do Ciclo Secundário e Universitário. 456 Adélio TORRES NEIVA A comunidade, agora restringida à Casa Couceiro, celebrou o seu cinquentenário a 30 de Outubro de 1993. Para solenizar a efeméride estiveram presentes, além do Provincial, um representante de todas as casas da Província. Presidiu às celebrações o Bispo da Diocese D. João Alves, que na Eucaristia, concelebrada por duas dezenas de sacerdotes, salientou, agradecido, os serviços prestados pela Congregação à sua diocese, particularmente ao Seminário, garantindo durante décadas a administração do sacramento da reconciliação. Nesse ministério mereceu particular referência o P. Isalino Gomes. No ano de 2003, a comunidade tem como superior o P. Magalhães Fernandes, ecónomo o P. Francisco Gonçalves e colaboram no ministério os PP. José Coelho Amorim e Correia da Rocha. Para apoio material está o Irmão António Gonçalves. 457 Capítulo 47 A Revista “Portugal em África” (2.ª Série) A revista “Portugal em África” constitui, sem dúvida, o documento mais eloquente do investimento da LIAM na área da cultura, sobretudo da cultura missionária. A revista tinha nascido em Janeiro de 1894 e fora interrompida pela revolução de 1910. Nasceu da necessidade de repor o protagonismo da religião cristã, então muito contestado, nos espaços da colonização portuguesa. “Manter o público ao corrente dos nossos trabalhos missionários, publicando ao mesmo tempo artigos científicos sobre várias questões de interesse para as missões”. Em 1910, com a implantação da República e a perseguição às Ordens e Congregações religiosas, a revista não tinha mais condições para continuar a sua gesta. Em 1944, depois da longa travessia do deserto em que as congregações missionárias tinham sido silenciadas, o Governo acabou por reconhecer a necessidade dessas congregações e o papel que elas poderiam desempenhar na renovação da vocação missionária de Portugal e na recuperação do prestígio do antigo Império ultramarino. Foi assim que foi firmada a Concordata e o Acordo Missionário de 1940 e será assim que um grupo de espiritanos, integrados na LIAM e mais sensíveis a esta problemática resolveu relançar a “Portugal em África,” 50 anos depois do aparecimento do primeiro número da primeira série. Logo na primeira reunião da “Obra da Propaganda” realizada em Lisboa a 8 de Outubro de 1943, ficou decidido que o P. António Brásio ficaria especialmente encarregado de se ocupar da colaboração externa da revista “Portugal em África”, devendo convidar para isso pessoas idóneas e competentes. Alguns nomes foram logo sugeridos nessa primeira reunião, tais como: Nuno Simões, Manuel Múrias, Luís Chaves, Mendes Correia, Norton de Matos, Vicente Ferreira e outros. Do mesmo modo deveriam ser contactadas congregações religiosas com responsabilidades na matéria, como os Jesuítas, Beneditinos, Franciscanos, etc. O P. Francisco Nogueira da Rocha ficaria incumbido do secretariado da revista que deveria integrar as seguintes secções: Teologia missionária, História das Missões, Etnologia, Problemas coloniais, Actualidade missionária, Revista de revistas e Bibliografia. No seu primeiro número, o P. Clemente Pereira da Silva, então Provincial dos Espiritanos, lembrava os motivos que impunham o relançamento da revista: “Não havia em Portugal nenhuma revista de cultura missionária: era uma inferioridade a que se não podia sujeitar um país de tradições missionárias como o nosso e era preciso formar a consciência missionária entre as classes cultas da 458 Adélio TORRES NEIVA sociedade portuguesa, que não só entre o bom povo português, para o que existem já bastantes publicações de carácter missionário. Assim reaparece Portugal em África“. Os primeiros a aderir ao projecto foram os Drs. Nuno Simões, Manuel Múrias, Luís Chaves, Padre Dias Diniz e Companhia de Jesus. Na reunião de Dezembro desse mesmo ano, ficou assente o princípio de permutar a revista só com jornais diários e revistas de cultura; optou-se pelas seguintes revistas: Estudos (órgão do CADC de Coimbra), Brotéria, Boletim Geral das Colónias, Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, Ocidente, Revista de Portugal, Atlântico, Brasília, Instituto, Revista Portuguesa de História, Biblos, Revista de Guimarães, Lumen, Revista da Faculdade de Letras de Lisboa, Portucale, Mundo (Espanha), El Siglo de las Misiones e Catolicismo. Eram as revistas com expressão cultural mais significativa ao alcance da língua portuguesa e espanhola que então se publicavam. Mais tarde, decidiu-se permutar ainda com os “Boletins” oficiais das várias colónias e com a revista “Moçambique” de Lourenço Marques e foi também decidido enviar a revista às principais editoras para receber e recensear os livros que elas iam publicando. O primeiro número da revista apareceu em Janeiro de 1944 e em 1947 contava 1.208 assinantes, número que se manterá sempre modesto, a revelar a constante selectiva que sempre caracterizou a revista. A revista extinguia-se em 1973, quando os ventos políticos da época tornavam cada vez mais difícil manter a identidade da revista e cada vez menos oportuno o título com que se apresentava. De qualquer maneira, é indiscutível que a revista prestou um enorme serviço à cultura missionária, como expressão da história e da problemática das missões, como reflexão sobre a teologia missionária e sobre as ciências e a história das missões. Num primeiro tempo, sendo redactor o P. António Brásio, “Portugal em África” investirá sobretudo no espaço da História; num segundo momento, sob a responsabilidade do P. Álvaro Miranda Santos, serão as ciências humanas, como a psicologia e a sociologia que serão privilegiadas; finalmente na sua terceira fase, a fase da renovação conciliar, sendo redactor o P. Adélio Torres Neiva, será a teologia da missão que levará a prioridade. Entre os seus colaboradores, ao longo destes 29 anos, contam-se missiólogos, historiadores, cientistas, homens do governo e da Igreja e missionários. Lembremos alguns: - entre os teólogos e missiólogos, André Seumois, Masson, Daniélou, Charles Pierre, Jorge Sanches, Alves Correia, Fernando Santos Neves, Manuel Gonçalves, Jorge Veríssimo, etc. - dos historiadores, merecem referência o P. António Brásio, Silva Rego, Serafim Leite, Dias Diniz, Costa Brochado, Alberto Iria, Lopes de Almeida, Braga Paixão, António Ambrósio, Leite de Faria, Elaine Sanceau, António Silva, Domingos Maurício. - entre os cientistas e homens do saber, podemos destacar o P. Carlos Estermann, Carlos Mitelberger, Luís Chaves, Constâncio Tastevin, Nuno A Revista “Portugal em África” (2.ª Série) 459 Simões, Jorge Dias, Álvaro Miranda Santos, Nogueira da Rocha, Clemente Pereira da Silva, José Martins Vaz, Joaquim Martins, Francisco Valente, Joaquim António Silva, Correia Marques, António de Almeida, Marcelo Caetano, Moreira das Neves, José Maria Gaspar, Alberto Postioma, Diniz da Fonseca, Lopes Cardoso, Mendes Correia, Gastão de Sousa Dias, Antunes Valente, Plínio Salgado, Tomaz Ribas, Jorge Alarcão, João de Castro Osório, Pacheco Amorim. - das autoridades eclesiásticas, lembremos D. Moisés Alves de Pinho, D. Altino Santana, D. Teodósio Gouveia, D. José da Costa Nunes, D. Agostinho de Moura, D. Manuel Nunes Gabriel. - entre governadores e homens de Estado, podemos recordar o comandante Freitas Morna, Silva Tavares, Silva Cunha. - Maior é a lista de missionários que colaboraram na revista; só como exemplos, destaquemos Augusto Teixeira Maio, José Felício, Henrique Alves, Serafim Lourenço, Firmino Cardoso, Medeiros Janeiro, Alberto dos Anjos Coelho, João Vissers, José da Rocha Ferreira, Laurence Henderson, Manuel Geraldes, etc. A temática é extremamente variada. São múltiplos os estudos de Teologia Missionária, Espiritualidade Espiritana, História das Missões, Problemas de missionação, Ciências da Missão, como Etnografia, Linguística, Liturgia, Medicina, Literatura, Antropologia, além das secções habituais, como: Documentação, Seara alheia, Panorama missionário, Bibliografia, etc. De salientar dois números especiais: um, sobre as “Diagonais da Aculturação”, em 1960-61 e outro sobre “Evangelização e Linguística”, a propósito do I Encontro de Escritores de Angola, em 1973. Pode dizer-se que a visão teológica da missão apresentada pela “Portugal em África”, estava em consonância com a nova leitura da missão, embora a condicionante da hegemonia da soberania portuguesa estivesse sempre, pelo menos implícita. A maior parte dos artigos da teologia missionária, sobretudo antes do Concílio Vaticano II, mantém a ligação tradicional daquela com o alargamento da soberania portuguesa. No entanto, esta dimensão vai-se esfumando até desaparecer quase completamente nos últimos anos da revista. Efectivamente, durante todo o período da segunda série da revista, Portugal continuou a viver como potência colonial; este continuava a manifestar pretensões de preservação das províncias ultramarinas no seu território nacional, embora a ambiência internacional se afastasse cada vez mais desta perspectiva. Nos anos 40, surgiu em África o Movimento da Negritude - um movimento de luta anti-colonialista que procurava afirmar os valores da sua própria cultura e reivindicar a sua autonomia – e o movimento das independências afirmava-se cada vez mais como única saída para o futuro. São poucos os autores da revista “Portugal em África” que se pronunciam sobre este delicado tema da autonomia das Províncias Ultramarinas, até porque a revista estava sujeita à censura política e vários artigos foram de facto censurados. Os missionários que se pronunciaram sobre o assunto, nesta segunda série da revista, sintonizam-se em geral, pela política do Estado Português. Pode dizer-se que a segunda série da revista se identifica com a mesma estratégia da primeira: “Hoje como há 50 anos, em África, 460 Adélio TORRES NEIVA devemos procurar a grandeza da Pátria Maior”, escreveu o seu director logo no primeiro número. Esta linha de conduta nunca será negada pela “Portugal em África”; particularmente o P. António Brásio, que assumiu a direcção da revista logo a seguir ao P. Clemente Pereira da Silva, manifestou-se sempre intransigente nesta matéria. O problema será despistado, sobretudo na época pós-conciliar, ignorando a dimensão patriótica da missionação e insistindo cada vez mais nos valores da doutrina conciliar. Pouco a pouco, os novos temas da missiologia como a adaptação missionária, a inculturação, a igreja local, etc. foram abrindo o seu espaço, sobretudo pela porta das ciências humanas em que o P. Álvaro Miranda Santos, como director, investiu fortemente. Durante os anos do Concílio e nos anos subsequentes, a revista aborda praticamente toda a temática da nova teologia da missão, como o ecumenismo, a colegialidade episcopal, o protagonismo da igreja local na missão, a especificidade da Missão Ad Gentes, regresso às fontes, etc. Nesta fase foi evidente a preocupação dos redactores e da direcção da revista em abrir a Igreja portuguesa ao repensamento missionário conciliar. De uma missionação aliada à expansão da soberania portuguesa, passou-se a um modo de missionar a partir dos próprios documentos do Concílio. A história do passado cede cada vez mais terreno à história do nosso tempo. É ainda nesta linha que emerge cada vez mais o estudo e a redescoberta dos fundadores e o repensamento da espiritualidade espiritana. São efectivamente numerosos os artigos sobre a missão e a espiritualidade espiritana, agora lidos à luz das fontes, em perspectiva conciliar. “Portugal em África” é um testemunho único do itinerário da missão no contexto português e da sua conversão à renovação da teologia da missão. 461 Capítulo 48 O Seminário da Torre da Aguilha A Quinta da Torre da Aguilha O P. Joaquim Coelho da Silva, cura da freguesia de S. Domingos de Rana, anexa a S. Pedro de Penaferim, de Sintra, escreve a 8 de Abril de 1758, à Academia Real de História, dizendo que S. Domingos de Rana tinha 24 lugares, entre os quais Torre da Guilha, que contava então quatro fogos e acrescentava que “os maiores lucros deste povo procedem da abundância de pedra de cantaria”. A Torre da Guilha tinha então uma ermida dedicada a Santa Ana.392 Na “Descrição do Reino de Portugal”, escreveu o cronista Duarte Nunes Leão: “Outra (pedra mármore) vermelha há em Cascais a que chamão Torre da Guilha ainda de mais cerrado vermelho da qual ao presente se faz mais caso q de outras & se busca mais pera as obras de que agora se fez hua grande ara para a capella moor de nossa Senhora da Graça desta cidade. Nestas pedras despois de lauradas & polidas com o lustre que tem se podem ver como espelhos”.393 A pedra de que fala Nunes Leão era tirada de uma pedreira pertencente à propriedade que a Casa Camaride possuía no sítio da Torre da Guilha.394 Segundo Pinho Leal no seu “Portugal Antigo e Moderno”, de 1874, na freguesia de S. Domingos de Rana, do concelho de Cascais, existia a Torre da Guilha, que tinha “excelentes mármores vermelhos, com os quais se fez a capela de Manique de Baixo, da freguesia de Alcabideche, que foi dos marqueses de Minas, a Igreja da Graça, de Lisboa e outras obras”.395 A Torre da Aguilha vem também já referida na “Corografia Portuguesa” do Padre Carvalho Costa, de 1706, junto a Sassoeiros e Parede e pelo Padre Marçal da Silveira, em 1758. No documento da chancelaria de D. José I em que, por decreto de 11 de Agosto de 1759, se eleva a vila o lugar de Carcavelos, se diz expressamente que dele fazem parte diversas quintas, entre as quais a da Torre da Aguilha. Segundo informação de Maria Acher no seu livro “Memórias da Linha de Cascais”, a quinta da Torre da Aguilha pertencia antigamente à Condessa de 392 PPCSSp Relatório da visita de 17 de Março de 1947 Torre do Tombo. Dicionário Geográfico de Portugal. Vol. XXXI p. 41.42 Leão, Duarte Nunes. Descrição do Reino de Portugal. Lisboa 1610. p. 45 395 Barruncho, Lourenço de Seixas Borges. Apontamentos para a História da Vila e Concelho de Cascaes. Lisboa. 1873. p. 70 393 394 462 Adélio TORRES NEIVA Camarido, que a vendeu a uma família inglesa, os Norton, os quais a transformaram numa granja D. João V e a enriqueceram com um importante e luxuoso palacete, sob os planos e a direcção do arquitecto Rebelo de Andrade. “Domina o monte no alto da quinta, com seus varandins, seus torreões, seus telhados pontiagudos. Casa moderna, casa cómoda, mas de aparência antiga e solarenga. Goza da fama de ter sido construída no local de um antigo convento, cujas paredes foram aproveitadas para obra nova. É sua actual proprietária a família Serrão Franco”. De facto, a quando da compra da Quinta da Torre da Aguilha pelos Espiritanos em 1948, esta confinava ainda com terras de Robert Henry Norton. Teria sido o inglês, Godofredo Norton, o construtor do palácio que incluía “casas de habitação, celeiro e vacarias”, rodeado de 73 hectares de outras culturas.396 Em 1804, um quadro da época apresentava o palácio como “Casa de Campo do senhor Sousa de Falcon”. Depois terá passado para a posse de Serrão Franco, a quem a Congregação do Espírito Santo o comprou a 13 de Junho de 1948. No tempo de mister Norton eram frequentes as reuniões mundanas neste palácio e os jantares festivos na sala de jantar, decorada com valiosos azulejos do século XVII. Discute-se a origem do nome da quinta. Devido a ele aparecer em alguns documentos escrito como “Torre da Guilha”, Diogo Correia é de opinião que uma vez que o termo “guilha” significa “colheita abundante de cereais”, o nome teria sido tomado do facto da quinta ser um “terreno próprio para a cultura de trigo”. De facto J. Pedro Machado no seu Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, diz que o termo “guilha” provém do árabe “galla” que significa colheita abundante de cereais, através do espanhol “guilla”, que significa colheita. Por sua vez, Eduardo Faria, no seu Novo Dicionário da Língua Portuguesa, em 1849, afirma que “guilha” é sinónimo de seara. Além de terra excelente para produzir trigo, o que confirma a sua origem árabe, aquela terra era também rica em pedra mármore. Em 1712, o termo de Cascais era formado pela povoação da Torre da Guilha, entre outras, onde havia excelentes mármores vermelhos, com os quais foi feita, conforme diz Pinho Leal, a capela de Manique de Baixo, na freguesia de Alcabideche, que foi dos Marqueses de Minas, a Igreja da Graça em Lisboa, etc. Esta Igreja da Graça, construída de 1556 a 1565 por Frei Luís de Montoia, reformador dos Ermitas de Santo Agostinho, abateu com o terramoto de 1755, sendo reconstruída nos finais do século XVIII. Por seu lado, José da Encarnação vai buscar a origem do nome à palavra “turris” (torre) com que os romanos designavam as suas casas de campo ou explorações agrárias de uma certa monta, já que aí era explorado um importante filão de mármore vermelho. Neste caso, Aguilha derivaria da palavra romana “aquila” (águia), supondo que por ali não faltariam águias. Nesta leitura, a origem de Torre da Aguilha estaria na “Torre da Águia”. 396 Leal, Pinho. Portugal antigo e Moderno. Lisboa, 1874. Vol II p. 478 O Seminário da Torre da Aguilha 463 De qualquer modo, o que parece fora de dúvida, é que o seu verdadeiro nome era “Torre da Guilha” e não Torre da Aguilha” como hoje se chama. A compra da “Quinta da Aguilha” Na sua reunião de 22 de Fevereiro de 1948, o Conselho Provincial da Congregação do Espírito Santo, presidido pelo Provincial P. José Pereira de Oliveira, constatava que a Congregação tinha necessidade de construir com urgência um Escolasticado ou Seminário Maior novo, visto o de Viana do Castelo já não satisfazer às necessidades da Província. Para sua localização deveria preferir-se o termo de Lisboa. A capital oferecia efectivamente possibilidades de formação aos seminaristas e de contactos culturais de que as outras terras não dispunham e, de resto, era ali que se tratava da documentação para as viagens para o Ultramar e era dali que os missionários partiam para as missões. O P. Agostinho Lopes de Moura, então director da Obra da Propaganda, mais tarde chamada Animação Missionária, em virtude desse cargo, foi incumbido de fazer as primeiras diligências nesse sentido. Dinâmico como era, começou logo por contactar um conhecido agente de compras e vendas, o sr. Vidal Bizarro, a quem expôs o assunto. Por sorte, mesmo no dia anterior, um colega seu o tinha abordado, falando-lhe de uma propriedade que estava à venda e que parecia corresponder às exigências do projecto em questão. No dia seguinte, o P. Agostinho de Moura, com o P. João Pinto da Silva, ecónomo provincial e o P. Francisco Nogueira da Rocha, acompanhados dos dois agentes, dirigiram-se para a Torre da Aguilha, em S. Domingos de Rana. Grupo de amigos no “palácio” da Torre da Aguilha A primeira impressão do local e do terreno foi favorável:“Um montado alentejano com portas para a Rua do Ouro”, dizia o agente. O que mais convencia os padres era o planalto em frente do palácio da quinta, onde se poderia construir um seminário com uma maravilhosa vista sobre o Tejo e a Costa do Sol. Mas era preciso não se precipitar. Visitaram-se outras quintas à venda. Ranholas, Belas, Ericeira, Queluz, Sintra, Colares, Rio de Mouro, Albarraque, Linhó, Vila Franca de Xira, Caneças, Loures, Santarém, foram alguns dos locais visitados. Ponderadas todas as vantagens e desvantagens, a Torre da Aguilha acabaria por prevalecer. O assunto foi estudado em várias reuniões do Conselho Provincial. Os conselheiros foram pessoalmente ver a propriedade. Não faltaram dificuldades e hesitações, chegando-se mesmo a enviar um relatório para a Casa Mãe, a quem 464 Adélio TORRES NEIVA se pediu conselho e opinião. O Procurador Geral da Congregação, P. Letourneur, veio expressamente ver a quinta e foi de opinião que seria uma boa aquisição. Uma boa formação dos missionários era cada vez mais uma exigência da missão e uma casa de formação para a Teologia, próxima da capital, era de todo aconselhada. Nessa altura a Província poderia apenas dispor de 2 mil contos, incluindo 700 das bolsas de estudo e 600 que o P. Agostinho Moura tinha angariado na sua viagem ao Brasil. As condições de aprovação do Conselho Provincial ficaram assim estipuladas nas actas da sua reunião de 28 a 30 de Abril de 1948: a) Para a compra da quinta, a Província entra com 700 contos das bolsas, caso venham os 600 contos do Brasil; b) O restante capital necessário para a compra, conseguir-se-á por meio de hipoteca sobre a própria quinta e se esta não for suficiente, por hipoteca sobre a casa da Estrela; c) A quinta é entregue à Propaganda para que esta pague a dívida (capital e juros), administre, explore e cuide das construções para o seminário, sem deixar de continuar a dar à Província o subsídio anual de 300 contos; d) Se a quinta houver de se comprar por mais de 1800 contos é preciso consultar de novo o Conselho. Faça-se oferta de 1300 contos. Para tratar de todos os assuntos fica encarregado o P. Agostinho de Moura e a Obra da Propaganda. O Patriarca de Lisboa autorizava a construção do Seminário com as seguintes condições: “a) O seminário não terá capela pública nem os fiéis serão admitidos aos actos de culto realizados na capela do seminário; b) por esta razão também a capela será desprovida de porta para o exterior do edifício; c) havendo necessidade um dos padres será o pároco de qualquer das paróquias, a juízo do Patriarca; d) os sacerdotes residentes, como aliás é timbre dos Padres do Espírito Santo, colaborarão com os padres daquela região no apostolado e cristianização dos povos. Deus guarde V. Rev ª Lisboa, 5 de Novembro de 1948. M. Cardeal Patriarca.” Finalmente por escritura de 13 de Outubro de 1948, lavrada no 10º Cartório Notarial na Rua Augusta, nº100, em Lisboa, pelo notário Bacharel Augusto, Faustino dos Santos Crespo o outorgante José Casimiro Serrão Franco e sua esposa, D. Madalena Casanova y Augustine Serrão Franco vendiam à Congregação do Espírito Santo, ali representada na pessoa do seu Provincial, o P. José Pereira de Oliveira, 36 prédios, que no seu conjunto constituíam o que chamamos “Quinta da Torre da Aguilha”. Ao todo 73 hectares de terra. O preço da venda foi de 1.800 contos dos quais 300 contos foram entregues no momento e 700 seriam a 31 de Julho, data em que o proprietário entregou a chave da casa. Esta venda incluia prédios rústicos de semeadura, prédios de terra inculta, e a O Seminário da Torre da Aguilha 465 propriamente chamada “Quinta da Torre da Aguilha”, “terra de semeadura com a área aproximada de quatro geiras e meia, composta de casas, capela e abegoaria quase arruinada em parte e a outra parte completamente arruinada”. Quase todas as propriedades se situavam no lugar da Aguilha, na freguesia de S. Domingos de Rana.397 Quando a quinta foi entregue à Congregação do Espírito Santo, esta tomou conta não só do velho palácio como também da horta que então estava arrendada ao caseiro. A quinta estava arrendada a Constantino Vicente que a entregou também, depois de ter retirado os animais e material agrícola que lhe pertenciam. Entretanto, por indicação do Sr. Fontes, primo do P. Avantino de Sousa e antigo aluno do seminário do Fraião, viera tomar conta da quinta e da casa um feitor, o Sr. Silvano Mosca, de perto de Chaves, já conhecedor da agricultura desta região, por ter sido feitor de outras quintas da região de Lisboa. Os primeiros tempos e o lançamento da primeira pedra A primeira iniciativa que se tomou na Torre da Aguilha foi a organização de uma “Festa Regionalista” de campanha e promoção da construção do seminário no Pentecostes de 1949, no pátio do palácio e que decorreu com grande afluência e participação de muitos núcleos da LIAM de todo o país. Pouco depois, o feitor foi substituído por uma equipa de Irmãos Espiritanos: do Fraião veio o Ir. Moisés para se ocupar da vacaria; de Lisboa, o Ir. Valentim que tomou conta da cozinha e do aviário e para as hortas e o cultivo dos campos foi designado o Ir. Celestino, que estava para chegar de Paris. Dentro de uma semana deram-se as voltas todas e a primeira missa na nova comunidade, instalada no “palácio” foi celebrada no 1º Domingo do Advento desse ano, ficando desde então o Santíssimo Sacramento a residir na Torre da Aguilha. A Casa Mãe da Congregação, consultada, foi de opinião que a erecção oficial da residência espiritana deveria ser adiada por mais algum tempo, ficando a nova comunidade anexa à comunidade de Lisboa, podendo o Superior desta, na altura o P. Francisco Nogueira da Rocha, vir aqui residir o tempo que julgasse necessário. A princípio, a Eucaristia não podia ser diária, por falta de sacerdote permanente. Só o começou a ser quando, algum tempo depois, para ali foi enviado o P. Eduardo Georger com essa incumbência. Entretanto, quando não havia missa em casa, o P. Francisco Rocha que celebrava a missa no Hospital Infantil da Parede, levava e trazia os Irmãos com ele. Ao domingo binava nas duas capelas. O P. Rocha acabou por comprar uma bicicleta para cada Irmão, especialmente para poderem ir à missa ao Hospital Infantil. Uma pequena mesa que fora comprada para o feitor, foi colocada na cozinha, servindo ao mesmo tempo de secretária de escritório e mesa de jantar. A única 397 Diário de Notícias, 5 de Março de 1951 466 Adélio TORRES NEIVA luz que iluminava era um candeeiro que seguia a comunidade nas suas deslocações dentro de casa. Entretanto, estava-se elaborando a planta do novo edifício que o Ministro do Ultramar, capitão Teófilo Duarte, autorizara fosse feita gratuitamente pelo Gabinete de Urbanização do Ultramar, sendo seu autor o arquitecto Licínio Cruz. A localização do seminário ficara logo decidida a quando da primeira visita ao local. A obra foi orçamentada em 13 mil contos e praticamente não havia verba nenhuma para começar: na melhor das hipóteses podia-se dispor de dois mil contos. A 8 de Dezembro de 1950, Festa da Imaculada Conceição, em pleno Ano Santo, numa tarde agreste, sacudida pelo vento e pela chuva, o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, lançava a primeira pedra do que viria a ser chamado Instituto Superior Missionário do Espírito Santo. Assistiram ao acto, o novo Provincial da Congregação e que seria a alma desta obra, o P. Agostinho de Moura, o Ministro do Ultramar, Comandante Sarmento Rodrigues, e vários membros e amigos da Congregação. Pela tardinha, no Palácio da Torre da Aguilha, foi servido pelas liamistas um magnífico copo de água. Aqui fica arquivado o “Auto da bênção e lançamento da primeira pedra”: “No Ano Santo do Grande Jubileu – 1950, depois do nascimento de Cristo; ocorrendo o nonagésimo sexto aniversário da definição do Dogma da Imaculada Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria; exultando ainda com enorme alegria todo o orbe, pela assunção aos céus da Santíssima Virgem Maria, que a autoridade pontifícia infalivelmente pronunciou; celebrando solenemente toda a nação Lusa a festa da sua celeste Padroeira; reinando gloriosamente o Sumo Pontífice Pio XII, no duodécimo ano do seu Pontificado; sendo Chefe Supremo da Nação portuguesa o egrégio Marechal António Oscar de Fragoso Carmona; sendo Presidente do Conselho de Ministros, o ilustríssimo Doutor António de Oliveira Salazar; sendo Superior Geral da Congregação do Espírito Santo sob a protecção do Imaculado Coração de Maria, o Muito Reverendo Padre Francisco Griffin; e Superior da Província Portuguesa da mesma Congregação, o Reverendíssimo Padre Agostinho Joaquim Lopes de Moura: o Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor D. Manuel Gonçalves Cerejeira, Cardeal da Santa Igreja Romana e Patriarca de Lisboa, com a assistência de ilustríssimos ministros do Governo da Nação e de insignes Benfeitores dos Missionários, filiados da Liga Intensificadora da Acção Missionária (vulgo L.I.AM.), bem como de muitos membros da Congregação do Espírito Santo e grande multidão de povo, benzeu solenemente e lançou a primeira pedra deste Instituto Missionário do Espírito Santo, dedicado a Nossa Senhora do Rosário de Fátima e destinado à formação sacerdotal dos Missionários que hão-de evangelizar o Império Português. Praza a Deus, sumamente bom e altíssimo, pela benigna intercessão da Imaculada Virgem coroada nos Céus, excelsa Padroeira da Nação Portuguesa, que em portuguesa terra sobre o Monte da Cova da Iria, se mostrou aos olhos de três crianças – praza a Deus que também destoutro Monte da Torre da Aguilha, santificado como aquele pela maternal presença da Santíssima Virgem Maria, seja O Seminário da Torre da Aguilha 467 enviado todos os anos um exército cada vez maior de novos soldados de Cristo, para transmitir a todo o mundo a mesma mensagem que as montanhas de Fátima ouviram pela palavra da Virgem e as montanhas de Judá pelo próprio Cristo. E para constar se lavrou este documento que, munido do sinal e selo da Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo sob a protecção do Imaculado Coração de Maria, e da assinatura dos presentes, será metido na primeira pedra dos alicerces deste Instituto, juntamente com as medalhas do Espírito Santo, do Rosário da Congregação, do Sacratíssimo Coração de Jesus, de Nossa Senhora de África e de Fátima, de S. Miguel Arcanjo, de S. Francisco Xavier e de S. João de Brito, de Santa Teresa do Menino Jesus, do Papa Pio XII e do Ano Santo, assim como muitas moedas com curso legal no tricórnio da República Portuguesa”. No Monte da Torre da Aguilha, Arredores de Lisboa, No dia oito de Dezembro de 1950”. Logo a seguir, em artigo do jornal ‘Acção Missionária’, no relato da bênção e lançamento da primeira pedra, o P. Agostinho de Moura lançava um apelo a todos os benfeitores e amigos das missões para se empenharem na construção desta obra.398 De facto, o milagre que foi a construção do Seminário da Torre da Aguilha só foi possível pela mobilização que se operou em todo o país: entidades governativas, nomeadamente os Ministérios do Ultramar e das Obras Públicas, empresas, bancos e casas comerciais de Portugal e de Angola, benfeitores insignes e povo simples, todos se deram as mãos para que esta obra se levantasse com a urgência que se impunha: em pouco mais de um ano a primeira fase das obras estaria pronta para acolher os seminaristas. Na mobilização das altas esferas esteve um grupo de amigos e benfeitores de Angola e da metrópole, como o Comendador António Duarte Martins e sua esposa D. Maria Augusta Fontoura, o dr. Nuno Simões, dr. Ernesto Cirilo, dr. Ricardo Espírito Santo, Comandante Freitas Morna, etc. Nas camadas populares, foram incansáveis os núcleos da LIAM de todo o país. Começou-se pelas Festas Regionalistas anuais, primeiro na Aguilha, depois no Parque Eduardo VII, em Lisboa, e logo entraram na onda rendas, bordados, tapetes, louças, artigos regionais, conservas, frutas, bebidas, etc. Recorreu-se aos Amigos das Missões, às Câmaras Municipais, às Comissões de Turismo, aos Grémios da Lavoura, às Casas do Povo, aos artistas da Rádio e aos jogadores de hockey em Patins, aos Orfeões Universitários de Coimbra e do Porto, às Juntas de Freguesia, às Sociedades Culturais e de Recreio, etc. Passou-se depois à Campanha dos Proprietários de Honra da Quinta, à Campanha da Compra do Metro Quadrado, à Campanha dos Grandes Beneméritos Fundadores, dos Beneméritos Fundadores, dos Amigos Fundadores e dos Sócios Fundadores, Campanha do escudo mensal, Campanha do Ramalhete Espiritual, etc. E não faltaram propostas concretas de ajuda como 398 Arquivo Provincial CSSp. Escritura da Compra da Torre da Aguilha 468 Adélio TORRES NEIVA a construção do altar-mor da igreja a que logo aderiu o Sr. Comendador Duarte Martins e sua esposa, a construção de cada um dos quinze altares laterais, compra de cálices e alfaias de culto, etc. Depois, já levantado o seminário, viria a Campanha dos Iluminadores da Cruz (ALILUZ), iluminação da cruz do seminário que, do crepúsculo ao amanhecer, seria farol da missão para as naves que desciam e subiam o Tejo. E numa fase ainda mais adiantada da obra seria lançada a campanha da mobília dos quartos, etc. Todo este movimento seria acompanhado com frequentes reuniões e encontros dos “Amigos de Angola”, sempre atentos ao crescimento e desenvolvimento da obra, para que o entusiasmo não esmorecesse nem a obra se interrompesse. E esse viria a ser um segundo milagre: a construção do seminário nunca se interrompeu e os “timings” exigidos pela evolução da situação foram cumpridos. Desde os primeiros tempos merece referência especial um grupo de leigos amigos que acompanharam o nascimento desta obra com a ternura de quem a fez sua: o Comendador Duarte Martins, sempre atento ao essencial e às urgências da vida do seminário, sua esposa D. Maria Augusta, particularmente sensível aos seus mimos de madrinha, com a oferta de meias aos seminaristas pelo Natal, de amêndoas pela Páscoa, às alfaias de culto e outras delicadezas do altar e o Conde de Riba d´Ave, mais motivado pela necessidade de lazer dos seminaristas, a quem oferecia um passeio todos os anos. O início das obras A demora no estudo do projecto fez com que as obras só pudessem começar a 16 de Agosto de 1951. Orientou-as o arquitecto Licínio Cruz, do Ministério do Ultramar, tendo tomado conta da empreitada o construtor Júlio Cismeiro. “Nesse dia 6 de Agosto, de manhãzinha, ainda as ovelhas da Quinta da Torre da Aguilha pastavam tranquilamente no local onde se ia começar a erguer o Instituto Superior Missionário do Espírito Santo. Depois chegou o Sr. Júlio Cismeiro com dezenas de operários. As ovelhas foram para outras pastagens. Homens e máquinas entraram em acção, abriram-se os caboucos, encheram-se os alicerces, as paredes vão-se erguendo em ritmo acelerado.”399 No ano seguinte, uma grande parte da construção que incluía o pavilhão central até à igreja, e alguns serviços anexos, como a sala de jantar, a cozinha, a biblioteca, as galerias, etc, estava pouco mais ou menos em condições de se poder habitar. A igreja só mais tarde se resolveu construir e no dia 16 de Janeiro de 1952, o benfeitor Dr. Ricardo Espírito Santo dava a primeira sacholada no terreno para abrir os seus alicerces. Pressionados por falta de espaço em Viana do Castelo, os alunos de Teologia 399 Acção Missionária. Janeiro de 1951 O Seminário da Torre da Aguilha 469 chegaram à Torre da Aguilha a 29 de Outubro de 1952, depois das férias se terem prolongado por mais um mês, à espera da conclusão das obras. A sala da biblioteca foi provisoriamente aproveitada para capela, pois a igreja estava ainda em construção e para salas de aulas adaptaram-se salas destinadas a outros fins. A sala de comunidade ficou a funcionar na extremidade da galeria do primeiro andar e a sala do centro do segundo andar foi escolhida para biblioteca. No rés-do-chão foram também aproveitadas duas salas de visitas para quartos de habitação. Apesar de inacabado, o edifício mostrava já a imponência e a elegância que o caracterizam. Amplo e rectilíneo, cheio de luz e de sol, voltado para o mar e para a distância, o edifício impunha-se pelo seu traçado arrojado e elegante, pela beleza da sua torre sóbria e firme, pela imponência da sua fachada, matizada pelo colorido verde das suas persianas. O nome com que se baptizou o novo seminário foi “Instituto Superior Missionário do Espírito Santo”, pois o pensamento original foi fazer dele não apenas um seminário de Teologia, mas também um grande centro de cultura missionária e ultramarina. Portugal não possuía na capital do seu Império uma instituição missionária condigna, que visibilizasse a missão que o tornou grande entre os povos. A abertura do seminário e das aulas A nova comunidade tinha sido erecta canonicamente a 2 de Setembro de 1952, tendo sido nomeado seu primeiro superior e director o P. Firmino Cardoso Pinto. Os teólogos, acompanhados por todo o corpo docente, saíram de Viana do Castelo no comboio das 07h40, no dia 29 de Outubro. Na sua passagem pela Silva foram cumprimentados no apeadeiro pelos noviços e seus dirigentes que acorreram à sua passagem e, no Porto, pelo P. José Neiva Araújo e pelo Ir. Carlos. A chegada à estação do Rossio foi pelas 18.30, sendo aqui recebidos pelos PP. António Rodas, António Brásio, Silva Amorim e pelos Ir. Ambrósio e Sr. Manuel Teixeira. A viagem para a Torre da Aguilha foi feita em dois autocarros. Aqui eram esperados pelos PP. Provincial, José da Fonseca Lopes e António Giroto. O culto foi inaugurado nesse mesmo dia às 21.30, na capela provisória da casa, com o mês do Rosário e o canto do Magnificat. Ao outro dia, 30 de Outubro, foi cantada a Missa do Imaculado Coração de Maria, presidida pelo P. Provincial. A comunidade ficaria consagrada a Nossa Senhora de Fátima. No dia 31 de Outubro, foi a abertura solene das aulas. Ao almoço prestou-se uma significativa homenagem ao grande obreiro desta casa, o P. Agostinho de Moura e pelas 16.00 horas realizou-se uma Sessão Solene para a abertura das aulas na galeria do primeiro andar. Nela participaram, além dos confrades da 470 Adélio TORRES NEIVA Comunidade de Lisboa e de outras comunidades, o Ministro do Ultramar Comandante Sarmento Rodrigues, o Bispo de Prienne, em representação do Sr. Cardeal Patriarca, ausente em Braga, e numeroso grupo de benfeitores e amigos, entre os quais se destacavam o Director Geral do Ensino Ultramarino, o Presidente da Câmara de Cascais, o Gerente da Diamang, etc. A oração de Sapiência foi proferida pelo P. António Giroto que versou o tema “Razões porque este Instituto foi consagrado a Nossa Senhora”. O copo de água final foi servido pelas Liamistas da Parede. Fachada Principal O corpo docente do seminário ficou assim constituído: P. Firmino Cardoso, reitor, P. José da Fonseca Lopes, ecónomo, PP. José Finck, Fernando Moreira, Agostinho Pinheiro, António Pereira Rodrigues e António Giroto. Como pároco de Carcavelos e S. Domingos de Rana, ficava o P. Querubim Meireles. A equipa dos Irmãos era formada pelos Irs. Luís Gonzaga, Moisés, Valentim, Lúcio, João de Deus, Modesto, Frutuoso, Samuel e Hilário. Os teólogos eram 46, assim distribuídos: 9 do IV ano de Teologia (Anacleto Baptista, Manuel Martins Ferreira, João Gomes Gonçalves, Joaquim Correia, Porfírio Lourenço, Óscar Guedes, Manuel Rodrigues Teixeira, Luís Cabral e Eduardo Moniz); 16 do III ano: (Proença, Carvalho, Lapa, Carlos Ferreira, Custódio Campos, Sá Cachada, Pinheiro, Belmiro, Joaquim Mendes, Torres Palma, Alberto Camboa, Almeida, Fernando Seminário da Torre da Aguilha Antonione, Alberto Fonseca Lopes, Ferreira da Silva); 8 do II ano (Laranjeira, Valinho, Neiva, Veiga, Pires, Manuel Martins, Pontes e Lima); 13 do I ano (Marante, Costa, Afonso da Cunha, Fernandes Correia, Ribeiro Lopes, Sousa Pinho, Seixas, Costa Campos, Pereira, Torres Neiva, António Paulo, Correia de Pinho e Nunes). Inauguração Solene do Seminário Só cinco anos depois, após a construção do Pavilhão Leste, é que o Seminário foi solenemente inaugurado. Foi a 7 de Julho de 1957, festa da Consagração ao O Seminário da Torre da Aguilha 471 Apostolado dos Finalistas. O Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, e com a presença do Sr. Núncio Apostólico, presidiu a esta inauguração. Além destes prelados, estiveram presentes o Bispo de Tiava, D. José Pedro da Silva, Eng. Carlos Abecassis, Ministro e Subsecretário do Ultramar, Dr. Félix Amaral, em representação do Ministro das Obras Públicas, Dr. Braga Paixão, Director Geral do Ensino Ultramarino, Dr. Cruz de Oliveira, Presidente do Supremo Tribunal Administrativo, a deputada Margarida Craveiro Lopes, Tenente Coronel Cardoso Pessoa, presidente da Câmara de Cascais, Comodoro Lopes Alves, Governador do Banco de Angola, os grandes benfeitores da Torre da Aguilha, Comendador Duarte Martins, Ernesto Cirilo e muitos convidados num total de 2000 pessoas. O Sr. Cardeal Patriarca entregou o crucifixo a cada um dos 11 novos missionários, seguindo-se depois uma Sessão Solene em que usaram da palavra o R.P. Provincial, o Sr. Cardeal Patriarca e se assistiu à representação do “Auto das ovelhas perdidas”, expressamente escrito e encenado pelo Dr. Eurico Lisboa (Filho) para essa ocasião. No final foi servido um copo de água. A Televisão, a Rádio e toda a imprensa portuguesa, nomeadamente a de Lisboa, Porto e de Angola, deram grande relevo a esta inauguração, concretamente os jornais Novidades, Voz, Diário de Notícias, Século, Diário Popular, Diário de Lisboa, Diário Ilustrado, Diário da Manhã, Século Ilustrado, Primeiro de Janeiro, Comércio do Porto, Diário do Norte, Jornal de Notícias, A Ordem, A Voz do Pastor, A Guarda, Diário dos Açores, Comarca de Arganil, etc. No dia seguinte, foi prestada homenagem a todos os confrades que mais contribuíram para a construção deste seminário. Acontecimentos mais relevantes da história do seminário Ao longo destes 50 anos, a história do seminário passou por várias fases. Construído e mantendo a formação dos alunos de Teologia como prioridade, (excepção feita a um interregno de 1975 a 1996), as suas obras e os seus objectivos foram-se diversificando, à medida que novas circunstâncias e novas necessidades o iam aconselhando: acolhimento a missionários idosos, cursos e retiros espirituais, lar para retornados do Ultramar e para a terceira idade, assistência pastoral nas comunidades vizinhas, nomeadamente as paróquias de Carcavelos, S. Domingos de Rana e Tires. Entre os acontecimentos mais relevantes que marcaram a vida do seminário como casa de formação de futuros missionários, destacamos os seguintes: A 1 de Março de 1953, foi a bênção da nova Igreja da Parede, paróquia que estava confiada ao seminário. A 28 de Março de 1953, foi benzida a nova Igreja do seminário pelo Sr. D. Agostinho de Moura, bispo eleito de Portalegre e Castelo Branco. No dia 11 de Abril de 1953, o seminário prestou homenagem ao engenheiro Trigo de Morais, bem como à Comissão dos “Amigos de Angola” de que faziam parte, entre outros, o Comendador Duarte Martins, Dr. Nuno Simões, 472 Adélio TORRES NEIVA Comandante Freitas Morna, etc. A 26 de Abril desse mesmo ano de 1953, teve lugar na Igreja do seminário a Ordenação Episcopal do Sr. D. Agostinho de Moura, sendo bispo ordenante o Sr. Cardeal Patriarca, coadjuvado pelo arcebispo de Luanda, D. Moisés Alves de Pinho e pelo bispo de Vila Real. Estiveram presentes, entre outros, o Superior Geral da Congregação do Espírito Santo, P. Francis Griffin, os bispos do Porto, Beja, Limira, o D. Abade de Singeverga, vários provinciais e uma grande representação das dioceses de Vila Real e Portalegre. Também a Família espiritana e liamista marcou presença em grande número, tendo esta oferecido ao Sr. D. Agostinho, a cruz peitoral. A 3 de Maio de 1953, teve lugar a sagração da Igreja, presidida pelo Sr. D. Agostinho de Moura, com a participação do Sr. D. Moisés Alves de Pinho, do Superior Geral da Congregação, do P. Clemente Pereira da Silva, assistente geral da Congregação e do P. Olavo Teixeira, Provincial. A 5 de Julho, foram as primeiras Ordenações neste seminário: nove subdiáconos, quatro minoristas e onze tonsurados e a primeira Consagração ao Apostolado dos novos missionários. Presidiu à celebração, mais uma vez, o Sr. D. Agostinho de Moura. A 27 de Setembro, foram ordenados os primeiros nove presbíteros: PP. Alexandre Teixeira de Carvalho, José Lapa, Carlos Ferreira de Azevedo, Custódio Campos, António de Sá Cachada, João Baptista Pinheiro, Belmiro Coelho da Silva, Joaquim Maria Mendes e José Torres Palma. Os PP. Alberto da Fonseca Lopes e Manuel Ferreira da Silva, do mesmo curso, seriam ordenados a 2 de Maio de 1954. A 5 de Janeiro de 1954, chegaram os cadeirais para a Igreja, que começaram a ser montados, vindo a ser usados pela primeira vez a 16 de Janeiro, festa do Imaculado Coração de Maria. A 2 de Maio de 1954, teve lugar um encontro dos “Amigos Coloniais de Angola”, que reuniu 150 convidados. A 25 de Março de 1954, faleceu no Palácio, o P. Arnaldo Baptista, sendo o seu funeral no dia seguinte. Foi o primeiro confrade a falecer na Aguilha e a ser sepultado no cemitério de S. Domingos de Rana. No dia 5 de Maio de 1954, o seminário recebeu a visita honrosa do Núncio Apostólico, D. Fernando Cento; nesse mesmo dia faleceria o Ir. Luís Gonzaga. Outros núncios visitariam mais tarde o seminário como D. Giovann Panico, D. Maximiliano Fustemberg, etc. No dia 13 de Maio de 1954, dia da festa da Padroeira do Seminário, fez-se a Consagração da Comunidade ao Imaculado Coração de Maria, que depois se renovaria todos os anos, nesse mesmo dia. A 3 de Julho de 1954, fundou-se no seminário um ‘praesidium’ da Legião de Maria. Nesse mesmo dia, véspera da Consagração ao Apostolado, os padres do IV ano quiseram terminar o seu retiro com a cerimónia da Coroação de Nossa Senhora. A 2 de Fevereiro de 1955, faleceu no Hospital da CUF o Dr. Ricardo Espírito O Seminário da Torre da Aguilha 473 Santo; foi o primeiro benfeitor deste seminário a falecer. A 25 de Março de 1955, visitou o seminário o ministro do Ultramar, Dr. Trigo Negreiros, acompanhado dos Subsecretários das Obras Públicas e do Ultramar e pelo Dr. Trigo de Morais, Inspector Geral do Fomento. A 11 de Julho de 1955, teve lugar o primeiro acampamento de férias dos teólogos, que se realizou no Casal de Roçadas, em Sintra, propriedade do engenheiro Cunha Monteiro. O acampamento durou três dias e passou a repetirse todos os anos, embora em locais diferentes. No dia 26 de Julho de 1955, faleceu no Hospital do Ultramar (Egas Moniz) em Lisboa o Sr. D. Faustino Moreira dos Santos, bispo de Cabo Verde. O Sr. D. Faustino tinha chegado uns dias antes, gravemente doente. O corpo foi trasladado para a Igreja de Alcântara onde se realizaram os ofícios fúnebres e no dia 28, seguiu para Gandra, sua terra natal. No funeral, além do seminário, participaram o Núncio Apostólico, o ministro do Ultramar e os bispos de Priene, Limira, Cízico, Beja e Arcebispo de Mitilene. A 25 de Novembro de 1955, faleceu o Dr. Eurico Lisboa, benfeitor e grande amigo do seminário. A 11 de Dezembro de 1955, estiveram no seminário, acompanhados pelo Sr. D. Agostinho de Moura, os pintores espanhóis D. Henrique e D. Júlio, que pintariam a ceia mural que está na sala de jantar. Estes pintores tinham já oferecido uma pintura de Nossa Senhora para a capela do seminário de Portalegre. Foi durante este ano de 1954-55 que se começaram a plantar as árvores da mata do Seminário. A 9 de Abril de 1956, começou a construção da última fase das obras do seminário: o pavilhão leste. Também no ano lectivo de 1956-57, transitou de Viana para a Aguilha o Curso Filosófico, este ano reduzido ao 2º ano. A 4 de Julho de 1957, a biblioteca do seminário de Viana do Castelo foi transferida para a Aguilha. A 1 de Maio de 1958, foi entronizada a Senhora de Fátima com os três pastorinhos na galeria do seminário, que ficou a ser a “Tutela Domus” e que foi benzida a 13 de Maio desse ano. A 17 de Maio de 1958, foi inaugurado o novo campo de futebol, com um desafio entre Espiritanos e Seminaristas dos Olivais. A 10 de Junho de 1958, realizou-se a Reunião dos Antigos Alunos da Formiga e a 27 de Julho foi a reunião dos Antigos Alunos do Seminário do Espírito Santo. Esta reunião passou a repetir-se todos os anos. No dia 1 de Outubro de 1958, foi benzido o seminário pois, até aí, ainda o não tinha sido. No dia 5 desse mesmo mês, os finalistas partiram para a universidade de Salamanca a fim de aí fazerem um ano de pastoral. Em 1961 o ano de pastoral voltaria a ser feito na Aguilha. A 9 de Maio de 1959, fez-se a Consagração da Comunidade aos Sagrados Corações de Jesus e Maria, como preparação para a inauguração do monumento 474 Adélio TORRES NEIVA a Cristo Rei de Almada, em que se fez a consagração de Portugal aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria e que teve lugar a 17 de Maio, com a presença de todo o episcopado. Em 1959-60, veio para a Aguilha o Noviciado, devido ao seminário da Silva entrar em obras. Com eles vieram também o mestre de noviços, P. José Alves e o confessor, P. Henrique Sá Couto. Permaneceriam aqui, instalados no bloco leste, até à inauguração do novo seminário da Silva em 1962. Durante o ano de 1960-61, teve lugar nesta casa o Curso Internacional de Pastoral em que participaram Espiritanos portugueses e holandeses. A 24 de Outubro, alguns confrades, sobretudo Irmãos, que desde o início tinham ficado a viver no Palácio, passaram a morar no seminário. A 29 de Abril de 1960, a Santa Sé concedeu a Comenda de S. Silvestre ao Sr. Comendador Duarte Martins e a medalha “Pro Ecclesia et Pontifice” à Srª D. Maria Augusta Fontoura, sem dúvida os dois maiores benfeitores do seminário. À cerimónia presidiu o Núncio Apostólico, D. Giovanni Panico. A 22 de Maio de 1960, realizou-se na Torre da Aguilha uma grande concentração de seminaristas diocesanos e dos seminários religiosos do Patriarcado. A 2 de Fevereiro de 1962, festa do Venerável P. Libermann, instalou-se no Palácio a Obra do Pré-Postulantado dos Irmãos, sendo seu director o P. Fernando Moreira, coadjuvado pelo Ir. João Berchmans. Esta iniciativa viria a ter uma existência bastante precária. De 31 de Agosto a 7 de Setembro de 1962 esteve nesta comunidade Mons. Lefèbvre, que aqui fez o seu retiro de preparação para assumir as suas funções de Superior Geral da Congregação. Em 1964, com o patrocínio da Associação de Futebol de Lisboa, iniciou-se um torneio de futebol inter-seminários, com a participação da Torre da Aguilha. Em Junho de 1965, realizou-se em Lisboa a primeira Semana de Missiologia, organizada pelo P. Fernando Santos Neves, em que participaram, entre outros, o Ir. Frank de Taizé, o P. Lofel, P. Bouchard, etc. Em 1966-67, o número de seminaristas atingiu o pico: 89, sem contar 11 que estavam a estudar em Roma ou em estágio pastoral; ao todo, portanto: 100. Nos anos seguintes, atendendo à crise que então atingiu os seminários, o número começou a diminuir a ponto de chegar a 38 em 1969-70 e apenas 10 em 1971. No ano de 1967-68, mudou-se a dinâmica da formação no seminário: passou a haver três ciclos. Ao lado dos cursos obrigatórios passou a haver cursos livres versando sobretudo questões actuais. A 21 de Junho de 1968, faleceu na sua vivenda do Estoril, com 92 anos de idade, o Sr. Comendador Duarte Martins, o grande padrinho desta obra, que desde o princípio assumiu como sua. As exéquias, celebradas no dia seguinte, foram presididas pelo Sr. D. Agostinho Moura e a comunidade da Aguilha velou o seu corpo toda a noite na Igreja de Santo António do Estoril. Em Novembro de 1968, os alunos do Curso Propedêutico começaram a frequentar as aulas na Universidade Católica de Lisboa, rotina que nos anos O Seminário da Torre da Aguilha 475 seguintes se estendeu aos outros cursos. Com a diminuição do número de seminaristas, em 1971-72, uma parte da casa continuou a servir para os escolásticos, outra foi reservada para acolhimento dos missionários idosos, abrindo-se assim uma nova comunidade, e outra para Casa de Cursos e Exercícios Espirituais. A partir de 1975-76, deixou de haver escolásticos na Aguilha. Os alunos de Teologia foram diminuindo até que, após as ordenações deste ano, o escolasticado deixou de funcionar nesta casa. Os alunos de Filosofia, vindos de Braga prosseguiram a sua formação teológica em Espanha até 1983, ano em que se abriu uma nova casa para o II Ciclo de Teologia, no Restelo. Em 1996-97, depois de grandes obras de restauro na Aguilha, o II Ciclo de Teologia regressou à Aguilha. Nestes 50 anos, das centenas de alunos que frequentaram a Torre da Aguilha, foram ordenados 156, mais 8 no tempo em que o Escolasticado esteve no Restelo. A quase totalidade partiu para as missões. Lar de idosos e Casa de Retiros A Casa de Retiros começou a funcionar no Pavilhão Leste, em 1972, sendo este um serviço de valor incalculável que esta casa tem prestado à Igreja portuguesa. Centenas de milhares de utentes têm passado por esta casa. A média actual é de 10 mil por ano. A 1 de Outubro de 1975, a secção das salas de aulas, frente ao parque desportivo exterior, bem como o topo da galeria central, é, a pedido do Governo, adaptado a Escola – Ciclo. O contrato entre a Congregação e o Ministério das Finanças foi efectuado a 28 de Outubro de 1976. A Escola viria a fechar em 1985. Com o retorno de muitos portugueses das antigas colónias em 1975, disponibilizou-se o primeiro e segundo andar da parte direita do pavilhão central para a Cruz Vermelha Portuguesa nela acolher os retornados do Ultramar. Este lar passará em 22 de Março de 1978 para o IARN e finalmente para a Segurança Social, que o transformou em Lar de Terceira Idade. No mês de Setembro de 1996 fez-se a mudança do Lar para os dois primeiros pisos do Pavilhão Leste, tendo ali permanecido até deixarem esta casa no ano de 2001. Entretanto, a Casa de Retiros ficou a funcionar no Pavilhão Central, depois de obras de adaptação. De 14 a 30 de Maio de 1982 realizou-se neste seminário o Conselho Geral Alargado da Congregação do Espírito Santo, em que estiveram presentes além de todo o Conselho Geral, a quase totalidade dos Superiores Maiores da Congregação. A 18 de Dezembro de 1983 começou nesta comunidade a reunião da Comissão da Revisão das Constituições da Congregação, formada por 28 peritos de toda a Congregação. A reunião prolongar-se-ia até 7 de Janeiro de 1984. No ano de 1984, de 15 a 30 de Julho, com a presença do Superior Geral, P. Franz Timmermans, realizou-se nesta casa o Capítulo Provincial, abrindo assim uma rotina que aqui se repetiria de seis em seis anos. A 9 de Abril de 1989 começaria a construção da auto-estrada que daria ao 476 Adélio TORRES NEIVA seminário um novo enquadramento rodoviário. A 23 de Outubro de 1989, a “Marginaudio Lda” assina um contrato com a Província que lhe permite adaptar as salas e demais anexos junto ao Ring para os seus serviços de Rádio. Em 1996, começam as grandes obras de restauro da Aguilha, que incluirão a renovação dos quartos, o redimensionamento das salas, os espaços de acolhimento, etc. Foi a par destas obras que o Curso de Teologia, agora bastante reduzido, voltou para a Aguilha. As obras culminariam com a remodelação completa da Igreja, no ano 2000, a cargo do Arquitecto Líbano Monteiro, que lhe deu um novo rosto e fez dela um dos espaços mais sugestivos e mais estimulantes de todo o seminário. Em 1989, os Provinciais Espiritanos da Europa realizaram aqui a sua reunião anual, encontro que repetiriam em 1999 e várias Comissões Espiritanas Europeias escolheram também esta casa para os seus encontros anuais. No ano 2004, reuniu-se aqui o Capítulo Geral da Congregação. Em 1996, estabeleceu-se uma plataforma de entendimento entre as duas comunidades localizadas no seminário, devido à chegada dos jovens em formação: Comunidade de Nossa Senhora de Fátima para ministério paroquial, apostólico e repouso e Comunidade de S. Paulo para formação do II Ciclo de Teologia. Fazem parte dos objectivos do seminário, acolhidos pelas duas comunidades: o serviço em unidade pastoral de S. Domingos de Rana e Tires e o Centro de Acolhimento a grupos. Em 16 de Janeiro de 1998, assinou-se um Protocolo com o Centro Regional de Segurança Social de Lisboa e Vale do Tejo, ocupando o lar a zona norte da cave, rés-do-chão e 1o andar, no bloco Leste. Em 17 de Julho de 2003, o Conselho Provincial criou o conselho do Centro de Acolhimento com poderes de decisão e nomeou uma gestora para a Torre da Aguilha, voltando-se à administração directa da cozinha; criou o ministério de “animador espiritual do Centro de Acolhimento” e aprovou o Estatuto do Seminário da Torre da Aguilha, em que as diferentes tarefas são especificadas. A 26 de Junho de 2003, fez-se um contrato com a Dra. Sónia Maria Carrasqueiro Mendonça Risso, em que esta assume, por um ano, a gestão corrente do Centro de Acolhimento, a partir de 01 de Setembro de 2003. Durante estes 50 anos trabalharam neste seminário 125 Espiritanos, dos quais 57 já faleceram. Conclusão Parte integrante desta história viva, além dos 125 Espiritanos, padres e irmãos, que a esta obra deram alguns dos melhores anos da sua vida, é uma lista enorme de benfeitores, de que destacamos os grupos da LIAM de todo o país e um núcleo duro de pedras-chave que se distinguiram na construção desta obra, com especial relevo para o Sr. D. Agostinho de Moura, P. José Felício, Comendador O Seminário da Torre da Aguilha 477 Duarte Martins e Dr. Nuno Simões. Na comemoração dos 50 anos do seminário, celebrada a 3 de Novembro de 2002, estiveram presentes, como há 50 anos no dia da sua inauguração, o Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa, os Srs. Presidente da Câmara de Cascais e da Junta de Freguesia de S. Domingos de Rana e uma multidão imensa de liamistas e amigos da Congregação. Foram descerradas três lápides: uma pelo Sr. D. José Policarpo, Patriarca de Lisboa, recordando a bênção do altar da igreja restaurada; outra pelo Sr. Dr. António Capucho, presidente da Câmara de Cascais, evocativa dos 300 anos da missão espiritana; e outra, recordando os 50 anos da fundação do seminário, a cargo de D. Maria de Lurdes Fernandes, uma das liamistas que estiveram presentes no lançamento da primeira pedra, há 50 anos. V ano de Pastoral em Salamanca Em 1956 publicava Roma a Constituição Apostólica “Sedes Sapientiae”, dando novas directivas para a formação dos religiosos: tornava-se obrigatório o V Ano de Teologia, para estudos mais especializados da pastoral. Durante vários meses, os superiores dos diversos institutos religiosos se reuniram para estudar o modo de pôr em prática esta orientação, mas não chegaram a acordo. No Conselho Provincial de 5 de Setembro de 1958, realizado no Fraião, foi decidido que os teólogos espiritanos fariam o V Ano de Pastoral na universidade de Salamanca. No dia 6 de Outubro, partiu para Salamanca uma equipa formada pelos PP. Firmino Cardoso, reitor da Torre da Aguilha, Querubim Meireles e os neosacerdotes do V ano José dos Santos Simões, Manuel David de Sousa, Abílio Ribas, José Martins Salgueiro, Domingos Salgueiro da Mota e Altino Cepeda Coelho. O P. Fernando Santos Neves chegaria mais tarde. Em Salamanca, esperava-os o P. Augusto Teixeira Maio. Toda a equipa ficou instalada no Colégio hispano-americano de S. Vicente, por deferência do bispo da diocese. O P. Firmino Cardoso regressaria a Portugal no dia 8. As aulas começaram no dia 13 de Outubro. No dia 14, o P. Querubim recebia ordens de partir para Madrid e o P. Simões assumiria a responsabilidade do grupo; o P. Ribas seria nomeado ecónomo. Entretanto, o P. Querubim vinha visitar e estar com o grupo, de vez em quando. No dia 24, foi a primeira visita do Provincial de Portugal, P. Olavo Teixeira, sendo recebido pelo bispo da diocese. Outras visitas se seguiriam, como a do Sr. D. Agostinho de Moura e do P. António Brásio e outras individualidades da Congregação. A 31 de Janeiro de 1959, a equipa regressava à Torre da Aguilha. A 12 de Outubro de 1959, partia nova equipa, desta vez formada por cinco padres: Marcelino Duarte Lopes, Barros, Fernando Malheiros, Norberto Cristóvão e Agostinho Brígido. Acompanharam-nos o P. Provincial e o Ir. 478 Adélio TORRES NEIVA Gregório. No dia 14, o P. Provincial regressaria a Lisboa e o Ir. Gregório a Paredes de Nava. No dia 18 de Janeiro de 1960, chegou o P. Fernando Santos Neves que veio defender a sua tese de Doutoramento em Filosofia sobre o P. Libermann. A 20 de Fevereiro, foi o encerramento solene do Curso de Pastoral. Os participantes portugueses regressaram a Portugal. Curso Internacional de Pastoral na Torre da Aguilha No ano lectivo de 1960-1961, o Curso de Pastoral foi realizado na Torre da Aguilha. Nele participaram, além dos portugueses, os escolásticos-sacerdotes holandeses. Foi a 3 de Julho de 1960, festa da Consagração ao Apostolado, que o P. Firmino Cardoso anunciou que o Superior Geral tinha determinado que o Curso de Pastoral se faria na Aguilha. Nesse ano, o curso ficou assim constituído: Professores: P. Fernando Moreira, director do Curso, P. Luís Bechelen, P. Francisco Lopes, P. Fernando Santos Neves e P. Henrique Sá Couto. Na espiritualidade colaborou o P. José Alves. Alunos: P. Manuel Gonçalves, Cardoso Cristóvão, Fernandes de Sá, Argemiro Geraldo, Areias Amaro, Loureiro Vassalo, Francisco Freitas, José Couto, Alfredo Pereira, Vanwesenbeck, Teuns, Reuvers, Huijsmans, Pubben, Vanwesenbeck Jr. Os holandeses aprenderiam o português ao mesmo tempo que faziam o curso. Vários peritos de outras matérias pastorais vieram dar a sua colaboração: Arte Sacra, Acção Católica, Apostolado do Mar, Pastoral Vocacional, Cursilhos de Cristandade, Obra das Criadas, Opus Dei. O curso terminou a 2 de Fevereiro de 1961. Padres ordenados neste seminário A 27 de Setembro de 1953: Carlos Ferreira de Azevedo, Alexandre Teixeira de Carvalho, José Torres Palma, José da Lapa, Joaquim Maria Mendes, Custódio Ferreira de Campos, António Sá Cachada, Belmiro Coelho da Silva, João Baptista Pinheiro. A 2 de Maio de 1954: Alberto da Fonseca Lopes e Manuel Ferreira da Silva. A 20 de Setembro de 1954: Joaquim Gomes, António Fernandes de Sá, Manuel Alves Laranjeira e António Lima. A 5 de Março de 1955: Domingos da Cruz Neiva e Manuel Martins Vaz A 29 de Junho de 1955: P. Alberto Rodrigues da Silva Camboa. A 29 de Setembro de 1955: José Pereira Marante, Albino Ribeiro da Costa, Francisco Fernandes Correia, Adélio Ribeiro Lopes, Álvaro da Costa Campos, Manuel Nunes, Assis Gomes de Sousa Pinho, José Alberto Veiga Meira Torres, João do Nascimento Afonso Cunha. A 8 de Janeiro de 1956: Manuel Sequeira Teles. O Seminário da Torre da Aguilha 479 A 19 de Fevereiro de 1956: Adélio de Almeida Torres Neiva e Amadeu Venâncio Pereira. A 16 de Setembro de 1956: Arnaldo da Rocha Ferreira, José dos Santos Fonseca, Arlindo de Areia Amaro, José Fernandes, José Coelho Barbosa, Roberto Joaquim Alves da Costa, José Fagundes Pires, Marinho Dias dos Santos. A 16 de Março de 1957: Casimiro Pinto de Oliveira. A 21 de Setembro de 1957: António Fernando dos Santos Neves, Joaquim Macedo Lima, Altino José Cepeda Coelho, Manuel David Sousa, Abílio Rodas de Sousa Ribas. A 6 de Outubro de 1957: José Martins Salgueiro. A 22 de Março de 1958: Domingos Salgueiro da Mota. A 20 de Setembro de 1958: Norberto da Conceição Cristóvão, Marcelino Duarte Lopes, Agostinho Pereira Rodrigues Brígido, Fernando Teixeira Malheiros, Aurélio Cardoso de Barros. A 27 de Setembro de 1959: António Cardoso Cristóvão, José Fernandes de Sá, Manuel Areias Amaro, Argemiro Rodrigues Geraldo, Francisco da Silva Freitas, António Loureiro Vassalo. A 18 de Outubro de 1959: José Maria de Couto Pereira. A 2 de Abril de 1960: Alfredo da Purificação Pereira. A 18 de Setembro de 1960: Alberto dos Anjos Coelho, Carlos Gouveia Leitão, Abel Moreira Dias, Joaquim Pereira Gonçalves da Cruz, José Pinto de Carvalho, Serafim de Sousa Marques da Silva. A 11 de Maio de 1961: Manuel Laranjeira Rodrigues Areia. A 2 de Julho de 1961: António Moreira Loureiro. A 15 de Agosto de 1961: Francisco Medeiros Janeiro. A l de Julho de 1962: Joaquim Ribeiro. A 16 de Dezembro de 1962: Joaquim Carvalho da Cunha, Paulino Livramento Évora, António Ribeiro Laranjeira, Gil Afonso Losa, Manuel Arruda, Joaquim Marques Ferreira. A 30 de Março de 1963: José Maria de Azevedo Moreira. A 3 de Novembro de 1963: Agostinho Ribeiro Loureiro, António da Silva Seabra, Manuel João Magalhães Fernandes, Américo Sousa Alves, João Serra de Araújo. A 8 de Setembro de 1964: António Marinho Amorim da Costa. A 28 de Outubro de 1964: Adélio da Cunha Fonte, Adelino da Silva Costa, António Fernando Henriques da Silva, António José Gomes Marques, Mário Fernandes Pires, Ricardo da Silva Santos Meira. A 19 de Dezembro de 1964: Carlos Salgado Ribeiro. A 15 de Agosto de 1965: António Femandez Perez, Manuel Marinho de Lemos Couto, Francisco Gonçalves de Oliveira. A 09 de Outubro de 1965: Domingos Matos Vitorino, António Martins Fernandes, Joaquim da Silva Ferreira. A 25 de Setembro de 1966: Manuel Durães Barbosa. 480 Adélio TORRES NEIVA A 9 de Outubro de 1966: Manuel da Silva Barbosa Viana, António Vieira Parente, Veríssimo Manuel Teles, Pedro Candjimbu, Manuel Álvaro Ferreira da Silva. A 1 de Julho de 1967: Miguel Soares da Silva. A 3 de Outubro de 1967: António Salvador Cabral da Costa, António dos Santos Moreira, António José Cardoso Soares, Aprízio Barbosa da Silva, Alberto Barbosa da Cunha Meireles. A 30 de Março de 1968: Felismino Gabriel Jacob, Joaquim Pereira Francisco. A 25 de Julho de 1968 : Manuel Rodrigues da Cruz e João Crisóstomo Nogueira. A 2 de Agosto de 1968: Afonso da Cunha Duarte e José da Cunha Duarte. A 4 de Outubro de 1968; João Inácio Carreira Mónico e Eduardo Augusto Guedes Osório. A 19 de Outubro de 1969: Bernardo Bongo. A 21 de Dezembro de 1969: Joaquim José de Azevedo Moreira, José de Castro Oliveira, José Ribeiro Mendes. A 16 de Julho de 1970: António Joaquim da Rocha Coelho. A 20 de Dezembro de 1970: José Reis Gaspar. A 4 de Julho de 1971: António Correia de Andrade. A 31 de Outubro de 1971: Firmino da Costa Sá Cachada. A 16 de Abril de 1972: Manuel da Silva Santana, Albino da Silva, António Teixeira Machado. A 22 de Outubro de 1972: José Peixoto Lopes. A 25 de Julho de 1973: Fernando Henrique Ferreira Pinto. A 26 de Agosto de 1973: Tarcísio dos Santos Moreira. A 23 de Dezembro de 1973: António Luís Marques de Sousa. A 11 de Agosto de 1974: Domingos da Rocha Ferreira. A 21 de Setembro de 1975: Luís Oliveira Martins. A 8 de Agosto de 1976: Manuel Hermenegildo Teixeira Correia. A 21 de Dezembro de 1975: António Luís Farias Antunes. A 22 de Agosto de 1976: José Lopes de Sousa. A 29 de Agosto de 1976: Luís Filipe Ferreira Rios. A 26 de Junho de 1977: Albino Vítor Martins de Oliveira. A 26 de Agosto de 1977: João Baptista Souto Coelho. A 18 de Setembro de 1977: Francisco Eduardo Miranda Ferreira. A 8 de Agosto de 1976: Francisco Sanches Oliveira Cardoso. A 31 de Julho de 1979: Agostinho de Sá Tavares Medeiros. A 2 de Setembro de 1979: José Martins da Costa. A1 de Agosto de 1982: Manuel Martins Novais Ferreira. Na comunidade do Restelo: A 14 de Setembro de 1986: João David do Souto Coelho. A 26 de Julho de 1987: José Carlos da Conceição Coutinho, José Manuel Matias Sabença, Manuel de Sá Paula, Mário Faria Silva. Página central da “Acção Missionária” por ocasião da Inauguração do Seminário da Torre da Aguilha. 482 Adélio TORRES NEIVA A 30 de Julho de 1989: António Manuel Santos de Sousa Neves. A 25 de Agosto de 1991: José Ferreira da Cunha. A 19 de Julho de 1992: Fernandino Ilídio Cardoso Pereira. A 11 de Julho de 1993: Teodoro Mendes Tavares A 12 de Setembro de 1993: Aristides Dias Torres Neiva. A 21 de Julho de 1996: Pedro Alexandre Simões Gouveia Fernandes. A 13 de Junho de 1999: Damasceno José Fernandes dos Reis. A 4 de Julho de 1999: João Baptista Federico Barros. Na Torre da Aguilha: A 23 de Julho de 2000: Luís Pedro Cardoso Adeganha. A 17 de Setembro de 2000: Nuno Miguel da Silva Rodrigues. A 16 de Junho de 2002: Hugo Norberto Mendes Ventura. A 14 de Julho de 2002: Manuel Alves Andrade Semedo. A 15 de Setembro de 2002: Vítor Narciso Martins da Silva. A 18 de Julho de 2003: Tiago Aparício Simões Barbosa. Superiores e Directores (1952-1959) P. Firmino Cardoso Pinto; (1959-1965) P. Jorge Sanches; (1965-1967) P. José Alves, superior; (1965-1968) P. Joaquim Macedo Lima, director; (1967-1970) P. Firmino Cardoso, Superior; (1968-1970) P. José Simões, director; (1970-1973) P. Manuel Gonçalves, Superior e Director; (1973-1975) P. António Ribeiro Laranjeira, Superior e Director; (1975-1976) P. Agostinho Pereira da Silva, Superior; (1976-1980) P. Carlos Ferreira de Azevedo, superior; (1980-1984) P. Francisco Lopes, superior; (1984-1988) P. Marcelino Lopes, Superior e director da Casa de retiros; (1988-1992) P. Francisco Valente, superior; (1992-1998) P. Joaquim Macedo Lima, Superior; (1996-1998) P. António Luís Farias Antunes, Director; (1998-2000) P. José de Castro Oliveira, superior e director; (2000-2003) P. José Martins Salgueiro, Superior; (20002004) P. José Martins da Costa, director; (2004)P. Mário Faria Silva, director, (2004) Ecónomos (1952-1955) P. José da Fonseca Lopes; (1955-1959) P. José Joaquim Correia; (1959-1960) P. Eurico José de Azevedo; (1960-1961) P. Manuel da Costa Andrade; (1961-1962) P. Manuel Augusto Ferreira; (1962-1966) P. José Carreira Junior; (1966-1978) P. Domingos da Cruz Neiva; (1978-1984) P. António Rodrigues Ferreira; (1984-1985) P. José Fernandes; (1985-1986) P. João Baptista Pinheiro; (1986-1988) P. Marcelino Duarte Lopes; (1988-1992) P. Agostinho Brígido; (1992-1997) P. Manuel dos Santos Neves; (1997-2000) P. António dos Santos Moreira; (2000-2003) P. José de Castro Oliveira; (2003- O Seminário da Torre da Aguilha 483 2004) P. Domingos da Rocha Ferreira; (2004), P. José Lopes Sousa; (20042005). Benfeitores do Seminário O Seminário da Torre da Aguilha deve a sua construção a um grande número de benfeitores que bem se podem considerar os fundadores do Seminário. Entre outros contam-se: o Comendador António Duarte Martins e sua esposa D. Maria Augusta Duarte, que acompanharam e colaboraram desde a primeira hora em todas as iniciativas de ajuda à construção do seminário, Dr. Nuno Simões, Ernesto Cirilo, Comandante Álvaro Freitas Morna, João Ildefonso Bordallo, Eng. Trigo de Morais, Dr. Júlio Vilhena, Dr. Trigo Negreiros, Capitão Teófilo Duarte, Ernesto Lara, Companhia de Diamantes de Angola, Companhia Angolana de Agricultura, Manuel dos Santos Bártolo, Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa, Sociedade Agrícola do Cassequel, Sacor, Casa Seabra, Companhia de Ferro de Benguela, Mário Cunha Lda, Cirilo e Irmão, Marques Seixas, José Nunes Martins, Santos Gonçalves, Companhia de Cimentos de Angola, Oliveira Barros Lda. Campos de Oliveira, Mota e Irmão, Santos Diniz, Dias de Figueiredo, Diogo e C.ª, Cotanang, Companhia Colonial de Navegação, Grémio de Milho do Ultramar, Banco de Angola, CUF, Sociedade de Comércio e Indústria e Transportes, Empresa do Cobre de Angola, Banco Nacional Ultramarino, Cinema Império, Joaquim Correia de Azevedo, Banco de Portugal, Companhia de Açúcar de Angola, Organização Lusalite e Lupral, Dr. Ricardo Espírito Santo, Companhia dos Algodões de Moçambique, Paulino de Melo Lda. James M Goean, Maria Luísa Cardoso de Matos, Sociedade Técnica Cardoso de Matos, Alberto Cardoso de Matos, Tecidos Seabra, Mons. Luís Le Hunsec, João Manuel Lopes de Barros, João Ildefonso Bordallo, Santos e Gonçalves, D. Manuel de Melo, CUCA, Banco Fonsecas, Santos e Viana, Manufactura Nacional de Borracha, Manuel Lucas Martins, ED. Guedes Marques e Seixas Lda, Companhia Vidreira Nacional, Francisco Visita do Cardeal de Lourenço Marques; na foto o Comendador Duarte Martins e sua esposa António Pereira, Adriano Seabra, Campos e Oliveira, Casa da Sorte, Corporação Mercantil Portuguesa, Lúcio Feteira, Joaquim Tomás Henriques, Oliveira Barros Lda, Empresa do Cobre de Angola, Colégio de S. José (Luanda), Governo Civil de Lisboa, Dr. José Pequito Rebelo, Mota e Irmão, António José Dias Mota, D. Irene Borges de Moura, Companhia Portuguesa Rádio Marconi, Distribuidora de Garrafas e Garrafões, Arcebispo de Luanda, Bispo de Nova Lisboa, Bispo de Silva Porto, D. Gracinda 484 Adélio TORRES NEIVA de Figueiredo Moura, D. Margarida Vaz Monteiro e Silva, D. Eugénia Manuel (Atalaia), Carlos de Sousa Oliveira, José Luís Gonçalves Ramada, José Nunes Martins, António Rodrigues Pintassilgo, Manuel José de Sousa Morais, Carlos Gonçalves, José Azevedo Cunha, Lagos e Irmão, Santos Dinis Lda, Jean Grussel, Diogo Lda, Alfredo Farinha Portela, Canelas e Figueiredo, Bispo de Cabo Verde, P. José Bailão Pinheiro, Transagraire, Pescaria Lusitana, Madeira e Marques, Companhia de Manganês de Angola, Rocha e Coelho, Dias de Figueiredo, Morgado Lda (Mampesa), Joaquim Pinheiro Gomes, António da Costa, D. Maria Cohen Espírito Santo Silva, Mário Cunha Lda, Casa Americana, D. Maria Luísa Cardoso de Matos, Eng. Cardoso de Matos, Santos e Gonçalves, D. Jorge de Melo, Câmara Municipal de Luanda, Manuel Lucas Martins, Joaquim Correia de Azevedo, Sotecma, João Guedes, Auto Comercial, Cooperação Mercantil Portuguesa, Canelas e Figueiredo, Oliveira Barros, Madame Bermann, António Dias Mota, Companhia Portuguesa Rádio Marconi, Manuel e Magalhães, D. Margarida Vaz Monteiro e Silva, José Nunes Martins, Manuel José de Sousa Morais, Manuel Gonçalves, Carlos Gonçalves, Marques e Marques, Guérine Angola, Rocha e Coelho, António de Sousa Lara, Socony Vaccum Portuguesa, Vial, Joaquim Pinheiro Gomes, António da Costa, L. Oliveira de Marques Seixas, Antero Andrade Silva e Filhos, Armazém Lima, núcleos da LIAM, Gabinete de Urbanização do Ministério do Ultramar, Distritos de Salazar, Nova Lisboa, Silva Porto, Malanje, Benguela; Câmaras de Luanda, Carmona, Nova Lisboa, Lobito, Benguela, Administração de Catumbela. 485 Capítulo 49 A Casa de Santo Amaro à Estrela (Lisboa) N a época da restauração da Província, levada a cabo nos anos vinte do século passado e na da sua consolidação nas décadas seguintes, o papel da comunidade de Santo Amaro tornou-se cada vez mais relevante. Além da Procuradoria, obra para a qual a comunidade tinha sido inicialmente criada e cujo exclusivo manteve durante muitos anos, ali se vieram a fixar, entre outras, duas obras-chave da Província: a direcção e administração provincial e a direcção e administração da animação missionária. O P. Joaquim Alves Correia continuou com as suas funções de Procurador das Missões, na nova residência da Rua de Santo Amaro, até 1932, ano em que foi transferido para Viana do Castelo, como superior da comunidade e director do Escolasticado Maior e onde permaneceria até 1935. Neste interregno de três anos, substituiu-o na Procuradoria o P. Arnaldo Baptista, ficando a seu adjunto o P. Emile Herbinière; no entanto, o representante oficial junto do Governo continuava a ser o P. Alves Correia. Em 1935, o P. Alves Correia regressa para a Procuradoria, onde retoma todas as suas antigas funções. Nesse ano, a residência da Procuradoria e Casa Provincial Procuradoria assumiu também o carácter de seminário auxiliar do Escolasticado Maior de Viana do Castelo. O P. Arnaldo Baptista, ajudado pelo seu ecónomo o P. Herbinière, tinha adaptado o casarão de Santo Amaro para habitação de alguns escolásticos do 4º ano de Teologia, que vinham frequentar aulas na Escola Superior Colonial, ao mesmo tempo que repetiam Dogma e Direito e praticavam um pouco de ministério. Acompanharam-nos os professores PP. Alves Correia e Mass. O P. Provincial, que a princípio pensou em fixar aqui a sua residência e dirigir o núcleo dos escolásticos, viu logo que lhe não era possível deixar o norte do país, onde floresciam as casas de formação e fixou a sua residência no Porto. Durante os dois anos que o escolasticado esteve em Lisboa (1935-1936 e 19361937), diz o P. Alves Correia que “a Procuradoria ganhou muito em vida intelectual e espiritual, temperando a fatal esfera de reboliço e de correria, que 486 Adélio TORRES NEIVA caracteriza um lugar de passagem e de aviamento de encomendas e negócios: aulas, conferências espirituais aos padres-estudantes, leitura instrutiva às refeições, tudo contribuíu para elevar o ambiente religioso e moral”. O P. Mass, depois dos dois anos de vida escolar em Lisboa, ainda se demorou aqui mais um ano e foi ele que dirigiu as instalações da igreja nova que entretanto se fizeram. O economato foi regido durante o primeiro ano do escolasticado pelo P. José Terças, que, retirando para a Silva, deixou a pasta da economia ao P. Manuel Braz; este, por seu turno, após um ano de gerência, foi para o Algarve, deixando o economato ao P. Domingos Vieira Baião (Janeiro de 1938). Em 1939, vinha de Viana, para o mesmo ofício, o P. Manuel de Jesus Raposo, que em Setembro retirava para Braga e deixava a substituí-lo o P. Frederico Duff, o qual por sua vez, após um mês de administração, ia para Viana do Castelo. “Foi durante a passagem do P. Domingos Vieira Baião, como ecónomo da Procuradoria (1938) que a Câmara Municipal, para dar entrada condigna e desafogada ao Palácio Novo do Presidente do Conselho que acabava de ser construído, amputou aos Espiritanos o quintal de toda a largura da nova e ampla Rua da Imprensa e descarnou o resto dele, povoado de fruteiras de vinha, deixando-o em compensação, desafrontado de eventuais futuros vizinhos. Entretanto, à força de adubos e cuidados, conseguiu o P. Manuel Raposo transformar aquele ténue leito de inúteis e raquíticas flores em horta verdejante de couves, rabanetes e tenras alfaces”. Em Outubro de 1939, voltava para Lisboa o P. José Terças e pouco depois o P. António Brásio, o primeiro para continuar a levar a bom termo a “Vida de Cristo”, o segundo para aprofundar as suas investigações históricas. A Procuradoria servia ininterruptamente as missões de Angola e o bispado de Luanda, tanto no Ministério das Colónias e diante da Nunciatura Apostólica, como nos armazéns de Lisboa, sem falar no acolhimento permanente que dava a missionários de passagem. As suas actividades alastravam-se ainda para outros sectores como o servir de correio central das Missões e Províncias de outras nações em guerra, acolhimento de peregrinos internacionais e fugitivos da guerra, etc. De 1935 a 1940, a casa foi definitivamente desalojada dos quatro inquilinos que aqui moravam, preparando-se o salão anexo para o adaptar ao seu primeiro destino de capela pública e da comunidade. Esta foi benzida solenemente e dedicada ao Espírito Santo e a S. Francisco de Sales, padroeiro da comunidade. Em 1941, a incipiente Obra da Propaganda, nascida em Fátima em 1937 e estruturada em Viana do Castelo, é transferida para Lisboa, com o P. Agostinho de Moura, abrindo nesta comunidade de Santo Amaro um novo leque de actividades e contactos, que marcariam definitivamente o seu futuro. No ano seguinte, 1942, a LIAM recebia a aprovação dos seus estatutos e fazia-se pela primeira vez a imposição dos emblemas. Em 1943, reaparecia a revista “Portugal em África”, suprimida em 1910 e agora com uma nova direcção: PP. Joaquim Alves Correia, António Brásio e Francisco A Casa de Santo Amaro à Estrela (Lisboa) 487 Nogueira da Rocha. Nesta data ficou também confiada à LIAM a Associação de Nossa Senhora da África. Em 1944 o P. Agostinho de Moura é nomeado superior da comunidade. Por sua vez, a 15 de Novembro de 1945, eram também transferidos para Santo Amaro, os serviços do Provincialato, tornando-se desde então a comunidade residência oficial do Provincial e sede administrativa da Província, até então fixada no Porto. A 15 de Fevereiro de 1946 o P. Joaquim Alves Correia foi exilado pelo Governo Português para os Estados Unidos e houve que providenciar à sua substituição na Procuradoria. Para esse efeito foi nomeado o ecónomo provincial P. Avelino Costa, acumulando os dois serviços - economato e procuradoria - até 1948, data em que os mesmos cargos passaram para o P. João Pinto da Silva. Em 1949 assume o cargo de superior o P. Francisco Nogueira da Rocha, cargo que em 1955 passará para o P. António Rodas. Em 1950 o P. Pinto da Silva é nomeado superior do Fraião e a Procuradoria passa para os cuidados do P. Augusto Teixeira Maio, sendo então chamado para o coadjuvar o P. Ismael Baptista. No ano seguinte, 1951, o P. Teixeira Maio é destacado para a nova fundação em Espanha e o P. Ismael Baptista assume a responsabilidade da Procuradoria. Nessa época, mais que os serviços materiais duma Procuradoria, importava e ocupava mais tempo o serviço de representação: o Procurador era o representante da Congregação e das dioceses e das Missões junto do Ministério do Ultramar. Esta representação cessou naturalmente com a extinção do Ministério do Ultramar, a quando da descolonização, mas em compensação apareceram as relações nada menos delicadas com as embaixadas dos novos países emergidos da descolonização e, sobretudo, as encomendas de bens e serviços provocados pela nova situação económica desses mesmos países. Missionários espanhóis, italianos, franceses, suíços, alemães, holandeses, belgas, ingleses, irlandeses, mexicanos, colombianos ou brasileiros, espiritanos e não espiritanos, como bispos, sacerdotes e religiosas podem testemunhar o leque de actividades e serviços que a Procuradoria tem prestado. Em 1962 chega, vindo da Régua, para assumir o cargo de superior da comunidade o P. Joaquim Correia de Castro. A 6 de Maio de 1963 iniciava-se a construção de um novo pavilhão anexo à antiga casa da Procuradoria, ao longo da Rua da Imprensa e destinado a uma acomodação mais satisfatória dos serviços da LIAM, do Provincialato e do acolhimento aos missionários; a 13 de Novembro de 1966, o novo edifício estava pronto e para lá se passaram os serviços a que a casa se destinava. A 11 de Dezembro de 1964 era criado o Centro de Documentação, Informação e Biblioteca Missionária e Ultramarina, sendo nomeado seu director o P. Ismael Baptista; secretário o P. Miranda Santos e adjuntos os PP. António Brásio, Joaquim Vaz e Adélio Torres Neiva. Mas seria o P. José Martins Vaz que viria a dar vida a este projecto, ocupando este novo centro as dependências libertadas pela transferência da LIAM para o edifício novo. 488 Adélio TORRES NEIVA A partir de 1964, novos melhoramentos foram introduzidos, tais como a unificação dos serviços da portaria e adaptação da sala de comunidade, a capela interior, a deslocação da Procuradoria para a sala de visitas do nº 49, ficando a sala que até aí lhe era reservada para sala de comunidade. Em 1968 o cargo de superior passa para o P. Adélio Torres Neiva. Em 1970 a capela semi-pública sofreu notáveis melhoramentos, em obediência às novas orientações do concílio Vaticano II e construiu-se uma sala de comunidade sobre a cozinha. Em 1974 o P. Torres Neiva parte para Roma para o Conselho geral e para o substituir, como superior, é nomeado o P. Francisco Rocha, pouco depois substituído pelo P. Casimiro Pinto de Oliveira, que, poucos meses a seguir, é nomeado Provincial, sendo escolhido para superior o P. Joaquim Macedo Lima. Em 1979 é a vez do P. Marcelino Duarte Lopes ser chamado a este cargo. Em 1979, o Conselho Alargado pediu para se estudar a possibilidade de dividir a comunidade, fazendo o sector da LIAM uma comunidade à parte. Foi para isso nomeada uma comissão que não chegou a uma solução conclusiva, pelo que se optou para manter a situação como estava. Em 1982, numa política de clarificação dos objectivos das comunidades, apontaram-se como objectivos desta comunidade os seguintes: - a Direcção da Província (Equipa provincial, Secretariado e Economato Provinciais), com as instalações necessárias aos serviços e pessoas que os desempenhem, a situar no 2º andar da chamada “Casa Nova”; - a Procuradoria das Missões, integrando-se como serviço totalmente incluído na comunidade; - a Direcção, Administração e Redacção da LIAM. A 15 de Novembro de 1984, falecia, vítima de um acidente vascular, o P. Ismael Baptista. Para o substituir é chamado das Missões o P. Casimiro Pinto de Oliveira, que toma o seu cargo em meados de Maio de 1985, coadjuvado pelo Ir. Julião Silva, que até aí colaborava já com o P. Ismael Baptista. A nova situação criada pelo acesso à independência dos países onde se situavam as missões espiritanas, o crescimento cada vez mais marcante das igrejas desses países e uma cada vez maior africanização dos quadros, exigiam uma leitura nova do papel e da dinâmica da Procuradoria, como serviço de apoio aos missionários e igrejas locais, onde eles trabalham. Nesse sentido, o Conselho Provincial levou a cabo um estudo que ficou ultimado na reunião de 30 de Setembro e 1 de Outubro de 1985 e que inclui os novos Estatutos da Procuradoria e um conjunto de normas acordadas entre a Província Portuguesa e a Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé (CEAST). O documento tem a data de 2 de Dezembro de 1985 e nele são relevados os seguintes princípios: - a Procuradoria fica integrada na orgânica administrativa da Província e na funcionalidade da casa da Rua de Santo Amaro; - é seu objectivo ajudar as missões e os missionários tanto no que diz respeito A Casa de Santo Amaro à Estrela (Lisboa) 489 ao envio do material de que eles têm necessidade como naquilo que se refere ao acolhimento, viagens dos missionários, nomeadamente aqueles cuja saúde reclame cuidados especiais; - a Procuradoria deve ter a peito possuir os meios necessários para a execução dos fins que se propõe, tanto no que diz respeito ao pessoal disponível, como às instalações necessárias para secretaria e armazém, bem como os instrumentos de trabalho que o seu cargo exija. A pedido e em acordo com a CEAST, a Procuradoria, dentro do espírito de uma longa tradição, mostra-se disponível para oferecer os seus serviços às dioceses e outras Congregações com quem a Congregação colabora e aceita o encargo de ser representante legal e zelar pelos interesses do Lar da Pontinha da CEAST, nas condições exaradas no protocolo que neste momento se faz. Devido à situação de carência e dificuldades de toda a espécie que a guerra tem criado em Angola, os serviços da Procuradoria nesta época voltam-se prioritariamente para a resposta a dar a estas situações, nomeadamente pelo envio de contentores com géneros e roupas e outros materiais de primeira necessidade, constantemente reclamados pelas missões e dioceses de Angola.400 Efectivamente desde então para cá tem sido permanente o envio de contentores para Angola. Quanto ao acolhimento dos missionários lembremos que só no ano de 1992 a Procuradoria prestou assistência no aeroporto de Lisboa a 285 missionários e só em 1995 despachou para Angola 12.482 volumes, com a cubicação de 86m3 e o peso de 246.110 Kg. Por conta da Solidariedade Espiritana mandou para Angola 5.646 volumes (cubicação: 325.45 m3 e peso 90.411Kg). Em 1984 é nomeado superior o P. Francisco Lopes, passando em 1987 o cargo ao P. Adélio Torres Neiva. Em 1992 procedeu-se ao restauro e renovação da Capela e seus anexos: sacristia, salão ao lado, escadas, desaparecendo a antiga sala de visitas. Dirigiu as obras o arquitecto Líbano Monteiro. A capela foi aberta ao público na noite de Natal de 1994. As obras continuaram em 1995, na zona da Procuradoria, cozinha, capela da comunidade, acesso à lavandaria; em 1996 melhoraram-se alguns quartos com sala de banho no 3º andar da Casa Nova, arranjou-se o sótão e abriram-se duas salas para televisão e leitura ao lado da sala de comunidade. Nos anos seguintes começou-se a pensar seriamente na restauração de toda a casa no seu conjunto, particularmente a chamada “Casa Velha” bem como o prédio nº 43. Foi para isso nomeada uma comissão para estudar o redimensionamento e aproveitamento de todos os espaços. Em 1994 é eleito superior o P. Manuel Durães Barbosa que no ano 2000 passará o cargo ao P. Adélio Torres Neiva. Como procuradores das missões de mais longa duração sobressaem os PP. Cristoph Rooney (1892-1904), José Maria Antunes (1904-1919), Joaquim Alves Correia (1922-1946), P. Ismael Baptista (1951-1984), P. Casimiro Pinto de 400 Estatutos BGCSSp. Jan-Dez. 1985 p. 273. 490 Adélio TORRES NEIVA Oliveira (1985...) Com muito menos anos de serviço seguem-se os PP. Arnaldo Baptista, Avelino Costa, João Pinto da Silva, Augusto Teixeira Maio, nenhum deles com mais de três anos no activo. Entre os colaboradores do Procurador é justo destacar os Irmãos Xavier Moreira, Alberto Parreira e Julião Silva, todos estes com mais de dez anos de serviço. Colaboraram ainda na Procuradoria entre outros, os PP. Manuel Antunes, Grappe, Parrissier, Rulhe, Stoll, Le Beller, Schurrer, Mendes Cardona e Emílio Herbingière, os Irmãos Estêvão, Arsénio, Narciso da Costa, Augusto, Serafim, Francisco, Antunes, Boaventura, Amândio Braz, Inocêncio, Adélio, Amadeu, Guilherme, Cristóvão, Alípio Moita, Joaquim, Fortunato, Claver, Romão, Francisco. Nos serviços de apoio da comunidade trabalharam os Irmãos João Bosco, Fernando Nunes, Joaquim Custódio, Paulo. Os serviços da Animação Missionária O P. Agostinho Lopes de Moura foi colocado em Lisboa em 1941 para se dedicar a tempo pleno à animação missionária; nesse ano era transferido para Lisboa o jornal “Acção Missionária”. Em 1943 estabelecia-se também em Lisboa a chamada “Obra da propaganda dos Missionários do Espírito Santo”, que se viria a identificar com a LIAM. Dela ficavam a fazer parte os PP. Agostinho Moura e José Felício, para a animação exterior, Francisco Nogueira da Rocha para a secretaria e António Brásio para a revista “ Portugal em África” que ia ser relançada. Em 1947 são incorporados na obra os PP. Henrique Alves e Augusto Teixeira Maio. Em 1949 é nomeado administrador da LIAM o P. José da Fonseca Lopes, cargo que no ano seguinte passará ao P. António Rodas. Em 1949, o P. Agostinho Moura é nomeado Provincial de Portugal e para o substituir na direcção da LIAM é escolhido o P. José Felício. Será depois substituído sucessivamente pelos PP. Veríssimo Teles, Marinho Lemos e Tony Neves. Como redactores do jornal “Acção Missionária” passaram sucessivamente os PP. Henrique Alves, Domingos Rodrigues, José Lapa, Adélio Torres Neiva, Francisco Lopes, Francisco Medeiros Janeiro, Firmino Cachada e Tony Neves. Como redactores da revista Portugal em África passaram sucessivamente os PP. António Brásio, Álavaro Miranda Santos e Adélio Torres Neiva. Em 1963 funda-se a revista “Encontro” que terá como redactores sucessivamente os PP. Adélio Torres Neiva, Francisco Lopes, Veríssimo Manuel Teles e Torres Neiva. Em 1963, com a criação de um centro missionário no Porto é enviado para lá o P. António Rodas e para o substituir como administrador da LIAM é escolhido o P. José Fernandes, cargo em que se manterá até 1966, sendo então substituído pelo P. António Cardoso Botelho. Em 1972 o P. António Botelho é transferido A Casa de Santo Amaro à Estrela (Lisboa) 491 para Cabo Verde e para ocupar o seu lugar é chamado o P. António Figueira Pinto; em 1976 o administrador é o P. Marcelino Duarte Lopes. Os administradores seguintes serão os PP. Domingos da Cruz Neiva, Manuel dos Santos Neves, Agostinho Brígido e Carlos Salgado Ribeiro. Como auxiliares do administrador, entre outros, destacaram-se o Sr. Manuel Teixeira, os PP. José da Fonseca Lopes, João Tavares, Avelino Barreto. Trabalharam ainda em Lisboa, na animação missionária do centro e sul do país, os PP. José Lapa, Augusto Teixeira Maio, José Martins Vaz, Joaquim Macedo Lima, Joaquim Vaz, Adélio Cunha Fonte, José Ribeiro Mendes, Herculano Lopes de Oliveira, António Pereira Rodrigues, Norberto Cristóvão, José Gaspar. Nos serviços administrativos da LIAM trabalharam também, alguns por longos anos, os Irmãos Nuno, Inocêncio, Trindade, António Pereira, Amândio Braz, Daniel, Salvador. Centro Padre Joaquim Alves Correia (CEPAC) Outra actividade que ultimamente a comunidade assumiu foi a assistência aos Bairros de Lata existentes nos arredores de Lisboa. Estes bairros distribuem-se pelas zonas de Amadora, Cascais, Lisboa, Loures e Oeiras. Em qualquer destes concelhos há numerosos bairros de lata, com uma população mais ou menos numerosa. A maior parte tem menos de mil pessoas, mas existem 14 deles, com mais de mil: 5 na zona da Amadora, um na zona de Cascais, um na zona de Lisboa, quatro na zona de Loures e quatro na zona de Oeiras. Os Bairros Africanos na área do Patriarcado, em Maio de 1995, andavam à volta de 62, perfeitamente identificados pelo P. Veríssimo Manuel Teles, capelão dos Africanos. Antes dele, outros se deram já ao apoio destas camadas sociais: o P. José Martins Vaz, o P. Afonso Cunha e o P. Firmino Cachada. A parir de 1995 é o P. Veríssimo Teles que se ocupa deste ministério. O Centro Padre Joaquim Alves Correia foi criado em 1992. Foi o P. Firmino Cachada quem conseguiu a criação oficial do Centro Padre Joaquim Alves Correia (CEPAC), que foi aprovado como pessoa colectiva de utilidade pública no nº 166 do Diário da República (III Série) em 17 de Junho de 1993. A Irmã Purificação, irmã do P. Firmino Cachada, do Imaculado Coração de Maria, trabalhou também neste centro nos primeiros tempos. A sua sede foi fixada no nº 43 na Rua de Santo Amaro. Em 1995 foi confiado ao P. Veríssimo Teles, e em 2004 ao P. Mário Faria Silva. Superiores da comunidade (1929-1932) P. Joaquim Alves Correia; (1932-1935) P. Arnaldo Baptista; (1935-1944) P. Joaquim Alves Correia; (1944-1949) P. Agostinho Lopes de Moura; (1949-1955) P. Francisco Nogueira da Rocha; (1955-1962) P. António 492 Adélio TORRES NEIVA Rodas; (1962-1968) P. Joaquim Correia de Castro; (1968-1974) P. Adélio Torres Neiva; (1974-1975) P. Francisco Nogueira da Rocha; (1975-1976) P. Casimiro Pinto de Oliveira; (1976-1979) P. Joaquim Macedo Lima; (1979-1984) P. Marcelino Duarte Lopes; (1984-1987) P. Francisco Lopes; (1987-1994) P. Adélio Torres Neiva; (1994-2000) P. Manuel Durães Barbosa; (2000-...) P. Adélio Torres Neiva. Ecónomos (Até 1947) PP. Mass, António Brás, Domingos Vieira, Manuel Raposo, Frederico Duff; (1947) P. António Rodas; (1949) P. Manuel de Jesus Raposo; (1971) P. Firmino Cardoso Pinto; (1974) P. António Alves de Oliveira; (1976) P. Francisco Lopes, P. António Rodrigues Ferreira; (1980) P. Domingos da Cruz Neiva; (1989) P. Manuel dos Santos Neves; (1992) P. Agostinho Pereira Brígido; (1998) P. Carlos Salgado Ribeiro. 493 Capítulo 50 O P. Agostinho Lopes de Moura e o tempo do apogeu (1949-1952) P or decisão do Superior Geral com o consentimento do seu Conselho, de 31 de Maio de 1949, foi nomeado Provincial de Portugal o P. Agostinho Lopes de Moura, em substituição do P. José Pereira de Oliveira. O novo Provincial tomou posse, das mãos do seu antecessor e na presença de toda a comunidade de Lisboa a 1 de Julho de 1949. A 19 de Julho foi nomeado segundo assistente da Província e superior da comunidade de Lisboa, o P. Francisco Nogueira da Rocha. O conselho mantinha-se o mesmo, entrando o P. José Pereira de Oliveira, para substituir o P. Cândido Ferreira da Costa, que foi nomeado director P. Agostinho Lopes de Moura do Colégio de Sá da Bandeira. Para Secretário Provincial foi nomeado o P. Ismael Baptista; Ecónomo Provincial seria o P. Nogueira da Rocha. Em 1950 o Capítulo geral da Congregação elegeu um novo Superior Geral, o P. Francis Griffin e da equipa geral ficou a fazer parte como segundo assistente o P. Clemente Pereira da Silva. Em 1950 a Província contava 56 teólogos, 22 filósofos, Irmãos de segundos votos 41 e Irmãos de primeiros votos 14. Os noviços-clérigos eram 19, os noviços-irmãos 9, os postulantes 11, os escolásticos menores 329. Além dos dois noviciados, o dos clérigos e o dos irmãos, havia 3 seminários, 4 residências e uma paróquia. Ao todo, a Província contava cerca de 500 membros, entre professos e aspirantes. Era a congregação missionária em Portugal com números mais expressivos. O Provincialato do P. Agostinho de Moura foi muito breve, pois ao fim de três anos e poucos meses como Provincial, foi escolhido para Bispo de Portalegre. No entanto, o seu provincialato situa-se numa época de grande desenvolvimento da Província, desenvolvimento esse que vinha já dos seus antecessores. O seu currículo creditava-o como um dos sacerdotes mais dinâmicos da Província. Depois de ter sido professor de Teologia no Escolasticado Maior, em 1941 fora colocado na Procuradoria em Lisboa, para se devotar com toda a alma à animação missionária através da LIAM, movimento que ele mesmo tinha fundado e a que se agregou em 1945 a Associação de Nossa Senhora de África. Em Janeiro de 1944, o P. Moura tinha promovido com os PP. Alves Correia, 494 Adélio TORRES NEIVA António Brásio e Nogueira da Rocha, a ressurreição da revista colonial “Portugal em África”. Em Agosto do mesmo ano, foi nomeado superior da comunidade de Lisboa e em 1946 Assistente Provincial. Em Maio de 1947 foi enviado ao Brasil, em serviço da Congregação, onde estudou as possibilidades de ali lançar a LIAM. A sua intensa actividade deixou-lhe ainda tempo para escrever o livro “Remorso da Caridade”, o primeiro de um autor português exclusivamente consagrado à exposição do dever missionário e da sua prática. A sua actividade maior concentrava-se porém, na irradiação da LIAM que espalhou por todo o país. Como Provincial, continuou a dedicar à animação missionária do país o melhor do seu esforço e da sua paixão pela causa das missões. Na pregação, em reuniões e conferências, o P. Agostinho de Moura continuou a impor-se como uma referência incontornável no panorama da actividade missionária em Portugal. Uma outra vertente que marcou o provincialato do P. Agostinho de Moura foi a construção do Seminário da Torre da Aguilha. Decidido no tempo do seu antecessor, foi à Obra da Propaganda, de que o P. Moura era director, que foi confiado o projecto e a execução da obra. Para a levar a cabo, com a urgência que se impunha, o P. Moura mobilizou o país inteiro, motivou autoridades e ministérios, criou uma rede de amigos e benfeitores, dinamizou os núcleos da LIAM e o seminário começou a nascer. Foi uma obra construída num tempo record, com uma visão e uma largueza de vistas, que mais de meio século depois, o seminário da Torre da Aguilha continua a ser um ponto de referência. Em 1948 comprou-se a quinta e a 8 de Dezembro desse ano, lançava-se a primeira pedra do seminário. Outra obra em que o Sr. D. Agostinho investiu com muita tenacidade e visão foi a fundação da Província Espiritana de Espanha. Esta fundação foi decidida no Capítulo Geral de 1950. Por razões de vizinhança, facilidade de relações de língua e de cultura, esta empresa foi confiada à Província de Portugal, que de resto oferecia a sua garantia e notável prosperidade e o dinamismo do seu Provincial, um dos homens mais activos e empreendedores de que a Congregação dispunha. No verão de 1951, o P. Agostinho de Moura começou as suas pesquisas para encontrar uma casa no país vizinho, que servisse de rampa de lançamento para a futura Província. Conseguiu finalmente um rés-do-chão, na Rua Garcia Morato, 117, na paróquia de Santa Teresa e Santa Isabel, num dos quarteirões mais importantes de Madrid. O contrato foi assinado em Setembro e a 22 de Outubro chegava o primeiro membro desta residência: o Irmão Francisco da Santíssima Trindade (Irmão Trindade) para preparar a casa. A 22 desse mês, chegavam o P. Provincial, com os dois padres que constituiriam o núcleo inicial da Província: os PP. Isalino Gomes, director da residência e Augusto Teixeira Maio, encarregado da propaganda. Com eles vieram também o P. Clemente Pereira da Silva, antigo Provincial e actualmente segundo assistente geral da Congregação e alguns amigos. O P. Agostinho Lopes de Moura e o tempo do apogeu (1949-1952) 495 A 28 de Outubro de 1952, festa de Cristo Rei, a residência de Madrid era inaugurada, tendo celebrado ali a primeira missa, D. Daniel Gomes Junqueira, bispo de Nova Lisboa, com a participação de numerosos confrades de Portugal e vários amigos. Da parte da tarde, cantou-se um “Te Deum”, presidido pelo P. Clemente e seguido de um Porto de Honra, ficando a nova comunidade consagrada a Nossa Senhora de Fátima. Entre os assistentes estavam Mons. Sargamínaga, Director nacional da Obras Missionárias Pontifícias e delegado para esta cerimónia do bispo de Madrid, o pároco e numerosos representantes de outras congregações religiosas. A Obra só ficaria solidamente lançada quando D. Agostinho de Moura, depois de muitas diligências por toda a cidade de Madrid, conseguiu comprar um chalet na Rua Olivos, 12, perto da cidade universitária. Foi para aí que a nova comunidade se transferiu a 30 de Março de 1953, sendo a casa inaugurada oficialmente a 5 de Abril, dia de Páscoa. A 26 do mesmo mês, o P. Agostinho de Moura era ordenado bispo de Portalegre. 1952 foi também o ano centenário da morte do P. Libermann. Este centenário, mercê do dinamismo que o P. Provincial lhe soube imprimir, foi celebrado com grande relevo em todas as casas da Província, nomeadamente em Viana do Castelo, onde se realizou um Congresso Preparatório com sessão solene, uma Exposição Missionária, evocativa do acontecimento, no convento de S. Domingos, orientada pelo escultor vianense Francisco Flávio e uma sessão solene no Teatro Sá de Miranda. O provincialato do P. Agostinho de Moura marcou também a Província pelo esforço que ele despendeu na formação dos nossos aspirantes, promovendo a oficialização dos estudos e a qualificação dos graus académicos. Foi ainda no seu tempo, em 1950, que foi inaugurado o Noviciado dos Irmãos no Espadanido, onde funcionara o Noviciado dos Clérigos. A 27 de Dezembro de 1952 a Santa Sé escolheu-o para bispo de Portalegre. A ordenação episcopal celebrou-se no seminário da Torre da Aguilha, a 26 de Abril de 1953, tendo sido bispos ordenantes o Sr. Cardeal Patriarca D. Manuel Cerejeira, D. Moisés Alves de Pinho, arcebispo de Luanda e D. António Valente, bispo de Vila Real. Presentes também o Superior Geral da Congregação P. Francis Griffin, o ministro do Ultramar, o Subsecretário das obras Públicas, o representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e antigos membros do Governo, os bispos de Beja, Porto e Limira, presidentes das Câmaras de Portalegre, Castelo Branco e Marvão, muito clero de várias dioceses, numerosos espiritanos, membros da LIAM, e um sem número de pessoas amigas. A LIAM ofereceu a Cruz Peitoral. A ordenação episcopal do Sr. D. Agostinho de Moura motivou a visita do Superior Geral da Congregação P. Francis Griffin, a todas as comunidades da Província de 25 de Abril a 13 de Maio. 497 Capítulo 51 O Provincialato do P. Olavo Teixeira Martins (1953-1959) A 13 de Janeiro de 1953 o Conselho Geral da Congregação nomeava Provincial de Portugal o P. Olavo Teixeira Martins, em substituição do P. Agostinho de Moura, escolhido pela Santa Sé para Bispo de Portalegre. O P. Olavo Teixeira tomou posse do novo cargo a 27 de Março, dia de Nossa Senhora das Dores, na Casa da Rua de Santo Amaro, à Estrela. Assistiram ao acto, o P. Clemente Pereira da Silva, segundo Assistente Geral da Congregação, o Sr. D. Agostinho de Moura e alguns confrades da Província e missionários de passagem. Além das funções exercidas dentro da Congregação: professor, director de seminário, mestre de noviços Irmãos e Clérigos, o P. Olavo tinha-se dedicado ao apostolado pela pregação de retiros ao clero, a religiosos e religiosas e aos fiéis e à difusão da mensagem de P. Olavo Teixeira Martins Fátima, tendo para isso criado um movimento abençoado pelo Santo Padre e vários bispos portugueses a que deu o nome de “União dos Apóstolos do Coração Imaculado de Maria”. A grande preocupação do novo Provincial durante o seu provincialato será dinamizar a Província no sentido de a ajudar a aprofundar cada vez mais a sua espiritualidade e a vivê-la na fidelidade ao seu carisma e ao carisma dos seus fundadores. A celebração do Ano Mariano em 1954 foi um momento privilegiado que o P. Olavo aproveitou para intensificar na Província a devoção ao Imaculado Coração de Maria e o amor à Congregação. O Conselho Geral da Congregação na sua reunião de 31 de Março de 1953 constituíu da seguinte maneira o Conselho Provincial de Portugal: P. Olavo Teixeira, Superior Provincial; Padre Francisco Rocha, primeiro assistente, P. Firmino Cardoso, segundo assistente. Conselheiros: P. Joaquim Castro, João Pinto da Silva, José Pereira de Oliveira e Francisco Lopes. A 10 de Setembro de 1954, seria nomeado conselheiro provincial o P. José Maria Felgueiras. O primeiro acto solene do novo Provincial pode dizer-se que foi a sagração da igreja da Torre da Aguilha a 3 de Maio de 1953, presidida pelo Sr. D. Agostinho de Moura e com a presença do Superior Geral da Congregação, P. Francis Griffin. 498 Adélio TORRES NEIVA A 26 de Dezembro 1953 o P. Olavo partiu para Cabo Verde como visitador do Distrito, nomeado pela Casa Mãe. Merece também relevo a visita feita pelo Núncio Apostólico, Mons. Fernando Cento, ao Seminário da Torre da Aguilha, a 5 de Maio de 1954. Na sua reunião de 29 de Agosto de 1954, o Conselho Provincial determinou que a Causa do Venerável Padre Libermann e a Arquiconfraria do Espírito Santo ficassem a cargo do noviciado dos clérigos, na Silva. Em 1955, o Conselho Provincial foi remodelado ficando assim constituído: P. Nogueira da Rocha, primeiro assistente; P. Firmino Cardoso, segundo assistente; Conselheiros: P. Joaquim de Castro, José Maria Felgueiras, Fernando Moreira e José Felício. Secretário Provincial: P. Ismael Baptista. A 11 de Outubro de 1955 foi criada pelo Conselho Geral uma nova comunidade em Espanha, em Paredes de Nava, província de Palência. Lá começou a funcionar um Escolasticado Menor com 14 aspirantes. O ano de 1955 ficou também marcado pela morte do bispo de Cabo verde D. Faustino Moreira dos Santos, falecido em Lisboa, no Hospital do Ultramar a 26 de Julho desse ano. Mas mais que todas, chocante foi o acidente que vitimou o P. José Maria Felgueiras, quando na estação de Paredes de Nava foi colhido pelo comboio ao querer salvar um escolástico que vinha para o seminário. O P. Felgueiras viria a falecer a 26 de Novembro de 1956. 1956 é também o ano de uma nova edição das Constituições, que entrariam em vigor a partir de 1 de Agosto de 1957. A 3 de Abril de 1957 partiria para Angola em visita à missões espiritanas o Superior Geral da Congregação, que, no seu regresso por Portugal, faria uma visita rápida às casas da Província durante o mês de Maio de 1957. A 7 de Julho de 1957, festa da Consagração ao Apostolado, seria a inauguração solene do Instituto Superior Missionário da Torre da Aguilha, que agora incluia o Pavilhão de Leste, acabado de construir. Neste ano de 1957 comprou-se a Quinta da Romeira, em Godim, contígua à nossa propriedade e sem nenhum muro de separação. Foi também durante este Provincialato que se comprou uma nova casa em Coimbra, com uma bela vista, isolada e dominando todo o vale do Mondego. Igualmente, em Outubro de 1954 era concedida autorização da Casa Mãe para comprar um terreno em Fátima, por proposta do director da LIAM, P. José Felício. Nessa altura pensava-se em ter uma casa em Fátima, onde quase todos os religiosos tinham já uma residência ou o seu seminário; seria uma casa especialmente vocacionada para retiros, casa de repouso, etc. É também do tempo deste Provincialato (1950) o pedido do bispo da Guarda para a Congregação assumir a direcção de um lar de estudantes na cidade da Guarda, pedido que foi bem acolhido pela Província e cuja autorização se chegou a pedir à Casa Mãe. Do mesmo modo, foi decidido restaurar a Casa do Espadanido, onde estivera o Noviciado dos Clérigos, para a activar como Noviciado dos Irmãos. O Provincialato do P. Olavo Teixeira Martins (1953-1959) 499 Outro acontecimento que merece ser arquivado foi a doação às Irmãs do Espírito Santo de parte da propriedade que nos foi legada no Fraião pelo casal Araújo. Na reunião do Conselho Provincial de 8 de Setembro de 1958, foi lida uma carta da Provincial das Irmãs do Espírito Santo, perguntando se a Congregação estava disposta a ceder-lhe e em que condições, uma parte do terreno, junto da estrada, no Fraião para a construção do seu Noviciado. Considerando que as Irmãs do Espírito Santo, no começo ainda do seu desenvolvimento em Portugal, precisavam de ajuda e que elas eram naturais auxiliares das nossas missões e que no futuro, muito nos poderiam ajudar até na Europa, o Conselho Provincial foi de parecer que o terreno lhes fosse concedido gratuitamente, salvaguardadas um certo número de condições, respeitantes à privacidade de ambas as partes. O terreno seria cedido exclusivamente às Irmãs para a construção e logradouro da Casa, de sorte que se amanhã as Irmãs quisessem abandoná-lo ou utilizá-lo para outros fins que não fossem para a construção e logradouro de uma casa de formação ou repouso, ele voltaria sem mais, à posse da Congregação. O parecer da Casa Mãe, de 29 de Setembro de 1958, foi favorável. A fim de colocar a Província em conformidade com as decisões do “Statuta Generalia”, anexos à Constituição Apostólica “Sedes Sapientiae”, o Conselho Geral decidiu que, antes da admissão aos votos perpétuos, todos os confrades clérigos e irmãos, fizessem um mês de recolecção, sob a direcção de um padre especialmente designado para esse efeito. Durante esta recolecção, os retirantes, submetidos a um regulamento decalcado sobre o Noviciado, entregar-se-iam especialmente à revisão do Direito Regular e à leitura das Constituições. Obedecendo a esta ordem, coube ao P. Manuel Meira a incumbência de dirigir a primeira Recolecção, ajudado pelo P. Jorge Sanches. Nela tomaram parte, além dos escolásticos e irmãos propostos para votos perpétuos, os escolásticos que em fins de Setembro iriam ser ordenados sacerdotes. Eram ao todo 23. Teve início a 9 de Agosto, no Fraião, para terminar a 8 de Setembro. A última semana foi aproveitada para o retiro anual, para o qual se abriram três secções: - Retiro dos directores e sub-directores dos seminários; - Retiro dos Escolásticos Maiores que se juntaram aos Recolectantes; - Retiro dos Irmãos. Esta recolecção repetir-se-ia depois todos os anos. Em 1958 veio como Visitador da Província o P. Neyrand, assistente geral, que percorreu a Província de 4 de Novembro a 15 de Dezembro. Durante o Provincialato do P. Olavo desenvolveu-se particularmente a Obra de Espanha e continuaram em bom ritmo as Obras de Formação e Animação Missionária da Província. 501 Capítulo 52 O Provincialato do P. Firmino Cardoso (1959-1965) O P. Firmino Cardoso Pinto foi nomeado Provincial de Portugal pela Casa Mãe a 13 de Janeiro de 1959. A 3 de Junho desse ano de 1959, o Conselho Provincial nomeado pela Casa Mãe, era assim constituído: P. Francisco Nogueira da Rocha, 1º assistente; P. Joaquim Correia de Castro, 2º assistente. Conselheiros: P. Fernando Moreira da Silva, P. José Felício, P. José Maria de Sousa e P. José Alves. Neste ano de 1959-60, a Província contava 126 alunos no 1º ano de preparatórios em Viana do Castelo e Godim, 81 no 2º ano em Viana do Castelo, 66 no 3º ano no Fraião, 53, no 4º ano no Fraião, 34 no 5º ano, 28 no 6º ano no Fraião e 21 no 7º, também no Fraião. No noviciado da Torre da Aguilha havia 13 noviços, no Curso Filosófico 24 escolásticos e no Curso Teológico 31. Os noviços-irmãos eram 7, os postulantes 6, os aspirantes 8, os Irmãos em formação 9. No seu primeiro editorial que escreveu para o Boletim da Província, o P. Firmino Cardoso, ao fazer a leitura da situação da Província, fazia-se logo eco da grande preocupação que marcaria o seu Provincialato. Diz ele: “Dada a minha visita rápida às casas da Província e Espanha, além do bom acolhimento que da parte de todos me foi dispensado, e que não posso esquecer, uma impressão dominante se gravou no meu espírito e da qual quero falar: a deficiência do rendimento aceitável nas obras de P. Firmino Cardoso Pinto formação dos clérigos e irmãos. Na obra de formação de Irmãos, é chocante e dolorosamente impressionante a falta de vocações. Oficinas, sem ou com muito poucos aprendizes, e agricultura apenas com três irmãos encarregados da Quinta, sem um único Irmão ou postulante em treino e que dê a esperança de se poder amanhã lançar mão deles para a lavoura das quintas grandes ou pequenas que quase todas as nossas casas possuem. Para obviar a esta falta de vocações criou-se no Fraião uma obra subsidiária, o pré-postulantado, actualmente composto por 10 adolescentes e jovens, dos 12 aos 15 anos, iniciativa que embora não seja de rejeitar, não é, no entanto, solução para o problema. Impõe-se por isso, e aqui lançamos veemente apelo à Obra da 502 Adélio TORRES NEIVA Propaganda e a todos os confrades, uma campanha persistente e o mais vasta possível no recrutamento de vocações para Irmãos Auxiliares. Há no país várias regiões onde esta campanha tem particularmente possibilidades de êxito. Temos actualmente entre os 21 membros que compõem a Casa do Noviciado dos Irmãos, 5, ou seja a quarta parte deles, que são oriundos da freguesia de Almofala, concelho de Castro Daire. A região da Guarda, penso que será também propícia ao florescimento da vocação de Irmãos. Com zelo e boa vontade de todos, acho não ser difícil dar incremento à Obra dos Irmãos que é nosso desejo seja cada vez mais valorizada por uma formação religiosa, literária e técnica aperfeiçoada. Olhemos agora para as obras de formação de clérigos. Os Escolasticados Menores estão cheios. Temos em Godim e Viana do Castelo 106 aspirantes no 1º ano e 76 no 2º ano. No Fraião há 64 no 3º ano, 33 no 4º ano, 31 no 5º ano, 21 no 6º ano e 15 no 7º ano. Ao verificarmos esta confrangedora desproporção entre os números tão nutridos dos primeiros anos e tão reduzidos já no 6º e no 7º anos, não podemos deixar de nos interrogar sobre a razão de tão elevado número de desistências. Estará ela na falta de necessária selecção no recrutamento? Estará na deficiência de formação a dentro das portas do escolasticado? Será apenas, como alguns pensam, uma consequência intrínseca à própria natureza da obra – multi vocati, pauci vero electi? Seja qual for a causa, impõe-se da parte de todos, um esforço real no sentido de melhorarmos o nosso recrutamento, de intensificarmos a nossa acção formativa e de ajudarmos, pelo exemplo, pela palavra e pela oração a manter em maré alta de entusiasmo e generosidade as almas destes jovens que nos procuraram, para deles fazermos bons e santos sacerdotes, religiosos e missionários”401 O Provincialato do P. Firmino Cardoso foi marcado por alguns acontecimentos importantes entre os quais sobressaem a inauguração da nova casa da Silva e o desenvolvimento atingido pela nova fundação de Espanha. Por motivo das obras para a construção do novo seminário da Silva, os noviços passaram a 9 de Setembro de 1959, para o Pavilhão leste da Torre da Aguilha. Em 1960, por decisão do Conselho Geral do dia 11 de Outubro, foi criada em Valladolid, Espanha, em ordem à formação de escolásticos menores, uma nova residência consagrada ao Espírito Santo, sendo nomeado seu director o P. Avelino Barreto e director dos estudantes o P. José dos Santos Simões. A 16 de Janeiro de 1962 o P. Firmino foi reconduzido como Provincial. Em 1962, aproveitando a circunstância de se inaugurar o novo seminário da Silva, veio fazer uma visita a Portugal, o Superior Geral da Congregação Mons. Marcel Lefèbvre, que acabava de ser eleito pelo Capítulo Geral da Congregação. Começou a sua visita com um retiro de oito dias na Torre da Aguilha, em ordem à entrada em exercício das suas funções de Superior Geral. O Superior Geral, além de participar na inauguração do novo seminário da Silva, a 8 de Setembro, presidiu às ordenações de alguns escolásticos e ao encerramento do Encontro de 401 BPP. 1959 p. 657-658. O Provincialato do P. Firmino Cardoso (1959-1965) 503 Professores das Escolas do Magistério Primário em Viana do Castelo. A inauguração do novo noviciado da Silva realizou-se a 8 de Setembro de 1962, tendo presidido à cerimónia o Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, estando presentes o Superior Geral da Congregação e o arcebispo de Luanda D. Moisés Alves de Pinho, o bispo auxiliar de Braga, o bispo de Portalegre e Castelo Branco, membros do Governo e da autarquia local e um sem número de benfeitores e pessoas amigas da Congregação. No dia 1 de Setembro já o Sr. D. Moisés tinha benzido a capela e sagrado o altar. As Irmãs do Espírito Santo, acedendo ao pedido do P. Provincial, vieram, em número de três, para a Silva assegurar o trabalho da cozinha, rouparia e lavandaria. No Capítulo Geral de 1952 o P. Avelino Costa foi eleito Conselheiro Geral e o novo Conselho Geral nomeou o P. Francisco Nogueira da Rocha Procurador Geral da Congregação; seguiu para Paris a 26 de Setembro de 1962. Para o substituir no Conselho Provincial foi nomeado o P. José Fagundes Pires. Em 1963, com a passagem da Administração Geral da Rua Lhomond para a Rua des Pirénnés, 393, o economato geral separou-se da Procuradoria das Missões; até aí, o Economato e a Procuradoria eram uma só e mesma identidade. Em 1963 visitaram as casas da Província o Subsecretário da Administração Ultramarina, Dr. Joaquim Moreira da Silva Cunha, acompanhado do seu secretário e do director Geral do Ministério do Ultramar Dr. Almeida Cotta. Para responder aos votos do Capítulo Geral de 1962, o Conselho Geral em 1963 decidiu a criação de um Centro de Documentação e Informação Geral e fez o voto para que cada Província possua um Centro de Propaganda e “Publicidade”. Em ordem a esta norma seria criado em Portugal um “Centro de Documentação, Informação e Biblioteca Missionária e Ultramarina”, sendo seu director o P. Ismael Baptista, secretário o P. Álvaro Miranda Santos e adjuntos os Padres António Brásio, Joaquim Vaz, e Adélio Torres Neiva. Durante o Capítulo Geral de 1962, foi decidido entre outras coisas, a revisão do Manual de Oração actualmente em uso na Congregação. O Provincial de Portugal, em ordem à execução dessa orientação, nomeou uma comissão para proceder a essa revisão, formada pelos padres Jorge Sanches, presidente e vogais os padres José Alves, José Pires, Amadeu Martins, Manuel dos Santos Neves e Isalino Gomes. Também no ano de 1962, com o fim de difundir a doutrina do Venerável Padre Libermann e de levar os fiéis a invocá-lo para obter de Deus os milagres necessários à sua canonização, o P. Provincial nomeou uma comissão especial assim constituída: P. José Alves (presidente) e Padres Jorge Sanches, José Felício, Isalino Gomes, José Maria Figueiredo, José Maria de Sousa, Amadeu Martins, Olavo Teixeira, José Simões e Manuel dos Santos Neves (vogais). Foi também neste mesmo ano de 1962 que, a 1 de Fevereiro, a igreja do Seminário de Viana do Castelo reabriu ao culto, depois de devidamente restaurada. Também em 1963 se começou a publicação da revista “Encontro” com o P. 504 Adélio TORRES NEIVA José Felício a director, e o P. Adélio Torres Neiva, a redactor. A 6 de Maio de 1963 começaram na comunidade de Lisboa obras que levaram à construção de um novo pavilhão, voltado para a Rua da Imprensa. A 7 de Setembro de 1964 foi inaugurado na Espanha o noviciado da Congregação, em Tortoreos, na Galiza, com 10 noviços e 3 Postulantes-Irmãos, sendo mestre de noviços o P. Olavo Teixeira Martins. Nesta data a Província de Espanha contava já com 2 padres originários da Espanha, 10 escolásticos, 10 noviços, 4 Irmãos, 32 escolásticos menores e 3 postulantes - irmãos. No ano seguinte, a 26 de Janeiro de 1965, seria criada em Barcelona, na Rua Muntaner, uma nova residência espiritana, sendo o seu pessoal constituído pelos padres Ramos Seixas, Manuel David de Sousa e Ir. Xavier. De regresso da sua visita a algumas circunscrições espiritanas na África, nomeadamente Angola, o Superior Geral Mons. Lefebvre passou por Lisboa, onde deu uma significativa recepção em que participaram além das autoridades mais representativas da Igreja e do Ministério do Ultramar, um sem número de amigos e pessoas ligadas às missões espiritanas. 505 Capítulo 53 O Provincialato do P. Amadeu Martins (1965-1970) O Conselho Geral no dia 24 de Março de 1965 nomeou Superior Provincial da Província Portuguesa o P. Amadeu Gonçalves Martins. Tomaria posse do seu cargo a 19 de Abril desse mesmo ano. A 17 de Agosto de 1965 era nomeado o Conselho Provincial que ficou assim constituído: P. Joaquim Correia de Castro, 1º assistente; P. José Alves, 2º assistente; Conselheiros: P. José Felício, José Pires, José Gonçalves de Araújo e Joaquim Maria Mendes. Para ecónomo provincial foi escolhido o P. António Alves de Oliveira. Este Conselho seria remodelado em Junho 1967, passando a 2º assistente o P. José Felício e tomando o lugar de conselheiro o P. Joaquim Macedo Lima. Um dos acontecimentos mais relevantes do Provincialato do P. Amadeu Martins foi a comemoração do centenário da chegada da Congregação a Angola em 1866 e o centenário da Fundação da Província Portuguesa em 1867. A onda de renovação e de instabilidade nas instituições, provocadas de uma maneira ou de outra pelo Concílio Vaticano II marcaria também de várias maneiras esta época em que esteve à frente dos destinos da Província o P. Amadeu Martins. No capítulo seguinte, desenvolver-se-á esta vertente. Marcaram também este provincialato dois acontecimentos de grande transcendência: o Concílio Vaticano II, que então se realizou e o Capítulo Geral Extraordinário da Congregação que procurou adaptar à P. Amadeu Martins Congregação as orientações do Concílio. A Província de Espanha que se desenvolveu grandemente neste período até atingir a sua autonomia em 1969, foi outro acontecimento marcante do provincialato do P. Amadeu Martins. Foi a 21 de Fevereiro de 1969 que a Sagrada Congregação dos Religiosos e Institutos Seculares autorizou a erecção em Espanha de uma Província da Congregação. Ao enviar o indulto dessa fundação, o Superior Geral P. Lecuyer escreveu ao Provincial de Portugal exprimindo “ o reconhecimento que a Congregação deve à Província Portuguesa pela ajuda generosa, em pessoal e recursos, que durante 20 anos prestou à Obra de Espanha. Esta, atingida a maioridade, viverá desde agora, a sua vida própria, mas não esquecerá a sua Província-Mãe, esperando com ela guardar relações privilegiadas. Queira exprimir a todos os Padres e Irmãos da sua Província, que trabalharam 506 Adélio TORRES NEIVA em Espanha, desde 1950, os mais cordiais agradecimentos pelos esforços, muitas vezes obscuros e penosos, realizados em vista da fundação da Província de Espanha. O seu trabalho e sofrimento não foram inúteis e merecem ser salientados.” Em 1965 o P. Nogueira da Rocha foi nomeado por mais um período de três anos Ecónomo Geral da Congregação. Num dos seus primeiros editoriais que escreveu para o Boletim da Província, a propósito do próximo centenário da chegada dos Espiritanos a Angola, o P. Martins fazia um balanço da vida da Província após a sua restauração. Nas três décadas que vão de Outubro de 1919 a Outubro de 1948, foram admitidos nos nossos escolasticados 1.700 alunos, dos quais se ordenaram na Congregação 214, ou seja, 12,52%. Na primeira década 1919-1928 entraram 304 e ordenaram-se 52, o que representa 17,1 por cento. Na segunda década, 1929-1938, entraram 692 e ordenaram-se 76 ou seja, 10,98 por cento, o que representa uma grande quebra. Na terceira, 1939-1948, entraram 713 e ordenaram-se 86, portanto 12,6 por cento. Nos três primeiros anos da década, isto é, de 1949 a 1951, entraram em Godim 233 candidatos, dos quais se ordenaram já 27. De 2 a 5 de Junho de 1965, realizou-se em Lisboa a 1ª Semana Missiológica do Pentecostes, de que foi secretário o P. Fernando Santos Neves e que teve entre os seus conferencistas missiólogos de grande cotação como os PP. Masson, Daniélou, Henry, Dondeyne, Loffeld, Atanase Bouchard, entre outros. No Fraião na Escola de Aprendizagem Agrícola foram apresentados pela primeira vez alunos a exame do primeiro ciclo. O centenário da chegada dos Espiritanos a Angola 1966 foi o ano centenário da chegada dos Espiritanos a Angola. Este centenário foi evocado em toda a Província com várias actividades, nomeadamente com sessões solenes nas cidades onde temos casas e uma Exposição Missionária no convento de S. Domingos, em Viana do Castelo. De todas estas actividades sobressai a grande peregrinação a Fátima da Família Espiritana a 8 e 9 de Outubro, presidida por D. Xavier Monteiro, arcebispo de Mitilene, em representação do Sr. Cardeal Patriarca. Também para comemorar esta efeméride, iniciou-se em 1966 a publicação da “Spiritana Monumenta Historica”, do P. António Brásio, subsidiada pela Duquesne University Press, de Pittsburgh. Sobre Angola apareceriam cinco volumes, sendo o primeiro editado nesse ano. A 14 de Outubro partiu para Angola, para participar nas comemorações do centenário da chegada da Congregação àquela colónia, o P. Amadeu Martins. Na sessão solene evocativa do acontecimento discursaram o P. António Brásio e o Dr. Braga Paixão. Além disso, a Província empenhou-se em obter do Ministério do Ultramar a emissão de um selo comemorativo do primeiro centenário da chegada da Congregação a Angola, o qual foi autorizado por despacho do Ministro do Ultramar de 21 de Janeiro Selo comemorativo de 1966. O selo foi impresso na Casa da Moeda e começou a O Provincialato do P. Amadeu Martins (1965-1970) 507 circular a 15 de Agosto. Em 1966 a Comissão Pró-Libermann foi remodelada, ficando agora assim constituída: P. Firmino Cardoso, secretário e vogais para as diferentes comunidades: PP. José Alves (Torre da Aguilha), Augusto Ferreira (Viana do Castelo), David (Barcelona) e Gonçalves de Araújo (Madrid). O ano de 1966 ficou também marcado com a morte do Capitão Monteiro Pinto, a 13 de Março. Trata-se de um antigo aluno do Colégio do Espírito Santo e que foi um dos benfeitores mais insignes de toda a história da Província portuguesa. Foi professor sem qualquer remuneração desde 1921, primeiro no Colégio de S. Tomás de Aquino e depois no Seminário do Fraião. A 16 de Julho de 1966, a Casa Generalícia da Congregação foi transferida para Roma, para Clivo di Cinna, iniciando o seu funcionamento a 14 de Setembro, festa da Exaltação da Santa Cruz. A fim de perpetuar a memória de D. Moisés Alves de Pinho, em Viana do Castelo e sobretudo no bairro onde se encontra o Seminário das Missões, onde durante muitos anos D. Moisés viveu e trabalhou, a Câmara de Viana do Castelo resolveu dar o nome de Moisés Alves de Pinho, à rua que passa ao lado da igreja e principia na Avenida Salazar. (Ofício nº 5355 de 3 de Novembro de 1966). A Comissão “Pró-Libermann” foi mais uma vez renovada no Capítulo Provincial de 1966, ficando agora constituída pelo P. José Alves, como presidente, e pelos PP. Manuel Martins Vaz, Torres Neiva e Amorim da Costa, como vogais e o P. Pereira Marante como secretário. Centenário da fundação da Província O ano de 1967 ficou também marcado pelas comemorações do Centenário da fundação da Província Portuguesa. Como números mais relevantes sobressaem um solene Te Deum de Acção de Graças, na Basílica da Estrela, presidido pelo Arcebispo de Mitilene, a 3 de Novembro, data histórica da fundação; uma sessão solene no salão nobre dos Paços do Concelho em Santarém no dia 18 de Novembro, com uma conferência do P. António Brásio, cujo título foi “Um século de vida espiritana em Portugal”; uma sessão solene na Biblioteca Pública de Braga, a 7 de Dezembro, presidida pelo Arcebispo Primaz, em que foram oradores o Dr. Sérgio Pinto e o P. António Brásio e no dia 16 de Dezembro uma sessão solene na Sala de Portugal, na Sociedade de Geografia de Lisboa. Esta sessão foi presidida pelo Chefe do Estado, Almirante Américo Tomaz, ladeado pelos Ministros do Interior, da Saúde e do Ultramar, Mons. Marcel Lefebvre, Superior Geral da Congregação, que veio de Roma expressamente para participar nestas comemorações e Prof. Adriano Moreira. As conferências foram proferidas pelo Prof. Dr. Silva Rego e pelo Dr. Silva Tavares, antigo Governador Geral de Angola. Na Assembleia Nacional também dois deputados tomaram como tema das suas intervenções a comemoração do centenário da fundação da Província: o deputado Sebastião Alves a 13 de Dezembro e a 14 o Dr. Aníbal Correia. 508 Adélio TORRES NEIVA A 10 de Outubro de 1967, a LIAM estreou no Cinema Monumental o filme de grande metragem “Uma Vontade Maior”, rodado em Portugal e Angola, com os actores Carlos Cruz, Mário Pereira, Ulisses Cortês, etc. iniciativa que se deve sobretudo ao P. José Felício e a cuja estreia presidiu o Chefe do Estado. A 8 de Setembro de 1967 inaugurava-se na Espanha, em San Cugat del Vallés, perto de Barcelona, com a presença do Superior Geral, o Escolasticado Maior da Congregação naquele país. Preparação para o Capítulo Geral Em 1967 começou-se também a preparar o Capítulo Geral Extraordinário Especial que se realizaria em 1968-69. O trabalho da adaptação às novas realidades apontadas pelo Concílio, começou com as propostas e estudos apresentadas pelas comissões provinciais pré-capitulares de estudo da Obra dos Irmãos, Vida Religiosa e Apostólica, Formação e Legislação. O resultado desta reflexão seria apresentado à Casa Generalícia que por sua vez o remeteria para o Capítulo Geral. As Comissões reuniram-se em Roma. Da primeira comissão, de Portugal foi delegado o P. Joaquim Maria Mendes, da segunda o P. Nuno Tavares, da terceira o P. Firmino Cardoso e da quarta o P. Angelino Guimarães. A convocação oficial para o Capítulo foi feita pelo Superior Geral a 18 de Outubro e o Capítulo realizar-se-ia em Roma na Domus Mariae, sendo a data de abertura 8 de Setembro de 1968. Como delegados de Portugal foram eleitos o P. Firmino Cardoso e o Ir. Alberto Parreira. O Capítulo Geral elegeu como assistente para o Conselho Geral o P. Jorge Sanches. Em obediência às orientações emanadas do Capítulo Geral, de acordo com a decisão tomada pelo Conselho Provincial Ampliado, reunido em Abril de 1969, o P. Provincial escolheu para ampliar o Conselho Provincial os seguintes confrades: PP. Álvaro Miranda Santos, José dos Santos Simões, Manuel Martins Vaz e Ir. Estêvão. Em 1967, enviado pela Casa Generalícia visitou as casas de formação o Prefeito Geral dos Aspirantes e Estudos, P. Fitzgerald. A 26 de Março desse mesmo ano o Conselho Académico da Academia Portuguesa de história nomeou o P. António Brásio Académico de número, ficando a ocupar a cadeira nº11 que pertenceu anteriormente a Mário Sampaio Ribeiro, ao Almirante Gago Coutinho e ao Prof. Silva Carvalho. Em 21 de Março de 1968 o P. Amadeu Martins é reconduzido por um segundo triénio, como Provincial de Portugal. A 31 de Maio foi benzida e colocada a primeira pedra do futuro Noviciado da Congregação em Espanha, em Castrillo de la Vega, Aranda de Duero. A Sagrada Congregação dos Religiosos e Institutos Seculares, por sua Portaria nº 16 366/69 de 21 de Fevereiro de 1969 autorizou a erecção da Província de Espanha, terminando assim a intervenção directa da Província Portuguesa como mãe desta nova Província. O Provincialato do P. Amadeu Martins (1965-1970) 509 A 14 de Novembro de 1968 foi nomeado visitador da Província, o P. Ferdinand Buissard. No ano de 1969 no Museu de Etnologia do Ultramar, foram abertas duas vitrinas com mais de uma centena de objectos, máscaras, estatuetas, feitiços, instrumentos de música, punhais, etc. oferecidos ao museu pelo Seminário de Viana do Castelo. Também em acordo com os Documentos do Capítulo Geral, em que foi dada a oportunidade a todos os Irmãos da Província de deixarem o nome de religião e regressarem ao do Baptismo, pediram para mudar de nome os seguintes Irmãos. Ir. Abílio (Ir. António Sousa Lopes), Ir. João de Brito (Ir. Lícinío Alves), Ir. Redentor (Ir. João da Cruz), Ir. Gregório (Ir. António Braz), Ir. Boaventura (Ir. Isaías Gonçalves), Ir. Berchmans (Ir. António Cunha), Ir. Anselmo (Ir. António Queiroz), Ir. Lino (Ir. Amândio Braz), Ir. Celestino (Ir. José Leitão), Ir. Abraão (Ir. Altino Fafiães). Ir. Jorge (Ir. Aníbal Cunha) Ir. André (Ir. António Gonçalves), Ir. Cassiano (Ir. António Maria) Ir. Samuel (Ir. Américo Pereira de Sousa) Ir. Silvério (Ir. Armindo Braz), Ir. Sílvio (Ir. José de Freitas), Ir. Francisco José (Ir. Luís Jorge Nereu), Ir. Basílio (Ir Eugénio Mendes), Ir. Alfredo (Ir. Manuel de Jesus Lima), Ir. Estêvão (Ir. Manuel Joaquim Duarte), Ir. Gualter (Ir. António Pereira ), Ir. Lúcio (Ir. Joaquim dos Santos Custódio), Ir. Emanuel (Ir. Manuel Lopes de Sousa), Ir. João Messias (Ir. Raul Dias Aparício), Ir. João Baptista (Ir. Duarte Manuel da Silva Costa), Ir. Hermes (Ir. Lécio de Lomba), Ir. Higino (Ir. Manuel Domingues), Ir. Delfim (Ir. Manuel da Cruz), Ir. Martinho (Ir. Carlos Gomes) Ir. Belarmino (Ir. Francisco Morais). Em Outubro de 1969, o novo Superior Geral da Congregação P. Joseph Lecuyer, visitou a Província. Por escritura pública de 3 de Dezembro de 1969 a Igreja dos Santos Mártires de Viana do Castelo ficou a ser propriedade da Congregação do Espírito Santo. Um acontecimento que marcou profundamente a Província foi o desastre acontecido na Silva a 23 de Março de 1970, em que os confrades P. António Rodas de Sousa, P. José dos Santos Fonseca e P. António Martins Fernandes, foram colhidos pelo comboio quando se dirigiam para uma celebração penitencial em Barcelos. O funeral dos três confrades, realizado na matriz de Barcelos, no dia 25 de Março de 1970 foi uma manifestação de pesar que muito sensibilizou toda a família espiritana. Nesta data, a Província contava em Portugal 54 padres e 54 Irmãos. 511 Capítulo 54 A crise de 1968-1969 s últimos anos da década de 60 foram particularmente agitados em toda a Europa. A revolta dos estudantes de 1968 na França marcou uma viragem na história da Europa. Em Portugal foi evidente essa repercussão na agitação estudantil que varreu sobretudo as universidades de Coimbra e Lisboa. Vivia-se então um clima de contestação à política de Salazar, nomeadamente no que se referia à política colonial. A guerra colonial, iniciada em 1961, a guerra das colónias contra os partidos independentistas começava a cansar as forças armadas e a levantar interrogações sobre a sua legitimidade. Por toda a África havia um surto de independências e o facto não podia deixar de ter eco em Portugal, sobretudo nas áreas de esquerda. Vários sintomas de descontentamento e tentativas de sublevação militar anunciavam já a Revolução de Abril de 1974. Na Igreja, de 1962 a 1965, realizou-se o Concílio Vaticano II que marcou uma viragem, nunca antes imaginada em todos os sectores da vida da Igreja. A leitura teológica da História, a pastoral litúrgica, o diálogo com o mundo e as religiões, a teologia da Igreja e a sua relação com o mundo, abriram horizontes novos à vida da Igreja e ao seu diálogo com o mundo. Era uma Igreja que se queria pobre e serva, que assumia as alegrias e as esperanças, os sofrimentos e as angústias do mundo, como percurso da sua própria caminhada. Na Congregação o imobilismo do superiorato do P. Griffin começava a provocar um certo descontentamento, nomeadamente no seminário de Chevilly, onde se manifestavam os primeiros sintomas de querer mudar as coisas. O superiorato de Mons. Lefèbvre, um superior de tendências conservadoras muito marcantes, não fez senão agravar a situação. O Capítulo do ajornamento conciliar da Congregação marcado para 1968 veio dar aso a um confronto muito forte entre a tendência progressista e a tendência conservadora dentro da Congregação. Logo na preparação capitular se viu que o confronto era inevitável. Um grupo de Espiritanos franceses, de tendência avançada, reuniram-se no Bouveret, na Suíça, para avançarem com as suas propostas para o Capítulo. As decisões tomadas propunham entre outras coisas, que desde o início do Capítulo, o Conselho Geral ficasse demissionário, vigorando apenas para a expedição dos negócios correntes até à eleição do novo Conselho; que o Superior Geral durante o Capítulo, para o foro interno do Capítulo, fosse apenas um membro como os outros, que desde o princípio a autoridade e a presidência do Capítulo passassem para os moderadores; que escolásticos e padres jovens pudessem participar no Capítulo como observadores; que durante o Capítulo o uso do hábito religioso fosse livre O 512 Adélio TORRES NEIVA e não obrigatório como tinha sido decidido pelo Conselho Geral; que se previsse uma segunda sessão para dar tempo a um maior amadurecimento das decisões a tomar; que desde o fim da primeira sessão houvesse já novos chefes para dirigir e animar a Congregação; que a eleição do Superior Geral só fosse feita depois de toda a Congregação poder estar devidamente informada; que se sublinhasse a importância do princípio de subsidiariedade; que o Capítulo reflectisse sobre a natureza e a missão apostólica da Congregação hoje. As outras propostas diziam respeito à liturgia, à oração, ao método, aos peritos e teólogos, à comissão de textos, à informação e à mensagem final, etc.401 Era evidente nestas propostas a intenção de ressalvar o Capítulo como autoridade máxima, dar toda a liberdade aos capitulantes e marginalizar a autoridade do Superior Geral, Mons. Lefèbvre, durante o Capítulo. A maior parte destas propostas vingaria na aula capitular. Foram muito vivas as discussões e as tensões durante o Capítulo. Profundamente descontente da preparação do Capítulo e inquieto pela viragem que os acontecimentos estavam a tomar, Mons. Lefèbvre tentou forçar os capitulantes e reclamar a presidência do Capítulo, para assim o poder controlar. Perdendo por um voto, abandonou o Capítulo, não sem primeiro acusar publicamente os capitulantes de infidelidade à doutrina da Igreja e ao carisma da Congregação. Partia, dizia ele, porque em consciência não podia participar na traição deste Capítulo, manipulado por uma minoria. Foi um momento particularmente tenso em que a Congregação poderia ter sofrido uma grave ruptura. o P. Lecuyer, Superior Geral eleito, foi o homem providencial para salvar a unidade. Teólogo de renome, amigo pessoal e confidente de Paulo VI, soube pacificar aqueles a quem a acusação de traição tinha deixado perturbados. No entanto, se o P. Lecuyer teve o mérito de salvar a Congregação neste momento de crise, é preciso dizer-se que a ferida levou tempo a cicatrizar. É certo que as orientações do Capítulo foram em geral bem recebidas pela maioria da Congregação. Mas havia também um razoável número de confrades que se revia, pelo menos em parte, nas ideias de Mons. Lefèbvre. Levou anos a pacificar a Congregação. Os novos assistentes escolhidos eram personalidades de grande valor. Elegendo-os, os capitulantes quiseram reabilitar alguns confrades iminentes, marginalizados por Mons. Lefèbvre ou dar espaço a vozes proféticas. Mas com isso, nem sempre respeitaram as preferências expressas pelas suas Províncias de origem, nem as suas capacidades de homens de equipa e isso não facilitou as coisas. O superiorato do P. Lecuyer foi verdadeiramente o superiorato de adaptação à nova situação e da cura lenta de tensões e divergências. A Carta dirigida ao Capítulo Geral É claro que na Província portuguesa também começavam a emergir divergências e tensões, que pouco a pouco iam tomando voz cada vez menos 401 Liste de propositions adoptées à la réunion du Bouveret A crise de 1968-1969 513 discreta. O mal-estar fazia-se sobretudo sentir entre os padres mais novos e os escolásticos do Seminário Maior. O que desencadeou a crise foi uma carta escrita pelo P. Miguel Soares da Silva, com a data de 29 de Outubro de 1968, dirigida ao Capítulo Geral da Congregação, que então se encontrava reunido em Roma. Já antes, a 20 de Outubro de 1968, os Padres Eurico de Azevedo e Alexandre Azevedo tinham dirigido ao P. Jorge Sanches para ele a apresentar ao Capítulo Geral, uma primeira carta, elaborada por um grupo de jovens padres Espiritanos. Nesta carta se pede ao Capítulo Geral para fazer um estudo sério sobre a situação missionária em que se encontra a Província portuguesa, já que esta não poderia por si própria sair da situação em que estava mergulhada. Esta situação, segundo a carta, seria caracterizada pelos seguintes fenómenos: - a mediocridade de formação humana, teológica e missionária dos dirigentes e que tem como consequência que os mais aptos são postos à margem e os mais incompetentes se tornam os mais aptos; - a ausência de motivação missionária ou uma pseudo motivação missionária; - a atitude “oficial” da Província portuguesa é totalmente anacrónica e radicalmente falsa, vivendo ao ritmo da idade constantiniana e colonialista, como por exemplo: - os missionários do Espírito Santo são tidos como a guarda avançada do Império; - os missionários são vistos pelos nativos como funcionários do Governo; - suspeita e hostilidade em relação aos missionários estrangeiros; - hostilidade às orientações missionárias da Igreja; - missionários estrangeiros expulsos injustamente com o beneplácito dos nossos missionários e dos nossos responsáveis; - missionários “recambiados” por defenderem as línguas nativas; - missionários repreendidos pelos superiores por defenderem as línguas nativas; - interferência nos assuntos da Província de pessoas estranhas que são política e economicamente fortes e a quem se presta o culto de um servilismo vergonhoso; - missionários molestados por não aceitarem certas ideias de racismo prático e situações clamorosamente injustas; - “missionários” que hostilizam e fazem campanha contra o clero nativo; - “missionários” que exploram as opiniões políticas de confrades para os denunciar à PIDE ; - pressão feita (e muitas vezes aceite) aos missionários para colaboração policial a fim de denunciar os adeptos da independência “visto que trabalhamos pela mesma causa” (dizem os agentes da PIDE); - maneira injusta e motivação falsa de angariar fundos, com sermões patéticos (LIAM) e despesas avultadas em causas sem finalidade nem responsabilidade (Filme “Uma vontade maior”); - suspeita geral, quando não arrumação sistemática, de todos os que ousam confrontar a doutrina da Igreja com a doutrina política de Salazar; 514 Adélio TORRES NEIVA - propostas de padres e escolásticos crivadas e retidas; - desinteresse na preparação do Capítulo Geral e receio muitas vezes manifestado que se altere o “status quo”; - represálias ridículas que afectam profundamente as pessoas e as obras, queimando jovens sacerdotes cheios de boa vontade e não raro competentes. E a carta termina com uma ameaça de ruptura: “Se o Capítulo Geral não puder reconduzir a Província Portuguesa à Igreja Missionária, tal como o Concílio a descreveu e definiu, os signatários são obrigados, em consciência, a optar por outro caminho onde possam viver e revelar ao mundo o Evangelho de Jesus Cristo”. Mas esta carta não chegou a circular na aula capitular. A que circulou foi a do P. Miguel Soares da Silva, de 28 de Outubro, denominada “Apelo ao Capítulo”, que com pequenas diferenças, repete o mesmo apelo e as mesmas acusações. A carta era acompanhada de uma série de documentos anexos e fazia-se apoiar por 32 confrades, mais 5 padres do IV Ano de Teologia, oito escolásticos do 3º, três do 2º e quinze do 1º. Os nomes vinham dactilografados, excepto dois que estavam assinados à mão. Eis o que dizia este documento: “1. A “oportunidade” imediata para o nosso testemunho e apelo, é o que tem acontecido e está a acontecer, nestes mesmos dias de reunião do Capítulo Extraordinário na Província Portuguesa: a supremacia escandalosa de um grupo de “instalados” ou “conservadores” ou “integristas”, totalmente alheios, (embora talvez, a nível de inconsciência e sem prejuízo da sua “boa vontade”) ao espírito evangélico do Concílio Vaticano II. Perguntamo-nos: Será que o Capítulo Geral Extraordinário, que temos confiança há-de seguir nas linhas do ajornamento apontadas, entre outros, pelos PP. Athanase Bouchard (S´adapter aux temps nouveauax”, cf. anexo 1) e A. F. Santos Neves (Ajornamento espiritano”, cf. anexo 2) se revelará inútil em Portugal, vindo a ser neutralizado pelos que, a todo o custo, pretendem defender-se das “desordens e catástrofes introduzidas na Igreja pelo Vaticano II”? 2) Do ponto de vista missionário, a atitude “oficial” da Província Portuguesa é totalmente anacrónica e radicalmente falsa: vive-se ainda (e conscientemente se defende tal posição anti-evangélica) ao ritmo da mentalidade constantiniana e colonialista. O “Esboço para uma carta aberta a um grupo de cristãos e de homens de boa vontade a todos os cristãos e homens de boa vontade na Angola deste tempo” (cf. Anexo 3) é suficientemente e tragicamente esclarecedor. Assim, os lugares teológicos da nossa motivação missionária e as grandes frases da nossa acção pastoral junto dos leigos, para os comprometer na obra das missões, são do tipo seguinte: “Os Missionários do Espírito Santo são a guarda avançada do Império”; “Ó Missionário Lusitano segue na rota do teu ideal: a toda a gente levar Jesus Cristo, dizer aos homens quem é Portugal”, etc. etc. (cf. toda a desactualizada LIAM actual). As consequências práticas são tantas e tão graves, que qualquer uma por si só, é A crise de 1968-1969 515 suficiente para pormos em causa a nossa permanência numa Congregação, que pretende servir “Portugal em África “ (simbólico título da sua revista de “cultura missionária”) em vez de “Igreja de Cristo”. Limitamo-nos a apontar algumas: - os missionários vistos pelos nativos como funcionários do Governo português; - suspeita e hostilidade aos missionários não portugueses; - ignorância sistemática das orientações missionárias da Igreja; - missionários expulsos ou recambiados como “anti-patriotas” (por defenderem as línguas nativas, etc.) - missionários molestados por não aceitarem certas ideias de racismo prático e situações clamorosamente injustas; - “missionários” que fazem campanha contra o clero nativo; - “missionários” que colaboram com a PIDE (visto que trabalhamos pela mesma causa da Pátria, dizem os agentes daquela polícia tristemente famosa); - maneira desonesta de angariar fundos, com sermões patéticos que levam os simples a suporem que vivemos em extrema necessidade, quando vivemos muito melhor que essa gente (Portugal é um país subdesenvolvido) e quando se gastam rios de dinheiro sem finalidade nem responsabilidade (cf. recentíssimo e incrível filme da LIAM “Uma vontade Maior”). - suspeita geral, quando não arrumação sistemática, de todos os que ousam confrontar a doutrina do regime Salazarista com a doutrina da Igreja; - etc..etc.. 3) Do ponto de vista religioso (e mais simplesmente cristão), a Província Portuguesa poderá ser “sacramento” de tudo, excepto do “único necessário”: o amor de Deus pelos homens, amor de comunhão, de respeito, de diálogo, de serviço, de defesa dos pobres e oprimidos, de desenvolvimento. Como é, melhor era que não fosse, ou pelo menos, que tivesse a coragem de deixar de ser. Do ponto de vista sacerdotal, a situação não é nada mais lisonjeira embora se limite a ser igual à da generalidade da “casta”. 4) É justamente o receio de que o Capítulo nada venha significar para a Província Portuguesa que nos leva a lançar o presente apelo (talvez sem sentido em outras geografias ou sociologias); e queríamos que ele fosse mais um pequeno contributo da “última hora” ao “Ajornamento evangélico Vaticano II” que o Capítulo deveria realizar também para a Província Portuguesa. Os signatários, muito responsavelmente, em atitude de caridade e de serviço da Congregação e da Igreja, para a África e para o Mundo, acreditando na “assistência” do Espírito Santo, desejam com toda a clareza, elucidar o Capítulo Geral do seguinte: 1º Protestamos contra todas as pressões e medidas indignas e injustas tomadas em relação a certo número de confrades (e lembramos o caso típico do P. A. Fernando Santos Neves, em quem vemos um profeta e um servidor de uma Igreja autenticamente evangélica e autenticamente para os novos tempos). 2º Anunciamos que, em consciência e a continuarem as coisas assim, nos pomos seriamente o problema do futuro da Província Portuguesa e da nossa permanência nela, vendo-nos obrigados a optar por outro caminho onde possamos viver e revelar ao Mundo o Evangelho de Jesus Cristo. 516 Adélio TORRES NEIVA Nota: Juntamos cópia dos documentos a que, no texto, fazemos alusão e que explicitam e justificam a brevidade do nosso testemunho e apelo: Anexo 1: “S´adapter aux temps nouveauax”, par Athanase Bouchard, em Spiritus, spécial chapitre pP. 65-99; Anexo 2: Ajornamento Espiritano, por A. F. Santos Neves (sugestões escritas no tempo de preparação do Capítulo e enviadas a quem deveriam interessar (que aparentemente as ignoraram) transcritas do livro “Quo vadis, Angola?”. Anexo 3: Esboço para uma carta aberta de um grupo de cristãos e de homens de boa vontade a todos os cristãos e homens de boa vontade na Angola deste tempo” (Luanda, Abril de 1966). Este documento foi divulgado entre os capitulantes mas não chegou a entrar na agenda dos trabalhos capitulares. De resto, as várias cópias que circularam no Capítulo nem todas apresentavam exactamente os mesmos signatários. O Superior Geral acusou a sua recepção a 10 de Novembro e prometeu, depois da primeira sessão capitular, reflectir sobre ele com as autoridades da Província, a fim de dar um “novo rosto à Província Portuguesa.” Entretanto, a 14 de Novembro, cinco dos delegados portugueses ao Capítulo entregaram ao Superior Geral o seguinte protesto: “Rev. Padre Superior Geral Chegou-nos às mãos uma carta circular, endereçada ao Capítulo Geral e assinada pelo P. Miguel Soares da Silva, na qual são feitas acusações graves contra a Província Portuguesa. Supúnhamos que acusações não provadas seriam simplesmente ignoradas. Pareceu-nos, no entanto, que elas não deixaram de impressionar certos responsáveis pelo governo da Congregação, motivo pelo qual julgamos ser nosso dever prestar alguns breves esclarecimentos. 1) Quanto às acusações, algumas das quais graves, apresentadas nos nºs. 2 e 3 da circular, se forem tomadas a sério exigimos que sejam concretizadas e provadas. 2) O resumo da carta parece estar nos dois últimos parágrafos, que citamos: “Os signatários desejam, com toda a clareza elucidar o Capítulo sobre o seguinte. 1) Protestamos contra toda a pressão e medidas indignas e injustas tomadas em relação a um certo número de confrades (e lembramos o caso típico do P. A. F. Santos Neves, em quem vemos um profeta e um servidor de uma igreja autenticamente evangélica e autenticamente para os novos tempos. 2) Anunciamos que em consciência e a continuarem as coisas assim, nos pomos seriamente o problema da Província Portuguesa e da nossa permanência nela, vendo-nos obrigados a optar por um outro caminho, onde possamos viver e revelar ao Mundo o Evangelho de Jesus Cristo”. E no nº 1: apresentam apenas o nome do P. A. F. Santos Neves. “Sobre o seu caso, a Casa Generalícia deve estar suficientemente informada. Se, entretanto, forem necessários mais alguns esclarecimentos, estes poderão ser fornecidos pelo Provincial de Portugal, Superiores Principais de Luanda e Nova Lisboa e também pelos bispos de Luanda, Malanje e Nova Lisboa. À ameaça nº 2 nada temos a responder. A crise de 1968-1969 517 3) Sobre a autenticidade das assinaturas poderemos informar-nos de regresso à Província e Distritos. Queira Rev. Padre, aceitar as nossas saudações respeitosas”. Assinam: P. Amadeu Martins, P. José da Rocha Ferreira, P. Manuel Geraldes, P. Angelino Guimarães e P. Firmino Cardoso”. A carta do P. Miguel Soares da Silva dirigida ao Capítulo Geral provocou grandes manifestações de repúdio e protesto sobretudo por parte dos missionários. Além disso, a resposta do Superior Geral para muitos deu a impressão de a aprovar. Foram inúmeras as cartas dirigidas ao Provincial de Portugal, manifestando o seu protesto e discordância por esta carta que julgaram ofensiva para os missionários. O próprio arcebispo auxiliar de Luanda, D. Manuel Nunes Gabriel, manifestou também o seu protesto e a sua solidariedade com os missionários. 402 Inclusive se veio a descobrir que nem todos os nomes que constavam da carta a tinham de facto assinado e alguns até dela não tinham conhecimento. Toda esta documentação foi enviada pelo Provincial para a Casa Generalícia. Entretanto o Conselho Geral enviou um visitador extraordinário a Portugal, o P. Fernand Bussard, para melhor informar da situação o Conselho Geral, gesto que não foi bem interpretado por um conjunto de confrades. A resposta do Conselho Geral Finalmente, a 20 de Março de 1969, o Conselho Geral, depois de ter ouvido o relatório do visitador da Província de Portugal e depois de ter estudado demoradamente o assunto, respondeu, enviando duas longas cartas, uma dirigida a todos os confrades da Província e outra, reservada aos membros do Conselho Provincial. “Carta do Conselho Geral aos confrades da Província de Portugal. Pareceu-nos ter chegado enfim o momento de vos dirigirmos algumas palavras, em continuação da visita do P. Bussard à vossa Província. Alguns dentre vós manifestaram o desejo de receber uma carta do Conselho Geral, por motivo dos vários problemas que apareceram na Província, particularmente após as últimas semanas do Capítulo: não quisemos escrever imediatamente para termos tempo de nos informar e de reflectir diante de Deus. Aqui está a carta pedida: foi preparada em comum, após aturada reflexão é de comum acordo que vo-la enviamos tal como a ides ler. É com grande estima que nos dirigimos a vós que fazeis parte de uma Província cuja história missionária é particularmente bela e fecunda. Pedimo-vos que vejais nesta nossa diligência um sinal do nosso apreço e da nossa confiança. Queremos agradecer-vos o acolhimento que destes ao P. Bussard e a franqueza com que lhe falastes; para ele vão também os nossos agradecimentos por ter aceitado fazer esta visita e por a ter feito com tanta amabilidade e tanta atenção 402 Carta de 27/12/1968 518 Adélio TORRES NEIVA para com todos os confrades. Devido a ele, e devido também a grande número de informações que chegaram até nós depois do Capítulo, pensamos ter adquirido um conhecimento bastante sério dos problemas e dificuldades que existem entre vós, para vos podermos falar com toda a verdade e caridade e podermos assim contribuir para o apaziguamento e bom entendimento entre todos. Não vamos ocupar-nos aqui de pormenores práticos, nem vamos instaurar processos a ninguém: a tarefa mais concreta das adaptações e das reformas far-seá pouco a pouco, e os superiores da Província, com quem queremos permanecer em estreito contacto, colaborarão com todos vós para a realizar. Agora limitar-nosemos a dirigir a todos um apelo para que se aceitem mutuamente, mutuamente se compreendam e procurem uma unidade indispensável à tarefa comum que todos têm a empreender e que a todos foi confiada por Deus. Comecemos por uma constatação. Um mal-estar bastante fundo tem existido, e existe ainda, tanto nas missões como na Província. Alguns pensam que foi a carta escrita por um grupo de padres e escolásticos ao Capítulo Geral que causou este mal-estar; há mesmo quem pense que a resposta do Conselho Geral não fez mais que acentuá-lo, devido às interpretações que lhe foram dadas e às reacções algumas vezes violentas – que suscitou. Parece-nos, porém, que não é essa a explicação e que o mal-estar tem causas muito mais profundas. Continuar a discutir sobre a dita carta seria uma perda de tempo e impedir-nos–ia sobretudo de considerar os verdadeiros problemas que estão na base de tudo e de que as recentes polémicas não são mais que um sinal revelador. A causa fundamental está na diferença de mentalidades e opiniões que existe entre certas categorias dentre vós. Não se trata de nada peculiar à vossa Província: é um fenómeno que existe em toda a Igreja, como em todas as sociedades humanas. Porquê surpreendermo-nos? Isto existiu sempre e sempre existirá, com maior ou menor extensão, com maior ou menor acuidade. Para que este fenómeno não degenere em divisão temos que manter diante dele uma atitude de fundo liberal e compreensivo como aconselhava, já em 1840, o Venerável Padre Libermann em carta a J.Luquet: “O seu modo de agir para com os outros é bom, não seja todavia motivo para os julgar ou condenar, ou mesmo preocupar-se demasiado com virá-los ao seu parecer. É um grande princípio, nas coisas de Deus, não impor a toda a gente a própria maneira de ver e agir. O rigor, neste género de coisas, tem consequências funestas. Deus tem as suas vistas sobre cada um; comunica e distribui as suas graças diversamente; além isso, por mais que nos esforcemos, nunca conseguiremos mudar os outros. A administração das graças e dons espirituais que devem ser distribuídas às almas, exerce-se de modo muito variado. Uns fazem-no de uma maneira, outros doutra, mas Nosso Senhor é o mesmo em todos, porque é Ele próprio que distribui as suas graças pelas mãos dos seus servos. É esta a razão porque se impõe uma grande reserva nos juízos feitos contra a maneira de agir dos outros na distribuição destes bens sobrenaturais. Oh! Quantas vezes não se condena o nosso soberano Senhor que distribui os seus dons precisamente deste modo que se julga defeituoso!.. O que importa é que cada um se examine para ver A crise de 1968-1969 519 se o seu comportamento não traz algum defeito à mistura ou como princípio”.403 Por isso, examine-se cada um e aceite a colaboração com todos os que procuram fazer obra de Deus na Província ou nas Missões. Colaborar significa igualmente dialogar, trocar maneiras de ver e opiniões diferentes, enriquecer-se com esta mesma permuta. Terá tal diálogo existido suficientemente entre vós? Uma grande parte, sobretudo entre os mais antigos, pensa dever, por fidelidade, manter os costumes, as maneiras de fazer tradicionais tanto na Província como nas Missões, quer se trate de horários, quer de orações, quer de métodos de apostolado, etc. Nisso vêem, não só uma fidelidade, mas uma condição necessária à prosperidade e unidade. Ninguém poderá negar que a Província portuguesa se desenvolveu magnificamente; as suas obras prosperaram, a sua actividade missionária foi admirável. Isto tem que ser dito e é com alegria e reconhecimento que o dizemos. Outros, especialmente entre os mais novos, são mais sensíveis a um mundo que está a mudar, à Igreja que chama todas as sociedades religiosas a uma renovação adaptada; estes têm tendência a esquecer ou desvalorizar o trabalho realizado no passado, a não ver senão as deficiências da situação actual em face das exigências dum mundo que evolui. Por fidelidade à Igreja, que falou tão claramente no Concílio Vaticano II, por ideal cristão, sacerdotal e missionário, eles gostariam de ver a Província na vanguarda da adaptação e da adopção das directrizes do decreto “Perfectae Charitatis” e do decreto “Ad gentes”. Acrescente-se que, visto que a Igreja falou, não temos o direito de não a escutar. É preciso assegurar “por um lado a inspiração original dos Institutos, e, por outro lado, a correspondência destes às novas condições da existência “ (P. C. nº2), sem sacrificar nem uma nem outra. “ A organização da vida, da oração, do trabalho, deve ser devidamente adaptada às condições sociais e económicas; isto em toda a parte, mas especialmente em terras de missão “ (P. C. nº 5). Neste esforço de renovação estamos em boa companhia com Libermann que - em plena Revolução de 1848 – escrevia. “ é preciso não esquecer que já não estamos na ordem das coisas do passado. O mal do clero tem sido sempre, nestes últimos tempos, ficar na ideia do passado. O mundo avançou, e o homem inimigo apontou as suas baterias segundo o estado e o espírito do século e nós ficamos para trás ! É preciso que o sigamos, sempre em espírito de Evangelho, que façamos o bem e lutemos contra o mal, no estado em que o século se encontra. Querer aferrar-se aos velhos tempos e permanecer nos costumes e espírito então dominante, é inutilizar os nossos esforços.”404 Terá a Província feito este esforço, sem prevenções? Terão todos entrado decididamente nas perspectivas e orientações do Concílio, tendo em conta, ao mesmo tempo, a continuidade com o passado e as exigências da renovação? Procurou-se escutar uns e outros, chegar juntos a uma acordo para continuar a avançar, descobrir juntos a vontade de Deus? 403 404 ND II p. 123-125 ND. X p. 151 520 Adélio TORRES NEIVA Como já dissemos, a obra missionária realizada pelos membros da vossa Província, com a colaboração de confrades competentes e generosos de outras Províncias, é admirável: a sua evidência é tal que dispensa descrição. Mas a história não é estática e ninguém pode parar. Formaram-se comunidades cristãs, e, segundo a intenção manifestada desde o princípio por Libermann, procurámos dar-lhes um clero local; cada uma destas igrejas “ em tempo oportuno deve ser dirigida por pastor próprio com seu clero”. Prontos “a continuar a acção iniciada, colaborando no ministério ordinário da cura animarum, os Institutos missionários, contudo, de harmonia, com o seu fim próprio, e à medida que aumenta o clero local, devem continuar fiéis à diocese, assumindo generosamente nela o encargo de obras especiais ou de alguma região.”(AG nº32) Estas linhas do Vaticano II convidam-nos a deixar habitualmente ao clero local o cuidado ordinário dos fiéis; neste tempo a nossa tarefa é sobretudo a colaboração; em contrapartida, nosso fim particular leva-nos a assumir de preferência trabalhos especiais, mais directamente missionários, ou territórios ainda não evangelizados. É o que foi lembrado pelo Capítulo Geral. Também sobre este assunto há divergências entre vós quanto à oportunidade de conservar para os nossos missionários, ou de ceder ao clero local, tal ou tal obra, tal ou tal função. Há, porém, princípios firmes que ninguém pode ignorar e que se podem resumir nesta frase do Vaticano II: “Uma comunidade cristã deve desde o princípio constituir-se de tal maneira que, tanto quanto possível, possa providenciar por si mesma às suas necessidades. (AG. nº15) Deveis, pois procurar sinceramente examinar os problemas postos pelas vossas missões, ouvir as diferentes opiniões, confrontá-las; nenhum missionário se pode eximir nestas questões. Nada disto é pôr em dúvida o trabalho realizado; são questões que todas as nossas missões se devem pôr continuamente se têm a peito que a Igreja seja verdadeiramente implantada e lance raízes profundas no povo; verificar a urgência de ceder ao clero e aos cristãos do lugar as funções importantes é, pelo contrário, verificar que o trabalho do passado não foi em vão, que a missão produziu os resultados esperados; é permanecer fiéis à nossa vocação de pioneiros, sempre desejosos de ir mais além, procurando sempre os mais abandonados, os mais pobres. Pensamos que todos vós, visto que todos sois espiritanos, estais de acordo quanto aos princípios. Mas há entre vós divergências, por vezes profundas, quanto ao modo de realizar as mudanças necessárias, quer se trate do que respeita à Província, quer no que respeita às missões. Não se diga: não há problemas entre nós: o único problema é a confusão criada pelos novos ou por uma minoria activa. Pensá-lo seria uma ilusão. Que não se diga também: tudo está mal; os antigos e os superiores são incapazes de se adaptar e não querem saber disso. Seria fazer uma generalização injusta. Temos, ao contrário, de nos convencer que o mundo muda, mas que neste mundo “tal como existe hoje, este mundo confiado ao ministério e ao amor dos pastores da Igreja, Deus o amou tanto que deu por ele o seu Filho único. E é ainda o Espírito Santo que impele a Igreja a abrir caminhos novos para se encontrar com o mundo de hoje; é ele que, por isso mesmo, sugere e favorece as adaptações que se impõem. (P. O nº22) A crise de 1968-1969 521 Isto não significa, com certeza, aceitar qualquer novidade, talvez atraente, ou até generosa. Como diz S. Paulo, é preciso examinar tudo e antes de mais examinar-nos a nós próprios. Mas é preciso também ser capaz de se empenhar deliberadamente na direcção apontada pelo Concílio Vaticano II e pelo Capítulo Geral. Tudo isto exige uma caridade muito grande. A primeira das caridades é sabermonos diferentes e amarmo-nos diferentes; sermos acolhedores para com as ideias dos outros; acreditarmos na sua boa fé; crermos, uns e outros, que todos procuramos sinceramente o Reino de Deus e a sua justiça. Esta é a condição elementar para que o diálogo seja possível. Ora, é preciso reconhecê-lo, isso não existiu sempre e em toda a parte. A carta ao Capítulo Geral, que exprimia um apelo e uma esperança, mas numa linguagem dura, com inexactidões e exageros, por um lado e por outro, como já o referimos, as reacções violentas a esta carta, provam-no abundantemente. O único remédio é verdadeiramente o diálogo fraterno a todos os níveis. Entre irmãos deve ser possível dizerem-se coisas duras, penosas, dentro de uma verdadeira caridade. Ora tal caridade não existiu sempre, nem dum lado nem do outro. Houve acusações mútuas e mútuas injúrias. É na aceitação, tanto por uns como por outros, dum verdadeiro diálogo que se encontrará, com uma caridade autêntica, a verdade que liberta. Caros confrades, é um verdadeiro apelo que vos dirigimos. É preciso entrarmos decididamente na obra da renovação empreendida pelo Capítulo, em resposta ao Concílio. Não temais; não duvideis. Os resultados da primeira sessão são já um penhor do sucesso da segunda. Saibamos renovar-nos com a Igreja e o Concílio. Saibamos abandonar, em certos domínios, caminhos já batidos e empenhar-nos decididamente no movimento de uma teologia renovada, de uma libertação viva, tanto na Província como nas missões, duma óptica missionária conforme aos decretos conciliares e às decisões do Capítulo. Procurai trabalhar juntos, reconciliaivos como irmãos, perdoai-vos mutuamente. O Conselho Provincial Alargado deveria ser uma etapa decisiva para realizar este voto que nos é caro. O Conselho Geral está em contacto com os responsáveis da Província para vos ajudar a todos a encontrar as melhores soluções possíveis, e a remediar o que for preciso. Que a Província de Portugal se una na caridade e continue a desenvolver-se e a prosperar para o maior bem da Igreja missionária. O nosso desejo é poder servir-vos. Ficamos ao vosso dispor para o que vos for preciso e nos for possível. “(Assinado por todos os membros do Conselho Geral). Esta carta fazia-se acompanhar de outra, reservada ao Conselho Provincial e ao director do Grande Escolasticado. É este o seu teor: “20 de março de 1969 Caro P. Provincial, caros confrades. Com a carta destinada a todos os confrades da Província de Portugal, enviamovos esta carta, reservada ao seu Conselho. Ela pretende ajudar-vos nesta dura tarefa; refazer a unidade entre todos os confrades, apesar da divergência de opinião existente, instaurando um diálogo franco e sincero com todos, muito especialmente 522 Adélio TORRES NEIVA com os confrades que lançaram o apelo ao Capítulo Geral. É preciso não insistir na condenação das culpas uns dos outros; é preciso não taxar de intriguistas ou de suspeitos todos os que pensam que um verdadeiro problema existe hoje na Província portuguesa. É preciso ter a coragem de analisar lucidamente a situação. Inspirandonos, por um lado no relatório do P. Bussard, após a visita e, por outro, nos documentos que nos foram comunicados e nas informações recebidas, propomo-vos uma reflexão sobre os três factos seguintes: a carta dos confrades ao Capítulo Geral, a resposta do Conselho Geral a esta carta, as reacções a estas cartas. Depois, tiraremos algumas conclusões em forma de perguntas. 1º facto: a carta chamada “Apelo ao Capítulo”. Se é verdade que ela contém termos excessivos, generalizações apressadas, tomadas de posição demasiado radicais, julgamentos demasiado sumários, talvez mesmo injustos, sobre a acção missionária em Angola, não é menos verdade que esta carta exprime uma angústia profunda por parte destes confrades sobre o futuro da Congregação em Portugal e em Angola; que eles exprimem o que lhes parece ser o mais intolerável, a saber, que a igreja de Angola está demasiado implicada na política e demasiado dependente do poder estabelecido; que a Província não criou uma mentalidade conciliar e por conseguinte não promoveu a evolução das instituições, exigida pela Igreja pós-conciliar; que ela está paralisada e radicalmente incapaz de evoluir no contexto actual. São estas as ideias essenciais expressas no apelo. Não queremos julgar sobre a sua objectividade; deixamo-vos a vós o cuidado de descobrir o lado positivo desta carta. 2º facto: a resposta do Conselho Geral a esta carta. Porque respondeu ele? Como respondeu? Ele respondeu não só porque é seu direito responder a toda a carta, mas também sua obrigação absoluta. Uns cinquenta confrades que recorreram à autoridade do Capítulo têm o direito de ser ouvidos. Que pretendia o Conselho com a sua resposta? Tranquilizar os jovens para que ficassem tranquilos? Fazer-lhes uma promessa para que não perturbassem uma Província “ sem histórias”? Não foi tal o pensamento do Superior Geral e dos seus assistentes. Este apelo punha-lhes um problema; ou melhor: ”ele mesmo era um problema”. Estes confrades viram neste gesto, com razão ou sem ela, o único meio de se fazer ouvir; também um meio privilegiado para chamar a atenção de toda a Congregação sobre o que eles julgam ser “ o problema da Província de Portugal”. Sem analisar o fundamento das afirmações contidas no apelo, julgamos que um problema se põe e não temos o direito do iludir. Quais os problemas? Verdadeiros ou falsos problemas? Não nos compete julgá-lo. Este apelo pedia um estudo aprofundado antes de receber uma resposta definitiva; estudo que pensamos confiar ao Padre Provincial e ao seu Conselho, em diálogo, com os “contestatários”. Mas, entretanto, o Conselho quis responder aos signatários da carta, não só para lhes dar a impressão que os tomamos a sério, mas também para lhes dar a garantia que provocaríamos um exame da situação pela autoridade da Província primeiro e em seguida por todos os confrades da Província. A resposta que falava de confiança, queria manifestar aos signatários da carta que o Conselho Geral acreditava na sua boa fé e na sua sinceridade, chamando no entanto a atenção, num post-scriptum A crise de 1968-1969 523 sobre um grave defeito do documento: todas as cópias não tinham absolutamente as mesmas assinaturas e estas não eram manuscritas, o que tornava o documento suspeito 3º facto: a reacção às duas cartas. As reacções foram violentas; foram injustas, mesmo injuriosas para com a autoridade da Congregação. A carta do Conselho Geral foi considerada como complacente para os “causadores de perturbação” na Província; fala-se de conspiração contra a Província de Portugal, injustamente caluniada; escandaliza-se por ver a autoridade do Padre Provincial posta em causa com esta resposta e por outro lado ridiculariza-se a autoridade do Superior Geral em termos injuriosos, violentos, sem nenhum escrúpulo. Numa palavra, a resposta do Conselho Geral foi interpretada como uma escandalosa aprovação das afirmações contidas no apelo. A reacção não foi menos violenta, bem entendido, a respeito dos signatários do apelo. Foram difamados e caluniados. Só se reteve a afronta que eles fizeram à Província e à autoridade, denegrindo a obra missionária magnífica realizada por esta Província. Insistiu-se sobre os defeitos do documento e não se fez nenhum esforço para ver o que ele poderia conter de positivo. Destes três factos. É preciso agora tirar as conclusões : 1ª observação: se o apelo põe, em si, um problema, é preciso confessar que a violência da reacção levanta um outro, pelo menos tão grave como o primeiro. Fica a impressão de ter afogado, por meio da violência, o verdadeiro problema. 2ª observação: a autoridade não procurou o diálogo: ela perseguiu demasiado os signatários. Ora foi este diálogo que o Conselho Geral quis promover para evitar que a desunião se agravasse. Uma das queixas fundamentais do apelo, justificado ou não, é que na Província reina um clima de intolerância que não permite o diálogo. Consciente, portanto, que o diálogo devia existir custe o que custar e que seria de deixar a iniciativa ao P. Provincial, nós que lhe facilitaríamos a tarefa, designando, depois de o ter consultado a ele e aos Superiores principais, o P. Bussard como visitador da Província. Esta nomeação foi interpretada como falta de confiança e levantou uma onda de críticas; no entanto, esta nomeação resultou muito útil e contribuiu sem sombra de dúvida, para acalmar os espíritos. A partir do seu relatório e doutras informações, gostaríamos agora de vos pedir para reflectir em certos pontos. 1º Ambiente da Casa provincial. Existe como o dá a entender o apelo, um espírito demasiado tradicionalista e individualista? Uma falta de acolhimento aos confrades de passagem: um espírito destrutivo sistemático da parte de um ou outro confrade; um ambiente não bastante acolhedor, assinalado pelos signatários da carta? O P. visitador reconheceu que uma reforma está em curso, mas não seria ocasião para mudar um ou outro padre para permitir uma reforma mais profunda? 2º Conselho Provincial. É ele suficientemente representativo do conjunto dos membros da Província? Não seriam necessárias certas mudanças? A nomeação de um Irmão para o Conselho não poderia ser ocasião doutras mudanças? 3º Grande Escolasticado. É o corpo professoral bastante unido para formar 524 Adélio TORRES NEIVA verdadeiramente uma equipa com o director? Para pensarem juntos todo o problema da formação e dos estudos? O visitador ficou bem impressionado com a franqueza dos escolásticos, com o seu desejo de se informarem sobre o resto da Congregação e das orientações dos outros escolasticados; também eles não sentem na sua formação um verdadeiro espírito missionário, aberto, católico. Mas, por outro lado, é preciso dizer-se que aos escolásticos falta maturidade de espírito e que certos têm atitudes infantis. Para lhes permitir atingir esta maturidade ao longo dos anos de formação, é necessário que a própria equipa do escolasticado seja muito aberta aos problemas que se põem aos jovens de hoje. Além disso, o regulamento deverá ser de tal maneira que permita aos escolásticos tomar em mãos a responsabilidade da sua própria formação. Quanto ao plano de estudos, seja dada abertura aos problemas actuais, uma abertura séria sobre a teologia conciliar e sobre a Igreja de hoje; que um certo número de livros e de revistas de actualidade sejam postos à sua disposição; que lhes seja facultada a possibilidade de uma séria reflexão sobre a actividade missionária; que sejam organizados estágios na Província, ou mesmo fora da Província, para os confrontar com outras realidades diferentes das vividas no escolasticado. A nova instrução sobre a renovação da formação na vida religiosa insiste muito sobre este aspecto da maturidade que devem adquirir os futuros religiosos e preconiza novos métodos, mais adaptados aos tempos actuais. Mas o problema de base é o da constituição de uma equipa à volta do director, susceptível de dar um élan novo ao escolasticado, respondendo às aspirações dos jovens, adaptando a sua formação ao momento actual e à tarefa missionária que será a sua amanhã. É sintomático que muitos dentre eles marquem uma simpatia profunda por certos padres da Província. Não será porque eles incarnam para eles um pensamento mais aberto do mundo de hoje e do pensamento contemporâneo? O problema fica posto: é preciso estudá-lo. 4º O problema missionário. Aqui tocamos o problema mais delicado e também o mais grave. É preciso abordá-lo com coragem e não dizer a priori: não há nenhum problema, o apelo só contém calúnias. Qual é o fundo da crítica sobre a actividade missionária em Angola? Não se trata de pôr em causa as pessoas, a sua dedicação, o trabalho missionário, mas a orientação, a óptica missionária e a óptica da Igreja de Angola de que os membros da Congregação têm a principal responsabilidade. É preciso analisar o facto, julgar a situação concreta. Outra questão. Qual o lugar do clero angolano nesta Igreja que nos está confiada? Consultando o “État du Personnel“ e o Anuário Pontifício, fica-se impressionado ao constatar que nas dioceses de Angola, onde temos numerosos padres, os postoschave são ocupados por eles e que nenhum padre indígena ocupa qualquer função de primeira importância. Seria ilusório dizer que isso não depende de nós mas dos bispos. Por um lado, há dioceses que não têm nenhum espiritano à sua frente e que por outro lado, o Superior Principal tem a sua palavra a dizer na colocação e utilização dos membros da Congregação. Assim sendo, será de admirar que um Padre espiritano não português escreva: “Será necessário criar uma Província espiritana em Angola? Nem pensar nisso. O clero indígena, na nossa diocese, tem demasiado ódio aos Espiritanos, segundo a A crise de 1968-1969 525 expressão de um deles e reflecte o estado de alma de quase todos os padres indígenas daqui. Mas é a mentalidade actual: nenhum respeito, nenhum reconhecimento aos espiritanos, mortos ou vivos. Tudo o que nós fizemos, está mal feito, assim o julgam os padres angolanos. ” E continua: “ Segundo a mentalidade do clero indígena daqui, não há Igreja local enquanto o clero indígena não tomar em mãos o Episcopado e toda a a organização da diocese. O ideal do padre indígena é ser independente dos espiritanos e ter a sua pequena missão, ou antes a sua paróquia, pois eles dizem que a palavra missão é uma vergonha num país como Angola. Ser independente, de modo que ninguém o vigie nem a ele nem ao seu trabalho, nem à sua vida privada nem à maneira de administrar o dinheiro, nem nada e ele mesmo não dar satisfações a ninguém nem sequer ao bispo. Não esquecer contudo que há, entre tantos padres indígenas, cinco ou seis muito sérios, trabalhadores e que são nossos amigos, reconhecidos e não orgulhosos”. Se quisemos citar esta longa passagem, é para daí tirar o facto essencial: a falta de afecto de uma maioria do clero indígena desta diocese para com aqueles que foram os seus pais na fé e os seus mais velhos no sacerdócio. Depois, a aspiração profunda destes padres de assumirem as responsabilidades na sua Igreja. A nossa missão não tem outro fim. Bem entendido, dir-se-á: eles não são capazes. Antes de mais, não será demasiado generalizar? E depois, se isso é verdade, outra questão crucial se levanta: desta incompetência não somos nós os responsáveis? Não revelará o texto citado uma mentalidade demasiado paternalista que, hoje, é insuportável para todos os homens? Não haverá qualquer coisa a mudar na nossa própria mentalidade, na nossa maneira de conceber a evangelização, a nossa missão hoje neste país? São previsíveis mudanças de situação na África. Que acontecerá à Igreja angolana onde os espiritanos tanto investiram tanta generosidade e tanto amor? É uma verdadeira angústia para nós e também para outros institutos missionários presentes em Angola e Moçambique. Não queremos dramatizar. Mas o problema é sério. Os signatários puseram-no em termos excessivos, mas por trás destes termos, esconde-se uma realidade que é preciso ter a coragem de ver e na qual é preciso reflectir. Está em jogo o futuro da Igreja nestas regiões. Ficamo-nos por aqui nesta carta já longa e que já vos dá ampla matéria para reflexão. Pedimo-vos para a estudar entre vós e de lhe dispensar uma grande atenção, uma grande reflexão. Nós próprios reflectimos muito nela antes de vo-la enviar, mas julgamos ser nosso dever fazê-lo. Pedimo-vos para não verdes nela nenhum sinal de desconfiança ou de má vontade para convosco; muito longe de nós essa atitude; pelo contrário é como irmãos responsáveis na mesma tarefa, que nos dirigimos a vós. Antes de concluir, lembramos mais uma vez que a presente carta não deve ser comunicada, por enquanto, senão ao Conselho Provincial, com exclusão de qualquer outro. Em particular, consideraríamos como uma infracção muito grave que esta carta fosse comunicada a pessoas estranhas à Congregação, como aconteceu com os outros documentos. Logo que tiverdes lido e estudado juntos esta carta, convidamos o P. Provincial a vir a Roma por alguns dias (por exemplo, entre 5 e 10 de Maio) a fim de sobre ela 526 Adélio TORRES NEIVA discutir livremente com o Conselho Geral. Desejamos também que ele se faça acompanhar do Padre Director do escolasticado de Carcavelos, que é particularmente interessado nos problemas da formação dos nossos aspirantes. Uma vez que ele não faz parte do Conselho Provincial, fazemos uma excepção em seu favor: comunicar-se-lhe-à esta carta para que ele possa preparar-se e falar connosco, a quando da sua vinda a Roma e poder-se-á convidar ao Conselho Provincial ao examinar as questões que ele levanta. Após esta reunião em Roma, a presente carta será comunicada aos Superiores principais de Angola. Ao terminar, reafirmamos a nossa fraterna afeição in Spiritu Sancto”. (Assinada por todo o Conselho Geral) A crise prolongar-se-ia por alguns anos. Vários padres jovens, mais empenhados nesta transformação acabaram por deixar a Congregação. Dos escolásticos maiores professos foram também muitas as desistências. O maior número foi em 1968: 18 deixaram a Congregação; em 1969, foram 11; em 1967 tinham sido 9; em 1966, 13. O número dos escolásticos foi-se reduzindo até atingir o número de 12. O seminário da Torre da Aguilha acabaria mesmo por deixar de ser casa de formação, tendo o pequeno número dos escolásticos, depois de feito o Curso Filosófico na Universidade dos Jesuítas em Braga, continuado a sua formação em Espanha.