Jun 2008 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino

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Jun 2008 - Associação Brasileira de Criadores de Ovino
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jun-jul/08
Urgente!
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ASSOCIACÃO BRASILEIRA DE CRIADORES
DE OVINOS – ARCO
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1° Vice-presidente: Teófilo Pereira Garcia
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Superintendente
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Editorial
Precisamos da Extensão Rural
D
urante a realização
do primeiro Encontro
Nacional de Inspetores Técnicos da ARCO, no final do ano passado, em Avaré,
São Paulo, o professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp, de
Botucatu, SP, Edson Siqueira,
foi enfático em afirmar que “não adiantava o país dispor
de pesquisas avançadas na área, se a extensão rural não
caminha no mesmo ritmo”. Quis dizer com isto que se
não houver extensão rural organizada, que leve ao campo os resultados dos trabalhos realizados pelas diversas
instituições de pesquisas existentes no Brasil, de nada vai
adiantar prosseguir e investir nesta atividade.
No início de minha carreira, no Rio Grande do Sul,
fui trabalhar na Ascar, empresa que seria o embrião da
hoje Emater. Minha região de atuação foi Rosário do
Sul no oeste do Estado. Realizava atividades em várias
áreas, não só em ovinocultura, que eu conhecia bastante
pela vivência que tinha na propriedade de meu pai. Por
esta experiência que tive e pelos anos que pude constatar a eficiência e a importância da Extensão Rural para
o agronegócio, sou obrigado a concordar com o professor Siqueira. E não só concordar como também ressaltar
que muitos avanços obtidos pelo produtor rural no que
tange a questões de melhorias no manejo, nas questões
sanitárias e na produção como um todo, conquistando
melhor produtividade na fazenda, foram conquistadas
devido à existência de um suporte dado pela Extensão
Rural. Isto porque, os técnicos que atuam nesta atividade, fazem realmente um trabalho fantástico ao serem
“consultores” dos produtores, no que concerne à sua
atividade no campo.
E por saber e compreender esta importância, não posso deixar de ficar entristecido e indignado ao perceber
que muitos governos estaduais estão desmantelando às
suas empresas de Extensão Rural. Seja por corte nas
verbas, seja pela demissão de técnicos que prestavam
importantes serviços e eram especializados nas suas áreas, o fato é que muitas Emater ou assemelhadas, estão
perdendo força, vitalidade e capacidade de prosseguirem
com suas importantes ações no campo. Um exemplo claro disto foi perceber que em recente reunião da Câmara
Setorial de Ovinocultura do RS, o técnico da Emater que
foi designado a se fazer presente, era especializado em
bovinos de leite. Não há mais, nos quadros da entidade,
técnicos especializados em ovinos.
A ovinocultura hoje depende muito de conhecimento.
De aplicação dos conhecimentos que estão sendo gerados nas instituições de pesquisas. De um técnico que vá
a campo e oriente o produtor a melhorar o seu manejo,
a evitar perdas no rebanho, e ganhar mais dinheiro com
a atividade, via aplicação destas pesquisas. Sabemos que
os esforços são grandes para tentar manter as Emater
como deveria, mas não podemos deixar de dizer que
este é um serviço que precisa ser ampliado, fortalecido
e mantido porque os benefícios que trazem para o campo
são inestimáveis.
É preciso chamar a atenção de todos os governantes
que manter em atividade uma Emater é a garantia de
boas produções no campo. Diminuição de perdas e, ao
final de tudo, fortalecimento do agronegócio, mantendo
o homem no campo. Por isto tudo que mostramos, quero
reafirmar que precisamos muito da Extensão Rural, e isto
é Urgente! Porque ela é quem vai auxiliar na melhoria
dos conhecimentos dos produtores de ovinos e, por conseqüência, no aumento do nosso rebanho.
Paulo Schwab - Presidente da ARCO
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Câmara Setorial: fórum para a ovinocultura
Responsável por reunir todos os elos da cadeia produtiva da ovinocultura, a
Câmara Setorial de Ovinos e Caprinos do Ministério da Agricultura tem sido um
dos principais fóruns para debater a realidade em que se encontra a atividade
atualmente. O processo é tão importante que frutificou para os estados e hoje
alguns já conseguiram instalar câmaras estaduais. Para mostrar o que é,
como funciona e para que serve, entrevistamos o Dr. Edílson Maia, presidente
da Câmara Setorial de Ovinos e Caprinos no MAPA e da Comissão Nacional
de Caprinos e Ovinos na Confederação Nacional de Agricultura, CNA.
Arco Jornal - Qual a importância de existir uma Câmara Setorial, e qual a função?
Edilson Maia - A Câmara é
de suma importância para o crescimento e desenvolvimento da
cadeia produtiva dos ovinos e caprinos. Lá estão reunidos todos os
elos da cadeia, onde podemos discutir, sugerir, planejar e estudar
mecanismos que venham contribuir para o crescimento, gerando
oportunidade de negócios. Todas
as propostas serão levadas ao ministro para apreciação da viabilidade e implantação das mesmas.
AJ - Quais as entidades que
participam ou podem participar?
Edilson Maia – São cerca de
27 entidades que buscam reunir
toda a cadeia produtiva. Temos
então a ARCO, o MAPA, a CNA,
a OCB, o SEBRAE, Banco do
Brasil, Embrapa, entre outras.
AJ- E os temas que ela discute?
Edilson Maia - Os temas são
os mais diversos, como se trata
de uma cadeia em formação, e
desestruturada, a fragilidade dos
elos são grandes, pra isso que
estamos reunidos tentando mini-
mizar com propostas que busque
o fortalecimento da cadeia, por
entendermos a grande importância que tem esse segmento e que
precisamos dar todo apoio.
AJ- Ela é deliberativa a ponto
de construir projetos para o setor?
Edilson Maia - Não, a Câmara discute as fragilidades dos elos
e conjuntamente com todas as entidades que fazem parte da Câmara, forma grupos de estudos e elaboram uma proposta estruturante
e então será levada ao ministro, a
partir dai os órgãos competentes
elaboram o plano de ação.
AJ- Que projetos pretende
propor?
Edilson Maia - No ano de
2008 estamos a realizar a segunda
reunião, mas tivemos na última
importantes avanços no sentido
de sintetizar os assuntos relevantes para o momento, quando
foram formados os grupos de trabalhos com o propósito de dar os
primeiros passos na solução dos
problemas da cadeia. Tais como:
1. Priorizar as ações para conclusão e implementação do Programa Nacional de Sanidade dos
Ovinos e Caprinos
2. Implantação do Programa
Nacional de Melhoramento genético de ações de pesquisa e desenvolvimento visando tecnologias
para produção de carne, leite, pele
e lã.
3. Desenvolver estudo do complexo do agronegócio da caprinovinocultura no país.
4. Adequação e equalização
dos impostos estaduais e federais e no âmbito do Mercosul, de
modo a tornar o setor mais competitivo.
5. Criação de um programa
nacional de capacitação contínua
para técnicos, produtores e trabalhadores rurais em caprinovinocultura.
6. Grupo de trabalho para tratar dos resíduos e contaminantes e
seus impactos na cadeia
AJ- Como o senhor vê a ovinocultura atualmente?
Edilson Maia - Vejo como
mais uma boa oportunidade na
pecuária brasileira. Já tivemos a
vez do bovino, do frango, do suíno e, agora, desponta o ovino.
O que a cadeia precisa é de uma
prioridade de governo, por se
Foto: Divulgação
Entrevista
Edilson Maia: Câmaras setoriais garantem avanços no País
tratar de atividade e estruturação
naturalmente social, geradora de
proteína, leite, lã e pele, produtos
estes da mais alta qualidade. Com
reconhecimento nacional e internacional.
AJ - Quais os nós desta atividade e como o Sr. acha que podem ser resolvidos?
Edilson Maia - Primeiro, encarar como uma atividade principal dentro do contexto do agronegócio; deixar de ser visto em
segundo plano; ser tratado como
negócio, com legislação própria,
no que se refere aos frigoríficos,
com programas em nível de governo, que venham estimular o
empresário a acreditar na atividade, com políticas de créditos, políticas de exportação; continuar
nos projetos de baixa renda; estimular e apoiar com programas
sociais de criação e comercialização. Com aprovação das demandas e efetivação das propostas
que nesse momento estão com
os grupos de trabalho da Câmara,
considero um grande avanço.
AJ - Como a Câmara Setorial
pode encaminhar soluções para o
setor tendo o Brasil uma ovinocultura tão continental, com tantas diferenças regionais?
Edilson Maia - Com a participação de todos os segmentos
da cadeia, que, lá, têm assento.
Temos cobrado mais participação, com idéias e propostas, mas
isso deixa a desejar. O nosso ministro foi determinado e feliz,
quando nos falou sobre o assunto: “Acredito. Apresentem-me
propostas concretas”. Tem toda
razão, precisamos ser mais participativos. •
linhas de crédito compatíveis; busca
por inovações tecnológicas como difusão de tecnologia; novas formas e
estratégias de organização e coordenação da cadeia produtiva, como melhora da relação produtor-frigorífico,
canais de distribuição dos produtos,
bem como elaborar estratégias para
os diversos negócios.
As Câmaras podem construir
projetos e propor ações aos órgãos
competentes - afirma o presidente da
representação sul-mato-grossense,
Fernando Vargas Júnior. “Nos últimos três anos trouxemos quase R$
2 milhões para o setor”, lembra. Vargas relata que estão trabalhando num
projeto que integra iniciativa privada e instituições de pesquisa pelo
Sebrae-Finep. “Temos uma rede de
pesquisadores trabalhando de forma
integrada em pesquisas aplicadas ao
setor que trazem resultados imediatos”, afirma.
Segundo o coordenador do Paraná, Ricardo Luca, a ovinocultura
está numa fase de transição no estado, passando da informalidade
para a profissionalização, facilitando a sustentabilidade. “O principal
fator para esta profissionalização
foi a criação de organizações para
a comercialização da carne e subprodutos de Ovinos”, assinala. Luca
diz que o gargalo da ovinocultura
paranaense ainda está na comercialização da carne e subprodutos.
“Precisamos fomentar o consumo
da carne nobre de cordeiro para difundir o consumo no dia-a-dia da
população”, destaca.
Vieira Filho aponta que “a falta
de competitividade do produtor nacional, devido aos nossos altos custos de produção, e ao baixo preço da
carne uruguaia que chega ao mercado, é fator de desânimo do produtor
de carne”. •
Fóruns regionais – espaços de debate para o criador
Se é verdade que a Câmara Setorial Nacional proporciona um debate
em nível de Brasil, não seria exagero
dizer que as Câmaras Setoriais Estaduais permitem a criação de espaços
de debates sobre o agronegócio da
Ovinocultura, em níveis regionais.
Existem hoje no País, cinco Câmaras Setoriais em funcionamento; Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio
Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.
Todas têm como objetivo reunir a cadeia produtiva do setor, levantando
questões que dificultem seu desenvolvimento, ou elaborando propostas que auxiliem na união de todos
os segmentos.
Conforme explica o Engº Agrônomo e Consultor e Coordenador das
Câmaras Setoriais da Seappa, Claudio Hausen de Souza, as Câmaras são
utilizadas na articulação das cadeias
produtivas, no levantamento de demandas, como nos esclarecimentos
Foto: Divulgação
Reunião
da
Câmara
Setorial
do
Mato
Grosso
do
Sul
de questões, soluções de problemas e
relato das atividades desenvolvidas.
Como acontece na representação
nacional, várias entidades estaduais
têm espaço e são convidadas a participarem deste fórum, nos estados.
O presidente da Associação Pau-
lista de Criadores de Ovinos e também da Câmara Paulista Setorial de
Ovinos e Caprinos, Arnaldo dos Santos Vieira Filho, por sua vez, diz que
nas Câmaras Setoriais basicamente
se discute adequação de políticas públicas, como fiscalização sanitária,
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História
Foto: Divulgação
Vidal – zootecnista
apaixonado por
ovinos de lã
E
m plena atividade o médico veterinário Vidal Faria Ferreira, natural
da cidade de Jaguarão (RS), é outra testemunha importante que colaborou e
acompanhou os momentos históricos vividos pela Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (ARCO), nos seus 66 anos
de existência completados em 2008. Em
seu depoimento, ele destaca em especial
o papel do engenheiro agrônomo Geraldo
Velloso Nunes Vieira, falecido recentemente, por sua perseverança e capacidade
inovadora, tornando realidade uma entidade que passou a organizar a criação de
ovinos, primeiro no Rio Grande do Sul e,
posteriormente, nos demais estados.
“Graças ao empenho de Geraldo, a ovinocultura passou a receber apoio através da
orientação de técnicos quanto ao manejo
dos rebanhos. A motivação inicial foi organizar a produção de lã. Deste modo, os produtores passaram a receber, anualmente, a
classificação de suas lãs e isso trouxe, de
fato, muitos benefícios. Também a questão
sanitária ganhou força e projeção”, enfatiza. Vidal lembrou o período de 1972 quando o então ministro da Agricultura, Cirne
Lima, promoveu a visita de uma comitiva
de dirigentes da ARCO, políticos e técnicos do Ministério da Agricultura ao Nordeste. “Naquele momento, com a Primeira
Jornada de Ovinocultura do Nordeste ficou
evidenciado o grande potencial para a criação de ovinos no território brasileiro”. Com
esta ação, ele explica que a ARCO começava a ganhar status nacional e houve um
salto positivo na perspectiva dos criadores.
Leiloeiro do milhar
Paralelo a todos esses acontecimentos,
Vidal foi construindo carreira de leiloeiro,
chegando a mil remates sob a batuta de
seu martelo. Além disso, especializou-se,
entre outros temas, nas raças ovinas para a
produção de carne e pele, na classificação
A Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (ARCO), continua
afirmando a sua história através das inúmeras personalidades envolvidas
com o atual dia-a-dia da entidade, e pedindo a palavra daquelas pessoas
que, falando do passado, explicam o presente. Então, para que possamos
nos situar melhor em nossa realidade, nada melhor que perguntar ao
veterinário Vidal Faria Ferreira e ao engenheiro agrônomo e folclorista
Paixão Côrtes, o que eles têm para nos contar. São duas personalidades!
Juntos, fornecem um repertório de histórias e de realizações começadas já
nos anos 40. Justamente na época em que a ARCO estava em busca de um
horizonte com mais certezas. É nesta perspectiva que hoje podemos dizer que
a Associação se solidificou porque passa e passou por boas mãos e grandes
cabeças. Vidal está com 79 anos e continua pesquisando e Paixão, por sua
vez, já está pronto para os 81 e continua pesquisando. Vem mais coisa por aí!
A ARCO por
Paixão Côrtes &
Vidal Faria Ferreira
Por Nicolau Balaszow
de lãs, na reprodução animal e, em 1986,
recebeu Prêmio Ermenegildo Zegna, no 2°
Congresso Mundial de Merino na Espanha,
por seu trabalho intitulado “Cria de Merino
com chuvas acima de 2 mil mm e mais de
60% de umidade relativa”. O seu currículo
mostra, ainda, a efetivação de sua tese em
zootecnia, a publicação de cinco livros e a
participação em inúmeros cargos técnicos
de coordenação e docência.
Contribuição especial
Com 18 anos de atividades dedicados
diretamente à ARCO, Vidal presenciou
não só o crescimento da Associação, como
também uma fase decisiva. Chegava o momento em que seria necessário o “andar
pelas próprias pernas”. É nesta perspectiva
que ele define como um período de crise
vivido pela entidade. “Houve o rompimento da tutela política que, através de seus
organismos e orientação de seus técnicos
promovia e apoiava a nossa Associação”,
explica. Em conseqüência disso, a partir de
1961, a ARCO viu-se diante de um desafio:
como manter tamanha estrutura sem os benefícios do ente político? “Mas, o desafio
foi vencido e, hoje, a nossa entidade tem
uma vida financeira estável graças a participação dos seus associados. Da mesma
forma, a ARCO distingui-se pelo quadro
de Inspetores Técnicos especializados e
colocados à disposição dos produtores”,
define.
A grande maioria da população aprendeu a conhecer a figura de Paixão Côrtes,
apenas pela sua ligação com as tradições
gaúchas. E isso se evidencia quando sabemos que ele serviu de modelo para a construção da famosa estátua do Laçador, vista
quando chegamos em Porto Alegre, via BR
116. Mas, a sua história é muito maior, com
episódios tão curiosos que merecem uma
biografia completa. Para quem não sabe, o
seu nome completo é João Carlos D’Ávila
Paixão Côrtes e ele também é engenheiro
agrônomo, discípulo e substituto direto de
Geraldo Velloso Nunes Vieira na Secretaria
da Agricultura do Estado do Rio Grande do
Sul.
Natural de Santana do Livramento, Paixão conta que a sua vinda para a capital
gaúcha se deveu a transferência de seu pai,
o engenheiro agrônomo Júlio Paixão Côrtes, com a finalidade de continuar prestando serviços ao Estado. Na ocasião, com 17
anos, Paixão se dispôs a participar de um
curso técnico de Classificadores de Lã. “Foi
neste momento que comecei a trabalhar ao
lado de Geraldo, figura maior da ovinocultura brasileira, em seu projeto pioneiro
de organização do Serviço de Ovinotecnia
que, entre outros objetivos, pretendia classificar as lãs produzidas no RS”. Durante
a entrevista concedida, ele se mostrou um
interlocutor entusiasmado, mas ao se referir a Geraldo Vieira, Paixão não conteve a
emoção ao lembrar do falecimento recente
do seu amigo de longa data.
Momento oportuno
Segundo Paixão, a Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (ARCO), surgiu
num momento bastante oportuno, “inicialmente os produtores não possuíam representação coletiva, havia apenas as cooperativas. Essas entidades, no entanto, não se
enquadrariam nos projetos de controle da
verminose, sarna e da qualidade da lã, criados por Geraldo. Em conseqüência disso,
e pela necessidade da ação de técnicos que
pudessem acompanhar diretamente nas
estâncias a atividade zootécnica, a ARCO
foi se tornando uma realidade”. Ele define
aquele momento como, “uma comunhão
de interesses”. Por um lado os criadores
ganhavam com o advento da Associação
e, por outro, os projetos de qualificação
dos rebanhos pode ser colocado em prática
com mais eficiência.
Foto: Divulgação
Paixão – agrônomo
empreendedor
e estimulante
Inicialmente, a Secretaria da Agricultura colocou técnicos à disposição da ARCO.
“Assim começou um processo de mapeamento dos rebanhos no RS, permitindo
um trabalho progressivo em áreas que, até
então, não haviam recebido nenhum tipo
de incentivo para a criação de ovinos”, esclarece. Com o tempo e, como se sabe, a
Associação foi treinando um contingente
expressivo de técnicos, hoje num total de
108 profissionais, atuando em todo o território brasileiro.
Prato cheio
Outro episódio nascido da conjunção
dos esforços da ARCO e do então chefe do
Serviço de Zootecnia da Secretaria, Paixão
Côrtes, foi o incremento da produção de
carne ovina. “Até 1968, a carne era consumida exclusivamente pelos estancieiros
e pouco, ou quase nada, se conhecia sobre
os cortes especiais consumidos na Europa
e produzidos quase que exclusivamente, na
América do Sul, pelos argentinos”, informa. Criou-se, a partir daí, estações experimentais em algumas cidades do RS, onde
foram efetuadas inúmeras pesquisas, levando em conta a qualidade das pastagens
e as condições climáticas. Desta maneira,
foi possível classificar com maior segurança as raças específicas para cada tipo de
solo e clima, permitindo uma maior produtividade.
As múltiplas atividades exercidas por
Paixão Cortes faz dele uma personalidade
empreendedora e estimulante. Entre outras
contribuições para a ovinocultura brasileira, pode ser mencionada ainda a “Tosquia
Australiana”, técnica introduzida no Brasil por ele na década de 60 e que só agora,
através de incentivos federais e por meio
da Agência de Apoio ao Empreendedor e
Pequeno Empresário (Sebrae), ganha reconhecimento e aplicação pelas vantagens
econômicas. •
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Notícias do brete
ARCO perde um
de seus fundadores
Geraldo Velloso Nunes Vieira
Um dos mais importantes técnicos em ovinocultura do País,
Geraldo Velloso Nunes Vieira,
faleceu em 23 de maio, aos 97
anos. Engenheiro Agrônomo e
professor universitário, Geraldo
Nunes Vieira foi um dos mentores da criação da Associação
Rio-grandense de Criadores de
Ovinos, ARCO, hoje Associação
Brasileira de Criadores de Ovinos. Nascido em Pelotas no dia
22 de outubro de 1910, Geraldo
formou-se agrônomo em 1932
pela Faculdade de Agronomia
Eliseu Maciel (Faem/UFPel) e,
deste então, construiu uma carreira de contribuições valiosas
não só para a ovinocultura (sua
especialidade), como para todos
os segmentos da agropecuária
brasileira.
Em 1939, quando ocupava o
cargo de chefe do Serviço de Ovinotecnia da Secretaria da Agricultura do RS, Geraldo aproveitou a
1ª Exposição Estadual de Lãs, em
Uruguaiana, para divulgar as suas
idéias junto a um expressivo contingente de criadores de ovelhas.
Desse encontro nasceu a ARCO,
fundada em 18 de janeiro de
1942, completando portanto 66
anos em 2008. Segundo o presidente da entidade, Paulo Schwab,
é indiscutível a contribuição do
Geraldo para a ovinocultura gaúcha. “Só o fato de ele ter ajudado
na criação da nossa entidade, já
é marcante e deixará saudades”,
assinala Schwab. •
Foto: Divulgação ARCO Jornal
Diretoria da ARCO visita o SUL
Dar prosseguimento ao convênio firmado durante a Expoprado 2007, entre a ARCO e o
Secretariado Uruguaio da Lã, Sul,
foi objetivo da reunião realizada
dia 13 de maio, em Montevideo,
Uruguai. Conforme o presidente
da ARCO, Paulo Schwab, a idéia
de ir à instituição de pesquisa, um
dos mais reconhecidos na área de
ovinocultura, foi para conhecer
os trabalhos que eles já possuem
no setor. “Queremos implantar no
Brasil, uma certificação de rebanhos da lã fina e superfina. E sabemos que eles já realizaram experiências neste sentido. Vamos então
buscar o conhecimento deles para
não termos que trilhar caminhos já
Bem-estar animal: Mapa
vê modelo europeu
A UE, os EUA e o Japão já
estabeleceram normas rígidas
para o bem-estar animal. Essas regras valerão tanto para
os animais criados naqueles
países como para os produtos
da carne originados de outras
regiões fornecedoras. “Essa
é a razão de conhecermos
como estão sendo aplicadas
as regras. A partir daí, vamos
nos reunir permanentemente
com os representantes das diversas cadeias produtivas da
área animal para apresentar,
aos nossos clientes da União
Européia e de outros países, o
modelo brasileiro de regras de
bem-estar”, afirmou Portocarrero.
Devido ao seu clima favorável e ao espaço disponível para a criação, o Brasil é
um dos países que adota as
melhores práticas de criação
animal. Em abril último, Márcio Portocarrero participou de
uma conferência mundial, em
Bruxelas, na Bélgica, a convite do parlamento da União
Européia, onde o tema foram
as políticas de bem estar animal em todo o mundo. •
percorridos”, afirma. Schwab. Outro setor que vai servir de base na
troca de experiências é o de carne.
O Sul tem um trabalho em nível
de campo na produção de cordeiros pesados e aproveitamento de
animais com mais idades. “É um
mercado que precisamos explorar”, finaliza o dirigente da ARCO
que no final de junho voltou ao
SUL para fazer um curso de especialização no setor. •
Gressler, Araquen e Schwab com os diretores do SUL
RIPA pesquisa produtores de ovinos de São Paulo
A Rede de Inovação e Prospecção Tecnológica para o
Agronegócio (RIPA), coordenada pelo Instituto de Estudos
Avançados da USP em São
Carlos, realiza junto ao Sindicato Rural de São Carlos (SP)
um projeto que propõe oportunidades para a incorporação
das boas práticas agropecuárias
na produção de ovinos, identificar o estágio tecnológico e de
trabalho do produtor, propor
programas de treinamento e capacitação, bem como apontar
tecnologias e inovações viáveis
Fotos: Divulgação
O Ministério da Agricultura já trabalha na criação de um
modelo de bem-estar animal
para os diferentes sistemas de
produção do Brasil. Dentro
deste objetivo, o secretário de
Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa),
Márcio Portocarrero, esteve
em Madri, na Espanha, para
conhecer propriedades rurais
que já cumprem as regras de
bem-estar animal da União
Européia (UE).
Portocarrero particpou de
reuniões na sede do Ministério da Agricultura espanhol
e realizou visitas técnicas de
campo para verificar a fiscalização do governo espanhol
nas propriedades produtoras
de frangos de corte, postura,
suínos e nas fazendas produtoras de leite. O dirigente esteve acompanhado da fiscal
federal agropecuário responsável pelo bem-estar animal
no Mapa, Andrea Parrilla, e
da representante da União
Brasileira de Avicultura, Sulivam Alves.
Encontro Regional que aconteceu nos dias 26 e 27 de maio, em
Bagé, na sede da ARCO. O evento reuniu cerca de 20 inspetores
Promover a atualização do
seu grupo de Inspetores Técnicos que atuam no campo, junto
aos criadores, foi o objetivo do
do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina para debater temas
como Regulamento das Feiras e
Exposições, Rotinas de Registro
de Animais, Programa Cordeiro
de Qualidade e fazer inspeção
prática de campo. “Quisemos
dar continuidade ao trabalho que
iniciamos em novembro de 2007
quando fizemos um encontro
nacional, em São Paulo”, afirma
o presidente da entidade, Paulo
Schwab, acrescentando que em
breve outros encontros regionais
serão realizados. •
Foto: Gabriel Becco
Foto: Divulgação
ARCO promove encontro regional
de Inspetores Técnicos
Mário Ruggiero
ao setor. São Paulo possui o sétimo maior rebanho ovino do
Brasil, com cerca de 460 mil
cabeças (IBGE, 2006).
Mario Ruggiero é bancário aposentado que investe em
ovinos Santa Inês e Dorper há
dois anos, para corte e visando
à produção de matrizes. Ele utiliza o detector de prenhez, uma
tecnologia desenvolvida na
Embrapa. Ele possui 80 cabeças e está de olho na qualidade
dos ovinos, por isso investe em
alimentação.
A ex-professora e criadora
de ovinos Patrícia Nazzari está
no ramo há três anos e meio,
em São Carlos. Ela possui atualmente 500 cabeças, produz
reprodutores Santa Inês, além
de realizar cruzamento industrial de Santa Inês com Dorper
para corte. A tecnologia mais
usada em sua propriedade é o
ultra-som para detectar prenhez
e, mais recentemente, o acasa-
lamento por DNA para melhorar o rebanho.
O agente fiscal de rendas
aposentado Luiz Carlos Sanches Varella tornou-se produtor de ovinos há três anos. Ele
possui 270 cabeças em dez alqueires. Ele possui Santa Inês
para produzir matrizes, que
cruzadas com Texel garantem
a produção de cordeiros com
bom volume de carne. Seu objetivo é atingir as 400 matrizes,
capaz de gerar um volume que
vai garantir a rentabilidade do
seu estabelecimento. •
Patrícia Nazzari
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Notícias do brete
Hampshire Down realizou Exposição Nacional
A ABCOHD (Associação
Brasileira de Criadores de Ovinos Hampshire Down) realizou
entre os dia 28 de maio e 1º de
junho, junto a Fenasul. A Vª
Exposição Nacional de Ovinos
Hampshire Down. Conforme o
presidente da entidade, Wilson
Barbosa a iniciativa atingiu os
objetivos e reuniu animais e criadores de vários estados.
Machos PO
Grande campeão PO
Campeão Carneiro, Grande
Campeão: Tat 783 - Cabanha São
Caetano/Wilson Belloc Barbosa;
Reservado de Campeão Carneiro
Tat 38 Cabanha Figueira/Renê
Guedes Dal Piaz; Campeão Borrego 2 Dentes Tat 927 - Cabanha
São Caetano/Wilson Belloc Barbosa; Campeão Borrego Dente
de Leite e Reservado Grande
Campeão, Tat 2100 - Cabanha
Coqueiro/Aldear A. Antoniolli;
Reservado Campeão Borrego
Dente de Leite e 3º Melhor Macho, Tat 213 - Cabanha do Aranhão/Renato Guterres da Silva;
4º Melhor Macho, Tat 129 - Cabanha da Saudade/Mauro Duarte
Mabilde Silveira.
Fêmeas PO
Campeã Ovelha e Grande
Campeã, Tat 2017 - Granja Jacuí/Silvio Rosa de Souza; Reser-
Grande campeã PO
vada Campeã Ovelha e Reservada Grande Campeã, Tat 1997
- Granja Jacuí/Silvio Rosa de
Souza; Campeã Borrega e 3ª Melhor Fêmea, Tat: 2129 - Cabanha
Coqueiro/Aldear A. Antoniolli;
Reservada Campeã Borrega, Tat
112 - Cabanha da Saudade/Mauro Duarte Mabilde Silveira; 4ª
Melhor Fêmea, Tat 2027 - Granja Jacuí/Silvio Rosa de Souza. •
Cadeia produtiva de caprinos
e ovinos define ações para 2008
A inclusão da cadeia produtiva no Plano Nacional de
Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC) foi defendida pela Câmara Setorial da
Cadeia Produtiva de Caprinos
e Ovinos na primeira reunião
do ano, nesta terça-feira (15).
As principais ações para o setor de caprinos e ovinos em
2008 foram definidas no encontro.
O coordenador do PNCRC,
Leandro Feijó, acredita que a
inclusão do setor no plano é
necessária em função do crescimento mercado nacional e
internacional para caprinos e
ovinos. Ele recomendou o engajamento da cadeia produtiva
por considerar o PNCRC um
requisito para a venda no mercado externo. “Sem a ajuda do
setor produtivo, esse programa
não pode dar certo”, afirmou.
O Plano Nacional de Sanidade
de Caprinos e Ovinos (PNSCO), previsto para entrar em
vigor ainda este ano, também
foi discutido na reunião. Entre
as propostas do plano estão o
credenciamento de laboratórios, desenvolvimento de programas sanitários específicos,
cadastro de estabelecimentos e
treinamento para veterinários.
A agenda estratégica para
2008 do setor prevê a implementação do Programa Nacional de Sanidade dos Caprinos
e Ovinos. Deverá entrar em
vigor também o Programa
Nacional de Melhoramento
Genético e ações de pesquisa
e desenvolvimento, visando
tecnologias para a produção
de carne, leite, pele e lã de
qualidade. Dentro da proposta
de tornar o setor mais competitivo, figuram ações para um
estudo do complexo do agronegócio da caprinovinocultura
no País, a adequação e a equalização dos impostos estaduais
e federais e no âmbito do Mercosul e a criação de um programa nacional de capacitação
contínua para técnicos, produtores e trabalhadores rurais da
cadeia produtiva. Na reunião
de junho ficou definida uma
ação mais intensiva na questão
de melhoramento genético. •
Senar capacitará criadores de ovinos de leite em SC
Dois seminários para
elevar o nível de informação sobre a ovinocultura
de leite são o primeiro passo do programa do Serviço
Nacional de Aprendizagem
Rural (Senar), em convênio
com a Epagri e a Laticínios
Cedrense para capacitar os
produtores catarinenses. Segundo o superintendente do
Senar, Gilmar Zanluchi, o
órgão vai profissionalizar
os criadores interessados na
nova atividade em todas as
regiões do estado. Um seminário será realizado em
Chapecó, em junho, e outro
em São Miguel do Oeste,
em julho, cada um reunindo cerca de 100 criadores.
A segunda etapa consistirá
em cursos de formação profissional rural na área com
duração de 16 horas, ministrados pela médica veterinária Adriana Thiessen com
foco em produção, manejo e
sanidade. O mercado está pagando ao criador US$ 1 por
litro de leite de ovelha, um
valor estimulante de acordo
com Zanluchi. •
Campeões Texel da Fenasul
A Fenasul conheceu, ontem,
os grandes campeões Texel. A
Cabanha Surgida, de Rio Pardo,
conquistou o título entre os machos PO com o animal Surgida
400. O reservado é Capané 359,
da Cabanha dos Pinheiros, de
Cachoeira do Sul. Entre as fêmeas PO, destaque para Miolo
do Seival 372, da Cabanha Fortaleza do Seival, de Candiota. A
reservada é Surgida 255, também da Cabanha da Surgida.
A Cabanha Surgida, do cria-
Grande campeão
Fotos: Vilmar da Rosa/ARCO Jornal
Grande campeã
dor Erivon Silveira do Aragão
de Rio Pardo, RS, venceu o
Campeonato Progênie Pai com
os seguintes animais: Surgida
464 (F), Surgida 400 (M), Surgida 415 (M) e Surgida 441 (F),
todos filhos do carneiro São
Dionísio 103. A Diretoria da
Brastexel aprovou durante a Fenasul a realização da II Exposição Nacional do Texel na Feinco
2009, desta forma será enviada
correspondência à Aspaco, formalizando o interesse. •
Mercado de reprodutores
está aquecido
Os leilões de ovinos, principalmente das raças Dorper e
Santa Inês mostram que o mercado está aquecido. A conseqüência é sentida no mercado de
reprodutores e fêmeas de todas
as raças de carne, mesmo vendidas na porteira. Os machos
Dorper são comercializados
na média entre R$ 3,5 a 4 mil
e as fêmeas são negociadas a
R$ 5 mil. Já os animais sem
registro, mas são filhos de pais
PO, valem em torno de mil a
1,5 mil reais. E a meio sangue
Dorper, segundo o diretor da
Associação, Leandro Siqueira,
estão cotadas em R$ 500,00.
O presidente da Associação
de Criadores de Ovinos Texel,
Brastexel, Luiz Fernando Nunes, salienta que os carneiros
PO valem R$ 1.500,00 no mínimo, enquanto a ovelha PO
está cotada no mínimo em R$
1.200,00. “Animais rústicos
valem R$ 1 mil para machos
e R$ 800,00 para fêmeas”,
destaca. A raça Santa Inês tem
variações. Na região do Crato,
CE, o preço de um carneiro PO
Santa Inês tem média de R$
1.000,00. No Rio Grande do
Norte, os machos PO estão cotados na faixa de R$ 6 mil a R$
7 mil e as fêmeas R$ 5,5 mil. •
As receitas da
Confraria do Cordeiro
“Confraria do Cordeiro” é o
segundo livro do jornalista gaúcho Danilo Ucha com receitas
de carne de cordeiro. Além de
revelar o surgimento e principais
fatos da Confraria do Cordeiro,
Ucha conta a história da ovelha
no Rio Grande do Sul, desde os
tempos dos jesuítas, e apresenta
19 receitas dos confrades, entre
os quais está o presidente da Farsul, Carlos Sperotto. O livro custa R$ 30,00 e pode ser solicitado
à Editora Palomas, Porto Alegre,
RS - fone 51 3228.2900. •
9
jun-jul/08
Manejo e diagnóstico correto
reduzem perdas com a verminose
Reportagem
Por Luciana Radicione
Q
ponsável pelos maiores prejuízos aos animais, sendo o
principal causador da mortalidade por verminose no Brasil.
Alguns animais, no entanto,
podem não apresentar anemia, mas sim diarréia, que é
sinal da presença de vermes
como Trichostrongylus e/ou
Oesophagostomum.
Algumas práticas de manejo colaboram com o controle
da verminose, entre elas recomenda-se a rotação de pastagem, rotação pasto x cultura,
pastejo de ovinos consorciado com bovinos adultos e de
preferência de raças zebuínas
ou com eqüídeos, uso de forrageiras do gênero Panicum
(colonião, Aruana, Áries e
Tanzânia). Maior ingestão de
proteína na dieta também colabora para aumentar a resistência dos ovinos aos vermes.
Não colocar os animais em
potreiros contaminados é outra dica, uma vez que somente
5 % das larvas são ingeridas,
o restante permanece no ambiente. “Se o animal permanecer no mesmo lugar, se
Índices
de
reprodutividade
dependem
do
controle
da
verminose
dos
rebanhos
reinfectará”, alerta Mary Jane
Tweedie de Mattos-Gomes,
médica veterinária e professora da Faculdade de Veterinária
da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (Ufrgs).
O médico veterinário, inspetor de Registro da Associação Brasileira de Criadores de
Ovinos (ARCO) e técnico da
Associação dos Criadores de
Caprinos e Ovinos da Bahia
(Accoba), Misael Caldas Nascimento, explica que um bom
manejo nutricional é fundamental para reduzir os riscos
de infestação. Também recomenda que as vermifugações
sejam orientadas por veterinários através dos exames de
OPG (Contagem de ovos por
Grama de fezes), bem como
proceder à troca de pasto após
as vermifugações. “Deve-se
ainda manter os animais em
jejum antes da aplicação do
Foto: Divulgação
uando se fala em
prejuízos ao rebanho por verminose,
entenda-se redução dos índices reprodutivos (prolificidade, fertilidade, aumento do
intervalo entre partos, maior
idade a primeira cria, menor
taxa de desmame), queda da
qualidade do couro, não-aproveitamento das vísceras, alta
taxa de mortalidade e maior
tempo para atingir o peso de
abate ideal.
A contaminação ocorre
pela ingestão das pastagens,
já que as larvas infectantes
dos vermes se abrigam nas
folhas que são consumidas
pelos ovinos. “Praticamente
100% dos rebanhos brasileiros são contaminados com a
verminose. Temos que conviver com essa doença que só
afeta indivíduos suscetíveis”,
afirma a pesquisadora do Instituto de Zootecnia (IZ) de
Nova Odessa, SP, Cecília José
Veríssimo. Olho clínico sobre o rebanho é fundamental
para diagnosticar a presença
da enfermidade. De acordo
com a pesquisadora do IZ, os
animais sintomáticos podem
apresentar papeira (uma espécie de edema localizado abaixo da mandíbula), anemia e
condição corporal ruim (leiase emagrecimento). “Se for
um animal laneiro ele começa
a perder a lã, se for deslanado,
o pêlo fica quebradiço, sem
brilho e eriçado”, explica a
especialista.
Esses são os sintomas típicos causada pela hemoncose,
doença provocada pelo verme
Haemonchus, que surge com
grande freqüência e é o res-
Foto: Danilo Ucha/Divulgação
Uma doença nada silenciosa capaz de pôr em
risco a rentabilidade de um plantel de ovinos
merece atenção especial do criador que busca
sanidade e produtividade do rebanho.Aincidência
é geral e o controle depende de estratégias de
manejo que devem ser seguidas à risca. Estamos
falando da verminose, que gera dor de cabeça em
praticamente 100% das propriedades brasileiras
e é considerada como um dos grandes entraves à
ovinocultura. Conviver com essa realidade não
significa abdicar de técnicas eficazes de controle
Laboratório móvel para o diagnóstico da verminose
vermífugo, visando aumentar a superfície de contato da
droga com o parasito, mesmo
que o medicamento seja injetável”, adverte.
Até 2006, conta Nascimento, o governo do Estado da
Bahia mantinha um programa que beneficiava pequenos criadores de ovinos no
combate a diversos tipos de
enfermidades. O Cabra Forte
oferecia assistência-técnica e
levava conscientização sobre
a adoção de técnicas de manejo adequado com vistas ao
aumento da produtividade.
Entre as muitas ações desenvolvidas, uma especificamente era voltada ao combate
à verminose no rebanho ovino
e caprino. O trabalho era feito
com o auxílio de um veículo
que percorriam as propriedades para prestar assistência
aos produtores. A van, uma
espécie de laboratório móvel,
fazia o diagnóstico de verminose através do recolhimento
de fezes.
Diagnóstico
Outro cuidado que deve ser
tomado é quanto ao diagnóstico correto do tipo de verme
que será combatido, pois para
cada espécie existe um tratamento específico. “A primeira
providência é ter o diagnóstico em mãos feito através do
exame de fezes. Assim, haverá suporte para que o veterinário proceda ao tratamento,
que muitas vezes precisa ser
acompanhado pela aplicação
de vitaminas e ferro e com a
reposição das perdas fisiológicas causada pelo parasito”,
explica o veterinário da Bahia.
Segundo Nascimento, a coleta
das fezes deve ser feita diretamente do reto do animal, e
não no chão, porque estas já
poderão estar contaminadas.
Conhecer a eficácia do vermífugo que está se usando na
propriedade, através do teste
de redução do OPG é uma
prática altamente recomendável que poderia evitar um
descontrole na infestação.
“O teste é muito fácil de ser
realizado, mas o produtor deverá buscar um técnico que
disponha de microscópio para
a leitura do exame de OPG”,
lembra Cecília do Instituto de
Zootecnia. No dia em que o
produtor aplicar o vermífugo,
deve coletar as fezes de dez
animais. Dez dias depois, repete o procedimento com os
mesmos exemplares e para o
mesmo exame. “Com a média
OPG antes da aplicação e a
média após a aplicação, calcula-se a eficácia do vermífugo”, explica a especialista. O
cálculo a ser feito é o seguinte: média OPG depois / média
OPG antes x 100. A eficácia
deve ficar sempre acima de
90%, abaixo deste índice o
produtor já deve suspeitar que
possa estar ocorrendo a resistência dos vermes ao vermífugo utilizado.
>>
10
jun-jul/08
Reportagem
Q
Foto: Lisley Silvério/Divulgação
Resistência aos vermífugos
exige atenção redobrada uem mexe com ovinos
já deve ter percebido
que alguns medicamentos, utilizados em larga escala, já
não apresentam mais os efeitos
desejados no controle da verminose. Isso não significa que
as fórmulas dos remédios são
menos eficazes, mas sim sugere
uma maior resistência genética
dos vermes aos produtos que são
utilizados para seu controle. Em
função dessa resistência que os
vermes adquirem (que leva de
dois a quatro anos) é que alguns
especialistas estão preconizando
o uso mínimo de vermífugos em
uma propriedade.
De acordo com Cecília Veríssimo, do IZ de Nova Odessa, o
método mais atual de controle
da verminose é o seletivo (ou
método Famacha), no qual o
produtor somente vai tratar os
animais que se encontram com
a mucosa ocular clara (rosada,
pré-anêmica ou anêmica). Também pode-se efetuar um controle
estratégico em determinadas categorias. “Neste caso são as ovelhas recém-paridas, cordeiros no
dia do desmame, ovelhas no dia
do desmame, ovelhas e reprodutores imediatamente antes da estação de monta, ovelhas no terço
final da gestação (principalmente
as lanadas), borregas em crescimento e reprodutores após a estação de monta”, enumera. Já os
cordeiros, categoria mais suscetível à verminose, deve ser acabado em confinamento, a fim de
evitar perdas com a verminose.
O gerente de Produto Ovinos
e Caprinos do IRFA Química e
Trocar de
pasto
facilita
o controle
Biotecnologia Industrial, Eduardo Amato Bernhard, explica
que a resistência é do parasito, e
não do rebanho. Segundo ele, o
uso indiscriminado ou de forma
errada de vários vermífugos fez
com que os parasitos criassem
resistência a diversos princípios
ativos importantes. “O uso correto destes produtos, na dose e
na freqüência recomendada, são
importantes para evitar o problema”. Amato ressalta que a
resistência pode ser observada
através da realização de Exame
de OPG.
O IRFA possui atualmente
seis produtos estratégicos para
o controle da verminose. São à
base de albendazole com cobalto, closantel, closantel e albendazole, fosfato e levamisole,
anti-helmíntico em pó de largo
espectro à base de febendazole
e um antiparasitário injetável à
base de triclorfon.
A empresa, de origem gaúcha e atualmente de capital espanhol, atua com técnicos a
campo, apoiando e orientando o
produtor, colhendo os resultados
através de exames parasitológicos de fezes (OPG). “Cada um
dos produtos tem uma diferente
forma de ação contra os vermes,
além de alguns serem mais específicos para o controle de alguns
parasitos, enquanto outros possuem um espectro de ação mais
amplo”, informa Amato. De
acordo com ele, os técnicos do
IRFA passam aos clientes todas
as informações necessárias para
reduzir as perdas com a verminose através de dosificações es-
tratégicas, rodízios de potreiros,
nutrição adequada, exames de
OPG, entre outras recomendações.
Outra empresa que vem investindo em soluções para a verminose é a Pfizer. Uma das principais armas da multinacional é
o antiparasitário de ação prolongada à base de doramectina, que
atua sobre bicheiras, carrapatos,
verminoses e bernes em ovinos,
bovinos e suínos, disponível no
mercado brasileiro desde 1993.
De acordo com Rodrigo Valarelli, gerente de Produtos Antiparasitários para Bovinos da Divisão de Saúde Animal da Pfizer,
o medicamento pode ser utilizado inclusive por recém-nascidos,
fêmeas prenhes e animais em
reprodução. A empresa oferece
também um anti-helmíntico de
largo espectro à base de albendazole micronizado e sulfato de
cobalto, com atividade vermicida, larvicida e ovicida. O produto é indicado para o controle e
tratamento de verminoses.
O uso adequado dos medicamentos pelos criadores, bem
como a prevenção e o controle de doenças, é preocupação
constante da empresa, que investe ainda em ações de educação continuada, com o objetivo
de levar conhecimento para o
campo. “Muitos produtores que
estão em fazendas distantes, por
exemplo, não tem como viajar
para centros de atualização. Então, levamos os principais especialistas das áreas para a zona
rural”, completa.
>>
Cecília: Eficiência no tratamento exige acompanhamento rigoroso
Controle efetivo da verminose*
1. Vermifugar todos os animais do rebanho, a partir de 30
dias de idade.
2. Tratar os animais à tardinha para que permaneçam presos na mangueira/aprisco durante as 12 horas seguintes.
3. No dia seguinte à vermifugação, os animais devem ser
transferidos para uma área onde não havia animais por pelo
menos um mês (pasto em descanso).
4. Varrer e desinfetar com cal virgem as instalações no
dia seguinte à vermifugação e periodicamente durante todo
o ano
5. Evitar alta lotação na pastagem
6. Mudar o vermífugo usado a cada ano, ou seja, sob
orientação do Técnico.
7. Utilizar a dose correta de acordo com a recomendação
do fabricante e segundo o peso vivo de cada animal.
8. Em áreas onde a utilização de cercas periféricas é limitada ou inexistente, promover campanhas de vermifugação
para tratar todos os animais criados em comum nas mesmas
datas.
9. Comedouros, bebedouros e saleiros não podem receber
fezes dos animais, devendo ficar
bem protegidos.
10. As fezes retiradas nas limpezas devem ser acumuladas
num local previamente determinando (esterqueira), ao qual
os animais não tenham acesso.
11. Vermifugar as ovelhas 24 horas após parição.
12. Introdução de animais na propriedade deve ser feita
após vermifugação e 12 horas de espera, totalizando 24 horas de jejum, e não colocá-los juntos com o rebanho da propriedade. Só após trinta dias de observação.
13. Animais no primeiro terço da gestação (nos primeiros
50 dias de prenhez) não devem ser vermifugados.
14. No caso de mudanças de animais de piquetes, deve-se
tentar combinar com o calendário de vermifugação.
15. A pastagem contaminada, onde os animais estavam antes da vermifugação, pode ser usada com bovinos, que ajudarão a descontaminar a pastagem.
16. Propriedades que tenham pequenas divisões (piquetes)
podem ser manejadas com pastejos curtos de 10 a 14 dias
com superlotação na área e descansos duradouros por piquete
17. Verificar se a pistola dosificadora esta bem calibrada.
18. Os animais devem ser bem alimentados e mineralizados durante todo o ano.
* Além das medicações anti-helmínticas recomendadas.
Fonte: Misael Nascimento (Arco/Accoba)
11
jun-jul/08
S
e alguém ainda duvida
da resistência dos parasitos aos princípios
ativos dos medicamentos disponíveis no mercado para a
verminose, precisa ler o relato
de Álvaro Lima da Silva, proprietário da Fazenda São José,
em Santa Vitória do Palmar.
Com um rebanho formado por
mil cabeças, o produtor começou a perceber a ineficiência
dos remédios no combate à
verminose. “Sempre procurei
alterar o princípio ativo fornecido ao rebanho, mas visualmente era possível perceber
que os animais não evoluíam
o esperado”, conta Lima.
Após a morte de alguns
animais, o criador arregaçou
as mangas e buscou auxílio
de profissionais para detectar
o problema e conhecer as causas da resistência dos vermes
aos medicamentos. Primeiro
coletou as fezes e o resultado
foi positivo para infestação.
“Mas o exame não indicava
o verme que estava atuando”,
conta. A falta de resultados
mais objetivos o levou a procurar no Chuí o veterinário
uruguaio Carlos Aristimunho,
para quem relatou o problema
na sua propriedade.
Interessado pela causa,
Aristimunho trouxe para
Santa Vitória do Palmar um
professor de parasitologia da
Faculdade de Veterinária de
Montevidéu, para fazer o estudo in loco. Após o relato
do problema na Fazenda São
José, o trabalho para descobrir
os motivos da resistência foi
colocado em prática. Foram
selecionados animais e divididos em 13 lotes, cada um
contendo 12 cabeças. Um lote
ficou de testemunho, os demais 12, foram identificados
com números e marcações em
partes do corpo, e receberam
produtos com princípios ativos diferentes.
As fezes dos 13 lotes foram coletadas e enviadas a
Montevidéu, e após 10 dias,
nova remessa foi enviada ao
país vizinho. A análise constatou que dos 12 princípios
ativos aplicados nos animais,
apenas três surtiram efeito no
rebanho, ou seja, apresentaram eficiência no controle da
verminose. “Constatamos que
a infestação era por haemonchus”, afirma o criador. Na
etapa seguinte, os lotes foram
dosados com os princípios
ativos mais eficientes, o que
resultou no controle geral da
verminose na fazenda.
Por considerar a resistência
aos medicamentos um assunto preocupante e recorrente, o
titular da São José comunicou
à cadeia produtiva de ovinos e
caprinos, em Brasília, e chamou a atenção para a gravidade do problema. Embora a
análise tenha feita in loco, ele
acredita que uma força-tarefa
entre criadores e laboratórios
precisa ser criada para que os
rebanhos sejam acompanhados e monitorados constantemente através do exame de
fezes.
“Sei que a coleta não é fácil
e não é cômoda. Mas também
não adianta utilizar diversos
princípios ativos e não resolver o problema. Já uma coleta acompanhada reduz custos
e tem resultados”, afirma o
criador que realiza a vermifugação de seu rebanho até oito
Foto: Danilo Ucha/Divulgação
O princípio ativo na ponta do lápis
Claudino
Loro
mantém
controle
periódico
vezes por ano. “Esse é o número mínimo para quem quer
evitar a contaminação. Mas
tem que usar a medicação certa”, frisa.
Outro bom exemplo no
controle da doença vem de
Santana do Livramento. Lá,
o criador Claudino Loro, da
Estância São José e Cabanha
Santa Orfila, realiza o exame
de fezes a cada 30 dias. De um
lote de mil animais, ele tira 10
para realizar a coleta. Se antes a resistência dos parasitos
aos medicamentos era um
problema, hoje a situação está
totalmente controlada com a
aplicação combinada de dois
medicamentos: closantel oral,
dose de 1ml para cada 10 qui-
los de peso vivo + 1cm de
ivermectina subcutâneo.
Loro, que também é veterinário, conta que mantém a
doença sob controle do rebanho – hoje com cerca de 4.500
cabeças com predomínio da
raça Texel -, há cerca de cinco
anos. O trabalho é realizado
por ele mesmo em laboratório instalado na propriedade,
sempre com 10 amostras de
lotes diferentes, onde realiza a
contagem de ovos e parte para
a larvoscopia, que permite um
diagnóstico correto do parasito. “O bom é fazer sempre o
exame, caso contrário correse o risco de o criador perder
dinheiro com o uso de remédios ineficientes”, afirma. •
12
Reportagem
Foto: Confer Alimentos/Divulgação
Ovelha também dá
leite!
Leite
diferenciado:
produtos de
qualidade
especial
Isso mesmo. Embora um bom número de pessoas
ainda desconheça, ou não dê a esta atividade
a importância que ela comprovadamente vem
conquistando no Brasil, a ovelha, além da lã e da
carne, também é uma excelente produtora de leite.
E com esse leite diferenciado é produzida uma
infinidade de derivados. São produtos requintados,
que se destinam a um novo e crescente mercado
que já chama a atenção das pessoas. E entre os
produtos que são fabricados com o leite produzido
especialmente pelos ovinos da raça Lacaune,
estão os queijos Roquefort, Feta, Serra da Estrela,
Pecorinos, ricota fresca e iogurtes, entre outros.
temente toda uma região onde
outras culturas agropecuárias
eram bastatante difíceis de serem trabalhadas como atividade
economicamente rentável.
Tri-Cross e TE
“Hoje contamos com aproximadamente 1.200 animais na
Dedo Verde. E o interesse crescente pela atividade, que vem
sendo evidenciado por outros
Classes A e B são o alvo dos produtores de laticínios
Foto: Alexandre Amaral
N
o Brasil, o grande destaque tanto na criação de
ovinos especializados
na produção de leite, como também no fabrico dos produtos derivados, é para a Cabanha Dedo
Verde, propriedade do médico e
criador gaúcho Paulo Aguinsky,
que trabalha juntamente com o
filho, Márcio, em Viamão, RS.
A Dedo Verde começou a
trabalhar com a raça ovina Lacaune em 1992, quando trouxe
os primeiros exemplares diretamente da França. E já no ano
seguinte (1993), o estabelecimento realizou a importação de
mais 50 matrizes e reprodutores,
além de sêmen de carneiros provados/testados.
No mundo
A produção de leite de ovelhas é uma aitvidade muito importante e bastante lucrativa em
toda região do Mediterrâneo e
do Mar Negro. Na França, a raça
Lacaune é a maior daquele país
e conseguiu desenvolver for-
produtores nas mais variadas
regiões do Brasil, está a nos
garantir que esta é uma cultura
que veio para ficar”, sintetiza
Márcio Aguinsky.
Segundo ele, além da exploração do leite propriamente dita,
a raça também tem sido utilizada
com muito sucesso em programas de tri-cross, para produção
de cordeiros, além da produção
de ventres usados como receptoras em programas de transferência de embriões (TE).
Profundo conhecedor da atividade, Márcio fala com desenvoltura sobre todos os aspectos
desta criação. Ele revela, por
exemplo, que os investimentos
neste segmento variam conforme a dimensão que se deseja
dar ao projeto. “Hoje encontramos desde pequenos produtores, que se interessam pelo
fabrico artesanal de queijos
finos, até projetos que visam a
formação de bacias leiteiras de
Lacaune: raça francesa com alta produtividade e lucros
maior porte”, diz.
Receitas mais
rápidas
As receitas desta atividade
provém da venda de leite e/ou
de seus derivados, que atingem
bons preços no mercado. Também se originam da venda de
matrizes leiteiras e de cordeiros
para abate, sem falar da comercialização das ovelhas de descarte.
“Este retorno dos investimentos é relativamente rápido em
comparação ao proporcionado
pela bovinocultura, por exemplo”, sinaliza Márcio Aguinsky.
Ele explica que o ciclo produtivo
da ovelha é significativamente
mais curto e a ovelha apresenta
também uma excelente produtividade, respondendo de forma
mais pontual.
Carne e couro
O experiente criador gaúcho lembra igualmente que os
ganhos nesta atividade não ficam restritos somente ao leite
e à produção de seus derivados.
Ele destaca que a qualidade da
carne na raça Lacaune é excepcional e o ganho de peso de
cordeiros, mesmo desmamados precocemente, é bastante
similar ao das raças de carne.
Aguinski também aponta outro
sub-produto de ótima qualidade: o couro. “Ele tem alta resistência e elasticidade, podendo
ser utilizado para uma variada
gama de atrativos e confecções
de produtos”, define.
Alvo é classes A e B
Atualmente os mercados
formados pelas classes A e B
são os alvos principais dos produtos confeccionados a partir
do leite de ovelhas. “Restaurantes diferenciados – especialmente os mais requintados, delicatessens e mercados
de melhor padrão são os locais
onde os derivados de leite de
ovelha são mais buscados e
consumidos”, indica Márcio
Aguinsky. •
Foto: Futura RS/Divulgação
jun-jul/08
13
fev-mar/08
O assunto interessou?
Você quer criar e produzir
leite e derivados?
lhoramento de tamanho e conformação oriundo da heterose.
Na raça pura
Em se tratando de raça pura,
o criador garante que obtém
machos com carcaças pesando entre 17 e 19 kg e 15 a 17
kg para as fêmeas aos 110 dias
de idade. São animais desmamados de 23 a 30 dias após o
parto. A carne possui cor clara,
com bom marmoreio e sabor
muito suave e atraente ao paladar do consumidor mais exigente.
Manejo de tambo
Na produção de leite, o volume diário varia conforme o
estágio da lactação. Conforme
Aguinsky, normalmente inicia
com médias de mais de 3 litros
ao dia em boas ovelhas, mas
deve ser avaliada a lactação
total, que é em média de 280
litros em 170 dias de ordenha,
fora o período amamentação.
E é no manejo que as diferenças são realmente marcantes. “O modo de trabalhar com
as ovelhas leiteiras se aproxima mais do manejo de vacas
de leite do que de ovinos carne
ou lã”, diz o criador. Existem
várias especificidades bastante
particulares da ovelha de leite,
sobretudo no importante setor
da alimentação. Mas normalmente se trabalha em regime
intensivo ou semi-intensivo,
diz.
Inseminação domina
“Em nosso rebanho, hoje,
utilizamos Inseminação Artificial (IA) em mais de 95% dos
animais”, sai dizendo Márcio
Aguinsky. Para ele, o uso de
inseminação acelera tremendamente o progresso genético,
tanto em raça pura, mas principalmente em cruzamentos.
“Agindo assim, temos uma
otimização do aproveitamento dos carneiros melhoradores,
elevando desta forma a sua
descendência”, aponta.
A IA também aumenta a
prolificidade do rebanho, com
o uso de sincronização de cio.
E também é importante na organização do manejo geral dos
Seleção
do
rebanho
garante
produtos
de
alta
qualidade
ciclos de produção da propriedade.
“Atualmente temos utilizado também a transferência de
embriões, objetivando aumentar a descendência de matrizes
de genética superior”, sinaliza
o criador.
Demanda por reprodutores
Bastante satisfeito com os
resultados da opção que fez,
pelos ovinos Lacaune e pela
produção de leite e derivados,
Mário Aguinsky, com otimismo, revela que especialmente
nos últimos quatro anos houve um incremento significativo da demanda por matrizes
e reprodutores para as diferentes finalidades de criação
e produção proporcionadas
pela raça.
“Acreditamos que a qualidade da raça Lacaune como
um todo e a possibilidade de
diversificação da ovinocultura, são os fatores predominantes para este aumento
progressivo da demanda. Isso
nos alegra bastante, pois verificamos que não se trata de
modismo, mas sim de pessoas
que têm testado a raça e verificado o ótimo retorno e desempenho que sua utilização
proporciona”, sintetiza. •
A ordenha, do balde à sofisticação tecnológica
A exemplo do que ocorre com os bovinos,
também nos ovinos, desde a otimização da
produção, passando por aspectos como sanidade e bem-estar animal, uma boa estrutura
e tecnologia para a coleta do leite são fundamentais. Do tradicional balde ao pé, até os
modernos sistemas rotativos de ordenha, são
várias as opções disponíveis ao produtor.
Segundo Alexandre Toloi, Gerente Regional
SP e Norte do Paraná da empresa WestfaliaSurge, os cuidados destinados ao sistema de
ordenha de ovinos, bovinos, caprinos ou eqüídeos são os mesmos. E dependem do número
de horas trabalhados, com cada equipamento
tendo suas próprias recomendações de manutenção.
Os custos para a implantação – diz Alexandre – variam com o tamanho e o grau de sofisticação. Um equipamento para ordenhar uma
pequena propriedade custa em torno de R$ 6
mil a R$ 7 mil, atendendo a cerca de 20 a 30
animais em lactação. “Em São Paulo temos
um equipamento bastante tecnificado dentro
da UNESP – no campus de Botucatu – canalizado com 10 postos de ordenha, que é modelo
aos produtores”, assegura o gerente.
Com algumas adaptações, é possível o
aproveitamento da instalação de ordenha para
ovinos para uso em bovinos ou vice-versa. As
diferenças são o conjunto de ordenha, o nível
de vácuo de trabalho e a relação de pulsação,
porém os equipamentos são os mesmos, somente precisam ser adequados às necessidades da espécie a ser ordenhada.
Foto: Divulgação
P
ois saiba que para começar nesta atividade
não é preciso montar,
logo de repente, um plantel selecionado e formado somente
por exemplares de raça pura.
Um novo criador pode muito
bem começar seu rebanho por
absorção, o que torna mais fácil o ingresso neste segmento,
ainda novo no Brasil.
“Normalmente indicamos
a absorção com a utilização
de machos selecionados para
a produção de matrizes comerciais, uma vez que esta é
a forma mais econômica de se
obter boas ovelhas de leite”,
ensina Márcio Aguinsky.
Os cruzamentos
Ele observa que alguns
criadores optam por fêmeas já
cruzadas ou puras de origem.
“Isto, de um lado dá maior
velocidade ao projeto de produção de leite. Mas o investimento é maior”, ressalta.
O criador insiste que, quando procurado, o que normalmente recomenda é o uso de
carneiros de origem comprovada para os cruzamentos e a
não a utilização de reprodutores cruza. É que neste caso, segundo indica, a agregação de
melhoramento da capacidade
de produção leiteira é bastante
duvidosa, apesar da boa aparência dos machos oriundos
de cruzamento de absorção.
“Estes machos devem, isto
sim, ser destinados ao abate”,
sentencia.
Aguinsky revela que na Cabanha Dedo Verde, tem sido
utilizados machos da raça Lacaune sobre fêmeas em base
de raças de carne, para a produção de F1 e a utilização de
uma segunda raça de carne
em cima desta fêmea no cruzamento terminal. “Os resultados são mesmo excelentes”,
afirma. Ele observa que agindo desta forma, é possível a
obtenção de um incremento
significativo do ganho de peso
dos cordeiros, resultado da
melhor capacidade leiteira da
F1 Lacaune, além de um me-
Foto: Futura RS/Divulgação
Estrutura tecnológica é fundamental
O técnico da WestfaliaSurge aponta um
equipamento topo de linha de sua empresa,
com o qual o produtor consegue realizar uma
coleta de leite totalmente racional, utilizando um produto fisiologicamente apropriado
e confortável aos animais. “Basta girar levemente o copo da teteira para acionar ou cortar o vácuo. Inclusive, em caso de queda do
conjunto de ordenha, um sistema de válvulas
garante o corte do vácuo de forma instantânea”, argumenta.
Via de regra, o ideal é que o produtor busque orientação técnica, visando investir num
sistema de ordenha capaz de atender as exigências de sua propriedade, proporcionando
agilidade, qualidade, higiene e, principalmente, bem-estar aos animais e a garantia de que
o mercado consumirá um produto que, desde
a sua coleta, foi tratado com extremo cuidado
e rigor. •
14
jun-jul/08
Pesquisa
Novas tecnologias a serviço de todos
Foto: Divulgação
Por Luciana Radicione
Tornar a ovinocultura mais competitiva
de Norte a Sul do País tem sido o desafio da
pesquisa científica no Brasil. Ao longo dos anos,
diversas tecnologias e soluções para o rebanho
foram despejadas aos criadores e muitas já estão
sendo colocadas em prática. Mas nem todos
conhecem, na prática, os benefícios que uma
boa pesquisa pode levar ao campo, tanto que
alguns projetos já disponíveis aos produtores
ainda não são de conhecimento da maioria.
A
Embrapa, maior empresa de pesquisa agropecuária do País, possui
duas unidades que atuam diretamente no desenvolvimento
de soluções e inovações para o
rebanho ovino. Localizadas em
Bagé, RS, e em Sobral, CE, as
unidades mantém pesquisadores atuantes que se debruçam
para colocar no mercado tecnologias de baixo custo que resultam em melhorias ao rebanho.
Uma delas, criada pela Embrapa Caprinos em parceria
com a Embrapa Instrumentação
Agropecuária, é o detector de
prenhez por ultra-som, equipamento portátil que pode ser levado a qualquer parte do campo
sem a necessidade de qualquer
infra-estrutura, inclusive de
energia elétrica. De acordo com
o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Caprinos, Evandro Vasconcelos de
Holanda, o equipamento realiza
em 30 dias o que um tradicional
faz em 25 dias (de prenhez). Só
que a novidade custa 100 vezes
menos que o modelo tradicional (ultra-som por imagem).
O equipamento DPPR 80A,
fabricado e comercializado pela
Microem Produtos Eletrônicos
Ltda, foi desenvolvido a partir
de uma demanda da Associação Paulista de Caprinocultores
(Capripaulo), que sentiu a necessidade de colocar no mercado um modelo simples, de baixo custo e de fácil manuseio,
que facilitasse o diagnóstico de
prenhez em cabras.
Holanda explica que o funcionamento do equipamento se
baseia no efeito Doppler das
ondas contínuas, que se refletem nas artérias, veias, paredes,
válvulas e cavidades cardíacas,
e também no fluxo sanguíneo.
Em 30 dias é possível detectar
a prenhez em ovelhas, através
dos batimentos cardíacos fetais, que são facilmente reconhecíveis por serem muito rápidos (de 160 a 200 batimentos
por minuto). Além de detectar
a prenhez, o equipamento serve
também para acompanhar a vitalidade do feto.
Melhoramento genético
Outro trabalho desenvolvido pela unidade da Embrapa
de Sobral é o Programa de
Melhoramento Genético de
Caprinos e Ovinos (Genecoc),
que possibilita a produção de
carne e de peles por meio da
assessoria genética a rebanhos
selecionadores. Uma de suas
metas é a avaliação de reprodutores, matrizes e seus produtos
para características produtivas
e reprodutivas, com o objetivo
de alcançar uma maior produção de carne por hectare, em
determinado período e com
custos reduzidos.
Atualmente o programa
realiza uma criteriosa escrituração zootécnica de rebanhos
no Rio Grande do Sul, Ceará,
Bahia, Goiás, Paraná, Piauí e
Sergipe. “O controle de informações atinge 25.178 animais
de 44 rebanhos”, informa Holanda. Deste total, 11.024 se
referem a ovinos da raça Santa
Inês. Segundo ele, somente
em registros de pesagem, o
Genecoc conta com 113.383
informações. A escrituração
zootécnica é realizada por
meio de um software em rede,
via internet.
“Com o programa, o criador vai ter um resultado sobre
as características mais produtivas, o desempenho de cada
animal”, informa o chefe de
P& D da Embrapa Caprinos.
O criador também pode escolher um índice de seleção de
acordo com os seus critérios,
que resultará em melhores reprodutores com as características desejadas, conforme os
indicativos econômicos de sua
região. Além das avaliações
genéticas, o Genecoc é responsável pelo armazenamento
dos dados nos computadores
da Embrapa Caprinos, o que
garante sigilo tanto sobre os
dados quanto sobre as informações obtidas. O controle do
acesso é limitado e exclusivo
com o login e a senha de cada
rebanho.
SAPI Ovinos
Depois do sucesso da implantação do Sistema de Produção Integrada no ramo da
fruticultura, chegou a vez da
ovinocultura se beneficiar
das diretrizes do programa. O
Sistema Agropecuário de Produção Integrada (SAPI) vem
sendo implantado de formal
gradual e estruturado junto ao
segmento de ovinos. O processo básico para o SAPI de ovinos é amparado em uma gestão participativa de empresas
públicas e privadas. Boas práticas agropecuárias, boas práticas de fabricação e de higiene
Projetos em andamento
- Detector de prenhez portátil DPPR 80ª
- GENECOC – Programa de Melhoramento Genético de
Caprinos e Ovinos
- SAPI Ovinos – Programa Agropecuário de Produção
Integrada
Informações Embrapa Caprinos – (88) 3112-7400
www.npc.embrapa.br
- Laboratório de Análise de Carnes
- Milheto como alternativa de pasto no verão
Informações Embrapa Pecuária Sul - (53) 32428499
Detector de prenhez portátil em uso durante exposição
estão sendo disponibilizadas
por meio de palestras e cursos
com o objetivo de elevar os
padrões de qualidade, segurança e competitividade dos
produtos e derivados da cadeia
da ovinocultura. Evandro de
Holanda explica que para se
tornar viável é necessário que
as normas que estabelecem
padrões de produção devem
ser adotadas por pólos produtivos e não individualmente,
mas sempre de forma voluntária. O objetivo principal do
programa é fazer com que os
criadores obtenham e comercializem produtos seguros, livres de perigos biológicos, de
resíduos químicos e físicos e
com melhor qualidade. “Esse
é o típico programa economicamente viável, socialmente
justo e ambientalmente correto”, explica o pesquisador.
Laboratório de carnes
Na Embrapa Pecuária Sul
dois projetos de pesquisa voltados à ovinocultura prometem
soluções e renda para o produtor. O primeiro, ainda em fase
de montagem, é um laboratório de carnes, que futuramente
permitirá um melhor acompanhamento das pesquisas realizadas com carcaças de ovinos
e de bovinos. “Hoje a demanda
por carne de qualidade e por
preços é muito grande”, afirma o pesquisador da área de
Produção Animal da unidade
da Embrapa de Bagé, Sérgio
Gonzaga. Segundo ele, a estrutura, que deve ficar pronta em
2009, irá possibilitar a análise
laboratorial e sensorial de cortes de carnes, por meio de uma
equipe de avaliadores que vão
determinar o tipo de produto
mais viável a ser produzido e
colocado do mercado. “A qualidade da carcaça será determinada a partir da relação osso,
músculo e gordura, e a pesquisa oferecerá resultados aplicáveis em toda a cadeia produtiva”, explica Gonzaga. Além
do laboratório de análise, futuramente a unidade Pecuária
Sul vai sediar um abatedouro
experimental que se somará às
atividades do desenvolvidas
pelo laboratório.
Na área de nutrição animal,
a Embrapa Pecuária Sul também disponibilizou recentemente aos criadores de ovinos
uma pesquisa que revela a eficiência do cultivo de milheto
no verão. "Normalmente, os
trabalhos com pastagem cultivada para a terminação de cordeiros abordam a utilização no
período de inverno / início de
primavera, para abate dos animais no final de ano. O enfoque na utilização de pastagem
cultivada de verão, no caso o
milheto, justificou-se para que
tenhamos oportunidade de terminação de cordeiros em época alternativa, no caso o outono, utilizando para este fim
aqueles animais nascidos no
tarde e que originalmente seriam sacrificados como borregão perto de 1,0 ano de idade.
No sistema, conseguemse incrementos de peso vivo
e terminação até os 150 dias,
produzindo então carcaças de
boa qualidade com melhor remuneração, visto que a oferta
neste período é escassa. •
15
jun-jul/08
Reportagem
Ovinocultura no MS
tem muito para crescer
A ovinocultura vive um processo de expansão em Mato Grosso do
Sul, estado que tem todas as condições, como espaço e clima, para ser
um dos maiores produtores brasileiros de cordeiros. Porém, alguns
gargalos têm sido fatores limitantes para essa expansão: o principal
deles é a entrada, em condições fiscais totalmente favoráveis, de carcaças
de ovinos do Uruguai - via Mercosul - o que faz com que a carne vinda
de fora chegue ao consumidor com preço muito menor do que o que
é pago pela carne produzida pelos ovinocultores sul-mato-grossenses.
Por Maurício Hugo *
A
entrada de animais do
Rio Grande do Sul tem
representado fator positivo para a melhoria da qualidade do rebanho de MS. Com
um rebanho de pouco menos de
800 mil cabeças - não existem
dados oficiais sobre o tamanho do rebanho - e envolvendo
aproximadamente 300 criadores
vinculados à Associação SulMato-Grossense de Criadores
de Ovinos, Asmaco, o presidente da entidade que representa os
ovinocultores no Estado, Jorge
Tupirajá, é criador de bovinos,
principalmente, e de ovinos, e
vê na ovinocultura do MS uma
atividade crescente, que está
se consolidando gradualmente.
Tupirajá acrescenta ainda que
são várias as raças que formam
o rebanho ovino sul-mato-grossense. Entre as principais para
cruzamento, por importância,
estão: a Texel, e a Suffolk, além
da Ile de France, a Dorper e a
Hampshire Down. Mas há grande quantidade de Pool Dorset,
Bergamácia, Santa Inês, White
Dorper e de uma espécie nativa
do Mato Grosso do Sul, que teria se formado especialmente no
Pantanal Sul-Mato-Grossense,
conhecida como Nativa, muito
embora não seja reconhecida
ainda como raça.
O presidente da Asmaco cita
como ponto positivo a existência de um moderno frigorífico,
com SIF, específico para abate
de ovinos, localizado em Campo Grande. “Essa indústria, porém, não consegue funcionar em
toda a sua capacidade pela concorrência desleal de abatedouros clandestinos que, por funcionarem na ilegalidade e não
pagarem impostos, têm condições de oferecer aos produtores
um preço um pouco melhor do
que o praticado pela indústrias,
prejudicando assim o mercado”,
ressalta.
Apesar disso, há sinais de
melhora: no último dia 19 de
junho, chegou a Campo Grande
caminhão procedente de Franca,
São Paulo, com 155 animais de
uma propriedade de Ivan Vieira.
Conforme informações da diretoria do frigorífico, apesar de
uma distância superior a 900 km
entre Franca e Campo Grande,
o ovinocultor paulista decidiu
pagar o frete e encaminhar os
animais para abate na Capital de
Mato Grosso do Sul. “Ele prestigiou nossa indústria certamente porque o nosso mercado deve
estar melhor do que o de São
Paulo”, confidenciou fonte da
indústria. Segundo essa fonte,
foi pago R$ 85 pela arroba dos
machos e R$ 75 pelas fêmeas.
Fomento
A ovinocultura em Mato
Grosso do Sul ainda funciona
de uma forma pouco organizada. No Governo anterior, do exgovernador petista José Orcírio
Miranda dos Santos, o Zeca do
Verônica
Guglielmi, do
Sebrae/MS
e Inspetora
Técnica
da ARCO
PT, a atividade ganhou mais
apoio, uma vez que surgiu como
uma boa opção para os assentamentos da reforma agrária. No
entanto, a atual administração
do PMDB, não vê a ovinocultura
como prioridade, embora apóie
de forma mais tímida a atividade. Isto é possível ver nos projetos e planos que apresentam.
Conforme a secretária Tereza
Cristina Corrêa da Costa Dias,
do Desenvolvimento Agrário,
Produção, Indústria, Comércio
e do Turismo (Seprotur), a Seprotur elabora, executa e avalia
as diferentes políticas públicas
voltadas para o desenvolvimento da ovinocaprinocultura por
meio das proposições apresentadas pela Câmara Setorial da
Ovinocaprinocultura de MS,
que desde sua criação no ano de
2003, tem como objetivo organizar a cadeia produtiva dentro
de uma mesma linha de ações.
Conforme a secretária, na
intenção de desenvolver a pecuária, o Governo Estadual
instituiu através do Decreto n°
11.176 de 11/04/03, o Programa de Avanços na Pecuária de
Fotos: Divulgação
Tereza Cristina da Costa Dias
Mato Grosso do Sul – Proape.
Neste Programa, a parte relativa à ovinocaprinocultura foi
denominada de “Subprograma
de Apoio à Criação de Ovinos
e Caprinos de Qualidade e Conformidade” através da Resolução Conjunta Serc/Seprotur n°
032 de 16/06/03, objetivando
estimular os produtores pecuários do Estado à exploração, de
forma sustentável, da ovinocaprinocultura. Através de ações
multiinstitucionais e multidisciplinares, a Seprotur, via Câmara
Setorial, vem atingindo seu objetivo maior: o de implantação e
condução de projetos estaduais
de expansão e consolidação da
ovinocaprinocultura, com a participação de interessados de todos os segmentos dessa cadeia
de produção, atendendo ao significativo aumento da demanda
por informações sobre essa atividade.
Entre eles, Tereza da Costa
Dias enumera os Arranjos Produtivos Locais, os quais já estão em funcionamento em três
regiões, reunindo a cadeia produtiva, o Centro Tecnológico de
Ovinocultura (CTO), localizado
na Fazenda Escola da Universidade para o Desenvolvimento do
Estado e da Região do Pantanal
(Uniderp), em Campo Grande,
MS, com toda a infra-estrutura
necessária para o desenvolvimento de pesquisas e difusão
de tecnologias. E o terceiro é
o Projeto Troca de Ovinos, que
atualmente vem sendo desenvolvido através de uma parceria
público privada, firmada entre a
Seprotur e a Fundação Manoel
de Barros (FMB).
Por fim, o Projeto Troca de
Ovinos, que tem como objetivos
principais estimular, acompanhar e promover a ovinocultura
no Estado de Mato Grosso do
Sul. Atualmente, está implantado em Campo Grande, Terenos
e Rochedo atendendo 10 produtores e ainda no primeiro semestre de 2008 será expandido
para o município de São Gabriel
do Oeste, sendo implantado em
cinco propriedades rurais distribuídas pelo município. “Essas
propriedades devem funcionar
como pólos difusores da atividade no Estado o que proporcionará a disseminação de técnicas
de produção de ovinos para
toda sua região. Para isso, está
prevista a realização de dias de
campo, visitações, cursos de capacitação, entre outros”, explica
a secretária.
Outras ações
O Sebrae no entanto, com
o programa Aprisco - Apoio a
Programas Regionais Integrados e Sustentáveis da Cadeia
da Ovinocultura, desenvolvido
atualmente em cinco municípios pólos, iniciou um processo produtivo mais organizado
e desenvolvido não apenas com
qualidade técnica apurada, mas
também sob condições de periódicas avaliações e cuidados
visando o aprimoramento da
atividade e, principalmente, o
preparo dos produtores e seus
empregados para o desenvolvimento da ovinocultura.
E uma grande novidade,
inédita em praticamente todo
o País e que começa a ser posta em prática dentro do projeto Aprisco é a classificação de
carcaça de ovinos vivos, que
segundo a médica veterinária
realizada por meio da ultrassonografia do olho de lombo dos
cordeiros. Segundo informou
a médica-veterinária Verônica
Guglielmi, gestora do programa Aprisco, do Sebrae/MS,
a instituição está trabalhando
para introduzir em todos os
projetos desenvolvidos no Estado, esta nova tecnologia nunca antes aplicada em ovinos. A
técnica deve ser utilizada para
orientação visando cruzamentos eficientes que tratam melhor eficácia na produção de
carne, atingindo-se melhores
índices de marmoreio, maciez
e suculência. Em conjunto
com o frigorífico JS Ovinos,
um restaurante especializado
em carnes de Campo Grande,
já manifestou interesse em adquirir essa carne melhorada. •
* Jornalista
Especial para ARCO Jornal
16
jun-jul/08
Inseminação artificial cresce no País
Reportagem
A técnica é a mais utilizada para novos rebanhos e por aqueles criadores
que buscam a melhoria genética em maior escala e com menor tempo
Por Nelson Moreira
H
á cerca de três ou
quatro anos o uso
da tecnologia de
inseminação artificial começou a ter uma grande
expansão no País, principalmente a partir da entrada de novos criadores
e investidores em ovinocultura, o que aconteceu
mais fortemente no estado de São Paulo. O objetivo principal, neste caso,
é poder utilizar em maior
escala, genética de alta excelência sem os custos de
aquisição e manutenção
de reprodutores, dentro da
propriedade. Até porque,
conforme os especialistas
no assunto, para cada 100
ventres são necessários
3 ou 4 machos, enquanto
que utilizando o sêmen de
um carneiro é possível inseminar 2 a 3 mil ovelhas.
É interessante mencionar que as pesquisas para
utilização desta técnica nos
rebanhos ovinos datam do
início do século 20. Conforme consta foi Ivanov,
um russo, em 1901, que
realizou a primeira inseminação em ovinos. Estes
trabalhos serviram de base
para que outros pesquisadores continuassem a busca por soluções para esta
questão o que levou ao
desenvolvimento da vagina artificial, por Kusenov
e do emprego de seringas
para injeção de microdoses de sêmen, chegando
ao lançamento das bases
teóricas para a diluição do
sêmen por Bonadonna em
1937 e depois com a aplicação de um eletro-ejaculador, por Gunn em 1936.
A partir daí as pesquisas
foram desenvolvidas no
sentido de aperfeiçoar os
equipamentos – instrumental e instalações - para
o uso total da técnica.
Conforme o médico veterinário e especialista em
inseminação artificial, diretor da CORT Genética,
Antonio Cabistani, essa
prática poderá ser realizada através de três diferentes técnicas: a Inseminação Vaginal, na qual o
inseminador deposita o
sêmen dentro da vagina
da ovelha, próximo ou diretamente na abertura da
cérvix, com o uso de uma
Carneiro Santa Inês em coleta de sêmen
Fotos: Divulgação
Veterinária Letícia Pfitscher utiliza esta técnica, que permite reduzir custos com reprodutores
pistola de inseminação; a
Inseminação Transcervical, na qual haverá a penetração do canal cervical da
fêmea com o uso de uma
pipeta especial e a deposição do sêmen será dentro
da cérvix ou na entrada
do útero; e finalmente a
Inseminação Laparoscópica Intra-uterina, na qual
o sêmen é depositado diretamente no interior dos
cornos uterinos e que deve
ser realizada somente por
um médico veterinário,
com o uso de um laparoscópio.
Cabistani afirma que
ultimamente surgiu a possibilidade de inseminação
com sêmen congelado via
transcervical, mas ela é
viável somente para algumas raças. Em outras
seus resultados são muito variáveis. “Em ovinos
o processo tem características muito específicas. Dependendo da raça
muda a conformação do
cérvix, dificultando a passagem da pipeta de inseminação, o que acontece
geralmente com as raças
de origem européias”, assinala o veterinário. Um
tema que é muito comum
entre os criadores é sobre
a questão de custo benefício. A veterinária Letícia
Pfitscher, especialista em
inseminação artificial por
laparoscopia e em transferência de embriões afirma
que essa é uma das perguntas mais questionadas
pelos produtores quando
o assunto é inseminação
artificial ou transferência
de embriões. Segundo ela
é possível encontrar diferentes respostas em diversos trabalhos científicos.
A inseminação vaginal é
a técnica mais fácil e econômica de ser utilizada,
seguida da inseminação
transcervical, porém a que
apresenta melhores resul-
tados é a inseminação laparoscópica intra-uterina.
“Particularmente, não
acho que existam índices
normais e anormais, existem sim diferentes situações que irão influenciar
diretamente nos resultados
finais”, diz. Entre elas é
possível citar: os animais
utilizados, a condição nutricional e sanitária, o manejo, tanto antes, quanto
depois da inseminação,
o ambiente, a qualidade,
concentração e forma de
utilização do sêmen, que
pode ser fresco ou congelado e o inseminador, que
apesar de ser apenas uma
das peças chave para um
bom resultado, é também
o responsável por instruir
o produtor corretamente para que o conjunto de
aspectos citados anteriormente seja trabalhado de
maneira adequada, garantindo assim um melhor re>>
sultado final”.
17
jun-jul/08
Planejamento:
o segredo do sucesso
Além disto, conforme
Letícia é preciso ressaltar
que tudo exige planejamento. Não se pode decidir de
uma hora para a outra que
vai implantar a inseminação na propriedade e sair
fazendo. “Não é um processo simples assim. É preciso fazer análise de todo o
rebanho e das condições de
infra-estrutura, para ver o
que é necessário mudar ou
o que pode ser mantido”,
ressalta.
O criador paulista, proprietário da Cabanha MB
Dorper, de Pindamonhangaba, Marcos Barbosa,
concorda que é necessário
mudar as coisas na propriedade. Segundo diz, requer
uma mão de obra compromissada com os resultados
e responsável para atender
ao protocolo. Ele complementa dizendo que é necessário treinar os funcionários
porque senão os resultados
serão frustrantes.
Barbosa afirma que começou a utilizar a IA no seu
rebanho de ovinos, no ano
de 2000 devido ao inicio
das transferências de embriões o que, segundo Barbosa, é fundamental. “Para
quem quer ter estações de
monta bem definidas e ter
poucos e bons reprodutores
acredito ser uma boa alternativa. Um ponto nega-
tivo, no nosso caso, é que
a taxa de concepção acho
ainda baixa em relação à
monta natural. O rebanho
da MB Dorper é composto por 120 matrizes Dorper
PO, 150 matrizes registradas de cruzamento absorvente e 300 ventres comerciais. O criador diz também
que em, todo o processo é
importante utilizar somente reprodutores provados
“e isto não significa ele ser
bonito ou vencedor de pista, o que vale é selecionar
vendo a sua produção”, assinala.
A diretora da Top in
Life, empresa especializada em Inseminação Artificial em ovinos, Erika Morani, afirma que o mercado
para o setor está realmente
aquecido. “E não só em
rebanhos de seleção genética, mas também para os
comerciais, apesar destes
serem em menor número”,
ressalta. O criador e diretor
da Embriatec, Julio Motta, também especializado
neste segmento concorda
com Erika, acrescentando
que as raças Santa Inês e
Dorper são as que estão em
maior destaque no uso da
IA. “Depois temos as raças
de origem européias como
a Texel, Ile de France, Suffolk e Hamphire Down”,
conclui. •
S
Sincronizar para
facilitar o manejo
todas as fêmeas em reprodução, que teincronização de cio é uma técnica
nham condições corporal e nutricional
utilizada para facilitar o período de
adequadas para responder aos protocoencarneiramento ou inseminação, a
los. As fêmeas devem ser sincronizadas
fim também de ajudar no manejo na hora
para serem cobertas ou inseminadas no
de parição. Mas também pode ser utilizaprimeiro dia da estação reprodutiva, ou
da com estratégia para induzir ao cio em
ficarem gestantes o mais rápido possível
períodos em que isto normalmente não
a partir do momento da liberação para reacontece para ter cordeiros prontos ao
produção (determinado pela cabanha).
abate em épocas diferentes que normalAJ - Qual o custo por animal deste
mente o mercado oferta. Sobre esta asproduto? E o benefício?
sunto apresentamos uma entrevista com
Valarelli - O custo vaRodrigo
Valarelli,
Foto:
Divulgação
ria
de acordo com o progerente de produtos
tocolo utilizado. Indee desenvolvimento
pendentemente do cuslocal da Unidade de
to, o benefício é certo:
Negócios
Bovinos
maior produção de corda Divisão de Saúde
deiros (3 partos a cada 2
Animal da Pfizer.
anos), oferta constante
Arco Jornal de animais para o abaQuais são os produte, possibilidade de imtos que existem na
plementar ou aumentar
área de hormônios
o uso da inseminação
para reprodução de
artificial, melhoramento
ovinos?
genético, entre outros.
Valarelli - ExisAJ - É injetável?
tem algumas opões
Valarelli - O Eazino mercado. A Pfizer
Breed CIDR é de aplicapossui o Eazi-Breed
ção intravaginal. A PGF
CIDR, um disposie o ECG são injetáveis.
tivo intravaginal de
E qualquer propriedade
progesterona desenpode utilizar este mévolvido
especial- Rodrigo Valarelli da Pfizer
todo, porém é preciso
mente para ovinos e
orientação técnica para assegurar a correcaprinos. O Eazi-Breed é a base do prota execução da sincronização. Além disto
tocolo de sincronização de ovinos. Ouo recurso é aplicável em todas as raças.
tros hormônios, como a prostaglandina
AJ - Qual o cuidado necessário com
(PGF2α) e o ECG, também costumam
o animal, caso o criador opte por sincroser utilizados.
nização (melhorar manejo, melhor nutriAJ - Em relação à idade das fêmeas,
ção)?
quando se deve utilizar a sincronização
Valarelli - Independente do uso da
de cio? Quanto tempo antes do período
técnica é importante que o rebanho tenha
de monta ou da programação de insemicondições de manejo e nutrição adequanação?
das para que se obtenha bons resultados
Valarelli - A sincronização de cio ou
reprodutivos. O método é uma das tecovulação deve ser aplicada sempre que
nologias disponíveis atualmente para ause busca aumentar a eficiência reprodumento na produtividade. •
tiva ou produtiva. Pode ser utilizada em
18
jun-jul/08
Por Carlos José Hoff de Souza,
José Carlos Ferrugem Moraes
e Magda Vieira Benavides
A
mortalidade perinatal
de cordeiros ainda é um
dos grandes gargalos na
produção ovina em condições
extensivas de criação. Alguns
estudos apontam o complexo
inanição-exposição (inabilidade
de mamar acompanhada de frio
e/ou chuva) como responsável
por entre 40 e 80% das perdas de
cordeiros antes da assinalação.
Mesmo em rebanhos em bom
estado nutricional com escore
de condição corporal 3 (consulte Comunicado Técnico 57 da
Embrapa Pecuária Sul) e que
durante a parição são assistidos
diariamente (veja Comunicado
Técnico 59 da Embrapa Pecuária Sul) acontecem casos de cordeiros hipotérmicos (encarangados), em função das condições
climáticas adversas e variações
no parto, tais como: idade da
mãe, distocia e peso do cordeiro
ao nascer.
Um exemplo prático dos
efeitos de condições climáticas
adversas pode ser observado no
gráfico abaixo, onde as maiores mortalidades ocorreram em
dias com alta precipitação, baixas temperaturas e vento. Estes
dois últimos fatores são expressos como sensação térmica. As
correlações entre mortalidade /
precipitação e mortalidade/sensação térmica foram de 0,82 e
-0,47, respectivamente.
O procedimento a ser tomado
quando o pastor se depara com
um caso de hipotermia varia de
acordo com a condição e a idade
do cordeiro (Figura 1). Portanto
é importante que o pessoal que
vai atender o rebanho durante a
parição além de estar capacitado
para auxiliar os animais também
tenha disponível o material necessário para o auxílio.
Na Figura 1 é apresentado um
fluxograma que contribui para
Cuidados com cordeiros hipotérmicos
o diagnóstico e indica uma seqüência de procedimentos com
cordeiros encarangados. O ponto chave é o uso do termômetro
clínico retal, já que em função
da temperatura retal e da idade
do cordeiro será definido pelo
pessoal que assiste a parição o
que fazer em cada caso.
Quando o cordeiro tem baixa temperatura corporal, a regra
geral para ser usada na prática
é que: cordeiros mais velhos e
que não suportam o peso da cabeça devem receber uma injeção intraperitoneal de glicose a
20% antes de serem aquecidos;
cordeiros que ainda suportam o
peso da cabeça e que estão levemente hipotérmicos ou tem
menos de 5 horas de vida devem
receber alimentação por sonda
estomacal.
Quando for necessária a aplicação intraperitoneal de solução
injetável de glicose a 20%, esta
deve ser aplicada como está demonstrado na Figura 2 no volume de 10 ml para cada quilo de
cordeiro. Por exemplo, um cordeiro de 3,5 kg que foi encontrado encarangado, parido há mais
de 6 horas e que não consegue
agüentar o peso da cabeça, deve
receber uma injeção de 35 ml de
glicose a 20% antes de ser seco
e aquecido.
Quando for necessário utilizar a sonda estomacal (consulte Comunicado Técnico 59 da
Embrapa Pecuária Sul de como
usar) deve ser considerado a
idade do cordeiro, pois animais
com até um dia de vida e especialmente os com menos de
5 horas de vida devem receber
colostro (Figura 3). Para tanto é
importante que se crie um banco
de colostro congelado para atender estes animais. O colostro
para o banco deve ser colhido
de ovelhas que tenham perdido
seus cordeiros e das ovelhas que
pariram um só produto e que tenham produzido excedente de
colostro após atender sua cria.
Figura 1 Esquema para determinar o procedimento a ser tomado
quando for encontrado um cordeiro encarangado.
Outra alternativa é recolher o
colostro da própria mãe do cordeiro encarangado ou em casos
excepcionais pode ser usado colostro de vaca. Quando for usado colostro congelado, este deve
ser descongelado colocando o
frasco em um recipiente com
água fervendo, agitando periodicamente até que descongele e
que o colostro fique morno para
ser fornecido ao cordeiro. Não
descongelar em banho-maria no
fogão pois se o colostro passar
de 56 graus de temperatura os
anticorpos presentes serão inativados .
Lembrar que cada cordeiro
deve receber pelo menos 30 ml
por quilo de peso vivo nas primeiras 6 horas de vida, caso não
se tenha certeza que ele tenha
mamado esta quantidade, administrar para garantir a transferência de imunidade para o animal.
Após o atendimento o cordeiro deve retornar para sua mãe.
Entretanto, antes é importante se assegurar que ele está em
condições de mamar por conta
própria. As vezes o estado inicial do cordeiro é tão debilitado
que pode demorar até que este
tenha condições de mamar naturalmente e a ligação entre a mãe
e o cordeiro pode ficar comprometida. Portanto é importante
se assegurar que a ovelha ainda
aceita seu cordeiro, caso ela o
rejeite pode ser tentado a adoção do cordeiro, senão ele terá
que ser aleitado artificialmente.
Caso a opção seja por criar o
cordeiro guacho, fornecer pelo
menos 120 ml de leite de vaca
para cada quilo vivo de cordeiro
em pelo menos 3 mamadas diárias com intervalos regulares. O
uso de leite em pó para terneiros
não é recomendado devido ao
conteúdo de cobre destes sucedâneos do leite e que pode ser
tóxico para os cordeiros. Outro
fator a ser lembrado é que o leite de vaca não deve ser diluído
para ser oferecido aos cordeiros, inclusive o leite de ovelha é
mais concentrado que o de vaca
(tem pelo menos 100% a mais
de proteína e gordura).
No caso de cordeiros que
estão sendo aleitados artificialmente é interessante começar a
oferecer ração aos animais após
a primeira semana de vida. Oferecer ração para ovinos e que não
tenha nitrogênio não proteico
(uréia) como fonte de proteína,
no volume equivalente a 1% do
peso do cordeiro. Por exemplo,
um cordeiro com 5 quilos deve
receber diariamente 50g de concentrado, que deve trocado todos os dias mesmo que o animal
não tenha comido todo o volume
oferecido.
Conclusão
Estes procedimentos são úteis
para contribuir com a redução
da mortalidade perinatal de cordeiros fracos nascidos em condições ambientais adversas. Entretanto, por si só não garantem
a sobrevivência dos cordeiros,
que vai aumentando na medida
em que o pastor interage melhor
com as ovelhas e os cordeiros
recém-nascidos.
É importante ainda ressaltar
que a ocorrência de cordeiros
hipotérmicos deve ser a exceção
numa temporada de parição, pois
caso ocorram numa freqüência
acima de 10% é um indicativo
que existem problemas no manejo do rebanho de cria. A ênfase deve ser sempre na prevenção
para evitar que os cordeiros cheguem ao estado que necessitem
deste tipo de intervenção. •
Pesquisadores da Embrapa Pecuária Sul, BR 153 km 604, Caixa
Postal 242, CEP 96401-970, Bagé,
RS. [email protected]
(Texto produzido originalmente como Circular Técnica da Embrapa Pecuária Sul)
Fotos: Divulgação
Artigo
Lista do material mínimo para auxílio aos
cordeiros hipotérmicos
• Termômetro clínico
• Seringa de plástico descartável de 60 ml
• Agulhas 40 x 12
• Solução injetável de glicose 20% (frascos de 200 ml)
• Sonda estomacal (adaptar a sonda retal de uso humano número 20)
• Frascos para colheita e armazenagem de colostro ou leite
• Toalhas para secagem dos cordeiros
• Fonte de calor para aquecer os cordeiros
• Balança de gancho para pesar até 10 quilos
Figura 3 Cordeiro recém-nascido recebendo,
por sonda estomacal, colostro descongelado
Figura 2 Posição do aplicador
e local onde deve ser aplicado
a injeção intraperitoneal de glicose 20%
19
jun-jul/08
Notícias do SRGO
Autorização de abertura do Livro de Registro
Genealógico de Ovinos da raça White Dorper
Os ovinos Dorper (cabeça
preta) e os White Dorper (totalmente brancos) eram registrados em um mesmo Livro
de Registros. Por solicitação
da Associação Brasileira de
Criadores de Dorper e a aprovação do Conselho Deliberativo Técnico da ARCO, a
Superintendência do SRGO
encaminhou pedido ao MAPA
para abertura do Livro de
Registro Genealógico para a
Raça White Dorper, no que
foi prontamente atendido.
A Divisão de Promoção e
Cadastro, da CoordenaçãoGeral de Sistema de Produção e Rastreabilidade, do
Departamento de Sistemas de
Produção e Sustentabilidade,
da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo, deste Ministério
autoriza ao Serviço de Registro Genealógico da Associação Brasileira de Criadores
de Ovinos a abertura do Livro
de Registro para os ovinos
“White Dorper”, em cumprimento a Portaria SNAP nº. 47
de 1987.
Esclarecimento: Em cumprimento a Portaria SNAP
nº. 47 de 1987, White Dorper
passa a ser registrado em Livro de Registro Especifico,
ocorrendo o mesmo em relação a Raça Dorper.
Para cumprir a autoriza-
ção do MAPA solicitamos aos
criadores de White Dorper,
que envie para a ARCO os
certificados de registros dos
mesmo, para que possamos
acrescentar a denominação
de raça White Dorper, regis-
tra los em livro especifico e
fazer as devidas atualizações
no site da ARCO. Solicitamos que toda a documentação
para registro enviada a ARCO
(notificações de cobertura,
nascimento e transplante de
embriões) sejam exclusivas e
especificas para a raça White
Dorper. Pedimos aos criadores que enviem os registros
para atualização, em correspondências registradas, o
mais breve possível. •
Nova redação no Artigo 40
Em reunião do Conselho Deliberativo Técnico foi aprovado e regulamentado parágrafo primeiro do Artigo 40 com a seguinte redação:
§1º - A Inspeção de Confirmação será efetuada com a idade mínima de oito meses e máxima
de três anos. Será obrigatória a apresentação da Carta de Aptos à confirmação, pelo criador. •
Novos Formulários para TE e AI
Estamos disponibilizando
os formulários próprios para
a Transferência de Embriões
e Inseminação Artificial e
ressaltamos que, a partir de
dezembro 2008, não serão
mais aceitas notificação de
cobertura e relatórios de IA
e TE antigos. •
Conselho Técnico da ARCO aprova exigência de DNA para ovinos
A exigência de comprovação de parentesco por teste de
DNA foi aprovada na última
reunião do Conselho Técnico
da ARCO. A determinação é
válida para 3% dos ovinos
nascidos de monta natural,
de 5% dos nascidos de IA e
de 100% para os originados
de embriões transplantados.
Conforme ressaltou o presidente do Conselho, Araquen
Dutra Telles, a nova regulamentação só passa a vigorar depois de aprovado pelo
MAPA e publicado no Diário Oficial da União. Telles
explicou ainda que a ARCO
é quem vai estabelecer o
procedimento de coleta, que
será feita pelos inspetores
técnicos. “Os exames terão
que ser feitos por laboratório
credenciado pelo MAPA”,
salienta o dirigente.
Telles complementa dizendo que a comprovação é
para animais registrados (os
que tem pai e mãe conhecidos) e as despesas serão pagas pelos proprietários sendo que os percentuais serão
aplicados a cada cabanha,
independentemente. “Dentro de cada rebanho registrado os inspetores técnicos
indicarão os animais a serem
testados”, afirma ele, acrescentando que os percentuais
também dizem respeito a
cada raça independentemente;
Também aprovado que a
ARCO providenciará e fará
um arquivo de amostras
de material para exame de
DNA de todos os carneiros
(100%) usados para produzir animais que serão registrados, ou seja, de todos os
pais de cabanha usados em
rebanhos registrados. A análise efetiva (pelo laboratório) destas amostras poderá
ser feita mediante iniciativa
do registro segundo entenda
ser necessário, ou seja, em
casos de suspeita de erro ou
falsificação de paternidade.
Segundo Telles o que foi
aprovado obedece a portaria do MAPA que autoriza o
Conselho Deliberativo Técnico da ARCO a regulamentar qualquer assunto omisso
legalmente, em relação ao
registro genealógico. “Mas
este controle de parentesco
já está sendo rigorosamente
aplicado a outras espécies,
com o aval do MAPA”, ressalta o presidente do CDT. •
20
jun-jul/08

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