ESTIMATIVA DO NÚMERO DE HORAS DE FRIO NA SERRA

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ESTIMATIVA DO NÚMERO DE HORAS DE FRIO NA SERRA
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ESTIMATIVA DO NÚMERO DE HORAS DE FRIO NA SERRA DA MANTIQUEIRA (SP) E
APTIDÃO PARA O CULTIVO DE OLIVEIRAS
Angélica Prela-Pantano1, Edna Ivani Bertoncini2, Juliana Rolim Salomé Teramoto3 Laura
Fernanda Gonçalves de Oliveira Lussich4
1
Engª. Agrª. Drª Pesquisadora Científica, SAA/IAC – Instituto Agronômico, Campinas,SP e-mail:
2
[email protected]., Engª. Agrª. Drª. Pesquisadora Científica, SAA/APTA Pólo Centro Sul,
3
Piracicaba,SP e-mail: [email protected], Engª. Agrª.MSc. Pesquisadora Científica,
4
SAA/IAC – Instituto Agronômico, Campinas,SP e-mail: [email protected], Hotelaria - Integrante
voluntária do projeto Oliva SP; e-mail: [email protected]
RESUMO
Foi estimado o número de horas de frio com temperaturas abaixo de 13ºC para localidades
da Serra da Mantiqueira, na região pertencente ao estado de São Paulo. Verificou-se grande
variabilidade climática na Serra da Mantiqueira, e nem todas as localidades que pertencem
a essa macrorregião possuem condições ideais para o cultivo e desenvolvimento de
oliveiras Para as localidades como Campos do Jordão, Santo Antônio do Pinhal e São Bento
do Sapucaí, que estão em altitude acima de 800 m, foram estimadas número de horas de
frio acima de 500, e caracterizam-se como locais de produção de azeitonas no estado de
São Paulo.
Palavras-chave: Olea europaea L., florescimento, altas altitudes, temperaturas de inverno
ABSTRACT
It was estimated the number of hours with temperatures below 13 ° C for locations as the
Mantiqueira Mountains located in São Paulo State. There was great spacial climatic
variability in the Mountain region, and not all sites that belong to this macro-region presented
ideal conditions for the olive cultivation. For places like Campos do Jordao, Santo Antonio do
Pinhal and São Bento do Sapucaí, places above 800 m of altitude, were estimated number
of hours with temperatures below 13º C, over 500 hours, and these sites have flowering and
olive production.
Key words: Olea europea L., flowering, high altitude, chilling requirement
INTRODUÇÃO
Algumas espécies agrícolas perenes como as frutas de clima temperado, tem
exigências
em
baixas
temperaturas,
que
lhes
condicionam
repouso,
permitindo
2
florescimento e frutificação, normalmente após inverno (ANGELOCCI et al, 1979). Essa
exigência térmica pode ser quantificada pelo número de horas de frio (NHF), definido como
o total de horas em que a temperatura do ar permanece abaixo de determinada
temperatura. No caso das oliveiras essa temperatura foi definida como 12,5 ºC (TAPIA et al.
2003).
Os relatos de cultivo das oliveiras mais antigos que se tem na literatura, indicam a
regiões de clima mediterrâneo. Diante disso, presumi-se que as temperaturas adequadas
para frutificação não devem ser superiores a 35ºC. No verão podem suportar temperaturas
próximas a 40ºC, sem queimaduras, porém a atividade fotossintética já começa a ser
inibida, com temperaturas acima de 35ºC (COUTINHO et al. 2007).
Segundo Navarro e Parra (2008), a planta é sensível ao frio, mas ocorre um
aumento gradual de tolerância provocada pela ocorrência de baixas temperaturas no
outono, o que estimula a dormência. Assim, a planta resiste a temperaturas até inferiores a
0ºC, em um curto período de tempo. Porém podem ocorrer lesões em brotos e ramos novos,
caso a temperatura permaneça entre 0 e 5ºC, e ocorrer danos definitivos quando abaixo de 10ºC, podendo ser irreversível e levar a planta à morte.
No estado de São Paulo o cultivo de oliveiras é recente, e vem se expandindo
rapidamente em áreas vizinhas ao estado de Minas Gerais, sendo a Serra da Mantiqueira a
região em que concentra-se maior número de áreas cultivadas.
Apesar da modernização no monitoramento climático e coleta de dados
meteorológicos, o número de postos meteorológicos instalados no estado de São Paulo,
ainda é considerado insuficiente para determinar com precisão o numero de horas de frio de
um determinado local, pois para isso o monitoramento deve contar especificamente com
estações meteorológicas automáticas, para coleta de dados em escala horária, sendo que
em muitas localidades a coleta ainda é mecânica e se faz em escala diária. Diante dessa
dificuldade, alguns pesquisadores desenvolveram equações de regressão que auxiliam na
estimação da quantificação do número de horas de frio de determinado local (PEDRO Jr et
al. 1991 e BARDIN et al. 2010).
O objetivo desse estudo é estimar o número de horas de frio para localidades da
Serra da Mantiqueira, no estado de São Paulo averiguando a possibilidade de cultivo de
oliveiras nessa região.
MATERIAL E MÉTODOS
As localidades escolhidas fazem parte da região da Serra da Mantiqueira (Tabela
1). Foram consideradas como temperatura basal 13ºC para a contabilização do NHF, por ser
um valor considerado máximo de temperatura necessárias na fase de dormência para frutas
de clima temperado, como é o caso das oliveiras (PEDRO Jr. et al. 1979). Foram utilizados
3
dados de temperatura média mensal, por meio do banco de dados do Instituto Agronômico
(IAC), da rede do Ciiagro. Para os locais onde não havia série histórica ou posto
meteorológico, a temperatura média mensal foi estimada a partir do método das
coordenadas geográficas, com os coeficientes determinados por Pedro Jr. et al. (1991), para
o estado de São Paulo, o qual se baseia na temperatura média do mês mais frio do ano,
(julho) para a estimativa de NHF abaixo de 13ºC, anual.
Para isso adotou-se a seguinte equação:
NHF <13 = 4482,9 – 231,2 * Tjulho
Em que: T a temperatura média do mês de julho, e os demais dados da equação
são fixos.
Tabela 1: Localização geográfica das localidades pertencentes a Serra da Mantiqueira, SP,
e a temperatura média histórica de julho.
Local
Altitude
Lat (S)
1597
514
527
508
524
774
636
560
471
900
569
1180
554
22,44
22,35
22,49
22,34
22,44
22,58
22,37
22,55
22,32
22,40
23,10
22,50
23,10
Campos do Jordão
Cruzeiro
Guaratinguetá
Lavrinha
Lorena
Monteiro Lobato
Piquete
Pindamonhangaba
Queluz
São Bento do Sapucaí
São José dos Campos
Santo Antônio do Pinhal
Taubaté
Long (W)
45,35
44,49
45,12
44,55
45,8
45,52
45,11
45,27
44,47
45,45
45,54
45,41
45,34
Tmédia (jul)
11,5
18,4
18,2
18,5
18,3
16,5
17,6
17,9
18,8
15,9
17,7
14,0
17,9
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre as 13 localidades inclusas na Serra da Mantiqueira, observou-se uma
grande variação no parâmetro altitude variando desde 514 m, em Cruzeiro a outras com
altitude acima de 1000 m, como Santo Antonio do Pinhal a 1180 m e Campos do Jordão a
1597 m de altitude e ainda São Bento do Sapucaí com 900 m. Nessa região já existe o
cultivo de oliveiras em Campos do Jordão, Santo Antonio do Pinhal e São Bento do
Sapucaí.
Mesmo estando dentro de uma macrorregião, nem todos os municípios da Serra
da Mantiqueira apresentam as mesmas condições climáticas, sendo evidente a diversidade
de cada microrregião. Além da altitude, observa-se, também, variação nas temperaturas
médias. As temperaturas nos meses de inverno, variando de 11,5ºC em Campos de Jordão
a 18,8ºC em Queluz (Tabela 1). Os municípios de Monteiro Lobato, São Bento do Sapucaí,
Santo Antonio do Pinhal e Campos do Jordão, além de estarem localizados na parte mais
alta da serra, apresentam as menores médias de temperatura.
4
Tabela 2: Número de horas de frio com temperaturas abaixo de 13ºC, estimadas pelo
Método de Pedro Jr. et al. (1991) para a Serra da Mantiqueira, SP.
Local
NHF
Local
NHF
Queluz
135
Piquete
412
Lavrinha
205
Pindamonhangaba
413
Cruzeiro
228
Monteiro Lobato
667
Lorena
251
São B. do Sapucaí
806
Guaratinguetá
254
Santo Ant. Pinhal
1245
Taubaté
343
Campos Jordão
2586
São José
390
Campos
Considerando regiões aptas ao cultivo de oliveiras localidades com NHF acima de
500, nessa região destaca-se: Monteiro Lobato, São Bento do Sapucaí, Santo Antonio
Pinhal e Campos do Jordão. No entanto é necessário que sejam acompanhados cultivos
instalados ou que possam ser instalados em outras localidades dessa região, para um
monitoramento das condições climáticas e desempenho da cultura. Ainda não se sabe com
certeza, qual é a exigência em NHF para a frutificação de oliveiras no estado de São Paulo,
e talvez localidades consideradas “marginas”, ou seja, com NHF próximo a 500, como
Piquete
(412) e Pindamonhangaba (413), também possuam tenham condições para o
cultivo.
CONCLUSÕES
- O estudo, mostrou a variabilidade climática que há na Serra da Mantiqueira, e que nem
todas as localidades que pertencem a essa macrorregião possuem condições ideais para o
cultivo e desenvolvimento de oliveiras.
- As localidades de Monteiro Lobato, São Bento do Sapucaí, Santo Antonio Pinhal e
Campos do Jordão, apresentam NHF acima de 500, que poderia ser considerada ideal para
o cultivo de oliveiras.
- É necessária a implantação e acompanhamento do desenvolvimento da cultura em
localidades consideradas marginais, pois não se conhece exatamente a necessidade de
horas de frio necessárias a cultura, assim como sua adaptabilidade nas diferentes
condições.
LITERATURA CITADA
ANGELOCCI, L.B.; CAMARGO, M.B.P.; PEDRO JR., J.M.; ORTOLANI, A.A.; ALFONSI,
R.R. Estimativa do total de horas abaixo de determinada temperatura-base através das
medidas diárias da temperatura do ar. Bragantia, Campinas, v.38, n.1, p.123-130. 1979.
5
BARDIN, L; PEDRO JR. M.; MORAES, J.F.L. Risco Climático de ocorrência de doenças
fúngicas na Videira ‘Niagara Rosada’ na região do Pólo Turístico do Circuito das frutas do
estado de São Paulo. Bragantia, Campinas, v. 69, n. 4, p1019-1026, 2010.
COUTINHO, E.F. A cultura da oliveira. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2007. 143 p.
NAVARRO, C.; PARRA, M.A. Plantación. 6. ed. In: BARRANCO, D.; FERNADEZESCOBAR, R. El cultivo del olivo. Madri: Mundi-Prensa, 2008. p.188-238.
PEDRO JÚNIOR, M.J.; ORTOLANI, A.A; RIGITANO, O.; ALFONSI, R.R.; PINTO, H.S.;
BRUNINI, O. Estimativa de horas de frio abaixo de 7 e de 13ºC para regionalização da
fruticultura de clima temperado no Estado de São Paulo. Bragantia, Campinas, v.38, p.123130, 1979.
PEDRO JÚNIOR, M.; MELLO, M. H. A.; ORTOLANI, A. A.; ALFONSI, R. R.; SENTELHAS,
P. C. Estimativa das temperaturas médias mensais, das máximas e das mínimas para o
Estado de São Paulo. Boletim Técnico IAC, Campinas, n. 142, 1991. 11 p.
TAPIA, et al. Manual del cultivo del olivo. La Cerena: INIA, 2003. 128p. (INIA. Boletim, 101).

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