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O ESTUDO DA MAÇONARIA COMO UMA NOVA DISCIPLINA ACADÊMICA
Dr. ANDREW PRESCOTT
Tradução José Antonio de Souza Filardo
‘Por que Reis e Príncipes, nobres, juízes e estadistas, soldados e marinheiros, Clero e doutores, e homens de
todas as esferas da vida procuram adentrar os Portais da Maçonaria? G. W. Daynes, The Birth and Growth of
the Grand Lodge of England (Londres: Masonic Record, 1926), p. 185. Introdução O livro de Stephen Yeo de
1976, Religiões e organizações Voluntárias em Crise, é um estudo da vida social da cidade de inglesa de
Reading entre 1890 e 1914. [i] Yeo descreve uma cidade cujo tecido social era unido por muitas associações
e atividades voluntárias “de capelas Congregacional até a Federação Social Democrata, do Hospital Sunday
Parades até Sociedades Literárias e Científicas”. [Ii] Esta ecologia social estava enraizada nas igrejas e em
uma cultura paternalista incentivada por grandes empregadores, tais como os famosos fabricantes de
biscoitos de Reading, Huntley & Palmer. Yeo pinta um retrato vívido de uma cultura associativa vibrante, que
agora praticamente desapareceu. No entanto, Yeo admite, houve uma grande omissão em seu estudo. Ele
descreve como “Um ministro Congregacionalista na década de 60, mostrando-me as fotografias de diáconos,
etc., na parede da sacristia da sua capela, contou-me que eu não poderia realmente compreender a vida em
capela do século 19 sem saber alguma coisa sobre os maçons”. Os vigários de St. Mary’s e de St. Giles em
diferentes datas antes de 1914 eram ambos altos oficiais na hierarquia maçônica local. “[Iii] Yeo foi ao 2 salão
maçônico local, mas não lhe foi permitido examinar os registros ali mantidos”. Os maçons, uma das maiores
e mais prestigiadas organizações voluntárias de Reading, com três lojas distintas em 1895 [iv] foram
consequentemente deixados de fora do livro de Yeo. Desde que Yeo escreveu, tem havido uma revolução
silenciosa na maçonaria inglesa. Parcialmente em resposta aos ataques à maçonaria por escritores como
Stephen Knight, bibliotecas e museus maçônicos foram abertas ao público. A magnífica Biblioteca e Museu
da Maçonaria no Freemasons’ Hall em Londres, oferece visitas públicas diárias, e em 2002 um evento ‘Open
House’, atraiu mais de 2.000 visitantes em um único dia. Sua biblioteca está disponível gratuitamente para
estudiosos e listas de sua correspondência histórica e respostas de membros iniciais estão sendo montadas
na internet. [V] A Província de Berkshire, onde se localiza Reading, tem uma das maiores bibliotecas
provinciais, com mais de 13.000 livros, e a biblioteca agora está aberta diariamente ao público em geral.
Berkshire foi uma das primeiras províncias inglesas a criar um site na web. [Vi] eu mesmo sou uma
encarnação dessa nova política. Em 2000, a Universidade de Sheffield estabeleceu, com financiamento da
Grande Loja Unida, a província de Yorkshire West Reading, e Lord Northampton, o Pro Grão Mestre, o
primeiro centro em uma universidade britânica dedicado ao estudo acadêmico de maçonaria. [Vii] Embora
eu não seja maçom, fui nomeado como o primeiro Diretor deste centro. É claro que o cuidado da Grande
Loja Inglesa que Yeo sofreu não foi compartilhado por todas as Grandes Lojas Europeias. O Grande Oriente
da Holanda há muitos anos deu boas-vindas aos estudiosos que desejavam utilizar sua notável biblioteca.
[viii] Pouco depois que o livro de Yeo foi publicado, a Professora Margaret Jacob usou da biblioteca do Grande
Oriente e seu livro resultante, Iluminismo Radical: Panteístas, Maçons e Republicanos [ix] alterou
profundamente a nossa percepção da história cultural da Europa do século XVIII. [X] A boa-vontade do
Grande Oriente da Holanda e, disponibilizar suas coleções aos estudiosos desempenhou um papel
significativo no aumento do interesse acadêmico pela maçonaria ao longo dos últimos 20 anos. Trevor
Stewart recentemente compilou uma bibliografia de artigos sobre a maçonaria europeia, que apareceu em
periódicos acadêmicos desde 1980. Esta contém 269 itens, e até mesmo isso dá apenas uma visão parcial de
toda a extensão da pesquisa sobre a maçonaria, uma vez que ela exclui artigos sobre a América, África e Ásia,
bem como periódicos publicados por organismos maçônicos, teses e monografias. [xi] Apesar de todo esse
trabalho, nosso quadro da maçonaria continua fragmentado. Em muitos países, particularmente na
Inglaterra, a Maçonaria é ainda considerada um assunto exótico, fora do meio acadêmico geral. [xii] Ele é
frequentemente esquecido pelos estudiosos, mesmo quando devesse se ampliar. Por exemplo, a biografia
do Duque de Connaught por Noble Frankland de 1993, que como GrãoMestre de 1901-1939 foi uma das
1
figuras dominantes na maçonaria inglesa 3 moderna, não faz menção da carreira maçônica do duque. [xiii] O
quadro é naturalmente diferente na Europa e Estados Unidos, onde há um interesse acadêmico de longa
data pela maçonaria, mas até aqui não há um consenso geral sobre a importância e o significado da
maçonaria. A bibliografia de Trevor Stewart ilustra como a maçonaria é relevante para uma enorme gama de
assuntos, desde a história da jardinagem até estudos de teatro, mas os temas mais amplos não são
imediatamente evidentes. Os estudiosos usam, frequentemente, provas maçônicas simplesmente para
confirmar e ilustrar ainda mais os temas e ideias estabelecidos. A história da maçonaria francesa de Pierre
Chevallier é uma das grandes conquistas da erudição maçônica, mas no final ela apenas reforça a
historiografia republicana tradicional francesa. [xiv] As limitações da pesquisa acadêmica atual sobre a
Maçonaria são simbolizadas por um estudo recente de William Weisberger, sobre o papel da maçonaria de
Praga e Viena no Iluminismo. [xv] Embora o ensaio documente cuidadosamente as atividades das lojas
Checas e Austríacas, o valor do estudo é limitado por sua visão estereotipada e banal do Iluminismo. [xvi]
Trabalhos como o de Margaret Jacob, que usa elementos maçônicos como um trampolim para o
desenvolvimento de novas perspectivas que alteram nossa visão de todo um período são extremamente
raros. À medida que a exploração dos arquivos maçônicos por estudiosos continua, que tipo de temas mais
amplos surgirá? Se a pesquisa sobre a Maçonaria afirma ser uma nova disciplina acadêmica emergentes,
quais serão suas características distintivas? Posso apenas esboçar brevemente algumas das possibilidades
aqui, e espero que me perdoem se eu limitar as minhas observações à Grã-Bretanha, já que este tem sido o
foco de minha própria pesquisa. Dados históricos e sociais nos Arquivos Maçônicos À medida que
continuamos a explorar o arquivo maçônico, encontraremos uma grande quantidade de informações sobre
tipos antigos da história, sobre a realeza, políticos e governos, e isso não pode ser ignorado. Muitos dos Grãos
Mestres ingleses desde 1782 foram membros da família real, mas o significado disso para a monarquia
britânica como instituição, nunca foi completamente pesquisado. [xvii] A Maçonaria é uma das instituições
britânicas em que a aristocracia ainda exerce grande influência e o papel da aristocracia na maçonaria
britânica oferece uma área frutífera de estudo para acadêmicos interessados no declínio e queda da
aristocracia britânica. Ocasionalmente, a Maçonaria foi envolvida em eventos políticos mais amplos. Por
exemplo, em 1929, pouco antes da eleição do segundo governo trabalhista, uma nova loja maçônica, a New
Welcome Lodge No. 5139 foi formada a pedido do então Príncipe de Gales. [xviii] Esta loja era destinada
exclusivamente a funcionários e diretores, membros do partido Trabalhista, e reflete a preocupação de que
militantes do Partido Trabalhista tivessem sido, com frequência recusados por Lojas Maçônicas. A New
Welcome Lodge tinha por objetivo garantir que o novo governo socialista não se alienasse da maçonaria. 4
Também se esperava que a loja atraísse mais trabalhadores para a maçonaria, e que os valores maçônicos
reduzissem ‘influências perturbadoras’ no chão de fábrica. [xix] Embora a New Welcome Lodge tivesse
inicialmente muito sucesso no recrutamento de deputados trabalhistas (incluindo Sir Robert Young, o
Presidenteadjunto, Arthur Greenwood, Ministro dos Negócios Estrangeiros e Vice-Líder do Partido
Trabalhista, e Lindsay Scott, secretário do Partido Trabalhista), [xx], a formação do Governo Nacional alterou
a situação política, e a partir de 1934, a New Welcome Lodge foi aberta a deputados de todos os partidos e
ao pessoal que trabalhava no Palácio de Westminster, tornando-se, essencialmente, um anexo do Palácio de
Westminster. [xxi] Sem dúvida, as informações mais fascinantes nos arquivos maçônicos são os detalhes
sobre pessoas conhecidas que eram maçons. O reformador social e legal, Lord Brougham foi iniciado maçom
em um impulso, enquanto estava de férias nas Ilhas Hébridas. [xxii] Foi este um episódio passageiro na vida
de Brougham, ou os valores da maçonaria influenciaram as reformas legais de Brougham? A mesma pergunta
pode ser feita sobre muitas outras figuras de destaque na história britânica que eram maçons. Em julho de
1885, o jornal inglês maçônico, The Freemason, relacionava membros do governo e da família real que eram
maçons. [xxiii] Entre os citados pelo The Freemason estavam Sir Charles Dilke, Presidente do Conselho de
Governo Local de 1882-1885, que era o líder da facção radical dentro do Partido Liberal e o mais eminente
defensor do republicanismo. Apesar de seus pontos de vista republicanos, Dilke se tornou um amigo íntimo
do príncipe de Gales. Até onde essa amizade foi fomentada por suas participações na maçonaria? Da mesma
forma, Dilke estava próximo aos líderes republicanos franceses, como Gambetta, que também eram maçons.
A lista do The Freemason também incluía um dos opositores políticos de Dilke, Lorde Randolph Churchill, pai
2
de Sir Winston Churchill. Lorde Randolph era um conservador populista cuja personalidade era uma das mais
intrigantes na política do século XIX. No caso de Lorde Randolph, uma investigação mais aprofundada de sua
carreira maçônica seria interessante até onde ela pudesse ajudar a interpretar seu personagem difícil. Assim
como o arquivo maçônicas fornecem novas informações sobre pessoas, eles, da mesma forma, lançam uma
nova luz sobre os lugares. Os arquivos maçônicos são particularmente ricos em informações sobre a vida
local e as redes sociais. A campanha por um governo mais democrático da cidade na década de 1820 e 1830
foi ofuscada pelo movimento pela reforma parlamentar; mas a reforma municipal foi, de certa forma, um
foco mais potente de ativismo político local. Na cidade de Monmouth, nas fronteiras galesas, uma campanha
contra o controle da cidade pelo Duque de Beaufort criou polêmica local acirrada na década de 1820. [xxiv]
Os arquivos do Grande Loja Inglesa incluem correspondência que fornece novas informações sobre essa
disputa. [xxv] O líder do Partido Reformista, Trevor Philpotts, era o venerável mestre da loja maçônica local,
a Royal Augustus Lodge. Um dos membros da loja era Joseph Price, membro mal-humorado do grupo que 5
se opunha à reforma. Em 1821, Price foi acusado por Philpotts de abusar de sua posição como magistrado,
ao conceder tratamento preferencial a um amigo na prisão. A loja maçônica aprovou uma série de resoluções
contra Price, uma das quais se refere ao seu alegado abuso de sua autoridade judicial. Preço protestou junto
ao Grão-Mestre, o Duque de Sussex, que este procedimento não era maçônico. O Duque suspendeu a loja,
para desgosto de Philpotts que estava ansioso para que a loja participasse na próxima consagração de uma
loja na cidade vizinha de Newport. Depois de protestos de Philpotts, o Duque levantou a suspensão da Loja.
Esta notícia foi recebida com alegria na cidade e os sinos da igreja tocaram em festa. Isto provocou uma nova
rodada de correspondência com a Grande Loja, uma vez que Price reclamou que ele só ouviu falar da decisão
do Grão-Mestre neste caso, quando os sinos começaram a tocar. Espaço Público e Privado Como esse caso
ilustra como as lojas eram uma importante característica da vida local. Desfiles e procissões eram até
recentemente o maior foco da vida pública nas cidades, [xxvi] e desfiles maçônicos eram particularmente
importantes, porque estavam associados a cerimônias realizadas pela maçonaria para a dedicação dos
edifícios públicos e marcavam etapas importantes no desenvolvimento da cidade. [xxvii] Em Sheffield, por
exemplo, a abertura de um canal proporcionando a primeira ligação da cidade ao mar em 1819 foi celebrado
por procissões das lojas de Sheffield e da região, e extratos de livros de atas maçônicos descrevendo estas
cerimônias foram emoldurados e exibidos com orgulho na sede da Companhia do Canal. [xxviii] Tais
procissões forneciam uma face pública para a Maçonaria e associavam a Maçonaria à identidade cultural da
cidade. Além disso, elas explicitamente vinculavam os maçons à remodelação física do espaço público
urbano. Tais marcos na remodelação de Edimburgo entre 1750 e 1820 tais como a conclusão dos novos
prédios da universidade, a ponte George IV e as docas em Leith foram marcadas por enormes procissões
maçônicas. [xxix] Em Londres, o Príncipe Regente, que era Grão-Mestre da Primeira Grande Loja era a força
motriz por trás da reabilitação de grande parte do extremo oeste. Quando o Príncipe como Grão-Mestre
inaugurava formalmente em enormes cerimônias públicas, tais grandes edifícios novos como o Covent
Garden Theatre, no local do atual Royal Opera House, essa conjunção entre Maçonaria e espaço público
alcançava uma expressão muito potente. [xxx] Enquanto a maçonaria tinha um envolvimento íntimo com o
espaço público através da sua atividade processional, as reuniões de loja, ao contrário, ocorriam em um
espaço privado fechado, guardado pelo Cobridor. Em um artigo recente, Hugh Urban utilizou as ideias de
teóricos como Pierre Bourdieu para analisar as formas como o espaço fechado e o sigilo da reunião de loja
facilitaram a elaboração de conceitos de poder social e hierarquia no final do século XIX na América. [xxxi]
Alterações em relações espaciais dentro da reunião de loja podiam refletir 6 mudanças sociais mais amplas.
Mary Ann Clawson, por exemplo, mostrou como o uso de cenários de palco com arcos proscênio e quedas
elaboradas de cortina em iniciações do Rito Escocês partir do final do século XIX podem estar relacionados
ao aumento de atividades de lazer que destacavam o consumo de uma audiência passiva. [xxxii] Na
Inglaterra, a expressão mais concreta dessa necessidade de um espaço fechado foi o desenvolvimento do
templo maçônico. Até a década de 1850, a maioria das reuniões maçônicas tinha lugar em salas de tavernas,
um espaço que estava na fronteira entre o privado e público. [xxxiii] A campanha para a construção de
templos com finalidade maçônica foi uma expressão do fetiche de respeitabilidade que era uma
característica da classe média vitoriana. Em cidades como Sheffield, os templos maçônicos faziam parte do
3
desenvolvimento de um novo centro da cidade com praças e prédios públicos. [xxxiv] A criação de tais centros
urbanos foi uma expressão espacial do poder da nova elite urbana de classe média, destinados a fornecer,
nas palavras de Simon Gunn, “um centro simbólico no coração de um espaço público vazio para afirmar o
poder coletivo e a presença da burguesias provincial”. [Xxxv] Os templos maçônicos no meio desses centros
cívicos, dedicado às cerimônias secretas realizadas por lojas, cuja participação era, em princípio, aberta a
todos os homens respeitáveis da cidade, mas que, na prática, era cuidadosamente controlado, simbolizava
poderosamente a natureza dessas novas elites. Questões de Sexo, Masculinidade e Emancipação O espaço
como uma expressão de poder e hierarquia é um tema de destaque na ciência moderna para a qual o estudo
da maçonaria tem muito a contribuir. Templos maçônicos e centros cívicos eram espaços masculinos,
distintos de outro desenvolvimento importantes da cidade no período vitoriano – a loja de departamentos –
vista como um espaço em grande parte do sexo feminino. [xxxvi] A análise de Catherine Hall e Leonore
Davidoff traçando o surgimento, nos séculos XVIII e XIX de esferas separadas para diferentes sexos
influenciou muito o recente trabalho sobre história social, e fornece outra poderosa ferramenta
interpretativa para a história maçônica. [xxxvii] Isto é demonstrado pelos trabalhos de Robert Beachy, que
recentemente discutiu como escritos apologéticos maçônicos do final do século XVIII ajudaram a popularizar
o estereótipo das diferenças entre homens e mulheres, [xxxviii] e Mark Carnes, que analisou como os rituais
de sociedades fraternais moldaram as visões da masculinidade da classe média na América do século XIX.
[xxxix] Os escritos maçônicos do século XIX são uma rica fonte de informações sobre o panorama social e
moral do homem de classe média. [xl] Por exemplo, os sermões e discursos maçônicos são uma fonte útil,
mas negligenciada d estudo da mentalidade das nova elites provinciais dos períodos vitoriano e eduardiano.
Um discurso proferido por M.C. Peck, Grande Secretário Provincial de Reading Norte e Leste de Yorkshire, na
sagração de um templo maçônica em Hull em 1890, 7 descreve as qualidades esperadas de um habitante do
sexo masculino honrado de Hull na época. [xli] Ele devia acreditar em Deus, tratar o seu próximo de forma
justa, e cuidar de seu próprio corpo e mente. Ele deve evitar o desperdício e a intemperança, e suportar o
infortúnio com firmeza. “Maçons nunca devem ser homens espertos como o mundo os chama, prontos para
enganar e explorar seus companheiros. Quantas vezes ouvimos aqueles elogiarem um homem por sua
perspicácia e habilidades de negócios, mas eles confiariam nele com para seus próprios negócios? Por outro
lado, o homem verdadeiramente justo e honesto é o mais nobre trabalho de Deus, e ninguém pode merecer
mais elogios do que ele!” Apesar do seu tom confiante, há não muito abaixo da superfície daquelas palavras
uma ansiedade que lembra o comentário de Mark Carnes de que a maçonaria Vitoriana oferecia trégua das
crescentes pressões económicas e sociais do mundo exterior: ‘mesmo à medida que as classes médias
emergentes estavam abraçando o capitalismo e as sensibilidades burguesas, elas estavam simultaneamente
criando rituais cuja mensagem era largamente oposta àqueles relacionamentos e valores”. [xlii] Na
Inglaterra, o consolo masculino oferecido pela maçonaria estava intimamente ligado às memórias da escola
e da vida escolar. Paulo Rich sugeriu que as escolas públicas e a maçonaria foram elementos centrais de um
ritualismo que era uma ligação cultural importante do Império Britânico. [xliii] A maçonaria permitia que o
adulto do sexo masculino revivesse os rituais de ligação da escola ou da universidade. As Lojas eram fundadas
especificamente para membros de determinadas escolas ou universidades, [xliv], que procuravam, nas
palavras de uma circular propondo a formação de uma loja para os antigos garotos de uma pequena escola
primária em Londres, para soldar ‘os estreitos laços de bem fraternal aquelas amizades que tantos de nós
formamos durante nossa vida escolar’. [xlv] O relacionamento simbiótico entre a vida escolar e a Maçonaria
moderna é encapsulado por um artigo sobre uma loja escolar na Revista da Escola Aldenham citado por Paul
Rich, que declara que ‘eu me pergunto se você realmente sabia como era a vida na escola até que você
entrou’. [Xlvi] Uma história recente de Christopher Tyerman da Harrow School, onde Sir Winston Churchill
foi educado, destaca o papel central da maçonaria na vida escolar, observando que “Entre 1885 e 1971, os
diretores tendiam a ser maçons, assim como muitos governadores e, muitas vezes, poderosas grupos de
mestres e chefes de dormitório. [xlvii] A capela da escola estava decorada com símbolos maçônicos; em 1937,
o Diretor deu aos meninos um feriado de meio-dia a pedido do Grão Mestre. [xlviii] Tyerman também observa
que a maçonaria era importante na afirmação de interesses do grupo e de solidariedade profissional dos
mestres. [xlix] Esse não era só o caso em escolas públicas. Dina Copelman estudou os professores das escolas
4
primárias administradas London School Board, que foi criada em 1870. [l] A maioria desses professores eram
mulheres, muitas delas casadas. [li] Como os seus colegas de escola pública, os professores do sexo masculino
usavam a Maçonaria para afirmar seus status profissional e social. [lii] Em 1876, a Loja Crichton foi fundada
por um 8 grupo de professores e funcionários da London School Board, incluindo o seu Presidente e
Secretário, e fundaram outras lojas incluindo principalmente professores no sul de Londres. [Liii] Estes meios
de exibir credenciais de classe média não estavam disponíveis para as professoras, e seu status social e
profissional era mais tênue. O estudo de Copelman explora a fronteira entre as “duas esferas” e sugere que
o processo de troca social entre os sexos era complexo. Talvez, os aspectos mais interessantes da maçonaria
e sexo sejam aquelas áreas que confrontam as claras divisões de um modelo de “duas esferas”. A retórica
vitoriana tardia de diferença sexual retratava as mulheres como clientes e consumidoras, mas os espaços
privados da loja maçônica permitiam aos homens se dar o luxo de exibição visível. Os maçons compravam
joias de enorme valor para usar em suas lojas, e decoravam seus templos com móveis e acessórios de grande
opulência. [liv] Nas lojas maçônicas, como Kennings em Londres eles tinham suas próprias lojas de
departamentos. [lv] De maneira semelhante, a filantropia era uma área em que diferentes gêneros tiveram
papéis distintos. [lvi], mas a atividade caritativa maçônica poderia tranquilamente atravessar algumas dessas
distinções. Acima de tudo, no outro sentido, a maçonaria de mulheres ofereceu uma saída social significativa
para as mulheres. Janet Burke e Margaret Jacob argumentaram que a as Lojas de Adoção possibilitaram que
as mulheres, através da maçonaria, se envolvessem com a sociedade civil emergente no século XVIII. [LVII]
James Smith Allen e Mark Carnes recentemente documentaram a ampla participação das mulheres em
organizações fraternais no século XIX, [lviii] enquanto a CoMaçonaria, através de figuras como Annie Besant
e Charlotte Despard desempenhou um papel significativo no movimento pelo sufrágio feminino [lix] com
mulheres maçons comparecendo a marchas pelo sufrágio usando seus paramentos. [lx] Raça, Império e
Nacionalidade No passado, havia uma ênfase exagerada na importância da atividade econômica como um
componente da identidade social. O estudo de gênero tem sido uma maneira em que os estudiosos vêm
demonstrando a complexidade da identidade social; outra foi a raça, uma área onde a pesquisa sobre a
Maçonaria oferece possibilidades emocionantes. A ilustração mais conhecida disto é a maçonaria Prince Hall,
a forma de maçonaria organizadas pelos negros nos Estados Unidos, [lxi] que tem sido vista por estudiosos
como William Muraskin e Loretta Williams como importante na definição e na criação de uma classe média
negra na América [LXII], apesar de Williams em particular, enfatizar a contradição entre a ideologia
universalista da Maçonaria e o caráter distinto segregado da maçonaria Prince Hall. [lxiii] Existem muitas
outras áreas em que a Maçonaria oferece percepções sobre a etnia, que são menos bem exploradas. A
Maçonaria foi um importante 9 componente cultural do Império Britânico. O Pro Grão Mestre inglês Lorde
Carnarvon declarou na década de 1880 que “Aonde a bandeira vai, lá vai a maçonaria para consolidar o
Império. [Lxiv] A loja de raça mista oferecia um espaço social em que o colonizador e o colonizado se
misturavam no Império Britânico. Rudyard Kipling declarado de sua loja, em Lahore, que “não há coisas tais
como infiéis entre os Irmãos pretos e marrons”. [lxv] A importância desta área de pesquisa foi brilhantemente
demonstrada por um estudo de Augustus CaselyHayford e Richard Rathbone da maçonaria em Gana colonial.
[lxvi] Isto mostra como “a maçonaria estava entre as malas e bagagem tanto do império formal quanto do
informal. [lxvii] Ela facilitava contatos comerciais e oferecia um meio de sinalização “realização, muito
trabalho, dignidade e, em alguns casos berço de ouro”. [lxviii] Ela oferecia um vínculo importante nas políticas
racial e nacional da colônia, com muitos membros do Congresso Nacional da África Ocidental sendo maçons.
Intimamente relacionado com a raça é o papel da maçonaria na formação da identidade nacional. Por
exemplo, na Grã-Bretanha a maçonaria era uma poderosa expressão do estabelecimento Hanoveriano, [lxix],
enquanto que era, por outro lado, em França, na década de 1870, uma das forças por trás do
desenvolvimento do moderno republicanismo francês. [lxx] A interação entre a maçonaria, nacionalidade,
raça e classe é muito bem ilustrada por um estudo clássico de Abner Cohen da maçonaria em Serra Leoa, que
é um modelo de como a pesquisa acadêmica de Maçonaria deve ser realizada. [lxxi] Cohen descobriu que,
em 1971, existiam dezessete lojas maçônicas em Freetown, com cerca de dois mil membros, a maioria dos
quais era Africana. A maioria destes maçons negros eram Creoles, descendentes de escravos emancipados
entre 1780 e 1850, um grupo alfabetizado, altamente educado e profissionalmente diferenciado, que foram
5
primeiro considerados e em seguida menosprezados pelos administradores britânicos. Cohen constatou que
um em cada três Creoles eram maçons. Cohen relacionou o envolvimento Creole na maçonaria aos ataques
sobre o poder Creole durante o período a partir de 1947. Ele concluiu que “em grande parte sem qualquer
política consciente ou projeto, os rituais e organização maçônicos ajudaram a articular uma organização
informal que ajudou os Creoles a proteger a sua posição diante de ameaça política”. [lxxii] Redes Sociais O
estudo de Cohen levanta um tema final importante, o das redes sociais. Como estudiosos têm explorado
cada vez mais a natureza pluralista da identidade social, a importância da análise das redes sociais tornou-se
evidente. Fatores tais como a medida que todo mundo conhece todo mundo (“acessibilidade”); as diferentes
formas como as pessoas estão ligadas (“multiplexidade’) e as obrigações impostas pelas redes a seus
membros (“ intensidade”) são essenciais para a compreensão de como as sociedades locais, a maçonaria e
outros grupos fraternais têm um efeito importante sobre essas dinâmicas. [lxxiii] Os arquivos maçônicos são
ricos em 10 material para pesquisar redes sociais, não apenas em fontes tão óbvias quanto listas de adesão,
mas também em petições e correspondência, onde, ao discutir a necessidade de uma loja, suas conexões
sociais podem ser descritas. Por exemplo, uma carta de uma loja formada por trabalhadores em Stratford,
no leste de Londres, protestando contra uma decisão da Grande Loja Inglesa de que ela era um corpo
maçônico espúrio, contém a seguinte declaração incomumente explícita das vantagens da maçonaria para o
artesão Vitoriano: ‘Stratford e sua vizinhança contêm uma população de cerca de milhares de hábeis
mecânicos, artesãos e engenheiros, muitos dos quais, por suas realizações superiores ou pelas exigências do
comércio são chamados a exercer sua vocação em vários estados da Europa continental ou em nossas
próprias possessões coloniais e a quem, portanto, as vantagens decorrentes da Fraternidade Maçônica são
de grande importância. ’[lxxiv]. O potencial entusiasmante de uma abordagem que analisa a interação entre
a Maçonaria e outras redes sociais, tais como contatos profissionais e a participação em outras organizações
fraternais, foi recentemente demonstrado por dois artigos excepcionais relacionados com duas profissões
muito diferentes. O estudo de Simon McVeigh sobre maçonaria e vida musical em Londres do século XVIII
mostrou como a maçonaria ajudava para garantir patrocínio e trabalho para músicos e também apoiava
alianças profissionais, às vezes de maneira surpreendente. [lxxv] O estudo de Roger Burt sobre a maçonaria
Cornish no século XIX chega a algumas conclusões interessantes sobre a composição social das lojas
maçônicas no sudoeste da Inglaterra. [Lxxvi] Ele constatou que “as lojas eram dominadas em sua maioria por
jovens (a maioria dos iniciados tinha menos de 30 anos) de grupos de classe média e “pequeno-burgueses”
de interesses mercantis e de produção, profissionais e operadores de pequenos negócios.” [LXXVII] Os
registros da participação Cornish refletem a crescente mobilidade desse grupo social, e a maçonaria pode ter
ajudado a estabelecer contatos internacionais a promover o emprego rentável no exterior. Conclusões A
pesquisa sobre a maçonaria explora as conexões entre esses grandes temas da moderna erudição tais como
espaço público, gênero, raça e redes sociais. Estes temas essencialmente giram todos em torno de uma
questão mais importante: a construção da identidade social e o estudo da maçonaria, porque ele está
relacionado com uma identidade que é pública e oculta ao mesmo tempo e fornece uma perspectiva única
sobre o assunto. Metodologicamente, o estudo da maçonaria apresenta muitos desafios, mas o ponto que
deve ser observado aqui é o seu caráter intrinsecamente interdisciplinar. A natureza dos arquivos maçônicos
significa que o pesquisador de maçonaria precisa usar muitos tipos diferentes de mídia: os textos que vão
desde listas de membros até rituais, joias, banners, gravuras, música e artefatos de vários tipos diferentes.
[lxxviii] A interpretação de 11 tais materiais exige uma mistura de habilidades acadêmicas. Mark Carnes
observou como suas pesquisas exigiram “excursões nos campos da história religiosa e da teologia; educação
infantil e psicologia do desenvolvimento; a história das mulheres e estudos de gênero, e antropologia
estrutural e cultural”. [lxxix] Embora estudiosos frequentemente aspirem a interdisciplinaridade, eles
raramente a atingem. O estudo da maçonaria talvez possa servir de modelo para estudos interdisciplinares.
Os temas que eu discuti estão na vanguarda da pesquisa em ciências humanas e sociais, mas suas raízes estão
no antigo pensamento, refletindo tanto as mudanças sociais dos anos 60, e particularmente a resposta aos
acontecimentos franceses de 1968, [lxxx] e o desafio colocado aos modelos marxistas pelo colapso da União
Soviética. Embora o estudo da Maçonaria possa contribuir muito para aquelas preocupações intelectuais,
ainda mais emocionante é a questão de como ela ajudou a formar completamente novas agendas
6
intelectuais. Será que os acontecimentos de 11 de setembro de 2001 terão um impacto de nível global tão
grande quanto os de maio de 1968? É cedo demais para dizer, mas há indícios de que, seja qual for o
resultado, as reações à maçonaria terão novo significado. A maneira em que a destruição do World Trade
Center deu origem, paradoxalmente, a uma nova forma de antissemitismo foi bem documentada. [lxxxi] Tem
havido pouca discussão sobre a nova anti-maçonaria. Dentro de poucos dias depois dos atentados em Nova
York, publicações em sites na Internet atribuíam os ataques aos Illuminati, traçavam paralelos entre as Torres
Gêmeas e as colunas maçônicas Jaquim e Boaz, e utilizavam numerologia espúrias para sugerir o
envolvimento maçônico nos ataques. [lxxxii] Isto é deplorável, mas talvez não seja surpreendente. Mais
significativo para o longo prazo é a maneira em que os ataques à maçonaria fazem parte das denúncia
muçulmanas extremas de valores ocidentais. Houve uma longa história de grupos árabes circulando libelos
desacreditado dos Protocolos dos Sábios de Sião. Nos últimos anos, entretanto, alguns muçulmanos, com
base na literatura antimaçônica ocidental, vêm ligando a maçonaria à figura do Dajjal, o anticristo. [lxxxiii]
Essas ideias foram inicialmente desenvolvidos em 1987 pelo escritor egípcio, Sa’id Ayyub. [lxxxiv] Na
Inglaterra, uma figura-chave na elaboração e popularização dessas ideias foi David Musa Pidcock, um
consultor de máquinas Sheffield, que se tornou muçulmano em 1975 e é o líder do Partido Islâmico da GrãBretanha. [lxxxv] A ideia de que os maçons adoram o Dajjal tem se tornado comum em comunidades
muçulmanas na Inglaterra e em outros lugares. Nos últimos meses, sites islâmicos publicaram análises
entusiasmadas de uma fita de áudio chamada Shadows, produzida por uma companhia de Londres, Hallaqah
Media, que argumenta que os maçons criaram uma nova ordem mundial e são os servos do Dajjal. [lxxxvi] Se
estamos no início de uma luta para proteger e 12 reafirmar os valores seculares do Iluminismo, [lxxxvii] é
inevitável que o estudo da maçonaria, muito ligada à criação desses valores, assumirá nova relevância.
NOTAS – CLIQUE AQUI OUTRAS LEITURAS RECOMENDADAS – clique aqui Apêndice 1 – A Iniciação de Lord
Brougham Apêndice 2 – A Loja New Welcome nº 5139 Apêndice 3 – Uma disputa maçônica em uma pequena
cidade Apêndice 4 – Um desfile maçônico em Sheffield Apêndice 5 – Lançamento de pedra fundamental
Apêndice 6 – Abertura da nova loja maçônica New Sheffield, Surrey Street Apêndice 7 – O Cavalheiro Maçom
Apêndice 8 – Petição para a Crichton Lodge No. 1641 Apêndice 9 – Co-Maçonaria Apêndice 10 – A Maçonaria
Prince Hall na Carolina do Norte Apêndice 11 – Contos Maçônicos do Raj Apêndice 12 – The Indian
Freemason’s Friend Apêndice 13 – Uma loja da classe trabalhadora na Zona Leste de Londres O Prof. Dr.
Andrew Prescott estudou história na Universidade de Londres e foi nomeado curador no Departamento de
Manuscritos da Biblioteca Britânica, em 1979. Ele está em uma cessão de três anos pela Biblioteca Britânica
à Universidade de Sheffield, onde ele é diretor do novo Centro de Pesquisa de Maçonaria, o primeiro de tais
centros a ser criado em uma universidade britânica. Em 2007, deixou o cargo. Publicado em
http://www.freemasons-freemasonry.com/andrew_prescott.html
O ESTUDO DA MAÇONARIA COMO UMA NOVA DISCIPLINA ACADÊMICA Dr.
ANDREW PRESCOTT Tradução José Antonio de Souza Filardo ‘Por que Reis e
Príncipes, nobres, juízes e estadistas, soldados e marinheiros, Clero e doutores, e
homens de todas as esferas da vida procuram adentrar os Portais da Maçonaria?
G. W. Daynes, The Birth and Growth of the Grand Lodge of England (Londres:
Masonic Record, 1926), p. 185. Introdução O livro de Stephen Yeo de 1976,
Religiões e organizações Voluntárias em Crise, é um estudo da vida social da cidade
de inglesa de Reading entre 1890 e 1914. [i] Yeo descreve uma cidade cujo tecido
social era unido por muitas associações e atividades voluntárias “de capelas
Congregacional até a Federação Social Democrata, do Hospital Sunday Parades
até Sociedades Literárias e Científicas”. [Ii] Esta ecologia social estava enraizada
nas igrejas e em uma cultura paternalista incentivada por grandes empregadores,
tais como os famosos fabricantes de biscoitos de Reading, Huntley & Palmer. Yeo
pinta um retrato vívido de uma cultura associativa vibrante, que agora praticamente
desapareceu. No entanto, Yeo admite, houve uma grande omissão em seu estudo.
Ele descreve como “Um ministro Congregacionalista na década de 60, mostrando7
me as fotografias de diáconos, etc., na parede da sacristia da sua capela, contoume que eu não poderia realmente compreender a vida em capela do século 19 sem
saber alguma coisa sobre os maçons”. Os vigários de St. Mary’s e de St. Giles em
diferentes datas antes de 1914 eram ambos altos oficiais na hierarquia maçônica
local. “[Iii] Yeo foi ao 2 salão maçônico local, mas não lhe foi permitido examinar os
registros ali mantidos”. Os maçons, uma das maiores e mais prestigiadas
organizações voluntárias de Reading, com três lojas distintas em 1895 [iv] foram
consequentemente deixados de fora do livro de Yeo. Desde que Yeo escreveu, tem
havido uma revolução silenciosa na maçonaria inglesa. Parcialmente em resposta
aos ataques à maçonaria por escritores como Stephen Knight, bibliotecas e museus
maçônicos foram abertas ao público. A magnífica Biblioteca e Museu da Maçonaria
no Freemasons’ Hall em Londres, oferece visitas públicas diárias, e em 2002 um
evento ‘Open House’, atraiu mais de 2.000 visitantes em um único dia. Sua
biblioteca está disponível gratuitamente para estudiosos e listas de sua
correspondência histórica e respostas de membros iniciais estão sendo montadas
na internet. [V] A Província de Berkshire, onde se localiza Reading, tem uma das
maiores bibliotecas provinciais, com mais de 13.000 livros, e a biblioteca agora está
aberta diariamente ao público em geral. Berkshire foi uma das primeiras províncias
inglesas a criar um site na web. [Vi] eu mesmo sou uma encarnação dessa nova
política. Em 2000, a Universidade de Sheffield estabeleceu, com financiamento da
Grande Loja Unida, a província de Yorkshire West Reading, e Lord Northampton, o
Pro Grão Mestre, o primeiro centro em uma universidade britânica dedicado ao
estudo acadêmico de maçonaria. [Vii] Embora eu não seja maçom, fui nomeado
como o primeiro Diretor deste centro. É claro que o cuidado da Grande Loja Inglesa
que Yeo sofreu não foi compartilhado por todas as Grandes Lojas Europeias. O
Grande Oriente da Holanda há muitos anos deu boas-vindas aos estudiosos que
desejavam utilizar sua notável biblioteca. [viii] Pouco depois que o livro de Yeo foi
publicado, a Professora Margaret Jacob usou da biblioteca do Grande Oriente e seu
livro resultante, Iluminismo Radical: Panteístas, Maçons e Republicanos [ix] alterou
profundamente a nossa percepção da história cultural da Europa do século XVIII.
[X] A boa-vontade do Grande Oriente da Holanda e, disponibilizar suas coleções aos
estudiosos desempenhou um papel significativo no aumento do interesse
acadêmico pela maçonaria ao longo dos últimos 20 anos. Trevor Stewart
recentemente compilou uma bibliografia de artigos sobre a maçonaria europeia,
que apareceu em periódicos acadêmicos desde 1980. Esta contém 269 itens, e até
mesmo isso dá apenas uma visão parcial de toda a extensão da pesquisa sobre a
maçonaria, uma vez que ela exclui artigos sobre a América, África e Ásia, bem como
periódicos publicados por organismos maçônicos, teses e monografias. [xi] Apesar
de todo esse trabalho, nosso quadro da maçonaria continua fragmentado. Em
muitos países, particularmente na Inglaterra, a Maçonaria é ainda considerada um
assunto exótico, fora do meio acadêmico geral. [xii] Ele é frequentemente
esquecido pelos estudiosos, mesmo quando devesse se ampliar. Por exemplo, a
biografia do Duque de Connaught por Noble Frankland de 1993, que como
GrãoMestre de 1901-1939 foi uma das figuras dominantes na maçonaria inglesa 3
moderna, não faz menção da carreira maçônica do duque. [xiii] O quadro é
naturalmente diferente na Europa e Estados Unidos, onde há um interesse
acadêmico de longa data pela maçonaria, mas até aqui não há um consenso geral
sobre a importância e o significado da maçonaria. A bibliografia de Trevor Stewart
ilustra como a maçonaria é relevante para uma enorme gama de assuntos, desde a
8
história da jardinagem até estudos de teatro, mas os temas mais amplos não são
imediatamente evidentes. Os estudiosos usam, frequentemente, provas maçônicas
simplesmente para confirmar e ilustrar ainda mais os temas e ideias estabelecidos.
A história da maçonaria francesa de Pierre Chevallier é uma das grandes
conquistas da erudição maçônica, mas no final ela apenas reforça a historiografia
republicana tradicional francesa. [xiv] As limitações da pesquisa acadêmica atual
sobre a Maçonaria são simbolizadas por um estudo recente de William Weisberger,
sobre o papel da maçonaria de Praga e Viena no Iluminismo. [xv] Embora o ensaio
documente cuidadosamente as atividades das lojas Checas e Austríacas, o valor do
estudo é limitado por sua visão estereotipada e banal do Iluminismo. [xvi] Trabalhos
como o de Margaret Jacob, que usa elementos maçônicos como um trampolim para
o desenvolvimento de novas perspectivas que alteram nossa visão de todo um
período são extremamente raros. À medida que a exploração dos arquivos
maçônicos por estudiosos continua, que tipo de temas mais amplos surgirá? Se a
pesquisa sobre a Maçonaria afirma ser uma nova disciplina acadêmica emergentes,
quais serão suas características distintivas? Posso apenas esboçar brevemente
algumas das possibilidades aqui, e espero que me perdoem se eu limitar as minhas
observações à Grã-Bretanha, já que este tem sido o foco de minha própria pesquisa.
Dados históricos e sociais nos Arquivos Maçônicos À medida que continuamos a
explorar o arquivo maçônico, encontraremos uma grande quantidade de
informações sobre tipos antigos da história, sobre a realeza, políticos e governos,
e isso não pode ser ignorado. Muitos dos Grãos Mestres ingleses desde 1782 foram
membros da família real, mas o significado disso para a monarquia britânica como
instituição, nunca foi completamente pesquisado. [xvii] A Maçonaria é uma das
instituições britânicas em que a aristocracia ainda exerce grande influência e o
papel da aristocracia na maçonaria britânica oferece uma área frutífera de estudo
para acadêmicos interessados no declínio e queda da aristocracia britânica.
Ocasionalmente, a Maçonaria foi envolvida em eventos políticos mais amplos. Por
exemplo, em 1929, pouco antes da eleição do segundo governo trabalhista, uma
nova loja maçônica, a New Welcome Lodge No. 5139 foi formada a pedido do então
Príncipe de Gales. [xviii] Esta loja era destinada exclusivamente a funcionários e
diretores, membros do partido Trabalhista, e reflete a preocupação de que
militantes do Partido Trabalhista tivessem sido, com frequência recusados por
Lojas Maçônicas. A New Welcome Lodge tinha por objetivo garantir que o novo
governo socialista não se alienasse da maçonaria. 4 Também se esperava que a loja
atraísse mais trabalhadores para a maçonaria, e que os valores maçônicos
reduzissem ‘influências perturbadoras’ no chão de fábrica. [xix] Embora a New
Welcome Lodge tivesse inicialmente muito sucesso no recrutamento de deputados
trabalhistas (incluindo Sir Robert Young, o Presidenteadjunto, Arthur Greenwood,
Ministro dos Negócios Estrangeiros e Vice-Líder do Partido Trabalhista, e Lindsay
Scott, secretário do Partido Trabalhista), [xx], a formação do Governo Nacional
alterou a situação política, e a partir de 1934, a New Welcome Lodge foi aberta a
deputados de todos os partidos e ao pessoal que trabalhava no Palácio de
Westminster, tornando-se, essencialmente, um anexo do Palácio de Westminster.
[xxi] Sem dúvida, as informações mais fascinantes nos arquivos maçônicos são os
detalhes sobre pessoas conhecidas que eram maçons. O reformador social e legal,
Lord Brougham foi iniciado maçom em um impulso, enquanto estava de férias nas
Ilhas Hébridas. [xxii] Foi este um episódio passageiro na vida de Brougham, ou os
valores da maçonaria influenciaram as reformas legais de Brougham? A mesma
9
pergunta pode ser feita sobre muitas outras figuras de destaque na história
britânica que eram maçons. Em julho de 1885, o jornal inglês maçônico, The
Freemason, relacionava membros do governo e da família real que eram maçons.
[xxiii] Entre os citados pelo The Freemason estavam Sir Charles Dilke, Presidente
do Conselho de Governo Local de 1882-1885, que era o líder da facção radical
dentro do Partido Liberal e o mais eminente defensor do republicanismo. Apesar de
seus pontos de vista republicanos, Dilke se tornou um amigo íntimo do príncipe de
Gales. Até onde essa amizade foi fomentada por suas participações na maçonaria?
Da mesma forma, Dilke estava próximo aos líderes republicanos franceses, como
Gambetta, que também eram maçons. A lista do The Freemason também incluía um
dos opositores políticos de Dilke, Lorde Randolph Churchill, pai de Sir Winston
Churchill. Lorde Randolph era um conservador populista cuja personalidade era
uma das mais intrigantes na política do século XIX. No caso de Lorde Randolph, uma
investigação mais aprofundada de sua carreira maçônica seria interessante até
onde ela pudesse ajudar a interpretar seu personagem difícil. Assim como o arquivo
maçônicas fornecem novas informações sobre pessoas, eles, da mesma forma,
lançam uma nova luz sobre os lugares. Os arquivos maçônicos são particularmente
ricos em informações sobre a vida local e as redes sociais. A campanha por um
governo mais democrático da cidade na década de 1820 e 1830 foi ofuscada pelo
movimento pela reforma parlamentar; mas a reforma municipal foi, de certa forma,
um foco mais potente de ativismo político local. Na cidade de Monmouth, nas
fronteiras galesas, uma campanha contra o controle da cidade pelo Duque de
Beaufort criou polêmica local acirrada na década de 1820. [xxiv] Os arquivos do
Grande Loja Inglesa incluem correspondência que fornece novas informações
sobre essa disputa. [xxv] O líder do Partido Reformista, Trevor Philpotts, era o
venerável mestre da loja maçônica local, a Royal Augustus Lodge. Um dos membros
da loja era Joseph Price, membro mal-humorado do grupo que 5 se opunha à
reforma. Em 1821, Price foi acusado por Philpotts de abusar de sua posição como
magistrado, ao conceder tratamento preferencial a um amigo na prisão. A loja
maçônica aprovou uma série de resoluções contra Price, uma das quais se refere
ao seu alegado abuso de sua autoridade judicial. Preço protestou junto ao GrãoMestre, o Duque de Sussex, que este procedimento não era maçônico. O Duque
suspendeu a loja, para desgosto de Philpotts que estava ansioso para que a loja
participasse na próxima consagração de uma loja na cidade vizinha de Newport.
Depois de protestos de Philpotts, o Duque levantou a suspensão da Loja. Esta
notícia foi recebida com alegria na cidade e os sinos da igreja tocaram em festa.
Isto provocou uma nova rodada de correspondência com a Grande Loja, uma vez
que Price reclamou que ele só ouviu falar da decisão do Grão-Mestre neste caso,
quando os sinos começaram a tocar. Espaço Público e Privado Como esse caso
ilustra como as lojas eram uma importante característica da vida local. Desfiles e
procissões eram até recentemente o maior foco da vida pública nas cidades, [xxvi]
e desfiles maçônicos eram particularmente importantes, porque estavam
associados a cerimônias realizadas pela maçonaria para a dedicação dos edifícios
públicos e marcavam etapas importantes no desenvolvimento da cidade. [xxvii] Em
Sheffield, por exemplo, a abertura de um canal proporcionando a primeira ligação
da cidade ao mar em 1819 foi celebrado por procissões das lojas de Sheffield e da
região, e extratos de livros de atas maçônicos descrevendo estas cerimônias foram
emoldurados e exibidos com orgulho na sede da Companhia do Canal. [xxviii] Tais
procissões forneciam uma face pública para a Maçonaria e associavam a
10
Maçonaria à identidade cultural da cidade. Além disso, elas explicitamente
vinculavam os maçons à remodelação física do espaço público urbano. Tais marcos
na remodelação de Edimburgo entre 1750 e 1820 tais como a conclusão dos novos
prédios da universidade, a ponte George IV e as docas em Leith foram marcadas
por enormes procissões maçônicas. [xxix] Em Londres, o Príncipe Regente, que era
Grão-Mestre da Primeira Grande Loja era a força motriz por trás da reabilitação de
grande parte do extremo oeste. Quando o Príncipe como Grão-Mestre inaugurava
formalmente em enormes cerimônias públicas, tais grandes edifícios novos como o
Covent Garden Theatre, no local do atual Royal Opera House, essa conjunção entre
Maçonaria e espaço público alcançava uma expressão muito potente. [xxx]
Enquanto a maçonaria tinha um envolvimento íntimo com o espaço público através
da sua atividade processional, as reuniões de loja, ao contrário, ocorriam em um
espaço privado fechado, guardado pelo Cobridor. Em um artigo recente, Hugh
Urban utilizou as ideias de teóricos como Pierre Bourdieu para analisar as formas
como o espaço fechado e o sigilo da reunião de loja facilitaram a elaboração de
conceitos de poder social e hierarquia no final do século XIX na América. [xxxi]
Alterações em relações espaciais dentro da reunião de loja podiam refletir 6
mudanças sociais mais amplas. Mary Ann Clawson, por exemplo, mostrou como o
uso de cenários de palco com arcos proscênio e quedas elaboradas de cortina em
iniciações do Rito Escocês partir do final do século XIX podem estar relacionados
ao aumento de atividades de lazer que destacavam o consumo de uma audiência
passiva. [xxxii] Na Inglaterra, a expressão mais concreta dessa necessidade de um
espaço fechado foi o desenvolvimento do templo maçônico. Até a década de 1850,
a maioria das reuniões maçônicas tinha lugar em salas de tavernas, um espaço que
estava na fronteira entre o privado e público. [xxxiii] A campanha para a construção
de templos com finalidade maçônica foi uma expressão do fetiche de
respeitabilidade que era uma característica da classe média vitoriana. Em cidades
como Sheffield, os templos maçônicos faziam parte do desenvolvimento de um novo
centro da cidade com praças e prédios públicos. [xxxiv] A criação de tais centros
urbanos foi uma expressão espacial do poder da nova elite urbana de classe média,
destinados a fornecer, nas palavras de Simon Gunn, “um centro simbólico no
coração de um espaço público vazio para afirmar o poder coletivo e a presença da
burguesias provincial”. [Xxxv] Os templos maçônicos no meio desses centros
cívicos, dedicado às cerimônias secretas realizadas por lojas, cuja participação
era, em princípio, aberta a todos os homens respeitáveis da cidade, mas que, na
prática, era cuidadosamente controlado, simbolizava poderosamente a natureza
dessas novas elites. Questões de Sexo, Masculinidade e Emancipação O espaço
como uma expressão de poder e hierarquia é um tema de destaque na ciência
moderna para a qual o estudo da maçonaria tem muito a contribuir. Templos
maçônicos e centros cívicos eram espaços masculinos, distintos de outro
desenvolvimento importantes da cidade no período vitoriano – a loja de
departamentos – vista como um espaço em grande parte do sexo feminino. [xxxvi]
A análise de Catherine Hall e Leonore Davidoff traçando o surgimento, nos séculos
XVIII e XIX de esferas separadas para diferentes sexos influenciou muito o recente
trabalho sobre história social, e fornece outra poderosa ferramenta interpretativa
para a história maçônica. [xxxvii] Isto é demonstrado pelos trabalhos de Robert
Beachy, que recentemente discutiu como escritos apologéticos maçônicos do final
do século XVIII ajudaram a popularizar o estereótipo das diferenças entre homens
e mulheres, [xxxviii] e Mark Carnes, que analisou como os rituais de sociedades
11
fraternais moldaram as visões da masculinidade da classe média na América do
século XIX. [xxxix] Os escritos maçônicos do século XIX são uma rica fonte de
informações sobre o panorama social e moral do homem de classe média. [xl] Por
exemplo, os sermões e discursos maçônicos são uma fonte útil, mas negligenciada
d estudo da mentalidade das nova elites provinciais dos períodos vitoriano e
eduardiano. Um discurso proferido por M.C. Peck, Grande Secretário Provincial de
Reading Norte e Leste de Yorkshire, na sagração de um templo maçônica em Hull
em 1890, 7 descreve as qualidades esperadas de um habitante do sexo masculino
honrado de Hull na época. [xli] Ele devia acreditar em Deus, tratar o seu próximo de
forma justa, e cuidar de seu próprio corpo e mente. Ele deve evitar o desperdício e
a intemperança, e suportar o infortúnio com firmeza. “Maçons nunca devem ser
homens espertos como o mundo os chama, prontos para enganar e explorar seus
companheiros. Quantas vezes ouvimos aqueles elogiarem um homem por sua
perspicácia e habilidades de negócios, mas eles confiariam nele com para seus
próprios negócios? Por outro lado, o homem verdadeiramente justo e honesto é o
mais nobre trabalho de Deus, e ninguém pode merecer mais elogios do que ele!”
Apesar do seu tom confiante, há não muito abaixo da superfície daquelas palavras
uma ansiedade que lembra o comentário de Mark Carnes de que a maçonaria
Vitoriana oferecia trégua das crescentes pressões económicas e sociais do mundo
exterior: ‘mesmo à medida que as classes médias emergentes estavam abraçando
o capitalismo e as sensibilidades burguesas, elas estavam simultaneamente
criando rituais cuja mensagem era largamente oposta àqueles relacionamentos e
valores”. [xlii] Na Inglaterra, o consolo masculino oferecido pela maçonaria estava
intimamente ligado às memórias da escola e da vida escolar. Paulo Rich sugeriu que
as escolas públicas e a maçonaria foram elementos centrais de um ritualismo que
era uma ligação cultural importante do Império Britânico. [xliii] A maçonaria
permitia que o adulto do sexo masculino revivesse os rituais de ligação da escola
ou da universidade. As Lojas eram fundadas especificamente para membros de
determinadas escolas ou universidades, [xliv], que procuravam, nas palavras de
uma circular propondo a formação de uma loja para os antigos garotos de uma
pequena escola primária em Londres, para soldar ‘os estreitos laços de bem
fraternal aquelas amizades que tantos de nós formamos durante nossa vida
escolar’. [xlv] O relacionamento simbiótico entre a vida escolar e a Maçonaria
moderna é encapsulado por um artigo sobre uma loja escolar na Revista da Escola
Aldenham citado por Paul Rich, que declara que ‘eu me pergunto se você realmente
sabia como era a vida na escola até que você entrou’. [Xlvi] Uma história recente de
Christopher Tyerman da Harrow School, onde Sir Winston Churchill foi educado,
destaca o papel central da maçonaria na vida escolar, observando que “Entre 1885
e 1971, os diretores tendiam a ser maçons, assim como muitos governadores e,
muitas vezes, poderosas grupos de mestres e chefes de dormitório. [xlvii] A capela
da escola estava decorada com símbolos maçônicos; em 1937, o Diretor deu aos
meninos um feriado de meio-dia a pedido do Grão Mestre. [xlviii] Tyerman também
observa que a maçonaria era importante na afirmação de interesses do grupo e de
solidariedade profissional dos mestres. [xlix] Esse não era só o caso em escolas
públicas. Dina Copelman estudou os professores das escolas primárias
administradas London School Board, que foi criada em 1870. [l] A maioria desses
professores eram mulheres, muitas delas casadas. [li] Como os seus colegas de
escola pública, os professores do sexo masculino usavam a Maçonaria para afirmar
seus status profissional e social. [lii] Em 1876, a Loja Crichton foi fundada por um 8
12
grupo de professores e funcionários da London School Board, incluindo o seu
Presidente e Secretário, e fundaram outras lojas incluindo principalmente
professores no sul de Londres. [Liii] Estes meios de exibir credenciais de classe
média não estavam disponíveis para as professoras, e seu status social e
profissional era mais tênue. O estudo de Copelman explora a fronteira entre as
“duas esferas” e sugere que o processo de troca social entre os sexos era
complexo. Talvez, os aspectos mais interessantes da maçonaria e sexo sejam
aquelas áreas que confrontam as claras divisões de um modelo de “duas esferas”.
A retórica vitoriana tardia de diferença sexual retratava as mulheres como clientes
e consumidoras, mas os espaços privados da loja maçônica permitiam aos homens
se dar o luxo de exibição visível. Os maçons compravam joias de enorme valor para
usar em suas lojas, e decoravam seus templos com móveis e acessórios de grande
opulência. [liv] Nas lojas maçônicas, como Kennings em Londres eles tinham suas
próprias lojas de departamentos. [lv] De maneira semelhante, a filantropia era uma
área em que diferentes gêneros tiveram papéis distintos. [lvi], mas a atividade
caritativa maçônica poderia tranquilamente atravessar algumas dessas distinções.
Acima de tudo, no outro sentido, a maçonaria de mulheres ofereceu uma saída
social significativa para as mulheres. Janet Burke e Margaret Jacob argumentaram
que a as Lojas de Adoção possibilitaram que as mulheres, através da maçonaria, se
envolvessem com a sociedade civil emergente no século XVIII. [LVII] James Smith
Allen e Mark Carnes recentemente documentaram a ampla participação das
mulheres em organizações fraternais no século XIX, [lviii] enquanto a CoMaçonaria,
através de figuras como Annie Besant e Charlotte Despard desempenhou um papel
significativo no movimento pelo sufrágio feminino [lix] com mulheres maçons
comparecendo a marchas pelo sufrágio usando seus paramentos. [lx] Raça,
Império e Nacionalidade No passado, havia uma ênfase exagerada na importância
da atividade econômica como um componente da identidade social. O estudo de
gênero tem sido uma maneira em que os estudiosos vêm demonstrando a
complexidade da identidade social; outra foi a raça, uma área onde a pesquisa
sobre a Maçonaria oferece possibilidades emocionantes. A ilustração mais
conhecida disto é a maçonaria Prince Hall, a forma de maçonaria organizadas pelos
negros nos Estados Unidos, [lxi] que tem sido vista por estudiosos como William
Muraskin e Loretta Williams como importante na definição e na criação de uma
classe média negra na América [LXII], apesar de Williams em particular, enfatizar a
contradição entre a ideologia universalista da Maçonaria e o caráter distinto
segregado da maçonaria Prince Hall. [lxiii] Existem muitas outras áreas em que a
Maçonaria oferece percepções sobre a etnia, que são menos bem exploradas. A
Maçonaria foi um importante 9 componente cultural do Império Britânico. O Pro
Grão Mestre inglês Lorde Carnarvon declarou na década de 1880 que “Aonde a
bandeira vai, lá vai a maçonaria para consolidar o Império. [Lxiv] A loja de raça
mista oferecia um espaço social em que o colonizador e o colonizado se misturavam
no Império Britânico. Rudyard Kipling declarado de sua loja, em Lahore, que “não
há coisas tais como infiéis entre os Irmãos pretos e marrons”. [lxv] A importância
desta área de pesquisa foi brilhantemente demonstrada por um estudo de Augustus
CaselyHayford e Richard Rathbone da maçonaria em Gana colonial. [lxvi] Isto
mostra como “a maçonaria estava entre as malas e bagagem tanto do império
formal quanto do informal. [lxvii] Ela facilitava contatos comerciais e oferecia um
meio de sinalização “realização, muito trabalho, dignidade e, em alguns casos
berço de ouro”. [lxviii] Ela oferecia um vínculo importante nas políticas racial e
13
nacional da colônia, com muitos membros do Congresso Nacional da África
Ocidental sendo maçons. Intimamente relacionado com a raça é o papel da
maçonaria na formação da identidade nacional. Por exemplo, na Grã-Bretanha a
maçonaria era uma poderosa expressão do estabelecimento Hanoveriano, [lxix],
enquanto que era, por outro lado, em França, na década de 1870, uma das forças
por trás do desenvolvimento do moderno republicanismo francês. [lxx] A interação
entre a maçonaria, nacionalidade, raça e classe é muito bem ilustrada por um
estudo clássico de Abner Cohen da maçonaria em Serra Leoa, que é um modelo de
como a pesquisa acadêmica de Maçonaria deve ser realizada. [lxxi] Cohen
descobriu que, em 1971, existiam dezessete lojas maçônicas em Freetown, com
cerca de dois mil membros, a maioria dos quais era Africana. A maioria destes
maçons negros eram Creoles, descendentes de escravos emancipados entre 1780
e 1850, um grupo alfabetizado, altamente educado e profissionalmente
diferenciado, que foram primeiro considerados e em seguida menosprezados pelos
administradores britânicos. Cohen constatou que um em cada três Creoles eram
maçons. Cohen relacionou o envolvimento Creole na maçonaria aos ataques sobre
o poder Creole durante o período a partir de 1947. Ele concluiu que “em grande
parte sem qualquer política consciente ou projeto, os rituais e organização
maçônicos ajudaram a articular uma organização informal que ajudou os Creoles a
proteger a sua posição diante de ameaça política”. [lxxii] Redes Sociais O estudo
de Cohen levanta um tema final importante, o das redes sociais. Como estudiosos
têm explorado cada vez mais a natureza pluralista da identidade social, a
importância da análise das redes sociais tornou-se evidente. Fatores tais como a
medida que todo mundo conhece todo mundo (“acessibilidade”); as diferentes
formas como as pessoas estão ligadas (“multiplexidade’) e as obrigações impostas
pelas redes a seus membros (“ intensidade”) são essenciais para a compreensão
de como as sociedades locais, a maçonaria e outros grupos fraternais têm um efeito
importante sobre essas dinâmicas. [lxxiii] Os arquivos maçônicos são ricos em 10
material para pesquisar redes sociais, não apenas em fontes tão óbvias quanto
listas de adesão, mas também em petições e correspondência, onde, ao discutir a
necessidade de uma loja, suas conexões sociais podem ser descritas. Por exemplo,
uma carta de uma loja formada por trabalhadores em Stratford, no leste de Londres,
protestando contra uma decisão da Grande Loja Inglesa de que ela era um corpo
maçônico espúrio, contém a seguinte declaração incomumente explícita das
vantagens da maçonaria para o artesão Vitoriano: ‘Stratford e sua vizinhança
contêm uma população de cerca de milhares de hábeis mecânicos, artesãos e
engenheiros, muitos dos quais, por suas realizações superiores ou pelas exigências
do comércio são chamados a exercer sua vocação em vários estados da Europa
continental ou em nossas próprias possessões coloniais e a quem, portanto, as
vantagens decorrentes da Fraternidade Maçônica são de grande importância.
’[lxxiv]. O potencial entusiasmante de uma abordagem que analisa a interação entre
a Maçonaria e outras redes sociais, tais como contatos profissionais e a
participação em outras organizações fraternais, foi recentemente demonstrado por
dois artigos excepcionais relacionados com duas profissões muito diferentes. O
estudo de Simon McVeigh sobre maçonaria e vida musical em Londres do século
XVIII mostrou como a maçonaria ajudava para garantir patrocínio e trabalho para
músicos e também apoiava alianças profissionais, às vezes de maneira
surpreendente. [lxxv] O estudo de Roger Burt sobre a maçonaria Cornish no século
XIX chega a algumas conclusões interessantes sobre a composição social das lojas
14
maçônicas no sudoeste da Inglaterra. [Lxxvi] Ele constatou que “as lojas eram
dominadas em sua maioria por jovens (a maioria dos iniciados tinha menos de 30
anos) de grupos de classe média e “pequeno-burgueses” de interesses mercantis
e de produção, profissionais e operadores de pequenos negócios.” [LXXVII] Os
registros da participação Cornish refletem a crescente mobilidade desse grupo
social, e a maçonaria pode ter ajudado a estabelecer contatos internacionais a
promover o emprego rentável no exterior. Conclusões A pesquisa sobre a
maçonaria explora as conexões entre esses grandes temas da moderna erudição
tais como espaço público, gênero, raça e redes sociais. Estes temas
essencialmente giram todos em torno de uma questão mais importante: a
construção da identidade social e o estudo da maçonaria, porque ele está
relacionado com uma identidade que é pública e oculta ao mesmo tempo e fornece
uma perspectiva única sobre o assunto. Metodologicamente, o estudo da
maçonaria apresenta muitos desafios, mas o ponto que deve ser observado aqui é
o seu caráter intrinsecamente interdisciplinar. A natureza dos arquivos maçônicos
significa que o pesquisador de maçonaria precisa usar muitos tipos diferentes de
mídia: os textos que vão desde listas de membros até rituais, joias, banners,
gravuras, música e artefatos de vários tipos diferentes. [lxxviii] A interpretação de
11 tais materiais exige uma mistura de habilidades acadêmicas. Mark Carnes
observou como suas pesquisas exigiram “excursões nos campos da história
religiosa e da teologia; educação infantil e psicologia do desenvolvimento; a história
das mulheres e estudos de gênero, e antropologia estrutural e cultural”. [lxxix]
Embora estudiosos frequentemente aspirem a interdisciplinaridade, eles
raramente a atingem. O estudo da maçonaria talvez possa servir de modelo para
estudos interdisciplinares. Os temas que eu discuti estão na vanguarda da pesquisa
em ciências humanas e sociais, mas suas raízes estão no antigo pensamento,
refletindo tanto as mudanças sociais dos anos 60, e particularmente a resposta aos
acontecimentos franceses de 1968, [lxxx] e o desafio colocado aos modelos
marxistas pelo colapso da União Soviética. Embora o estudo da Maçonaria possa
contribuir muito para aquelas preocupações intelectuais, ainda mais emocionante
é a questão de como ela ajudou a formar completamente novas agendas
intelectuais. Será que os acontecimentos de 11 de setembro de 2001 terão um
impacto de nível global tão grande quanto os de maio de 1968? É cedo demais para
dizer, mas há indícios de que, seja qual for o resultado, as reações à maçonaria
terão novo significado. A maneira em que a destruição do World Trade Center deu
origem, paradoxalmente, a uma nova forma de antissemitismo foi bem
documentada. [lxxxi] Tem havido pouca discussão sobre a nova anti-maçonaria.
Dentro de poucos dias depois dos atentados em Nova York, publicações em sites
na Internet atribuíam os ataques aos Illuminati, traçavam paralelos entre as Torres
Gêmeas e as colunas maçônicas Jaquim e Boaz, e utilizavam numerologia espúrias
para sugerir o envolvimento maçônico nos ataques. [lxxxii] Isto é deplorável, mas
talvez não seja surpreendente. Mais significativo para o longo prazo é a maneira em
que os ataques à maçonaria fazem parte das denúncia muçulmanas extremas de
valores ocidentais. Houve uma longa história de grupos árabes circulando libelos
desacreditado dos Protocolos dos Sábios de Sião. Nos últimos anos, entretanto,
alguns muçulmanos, com base na literatura antimaçônica ocidental, vêm ligando a
maçonaria à figura do Dajjal, o anticristo. [lxxxiii] Essas ideias foram inicialmente
desenvolvidos em 1987 pelo escritor egípcio, Sa’id Ayyub. [lxxxiv] Na Inglaterra,
uma figura-chave na elaboração e popularização dessas ideias foi David Musa
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Pidcock, um consultor de máquinas Sheffield, que se tornou muçulmano em 1975 e
é o líder do Partido Islâmico da Grã-Bretanha. [lxxxv] A ideia de que os maçons
adoram o Dajjal tem se tornado comum em comunidades muçulmanas na Inglaterra
e em outros lugares. Nos últimos meses, sites islâmicos publicaram análises
entusiasmadas de uma fita de áudio chamada Shadows, produzida por uma
companhia de Londres, Hallaqah Media, que argumenta que os maçons criaram
uma nova ordem mundial e são os servos do Dajjal. [lxxxvi] Se estamos no início de
uma luta para proteger e 12 reafirmar os valores seculares do Iluminismo, [lxxxvii]
é inevitável que o estudo da maçonaria, muito ligada à criação desses valores,
assumirá nova relevância. NOTAS – CLIQUE AQUI OUTRAS LEITURAS
RECOMENDADAS – clique aqui Apêndice 1 – A Iniciação de Lord Brougham
Apêndice 2 – A Loja New Welcome nº 5139 Apêndice 3 – Uma disputa maçônica em
uma pequena cidade Apêndice 4 – Um desfile maçônico em Sheffield Apêndice 5 –
Lançamento de pedra fundamental Apêndice 6 – Abertura da nova loja maçônica
New Sheffield, Surrey Street Apêndice 7 – O Cavalheiro Maçom Apêndice 8 –
Petição para a Crichton Lodge No. 1641 Apêndice 9 – Co-Maçonaria Apêndice 10 –
A Maçonaria Prince Hall na Carolina do Norte Apêndice 11 – Contos Maçônicos do
Raj Apêndice 12 – The Indian Freemason’s Friend Apêndice 13 – Uma loja da classe
trabalhadora na Zona Leste de Londres O Prof. Dr. Andrew Prescott estudou
história na Universidade de Londres e foi nomeado curador no Departamento de
Manuscritos da Biblioteca Britânica, em 1979. Ele está em uma cessão de três anos
pela Biblioteca Britânica à Universidade de Sheffield, onde ele é diretor do novo
Centro de Pesquisa de Maçonaria, o primeiro de tais centros a ser criado em uma
universidade britânica. Em 2007, deixou o cargo. Publicado em
http://www.freemasons-freemasonry.com/andrew_prescott.html
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