ESTUDO CLÍNICO PATOLÓGICO DO LÍQUEN PLANO BUCAL

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ESTUDO CLÍNICO PATOLÓGICO DO LÍQUEN PLANO BUCAL
ESTUDO CLÍNICO PATOLÓGICO DO LÍQUEN PLANO BUCAL
Mário Rubens Feitosa de Sousa1; Valéria Souza Freitas2; Alessandra Laís Pinho
Valente3 e Joana Dourado Martins4
1. Bolsista PROBIC/UEFS, Graduando em Odontologia, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail:
[email protected]
2. Orientadora, Departamento de Saúde, Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva, Universidade Estadual de Feira de
Santana, e-mail: [email protected]
3. Mestranda do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva, Universidade Estadual de Feira de Santana,
e-mail:[email protected]
4. Mestre em Saúde Coletiva,Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva, Universidade Estadual de Feira de Santana,
e-mail:[email protected]
PALAVRAS-CHAVE:líquen plano bucal, estresse, ansiedade.
INTRODUÇÃO
O líquen plano (LP) é uma doença inflamatória crônica, de caráter imunológico, com
prevalência estimada entre 0,02 a 4,0% da população geral (FERNÁNDEZ-GONZÁLEZ et
al., 2010), sendo a mais comum das doenças dermatológicas com manifestações bucais
(DORTA et al., 2001). A doença é mais comumente observada em adultos do sexo feminino,
em uma proporção que varia de 1,5 a 3 casos em relação ao sexo masculino, sendo mais
frequente em indivíduos entre a quarta e quinta décadas de vida (DANIELLI et al., 2010).
Clinicamente, as lesões de líquen plano bucal (LPB) podem apresentar-se sob seis
formas clínicas: reticular, erosiva, atrófica, placa, papular e bolhosa (DINIZ et al., 2008).
Segundo a Organização Mundial de Saúde o LPB é uma doença que pode evoluir para
o câncer bucal, sendo considerada uma desordem potencialmente maligna, que deve
permanecer sob estreita vigilância (PETERSEN et al., 2009; VAN DER WAAL, 2010).
Tendo em vista o LPB ser uma doença de grande interesse médico e odontológico,
especialmente pelo seu potencial de transformação maligna e pela possibilidade de
acompanhamento destas lesões para a prevenção do câncer bucal, o objetivo principal deste
estudo foi realizar um levantamento clínico-patológico dos casos de LPB diagnosticados no
Centro de Referência de Lesões Bucais, Núcleo de Câncer Oral, da Universidade Estadual de
Feira de Santana (CRLB/NUCAO/UEFS), de modo a melhor compreender o perfil
epidemiológico dessas lesões e facilitar a implementação de medidas de controle da doença.
MATERIAIS E MÉTODOS
A população do estudo foi constituída por indivíduos em idade adulta, de ambos os
sexos, com diagnóstico clínico/histopatológico de LPB efetuado no período de 1998 a 2013
no CRLB/NUCAO/UEFS. Para inclusão, todos os casos foram submetidos a exame clínico
minucioso e o diagnóstico clínico/histológico da doença realizado mediante critérios bem
estabelecidos, com a combinação de dados da anamnese, clínicos e histopatológicos
(MOLLAOGLU, 2000; VAN DER MEIJ et al., 2007).
As peças cirúrgicas obtidas dos procedimentos de biópsia foram processadas
histologicamente e analisadas através de microscopia óptica no Laboratório de Patologia
Bucal da UEFS por um patologista experiente.
Informações sobre as variáveis sócio-demográficas e possíveis fatores de risco para o
LPB foram obtidas dos prontuários. As características clínicas e a localização topográfica das
lesões de LPB também foram registradas. Foram excluídos do estudo todos aqueles
indivíduos que não atendiam aos critérios de inclusão previamente descritos.
Após a coleta, os dados foram lançados em um banco especialmente desenhado para o
estudo e analisados estatisticamente utilizando o Software StatisticalPackage for the Social
Sciences (SPSS) versão 17.0.
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres
Humanos da UEFS com parecer n° 114.132 e CAAE: 5590612.7.0000.0053. Os dados dos
participantes deste estudo serão mantidos em sigilo em relatórios de pesquisa e publicações.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No período de 1998 a 2013, foram diagnosticados 47 casos de LPB, sendo a maior
proporção (42,5%) em indivíduos da cor branca e com nível fundamental completo (63,8%)
(Tabela 1). A predileção do LPB por indivíduos da cor branca foi previamente reportada,
onde alguns estudos encontraram um risco até cinco vezes maior de indivíduos desta etnia
desenvolveram a doença (SOUSA, ROSA, 2008). Alguns autores indicam que esta associação
pode estar relacionada a fatores genéticos (SOUSA, ROSA, 2005).
Quanto ao sexo dos indivíduos acometidos pela doença, do total dos casos levantados,
34 deles ocorreram em mulheres, sendo que 76,5% possuíam idade igual ou superior a 40
anos (Tabela 1). Os dados corroboram com os achados de Silva (2007) onde em uma amostra
de 26 indivíduos o maior percentual de casos de LPB ocorreu em mulheres desta faixa etária.
Outros estudos indicaram que o LPB pode afetar tanto crianças, como idosos, embora a faixa
de idade mais frequentemente acometida era de indivíduos entre a terceira e a sexta décadas
de vida (DANIELLI et al., 2010; FERNÁNDEZ-GONZÁLEZ et al., 2010).
Os dados da Tabela 1 também demonstram que 25 (53,1%) das mulheres com LPB
estavam na menopausa, o que pode favorecer ao aumento do nível de estresse e ansiedade.
Distúrbios psicológicos como a depressão, ansiedade e estresse, têm sido investigados na
etiopatogênese do LPB, uma vez que, indivíduos com a doença reportam um desenvolvimento
mais frequente ou exacerbação das lesões durante períodos de maior tensão emocional
(GIRARDI et al., 2011).
Dados relacionados ao estilo de vida dos indivíduos diagnosticados com LPB foram
também verificados no nosso estudo, onde 72,3% dos indivíduos relataram não fazer uso de
tabaco e 63,8% não consumiam bebidas alcoólicas (Tabela 1). Apesar do uso do tabaco e
bebidas alcoólicas não possuir relação direta com a etiopatogênese do LPB, estas substâncias
são consideradas fatores de risco para o câncer bucal o que pode contribuir para a
transformação de lesões potencialmente malignas como o LPB (PETERSEN et al., 2009).
Clinicamente, a forma mais observada foi o LP reticular correspondendo a 87,2% dos
casos diagnosticados, seguido da forma em placa (10,6%) e erosiva (2,2%) (Tabela 1).
Vilanova (2012) em um estudo envolvendo 52 indivíduos observou que a forma reticular era a
mais frequente.
Os dados da Tabela 1 indicam ainda que as lesões de LPB acometeram especialmente
a mucosa jugal (68% dos casos), tornando este local o sítio de predileção da doença, seguido
da língua (21,2%) e região retromolar (10,8%). O líquen plano reticular, forma clínica mais
evidenciada neste estudo acomete especialmente a mucosa jugal, o que justifica a maior
prevalência das lesões nesta localização (MOLLAOGLU, 2000).
CONCLUSÃO
A partir dos resultados obtidos é possível concluir que os indivíduos portadores de
LPB em sua maioria eram mulheres, em período de menopausa, da cor branca, com nível
fundamental completo e idade igual ou superior a quarenta anos. As lesões bucais
correspondiam principalmente ao LP reticular localizado especialmente na mucosa jugal.
Na amostra avaliada nenhuma lesão evoluiu para transformação maligna, porém,
diante da exposição, mesmo pequena a fatores de risco para o câncer bucal torna-se necessário
o acompanhamento periódico dos indivíduos, assim como, o controle do estresse e ansiedade
para um melhor prognóstico dessa lesão.
REFERÊNCIAS
DANIELLI, J. et al. Protocolo de atendimento e acompanhamento do paciente com líquen plano oral
(LPO). Rev. Odontológica Brasileira Central, v. 19, n. 50, p.233-238, 2010.
DINIZ CMGP et al. Ceratoconjuntivite cicatricial bilateral associada a líquen plano: relato de caso.
Arq BrasOftalmol, 71(6):881-885, 2008.
DORTA, R.G. et al. Gingival erosive lichen planus: Case Report. Braz. Dent. J, v.12, n.1, p.63-66,
2001.
FERNÁNDEZ-GONZÁLEZ, F. et al. Histopathological findings in oral lichen planus and their
correlation with the clinical manifestations. Med. Oral, Patol. Oral, Cir.,Bucal, v. 16, n. 5, p. 641646. 2010.
GIRARDI C et al.. Salivary cortisol and dehydroepiandrosterone (DHEA) levels, psychological
factors in patients with oral lichen planus.Arch Oral Biol., v.56, n. 9, p. 864-8, 2011.
MOLLAOGLU, N. Oral lichen planus: a review. British Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v.
38, p. 370-377, 2000.
PETERSEN, P.E. Oral cancer prevention and control – The approach of the World Health
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RIBEIRO BF et al.. Marcadores biológicos e etiopatogenia do líquen plano bucal. Rev. Odontol.
Clín.-Cient. v.9, n.1, p.19-23, 2010.
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RENATA SAMPAIO SILGUEIRO, GRACIELA CRISTINA CÂNDIDO. Epidemiologia,
Diagnóstico E Tratamento Do Líquen Plano No Projeto De Lesões Bucais Da Universidade Estadual
De Maringá. Arqbrasodontol 2007
SOUSA, F. A. C. G.; ROSA, L. E. B. Perfil epidemiológico dos casos de líquen plano oral
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dos Campos – UNESP. Rev. Ciência Odontológica Brasileira,v. 8, n. 4, p. 96-100, 2005.
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Rev. Brasileira de Otorrinolaringologia, v. 74, n. 2, p. 284-292, 2008.
VAN DER MEIJ, E.H.; MAST, H.; VAN DER WAAL, I. The possible premalignant character of oral
lichen planus and oral lichenoid lesions: A prospective five-year follow-up study of 192 patients. Oral
Oncology, v.43, p. 742–748, 2007
VAN DER WAAL, I.Potentially malignant disorders of the oral and oropharyngeal mucosa; present
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VILANOVA et al.. SILVA. Perfil Epidemiológico de Portadores de Líquen Plano Oral Atendidos no
Centro Goiano de Doenças da Boca (CGDB)- 12 Anos de Experiência. RevOdontolBras Central 2012.
Tabela 1. Casos de líquen plano bucal diagnosticados no Centro de Referência de Lesões
Bucais, Núcleo de Câncer Oral, Universidade Estadual de Feira de Santana, 1998 - 2013.
Variáveis
Frequência (n)
%
Sexo
Masculino
Feminino
13
34
27,7
72,3
Idade
Menor que 40 anos
Maior ou igual a 40 anos
11
36
23,5
76,5
Cor da pele
Branca
Negra
Parda
20
09
18
42,5
19,3
38,2
Escolaridade
Analfabeto
Nível fundamental
Nível médio
04
30
13
8,6
63,8
27,6
Uso de Tabaco
Sim
Não
13
34
27,7
72,3
Ingestão de álcool
Sim
Não
17
30
36,2
63,8
Menopausa
Sim
Não
Não se aplica
25
09
13
53,1
19,3
27,6
Diagnostico clínico
Líquen Plano Reticular
Líquen Plano Placa
Líquen Plano Erosivo
41
05
01
87,2
10,6
2,2
Localização da lesão
Mucosa jugal
Língua
Região retromolar
Total
32
10
05
47
68
21,2
10,8
100

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