Hermes Trismegisto

Transcrição

Hermes Trismegisto
8
A RAZÃO
MARÇO / 2009
Hermes Trismegisto - 3
A intelecção é de ordem
espiritual e a sensação, de ordem
material, segundo a exposição
CARUSO SAMEL
Militante da Filial Butantã - SP
e fôssemos percorrer
todos os 18 capítulos
do livro Corpus Hermeticum para deles
pinçarmos todas as
notáveis semelhanças com os
preceitos do Racionalismo
Cristão, teríamos matéria para
preparar pelo menos 12 artigos como este e os já apresentados, mas o meu propósito não é cansar o leitor.
Procuraremos ser sintéticos
para encerrarmos a nossa
série com o presente artigo.
Trismegisto dedica todo o
capítulo II (sem título) a Asclepius (Esculápio, dos romanos), o Deus da medicina
e da cura da mitologia grega,
tratando da Força atuante tanto sobre as coisas ditas inertes como sobre os seres vivos, levando seu discurso até
ao conceito preciso do que
seja Deus, definindo-o como
a causa de tudo que existe,
chamando esta entidade de
Força Inteligente. É dela que
tudo se torna o que é e o
que virá a ser mediante as
transformações ou mudanças.
São estas que caracterizam a
evolução tanto da Força como das formas físicas através
da evolução das espécies.
Apesar de monoteísta,
Hermes deixa escapar ao lon-
S
go de sua majestosa obra, a
existência de deuses que se
confundem com os propósitos da natureza. É o que
acontece no capítulo II, mas
isso não desmerece sua obra,
pois ele considerava que os
deuses se reciclavam através
das reencarnações, uma espécie de reciclagem de espíritos
evoluídos para difundir o verdadeiro conhecimento espiritual na Terra.
Ensina-nos o Racionalismo
Cristão que muitos espíritos
vieram à Terra sem precisar
encarnar, trazendo idéias reformadoras, como ocorreu
com Krishna, Confúcio, LaoTsé, Buda, o próprio Hermes,
Jesus e Luiz de Mattos, para
citar apenas alguns iluminados do passado que trouxeram grandes transformações
para a humanidade.
No capítulo III – Um discurso sagrado de Hermes,
também dirigido a Asclepius,
ele volta a ponderar sobre
Deus e sua natureza, exaltando
os deuses (os espíritos superiores em seus mundos luminosos) como fonte de sabedoria e poder, adquiridos depois
de terem passado por muitas
encarnações pela Terra. Aqui,
também, numa visão mística
(mediúnica), ele faz uma breve
descrição dos mundos dos espíritos superiores.
No capítulo IV – Um discurso de Hermes a Tat: o
cadinho depurador das mônadas, ele é o primeiro, muito antes de Leibniz (ver nosso artigo sobre as mônadas
em A Razão de novembro e
dezembro de 2008), a usar
o termo mônadas para significar a unidade de força que
é a criatura humana, contendo ao mesmo tempo Força e
Matéria. Ele foi também o
primeiro a falar do Cosmo e
da mente humana, quando
diz que "Deus compartilhou a
razão com as pessoas".
Em vários pontos Hermes
utiliza a palavra mente, tão
difícil de definir, mas ele a entendeu da forma como a usamos e a entendemos hoje.
Note-se que Tat, a quem é dirigido este discurso, era filho
de Hermes. Sobre as mônadas,
por conter Força e Matéria,
ele as considerava imperfeitas,
estando sujeitas ao aperfeiçoamento aqui na Terra.
Hermes vislumbrou aqui
a evolução espiritual, como
uma necessidade de aperfeiçoamento da alma. Ainda
nesse capítulo, ele afirma:
"Portanto, Tat, o que emana
de Deus está e continuará à
nossa disposição, mas é preciso que aquilo que de nós
emana (o pensamento e as
ações) não sejam falhos, pois
Deus não é responsável por
essas falhas; nós é que somos responsáveis pelos nossos males e por nossas escolhas." Aqui está, bem claro,
a lei de causa e efeito aplicada aos nossos pensamentos e
as ações que lhes seguem.
tulo já diz tudo. Aqui Hermes
No capítulo V – Um dis- afirma que o homem "está
curso de Hermes a Tat, seu bloqueado com o peso da
filho: o bem é ao mesmo matéria e se perde com os
tempo visível e invisível, Her- prazeres mundanos, a tal
mes trata da Ordem do Cos- ponto que não ouve o que
mo e como sentir a Inteli- deve ouvir nem observa o
gência Universal por toda que deve observar." Compareparte, tanto na natureza co- se com o que Cristo dizia e
mo no próprio homem. Mui- o Racionalismo Cristão afirto interessante esta sua sen- ma sempre: "A ignorância estença, para refletirmos: "Mas piritual é o maior mal que aso invisível sempre é, e por- sola a humanidade". Há algo
que ele sempre é, ele não ne- mais semelhante?
cessita tornar-se visível. E,
No capitulo VIII – Netambém, enquanto ele se nhum dos seres que existem
mantiver invisível porque ele perece, e estão errados aqueles
sempre é invisível, ele torna que chamam as transformações
as outras coisas visíveis." de mortes e destruições. Neste
Nesse mescapítulo
mo capítulo,
Hermes trata
fica o enda
imortendimento
talidade da
O Racionalismo
de que Deus
alma e de
Cristão ensina
é o Bem
que espécie
que muitos
Supremo.
é a força que
espíritos vieram
No capímantém
a
à Terra sem pretulo VI – O
coesão do
Bem está socorpo e sua
cisar encarnar,
mente
em
dissolução
trazendo idéias
Deus e em
(transforreformadoras.
nenhum lugar
mação) no
mais. Quem
momento da
lê este capímorte (do
tulo percebe que Hermes es- corpo), argumentando que tutá falando do Bem Absoluto, do que existe no mundo
e explica que nenhuma vir- (Universo) são partes do
tude é absoluta entre os hu- Cosmo, sobretudo o ser humanos. A mente humana tem mano (sua alma), e este é um
inclinação natural para aqui- ser racional, filho de Deus
lo que vê e explica que o (partícula da Inteligência
Bem está sempre eivado do Universal), que é imortal; loMal. O Racionalismo Cristão go, o homem (sua alma) é
explica que não existe a per- também imortal. Hermes chafeição aqui na Terra: tudo é mou este capítulo de o
Discurso Perfeito, dirigido a
relativo!
No capítulo VII – O Asclepius.
No capítulo IX – Sobre o
maior mal é a ignorância com
relação a Deus. O próprio tí- intelecto e a sensação (O Belo
e o Bem residem apenas em
Deus e em nenhuma outra
parte). Aqui Hermes expõe a
doutrina da intelecção e da
sensação, a primeira, de ordem espiritual, e a segunda,
de ordem material. Embora
estando interligadas no homem, coexistindo uma com a
outra, elas se separam no momento da morte. Ele disse:
"Ambas, a intelecção e sensação, fluem conjuntamente
nos humanos, uma interligada
à outra, como sempre o
foram. Porque, sem a sensação (os sentimentos) não há
intelecção, e sem a intelecção
é impossível ter sensação."
Vejam como Hermes tinha, sobre esse mecanismo,
o conhecimento que a ciência atual ainda não alcançou,
e que o Racionalismo Cristão
explica racionalmente.
No capítulo X – Discurso
de Hermes Trismegisto: a
chave. Aqui ele continua falando das coisas incorpóreas, das
coisas corpóreas e da mente,
dos vícios e das virtudes da
alma. É difícil separar o que é
místico do que não é. Todos
os demais capítulos até o XVIII apresentam melhor entendimento do que seja a mente,
tratam das reencarnações, do
consciente coletivo (a mente
universal compartilhada por todos) e as paixões da alma encarnada. No final do Corpus
Hermeticum há um texto de
26 páginas dedicado a Asclepius que contém toda uma
verdadeira síntese da doutrina
de Hermes, que é notoriamente encarnacionista e evolucionaria, como o Racionalismo
Cristão.
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