Baixar este arquivo PDF - Revista Ciências da Saúde

Transcrição

Baixar este arquivo PDF - Revista Ciências da Saúde
REVISTA
CIÊNCIAS
DA SAÚDE
Editora da UFSC
REVISTA
CIÊNCIAS
DA SAÚDE
ISSN 0101 – 9546
Revista Ciências da Saúde
Florianópolis
V. 24 N. 1/2
P. 1-103
2005
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Reitor: Lúcio José Botelho
Vice-Reitor: Ariovaldo Bolzan
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Diretor: Cleo Nunes de Sousa
EDITORA DA UFSC
Diretor Executivo: Alcides Buss
Conselho editorial
Eunice Sueli Nodari (Presidente)
Cornélio Celso de Brasil Camargo
João Hernesto Weber
Luiz Henrique de Araújo Dutra
Nilcéia Lemos Pelandré
Regina Carvalho
Sérgio Fernando Torres de Freitas
Revista Ciências da Saúde é uma revista semestral editada pelo Centro de
Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina.
Comissão Editorial: Tânia Silvia Fröde (Editora-chefe), Roberto Henrique Heinish,
Inês Beatriz Rah, Liliane Janete Grando, Elisabeth Wazlawik, Letícia Scherer
Koester, Maria Itayra Coelho de Souza Padilha.
Comissão Consultiva: Cleusa Rios Martins (UFSC); Deisi Maria Vargas (FURB); Denise
Guerreiro (UFSC); Denise Maria Belliard Oleiniski (UFSC); Eduardo Monguilotti Dalmarco
(FURB); Elizabeth Wazlawik (UFSC); Emília Addison (UFSC); Francisco de Assis Guedes
de Vasconcellos (UFSC); João Luiz Gurgel Calvet da Silveira (FURB); Letícia Koester
(UFSC); Eliete Canes de Souza (UFSC); Luciane Peter Grilo (Univali); Marcos Antônio
Segatto Silva (UFSC); Marlene Zanin (UFSC); Maurício Pereima (UFSC); Mercedes
Gabriela Ratto Reiter (FURB); Mercedes Raiter (FURB); Miriam de Barcellos Falkenberg
(UFSC); Ricardo Vieira (UFSC); Rosane Gonçalves Nitschke (UFSC); Rossana Pacheco da
Costa Proença (UFSC); Silvio Monteiro (UFSC); Vera Tramonte (UFSC).
Editoração: Flávio Fontes de Oliveira e Claudia Crespi Garcia
Capa: Paulo Roberto da Silva
Secretário: Luiz Vicente Vieira
(Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da
Universidade Federal de Santa Catarina)
Revista Ciências da Saúde / Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de
Ciências da Saúde. -- v.1, n.1 (1982)- , - Florianópolis: Imprensa Universitária, 1982.
v.: 27cm
Semestral
ISSN 0101-9546
1.Ciências Médicas. 2. Saúde – pesquisas I. Universidade Federal de Santa
Catarina. II Centro de Ciências da Saúde.
Indexada na Base de Dados LILACS
Endereço:
Revista Ciências da Saúde - Secretaria do Centro de Ciências da Saúde da UFSC
Campus Universitário - Trindade
Caixa Postal 476
88040 970 - Florianópolis - SC
Telefone (0xx) 48 3721-9525 / 3721-9783 / (0xx) 48 3721-9712 ramal 211
SUMÁRIO
Editorial............................................... 08
GESTANTES E SAÚDE BUCAL: UM
ESTUDO
DE
REPRESENTAÇÃO
SOCIAL [Pregnants and oral health: a
social representation study] Mirelle
Finkler; Denise Maria Belliard Oleiniski;
Flávia Regina Souza Ramos.............. 10
ESTUDO COMPARATIVO DOS PERFIS
DE DISSOLUÇÃO DE COMPRIMIDOS
DE HIDROCLOROTIAZIDA (HCTZ)
COMERCIALIZADOS
NO
BRASIL
[Comparative study of dissolution
profiles of hydrochlorothiazide tablets
marketed in Brazil] Ariane Pinheiro Cruz;
Talize Foppa; Patrik Oening Rodrigues;
Teófilo Mazon Cardoso; Hellen Karine
Stulzer;
Marcos
Antonio
Segatto
Silva.................................................... 19
EVOLUÇÃO
HISTÓRICA
DO
NUTRICIONISTA
EM
SANTA
CATARINA (1980 – 2003) [Nutritionist’s
historic evolution in the state of Santa
Catarina, Brazil (1980-2003)] Francisco
de Assis Guedes de Vasconcelos;
Camila
Elizandra
Rossi;
Mirele
Costa................................................... 27
IMPORTÂNCIA
ALIMENTAR
DOS
MOLUSCOS MARINHOS [Nutritional
importance
of
sea
molusks
consumptions] Jane Parisenti; Vera
Lúcia Cardoso Garcia. Tramonte........ 35
DÉFICITS DE AUTOCUIDADO DE
ADULTOS
COM
PROBLEMAS
RESPIRATÓRIOS CRÔNICOS: ASMA
E DPOC [Self-Care Deficiencies in
Adults
with
Chronic
Respiratory
Problems: Asthma and DPOC] Sabrina
da Silva de Souza; Janis Mantelli;
Denise Maria Guerreiro Vieira da Silva;
Miriam Süsskind Borenstein; Maria
Cristina Garcia Kehring Salvador........ 42
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE
PARA
O
ENVELHECIMENTO:
a
ousadia de cumprir a lei [The daringness
to
comply
with
the
law:
the
implementation of the Elderly Statute in
the contexto of a Brazilian public health
system]
Ana
Cristina
Passarella
Brêtas.................................................. 50
REFLETINDO
UMA
PRÁTICA
PEDAGÓGICA EMANCIPADORA NA
ENFERMAGEM [Reflecting upon an
emancipative
pedagogical
Nursing
practice] Sabrina da Silva de Souza;
Mariza Maria Serafim Mattosinho; Maria
Seloi Coelho........................................ 55
PROMOÇÃO DO ENVELHECIMENTO
SAUDÁVEL: um olhar sobre as práticas
de cuidado e de promoção da saúde dos
idosos rurais [Promotion of healthy
aging: a look at care practices and the
promotion of health for the rural elderly]
Marilene Rodrigues Portella................ 62
REABILITAÇÃO
DO
PACIENTE
GERIÁTRICO
INCONTINENTE
[
Rehabilitation of geriatric patient with
urinary incontinence] Patrícia Fera;
Maria Alice dos Santos Lelis; Regiane
de Quadros Glashan........................... 70
UNIVERSIDADE
ABERTA
DA
TERCEIRA
IDADE
EXTRA-MURO:
PROMOVENDO O ENVELHECIMENTO
SAUDÁVEL [Third age outreach open
university: promoting healthy aging]
Edméia Campos Meira; Andréa dos
Santos Souza. Alba Benemérita Alves
Vilela; Edite Lago da Silva Sena......... 74
A ENFERMAGEM NO CONTEXTO DAS
DEMÊNCIAS: um modelo assistencial
[Nursing in the contexto of dementias: an
assistance model] Ceres Eloah de
Lucena
Ferretti;
Paulo
H.
F.
Bertolucci............................................ 83
A. C.; Torres,G. G.; Pereira, K. G.;
Borenstain, M. S................................. 92
Resumos
Cuidado de enfermagem a criança e
família em situação de emergência
baseado na Teoria de Consecução de
metas de Imogene King. Brandão,D.S.;
Costa,K. R.; Vieira, M.; Farias, M. E.;
Faria, A. M.......................................... 93
Assistência
de
Enfermagem
na
prevenção e controle de infecção ao
paciente internado na Unidade de
Terapia Intensiva. Licinio Junior,N. J.;
Nascimento, E. R. do.......................... 90
Promovendo autonomia para o cuidado
humanizado ao portador de HIV AIDS
em tratamento por anti-retro-viral
fundamentada na teoria de Jean
Watson. Vieira, L. C.; Tesse, K. R.;
Erdmann, A. L..................................... 90
Amamentação materna: uma proposta
assistencial
direcionada
ao
serpuérpera-adolescente e sua família,
fundamentada na teoria do autocuidado
de Dorothea Orem. Isensee, E.; Brito, V.
S.; Santos, E. K. A.............................. 90
Fortalecendo a competência do sermulher/gestante para o autocuidado:
uma experiência assistencial à luz da
Teoria de Orem. Silva, F. N.;
Guesser,O.; Santos, E. K. A............... 91
Cuidando
de
gestantes
e
acompanhantes
em
busca
da
humanização. Buzzello, C. S.; Jesus, G.;
Zampieri, M. F. M……………………... 91
Assistência à saúde da mulher:
promovendo o autocuidado da mulher
no climatério. Dal Ri, M.; Zolnowski S.;
Coelho, E. B.S.................................... 92
O cuidado de enfermagem humanizado:
uma
vivência
de
interações
enfermeira/recém-nascido/família
na
unidade neonatal. Bardt, A.; D’Ávila, F.
S.; Zellner, M.; Oliveira, M. E.............. 92
Desmistificando
a
doença
cardiovascular: educação em saúde
como suporte para o autocuidado. Silva,
A enfermagem como facilitadora da
aproximação cultural da mulher-mãe,
recém-nascido e família em Alojamento
Conjunto, fundamentada na Teoria da
diversidade
e
Universalidade
do
Cuidado Cultural de Madeleine. Sebold,
A.P.; Correa, F.; PettersV. R............... 93
O processo educativo de saúde como
prática de enfermagem junto a um
conselho local de saúde para construção
do controle social no SUS. Petry, A. P.;
Farias, L. C.; Verdi, M. I...................... 94
Saúde do trabalhador práxis educativa:
refletindo sobre os riscos ocupacionais.
Noceti, J. P.; Crispim, C. H.; Gelbcke, F.
L.......................................................... 94
Assistência de enfermagem ambulatorial
ao idoso em uso de medicamentos
baseada
na
teoria
de
cuidado
transcultural de Leininger. Souza,V. N.;
Ignona,M. J. S.; Gonçalves, L. H. T.... 95
Assistência de enfermagem domiciliar a
idosos e seus familiares na comunidade
do Pântano do Sul/Fpólis-SC, baseada
na Teoria da enfermagem Transcultural
de Leininger. Vicente, C. A.; Silva, M. C.
M.; Gonçalves, L. H. T........................ 95
Cada dia um novo dia: um desafio na
busca da adaptação do recém-nascido
portador de má formação, e sua família.
Dias, A. G.; Minuzzi, A. P.; Oliveira, M.
E.......................................................... 95
Condição crônica de saúde: um enfoque
dialógico no cuidado transcultural.
Garcia,C. C.;
Martendal, M. P.;
Goronzo, T. A.; Silva, D. M. G. V. da;
Backes, M. S...................................... 96
Orientação pré-operatória ao cliente –
uma medida preventiva aos estressores
do processo cirúrgico. Souza, A. A.;
Souza, Z. C.; Fenili, R......................... 96
Assistência
de
enfermagem
préhospitalar, junto ao corpo de bombeiros,
e intra-hospitalar, na unidade de
emergência do hospital regional de São
José “Dr. Homero de Miranda Gomes”
fundamentada
na
Teoria
das
Necessidades
Humanas
Básicas.
Cunha, E. L.; Lago, L. M.; Eich, M.;
Prado, M. L.; Radünz, V...................... 96
Estando
com
adolescentes
que
experienciam medida sócio-educativa de
privação de liberdade. Santos, L. C.;
Kretzer, M. S.; Ghiorz, A. da R.......... 97
O pai como foco central no processo de
nascimento: uma proposta assistencial
baseada na teoria Transcultural de
Madeleine Leininger. Rossi, C. C.;
Andrade, P.; Gregório, V. R. P............ 97
Um começo de vida inesperado:
assistência de enfermagem na Unidade
Neonatal promovendo a formação do
apego entre recém-nascidos prematuros
e seus pais. Franceschi Junior, A. N.;
Passos, L.; Caetano, T. L.; Monticelli,
M......................................................... 97
Administrando,
informatizando
e
assistindo o cliente em condição crítica
de saúde internado na UTI. Rosso, E.
G.; Sifron, K. G.; Bub, M. B. C............ 98
Desenvolvendo
habilidades
administrativas e assistenciais de
enfermagem em unidade hospitalar de
cuidado ao paciente crítico. Rossetto,
A.P.; Pinheiro,G. C.; Crestani, M. M.;
Nascimento, E. R. P.; Gelbcke, F.
L.......................................................... 98
Rumo a assistência de enfermagem
informatizada em UTI – a definição de
um banco de dados. Schmitz, L. M.;
Klauck, M. L.; Vieira, T. T.; Bub, M. B.
C......................................................... 99
Alimentos funcionais: um novo campo
de trabalho para o farmacêutico.
Zimmermann, J. V.; Leite, R. S.;
Campos, C. M. T................................. 99
Desenvolvimentos
de
anamnsese
estruturada para avaliar a relação do
estresse com a doença cárie dental.
Amante, C. J....................................... 99
Normas de Publicação...................... 101
Revista Ciências da Saúde
Editorial
A apresentação de uma revista ao público não é tarefa
fácil, ainda mais quando a maioria dos leitores pertence ao
mundo acadêmico ou são colegas da área da saúde e,
certamente, com expectativas elevadas em relação aos
veículos de informação.
Nesta Edição procuramos enfatizar a principal mudança
em relação às normas para publicação. Isto se deve a
implementação e atualização das mesmas com o intuito de
melhorarmos a qualidade e indexação da revista.
Além disso, a decisão foi de publicar contribuições
científicas originais de pesquisadores do campo da área da
Saúde e não apenas dos professores do Centro de Ciências da
Saúde. Outra mudança que acredito ser importante é em
relação ao corpo de Avaliadores externos. Neste ano contamos
com a participação de muitos Pesquisadores externos à UFSC,
como por exemplo, USP-São Paulo, Univalli-Itajaí, FurbBlumenau, entre outras. Este fato denota a melhoria e o rigor
na avaliação dos trabalhos publicados em nossa revista. O
novo periódico nasce assim com expectativa de alcançar
abrangência nacional e de granjear progressivamente o
reconhecimento internacional. Esta iniciativa conjunta do
corpo Editorial e da direção do Centro de Ciências da Saúde
representada pelos Profs. Drs. Cleo Nunes de Souza (diretor) e
Kenia.Schimitt Reibnitz (vice-diretora) UNIDA propõe construir
uma forte revista científica da área da saúde brasileira,
buscando inclusive sua qualificação junto aos indexadores de
produção científica no país. Pretende também cumprir o
objetivo de continuar apoiando a sistematização de
experiências de mudança nos processos de formação e na
prática dos profissionais de saúde.
Este número da Revista Ciências da Saúde apresenta
treze artigos científicos completos e 26 resumos representados
pelas áreas de Análises Clínicas, Enfermagem, Farmácia,
Nutrição e Odontologia. Estes trabalhos seguiram o trâmite
normal do julgamento por pares, conduzido em caráter sigiloso
sob o comando de Editores Associados. Já está se tornando
uma característica regular da Revista da Saúde apresentar
grande diversidade temática, de método e de vínculo
institucional dos autores, distribuídos por todo o país.
Outro fator importante é a de tomarmos conhecimento
das pesquisas realizadas no Centro de Ciências da Saúde da
UFSC para podermos interagir e assim buscarmos a
interdisciplinaridade. Este é um passo importante e exigido
8
pelos órgãos de fomento que regulam os Programas de Pós-Graduações no país.
Estes trabalhos incluem: artigos científicos originais da área da Odontologia,
enfermagem, Análises Clínicas, Farmácia e nutrição; Trabalhos de conclusão de
cursos na área da enfermagem e Farmácia; e Resumos de tese de doutorado na
área de odontologia.
Prezado Leitor, sinta-se bem-vindo à Revista Ciências da Saúde. Que essa
leitura possa acrescentar-lhe conhecimento, acompanhado de satisfação. Sinta-se
igualmente convidado a participar da construção desta Revista, enviando seus
trabalhos, comentários e sugestões e divulgue-a entre seus colegas.
Atenciosamente
Tânia Silvia Fröde
9
Finkler, M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 10-18, jan./dez. 2005
GESTANTES E SAÚDE BUCAL: UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÃO SOCIAL1
[Pregnant women and oral health: a social representation study]1
Mirelle Finkler2 ; Denise Maria Belliard Oleiniski3 ; Flávia Regina Souza Ramos4
Resumo: Este trabalho apresenta uma das categorias obtidas em pesquisa qualitativa, no que se refere
ao objetivo de compreender a representação social de gestantes sobre questões relacionadas a sua
própria saúde bucal. Os resultados proporcionam uma aproximação com as experiências, valores,
necessidades e expectativas das gestantes, contribuindo para a qualificação dos profissionais que
lidam com a educação em saúde e favorecendo a interação e o diálogo entre os saberes científico e
popular, no sentido da promoção de saúde e construção da cidadania.
Palavras-chave: Saúde bucal. Assistência odontológica. Gravidez. Mulheres grávidas.
Abstract: This paper presents one of the categories obtained by qualitative research, related to the
objective of understanding pregnant women’s social representation about issues related to their own
oral health. The results provide an approximation to the pregnant women’s experiences, values, needs
and expectations, contributing to professional qualification for those who deal with health education
and favoring the interaction and the dialogue between the scientific and the popular knowledge, in a
sense of health promotion and citizenship.
Keywords: Oral health. Dental care. Pregnancy. Pregnant women.
Introdução
O Brasil é um país detentor de altos
índices de prevalência de doenças bucais,
apesar da nova e recente tendência de
declínio, pelo menos da cárie dental, nas
crianças e adolescentes. A situação de saúde
bucal não foge à regra da saúde de uma
forma geral, que revela através da
epidemiologia um país com grandes
desigualdades sociais, mas é agravada pelo
sistema de prestação de serviço odontológico
deficiente, aliado a uma prática odontológica
iatrogênico-mutiladora1-3.
Modificar esta realidade, levando-se
em consideração as necessidades da
comunidade assistida, deve ser o propósito
de todos os profissionais da Odontologia que
trabalham em prol da saúde coletiva.
____________________
Almeja-se uma prática odontológica mais
humana, eficiente e eficaz, que respeite
democraticamente
a
dignidade
dos
indivíduos e dos grupos, dentro de seu
contexto histórico, social e cultural e que
consiga, dessa forma, promover a saúde geral
através da saúde bucal.
Para tanto, os trabalhos de promoção
de saúde requerem, primeiramente, um
conhecimento
aprofundado
sobre
a
população com a qual se irá trabalhar.
Contudo, são poucas as pesquisas em
Odontologia
que
propiciam
esse
conhecimento, considerando as pessoas e
seus comportamentos a partir de sua inserção
social, valores, crenças, ou seja, de seu
sistema de significação4,5. Esse tipo de
estudo exige uma abordagem diferente da
qual a área tradicionalmente tem se utilizado.
1
Parte da Dissertação de Mestrado da primeira autora, intitulada “Representações sociais de gestantes sobre
saúde bucal: uma referência para repensar a assistência odontológica matrno-infantil 2003. 163f. Dissertação
(Mestrado em Odontologia) – Curso de Pós-Graduação em Odontologia, Universidade Federal de Santa
Catarina, 2003.
2
Cirurgiã-dentista. Mestre em Odontologia. Professora Substituta do Departamento de Estomatologia / UFSC.
3
Cirurgiã-dentista. Doutora em Odontologia. Professora Adjunta II do Departamento de Estomatologia /
UFSC e do Programa de Pós-Graduação em Odontologia / UFSC – Orientadora.
4
Enfermeira. Doutora em Filosofia de Enfermagem. Professora Adjunta IV do Departamento de Enfermagem /
UFSC e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem / UFSC – Co-orientadora
A metodologia de pesquisa chamada
qualitativa,
enraizada
na
Antropologia
10
Finkler, M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 10-18, jan./dez. 2005
Social, tem por pressuposto que o real só
pode ser apreendido a partir da ordem
simbólica, uma vez que a realidade é uma
construção social. Neste contexto, a saúde e
a
doença
possuem
uma
realidade
independente de sua definição biomédica6,
pois geram uma necessidade permanente de
serem interpretadas no âmbito das
conversações grupais. A doença ultrapassa o
saber médico, abrange também o saber do
cotidiano leigo, o senso comum7. Possui uma
dimensão
individual,
presente
nas
experiências de adoecer, e outra social,
refletida nas permanências culturais das
representações8.
As representações sociais, cuja teoria
foi proposta por Moscovici em 1961, são
formas de conhecimento que circulam na
sociedade, que são parte da cultura erudita,
científica e popular, que se misturam, se
retroalimentam mutuamente e se apresentam
como recursos sociais para que uma
comunidade possa dar sentido à sua
realidade e conhecer o que está
acontecendo9.
As representações sociais têm sido
amplamente utilizadas na pesquisa social em
saúde8, pois a densidade existencial
intrínseca à área, a especificidade da
articulação entre o conhecimento científico e
os tradicionais e/ou divulgados pela mídia,
favorecem a atualização de significações e
de valores socialmente compartilhados, para
os quais a teoria das representações sociais é
particularmente apropriada10.
Uma ação de saúde pode tornar-se
ineficaz quando nem sequer se conhece o
que pensam as pessoas ao nível de
representação e quais são as informações que
têm sobre sua saúde. A teoria das
representações sociais contribui para a
identificação dessas necessidades e oferece
às práticas de saúde outras contribuições, tais
como abandonar a visão do processo
educativo em saúde como um simples
processo de transmissão de informações e
retomar o encontro do conhecimento
científico com o senso comum11.
Entendendo a família como um
espaço primário de relacionamento social, as
mulheres e mães exercem uma influência
especial12, principalmente nas questões
relacionadas à saúde, pois atuam como
agentes produtoras de conhecimentos,
informações e atitudes que visam à
promoção da sua saúde e a de toda a sua
família13,14.
O período da gestação é considerado
um momento ímpar na vida da mulher, no
qual ela se encontra bastante receptiva a
informações relacionadas ao futuro filho e à
transformações de comportamentos pessoais
e familiares. As gestantes são, por esta razão,
consideradas um grupo especial para os
trabalhos de educação em saúde4,13,14.
Compreender suas representações sociais
sobre a própria saúde bucal, objetivo desta
pesquisa*, contribuiria, portanto, para a
interação e o diálogo entre os saberes
científico e popular, etapa fundamental para
a construção de modos de trabalho capazes
de se reverter em reais benefícios para a
população15.
Metodologia
Considerando-se os aspectos éticos
que envolvem as pesquisas com seres
humanos, o projeto desta pesquisa foi
avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos da UFSC,
sendo que a concordância das gestantes em
participar da pesquisa e a permissão para a
sua realização nas instituições selecionadas
foram obtidas através de Termos de
Consentimento Livre Esclarecido.
As gestantes entrevistadas foram
encontradas através de dois locais de
serviços
de
saúde
pré-natais
em
Florianópolis, um público e outro privado,
conseguindo-se, dessa forma, incluir no
estudo pessoas das diferentes classes sociais
que formam o senso comum.
A coleta de dados foi realizada por
meio de entrevistas semi-estruturadas. Para
garantir o rigor metodológico e a
conseqüente qualidade da pesquisa, o
questionário elaborado foi submetido à
avaliação
de
dois
especialistas
e,
posteriormente, testado com uma gestante.
11
Finkler, M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 10-18, jan./dez. 2005
Procurou-se alcançar o máximo de
fidedignidade possível, através do uso de um
gravador eletrônico em todas as entrevistas e
pela sua transcrição imediata, realizada pela
própria pesquisadora.
Tendo em vista que "a amostragem
qualitativa necessita de um número
suficiente de sujeitos para permitir certa
reincidência de informações"7, ao final da
décima-segunda entrevista, o critério de
saturação
foi
considerado
satisfeito,
perfazendo o total de 12 entrevistas.
A análise das falas transcritas foi
realizada através dos processos de ordenação
dos dados, categorização inicial, reordenação
e análise final7,16, resultando na categoria
"Odontologia na vida cotidiana", cujos
principais resultados são apresentados e
discutidos a seguir.
As representações sociais das gestantes
Dentista para quando se precisa
A razão apontada pela maioria das
gestantes para procurar o atendimento
odontológico, mesmo antes de engravidarem,
foi a necessidade sentida, que incluiu
basicamente a dor e os problemas estéticos,
limitando o atendimento procurado/recebido
a situações pontuais: consultas emergenciais
ou de revisões. O controle periódico da
saúde bucal, com o intuito de se promover a
saúde e prevenir doenças não emergiu do
conteúdo das falas. No máximo, o controle
da saúde bucal foi entendido como uma
“manutenção” da higiene e uma “supervisão”
profissional para se detectar problemas
incipientes.
Outros
estudos
também
constataram ser a dor o estímulo necessário
para a busca por atendimento odontológico
por parte das gestantes14,17,18.
Algumas das gestantes entrevistadas
se autodenominaram “desnaturadas” ou
“relaxadas” para irem em busca do
atendimento, afirmando não lhes sobrar
tempo para o tratamento até que a dor seja
imperativa. O complicado acesso ao
tratamento odontológico no SUS, com as
dificuldades de marcação de consultas e
esperas
prolongadas
interferindo
no
cotidiano, pode ser parte da complexa
explicação para esse fato14,15,17. Segundo
Martins (1993; 1999), este aparente
desligamento da prevenção e a espera até o
último minuto para procurar uma solução
encontram justificativas nas coerções
cotidianas e econômicas que dificultam ou
quase impedem o acesso aos serviços de
assistência odontológica19,20.
Ao mesmo tempo, a representação
social da prática odontológica inclui de
forma marcante o medo do dentista e do
atendimento odontológico associados à dor,
ao instrumental, aos procedimentos e ao
próprio profissional e sua equipe15,19,21.
Atitudes de medo e pavor na ida ao dentista e
na espera pelo atendimento, considerado
uma “tortura”, têm sido relatadas17:10.
Desse modo, a prática odontológica
hegemônica se reflete em experiências
bastante
desagradáveis,
especialmente
quando os profissionais introjetam uma
postura autoritária, como detentores do saber
científico
e
pessoas
diferenciadas
socialmente, desconsiderando a carga
emocional, as atitudes e medos presentes em
tais atendimentos15,17. Torna-se evidente o
porquê do acolhimento, atenção, paciência e
capacidade de comunicação do dentista,
serem citados como os principais elementos
de qualificação do atendimento e do dentista
ideal17,21.
Sobre a imagem do cirurgiãodentista, Gerbert, Bleecker e Saub (1994) e
Cruz et al. (1997) verificaram uma clara
dissociação entre as representações dos
dentistas de seus entrevistados e dos
dentistas
em
geral21,22.
Estes
são
representados de forma semelhante a
vinculada pela mídia, por uma imagem
bastante negativa, “como estúpidos, cruéis e
incompetentes, enquanto seus próprios
dentistas, graças à sorte dos pacientes
(segundo seus próprios relatos), são
compreensivos, amigos, delicados, dentre
outros”21.
Relembrando as primeiras experiências
12
Finkler, M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 10-18, jan./dez. 2005
A maior parte das gestantes
entrevistadas relataram ter ido ao dentista
pela primeira vez ainda na infância e
mencionaram suas experiências iniciais, de
um modo geral, vinculadas a uma
recordação/sentimento negativos, os quais
parecem permanecer presentes.
Nas décadas de 70 e 80, período em
que as gestantes entrevistadas eram crianças,
a prática odontológica era muito mais
intervencionista e radical do que a atual.
Naquela época, a idéia de que o
desenvolvimento da cárie na dentição
decídua não guardava nenhuma relação com
a dentição permanente originou o raciocínio
de que não havia necessidade de se tratar a
dentição decídua23, recomendando o
tratamento odontológico a partir dos três
anos de idade, quando comumente as
crianças já chegavam doentes nos
consultórios.
Além disto, os principais métodos de
prevenção da cárie de alcance coletivo, a
fluoretação das águas de abastecimento
público e dos dentifrícios, tornaram-se
obrigatórios e regulamentados somente a
partir da lei n. 6050 de 24/05/74 e da portaria
n. 22 de 20/12/89, respectivamente24, tendo
beneficiado apenas as gestantes entrevistadas
mais jovens, quando crianças.
Diante desse contexto histórico e da
escuta das gestantes, pode-se inferir que a
experiência odontológica vivenciada por
elas, tenha incluído a doença cárie e seu
tratamento, aos moldes da época. Tais
experiências, aliadas às opiniões e aos relatos
de experiências de pessoas com as quais as
gestantes convivem, colaboram para a
construção de sua representação social
relativa à saúde bucal, à Odontologia, ao
cirurgião-dentista
e
ao
tratamento
odontológico. Ao mesmo tempo em que
essas representações são construídas e reconstruídas, são também construtoras e como
tal, influenciam o seu comportamento e o de
todos
que
vivem
e
compartilham
representações consigo, inclusive o de seus
futuros filhos.
Outras vivências que podem ter
participado da elaboração das representações
sociais das gestantes incluem a primeira ida
ao dentista, já em busca de tratamento
cirúrgico-restaurador. A idéia de uma rotina
de acompanhamento de caráter preventivo
não esteve presente na infância da maior
parte das entrevistadas, fato comprovado
pela descontinuidade dos tratamentos que
realizam. Mesmo as gestantes que
freqüentavam o consultório odontológico
com periodicidade, relatavam fazê-lo por
necessidade de tratar a doença.
Somente duas gestantes, comentaram
sobre a preocupação dos pais em levá-las
para o tratamento odontológico preventivo.
De outro lado, a despreocupação e/ou o
desconhecimento dos pais sobre a
importância do tratamento e dos cuidados
com a saúde bucal, foi motivo de crítica e
reflexão para algumas mulheres, atentando
para o fato de que a influência familiar é
esperada e quando se faz ausente ou
deficiente, é sentida e cobrada.
Aprendendo com os outros
Dentro da família, são especialmente
as mães que exercem forte influência na
adoção de comportamentos e hábitos de
saúde12-14,25. Neste estudo, as mães foram
citadas como sendo a principal fonte de
aprendizagem acerca da saúde bucal,
seguidas pela escola, pelo dentista e pelos
amigos, colegas de trabalho e pessoas
conhecidas. A mídia também surgiu como
um veículo de informações, porém, de forma
muito menos consistente do que seria
desejável e esperado, tendo em vista a
magnitude do potencial de transformação
social
que
alcança
na
sociedade,
principalmente a televisão. Livros e revistas
dirigidos a gestantes também foram
reconhecidos como influenciadores de
conhecimentos e comportamentos.
Contudo, é interessante perceber que
em vários momentos, as gestantes citaram
conhecimentos
oriundos
de
fontes
indeterminadas, imprecisas:
Ah, isso é... como é que eu vou te dizer, em
conversas assim, informais. Porque alguém
falou pra algum conhecido ou... sabe e esse
13
Finkler, M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 10-18, jan./dez. 2005
conhecido passou pra outra, vai passando,
vai passando até chegar na outra pessoa.
(gestante 10).
Tais respostas nos fazem objetificar o
próprio processo de formação das
representações sociais. Ao mencionarem
conteúdos familiarizados desta maneira, as
gestantes explicitam a validade que possuem,
até então inquestionada. É válido observar
também que nas representações sociais, o
conteúdo é tão assumido pelos sujeitos, que a
diferença entre o que se pensa e o que se
ouviu dizer, parece desaparecer:
[...] eu acho isso na minha opinião,
né? Escutei isso aí. (gestante 2).
Sobre este fato, Minayo (1999)
explica que “as representações sociais não
são necessariamente conscientes; perpassam
o conjunto da sociedade ou determinado
grupo social, como algo anterior e
habitual...”7. São essas representações,
cotidianamente construídas e reconstruídas,
que regem práticas e comportamentos
fundamentados
nas
conversações
e
experiências realizadas ao longo de suas
vivências.
“A única coisa que eu sei é que tem que
escovar!”
“Escovar sempre” e “escovar bem”,
sintetizam a principal orientação que as
gestantes possuem. A necessidade da higiene
bucal pareceu estar muito bem arraigada em
seus conhecimentos. Contudo, a tônica dos
discursos colhidos foi a escovação, o que não
significa dizer que as entrevistadas
desconheçam a recomendação para o uso de
fio-dental. Ao contrário, pode-se perceber
claramente a veiculação da mensagem
profissional. Contudo, foi evidente a ênfase
dada à escovação em detrimento da
importância do uso de fio-dental.
Outro componente da representação
apreendida foi a concepção da saúde como
ausência de doença, ou seja, a necessidade
do cuidado para a prevenção de problemas
relacionados a dor, a doenças e a estética.
Este achado está de acordo com o encontrado
por outros estudos5,14 e é compreendido por
Martins (1993; 1999) a partir das condições
de tratamento a que as camadas populares se
submetem, as quais não lhes permitem
avançar
na
conceituação
de
19,20
saúde/doença
.
Minayo (1999) chama a atenção para
a percepção em nossa sociedade da saúde
como
uma
virtude
individual7.
O
entendimento simples e generalizado da
visão médico-biológica, da saúde como
ausência de doença, apresentado pelas
gestantes, considera a saúde como algo
endógeno e possível de ser controlado pela
vontade pessoal. Tanto é que em nenhum
momento nesta pesquisa, assim como no
estudo de Bernd et al. (1992), as gestantes
correlacionaram as doenças bucais às
condições de vida, nem tampouco foi
explicitada
uma
atribuição
de
responsabilidade aos serviços e à sociedade
pelas más condições de saúde15.
A dor de dente, além de ser um dos
principais motivos para a busca do
tratamento odontológico, aparece também
como um sofrimento conseqüente da falta de
cuidados individuais e também, do próprio
tratamento. Se a saúde é uma virtude, a
doença ou a dor parecem ser um castigo.
Nuto (1999) também encontrou essa
representação entre a população que estudou,
sendo que os próprios dentistas e serviços de
saúde bucal responsabilizam o indivíduo
pelo seu adoecer. Desta forma, exime-se a
prática odontológica e a própria sociedade de
questionar o papel que desempenham na
produção da doença15.
Outro conhecimento relatado, apenas
por metade das entrevistadas, diz respeito ao
potencial malefício da sacarose. Contudo,
historicamente a higiene e a alimentação são
as duas “frentes” do trabalho educativopreventivo da Odontologia e por isso
esperava-se que essa questão fosse
mencionada com uma maior freqüência e
importância. Considerando-se o processo de
formação das representações sociais, uma
possível explicação para esse resultado seria
a influência da mídia nos conhecimentos e
comportamentos que os indivíduos e grupos
adquirem: reforçando à importância da
14
Finkler, M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 10-18, jan./dez. 2005
higiene, principalmente com finalidade
estética e de bem estar, veiculado nas
propagandas de produtos de higiene bucal,
tais
como
escovas,
dentifrícios
e
3
enxaguatórios bucais e ao mesmo tempo,
estimulando o consumo de alimentos
cariogênicos de forma inadvertida, por
comerciais apresentados, principalmente no
horário de audiência infantil26.
Em relação ao consumo de alimentos
cariogênicos e à dificuldade em se modificar
hábitos alimentares é necessário se
considerar a questão sócio-econômica (os
carboidratos são alimentos financeiramente
mais acessíveis) além da questão cultural,
pelo significado que o doce possui em nossa
sociedade, de prazer, de afeto/amor ou de
compensação
às
frustrações12,15,
ou
simplesmente pelo paladar, onde “alguns
encontram prazer [...] de modo a suportar os
desprazeres da vida cotidiana”18.
Das duas principais doenças bucais,
as mais prevalentes em todo o mundo, a
doença periodontal e a cárie3, somente a
segunda possui uma representações social
bem estabelecida5,27. Enquanto a doença
cárie foi referenciada diversas vezes pelas
gestantes - como cavidades nos dentes
resultantes da falta de cuidados individuais e
que possui uma relação com doçuras e com
microorganismos - a doença periodontal
pareceu ser desconhecida por quase todas as
gestantes entrevistadas. Mesmo aquelas que
relataram
histórias
de
familiares
possivelmente com a doença, não souberam
explicar do que se tratava.
A crença, já relatada na literatura,
quanto ao prejuízo causado aos dentes por
antibióticos17,28, tornando-os “sensíveis” ou
“frágeis” e mais susceptíveis à cárie, também
foi relatada neste estudo. É possível que a
cariogenicidade dos xaropes, pelo teor de
açúcar em suas formulações, quando
empregados em alta freqüência ou o
manchamento dental que as tetracliclinas –
antibiótico amplamente prescrito na década
de 70 – causavam, possam estar nas bases de
tal crença.
Práticas de autocuidado com a saúde
bucal
A escovação foi identificada como a
prática central, quando não exclusiva, da
higiene bucal das entrevistadas. A orientação
para o uso rotineiro do fio-dental parece não
ter obtido adesão. Já o uso de soluções
enxaguatórias antissépticas e/ou fluoretadas
foi mencionado por algumas gestantes como
parte dos hábitos de higiene bucal. Porém
pareceu haver alguma confusão no
entendimento da finalidade desses produtos,
vista que algumas vezes as gestantes falavam
em flúor, talvez por se recordarem de tê-lo
usado no período de vida escolar, mas
pareciam querer fazer referência aos
enxaguatórios antissépticos, freqüentemente
anunciados na mídia.
Algumas gestantes consideraram o
tratamento odontológico parte dos cuidados
que possuem com os dentes. Já o cuidado
com a ingestão de sacarose e a prática de
auto-exame bucal, uma forma importante e
recomendável de conhecimento do corpo e
de detecção precoce de alterações, foram
citados por apenas uma entrevistada.
Saúde bucal: um passaporte social
O componente estético é um dos
elementos preponderantes na construção da
representação social da saúde bucal. A
importância de um sorriso bonito, com
dentes brancos, limpos e corretamente
posicionados, perpassou todos os discursos
registrados. Contribuindo para uma boa
aparência, o sorriso bonito e saudável “abre
portas” nos relacionamentos interpessoais,
afetivos e profissionais, parte do complexo
cotidiano social atual, além de ser quase
uma condição para a entrada no competitivo
mercado de trabalho.
Outros estudos também referem o
valor da saúde bucal pelo papel que os
dentes desempenham na integração social e
na obtenção de emprego ou promoção. A
experiência do trabalho não apenas
condiciona as condições de vida, pelo salário
e oportunidades de consumo, mas é também
uma forma de inserção na rede social,
15
Finkler, M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 10-18, jan./dez. 2005
impondo razões para a constituição da saúde
bucal enquanto valor15,19,20.
Minayo (1999) afirma que em
“relação à classe trabalhadora, o conceito
subjacente
na
definição
social
de
saúde/doença vinculado pela visão de mundo
dominante é a incapacidade para trabalhar”7.
Pela noção própria do sistema capitalista, do
corpo do trabalhador como o seu único
gerador de bens, fonte de subsistência e de
reprodução, a representação da doença como
sinônimo de inatividade, tem um caráter
social e não natural7.
Segundo Kern (1997), “se hoje a
população busca tratamento (...) é porque o
social em que vivem requer esse reparo (...) é
o mercado de trabalho que exige uma
estética perfeita, é a relação familiar que se
preocupa com a saúde, é o amor próprio e a
auto-estima”29:157. Retornando à questão da
vida social e afetiva, a interação social
ameaçada por problemas bucais remete a
própria identidade depreciada, não só em si,
mas também na dimensão social, pois “todo
ser humano sente a necessidade de
apresentar-se bem, relacionar-se bem e
prosperar naquilo que busca.”29.
Ferreira (2002) comprovou tal
percepção em sua pesquisa, na qual a boca
foi representada por sua função biológica
(34,2%), mas ainda mais expressivamente
por sua função psicossocial (65,8%) e
considera que a imagem negativa da boca,
pela ausência de dentes, desperta um
sentimento de exclusão, estigmatizando as
pessoas por esse traço distintivo, marcando a
imagem social e as condições psíquicas dos
indivíduos18.
Sendo assim a importância da saúde
bucal representada, o autocuidado e o
tratamento odontológico são concebidos
como valores. A saúde bucal também foi
representada através do hálito agradável e de
dentes saudáveis – “perfeitos e resistentes”,
livres de doenças e de dor. Menos freqüente,
mas também presente, foi o seu
entendimento como parte constituinte da
saúde geral das pessoas e do processo de
saúde-doença em sua integralidade.
Considerações finais
A compreensão dos diferentes
componentes que formam a representação
social das gestantes sobre a própria saúde
bucal proporcionam uma aproximação com
os seus conhecimentos, experiências,
valores, necessidades e expectativas, ou seja,
com a realidade socialmente construída, com
a qual se quer trabalhar para a promoção da
saúde e da cidadania.
Nesse
sentido,
conhecer,
compreender e valorizar o saber popular
constituem necessidades para que o diálogo
entre os diferentes saberes e vivências
aconteça, permitindo que nesse encontro, se
produza
o
próprio
saber
popular,
transformado em sua relação com o saber
técnico, para o qual serve de instrumento,
favorecendo a organização eficaz da
população em busca de seus interesses.
Referências bibliográficas
1. OLIVEIRA, A. G. R. C. Perfil
Epidemiológico de Saúde Bucal no Brasil
1986-1996
1998.
Disponível
em:
<http://planeta.terra.com.br/saude/angelonlin
e/artigos/art_epid/ epi_bra.pdf>.
2. PINTO, V. G. Epidemiologia das
doenças bucais no Brasil. In: KRIGER, L.
(ed.). Promoção de saúde bucal:
epidemiologia das doenças bucais no
Brasil. 2. ed. São Paulo: Artes Médicas,
1999. p. 29-41.
3. WEYNE, S. C. In: A construção do
paradigma de promoção de saúde: um
desafio para as novas gerações. KRIGER, L.
(ed.). Promoção de saúde bucal. 2. ed. São
Paulo: Artes Médicas, 1999. p. 3-26.
4. ROCHA, M. C. B. S. Avaliação dos
conhecimentos e das práticas de saúde
bucal: gestantes do Distrito Sanitário
Docente Assistencial Barra/Rio Vermelho
- Município de Salvador - BA. 1993. 115 f.
Tese (Doutorado em Odontologia) Faculdade de Odontologia, Universidade de
São Paulo, São Paulo, 1993.
5. MENINO, R. T. M., BIJELLA, V. T.
16
Finkler, M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 10-18, jan./dez. 2005
Necessidades de saúde bucal em gestantes
dos núcleos de saúde de Bauru.
Conhecimentos com relação à própria saúde
bucal. Revista Faculdade De Odontologia
Bauru, Bauru, v. 3, n. 1-4, p. 5-16, jan./dez.
1995.
6. VÍCTORA, C. G., KNAUTH, D. R.,
HASSEN, M. N. A. In: Pesquisa qualitativa
em saúde: uma introdução ao tema. Porto
Alegre: Tomo, 2000. 136 p.
7. MINAYO, M. C. S. O desafio do
conhecimento: pesquisa qualitativa em
saúde. 6. ed. São Paulo: Hucitec, 1999. 269
p.
8. GOMES, R., MENDONCA, E. A.,
PONTES, M. L. Social representations and
the experience of illness. Caderno de.
Saúde Publica, Rio de Janeiro, v. 18, n. 5, p.
1207-1214, Sep/Oct. 2002.
9. GUARESCHI, P. In: Representações
sociais: alguns comentários oportunos.
NASCIMENTO-SCHULZE, C. M. (ed.).
Coletâneas da ANPEPP, Florianópolis,
v.1., n.10, set. 1996.
10. JODELET, D. In: Representações do
contágio e a Aids. JODELET, D.,
MADEIRA M. (Org.)(ed.). AIDS e
representações sociais: à busca de
sentidos. Natal: EDUFRN, 1998. 190 p.
11. TEIXEIRA, M. C. T. V. Representações
sociais sobre a saúde - doença na velhice:
um diagnóstico psicossocial na rede básica
de saúde. 1999. 243 f. Tese (Doutorado em
Enfermagem) - Escola de Enfermagem Ana
Nery, Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 1999.
12. BLINKHORN, A. S. Dental preventive
advice for pregnant and nursing mothers sociological implications. Int. Dent. J.,
London, v. 31, n. 1, p. 14-22, Mar. 1981.
13. COSTA, I. C. C. et al. A gestante como
agente multiplicador de saúde. R.P.G., São
Paulo, v. 5, n. 2, p. 87-92, abr./jun. 1998.
14. COSTA, I. C. C. Atenção odontológica
à gestante na triangulação médicodentista-paciente: os (des) caminhos desse
cotidiano. 2000. 210 f. Tese (Doutorado em
Odontologia Preventiva e Social) Faculdade de Odontologia, Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,
Araçatuba.
15. BERND, B. et al. Percepção popular
sobre saúde bucal. Saúde em debate, S.L. n.
34, p. 33-39, mar. 1992.
16. TRENTINI, M., Paim, L. Pesquisa em
enfermagem:
uma
modalidade
convergente-assistencial.
Florianópolis:
EDUFSC, 1999. 162 p.
17. NUTO, S. S. Lagarta e cárie dentária:
avaliação cultural do serviço de saúde bucal
de Beberibe - Ceará. 1999. Disponível em:
<http://planeta.terra.com.br/saude/angelonlin
e/ artigos.htm>.
18. FERREIRA, A. A. A. Representações
sociais da necessidade de cuidados bucais:
um estudo com habitantes do bairro
Cidade da Esperança - Natal /RN. 2002.
111f. Dissertação (Mestrado em Odontologia
Social)
Curso
de
Odontologia,
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Natal, 2002.
19. MARTINS, E. M. Saúde bucal - uma
necessidade socialmente construída: um
estudo da experiência da Clínica
Odontológica São Geraldo. 1993. 191 f.
Dissertação (Mestrado em Educação) Faculdade de Educação, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
1993.
20. ______ . Construindo o valor saúde
bucal. Ação coletiva, Brasília, v. 2, n. 2, p.
5-9, abr./jun. 1999.
21. CRUZ, J.S. et al. A imagem do cirurgiãodentista: um estudo de representação social.
Revista Odontologia Universidade de São
Paulo, São Paulo, v. 11, n. 4, p. 307-313,
out./dez. 1997.
22. GERBERT, B., BLEECKER, T., SAUB,
E. Dentists and the patients who love them:
professional and patient views of dentistry.
J.A.D.A., Chicago, v. 135, p. 265-272, Mar.
1994.
23. OLIVEIRA, A. G. R. C. et al. Modelos
assistenciais em saúde bucal no Brasil:
tendências e perspectivas. Ação coletiva,
Brasília, v.2, n. 1, jan./mar. 1999.
24. BASTOS, J. R. M., PERES, S. H. C. S.,
RAMIRES, I. In: Educação para a saúde.
PEREIRA, A.C. (ed.). Odontologia em saúde
coletiva: planejando ações e promovendo
17
Finkler, M. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 10-18, jan./dez. 2005
saúde, Porto Alegre: Artmed, 2003. p. 117139.
25. COSTA, I. C. C., FUSCELLA, M. A. P.
Educação e saúde: importância da integração
dessas práticas na simplificação do saber.
Ação coletiva, Brasília, v. 2, n. 3, p. 45-47,
jul./set. 1999.
26. VILAÇA, E. L., PAIXÃO, H. H.,
PORDEUS, I. A. A mídia e as tendências de
consumo de produtos contendo sacarose por
crianças e adolescentes. Arquivo de
Odontologia, Belo Horizonte, v. 33, n. 1, p.
15-24, jan./jun. 1997.
27. SCAVUZZI, A. I. F., ROCHA, M. C. B.
S.; VIANNA, M. I. P. Percepção sobre
atenção odontológica na gravidez. Jornal.
Brasileiro. Odontopedia. Odontogica.
Bebê, Curitiba, v. 1, n. 4, p. 43-50, out./dez.
1998.
28. SANTOS-PINTO, L. D. et al. O que as
gestantes conhecem sobre saúde bucal?
Jornal Brasileiro de. Odontopediatria.
Odontologia. Bebê, Curitiba, v. 4, n. 20, p.
429-434, set./out. 2001.
29. KERN, F. A. A representação da saúde
bucal. Revista de Odontologia Ciência,
Porto Alegre, v.12, n. 24, p.153-173, 1997.
18
Cruz, A. P. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 19-26, jan./dez. 2005
ESTUDO COMPARATIVO DOS PERFIS DE DISSOLUÇÃO DE COMPRIMIDOS
DE HIDROCLOROTIAZIDA (HCTZ) COMERCIALIZADOS NO BRASIL
[Compatarive study of dissolution profiles of hydrochlorothiazide tablets marketed in
Brazil]
Ariane Pinheiro Cruz1; Talize Foppa1; Patrik Oening Rodrigues1; Teófilo Mazon
Cardoso1; Hellen Karine Stulzer2; Marcos Antonio Segatto Silva3
Resumo: Modelos comparativos matemáticos e estatísticos foram utilizados para caracterizar perfis
de dissolução de quatro formulações de comprimidos de hidroclorotiazida (R, S1, S2 e S3). Os fatores
de diferença (f1) e similaridade (f2) demonstraram que as formulações possuem perfis de dissolução
distintos, com exceção de R e S1. A semelhança entre R e S1 foi confirmada através da análise
estatística da eficiência de dissolução (ED), o que corrobora a provável intercambialidade entre estas.
A cinética de dissolução para as formulações ocorreu segundo um modelo de primeira ordem.
Palavras-chave: Hidroclorotiazida, comprimidos, análise estatística, perfil de dissolução.
Abstract: Mathematical and statistical models were used to characterize dissolution profiles of
hydrochlorothiazide tablets (R, S1, S2 and S3). The difference (f1) and similarity (f2) factors
demonstrated that the formulations have distinct dissolution profiles, except for R and S1. The
similarity between R and S1 was confirmed through statistical analysis of dissolution efficiency (DE),
probably ensuring the pharmaceutical equivalence. The dissolution kinetics of formulations follows
the first order model.
Keywords: Hydrochlorothiazide, tablets, statistical analysis, dissolution profile.
Introdução
Na última década, a evolução dos
aspectos técnicos da regulamentação
brasileira na área de medicamentos, tendo
como base princípios científicos, é
inquestionável.
A
implantação
dos
1
medicamentos genéricos , de acordo com a
Lei nº 9.787 de 10 de fevereiro de 1999, tem
colaborado para o aprimoramento da
fabricação e garantia da qualidade dos
medicamentos no país, a partir dos conceitos
de
equivalência
farmacêutica,
biodisponibilidade e bioequivalência2.
A legislação brasileira em vigor3,4
estabelece que para um medicamento ser
registrado como similar ou genérico é
necessário que se comprove a equivalência
farmacêutica em relação ao medicamento de
referência indicado pela Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (ANVISA), conforme
o “Guia para realização do estudo e
elaboração do relatório de equivalência
______________
farmacêutica e perfil de dissolução”5. Desta
forma, os estudos de dissolução, aliados aos
testes físicos e físico-químicos comparativos
entre as formulações, fornecem bases
técnicas e científicas para avaliar a
intercambialidade entre o medicamento
similar e sua referência2.
As características inerentes ao
próprio fármaco (tamanho e porosidade da
partícula, dispersibilidade e solubilidade no
meio de dissolução), bem como a natureza
dos excipientes que compõem a formulação
e as técnicas de fabricação empregadas na
produção da forma farmacêutica afetam a
dissolução do fármaco e, conseqüentemente,
sua biodisponibilidade e bioequivalência2,6,7.
Tal fato ressalta a importância da avaliação
do desempenho das formas farmacêuticas
sólidas, realizando testes in vitro que
permitam visualizar a sua capacidade de
liberar o fármaco veiculado em função do
tempo6,8.
1
Alunos da Pós-graduação em Farmácia – Laboratório de Controle de Qualidade – (UFSC)
Aluna da Pós-graduação em Química – (UFSC)
3
Professor orientador – (UFSC)
2
19
Cruz, A. P. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 19-26, jan./dez. 2005
Estudos de dissolução in vitro
possibilitam inferir qualitativamente e
quantitativamente sobre uma determinada
formulação, podendo ser um prognóstico da
biodisponibilidade9.
Os
estudos
de
dissolução são amplamente utilizados para:
(1) orientação do desenvolvimento de novas
formulações, (2) avaliação da influência de1.
alterações no processo de produção e/ou na
formulação, (3) controle de qualidade lote a
lote de uma determinada especialidade e (4)
avaliação da equivalência farmacêutica entre
apresentações de diferentes fabricantes.
O fármaco de escolha para o estudo
proposto foi a hidroclorotiazida (HCTZ)
(Figura 1), eficaz em reduzir a reabsorção de
eletrólitos dos túbulos renais, aumentando a
excreção de sódio e de íons cloreto, e
conseqüentemente de água10. Este fármaco é
utilizado atualmente no tratamento de
hipertensão,
insuficiência
cardíaca
congestiva, nefrolitíase e diabetes insípido
nefrogênico11.
A HCTZ está disponível no mercado
nacional na apresentação de comprimidos
(25, 50 e 100 mg) e soluções orais (10 e 100
mg mL-1), consta na Relação Nacional de
Medicamentos Essenciais (RENAME) de
2002 sob a forma de comprimidos de 25
mg12. É rapidamente absorvida pelo trato
gastrointestinal,
tendo
uma
biodisponibilidade de cerca de 60 a 80 %.
Sua meia-vida plasmática é de 5 a 15 horas,
sendo
excretada
principalmente
na
10,13,14
urina
.
H
N
Cl
O
NH
H2 N
S
O
S
O
Figura
1:
Estrutura
hidroclorotiazida (HCTZ)
O
química
da
Dentro deste contexto, o presente
trabalho objetivou avaliar a equivalência
entre os perfis de dissolução de algumas
formulações de HCTZ de 25 mg
comercializadas no mercado nacional,
analisando os perfis de dissolução e
aplicando diferentes modelos matemáticos e
estatísticos de análise.
Materiais e métodos
Foram avaliadas quatro apresentações
de comprimidos de HCTZ comercializadas
no mercado nacional, de acordo com as
designações R (Referência), S1, S2 e S3
(Similares) na concentração de 25 mg.
Utilizou-se como substância química de
referência HCTZ SQR fornecidas pelo
Laboratório Industrial Farmacêutico do
Estado de Santa Catarina (LAFESC).
A avaliação do perfil de dissolução
dos comprimidos de HCTZ foi realizada em
equipamento Nova Ética modelo 299
(Brasil). As condições experimentais foram
baseadas nas preconizadas pela Farmacopéia
Americana15, com uso do aparato 1 (100
rpm). Utilizou-se como meio de dissolução
900 mL de HCl 0,1N na temperatura
constante de 37 ºC ( 0,5 ºC). Amostras de
10 mL foram coletadas nos tempos de 1; 5;
10; 20; 30 e 60 minutos, sendo que a cada
tempo, o meio de dissolução foi reposto. As
amostras foram previamente centrifugadas
(4500
rpm)
e
analisadas
em
espectrofotômetro UV/VIS Perkin-Elmer
(EUA) no comprimento de onda de 272
nm15. As porcentagens de fármaco dissolvido
foram determinadas com o auxílio de uma
curva de calibração previamente construída,
garantindo linearidade no intervalo de 1-25
µg mL-1 (r2 = 0,9995). Os resultados foram
avaliados de acordo com modelos
independentes e dependentes de análise. Os
parâmetros independentes utilizados na
caracterização dos perfis de dissolução foram
os fatores de diferença (f1) e similaridade
(f2), eficiência de dissolução (ED), tempo de
meia-vida (t1/2) e quantidade de fármaco
dissolvido em 60 minutos (Q60), como
preconizado
pela
monografia
de
comprimidos de HCTZ disponível na
Farmacopéia Americana15. Como parâmetros
20
Cruz, A. P. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 19-26, jan./dez. 2005
dependentes
foram
avaliados
a
ordem/modelo cinético de dissolução
(Tabela 1), assim como a constante (k) em
que esta ocorre. Para a avaliação estatística
da equivalência entre os perfis de dissolução,
a eficiência de dissolução foi calculada e
análise de variância (ANOVA) juntamente
com o pós-teste de Tukey16.
Tabela 1: Ordens/modelos cinéticos de dissolução avaliados
Ordem/modelo
Zero ordem
Primeira ordem
Higuchi
Hixson-Crowell
Equação
Qt = Q0 – K0t
log Qt = (log Q0 + K1t)/2,303
Qt = KHt1/2
Qt 1/3 = Q01/3 - Kct
Referência
17,18,19
17, 18, 20
17, 21, 22
17, 18
Qt é a quantidade de fármaco liberada no tempo t, Q0 a quantidade inicial de fármaco
em solução e K0, K1, KH e Kc são as constantes de liberação de zero ordem, de primeira
ordem, de Higuchi e que considera a relação superfície/volume, respectivamente.
Os perfis de dissolução das
apresentações de HCTZ estão demonstrados
na Figura 2, sendo representados como a
porcentagem de fármaco dissolvido em
função do tempo. A formulação S3
apresentou uma lenta dissolução inicial,
tendo liberado cerca de 50 % do princípio
ativo em 10 minutos, enquanto que as
demais apresentações liberaram acima de 70
% neste mesmo tempo. Para liberar esta
mesma proporção de fármaco (50 %) a
formulação de referência (R) levou menos do
que 5 minutos. Cabe ressaltar a elevada
quantidade de fármaco presente na
formulação S1, que apresentou uma
dissolução final de aproximadamente 113,5
% de HCTZ. A análise exploratória
observacional permite verificar uma relativa
distinção entre os perfis de dissolução
apresentados
pelas
formulações,
principalmente quanto à velocidade de
dissolução e à quantidade máxima liberada
após 60 minutos do teste. Todavia, faz-se
necessária a aplicação de modelos de
comparação específicos e fundamentados da
estatística, para que se possa ter uma melhor
inferência acerca dos resultados.
Fármaco dissolvido (%)
Resultados e Discussão
120
R
S1
S2
S3
90
60
30
0
0
10
20
30
40
50
60
Tempo (min)
Figura 2: Perfis de dissolução das
formulações de HCTZ referência (R) e
similares (S1, S2 e S3).
Dessa maneira, procedeu-se à
aplicação
dos
modelos
matemáticos
denominados de fatores de diferença (f1) e
similaridade (f2), propostos por Moore e
Flanner17, e que são indicados pelo FDA
(Food and Drug Administration)18 bem como
pela legislação vigente5 na comparação dos
perfis de dissolução de formulações sólidas
orais. Os fatores f1 e f2 são calculados de
acordo com as equações 1 e 2.
n
 n

f 1   Rt  Tt /  Rt   100
t 1
 t 1

21
Cruz, A. P. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 19-26, jan./dez. 2005
0 , 5
De acordo com os resultados e com


  1  n
 base nos critérios de Moore e Flanner17,
2
f 2  50 log 1    Rt  Tt    100



  n  t 1
 pode-se afirmar que as formulações S2 e S3
mostraram-se distintas quando comparadas
onde T é o número de amostras, n é o número de com a formulação referência, uma vez que
tempos de coleta, Rt e Tt são as porcentagens apresentaram valores de f1 e f2 compatíveis
dissolvidas da referência e do produto teste a com amostras dessemelhantes. O valor dos
fatores de diferença e semelhança da
cada tempo (t), respectivamente.
formulação S1 em comparação com R,
Os perfis em estudo são considerados mostrou ser esta também uma formulação
diferentes quando o fator f1 se apresenta dessemelhante. Entretanto, o fator f1
encontrado para esta amostra ficou muito
superior a 15.
Por outro lado, os perfis de próximo ao valor limite de caracterização da
dissolução são considerados semelhantes semelhança, isto é, 15. Barreto e
quando a comparação entre eles resultar em colaboradores19 demonstraram que a
valores de f2 entre 50 e 100. Os valores de f1 robustez dos fatores f1 e f2 é falível quando
e f2 calculados para as formulações S1, S2 e os valores encontrados estão próximos de 15
S3, quando comparadas com R, são e 50, respectivamente. A Tabela 3 demonstra
que o fator f1 considera como semelhantes
apresentados na Tabela 2.
formulações que tenham no máximo 15 % de
Tabela 2: Fatores de diferença (f1) e distinção entre os perfis. Já o fator f2 aceita
similaridade (f2) das formulações em relação até uma diferença de 10 %. Dessa maneira,
pode-se
considerar
que
resultados
à referência.
compreendidos entre 10 e 15 % de diferença
são passíveis de serem interpretados
Grupos f1
f2
erroneamente, sendo necessário utilizar
R x S1
15,53 40,04
outros métodos de comparação.
R x S2
17,09 42,35
R x S3
28,70 29,82
Tabela 3: Diferenças médias das porcentagens dissolvidas para os fatores de diferença e
semelhança (adaptado de Barreto et al., 2000) 19.
Diferença média das % dissolvidas
2
5
10
15
20
f1
2
5
10
15
20
f2
83
65
50
41
36
A Eficiência de Dissolução (ED) vem
nos últimos anos sendo utilizada como um
parâmetro de confiança na avaliação da
equivalência
farmacêutica
entre
formulações20-26. A ED consiste na avaliação
integral comparativa da área sob a curva
(ASC) do perfil de dissolução em relação à
área representada pelo tempo total do ensaio,
considerando 100 % de dissolução, sendo
expressa pela equação 3.
T
ED (%) 
 Y  dt
0
Y100  T
 100
(3)
onde Y é a porcentagem do fármaco liberada em
função do tempo, T o tempo total de ensaio e Y100
a quantidade percentual teórica de fármaco na
formulação.
as
Os resultados da ED calculados para
formulações (Figura 3) indicam a
22
Cruz, A. P. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 19-26, jan./dez. 2005
equivalência entre R (ED = 93,62 %) e S1
(ED = 94,71 %), semelhança esta não
evidenciada para S2 (ED = 83,82 %) e S3
(ED = 74,70 %).
Figura 3: Eficiência de Dissolução (ED) das
apresentações de HCTZ.
Comparando-se o F calculado,
apresentado na Tabela 4 de análise de
variância, com o valor crítico para F de 3 a
20 graus de liberdade (F = 3,10), obtém-se: F
= 15,88 > F0,05(3-20) = 3,10. Com esta
observação, conclui-se que a diferença entre
as médias dos tratamentos é significante.
Contudo, não indicam quais são as
diferenças, entre os tratamentos, que devem
ser consideradas como estatisticamente
significantes.
Tabela 4: Análise de variância dos resultados da eficiência de dissolução.
Causas de Variação
Gl*
SQ**
QM*** F
Tratamento (entre grupos)
3
1586
528,7
15,88
Residual (dentro dos grupos) 20
665,7
33,28
Total
23
2252
* Graus de liberdade; ** Soma dos Quadrados; *** Quadrado Médio
Para verificar a
significância
estatística da diferença entre os pares de
médias utilizou-se um teste de comparação
múltipla de médias, o teste de Tukey. Uma
diferença
entre
duas
médias
é
estatisticamente significante quando for igual
ou maior que a Diferença Honestamente
Significante (DHS) de Tukey, obtida através
da equação 4 16.
QM e
DHS 
(4)
r
onde QMe é o quadrado médio do erro
experimental (obtido na análise de variância)
e r o número de elementos submetidos a
cada tratamento (admite-se que em todas as
amostras haja o mesmo número de elementos
nos grupos). Logo, para os grupos obtém-se
o valor de DHS:
528,7
DHS 
 9,387
6
De acordo com o valor obtido para o
teste, verifica-se que as amostras S2 e S3 são
estatisticamente diferentes de R, por
apresentarem uma diferença média (DM)
entre os grupos superior a 9,387 (Tabela 5).
Já S1 mostrou-se equivalente a R uma vez
que a DM entre as amostras foi de 1,086. O
valor de p para o intervalo de confiança de
95 %, confirma a autenticidade do teste.
Tabela 5: Teste DHS de Tukey aplicado ao estudo comparativo da Eficiência de Dissolução
(ED).
Comparações
DM*
Valor de p
IC* 95%
R x S1
1,086
P > 0,05
-9,546 a 7,374
R x S2
9,807
P < 0,05
1,347 a 18,270
R x S3
18,920
P < 0,01
10,460 a 27,380
* Diferença média.
** Intervalo de confiança das diferenças.
23
Cruz, A. P. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 19-26, jan./dez. 2005
A aplicação de modelos cinéticos
permite verificar o mecanismo de liberação
do fármaco a partir da forma farmacêutica.
Dessa maneira foram aplicados modelos
básicos de avaliação da cinética de liberação.
Os modelos foram avaliados através da
linearização dos dados de dissolução de
acordo com o tempo e/ou porcentagem de
fármaco liberada. Através da avaliação do
coeficiente de correlação de Pearson foi
realizada a escolha do modelo cinético mais
adequado, aquele que mais se aproxima da
perfeita linearidade.
Os resultados da linearização dos
perfis de dissolução, apresentados na Tabela
6, demonstram que todas as formulações
seguem uma cinética de primeira ordem, a
qual depende da quantidade de fármaco
remanescente na formulação. A primeira
ordem de liberação de fármacos é verificada
em diversas formas farmacêuticas, tais como
aquelas
contendo
fármacos
solúveis
incorporados em matrizes porosas22, como as
utilizadas nesse estudo. Assim sendo, a
cinética de dissolução mostrou-se adequada
para as amostras em estudo.
Tabela 6: Linearização dos perfis de dissolução das formulações de comprimidos de HCTZ.
Formulação
Ordem/ modelo
Primeira Ordem Zero Ordem
Higuchi
Hixson-Crowell
R
0,8841
0,9814
0,9845
0,9977
S1
0,9691
0,9814
0,9877
0,9962
S2
0,9855
0,9927
0,9979
0,9998
S3
0,9877
0,9933
0,9959
0,9976
Parâmetros como constante de
liberação (k) e tempo de meia-vida (t1/2) são
calculados de acordo com cada modelo
cinético,
sendo
necessários
para
complementar a avaliação dos mesmos. O
valor da constante k é obtido a partir da
inclinação da reta utilizada na linearização,
no caso, para primeira ordem. Já o t1/2 pode
ser calculado a partir da constante k, da
forma que t t1/2 = 0,693/k. O valor da
constante k mostrou-se semelhante em todas
as formulações, com exceção de S3, como
resultado de uma lenta liberação do fármaco
em comparação com as demais formulações
(Tabela 7). O t1/2 indica diferenças na
dissolução da referência e demais
formulações; enquanto R libera 50 % do
fármaco em 3,61 minutos, as apresentações
similares liberam esta quantidade em um
tempo superior a 5 minutos.
Outro parâmetro utilizado para a
caracterização da liberação é a quantidade
liberada no tempo máximo de teste, no caso
Q60min15.
Conforme
a
Farmacopéia
15
Americana , no ensaio de dissolução não
menos do que 60 % da quantidade rotulada
de HCTZ deverá estar dissolvida em 60
minutos. Ao final do tempo preconizado,
todas as formulações apresentaram uma
quantidade de fármaco liberado acima do
mínimo estipulado pelo compêndio (Tabela
7).
Tabela 7: Parâmetros cinéticos de dissolução das apresentações de HCTZ: constante de
liberação (k), meia-vida de dissolução (t1/2) e quantidade liberada no tempo de 60 minutos de
teste (Q60min).
Apresentação
k (mg min-1)
t1/2 (min)
Q60min (%)
R
0,1922
3,61
104,54
S1
0,1104
6,28
113,51
S2
0,1268
5,46
96,20
S3
0,0690
10,04
99,96
24
Cruz, A. P. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 19-26, jan./dez. 2005
Conclusões
Como demonstrado nos resultados, os
modelos aplicados na avaliação comparativa
da equivalência dos perfis de dissolução da
hidroclorotiazida (HCTZ) de diferentes
formulações mostraram-se adequados para o
propósito. Os fatores f1 e f2 permitiram
visualizar
as
diferenças
entres
as
formulações R e S2, S3. Entretanto, para
comparação de R com S1 os fatores não
possibilitaram a inferência de assertivas. A
análise estatística da eficiência de dissolução
(ED) permitiu confirmar a dessemelhança
entre
as
formulações
verificadas
anteriormente, e ainda, a semelhança entre R
e S1. O estudo cinético de dissolução
categorizou a liberação da HCTZ como um
processo de primeira ordem, compatível
então com formulações de pronta liberação.
Em suma, os resultados da dissolução
in vitro apontam que provavelmente somente
a formulação similar (S1) é passível de
intercambialidade com R. Já os similares S2
e S3 não apresentaram equivalência
farmacêutica com a referência (R), o que
denota a necessidade de uma regulamentação
mais exigente por parte dos órgãos a quem
competem a liberação da comercialização e
vigilância farmacoepidemiológica.
Referências bibliográficas
1. BRASIL. Lei nº 9787, de 10 de fevereiro
de 1999. Diário Oficial da União, 11 de
fevereiro de 1999. Lex: Disponível em:
<http://www.anvisa.gov.br.
2. STORPIRTIS, S. et al. A equivalência
farmacêutica
no
contexto
da
intercambialidade
entre
medicamentos
genéricos e de referência: bases técnicas e
científicas,
2004.
Disponível
em:
<http://www.anvisa.gov.br/divulga/artigos/in
dex.htm>.
3. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
RDC nº 133, de 29 de maio de 2003,
Regulamento técnico para medicamento
similar.
Lex:
Disponível
em:
<http://www.anvisa.gov.br>.
4. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
RDC nº 135, de 29 de maio de 2003,
Regulamento técnico para medicamento
genérico.
Lex:
Disponível
em:
<http://www.anvisa.gov.br>.
5. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
RE nº 310, de 1º de setembro de 2004,
Dispõe sobre o guia para realização do
estudo e elaboração do relatório de
equivalência farmacêutica e perfil de
dissolução.
Lex:
Disponível
em:
<http://www.anvisa.gov.br>.
6. ALLEN, L.V.J., POPOVICH, N.G.,
ANSEL, H.C. In: Ansel’s Pharmaceutical
Dosage Forms and Drug Delivery Systems. 8
ed, Lippincott Williams & Wilkins:
Philadelphia, 2005, 738p.
7. AULTON, Michael E. In: Pharmaceutics:
The Science of Dosage Form Design. 2 ed.
London: Churchill Livingstone, 2002. 679p.
8. PORTA, V., YAMAMICHI, E.,
STORPIRTIS, S. Avaliação biofarmacêutica
in vitro de cápsulas de fluconazol. Revista
Brasileira de Ciências Farmacêuticas, São
Paulo, v.38, n.3, p.333-343, 2002.
9. GOMES, Maria Jose Vasconcelos de
Magalhães., REIS, Adriano Max Moreira. In:
Ciências farmacêuticas: uma abordagem em
farmácia hospitalar. São Paulo: Atheneu,
2000. 558p.
10. SWEETMAN, S. Martindale: The
Complete
Drug
Reference.
London:
Pharmaceutical Press. Electronic version,
Thomson MICROMEDEX, Greenwood
Village, Colorado, (06/2005). Disponível
em:
<http://www.dotlib.com.br/micromedex>.
25
Cruz, A. P. et al.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 19-26, jan./dez. 2005
11. GOODMAN, Louis Sanford., GILMAR,
Alfred Goodman., HARDMAN, Joel G. As
bases farmacológicas da terapêutica. 9. ed.
Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 1997. 1436p.
12. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Relação
Nacional
de
Medicamentos
Essenciais 2002 – RENAME. Brasília- DF.
Lex:
Disponível
em:
<http://www.anvisa.gov.br>.
13. DRUGDEX DRUG EVALUTION/
Micromedex,
Disponível
em:
<http://www.dotlib.com.br/micromedex>.
14. KOROLKOVAS, Andrejus. Dicionário
terapêutico Guanabara. ed. 2004/2005 Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. 1v.
(várias paginações).
15. THE UNITED States Pharmacopoeia. 26
ed. Rockville: United States Pharmacopeial
Convention, 2003.
para comparação de perfis de dissolução In
Vitro f1, f2 e ANOVA. Revista Portuguesa
de Farmácia, v. 4, p. 171-176, 2000.
20. COSTA, P., LOBO, J.M.S. Modeling
and comparison of dissolution profiles.
European Journal of Pharmaceutical
Sciences, v. 13, p. 123-133, 2001.
21. VARELAS, C.G., DIXON, D.G.,
STEINER, C.A. Zero-order release from
biphasic polymer hydrogels. Journal of
Controlled Release, v.34, p.185, 1995.
22. AGNES, E.J., ORTEGA, G.G. Modelos
matemáticos e físico-química da difusão.
Caderno de Farmácia, v.19, p. 9-19, 2003.
23. ADAMS, E. et al. Non-linear mixed
effects models for the evaluation of
dissolution profiles. International Journal of
Pharmaceutics, v. 240, p.37, 2002.
16. MOTTA, Valter T., WAGNER, Mario B.
Bioestatística. Caxias do Sul: EDUCS, São
Paulo: Robe, 2003. 201p.
24. ANDRETTA, H.A. Fármacos de Accíon
Prolongada: Mecanismos de Liberación.
Usos de Distintos
Modelos. Acta
Farmaceutica Bonaerense, v.22, p. 355,
2003.
17. MOORE, J.W., FLANNER, H.H.
Mathematical comparison of curves with an
emphasis
on
dissolution
profiles.
Pharmaceutical Technology. v. 20, p. 64-74,
1996.
25. JORGENSEN, K., CHRISTENSEN,
F.N. Shape modeling of dissolution profiles
by non-integer kinetic orders. International
Journal of Pharmaceutics, v. 143, p. 223,
1996.
18. FDA. CDER. Guidance for Industry.
Dissolution Testing of Immediate Release
Solid Oral Dosage Forms. Disponível em:
<http://www.fda.gov/cder/guidance/>.
26. ANDERSON, N.H. et al. An evaluation
of fit factors and dissolution efficiency for
the comparison of in vitro dissolution
profiles. Journal of Pharmaceutics and
Biomedical Analysis, v. 17, p. 811-822,
1998.
19. BARRETO, Margarida. et al.
Desempenho de diferentes metodologias
26
Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 27-34, jan./dez. 2005
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO NUTRICIONISTA EM SANTA CATARINA (1980 –
2003) [Nutritionist’s historic evolution in the state of Santa Catarina, BRAZIL (19802003)]
Francisco de Assis Guedes de Vasconcelos1; Camila Elizandra Rossi2; Mirele Costa2
Resumo: O artigo descreve a evolução histórica do nutricionista, em Santa Catarina, no período
1980-2003. Com base nas listagens do Conselho Regional de Nutricionistas (CRN-2) e dos egressos
da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade do Vale do Itajaí apresenta-se a
distribuição dos nutricionistas segundo município; mesorregião geográfica; número de habitantes;
instituição formadora e gênero. Os resultados mostram que: nos últimos 15 anos, ocorreu um aumento
de 542% no número de nutricionistas; Florianópolis detém a maior concentração, seguido por
Joinville, Blumenau e Balneário Camboriú; 96,5 % são do gênero feminino e 36,3 % são procedentes
da UFSC.
Palavras Chave: nutricionista; egressos da UFSC; perfil profissional do nutricionista.
Abstract: This article describes the nutritionist’s historic evolution, in the state of Santa Catarina
(South Brazil), 1980-2003 period. Nutritionist’s distribution, according to city, geographic region,
number of inhabitants, university they graduated from and gender, is presented based upon the
Regional Council of Nutritionists’ register (CRN – 2) and Santa Catarina University (UFSC) and
Itajaí Valley University graduated lists. The results found show that an elevation of 542% in the
number of nutritionists has happened in the past fifteen years; the capital of Santa Catarina contains
the biggest concentration of them, followed by the cities of Joinville (North), Blumenau and Balneario
Camboriu (Valley of Itajaí); 96.5% of the nutritionists are women and 36.3% are graduates from
UFSC.
Keywords: nutritionist; graduates from UFSC; nutritionist’s professional profile.
Introdução
No Brasil, o processo histórico de
formação profissional do nutricionista teve
seu início na década de 1940, quando foram
criados os quatro primeiros cursos do país.
Nas décadas de 1950 e 1960 instituíram-se
mais três cursos e, assim, até o ano de 1975,
existiam sete cursos para formação de
nutricionistas no Brasil, oferecendo cerca de
570 vagas anuais 1, 2, 3, 4, 5.
A partir de 1976, com a instituição do
II Programa Nacional de Alimentação e
Nutrição (II PRONAN), desenvolvido sob a
coordenação do Instituto Nacional de
Alimentação e Nutrição (INAN), autarquia
vinculada ao Ministério da Saúde, verificouse um primeiro momento de expansão dos
cursos para formação de nutricionistas no
________________
1
1
país. Neste sentido, à medida que uma das
diretrizes do II PRONAN consistia em
estimular o processo de formação e
capacitação de recursos humanos em
Nutrição, no período de 1976 a 1980,
expandiu-se de sete para 31 o número de
Cursos de Graduação em Nutrição.
Simultaneamente, observou-se um aumento
de cerca de 279% nas vagas existentes, que
passaram a perfazer um total de 1.592 anuais
2, 5
.
Nos últimos 25 anos, sobretudo a
partir de 1996, com a vigência da Lei nº
9.394 de 20/12/1996, a nova Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB),
verificou-se um processo de expansão dos
Cursos de Nutrição muito mais intenso do
que no período anterior 5, 6.
Professor titular do Departamento de Nutrição/CCS/UFSC. E-mail: [email protected]
Acadêmicas do Curso de Graduação em Nutrição/CCS/UFSC.
27
Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 27-34, jan./dez. 2005
De acordo com Calado (2000) 6, em
31 de janeiro de 2000, existiam 106 Cursos
de Nutrição no país, sendo 22 públicos e 84
privados. Ou seja, observou-se uma
expansão de cerca de 342% no número de
cursos, um aumento exclusivamente
determinado pela criação de 75 novos cursos
privados. Ainda de acordo com Calado
(2000) 6, a oferta do número de vagas na
Graduação em Nutrição, em janeiro de 2000,
correspondia a cerca de 8.000 por ano,
caracterizando um aumento de 502,5% em
relação ao número existente em 1980.
Em janeiro de 2005, de acordo com
dados do Conselho Federal de Nutricionistas
(CFN), existiam 241 Cursos de Nutrição no
Brasil 7, caracterizando um aumento de
aproximadamente 227% em apenas cinco
anos.
Conseqüentemente, com o acelerado
aumento do número de cursos e de vagas,
nos últimos 25 anos, também se observou
uma ampliação quantitativa de nutricionistas
no país. Em 1989, existia um contingente de
11.898 nutricionistas no Brasil 8, 9. Em junho
de 2000, dados do CFN indicavam um
efetivo de 27.834 profissionais registrados
nos
sete
Conselhos
Regionais
de
Nutricionistas (CRN) do país. Naquele
momento, os dez Estados brasileiros com
maiores concentrações de nutricionistas, em
ordem decrescente, eram: São Paulo
(27,0%), Rio de Janeiro (18,4%), Rio Grande
do Sul (17,9%), Bahia (5,0%), Paraná
(3,7%), Distrito Federal (3,6%), Minas
Gerais (3,3%), Pernambuco (3,1%), Mato
Grosso (2,1%) e Santa Catarina (2,1%) 5.
Em Santa Catarina, conforme já
apontado em trabalhos anteriores 9, 10, 11, a
história do processo de formação profissional
do nutricionista é bastante recente, estando
vinculada à criação do Curso de Graduação
em Nutrição da Universidade Federal
(UFSC). Este curso foi criado através da
portaria n.º 384/Gabinete do Reitor - UFSC,
de 10 de agosto de 1979, e implantado no
primeiro semestre de 1980. Em 22 de
fevereiro de 1985, através do Parecer 109/85
e da Portaria Ministerial 249, de 25 de março
de 1985, obteve o reconhecimento pelo
Ministério da Educação e Cultura. A
primeira turma de egressos deste curso,
composta por 20 nutricionistas, colou grau
em dezembro de 1983 9, 10, 11. Até fevereiro
de 2005, ao completar 25 anos de
implantação, 22 turmas haviam colado grau,
totalizando 509 nutricionistas egressos da
UFSC.
Por outro lado, é preciso ressaltar que
em função das limitadas informações
existentes, ainda não é possível descrever
com precisão o processo histórico de
emergência da atuação do nutricionista em
Santa Catarina. É provável que o início
deste processo tenha ocorrido de forma
simultânea à própria história de emergência
do nutricionista no Brasil. Uma das
evidências que pode dar sustentação a essa
hipótese encontra-se no fato de uma das
primeiras nutricionistas do Brasil, Lieselotte
Hoeschl Ornellas, catarinense, nascida em
Florianópolis, ter realizado na década de
1930 o Curso de Dietistas do Instituto
Nacional de Nutrição, de Buenos Aires,
Argentina, sob a coordenação do pioneiro da
Nutrição na América Latina, Pedro Escudero
12, 13
.
O presente artigo, concernente à
história do nutricionista, refere-se, pois, aos
resultados de um estudo transversal
descritivo que procurou traçar um perfil
quantitativo dos nutricionistas cadastrados
no Conselho Regional de Nutricionistas da 2ª
Região (CRN-2), domiciliados no Estado de
Santa Catarina, em maio de 2003. Os
resultados obtidos foram comparados aos de
estudo anterior 9, possibilitando a análise da
trajetória histórica do nutricionista no Estado
de Santa Catarina ao longo do período 19892003.
Método
A base empírica deste estudo foi
constituída pela listagem de endereços (mala
direta) dos nutricionistas inscritos no
Conselho Regional de Nutricionistas (CRN2), obtida em maio de 2003; pelas listagens
28
Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 27-34, jan./dez. 2005
das turmas de nutricionistas formados pelo
Curso de Graduação em Nutrição da UFSC
no período de 1983 a 2002 e pelas listagens
das turmas de nutricionistas formados pelo
Curso de Graduação em Nutrição da
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)
no período de 2000 a 2002.
Recorreu-se ainda aos quadros
estatísticos do efetivo de nutricionistas
(pessoas físicas) do Conselho Federal de
Nutricionistas (CFN) 8, 14, 15, aos dados de
população residente do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) 16 e aos
resultados de uma investigação realizada em
1989 sobre o perfil do nutricionista em
Florianópolis, Santa Catarina 9 .
Os dados foram processados e
analisados no Microsoft Excel 98, sendo
apresentados sob a forma de tabelas de
distribuição de freqüência.
Neste artigo serão apresentados os
resultados relativos à evolução da
distribuição do número de nutricionistas de
Santa Catarina no decorrer do período de
1989 a 2003, segundo o município de
residência; a mesorregião geográfica; o
número de habitantes; a instituição
formadora e o gênero.
Resultados e discussão
A tabela 1 apresenta a evolução da
distribuição do número de nutricionistas de
Santa Catarina, segundo os municípios de
atuação, nos anos de 1989 e 2003. Ao longo
dos 14 anos que separam os dois estudos
observa-se um aumento de 421,4% no
número de nutricionistas no Estado. Em
2003, os 809 nutricionistas existentes
encontravam-se
distribuídos
em
90
municípios catarinenses, sendo as dez
maiores
concentrações
verificadas,
respectivamente, em Florianópolis (32,5 %),
Joinville (10,0 %), Blumenau (9,4 %),
Balneário Camboriú (6,7%), Criciúma (3,7
%), Jaraguá do Sul (3,5 %), São José 27 (3,3
%), Itajaí (2,7 %), Chapecó (2,5 %) e
Tubarão (1,9 %).
Em
1989,
o
município
de
Florianópolis concentrava cerca de 54,7 %
dos nutricionistas residentes no Estado 9. Em
2003, embora Florianópolis permaneça
concentrando o maior número absoluto do
total de profissionais, verificou-se uma
redução do seu valor relativo e maior
distribuição dos nutricionistas nos outros
municípios catarinenses. Provavelmente, isto
deve ter ocorrido em função da maior oferta
de empregos em municípios como Joinville,
Blumenau, Balneário Camboriú, Criciúma,
Jaraguá do Sul, Itajaí, Chapecó e Tubarão,
importantes pólos econômicos do Estado.
Distribuição territorial do nutricionista em
Santa Catarina
Tabela 1 - Evolução da distribuição do número de nutricionistas atuantes em Santa Catarina,
segundo os municípios de atuação nos anos de 1989 e 2003 (1).
Município
Florianópolis (3)
Joinville
Blumenau
Balneário Camboriú
Criciúma
Jaraguá do Sul
São José
Itajaí
Chapecó
Tubarão
1989
N
105
15
16
7
3
3
5
3
%
54,7
7,8
8,3
3,7
1,6
1,6
2,6
1,6
2003
N
263
82
76
54
30
28
27
22
20
15
%
32,5
10,0
9,4
6,7
3,7
3,5
3,3
2,7
2,5
1,9
%
de
crescimento (2)
250,5
546,7
475,0
428,6
933,3
733,3
400,0
500,0
29
Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 27-34, jan./dez. 2005
São Bento do Sul
Lages
Brusque
Rio do Sul
Caçador
Itapema
Xanxerê
Araranguá
Concórdia
Imbituba
Tijucas
Indaial
Biguaçu e outros (4)
Fraiburgo (5)
Videira
São Miguel D’Oeste
Joaçaba
Capinzal e outros (6)
Ibirama, Içara
Anchieta e outros (7)
São Joaquim, Xaxim
Campos Novos e outros
Total
(8)
1
3
2
1
2
3
2
1
4
2
3
2
2
2
5
192
0,5
1,6
1,0
0,5
1,0
1,6
1,0
0,5
2,0
1,0
1,6
1,0
1,0
1,0
2,6
100,0
14
13
12
8
7
7
6
5
5
5
5
4
12
12
3
2
2
20
4
44
2
809
1,7
1,6
1,5
1,0
0,9
0,9
0,7
0,6
0,6
0,6
0,6
0,5
1,5
1,5
0,4
0,25
0,25
2,5
0,5
5,4
0,25
100,0
1400,0
433,3
600,0
800,0
300,0
166,7
250,0
500,0
300,0
150,0
- 66,7
0,0
200,0
0,0
421,4
Notas:
(1) Tabela elabora a partir de listagens do Conselho Regional de Nutricionistas (CRN-2).
(2) Para cálculo do percentual de crescimento entre 1989 e 2003, considerou-se 1989 como 100%.
(3) No levantamento realizado em 1989 foram agrupados os nutricionistas domiciliados nos
Municípios de Florianópolis, São José, Palhoça e Biguaçu.
(4) Biguaçu, Canoinhas, Rio Negrinho e Urussanga (três nutricionistas por município).
(5) Fraiburgo, Mafra, São Francisco do Sul e Timbó (1 nutricionista em 1989 e três em 2003 por
município).
(6) Capinzal, Itapiranga, Ituporanga, Maravilha, Nova Trento, Nova Veneza, Palhoça, Pomerode,
Porto União e Seara (dois nutricionistas por município).
(7) Anchieta, Antônio Carlos, Apiúna, Barra Velha, Bombinhas, Braço do Norte, Capivari de Baixo,
Catanduvas, Correia Pinto, Cunha Porã, Curitibanos, Descanso, Forquilhinha, Garopaba, Garuva,
Herval d’Oeste, Itá, Itaiópolis, José Boiteux, Lontras, Luzerna, Meleiro, Morro da Fumaça,
Navegantes, Otacílio Costa, Ouro, Papanduva, Penha, Piçarras, Porto Belo, Presidente Getúlio, Rio
das Antas, Rio do Oeste, Rodeio, Salto Veloso, Sangão, Santa Cecília, Santa Helena, São Carlos,
São José do Cedro, São Lourenço do Oeste, Sombrio, Trombudo Central e Vidal Ramos (um
nutricionista por município).
(8) Campos Novos, Guarujá do Sul, Laguna, Massaranduba, Quilombo (um nutricionista por
município em 1989).
A tabela 2 apresenta a distribuição
dos nutricionistas segundo as mesorregiões
do Estado, em maio de 2003. Observa-se
que a mesorregião Grande Florianópolis
concentra o maior número de nutricionistas,
303 (37,5 %), seguida pelas regiões do Vale
do Itajaí com 206 (25,5 %), Norte
catarinense com 141 (17,43 %), Oeste
catarinense com 71 (8,7 %), Sul catarinense
com 70 (8,7 %) e, por último, a Serrana com
18 profissionais (2,2 %).
30
Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 27-34, jan./dez. 2005
Tabela 2 - Distribuição dos nutricionistas cadastrados no CRN-2, segundo as Mesorregiões
do Estado de Santa Catarina, maio de 2003.
Mesorregião
Grande Florianópolis
Vale do Itajaí
Norte Catarinense
Oeste Catarinense
Sul Catarinense
Serrana
Total
N
303
206
141
71
70
18
809
Evolução do número de nutricionistas por
habitantes no Brasil e em Santa Catarina
A tabela 3 apresenta a evolução do
total de nutricionistas e da relação número de
nutricionistas por habitantes no Brasil e em
Santa Catarina nos anos de 1989, 2003 e
2004. Entre 1989 e 2004, verificou-se um
aumento de cerca de 305% (ou de três vezes)
no total de nutricionistas existentes no Brasil.
Em Santa Catarina, nesse mesmo período, o
aumento verificado foi de cerca de 542% (ou
%
37,5
25,5
17,4
8,7
8,7
2,2
100,0
de 5,4 vezes). Comportamento semelhante
verificou-se para o índice número de
nutricionistas por habitantes. Em 1989, o
Brasil apresentava um nutricionista para cada
11.500 habitantes 9, enquanto que em 2004
esse índice passou a ser um nutricionista para
cada 5.050 habitantes. Por outro lado, em
1989, Santa Catarina apresentava um
nutricionista para cada 23.500 habitantes 9,
enquanto em 2004 o índice reduziu-se para
um nutricionista para cada 5.410 habitantes,
praticamente igualando-se ao índice do país.
Tabela 3 - Evolução da distribuição do número de nutricionistas e da relação número de
nutricionistas por habitantes no Brasil e em Santa Catarina nos anos 1989, 2003 e 2004.
Brasil
SC
1989
Total
de
Nutricionis
tas
11.898
(100,0%)
192
(1,6 %)
Nutricionis
ta
/ habitante
1/ 11.500
1/ 23.500
2003
Total
de
Nutricionis
tas
33.328
(100,0%)
904
(2,7%)
A contribuição do Curso de Graduação
em Nutrição da UFSC no universo de
nutricionistas de Santa Catarina
Entre 1980 e 1996 o Curso de
Graduação em Nutrição da UFSC era o único
existente no Estado. Vale ressaltar que ao
longo dos seus vinte e cinco anos de
implantação, este curso passou por uma série
de reformulações curriculares, visando à
melhoria do processo de formação e
Nutricionis
ta
/ habitante
1/ 5.220
1/ 6.950
2004
Total
de
Nutricionis
tas
36.292
(100,0%)
1.040
(2,9%)
Nutricionis
ta
/ habitante
1/ 5.050
1/ 5.410
qualificação profissional do nutricionista.
Até o momento, oferece 40 vagas anuais
(entrada única), é desenvolvido com uma
duração de cinco anos (dez fases) e uma
carga horária total de 3.870 horas/aula. Até
maio de 2003, o Curso da UFSC formou um
efetivo de 438 nutricionistas 10, 11 .
No segundo semestre de 1996 foi
implantado o Curso de Graduação em
Nutrição da Universidade do Vale do Itajaí
(UNIVALI), o qual funciona no Campus II
31
Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 27-34, jan./dez. 2005
de Balneário Camboriú, oferece 44 vagas por
semestre, é desenvolvido com uma duração
de quatro anos (oito períodos) e uma carga
horária total de 3.405 horas/aula 10, 11. O
referido curso da UNIVALI formou a
primeira turma no primeiro semestre de
2000, colocando no mercado 26 novos
nutricionistas. Até maio de 2003 seis turmas
de nutricionistas foram formadas pela
UNIVALI, totalizando 182 nutricionistas
egressos deste curso.
Ressalta-se que em janeiro de 2005, o
Estado de Santa Catarina contava com a
existência de oito Cursos de Graduação em
Nutrição, uma vez que entre 2002 e 2004
foram criados mais seis novos cursos, a
saber: Curso de Nutrição da Universidade do
Sul de Santa Catarina (UNISUL) – Campus
Tubarão; Curso de Nutrição da UNISUL –
Campus da Grande Florianópolis; Curso de
Nutrição da Universidade Regional de
Blumenau (FURB); Curso de Nutrição da
Universidade do Contestado (UNC) –
Caçador; Curso de Nutrição da Universidade
do Extremo Sul Catarinense (UNESC) –
Criciúma e Curso de Nutrição do Instituto
Superior e Centro Educacional Luterano
Bom Jesus (IELUSC) – Joinville 7.
A tabela 4 procura demonstrar a
contribuição do Curso de Graduação em
Nutrição da UFSC sobre o universo de
nutricionistas do Estado de Santa Catarina.
Observa-se que dos 809 nutricionistas
cadastrados no CRN-2, em maio de 2003,
294 são egressos da UFSC, correspondendo
a 36,3 % deste total. Os egressos da
UNIVALI perfazem um total de 142
profissionais (17,6%). Os demais 373
nutricionistas residentes em Santa Catarina
(46,1%) foram formados em outras
instituições, particularmente em IES dos
Estados do Rio Grande do Sul e do Paraná.
Levando em consideração que para o
exercício legal da profissão, o nutricionista
deverá, obrigatoriamente, estar inscrito no
Conselho Regional de Nutricionistas de sua
jurisdição, a partir dos dados da tabela 4,
pode-se chegar a seguinte constatação:
Do universo de 438 nutricionistas
egressos da UFSC e de 182 nutricionistas
egressos da UNIVALI, 144 (32,9%) e 40
(20,0%), respectivamente, não estavam
exercendo a profissão no Estado de Santa
Catarina, sugerindo que esses profissionais
devam estar atuando em outros Estados
brasileiros ou não exercendo a profissão.
Tabela 4 – Distribuição dos nutricionistas cadastrados no CRN-2, segundo a instituição de
ensino superior (IES) formadora, maio de 2003.
Universidade
UFSC
UNIVALI
Outras IES
TOTAL
A distribuição dos nutricionistas segundo
o gênero
Os resultados mostraram que, dos
809 nutricionistas cadastrados no CRN-2,
780 (96,5%) são do gênero feminino contra
apenas 29 (3,5%) do gênero masculino.
De forma semelhante, do universo de
438 nutricionistas egressos da UFSC, 416
(95,0%) são do gênero feminino contra
Número
294
142
373
809
Porcentagem (%)
36,3
17,6
46,1
100,0
apenas 22 (5,0%) do gênero masculino. Do
universo de 182 nutricionistas egressos da
UNIVALI, 177 (97,3%) são do gênero
feminino contra apenas 5 (2,7 %) do gênero
masculino.
Estes resultados corroboram os
achados de outras investigações empíricas e
de diversas análises e interpretações sobre a
origem e a trajetória histórica da profissão de
nutricionista no Brasil, os quais apontam a
32
Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 27-34, jan./dez. 2005
hegemônica participação feminina na
constituição do perfil desse profissional 11, 17,
18, 19
.
Conclusão
O presente estudo sobre a evolução
histórica do nutricionista em Santa Catarina
permitiu demonstrar que, ao longo dos 25
anos investigados, houve um expressivo
aumento na quantidade de profissionais neste
Estado. A criação do Curso de Nutrição da
UNIVALI contribuiu positivamente para o
aumento do número de profissionais, a partir
de 2000.
A capital Florianópolis e a
mesorregião da Grande Florianópolis
continuam com a maior concentração de
profissionais, muito embora entre 1989 e
2003, tenha ocorrido maior distribuição dos
nutricionistas em outros municípios e
messoregiões do Estado.
Os resultados também indicam uma
sensível redução da relação nutricionista por
habitante em Santa Catarina, praticamente
igualando-se aos valores encontrados para o
país. De forma semelhante, a distribuição
dos nutricionistas segundo o gênero também
corrobora a tendência histórica da
hegemônica participação feminina na
conformação do perfil do nutricionista
brasileiro.
É provável que nos próximos cinco
anos, em função da criação dos novos Cursos
de Nutrição e do conseqüente lançamento de
um maior número de profissionais no
mercado de trabalho, o quadro ora traçado
apresente uma nova configuração. É possível
que ocorra uma redistribuição territorial dos
nutricionistas, bem como modificações no
mercado de trabalho e áreas de atuação
profissional. Neste sentido, investigações
que possibilitem o monitoramento dessas
possíveis alterações tornam-se cada vez mais
imprescindíveis.
Referências bibliográficas
1. ASBRAN (Associação Brasileira de
Nutrição). In: Histórico do Nutricionista no
Brasil - 1939 a 1989: coletânea de
depoimentos e documentos. São Paulo:
Ateneu, 1991. 444 p.
2. BOSI, M. L. M. In: A Face Oculta da
Nutrição: Ciência e Ideologia. Rio de
Janeiro: Espaço e Tempo: Ed. UFRJ, 1988.
220 p.
3. COSTA, N. S. C. In: A formação do
nutricionista: educação e contradição.
Goiânia: Editora da Universidade Federal de
Goiás, 2001. 151 p.
4. L’ABBATE, S. As Políticas de
Alimentação e Nutrição no Brasil. I. Período
de 1940 a 1964. Revista de Nutrição,
Campinas, v. 1, n. 2, p. 87 – 138, 1988.
5. VASCONCELOS, F. A. G. O
nutricionista no Brasil: uma análise histórica,
Revista de Nutrição, Campinas, v. 5, n. 2, p.
127-138, maio/ago. 2002.
6. CALADO, C. L. A. A Nova LDB e o
Curso de Nutrição. Jornal do Conselho
Federal de Nutricionistas (CFN), Brasília, v.
2, n. 6, p. 5-5, abr. 2000.
7. CALADO, C. L. A. Relação de endereços
dos Cursos de Nutrição no Brasil janeiro 2005.
[online].
Disponível:
http://www.cfn.org.br/inicial/escolas_
nutricao_jan05.doc.
8.
CFN (Conselho Federal de
Nutricionistas).
Boletim
Informativo,
Brasília, v.3, n.3, 1989.
9. VASCONCELOS, F. A. G. Um perfil do
nutricionista em Florianópolis - Santa
Catarina. Revista de Ciências da Saúde,
Florianópolis, v. 10, n.1-2, p. 73-86, 1991.
10. ALVES, E., ROSSI, C. E.,
VASCONCELOS, F. A. G. Nutricionistas
egressos da Universidade Federal de Santa
Catarina: áreas de atuação, distribuição
geográfica, índices de pós-graduação e de
filiação aos órgãos de classe. Revista de
Nutrição, Campinas, v. 16, n.3, p. 295-304,
set. 2003.
33
Vasconcelos, F. de A. G. et al. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 27-34, jan./dez. 2005
11. ALVES, E., ROSSI, C. E.,
VASCONCELOS, F. A. G. Nutricionistas
egressos da UFSC: Uma caracterização
preliminar. Revista Ciências da Saúde,
Florianópolis, v. 20, n. 1-2, p. 42-48,
jan./dez. 2001.
12. ORNELLAS, L. H. In: A alimentação
através dos tempos. Florianópolis: Editora da
UFSC, 2000. 307 p.
13. VASCONCELOS, F. A. G. In: Como
nasceram meus anjos brancos: A constituição
do campo da Nutrição em Saúde Pública em
Pernambuco. Recife: Edições Bagaço, 2001.
174 p.
14
CFN
(Conselho
Federal
de
Nutricionistas). Quadro estatístico do 4º
trimestre/2004 (1º/10/2004 a 31/12/2004).
Disponível
em:
http://www.cfn.org.br/variavel/ destaque /
quadro_estatístico20.htm..
15.
CFN
(Conselho
Federal
de
Nutricionistas). Quadro estatístico do 4º
trimestre/2003 (1º/10/2003 a 31/12/2003).
Disponível
em:
http://www.cfn.org.br/variavel/
destaque/
quadro_estatístico16.htm..
16. IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios. Síntese de Indicadores 2003.
Disponível
em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pop
ulacao/trabalhoe
rendimento/pnad2003/sintese/tab13.pdf .
17. ANDRADE, L. P., LIMA, E. S. A
formação e a prática do nutricionista: o
gênero nas entrelinhas. Nutrire (Revista da
Sociedade Brasileira de Alimentação e
Nutrição), São Paulo, v.26, p. 109-126, dez.
2003.
18. BOSI, M. L. M. In: Profissionalização e
conhecimento: a Nutrição em questão. São
Paulo: Hucitec. 1996. 205 p.
19. VIANA, S. V. In: Nutrição, trabalho e
sociedade. São Paulo: HUCITEC, 1996. 167
p.
34
Parisenti, J.; Tramonte, G. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 35-41, jan./dez. 2005
IMPORTANCIA ALIMENTAR DOS MOLUSCOS MARINHOS [Importance of sea
mollusks in the human meal]
Jane Parisenti1; Vera Lúcia Cardoso Garcia Tramonte2
Resumo: Os frutos do mar são alimentos fontes de proteínas, lipídios, minerais e vitaminas. Estudos
recentes mostram que os moluscos marinhos apresentam lipídios benéficos à saúde, em especial
ácidos graxos ômega-3 e esteróis, que exercem influência sobre o sistema cardiovascular. A produção,
especialmente de ostras e mexilhões, vem aumentando em Santa Catarina, sendo atualmente
importante atividade comercial e fonte de renda. Estudos com os frutos do mar de cada região são
importantes pois a composição em nutrientes destes alimentos varia conforme fatores ambientais
como qualidade e temperatura da água de cultivo, sexo e estágio de maturação sexual. Este artigo
apresenta aspectos atuais sobre a importância destes na alimentação.
Palavras-chave: moluscos marinhos, valor nutritivo, ostras, mexilhões
Abstract: Seafoods are rich in proteins, lipids, minerals and vitamins. Recent studies show that sea
mollusks have lipids benefic to the health, specially W-3 fatty acid and sterols, which positively
influences the cardiovascular system. The production of oysters and mussels are very high in Santa
Catarina state, where it represents important commercial activity. Studies about the seafood in each
littoral region are very important, because the nutrient composition may be altered by water
temperature and composition, sex and reproductive state. This work presents recent aspects of the
importance of these mollusks in the human meal.
Keywords: sea mollusks, nutritive value, oysters, mussels.
Introdução
Os frutos do mar apresentam
importante valor nutritivo sendo ricos em
nutrientes essenciais.
A produção de moluscos marinhos
tem grande importância comercial no Brasil,
que destaca-se como principal produtor de
mexilhões e ostras da América Latina1,
sendo o estado de Santa Catarina o maior
produtor nacional. Apesar do importante
valor nutritivo e econômico/comercial para
nossa região, grande parte da população
desconhece o verdadeiro valor nutricional e
considera esses alimentos fontes de
colesterol e gorduras prejudiciais a saúde.
Novos estudos mostram que alguns
moluscos marinhos podem ser benéficos à
saúde, em especial ao sistema cardiovascular
devido as suas propriedades hipolipidêmicas.
No entanto, o valor nutritivo dos
moluscos depende da espécie e de vários
fatores ambientais. Em geral, as tabelas de
composição de alimentos apresentam dados
obtidos com alimentos de outros paises ou
regiões não correspondendo ao real valor
nutritivo dos alimentos consumidos. Além
disso, a falta do nome científico dificulta a
identificação do alimento e pode causar
dúvidas; a palavra mexilhão pode significar
moluscos diferentes, dependendo da região.
Mais pesquisas sobre a composição
nutricional de frutos do mar são necessárias
já que estas informações são utilizadas pela
indústria alimentícia no processamento,
conservação e rotulagem de produtos
marinhos; por serviços médicos, em especial
nutricionistas, para recomendação destes
alimentos na dieta de seus pacientes e pelo
público em geral.
____________________
1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Nutrição/UFSC
Professora, Drª do Programa de Pós-Graduação em Nutrição/uFSC [email protected][email protected]
2
35
Parisenti, J.; Tramonte, G. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 35-41, jan./dez. 2005
Valor nutritivo dos moluscos marinhos
Os moluscos, principalmente ostras e
mexilhões, são considerados alimentos
saudáveis, sendo boas fontes de proteínas de
alto valor biológico, ácidos graxos essenciais
e reduzido valor calórico. De maneira geral
contém minerais como selênio, iodo, flúor,
cobre, zinco e ferro os quais parecem possuir
boa biodisponibilidade. Também fornecem
vitaminas em maiores concentrações que as
carnes de animais terrestres e lipídios
benéficos à saúde.
Vários estudos mostram que a
composição nutricional dos frutos do mar é
influenciada por fatores como espécie, sexo,
grau de maturação sexual, tamanho,
metabolismo lipídico e fatores extrínsecos
como temperatura da água, local de cultivo,
tipo de alimentação e estação do ano. Os
lipídios e a umidade são os principais
constituintes afetados.
O crescimento das ostras depende
também da temperatura e salinidade da água,
total de sólidos suspensos, concentração e
composição dos alimentos consumidos.
Estudos mostram que os estoques de
carboidratos, lipídios e proteínas das ostras
variam conforme o estágio de maturação
sexual, sendo este influenciado pela
temperatura da água.
Estudo realizado por Tramonte et al,
com
moluscos
coletados
em
Florianópolis/SC, mostrou que ostras
C.gigas e C. rhizophorae coletadas na
primavera apresentaram maior teor de
lipídios que as coletadas no verão.
Comparando as duas espécies a ostra C.
gigas apresentou maior teor de lipídios. Para
os mexilhões (Perna perna), os coletados na
primavera apresentaram maior teor protéico
que os de verão. Quanto ao sexo, mexilhões
machos apresentaram maior teor de proteínas
e menor de lipídios que as fêmeas.
Lipídeos marinhos e saúde
Estudos com animais e humanos
mostram que a composição de ácidos graxos
e colesterol da dieta influenciam na
concentração de lipoproteínas no sangue.
O consumo de ácidos graxos
saturados é o principal fator que eleva o
colesterol sanguíneo, pois inibem a remoção
plasmática das partículas de LDL-colesterol,
além de facilitar a entrada de colesterol
nessas partículas. Os ácidos graxos
poliinsaturados
apresentam
efeito
hipocolesterolêmico e os monoinsaturados
parecem
não
apresentar
efeito
na
colesterolemia. O consumo de colesterol
através da dieta eleva a taxa de colesterol
total em relação à fração HDL-colesterol,
aumentando o risco de doença coronariana.
Novos estudos mostram que os ácidos
graxos de maior interesse para a saúde do
sistema cardiovascular são os ácidos graxos
da série ômega-3, incluindo o ácido
linolênico, encontrado em fontes vegetais
como o óleo de soja, canola e linhaça, o
eicosapentaenóico
(EPA)
e
o
docosahexaenóico (DHA) presentes no óleo
de pescados em especial salmão e arenque e
também em ostras e mexilhões.
A proteção cardiovascular conferida
pelos ácidos graxos EPA e DHA deve-se a
capacidade desses ácidos em diminuir os
triglicerídeos séricos e interferir na produção
de prostaglandinas, moléculas envolvidas na
cascata de coagulação sanguínea, diminuindo
o risco de formação de trombos. A
Sociedade
Brasileira
de
Cardiologia
recomenda o consumo de 4g/dia de ácidos
graxos ômega-3 para auxiliar na diminuição
dos triglicerídeos sanguíneos.
Medeiros, em estudo realizado
encontrou grande proporção de ácidos graxos
poliinsaturados ômega-3, principalmente
EPA e DHA nos mexilhões da região de
Florianópolis. No entanto também observou
a presença de grande quantidade de ácido
palmítico. Este mesmo estudo verificou que
o consumo de mexilhões Perna perna por
cobaias manteve os níveis de colesterol
total, LDL-colesterol, HDL-colesterol e
triglicerídeos séricos semelhantes à aquelas
com consumo de carne bovina de baixo teor
36
Parisenti, J.; Tramonte, G. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 35-41, jan./dez. 2005
de gordura, enquanto que o VLDL-colesterol
diminuiu com o consumo de mexilhões.
Novos estudos mostram que o
consumo de óleo de peixe, peixe e moluscos
auxiliam na redução dos triglicerídeos
sanguíneos, diminui o risco de derrame
cerebral, reduz o risco de infarto do
miocárdio e aumenta a quantidade de ácidos
graxos DHA no leite materno.
Segundo Kimura et al, o extrato
aquoso da ostra Crassostrea gigas diminui
os níveis plasmáticos de ácidos graxos livres,
triglicerídeos e colesterol hepático em ratos
tratados com óleo de milho oxidado e
concluem que a ostra é um alimento saudável
e pode auxiliar na prevenção da
hiperlipidemia.
Tanaka et al em estudo com ratos,
observaram que o consumo de ostras
(Crassostrea gigas) diminuiu a concentração
hepática e sérica de colesterol, os
triglicerídeos hepáticos, aumentou a fração
HDL-colesterol e a excreção fecal de
esteróis.
Nas ostras Crassostrea gigas, o teor
de EPA e DHA corresponde a 20% do total
de ácidos graxos. Linehan et al encontraram
altas concentrações de ácidos graxos ômega3 e baixa concentração de ácidos graxos
saturados totais, sendo o palmítico e o oléico
os presentes em maior quantidade em ostras
Crassostrea gigas. Frutos do mar cultivados
em águas tropicais são fontes importantes de
ácidos graxos poliinsaturados, incluindo
ômega-6 e ômega-3.
Esteróis alimentares
Os esteróis são componentes
alcoólicos presentes em plantas (fitoesteróis)
e animais (zoosteróis). São constituintes
essenciais das membranas celulares de
organismos vivos. As plantas apresentam
vários tipos de fitoesteróis sendo mais
abundante o sitosterol. Nos animais, o
principal esterol é o colesterol.
Os esteróis podem apresentar-se na
natureza de forma livre, esterificados com
ácidos graxos ou como glicosídeos. A forma
esterificada com ácidos graxos insaturados é
a mais lipossolúvel. Na sua forma saturada
os esteróis são chamados estanóis e
apresentam a mesma eficiência na
diminuição da absorção do colesterol.
.De maneira geral os animais
apresentam apenas colesterol na sua
constituição, no entanto, estudos mostram
que os moluscos marinhos apresentam outros
esteróis além do colesterol, denominados
“noncholesterol
sterols”
(NCS).
As
informações referentes à quantidade de
colesterol apresentadas nas tabelas de
composição de alimentos referem-se aos
esteróis totais, não distinguindo somente o
colesterol. Isso ocorre devido à similaridade
estrutural dos esteróis o que dificulta a
separação pelos métodos físicos, sendo
necessárias técnicas como a cromatografia
liquida de alta pressão ou a gasosa. Segundo
Piggot e Tucker os NCS podem representar
de 30 à 70% dos esteróis totais em moluscos
marinhos.
Assim como os fitoesteróis, o
principal mecanismo de ação dos esteróis de
moluscos é a diminuição da absorção do
colesterol no intestino. Os esteróis de
moluscos marinhos inibem ou competem
com o colesterol dietético e endógeno
reduzindo sua absorção.
Estudos realizados por Vanston et al
com hamsters recebendo esteróis por via
subcutânea observaram diminuição da
concentração do colesterol sanguíneo em
relação ao grupo controle, demonstrando a
existência de um mecanismo intrínseco de
ação dos esteróis sobre o metabolismo do
colesterol.
Em análise dos esteróis presente em
ostras, Vahouny et al encontraram 35% de
colesterol e Connor & Lin 37%. Os demais
esteróis identificados foram 24-metileno
colesterol, brasicastero, C-29 esterol
(estigmasterol
e
B-sitosterol),
22dehidrocolesterol e C-26 esterol. Tanaka et
al8 observaram 50% de colesterol e 17% de
brasicasterol e sitosterol em ostras
Crassostrea gigas.
37
Parisenti, J.; Tramonte, G. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 35-41, jan./dez. 2005
Estudos com humanos mostram que o
consumo de fitoesteróis e fitoestanóis
diminui a absorção do colesterol dietético,
aumenta a síntese de colesterol endógeno e
diminui a concentração de LDL-colesterol
sanguíneo, em conjunto com estatinas auxilia
na diminuição do colesterol total e LDLcolesterol mas também diminui a
biodisponibilidade do ß-caroteno e
tocoferol.
Ostlund et al observaram que homens
e mulheres consumindo uma dieta com óleo
de milho isento de fitoesteróis apresentaram
um aumento de 38% na absorção do
colesterol quando comparado com o óleo de
milho contendo os fitoesteróis.
Estudo realizado por Ewart et al com
cobaias, observaram que o consumo de
fitoesteróis esterificados com ômega-3 de
óleo de peixe, baixa os níveis de
triglicerídeos e colesterol total, sendo uma
alternativa
segura
as
drogas
hipocolesterolêmicas convencionais.
O consumo de 2 gramas/dia de
esteróis e estanóis diminuem os níveis de
LDL-colesterol em 10%, contribuindo na
diminuição
do
risco
de
doença
cardiovascular em 12 -20% em cinco anos de
consumo e em até 20% quando consumido
por toda vida.
Estudo realizado por Ntanios et al,
com hamsters, mostraram que os fitoesteróis
apresentam efeito de baixar o colesterol
sanguíneo e inibir o desenvolvimento de
aterosclerose.
De maneira geral, os estudos sobre
esteróis estão voltados ao desenvolvimento
de produtos adicionados ou suplementos de
esteróis. Segundo Ostlund, as novas
pesquisas devem buscar conhecer as
quantidades de esteróis nos alimentos
tradicionais de consumo e elaborar tabelas
para que estas informações possam
contribuir para o conhecimento da
quantidade real de esteróis que a população
está consumindo.
Conclusão
Considerando
os
aspectos
apresentados, é muito importante o
conhecimento da composição nutricional dos
moluscos cultivados em várias regiões do
litoral brasileiro, pois o desconhecimento de
seu valor nutritivo pode fazer com que parte
da população deixe de consumir um alimento
saudável, fonte de nutrientes.
As tabelas de composição de
alimentos devem trazer os nomes científicos
dos moluscos, pois a mesma espécie pode
receber nomes diferentes dependendo da
região do país. Isto possibilitaria aos
profissionais de saúde, especialmente os
nutricionistas,
maior
segurança
para
recomendação destes alimentos na dieta de
seus pacientes.
Referências Bibliográficas
1. LIMA, F.C., ABREU, M.G., MESQUITA,
E.F.M. Monitoramento histopatológico de
mexilhão Perna perna da lagoa de Itaipu,
Niterói, RJ. Arquivo Brasileiro de Medicina
Veterinária e Zootecnia, v.53, n.2, p. 1-5,
abril, 2001.
2. SANTOS, F.M. Influencia da temperatura
sobre o acúmulo de glicogênio e
acompanhamento do ciclo sexual da Ostra do
pacífico Crassostrea gigas (Thunberg, 1795)
em campo e laboratório, durante o verão.
2001.
Dissertação
(Mestrado
em
Aqüicultura) – Centro de Ciências Agrárias.
Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2001.
3. CHILDS, M. T. et al. Effects of shellfish
consumption
on
lipoproteins
in
normolipidemic men. American Journal of
Clinical Nutrition, v. 51, p. 1020-1027, 1990.
4. GONZÁLEZ, M., CARIDE, B., LAMAS,
A., TABOADA, C. Nutritional value of the
marine invertebrates Anemonia viridis and
Hamiothis tuberculata and effets on serun
cholesterol concenmtration in rats. Journal of
Nutritional Biochemistry, v.12, p.512-517,
2001.
38
Parisenti, J.; Tramonte, G. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 35-41, jan./dez. 2005
5. HE, K. et al. Fish comsumption and risk of
stroke in men. ACC Current Journal Review.
v.12, n.2, p.45-44, mar.april, 2003.
6. PIGOTT,
G.M., TUCKER,
B.W.
Seafood: Effects of technology on nutrition.
New York: Marcel Dekker, 1990. 361 p.
7. SOUDANT, P. et al. The use of lipid
emulsions for sterol supplementation of spat
of the Pacific oyster, Crassostrea gigas.
Aquaculture, v.184, n.4, p. 315-326, 2000.
8. TANAKA, K. et al. Effects of feeding
oyster, Crassostrea gigas, on serum and liver
lipid levels in rats. J Nutr Sci Vitaminol
(Tokyo), v. 49, n. 2, p. 100-6, 2003.
9. TRONDSEN, T. et al. Consumption of
seafood: the influence of overweight and
healt beliefs. Food Quality and Preference.
Disponível em: <www.sciencedirect.com>.
10. VISENTAINER, J.V. et al. Concentração
de ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido
docosahexaenóico (DHA) em peixes
marinhos da costa brasileira. Ciência e
tecnologia de alimentos, v.20, n.1, p.90-93,
abr., 2000.
11. KIMURA, I., OHMINAMI, H.,
OKUDA, H. Effects of extract of oyster on
lipid metabolism in rats. Journal of
Ethnopharmacology, v.59, p. 117-123, 1998.
12. KARAKOLTSIDIS, P.A., ZOTOS, A.,
CONSTANTINIDES, S.M. Composition of
commercially
important
mediterranean
finfish, crustaceans and molluscs. Journal of
Food Composition and Analysis, v.8, p. 258273, 1995.
13. HOLDEN, J.M. Assement of the quality
of data in nutritional databases. Boletim da
SBCTA, v.31, n.2, p. 105-108, 1997.
14. TORRES, E.A.F.S. et al. Composição
centesimal e valor calórico de alimentos de
origem animal. Ciência e Tecnologia de
Alimentos, v.20, n.2, p.145-150, 2000.
15. MEDEIROS, K.J. Avaliação dos efeitos
de uma dieta à base de mexilhões Perna
perna (Linnè, 1758) em relação aos teores de
colesterol, triglicerídeos e lipoproteínas em
cobaias (Cavia porcellus). 2001. 96 f.
Dissertação (Mestrado em Ciências dos
Alimentos) – Centro de Ciências Agrárias.
Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2001.
16. GORDON, D.T. Minerals in seafoods:
their bioavailability and interactions. Food
Technology, v,42, n.5, p. 156-159, 1988.
17. RUIZ, C. et al. Influence of seasonal
enviromental changes on the gamete
production and biochemical composition of
Crassostrea gigas (Thunberg, 1795) in
suspended culture in El Grove, Galicia,
Spain. Journal of Experimental Marine
Biology and Ecology, v.155, n.2, p. 249-262,
1992.
18. BROWN, M.R.,
MCCAUSLAND,
M.A., KOWALSKI, K. The nutritional value
of four Australian microalgal strains fed to
Pacific oyster Crassostrea gigas spat.
Aquaculture, v.165, n.4, p. 281-293, june,
1998.
19. LINEHAN, L. G., O'CONNOR, T. P.,
BURNELL, G. Seasonal variation in the
chemical composition and fatty acid profile
of Pacific oysters (Crassostrea gigas). Food
Chemistry, v. 64, n. 2, p. 211-214, feb. 1999.
20. SAUCEDO, P. et al. Seasonal changes in
the histological and biochemical profile of
the gonad, digestive gland and muscle of the
Calafia Mohter-of-pearl Oyster, Pinctada
Mazatlanica (Hanley, 1856) associated with
gametogenesis.
Journal
of
Shellfish
Research, v.21, n.1, p. 127-135, 2002.
21. SORIGUER, F. et al. Fat, protein and
caloric content of different fish, seafood and
mollusks, Atlantic and Mediterranean
habitually consumed in the south of Spain.
Nutrition Hospitalaria: Organo Oficial de la
Sociedad Espanola de Nutricion Parenteral y
Enteral, v.1, n.4, p.245-257, 1996. Resumo.
22. HYUN, K.H. et al. The effect of food
composition on Pacific oyster Crassostrea
gigas (Thunberg) growth in Korea: a
modeling study. Aquaculture, v.199, n.1, p.
41-62, 2001.
23. SILVA, F.C. Estudo comparativo do
cultivo de Crassostrea gigas (Thunberg,
1795) em diferentes condições ambientais
em Santa Catarina. 1998. Dissertação
(Mestrado em Aquicultura) – Centro de
39
Parisenti, J.; Tramonte, G. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 35-41, jan./dez. 2005
Ciências Agrárias. Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, 1998
24. TRAMONTE, V.L.C.G. et al.
Determinação da composição centesimal de
mexilhões perna perna (Linné, 1758) e
ostras Crassostrea gigas e Crassostrea
rhizophorae,
machos e fêmeas, em
diferentes épocas do ano, da região de
Sambaqui, Florianópolis, S.C. In: REUNIÃO
ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA
PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA, 55.,
2003, Recife. Anais... Recife: SBPC, 2003.
25. SCHAEFER, E.J. Lipoproteins, nutrition,
and heart disease. Am J Clin Nutr., v. 75, p.
191–212, 2002.
26. AHA Dietary Guidelines. Revision 2000:
A Statement for Healthcare Professionals
From the Nutrition Committee of the
American Heart Association. Circulation,
v.102, p.2284 –2299, 2000.
27. KRIS-ETHERTON, P.M., YU, S.
Individual fatty acid effects on plasma lipids
and lipoproteins: human studies. American
Journal of Clinical Nutrition, n. 65(suppl), p.
1628S-1644S, 1997.
28. WEGGEMAN, R.M., ZOCK, P.L.,
KATAN, M.B. Dietary cholesterol from
eggs increases the ratio of total cholesterol to
high-density lipoprotein cholesterol in
humans: a meta-analysis. Am J Clin Nutr., v.
73, p.885–91, 2001.
29. FERRARI, R.A. Óleos vegetais como
alimentos funcionais. In: SEMINÁRIO
LIPÍDIOS NA DIETA E SUARELAÇÃO
COM A SAÚDE DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ÓLEOS E GORDURAS,
1.,
2004,
Florianópolis.
Anais…
Florianópolis, 2004. CD-ROM.
30. JONES, P.J.H., KUBOW, S. Lipídios,
esteróis e seus metabólitos. SHILS, M.E. et
al.(ed.) In: Tratado de Nutrição moderna na
saúde e na doença. 9ªed. v.1 São Paulo:
Manole, 2003. p. 71-101.
31. SOCIEDADE BRASILEIRA DE
CARDILOGIA. III Diretrizes brasileiras
sobre dislipidemias e diretriz de prevenção
da aterosclerose do Departamento de
aterosclerose da Sociedade Brasileira de
Cardiologia.
Arquivo
Brasileiro
de
Cardiologia, v.77, p.1-48, 2001.Suplemento.
32. ROCHE, H.M., GIBNEY, M.J. Effect of
long-chain n23 polyunsaturated fatty acids
on fasting and postprandial triacylglycerol
metabolism. Am J Clin Nutr., v.71, p.232–7,
2000. Suplemento.
33. YUAN, J. M. et al. Fish and shellfish
consumption in relation to death from
myocardial infarction among men in
Shanghai, China. Am J Epidemiol. v. 154, n.
9, p. 809-16, 2001.
34. GAETE, G. M., ATALAH, S.E. Niveles
de LC-PUFA n-3 en la leche maternal
despues de incentivar el consume de
alimentos marinos. Rev. Chil. Pediatr., n.74,
v.2, p.158-165, 2003.
35. O’DEA, K., SINCLAIR, A.J. Increased
proportion of arachidonic acid in plasma
lipids after 2 weeks on a diet tropical
seafood. American Journal of Clinical
Nutrition, v. 36, n. 5, p. 868-72, 1982.
36.
LICHTENSTEIN,
A.H.,
DECKELBAUM, R.J. Stanol/Sterol Ester–
Containing Foods and Blood Cholesterol
Levels. A Statement for Healthcare
Professionals From the Nutrition Committee
of the Council on Nutrition, Physical
Activity, and Metabolism of the American
Heart Association. Circulation, v. 103,
p.1177-1179, 2001.
37. OSTLUND, R.E.J. Phytosterols in
human nutrition. Annual Review of
Nutrition, v.22, p.533-549, 2002.
38. QUILEZ, J., GARCIŁA-LORDA, P.,
SALAS-SALVADOL, J. Potential uses and
benefits of phytosteros in diet: present
situation and future directions. Clinical
Nutrition, v.22, n.4, p.343 –351, 2003.
39. VANSTON, C.A. et al. Unesterified
plant sterols and stanols lower LDLcholesterol concentrations equivalently in
hypercholesterolemic persons. Am J Clin
Nutr., v. 76, p.1272–8, 2002.
40. MOLYNEAUX, M., LEE, C.M. The
U.S Market for marine nutraceutical
products. Food Technology, v.52, n.6, p. 5657, 1998.
40
Parisenti, J.; Tramonte, G. Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 35-41, jan./dez. 2005
41. SEAFOOD SAVVY, NY Sea Grant
/Cornell Cooperative Extension Bulletin
104IB226, 1992.
42. VAHOUNY, G.V. et al. Lymphatic
absorption of shellfish sterols and their
effects on cholesterol absorption. American
Journal of Clinical Nutrition, v.34, p.507513, 1981.
43. CONNOR, W.E., LIN, D.S. The effect of
shellfish in the diet upon the plasma lipid
levels in humans. Metabolism, v.31, n.10,
p.1046-1051, 1982.
44. PLAT, J., MENSINK, R.P. Effects of
plant stanol esters on LDL receptor protein
expression and on LDL receptor and HMGCoA reductase mRNA expression in
mononuclear blood cells of healthy men and
women. The FASEB Journal, 2001.
Disponível
em:
www.capes.gov.br/periodicos.
45. BLAIR, S.N. et al. Incremental
Reduction of Serum Total Cholesterol and
Low-Density Lipoprotein Cholesterol With
the Addition of Plant Stanol EsterContaining Spread to Statin Therapy. Am J
Cardiol; v.86, p.46–52, 2000.
46. RICHELLE, M. et al. Both free and
esterified plant sterols reduce cholesterol
absorption and the bioavailability of ßcarotene
and
-tocopherol
in
normocholesterolemic humans. American
Journal of Clinical Nutrition, v. 80, n. 1,
p.171-177, 2004.
47. OSTLUND, R.E.J. et al. Phytosterols
that are naturally present in commercial corn
oil
significantly
reduce
cholesterol
absorption in humans. Am J Clin Nutr., v.75,
p.1000–4, 2002.
48. EWART, H.S. et al. Fish oil containing
phytosterol esters alters blood lipid pro .les
and left ventricle generation of thromboxane
A2 in adult guinea pigs. J Nutr, v.132,
p.1149 –1152, 2002.
49. KATAN, M.B. et al. Efficacy and Safety
of Plant Stanols and Sterols in the
Management of Blood Cholesterol Levels.
Mayo Clin Proc. v.78, p.965-978, 2003.
50. NTANIOS, F.Y. et al. Effects of various
amounts of dietary plant sterol esters on
plasma and hepatic sterol concentration and
aortic foam cell formation of cholesterol-fed
hamsters. Atherosclerosis, v. 169, p. 41-50,
2003.
41
Souza, S. da S. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 42-49, jan./dez. 2005
DÉFICITS DE AUTOCUIDADO DE ADULTOS COM PROBLEMAS
RESPIRATÓRIOS CRÔNICOS: ASMA E DPOC1 [Self-Care Deficiencies in Adults
with Chronic Respiratory Problems: Asthma and DPOC]
Sabrina da Silva de Souza2; Janis Mantelli3; Denise Maria Guerreiro Vieira da Silva4;
Miriam Süsskind Borenstein5; Maria Cristina Garcia Kehrig Salvador6
Resumo: Trata-se de uma pesquisa convergente assistencial desenvolvida com pessoas internadas em
um hospital. Objetivo: identificar os déficits de autocuidado de pessoas com doenças respiratórias
crônicas: Asma e DPOC. Os dados foram obtidos através dos históricos e das evoluções de
enfermagem. Os principais déficits identificados foram: respiração, sono e repouso, interação social,
atividade física, hidratação e alimentação. O estudo possibilitou uma maior aproximação com a
complexa problemática que envolve o viver com um problema respiratório crônico.
Palavras-chave: enfermagem, autocuidado, asma, doença pulmonar obstrutiva orônica, educação em
saúde.
Abstract: This paper deals with an assistance convergent study, developed with people interned in a
hospital. The objective of this study is to identify the self-care deficiencies in adults with the chronic
respiratory problems; asthma and DPOC. The data was obtained through patient charts and nursing
reports. The principle deficiencies found were: respiration, sleep and rest, social interaction, physical
activity, hydration, and nutrition. The study made a greater approximation with the complex problem
that involves living with a chronic respiratory problem possible.
Keywords: Nursing, Self-care, DPOC, Health Education.
Introdução
Conviver com uma doença crônica,
cuja instalação determina mudanças físicas,
sociais e psicológicas, levando muitas vezes
a uma hospitalização, torna-se uma realidade
com a qual tanto os clientes quanto seus
familiares precisam saber lidar. Assim, fazse necessário instrumentalizar clientes e
famílias com o intuito de que as mesmas
possam lidar com sua condição de saúde.
Acreditamos que na assistência a
pessoas com problemas de saúde crônicos, é
fundamental a participação das mesmas,
principalmente,
se
utilizamos
como
referencial para a prática a Teoria do
Autocuidado, na qual o poder sobre a
definição da demanda terapêutica necessária
desloca-se dos profissionais de saúde,
passando a ser compartilhada com as pessoas
que vivenciam a situação de saúde.
__________________
1
Este estudo foi desenvolvido durante o último semestre do curso de Graduação em Enfermagem da UFSC,
como trabalho de conclusão de curso. O mesmo , intitulado Educação em Saúde Centrada nos déficit de
autocuidado de pessoas com Problemas Respiratórios Crônicos , cujas autoras são: MANTELLI, Janis;
SOUZA, Sabrina da Silva de.
2
Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde de São José.
3
Enfermeira do Hospital Municipal de Carazinho /RS.
4
Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem e do Programa
de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Coordenadora do
NUCRON.
5
Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem e do Programa
de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
6
Enfermeira do Hospital Nereu Ramos – Secretaria de Estado da Saúde.
42
Souza, S. da S. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 42-49, jan./dez. 2005
A intervenção da Enfermagem faz-se
necessária quando o ser humano em
determinados momentos encontra-se em
desequilíbrio para executar seu autocuidado.
Neste caso, a Enfermagem passa a ser uma
exigência, uma vez que a pessoa está
vivenciando uma incapacidade ou tem
limitação na provisão de autocuidar-se.
Conforme proposto por Dorothea
Orem, referência teórica para este estudo,
percebemos que é fundamental compartilhar
com o cliente portador de doença crônica, o
planejamento e a implementação das ações
de saúde, a fim de que ele possa superar seus
déficits de autocuidado.
Autocuidado é compreendido como a
prática de atividades, iniciadas e executadas
pelos indivíduos, em seu próprio benefício,
para manutenção da vida, da saúde e do bemestar. O cuidado efetivamente executado
contribui de maneira específica para a
integridade da estrutura humana, para o
funcionamento da pessoa e para seu
desenvolvimento.
Neste
sentido,
percebemos
a
importância de conhecer mais sobre o viver
das pessoas com Asma e /ou DPOC, visando
minimizar o tempo de internação, maximizar
sua permanência domiciliar com melhor
qualidade de vida e conseqüentemente,
diminuir suas reinternações.
Cabe destacar a importância de
estudos com pessoas com doenças
respiratórias crônicas, considerando que
estas são a terceira causa de óbitos na Região
Sul, com 16.796 mortes em 1999,
correspondendo a 11,21% do total de óbitos.
Sabemos que anualmente ocorrem cerca de
350.000 internações por Asma no Brasil,
constituindo-se na quarta causa de
hospitalização pelo SUS (2,3% do total) e
sendo a terceira causa entre crianças e
adultos jovens.
A Asma é uma doença inflamatória
crônica
caracterizada
por
hiperresponsividade das vias aéreas inferiores e
por limitação variável ao fluxo aéreo,
reversível
espontaneamente
ou
com
tratamento.
DPOC é definida como: Um estado
de doença no qual o fluxo de ar está
obstruído pelo enfisema e/ou pela bronquite
crônica. Esta obstrução do fluxo de ar é
geralmente progressiva e irreversível
podendo
estar
associada
a
uma
hiperatividade das vias aéreas.
As pessoas com estas condições
crônicas de saúde necessitam de informações
adequadas e suficientes, para que possam ter
condições de promover e manter o equilíbrio
harmônico e dinâmico de sua saúde.
Condição crônica de saúde é uma
intercorrência extressora, cujo impacto surge
a qualquer tempo e vem para permanecer,
alterando o processo de ser saudável de
indivíduos ou de grupos. Este impacto
determina um novo rumo ao processo de
viver e ser saudável de acordo com o
significado atribuído aos extressores, com a
orientação de vida, com as forças e
necessidades e estratégias de enfrentamento
utilizadas pelos envolvidos.
Neste sentido a educação para saúde
pode contribuir para a compreensão da
doença, prevenção ou superação de seus
sintomas, através de uma participação
consciente e efetiva ao regime de tratamento.
Desenvolver a educação em saúde nesta
perspectiva requer que os profissionais
conheçam mais sobre quais os déficits de
autocuidado que as pessoas com Asma e
DPOC apresentam.
Considerando estas necessidades é
que nos propusemos a realizar um estudo que
teve como objetivo: Identificar déficits de
autocuidado de pessoas com doenças
respiratórias crônicas: Asma e DPOC,
internadas em um hospital de referência no
Estado de Santa Catarina.
Metodologia
Tipo de Estudo:
Trata-se de uma pesquisa do tipo
convergente assistencial, que é uma
modalidade de pesquisa desenvolvida
concomitantemente à prática assistencial.
Este tipo de pesquisa tem a intencionalidade
43
Souza, S. da S. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 42-49, jan./dez. 2005
de encontrar soluções para problemas,
realizar mudanças e introduzir inovações na
situação social. Valoriza o “saber pensar” e
também o “saber fazer” na perspectiva de
propor uma nova sistematização do fazer ao
pesquisar as implicações teóricas e práticas
do seu fazer.
Análise dos Dados:
Foi efetuada uma análise qualitativa
seguindo: codificação, identificação de
categorias e interpretação. Na codificação
foram destacadas as informações que diziam
possuir, as ações que executavam e os
déficits de autocuidado.
Local da Pesquisa:
Foi desenvolvida em um hospital
estadual que é referência em doenças
pulmonares e infecto-contagiosas em Santa
Catarina. O hospital possui uma área de
atendimento à pessoas com problemas
respiratórios, uma enfermaria mista de
pneumologia com 38 leitos e uma enfermaria
para tisiologia com 16 leitos. Possui serviço
de ambulatório de pneumologia, com
consultas médicas e de Enfermagem, com
atendimento mensal a aproximadamente 250
pessoas. O estudo foi desenvolvido na
Unidade de Pneumologia.
Considerações Éticas:
A inclusão dos sujeitos na pesquisa
obedeceu a Resolução n.196/96 do Conselho
Nacional de Saúde do Ministério da Saúde,
que dispõe sobre Diretrizes e Normas
regulamentares da pesquisa envolvendo
Seres Humanos. O projeto foi aprovado pela
Comissão de Ética Médica do Hospital onde
o estudo foi realizado. Com relação a
autorização dos sujeitos da pesquisa, a
mesma foi obtida através do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Foi
garantido a todos a liberdade de participar ou
não e de desistir a qualquer momento, sem
qualquer prejuízo na assistência que vinha
recebendo na instituição. Também foram
assegurados o sigilo e o anonimato. Os
nomes que constam dos relatos são fictícios.
Sujeitos da Pesquisa:
Integraram o estudo dez pessoas,
sendo que nove tinham uma doença
respiratória crônica (Asma ou DPOC) e um
familiar. Os sujeitos do estudo foram
selecionados dentre aqueles que estavam
internados na Unidade de Pneumologia, no
período de outubro a dezembro de 2003. A
escolha dos sujeitos foi intencional, sendo
que fizeram parte do estudo os bons
informante, acometidos por Asma e/ou
DPOC e que aceitaram participar do estudo.
Coleta de Dados:
Os dados foram obtidos a partir dos
históricos e das evoluções de enfermagem,
utilizando instrumento adaptado da Teoria do
Autocuidado de Orem, visando captar os
déficits de autocuidado. Foram realizados de
três a seis encontros com cada cliente para
coleta de dados. Estes dados foram
registrados logo após as visitas diárias,
procurando manter a expressão fiel dos
depoimentos.
Resultados e discussão
A partir da análise dos dados
percebemos a existência alguns déficits de
autocuidado.
Estes
déficits
estavam
relacionados ao Autocuidado Universal:
respiração, hidratação e alimentação, sono e
repouso, atividade física e interação social.
No entanto, os mesmos estavam presentes
em função do Desvio da saúde, ou seja, a
condição crônica respiratória interferia nas
necessidades de autocuidado universais,
evidenciando diferença entre a necessidade
de autocuidado gerada pela situação da
doença e a capacidade das pessoas
desenvolverem o autocuidado necessário
para se manterem em equilíbrio. A percepção
deste déficit é que delineia a necessidade de
enfermagem, que passa a ser uma exigência
para a promoção de autocuidado contínuo e
eficaz.
44
Souza, S. da S. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 42-49, jan./dez. 2005
Déficit de autocuidado relacionado à
respiração
O déficit de autocuidado relacionado
à respiração foi o mais evidenciado no
estudo. Os demais déficits, de maneira geral,
estavam relacionados a alteração respiratória,
uma vez que qualquer fator que interfira na
respiração
normal
induz,
muito
naturalmente, a ansiedade, depressão e
alterações de comportamento. A dificuldade
respiratória constante e a fadiga podem
tornar o paciente irritável e apreensível a
ponto de ficar em pânico. Sua inatividade
forçada, a frustração de ter trabalho para
respirar e a idéia de que está lidando com
uma doença prolongada e incurável podem
fazer com que o paciente reaja com raiva,
depressão e comportamento exigente.
A respiração é compreendida como
um recurso vital para a continuidade da vida,
para o crescimento e o desenvolvimento,
bem como para o reparo dos tecidos do
corpo e para o funcionamento integrado.
Para manter esse autocuidado é preciso que a
pessoas estabeleçam suas necessidades de ar
para que seu organismo possa se ajustar aos
fatores internos e externos.
As pessoas apresentaram dificuldades
em lidar com os sinais e sintomas
decorrentes de sua condição de saúde, não
encontrando sozinhas, um ajuste adequado
aos fatores externos, especialmente, a
realização de atividades físicas, os
relacionamentos sociais, o sono e o repouso,
enfim, suas habilidades para se autocuidar
são menores dos que as exigidas para
satisfazer um requerimento conhecido de
autocuidado.
Os sinais e sintomas percebidos e
relatados pelos clientes que integraram este
estudo são variados, dependendo do seu
estado de compensação e do estágio da
doença. São eles: cianose, tontura, tosse,
cansaço, aperto no peito, taquicardia, falta de
ar, sudorese, fraqueza, produção de catarro,
dor nas costas, sensação de morte eminente,
taquicardia, náusea, chiado no peito,
ronquidão, perda do apetite. Isto pode ser
verificado nos depoimentos a seguir.
“Quando acontece uma crise, me dá
uma fraqueza, tosse, falta de ar, cansaço,
catarro, dor nas costas, brônquio fechado
por causa do catarro e muito cansaço”
(João).
Estes sintomas são considerados um
importante fator limitador causando sérias
preocupações.
A respiração é uma função vital do
ser humano, e, como tal, qualquer
dificuldade pode levar as pessoas a pensarem
sobre a possibilidade de finitude, de morte,
como podemos verificar nas seguintes falas:
“Tá sendo difícil por causa do medo
de ter uma crise forte e não chegar em tempo
no hospital” (Oscar).
“Tem de se conformar, né, já vivi
muito” (Júlia).
O cliente sente medo das crises
respiratórias, interferindo assim na sua
qualidade
de
vida.
Desta
forma
evidenciamos a importância da promoção do
autocuidado para superação deste déficit,
através de ações que permitam às pessoas
ajustarem os meios e incorporarem medidas
de
autocuidado,
adquirindo
novas
habilidades para atender a demanda de
autocuidado geradas pela sua condição de
saúde.
Outro importante aspecto relacionado
ao déficit de autocuidado da respiração foi o
fumo. A maioria dos sujeitos referiu ser
fumante ou ter fumado por muito tempo e ter
abandonado o vício após a descoberta da
doença. Reconhecer o mal provocado pelo
cigarro é uma tarefa que nem sempre essas
pessoas conseguem vencer, pois requer
grande esforço, uma vez que fumar é
percebido pelas pessoas como fonte de
prazer.
“Já deixei o bendito (cigarro) uma
vez. Mas sabe como é, meu filho fuma, aí
sempre dava uma tragadinha. Agora vou
deixar de verdade” (Filomena).
A alteração de hábito não é um ato
pontual, mas um processo com várias etapas
e que pode levar um tempo prolongado.
Apesar de ter sua condição de saúde
fortemente associada ao fumo as pessoas
45
Souza, S. da S. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 42-49, jan./dez. 2005
nem sempre reconhecem ou encontram
motivação para abandonar o cigarro,
acreditando que é “O último prazer que me
resta”!
Déficit de autocuidado relacionado ao sono
e repouso
A qualidade de vida das pessoas
muitas vezes está ligada a coisas básicas
como sono e repouso. Sem o sono e repouso
adequados, certas capacidades ficam
prejudicadas como concentração, raciocínio
e até humor. Quando uma pessoa fica
adoentada, este cuidado deve ser aumentado
a fim de que sua recuperação se processe de
maneira mais rápida e eficiente.
As pessoas que fizeram parte do
estudo relataram dificuldade em ter um sono
tranqüilo e contínuo, como pode ser
observado nos seguintes depoimentos:
“Em casa dormia bem, mas acordava
por causa da falta de ar” (Oscar).
“É ruim para dormir, (...) faço sonos
pequenos por causa da falta de ar. Tomo
remédio para dormir, mas meu sono é
agitado e acordo cansada, com falta de ar.
No hospital é a mesma coisa”(Júlia).
Para Orem o repouso também é um
processo associado com o descanso e a
restauração da condição normal. Enfatiza
que é necessário a pessoa conhecer os
processo metabólicos para a manutenção de
seu equilíbrio, de modo a atender as
necessidades de repouso, respeitando as
necessidades e capacidades pessoais.
Nas
pessoas
com
problema
respiratório
crônico,
o
sono
está
freqüentemente prejudicado devido à falta de
ar e dispnéia, que se acentuam durante as
crises, além disto, a posição horizontal
utilizada para dormir faz com que diminua a
capacidade de expansão da caixa torácica
provocando
ainda
mais
desconforto
respiratório.
Déficit de autocuidado relacionado à
atividade física
Um outro importante déficit indicado
pelos participantes foi o relativo a atividade
física. A maioria dos sujeitos relatou não
praticar nenhum tipo de atividade física
devido aos limites impostos pela condição
crônica de saúde tais como: dispnéia, falta de
ar, fadiga, desânimo, medo e outros.
“Caminhava três vezes na semana
uma hora e meia por dia, depois da doença
comecei a sentir-me cansado, não conseguia
mais andar, até que parei de caminhar, pois
ficava cansado com facilidade”(Pedro).
“Não faço nenhuma atividade física
por falta de disposição, de vontade”
(Maria).
A experiência de estar com uma
doença respiratória crônica traz consigo
manifestações físicas ou mudanças corporais
que podem acarretar a perda da capacidade
física. Esta perda pode ser de maior ou
menor intensidade, variando de indivíduo
para indivíduo, podendo consistir na
necessidade de um maior esforço por parte
do paciente para realizar suas atividades de
costume, ou em levá-lo a uma incapacidade
maior, como a perda da capacidade de
locomoção e de trabalho.
Entendemos que quanto mais
sedentário, menos vontade a pessoa tem para
realizar a atividade física, formando assim
um ciclo vicioso. Isto se agrava pelo fato do
medo que tem da exacerbação dos sintomas
respiratórios durante a atividade.
O equilíbrio entre realizar atividades
físicas e repousar é o grande desafio para
pessoas com problemas respiratórios
crônicos, uma vez que, reconhecidamente,
essas pessoas possuem algumas limitações
físicas. No entanto, essas limitações,
geralmente, são possíveis de serem
superadas ou ao menos, as pessoas passam a
reconhecer seus limites, mas também suas
possibilidades.
Déficit de autocuidado relacionado à
interação social
O isolamento social e o abandono das
atividades de lazer são freqüentes entre as
pessoas com problemas respiratórios
crônicos. A preocupação com os outros, o
medo das crises, as condições climáticas e
46
Souza, S. da S. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 42-49, jan./dez. 2005
outros problemas causados pela doença
contribuem para o isolamento social uma vez
que o cliente prefere ficar no seu domicílio a
participar do convívio social, como mostram
os seguintes depoimentos:
“Tenho poucos amigos, mas me
relaciono bem. Não faço atividades de lazer
porque prefiro ficar em casa por causa da
doença, vou a missa às vezes, quando é mais
quente” (Júlia).
“Mudou muita coisa, a gente não
pode sair porque fico muito cansada e daí se
sente mal no lugar. No trabalho, não posso
mais trabalhar” (Dalgísia).
Percebemos que as primeiras
atividades a serem abandonadas quando há
uma progressão da doença respiratória
crônica, são as atividades recreacionais,
tornando a vida do cliente mais sedentária e
menos satisfatória. Contribuindo assim para
o isolamento social.
Pessoas com Asma e DPOC têm sua
interação social prejudicada. Orem destaca
que há fatores que interferem na interação
social, destacando as condições de vida, os
fatores humanos (pessoais e interferências
específicas, como por exemplo, inadequada
habilidade de comunicação) e os fatores
ambientais. Nas pessoas que integraram o
estudo percebemos que todos esses fatores
estavam presentes e a superação do déficit de
autocuidado relacionado a interação social,
envolveu mais do que uma disposição para
tal, mas uma participação efetiva dos
familiares e de amigos que nem sempre se
mostraram disponíveis.
Déficit de autocuidado relacionado à
manutenção da ingesta suficiente de líquidos
e alimentos
Em relação a ingesta hídrica, a
maioria dos sujeitos refere à água como o
líquido mais ingerido, no entanto a
quantidade desta não é a mais adequada.
Alguns autores recomendam uma
ingesta hídrica de seis a oito copos de água
por dia para pacientes com problemas
respiratórios para diminuir a viscosidade do
escarro e liquefazer as secreções para
melhorar a ventilação pulmonar e a troca
gasosa. No entanto como pode ser observado
nos depoimentos que seguem, há um déficit
de autocuidado evidenciado pela baixa
ingesta hídrica.
“Tomo mais ou menos quatro copos
de água por dia” (Júlia).
“Não bebo muita água, só dois copos
de água ou suco por dia” (Emília).
Repor os líquidos através do consumo
de água filtrada, sucos, chás ou leite é
importante, principalmente para a pessoas
com problema respiratório crônico, pois esta
perde mais água pela eliminação de
secreções respiratórias, tosse, febre, além
daquela decorrente de sua necessidade de
maior gasto energético.
Com relação a ingesta alimentar, esta
foi considerada como representando um
déficit de autocuidado. Embora as pessoas
com problemas respiratórios crônicos não
possuam uma dieta restrita, sua alimentação
é prejudicada pelos sintomas provocados
pela doença que são: cansaço e falta de ar
que provocam inapetência ou dificuldade na
ingesta alimentar, dependendo do estado de
descompensação da doença.
“Não tenho muita fome, como pouco,
e já me sinto cansada e com falta de ar”
(Filomena).
Esta situação pode requerer a ajuda
de um familiar/acompanhante para que as
pessoas possam se alimentar, uma vez que,
muitas vezes, estão tão debilitados que não
conseguem realizar este cuidado sozinhas,
prejudicando desta forma o autocuidado de
alimentação, pois estes não querem gerar
incômodo para seus familiares.
Em
virtude
das
sucessivas
internações e do tempo prolongado destas, as
pessoas apresentam modificação no hábito
alimentar com certa rejeição quanto a
comida hospitalar uma vez que esta não
atende aos seus hábitos alimentares
relacionados a sua cultura.
Corroboramos com Bastos, que a
finalidade de uma alimentação equilibrada é
proporcionar ao indivíduo os elementos
nutritivos para que possa ter uma vida
47
Souza, S. da S. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 42-49, jan./dez. 2005
saudável e com energia suficiente para
satisfazer suas necessidades humanas
básicas.
A água e os alimentos são essenciais
para a continuidade da vida, sendo
necessário que a pessoa para manter seu
autocuidado, conheça e reconheça seu gasto
de energia para manter seu equilíbrio,
atendendo as necessidades do organismo.
Considerações finais
Viver com uma doença respiratória
crônica: Asma e DPOC vai muito além de
cuidados específicos voltados para a redução
da dispnéia. É preciso empenhar-se em ações
que visem diminuir o risco de complicações,
é necessário o abandono do tabagismo,
disposição para a realização de atividades
físicas e de lazer e empenho para criar
condições para a superação dos déficits de
autocuidado. É essencial ter informações
para que a pessoa sinta-se apta a planejar e
executar seu autocuidado.
Autocuidado é compreendido como a
prática de atividades, iniciadas e executadas
pelos indivíduos em seu próprio benefício,
para manutenção da vida, da saúde e do bem
estar.
Para que os cuidados necessários para
manter-se saudável a partir da compreensão
de sua doença, é preciso o conhecimento
sobre a mesma. No entanto, verificamos que
a maioria dos sujeitos do estudo possui
pouco ou nenhum conhecimento referente a
sua condição de saúde, o que limita sua
possibilidade de assumir o autocuidado, de
modo a superar um novo estilo de vida,
compatível com os efeitos do desvio da
saúde e, mesmo, lidar com os efeitos do
desvio da saúde.
Os
déficits
de
autocuidado
apresentados pelos integrantes do estudo
ficaram evidenciados em inúmeros aspectos,
sendo que se destaca a falta de um processo
de educação em saúde, uma vez que esta é
parte essencial no tratamento, de modo que
as pessoas possam passar a assumir seu
autocuidado.
A aprendizagem permite perceber
novas possibilidades de conviver com seu
problema de saúde. É importante que as
pessoas com problemas respiratórios
crônicos perceberem-se no controle de sua
condição, e para isso, é preciso que estejam
constantemente aprendendo como lidar com
seu problema de saúde, que saibam como
monitorizar sua condição e como fazer
escolhas que favoreçam sua qualidade de
vida.
Ao implementar uma assistência de
enfermagem através da educação em saúde
às pessoas portadoras de Asma e DPOC, foi
possível visualizar seus principais déficits de
autocuidado. Com isso tivemos a
possibilidade de orientar essas pessoas de
modo a propor-lhes ações objetivando a
superação dos déficits de autocuidado e
melhoria da qualidade de vida.
O estudo nos possibilitou uma maior
aproximação com a complexa problemática
que envolve o viver com um problema
respiratório crônico. Isto nos fez refletir
sobre a gama de cuidados de que necessitam
os clientes respiratórios crônicos e, desta
forma, poder implementar uma assistência de
Enfermagem voltada para as reais
necessidades dos clientes e de acordo com a
realidade na qual estão inseridos.
Referências Bibliográficas
1.
OREM, Dorothea E. In: Nursing concepts of practice. 5 ed. St Louis: Mosby,
1995.
2.
BRASIL. Ministério da Saúde.
DATASUS. Sistema de Informações
Hospitalares do SUS (SIH/SUS). Morbidade
Hospitalar
SUS.
Disponível
em:
http://www.datasus.gov.br
3.
Consenso Brasileiro no manejo da
asma, III, 2002. Jornal de pneumologia.
Brasília-DF: jun/2002, v. 28.
4.
SMELTZER, Suzane C.; BARE,
Brenda G. In: Tratado de Enfermagem
Médico-Cirúrgica. 9ª ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2002.
48
Souza, S. da S. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 42-49, jan./dez. 2005
5. TRENTINI, Mercedes; SILVA, Denise
Maria G. Vieira da. Condição crônica de
saúde e o processo de ser saudável. Rev.
Texto e Contexto, Florianópolis, v.1,n 2, p.
76-88, jul/dez 1992.
6. TRENTINI, Mercedes., PAIM, Lygia. In:
Pesquisa Convergente Assistencial: Um
desenho que une o fazer e o pensar na prática
assistencial em Saúde-Enfermagem.2º ed.
Florianópolis: Insular,2004.
7. GEORGE, Julia B. In: Teorias de
Enfermagem: os fundamentos para a prática
profissional. Porto Alegre: Artes Médicas,
1993.
8. SILVA, Denise Guerreiro V. da, SOUZA,
Sabrina da Silva., MEIRELLES, Betina S.
Qualidade de Vida na Perspectiva de Pessoas
com Problemas Respiratórios Crônicos.
Revista
Latino
Americana
de
Enfermagem.São Paulo.2005.
9. PAPPS, Programa de actividade de
prevenção e promoção de Saúde. Lisboa:
Europress, 2001.(Tradução para português:
Emanuele F. Gomes de Barros Matos).
10. DORNELLES, Nídia Almeida Tavares.,
DUARTE, Myrna D.B., PRADO, Marta
Lenise do .Atendendo as Necessidades de
Cuidado Corporal, Conforto Físico, Sono e
Repouso. In: Fundamentos de Enfermagem.
Florianópolis: UFSC, CCS,1999.
11. SILVA, Denise Maria Guerreiro Vieira
da. Desafios e Enfrentamentos: um modelo
de Prática da Enfermagem para indivíduos
em condição crônica de saúde. Florianópolis,
1990. (Mestrado em Enfermagem) Programa
de
Pós
Graduação
em
Enfermagem, Universidade Federal de Santa
Catarina.
12. BASTOS, Danira Schweigert. Cuidando
de Pessoas Portadoras de Hipertensão
Arterial: contribuindo para a superação dos
déficits de autocuidado. Florianópolis, 2002.
(Mestrado em Enfermagem) - Programa de
Pós
Graduação
em
Enfermagem,
Universidade Federal de Santa Catarina.
13. MCMAHON A. Coping with chronic
lung disease: maintaining quality of life. In:
Miller, Judith Fitzgerald (ed.). Coping with
chronic illness: overcoming powerlessness. 2
ed. Philadelphia: Davis; 1992.
49
Brêtas, A. C. P.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 50-54, jan./dez. 2005
POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE PARA O ENVELHECIMENTO: A OUSADIA
DE CUMPRIR A LEI1 [The daringness to comply with the law: the implementation of
the elderly statute in the context of a Brazilian public health system]
Ana Cristina Passarella Brêtas2
Resumo: Esse ensaio tem por objetivo estimular a discussão sobre o processo de implementação do
Estatuto do Idoso, no que tange ao seu capítulo IV – Do Direito à Saúde, no contexto histórico e
político do Sistema Único de Saúde. Busca refletir sobre a necessidade da defesa dos direitos dos
idosos, sem perder a visão dialógica e dialética das demais demandas de saúde realizadas por outros
segmentos sociais.
Palavras-chave: Idoso, política de saúde, SUS, estatuto do idoso.
Abstract: This essay aims to stimulate discussion on the process of implementation of the Elderly
Statue, that which concerns its chapter IV - The Right to Health, in the political and historical context
of the Sistema Único de Saúde (Brazilian Public Health System). It seeks to reflect upon the need for
the defense of elderly rights, without losing the dialogic and dialectic vision of the other health
demands on the part of other segments of society.
Keywords: Elderly, health policy, Brazilian Health System, elderly statute.
Introdução
O ato de escrever decorre da
experiência de falar sobre idéias, que
paulatinamente vão se fixando sobre o papel
e sobre nós mesmos. O texto que ora torno
público é fruto desta oralidade compartilhada
com os palestrantes da redonda: “Políticas
públicas de saúde para o envelhecimento” e
demais participantes da 5ª Jornada Brasileira
de Enfermagem Geriátrica e Gerontológica e
da 28ª Jornada Catarinense de Enfermagem
realizadas em 2004 na cidade de
Florianópolis – SC.
Esse ensaio busca retratar as
reflexões elaboradas naquela ocasião sobre a
“ousadia de cumprir a lei”, na perspectiva de
discutir sobre a implementação das políticas
públicas de saúde para o envelhecimento,
tomando como referencial os princípios do
Sistema Único de Saúde (SUS)1 e o capítulo
IV – Do Direito à Saúde - do Estatuto do
Idoso2.
Para
viabiliza-la
parti
da
compreensão de que essas políticas públicas,
no âmbito da saúde, são instrumentos
capazes não apenas de promover a saúde,
prevenir e tratar doenças, reabilitar doentes,
mas sobretudo de redefinir os acessos e
oportunidades, bem como estabelecer
prioridades de oferta de serviços.
O presente texto está estruturado em
quatro partes: nas duas primeiras busco
apresentar os princípios e diretrizes do SUS1
e do Estatuto do Idoso2, na terceira
estabeleço um diálogo entre essas políticas e
finalmente, na quarta teço as considerações
finais.
_________________
1
Palestra proferida na mesa redonda: Políticas Públicas de Saúde para o Envelhecimento, na V Jornada
Brasileira de Enfermagem Geriátrica e Gerontológica, Florianópolis, 8-10/09/2004
2
Enfermeira sanitarista; Profa. adjunto do Depto. de Enfermagem da Federal de São Paulo – UNIFESP;
Coordenadora do Núcleo de Estudo e Pesquisa sobre o Processo de Envelhecimento Humano (NEPPE) da
UNIFESP.
50
Brêtas, A. C. P.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 50-54, jan./dez. 2005
O Sistema Único de Saúde (SUS) como
política de Estado e não de governo
No Brasil, a Constituição de 1988 no
seu artigo 196 prevê que “a saúde é direito
de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doenças e de
outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação” 3.
Visando cumprir esse comando
constitucional é sancionada a Lei Orgânica
da Saúde 8080/ 904 que no seu artigo 4º
assegura a formação do SUS constituído pelo
conjunto de todas as ações e serviços de
saúde prestados por órgãos e instituições
públicas federais, estaduais e municipais, da
administração direta e indireta e das
fundações mantidas pelo Poder Público,
permitindo a participação da iniciativa
privada de maneira complementar. Desta
forma, temos que o SUS é um sistema
público, não necessariamente estatal. Outras
leis, resoluções e normas operacionais
básicas passam a ser criadas objetivando a
sua implementação, entretanto, apesar desses
aparatos legais e da parcial legitimidade
social, enfrenta problemas de diversas ordens
– estrutural, política, orçamentária, de
capacitação profissional, de participação da
comunidade, entre outras – mostrando que
ainda há um longo caminho a ser percorrido.
O SUS é uma conquista social,
resultado de mobilização e luta de atores
sociais e políticos comprometidos com os
preceitos do humanismo e da solidariedade.
Vem se consolidando por meio de seus
princípios doutrinários da universalidade,
equidade e integralidade nos serviços e ações
de saúde, bem como pelos princípios
operacionais da descentralização dos
serviços, regionalização e hierarquização da
rede e participação da comunidade.
Dado a característica deste texto me
deterei na apresentação apenas dos princípios
doutrinários, uma vez que são os que dão
sustentação ideológica ao SUS.
Princípio da universalidade – visa assegurar
o acesso universal aos serviços de saúde, nos
diferentes níveis de assistência, cabendo ao
Poder Público a sua provisão1.
Princípio da eqüidade – reafirma a
necessidade de redução das disparidades
sociais e regionais brasileiras por meio das
ações e serviços de saúde. Implica em tratar
com igualdade os desiguais1.
Princípio da integralidade – objetiva
assegurar o direito integral à assistência,
“entendida como um conjunto articulado e
contínuo das ações e serviços preventivos e
curativos, individuais e coletivos, exigidos
para cada caso em todos os níveis de
complexidade do sistema” 4.
Estatuto do Idoso
Em outubro de 2003 foi sancionada
pelo presidente da República Brasileira a Lei
nº 10.741 que dispõe sobre o Estatuto do
Idoso2 e dá outras providências. É necessário
destacar que surge após longos anos de
tramitação e discussão no Congresso
Nacional e é resultado de ampla mobilização
do segmento dos idosos e técnicos
comprometidos
com
a
causa
do
envelhecimento. Não só consolida os direitos
garantidos em outras legislações, entre elas a
Política Nacional do Idoso (Lei 8.842/94,
Decreto 1.948/96), Política Nacional de
Saúde do Idoso e o Sistema Único de Saúde;
como amplia, aprimora e define medidas de
proteção às pessoas com 60 anos ou mais de
idade.
O capítulo IV do Estatuto do Idoso
destina-se à apresentação do Direito à Saúde.
O artigo 15 prevê que
“é assegurada a atenção integral à saúde do
idoso, por intermédio do Sistema Único de
Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso
universal e igualitário, em conjunto
articulado e contínuo das ações e serviços,
para a prevenção, promoção, proteção e
recuperação da saúde, incluindo a atenção
especial
às
doenças
que
afetam
preferencialmente os idosos” 2.
51
Brêtas, A. C. P.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 50-54, jan./dez. 2005
Vale salientar que o detalhamento
desse artigo define que a prevenção e a
manutenção da saúde do idoso deverão ser
asseguradas por meio de cadastramento da
população em base territorial; atendimento
geriátrico e gerontológico ambulatorial, em
unidades de referência e de reabilitação;
atendimento e/ou internação domiciliar.
Assegura ainda que compete ao Poder
Público fornecer medicamento, próteses,
órteses e outros recursos relativos ao
tratamento, habilitação ou reabilitação2.
A ousadia de cumprir as leis: a
implementação do Estatuto do Idoso no
contexto do SUS
Não tenho dúvidas de que o Estatuto
do Idoso é uma conquista da totalidade da
sociedade brasileira. É resultado de amplas
lutas sociais – portanto não foi dado, fato que
amplia o seu valor enquanto política pública.
Esse mérito não deve ser minimizado, ao
contrário necessita ser divulgado de maneira
que o Estatuto além de legal, passe a ser
legitimado pela população brasileira. Para
que isso ocorra, ela precisa se apropriar do
teor do mesmo - conhecê-lo amplamente –
no meu entendimento esse deveria ser um
dos papeis dos profissionais que trabalham
com adultos e idosos, ir além das técnicas
laborais e introduzir a reflexão sobre
cidadania na sua prática diária.
No entanto, apesar de reconhecer a
importância do Estatuto na lógica da
Gerontologia, enquanto sanitarista tenho
dificuldade de visualizar a sua real
operacionalização no que tange àquilo que é
assegurado como Direito à Saúde. Vejam
bem, a dúvida não está no conteúdo da lei, e
sim, na forma de viabilizá-la.
Como vimos, o SUS prevê que a
saúde é um direito de todos e dever do
Estado, assegurado mediante políticas sociais
e econômicas. Por meio dos princípios
doutrinários da universalidade, integralidade
e eqüidade defende que o acesso aos serviços
e ações de saúde deve ser universal (para
todos os brasileiros e brasileiras), integral
(em todos os níveis de assistência) e
eqüânime (atender de forma igualitária os
diferentes).
Assim, a abrangência do SUS é maior
do que a do Estatuto do Idoso. Ao primeiro
compete garantir o acesso à Saúde durante
todo o processo de vida das pessoas – do
nascimento à morte. O segundo focaliza a
atenção às pessoas com 60 anos ou mais de
idade, portanto está contido no SUS e
poderia ser entendido como uma legislação
redundante se vista apenas pelo aspecto do
Direito à Saúde. Entretanto, o Estatuto no
artigo 3º prevê que:
“é obrigação da família, da comunidade, da
sociedade e do Poder Público assegurar ao
idoso, com absoluta prioridade, a
efetivação do direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, à cultura, ao
esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à
liberdade, à dignidade, ao respeito e à
convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único – A garantia de prioridade
compreende:
I – atendimento preferencial imediato e
individualizado junto aos órgãos públicos e
privados prestadores de serviços à
população;
II – preferência na formulação e na
execução de políticas sociais específicas;
III – destinação privilegiada de recursos
públicos nas áreas relacionadas com a
proteção ao idoso;
(...);
VIII – garantia de acesso à rede de
serviços de saúde e de assistência social
locais”. (grifo meu) 2.
Partindo do pressuposto de que não
temos uma velhice e sim velhices, que não
devem ser vistas como uma cisão em relação
à vida precedente, e sim, uma continuação da
infância, da adolescência e da maturidade
que podem ter sido vividas de diversas
maneiras; a reflexão sobre a eqüidade cai
sobre a quem priorizar, no contexto do SUS,
se além da categoria idade colocarmos em
discussão a classe social, o gênero, a etnia,
os demais segmentos assegurados por lei
52
Brêtas, A. C. P.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 50-54, jan./dez. 2005
para terem atendimento preferencial, ou seja,
as crianças e adolescentes (Estatuto da
Criança e do Adolescente), as gestantes e os
portadores de deficiência?
Com certeza esse é um dilema ético
vivido hoje pelos profissionais da saúde que
atendem
nos
diferentes
níveis
de
complexidade do SUS. Não tenho dúvida de
que a velhice tem pressa – não pode esperar
o processo de organização das políticas
públicas, no entanto, outros segmentos –
também vulneráveis precisam de ações
imediatas no que tange à saúde. Segundo
Beauvoir
“aí está o crime de nossa sociedade. Sua
‘política da velhice’ é escandalosa. Mais
escandaloso ainda, porém, é o tratamento que
inflige à maioria dos homens na época de sua
juventude e de sua maturidade. A sociedade
pré-fabrica a condição mutilada e miserável
que é o quinhão deles na última idade. É por
culpa dela que a decadência senil começa
prematuramente, que é rápida, fisicamente
dolorosa, moralmente horrível porque esses
indivíduos chegam a ela com as mãos vazias.
Explorados, alienados, quando a força os
deixa, tornam-se fatalmente ‘refugos’,
‘destroços’5.”
Nesta perspectiva nos resta ampliar a
luta social, por meio do estímulo à
participação
da
comunidade
nestas
discussões. Não bastam leis para assegurar a
saúde com qualidade, é necessária vontade
política dos governantes para investir
recursos na área, tratando o SUS como
política de Estado, portanto maior do que o
governo. A saúde pública não pode ser
moeda de troca para “governabilidade”.
Evitar isso implica em potencializar o
controle social sobre os poderes executivo e
legislativo; o SUS prevê a participação da
comunidade por meio das Conferências e
Conselhos de Saúde (Nacionais, Estaduais,
Municipais e Locais), lembrando que esses
últimos têm caráter permanente e
deliberativo na formulação de estratégias e
no controle da execução da política de saúde,
inclusive no que diz respeito aos aspectos
econômicos6. Resta-nos, mais uma vez,
informar e formar politicamente os
profissionais e usuários do setor saúde para
que se apropriem das leis e trabalhem no
sentido de exigir o seu cumprimento. Por
isso o termo “ousadia de cumprir a lei”, ou
seja, a legislação está posta – por ela o
direito à saúde está garantido, mas isso não
basta para que seja executada.
À guisa de conclusão
Como vimos, a saúde no Brasil é um
direito de todos os indivíduos e uma
responsabilidade do Estado, cabendo a esse
garantir os recursos para cobrir as demandas
e as necessidades de atenção à saúde da
população sem distinção e discriminação de
etnia, religião, classe social, gênero e
geração. Assim, a saúde do idoso é um
direito do cidadão geronte e um dever do
Estado,
assegurada
mediante
a
implementação do SUS.
A viabilização da saúde do idoso à
luz do SUS pauta-se no trabalho intersetorial
e interdisciplinar, bem como nas parcerias
com o conjunto da sociedade e no controle
social. A consolidação desta política implica
no aprofundamento de questões éticas que
permitam o respeito à diversidade, onde
sejamos capazes de defender os direitos dos
idosos, entretanto sem perder a visão
dialógica e dialética das demais demandas de
saúde realizadas por outros segmentos
sociais.
Finalizo essa reflexão citando
Beauvoir que nos provoca enquanto seres
humanos mencionando que para envelhecer
com qualidade não podemos deixar de
manter esforços para construir uma
sociedade mais justa, com menos iniqüidades
sociais. Assim,
“quando compreendermos o que é a condição
dos velhos, não podemos contentar-nos em
reivindicar uma ‘política da velhice’ mais
generosa, uma elevação das pensões,
habitações sadias, lazeres organizados. É
todo o sistema que está em jogo, e a
53
Brêtas, A. C. P.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 50-54, jan./dez. 2005
reivindicação só pode ser radical: mudar a
vida” 5.
Cabe-nos, enquanto profissionais
transitando nas áreas da Gerontologia e da
Saúde Pública, buscar formas para
operacionalizar os nossos argumentos
teóricos evitando a onipotência dos discursos
(e talvez das leis) e a inoperância das
práticas. Afinal, como diz Saramago7, a
utopia move os intelectuais, mas é a
necessidade que movimenta o mundo.
Conseguir concretizar as nossas utopias é um
dos grandes desafios postos pela sociedade
de uma maneira geral e pelos idosos em
particular para nós que nos colocamos (ou
fomos colocados) no papel de provocadores
de opiniões e subversivos de idéias.
Referências bibliográficas
1. Ministério da Saúde (BR). Secretaria
Executiva. Sistema Único de Saúde (SUS):
princípios e conquistas. Brasília (DF):
Ministério da Saúde, 2001.
2. Brasil. Estatuto do Idoso. Íntegra da Lei
nº 10.741, de 01 de outubro de 2003. Brasília
(DF), 2003.
3. Brasil. Constituição da República
Federativa do Brasil. Brasília (DF). 1988.
4. Ministério da Saúde (BR). Lei Orgânica
da Saúde: Lei nº 8080/ 90. 2 ed. Brasília
(DF): Ministério da Saúde, Assessoria de
Comunicação Social. 1991.
5. Beauvoir S. A velhice: o mais importante
ensaio contemporâneo sobre as condições
de vida dos idosos. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira. 1990.
6. Brasil. Lei nº 8142, de 28 de dezembro
de 1990. Dispõe sobre a participação da
comunidade na gestão do Sistema Único de
Saúde
e
sobre
as
transferências
intergovernamentais de recursos financeiros
na área da saúde e dá outras providências.
Brasília (DF). 1990.
7. Saramago J. Saramago e nossos moinhos
de vento. Edição Renato Rovai. Revista
Fórum: outro mundo em debate. nº 24.
Editora
Publisher
Brasil.
2005.
54
Souza, S. da S. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 55-61, jan./dez. 2005
REFLETINDO UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA EMANCIPADORA NA
ENFERMAGEM1 [Reflecting upon an emancipative pedagogical Nursing practice]
Sabrina da Silva de Souza2; Mariza Maria Serafim Mattosinho3; Maria Seloi Coelho4
Resumo: Este texto apresenta a educação como prática social na enfermagem, especialmente como
forma de ensino aprendizagem nas escolas de formação em saúde, destacando os aspectos teóricos e
práticos da educação com possibilidade de prática social. Inclui também formas de apresentação de
educação: educação libertadora e educação como prática social.
Palavras chave: educação, prática social, enfermagem.
Abstract: This text presents education as a social practice in Nursing, especially as a method of
teaching-learning in health care schools, highlighting the theoretical and practical aspects of education
with the possibility for social practice. It also includes methods of presenting education: liberation
education and education as a social practice.
Keywords: Education, social practice, nursing.
Introdução
A diversidade das capacidades
humana é basicamente inata, podendo
modificar-se no decorrer da vida para mais
ou para menos. O empenho nas ações e
atividades podem aumentá-las, assim como o
desinteresse e desuso podem reduzi-las. O
que também acontece no processo educativo.
Portanto, a pedagogia é constituída
como ciência na própria práxis educativa, na
qual teoria e prática estão embricadas, se
supõe e se determinam. Desta forma, o
educador
necessita
desenvolver
competências, para que possa desenvolver
uma prática pedagógica problematizadora.
Ao longo da história, a educação tem
se delineado de acordo com a própria
evolução do homem, influenciada por
concepções filosóficas das mais diversas e
serve de referência para a evolução das
diversas abordagens pedagógicas.
Ela constitui uma das grandes
inquietações do homem. Sua influência no
processo de humanização e de sua libertação
é assunto não só de interesse de intelectuais,
mas de todos os homens comprometidos com
as práticas educativas.
Para nós a educação é um processo de
interação entre os sujeitos sociais que
acarreta no desenvolvimento integral destes
atores. Ela respeita as crenças, os valores, a
individualidade, a cultura e todos os
princípios que regem a dignidade humana,
porém propicia atitudes de reflexão para
transformação de uma realidade.
Ressaltamos que essa nova forma de
fazer e pensar educação não podem estar
vinculada e dimensionada a partir de
produtos, identificados por meio de
resultados
avaliativos,
baseados
em
parâmetros
estruturados
nas
formas
tradicionais.
_____________________
1
Este artigo faz parte do trabalho de conclusão de curso a fim de obter o título de Especialista em Formação
Pedagógica em Educação Profissional na Área de Saúde: Enfermagem. MS/FIOCRUZ.
2
Mestranda em Enfermagem pela PEN-UFSC, Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde de São José/SC.
Integrante do NUCRON (Núcleo de Pesquisa vinculado ao Programa de Pós Graduação em Enfermagem pela
3
UFSCMestre em Enfermagem, Enfermeira da Secretaria de Estado da Saúde/SC – EFOS. Integrante do
NUCRON (Núcleo de Pesquisa vinculado ao Programa de Pós Graduação em Enfermagem pela UFSC).
4
Doutoranda em Enfermagem pela PEN-UFSC. Mestre em Enfermagem, Enfermeira da Secretaria de Estado
da Saúde/SC-DAME. Integrante do NUCRON (Núcleo de Pesquisa vinculado ao Programa de Pós Graduação
em Enfermagem pela UFSC).
55
Souza, S. da S. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 55-61, jan./dez. 2005
Isto quer dizer que há que se
substituir a lógica econômica que vem
direcionando as ações educacionais, nos
últimos anos, por outra que focalize a
emancipação
dos
sujeitos
históricos
envolvidos no processo educativo. Essa nova
postura sinaliza, também, para a delimitação
de um tipo de gestão assentada em bases
democráticas, em que descentralização,
autonomia, transparência, participação e
qualidade deixam de ser retórica e
transformam-se em prática construída
coletivamente.
Ao indicar caminhos para uma
educação que faça sentido num futuro em
que a velocidade da informação, as
demandas do mundo do trabalho e as
necessidades sociais cada vez mais se
intensificarão, torna-se importante ressaltar
que só é possível compreender a prática
social da educação se ela for analisada no
sentido histórico e de forma contextualizada,
pois os fatos sociais possuem materialidade
objetiva e subjetiva, num movimento
dialético que se dá na realidade.
Numa antevisão do amanhã que
estará prenhe do hoje, a Educação, como
prática social que dá suporte à vida e à
cidadania, tem como responsabilidade a
construção
e
a
socialização
do
conhecimento, desde a educação infantil até
a superior, desvelando seu compromisso
social com esses novos tempos.
A educação como prática social
envolve não somente o compreender os
fenômenos naturais, mas o que permite que,
a partir dele, os indivíduos adquiram a
capacidade para assumirem a posição em
face de problemas conflituais, que a
realidade apresenta. Tal saber envolve
conhecimentos factuais, técnicas, concepções
fundamentadas em convicções políticas,
religiosa e ética.
Neste
estudo
destacaremos
a
educação e a educação como prática social
numa
perspectiva
problematizadora,
construída a partir de nossas vivências
teórico-práticas desenvolvidas no curso de
especialização em Formação Pedagógica em
Educação Profissional da Área de Saúde:
Enfermagem.
Educação libertadora
O processo educativo seja ele
específico ou não, quando exercido de modo
intencional pode gerar organização e ampliar
as condições de cidadania da população,
consequentemente mobilizando-a para seus
enfrentamentos e ações no sentido de
contribuir para a melhoria da qualidade de
vida. Este é um processo que exige coresponsabilidade, auto determinação e
participação, elementos que existem na
medida em que os indivíduos possuem
conhecimento da realidade que os cerca.
Não se pode negar a importância da
educação, mas é preciso resgatar seu real
valor para a população. Romper com este
processo de caráter normativo necessita de
práticas educativas mais reflexivas, coerentes
com as situações concretas advindas da
história, da vivência do próprio homem. Isto
implica na ruptura com a posição do
profissional como reprodutor. Implica na
renuncia à autoridade, à certeza, à imposição
de ações educativas pré-definidas à clientela.
O conhecimento e as disciplinas não
são impostas ao aluno (a), os conteúdos são
os que resultam de necessidades e interesses
do grupo e não são necessária nem
indispensavelmente as matérias de estudo.
Nesta proposta educacional da escola
libertadora, o mais importante é desenvolver
uma
consciência
crítica
e
o
comprometimento do educando com a
prática social. A linha pedagógica da Escola
Libertadora criada e difundida pelo educador
Paulo Freire, acredita numa educação não
formal, que valoriza o ser humano como
agente de transformação de sua realidade.
Desta forma, a relação entre educador e
educando acontece na horizontalidade, na
qual ambos são sujeitos do mesmo processo
1
.
A educação, neste sentido, consiste
na busca consciente, realizada por um
sujeito, para ser mais, para crescer. O papel
56
Souza, S. da S. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 55-61, jan./dez. 2005
do educador problematizador é proporcionar,
com os educandos, as condições em que se
dê a superação ao nível do doxa pelo
verdadeiro conhecimento, o que se dá no
nível do logus 2.
O papel do professor/educador não é
de modelo e sim de orientador e de
catalisador que se mistura no grupo para uma
reflexão comum. Este não deve impor suas
idéias e concepções e nem transformar o
educando em objeto. O educando é um ser
livre, concreto, objetivo que determina e é
determinado
pelo
social,
político,
econômico, enfim, pela sua história e só
aprende se estiver motivado e deseja
aprender. Aprender significa desenvolver a
capacidade de processar informações e lidar
com estímulos do ambiente, organizando os
dados disponíveis da experiência 1.
A
educação
libertadora
problematizadora, difundida por Paulo
Freire, não consiste no ato de depositar ou
transmitir conhecimentos, pelo contrário,
consiste numa troca, num ato cogniscente
entre educador e educando. Para o educador
dialógico e problematizador, o conteúdo
programático da educação não é uma doação
ou uma imposição, mas a devolução
organizada sistematizada e acrescentada ao
“povo”, daqueles elementos que este lhe
entregou de forma inestruturada 3.
Nesta pedagogia o educador tem o
papel de proporcionar condições para o
aprendizado. O educando é autor do seu
conhecimento. O papel do educador neste
modelo é o de instrumentalizador, uma vez
que educador e educando são sujeitos do ato
do conhecimento.
Nesse sentido, as idéias freireanas
servem como orientação para o processo de
formação docente no que se refere à reflexão
crítica da prática pedagógica que implica em
saber dialogar e escutar, que supõe o respeito
pelo saber do educando e reconhece a
identidade cultural do outro.
Hoje, mais que em outras épocas, se
exige do educador uma postura alicerçada
num processo permanente de reflexão que
leve a resultados inovadores no trato da
educação. Sem dúvida que, as contribuições
de Paulo Freire levam o educador a
consciência de si enquanto ser histórico que
continuamente se educa num movimento
dialético no mundo que o cerca. Não é, pois,
por acaso que as idéias freireanas se
articulam com os interesses na formação do
educador, pois, não se perde de vista o
caráter histórico do homem associado
sempre à prática social.
Quando o processo desconsidera a
dimensão sócio-cultural do aluno, a
educação não é eficaz, uma vez que as
intenções da educação divergem e desta
forma não há uma interação efetiva. Assim
não há troca de conhecimentos. Há sim, um
déficit no processo, pois gera insatisfação,
revolta, angústia e impotência do educando,
pois as ações não são adequadas a sua
realidade sócio, econômica e cultural. Se a
educação não for voltada para a realidade
concreta do indivíduo a mesma não se
realiza, pois extrapola o universo da qual o
indivíduo faz parte.
Freire defende que ensinar exige:
respeito aos saberes dos educandos,
aceitação do novo e rejeição a qualquer
forma de discriminação, respeito à
autonomia de ser do educando, a convicção
de que a mudança é possível, disponibilidade
para o diálogo, comprometimento, pesquisa,
criticidade, estética e ética 4 .
A educação que se impõe aos que
verdadeiramente se comprometem com a
libertação não pode fundar-se numa
compreensão dos homens como seres
“vazios” a quem o mundo “encha” de
conteúdos; não pode basear-se numa
consciência espacializada, mecanicistamente
compartimentada, mas nos homens como
“corpos conscientes” e na consciência como
consciência intencionada ao mundo. Não
pode ser a do depósito de conteúdos, mas a
da problematização dos homens em suas
relações com o mundo 2.
Uma das tarefas mais importantes da
prática educativo-crítica é propiciar as
condições em que os educandos em suas
relações uns com os outros e todos com o
57
Souza, S. da S. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 55-61, jan./dez. 2005
professor ou professora ensaiam a
experiência profunda de assumir-se. A
relação professor/aluno deve ser horizontal,
onde ambos mantém o diálogo, posicionamse e buscam, como sujeitos, a troca de
conhecimentos
e
superação
das
desigualdades 5 .
O diálogo é o principal instrumento
da educação crítica como forma de
estabelecer relações para a problematização
da realidade 1.
Freire diz que não há diálogo se não
houver um profundo amor ao mundo e aos
homens, não há diálogo se não houver uma
intensa fé nos homens, não há diálogo sem
esperança, e finalmente, não há diálogo
verdadeiro se não há nos seus sujeitos um
pensar verdadeiro. Pensar crítico. Pensar que
não aceitando a dicotomia mundo-homens,
reconhece entre eles uma inquebrantável
solidariedade 2.
O educando é autor do seu
conhecimento. O papel do educador neste
modelo é o de instrumentalizador, uma vez
que educador e educando são sujeitos do ato
do conhecimento.
Com efeito, ao enfatizar o caráter
contemplativo da teoria, Paulo Freire garante
a inserção do homem na realidade. Ele deixa
claro que teoria é sempre a reflexão que se
faz do contexto concreto, isto é, deve-se
partir sempre de experiências do homem
com a realidade na qual está inserido,
cumprindo também a função de analisar e
refletir essa realidade, no sentido de
apropriar-se de um caráter crítico sobre ela.
Esse caráter de transformação tem uma razão
de ser, pois provém antes de tudo, da sua
vivência pessoal e íntima numa realidade
contrastante e opressora, influenciando
fortemente todas as suas idéias.
Essas idéias pedagógicas expressam
as lutas sociais como força atuante de
transformação do mundo. Assim, os sujeitos
sociais modificam o mundo através de uma
educação libertadora, conscientizadora, que
se indigna com a opressão e a denúncia.
No
processo
de
formação
profissional os alunos devem ser instigados a
perguntar, criticar, criar para construção de
um conhecimento coletivo que articule o
saber popular e o saber crítico, científico,
mediado pelas experiências do mundo 6.
As
ciências
permitiram
que
compreendêssemos muitas certezas. No
entanto, elas também ajudaram a revelar as
zonas de incertezas. Dessa forma, a política
pedagógica precisa converter-se em um
instrumento que conduza o educando a um
diálogo criativo com as dúvidas e
interrogações do nosso tempo, condição
necessária para um à formação cidadã. Não
se pode mais ignorar a urgência de
universalização da cidadania, que por sua
vez, requer uma nova ética e, por
conseguinte, uma escola de educação e
cidadania para todos 7.
Para finalizar gostaríamos de ressaltar
o nosso papel enquanto educadores com as
palavras de Paulo Freire “o papel de um
educador conscientemente progressista é
testemunhar a seus alunos, constantemente,
sua competência, amorosidade, sua clareza
política, a coerência entre o que diz e o que
faz sua tolerância, isto é, sua capacidade de
conviver com os diferentes para lutar com os
antagônicos” 6.
Educação como prática social
O ser humano é um ser social, nasce e
cresce em um ambiente que é criado e
transformado pelos homens. Neste ambiente
que é social dar-se-á inicio a interação
ocorrendo à educação 6.
Desde o nascimento já é iniciado o
processo educativo, no qual a família repassa
ao novo ser práticas e conhecimentos
herdados da sua cultura, crenças e valores. À
medida que vamos crescendo a educação vai
se transformando, através das novas relações
sociais oriundas das interações com amigos,
escola, trabalho, entre outros, ou seja, o
processo educativo está ligado/integrado ao
viver/conviver de cada pessoa.
Nós nos educamos com as nossas
experiências e também ouvindo, trocando e
observando as atitudes dos outros, que
58
Souza, S. da S. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 55-61, jan./dez. 2005
muitas vezes expressam mais do que
palavras. No convívio estabelecido com
essas redes sociais vão emergindo nas
pessoas sentimentos e significados na qual
eles vão se educando, se comprometendo,
criando e re-criando o viver em sociedade.
Assim vamos nos formando, nos educando e
nos percebendo enquanto seres sociais.
No processo educativo existem dois
conceitos essenciais que constituem a base
essencial da prática sócio educativa: a
intenção e a interação.
Os termos intenção e interação
constituem uma unidade que expressa o
modo de existir do ser humano como
constitutivo da realidade. Porém, as pessoas
são vistas como sujeitos que procuram à
compreensão, a interpretação da realidade
onde vivem, movimentando-se e fazendo
parte dela interferindo para que ocorra uma
transformação dessa realidade.
A interação tem um significado
especial na realidade social, onde os homens
a constituem pela convivência. É a maneira
como se dá a relação entre pessoas, grupos,
sociedade,
entre
outros,
e
esta
relação/interação ocorre quando algo
(conceito, pessoas) está diante de outra,
servindo uma de referência a outra.
Como enfermeiros e educadores em
saúde, temos o papel de trabalhador social,
não podendo nos omitir diante do processo
de nos relacionarmos no mundo, assumindo
uma postura humana e de valor ao próximo.
Temos o compromisso com a educação e o
desenvolvimento, da percepção crítica das
pessoas com quem trabalhamos.
Para a educação ser uma prática
social é necessário que esta prática resulte na
intenção de interações para a transformação
dos educandos e também para a construção
de
possibilidades
de
mudanças
e
transformações mais amplas na vida social,
no sentido de torna-la mais humana.
Quando a educação é uma prática
social, a participação dos indivíduos
intervém efetivamente nos processos que
constituem ou modificam a sociedade na sua
história, ou seja, têm parte na produção, na
gestão e no usufruto dos bens da sociedade.
Daí parece emergir os outros dois conceitos
co-responsabilidade e autodeterminação ao
quais são, respectivamente, a capacidade de
responder conscientemente, em conjunto
com outros agentes, pelos processos sociais e
a capacidade de decidir por si mesmo.
Desta forma, entendemos a educação
como prática social, toda atividade
educacional que se concretiza em relação
pedagógica, que apresenta características
históricas,
implicações
teóricas
e
compromissos políticos. Para que a educação
ocorra plenamente é fundamental que as
intenções sejam compartilhadas com todos
os partícipes do processo para que ocorra a
interação entre os mesmos.
Hoje a educação abre as portas para
esse
novo
olhar
na
qual
educandos/educadores são vistos como
sujeitos, com o compromisso de ensinoaprendizagem, inseridos num ambiente
sócio-político e histórico-cultural.
Esse ambiente deve ser considerado
pelas pessoas envolvidas na educação, pois,
os alunos e professores vêm de contexto,
muitas vezes distinto. A riqueza do processo
está na interação dessas experiências e
construção
de
uma
experiência
e
conhecimento coletivo, assim ocorre à
educação.
Quando não consideramos as
diferenças e ambientes sócio-culturais
estamos negando a construção individual
desses sujeitos, que é à base da riqueza do
processo. Estamos mais uma vez negandolhes uma existência prévia e não
contribuindo para sua formação enquanto
trabalhador social. Assim, repetimos a
educação tradicional, onde todos eram vistos
como objetos a serem educados.
Considerando o contexto sóciocultural, passamos a perceber o educando
como sujeito, com um compromisso maior
sobre sua educação, como conquista no
processo de conscientização. Portanto, o
educador e o educando somente participam
da educação se tiverem realmente a intenção,
deve existir a motivação interna na busca do
59
Souza, S. da S. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 55-61, jan./dez. 2005
ser mais, eles devem querer participar, esse é
um importante fator na educação.
Freire coloca que as pessoas se
educam em comunhão mediatizados pelo
mundo 6. Assim, quando pensamos em
educação verdadeira, não podemos deixar de
lado o contexto das pessoas envolvidas.
Através da intenção, elas vão buscar
interagir/ trocar e aprender em conjunto, o
processo de viver com o mundo e de refletir
sobre a essência do ser humano.
O educando que durante o processo
desenvolve a consciência crítica, ao exercer
sua prática profissional perceberá como
essência de sua ação o ser humano, que no
momento necessita mais do que cuidados,
necessita ser valorizado como sujeito.
Ao indicarmos caminhos para uma
educação que faça sentido no futuro em que
a velocidade da informação, as demandas do
mundo do trabalho e as necessidades sociais
cada vez mais se intensificarão, é importante
ressaltar que só é possível compreender a
prática social da educação se ela for
analisada no sentido histórico e de forma
contextualizada, pois os fatos sociais
possuem materialidade objetiva e subjetiva,
num movimento dialético que se dá na
realidade. Esta nova forma de fazer pensar a
educação não pode estar vinculada e
dimensionada a partir de produtos,
identificados como meio de resultados
avaliativos, baseados em parâmetros
estruturados nas formas tradicionais. Isto
quer dizer que tem que ser substituída a
lógica econômica que vem direcionando as
ações educacionais nos últimos anos, por
outra que focalize a emancipação das
pessoas como sujeitos históricos envolvidos
nos processos educativos.
Considerações finais
As nossas vivências constituem a
nossa essência e com certeza influenciarão a
nossa visão de mundo e formação
profissional. Enquanto enfermeiros estamos
diante de um compromisso muito maior do
que realizar cuidados de enfermagem, mas
sim de olhar as pessoas com as quais
trabalhamos (seja na assistência ou
educação) como sujeitos, com sentimentos,
conhecimentos, experiências, significados,
com capacidade de agir, refletir e decidir
sobre seus atos, cuidados e educação. Essa
capacidade faz do homem sujeito de sua
história, agente de transformação do mundo.
Dos relacionamentos e reflexão sobre o
contexto o homem assume o papel de
transformador de sua realidade, buscando um
mundo mais justo e humano.
A mudança de percepção, que ocorre
na problematização de uma realidade
conflitiva,
implica
em
um
novo
enfrentamento dos indivíduos com sua
realidade. Cabe ao trabalhador social
trabalhar como e jamais impor, pelas pessoas
a quem considera sujeitos e não objetos,
incidências de sua ação 8.
A escola libertadora através do poder
de criação e da consciência crítica pode ser
usada na área da saúde, especificamente
neste caso, na educação para profissionais de
enfermagem, visando uma reflexão sobre a
realidade, na tentativa de compreendê-la e
desenvolver a consciência do poder do ser
humano para transformar situações de vida,
buscando uma formação crítica e profissional
mais comprometida com a sociedade e com o
viver saudável.
A teoria de Paulo Freire é a união da
teoria e da prática, trabalhando teoricamente
a realidade vivida. Freire pensa em uma
pedagogia especifica, associando o estudo, a
experiência vivida, o trabalho, a pedagogia e
a política.
Freire abre uma nova perspectiva
para a educação, ao perceber e valorizar as
experiências
populares
na
formação
educativa. Quando pensamos em formação
profissional da saúde, não podemos deixar de
nos remeter a educação libertadora de Paulo
Freire, se não cairemos na educação
tradicional, predominante por muitos anos,
que mantinha apenas o repasse de
informações sem a preocupação com o
envolvimento social e político do ser
humano.
Essas
informações
60
Souza, S. da S. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 55-61, jan./dez. 2005
descontextualizadas acabam por não serem
aplicadas no seu cotidiano.
Ao vivenciarmos a nossa realidade
social temos que nos dar conta que fazemos
parte dela, somos influenciados por ela assim
como a influenciamos, percebendo que a
educação está relacionada com as relações
políticas e culturais. Portanto temos que
desenvolver nossa visão crítica, de analisar e
refletir sobre essas situações, não as
aceitando de forma passiva. Essa reflexão
deve ser realizada em comunhão com os
outros sujeitos sociais, dessa conscientização
conjunta a sociedade cria forças para
transformar a realidade.
Como formadores de profissionais de
enfermagem devemos desafiar os alunos a
perceber que aprender é desvelar a realidade,
assumindo curiosidade e interesse de quem
quer conhecer e se sente o sujeito do seu
aprendizado.
È importante que nós educadores
tenhamos bem claro o nosso papel enquanto
formadores de profissionais e trabalhadores
sociais, para que então possamos atuar como
educadores críticos e conscientes de suas
possibilidades de atuação no contexto social,
o que nos remete a Freire: “Nenhum
educador faz sua caminhada em diferente ou
apesar das idéias pedagógicas de seu tempo
ou de seu espaço. Pelo contrário, faz sua
caminhada desafiada por essas que combate
ou defende. Nega-se, afirma-se, cresce, e
mobiliza-se, envelhece assim ou é sempre
novo” 6:72.
Referências
1. Salum NC. Educação continuada no
trabalho: uma perspectiva inovadora de
transformação da prática e valorização do(a)
trabalhador(a) de enfermagem. 2000
Dissertação (Programa de Pós Graduação em
Enfermagem) – Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, 2000.
2. Freire P. In: Pedagogia do oprimido. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
3. Geremias R, Vieira SA. Orientando o
autocuidado segundo Dorothea Orem: um
incentivo ao cliente crônico. Florianópolis,
1996. (Relatório Final de Conclusão de curso
de
Graduação
em
Enfermagem)Universidade Federal de Santa Catarina.
4. Freire P. In: Educação como prática da
liberdade. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra; 1979.
5. Freire P. In: Pedagogia da autonomia:
saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra; 1999.
6. Freire P. In: A educação na cidade. 4. ed.
São Paulo: Cortez, 2000.
7. Morin E. In: Os sete saberes necessários à
educação do futuro. 5. ed. São Paulo: Cortez;
Brasília, DF: UNESCO; 2002.
8. Freire P. In: Ação cultural para a
liberdade: e outros escritos. 10. ed. São
Paulo:
Paz
e
Terra;
2002.
61
Portella, M. R.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 62-69, jan./dez. 2005
PROMOÇÃO DO ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL: um olhar sobre as práticas de
cuidado e de promoção da saúde dos idosos rurais1 [Promotion of healthy aging: a look
at care practices and the promotion of health for the rural elderly]
Marilene Rodrigues Portella²
Resumo: Este artigo apresenta uma discussão sobre a promoção da saúde dos idosos da zona rural
apreciando enfoques abordados na mesa redonda “Promoção do envelhecimento saudável” que
aconteceu durante a 5a Jornada Brasileira de Enfermagem Geriátrica e Gerontológica e 28a Jornada
Enfermagem Catarinense em Florianópolis, setembro de 2004. Primeiramente examina o contexto do
processo de viver e envelhecer no meio rural, a seguir explora as possibilidades de promoção do
envelhecer saudável nas comunidades rurais e, por fm, tece alguns considerações sobre a necessidade
de se implementar estudos que investiguem o envelhecimento humano nas comunidades rurais.
Palavras-chave: Saúde idoso rural, envelhecimento, promoção da saúde
Abstract: This paper discusses the promotion of health for the elderly in rural areas taking a look at
viewpoints approached in the round table “Promotion of healthy aging" which was held during the 5a
Jornada Brasileira de Enfermagem Geriátrica e Gerontológica and 28a Jornada Enfermagem
Catarinense (5th Brazilian Seminar of Geriatric and Gerontological Nursing and 28th Seminar of
Nursing in Santa Catarina) in Florianopolis, September 2004. Firstly, it examines the context of the
living and aging process in the rural environment, and then explores the possibilities for the
promotion of healthy aging in rural communities and lastly, discusses some considerations regarding
the need to implement studies which investigate human aging in rural communities.
Keywords: Health, rural elderly, aging, health promotion.
Introdução
Para se falar em promoção do
envelhecimento saudável considerando os
idosos que vivem em zona rural é necessário
que se façam algumas considerações, ainda
que rápidas, sobre o modo de vida dos rurais
e as possibilidades de atenção à saúde dos
mesmos. O processo do envelhecimento é
natural e normal, porém difere de pessoa
para pessoa. No meio rural, a maneira como
cada ser humano envelhece, está relacionada
a sua formação cultural e o contexto sóciohistórico.
Este artigo apresenta uma discussão
sobre a promoção da saúde dos idosos da
zona rural apreciando os dois focos
abordados na mesa redonda “Promoção do
envelhecimento saudável”, que aconteceu
durante a 5a Jornada Brasileira de
Enfermagem Geriátrica e Gerontológica e
28a Jornada Enfermagem Catarinense, que
_________________
ocorreu em Florianópolis em setembro de
2004. Para abordar essa temática, num
primeiro momento, contextualizamos o
processo de viver e envelhecer no meio rural
considerando os seguintes aspectos: a)
urbanização intensa, expulsão da terra; b)
mudança na organização familiar; c) as
questões de gênero; d) a existência de
municípios envelhecidos; e) os descasos para
com o meio rural, por parte das políticas
públicas; f) o desrespeito aos seus costumes
e às suas necessidades; g) a influência da
mídia sobre o mundo dos rurais e o papel da
escola no meio rural. A seguir, dirigimos um
olhar sobre a promoção do envelhecer
saudável nas comunidades rurais e as
possibilidades de atenção à saúde dos idosos
adotando os enfoques: a) ambiente saudável;
b) relacionamento intergeracional; c) rede de
vizinhança; d) os benefícios da aposentadoria
e a inserção dos idosos nos Grupos de
Terceira
Idade
(GTIs).
¹ Palestra proferida na Mesa Redonda: Promoção do envelhecimento saudável, na V Jornada Brasileira de
Enfermagem Geriátrica e Gerontológica, Florianópolis, SC, 08 – 10/09/2004.
2
Enfa Dra Profa. Titular do Curso de Enfermagem da Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo-RS.
62
Portella, M. R.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 62-69, jan./dez. 2005
Por fim,
pontuamos
algumas
considerações que destacam a necessidade de
investimentos em estudo que aborde o
envelhecimento rural, uma vez que a velhice,
nesta perspectiva, merece ser investigada não
só pela riqueza de dados, mas pelas
peculiaridades específicas pertinentes às
comunidades rurais.
Contextualizando o processo de viver e
envelhecer no meio rural
Viver e envelhecer no meio rural, na
atualidade, aproxima-se ao vislumbre de um
paradoxo. Se, por um lado, este processo
pode acontecer de modo tranqüilo devido ao
ambiente favorável das comunidades rurais,
longe da agitação e da violência, própria dos
centros urbanos, por outro, tráz à tona a
condição sofrível daqueles que diariamente
lutam pela sobrevivência frente às
adversidades impostas pela condição de
viver neste contexto, o mundo rural. Pensar o
envelhecimento rural implica em considerar
os seguintes aspectos:
Urbanização intensa, expulsão da terra
A urbanização intensa, assim como a
rápida transferência de grandes contingentes
populacionais do campo para as cidades são
conseqüência das migrações. Geralmente os
grandes fluxos migratórios humanos têm
origem em grandes problemas sociais e
econômicos. Os jovens abandonam o campo
em busca de melhores condições,
especialmente, associadas às ilusões do
mercado de trabalho. O êxodo para as
cidades, ocorrido no Brasil, uma realidade
que tem esvaziado o meio rural, se deve
principalmente às transformações da
agricultura, ou seja, o processo da
mecanização agrícola, o uso de tecnologia de
ponta, e uma política econômica que
privilegia acima de tudo o agrobusiness,
imposição de um sistema capitalista
estruturado, ao meu ver, numa economia
mercantilizada. 1
Em outras palavras, o Brasil, na
virada do milênio, persiste no movimento de
desruralização, que se caracteriza por um
movimento de expulsão da terra, onde jovens
e por vezes, famílias inteiras se aglomeram
nas periferias urbanas formando as notórias
favelas. Grande parte dos favelados deixou
terras de sua propriedade ou locais onde
plantavam, seja causa da mecanização ou da
luta pela terra e foi para os grandes centros
procurar grandes obras que não existem e,
quando acontecem, poucos empregos
ofertam, assim vão exercer funções mal
pagas, fazer biscates e viver na pobreza que
rapidamente se transforma em miséria1.
Mudança na organização familiar
Outro ponto a considerar na
promoção do envelhecimento saudável é a
família. Pensar o padrão de família na
perspectiva rural significa sobretudo
considerar as mudanças que vem ocorrendo
na organização familiar. Acreditamos,
realmente, que o processo de modernização e
urbanização das sociedades, contribui
significativamente, para a saída dos jovens
do campo. Ora, sabemos que hoje, mais do
que nunca, as transformações sócioeconômicas constroem padrões familiares
bem como, determinam dinâmicas intrafamiliares.
Segundo
Camarano
e
2
Abramovay o meio rural brasileiro, além de
persistir no esvaziamento, está envelhecendo
e se masculinizando. Com a saída dos jovens
do meio rural, ficam lá os pais já
envelhecidos. Dos jovens, o êxodo maior é
feminino, a migração das mulheres é vista
como um recurso necessário na organização
de suas próprias vidas3. Muitas vezes, são os
próprios pais que estimulam a saída das
filhas mulheres do campo para estudarem na
cidade, onde o estudo ocupa meio turno e
nos períodos vagos podem até conseguir um
emprego. Mesmo na atual conjuntura de
desemprego, a cidade consiste-se numa
oportunidade de melhoria de vida.
63
Portella, M. R.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 62-69, jan./dez. 2005
As questões de gênero
As relações sociais de gênero sempre
marcaram e definiram a conduta e o agir dos
indivíduos na família. No meio rural,
segundo Tedesco4, há uma segregação nítida
em termos de gênero, até mesmo na esfera
do lazer.
O trabalho feminino no lar, em geral,
não é valorizado. Embora se dê importância
ao papel desempenhado pela mulher, como
reprodutora
biológica,
seu
serviço,
freqüentemente, nem é considerado como tal.
Elas próprias, quando perguntadas se
trabalham, muitas vezes respondem que não,
que apenas fazem as lidas da casa e cuidam
dos filhos. Quando algumas delas respondem
que sim, estão se referindo à sua força de
trabalho, quando utilizada nas lidas da roça.
De qualquer forma, mesmo quando os
afazeres domésticos são considerados como
trabalho, não assumem a importância
atribuída ao trabalho do homem na lavoura.
As mulheres rurais, no meu
entendimento, são seres humanos únicos,
inacabados, com crenças e valores que lhes
são próprios. Cada uma vivência e
experiência um momento particular, no seu
processo de viver/envelhecer. Cada uma tem
sua visão de mundo, uma história de vida,
um corpo, uma idade, uma aparência física,
mas para efeito dessa discussão, algo é
comum entre todas: elas vivem e trabalham
no meio rural, quer seja no lar ou na roça.
Ser mulher e viver no meio rural parece
constituir-se na tônica do cuidado e do viver
atarefado6, 9.
Com a evolução tecnológica de
algumas tarefas na agricultura, quem mais
usufrui de tais benefícios são os homens.
Dirigir o trator, a colheitadeira, arar e
gradear a terra valendo-se do maquinário
agrícola é coisa de homem. A mulher do
meio rural tem responsabilidade de gerar,
educar e produzir. Cuidar da casa, dos filhos,
fazer comida, lavar a roupa, arrumar a horta,
fazer queijo, aprontar o pasto e cuidar dos
pequenos animais, é coisa de mulher. Coisa
de homem é o trabalho pesado, plantar,
colher, ir ao Banco, na cooperativa, ou seja:
as atividades fora do espaço doméstico, as
quais nem sempre são tão pesadas assim.
Governar a casa é coisa de mulher,
administrar a lavoura é coisa de homem.
A convivência no meio rural,
a organização social e vivencial da família
revela a profunda interação entre família,
terra e trabalho definindo obrigações e regras
que são seguidas e socialmente reafirmadas,
independentemente do sexo ou idade. As
mulheres idosas do meio rural sentem-se na
obrigação de trabalhar, pois fazem parte do
grupo familiar, desta forma consideram-se
comprometidas em colaborar e prover o seu
sustento5.
A existência de municípios envelhecidos
Um outro ponto a considerar no
tocante ao fenômeno do envelhecimento
populacional e a promoção do envelhecer
saudável é a existência de municípios
envelhecidos, ou seja, com percentual do
total da população geral como 60 anos e
mais acima dos 10%, índice considerado pela
Organização Mundial da Saúde como
determinante
do
envelhecimento
populacional de um país, isso também pode
se aplicar aos municípios. No Rio Grande do
Sul (RS), existem vários municípios, grande
parte deles, de pequeno porte, que se
encontram nessa condição (IBGE, 2000),
destacando-se ainda, o fato de que nestes
existe uma grande concentração de
população vivendo no meio rural.
Os descasos para com o meio rural, por
parte do poder público
Em alguns estudos realizados junto a
idosos, no norte do Estado do RS, dos quais
tenho participado, vale destacar a indignação
manifestada por este segmento da população
no que se refere aos descasos para como o
meio rural. O viver/envelhecer é entendido
como um processo sofrível, quando se
observam as reclamações em relação ao
abandono ao qual ficam submetidos6-8.
64
Portella, M. R.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 62-69, jan./dez. 2005
São os políticos que chegam ao meio
rural só nas épocas de eleições, com
promessas que nunca são cumpridas, são as
estradas, em precárias condições, às vezes,
intransitáveis, a escassez dos recursos
médicos, o que deixa a saúde no descaso.
Fazendo uma alusão à célebre frase de João
Guimarães Rosa “para os pobres, os lugares
são mais longe”, para quem vive no meio
rural, as soluções são para depois, promover
um
envelhecimento
saudável
nesta
perspectiva não é tarefa fácil.
Não obstante, algumas comunidades
rurais reclamam de que os governantes
fazem pouco caso das necessidades e da
precariedade de condições em que a
agricultura familiar está submetida, acusando
o governo de privilegiar os grandes
lavoureiros, significando, com isso, que, se,
na prática, não acontece a democratização
dos recursos, em nível de consciência, ela
deveria estar. Existe consciência disso, e
grande parte dos pequenos agricultores estão
se organizando adotando táticas no sentido
de reivindicarem, de serem ouvidos e neste
ponto as mulheres estão mais organizadas,
um exemplo disso, no sul do Brasil é o
movimento de mulheres trabalhadoras rurais
(MMTR), movimento ligado a um segmento
da Igreja Católica e a sindicatos.
Como se não bastasse o descaso das
políticas públicas, o idoso rural enfrenta as
discriminações e desrespeito a sua cultura. A
velhice sendo associada à discriminação
remete sempre à idéia de que o velho não
tem valor, assim também como o seu modo
de vida. O cultivo dos seus hábitos e
costumes quando desrespeitados, passam
indícios de que, ser velho e viver no meio
rural também é sofrível quando a realidade
social revela a forma indigna como os
cidadãos, são considerados e tratados pelos
demais Principalmente, por aqueles que dão
valor ao urbano e aos jovens7.
A influência da mídia sobre o mundo dos
rurais
Um ponto muito importante neste
debate, nos remete ao papel da mídia e sua
influência no mundo dos rurais. À medida
que se cria a consciência de que a mídia
determina padrões de comportamento,
percebe-se o olhar crítico, dos idosos, sobre
os meios de comunicação. Os idosos
reconhecem que, se por um lado há avanços
no campo devido a chegada da mídia, por
outro, apontam a mídia como um dos fatores
determinantes do distanciamento entre as
gerações. Atribuem à mesma a introdução de
novos comportamentos, os quais são
facilmente assimilados pelos jovens. A
crítica dos idosos envolve inclusive a
influência exercida sobre a forma de
entretenimento para o público infantil sobre
a recreação e os brinquedos difundidos entre
as crianças. Para os idosos, os meios de
comunicação, principalmente a televisão,
mostra aos jovens, desde a tenra idade, um
mundo muito diferente do que se possa
encontrar no meio rural7.
O papel da escola no meio rural
A Escola é rural, mas não chega aos
rurais. Os idosos atribuem à escola a coresponsabilidade pelo desinteresse dos
jovens e crianças em permanecer no meio
rural. A escola, a medida que transmite
conhecimentos, confirma o mundo mostrado
pela mídia que apresenta padrões de vida e
facilidades que não chega ao meio rural7.
No entender dos idosos a escola não
se preocupa com os problemas do interior.
Embora reconheçam a necessidade dos filhos
e netos estudarem, admitem que cada dia
freqüentado na escola é uma oportunidade a
mais para exposição ao convite de convívio
na cidade. Nesta perspectiva, reforçam o
parecer de que as escolas localizadas nos
municípios, onde a base econômica é a
agricultura familiar, deveriam incluir
disciplinas complementares com conteúdos
pertinentes ao contexto rural em seus
currículos.
65
Portella, M. R.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 62-69, jan./dez. 2005
O ambiente rural é ressaltado pelos
idosos como ecologicamente saudável, pois,
as
relações estabelecidas no dia-a-dia
seguem a tradição rural, que é de
solidariedade e cooperação entre os membros
de uma comunidade. Embora reconheçam
que existe uma sobrecarga de trabalho e, por
conseqüência,
desgaste
físico,
principalmente, para as mulheres. Todavia,
percebem o ambiente rural como oferecedor
de tranqüilidade e segurança, longe da
violência urbana e da agitação, algo comum
na cidade6. A vida no campo segue normas
comunitárias e rituais diferenciadas do
espaço urbano: durante a semana se trabalha
“pesado nas lidas”, se dorme cedo e os finais
de semana são para os encontros na capela,
as festas de igreja, os bailes, o direito ao
lazer, momentos destinado ao “profano e ao
sagrado”.
organização social rual. Essas mudanças
acontecem num ritmo acelerado em
consequência dos sistemas de produção
agrícola e das políticas econômicas, sendo
constatado, em alguns estudos, que onde há
predominância das pequenas propriedades o
cenário é próprio ao processo interativo
intergeracional. No convívio familiar, o
relacionamento afetivo entre avós, netos,
sobrinhos e afilhados é um exercício
prazeroso, que fica ao encargo dos mais
velhos a revitalização constante7.
No meio rural, o envelhecimento
saudável
acontece
nas
relações
intergeracionais. A família, no passado,
apesar de perene em termos de número de
filhos, na qual a figura dos mais velhos, os
avós, era sinônimo de respeito, não garantia
uma relação de afetividade entre seus
membros. Hoje, com mais liberdade e com o
exercício do diálogo, o relacionamento entre
as várias gerações se manifesta de maneira
diferenciada, os costumes são diferentes e,
como dizem alguns idosos: “os netos não
pedem mais abenção, é oi vó! oi vô! tchau
vô! tchau vó!, tudo é uma questão de
costume, ver que as coisas mudaram”.
Quando os idosos aceitam os padrões do
momento estabelecidos pelos jovens, isso
não se torna motivo de conflitos. O
relacionamento
intergeracional
fica
comprometido, podendo gerar conflito
quando envolvem questões com dinheiro,
herança, administração de bens. Por essa
razão, de certo modo, as relações
intergeracionais nas comunidades de
pequenos agricultores são fortalecidas, a
composição familiar gira em torno do
trabalho de subsistência e da sobrevivência
dos seus.
Relacionamento intergeracional
Rede de vizinhança
Os relacionamentos entre as gerações
no contexto familiar recebe influência direta
da forma como a sociedade rural vive e se
organiza. Atualmente, observa-se uma
mudança nessa dinâmica em decorrência de
transformações que vem ocorrendo na
A dinâmica das interações nas
comunidades rurais não se equivale a dos
centros urbanos. As relações sociais são mais
intensas no meio rural, no que diz respeito à
rede de vizinhança. As tramas destas
relações possuem essencialmente um fundo
Promoção do envelhecer saudável nas
comunidades rurais: possibilidades de
atenção à saúde dos idosos
Tempo de envelhecer é tempo
de reconstruir. Segundo Rodrigues (2000)9,
as pessoas da terceira idade têm que
descobrir um novo rumo para suas vidas,
algo que as entusiasme, que lhes proporcione
alegria e satisfação, têm que refazer o projeto
de vida. O importante é não “parar”, diz a
autora, pois quem pára, adoece. Tendo por
base o resultado de alguns estudos realizados
no RS, no que se refere à promoção do
envelhecer saudável em comunidades rurais
destacamos para o debate as seguintes
ponderações.
Ambiente saudável
66
Portella, M. R.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 62-69, jan./dez. 2005
de solidariedade humana, reconhecimento da
compaixão e de responsabilidade para com
os vizinhos.
O meio rural traz presente a
solidariedade, a troca de favores e “a ajuda”,
elementos constantes entre as famílias rurais.
Pode haver descontentamento para com o
comportamento de algum vizinho, e até
motivos de discordância, porém, nas “horas
de aperto”, expressão muito comum utilizada
nas comunidades rurais para representar
situação de dificuldade, pode-se contar com
os vizinhos. Isso acontece em relação ao
cuidado com os mais velhos, na atenção aos
abandonados, ou no que se refere aos
desprovidos de condições econômicas.
Quando o suporte familiar é ineficaz no
cuidado dos mais velhos, a rede de
vizinhança se mostra pronta para entrar em
ação, assumindo para si esse compromisso.
A comunidade rural também se mobiliza
para dar suporte e apoio aos menos
favorecidos existentes na circunvizinhança,
por entender que esse é um compromisso
seu, sendo portanto, da sua competência a
ajuda primeira.
Os benefícios da aposentadoria
A
experiência
de
viver
a
aposentadoria constitui-se numa vivência
com significados diferenciados para os
idosos de acordo com a sua condição social,
com as determinações culturais, com a
história de cada um e da percepção que cada
um tem da realidade que o cerca.
A aposentadoria pode significar perda
econômica e, consequentemente, do status
social; uma vez que implica em diminuição
acentuada da renda, determinando, muitas
vezes, o surgimento de problemas de saúde,
especialmente de ordem mental. Já, no meio
rural o que se ibserva, na grande maioria, é o
inverso dessa situação, pois significa um
novo status adquirido7.
A aposentadoria representa, para o
idoso rural das pequenas propriedades,
ummma forma de valorização pessoal, pois
permite que este contribua com as despesas
da família, sendo às vezes, a única fonte de
renda, o que influencia significativamente
nos relacionamentos intergeracionais.
A aposentadoria, para as mulheres
rurais, é a visibilidade alcançada de status
social, pois com seus proventos é possível
comprar um presente para o neto, adquirir
utensílios domésticos e até a compra de um
vestido novo. Antes da aposentadoria, a
mulher contribuía com seu trabalho, mas não
tinha gerência sobre o fruto dele, pois a
renda era da casa e o marido administrava.
A inserção nos GTIs
Reunidos em grupos, os chamados
grupos de terceira idade (GTIs), nos quais
são realizadas atividades físicas, palestras,
viagens, bailes ou mesmo momentos de
conversas, os idosos rurais estão a construir
uma
nova
identidade
da
velhice.
Estabelecendo ações coletivas de resistência
à todas formas de discriminações para com a
velhice,
tornam-se
sujeitos
ativos,
participantes, buscando sua cidadania, e,
nessa busca, surge uma nova forma de cuidar
de si, de viver e envelhecer saudável.
Participar dos GTIs é permitir-se ir ao
encontro das outras pessoas, e com elas,
restabelecer
novos
vínculos,
recriar
interesses que haviam se perdido, recuperar a
saúde, reencontrar a amizade, algo já tão
escasso. É valorizar-se e sentir-se valorizado
na condição de velhice. 8.
Acredito que os grupos são
referências de uma condição de sujeito
porque se comportam como espaços para
expressar as experiências do cotidiano, ao
mesmo tempo em que viabilizam mudanças
sobre as experiências não satisfatórias. Nos
GTIs existe uma relação de solidariedade. A
solidariedade provém do apoio encontrado
face aos problemas decorrentes do próprio
envelhecimento, principalmente, os estados
depressivos, em virtude das perdas que, na
maioria das vezes, advém com esse processo.
O tempo compartilhado funciona como uma
terapia, mesmo sem ter esse propósito
determinado.
67
Portella, M. R.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 62-69, jan./dez. 2005
São novas formas de sociabilidade
criadas pelos idosos, reinventam valores que
fortificam os laços intergeracionais.10 É a
própria integração social, na perspectiva da
integração de gerações. Os GTIs estão
permitindo aos idosos a redescoberta de sua
dignidade
enquanto
seres
humanos
envelhecentes e, a construção da sua
identidade, como pessoas que vivem sua
condição de velhice. É o exercício da sua
cidadania.
Algumas considerações
Ao abordarmos a temática da
promoção do envelhecimento saudável, na
perspectiva da saúde do idoso rural, algumas
considerações merecem ser pontuadas.
Existem muitos “Brasis” rurais, porém,
minhas
colocações
foram
pautadas,
principalmente, em estudos desenvolvidos
em comunidades rurais do RS. Certamente
que, nas demais regiões, acontecem
semelhanças
e
diferenças,
muito
significativas. Os estudos sobre o
envelhecimento das pessoas rurais são
escassos; a realidade do meio rural carece de
mais estudo, quem mais se ocupa dessa
temática são os cientistas sociais. A velhice
rural merece ser investigada, pois existem
modos de envelhecimento diferenciado para
homens e mulheres, assim como, para quem
vive em espaço urbano e rural.
Não podemos também nos esquecer
no que se refere à promoção da saúde das
pessoas, que as políticas públicas têm um
“olhar vesgo” para com os rurais. Quando
nos referimos aos rurais, muitas vezes não
nos damos conta da multidimensionalidade
do processo de viver e envelhecer nessas
comunidades, o modo de produção, o
sistema econômico e agrário, entre outros,
que afetam a dimensão do viver cotidiano
das pessoas e agem como determinante no
processo de ser saudável.
Referência bibliográfica
1.Estratégias de vida de los jóvenes rurales
en América Latina. CEPAL, 1996, p.57-80.
2.CAMARANO,
Ana
Amélia
e
ABRAMOVAY, Ricardo - Êxodo rural,
envelhecimento e masculinização no BrasilPanorama dos últimos cincoenta anos - XXI
Encontro da Associação Nacional de
Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências
Sociais - ANPOCS – Anais, Caxambu, 1997.
3. DURSTON, John. Juventud rural en
América Latina: Recudiendo la invisibilidad.
Congresso da Associação Latino Americana
de Sociologia, Anais, São Paulo, 1997.
4. TEDESCO, João Carlos. Terra, trabalho e
família: racionalidade produtiva e ethos
camponês. Passo Fundo: EDIUPF, 1999.
5. PORTELLA, Marilene Rodrigues. Cuidar
para o envelhecer saudável: a construção de
um processo educativo com um grupo de
mulheres rurais do município de Passo
Fundo, RS. 1998. 182 f. Dissertação.
(Mestrado em Assistência de Enfermagem).
Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 1998.
6. SILVESTRIN, Delva. O viver/envelhecer
das mulheres rurais: representações sociais
das participantes dos grupos da terceira idade
do Dati. Trabalho de conclusão do Curso de
Enfermagem. Universidade de Passo Fundo,
Passo Fundo, 2002.
7. MISSIO, Marta. Atenção aos idosos rurais
no contexto da família. Trabalho de
conclusão do Curso de Especialização em
Saúde da Família. Universidade de Passo
Fundo, Passo Fundo, 2003.
8. _____. Grupos de Terceira Idade: a
construção da utopia do envelhecer saudável.
Passo Fundo: UPF, 2004.
9. RODRIGUES, Nara da Costa. A arte de
envelhecer: o envelhecimento saudável In:
SCHONS, C. R. e PALMA, L. S (ed.).
Conversando com Nara Costa Rodrigues:
sobre gerontologia social. Passo Fundo: UPF
EDITORA, 2000a.p. 21-23.
10. HECK, Rita Maria e LANGDON, Esther
Jean Matteson. Envelhecimento, relações de
gênero e o papel das mulheres na
68
Portella, M. R.
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 62-69, jan./dez. 2005
organização da vida em uma comunidade
rural. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza
e COIMBRA JR, Carlos E. A. (ed.).
Antropologia, saúde e envelhecimento. Rio
de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2002,
69
Fera, P. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 70-73, jan./dez. 2005
REABILITAÇÃO DO PACIENTE GERIÁTRICO INCONTINENTE1 [The geriatric
patient rehabilitation with urinary incontinence]
Patrícia Fera2; Maria Alice dos Santos Lelis3; Regiane de Quadros Glashan4
Resumo: A incontinência urinária é uma condição prevalente em idosos que traz conseqüências
físicas e emocionais desfavoráveis e compromete a qualidade de vida. O tratamento adequado pode
evitar essas complicações e deve ser indicado conforme o tipo e gravidade da incontinência,
condições clínicas e expectativas do cliente. As modificações comportamentais com reabilitação do
assoalho pélvico, cateterismo vesical intermitente e utilização de dispositivos para incontinência são
opções na reabilitação do paciente geriátrico com incontinência urinária.
Palavras-chave: Reabilitação, idoso, incontinência urinária
Abstract: The urinary incontinence is a prevalent condition in elder people which brings about
damaging emotional and physical consequences and it compromisses their life’s quality. The
apropriate treatment can avoid these complications and it outht to be indicated according to type and
seriousnesess of incontinence clinical conditions and client’s expectations. The behavioral
modifications with pelvic floor rehabilitation, intermittent catheterization and the use of incontinence
devices are options on geriatric patient rehabilitation with urinary incontinence.
Keywords: Urinary incontinence; elderly; rehabilitation
Introdução
Incontinência urinária é a “perda
involuntária de urina que acarreta situação
social e higiênica desconfortável e
objetivamente demonstrável”.Pode ocorrer
em qualquer fase da vida embora sua
prevalência aumente com a idade e é maior
em mulheres que em homens na proporção
de duas mulheres para um homem. Em
idosos constitui uma das principais causas de
institucionalização devido ao desconforto e
limitação social que provoca1,2.
Entre as repercussões físicas da
incontinência urinária destacam-se as lesões
de pele devido à umidade e uso de fraldas,
propensão a úlceras de pressão, queda e
infecções do trato urinário. Além disso, o
idoso pode apresentar sensação de
humilhação, ansiedade e culpa que culminam
no isolamento social e pioram a qualidade de
vida3,4.
Muitas vezes a incontinência urinária
é
considerado
um
sintoma
do
envelhecimento normal e, portanto é pouco
abordada pelos profissionais da saúde. Frente
a outras manifestações decorrentes de
doenças crônicas comuns nos idosos ela é
interpretada como um problema de menor
importância. No entanto sua abordagem e
tratamento podem significar um ganho na
qualidade de vida dos idosos.
Classificação da Incontinência Urinária
A incontinência urinária pode ser
classificada de acordo com a sintomatologia,
entre outras, como5,6 :

Incontinência de urgência – perda
urinária associada a forte desejo miccional
(urgência)
__________________
1. Palestra proferida na Mesa Redonda: Incontinências e o cliente geriátrico, na V Jornada Brasileira de
Enfermagem Geriátrica e Gerontológica, Florianópolis, SC, 08 – 10/09/2004.
2 Professora de Enfermagem na Universidade Cidade de São Paulo / Pós–Graduanda da Disciplina de
Urologia da Universidade Federal de São Paulo
3 Professora de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
4 Professora de Enfermagem da Universidade Cidade de São Paulo
70
Fera, P. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 70-73, jan./dez. 2005

Incontinência de esforço – perda
urinária associada a esforço físico com
aumento da pressão abdominal

Incontinência mista – combinação de
incontinência de urgência e de esforço

Incontinência funcional – relacionada a
deficiências crônicas da função física e ou
cognitiva

Incontinência por transbordamento –
perda
urinária
associada
bexiga
cronicamente cheia
Causas e fatores de risco
Incontinência Urinária em idosos
para
Os
idosos
podem
apresentar
alterações no trato urinário baixo como
diminuição da capacidade, da contratilidade
e da habilidade de adiar a micção além de
alterações no controle cerebral devido à
atrofia cerebral que podem comprometer a
continência urinária7,8.
Fleischmann e Nitti2 consideram
como principais causas de incontinência
urinária as situações de hiperatividade do
detrusor, cuja causa pode ser neurogênica ou
não
neurogênica,
e
insuficiência
esfincteriana. Já para incontinência urinária
funcional citam como principais agentes
causais os estados de confusão mental e
delírio, infecções do trato urinário, uso de
medicamentos, excesso de produção de
urina, restrição na mobilidade e impactação
fecal.
Os fatores de risco são muito
abrangentes e podem estar associados a
fatores
ambientais,
como
barreiras
ambientais que impeçam o acesso do idoso
ao banheiro, e fatores fisiológicos já citados,
como alterações do trato urinário e alterações
do estado cognitivo.
Tratamentos e Reabilitação
paciente incontinente
para
o
Os tratamentos para incontinência
urinária devem ser indicados de acordo com
o tipo e gravidade da incontinência,
condições clínicas e expectativas do cliente.
Desta forma podem ser indicados
tratamentos cirúrgicos, medicamentosos,
reabilitação do trato urinário através de
modificações comportamentais e reabilitação
do assoalho pélvico, cateterismo vesical
intermitente e adaptação de dispositivos para
incontinência.
Devido
às
várias
possibilidades terapêuticas a abordagem
multiprofissional é importante para a
individualização e otimização do tratamento.
As modificações comportamentais
devem ser instituídas após uma avaliação
constituída de amamnese e exame físico
geral e específico, avaliação cognitiva e de
capacidade funcional, investigação sobre
hábito miccional através do preenchimento
de um diário miccional onde o idoso anota a
freqüência miccional e das perdas urinárias
por alguns dias, investigação sobre as
características das perdas urinárias e
levantamento de hábito intestinal. Ressaltase a necessidade de questionar o tipo de
proteção para incontinência do qual faz uso e
a freqüência de troca.
Também faz parte da avaliação inicial
a abordagem sobre as condições ambientais
do domicílio, como barreiras ambientais e
condições dos sanitários. A repercussão
social e familiar da incontinência urinária
também é questionada.
A partir das informações levantadas
um programa individualizado é instituído
com duração média de seis meses e que
inclui9:

Micção programada – estabelecimento
de horários para micção considerando o
hábito inicial e as atividades diárias,

Ajuste alimentar e hídrico – inclui
orientações sobre a ingesta de fibras e os
alimentos irritantes vesicais que devem ser
evitados, entre eles café, chocolate, molhos
de tomate, frutas cítricas, etc,

Adaptações ambientais – orientações
sobre ajustes no domicílio para facilitar a
mobilidade e o acesso ao sanitário de forma
segura, como a instalação de barras de apoio,

Reabilitação do assoalho pélvico – o
idoso é ensinado a identificar a musculatura
do assoalho pélvico e a realizar exercícios de
71
Fera, P. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 70-73, jan./dez. 2005
Kegel (contração e relaxamento alternados
dos músculos do assoalho pélvico) para o
fortalecimento.
Esses
exercícios
são
prescritos de forma individualizada para
serem realizados no domicílio. Pode-se
utilizar para o ensino e acompanhamento
aparelhos de biofeedback.
No acompanhamento quinzenal o
progresso é avaliado e as intervenções são
ajustadas pelos enfermeiros. Estudos
mostram a eficácia das modificações
comportamentais com média de melhora da
incontinência urinária superiores a 80%10.
Nos casos em que o esvaziamento
vesical está comprometido, o que pode ser
uma causa de incontinência urinária, pode
ser necessário o uso de cateterismo vesical.
Neste caso uma alternativa é a realização
cateterismo vesical intermitente limpo no
qual o próprio paciente ou um cuidador
podem ser habilitados a realizar o
esvaziamento periódico da bexiga com um
cateter. A freqüência de cateterismos e tipo
de cateter a ser utilizado são alguns dos
aspectos que devem ser individualizados. A
inserção do cliente em um programa de
treinamento realizado por enfermeiros
especializados auxilia a adaptação e
aderência ao cateterismo.
Quando as demais medidas para
incontinência urinária não são possíveis ou
não são suficientes para impedir as perdas
urinárias pode-se ainda recomendar o uso de
coletores externos de urina para os homens.
Os avanços tecnológicos nesta área
possibilitaram a criação de uma variedade de
dispositivos, como cateteres externos autoadesivos e bolsas coletoras de fixação na
perna, que são mais discretos e confortáveis.
Além disso, para homens e mulheres
contamos com absorventes e fraldas com
poder de absorção cada vez maior e com
menor tamanho e espessura possibilitando
maior segurança e discrição. Deve-se, no
entanto, considerar a utilização de protetores
de pele para evitar dermatite amoniacal.
Considerações finais
Existem várias opções para a
reabilitação do paciente geriátrico com
incontinência urinária. Todas elas, quando
precisamente indicadas e instituídas, podem
possibilitar melhor convívio social, prevenir
as complicações físicas e emocionais da
incontinência e contribuir para a melhor
qualidade de vida dos idosos.
Referências bibliográficas
1.
INTERNATIONAL CONTINENCE
SOCIETY
COMMITTEE
ON
STANDARDISATION
OF
TERMINOLOGY, Scand J Urol Nephrol
v.114, n.5, 1988.
2.
FLEISCHMANN, N.B.; NITTI,
V.W. The diagnosos, management, and
treatment of geriatric urinary incontinence.
In: Issues in Incontinence, Spring/Summer
2004.
3.
RESNICK, N.M.; YALLA, S.V.
Evaluation and Medical Management of
Urinary Incontinence. In: WALSH, P.C et al.
(ed.) In: Campbell’ s Urology,
6ed.
Philadelphia W B Sauders; 1992. p.643-58.
4.
SIMONETTI, R. et al. Incontinencia
urinária em idosos: impacto social e
tratamento. A terceira idade, v. 12, n. 23, p.
53-69, 2001.
5.
ROCHA, L.C.A.; FARIA NETO,
N.A. Incontinência Urinária – classificação.
WROCLAWSKI, E. at al. (ed.) In: Guia
prático de Urologia, Rio de Janeiro:
Seguimento, 2003. p.223-4.
6.
LUECKENOTTE, A. In: Avaliação
em Gerontologia. 3ed. Rio de Janeiro,
Reichmann & Affonso, 2002. p. 339-67.
7.
SAKURAMOTO, P.K.; MARTINS,
S.E. A bexiga do idoso. WROCLAWSKI, E.
at al. (ed.) In: Guia prático de Urologia, Rio
de Janeiro: Seguimento, 2003. p.251-4.
8.
LEME,
L.E.G.
Incontinência
Urinária. CARVALHO FILHO, E. T.,
PAPALÉO NETTO, M. (ed.) In: Geriatria:
fundamentos, clínica e terapêutica. São
Paulo: Atheneu, 2000. p. 227-31.
72
Fera, P. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 70-73, jan./dez. 2005
9.
GLASHAN, R.Q., LELIS, M.A.S
Terapia comportamental: uma abordagem
para o enfermeiro no tratamento da
Incontinência Urinária. Nursing, n.32, ano 4,
p.18-24, 2001.
10.
GLASHAN, R.Q., LELIS, M.A.,
BRUSCHINI, H. Terapia Comportamental
no tratamento da incontinência urinária em
mulheres idosas não institucionalizadas.
Revista Estima, v.1, n.2, p. 30-9, 2003.
73
Meira, E. C. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 74-82, jan./dez. 2005
UNIVERSIDADE
ABERTA
DA
TERCEIRA
IDADE
EXTRA-MURO:
PROMOVENDO O ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL¹ [Third age outreach open
university: promoting healthy aging]
Edméia Campos Meira2, Andréa dos Santos Souza3; Alba Benemérita Alves Vilela4;
Edite Lago da Silva Sena5
Resumo: O presente trabalho apresenta o relato de uma experiência de extensão universitária, o
Projeto de Universidade Aberta da Terceira Idade – UATI, da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia – UESB, Jequié, BA. Tal experiência tem característica especial, pois, suas atividades se dão
em ações extra-muros , ou seja , fora do Campus da Universidade, por meio do desenvolvimento de
Grupos de Convivência na própria comunidade onde vivem os idosos. As atividades realizadas no
interior dos grupos costumam ser de natureza educativa sobre questões de cuidado de - saúde e
envelhecimento; de apoio sociocultural; de estimulo à prática da cidadania; visando contribuir para o
bem-estar e qualidade de vida do idoso enquanto membro de uma família e sociedade.
Palavras-chave: Universidade aberta da terceira idade, idoso, envelhecimento, saúde.
Abstract: This paper reports on a university community project, the Third Age Open University
Project (Projeto de Universidade Aberta da Terceira Idade – UATI), - of the State University of
Southeast Bahia - (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB), Jequié, BA. This project
has a special characteristic since it involves outreach activities, that is, off the University Campus,
through the development of Community Groups within the communities where the elderly
participants live. The activities carried out within the groups are generally of an educative nature
regarding questions of health and aging care; sociocultural support; and encouragement to exercise
citizen's rights; with a view to contributing to the well-being and quality of life of the elderly person
as a member of the family and of society
Keywords: Third age open university, elderly, aging, health.
Introdução
O presente tema tem como objetivo
apresentar
o
contexto
sócio/cultural
vivenciado por uma equipe interdisciplinar
junto à população idosa no município de
Jequié/Bahia. A iniciativa desta equipe
resultou na implementação de diversas ações
através do Projeto de Extensão Continuada –
Universidade Aberta com a Terceira Idade –
UATI, na Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia.
A
compreensão
da
produção
sociocultural
de um
envelhecimento
saudável, constitui-se segundo Gonçalves
(1992, p. 06)1, “[...] como um resultante em
________________________
grande medida, em pessoas cujos projetos de
vida incluíram e incluem a vivência de sua
própria história, sua realidade cultural, a
realidade sócio-política da sociedade onde
vivem, em constante mudança, e o exercício
da cidadania”.
Assim, o Projeto UATI/UESB, com a
participação sócio-cultural do voluntariado
popular e da equipe executora, visualizando
a construção da cidadania do idoso na cidade
de Jequié/BA, tem como objetivo geral
proporcionar às pessoas de qualquer nível
cultural ou social que estejam em processo
de envelhecimento, a oportunidade de
viverem integradas na família e comunidade,
visualizando a maturidade e a velhice como
1
Palestrante proferida na mesa redonda: Promoção do envelhecimento saudável, na V Jornada Brasileira de
Enfermagem Geriátrica e Gerontológica, Florianópolis, de 8-10/09/2004
2
Professora adjuta Mestre do Departamento de Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
3
Professora assistente Mestre do Departamento de Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
4
Professora adjunta Doutora do Departamento de Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
5
Professora Assistente Mestre do Departamento de Saúde da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina
74
Meira, E. C. et al








Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 74-82, jan./dez. 2005
etapas da vida plena em crescimento
biopsicosociocultural e espiritual. E como
objetivos específicos:
Promover práticas educativas de saúde e
socioculturais em caráter interdisciplinar,
relacionados com uma proposta de
envelhecimento saudável, para participantes
em
grupos de convivência para a terceira
idade.
Sensibilizar e mobilizar a comunidade
quanto à construção da cidadania do idoso
por meio da participação voluntária dos seus
integrantes.
Sensibilizar e mobilizar a comunidade para
as questões socioculturais do envelhecimento
no intuito de romper as barreiras dos
preconceitos acerca da velhice.
Promover parcerias e assessorias junto a
organismos
governamentais
e
nãogovernamentais com vistas a concretização
de políticas públicas para o idoso.
Desenvolver ações educativas para a
cidadania através de elaboração e
distribuição de publicações: cadernos,
folhetos, cartilhas, boletim informativo e
outros.
Desenvolver
ações
intersetoriais
e
interdisciplinares com vistas a Vigilância à
Saúde do idoso na família e comunidade.
Cuidar do idoso doente e/ou fragilizado na
família através de ações preventivas,
curativas e promocionais para a vida com
saúde/bem-estar.
Estimular e orientar o idoso para o auto
cuidado, favorecendo a autonomia e
independência na família e comunidade.
Neste sentido, a Universidade Aberta
com a Terceira Idade Extra-Muros, tem
desenvolvido
a
promoção
de
um
envelhecimento saudável, por meio de ações
educativas permanente em saúde nos espaços
sócio/culturais de Grupos de Convivência, e
Família – O cuidado ao idoso. Por meio
destas ações tem tido a motivação para
produzir a saúde numa perspectiva social,
como afirma Mendes (1999, p. 237)2 “[...]
saúde é então, resultado de um processo de
produção social que expressa a qualidade de
vida de uma população, entendendo-se
qualidade de vida como uma condição de
existência dos homens no seu viver
cotidiano, um “viver desimpedido”, um
modo de “amar a vida”, prazeroso, seja
individual, seja coletivamente. O que
pressupõe nível de acesso a bens e serviços
econômicos e sociais”.
A implantação deste projeto emergiu
do reconhecimento de que o envelhecimento
populacional é uma realidade e de que era
preciso criar estratégias de educação em
saúde e cidadania na perspectiva do
envelhecimento bem-sucedido, buscando
atender as finalidades de uma instituição de
ensino superior (articulação com o
ensino/pesquisa/extensão); e colaborando
com a efetivação da Política Nacional do
Idoso referente ao setor educação – Lei nº
8.8423. Art.10º Cap. III: “estimular e apoiar
a admissão do idoso na universidade,
propiciando a integração intergeracional”.
Entendemos que a expressiva população
idosa não poderá ser excluída do processo de
desenvolvimento do país, merecendo cada
vez mais o interesse dos órgãos públicos
construtores de políticas sociais e da
sociedade em geral, visto que a tendência
contemporânea é romper com o estigma da
velhice como um processo contínuo de
perdas biológicas, psicológicas e sociais,
atribuindo novos significados a esta etapa da
vida como momentos de novas conquistas
caracterizadas pela busca do prazer,
satisfação e autorealização. Acerca disto,
Debert (1996, p. 35)4 afirma: “[...] as
experiências vividas e os saberes acumulados
são ganhos que propiciaram aos mais velhos
oportunidades de explorar novas identidades,
realizar projetos abandonados em outras
etapas da vida, estabelecer relações mais
profícuas com o mundo dos mais jovens e
dos mais velhos”.
Outro aspecto que motivou a criação
da UATI/UESB foi a constatação pelo Censo
de 20005. que 1,2% da população de JequiéBahia possuía idade acima de 80 anos,
caracterizando-o como um município
longevo e, neste caso, o Departamento de
75
Meira, E. C. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 74-82, jan./dez. 2005
Saúde da UESB / Campus de Jequié, através
da Pró-Reitoria de Extensão reconhece a sua
responsabilidade, enquanto partícipe do
contexto sócio-cultural do município e
resolve comprometer-se com a população
longeva,
abrindo
espaço
para
o
desenvolvimento de ações extra-muros a
partir da concepção de que a Universidade
Aberta é para todos, independente dos
aspectos discriminatórios e dicotomizadores
característicos das sociedades capitalistas, no
que concerne a classe social, crença, cor,
raça, cultura e ideologia política.
Nesta perspectiva, a UATI/UESB por
meio das ações Extra-Muros: Grupos de
Convivência para a Terceira Idade e o
Cuidado ao Idoso em Domicílio tem
mobilizado os seus participantes quanto a
adoção de uma filosofia conscientizadora de
construção de um ser cidadão capaz de
reivindicar e lutar por uma sociedade mais
justa e igualitária, que reconheça a pessoa
idosa como parte da população produtiva,
capaz de cumprir com seus deveres no
processo de transformação social, na busca
de estratégias que favoreçam um viver e
envelhecer saudável.
Sobre isto afirma Demo (1995,
6
p.146) : “[...] no processo educativo é mister
ocorrer a emergência do sujeito histórico,
capaz de ler a realidade criticamente e de
nela intervir de modo alternativo e
instrumentada pelo conhecimento. Trata-se
de aprender a aprender, saber pensar, para
melhor intervir”. Neste sentido, a
UATI/UESB tem como principais diretrizes,
proporcionar às pessoas em processo de
envelhecimento a oportunidade de reinserção
social na perspectiva de viverem integradas
no mundo e com o mundo; oportunizar a
estas pessoas atividades de educação
permanente,
possibilitando
trocas
e
construção de conhecimentos em um
convívio
intergeracional;
desenvolver
práticas junto ao idoso e cuidador em
ambiente domiciliar que estimulem e
orientem para o autocuidado; exercitar as
atividades fins da Universidade: ensino,
pesquisa e extensão, com enfoque nos
aspectos do envelhecimento humano e
promoção da qualidade de vida.
Portanto, tem sido nosso desafio
tentar sensibilizar as pessoas envolvidas
neste contexto, para a transformação social
refutando a ideologia que exclui o ser
humano que envelhece, de ser pessoa, de ser
cidadão e permitir valer os direitos
oferecidos pelas leis, que se estabelecem
através
da
conquista
dos
espaços
democráticos da sociedade. Desta forma,
numa relação dialógica problematizadora
individual e coletiva, é que o projeto
UATI/UESB reconhece o seu compromisso
nas questões relacionadas com um
envelhecimento saudável, por meio das
ações
extra-muros,
implantando
e
implementando grupos de convivência,
através do programa Educação para o
Envelhecer para pessoas acima de 45 anos, e
do cuidado interdisciplinar de enfermagem
ao idoso e cuidador informal, em
comunidades organizadas do município de
Jequié.
Assim, as ações desta Universidade
Extra-Muros, fundamentam-se na educação
permanente, nas ações de vigilância à saúde
em
grupo, família e comunidade,
favorecendo a produção social de saúde dos
integrantes, proporcionando mais instruções
para o envelhecer saudável, e reconhece a
importância do idoso sentir-se cidadão no
contexto social, requerendo constante
aprendizagem,
desenvolvimento
psicodinâmico e conseqüente melhoria das
relações intra e interpessoais.
O princípio que tem norteado as
ações extra-muros, voltadas para a melhoria
das condições de saúde/vida das pessoas
idosas, é compreender que promover saúde
junto a uma população em crescente
envelhecimento, constitui-se de intervenções
de Vigilância à Saúde, que segundo Teixeira
(2002, p. 39)7 “[...] a vigilância à saúde,
propõe a incorporação de novos sujeitos,
envolvendo também a população organizada,
que abarca além das determinações clínicoepidemiológicas no âmbito individual e
coletivo, as determinações sociais que
76
Meira, E. C. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 74-82, jan./dez. 2005
afetam os distintos grupos populacionais em
função de suas condições de vida”.
Desta
forma,
o
enfermeiro
gerontogeriátrico em equipe interdisciplinar,
enquanto profissional de saúde coletiva,
cumpre o papel sociopolítico, quando
mobiliza a sociedade para uma reformulação
de
mentalidade,
acerca
de
um
envelhecimento saudável, promove a
formação de grupos de convivência
favorecendo o encontro para a reflexão e
construção de estratégias de ações, em busca
do cuidado de si mesmo, como do outro, no
qual em estado de deficiência proporcionado
pela doença e/ou fragilização, tem
dificuldade de participação direta nos
contextos de construção coletiva em prol da
cidadania.
Envelhecimento saudável: grupos
convivência para a terceira idade
de
A inclusão do idoso na participação
em grupos de convivência para a Terceira
Idade teve início no Projeto UATI-UESB
desde o ano de 1999, quando visualiza-se a
necessidade de sua implantação com
desenvolvimento de treinamento de líderes
das comunidades organizadas e qualificação
de
profissionais
de
várias
áreas:
Enfermagem,
Fisioterapia,
Nutrição,
Educação Física e Pedagogia, com
abordagens acerca do envelhecimento e
orientações técnicas psicopedagógicas de
como atuar junto as pessoas idosas numa
perspectiva interdisciplinar, a partir da
compreensão da integralidade da pessoa
humana com a intenção de mobilização
social para a construção da cidadania do
idoso.
As ações desenvolvidas nos grupos de
convivência têm como objetivos:

Qualificar
e
atualizar
recursos
humanos em Gerontologia para a
implantação e coordenação de Grupos de
Convivência.

Desenvolver ações de educação
permanente em saúde, visualizando o
crescimento pessoal e o incentivo ao
exercício da cidadania.

Mobilizar a sociedade com vistas à
inclusão do idoso nos diversos segmentos
que a constitui.

Desenvolver ações interinstitucionais
por meio de parcerias, convênios,
proporcionando melhoria das condições de
vida do idoso.

Elaborar planos estratégicos com vistas
ao oferecimento de diversas ações
interdisciplinares: educação, lazer, atividade
física, práticas ocupacionais, cantoterapia,
mobilização social e saúde (controle e
prevenção de doenças crônico-degenerativas,
orientação nutricional e outros).
Como resultado desta implantação é
relevante o fato de que o município de Jequié
conta com a presença de 14 Grupos de
Convivência constituídos em comunidades
organizadas de bairros centrais e periféricos
(cada grupo em sua comunidade e com seus
líderes), que fazem parte da Associação de
Amigos, Grupos de Convivência e
Universidade Aberta com a Terceira Idade –
AAGRUTI,
uma
Organização
não
Governamental (ONG) que tem o propósito
de contribuir para a conquista da cidadania e
conseqüente melhoria da qualidade de vida
do idoso da cidade de Jequié/Ba. Esta
entidade foi instituída em 2001 a partir da
necessidade de unificar e fortalecer o
trabalho voluntariado que já existia em 12
Grupos de Convivência da Terceira Idade, a
qual culminou com uma passeata e
distribuição de cartilhas educativas na
Semana do Idoso. Esta clientela já faz um
total de 800 idosos, que o corresponde
aproximadamente a 4% da população idosa
deste município.
Teve avanços nestes últimos anos: a
realização anual de mobilização social para a
Cidadania do Idoso – Ano 5; a criação do
Conselho Municipal do Idoso; a participação
na Conferência Municipal de Saúde – PréConferência de Saúde do Idoso; a ampliação
de Grupos e idosos participantes.
Vale ressaltar que esta significativa
parcela da população vivencia uma velhice
77
Meira, E. C. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 74-82, jan./dez. 2005
de forma diferenciada através de sua
participação
em
atividades
lúdicoterapêuticas que são realizadas nos encontros
semanais, geralmente em salas de casas
paroquiais ou de outras entidades, com o
oferecimento de atividades sócio-culturais e
educativas. Estas tem como eixo norteador a
convivência e a (re)inserção do idoso na
sociedade, o exercício da prática social com
compromisso de saúde como bem-estar
individual e coletivo, o qual poderá favorecer
um envelhecimento saudável, participando
de um cenário político, resgatando culturas e
papéis sociais que foram perdidos,
garantindo-lhes
maior
autonomia
e
realização pessoal de forma a contribuir para
a construção de uma nova mentalidade, além
de possuir um efeito terapêutico, garantindolhes uma melhor percepção de suas
condições de vida.
Com o objetivo de conhecer e
analisar as condições de vida objetivas e
subjetivas vivenciadas por estes idosos
desenvolveu-se um estudo descritivo, com
abordagem da Pesquisa-ação, aplicando
questionário estruturado a 254 idosos
participantes dos Grupos e analisados em
percentuais estatísticos. Por meio deste foi
possível constatar que: Condição SócioEconômica: sexo feminino (93%), 60 a 70
anos (52%), viúvos (41,6%), analfabetos
(49%), aposentados ou pensionistas (77%), 1
salário mínimo (66%) Convivência Familiar
(83%), 1 a 3 dependentes da renda (43%)
Processo Saúde/Doença: patologias crônicas
(87%), independente nas atividades diárias
(75%), amor e lazer condicionam bem-estar
(64%), religião promove adaptação ao
envelhecimento (100%) Exercício da
Cidadania é o motivo de participação nos
Grupos (67%), percebe-se cidadão (100%), e
desconhece a legislação do idoso (48%).
Conclui-se que, estes idosos mesmo com
condições socioeconômicas desfavoráveis
apresentam saúde/bem-estar com certa
qualidade de vida.
Envelhecimento saudável: o cuidado ao
idoso no domicilio
Dentre as várias implicações do
envelhecimento humano destaca-se a
suscetibilidade
às
doenças
crônicodegenerativas, devido às perdas progressivas
inerentes ao processo de viver/envelhecer,
podendo gerar incapacidades e perda da
autonomia e independência do idoso.
Além dessa situação epidemiológica
desfavorável, os idosos brasileiros agregam
outros fatores de risco que comprometem a
sua qualidade de vida, tais como: precárias
condições sócio-econômicas, difícil acesso
aos serviços de saúde, estilo de vida
inadequado, rede de suporte social (formal e
informal)
insuficiente
e
atitude
preconceituosa da sociedade com a faixa
etária maior de 60 anos. Portanto, os idosos
encontram-se vulneráveis, uma vez que são
acometidos de pluripatologias, problemas
psicossociais, limitações motoras, sensoriais
e insegurança social e econômica.
Essa realidade requer planejamento e
ações de âmbito político, econômico, social e
de saúde que atendam as necessidades
específicas da terceira idade, fazendo
cumprir a Lei 8.842 da Política Nacional do
Idoso.
Apesar da grande demanda de
serviços exigida por esse contingente de
pessoas, Jequié ainda não dispõe de serviços
específicos para a Vigilância à Saúde do
Idoso. A Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia com o projeto Universidade Aberta
com a Terceira Idade tem procurado
sensibilizar a população, os gestores, os
profissionais de saúde e os acadêmicos, com
vistas a implementar ações que atendam as
necessidades dos gerontes.
No ano 2000, a UATI/UESB iniciou
em caráter extensionista, ações cuidativas
intersetorial e interdisciplinar ao idoso, no
ambiente familiar e comunitário, através do
Projeto: Núcleo de Atenção à Saúde no
Envelhecimento NASEN.
O NASEN propõe uma atuação
gerontogeriátrica, contribuindo para a
formação de recursos humanos que atuem
numa visão holística junto ao idoso no seu
78
Meira, E. C. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 74-82, jan./dez. 2005
espaço político-sócio-cultural. Entendendo o
idoso
como ser integral, as ações
implementadas são baseadas na promoção,
prevenção e reabilitação da saúde, através da
estratégia de saúde da família.
O Programa de Saúde da Família é
um modelo proposto pelo Ministério da
Saúde parapromover cuidado interdisciplinar
e humanístico, levando em consideração o
indivíduo inserido na família e comunidade.
Cada equipe funciona com um médico, um
enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e
agentes comunitários de saúde, cabendo-lhes
atender, no máximo 1.000 famílias, ou 4.500
habitantes (BRASIL, 1997)8.
Na família temos uma identidade, nos
sentimos protegidos, damos e recebemos
afeto e desenvolvemos um importante papel
na
transmissão
de
informações
e
conhecimentos. Para Patrício (1994, p. 9798)9, a família pode ser entendida como:
“[...] um sistema interpessoal formado por
pessoas que interagem por variados motivos,
tais como afetividade e reprodução, dentro
de um processo histórico de vida, mesmo
sem habitar o mesmo espaço físico [...] é
uma relação social dinâmica, que em seu
desenvolvimento elabora um sistema de
crenças, valores e normas, podendo ser um
recurso
para
o
crescimento
e
desenvolvimento de seus membros ou um
meio de limitação”.
A família jequieense vivencia a
escassez de emprego, a migração de jovens
para as capitais, o controle da natalidade, a
entrada da mulher no mercado de trabalho.
Quanto aos idosos, esses passam a dividir o
seu ambiente e aposentadoria com seus
filhos, na tentativa de ajudá-los a enfrentar a
situação de crise. A família nuclear vai
perdendo espaço para os novos “arranjos
familiares”.
Dessa
forma,
é
notória
a
complexidade deste campo que o NASEN
desafia cuidar. Ter a família como cliente, é,
pois, ver um grupo de pessoas com valores,
crenças, hábitos comuns, convivendo num
mesmo ambiente, e numa determinada
comunidade que também os influencia.
Nesse universo familiar, os fatores sócioeconômicos e culturais determinam as
atitudes de seus membros, por isso, é tão
importante conhecê-los, para descobrir sua
repercussão no processo saúde-doença do
idoso.
Nas ações desenvolvidas para a
Vigilância à Saúde do Idoso, a educação para
o autocuidado é eleita como foco principal,
estabelecendo vínculos de compromisso e de
co-responsabilidade entre os profissionais de
saúde e esta população.
Abordamos o cuidado a partir de uma
concepção antropobiológica, o que significa
“[...] uma abordagem global das pessoas no
seu contexto de vida, tentando compreendêlas em relação aos costumes, hábitos de vida,
crenças, valores que veicula, bem como
situar o impacto da doença e das limitações
que lhe são inerentes em relação a esse
contexto” (COLLIÈRE, 1989, p. 296)10.
Ao estimular o comportamento para o
autocuidado buscamos contribuir não apenas
para um bom estado de saúde das pessoas
idosas, mas, estimular e continuar a trajetória
à completude como ser humano.
Freqüentemente,
os
idosos
apresentam graus variados de dependência,
necessitando de auxílio de outros para as
suas atividades básicas e instrumentais da
vida diária. Quando a família/idoso dispõe de
recursos, é contratado um cuidador formal
(profissional da área de enfermagem). Mas,
na maioria das vezes, é a própria família
quem cuida, mesmo sem preparo, motivada
pela necessidade e impossibilidade de
contratar profissionais. Nesses casos, o
NASEN tem procurado instrumentalizar o
cuidador informal, planejando ações que
sejam compatíveis com a realidade
observada e possível de serem viabilizadas.
Gonçalves, Alvarez e Santos (2000)11
destacam que essas cuidadoras, geralmente,
são do sexo feminino (filhas, cônjuges, netas
e irmãs do idoso), possuem forte traço de
amor, solidariedade e doação e entre as
atividades que desempenham, as mais
comuns, são os cuidados higiênicos, e os de
auxílio à locomoção e nutrição do idoso.
79
Meira, E. C. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 74-82, jan./dez. 2005
Essas cuidadoras convivem diariamente com
fatores
estressantes
envolvidos
no
desenvolvimento
dessas
atividades,
provenientes do medo do desconhecido, a
sobrecarga por ser a única cuidadora e a falta
de recursos materiais.
Desta
forma,
elucidamos
a
importância do projeto, uma vez que
favorece a permanência do idoso no
ambiente domiciliar através do apoio à
família, com ênfase no seu cuidador
informal, na perspectiva de redução de
custos hospitalares, da desinstitucionalização
do idoso e, conseqüentemente, promoção de
conforto tanto para o idoso quanto para o seu
cuidador.
Assim, consideramos como pressupostos
importantes
para
o
cuidar/cuidado
gerontogeriátrico:

visualizar o idoso como cidadão,
resgatando a sua valorização sócio/cultural e
participação produtiva na sociedade;

estabelecer parcerias com instituições
governamentais e não-governamentais para
viabilizar ações que atendam as necessidades
sentidas e/ou percebidas pelo idoso e a
família;

reconhecer que a família também cuida
de idosos, baseada em suas experiências,
orientações formais e de outros recursos
disponíveis, devendo os profissionais de
saúde envolvidos apóia-la em suas
atividades;

manter o idoso o máximo possível
independente e autônomo.
Compõem a equipe executora do
NASEN docentes e discentes bolsistas e
voluntários dos cursos de enfermagem e
fisioterapia da UESB, em parceria com as
Equipes de Saúde da Família (ESF) do bairro
Inocoop. Juntos, objetivam cuidar de forma
interdisciplinar e intersetorial do idoso com
limitações
bio-psico-sócio-cultural,
no
ambiente familiar, através de ações
preventivas e promocionais para a vida com
saúde e bem-estar.
Atualmente, o projeto conta com a
participação de 64 idosos que foram
identificados pelos 16 Agentes Comunitários
de Saúde (ACS), das duas ESF, alocadas na
Unidade Básica de Saúde, localizados no
bairro periférico do INOCOOP. Para tanto,
os ACS utilizaram como critérios de inclusão
ter idade igual ou superior a 60 anos, aceitar
voluntariamente participar das ações
desenvolvidas,
necessitar
de
ações
promocionais,
preventivas
e/ou
de
reabilitação com maior urgência.
Cada idoso possui um prontuário
onde são registradas as informações e os
resultados obtidos com a implementação das
ações propostas, em comum acordo entre a
equipe, o idoso e a família. Os mesmos
encontram-se guardados no Núcleo de
Pesquisa e Extensão da UESB, sendo
disponibilizado quando solicitado.
As visitas aos domicílios ocorrem
diária, semanal ou quinzenalmente, de
acordo com as necessidades do idoso. Nessa
ocasião os discentes de enfermagem e
fisioterapia, deslocam-se para o campo,
acompanhados de um docente supervisor,
onde realizam cuidados básicos de higiene,
cuidados com a pele, tratamento de feridas,
verificação da pressão arterial, treinamento
de práticas básicas com os cuidadores,
avaliação dos riscos ambientais e uso de
medicamentos,
orientação
postural,
exercícios de reabilitação, entre outros.
Os
materiais
utilizados
são
provenientes da UESB (soro fisiológico,
tensiômetro, luvas de procedimento, gases,
óleo de amêndoas, esparadrapo, curativos
hidrocolóides, entre outros), da Unidade de
Saúde da Família ou improvisados com os
recursos disponíveis no domicílio, como
muitas vezes ocorre na confecção de órteses.
A atividade intra-muros inclui uma
reunião semanal, na qual a equipe
interdisciplinar discute os casos e avalia os
resultados obtidos, solicitando os membros
da ESF quando julga necessário. Fruto desta
atividade, inúmeras pesquisas têm sido
desenvolvidas com idosos e cuidadores desse
bairro, contribuindo não só para a construção
do conhecimento, mas para reorientar
práticas de saúde, tornando-as mais efetivas.
80
Meira, E. C. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 74-82, jan./dez. 2005
Os idosos são desligados do projeto
em situação de mudança residencial para
além da área de abrangência do PSF,
melhora do quadro clínico, óbito, ou
habilitação satisfatória do cuidador, sendo
então cadastrados novos idosos indicados
pelos ACS.
O Projeto NASEN busca resgatar os
princípios de humanização do cuidar.
Observamos, nestes cinco anos de
desenvolvimento, a satisfação dos idosos e
seus cuidadores através de relatos verbais,
boa receptividade à equipe e adesão as
orientações que comprovam a seriedade e
qualidade dos cuidados prestados, mantendo
e recuperando a autonomia e independência
do idoso.
Essa atividade extensionista tem
proporcionado, aos futuros profissionais de
enfermagem e fisioterapia, a aplicação
prática dos conhecimentos teóricos que
perpassam o cuidado do idoso na família e
comunidade.
O projeto é fonte viva de ações que se
concretizam de forma interdisciplinar e
intersetorial, beneficiando o idoso, a família,
a comunidade e a formação do profissional
de enfermagem e de fisioterapia.
Enfim, visualizamos o cuidado
promovido pelo NASEN, como importante
para a mobilização da rede de suporte
informal e auxílio na construção da
cidadania do idoso jequieense.
Conclusão
Apesar da implementação da Política
Nacional do Idoso e das pesquisas e estudos
realizados, ainda é incipiente o preparo para
o fenômeno do envelhecimento, visto que
significativo contingente da população idosa
continua marginalizada socialmente, além
das limitações inerentes ao envelhecimento
humano.
Neste sentido, a expressiva população
idosa não poderá ser excluída do processo de
desenvolvimento do país, merecendo cada
vez mais o interesse dos órgãos públicos
construtores de políticas sociais e da
sociedade em geral, visto que a tendência
contemporânea é romper com o estigma da
velhice como um processo contínuo de
perdas biológicas, psicológicas e sociais,
atribuindo novos significados a esta etapa da
vida como momentos de novas conquistas
caracterizadas pela busca do prazer,
satisfação e auto-realização.
O Projeto UATI/UESB nas ações
Extra-Muros busca romper com a filosofia
estigmatizante da velhice, por meio de ações
de educação permanente em saúde
contribuindo para que o idoso conquiste sua
cidadania, onde lhe é permitido viver sua
própria identidade e desligar-se dos
estereótipos da velhice.
Constatamos que a UATI/UESB –
Extra-Muros,
têm
contribuído
significativamente para a melhoria da
qualidade de vida da população idosa,
quando mobiliza a sociedade para novas
formas de mentalidade e inclusão do idoso
nos diversos segmentos sócio/culturais
(família e comunidade).
Referências bibliográficas
1. MENDES, Eugênio Vilaça. Uma Agenda
para a Saúde. 25. ed. São Paulo: Hucitec,
1999. p. 233-300.
2. BRASIL, Ministério da Justiça. Decreto nº
1948, de 3 de julho de 1996. Regulamenta a
Lei nº 8842, de 4 de janeiro de 1994, que
dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, e
de outras providências. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil. Poder
Executivo, Brasília, DF, 4 de julho de 1996.
Seção 1, p. 12.277.
3. DEBERT, G. G. As representações
(estereótipos) do papel do idoso na sociedade
atual. In: Brasília, Ministério da Previdência
e Assistência Social: Secretaria da
Assistência Social. Anais do I Seminário
Internacional “Envelhecimento populacional:
uma agenda para o final do século”, 1996.
81
Meira, E. C. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 74-82, jan./dez. 2005
4. IBGE, Censo Demográfico 2000;
Características da população e dos
domicílios – resultados do universo –
dinâmica das populações. Rio de Janeiro:
IBGE, 2001.
8. PATRÍCIO, M. Z. Cenas e cenários de
uma família. Elsen, I et al (ed.). In: Marcos
para a prática de enfermagem com famílias.
Florianópolis,
Série
Enfermagem
–
Repensul. Editora da UFSC, 1994.
5. DEMO, Pedro. In: Cidadania tutelada e
cidadania assistida. São Paulo, autores
associados. 1995.
9. COLLIÈRE, M. F. Promover a vida: da
prática das mulheres de virtude, aos cuidados
de enfermagem. Lisboa: Sindicato dos
Enfermeiros Portugueses, 1989.
6. TEIXEIRA, Carmem et al. – SUS,
Modelos Assistenciais e Vigilância à Saúde.
in: Teixeira, Carmem (ed.) – Promoção e
Vigilância a Saúde. Salvador/BA, 2002.
7. BRASIL, Saúde da Família: uma
estratégia para a reorientação do modelo
assistencial. Brasília: Ministério da Saúde,
1997.
10. GONÇALVES, L. H. T., ALVARES. A.,
M., Santos, S. M. A. Os cuidadores leigos de
pessoas idosas. Duarte, Y. A. O. & Diogo
(ed.), M. I. D. Atendimento domiciliar: um
enfoque gerontológico. São Paulo: Atheneu,
2000.
82
Ferretti, C. E. L. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 83-89, jan./dez. 2005
A ENFERMAGEM NO CONTEXTO DAS DEMÊNCIAS: UM MODELO ASSISTENCIAL¹
[Nursing in the Context of Dementias: An assistance model]
Ceres Eloah de Lucena Ferretti²; Paulo H.F.Bertolucci³
Resumo: As intervenções de Enfermagem dirigidas ao portador de demência e sua família têm merecido destaque
entre a comunidade científica mundial, especialmente pela sua conotação educadora. Trabalhos apresentados em
encontros científicos dentro e fora do Brasil, sinalizam para a importância de uma especialidade em franca
ascensão. Surgem modelos em diferentes áreas e níveis de assistência possibilitando uma perfeita interação entre
pesquisa e cuidados. Em se tratando de demências, por suas características multifacetadas, faz-se necessário que a
abordagem da enfermagem não seja dirigida apenas ao paciente, mas também a família e ao ambiente. Objetivos:
Este artigo pretende, de forma sucinta, apresentar um modelo de assistência em demências, que vem sendo
utilizado no ambulatório de Neurologia do Comportamento da UNIFESP-EPM, bem como alguns resultados
obtidos através de intervenções de enfermagem nos contextos bio-psico-social de pacientes e familiares.
Metodologia: Pacientes e cuidadores são encaminhados pela equipe médica do setor para consulta de enfermagem.
Na avaliação são utilizados os seguintes instrumentos: 1) Protocolo de Enfermagem, 2) MEEM – Mini-Exame do
Estado Mental, 3) CDR- Clinical Dementia Rating Scale, 4) Index de Katz/Pfeffer, 5) INP- Inventário
Neuropsiquiátrico, 6) EDG-Escala de Depressão Geriátrica, 7) ABIPEME – Associação Brasileira dos Institutos de
Pesquisa de Mercado, 8) RSD – Relação de Segurança Doméstica, 9) Perfil Familiar. Familiares são encaminhados
ao PED/PAC- Programa de Educação em Demências e Programa de Assistência ao Cuidador. Pacientes não
aderentes são incluídos no Programa Visita Domiciliária. Resultados: Têm sido observados resultados positivos nas
dependências para as AVDs- Atividades Básicas de Vida Diária, Alterações de Humor e Comportamento e
Intenção de Institucionalização, como será mostrado neste trabalho.
Palavras-chave: Demência, Enfermagem, Modelo Assistencial.
Abstract: The intervention of nursing directed towards a dementia sufferer and their family, has gained attention
among the world scientific community, particularly because of its educational connotation. Studies presented at
scientific meetings within and outside Brazil, indicate the importance of this fast growing specialization. Models in
different areas and for different levels of assistance have been put forward allowing a perfect interaction between
research and care. In dealing with dementias, due to their multifaceted characteristics, the nursing approach needs
to be not only directed toward the patient, but also the family and the environment. Objectives: This paper aims, in
a succinct way, to present a model for assistance with dementias, which has been utilized in the Behavioral
Neurology clinic of UNIFESP-EPM, along with some results obtained through the intervention of nursing in the
bio-psycho-social contexts of patients and their families. Methodology: Patients and carers are sent by the medical
team of the sector for a nursing consultation. In the evaluation the following tools are used: 1) Nursing Protocol
2) Mini-Exam for Mental State (MEEM – Mini-Exame do Estado Mental), 3) CDR- Clinical Dementia Rating
Scale, 4) Katz/Pfeffer Index, 5) Neuropsychiatric Inventory (INP- Inventário Neuropsiquiátrico), 6) Geriatric
Depression Scale (EDG-Escala de Depressão Geriátrica), 7) Brazilian Association of Market Research Institutes
(ABIPEME – Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado, 8) Household Safety Index (RSD –
Relação de Segurança Doméstica), 9) Family Profile. Families are sent to the Dementia Education Program and
the Carer Assistance Program (PED/PAC- Programa de Educação em Demências e Programa de Assistência ao
Cuidador). Non-adherent patients are included in the Home Visits Program. Results: Positive results were
observed in the dependents regarding Basic Daily Activities, Changes in Mood and Behavior, and Need for
Institutionalization, as will be shown in this paper.
Key-words: Dementia, Nursing, Assistance model.
____________________
¹ Palestra proferida na mesa redonda: Neuropsicogeriatria e a enfermagem, na V Jornada Brasileira de Enfermagem
Geriátrica e Gerontológica, Florianópolis, 8-10/09/2004
² Enfermeira, mestra e doutoranda em Neurociências pela UNIFESP-EPM; Diretora Científica da ABRAz-Regional SP.
³ Médico Neurologista, Professor Adjunto da Disciplina de Neurologia e Neurocirurgia; Chefe do Setor de Neurologia do
Comportamento da UNIFESP-EPM.
83
Ferreti, C. E. de L. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 83-89, jan./dez. 2005
Introdução
A literatura reporta amplamente
trabalhos que descrevem as demências como
doenças neurodegenerativas cerebrais, que,
comprometendo o cérebro de seus
portadores, os levam, em fases mais tardias,
a total dependência de terceiros para
atividades elementares. Estes trabalhos
deixam claros os critérios diagnósticos,
quadro clínico, evolução e tratamentos
disponíveis atualmente 1 . Em se tratando de
prevalência, a Doença de Alzheimer (DA) é
a forma mais comum de demência, sendo
responsável por 50% dos casos 1. É
considerada uma doença idade-dependente,
sendo este um dado importante para aqueles
que trabalham com idosos, na medida em
que, com o aumento da expectativa de vida,
e conseqüente aumento de sobrevida, a
incidência da DA tende a aumentar nas
próximas décadas 2. Diante desta explosão
demográfica da população de idosos 3, é de
suma importância que todos os profissionais
que se dedicam a assistir esta camada da
sociedade não meçam esforços para se
aprimorarem no diagnóstico, tratamento, e
controle de um grupo de doenças que
continua desafiando a comunidade científica
mundial.
Atualmente, o tratamento específico
para a DA consiste na introdução de drogas
estabilizadoras,
representadas
pelos
inibidores da acetilcolinesterase, que buscam
lentificar a progressão da doença, além de
outras drogas que eventualmente precisam
ser introduzidas, quando em presença de
alterações do humor e comportamento. Neste
momento, a necessidade de um trabalho
multidisciplinar é fundamental, pois se trata
de uma entidade patológica de evolução
lenta e gradual, que altera a cognição, a
função e o comportamento de seus
portadores, implicando, para as famílias,
maior demanda de tempo para os cuidados,
abandono de projetos de vida, inúmeros
conflitos que desagregam suas estruturas, e
muitas vezes são responsáveis pela intenção
de institucionalização 4. O suporte dado por
estes profissionais de equipe, tem
demonstrado eficiência principalmente pela
obtenção de aderência às orientações e
melhoria de qualidade de vida para pacientes
e cuidadores. O modelo de assistência de
enfermagem deste artigo tem embasamento
científico preconizado pela Academia
Americana de Neurologia, buscando através
de suas diretrizes para os cuidados com
demências, executar primariamente um
trabalho de educação, que visa informar as
famílias acerca da doença, sua evolução e
especialmente
como
manter
satisfatoriamente estes pacientes, prevenindo
comorbidades sabidamente comuns, que
surgem com o processo de envelhecimento 5.
Conhecedores dos diferentes níveis
de abordagem ao portador de demência e sua
família em sociedades como a nossa, o setor
de Neurologia do Comportamento da
UNIFESP-EPM, vem utilizando um modelo
de assistência em Enfermagem, que busca
suprir as inúmeras necessidades de pacientes
e familiares acompanhados neste serviço.
A Enfermagem e sua evolução
Talvez, nos seja permitido hoje,
filosofar sobre a evolução de uma classe de
profissionais que tantas conquistas têm
obtido em diferentes especialidades.
Registros na literatura nos reportam a um
passado distante, no qual os então chamados
“enfermeiros”, nada mais eram que mães,
feiticeiros, magos e pessoas de moral
duvidosa, a quem eram delegadas funções
que envolviam a arte do cuidar (Período PréCristão/Cristianismo). Este cuidar, envolto
em receitas e poções miraculosas tinha como
base toda uma prática empírica e religiosa,
que pouco contribuiu para o crescimento e
reconhecimento de um grupo de pessoas que
se dedicavam à assistência aos enfermos.
Não se pode desconsiderar a importância da
grande revolução social trazida pelo advento
do Cristianismo e sua contribuição na prática
do cuidar. Religiosos como São Vicente de
Paula, São Camilo de Lélis, São Francisco de
Assis, entre outros, além de
senhoras
84
Ferreti, C. E. de L. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 83-89, jan./dez. 2005
pertencentes a nobreza da época, abrigavam
e assistiam aqueles que sofriam, acometidos
por pestes que vitimavam milhares de
pessoas.
Porém, o marco da Enfermagem
moderna, que deu início ao que hoje se
entende por ciência da Enfermagem, foi as
ações de uma inglesa chamada Florence
Nightingale (1820-1910) ,que, rompendo os
padrões femininos de sua época, dedicou-se
ao estudo e aprimoramento das técnicas
utilizadas até então. Florence, homenageada
em poema escrito por Longfellow como
“The lady of the lamp” , teve participação
importante no conflito entre França,
Inglaterra e Turquia contra a Rússia, que deu
origem à Guerra da Criméia (1854). Durante
a guerra conseguiu reduzir a taxa de
mortalidade entre os combatentes de 42.7%
para 2.2% . Foi a primeira Enfermeira
pesquisadora, e alguns de seus apontamentos
registrados em sua obra “Notes of Nursing”
(1859), ainda hoje são atuais. Fundadora da
1ª escola de enfermagem no Hospital St.
Thomas (1859), foi também responsável pela
introdução das prescrições médicas por
escrito. Todas as escolas de enfermagem a
partir de então, seguiram seu modelo de
assistência. No Brasil, merece destaque a
Escola de Enfermagem “Ana Nery” (1923),
considerada como alto padrão de ensino.
Houve grande crescimento e reconhecimento
destes profissionais, especialmente entre os
sanitaristas no começo e meados do século
XX, devido a suas atuações frente a
epidemias de doenças parasitárias e infectocontagiosas6. Hoje, sabemos que enfermeiros
formados e especializados por escolas de alto
nível,
têm
desenvolvido
trabalhos
respeitados e reconhecidos pela comunidade
científica mundial.
Atualmente, modelos teóricos como
OREM e de assistência como NANDA, entre
outros, permite que a prática da Enfermagem
seja aplicada com rigor científico, na
prevenção, reabilitação, e manutenção de
diferentes doenças25.
Enfermagem nas demências – Modelo
Assistencial
A assistência de Enfermagem em
Demências, utiliza-se da Sistematização da
Assistência de Enfermagem aplicada a
pacientes e familiares, na tentativa de
desenvolver,
pelas
inúmeras
ações
requeridas, um padrão de assistência que
envolva abordagem das dificuldades do
paciente, da família e do ambiente na
evolução da demência. Seguindo critérios
postulados por NANDA7 e CARPENITO8, o
trabalho compreende:

Histórico
de
Enfermagem
(Diagnóstico)

Plano de Cuidados

Prescrição de Enfermagem

Implementação

Evolução
A aplicação do Processo de Enfermagem em
famílias segue o seguinte modelo9:
Histórico
o
Identificação das fases e tarefas do
desenvolvimento da família
o
Determinação da origem étnica,
bagagem cultural, crenças e práticas
o
Avaliação dos aspectos positivos e dos
sistemas de apoio da família
o
Identificação da percepção que a
família tem do problema
o
Reconhecimento dos padrões de
comunicação entre os membros da família
Diagnóstico
o
Análise
dos
comportamentos
familiares
considerados
funcionais/disfuncionais
o
Ajuste familiar
o
Comprometido
o
Incapacitante
o
Potencial de crescimento
o
Alterações dos processos familiares
Prescrição de Enfermagem
o
Metas realisticas
o
Critérios quanto à evolução desejada
o
Identificação – PELA PRÓPRIA
FAMÍLIA - dos recursos próprios para lidar
com a situação
85
Ferreti, C. E. de L. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 83-89, jan./dez. 2005
o
Comunicação franca de pensamentos e
sentimentos
o
Determinação – PELA FAMÍLIA –
dos papéis e responsabilidades
o
Encorajamento – PELA FAMÍLIA –
da autonomia individual e crescimento de
cada um
Implementação
o
O problema existe na família, é
portanto, FAMILIAR
o
Neutralidade e objetividade
o
Problemas e relações focalizadas no
“aqui e agora”
o
Comunicação verbal e não verbal
congruente.
o
Compreensão da família de “quem é o
dono do problema” e quem é o responsável
pela resolução
o
Desenvolvimento
de
capacidades
efetivas de comunicação – “eu” – ouvir
técnicas de resolução do problema
o
Grupos de apoio na comunidade (ex.:
ABRAz – Associação Brasileira de
Alzheimer, doenças similares e idosos de alta
dependência)
o
Avaliação da eficácia das capacidades
adaptativas
o
Encaminhamento ao terapeuta
o
Fatores de risco/comorbidades
o
Medicação em uso
o
Histórico de trauma emocional anterior
à doença
o
ISDA (considerações específicas para
as ações de enfermagem – prevenção)
o
Exame físico geral e específico
2) Escalas de avaliação das dependências
o
MEEM – Mini-Exame do Estado
Mental10 - breve avaliação do déficit
cognitivo.
o
CDR – Clinical Dementia Rating
11
Scale
– avaliação da gravidade da
demência.
o
INP– Inventário Neuropsiquiátrico12–
avaliação da freqüência e gravidade das
alterações de comportamento.
o
Escala de Depressão Geriátrica13–
avaliação de sinais sugestivos de depressão.
o
ABIPEME – Associação Brasileira dos
Institutos de Pesquisa de Mercado –
avaliação do nível sócio econômico14.
o
RSD – Relação de Segurança
Doméstica15
o
Perfil Familiar9
Evolução
o
A família verbaliza estratégias
adaptativas
o
Comunica-se aberta e francamente
respeitando diferenças
o
Exibe comportamento da família
funcional
Os pacientes e seus familiares são
encaminhados pela equipe médica do setor
para a enfermagem, como se segue:
Avaliação Inicial
o
Consulta de Enfermagem (idealmente
em três níveis)
o
Biológico
(Identificação
de
comorbidades, Estado geral)
o
Psicológico
(Identificação
de
problemas emocionais, conflitos, para
posterior encaminhamento ao psicólogo do
setor)
o
Social16 (Identificação de problemas
nas esferas sócio-econômicas)
Avaliação das limitações (Grau de
dependência)
o
Do paciente
o
Do cuidador
Dinâmica familiar
o
Funcional/Disfuncional
Instrumentos de Avaliação
Protocolo
de
Enfermagem,
desenvolvido especificamente para atender
as necessidades da enfermagem, e dividido
em duas partes – paciente e cuidador.
Contêm os seguintes dados:


o
o
Identificação
Anamnese completa
Queixa principal
HPMA, AP, AF
Metodologia
86
Ferreti, C. E. de L. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 83-89, jan./dez. 2005
Avaliação do Ambiente
o
Riscos potenciais de acidentes
o
Adaptações ambientais
Fluxo de Atendimento
o
Atendimento ambulatorial mensal para
pacientes CDR=3
o
Atendimento ambulatorial bimestral
para pacientes CDR=2
o
Atendimento ambulatorial trimestral
para pacientes CDR=1
o
Encaminhamento aos programas de
Suporte ao Cuidador
o
PED/PAC – Programa de Educação em
Demências e Programa de Assistência ao
Cuidador.
No Retorno...
o
Identificação de fatores que implicam
na não aderência às orientações - pessoais,
ambientais - se presentes,
o
Inclusão
no
Programa
Visita
17
Domiciliária .
Programa Visita Domiciliária (critérios de
Inclusão)
o
Baixa aderência às orientações de
enfermagem
o
Pacientes
com
dependência
moderada/severa
o
Idade avançada do cuidador
o
Dificuldade no transporte
Objetivos
o
Entendimento da dinâmica familiar
o
Identificação dos problemas
o
Maior conforto para pacientes e
familiares
o
Avaliação
da
segurança
pessoal/ambiental
o
Maior aderência às orientações de
enfermagem e tratamento farmacológico.
Resultados
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1ª aval. 3ª aval. 6ª aval.
Alimentação
Asseio
ir ao banheiro
mob. Externa
Vestuário
Banho
mobil. Casa
Res. Problemas
Gráfico 1. Dependência para AVDs
Os resultados apresentados nos
gráficos 1, 2, e na tabela 1, referem-se a
estudo realizado com 59 pacientes e seus
familiares4.
Eles
demonstram
que
intervenções de enfermagem holísticas e
individualizadas, em diferentes graus de
dependência de portadores de demência, são
alternativas importantes, especialmente na
redução de alterações de comportamento, e
melhora na autonomia daqueles pacientes
que apresentam dependência funcional.
Além disso, permitem maior inserção e
convívio social do paciente na estrutura
familiar.
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1ª avaliação
.
3ª avaliação
6ª avaliação
Agitação
Agressividade
Delírio
Apatia
Depressão
Alucinações
Ansiedade
Desinibição
Irritabili//Labili//
Perambulação
Gráfico 2. Alterações de Comportamento
87
Ferreti, C. E. de L. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 83-89, jan./dez. 2005
Tabela 1. Intenção de Institucionalização
FATORES DETERMINANTES
Dependência para AVDs
Alterações de Comportamento
1ª avaliação
3ª avaliação
6ª avaliação
Fonte: Ferretti (1999).
%
34
20
51
49
37
N
20
12
30
29
22
Discussão
Inúmeros trabalhos têm surgido nos
últimos anos, na tentativa de se encontrar um
modelo ideal de assistência aos portadores de
demência e suas famílias. Parece haver
consenso dos profissionais, não apenas em
países de primeiro mundo, como também de
países em desenvolvimento, no que diz
respeito à necessidade da criação de modelos
embasados na educação de profissionais, e
sobretudo,
de cuidadores.
Trabalhos
interessantes, que oferecem suporte com
educação, foram apresentados recentemente
na 8th Conference on Alzheimer’s Disease
and Related Disorders, em Estocolmo,
(2002), e todos eles tinham um ponto
comum,
suporte
e
educação
para
familiares18,19,20,21,22,23 . Além disso, há a
preocupação dos profissionais em identificar
as reais necessidades destes cuidadores,
buscando
mensurar
suas
principais
dificuldades, para, a partir de então, propor
novos modelos de assistência. Estudo de
Aminzadeh e cols., (2002), reforça que a
informação é absolutamente necessária. Em
seu
estudo
identificou
necessidades
potenciais de 51 cuidadores, onde: 90%
querem aprender mais sobre a doença; 78%
querem receber ajuda sobre decisões que
envolvem cuidados; 76% aprender como
melhor manejar o paciente; 76% conhecer
quais os serviços mais confiáveis na
comunidade24.
Nosso modelo de assistência, tenta
adaptar estes trabalhos à nossa realidade.
Também acredita que, apenas com
informação,
é
possível
atender
satisfatoriamente estas famílias, e, por esta
razão, trabalha com programas de educação e
suporte17,25 buscando melhor nível de
satisfação entre cuidadores e melhor
qualidade de vida para todos os pacientes
acompanhados em nosso serviço.
Conclusão
Diante dos resultados obtidos neste
trabalho, é possível concluir que as
abordagens não farmacológicas, oferecidas
por equipe multidisciplinar, além de
programas específicos de educação em
demências, são alternativas extremamente
viáveis e promissoras. É evidente que, no
Brasil, ainda temos poucos trabalhos
desenvolvidos neste assunto. É necessário,
portanto, que novos estudos avaliem as
dependências aqui apresentadas, mensurando
intervenções de enfermagem a elas dirigidas,
buscando comprovar sua eficácia.
Referências Bibliográficas
1.
Gauthier, S.; Clinical Diagnosis and
Management of Alzheimer’s Disease,
Second Edition, Martin Dunitz, London,
1999.
2.
Katzman, R.; Epidemiology of
Alzheimer’s
Disease
and
Dementia:
Advances and Challenges. In Alzheimer’s
Disease: Advances in Etiology, Pathogenesis
and Therapeutics, pp 11-21, Khalid Iqbal,
New York, 2001.
3.
Chaimowicz, F.; Perfil Social e
Econômico dos Idosos no Brasil. In Os
Idosos Brasileiros no Século XXI:
Demografia Saúde e Sociedade, Postgraduate
Brasil, Cap. 5 pp 63-72 e Cap 3 pp35-41,
Belo Horizonte, 1998.
4.
Ferretti, C.E.L; A Intervenção de
Enfermagem nas Demências e o Potencial de
Risco para Institucionalização Precoce,
Dissertação apresentada à Disciplina de
Neurologia e Neurocirurgia da UNIFESP-
88
Ferreti, C. E. de L. et al
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 83-89, jan./dez. 2005
EPM, para obtenção do título de Mestra em
Neurociências. São Paulo, 1999.
5.
Jacob, W.F.; Souza, R.R.; Anatomia e
Fisiologia do Envelhecimento, In Geriatria:
Fundamentos, Clínica e Terapêutica. Cap 3
pp 31-39, Ed. Atheneu, SP, 1994.
6.
Atkinson & Murray, Fundamentos de
Enfermagem, SP, 2000.
7.
NANDA, North American Nursing
Diagnosis Association, USA, 1994.
8.
Carpenito,
L.J.;
Manual
dos
Diagnósticos de Enfermagem, 6ª edição, Ed.
Artes Médicas Sul Ltda, Porto Alegre, 1997.
9.
Isaacs, A.; Modalidades Terapêuticas:
Terapia de Família, In Saúde Mental e
Enfermagem Psiquiátrica, 2ª edição,
Guanabara-Koogan, RJ, 1998.
10. Folstein, MF; Folstein, SE; McHugh,
PR; (1975) “Mini-Mental State”: a practical
method for grading the cognitive state of
patients for the clinician, Journal of
Psychiatric Research, 12:189-98.
11. Hughes, CP; Berg, L; Danziger, WL;
Cohen, LA; Martin, RL; (1982), A new
clinical scale for the staging of dementia,
British Journal of Psychiatry, 140: 566-72.
12. Cummings, JL; Mega, M; Gray, K;
Rosemberg-Thompson, S; Carusi, DA;
Gosnbein, J; (1994), The Neuropsychiatric
Inventory: Comprehensive assessment of
Psychopathology in Dementia, Neurology,
44: 2308-14.
13. Yesavage, JA; et al. (1983),
Development and Validation of a Geriatric
Depression Screening Scale: a preliminary
report, Journal of Psychiatric Research, 17:
37-49.
14. ABIPEME - Associação Brasileira dos
Institutos de Pesquisa de Mercado
Classificação Sócio-Econômica.
15. RSD – Relação de Segurança
Doméstica, National Safety Council 1982.
16. Vasconcelos, EM; Rosa, LCS; Pereira,
ICG; Bisneto, JÁ; Saúde Mental e Serviço
Social, Ed. Cortez, SP, 2000.
17. Sociedad Española de Geriatria y
Gerontologia, SAD- El Servicio de Ayuda a
Domicilio, 1997.
18. Horner, Margareth e cols.; Changes in
Problem Behaviours Among Nursing Home
Residents, University of Missouri-Kansas
City, Kansas City, MO, USA, 2002.
19. Hepburn, K; Sherman, CW. The Savvy
Caregiver Program: Transportable training
for dementia family caregivers, Seattle, WA,
USA, 2002.
20. Martinez, M; e cols.; Centros
Asistenciales Torribera, Sta. Coloma
Gramenet, Barcelona, Spain, 2002.
21. Wu; B. Wellesley; Zhang, XW The
Case for life style interventions to reduce
risk of Alzheimer’s Disease. Bewell, 2002.
22. Romero, B; Wenz, M; A Multimodal
Treatment Programme for People with
Dementia and Family Caregivers, Alzheimer
Therapiezentrum der Neurologischen Klinik,
Bad Aibling, Bavaria, Germany, 2002.
23. Markowitz, JS; Gutterman, EM; Health
Data Analytics, Princeton Junction, NJ,
USA; Papadoulos, G; Sadik, K; Janssen
Pharmaceutic, Titusville, NJ, USA, Impact
of Alzheimer’s Disease on Caregiver
Employment and Related Costs, 2002.
24. Aminzadeh,
F;
Byszewski,
A;
Dalziel,W; Papahariss-Wright, S; Needs and
goals of family caregivers of patients
undergoing cognitive assessement for
dementia, Regional Geriatric Program,
Ottawa, Ont., Canada, 2002.
25. Canson, VB; Mental Health Nursing, 2
ed., Phyladelphia: WB Saunders Company,
2000.
89
Resumos
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005
Assistência de Enfermagem na prevenção e
controle de infecção ao paciente internado na
Unidade de Terapia Intensiva
Licinio Junior,N. J.1; Nascimento, E. R. do2
Este trabalho relata e analisa a implementação de um
projeto assistencial da 8º fase curricular do curso de
Graduação em Enfermagem da UFSC. Ocorreu no
período de 30 de agosto a 30 de outubro de 2004 na
Unidade de Terapia intensiva do Hospital
Universitário, da Universidade Federal de Santa
Catarina, localizado no Campus Universitário. Teve
como objetivo geral assistir ao ser humano em
condição crítica de saúde internado em UTI, com o
propósito de prevenir e controlar infecções. As
infecções hospitalares (IH) são complicações
freqüentes que afetam principalmente pacientes
internados em UTIs. As taxas de infecções nestas
.
Promovendo
autonomia
para o cuidado
humanizado ao portador de HIV AIDS em
tratamento por anti-retro-viral fundamentada na
teoria de Jean Watson.
Vieira, L. C1.; Tesse, K. R1.; Erdmann, A. L2.
Introdução: Trata-se do relatório da Prática
Assistencial da VIII Unidade Curricular do Curso de
Graduação em Enfermagem da Universidade Federal
de Santa Catarina, desenvolvido no período de 31 de
março a 4 de junho de 2004, no Ambulatório e
Hospital-Dia do Hospital Nereu Ramos. Objetivo: O
objetivo constituiu-se em Promover a autonomia para
o cuidado humanizado ao portador de HIV/Aids em
tratamento por ARVs, com enfoque na adesão ao
tratamento, fundamentada na Teoria de Jean Watson.
Optamos por realizar o trabalho com esse tema devido
à problemática da aderência ao tratamento ARV pelos
portadores de HIV/Aids. Foi operacionalizado através
de entrevistas a partir de um instrumento semiestruturado, que buscou traçar o perfil dos portadores
Amamentação materna: uma proposta assistencial
direcionada ao ser-puérpera-adolescente e sua
família, fundamentada na teoria do autocuidado
de Dorothea Orem.
Isensee, E.1; Brito, V. S.1; Santos, E. K. A.2
O presente trabalho relata a experiência desenvolvida
pelos autores, enquanto acadêmicos de enfermagem,
da disciplina Enfermagem Assistencial Aplicada da
VIII Unidade Curricular do Curso de Graduação em
Enfermagem da Universidade Federal de Santa
Catarina. Teve como objetivo geral prestar assistência
de
enfermagem
ao
ser-puérpera-adolescente
vivenciado o processo da lactação, envolvendo sua
unidades são cinco a dez vezes maiores que nas
enfermarias gerais. São consideradas como um grave
problema de saúde pública que acarreta em altas taxas
de morbidade e mortalidade, além de altos custos
financeiros em hospitais públicos como o HU-UFSC
onde os recursos já são escassos. Utilizei como marco
referencial à teoria das Necessidades Humanas
Básicas, de Wanda de Aguiar Horta, aliado ao modelo
proposto por Benedet e Bub (2001) segundo a
classificação diagnóstica de NANDA, para o
desenvolvimento do processo de enfermagem.
Constatei que paralelo aos avanços tecnológicos
relacionados aos procedimentos invasivos que
ocorrem principalmente em pacientes graves
internados na UTIs, surge como desafio a elaboração
e implementação de medidas de prevenção e controle
de infecções visando a melhoria na qualidade da
assistência de enfermagem
de HIV/Aids e sua adesão ao Tratamento Antiretroviral. Realizou-se Consultas de Enfermagem e
Assistência aos clientes em tratamento de infecções
oportunistas no Hospital-Dia. Para a realização das
entrevistas, das consultas de enfermagem e da
assistência foi utilizado o referencial teórico de Jean
Watson que se refere ao cuidado como foco principal
da Enfermagem devendo ser realizado de uma forma
humanizada, vendo o cliente holisticamente e sendo
capaz de desenvolver potencial para o cuidado de si.
O estudo permitiu identificar as dificuldades dos
clientes possibilitando a construção de um folder
educativo e um quadro visando auxiliar os
profissionais na assistência. Resultados: Com o
estudo foi possível concluir que a assistência
fornecida ao cliente portador de HIV/Aids deve
utilizar estratégias que busquem o envolvimento de
familiares ou pessoas com vínculo afetivo no cuidado
ao cliente e uma maior compreensão por parte do
cliente/família sobre todo o contexto em que está
inserido.
família na Unidade de Alojamento Conjunto da
Maternidade do Hospital Universitário e no domicílio.
A prática assistencial foi realizada no período de
março a junho de 2004. O referencial teórico adotado
para direcionar a prática assistencial, foi a teoria geral
do autocuidado de Dorothea Orem, no qual a teórica
acredita que o profissional de enfermagem juntamente
com o cliente deve identificar déficits de competência
no atendimento dos requisitos individuais de
autocuidado,
procurando
desenvolver
nestes
indivíduos os potenciais já existentes para a prática de
ações de autocuidado. Para implementar este
referencial na prática utilizou-se o processo de
enfermagem, conforme preconizado por Orem e
adaptado por Santos (1991), que inclui três etapas: 1 –
90
Resumos
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005
diagnóstico
e
prescrição
de
enfermagem
(levantamento de dados); 2 – planejamento dos
sistemas e da execução dos atos de enfermagem; e 3 –
implementação e controle do cuidado de enfermagem.
Participaram deste estudo 14 puérperas-adolescentes e
suas famílias, entre as quais, descreve-se, na íntegra,
dois processos de enfermagem e os relatos das visitas
domiciliares de duas puérperas-adolescentes. Durante
o desenvolvimento deste estudo percebeu-se que
dentre os déficits de competência para o autocuidado
identificados
junto
às
puérperas-adolescentes
vivenciando o processo da lactação, os mais
freqüentes estavam relacionados à posição adequada
do recém-nascido para proporcionar uma pega
completa da aréola mamária, e portanto, uma sucção
eficiente. Além disso, constatou-se a importância da
visita domiciliar, revelando-se esta, um elemento
fundamental para a continuidade da assistência de
enfermagem prestada no âmbito hospitalar. Esta
proporciona o conhecimento das reais condições de
vida das puérperas-adolescentes e o meio social e
familiar que está inserida, podendo esta, ser uma
estratégia efetiva para a proteção, o apoio e promoção
do aleitamento materno. Ao finalizar o estudo os
autores ressaltam o alcance dos objetivos propostos e
a importância da implementação do marco conceitual
fundamentado na teoria do autocuidado de Orem para
o fortalecimento da autoconfiança do ser-puérperaadolescente no processo da lactação.
Fortalecendo
a
competência
do
sermulher/gestante para o autocuidado: uma
experiência assistencial à luz da Teoria de Orem.
de competência de autocuidado identificados;
participar dos grupos de gestantes a fim de fortalecer
a autoconfiança das mesmas em relação ao processo
do nascimento e estimular sua interação com as
demais participantes proporcionando troca de
experiências sobre a gestação, o parto, o aleitamento
materno e cuidados com o recém-nascido; aprofundar
conhecimentos teóricos a respeito dos temas: Sistema
Único de Saúde (SUS), Programa de Saúde da
Família (PSF), anatomia e fisiologia do aparelho
reprodutor feminino, embriologia, gestação, consultas
de pré-natal, programas na área de Saúde da Mulher e
Teoria do Autocuidado de Dorothea E. Orem. Durante
o desenvolvimento de nossas atividades na Policlínica
realizamos doze consultas de enfermagem em que
aplicamos o processo proposto pela teoria utilizada;
acompanhamos diversas consultas de pré-natal,
puerpério e planejamento familiar com as enfermeiras
que atuam no PSF da Policlínica; participamos de dois
grupos de gestantes; realizamos visitas domiciliares a
gestantes; acompanhamos exames de ultra-sonografia.
Enfim, acompanhamos as rotinas da Policlínica
Municipal de Campinas durante o período de estágio
principalmente as rotinas decorrentes do PSF que,
além da Saúde da Mulher, sempre foi nosso alvo de
atuação.
Silva, F. N.1; Guesser,O.1; Santos, E. K. A.2
Trata-se do relato de experiência de uma proposta
assistencial desenvolvida em uma Policlínica
Municipal de uma cidade da Grande Florianópolis,
SC, por acadêmicos do último semestre do Curso de
Graduação em Enfermagem da Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC), formandos 2004/02. Foi
desenvolvido no período de 30/08/2004 a 29/10/2004
na área da Saúde da Mulher, mais especificamente no
pré-natal. Este trabalho teve como base a Teoria do
Autocuidado proposta por Dorothea E. Orem, e como
objetivos gerais e específicos, respectivamente:
prestar assistência de enfermagem ao sermulher/gestante de baixo risco no período pré-natal,
através de consultas de enfermagem, visando o
fortalecimento da sua competência
para o
autocuidado; identificar os déficits de competência
para o autocuidado apresentados pelo ser-mulher
vivenciando o processo de gestação; planejar,
implementar e avaliar a assistência de enfermagem
prestada ao ser-mulher/gestante com base nos déficits
Cuidando de gestantes e acompanhantes em busca
da humanização.
Buzzello,C. S.1; Jesus,G.1; Zampieri, M. F. M.2
O presente trabalho é um relato da prática assistencial
desenvolvida com gestantes e acompanhantes, no
Centro de Saúde da Agronômica, Florianópolis-SC,
no período de 30 de agosto a 30 de outubro de 2004.
Teve como principal objetivo prestar um cuidado de
Enfermagem humanizado à gestante e acompanhante,
em nível de Atenção Básica, fundamentado na Teoria
de Josephine E. Paterson e Loretta J. Zderad. Para
tanto, foram realizadas consultas de enfermagem de
Pré-Natal, segundo o processo da teoria humanística;
atividades do grupo de gestantes e visitas domiciliares
visando conhecer o contexto, a gestante e desenvolver
o processo educativo. Paralelo a estas atividades, foi
implantado o grupo de gestantes no Centro de Saúde
do Saco dos Limões. O marco conceitual que guiou a
prática constituiu-se de pressupostos e conceitos de
ser humano, saúde, enfermagem, ambiente e cuidado
humanizado, sob a ótica de Paterson e Zderad.
Percebemos, que a prática da Enfermagem
humanística dá-se através das interações; troca de
experiências e de vivências entre os seres humanos,
que são influenciados pelas percepções de cada
indivíduo acerca do seu cotidiano. A teoria de
Paterson
e
Zderad
contribuiu
para
que
desenvolvêssemos os conhecimentos intuitivos,
respeitando cada cliente em sua singularidade,
aprendendo a detectar chamados e dar as devidas
91
Resumos
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005
respostas, buscando o bem estar e estar melhor,
demonstrando a presença de forma genuína, estando
disponíveis às gestantes e acompanhantes, alcançando
um cuidado humanizado.
Assistência à saúde da mulher: promovendo o
autocuidado da mulher no climatério.
identificar os déficits de conhecimento e competência
das mulheres climatéricas, estimulando-as para o
autocuidado e visando melhorar a qualidade de vida.
Foram realizadas consultas de enfermagem para
exame preventivo de câncer cérvico-uterino e de
mamas, consultas e oficinas com abordagem sobre
climatério. No desenvolvimento da prática assistencial
houve
participações
femininas
expressiva,
evidenciando o interesse das mulheres em
compartilhar conhecimentos e experiências sobre a
fase do climatério. Foram inseridos e sedimentados
espaços na rede primária de saúde, onde as mulheres
puderam expressar seus sentimentos, esclarecer
dúvidas, dificuldades e receber orientações sobre a
fase que vivenciam para, desta forma, potencializarem
sua capacidade de autocuidado.
Dal Ri,M.1; Zolnowski S.1; Coelho, E. B.S.2
Introdução: Trata-se do Relatório Final do trabalho
de conclusão de curso da VIII Unidade Curricular do
Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal de Santa Catarina. Objetivo: Teve como
objetivo geral prestar assistência de enfermagem às
mulheres que estão vivenciando o climatério,
fundamentada na Teoria do Autocuidado de Dorothea
E. Orem, visando promover a saúde das mulheres que
freqüentam o Centro de Saúde do Saco Grande em
Florianópolis. A prática assistencial desenvolveu-se
no período de 30/08/04 a 30/10/04. A Teoria de Orem
norteou a assistência prestada, cuja meta foi
O cuidado de enfermagem humanizado: uma
vivência
de
interações
enfermeira/recémnascido/família na unidade neonatal.
Bardt, A.1; D’Ávila, F. S.1; Zellner, M.1; Oliveira, M.
E.2
Trata-se de relatório da prática assistencial realizada
no período de 31 de março a 04 de junho de 2004,
pelas acadêmicas da VIII Unidade Curricular do
Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC). Teve como
objetivo vivenciar na Unidade Neonatal do Hospital
Universitário da UFSC, uma experiência de cuidado
humanizado, com recém-nascidos pré-termo, de baixo
peso e suas famílias, enfocando preferencialmente o
Método Mãe Canguru. O referencial teórico utilizado
foi a teoria humanística de Paterson e Zderad,
considerada como diálogo vivo que envolve encontro,
relacionamento, presença e chamados e respostas. O
processo de Enfermagem constou de quatro etapas:
Desmistificando
a
doença
cardiovascular:
educação em saúde como suporte para o
autocuidado
Silva, A. C.1; Torres,G. G.1; Pereira, K. G.1;
Borenstain, M. S.2
O presente trabalho relata nossa vivência, enquanto
acadêmicas da VIII Unidade Curricular, do curso de
Graduação em Enfermagem da Universidade Federal
de Santa Catarina, na disciplina de Enfermagem
Assistencial Aplicada. Teve como principal objetivo
assistir
pessoas
acometidas
por
distúrbios
cardiovasculares a fim de encorajar o autocuidado e
desmistificar a doença cardíaca. A prática assistencial
foi desenvolvida na Unidade de Internação B, do
preparação
da
enfermeira
na
busca
do
autoconhecimento, a enfermeira conhece o outro
intuitivamente, a enfermeira conhece o outro
cientificamente e a enfermeira avalia o conhecimento
intuitivo e científico, e foi aplicado a seis recémnascidos e suas famílias. Vivenciar o intuitivo no
cuidado de Enfermagem, mostrou a importância de
ouvir o não dito, através da observação, da escuta
sensível, da presença genuína, do compartilhar
experiências, do colocar-se no lugar do outro,
identificando chamados e respostas que se
estabeleceram entre os seres humanos envolvidos. O
uso da sensibilidade aliada ao conhecimento
científico, favoreceu a prestação de um cuidado
humanizado.
Desenvolvendo
este
trabalho
percebemos que ele contribuiu não só para o
aprendizado e crescimento profissional das autoras,
como também para o “ser mais” de quem cuidou e de
quem foi cuidado, levando a um repensar do fazer, do
sentir e do agir no cuidado de Enfermagem.
Instituto de Cardiologia de Santa Catarina (ICSC) no
período de 30 de agosto a 30 de outubro de 2004.
Utilizamos como marco teórico a Teoria do
Autocuidado de Dorothea E. Orem e como conceitos
norteadores: ser humano, sociedade, saúde, desvio de
saúde, enfermagem, educação em saúde, mitos,
família e grupo de convivência. Realizou-se durante o
período de estágio sete processos de Enfermagem
baseados na teoria do autocuidado, contendo as
seguintes
etapas:
histórico,
diagnóstico
de
Enfermagem, plano de ação e evolução; três
atividades de educação em saúde com clientes,
acompanhantes e profissionais de saúde; participação
no Programa de Reabilitação Cardíaca, da Família e
de Pré-Alta. Todos os objetivos propostos foram
alcançados plenamente, pois conseguimos realizar
92
Resumos
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005
todas as atividades planejadas no projeto assistencial,
além de outras não previstas como: elaboração de dois
folderes sobre alimentação e tabagismo; cartazes
educativos sobre estresse, alimentação, atividade
sexual e fumo; uma atividade ao Programa “Palhoça
Ativa”; participação de um treinamento sobre
Assistência de Enfermagem no Quarto Terapêutico.
Com este trabalho identificamos o quê leva os clientes
com problemas cardiovasculares a apresentarem
déficits de autocuidado é principalmente a falta de
conhecimento e os mitos gerados acerca de seu
problema de saúde. Percebemos que esta vivência
oportunizou experiências significativas para nossa
formação acadêmica e crescimento pessoal, além de
contribuir para a capacitação dos clientes, tornando-os
protagonistas do seu próprio cuidado.
Cuidado de enfermagem a criança e família em
situação de emergência baseado na Teoria de
Consecução de metas de Imogene King.
humano. No decorrer da prática assistencial foi
desenvolvido o processo de enfermagem com a
finalidade de sistematizar o cuidado prestado. O
processo de enfermagem foi aplicado com nove
crianças e suas famílias com idade entre 4 e 14 anos,
que apresentavam como diagnóstico médico:
Traumatismo
Cranioencefálico,
Meningite,
Apendicite e Convulsão. Ao término da prática
assistencial podemos afirmar que a teoria utilizada
norteou a proposta de assistência foi adequada, pois
permitiu a troca de informação, percepção, interação,
comunicação, identificação dos estressores bem como
a transação com a criança e sua família. Dentre os
principais estressores observados por nós durante a
prática assistencial cabe citar: medo do desconhecido,
mudança de rotina, possível separação dos familiares
e inserção em um ambiente estranho. Concluímos que
estes sentimentos e percepções da criança e sua
família necessitam ser consideradas no dia a dia pela
equipe de saúde em Unidade de Emergência, pois
através da interação e comunicação com a
criança/família é possível identificar a dinâmica
familiar e com isso amenizar a dor, o sofrimento, a
angústia destes clientes diminuindo o estresse que
uma unidade de emergência/urgência pode
proporcionar.
Brandão,D.S.1; Costa,K. R1.; Vieira,M.1; Farias,M.
E1.; Faria, A. M.2
Introdução: Este trabalho trata-se da prática
assistencial realizada no segundo semestre do ano de
2004, no período de 30 de setembro a 30 de outubro
desenvolvido na Emergência Externa do Hospital
Infantil Joana de Gusmão por acadêmicas da 8.ª fase
do Curso de Graduação em Enfermagem, a fim de
atender as crianças/famílias nas situações de urgência.
Objetivo: O projeto teve como objetivo geral prestar
assistência humanizada à criança e sua família junto à
equipe multiprofissional, identificando os estressores
da hospitalização durante o atendimento imediato.
Buscamos também oferecer conforto, segurança e
informações à criança/família através do contato
freqüente; possibilitando minimizar o estresse
vivenciado nas situações de emergência, bem como
encorajar os pais a participarem dos cuidados à
criança.
Método:
Optamos
utilizar
como
embasamento teórico, a Teoria de Consecução de
Metas de Imogene King, a qual preconiza que o foco
da assistência de enfermagem é o cuidado ao ser
A enfermagem como facilitadora da aproximação
cultural da mulher-mãe, recém-nascido e família
em Alojamento Conjunto, fundamentada na
Teoria da diversidade e Universalidade do
Cuidado Cultural de Madeleine.
Sebold, A.P.1; Correa, F.1; PettersV. R.2.
O presente trabalho relata a experiência desenvolvida
pelas autoras, enquanto acadêmicas de enfermagem,
da disciplina Enfermagem Assistencial Aplicada da
VIII° Unidade Curricular do Curso de Graduação em
Enfermagem Da Universidade Federal de Santa
Catarina. Teve como objetivo geral desenvolver junto
à mulher - mãe, ao recém nascido e à família o
processo de enfermagem, prestando um cuidado
cultural, em alojamento conjunto, fundamentado na
Teoria da Diversidade e Universalidade cultural de
Madeleine Leininger. A prática assistencial foi
realizada no período de agosto a outubro de 2004. O
referencial teórico adotado para direcionar a prática
assistencial, foi a teoria da diversidade e
universalidade do cuidado cultural de Madeleine
Leininger, no qual a teórica acredita na prestação de
cuidado transcultural embasada num olhar
antropológico sobre o indivíduo. A mesma trabalha
com quatro níveis distintos e complementares que se
dividem em: o primeiro nível que é mais geral e
amplo. O nível dois que oferece conhecimento sobre
os indivíduos, famílias, grupos e instituições em
vários níveis de saúde e propicia significados e
expressões culturalmente específicos em relação à
saúde. O nível três focaliza o sistema popular, o
sistema profissional e a enfermagem, permitindo a
comparação de semelhanças e diferenças, ou seja, a
universalidade e diversidade cultural do cuidado. O
nível quatro é o nível das decisões e ações de cuidado
em enfermagem e envolve a preservação/
manutenção,
acomodação/negociação
e
repadronização/ reestruturação cultural do cuidado.
Para implementar o referencial na prática utilizamos a
aplicação do processo de enfermagem baseadas no
93
Resumos
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005
processo de SILVA (2002), que se divide em quatro
fases distintas: Conhecer a situação, Refletir a
situação, Planejamento e Implementação do cuidado e
Avaliação do cuidado. Durante o desenvolvimento
deste estudo percebeu-se a grande diversidade cultural
entre as famílias atendidas no alojamento conjunto.
O processo educativo de saúde como prática de
enfermagem junto a um conselho local de saúde
para construção do controle social no SUS
Petry, A. P.1; Farias, L. C.1; Verdi, M. I.2
Trata-se do trabalho de Conclusão de Curso de
Graduação em Enfermagem da Universidade Federal
de Santa Catarina, requisito da Disciplina
“Enfermagem Assistencial Aplicada” – VIIIa Unidade
Curricular, para obtenção do grau de Enfermeiro.O
presente trabalho refere-se à implementação de uma
proposta educativa em saúde, realizada junto ao
Conselho Local de Saúde (CLS), do bairro Saco
Grande, no município de Florianópolis, com o
objetivo de promover estratégias de participação
popular para o fortalecimento do controle social no
SUS. O estudo inicia com uma breve revisão da
evolução histórica das políticas de saúde no Brasil a
partir da década de 70, marco histórico do Movimento
Sanitário, até chegar à década de 90, quando da
regulamentação do Sistema Único de Saúde – SUS,
que traz como uma de suas diretrizes, a participação
popular, através do exercício do controle social sobre
as atividades e os serviços públicos de saúde.
Utilizamos os elementos do referencial teórico do
processo de trabalho de educação em saúde de Ramos
Saúde do trabalhador práxis educativa: refletindo
sobre os riscos ocupacionais.
Noceti, J. P.1; Crispim, C. H.1; Gelbcke, F. L.2
Este é um trabalho de conclusão de Curso da
Graduação em Enfermagem da Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC), desenvolvido na área de
Saúde do Trabalhador. A escolha dessa área se deu
primeiramente pela curiosidade, movida pela falta da
abordagem deste assunto na grade curricular, e pela
importância que acreditamos ter a promoção da saúde
para os trabalhadores. Para realizar este trabalho,
optamos por fazer a prática assistencial na CM1 por
ser um ambientes já conhecidos pelas acadêmicas e
pelos riscos ocupacionais, aí levantados destacando-se
os biológicos e ergonômicos. O objetivo geral do
trabalho, foi desenvolver uma prática assistencial
Essa diversidade toda veio a nos mostrar o quanto é
importante o atendimento dessas famílias de forma
particularizada, focalizada nas suas crenças, valores,
significados e práticas de cuidado, o que favoreceu
que a assistência fosse prestada de forma
culturalmente congruente.
Gonzaga (1992 e 1999) e a proposta metodológica do
educador Paulo Freire (1987) como os eixos
norteadores da nossa prática.
No sentido de
impulsionar a reflexão crítica acerca do controle
social no SUS, propusemos o desenvolvimento dos
círculos
de
cultura
como
momentos
de
potencialização da transformação da práxis.
Paralelamente, realizamos o reconhecimento e a
mobilização da comunidade durante visitas às
organizações e instituições do bairro e da participação
no processo de planejamento, organização e
desenvolvimento do Curso de Capacitação de
Conselheiros Locais de Saúde. Identificamos durante
nossa
experiência,
algumas
fragilidades
e
potencialidades em relação à estruturação do
Conselho. A falta de participação e o
desconhecimento das funções e do papel do CLS
constituem-se em entraves para a consolidação do
controle social no SUS. Porém, o cenário de nossa
atuação apontou sujeitos que mantêm os propósitos
pelos quais os Conselhos foram criados.
Consideramos que ainda há um longo caminho a ser
percorrido, com alguns obstáculos para ultrapassar,
até que a participação popular no CLS se torne
consciente e efetiva. Nossa contribuição para o
controle social teve o importante papel de
desencadear um processo de transformação da
consciência individual para uma consciência coletiva.
educativa com os trabalhadores da CM1, visando a
conscientização destes sobre sua exposição aos riscos
de trabalho, por meio da educação em saúde, e
incentivar os funcionários a buscar uma melhor
qualidade de vida no trabalho. Para tanto, realizamos
estudos sobre os riscos presentes na unidade, e através
de oficinas que tiveram como foco a elaboração de
mapa de riscos, biossegurança e a importância das
notificações dos acidentes, todas as atividades foram
fundamentadas em bibliografias pertinentes a área.
Apresentamos neste trabalho também, um breve
histórico da evolução na Política Nacional de Saúde
do Trabalhador, bem como as legislações sobre o
assunto em questão. Priorizamos a educação em saúde
para trabalharmos com as funcionarias da unidade por
entendermos ser um importante instrumento de
promoção á saúde.
94
Resumos
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005
Assistência de enfermagem ambulatorial ao idoso
em uso de medicamentos baseada na teoria de
cuidado transcultural de Leininger.
Souza,V. N.1; Ignona,M. J. S.1; Gonçalves, L. H. T.2
Foi uma prática assistencial desenvolvida no Hospital
Universitário da Universidade Federal de Santa
Catarina, sendo uma proposta de cuidado cultural à
pessoa idosa sob uso de medicamentos. Foi
fundamentada na Teoria de Cuidado Transcultural de
Leininger. Seu objetivo geral era prestar assistência de
enfermagem com vistas a um cuidado cultural ao
idoso em uso de medicamentos e à sua família
cuidadora realizando a consulta de enfermagem
guiada pelo marco conceitual. Os locais da prática
foram o Ambulatório do HU/UFSC e no Núcleo
Interdisciplinar de Pesquisa, Ensino e Assistência
Gerontogeriátrica - NIPEG/HU/UFSC. A população
Assistência de enfermagem domiciliar a idosos e
seus familiares na comunidade do Pântano do
Sul/Fpólis-SC, baseada na Teoria da enfermagem
Transcultural de Leininger.
Vicente, C. A.1; Silva, M. C. M.1; Gonçalves, L. H.
T.2
O trabalho a seguir trata-se de um relato de
experiências sobre a prática assistencial desenvolvido
por duas acadêmicas durante a VIII fase curricular do
curso de Graduação em Enfermagem da UFSC. O
mesmo realizou-se na Unidade Básica de Saúde da
Praia do Pântano do Sul, em Florianópolis-SC, no
período de 01 de abril a 08 de junho de 2004. Este
estudo teve como principal objetivo prestar assistência
de enfermagem ao idoso e seus respectivos familiares,
guiadas pelo marco conceitual baseado na Teoria do
Cuidado Transcultural de Madeleine Leininger. A
teoria de Leininger refere-se ao cuidado ligado às
Cada dia um novo dia: um desafio na busca da
adaptação do recém-nascido portador de má
formação, e sua família.
Dias, A. G.1; Minuzzi, A. P.1; Oliveira, M. E.2
Trata-se do relato de prática assistencial desenvolvido
na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) e
na Unidade de Berçário, do Hospital Infantil Joana de
Gusmão em Florianópolis – SC. O presente estudo foi
desenvolvido no período de 30 de agosto a 30 de
outubro de 2004, tendo como objetivo principal
prestar assistência de enfermagem a recém-nascidos
portadores de malformação congênita e suas famílias,
a partir da teoria de adaptação de Sister Callista Roy.
A utilização da Teoria permitiu detectar os estímulos
causadores de estresse, bem como, avaliar as
alvo foi de idosos, de ambos os sexos, em uso de
medicamentos, que possuíam consulta agendada no
Ambulatório ou NIPEG, que aceitassem participar do
trabalho. Realizamos consulta de enfermagem e
visitas domiciliares a pessoas idosas pré-selecionadas.
Foi desenvolvida educação para saúde em Sala de
Espera, através de vídeos educativos, escolhidos de
forma que fossem de interesse de todos na sala.
Consideramos que desenvolver esta prática com uma
abordagem cultural foi um grande desafio, pois
durante nossa vida acadêmica trabalhamos com outras
teorias de enfermagem, que apesar de vários pontos
semelhantes,
diferem
em
alguns
aspectos.
Desenvolver o trabalho com idosos em uso de
medicamentos proporcionou-nos momentos de muita
gratificação, quando víamos que nossas ações, mesmo
que pequenas, surtiam algum efeito à pessoa a quem
assistíamos.
crenças, valores e modos de vida das pessoas. O
marco conceitual envolveu os conceitos de
enfermagem, ser humano, idoso e família, saúdedoença e envelhecimento, comunidade, meio
ambiente e cultura. A metodologia adotada constituise de visitas domiciliares, consultas de enfermagem, e
utilização de um instrumento feito por nós
acadêmicas, além da aplicação do processo de
enfermagem adaptado segundo referencial adotado. A
vivência com idosos e familiares oportunizou a
identificação das necessidades e capacidades de
cuidados culturalmente congruentes, além do
estabelecimento de uma relação harmoniosa entre o
idoso/familiar cuidador e enfermagem favorecendo
um cuidado humanizado para obter um viver
saudável. Ao final este trabalho nos proporcionou um
entendimento mais amplo acerca da influência que a
cultura, os valores e as práticas familiares tem no
aprendizado e na aplicação do cuidado.
respostas adaptativas e não adaptativas dos recémnascidos e famílias diante das várias situações
vivenciadas. Pudemos, no decorrer da prática,
evidenciar situações de raiva, negação, negociação,
depressão, afastamento, culpa e aceitação. Em todos
os momentos procuramos ouvir o dito e o não dito dos
recém-nascidos e familiares, proporcionando uma
assistência voltada para suas necessidades. A vivência
nos mostrou que o recém-nascido malformado e suas
famílias são seres especiais, guerreiros, capazes de
adaptar-se às situações mais inesperadas e dolorosas,
e que a atuação dos profissionais de saúde podem
favorecer ou prejudicar a adaptação dos mesmos.
Enfim, podemos afirmar que prestar assistência a
estes seres especiais e suas famílias nos impulsionou
em busca de novas possibilidades e novas formas de
encarar cada dia como um novo dia.
95
Resumos
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005
Condição crônica de saúde: um enfoque dialógico
no cuidado transcultural.
Garcia,C. C.1; Martendal, M. P.1; Goronzo, T. A.1;
Silva, D. M. G. V. da2; Backes, V. M. S.2
Introdução: Este trabalho consiste num relato de
nossa experiência, enquanto acadêmicas do curso de
graduação em Enfermagem da VIII Unidade
Curricular, ao cumprir a Disciplina de Enfermagem
Assistencial Aplicada, da Universidade Federal de
Santa Catarina. Objetivo:Teve como objetivo geral
prestar cuidado a pessoas em condição crônica de
saúde (HAS e DM) e, extensivamente, a suas famílias
de uma comunidade da região sul catarinense, visando
promover a qualidade de vida. A prática foi
desenvolvida na Unidade Sanitária Campo D’Una no
período compreendido entre 31 de março a 04 de
junho de 2004. O marco conceitual baseou-se na
Teoria Transcultural de Madelaine Leininger e no
método pedagógico de Paulo Freire, envolvendo os
conceitos norteadores: enfermagem, educação para
saúde, educação popular em saúde, ser humano,
saúde-doença e ambiente/sociedade. A prática
Orientação pré-operatória ao cliente – uma
medida preventiva aos estressores do processo
cirúrgico.
Souza, A. A.1; Souza, Z. C.1; Fenili, R.2
O presente trabalho trata do relato de uma prática
assistencial, contemplando os requisitos para a
conclusão do Curso de Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Foi
desenvolvida na Clínica Cirúrgica I do Hospital
Universitário /UFSC, no período de 31 de março a 04
de junho de 2004, utilizando a teoria de Betty
Assistência de enfermagem pré-hospitalar, junto
ao corpo de bombeiros, e intra-hospitalar, na
unidade de emergência do hospital regional de São
José “Dr. Homero de Miranda Gomes”
fundamentada na Teoria das Necessidades
Humanas Básicas.
Cunha, E. L.1; Lago,L. M.1; Eich,M.1; Prado, M.
L.2; Radünz, V.2
O presente texto trata do Trabalho de Conclusão de
Curso (TCC) de Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O
mesmo foi desenvolvido nas áreas de atendimento
pré-hospitalar, junto ao Corpo de Bombeiros dos
municípios de Florianópolis e São José, e intrahospitalar na unidade de emergência do Hospital
Regional de São José – “Dr. Homero de Miranda
Gomes”. Tendo como objetivo geral observar a
continuidade de assistência de enfermagem do
assistencial seguiu o eixo Transcultural e dialógico,
confirmando que a doença crônica afeta
negativamente
o
cotidiano
do
individuo/família/grupo. O fator identificado como o
mais freqüente foi: mudança de hábito alimentar
associado a algum prejuízo na rotina social,
interferindo, conseqüentemente, na qualidade de vida.
Realizou-se, durante o período de estágio, a
assistência à 09 famílias com portadores de doença
crônica, efetuando 09 processos de enfermagem
baseados na teoria Transcultural, contendo as
seguintes etapas: levantamento de dados, diagnóstico
de enfermagem, plano/implementação do cuidado e
avaliação do mesmo. Foram realizadas 27 visitas
domiciliares com o intuito de acompanhar os usuários
e obter maior contato com a sua cultura. Foram, ainda,
realizadas 04 atividades educativas, em grupo,
abrangendo 03 das 04 micro-áreas existentes,
utilizando recursos lúdicos e adotando uma linha
participativa em busca da construção coletiva do
conhecimento. O trabalho empreendido permite
reiterar a importância da prática cuidativa e educativa
em saúde.
Neuman e com contribuição e conceitos de Paulo
Freire, trabalhando a educação em saúde. Teve como
objetivo prevenir e minimizar os estressores do
processo cirúrgico de clientes com cirurgias de
Vesícula e Hérnia de Parede Abdominal. Foram
utilizadas diferentes abordagens, como orientação préoperatória, atividades lúdicas e dinâmicas. Constatouse a necessidade de um maior esclarecimento e
informação, de nós acadêmicas para com os clientes.
Os momentos de descontração são fundamentais no
fortalecimento das linhas de defesa. Acreditamos na
importância da atenção prestada ao cliente pela equipe
de enfermagem durante a hospitalização.
ambiente pré-hospitalar para o intra-hospitalar,
principalmente com relação às vítimas de trauma,
traumatismo craniocefálico (TCE), parada cárdiorespiratória (PCR), acidente vascular cerebral (AVC),
infarto agudo do miocárdio (IAM). Para a realização
das atividades de assistência de enfermagem nos
serviços de emergência de forma sistematizada
propomos uma metodologia fundamentada na
combinação da Teoria das Necessidades Humanas
Básicas de Wanda Horta (1979) com classificação
diagnóstica da NANDA, realizada por Benedet & Bub
(2001) e no método mnemônico “ABCDE”,
preconizado pelo programa de Suporte Avançado de
Vida ao Trauma – ATLS. Para tanto, foi criado um
instrumento adaptado para a assistência de
enfermagem, em situações pré e intra-hospitalar. A
prática assistencial vivenciada demonstrou que a
competência do profissional de enfermagem nos
setores de emergência pré e intra-hospitalar depende
do saber científico, da sua experiência, liderança,
96
Resumos
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005
habilidades e criatividade, onde o conjunto destes
ultima na resolutividade dos problemas identificados,
mesmo que, por vezes, dentro de um contexto
adverso.
Estando com adolescentes que experienciam
medida sócio-educativa de privação de liberdade.
foi a atividade de Enfermagem utilizada para
oportunizar a significação do que era vivido com
relação aos seus adolescentes. Toda nossa prática foi
fundamentada na tentativa da complementação da
Teoria da Evolução Humana com o Interacionismo
Simbólico.
Concomitantemente,
desenvolvemos
Pesquisa Convergente-Assistencial, considerando as
representações (crenças) que os adolescentes têm por
experienciar medida sócio-educativa de privação de
liberdade. Logo, considerando que o ser humano é o
sujeito-objeto das ações de Enfermagem, qualquer
cenário que ele ocupar serve de campo para a atuação
desta
ciência-arte.
Desta
maneira,
centros
educacionais para adolescentes que estão sofrendo
uma medida sócio-educativa podem e devem ter
enfermeiros. Fica a indagação: Por que o CER-SL não
tem enfermeira(o)? Com nosso trabalho esperamos
fortalecer a importância da existência do profissional
enfermeiro no quadro permanente da instituição,
enquanto do processo de construção, desconstrução e
reconstrução da realidade; e assim, incentivar a
participação desse profissional nas questões sócioeducativas.
Santos, L. C.1; Kretzer, M. S.1; Ghiorz, A. da R.2
O presente trabalho consiste em um relato da prática
assistencial da disciplina Enfermagem Assistencial
Aplicada (INT 5134), alocada na VIII unidade
curricular do Curso de Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.
Nossa prática foi desenvolvida no Centro Educacional
Regional São Lucas (CER-SL), que tem por objetivo
principal atender adolescentes que praticaram ato
infracional. Estes adolescentes, portanto, sofrem uma
medida sócio-educativa de privação de liberdade,
sancionada pelo poder judiciário. No período de 30 de
agosto a 29 de outubro de 2004, estivemos com os
adolescentes do CER-SL, oportunizando momentos
para significação das experiências vividas por eles,
através de encontros em grupo (Construção de
Metáforas, Dinâmicas de Grupo e Oficinas de Arte),
Consultas de Enfermagem e Estando Com eles em
parte de seu quotidiano. À família, Visita Domiciliar
O pai como foco central no processo de
nascimento: uma proposta assistencial baseada na
teoria Transcultural de Madeleine Leininger.
Rossi,C. C.1; Andrade ,P.1; Gregório, V. R. P.2
Este trabalho trata-se do relato da prática assistencial
realizada pelas autoras na última unidade curricular
do Curso de Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal de Santa Catarina, desenvolvida
no período de 31 de março a 04 de junho de 2004, no
Centro Obstétrico da Maternidade do Hospital
Universitário-UFSC, com participações no grupo de
gestantes e/ou casais grávidos do HU-UFSC. Relata o
cuidado desenvolvido junto aos pais acompanhantes
das mulheres parturientes no centro obstétrico. Teve
como objetivo conhecer como o pai vivencia o
processo de nascimento e implementar cuidados ao
pai, à mulher parturiente e ao recém-nascido,
Um começo de vida inesperado: assistência de
enfermagem na Unidade Neonatal promovendo a
formação do apego entre recém-nascidos
prematuros e seus pais.
Franceschi Junior, A. N.1; Passos, L.1; Caetano, T.
L1; Monticelli, M.2
Trata-se de um relato de experiência realizado por
acadêmicos da última fase do Curso de Graduação em
Enfermagem da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), sobre a prática assistencial realizada
utilizando como referencial a Teoria Transcultural de
Madeleine Leininger. Implementaram-se cuidados de
enfermagem a vinte e oito pais bem como às mulheres
parturientes que cada pai acompanhava. Foram
selecionados cinco pais com os quais realizou-se o
processo de enfermagem, e foram escolhidos dois
para descrever no trabalho. Este estudo mostra
maneiras de se implementar cuidados ao pai no centro
obstétrico, bem como enfatiza a importância da
presença e participação do mesmo no processo de
nascimento, buscando conhecer seus sentimentos,
crenças e valores. Ao finalizar as autoras ressaltam
que para se realizar um cuidado culturalmente
congruente, deve-se respeitar e valorizar crenças e
valores do pai e da mulher parturiente, oferecendo
apoio, orientação, transmitindo confiança, segurança,
e incentivando a participação do pai no processo de
nascimento, como forma de se estabelecer um vínculo
precoce entre mãe, bebê e pai.
na Unidade Neonatal do Hospital Universitário da
UFSC, no período de 30 de agosto de 2004 à 30 de
outubro de 2004. O objetivo deste estudo foi prestar
assistência de enfermagem aos recém-nascidos prétermos
e
seus
pais,
focalizando
o
estabelecimento/fortalecimento
dos
vínculos
familiares. Como referencial teórico para fundamentar
a prática optou-se pela associação de duas teorias:
Teoria do Apego, que está relacionada ao processo de
formação do vínculo que ocorre entre os pais e o
bebê, e Teoria da Adaptação da enfermeira Sister
Callista Roy, que aborda os processos adaptativos do
97
Resumos
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005
ser humano frente às situações vivenciadas. O marco
conceitual, guia para a prática assistencial, teve como
princípios os conceitos de ser humano, saúde/doença,
ambiente, enfermagem, adaptação e formação do
apego. Para implementação da prática adotou-se o
processo de enfermagem, constituído por quatro fases:
avaliação,
diagnóstico
de
enfermagem,
estabelecimento de metas e implementação e
evolução, além de oficinas com os pais dos bebês prétermos, para reflexão coletiva sobre o tema. O
convívio com as famílias na Unidade Neonatal
permitiu observar como o nascimento prematuro se
constitui em uma situação de crise, sendo que esta
pode prejudicar a formação do apego. Percebeu-se
ainda a importância do apoio dos familiares, dos
outros pais e dos profissionais neste momento,
respeitando o tempo dos pais e incentivando-os a
permanecerem com seus filhos, participando dos
cuidados, inserindo-os no cotidiano da Unidade
Neonatal. Considera-se que o papel da enfermagem é
fundamental no processo de formação do vínculo,
uma vez que estes profissionais estão em contato mais
estreito e contínuo com as famílias e com os bebês,
podendo avaliar e incentivar as respostas efetivas e
trabalhar as respostas ineficientes que estejam
prejudicando a formação do apego.
Administrando, informatizando e assistindo o
cliente em condição crítica de saúde internado na
UTI.
assistencial foi fundamentado na proposta Benedet &
Bub (2001), a qual é baseada na teoria das
Necessidades Humanas Básicas (N.H.B.) de Wanda
de Aguiar Horta e na lista de diagnósticos da
Taxonomia I da Classificação Diagnóstica da North
American Nursing Diagnosis Association – NANDA.
Usamos os conceitos de: enfermagem, ser
humano/indivíduo, ser humano/família, saúde,
ambiente, ser enfermeiro, ser equipe de enfermagem,
ser cliente/paciente, cuidado intensivo, sistema de
informação em enfermagem, processo assistencial,
diagnóstico de enfermagem, intervenções de
enfermagem e necessidades humanas básicas.
Utilizamos quatro etapas do processo de enfermagem:
histórico, diagnóstico, intervenções e evolução de
enfermagem. Para definir o banco de dados
realizamos a construção dos diagnósticos e validamos
as intervenções de enfermagem. Acreditamos que
uma assistência de qualidade depende do
conhecimento profissional em relação aos cuidados, a
administração e ao processo de informatização da
assistência.
Rosso, E. G.1; Sifron, K. G.1; Bub, M. B. C.2
Trata-se de um relato de prática assistencial
desenvolvido durante a VIII Unidade Curricular do
Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal de Santa Catarina. Este trabalho foi
desenvolvido na Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
do Hospital Governador Celso Ramos, no período de
30 de agosto a 30 de outubro. Por meio deste estudo
tivemos o propósito de prestar assistência de
enfermagem ao cliente em condição grave de saúde e
seus
familiares;
desenvolver
habilidades
administrativas; e, contribuir no processo de
informatização na UTI. Também nos baseamos no
protótipo de sistema de informática desenvolvido por
Silva, Rodrigues, e Bub (2003) e no modelo de
intervenções de enfermagem de Schmitz, Klauck,
Vieira, e Bub (2004). O modelo assistencial que
adotamos para o desenvolvimento de nossa prática
Desenvolvendo habilidades administrativas e
assistenciais de enfermagem em unidade hospitalar
de cuidado ao paciente crítico.
Rossetto, A.P.1; Pinheiro,G. C.1; Crestani, M. M.1;
Nascimento, E. R. P.2; Gelbcke, F. L.2
Trata-se de um relato de prática assistencial
desenvolvida durante a VIII Unidade Curricular do
Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal de Santa Catarina. Prática essa realizada na
Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Escola
da Grande Florianópolis/SC, no período de 31 de
março a 04 de junho de 2004. Teve como objetivo
geral desenvolver habilidades administrativas e
assistenciais na Unidade de Terapia Intensiva,
buscando uma melhor qualidade na assistência ao
indivíduo adolescente e adulto submetido aos
cuidados intensivos em situação clínica ou cirúrgica.
Além do desenvolvimento dessas habilidades
trabalhamos, ainda, com a interação dos membros da
equipe de enfermagem e com a educação continuada.
Utilizamos como marco referencial para o cuidado a
Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Wanda
de Aguiar Horta, por ser o modelo adotado como
metodologia de assistência no referido hospital, aliado
ao modelo proposto por Benedet e Bub (2001)
segundo a classificação diagnóstica da NANDA
(North American Nursing Diagnosis Association),
para o desenvolvimento do processo de enfermagem.
E para subsidiar a nossa prática administrativa
buscamos uma conceitualização em outros autores,
entre eles Silva (2000), Marquis e Huston (1999) e
Erdmann (2001). Entendemos que a busca pela
melhora da condição de saúde dos pacientes, através
de uma assistência qualificada, é a finalidade de uma
UTI e para isso acreditamos ser essencial a união do
cuidado, da administração e da educação.
98
Resumos
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005
Rumo a assistência de enfermagem informatizada
em UTI – a definição de um banco de dados.
Schmitz,L. M1.; Klauck,M. L1.; Vieira, T. T.1; Bub,
M. B. C.2
Este trabalho é o relato de experiência de uma
proposta assistencial ao ser humano em condição
crítica de saúde, internado em Unidade de Terapia
Intensiva (UTI), associada à informatização da
assistência de enfermagem por meio da definição do
banco de dados. Dá continuidade ao Trabalho de
Conclusão de Curso – Rumo à Assistência de
Enfermagem Informatizada em UTI – a Construção
de um Protótipo. È requisito da oitava fase curricular
do curso de graduação em enfermagem da UFSC. As
atividades assistenciais foram desenvolvidas na UTI
do Hospital Governador Celso Ramos, em
Florianópolis, no período de 31 de março a 04 de
junho de 2004. O marco conceitual que norteou este
trabalho foi baseado na Teoria das Necessidades
Humanas Básicas de Wanda de Aguiar Horta e na
proposta de diagnósticos de enfermagem de Benedet e
Bub-2001, entre outros autores, de forma a adequá-lo
à dinâmica da UTI. Usamos os conceitos de: ser
humano, ambiente, saúde, enfermagem, cuidado
Alimentos funcionais: um novo campo de trabalho
para o farmacêutico
Zimmermann, J. V.1; Leite, R. S.1; Campos, C. M.
T.2
Os alimentos desempenham um papel importante na
manutenção da vida do ser humano fornecendo os
elementos nutricionais e calóricos necessários para o
funcionamento do organismo. Nas últimas décadas,
começou-se a observar um crescente interesse nos
alimentos que apresentam componentes funcionais,
aqueles que ajustam ou modulam o sistema
fisiológico do organismo humano de modo a
promover a saúde e prevenir doenças, além dos
nutrientes. Atualmente, tem havido uma explosão do
Desenvolvimento de anamnese estruturada para
avaliar a relação do estresse com a doença cárie
dental
Amanta, C. J.
Esta pesquisa trata da investigação da relação do
estresse com a doença cárie dentária em pessoas. O
objetivo geral foi desenvolver uma anamnese
estruturada para verificar o nível de estresse
decorrente das vivências pessoais nos pacientes com a
doença cárie dentária. A hipótese básica foi que
através de uma anamnese estruturada aplicada durante
o exame clínico odontológico, o Cirurgião–Dentista
poderia verificar se o nível de estresse está associado
intensivo, processo assistencial e sistema de
informação em enfermagem. Para prestar assistência
com qualidade, nos baseamos nos princípios da
bioética, código de ética da enfermagem e aspectos
institucionais, além de aprofundar os nossos
conhecimentos por meio da revisão de literatura e da
participação do VII Simpósio Nacional de
Diagnósticos de Enfermagem em Belo Horizonte, de
29 de maio a 1o de junho de 2004. Utilizamos quatro
etapas do processo de enfermagem: histórico,
diagnósticos, intervenções e evolução de enfermagem.
Para definir o conteúdo do banco de dados, fizemos o
levantamento dos diagnósticos de enfermagem dos
seres humanos internados durante o período de
estágio, das normas e rotinas da unidade e
promovemos discussões com as enfermeiras experts.
Após elaboramos uma lista de intervenções básicas de
enfermagem para a unidade em questão. Além disso,
aplicamos na prática o conteúdo das telas do protótipo
(das etapas: histórico e evolução) e as validamos,
sugerindo algumas alterações. Por fim, avaliamos o
processo assistencial questionando aspectos da
aplicação do marco conceitual, metodologia da
assistência, viabilidade do banco de dados e da
experiência pessoal.
interesse dos consumidores no papel de alimentos
específicos ou componentes fisiologicamente ativos.
Apesar das evidências bioquímicas, clínicas e
epidemiológicas crescentes, não há ainda para muitos
dos alimentos funcionais, um consenso científico
estabelecido, que suporte decisões no âmbito de
políticas mais globais de saúde pública referente ao
seu uso. Nesse cenário, o profissional farmacêutico
encontra a oportunidade de se inserir de forma
concreta e eficaz, pois tem uma formação que
contempla à identificação de muitos desses
compostos, à caracterização de sua estrutura
molecular, aos mecanismos de suas ações biológicas e
à elaboração de alimentos dirigidos às finalidades
especiais de saúde.
a doença cárie dentária. A coleta de dados foi
realizada no Departamento de Estomatologia, da
Universidade Federal de Santa Catarina, sendo que
participaram desse estudo 121 pessoas, com idade
igual ou superior a 21 anos, de ambos os sexos, sem
limitações físicas ou mentais. Os sujeitos da pesquisa
não possuíam doenças sistêmicas crônicas e não
estavam realizando tratamento quimioterápico ou
radioterápico, bem como durante o exame físico, não
foi detectado o hábito de respirar pela boca ou a
presença de aparelhos ortodônticos, próteses parciais
fixas ou removíveis. Os dados coletados foram
submetidos a análise multifatorial, sendo utilizado o
programa SPAD 3.5. Após a análise, foi verificado
que existe uma relação associativa entre o estresse e a
99
Resumos
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 90-100, jan./dez. 2005
doença cárie dentária. Além deste achado científico,
foi encontrado uma associação entre o estresse e a
diminuição do fluxo salivar, a diminuição da
freqüência dos hábitos de higiene bucal e o aumento
da ingestão de alimentos. Recomenda-se a realização
de novos estudos complementares com enfoque na
transdisciplinaridade; o desenvolvimento de um
referencial teórico para a prática da odontologia que
possibilite a observação, interpretação e reflexão
sobre a complexidade das pessoas, bem como uma
recomendação especial ao Cirurgião-Dentista, para
que, em sua prática, leve em consideração que as
pessoas buscam neste encontro profissional, além do
alívio para a dor presente no seu corpo-dental, um
conforto para a sua mente. É importante também
lembrar que a grande contribuição deste estudo para o
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção foi o fortalecimento de um grupo de
trabalho transdisciplinar, que utilizou o seu conteúdo
científico para a elaboração de um instrumento de
trabalho para a prática do Cirurgião-Dentista e
destinado a identificar o estresse, decorrente das
vivências pessoais.
100
Normas de Publicação
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 101-102, jan./dez. 2005
NORMAS EDITORIAIS
CIÊNCIAS DA SAÚDE
DA
REVISTA
1.Serão aceitos, no máximo 2 (dois) artigos
originais
por
autor
que,
destinados
exclusivamente à Revista Ciências da Saúde,
serão submetidos à avaliação e aprovação de uma
Consultoria Científica e Comissão Editorial.
2.A Comissão Editorial assegura o anonimato
do(s) autor(es) no processo de avaliação pela
Consultoria Científica.
3.Um dos autores, pelo menos, deverá ser
assinante(s) da Revista Ciências da Saúde.
Anexar comprovante de assinatura.
4.Trabalhos
apresentados
em
eventos
(congressos, simpósios, seminários...) serão
aceitos desde que não tenham sido publicados
integralmente em anais e autorizados, por escrito,
pela entidade organizadora do evento, quando as
normas do mesmo assim o exigirem.
5.Excepcionalmente, serão aceitos trabalhos já
publicados em periódicos estrangeiros, desde que
autorizados pela Comissão Editorial do periódico
onde o artigo tenha sido originalmente publicado.
6.A Consultoria Científica se reserva o direito de
sugerir eventuais modificações de estrutura ou
conteúdo do trabalho, que serão acordadas com
os autores. Não serão admitidos acréscimos ou
alterações após o envio para composição
editorial.
7.As opiniões emitidas nos trabalhos, bem como
a exatidão, adequação e procedência das citações
bibliográficas, são de exclusiva responsabilidade
dos autores.
8.A revista classificará os textos encaminhados
de acordo com as seguintes seções:
8.1. EDITORIAL – matéria de responsabilidade
da Comissão Editorial da Revista.
8.2. ARTIGOS ORIGINAIS: a) PESQUISA –
constará de relatos de investigações científicas
concluídas. b) REVISÃO – abrangerá revisões
de literatura sobre temas específicos. c)
RELATO
DE
EXPERIÊNCIA/CASOS
CLÍNICO – incluirá descrições de atividades
acadêmicas assistenciais e de extensão. d)
REFLEXÃO – apresentará materiais de caráter
opinativo e/ou análise de questões que possam
contribuir para o aprofundamento de temas
relacionados à área a que se destina a revista.
8.3 – OUTRAS SEÇÕES – a) ENTREVISTA
– espaço destinado a entrevistas de
autoridades/especialistas/pesquisadores.
b)TRABALHO DE CONCLUSÃO DE
CURSO/ DISSERTAÇÕES DE MESTRADO
E TESES DE DOUTORADO – RESUMOS E
ABSTRACT c) PÁGINA DO LEITOR.
9. NORMAS DE APRESENTAÇÃO DE
TRABALHOS
9.1 – FORMATO – O trabalho deverá ser
encaminhado em 02 (duas) vias. Na digitação
deverá ser utilizado espaço 1,5; com margem
esquerda 3cm; margem direita (superior e
inferior) 2cm; letra Times New Roman, tamanho
12, observando a ortografia oficial, editor Word
For Windows. O título deverá ser em caixa alta,
negrito, espaço 1,5 simples? e justificado. Os
autores deverão estar abaixo do título do artigo,
em negrito, espaço simples? e em caixa baixa. O
texto deverá conter seus respectivos títulos, de
acordo com as características do trabalho (ex.
Artigo de pesquisa: Introdução, Métodos,
Resultados e Discussão, etc.), formatados em
caixa baixa, negrito. É obrigatório o envio de
disquete ou CD-ROM na segunda etapa do
trabalho quando da devolução do artigo corrigido
pelo autor.
9.2 – PADRÃO DE APRESENTAÇÃO – a)
ARTIGOS ORIGINAIS – redigidos de acordo
com as normas da Revista do CCS devendo
conter no máximo 10 laudas de texto e observar
o que segue:  Título do artigo em português
(caixa alta) e inglês (caixa baixa) e entre
colchetes. Nome(s) completo(s) do(s) autor(es).
Em nota de roda pé a(s) credencial(is) e local de
atividade do(s) autor(es) (espaço 1,5), email
para correspondência.  Resumo indicativo em
português, de acordo com as normas da Revista
do CCS, com até 100 palavras, em espaço 1,5. 
Palavras-chave - palavras ou expressões que
identifiquem o artigo. Para determinação das
palavras-chave consultar a lista de “Descritores
em Ciências da Saúde – DECS-LILACS”,
elaborada pela BIREME e/ou “Medical Subject
Heading – Comprehensive Medline”. Texto –
incluindo ilustrações (quadros, fotos, modelos,
mapas, desenhos, gravuras, esquemas, gráficos e
tabelas), com seus respectivos títulos e fontes
(quando houver). Exceto gráficos e tabelas, todas
as ilustrações deverão ser designadas como
figuras. As despesas com os fotolitos de figuras
somente coloridas serão de responsabilidade
dos autores Abstract – tradução do resumo em
inglês, em espaço 1,5.  Keywords – tradução
dos unitermos para o inglês.  Referências
Bibliográficas: serão baseadas nas normas NBR
101
Normas de Publicação
Revista Ciências da Saúde, Florianópolis, v. 24 n.1/2, p. 101-102, jan./dez. 2005
6023 da ABNT 2002, ordenadas alfabeticamente
pelo sobrenome do autor e numeradas em ordem
crescente. As referências deverão ser inseridas no
texto em ordem numérica crescente, bem como
em ordem de aparecimento do(s) autor (es) e
sobrescrito. No setor de referências, estas
deverão aparecer apenas em ordem numérica
crescente. A citação no texto obedecerá a esta
numeração.
EXEMPLOS DE REFERÊNCIAS
Livros
DINA, Antonio. A fábrica automática e a
organização do trabalho. 2. ed. Petrópolis:
Vozes, 1987. 132 p.
Dicionários
AULETE, Caldas. Dicionário contemporâneo
da Língua Portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro:
Delta, 1980. 5 v.
Jornadas/Reuniões/Conferências/Workshop
JORNADA INTERNA DE INICIAÇÃO
CIENTÍFICA, 18., JORNADA INTERNA DE
INICIAÇÃO ARTÍSTICA E CULTURAL; 8.,
1996, Rio de Janeiro. Livro de Resumos do
XVIII Jornada de Iniciação Científica e VIII
Jornada de Iniciação Artística e Cultural. Rio
de Janeiro: UFRJ, 1996. 822 p.
ANNUAL MEETING OF THE AMERICAN
SOCIETY OF INTERNATIONAL LAW, 65.,
1967, Washington. Proceedings...Washington:
ASIL, 1967. 227 p.
CONFERÊNCIA NACIONAL DA ORDEM
DOS ADVOGADOS DO BRASIL, 11., 1986,
Belém. Anais…[S. l.]: OAB, [1986?]. 924 p.
WORKSHOP DE DISSERTAÇÕES EM
ANDAMENTO, 1., 1995, São Paulo. Anais…
São Paulo: ICRS, USP, 1995. 39 p.
Tese/dissertação
RODRIGUES, M. V. Qualidade de vida no
trabalho. 1989. 180 f. Dissertação (Mestrado em
Administração) - Faculdade de Ciências
Econômicas, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 1989.
Trabalho apresentado em congresso
PRADO, Afonso Henrique Miranda de Almeida.
Interpolação de imagens médicas. In:
WORKSHOP DE DISSERTAÇÕES EM
ANDAMENTO, 1., 1995, São Paulo.
Anais…São Paulo: IMCS, USP, 1995. p.2.
Leis e Decretos
BRASIL. Decreto n. 89.271, de 4 de janeiro de
1984. Dispõe sobre documentos e procedimentos
para despacho de aeronave em serviço
internacional. Lex: Coletânea de Legislação e
Jurisprudência, São Paulo, v. 48, p. 3-4,
jan./mar.,1. trim. 1984. Legislação Federal e
marginália.
BRASIL. Lei n. 9273, de 3 de maio de 1996.
Torna obrigatório a inclusão de dispositivo de
segurança que impeça a reutilização das seringas
descartáveis. Lex: Coletânea de Legislação e
Jurisprudência, São Paulo, v. 60, p. 1260,
maio/jun., 3. trim.1996. Legislação Federal e
marginália.
Capítulo de Livro
NOGUEIRA,
D.
P.
Fadiga.
In:
FUNDACENTRO. Curso de médicos do
trabalho. São Paulo, 1974. v.3, p. 807-813.
Artigo de Revista com dois ou três Autores
ESPOSITO, I. SAAH, G., OLIVER, T.
Repercussões da fadiga psíquica no trabalho e na
empresa. Revista Brasileira de Saúde
Ocupacional, São Paulo, v. 8, n. 32, p. 37-45,
out./dez. 1979.
Artigo de Revista com mais de três Autores
ESPOSITO, I. et al. Repercussões da fadiga
psíquica no trabalho e na empresa. Revista
Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v.
8, n. 32, p. 37-45, out./dez. 1979.
Outros tipos de Referência
Consultar
“Como
fazer
Referências
Bibliográficas” pelo endereço eletrônico:
http://www.bu.ufsc.br/
10.O(s) autor(es) deverão encaminhar o artigo
para análise acompanhado de uma carta com os
seguintes dizeres:
[Cidade, data]
À Comissão Editorial
Revista Ciências da Saúde
Os autores abaixo assinados, transfere
com exclusividade, os direitos de publicação, na
Revista de Ciências da Saúde do artigo
intitulado: (escrever o título do artigo) e
garantem que o artigo é inédito e não está
avaliada ou foi publicado por outro periódico.
(incluir nome completo de todos os autores,
endereço postal, telefone, fax e assinaturas
rrespectivas)
102
103

Documentos relacionados