livro congregação parte iii - Missionários do Espírito Santo

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livro congregação parte iii - Missionários do Espírito Santo
TERCEIRA PARTE
A RESTAURAÇÃO DA PROVÍNCIA
(DE 1910 AOS NOSSOS DIAS)
255
Capítulo 28
1919 - A restauração da Província
O
P. Moisés Alves de Pinho foi a Chevilly fazer com os seus coetâneos a
Consagração ao Apostolado e aí recebeu “obediência” para professor de
Teologia no Escolasticado de Carnide.
Não teve sequer ocasião de dar a sua primeira aula: durava ainda o Retiro
Anual do Escolasticado, com que se inaugurava o ano lectivo e que ele orientava,
quando estalou a Revolução de 1910. Foi preso e enxovalhado, como outros
confrades e outros religiosos entre Artilharia Um e o Forte de Caxias, até que na
tarde do dia 15 de Outubro foi restituído à liberdade, com a imposição de ou se
expatriar ou renunciar à vida religiosa.
Lá voltou para Chevilly. Ali e em Langonnet foi professor e até director do
Escolasticado durante a Guerra de 1914, devido à mobilização do director
efectivo.
O P. José Maria Antunes, que vira o seu provincialato violentamente
interrompido pela Revolução e que estava muito bem relacionado com a alta
política, ficara em Lisboa, a fim de ir sondando o ambiente à espera de uma
possível abertura na política vigente. E por sua sugestão fundara-se em 1913, sob
a direcção do P. Cardona, uma casa de formação para os seminaristas menores
portugueses, sob o título disfarce de “Academia de Lenguas de San Atilano”, a
fim de se ir preparando a esperada mudança das coisas.
Mas esta mudança demorava. Levou tempo até que as influências do P.
Antunes e outros conseguiram que o Ministro das Colónias, Rodrigues Gaspar,
abrisse de novo a porta aos institutos missionários.
Em 1919, ao realizar-se em Chevilly, o Capítulo Geral da Congregação do
Espírito Santo, o Superior Geral, Mons. Le Roy, nomeia o P. Pinho Provincial
de Portugal, com a missão de restaurar a Província. Foi já nesta qualidade que ele
tomou parte no Capítulo, como membro de direito.
Acabado o Capítulo, o P. Pinho reentra em Portugal com 500 francos no
bolso. Pedira ao Superior Geral um abono para as primeiras despesas e este deulhe um vale para ele poder levantar 500 francos na Procuradoria. Porém, nessa
mesma tarde, recebeu a visita de um velho amigo, sacerdote bretão a quem se
ligara de amizade nos seus tempos de Langonnet, que lhe disse:
- Sei que vai partir e que é muito difícil a missão que leva. Tome lá esta pequena
ajuda.
Entregava-lhe mais 500 francos, que o P. Pinho agradeceu. Mal ele se retirou,
porém, o seu primeiro gesto foi rasgar o vale do Superior Geral e não levantou
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Adélio TORRES NEIVA
nada na Procuradoria. Ia confiar totalmente na Providência, que lhe acabava de
dar um tão claro sinal dos seus desígnios. E partiu para Lisboa.
A situação da Província
Nessa altura a Província portuguesa estava reduzida à Procuradoria das
Missões em Lisboa, alojada em casa alheia, e a um embrião de Escolasticado
Menor em Zamora, que, nascido na véspera da Grande Guerra de 1914, nunca
chegou a desenvolver-se por falta de recursos. Um grupo de padres tinha-se
juntado numa pequena casa na Covilhã.
Desde 1870 tinham falecido nas colónias portuguesas 57 padres, 55 Irmãos e
7 escolásticos. A Província contava nessa altura, 46 padres, 64 Irmãos e 5
escolásticos professos.
Os padres eram: Manuel Alencar, Jerónimo Almeida, João José Terças,
Manuel António Alves, Lourenço André, Lúcio dos Anjos, José Manuel
Antunes, Arnaldo Nunes Baptista, Manuel Barros, Luís Barros da Silva, Manuel
Braz, Luís Cancela, João Cardona, António Cardoso, Joaquim Alves Correia,
José João Cruz, Manuel Dias da Silva, Manuel Donado, Frederico Duff, Albino
Faria, António Gomes Fernandes, Jerónimo Ferreira, José Maria Figueiredo,
Miguel Fonseca, Isaías Fontes da Silva, Daniel Gomes Junqueira, Manuel
Antunes, Manuel Misseno Grillo, Faustino Moreira dos Santos, Francisco
Nunes da Silva, José Pacheco Monte, Álvaro Ferreira Alves, Joaquim Pereira,
José Pinheiro, Moisés Alves de Pinho, António Ramoa Fernandes, Manuel
Ramos Pinto, Joaquim Moreira, António Rodrigues Pintassilgo, Agostinho
Rodrigues Pintassilgo, Aniceto Juliano, José Silva, Manuel Borga, António
Ribeiro Teles, José Alves Terças, Domingos Vieira.
Os escolásticos sobreviventes eram: António Baptista, José Cosme, Manuel de
Jesus Raposo, Avelino Dourado e César Ferreira.
Irmãos: Álvaro Moita, António Pereira, Adélio Cangueiro, António Silva,
Albano Nascimento, Augusto Soares, Aleixo dos Ramos, Abel Martins,
Ângelo Bicho, Manuel Alberto da Silva, Arnaldo Fonseca, Armando Claro de
Oliveira, António Lourenço, António Pereira, Agostinho Alves da Trindade,
Bento dos Santos, Brito da Silva, Belchior Ferreira, Boaventura Azevedo,
Bernardo Nogueira, Camilo Jorge, Carlos de Sousa, Celestino de Oliveira,
Cristiano Pacheco, Cláver Fernandes, Celerino Cordeiro, Caetano Maria
Castelino, Domingos Martins, Duarte Vaz, Diogo Dias, Estanislau Carrilho,
Ernesto Martins, Emílio de Oliveira, Francisco de Faria, Fernando Fernandes,
Frutuoso da Silva, Francisco de Assis Martins, Juliano Dantas, Gonzaga
Cabral, Geraldo Martins, Gregório Gomes, G. Antunes, Hermenegildo
Nogueira, Hilário da Rocha, S. Alves, José Lopes de Sousa, Justino Sá Silva,
Júlio Lopes, João de Deus Oliveira, Januário Ribeiro, João Baptista Ferreira,
Luís Gonzaga da Silva, Lourenço Manuel, Lucas Ferreira, Luciano Ferreira,
Marcelino Martins, Marcos Rodrigues, Mateus Tomé, Miguel da Silva, M.
Couto, Narciso da Costa, Paulo Pinheiro da Silva, Protásio Gomes, Ricardo
1919 - A restauração da Província
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Pereira, Silvano Gomes, Teodoro Ferreira, Teotónio Gomes, Francisco Xavier
Moreira, Valfredo.258
Quanto ao aspecto material, a Província, durante a dispersão provocada pela
revolução de 1910, tinha contraído uma série de dívidas, assim escalonadas:
1º desde 1885 a 1910, a Casa Mãe, por empréstimos sucessivos tinha
emprestado ao Colégio de Braga 143.200.00 francos que com os juros a 5% de
1910 a 1920 somava 233.257.60 francos.
2º Em 1910 a Província tinha recebido da Casa Mãe diversas mercadorias.
Desde 1910 a 1920 teve que pagar as despesas das viagens dos membros da
Província de Portugal, refazer enxovais dos membros despojados de tudo, pagar
pensão aos doentes, o que perfazia a soma de 258.196.70 francos.
3º Dívidas em Portugal: Em 1910, no dia da dissolução, o Colégio de Braga
devia a diversos fornecedores e a pessoas da região, a soma de 74.805.95
francos.259
O projecto de restauração da Província
Através da correspondência e das circulares do P. Moisés A. Pinho, podemos
detectar algumas prioridades que ele trazia para a restauração da Província:
1. Reunir os confrades que, em razão da proibição de conviverem mais de três
em cada casa, se haviam espalhado e viviam com o clero secular ou nas suas terras
de origem e os que tinham partido para outras casas da Congregação fora do país.
Efectivamente, sacerdotes e irmãos, com a dispersão de 1910, seguiram vários
caminhos: muitos refugiaram-se em casas da Congregação no estrangeiro, outros
ficaram nas famílias ou prestando serviços em paróquias. Todo este pessoal tinha
de regressar às comunidades em Portugal. Era a primeira fase necessária e
urgente a efectuar na restauração da Província. Não foi fácil este trabalho para o
P. Pinho. No estrangeiro, as comunidades contentes com os serviços prestados
pelos portugueses, sobretudo irmãos, iam adiando a autorização de regresso. O
P. Pinho não desanima. Escreve, fala, insiste com os superiores para que lhes
restituam os membros da sua Província. O P. Pinho chegou a escrever ao
Superior Geral uma carta em que lhe dá conta desta dificuldade e chega mesmo
a manifestar-lhe a sua vontade de desistir do trabalho de que o encarregou. Mas
logo escreveu outra carta a pedir perdão de uma tal atitude.
Para os que estão fora da comunidade em Portugal e quer que a ela recolham é
sempre dialogante e preocupado com encontrar a melhor solução.
2. Uma segunda linha de força era promover o recrutamento vocacional, sendo
para isso absolutamente necessário encontrar uma casa para acolher as vocações
que a animação vocacional despertasse.
3. Angariar meios financeiros para desenvolver as obras da Província:
pregações, retiros, fundar um órgão de comunicação social para a propaganda
258
259
AGCSSp. B. 461-D-4
Ibid. B 463 CH – VI
258
Adélio TORRES NEIVA
(Revista Missões de Angola e Congo), restaurar a “Associação de Orações e Boas
Obras pela Conversão dos Pretos” (Associação de Nossa Senhora de África), pedir
empréstimos à Casa Mãe para obras de maior vulto, abrir uma rede de amigos,
nomeadamente antigos alunos dos colégios da Congregação, pedir ao Governo
subsídios para as missões e para a formação dos futuros missionários, solicitar a
ajuda dos missionários e das missões na medida das suas possibilidades.
Quando em 1919 chegou a Portugal o P. Pinho encontrou nos cofres da
Congregação a magra quantia de 12.989$00. Este dinheiro era pouco, não dava
para nada. As dívidas que a contabilidade Geral da Congregação tinha
amontoado sobre as obras de Portugal eram de 37.634$00. Era preciso pagar esta
dívida. Solicitou um abono à Administração Geral da Congregação, procurou
descobrir benfeitores, obter donativos, aceitar trabalhos de colaboração
paroquial para ele e para os que com ele cooperavam. Escreve cartas, circulares,
publica pequenas revistas que põem os leitores ao par das necessidades das suas
obras e Missões. Envia emissários aos Estados Unidos para a propaganda do ideal
da Congregação e a confissão das suas dificuldades.
4. Para que as missões pudessem ter o pessoal português exigido pela lei, pedia
e aceitava nas obras de formação da Província pessoal estrangeiro, ainda que
doente e com algumas dificuldades, excepto em lugares de chefia nas obras de
formação, para as quais seria necessário pessoal qualificado, tanto quanto
possível português.
5. Estava particularmente atento às dificuldades dos familiares dos confrades,
dando-lhes subsídios e ajudas, caso precisassem, a fim de que os confrades
pudessem regressar à vida de comunidade.
O itinerário da restauração
A primeira coisa que P. Moisés Alves de Pinho fez ao chegar a Portugal foi
prometer ao Sagrado Coração de Jesus que, se lograsse o seu intento de restaurar
as obras da Congregação em Portugal, faria solenizar com especial devoção, em
todas as casas de formação que na Província viessem a fundar-se, a “Primeira
Sexta-Feira” de cada mês, fomentando ao mesmo tempo e por todos os modos,
a confiança naquele Santíssimo Coração. Foi a 16 de Setembro de 1919.260 A 6 de
Outubro, partiu de Braga para Lisboa, a fim de contactar com a Procuradoria das
Missões, que então funcionava na Travessa Lázaro Leitão, a Santa Engrácia, com
alguns confrades. Aí lhes pregou o retiro anual e os pôs ao corrente dos projectos
que trazia para a restauração da Província.
Em seguida, nomeou um Conselho Provincial, que o ajudasse na reorganização
da Província: para assistentes escolheu o P. José Maria Antunes e o P. João
Cardona; como conselheiros os P. António Ribeiro Teles e Clemente Pereira da
Silva. Procurador das Missões: P. José Terças. Procurador ou ecónomo
provincial: P. João Cardona.
260
AGCSSp. Carta de 4/2/1921
1919 - A restauração da Província
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Na Procuradoria das Missões, ficavam o P. Cardona, como superior e
ecónomo, e os PP. Antunes e Terças. Para os diversos serviços ficavam os Irmãos
Augusto e Serafim.
Depois, o P. Pinho visitou na capital algumas pessoas que o pudessem ajudar e
fez uma digressão pelo país a fim de angariar e arregimentar de novo os poucos
missionários que estavam de férias na Europa (os padres Alves Correia e Pacheco
Monte) e alguns que, como o P. Antunes, haviam ficado em Portugal, espalhados
e sem viverem em comunidade, pois a lei proibia terminantemente que se
reunissem mais de três.
Em Braga tinha encontrado o velho Irmão Francisco Faria, que ficara de guarda
no Charqueiro e conseguira salvar alguns móveis e paramentos do Colégio do
Espírito Santo. A Quinta do Charqueiro era uma pequena propriedade, na Rua
Bento Miguel, nº 18, mesmo ao pé do cemitério de Braga, alugada pelo Colégio
para cultura de hortaliças frescas para seu sustento, e onde o Irmão ficara após a
revolução de 1910, sempre considerado como um criado, iludindo assim a
legislação de perseguição às Congregações Religiosas. Era no local onde hoje está
situado Colégio D. Diogo de Sousa.
Em Braga encontrou também o P. Pinho alguns antigos Alunos deste colégio,
cuja simpatia e permanente amizade pelos Antigos Mestres, foi para ele de
grande conforto. Particularmente reconfortante foi o apoio que sempre recebeu
do Arcebispo de Braga, D. Manuel Vieira de Matos. No Charqueiro abrir-se-ia a
primeira comunidade a 15 de Outubro de 1919.
O Charqueiro, porém, não era solução e poderia apenas remediar - mal - por
um ano: casa de quinta, com dois ou três quartos; um barracão para capela; um
palheiro que, dividido em duas partes, seria dormitório e sala de estudos. Foi para
aqui que foram transferidos os alunos vindos de Zamora.
Como no ano seguinte vagasse o Colégio de S. Tomás, à Rua Visconde de
Pindela, perto da estação de Braga, o P. Pinho logo o alugou, confiando-o à
direcção do P. Clemente Pereira da Silva, que há pouco acabara, na Universidade
de Friburgo, os seus estudos teológicos. Aqui nasceu a nova comunidade do
Santíssimo Redentor, em Setembro de 1920; nela couberam os alunos do 3º, 4º
e 5º anos, vindos de Zamora, os do 2º saídos da Rua Bento Miguel e os novos
admitidos naquele Outubro. Este colégio veio a servir até 1929. Entretanto o P.
Pinho comprara a Quinta do Visconde de Valbom, no Fraião e em 1929 era aqui
inaugurado o primeiro pavilhão da nova construção.
Em 24 de Novembro de 1920, Bento XV aprovava, indulgenciava e concedia
vários privilégios à Associação de Nossa Senhora de África.
A 21 de Janeiro de 1921 o Superior Geral obtinha da Santa Sé autorização para
a erecção e funcionamento de um Noviciado de Irmãos em Braga, podendo
servir ocasionalmente também para clérigos.
Em Janeiro de 1921 aparecia o primeiro número da revista Missões de Angola
e Congo, órgão da Associação de Nossa Senhora de África e instrumento da
propaganda das obras da incipiente Província.
Neste mesmo ano de 1921, o P. Pinho propõe à Casa Mãe que os serviços
260
Adélio TORRES NEIVA
prestados pelos Irmãos e outro pessoal português em França, desde 1911 a 1920
sejam para pagar as dívidas da Província à Casa Mãe e que a partir de 1 de Janeiro,
a Província de Portugal tome a seu cargo as despesas com as casas de formação,
pedindo que para os escolásticos e noviços seja estabelecida uma pensão igual à
dos aspirantes de França.261 O P. Pinho pensava efectivamente que a partir de 1
de Janeiro de 1921 a Província estaria habilitada a arcar com todos os seus
encargos. E pede à Casa Mãe para lhe mandar a factura de todas as despesas que
a Província assumisse a partir dessa data.262 Efectivamente por decisão do
Conselho Geral de 8 de Maio de 1921, a Casa Mãe perdoava à Província todas as
despesas que Província de Portugal contraíra para com ela, de 1910 a 1921,
entrando nessa data a Província de Portugal na situação de todas as outras
Províncias. O texto desta decisão reza assim:
“A pedido do Superior Provincial de Portugal, considerando que a Província de
Portugal reconstituída, após 10 anos de interrupção, não pode suportar as dívidas
que outrora tinha para com a Procuradoria Geral, e que por seu lado a Procuradoria
Geral terá para saldar estas dívidas a indemnização dada à Congregação pelo
Tribunal de Apelação de Haia, a cargo do Governo Português, o Conselho Geral
considera desquitada a Província Portuguesa de todas as despesas feitas de 1910 até
ao primeiro de Janeiro de 1921, por todos os membros desta Província, quer
aspirantes quer reformados. No futuro, a partir do primeiro de Janeiro, a Província
de Portugal entra na situação ordinária das outras Províncias, com as mesmas
disposições sobre os seus recursos, as suas receitas e os seus encargos. Paris, 13 de
Maio de 1921. O secretário Geral. (Extraído do Registo das deliberações)”.263
Em 1922 é nomeado Procurador das Missões e superior da Casa de Lisboa o P.
Joaquim Alves Correia; o P. Miguel Fonseca é nomeado Procurador da
Província.
Neste mesmo ano é oferecida à Congregação pela Viscondessa de Montedor
uma quinta na Abelheira, a quinta de Nossa Senhora das Sete Dores, que conviria
para postulantes novos e padres em descanso. Mas o P. Pinho achou muito
complicadas as condições impostas pela Viscondessa, pelo que a oferta acabou
por ser recusada.264
Para conseguir alugar uma casa para Seminário de Filosofia e Teologia o P.
Pinho teve de percorrer metade do país, conforme ele confessa em carta de 25 de
Agosto de 1922.
O P. Pinho tinha a promessa e a garantia da Casa Mãe de que aqueles cursos
poderiam ser feitos em França. A ideia descansava-o, mas não o contentava.
Custava-lhe ver partir para longe das famílias os alunos. As condições do clima
não eram favoráveis aos filhos de uma terra onde o clima era bem mais ameno.
Tinha diante dele a triste e desoladora estatística: o número de seminaristas
portugueses da Congregação que no passado foram para a França ou Bélgica
261
AGCSSp. Carta de 1/1/1921
Ibid. B. 481 CH –I
Ibid. Carta de 18/5/1922 e 4/2/1923
264
Ibid. 4/12/1923
262
263
1919 - A restauração da Província
261
continuar os estudos e lá faleceram devido ao frio e humidade do clima, era
demasiado e não se podia considerar normal. A tuberculose, o frio e, durante a
guerra de 1914-1918, a alimentação eram factores agravantes.
Daí a ideia de abrir em Portugal um seminário para os alunos do Curso
Superior. Abriu-o no Salgueiral, lugar de Godim, Régua, em Setembro de 1921 e
aí reuniu os poucos jovens portugueses que estudavam nos seminários da
Congregação em França. Depois em 1927 fundará o Seminário de S. José, em
Godim.
Foi uma solução provisória e o P. Pinho continuava a procurar até que lhe
chegou uma sugestão da freguesia de Anha, nas vizinhanças de Viana do Castelo.
Estava ali, passando férias, um aluno da “Academia de Lenguas” de Zamora, o
jovem José Neiva Araújo. O P. Pinho escrevera-lhe, como era seu costume, a
animá-lo e aproveitou para lhe perguntar se acaso saberia de qualquer coisa que
pudesse servir para satisfazer a necessidade que o preocupava.
O Neiva Araújo respondeu que sim, que talvez a solução se encontrasse no
velho e arruinado convento das Ursulinas, sobranceiro a Viana, no sopé da
encosta de Santa Luzia. O Padre Pinho foi ver. Ficou encantado. Mas ele não se
entusiasmava facilmente. Ponderava e reflectia. Mandou lá o P. Clemente com os
Irmãos Protásio e Marcelino, os dois grandes construtores das casas da
Província. O acordo foi unânime. E o Escolasticado Maior passou, a título
definitivo, do Salgueiral para Viana do Castelo.
Instalaram-se os escolásticos na parte já utilizável do edifício em 1922;
continuou-se a construção e a 8 de Outubro de 1923, instalava-se em Viana a
secção B, o primeiro ano de preparatórios, que já não cabia em S. Tomás de
Aquino: um grupo de 24 rapazinhos, 19 principiantes e 5 repetentes. Destes,
nenhum perseveraria; dos 19 principiantes, três viriam a ser ordenados, entre eles
os P. José Felício e Nogueira da Rocha.
Em 1923, o P. Pinho anuncia que vai deixar Braga e fixar residência em Viana
do Castelo pois é no norte do país que estão todas as obras de formação.
No ano seguinte, em 1924, o bispo do Funchal ofereceu à Congregação uma
fundação na Madeira, que não foi aceite por falta de pessoal.265
Em 1924 o P. Monte vai para a América visitar a família e passar férias. Aí ficará
algum tempo angariando recursos entre os portugueses desse país para a
Província, no que foi coadjuvado pelo P. Clemente Pereira da Silva, no ano
seguinte. O futuro da Província dependia da consolidação de uma fonte de receita
para manter as obras da formação. Nesta altura, estes recursos angariados na
América eram a única fonte de receita que a Província tinha. Em 1924 o P. Pinho
escrevia: “Desde este momento posso definir exactamente a situação financeira da
Província em duas palavras: não temos dívidas nem temos reservas”.266
Em 1924 o P. Cardona parte para as missões, como Superior Principal das
missões da Lunda.
265
266
AGCSSp. Carta de 7/3/1924
Ibid. Carta de 8/5/1924
262
Adélio TORRES NEIVA
Em 1925, na Procuradoria de Lisboa estavam o Procurador das Missões, P.
Joaquim Alves Correia e os Irmãos Xavier Moreira e Narciso Costa.
Em Braga, a comunidade da Sagrada Família era composta pelos PP. Cândido
Costa, director e ecónomo, Agostinho Pintassilgo, Manuel Vieira e os Irmãos
Ricardo Pereira, João de Deus Oliveira, Ildefonso Afonso, Porfírio Pinto da
Silva e José Maria Dias.
No pequeno escolasticado, comunidade do Ss.mo Redentor, estavam os PP.
Clemente Pereira da Silva, como superior e director, Isalino Alves Gomes,
Miguel Fonseca e José Cosme e os Irmãos Alípio da Moita, Lucas Ferreira,
Antero da Silva, Fortunato Pereira, Alberto da Silva e Lourenço Matias. Nesse
ano, metade dos escolásticos menores foram para Viana do Castelo por falta de
lugar em Braga. Mais tarde seguiriam para Godim, quando ali foi construído o
seminário.
O programa seguido no seminário era o mesmo programa dos liceus, dando
maior relevo ao latim e reservando a maior parte das ciências naturais para a
Filosofia.
Em Viana do Castelo estavam os PP. Pinho, superior e director, Daniel
Junqueira, Manuel Raposo, António Nunes e Joaquim Costa e os Irmãos Adélio
Cangueiro, João Baptista Ferreira, Valfredo Pinheiro, Protásio Ferreira e Daniel
dos Santos. Os escolásticos eram 8 no Curso de Filosofia e 2 no de Teologia. A
igreja foi-nos confiada de entendimento com a confraria-proprietária e o bispo
da diocese.
O P. João Cardona, antes de partir para Malanje em 1925, deixou quase pronta
a versão portuguesa das Constituições.
Em Godim, com o seminário ainda em fase de construção, estavam os PP.
António Teles, como director, Giocondo Adriani, ecónomo, e os Irmãos
Augusto Queiroga, Serafim Rodrigues e Marcelino Martins.
Neste mesmo ano de 1925 foi lançado pelo P. Alves Correia o “Cantai ao
Senhor” com orações e cantos para os ofícios litúrgicos e as devoções
tradicionais com 400 páginas, segundo o modelo publicado pelo P. Th. Gaeshy,
adaptado aos países de língua portuguesa. Foi um manual pelo qual rezaram e
cantaram muitas gerações de escolásticos espiritanos.
A visita canónica à Província é feita pelo P. Riedlinger, que pregou também o
retiro provincial.
Em 1927 abre-se o seminário de Godim e em Braga começam as construções
do seminário do Fraião.
Em 1927, abandona-se a casa da Rua Vitorino Damásio em Lisboa e entra-se
em plena posse da Procuradoria em Santo Amaro, depois da casa ter estado à
venda; como a casa era muito grande, alugou-se uma parte, que ficava com uma
entrada independente.267
Em 1927 é lançada a primeira pedra do seminário do Fraião.
Em 1928 estavam já em Viana os Cursos de Filosofia e os dois primeiros anos
267
AGCSSp. Carta de 19/4/ 1927
1919 - A restauração da Província
263
de Teologia, num total de 32, sendo então a casa ocupada já totalmente pelos
Escolásticos Maiores. A secção B passara para a nova Casa de Godim, que então
o P. Pinho fizera construir e inaugurara em 1927. Em 1929 inaugura parte do
seminário do Fraião. No velho solar que então ficava livre, criar-se-ia uma obra
de regeneração de padres em crise sacerdotal.
Em 1928 fundava-se a comunidade do Porto, na Rua Nova do Regado,
destinada, no pensamento do seu fundador, à obra das vocações tardias e
consagrada a Santa Teresa do Menino Jesus e assume-se a capelania do Monte
Pedral.
A 16 de Dezembro de 1928 morre em Paris, um pouco inesperadamente, o P.
José Maria Antunes.
Em 1929 prolonga-se em Viana do Castelo a ala principal e acrescenta-se um
andar sobre parte da casa. Em Godim, nesta altura, o seminário estava já cheio
com 73 escolásticos menores, ficando a Casa de Viana reservada para os
Escolásticos Maiores.
Em 1930 foram as primeiras ordenações em Viana do Castelo.
A família do P. Luís Cancela ofereceu um terreno em Vale Mourisco para a
Obra dos Irmãos, que se recrutariam na Beira Baixa. A propriedade foi visitada,
o povo ajudaria com trabalho e meios, parecia ser uma oferta a aproveitar.
Nos finais de 1931, o P. Pinho vai visitar as missões espiritanas de Angola.
Enquanto o P. Pinho visitava as missões de Angola, organizava-se um novo
seminário na Guarda-Gare, destinado a dar a primeira formação às vocações
nascidas nas Beiras.
Em 1932 aparecia o jornal de propaganda académica “Entre Nós”, que em
1940 será transformado na “Acção Missionária”.
Em 1934 aparecia o Noviciado, sob a protecção do Santo Cura d´Ars, em
Fraião, onde no topo do Monte Redondo já funcionavam em casa própria, a obra
dos irmãos e o escolasticado menor; ali esperaria a transferência para a Silva.
Bastou, portanto, pouco mais de meia dúzia de anos, para a Província não só
se reorganizar, como atingir um desenvolvimento superior ao que jamais tivera.
265
Capítulo 29
O regresso a Braga: a Quinta do Charqueiro
A
pós a libertação do Forte de Caxias, o P. Pinho, por indicação dos seus
superiores seguiu para Chevilly, para preencher a vaga de professor do
Seminário Maior e dar assistência ao grupo de portugueses que lá
continuavam os seus estudos.
Uma vez chegado a Chevilly, na França, ali encontrou os seminaristas
chegados de Portugal e que estavam dispersos pelos vários cursos. O P. Pinho
foi encarregado de ensinar Teologia Fundamental e dar algumas lições de
Liturgia.
As férias de verão eram passadas na Bretanha, onde a Congregação tinha uma
casa em Langonnet, para residência de missionários inválidos em razão da sua
idade ou de doença. Esta comunidade tinha um colégio anexo, para a educação
das famílias modestas da região. Com a perseguição de 1903, o Colégio ficara
vazio, servindo então para alojar os seminaristas durante as férias.
Em Agosto de 1914 rebentou a Primeira Grande Guerra e os seminaristas
franceses abrangidos pela ordem de mobilização partiram em diferentes
direcções consoante as localidades indicadas nas suas cadernetas. Mas houve logo
a preocupação de não interromper a vida do seminário. Franceses que ainda não
eram atingidos pela lei militar, um grupo bastante elevado de portugueses e
irlandeses que frequentavam o Seminário Maior de Chevilly, alguns belgas e
holandeses, alguns suíços, um polaco e um italiano formavam um bom número
a que se vieram juntar os noviços que, por motivo de interrupção do noviciado,
vinham adiantar os estudos. Este bom número de seminaristas, estava com o P.
Pinho em Langonnet a passar férias quando rebentou a guerra. Ali permaneceu,
de modo que o Seminário de Chevilly passou a funcionar na casa de Langonnet
e ali esteve até 1918, ano em que a guerra acabou.
Em Agosto de 1919, estando ainda o P. Pinho em férias na Abadia de
Langonnet e pensando regressar de novo a Chevilly, para retomar as suas
actividades, exercidas antes e durante a guerra, foi chamado pelo Superior Geral,
Mons. Alexandre Le Roy. Estava nessa altura a decorrer em Paris o Capítulo
Geral da Congregação e o Superior Geral perguntou se seria legal nomear um
Provincial para Portugal, onde, na prática, não havia Província. À resposta
afirmativa, o P. Pinho começou a fazer parte dos capitulantes e em Setembro
seguinte o Superior Geral enviava-o a Portugal com a missão expressa de “com
ou sem autorização” encetar a obra do recrutamento e formação de missionários
para as Missões de Angola.
266
Adélio TORRES NEIVA
É preciso dizer, que, entretanto, a situação em Portugal se ia modificando. Em
Dezembro de 1917 tinha triunfado o movimento revolucionário chefiado por
Sidónio Pais, que se propunha restaurar a ordem e pôr termo a uma agitação que
durava desde 1910. Anulou as penas de exílio decretadas contra o Cardeal
Patriarca de Lisboa, D. António Mendes Belo, e contra o bispo do Porto, D.
António Barroso e modificaram-se ou suprimiram-se alguns artigos vexatórios
para a Igreja e restabeleceram-se as relações diplomáticas com a Santa Sé,
interrompidas desde 1910. Por outro lado, a organização dos católicos para
defesa da Igreja começava a ser uma força com que era preciso contar.
O próprio P. João Cardona tinha já feito algumas tentativas para sondar o
terreno em Fevereiro de 1919 e as coisas pareciam bem encaminhadas quando a
tentativa de restauração monárquica no norte de Portugal, arrefeceu os ânimos.
Em carta de 19 de Fevereiro
de 1919, dirigida ao Superior
Geral escreve ele: “Acabo de
chegar de Braga, onde falei da
fundação da nossa pequena
obra ao Sr. Arcebispo e ele
acolhe-a com muita simpatia.
Penso que V. recebeu a carta
em que lhe falava disso. De
resto eu tinha já obtido por
intermédio do P. Antunes o
consentimento do Ministro
das Colónias. Ele não me deu
uma aprovação formal mas
Braga - Escola Apostólica - 1920
disse-me para começar, que se
houvesse reclamações, ele não nos inquietaria. Depois de ter falado a Monsenhor,
procurava uma casa para isso com o Ir. Francisco. Nessa mesma tarde rebentou o
movimento regalista. Aconselharam-me então, entre os quais o Sr. Arcebispo, a não
alugar a casa, mas pedir em seguida ao menos a portaria do nosso colégio para aí me
instalar.
Falei disto a quem de direito, que se não opôs a isso; aconselharam-me, contudo,
por muitos motivos, que seria por poucos dias. Então decidi-me a esperar; 15 dias se
passaram e na perspectiva de ter de esperar ainda mais um mês ou talvez mais, tomei
a decisão de vir a Zamora para lhe escrever, pois lá era impossível.
De Braga escrevi-vos duas cartas: uma, a respeito do Escolasticado e a outra a
respeito do Colégio do Espírito Santo, que o arcebispo de Braga, pede para abrir
como muitos institutos. Em Zamora, espero pelas suas ordens.
Se o movimento regalista triunfar em Portugal, as nossas obras retomar-se-ão por
elas mesmas bastante facilmente. Em caso contrário será de novo a perseguição.
Parece-me, contudo, de toda a necessidade, mesmo neste caso, uma residência em
Braga, seja para tentar e recomeçar pouco a pouco o escolasticado menor, como eu
ia fazer, seja pelo menos, se a criação do escolasticado se tornar impossível, o que eu
O regresso a Braga: a Quinta do Charqueiro
267
não creio, para aí ver e ter os meninos antes de os enviar para aqui.
Se quiser, eu irei com o P. Clemente, a quem associaremos um terceiro. De resto,
o P. Clemente tem necessidade de mudar de clima, segundo o conselho do médico,
pois a ferida não tem melhorado. O terceiro que conviria melhor ir para Braga seria
o P. Fonseca e não ficaria descontente. Neste caso eu enviarei aqui o P. Raposo; eu
me encarrego de lhe arranjar o passaporte, ele gosta de vir. Poderá também vir o P.
Jerónimo Ferreira de Langonnet.
Quanto ao Colégio do Espírito Santo, se é sua intenção abri-lo, eu gostaria de o
saber para o dizer ao Sr. Arcebispo e a todos os que o perguntarem. A abertura só
poderia acontecer, caso os regalistas triunfem. P. Cancela ”.268
Antes de deixar Paris, o P. Pinho, acompanhado pelo Superior Geral, foi ainda
ao Ministério da Justiça, para colher informações sobre o recurso interposto no
Tribunal de Haia contra a confiscação de alguns bens da Província de Portugal,
nomeadamente sobre o Colégio do Espírito Santo, em Braga, aquando da
implantação da República.
Partindo para Portugal, o P. Pinho passou por Zamora, onde se deteve uns dias
e nos princípios de Outubro de 1919 chegava a Braga. Era aguardado na estação
pelo Irmão Francisco Faria e com ele se dirigiu para a chamada Quinta do
Charqueiro, na rua Bento Miguel, nº 18. Esta Quinta tinha sido alugada pelo
Colégio do Espírito Santo que a explorava para guardar os frutos e outros
produtos bem como os animais. Com a Revolução de 1910 o Irmão Francisco lá
continuou durante este tempo todo, esperando o regresso dos padres e
guardando tudo o que pôde defender da pilhagem, sobretudo roupas, alfaias de
culto, paramentos e livros. Alguns paramentos guardou-os mesmo na Póvoa de
Varzim, sua terra natal. O proprietário da Quinta era o Barão de S. Lázaro.
Ali passou o P. Pinho em 5 de Outubro, ouvindo as sugestões do velho Irmão
Francisco e estudando o melhor modo de iniciar a restauração da Província
Portuguesa.
Em Braga, com a ajuda do Irmão Francisco, começou a procurar uma casa apta
para seminário menor. Nada se conseguia, nem na cidade nem nos arredores até
que o Irmão Francisco lhe deu a solução: “Fui a casa alheia e envergonhei-me,
vim para minha casa e remediei-me”, disse-lhe o Irmão Francisco. E explicou:
“Viveu-se aqui muitos anos sem o pavilhão novo construído pelo Colégio.
Embora com algum sacrifício, podia-se voltar ao antigo, deixando livre o
pavilhão novo para o adaptarem ao fim em vista”.
A ideia pareceu viável e para meia dúzia de principiantes estava-se servido.
Depois se veria.
A comunidade escolhida para iniciar a obra era formada pelo P. Pinho, superior
provincial e local, P. Clemente Pereira da Silva, ecónomo e director da obra,
vindo de Zamora e Irmão Francisco.
O primeiro dia da vida da comunidade foi a 15 de Outubro de 1919, dia de
Santa Teresa de Jesus, a reformadora do Carmelo. O P. Clemente tinha chegado
268
AGCSSp. B 482 CH - V
268
Adélio TORRES NEIVA
na véspera e o P. Pinho estava em Lisboa, na Procuradoria, a pregar o retiro aos
confrades. Na véspera chegara também um pequeno escolástico de Zamora, o
José Neiva Araújo, de Anha, que estava à espera de fazer o serviço militar.
Capela não havia; ia-se à missa e ao terço à igreja de S. Vicente; para as restantes
orações havia um pequeno oratório no refeitório. Este refeitório servia também
de sala de comunidade, por sinal bastante frio, pois não tinha tecto. O Irmão
Francisco partilhava o seu quarto com um jovem da Póvoa de Varzim, seu amigo,
que pagava pensão e que estava a tratar da sua saúde. O P. Clemente, durante a
ausência do Provincial, ia ficar na casa dos proprietários da quinta, quando eles
vinham cá passar alguns dias. O Araújo ficava numas águas furtadas. O rés-dochão era ocupado pelo pessoal doméstico da Quinta e seus pertences agrícolas.
Da parte de tarde foi-se ao Sameiro colocar a obra sob a protecção de Maria.
No dia 19 foi a visita ao cemitério onde repousavam os confrades do Colégio
do Espírito Santo.
O Dr. Francisco Torres, antigo aluno do Colégio, foi dos primeiros a pôr-se
totalmente à disposição dos Espiritanos. No dia 23, foi a visita ao Arcebispo de
Braga, D. Manuel Vieira de Matos, a quem expuseram o projecto de abrir uma
residência e um pequeno escolasticado. O Arcebispo prometeu toda a ajuda e
facultou a ida às aulas às Oficinas de S. José, que eram a instrução primária do
seu seminário diocesano, e permitiu que o escolástico José Neiva Araújo
frequentasse as aulas de filosofia e latim no seminário de S. Barnabé.
Depois de várias tentativas para encontrar melhor solução para o caso, o P.
Pinho desejoso de reunir os aspirantes o mais cedo possível, decidiu-se a fazer
ali as reparações necessárias para a casa poder albergar uns 20 pequenos
escolásticos que se anunciavam para este primeiro ano.
Um mestre-de-obras, amigo e conhecido de outros tempos, veio, achou o
projecto viável e fez o orçamento. No dia seguinte, a quantia necessária para a
adaptação das obras à sua nova finalidade, e que os padres atribuíram a S. José,
foi oferecida por um dos seus devotos e pai de um antigo aluno de Zamora.
A 4 de Novembro o P. Pinho, acompanhado do P. Clemente informava o Sr.
Arcebispo da sua intenção de ficar na Quinta do Charqueiro e de aí fundar a
obra, depois de algumas indispensáveis reparações. Nesse mesmo dia foram
também visitar o antigo Colégio do Espírito Santo.
Como os operários contratados eram demasiado lentos, o tio do P. Pinho, o P.
Abel Alves de Pinho, pároco de Guizande (Feira) prontificou-se a mandar dois
paroquianos – pai e filho – de sua arte carpinteiros. Vieram e foram as pessoas
providenciais, de resto coadjuvados por mais três de S. Vicente. Dormiam numa
dependência do quarto que o P. Pinho ocupava, começavam o trabalho às cinco
horas da manhã, à luz de um gazómetro e terminavam-no às 9 da noite.
As obras começaram a 6 de Novembro. A mobília veio de Moledo do Minho,
onde o pessoal dos colégios de Braga e do Porto costumava ir passar as férias em
casa alugada e que lá ficaram quando os colégios foram encerrados. O
proprietário da casa não fez dificuldade e por precaução, mesas, carteiras, camas
e louças, foram transportadas, durante a noite em carros de bois, por lavradores
O regresso a Braga: a Quinta do Charqueiro
269
de Anha, freguesia do concelho de Viana do Castelo.
A 12 de Novembro recebiam a visita de D. José de Lencastre, antigo aluno do
Colégio, que se ofereceu para tudo o que fosse preciso, inclusive para emprestar
o seu nome para o aluguer ou compra da Quinta.
Entretanto, tanto o P. Pinho como o P. Clemente não se poupavam a fazer
pregações e animação vocacional por diversas terras.
A 18 de Dezembro, o P. Pinho parte para Lisboa para tratar de importantes
negócios de propaganda e de administração, mas passou pela Guarda, onde o
bispo desejava vivamente a presença dos Espiritanos na sua diocese, sobretudo
para a direcção espiritual do seu seminário, actualmente ao cuidado do P.
Agostinho Pintassilgo. Aproveitou também para visitar os confrades que depois
da República viviam fora de comunidade como o P. Agostinho Pintassilgo, José
Pinheiro, Jerónimo Almeida, todos da Covilhã.
No dia 29 de Dezembro chegava o Ir. Antero, há muito esperado,
acompanhado de dois postulantes da Covilhã, o Manuel da Silva Mateus e o José
Maria Figueiredo, que seriam as primícias desta obra.
E outros postulantes foram chegando pouco a pouco, estando o dia da entrada
marcado para o dia 7 de Janeiro. Foi necessário pedir ao proprietário da Quinta
algumas mesas, cadeiras, bancos e coisas necessárias para a capela. O pequeno
grupo de estudantes, uma meia dúzia, começou as aulas de instrução primária nas
Oficinas de S. José, a 8 de Janeiro.
A 13 de Janeiro chegava o P. Joaquim Alves Correia, da missão da Nigéria, que
veio colaborar como professor, o que permitiu iniciar as aulas do primeiro ano
do curso do liceu.
A inauguração da capela foi a 29 de Janeiro, sendo já 15 os alunos: sete ou oito
eram do primeiro ano e os restantes da instrução primária.
Nesta altura a comunidade estava já definitivamente formada: P. Pinho,
provincial e superior local, P. Clemente, director da Obra e P. Alves Correia,
professor.
As aulas do primeiro ano eram dadas pelos Padres Clemente e Correia, ficando
o P. Pinho mais livre para continuar a procurar uma melhor solução para o caso.
As aulas começaram a 7 de Janeiro de 1920, suprimiram-se as férias da Páscoa,
retardaram-se um pouco as do verão e assim o ano lectivo pôde ser vencido.
Havia também algumas vocações para Irmão Auxiliar, ficando estas a cargo de
um Irmão, vindo das Missões para retemperar a saúde.269
Entretanto, enquanto o P. Clemente se multiplica em pregações nas igrejas da
cidade de Braga, o P. Pinho continua a procurar uma casa que possa albergar uns
50 rapazes. A 28 de Março começa a inclinar-se para o Colégio de S. Tomás de
Aquino, que devia fechar esse ano. No dia 31 fala-se já em dificuldades
ultrapassadas para se passar para o colégio de S. Tomás. E no dia 2 de Abril os
três padres iam visitar o colégio.
A 15 de Abril, vítima de um tumor nos intestinos, faleceu o Irmão Francisco
269
PINHO, D. Moisés Alves de. Memórias p. 138-141
270
Adélio TORRES NEIVA
José de Faria, que ultimamente se encontrava doente. Foi uma grande perda para
a comunidade, pois o Irmão Francisco era um pouco o elo de ligação entre o
passado e o presente. O seu funeral, realizado na igreja de S. Vicente, foi uma
grande manifestação de pesar e de simpatia para com a Congregação. Os seus
restos mortais repousam no jazigo do colégio, no cemitério de Braga.
A 29 de Abril chega da Irlanda o Irmão Protásio que vem dirigir os trabalhos
de carpintaria e marcenaria.
A 1 de Maio chegou de Zamora o P. Daniel Junqueira que veio ajudar no
ministério das aulas.
Pelo dia 21 de Maio começam a chegar os alunos de Zamora, com o P. Miguel
Fonseca.
A 12 de Junho o P. Pinho entra em negociações com o P. Peixoto, em ordem
à aquisição do Colégio de S. Tomás.
O charqueiro fechou com o fim do ano escolar, com 16 educandos e com a
abertura do Colégio de S. Tomás de Aquino.
A 1 de Outubro seguiram para a Rua Visconde Pindela, para o Colégio de S.
Tomás de Aquino, o P. Clemente com o P. Manuel Raposo, os Irmãos João
Baptista, Antonino, Fortunato e Augusto que foram dispor os recantos do
extinto colégio para o transformar numa Escola Apostólica.
A Comunidade tinha como padroeira a Sagrada Família e como o P. Pinho
confessa, “era uma casa cheia, com vida e alegria. Era manifesta a satisfação de se
viver em comunidade e num princípio de restauração das obras de formação. Não
se ignoravam as dificuldades, mas era grande a confiança. Orava-se muito e a
marcha dos acontecimentos veio mostrar que o Senhor estava connosco. A boa
disposição de todos dava força e optimismo”.270
A Escola Apostólica dos Irmãos
Em Outubro de 1920 na quinta do Charqueiro ficaram apenas os candidatos a
Irmãos Auxiliares, sendo a equipa dos formadores constituída pelos PP.
Provincial, Terças e Correia e pelos Irmãos Antero, Narciso, Valfredo e
Protásio. Os postulantes eram seis para principiar. Havia oficinas de sapataria,
alfaiataria e carpintaria. Na quinta exercitava-se a agricultura com “ciência e
método”.
A 5 de Dezembro chega de França o Irmão Marcelino.
A 8 de Dezembro de 1920, festa da Imaculada Conceição, é inaugurada por
Mons. Keiling a nova capela do Colégio de S. Tomás de Aquino. A 7 de Janeiro
começam as aulas.
A 19 de Janeiro de 1921, o P. Pinho, acompanhado dos Padres Terças e
Junqueira vão ao Sameiro para oferecer a Nossa Senhora o primeiro número da
Revista “Missões de Angola e Congo”, pedindo à Senhora a sua bênção para a
nova revista. A 25 começa-se a fazer a expedição da revista. A 28 chegava o novo
270
PINHO, D. Moisés Alves de. Memórias p. 138-141
O regresso a Braga: a Quinta do Charqueiro
271
Irmão Francisco, especialmente encarregado da revista.
No dia 4 de Abril de 1921, o P. Correia vem para esta comunidade para se
ocupar da revista “Missões de Angola e Congo”.
A 23 de Abril de 1921 instalava-se o telefone na comunidade, sobretudo por
causa da revista.
A 16 de Julho de 1922 é inaugurada a nova capela.
A 6 de Setembro deste mesmo ano o P. Miguel Fonseca é nomeado ecónomo
ou procurador provincial.
A 7 de Setembro de 1922 o P. Joaquim Alves Correia partia para Lisboa como
procurador das Missões.
A 1 de Novembro de 1922 partiam para Viana os Irmãos Marcelino e Protásio
para iniciarem as obras do convento das Ursulinas.
A 19 de Agosto de 1923 teve lugar a primeira Reunião dos Antigos Alunos dos
Colégios.
No dia 14 de Julho de 1924 é nomeado novo superior o P. Cândido Ferreira da
Costa.
A 3 de Novembro de 1927 levava-se a mobília para o Fraião. E para lá partiu
um grupo de postulantes com o Irmão Valfredo: Carreira, Miguéis, Manuel
Ventura, Abílio Ventura, Pereira, Gonçalves, Rodrigues, Cunha e mais tarde
apareceu o P. Superior que, já noite escura, acompanhado dos postulantes,
benzeu a casa.
A comunidade ficaria privada de sacerdote durante um mês, pois o P. Luís
Cancela nomeado para esse fim, caiu gravemente enfermo, vindo a falecer. Todos
os dias ia lá um sacerdote de Braga até que a nova casa foi confiada aos cuidados
do P. Fonseca.
O P. Miguel Fonseca instalou-se na nova comunidade a 5 de Dezembro e os
alicerces da nova casa começam a ser abertos por um contingente de postulantes
da Rua Bento Miguel.
A 27 de Fevereiro de 1929 deixava-se a Quinta do Charqueiro e partia-se para
o Fraião em camiões e carros de bois.
As actividades que na casa se exerceram durante o período da vigência da
Escola Apostólica da Formação de Irmãos eram sobretudo as de natureza
agrícola: cultivo dos campos e da vinha e trabalho nas diferentes oficinas.
A média da frequência era de umas trinta pessoas, incluindo os três padres e os
Irmãos que trabalhavam na obra.
De notar ainda a grande devoção a S. José, a quem se confiavam todos os
problemas económicos que iam surgindo: a festa do Santo Protector e o mês que
lhe era consagrado são sempre registados com grande relevo no Diário da
Comunidade.
A Revista Missões de Angola e Congo
A 19 de Janeiro de 1921 era lançada na Quinta do Charqueiro uma revista
ilustrada de propaganda missionária com o título de “Missões de Angola e Congo”,
272
Adélio TORRES NEIVA
de que foi o primeiro director o P. Pinho. Destinava-se a suscitar interesse pela
causa missionária bastante esquecida e ignorada devido a vários acontecimentos.
Conseguiu-se um número considerável de endereços e mandou-se a revista com
uma proposta de assinatura. O resultado foi melhor do que se esperava.
Nesse mesmo intuito de promover o interesse pelas missões, restabeleceu-se a
antiga “Associação de Nossa Senhora de África” para promover orações e boas
obras pela conversão dos africanos. Esta Associação muito espalhada até 1910,
ainda vivia na lembrança de muitas pessoas. Por isso, foi fácil reanimar os centros
de associados com os seus zeladores e zeladoras.
Tanto a Revista como a Associação muito contribuíram para despertar
vocações e generosidades de que tanto se precisava.
273
Capítulo 30
O Colégio de S. Tomás na Rua Visconde Pindela
O
bedecendo aos desejos de Mons. Le Roy, Superior Geral da
Congregação, animado pelo decreto que nos começos de 1920 apareceu
a público e parecia favorecer as obras missionárias, o P. Pinho fundara
o Seminário das Missões. Para o instalar, algumas obras se fizeram na pobre casa
da propriedade alugada pela Congregação, na rua do Conselheiro Bento Miguel,
nº 18 e lá viveu o seminário até meados de Julho desse ano de 1920; com as férias,
os pequenos dispersaram-se pelas suas famílias. O ano vai-se concluir com 16
educandos.
Mas dificuldades em manter aqui essa obra não faltavam. O seminário de
Zamora não satisfazia as necessidades da nova Província que se queria relançar: a
casa só comportava 15 educandos e não se podia aumentar; as comunicações com
Portugal eram difíceis e a viagem de comboio era quase uma aventura. Impunhase, portanto, transferi-la para Portugal e juntar o pequeno grupo que lá estudara
ao que começara já a existir em Braga. Assim se decidiu. A Casa Mãe deu a sua
aprovação a 27 de Setembro de 1920.
Mas a casa da Rua Bento Miguel acabou por se tornar insuficiente para os
candidatos anunciados e o P. Pinho há já tempos que procurava uma solução para
este problema. Constou que o Colégio de S. Tomás de Aquino, situado em
Braga, na Rua Visconde Pindela, iria fechar no fim do ano lectivo 1919-1920. O
seu proprietário vivia no Porto. A ideia era prorrogar o arrendamento do colégio
pelo mesmo preço em que até aí estivera alugado. Os pátios não eram grandes
para recreio, mas eram recatados e remediavam e até tinham abrigos para a chuva.
Os dormitórios eram bons e arejados e as camas novas. A sala de estudo era
igualmente de boas condições, o mesmo já se não podendo dizer das salas de aula
e do refeitório. Mas como o primeiro ano era sempre o mais numeroso reservarse-lhe-ia para aulas a sala de estudo. E era ainda possível dispor de uma sala boa
e de fácil acesso para capela. O mobiliário, à excepção das camas, era ordinário e
velho, mas ainda poderia servir por algum tempo.
O P. Pinho não hesitou em desde logo começar a dar os passos para que a casa
nos fosse passada e que o mobiliário do colégio nos fosse vendido: poderia assim
a obra do Seminário das Missões ter uma casa que albergaria pelo menos 50 a 60
alunos e, sobretudo, poderia funcionar regularmente desde o começo do
próximo ano lectivo. Concluiu-se o contrato do aluguer do colégio bem como o
da compra do mobiliário do colégio ao seu antigo director P. Peixoto Braga. Foi
uma compra caríssima mas era uma necessidade inadiável e assim teve de ser
274
Adélio TORRES NEIVA
feito. De resto seria ainda uma solução provisória, à espera de melhor solução.
O P. Pinho dá-nos os pormenores deste contrato:
“Aproveitando uma certa acalmia, há um ano que trabalhamos para reorganizar
as nossas obras de recrutamento em Portugal.
Instalados numa velha quinta, onde o Irmão Francisco se gastou com a maior
dedicação a guardar o imóvel do Colégio em litígio em Haia, encontrámos um
abrigo numa pobre granja ligeiramente transformada.
Tolerados pelas autoridades civis e bem vistos pela população, precisávamos de
andar para a frente. Era preciso encontrar lugar para o núcleo vindo de Zamora,
assim como para mais de 20 novos que pediam para se juntar aos nossos 16
escolásticos do ano passado.
Pudemos felizmente alugar o edifício de um modesto colégio da cidade que ia
fechar e onde vamos alojar 45 rapazes.
A granja da rua Bento Miguel será daqui para a frente para alojar só os
postulantes irmãos. Que Deus abençoe os nossos humildes e penosos começos!
Mobiliário. Há entre o antigo director do Colégio de S. Tomás e eu um contrato
revestido de todas as formalidades legais.
Segundo este contrato, o mobiliário é-nos alugado por um período de 18 anos. E
se quisermos ao fim deste tempo, o director poderá ceder-nos o mobiliário por uma
soma fixada no contrato.
Além disso fica estipulado no mesmo contrato que a venda pode ser antecipada.
Depois o contrato do aluguer cessa no dia em que eu apresentar uma peça “recibo de
venda”, provando que depositei o preço da compra. Tenho esta peça, só falta datála, desde que terá lugar servir-se dela.
Pelo primeiro contrato procurou-se garantir contra a espoliação ou saldo legal, se
for esse o caso.
O Sr. Peixoto reclamaria o mobiliário que lhe pertencesse e não sendo senão
alugado. Desta maneira nós garantiremos que tinha sido comprado com o que nos
trará com o tempo.
Pelo segundo documento eu procurei garantir-me contra os herdeiros do Sr.
Peixoto que poderiam tomar o contrato de habitar num sentido que nós não
quereríamos.
Aqui está em duas palavras a maneira de fazer que nos pareceu mais vantajosa.
Mas ficou entendido que nos foi dada toda a facilidade para o pagamento.
Versei o terço (6 contos); o resto será versado quando tivermos facilidade para
isso, com a condição de pagar 5% de juros. Espero no entanto, abrandar esta
condição.
Isto a propósito do material.
Obras. A dificuldade é maior no que diz respeito ao fraccionamento da obra nela
mesma.
Seminário das missões, com 3 padres somente, um pouco ao abrigo do famoso
decreto de 2 de Janeiro de 1920? Seria muito perigoso.
Primeiro, mesmo reconhecendo aos religiosos o direito de viver três a três, a lei
não autoriza a ensinar, antes pelo contrário.
O Colégio de S. Tomás na Rua Visconde Pindela
275
Depois, o Secretário Geral do Ministério das Colónias quer retocar o decreto
de 2 de Janeiro e isto num sentido que nos será desfavorável.
Segundo o P. Antunes, ele é o homem mais mal disposto para connosco, pois
tem estado sempre lá desde 1910. É, portanto, necessário construir sobre um
terreno menos movediço. Sidónio Pais modificou a lei da separação num sentido
muito feliz. Suprimindo os mil detalhes arreliadores, reconheceu aos chefes das
diferentes confissões religiosas o direito de organizar, como lhes parecesse, as
casas para a formação de ministros do culto.
Os nossos seminários puderam ser reorganizados graças a esta modificação
feita à mais opressiva das leis.
Desde que o seminário de Braga foi transformado em caserna, o Sr. Arcebispo
viu-se na necessidade de abrir várias casas para alojar os seus seminaristas.
Porque não fazer passar a nossa nova casa como uma nova dependência do
seminário? O superior do Seminário Maior achou a ideia excelente e
imediatamente se ofereceu para nos cobrir com a sua sombra.
O Sr. Arcebispo encarregou em seguida o superior do Seminário menor de nos
considerar como uma sucursal da sua casa.
É um belo gesto da parte do Sr. Arcebispo. Ele não ignora, e eu já lho lembrei,
que, em caso de novos movimentos hostis, tudo recairá sobre ele e sobre o seu
seminário.
“É meu dever fazer por vós tudo o que estiver em meu poder. Não tendes nada
que me agradecer” - tal foi a resposta.
É provável que o Sr. Arcebispo nos peça, se tivermos lugar e se ele tiver falta
dele, para termos alguns alunos pensionistas do seminário menor.
Este ano, seremos talvez levados, a aceitar esta combinação para alguns
seminaristas. Desde o próximo ano teremos gente nossa para encher todo o
seminário.
A presença de alguns alunos do seminário ser-nos-á uma garantia, se bem que
para começar, incomode um pouco, mas é necessário.
As démarches do P. Antunes para obter a autorização oficial de ter um
seminário para as missões, chamou a atenção do Governo sobre nós. A
Comissão encarregada de vigiar sobre o cumprimento das leis de 1910 - 1911
indispôs-se.
Sabendo quem temos, já disse ao P. Antunes para se abster no futuro de
semelhantes démarches. Passar despercebido, nada pedir, seguir discretamente
para a frente, tudo como se se estivesse autorizado, é o que me parece preferível.
Em breve teremos cerca de 45 rapazes.
Que o bom Deus nos conceda poder viver e prosperar.
Braga 11 de Setembro de 1920. P. Pinho”.271
A entrada no colégio de S. Tomás fez-se a 7 de Setembro de 1920. O P. Pinho
tomou posse da casa neste dia, tendo esta sido entregue pelos P. João Peixoto e
271
AGCSSp B 485 – CH – V
276
Adélio TORRES NEIVA
P. Azevedo, que actualmente exercia o cargo de director do colégio. Decidiu-se
que já da parte de tarde entraria o novo pessoal, constituído pelo P. Clemente e
os Irmãos João Baptista, cozinheiro, e Antonino, refeitoreiro e organista. O P.
Azevedo, ex-director do colégio, jantou também nesse dia com a nova
comunidade.
O padroeiro da Casa é o Santíssimo Redentor.
No dia seguinte, a 8 de Setembro, festa da Natividade de Nossa Senhora,
celebrou-se a primeira missa na comunidade e desde então o Santíssimo
Sacramento aí ficou a morar.
A 9 de Setembro chegou da Covilhã o escolástico Álvaro Misseno, que viera de
França para a inspecção militar e ficara livre. Era um dos antigos de Zamora e
poderia agora colaborar nesta obra.
A 13 de Abril chega de férias o aspirante Delfim Tomás que foi o primeiro dos
alunos a habitar nesta casa.
A 17 de Setembro chegava o P. Miguel Fonseca que viria integrar a comunidade
desta casa. O P. Daniel Junqueira continuaria na Rua Bento Miguel, também
conhecida por Quinta de Cima, mas viria aqui dar aulas.
No dia 24 de Setembro celebrava-se na comunidade a primeira Bênção do
Santíssimo Sacramento. Entretanto as obras de adaptação iam prosseguindo e os
alunos iam chegando pouco a pouco de férias.
No dia 26 chega o P. Manuel Raposo, ficando o pessoal da nova comunidade
constituído pelos Padres Clemente, como director, Miguel Fonseca e Manuel
Raposo, professores, Sr. Misseno, como professor e prefeito e os Irmãos João
Baptista, como cozinheiro, Antonino, refeitoreiro, Augusto, roupeiro e porteiro
e Fortunato, enfermeiro e comissário.
O dia 27 de Setembro foi o dia da entrada oficial dos antigos alunos, embora
nem todos tenham comparecido. Eis os seus nomes como eram conhecidos,
Azevedo, Peixoto, Lima, Matias, Rocha, Pinto, Silva, Sá, Junqueira, Dias, Lopes,
Alves Moreira, Ramos. Com os que já haviam entrado, ficaram sendo 16. Depois
foram chegando, o Mateus, o Carrola, o Guilherme, o Terças, o João Correia da
Silva, o Atilano, o Mesquita, o Afonso, o António Vicente Soares, o Cândido Reis,
o José Afonso Torres, o José Maria Figueiredo, o António Sá Ruivo, o Francisco
Alves do Rego, o José Nunes Pinto, o Antero de Sousa e Silva e o Fernando
Moreira da Silva, o Gomes da Silva, o José Baptista, o Pompeu Sá Leão Seabra, o
Henrique Alves, o Angelino Oliveira Guimarães, o Joaquim Marques Pinto. Os
alunos ficaram assim a ser 35, mais 15 seminaristas diocesanos que a pedido do
Arcebispo de Braga, sendo admitidos ao seminário diocesano, não tinham
possibilidades de pagar a pensão nesse seminário. Mas estes estiveram aqui pouco
tempo.
A 20 de Outubro falecia o primeiro seminarista, o Manuel Martins Carrola,
vítima de uma febre tifóide.
Do espólio do Colégio do Espírito Santo quis-se salvar o quadro de Nossa
Senhora de África, que foi arrematado por um amigo por 162$00, que foi
colocado na sala de visitas e futura capela a 6 de Novembro.
O Colégio de S. Tomás na Rua Visconde Pindela
277
A 8 de Dezembro, sob a presidência de Mons. Keilling inaugurava-se a nova
capela, que ficou instalada na sala de visitas do colégio. No tempo do colégio, a
capela ficava nos baixos da casa num lugar muito escuro e pouco convidativo.
A 24 de Dezembro uma comissão de Antigos Alunos do Colégio do Espírito
Santo veio oferecer ao seminário uma estátua de Nossa Senhora que estava na
sala dos “Grandes” no colégio e que tinham comprado por 300$00. À missa
ajudou o Barão de S. Lázaro, sendo a imagem novamente benzida pelo P.
Clemente Pereira da Silva.
A 4 de Junho de 1921 chegavam a Braga as 17 malas que há dez meses haviam
sido despachadas de Zamora.
A festa do padroeiro da Casa, o Santíssimo Redentor, celebrar-se-á a partir de
hoje, a 15 de Julho. Este ano não foi ainda possível obter o indulto que permitisse
celebrar hoje tal solenidade.
O ano lectivo de 1921-1922 começou com 49 alunos. A 17 de Outubro o
Capitão Monteiro Pinto, antigo aluno do Colégio do Espírito Santo, começou a
dar aulas de química e de matemática no seminário. Os outros professores eram
o P. Luís Maciel dos Santos Portela, abade de Maximinos que dava aulas de latim,
e os Padres Clemente, Raposo e os Srs. Misseno e Serafim Teixeira. Da Quinta
de Cima vinham dar aulas o P. Correia e o P. Junqueira.
A 5 de Dezembro partiram para a nova casa de Godim-Régua os três primeiros
filósofos: José Rodrigues Araújo, Agostinho Vieira e Manuel Pestana. O P.
Adriano tinha já sido nomeado professor de filosofia para essa casa.
A 10 de Dezembro chega o P. Pintassilgo que vem substituir o Sr. Teixeira nas
aulas, pois este foi para Godim-Régua para fazer a filosofia.
A 2 de Fevereiro de 1922 teve lugar a primeira tomada de hábito, tendo sido
admitidos a esta investidura três alunos do quinto ano: Manuel Azevedo, Júlio
Mesquita e José Peixoto.
Em cumprimento de um piedoso propósito, se não voto, do P. Provincial que
ao princípio prometera ao Sagrado Coração de Jesus solenizar as primeiras
sextas-feiras do mês, começou-se agora a celebrar nessas primeiras sextas-feiras
uma Missa cantada solene, com homilia sobre a intenção mensal do Apostolado
da Oração e adoração do Santíssimo durante todo o dia.
A 27 de Abril celebrou no seminário a sua Missa Nova o P. Cândido Costa.
A 25 de Junho chegou o Irmão Lucas que foi integrado na comunidade.
A 6 de Setembro o P. Fonseca, nomeado procurador provincial, passou a
residir na Quinta de Cima. A 7 partia para Lisboa, como superior da residência
naquela cidade, o P. Alves Correia.
A 24 de Setembro o P. Clemente, acompanhado dos irmãos Marcelino e
Protásio foram a Viana do Castelo examinar o antigo convento das Ursulinas.
A 25 de Setembro chegou o P. António Nunes Costa, destinado a esta
comunidade.
A 2 de Outubro de 1922 chegava o primeiro aluno desse ano lectivo: o
Agostinho Lopes de Moura.
O P. Adriano, tendo deixado a Régua, veio para S. Tomás como professor.
278
Adélio TORRES NEIVA
Nesse ano lectivo, os alunos eram 62: 9 no quarto ano, 12 no terceiro, 13 no
segundo e 28 no primeiro. Os professores eram: PP. Clemente, Nunes e
Adriano. Da Quinta de Cima vinham dar aulas os Padres Cândido Costa e
Fonseca; e externos eram o Capitão Monteiro, o P. Galvão, do seminário, e o Sr.
Mesquita.
A 10 de Janeiro de 1923, em virtude de uma promessa feita a S. José de cantar
durante sete quartas-feiras seguidas uma missa em louvor do Santo Protector da
Congregação, começou-se a celebrar essa missa.
A 5 de Outubro de 1922, os alunos do primeiro ano
foram para Viana do Castelo, ficando em Braga 41
pertencentes aos outros anos. O professorado ficou
constituído pelo director P. Clemente, P. Agostinho, P.
Isalino, P. Cosme, P. Santos Portela, abade de
Maximinos, P. Cândido, director da Comunidade dos
Irmãos da Quinta de Cima, e Capitão Monteiro. Os
Irmãos em serviço eram os Irmãos Antero, Fortunato,
Lourenço e Lucas.
Em Novembro, o Dr. Louro inicia as suas conferências
Ir. Marcelino
médicas no seminário.
A 13 de Janeiro de 1924 o P. Agostinho é colocado na Rua Bento Miguel e o
P. Fonseca vem substituí-lo em S. Tomás.
A 15 de Julho de 1924 a Festa do Santíssimo Redentor foi já celebrada com o
ofício e missa própria, conforme indulto que foi concedido à Congregação.
No dia 14 de Novembro de 1924 é inaugurado, em
Braga, o Seminário Diocesano da Senhora da Conceição
ou da Tamanca, na rua de S. Domingos.
No ano lectivo de 1925-26 o P. Clemente, que vai para
a América é substituído no cargo de superior pelo P.
Daniel Junqueira. O P. Clemente regressará da América
em Maio de 1927. Os professores eram praticamente os
mesmos e os alunos somavam 48 ao todo.
Em 19 de Fevereiro de 1927 os Padres Provincial,
Superior e Arnaldo Baptista vão a Guimarães ver a
Ir. Protásio
possibilidade de instalarmos um Seminário na Quinta da
Costa, mas o resultado desta visita foi nulo.
A 2 de Maio de 1927 o Diário da Comunidade dá a notícia da compra da
Quinta no Fraião, graças a S. José: a Quinta de Valbom. A Quinta começará a
ser da Congregação a partir de 10 de Maio.
No ano escolar de 1927-1928 os padres presentes eram: P. Junqueira, superior,
P. Fonseca, ecónomo, P. Nunes, P. Cosme, Sr. Lima e Sr. Peixoto.
No dia 5 de Dezembro de 1927 o P. Miguel Fonseca deixava a comunidade para
ir para o Fraião.
A 10 de Janeiro de 1928 morre o Ir. Alípio.
Em Outubro de 1928, o corpo docente era formado pelo P. Miguel Teles como
O Colégio de S. Tomás na Rua Visconde Pindela
279
director e pelos professores P. António Nunes, P. Cosme, Capitão Monteiro, Sr.
Lima. Os escolásticos eram 69, sendo 13 do quinto ano, 24 do quarto, 32 do
terceiro.
A 26 de Julho de 1929, festa de Santa Ana, celebrou-se na comunidade a última
missa, bem como o último almoço. Da parte de tarde, os alunos do quinto ano
retiraram para o Fraião, onde já funcionava a comunidade dos Irmãos. Em S.
Tomás ficaram apenas os padres Fonseca e Cosme, os irmãos Antero e Abílio e
um empregado, todos por conveniência de serviço. A 31, os outros seminaristas
abandonavam também a casa. O P. Cosme retirou definitivamente para o Fraião.
A 2 de Agosto de 1929 celebrava-se a primeira missa no oratório provisório do
Escolasticado, no Fraião.
A 7 de Setembro de 1929 era benzida pelo P. Nunes Costa a nova capela do
Escolasticado e levava-se para lá o Santíssimo Sacramento. A capela seria
inaugurada no dia seguinte, 8 de Setembro, festa da Natividade de Nossa Senhora.
* * *
Durante o período da existência do Colégio de S. Tomás, as relações entre a
Comunidade dos Irmãos da Quinta do Charqueiro ou Quinta de Cima e o
seminário do Colégio de S. Tomás foram muito frequentes, participando muitas
vezes, sobretudo nas festas, em comemorações comuns.
De notar ainda a permanente devoção a S. José bem como ao Sagrado Coração
de Jesus e de Maria. Os exercícios de culto a estas devoções eram muito
frequentes.
O Diário da Comunidade sublinha ainda a presença constante de alguns
benfeitores, em geral, antigos alunos do Colégio do
Espírito Santo: o Sr. D. José de Lencastre que visitava o
seminário muito frequentemente aí colocou o seu filho
António, o Dr. Jerónimo Louro que assistia os doentes
e fazia conferências de higiene, o Capitão Monteiro
Pinto que assumiu a responsabilidade das aulas de
Matemática e Ciências Químicas, a Sr.ª D.ª Delfina
Valença e o Sr. António Valença, grandes beneméritos
da obra, além de vários sacerdotes nossos amigos.
No princípio de cada ano lectivo ia-se sempre ao
Capitão Monteiro Pinto
Sameiro consagrar o ano a Nossa Senhora. A vida
espiritual com todos os exercícios da espiritualidade da época era uma das escolas
de formação mais insistentes na pedagogia do seminário.
Merece também uma referência a situação económica e financeira da obra.
Confessa D. Moisés que, então, se vivia modestamente, mas nunca faltou o
necessário. “Amigos dedicados lembravam-se de nós e recomendavam-nos a quem
nos pudesse ajudar também. A revista “Missões de Angola e Congo” começou a
propagar a ideia da criação de Bolsas de Estudo. Confiamos os problemas materiais
ao Glorioso Chefe da Família de Nazaré. E nunca nos faltou com a sua assistência.
Ajudava-nos e fazia render o pouco que se podia obter, por várias formas de que só
280
Adélio TORRES NEIVA
Ele tinha o segredo. Também se recorria continuamente ao Menino Jesus de Praga.
Esta devoção teve dois centros importantes nos últimos anos da Monarquia: um na
Procuradoria das Missões, em Lisboa e outro no Seminário da Formiga, em
Ermesinde.
Um antigo missionário de Cabinda (o P. Monte), natural dos Açores, veio à
Europa retemperar a saúde e foi à América do Norte em visita a parentes próximos.
Lá o retiveram para pregações nos aglomerados de açoreanos. Com o seu trabalho e
propaganda, ajudou-nos de modo apreciável.
Outro missionário, o P. Alves Correia, colaborador da primeira hora e com a
saúde bastante abalada, achava meio de se refazer e ajudar nas aulas, ao mesmo
tempo que lançava subscrições entre as principais empresas do norte, mediante
conferências e artigos na imprensa.
O bom Padre Antunes, também não ficava inactivo na capital. Muito conhecido
e considerado, solicitava a generosidade de empresas e de particulares. A recepção de
víveres foi-nos permitindo melhorar e dar mais variedade ao regime alimentar dos
nossos alunos.
A ideia das Bolsas de Estudo e da adopção de um aspirante à vida missionária,
custeando-lhe as despesas da formação, foi abrindo caminho e ganhando vulto.
Alguns dos nossos benfeitores, não podendo dar muito, eram dos que davam mais
pela propaganda junto das pessoas com meios. Assim, o problema da subsistência,
conservando embora a sua importância e demandando sempre trabalho, não era o
que mais nos preocupava”.272
Circular do P. Pinho aos Missionários de Angola
Terminamos este capítulo com uma circular que o P. Pinho enviou a todos os
missionários espiritanos, pouco depois da abertura do Colégio de S. Tomás:
“ Circular a todos os Missionários das Colónias Portuguesas.
Braga, 01 de Maio de 1921.
Possuímos duas obras: um escolasticado com 35 aspirantes – 1º e 2º anos, um
rudimento de escola profissional missionária com 10 aprendizes de diferentes
mesteres.
Temos a Procuradoria de Lisboa e uma residência na Beira, no Fundão.
Falta pessoal. Precisamos de três padres só para trabalho de Propaganda e de
angariamento de subsistência para nós e para os estudantes.
O pessoal escasseia. Os Pes. Clemente, Fonseca e Raposo estão no seminário.
Aqui, na Quinta de Bento Miguel, o P. Correia com a revista e propaganda, o P.
Junqueira com os candidatos a missionários auxiliares, as contas, e aulas no
escolasticado. Eu só posso dar uma mão, quando não estou ausente e não me tomam
os interesses de ordem geral.
Fazem-nos falta os padres que estão fora da comunidade.
Dos escolásticos, no estrangeiro de 1912 a 1917, faleceram 10, vitimados pela
272
PINHO, D. Moisés Alves de oc. p. 146-150
O Colégio de S. Tomás na Rua Visconde Pindela
281
tuberculose. Ao chegar a França tinham boa nota de saúde. Devido a isso, a
Província vê-se obrigada à organização imediata dos estudos de Filosofia e Teologia
dentro do torrão pátrio.
Além de obreiros para o trabalho apostólico temos que dispender-nos a angariar
recursos que nos faltam. Será adiantar a hora do envio de missionários o
coadjuvarmos na obtenção de uma atmosfera económica desafogada.
Alguns superiores de missão puderam já ajudar-nos com um subsídio.
Todos os missionários poderiam ajudar-nos fornecendo material para a revista,
fotografias, curiosidades das missões, riquezas materiais, costumes, possibilidades de
colonização das diferentes regiões, qualquer bugiganga.
Não podemos deixar de bradar bem alto a todos os nossos missionários de Angola
e Congo: ajudem-nos, por amor de Deus, a tornarmo-nos conhecidos e apreciados
pelas obras das Missões; será condição da possibilidade da nossa existência aqui na
metrópole.
A nossa existência não será tolerada como um facto, se não nos impusermos por
respeito de elementos positivos palpáveis aos arruaceiros da Política que os governos
menos sectários têm que acatar.
O P. Antunes tem feito sacrifícios para acudir aos embates desses sectores
vigilantes, para os quais a perda das colónias parece de pouca monta em comparação
com os princípios salvos.
A sua actividade tem incontestavelmente por efeito impedir medidas hostis e
fatais; mais ainda, criou uma atmosfera de simpatia e interesse para com as missões.
Deus sabe o que desde há muito nos teria sucedido se, sempre de atalaia, ele não
fosse desfazendo numerosos preconceitos joeirados que o “homem inimigo” não
perde ensejo de manter contra nós.
Nos Bancos tem-nos ajudado a desanuviar-nos por algum tempo o horizonte
económico e financeiro e a cobrir-nos do prestígio daquelas colectividades
respeitáveis.
A sua influência no regulamento de Janeiro de 1920, conseguiu que lá se
introduzisse não tudo o que era desejável, mas tudo o que foi sofrível para nós, e
pudesse ser tragado por este ambiente político mal disposto e doente; exige meses e
meses de trabalho aturado e constante, que as frequentes mudanças de governo
obrigavam a começar continuamente de novo”.273
276
AGCSSp. B 461 D-A
283
Capítulo 31
O Seminário de Godim - Régua
N
o ano de 1921, a Obra dos Irmãos Auxiliares funcionava modestamente
na Quinta do Charqueiro em Braga, o seminário de preparatórios estava
sediado no antigo colégio de S. Tomás e assim a restauração da
Província ia abrindo caminho. Mas tratava-se de casas arrendadas e portanto sem
possibilidade de se desenvolverem. Pelo contrário, em Viana do Castelo, a casa
em vias de ser concluída pertencia à Congregação e com as condições requeridas
para o fim a que se destinava. A grande preocupação era, pois, encontrar solução
para o desenvolvimento da promoção vocacional e das casas de formação para os
aspirantes menores.
Pensava-se que uma propriedade agrícola, com oficinas e escola profissional,
poderia fazer reviver a antiga Escola Colonial de Sintra para fornecer bons
auxiliares à Obra da Evangelização. A experiência mostrava a importância da
preciosa colaboração dos Irmãos na construção e adaptação das obras em curso.
Sem eles, tudo seria mais difícil para não dizer impossível. Tornava-se portanto
urgente conseguir uma propriedade em boas condições para a formação de
Irmãos Auxiliares. Para evitar a absorção de muito pessoal, pretendia-se um local
onde se pudesse instalar também um seminário menor amplo e bem apropriado.
Ao P. Moisés Alves de Pinho agradava a ideia de ficar em Braga ou nos
arredores. À cidade, de facto, prendia-nos o apreço e a amizade dos antigos
alunos do Colégio do Espírito Santo, que continuavam a ser um ponto de
referência para o apoio de que tanto precisávamos.
Embora pensando em Braga, era preciso começar a tentar por onde houvesse
mais possibilidades. E foi assim que se começou por Godim. Havia, de facto, um
motivo especial para se pensar em Godim. Alguns anos antes, em 1920, numa das
suas viagens de regresso de Paris, o P. Pinho, depois de passar por Zamora para
decidir a extinção da obra que ali existia, no final do ano lectivo, deteve-se na
Régua e procurou a direcção da Quinta do Casal, na freguesia de Godim.
Desejava encontrar-se com D. José de Lencastre, antigo aluno do Colégio do
Espírito Santo, que sempre ficara muito dedicado aos seus antigos mestres da
Congregação. Natural de Santa Marta de Penaguião, tinha casado com uma
senhora da Casa da Torre em Paços de Ferreira e ia à sua Quinta do Casal com
frequência, por vezes com demora.
O P. Pinho dirigiu-se então a Godim e entrou na igreja. Celebrava-se a missa
e o ajudante era precisamente D. José de Lencastre. Como se aproximava a festa
do Corpo de Deus, o abade, já alquebrado, pediu ao P. Pinho que ficasse para o
284
Adélio TORRES NEIVA
ajudar na preparação dessa solenidade. O P. Pinho anuiu e pregou o tríduo
preparatório para a festa. Este encontro com D. José marcou muito o P. Pinho
que dali partiu com o pressentimento de que haveria de voltar a Godim. Este
pressentimento nunca o abandonou e mais se radicou com a estada passageira de
alguns alunos de Filosofia, na pequena casa do Salgueiral e com o acolhimento
dispensado aos primeiros sacerdotes que ali permaneceram algum tempo.277
Ensaio de um Escolasticado maior em Portugal
A 1 de Maio de 1921, o P. Pinho escreveu para a Casa Mãe um documento que
intitulou “Ensaio de um Grande Escolasticado”, em que expõe os motivos que
tornavam necessária a criação de um Seminário maior em Portugal. Diz ele:
“O tempo e a experiência fizeram-me reforçar as razões que em 1905 deram lugar
às nossas Obras, criadas primeiro em Sintra e depois em Carnide.
Já nesse tempo se faziam sentir as sérias inconveniências que havia em enviar os
aspirantes para a França, após os seus estudos de Humanidades.
Um simples olhar retrospectivo, dá-nos fortes razões a respeito do futuro.
Com efeito, só entre 1913 e 1919, a Província perdeu a maior parte dos seus
melhores aspirantes, quando chegavam ou estavam prestes a chegar ao termo da sua
formação. Dois, o Manuel Proença e o Marques, morreram em Gentinnes; três,
António Marques, Oliveira e Dourado, em Montana; três, António Moutinho,
Lopes e José Oliveira, em Langonnet; dois, Manuel Andrade e Manuel Lopes,
vieram morrer a Portugal.
De notar que estes dez escolásticos morreram todos tuberculosos e quase todos, se
não todos, tinham boa saúde quando foram para a França e mesmo durante os
primeiros tempos que aí passaram, tanto quanto se pode constatar pelos seus
“dossiers” e pelos relatórios trimestrais.
Dez em sete anos! Um verdadeiro desastre que não deixou de causar má impressão
de modo a fazer paralisar o nosso recrutamento em certos meios.
Os pais diziam, por vezes com lágrimas nos olhos - o nosso filho era robusto,
nunca esteve doente e se tivesse continuado os estudos em Portugal, poderia hoje ser
padre.
Depois da guerra, novas dificuldades vieram, que tornaram difícil o envio dos
aspirantes para a França, como: o preço muito elevado das viagens, os passaportes,
os depósitos de dinheiro como caução para todos aqueles que não tinham sido isentos
de todo o serviço militar, etc.
Soluções:
1- Uma formação em território espanhol, para os lados de Tui, perto da fronteira.
Para já, aí estava-se em segurança e em caso de nova dispersão, ter-se-ia um
refúgio, as dificuldades da fronteira poder-se-iam evitar por vários meios. Por outro
lado, o clima era sensivelmente o mesmo do norte de Portugal.
Não se pode, no entanto, dissimular que o país vizinho é seriamente trabalhado
277
PINHO, D. Moisés Memórias. p. 150-151
O Seminário de Godim - Régua
285
por elementos subversivos.
No entanto, as dificuldades provenientes da fronteira subsistiriam sempre em
grande parte, pelo menos, e agravar-se-iam quando, por períodos, conviesse ao
Governo fazer crer numa eminente invasão de emigrados políticos.
Enfim, no que se refere a encargos, a vida é consideravelmente mais cara em
Espanha que em Portugal – mais do dobro, quase o triplo.
2. Organizarmo-nos no próprio país.
Desde há alguns anos que há uma forte corrente de simpatia em favor das missões.
Porque não aproveitar disso?
Mesmo tendo em conta os procedimentos adversos, está assente que, seja qual for
a obra de formação, não é considerada como contrária às leis vigentes, se respeitar
as seguintes condições:
1.ª Que não ocupe mais de três professos;
2.ª Que se ocupe unicamente de formação de missionários para as colónias.
Há razões para esperar que nas condições que acabo de apontar, uma escola de
Filosofia e de Teologia (ascética, dogmática, etc.) não apresentaria mais dificuldades
que as já existentes.
O indulto recentemente adquirido pelo Rev. Padre, facilitaria ainda mais as
coisas.
Uma obra no próprio país atrairia sempre muitas mais vocações e recursos e teria
toda a espécie de vantagens. É ela viável com as leis vigentes?
Parece-me poder responder afirmativamente.
Em todo o caso, haveria esta sensível vantagem de se fazer um ensaio com os
primeiros dos nossos aspirantes que terminam os seus estudos secundários, numa
simples residência, por exemplo, na Covilhã ou por ali perto. Mais tarde, com uma
outra residência ao lado, hospedando três padres sem quase outras ocupações, ter-seiam professos suficientes. Poder-se-ia também ter casas distintas para a Filosofia e a
Teologia.
Em suma, a melhor solução não seria preparar as coisas em ordem a organizar na
diocese da Guarda os estudos superiores, pouco mais ou menos como se
organizavam os estudos secundários em Braga?
3. Unirmo-nos a um Seminário Maior.
Esta solução foi também considerada. Vistas as circunstâncias, não me parece
possível pô-la em prática. De resto, mesmo na melhor das hipóteses, nada é como
estar em sua casa.
Conclusão.
Um seminarista da Madeira, chegado ao termo dos estudos secundários e sobre o
qual nos dão muito boas informações, pede insistentemente para ser missionário
entre nós.
Graças a um amigo dos mais dedicados, Manuel Araújo, foi colocado em férias,
permitindo-lhe ganhar o ano escolar.
Uma vez que nós não temos aqui Filosofia e não nos julgamos obrigados a recusar
o primeiro candidato e não seria sem receio que o enviaria para o sul da França
durante 7 anos, penso ser preferível fazer um ensaio aqui. Depois o tempo e a
286
Adélio TORRES NEIVA
experiência nos dirão o caminho a seguir.
Braga, 1 de Maio de 1921. P. M.Pinho”.275
Felizmente que surgiu uma oportunidade para fazer essa experiência no
Salgueiral, em Godim.
A casa das vitórias
Foi D. Antónia Adelaide Ferreira, esposa do Conselheiro Wenceslau de Lima,
senhora de muitas virtudes e de grande simpatia e cordialidade, que a pedido de D.
José de Lencastre, conseguiu uma casa para residência dos quatro alunos de Filosofia
que terminavam o ciclo preparatório em Braga e dois padres que os acompanhariam.
A casa conseguida foi a “Casa das Vitórias”, situada no Pilar - Salgueiral, um lugar
da freguesia de Godim. Era uma casa térrea, não grande, mas que tinha capela, sala
de aulas, quartos para padres e irmãos, refeitório, cozinha e camarata para os quatro
escolásticos. À entrada havia um jardim e ao lado, uma vinha.
Os padres que foram enviados para ali em 1921, foram os PP. António Ribeiro
Teles e Giocondo Adriani, que seriam os professores; os alunos eram: Serafim
Teixeira, José Neiva Araújo, Agostinho Vieira e o Pestana, (estes dois
madeirenses), bem como os Irmãos Augusto e Paulo.
O P. António Teles ajudava o pároco e era capelão da D. Antónia Ferreira,
sogra do Conde de Beaumont. A Régua quando soube que vinham os “Jesuítas”
com um colégio, estremeceu, mas ao saber que eram missionários e só
missionários, tudo ficou mais calmo276. Durante o primeiro ano, antes da
inauguração, o P. Teles ficou hospedado na casa de D. José de Lencastre.
Entre os amigos da primeira hora há que destacar D. Antónia Ferreirinha, D.
José de Lencastre, Senhoras Reto e outros.
Ali começaram o curso de filosofia os primeiros quatro escolásticos maiores da
Província Portuguesa restaurada.
A inauguração foi a 2 de Novembro de 1921 pelo P. Moisés Pinho, com missa
celebrada na capela da casa.
Com o aumento dos alunos era evidente que a “Casa das Vitórias” não era a
solução de que se necessitava. A solução apareceria com a compra do convento
das Ursulinas em Viana do Castelo e a construção de um seminário nesse local.
Assim, em Novembro de 1922, os estudantes de Filosofia do Salgueiral,
retirariam para Viana do Castelo.
Mas a “Casa das Vitórias” não fechou; até para dar uma satisfação à delicadeza
de D. José de Lencastre e da D. Antónia; passou a ser uma base para a animação
vocacional. A partir daí, os Espiritanos desenvolveriam a sua animação
vocacional, sobretudo no Seminário de Lamego, onde o P. António Ribeiro
Teles continuava como director espiritual muito apreciado.
A “Casa das Vitórias” ainda resistiu alguns anos; dela, já só resta o velho
275
276
AGCSSp. B 461. CH . VIII
PINHO. Oc.
O Seminário de Godim - Régua
287
“portão de ferro”.
A Fundação do Seminário de Godim
A acção pastoral dos padres da “Casa das Vitórias” era muito apreciada e
desejada, tanto mais que nem a idade nem a saúde permitiam ao pároco a
assistência necessária que uma freguesia populosa e extensa como Godim exigia.
Uma obra de formação naquele local aparecia como garantia da continuação e da
assistência a que já se estava habituado.
Mas era evidente, que a querermos estabelecer-nos definitivamente em Godim,
a “Casa das Vitórias” não servia para albergar uma obra de grande respiro.
Forçoso era, portanto, procurar outra solução.
A solução apareceu, quando não se via casa apropriada nem lugar para a
construir. O P. Alberto Teixeira de Carvalho era pároco de Godim desde 1883.
A freguesia não tinha residência paroquial e o abade vivia numa casa que mandara
construir no seu quintal, com ligação para o adro da igreja. O desejo de
salvaguardar o futuro, levou-o a vender tudo por morte, a pessoa da sua inteira
confiança (D. José de Lencastre), de modo a que se respeitasse o destino
desejado: a garantia de quem lhe viesse a suceder como pároco.
Acordaram os proprietários presente e futuro em que um Seminário das
Missões se construísse no quintal da residência paroquial, sobre o Vale de
Jugueiros.
Assim, em Julho de 1924 era benzida a primeira pedra do seminário por D. João
Evangelista de Lima Vidal, bispo de Vila Real, diocese criada dois anos antes.
As obras iniciaram-se logo a seguir, tendo a pedra descido do monte de S.
Domingos, situado em Fontelo de
Armamar.
O lugar apropriado para a
construção
oferecia
certas
dificuldades: era em declive e não
garantia a fixidez desejável, tanto
mais que se pensava num edifício
alto; mas a casa lá se construiu com
as garantias necessárias.
A construção levou três anos a
concluir. Grandes beneméritos
Godim - Régua - Seminário
dessa construção foram a D.
Antónia e o D. José de Lencastre. Dirigiu as obras o P. Ribeiro Teles como
superior e superintenderam na construção o Ir. Marcelino (Sr. Martins) autor
do projecto e o Ir. Protásio (Sr. Ferreira), que por sua vez dirigiu os trabalhos
de carpintaria.
No rés-do-chão ficaram a capela e o refeitório; no primeiro andar duas salas
de aula, separadas entre si pela escadaria central, quarto do director e vestiário;
no mesmo plano, a dispensa, o quarto do cozinheiro, a copa, o refeitório dos
288
Adélio TORRES NEIVA
Irmãos e a cozinha; no segundo andar, a biblioteca e os quartos dos professores;
no terceiro andar os dormitórios dos alunos.
No dia 11 de Outubro de 1927 chegava a Godim o P. Pinho com 30 ou 40
alunos para inaugurar o seminário. A inauguração foi feita no dia seguinte, 12 de
Outubro de 1927, com uma Eucaristia presidida pelo P. Pinho, acolitado pelos
PP. Agostinho Pintassilgo e Isalino Gomes, respectivamente director e
subdirector do novo seminário. Ao longo do dia foram chegando os restantes
seminaristas. O P. Alberto Teixeira de Carvalho, falecido a 22 de Março desse
ano, já não pôde assistir à inauguração. A sua memória faz parte da história deste
seminário.
Aqui ficaram instalados os dois primeiros anos de formação inicial: ao todo 78
alunos: 44 no primeiro ano e 34 no segundo.
Como pároco ficava o P. Ribeiro Teles, que era também professor, além dos
PP. Cândido Ferreira da Costa, Isalino Gomes e Agostinho Pintassilgo. Como
colaboradores foram ali colocados os Irmãos Serafim, que permaneceria longos
anos neste seminário, e Gerardo, como cozinheiros; Boaventura, refeitoreiro,
Protásio, carpinteiro e o postulante Francisco, como ajudante.
Mas logo no ano seguinte, Outubro de 1928, era empossada uma nova
direcção: P. Agostinho Pintassilgo, superior e pároco; P. Daniel Junqueira,
director dos seminaristas e director espiritual do seminário de Lamego; P.
Isalino, professor e coadjutor do pároco. Ficavam também a fazer parte da
comunidade os Irmãos João de Deus, Clemente, Casimiro e Gomes, escolástico
maior.
A 16 de Outubro de 1928, depois de ter trabalhado em Godim durante dez
anos, onde era estimado por toda a gente, o P. Ribeiro Teles foi ocupar o lugar
de superior e director na nova casa do Fraião que acabava de abrir.
Ao longo dos anos
Durante o percurso da sua história, o seminário sofreu algumas modificações,
mas que não alteraram o seu traçado original. E viveu alguns momentos mais
marcantes.
Em 1929 é inaugurado o novo refeitório que se estava a construir.
Em 1932-1933, os alunos do segundo ano eram 36 e os do primeiro 39. No ano
seguinte, 1933-1934, o número dos alunos tinha passado para 27 no segundo ano
e 73 no primeiro; número que continuou a subir no ano imediato: 29 no segundo
ano e 84 no primeiro.
Por determinação provincial, a festa do Patrocínio de S. José, padroeiro de
Godim e do seminário, em vista das graças que S. José tinha concedido à
Província, passou a ser celebrada com toda a solenidade.
Em 1934 chegou o Irmão Marcelino Martins a fim de orientar as obras de
ampliação do seminário; já neste ano se tinham realizado obras importantes com
novas divisões na cave, para obviar à falta de espaço.
Em 1936 construíram-se na cave duas grandes salas para arrumos, rouparia e
O Seminário de Godim - Régua
289
enfermaria e aumentaram-se os dormitórios de modo à casa ficar com capacidade
para albergar cem alunos.
A 23 de Janeiro de 1938 foi inaugurado o Patronato de Godim pelo Sr. Bispo
de Vila Real.
Em 1940 –1941 continuariam aqui o segundo e terceiro anos de preparatórios;
ao todo 96 alunos. Em Outubro de 1941 o seminário ficou reservado aos alunos
do primeiro ano, deixando as casas de Viana do Castelo e da Guarda de receber
alunos dos primeiros anos. Os outros anos de preparatórios e a Filosofia
passaram para o Fraião e a Teologia para Viana do Castelo.
No dia 8 de Dezembro de 1940 foi inaugurado o cruzeiro da Independência
no adro da igreja.
Em 1942 construiu-se o barracão para o recreio dos alunos em tempo de
chuva, mais uma vez sob a orientação do Ir. Marcelino.
Em 1944 chega o P. Joaquim Correia Castro para substituir o P. Cândido
Ferreira da Costa na paróquia. O P. Cândido passou aqui seis anos como
superior e pároco e três como director do escolasticado. O P. Castro partirá em
1946 para mestre de noviços dos Irmãos. Regressará como superior em 1952.
A 15 de Dezembro de 1950 faleceu o Irmão Serafim, um dos irmãos da
primeira hora deste seminário e que deixou uma recordação indelével em todos
os seminaristas que o conheceram, sobretudo como refeitoreiro.
Em Outubro de 1963, os alunos eram 107: 63 no primeiro ano e 44 no
segundo.
Em 1968, a casa sofreu grandes remodelações: foi inaugurado um novo pavilhão
de aulas, no sentido norte-sul e deu-se aos antigos espaços das aulas uma nova
funcionalidade. No primeiro piso do antigo edifício, construiu-se uma capela que
foi benzida em 1969. A nova capela foi inaugurada a 8 de Janeiro de 1969.
Em 1982, notava-se já a quebra no número dos alunos: 56, sendo 29 do
primeiro ano e 27 do segundo. Em 1985 o seminário foi frequentado só pelos
alunos do segundo ano: 19.
A 3 de Março de 1986 faleceu com 86 anos de idade o P. Joaquim Correia de
Castro, que aqui foi superior e 16 anos pároco.
Em 1989 fizeram-se grandes obras de restauro da casa, tendo durante o ano
seguinte, os alunos feito o sétimo ano no Fraião. Regressaram a Godim,
concluídas as obras, um ano depois.
Em 1990, um incêndio devorou a parte superior da residência paroquial. Três
anos depois, em 1993, tendo surgido dúvidas sobre direitos de propriedade da
dita residência paroquial, a paróquia e a Congregação, depois de demorado e
aceso diálogo, chegaram a um acordo em que a propriedade da residência
paroquial era reconhecida à Congregação e esta cedia à paróquia uma faixa de
terreno (130 m2) que possuía a sudeste do seminário, em ordem à construção de
uma nova residência paroquial.
O acordo ficou expresso nas seguintes cláusulas:
“1.a A Paróquia de S. José de Godim-Régua reconhece que a Província Portuguesa
da Congregação do Espírito Santo é a única legítima proprietária do edifício onde
290
Adélio TORRES NEIVA
se encontra a chamada “Residência Paroquial” e do terreno que lhe serve de
logradouro, comprometendo-se consequentemente a não mais invocar quaisquer
pretensos direitos de qualquer natureza que tenham por objecto os mencionados
prédio e terreno.
2ª. Por sua vez, a Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo cede à
Paroquia de S. José de Godim-Régua, uma faixa de terreno (130 m2) que possui a
sudeste do seminário, contígua à outra já pertença da referida paróquia, faixa essa
que será delimitada a norte, por uma linha recta que, partindo da ala norte do adro
paroquial, se prolonga por uma extensão de 14m.
3ª. Além disso, para arranque da construção das obras da nova residência
paroquial, a mesma Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo
contribui com a quantia de dois milhões de escudos (2.000.000$00) a entregar no
acto da assinatura do presente acordo.
O presente acórdão foi lido e aceite pelas duas partes e assinado pelos seus legítimos
representantes para valer como documento de propriedade futura.
Godim, 08.06.93
P. José de Castro Oliveira (Provincial)
P. José Pinto de Carvalho (Pároco de S. José de Godim)
Três membros da Comissão Fabriqueira”.277
Em 1996, tendo em conta a pouca frequência de alunos, o sétimo ano era
transferido para o Fraião, ficando o seminário de Godim limitado à assistência
paroquial e animação missionária. Pensou-se então em pôr parte do seminário à
disposição dos Serviços da Associação “Olimpicus” em favor dos jovens em
situação de risco da região da Régua, mas o projecto não foi activado.
Finalmente, a 27 de Junho de 2003, a Congregação arrendou, por um período
de dez anos, à Associação da Região do Douro para Apoio a Deficientes
(ARDAD) uma fracção do seminário, constituída pelo bloco norte-sul
(perpendicular ao caminho público), espaços de prática desportiva, construções
anexas aos mesmos, cozinha e cantina. Para a pequena comunidade espiritana a
ARDAD comprometia-se a construir no rés-do-chão uma sala de jantar, cozinha
e uma sala de visitas e um quarto para a empregada.
Regra geral, o seminário esteve sempre ao serviço dos primeiros anos de
formação inicial, mas ao longo dos tempos sofreu algumas variações conforme o
organigrama dos estudos da Província o exigia.
O seminário começou por albergar o primeiro e segundo anos de preparatórios
no ano lectivo de 1935-1936 mas em 1939 admitiu também o terceiro.
Em 1940 ficou apenas com o segundo e terceiro anos. Nos anos seguintes
(1946-1956), por sua vez, em Godim funcionaria apenas o primeiro ano.
Em 1956 frequentam o seminário o primeiro e segundo anos, mas em 1985 já
só está o segundo.
Depois de 1986 o seminário ficou limitado ao 7º ano (nova classificação), com
um número de alunos, cada vez mais reduzido.
277
APPCSSp.
O Seminário de Godim - Régua
291
A média dos alunos foi de algumas dezenas, chegando a 107 em 1963 e a 135
em 1936; a média mínima verificar-se-ia a seguir aos anos oitenta, na grande crise
que então atingiu todas as vocações.
Ao longo destes 35 anos, por ali passaram dezenas de espiritanos, que
marcaram indelevelmente gerações sucessivas de jovens e adolescentes.
Destacamos, como superiores da comunidade: P. António Ribeiro Teles (19271928), P. Daniel Junqueira (1928-1938), P. Cândido Ferreira da Costa (19381944), P. José da Fonseca Lopes (1944-1948); P. António Alves de Oliveira
(1948-1953); P. Joaquim Correia de Castro (1953-1962); P. João Pinto da Silva
(1962-1965); P. Manuel dos Santos Neves (1965-1971); P. Adélio da Cunha
Fonte (1971-1975); P. Manuel Ferreira da Silva (1975-1979); P. Agostinho
Brígido (1979-1985); P. Mário Pires (1985-1987); P. António Alves de Oliveira
(1987-1990); P. José Pinto de Carvalho (1990-1994); P. Manuel João Magalhães
Fernandes (1994-1996); P. Ricardo Meira (1996-2000); P. Francisco Fernandes
Correia (2000-2003).
Como directores dos escolásticos registamos: P. António Ribeiro Teles (19271928); P. Nunes Costa (1928-1931); P. Terças (1931-1938); P. Mário Silva
(1928-1938); P. Fernando Moreira (1938-1941); P. José da Fonseca Lopes
(1941-1948); P. António Alves de Oliveira (1948-1956); P. Henrique Sá Couto
(1956-1957); P. Manuel dos Santos Neves (1957-1967); P. Manuel da Silva
Martins Sebastião (1967-1971); P. Adélio Cunha Fonte (1971-1975), P. Ferreira
da Silva (1975-1979); P. José Coelho Barbosa (1979-1982); P. Agostinho Brígido
(1982-1988); P. Tarcísio Moreira (1988-1993); P. Magalhães Fernandes (19931996).
Benfeitores do Seminário de Godim
D. Carlota Barreiros Montez Champalimaud Pacheco
Viúva do Engenheiro Joaquim Gaudêncio Pacheco, foi proprietária da Quinta
e Casa dos Ciprestes (Godim) e da Quinta do Neto (Godim e Fontelas).
Insigne benemérita da Congregação e grande benfeitora do seminário. Nos
primeiros anos ajudou com vários géneros e donativos.
Em vida entregou ao Seminário o Campo da Sederma com olival anexo. O
testamento diz: ”uma parte da vinha grande, que há muitos anos serve para
recreio dos seminaristas de Godim” onde o Seminário mandou fazer um campo
de jogos em 1939 bem como o “Campo das Figueiras”, à beira-rio, os quais
segundo o testamento ficaram a pertencer ao Seminário, em domínio pleno, à
morte da D. Carlota.
Pelo testamento, a raiz de toda a Quinta do Neto foi legada a este Seminário,
ficando usufrutuária sua afilhada D. Maria Margarida Pacheco, sendo tudo livre
de encargos.
Quando o Seminário tomar posse definitiva desta propriedade entregará todos
os anos quatro almudes de azeite à igreja da freguesia.
292
Adélio TORRES NEIVA
No testamento pede ao Seminário a caridade de mandar celebrar ofício e missa
solene de Requiem, um trintário gregoriano por alma dela e, enquanto existir
este seminário, uma missa mensal por alma dela e outra por alma do seu marido
Joaquim Gaudêncio Pacheco.
Faleceu em Godim, com 87 anos, em 15 de Janeiro de 1954. O funeral realizouse no dia seguinte, na capela do Lodeiro. Ás 15 horas fez-se a trasladação do
cadáver para a Igreja e Cemitério, tomando parte no cortejo todo o seminário.
D. Rosa Carolina Pinto Barreiros Champalimaud
Era mãe da D. Carlota, boa alma e de grande dedicação ao Seminário que
ajudou com vários géneros.
Faleceu em Godim com 86 anos, em 21 de Outubro de 1932. No funeral
incorporaram-se todos os alunos e pessoal do Seminário.
D. Antónia Adelaide Ferreira de Lima
Viúva do Conselheiro Wenceslau de Lima, que foi Lente da Escola Politécnica
do Porto e Presidente do Ministério de D. Manuel II.
Moradora na Quinta e Casa das Nogueiras (Godim).
Foi esta bondosa e benemérita senhora a grande benfeitora da primeira hora.
Foi a seu pedido que a Congregação se veio estabelecer, no local chamado “Casa
das Vitórias”, junto do Salgueiral, de que restam apenas algumas ruínas.
Em sua vida sempre a sua generosidade se fez sentir em toda a espécie de
dádivas em dinheiro, géneros e arranjo de roupas.
Por sua morte deixou ainda cem contos para aumento e progresso desta obra.
Faleceu em Godim com 79 anos, em 7 de Dezembro de 1937. Na tarde do dia
8 foram às Nogueiras apresentar pêsames os Padres Cândido Costa e Mário Silva.
No dia 9 nas Nogueiras, foram celebradas três missas de corpo presente por
sua alma. O corpo foi para o cemitério da Lapa, no Porto, acompanhando-o os
Padres Teles, Junqueira, Mário e Olavo.
D. José Maria de Queiroz e Lencastre
Casado com D. Maria Haydée Cardoso da Silva e Lencastre, morador na Casa
da Torre, em Paços de Ferreira, proprietário da Quinta do Casal em Godim.
Benfeitor da primeira hora, sempre pronto a ajudar com toda a espécie de
donativos.
O vinho do Porto que o Seminário consumia, enquanto não tinha de sua
colheita, era oferta da sua irmã D. Maria do Carmo, de Sanhoane.
Todos os anos dava uma merenda de uvas e vinho a todo o Seminário no Casal,
por ocasião das vindimas.
Dava também água para lavar a roupa no tanque do “Lameiro”, que fica por
baixo da Quinta do Casal.
O Seminário de Godim - Régua
293
D. Joaquina Soares de Lencastre
Mãe de D. José de Lencastre. Faleceu na Casa do Pinheiro-Sanhoane em 30 de
Junho de 1948. Ao funeral no dia 1 de Julho assistiu todo o seminário.
D. Maria do Carmo Queiroz de Lencastre
Irmã de D. José de Lencastre. Como ele, oferecia o vinho do Porto consumido
no Seminário enquanto este o não tinha de sua colheita.
Foi proprietária da Quinta e Casa do Pinheiro, freguesia de Sanhoane,
concelho de Santa Marta de Penaguião.
Faleceu na Casa da Torre em Paços de Ferreira, a 4 de Dezembro de 1963. No
“Diário da Comunidade de Godim” estão lançados vários donativos, ora em
nome de D. Joaquina ora em nome de D. Maria do Carmo, desde Abril de 1922
até Fevereiro de 1939. Depois desta data foram lançados em nome de D. Maria
do Carmo.
P. José Carlos Pereira de Carvalho
Natural de Godim, onde foi coadjutor em 1909 e de 1922 a 1927. Foi pároco do
Loureiro.
Foi assassinado no caminho do Vale de Godim a 1 de Janeiro de 1938, com 70
anos de idade, para ser roubado.
A ele se deve a maior parte do terreno do actual quintal do Seminário. Em 16
de Julho de 1928 doou à Congregação a raiz do prédio “Pedregal”, guardando o
usufruto para si em vida.
D. Luís Muñoz Insua
Casado com D. Filomena Carlos Pereira. Amigo dedicado do Seminário,
ofereceu muito vinho do Porto, tanto para esta casa como para os confrades que
daqui partiam para outros destinos.
Faleceu em Godim, com 62 anos em 17 de Março de 1953.
Foi proprietário da Quinta da Romeira, que a nossa Província arrematou, por
intermédio do Sr. Abílio Teixeira Martins, irmão do P. Olavo, em hasta pública
por 315.500$00, nos autos de inventário orfanológico por óbito de D. Luíz
Muñoz e sua esposa em 1956.
D. Matilde da Soledade dos Santos Pereira e filha D. Maria Adelaide.
Moradoras no lugar do Vale de Godim, em frente à capela. No “Diário” estão
lançados vários donativos, ora em nome de uma, ora em nome de outra. Como
viviam juntas, aqui se juntam também os donativos.
295
Capítulo 32
O Convento das Ursulinas de Viana do Castelo
As Ursulinas em Portugal278
A
fundação do Instituto das Ursulinas é atribuída a Santa Ângela de
Merici, nascida em Desenzano, junto do lago Garda, na Alta Itália, à
volta de 1475. Santa Ângela foi pioneira não só pelo modo de conceber
a Vida Consagrada, pois o seu instituto aparece como o primeiro instituto
secular feminino, mas também por incluir entre os seus principais objectivos a
educação de pessoas do sexo feminino, objectivo, para a época, totalmente
inovador.
Depois de um apurado percurso espiritual, Ângela fixou residência em Bréscia,
onde fundou, a 25 de Novembro de 1535, uma irmandade ou companhia leiga de
donzelas, que tinha por finalidade cuidar dos enfermos e a educação de meninas
a que se veio a chamar Companhia de Santa Úrsula. Santa Úrsula tinha sido uma
mártir dos princípios do século IV, por quem Ângela nutria particular devoção.
Há diversos institutos religiosos com a denominação de Ursulinas; aqui trata-se
do primeiro destes institutos, a Companhia de Santa Úrsula, contemporânea da
fundação da Companhia de Jesus, mas, enquanto esta se dedicava à educação de
rapazes, aquela era consagrada à educação de meninas.
A novidade desta fundação era o facto de os seus membros viverem no seio das
suas famílias, sem horário nem vida conventual, constituindo assim a primeira
instituição secular de consagração feminina da Igreja. Santa Ângela previa,
porém, que, segundo a oportunidade dos lugares e dos tempos, se pudesse alterar
e transformar a forma e o método que tinha adoptado.279
De facto, a maior parte dos membros da Companhia passaria, primeiro a
congregação local e depois, a ordem de clausura, com votos de Religião, ao
mesmo tempo que outras continuavam como instituto secular.
Santa Ângela faleceu a 27 de Janeiro de 1540, sem que o seu instituto tivesse
sido reconhecido pela Santa Sé. Só quatro anos mais tarde, em 1544, é que Paulo
IV aprovava o instituto, estabelecendo que “de acordo com o espírito da sua
278
Todas as informações relativas ao real Colégio das Chagas e seus antecedentes foram recolhidas da excelente obra “O Real
Colégio das Chagas- Instrução de meninas de Viana (1778-1884) de Manuel Inácio Rocha, que constitui a sua tese de
Mestrado.
279
Fundação. Livro em que se dá alguma notícia que se tem alcançado de algumas fundações e congregações de Ursulinas em
França, Itália, Bahia e Portugal. Vianna Collª das Chagas em 13 de Janeiro de 1778-6 A M C. Manuscrito Fundo de
Figueiredo Guerra p. 2-3. citado por Manuel Inácio Rocha oc- p. 71
296
Adélio TORRES NEIVA
fundadora, as Ursulinas não tinham de viver em comum, assim se diferenciando
das tradicionais monjas de clausura, podendo viver em casa de família e apenas se
reuniam em certos dias para exercícios de piedade. A pobreza, a obediência e a
castidade eram-lhes propostas como conselhos evangélicos; usavam vestuário
secular de cor negra, com um véu.”280
De Bréscia, as Ursulinas espalharam-se rapidamente por toda a Itália e pela
França, tendo, em 1572, obtido de Gregório XIII nova aprovação, com estatutos
de Ordem Monástica, e em 1612 era elevada a Ordem Religiosa de Clausura, por
breve de Paulo V, passando a emitir, além dos três votos solenes, um quarto
voto, o de se dedicarem à instrução de meninas.
A primeira comunidade de Ursulinas em Portugal, proveio da comunidade de
Toulouse e estabeleceu-se num antigo recolhimento de Vila de Pereira, em
Coimbra, em 1775, e seria deste convento que partiriam as fundadoras do
convento de Viana do Castelo em 1778.
Os Santos Mártires, Padroeiros de Viana
“No alto da fachada da igreja do antigo Convento das Ursulinas, estão colocados
em seus nichos, três esculturas de pedra - S. Teófilo, S. Saturnino e Santa Revocata
- que, em tempos idos, tiveram o direito e a honra de ser considerados os “santos
padroeiros e protectores de Viana”, e que hoje se encontram um pouco esquecidos,
estando totalmente desactivada a Irmandade que recuperou e alimentou um
devotado culto que se materializou nessa linda igreja, alicerce do célebre convento
de que hoje, para além das respectivas paredes, muito transformadas, apenas
sobrevivem referências toponímicas”.281
Sobre estes mártires de Viana temos vários testemunhos, nomeadamente do
arcebispo de Braga D. Rodrigo da Cunha,282 do historiador vianense Cónego
Boaventura Manuel Aranha,283 do P. António Machado Villas Boas,284 do P.
Carvalho da Costa285 e outros. Limitemo-nos ao testemunho do autor da
“História Eclesiástica dos Arcebispos de Braga” D. Rodrigo da Cunha.286
O P. Machado Vilas Boas informa-nos que “as relíquias dos santos estão
sepultadas no monte em que estava situada esta antiga cidade”.287 Por sua vez, o P.
Carvalho da Costa, na sua Corografia Portuguesa, referindo-se às várias capelas e
ermidas existentes em Monserrate, diz-nos que “de novo se edifica uma ermida
aos Santos Mártires Teófilo, Saturnino e Revocata, Padroeiros desta vila, que nela
280
Oc. p. 71
Ibid. p. 75
CUNHA, D. Rodrigo da - História Eclesiástica dos Arcebispos de Braga. Reprodução fac-similada I.Braga 1989 p. 153-154.
Citada por M.Inácio Rocha
283
ARANHA Boaventura Maciel. Cuidados do Mestre Descuidos da Vida. Oficina de Francisco Borges de Sousa. Lisboa 1761
p. 354-355- Citada por M. Rocha
284
VILLAS BOAS. António Machado. Cathalogo dos Varoens Ilustres en Santidade, Letras e armas a Mui Notavel Villa de Viana
do Lima (Manuscrito da BNL Nº 415- Fundo geral )Reedição do Instituto Cultural Galaico Minhoto. Braga 1984. Cit. Por
M.Rocha
285
COSTA, António Carvalho da – Corografia Portuguesa. Tomo I, 2º ed. Braga, 1868. p. 170
286
Oc. p. 153-154
287
Oc.
281
282
O Convento das Ursulinas de Viana do Castelo
297
foram martirizados, cujas relíquias se conservam no monte de Santa Luzia, como
diz a tradição e o afirmam alguns autores”.288
Foi a partir da crença nesta tradição, que venerava estes mártires como
padroeiros e protectores de Viana, que Sebastião Barbosa Ribeiro, Vedor Geral
da província do Minho, por sua devoção e com esmola, começou a edificar em
1726, no lugar da Boavista, na freguesia de Monserrate, uma capela dedicada aos
Santos Mártires, padroeiros de Viana, cuja festa, por provisão do arcebispo de
Braga D. Rodrigo da Cunha, de 17 de Janeiro de 1630, se devia celebrar e guardar
dentro dos muros da cidade, a 6 de Fevereiro. Um século depois, nos finais de
Setembro de 1730, a igreja era benzida com toda a pompa, tomando parte activa
nestes trabalhos o vigário de Monserrate, António José de Santo Teodoreto.289
É de supor que esta construção, iniciada em 1726 por Sebastião Barbosa
Ribeiro, não tenha sido o primeiro templo dedicado aos Santos Mártires, pois
Carvalho da Costa afirma que “de novo se edifica uma ermida aos Santos Mártires
Teófilo, Saturnino e Revocata, Padroeiros desta Vila”. O culto dos Santos
Mártires de Viana remonta pelo menos a 1630, já que foi a 17 de Janeiro desse
ano que D. Rodrigo da Cunha, respondendo a uma petição da Câmara e aos
Capitulantes da Colegiada, instituíu a sua festa a 6 de Fevereiro, confirmada por
provisão de D. Sebastião de Matos Noronha a 22 de Setembro de 1637.290
Nesse mesmo ano de 1637, a 6 de Novembro, “no caminho que vai para a
ermida de pedreira no lugar que chamam Mosqueiros do termo da dita vila aí
vieram em pessoas o Juiz e vereadores e procurador e mesteres e povo da dita vila a
requerimento de Miguel Bezerra da Rocha(...) que ele quer fazer para veneração dos
Santos Mártires Padroeiros desta vila Teófilo, Saturnino e Revocata.” A Câmara
pôs as demarcações, ficando com o direito de participar nas festas e guardar a
prata e ornamentos, e deu licença “para correr com a obra porquanto é em aumento
deste Povo e ornato dele e mais veneração do culto e devoção dos Santos Mártires
padroeiros desta vila e assim que o dito Miguel Bezerra se obrigava por si e por seus
sucessores, a fabrica da dita Igreja e concerto dos caminhos e expediente das águas e
para fazer a dita igreja, o que ele prometeu fazer.” 291
Segundo a tradição, o martírio dos Santos Vianenses ter-se-ia dado na própria
citânia, onde estão sepultados os seus restos mortais, no local onde existiu a
antiga capela de Santa Luzia e hoje se construíu o templo dedicado ao Sagrado
Coração de Jesus. Migel Bezerra mandou construir a sua igreja mais no sopé do
monte, no lugar chamado Mosqueiros, por a povoação se ter desenvolvido mais
nesta zona. Mais tarde Sebastião Barbosa Ribeiro mandaria edificar no mesmo
local, no lugar da Boa Vista, da freguesia de Monserrate, uma “espaçosa capela”.
Supõe-se que o local fosse o mesmo onde hoje está a igreja dos Santos Mártires,
até porque nomes como Boa Vista e Mosqueiros ainda por ali se conservam.
288
Oc. p. 170
GUERRA. Luís Figueiredo da. Archivo Vianense. Vol I Viana 1895. p. 87
AM.V.C. L.R. 6. fl 163
291
A M.V.C. L.ª 12 fls 24-24v Cit. Por M.Rocha
289
290
298
Adélio TORRES NEIVA
O Recolhimento dos Santos Mártires ou das Beatas.
Conta-nos ainda Manuel Inácio Rocha que junto a esta nova capela, havia uma
casa térrea onde, em 1740, por concessão do P. Teodoreto se acolheu a Irmã
Terceira, Isabel de S. Francisco, de Meixedo e uma outra devota que aí
pretenderam fundar um convento de Religiosas Capuchas da Madre de Deus;
mas como ela faleceu em 1745, o convento não se fundou, mas ali continuou,
com a ajuda do arcebispo de Braga e uma doação testamentária de Ângela Cunha
o edifício que albergava quatro ou cinco beatas. Este era o capital que constituía
o património da capela dos Santos Mártires.
Este recolhimento aparece com o nome de “Santos Mártires, Recolhimento das
Beatas” numa planta de Viana de 1759.
Será com base neste pequeno Recolhimento, onde algumas piedosas mulheres
viviam já em comum, que o senado Vianense pede à Rainha D. Maria I, a
fundação de um convento, graça que lhe foi outorgada por carta régia de 8 de
Março de 1778, dando assim origem ao convento das Ursulinas de Viana. Em
1791 aparece já “com aula pública para meninas de fora e porcionistas de dentro”.
Fundação do Real Colégio das Chagas de Viana da Foz do Lima
O Real Colégio das Chagas de Viana teve a sua origem a partir da comunidade
das Religiosas Ursulinas do Recolhimento de Pereira, em Coimbra. D. Miguel da
Assunção, bispo de Coimbra, mandou vir os estatutos por que esta Ordem se
regia em Toulouse, e neles fez instruir as recolhidas de Pereira, convertendo-as
em Instituto de Ursulinas. Em 1753 aí professavam as primeiras 27 religiosas,
tomando as mestras o hábito preto e as educandas o de lã azul. A Regra que
professavam era a de Santo Agostinho, conservando porém, o colégio a
denominação seráfica das Chagas de Cristo, nome que provinha do molde da
primeira pedra, que tinha uma raja em relevo com as Cinco Chagas.
Foi aí que as religiosas logo instalaram um colégio para a educação de meninas.
Em 1778 daqui saíram as Religiosas que iriam dar início ao convento das
Ursulinas de Viana da Foz do Lima. A iniciativa de aqui fundar um colégio partiu
do Senado da Câmara de Viana que ofereceu para esse efeito ao convento de Vila
Pereira o Recolhimento das Beatas. O facto veio a consumar-se algum tempo
depois, tendo a Câmara obtido autorização régia para fundar o colégio, assim
como metade do rendimento das sizas para a despesa dele e das Religiosas.
A autorização régia é de 20 de Outubro de 1777. O projecto incluía o alargamento
ou construção de um novo edifício com “dois andares altos”, aproveitando parte do
antigo Recolhimento dos santos Mártires. Segundo uma planta da época, a obra
tinha 20 cubículos e todas as oficinas necessárias. No frontispício da parte do colégio
foi colocado, como ainda hoje se vê, o brasão das Chagas, e sobre o majestoso
portão da entrada principal, as armas reais, sendo o novo estabelecimento de ensino,
baptizado com o nome de “Real Colégio das Chagas”. A aprovação do arcebispo de
Braga, D. Gaspar de Bragança, é de 5 de Junho de 1778.
O Convento das Ursulinas de Viana do Castelo
299
As religiosas saíram do colégio de Pereira a 11 de Julho de 1778, e chegaram a
Viana a 5 de Agosto desse ano. Foram recebidas em Viana, no cais de S.
Lourenço (na margem esquerda do rio Lima), pelos vereadores da Câmara, que
as foram esperar em barcos enfeitados. Estavam presentes todas as autoridades,
muitas pessoas nobres, comunidades religiosas e outras pessoas distintas da
cidade. Os sinos repicaram em todas as igrejas e as Religiosas foram levadas em
seges para o novo colégio, acompanhadas do Senado e muito povo. Aí
encontraram tudo preparado para iniciar as suas actividades.
Eram 15 as freiras, mais uma irmã conversa e cinco meninas educandas, sob a
direcção da própria superiora de Pereira, D. Luiza Maria das Chagas.
Instaladas no seu novo convento, ainda em construção, logo a Madre Superiora
pediu à Câmara para lhe conceder parte do terreno público e inculto, anexo ao
convento, para cerca, horta, recreio e edifícios anexos, pedido logo satisfeito,
procedendo-se a 12 de Agosto à respectiva demarcação, ficando salva a estrada
pública que ia para a Areosa e livre o caminho que corria pela parte poente do
mesmo colégio, ao redor do aqueduto que levava a água para o chafariz de S.
Domingos. Era-lhes também concedido, tirar desse aqueduto um “anel de água
perene, enquanto as suplicantes derem aula pública às meninas desta terra, que
não forem Porcionistas ou viverem dentro do Claustro”.292
Assim, este colégio seria sempre justificado pelo ensino público que as
Ursulinas ministravam às meninas que gratuitamente ali acorriam, embora com
o estatuto de externas. No entanto, havia também as porcionistas ou
pensionistas, com estatuto particular, que eram as educandas internas, com
posses mais avantajadas.
Deste colégio partiriam, em 1785, 9 religiosas que foram fundar um outro
colégio das Ursulinas, em Braga, que ficaria instalado no antigo colégio de S.
Paulo dos Jesuítas.
Um ano após a chegada das Ursulinas a Viana, começaram a aparecer as
primeiras postulantes, que após dois anos de noviciado, em 1781, faziam a sua
profissão, segundo a Regra de Santo Agostinho, ao mesmo tempo que se
organizavam as classes das meninas.
De 1781 a 1829 professaram neste convento 52 Religiosas, tendo quase metade
feito a sua profissão com menos de 20 anos, e o número de entradas para o
noviciado foi de 62.
As Irmãs Religiosas viviam cada uma na sua cela ou cubículo, as educandas internas
viviam num apartamento separado, mas fechado dentro da clausura do mosteiro, e as
educandas externas tinham instalações próprias, separadas das internas.
O Real Colégio das Chagas de Viana do Lima
Conforme afirma Manuel Inácio da Rocha “pode dizer-se que o carisma
próprio da fundação de Ângela de Merici foi o da instrução do sexo feminino,
292
BEZERRA Manuel Gomes de Lima. Os estrangeiros no Lima Fac-simile da 1ª ed. Vol II p. 118
300
Adélio TORRES NEIVA
sobretudo a partir da sua elevação à categoria de Ordem de clausura por breve de
Paulo V de 13 de Junho de 1612, em que assumiu esta obrigação como 4º
voto”.293 “Adrede ao mosteiro e como que fazendo parte da própria identidade
conventual, existiam dois colégios de meninas: um de internas, chamado
porcionistas ou pensionistas, geralmente constituído por meninas nobres e ricas que
podiam pagar a sua hospedagem e educação; e outro público, gratuito, aberto à
comunidade civil, destinado às educandas pobres ou de menos recursos. No entanto,
embora as classes fossem separadas, pois as internas estavam sujeitas à disciplina da
clausura, os objectivos e métodos pedagógicos eram semelhantes“.294 Além do ensino
colegial, tinha o instituto ainda a obrigação de ensinar a doutrina cristã “às
meninas de fora do convento e estas não entrarão dentro da clausura, mas na
portaria, com a porta da rua fechada e nos dias e horas que a superiora
determinar, aplicando também o seu zelo às pessoas de maioridade do seu
sexo”.295
O Real Colégio das Chagas foi construído de raiz na parte norte do convento
e integrado na clausura das Ursulinas, e incluía a albergaria destinada às
educandas internas e a aula régia, onde decorriam as aulas. O convento
comportava 30 celas no rés do chão e 40 no primeiro andar, 2 refeitórios e 2
cozinhas. A parte nova, que constituía propriamente o colégio ou aula régia,
ainda hoje existe e tem sobre a porta principal o emblema das Cinco Chagas de
Cristo, que as Ursulinas usavam no peito, e cujo nome – Chagas – era adoptado
por todas na profissão solene. Era aqui que decorriam as aulas, tanto para as
internas como para as externas, se bem que em compartimentos separados. O
dormitório era constituído por salas com camas separadas por cortinas.
O cemitério velho era atrás da capela-mor da igreja, mas em 1840 trasladaramse os ossos para dentro do templo e abriram-se 13 sepulturas no corpo da igreja,
onde as religiosas foram enterradas até 1870; as últimas foram para a Ordem
Terceira de S. Francisco.
As festas que se celebravam no colégio, ainda em 1884, eram a dos Santos
Mártires Vianenses no dia 6 de Fevereiro, que era Dia Santo de Guarda em Viana,
por serem os padroeiros da cidade; as Chagas do Senhor na primeira Sexta-Feira
da Quaresma e a de Santo Agostinho, no dia 28 de Agosto.
O antigo portão do jardim tinha a data “Mayo, 30 anno de 1709”. A igreja
estava no mesmo local onde hoje se encontra.
A entrada principal do convento era formada por um portão monumental em
estilo D. João V, tendo sido daí retirado em 1923, por iniciativa da Câmara
Municipal e colocado entre o palácio Werneck e os jardins da Caridade, antigo
convento de Santa Ana, no topo da Rua Cândido dos Reis.
A frequência das alunas do Colégio das Chagas oscilou, ao longo de mais de
um século, podendo talvez fixar-se numa média de 30 alunas internas e outras
tantas externas.
293
294
295
Oc. p. 139
Ibid.
Ibid. p. 139-140
O Convento das Ursulinas de Viana do Castelo
301
O ensino era considerado gratuito pelas Religiosas, sendo a propina paga pelas
alunas internas destinada apenas aos gastos da alimentação e da hospedagem; as
externas não pagavam nada.
Este colégio constituíu “a partir de 1870, a mais importante e eficiente
instituição de ensino de meninas a norte do Douro, e uma das mais antigas
escolas do sexo feminino no nosso país“.296
Com as convulsões liberais e a perseguição religiosa, sobretudo com o decreto
de 5 de Agosto de 1833 de Mouzinho da Silveira e o de 28 de Maio de 1834 de
Joaquim Augusto de Aguiar, que proibiam que novas religiosas pudessem
professar, o Real Colégio das Chagas foi entrando em morte lenta. A
generalização e a laicização do ensino oficial do sexo feminino, levada a cabo,
sobretudo a partir dos governos da Regeneração, com a criação de novos
colégios e escolas públicas, agravou-se ainda mais a situação já precária do Real
Colégio das Chagas.
Durante quase um século, a primeira e única escola pública para o sexo
feminino, no distrito de Viana do Castelo, foi a do Real Colégio das Chagas do
convento das Ursulinas, mas durante as décadas de 60 e 70 todo o distrito de
Viana foi coberto por escolas oficiais do sexo feminino.297
Entretanto, outros colégios se fundaram em Viana, mais consonantes com as
novas tendências das famílias nobres, sobretudo no que ao ensino das línguas
estrangeiras se refere.
Devido a todos estes factores e também à decrepitude crescente das mestras
Ursulinas, cada vez menos e sem hipóteses de renovação, o Real Colégio acabou
primeiro com o ensino interno e depois com a aula pública, esta acontecida
muito provavelmente em 1881, até fechar definitivamente em 1884, com a morte
da última religiosa D. Francisca Rita Maria das Chagas Malafaia, falecida a 30 de
Julho de 1884.
Os destinos do Convento das Ursulinas
Após o enterro da última freira, conforme a lei estabelecia, o convento foi
entregue à Fazenda Nacional. Todo o edifício, incluindo o claustro, a casa do
capelão e o colégio, a hospedaria foi avaliado apenas em um conto de réis, pois o
estado em que tudo se encontrava era péssimo; por sua vez, a água da mina de
Bade de S. Mamede, da freguesia da Areosa, a que o convento tinha direito, foi
avaliada em seis contos.
A igreja, bem como as alfaias litúrgicas e mais objectos de culto, foram
entregues ao Arcipreste, ficando depois a pertencer à Confraria dos Santos
Mártires de Viana, fundada em 1877, com estatutos aprovados a 7 de Novembro
desse mesmo ano, pelo arcebispo de Braga, D. João Crisóstomo de Amorim
Pessoa.
296
297
Oc. p. 162
Ibid. p. 191
302
Adélio TORRES NEIVA
Os móveis pertencentes ao convento foram arrematados em hasta pública por
uma ninharia.
O convento e a cerca foram arrendados em hasta pública, mas os arrendatários
desbarataram tudo.
Em Abril de 1888, a Junta Geral do distrito pediu ao Governo o convento das
Ursulinas e sua cerca, para aí estabelecer um “Asilo-escola para expostos e
desvalidos ou desamparados maiores de sete anos” que lhe foi concedido, com
exclusão de uma tira da cerca que
fora do primeiro património dos
Santos Mártires, casa do capelão,
torres, claustros, casas de aulas,
locutório e estalagem, que ficava
para uso da Confraria dos Santos
Mártires.298 Mas em 1892, o
convento voltou à posse da
Fazenda Nacional, degradando-se
cada vez mais, até chegar a quase
completa ruína.
Igreja do Convento das Ursulinas
Em 1895, o convento foi
concedido à Santa Casa da Misericórdia e Hospital de Viana do Castelo, com a
respectiva igreja e suas dependências, para aí se estabelecer o Recolhimento de S.
Tiago para Órfãos, e um hospital para convalescentes. Mas esta concessão não se
chegou a implementar e dois anos depois, o convento voltava para a posse da
Fazenda. Nesse ano de 1897, a igreja era entregue, mais uma vez, à Confraria dos
Santos Mártires, que a havia pedido, bem como as alfaias, vasos sagrados e
demais objectos de culto.
Na igreja existem ainda as imagens de Santa Ângela de Merici e Santo
Agostinho, que, além do Senhor das Chagas, alimentavam a espiritualidade das
Ursulinas.
Entretanto o velho edifício continuou a degradar-se, até que a 2 de Julho de
1901 foi posto à venda, por um conto de réis, mas não apareceu comprador. A
cerca do convento e os terrenos anexos foram objecto de um plano de
urbanização.
Foi então arrematado por Domingos José de Morais, por 801 réis. O novo
comprador mandou reconstruir o convento e aí fundou uma escola de ensino
primário gratuito, pelo método João de Deus, a que deu o nome de “Escola
Domingos José de Morais”. Esta escola funcionou durante alguns anos, até que
em 1915 o convento foi vendido à Câmara Municipal de Viana, para aí
estabelecer o quartel da Guarda Nacional Republicana, contrato que depois foi
anulado.299
298
299
D. G. nº 262 de 15.11. 1888. Decreto de 08.11.1888
ARAUJO, José Rosa, In Notícias. Suplemento de 07.02.1963
303
Capítulo 33
O Seminário de Viana do Castelo
Primeiras diligências
E
m 1884, alguns meses após a morte da última religiosa do Convento das
Ursulinas, o Dr. Fernando Pedroso, grande amigo dos Espiritanos,
escreveu várias cartas ao P. José G. Eigenmann, superior da
Congregação do Espírito Santo, em Portugal, propondo-lhe o estabelecimento
por parte da Congregação de uma obra agrícola e de um escolasticado no antigo
Convento das Ursulinas. Como o P. Eigenmann se mostrasse pouco interessado
com a proposta, o Dr. Fernando Pedroso escreveu directamente ao Secretário
Geral da Congregação em Paris, o P. Désiré Barillec insistindo na dita
proposta.300 Segundo este projecto, a Congregação estabeleceria em Viana uma
obra agrícola e apostólica e para aí transferiria o escolasticado.
Em carta dirigida ao P. Barillec de 4 de Novembro de 1884, o P. Eigenmann,
explica-lhe que o Dr. Fernando Pedroso pensava que o convento estivesse em
bom estado, que fosse uma propriedade avantajada, cercada por uma extensa
quinta com 40 ou 50 hectares. Ora o P. Eigenmann fora pessoalmente visitar o
convento, e verificou que as coisas não eram como o Dr. Fernando Pedroso
pensava. O convento não era tão grande como isso, encontrava-se muito
degradado, o terreno arável da quinta não ia além dos 8 a 10 hectares e uma parte
era totalmente improdutiva. O convento não tinha rendimentos, e para o activar
seriam precisos pelo menos de 25.000 a 30.000 francos, verba que o Governo
provavelmente não libertaria e de que a Congregação não poderia dispor, a não
ser que o convento nos fosse efectivamente dado e não apenas alugado com uma
espécie de usufruto e toda uma série de cláusulas, onerosas e vexatórias, como
seriam as que o Dr. Fernando Pedroso propunha.
Além disso, a igreja tinha já sido cedida a uma confraria de Viana. Se o
convento estivesse em bom estado e fosse dado sem condições nem restrições,
poder-se-ia estabelecer não tanto uma obra agrícola, mas um noviciado ou
pequeno escolasticado. Mesmo assim, para esta obra poder subsistir, seria
necessário acrescentar-lhe uma outra obra, por exemplo, um seminário menor.
Mas neste caso, seria necessário fazer muitas construções, pois as que existiam
300
AGCCSSp. Portugal. 21/10/ 1884- Cit. por A. Brásio SMH Angola III – p. 257
304
Adélio TORRES NEIVA
actualmente seriam insuficientes e ter-se-ia necessidade do dobro do pessoal que
havia em Braga.301
Devido à insistência do Dr. Fernando Pedroso, o P. Eigenmann resolveu fazer
uma segunda visita ao velho convento, fazendo-se desta vez acompanhar por um
engenheiro, para se fazer uma avaliação mais qualificada da situação. Em carta
desta vez dirigida ao Superior Geral da Congregação, P. Ambroise Emonet, o P.
Eigenmann corrige bastante as reservas que pusera anteriormente ao projecto, e
emite um juízo muito mais positivo sobre a viabilidade desta obra. O conjunto
estava cercado por um muro sólido e elevado, poderia ter uma superfície de 18 a
20 hectares no máximo, era ocupado pelas construções, por 4 hectares de terras
incultas e o resto era de campos e pomares.
O convento tinha água corrente em abundância, avaliada em 40.000 francos, o
que permitia uma cultura lucrativa dos terrenos cultiváveis. A situação era
esplêndida, alcandorada numa pequena colina, virada para o mar; a cidade possuía
um pequeno porto e era rodeada por uma grande parte do vale do Lima. O local
era muito saudável e prestava-se admiravelmente para uma estação de banhos de
mar. A capela do convento, pouco mais ou menos do tamanho da capela do
Coração de Maria, da casa espiritana da Rua Lhomond, tinha sido cedida a uma
confraria, mas teriam muito gosto em ceder o seu pleno uso aos padres que
porventura ali se estabelecessem. O convento formava com a capela um
rectângulo, com 45 metros de comprimento e 18 de largura.
Os muros, as vigas, a armação do telhado, em geral estavam em bom estado,
mas as portas, as janelas, o soalho e os tectos precisavam de uma remodelação
completa.
A hospedaria exterior poderia servir pouco mais ou menos tal como estava;
mas a cozinha e suas dependências estavam em completa ruína, pelo que não
poderiam ser utilizadas tais como se encontravam.
As construções existentes, convenientemente reparadas, poderiam talvez
receber uns 60 a 80 alunos, além do pessoal docente e de serviço.
As construções destinadas às culturas, galinheiros, etc. estavam em bom
estado.
Em resumo, o convento poderia ser utilizado para um pequeno escolasticado
com noviciado de irmãos. Até porque a cidade, além do liceu, não dispunha de
nenhum colégio e, por sua vez, a população desta zona do Alto Minho era
religiosa e relativamente fecunda em vocações eclesiásticas; era de prever que não
faltassem também vocações para a vida religiosa.
De notar, que os Jesuítas já por ali tinham feito as suas prospecções, mas
devem ter abandonado a ideia, provavelmente por terem achado o convento
muito deteriorado.
E o P. Eigenmann termina, confessando que se precipitara no seu primeiro
juízo e confessa que, se o Governo cedesse o convento, poder-se-ia aí estabelecer
uma obra de recrutamento de vocações, com a faculdade de lhe anexar um
301
AGCCSSp. p. 391
O Seminário de Viana do Castelo
305
estabelecimento de instrução secundária, por exemplo, um seminário menor.
Para aceitar este projecto, haveria que considerar duas hipóteses: na primeira, o
Governo faria uma doação plena e inalienável do convento à Congregação ou à
missão da Huíla, a qual assumiria as despesas de adaptação ou então, se o
Governo não estivesse disposto a fazer uma doação plena, poder-se-ia receber o
convento como usufrutuário se este usufruto fosse por um tempo bastante
longo, de modo a permitir cobrir todas as despesas aí efectuadas. Na segunda
hipótese, poder-se-ia aceitar o convento por um simples uso razoável, com a
condição de o Governo cobrir todas as despesas de reparação e conservação, em
favor da missão. Mas esta hipótese teria poucas probabilidades de ser aceite pelo
Governo, e de resto não seria a mais desejável.
O Dr. Fernando Pedroso tinha já feito as primeiras diligências e não se deveria
pôr a ideia de parte sem mais. Até porque o Governo tinha já mandado suspender
a ordem de venda e tinha-o alugado apenas por um ano.
E o P. Eigenmann lembrava que um seminário menor exigia menos pessoal que
um colégio, e quatro ou cinco professores seriam suficientes, e que o professor
que leccionasse em Braga poderia também fazê-lo em Viana.302
No ano seguinte, a 13 de Janeiro de 1885, o P. Emonet, Superior Geral da
Congregação, veio de visita a Portugal. Aproveitando a sua estada em Braga,
deslocou-se a Viana do Castelo, em companhia do seu secretário o P. Barillec e
o P. Eigenmann, a fim de visitar o convento das Ursulinas, e certamente, ajuizar
melhor da viabilidade de o adquirir. O sítio era realmente esplêndido, situado à
beira-mar, o terreno extenso e de boa qualidade, a água abundante, numa palavra,
a propriedade ajustava-se perfeitamente ao fim que se pretendia.303
De regresso a Lisboa, o P. Emonet efectuou algumas visitas importantes, onde
os assuntos da Congregação foram tratados, incluindo naturalmente o “dossier”
do convento das Ursulinas: ao Núncio Apostólico, Mons. Vannutelli; ao
patriarca de Lisboa, D. Neto, antigo bispo de Luanda, bem como ao seu
coadjutor, o arcebispo de Mitilene; ao embaixador da França, M. de Laboulaye,
muito aberto às obras religiosas; às Irmãs de S. José de Cluny de Carnide; aos
Padres Lazaristas, de S. Luís dos Franceses; ao asilo das Irmãs da Caridade; ao
Dr. Fernando Pedroso, que viera expressamente para tratar dos assuntos da
Missão da Huíla, especialmente do convento das Ursulinas.
Mas dos resultados de todas estas diligências, os documentos nada nos dizem,
e do convento das Ursulinas não mais se falou até 1922, data em que o assunto
seria retomado pelo novo Provincial de Portugal, o P. Moisés Alves de Pinho.
A compra do Convento das Ursulinas para Seminário das Missões
Em 1919, o P. Moisés Alves de Pinho era nomeado como já dissemos, novo
Provincial de Portugal e incumbido pela Casa Mãe de restaurar a Província de
301
302
303
AGCCSSp. p. 305
BGCSSp. 1885-1886 p. 551
Ibid.
306
Adélio TORRES NEIVA
Portugal, que a Revolução de 1910 tinha desmantelado. O P. Pinho começou por
encontrar em Braga uma casa onde fundou um seminário menor. Mas logo depois
começou a preocupá-lo a ideia de encontrar um segundo local para albergar os
seminaristas, à medida que eles terminassem os estudos preparatórios.
Como primeira solução aparecia o seminário maior que a Congregação possuía
em França. Mas o clima húmido e frio do norte da França não parecia boa
solução para os seminaristas portugueses. Já as épocas anteriores tinham sido
marcadas por experiências negativas com esta solução, conforme vimos já.
Primeiro, encontrou-se uma solução provisória em Godim, onde se conseguiu
uma casa para três alunos de Filosofia e dois padres, mas que serviria apenas por
um ano.
Entretanto, acabava de chegar da Suíça, para onde tinha ido restabelecer-se da
sua saúde abalada, um dos nossos estudantes, o Aquilino Câmara, que fora
ordenado na capela do Paço, em Braga, tendo ido celebrar a Missa Nova à sua
terra natal, perto de Leiria. O P. Pinho acompanhou-o como pregador da Missa
Nova, aproveitando ao mesmo tempo para fazer um dia missionário nessa terra.
Tendo comparecido na festa o superior de Lisboa, acompanhado de um amigo
seu conterrâneo e também amigo da Congregação, este, ao saber das
preocupações do P. Pinho, convidou-o a ir visitar uma propriedade ali das
vizinhanças, pois talvez ela servisse para a obra que o P. Pinho pretendia lançar.
A família teria gosto em facilitar a venda, tanto mais que se tratava de um
seminário. A propriedade oferecia algumas vantagens, embora as obras a fazer,
de mais a mais numa propriedade alugada, pusessem alguns problemas.
Aconteceu, porém, que os jacobinos das redondezas, ao saberem das pretensões
do P. Pinho, logo começaram a levantar o boato de que ali se estava a organizar
“um coito de Jesuítas”, onde já se celebravam missas e novenas, de dia e de noite,
a ponto de a família ficar atemorizada e decidir não arrendar a propriedade.
O P. Antunes, usando das suas influências na capital, foi abordando o assunto,
e foi aconselhado a procurar a solução de preferência no norte do país.
Aconteceu por essa altura, que a Madre Catarina Ornelas, assistente geral das
Irmãs de S. José de Cluny, em Paris, veio a Portugal, também à procura de uma
casa para noviciado e postulantado da sua Congregação. Acabaria por encontrar
uma solução provisória em Anadia. Entretanto pediu ao P. Pinho para a
acompanhar a Viana do Castelo, onde desejava contactar com alunas do seu
antigo colégio nessa cidade.
Antes de fazer a viagem, o P. Pinho escreveu a um dos seminaristas dos
arredores de Viana, o José Neiva Araújo, pedindo-lhe que procurasse saber se
por ali haveria possibilidades de encontrar uma casa para ele e os outros
seminaristas. O José Araújo, respondeu-lhe, sugerindo-lhe a hipótese do
convento das Ursulinas.
Chegados a Viana, do alto da casa de uma antiga aluna de S. José de Cluny, o
P. Pinho pôde admirar o convento, da parte voltada para o mar. Parecia,
efectivamente uma boa solução. Para lá se dirigiu, fazendo uma rápida visita à
casa e à quinta, onde lhe foi dito que havia quem pretendesse a casa para um
O Seminário de Viana do Castelo
307
hotel. O proprietário era professor no Reformatório de Caxias e estava disposto
a vender.
De regresso a Braga, o P. Pinho pediu ao P. Clemente Pereira da Silva e aos
Irmãos construtores Marcelino e Protásio, para irem visitar a casa e colherem
mais informações. Lá foram, entraram no convento, falaram com o guarda,
visitaram tudo e regressaram com boas notícias. A parte da casa já acabada
prestava-se a ser imediatamente utilizada. O restante, quase toda a casa, poderia
concluir-se com o trabalho dos Irmãos construtores e os postulantes aprendizes.
Era só fazer novas divisões e abrir uma escada a meio da ala principal. Souberam
ainda que o proprietário não estava interessado na casa, e que a recebera como
pagamento de uma dívida e a venderia por preço moderado. E mais disseram os
técnicos: os materiais com que a casa estava feita, embora por acabar, valiam mais
que o preço de toda a obra.
Foi com estes dados que, numa bela tarde de Outubro, o P. Pinho se dirigiu a
Caxias, a fim de contactar o proprietário da casa, o P. Manuel de Araújo
Coutinho, natural de Vila de Punhe e residente na Escola Central de Reforma de
Lisboa, em Caxias, que tinha adquirido o convento por venda feita por D. Rosa
de Jesus Formigal de Morais, pela quantia de 1.400 escudos.
O encontro com o proprietário foi, no dizer do P. Pinho, o melhor que se
poderia desejar. Vendia por preço moderado, tinha gosto que o convento fosse
transformado em Seminário das Missões e de bom grado fazia um desconto. O
pagamento seria feito quando a Congregação o pudesse fazer.
A única dúvida que restava era saber até que ponto a autoridade do distrito de
Viana do Castelo acolheria bem a ideia, pois a política partidária estava ainda
muito viva na época. Mas também aqui não se puseram dificuldades e a
intervenção do autarca do distrito contribuiu mesmo para que tanto a Câmara
como as Obras Públicas libertassem a parte da casa que tinham alugado para
depósito de materiais de construção.
Bom acolhimento seria também dispensado tanto pela população local como
por parte do clero de Viana, a quem a ideia da ajuda pastoral por parte do
seminário não deixava de sorrir.304
Foi assim, que a 3 de Novembro de 1922, era lavrada a escritura da venda do
antigo convento das Ursulinas, no cartório notarial do Dr. António Gonçalves
Videira, da rua de S. Julião, 134-1º - Lisboa. Vendia a propriedade o P. Manuel
de Araújo Coutinho, morador na Escola Central da Reforma de Lisboa, em
Caxias, e comprava-a D. José Maria Queirós de Lencastre, residente na Quinta
do Casal, em Godim, por intermédio do seu procurador Dr. António Umbelino
Cardoso da Silva, morador em Paços de Ferreira. O P. Manuel de Araújo
Coutinho era o dono dessa propriedade, descrita na escritura como um prédio
urbano e rústico, composto de uma parte com duas lojas e primeiro andar, e
outra parte ainda em construção, tendo somente as paredes mestras, frentes e
parte do vigamento e mais apetrechos destinados ao acabamento do prédio, tais
304
PINHO, D. Moisés Memórias p. 156-158
308
Adélio TORRES NEIVA
como, mosaicos, madeiras e grades de ferro, e de terreno de horta e videiras para
parreiras, no sítio das Ursulinas, freguesia de Monserrate, em Viana do Castelo.
Confrontava a norte e poente com caminho público e a nascente e sul com a
igreja das Ursulinas e caminho público.
Este prédio fora de D. Rosa de Jesus Formigal de Morais, moradora na Rua da
Bela Vista, à Lapa, nº20, em Lisboa, que o recebera como pagamento da sua
meação, na partilha feita no inventário por falecimento do seu marido Domingos
José de Morais.
O P. Manuel Coutinho comprara-o a D. Rosa Formigal de Morais a 7 de Março de 1918.
A venda do prédio era agora feita a D. José Maria Queirós de Lencastre, com
todas as suas pertenças, serventias, logradoiros e acessórios, por 5.000 escudos.
Como testemunhas desta venda figuram João Francisco Gomes e o P. Joaquim
Alves Correia, residente na Travessa Lázaro Leitão, nº24, 1º andar, em Lisboa.305
Esta casa, a segunda que a Congregação do Espírito Santo possuía em Portugal,
após a derrocada de 1910, destinava-se a servir de Seminário Maior, para os
aspirantes ao sacerdócio. Fora comprada por intermédio de D. José de Lencastre,
amigo e antigo aluno do Colégio do Espírito Santo, por medida de precaução
contra possíveis expropriações revolucionárias, no futuro.
Os primeiros tempos
A 1 de Novembro de 1922, dia de Todos os Santos, chegavam ao velho
convento das Ursulinas os primeiros trabalhadores: o Irmão Marcelino,
construtor, o Irmão Protásio, mestre carpinteiro, mais os Irmãos Valfredo e
Baptista, para iniciarem as obras de restauro e adaptação.
Os primeiros escolásticos, Joaquim Correia de Castro, Aquilino e Mesquita,
deram entrada no novo seminário a 24 de Novembro desse ano, acompanhados
do novo superior, o P. João Cardona. Nesse mesmo dia prepararam a capela
provisória, tão provisória, que, dois dias depois, foi necessário transferi-la para a
sala que, durante uns dias, serviu de quarto para o superior.
No dia 25, segundo o Diário da Comunidade e no dia 24, segundo o
testemunho de D. Moisés, foi celebrada pelo P. Cardona, a primeira missa na
comunidade, “no obscuro e humilde cartório, que mais parecia “uma nova La
Neuville ou canto das catacumbas”, e a vida do seminário começou sob a
protecção do apóstolo S. João Evangelista, modelo dos sacerdotes.
O número dos escolásticos foi aumentando, com a chegada dos jovens,
Peixoto, Misseno e Vieira, aos quais se juntou, no dia 19, o José Neiva Araújo.
Ao todo eram oito: Álvaro Misseno, Joaquim Correia de Castro, Aquilino
Câmara, José Neiva Araújo, Manuel Conceição Azevedo, Júlio Mesquita, José
António Peixoto, Agostinho Martinho Viana
Os professores eram: P. João Cardona (Moral), P. Manuel de Jesus Raposo
(Filosofia e Direito Canónico), P. Daniel Junqueira (Dogma e História).
305
APPSSp. Arquivo do Economato Provincial
O Seminário de Viana do Castelo
309
De notar que logo, nesse ano, o Visconde de Montedor abriu uma subscrição
a favor do novo seminário, entrando ele com 500 escudos. De resto, foi o
primeiro benfeitor a fazer uma visita ao Seminário, a 17 de Dezembro. No dia de
Natal, 25 de Dezembro, seria a comunidade a retribuir-lhe a visita, indo celebrar
missa da meia-noite à sua capela.
Após três dias de retiro, de 30 de Novembro a 3 de Dezembro, a abrir o novo
ano, começaram as aulas. Era o dia 4 de Dezembro.
A 29 de Novembro de 1922, o P. Cardona comprava a Manuel Rodrigues
da Silva uma pena de água da mina da Pedreira, do lugar dos Sobreiros, do
Monte de Santa Luzia, tomada do cano da Câmara Municipal que passava a
nascente do convento das Ursulinas, pela quantia de mil escudos. E a 18 de
Dezembro era inaugurada a instalação da água canalizada; até aí tinha que se
ir buscar ao fontanário público. A luz só foi instalada no fim do mês, a 30 de
Dezembro.
A 16 de Dezembro é inaugurado o novo refeitório, pois no antigo chovia.
A 27 de Dezembro teve lugar a primeira Bênção do Santíssimo Sacramento
com custódia, e a 16 de Janeiro de 1923 era inaugurada a capela.
Uma grande parte das madeiras para as obras nos primeiros anos, pinheiros e
eucaliptos, foram dadas pelos melhores lavradores das freguesias vizinhas.
Houve várias procissões de carros vindos um dia de Anha, outro dia do Outeiro,
outro da Areosa e depois de Santa Marta, etc.
Como se vê, as condições, ao princípio, foram bastante precárias, mas pouco a
pouco foram melhorando. Nos anos seguintes, foi possível prolongar a ala
principal para norte, com um segundo andar, que acabaria por se estender a todo
o edifício.
Como a cerca do seminário era muito pequena e se ofereceu a oportunidade da
compra do terreno adjacente, com cerca de 5.000 m2, composto por um quintal
com dois prédios rústicos, que foram já pertença do convento das Ursulinas, mas
que a proprietária D. Amélia Rosa de Jesus Formigal de Morais tinha vendido a
Domingos Parente a 14 de Julho de 1917, D. José de Lencastre resolveu comprálo a 22 de Dezembro de 1927, com direito a meia pena de água.
Uma outra compra, a de uma casa baixa, no bairro das Ursulinas, confrontando
a norte e a nascente com caminho público, foi feita pelo P. Pinho, a 8 de Março
de 1930, a Maria Miranda Coutinho e seu marido Manuel Inácio da Costa.306
A 21 de Abril de 1923 inauguram-se os nove quartos novos do lado norte do
novo edifício.
No dia 5 de Agosto de 1923 foram ordenados, no seminário de Braga, pelo
arcebispo D. Manuel Vieira de Matos, os dois primeiros sacerdotes: os Padres
Joaquim Correia de Castro e Álvaro Misseno. No dia 6, o P. Álvaro Misseno
celebrava no seminário de Viana a sua primeira missa.
A 7 de Setembro de 1923 despediu-se da comunidade o P. Cardona, que foi
enviado para a missão de Malanje.
306
APPSSp. Arquivo do Economato Provincial
310
Adélio TORRES NEIVA
A 23 de Setembro tinha lugar neste seminário o primeiro retiro dos padres da
Província. Nele participaram os Padres António Teles, Joaquim Alves Correia,
Clemente Pereira da Silva, Daniel Junqueira, Manuel de Jesus Raposo, Giocondo
Adriani, Cândido Ferreira da Costa, Agostinho Pintassilgo, António Nunes
Costa e os escolásticos: Joaquim Correia de Castro, Álvaro Misseno, Aquilino
Câmara e José António Peixoto. Orientou o retiro o P. Pinho.
No ano escolar de 1923-1924 abriu-se uma secção para aspirantes do primeiro
ano de preparatórios, ao todo 26, de quase todas as dioceses de Portugal, e aqui
se manteve por alguns anos, juntamente com o Grande Escolasticado, até à sua
transferência para S. Tomás de Aquino, em Braga. Nesta altura os filósofos eram
8 e os teólogos 3.
Em 1925-1926 o corpo docente era formado pelos PP. Moisés Alves de Pinho,
Manuel de Jesus Raposo, Agostinho Pintassilgo, Joaquim Correia de Castro,
Rost, António Nunes Costa.
A primeira visita importante ao seminário foi a do Sr.Núncio Apostólico, a 16
de Julho de 1925; aqui permaneceria durante alguns dias, recebendo a visita dos
padres do arciprestado de Viana do Castelo.
No ano lectivo de 1925-1926 o pessoal da comunidade era formado pelos PP.
Pinho, provincial, Raposo, Nunes Costa, Joaquim Castro, Rost, Agostinho
Pintassilgo e Adriani.
A 21 de Junho de 1926 chegavam de França as imagens do Imaculado Coração
de Maria e de Santa Teresinha do Menino Jesus.
A 11 de Outubro de 1926 celebrava no seminário a sua Missa Nova o P. José
Neiva Araújo.
A 24 de Setembro de 1927 tomava posse o novo superior da comunidade, P.
José Pacheco Monte.
A 9 de Maio de 1928 o P. Pinho reunia no seminário os provinciais das outras
congregações religiosas: P. António Coelho, OSB, P. Cipriano do Vale, OFM,
P. Cândido Mendes, SJ, P. Sebastião Mendes, CM, P. José Maria Coelho, PSS,
P. José Lourenço, OP, P. José Nunes Monteiro. Foi como que o embrião da
futura CNIR (Conferência Nacional dos Institutos Religiosos).
A 15 de Outubro de 1928 começava o externato com três alunos, sendo seu
director o P. Cândido Ferreira da Costa.
A 1 de Outubro de 1929 falecia o primeiro confrade desta comunidade, o P.
Rost.
Em 1929-1930 a comunidade era formada pelos Padres Moisés Alves de Pinho,
Provincial, Clemente Pereira da Silva, superior, Miguel Fonseca, Alberto Brun,
Pagualt, Cândido Costa e Joaquim Castro.
A 10 de Dezembro de 1929 iniciava-se uma nova construção no seminário com
o lançamento da primeira pedra.
No dia 6 de Maio de 1930 tomavam hábito os escolásticos Aníbal Rebelo e
Cardoso. E a 5 de Outubro desse mesmo ano eram ordenados de presbítero os
Padres Angelino Guimarães, José Terças, Francisco Alves do Rego, Manuel
António de Sousa, Adriano Rocha e Déon.
O Seminário de Viana do Castelo
311
Em 1931 frequentavam o seminário, além dos filósofos e dos teólogos, dois
grupos de estudantes: o das vocações tardias e os alunos externos que
frequentavam as aulas no seminário, mas não viviam lá.
A 12 de Julho de 1931 foi a primeira festa da Consagração ao Apostolado:
foram enviados em missão os Padres Angelino Guimarães, José Terças, Manuel
António de Sousa, Francisco Rego e Adriano Rocha.
A 13 de Maio de 1932, na secretaria notarial de Paços de Ferreira, perante o
notário José Augusto da Costa Eiras, D. José de Lencastre e sua esposa D. Maria
Haidée Cardoso da Silva Lencastre, faziam doação do prédio do convento das
Ursulinas à Corporação dos Missionários do Espírito Santo de Angola, na
pessoa do representante da
dita Corporação, o P.
Moisés Alves de Pinho, ali
representado pelo seu procurador, o P. António Ferreira
Lombo, pároco de Paços de
Ferreira, para preparação e
instrução dos missionários
do nosso Ultramar. Se por
qualquer motivo, a Congregação não quisesse ou não
Viana - 1931
pudesse utilizar para o fim
acima indicado, os supra aludidos prédios reverteriam para o doador ou seus
descendentes. Esta doação foi avaliada em 6.700 escudos. 307
A 24 de Julho de 1932 ausenta-se para o Fraião, como superior dessa
comunidade, o P. Joaquim Correia de Castro.
A 28 de Setembro de 1932 falece em Braga D. Manuel Vieira de Matos, grande
amigo da Congregação do Espírito Santo; no funeral, a comunidade de Viana
fez-se representar pelo seu superior, P. Joaquim Alves Correia, além do P.
Provincial, P. Clemente Pereira da Silva.
A 11 de Outubro de 1932 toma posse do cargo de superior do seminário de
Viana do Castelo o P. Joaquim Alves Correia.
A 24 de Abril de 1933 começam novas obras, para a construção de mais um
andar no antigo edifício; no centro do edifício haverá um terceiro andar, e na parte
voltada para a cidade uma galeria aberta em toda a extensão. No centro ficaria um
corredor e a parte do edifício próxima da igreja seria reservada para hóspedes.
Em Junho de 1933 aparecia o primeiro número do jornal “Entre Nós”.
A 29 de Setembro de 1935, por proposta do Director da escola Colonial Conde
de Penha Garcia, os teólogos do IV Ano de Teologia partiam para Lisboa, a fim
de frequentarem a Escola Colonial, tendo-os acompanhado o P. Alves Correia,
e P. Manuel Raposo. Como superior da comunidade é nomeado o P. António
Ribeiro Teles.
307
APPSSp. Arquivo do Economato Provincial
312
Adélio TORRES NEIVA
A 7 de Novembro de 1935, o Provincial que até então residira no seminário de
Viana, partiu para a sua nova residência, no Porto.
Durante o ano de 1935 mudou-se para o campo e aumentou-se a pocilga, que
ficou muito espaçosa, remodelou-se a cozinha e anexos, refeitório, museu, salão
de teatro, etc.
Em 1937, porque a Santa Sé impunha numerosas aulas no 4º ano de Teologia,
e a sua presença em Lisboa não tinha condições para isso, o 4º ano de Teologia
voltou para Viana.
Em Outubro de 1938, os alunos eram 48: 4 do quarto ano de Teologia e 10 de
cada um dos outros anos e 7 de Filosofia. Com os padres, trabalhavam no
seminário os Irmãos Emílio, João Baptista, Clemente, Augusto, André e
Martinho.
Em 1940 o “Entre Nós” converte-se em “Acção Missionária”, sendo expedido
de Viana.
Neste ano foi decidido ficar em Viana um grupo de 20 aspirantes, para fazer a
instrução primária; os outros principiantes iriam para a Guarda e para a Silva.
A 12 de Maio de 1940, na Festa do Pentecostes, foi erecta canonicamente, na
igreja do Seminário, a Confraria do Espírito Santo.
A 20 de Setembro de 1942 era inaugurada uma nova capela.
Em Outubro de 1942 o P. Duff partia para Cabo Verde juntamente com o P.
Henrique Alves, e em Viana ficava apenas o Curso de Teologia com 39 alunos.
O curso de Filosofia passou para o Fraião, e lá esteve até 1947, ano em que
voltou para Viana.
A 8 de Dezembro de 1942, fez-se a consagração da comunidade ao Coração
Imaculado de Maria, associando-se assim à Consagração do mundo que o Papa
fizera no anterior dia 31 de Outubro. Em 1945, a 30 de Maio, foi colocada na
extremidade do jardim uma imagem do Coração Imaculado de Maria.
Em 1947-1948 passou a haver em Viana além da Teologia, também o terceiro
ano de Filosofia. O corpo docente era formado pelos PP. António Teles,
superior, Cândido Costa, director, Fernando Moreira, Douce, António Rodas,
Georger, Aníbal Rebelo, Domingos Salgueiro e Van den Berge. Os Irmãos eram:
Emílio, Marcelino, Luís, Firmino, Manuel e Tito.
Em 1949-1950, além da Teologia, havia o 2º e 3º ano de Filosofia. Sendo 47 os
teólogos e 20 os filósofos.
Em 1952, o Curso de Teologia parte para o seminário da Torre da Aguilha, que
se acabava de construir. A partida do Curso de Teologia de Viana do Castelo
para a Torre da Aguilha foi precedida de uma sessão solene de despedida, no
Liceu da Cidade, a 7 de Outubro de 1952.
O Curso teológico deixaria definitivamente o Seminário a 29 de Outubro de
1952, em carruagem especial da C.P. a caminho da Torre da Aguilha.
O novo ano de 1952-1953, agora só com o curso de Filosofia começou com o
P. José Pereira de Oliveira a superior, P. Francisco Lopes a director e, como
professores, os Padres Domingos Rodrigues, Aníbal Rebelo, Avelino Vieira
Alves, António Martinho e Henrique Alves. Os Irmãos eram: Manuel,
O Seminário de Viana do Castelo
313
Antonino, Bento e Marcelino. A Filosofia incluía o primeiro e o segundo ano,
num total de 33 alunos.
Em 1955-1956 o director era o P. Fernando Moreira e os professores os PP.
Aníbal Rebelo, José Aguiar, Oliveira Giroto e António Antunes Pinto.
A 10 de Setembro de 1956 começaram as obras de adaptação do seminário a
escolasticado menor. Desapareceu a maior parte dos quartos e, em seu lugar
ficaram salas de aulas e dormitórios; a capela ficou onde era o salão de estudo.
Em Outubro desse ano o Curso de Filosofia deixava Viana do Castelo,
passando agora o seminário a ser um pequeno escolasticado. Este ano entraram
109 alunos que iriam frequentar os dois primeiros anos do Liceu. 69 eram do Iº
ano e 39 do 2º. Destes, 17 vinham da Silva e 22 de Godim. No verão começaram
a ir passar férias, em acampamento à Foz do Neiva.
Neste ano de 1956-1957 o superior e director era o P. António Alves de
Oliveira e os professores os Padres Domingos da Cruz Neiva, Jerónimo
Ferreira, Joaquim Pinto, José
Pereira Marante e Ernesto de
Azevedo Neiva. Fazia também
parte da comunidade o P. Adélio
Torres Neiva a preparar a sua
admissão à Universidade.
No ano seguinte, 1957-1958, os
alunos do segundo ano eram 42 e
os do primeiro 54, num total de 96.
Em 1959 chegou à comunidade o
seu novo superior e director, P.
Amadeu Gonçalves Martins. O
Seminário de Viana - 1.ª Fase
corpo docente era formado pelos
PP. José Pereira Marante, Jerónimo Ferreira, Joaquim Pereira Pinto e João
Baptista Pinheiro e o escolástico Francisco Janeiro. Os irmãos eram: Celestino
Leitão, Belarmino Morais, Crisólogo Morais, Sílvio de Freitas. Os escolásticos
107.
Em 1959-1960 construíu-se o grande barracão para recreio dos alunos.
Depois de ter estado fechada durante sete anos, por ameaçar ruína, a 10 de
Fevereiro de 1963 abriu ao culto, devidamente reparada pelo prior de S.
Domingos, a igreja dos Santos Mártires. A partir de 6 de Abril ficará a ser a capela
da comunidade, tendo os bancos da capela interior sido levados para a igreja.
Em Abril de 1965 é nomeado superior da comunidade o P. Manuel Augusto
Ferreira e director dos escolásticos o P. João Baptista Pinheiro, fazendo parte do
corpo docente os PP. Abel Moreira Dias, João Pinto da Silva e José de Castro
Oliveira, escolástico, que no ano seguinte foi substituído pelo António Luís.
Nas férias de 1965 fizeram-se vários melhoramentos na casa, nomeadamente
no refeitório, onde se colocaram azulejos e mosaicos novos. Os alunos eram 102.
Em Outubro de 1972 fizeram-se melhoramentos importantes nos recreios.
Em 1976-1977 os alunos já só eram 51.
314
Adélio TORRES NEIVA
A 8 de Fevereiro de 1978 faleceu Mons. Daniel Machado, pároco de
Monserrate e grande amigo da Congregação.
Entretanto, no seminário os alunos continuavam a diminuir: apenas 36.
Resolveu-se remodelar totalmente esta casa, adaptando-a a novas funções: casa
de repouso para missionários e centro de animação missionária.
Em Outubro de 1985, tendo em vista as obras de fundo que se vão efectuar
nesta casa apenas ficaram na comunidade os PP. António Rodrigues Ferreira,
António Luís Gonçalves e António Cardoso Cristóvão.
Entretanto restaurou-se a pequena casa em frente do seminário que era
propriedade da Congregação, para servir de residência à comunidade durante as
obras. O P. António Rodrigues Ferreira, ecónomo e que deverá acompanhar as
obras, foi para esta nova residência a 24 de Abril de 1986. No dia 1 de Maio foi
morar para ali também o P. António Cardoso Cristóvão, enquanto o P. António
Luís Gonçalves, capelão do Hospital Distrital de Viana do Castelo, foi ocupar as
suas dependências no Hospital.
A 11 de Agosto de 1986, depois de muitos e demorados estudos e plantas, as
obras foram postas a concurso. Da meia dúzia de concorrentes, as obras foram
entregues à firma de construções “Empreiteiros Casais”, de Braga.
A 1 de Setembro iniciavam-se as obras que, conforme o estipulado no
contrato, deveriam ser entregues em Outubro de 1987. Estas obras serão uma
remodelação completa da casa: o interior será substituído por placas de cimento
e a parte do edifício do lado da antiga garagem vai ficar reduzido às dimensões
normais do edifício.
A 30 de Novembro, o P. António Gonçalves partirá para a casa da Boavista no
Porto, terminando o seu tempo de capelão no hospital. A capelania será entregue
ao P. António Cardoso Cristóvão, a 1 de Dezembro de 1986. Efectivamente as
obras prolongaram-se até Maio de 1988.
A 16 de Maio deste ano de 1988, se bem que com as obras ainda por concluir,
foi inaugurado o quase novo seminário. Desde 1 de Fevereiro deste ano residia
já no seminário o P. António Rodrigues Ferreira, e desde 1 de Março o P.
António Cardoso. A Casa da frente ficou livre para poder ser ocupada pelas
empregadas.
A 5 de Outubro foi nomeado superior o P. Belarmino Galhano e ecónomo o
P. Rodrigues Ferreira que arcara com todas as responsabilidades das novas
instalações do edifício, que passa a ser uma comunidade para idosos e animação
missionária.
A 17 de Setembro integrou a comunidade o P. Carlos Gouveia, que veio
substituir o P. Martins Salgueiro na animação missionária.
A casa tem continuado a funcionar como comunidade de confrades idosos e
centro de animação missionária, tendo como superiores sucessivamente os PP.
Belarmino Galhano, António Alves de Oliveira, Manuel dos Santos Neves e
Adélio da Cunha Fonte. Na animação missionária têm trabalhado vários
confrades.
O Seminário de Viana do Castelo
315
A Igreja dos Santos Mártires
Quando os Espiritanos tomaram conta do velho convento, a igreja dos Santos
Mártires não estava em condições de abrir ao público. Necessitava de reparações
de fundo. Logo se formou uma comissão de homens que percorreu a cidade, e
depressa se juntou a importância necessária para se iniciarem as obras. Apesar
disso, desde o primeiro ano da inauguração do seminário se começou a realizar a
festa dos Santos Mártires de Viana, a 6 de Fevereiro. Mas só a 11 de Novembro
de 1923 é que a igreja seria aberta ao público, com a presença da Confraria,
ficando o seu uso a cargo do seminário, conforme protocolo então estabelecido
entre o seminário e a respectiva irmandade. Segundo este protocolo, datado de 4
de Novembro de 1923, o Director do Seminário das Missões incumbia-se de
todo o serviço religioso da igreja, mediante as seguintes condições:
1º- Comprometia-se o seminário a garantir uma missa, pelo menos, todos os
dias naquela igreja, à hora que mais conveniente fosse e em conformidade com o
regulamento da casa, sem que para tal serviço exigisse qualquer recompensa;
2º- O Seminário tomava a seu cuidado a guarda da igreja e de todas as alfaias
de culto arroladas no acto da entrega, podendo fazer uso delas nos diferentes
actos religiosos;
3º- O Seminário tomava a seu cargo custear as despesas ordinárias do culto,
tais como, azeite, cera, hóstias, vinho, lavagens e concertos das roupas, excepto
nas festas ou novenas ou quaisquer outros actos de culto que fossem da iniciativa
da Irmandade;
4º- Ficaria também ao cuidado do Seminário a limpeza e asseio dos altares,
sacristia e da parte da igreja reservada ao seu uso;
5º- Era direito do Seminário reservar para uso do seu pessoal, além da capelamor, a parte da igreja de que se pudesse precisar e separá-la da parte reservada ao
público com grades; a ele também pertencia o uso exclusivo do coro, excepto em
dias de festa, promovidos pela confraria;
6º- Ficaria à disposição do Seminário a faixa de terreno contígua à igreja do
lado do poente, bem como meia pena de água pertencente à igreja;
7º- As esmolas das caixas ou dos peditórios feitos por ocasião dos actos de
culto ficariam também à disposição do Seminário para custeio das despesas
ordinárias do culto;
8º- Ficava o Seminário autorizado a abrir três portas que facilitem ao seu
pessoal, comunicação com a igreja: uma na capela-mor, outra no corpo da igreja
e outra para o coro e torre.
Ficava, porém, entendido que esta autorização nunca poderia ser, nem para a
Confraria nem para o Seminário, fundamento para direito de futura prescrição,
de tal forma que, deixando, por qualquer motivo justo, de vigorar o presente
acordo, seriam novamente muradas ou entaipadas aquelas portas, à custa da
Confraria e do Seminário em igual proporção.
9º- O Director do Seminário das Missões seria proposto pela Irmandade à
Autoridade Eclesiástica para capelão da igreja, segundo as normas do Direito
316
Adélio TORRES NEIVA
Canónico, e poderia promover dentro dela e nessa qualidade, por si ou por
outros, tanto para o pessoal do Seminário como para o público, todos os actos
de culto que bem entendesse, sem mais ninguém a quem dar contas, senão à
mesma Autoridade Eclesiástica.308
Quando a igreja foi aberta ao público, no altar lateral, à direita, estava o Senhor
das Chagas, um crucifixo de altura natural; ao toque das Ave-Marias, de manhã,
ao meio dia e à noite, tangiam-se mais cinco badaladas em honra das cinco chagas
do Senhor; do lado esquerdo, estavam os Santos Mártires de Viana, Teófilo,
Revocata e Saturnino; no lado direito da mesa da comunhão estava o Senhor dos
Passos; frente a este altar estava o Senhor da Cana Verde. Na abertura da igreja,
o sermão de circunstância foi feito pelo P. Pinho.
Em 1924 tiveram início as pregações das sextas-feiras da Quaresma, como
preparação para a Festa do Senhor das Chagas, devoção tão querida do povo de
Viana. O seu primeiro orador foi o P. Manuel Raposo que desenvolveu o tema
da Coroação de Espinhos.
Em Setembro desse ano foi entronizada a imagem do Sagrado Coração de
Jesus, que tinha pertencido ao Colégio do Espírito Santo, de Braga. Após a
Revolução de 1910, esta imagem esteve por muito tempo escondida num
armazém de Braga e foi, por fim, vendida a um pároco. Ao ter conhecimento do
que se passava, o P. Pinho entrou em contacto com o seu proprietário e
conseguiu que ele a cedesse.
A 20 de Abril de 1924 estrearam-se uns paramentos riquíssimos feitos pelas
freiras que outrora habitaram neste convento.
Assim continuou a igreja dos Santos Mártires a sua história, como
propriedade da Confraria ou da paróquia. Mas ao fim de um certo tempo
começou de novo a ameaçar ruína e, porque não havia meios financeiros para a
sua reparação, acabou por fechar ao culto durante seis ou sete anos. Em 1963,
o pároco de então, P. Daniel Machado, abalançou-se à empresa da sua
restauração, para beneficiar os paroquianos daquele bairro e, nessa reparação,
gastou cerca de 200 mil escudos, sendo, ao que consta, cerca de metade, do seu
património. Foi quase totalmente apeada a parede do lado norte,
completamente renovado o soalho (cimentado e coberto de tacos),
inteiramente renovado o tecto do corpo da igreja (tijoleira), modificado o
coro, ampliada uma janela e deslocada outra; deslocados os altares laterais e o
púlpito, alargado, cerca de um metro para cada lado, o arco da capela-mor e
restituídos ao estado primitivo o supedâneo e escadas do altar. O projecto da
reparação foi do arquitecto Júlio de Brito, professor da Escola de Belas Artes
do Porto, que o fez gratuitamente, a pedido do P. José da Costa Parente e do
seminário de quem é também amigo. Quanto à festa dos Santos Mártires de
Viana passou a ser celebrada no Domingo a seguir ao dia próprio ou seja, 6 de
Fevereiro, como o fizeram já em 1638 os vianenses depois que D. Rodrigo da
Cunha fixou a festa nessa data.
308
BPPCSSp. 19 p. 1767-1970
O Seminário de Viana do Castelo
317
A inauguração dos melhoramentos foi feita pelo bispo auxiliar de Braga, D.
Francisco Maria da Silva, a 10 de Fevereiro de 1963.
Do plano da reconstrução, porém, só uma parte foi executada, ficando para
melhores dias a reparação da capela-mor e da sacristia. Em 1966, esta reparação
tornava-se urgente, pois o tecto da capela-mor e da sacristia ameaçavam ruína.
Foi então que, a 18 de Agosto de 1966, atendendo a que a paróquia não
dispunha de meios financeiros para custear as obras e que o espaço reservado aos
seminaristas e demais pessoal do seminário era demasiado reduzido e sem
condições para dar solenidade ao culto, de entendimento com o pároco, o
Provincial da Congregação do Espírito Santo, P. Amadeu Martins, pediu ao
arcebispo de Braga que a igreja fosse cedida ao seminário, como gesto simbólico
da arquidiocese comemorativo do primeiro centenário da chegada dos
Espiritanos a Portugal, que então decorria. A igreja continuaria não só ao serviço
da população do bairro e da cidade, como também de sede da Confraria dos
Santos Mártires e centro de catequese paroquial. Seria devolvida aos seus antigos
proprietários, caso algum dia a Congregação abandonasse o seminário e a
residência. A Congregação estaria ainda na disposição de reembolsar a paróquia
das despesas ali efectuadas anteriormente, nas reparações já feitas pelo pároco.
As diligências começaram com a boa anuência de todas as partes, mas veio-se a
descobrir que o referido templo, legalmente, não pertencia à Confraria mas ao Estado.
Em carta de 13 de Agosto de 1968, o Provincial dos Espiritanos, por
intermédio do seu procurador junto do Governo, pedia à Secretaria de Estado do
Tesouro, do Ministério das Finanças, a cedência do referido templo.
Por carta de 20 de Novembro de 1969, o Chefe da Repartição informava o
procurador que a 12 de Novembro desse ano de 1969, tinha sido autorizada a
entrega da igreja dos Santos Mártires à Congregação do Espírito Santo.
O auto da entrega fez-se a 3 de Dezembro de 1969, na Direcção das Finanças,
pelo Secretário das Finanças João Agostinho Hormigo, na presença do
procurador do Provincial P. António Alves de Oliveira.
“Para a Província Portuguesa dos Espiritanos, a igreja dos Santos Mártires não era
apenas um templo, lugar de oração. Era um relicário onde se guardavam como pedras
preciosas, factos, solenidades, cerimónias, que ficaram indeléveis nas almas e as
comprometeram oficialmente na vida da Congregação e da Igreja. Profissões,
renovação de votos, ordenações, todos estes actos prenderam as almas consagrando-as
ao serviço da Igreja. Além destes actos públicos, o que não se poderia dizer dos diversos
diálogos na oração, entre os que se empenhavam na sua formação sacerdotal e Deus,
suplicando luz, tomando resoluções e compromissos, numa doação total!.. Muitas
gerações por ali passaram trabalhando a sua alma no fogo sagrado da liturgia oficial
do culto ou da oração particular e solitária. Quantos não lembram a ordenação
sacerdotal, a primeira missa, no seu altar-mor, o primeiro sermão no seu púlpito, o seu
início de apostolado na catequese feita às crianças do bairro. Muita da história da
Província passou por ali”.309
309
BPPCSSp. 19
318
Adélio TORRES NEIVA
Nas vicissitudes do tempo.
Dado o grande desenvolvimento que a Congregação começava a ter e o
número dos aspirantes que aumentava de ano para ano, principiaram as obras de
ampliação do seminário. Em 1931, o seminário tinha já sido acrescentado com 34
quartos e um vasto salão de estudo, além de outros acessórios. Primeiro
acrescentou-se do lado norte e, em 1932, o 2º andar do antigo edifício.
Em 1941 começou em Braga o 1ºano de Filosofia, ficando aqui o segundo,
juntamente com a teologia.
Em 1942 foi benzida a capela privativa do Seminário, feita do corredor
chamado “anexo” do segundo andar e respectivos quartos.
A 1 de Julho de 1944 foi instalada na capela e benzida a imagem de S. João
Evangelista, depois transferida para a sala da comunidade.
No claustro foi inaugurada, a 30 de Maio de 1945, a imagem em mármore do
Sagrado Coração de Maria, que ficou colocada na extremidade do jardim.
Em Novembro de 1952, o curso teológico passou para a Torre da Aguilha,
ficando aqui apenas a filosofia, que, quatro anos depois, em 1956, seguiu também
para Carcavelos. Aqui ficou o seminário menor do primeiro e do segundo ano,
hoje chamado Ciclo Preparatório. Na adaptação do seminário de teologia a
seminário de preparatórios distinguiu-se, entre outros, o P. José Pereira
Marante. O primeiro ciclo liceal aqui permaneceu até 1980.
Reduzida a uma pequena
comunidade espiritana desde 1980,
o problema do futuro deste
seminário começou a colocar-se,
tanto a nível externo como
interno. Foram mesmo estabelecidas negociações com a diocese
de Viana do Castelo, que andava à
procura de instalações para a
abertura do seminário diocesano.
Mas não foi possível encontrar na
cidade de Viana do Castelo uma
casa adaptada à instalação da
Seminário de Viana
comunidade espiritana, que teria
de abandonar o seminário. Aliás veio-se a descobrir, já na fase final destas
negociações, analisando o dossier documental desta casa, que se este seminário
deixasse de estar ao serviço da Congregação, reverteria novamente a favor do
doador ou dos seus herdeiros por linha de primogenitura. Assim, a hipótese de
transferir o Seminário para a diocese era totalmente inviável.
Como solução surgiu a hipótese de a Congregação reparar profundamente a
casa, de modo que a sua polivalência pudesse ter várias aplicações, vindo-se a
optar por fazer dela uma casa de repouso para missionários idosos e um centro
O Seminário de Viana do Castelo
319
de acolhimento para a animação missionária. A casa foi totalmente remodelada e
transformada, tendo a sua reabertura sido efectuada a 16 de Maio de 1988.
Algumas Efemérides
Das efemérides acontecidas ao longo da história do Seminário de Viana do
Castelo, registamos, entre outras:
A visita de Mons. Luís Le Hunsec, Superior Geral da Congregação, que foi em
passeio com toda a comunidade ao monte de S. Silvestre, em Cardielos, tendo
subido o monte em carro de bois enfeitado e foi recebido pela população com
grandes manifestações de festa e alegria. Por iniciativa do pároco Mons. Januário
Viana, a 19 de Julho de 1931 era descerrada uma lápide no alto do monte,
evocativa da sua passagem por ali.
A 15 de Julho de 1929, os seminaristas deslocaram-se em passeio ao Monte de
Santa Tecla, em Espanha, onde, entusiasmados pela beleza do panorama, entoam
o Hino Nacional e o Salve Nobre Padroeira.
A Ordenação Episcopal de D. Moisés Alves de Pinho, celebrada a 17 de Julho
de 1932, na igreja de S. Domingos de Viana, tendo sido bispos ordenantes Mons.
Luís Le Hunsec, Superior Geral da Congregação, em substituição do arcebispo
de Braga D. Manuel Vieira de Matos, que não pôde comparecer por doença, D.
João Evangelista de Lima Vidal, bispo de Vila Real e D. José Correia da Silva,
bispo de Leiria. Estaria também presente o P. Daniel Brottier, então assistente
geral da Congregação. O almoço da festa foi no Seminário de Viana.
A Ordenação Episcopal de D. Faustino Moreira dos Santos, bispo de Cabo
Verde, a 13 de Julho de 1940, também na igreja de S. Domingos, que reuniu em
Viana quase toda a Província. Foram bispos ordenantes D. António Augusto de
Castro Meireles, bispo do Porto, assistido por D. Rafael Maria da Assunção,
bispo de Limira e D. Manuel Ferreira da Silva, bispo de Gurza.
Em 26 de Maio de 1942, o seminário iria em passeio a Belinho, visitando o
poeta António Correia de Oliveira, que correspondeu à visita escrevendo
algumas poesias para a “Acção Missionária”.
O Centenário da morte do Venerável Padre em 1952, além de várias sessões
solenes na cidade, teve a marcá-la uma Exposição Missionária no Convento de S.
Domingos, inaugurada a 1 de Junho de 1952, festa do Pentecostes.
De salientar na vida deste seminário a consagração da Comunidade ao Sagrado
Coração de Jesus, que depois se repetia todos os anos, no dia 25 de Novembro,
dia da fundação da comunidade, e a peregrinação a Santa Luzia que todos os anos
se fazia no princípio das aulas, para consagrar o ano ao Coração de Jesus.
Visitas ilustres
Das visitas ilustres que passaram pelo seminário podemos destacar o santo P.
Cruz, que por ali passou várias vezes, Mons. Gay, bispo de Guadalupe, o
Ministro da França em Portugal, o Cônsul francês, o prof. Jobi, do Instituto de
320
Adélio TORRES NEIVA
Alta Cultura Francesa em Madrid e antigo Director da Acção Católica na
França, vários arcebispos de Braga e bispos de Viana do Castelo, os párocos, D.
Teodósio Gouveia, cardeal de Lourenço Marques, as autoridades civis de Viana
do Castelo, nomeadamente o director do município Dr. Rocha Páris, o Dr.
Manuel Múrias, director do Arquivo Colonial, o P. Matheo Crawley, apóstolo
da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, o P. Moreira das Neves, o Ministro das
Colónias, Vieira Machado, o subsecretário da Administração Ultramarina, Dr.
Silva Cunha, o Núncio Apostólico, o escritor brasileiro Plínio Salgado, Mons.
Avelino Gonçalves, director do jornal Novidades. Além de benfeitores bem
conhecidos como, D. José de Lencastre, Capitão Monteiro Pinto, Antoninho
Valença, Faria Barbosa, Dr. Élio Vasconcelos, Santos Pinto.
Benfeitores do Seminário
Dos Benfeitores há a registar os nomes de António Santos Pinto, Faria
Barbosa, João Alves Cerqueira, Dr. Élio Vasconcelos, D. Rosa Maciel, D. José
de Lencastre, Mons. Januário (Cardielos), Cónego Domingos Borlido, Mons.
Quesada (Outeiro), Dr. Joaquim Proença, Dr. Eduardo Valença, Dr. José da
Rocha Páris, Dr. José Alpoim, Dr. Rangel, Dr. Gaspar Ferreira de Castro, Dr.
Luís de Monteverde, Dr. Carlos Souto Morais, Dr. António Delgado, Dr. José
Maria de Carvalho, Dr. Espregueira Mendes, Dr. Carlos de Carvalho, Dr.
Fernando P. Dias, P. António Torres (Cardielos) P. José Peixoto, Francisco de
Cyrne, Albano Faria, Francisco de Paula Ferreira, D. Maria Zamith, D. Laura
Franco, D. Maria Augusta Tinoco, D. Ana Fernandes.
Padres ordenados neste seminário
A 14 de Agosto de 1931: Mário Alves da Silva, Manuel António Meira,
António Gomes da Silva, Pompeu de Sá Leão e Seabra, António Duarte Brásio.
A 25 de Novembro de 1932: Manuel Dias Junqueira.
A 8 de Outubro de 1933: José Pereira da Silva, João Domingos Terças, José
Pereira de Oliveira.
A 15 de Agosto de 1934: Álvaro da Cruz e Melo.
A 22 de Setembro de 1934: Cristobal Valdez e Armando Alves Pinto.
A 23 de Dezembro de 1934: Álvaro Soares da Silva.
A 6 de Abril de 1935: Fernando Moreira da Silva.
A 15 de Setembro de 1935: Manuel Albuquerque, João de Barros, Olavo Teixeira.
A 3 de Novembro de 1935: Aníbal Rebelo.
A 4 de Outubro de 1936: Bernardo Vieira de Melo, António Gonçalves,
Manuel Moutinho, Domingos Salgueiro, Francisco Valente e António Moreira.
A 26 de Setembro de 1937: Lindorfo Quintas, Abel Pinto de Sousa, João Pinto
da Silva, António Silva, José Felgueiras, Abílio Saraiva, António Belarmino
Galhano, Augusto Teixeira Maio, Daniel Araújo, José Felício, Alfredo Mendes,
Jacques Bertrand, Emílio Danguy.
O Seminário de Viana do Castelo
321
A 18 de Dezembro de 1937: Manuel Cosme.
A 2 de Abril de 1938: Ismael Baptista.
A 25 de Setembro de 1938: Francisco Nogueira da Rocha.
A 17 de Dezembro de 1938: Pedro Alves Pereira, Manuel Geraldes Pereira e
João Amorim.
A 8 de Outubro de 1939: Agostinho Pinheiro, Firmino Cardoso Pinto, João
Tavares, Abílio Teixeira e António Cardoso.
A 7 de Junho de 1940: José Teixeira Marques.
A 21 de Dezembro de 1940. Américo Ferreira, Joaquim Pinto, António Alves
de Oliveira, Joaquim Martins, Albano Matos, Crispim Martins.
A 29 de Março de 1941: José Maria Pereira, Ernesto Fernandes de Sá, Avantino
de Sousa.
A 28 de Setembro de 1941: José de Oliveira Andrino, Avelino Pereira da
Costa, José Sequeira Ribeiro e Guilherme Carlos Ribeiro.
A 21 de Março de 1942: Manuel Inácio Morais Correia, Joaquim Barata Freire
de Lima, Herculano Lopes de Oliveira.
A 19 de Dezembro de 1942: Joaquim Sobral Ferreira Esteves, Augusto
Nogueira de Sousa, António Cardoso Botelho, Delfim da Silva Pedro.
A 30 de Maio de 1943: Cidalino Ferreira de Melo.
A 26 de Dezembro de 1943: José Gonçalves, António Rodas, Querubim
Meireles, José Maria Felgueiras, Joaquim Antunes Pinto, Manuel Ferreira,
Manuelino Oliveira, Joaquim Vaz e António Martinho.
A 25 de Março de 1944: Manuel dos Santos.
A 1 de Outubro de 1944: António Lourenço Braz e Camilo Neves Martins.
A 8 de Abril de 1945: Meneval Andrade, Abílio Guerra, Manuel Ribeiro,
António Figueira.
A 7 de Outubro de 1945: Avelino Barreto, Agostinho Pereira, Edison Dantas,
Manuel Augusto Ferreira, António Ventura, Eduardo Leitão, Alfredo Santos,
Carlos Rodrigues Pinto.
A 6 de Abril de 1947: Amadeu Martins, Celestino Belo, Joaquim Correia,
Serafim Lourenço, António Ferreira da Silva, Alberto Gomes de Oliveira,
António de Sousa Abreu, António Brojo, Carlos Alberto, Manuel Fonseca.
A 28 de Março de 1948: José Alves, António Antunes Pinto, José de Aguiar,
José Martins Vaz, José António Teixeira.
A 19 de Março de 1950: José Coelho de Amorim, Américo Augusto Ferreira,
Miguel Madeira, Laurindo de Jesus Marques, Manuel Domingues Vaz e Joaquim
Ramos Seixas.
A 26 de Março de 1950: José Domingos Sampaio e Horácio Silva.
A 23 de Dezembro de 1951: José Carreira Júnior, Afonso Vieira Gomes,
Francisco Mendes Pereira, José Afonso Moreira e José da Rocha Ferreira.
A 19 de Março de 1951: Álvaro Miranda Gomes dos Santos, António
Rodrigues Ferreira, António de Seabra Marques e Antero Alves dos Reis.
A 30 de Setembro de 1951: Ildo Aníbal de Jesus Silva, Manuel da Purificação
Azevedo e Nuno Gentil Tavares Ferreira.
322
Adélio TORRES NEIVA
A 29 de Março de 1952: Manuel dos Santos Neves.
A 28 de Setembro de 1952: Anacleto Gomes Baptista, Manuel Perfeito Martins
Ferreira, João Gomes Gonçalves, José Joaquim Correia, Porfírio Duarte
Lourenço, Óscar de Moura Guedes, Manuel Rodrigues Teixeira Neves, João
Luís Cabral, João Eduardo Moniz.
Superiores da comunidade
1922/23
1923/27
1927/29
1929/32
1932/35
1935/38
1938/44
1944/46
1946/49
1949/50
1950/52
1952/55
1955/56
1956/59
1959/65
1965/71
1971/72
1979/80
1980/86
1986/90
1990/97
1997/02
2002
P. João Cardona;
P. Moisés Alves de Pinho;
P. José Pacheco Monte;
P. Clemente Pereira da Silva;
P. Joaquim Alves Correia;
P. António Ribeiro Teles;
P. Joaquim Correia de Castro;
P. António Ribeiro Teles;
P. Francisco Alves do Rego;
P. António Ribeiro Teles;
P. Cândido Costa;
P. António Teles;
P. Firmino Cardoso;
P. José Pereira de Oliveira;
P. Firmino Cardoso;
P. José Pereira de Oliveira;
P. Francisco Lopes;
P. Fernando Moreira;
P. António Alves de Oliveira;
P. Amadeu Martins;
P. Manuel Augusto Ferreira;
P. João Baptista Pinheiro;
P. Carlos Salgado;
P. António Luís Gonçalves;
P. Belarmino Galhano;
P. António Alves de Oliveira;
P. Manuel dos Santos Neves;
P. Adélio da Cunha Fonte;
Directores dos seminaristas
1922
1928
1932
1935
1936
P. Moisés Alves de Pinho;
P. Cândido Costa, director do Externato;
P. Joaquim Correia de Castro;
P. António Ribeiro Teles;
P. Breitenstein;
O Seminário de Viana do Castelo
1938
1944
1946
1949
1952
1955
1956
1959
1965
1973
1977
1978
P. Joaquim Correia de Castro;
P. Francisco Alves do Rego;
P. Cândido Costa;
P. Firmino Cardoso Pinto;
P. Francisco Lopes;
P. Fernando Moreira da Silva;
P. António Alves de Oliveira;
P. Amadeu Martins;
P. João Baptista Pinheiro;
P. José Coelho Barbosa;
P. José Reis Gaspar;
P. José Ribeiro Mendes;
Ecónomos
1928
1934
1935
1940
1947
1949
1952
1955
1956
1965
1966
1967
1973
1979
1980
1985
1992
1993
1994
1995
1996
1997
2000
P. Cândido Costa;
P. Trutteman;
P. António Gomes da Silva;
P. José da Fonseca Lopes;
P. Cândido Costa;
P. Domingos Salgueiro;
P. Francisco Lopes;
P. António Antunes Pinto;
P. Marante;
P. Abel Moreira Dias;
P. João Baptista Pinheiro;
P. Óscar Moura Guedes;
P. Manuel Augusto Ferreira;
P. Carlos Salgado Ribeiro;
P. Álvaro da Costa Campos;
P. António Rodrigues Ferreira;
P. Ernesto de Azevedo Neiva;
P. Manuel da Purificação Azevedo;
P. José Reis Gaspar;
P. Alberto da Fonseca Lopes;
P. António Alves de Oliveira;
P. António Correia Andrade;
P. Domingos da Cruz Neiva.
323
325
Capítulo 34
A compra da Quinta do Valbom, no Fraião
A Quinta do Valbom
A
Quinta de Valbom de Cima, da freguesia de S. Tiago de Fraião, foi
arrematada em hasta pública por Matias Dias da Fonseca, negociante, e
sua mulher D. Rosa Maria de Jesus Fonseca da freguesia de S. João do
Souto a 21 de Outubro de 1868 a António de Brito Rego Lira por 300 contos. 310
Na mesma data Matias Dias da Fonseca arrematou também em hasta pública ao
mesmo negociante António de Brito Rego Lira o prédio chamado Tomada de
Penouços, na freguesia de Nogueira e limites do Fraião e a Bouça de Penouços,
situada próximo do lugar da Fonte Seca, na freguesia do Fraião.311
Após a morte de Matias Dias da Fonseca, a 12 de Dezembro de 1882, sua
mulher D. Rosa Maria de Jesus Fonseca, Viscondessa do Fraião e sua única
herdeira, receberia em herança, além de outros bens:
- uma Quinta toda murada sobre si que se compunha de casas de habitação e
caseiro e terreno com lagar e eira de pedra, campo e leiras de terra lavradia, com
vinho, azeite e fruta, chamada de Valbom, situada na freguesia de Fraião, no valor
de oito mil setecentos e quarenta e três escudos e noventa e dois centavos;
- uma Quinta denominada da Fonte Seca, também em Fraião, que se
compunha de casas para caseiros, coberto, eira, terreiro, com terra culta e inculta,
que produz pão, vinho, fruta, mato e lenha, no valor de mil oitocentos e sete
escudos e trinta centavos;
- a Tomada e Bouça chamada Penouços de Baixo que produz mato e lenha no
valor de trezentos escudos;
- a Tomada denominada Penouços de Cima, que produz mato e lenha, no valor
de cincoenta escudos;
- um terreno de mato solto no Barral de Cima, no valor de cem escudos, na
freguesia de Nogueira.312
D. Rosa Maria de Jesus Fonseca, por breve apostólico de 14 de Setembro de
1883 conseguia do arcebispo de Braga D. Crisóstomo de Amorim Pessoa licença
para ter oratório particular em sua casa da Quinta de Valbom de Baixo e a 18 de
310
311
312
Sentença da arrematação da Quinta chamada do Valbom de Cima –1868
Sentença da arrematação da propriedade da Tomada de Penouços e Bouça de Penouços –1868
Certidão de 16 de Dezembro de 1907
326
Adélio TORRES NEIVA
Outubro de 1883 o arcebispo de Braga D. António José de Freitas Honorato
concedia-lhe licença para aí ser celebrada missa. Pouco depois, a 22 de Dezembro
de 1883, era-lhe concedida também licença para ter confessionário no dito
oratório, atendendo à distância que separava a sua casa da igreja paroquial e aos
maus caminhos que tinha que atravessar.313
Por falecimento de D. Rosa Maria de Jesus Fonseca a 6 de Novembro de 1900,
o seu único herdeiro foi seu segundo marido Francisco Manuel de Oliveira
Carvalho, que herdaria também o título de Visconde do Fraião, morador na
freguesia de Tenões. Este herdou entre outros bens a Quinta de Valbom e a de
Fonte Seca, na freguesia do Fraião, as duas Bouças de Penouços e o terreno de
mato no Barral de Cima, na freguesia de Nogueira.
O Visconde do Fraião Francisco Manuel de Oliveira Carvalho faleceu no lugar
do Bom Jesus do Monte a 18 de Maio de 1912. Por sua morte, a Quinta de
Valbom foi repartida pelos seus três filhos: a Quinta de Valbom de Baixo pelos
dois rapazes Alberto Manuel de Oliveira Carvalho e Francisco Manuel Pereira
Dias de Oliveira Carvalho, ainda menor, e a Quinta do Valbom de Cima ficou
para a filha Maria Armanda de Oliveira Carvalho Ferreira da Silva casada com o
Dr. Álvaro Cândido Ferreira da Silva, lente da universidade de Coimbra e
proprietário da Quinta da Capela em Santo Adrião, da freguesia de S. Lázaro e
que possuía também a chamada Bouça de Dentro da Quinta, que se estendia até
ao Fraião.314
Segundo o registo predial a que se procedeu a quando da venda da Quinta do
Valbom de Baixo ao Dr. Moisés Alves de Pinho, por intermédio do seu
procurador P. José Manuel Ribeiro Braga, a 10 de Maio de 1927, esta Quinta
incluía os seguintes prédios:
- A Quinta de Valbom de Baixo - do Pereiro - ou do Pomarinho - compunha-se
de casas sobradadas que tinham para o lado do norte sete janelas de peitoril, com
dois páteos com escadas de pedra, para o sul cinco janelas também de peitoril e
para nascente duas, tinha coortes, adegas e lagar junto da casa. Tinha esta Quinta
caminho privativo que vai da estrada para a mesma; e na frente da casa, um
espaçoso terreiro com um tanque, que dá entrada por uma cancela para um
jardim que tinha no centro um chafariz e ao lado uma casa de fresco. Toda esta
Quinta era circuitada por parede e parte por valados, tinha dois cobertos, duas
eiras, sendo uma de pedra, tinha laranjeiras, oliveiras, árvores silvestres, frutíferas
e avidadas .
Compunha-se de um olival chamado Cantinho, cinco leiras chamadas da Beira
da Porta da Cozinha, Campo do Pescoço, Leira do Campo do Pescoço, Olival
da Eira, Campo do Pinheiro; duas leiras chamadas da Beira do Tanque do
Cipreste; Campo de Castelo; uma leira denominada Olivalzinho; outra chamada
Oliveirinha; Leira da Beira da Eira ou do Tanque de Baixo; duas leiras
denominadas da Beira da Poça do Penedo; prado junto à poça do Penedo;
313
314
Papeis pertencentes ao Oratório da Ex.ma Sra. D. Rosa Maria de Jesus Fonseca, erecto na sua casa e quinta de Valbom de
Baixo, freguesia de S. Tiago do Fraião.
Certificado de 29 de Outubro de 1931
A compra da Quinta do Valbom, no Fraião
327
Campo do Penedo; Campo Grande e junto ao dito Leira Longa, hoje chamada
Leira Grande e que é toda murada; Pomar da Eira e um terreno para horta todo
murado; e Campo do Pomar ou Devesa – o que tudo é de terra de lavradio tinha
mais dois tanques de água sendo um chamado Tanque de Baixo ou da Eira e o
outro Tanque do Cipreste, para os quais vinha a água das minas abertas na
estrada pertencentes ao mesmo possuidor.
Mais tinha uma poça de água nativa denominada do Penedo, cuja água servia
para regar e limar.
Tinha esta propriedade seis entradas das quais quatro eram de carro e duas
pedestres.
Estava situada no lugar de Valbom de Baixo, na freguesia de São Tiago do
Fraião.
Era de natureza de prazo. E confrontava pelo norte, sul e poente com prédio
dos herdeiros de Francisco Manuel de Oliveira Carvalho e a nascente com a
estrada da Falperra.
A compra incluía ainda:
- Um terreno baldio que produzia mato denominado Monte do Cachãozinho,
situado no Monte Sameiro, atravessado pela estrada da Falperra para o Sameiro,
na freguesia do Fraião;
- Um Monte chamado do Tanque ou Monte Redondo que produzia mato e
seibe e era cortado por caminho público na freguesia do Fraião;
- A Tomada ou Coutada da Fonte Seca, prédio rústico situado próximo do
lugar da Fonte Seca, freguesia do Fraião. Constava de terra de mato com
carvalhos, circuitado sobre si; confrontava pelo norte com o caminho da Falperra
e pelo sul e nascente com o caminho de Nogueira e a poente pelo caminho do
Espírito Santo do Monte.315
A Quinta de Valbom de Cima que a filha do Visconde do Fraião D. Maria
Armanda de Oliveira Carvalho Ferreira da Silva, casada com o Dr. Álvaro
Cândido Ferreira da Silva, herdara de seu pai, constava de casas sobradadas e
térreas, com lojas, lagares, cortes, coberto, varanda, eira e terras de lavradio com
vidonho em árvores e ramadas, olival e água de mina para rega, confrontando
pelo poente e sul com a estrada velha da Falperra, a nascente com o caminho da
igreja e pelo norte com prédio do seu irmão.
À herdeira pertencia ainda :
- o Montado de Penouços, prédio rústico situado no lugar da Granja, na
freguesia de Nogueira;
- e o Montado de Santa Marta ou Bouça Escura, prédio rústico no lugar do
Barral e Monte de Santa Marta, da mesma freguesia de Nogueira.316
Eram estas as Quintas de Valbom, de Baixo e de Cima, à data em que o Dr.
Moisés Alves de Pinho as comprara em 1927.
315
316
Comarca de Braga Livro nº 108 –A Fls. 71
Comarca de Braga. Livro 104 fl.- 53
328
Adélio TORRES NEIVA
A compra da Quinta de Valbom
A obra da restauração da Província ia-se solidificando. O seminário de S. José
de Godim abria as portas a aspirantes do Minho, Douro e Trás-os-Montes,
facilitando também o recrutamento ao sul do Douro e nas Beiras, dado que as
comunicações se iam tornando mais fáceis. Aqui ficaram instalados os dois
primeiros anos de preparatórios. Em Braga, nas condições bastante precárias já
referidas, continuavam os três anos seguintes.
Mantinha-se de pé a ideia de a Congregação permanecer em Braga ou
arredores. Mas urgia mudar das casas de renda (Quinta do Charqueiro e Colégio
de S. Tomás), para uma propriedade que fosse pertença da Congregação em que
se pudessem instalar as duas obras: seminário para os últimos anos de
preparatórios e Escola Agrícola para Irmãos Auxiliares, onde também pudessem
aprender artes e ofícios, actividades de grande importância e necessidade para as
missões
Havia o problema da falta de meios. Mas João Belo acabava de atribuir às
missões do Espírito Santo um subsídio anual de 450 contos e um subsídio
extraordinário de 500 contos para a formação dos aspirantes a missionários. Em
Godim, o seminário cuja construção estava em vias de se concluir, absorvera já
esse subsídio, mas de qualquer maneira a Congregação poderia abalançar-se a
outra obra. Precisava-se de um terreno que fosse da Congregação e que tivesse
espaço suficiente para que as duas obras se pudessem desenvolver e se estivessem
juntas haveria imensas vantagens económicas e seria proveitoso sob todos os
pontos de vista. Precisava-se de uma grande casa onde o espaço não faltasse e de
uma grande propriedade para explorar.
Começaram as pesquisas. Todo o ano lectivo de 1926-1927 se passou nesta
busca: visitou-se o Ramalhão, em Sintra, onde ali perto estava ainda viva a
memória da presença espiritana, visitaram-se terras em Aveiro, no Porto, perto
de Guimarães, muitas propriedades se percorreram, sobretudo nos arredores de
Braga. Sempre a mesma conclusão: não serviam ou se serviam eram demasiado
caras. Uma propriedade parecia convir: terra muito extensa, embora fraca, casas
magníficas que com pequeno dispêndio se poderiam adaptar e com a vantagem
de estar apenas a cinco minutos da cidade de Braga e a um quarto de hora da
estação do caminho de ferro. Mas o obstáculo principal era o preço: 600 contos.
E nunca baixaram dos 500.
Aconteceu que enquanto duravam as pesquisas, sem qualquer indicação
particular, chegou ao conhecimento dos Espiritanos que ia ser posta à venda uma
propriedade, a antiga Quinta do Visconde do Fraião, que poderia convir. O preço
não era exagerado, mas a falta de concorrentes, se por um lado era tranquilizadora,
por outro convidava a reflectir. Estava fora da cidade, mas a pouca distância. A
Viscondessa residia então no Bom Jesus e da Quinta ocupava-se um caseiro. Um
dos primeiros a ser informado desta venda e a visitar a Quinta foi o P. Arnaldo
Baptista, na Rua Bento Miguel. Recebeu a informação por intermédio do P.
Domingos Araújo, das Oficinas de S. José.
A compra da Quinta do Valbom, no Fraião
329
O P. Pinho, depois de primeiro ter enviado o P. Junqueira, superior de S.
Tomás a ir ver a quinta foi também visitá-la na companhia dos confrades de
Braga. O P. Pinho voltou de lá com a impressão que formulou numa carta escrita
nesse tempo: “Fraião não o quero nem pintado”. Mas o P. Luís Cancela e outros
confrades que tinham também visitado a propriedade e a casa, não pensavam que
o P. Provincial tivesse toda a razão. Insistiam pois por nova visita e desta vez,
examinando tudo mais de perto, num belo dia de sol, o Provincial concluiu pela
afirmativa. A propriedade convinha à Congregação; a casa era pequena e não
poderia ser aproveitada, mas construir-se-ia outra. O P. Pinho acabaria por dizer
que foi um verdadeiro achado a coroar tantas deslocações, por vezes a lugares
bastante afastados em que apenas se tinham colhido desilusões. A propriedade
estava vedada por muro alto e sólido, tinha água suficiente para consumo e rega
e bons complementos de bravio nas encostas do Sameiro e da Falperra. Mas,
mesmo assim, após um exame mais atento, as hesitações mantinham-se.
Por falecimento de D. Rosa Maria de Jesus Fonseca a 6 de Novembro de 1900,
o seu único herdeiro foi Francisco Manuel de Oliveira Carvalho, visconde do
Fraião, falecido a 18 de Maio de 1912. Por sua morte, a quinta fora repartida por
dois filhos do mesmo Visconde e uma filha casada com o Dr. Álvaro Cândido
Ferreira da Silva, lente de Coimbra: à praça só ia a Quinta de Valbom de Baixo,
ocupando dois terços do total da propriedade e pertença dos dois filhos; e a outra
parte, a Quinta de Valbom de Cima, encravada dentro dos muros que cercavam
a propriedade não fazia parte da venda, todavia, o P. Pinho sentia que precisava
também dela para lá se levantarem os edifícios.
Os terrenos da Quinta de Baixo eram mais produtivos e tinham além de água
abundante, instalações residenciais e agrícolas com pomar. Mas estes edifícios
não se prestavam ao fim em vista e para construir precisava-se de espaço amplo
e contínuo para as instalações apropriadas e suas dependências. A Quinta de
Baixo era em declive e em socalcos que, embora espaçosos, não realizavam as
exigências do projecto. É certo que havia no extremo norte uma parte de terreno
ampla, mas para construções apresentava inconvenientes: era numa baixa, menos
arejado e bastante húmido. Além disso eram a parte mais produtiva da
propriedade e seria pena não a aproveitar para as culturas.
A todos agradava a perspectiva da aquisição e era com pesar que se encarava a
hipótese de abandonar o que parecia reunir vantagens difíceis de encontrar
noutra parte.
Conta D. Moisés que numa tarde de verão quando estavam de novo em Braga
todos os que se deviam pronunciar sobre o assunto, juntou-se a eles D. José de
Lencastre e foram todos de novo à quinta. Como D. José se tivesse de ausentar,
saiu por uma porta que dava para o caminho da Falperra. E quando a porta se ia
fechar, a filha do caseiro, que era quem os acompanhava, apontou para o outro
lado do caminho dizendo que o morro fronteiro, de terrenos que pareciam
maninhos e abandonados, também pertencia à quinta e estava igualmente à
venda. Curiosos, subiram o chamado Monte Redondo e logo viram ser esse o
lugar ideal para construir: espaço nivelado com belos e largos horizontes, com
330
Adélio TORRES NEIVA
espaço suficiente para as construções e campos de jogos. A quinta era, portanto,
composta por duas partes devidamente muradas de um e de outro lado do
caminho da Falperra. Tinha-se encontrado a solução. Nossa Senhora do Sameiro
queria os Espiritanos sob o seu olhar e protecção materna.
Abordado o Dr. Álvaro a quem a Quinta de Cima pertencia, fez saber que
venderia a sua parte com a condição de lhe ser cedido um monte redondo situado
ao lado da quinta e dela separado pela antiga estrada da Falperra, monte que era
anexo ao Valbom de Baixo. Quando o P. Pinho soube que tal monte fazia parte
da venda exultou, pois ele era de facto o sítio ideal para as construções e desde
logo se decidiu a comprar a Quinta de Valbom de Baixo, prescindindo do
Valbom de Cima, por não ser necessária.
E as terras foram à praça para serem vendidas em hasta pública. O valor da
propriedade era de oitocentos mil escudos.
À Quinta pertencia ainda um terreno baldio denominado Monte do
Cachãozinho situado no monte Sameiro e atravessado pela estrada da Falperra
para o Sameiro e o Monte chamado do Tanque ou Monte Redondo, de mato e
sebe, cortado por caminho público na freguesia do Fraião.
Havia ainda a Tomada ou Coutada da Fonte Seca, prédio rústico situado
próximo do lugar da Fonte Seca, na freguesia do Fraião.
O Dr. Moisés Alves de Pinho, por intermédio do seu procurador, antigo aluno
do Colégio do Espírito Santo, P. José Manuel Ribeiro Braga, comprou a Quinta
pela soma de 200 contos, a 10 de Maio de 1927, sendo a escritura de venda
passada no escritório do notário Bacharel Filipe Augusto Noronha Freire de
Andrade, de Braga. Assinavam a escritura o P. José Ribeiro Braga, como
representante do P. Moisés Alves de Pinho, Alberto Manuel de Oliveira
Carvalho em seu próprio nome e José Vicente Taveira da Silva Catalão como
procurador da Viscondessa do Fraião e de seu filho Francisco Manuel Pereira
Dias de Oliveira Carvalho. A Quinta fora posta à venda em hasta pública por 200
contos, preço que o P. Pinho deu por ela.317
Além da parte “intra muros”, a compra incluía portanto o grande montado do
Monte Redondo e outro montado no monte Sameiro, a Coutada de Fonte Seca.
Em princípios de Julho foram entregues como sinal 6 contos.
Efectuada a compra do Valbom de Baixo, da mobília da casa e do solar do antigo
Visconde e resolvida a construção no Monte Redondo, tudo parecia concluído.
Mas continuava a sorrir a ideia de comprar também o Valbom de Cima, pois se o
seu actual proprietário, o Dr. Álvaro, era bom vizinho, não havia garantias que o
mesmo acontecesse com os possíveis futuros proprietários. De resto, ele mesmo
estava interessado em vender a propriedade. O terço da mulher dele era
realmente maior que o dos dois irmãos, pois não tinha casas e sobretudo
contrastava com o desleixo a que havia sido votada a parte dos dois rapazes. O
Dr. Álvaro pedia quantia proporcional à dos cunhados, isto é: 100 contos, mas
desejava que pelas melhorias ali efectuadas lhe déssemos além dos 100 contos a
317
Comarca de Braga Livro 108 –A Fl. 71
A compra da Quinta do Valbom, no Fraião
331
possibilidade de colher todo o rendimento do primeiro ano até ao S. Miguel de
1928 e nessa base o P. Pinho comprou também o Valbom de Cima. A escritura
foi feita por intermédio também do procurador P. José Manuel Ribeiro Braga a
25 de Outubro de 1927, no mesmo cartório. Vendia D. Maria Armanda de
Oliveira Carvalho Ferreira da Silva, autorizada por seu marido Dr. Álvaro
Cândido Ferreira da Silva, lente em Coimbra e com casa na Quinta de Santo
Adrião, em Braga.318
O Dr. Álvaro, que nas melhores relações com a Congregação lhe ofereceu no
cimo do Monte Redondo uma faixa de terreno para dar saída para a estrada nova,
vendeu a 12 de Novembro de 1927 ainda mais um pouco de terreno, ao longo do
Monte Redondo, ao fundo da actual mata que alargava a faixa já dada: por ela e
pelas árvores ali plantadas se pagou 3.500$00. Além disso o Dr. Álvaro ofereceu
ainda toda a pedra necessária para a obra.319
Depois disso, com autorização da Câmara de Braga abriu-se a nova calçada ao
longo do muro da Quinta para desfazer a antiga que ziguezagueava o Monte
Redondo.
Por escritura de 18 de Dezembro de 1929 o P. Pinho comprava ainda ao Dr.
Álvaro Cândido Ferreira da Silva, para edificação de prédio urbano, uma faixa de
terreno com 2.000 metros quadrados, correspondendo aproximadamente a uma
trigésima parte da “Bouça de Dentro da Quinta” que o Dr. Álvaro, possuidor da
Quinta de Santo Adrião ou da Capela, possuía e que confrontava ao norte com
a estrada nova de Santa Marta e a nascente e sul com o caminho velho para
Nogueira pelo monte Penouços e do poente com a faixa de terreno que foi
adquirida por Manuel Monteiro Pinto, desta cidade. O preço da venda foi de 500
escudos.
Todas estas compras, excepto a última, foram feitas em nome do Dr. Moisés
Alves de Pinho por intermédio do seu procurador P. José Manuel Ribeiro Braga.
A 29 de Fevereiro de 1940, D. Moisés, pelo seu procurador P. Clemente Pereira
da Silva doava à Congregação do Espírito Santo a Quinta de Valbom, constituída
nessa data pela Quinta de Valbom de Cima e de Baixo e a propriedade do Tanque
ou Monte Redondo.
Com todas estas compras ficou constituída a nova propriedade onde se
fundaria a comunidade do Fraião, como filial da comunidade da Sagrada Família
da Quinta do Charqueiro, com o mesmo superior, o P. Luís Cancela, e tendo
sido a administração da nova comunidade confiada ao mesmo ecónomo o P.
Manuel Vieira. Como, porém, o superior da Quinta do Charqueiro, o P. Luís
Cancela, caísse doente, vindo a falecer pouco depois, foi nomeado para o
substituir no Fraião o P. Miguel Fonseca.
318
319
Comarca de Braga Livro 104 Fl. 73
Comarca de Braga Livro nº 105-A fl. 1
333
Capítulo 35
O Seminário do Fraião
S
egundo o relatório que o P. Pinho enviou para a Casa Mãe, em 1922 a
situação da Província era a seguinte:
Na residência da Sagrada Família, da Rua Bento Miguel, residiam os PP. Pinho
como director dos aspirantes irmãos, Cândido Costa subdirector e ecónomo, P.
António Teles, encarregado da Associação da Senhora da África, P. Miguel
Fonseca, professor. Os aspirantes eram 16 e os Irmãos 5: Ricardo Pereira, João
de Deus Oliveira, Ildefonso Afonso, Lourenço e Daniel Santos.
Na comunidade do Santíssimo Redentor, na Rua Visconde Pindela, 47, o
superior era o P. Clemente Pereira da Silva colaborando com ele os PP. Agostinho
Pintassilgo, Giocondo Adriani e Nunes Costa; Irmãos: Antero da Silva, Luís
Ferreira, Serafim Rodrigues e Fortunato Pereira. Escolásticos menores: 60.
Na comunidade de Viana do Castelo, o superior era o P. João Cardona,
assistido pelos PP. Daniel Junqueira e Manuel Raposo. Os escolásticos eram 8, 5
dos quais não professos. Em Chevilly estavam 3 escolásticos maiores.
Irmãos: Adélio Cangueiro, Augusto, Valfredo, João Baptista, Protásio e
Marcelino.
Em Lisboa, na Travessa Lázaro Leitão, 21, estava o P. Joaquim Alves Correia
como director e procurador das Missões e redactor da revista “Missões de
Angola e Congo”, P. José Maria Antunes fora de comunidade e os Irmãos Alípio
Moita, Narciso da Costa e Francisco Antunes.
A primeira comunidade do Fraião
A 3 de Novembro desse ano de 1927, chegava ao Fraião vindo do Charqueiro,
um grupo de postulantes mais velhos: Carreira, Migueis, Rodrigues, Abílio
Ventura, Manuel Ventura, Pereira, Gonçalves e Cunha, que vinham
acompanhados do Irmão Valfredo e que se instalaram no antigo solar do
Visconde do Fraião. Mais tarde apareceu o P. Superior P. Luís Cancela que, já
noite escura, benzeu a casa. Vinham para cultivar a quinta e iniciar os trabalhos
da construção. O Irmão Bento Vicente juntou-se mais tarde ao grupo dos
fundadores.
No dia seguinte, o P. Moisés Alves de Pinho fez a inauguração, celebrando aí
a primeira missa. A comunidade ficará sem sacerdote permanente por o P.
Superior, o P. Luís Cancela, que devia vir, ter caído doente.
334
Adélio TORRES NEIVA
No dia 2 de Dezembro, o P. Pinho benzeu o Monte Redondo onde se
edificariam os novos edifícios para a Obra dos Irmãos e do Escolasticado.
No dia 5 de Dezembro, chegou o novo superior, o P. Miguel da Fonseca. Veio
trazê-lo toda a comunidade do Santíssimo Redentor, de S. Tomás.
Nesse mesmo dia, 5 de Dezembro, começou no Monte Redondo a
terraplanagem para a nova construção. Dirigiu-a o Irmão Marcelino que todos os
dias subia a colina, vindo da Rua Bento Miguel.
No dia 8, festa da Imaculada Conceição, todos foram para Braga celebrar a
festa com os demais confrades. O mesmo acontecerá no dia de Natal.
A 22, o Irmão Marcelino deixa a Rua Bento Miguel e instala-se no Fraião.
Entretanto, na quinta, procedia-se à azáfama da apanha da azeitona, por sinal muito
abundante nesse ano, no que colaboraram os restantes membros da Rua Bento Miguel.
No dia 30, veio o primeiro carreto de pedra para as obras, usando-se para isso
o gado da Quinta do Fraião. A 10 de Janeiro, uma quarta-feira, sob os auspícios
de S. José, assentaram-se os alicerces do primeiro pavilhão, o pavilhão norte,
destinado à Obra dos Irmãos. Por sua vez começaram a sua tarefa os dois irmãos
carpinteiros José dos Santos e Alberto Santos, que tinham já colaborado em
Viana e em Godim.
O primeiro visitante que a obra recebeu foi o antigo aluno do Colégio do
Espírito Santo, António Dias Costa, que muito contribuiria para a direcção das
obras e que esteve no dia 12 de Janeiro. Nesse mesmo dia instalou-se na quinta
o Ir. Protásio que dirigiria as obras de carpintaria.
A 29 de Janeiro de 1928, o arcebispo de Braga D. Manuel Vieira de Matos, que
desde a primeira hora dedicou paternal dedicação a esta obra, benzia às 16.30 horas
a primeira pedra dos edifícios a levantar no alto do Monte Redondo (D. Moisés
nas suas Memórias indica o 20 de Janeiro como data para esta bênção, mas deve ser
engano, pois o Diário da Comunidade coloca esta celebração no dia 29, festa de S.
Francisco de Sales). Presentes, estavam o P. Clemente Pereira da Silva em
representação do Provincial, ausente em França, e todo o pessoal de Infias e de
S. Tomás. A primeira pedra ficou colocada sob a soleira da porta central do
pavilhão norte, que olha para a cidade. Ainda durante o ano de 1928, começaram
a surgir os edifícios dos actuais pavilhões das oficinas e central. O primeiro
serviria de base de apoio à construção em curso da futura Escola Profissional das
Missões para Irmãos Auxiliares; o segundo, inicialmente só com o primeiro
andar, seria a sede da Obra dos Irmãos.
Aproveitando a visita do Sr. Arcebispo, antes da bênção da primeira pedra,
realizou-se na capelinha do Fraião a administração do Santo Crisma aos
aspirantes que ainda o não tinham recebido.
A 8 de Junho, tinha lugar a assinatura de venda do Valbom de Baixo por parte
de Francisco, filho mais novo do Visconde do Fraião e que fora emancipado há
algumas semanas. Enquanto menor, essa escritura não teria podido fazer-se.
A 17 de Junho, celebrando-se a festa do Espírito Santo na capelinha do Espírito
Santo do Monte, o Fraião tomou à sua conta, este ano, o encargo da celebração
da festa.
O Seminário doFraião
335
A 14 de Julho, chegaram de madrugada vários carros de madeira trazidos
gratuitamente.
A 16 de Julho, vem para o Fraião o Ir. Clemente como carpinteiro. Assim,
ficam a residir no Fraião um padre, 5 Irmãos professos, 1 agregado e 16
aspirantes, dos quais um cozinheiro, 3 carpinteiros e 12 cultivadores da terra.
No dia 31 de Julho, começa o desaterro para a construção das oficinas, ao lado
do Pavilhão Norte. E a 10 de Setembro, o desaterro para o Pavilhão Central.
A 22 de Agosto passou a dirigir a casa como superior o P. Manuel Vieira,
regressando o P. Miguel Fonseca à Rua Bento Miguel.
A 15 de Setembro, Festa da Senhora das Dores, terminava no Fraião a obra de
pedreiro do pavilhão Norte, pendurando-se o tradicional ramo de oliveira.
Assim, a obra foi realizada por partes, começando-se pelo pavilhão virado para
a cidade, o pavilhão norte, no extremo norte do conjunto projectado. Os
trabalhos de pedreiro foram adjudicados a um empreiteiro por x por metro
quadrado e por porta e janela. As condições do concurso foram elaboradas pelos
Irmãos encarregados dos trabalhos que ficaram também com o cuidado da
fiscalização.
O resto foi feito por conta da Congregação sob a direcção dos Irmãos
Marcelino e Protásio, que superintendiam nas obras com grande dedicação e
competência.
A partir de Outubro, o Fraião ficou encarregado de fornecer à comunidade do
Santíssimo Redentor, em S. Tomás, o leite e a hortaliça. Como a distância era
bastante longa, resolveu-se comprar um macho para esse efeito, o “Ruço”. “A sua
entrada no estábulo foi saudada com uma zurrada que fez tremer o edifício”.
A 30 de Outubro, a casa começou a ser telhada, no que colaborou toda a
comunidade da Rua Bento Miguel e a 1 de Novembro a casa estava coberta de
telha. O edifício começou a dominar as distâncias. A 10 de Novembro chegou o
vidro oferecido pelo Sr. Manuel Carneiro e no dia 20, cinco janelas estavam já
revestidas de cimento e os carpinteiros começaram a assentar os caixilhos.
A 12 de Novembro falecia repentinamente o padre diocesano José Ribeiro
Braga, procurador oficial das obras do Fraião e das diferentes compras ali
efectuadas, que prestou relevantes serviços a esta obra.
A 18 de Novembro, reuniram-se as diferentes comunidades de Braga, SS.mo
Redentor, Bento Miguel e Fraião e levaram em procissão a imagem de S. José
através da Quinta e das novas construções. S. José, desde o início, foi
considerado o “ecónomo” da Província e a sua devoção começou a ser celebrada
no Fraião desde o primeiro momento.
Curioso que a primeira pedra do seminário Conciliar, da Rua de Santa
Margarida, foi também lançada no dia 8 de Dezembro de 1928, tendo assistido à
cerimónia toda a comunidade do Fraião.
A 27 de Fevereiro de 1929, efectuava-se a mudança há tanto tempo desejada:
desde pela manhã, um movimento desusado de carros e camiões transportava a
mobília e outros apetrechos da Rua Bento Miguel. Depois do pôr-do-sol,
apareceu o P. Arnaldo Baptista com os últimos elementos da Bento Miguel. Uma
336
Adélio TORRES NEIVA
bênção na capela provisória para agradecer à Sagrada Família e em especial a S.
José este grande milagre. Depois do jantar, tomam o caminho do novo edifício à
luz de um archote. Os dias seguintes foram passados na arrumação da casa. Na
Rua Bento Miguel apenas ficou o P. Labrousse para guardar a casa.
A festa de S. José foi já no vasto salão da casa nova com a presença de todas as
comunidades.
A 31 de Maio, chegava a Braga o Superior Geral, Mons. Le Hunsec, que
visitando o Fraião, confessaria ao P. Arnaldo Baptista, que o acompanhava, que
“esta era a mais bela quinta da Congregação”.
A 9 de Junho de 1929, teve lugar no Fraião a primeira Reunião dos Antigos
Alunos dos Colégios do Espírito Santo e de Santa Maria.
A 22 de Julho era instalado o telefone na nova casa.
No dia 24, começava a chegar de camião a mobília da comunidade do
Santíssimo Redentor. Foi neste dia, por sinal uma quarta-feira de S. José, que se
operou a mudança.
A 8 de Setembro de 1929, foi a inauguração da capela do Escolasticado (a
antiga capela do pavilhão Norte), benzida no dia anterior pelo P. Nunes Costa.
Entretanto, os escolásticos vão chegando pouco a pouco. O início das aulas na
nova casa será a 9 de Outubro.
A 8 de Outubro de 1929 os noviços-irmãos passam definitivamente para a sua
nova casa no Monte Redondo. Na Casa de Baixo ficaram apenas os veteranos Ir.
Bento e Inácio, em companhia do Ir. Valfredo encarregado das culturas e o P.
Agostinho Labrousse como capelão. A casa da Rua Bento Miguel fora demolida
e o material, inclusive a pedra, foi trazido para o Fraião.
A 8 de Outubro de 1929 os Irmãos mudam definitivamente para o Monte Redondo.
No dia 9, marcam-se as aulas. O corpo docente ficou assim constituído: P.
Arnaldo Baptista, superior, P. António Ribeiro Teles, director, P. Nunes Costa,
José Cosme, José Maria Figueiredo e Rocha (missionário no Haiti) e os
escolásticos: Olavo Teixeira e Fernando Moreira; como ecónomo veio o P.
Manuel Vieira.
Nesse mesmo dia 9 é inaugurada a capela do noviciado dos Irmãos. No dia 10,
a comunidade foi em peregrinação ao Sameiro a pedir a bênção da Senhora para
o novo ano e para a nova casa.
No dia 27 de Outubro, festa de Cristo Rei, será a primeira Tomada de Hábito
no novo escolasticado.
A 7 de Novembro, D. José de Lencastre oferece à comunidade uma bela sineta
de 27 quilos.
Em Fevereiro de 1930, plantam-se os eucaliptos no Fraião.
Em 8 de Setembro de 1930, morre no Fraião o aspirante José Maria, o primeiro
que do Fraião partiu para o Pai.
Neste mesmo ano de 1930, a pedido do episcopado português, abriu-se na
antiga casa do Visconde, na Quinta de Baixo, a Obra de Regeneração Sacerdotal,
uma casa de retiros para regeneração de sacerdotes, confiada ao P. José Cosme.
Em 1931, constrói-se a ponte sobre a calçada bem como a padaria.
O Seminário doFraião
337
A 27 de Janeiro de 1932, planta-se a primeira linha de videiras ao longo do
paredão paralelo às oficinas.
A 24 de Julho de 1932, chega o novo superior da comunidade P. Joaquim
Correia de Castro que substitui o P. Arnaldo Baptista.
A 26 de Março de 1933, morre o P. Agostinho Labrousse.
A 23 de Abril de 1933, D. António Bento Martins Júnior veio benzer a estátua
do Santíssimo Redentor, o padroeiro do Escolasticado Menor.
A 18 de Julho de 1933 vai para Viana o primeiro grupo de pequenos
escolásticos, chefiados pelo P. Francisco Alves do Rego, que passaram para o
sexto ano.
A 4 de Setembro de 1934 a comunidade foi consagrada ao Sagrado Coração de
Jesus, consagração que se renovará todos os anos, no aniversário da fundação da casa.
A 7 de Setembro de 1934 faz-se a abertura solene do Noviciado dos Clérigos
na Quinta de Baixo, com os Padres Brunn a mestre e Manuel Meira a sub-mestre.
Entretanto terminou-se o desaterro central, concluiu-se o pavilhão sul que fica
destinado a escolasticado, ficando no pavilhão norte a Escola Profissional dos
Irmãos; fez-se um amplo coberto para os recreios em tempos de invernia,
plantaram-se árvores nos recreios e alamedas. Na quinta, arrotearam-se novos
campos; fizeram-se novos tanques e canalizaram-se as águas, levantaram-se
ramadas e plantaram-se pomares e finalmente construiu-se uma vacaria.
A 30 de Maio de 1935, festa da Ascensão do Senhor, é benzido o novo
pavilhão, o pavilhão sul, pelo Arcebispo de Braga, D. António Bento Martins
Júnior. Seis anos depois, começariam as obras finais de mais um andar no
pavilhão central e interligação dos três pavilhões. Assim nasceria a actual capela.
Decidiu-se também neste ano construir uma enfermaria, logo que terminasse a
construção do pavilhão novo do escolasticado.
A 15 de Julho de 1935, a capela do noviciado dos Irmãos passa a capela do escolasticado.
Em Julho de 1935, o noviciado, postulantado e aspirantado dos Irmãos mudam
para a casa nova, no Espadanido.
Devendo os Dominicanos fundar um colégio no Porto e não podendo
continuar com a direcção do Escolasticado e muito menos pensar juntar os seus
aspirantes com os colegiais, pensaram em oferecer a uma congregação aqueles
desses jovens que quisessem continuar no estado religioso: bateram à porta dos
Espiritanos com esse intuito. Declararam que no fim dos preparatórios, se
qualquer deles quisesse voltar para a Ordem, pagariam as despesas por eles feitas.
A 15 de Fevereiro de 1938, o Conselho Provincial deu parecer favorável a esta
proposta. Assim, os estudantes dominicanos foram aceites, ficando 4 no Fraião
e 5 em Godim. No ano seguinte, vieram 7. Em 1942, havia ainda 6 alunos
dominicanos. Em 1943, os dominicanos pedem ainda hospedagem para 6 no 1º
ano e os outros no segundo. Em 1943, os dominicanos deixariam definitivamente as casas dos Espiritanos.
Em 1938, decidiu-se construir a galeria que liga os diferentes edifícios, o
coberto do recreio para os Irmãos em seguimento do dos escolásticos, a vacaria
e uma capela para o noviciado dos clérigos.
338
Adélio TORRES NEIVA
A 13 de Outubro de 1938, começam as conferências sobre higiene e cuidados
médicos, que o antigo aluno do Colégio do Espírito Santo, o Dr. Jerónimo
Louro, fará aos escolásticos todas as quartas feiras bem como um curso de
enfermagem.
A 27 de Maio de 1939, faleceu nesta casa o P. Blériot, último director do
Colégio do Espírito Santo e que em 1936 viera para Portugal com saudades do
tempo antigo.
A 29 de Fevereiro de 1940, o P. Clemente Pereira da Silva, procurador de D.
Moisés Alves de Pinho, doou à Congregação os seus bens imóveis, situados no
Fraião, nomeadamente a Quinta de Valbom de Baixo e de Valbom de Cima e o
Monte do Tanque, em Monte Redondo, pois até aí estes bens estavam registados
em nome de D. Moisés.
Em 1940, construiu-se na quinta a vacaria, depois seguida da pocilga e do
galinheiro; este ano comprou-se também a Quinta da Fonte Seca, pertença do Sr.
Joaquim Araújo.
A 7 de Setembro de 1942 o Noviciado dos Clérigos é transferido da Quinta de
Baixo para a Silva.
Em 1943, foi decidido implementar um projecto de especialização de
professores enviando dois padres novos para a universidade de Coimbra, um para
Ciências e outro para Letras; outros poderiam ir para Salamanca especializar-se
em Sagrada Escritura.
A 30 de Setembro de 1944, reuniram-se extraordinariamente nesta
comunidade os Antigos Alunos do Colégio do Espírito Santo para celebrar os
80 anos do seu antigo professor e director da secção dos “pequenos”, o P.
Miguel da Fonseca.
A 27 de Janeiro de 1941 iniciaram-se os trabalhos para a ligação dos dois
edifícios – capela e refeitório dos Irmãos – construção destinada ao Noviciado
dos Irmãos que deve ceder o seu lugar ao escolasticado menor, pois, segundo foi
determinado, para aqui virão, os escolásticos da Guarda e da Silva. Em Godim
ficarão todos os do primeiro ano e no Fraião todos os do segundo e terceiro ano.
A 21 de Outubro de 1945, Dia das Missões, foi inaugurada a nova igreja do
seminário, construída na ligação do pavilhão central com o pavilhão sul, e
benzida pelo Arcebispo Primaz. Esta igreja tinha sido iniciada pelo P. José Maria
Figueiredo com a ajuda da Associação de Nossa Senhora de África. Na sua
construção colaboraram os Irmãos Marcelino e Protásio. Na nova igreja devemse cantar cem missas pelas almas daqueles que a ajudaram a erguer.
A 26 de Junho de 1947, faleceu o P. Miguel Fonseca, última relíquia dos
professores do Colégio do Espírito Santo; foi o seu corpo levado para a igreja de
S. Vicente e enterrado no cemitério da cidade.
A 22 de Novembro de 1948, começaram as obras da construção do altar de
Nossa Senhora de África de que ficou especialmente responsável o P. José Maria
Figueiredo, não só no que diz respeito ao altar como à renovação da capela-mor.
O altar seria inaugurado a 15 de Julho de 1949 pelo Sr. Arcebispo Primaz,
devendo a inauguração do grupo escultórico ficar para mais tarde, por ainda se
O Seminário doFraião
339
não achar concluído. Foi a 5 de Fevereiro de 1962, que esse grupo aí foi colocado,
sendo benzido a 30 de Março pelo bispo auxiliar de Braga, D. Francisco Maria da
Silva.
A 27 de Março de 1950, começou o Noviciado dos Irmãos no Espadanido,
inaugurando-se a casa a 26 de Setembro desse mesmo ano.
No dia 19 de Setembro de 1955, comprou-se o monte que está em frente do
portão de entrada, junto da estrada Braga-Sameiro, que pertencia ao Dr. Faria,
professor do Liceu D. João III de Coimbra, para impedir a construção de
moradias junto ao seminário.
A 19 de Novembro de 1955, faleceu o Abade da Loureira, P. José Augusto da
Silva, grande amigo da Congregação, que deixou em testamento a casa da
Boavista no Porto à Congregação.
A 27 de Setembro de 1958 concluiu-se a construção do claustro, que levou dois
anos a fazer. Iniciado pelo P. António Botelho, seria concluído pelo P. Joaquim
Maria Mendes.
A 19 de Março de 1959, o provincial de então, P. Firmino Cardoso Pinto, doa
a Quinta da Fonte Seca às Irmãs do Espírito Santo, destinada à construção de
uma casa de formação missionária, com a condição de o prédio reverter ao
doador, nos casos de extinção da corporação donatária ou de alteração ou desvio
da sua finalidade missionária.320 E a 2 de Maio desse ano era lançada a primeira
pedra da Casa das Irmãs do Espírito Santo.
A 10 de Novembro de 1966, as ossadas dos confrades foram transferidas do
cemitério velho para o novo, na freguesia do Fraião. Foram os seguintes os
confrades cujas ossadas foram trasladadas do cemitério antigo para o novo: José
Neiva Araújo (seminarista, falecido em 1930), P. Agostinho Labrousse (1933),
Ir. Lucas Ferreira (1933), Álvaro Martins (seminarista, 1933), Ir. Inácio Alves
(1934), P. Manuel Vieira (1935), José Baptista (seminarista, 1939), Ir. Bento
dos Santos (1940), Ir. Antonino Pereira (1940), Arnaldo Rocha Ferreira
(seminarista, 1941), Ir. Adélio Cangueiro (1942), P. José Terças (1944), Ir. João
de Deus Oliveira (1944), Ir. Paulo Pinheiro (1945) e P. Lindorfo Quintas
(1945).
Em 1967 fizeram-se obras importantes no segundo andar do pavilhão central,
instalando-se aí um salão de festas com palco e uma nova sala de convívio.
A 22 de Março de 1980, por proposta do Cónego Costa Lopes da Comissão de
Toponímia da Cidade de Braga, foi dado pela Câmara Municipal o nome do P.
José Eigenmann a uma rua de Nogueira, perto da capela do Espírito Santo.
A 14 de Junho de 1980, festa do Imaculado Coração de Maria, celebrou-se
solenemente o 50º aniversário do seminário do Fraião, tendo nela participado,
além de D. Eurico Dias Nogueira, arcebispo Primaz, os seus bispos auxiliares.
A 8 de Dezembro de 1985, celebrar-se-ia também o cinquentenário da
fundação do Noviciado em Portugal.
A 10 de Junho de 1986, chegaram ao Fraião, vindos de Espanha, os restos
320
Escritura de 19 de Março de 1952.
340
Adélio TORRES NEIVA
mortais do P. José Maria Felgueiras, seguindo ao outro dia para as Taipas, sua
terra natal.
A 7 de Julho desse mesmo ano de 1986, uma família de Braga, que tinha
comprado em leilão em 1910 uma imagem de Nossa Senhora de Lurdes,
pertencente ao Colégio do Espírito Santo, no acto das partilhas, decidiu oferecêla ao seminário do Fraião. É uma imagem de 1,80m, de ferro fundido. Ficou
colocada no fim da alameda das tílias.
A 26 de Julho de 1987, no seminário celebrou-se a ordenação de quatro novos
presbíteros espiritanos: os PP. Mário Silva, José Carlos Coutinho, José Manuel
Sabença e Manuel de Sá Paula. A 16 de Março de 1992, inicia-se o corte de
árvores para abertura da nova estrada da circunvalação que passará ao fundo da
mata e em frente do Espadanido.
Em 1992, procede-se ao levantamento do edifício e à definição dos espaços
para as diversas obras, segundo as orientações do Conselho Provincial Alargado
de 1991. Segundo estas orientações, o Fraião deveria ter um sector para a terceira
idade e simultaneamente um espaço devidamente adaptado para acolher doentes
altamente dependentes (nº365) e um espaço para formação do 8º e 9º ano.
Devido ao plano urbanístico da Câmara de Braga para o Vale de Lamaçães, a
casa do Fraião sofreu profunda remodelação nos pavilhões norte e central. As
obras iniciaram-se no dia 1 de Julho de 1993. Ficaram de pé apenas as paredes.
Os dois pavilhões ficaram com dois corredores com quartos de um lado e de
outro, com certo conforto, embora sem luxos. São encimados por terraços
donde se vislumbra um belo panorama. A casa foi remodelada com os seguintes
objectivos: comunidade para os confrades idosos e doentes da Província, casa de
retiros espirituais e encontros de animação missionária e vocacional.
O exterior foi também completamente remodelado: duas secções para jogos
dos alunos; uma parte ladrilhada e outra ajardinada. No meio uma acolhedora
piscina. Os claustros dos dois pavilhões foram envidraçados. As obras
terminaram no ano de 1996. Neste ano foi decidido que a Casa do Fraião
remodelada, além da comunidade espiritana, integrasse o Centro de Animação
Missionária, a funcionar no Pavilhão Central. A casa foi ainda dimensionada para
acolher confrades dependentes.
Dois anos mais tarde, procedeu-se também a um melhoramento mais
rudimentar do Pavilhão Sul, tornando a casa apta para retiros e cursos, a cargo do
CESM, que aí ficou sediado.
A 12 de Janeiro de 2001, foi firmado um contrato com a Associação de
Solidariedade Social de S. Tiago do Fraião, por 50 anos, a partir de 01.01.2001,
pelo qual a Casa do Espadanido foi cedida para Lar de Terceira Idade, Centro de
Dia e Apoio Domiciliário, Infantário e ATL.
Durante este tempo, o Fraião foi visitado por quatro ministros das Colónias:
em 10 de Abril de 1941, pelo Dr. Francisco Vieira Machado, em 30 de Março de
1946, pelo Dr. Marcelo Caetano; em 2 de Julho de 1948, pelo Comandante
Teófilo Duarte; e em 2 de Novembro de 1963, pelo Dr. Joaquim da Silva Cunha.
341
Capítulo 36
O Fraião e as suas obras
N
o Fraião, podemos distinguir três obras diferentes, cada qual com o seu
espaço e que acompanham a história deste seminário: a Obra dos
Irmãos, o escolasticado Menor com o Curso de Filosofia, e o Noviciado
dos Clérigos.
A primeira casa a ser ocupada foi a Casa dos Viscondes, na Quinta de Baixo.
Ao princípio, enquanto se construía o seminário em 1927, instalou-se ali, ainda
que provisoriamente, o Postulantado e o Noviciado dos Irmãos, que em 1929
passaria para o novo edifício no alto do monte.
Em 1930, a pedido do Episcopado, foi ali criada a Obra de Regeneração
Sacerdotal para retiros de regeneração de sacerdotes.
Em 1934, começou ali a funcionar o Noviciado dos Clérigos que se prolongou
até 1942, ano em que o Noviciado foi transferido para a Silva.
Em 1950, passou a funcionar ali o Noviciado dos Irmãos.
Em 1971, com a casa remodelada e ampliada, instalou-se ali o Curso de
Filosofia, a funcionar autonomamente e que foi interrompido em 1973 e
reaberto em 1975. Foi a partir de
então que a casa se começou a
chamar “Casa da Filosofia”.
Em 1985, voltou para ali o
Noviciado dos Clérigos e em 1990
a casa foi transformada em Centro
de Animação Missionária.
Em 1995, a casa foi encerrada até
que, em 2001, depois de profunda
remodelação, foi cedida por um
período de 50 anos à Associação de
Seminário do Fraião em crescimento
Solidariedade Social de S. Tiago do
Fraião, para lar de terceira idade, centro de dia e apoio domiciliário, infantário e
ATL.
No Fraião propriamente dito, onde se construíram o seminário e a escola
Profissional das Missões, funcionaram, desde 1929, a Obra dos Irmãos e o
Escolasticado Menor. A Obra dos Irmãos, começou a funcionar juntamente com
o Escolasticado no pavilhão Norte, depois de construído o pavilhão central,
durante todo o tempo.
O Escolasticado Menor passou por muitas vicissitudes; foi quase sempre um
342
Adélio TORRES NEIVA
seminário do chamado ensino liceal,
acolhendo os alunos que tinham feito o curso
inicial nos seminários da Guarda, Godim,
Silva ou Viana do Castelo. Aqui chegaram a
funcionar todos os cursos de preparação para
o sacerdócio, até à Teologia, mas a base fixa
foi sempre o chamado curso liceal. A idade
considerada ideal para o noviciado levou os
Superiores da Congregação a colocar ali
durante dez anos, desde 1937, o primeiro e
depois o segundo e terceiro anos do Curso de
Filosofia.
Em 1944, os escolásticos menores ficam a
ocupar o pavilhão sul e o Curso de Filosofia
o pavilhão norte.
Em atitude precursora e por muitos, na
Seminário do Fraião
altura, considerada revolucionária, obteve na
década de quarenta alvará de estabelecimento de ensino secundário particular,
sendo o ciclo complementar incluído no plano de estudos dos seminaristas
espiritanos. Os seus alunos do quinto e sétimo anos brilharam em exames liceais
e alguns deles obtiveram mesmo prémios nacionais. O seminário do Fraião foi
considerado pela imprensa de determinada época como o estabelecimento de
ensino com melhor aproveitamento escolar dos seus alunos em todo o país.
Integrado na arquidiocese de Braga, o seminário do Fraião contribuiu com uma
preciosa colaboração pastoral, quer no serviço eucarístico, quer em confissões e
pregação, bem como na assistência espiritual no seminário diocesano e nas
comunidades religiosas. Santo Adrião, Nogueira, Trofa, Sameiro, Irmãs de S.
José de Cluny, Irmãs Teresianas, Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de
Jesus, Escravas da Santíssima Eucaristia, etc. são apenas alguns exemplos deste
ministério do seminário.
O seminário do Fraião foi ainda palco de sessões de reciclagem e assembleias
provinciais, inclusivé o Capítulo Provincial de 1978, retiros e recolecções de
votos perpétuos para escolásticos e irmãos e cenário de encontros de comissões
europeias internacionais.
O Escolasticado Menor
No dia 26 de Julho de 1929 celebrou-se a última missa no colégio de S. Tomás
e os alunos do V ano passaram para o Fraião, a nova casa e onde já funcionava a
comunidade dos Irmãos. Eram ao todo 16. Os outros alunos, os do III e IV ano,
iriam para férias e também viriam para o Fraião depois das férias. Ao todo,
juntamente com os do V ano, eram 63. O I e II ano continuaram a ser
ministrados em Godim. O padroeiro do escolasticado continuou a ser o mesmo:
o Santíssimo Redentor.
O Fraião e as suas obras
343
A 2 de Agosto, foi celebrada a primeira missa no oratório provisório do
Escolasticado e a 7 de Setembro, a nova capela foi benzida pelo P. Nunes Costa
e inaugurada solenemente no dia seguinte pelo P. Provincial.
A 16 de Janeiro de 1930, foi inaugurado o recreio dos mais velhos, conhecidos
na gíria do seminário, por “grandes.”
A 27 de Junho, festa do Coração de Jesus, fez-se a renovação da consagração
da comunidade ao Coração de Jesus.
A 18 de Julho de 1932, chegou o Superior Geral, acompanhado do P. Brottier
que vinham para a Ordenação Episcopal do Sr. D. Moisés. O Superior Geral teve
palavras de muito apreço pela situação desta comunidade. No dia seguinte, a
missa da comunidade foi celebrada pelo P. Brottier. Seguiu-se um passeio pela
Quinta durante o qual muitos montaram no burro que o Ir. Inácio usava.
A 30 de Maio de 1935, foi solenemente benzido pelo Arcebispo Primaz D.
António Bento Martins Júnior o pavilhão, onde desde o fim do ano lectivo de
1934-1935 ficou a funcionar o Escolasticado Menor. Festa grande, inolvidável.
Na capela principal da comunidade, o Sr. Arcebispo deu a bênção do Santíssimo,
finda a qual se dirigiu em festiva procissão para o novo pavilhão, que benzeu com
toda a solenidade. Seguiu-se uma sessão, onde o coral regido pelo escolástico
Olavo Teixeira, pela primeira vez cantou o Hino do Fraião, com letra do
escolástico Augusto Teixeira Maio e música do P. Manuel António Meira.
Diversos jornais como o Diário do Minho, Correio do Minho, Novidades, O
Comércio do Porto fizeram referência a esta celebração.
A 15 de Julho de 1935, começaram os escolásticos a ter os seus exercícios de
piedade na capela do novo pavilhão onde ficará instalado o escolasticado. Para
essa capela passaram todas as alfaias do culto até agora pertencentes ao
Noviciado dos Irmãos; estes, tanto noviços como professos, fazem os seus
exercícios na capela da comunidade.
De 1935 a 1940, tomaram o hábito 95 escolásticos.
Em 1937, começou o I Ano de Filosofia a funcionar no escolasticado Menor.
Em 1941, juntou-se-lhe o II ano, mas logo se reconheceu a necessidade de criar
um espaço próprio para o Curso de Filosofia. Por isso, em 1942, a Obra da
Filosofia ganhou personalidade distinta do Curso de Humanidades, com
regulamento apropriado e director próprio, na pessoa do P. Olavo Teixeira. Em
1944, aumentou-se mais um ano ao Curso Filosófico, ficando o curso dividido
por três anos, inserindo-se nele as disciplinas de História da Filosofia e a
Psicologia Experimental. A Obra da Filosofia instalou-se então em pavilhão
próprio, o pavilhão Norte, com director próprio.
No ano lectivo de 1940-41, o Escolasticado Menor, que compreendia o 4º, 5º
ano e a Filosofia, ocupava apenas o Pavilhão Sul. Na ânsia de se obter mais
uniformidade no ensino, de se economizar e devido ao pequeno número de
professores disponíveis, procurou-se arranjar alojamento em Braga também para
o II e III ano. E em Outubro de 1941, aqui ficaram a estudar todos os aspirantes
desde o II ano de preparatórios até ao II ano de Filosofia, inclusive. Neste ano
introduziu-se o II Ano de Filosofia. Teve que se fazer uma nova distribuição dos
344
Adélio TORRES NEIVA
espaços: o II e III ano ficaram no Pavilhão Norte, dirigidos pelo P. Miguel da
Fonseca que em breve teve que deixar a direcção, entregando-a ao P. António
Gomes; o IV e V e a Filosofia ficaram no Pavilhão Sul, com o P. Olavo Teixeira
como director. Estas divisões mantiveram-se até Outubro de 1944. Neste ano
introduzira-se mais um ano de Filosofia. E então ficou a Filosofia no Pavilhão
Norte, com o P. Firmino Cardoso Pinto a director e no Pavilhão Sul ficaram o
II, III, IV e V anos, confiados ao P. António Alves de Oliveira.
Em 1944, foi introduzido o III ano de Filosofia.
Em 1946, a Filosofia ficará de novo reduzida aos dois primeiros anos, por
terem ingressado no Noviciado juntamente com os finalistas do III ano, os que
terminaram o segundo. O III ano de Filosofia passou para Viana do Castelo,
funcionando juntamente com a Teologia. Depois passaram também para Viana o
II e III ano de Filosofia. Com a ida da Teologia para a Torre da Aguilha, em
1952, Viana ficou só com a Filosofia. Em 1956, o Curso de Filosofia passou
também para a Torre da Aguilha.
A 1 de Outubro de 1941, chegaram os escolásticos vindos de Godim para o
segundo e terceiro ano subindo para 250 o número total dos escolásticos.
A festa do Santíssimo Redentor de 1946 foi solenemente celebrada com “Jogos
Olímpicos”, antes preparados pelo professor de Ginástica o alferes Ramalho:
Recreios enfeitados, jogos de ginástica, assistência selecta, todas as janelas
iluminadas à noite e uma grande cruz luminosa contribuíram para que essa festa
de 15 de Julho perdurasse na memória de quantos a viveram.
No dia 15 de Dezembro de 1946 inaugurou-se no Pavilhão Sul uma lápide
comemorativa do tricentenário da Consagração de Portugal à Imaculada Conceição.
Em 1946, teve início o VI Ano.
A 29 de Dezembro de 1946, realizou-se uma festa de homenagem ao Senhor
Capitão Monteiro Pinto a agradecer os 25 anos da sua presença como professor
neste seminário. O seu retrato ficou exposto no salão de festas.
Remonta também a esta época a divisão dos alunos em duas salas de estudo
para os escolásticos menores: a Sala de Angola, para o II e III ano e a sala de
Cabo Verde para o IV e V.
Em 1950, a Obra dos Irmãos é transferida para a antiga Casa do Noviciado dos
Clérigos, no Espadanido. As obras de adaptação começaram a 27 de Maio.
Em 1955, aumentou-se mais um ano de estudos: o VII ano liceal.
Em Outubro de 1956, o Fraião volta a ter um só director com dois
subdirectores, tendo ficado o 2º ano em Godim e em Viana o primeiro ciclo. No
Fraião permanecem o 2º e 3º ciclos juntos; no Pavilhão Norte - o 3º e 4º anos; e
no Pavilhão Sul – o 5º, 6º e 7º anos.
A 16 de Agosto de 1959, reúnem-se os Antigos Alunos dos nossos seminários.
Foi a sua segunda reunião. No ano anterior realizara-se a primeira reunião, na
Torre da Aguilha. Entre eles, contava-se o Senhor D. Paulo Lencastre, filho de
D. José de Lencastre.
De 4 a 11 de Agosto de 1961, teve lugar o primeiro estágio de 90 candidatos ao
primeiro ano.
O Fraião e as suas obras
345
A 17 de Fevereiro de 1965, recomeçaram as obras do futuro estádio desportivo
já por duas vezes iniciadas.
A 13 de Março de 1966, faleceu no Casal de Penouços o Senhor Capitão
Monteiro Pinto que durante 43 anos (desde Outubro de 1921 até Outubro de
1964) leccionou gratuitamente Álgebra e Físico-Química nos seminários
espiritanos. A 10 de Maio desse mesmo ano falecia a sua esposa D. Virgínia Pinto.
A 2 de Junho de 1967, foram inaugurados os dois estádios: Estádio do
Centenário da Congregação ou Estádio Libermann, no Pavilhão Sul, e o Estádio
do Cinquentenário de Fátima, no Pavilhão Norte. Também neste ano, foi
construído um depósito de 50 metros cúbicos de água, junto do Campo Escolar
dos Escutas.
Em 1968, o Pavilhão Sul sofreu profundas remodelações, sendo inaugurados,
no espaço entre os dormitórios, três lavatórios além de três novas salas de banho.
Tempos antes, tinham sido
também inaugurados lavatórios individuais nos quartos
do 1º andar.
Em 1972/73, fazem-se
obras nas salas de aulas do
rés do chão do Pavilhão Sul,
a sala de Angola ficando
reduzida a metade; fazem-se
também novas sanitárias no
Pavilhão Sul.
No Seminário do Fraião
A 25 de Maio de 1975 fezse a reunião conjunta dos ASES e Antigos Alunos dos Colégios.
Em 1976, começou o Ciclo Geral com o 1º, 2º e 3º ano.
A 7 de Fevereiro de 1977, iniciaram-se as obras na sala do 2º andar do Pavilhão
Central onde se instalou um salão de festas com palco.
Em 1982, começa-se a recorrer a alguns professores externos.
Em 1984, os alunos do 7º e 8º anos terão as aulas no pavilhão Sul.
Em 1987, esteve transitoriamente no Fraião o Curso de Filosofia bastante
reduzido, com o P. Agostinho Tavares a director e o P. Carlos Salgado como
colaborador.
Em1989 os alunos de Godim (7º ano) vieram para o Fraião devido à casa de
Godim entrar em obras.
O número dos alunos foi variando ao longo dos tempos: chegaram a 250!
O número de alunos chegados de novo em cada ano foi: em 1929: 85 (5º, 4º e
3º ano); em 1930: 26 (5º ano); em 1931: 28 (3º ano); em 1932: 42 (3º ano); em
1933: 25 (3º ano); em 1934: 30 (3º ano), em 1935: 32 (3º ano); em 1936: 31 (3º
ano); em 1937: 32 (3º ano), em 1938: 31 (4º ano); em 1939: 35 (4ºano); em 1940:
47 (4º ano); em 1941: 150 (4º, 3º e 2º ano); em 1942: 66 (2º ano); em 1943: 47
(2º ano); em 1944: 43 (2º ano); em 1945: 48 (2º ano); em 1946: 49 (2º ano); em
1947: 57 (2º ano); em 1948: 60 (2º ano); em 1949: 66 (2º ano); em 1950: 57
346
Adélio TORRES NEIVA
(2ºano); em 1951: 82 (2º ano); em 1952: 54 (2º ano); em 1953: 48 (2ºano); em
1954: 52 (2ºano); em 1955: 67 (2º ano); em 1956: 1 (6º ano; o 2º ano ficou em
Viana do castelo); em 1957: 57 (3º ano); em 1958: 64 (3º ano); em 1959: 60 (3º
ano); em 1960: 62 (3º ano); em 1961: 55 (3º ano); em 1962: 69 (3º ano); em
1963: 72 (3º ano); em 1964: 77 (3º ano); em 1965: 75; em 1966: 57 (3º ano); em
1967: 61; em 1968: 68; em 1969: 53; em 1970: 58; em 1971: 65; em 1972: 82; em
1973: 68; em 1974: 63; em 1975: 42; em 1976: 38; em 1977: 35; em 1978: 44; em
1979: 46.
A Obra dos Irmãos
O Livro das Actas das Reuniões dos Irmãos remonta a 1925, mas a Obra dos
Irmãos no Fraião começou com o postulantado na Casa do Visconde na Quinta
de Baixo, em 1927.
Construído o primeiro pavilhão no cimo do monte do Fraião, o pavilhão norte,
para ali se deslocou o postulantado em 1929 iniciando-se assim a Escola
Profissional das Missões, que durante algum tempo conviverá com o pequeno
escolasticado. Os membros da Obra dos Irmãos eram 57.
A 9 de Outubro de 1929, é inaugurada a capela do noviciado dos Irmãos.
O padroeiro da comunidade continuou a ser o mesmo: a Sagrada Família.
Em 1930-31, os padres adscritos à Obra dos Irmãos eram: PP. Arnaldo
Baptista, Labrousse, Fernandes e Manuel Vieira.
As oficinas construídas logo desde o início foram: a carpintaria, a alfaiataria, a
sapataria e a tipografia-encadernação. A padaria seria construída pouco depois.
Em 30 de Maio de 1935, é benzido o novo pavilhão, o pavilhão sul, e em Julho
desse ano o noviciado, postulantado e aspirantado passam para a casa nova.
Em geral, tanto o superior como o ecónomo estavam bastante ligados à Obra
dos Irmãos.
Depois do P. Arnaldo
Baptista, o primeiro mestre
de noviços dos Irmãos foi o
P. Joaquim Correia de
Castro, que ocupou este
cargo de 1932 a 1938. Como
sub-mestres estiveram o P.
Miguel Fonseca e o P.
Manuel Meira.
Em 1939 assume o cargo
de mestre de noviços o P.
A “Obra dos Irmãos”
Manuel António Meira que
permanecerá no cargo até Outubro de 1943; como sub-mestre estiveram os PP.
José Felício e Firmino Cardoso.
Em 1944 assume o cargo de mestre de noviços o P. Olavo Teixeira, sendo sub-mestre o P. Querubim Meireles.
O Fraião e as suas obras
347
De 1946 a 1948 o P. Joaquim Correia de Castro é novamente nomeado mestre
dos noviços, continuando o P. Querubim Meireles a sub-mestre.
Em 1948 assume o cargo de mestre de noviços o P. António Luís Gonçalves.
Em 1950 o Noviciado dos Irmãos foi solenemente inaugurado na Casa dos
Viscondes do Fraião, no Espadanido, presidindo à inauguração o Sr. D. Moisés
Alves de Pinho; nesse mesmo dia tomaram hábito nove noviços irmãos. Como
mestre dos noviços é nomeado o P. José Maria de Sousa, colaborando com ele o
P. António Cardoso Botelho.
Em 1956 é mestre de noviços o P. António Botelho, tendo o P. Meira como
colaborador. Em 1957 a equipa da Obra dos Irmãos era constituída pelo mesmo
Mestre, P. António Cardoso Botelho com a colaboração do Superior P. José Maria de
Sousa e do P. Joaquim Maria Mendes, que viria a ocupar o cargo de Mestre em 1963.
Em 1959, começou-se a estudar a possibilidade dos postulantes frequentarem
o “Curso Complementar de Aprendizagem Agrícola,” criado pelo Ministério da
Educação (Diário do Governo de 21 de Novembro de 1975 Iª série, nº 264). O
primeiro período do curso, chamado “Instrução Geral” era de dois anos e
compreendia as seguintes disciplinas: Língua e História Pátria, Aritmética e
Geometria, Desenho e Conhecimentos da Natureza”. Este curso dava a
possibilidade de ingresso nas Escolas Técnicas ou nas Escolas Práticas de
Agricultura, oferecendo assim mais vantagens para os Irmãos que o Liceu. A
frequência do 2º Período oferecia mais dificuldades pelas exigências que comportava.
Assim, na reunião do Conselho da Obra dos irmãos de 22 de Abril de 1959, foi
decidido solicitar do Ministério da Educação o estabelecimento do 1º Período do
“Curso Complementar de Aprendizagem Agrícola” e a faculdade de apresentar
os nossos aspirantes aos exames das Escolas Técnicas, sem obrigação de
frequentar as aulas e de inscrição no sindicato, uma vez que tínhamos
professores e dispúnhamos das respectivas oficinas. O curso constaria de quatro
anos, sendo os dois últimos anos de habilitação profissional, administrada por
um Regente Agrícola Oficial.
Este pedido foi diferido pelo Ministério, devendo as aulas começar a 15 de
Outubro, sendo assim criada no Fraião a “Escola Profissional Agrícola” e o
“Curso Complementar de Aprendizagem Agrícola”, ficando a regente do Curso
e director da Escola Agrícola o P. António Botelho.
O curso seria frequentado por 40 alunos, entre pré-postulantes, postulantes,
noviços e irmãos tanto do Noviciado como da Comunidade. No primeiro ano 34
alunos terminaram o curso com aproveitamento. O 2º ano do curso foi
frequentado praticamente com os mesmos alunos do primeiro. Os resultados
finais: só 2 reprovaram e 13 desistiram quase todos por terem mudado de lugar.
Dos 28 aprovados no primeiro curso, 17 ingressaram no primeiro ano da
Escola Profissional. O Curso repetir-se-ia nos anos seguintes, vindo depois a ser
substituído em 1965 pelo Programa das Escolas Técnicas.
Alguns alunos frequentariam depois a Escola Técnica, outros a Escola de
Enfermagem e outros o Iº Ciclo do Liceu em ordem à inscrição na escola de
Regentes Agrícolas.
348
Adélio TORRES NEIVA
Em 1960 começa-se com o pré-postulantado na Casa dos Viscondes do Fraião.
O Conselho de Obra era então formado pelos Padres José Maria de Sousa
(Superior), António Cardoso Botelho (Mestre), Joaquim Maria Mendes,
Joaquim Vaz e Rogrigues Pinto.
Em 1961 foi também adscrito à obra dos Irmãos o P. Seabra Marques.
Em 1961 o pré-postulantado, de que era director o P. Joaquim Maria Mendes,
deixou o Fraião e foi para a Aguilha com o Ir. Estêvão.
Em 1962 o Conselho de Obra era formado pelos Padres José Maria de Sousa,
Mestre, ecónomo, Rodrigues Pinto, Seabra Marques e Meira. O pessoal do
noviciado era formado por 13 Irmãos Professos, 7 noviços, 14 postulantes. As
aulas estavam divididas por três cursos: instrução primária, instrução geral e
instrução profissional.
Em 1963, formavam a Obra um irmão no 2º triénio, 13 no primeiro triénio, 6
noviços e 16 postulantes.
Em 1965 foram apresentados pela primeira vez a exame do Iº Ciclo 6 Irmãos.
Em 1967 foi extinta a Escola Agrícola do Fraião, que funcionava com carácter
oficial por se julgar mais útil enviar os alunos à Escola Industrial e Comercial de
Braga, na qual se especializaram já seis Irmãos, frequentando dois o Curso de
construtor civil, dois o de carpinteiro e dois o de serralheiro. Neste ano para os
Irmãos iniciou-se um curso preparatório para o I Ciclo frequentado por 6 alunos.
Em 1970 o Conselho Provincial resolveu transferir a Obra dos Irmãos para
Coimbra, sendo nomeado seu director o Ir. Duarte Costa.
Na Obra dos Irmãos trabalharam além dos Padres já mencionados os PP. José
Finck, José Maria de Sousa, José Maria Figueiredo, Avelino Costa, Joaquim Vaz,
João Pinto da Silva, Joaquim Rodrigues Pinto.
Postulantado e Noviciado dos Irmãos
Em 1929 houve 45 ingressos, em 1930, 28; em 1931, 30; em 1932, 37; em 1933,
17; em 1934, 20; em 1935, 14; em 1936, 20; em 1937, 22; em, 1938, 18; em 1939,
16; em 1940, 16; em 1941, 23; em 1942, 24; em 1943, 12; em 1944, 20; em 1945,
16; em 1946, 10; em 1947, 14; em 1948, 10; em 1949, 22; em 1950, 17; em 1951,
9; em 1952, 18; em 1953, 8; em 1954, 12; em 1955, 8; em 1956, 8; em 1957, 5; em
1958, 10; em 1959, 10; em 1960, 9; em 1961, 17; em 1962,7; em 1963, 20; em
1964, 6; em 1965, 7; em 1966, 6; em 1967, 7; em 1968, 3; em 1969, 2.
Profissões:
1932:
Ir. Silvestre da Silva
Ir. João Evangelista (Francisco de Jesus Matos)
Ir. Amado (Carmelindo da Costa Rodrigues)
Ir. Venâncio (Armando Augusto Fidalgo)
O Fraião e as suas obras
1933:
Ir. Carlos (José da Fonseca Cardoso)
Ir. Afonso de Ligori (António Fernandes Gomes)
Ir. Eliseu (João da Silva Bagagem)
Ir. José Maria (José da Silva Gouveia)
Ir. Augusto (Domingos de Abreu Marques)
Ir. Mateus (João Fernandes)
Ir. Filipe (Clemente Vilela)
Ir. Estanislau (Francisco de Sousa)
Ir. João Berckmans (António Martins da Cunha)
1934:
Ir. João Crisóstomo (António Teixeira)
Ir. David (João da Costa)
Ir. Albino (António Gonçalves)
Ir. Gerardo (Albano Félix Pereira)
Ir. Rafael (José Luís Soares)
Ir. Messias (Francisco Marques Paulino)
Ir. Moisés (Joaquim da Costa Correia)
Ir. Fiel (Luís Rosa)
Ir. Lino (Manuel Pereira Agostinho)
Ir. Nuno (António Pedrosa)
1935:
Ir. Jacinto (Raul da Costa Oliveira)
Ir. Guilherme (António Gonçalves Frade)
Ir. Afonso Rodrigues (Gaudêncio Gonçalves Henriques)
Ir. Crispim (João Afonso de Sousa)
Ir. Vital (Joaquim Fernandes)
1936:
Ir. Vitorino (João Miguel Dias)
Ir. Gabriel (Mário Nogueira Gonçalves)
Ir. Daniel (António Cerqueira Roque)
Ir. Cipriano (Nogueira da Cunha)
Ir. Silvino (José Afonso Gonçalves)
Ir. Martinho (Carlos Gomes)
Ir. Venceslau (José Ferreira)
Ir. Eugénio (Júlio Alves)
1937:
Ir. Lucas (José Anacleto Pereira Ascensão).
Ir. Inácio da Santíssima Trindade (José T. Cavalheiro)
Ir. João Evangelista (Manuel José Ramos)
Ir. Cândido (Manuel Lopes de Oliveira)
Ir. Teófano Venard (António Joaquim Messias)
1938:
Ir. Mário (Domingos Ribeiro dos Santos)
349
350
Adélio TORRES NEIVA
Ir. André (Avelino Dias Peixoto)
Ir. Abel (Abel Luís Grave)
Ir. Simão (Joaquim Alves dos Santos)
1939:
Ir. Hermenegildo (Albertino da Silva Lage)
Ir. Norberto (Alfredo Martins Rocha)
Ir. Vítor (Manuel Gonçalves Valente)
Ir. Amaro (Luís Augusto de Oliveira)
1940:
Ir. Diogo de Carvalho (Pedro Duarte Perry da Cunha)
Ir. Adriano (Abílio Luís Lourenço)
Ir. Francisco de Sales (Joaquim Pinto de Almeida)
Ir. Redentor (Afonso Plácido)
Ir. Bartolomeu (Mário de Jesus Pinheiro)
Ir. Basílio (Joaquim Ferreira Pontes)
Ir. Estêvão Pires (Manuel António Pires)
Ir. Domingos (António Pires)
1941:
Ir. Paulino (João Ferreira)
Ir. Rafael (Manuel Joaquim Martins da Rocha)
Ir. Eliseu (António de Sousa)
Ir. Isidro (Joaquim Lourenço Leitão)
Ir. Jorge (Adelino António Pereira)
Ir. Paulo da Cruz (António Monteiro)
Ir. Jacinto (José Ramos)
Ir. Joaquim (José Afonso da Cunha)
Ir. Salvador (Manuel Rebelo Monteiro)
1942:
Ir. Manuel (Manuel de Sousa Carvalho)
Ir. Daniel (José Lourenço Leitão)
Ir. Celestino (José Lourenço Leitão)
Ir. Trindade (António José Nunes do Vale)
Ir. David (Armando Pinto)
Ir. Nuno Álvares (António Gonçalves Moreira da Costa)
Ir. Firmino (José Maria Sampaio)
1943:
Ir. Bonifácio (Manuel Pinto da Silva )
Ir. Isaque (Manuel Augusto)
Ir. Tarcísio (Manuel Fernandes Pereira)
Ir. Tiago (Francisco de Oliveira)
Ir. Vicente (José Franco Vicente)
Ir. Tito (Manuel Marques Ferreira)
Ir. Valentim (Adelino da Silva Carvalho)
O Fraião e as suas obras
1944:
Ir. João Baptista (Adriano Lopes)
Ir. Francisco de Assis (José Vieira)
Ir. Inocêncio (José Domingues)
Ir. Gaspar (António Gaspar Faria)
Ir. Fernando (Fernando Nunes)
1945:
Ir. Adélio (Manuel Augusto de Freitas)
Ir. Carlos (Inácio de Oliveira Martins Pontes)
Ir. Gabriel de Nossa Senhora das Dores (Faustino dos Santos Ferreira)
Ir. Bento (Manuel Gomes)
Ir. Duarte (José Bernardino Duarte Miranda)
1946:
Ir. Samuel (Bento dos Santos)
Ir. Isaías (Joaquim Carlos Loureiro)
Ir. Delfim (Agostinho Rodrigues Romeiro)
Ir. João da Cruz (João Baptista Chaves)
Ir. Ireneu (Francisco da Mata)
Ir. Policarpo (José Rodrigues Cândido)
Ir. Francisco (Mário Rodrigues Patrício)
Ir. Brás (Manuel da Silva)
Ir. Lúcio (Joaquim dos Santos Custódio)
Ir. Leonardo (Francisco Maria)
Ir. Modesto (Antero Moreira Martins Reis)
Ir. Patrício (Agostinho de Sousa)
Ir. Antonino (Armindo Fernandes Barbosa)
Ir. Tomás (Adelino Alves)
1947:
Ir. Eugénio (Avelino Afonso da Rocha)
1948:
Ir. Henrique (Joaquim Ferreira de Campos)
Ir. João de Deus (João Pinto Lamego)
Ir. Domingos (Rogério dos Anjos Meireles)
Ir. Tomé (José Manuel Fernandes)
Ir. João Bosco (José Lucas dos Reis)
Ir. Francisco (Filipe Duarte)
1949:
Ir. João Crisóstomo (Joaquim Fernando Pinto de Magalhães)
Ir. Frutuoso (Carlos Pereira da Costa)
Ir. João de Brito (Licínio Alves)
Ir. Jorge (Aires Moreira)
1950:
Ir. Ambrósio (Julião da Silva Gonçalves)
Ir. Clemente (Joaquim Ferreira Lobo)
351
352
Ir. Boaventura (Alexandre José Braga)
Ir. Francisco Xavier (Belarmino Viveiro Cabral)
Ir. Paulo da Cruz (Manuel Pinheiro dos Santos)
1951:
Ir. Bruno (Amadeu Vieira)
Ir. Salvador (António da Cunha)
Ir. Cassiano (António Maria)
Ir. Alberto (Carlos Alberto Marrecos Parreira)
1952:
Ir. Crispim (Agostinho Teixeira de Carvalho)
Ir. Redentor (José Azevedo Vieira)
Ir. Benedito (Silvestre Reis Ramos)
Ir. Gregório (António dos Santos Braz)
Ir. Sávio (Augusto da Luz de Freitas)
Ir. Paulo (José Francisco Coelho)
1953:
Ir. Estêvão (Manuel Joaquim Duarte)
Ir. Isidro (Fernando de Freitas)
Ir. Faustino (Joaquim da Costa Manso)
Ir. António (António Abrantes Registo)
Ir. Sebastião (Luís Ferreira dos Santos)
1954:
Ir. Lino (Amândio dos Santos Braz)
Ir. Boaventura (Isaias Ferreira Gonçalves)
Ir. André (António Gonçalves)
Ir. Abel (José Augusto Cardoso)
1955:
Ir. Eduardo (José Augusto Garcia)
Ir. Juvenal (Vasco Santos Almeida)
Ir. Acácio (José dos Santos Morais)
Ir. Anselmo (António Ribeiro de Queiroz)
Ir. Barnabé (José da Costa Magalhães)
Ir. Ângelo (Manuel Tavares de Oliveira de Matos)
Ir. Juliano (Miguel Duarte Miranda)
Ir. Gualter (António Pacheco Pereira Júnior)
Ir. Sílvio (José Morais de Freitas)
1956:
Ir. Judas Tadeu (Francisco Lourenço Pires)
Ir. Francisco Xavier (Jesus José Blanco Martinez)
Ir. Pedro Crisólogo (Rafael dos Santos Morais)
Ir. Roberto Belarmino (Francisco Rodrigues Morais)
Ir. Efrém (Fernando da Costa Pereira)
Adélio TORRES NEIVA
O Fraião e as suas obras
1957:
Ir. Luís de Gonzaga (Avelino Dourado Pontes)
Ir. Camilo de Lelis (Manuel Gonçalves Martins)
1958:
Ir. Frutuoso (José de Miranda)
Ir. Henrique (Armando da Costa Andrade)
Ir. Hermenegildo (José Veiga Freire)
1959:
Ir. João Baptista (Miguel Fernandes Tomaz)
Ir. Paulino (Manuel Nunes Afonso)
Ir. Sivério (Armindo Augusto Fernandes Braz)
Ir. Bartolomeu (José de Jesus Mendes)
1960:
Ir. Benjamim (Agostinho Manuel Lopes)
Ir. Dâmaso (Jerónimo de Castro Oliveira)
Ir. Alexandre (Francisco dos Santos Morais)
Ir. Tito (António Joaquim Ferreira)
1961:
Ir. Rosário (Esteban Ruiz Moreno)
Ir. José Maria (Germano Oliveira Duarte)
Ir. Serafim (Serafim Salgado Mendes)
1962:
Ir. Gabriel (Jacinto Pereira Parente)
Ir. Emílio (António Manuel Fernandes Allen Perkins Cepa)
Ir. Gaspar (António da Silva Marques)
Ir. Sotero (António Capitão Fernandes Pereira)
Ir. Romualdo (David Andrade Ferreira)
Ir. Basílio (Eugénio Teixeira Mendes)
1963:
Ir. Baltazar (Hipólito Baptista Gomes Furtado)
Ir. Cecílio (Policarpo Mendes Furtado)
Ir. Rafael (António Simão Morais Martins)
Ir. Samuel (Américo Pereira de Sousa)
Ir. João Macias (Raul Laço Dias Aparício)
Ir. Salvador (Adriano Tomaz Santos)
1964:
Ir. Venâncio (Armando Lourenço)
Ir. Alfredo (Manuel de Jesus Abreu de Lima)
Ir. Cândido (José Alberto Macedo Fernandes)
Ir. Feliciano (José Marques Ferreira)
1965:
Ir. Emanuel (Manuel Lopes de Sousa)
Ir. Francisco José (Luís Jorge Guedes Nereu)
Ir. Miguel (Amílcar dos Santos Pires)
353
354
Adélio TORRES NEIVA
Ir. Abraão (Altino Gonçalves Fafiães)
Ir. Jorge (Aníbal Barbosa da Cunha)
Ir. João de Deus (Belmiro Chaves Ribeiro)
1966:
Ir. Américo (Américo José de Almeida)
Ir. João Baptista (Duarte Manuel da Silva Costa)
1967:
Ir. João Pedro (Pedro Kitumba)
Ir. Augusto Chitué (Augusto Chitué)
Ir. Hermes (Lécio Silva Pereira da Lomba)
Ir. Hugo (Hugo Lopes Fernandes)
Ir. Higino (Manuel Domingues)
1968:
Ir. Benedito (Benedito Roberto)
Ir. Delfim (Manuel de Jesus Dias Vieira da Cruz)
Superiores da Comunidade
Os superiores foram os seguintes:
1927 - P. Cancela logo substituído pelo P. Miguel Fonseca;
1929 - P. Arnaldo Baptista;
1932 - P. Joaquim Correia de Castro;
1938 - P. Francisco Alves do Rego;
1944 - P. Manuel António Meira;
1950 - P. João Pinto da Silva;
1954 - P. Manuel António Meira;
1957 - P. José Maria de Sousa;
1963 - P. António Cardoso Botelho;
1966 - P. José Coelho Amorim;
1971 - P. Amadeu Gonçalves Martins;
1976 - P. Manuel Magalhães Fernandes;
1979 - P. Mário Pires;
1982 - P. Óscar Moura Guedes;
1991 - P. Manuel Martins;
1999 - P. José Carlos Coutinho
2000 - P. José Coelho Barbosa
Ecónomos
1932 - P. Pompeu Seabra;
1937 - P. José Felício;
1944 - P. Querubim Meireles
1951 - P. António Cardoso Botelho;
1957 - P. Joaquim Maria Mendes;
O Fraião e as suas obras
1963 - P. Eurico José Azevedo;
1971 - Ir. Sotero;
1974 - Ir. Custódio;
1975 - P. Manuel Cruz;
1981 - P. António Abreu;
1984 - P. Carlos Salgado;
1998 - P. Abel Moreira Dias;
2002 - P. Marcelino Duarte Lopes
Equipas directivas do Escolasticado
1929 - P. António Ribeiro Teles, director;
1930 - P. Miguel Fonseca, subdirector;
1936 - P. Olavo Teixeira, subdirector;
1938 - P. Francisco Alves do Rego, director;
1940 - P Francisco Alves do Rego, director;
P. Olavo Teixeira, subdirector;
P. Miguel Fonseca, director do 2º e 3º ano;
P. António Gomes, director do 2º e 3º ano;
P. José Maria Pereira, subdirector;
P. Alves de Oliveira, subdirector do 4º e 5º ano;
1941 - P. Olavo Teixeira, director do 4º, 5º ano e Filosofia;
P. António Cardoso, subdirector;
1942 - P. Francisco Lopes, subdirector, (IIIª Secção);
P. Firmino Cardoso, subdirector;
1943 - P. António Alves de Oliveira, director do 2º, 3º, 4º e 5º ano;
1944 - P. Firmino Cardoso, director dos Filósofos;
P. António Rodas – subdirector dos Filósofos;
P. António Alves de Oliveira, director do 2º, 3º, 4º e 5º ano;
P. José Maria de Sousa, subdirector (2º, 3º, 4º 5º );
1946 - P. Joaquim Antunes Pinto, director do 2º, 3º, 4º, 5º e 6º ano);
P. Alberto Gomes de Oliveira, subdirector;
P. Firmino Cardoso Pinto, director da Filosofia;
P. António Lourenço Braz, subdirector dos Filósofos;
1948 - P. Celestino Belo, subdirector do PN (2º e 3º ano);
1950 - P. Joaquim Antunes Pinto, director;
P. Celestino Belo, subdirector do PN (2º e 3º ano);
1953 - P. Amadeu Martins (director do PS: 5º, 6º e 7º);
P. Henrique Sá Couto, director do PN 2º,3º,4º);
1954 - P. Amadeu Martins, director do PS (5º, 6º e 7º ano);
1956 - P. Amadeu Martins, director de todo o Escolasticado;
1957 - P. Manuel da Purificação Azevedo, subdirector do 5º, 6º e 7º ano;
1959 - P. António Alves de Oliveira, director do PS (3º e 4º ano);
P. José Carreira Júnior, subdirector;
355
356
1961 1962 -
1963 1968 1970 1971 1973 1975 1977 1978 1979 1981 -
1982 1984 1985 1986 1988 1989 1990 -
Adélio TORRES NEIVA
P. José Fonseca, director do PN;
P. José Pires, subdirector;
P. Manuel Gonçalves, subdirector do 3º e 4º ano;
P. Manuel Gonçalves, director do PS;
P. Pires, director do PN;
P. Pinto de Carvalho, subdirector;
P. Manuel Martins Vaz, subdirector dos mais velhos;
P. Paulino Évora, subdirector dos mais velhos;
P. Pinto de Carvalho, director do PS;
P. Moreira Dias, subdirector do PS;
P. Manuel Areia;
P. José Carreira Júnior - PN;
P. Cardoso Soares, subdirector do PN;
P. João Baptista Pinheiro (director PS, 1º ano);
P. Manuel Durães Barbosa (director PN, 2º e 3º ano);
P. Santana, director PN;
P. Mário Pires, subdirector;
P. Manuel Santana – director (PN);
P. João Baptista Pinheiro (PS);
P. Agostinho Brígido, subd. PS;
P. José Carreira Júnior, dir. PS;
P. Mário Pires, director - PN;
P. Hermenegildo Teixeira Correia, subd. PS;
P. Magalhães Fernandes, director (PN);
P. Ferreira da Silva, Subd.;
P. Hermenegildo, director PS;
P. Martins Salgueiro subd. PS;
P. João Baptista Pinheiro, director PN;
P. Ferreira da Silva, subd. PS;
Ir. Joaquim da Costa Manso, subdirector PS;
P. Pinheiro, director (7, 8 e 9º);
P. José Lopes de Sousa, subdirector;
P. José Costa, director;
P. José Lopes de Sousa;
P. Manuel Martins;
P. José Lopes de Sousa, director (8 e 9 ano);
P. Manuel Martins, subdirector (8 e 9);
P. Manuel Martins, director (8º e 9º ano);
P. António Luís Marques de Sousa, subdirector;
P. Tarcísio (director 7º ano);
Ir. António (subd.);
P. Manuel Martins (dir. 8º e 9º ano);
P. João Crisóstomo Nogueira (subd.);
O Fraião e as suas obras
357
1991 - P. Manuel Martins (director);
P. Nogueira (subd.);
1993 - P. Manuel Martins, director;
P. João Crisóstomo Nogueira;
P. Tarcísio Moreira
Mestres dos noviços-irmãos:
1924 - P. Joaquim Correia de Castro, sub-mestre de noviços;
1932 - P. Joaquim Correia de Castro, mestre;
P. Miguel Fonseca, sub-mestre;
1934 - P. Manuel António Meira, sub-mestre;
1938 - P. Manuel Meira, mestre; P. José Felício, sub-mestre;
1944 - P. Olavo Teixeira, mestre;
1941 - P. Firmino Cardoso, sub-mestre;
1944 - P. Querubim Meireles, sub-mestre;
1946 - P. Joaquim Correia de Castro, mestre;
P. Querubim Meireles, sub-mestre
1948 - P. António Luís Gonçalves, mestre
1950 - P. José Maria de Sousa, mestre
P. António Botelho, sub-mestre
1957 - P. António Cardoso Botelho, mestre
1963 - P. Joaquim Maria Mendes
O Noviciado dos Clérigos
O Noviciado dos Clérigos foi inaugurado a 7 de Setembro de 1934, sendo
Mestre de noviços o P. Alberto Brunn, sub-mestre o P. Manuel Meira e
Confessor o P. José Finck.
“Para glória e louvor da Trindade Santíssima a quem todo o cristão é consagrado,
nós muito especialmente na pessoa do Espírito Santo, em união com o Sacratíssimo
Coração de Jesus, que, por uma atenção especial do seu amor misericordioso, nos
chamou aqui neste dia a Ele dedicado e será sempre o nosso verdadeiro Mestre; sob
os auspícios da Virgem Santíssima, cujo nascimento, segundo canta hoje a Igreja, dá
luz e brilho a todas as instituições eclesiásticas e, segundo reza a crónica da nossa
Província Lusitana, tem sido o signo sob o qual se iniciaram as melhores das nossas
obras, debaixo da protecção do amantíssimo S. José, para nós sempre Providência
amorosa no temporal e modelo eficacíssimo no espiritual; à sombra de todos os
Padroeiros da Congregação, especialmente dos Santos Apóstolos, por nós invocados
com fervor em prol de obra tão humildemente iniciada, como esperançosamente
fecunda; invocado particularmente o Arcanjo S. Miguel, sob cuja defesa contamos
358
Adélio TORRES NEIVA
no presente ano colocar a Província toda; rogando a Santa Teresinha do Menino
Jesus, a carinhosa Padroeira dos
missionários e das missões, seja este
ano e sempre a inspiradora de todos
quantos aqui vierem haurir o
espírito apostólico e religioso; sob o
patrocínio, já antigo, do Padroeiro
local desta casa, o Santo Cura
d´Ars, modelo de todas as virtudes,
mas especialmente do zelo sacerdotal; após a erecção canónica
concedida pela Santa Sé a esta
comunidade do Fraião e com a
Casa do Espadanido - Braga
autorização formal do nosso Superior Geral Mgr. Luiz Le Hunsec, declaramos oficialmente inaugurado a partir de
hoje o Noviciado da Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo e do
Imaculado Coração de Maria.
Fraião, 07 de Setembro de 1934, Primeira Sexta-Feira do mês e Véspera da
Natividade de Nossa Senhora”.
Foi com estas palavras que o P. Clemente Pereira da Silva, Provincial de
Portugal, declarou na capela da Quinta de Baixo, no Fraião, às 12.30h do dia 7 de
Setembro de 1934, inaugurado o Noviciado em Portugal. Encontravam-se
presentes, os 17 neo-noviços e os Padres Joaquim Correia de Castro, superior,
Alberto Brun, mestre de noviços, P. Manuel António de Meira, sub-mestre dos
noviços, P. Miguel Fonseca e P. José Alves Terças, confessor dos noviços.
Até ao presente o noviciado era feito em França. Mas como as dificuldades
aumentavam de dia para dia, forçoso foi optar por uma outra solução. Antes de
mais, o número dos noviços tinha aumentado bastante. Orly já não podia
receber todos os noviços e Neufgrange ia acabar como noviciado, pois não era
fácil manter dois noviciados numa só Província.
Em segundo lugar, as despesas desta deslocação eram consideráveis e a situação
financeira da Província Portuguesa já não comportava tais despesas. Só para
alimentação eram necessários 200 mil reis diários o que perfazia a soma de 73
contos por ano.
Apesar disso, era desejo da Província continuar a enviar os noviços para a
França pelo menos até se tomar posse da Casa da Silva, oferecida para esse efeito.
Pelos argumentos invocados e outros mais fortes e como a Casa da Silva não
estava ainda na posse da Congregação, optou-se pela Quinta do Fraião. Nesta
Quinta funcionava desde há anos a “Obra do Santo Cura d´Ars”, sob a direcção
do P. José Rodrigues Cosme. Pôs-se fim a esta obra para dar lugar ao noviciado.
Por acaso feliz, o P. Faure, mestre de noviços em Orly, que veio nesse ano
passar férias a Portugal, foi convidado a ver a casa e gostou do local, dando
algumas indicações para a disposição das diferentes partes da casa.
O Fraião e as suas obras
359
Para mestre foi escolhido P. Alberto Brun, professor de Teologia em Viana do
Castelo; para sub-mestre o P. Manuel António Meira até então subdirector e
professor no seminário da Guarda; para confessor o P. José Alves Terças e como
auxiliar o Ir. Afonso.
O P. Brun deslocou-se durante três meses a Orly a fim de se preparar melhor
para o seu cargo e entretanto os Irmãos Marcelino e Protásio, procuraram
adaptar o edifício ao fim em vista. Prepararam-se cerca de 30 quartos e todas as
dependências necessárias para o bom funcionamento da obra. Na casa velha ficou
instalada a capela.
No dia 3 de Setembro começaram a chegar os primeiros noviços para ultimar os
preparativos e no dia 7 estavam já todos presentes: Pedro Pereira, Manuel Geraldes,
António Inácio, Henrique Pereira, Pedro Moreira, Amadeu Fontes, Firmino Pinto,
Abel Dias, Vicente Araújo, José Maria Pereira, António Lemos, Ernesto Sá, Vital
Antunes e Francisco Nogueira da Rocha, este chegado uns dias mais tarde.
Depois de celebrada missa, às 12.30 foi a bênção da casa e abertura solene do
noviciado, com Te Deum, conforme foi já indicado.
No dia seguinte o noviciado começou a funcionar normalmente. De notar, a
chamada leitura do “Rodrigues”, que ficou a fazer parte dos exercícios diários do
noviciado.
O padroeiro da comunidade continuou a ser o Santo Cura d´Ars e Santo
Estanislau, padroeiro dos noviços.
No dia 28 de Setembro, o P. Provincial avisou oficialmente que doravante o
Padroeiro da Província seria o Arcanjo S. Miguel, devendo a sua festa ser
celebrada no seu dia a 29 de Setembro.
No dia 4 de Novembro, os noviços foram ao escolasticado menor, unindo-se
aos escolásticos na consagração da comunidade ao Sagrado Coração de Jesus.
No dia 8 de Dezembro faleceu o Irmão Inácio.
O primeiro passeio grande foi para Tibães a 1 de Maio de 1935.
A 30 de Maio de 1935 foi a inauguração do novo edifício do Fraião.
A Profissão foi a 8 de Setembro. Professaram: Pedro Alves Pereira, Manuel
Geraldes Pereira, António Inácio, João Amorim, Henrique Pereira, Amadeu
Ferreira Fontes, Firmino Pinto, Abel Pereira Dias, José Maria Pereira, João
Tavares, Joaquim Pereira Pinto, Abílio da Silva Teixeira e Ernesto Alves de Sá.
Os noviços Nogueira da Rocha e Henrique Sá Couto professariam no dia 20 de
Setembro.
A 7 de Setembro entraram os novos noviços: António Ribeiro, António
Cardoso, Francisco Lopes, António Alves de Oliveira, Joaquim Martins,
António Carvalho, Albano Matos, Herculano Lopes de Oliveira, Miguel Duarte,
Artur Barbosa, Manuel Morais, Mário Sá, Joaquim Sobral, Alfredo Barbosa,
Joaquim Barata, Ismael Baptista, Crispim Martins, Teixeira Marques e Camilo
Neves Martins.
No ano de 1935-1936 o P. Mário Alves da Silva substituiu o P. Meira como
sub-mestre dos noviços, continuando o P. Finck como confessor.
No ano de 1936-1937 os noviços foram: Guilherme Ribeiro, José Andrino de
360
Adélio TORRES NEIVA
Oliveira, José Cardoso, Abel Morais, Manuel Terças, Custódio Ferreira, Manuel
Bártolo, José Baptista, Joaquim de Almeida Rodrigues, Avelino Costa, José
Ribeiro Sequeira, Manuel de Almeida, Bernardino Novo, Adriano Almeida
Strecht e Avantino de Sousa. Os que fizeram a profissão foram 16: António
Ribeiro de Melo, António Cardoso, Francisco Manuel Lopes, António Alves de
Oliveira, Joaquim Alves Martins, António Carvalho, Albano de Oliveira Matos,
Herculano Lopes de Oliveira, Miguel da Silva Duarte, Artur Teixeira Barbosa,
Manuel Morais Correia, Joaquim Sobral Esteves, Alfredo Teixeira Barbosa,
Joaquim Rezende Barata Freire de Lima, Ismael Baptista e Crispim Alves
Martins.
No ano de 1936-1937 o P. Miguel Fonseca substituiu o P. Mário Silva no cargo
de sub-mestre dos noviços.
No ano de 1937-1938 entraram para o noviciado: Cidalino Melo, Augusto
Nogueira de Sousa, António Cardoso Botelho, Cristóvão Freire Arnaud, Alípio
Joaquim Quintas, Delfim da Silva Pedro, António Alves da Rocha, António
Marques, Lourenço Afonso dos Santos.
O busto do P. Libermann oferecido pelo Sr. Herculano Lopes foi inaugurado
a 7 de Setembro de 1937.
No dia 8 de Setembro fizeram a profissão os seguintes noviços: Guilherme
Carlos Ribeiro, José de Oliveira Andrino, Firmino Cardoso Pinto Encerrabodes,
Abel António Morais, Custódio Ferreira Lopes, José Bártolo Martins, Avelino
Pereira Costa, Manuel Joaquim Almeida, Adriano Almeida Strecht e Avantino
de Sousa.
No ano de 1938-1939 os noviços foram: Avelino Alves Barreto, José
Gonçalves da Silva, Manuel Joaquim Cerqueira dos Santos, António Augusto
Martinho, António Rodas, Querubim da Cunha Meireles, José Maria de Sousa,
Joaquim Antunes Pinto, Manuel Rodrigues Ferreira, Manuelino Pinto de
Oliveira, José Vinhas, José Tavares Marques e Joaquim Francisco Vaz.
Nesse ano de 1938 fizeram a profissão: Cidalino Ferreira de Melo, Augusto
Nogueira de Sousa, António Cardoso Botelho, Cristóvão Freire Arnaud, Delfim
da Silva Pedro, António Alves da Rocha, Lourenço Afonso dos Santos.
No dia 3 de Abril de 1939 faleceu o escolástico José Baptista na enfermaria do
Fraião.
No dia 27 de Maio de 1939 faleceu na enfermaria do Fraião o P. Blériot, último
director do colégio do Espírito Santo, que viera ultimamente para Portugal a
pedido dos antigos alunos daquele colégio, para participar nas reuniões. Tinha 78
anos de idade.
O funeral foi no dia 29 de Maio na igreja de S. Vicente, presidido pelo antigo
aluno Cónego Novais de Sousa e acolitado pelo Dr. Paiva Freixo e P. Trutman.
Foi sepultado no Jazigo Perpétuo dos Padres do Espírito Santo, no cemitério de
Braga.
No ano de 1939-1940 entraram 12 noviços: António Braz, Agostinho Pereira
da Silva, José Maria Pereira, António Figueira, Manuel Ribeiro, Manuel
Fernandes, António Ventura, Abílio da Fonseca Guerra, Manuel Andrade,
O Fraião e as suas obras
361
Carlos Rodrigues Pinto, Edison Dantas e P. Hilário.
Os neo professos foram: Avelino Alves Barreto, José Gonçalves, Manuel
Santos, António Martinho, António Rodas, Querubim Meireles, Joaquim
Antunes Pinto, José Maria de Sousa, Manuel Rodrigues Ferreira, Manuelino
Pinto de Oliveira, José Vinhas e Joaquim Francisco Vaz.
No dia 12 de Maio de 1940, festa do Pentecostes foi erecta no Fraião a
Confraria do Espírito Santo.
No ano de 1940-1941 os noviços foram: Camilo Neves Martins, Eduardo da
Silva Leitão, Leonel Augusto, Amadeu Gonçalves Martins, Manuel Augusto
Ferreira, Luís do Canto Pacheco, Celestino de Oliveira Belo, Alberto Gomes de
Oliveira, Joaquim Correia da Rocha, António Costa de Sousa Abreu, e Alfredo
dos Santos.
Nesse ano professaram: António Lourenço Braz, Agostinho Pereira da Silva,
António Figueira, Manuel Ribeiro, Manuel Fernandes, António Amâncio
Ventura, Abílio da Fonseca Guerra, Manuel Andrade, Carlos Rodrigues Pinto,
Edison de Oliveira Dantas.
No princípio do Noviciado ia-se sempre ao Sameiro fazer a consagração do
noviciado a Nossa Senhora.
O Regulamento do Noviciado previa um retiro de um dia todos os meses, em
geral na primeira Sexta-feira do mês, um retiro de três dias na abertura do
noviciado e três grandes retiros durante o ano: o retiro da conversão, o da oração
e o da profissão.
Durante o verão todas as semanas havia em geral um passeio grande. Os
destinos destes passeios, ao longo dos anos foram: Gerez, Sameiro, Tibães, Viana
do Castelo, Aveleda, Marão, Silva, Penha, Taipas, Falperra, Póvoa de Varzim,
Rio Cávado, Palmeira, Esporões, Ponte do Bico, S. Martinho, Guimarães,
Soutelo, etc.
Em 1934 entraram no Noviciado 20 noviços, professaram 17.
Em 1935 entraram 18, professaram 17.
Em 1936 entraram 15, professaram 11.
Em 1937 entraram 9, professaram 7.
Em 1938 entraram 13, professaram 12.
Em 1939 entraram 11, professaram 10.
Benfeitores
A placa de mármore existente ao fundo da igreja regista os seguintes nomes de
benfeitores da Igreja do seminário do Fraião:
D. Daniel Junqueira;
D. Idelfonso S. Silva;
D. Maria Cândida Malheiro Reymão, viscondessa da Torre;
Dr. Luís Baldaque Guimarães;
P. Joaquim Correia de Castro;
362
Adélio TORRES NEIVA
D. Maria do Carmo Morais Zamith;
D. Carlota Champalimaud Pacheco;
Calouste Gulbenkian;
Companhia de Diamantes de Angola;
L.I.A M.;
Hermenegildo Mesquita;
D. Maria H. de Mello Sampayo;
D. Hermenegarda Guedes;
Liceu Rainha Santa (Porto);
P. Albino Alves;
Seminário Conciliar (Braga);
Seminário da Senhora da Conceição (Braga);
Industrial Marmorista (Porto);
Outros Benfeitores:
D. Maria Gonzaga Abreu Fonseca;
D. Maria Carolina Cunha Pimentel;
D. Maria da Luz, Ana Rosa, Teresa Santos (doceiras de S. Vicente);
P. Augusto Dias da Silva (Abade da Loureira);
Comendador Augusto Nogueira da Silva;
P. Manuel Lopes;
Dr. José da Costa Júnior;
Eduardo Amorim;
D. Felicidade da Silva (Guimarães);
Dr. Manuel Belo;
Dr. Armando António Nogueira Arantes;
Dr. António Forjaz;
Dr. Jerónimo Louro;
Dr. Ramalho;
Cap. Monteiro Pinto;
D. Maria Adelaide - Quinta da Boavista;
Joaquim José Silva Araújo e esposa D.ª Júlia da Costa Araújo - Quinta da Fonte Seca;
Dr. António Belo Moreira;
Dr. João Ferreira Soares;
Dr. António Villas Boas e Alvim;
Dr. António Manuel Duarte Mendes;
Dr. Augusto César Cerqueira Gomes;
Dra. Emília Marques;
Dr. Celestino Trindade;
Dr. Narciso Rebelo da Silva;
Dr. Bernardo Santos Ferreira;
Dr. Boaventura Fernandes;
Dr. Pedro do Rosário;
Eng. Alberto José Vale do Rego Amorim;
O Fraião e as suas obras
P. Manuel Gomes Pereira (Abade de Santa Maria do Souto);
D. Maria Martins Vilaça (Tadim);
Cipriano dos Santos (Juncal);
Alfredo Pinheiro da Fonseca Vales (Olival);
Dr. Olímpio Barreto Murta (Alter do Chão);
José Vieira (Guimarães);
D. Caridade de Jesus Ferreira (Paços de Brandão);
Miguel Marques (Taipas);
Mário Fernandes da Silva (Ovar);
Albino Gonçalves Mesquita (Porto);
Eng. Fernando Nogueira Arantes (Nogueiró-Braga);
363
365
Capítulo 37
A residência do Porto
V
árias razões levaram o P. Moisés Alves de Pinho a abrir uma casa no
Porto. Braga e Viana, onde a Congregação tinha já casa, não ficavam
longe, mas havia assuntos que poderiam ser melhor tratados se houvesse
uma Residência na capital do norte.
Os três primeiros espiritanos, que vieram trabalhar para Braga tinham
estudado juntos na Formiga – PP. Moisés Alves de Pinho, Clemente Pereira da
Silva e Joaquim Alves Correia, e eram do Porto onde se podiam relacionar mais
facilmente. O P. Alves Correia, sempre que tinha qualquer aberta em Braga,
aparecia no Porto onde não tardou em conseguir boas relações entre pessoas
influentes e nos próprios órgãos da imprensa que acolhiam de bom grado os seus
artigos de propaganda missionária. Assim, com a coadjuvação de amigos
dedicados e influentes, foi-lhe fácil adquirir apreciáveis fontes de receita, em
tempos tão difíceis.
Com a sua nomeação para a Procuradoria das Missões em Lisboa, este trabalho
foi continuado com eficiência pelo P. José Pacheco Monte. É efectivamente com
o P. José Pacheco Monte que vai começar a presença espiritana no Porto.
Açoreano de origem, o P. Monte conheceu os Espiritanos, já subdiácono, através
do Colégio-Instituto Fisher que eles tinham fundado nos Açores. Em Março de
1899 o P. Monte estava já em Grignon a fazer o noviciado. Foi ordenado a 8 de
Julho de 1990. Deixada a França, lecciona no seminário da Formiga onde esteve
até Setembro de 1910, ano em que foi nomeado Mestre de Noviços Clérigos, em
Sintra.
A 5 de Outubro desse ano, com a Revolução de 1910, o P. Monte retira-se para
Fermentelos, para a casa do cónego José Nunes Geraldo, para em Agosto de
1911 seguir para a Bélgica como professor dos seminaristas portugueses que
aceitaram exilar-se em Gentinnes. Em 1912 parte para Angola, sendo primeiro
colocado na missão de Lândana, depois no Luáli, no Maiombe.
Regressando à Europa em 1927 para descansar, vai para os Estados Unidos,
onde promove várias campanhas de angariamento de fundos para a construção
do seminário de Godim. Em 1927 é nomeado superior do seminário de Viana do
Castelo, onde esteve apenas um ano, após o que é nomeado para o Porto, a
pedido de D. António Barbosa Leão.
366
Adélio TORRES NEIVA
Residência de Santa Teresinha do Menino Jesus, no Monte Pedral
O Prelado da diocese, D. António Barbosa Leão, sabendo que os Padres do
Espírito Santo desejavam estabelecer-se no Porto, pediu-lhes que se fixassem no
Monte Pedral. Ao tempo, essa zona pobre da cidade era praticamente pagã.
Muitos daqueles que conservavam ainda alguns sentimentos religiosos,
frequentavam os protestantes que há muitos anos dominavam aquela zona. O
padre, se ousava aparecer era insultado, o que aliás acontecia poucas vezes, pois
era raro aparecer por ali.
No dia 19 de Dezembro de 1928, a Casa Mãe da Congregação do Espírito
Santo aprovava a fundação da Residência de Santa Teresinha do Menino Jesus,
no Porto e o P. José Pacheco Monte recebia ordem de fundar imediatamente essa
residência no Monte Pedral. Era-lhe confiada ao mesmo tempo a assistência à
Capela de Nossa Senhora da Conceição, que o Prelado estava construindo
naquele local.
Os motivos que estão na origem desta obra são os seguintes:
- acolhimento dos missionários que estivessem de passagem ou precisassem de
vir ao Porto tratar da sua saúde.
- recrutamento das vocações missionárias; efectivamente a diocese do Porto
era uma das mais ricas em vocações.
- um abrigo para vocações tardias, sem esquecer o auxílio aos mais pobres.
A capela foi inaugurada pelo bispo coadjutor D. António Augusto de Castro
Meireles, a 23 de Dezembro de 1928, tendo celebrado e pregado diante de um
reduzido número de fiéis. O Santíssimo Sacramento ficou exposto até às 15.30,
tendo havido nova prática e encerramento pelo mesmo prelado.
Na escola da Creche ofereceu a Associação do Grupo de Mulheres Cristãs aos
Pés de Maria, um almoço em que participaram além de Sua Excelência
Reverendíssima, o Abade de Cedofeita Dr. Francisco dos Santos, PP Marques,
José Monte e outras pessoas leigas.
O P. Monte começou desde logo a dar largas ao seu zelo apostólico. Se bem
que a primeira missa celebrada pelo P. Monte na nova capela fosse a 24 de
Dezembro, só no dia 25 é que foi a inauguração solene. Neste dia já escreve com
entusiasmo. “Natal! Apesar de já ontem ter celebrado na nova igreja que a Divina
Providência nos confia, foi hoje o dia da estreia. Celebrei as três missas, duas às 7 e
a terceira às 10. Houve concorrência apreciável, sendo escutado ao Evangelho com
bastante atenção e reinando grande alegria quando o Santo Menino foi dado a
beijar. Terço e bênção solene, prática e beija-menino. Parecia reinar grande
entusiasmo na assistência. Digne-se o Divino Infante abençoar esta obra nascente”.
Entretanto, o P. Manuel Lage, chegado a 13 de Janeiro de 1929, foi apresentado
a 30 desse mês às Irmãzinhas dos Pobres, que o receberam como capelão e lhe
deram hospedagem até à mudança da residência do Monte Pedral para a casa que
elas gratuitamente ofereciam, anexa ao edifício que tinham na Rua do Pinheiro
Manso.
A residência do Porto
367
A 31 de Janeiro o P. Manuel Lage celebraria pela primeira vez na Capela das
Irmãzinhas dos Pobres.
Casa do Pinheiro Manso
A 4 de Fevereiro de 1929 realizou-se a mudança de residência do Monte Pedral
para a casa oferecida pelas Irmãzinhas dos Pobres, na Rua do Pinheiro Manso,
nº173. Como a camioneta contratada para as mudanças chegou atrasada, a
mudança teve que ser feita de noite, chegando-se à Rua do Pinheiro Manso pelas
20 horas. Acompanhou a mudança a benfeitora dos Espiritanos D. Joaquina, que
pernoitou na nova morada. Outra benfeitora da primeira hora foi a D. Maria
Coimbra Guimarães.
A 6 de Fevereiro a comunidade recebeu a visita do P. Coutinho, prior de
Ramalde, que veio pedir a nossa colaboração pastoral, quando a paróquia
precisasse e a comunidade pudesse.
A 14 de Fevereiro o P. Provincial celebrou a primeira missa na capelinha da
residência, estando presentes as senhoras D. Maria José Pestana, que tinha
emprestado o altar para esse efeito, D. Sílvia e D. Maria Coimbra Guimarães que
ajudaram a preparar a capela. Tudo era pobre nesta comunidade nascente.
Entretanto o P. Monte, superior da comunidade, continuava com as actividades
pastorais no Monte Pedral.
A 4 de Junho o Superior Geral da Congregação, Mons. Le Hunsec, celebrou
pela primeira vez na capela da residência dando à tarde a Bênção do Santíssimo
no Monte Pedral. Neste dia fez-se também a entronização do Sagrado Coração
de Jesus, benzendo-se a sua imagem.
A 2 de Agosto de 1929 o bispo do Porto, D. António Meireles, visitou a
residência espiritana depois de ter administrado o Crisma na capela das
Irmãzinhas dos Pobres.
A 18 de Outubro de 1929 era inaugurado o altar-mor na capela do Monte
Pedral.
Casa da Rua de Monte Alegre
Como a residência do Pinheiro Manso ficava longe da capelania do Monte Pedral,
e esta lhe dava cada vez mais trabalho, foi alugada uma casa da Rua de Monte Alegre,
nº100, perto do Monte Pedral. A casa começou a ser habitada a 1 de Maio de 1930,
continuando entretanto o P. Lage a morar na antiga residência que só abandonou a
19 de Junho. Mas a mudança definitiva só se operou a 17 de Maio.
A 10 de Julho de 1930 celebrava-se pela última vez na capelinha da residência
do Pinheiro Manso, a Santa Missa, tendo-se depois transportado o altar e
acessórios para o Monte Alegre. A 11 de Julho foi celebrado pela primeira vez o
Santo Sacrifício da Missa na nova residência do Monte Alegre, tendo acolitado à
missa o guarda-livros António Joaquim da Silva, que entraria na Congregação,
vindo a ser missionário em Angola.
368
Adélio TORRES NEIVA
A 29 de Agosto de 1930 era inaugurado o palco no salão anexo à capela do
Monte Pedral, levantado pelos “Tarcísios Propagandistas”.
A 15 de Setembro de 1930 abandonou-se definitivamente a capelania do
Pinheiro Manso, que ultimamente vinha a ser servida pelo P. Fernandes.
A 6 de Novembro de 1930 o P. Monte recebia notícia de que tudo se achava
pronto para se efectuar a compra de uma nova casa na Rua do Regado, devendo
fazer-se em breve a escritura.
A 14 de Novembro procedeu-se à trasladação da imagem de Nossa Senhora da
Conceição da Rua de Sá da Bandeira, onde se encontrava em exposição, para a
capela do Monte Pedral, estátua esta que fora esculpida por José Ferreira Tedim
e oferecida pelo Grupo das Mulheres Cristãs aos Pés de Maria, sendo destinada
a um altar mandado fazer pelo mesmo grupo. A imagem seria benzida pelo bispo
da diocese a 8 de Dezembro, festa da Imaculada Conceição.
A casa da Rua Nova do Regado
A compra definitiva da casa da Rua Nova do Regado fez-se a 27 de Novembro
de 1930, pelas 16 horas da tarde e logo no dia seguinte um trolha começou as
reparações a efectuar nessa casa.
Esta casa era anteriormente uma fábrica de rebuçados com o nome de Vitória.
A 6 de Dezembro de 1930, mudou-se definitivamente para a nova casa que
ficava na Rua Nova do Regado, 250, não longe do Monte Pedral; a mudança foi
feita sob uma forte bátega de chuva. A 7 de Dezembro o P. Lage celebrava aí a
primeira missa. A inauguração solene da casa seria a 8 de Dezembro, presidida
pelo bispo da diocese.
Para além de acolher missionários de passagem ou confrades doentes que
vinham consultar os médicos, a
nova residência seria também um
centro para recrutar vocações
missionárias, nomeadamente as
vocações tardias que fossem
aparecendo. O P. Monte estava a
alargar a nova residência para esse
fim. A casa constava de rés do chão
e dois andares, com sala de aulas e
14 quartos.
Casa espiritana da Rua Nova do Regado
Em 1937 numa sala do rés-do-chão o P. Monte instalou também uma escola para crianças, devido ao
desamparo em que as crianças se encontravam e também para as desviar da escola
protestante. “Meti-me com uma escolinha, mesmo na própria casa onde habito.
Doía-me o coração ver tanto esfarrapadinho por essas vizinhanças, tantos filhos de
operários ao abandono. O Sr. bispo comprou-me as carteiras, uma casa religiosa
mais próxima dispensou uma Irmã e aí temos uma escola. São actualmente 35,
porque a Irmã professora não pode ensinar mais. A grande escola, porém, é a que
A residência do Porto
369
está instalada ao lado da igreja do Monte Pedral, distante da minha morada um
quarto de hora. Essa tem 250 alunos e 8 professoras Religiosas Franciscanas de
Calais. Também me dá grande canseira, sobretudo na véspera das primeiras sextasfeiras, quando das confissões de perto de 200 alunos e alunas. E os doentinhos? Os
pobres tuberculosos? Tenho dias de preparar três e quatro: trabalho bem extenuante
e penoso, visto as circunstâncias de miséria e falta de higiene em que vivem”.321
Tanto o bispo do Porto como o Dr. Luís Baldaque Guimarães ajudaram muito
na fundação desta escola, com mobília escolar e o salário a duas professoras.
A casa da Rua Nova do Regado era mais um aglomerado de três casas, as quais
se foram construindo ao longo dos tempos.
A primeira, situada na Travessa do Regado, sob o número 4917 em nome de
Moisés Alves de Pinho, com o rendimento colectável de 6.046$00.
A segunda, sob o número (artigo de matriz) 4943, também em nome de Moisés
Alves de Pinho, com o rendimento colectável de 5.721$00, confrontava ao sul
com a Rua Rosa da Costa e com a Travessa do Regado, ao nascente.
A casa que veio a servir de garagem até à sua demolição, estava inscrita no
artigo 4942 com o rendimento colectável de 2884$00, também em nome do
mesmo proprietário; confrontava a nascente com a Travessa do Regado e a sul
com a ilha N-234, a norte com os terrenos do mesmo dono.
A primeira foi construída pelo P. Monte em 1932 e foi o alargamento da casa
referida em segundo lugar, a qual era utilizada como fábrica de rebuçados
“Encanto”, à qual se juntou mais tarde a marca “Vitória”. Era esta a casa que
tinha dois andares com 14 quartos e uma sala de aulas, de que fala o P. Monte.322
A 10 de Janeiro de 1932 inaugurou-se no Monte Pedral, na casa anexa há pouco
comprada pelo bispo da diocese, uma sopa económica para operários e pobres,
ficando a cargo das Irmãs Franciscanas.
A 3 de Outubro de 1932, o pequeno externato de vocações tardias era fechado
por decisão do P. Provincial, pois não parecia ainda chegado o momento para
este género de vocações.
A capela da Senhora da Conceição do Monte Pedral, com o P. Monte tornarse-ia um centro de intensa vida cristã. Ali tinha as Escolas de Jesus, Maria e José,
com centenas de alunos; a União dos Tarcísios do Porto, fundada por D.
António Barbosa Leão para a propaganda da imprensa católica na diocese; o
Apostolado da Oração que promovia todos os anos uma semana de pregação e
confissões; o Grupo das Mulheres Cristãs aos Pés de Maria, a quem a capela deve
grandes melhoramentos; a primeira secção da JOC fundada em Portugal; as duas
Conferências de S. Vicente de Paulo. Foi também aqui que se fundou a primeira
Cozinha Económica em Portugal.
A Câmara Municipal do Porto reconheceu a dedicação do P. Monte dando o seu
nome à rua do Nogueira, que passava em frente da capela do Monte Pedral. A 8 de
Dezembro de 1943 seria o descerramento do seu retrato na sacristia do Monte Pedral.
321
322
Carta à sobrinha de 29/10/1934
DIAS, Augusto Alexandre da Cunha, Casas Missionárias Espiritanas
370
Adélio TORRES NEIVA
A 17 de Fevereiro de 1937 instalava-se aqui a “Associação de Nossa Senhora de
África”, vinda do Fraião, assim como a revista “Missões de Angola e Congo”,
com o seu director P. José Maria Figueiredo, que aqui fixou definitivamente a sua
residência.
A Casa do Regado como Sede do Provincialato
Logo no ano seguinte, em Outubro de 1938, depois do Capítulo Geral, o
Provincial, P. Clemente Pereira da Silva, fixou também aqui a sua residência,
tendo como secretário o P. Henrique Alves, que logo teve que retirar para Viana,
a substituir o P. Schmit, chamado ao exército por causa da guerra.
Em Junho de 1944 temos informação de que se reuniu aqui o Conselho
Provincial. Outros conselhos se vieram também a reunir nesta casa.
A 3 de Novembro de 1945, na Reunião Extraordinária do Conselho Provincial
foi resolvido transferir para Lisboa o Provincialato e o Economato Provinciais.
A mudança efectuou-se a 20 desse mesmo mês.
Entretanto a casa prestava grande acolhimento sobretudo a missionários
doentes que frequentemente procuravam os serviços dos Drs. Silva Leal, Lopes
Rodrigues, Alves de Sousa e outros. Só em 1939 passaram por ali 477 confrades.
A 3 de Outubro de 1937 era a Missa Nova do P. António Silva, natural do
Monte Pedral e em que pregou o P. Henrique Alves.
Em 1943 o P. Monte adoeceu gravemente, vindo a falecer no seminário do
Fraião a 9 de Julho de 1944. Entretanto, a 21 de Setembro de 1943 chegava ao
Porto o P. António Gomes da Silva, para substituir o P. Monte na direcção da
capelania do Monte Pedral. Mas também este, pouco tempo depois, em 15 de
Junho de 1946 falecia, depois de uma melindrosa operação cirúrgica.
No ano de 1944-45, enquanto P. Gomes dirigia a residência de Coimbra,
assumiu a direcção da casa do Porto o P. Cândido Ferreira da Costa. Mas logo
no ano seguinte foi escolhido para Mestre dos Noviços, voltando o P. Gomes
para o Porto até à sua morte.
Sucedeu-lhe a 20 de Junho de 1946 o P. Francisco Lopes, como director,
ecónomo e capelão do Monte Pedral.
A 11 de Outubro de 1943 o P. José Maria Figueiredo deixava esta casa para ir
leccionar em Viana do Castelo, pois que a Associação de Nossa Senhora de África
instalada nesta casa era transferida para Lisboa, sendo dirigida conjuntamente
com o jornal “Acção Missionária” pelo P. Agostinho Lopes de Moura.
Em1943 o P. Manuel Ribeiro Teles oferece à Congregação uma casa de quatro
andares, situada na Rua do Bonjardim, no centro da cidade, que lhe legou em
testamento o seu falecido irmão José Ribeiro Teles. A casa foi visitada pelo
provincial e outros conselheiros técnicos, em 20 de Dezembro de 1943, em vista
de no futuro instalar aí a comunidade do Porto.
Em 1945, a casa é pedida para compra por um industrial que queria fazer dela
uma fábrica de farinha de pau. O pedido apresentado à casa do Regado a 5 de
Novembro de 1945, explicitava: que o comprador Sr. Carlos Cabral tinha
A residência do Porto
371
escritório na Rua José Falcão, 138-150, Porto e precisava para já do quintal, a
fim de fazer armazéns, e da casa grande, incluindo o salão e adega. O Sr. Carlos
Cabral indicava para a Congregação uma outra casa na Rua José Falcão, em
frente ao estabelecimento “A Nacional”, que pertencia a uma família rica. Há
dez anos pouco mais ou menos, que esta casa estava devoluta e a senhora já
velhinha faria tudo o que o filho lhe dissesse. Parecia que o filho era meio
desiquilibrado e era para onde lhe desse. Bem conversado poderia aceder à
ideia. A hipótese era vender as duas casas e alugar a primeira, enquanto não se
arranjasse melhor ou então vender o quintal e a casa grande, reservando a
primeira para nós.323
No entanto, a venda não se efectuou e no mesmo dia o Superior Provincial
dava ordens ao P. Gomes, então superior da comunidade do Porto, para efectuar
as reparações necessárias da capela particular da mesma comunidade, graças ao
donativo de uma anónima benfeitora que se prontificou a custear todas as
despesas que para isso fossem necessárias.
A 19 de Outubro de 1946 a Câmara Municipal do Porto decide dar à rua da
Nogueira o nome do P. José Pacheco Monte.
A 20 de Setembro de 1949 o P. Cândido Costa toma conta do Monte Pedral
em substituição do P. Francisco Lopes que vai para Viana do Castelo. Mas a 1 de
Outubro do ano seguinte, 1950, foi substituído pelo P. Manuel António Meira.
O P. Ismael Baptista partiu para Lisboa como secretário provincial.
Em Setembro de 1951 assume o cargo de superior o P. Querubim Meireles,
sendo o restante pessoal formado pelos Padres José Maria Figueiredo,
Domingos Vieira Baião, José Neiva Araújo, Lúcio Casimiro dos Anjos, e Irmãos
Protásio, Bonifácio e Samuel.
A 24 de Abril de 1952 o P. Querubim Meireles parte para Carcavelos como
pároco ficando a substitui-lo como superior o P. José Neiva Araújo.
Em 1953 assume a capelania do Monte Pedral o P. Joaquim Correia da Rocha.
A 23 de Outubro de 1958 o P. Neiva Araújo foi para Angola ficando a
substitui-lo o P. Correia da Rocha.
A 11 de Outubro de 1961 o P. Joaquim Correia da Rocha partia para Godim,
sendo substituído pelo P. Querubim Meireles no Monte Pedral e como superior
vem o P. José Maria de Sousa.
Durante o ano de 1962 fizeram-se importantes obras no Regado.
A 28 de Março de 1963 faleceu o P. Querubim Meireles. Para o substituir no
Monte Pedral foi nomeado o P. Belmiro Coelho da Silva.
Em 1964 criou-se de novo no Porto um Centro de Animação Missionária,
ficando este a cargo do P. António Rodas e do P. José Martins Vaz, que veio a
ser substituído em 1967 pelo P. José Lapa.
Em Outubro de 1964 o P. José Maria de Sousa é nomeado Superior Principal
de Cabo Verde, vindo para o substituir como superior e capelão do Monte Pedral
o P. Isalino Gomes.
323
Documento do P. José Pereira de Oliveira, sup. provincial
372
Adélio TORRES NEIVA
A 28 de Setembro de 1971 o P. Isalino partiu para Coimbra. Veio substituí-lo
o P. Francisco Lopes como superior da comunidade e capelão do Monte Pedral.
Nesta altura, os membros da comunidade eram: PP. Francisco Lopes, José
Maria Figueiredo, Francisco Rego, Joaquim Pereira Pinto, Irmãos António,
Augusto Chitué (adstrito à LIAM e Obra das Vocações) e Hugo e Lúcio, estes
dois últimos a acabar o curso de enfermeiros.
Em 1972, o P. Francisco Lopes continuava a superior e capelão do Monte
Pedral e o Centro da Animação Missionária era formado pelos PP. José Lapa,
Abel Moreira Dias e José Pinto de Carvalho.
A 1 de Março de 1973 a Casa da Boavista era entregue à Congregação; será para
aqui que se irá transferir o Centro de Animação Missionária do Porto.
A 17 de Outubro de 1973 o P. José da Lapa, depois de ter passado vários anos
nesta comunidade partiu para Roma para um ano de reciclagem.
A 17 de Novembro de 1973 era nomeado superior da comunidade o P.
Henrique Sá Couto, em substituição do P. Francisco Lopes, nomeado secretário
provincial, e ecónomo o P. Francisco Alves do Rego.
Os PP. Abel Moreira Dias, José Pinto de Carvalho e Joaquim Pereira Pinto
seguiram para a da Boavista, formando ali uma nova comunidade ao serviço da
LIAM, no Norte. No Regado ficaram os Padres Henrique Sá Couto, superior,
Francisco Rego, ecónomo e José Maria Figueiredo. Ao serviço da casa, a Sra.
Maria de Jesus Marques.
A 1 de Agosto de 1975 faleceu em Carcavelos o P. José Maria Figueiredo que
foi dos primeiros responsáveis da propaganda missionária da Província.
Em 1979 entrou como novo superior o P. Manuel Augusto Ferreira,
continuando o P. Francisco Rego a ecónomo.
A 7 de Setembro de 1984 chega o P. Manuel da Purificação Azevedo que dará
aulas na escola Industrial e no Liceu D. Carolina Michaelis. O P. Martinho vai
para Angola.
Em Agosto de 1988 foi decidido a casa do Regado passar para o I Ciclo de
Teologia, com aulas na universidade católica. Assim, a 18 de Agosto da
comunidade da Boavista os PP. José Martins Salgueiro e António Luís Gonçalves
vieram confraternizar com os do Regado para lhes dar as despedidas. Os PP.
Augusto Ferreira, António Martinho, Henrique Sá Couto e Soares foram
colocados em Viana do Castelo. Os PP. António Moreira e Serafim Marques da
Silva foram transferidos para o Centro de Animação Missionária na Boavista.
Eram 17.45h quando chegou a caminheta que levaria as bagagens e os confrades
para Viana do Castelo. A comunidade do Regado, até à chegada do I Ciclo de
Teologia, ficará reduzida ao P. Correia da Rocha e Maria de Jesus.
O Regado, Casa do I Ciclo de Teologia
No dia 15 de Setembro de 1988 chega o P. José de Sousa, que será o futuro
director e ecónomo do I Ciclo de Teologia. No dia 19 chegaram os estudantes
do I Ciclo de Teologia, os novos inquilinos desta casa.
A residência do Porto
373
Este curso começou a funcionar no ano lectivo de 1988-89, tendo como
Director e Responsável Provincial da Formação o P. José Lopes de Sousa e no
serviço da Capelania do Monte Pedral o P. Joaquim Correia da Rocha.
Em 1989 foi comprada a casa do Pinheiro Manso e depois da Animação
Missionária também o Ciclo de Teologia passará para esta casa. O novo seminário
foi inaugurado a 19 de Junho de 1993, para onde se havia mudado o I Ciclo de
Teologia, poucos dias antes, deixando-se para sempre a Casa do Regado.
Não tendo ido avante a ideia da fundação da Paróquia do Monte Pedral e
estando já a cidade melhor servida de paróquias, e a do Carvalhido, a cujo
território pertence o Monte Pedral, agora com igreja nova e servida dos
respectivos espaços, a assistência pela Congregação da capela do Monte Pedral,
se bem que marcadamente histórica, não passava de uma ilha na paróquia a que
pertencia.
Achou-se portanto bem, continuando a ajuda possível no Monte Pedral, como
também na igreja paroquial, fazer a entrega ao respectivo Pároco do cuidado
directo da Capela da Imaculada Conceição do Monte Pedral.
A 5 de Junho de 1997 a Casa da Rua Nova do Regado foi vendida à Empresa
“Empreiteiros Casais”, de António Fernandes da Silva, Lda.
Ao longo da sua história esta comunidade além dos serviços específicos para
que estava destinada prestou valiosa colaboração no acolhimento a missionários
de passagem, na assistência especial às paróquias do Porto e a várias comunidades
religiosas, nomeadamente as Irmãs Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus,
Colégio de Nossa Senhora do Rosário, Hospital Maria Pia, Lar Universitário de
S. José, Colégio do Sagrado Coração de Jesus, Lar do Monte de Burgos, Hospital
do Carmo, Congregados, Paróquia do Carvalhido, etc.
Directores da Casa do Regado
(1937-1944) P. José Pacheco Monte; (1943-1944) P. António Gomes da Silva;
(1944-1946) P. Cândido Ferreira da Costa; (1946-1949) P. Francisco Lopes;
(1950-1951) P. António Manuel Meira; (1951-1952) P. Querubim da Cunha
Meireles; (1952-1958) P. José Neiva Araújo; (1958-1961) P. Joaquim Correia da
Rocha; (1961-1963) P. Querubim da Cunha Meireles; (1963-1964) P. José Maria
de Sousa; (1964-1971) P. Isalino José Alves Gomes; (1971-1972) P. Francisco
Lopes; (1972-1979) P. Henrique Sá Couto; (1979-1988) P. Manuel Augusto
Ferreira; (1988-1993) P. José Lopes de Sousa.
Benfeitores da Comunidade
Dr. Lopes Rodrigues, que logo no início da obra operou gratuitamente o P.
Rost e logo se pôs à disposição da Congregação para tudo o que fosse necessário;
faleceu a 18 de Abril de 1971.
D. Joaquina e D. Maria Coimbra Guimarães, benfeitoras da primeira hora que
ajudaram na mudança do Monte Pedral para o Pinheiro Manso.
374
Adélio TORRES NEIVA
Dr. Silva Leal, Armando Branco, Dr. Alves de Sousa, Dr. Luís Baldaque
Guimarães, grande amigo do P. Monte, que muito ajudou a restaurar a
Congregação em Portugal. Faleceu a 1 de Maio de 1952.
Visitantes ilustres
Entre outros, esta casa recebeu os seguintes visitantes: D. Sebastião Rezende,
Mons. Le Hunsec, P. Daniel Brottier, Mons. Gay, Bispos do Porto, de Cabo
Verde, de Nova Lisboa, Arcebispo de Luanda, Dr. Amorim Ferreira,
subsecretário de Estado, antigo aluno do Colégio Fisher.
375
Capítulo 38
O Seminário da Guarda - Gare
L
ogo desde o início da restauração da Província, em 1919 e princípios de
1920 pensava o P. Moisés Alves de Pinho abrir uma casa no distrito da
Guarda, que servisse de base de recrutamento nesta região, de novas
vocações missionárias para o desenvolvimento das obras de formação espiritanas
e para os seus projectos apostólicos. Com efeito, esta região fora sempre campo
fértil em vocações religiosas e tinha fornecido bastantes vocações espiritanas no
passado e o espírito cristão das populações levava a pensar que assim voltaria a
ser desde que aí se lançasse um trabalho sério de propaganda.
Em Dezembro de 1919, o bispo da Guarda D. José Matoso escreveu ao
Superior Geral da Congregação, pedindo-lhe para ser fundada o mais breve
possível uma residência da Congregação na sua diocese, que de todas as dioceses
de Portugal era a que dava maior número de vocações às Ordens e às
Congregações religiosas. E mais concretamente o bispo propunha a fundação no
Fundão, vila importante, muito religiosa, a dois quilómetros do seminário
diocesano. Bastaria deslocar da Covilhã para ali o P. Pintassilgo e um outro padre
como superior, podendo aquele continuar com a direcção espiritual do
seminário, “onde ele tem prestado muito bons serviços”.324
A verdade porém, é que aproveitando uma circunstância favorável veio o P.
António Ribeiro Teles, a convite do bispo da diocese, em Outubro de 1920, para
o Seminário do Fundão, como director espiritual. O Fundão era uma esperança
para a Congregação de tal modo que ao descrever a situação da Congregação em
Portugal, em 1919, o P. Pinho aponta o Fundão como uma das obras da
Congregação.
Os motivos imediatos que levaram à fundação desta comunidade explicitou-os
o P. Pinho ao Superior Geral em carta de 21 de Outubro de 1920:
1º O convite do bispo da diocese para nos estabelecermos perto da Guarda a
fim de fornecermos um director espiritual para o seu seminário;
2º A necessidade de cada vez mais intensificar o recrutamento dos Irmãos por
meio de uma pequena obra local no melhor centro do país para vocações deste
género;
3º A necessidade de ter uma casa na montanha podendo servir de lugar de
repouso aos nossos aspirantes mais fracos de peito; Valmourisco estava muito
perto da Guarda e quase à mesma altitude;
324
AGCSSp. B 461 –H – CH -V
376
Adélio TORRES NEIVA
4º A oferta de terrenos, materiais de construção pelas gentes da terra e das
terras circunvizinhas que nos facilitariam muito a fundação.
Mas por mais que se procurasse nas vizinhanças casa para lançar esta obra, não se
conseguiu encontrar, pelo que se veio a desistir dela, retirando o P. Teles nos fins de
Julho do ano seguinte para dirigir a fundação de Godim, que entretanto se iniciara.
Posteriormente, o P. Cancela ofereceu, em Valmourisco (Sabugal), terra da sua
naturalidade, um terreno para construção de uma casa e estabelecimento da
projectada obra, de que ele próprio devia ser o propulsor. O seu falecimento,
porém, obrigou a novo adiamento, tornando-se necessário aguardar nova
oportunidade. O P. Pinho chegou a estar decidido a construir a casa em
Valmourisco no terreno oferecido pelo P. Cancela e por um seu irmão muito
dedicado à Congregação e chegou mesmo a ir ao local acompanhado dos dois
Irmãos construtores estudar a viabilidade do projecto, mas foi obrigado a desistir
devido à distância a que o local se encontrava de um centro de abastecimento e
da dificuldade dos meios de transporte.
De regresso à Guarda, numa noite escura e fria num camião de carga sem párabrisas nem travões, era já noite adiantada quando chegaram à cidade. Na manhã
seguinte, o P. Pinho celebrou missa numa capela ao lado de uma casa grande e
assombrada, pois na noite anterior um dos Irmãos que o acompanhava fora bater
à porta a pedir que lhe preparassem as coisas para celebrar. Conseguiu e a família
lá estava toda, de manhã cedo, para os receber e participar na Eucaristia. Conta
D. Moisés que quando regressavam, o Irmão que pudera observar a casa e a
capela lhe dissera: “Aquilo é que seria um arranjo para nós”.
Entretanto chegou ao conhecimento do Bispo da Guarda D. José Alves
Matoso que havia para alugar um prédio espaçoso que se prestava bem para a
obra que o P. Pinho pretendia. Logo escreveu ao P. Pinho, manifestando-lhe o
desejo de que aproveitasse a oportunidade e incumbia-se de convencer a
proprietária a não tomar qualquer compromisso de arrendamento enquanto o P.
Pinho não fosse ouvido. O P.
Pinho logo respondeu a agradecer
e a informar o prelado que dentro
de breves dias estaria na Guarda.
Tratava-se precisamente da casa
em que celebrara anos antes! O
proprietário falecera e a viúva, não
podendo continuar com os negócios, desejava arrendar o imóvel.
Era efectivamente uma casa ampla
Guarda - Gare - Edifício do antigo Seminário Espiritano
e de fácil adaptação. De facto, as
despesas de instalação pouco iriam além do mobiliário.
A casa foi alugada até porque para além dos motivos de fundo, oferecia não só
a possibilidade de acolher confrades com problemas pulmonares para tratamento
como também proporcionava à diocese a colaboração espiritana sobretudo para
a direcção espiritual dos seminaristas.
O Seminário da Guarda - Gare
377
O P. António Teles foi nomeado para lá, dispondo as coisas para a vinda dos
Irmãos Serafim e Ildefonso, designados para o auxiliarem. Chegou aqui a 7 de
Novembro de 1931, um sábado, ficando hospedado no seminário até à vinda dos
Irmãos. Estes só puderam vir a 28 de Novembro por motivos de doença que os
apanhou já a caminho.
Os Irmãos chegaram acompanhados de um leigo, o Felisbelo, vindo para os
ajudar. A primeira refeição não tiveram tempo de a preparar mas a senhoria da
casa, a D. Máxima de Menino Jesus Mendonça, ofereceu-lhes a refeição.
A 29 de Novembro, primeiro domingo do Advento, foi celebrada a primeira
missa na comunidade espiritana, presidida pelo P. António Teles, superior da
comunidade. Como padroeiro a comunidade adoptaria Santo António. E logo no
dia 25 o P. Teles iniciava o seu ministério pregando um retiro aos ordenandos,
enquanto o Ir. Ildefonso iniciava as campanhas de propaganda.
O primeiro pároco a visitar os espiritanos foi o P. José Manuel Fragoso, pároco
de Prúzio, prometendo fundar na sua paróquia um centro de Nossa Senhora de
África e empenhar-se na promoção vocacional.
A escritura do arrendamento só se faria a 1 de Abril de 1932, por no dia
aprazado para esse efeito, 2 de Fevereiro, o co-proprietário José, filho da D.
Máxima, não poder estar presente. A escritura foi feita no cartório do Dr.
Alberto Diniz da Fonseca.
A comunidade entretanto fora enriquecida com a presença do P. Manuel Lage,
ficando assim constituída: P. António Teles, superior, P. Manuel Lage, Irmãos
Serafim e Ildefonso e P. Cruz, como ecónomo.
Os primeiros hóspedes ilustres da comunidade seriam o Superior Geral Mons.
Le Hunsec e o seu assistente o P. Brottier, chegados a Vilar Formoso, no rápido
da tarde do dia 13 de Julho, vindos para participarem na ordenação episcopal do
Sr. D. Moisés Alves de Pinho, que seria ordenado bispo em Viana do Castelo no
dia 17 desse mês.
A 23 de Agosto começaram as obras de adaptação da casa a seminário. No dia
31 chegava o Ir. Marcelino, que veio ajudar nas obras.
No dia 12 de Setembro chegou o P. António Meira que veio colaborar com o
P. Teles.
A 3 de Novembro de 1932 entravam os primeiros alunos. Segundo o
testemunho de D. Moisés, este grupo do primeiro ano era numeroso e foi
recrutado na maior parte, nas terras da Beira. O clero paroquial mostrava-se
amigo dos espiritanos e dava-nos preciosa colaboração.
A 28 de Março o Irmão Modesto integrava a comunidade como cozinheiro.
A primeira profissão na comunidade, a do Irmão Elias, teria lugar a 13 de Abril
de 1933, partindo pouco depois o Ir. Elias para a França como cozinheiro.
Nesse mesmo mês foi decidido que ali ficaria o segundo ano, devendo o
refeitório servir também para sala de aulas, e para dormitório o sótão.
O primeiro ano concluiu-se com 19 alunos: Avelino Coelho da Silva,
Manuelino Pinto Oliveira, Artur Jesuino da Cruz, José da Cunha Fernandes,
Manuel Rodrigues, Nicolau Gomes Pinto, Lino Manuel da Cunha, António
378
Adélio TORRES NEIVA
Rodrigues da Fonseca, António Andrino Júnior, Manuel Rodrigues Ferreira,
Joaquim Mendes Pinto, Abel Rodrigues da Silva, Alberto Pinto da Silva, José
Ricardo de Nápoles, Francisco Teixeira, Joaquim Carreira, José Vinhas, Joaquim
Tomé Nunes, José Bernardino Fernandes.
O novo ano escolar começou a 9 de Outubro de 1933 com cerca de 40 alunos,
colaborando na formação o Ir. Mateus, o Sr. Joaquim Patriarca e o Sr. Cardoso.
Leccionou-se o primeiro e o segundo ano de preparatórios.
No ano lectivo seguinte, 1934-1935 o P. António Meira partia para o Fraião,
como subdirector da Obra do Noviciado dos Irmãos. A sua passagem por terras
da Beira foi juntamente com a do P. Teles, muito fecunda em apostolado,
nomeadamente no lançamento da Cruzada Eucarística, e pregações contínuas.
Foi uma presença de dois sacerdotes apostólicos e santos que muito marcaria a
diocese da Guarda. A comunidade ficou formada pelo P. Teles, superior, Ir.
Augusto, P. Lage e Ir. Mateus e Sr. Francisco Lopes e P. Cruz, como ecónomo.
No ano seguinte, 1935-1936 é nomeado superior da comunidade o P. Arnaldo
Baptista.
Neste ano foi decidido ficar na Guarda só o 2º ano, tanto os que fizeram aqui
o primeiro ano como os que o fizeram em Godim e em Godim ficará somente o
1º ano, tanto dos alunos admitidos lá como aqui. Assim, no dia 12 de Outubro
chegaram à Guarda 24 seminaristas de Godim para o segundo ano e partiram
daqui 26 para o primeiro ano em Godim.
A casa poderia comportar uns 50 alunos. No ano de 1936-1937 o seu número
foi de 44, todos no 2º ano. Ficou a integrar a comunidade o P. Fernando Moreira
e no ano seguinte o escolástico Sr. Carvalho depois substituído pelo Sr. Teixeira.
Em Setembro de 1938 o melhoramento efectuado foi sobretudo a condução da
água da Quinta dos Covos, pertencente à D. Máxima, para o seminário.
No ano de 1938-39 o P. Fernando Moreira deixa a Guarda para ir como
director para Godim.
Em 1938-39 vêm para a comunidade o Ir. Fiel, que vem substituir o Ir. Augusto,
que vai para Viana e entra o Ir. Cipriano. A substituir o P. Fernando Moreira vem
o P. Ismael Baptista. O Ir. Fiel partirá para Godim em 1940, sendo substituído pelo
Ir. Francisco de Sales, que por sua vez será substituído pelo Ir. Fernando.
Em Outubro de 1939 é nomeado director desta casa o P. Henrique Alves e
subdirector o P. Abel Pinto de Sousa. Os alunos eram 36; no ano seguinte 33.
Em 27 de Janeiro de 1941 o Conselho Provincial achava conveniente
adquirir casa própria na Guarda, pois o aluguer da casa da Guarda-Gare era
excessivamente custoso: 800$00 mensais. Entretanto decidiu-se passar todo
o primeiro ano para Godim, ficando o segundo e terceiro no Fraião. Daí que
o escolasticado da Guarda-Gare não tivesse mais razões para continuar a
existir.
Mas outro problema era continuarmos com uma residência na Guarda para
animação vocacional e missionária. Uma hipótese seria continuarmos com a casa
e alugarmos os baixos para uma escola de meninos.
A 17 de Setembro de 1942 a opinião geral era que a residência fosse fechada
O Seminário da Guarda - Gare
379
embora não para já. Entretanto como o bispo de Cabo Verde andava à procura
de uma casa para os seminaristas que enviava para Portugal a fazer os estudos
superiores, a casa da Guarda-Gare era uma hipótese possível.
Outra hipótese em que se reflectiu foi a de comprar uma nova casa, própria
para colégio ou seminário, com uma boa quinta anexa, fixando-se aí desde já uma
residência. Assim se aproveitaria este local estratégico
para as vocações em várias
direcções: Guarda, Lamego,
Coimbra, Viseu, continuando-se a prestar assistência
ao seminário diocesano se o
bispo assim o entendesse.
No futuro se decidiria por
um escolas-ticado ou um
postulantado.
Seminaristas da “Guarda-gare”
Efectivamente uma casa
apareceu em Celorico da Beira, que parecia ter as condições necessárias.
A 16 de Julho de 1941 foi a festa de despedida dos alunos do seminário.
No dia 17 os alunos partiam para não mais voltar à Guarda. A casa ficará apenas
como residência. Nela permaneceram os Padres Teles, Laje e Abel bem como os
Irmãos Mateus, Inácio e Estêvão. O Ir. Mateus e Estêvão partirão para as
missões.
A 23 de Agosto de 1944, atendendo às grandes vantagens que derivariam da
passagem para o Fraião dos escolásticos do 2º e 3º ano, deixando só o primeiro
todo em Godim, o Conselho decidiu suprimir o escolasticado da Guarda e da
Silva; portanto, o 1º ano passaria para Godim e todos os demais escolásticos
seriam reunidos no Fraião.
Assim, optou-se por fechar a casa da Guarda, ficando lá apenas o P. Rebelo até
ao Natal.325
Notas finais
1. Esta comunidade espiritana deixou marcas na diocese da Guarda sobretudo
pelo ministério que exerceu na região. O seu superior durante todo o tempo foi
o P. Manuel Ribeiro Teles. E foi sobretudo ele que ficou como memória desta
comunidade. Sempre em movimento, pregando retiros sobretudo no seminário
diocesano, fazendo conferências e pregações por toda a parte, a sua simpatia e
disponibilidade apostólica ficará guardada na memória das pessoas, como a mais
grata recordação da presença espiritana. Mas além dele, outros deixaram boa
memória, como o P. António Meira, Fernando Moreira e outros que deram
muito da sua vida ao ministério pastoral pelas terras da Beira.
2. Outra constante da comunidade da Guarda-Gare foi o acolhimento. Dada a
325
APPCSSp. Actas das reuniões de 24/1/1941, 17/9/1942 e 7/8/1943
380
Adélio TORRES NEIVA
sua situação estratégica, junto da linha que ligava Portugal com a Europa, a
paragem dos viajantes na Guarda era quase obrigatória. Efectivamente, a casa
desenvolvia um movimento constante de presenças e de gente que passava com
outros destinos. Mas a sua situação privilegiada no coração das Beiras e numa
altitude fortemente recomendável para saúdes mais fragilizadas, fez com que
seminaristas e padres das Beiras ou confrades em busca de descanso e de férias
procurassem constantemente aquela casa. O encerramento da comunidade foi
sem dúvida uma ferida que levou tempo a curar na memória daquelas gentes.
Benfeitores
Entre outros, é justo destacar o Dr. Ladislau Patrício, o Dr. Antero Marques,
o Dr. Mário Cardoso e Irmão, o Dr. Câncio da Fonseca, o Dr. António Proença
e D. Máxima do Menino Jesus Mendonça.
381
Capítulo 39
D. Moisés Alves de Pinho,
um marco na história da Província
A
missão que foi confiada ao P. Moisés Alves de Pinho como restaurador
da Província Portuguesa tinha sido: fundar novos seminários para
formação de futuros missionários para as missões de Angola, restaurar
as finanças, a fim de alimentar os alunos e pagar as
dívidas antigas provenientes sobretudo dos gastos feitos
com as viagens para o exílio em França dos que - Padres,
seminaristas ou Irmãos - ali se quiseram refugiar ou
continuar a sua formação; ou com os subsídios de
alimentação aos que em Portugal se juntaram às suas
famílias, esperando que depois da tempestade viesse
bonança.
A primeira vertente do P. Pinho, sem dúvida a que
mais o evidenciou, foi a construção dos novos
P. Moisés Alves Pinho
seminários: Braga, Godim, Viana do Castelo e Guarda.
Por outro lado, sacerdotes e irmãos, com a dispersão de 1910 seguiram vários
caminhos. Muitos refugiaram-se nas casas da Congregação, no estrangeiro;
outros ficaram nas famílias ou prestando serviços nas paróquias. Todo este
pessoal tinha de regressar às comunidades em Portugal. Era a primeira fase
necessária e urgente a efectuar na restauração da Província. Não foi fácil este
trabalho.
No estrangeiro, as comunidades contentes com os serviços prestados pelos
portugueses, sobretudo pelos irmãos, iam adiando a autorização do regresso.
Para os que se encontravam fora da comunidade em Portugal e quer que a ela
se recolham, não é violento. A sua arma é o diálogo, no qual tudo é pesado e
avaliado com o fim de descobrir se há razão para continuar fora ou para regressar
ao Instituto. Espera que as suas palavras sejam escutadas e obedecidas, mas não
ameaça nem apaga a chama que ainda fumega. Se, porém, houver escândalo
público, então sim, será intransigente.
Um outro objectivo do P. Pinho era restabelecer as finanças na Província.
As dívidas que a contabilidade geral da Congregação tinha amontoado sobre as
obras de Portugal era de 37.634$00. Para liquidar esta conta solicitou um abono
à Administração Geral da Congregação, que perdoou toda a dívida.
Descobrir benfeitores, obter donativos, aceitar trabalhos de colaboração
paroquial para si e para os que com ele colaboravam, foi uma das suas
preocupações permanentes. Escreve cartas, circulares, publica revistas que põem
382
Adélio TORRES NEIVA
os leitores a par das necessidades das missões, envia emissários aos Estados
Unidos, a fim de angariar fundos para a sua obra. Mas nunca aceitou doação
alguma, por mais fascinante que fosse, se em troca tivesse de alienar ou sacrificar
o que constituía a essência da Congregação, como foi o caso da oferta da quinta
na Abelheira, que a viscondessa de Montedor lhe oferecia para ali funcionar um
seminário menor e desenvolver a obra dos Irmãos Auxiliares. As condições que
lhe exigiam eram demasiado gravosas e comprometiam a nossa liberdade de
movimentos. “Nós fomos para a África para combater a escravatura e não
devemos ficar escravos na Europa” – foi a sua resposta.
O Arquivo Geral da Congregação guarda um sem número de cartas do P.
Pinho, onde são abordados com o Superior Geral e o seu Conselho, os
problemas que iam surgindo, a situação das obras e das pessoas, os projectos e as
observações que os acontecimentos lhe provocavam. Por essas cartas podemos
ver a sua solicitude de pastor, a sua capacidade organizativa e a sua fé
inquebrantável numa obra em que acreditava. De 1921 a 1932 estão arquivadas
mais de 230 cartas.
“Missões de Angola e Congo” e “Associação de Nossa Sr.ª de África”
Para dinamizar o povo de Deus e o motivar para a causa missionária, D. Moisés
fundou a revista “Missões de Angola e Congo” e relançou a “Associação de
Nossa Senhora de África”.
A revista de que ele foi o primeiro director é lançada a 10 de Janeiro de 1921,
na Quinta do Charqueiro. E destinava-se a suscitar interesse pela causa
missionária, bastante esquecida e ignorada por um conjunto de factores que
acabavam de ser superados. Conseguiu-se um número considerável de endereços
e mandou-se a revista com uma proposta de assinatura, sendo o resultado
superior às expectativas. Nela colaborou em grande escala o P. Joaquim Alves
Correia. Em 1929 a revista contava 5000 assinantes.
Com esse mesmo intuito de promover o interesse pelas missões, restabeleceu
a antiga “Associação de Nossa Senhora de África”, para promover orações e boas
obras pela conversão dos africanos. Ao lado do apostolado da imprensa, o
apostolado da oração. Esta Associação, muito espalhada até 1910, ainda vivia na
lembrança de muitas pessoas; por isso, foi fácil reanimar os centros de associados
com os seus zeladores e zeladoras. Em 1929 a Associação contava 80.000
associados.
Tanto a revista como a Associação, muito contribuíram para despertar
vocações e generosidades de que tanto se precisava.
A 13 de Outubro de 1926 saiu o Estatuto Oficial das Missões Católicas que
permitiu aumentar o subsídio do Estado às missões e às obras de formação. Este
estatuto mudou o nome oficial do Procurador das Missões, embora as funções
continuassem a ser as mesmas. O seu nome agora é de “Representante das
Missões junto do Governo”.
Os arquivos guardam uma circular datada de 2 de Novembro de 1927 que o P.
D. Moisés Alves de Pinho, um marco na história da Província
383
Pinho enviou a todos os missionários. Nessa circular dá-lhes conta das grandes
dificuldades económicas com que a Província se debatia sobretudo para criar as
estruturas necessárias e convenientes para as obras de formação. E pede-lhes
colaboração tanto para a revista como para a Associação. E ia mais longe: pedia
para que “durante quatro ou cinco anos, cada missão contribuísse para as
instalações e desenvolvimento das obras de formação com um tanto por cento
do total das dotações e vencimentos dados pelo Governo. O mínimo desta
percentagem seria 5 %; mas cada missão, segundo as suas posses e boa vontade,
não deixaria de acrescentar mais 2 ou 3 % pelo menos”. “A Província não tinha
nem queria ter uma só obra que não fosse de formação”.
Pioneiro da CNIR
Mas a acção do P. Pinho em Portugal não se limitou à restauração da Província.
Foi pregador, conferencista, director espiritual, animador de movimentos e
instituições de carácter apostólico. Eram profundas as suas simpatias pelo
Círculo Católico e seguras as orientações que dele receberam particularmente
alguns dos seus membros. Foi ele a pedra angular sobre que repousa a que hoje
se chama “Confederação Nacional dos Institutos Religiosos (CNIR).” Esta é
fruto de um pequeno movimento de reuniões de Superiores Maiores que se
realizavam, geralmente em Lisboa, na Casa dos Padres Espiritanos e que foram
inspiradas e animadas pelo P. Pinho, então provincial dos Espiritanos. Foi nestas
reuniões informais, espontâneas e sem qualquer protocolo nem estatuto, que
assentaram as origens da Confederação dos Religiosos. A primeira reunião foi
em Viana do Castelo a 10 de Maio de 1928 e a partir daí passaram a fazer-se todos
os anos. A Santa Sé tomou conhecimento destas reuniões bem como de
movimentos idênticos que também noutras nações iam surgindo, e resolveu
incrementá-las e oficializá-las.
Fundador das Irmãs Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus
Em 1929, o P. Pinho fundou ainda a Congregação das Irmãs Reparadoras do
Sagrado Coração de Jesus com a Irmã Maria das Dores Paes de Sande e Castro.
É uma congregação que à reparação amorosa do Coração de Jesus, ofendido
pelos pecados e pelas ingratidões dos homens, junta como melhor meio para
evitar o pecado, a catequese e a formação religiosa. Em carta de 14/6/1928 o P.
Pinho conta que o bispo do Porto o convida para ser uma espécie de superior
eclesiástico desta obra. À frente ficaria uma religiosa de uma antiga congregação
“Pia Domus”. O P. Pinho pedia licença ao Superior Geral para aceitar este
encargo, pois seria uma boa ocasião para tornar a Congregação conhecida no
Porto, “onde ainda nada temos.”326
Neste mesmo ano, o Ministro das Colónias chamou o Procurador das
326
Carta de 14/6/1928
384
Adélio TORRES NEIVA
Missões, P. Joaquim Alves Correia, pedindo missionários espiritanos
portugueses para a Guiné-Bissau. O Governo temia a vizinhança das colónias
francesas. O P. Pinho escreve para a Casa Mãe, dizendo que seria bom
aproveitar a oportunidade para regular a situação jurídica desta nova missão,
pois a Guiné dependia de Cabo Verde. Erigir a Guiné como Prefeitura ou ao
menos como uma missão independente?
De qualquer modo, diz o P. Pinho, de boa vontade faríamos todos os
sacrifícios para não perder esta ocasião única de assumir esta missão.327 O P.
Correia chegou mesmo a propor o encerramento da casa do Porto para se poder
enviar missionários para a Guiné.
Motivo semelhante tinha já levado o Reitor de S. Luís dos Franceses a pedir em
1920, espiritanos para Moçambique, desta vez não por causa da vizinhança dos
franceses mas das colónias inglesas que ameaçavam o território moçambicano.328
Em 1931 o Arcebispo de Évora ofereceu em Borba um antigo convento à
Congregação para casa de formação, mas o P. Pinho recusou por falta de pessoal.
Em 1931, o P. Pinho foi enviado como visitador das Missões do Espírito Santo
em Angola. E foi depois do seu regresso, em 1932, que a Santa Sé o nomeou
Bispo de Angola e Congo.
Nesta data, 1932, os Missionários do Espírito Santo contavam já três
seminários de preparatórios em Godim, Guarda e Fraião; um para o curso
superior em Viana do Castelo, uma Escola Profissional para a Formação de
Irmãos Auxiliares no Fraião, além da Procuradoria das Missões em Lisboa e de
uma residência no Porto.
O número dos alunos nessa data era o seguinte: 20 no Curso de Teologia, 40
no de Filosofia, 14 noviços clérigos, 194 seminaristas menores e 72 postulantes
e irmãos na Escola Profissional. Ao todo, um universo de 340 alunos.
O P. Riedlinger, que veio fazer a visita canónica à Província Portuguesa,
contactar pessoas, apontar faltas e remediar carências nas obras da Congregação,
numa carta ao Superior Geral, não esconde a sua surpresa por ver, depois do
vendaval de 1910 que tudo destruiu, a Província novamente a funcionar com os
seus seminários cheios de alunos, padres e irmãos de mãos dadas no mesmo
trabalho de construir uma Província nova e a boa ordem e disciplina que reinava
por toda a parte. A sua carta toda elogiosa, termina deixando entender que o P.
Pinho governava a Província com mão de ferro (“como Mussolini a Itália”, diz
ele. O P. Pinho é tão indispensável aos jovens espiritanos como S. Martinho aos
seus melhores monges).329 Realmente o P. Pinho era um homem de disciplina e
amigo da ordem, mas não prepotente.
327
Carta de 12/10/1920
Carta de 14 de Agosto de 1929
Carta de 19 de Janeiro de 1920
329
Carta do P. Riedlinger de 1 de Novembro de 1925 “ É a terceira vez que mudo de comunidade em 10 dias, mas ainda não
mudei de prato das refeições da noite: é sempre um prato de arroz. Isto dá-me uma primeira impressão que se a Congregação é
a farrapeira da Santa Igreja, a Província de Portugal é a farrapeira da Congregação. “Shoking” diria um padre americano ou
inglês se viesse a Portugal como visitador e visse os pequenos escolásticos descalços de inverno e de verão. O P. Pinho é
indispensável aos jovens confrades como S. Martinho aos seus melhores monges. Viana cheia de pequenos, as comunidades cheias
como um ovo. O P. Pinho, superior em Viana faz tão bem como Mussolini na Itália”
*
328
D. Moisés Alves de Pinho, um marco na história da Província
385
Arcebispo de Angola e Congo
O P. Pinho foi informado particularmente pela Nunciatura da sua nomeação
para bispo de Angola, por carta de 5 de Abril de 1932. Tinha chegado da sua
visita a Angola a 23 de Março e reunira os provinciais das várias congregações
para uma reunião de rotina. Antes de se separarem foram fazer uma visita ao
Núncio, o qual no final deu a carta da nomeação ao P. Pinho que, julgando-a sem
importância, a meteu ao bolso e só a leu à noite.
Imediatamente escreveu
para a Nunciatura a pôr as
suas reservas. “Logo que
recebi a comunicação, escrevi
à Nunciatura, para dizer em
resumo o meu “paratus ad
omnia” e para manifestar ao
mesmo tempo a minha
convicção de poder tornar-me
mais útil à salvação das almas
e à diocese de Angola,
trabalhando na propaganda,
D. Moisés com o P. Clemente e o abade da Silva
no recrutamento e na formação dos missionários. Depois nada mais soube, o que me levava crer que a minha
carta tinha seguido para Roma. Assim, conservo ainda a esperança de escapar ao
fardo que me ameaça. Do que
eu souber, eu lho comunicarei… mas é cargo para o
qual não tenho nem vocação atracção
nem
mesmo
outra”.330
A verdade, porém, é que a
confirmação oficial chegou a
12 de Abril de 1932, em
telegrama enviado pela
Nunciatura. Estava o P.
Pinho em Braga, numa
D. Moisés com a Superiora Geral e algumas Irmãs Reparadoras, em Luanda (10-3-1963)
Reunião do Conselho Provincial.331 A nomeação oficial apareceria na Acta Apostolicae Sedis a 2 de Maio de
1932.332
Os membros do Conselho Provincial foram unânimes em indicar o P.
Clemente Pereira da Silva como seu substituto no governo da Província.
330
331
332
Carta de 9 de Abril de 1932
AGCSSp. B 483 AB CH –I
Nº 5 Ano XXIV de 2 de Maio de 1932. p. 142
386
Adélio TORRES NEIVA
D. Moisés foi ordenado bispo na igreja de S. Domingos em Viana do Castelo,
a 17 de Julho de 1932, 49º aniversário do seu nascimento, sendo sagrante Mons.
Le Hunsec, antigo bispo de Dacar e Superior Geral da Congregação.
Com ele partiram a 8 de Outubro de 1932, 21 missionários para Angola: 4
padres espiritanos, 6 irmãs, um leigo professor, 6 padres seculares e 3 estudantes
e um bispo.
A 23 de Setembro de 1967, a Câmara Municipal de Viana do Castelo quis
homenageá-lo dando o seu nome a uma das ruas do Bairro das Ursulinas na
Cidade.333
333
BPPCSSp. 1967 p. 137-139
387
Capítulo 40
O P. Clemente Pereira da Silva
e a consolidação da Província (1932-1943)
O
P. Clemente Pereira da Silva foi nomeado Provincial por decisão do
Conselho Geral de 10 de Maio de 1932. O P. Clemente era já o braço
direito do seu antecessor. Nessa qualidade, a obra da restauração da
Província é, em grande parte, obra também da sua influência e dedicação. O
Conselho Provincial ficou assim formado: P. Clemente,
Provincial; Assistentes: PP. Daniel Junqueira e José
Pacheco Monte. Conselheiros: PP. António Teles,
Joaquim Alves Correia. Procurador ou Ecónomo
Provincial: P. Miguel Fonseca.
Em 1934 foi nomeado Procurador das Missões em
Lisboa, o P. Arnaldo Baptista.
Durante os onze anos do mandato do P. Clemente, a
Província continuou a consolidar as posições conquistadas.
O seminário da Guarda-Gare começou a funcionar já neste
P. Clemente Pereira da Silva
provincialato (Outubro de 1932); na Silva, em 1937, na
propriedade que nos fora legada pela Senhora D. Antónia Alcoforado, abre-se mais
um seminário menor; a casa era habitada já desde o Pentecostes de 1936, mas
somente para ocupar a casa e guardar as culturas feitas pelos empregados e familiares.
O P. Clemente, como procurador de D. Moisés Alves de Pinho, foi à Silva tomar
conta da chave, depois do falecimento da senhora, a 16 de Dezembro de 1935.
Em 1934, o Noviciado dos Clérigos que era feito em França, começa
finalmente, a funcionar na Quinta de Baixo, no Fraião. Diz o P. Clemente em
carta de 1 de Abril de 1934:
“Segundo o desejo do R. P. Superior Geral começará no mês de Setembro próximo
no Fraião, Braga, o Noviciado dos Clérigos.
Erecção. Segundo um documento guardado nos Arquivos da Província, a
comunidade do Fraião foi canonicamente estabelecida Noviciado da Província. Aí
não se menciona nem clérigos nem irmãos; uns e outros ali fizeram os seus
noviciados, v.g. os PP Laje e os escolásticos Soares, Olavo Teixeira, etc.. Não será
portanto preciso talvez nova erecção.
Casa: Estamos a adaptar a parte da casa onde recebíamos os padres seculares que
os bispos nos enviavam para regenerar (Obra do Santo Cura d´Ars).
Completamente isolada e independente do resto da comunidade, ela se presta bem
para esta finalidade; aumentada poderá albergar uns vinte e até uns trinta noviços,
com uma cela para cada um. A Obra do Santo Cura d´Ars é suprimida, por
388
Adélio TORRES NEIVA
enquanto, até que o noviciado possa abrir, mas completamente à parte, o que poderá
acontecer de um momento para o outro.
Número de noviços. Este ano serão perto de uns vinte, nos dois anos de Filosofia,
reunidos para isso. No futuro, juntar-se-ão para o noviciado os alunos do 1º Ano de
Filosofia e os do último ano dos estudos secundários e a casa servirá alternadamente
como noviciado e como casa para o 1º Ano de Filosofia; esta combinação permitirá
separar os dois anos de Filosofia (até aqui reunidos em Viana), não ter no Grande
Escolasticado senão professos; ter anos mais numerosos seja para o noviciado seja
para o 1º Ano de Filosofia.
Pessoal. É uma grande dificuldade para a Província: ela não poderia mesmo pensar
em começar esta obra se o Superior Geral não tivesse prometido dar-nos dois padres
no princípio do ano escolar, para substituir nos seus postos actuais os dois padres que
é preciso libertar para o noviciado. Para mestre, os votos estão divididos entre o P.
Bruno e o P. Castro; a escolha do primeiro tem muitas vantagens, permitindo ao
segundo ficar à frente da comunidade de formação dos Irmãos, lugar que não é fácil
de substituir. Como submestre o P. Meira faria isto bastante bem, apesar de ainda
muito jovem, mas o submestre não é difícil de encontrar. Como confessor poderá ser
um dos padres da comunidade, por exemplo o P. Cosme ou mesmo o P. Castro.
Despesas. Para o sustento dos noviços. Elas serão bem menores que na França;
para a adaptação e para a construção da parte indispensável para já, retardar-se-á,
se necessário, a construção do pavilhão dos Irmãos já começada”.
O noviciado começou efectivamente com o P. Bruno a mestre de noviços
conforme já foi dito.
Em 1941, realiza-se a transferência da incipiente Obra da Propaganda para
Lisboa. Este facto foi de grande alcance e de muitas consequências para a
irradiação da animação missionária.
A herança da Senhora da Silva, que, contra a vontade da legatária, tantos
aborrecimentos e trabalhos custou; o activo e ininterrupto prosseguimento da
vastíssima obra do Fraião; o sustento da enorme avalanche de vocações que
vinham bater à porta dos Espiritanos e pedir a formação religiosa e missionária,
embora a grande maioria não viesse a perseverar, tudo isto atesta a soma de
trabalhos e de sacrifícios que foram pedidos ao P. Clemente. Em 1937 foi
aprovada a fundação da Casa da Silva, consagrada ao Menino Jesus de Praga.
Merece relevo especial o apoio que desde o início deu à Obra da Propaganda,
a Liga Intensificadora da Acção Missionária (LIAM), fundada pelo P. Agostinho
de Moura e os escolásticos José Felício e Augusto Teixeira Maio, em Fátima, em
1937. Se não fosse o apoio e a confiança que o P. Clemente depositava no P.
Moura, talvez a LIAM nunca chegasse a nascer.
Uma das grandes preocupações do P. Clemente, durante todo o seu
Provincialato, foi o envio de missionários para a África. Durante o seu mandato
foram enviados para as missões nada menos que 48 missionários.
Em 1933, fundava-se em Viana do Castelo o jornal “Entre Nós”, com o
objectivo de fomentar a propaganda missionária. Em 1949 mudaria o seu título
para “Acção Missionária”, adquirindo então grande expansão.
O P. Clemente Pereira da Silva e a consolidação da Província (1932-1943)
389
Em 1935, o P. Provincial deixava a direcção do escolasticado de Viana do
Castelo, para fixar residência na Procuradoria em Lisboa, juntamente com os
teólogos do IV Ano, que para ali foram transferidos, para frequentarem a Escola
Colonial. O Governo desejava que os missionários conhecessem melhor os
futuros funcionários de Angola e se impregnassem do espírito colonial português.
Em 1938, depois do Capítulo Geral, o P. Clemente escolheu o Porto como
residência do Provincial, pois esta era uma comunidade que estava ao alcance
fácil das casas da formação, onde trabalhava a maior parte dos confrades.
Nesse ano, o P. Daniel Junqueira é nomeado Prefeito Apostólico do Cubango
e o Conselho da Província passou a ser constituído pelos Assistentes: PP
Pacheco Monte e Joaquim Castro; Conselheiros: PP. António Teles, Joaquim
Alves Correia, Cândido Ferreira da Costa e Francisco do Rego.
Também para o Porto foram transferidas em 1937 a “Associação de Nossa
Senhora de África” e a revista “Missões de Angola e Congo”.
Em 1938 o IV Ano de Teologia volta para Viana do Castelo, pois a formação
que lhes era ministrada na casa de Lisboa não foi julgada satisfatória.
No ano de 1939 apareceu pela primeira vez o “Boletim da Província”, em Português.
No dia 12 de Maio de 1940 foi canonicamente erecta nas capelas das
Comunidades de Viana do Castelo, Fraião, Godim e Guarda, a Confraria do
Espírito Santo.
O quadro das vocações, comparado com os tempos anteriores é o seguinte:
Zamora (1913-1920): 15 admitidos, chegando ao fim da formação 5 padres e 2
irmãos: 20%.
Bento Miguel: (1913-1920): 16 admitidos, concluíram 2 padres e 1 Irmão: 18%.
Em S. Tomaz:
1920: 15 admitidos, 6 ordenados – 40 %.
1921: 16 admitidos, 2 ordenados e 1 Irmão. – 18 %
1922: 26 admitidos, ordenados 7 padres – 30 %
Viana do Castelo:
1923: 26 admitidos, 3 ordenados – 11 %
1924: 28 admitidos, ordenados 5 padres e 1 escolástico maior – 21 %
1925: 34 admitidos, 8 ordenados – 23 %
1929: 36 admitidos, 5 ordenados e 2 Escolásticos Maiores – 19 %
Ou seja: 230 admitidos e concluíram a sua formação entre padres e irmãos 50: 21%
No dia 1 de Janeiro de 1940, a Província contava 76 padres, dos quais 42 nas
missões de Angola, 1 em Montana e 1 na Amazónia; 51 escolásticos professos dos
quais 3 empregados nas casas de Formação e 2 na universidade de Friburgo; 107
Irmãos, dos quais 56 nas missões de Angola, 3 na Casa Mãe, 1 em Roma, 1 na
Amazónia e 2 no Zanzibar; 10 noviços-clérigos e 9 noviços-irmãos; 270 escolásticos
não professos, incluindo o primeiro ano de Filosofia e 36 aspirantes a Irmãos.
Das outras Províncias trabalhavam em Portugal o P. Alberto Brun, mestre de
noviços, (vindo para Portugal em 1929 para substituir o malogrado P. Rost)
coadjuvado pelo P. José Finck; em Viana, o P. Mass, leccionando Exegése e
390
Adélio TORRES NEIVA
Moral; em Lisboa, o P. Georger, em regime de descanso. Trabalhavam também
em Portugal, até que a França em 1940 os mobilizou para a guerra, os padres
Truttmann e Schmitt. O P. José Breitenstein, esteve também em Portugal como
director do Escolasticado Maior, durante dois anos.
Este período ficou marcado pelo falecimento de um conjunto de antigos
professores dos colégios da Província. Do Colégio Espírito Santo de Braga os
Padres Blériot, Kempf, Knoebel e Dargnat, o primeiro tinha-se recolhido a Braga
três anos antes de morrer. Do Colégio de Santa Maria, do Porto o P. Schurrer e
o P. Celestino Descremps. O P. Descremps faleceu em Coimbra, quando vinha
para a Reunião dos Antigos Alunos, ficando sepultado no cemitério da
Conchada. Faleceu também o P. Xavier Kauffmann, do Seminário da Formiga.
De 19 a 22 de Abril de 1941 visitou a Província o Ministro das Colónias, Dr.
Francisco Vieira Machado, passando por Viana do Castelo, Silva, Fraião e
Godim, sendo por toda a parte recebido com grandes provas de simpatia.
Em 1940 o conselho provincial era assim formado: P. Clemente, superior
provincial; assistentes PP. Pacheco Monte e Joaquim Castro; Conselheiros: PP.
António Teles, Francisco Alves do Rego, Joaquim Alves Correia; Procurador
provincial: P. Miguel Fonseca; Secretário Provincial: P. Henrique Alves; Prefeito
Provincial dos estudos superiores: P. Agostinho de Moura; Prefeito dos estudos
secundários: P. Fernando Moreira.
Durante o Provincialato do P. Clemente, como já tinha acontecido no tempo
do P. Pinho, vários retiros da Província foram pregados por membros da Casa
Mãe: P. Lena assistente geral, em 1933, P. Cabon, secretário geral, em 1934.
Em 1942 começou a funcionar na Silva o Noviciado, onde se tinham preparado
20 celas.
Quando em 1943, o P. Clemente deixava a direcção da Província, esta contava:
39 alunos de Teologia, 42 alunos de Filosofia, 19 noviços-clérigos, 208
escolásticos menores e 36 alunos da Escola Profissional. Ao todo, 344 alunos.
O P. Clemente foi uma figura muito marcante na vida da Província e do clero
em Portugal. Culto, mas sem pretensões, sabendo valer-se de uma extraordinária
facilidade para o uso da palavra declamada no púlpito, comunicada em
conferências ou conversas familiares, em cartas que sempre escrevia com o
coração, deixava sempre um amigo pessoal e da Congregação em quem o
abordasse, logo à primeira vez.
A maior parte dos padres e irmãos que trabalharam na Província, em Angola e
Cabo Verde, tiveram-no como guia e mestre. Formador de muitos em Zamora
(1914-1919), Braga (1919-1925), Viana do Castelo (1927-1932), depois de
Provincial durante 11 anos, em 1945 foi nomeado Conselheiro Geral da
Congregação e depois 2º assistente.
Os últimos anos da sua vida foram passados em Angola, para onde partiu como
missionário.
391
Capítulo 41
A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva
A
Casa da Silva tem raízes que a ultrapassam no tempo e no espaço. Ela
nasceu da união de duas famílias, cujas origens remontam a uma época
anterior à fundação da nacionalidade: a família dos Silvas e a família dos
Alcoforados. Tanto Mendo Gomes, a quem o Conde D. Pedro atribui as origens
da Casa Alcoforado, como Guterres Alderete da Silva, com que se inicia a
linhagem dos Silvas, se situam num espaço histórico e cultural semelhante: o dos
ricos-homens que acompanharam tanto D. Afonso VI como o Conde D.
Henrique, na conquista ou reconquista do norte de Portugal.
Os primeiros acabariam por se fixar na Torre de Alcoforado, lugar de Lordelo,
no concelho de Aguiar de Sousa e cujo topónimo a família adoptou; os segundos,
na Torre e Quinta da Silva, entre Vila Nova de Cerveira e Valença: também aqui
o apelido Silva seria tomado da configuração silvestre e bravia que caracterizava
a Quinta dos Alderetes.
Depois, as suas famílias irradiaram por vários quadrantes, abrindo e
ramificando a linhagem. Destas duas famílias merece particular relevo a dos
Silvas, que no tempo de Filipe IV chegou a ter 61 títulos de nobreza e que inclui
nos seus pergaminhos alguns dos nomes mais notáveis do Reino. Nem faltam na
gesta dos Silvas, personagens ilustres ligados à história da Igreja como o Cardeal
D. Diogo da Silva ou figuras que se impuseram nas vias da santidade como Santa
Beatriz da Silva, a fundadora das Irmãs Concepcionistas.
As duas famílias vieram a encontrar-se, – uma por linha directa – a dos
Alcoforados – e outra pela lateral – a dos Silvas – no ano de 1556, quando
António de Sousa Alcoforado casou com D. Maria da Silva, descendente dos
Silvas, pela linhagem dos senhores de Vagos.
Para este casamento, doava D. Margarida da Silva, mãe da D. Maria, a sua
Quinta da Silva, em S. Julião do Calendário, com a condição porém, de a
vincularem e instituírem em Morgado.
Em obediência a esta cláusula, António de Sousa e sua mulher, pelo seu
testamento de 1 de Janeiro de 1572, fundaram o morgado da Quinta da Silva e
suas pertenças, a que seriam anexadas outras propriedades vizinhas, no âmbito
dos itens do mesmo testamento. É com a criação deste morgado que,
praticamente, começa a história da Quinta da Silva, em S. Julião do Calendário,
até aí bastante discreta, nos anais dos Silvas.
Como complemento desta instituição, António de Sousa Alcoforado, que
passou a chamar-se António de Sousa da Silva, fundaria no ano de 1589, a capela
392
Adélio TORRES NEIVA
de S. Bento, tendo o arcebispo de Braga, D. Frei Agostinho de Jesus, a 3 de
Janeiro de 1592, passado provisão para nela se poder celebrar missa.
Desde então, o Morgado da Silva foi-se afirmando cada vez mais, através de
gerações de fidalgos, que foram alargando os seus domínios e consolidando de
tal maneira a sua influência, que ele se tornou um ponto de referência obrigatório
para as gentes do vale do Tamel. As suas propriedades e os seus direitos
estendiam-se por uma vasta faixa da margem direita do Cávado, que começava
por terras do Prado e se alongava quase até ao mar. Foi a Casa da Silva que
originou a mudança do nome da freguesia de S. Julião do Calendário do Tamel
para freguesia de S. Julião da Silva, na segunda década do século XVIII.
O morgadio foi extinto a 12 de Julho de 1862, a pedido da morgada D. Maria
Henriqueta de Sousa da Silva Alcoforado de Almada e Lencastre, por alegação de
falta de rendimento legal que a lei de 30 de Julho de 1860 exigia.
A última sobrevivente da Casa da Silva foi D. Maria Antónia de Sousa da Silva
Alcoforado, viúva, sem filhos e mesmo sem parentes próximos, a não ser uma
sobrinha, falecida a 16 de Dezembro de 1935, com 92 anos de idade. Por
influência do seu director espiritual o então pároco da Silva, P. António Joaquim
Lopes Júnior, grande amigo dos Missionários do Espírito Santo, D. Antónia, por
testamento de 8 de Agosto de 1924, deixava a Quinta da Silva e quase todos os
seus bens, ao provincial da Congregação do Espírito Santo, P. Moisés Alves de
Pinho. Em testamento anterior, datado de 1 de Julho de 1922, D. Antónia
especificava as intenções do seu legado: “perpetuar a memória dos senhores da
Casa da Silva, servindo-se deste solar para a formação de missionários, clérigos ou
leigos ou de sacerdotes que se destinem a outros ministérios mais humildes e penosos,
nunca o desviando do fim que tenho em vista que é a glória de Deus e a salvação
das almas”.
D. Maria Antónia faleceu em 1935; dois anos depois, em Outubro de 1937, no
velho solar dos senhores da Silva, abria-se o novo seminário para a formação de
missionários da Congregação do Espírito Santo. Dos pergaminhos do seu
passado, um novo futuro nascia para a Casa da Silva.
A Casa da Silva
“Junto às pitorescas margens do rio Minho, entre Valença e Vila Nova de
Cerveira, na freguesia de S. Julião da Silva, foi fundada uma forte torre, ninho de
ricos-homens, vindos da fronteira da Galiza, para ali fazerem seu assento.
Nela, na arrogante torre da Silva, entrincheiraram-se eles e à linhagem dos seus
senhores deu ela o nome. O seu mais remoto ascendente é D. Goterre Alderete da
Silva, mencionado como progenitor da estirpe, no Livro velho das Linhagens e no
Nobiliário do Conde D. Pedro” (Anselmo Braamcamp Freire).334
A Quinta da Silva, da qual nasceu o Seminário das Missões, não se confunde
com a Casa da Silva; aquela era apenas uma pequena parcela desta. Na obra
334
In Brasões da sala de Sintra, II, nº3
A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva
393
monumental de D. Luís de Salasar y Castro, que tem por título “História
genealógica de la Casa de Silva”, dividida em dois grossos volumes que perfazem
um total de 1521 páginas, há apenas duas referências muito breves à “Quinta
imediata à la villa de Barcellos, que es la que posseió Arias Gomes da Silva Viejo”
dizendo a seguir que tinha o nome de Silva, por ter sido fundada pelos senhores
desta casa. E Braamcamp Freire, nas 182 páginas que dedica ao brasão dos Silvas
da Sala de Sintra, nunca faz menção desta Quinta.
É certo que com a fundação do Morgado da Quinta da Silva, esta foi
adquirindo uma importância crescente, creio bem que mais por mérito dos
Alcoforados que por crédito da Quinta dos Silvas. De qualquer modo, a Casa da
Silva, tem um horizonte muito mais vasto que o perímetro e a história deste
velho solar.
A Casa da Silva conta-se entre as mais ilustres casas da nobreza de Espanha e
Portugal. De geração em geração, mercê de casamentos e alianças, o seu tronco
foi-se ramificando por Portugal, Leão, Castela, Aragão, França, Nápoles, Sicília
e até às Índias, chegando a ter 16 casas tituladas.
As primeiras informações, a ela referentes, colhidas nos livros portugueses de
linhagens medievais, são-nos fornecidos pelo Livro do Deão, que remonta aos
anos de 1337-1340.335 Anterior a este livro, há apenas o Livro Velho de
Linhagens, redigido provavelmente no princípio do reinado de D. Dinis, pelos
anos de 1270-1280, que se limita a enumerar cinco famílias nobres, todas da parte
meridional de Entre Douro e Minho, da região de Paiva e Bragança. O Livro do
Deão, que dá a impressão de querer completar o quadro insuficiente do Livro
Velho, enumera, além dessas cinco, mais 22 famílias, alargando o leque por todo
o resto do Minho, Trás-os-Montes e Terra de Santa Maria; entre elas aparece a
Casa da Silva.
A Casa da Silva voltará a ser elencada, agora mais desenvolvidamente, no
Nobiliário do Conde D. Pedro, do terceiro quartel do século XIV e que
apresenta já 51 títulos, agora alargados à Beira, Estremadura e Ribatejo.336
No final do reinado de Filipe IV, a Casa da Silva arvorava nada menos que 61
títulos de Duque, Príncipe, Marquês, Conde, Visconde, adquiridos ou por
sucessão hereditária ou por alianças matrimoniais.
A esta Casa da Silva pertenceram alguns nomes dos mais notáveis do Reino, a
quem foram confiados os mais altos cargos tanto da administração pública como
do foro militar. Os altos funcionários da Corte eram o Mordomo-Mor, o Alferes
e o Chanceler. O Mordomo era por assim dizer, o chefe da Casa civil do rei; o
Alferes era um cargo de atribuições militares; os dois constituíam os postos
máximos da aristocracia.337 Lembremos apenas alguns nomes da Casa da Silva que
se guindaram a esta escala: D. Paio Guterres da Silva, vicarius regis de D. Afonso
VI de Leão e que deve ter sido o principal representante da autoridade régia em
335
Portugaliae Monumenta Historica. Nova série. Vol. 7. Livros Velhos de linhagem. Academia de Ciências. Lisboa. 1981. ED.
Crítica de José Matoso
MATOSO, José PMH II 2 tit. VIII
337
Ibid. p. 116
336
394
Adélio TORRES NEIVA
terras de Cávado; Aires Gomes da Silva, que foi aio de D. Fernando, alferes-mor
e condestável do reino de Portugal; Alonso Tenório da Silva, adiantado perpétuo
de Caçorla e notário-mor do Reino de Toledo; D. João da Silva, alferes-mor de
Castela e mordomo-mor da rainha D. Maria; Afonso Gomes da Silva, alcaidemor de Coimbra e da Covilhã; João Gomes da Silva, senhor de Vagos, copeiromor e alferes-mor de Portugal; Aires Gomes da Silva, justiceiro-mor de Portugal,
etc.
Durante longas gerações, o posto de Regedor da Justiça, o de AposentadorMor e o de Mordomo-Mor estiveram confiados a esta casa.
Do seu valor militar falam-nos com frequência as Crónicas dos reis de
Portugal, nomeadamente as de
Fernão Lopes; de facto, os
pergaminhos da Casa da Silva
acompanham de perto os méritos e
as vicissitudes da reconquista e da
defesa do território; só na batalha
de Alcácer Quibir pereceram 13
membros da Casa da Silva.
Nem faltam na história da Casa
da Silva personagens ilustres
A Casa da Silva, nas origens
ligadas à história da Igreja ou que
se notabilizaram nos caminhos da santidade. João da Silva Meneses, mais
conhecido por Beato Amadeu, fundou a primeira reforma da Ordem de S.
Francisco, na Itália e viu florescer, ainda durante a sua vida, vários conventos.
A Santa Beatriz da Silva fundou a Congregação da Imaculada Conceição.
À Casa da Silva pertenceram ainda dois Cardeais,
vários Arcebispos de Braga, Granada e Saragoça,
entre os quais o célebre D. Frei Diogo da Silva,
bispo de Ceuta, primeiro Inquisidor Geral do
Reino e Arcebispo de Braga.
Segundo a descrição do Gabinete dos
Estudos Heráldicos, as armas da Casa da
Silva são: de prata, leão de púrpura armado e
linguado de vermelho. Timbre: o leão das
armas. Outros do mesmo apelido usam: de
prata, leão vermelho, lampassado de azul e à
Brasão da Casa da Silva
roda do leão, em forma de era, uma silva
verde, com flores e espinhos de oiro. Timbre: o leão das armas. 338
O escudo foi depois usado por diversos ramos da família, com ligeiras
variantes. À frente veremos o usado pelos senhores da Silva, de S. Julião do
Calendário de Tamel.
Não é fácil desdobrar a meada de gerações que nos levam às raízes do
338
Enciclopédia Luso-Brasileira Vol. 17
A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva
395
progenitor “oficial” da família Silva, Guterre Alderete. Talvez possamos recuar
até ao infante D. Ordonho, filho do rei de Leão, Froila II, que reinou em 924925. Este infante foi pai de D. Paio Guterres que era por sua vez pai de Guterre
Pais, governador da terra da Maia, que então se estendia da margem direita do
Douro até à esquerda do Lima, e avô de D. Paio Guterres da Silva, que viveu e
foi governador de Alava (Espanha), no tempo dos reis de Leão D. Afonso V
(999-1027), D. Bermudo III (1027-1035) e D. Fernando Magno (1035-1065).
De D. Paio Guterres da Silva foi filho D. Guterre Alderete da Silva, rico-homem
de Leão e Castela, no tempo do rei D. Afonso VI (1072-1109) e o primeiro
conhecido com o apelido de Silva.
É com este Guterre Alderete da Silva que tanto o Livro do Deão como o
Nobiliário do Conde D. Pedro abrem a gesta genealógica da Casa da Silva. Trata-se, portanto, de uma família cujas origens poderiam estar como aconteceu com
outras tantas dessa época, intimamente relacionadas com a Casa Real de Leão.
Não sabemos se foi D. Guterres o primeiro a usar o nome Silva – D. Melchior
de Teves diz que não – mas o que parece fora de dúvida é que foi ele o progenitor
da Casa da Silva, conforme o atestam as genealogias de Castela e de Portugal.
Veio a casar com D. Maria Pares de Ambia.
O nome Silva por que era conhecida a Quinta, podia muito bem ter origem na
natureza da própria propriedade: terreno inculto, com árvores bravias e plantas
silvestres, identificava-se muito melhor como bosque ou selva (silva significa
bosque) do que com uma herdade ou casal. O mesmo aconteceu, por exemplo,
com a Quinta da Mata, a Quinta da Veiga ou os Sotomaiores.
D. Luís de Salasar y Castro afirma que as outras terras e quintas da Galiza e
Portugal, conhecidas com o nome de Silva, são filiadas desta, ou seja, terão sido
propriedade dos senhores da Casa da Silva, que assim lhes deram o nome. Não
sabemos como nem quando essas quintas nasceram. D. Luís não dá pormenores,
dizendo apenas que são “fundações dos mais antigos senhores desta Casa”. A
verdade é que conhecemos, de facto, outras quintas e propriedades com esse
nome e que pertenceram à família Silva: a Quinta da Silva que em 1540 possuía
D. Baltasar Sequeiros Sottomaior, a freguesia de Silva escura no bispado do
Porto, a Quinta da Silva, perto de Barcelos, que possuía Aires Gomes da Silva e
donde nascerá o Seminário da Silva.
A linhagem de D. Maria da Silva Lima, primeira morgada da Quinta da
Silva, em S. Julião do Calendário
A primeira morgada da Quinta da Silva, D. Maria da Silva Lima entronca-se no
ramo dos Silvas, senhores de Vagos.
Gonçalo Gomes da Silva foi filho do segundo casamento de João Gomes da
Silva, o Velho. Foi Gonçalo Gomes da Silva casado com Leonor Gonçalves e dela
teve vários filhos. O filho primogénito, João Gomes da Silva, foi o primeiro
senhor de Vagos, lugar que recebeu por doação e serviu a D. João I como
copeiro-mor e alferes-mor. Casou com D. Margarida Coelho e deste matrimónio
396
Adélio TORRES NEIVA
nasceu um filho varão Aires Gomes da Silva; uma das suas filhas Teresa da Silva,
viria a casar com Fernando Anes, dos Limas, abrindo assim o ramo, donde
proviria a Morgada da Quinta da Silva, em S. Julião do Calendário.
Também a origem dos Limas se situa na Galiza, precisamente nas margens do
rio Lima. Viviam nos reinos de Galiza, Leão e Castela, tendo alguns membros da
família, passado temporariamente para Portugal, uns em serviço militar, outros
por terem casado aqui.
Fernão Anes ou Fernand´Anes de Lima, casou com D. Teresa da Silva, a quem
chamaram a “Boa” e foi dama da Rainha D. Filipa de Lencastre.
Por causa deste casamento, segundo Frei António Brandão, em memória de
Teresa da Silva, os Limas aquartelaram ao escudo das suas armas o leão dos Silvas.
Deste casamento nasceram dois filhos: Álvaro Rodrigues de Lima, que sucedeu
pouco tempo na casa de seu pai, pois morreu novo e Leonel de Lima que o
substituiu e que seria o bisavô de D. Maria da Silva Lima.
Leonel de Lima casou com D. Filipa da Cunha, criada de D. João I. Segundo
um documento de 25 de Setembro de 1450 teria comprado a Diogo da Silva a
Quinta da Silva, no termo de Valença.
Por ordem de D. Afonso V, Leonel da Silva levantou o castelo de Ponte do
Lima que o rei lhe doará assim como Vila Nova de Cerveira, de quem foi feito
visconde, sendo assim o primeiro visconde de Portugal e o único durante mais
de meio século.
O filho de Leonel de Lima, Fernão de Lima, foi copeiro-mor de D. João II e
capitão de Guimarães. Uma das filhas de Fernão de Lima foi D. Maria da Silva
que casou com Francisco Lopes, tendo nascido deste casamento Margarida Lima.
Margarida Lima casou com Rui Mendes de Mesquita, que foi à Índia como
capitão de uma nau.
Rui Mendes de Mesquita e D. Margarida Lima tiveram como filha Maria da
Silva Lima, que casou com António de Sousa Alcoforado e a quem sua mãe deu
como dote de casamento a Quinta da Silva, em S. Julião do Calendário, perto de
Barcelos.
A Casa dos Alcoforados
“Estou ainda em dúvida quanto ao local da Torre dos Alcoforados. Existem
documentos que falam da Torre dos Alcoforados em Frazão; outros, da Torre dos
Alcoforados, em Lordelo. O que inculca que havia duas Torres com esta
denominação.
Entretanto, por outro lado, parece que a Torre de Lordelo é que era o Solar dos
Alcoforados. E consta que o primeiro que usara o apelido Alcoforado fora Pero
Martins Alcoforado, que viveu no Reinado do Sr. D. Afonso II, entre os anos de
1210 e 1220”339
339
Carta de Manuel Vidal, arquivista da Casa da Silva, a Francisco de Sousa Alcoforado, de 5 de Outubro de 1851. Arquivo da
Casa da Silva (ACS)
A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva
397
Na origem do Morgado da Quinta da Silva, em S. Julião do Calendário, estão
duas famílias: a família Silva, a quem a Quinta pertencia e a família Alcoforado a
quem pertencia António de Sousa Alcoforado que casou com D. Maria da Silva
Lima. Vimos já a linhagem dos Silvas; vamos agora dar alguns traços do perfil dos
Alcoforados.
Como acontece com a Casa da Silva, também as origens dos Alcoforados não
são fáceis de precisar. De resto, elas devem-se situar numa fronteira histórica e
cultural muito próxima da dos Silvas.
O Conde D. Pedro faz remontar a origem dos Alcoforados a Mendo Gomes
ou Gomes Mendes, cavaleiro descendente dos reis godos, que vivia com outros
cristãos em Toledo, quando o rei D. Afonso de Castela investiu contra os
mouros em 1085.
Por testamento de 27 de Junho de 1562, D. Maria Rangel instituiu o Morgado,
Capela e Vínculo de Ferreira, com os seus foros e propriedades a ela
pertencentes. Nomeou seu primeiro administrador seu filho António de Sousa
Alcoforado.
A Francisco de Sousa Alcoforado sucedeu seu filho António de Sousa
Alcoforado, que lhe herdou a casa e a Quinta dos Alcoforados, agora vinculada
por sua mãe, que faleceu em 1569, sendo sepultada na mesma capela onde foi
sepultado o seu marido, na Sé do Porto.
António de Sousa Alcoforado foi servir para a África no tempo de D. João III
que o agraciou com a Comenda de S. Pedro de Merelim e o tomou por seu moço
fidalgo.
António de Sousa Alcoforado casou em 1556 com D. Maria da Silva Lima, filha
de Rui Mendes Mesquita, senhor do morgado de Outiz e da Quinta da Silva, em
S. Julião do Calendário, no termo de Barcelos e de sua mulher D. Margarida de
Lima da Silva, cuja linhagem entroncava nos senhores de Vagos, da Casa da Silva.
Dois filhos e António de Sousa Alcoforado morreriam na Índia: Francisco de
Sousa e Rui Mendes de Sousa.
O brasão do solar dos Alcoforados, na freguesia de Salvador de Lordelo, tem
um escudo esquartelado de prata (branco) e azul de sete peças em faixa e por
timbre uma águia azul voante armada e enxequetada da banda direita, a metade a
prata.
A Quinta da Silva, na freguesia de S. Julião do Calendário
Pinho Leal, referindo-se à vinda de D. Guterre Alderte da Silva para Portugal
e ao seu estabelecimento na Torre e Quinta do Cerdal, perto de Valença,
acrescenta que “esta família teve depois uma grande casa em S. Julião do
Calendário, próximo da vila de Barcelos, mas o seu principal solar foi nesta Torre
da Silva e no Cerdal”.340 Pinho Leal não nos diz porém, quando e por que vias, a
casa de S. Julião do Calendário entrou na posse e nos anais da Casa da Silva.
340
LEAL, Pinho Portugal Antigo e Moderno Vol. IX P. 305
398
Adélio TORRES NEIVA
D. Luís de Salasar y Castro que, através do seu livro sobre a História genealógica
da Casa da Silva, por várias vezes se refere a terras e domínios relacionados com a
Casa da Silva, sobre esta Quinta, perto de Barcelos, tem apenas duas breves
referências e mesmo aí é muito vago sobre as suas origens. Nelas dá a entender que
foi fundada pelos senhores da Casa (“tinha este nome por ser fundada pelos senhores
da Casa”) e que Aires Gomes da Silva, o Velho, possuía esta Quinta.
A alusão não é lá muito convincente: D. Pedro doou a Aires Gomes da Silva a
Quinta da Silva, mas era a de Riba Minho. A ter por verídica a afirmação de Luís
de Salasar y Castro, a Quinta da Silva, perto de Barcelos, se não remontava às
origens da Casa da Silva, pelo menos era já propriedade sua nos meados do século
XIV, que foi a época em que Aires Gomes viveu.
As propriedades da Casa da Silva estendiam-se por uma área muito vasta e por
isso nada repugna a aquisição desta Quinta pela família. Se D. Guterre Alderete
se estabeleceu sobretudo na região do Alto Minho, seu filho D. Paio Guterres da
Silva fixar-se-ia na região do Cávado, nomeadamente no circuito de Tibães e D.
Maria Mendes da Silva, filha de D. Soeiro Mendes da Silva, o “Petit” tinha
nomeadamente uma Quinta em Carapeços, que vendeu a seu filho Pero Coelho,
em 1553, conhecida pelo nome de Quinta da Madureira. As relações da Casa da
Silva com os Condes de Barcelos e outras famílias nobres de Entre Douro e
Minho, eram indicação propícia à aquisição de terras naquelas paragens.
De qualquer modo, faltam-nos elementos para uma certidão de nascimento
desta Quinta da Silva, como parte integrante do património dos Silvas.
A primeira referência precisa à Quinta da Silva aparece-nos numa nota
acrescentada ao testamento de D. Brites da Silva, mulher de Gonçalo da Silva.
Gonçalo da Silva e sua mulher viveram na primeira metade do século XVI. O
testamento de D. Brites é de 15 de Outubro de 1535, tendo então já falecido o
seu marido. Os dois viviam em Tomar, mas possuíam outras quintas, entre as
quais uma “Dentro Douro e Minho”, no termo de Barcelos, de que ela fala no
seu testamento e que devia ser a Quinta da Silva. No seu testamento, D. Brites
deixa ordenado que se vendam “todas as quintas e casais e toda outra fazenda de
raiz imóvel que se achar na hora da minha morte, entregue a quem mais der. E as
outras quintas de então e minhas depois de andarem em pregão trinta dias dêem-se
a quem mais der por elas”.341
De facto, a nota apensa ao testamento diz: “ Testamento de D. Brites, mulher
de Gonçalo da Silva que deixou a hum sobrinho seu obrigação de vender a Quinta
da Silva (com) Ruy Mendes de Mesquita por dous mil e tantos cruzados como
consta do contrato de arrematação que se fez em Barcelos”.
A Quinta da Silva foi, portanto, vendida por D. Brites, tendo-a arrematado Rui
Mendes de Mesquita, de Guimarães, que estava casado com D. Margarida da
Silva, outra descendente da linhagem dos Silvas. Quer dizer: em 1553, a Quinta
da Silva era já propriedade dos Silvas e mudando de dono, dentro da família dos
Silvas vai ficar.
341
ACs. Testamentos. Testamento de D. Brites da Silva de 15/6/1535
A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva
399
Mais tarde, D. Margarida da Silva, depois da morte do marido, doaria à sua filha
esta mesma Quinta, como dote do seu casamento com Manuel de Sousa
Alcoforado.
A freguesia da Silva chamou-se primitivamente S. Julião do Calendário, depois
S. Julião do Calendário de Neiva, S. Julião do Calendário de Tamel, mais tarde S.
Julião do Calendário da Silva e finalmente S. Julião da Silva. Nas Inquirições de
1220 tem apenas a designação de “Sancto Juliano de Calendario”, de Terra de
Neiva.
Calendário era a reunião dos sacerdotes de uma região, na sede de uma
freguesia, afim de tratar assuntos eclesiásticos. Chamava-se Calendário por, em
geral, se fazer no primeiro dia de cada mês.
A freguesia passou a chamar-se S. Julião da Silva, por influência da Quinta da
Silva, aí pela segunda década do século XVIII. Em 1711, em documento datado
de 27 de Junho, passado pelo tabelião de Barcelos, no qual António de Sousa da
Silva pede uma forma pública do testamento do seu antepassado António de
Sousa e sua mulher Maria da Silva, aparece ainda a freguesia de S. Julião do
Calendário.342
Oito anos mais tarde, no testamento do mesmo António de Sousa da Silva,
datado de 20 de Julho de 1719, aparece já S. Julião do Calendário da Silva.343 É a
primeira vez que encontrei o nome de Silva a identificar a freguesia. Mas no
codicilho desse mesmo testamento, com data de 29 de Julho de 1719, volta
aparecer a freguesia de S. Julião do Calendário de Neiva, o que revela que a
mudança do nome da freguesia, não estava ainda completamente assumida.344
Em 1724, na provisão pela qual o Cardeal D. Nuno da Cunha nomeia familiar
do Santo Ofício da Inquisição, Francisco de Sousa Alcoforado, o nome de S.
Julião da Silva, a identificar a freguesia, aparece já claramente adquirido.345
A instituição do Morgado da Quinta da Silva
D. Margarida da Silva, viúva de Rui Mendes e Mesquita, como dote de
casamento para sua filha Maria da Silva Lima com António de Sousa Alcoforado,
doou-lhe por escritura de 12 de Junho de 1556346 os seguintes haveres: quatro mil
cruzados, na Quinta da Silva; dinheiro contado, peças e vestidos. Seria a Quinta
da Silva no que valesse e 500 reis em dinheiro e 500 reis em peças e vestuário. E
se a Quinta da Silva valesse mais de 3 mil cruzados, o excedente se abateria no
dinheiro contado e nas peças. Se valesse menos, se comporia diferença nas peças
e dinheiro, soldo à livra.
Entrava também no dote uma tença de 20 reis que a dotadora recebia de el-rei;
e para o poder dotar, obteve ela a provisão de graça de Sua Alteza.
342
Ibid. Pedido de António de Sousa da Silva de 17/5/1711
ACs. Testamentos. Testamento de António de Sousa da Silva
Ibid. Aprovação do testamento de António de Sousa
345
ACs. Provisão do Cardeal D. Nuno da Cunha de 1724
346
Ibid. escritura de dote de D. Margarida da Silva de 12 de Julho de 1556
343
344
400
Adélio TORRES NEIVA
Como condição do dote, impunha D. Margarida da Silva à dotada e seu marido,
a obrigação de instituírem Morgado. As arras prometidas foram de 500 reis. Na
escritura do dote vinha ainda disposto o que se deveria fazer em caso de
separação de matrimónio ou da falta de filhos.
Estipulava-se que enquanto a dotadora não satisfizesse integralmente o dote,
daria à dotada 20 reis anuais e para cumprimento desta obrigação ficava como
fiador Fernão de Mesquita, filho da dotadora e irmão da dotada.
A escritura foi celebrada em Guimarães. De notar, que não deixa de ser um
pouco estranho que num acto tão solene como este, António de Sousa não tenha
assinado com o seu apelido Alcoforado, mas simplesmente com o de Sousa.
Em obediência a esta imposição de D. Margarida da Silva, António de Sousa
Alcoforado e sua mulher, instituíram, pelo seu testamento de 1 de Janeiro de
1572347, o Morgado da Silva. A aprovação deste testamento é de 2 de Outubro
de 1572.
Determinavam os testadores que, falecendo qualquer deles, seria seu corpo
sepultado na igreja da freguesia onde falecesse e que depois as ossadas seriam
trasladadas para onde ordenasse a parte sobrevivente, de modo que quando o
outro morresse, ambos ficassem enterrados na mesma sepultura.
Declaravam neste testamento que, a quando do contrato do seu casamento, D.
Margarida da Silva, sua mãe e sogra, estabelecera como condição de contrato que
a legítima que sua filha Maria herdara por morte de seu pai, Rui Mendes
Mesquita, assim como o restante dote, que ela D. Margarida lhe fizesse, seria
vinculado em Morgado. Instituíam portanto, Morgado em toda a Quinta da Silva
e suas pertenças e nos mil cruzados que também entraram na legítima, para que
este dinheiro fosse empregado na compra de fazendas, as mais próximas da
mesma Quinta. E anexavam ao dito Morgado as suas terças de alma e todos os
mais bens de raíz que possuíam ou viessem a possuir e que directamente
pudessem vir a ser vinculados.
Neste testamento ficava também regulada a ordem de sucessão. Impunham aos
sucessores a obrigação de usarem os apelidos Sousa e Silva, nunca antepondo o
apelido de Silva ao de Sousa, sob pena de perderem o Morgado. E se acontecesse
que algum sucessor viesse a herdar outro Morgado que tivesse como condição
ser perdido no caso do sucessor não usar determinado apelido antes dos apelidos
Sousa e Silva, neste caso especial poderia o mesmo sucessor adoptar em primeiro
lugar o novo apelido antes de Sousa e Silva, para não perder tal Morgado, com a
condição, porém de, logo depois do novo apelido, usarem o Sousa e Silva.
O testamento previa ainda a hipótese de a geração se vir a extinguir: neste caso,
o Morgado deveria ser dividido em duas partes iguais, ficando a pertencer cada
meia parte ao parente mais chegado que houvesse dos pais deles testadores.
Fundavam também o legado de duas missas semanais: uma, todas as sextasfeiras em memória das Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo; a outra, Sábado,
em honra de Nossa Senhora. Estas missas deveriam ser celebradas, sendo
347
Ibid. Testamento de António de Sousa Alcoforado e sua mulher D. Maria da Silva de 1/1/1572
A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva
401
possível, na igreja em que seus corpos estivessem sepultados ou onde viessem a
repousar os dos seus descendentes.
Determinava-se ainda neste testamento que se fizesse tombo de todas as
propriedades do Morgado, afim de se não perderem; proibiam os testadores que
se emprazasse o assento da Quinta da Silva, assim cercado como estava.
Recomendavam, além disso, que se não emprazassem também os campos do
cavaleiro e do Sobrado, por serem necessários a quem estivesse na dita Quinta.
Proibiam ainda a renovação do prazo da Quinta da Eira Vedra, sob pena de
nulidade.
Quanto aos demais bens do Morgado, determinavam que se poderiam apenas
fazer prazos de vidas, mas não perpétuos.
O testamento ordenava ainda algumas providências em benefício da filha dos
testadores, Margarida, e determinava que o filho sucessor no Morgado vinculasse
a legítima livre, que viesse a tocar-lhe. Impunham aos sucessores a obrigação de
anexarem ao Morgado a metade das suas terças até que o mesmo Morgado viesse
a render 500 reis.
O testamento terminava dizendo que foi escrito pela própria mão dos
testadores e que a testadora não assinara por impossibilidade de doença, pedindo
a alguém que assinasse em seu nome.
Este testamento foi feito em Guimarães, onde no momento os testadores
residiam, vindo ser lançado nas notas do tabelião de Barcelos, Francisco
Fernandes Pruão, no ano de 1714, sendo juiz de fora Manuel dos Reis Maciel.
Sabemos que foi tresladado no Cartório dos Religiosos Capuchos da
Franqueira, em cujo convento os testadores foram sepultados. O documento
original conserva-se no Arquivo da Casa da Silva, mas está em muito mau estado
de conservação. Algumas partes do documento são de leitura muito difícil, pois
que o papel era fraco e por vezes a tinta passou de uma parte da folha para a outra
e aqui e ali, faltam já pequenos pedaços de papel. Uma segunda cópia do
testamento existente no Arquivo da Casa da Silva permite completar as falhas do
primeiro.
Este testamento tem apenso o documento da sua aprovação, datado de 2 de
Outubro de 1573, em Guimarães, onde os dois testadores ao tempo residiam. Só
algum tempo mais tarde, é que passaram a residir na Quinta da Silva.348
Depois da morte de D. Maria da Silva, António de Sousa faria um segundo
testamento e codicilho datado de 12 de Maio de 1589, em que depois de se referir
ao testamento já feito por ele e por sua mulher e de aprovar tudo o que aí ficou
decidido, institui de sua Terça um novo Morgado em favor de seu filho João de
Sousa, determinando que, no caso deste falecer sem descendência, passaria este
novo Morgado para seu filho-neto, filho de outro seu filho, Rui Mendes de
Sousa, falecido na Índia. Na falta deste, passaria ao filho segundo de D.
Margarida, filha dele testador, já falecida e não ao primogénito dela, que ficara
sucessor dos Morgados de seu pai António Pamplona. António de Sousa
348
Ibid. Aprovação do testamento de António de Sousa da Silva
402
Adélio TORRES NEIVA
sublinhava ainda que este novo Morgado que instituía de sua Terça, de nenhum
modo deveria passar para seu filho primogénito, Fernão Martins de Sousa.349
No Arquivo da Casa da Silva conserva-se um parecer negativo do Dr. António
Homem sobre a legitimidade deste segundo testamento, que, de qualquer modo,
não põe em questão a instituição do Morgado da Silva.350
Na “Cronica da Santa Província de Nossa Senhora da Soledade da Observância
do Seráfico Padre S. Francisco”, publicada em 1762 por Frei Francisco de Santiago,
Barcelense, da Província da Conceição de Portugal e Cronista da Soledade, quando
trata do convento do Bom Jesus do Monte da Franqueira, diz o seguinte:
“No claustro do convento está a capela do Capítulo de que é padroeira a
nobilíssima Casa da Silva, sita na freguesia de S. Julião no Vale do Tamel, da outra
parte da vila de Barcelos. Nesta capela se vêm no tecto esculpidas as armas daquela
ilustríssima Casa e um carneiro (sic) onde se sepultam os Senhores dela, com o
letreiro seguinte, na tampa dele: “Aqui jaz António de Sousa e sua mulher D. Maria
da Silva que faleceo no ano de 1573”.Estes dois casados foram os instituidores do
Morgado e Casa dos Silvas, segundo consta do seu testamento e instituição que se
acha no Arquivo do Convento que foi feito e instituído no mesmo ano de 1573,
sendo eles moradores na vila de Guimarães e sendo duque da mesma vila o
Condestável do Reino o Infante D. Duarte; filho do felicíssimo rei D. Manuel. O
letreiro sobredito está alguma coisa confuso por falar no singular, mas é certo que
ambos os consortes foram ali sepultados: ele se chamava António de Sousa
Alcoforado e ela D. Maria da Silva e Lima; e era fidalgo da Casa Real e
Comendador de S. Pedro de Merelim da Ordem de Cristo, e ela, era senhora
nobilíssima, filha de Fernando de Mesquita, senhor do Morgado de Outre, que foi
um dos mais valorosos portugueses que em serviço do Reino ostentou o seu esforço,
bisneta de Leonel de Lima, primeiro visconde de Vila Nova de Cerveira e Quarta
neta de D. Teresa Pereira, irmã inteira do grande condestável D. Nuno Alvares
Pereira”.
E depois de falar dos antepassados e descendentes de António de Sousa
Alcoforado, Frei Francisco de Santiago, explica-nos as origens do padroado da
dita capela:
“O padroado da dita capela e jazigo foi dado no Capítulo Provincial que se
celebrou no Convento de Santo António de Évora, no primeiro de Janeiro de 1590,
por patente do novo Ministro Provincial Frei João de Évora, assinado por toda a
Mesa da Definição e passada em 5 de Outubro do mesmo mês e ano ao sobredito
António de Sousa Alcoforado, instituidor do Morgado da Silva, de cuja geração era
D. Henrique de Sousa, último Comendatário do Beneditino Mosteiro de Rendufe,
que no ano de 1563, nos tinha mudado o convento para onde hoje está”.351
349
350
351
Ibid. Segundo testamento de António de Sousa da Silva de 12/5/1589
Ibid. Consulta e parecer sobre o 2º testamento e codicilho de António de Sousa da Silva
SANTIAGO, D. Frei Francisco de, Chronica da santa provincia de Nossa Senhora da Soledad da Observancia do Serafico P.
S. Francisco, Livro IV Cap. VI p. 302. Sobre este convento do Bom Jesus do Monte da Franqueira ler: António de Sousa
Araújo, A Provincia Franciscana da Soledad. Notícia sobre o Convento da Franqueira In Itinerarium Ano XXVIII nº 112113 Jan-Ag 1962 p. 75-121
A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva
403
A fundação da Capela de S. Bento em 1589
No último testamento de António de Sousa Silva de 12 de Maio de 1589,
podemos ler:
“E se em minha vida não fiz hua ermida na Quinta da Sillva farcea honde a tenho
marquada he sera da invocação de São bento com saom Guoncallo de hua parte he
saom Bras de houtra e a virgem sagrada em sima he sera bem acabada com seus
ornamentos”.
Diz António de Sousa, Comendador de São Pedro de Merlim e hora morador na
sua Quinta da Silva junto da Villa de Barcellos q elle mandou fazer dentro do
circuito da dita Quinta hua Irmida de Invocação do glorioso São Bento a qual tem
sua vestimenta calix e os mais ornamentos necessários e para se fabricar pello tempo
em diante lhe fez doação de hum casal que rende quarenta e quatro alqueires de pão
meado e hum carneiro como consta dos Instrumentos de compra e doação q
apresenta pello q Pede a V.Ill.ma lhe de licença paar se dizer missa na dita Ermida
e Receber a Justiça e merce”.352
Este pedido dirigido ao Arcebispo de Braga, não está datado, mas no mesmo
documento se encontra uma nota
que diz: “ Ao nosso provisor a 23 de
Março de 91”. Trata-se evidentemente de 1591. Uma segunda nota
apensa ao texto ordena para que se
“traga do cura que jure como esta a
hermida decentemente ornada para
nela se poder celebrar. P. Freitas”.
Daqui se infere, portanto, que em
1591, a capela estava já construída e
que só faltava a autorização do
Prelado da diocese para nela se
poder celebrar missa. A data exacta
Capela de S. Bento
da construção da capela é-nos
fornecida por uma inscrição da época, na própria fachada da capela que diz:
“António de Sousa Alcoforado. 1589”.
Para a fábrica da capela, ou seja, para a sua manutenção e para as despesas de
culto, António de Sousa “hipotecava, dava e doava hum casal que tinha na
freguesia de Lijó, que era dízimo a Deus e que tivera por título de renda do dr.
Gonçalo Fernandes, morador em Barcelos, o qual casal tinha de renda quarenta e
quatro alqueires de pão meado e um carneiro, por ano”. Este casal tinha-o ele
comprado a 9 de Abril de 1585 a Fernando Gonçalo Fernandes, procurador de
sua mulher, D. Catarina Pinheiro, que era sua proprietária, por 85.000 reis.
Este casal estava agora a cargo de Bernardo Marques e de um cunhado dele, de
Lijó. O que restasse das 44 rasas e do carneiro, reverteria em favor do “herdeiro
352
ACS, Pasta dos Documentos sobre a Capela de S. Bento
404
Adélio TORRES NEIVA
que o herdar”, o qual era obrigado a fabricar a capela de tudo o que ela tivesse
necessidade”.354
Neste documento datado de 20 de Dezembro de 1590, se diz que já então
António de Sousa “tinha na dita sua Quinta da Silva mandado fazer hua jrmida
da envocação do bem aventurado São bento dentro no circuito della. E pegado com
as casas da dita Quinta a qual tinha ordenado de mandar fabricar e ornamentar de
todo o necessário pera o culto devino e dizerem missa nella”.
A 16 de Julho do ano seguinte, 1591, comparecia o tabelião em Lijó, para dar
posse do dito casal e suas pertenças a Gonçalo Afonso, vigário da freguesia de S.
Julião do Calendário, onde se situava a nova capela, a quem era dado o casal.
Por ordem do Arcebispo Primaz se procedeu às diligências do estilo para
averiguar se a ermida estava convenientemente construída e ordenada com a
“decência” exigida para nela se poder celebrar. A informação do vigário de S.
Julião do Calendário é de 25 de Junho de 1591 e permite-nos fazer uma ideia do
que era então a capela:
“Certifico eu Gouoncallo Afonso vigair.º De Sam Giam de Callendairo De
Neiva do termo da Villa de Barcellos que he verdade que nesta Tera Vive o senhor
Antonio de Sousa alcoforado em a sua quintam da Silva, her verdade que elle tem
feita hua hermyda junto a dita quintam agora de novo da qual hermyda esta
acabada em (sic) bem feita e forrada por Dentro com suas portas E tem seu
campanairo E hum sino muito bom E asi mais tem hum altar forrado e por ora não
tem ajnda pinturas somente tem hum retabuolo de mam pequeno Da imagem de
nosso Senhor he esta toda cajada por dentro E muito bem telhada E precintada De
três en três (cales?) / E asi mais tem hum calix De prata dourado, co sua mesa de
corporais E sanguinho já bentos. E asi hua com pintura nova de cores vermelhas com
veludos verdes. / E asi hua alva pano de linho E hum cordom com hua estola E
manipolo/ o qual não he bento. / E asi tem suas galhetas/ E asi mais tem suas toalhas
francesas E seus castiçais/ E somente falta hua pedra dara para dizer misa nella/ E
declaro que esta hermyda esta junto a dita quintam dentro em hum sarrado E pumar
da dita quintam mui.to conjunto as casas. E porque tudo isso posa na verdade dou
minha fee. E juro pellas ordens que tenho conforme o mandato do Senhor Nosso
Vispo E que tudo pasa verdade E assinei aqui o meu sinal raso Oie vinte e sinquo
dias do mês de junho de mil e quinhentos E noventa e hum annos. /E asi tem mais
hum misal no Rito Romano ut supra. P. e Guonçaloo Afonso”.355
Em Outubro desse mesmo ano, o Pároco faz novo certificado, declarando que
tinha tomado posse do casal doado à capela e que esta possuía já a pedra de ara
que lhe faltava.356
Diante dos elementos fornecidos, o Provisor da diocese P. Freitas, achou o
dote suficiente para a conservação da ermida e assim reunidas todas as condições
para ser passada licença para nela se poder celebrar missa. Esta foi finalmente
concedida por provisão do Arcebispo de Braga, D. Frei Agostinho de Jesus, aos
354
355
356
Ibid. 20/12/1590
Ibid.
Ibid.
A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva
405
3 de Janeiro de 1592:
“dom Frey Agostinho de Jesus por mercê de Ds e da Santa see ApP. ca Arceb.po e
se.nnor de Braga primas das espanhas, etc. pella presente damos licença que se posa
dizer misa na Irmida que ora de novo fiz na quinta da Sylva António de Sousa
comendador de São Pedro de merelim que he da invocação do glorioso Sam Bento
e isto por nos constar star decentemente ornada e fabricada dada em adita nosa
cidade de Braga sob nosso sello e sinal do muyto R.do doutro Estácio Leitão
Pinheiro de Janeiro de mil e quinhentos noventa e dous annos. Galhan Lopes
Proença escrivão da camara a sobscreveu. Estacio Leitão Pinheiro. Sebastiam
Gill.357
Esta pequena capela de S. Bento é a única relíquia que nos resta das construções
do primitivo solar da Quinta da Silva. Por dentro tem um rico altar em talha
renascença; o tecto é de madeira.
A sua fachada renascença é encimada por uma sineira, por baixo da qual ostenta
um brasão de armas, com a data de 1636. O material deste escudo é de granito.
Em 1636 era senhor da Casa da Silva Francisco de Sousa da Silva Alcoforado,
neto do fundador do Morgado António de Sousa da Silva.
O escudo das armas é de composição esquartelada; a classificação é de heráldica de
família. A leitura é a seguinte: I e IV é dos Sousas de Arronches; o II e III é dos Silvas.
Mas a ordem dos quartéis está alterada: no I e no IV uma caderna de crescentes; no
II e III, cinco escudetes que deviam estar postos em cruz (sem os besantes). Sem a
bordadura com os castelos e sem o filete em contrabanda, no II e III.
O II e III (Silva) é um leão. O timbre é Silva (um leão na pedra de armas
passante).
Sobre a porta há uma inscrição que diz: ANT.º de (geminado) SOVSA (O V
incluso no O) ALCOFORADO (o O incluso no C e o O incluso no D).(Osório
da Nóbrega. Pedras de armas e Armas Tumulares no Distrito de Braga. Vol.V
Cidade de Barcelos e freguesias rurais do seu concelho. Tit. 21. Pg. 180)
A capela não foi construída para ser jazigo de família; António de Sousa tinha
a sua capela tumular no convento do Bom Jesus da Franqueira: seria aí que ele e
sua esposa seriam sepultados.
Mas no pavimento da capela encontra-se uma sepultura rasa, em cuja tampa de
granito se lê: FRANCISCO DE SOUSA DA SILVA ALCOFORADO DE
LANCASTRE. NASCEU A 27 DE FEVEREIRO DE 1797 E FALECEU A 12
DE MAIO DE 1870.
Sabemos, de facto, pelo seu testamento, que este senhor da Silva, marido de D.
Henriqueta da Silva Alcoforado d´Almada e Lencastre, últimos morgados da
Silva, escolheu esta capelinha de S. Bento para seu túmulo.
Os Morgados da Silva
Segundo o exigia a instituição do Morgado da Silva, António de Sousa
357
Ibid.
406
Adélio TORRES NEIVA
Alcoforado e seus sucessores, deixaram de usar o apelido Alcoforado para tomar
o de Silva, a seguir ao de Sousa. Em 1719, porém, o apelido Alcoforado aparecerá
de novo, a seguir ao de Silva, retomado por Francisco de Sousa Alcoforado, filho
de António de Sousa da Silva. E a partir daí, outros apelidos viriam também a
figurar nos nomes dos senhores da Silva.
A António de Sousa Alcoforado, instituidor do Morgado da Silva, sucedeu seu
filho Francisco de Sousa, que faleceria na Índia, sem ter chegado a casar e,
portanto, sem descendência que assumisse a sucessão. Rui Mendes de Sousa, seu
irmão, que o viria substituir no comando dos destinos da Casa da Silva,
naufragou na viagem de regresso, também da Índia.
A sucessão vai prosseguir com outro filho de António de Sousa Alcoforado,
Fernão Martins de Sousa, que serviu também na Índia muitos anos, chegando a
ser capitão de armada e capitão-mor de Chaul, tendo recebido até a comenda de
S. Pedro de Merelim, na forma em que a possuíam os seus antepassados. Casou
com D. Antónia de Sousa, sua prima, filha de António de Sousa Alcoforado e D.
Isabel Madureira.
D. Maria Henriqueta de Sousa da Silva Alcoforado d´Almada e Lencastre a
última Morgado da Silva, a herdeira de seu pai, casou com o seu primo Francisco
de Sousa da Silva Alcoforado de Lencastre Araújo Eça. Ao património da Casa
da Silva pertencia também a Quinta chamada do Assento, no lugar da Igreja.
Como a Quinta da Madureira, também a Quinta do Assento era de directa
senhoria da capela de nossa Senhora da Glória, fundada por D. Gonçalo Pereira,
na Sé de Braga. Estava ela emprazada a D. Henriqueta, prazo que viria a passar
para seu filho D. Francisco.358
Em 1861 inicia Francisco de Sousa da Silva Alcoforado de Lencastre Araújo e
Eça e sua mulher, um processo pedindo a desvinculação do Morgado da Silva,
por falta de rendimento legal, segundo o artigo 38 da Lei de 30 de Julho de 1860.
Por sentença de 12 de Julho de 1862, o vínculo do Morgado da Silva era anulado,
sendo assim D. Henriqueta a última morgada.
Francisco de Sousa da Silva Alcoforado de Lencastre, no seu testamento de 12
de Outubro de 1861 determina que o seu corpo seja sepultado na capela da Casa
da Silva, desejo que foi executado depois da sua morte, acontecida a 12 de Maio
de 1870.359 É o único dos senhores da Silva que repousa na capelinha de S. Bento
D. Francisco e sua mulher tiveram dez filhos. À hora da sua morte, D.
Henriqueta tinha apenas três filhos: D. Maria Margarida Isabel de Sousa,
Gonçalo de Sousa da Silva Alcoforado, D. Maria Antónia de Sousa Alcoforado;
os outros tinham falecido. Por escritura de 25 de Abril de 1887, D. Henriqueta
doara às suas duas filhas Maria Francisca e Maria Antónia, reservando o usufruto,
valiosos e vários prédios e domínios de prazo; entre eles a sua casa nobre e
Quinta da Silva, com todas as suas pertenças.
D. Maria Henriqueta, faleceu a 11 de Junho de 1887.
D. Maria Antónia de Sousa Alcoforado casou com Sebastião do Sacramento
358
359
Ibid. Contrato de arrendamento entre Domingos da Costa Villas Boas e sua mulher D. Maria Henriqueta da Silva Alcoforado
Ibid. Testamentos, testamento de francisco da Silva Alcofoardo de 12/10/1861
A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva
407
Leme Guedes Vieira de Macedo, moço fidalgo com exercício no Paço, senhor da
Casa do Ribeiro em Marco de Canaveses ou Morgado de Vale do Couto em
Mesão Frio. O casamento de D. Antónia realizou-se na Casa da Silva a 10 de
Fevereiro de 1862. O pai do noivo doou-lhe e nomeou-lhe “todos os seus bens de
raiz de vínculo, prazo e quaisquer outros e seus terços” e os pais da noiva doaram a
esta, os terços do pai e o meio terço da mãe e uma Quinta. Mais tarde, pretensos
herdeiros levantariam um processo de anulação de casamento, por suposta
incapacidade do noivo.
Por escritura de 21 de Setembro de 1908, D. Maria Francisca de Sousa
Alcoforado comprou a Emídio do Vale Leite de Carvalho a Quinta da Pena
Longa, em Santa Leocádia de Tamel, constituída por “ uma morada de casas torres
com seus cómodos, cozinha, sala, varanda, corte, coberto, eira de casco, espigueiro,
lagar e junto terreno de lavradio e de mato, com árvores avidadas e de fruta,
oliveiras, pinheiros e carvalhos, tudo aos socalcos e com água de lima e de rega,
vedada por muros”, o campo de Leirós, a Coutada das Matas, o Souto, junto do
Moinho do Meio, dois pedaços de mato, duas Tomadias, a bouça do Parrido, duas
boucinhas e um eirado, além de uma série de foros e laudemios, por cinco contos de
reis, sendo quatro pelos prédios e um pelos foros”.360
O marido de D. Antónia faleceu a 11 de Novembro de 1912, não tendo
deixado filhos e legando por testamento de 7 de Janeiro de 1894 toda a sua
herança à sua mulher.
A 16 de Agosto de 1920 falecia D. Francisca, então também já viúva e sem
filhos. No seu testamento, feito na Casa da Silva, a 6 de Junho de 1920, instituiu
por sua universal herdeira a sua irmã D. Antónia, com algumas obrigações. Aí se
fala de uma sobrinha ainda viva, Maria das Neves de Sousa Alcoforado, a quem
D. Francisca deixa quatro mil escudos; à sua criada Laurinda Alves da Costa
deixa o usufruto da casa que possuía junto à igreja, na freguesia da Silva; à criada
Florinda Teixeira deixa o usufruto do eirado, que tinha junto do rio; ao seu
compadre Sebastião Pereira Brito deixa a Quinta de Santa Maria do Abade; etc.
A Casa da Silva, por força deste testamento, passou assim para a única e última
sobrevivente da família, D. Maria Antónia de Sousa da Silva Alcoforado; além
dela, restava apenas a sobrinha Maria das Neves de Sousa da Silva Alcoforado,
única filha de Gonçalo de Sousa da Silva Alcoforado.
Por testamento de 08 de Agosto de 1924, D. Antónia institui por seu universal
herdeiro o então provincial da Congregação do Espírito Santo, o P. Moisés Alves
de Pinho (ACs. Testamento de D. Maria Antónia de Sousa da Silva Alcoforado de
8 de Agosto de 1924). Em testamento anterior elaborado a 01 de Julho de 1922,
D. Maria Antónia, explica a finalidade desta deixa: “ Perpetuar a memória dos
senhores da Casa da Silva, servindo-se deste solar para a formação de missionários,
clérigos ou leigos, ou de sacerdotes que se destinam a outros ministérios mais
humildes e penosos, nunca desviando-o do fim que tenho em vista que é a honra e a
glória de Deus e a salvação das almas”.361
360
361
Ibid. Venda e quitação de 21/9/1908
Ibid. Testamentos de D. Maria Antónia da Silva Alcoforado de 1/7/1922
408
Adélio TORRES NEIVA
Brasões dos Morgados da Silva
Encontram-se na Casa da Silva três pedras de armas, que foram recolhidas do
antigo solar, com brasões diferentes; uma, no frontespício da capela de S. Bento,
datada de 1636, com quartéis dos Sousas de Arronches e dos Silvas, que deve ter
pertencido a Francisco de Sousa da Silva Alcoforado, que foi senhor da Silva nessa
data e que era neto do fundador do Morgado, António de Sousa Alcoforado. À
leitura deste brasão se fez já referência ao falar da capela de S. Bento.
Um outro escudo de armas, que antigamente se encontrava no muro da entrada
e que depois da demolição do solar em 1961, passou para o parque de acesso à
nova casa, é do século XVIII e tem quartéis dos Alcoforados, dos Sousas de
Arronches e dos Silvas.
O material das armas é de granito e a classificação é de heráldica de família. É
escudo francês, assente numa cartela decorativa. Coronel de nobreza. A
composição do escudo é esquartelada.
A leitura deste brasão é a seguinte: I. Alcoforado (assim: xadrezado de sete
peças em faixa e sete em pala. Os armoriais em Alcoforado não são concordes
quanto ao número de peças de axadrezado: 6 em faixa e 7 em pala; 7 em faixa,
não se indicando quantos em pala. II e III – Sousa de Arronches (com a ordem
dos quartéis alterada; esquartelado, tendo no I e no IV uma caderna de crescentes
e no II e III cinco escudetes postos em cruz (sem os besantes), sem a bordadura
com os castelos e sem o filete em contrabanda, no II e no III. IV – Silva – um
leão.362 O timbre é alcoforado: uma águia com o peito axadrezado.
Um terceiro brasão, que se encontrava outrora no fontenário do jardim da
entrada e que, com a demolição do solar passou também para o parque da
entrada, remonta também ao século XVIII e tem as armas dos Araujos e dos
Eças, família a que pertencia Francisco de Sousa da Silva Alcoforado de Lencastre
Araújo e Eça. Este Francisco é o mesmo que está sepultado na capela do solar e
que foi o último morgado da Silva.
Trata-se de um escudo também de heráldica de família, de granito como os
outros dois. Está assente numa cartela decorativa; a composição é esquartelada.
A leitura é a seguinte: I e IV – Araújo (aspa carregada de cinco besantes e as
armas dos Araújos (no I e no IV) estão reunidas com as dos Eças); II e III – Eça,
cinco escudetes postos em cruz, os dos flancos apontados ao do centro, cada
escudete carregado de nove basantes, 3,3 e 3 e um cordão de S. Francisco, com
seus nós, passado em aspa e posto em orla, brocante sobre os escudetes, salvo o
do centro.363
Os Tombos das propriedades da Casa da Silva
No seu testamento de 1573, em que António de Sousa e sua mulher D. Maria
da Silva instituíam o Morgado da Quinta da Silva, uma das ordens dos
362
363
NÓBREGA, Vaz Osório. Pedras e armas tumulares do Distrito de Braga Vol. I. Titulo 22 p. 182
Ibid, Titi, 23 p. 185
A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva
409
fundadores era que se fizesse “tombo de todas as erdades deste Morgado para que
a todo o sempre se saiba quais são e se não percão”.364 Creio que este tombo pedido
por António de Sousa não foi levado a cabo, pelo menos não consta no Arquivo
da Casa da Silva, a não ser em 1653, pelo herdeiro da Casa nesta data, Fernão de
Sousa da Silva. Deve ser este o primeiro tombo das propriedades do Morgado da
Silva; só nesta altura, portanto, é que temos um elenco exaustivo dos teres e
haveres deste Morgado, que eram realmente avantajados. O pedido de provisão
deste tombo foi feito por Fernando de Sousa da Silva ao rei D. Pedro a 3 de
Dezembro de 1652365 e a provisão do rei foi passada a 7 de Janeiro de 1653.366
Segundo este tombo o Morgado da Silva possuía, além da Quinta da Silva,
numerosas outras propriedades na freguesia de S. Julião, hoje Silva, em Vila
Cova, Vila Chã, a Quinta da Ferreira dos Alcoforados em S. Salvador de Lordelo,
em Carapeços, Freixomil, S. Salvador do Campo, S. Fins de Tamel, Guinzo, S.
Pedro de Alvito, Santa Maria de Abade, S. Martinho de Vila Frescainha, Vilar do
Monte, S. João de Vila Boa, Santa Leocádia de Tamel, Perelhal, Mondim, Panque,
S. Mamede de Marrancos, Galegos, Fonte Boa, Roriz, S. Jorge de Airó, Alheiras,
S. Mamede de Escaris, Lijó, Cervães, S. Bartolomeu do Mar, Belinho, Marinhas
e Vagos.367 Só na freguesia de S. Julião do Calendário as herdades emprazadas
eram 160, distribuídas por 14 caseiros ou colonos; nelas se incluíam cinco casais
com suas cercas e eirados. As rendas que o Morgado da Silva recebia subiam a
304 rasas ou alqueires entre pão meado, terçado, milho e centeio bem como
galinhas, molhos de palha painça, manteiga, etc.368
Um segundo tombo, foi o de Francisco de Sousa da Silva, de 1 de Janeiro de
1685, de que existe também uma cópia no Arquivo da Silva, mas com algumas
imprecisões e que não deve estar completo. Contém as propriedades da Casa da
Silva nas freguesias de Santa Maria de Abade, S. Julião do Calendário, Lijó, S.
Fins, Santa Maria de Anães, Calvelo, Carapeços, S. Tiago do Couto, S. Salvador
do Campo, Roriz, Igreja Nova, S. Mamede de Escariz, Arcozelo de Albergaria,
S. Mamede de Marrancos e Santa Marinha de Forjães.
O terceiro tombo é de Francisco de Sousa da Silva Alcoforado que em 1721
pedia ao rei D. João alvará para fazer um novo tombo devido a “muitas
propriedades se irem perdendo por não terem tombo há muitos anos e de, por falta
de demarcações muitas se acharem alheadas e usurpadas em várias partes e pessoas,
com quem demarcam e confrontam e em breve tempo padeceriam grandes
detrimentos”.369 A provisão do rei é de 13 de Fevereiro de 1721.370
Este tombo é formado por dois grossos volumes, o primeiro dos quais contém
407 folhas e o segundo 346. No primeiro volume estão tombadas além das
“terras que andam pela Caza e Quinta da Silva”, que portanto, não estavam
emprazadas, os rendeiros das freguesias de S. Julião da Silva, Carapeços, Lijó,
364
Ibid. Testamento de António de Sousa Alacoforado e sua mulher D. Maria da Silva
Ibid. Tombo do Morgado da Quinta da Silva Fls. 1
Ibid. Fl 1 –IV
367
Ibid.
368
Ibid. Ls 39-52
369
Ibid. Tombo de todos os foros e propriedades pertencentes à Casa e Morgado da Silva I Vol. fls. 2
370
Ibid. Fls. I-IV
365
366
410
Adélio TORRES NEIVA
Santa Maria de Abade, Santa Leocádia, S. Fins de Tamel, S. Salvador do Campo,
Roriz e várias outras terras em Vilar do Monte, S. Tiago do Couto, S. Pedro
Alvito, Quirás, Santa Maria de Galegos e Vila Boa.
O segundo volume371 tomba os caseiros das Marinhas, Belinho, Fonte Boa,
Creixomil, Vila Chã, Alheira, Vila Cova, Perelhal, Parada de Gatim, Mingo,
Igreja Nova, e outras localidades como Barcelos, Escaris, Cervães, Freiris,
Forjães, Palme, Mondim, Panque, Barca do Lago.
Se fizermos uma leitura comparativa entre o Tombo Velho (o de 1653) e o
Novo (o de 1721) podemos destacar algumas linhas evolutivas.
A primeira constatação é a mudança do nome da freguesia de S. Julião.
Enquanto no tomo de 1653, ela aparece com o nome de S. Julião do Calendário,
S. Julião do Calendário de Neiva ou S. Julião de Neiva, agora aparece com o
nome de S. Julião da Silva. A mudança de nome deve portanto ter-se efectuado
no espaço de tempo que medeia entre os dois tombos.
Um segundo elemento emergente desta leitura é a ausência do morgado dos
Alcoforados em S. Salvador de Lordelo no tombo de 1721, enquanto no de 1653
a descrição dos seus bens é minuciosamente referida. O mesmo acontece com as
marinhas de Vagos que deixaram de constar no tombo de 1721.
O Tombo de 1721 é indiscutivelmente mais cuidado e todos os títulos mais
perfeitos que o seu anterior. Eu diria que é uma obra prima de documentação
arquivística. É um livro de extraordinário valor histórico, sobretudo pela sua
forma jurídica.
Em geral, as freguesias constantes do primeiro tombo estão também presentes no
segundo. Há algumas pequenas diferenças: por exemplo, Belinho desaparece no
segundo tombo, enquanto Forjães e Palme não constam do primeiro. A constatação
geral é de que a tendência do Morgado da Silva era para se consolidar e até aumentar
tanto no que se refere a caseiros e bens, como ao rendimento das pensões.
Há ainda o “Rol das medidas, foros e pensões da Casa da Silva, Madureira e
Assento” de 1817372 que nos dá uma ideia dos rendimentos destas quintas. A soma
total destas três quintas perfazia 5.529 medidas de pão (milho alvo, meado, milho
grosso, cevada e centeio), 70 rasas de trigo, 2.366,5 copas de palha, 181,5
galinhas, 25 frangos, 31 quartilhos de manteiga, 30 arráteis de marrão, 2 carneiros
e três quartos, 6 quartilhos de mostarda, 2 colmeiros e 57.632 reis em dinheiro.
As terras da beira-mar pagavam sobretudo em trigo e cevada, enquanto as do
interior o faziam em milho e centeio.
A Casa da Silva possuía celeiros para recolher estas pensões na Silva, na
Madureira e no Porto.
O regulamento destes três celeiros era o seguinte:373
1º O celeiro da Casa da Silva está aberto às segundas, terças e quartas-feiras de
cada semana, desde as 8 da manhã até às duas da tarde;
371
372
373
Ibid. Tombo do segundo volume dos bens e propriedades pertencentes à casa e morgado da Silva
Ibid. Rol exacto de todas as medidas, foros, pensoens, que se pagam à casa da Silva, Madureira e Assento
Ibid. regulamento dos celeiros da Casa da Silva, Madureira e Assento
A Casa da Silva, berço do Seminário da Silva
411
2º O celeiro da Madureira está aberto às sextas-feiras, desde as 9 da manhã até
à uma da tarde;
3º Os caseiros que deverem atrasados, não poderão medir a pensão sem
primeiro liquidar as atrasadas;
4º As pensões recebem-se por inteiro conforme determinam os prazos ou o
livro do recibo e nunca divididas – e por isso, a pessoa encarregada do recibo,
deve perguntar se traz toda a pensão e se paga algum género a dinheiro; neste
caso, recebe-se primeiro o dinheiro e depois mede-se o resto da pensão;
5º Não se guardam pensões dos caseiros nos celeiros, dizendo que volta no
outro dia pagar e fazer contas; o encarregado do recibo deve ter em conta esta
observação a cumprir fielmente, porque depois o caseiro não volta e fica a pensão
por medir e o caseiro pode alegar que lhe tiraram algum género do saco, como já
aconteceu.
6º Se algum caseiro quiser pagar a sua pensão em dinheiro ou toda ou parte,
pagará por uma tabela que estará patente nos celeiros dos géneros. Os preços são
iguais para todos e podem variar conforme o senhorio o determinar.
413
Capítulo 42
No Solar da Silva, nasce o Seminário das Missões
O
último testamento de D. Maria Antónia de Sousa da Silva
Alcoforado, de 8 de Agosto de 1924, em que nomeia seu universal
herdeiro o P. Moisés Alves de Pinho, então provincial dos
Missionários do Espírito Santo, não explicita os motivos desta opção da última
senhora da Casa da Silva. Mas, num testamento anterior, elaborado a 1 de Julho
de 1922 e aberto por ela para verificação de algumas disposições a 3 de Abril de
1924, esses motivos são explanados demoradamente: penso, portanto, que a
leitura do primeiro testamento é necessária para interpretar o segundo. De resto,
há mudanças substanciais entre um e outro e é interessante tê-las presentes para
compreender a evolução que se deve ter dado no espírito e nas intenções de D.
Maria Antónia.
O 1º testamento
Do primeiro testamento retirei alguns elementos mais sugestivos para o tema
deste capítulo.
D. Antónia começa por dispor que “onde quer que eu faleça, desejo que me
vistam com o hábito de Nossa Senhora do Carmo, que me façam enterro pobre,
sendo meu corpo depositado em caixão forrado a paninho preto e sem galões, levado
por seis pobres para a Igreja e aí colocado sobre bancos e daí, depois do ofício
fúnebre, transportado para o meu jazigo no cemitério da vila de Barcelos”. Mais à
frente, D. Antónia insiste: “Da igreja serei transportada para o cemitério da vila
de Barcelos, como seja possível, sempre sem pompas e com o menor dispêndio e,
podendo ser, com o auxílio dos pobres”.
No segundo testamento, D. Antónia disporá para seu corpo ser depositado,
não no cemitério da vila de Barcelos, mas no cemitério da freguesia da Silva.
Outras disposições dizem respeito directamente ao temporal:
“Sou viúva, como disse, não tenho descendência, não tenho ascendentes nem
irmãos vivos; nada me impede de dispor e faço-o com revogação completa dos
anteriores testamentos, para que só este testamento valha e produza efeitos; tenho só
uma sobrinha e mora em Viseu, salvo erro, é filha de Dona Maria das Neves de
Souza da Silva Alcoforado; deixo-lhe a quantia de dez mil escudos (dez contos de
reis) para ela ser usufrutuária enquanto viva com exclusão do marido, e a raiz ou
propriedade dessa quantia deixo-a aos filhos dessa minha sobrinha nascidos e que
ainda venham a nascer de seu legítimo matrimónio à face da Igreja Católica. Se
414
Adélio TORRES NEIVA
porventura, esta minha sobrinha intentar anular este meu testamento ou impugnar
o direito ao legado deixado no testamento de minha irmã Dona Maria Francisca
perderá o direito ao legado que aqui lhe determino e instituo a favor dela e dos seus
filhos. Deixo ao Padre Moysés Alves de Pinho, natural de Fiães, Vila da Feira,
Aveiro, e simultaneamente ao padre Clemente Pereira da Silva, natural de Lourosa.
Vila da Feira, Aveiro, o meu solar da Casa da Silva que se compõe da sua Casa
Nobre, suas lojas e dispensas, Capela, casa de caseiros, cobertos e varandões, terrenos
de lavradio, ramadas, mata de pinheiros e arvoredo, tudo fechado por muros e
formando um só prédio; mais deixo os terrenos adjacentes a mesma Quinta, os
campos do Rabudo, os Eirados de Mozelho, Bouça de Mozelho, tudo isto na
freguesia da Silva e na de Santa Maria d’Abade a Tomadia do Monte do Meio,
Bouças de Regueira de Vilar e Coutada do Monte. Todos estes bens ficam onerados
com as obrigações perpétuas que os meus legatários Padre Moysés e Clemente
escrupulosa e religiosamente cumpriram.
Este legado é para perpetuar a memória dos Senhores da Casa da Silva, servindose deste Solar para a formação de Missionários, clérigos ou leigos ou de sacerdotes
que se detinhem digo que se destinem a outros ministérios mais humildes e penosos,
nunca desviando-o do fim que tenho em vista que é a honra e a glória de Deus e
salvação das almas.
Instituo esse legado com as obrigações e cláusulas seguintes: pagar todas as despesas
inerentes ao meu funeral na forma a cima estabelecida; satisfazer o importe de todas
as missas que acima refiro; além disso, todos os anos no dia do aniversário do meu
falecimento celebrarão um oficio e missa em sufrágio da minha alma e dos meus
antepassados e distribuirão nesse dia aos pobres em número de cincoenta, caldo e
pão, rezando com os mesmos no fim na capela o terço sufragando a minha alma.
Mais quero que cada sacerdote que ali seja educado celebre no primeiro ano da sua
ordenação dez missas pela minha alma e dez pelas almas de todos os meus antepassados.
Mais quero que todos os anos dêem ao Pároco da freguesia da Silva, estando
sujeito ao seu Superior hierárquico, cinco carros de lenha grossa, isto é, que dê achas
e seis carros de mato, as despesas de cortar sejam pagas pelo pároco onde os senhores
da Silva indicarem. Mais quero que as despesas a fazer na Egreja Paroquial com a
solemnidade do Triduo do Ss. Coração de Jesus fica a cargo desta Casa, fazendo-o
sempre de harmonia com o Párocho, recebendo só os annuaes dos associados e as
indicações do parocho para ocorrer ao brilhantismo desta solemnidade. Entregarão
ao Párocho desta freguesia da Silva vinte alqueires de milho sendo dez para a
associação da Cathequse e dez para a Congregação de Nossa Senhora.
Darão ao alumno que mais se distinguir na Escola Official em applicação
comportamento um fato, isto no fim do anno lectivo com a informação do professor;
ao professor ou professora entregarão anualmente a quantia de vinte e cinco mil reis
para papel e livros para os pobres, cobrando recibo indicando os contemplados. O
fato acima instituído é annual.
Darão ao Párocho da freguesia da Silva na ocasião do Natal, dez rasas de milho
que elle distribuirá pêlos pobres annunciando-lhes previamente que têm de assistir a
uma missa que será celebrada pelo Párocho ou sacerdote por elle indicado.
No Solar da Silva, nasce o Seminário das Missões
415
Na occasião do Natal desejava que todos os sacerdotes que pernoitassem no solar
celebrassem pela minha alma e de todos os meus antepassados”.
Seguem-se depois algumas disposições relativas a obrigações com as criadas e
outras pessoas, instituições religiosas e de beneficência. Nestas obrigações se
incluía a quantia de vinte escudos a dar anualmente pelo Natal aos párocos da
Silva, Lijó. S. Fins, Carapeços, Santa Leocádia e S. João de Vila Boa, para eles
distribuirem pelos pobres das suas freguesias.
Para ocorrer ao cumprimento dos vários legados que D. Antónia nomeia,
deixava ainda aos mesmos Padres Moisés e Clemente vários outros prédios, entre
os quais uma casa em Barcelos, no largo do Bom Jesus da Cruz, uma casa na
cidade do Porto, na Avenida Rodrigues de Carvalho n°219, a Quinta de Entre os
Rios, a Quinta de Lidrais e Loredo, a Quinta de Santa Marta de Penaguião, a
Quinta de Lijó, etc.
D. Antónia deixava ainda a Gaspar de Sousa Teixeira da Silva, a Quinta da
Madureira, em Carapeços, a D. Maria dos Prazeres de Sousa Teixeira Alcoforado
a Quinta do Assento na freguesia da Silva, a Sebastião Pereira de Brito, seu
compadre e afilhado, a Quinta da Penha Longa “no empenho de concorrer para
o grande fim de auxiliar a ordenação de bons padres que possam ser grandes
luzeiros da Igreja, como tanto é mister”.
Esta Quinta ficava onerada perpetuamente com a obrigação de todos os anos
entregar à Santa Casa da Misericórdia 500 escudos anuais para custear as despesas
com o Pavilhão dos tuberculosos; custear as despesas de um ou dois estudantes
pobres do concelho de Barcelos, de preferência da freguesia da Silva, sobretudo
se mostrarem inclinações para vida eclesiástica, etc.374
O 2º testamento
Dois anos mais tarde, a 3 de Abril de 1924, D. Maria Antónia fazia novo
testamento, este muito mais sucinto, deixando praticamente todos os seus bens
de raiz ao P. Moisés Alves de Pinho, excepção feita à Quinta do Barreiro em
Santa Maria de Abade do Neiva, que deixava, com todos os seus móveis e
imóveis e todos os domínios directos, foros e censos pertencentes à sua casa. Diz
o testamento:
‘A seis de Agosto de mil e novecentos e vinte e quatro, eu Maria Antónia de Souza
da Silva Alcoforado, viúva de Sebastião do Santíssimo Sacramento Leme Guedes
Vieira de Macedo, proprietária, natural da Vila de Barcelos, residindo na minha
casa solar da Sylva, próximo de Barcelos e encontrando-me nesta data na mesma
Casa, resolvi fazer o meu testamento. Encontro-me no pleno uso de todas as minhas
faculdades e, livre de qualquer coacção, estando assim nas melhores condições para
dispor da minha última vontade.
Quanto ao espiritual, visto que sou Católica, Apostólica, Romana, quero que o
374
ACs. Testamento de D. Maria Antónia de Sousa da Silva Alcoforado de 1 de Junho de 1922
416
Adélio TORRES NEIVA
meu enterro seja religioso, e se façam na Igreja Paroquial da Silva ofícios fúnebres
pela minha alma, com o maior número possível de eclesiásticos; que o meu corpo seja
conduzido ao Cemitério da Silva, por seis pobres dessa freguesia, que serão
gratificados convenientemente; que o meu funeral seja pobre, sem eça nem armação,
e sem convites; que se celebrem missas gerais pela minha alma no dia do meu enterro
assim como nos dias terceiro, sétimo e Trigésimo; que nesses dias sejam distribuídas
aos pobres da freguesia da Silva, Carapeços, Lijó e Santa Leocádia, à vontade do
meu herdeiro: que dentro de um ano depois do meu falecimento ou quando muito
dentro de dois anos, se celebrem as seguintes missas: mil por minha alma, quinhentas
por alma do meu marido, duzentas pêlos meus pais, duzentas pela minha irmã
Maria Francisca, cem pêlos meus avós, cem pêlos meus irmãos, cem pêlos meus
sogros, cem pêlos meus cunhados, vinte pelas minhas criadas Narcisa, Teresa, Rosa
e Ana; cinco pelo meu compadre Francisco Pereira de Brito, cincoenta pelo
Reverendo Francisco Filipe Pereira Brito, cincoenta pelo senhor Francisco Xavier
Viana, cincoenta pelo meu marido, vinte por meu tio Augusto de Souza, vinte pelo
tio António Leme e cem pelas Almas do Purgatório.
Quero que no aniversário do meu falecimento se faça permanentemente, se isso for
possível, na minha Capela da Silva, um oficio com dez eclesiásticos, e por ocasião se
dem esmolas aos pobres da Silva, Carapeços, Santa Leocádia, Lijó e Santa Maria de
Abade do Neiva, à vontade do meu herdeiro, e que a reza anual pela minha alma e
das pessoas da minha família se faça permanentemente, se for possível, na Igreja da
Silva, gratificando-se por isso o reverendo Pároco.
Quanto ao temporal, disponho o seguinte: Instituo meu universal herdeiro na raiz
e no usofruto o Reverendo Moysés Alves de Pinho, natural de Fiães, Vila da Feira,
Aveiro, e actualmente residente em Viana do Castelo. A este senhor ficam
pertencendo todos os meus bens, de qualquer natureza que eles sejam, com as
seguintes excepções: ao meu afilhado Sebastião Pereira de Brito fica, em raiz e
usofruto, a minha Quinta do Barreiro, situada na freguesia de Santa Maria de
Abade do Neiva, com todos os seus móveis e semoventes, e todos os domínios
directos, foros e censos pertencentes à minha Casa.
Ao dito meu herdeiro universal Reverendo Moysés Alves de Pinho imponho as
obrigações seguintes: pagará todas as despesas do meu funeral e bens de alma; dará
à minha sobrinha Maria das Neves de Sousa da Silva Alcoforado trinta mil escudos,
por uma só vez; à minha prima Maria do Carmo de Sousa da Silva Alcoforado,
todos os meses enquanto ela viver, cincoenta escudos; ao meu compadre
Excelentíssimo Conselheiro Joaquim Gualberto de Sá Carneiro dez mil escudos por
uma só vez; à minha afilhada Maria Beatriz de Sá Carneiro e à irmã desta, afilhada
da minha saudosa irmã Maria Francisca, dois mil escudos a cada uma, por uma só
vez. Ao solicitador João Baptista da Silva Correia, duzentos escudos por uma só
vez; à minha afilhada Laura Alves da Costa deixo em usofruto a minha Casa e
Quinta do Assento, situada na freguesia da Silva, e lenha para seu gasto e mato
bastante para adubo da referida Quinta e do eirado que ela já possui na estrada de
Ponte do Lima; à minha criada Florinda, se estiver ao meu serviço à data do meu
falecimento, o Eirado do Rio, no lugar de Fonte de Calvos, na freguesia da Silva,
No Solar da Silva, nasce o Seminário das Missões
417
em raiz e usofruto, e o campo do Ameal só em usofruto; é também na freguesia da
Silva e foi comprado aos Sepúlvedas. Também quero que se lhe dê todos os anos
lenha para o seu gasto de casa e mato para as duas propriedades.
Na falta deste herdeiro ficará toda a minha herança, com as mesmas excepções e as
mesmas obrigações, ao Reverendo Padre Clemente Pereira da Silva, natural de
Lourosa, Vila da Feira, Aveiro, e actualmente residente em Braga, na Rua Visconde
de Pindela. Quero que o meu testamenteiro seja o meu afilhado Sebastião Pereira
de Brito, a quem imponho o encargo de satisfazer ao meu herdeiro a quantia
correspondente a dois terços da contribuição de registo que a este for liquidada.
É esta a minha última vontade, que espero seja religiosamente cumprida.
Este testamento revoga qualquer outro que eu tenha feito até hoje e foi escrito pela
minha própria mão (seguem-se algumas ressalvas). Casa da Silva, oito de Agosto de
mil novecentos e vinte e quatro, Maria Antónia de Souza da Sylva Alcoforado”.375
Segue-se o auto de aprovação do testamento, feito pelo
notário de Barcelos, A. Matos Lopes de Almeida a 29 de
Agosto de 1924.
Na decisão de D. Maria Antónia de deixar os seus bens
para uma obra destinada à formação de missionários,
influiu sem dúvida, o seu director espiritual e pároco da
Silva, o P. António Joaquim
Lopes Júnior, grande amigo dos
Missionários do Espírito Santo.
D. Maria Antónia
Em 1934, por contrato de
arrendamento de 22 de Outubro, o Solar da Silva, com o
seu jardim, mata e pomar, era arrendado por um ano ao
P. Joaquim Alves Correia, procurador dos Missionários
do Espírito Santo, ficando D. Maria Antónia e o pessoal
de serviço, por força do mesmo contrato, a morar na
mesma casa.376
P. António Joaquim L. Junior
D. Maria Antónia de Sousa da Silva Alcoforado faleceu
a 16 de Dezembro de 1935, com 92 anos de idade; dois
anos depois, em 10 de Outubro de 1937, no velho Solar dos Senhores da Silva,
começava a funcionar um seminário para a formação de missionários da
Congregação do Espírito Santo.
A herança deixada a D. Moisés Alves de Pinho
Por escritura de 27 de Novembro de 1947, o herdeiro dos bens e da casa da
Silva, D. Moisés Alves de Pinho, doava à Congregação do Espírito Santo, na
pessoa do seu provincial P. José Pereira de Oliveira, os seguintes bens, herdados
por testamento da Sra. D. Antónia Alacoforado:
375
376
ACs. Testamento de D. Maria de Sousa da Silva Alcoforado de 8 de Agosto de 1924
Contrato de arrendamento entre D. Maria Antónia da Silva Alcoforado e o P. Joaquim Alves Correia, de 22 de Outubro de
1934
418
Adélio TORRES NEIVA
1. A Quinta e Solar da Casa da Silva, com várias casas, torres e águas furtadas,
capela, dependências para arrumações, galinheiros, logradouro junto, vários
terrenos de lavradio;
2. O Eirado de Moselhe, composto de casas térreas e junto terrenos de lavradio, situados no lugar de Moselhe, freguesia da Silva;
3. Uma bouça de mato com pinheiros, situada no lugar de Moselhe,
4. Uma leira de lavradio no sítio de Casais;
5. Outra leira de lavradio no sítio da Agulha de Baixo ou Agrela;
6. A Quinta do Assento, com casa e terrenos de lavradio;
7. Outra propriedade denominada do Assento, composta de engenho de
serração e moinho com duas pedras e junto terreno de lavradio;
8. Uma bouça de mato com pinheiros no lugar do Pinheiro, freguesia de Abade do
Neiva;
9. Uma bouça de mato com pinheiros, denominada “Regueiros de Vilar”,
situada no lugar do Pinheiro, freguesia de Abade do Neiva;
10. Uma bouça de mato com pinheiros, no lugar de Berlindes, freguesia de
Abade do Neiva;
11. Uma Bouça de mato com pinheiros, denominada Cachadas no lugar de
Belindes, freguesia de Abade do Neiva;
12. Uma bouça de mato com pinheiros, denominada “Das Vicentas” na
freguesia de Lijó;
13. Uma bouça de mato, também denominada “Das Vicentas”, no lugar de
Paredes, freguesia de Lijó;
14. Uma bouça de mato no sítio de Santa Catarina, lugar de Barrete, freguesia
de Carapeços;
15. Outra bouça de mato no sítio de Santa Catarina, lugar de Barroco, freguesia
de Carapeços;
16. Uma bouça de mato, situada no lugar de Maceiras, freguesia de Carapeços;
17. Uma bouça de mato, situada no mesmo lugar e freguesia;
18. Uma bouça de mato com pinheiros, denominada S. Tomé, no lugar do seu
nome, freguesia de Tamel de Santa Leocádia;
19. Uma bouça de mato com pinheiros, denominada do Vigário, no lugar do
Porrido, freguesia de Tamel de Santa Leocádia;
20. Uma bouça de mato com pinheiros, denominada Gerosa, no lugar do seu
nome, em Santa Leocádia;
21. A Quinta da Penha Longa, composta por quatro casas, duas torres e duas
térreas, servindo uma de moinho, dependências de adega, cobertos, varandão e
eira; e junto terrenos de lavradio e mato, situada no lugar de Vila Bassa, freguesia
de Tamel de Santa Leocádia.377
377
Relação de bens doados à Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo, com sede na Rua de Santo Amaro, à
Estrela, nº 49, desta cidade e Lisboa, pelo Sr. Dr. Moisés Alves de Pinho, em escritura feita perante o notário Carlos
Alberto de Pinho, Rua Augusta, 100-1º Esq. De Lisboa em 27 de Novembro de 1947.
No Solar da Silva, nasce o Seminário das Missões
419
O valor total era de 500.000$00. Estes prédios devem ser aplicados ao custeio
da formação dos missionários e sustentação das missões das Províncias
ultramarina portuguesas, que são os fins da donatária.378
A contestação do testamento
D. Maria Henriqueta de Sousa da Silva Alcoforado de Lencastre, casada com o
primo co-irmão Francisco de Sousa da Silva Alacoforado, faleceu a 11 de Julho
de 1887, viúva, sobrevivendo-lhe quatro filhos:
a) D. Maria Margarida de Sousa da Silva Alcoforado, casada depois com D.
Carlos Faro e Noronha;
b) Gonçalo de Sousa da Silva Alcoforado, casado que fora com D. Emília Beça
Leite;
c) D. Maria Francisca de Sousa da Silva Alacoforado, casada que fora com
Francisco Filipe de Sousa Teixeira da Silva Alcoforado;
d) D. Maria Antónia de Sousa da Silva Alcoforado, casada com Sebastião do
Santíssimo Sacramento Leme Guedes Vieira de Macedo.
Destes quatro filhos, apenas o Gonçalo teve descendência: uma única filha D.
Maria das Neves Bessa Alcoforado.
D. Maria Henriqueta finara-se com testamento serrado com data de 12 de
Janeiro e aprovado a 19 de Janeiro de 1884.
Por escritura – doação de 25 de Abril de 1887, doará D. Henriqueta às filhas
D. Maria Francisca e D. Antónia (reservando o usofruto) vários prédios e
domínios enfiteuticos, entre os quais a sua casa nobre e Quinta da Silva com
todas as suas pertenças.
Por testamento de 7 de Janeiro de 1894, o marido de D. Francisca deixou-lhe
toda a sua herança.
D. Maria Francisca finara-se a 15 de Agosto de 1920, tendo deixado por
testamento, todos os seus bens à sua irmã D. Maria Antónia.
D. Maria Antónia por testamento de 6 de Agosto de 1924 instituiu seu
universal herdeiro o P. Moisés Alves de Pinho, provincial da Congregação do
Espírito Santo, conforme vimos.
D. Maria das Neves, única herdeira natural da D. Antónia e seu marido Carlos
Maria Lopes da Silva, residentes em Viseu, que há muito tinha sido excluída do
convívio das tias, que nem sequer a recebiam em casa, contestaram o testamento,
alegando que D. Antónia fora vítima de pressão por parte dos herdeiros do
testamento, pois a dominavam inteiramente, pondo e dispondo, sobretudo o seu
pároco e confessor, de tudo quanto lhe aprazia, tudo guardando sob chave,
alienando e adquirindo como se fosse dono de tudo, impedindo outras pessoas
de visitarem a senhora, etc.
O processo foi para tribunal, perdeu na primeira instância, perdeu na segunda,
perdeu no Supremo, pois era absolutamente falso o seu fundamento, mas
378
Escritura de 27 de Novembro de 1947
420
Adélio TORRES NEIVA
metendo a polícia no processo conseguiu arrastar até ao aljube a afilhada, que
desde menina acompanhava a senhora como filha e as criadas, o motorista e o
pároco.
O processo demorou quase dois anos. Compreendendo que tinha a causa
perdida a senhora pediu uma composição fácil com a qual a Congregação
concordou, na Primavera de 1937, quando os Espiritanos estavam já na Casa da
Silva.
421
Capítulo 43
O Seminário da Silva
O
objectivo principal que levou à fundação de um seminário na Silva foi
o Noviciado dos clérigos. A esta intenção inicial, o seminário manterse-á bastante fiel, ao longo da sua história, não obstante algumas
interrupções e a abertura a outros projectos. Começou por ser, embora
provisoriamente, seminário menor, desde a sua fundação em 1937 até 1942; nesta
data passou a ser efectivamente Noviciado dos clérigos.
Em 1955, o Noviciado foi interrompido e o seminário albergou parte do
primeiro ano de preparatórios; mas no ano seguinte, o Noviciado regressou
para lá.
Em 1959, o seminário foi demolido e construído um novo; durante as obras,
provisoriamente, o Noviciado foi transferido para a Torre da Aguilha.
Em 1962, o novo seminário é inaugurado e a sua nova configuração vai dilatar
o seu espaço de acolhimento: o Noviciado regressa à Silva, mas em 1969
alojaram-se também no seminário os estudantes, que frequentavam as aulas na
Faculdade de Filosofia em Braga.
Em 1973, juntamente com o Noviciado foi instalado na Silva o Ciclo
Complementar dos liceus, que ali se manterá, com algumas mudanças, até
2004.
Em 1981, o Noviciado foi para Coimbra e depois para o Espadanido até
regressar à Silva em 1991, onde se manteve até 2003.
O Seminário Menor
O Seminário Menor da Silva abriu em 1937, tendo como director o P. José
Alves Terças e subdirector o P. Abel Pinto de Sousa, então aluno do IV ano de
Teologia. Como professores figuravam além do director e do subdirector, os Srs.
Manuel Alves Terças, Bártolo e Manuel Teixeira, este chegado de Roma a 9 de
Janeiro, onde interrompeu os estudos por motivo de saúde.
No ano seguinte o director continuou o mesmo, mas o subdirector foi o P.
Alfredo Mendes e professores os Srs. Manuel Terças e Manuel Teixeira.
A 3 de Maio de 1939 foi o primeiro passeio grande dos seminaristas: Esposende
foi o seu destino; a 1 de Junho novo passeio, desta vez ao Bom Jesus de Braga,
passando pela Quinta de Curvos, em Forjães.
Em Agosto vieram passar aqui um mês de férias 30 escolásticos vindos de
Godim.
422
Adélio TORRES NEIVA
O P. José Alves Terças ausentou-se desta casa a 5 de Outubro de 1939, tendo-o substituído como director e superior o P. António Gomes da Silva. Os alunos
entraram a 9 de Outubro.
Neste ano de 1939-1940 o corpo directivo era assim formado: P. António
Gomes, superior e director, P. José Cosme, professor, P. Vieira Baião, em
repouso, Sr. José Maria Pereira e Miranda, professores e os irmãos Valfredo,
encarregado da Quinta, Frutuoso, enfermeiro, Cândido, alfaiate e Simão,
refeitoreiro. A entrada dos alunos, 24, foi a 9 de Outubro de 1939.
Neste ano, na antiga cavalariça da casa fez-se um abrigo para os escolásticos
passarem os recreios nos dias de chuva.
No dia 29 de Outubro, festa de Cristo Rei, a freguesia celebrou a festa nesta
comunidade, tendo o Sr. D. Moisés, entretanto nomeado bispo, feito as suas
despedidas da Silva neste dia.
No dia 15 de Dezembro foram transladadas do Porto para a Silva as ossadas da
família da D. Antónia, tendo sido celebrada na capela de S. Bento missa e ofício
por alma da Sra. D. Antónia. No dia 16, aniversário da morte da D. Antónia,
ofício e missa de Requiem em S. Bento pela mesma intenção. Presidiu às
cerimónias o P. Provincial. No final, as ossadas foram transportadas em
procissão para o jazigo da D. Antónia, no cemitério da Silva. Ficou decidido
fazer-se todos os anos a celebração por alma da D. Antónia, a 16 de Dezembro,
aniversário da sua morte.
Durante o mês de Dezembro fizeram-se obras importantes na capela. Estas
obras foram concluídas no dia 24 de Dezembro, tendo a capela sido reaberta ao
culto com a Missa da meia-noite de Natal, a que assistiu muito público, incluindo
a Viscondessa de Montedor, vinda de Viana expressamente para essa festa.
A 7 de Fevereiro de 1940 foi decidido que a festa do Menino Jesus de Praga,
padroeiro da comunidade, seria celebrada no dia de Reis.
A 25 de Fevereiro de 1940 inaugurou-se a luz eléctrica no seminário, por meio
de um motor a gasolina; até ali a iluminação fazia-se por meio de gasómetros.
No dia 29 de Março desse ano inaugurou-se a imagem de Nossa Senhora,
“Tutela Domus”.
Em Abril de 1940 fez-se um lagar novo e construiu-se a sacada em frente da
casa, obras dirigidas pelo Irmão Marcelino.
O ano de 1940-1941 teve como superior e director o P. António Gomes, e
faziam parte da equipa directiva o P. Manuel Raposo, ecónomo, P José Cosme,
professor e Manuel Inácio Morais Correia, escolástico, professor. Como irmãos
ficaram o Ir. Valfredo, Frutuoso, Cândido e Simão.
A 4 de Novembro de 1940 falecia neste seminário o Ir. Frutuoso, o primeiro a
falecer nesta comunidade.
No dia 16 de Dezembro todos os anos se celebrava missa e ofício por alma da
D. Antónia; no princípio, vinham escolásticos de Viana participar na celebração.
O ciclone de 15 de Fevereiro de 1941 causou grandes estragos sobretudo no
pomar e na mata.
Em Setembro de 1941 o P. António Gomes é nomeado director para o Fraião
O Seminário da Silva
423
e o P. José Cosme superior desta comunidade. Nesta data terminou o Seminário
Menor nesta comunidade, para dar lugar no ano seguinte ao Noviciado. Durante
o breve interregno aqui permaneceram o P. Cosme e os Irmãos Valfredo e
Simão.
Entretanto começaram os trabalhos de adaptação desta casa a Noviciado dos
clérigos; para orientar estes trabalhos veio o Irmão Marcelino.
O Noviciado dos clérigos
Já antes da morte da D. Antónia, o P. Moisés Alves de Pinho, provincial da
Congregação, na perspectiva da casa vir a pertencer à Congregação, tinha feito o
projecto de aqui estabelecer o noviciado da Província Portuguesa.
Atendendo a que o noviciado em França não era mais viável, até porque o
número dos noviços tinha aumentado, o P. Pinho decidiu fundar um noviciado
no Fraião, pelo menos até que se tomasse posse da casa da Silva. Após a morte
da D. Antónia, as circunstâncias não permitiram realizar imediatamente o
projecto do P. Pinho.
Em 1940 o número dos filósofos aumentou de tal maneira que a casa do Fraião
se tornou insuficiente para albergar os filósofos e os noviços. Decidiu-se então
que no ano seguinte não haveria noviciado, continuando os filósofos o segundo
ano.
As circunstâncias que então se viviam, em plena guerra, não permitiam as novas
construções que então se tinham em vista e assim se resolveu instalar o noviciado
no antigo solar da Silva, transformando o salão nobre e salas adjacentes num
dormitório com 22 celas.
Tudo isto, no entanto, era uma solução provisória, à espera de melhores dias
em que se pudesse construir um edifício adaptado às necessidades do noviciado.
O local era particularmente convidativo para o clima de noviciado.
Para preparar a casa em ordem ao noviciado chegaram a 17 de Agosto de 1942
o P. Alberto Brun, mestre de noviços, e uns dias depois a 21 de Agosto, os neonoviços Coutinho, Almeida e Portugal, que tudo fizeram para ter a casa pronta
a 5 de Setembro, dia da entrada dos noviços.
Os noviços que inauguraram a casa foram: José Alves, António Brojo de
Almeida, Alfredo Sanches Pinto, Serafim Lourenço, Manuel Antunes Bárbara,
Aníbal Augusto Monte, Manuel de Lima Cauper, Walter Júlio de Morais, Ilídio
dos Santos Portugal, António Ferreira da Silva, António Antunes Pinto,
Germano Alexandre Coutinho, Joaquim Pinto de Oliveira, António Joaquim de
Almeida, Carlos Alberto Martins Ferreira de Matos, Joaquim Augusto do Vale,
António Pereira Rodrigues e Manuel Morais da Fonseca. Ao todo 19 noviços.
O noviciado foi inaugurado solenemente nesta casa a 7 de Setembro de 1942,
tendo presidido ao acto o P. Provincial e estando presentes os Padres Joaquim
Correia de Castro, António Teles, Francisco Rego, Miguel Fonseca, Frederico
Duff, Herculano Lopes de Oliveira, o abade da Silva P. António Joaquim Lopes
e os escolásticos Manuel Teixeira, Gonçalves e José Maria.
424
Adélio TORRES NEIVA
Como mestre de noviços e superior da comunidade continuou o P. Alberto
Brun, confessor o P. José Finck, ecónomo o P. Cosme e como equipa de apoio
os Irmãos Valfredo, para a quinta, Victor para o serviço interior e Justino, em
convalescença. A cozinha que até aí era feita por senhoras, a partir de Outubro
começou a ser confeccionada pelo Irmão Elias.
No dia da Epifania celebrou-se, como todos os anos, a festa do Menino Jesus
de Praga, padroeiro da comunidade. A 6 de Janeiro de 1943 fechou-se o grande
portão da entrada, sendo para o futuro, a entrada pelo portão lateral.
A 5 de Julho de 1943 o noviciado recebe a visita de Mons. Gay, que se fazia
acompanhar do antigo provincial P. Clemente Pereira da Silva e do novo
provincial que acabava de ser nomeado o P. José Pereira de Oliveira.
A profissão foi como era tradição a 8 de Setembro.
O noviciado foi interrompido durante o ano escolar de 1944-1945, devido à
reforma do programa dos estudos, aumentando-se um ano ao curso de filosofia.
Durante este ano de interregno, na comunidade estiveram o P. José Maria
Figueiredo e os Irmãos Valfredo, Joaquim e Justino.
A 6 de Setembro de 1945 foi a reabertura do noviciado. A equipa docente ficou
formada pelos P. Cândido Ferreira da Costa como mestre de noviços, o P. José
Finck confessor, o P. Aníbal Rebelo, ecónomo e os Irmãos Valfredo, Manuel e
Joaquim.
A 21 de Maio de 1946 foram trasladados os restos mortais de duas senhoras
pertencentes à Casa da Silva que jaziam no cemitério de Barcelos, para o jazigo
da D. Antónia no cemitério da Silva.
No ano de 1946-47 o P. Cândido Ferreira da Costa é nomeado director do
escolasticado de Viana e para o substituir como mestre de noviços veio o P.
Olavo Teixeira Martins; o corpo docente fica constituído pelo P. Olavo Teixeira,
mestre de noviços, P. António Gonçalves, submestre, P. Aníbal Rebelo,
ecónomo, P. José Finck, confessor e os Irmãos Valfredo, Marcelino, Manuel e
Tarcísio.
A 8 de Dezembro de 1946 foi inaugurado o azulejo da Imaculada Conceição
no frontão do solar, tendo participado na celebração o povo da Silva.
A 2 de Março de 1947 o ecónomo provincial P. Avelino Costa visita o
noviciado acompanhado de um arquitecto e um mestre-de-obras, em ordem à
construção de uma nova casa para noviciado.
No dia 9 de Março de 1947, celebrou-se no seminário a conclusão da visita que
a Senhora de Fátima durante três meses fez a todas as casas da freguesia. No
terreiro do seminário, uma grande vigília à noite, com o recinto ricamente
enfeitado, reuniu todo o povo da freguesia e terras vizinhas, em comovente
cerimónia de conclusão e adeus.
O pessoal docente era formado pelo P. Olavo Teixeira, mestre de noviços, P.
António Gonçalves, submestre, P. Finck confessor.
Para comemorar os cem anos da fusão da Congregação do Espírito Santo com
a Sociedade do Imaculado Coração de Maria, reuniram-se na terça-feira de
Pentecostes de 1948, dia 18 de Maio, todos os seminaristas, padres e irmãos da
O Seminário da Silva
425
Província no seminário da Silva. Estiveram presentes cerca de 300 pessoas. A
festa começou com uma recepção no apeadeiro da Silva em que participaram
além das autoridades locais, as crianças das escolas e muito povo. O almoço de
confraternização foi na mata do seminário e a Bênção do Santíssimo com que a
festa terminou na igreja paroquial.
A 1 de Junho desse ano de 1948 foi a visita do Ministro das Colónias Dr.
Teófilo Duarte.
No ano de 1948-49 a equipa directiva foi formada pelos PP. Olavo Teixeira,
mestre de noviços, José Maria de Sousa, submestre e José Finck, confessor.
Registe-se a visita que os noviços fizeram ao poeta Correia de Oliveira na sua
casa de Belinho, a 30 de Julho de 1949.
No ano de 1949-50 o corpo directivo continuou formado pelo P. Olavo
Teixeira, mestre dos noviços e o P. José Finck, submestre.
O Irmão João da Cruz substituiu o Irmão Tito no cargo de cozinheiro.
A 31 de Outubro de 1949 faleceu a D. Laura, dama de honra da D. Antónia e
benfeitora do seminário.
A 14 de Abril de 1940 o noviciado deslocou-se a S. Paio de Antas, à Quinta do
poeta António Correia de Oliveira para participar na recepção da Senhora
Peregrina. A 13 de Agosto, por sua vez, foi a coroação de Nossa Senhora durante
uma peregrinação à Senhora da Portela, em que os noviços participaram
activamente.
No ano de 1950-51 o mestre de noviços continuou a ser o P. Olavo Teixeira e
como confessor veio o P. Ribeiro Teles, em substituição do P. Finck, o P. José
Alves, submestre e ecónomo. O grupo dos Irmãos era formado pelos Irmãos
Valfredo, Justino, Tomás, João da Cruz e Policarpo.
A 22 de Setembro os noviços foram a Godim participar na recepção que a
freguesia no dia seguinte faria ao seu antigo pároco, agora bispo de Nova Lisboa,
D. Daniel Junqueira.
A proclamação do dogma da Assunção de Nossa Senhora a 1 de Novembro de
1950 foi solenemente celebrada no seminário da Silva, que nessa noite se
transformou num mar de luzes e que foi comemorado com um solene pontifical
e Te Deum presidido pelo arcebispo de Luanda, D. Moisés Alves de Pinho.
No ano de 1951-52 ficou assim constituída a equipa directiva: P. Olavo
Teixeira, mestre de noviços, P. José Alves, submestre e P. Ribeiro Teles,
confessor. Os Irmãos eram: Valfredo, Justino, Tomás, Policarpo, João da Cruz
e João Berchmans.
No dia 6 de Janeiro de 1952, festa do Menino Jesus de Praga, fez-se uma
procissão com a sua imagem até à capela de S. Bento e no final houve a
consagração ao Menino Jesus.
Na profissão de 8 de Setembro de 1952 professaram 16 noviços.
No ano de 1952-1953 a comunidade ficou assim constituída: P. Olavo Teixeira
mestre de noviços, P. José Alves, submestre e P. Teles, confessor; Irmãos
Valfredo, Berchmans, Tomás, Policarpo e João da Cruz. Os noviços eram 22.
No dia de S. Miguel, celebrou Missa Nova na Silva o P. João Eduardo Moniz.
426
Adélio TORRES NEIVA
No dia 29 de Outubro a comunidade deslocou-se ao apeadeiro da Silva para
saudar os teólogos que deixavam Viana a caminho do novo seminário da Torre
da Aguilha.
No dia 19 de Março de 1953 foi organizada pelo P. Olavo a marcha via-sacra
dos rapazes de Abade do Neiva até Barcelos.
Em Abril de 1953 era nomeado o P. José Alves como mestre de noviços
devido ao P. Olavo ter sido nomeado provincial. A submestre ficava o P.
Francisco Mendes Pereira, como confessor o P. Ribeiro Teles.
No dia 7 de Setembro, como acontecia todos os anos neste dia, houve
procissão com Nossa Senhora até ao lago, onde os antigos noviços entregaram a
imagem da Senhora aos novos.
No ano de 1953-1954 a comunidade ficou constituída pelos PP. José Alves,
superior e mestre de noviços; Francisco Mendes Pereira, submestre e ecónomo;
Augusto Ferreira, confessor.
Neste Ano Mariano, os noviços incorporaram-se na peregrinação ao Sameiro
no dia 13 de Junho, presidida pelo Cardeal Legado do Papa. A comunidade no
ano de 1954-1955 ficou assim formada: P. José Alves, mestre de noviços; P.
Mendes Pereira, submestre; P. Augusto Ferreira, Confessor. Irmãos: Valfredo,
Berkmans, Tomás, Justino, Policarpo, Bonifácio e um postulante.
No dia 1 de Novembro, ao mesmo tempo que em Roma era coroada Nossa
Senhora, neste Ano Mariano, na Silva, foi também coroada a imagem de Nossa
Senhora, com a presença de muito povo, sobretudo com “Apóstolos e Apóstolas
do Coração de Maria”, movimento fundado pelo P. Olavo Teixeira.
No dia 16 de Dezembro começou-se a Novena ao Menino Jesus de Praga,
como preparação para o Natal passando a imagem um dia na cela de cada noviço.
Mas no dia 29 começou-se uma nova novena a preparar para a sua festa.
No dia 24 de Março de 1955 os noviços foram participar numa procissão de
penitência realizada pelos Apóstolos do Coração de Maria em Barcelos.
A 11 de Agosto chegaram à Silva os restos mortais do Ir. Valfredo, falecido em
Viana no dia 10 de Agosto, que veio repousar na capela Jazigo da Casa da Silva.
Em 7 de Setembro de 1955 a profissão foi presidida pelo Patriarca de Lisboa, o
Cardeal Cerejeira. Foi oferecido um chá em honra do Sr. Cardeal Patriarca às
pessoas mais gradas de Barcelos e aos benfeitores do Seminário. A festa foi
abrilhantada pelos teólogos de Viana. Da parte de tarde vieram saudar o Sr.
Patriarca os “Apóstolos do Coração de Maria.”
A 15 de Setembro de 1955 a casa entrou em obras para ser adaptada a
Escolasticado Menor. Efectivamente nesse ano de 1955-1956 a casa funcionou
como parte do primeiro ano e preparatórios com o P. Manuel Augusto Ferreira
como superior e director e o P. Domingos da Cruz Neiva e o escolástico Ernesto
de Azevedo Neiva, como colaboradores. Mas no ano seguinte, o noviciado
recomeçava.
A 5 de Julho de 1956 a Casa da Silva recebeu pela primeira vez como noviços
os escolásticos que tinham feito 7 anos de preparatórios, terminados em Julho de
1956. Isto sucedeu pelo facto de em 1950 se iniciar no Fraião o Curso Liceal que
O Seminário da Silva
427
dura 7 anos e como até aí só havia 6 anos de preparatórios, o resultado foi que
no ano de 1955-1956 não houve noviciado na Província. Em compensação ficou
aqui parte do primeiro ano de estudos preparatórios.
No dia 5 de Setembro chegaram os novos noviços. Entretanto a casa tinha
sofrido algumas modificações: a sala junto da galeria Tutela Domus foi
transformada em capela e a antiga capela foi transformada em refeitório; o
refeitório anterior ficou transformado em capela da comunidade. As celas
desapareceram e foram substituídas por um dormitório.
Os novos noviços fizeram os seus estudos preparatórios no Fraião.
A comunidade ficou assim constituída: P. José Alves, mestre de Noviços; P.
Augusto Ferreira, submestre; P. Francisco Lopes, confessor. Irmãos: Bonifácio
e Policarpo; em descanso Ir. Abel e Ir. Justino.
Em Dezembro de 1956, o engenheiro Estêvão de Oliveira tomou conta da
direcção técnica das quintas. O seminário comprometia-se a pagar-lhe dois mil
escudos mensais e casa e os produtos necessários para a manutenção da família,
provenientes das quintas. O contrato era válido por um ano: os criados foram
substituídos por jornaleiros a seco, devido ao excessivo gasto feito com eles. No
ano seguinte, em Fevereiro de 1957 o engenheiro Estêvão pedia a rescisão do
contrato, pedido que foi aceite e que se tornou efectivo a partir do dia 10 de
Fevereiro desse ano.
Para remediar a sua falta, foi a quinta confiada ao Sr. Manuel Pires Laranjeira,
homem experimentado no amanho de terras. Para os casos de necessidade de
assistência técnica recorrer-se-ia a pessoa competente. Parte da Quinta da Penha
Longa foi entregue ao casal Laurentino Fagundes e esposa, pagos em regime de
criados e mais algumas benesses. Em Janeiro de 1958 seria alugada a outra parte
da Quinta da Penha Longa.
A 2 de Fevereiro de 1957, foi erecta canonicamente na capela de S. Bento a
Arquiconfraria do Espírito Santo em Portugal, pelo Provincial com sede na
capela de S. Bento. Fica agregada à Arquiconfraria do Espírito Santo, com sede
na Casa Mãe, em Paris, cujo director é o Superior Geral. Foram lidos o Diploma
da erecção e os Estatutos.
No ano de 1957-1958, o corpo docente ficou formado: P. José Alves, mestre,
P. Mendes, submestre (depois P. Sá Couto) e P. José Aguiar, confessor. Irmãos:
Bonifácio e Brito e em descanso: Irmãos Abel e Justino.
Os novos noviços eram 23.
Em Novembro de 1958 veio para confessor e ecónomo o P. José da Fonseca
Lopes.
A 31 de Maio foram as Bodas de Oiro Paroquiais do Abade da Silva, P.
António Joaquim Lopes Júnior, presididas por D. Moisés Alves de Pinho e com
sessão em casa do Sr. Abade, tendo nela participado o noviciado.
No princípio do noviciado era costume, nos primeiros tempos, ir-se em
peregrinação à Senhora da Portela.
Quando os novos noviços chegavam, todos, novos e velhos, iam em procissão
428
Adélio TORRES NEIVA
até à mata, onde os antigos entregavam a Senhora da “Tutela Domus” aos mais
novos.
O noviciado foi marcado com variadas confraternizações dos noviços com os
jovens, muitos dos quais faziam ali retiro, bem como com os noviços da região
de Barcelos: os de S. João de Deus, Capuchinhos, La Salle, e outras congregações
religiosas que escolhiam a mata ou a casa da Silva para confraternizar ou passar
um dia de recreio. Por várias vezes os noviços da província de Espanha vieram
confraternizar com os noviços da Silva, bem como os escolásticos do
Espadanido, os teólogos de Viana do Castelo, vários núcleos da LIAM bem
como os Apóstolos do Coração de Maria e jovens das freguesias vizinhas.
Também muitos párocos vieram aqui fazer o seu retiro.
Uma das actividades recreativas dos noviços eram os passeios semanais: estes
podiam ser normais, semi-grandes (toda a tarde) ou grandes (todo o dia). Em geral
escolhia-se para destino dos passeios grandes algum local de interesse histórico ou
turístico. Assim, realizaram-se passeios para o Facho, Franqueira, S. Lourenço,
Viana do Castelo, Bom Jesus, Fraião, Santa Luzia, Viana do Castelo, Senhora
Aparecida, Penedo Ladrão, S. Paio de Antas, Vilar de Frades, Remelhe, Sameiro, S.
Martinho de Galegos, Carvoeiro, Quinta de Curvos, S. Cristóvão, Moledo do
Minho, Areias de Vilar, Alvarães, Remelhe, Mouquim, Navais, Guimarães,
Esposende, Foz do Neiva. Alguns foram mesmo mais longe, uns de comboio,
como S. Tiago de Compostela, Vigo, Aveiro, Lisboa e outros de autocarro, como
Serra da Estrela, Senhora da Peneda, Soajo, Évora, Setúbal, etc. Chegou-se mesmo
a fazer passeios de bicicleta, como aconteceu a 15 de Maio de 1951.
As actividades extra-escolares eram também uma das constantes da vida do
noviciado: além da limpeza da casa, os noviços trabalhavam na manutenção do
jardim, na apanha da flor de tília, nas vindimas, na recolha da fruta, na esfolhada
do milho, na apanha do tomate e da cenoura, na limpeza da mata, etc.
Foram também numerosos os visitantes que passaram pelo noviciado: além dos
Superiores Gerais e membros do Governo que visitaram todas as casas da
Província, há a registar a presença de amigos como a Viscondessa de Montedor,
o Dr. Eurico Lisboa, os bispos de Angola, Cabo Verde, como D. Moisés, D.
Pompeu Seabra, D. Zacarias Kamwenho, D. Daniel Junqueira, D. Faustino
Moreira dos Santos, D. Paulino Évora, arcebispos e bispos auxiliares de Braga, os
benfeitores Dias Costa, Dr. Ramalho, Dr. Carlos Morais, Dr. Louro, D. José
de Lencastre, Dr. Sequeira Campos, Comendador Duarte Martins, D. Mário
Neto, Cardeal Patriarca Cerejeira, Dr. Manuel Monteiro.
Noviciado na Torre da Aguilha
A 9 de Setembro de 1959 o Noviciado foi transferido da Silva para a Torre da
Aguilha, por motivo de obras na Silva. O noviciado estaria na Torre da Aguilha
durante três anos, até 21 de Agosto de 1962.
Por conveniência de crónica continuaremos a narrar aqui a vida do Noviciado,
mesmo se ele agora fica situado na Torre da Aguilha.
O Seminário da Silva
429
Durante o ano de 1959-1960 o noviciado ficou assim constituído: P. José
Alves, mestre, P. Henrique Sá Couto, submestre e P. Manuel da Costa Andrade,
confessor.
Os noviços deste ano foram: António Vieira Parente, Francisco Gonçalves de
Oliveira, Manuel Marinho Lemos, Bernardino Fernandes Amaral, Domingos de
Matos Vitorino, Luís Andrade de Barros, Artur Parreira Marrecos, José Paulos
da Silva, António Martins Fernandes, Daniel Rosa Junqueira, Porfírio Augusto
Pires, Licínio Gomes Antunes, Armindo Martins Vilaça, Raul de Azevedo
Saleiro, Artur Pia Osório.
A partida para a Torre da Aguilha foi a 9 de Setembro de 1960, saindo da Silva
de caminheta, pelas 7 horas, com almoço em Coimbra, no Penedo da Saudade;
Batalha, Fátima, Santarém, chegando à Torre da Aguilha pelas 11.30 da noite. O
noviciado ficou com espaços próprios, no bloco leste e seguia regulamento
próprio. Os passeios grandes eram com os teólogos.
No ano de 1960-1961 o pessoal do noviciado ficou assim constituído: P. José
Alves, mestre, P. Henrique Sá Couto, submestre e P. Manuel Costa Andrade e
P. Joaquim Macedo Lima.
A comunidade era formada pelo P. José Alves, mestre de noviços, P. Augusto
Ferreira, ecónomo, P. Andrade e P. Macedo Lima.
Os novos noviços de 1961-1962 vieram do norte, com o P. José dos Santos
Fonseca, pernoitando em Fátima na casa dos Monfortinos e visitando, os lugares
das aparições.
No dia 16 de Agosto de 1962 retirou-se o Santíssimo Sacramento da capela do
noviciado e começaram-se a fazer as malas para o noviciado regressar à Silva. E a
21 desse mês de Agosto foi o regresso.
Entretanto, nestes três anos em que o noviciado esteve em Carcavelos, na Silva
a vida continuou. No ano de 1959-1960 o pessoal da casa ficou assim
constituído: P. José da Fonseca Lopes, P. Abel Pinto de Sousa, P. Afonso Vieira
Gomes, Ir. Lino dos Santos Braz e Irmão Barnabé da Costa Magalhães.
A 15 de Março de 1960, na presença do P. Provincial, PP. Nogueira da Rocha
e José Felício e dos Arquitectos Sousa Coutinho e Gama Pimentel e Engenheiro
Arménio Diogo (técnicos do projecto) e de vários empreiteiros concorrentes,
foram abertas as propostas para a demolição da casa velha e construção da nova.
Concorreram nove construtores.
Depois de ponderado exame, foi aceite a proposta que pareceu mais vantajosa,
a do empreiteiro Camilo de Sousa Mota, de Recarei. No dia 19 de Março, festa
de S. José fez-se oficialmente a adjudicação da obra.
Conforme consta do contrato, o edifício deveria estar pronto dentro de 600
dias a contar de 1 de Abril desse ano. As obras iniciaram-se no dia 28 de Março.
No ano de 1960-1961 o pessoal ficou assim constituído: P. José da Fonseca
Lopes, P. Abel Pinto de Sousa, P. Afonso Vieira Gomes e Irmão Domingos e no
ano seguinte com os PP. José da Fonseca Lopes, Abel Pinto de Sousa, Afonso
Vieira Gomes; Irmãos Domingos e João Baptista.
A 26 de Março de 1962 faleceu o grande amigo do seminário, o Abade da Silva,
P. António Joaquim Lopes Júnior. Foi devido à sua interferência junto da Sra. D.
Antónia, que a Casa da Silva foi legada à Congregação do Espírito Santo.
431
Capítulo 44
O “novo” Seminário da Silva
A
inauguração do novo seminário
O regresso dos noviços à Silva foi a 21 de Agosto de 1962. Aqui encontraram
uma casa nova, muito diferente da que tinham deixado. Ao chegar, a primeira
coisa que fizeram foi ir à capela de S. Bento cantar o “Veni Creator” e o “Sub
Tuum Praesidêum” e só depois visitaram a casa. À noite, à porta do seminário,
estava uma representação de todas as autoridades da Silva, com o pároco à frente,
a desejar as boas vindas; seguiu-se uma improvisada recepção com cantos e
saudações festivas de parte a parte.
No dia seguinte, 22 de Agosto foi a Festa do Imaculado Coração de Maria.
Os novos noviços, que iriam começar o noviciado, chegaram no dia 1 de Setembro.
A comunidade ficou assim constituída: P. José Alves, superior e mestre de
noviços, P. Henrique Sá Couto, confessor e P. José dos Santos Fonseca, submestre e ecónomo, P. Abel Pinto de Sousa, Ir. Domingos. Ir. Justino.
Noviços: Carlos Ribeiro Salgado, Albino da Silva, José António Blas, Carlos
Cardoso Araújo, João Crisóstomo Nogueira, Adriano Pereira Rodrigues,
Francisco Azevedo Gomes, João Carreira Mónico, Domingos Marques Vicente,
Manuel de Matos Vitorino,
Agustin Maldonado, Eduardo
Augusto Osório, José Alves dos
Santos, Manuel da Silva Santana,
António
Teixeira
Machado,
Alfredo Saldanha, Neftall Leon
Ganzalez, José Maria Pereira de
Sousa, António Torres Vieira, José
Adelino Marques Cardoso Veiga,
Timóteo Jorge Moreira, Agostinho de Freitas Tavares, José
O Seminário da Silva
Castro de Oliveira, Alberto Paiva
de Castro, Joaquim José Azevedo Moreira, José Luís de Sousa Moreira Neto,
Tomas Angel Pastores Gutierrez, António Joaquim da Rocha Coelho, Alberto
Ribeiro de Melo, José Pinto Silveira Machado, Pedro Mora Campos. Ao todo: 31
noviços, o maior noviciado de todos os tempos.
432
Adélio TORRES NEIVA
O P. José da Fonseca Lopes, que acompanhou as obras da casa nova, foi
nomeado para Godim.
As Irmãs do Espírito Santo, para as quais foram previstas instalações próprias,
tomam a seu cargo o serviço da cozinha e da lavandaria, depois de contrato
firmado entre a Superiora Geral das Irmãs e o P. Provincial.
No dia 7 de Setembro foi a tomada de Hábito e a Bênção Solene da casa e da
Igreja e sagração do altar por D. Moisés Alves de Pinho. A Igreja foi dedicada ao
Menino Jesus de Praga, padroeiro da comunidade.
A inauguração solene do Seminário seria no dia seguinte, juntamente com a
cerimónia da Profissão.
Demos a palavra ao cronista do Diário da Comunidade:
“Logo de manhã cedo aqui à nossa volta se começou a notar a azáfama própria dos
dias de festa, barulhenta e expansiva, tão ao gosto da nossa gente do norte. Aqui era
a limpeza do recreio, ali um vai e vem de mãos de artistas a engalanar o caminho,
que da estrada nacional dava acesso à nossa casa. O caminho parecia novo: o Rev.
Pároco, a Junta de Freguesia e por fim a Câmara de Barcelos, quiseram também
tomar parte na nossa festa, compondo um caminho à altura dos visitantes. Num sítio
era a confecção de tapetes polícromos, de serradura e flores, noutro, a montagem de
arcos embandeirados e garridos. Em suma, vimo-nos no meio de um arraial, em
festa desusada para nós. Toda esta festa, todos estes preparativos, foram obra do bom
povo da Silva, que assim quis mostrar a sua gratidão e alegria por nos ter no seu
meio, habitando na sua terra.
Ainda alguns trabalhos estavam em curso, quando começaram a chegar das
redondezas, os curiosos, os amigos, os benfeitores e os pais de muitos, quer dos que
começavam, quer dos que dentro de horas se vão entregar ao Senhor.
De toda a parte começaram a chegar carros. Representações da Imprensa, da
Rádio e da Televisão, autoridades civis e eclesiásticas. Entre estas foram chegando
Sua Eminência o cardeal Patriarca de Lisboa, o Superior Geral da Congregação do
Espírito Santo, Mons. Marcel Lefèbre, o Bispo Auxiliar de Braga em representação
do Arcebispo Primaz, o D. Agostinho de Moura, Bispo de Portalegre e Castelo
Branco, o Bispo de Silva Porto. Presente estava já o Arcebispo de Luanda, D.
Moisés Alves de Pinho.
Entre as autoridades civis contavam-se vários membros do Governo, os
Governadores Civis de Braga e de Viana do Castelo, os Presidentes das Câmaras
de Barcelos e de Braga. De notar ainda a presença dos Bombeiros Voluntários de
Barcelos que montaram um posto de primeiros socorros para alguma emergência que
pudesse suceder.
Ao nosso meio chegaram também os Escolásticos Maiores, vindos de Braga.
Enfim, estava reunida quase toda a família espiritana. Representações liamistas de
todo o Portugal quiseram também mostrar a sua presença na inauguração desta casa
que tanto ajudaram a construir.
Por fim, chegou uma numerosa delegação dos alunos e alunas das Escolas do
Magistério Primário que se encontravam num curso missionário em Viana do Castelo.
Todos foram recebidos na varanda da casa pelo P. Provincial.
O “novo” Seminário da Silva
433
Assim se dava início à inauguração do Noviciado, que viria a culminar com a
Profissão religiosa dos antigos noviços e dos votos perpétuos dos Escolásticos
Maiores, bem como pela renovação de votos por outros. A capela estava
completamente cheia.
Nos cadeirais tomaram lugar as autoridades. A cerimónia foi presidida pelo Sr.
Cardeal Patriarca.
No final foi servido um copo de água a todos os convidados. Aos brindes usaram
da palavra o Cardeal Patriarca, o Arcebispo de Luanda, o Superior Geral da
Congregação e P. Provincial.
Foi uma festa de confraternização e alegre convívio entre tantos amigos irmanados
no ideal missionário. Merecem relevo especial as liamistas, que foram de grande
animação, com o P. José Felício à frente.”
As Irmãs do Espírito Santo, em número de três, vieram para o seminário neste
ano de 1962, sendo superiora a Ir. Antonieta.
O noviciado ficou assim constituído: P. José Alves, mestre de noviços; P. José
dos Santos Fonseca, sub-mestre e ecónomo; P. Sá Couto, confessor.
No dia 16 de Dezembro missa de aniversário da morte da D. Antónia e do 50º
aniversário da morte de seu marido Sebastião do Sacramento Lemos Guedes
Vieira de Macedo.
No dia 26 de Março de 1963, foi o 1º aniversário do falecimento do Abade da
Silva. O Noviciado foi ao cemitério sufragar a sua alma. Os seus ossos repousam
no jazigo do seminário.
A 27 de Março de 1963 a Casa Mãe determinou que a leitura do “Rodrigues”
fosse substituída pelos Escritos do P. Libermann. Acedendo ao pedido da Casa
Mãe para a elaboração de um esquema dos textos que mais interessariam, o P.
Mestre preparou uma antologia desses textos a enviar para Paris.
A 19 de Março desse ano de 1963 foi a inauguração da vacaria.
A pedido do Abade da Silva, o seminário cedeu algum terreno junto à igreja,
para adro paroquial.
No dia 26 de Abril de 1963 foi solenemente entronizada a imagem do Menino
Jesus de Praga no seminário, trazida processionalmente da igreja paroquial.
No dia 2 de Setembro chegaram os novos 29 noviços.
O corpo docente era assim formado: P. José Alves, mestre, P. José dos Santos
Fonseca, submestre e P. Henrique Sá Couto, confessor.
Em Outubro de 1964, dia 8, foi a Reunião dos Noviciados Ibéricos da
Congregação; os noviços espanhóis e os noviços clérigos e irmãos de Portugal.
No dia 26 de Outubro chegou a Irmã Jacinta Marques como nova superiora
das Irmãs Espiritanas nesta comunidade.
A 15 de Abril de 1964 foram oferecidas à comunidade as imagens do Menino
Jesus de Praga e Nossa Senhora da Assunção, Rainha do Mundo, que foram
entronizadas solenemente na capela, a 26 de Abril de 1964, depois de benzidas
na igreja paroquial.
De 8 a 10 de Junho de 1964 os noviços foram em peregrinação a Santiago de
Compostela, tendo pernoitado em Tortoreos.
434
Adélio TORRES NEIVA
Em Dezembro de 1964 foi decidido dar aos noviços a Bíblia em vez do
tradicional “Manuale Christianum”.
No ano de 1965-1966 a direcção ficou assim constituída: P. José Santos
Fonseca, mestre de noviços e superior, P. José da Fonseca Lopes, submestre e
ecónomo, P. Firmino Cardoso, confessor, P. Abel Pinto de Sousa, Ir. Manuel
Carvalho, Ir. Benjamim Rodrigues.
De 1 a 3 de Agosto de 1966 os noviços foram a Santiago de Compostela,
pernoitando em Tortoreos.
Nos dias 8 e 9 de Outubro de 1966 os noviços, juntamente com os noviços
espanhóis de Tortoreos, foram em peregrinação a Fátima.
No dia 2 de Junho de 1966, festa do Coração de Jesus, os noviços foram ao
Fraião para participar na inauguração dos dois estádios: o do Centenário (PN) e
o do Cinquentenário (PS).
No dia 9 de Julho de 1966, foi o Dia da Amizade e Cortejo de oferendas para
a “Casa dos Apóstolos” em Carapeços.
A 11 de Julho de 1966 houve um Curso de Pastoral para os padres da diocese
de Braga aqui no seminário.
A 11 de Agosto começou aqui a recolecção dos teólogos; encerrou a 31 de
Agosto. Na profissão de 1967-1968 vieram participar os 12 noviços espiritanos
espanhóis.
No ano de 1967-1968: P. José Fonseca, superior e mestre de noviços; P. José
da Fonseca Lopes, submestre e ecónomo; P. José Pereira de Oliveira, P. Abel
Pinto de Sousa; Ir. Salvador Tomás Santos, Ir. Cândido Macedo Fernandes. Os
noviços eram 10.
No ano de 1968-1969 o pessoal é o mesmo, mais o P. Olavo Teixeira Martins.
No ano de 1969-70 começaram também a morar aqui os alunos do Curso de
Filosofia, que frequentavam a Faculdade de Filosofia em Braga.
Pessoal no ano de 1969-1970: P. José Santos Fonseca, Superior, mestre de
noviços e director dos escolásticos; P. Jorge Veríssimo Duarte, submestre e
subdirector dos escolásticos; P. José Pereira de Oliveira, P. Olavo Teixeira
Martins, P. José da Fonseca Lopes, ecónomo; P. Abel Pinto de Sousa, P.
António Martins Fernandes, professor na Faculdade de Filosofia em Braga, Ir.
Elias Ribeiro, Ir. Salvador Tomás Santos, Ir. Justino Barros Gil.
Os alunos da Faculdade de Filosofia de Braga eram 14, sendo 9 professos e 5
não professos e os noviços eram 13. Neste ano funcionaram aqui
simultaneamente o noviciado e o curso de filosofia, tendo estes as aulas na
Faculdade em Braga.
A morte de três espiritanos
A 23 de Março de 1970 deu-se um grande desastre na linha do comboio em que
faleceram os Padres José Santos Fonseca, António Rodas e António Martins
Fernandes. O P. António Rodas e Martins Fernandes tinham chegado à Silva
nesse dia à tarde. Cerca das 21 horas, logo a seguir ao jantar, os Padres António
O “novo” Seminário da Silva
435
Rodas, José Fonseca, António Martins Fernandes e Jorge Veríssimo partiram no
carro do P. Rodas para Barcelos. O P. Rodas ia fazer uma reunião da LIAM e os
outros iam para um serviço de confissões na matriz de Barcelos. Dirigiram-se
para a casa do Abade da Silva para o levar também. Quando atravessavam a linha
do comboio, sem guarda de nível, junto à casa do pároco, o comboio
surpreendeu-os em cima da linha; o carro paralisado foi arrastado pelo comboio
até junto do apeadeiro da Silva, onde conseguiu parar. Projectados para fora do
carro, os Padres Rodas e José Fonseca tiveram morte imediata. O P. Jorge
Veríssimo, o primeiro a ser projectado, ficou em estado de coma. O P. António
Martins Fernandes, o único que não foi projectado, ainda ficou vivo. Logo que
chegaram os bombeiros, levaram os dois que ainda estavam vivos para o hospital
de Barcelos, e dali para o hospital de Santo António no Porto, onde os médicos
os procuraram salvar. Os dois mortos foram transportados para o hospital de
Barcelos. Durante toda a noite os seminaristas por grupos velaram os queridos
falecidos. No dia seguinte, 24, chegou a notícia que o P. Martins Fernandes tinha
também falecido. O P. Jorge Veríssimo manteve-se em coma vários dias,
acabando por ultrapassar a situação.
À tarde chegaram o P. Provincial, assim como os familiares dos Padres Fonseca
e Rodas e confrades de toda a Província. O P. Olavo que estava em Fátima a
pregar um retiro chegou também nessa tarde.
No dia seguinte, dia 25, chegaram notícias de ligeiras melhoras do P. Jorge
Veríssimo e pelas 8 horas foi feita a autópsia dos falecidos. Às 17 horas, na igreja
matriz de Barcelos, para onde foram transportados os três cadáveres, celebraram-se solenes exéquias, com missa concelebrada por mais de 30 sacerdotes.
Presentes estiveram também o representante do Sr. Arcebispo Primaz, o
arcipreste de Barcelos, o Governador Civil de Braga, o comendador Santos da
Cunha, o presidente da Câmara de Braga, o reitor da Faculdade de Filosofia de
Braga, numerosíssimos párocos e uma multidão de amigos que quiseram prestar
a sua última homenagem de gratidão aos três missionários que o Senhor tinha
chamado para si, de um maneira tão dolorosa. Presidiu à concelebração o P.
Olavo Teixeira.
Após a Santa Missa, os três foram transportados para as respectivas terras,
onde se celebraram de novo as exéquias. Os noviços e escolásticos (filósofos),
bem como a maior parte dos fiéis, dirigiram-se para S. Salvador do Campo, ali
perto, donde era natural o P. Martins Fernandes.
No dia 26 os noviços e escolásticos, com numerosas pessoas da Silva, seguiram
para S. Cosmado, a fim de participarem no funeral do mestre de noviços, o P.
José Fonseca Santos. O P. Fonseca fora um incansável animador espiritual da
freguesia da Silva.
Para o Soajo, donde era natural o P. António Rodas, seguiu o provincial e
numerosos espiritanos, a fim de participarem no seu funeral.
Neste dia, o P. Provincial nomeou o P. Olavo Teixeira Martins superior da
comunidade, mestre de noviços e director dos escolásticos. O P. José Fonseca
Lopes foi nomeado seu substituto.
436
Adélio TORRES NEIVA
No dia 30, os noviços foram mandados para férias durante nove dias, o mesmo
acontecendo aos filósofos que frequentavam a Faculdade de Filosofia em Braga.
Entretanto, o P. Jorge Veríssimo, depois de uma intervenção cirúrgica a uma
clavícula partida e outra aos olhos, foi tresladado para o Hospital de Santa Maria
no Porto onde continuou em recuperação.
O noviciado continuou a funcionar, agora com a colaboração do P. José
Coelho Amorim, superior do Fraião e P. Francisco Lopes, e da Irmã Cecília, de
S. José de Cluny, indo os noviços ao Fraião uma vez por semana.
No ano lectivo de 1970-1971, a direcção do seminário ficou assim constituída:
P. Olavo Teixeira Martins, superior e director dos alunos; P. José da Fonseca
Lopes, subdirector e ecónomo; P. José Pereira Marante, confessor; P. Abel Pinto
de Sousa; Ir. Elias Ribeiro, Ir. Salvador Tomás, Ir. Justino Barros Gil. Todos os
alunos frequentam a Faculdade de Filosofia de Braga, onde se deslocam de
autocarro todos os dias.
No dia 13 de Junho de 1970 afogou-se na praia da Apúlia, para onde a
comunidade tinha ido em passeio, o escolástico Manuel da Costa Mendes. As
exéquias seriam no seminário no dia 15, tendo comparecido além de confrades
das diferentes comunidades, os párocos das freguesias vizinhas, casas religiosas e
alunos da Faculdade de Filosofia de Braga. O corpo foi levado para a sua terra
natal, tendo sido acompanhado por toda a comunidade.
No dia 8 de Julho o P. Jorge Veríssimo, quase recuperado, partia para a sua
terra natal.
A 30 de Julho de 1970 começou na Silva o retiro preparatório do Capítulo
Provincial com a presença do Superior Geral, Ecónomo Geral e 28 capitulantes.
Como equipa de apoio estiveram os noviços. O Capítulo começaria no dia 4 de
Agosto. O Capítulo terminou no dia 28.
Em Outubro de 1971 são eleitos como superior o P. José Pires e como
ecónomo o Ir. Isidro. O P. Francisco Mendes Pereira será o secretário.
Continuam as Irmãs na comunidade. Os escolásticos (filósofos) mudam-se para
Braga, Espadanido.
Em Janeiro de 1972 a Inspecção Superior do Ensino Particular outorgou a estadia
do 3º ciclo nesta casa. O nome oficial é “Instituto Missionário do Espírito Santo”.
Por carta de 3 de Março de 1973, a Provincial das Espiritanas, Irmã Maria da
Conceição Santos Neves, pedia ao Provincial dos Espiritanos para desligar a sua
Congregação do contrato feito a 14 de Agosto de 1962, em que se
comprometiam a trabalhar no seminário, pois a presença das Irmãs no seminário
não correspondia às prioridades actuais da Congregação; desejavam colaborar
com os Espiritanos, mas mais na linha apostólica.379 O Provincial dos Espiritanos
P. José Gonçalves Araújo, depois de consultar o seu conselho, a 19 de Março de
1973, aceitou o pedido das Irmãs.380 Efectivamente, no final do ano lectivo as
379
380
APPCSSp. Carta de 19/3/1973
Ibid. carta de 19/3/1973
O “novo” Seminário da Silva
437
Irmãs deixavam o seminário.
Formularam-se várias hipóteses para as substituir: uma outra comunidade de
religiosas? Um grupo de leigas? O Movimento Cor Unum? Acabou-se por não
optar por ninguém.
A 28 de Junho de 1973, o 7º ano decide abandonar o seminário colectivamente.
No ano lectivo de 1973-1974 ficaram na casa o noviciado e o 3º ciclo.
A comunidade era formada por: P. José Fagundes Pires, superior e mestre de
noviços, P. Veríssimo Teles, director do Ciclo Complementar, P. Pereira de
Oliveira, P. Abel Pinto de Sousa, P. Olavo Teixeira Martins, P. Francisco
Mendes Pereira, P. Francisco Gonçalves de Oliveira, Irmão Isidro (Fernando de
Freitas), ecónomo, 4 noviços, 5 alunos do 7º ano, 11 alunos do 6º ano, 5
empregadas (Rosário, Custódia, Glória, Lúcia e Conceição) a mãe do P. Mendes
Pereira (Isabel Mendes), 2 empregados habituais (Barros e António) e mais 3
jornaleiros diários (2 raparigas e 1 homem).
O noviciado de 1973 foi constituído por 4 noviços. O mestre foi o P. José Pires
e submestre o P. Francisco Gonçalves.
No dia 1 de Outubro de 1973 vieram para a Silva os alunos do 6º e do 7º Ano,
vivendo embora separados dos noviços. Ao todo são 16. À sua frente ficaram os
Padres Veríssimo Teles e Mendes Pereira.
A 1 de Outubro de 1974 entraram também os alunos do Ciclo Complementar;
ao todo 20; 10 do primeiro ano e outros 10 do segundo (6º e 7º ano). Os padres
são os mesmos do ano anterior.
O Irmão Isidro deixou a Congregação e para o substituir como ecónomo, a 6
de Janeiro de 1975, veio o Ir. Luís Pontes que há dois meses estava a trabalhar
em Lisboa na LIAM.
Em Julho de 1975 entraram para a comunidade, vindos de Angola, o P.
Moutinho e o Ir. Salvador.
A 27 de Setembro de 1975 chegaram os novos noviços e no dia 28 fizeram a
profissão os noviços cessantes.
A 1 de Outubro entraram os seminaristas do sexto e sétimo ano em número de
23.
A 6 Outubro de 1975 o P. Veríssimo Manuel Teles começou com os trolhas a
abrir os alicerces para a futura casa pré-fabricada da Foz do Neiva. Nos tempos
imediatos foi-se construindo a casa.
A 25 de Setembro de 1976 entraram 5 novos noviços. Veio como director do
Ciclo o P. Manuel Durães. O P. Veríssimo Teles deixou esta comunidade. Fazem
ainda parte da comunidade o P. Francisco Gonçalves, P. Serafim Coelho, P. José
Pires e o Ir. Torcato.
Em Outubro de 1976 a Congregação cedeu parte da Quinta do Assento para a
construção do Centro Paroquial da Silva.
A 23 de Janeiro de 1977 o conjunto CIMES, um conjunto musical do
Seminário, actua pela primeira vez em público, em Arcozelo.
A 6 de Julho de 1977 foi decidido que a Profissão Religiosa se fizesse a 29 de
Setembro, dia de S. Miguel.
438
Adélio TORRES NEIVA
A 1 de Outubro de 1977 tomou posse como superior da Comunidade o P.
Francisco Mendes Pereira que, interinamente, viria a ser ecónomo antes que o
cargo passasse para o P. Francisco Gonçalves.
A 7 de Novembro de 1978 foi decidido colocar as ossadas do antigo pároco da
Silva no jazigo do cemitério pertencente à Congregação.
A 3 de Setembro de 1979 chegaram os noviços em número de 9.
A 9 de Outubro de 1979 foi elaborada a escritura da cedência do terreno para
o Centro Social da Silva.
A 26 de Dezembro de 1979 chegou o P. Eduardo Miranda. Tomou posse como
director do Curso Complementar a 11 de Março de 1980. O P. Manuel Durães
tinha sido nomeado vice-provincial.
A 29 de Fevereiro de 1980, realizou-se um encontro, no Espadanido, entre o
noviciado e o pre-noviciado.
A 8 de Setembro de 1980 o noviciado foi interrompido em razão do
“curriculum studiorum” ter sido aumentado um ano.
A 10 de Setembro o P. José Fagundes Pires deixou esta comunidade à qual
pertenceu durante 8 anos e onde esteve como superior durante 6 anos e mestre
de noviços 5 anos. Vai para Cabo Verde ligado à formação dos escolásticos. O
Irmão Salvador que esteve aqui vários anos, vai para o Fraião.
A comunidade fica assim constituída: P. Francisco Mendes Pereira, superior,
P. Olavo Teixeira, P. Manuel Soares Moutinho, P. José Pereira de Oliveira, P.
Manuel Durães Barbosa, Director do Curso Complementar, Ir. Luís Pontes, Ir.
Sotero Pereira, Ir Benjamim, Ir. José (Assis), P. Serafim Coelho, Ir. Torcato, P.
Carlos Salgado Ribeiro (sub-director), P. Francisco Gonçalves de Oliveira
(ecónomo), P. Eduardo Miranda, destinado a director do Curso Complementar,
mas ainda ao serviço das Forças Armadas, como capelão militar.
Os alunos foram 5 do 12º ano, 10 do 11º e 10 do 10º ano. Ao todo 25.
A 16 de Dezembro de 1980, inauguração da conduta de electricidade da cabine
para o seminário.
Em 1981 o Noviciado é transferido para Coimbra, onde permanecerá até 1983,
com o P. Magalhães Fernandes a mestre de noviços. Em 1985, o Noviciado é
mais uma vez transferido, agora para o Espadanido, onde permanecerá até 1988.
Em Setembro de 1981 o P. Francisco Gonçalves foi para Coimbra, para o
noviciado, e o P. Carlos Salgado assume o economato do Seminário da Silva.
Em Janeiro de 1982 o P. Eduardo Miranda, terminada a sua actividade como
capelão militar, tomou posse do cargo de director do seminário, para o qual
estava já indigitado desde o ano anterior.
Em Fevereiro de 1982, no Carnaval, realizou-se na Silva um curso de formação
permanente para a Província.
A 1 de Setembro de 1982 faz-se a inauguração da luz eléctrica na casa da Foz
do Neiva.
Em 1982-1983 é nomeado superior da comunidade o P. José Reis Gaspar. A
comunidade ficou assim constituída: P. José Reis Gaspar, superior, P. Francisco
O “novo” Seminário da Silva
439
Mendes Pereira, P. Carlos Salgado, ecónomo, P. Eduardo Miranda, P. José Maria
Azevedo Moreira, P. Serafim Coelho, P. Abel Pinto de Sousa, P. Olavo Teixeira
Martins, P. José Pereira de Oliveira, P. Manuel Soares Moutinho; Irmãos: Luís,
Torcato, Assis Vieira, Benjamim e Sotero. Os alunos foram 20.
A 15 de Junho de 1983, encontro, na mata do seminário, de vários grupos de
noviços e noviças: Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, Irmãs do Espírito
Santo, Imaculada Conceição, S. João de Deus e Capuchinhos.
Formação da comunidade no início do ano escolar 1983-1984: P. José Reis
Gaspar, superior, P. Eduardo Miranda, director, P. Carlos Salgado, ecónomo; P.
Serafim Coelho, P. José Maria Azevedo Moreira, P. José Pereira de Oliveira, P.
Olavo Teixeira, P. Abel Pinto de Sousa, P. Manuel Soares Moutinho, Irmãos:
Torcato, Luís, Assis, Sotero e Benjamim. Os alunos foram: 7 do 11º ano, 9 do
10º ano.
A 10 de Julho de 1983 almoço de homenagem aos médicos da casa e suas
famílias. Estiveram presentes Dr. Mário Vaz e duas filhas, Dr. Mota Vieira, Dr.
Hélio e esposa, Dr. Beleza, esposa e filhas, Dr. Quintas, director do hospital de
Barcelos e esposa.
A 21 de Fevereiro de 1984 foi instalada uma ordenha automática e uma sala de
leite na vacaria, pelo Sr. António Covelo, empregado técnico de uma firma de
Aveiro; para esta ordenha veio um novo empregado o Sr. Ilídio, natural de Travanca.
A 24 de Fevereiro de 1984 foi inaugurada a nova capela da comunidade no coro
da capela grande.
A 10 de Março de 1984 chegou ao seminário a Marcha Jovem das freguesias do
arciprestado de Barcelos, 250 jovens acompanhados pelos seus párocos. A
concentração foi em S. João de Deus e vieram em Via Sacra até ao pinhal da casa
da Silva, onde houve uma celebração.
No dia 20 de Maio de 1984 foi a visita dos Conselhos Provinciais de Espanha
e Portugal à comunidade da Silva.
A 23 de Setembro de 1984 foi aqui a Reunião dos ASES.
A 27 de Setembro de 1984 teve lugar aqui a reunião de Directores, professores
e formadores de todas as casas de formação da Província, orientada pelo P.
Miguel Ângelo Gomes, da diocese de Braga.
Pessoal da comunidade no início do ano de 1984-1985: P. José Reis Gaspar,
superior, P. António Abreu, ecónomo, P. Eduardo Miranda, director, P. Serafim
Coelho, P. Olavo Teixeira, P. Abel Pinto de Sousa, P. José Pereira de Oliveira,
P. José Maria Azevedo Moreira, P. Manuel Soares Moutinho; Irmãos: Luís,
Benjamim, Torcato, José.
Os alunos eram 5 do 12º ano, 12 do 11º ano e 17 do 10º ano.
A 25 de Outubro de 1984 faleceu o P. Abel Pinto de Sousa. Ficou depositado
na Capela da Casa da Silva no cemitério da freguesia.
A 20 de Novembro de 1984 faleceu o Sr. Domingos Pereira que durante 20
anos esteve à frente da Quinta da Penha Longa.
Durante esta fase houve muitos encontros de jovens, nomeadamente Jovens
440
Adélio TORRES NEIVA
Sem Fronteiras e liamistas, na Silva, promovidos pelo P. Arlindo Amaro.
Cinquentenário da abertura do seminário
A 25 de Abril de 1987 foi a abertura do Cinquentenário do Seminário com uma
velada missionária na igreja nova de Arcozelo, com a participação de jovens e
liamistas vindas de diversas partes do país. A ideia promotora da celebração jubilar
dos 50 anos do seminário, ao longo de todo o ano de 1987 obedeceu a uma dupla
dinâmica: evocação de um passado para o qual se olha com são orgulho e muito
sentido de gratidão e aposta num futuro que está aí a interpelar com novos desafios.
A 9 de Outubro de1987 o cinquentenário foi evocado no Centro de Cultura e
Recreio da Silva, com uma conferência do P. Eduardo Miranda e outra do P. José
Maria Azevedo Moreira. Ao outro dia foi uma missa solene no seminário com a
participação da paróquia.
No dia 16 de Outubro desse mesmo ano foi a celebração solene no Salão
Nobre dos Bombeiros Voluntários de Barcelos, com conferências do P. Adélio
Torres Neiva sobre a história da Casa da Silva e outra do P. José Maria Azevedo
Moreira sobre a presença dos Espiritanos no concelho de Barcelos. A sessão foi
presidida pelo Provincial dos Espiritanos e teve a presença do presidente da
Câmara de Barcelos e abrilhantada pelo Grupo Polifónico e Coral da Silva e
Grupo Coral de Lijó. Entre os presentes destacavam-se o Ir. Guilherme como
membro da primeira comunidade espiritana e os PP. Serafim Coelho e José da
Rocha Ferreira, elementos do primeiro grupo de “pequenos escolásticos” que
deram início ao seminário.
Depois, outros acontecimentos foram levados a cabo no mesmo sentido: um
Encontro diocesano dos Jovens Sem Fronteiras, um Encontro Arciprestal de
Jovens, uma reunião dos ASES e uma exposição fotográfica.
O encerramento foi a 18 de Outubro, Dia das Missões, no seminário com uma
missa presidida pelo Arcebispo de Braga, D. Eurico Dias Nogueira e a presença
das autoridades de Barcelos, benfeitores e amigos dos espiritanos e a participação
de muito povo.
No ano de 1988-1989 os alunos foram 26: 15 do 10º ano, e 11 do 11ºAno.
A comunidade ficou assim constituída: P. Azevedo Moreira, superior, P.
Eduardo Miranda, director, P. Veríssimo Teles, sub-director, P. António Abreu,
ecónomo, P. Serafim Coelho, P. Olavo Teixeira, Ir. Luís, Ir. Redentor, Ir.
Venâncio, Ir. Torcato.
Em 1989-1990 o pessoal ficou assim formado: P. José Maria Azevedo Moreira,
superior; P. Eduardo Miranda, director: P. Mário Faria Silva, sub-director; P.
Domingos Neiva, ecónomo, P. Serafim Coelho, P. Olavo Teixeira, Ir. Luís, Ir.
Redentor, Ir. Venâncio, Ir. Torcato. O P. Abreu foi para o Fraião.
No ano de 1990-1991 os alunos foram 16 no 10º ano, 13 no 11º ano e 12 no
12º ano. Foi um número até aqui nunca atingido.
Em 1991 o Noviciado volta para a Silva, desta vez com o P. Agostinho Tavares
O “novo” Seminário da Silva
441
a mestre de noviços, colaborando com ele o P. Ernesto Neiva, P. José Gaspar e
P. Eduardo Osório.
Em 1991 assume o cargo de director do Ciclo Complementar o P. Mário Faria
Silva, com o P. José Carlos Coutinho a subdirector, substituído pelo P. Tarcísio
Moreira em 1995, que continuaria como subdirector quando em 2000 o P. José
Carlos Coutinho assume a direcção do ciclo complementar do qual virá a ser o
ultimo director dado o encerramento da casa para seminário menor em Junho de
2004. Nessa ocasião viam-se já as obras de adaptação da casa para a transformar
na sede do CESM - Centro Espírito Santo e Missão.
Benfeitores do Seminário
Como benfeitores da comunidade registamos antes de mais a D. Antónia
Alacoforado que nos legou a casa e a sua dama D. Laura (falecida a 31 de
Outubro de 1949), o abade da Silva, P. António Joaquim Lopes Júnior (falecido
em Março de 1962), Celestino Basto (falecido a 5 de Novembro de 1964), D.
Maria Bastos (falecida a 11 de Setembro de 1967), os médicos Dr. Mário Vaz,
Dr. Hélio, Dr. Beleza, Dr. José Torres (falecido a 7 de Maio de 1979), Dr.
Torres, filho, Dr. Quintas, Dr. Mota Vieira, Dr. Reis, Dr. Aníbal Araújo, Dr.
Teixeira de Sousa, Dr. Pedras, Dr. António de Sousa, Sr. António Machado,
Dr. Mário Teixeira, D. Maria do Céu Veludo Garrido, Dr. Francisco Torres, D.
Maria da Pena, Dr. Campos Costa, Dra Laura Pliego.
Superiores do Seminário
(1932) P. José Alves Terças; (1939) P. António Gomes da Silva; (1941) P. José
Cosme; (1942) P. Alberto Brun; (1944-45) P. José Maria Figueiredo; (1945) P.
Cândido Ferreira da Costa; (1946) P. Olavo Teixeira Martins; (1953) P. José
Alves; (1955) P. Manuel Augusto Ferreira; (1956) P. José Alves; (1959) P. José
da Fonseca Lopes; (1962) P. José Alves; (1965) P. José dos Santos Fonseca;
(1970) P. Olavo Teixeira Martins; (1971) P. José Fagundes Pires; (1977) P.
Francisco Mendes Pereira; (1982) P. José Reis Gaspar; (1985) P. Eduardo
Miranda Ferreira; (1987) P. Azevedo Moreira; (1991) P. Agostinho Tavares;
(1992) P. Mário Silva; (2000) P. José Carlos Coutinho.
Ecónomos:
(1937) P. José Alves Terças; (1939) P. António Gomes da Silva; (1940) P.
Manuel de Jesus Raposo; (1942) P. José Cosme; (1945) P. Aníbal Rebelo; (1953)
P. Francisco Mendes Pereira; (1955) P. Manuel Augusto Ferreira; (1958) P. José
da Fonseca Lopes; (1962) P. José dos Santos Fonseca; (1971) Ir Isidro; (1975)
Ir. Luís Pontes; (1977) P. Francisco Gonçalves; (1981) P. Carlos Salgado
Ribeiro; (1984) P. António de Sousa Abreu; (1989) P. Domingos da Cruz
442
Adélio TORRES NEIVA
Neiva; (1994) P. David de Sousa; (1998) P. Marcelino Duarte Lopes; (2002) P.
Tarcísio Santos Moreira.
Mestres de Noviços
(1937) P. José Alves Terças; P. Abel Pinto de Sousa, subdirector; (1938) P.
Alfredo Mendes, subdirector; (1939) P. António Gomes da Silva; (1942-44) P.
Alberto Brun, mestre de noviços; (1945) P. Cândio Ferreira da Costa; (1946) P.
Olavo Teixeira Martins; P. António Luís Gonçalves, submestre; (1948) P. José
Maria de Sousa, submestre; (1950) P. José Alves, submestre; (1953) P. José
Alves, mestre de noviços; P. Francisco Mendes Pereira, submestre ; (1955) P.
Manuel Augusto Ferreira, director; (1956) P. José Alves, mestre; P. Manuel
Auguto Ferreira, submestre; (1957) P. Mendes Pereira, mestre; P. Henrique Sá
Couto, submestre; (1959) P. José Alves (na Aguilha) mestre; P. Henrique Sá
Couto, submestre; (1962) P. José Alves, mestre; P. José dos Santos Fonseca,
submestre; (1965) P. José dos Santos Fonseca, mestre; P. José da Fonseca Lopes.
Submestre; (1969) P. José dos Santos Fonseca, mestre; P. Jorge Veríssimo,
submestre; (1970) P. Olavo Teixeira Martins, mestre; (1971) P. José Pires,
mestre; (1973) P. José Pires, mestre; P. Francisco Gonçalves, submestre; (1991)
P. Agostinho Tavares, mestre.
Directores
(1973) P. Veríssimo Teles, director; P. Francisco Mendes Pereira, subdirector;
(1976) P. Manuel Durães Barbosa, director; (1980) P. Eduardo Miranda Ferreira,
director; (1980) P. Carlos Salgado, subdirector; (1987) P.Hermenegildo,
subdirector; (1988) P. Veríssimo Teles, subdirector; (1991) P. Mário Silva,
subdirector; (1991) P. Mário Silva, director; P. José Carlos Coutinho,
subdirector; (1995) P. Tarcísio Moreira, subdirector; (2000) P. José Carlos
Coutinho, director.
443
Capítulo 45
O Provincialato do P. José Pereira de Oliveira
R
elativamente novo e já totalmente formado em Portugal, após a
restauração da Província, o P. José Pereira de Oliveira foi nomeado
Provincial de Portugal a 8 de Junho de 1943. O seu cuidado voltou-se
principalmente para as casas de formação. Chamou alguns novos para o
Conselho Provincial e para outros postos de responsabilidade nas várias obras da
Província.
O provincialato do P. José Pereira de Oliveira será um provincialato
particularmente difícil por causa da Segunda Guerra
Mundial que atingiu as grandes potências do mundo e
deixou quase toda a Europa em ruínas e pelas
dificuldades que ela acarretou. Mas, apesar da penúria de
meios, a Província conseguiu manter o seu ritmo de
desenvolvimento sempre crescente.
O Conselho Provincial em 1946 ficou assim formado:
P. José Pereira de Oliveira, Superior Provincial;
Assistentes: PP. Olavo Teixeira e Agostinho Lopes de
Moura. Conselheiros: PP. António Ribeiro Teles,
P. José Pereira de Oliveira
Cândido Costa, Joaquim Castro, e Firmino Cardoso
Pinto; P. Augusto Teixeira Maio, secretário provincial; P. Francisco Nogueira da
Rocha, Prefeito Provincial dos Estudos. Procurador da Província: P. António
Gomes.
Nesta altura eram 48 os alunos de Teologia, 41 os de Filosofia, 9 os noviços
clérigos, 6 os noviços irmãos, 205 os escolásticos menores.
Em 1947, foi nomeado Procurador Provincial e das Missões o P. João Pinto da
Silva, acumulando o cargo de Procurador das Missões.
Segundo o Diário do Governo, IIª Série, nº 112 de 16 de Maio de 1941, o nome
oficial da Província, passou a ser: “Província Portuguesa da Congregação do Espírito
Santo. Os seminários deviam chamar-se “Seminários das Missões do Espírito Santo”
e a Torre da Aguilha “Instituto Superior Missionário do Espírito Santo”.
Em 1943, abre-se o Lar Académico de Coimbra, cujo primeiro director foi o P.
Clemente Pereira da Silva. Este Lar foi criado para fomentar a propaganda no
meio universitário, em vista de possíveis vocações e à criação na Cidade dos
Doutores de mais facilidade de acolhimento, até para confrades que um dia
fossem frequentar a universidade. Mas, no ano seguinte, 1944, o P. Clemente
parte para Angola como visitador das missões, onde demorará cerca de dois anos.
444
Adélio TORRES NEIVA
Em 1943, fez-se a unificação de todas as obras de Propaganda, ficando a sede
central sediada na Casa de Lisboa. A substituir a revista “Missões de Angola e
Congo”, ressuscita-se a “Portugal em África”, confiada aos PP. Joaquim Alves
Correia, António Brásio e Nogueira da Rocha.
O movimento liamista desenvolve-se, tomando grandes proporções, de modo
que, se não fora ele, a Congregação não se poderia ter aventurado à compra da
Quinta da Torre da Aguilha, perto de Carcavelos, destinada a construção do
seminário de Teologia, o que se fez em 1948. Efectivamente o Escolasticado
Maior de Viana do Castelo, já mal podia conter os alunos de Filosofia e Teologia,
que ultimamente tinham crescido cada vez mais.
Ao P. José Pereira de Oliveira cabe o mérito de dar a esta obra o indispensável
apoio nos momentos oportunos.
Em 1945, fecha-se o seminário da Guarda, por se julgar já não ser necessário ao
recrutamento das vocações.
O caso do P. Joaquim Alves Correia
1945 foi também marcado por um acontecimento que teria grande impacto no
quadro político português. O P. Joaquim Alves Correia, procurador das
Missões, desde 1922, era um espírito particularmente sensível às injustiças e à
violação dos direitos humanos, nomeadamente no campo da política. Os seus
artigos e a sua agressividade tinham já incomodado alguns superiores, nomeadamente o P. Pinho que, por vezes, se sentia indisposto com os seus escritos e o
seu espírito crítico. Em algumas cartas, o P. Pinho sugere ao Superior Geral, o
seu envio para as missões ou então para Chevilly, como professor de Teologia.
O seu livro “A Largueza do Reino de Deus” teve muito impacto nos meios
católicos de vanguarda.
Em 1945, a política portuguesa vivia um momento delicado: estava-se na
campanha para as eleições legislativas de 18 de Novembro. A 19 de Outubro,
aniversário da revolução que em 1921 vitimou algumas das mais destacadas
figuras do regime republicano, a União Nacional achou por bem, espalhar na
capital, a partir de uma avioneta, “folhinhas manchadas de sangue com os nomes
das vítimas a nadar na mancha e a denúncia dos governos anteriores ao 28 de Maio,
como sendo aquilo mesmo, tendo por símbolo vivo o 19 de Outubro”.381
Apanhado na rua, o prospecto suscitou ao P. Alves Correia a mais viva
indignação, que ele exprimiu no artigo “O mal e a caramunha”. O artigo,
segundo o P. Alves Correia, “não passava de um protesto contra os partidários e
sectários (do Governo), que faziam propaganda do ódio, acusando de
criminosos numa revolução (a de 19 de Outubro de 1921), precisamente aqueles
que pediam luz sobre estes crimes e que a censura actual obrigava a calar. “Uma
imprudência da minha parte, mas um acto primo primi irresistível”, confessa o P.
Alves Correia.382
381
382
AGCSSp. CORREIA, P. Joaquim Alves. Explicações a quem fica por cá
Carta ao superior Geral de 24/1/1946
O Provincialato do P. José Pereira de Oliveira
445
O P. Alves Correia mandou o artigo para o “Jornal do Comércio e Colónias”,
onde trabalhava o seu antigo aluno e amigo Raul Rego. Consciente do carácter
polémico do artigo, o Director do Jornal recusou publicá-lo. Foi então que Raul
Rego, por sua total iniciativa, sem nada dizer ao P. Correia, mandou o artigo para
a “República”, o jornal da oposição.383
O artigo saiu na “República” de 23/10/1945.
No dia 24, o P. Alves Correia é chamado ao patriarcado e o Patriarca, seu
amigo, avisa-o “que se prepare, pois parece estar escolhido para vítima”. Às
17,00h, o P. Correia é intimado a apresentar-se ao 2º Comandante da Polícia, no
Governo Civil. Dali foi para o Ministério da Justiça, onde, depois de uma longa
espera, expõe ao Ministro as razões que o levaram a escrever o artigo, insistindo,
porém, que não fora sua intenção publicá-lo no jornal da Oposição “A
República”. Às 21,30h regressa a casa.
No dia 25, o P. Alves Correia põe o Superior Provincial, então com residência
no Porto, ao corrente do acontecimento e pede-lhe para vir para Lisboa e assumir
o encargo de representação da Congregação junto do Governo, pois que ele
próprio se demitia dessa função. Em carta de 30 de Novembro de 1945, escreve
ao Superior Geral: “Estou em plena tempestade e a Congregação também, um pouco
por minha culpa. Respondi energicamente a uma exploração política de partidários
do Governo em defesa de uma família amiga e dos seus amigos democratas. O meu
artigo foi publicado num jornal para o qual não tinha sido destinado, porque um
jornal mais conservador teve receio de um “dies irae”. Eu queria publicar uma
pequena nota no jornal católico admitindo claramente a indisciplina e a intervenção
sem consulta dos superiores eclesiásticos e religiosos. O patriarca e um amigo de
Salazar aconselharam-me a esperar e remeter-me para já a um silêncio completo. O
Provincial não dirá portanto nada mais, a não ser depois de algum tempo mais ou
menos longo. O Patriarca é de opinião que tudo terminará em bem. Estou certo,
Monsenhor que V. me julgará só depois. Para já, reze connosco. Saberá os
pormenores quando eu puder ser mais claro. Vosso filho (não assina, mas conhecese a letra).
Entretanto o Ministério publica uma nota, ameaçando o P. Correia com os
tribunais, por crime de calúnia.384
A publicação do artigo do P. Alves Correia e a reacção do Governo e da
imprensa deixaram o Conselho Provincial em posição muito delicada. Por um
lado, tratava-se de não cair no desagrado do Dr. Oliveira Salazar, cuja rudeza
temiam viesse a projectar-se negativamente sobre a Congregação em Portugal e
no Ultramar e, por outro, receavam-se as consequências da campanha
desencadeada pela imprensa católica e nacionalista contra o P. Correia, de que
não saía isenta a Congregação a que ele pertencia. Por sua vez, os bispos de
383
384
AGCSSp. CORREIA, P. Joaquim Alves. Explicações a quem fica por cá.
Carta do P. Francisco Rocha de 25/10/1945
Carta do P. Alves Correia de 29/10/1945
Este tema está bastante desenvolvido no livro do P. Francisco Lopes. O P. Joaquim Alves Correia, ao serviço do Evangelho
e da democracia. Rei dos Livros 1996. p. 158-160.
446
Adélio TORRES NEIVA
Angola, escreveram ao Provincial dizendo que tinham apresentado ao Ministro
das Colónias um documento em que se queixavam do P. Correia como seu
representante.
Entretanto, cruzavam-se cartas entre o Provincial e os seus conselheiros. A
troca de correspondência levou o Provincial a convocar uma reunião do seu
Conselho para o dia 3 de Novembro. Dali saíram as seguintes conclusões:
- Substituir o P. Alves Correia, no cargo de representante junto do Governo,
substituição já solicitada pelo interessado;
- Afastá-lo de Lisboa ou até de Portugal, por algum tempo.
- Dar uma satisfação ao Governo.385
Após a reunião, o Superior Provincial veio a Lisboa, encontrou-se com o
Ministro da Justiça a quem garantiu que as ideias políticas do P. Alves Correia
eram pessoais e não da Congregação. O Ministro aceita as desculpas, mas diz-lhe
que se o P. Correia continuar em Portugal, será certamente condenado no
processo que lhe mandará instaurar.
A solução que restava ao Provincial era mandá-lo para o estrangeiro para não
ser detido.
Conhecedor de que os Superiores temiam o envolvimento da Congregação
neste caso, o P. Correia, sem lhes dar prévio conhecimento, escreveu uma carta
ao jornal “A Voz” em que declara que toda a responsabilidade do artigo é
inteiramente sua; a Congregação nada tem a ver com o caso.386
Mesmo assim, a decisão do Conselho estava tomada: o P. Correia teria de
deixar o país por algum tempo, para evitar o processo que lhe fora instaurado e
o levaria à prisão.
Discutidas as várias opções com o P. Alves Correia, só lhe restava o exílio para
os Estados Unidos da América. De tudo o Provincial informa o Superior Geral
num relatório datado de 12 de Novembro de 1945. O Provincial termina o seu
relatório, acrescentando: “Importa dizer que o Padre Correia é um religioso
exemplar, duma vida sobrenatural intensa, transbordante de bondade para com
todos, com um coração cheio de compaixão pelos pobres e miseráveis”.387 O Superior
Geral escreveu então ao Provincial da América um telegrama a pedir-lhe para
encontrar para o P. Correia uma paróquia de língua portuguesa. O Provincial de
Portugal estava de acordo.
A 24 de Janeiro de 1946, o Padre Alves Correia entregou a Procuradoria e, a 17
de Fevereiro, partiu para os Estados Unidos, para junto da colónia portuguesa de
San Diego. Em 1947, foi nomeado professor de Sociologia na Universidade de
Duquesne em Pitsburgo, onde ficou até morrer, a 1 de Junho de 1951. Em 1980,
o Presidente da República de Portugal condecorá-lo-á com o grau de GrandeOficial da Ordem da Liberdade.388
Como Procurador das Missões, era nomeado o P. Avelino Costa; mas, em
385
AGCSSp. 5
A VOZ, 2/11/1945
AGCSSp., 5
388
Ibid. Carta de 24/5/1945
386
387
O Provincialato do P. José Pereira de Oliveira
447
1947, é substituído pelo P. João Pinto da Silva.
Neste ano de 1945, o Provincial fixa a sua residência em Lisboa, mudando
também para aqui a Associação de Nossa Senhora de África. A Casa do Porto
servirá sobretudo para acolhimento de confrades idosos e doentes, além da
assistência ao Monte Pedral.
Em 1947, esteve na Província como visitador o P. Harcher.
Em Junho visitou a Província o Superior Geral, Mons. Le Hunsec, visita que já
tinha feito em 1928 e 1932.
De acordo com a Casa Mãe decidiu-se que, doravante, a Recolecção dos Padres
da Província pode ser feita na França, o que oferece vantagens reconhecidas por
todos.
Na reunião do Conselho Provincial de 28/8/1948 foi decidido que o Noviciado
dos Irmãos passasse para a Quinta de Carreço e que se começasse sem demora
as obras da construção do novo seminário na Torre da Aguilha. O pedido para a
Casa Mãe para abrir uma residência na Torre da Aguilha, sob a invocação de
Nossa Senhora de Fátima, é de 1 de Dezembro de 1948.
A 18 de Fevereiro de 1948, o Procurador de D. Moisés Alves de Pinho, Dr.
Manuel Vitorino Rodrigues Teixeira, doava à Congregação os seguintes prédios
que estavam ainda em seu nome:
- A Casa da Rua Nova do Regado, 250, Porto;
- Um prédio da Avenida Rodrigues de Freitas, na freguesia do Bonfim;
- O Seminário de Viana do Castelo;
- Um prédio rústico e duas leiras anexas de mato e lenha em Santo Adrião,
freguesia de S. Lázaro, Braga;389
- O prédio do Monte de Penouços, na freguesia de Nogueira;
- O montado de Santa Marta na freguesia de Nogueira;
- A Quinta e Solar da Silva;
- A Quinta do Assento;
- A Quinta da Penha Longa e outras propriedades.390
Na reunião do Conselho Geral de 31 de Maio de 1949, foi nomeado Provincial
de Portugal, em substituição do P. José Pereira de Oliveira, o P. Agostinho
Lopes de Moura.
Quando o P. Oliveira deixou o governo da Província, a 1 de Julho de 1949,
contava ela: 36 alunos de Teologia, 46 de Filosofia, 29 noviços clérigos, 227
escolásticos menores e 29 alunos na Escola Profissional.
389
390
Alvará de 24 de Abril de 1980 publicado no Diário da República nº 148, 2ª série, de 30/06/1980 nº 10
Escritura de 4/3/1948
449
Capítulo 46
O Lar Académico de Coimbra
N
a Avenida Marnoco e Sousa
Foi em Outubro de 1943 que, na cidade universitária portuguesa, se fundou o
Lar Académico ou Residência de Nossa Senhora de Fátima, em Coimbra, para
assistência espiritual e moral aos jovens estudantes da universidade e em vista das
vocações missionárias que se poderiam encontrar entre os estudantes. Eram duas
vivendas alugadas, o nº 20 e 22 da Avenida Marnoco e Sousa, ao Penedo da
Saudade. Foi seu primeiro director o P. Clemente Pereira da Silva, que nesse
mesmo ano deixou o cargo de Provincial, coadjuvado pelo P. Ismael Baptista,
como ecónomo e pelo Irmão Eliseu, para o serviço da casa. A primeira acta da
reunião da Comunidade remonta a 25 de Janeiro de 1944.
No ano lectivo seguinte, 1944, tendo o P. Clemente sido nomeado como
Visitador das Missões de Angola, foi escolhido para lhe suceder no Lar de
Coimbra, o P. António Gomes da Silva, continuando como seu colaborador no
economato o P. Ismael Baptista. Na reunião de 22 de Setembro de 1944, foi
fixado o Regulamento que orientaria a vida dos universitários no Lar.
No início do ano lectivo de 1945-46, o P. António Gomes da Silva era
nomeado Director da Residência do Porto e o P. Ismael Baptista acompanhouo nesta deslocação. Foi nessa altura que o P. António Brásio deixou a
Procuradoria de Lisboa e foi enviado para Coimbra como director deste Lar,
coadjuvado pelo P. Manuel Laje.
Neste Lar não se procurava tanto o recrutamento de vocações para a
Congregação, como captar amizades e simpatias, entre os estudantes que serão
num futuro próximo os homens públicos da nação. Em 1946, o número dos
estudantes era de 17. Mas, já nesta data, o visitador P. Harcher, achava preferível
reservar a casa para residência dos jovens padres espiritanos que devessem tirar
uma formatura na universidade, o que para o visitador era uma prioridade a que
se deveria atender, a fim de promover um maior interesse pelos estudos entre os
jovens padres espiritanos e assim poder fundar escolas superiores nas colónias;
era uma exigência do futuro das missões e da Igreja, nas terras de missão, onde
os protestantes americanos levavam já grande vantagem.391
391
Escritura de 14/12/1947
450
Adélio TORRES NEIVA
No início do ano académico de 1950-51, ainda sob a direcção do P. António
Brásio, mas agora só na vivenda nº 20, a finalidade desta casa sofrerá
efectivamente uma orientação diferente: continuaria como residência
universitária mas apenas para sacerdotes espiritanos que ali se preparariam para
professores nos seminários da Congregação.
Nesta data para aqui vieram os dois primeiros estudantes espiritanos: os PP. José
Coelho Amorim e Américo Augusto Ferreira, o primeiro para Ciências FisicoQuímicas e o segundo para Letras Românicas. Com eles veio também o Ir. Elias
Moreira, como cozinheiro. Como os dois estudantes não conseguissem a entrada
imediata na universidade por falta de habilitações académicas adequadas, tiveram
que ir frequentar a Universidade Pontifícia de Salamanca, a fim de conseguir o
diploma de licenciatura em Teologia. Voltaram devidamente credenciados no ano
lectivo de 1951, ano em que começaram os seus estudos em Coimbra.
Durante o ano lectivo de 1950-1951, a casa ficou apenas com o P. António
Brásio e o Ir. Elias. Durante este ano há a assinalar a Semana Missionária que
ocorreu nos princípios de 1951, iniciativa do P. António Brásio, a cujo
encerramento presidiu o Ministro do Ultramar.
No ano seguinte, chegariam, também licenciados por Salamanca, mais dois
estudantes: os PP. Álvaro Miranda Santos, para Letras Histórico-Filosóficas e
José Carreira Júnior, para Ciências Fisico-Químicas.
A primeira capelania que a comunidade tomou foi a da Trémoa, pertencente a
Miranda do Corvo.
A 15 de Maio de 1952, o P. António Brásio era chamado para dirigir o jornal
“Acção Missionária” em Lisboa e, para o substituir, foi nomeado o P. Manuel
António Meira, então pároco de S. Domingos de Rana. O P. Meira, além de se
consagrar à pregação, foi também confessor de várias comunidades religiosas,
incluindo as Irmãs de Penacova, abrindo assim um ministério e uma presença,
que mais tarde o P. Isalino Alves Gomes continuaria e intensificaria.
Foi durante o governo do P. Meira que se aceitaram novas capelanias, como a
da comunidade das Irmãs do Amor de Deus nos Sardões, a da Igreja de S. José e
a do Carquejo.
A primeira visita importante a esta casa foi a do Superior Geral, P Griffin, que
aqui chegou a 10 de Maio de 1953, acompanhado do Assistente Geral, P.
Clemente Pereira da Silva, e do Provincial, P. Olavo Teixeira, por motivos
relacionados com a ordenação episcopal de D. Agostinho de Moura.
Em Outubro de 1954, o P. Meira era nomeado superior do Fraião e para o
substituir, foi nomeado o P. Isalino José Alves Gomes, que chegou a Coimbra
em Novembro de 1954.
Na primeira reunião da comunidade com o P. Isalino, a 10 de Dezembro, foi
resolvido aceitar a capelania de Coselhas e no ano seguinte, a pedido do Sr.
Bispo, a capelania do Refúgio de Santa Isabel e depois a do Lar das Doroteias,
Servas de Maria, Irmãs de Jesus, Maria e José, Carmelo, etc.
O P. Isalino bem depressa começou a ser solicitado como confessor de várias
comunidades, nomeadamente no Seminário diocesano, convento da Visitação na
O Lar Académico de Coimbra
451
Cruz de Morouços, Colégio de Santa Isabel, Lar das Teresianas, Servas de Maria,
Irmãs de Jesus, Maria e José, Irmãs da Sagrada Família, Seminário Dehoniano,
Franciscanas Missionárias de Maria, etc.
Os outros padres, além dos estudos e da sua colaboração nas capelanias,
assumiram também o acompanhamento espiritual a vários grupos de estudantes
no CADC.
A 19 de Julho de 1956, o P. Américo Ferreira concluía a sua formatura em
Filologia Germânica, sendo o primeiro espiritano a ser licenciado nesta casa.
Na Travessa do Instituto Geofísico (Espírito Santo)
Em 1956, a Congregação viu-se na necessidade de comprar uma casa própria
em Coimbra. O primeiro olhar foi logo para a casa do Dr. Rodrigo Gustavo
Couceiro da Costa, lente catedrático da Universidade de Coimbra, na Travessa
do Instituto Geofísico, antigamente Travessa do Observatório, à Avenida Dias
da Silva, que acabava de falecer e cuja casa foi posta à venda. Momentos antes, o
Comendador Duarte Martins, posto a par das intenções dos Espiritanos, havia
apontado e insinuado a casa vizinha desta, pertencente também a um catedrático
reformado, o falecido Dr. Anselmo Ferraz de Carvalho. Os Superiores da
Província Portuguesa, depois de bem consideradas as coisas, acharam ser de toda
a conveniência comprar as duas
casas e, nesse sentido, se começaram a fazer as necessárias diligências.
A 2 de Agosto de 1956, os PP.
Nogueira da Rocha e Joaquim
Correia Castro, do Conselho
Provincial, encontraram-se com
D. Eduarda, viúva do Dr. Ferraz de
Carvalho e ultimaram-se os documentos para a transição das casas
A Casa de Coimbra
em questão tendo o P. Isalino
acompanhado de muito perto todo o processo.
A 21 de Agosto deste ano, seguiram para Lisboa, a fim de assinarem a escritura
de venda da casa, a D. Eduarda Ferraz e seu filho, comandante da Marinha, que
aqui se encontravam a retirar as suas pertenças.
Por escritura de 22 de Agosto de 1956, a Congregação comprava a casa a D.
Eduarda Hikcing Ferraz de Carvalho, viúva do Dr. Anselmo Ferraz de Carvalho;
as chaves foram entregues a 30 de Agosto.
A 3 de Setembro, começou o transporte dos haveres da Casa da Avenida
Marnoco e Sousa para a Casa Ferraz, operação que se prolongou até ao dia 19 de
Setembro. No dia 3 de Setembro, o P. José Carreira foi já dormir à Casa Ferraz.
Por escritura de 21 de Setembro de 1956, a Congregação comprava também a
Francisco Manuel Carriço Couceiro da Costa e Maria Helena Carriço Couceiro
452
Adélio TORRES NEIVA
da Costa, solteiros, estudantes, a casa nº 10-12, na Azinhaga do Observatório, à
Cumeada, por óbito de seu pai Dr. Rodrigo Gustavo Couceiro da Costa,
professor da universidade de Coimbra, casado com separação absoluta de bens,
com D. Maria Helena Franco Witnich Carriço Couceiro da Costa.
No dia 22 de Setembro, a comunidade começou a fazer as suas orações num
quarto adaptado para capela na Casa Ferraz.
A 29 de Setembro, deixou a comunidade e seguiu para o Fraião, onde foi
colocado como professor, o P. José Coelho Amorim. Para o substituir, veio a 1
de Outubro o P. António Oliveira Giroto, a fim de estudar Ciências Biológicas.
A casa Couceiro começou também a ser ocupada, dividindo-se os confrades por
ambas as casas.
A partir de 13 de Dezembro, dia de Santa Luzia, foi entronizado na Casa
Ferraz, o Santíssimo Sacramento.
No dia 14 de Dezembro, tomou hábito nas Irmãs da Visitação no mosteiro da
Cruz de Morouços, a Irmã Agostinha de Sales, (D. Gracinda) mãe do Sr. D.
Agostinho de Moura, tendo presidido à cerimónia o Sr. D. Agostinho,
acompanhado do Cónego Brito Cardoso e do P. José Felício.
No princípio do ano seguinte, 1957 fizeram-se os arranjos necessários nos
acessos da casa Ferraz para a Casa Couceiro, segundo as orientações do
engenheiro Costa Alemão e do arquitecto que o acompanhava. E começaram as
plantações de árvores de fruto, nomeadamente macieiras e laranjeiras, nos dois
quintais.
A 28 de Setembro de 1957, chega um novo estudante, o P. Manuel Martins
Vaz, que veio fazer o 7º ano do liceu, a fim de frequentar Matemáticas na
universidade. Entretanto, partirá para o Fraião, como professor, o P. José
Carreira Júnior.
Em Outubro de 1957, chega o P. Adélio Torres Neiva que vem fazer o Curso
de História, na Faculdade de Letras.
A 7 de Agosto de 1957, o P. Isalino, tendo ido acolitar a uma missa na Cruz de
Morouços, na festa de Nossa Senhora das Graças, foi vítima de uma explosão de
fogo de artifício, que destruiu a capela e que atingiu de maneira muito violenta o
P. Isalino, que partiu a coluna vertebral e fracturou várias costelas, além de outras
contusões. Conduzido à clínica da Sofia, ali permaneceria internado 43 dias, até
ao dia 20 de Outubro, data em que partiu para o Fraião a completar o
restabelecimento. Regressaria a Coimbra a 8 de Janeiro de 1959, quase
completamente restabelecido.
Entretanto, a 2 de Outubro regressava a Coimbra o P. José Coelho Amorim e
nesse mês deixava Coimbra, a caminho das missões de Nova Lisboa, o P.
António Giroto.
A 16 de Março de 1959, a Câmara Municipal informava que a Travessa do
Instituto Geofísico mudava o nome para Travessa do Espírito Santo, em
conformidade com o pedido feito nesse sentido pelo P. Isalino.
A 25 de Julho de 1959, era lançada na Cruz de Morouços a primeira pedra para
uma nova capela que substituiria a que tinha sido destruída pela explosão do fogo
O Lar Académico de Coimbra
453
de artifício.
A 19 de Agosto de 1959, as duas casas foram marcadas respectivamente com
os números 10 (Casa Couceiro) e 16 (Casa Ferraz). Também neste ano de 1959
se começou a construção da Clínica de Santa Teresa, na quinta do Dr. Diniz,
logo a seguir à Casa Ferrraz, sendo seu director o Dr. Assis Pacheco, amigo dos
Missionários do Espírito Santo.
A 29 de Outubro de 1959, concluiu a sua formatura em Físico-Químicas o P.
José Coelho Amorim.
No ano lectivo de 1960-61, chegou um novo estudante, o P. Manuel Rodrigues
Areia, que veio fazer o 7º ano do liceu, para frequentar Biológicas; neste ano a
comunidade era formada pelo P. Isalino Gomes, superior, P. Manuel Martins
Vaz, (4º ano de Matemática) Adélio Torres Neiva (5º ano de História) e Manuel
Rodrigues Areia (7º ano do Liceu).
Em Outubro de 1962, depois de ter concluído os seus estudos, deixou
Coimbra o P. Adélio Torres Neiva, que foi colocado na comunidade da Estrela.
A 16 de Dezembro de 1962, foi ordenado bispo de Aveiro, o reitor do
seminário maior de Coimbra, o Cónego Manuel de Almeida Trindade.
Em 1964, constituíam a comunidade os PP. Isalino Gomes, superior, Manuel
Ferreira, Manuel Martins Vaz, Manuel Rodrigues Areia e Ir. Paulo Coelho.
No ano seguinte, 1964-65, o P. Isalino foi transferido para o Porto como
director da residência e capelão do Monte Pedral, assumindo o cargo de director
da residência de Coimbra o P. Manuel Martins Vaz, o de ecónomo o P. Manuel
Areia e fazendo também parte da comunidade o P. António Marinho Amorim
da Costa, estudante de Biológicas e o Ir. Paulo.
A 21 de Novembro de 1965, organizado pelo P. Martins Vaz, teve lugar o I
Encontro - Convívio dos Antigos Seminaristas do Espírito Santo, que
actualmente frequentavam a universidade de Coimbra. Compareceram 13, sendo
a missa presidida pelo P. Cândido Ferreira da Costa. Foi eleita uma direcção
promotora de futuros encontros deste género, constituída pelo Verdelho e pelo
Sobral.
No ano de 1965-66, vem para a comunidade o P. Manuel Arruda, a fim de
estudar Filologia Românica. No início do ano escolar a cozinha passou para a
Casa Couceiro e a 24 de Dezembro foi ali inaugurada a nova capela.
Em Maio de 1966, o P. Martins Vaz faz as suas provas para professor
extraordinário da Faculdade de Ciências, ficando em segundo lugar na classificação.
A 27 de Outubro desse ano, o P. Manuel Areia concluiu a sua formatura em
Ciências Biológicas, sendo em seguida colocado no Fraião. Veio para a
comunidade o P. Olavo Teixeira, em serviço do Movimento dos Apóstolos do
Imaculado Coração de Maria.
Por portaria publicada no Diário do Governo de 12 de Setembro de 1968, foi
nomeado professor agregado das cadeiras de Desenho e Cursos anexos, pela
Universidade de Coimbra, o P. Manuel Martins Vaz.
Em Outubro de 1968, deixou esta comunidade, sendo colocado na Silva, o P.
Olavo Teixeira. A comunidade ficou a ser constituída pelos PP. Manuel Martins
454
Adélio TORRES NEIVA
Vaz, director e professor na universidade, Manuel Arruda, estudante de
Românicas, António Marinho Amorim da Costa, ecónomo e estudante de
Química e o Ir. Paulo Coelho.
Em Agosto de 1969, abandonou a comunidade o P. Manuel Arruda, depois de
ter recebido de Roma o indulto da redução ao estado laical. Deixou também a
comunidade o Ir. Paulo Coelho, que foi para Godim, como cozinheiro. Por sua
vez vieram para esta comunidade o P. João Pinto da Silva e o Ir. Bonifácio. A
comunidade ficou assim constituída: P. Martins Vaz, director, P. Amorim da
Costa, ecónomo, P. João Pinto da Silva e Ir. Bonifácio.
Em Outubro de 1970, o P. Pinto da Silva partia para a nova residência de
Pedras Salgadas, sendo substituído pelo P. Firmino Cardoso Pinto.
Novas valências da Casa de Coimbra
Na sua reunião em Lisboa, de 8 e 9 de Outubro de 1970, o Conselho Provincial
resolveu transferir para Coimbra a Obra dos Irmãos, sendo nomeado director do
Postulantado o Irmão Duarte Costa. Pedida e concedida a autorização do bispo
da diocese, D. Francisco Rendeiro, a transferência do Fraião para Coimbra
começou a fazer-se com a chegada do Ir. Duarte Costa e do postulante Óscar,
a 26 de Outubro de 1970. Os restantes postulantes José Paiva, Carlos Silva,
Juvêncio Gonçalves, Machado, Queirós e Rocha chegariam a 25 de Novembro.
Era então superior da Residência o P. Manuel Martins Vaz, subdirector da obra
e ecónomo o P. Firmino Cardoso, cozinheiro o Ir. Bonifácio. Os aspirantes
começaram por frequentar o externato “Os Lusíadas” e a Escola Industrial
“Brotero” no primeiro e segundo ciclo. Esta obra funcionou nos anos 70 e 71. As
desistências foram bastantes ao longo do ano, pelo que esta obra não teve
continuidade.
A 28 de Setembro de 1971, regressa a esta comunidade o P. Isalino Gomes e
chega pela primeira vez o Ir. Eugénio (Avelino Afonso da Rocha) e no dia 30 o
P. Joaquim Vaz. A comunidade ficou constituída pelos PP. Isalino Gomes,
superior, P. Joaquim Vaz, e Irmãos Eugénio e Bonifácio.
A 26 de Setembro de 1972, o Ir. Bonifácio foi gravemente atropelado por um
automóvel, acidente de que veio a falecer no hospital a 11 de Outubro, sendo
sepultado no cemitério da Conchada.
A 1 de Janeiro de 1974, faleceu inesperadamente o P. Joaquim Vaz, sendo
sepultado em Penela, sua terra natal. Para o substituir na comunidade veio, a 1 de
Fevereiro de 1974, o P. Joaquim Correia da Rocha.
Em 1975, veio para a comunidade o P. Felismino Gabriel Jacob, a fim de
frequentar a faculdade de Medicina e, em 1976, o P. José Sequeira que assumiu o
ministério de pároco em S. Paulo de Frades.
Centro de Animação Missionária
Em 1976, devido a uma nova organização da animação missionária da
O Lar Académico de Coimbra
455
Província, foi criado um Centro de Animação Missionária em Coimbra, que
começou a funcionar com os PP. Veríssimo Manuel Teles e Adélio Cunha
Fonte.
Nesse mesmo ano, as duas casas, sobretudo a Casa Ferraz, sofreram profundas
remodelações. Em 1977, além do núcleo primitivo da casa formado pelos PP.
Isalino Gomes, Joaquim Correia da Rocha e José Ribeiro Sequeira, funcionava o
Centro de Animação Missionária, com os PP. Magalhães Fernandes, Veríssismo
Manuel Teles e Adélio da Cunha Fonte.
A 06 de Abril de 1977 o P. Isalino Gomes foi atropelado, sendo internado na
clínica de Santa Cruz.
A 30 de Julho de 1979 faleceu na clínica de Montes Claros o P. Joaquim Barata,
sendo sepultado na Conchada.
Em 1979/80 o Centro de Animação Missionária, instalado na Casa Ferraz
remodelada, era formado pelos PP. Veríssimo Teles, Adélio Cunha Fonte,
Magalhães Fernandes e Joaquim Correia da Rocha.
Em 1980, juntamente com a Animação Missionária começou a funcionar na
Casa Ferraz, a Obra dos Aspirantes Adultos, a cargo dos PP. Tarcísio Santos
Moreira, como director, Norberto Cristóvão e Ir. André. Entretanto o P.
Magalhães Fernandes foi para Espanha fazer um curso de preparação para Mestre
de Noviços. Esta Obra de Aspirantes Adultos funcionaria aqui desde 1980 a
1983.
Após várias diligências infrutíferas para localizar o noviciado dos clérigos na
diocese de Aveiro – uma dessas hipóteses foi a paróquia de Tamengos, junto da
Curia, mas a que faltavam as condições mínimas – o noviciado foi erigido, na
Casa Couceiro, nº 10. A autorização da Casa Generalícia é de 28 de Agosto de
1981 e a aprovação do bispo da diocese é de 6 de Julho de 1981.
Assim, com o P. Magalhães Fernandes a mestre de noviços e o P. Francisco
Gonçalves a sub-mestre, começou a funcionar o noviciado a 4 de Setembro de
1981, com os noviços António Pinto, João Teixeira, José Cunha e Tony Neves.
Como cozinheiro veio o Ir. Paulo Coelho. A Profissão foi a 8 de Setembro de
1982. O noviciado permaneceria nesta comunidade desde 1981 a 1983.
A 12 de Fevereiro de 1981, o P. Isalino teve uma queda que o obrigou a
hospitalizar-se de novo.
Quando o noviciado saiu desta casa, ela continuou mantendo como principal
actividade a Animação Missionária, com os PP. Adélio da Cunha Fonte,
Veríssimo Teles e Magalhães Fernandes. Como ecónomo, ficou o P. Francisco
Gonçalves. Em 1991, veio como animador missionário, o P. António Luís
Marques de Sousa.
O P. Isalino Gomes faleceu a 2 de Janeiro de 1986. O seu zelo apostólico nunca
conheceu tréguas e, sobretudo nos últimos anos, foi um grande conselheiro de
inúmeros sacerdotes e leigos através do ministério da reconciliação.
A casa Ferraz, nº14-16 em Fevereiro do ano 2000, foi arrendada a Leonor
Condesso Aires, pelo prazo de cinco anos para a instalação de um Lar de
Acolhimento a Jovens do sexo feminino do Ciclo Secundário e Universitário.
456
Adélio TORRES NEIVA
A comunidade, agora restringida à Casa Couceiro, celebrou o seu
cinquentenário a 30 de Outubro de 1993. Para solenizar a efeméride estiveram
presentes, além do Provincial, um representante de todas as casas da Província.
Presidiu às celebrações o Bispo da Diocese D. João Alves, que na Eucaristia,
concelebrada por duas dezenas de sacerdotes, salientou, agradecido, os serviços
prestados pela Congregação à sua diocese, particularmente ao Seminário,
garantindo durante décadas a administração do sacramento da reconciliação.
Nesse ministério mereceu particular referência o P. Isalino Gomes.
No ano de 2003, a comunidade tem como superior o P. Magalhães Fernandes,
ecónomo o P. Francisco Gonçalves e colaboram no ministério os PP. José
Coelho Amorim e Correia da Rocha. Para apoio material está o Irmão António
Gonçalves.
457
Capítulo 47
A Revista “Portugal em África” (2.ª Série)
A
revista “Portugal em África” constitui, sem dúvida, o documento
mais eloquente do investimento da LIAM na área da cultura,
sobretudo da cultura missionária.
A revista tinha nascido em Janeiro de 1894 e fora interrompida pela revolução
de 1910. Nasceu da necessidade de repor o protagonismo da religião cristã, então
muito contestado, nos espaços da colonização portuguesa. “Manter o público ao
corrente dos nossos trabalhos missionários, publicando ao mesmo tempo artigos
científicos sobre várias questões de interesse para as missões”. Em 1910, com a
implantação da República e a perseguição às Ordens e Congregações religiosas,
a revista não tinha mais condições para continuar a sua gesta.
Em 1944, depois da longa travessia do deserto em que as congregações
missionárias tinham sido silenciadas, o Governo acabou por reconhecer a
necessidade dessas congregações e o papel que elas poderiam desempenhar na
renovação da vocação missionária de Portugal e na recuperação do prestígio do
antigo Império ultramarino. Foi assim que foi firmada a Concordata e o Acordo
Missionário de 1940 e será assim que um grupo de espiritanos, integrados na
LIAM e mais sensíveis a esta problemática resolveu relançar a “Portugal em
África,” 50 anos depois do aparecimento do primeiro número da primeira série.
Logo na primeira reunião da “Obra da Propaganda” realizada em Lisboa a 8 de
Outubro de 1943, ficou decidido que o P. António Brásio ficaria especialmente
encarregado de se ocupar da colaboração externa da revista “Portugal em África”,
devendo convidar para isso pessoas idóneas e competentes. Alguns nomes foram
logo sugeridos nessa primeira reunião, tais como: Nuno Simões, Manuel Múrias,
Luís Chaves, Mendes Correia, Norton de Matos, Vicente Ferreira e outros. Do
mesmo modo deveriam ser contactadas congregações religiosas com
responsabilidades na matéria, como os Jesuítas, Beneditinos, Franciscanos, etc.
O P. Francisco Nogueira da Rocha ficaria incumbido do secretariado da revista
que deveria integrar as seguintes secções: Teologia missionária, História das
Missões, Etnologia, Problemas coloniais, Actualidade missionária, Revista de
revistas e Bibliografia.
No seu primeiro número, o P. Clemente Pereira da Silva, então Provincial dos
Espiritanos, lembrava os motivos que impunham o relançamento da revista:
“Não havia em Portugal nenhuma revista de cultura missionária: era uma
inferioridade a que se não podia sujeitar um país de tradições missionárias como o
nosso e era preciso formar a consciência missionária entre as classes cultas da
458
Adélio TORRES NEIVA
sociedade portuguesa, que não só entre o bom povo português, para o que existem já
bastantes publicações de carácter missionário. Assim reaparece Portugal em África“.
Os primeiros a aderir ao projecto foram os Drs. Nuno Simões, Manuel Múrias,
Luís Chaves, Padre Dias Diniz e Companhia de Jesus.
Na reunião de Dezembro desse mesmo ano, ficou assente o princípio de
permutar a revista só com jornais diários e revistas de cultura; optou-se pelas
seguintes revistas: Estudos (órgão do CADC de Coimbra), Brotéria, Boletim
Geral das Colónias, Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, Ocidente,
Revista de Portugal, Atlântico, Brasília, Instituto, Revista Portuguesa de
História, Biblos, Revista de Guimarães, Lumen, Revista da Faculdade de Letras
de Lisboa, Portucale, Mundo (Espanha), El Siglo de las Misiones e Catolicismo.
Eram as revistas com expressão cultural mais significativa ao alcance da língua
portuguesa e espanhola que então se publicavam.
Mais tarde, decidiu-se permutar ainda com os “Boletins” oficiais das várias
colónias e com a revista “Moçambique” de Lourenço Marques e foi também
decidido enviar a revista às principais editoras para receber e recensear os livros
que elas iam publicando.
O primeiro número da revista apareceu em Janeiro de 1944 e em 1947 contava
1.208 assinantes, número que se manterá sempre modesto, a revelar a constante
selectiva que sempre caracterizou a revista.
A revista extinguia-se em 1973, quando os ventos políticos da época tornavam
cada vez mais difícil manter a identidade da revista e cada vez menos oportuno o
título com que se apresentava.
De qualquer maneira, é indiscutível que a revista prestou um enorme serviço à
cultura missionária, como expressão da história e da problemática das missões,
como reflexão sobre a teologia missionária e sobre as ciências e a história das
missões. Num primeiro tempo, sendo redactor o P. António Brásio, “Portugal
em África” investirá sobretudo no espaço da História; num segundo momento,
sob a responsabilidade do P. Álvaro Miranda Santos, serão as ciências humanas,
como a psicologia e a sociologia que serão privilegiadas; finalmente na sua
terceira fase, a fase da renovação conciliar, sendo redactor o P. Adélio Torres
Neiva, será a teologia da missão que levará a prioridade.
Entre os seus colaboradores, ao longo destes 29 anos, contam-se missiólogos,
historiadores, cientistas, homens do governo e da Igreja e missionários.
Lembremos alguns:
- entre os teólogos e missiólogos, André Seumois, Masson, Daniélou, Charles
Pierre, Jorge Sanches, Alves Correia, Fernando Santos Neves, Manuel
Gonçalves, Jorge Veríssimo, etc.
- dos historiadores, merecem referência o P. António Brásio, Silva Rego,
Serafim Leite, Dias Diniz, Costa Brochado, Alberto Iria, Lopes de Almeida,
Braga Paixão, António Ambrósio, Leite de Faria, Elaine Sanceau, António Silva,
Domingos Maurício.
- entre os cientistas e homens do saber, podemos destacar o P. Carlos
Estermann, Carlos Mitelberger, Luís Chaves, Constâncio Tastevin, Nuno
A Revista “Portugal em África” (2.ª Série)
459
Simões, Jorge Dias, Álvaro Miranda Santos, Nogueira da Rocha, Clemente
Pereira da Silva, José Martins Vaz, Joaquim Martins, Francisco Valente, Joaquim
António Silva, Correia Marques, António de Almeida, Marcelo Caetano,
Moreira das Neves, José Maria Gaspar, Alberto Postioma, Diniz da Fonseca,
Lopes Cardoso, Mendes Correia, Gastão de Sousa Dias, Antunes Valente, Plínio
Salgado, Tomaz Ribas, Jorge Alarcão, João de Castro Osório, Pacheco Amorim.
- das autoridades eclesiásticas, lembremos D. Moisés Alves de Pinho, D.
Altino Santana, D. Teodósio Gouveia, D. José da Costa Nunes, D. Agostinho
de Moura, D. Manuel Nunes Gabriel.
- entre governadores e homens de Estado, podemos recordar o comandante
Freitas Morna, Silva Tavares, Silva Cunha.
- Maior é a lista de missionários que colaboraram na revista; só como exemplos,
destaquemos Augusto Teixeira Maio, José Felício, Henrique Alves, Serafim
Lourenço, Firmino Cardoso, Medeiros Janeiro, Alberto dos Anjos Coelho, João
Vissers, José da Rocha Ferreira, Laurence Henderson, Manuel Geraldes, etc.
A temática é extremamente variada. São múltiplos os estudos de Teologia
Missionária, Espiritualidade Espiritana, História das Missões, Problemas de
missionação, Ciências da Missão, como Etnografia, Linguística, Liturgia,
Medicina, Literatura, Antropologia, além das secções habituais, como:
Documentação, Seara alheia, Panorama missionário, Bibliografia, etc.
De salientar dois números especiais: um, sobre as “Diagonais da Aculturação”,
em 1960-61 e outro sobre “Evangelização e Linguística”, a propósito do I
Encontro de Escritores de Angola, em 1973.
Pode dizer-se que a visão teológica da missão apresentada pela “Portugal em
África”, estava em consonância com a nova leitura da missão, embora a
condicionante da hegemonia da soberania portuguesa estivesse sempre, pelo
menos implícita. A maior parte dos artigos da teologia missionária, sobretudo
antes do Concílio Vaticano II, mantém a ligação tradicional daquela com o
alargamento da soberania portuguesa. No entanto, esta dimensão vai-se
esfumando até desaparecer quase completamente nos últimos anos da revista.
Efectivamente, durante todo o período da segunda série da revista, Portugal
continuou a viver como potência colonial; este continuava a manifestar
pretensões de preservação das províncias ultramarinas no seu território nacional,
embora a ambiência internacional se afastasse cada vez mais desta perspectiva.
Nos anos 40, surgiu em África o Movimento da Negritude - um movimento de
luta anti-colonialista que procurava afirmar os valores da sua própria cultura e
reivindicar a sua autonomia – e o movimento das independências afirmava-se
cada vez mais como única saída para o futuro. São poucos os autores da revista
“Portugal em África” que se pronunciam sobre este delicado tema da autonomia
das Províncias Ultramarinas, até porque a revista estava sujeita à censura política
e vários artigos foram de facto censurados. Os missionários que se pronunciaram
sobre o assunto, nesta segunda série da revista, sintonizam-se em geral, pela
política do Estado Português. Pode dizer-se que a segunda série da revista se
identifica com a mesma estratégia da primeira: “Hoje como há 50 anos, em África,
460
Adélio TORRES NEIVA
devemos procurar a grandeza da Pátria Maior”, escreveu o seu director logo no
primeiro número. Esta linha de conduta nunca será negada pela “Portugal em
África”; particularmente o P. António Brásio, que assumiu a direcção da revista
logo a seguir ao P. Clemente Pereira da Silva, manifestou-se sempre
intransigente nesta matéria.
O problema será despistado, sobretudo na época pós-conciliar, ignorando a
dimensão patriótica da missionação e insistindo cada vez mais nos valores da
doutrina conciliar. Pouco a pouco, os novos temas da missiologia como a
adaptação missionária, a inculturação, a igreja local, etc. foram abrindo o seu
espaço, sobretudo pela porta das ciências humanas em que o P. Álvaro Miranda
Santos, como director, investiu fortemente.
Durante os anos do Concílio e nos anos subsequentes, a revista aborda
praticamente toda a temática da nova teologia da missão, como o ecumenismo, a
colegialidade episcopal, o protagonismo da igreja local na missão, a
especificidade da Missão Ad Gentes, regresso às fontes, etc. Nesta fase foi
evidente a preocupação dos redactores e da direcção da revista em abrir a Igreja
portuguesa ao repensamento missionário conciliar. De uma missionação aliada à
expansão da soberania portuguesa, passou-se a um modo de missionar a partir
dos próprios documentos do Concílio. A história do passado cede cada vez mais
terreno à história do nosso tempo.
É ainda nesta linha que emerge cada vez mais o estudo e a redescoberta dos
fundadores e o repensamento da espiritualidade espiritana. São efectivamente
numerosos os artigos sobre a missão e a espiritualidade espiritana, agora lidos à
luz das fontes, em perspectiva conciliar.
“Portugal em África” é um testemunho único do itinerário da missão no
contexto português e da sua conversão à renovação da teologia da missão.
461
Capítulo 48
O Seminário da Torre da Aguilha
A
Quinta da Torre da Aguilha
O P. Joaquim Coelho da Silva, cura da freguesia de S. Domingos de Rana,
anexa a S. Pedro de Penaferim, de Sintra, escreve a 8 de Abril de 1758, à
Academia Real de História, dizendo que S. Domingos de Rana tinha 24 lugares,
entre os quais Torre da Guilha, que contava então quatro fogos e acrescentava
que “os maiores lucros deste povo procedem da abundância de pedra de
cantaria”. A Torre da Guilha tinha então uma ermida dedicada a Santa Ana.392
Na “Descrição do Reino de Portugal”, escreveu o cronista Duarte Nunes Leão:
“Outra (pedra mármore) vermelha há em Cascais a que chamão Torre da Guilha
ainda de mais cerrado vermelho da qual ao presente se faz mais caso q de outras &
se busca mais pera as obras de que agora se fez hua grande ara para a capella moor
de nossa Senhora da Graça desta cidade. Nestas pedras despois de lauradas &
polidas com o lustre que tem se podem ver como espelhos”.393
A pedra de que fala Nunes Leão era tirada de uma pedreira pertencente à
propriedade que a Casa Camaride possuía no sítio da Torre da Guilha.394
Segundo Pinho Leal no seu “Portugal Antigo e Moderno”, de 1874, na
freguesia de S. Domingos de Rana, do concelho de Cascais, existia a Torre da
Guilha, que tinha “excelentes mármores vermelhos, com os quais se fez a capela
de Manique de Baixo, da freguesia de Alcabideche, que foi dos marqueses de
Minas, a Igreja da Graça, de Lisboa e outras obras”.395
A Torre da Aguilha vem também já referida na “Corografia Portuguesa” do
Padre Carvalho Costa, de 1706, junto a Sassoeiros e Parede e pelo Padre Marçal
da Silveira, em 1758.
No documento da chancelaria de D. José I em que, por decreto de 11 de
Agosto de 1759, se eleva a vila o lugar de Carcavelos, se diz expressamente que
dele fazem parte diversas quintas, entre as quais a da Torre da Aguilha.
Segundo informação de Maria Acher no seu livro “Memórias da Linha de
Cascais”, a quinta da Torre da Aguilha pertencia antigamente à Condessa de
392
PPCSSp Relatório da visita de 17 de Março de 1947
Torre do Tombo. Dicionário Geográfico de Portugal. Vol. XXXI p. 41.42
Leão, Duarte Nunes. Descrição do Reino de Portugal. Lisboa 1610. p. 45
395
Barruncho, Lourenço de Seixas Borges. Apontamentos para a História da Vila e Concelho de Cascaes. Lisboa. 1873. p. 70
393
394
462
Adélio TORRES NEIVA
Camarido, que a vendeu a uma família inglesa, os Norton, os quais a
transformaram numa granja D. João V e a enriqueceram com um importante e
luxuoso palacete, sob os planos e a direcção do arquitecto Rebelo de Andrade.
“Domina o monte no alto da quinta, com seus varandins, seus torreões, seus telhados
pontiagudos. Casa moderna, casa cómoda, mas de aparência antiga e solarenga.
Goza da fama de ter sido construída no local de um antigo convento, cujas paredes
foram aproveitadas para obra nova. É sua actual proprietária a família Serrão
Franco”. De facto, a quando da compra da Quinta da Torre da Aguilha pelos
Espiritanos em 1948, esta confinava ainda com terras de Robert Henry Norton.
Teria sido o inglês, Godofredo Norton, o construtor do palácio que incluía
“casas de habitação, celeiro e vacarias”, rodeado de 73 hectares de outras
culturas.396
Em 1804, um quadro da época apresentava o palácio como “Casa de Campo do
senhor Sousa de Falcon”. Depois terá passado para a posse de Serrão Franco, a
quem a Congregação do Espírito Santo o comprou a 13 de Junho de 1948.
No tempo de mister Norton eram frequentes as reuniões mundanas neste
palácio e os jantares festivos na sala de jantar, decorada com valiosos azulejos do
século XVII.
Discute-se a origem do nome da quinta. Devido a ele aparecer em alguns
documentos escrito como “Torre da Guilha”, Diogo Correia é de opinião que
uma vez que o termo “guilha” significa “colheita abundante de cereais”, o nome
teria sido tomado do facto da quinta ser um “terreno próprio para a cultura de
trigo”. De facto J. Pedro Machado no seu Dicionário Etimológico da Língua
Portuguesa, diz que o termo “guilha” provém do árabe “galla” que significa
colheita abundante de cereais, através do espanhol “guilla”, que significa colheita.
Por sua vez, Eduardo Faria, no seu Novo Dicionário da Língua Portuguesa, em
1849, afirma que “guilha” é sinónimo de seara.
Além de terra excelente para produzir trigo, o que confirma a sua origem árabe,
aquela terra era também rica em pedra mármore. Em 1712, o termo de Cascais
era formado pela povoação da Torre da Guilha, entre outras, onde havia
excelentes mármores vermelhos, com os quais foi feita, conforme diz Pinho Leal,
a capela de Manique de Baixo, na freguesia de Alcabideche, que foi dos
Marqueses de Minas, a Igreja da Graça em Lisboa, etc. Esta Igreja da Graça,
construída de 1556 a 1565 por Frei Luís de Montoia, reformador dos Ermitas de
Santo Agostinho, abateu com o terramoto de 1755, sendo reconstruída nos finais
do século XVIII.
Por seu lado, José da Encarnação vai buscar a origem do nome à palavra
“turris” (torre) com que os romanos designavam as suas casas de campo ou
explorações agrárias de uma certa monta, já que aí era explorado um importante
filão de mármore vermelho. Neste caso, Aguilha derivaria da palavra romana
“aquila” (águia), supondo que por ali não faltariam águias. Nesta leitura, a origem
de Torre da Aguilha estaria na “Torre da Águia”.
396
Leal, Pinho. Portugal antigo e Moderno. Lisboa, 1874. Vol II p. 478
O Seminário da Torre da Aguilha
463
De qualquer modo, o que parece fora de dúvida, é que o seu verdadeiro nome
era “Torre da Guilha” e não Torre da Aguilha” como hoje se chama.
A compra da “Quinta da Aguilha”
Na sua reunião de 22 de Fevereiro de 1948, o Conselho Provincial da
Congregação do Espírito Santo, presidido pelo Provincial P. José Pereira de
Oliveira, constatava que a Congregação tinha necessidade de construir com
urgência um Escolasticado ou Seminário Maior novo, visto o de Viana do
Castelo já não satisfazer às necessidades da Província. Para sua localização
deveria preferir-se o termo de Lisboa. A capital oferecia efectivamente
possibilidades de formação aos seminaristas e de contactos culturais de que as
outras terras não dispunham e, de resto, era ali que se tratava da documentação
para as viagens para o Ultramar e era dali que os missionários partiam para as
missões.
O P. Agostinho Lopes de Moura, então director da Obra da Propaganda, mais
tarde chamada Animação Missionária, em virtude desse cargo, foi incumbido de
fazer as primeiras diligências nesse sentido. Dinâmico como era, começou logo
por contactar um conhecido agente de compras e vendas, o sr. Vidal Bizarro, a
quem expôs o assunto. Por sorte, mesmo no dia anterior, um colega seu o tinha
abordado, falando-lhe de uma
propriedade que estava à venda e
que parecia corresponder às
exigências do projecto em questão.
No dia seguinte, o P. Agostinho
de Moura, com o P. João Pinto da
Silva, ecónomo provincial e o P.
Francisco Nogueira da Rocha,
acompanhados dos dois agentes,
dirigiram-se para a Torre da
Aguilha, em S. Domingos de Rana.
Grupo de amigos no “palácio” da Torre da Aguilha
A primeira impressão do local e do
terreno foi favorável:“Um montado alentejano com portas para a Rua do Ouro”,
dizia o agente. O que mais convencia os padres era o planalto em frente do
palácio da quinta, onde se poderia construir um seminário com uma maravilhosa
vista sobre o Tejo e a Costa do Sol.
Mas era preciso não se precipitar. Visitaram-se outras quintas à venda.
Ranholas, Belas, Ericeira, Queluz, Sintra, Colares, Rio de Mouro, Albarraque,
Linhó, Vila Franca de Xira, Caneças, Loures, Santarém, foram alguns dos locais
visitados. Ponderadas todas as vantagens e desvantagens, a Torre da Aguilha
acabaria por prevalecer.
O assunto foi estudado em várias reuniões do Conselho Provincial. Os
conselheiros foram pessoalmente ver a propriedade. Não faltaram dificuldades e
hesitações, chegando-se mesmo a enviar um relatório para a Casa Mãe, a quem
464
Adélio TORRES NEIVA
se pediu conselho e opinião. O Procurador Geral da Congregação, P. Letourneur,
veio expressamente ver a quinta e foi de opinião que seria uma boa aquisição.
Uma boa formação dos missionários era cada vez mais uma exigência da missão
e uma casa de formação para a Teologia, próxima da capital, era de todo
aconselhada.
Nessa altura a Província poderia apenas dispor de 2 mil contos, incluindo 700
das bolsas de estudo e 600 que o P. Agostinho Moura tinha angariado na sua
viagem ao Brasil.
As condições de aprovação do Conselho Provincial ficaram assim estipuladas
nas actas da sua reunião de 28 a 30 de Abril de 1948:
a) Para a compra da quinta, a Província entra com 700 contos das bolsas, caso
venham os 600 contos do Brasil;
b) O restante capital necessário para a compra, conseguir-se-á por meio de
hipoteca sobre a própria quinta e se esta não for suficiente, por hipoteca sobre a
casa da Estrela;
c) A quinta é entregue à Propaganda para que esta pague a dívida (capital e
juros), administre, explore e cuide das construções para o seminário, sem deixar
de continuar a dar à Província o subsídio anual de 300 contos;
d) Se a quinta houver de se comprar por mais de 1800 contos é preciso consultar
de novo o Conselho. Faça-se oferta de 1300 contos. Para tratar de todos os
assuntos fica encarregado o P. Agostinho de Moura e a Obra da Propaganda.
O Patriarca de Lisboa autorizava a construção do Seminário com as seguintes
condições:
“a) O seminário não terá capela pública nem os fiéis serão admitidos aos actos de
culto realizados na capela do seminário;
b) por esta razão também a capela será desprovida de porta para o exterior do
edifício;
c) havendo necessidade um dos padres será o pároco de qualquer das paróquias, a
juízo do Patriarca;
d) os sacerdotes residentes, como aliás é timbre dos Padres do Espírito Santo,
colaborarão com os padres daquela região no apostolado e cristianização dos povos.
Deus guarde V. Rev ª Lisboa, 5 de Novembro de 1948. M. Cardeal Patriarca.”
Finalmente por escritura de 13 de Outubro de 1948, lavrada no 10º Cartório
Notarial na Rua Augusta, nº100, em Lisboa, pelo notário Bacharel Augusto,
Faustino dos Santos Crespo o outorgante José Casimiro Serrão Franco e sua
esposa, D. Madalena Casanova y Augustine Serrão Franco vendiam à
Congregação do Espírito Santo, ali representada na pessoa do seu Provincial, o
P. José Pereira de Oliveira, 36 prédios, que no seu conjunto constituíam o que
chamamos “Quinta da Torre da Aguilha”. Ao todo 73 hectares de terra. O preço
da venda foi de 1.800 contos dos quais 300 contos foram entregues no momento
e 700 seriam a 31 de Julho, data em que o proprietário entregou a chave da casa.
Esta venda incluia prédios rústicos de semeadura, prédios de terra inculta, e a
O Seminário da Torre da Aguilha
465
propriamente chamada “Quinta da Torre da Aguilha”, “terra de semeadura com
a área aproximada de quatro geiras e meia, composta de casas, capela e abegoaria
quase arruinada em parte e a outra parte completamente arruinada”. Quase todas
as propriedades se situavam no lugar da Aguilha, na freguesia de S. Domingos de
Rana.397
Quando a quinta foi entregue à Congregação do Espírito Santo, esta tomou
conta não só do velho palácio como também da horta que então estava arrendada
ao caseiro. A quinta estava arrendada a Constantino Vicente que a entregou
também, depois de ter retirado os animais e material agrícola que lhe pertenciam.
Entretanto, por indicação do Sr. Fontes, primo do P. Avantino de Sousa e
antigo aluno do seminário do Fraião, viera tomar conta da quinta e da casa um
feitor, o Sr. Silvano Mosca, de perto de Chaves, já conhecedor da agricultura
desta região, por ter sido feitor de outras quintas da região de Lisboa.
Os primeiros tempos e o lançamento da primeira pedra
A primeira iniciativa que se tomou na Torre da Aguilha foi a organização de
uma “Festa Regionalista” de campanha e promoção da construção do seminário
no Pentecostes de 1949, no pátio do palácio e que decorreu com grande afluência
e participação de muitos núcleos da LIAM de todo o país.
Pouco depois, o feitor foi substituído por uma equipa de Irmãos Espiritanos:
do Fraião veio o Ir. Moisés para se ocupar da vacaria; de Lisboa, o Ir. Valentim
que tomou conta da cozinha e do aviário e para as hortas e o cultivo dos campos
foi designado o Ir. Celestino, que estava para chegar de Paris.
Dentro de uma semana deram-se as voltas todas e a primeira missa na nova
comunidade, instalada no “palácio” foi celebrada no 1º Domingo do Advento
desse ano, ficando desde então o Santíssimo Sacramento a residir na Torre da
Aguilha.
A Casa Mãe da Congregação, consultada, foi de opinião que a erecção oficial
da residência espiritana deveria ser adiada por mais algum tempo, ficando a nova
comunidade anexa à comunidade de Lisboa, podendo o Superior desta, na altura
o P. Francisco Nogueira da Rocha, vir aqui residir o tempo que julgasse
necessário.
A princípio, a Eucaristia não podia ser diária, por falta de sacerdote
permanente. Só o começou a ser quando, algum tempo depois, para ali foi
enviado o P. Eduardo Georger com essa incumbência. Entretanto, quando não
havia missa em casa, o P. Francisco Rocha que celebrava a missa no Hospital
Infantil da Parede, levava e trazia os Irmãos com ele. Ao domingo binava nas
duas capelas. O P. Rocha acabou por comprar uma bicicleta para cada Irmão,
especialmente para poderem ir à missa ao Hospital Infantil.
Uma pequena mesa que fora comprada para o feitor, foi colocada na cozinha,
servindo ao mesmo tempo de secretária de escritório e mesa de jantar. A única
397
Diário de Notícias, 5 de Março de 1951
466
Adélio TORRES NEIVA
luz que iluminava era um candeeiro que seguia a comunidade nas suas
deslocações dentro de casa.
Entretanto, estava-se elaborando a planta do novo edifício que o Ministro do
Ultramar, capitão Teófilo Duarte, autorizara fosse feita gratuitamente pelo
Gabinete de Urbanização do Ultramar, sendo seu autor o arquitecto Licínio
Cruz. A localização do seminário ficara logo decidida a quando da primeira visita
ao local.
A obra foi orçamentada em 13 mil contos e praticamente não havia verba
nenhuma para começar: na melhor das hipóteses podia-se dispor de dois mil contos.
A 8 de Dezembro de 1950, Festa da Imaculada Conceição, em pleno Ano
Santo, numa tarde agreste, sacudida pelo vento e pela chuva, o Cardeal Patriarca
de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, lançava a primeira pedra do que viria
a ser chamado Instituto Superior Missionário do Espírito Santo. Assistiram ao
acto, o novo Provincial da Congregação e que seria a alma desta obra, o P.
Agostinho de Moura, o Ministro do Ultramar, Comandante Sarmento
Rodrigues, e vários membros e amigos da Congregação. Pela tardinha, no Palácio
da Torre da Aguilha, foi servido pelas liamistas um magnífico copo de água.
Aqui fica arquivado o “Auto da bênção e lançamento da primeira pedra”:
“No Ano Santo do Grande Jubileu – 1950, depois do nascimento de Cristo;
ocorrendo o nonagésimo sexto aniversário da definição do Dogma da Imaculada
Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria; exultando ainda com enorme alegria
todo o orbe, pela assunção aos céus da Santíssima Virgem Maria, que a autoridade
pontifícia infalivelmente pronunciou; celebrando solenemente toda a nação Lusa a
festa da sua celeste Padroeira; reinando gloriosamente o Sumo Pontífice Pio XII, no
duodécimo ano do seu Pontificado; sendo Chefe Supremo da Nação portuguesa o
egrégio Marechal António Oscar de Fragoso Carmona; sendo Presidente do
Conselho de Ministros, o ilustríssimo Doutor António de Oliveira Salazar; sendo
Superior Geral da Congregação do Espírito Santo sob a protecção do Imaculado
Coração de Maria, o Muito Reverendo Padre Francisco Griffin; e Superior da
Província Portuguesa da mesma Congregação, o Reverendíssimo Padre Agostinho
Joaquim Lopes de Moura: o Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor D. Manuel
Gonçalves Cerejeira, Cardeal da Santa Igreja Romana e Patriarca de Lisboa, com
a assistência de ilustríssimos ministros do Governo da Nação e de insignes
Benfeitores dos Missionários, filiados da Liga Intensificadora da Acção Missionária
(vulgo L.I.AM.), bem como de muitos membros da Congregação do Espírito Santo
e grande multidão de povo, benzeu solenemente e lançou a primeira pedra deste
Instituto Missionário do Espírito Santo, dedicado a Nossa Senhora do Rosário de
Fátima e destinado à formação sacerdotal dos Missionários que hão-de evangelizar
o Império Português.
Praza a Deus, sumamente bom e altíssimo, pela benigna intercessão da Imaculada
Virgem coroada nos Céus, excelsa Padroeira da Nação Portuguesa, que em
portuguesa terra sobre o Monte da Cova da Iria, se mostrou aos olhos de três
crianças – praza a Deus que também destoutro Monte da Torre da Aguilha,
santificado como aquele pela maternal presença da Santíssima Virgem Maria, seja
O Seminário da Torre da Aguilha
467
enviado todos os anos um exército cada vez maior de novos soldados de Cristo, para
transmitir a todo o mundo a mesma mensagem que as montanhas de Fátima
ouviram pela palavra da Virgem e as montanhas de Judá pelo próprio Cristo.
E para constar se lavrou este documento que, munido do sinal e selo da Província
Portuguesa da Congregação do Espírito Santo sob a protecção do Imaculado
Coração de Maria, e da assinatura dos presentes, será metido na primeira pedra dos
alicerces deste Instituto, juntamente com as medalhas do Espírito Santo, do Rosário
da Congregação, do Sacratíssimo Coração de Jesus, de Nossa Senhora de África e de
Fátima, de S. Miguel Arcanjo, de S. Francisco Xavier e de S. João de Brito, de Santa
Teresa do Menino Jesus, do Papa Pio XII e do Ano Santo, assim como muitas
moedas com curso legal no tricórnio da República Portuguesa”.
No Monte da Torre da Aguilha,
Arredores de Lisboa,
No dia oito de Dezembro de 1950”.
Logo a seguir, em artigo do jornal ‘Acção Missionária’, no relato da bênção e
lançamento da primeira pedra, o P. Agostinho de Moura lançava um apelo a
todos os benfeitores e amigos das missões para se empenharem na construção
desta obra.398 De facto, o milagre que foi a construção do Seminário da Torre da
Aguilha só foi possível pela mobilização que se operou em todo o país: entidades
governativas, nomeadamente os Ministérios do Ultramar e das Obras Públicas,
empresas, bancos e casas comerciais de Portugal e de Angola, benfeitores
insignes e povo simples, todos se deram as mãos para que esta obra se levantasse
com a urgência que se impunha: em pouco mais de um ano a primeira fase das
obras estaria pronta para acolher os seminaristas.
Na mobilização das altas esferas esteve um grupo de amigos e benfeitores de
Angola e da metrópole, como o Comendador António Duarte Martins e sua
esposa D. Maria Augusta Fontoura, o dr. Nuno Simões, dr. Ernesto Cirilo, dr.
Ricardo Espírito Santo, Comandante Freitas Morna, etc.
Nas camadas populares, foram incansáveis os núcleos da LIAM de todo o país.
Começou-se pelas Festas Regionalistas anuais, primeiro na Aguilha, depois no
Parque Eduardo VII, em Lisboa, e logo entraram na onda rendas, bordados,
tapetes, louças, artigos regionais, conservas, frutas, bebidas, etc. Recorreu-se aos
Amigos das Missões, às Câmaras Municipais, às Comissões de Turismo, aos
Grémios da Lavoura, às Casas do Povo, aos artistas da Rádio e aos jogadores de
hockey em Patins, aos Orfeões Universitários de Coimbra e do Porto, às Juntas
de Freguesia, às Sociedades Culturais e de Recreio, etc.
Passou-se depois à Campanha dos Proprietários de Honra da Quinta, à
Campanha da Compra do Metro Quadrado, à Campanha dos Grandes
Beneméritos Fundadores, dos Beneméritos Fundadores, dos Amigos
Fundadores e dos Sócios Fundadores, Campanha do escudo mensal, Campanha
do Ramalhete Espiritual, etc. E não faltaram propostas concretas de ajuda como
398
Arquivo Provincial CSSp. Escritura da Compra da Torre da Aguilha
468
Adélio TORRES NEIVA
a construção do altar-mor da igreja a que logo aderiu o Sr. Comendador Duarte
Martins e sua esposa, a construção de cada um dos quinze altares laterais, compra
de cálices e alfaias de culto, etc.
Depois, já levantado o seminário, viria a Campanha dos Iluminadores da Cruz
(ALILUZ), iluminação da cruz do seminário que, do crepúsculo ao amanhecer,
seria farol da missão para as naves que desciam e subiam o Tejo.
E numa fase ainda mais adiantada da obra seria lançada a campanha da mobília
dos quartos, etc.
Todo este movimento seria acompanhado com frequentes reuniões e
encontros dos “Amigos de Angola”, sempre atentos ao crescimento e
desenvolvimento da obra, para que o entusiasmo não esmorecesse nem a obra se
interrompesse. E esse viria a ser um segundo milagre: a construção do seminário
nunca se interrompeu e os “timings” exigidos pela evolução da situação foram
cumpridos.
Desde os primeiros tempos merece referência especial um grupo de leigos
amigos que acompanharam o nascimento desta obra com a ternura de quem a fez
sua: o Comendador Duarte Martins, sempre atento ao essencial e às urgências da
vida do seminário, sua esposa D. Maria Augusta, particularmente sensível aos
seus mimos de madrinha, com a oferta de meias aos seminaristas pelo Natal, de
amêndoas pela Páscoa, às alfaias de culto e outras delicadezas do altar e o Conde
de Riba d´Ave, mais motivado pela necessidade de lazer dos seminaristas, a quem
oferecia um passeio todos os anos.
O início das obras
A demora no estudo do projecto fez com que as obras só pudessem começar a
16 de Agosto de 1951. Orientou-as o arquitecto Licínio Cruz, do Ministério do
Ultramar, tendo tomado conta da empreitada o construtor Júlio Cismeiro.
“Nesse dia 6 de Agosto, de manhãzinha, ainda as ovelhas da Quinta da Torre da
Aguilha pastavam tranquilamente no local onde se ia começar a erguer o Instituto
Superior Missionário do Espírito Santo.
Depois chegou o Sr. Júlio Cismeiro com dezenas de operários. As ovelhas foram
para outras pastagens. Homens e máquinas entraram em acção, abriram-se os
caboucos, encheram-se os alicerces, as paredes vão-se erguendo em ritmo
acelerado.”399
No ano seguinte, uma grande parte da construção que incluía o pavilhão
central até à igreja, e alguns serviços anexos, como a sala de jantar, a cozinha, a
biblioteca, as galerias, etc, estava pouco mais ou menos em condições de se poder
habitar. A igreja só mais tarde se resolveu construir e no dia 16 de Janeiro de
1952, o benfeitor Dr. Ricardo Espírito Santo dava a primeira sacholada no
terreno para abrir os seus alicerces.
Pressionados por falta de espaço em Viana do Castelo, os alunos de Teologia
399
Acção Missionária. Janeiro de 1951
O Seminário da Torre da Aguilha
469
chegaram à Torre da Aguilha a 29 de Outubro de 1952, depois das férias se terem
prolongado por mais um mês, à espera da conclusão das obras.
A sala da biblioteca foi provisoriamente aproveitada para capela, pois a igreja
estava ainda em construção e para salas de aulas adaptaram-se salas destinadas a
outros fins. A sala de comunidade ficou a funcionar na extremidade da galeria do
primeiro andar e a sala do centro do segundo andar foi escolhida para biblioteca.
No rés-do-chão foram também aproveitadas duas salas de visitas para quartos de
habitação.
Apesar de inacabado, o edifício mostrava já a imponência e a elegância que o
caracterizam. Amplo e rectilíneo, cheio de luz e de sol, voltado para o mar e para
a distância, o edifício impunha-se pelo seu traçado arrojado e elegante, pela
beleza da sua torre sóbria e firme, pela imponência da sua fachada, matizada pelo
colorido verde das suas persianas.
O nome com que se baptizou o novo seminário foi “Instituto Superior
Missionário do Espírito Santo”, pois o pensamento original foi fazer dele não
apenas um seminário de Teologia, mas também um grande centro de cultura
missionária e ultramarina. Portugal não possuía na capital do seu Império uma
instituição missionária condigna, que visibilizasse a missão que o tornou grande
entre os povos.
A abertura do seminário e das aulas
A nova comunidade tinha sido erecta canonicamente a 2 de Setembro de 1952,
tendo sido nomeado seu primeiro superior e director o P. Firmino Cardoso
Pinto.
Os teólogos, acompanhados por todo o corpo docente, saíram de Viana do
Castelo no comboio das 07h40, no dia 29 de Outubro. Na sua passagem pela
Silva foram cumprimentados no apeadeiro pelos noviços e seus dirigentes que
acorreram à sua passagem e, no Porto, pelo P. José Neiva Araújo e pelo Ir.
Carlos.
A chegada à estação do Rossio foi pelas 18.30, sendo aqui recebidos pelos PP.
António Rodas, António Brásio, Silva Amorim e pelos Ir. Ambrósio e Sr.
Manuel Teixeira. A viagem para a Torre da Aguilha foi feita em dois autocarros.
Aqui eram esperados pelos PP. Provincial, José da Fonseca Lopes e António
Giroto.
O culto foi inaugurado nesse mesmo dia às 21.30, na capela provisória da casa,
com o mês do Rosário e o canto do Magnificat.
Ao outro dia, 30 de Outubro, foi cantada a Missa do Imaculado Coração de
Maria, presidida pelo P. Provincial. A comunidade ficaria consagrada a Nossa
Senhora de Fátima.
No dia 31 de Outubro, foi a abertura solene das aulas. Ao almoço prestou-se
uma significativa homenagem ao grande obreiro desta casa, o P. Agostinho de
Moura e pelas 16.00 horas realizou-se uma Sessão Solene para a abertura das aulas
na galeria do primeiro andar. Nela participaram, além dos confrades da
470
Adélio TORRES NEIVA
Comunidade de Lisboa e de outras comunidades, o Ministro do Ultramar
Comandante Sarmento Rodrigues, o Bispo de Prienne, em representação do Sr.
Cardeal Patriarca, ausente em Braga, e numeroso grupo de benfeitores e amigos,
entre os quais se destacavam o
Director Geral do Ensino
Ultramarino, o Presidente da
Câmara de Cascais, o Gerente da
Diamang, etc. A oração de
Sapiência foi proferida pelo P.
António Giroto que versou o tema
“Razões porque este Instituto foi
consagrado a Nossa Senhora”. O
copo de água final foi servido pelas
Liamistas da Parede.
Fachada Principal
O corpo docente do seminário
ficou assim constituído: P. Firmino Cardoso, reitor, P. José da Fonseca Lopes,
ecónomo, PP. José Finck, Fernando Moreira, Agostinho Pinheiro, António
Pereira Rodrigues e António Giroto.
Como pároco de Carcavelos e S. Domingos de Rana, ficava o P. Querubim
Meireles.
A equipa dos Irmãos era formada pelos Irs. Luís Gonzaga, Moisés, Valentim,
Lúcio, João de Deus, Modesto, Frutuoso, Samuel e Hilário.
Os teólogos eram 46, assim distribuídos: 9 do IV ano de Teologia (Anacleto
Baptista, Manuel Martins Ferreira,
João Gomes Gonçalves, Joaquim
Correia, Porfírio Lourenço, Óscar
Guedes,
Manuel
Rodrigues
Teixeira, Luís Cabral e Eduardo
Moniz); 16 do III ano: (Proença,
Carvalho, Lapa, Carlos Ferreira,
Custódio Campos, Sá Cachada,
Pinheiro,
Belmiro,
Joaquim
Mendes, Torres Palma, Alberto
Camboa, Almeida, Fernando
Seminário da Torre da Aguilha
Antonione, Alberto Fonseca
Lopes, Ferreira da Silva); 8 do II ano (Laranjeira, Valinho, Neiva, Veiga, Pires,
Manuel Martins, Pontes e Lima); 13 do I ano (Marante, Costa, Afonso da
Cunha, Fernandes Correia, Ribeiro Lopes, Sousa Pinho, Seixas, Costa Campos,
Pereira, Torres Neiva, António Paulo, Correia de Pinho e Nunes).
Inauguração Solene do Seminário
Só cinco anos depois, após a construção do Pavilhão Leste, é que o Seminário
foi solenemente inaugurado. Foi a 7 de Julho de 1957, festa da Consagração ao
O Seminário da Torre da Aguilha
471
Apostolado dos Finalistas. O Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel
Gonçalves Cerejeira, e com a presença do Sr. Núncio Apostólico, presidiu a esta
inauguração. Além destes prelados, estiveram presentes o Bispo de Tiava, D. José
Pedro da Silva, Eng. Carlos Abecassis, Ministro e Subsecretário do Ultramar, Dr.
Félix Amaral, em representação do Ministro das Obras Públicas, Dr. Braga
Paixão, Director Geral do Ensino Ultramarino, Dr. Cruz de Oliveira, Presidente
do Supremo Tribunal Administrativo, a deputada Margarida Craveiro Lopes,
Tenente Coronel Cardoso Pessoa, presidente da Câmara de Cascais, Comodoro
Lopes Alves, Governador do Banco de Angola, os grandes benfeitores da Torre
da Aguilha, Comendador Duarte Martins, Ernesto Cirilo e muitos convidados
num total de 2000 pessoas.
O Sr. Cardeal Patriarca entregou o crucifixo a cada um dos 11 novos
missionários, seguindo-se depois uma Sessão Solene em que usaram da palavra o
R.P. Provincial, o Sr. Cardeal Patriarca e se assistiu à representação do “Auto das
ovelhas perdidas”, expressamente escrito e encenado pelo Dr. Eurico Lisboa
(Filho) para essa ocasião. No final foi servido um copo de água.
A Televisão, a Rádio e toda a imprensa portuguesa, nomeadamente a de Lisboa,
Porto e de Angola, deram grande relevo a esta inauguração, concretamente os
jornais Novidades, Voz, Diário de Notícias, Século, Diário Popular, Diário de
Lisboa, Diário Ilustrado, Diário da Manhã, Século Ilustrado, Primeiro de Janeiro,
Comércio do Porto, Diário do Norte, Jornal de Notícias, A Ordem, A Voz do
Pastor, A Guarda, Diário dos Açores, Comarca de Arganil, etc.
No dia seguinte, foi prestada homenagem a todos os confrades que mais
contribuíram para a construção deste seminário.
Acontecimentos mais relevantes da história do seminário
Ao longo destes 50 anos, a história do seminário passou por várias fases.
Construído e mantendo a formação dos alunos de Teologia como prioridade,
(excepção feita a um interregno de 1975 a 1996), as suas obras e os seus
objectivos foram-se diversificando, à medida que novas circunstâncias e novas
necessidades o iam aconselhando: acolhimento a missionários idosos, cursos e
retiros espirituais, lar para retornados do Ultramar e para a terceira idade,
assistência pastoral nas comunidades vizinhas, nomeadamente as paróquias de
Carcavelos, S. Domingos de Rana e Tires.
Entre os acontecimentos mais relevantes que marcaram a vida do seminário
como casa de formação de futuros missionários, destacamos os seguintes:
A 1 de Março de 1953, foi a bênção da nova Igreja da Parede, paróquia que
estava confiada ao seminário.
A 28 de Março de 1953, foi benzida a nova Igreja do seminário pelo Sr. D.
Agostinho de Moura, bispo eleito de Portalegre e Castelo Branco.
No dia 11 de Abril de 1953, o seminário prestou homenagem ao engenheiro
Trigo de Morais, bem como à Comissão dos “Amigos de Angola” de que faziam
parte, entre outros, o Comendador Duarte Martins, Dr. Nuno Simões,
472
Adélio TORRES NEIVA
Comandante Freitas Morna, etc.
A 26 de Abril desse mesmo ano de 1953, teve lugar na Igreja do seminário a
Ordenação Episcopal do Sr. D. Agostinho de Moura, sendo bispo ordenante o
Sr. Cardeal Patriarca, coadjuvado pelo arcebispo de Luanda, D. Moisés Alves de
Pinho e pelo bispo de Vila Real. Estiveram presentes, entre outros, o Superior
Geral da Congregação do Espírito Santo, P. Francis Griffin, os bispos do Porto,
Beja, Limira, o D. Abade de Singeverga, vários provinciais e uma grande
representação das dioceses de Vila Real e Portalegre. Também a Família
espiritana e liamista marcou presença em grande número, tendo esta oferecido ao
Sr. D. Agostinho, a cruz peitoral.
A 3 de Maio de 1953, teve lugar a sagração da Igreja, presidida pelo Sr. D.
Agostinho de Moura, com a participação do Sr. D. Moisés Alves de Pinho, do
Superior Geral da Congregação, do P. Clemente Pereira da Silva, assistente geral
da Congregação e do P. Olavo Teixeira, Provincial.
A 5 de Julho, foram as primeiras Ordenações neste seminário: nove
subdiáconos, quatro minoristas e onze tonsurados e a primeira Consagração ao
Apostolado dos novos missionários. Presidiu à celebração, mais uma vez, o Sr.
D. Agostinho de Moura.
A 27 de Setembro, foram ordenados os primeiros nove presbíteros: PP.
Alexandre Teixeira de Carvalho, José Lapa, Carlos Ferreira de Azevedo,
Custódio Campos, António de Sá Cachada, João Baptista Pinheiro, Belmiro
Coelho da Silva, Joaquim Maria Mendes e José Torres Palma. Os PP. Alberto da
Fonseca Lopes e Manuel Ferreira da Silva, do mesmo curso, seriam ordenados a
2 de Maio de 1954.
A 5 de Janeiro de 1954, chegaram os cadeirais para a Igreja, que começaram a
ser montados, vindo a ser usados pela primeira vez a 16 de Janeiro, festa do
Imaculado Coração de Maria.
A 2 de Maio de 1954, teve lugar um encontro dos “Amigos Coloniais de
Angola”, que reuniu 150 convidados.
A 25 de Março de 1954, faleceu no Palácio, o P. Arnaldo Baptista, sendo o seu
funeral no dia seguinte. Foi o primeiro confrade a falecer na Aguilha e a ser
sepultado no cemitério de S. Domingos de Rana.
No dia 5 de Maio de 1954, o seminário recebeu a visita honrosa do Núncio
Apostólico, D. Fernando Cento; nesse mesmo dia faleceria o Ir. Luís Gonzaga.
Outros núncios visitariam mais tarde o seminário como D. Giovann Panico, D.
Maximiliano Fustemberg, etc.
No dia 13 de Maio de 1954, dia da festa da Padroeira do Seminário, fez-se a
Consagração da Comunidade ao Imaculado Coração de Maria, que depois se
renovaria todos os anos, nesse mesmo dia.
A 3 de Julho de 1954, fundou-se no seminário um ‘praesidium’ da Legião de
Maria. Nesse mesmo dia, véspera da Consagração ao Apostolado, os padres do
IV ano quiseram terminar o seu retiro com a cerimónia da Coroação de Nossa
Senhora.
A 2 de Fevereiro de 1955, faleceu no Hospital da CUF o Dr. Ricardo Espírito
O Seminário da Torre da Aguilha
473
Santo; foi o primeiro benfeitor deste seminário a falecer.
A 25 de Março de 1955, visitou o seminário o ministro do Ultramar, Dr. Trigo
Negreiros, acompanhado dos Subsecretários das Obras Públicas e do Ultramar
e pelo Dr. Trigo de Morais, Inspector Geral do Fomento.
A 11 de Julho de 1955, teve lugar o primeiro acampamento de férias dos
teólogos, que se realizou no Casal de Roçadas, em Sintra, propriedade do
engenheiro Cunha Monteiro. O acampamento durou três dias e passou a repetirse todos os anos, embora em locais diferentes.
No dia 26 de Julho de 1955, faleceu no Hospital do Ultramar (Egas Moniz) em
Lisboa o Sr. D. Faustino Moreira dos Santos, bispo de Cabo Verde. O Sr. D.
Faustino tinha chegado uns dias antes, gravemente doente. O corpo foi
trasladado para a Igreja de Alcântara onde se realizaram os ofícios fúnebres e no
dia 28, seguiu para Gandra, sua terra natal. No funeral, além do seminário,
participaram o Núncio Apostólico, o ministro do Ultramar e os bispos de
Priene, Limira, Cízico, Beja e Arcebispo de Mitilene.
A 25 de Novembro de 1955, faleceu o Dr. Eurico Lisboa, benfeitor e grande
amigo do seminário.
A 11 de Dezembro de 1955, estiveram no seminário, acompanhados pelo Sr. D.
Agostinho de Moura, os pintores espanhóis D. Henrique e D. Júlio, que
pintariam a ceia mural que está na sala de jantar. Estes pintores tinham já
oferecido uma pintura de Nossa Senhora para a capela do seminário de
Portalegre.
Foi durante este ano de 1954-55 que se começaram a plantar as árvores da mata
do Seminário.
A 9 de Abril de 1956, começou a construção da última fase das obras do
seminário: o pavilhão leste.
Também no ano lectivo de 1956-57, transitou de Viana para a Aguilha o Curso
Filosófico, este ano reduzido ao 2º ano.
A 4 de Julho de 1957, a biblioteca do seminário de Viana do Castelo foi
transferida para a Aguilha.
A 1 de Maio de 1958, foi entronizada a Senhora de Fátima com os três
pastorinhos na galeria do seminário, que ficou a ser a “Tutela Domus” e que foi
benzida a 13 de Maio desse ano.
A 17 de Maio de 1958, foi inaugurado o novo campo de futebol, com um
desafio entre Espiritanos e Seminaristas dos Olivais.
A 10 de Junho de 1958, realizou-se a Reunião dos Antigos Alunos da Formiga
e a 27 de Julho foi a reunião dos Antigos Alunos do Seminário do Espírito Santo.
Esta reunião passou a repetir-se todos os anos.
No dia 1 de Outubro de 1958, foi benzido o seminário pois, até aí, ainda o não
tinha sido. No dia 5 desse mesmo mês, os finalistas partiram para a universidade
de Salamanca a fim de aí fazerem um ano de pastoral. Em 1961 o ano de pastoral
voltaria a ser feito na Aguilha.
A 9 de Maio de 1959, fez-se a Consagração da Comunidade aos Sagrados
Corações de Jesus e Maria, como preparação para a inauguração do monumento
474
Adélio TORRES NEIVA
a Cristo Rei de Almada, em que se fez a consagração de Portugal aos Sagrados
Corações de Jesus e de Maria e que teve lugar a 17 de Maio, com a presença de
todo o episcopado.
Em 1959-60, veio para a Aguilha o Noviciado, devido ao seminário da Silva
entrar em obras. Com eles vieram também o mestre de noviços, P. José Alves e
o confessor, P. Henrique Sá Couto. Permaneceriam aqui, instalados no bloco
leste, até à inauguração do novo seminário da Silva em 1962.
Durante o ano de 1960-61, teve lugar nesta casa o Curso Internacional de
Pastoral em que participaram Espiritanos portugueses e holandeses.
A 24 de Outubro, alguns confrades, sobretudo Irmãos, que desde o início
tinham ficado a viver no Palácio, passaram a morar no seminário.
A 29 de Abril de 1960, a Santa Sé concedeu a Comenda de S. Silvestre ao Sr.
Comendador Duarte Martins e a medalha “Pro Ecclesia et Pontifice” à Srª D.
Maria Augusta Fontoura, sem dúvida os dois maiores benfeitores do seminário.
À cerimónia presidiu o Núncio Apostólico, D. Giovanni Panico.
A 22 de Maio de 1960, realizou-se na Torre da Aguilha uma grande
concentração de seminaristas diocesanos e dos seminários religiosos do
Patriarcado.
A 2 de Fevereiro de 1962, festa do Venerável P. Libermann, instalou-se no
Palácio a Obra do Pré-Postulantado dos Irmãos, sendo seu director o P.
Fernando Moreira, coadjuvado pelo Ir. João Berchmans. Esta iniciativa viria a ter
uma existência bastante precária.
De 31 de Agosto a 7 de Setembro de 1962 esteve nesta comunidade Mons.
Lefèbvre, que aqui fez o seu retiro de preparação para assumir as suas funções de
Superior Geral da Congregação.
Em 1964, com o patrocínio da Associação de Futebol de Lisboa, iniciou-se um
torneio de futebol inter-seminários, com a participação da Torre da Aguilha.
Em Junho de 1965, realizou-se em Lisboa a primeira Semana de Missiologia,
organizada pelo P. Fernando Santos Neves, em que participaram, entre outros, o
Ir. Frank de Taizé, o P. Lofel, P. Bouchard, etc.
Em 1966-67, o número de seminaristas atingiu o pico: 89, sem contar 11 que
estavam a estudar em Roma ou em estágio pastoral; ao todo, portanto: 100. Nos
anos seguintes, atendendo à crise que então atingiu os seminários, o número
começou a diminuir a ponto de chegar a 38 em 1969-70 e apenas 10 em 1971.
No ano de 1967-68, mudou-se a dinâmica da formação no seminário: passou a
haver três ciclos. Ao lado dos cursos obrigatórios passou a haver cursos livres
versando sobretudo questões actuais.
A 21 de Junho de 1968, faleceu na sua vivenda do Estoril, com 92 anos de idade,
o Sr. Comendador Duarte Martins, o grande padrinho desta obra, que desde o
princípio assumiu como sua. As exéquias, celebradas no dia seguinte, foram
presididas pelo Sr. D. Agostinho Moura e a comunidade da Aguilha velou o seu
corpo toda a noite na Igreja de Santo António do Estoril.
Em Novembro de 1968, os alunos do Curso Propedêutico começaram a
frequentar as aulas na Universidade Católica de Lisboa, rotina que nos anos
O Seminário da Torre da Aguilha
475
seguintes se estendeu aos outros cursos.
Com a diminuição do número de seminaristas, em 1971-72, uma parte da casa
continuou a servir para os escolásticos, outra foi reservada para acolhimento dos
missionários idosos, abrindo-se assim uma nova comunidade, e outra para Casa
de Cursos e Exercícios Espirituais.
A partir de 1975-76, deixou de haver escolásticos na Aguilha. Os alunos de
Teologia foram diminuindo até que, após as ordenações deste ano, o
escolasticado deixou de funcionar nesta casa. Os alunos de Filosofia, vindos de
Braga prosseguiram a sua formação teológica em Espanha até 1983, ano em que
se abriu uma nova casa para o II Ciclo de Teologia, no Restelo.
Em 1996-97, depois de grandes obras de restauro na Aguilha, o II Ciclo de
Teologia regressou à Aguilha.
Nestes 50 anos, das centenas de alunos que frequentaram a Torre da Aguilha,
foram ordenados 156, mais 8 no tempo em que o Escolasticado esteve no
Restelo. A quase totalidade partiu para as missões.
Lar de idosos e Casa de Retiros
A Casa de Retiros começou a funcionar no Pavilhão Leste, em 1972, sendo este
um serviço de valor incalculável que esta casa tem prestado à Igreja portuguesa.
Centenas de milhares de utentes têm passado por esta casa. A média actual é de
10 mil por ano.
A 1 de Outubro de 1975, a secção das salas de aulas, frente ao parque
desportivo exterior, bem como o topo da galeria central, é, a pedido do Governo,
adaptado a Escola – Ciclo. O contrato entre a Congregação e o Ministério das
Finanças foi efectuado a 28 de Outubro de 1976. A Escola viria a fechar em 1985.
Com o retorno de muitos portugueses das antigas colónias em 1975,
disponibilizou-se o primeiro e segundo andar da parte direita do pavilhão central
para a Cruz Vermelha Portuguesa nela acolher os retornados do Ultramar. Este
lar passará em 22 de Março de 1978 para o IARN e finalmente para a Segurança
Social, que o transformou em Lar de Terceira Idade. No mês de Setembro de
1996 fez-se a mudança do Lar para os dois primeiros pisos do Pavilhão Leste,
tendo ali permanecido até deixarem esta casa no ano de 2001. Entretanto, a Casa
de Retiros ficou a funcionar no Pavilhão Central, depois de obras de adaptação.
De 14 a 30 de Maio de 1982 realizou-se neste seminário o Conselho Geral
Alargado da Congregação do Espírito Santo, em que estiveram presentes além de
todo o Conselho Geral, a quase totalidade dos Superiores Maiores da Congregação.
A 18 de Dezembro de 1983 começou nesta comunidade a reunião da Comissão
da Revisão das Constituições da Congregação, formada por 28 peritos de toda a
Congregação. A reunião prolongar-se-ia até 7 de Janeiro de 1984.
No ano de 1984, de 15 a 30 de Julho, com a presença do Superior Geral, P.
Franz Timmermans, realizou-se nesta casa o Capítulo Provincial, abrindo assim
uma rotina que aqui se repetiria de seis em seis anos.
A 9 de Abril de 1989 começaria a construção da auto-estrada que daria ao
476
Adélio TORRES NEIVA
seminário um novo enquadramento rodoviário.
A 23 de Outubro de 1989, a “Marginaudio Lda” assina um contrato com a
Província que lhe permite adaptar as salas e demais anexos junto ao Ring para os
seus serviços de Rádio.
Em 1996, começam as grandes obras de restauro da Aguilha, que incluirão a
renovação dos quartos, o redimensionamento das salas, os espaços de
acolhimento, etc. Foi a par destas obras que o Curso de Teologia, agora bastante
reduzido, voltou para a Aguilha. As obras culminariam com a remodelação
completa da Igreja, no ano 2000, a cargo do Arquitecto Líbano Monteiro, que
lhe deu um novo rosto e fez dela um dos espaços mais sugestivos e mais
estimulantes de todo o seminário.
Em 1989, os Provinciais Espiritanos da Europa realizaram aqui a sua reunião
anual, encontro que repetiriam em 1999 e várias Comissões Espiritanas
Europeias escolheram também esta casa para os seus encontros anuais. No ano
2004, reuniu-se aqui o Capítulo Geral da Congregação.
Em 1996, estabeleceu-se uma plataforma de entendimento entre as duas
comunidades localizadas no seminário, devido à chegada dos jovens em
formação: Comunidade de Nossa Senhora de Fátima para ministério paroquial,
apostólico e repouso e Comunidade de S. Paulo para formação do II Ciclo de
Teologia. Fazem parte dos objectivos do seminário, acolhidos pelas duas
comunidades: o serviço em unidade pastoral de S. Domingos de Rana e Tires e o
Centro de Acolhimento a grupos.
Em 16 de Janeiro de 1998, assinou-se um Protocolo com o Centro Regional de
Segurança Social de Lisboa e Vale do Tejo, ocupando o lar a zona norte da cave,
rés-do-chão e 1o andar, no bloco Leste.
Em 17 de Julho de 2003, o Conselho Provincial criou o conselho do Centro de
Acolhimento com poderes de decisão e nomeou uma gestora para a Torre da
Aguilha, voltando-se à administração directa da cozinha; criou o ministério de
“animador espiritual do Centro de Acolhimento” e aprovou o Estatuto do
Seminário da Torre da Aguilha, em que as diferentes tarefas são especificadas. A
26 de Junho de 2003, fez-se um contrato com a Dra. Sónia Maria Carrasqueiro
Mendonça Risso, em que esta assume, por um ano, a gestão corrente do Centro
de Acolhimento, a partir de 01 de Setembro de 2003.
Durante estes 50 anos trabalharam neste seminário 125 Espiritanos, dos quais
57 já faleceram.
Conclusão
Parte integrante desta história viva, além dos 125 Espiritanos, padres e irmãos,
que a esta obra deram alguns dos melhores anos da sua vida, é uma lista enorme
de benfeitores, de que destacamos os grupos da LIAM de todo o país e um
núcleo duro de pedras-chave que se distinguiram na construção desta obra, com
especial relevo para o Sr. D. Agostinho de Moura, P. José Felício, Comendador
O Seminário da Torre da Aguilha
477
Duarte Martins e Dr. Nuno Simões.
Na comemoração dos 50 anos do seminário, celebrada a 3 de Novembro de
2002, estiveram presentes, como há 50 anos no dia da sua inauguração, o Sr.
Cardeal Patriarca de Lisboa, os Srs. Presidente da Câmara de Cascais e da Junta
de Freguesia de S. Domingos de Rana e uma multidão imensa de liamistas e
amigos da Congregação. Foram descerradas três lápides: uma pelo Sr. D. José
Policarpo, Patriarca de Lisboa, recordando a bênção do altar da igreja restaurada;
outra pelo Sr. Dr. António Capucho, presidente da Câmara de Cascais, evocativa
dos 300 anos da missão espiritana; e outra, recordando os 50 anos da fundação
do seminário, a cargo de D. Maria de Lurdes Fernandes, uma das liamistas que
estiveram presentes no lançamento da primeira pedra, há 50 anos.
V ano de Pastoral em Salamanca
Em 1956 publicava Roma a Constituição Apostólica “Sedes Sapientiae”, dando
novas directivas para a formação dos religiosos: tornava-se obrigatório o V Ano
de Teologia, para estudos mais especializados da pastoral.
Durante vários meses, os superiores dos diversos institutos religiosos se
reuniram para estudar o modo de pôr em prática esta orientação, mas não
chegaram a acordo.
No Conselho Provincial de 5 de Setembro de 1958, realizado no Fraião, foi
decidido que os teólogos espiritanos fariam o V Ano de Pastoral na universidade
de Salamanca.
No dia 6 de Outubro, partiu para Salamanca uma equipa formada pelos PP.
Firmino Cardoso, reitor da Torre da Aguilha, Querubim Meireles e os neosacerdotes do V ano José dos Santos Simões, Manuel David de Sousa, Abílio
Ribas, José Martins Salgueiro, Domingos Salgueiro da Mota e Altino Cepeda
Coelho. O P. Fernando Santos Neves chegaria mais tarde. Em Salamanca,
esperava-os o P. Augusto Teixeira Maio.
Toda a equipa ficou instalada no Colégio hispano-americano de S. Vicente, por
deferência do bispo da diocese. O P. Firmino Cardoso regressaria a Portugal no
dia 8.
As aulas começaram no dia 13 de Outubro. No dia 14, o P. Querubim recebia
ordens de partir para Madrid e o P. Simões assumiria a responsabilidade do
grupo; o P. Ribas seria nomeado ecónomo. Entretanto, o P. Querubim vinha
visitar e estar com o grupo, de vez em quando.
No dia 24, foi a primeira visita do Provincial de Portugal, P. Olavo Teixeira, sendo
recebido pelo bispo da diocese. Outras visitas se seguiriam, como a do Sr. D.
Agostinho de Moura e do P. António Brásio e outras individualidades da
Congregação.
A 31 de Janeiro de 1959, a equipa regressava à Torre da Aguilha.
A 12 de Outubro de 1959, partia nova equipa, desta vez formada por cinco
padres: Marcelino Duarte Lopes, Barros, Fernando Malheiros, Norberto
Cristóvão e Agostinho Brígido. Acompanharam-nos o P. Provincial e o Ir.
478
Adélio TORRES NEIVA
Gregório. No dia 14, o P. Provincial regressaria a Lisboa e o Ir. Gregório a
Paredes de Nava.
No dia 18 de Janeiro de 1960, chegou o P. Fernando Santos Neves que veio
defender a sua tese de Doutoramento em Filosofia sobre o P. Libermann.
A 20 de Fevereiro, foi o encerramento solene do Curso de Pastoral. Os
participantes portugueses regressaram a Portugal.
Curso Internacional de Pastoral na Torre da Aguilha
No ano lectivo de 1960-1961, o Curso de Pastoral foi realizado na Torre da
Aguilha. Nele participaram, além dos portugueses, os escolásticos-sacerdotes
holandeses. Foi a 3 de Julho de 1960, festa da Consagração ao Apostolado, que
o P. Firmino Cardoso anunciou que o Superior Geral tinha determinado que o
Curso de Pastoral se faria na Aguilha. Nesse ano, o curso ficou assim
constituído:
Professores: P. Fernando Moreira, director do Curso, P. Luís Bechelen, P.
Francisco Lopes, P. Fernando Santos Neves e P. Henrique Sá Couto. Na
espiritualidade colaborou o P. José Alves.
Alunos: P. Manuel Gonçalves, Cardoso Cristóvão, Fernandes de Sá, Argemiro
Geraldo, Areias Amaro, Loureiro Vassalo, Francisco Freitas, José Couto,
Alfredo Pereira, Vanwesenbeck, Teuns, Reuvers, Huijsmans, Pubben,
Vanwesenbeck Jr. Os holandeses aprenderiam o português ao mesmo tempo que
faziam o curso.
Vários peritos de outras matérias pastorais vieram dar a sua colaboração: Arte
Sacra, Acção Católica, Apostolado do Mar, Pastoral Vocacional, Cursilhos de
Cristandade, Obra das Criadas, Opus Dei.
O curso terminou a 2 de Fevereiro de 1961.
Padres ordenados neste seminário
A 27 de Setembro de 1953: Carlos Ferreira de Azevedo, Alexandre Teixeira de
Carvalho, José Torres Palma, José da Lapa, Joaquim Maria Mendes, Custódio
Ferreira de Campos, António Sá Cachada, Belmiro Coelho da Silva, João
Baptista Pinheiro.
A 2 de Maio de 1954: Alberto da Fonseca Lopes e Manuel Ferreira da Silva.
A 20 de Setembro de 1954: Joaquim Gomes, António Fernandes de Sá, Manuel
Alves Laranjeira e António Lima.
A 5 de Março de 1955: Domingos da Cruz Neiva e Manuel Martins Vaz
A 29 de Junho de 1955: P. Alberto Rodrigues da Silva Camboa.
A 29 de Setembro de 1955: José Pereira Marante, Albino Ribeiro da Costa,
Francisco Fernandes Correia, Adélio Ribeiro Lopes, Álvaro da Costa Campos,
Manuel Nunes, Assis Gomes de Sousa Pinho, José Alberto Veiga Meira
Torres, João do Nascimento Afonso Cunha.
A 8 de Janeiro de 1956: Manuel Sequeira Teles.
O Seminário da Torre da Aguilha
479
A 19 de Fevereiro de 1956: Adélio de Almeida Torres Neiva e Amadeu
Venâncio Pereira.
A 16 de Setembro de 1956: Arnaldo da Rocha Ferreira, José dos Santos
Fonseca, Arlindo de Areia Amaro, José Fernandes, José Coelho Barbosa,
Roberto Joaquim Alves da Costa, José Fagundes Pires, Marinho Dias dos
Santos.
A 16 de Março de 1957: Casimiro Pinto de Oliveira.
A 21 de Setembro de 1957: António Fernando dos Santos Neves, Joaquim
Macedo Lima, Altino José Cepeda Coelho, Manuel David Sousa, Abílio Rodas
de Sousa Ribas.
A 6 de Outubro de 1957: José Martins Salgueiro.
A 22 de Março de 1958: Domingos Salgueiro da Mota.
A 20 de Setembro de 1958: Norberto da Conceição Cristóvão, Marcelino
Duarte Lopes, Agostinho Pereira Rodrigues Brígido, Fernando Teixeira
Malheiros, Aurélio Cardoso de Barros.
A 27 de Setembro de 1959: António Cardoso Cristóvão, José Fernandes de Sá,
Manuel Areias Amaro, Argemiro Rodrigues Geraldo, Francisco da Silva Freitas,
António Loureiro Vassalo.
A 18 de Outubro de 1959: José Maria de Couto Pereira.
A 2 de Abril de 1960: Alfredo da Purificação Pereira.
A 18 de Setembro de 1960: Alberto dos Anjos Coelho, Carlos Gouveia Leitão,
Abel Moreira Dias, Joaquim Pereira Gonçalves da Cruz, José Pinto de Carvalho,
Serafim de Sousa Marques da Silva.
A 11 de Maio de 1961: Manuel Laranjeira Rodrigues Areia.
A 2 de Julho de 1961: António Moreira Loureiro.
A 15 de Agosto de 1961: Francisco Medeiros Janeiro.
A l de Julho de 1962: Joaquim Ribeiro.
A 16 de Dezembro de 1962: Joaquim Carvalho da Cunha, Paulino Livramento
Évora, António Ribeiro Laranjeira, Gil Afonso Losa, Manuel Arruda, Joaquim
Marques Ferreira.
A 30 de Março de 1963: José Maria de Azevedo Moreira.
A 3 de Novembro de 1963: Agostinho Ribeiro Loureiro, António da Silva
Seabra, Manuel João Magalhães Fernandes, Américo Sousa Alves, João Serra de
Araújo.
A 8 de Setembro de 1964: António Marinho Amorim da Costa.
A 28 de Outubro de 1964: Adélio da Cunha Fonte, Adelino da Silva Costa,
António Fernando Henriques da Silva, António José Gomes Marques, Mário
Fernandes Pires, Ricardo da Silva Santos Meira.
A 19 de Dezembro de 1964: Carlos Salgado Ribeiro.
A 15 de Agosto de 1965: António Femandez Perez, Manuel Marinho de
Lemos Couto, Francisco Gonçalves de Oliveira.
A 09 de Outubro de 1965: Domingos Matos Vitorino, António Martins
Fernandes, Joaquim da Silva Ferreira.
A 25 de Setembro de 1966: Manuel Durães Barbosa.
480
Adélio TORRES NEIVA
A 9 de Outubro de 1966: Manuel da Silva Barbosa Viana, António Vieira
Parente, Veríssimo Manuel Teles, Pedro Candjimbu, Manuel Álvaro Ferreira da
Silva.
A 1 de Julho de 1967: Miguel Soares da Silva.
A 3 de Outubro de 1967: António Salvador Cabral da Costa, António dos
Santos Moreira, António José Cardoso Soares, Aprízio Barbosa da Silva, Alberto
Barbosa da Cunha Meireles.
A 30 de Março de 1968: Felismino Gabriel Jacob, Joaquim Pereira Francisco.
A 25 de Julho de 1968 : Manuel Rodrigues da Cruz e João Crisóstomo
Nogueira.
A 2 de Agosto de 1968: Afonso da Cunha Duarte e José da Cunha Duarte.
A 4 de Outubro de 1968; João Inácio Carreira Mónico e Eduardo Augusto
Guedes Osório.
A 19 de Outubro de 1969: Bernardo Bongo.
A 21 de Dezembro de 1969: Joaquim José de Azevedo Moreira, José de Castro
Oliveira, José Ribeiro Mendes.
A 16 de Julho de 1970: António Joaquim da Rocha Coelho.
A 20 de Dezembro de 1970: José Reis Gaspar.
A 4 de Julho de 1971: António Correia de Andrade.
A 31 de Outubro de 1971: Firmino da Costa Sá Cachada.
A 16 de Abril de 1972: Manuel da Silva Santana, Albino da Silva, António
Teixeira Machado.
A 22 de Outubro de 1972: José Peixoto Lopes.
A 25 de Julho de 1973: Fernando Henrique Ferreira Pinto.
A 26 de Agosto de 1973: Tarcísio dos Santos Moreira.
A 23 de Dezembro de 1973: António Luís Marques de Sousa.
A 11 de Agosto de 1974: Domingos da Rocha Ferreira.
A 21 de Setembro de 1975: Luís Oliveira Martins.
A 8 de Agosto de 1976: Manuel Hermenegildo Teixeira Correia.
A 21 de Dezembro de 1975: António Luís Farias Antunes.
A 22 de Agosto de 1976: José Lopes de Sousa.
A 29 de Agosto de 1976: Luís Filipe Ferreira Rios.
A 26 de Junho de 1977: Albino Vítor Martins de Oliveira.
A 26 de Agosto de 1977: João Baptista Souto Coelho.
A 18 de Setembro de 1977: Francisco Eduardo Miranda Ferreira.
A 8 de Agosto de 1976: Francisco Sanches Oliveira Cardoso.
A 31 de Julho de 1979: Agostinho de Sá Tavares Medeiros.
A 2 de Setembro de 1979: José Martins da Costa.
A1 de Agosto de 1982: Manuel Martins Novais Ferreira.
Na comunidade do Restelo:
A 14 de Setembro de 1986: João David do Souto Coelho.
A 26 de Julho de 1987: José Carlos da Conceição Coutinho, José Manuel
Matias Sabença, Manuel de Sá Paula, Mário Faria Silva.
Página central da “Acção Missionária” por ocasião da Inauguração do Seminário da Torre da Aguilha.
482
Adélio TORRES NEIVA
A 30 de Julho de 1989: António Manuel Santos de Sousa Neves.
A 25 de Agosto de 1991: José Ferreira da Cunha.
A 19 de Julho de 1992: Fernandino Ilídio Cardoso Pereira.
A 11 de Julho de 1993: Teodoro Mendes Tavares
A 12 de Setembro de 1993: Aristides Dias Torres Neiva.
A 21 de Julho de 1996: Pedro Alexandre Simões Gouveia Fernandes.
A 13 de Junho de 1999: Damasceno José Fernandes dos Reis.
A 4 de Julho de 1999: João Baptista Federico Barros.
Na Torre da Aguilha:
A 23 de Julho de 2000: Luís Pedro Cardoso Adeganha.
A 17 de Setembro de 2000: Nuno Miguel da Silva Rodrigues.
A 16 de Junho de 2002: Hugo Norberto Mendes Ventura.
A 14 de Julho de 2002: Manuel Alves Andrade Semedo.
A 15 de Setembro de 2002: Vítor Narciso Martins da Silva.
A 18 de Julho de 2003: Tiago Aparício Simões Barbosa.
Superiores e Directores
(1952-1959) P. Firmino Cardoso Pinto; (1959-1965) P. Jorge Sanches;
(1965-1967) P. José Alves, superior; (1965-1968) P. Joaquim Macedo Lima,
director; (1967-1970) P. Firmino Cardoso, Superior; (1968-1970) P. José Simões,
director; (1970-1973) P. Manuel Gonçalves, Superior e Director; (1973-1975) P.
António Ribeiro Laranjeira, Superior e Director; (1975-1976) P. Agostinho
Pereira da Silva, Superior; (1976-1980) P. Carlos Ferreira de Azevedo, superior;
(1980-1984) P. Francisco Lopes, superior; (1984-1988) P. Marcelino Lopes,
Superior e director da Casa de retiros; (1988-1992) P. Francisco Valente,
superior; (1992-1998) P. Joaquim Macedo Lima, Superior; (1996-1998) P.
António Luís Farias Antunes, Director; (1998-2000) P. José de Castro Oliveira,
superior e director; (2000-2003) P. José Martins Salgueiro, Superior; (20002004) P. José Martins da Costa, director; (2004)P. Mário Faria Silva, director,
(2004)
Ecónomos
(1952-1955) P. José da Fonseca Lopes; (1955-1959) P. José Joaquim Correia;
(1959-1960) P. Eurico José de Azevedo; (1960-1961) P. Manuel da Costa
Andrade; (1961-1962) P. Manuel Augusto Ferreira; (1962-1966) P. José Carreira
Junior; (1966-1978) P. Domingos da Cruz Neiva; (1978-1984) P. António
Rodrigues Ferreira; (1984-1985) P. José Fernandes; (1985-1986) P. João
Baptista Pinheiro; (1986-1988) P. Marcelino Duarte Lopes; (1988-1992) P.
Agostinho Brígido; (1992-1997) P. Manuel dos Santos Neves; (1997-2000) P.
António dos Santos Moreira; (2000-2003) P. José de Castro Oliveira; (2003-
O Seminário da Torre da Aguilha
483
2004) P. Domingos da Rocha Ferreira; (2004), P. José Lopes Sousa; (20042005).
Benfeitores do Seminário
O Seminário da Torre da Aguilha deve a sua construção a um grande número
de benfeitores que bem se podem considerar os fundadores do Seminário. Entre
outros contam-se: o Comendador António Duarte Martins e sua esposa D.
Maria Augusta Duarte, que acompanharam e colaboraram desde a primeira hora
em todas as iniciativas de ajuda à construção do seminário, Dr. Nuno Simões,
Ernesto Cirilo, Comandante Álvaro Freitas Morna, João Ildefonso Bordallo,
Eng. Trigo de Morais, Dr. Júlio Vilhena, Dr. Trigo Negreiros, Capitão Teófilo
Duarte, Ernesto Lara, Companhia de Diamantes de Angola, Companhia
Angolana de Agricultura, Manuel dos Santos Bártolo, Banco Espírito Santo e
Comercial de Lisboa, Sociedade Agrícola do Cassequel, Sacor, Casa Seabra,
Companhia de Ferro de Benguela, Mário Cunha Lda, Cirilo e Irmão, Marques
Seixas, José Nunes Martins, Santos Gonçalves, Companhia de Cimentos de
Angola, Oliveira Barros Lda. Campos de Oliveira, Mota e Irmão, Santos Diniz,
Dias de Figueiredo, Diogo e C.ª, Cotanang, Companhia Colonial de Navegação,
Grémio de Milho do Ultramar, Banco de Angola, CUF, Sociedade de Comércio
e Indústria e Transportes, Empresa do Cobre de Angola, Banco Nacional
Ultramarino, Cinema Império, Joaquim Correia de Azevedo, Banco de Portugal,
Companhia de Açúcar de Angola, Organização Lusalite e Lupral, Dr. Ricardo
Espírito Santo, Companhia dos Algodões de Moçambique, Paulino de Melo Lda.
James M Goean, Maria Luísa Cardoso de Matos, Sociedade Técnica Cardoso de
Matos, Alberto Cardoso de Matos,
Tecidos Seabra, Mons. Luís Le
Hunsec, João Manuel Lopes de
Barros, João Ildefonso Bordallo,
Santos e Gonçalves, D. Manuel de
Melo, CUCA, Banco Fonsecas,
Santos e Viana, Manufactura
Nacional de Borracha, Manuel
Lucas Martins, ED. Guedes
Marques e Seixas Lda, Companhia
Vidreira Nacional, Francisco
Visita do Cardeal de Lourenço Marques; na foto o Comendador Duarte Martins e sua esposa
António Pereira, Adriano Seabra,
Campos e Oliveira, Casa da Sorte, Corporação Mercantil Portuguesa, Lúcio
Feteira, Joaquim Tomás Henriques, Oliveira Barros Lda, Empresa do Cobre de
Angola, Colégio de S. José (Luanda), Governo Civil de Lisboa, Dr. José Pequito
Rebelo, Mota e Irmão, António José Dias Mota, D. Irene Borges de Moura,
Companhia Portuguesa Rádio Marconi, Distribuidora de Garrafas e Garrafões,
Arcebispo de Luanda, Bispo de Nova Lisboa, Bispo de Silva Porto, D. Gracinda
484
Adélio TORRES NEIVA
de Figueiredo Moura, D. Margarida Vaz Monteiro e Silva, D. Eugénia Manuel
(Atalaia), Carlos de Sousa Oliveira, José Luís Gonçalves Ramada, José Nunes
Martins, António Rodrigues Pintassilgo, Manuel José de Sousa Morais, Carlos
Gonçalves, José Azevedo Cunha, Lagos e Irmão, Santos Dinis Lda, Jean Grussel,
Diogo Lda, Alfredo Farinha Portela, Canelas e Figueiredo, Bispo de Cabo
Verde, P. José Bailão Pinheiro, Transagraire, Pescaria Lusitana, Madeira e
Marques, Companhia de Manganês de Angola, Rocha e Coelho, Dias de
Figueiredo, Morgado Lda (Mampesa), Joaquim Pinheiro Gomes, António da
Costa, D. Maria Cohen Espírito Santo Silva, Mário Cunha Lda, Casa Americana,
D. Maria Luísa Cardoso de Matos, Eng. Cardoso de Matos, Santos e Gonçalves,
D. Jorge de Melo, Câmara Municipal de Luanda, Manuel Lucas Martins, Joaquim
Correia de Azevedo, Sotecma, João Guedes, Auto Comercial, Cooperação
Mercantil Portuguesa, Canelas e Figueiredo, Oliveira Barros, Madame Bermann,
António Dias Mota, Companhia Portuguesa Rádio Marconi, Manuel e
Magalhães, D. Margarida Vaz Monteiro e Silva, José Nunes Martins, Manuel
José de Sousa Morais, Manuel Gonçalves, Carlos Gonçalves, Marques e
Marques, Guérine Angola, Rocha e Coelho, António de Sousa Lara, Socony
Vaccum Portuguesa, Vial, Joaquim Pinheiro Gomes, António da Costa, L.
Oliveira de Marques Seixas, Antero Andrade Silva e Filhos, Armazém Lima,
núcleos da LIAM, Gabinete de Urbanização do Ministério do Ultramar,
Distritos de Salazar, Nova Lisboa, Silva Porto, Malanje, Benguela; Câmaras de
Luanda, Carmona, Nova Lisboa, Lobito, Benguela, Administração de Catumbela.
485
Capítulo 49
A Casa de Santo Amaro à Estrela (Lisboa)
N
a época da restauração da Província, levada a cabo nos anos vinte do
século passado e na da sua consolidação nas décadas seguintes, o
papel da comunidade de Santo Amaro tornou-se cada vez mais
relevante. Além da Procuradoria, obra para a qual a comunidade tinha sido
inicialmente criada e cujo exclusivo manteve durante muitos anos, ali se vieram
a fixar, entre outras, duas obras-chave da Província: a direcção e administração
provincial e a direcção e administração da animação missionária.
O P. Joaquim Alves Correia continuou com as suas funções de Procurador das
Missões, na nova residência da Rua de Santo Amaro, até 1932, ano em que foi
transferido para Viana do Castelo, como superior da comunidade e director do
Escolasticado Maior e onde permaneceria até 1935.
Neste interregno de três anos,
substituiu-o na Procuradoria o P.
Arnaldo Baptista, ficando a seu
adjunto o P. Emile Herbinière; no
entanto, o representante oficial
junto do Governo continuava a ser
o P. Alves Correia.
Em 1935, o P. Alves Correia
regressa para a Procuradoria, onde
retoma todas as suas antigas
funções. Nesse ano, a residência da
Procuradoria e Casa Provincial
Procuradoria assumiu também o
carácter de seminário auxiliar do Escolasticado Maior de Viana do Castelo. O P.
Arnaldo Baptista, ajudado pelo seu ecónomo o P. Herbinière, tinha adaptado o
casarão de Santo Amaro para habitação de alguns escolásticos do 4º ano de
Teologia, que vinham frequentar aulas na Escola Superior Colonial, ao mesmo
tempo que repetiam Dogma e Direito e praticavam um pouco de ministério.
Acompanharam-nos os professores PP. Alves Correia e Mass.
O P. Provincial, que a princípio pensou em fixar aqui a sua residência e dirigir
o núcleo dos escolásticos, viu logo que lhe não era possível deixar o norte do
país, onde floresciam as casas de formação e fixou a sua residência no Porto.
Durante os dois anos que o escolasticado esteve em Lisboa (1935-1936 e 19361937), diz o P. Alves Correia que “a Procuradoria ganhou muito em vida
intelectual e espiritual, temperando a fatal esfera de reboliço e de correria, que
486
Adélio TORRES NEIVA
caracteriza um lugar de passagem e de aviamento de encomendas e negócios: aulas,
conferências espirituais aos padres-estudantes, leitura instrutiva às refeições, tudo
contribuíu para elevar o ambiente religioso e moral”.
O P. Mass, depois dos dois anos de vida escolar em Lisboa, ainda se demorou
aqui mais um ano e foi ele que dirigiu as instalações da igreja nova que entretanto
se fizeram.
O economato foi regido durante o primeiro ano do escolasticado pelo P. José
Terças, que, retirando para a Silva, deixou a pasta da economia ao P. Manuel
Braz; este, por seu turno, após um ano de gerência, foi para o Algarve, deixando
o economato ao P. Domingos Vieira Baião (Janeiro de 1938). Em 1939, vinha de
Viana, para o mesmo ofício, o P. Manuel de Jesus Raposo, que em Setembro
retirava para Braga e deixava a substituí-lo o P. Frederico Duff, o qual por sua
vez, após um mês de administração, ia para Viana do Castelo.
“Foi durante a passagem do P. Domingos Vieira Baião, como ecónomo da
Procuradoria (1938) que a Câmara Municipal, para dar entrada condigna e
desafogada ao Palácio Novo do Presidente do Conselho que acabava de ser
construído, amputou aos Espiritanos o quintal de toda a largura da nova e ampla
Rua da Imprensa e descarnou o resto dele, povoado de fruteiras de vinha,
deixando-o em compensação, desafrontado de eventuais futuros vizinhos.
Entretanto, à força de adubos e cuidados, conseguiu o P. Manuel Raposo
transformar aquele ténue leito de inúteis e raquíticas flores em horta verdejante
de couves, rabanetes e tenras alfaces”.
Em Outubro de 1939, voltava para Lisboa o P. José Terças e pouco depois o P.
António Brásio, o primeiro para continuar a levar a bom termo a “Vida de
Cristo”, o segundo para aprofundar as suas investigações históricas.
A Procuradoria servia ininterruptamente as missões de Angola e o bispado de
Luanda, tanto no Ministério das Colónias e diante da Nunciatura Apostólica,
como nos armazéns de Lisboa, sem falar no acolhimento permanente que dava a
missionários de passagem. As suas actividades alastravam-se ainda para outros
sectores como o servir de correio central das Missões e Províncias de outras
nações em guerra, acolhimento de peregrinos internacionais e fugitivos da
guerra, etc.
De 1935 a 1940, a casa foi definitivamente desalojada dos quatro inquilinos que
aqui moravam, preparando-se o salão anexo para o adaptar ao seu primeiro
destino de capela pública e da comunidade. Esta foi benzida solenemente e
dedicada ao Espírito Santo e a S. Francisco de Sales, padroeiro da comunidade.
Em 1941, a incipiente Obra da Propaganda, nascida em Fátima em 1937 e
estruturada em Viana do Castelo, é transferida para Lisboa, com o P. Agostinho
de Moura, abrindo nesta comunidade de Santo Amaro um novo leque de
actividades e contactos, que marcariam definitivamente o seu futuro. No ano
seguinte, 1942, a LIAM recebia a aprovação dos seus estatutos e fazia-se pela
primeira vez a imposição dos emblemas.
Em 1943, reaparecia a revista “Portugal em África”, suprimida em 1910 e agora
com uma nova direcção: PP. Joaquim Alves Correia, António Brásio e Francisco
A Casa de Santo Amaro à Estrela (Lisboa)
487
Nogueira da Rocha. Nesta data ficou também confiada à LIAM a Associação de
Nossa Senhora da África.
Em 1944 o P. Agostinho de Moura é nomeado superior da comunidade.
Por sua vez, a 15 de Novembro de 1945, eram também transferidos para Santo
Amaro, os serviços do Provincialato, tornando-se desde então a comunidade
residência oficial do Provincial e sede administrativa da Província, até então
fixada no Porto.
A 15 de Fevereiro de 1946 o P. Joaquim Alves Correia foi exilado pelo
Governo Português para os Estados Unidos e houve que providenciar à sua
substituição na Procuradoria. Para esse efeito foi nomeado o ecónomo provincial
P. Avelino Costa, acumulando os dois serviços - economato e procuradoria - até
1948, data em que os mesmos cargos passaram para o P. João Pinto da Silva.
Em 1949 assume o cargo de superior o P. Francisco Nogueira da Rocha, cargo
que em 1955 passará para o P. António Rodas.
Em 1950 o P. Pinto da Silva é nomeado superior do Fraião e a Procuradoria
passa para os cuidados do P. Augusto Teixeira Maio, sendo então chamado para
o coadjuvar o P. Ismael Baptista.
No ano seguinte, 1951, o P. Teixeira Maio é destacado para a nova fundação
em Espanha e o P. Ismael Baptista assume a responsabilidade da Procuradoria.
Nessa época, mais que os serviços materiais duma Procuradoria, importava e
ocupava mais tempo o serviço de representação: o Procurador era o representante
da Congregação e das dioceses e das Missões junto do Ministério do Ultramar.
Esta representação cessou naturalmente com a extinção do Ministério do
Ultramar, a quando da descolonização, mas em compensação apareceram as
relações nada menos delicadas com as embaixadas dos novos países emergidos da
descolonização e, sobretudo, as encomendas de bens e serviços provocados pela
nova situação económica desses mesmos países. Missionários espanhóis,
italianos, franceses, suíços, alemães, holandeses, belgas, ingleses, irlandeses,
mexicanos, colombianos ou brasileiros, espiritanos e não espiritanos, como
bispos, sacerdotes e religiosas podem testemunhar o leque de actividades e
serviços que a Procuradoria tem prestado.
Em 1962 chega, vindo da Régua, para assumir o cargo de superior da
comunidade o P. Joaquim Correia de Castro.
A 6 de Maio de 1963 iniciava-se a construção de um novo pavilhão anexo à
antiga casa da Procuradoria, ao longo da Rua da Imprensa e destinado a uma
acomodação mais satisfatória dos serviços da LIAM, do Provincialato e do
acolhimento aos missionários; a 13 de Novembro de 1966, o novo edifício estava
pronto e para lá se passaram os serviços a que a casa se destinava.
A 11 de Dezembro de 1964 era criado o Centro de Documentação, Informação
e Biblioteca Missionária e Ultramarina, sendo nomeado seu director o P. Ismael
Baptista; secretário o P. Miranda Santos e adjuntos os PP. António Brásio,
Joaquim Vaz e Adélio Torres Neiva. Mas seria o P. José Martins Vaz que viria a
dar vida a este projecto, ocupando este novo centro as dependências libertadas
pela transferência da LIAM para o edifício novo.
488
Adélio TORRES NEIVA
A partir de 1964, novos melhoramentos foram introduzidos, tais como a
unificação dos serviços da portaria e adaptação da sala de comunidade, a capela
interior, a deslocação da Procuradoria para a sala de visitas do nº 49, ficando a
sala que até aí lhe era reservada para sala de comunidade.
Em 1968 o cargo de superior passa para o P. Adélio Torres Neiva.
Em 1970 a capela semi-pública sofreu notáveis melhoramentos, em obediência
às novas orientações do concílio Vaticano II e construiu-se uma sala de
comunidade sobre a cozinha.
Em 1974 o P. Torres Neiva parte para Roma para o Conselho geral e para
o substituir, como superior, é nomeado o P. Francisco Rocha, pouco depois
substituído pelo P. Casimiro Pinto de Oliveira, que, poucos meses a seguir,
é nomeado Provincial, sendo escolhido para superior o P. Joaquim Macedo
Lima. Em 1979 é a vez do P. Marcelino Duarte Lopes ser chamado a este
cargo.
Em 1979, o Conselho Alargado pediu para se estudar a possibilidade de dividir
a comunidade, fazendo o sector da LIAM uma comunidade à parte. Foi para isso
nomeada uma comissão que não chegou a uma solução conclusiva, pelo que se
optou para manter a situação como estava.
Em 1982, numa política de clarificação dos objectivos das comunidades,
apontaram-se como objectivos desta comunidade os seguintes:
- a Direcção da Província (Equipa provincial, Secretariado e Economato
Provinciais), com as instalações necessárias aos serviços e pessoas que os
desempenhem, a situar no 2º andar da chamada “Casa Nova”;
- a Procuradoria das Missões, integrando-se como serviço totalmente incluído
na comunidade;
- a Direcção, Administração e Redacção da LIAM.
A 15 de Novembro de 1984, falecia, vítima de um acidente vascular, o P. Ismael
Baptista. Para o substituir é chamado das Missões o P. Casimiro Pinto de
Oliveira, que toma o seu cargo em meados de Maio de 1985, coadjuvado pelo Ir.
Julião Silva, que até aí colaborava já com o P. Ismael Baptista.
A nova situação criada pelo acesso à independência dos países onde se situavam
as missões espiritanas, o crescimento cada vez mais marcante das igrejas desses
países e uma cada vez maior africanização dos quadros, exigiam uma leitura nova
do papel e da dinâmica da Procuradoria, como serviço de apoio aos missionários
e igrejas locais, onde eles trabalham.
Nesse sentido, o Conselho Provincial levou a cabo um estudo que ficou
ultimado na reunião de 30 de Setembro e 1 de Outubro de 1985 e que inclui os
novos Estatutos da Procuradoria e um conjunto de normas acordadas entre a
Província Portuguesa e a Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé (CEAST).
O documento tem a data de 2 de Dezembro de 1985 e nele são relevados os
seguintes princípios:
- a Procuradoria fica integrada na orgânica administrativa da Província e na
funcionalidade da casa da Rua de Santo Amaro;
- é seu objectivo ajudar as missões e os missionários tanto no que diz respeito
A Casa de Santo Amaro à Estrela (Lisboa)
489
ao envio do material de que eles têm necessidade como naquilo que se refere ao
acolhimento, viagens dos missionários, nomeadamente aqueles cuja saúde
reclame cuidados especiais;
- a Procuradoria deve ter a peito possuir os meios necessários para a execução
dos fins que se propõe, tanto no que diz respeito ao pessoal disponível, como às
instalações necessárias para secretaria e armazém, bem como os instrumentos de
trabalho que o seu cargo exija.
A pedido e em acordo com a CEAST, a Procuradoria, dentro do espírito de
uma longa tradição, mostra-se disponível para oferecer os seus serviços às
dioceses e outras Congregações com quem a Congregação colabora e aceita o
encargo de ser representante legal e zelar pelos interesses do Lar da Pontinha da
CEAST, nas condições exaradas no protocolo que neste momento se faz.
Devido à situação de carência e dificuldades de toda a espécie que a guerra tem
criado em Angola, os serviços da Procuradoria nesta época voltam-se
prioritariamente para a resposta a dar a estas situações, nomeadamente pelo
envio de contentores com géneros e roupas e outros materiais de primeira
necessidade, constantemente reclamados pelas missões e dioceses de Angola.400
Efectivamente desde então para cá tem sido permanente o envio de
contentores para Angola.
Quanto ao acolhimento dos missionários lembremos que só no ano de 1992 a
Procuradoria prestou assistência no aeroporto de Lisboa a 285 missionários e só
em 1995 despachou para Angola 12.482 volumes, com a cubicação de 86m3 e o
peso de 246.110 Kg. Por conta da Solidariedade Espiritana mandou para Angola
5.646 volumes (cubicação: 325.45 m3 e peso 90.411Kg).
Em 1984 é nomeado superior o P. Francisco Lopes, passando em 1987 o cargo
ao P. Adélio Torres Neiva.
Em 1992 procedeu-se ao restauro e renovação da Capela e seus anexos:
sacristia, salão ao lado, escadas, desaparecendo a antiga sala de visitas. Dirigiu as
obras o arquitecto Líbano Monteiro. A capela foi aberta ao público na noite de
Natal de 1994. As obras continuaram em 1995, na zona da Procuradoria,
cozinha, capela da comunidade, acesso à lavandaria; em 1996 melhoraram-se
alguns quartos com sala de banho no 3º andar da Casa Nova, arranjou-se o sótão
e abriram-se duas salas para televisão e leitura ao lado da sala de comunidade.
Nos anos seguintes começou-se a pensar seriamente na restauração de toda a
casa no seu conjunto, particularmente a chamada “Casa Velha” bem como o
prédio nº 43. Foi para isso nomeada uma comissão para estudar o
redimensionamento e aproveitamento de todos os espaços.
Em 1994 é eleito superior o P. Manuel Durães Barbosa que no ano 2000 passará
o cargo ao P. Adélio Torres Neiva.
Como procuradores das missões de mais longa duração sobressaem os PP.
Cristoph Rooney (1892-1904), José Maria Antunes (1904-1919), Joaquim Alves
Correia (1922-1946), P. Ismael Baptista (1951-1984), P. Casimiro Pinto de
400
Estatutos BGCSSp. Jan-Dez. 1985 p. 273.
490
Adélio TORRES NEIVA
Oliveira (1985...) Com muito menos anos de serviço seguem-se os PP. Arnaldo
Baptista, Avelino Costa, João Pinto da Silva, Augusto Teixeira Maio, nenhum
deles com mais de três anos no activo.
Entre os colaboradores do Procurador é justo destacar os Irmãos Xavier
Moreira, Alberto Parreira e Julião Silva, todos estes com mais de dez anos de
serviço.
Colaboraram ainda na Procuradoria entre outros, os PP. Manuel Antunes,
Grappe, Parrissier, Rulhe, Stoll, Le Beller, Schurrer, Mendes Cardona e Emílio
Herbingière, os Irmãos Estêvão, Arsénio, Narciso da Costa, Augusto, Serafim,
Francisco, Antunes, Boaventura, Amândio Braz, Inocêncio, Adélio, Amadeu,
Guilherme, Cristóvão, Alípio Moita, Joaquim, Fortunato, Claver, Romão,
Francisco.
Nos serviços de apoio da comunidade trabalharam os Irmãos João Bosco,
Fernando Nunes, Joaquim Custódio, Paulo.
Os serviços da Animação Missionária
O P. Agostinho Lopes de Moura foi colocado em Lisboa em 1941 para se
dedicar a tempo pleno à animação missionária; nesse ano era transferido para
Lisboa o jornal “Acção Missionária”. Em 1943 estabelecia-se também em Lisboa
a chamada “Obra da propaganda dos Missionários do Espírito Santo”, que se
viria a identificar com a LIAM.
Dela ficavam a fazer parte os PP. Agostinho Moura e José Felício, para a
animação exterior, Francisco Nogueira da Rocha para a secretaria e António
Brásio para a revista “ Portugal em África” que ia ser relançada.
Em 1947 são incorporados na obra os PP. Henrique Alves e Augusto Teixeira
Maio. Em 1949 é nomeado administrador da LIAM o P. José da Fonseca Lopes,
cargo que no ano seguinte passará ao P. António Rodas.
Em 1949, o P. Agostinho Moura é nomeado Provincial de Portugal e para o
substituir na direcção da LIAM é escolhido o P. José Felício. Será depois
substituído sucessivamente pelos PP. Veríssimo Teles, Marinho Lemos e Tony
Neves.
Como redactores do jornal “Acção Missionária” passaram sucessivamente os
PP. Henrique Alves, Domingos Rodrigues, José Lapa, Adélio Torres Neiva,
Francisco Lopes, Francisco Medeiros Janeiro, Firmino Cachada e Tony Neves.
Como redactores da revista Portugal em África passaram sucessivamente os
PP. António Brásio, Álavaro Miranda Santos e Adélio Torres Neiva.
Em 1963 funda-se a revista “Encontro” que terá como redactores
sucessivamente os PP. Adélio Torres Neiva, Francisco Lopes, Veríssimo Manuel
Teles e Torres Neiva.
Em 1963, com a criação de um centro missionário no Porto é enviado para lá
o P. António Rodas e para o substituir como administrador da LIAM é escolhido
o P. José Fernandes, cargo em que se manterá até 1966, sendo então substituído
pelo P. António Cardoso Botelho. Em 1972 o P. António Botelho é transferido
A Casa de Santo Amaro à Estrela (Lisboa)
491
para Cabo Verde e para ocupar o seu lugar é chamado o P. António Figueira
Pinto; em 1976 o administrador é o P. Marcelino Duarte Lopes. Os
administradores seguintes serão os PP. Domingos da Cruz Neiva, Manuel dos
Santos Neves, Agostinho Brígido e Carlos Salgado Ribeiro. Como auxiliares do
administrador, entre outros, destacaram-se o Sr. Manuel Teixeira, os PP. José da
Fonseca Lopes, João Tavares, Avelino Barreto.
Trabalharam ainda em Lisboa, na animação missionária do centro e sul do país,
os PP. José Lapa, Augusto Teixeira Maio, José Martins Vaz, Joaquim Macedo
Lima, Joaquim Vaz, Adélio Cunha Fonte, José Ribeiro Mendes, Herculano
Lopes de Oliveira, António Pereira Rodrigues, Norberto Cristóvão, José
Gaspar.
Nos serviços administrativos da LIAM trabalharam também, alguns por
longos anos, os Irmãos Nuno, Inocêncio, Trindade, António Pereira, Amândio
Braz, Daniel, Salvador.
Centro Padre Joaquim Alves Correia (CEPAC)
Outra actividade que ultimamente a comunidade assumiu foi a assistência aos
Bairros de Lata existentes nos arredores de Lisboa. Estes bairros distribuem-se
pelas zonas de Amadora, Cascais, Lisboa, Loures e Oeiras. Em qualquer destes
concelhos há numerosos bairros de lata, com uma população mais ou menos
numerosa. A maior parte tem menos de mil pessoas, mas existem 14 deles, com
mais de mil: 5 na zona da Amadora, um na zona de Cascais, um na zona de
Lisboa, quatro na zona de Loures e quatro na zona de Oeiras.
Os Bairros Africanos na área do Patriarcado, em Maio de 1995, andavam à
volta de 62, perfeitamente identificados pelo P. Veríssimo Manuel Teles, capelão
dos Africanos.
Antes dele, outros se deram já ao apoio destas camadas sociais: o P. José
Martins Vaz, o P. Afonso Cunha e o P. Firmino Cachada.
A parir de 1995 é o P. Veríssimo Teles que se ocupa deste ministério.
O Centro Padre Joaquim Alves Correia foi criado em 1992.
Foi o P. Firmino Cachada quem conseguiu a criação oficial do Centro Padre
Joaquim Alves Correia (CEPAC), que foi aprovado como pessoa colectiva de
utilidade pública no nº 166 do Diário da República (III Série) em 17 de Junho de
1993. A Irmã Purificação, irmã do P. Firmino Cachada, do Imaculado Coração
de Maria, trabalhou também neste centro nos primeiros tempos.
A sua sede foi fixada no nº 43 na Rua de Santo Amaro. Em 1995 foi confiado
ao P. Veríssimo Teles, e em 2004 ao P. Mário Faria Silva.
Superiores da comunidade
(1929-1932) P. Joaquim Alves Correia; (1932-1935) P. Arnaldo Baptista;
(1935-1944) P. Joaquim Alves Correia; (1944-1949) P. Agostinho Lopes de
Moura; (1949-1955) P. Francisco Nogueira da Rocha; (1955-1962) P. António
492
Adélio TORRES NEIVA
Rodas; (1962-1968) P. Joaquim Correia de Castro; (1968-1974) P. Adélio
Torres Neiva; (1974-1975) P. Francisco Nogueira da Rocha; (1975-1976) P.
Casimiro Pinto de Oliveira; (1976-1979) P. Joaquim Macedo Lima; (1979-1984)
P. Marcelino Duarte Lopes; (1984-1987) P. Francisco Lopes; (1987-1994) P.
Adélio Torres Neiva; (1994-2000) P. Manuel Durães Barbosa; (2000-...) P.
Adélio Torres Neiva.
Ecónomos
(Até 1947) PP. Mass, António Brás, Domingos Vieira, Manuel Raposo,
Frederico Duff; (1947) P. António Rodas; (1949) P. Manuel de Jesus Raposo;
(1971) P. Firmino Cardoso Pinto; (1974) P. António Alves de Oliveira; (1976)
P. Francisco Lopes, P. António Rodrigues Ferreira; (1980) P. Domingos da
Cruz Neiva; (1989) P. Manuel dos Santos Neves; (1992) P. Agostinho Pereira
Brígido; (1998) P. Carlos Salgado Ribeiro.
493
Capítulo 50
O P. Agostinho Lopes de Moura e o tempo do
apogeu
(1949-1952)
P
or decisão do Superior Geral com o consentimento do seu Conselho, de
31 de Maio de 1949, foi nomeado Provincial de Portugal o P. Agostinho
Lopes de Moura, em substituição do P. José
Pereira de Oliveira. O novo Provincial tomou posse, das
mãos do seu antecessor e na presença de toda a
comunidade de Lisboa a 1 de Julho de 1949. A 19 de
Julho foi nomeado segundo assistente da Província e
superior da comunidade de Lisboa, o P. Francisco
Nogueira da Rocha. O conselho mantinha-se o mesmo,
entrando o P. José Pereira de Oliveira, para substituir o
P. Cândido Ferreira da Costa, que foi nomeado director
P. Agostinho Lopes de Moura
do Colégio de Sá da Bandeira. Para Secretário Provincial
foi nomeado o P. Ismael Baptista; Ecónomo Provincial seria o P. Nogueira da
Rocha.
Em 1950 o Capítulo geral da Congregação elegeu um novo Superior Geral, o
P. Francis Griffin e da equipa geral ficou a fazer parte como segundo assistente
o P. Clemente Pereira da Silva.
Em 1950 a Província contava 56 teólogos, 22 filósofos, Irmãos de segundos
votos 41 e Irmãos de primeiros votos 14. Os noviços-clérigos eram 19, os
noviços-irmãos 9, os postulantes 11, os escolásticos menores 329. Além dos dois
noviciados, o dos clérigos e o dos irmãos, havia 3 seminários, 4 residências e uma
paróquia. Ao todo, a Província contava cerca de 500 membros, entre professos e
aspirantes. Era a congregação missionária em Portugal com números mais
expressivos.
O Provincialato do P. Agostinho de Moura foi muito breve, pois ao fim de três
anos e poucos meses como Provincial, foi escolhido para Bispo de Portalegre.
No entanto, o seu provincialato situa-se numa época de grande
desenvolvimento da Província, desenvolvimento esse que vinha já dos seus
antecessores.
O seu currículo creditava-o como um dos sacerdotes mais dinâmicos da
Província. Depois de ter sido professor de Teologia no Escolasticado Maior, em
1941 fora colocado na Procuradoria em Lisboa, para se devotar com toda a alma
à animação missionária através da LIAM, movimento que ele mesmo tinha
fundado e a que se agregou em 1945 a Associação de Nossa Senhora de África.
Em Janeiro de 1944, o P. Moura tinha promovido com os PP. Alves Correia,
494
Adélio TORRES NEIVA
António Brásio e Nogueira da Rocha, a ressurreição da revista colonial “Portugal
em África”.
Em Agosto do mesmo ano, foi nomeado superior da comunidade de Lisboa e
em 1946 Assistente Provincial.
Em Maio de 1947 foi enviado ao Brasil, em serviço da Congregação, onde
estudou as possibilidades de ali lançar a LIAM.
A sua intensa actividade deixou-lhe ainda tempo para escrever o livro
“Remorso da Caridade”, o primeiro de um autor português exclusivamente
consagrado à exposição do dever missionário e da sua prática.
A sua actividade maior concentrava-se porém, na irradiação da LIAM que
espalhou por todo o país.
Como Provincial, continuou a dedicar à animação missionária do país o melhor
do seu esforço e da sua paixão pela causa das missões. Na pregação, em reuniões
e conferências, o P. Agostinho de Moura continuou a impor-se como uma
referência incontornável no panorama da actividade missionária em Portugal.
Uma outra vertente que marcou o provincialato do P. Agostinho de Moura foi
a construção do Seminário da Torre da Aguilha. Decidido no tempo do seu
antecessor, foi à Obra da Propaganda, de que o P. Moura era director, que foi
confiado o projecto e a execução da obra. Para a levar a cabo, com a urgência que
se impunha, o P. Moura mobilizou o país inteiro, motivou autoridades e
ministérios, criou uma rede de amigos e benfeitores, dinamizou os núcleos da
LIAM e o seminário começou a nascer. Foi uma obra construída num tempo
record, com uma visão e uma largueza de vistas, que mais de meio século depois,
o seminário da Torre da Aguilha continua a ser um ponto de referência. Em 1948
comprou-se a quinta e a 8 de Dezembro desse ano, lançava-se a primeira pedra
do seminário.
Outra obra em que o Sr. D. Agostinho investiu com muita tenacidade e visão
foi a fundação da Província Espiritana de Espanha. Esta fundação foi decidida no
Capítulo Geral de 1950. Por razões de vizinhança, facilidade de relações de
língua e de cultura, esta empresa foi confiada à Província de Portugal, que de
resto oferecia a sua garantia e notável prosperidade e o dinamismo do seu
Provincial, um dos homens mais activos e empreendedores de que a
Congregação dispunha.
No verão de 1951, o P. Agostinho de Moura começou as suas pesquisas para
encontrar uma casa no país vizinho, que servisse de rampa de lançamento para a
futura Província. Conseguiu finalmente um rés-do-chão, na Rua Garcia Morato,
117, na paróquia de Santa Teresa e Santa Isabel, num dos quarteirões mais
importantes de Madrid. O contrato foi assinado em Setembro e a 22 de Outubro
chegava o primeiro membro desta residência: o Irmão Francisco da Santíssima
Trindade (Irmão Trindade) para preparar a casa. A 22 desse mês, chegavam o P.
Provincial, com os dois padres que constituiriam o núcleo inicial da Província: os
PP. Isalino Gomes, director da residência e Augusto Teixeira Maio, encarregado
da propaganda. Com eles vieram também o P. Clemente Pereira da Silva, antigo
Provincial e actualmente segundo assistente geral da Congregação e alguns amigos.
O P. Agostinho Lopes de Moura e o tempo do apogeu (1949-1952)
495
A 28 de Outubro de 1952, festa de Cristo Rei, a residência de Madrid era
inaugurada, tendo celebrado ali a primeira missa, D. Daniel Gomes Junqueira,
bispo de Nova Lisboa, com a participação de numerosos confrades de Portugal
e vários amigos. Da parte da tarde, cantou-se um “Te Deum”, presidido pelo P.
Clemente e seguido de um Porto de Honra, ficando a nova comunidade
consagrada a Nossa Senhora de Fátima. Entre os assistentes estavam Mons.
Sargamínaga, Director nacional da Obras Missionárias Pontifícias e delegado
para esta cerimónia do bispo de Madrid, o pároco e numerosos representantes de
outras congregações religiosas.
A Obra só ficaria solidamente lançada quando D. Agostinho de Moura, depois
de muitas diligências por toda a cidade de Madrid, conseguiu comprar um chalet
na Rua Olivos, 12, perto da cidade universitária. Foi para aí que a nova
comunidade se transferiu a 30 de Março de 1953, sendo a casa inaugurada
oficialmente a 5 de Abril, dia de Páscoa. A 26 do mesmo mês, o P. Agostinho de
Moura era ordenado bispo de Portalegre.
1952 foi também o ano centenário da morte do P. Libermann. Este centenário,
mercê do dinamismo que o P. Provincial lhe soube imprimir, foi celebrado com
grande relevo em todas as casas da Província, nomeadamente em Viana do Castelo,
onde se realizou um Congresso Preparatório com sessão solene, uma Exposição
Missionária, evocativa do acontecimento, no convento de S. Domingos, orientada
pelo escultor vianense Francisco Flávio e uma sessão solene no Teatro Sá de
Miranda.
O provincialato do P. Agostinho de Moura marcou também a Província pelo
esforço que ele despendeu na formação dos nossos aspirantes, promovendo a
oficialização dos estudos e a qualificação dos graus académicos.
Foi ainda no seu tempo, em 1950, que foi inaugurado o Noviciado dos Irmãos
no Espadanido, onde funcionara o Noviciado dos Clérigos.
A 27 de Dezembro de 1952 a Santa Sé escolheu-o para bispo de Portalegre. A
ordenação episcopal celebrou-se no seminário da Torre da Aguilha, a 26 de Abril
de 1953, tendo sido bispos ordenantes o Sr. Cardeal Patriarca D. Manuel
Cerejeira, D. Moisés Alves de Pinho, arcebispo de Luanda e D. António Valente,
bispo de Vila Real. Presentes também o Superior Geral da Congregação P.
Francis Griffin, o ministro do Ultramar, o Subsecretário das obras Públicas, o
representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e antigos membros do
Governo, os bispos de Beja, Porto e Limira, presidentes das Câmaras de
Portalegre, Castelo Branco e Marvão, muito clero de várias dioceses, numerosos
espiritanos, membros da LIAM, e um sem número de pessoas amigas. A LIAM
ofereceu a Cruz Peitoral.
A ordenação episcopal do Sr. D. Agostinho de Moura motivou a visita do
Superior Geral da Congregação P. Francis Griffin, a todas as comunidades da
Província de 25 de Abril a 13 de Maio.
497
Capítulo 51
O Provincialato do P. Olavo Teixeira Martins
(1953-1959)
A
13 de Janeiro de 1953 o Conselho Geral da Congregação nomeava
Provincial de Portugal o P. Olavo Teixeira Martins, em substituição do
P. Agostinho de Moura, escolhido pela Santa Sé para Bispo de
Portalegre.
O P. Olavo Teixeira tomou posse do novo cargo a 27 de Março, dia de Nossa
Senhora das Dores, na Casa da Rua de Santo Amaro, à
Estrela. Assistiram ao acto, o P. Clemente Pereira da
Silva, segundo Assistente Geral da Congregação, o Sr. D.
Agostinho de Moura e alguns confrades da Província e
missionários de passagem.
Além das funções exercidas dentro da Congregação:
professor, director de seminário, mestre de noviços
Irmãos e Clérigos, o P. Olavo tinha-se dedicado ao
apostolado pela pregação de retiros ao clero, a religiosos
e religiosas e aos fiéis e à difusão da mensagem de
P. Olavo Teixeira Martins
Fátima, tendo para isso criado um movimento
abençoado pelo Santo Padre e vários bispos portugueses a que deu o nome de
“União dos Apóstolos do Coração Imaculado de Maria”.
A grande preocupação do novo Provincial durante o seu provincialato será
dinamizar a Província no sentido de a ajudar a aprofundar cada vez mais a sua
espiritualidade e a vivê-la na fidelidade ao seu carisma e ao carisma dos seus
fundadores. A celebração do Ano Mariano em 1954 foi um momento privilegiado
que o P. Olavo aproveitou para intensificar na Província a devoção ao Imaculado
Coração de Maria e o amor à Congregação.
O Conselho Geral da Congregação na sua reunião de 31 de Março de 1953
constituíu da seguinte maneira o Conselho Provincial de Portugal: P. Olavo
Teixeira, Superior Provincial; Padre Francisco Rocha, primeiro assistente, P.
Firmino Cardoso, segundo assistente. Conselheiros: P. Joaquim Castro, João
Pinto da Silva, José Pereira de Oliveira e Francisco Lopes. A 10 de Setembro de
1954, seria nomeado conselheiro provincial o P. José Maria Felgueiras.
O primeiro acto solene do novo Provincial pode dizer-se que foi a sagração da
igreja da Torre da Aguilha a 3 de Maio de 1953, presidida pelo Sr. D. Agostinho
de Moura e com a presença do Superior Geral da Congregação, P. Francis
Griffin.
498
Adélio TORRES NEIVA
A 26 de Dezembro 1953 o P. Olavo partiu para Cabo Verde como visitador do
Distrito, nomeado pela Casa Mãe.
Merece também relevo a visita feita pelo Núncio Apostólico, Mons. Fernando
Cento, ao Seminário da Torre da Aguilha, a 5 de Maio de 1954.
Na sua reunião de 29 de Agosto de 1954, o Conselho Provincial determinou
que a Causa do Venerável Padre Libermann e a Arquiconfraria do Espírito Santo
ficassem a cargo do noviciado dos clérigos, na Silva.
Em 1955, o Conselho Provincial foi remodelado ficando assim constituído: P.
Nogueira da Rocha, primeiro assistente; P. Firmino Cardoso, segundo
assistente; Conselheiros: P. Joaquim de Castro, José Maria Felgueiras, Fernando
Moreira e José Felício. Secretário Provincial: P. Ismael Baptista.
A 11 de Outubro de 1955 foi criada pelo Conselho Geral uma nova
comunidade em Espanha, em Paredes de Nava, província de Palência. Lá
começou a funcionar um Escolasticado Menor com 14 aspirantes.
O ano de 1955 ficou também marcado pela morte do bispo de Cabo verde D.
Faustino Moreira dos Santos, falecido em Lisboa, no Hospital do Ultramar a 26
de Julho desse ano.
Mas mais que todas, chocante foi o acidente que vitimou o P. José Maria
Felgueiras, quando na estação de Paredes de Nava foi colhido pelo comboio ao
querer salvar um escolástico que vinha para o seminário. O P. Felgueiras viria a
falecer a 26 de Novembro de 1956.
1956 é também o ano de uma nova edição das Constituições, que entrariam em
vigor a partir de 1 de Agosto de 1957.
A 3 de Abril de 1957 partiria para Angola em visita à missões espiritanas o
Superior Geral da Congregação, que, no seu regresso por Portugal, faria uma
visita rápida às casas da Província durante o mês de Maio de 1957.
A 7 de Julho de 1957, festa da Consagração ao Apostolado, seria a inauguração
solene do Instituto Superior Missionário da Torre da Aguilha, que agora incluia
o Pavilhão de Leste, acabado de construir.
Neste ano de 1957 comprou-se a Quinta da Romeira, em Godim, contígua à
nossa propriedade e sem nenhum muro de separação.
Foi também durante este Provincialato que se comprou uma nova casa em
Coimbra, com uma bela vista, isolada e dominando todo o vale do Mondego.
Igualmente, em Outubro de 1954 era concedida autorização da Casa Mãe para
comprar um terreno em Fátima, por proposta do director da LIAM, P. José
Felício. Nessa altura pensava-se em ter uma casa em Fátima, onde quase todos
os religiosos tinham já uma residência ou o seu seminário; seria uma casa
especialmente vocacionada para retiros, casa de repouso, etc.
É também do tempo deste Provincialato (1950) o pedido do bispo da Guarda
para a Congregação assumir a direcção de um lar de estudantes na cidade da
Guarda, pedido que foi bem acolhido pela Província e cuja autorização se chegou
a pedir à Casa Mãe.
Do mesmo modo, foi decidido restaurar a Casa do Espadanido, onde estivera
o Noviciado dos Clérigos, para a activar como Noviciado dos Irmãos.
O Provincialato do P. Olavo Teixeira Martins (1953-1959)
499
Outro acontecimento que merece ser arquivado foi a doação às Irmãs do
Espírito Santo de parte da propriedade que nos foi legada no Fraião pelo casal
Araújo. Na reunião do Conselho Provincial de 8 de Setembro de 1958, foi lida
uma carta da Provincial das Irmãs do Espírito Santo, perguntando se a
Congregação estava disposta a ceder-lhe e em que condições, uma parte do
terreno, junto da estrada, no Fraião para a construção do seu Noviciado.
Considerando que as Irmãs do Espírito Santo, no começo ainda do seu
desenvolvimento em Portugal, precisavam de ajuda e que elas eram naturais
auxiliares das nossas missões e que no futuro, muito nos poderiam ajudar até na
Europa, o Conselho Provincial foi de parecer que o terreno lhes fosse concedido
gratuitamente, salvaguardadas um certo número de condições, respeitantes à
privacidade de ambas as partes. O terreno seria cedido exclusivamente às Irmãs
para a construção e logradouro da Casa, de sorte que se amanhã as Irmãs
quisessem abandoná-lo ou utilizá-lo para outros fins que não fossem para a
construção e logradouro de uma casa de formação ou repouso, ele voltaria sem
mais, à posse da Congregação. O parecer da Casa Mãe, de 29 de Setembro de
1958, foi favorável.
A fim de colocar a Província em conformidade com as decisões do “Statuta
Generalia”, anexos à Constituição Apostólica “Sedes Sapientiae”, o Conselho
Geral decidiu que, antes da admissão aos votos perpétuos, todos os confrades
clérigos e irmãos, fizessem um mês de recolecção, sob a direcção de um padre
especialmente designado para esse efeito. Durante esta recolecção, os retirantes,
submetidos a um regulamento decalcado sobre o Noviciado, entregar-se-iam
especialmente à revisão do Direito Regular e à leitura das Constituições.
Obedecendo a esta ordem, coube ao P. Manuel Meira a incumbência de dirigir
a primeira Recolecção, ajudado pelo P. Jorge Sanches. Nela tomaram parte, além
dos escolásticos e irmãos propostos para votos perpétuos, os escolásticos que em
fins de Setembro iriam ser ordenados sacerdotes. Eram ao todo 23. Teve início a
9 de Agosto, no Fraião, para terminar a 8 de Setembro.
A última semana foi aproveitada para o retiro anual, para o qual se abriram três
secções:
- Retiro dos directores e sub-directores dos seminários;
- Retiro dos Escolásticos Maiores que se juntaram aos Recolectantes;
- Retiro dos Irmãos.
Esta recolecção repetir-se-ia depois todos os anos.
Em 1958 veio como Visitador da Província o P. Neyrand, assistente geral, que
percorreu a Província de 4 de Novembro a 15 de Dezembro.
Durante o Provincialato do P. Olavo desenvolveu-se particularmente a Obra
de Espanha e continuaram em bom ritmo as Obras de Formação e Animação
Missionária da Província.
501
Capítulo 52
O Provincialato do P. Firmino Cardoso (1959-1965)
O
P. Firmino Cardoso Pinto foi nomeado Provincial de Portugal pela
Casa Mãe a 13 de Janeiro de 1959.
A 3 de Junho desse ano de 1959, o Conselho Provincial nomeado pela Casa
Mãe, era assim constituído:
P. Francisco Nogueira da Rocha, 1º assistente; P. Joaquim Correia de Castro,
2º assistente. Conselheiros: P. Fernando Moreira da Silva, P. José Felício, P. José
Maria de Sousa e P. José Alves.
Neste ano de 1959-60, a Província contava 126 alunos no 1º ano de
preparatórios em Viana do Castelo e Godim, 81 no 2º ano em Viana do Castelo,
66 no 3º ano no Fraião, 53, no 4º ano no Fraião, 34 no 5º ano, 28 no 6º ano no
Fraião e 21 no 7º, também no Fraião.
No noviciado da Torre da Aguilha havia 13 noviços, no Curso Filosófico 24
escolásticos e no Curso Teológico 31. Os noviços-irmãos eram 7, os postulantes
6, os aspirantes 8, os Irmãos em formação 9.
No seu primeiro editorial que escreveu para o Boletim
da Província, o P. Firmino Cardoso, ao fazer a leitura da
situação da Província, fazia-se logo eco da grande
preocupação que marcaria o seu Provincialato. Diz ele:
“Dada a minha visita rápida às casas da Província e
Espanha, além do bom acolhimento que da parte de todos
me foi dispensado, e que não posso esquecer, uma impressão
dominante se gravou no meu espírito e da qual quero falar:
a deficiência do rendimento aceitável nas obras de
P. Firmino Cardoso Pinto
formação dos clérigos e irmãos.
Na obra de formação de Irmãos, é chocante e dolorosamente impressionante a
falta de vocações. Oficinas, sem ou com muito poucos aprendizes, e agricultura
apenas com três irmãos encarregados da Quinta, sem um único Irmão ou postulante
em treino e que dê a esperança de se poder amanhã lançar mão deles para a lavoura
das quintas grandes ou pequenas que quase todas as nossas casas possuem.
Para obviar a esta falta de vocações criou-se no Fraião uma obra subsidiária, o
pré-postulantado, actualmente composto por 10 adolescentes e jovens, dos 12 aos 15
anos, iniciativa que embora não seja de rejeitar, não é, no entanto, solução para o
problema. Impõe-se por isso, e aqui lançamos veemente apelo à Obra da
502
Adélio TORRES NEIVA
Propaganda e a todos os confrades, uma campanha persistente e o mais vasta possível
no recrutamento de vocações para Irmãos Auxiliares. Há no país várias regiões
onde esta campanha tem particularmente possibilidades de êxito. Temos
actualmente entre os 21 membros que compõem a Casa do Noviciado dos Irmãos,
5, ou seja a quarta parte deles, que são oriundos da freguesia de Almofala, concelho
de Castro Daire. A região da Guarda, penso que será também propícia ao
florescimento da vocação de Irmãos.
Com zelo e boa vontade de todos, acho não ser difícil dar incremento à Obra dos
Irmãos que é nosso desejo seja cada vez mais valorizada por uma formação
religiosa, literária e técnica aperfeiçoada.
Olhemos agora para as obras de formação de clérigos. Os Escolasticados Menores
estão cheios. Temos em Godim e Viana do Castelo 106 aspirantes no 1º ano e 76
no 2º ano. No Fraião há 64 no 3º ano, 33 no 4º ano, 31 no 5º ano, 21 no 6º ano
e 15 no 7º ano.
Ao verificarmos esta confrangedora desproporção entre os números tão nutridos
dos primeiros anos e tão reduzidos já no 6º e no 7º anos, não podemos deixar de nos
interrogar sobre a razão de tão elevado número de desistências. Estará ela na falta
de necessária selecção no recrutamento? Estará na deficiência de formação a dentro
das portas do escolasticado? Será apenas, como alguns pensam, uma consequência
intrínseca à própria natureza da obra – multi vocati, pauci vero electi?
Seja qual for a causa, impõe-se da parte de todos, um esforço real no sentido de
melhorarmos o nosso recrutamento, de intensificarmos a nossa acção formativa e de
ajudarmos, pelo exemplo, pela palavra e pela oração a manter em maré alta de
entusiasmo e generosidade as almas destes jovens que nos procuraram, para deles
fazermos bons e santos sacerdotes, religiosos e missionários”401
O Provincialato do P. Firmino Cardoso foi marcado por alguns
acontecimentos importantes entre os quais sobressaem a inauguração da nova
casa da Silva e o desenvolvimento atingido pela nova fundação de Espanha.
Por motivo das obras para a construção do novo seminário da Silva, os noviços
passaram a 9 de Setembro de 1959, para o Pavilhão leste da Torre da Aguilha.
Em 1960, por decisão do Conselho Geral do dia 11 de Outubro, foi criada em
Valladolid, Espanha, em ordem à formação de escolásticos menores, uma nova
residência consagrada ao Espírito Santo, sendo nomeado seu director o P.
Avelino Barreto e director dos estudantes o P. José dos Santos Simões.
A 16 de Janeiro de 1962 o P. Firmino foi reconduzido como Provincial.
Em 1962, aproveitando a circunstância de se inaugurar o novo seminário da
Silva, veio fazer uma visita a Portugal, o Superior Geral da Congregação Mons.
Marcel Lefèbvre, que acabava de ser eleito pelo Capítulo Geral da Congregação.
Começou a sua visita com um retiro de oito dias na Torre da Aguilha, em ordem
à entrada em exercício das suas funções de Superior Geral. O Superior Geral,
além de participar na inauguração do novo seminário da Silva, a 8 de Setembro,
presidiu às ordenações de alguns escolásticos e ao encerramento do Encontro de
401
BPP. 1959 p. 657-658.
O Provincialato do P. Firmino Cardoso (1959-1965)
503
Professores das Escolas do Magistério Primário em Viana do Castelo.
A inauguração do novo noviciado da Silva realizou-se a 8 de Setembro de 1962,
tendo presidido à cerimónia o Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel
Gonçalves Cerejeira, estando presentes o Superior Geral da Congregação e o
arcebispo de Luanda D. Moisés Alves de Pinho, o bispo auxiliar de Braga, o bispo
de Portalegre e Castelo Branco, membros do Governo e da autarquia local e um
sem número de benfeitores e pessoas amigas da Congregação. No dia 1 de
Setembro já o Sr. D. Moisés tinha benzido a capela e sagrado o altar.
As Irmãs do Espírito Santo, acedendo ao pedido do P. Provincial, vieram, em
número de três, para a Silva assegurar o trabalho da cozinha, rouparia e
lavandaria.
No Capítulo Geral de 1952 o P. Avelino Costa foi eleito Conselheiro Geral e
o novo Conselho Geral nomeou o P. Francisco Nogueira da Rocha Procurador
Geral da Congregação; seguiu para Paris a 26 de Setembro de 1962. Para o
substituir no Conselho Provincial foi nomeado o P. José Fagundes Pires.
Em 1963, com a passagem da Administração Geral da Rua Lhomond para a
Rua des Pirénnés, 393, o economato geral separou-se da Procuradoria das
Missões; até aí, o Economato e a Procuradoria eram uma só e mesma identidade.
Em 1963 visitaram as casas da Província o Subsecretário da Administração
Ultramarina, Dr. Joaquim Moreira da Silva Cunha, acompanhado do seu
secretário e do director Geral do Ministério do Ultramar Dr. Almeida Cotta.
Para responder aos votos do Capítulo Geral de 1962, o Conselho Geral em
1963 decidiu a criação de um Centro de Documentação e Informação Geral e fez
o voto para que cada Província possua um Centro de Propaganda e
“Publicidade”. Em ordem a esta norma seria criado em Portugal um “Centro de
Documentação, Informação e Biblioteca Missionária e Ultramarina”, sendo seu
director o P. Ismael Baptista, secretário o P. Álvaro Miranda Santos e adjuntos
os Padres António Brásio, Joaquim Vaz, e Adélio Torres Neiva.
Durante o Capítulo Geral de 1962, foi decidido entre outras coisas, a revisão
do Manual de Oração actualmente em uso na Congregação. O Provincial de
Portugal, em ordem à execução dessa orientação, nomeou uma comissão para
proceder a essa revisão, formada pelos padres Jorge Sanches, presidente e vogais
os padres José Alves, José Pires, Amadeu Martins, Manuel dos Santos Neves e
Isalino Gomes.
Também no ano de 1962, com o fim de difundir a doutrina do Venerável Padre
Libermann e de levar os fiéis a invocá-lo para obter de Deus os milagres
necessários à sua canonização, o P. Provincial nomeou uma comissão especial
assim constituída: P. José Alves (presidente) e Padres Jorge Sanches, José
Felício, Isalino Gomes, José Maria Figueiredo, José Maria de Sousa, Amadeu
Martins, Olavo Teixeira, José Simões e Manuel dos Santos Neves (vogais).
Foi também neste mesmo ano de 1962 que, a 1 de Fevereiro, a igreja do
Seminário de Viana do Castelo reabriu ao culto, depois de devidamente
restaurada.
Também em 1963 se começou a publicação da revista “Encontro” com o P.
504
Adélio TORRES NEIVA
José Felício a director, e o P. Adélio Torres Neiva, a redactor.
A 6 de Maio de 1963 começaram na comunidade de Lisboa obras que levaram
à construção de um novo pavilhão, voltado para a Rua da Imprensa.
A 7 de Setembro de 1964 foi inaugurado na Espanha o noviciado da
Congregação, em Tortoreos, na Galiza, com 10 noviços e 3 Postulantes-Irmãos,
sendo mestre de noviços o P. Olavo Teixeira Martins. Nesta data a Província de
Espanha contava já com 2 padres originários da Espanha, 10 escolásticos, 10
noviços, 4 Irmãos, 32 escolásticos menores e 3 postulantes - irmãos. No ano
seguinte, a 26 de Janeiro de 1965, seria criada em Barcelona, na Rua Muntaner,
uma nova residência espiritana, sendo o seu pessoal constituído pelos padres
Ramos Seixas, Manuel David de Sousa e Ir. Xavier.
De regresso da sua visita a algumas circunscrições espiritanas na África,
nomeadamente Angola, o Superior Geral Mons. Lefebvre passou por Lisboa,
onde deu uma significativa recepção em que participaram além das autoridades
mais representativas da Igreja e do Ministério do Ultramar, um sem número de
amigos e pessoas ligadas às missões espiritanas.
505
Capítulo 53
O Provincialato do P. Amadeu Martins (1965-1970)
O
Conselho Geral no dia 24 de Março de 1965 nomeou Superior
Provincial da Província Portuguesa o P. Amadeu Gonçalves Martins.
Tomaria posse do seu cargo a 19 de Abril desse mesmo ano.
A 17 de Agosto de 1965 era nomeado o Conselho Provincial que ficou assim
constituído: P. Joaquim Correia de Castro, 1º assistente; P. José Alves, 2º
assistente; Conselheiros: P. José Felício, José Pires, José Gonçalves de Araújo e
Joaquim Maria Mendes. Para ecónomo provincial foi escolhido o P. António
Alves de Oliveira.
Este Conselho seria remodelado em Junho 1967, passando a 2º assistente o P.
José Felício e tomando o lugar de conselheiro o P. Joaquim Macedo Lima.
Um dos acontecimentos mais relevantes do Provincialato do P. Amadeu
Martins foi a comemoração do centenário da chegada da Congregação a Angola
em 1866 e o centenário da Fundação da Província Portuguesa em 1867.
A onda de renovação e de instabilidade nas
instituições, provocadas de uma maneira ou de outra
pelo Concílio Vaticano II marcaria também de várias
maneiras esta época em que esteve à frente dos destinos
da Província o P. Amadeu Martins. No capítulo
seguinte, desenvolver-se-á esta vertente.
Marcaram também este provincialato dois
acontecimentos de grande transcendência: o Concílio
Vaticano II, que então se realizou e o Capítulo Geral
Extraordinário da Congregação que procurou adaptar à
P. Amadeu Martins
Congregação as orientações do Concílio.
A Província de Espanha que se desenvolveu grandemente neste período até
atingir a sua autonomia em 1969, foi outro acontecimento marcante do
provincialato do P. Amadeu Martins. Foi a 21 de Fevereiro de 1969 que a Sagrada
Congregação dos Religiosos e Institutos Seculares autorizou a erecção em
Espanha de uma Província da Congregação. Ao enviar o indulto dessa fundação,
o Superior Geral P. Lecuyer escreveu ao Provincial de Portugal exprimindo “ o
reconhecimento que a Congregação deve à Província Portuguesa pela ajuda
generosa, em pessoal e recursos, que durante 20 anos prestou à Obra de Espanha.
Esta, atingida a maioridade, viverá desde agora, a sua vida própria, mas não
esquecerá a sua Província-Mãe, esperando com ela guardar relações privilegiadas.
Queira exprimir a todos os Padres e Irmãos da sua Província, que trabalharam
506
Adélio TORRES NEIVA
em Espanha, desde 1950, os mais cordiais agradecimentos pelos esforços, muitas
vezes obscuros e penosos, realizados em vista da fundação da Província de Espanha.
O seu trabalho e sofrimento não foram inúteis e merecem ser salientados.”
Em 1965 o P. Nogueira da Rocha foi nomeado por mais um período de três
anos Ecónomo Geral da Congregação.
Num dos seus primeiros editoriais que escreveu para o Boletim da Província, a
propósito do próximo centenário da chegada dos Espiritanos a Angola, o P.
Martins fazia um balanço da vida da Província após a sua restauração. Nas três
décadas que vão de Outubro de 1919 a Outubro de 1948, foram admitidos nos
nossos escolasticados 1.700 alunos, dos quais se ordenaram na Congregação 214,
ou seja, 12,52%. Na primeira década 1919-1928 entraram 304 e ordenaram-se 52,
o que representa 17,1 por cento. Na segunda década, 1929-1938, entraram 692 e
ordenaram-se 76 ou seja, 10,98 por cento, o que representa uma grande quebra. Na
terceira, 1939-1948, entraram 713 e ordenaram-se 86, portanto 12,6 por cento.
Nos três primeiros anos da década, isto é, de 1949 a 1951, entraram em Godim
233 candidatos, dos quais se ordenaram já 27.
De 2 a 5 de Junho de 1965, realizou-se em Lisboa a 1ª Semana Missiológica do
Pentecostes, de que foi secretário o P. Fernando Santos Neves e que teve entre
os seus conferencistas missiólogos de grande cotação como os PP. Masson,
Daniélou, Henry, Dondeyne, Loffeld, Atanase Bouchard, entre outros.
No Fraião na Escola de Aprendizagem Agrícola foram apresentados pela
primeira vez alunos a exame do primeiro ciclo.
O centenário da chegada dos Espiritanos a Angola
1966 foi o ano centenário da chegada dos Espiritanos a Angola. Este centenário
foi evocado em toda a Província com várias actividades, nomeadamente com
sessões solenes nas cidades onde temos casas e uma Exposição Missionária no
convento de S. Domingos, em Viana do Castelo. De todas estas actividades
sobressai a grande peregrinação a Fátima da Família Espiritana a 8 e 9 de
Outubro, presidida por D. Xavier Monteiro, arcebispo de Mitilene, em
representação do Sr. Cardeal Patriarca.
Também para comemorar esta efeméride, iniciou-se em 1966 a publicação da
“Spiritana Monumenta Historica”, do P. António Brásio, subsidiada pela
Duquesne University Press, de Pittsburgh. Sobre Angola apareceriam cinco
volumes, sendo o primeiro editado nesse ano.
A 14 de Outubro partiu para Angola, para participar nas comemorações do
centenário da chegada da Congregação àquela colónia, o P.
Amadeu Martins. Na sessão solene evocativa do acontecimento
discursaram o P. António Brásio e o Dr. Braga Paixão.
Além disso, a Província empenhou-se em obter do Ministério do
Ultramar a emissão de um selo comemorativo do primeiro
centenário da chegada da Congregação a Angola, o qual foi
autorizado por despacho do Ministro do Ultramar de 21 de Janeiro Selo comemorativo
de 1966. O selo foi impresso na Casa da Moeda e começou a
O Provincialato do P. Amadeu Martins (1965-1970)
507
circular a 15 de Agosto.
Em 1966 a Comissão Pró-Libermann foi remodelada, ficando agora assim
constituída: P. Firmino Cardoso, secretário e vogais para as diferentes
comunidades: PP. José Alves (Torre da Aguilha), Augusto Ferreira (Viana do
Castelo), David (Barcelona) e Gonçalves de Araújo (Madrid).
O ano de 1966 ficou também marcado com a morte do Capitão Monteiro
Pinto, a 13 de Março. Trata-se de um antigo aluno do Colégio do Espírito Santo
e que foi um dos benfeitores mais insignes de toda a história da Província
portuguesa. Foi professor sem qualquer remuneração desde 1921, primeiro no
Colégio de S. Tomás de Aquino e depois no Seminário do Fraião.
A 16 de Julho de 1966, a Casa Generalícia da Congregação foi transferida para
Roma, para Clivo di Cinna, iniciando o seu funcionamento a 14 de Setembro,
festa da Exaltação da Santa Cruz.
A fim de perpetuar a memória de D. Moisés Alves de Pinho, em Viana do
Castelo e sobretudo no bairro onde se encontra o Seminário das Missões, onde
durante muitos anos D. Moisés viveu e trabalhou, a Câmara de Viana do Castelo
resolveu dar o nome de Moisés Alves de Pinho, à rua que passa ao lado da igreja
e principia na Avenida Salazar. (Ofício nº 5355 de 3 de Novembro de 1966).
A Comissão “Pró-Libermann” foi mais uma vez renovada no Capítulo
Provincial de 1966, ficando agora constituída pelo P. José Alves, como
presidente, e pelos PP. Manuel Martins Vaz, Torres Neiva e Amorim da Costa,
como vogais e o P. Pereira Marante como secretário.
Centenário da fundação da Província
O ano de 1967 ficou também marcado pelas comemorações do Centenário da
fundação da Província Portuguesa. Como números mais relevantes sobressaem um
solene Te Deum de Acção de Graças, na Basílica da Estrela, presidido pelo
Arcebispo de Mitilene, a 3 de Novembro, data histórica da fundação; uma sessão
solene no salão nobre dos Paços do Concelho em Santarém no dia 18 de
Novembro, com uma conferência do P. António Brásio, cujo título foi “Um século
de vida espiritana em Portugal”; uma sessão solene na Biblioteca Pública de Braga,
a 7 de Dezembro, presidida pelo Arcebispo Primaz, em que foram oradores o Dr.
Sérgio Pinto e o P. António Brásio e no dia 16 de Dezembro uma sessão solene na
Sala de Portugal, na Sociedade de Geografia de Lisboa. Esta sessão foi presidida
pelo Chefe do Estado, Almirante Américo Tomaz, ladeado pelos Ministros do
Interior, da Saúde e do Ultramar, Mons. Marcel Lefebvre, Superior Geral da
Congregação, que veio de Roma expressamente para participar nestas
comemorações e Prof. Adriano Moreira. As conferências foram proferidas pelo
Prof. Dr. Silva Rego e pelo Dr. Silva Tavares, antigo Governador Geral de Angola.
Na Assembleia Nacional também dois deputados tomaram como tema das
suas intervenções a comemoração do centenário da fundação da Província: o
deputado Sebastião Alves a 13 de Dezembro e a 14 o Dr. Aníbal Correia.
508
Adélio TORRES NEIVA
A 10 de Outubro de 1967, a LIAM estreou no Cinema Monumental o filme de
grande metragem “Uma Vontade Maior”, rodado em Portugal e Angola, com os
actores Carlos Cruz, Mário Pereira, Ulisses Cortês, etc. iniciativa que se deve
sobretudo ao P. José Felício e a cuja estreia presidiu o Chefe do Estado.
A 8 de Setembro de 1967 inaugurava-se na Espanha, em San Cugat del Vallés,
perto de Barcelona, com a presença do Superior Geral, o Escolasticado Maior da
Congregação naquele país.
Preparação para o Capítulo Geral
Em 1967 começou-se também a preparar o Capítulo Geral Extraordinário
Especial que se realizaria em 1968-69. O trabalho da adaptação às novas
realidades apontadas pelo Concílio, começou com as propostas e estudos
apresentadas pelas comissões provinciais pré-capitulares de estudo da Obra dos
Irmãos, Vida Religiosa e Apostólica, Formação e Legislação. O resultado desta
reflexão seria apresentado à Casa Generalícia que por sua vez o remeteria para o
Capítulo Geral. As Comissões reuniram-se em Roma. Da primeira comissão, de
Portugal foi delegado o P. Joaquim Maria Mendes, da segunda o P. Nuno
Tavares, da terceira o P. Firmino Cardoso e da quarta o P. Angelino Guimarães.
A convocação oficial para o Capítulo foi feita pelo Superior Geral a 18 de
Outubro e o Capítulo realizar-se-ia em Roma na Domus Mariae, sendo a data de
abertura 8 de Setembro de 1968. Como delegados de Portugal foram eleitos o P.
Firmino Cardoso e o Ir. Alberto Parreira.
O Capítulo Geral elegeu como assistente para o Conselho Geral o P. Jorge
Sanches.
Em obediência às orientações emanadas do Capítulo Geral, de acordo com a
decisão tomada pelo Conselho Provincial Ampliado, reunido em Abril de 1969,
o P. Provincial escolheu para ampliar o Conselho Provincial os seguintes
confrades: PP. Álvaro Miranda Santos, José dos Santos Simões, Manuel Martins
Vaz e Ir. Estêvão.
Em 1967, enviado pela Casa Generalícia visitou as casas de formação o Prefeito
Geral dos Aspirantes e Estudos, P. Fitzgerald.
A 26 de Março desse mesmo ano o Conselho Académico da Academia
Portuguesa de história nomeou o P. António Brásio Académico de número,
ficando a ocupar a cadeira nº11 que pertenceu anteriormente a Mário Sampaio
Ribeiro, ao Almirante Gago Coutinho e ao Prof. Silva Carvalho.
Em 21 de Março de 1968 o P. Amadeu Martins é reconduzido por um segundo
triénio, como Provincial de Portugal.
A 31 de Maio foi benzida e colocada a primeira pedra do futuro Noviciado da
Congregação em Espanha, em Castrillo de la Vega, Aranda de Duero.
A Sagrada Congregação dos Religiosos e Institutos Seculares, por sua Portaria
nº 16 366/69 de 21 de Fevereiro de 1969 autorizou a erecção da Província de
Espanha, terminando assim a intervenção directa da Província Portuguesa como
mãe desta nova Província.
O Provincialato do P. Amadeu Martins (1965-1970)
509
A 14 de Novembro de 1968 foi nomeado visitador da Província, o P. Ferdinand
Buissard.
No ano de 1969 no Museu de Etnologia do Ultramar, foram abertas duas
vitrinas com mais de uma centena de objectos, máscaras, estatuetas, feitiços,
instrumentos de música, punhais, etc. oferecidos ao museu pelo Seminário de
Viana do Castelo.
Também em acordo com os Documentos do Capítulo Geral, em que foi dada
a oportunidade a todos os Irmãos da Província de deixarem o nome de religião e
regressarem ao do Baptismo, pediram para mudar de nome os seguintes Irmãos.
Ir. Abílio (Ir. António Sousa Lopes), Ir. João de Brito (Ir. Lícinío Alves), Ir.
Redentor (Ir. João da Cruz), Ir. Gregório (Ir. António Braz), Ir. Boaventura
(Ir. Isaías Gonçalves), Ir. Berchmans (Ir. António Cunha), Ir. Anselmo (Ir.
António Queiroz), Ir. Lino (Ir. Amândio Braz), Ir. Celestino (Ir. José Leitão),
Ir. Abraão (Ir. Altino Fafiães). Ir. Jorge (Ir. Aníbal Cunha) Ir. André (Ir.
António Gonçalves), Ir. Cassiano (Ir. António Maria) Ir. Samuel (Ir. Américo
Pereira de Sousa) Ir. Silvério (Ir. Armindo Braz), Ir. Sílvio (Ir. José de Freitas),
Ir. Francisco José (Ir. Luís Jorge Nereu), Ir. Basílio (Ir Eugénio Mendes), Ir.
Alfredo (Ir. Manuel de Jesus Lima), Ir. Estêvão (Ir. Manuel Joaquim Duarte),
Ir. Gualter (Ir. António Pereira ), Ir. Lúcio (Ir. Joaquim dos Santos Custódio),
Ir. Emanuel (Ir. Manuel Lopes de Sousa), Ir. João Messias (Ir. Raul Dias
Aparício), Ir. João Baptista (Ir. Duarte Manuel da Silva Costa), Ir. Hermes (Ir.
Lécio de Lomba), Ir. Higino (Ir. Manuel Domingues), Ir. Delfim (Ir. Manuel
da Cruz), Ir. Martinho (Ir. Carlos Gomes) Ir. Belarmino (Ir. Francisco
Morais).
Em Outubro de 1969, o novo Superior Geral da Congregação P. Joseph
Lecuyer, visitou a Província.
Por escritura pública de 3 de Dezembro de 1969 a Igreja dos Santos Mártires
de Viana do Castelo ficou a ser propriedade da Congregação do Espírito Santo.
Um acontecimento que marcou profundamente a Província foi o desastre
acontecido na Silva a 23 de Março de 1970, em que os confrades P. António
Rodas de Sousa, P. José dos Santos Fonseca e P. António Martins Fernandes,
foram colhidos pelo comboio quando se dirigiam para uma celebração
penitencial em Barcelos. O funeral dos três confrades, realizado na matriz de
Barcelos, no dia 25 de Março de 1970 foi uma manifestação de pesar que muito
sensibilizou toda a família espiritana.
Nesta data, a Província contava em Portugal 54 padres e 54 Irmãos.
511
Capítulo 54
A crise de 1968-1969
s últimos anos da década de 60 foram particularmente agitados em toda
a Europa. A revolta dos estudantes de 1968 na França marcou uma
viragem na história da Europa.
Em Portugal foi evidente essa repercussão na agitação estudantil que varreu
sobretudo as universidades de Coimbra e Lisboa. Vivia-se então um clima de
contestação à política de Salazar, nomeadamente no que se referia à política
colonial. A guerra colonial, iniciada em 1961, a guerra das colónias contra os
partidos independentistas começava a cansar as forças armadas e a levantar
interrogações sobre a sua legitimidade. Por toda a África havia um surto de
independências e o facto não podia deixar de ter eco em Portugal, sobretudo nas
áreas de esquerda. Vários sintomas de descontentamento e tentativas de
sublevação militar anunciavam já a Revolução de Abril de 1974.
Na Igreja, de 1962 a 1965, realizou-se o Concílio Vaticano II que marcou uma
viragem, nunca antes imaginada em todos os sectores da vida da Igreja. A leitura
teológica da História, a pastoral litúrgica, o diálogo com o mundo e as religiões,
a teologia da Igreja e a sua relação com o mundo, abriram horizontes novos à
vida da Igreja e ao seu diálogo com o mundo. Era uma Igreja que se queria pobre
e serva, que assumia as alegrias e as esperanças, os sofrimentos e as angústias do
mundo, como percurso da sua própria caminhada.
Na Congregação o imobilismo do superiorato do P. Griffin começava a
provocar um certo descontentamento, nomeadamente no seminário de Chevilly,
onde se manifestavam os primeiros sintomas de querer mudar as coisas. O
superiorato de Mons. Lefèbvre, um superior de tendências conservadoras muito
marcantes, não fez senão agravar a situação. O Capítulo do ajornamento conciliar
da Congregação marcado para 1968 veio dar aso a um confronto muito forte entre
a tendência progressista e a tendência conservadora dentro da Congregação. Logo
na preparação capitular se viu que o confronto era inevitável. Um grupo de
Espiritanos franceses, de tendência avançada, reuniram-se no Bouveret, na Suíça,
para avançarem com as suas propostas para o Capítulo. As decisões tomadas
propunham entre outras coisas, que desde o início do Capítulo, o Conselho Geral
ficasse demissionário, vigorando apenas para a expedição dos negócios correntes
até à eleição do novo Conselho; que o Superior Geral durante o Capítulo, para o
foro interno do Capítulo, fosse apenas um membro como os outros, que desde o
princípio a autoridade e a presidência do Capítulo passassem para os
moderadores; que escolásticos e padres jovens pudessem participar no Capítulo
como observadores; que durante o Capítulo o uso do hábito religioso fosse livre
O
512
Adélio TORRES NEIVA
e não obrigatório como tinha sido decidido pelo Conselho Geral; que se previsse
uma segunda sessão para dar tempo a um maior amadurecimento das decisões a
tomar; que desde o fim da primeira sessão houvesse já novos chefes para dirigir e
animar a Congregação; que a eleição do Superior Geral só fosse feita depois de
toda a Congregação poder estar devidamente informada; que se sublinhasse a
importância do princípio de subsidiariedade; que o Capítulo reflectisse sobre a
natureza e a missão apostólica da Congregação hoje. As outras propostas diziam
respeito à liturgia, à oração, ao método, aos peritos e teólogos, à comissão de
textos, à informação e à mensagem final, etc.401
Era evidente nestas propostas a intenção de ressalvar o Capítulo como
autoridade máxima, dar toda a liberdade aos capitulantes e marginalizar a
autoridade do Superior Geral, Mons. Lefèbvre, durante o Capítulo.
A maior parte destas propostas vingaria na aula capitular. Foram muito vivas as
discussões e as tensões durante o Capítulo. Profundamente descontente da preparação
do Capítulo e inquieto pela viragem que os acontecimentos estavam a tomar, Mons.
Lefèbvre tentou forçar os capitulantes e reclamar a presidência do Capítulo, para assim
o poder controlar. Perdendo por um voto, abandonou o Capítulo, não sem
primeiro acusar publicamente os capitulantes de infidelidade à doutrina da Igreja
e ao carisma da Congregação. Partia, dizia ele, porque em consciência não podia
participar na traição deste Capítulo, manipulado por uma minoria.
Foi um momento particularmente tenso em que a Congregação poderia ter
sofrido uma grave ruptura. o P. Lecuyer, Superior Geral eleito, foi o homem
providencial para salvar a unidade. Teólogo de renome, amigo pessoal e
confidente de Paulo VI, soube pacificar aqueles a quem a acusação de traição
tinha deixado perturbados. No entanto, se o P. Lecuyer teve o mérito de salvar
a Congregação neste momento de crise, é preciso dizer-se que a ferida levou
tempo a cicatrizar. É certo que as orientações do Capítulo foram em geral bem
recebidas pela maioria da Congregação. Mas havia também um razoável número
de confrades que se revia, pelo menos em parte, nas ideias de Mons. Lefèbvre.
Levou anos a pacificar a Congregação. Os novos assistentes escolhidos eram
personalidades de grande valor. Elegendo-os, os capitulantes quiseram reabilitar
alguns confrades iminentes, marginalizados por Mons. Lefèbvre ou dar espaço a
vozes proféticas. Mas com isso, nem sempre respeitaram as preferências
expressas pelas suas Províncias de origem, nem as suas capacidades de homens de
equipa e isso não facilitou as coisas. O superiorato do P. Lecuyer foi
verdadeiramente o superiorato de adaptação à nova situação e da cura lenta de
tensões e divergências.
A Carta dirigida ao Capítulo Geral
É claro que na Província portuguesa também começavam a emergir
divergências e tensões, que pouco a pouco iam tomando voz cada vez menos
401
Liste de propositions adoptées à la réunion du Bouveret
A crise de 1968-1969
513
discreta. O mal-estar fazia-se sobretudo sentir entre os padres mais novos e os
escolásticos do Seminário Maior.
O que desencadeou a crise foi uma carta escrita pelo P. Miguel Soares da Silva,
com a data de 29 de Outubro de 1968, dirigida ao Capítulo Geral da
Congregação, que então se encontrava reunido em Roma. Já antes, a 20 de
Outubro de 1968, os Padres Eurico de Azevedo e Alexandre Azevedo tinham
dirigido ao P. Jorge Sanches para ele a apresentar ao Capítulo Geral, uma
primeira carta, elaborada por um grupo de jovens padres Espiritanos.
Nesta carta se pede ao Capítulo Geral para fazer um estudo sério sobre a
situação missionária em que se encontra a Província portuguesa, já que esta não
poderia por si própria sair da situação em que estava mergulhada. Esta situação,
segundo a carta, seria caracterizada pelos seguintes fenómenos:
- a mediocridade de formação humana, teológica e missionária dos dirigentes e
que tem como consequência que os mais aptos são postos à margem e os mais
incompetentes se tornam os mais aptos;
- a ausência de motivação missionária ou uma pseudo motivação missionária;
- a atitude “oficial” da Província portuguesa é totalmente anacrónica e
radicalmente falsa, vivendo ao ritmo da idade constantiniana e colonialista, como
por exemplo:
- os missionários do Espírito Santo são tidos como a guarda avançada do
Império;
- os missionários são vistos pelos nativos como funcionários do Governo;
- suspeita e hostilidade em relação aos missionários estrangeiros;
- hostilidade às orientações missionárias da Igreja;
- missionários estrangeiros expulsos injustamente com o beneplácito dos
nossos missionários e dos nossos responsáveis;
- missionários “recambiados” por defenderem as línguas nativas;
- missionários repreendidos pelos superiores por defenderem as línguas nativas;
- interferência nos assuntos da Província de pessoas estranhas que são política
e economicamente fortes e a quem se presta o culto de um servilismo
vergonhoso;
- missionários molestados por não aceitarem certas ideias de racismo prático e
situações clamorosamente injustas;
- “missionários” que hostilizam e fazem campanha contra o clero nativo;
- “missionários” que exploram as opiniões políticas de confrades para os
denunciar à PIDE ;
- pressão feita (e muitas vezes aceite) aos missionários para colaboração policial
a fim de denunciar os adeptos da independência “visto que trabalhamos pela
mesma causa” (dizem os agentes da PIDE);
- maneira injusta e motivação falsa de angariar fundos, com sermões patéticos
(LIAM) e despesas avultadas em causas sem finalidade nem responsabilidade
(Filme “Uma vontade maior”);
- suspeita geral, quando não arrumação sistemática, de todos os que ousam
confrontar a doutrina da Igreja com a doutrina política de Salazar;
514
Adélio TORRES NEIVA
- propostas de padres e escolásticos crivadas e retidas;
- desinteresse na preparação do Capítulo Geral e receio muitas vezes
manifestado que se altere o “status quo”;
- represálias ridículas que afectam profundamente as pessoas e as obras,
queimando jovens sacerdotes cheios de boa vontade e não raro competentes.
E a carta termina com uma ameaça de ruptura: “Se o Capítulo Geral não puder
reconduzir a Província Portuguesa à Igreja Missionária, tal como o Concílio a
descreveu e definiu, os signatários são obrigados, em consciência, a optar por
outro caminho onde possam viver e revelar ao mundo o Evangelho de Jesus
Cristo”.
Mas esta carta não chegou a circular na aula capitular. A que circulou foi a do
P. Miguel Soares da Silva, de 28 de Outubro, denominada “Apelo ao Capítulo”,
que com pequenas diferenças, repete o mesmo apelo e as mesmas acusações. A
carta era acompanhada de uma série de documentos anexos e fazia-se apoiar por
32 confrades, mais 5 padres do IV Ano de Teologia, oito escolásticos do 3º, três
do 2º e quinze do 1º. Os nomes vinham dactilografados, excepto dois que
estavam assinados à mão.
Eis o que dizia este documento:
“1. A “oportunidade” imediata para o nosso testemunho e apelo, é o que tem
acontecido e está a acontecer, nestes mesmos dias de reunião do Capítulo
Extraordinário na Província Portuguesa: a supremacia escandalosa de um grupo de
“instalados” ou “conservadores” ou “integristas”, totalmente alheios, (embora
talvez, a nível de inconsciência e sem prejuízo da sua “boa vontade”) ao espírito
evangélico do Concílio Vaticano II.
Perguntamo-nos: Será que o Capítulo Geral Extraordinário, que temos confiança
há-de seguir nas linhas do ajornamento apontadas, entre outros, pelos PP. Athanase
Bouchard (S´adapter aux temps nouveauax”, cf. anexo 1) e A. F. Santos Neves
(Ajornamento espiritano”, cf. anexo 2) se revelará inútil em Portugal, vindo a ser
neutralizado pelos que, a todo o custo, pretendem defender-se das “desordens e
catástrofes introduzidas na Igreja pelo Vaticano II”?
2) Do ponto de vista missionário, a atitude “oficial” da Província Portuguesa é
totalmente anacrónica e radicalmente falsa: vive-se ainda (e conscientemente se
defende tal posição anti-evangélica) ao ritmo da mentalidade constantiniana e
colonialista. O “Esboço para uma carta aberta a um grupo de cristãos e de homens
de boa vontade a todos os cristãos e homens de boa vontade na Angola deste tempo”
(cf. Anexo 3) é suficientemente e tragicamente esclarecedor.
Assim, os lugares teológicos da nossa motivação missionária e as grandes frases da
nossa acção pastoral junto dos leigos, para os comprometer na obra das missões, são
do tipo seguinte:
“Os Missionários do Espírito Santo são a guarda avançada do Império”; “Ó
Missionário Lusitano segue na rota do teu ideal: a toda a gente levar Jesus Cristo,
dizer aos homens quem é Portugal”, etc. etc. (cf. toda a desactualizada LIAM
actual).
As consequências práticas são tantas e tão graves, que qualquer uma por si só, é
A crise de 1968-1969
515
suficiente para pormos em causa a nossa permanência numa Congregação, que
pretende servir “Portugal em África “ (simbólico título da sua revista de “cultura
missionária”) em vez de “Igreja de Cristo”. Limitamo-nos a apontar algumas:
- os missionários vistos pelos nativos como funcionários do Governo português;
- suspeita e hostilidade aos missionários não portugueses;
- ignorância sistemática das orientações missionárias da Igreja;
- missionários expulsos ou recambiados como “anti-patriotas” (por defenderem as
línguas nativas, etc.)
- missionários molestados por não aceitarem certas ideias de racismo prático e
situações clamorosamente injustas;
- “missionários” que fazem campanha contra o clero nativo;
- “missionários” que colaboram com a PIDE (visto que trabalhamos pela mesma
causa da Pátria, dizem os agentes daquela polícia tristemente famosa);
- maneira desonesta de angariar fundos, com sermões patéticos que levam os
simples a suporem que vivemos em extrema necessidade, quando vivemos muito
melhor que essa gente (Portugal é um país subdesenvolvido) e quando se gastam rios
de dinheiro sem finalidade nem responsabilidade (cf. recentíssimo e incrível filme
da LIAM “Uma vontade Maior”).
- suspeita geral, quando não arrumação sistemática, de todos os que ousam
confrontar a doutrina do regime Salazarista com a doutrina da Igreja;
- etc..etc..
3) Do ponto de vista religioso (e mais simplesmente cristão), a Província
Portuguesa poderá ser “sacramento” de tudo, excepto do “único necessário”: o amor
de Deus pelos homens, amor de comunhão, de respeito, de diálogo, de serviço, de
defesa dos pobres e oprimidos, de desenvolvimento. Como é, melhor era que não
fosse, ou pelo menos, que tivesse a coragem de deixar de ser.
Do ponto de vista sacerdotal, a situação não é nada mais lisonjeira embora se
limite a ser igual à da generalidade da “casta”.
4) É justamente o receio de que o Capítulo nada venha significar para a Província
Portuguesa que nos leva a lançar o presente apelo (talvez sem sentido em outras
geografias ou sociologias); e queríamos que ele fosse mais um pequeno contributo da
“última hora” ao “Ajornamento evangélico Vaticano II” que o Capítulo deveria
realizar também para a Província Portuguesa.
Os signatários, muito responsavelmente, em atitude de caridade e de serviço da
Congregação e da Igreja, para a África e para o Mundo, acreditando na “assistência”
do Espírito Santo, desejam com toda a clareza, elucidar o Capítulo Geral do seguinte:
1º Protestamos contra todas as pressões e medidas indignas e injustas tomadas em
relação a certo número de confrades (e lembramos o caso típico do P. A. Fernando
Santos Neves, em quem vemos um profeta e um servidor de uma Igreja
autenticamente evangélica e autenticamente para os novos tempos).
2º Anunciamos que, em consciência e a continuarem as coisas assim, nos pomos
seriamente o problema do futuro da Província Portuguesa e da nossa permanência
nela, vendo-nos obrigados a optar por outro caminho onde possamos viver e revelar
ao Mundo o Evangelho de Jesus Cristo.
516
Adélio TORRES NEIVA
Nota: Juntamos cópia dos documentos a que, no texto, fazemos alusão e que
explicitam e justificam a brevidade do nosso testemunho e apelo:
Anexo 1: “S´adapter aux temps nouveauax”, par Athanase Bouchard, em Spiritus,
spécial chapitre pP. 65-99;
Anexo 2: Ajornamento Espiritano, por A. F. Santos Neves (sugestões escritas no
tempo de preparação do Capítulo e enviadas a quem deveriam interessar (que
aparentemente as ignoraram) transcritas do livro “Quo vadis, Angola?”.
Anexo 3: Esboço para uma carta aberta de um grupo de cristãos e de homens de
boa vontade a todos os cristãos e homens de boa vontade na Angola deste tempo”
(Luanda, Abril de 1966).
Este documento foi divulgado entre os capitulantes mas não chegou a entrar
na agenda dos trabalhos capitulares. De resto, as várias cópias que circularam no
Capítulo nem todas apresentavam exactamente os mesmos signatários.
O Superior Geral acusou a sua recepção a 10 de Novembro e prometeu, depois
da primeira sessão capitular, reflectir sobre ele com as autoridades da Província,
a fim de dar um “novo rosto à Província Portuguesa.”
Entretanto, a 14 de Novembro, cinco dos delegados portugueses ao Capítulo
entregaram ao Superior Geral o seguinte protesto:
“Rev. Padre Superior Geral
Chegou-nos às mãos uma carta circular, endereçada ao Capítulo Geral e assinada
pelo P. Miguel Soares da Silva, na qual são feitas acusações graves contra a
Província Portuguesa.
Supúnhamos que acusações não provadas seriam simplesmente ignoradas.
Pareceu-nos, no entanto, que elas não deixaram de impressionar certos responsáveis
pelo governo da Congregação, motivo pelo qual julgamos ser nosso dever prestar
alguns breves esclarecimentos.
1) Quanto às acusações, algumas das quais graves, apresentadas nos nºs. 2 e 3 da
circular, se forem tomadas a sério exigimos que sejam concretizadas e provadas.
2) O resumo da carta parece estar nos dois últimos parágrafos, que citamos: “Os
signatários desejam, com toda a clareza elucidar o Capítulo sobre o seguinte. 1)
Protestamos contra toda a pressão e medidas indignas e injustas tomadas em relação
a um certo número de confrades (e lembramos o caso típico do P. A. F. Santos
Neves, em quem vemos um profeta e um servidor de uma igreja autenticamente
evangélica e autenticamente para os novos tempos. 2) Anunciamos que em
consciência e a continuarem as coisas assim, nos pomos seriamente o problema da
Província Portuguesa e da nossa permanência nela, vendo-nos obrigados a optar por
um outro caminho, onde possamos viver e revelar ao Mundo o Evangelho de Jesus
Cristo”.
E no nº 1: apresentam apenas o nome do P. A. F. Santos Neves. “Sobre o seu caso,
a Casa Generalícia deve estar suficientemente informada. Se, entretanto, forem
necessários mais alguns esclarecimentos, estes poderão ser fornecidos pelo Provincial
de Portugal, Superiores Principais de Luanda e Nova Lisboa e também pelos bispos
de Luanda, Malanje e Nova Lisboa.
À ameaça nº 2 nada temos a responder.
A crise de 1968-1969
517
3) Sobre a autenticidade das assinaturas poderemos informar-nos de regresso à
Província e Distritos.
Queira Rev. Padre, aceitar as nossas saudações respeitosas”. Assinam: P. Amadeu
Martins, P. José da Rocha Ferreira, P. Manuel Geraldes, P. Angelino Guimarães e
P. Firmino Cardoso”.
A carta do P. Miguel Soares da Silva dirigida ao Capítulo Geral provocou
grandes manifestações de repúdio e protesto sobretudo por parte dos
missionários. Além disso, a resposta do Superior Geral para muitos deu a
impressão de a aprovar. Foram inúmeras as cartas dirigidas ao Provincial de
Portugal, manifestando o seu protesto e discordância por esta carta que julgaram
ofensiva para os missionários. O próprio arcebispo auxiliar de Luanda, D.
Manuel Nunes Gabriel, manifestou também o seu protesto e a sua solidariedade
com os missionários. 402 Inclusive se veio a descobrir que nem todos os nomes
que constavam da carta a tinham de facto assinado e alguns até dela não tinham
conhecimento. Toda esta documentação foi enviada pelo Provincial para a Casa
Generalícia.
Entretanto o Conselho Geral enviou um visitador extraordinário a Portugal, o
P. Fernand Bussard, para melhor informar da situação o Conselho Geral, gesto
que não foi bem interpretado por um conjunto de confrades.
A resposta do Conselho Geral
Finalmente, a 20 de Março de 1969, o Conselho Geral, depois de ter ouvido o
relatório do visitador da Província de Portugal e depois de ter estudado
demoradamente o assunto, respondeu, enviando duas longas cartas, uma dirigida
a todos os confrades da Província e outra, reservada aos membros do Conselho
Provincial.
“Carta do Conselho Geral aos confrades da Província de Portugal.
Pareceu-nos ter chegado enfim o momento de vos dirigirmos algumas palavras,
em continuação da visita do P. Bussard à vossa Província. Alguns dentre vós
manifestaram o desejo de receber uma carta do Conselho Geral, por motivo dos
vários problemas que apareceram na Província, particularmente após as últimas
semanas do Capítulo: não quisemos escrever imediatamente para termos tempo de
nos informar e de reflectir diante de Deus. Aqui está a carta pedida: foi preparada
em comum, após aturada reflexão é de comum acordo que vo-la enviamos tal
como a ides ler. É com grande estima que nos dirigimos a vós que fazeis parte de
uma Província cuja história missionária é particularmente bela e fecunda.
Pedimo-vos que vejais nesta nossa diligência um sinal do nosso apreço e da nossa
confiança.
Queremos agradecer-vos o acolhimento que destes ao P. Bussard e a franqueza
com que lhe falastes; para ele vão também os nossos agradecimentos por ter
aceitado fazer esta visita e por a ter feito com tanta amabilidade e tanta atenção
402
Carta de 27/12/1968
518
Adélio TORRES NEIVA
para com todos os confrades. Devido a ele, e devido também a grande número de
informações que chegaram até nós depois do Capítulo, pensamos ter adquirido um
conhecimento bastante sério dos problemas e dificuldades que existem entre vós,
para vos podermos falar com toda a verdade e caridade e podermos assim
contribuir para o apaziguamento e bom entendimento entre todos.
Não vamos ocupar-nos aqui de pormenores práticos, nem vamos instaurar
processos a ninguém: a tarefa mais concreta das adaptações e das reformas far-seá pouco a pouco, e os superiores da Província, com quem queremos permanecer em
estreito contacto, colaborarão com todos vós para a realizar. Agora limitar-nosemos a dirigir a todos um apelo para que se aceitem mutuamente, mutuamente se
compreendam e procurem uma unidade indispensável à tarefa comum que todos
têm a empreender e que a todos foi confiada por Deus.
Comecemos por uma constatação. Um mal-estar bastante fundo tem existido, e
existe ainda, tanto nas missões como na Província. Alguns pensam que foi a carta
escrita por um grupo de padres e escolásticos ao Capítulo Geral que causou este
mal-estar; há mesmo quem pense que a resposta do Conselho Geral não fez mais
que acentuá-lo, devido às interpretações que lhe foram dadas e às reacções algumas vezes violentas – que suscitou. Parece-nos, porém, que não é essa a
explicação e que o mal-estar tem causas muito mais profundas. Continuar a
discutir sobre a dita carta seria uma perda de tempo e impedir-nos–ia sobretudo
de considerar os verdadeiros problemas que estão na base de tudo e de que as
recentes polémicas não são mais que um sinal revelador.
A causa fundamental está na diferença de mentalidades e opiniões que existe
entre certas categorias dentre vós. Não se trata de nada peculiar à vossa Província:
é um fenómeno que existe em toda a Igreja, como em todas as sociedades humanas.
Porquê surpreendermo-nos? Isto existiu sempre e sempre existirá, com maior ou
menor extensão, com maior ou menor acuidade. Para que este fenómeno não
degenere em divisão temos que manter diante dele uma atitude de fundo liberal e
compreensivo como aconselhava, já em 1840, o Venerável Padre Libermann em
carta a J.Luquet:
“O seu modo de agir para com os outros é bom, não seja todavia motivo para
os julgar ou condenar, ou mesmo preocupar-se demasiado com virá-los ao seu
parecer. É um grande princípio, nas coisas de Deus, não impor a toda a gente a
própria maneira de ver e agir. O rigor, neste género de coisas, tem consequências
funestas. Deus tem as suas vistas sobre cada um; comunica e distribui as suas
graças diversamente; além isso, por mais que nos esforcemos, nunca conseguiremos
mudar os outros. A administração das graças e dons espirituais que devem ser
distribuídas às almas, exerce-se de modo muito variado. Uns fazem-no de uma
maneira, outros doutra, mas Nosso Senhor é o mesmo em todos, porque é Ele
próprio que distribui as suas graças pelas mãos dos seus servos. É esta a razão
porque se impõe uma grande reserva nos juízos feitos contra a maneira de agir dos
outros na distribuição destes bens sobrenaturais. Oh! Quantas vezes não se
condena o nosso soberano Senhor que distribui os seus dons precisamente deste
modo que se julga defeituoso!.. O que importa é que cada um se examine para ver
A crise de 1968-1969
519
se o seu comportamento não traz algum defeito à mistura ou como princípio”.403
Por isso, examine-se cada um e aceite a colaboração com todos os que procuram
fazer obra de Deus na Província ou nas Missões. Colaborar significa igualmente
dialogar, trocar maneiras de ver e opiniões diferentes, enriquecer-se com esta mesma
permuta.
Terá tal diálogo existido suficientemente entre vós?
Uma grande parte, sobretudo entre os mais antigos, pensa dever, por fidelidade,
manter os costumes, as maneiras de fazer tradicionais tanto na Província como nas
Missões, quer se trate de horários, quer de orações, quer de métodos de apostolado,
etc. Nisso vêem, não só uma fidelidade, mas uma condição necessária à prosperidade
e unidade.
Ninguém poderá negar que a Província portuguesa se desenvolveu
magnificamente; as suas obras prosperaram, a sua actividade missionária foi
admirável. Isto tem que ser dito e é com alegria e reconhecimento que o dizemos.
Outros, especialmente entre os mais novos, são mais sensíveis a um mundo que
está a mudar, à Igreja que chama todas as sociedades religiosas a uma renovação
adaptada; estes têm tendência a esquecer ou desvalorizar o trabalho realizado no
passado, a não ver senão as deficiências da situação actual em face das exigências
dum mundo que evolui.
Por fidelidade à Igreja, que falou tão claramente no Concílio Vaticano II, por
ideal cristão, sacerdotal e missionário, eles gostariam de ver a Província na
vanguarda da adaptação e da adopção das directrizes do decreto “Perfectae
Charitatis” e do decreto “Ad gentes”. Acrescente-se que, visto que a Igreja falou, não
temos o direito de não a escutar.
É preciso assegurar “por um lado a inspiração original dos Institutos, e, por outro
lado, a correspondência destes às novas condições da existência “ (P. C. nº2), sem
sacrificar nem uma nem outra. “ A organização da vida, da oração, do trabalho,
deve ser devidamente adaptada às condições sociais e económicas; isto em toda a
parte, mas especialmente em terras de missão “ (P. C. nº 5).
Neste esforço de renovação estamos em boa companhia com Libermann que - em
plena Revolução de 1848 – escrevia. “ é preciso não esquecer que já não estamos na
ordem das coisas do passado. O mal do clero tem sido sempre, nestes últimos tempos,
ficar na ideia do passado. O mundo avançou, e o homem inimigo apontou as suas
baterias segundo o estado e o espírito do século e nós ficamos para trás ! É preciso que
o sigamos, sempre em espírito de Evangelho, que façamos o bem e lutemos contra o
mal, no estado em que o século se encontra. Querer aferrar-se aos velhos tempos e
permanecer nos costumes e espírito então dominante, é inutilizar os nossos esforços.”404
Terá a Província feito este esforço, sem prevenções? Terão todos entrado
decididamente nas perspectivas e orientações do Concílio, tendo em conta, ao
mesmo tempo, a continuidade com o passado e as exigências da renovação?
Procurou-se escutar uns e outros, chegar juntos a uma acordo para continuar a
avançar, descobrir juntos a vontade de Deus?
403
404
ND II p. 123-125
ND. X p. 151
520
Adélio TORRES NEIVA
Como já dissemos, a obra missionária realizada pelos membros da vossa
Província, com a colaboração de confrades competentes e generosos de outras
Províncias, é admirável: a sua evidência é tal que dispensa descrição.
Mas a história não é estática e ninguém pode parar. Formaram-se comunidades
cristãs, e, segundo a intenção manifestada desde o princípio por Libermann,
procurámos dar-lhes um clero local; cada uma destas igrejas “ em tempo oportuno
deve ser dirigida por pastor próprio com seu clero”. Prontos “a continuar a acção
iniciada, colaborando no ministério ordinário da cura animarum, os Institutos
missionários, contudo, de harmonia, com o seu fim próprio, e à medida que
aumenta o clero local, devem continuar fiéis à diocese, assumindo generosamente
nela o encargo de obras especiais ou de alguma região.”(AG nº32)
Estas linhas do Vaticano II convidam-nos a deixar habitualmente ao clero local o
cuidado ordinário dos fiéis; neste tempo a nossa tarefa é sobretudo a colaboração; em
contrapartida, nosso fim particular leva-nos a assumir de preferência trabalhos
especiais, mais directamente missionários, ou territórios ainda não evangelizados. É
o que foi lembrado pelo Capítulo Geral.
Também sobre este assunto há divergências entre vós quanto à oportunidade de
conservar para os nossos missionários, ou de ceder ao clero local, tal ou tal obra, tal
ou tal função. Há, porém, princípios firmes que ninguém pode ignorar e que se
podem resumir nesta frase do Vaticano II: “Uma comunidade cristã deve desde o
princípio constituir-se de tal maneira que, tanto quanto possível, possa providenciar
por si mesma às suas necessidades. (AG. nº15)
Deveis, pois procurar sinceramente examinar os problemas postos pelas vossas
missões, ouvir as diferentes opiniões, confrontá-las; nenhum missionário se pode
eximir nestas questões. Nada disto é pôr em dúvida o trabalho realizado; são
questões que todas as nossas missões se devem pôr continuamente se têm a peito que
a Igreja seja verdadeiramente implantada e lance raízes profundas no povo; verificar
a urgência de ceder ao clero e aos cristãos do lugar as funções importantes é, pelo
contrário, verificar que o trabalho do passado não foi em vão, que a missão produziu
os resultados esperados; é permanecer fiéis à nossa vocação de pioneiros, sempre
desejosos de ir mais além, procurando sempre os mais abandonados, os mais pobres.
Pensamos que todos vós, visto que todos sois espiritanos, estais de acordo quanto
aos princípios. Mas há entre vós divergências, por vezes profundas, quanto ao modo
de realizar as mudanças necessárias, quer se trate do que respeita à Província, quer
no que respeita às missões.
Não se diga: não há problemas entre nós: o único problema é a confusão criada
pelos novos ou por uma minoria activa. Pensá-lo seria uma ilusão. Que não se diga
também: tudo está mal; os antigos e os superiores são incapazes de se adaptar e não
querem saber disso. Seria fazer uma generalização injusta.
Temos, ao contrário, de nos convencer que o mundo muda, mas que neste mundo “tal
como existe hoje, este mundo confiado ao ministério e ao amor dos pastores da Igreja,
Deus o amou tanto que deu por ele o seu Filho único. E é ainda o Espírito Santo que
impele a Igreja a abrir caminhos novos para se encontrar com o mundo de hoje; é ele
que, por isso mesmo, sugere e favorece as adaptações que se impõem. (P. O nº22)
A crise de 1968-1969
521
Isto não significa, com certeza, aceitar qualquer novidade, talvez atraente, ou até
generosa. Como diz S. Paulo, é preciso examinar tudo e antes de mais examinar-nos a
nós próprios. Mas é preciso também ser capaz de se empenhar deliberadamente na
direcção apontada pelo Concílio Vaticano II e pelo Capítulo Geral.
Tudo isto exige uma caridade muito grande. A primeira das caridades é sabermonos diferentes e amarmo-nos diferentes; sermos acolhedores para com as ideias dos
outros; acreditarmos na sua boa fé; crermos, uns e outros, que todos procuramos
sinceramente o Reino de Deus e a sua justiça. Esta é a condição elementar para que
o diálogo seja possível. Ora, é preciso reconhecê-lo, isso não existiu sempre e em toda
a parte. A carta ao Capítulo Geral, que exprimia um apelo e uma esperança, mas
numa linguagem dura, com inexactidões e exageros, por um lado e por outro, como
já o referimos, as reacções violentas a esta carta, provam-no abundantemente. O
único remédio é verdadeiramente o diálogo fraterno a todos os níveis. Entre irmãos
deve ser possível dizerem-se coisas duras, penosas, dentro de uma verdadeira
caridade. Ora tal caridade não existiu sempre, nem dum lado nem do outro. Houve
acusações mútuas e mútuas injúrias. É na aceitação, tanto por uns como por outros,
dum verdadeiro diálogo que se encontrará, com uma caridade autêntica, a verdade
que liberta.
Caros confrades, é um verdadeiro apelo que vos dirigimos. É preciso entrarmos
decididamente na obra da renovação empreendida pelo Capítulo, em resposta ao
Concílio. Não temais; não duvideis. Os resultados da primeira sessão são já um
penhor do sucesso da segunda. Saibamos renovar-nos com a Igreja e o Concílio.
Saibamos abandonar, em certos domínios, caminhos já batidos e empenhar-nos
decididamente no movimento de uma teologia renovada, de uma libertação viva,
tanto na Província como nas missões, duma óptica missionária conforme aos
decretos conciliares e às decisões do Capítulo. Procurai trabalhar juntos, reconciliaivos como irmãos, perdoai-vos mutuamente.
O Conselho Provincial Alargado deveria ser uma etapa decisiva para realizar este
voto que nos é caro. O Conselho Geral está em contacto com os responsáveis da
Província para vos ajudar a todos a encontrar as melhores soluções possíveis, e a
remediar o que for preciso.
Que a Província de Portugal se una na caridade e continue a desenvolver-se e a
prosperar para o maior bem da Igreja missionária.
O nosso desejo é poder servir-vos.
Ficamos ao vosso dispor para o que vos for preciso e nos for possível. “(Assinado
por todos os membros do Conselho Geral).
Esta carta fazia-se acompanhar de outra, reservada ao Conselho Provincial e ao
director do Grande Escolasticado. É este o seu teor:
“20 de março de 1969
Caro P. Provincial, caros confrades.
Com a carta destinada a todos os confrades da Província de Portugal, enviamovos esta carta, reservada ao seu Conselho. Ela pretende ajudar-vos nesta dura tarefa;
refazer a unidade entre todos os confrades, apesar da divergência de opinião
existente, instaurando um diálogo franco e sincero com todos, muito especialmente
522
Adélio TORRES NEIVA
com os confrades que lançaram o apelo ao Capítulo Geral. É preciso não insistir na
condenação das culpas uns dos outros; é preciso não taxar de intriguistas ou de
suspeitos todos os que pensam que um verdadeiro problema existe hoje na Província
portuguesa. É preciso ter a coragem de analisar lucidamente a situação. Inspirandonos, por um lado no relatório do P. Bussard, após a visita e, por outro, nos
documentos que nos foram comunicados e nas informações recebidas, propomo-vos
uma reflexão sobre os três factos seguintes: a carta dos confrades ao Capítulo Geral,
a resposta do Conselho Geral a esta carta, as reacções a estas cartas. Depois,
tiraremos algumas conclusões em forma de perguntas.
1º facto: a carta chamada “Apelo ao Capítulo”.
Se é verdade que ela contém termos excessivos, generalizações apressadas, tomadas
de posição demasiado radicais, julgamentos demasiado sumários, talvez mesmo
injustos, sobre a acção missionária em Angola, não é menos verdade que esta carta
exprime uma angústia profunda por parte destes confrades sobre o futuro da
Congregação em Portugal e em Angola; que eles exprimem o que lhes parece ser o
mais intolerável, a saber, que a igreja de Angola está demasiado implicada na
política e demasiado dependente do poder estabelecido; que a Província não criou
uma mentalidade conciliar e por conseguinte não promoveu a evolução das
instituições, exigida pela Igreja pós-conciliar; que ela está paralisada e radicalmente
incapaz de evoluir no contexto actual. São estas as ideias essenciais expressas no
apelo. Não queremos julgar sobre a sua objectividade; deixamo-vos a vós o cuidado
de descobrir o lado positivo desta carta.
2º facto: a resposta do Conselho Geral a esta carta.
Porque respondeu ele? Como respondeu? Ele respondeu não só porque é seu
direito responder a toda a carta, mas também sua obrigação absoluta. Uns cinquenta
confrades que recorreram à autoridade do Capítulo têm o direito de ser ouvidos.
Que pretendia o Conselho com a sua resposta? Tranquilizar os jovens para que
ficassem tranquilos? Fazer-lhes uma promessa para que não perturbassem uma
Província “ sem histórias”? Não foi tal o pensamento do Superior Geral e dos seus
assistentes. Este apelo punha-lhes um problema; ou melhor: ”ele mesmo era um
problema”. Estes confrades viram neste gesto, com razão ou sem ela, o único meio
de se fazer ouvir; também um meio privilegiado para chamar a atenção de toda a
Congregação sobre o que eles julgam ser “ o problema da Província de Portugal”.
Sem analisar o fundamento das afirmações contidas no apelo, julgamos que um
problema se põe e não temos o direito do iludir. Quais os problemas? Verdadeiros
ou falsos problemas? Não nos compete julgá-lo. Este apelo pedia um estudo
aprofundado antes de receber uma resposta definitiva; estudo que pensamos confiar
ao Padre Provincial e ao seu Conselho, em diálogo, com os “contestatários”. Mas,
entretanto, o Conselho quis responder aos signatários da carta, não só para lhes dar
a impressão que os tomamos a sério, mas também para lhes dar a garantia que
provocaríamos um exame da situação pela autoridade da Província primeiro e em
seguida por todos os confrades da Província. A resposta que falava de confiança,
queria manifestar aos signatários da carta que o Conselho Geral acreditava na sua
boa fé e na sua sinceridade, chamando no entanto a atenção, num post-scriptum
A crise de 1968-1969
523
sobre um grave defeito do documento: todas as cópias não tinham absolutamente as
mesmas assinaturas e estas não eram manuscritas, o que tornava o documento
suspeito
3º facto: a reacção às duas cartas.
As reacções foram violentas; foram injustas, mesmo injuriosas para com a
autoridade da Congregação. A carta do Conselho Geral foi considerada como
complacente para os “causadores de perturbação” na Província; fala-se de
conspiração contra a Província de Portugal, injustamente caluniada; escandaliza-se
por ver a autoridade do Padre Provincial posta em causa com esta resposta e por
outro lado ridiculariza-se a autoridade do Superior Geral em termos injuriosos,
violentos, sem nenhum escrúpulo. Numa palavra, a resposta do Conselho Geral foi
interpretada como uma escandalosa aprovação das afirmações contidas no apelo.
A reacção não foi menos violenta, bem entendido, a respeito dos signatários do
apelo. Foram difamados e caluniados. Só se reteve a afronta que eles fizeram à
Província e à autoridade, denegrindo a obra missionária magnífica realizada por
esta Província. Insistiu-se sobre os defeitos do documento e não se fez nenhum
esforço para ver o que ele poderia conter de positivo.
Destes três factos. É preciso agora tirar as conclusões :
1ª observação: se o apelo põe, em si, um problema, é preciso confessar que a
violência da reacção levanta um outro, pelo menos tão grave como o primeiro. Fica
a impressão de ter afogado, por meio da violência, o verdadeiro problema.
2ª observação: a autoridade não procurou o diálogo: ela perseguiu demasiado os
signatários. Ora foi este diálogo que o Conselho Geral quis promover para evitar
que a desunião se agravasse. Uma das queixas fundamentais do apelo, justificado ou
não, é que na Província reina um clima de intolerância que não permite o diálogo.
Consciente, portanto, que o diálogo devia existir custe o que custar e que seria de
deixar a iniciativa ao P. Provincial, nós que lhe facilitaríamos a tarefa, designando,
depois de o ter consultado a ele e aos Superiores principais, o P. Bussard como
visitador da Província. Esta nomeação foi interpretada como falta de confiança e
levantou uma onda de críticas; no entanto, esta nomeação resultou muito útil e
contribuiu sem sombra de dúvida, para acalmar os espíritos.
A partir do seu relatório e doutras informações, gostaríamos agora de vos pedir
para reflectir em certos pontos.
1º Ambiente da Casa provincial. Existe como o dá a entender o apelo, um espírito
demasiado tradicionalista e individualista? Uma falta de acolhimento aos confrades
de passagem: um espírito destrutivo sistemático da parte de um ou outro confrade;
um ambiente não bastante acolhedor, assinalado pelos signatários da carta? O P.
visitador reconheceu que uma reforma está em curso, mas não seria ocasião para
mudar um ou outro padre para permitir uma reforma mais profunda?
2º Conselho Provincial. É ele suficientemente representativo do conjunto dos
membros da Província? Não seriam necessárias certas mudanças? A nomeação de
um Irmão para o Conselho não poderia ser ocasião doutras mudanças?
3º Grande Escolasticado. É o corpo professoral bastante unido para formar
524
Adélio TORRES NEIVA
verdadeiramente uma equipa com o director? Para pensarem juntos todo o
problema da formação e dos estudos? O visitador ficou bem impressionado com a
franqueza dos escolásticos, com o seu desejo de se informarem sobre o resto da
Congregação e das orientações dos outros escolasticados; também eles não sentem na
sua formação um verdadeiro espírito missionário, aberto, católico.
Mas, por outro lado, é preciso dizer-se que aos escolásticos falta maturidade de
espírito e que certos têm atitudes infantis. Para lhes permitir atingir esta maturidade
ao longo dos anos de formação, é necessário que a própria equipa do escolasticado
seja muito aberta aos problemas que se põem aos jovens de hoje. Além disso, o
regulamento deverá ser de tal maneira que permita aos escolásticos tomar em mãos
a responsabilidade da sua própria formação. Quanto ao plano de estudos, seja dada
abertura aos problemas actuais, uma abertura séria sobre a teologia conciliar e sobre
a Igreja de hoje; que um certo número de livros e de revistas de actualidade sejam
postos à sua disposição; que lhes seja facultada a possibilidade de uma séria reflexão
sobre a actividade missionária; que sejam organizados estágios na Província, ou
mesmo fora da Província, para os confrontar com outras realidades diferentes das
vividas no escolasticado. A nova instrução sobre a renovação da formação na vida
religiosa insiste muito sobre este aspecto da maturidade que devem adquirir os
futuros religiosos e preconiza novos métodos, mais adaptados aos tempos actuais.
Mas o problema de base é o da constituição de uma equipa à volta do director,
susceptível de dar um élan novo ao escolasticado, respondendo às aspirações dos
jovens, adaptando a sua formação ao momento actual e à tarefa missionária que será
a sua amanhã. É sintomático que muitos dentre eles marquem uma simpatia
profunda por certos padres da Província. Não será porque eles incarnam para eles
um pensamento mais aberto do mundo de hoje e do pensamento contemporâneo? O
problema fica posto: é preciso estudá-lo.
4º O problema missionário. Aqui tocamos o problema mais delicado e também o
mais grave. É preciso abordá-lo com coragem e não dizer a priori: não há nenhum
problema, o apelo só contém calúnias. Qual é o fundo da crítica sobre a actividade
missionária em Angola? Não se trata de pôr em causa as pessoas, a sua dedicação, o
trabalho missionário, mas a orientação, a óptica missionária e a óptica da Igreja de
Angola de que os membros da Congregação têm a principal responsabilidade. É
preciso analisar o facto, julgar a situação concreta.
Outra questão. Qual o lugar do clero angolano nesta Igreja que nos está confiada?
Consultando o “État du Personnel“ e o Anuário Pontifício, fica-se impressionado
ao constatar que nas dioceses de Angola, onde temos numerosos padres, os postoschave são ocupados por eles e que nenhum padre indígena ocupa qualquer função de
primeira importância. Seria ilusório dizer que isso não depende de nós mas dos
bispos. Por um lado, há dioceses que não têm nenhum espiritano à sua frente e que
por outro lado, o Superior Principal tem a sua palavra a dizer na colocação e
utilização dos membros da Congregação.
Assim sendo, será de admirar que um Padre espiritano não português escreva:
“Será necessário criar uma Província espiritana em Angola? Nem pensar nisso. O
clero indígena, na nossa diocese, tem demasiado ódio aos Espiritanos, segundo a
A crise de 1968-1969
525
expressão de um deles e reflecte o estado de alma de quase todos os padres indígenas
daqui. Mas é a mentalidade actual: nenhum respeito, nenhum reconhecimento aos
espiritanos, mortos ou vivos. Tudo o que nós fizemos, está mal feito, assim o julgam
os padres angolanos. ” E continua: “ Segundo a mentalidade do clero indígena
daqui, não há Igreja local enquanto o clero indígena não tomar em mãos o
Episcopado e toda a a organização da diocese. O ideal do padre indígena é ser
independente dos espiritanos e ter a sua pequena missão, ou antes a sua paróquia,
pois eles dizem que a palavra missão é uma vergonha num país como Angola. Ser
independente, de modo que ninguém o vigie nem a ele nem ao seu trabalho, nem à
sua vida privada nem à maneira de administrar o dinheiro, nem nada e ele mesmo
não dar satisfações a ninguém nem sequer ao bispo. Não esquecer contudo que há,
entre tantos padres indígenas, cinco ou seis muito sérios, trabalhadores e que são
nossos amigos, reconhecidos e não orgulhosos”.
Se quisemos citar esta longa passagem, é para daí tirar o facto essencial: a falta de
afecto de uma maioria do clero indígena desta diocese para com aqueles que foram
os seus pais na fé e os seus mais velhos no sacerdócio. Depois, a aspiração profunda
destes padres de assumirem as responsabilidades na sua Igreja. A nossa missão não
tem outro fim. Bem entendido, dir-se-á: eles não são capazes. Antes de mais, não
será demasiado generalizar? E depois, se isso é verdade, outra questão crucial se
levanta: desta incompetência não somos nós os responsáveis? Não revelará o texto
citado uma mentalidade demasiado paternalista que, hoje, é insuportável para todos
os homens? Não haverá qualquer coisa a mudar na nossa própria mentalidade, na
nossa maneira de conceber a evangelização, a nossa missão hoje neste país? São
previsíveis mudanças de situação na África. Que acontecerá à Igreja angolana onde
os espiritanos tanto investiram tanta generosidade e tanto amor? É uma verdadeira
angústia para nós e também para outros institutos missionários presentes em Angola
e Moçambique. Não queremos dramatizar. Mas o problema é sério. Os signatários
puseram-no em termos excessivos, mas por trás destes termos, esconde-se uma
realidade que é preciso ter a coragem de ver e na qual é preciso reflectir. Está em jogo
o futuro da Igreja nestas regiões.
Ficamo-nos por aqui nesta carta já longa e que já vos dá ampla matéria para
reflexão. Pedimo-vos para a estudar entre vós e de lhe dispensar uma grande
atenção, uma grande reflexão. Nós próprios reflectimos muito nela antes de vo-la
enviar, mas julgamos ser nosso dever fazê-lo. Pedimo-vos para não verdes nela
nenhum sinal de desconfiança ou de má vontade para convosco; muito longe de nós
essa atitude; pelo contrário é como irmãos responsáveis na mesma tarefa, que nos
dirigimos a vós.
Antes de concluir, lembramos mais uma vez que a presente carta não deve ser
comunicada, por enquanto, senão ao Conselho Provincial, com exclusão de
qualquer outro. Em particular, consideraríamos como uma infracção muito grave
que esta carta fosse comunicada a pessoas estranhas à Congregação, como aconteceu
com os outros documentos.
Logo que tiverdes lido e estudado juntos esta carta, convidamos o P. Provincial a
vir a Roma por alguns dias (por exemplo, entre 5 e 10 de Maio) a fim de sobre ela
526
Adélio TORRES NEIVA
discutir livremente com o Conselho Geral. Desejamos também que ele se faça
acompanhar do Padre Director do escolasticado de Carcavelos, que é
particularmente interessado nos problemas da formação dos nossos aspirantes. Uma
vez que ele não faz parte do Conselho Provincial, fazemos uma excepção em seu
favor: comunicar-se-lhe-à esta carta para que ele possa preparar-se e falar connosco,
a quando da sua vinda a Roma e poder-se-á convidar ao Conselho Provincial ao
examinar as questões que ele levanta. Após esta reunião em Roma, a presente carta
será comunicada aos Superiores principais de Angola.
Ao terminar, reafirmamos a nossa fraterna afeição in Spiritu Sancto”. (Assinada
por todo o Conselho Geral)
A crise prolongar-se-ia por alguns anos. Vários padres jovens, mais
empenhados nesta transformação acabaram por deixar a Congregação. Dos
escolásticos maiores professos foram também muitas as desistências. O maior
número foi em 1968: 18 deixaram a Congregação; em 1969, foram 11; em 1967
tinham sido 9; em 1966, 13. O número dos escolásticos foi-se reduzindo até
atingir o número de 12.
O seminário da Torre da Aguilha acabaria mesmo por deixar de ser casa de
formação, tendo o pequeno número dos escolásticos, depois de feito o Curso
Filosófico na Universidade dos Jesuítas em Braga, continuado a sua formação em
Espanha.

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