INTRODUCAO18 19 - Madeira: arquitetura e engenharia
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INTRODUCAO18 19 - Madeira: arquitetura e engenharia
ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA EM MADEIRA Cynara Tessoni Bono ([email protected]) Centro Universitário da Grande Dourados – Faculdade de Ciências Exatas – Curso de Arquitetura e Urbanismo RESUMO: Este trabalho tem como objetivo evidenciar a utilização da madeira como protagonista da Arquitetura Contemporânea em países do hemisfério Norte, segundo três autores consagrados em âmbito internacional. Durante o apogeu do Modernismo, nos panoramas nacionais e internacionais, além dos conceitos arquitetônicos que caracterizavam o movimento, a eleição de materiais construtivos industrializados, como o concreto, entre outros, acabaram por limitar a utilização de outros materiais de construção – como, por exemplo, a madeira, na produção da Arquitetura. A nova Arquitetura imprime à revisão destes parâmetros e propõe, ainda, a utilização de materiais construtivos com baixo consumo de energia, e que gerem, com isso, a sustentabilidade das propostas arquitetônicas. Partido arquitetônico, linguagem, composição de fachadas, texturas e sistemas construtivos são parâmetros para a abordagem de projetos que utilizam a madeira como tradução de novas posturas na produção arquitetônica deste século, inclusive em países do hemisfério Sul. Palavras-chave: arquitetura contemporânea, madeira, sustentabilidade. CONTEMPORARY ARCHITECTURE IN WOOD ABSTRACT: This work has as objective to evidence the use of the wood as protagonist of the Contemporary Architecture in countries of the North hemisphere, according to three authors consecrated in international scope. During the apogee of the Modern, in the national and international contexts, beyond the concepts architectural that characterized the movement, the election of industrialized constructive materials, as the concrete, among others, had finished for limiting the use of other materials of construction - as, for example, the wood, in the production of the Architecture. The new Architecture prints to the revision of these parameters and considers, still, the use of constructive materials with low consumption of energy, and that they generate, with this, the sustentabilirty of the proposals architectural. Party architectural, language, constructive composition of façades, textures and systems is parameters for the boarding of projects that use the wood as translation of new positions in the production architectural of this century, also in countries of the South hemisphere. Keywords: contemporary architecture, wood, systentability. Menu PRÓXIMA 1. INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivo evidenciar a utilização da madeira como protagonista da Arquitetura Contemporânea em países do hemisfério Norte, segundo três autores consagrados em âmbito internacional. Durante o apogeu do Modernismo, nos panoramas nacionais e internacionais, além dos conceitos arquitetônicos que caracterizavam o movimento, a eleição de materiais construtivos industrializados, como o concreto, entre outros, acabaram por limitar a utilização de outros materiais de construção – como, por exemplo, a madeira, na produção da Arquitetura. A nova Arquitetura imprime à revisão destes parâmetros e propõe, ainda, a utilização de materiais construtivos com baixo consumo de energia, e que gerem, com isso, a sustentabilidade das propostas arquitetônicas. Partido arquitetônico, linguagem, composição de fachadas, texturas e sistemas construtivos são parâmetros para a abordagem de projetos que utilizam a madeira como tradução de novas posturas na produção arquitetônica deste século, inclusive em países do hemisfério Sul. Esse artigo científico encontra-se alicerçado em três autores consagrados no contexto internacional – Naomi Stungo, 1998; Francisco Asensio Cerver, 2000 e Nicola Braghieri, 2005. A crítica, a história e a teoria sobre a produção da Arquitetura Contemporânea, em tempos atuais, estão sendo escritas por alguns autores que se dispõem a sistematizar, analisar e avaliar, para as gerações futuras, posturas, conceitos e critérios adotados pelos projetistas para a produção dessa nova Arquitetura e, em especial, da Arquitetura em madeira. O exercício de abordar projetos arquitetônicos que identifiquem uma época ainda tão incipiente, no tempo e na história, mesmo para críticos, historiadores e teóricos da Arquitetura, constituise, sem sombras de dúvidas, em uma atividade arriscada e difícil; mas, acredita-se, gratificante pela sua diversidade. Dentro desse contexto, o artigo foi elaborado em três partes distintas, onde é destacada a contemporaneidade da madeira como material construtivo, da habitação como discussão permanente do Homem e dessa mesma habitação concebida e executada em madeira, objeto de estudo e de produção de inúmeros projetistas da nova Arquitetura. 2. A CONTEMPORANEIDADE DA MADEIRA (NAOMI STUNGO, 1998) Na introdução do livro de autoria de STUNGO (1998), Christoph Affentranger menciona que a madeira foi um dos materiais construtivos dos mais populares, ao lado da argila e da pedra, por milhares dos anos. Desde 1970, entretanto, os arquitetos, em geral, negligenciaram o uso da madeira em favor do ato de construir com concreto, aço e materiais sintéticos. Por ocasião da elaboração do conteúdo do livro, STUNGO (1998) demonstra que o edifício em madeira deve ser, e é, mais do que uma tendência de passagem investigada por um minoria de arquitetos e usuários finais, tomando como exemplo projetos arquitetônicos imbuídos de conceitos contemporâneos da Arquitetura. Na atualidade, a população mundial é convocada, cada vez mais, para considerar as conseqüências que gerem a sustentabilidade de suas ações. No contexto da Arquitetura, isto significa a adoção dos materiais em seu estado original, utilizados com economia, parcimônia e baixo consumo de energia em sua transformação. Ainda de acordo com o autor acima mencionado, essa consideração, juntamente com a inovação na indústria da madeira, conduziu à redescoberta de se construir com esse material. Uma tradição que não sobrevivesse somente em áreas marginais e rurais, e naquelas regiões não afetadas pela prosperidade crescente das nações industriais do mundo; mas, também, nas propostas de edificações em núcleos dotados de um grau elevado de urbanização – as cidades. A madeira possui qualidades intrínsecas por se tratar de um material que pode ser Menu PRÓXIMA completamente reciclado e seu estoque reposto, a partir de um programa de florestamento adequado às realidades locais de plantio, articuladas com mudanças de paradigmas e posturas governamentais e da sociedade organizada. Soma-se a isso, tratar-se de um material que é a própria fonte de energia e que, por sua vez, não agride a sustentabilidade do meio ambiente. A Figura 1 aponta, sumariamente, a cadeia produtiva da madeira como material de construção, da matéria-prima ao produto final (a edificação), exemplificando que a Arquitetura de madeira é a Arquitetura do futuro. Figura 1 - Floresta; “woodframe”; Casa e Escritório na Alemanha, 1996. Fonte: STUNGO, 1998 – págs. 7; 13 e 45 (da esquerda para a direita, respectivamente). Na Figura 1 podem ser verificadas a floresta, fonte de matéria-prima renovável, que garante a sustentabilidade da utilização da madeira como material construtivo; vista parcial de sistema construtivo em madeira intitulado “woodframe”, método desenvolvido na América do Norte, com grande influência na Arquitetura de Madeira produzida a partir do Século XX e exemplo da nova Arquitetura em madeira, que exprime contemporaneidade devido às suas adições, subtrações e sobreposições de formas geométricas e da modulação adotada para o sistema construtivo e estrutural em madeira. Talvez, nenhum outro material de construção seja tão precioso à humanidade como a madeira. O seu significado e a sua utilização no desenvolvimento da civilização não podem ser subestimados. A madeira foi vital em todas as esferas da atividade humana, proporcionando fonte de energia e, mais tarde, como um material de construção de edifícios. A madeira é o símbolo para o curso natural da vida e para a constância em um mundo sempre em mudança (STUNGO, 1998). 2.1 Desenvolvimento Tecnológico para a produção da Arquitetura em Madeira Os avanços tecnológicos para a produção da arquitetura em madeira foram desenvolvidos diante da necessidade de adequação do material para a construção dos edifícios, que pudessem imprimir plasticidade e estabilidade, entre outros itens mensuráveis para o bom desempenho da edificação. Durante toda a história, os edifícios feitos em madeira serviram como predecessores e protótipos dos projetos arquitetônicos que não pudessem, por ventura, serem feitos de pedra. À medida que a madeira consolida-se como material de construção, empresta-se a duas modalidades fundamentais diferentes da construção - os elementos de madeira podem ser colocados verticalmente, criando-se a estrutura de cobertura sobre um espaço aberto (o telhado), ou, ainda, arranjos construtivos em camadas horizontais dos elementos de madeira (painéis) que pudessem criar uma área fechada (a parede). Menu PRÓXIMA As limitações técnicas desta modalidade horizontal da construção são claramente aparentes, pois a necessidade de elementos maiores do que o comprimento natural de uma árvore cria problemas no alcance de grandes vãos. Embora os exemplos de construções verticais possam ser encontrados desde a Idade da Pedra, as construções horizontais foram aperfeiçoadas caracterizadas pela utilização de elementos menores (montantes e barras), arranjadas estruturalmente para a obtenção de grandes elementos (empenas) a partir de elementos menores de madeira. A construção da estrutura evoluiu, subseqüentemente, a partir da adoção do sistema pilar/viga, distinta do método construtivo dos arranjos, onde os pilares e as vigas variam no tamanho e na espessura, de acordo com as exigências da estrutura. O desenvolvimento tecnológico e as técnicas construtivas fizeram possível uma linguagem nova para a construção do edifício. Figura 2 – Módulos de Madeira, Companhia Steko, Suíça. Fonte: STUNGO, 1998 – pág. 15. Um dos muitos exemplos do caráter altamente inovador da indústria da madeira na atualidade, trata-se da invenção do método de construção desenvolvido pela Companhia Steko, localizada na Suíça, mais precisamente em Kesswill. Na Figura 2, os módulos de madeira da Companhia Steko são considerados unidades de madeira, similares aos blocos de concreto existentes no mercado da Construção Civil, em tamanho e trabalhabilidade. Esse sistema construtivo é inovador em relação aos métodos convencionais de construir em madeira, além de ser patenteado em todo o mundo. O método construtivo intitulado “woodframe”, provavelmente o método mais comum da construção em madeira utilizado atualmente, foi difundido e popularizado na América do Norte, principalmente no Século XX, embora suas origens estivessem provavelmente na Escandinávia. No emprego desse método construtivo, os pilares são colocados no local prédeterminado pelo projeto estrutural, um a um, e as paredes e os tetos são montados como unidades completas no solo, antes de serem içados para serem colocados em serviço. A construção do quadro indica tipicamente painéis industrializados, onde a disposição dos mesmos, arranjados diagonalmente, indica, claramente, a função do reforço estrutural de todo o conjunto. Menu PRÓXIMA 2.2 Os Vãos e o Aço O desenvolvimento tecnológico, considerado por grande parte dos especialistas como inovador na construção de madeira do Século XX, foi a invenção da madeira laminada colada (MLC), que representou um avanço enorme na possibilidade e concretização de se construir grandes vãos. Novos métodos de conexão entre peças ou elementos de madeira, especialmente o método da chapa estampada, desenvolvido nos Estados Unidos da América do Norte, trouxe melhorias ao conjunto elaborado a partir de partes individuais de madeira que, conseqüentemente, conduziu ao desenvolvimento de novos tipos de ligação com potencialidades de melhores soluções estruturais. A construção de grandes espaços cobertos não seria possível sem as ligações e articulações feitas em aço. Entretanto, o aço é usado não somente para ligações, pode também ser usado para reforçar a madeira, da mesma maneira que é usado com o concreto. Os especialistas acreditam que avanços significativos de sistemas computacionais de simulação conduzirão às inovações de elementos estruturais para a construção de grandes coberturas. Figura 3 – Detalhe e Vista Parcial de Escola em Lyss, Suíça, Itten & Brechbühl, 1997. Fonte: STUNGO, 1998 – págs. 9 e 16 (da esquerda para a direita, respectivamente). Na Figura 3 são observados o detalhe de canto da escola florestal em Lyss, Suíça, e a vista parcial do edifício mostrando a estrutura externa da fachada. A escola foi concebida pelos arquitetos Itten & Brechbühl, em 1997. Os pilares da extremidade da estrutura foram substituídos por cabos de aço e espaçadores, imprimindo leveza e plasticidade ao edifício. Os assoalhos são feitos também de madeira, como são as fachadas e as circulações verticais (escadas de acesso aos pavimentos superiores e inferiores da edificação). 2.3 Da Viga ao Painel: Os Produtos Industrializados Menu PRÓXIMA Recentemente, tendências de sustentabilidade do meio ambiente tornaram-se, ao lado das técnicas estabelecidas para a construção em madeira, que todas sejam baseadas no emprego da matéria-prima “in natura”. Estas tendências são baseadas no intuito de padronização e industrialização da madeira como um material construtivo, onde suas características variáveis (tais como sua expansão e contração e sua não uniformidade da estrutura) possam ser melhor controladas, a fim de simplificar o dimensionamento dos elementos e a trabalhabilidade na execução. Esta tendência, que poderia ser considerada como homogeneização, não é uma coisa nova, pois no Egito antigo existiram tentativas de modificar as características da madeira cortando-as em painéis muito finos que, por sua vez, foram colados transversalmente ou sobre um material de sustentação contínuo. Por séculos, este método foi usado somente para a fabricação de marchetaria e mobiliário. O desenvolvimento de placas em grande escala de madeira compensada demonstrou que o método de construção do painel abriu uma dimensão nova para o edifício de madeira. A escala dos painéis colados na oferta tem expandido, consideravelmente, abrangendo tipos novos de “chipboard” e de “particleboard”. Uma outra vantagem deste tipo de sistema, em comparação ao uso de madeiras maciças do edifício, é que a madeira de baixa qualidade pode também ser usada na produção dos painéis. Com o método de construção do painel, a carga é suportada não por elementos individuais, mas pelos painéis inteiros, que necessitam somente serem reforçados estruturalmente. A madeira pode resistir a cargas acidentais e variáveis de grandes proporções, embora os painéis devam ser dimensionados adequadamente a fim de suportar a carga de uma casa inteira. Entretanto, os painéis devem ser fabricados e padronizados, etapas controladas adequadamente, em indústrias especializadas. 2.4 A Busca por uma Nova Arquitetura Na atualidade, os países do hemisfério Norte e alguns países localizados no hemisfério Sul possuem muitos interesses em empregar a madeira na construção de edifícios destinados à habitação e programas de necessidades multifuncionais. Dirigidos pelos interesses econômicos da indústria madeireira, algumas limitações significativas na construção de madeira, relacionadas primeiramente à proteção contra o fogo, foram levantadas parcialmente ou reinterpretadas recentemente. Ao lado dos desenvolvimentos tecnológicos apontados, os arquitetos contemporâneos estão explorando um mundo novo do projeto com arquitetura de madeira, como pode ser observado na Figura 4, onde constam plantas e vista de uma residência localizada na Austrália, com projeto datado de 1994 e concebido pelos profissionais Stutchbury & Pape Architects. Em muitos casos, pode-se constatar que métodos tradicionais e tipologias da construção em madeira retornam, em uma linguagem nova, possível pelos avanços tecnológicos. Os tradicionais métodos de construção em madeira do edifício estão gerando o aumento desse interesse e estão sendo ajustados para crescer em importância no cenário da Construção Civil. Menu PRÓXIMA Figura 4 – Plantas e Vista Parcial The Israel House, Pittwater, Sydney, Australia, 1994. Stutchbury & Pape Architects. Fonte: STUNGO, 1998 – págs. 152 plantas e 149 vista parcial. Uma outra tendência interessante é o desenvolvimento de uma arquitetura da madeira que origine com a sustentabilidade das ações, onde as possibilidades novas de emprego dos materiais construtivos encontram-se em sintonia com as necessidades da humanidade em não agredir o meio ambiente, de maneira irreversível. No lado técnico, os desafios atuais devem reduzir o consumo de energia na construção e na operação dos edifícios, particularmente em regiões temperadas e frias do globo e, espera-se, em regiões de clima quente. Os edifícios sustentáveis e com baixo consumo de energia são algumas das inovações que estão direcionando a concepção e execução de projetos arquitetônicos. O enaltecimento às vantagens intrínsecas da madeira, a sua capacidade proeminente para o condicionamento de ar natural e a sua habilidade excelente de isolar, farão dos edifícios em madeira tendências arquitetônicas a serem consolidadas. Não há nenhuma razão, conseqüentemente, considerar o interesse atual em construir com madeira como apenas uma fase de passagem, fato que é completamente o reverso, pois a arquitetura de madeira deve encontrar sua permanência. 3. A CONTEMPORANEIDADE CERVER, 2000) DA HABITAÇÃO (FRANCISCO ASENSIO Na introdução do livro de autoria de CERVER (2000), o autor menciona que a compilação, sem precedentes sobre arquitetura de casas, não pretende unicamente estabelecer uma classificação clara e precisa das tendências surgidas durante os últimos anos neste panorama construtivo. O autor compila, em um volume, alguns dos projetos identificados de uma época próxima à nossa ótica contemporânea e que constitui, em qualquer caso, um desafio de abstração tão arriscado como interessante. O método de compreensão da criação arquitetônica de casas é um trecho que corre paralelo à história das idéias. A casa tem se convertido, mediante um processo de redução romântica e idealista, no refúgio físico e espiritual das agressões da vida contemporânea. Neste sentido, a arquitetura exemplifica o completo entranhado das relações que surgem entre o autor e o cliente. Este sensível diagrama reproduz um dos componentes de risco mais evidentes dentro do âmbito da construção de casas: a obra do projetista frente aos desejos e às necessidades do usuário. De um lado, o arquiteto encontra na casa o projeto ideal no qual pode desenvolver suas experiências e desejos criativos. Por outro lado, o excesso criativo pode provocar uma série de perigos para as necessidades funcionais e vitais do cliente. Segundo o autor Menu PRÓXIMA referenciado, o mais correto seria escolher pela adequação de propósitos, de maneira a equilibrar as propostas e converter os trabalhos de projeto e execução em um ato de interrelação mútua. Somam-se a esta consideração prévia, outros fatores que se coadunam com a problemática que condiciona a esfera temática do espaço da habitação: a relativa importância do contexto e da escala; o estreito limite que separa o público do privado; a composição volumétrica e o jogo formal frente à realidade doméstica; as noções de comodidade, intimidade e qualidade de vida; a aplicação progressiva das tecnologias; a habitação social. Desta maneira, as primeiras casas em que se verifica o novo e original estilo desta época são as americanas de Frank Lloyod Wright, com plantas que se abrem livremente, exteriores e interiores que se relacionam através de terraços e amplas coberturas. Na Europa, a reação contra o excesso de ornamentação preconizada por Adolf Loos teve uma ampla repercussão, decisiva para a definição do espírito moderno e internacional da arquitetura do século e da massificação. As concepções de utilidade e correção prevalecem sobre a estética. Para Le Corbusier, as normas de criação não eram individuais, pois deveriam responder a critérios arquitetônicos universais, um estilo único e eficiente para “A Idade da Máquina”. Sua linguagem se opõe, em certa medida, à de Walter Gropius, caracterizado pela consciência social. Le Corbusier, ao contrário, declina-se pelo virtuosismo do projeto que se concretiza, nas áreas do cubismo, em casas e vilas de extrema brancura e concepção formal pura. A casa unifamiliar constitui-se como o último refúgio do criador artista para conceber e executar com total liberdade de expressão; afirmação que, sem sombras de dúvidas, não é de toda afirmativa, de acordo com CERVER (2000). As diversas correntes e posturas que imperam ao final do século XX e que continuam no início do século XXI se baseiam, em geral, em um compromisso entre forma e função, entre estética e pragmatismo, e buscam um equilíbrio harmônico entre a escala imediata e a superior que, em inúmeras ocasiões se reduzem a um mero divertimento estilístico. As novas realizações, com sólidas raízes nas teorias revolucionárias da primeira metade do século XX, não são mais que reinterpretações e variações sobre as concepções criativas de Le Corbusier, Wright, Loo, Gropius, Asplund e Van der Rohe. A pluralidade e heterogeneidade do final do segundo milênio demonstram que o eixo arquitetônico permanece vivo e em constante evolução. O objetivo principal sobre o qual estão assentadas as soluções arquitetônicas das casas contemporâneas que foram compiladas por CERVER (2000), corresponde à intenção de definir ambientes apropriados para a função e estilo de vida, e adotar posturas de conscientização frente às necessidades dos clientes (no caso unifamiliar, como pode ser observado na Figura 5) ou de uma comunidade (em casos de programas residenciais comunitários, vide Figura 6). Menu PRÓXIMA Figura 5 - Vistas Casa YG, Katta-gun, Japão, 1997. Fonte: CERVER, 2000 – págs. 954 e 955, respectivamente. Na Figura 5, o escritório de projeto de Hitoshi Abe, Japão, concebe a casa denominada YG e localizada em Katta-gun, no ano de 1997, como uma abstração mental e como uma entidade física dentro de um contexto determinado. Ambicioso. E ademais, possível. A Figura 6 aponta casas coletivas para Cheesecake Consortium, localizada na Califórnia e construída em 1994. Todos os espaços foram concebidos para ampliação futura, de acordo com as necessidades de seus usuários. Paralelamente, todas as habitações possuem facilidade de acesso para pessoas idosas, incluindo rampas para pessoas portadoras de necessidades especiais. Figura 6 - Vistas Cheesecake Consortium, Califórnia, 1994. Fonte: CERVER, 2000 – págs. 844, 845 e 846, respectivamente. Um aspecto importante de que também trata o autor em sua compilação diz respeito à crescente aplicação dos inúmeros avanços tecnológicos desenvolvidos nos últimos decênios e a criação de um estilo característico. Trata-se da incorporação, no âmbito doméstico, das técnicas, mecanismos e materiais inovadores. Este último ponto, a aplicação de uma linguagem “high-tech” aos problemas domésticos, constitui-se em um dos processos mais interessantes da atualidade graças ao interesse suscitado por fatores como a humanização da sociedade e à ecologia. Apesar disso, a maioria das propostas inovadoras conforma-se a configurações construtivas freqüentes, ou seja, no âmbito de valores estritamente arquitetônicos, implicando em escassas soluções estéticas e formais. Os projetos compilados por CERVER (2000), permitem observar que uma grande parte das características arquitetônicas configura-se numa visão parcial do estado atual da arquitetura de Menu PRÓXIMA casas. Em primeiro lugar, cabe mencionar a importância dada ao contexto da implantação do edifício residencial, seja por contaminação ou por oposição consciente em relação ao entorno. Ou seja, a casa unifamiliar produto da massificação urbana, dentro de um programa de primeira ou segunda residência, constitui-se um pretexto ideal para o desenvolvimento de complexos sistemas de relação com a paisagem, seja ela rural, marítima ou urbana. A percepção da realidade arquitetônica se apresenta ao usuário subordinada aos condicionantes de relevo e de vegetação. As respostas formais apresentam-se através de um volume único, embora se conceda também importância a partidos arquitetônicos plurais que possam favorecer uma melhor distribuição funcional (áreas comuns, individuais ou de serviço) com a criação de aspectos formais mais expressivos. O programa de necessidades da maioria das casas supõe certo regresso ao ideal georgiano da casa masculina como refúgio e lugar de descanso e ócio, embora não consideradas, em nenhum momento, as exigências femininas irlandesas e americanas da engenharia doméstica. A combinação desses aspectos coloca em evidência a diferenciação convencional entre a primeira e a segunda residência, exemplos dos quais se encontram também mesclados o conjunto internacional de projetos que compõe a estrutura do livro. Os critérios são, em qualquer caso, a amplitude e generosidade espacial, a captação de transparências e claridade, a conservação, quando possível, de planos e perspectivas, e uma circulação livre e natural. Para os espaços de atividades comuns, recorre-se com freqüência à estratégia técnica do pé direito duplo, com a finalidade de sugerir sensação de amplidão de espaços e comodidade, e sua implantação está em estreita conexão física e visual com as instalações complementares do ócio. A importância dada às áreas exteriores (jardins e piscina, principalmente), é uma conseqüência lógica do planejamento do tempo livre, embora sirva, também, para suscitar algumas controvérsias sobre os limites entre o público e o privado. Com certeza, a maioria dos projetistas cujos projetos foram compilados por CERVER (2000), tem adaptado estratégias engenhosas que coincidem com a arquitetura própria da casa com estas instalações complementares. Dentro das tendências mais evidentes de classificação das casas escolhidas para publicação, a clássica e a tecnológica, a eterna contradição entre a tradição e a vanguarda que configuram os extremos dialéticos de todo ato criativo. Entre essas correntes se situam uma série de propostas que evidenciam o estado atual da arquitetura, baseado em uma pluralidade de posturas (linguagens autônomas, pós-modernas, minimalistas, interpretação e revisão de regras racionalistas, edifícios singulares), que se apresentam, em muito, inter-relacionadas para manifestar a efervescência do panorama construtivo mundial. Outras obras se situam em campos mais ambíguos e de difícil classificação, embora em todos eles seja possível apreciar a persistência e adaptação das tradições singulares das necessidades domésticas da atualidade. Todos os projetos compilados por CERVER (2000) demonstram uma vitalidade criativa dentro do panorama da arquitetura de casas e evidenciam a dificuldade que a proximidade cronológica e a ausência de uma metodologia crítica pressupõem para o estabelecimento de uma ordenação regular e lúcida das distintas posturas, atitudes e tendências do final do século XX e início do século XXI. O autor aponta, ainda, que a compilação dos projetos constitui-se em um reflexo, inevitavelmente parcial, de algumas das propostas que, sob sua ótica, traduz de maneira mais significativa o espírito plural da casa no âmbito internacional da última década. Menu PRÓXIMA 4. ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA EM MADEIRA (NICOLA BRAGHIERI, 2005) Na introdução do livro de autoria de BRAGHIERI (2005), o autor coloca em evidência suas concepções, posturas e critérios sobre a habitação em madeira mencionando que o arquétipo da casa é sempre representado como uma cabana feita de árvores. A lenda conta que quando o Homem abandou a gruta, o seu refúgio de pedra, abandonou também a escuridão e o medo. Saiu e construiu a sua cabana de madeira, limpa e arejada. Inventou assim a arquitetura. De acordo com a tradição literária, voltará a encontrar a pedra, acrescenta o autor acima mencionado. No entanto, a recordação da madeira ficará sempre presente nos elementos de ordem clássica, que representariam o papel que tinham na construção primitiva. A árvore é um mito antigo, mágico e milagroso, símbolo da vida e do conhecimento. Uma casa de madeira, portanto, é uma casa feita de árvores. A madeira é um material de utilização técnica heterogênea com possibilidades de construção infinitas. Evidência disso encontra-se presente na grande virtuosidade da parte dos povos navegadores e construtores especializados de navios. Por outro lado, encontra uma utilização maciça e elementar da parte dos povos de montanha, tão ricos em matéria-prima e obstinados defensores das suas tradições. A madeira é um material estrutural: possui boa resistência com baixa condutibilidade térmica. A sua característica mais importante é a leveza. A sua estrutura porosa, não homogênea, com direcionamento único das fibras, confirma a sua característica de força, peso e isolamento. Uma casa de madeira evidencia a sua natureza de edifício montado, constituído por elementos preparados com precisão e montados por mão de obra qualificada. É uma casa eterna porque está montada com peças independentes e substituíveis. Leva consigo a sabedoria do artesanato e as tradições porque nenhuma tecnologia ou ciência soube jamais ultrapassá-las. Esta é uma grande diferença em relação à arquitetura de tijolo. Em meio a um panorama preenchido com modernas linguagens, torna-se cada vez mais complicado distinguir as boas arquiteturas das simples mascaradas. A boa arquitetura, para além de qualquer problema de linguagem, mantém sempre uma relação direta entre o material e sua técnica construtiva. São aquelas que não escondem o desgaste do tempo, mas mostram a beleza de um material eterno, porque está sempre vivo e em constante transformação. O trabalho de investigação tecnológica nos últimos quarenta anos levou a madeira a ser considerada, novamente, um material fundamental para a Construção Civil. A confiança cega no progresso tecnológico tinha-a deixado, sem verdadeiros motivos racionais, à margem. Na realidade nos métodos de trabalhos tradicionais encontram-se escondidos muitos dos segredos da pré–fabricação, mais moderna. A difusão de novos elementos compostos ou associados como, por exemplo, os travamentos laminares ou painéis estratificados e contraplacados, tornaram a sua utilização competitiva sob qualquer aspecto, mesmo no plano econômico. Nos países onde fora durante séculos o material nobre encontrou de novo o seu papel fundamental. As casas de madeira, recentes frutos da utilização de novos componentes e das respectivas técnicas, não parecem ter perdido o seu encanto, simples e procurado, de se acariciar, sentir, cheirar e de responder a qualquer estímulo ou solicitação. Menu PRÓXIMA Figura 7 - Vistas Wörndl, GucklHupf, 1993. Fonte: BRAGHIERI, 2005 – págs. 366, 368 e 369. Os edifícios apresentados no livro de BRAGHIERI (2005), a exemplo da casa em evidência da Figura 7, não têm somente em comum o fato de serem pequenas habitações construídas em madeira, mas têm também aquela de manter viva a coerência entre o material e a construção, a técnica de execução e a forma arquitetônica. A coerência é a condição que transforma todos os trabalhos, uns mais outros menos, em arquitetura de qualidade sutil. A madeira, não só por sua natureza intrínseca, como pelas suas implicações culturais e produtivas, não parece poder provocar revoluções radicais e surpresas inesperadas, notam-se nos detalhes e nas pequenas coisas, na nova descoberta das técnicas antigas e na combinação de diferentes espécies de madeiras. Uma veneração generalizada deste material por parte de muitos arquitetos e uma extensa cultura manual dos artesãos mais experimentados tornaram sóbrios e tranqüilos os espíritos mais rebeldes daqueles projetistas que tinham se habituado a aceitar as mais inconcebíveis formas de originalidade. 5. CONSIDERAÇÕES A crítica, a história e a teoria sobre a contemporaneidade da Arquitetura e, em particular, a arquitetura em madeira, encontram-se, ainda, incipientes, muito embora, para as gerações futuras de projetistas, o indicativo de posturas, conceitos e critérios adotados nas últimas décadas, sistematizados pelos críticos, historiadores e teóricos da atualidade irão agregar valores ao ato de projetar. A pluralidade e diversidade de linguagens, plasticidade, técnicas e sistemas construtivos, partidos arquitetônicos proporcionadas, entre outros aspectos, pelo desenvolvimento tecnológico e pela mudança de paradigmas da sociedade em relação à preocupação das conseqüências de suas ações, diretas e indiretas, com o meio ambiente, contribuíram para que materiais marginalizados pelo Movimento Moderno da Arquitetura, nos contextos nacionais e internacionais, retomassem sua aplicação no panorama da Construção Civil. O emprego crescente da madeira como material de construção para a arquitetura da habitação em países do hemisfério Norte contribuem, sobremaneira, para a difusão e permanência desse material entre os projetistas da nova Arquitetura no contexto mundial. A exemplo desses projetistas, que países do hemisfério Sul adotem políticas internas, em nível governamental, Menu PRÓXIMA entre os profissionais e de toda a sociedade, onde a madeira constitua-se como uma alternativa viável, difundida e permanente adotada como solução formal, econômica e sustentável para a produção da Arquitetura dos tempos atuais. Há uma oportunidade para explorar a Arquitetura em função da disponibilidade do conhecimento, das normas técnicas e da cadeia de certificação e da sustentabilidade ambiental. 6. AGRADECIMENTOS A autora do trabalho agradece o empenho da Arquiteta Urbanista Naise Dobbins Canisso ([email protected]), Assistente da Coordenação do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Ciências Exatas do Centro Universitário da Grande Dourados UNIGRAN, pelo tratamento das imagens utilizadas para elaboração desse artigo. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRAGHIERI, Nicola. Casas de madera. Barcelona: Gustavo Gili, 2005. 386 p.; CERVER, Francisco Asensio. Casas del mundo. Alemanha, Könemann, 2000. 999 p.; STUNGO, Naomi. The new wood architecture. Londres: Laurence King Publishing, 1998. 240 p. 8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ABEA; PINI & FVA. Arquitetura moderna brasileira: depoimento de uma geração. Organizador Alberto Xavier. 1 edição. São Paulo: PINI: Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura: Fundação Vilanova Artigas, 1987. 389 p.; ARANTES, Otília Beatriz Fiori. O lugar da arquitetura depois dos modernos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: Studio Nobel, 1993. 246 p.; ARTIGAS, João Batista Vilanova. Caminhos da arquitetura. 2 edição. São Paulo: PINI: Fundação Vilanova Artigas, 1986. 144 p.; BLASER, Werner. Mies Van Der Rohe. Tradução Julio Fischer. 2 edição. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 204 p. (Coleção Arquitetos); BOESIGER, Willy. Le Corbusier. Tradução Julio Fischer. São Paulo: Martins Fontes, 1994. 257 p. (Coleção Arquitetos); BRUAND, Yves. 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