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Transcrição

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AESABESP
Associação dos Engenheiros da Sabesp
Ano IX - Edição 29 - Abril/Maio/Junho 2008
Entrevista
Everton de Oliveira, presidente da ABAS,
afirma que todos nós bebemos água subterrânea,
mesmo que sem conhecimento.
XIX Encontro Técnico AESabesp
Fenasan 2008
O maior evento técnico e mercadológico
do setor de saneamento teve sua
área aumentada em 20%.
Águas
subterrâneas
Uma alternativa de abastecimento abaixo da superfície da Terra
Opinião
Lançamento
A era da água
Regulação
| 2008dos Serviços
Abril | maio | junho
de Água e Esgoto
“Causos” Do Saneamento
A história da coruja
E mais...
Artigos| técnicos
Saneas
1
Visão de mercado
2 | Saneas
Abril | maio | junho | 2008
Abril | maio | junho | 2008
Saneas | 3
Índice
expediente
Saneas é uma publicação técnica bimestral da Associação
dos Engenheiros da Sabesp
DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente - Luiz Yukishigue Narimatsu
Vice-Presidente - Pérsio Faulim de Menezes
1º Secretário - Nizar Qbar
2º Secretário - Ivo Nicolielo Antunes Junior
1º Tesoureiro - Luciomar Santos Werneck
2º Tesoureiro - Nélson Luiz Stábile
DIRETORIA ADJUNTA
Diretor de Marketing - Carlos Alberto de Carvalho
Diretor Cultural - Olavo Alberto Prates Sachs
Diretor de Esportes - Gilberto Margarido Bonifácio
Diretor de Pólos - José Carlos Vilela
Diretora Social - Cecília Takahashi Votta
Diretor Técnico - Choji Ohara
papel essencial das
6 Oáguas
subterrâneas
matéria tema
Entrevista
18 Everton de Oliveira
Opinião
20 A era da água
Especial
21 Fenasan se destaca como o maior evento do mercado
de saneamento em 2008
Artigos técnicos
29 Otimização da exploração de poços no aquífero
fissurado de Lins
33 Desafios do abastecimento
35 Terrenos calcários: áreas de risco geológico para a
engenharia e para o meio ambiente
CONSELHO DELIBERATIVO
Aram Kemechian, Carlos Alberto de Carvalho, Choji Ohara,
Gert Wolgang Kaminski, Gilberto Margarido Bonifácio,
Helieder Rosa Zanelli, José Carlos Vilela, Ivan Norberto
Borghi, Luis Américo Magri, Marcos Clébio de Paula, Nélson
César Menetti, Olavo Alberto Prates Sachs, Ovanir Marchenta
Filho, Sérgio Eduardo Nadur e Valter Katsume Hiraichi
CONSELHO FISCAL
José Marcio Carioca, Gilberto Alves Martins e Paulo
Eugênio de Carvalho Corrêa
Pólos da Região Metropolitana de São Paulo - RMSP
Coordenador - Aram Kemechian
Costa Carvalho e Centro - Maria Aparecida S.P. dos Santos
Leste - Luis Eduardo Pires Regadas
Norte - Oswaldo de Oliveira Vieira
Oeste - Evandro Nunes de Oliveira
Ponte Pequena - Mercedino Carneiro Filho
Sul - Paulo Ivan Morelli Fransceschi
Pólos AESABESP Regionais
Coordenador - Helieder Rosa Zanelli
Baixada Santista - Ovanir Marchenta Filho
Botucatu - Osvaldo Ribeiro Júnior
Franca - Marcos Marcelino de Andrade Cason
Itapetininga - Rubens Calazans Filho
Lins - Marco Aurélio Saraiva Chakur
Presidente Prudente - Robinson José de Oliveira Patricio
Vale do Paraíba - José Galvão F. Rangel de Carvalho
CONSELHO EDITORIAL - Jornal AESabesp
Sonia Regina Rodrigues (Coordenadora)
FUNDO EDITORIAL
Silvana de Almeida Nogueira (Coordenadora)
Antonio Soares Pereto, Dione Mari Morita, Eliana Kitahara,
Francisca Adalgisa da Silva, Jairo Tardelli Filho, José Antonio
de Oliveira Jesus, Luiz Narimatsu, Maria Lúcia da Silva
Andrade, Milton Tsutiya, Miriam Moreira Bocchiglieri e Sonia
Maria Nogueira e Silva.
Coordenador do site: Luis Américo Magri
Visão de mercado
JORNALISTA RESPONSÁVEL
Maria Lúcia da Silva Andrade - MTb.16081
Lançamento
PROJETO VISUAL GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Neopix Design
[email protected]
www.neopixdesign.com.br
38 O Saneamento através de Indicadores
40 Regulação dos Serviços de Água e Esgoto
“Causos” Do Saneamento
41 A história da coruja
Associação dos Engenheiros da Sabesp
Rua 13 de maio, 1642, casa 1
Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/SP
Fone: (11) 3284 6420 - 3263 0484
AESABESP Fax: (11) 3141 90 41
[email protected]
www.aesabesp.com.br
Associação dos Engenheiros da Sabesp
Palavra de amigo
42 O gaúcho que se “apaulistou”
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editorial
AESabesp sempre
presente no universo
das águas
Água é um bem precioso
para todo o Planeta, mas sobretudo para todos os profissionais que atuam no setor
de saneamento. Esta edição
da Revista Saneas contempla
o universo das águas subterrâneas, um recurso hídrico
muito importante para o abastecimento de grande parte do
território nacional, onde não
existe a opção da captação
de águas superficiais. É um
segmento que luta por uma
política para disciplinar a utilização/exploração destes
mananciais, conforme pronunciamento do nosso colega geólogo Everton de Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas - ABAS, em seu
pronunciamento na nossa seção “Ponto de Vista”.
Ainda para ressaltar o papel essencial dos mananciais subterrâneos no atual sistema de abastecimento e
até como uma garantia de abastecimento futuro, face
às preocupações com a escassez de água, consultamos
vários especialistas da área, que nos forneceram dados,
tanto para compor a extensa matéria de capa, sobre o
tema proposto, bem como interessantes trabalhos técnicos, voltados para esse vertente , como podemos verificar lendo os trabalhos do geólogo Paulo Guimarães
da empresa Águas do Amazonas e dos nossos colegas
sabespianos os geólogos Fernando Wili Bastos Franco
Filho e César Bianchi Neto. Por falar em geólogo sabespiano, aproveitamos esta edição para uma justa homenagem ao nosso ex-colega, aposentado e excelente
cantor de karaokê, o geólogo João Carlos Simanke
de Souza, mais conhecido como Souza, num texto
elaborado pelo nosso também colega Carlos Eduardo
Quaglia Giampá, mais conhecido como Giampá.
Na oportunidade, apresentamos nessa edição novos membros do Fundo Editorial da AESabesp, responsável pela Revista Saneas, coordenado do Eng. Silvana
de Almeida Nogueira e composto por profissionais de
saneamento de reconhecida competência e conhecimento no setor, como a Prof. Dione Mari Morita (Escola
Politécnica da USP), Prof. Milton Tsutiya (USP e ABES)
e Eng. Miriam Moreira Bocchiglieri (Sabesp), além dos
componentes do Fundo da gestão anterior. Mas os
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nomes citados já fizeram a sua 1ª reunião de equipe,
realizada em 7 de agosto, na qual estabeleceram, como
meta, resgatar para esta Revista um caráter de informação técnica, essencial e atualizada, que atenda o
interesse de todos os que atuam no universo do saneamento.
Uma das novidades que os membros do Fundo Editorial preparou para a Revista SANEAS é a seção “ Crônicas do Saneamento” onde teremos a oportunidade de
apresentar “ causos” , historias do setor vivenciado e
contado por nossos colegas que dará uma pitadinha
do humor nas nossas edições e quem sabe não descobrimos novos Luiz Fernando Veríssimo ou José Simão.
Aqueles que tiverem uma boa história para contar por
favor enviem suas contribuições. Nem que tenham que
constranger algum amigo, afinal é melhor aproveitar o
momento para contar uma boa historia e perder um
amigo, não é?
Esta edição também estará sendo distribuída na
realização do nosso XIX Encontro Técnico – Fenasan
2008. Estamos no “Ano Internacional do Saneamento”,
instituído pela Unesco, portanto, motivos não faltam
para comemorar esta data. E como uma entidade representativa e atuante do setor de saneamento ambiental, a Associação dos Engenheiros da Sabesp sente-se
orgu-lhosa em promover um evento dessa envergadura,
nesse momento tão propício.
Uma conjunção de fatores mostra que o crescimento do setor é uma realidade inequívoca, que tende a
ficar ainda maior para atender a população nas suas
necessidades mais vitais, contando com água de qualidade e esgotamento sanitário. Prova disso é mostrada
pelos números da Fenasan 2008 – que teve que aumentar a sua área em mais de 20%, para atender, até o
momento, a instalação de 146 expositores.
Em caráter simultâneo à Fenasan, a AESabesp também realizará nos auditórios do Expo Center Norte, o
seu XIX Encontro Técnico, que consiste na criação de
Fóruns de Tecnologia, com a apresentação de diversas
palestras técnicas, mesas redondas, com a participação
de profissionais reconhecidos nas esferas de políticas
públicas e acadêmicas e também no mercado empresarial.
Estaremos selecionando os melhores trabalhos
apresentados no Encontro Técnico deste ano e iremos
publicá-los nas próximas edições desta Revista.
Contamos com a presença de todos e agradecemos
a confiança creditada à Associação dos Engenheiros da
Sabesp.
Eng. Luiz Narimatsu
Presidente da AESabesp
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matéria tema
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Conheça mais sobre esse valioso recurso natural
matéria tema | Águas subterrâneas
Água subterrânea é toda a água que ocorre abaixo
da superfície da Terra, preenchendo os poros ou vazios
intergranulares das rochas sedimentares, ou as fraturas, falhas e fissuras das rochas compactas, e que
sendo submetida a duas forças (de adesão e de gravidade) desempenha um papel essencial na manutenção
da umidade do solo, do fluxo dos rios, lagos e brejos.
As águas subterrâneas cumprem uma fase do ciclo
hidrológico, uma vez que constituem uma parcela da
água precipitada.
Após a precipitação, parte das águas que atinge o
solo se infiltra e percola no interior do subsolo, durante períodos de tempo extremamente variáveis, decorrentes de muitos fatores:
- porosidade do subsolo: a presença de argila no solo
diminui sua permeabilidade, não permitindo uma
grande infiltração;
- cobertura vegetal: um solo coberto por vegetação é
mais permeável do que um solo desmatado;
- inclinação do terreno: em declividades acentuadas a
água corre mais rapidamente, diminuindo a possibilidade de infiltração;
- tipo de chuva: chuvas intensas saturam rapidamente
o solo, ao passo que chuvas finas e demoradas têm
mais tempo para se infiltrarem.
Durante a infiltração, uma parcela da água sob a
ação da força de adesão ou de capilaridade fica retida
nas regiões mais próximas da superfície do solo, constituindo a zona não saturada. Outra parcela, sob a
ação da gravidade, atinge as zonas mais profundas do
subsolo, constituindo a zona saturada.
Zona não saturada: também chamada de zona de
aeração ou vadosa, é a parte do solo que está parcialmente preenchida por água. Nesta zona, pequenas quantidades de água distribuem-se uniformemente, sendo
que as suas moléculas se aderem às superfícies dos grãos
do solo. Nesta zona ocorre o fenômeno da transpiração
pelas raízes das plantas, de filtração e de autodepuração
da água. Dentro desta zona encontra-se:
- Zona de umidade do solo: é a parte mais superficial,
onde a perda de água de adesão para a atmosfera é
intensa. Em alguns casos é muito grande a quantidade
de sais que se precipitam na superfície do solo após a
evaporação dessa água, dando origem a solos salinizados ou a crostas ferruginosas (lateríticas). Esta zona
serve de suporte fundamental da biomassa vegetal
natural ou cultivada da Terra e da interface atmosfera
/ litosfera.
- Zona intermediária: região compreendida entre a
zona de umidade do solo e da franja capilar, com umidade menor do que nesta última e maior do que a da
zona superficial do solo. Em áreas onde o nível freático
está próximo da superfície, a zona intermediária pode
não existir, pois a franja capilar atinge a superfície do
solo. São brejos e alagadiços, onde há uma intensa
evaporação da água subterrânea.
- Franja de capilaridade: é a região mais próxima ao
nível d’água do lençol freático, onde a umidade é maior
devido à presença da zona saturada logo abaixo.
Zona saturada: é a região abaixo da zona não
saturada onde os poros ou fraturas da rocha estão
totalmente preenchidos por água. As águas atingem
esta zona por gravidade, através dos poros ou fraturas
até alcançar uma profundidade limite, onde as rochas
estão tão saturadas que a água não pode penetrar
mais. Para que haja infiltração até a zona saturada, é
necessário primeiro satisfazer as necessidades da força
de adesão na zona não saturada. Nesta zona, a água
corresponde ao excedente de água da zona não saturada que se move em velocidades muito lentas (em/
dia), formando o manancial subterrâneo propriamente
dito. Uma parcela dessa água irá desaguar na superfície dos terrenos, formando as fontes, olhos de água. A
outra parcela desse fluxo subterrâneo forma o caudal
basal que deságua nos rios, perenizando-os durante os
períodos de estiagem, com uma contribuição multianual média da ordem de 13.000 km3/ano (PEIXOTO e
OORT, 1990, citado por REBOUÇAS, 1996), ou desagua
diretamente nos lagos e oceanos.
A superfície que separa a zona saturada da zona de
aeração é chamada de nível freático, ou seja, este nível
corresponde ao topo da zona saturada (IGM, 2001).
Dependendo das características climatológicas da
região ou do volume de precipitação e escoamento da
água, esse nível pode permanecer permanentemente a
grandes profundidades, ou se aproximar da superfície
horizontal do terreno, originando as zonas encharcadas ou pantanosas, ou convertendo-se em mananciais
(nascentes) quando se aproxima da superfície através
de um corte no terreno.
Caracterização esquemática das zonas não
saturada e saturada no subsolo
Fonte: Boscardin Borghetti et al. (2004)
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matéria tema | Águas subterrâneas
Ocorrência e Volume das Águas Subterrâneas
Assim como a distribuição das águas superficiais é muito variável, a das águas subterrâneas também é, uma vez que elas se inter-relacionam no ciclo
hidrológico e dependem das condições climatológicas.
Entretanto, as águas subterrâneas (10.360.230 km3)
são aproximadamente 100 vezes mais abundantes
que as águas superficiais dos rios e lagos (92.168 km3).
Embora elas encontrem-se armazenadas nos poros
e fissuras milimétricas das rochas, estas ocorrem em
grandes extensões, gerando grandes volumes de águas
subterrâneas na ordem de, aproximadamente, 23.400
km3, distribuídas em uma área aproximada de 134,8
milhões de km2 (SHIKWMANOV, 1998), constituindose em importantes reservas de água doce.
Alguns especialistas indicam que a quantidade de
água subterrânea pode chegar até 60 milhões de km3,
mas a sua ocorrência em grandes profundidades pode
impossibilitar seu uso. Por essa razão, a quantidade
passível de ser captada estaria a menos de 4.000 metros de profundidade, compreendendo cerca de 8 e 10
milhões de km3 (CEPIS, 2000), que, segundo Rebouças
et al. (2002), estaria assim distribuída: 65.000 km3
constituindo a umidade do solo; 4,2 milhões de km3
desde a zona não-saturada até 750 m de profundidade, e 5,3 milhões de km3 de 750 m até 4.000 m de
profundidade, constituindo o manancial subterrâneo.
Além disso, a quantidade de água capaz de ser armazenada pelas rochas e pelos materiais não consolidados em geral depende da porosidade dessas rochas,
que pode ser de até 45% (IGM, 2001), da comunicação
desses poros entre si ou da quantidade e tamanho das
aberturas de fraturas existentes.
No Brasil, as reservas de água subterrânea são estimadas em 112.000 km3 (112 trilhões de m3) e a contribuição multianual média à descarga dos rios é da
ordem de 2.400 km3 /ano (REBOUÇAS, 1988 citado em
MMA, 2003). Nem todas as formações geológicas possuem características hidrodinâmicas que possibilitem a
extração econômica de água subterrânea para atendimento de médias e grandes vazões pontuais. As vazões
já obtidas por poços variam, no Brasil, desde menos de
1 m3/h até mais de 1.000 m3/h (FUNDAJ, 2003).
Na Argentina, a contribuição multianual média
à descarga dos rios é da ordem de 128 km3/ano, no
Paraguai, de 41 km3/ano e no Uruguai, de 23 km3/ano
(FAO,2000).
Qualidade das Águas Subterrâneas
Durante o percurso no qual a água percola entre os
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poros do subsolo e das rochas, ocorre a depuração da
mesma através de uma série de processos físico-químicos (troca iônica, decaimento radioativo, remoção de
sólidos em suspensão, neutralização de pH em meio
poroso, entre outros) e bacteriológicos (eliminação de
microorganismos devido à ausência de nutrientes e
oxigênio que os viabilizem) que agindo sobre a água,
modificam as suas características adquiridas anteriormente, tornando-a particularmente mais adequada ao
consumo humano (SILVA, 2003).
Sendo assim, a composição química da água subterrânea é o resultado combinado da composição da
água que adentra o solo e da evolução química influenciada diretamente pelas litologias atravessadas,
sendo que o teor de substâncias dissolvidas nas águas
subterrâneas vai aumentando à medida que prossegue
no seu movimento (SMA, 2003).
As águas subterrâneas apresentam algumas propriedades que tornam o seu uso mais vantajoso em
relação ao das águas dos rios: são filtradas e purificadas naturalmente através da percolação, determinando excelente qualidade e dispensando tratamentos prévios; não ocupam espaço em superfície;
sofrem menor influência nas variações climáticas; são
passíveis de extração perto do local de uso; possuem
temperatura constante; têm maior quantidade de
reservas; necessitam de custos menores como fonte de
água; as suas reservas e captações não ocupam área
superficial; apresentam grande proteção contra agentes poluidores; o uso do recurso aumenta a reserva e
melhora a qualidade; possibilitam a implantação de
projetos de abastecimento à medida da necessidade
(WREGE,1997).
uso das Águas Subterrâneas
Segundo Leal (1999), a exploração de água subterrânea está condicionada a fatores quantitativos, qualitativos e econômicos:
- Quantidade: intimamente ligada à condutividade
hidráulica e ao coeficiente de armazenamento dos terrenos. Os aqüíferos têm diferentes taxas de recarga,
alguns deles se recuperam lentamente e em outros a
recuperação é mais regular;
- Qualidade: influenciada pela composição das rochas
e condições climáticas e de renovação das águas;
- Econômico: depende da profundidade do aqüífero e
das condições de bombeamento.
Contudo, o aproveitamento das águas subterrâneas data de tempos antigos e sua evolução tem
acompanhado a própria evolução da humanidade,
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matéria tema | Águas subterrâneas
furados no mundo nas três últimas décadas (UNESCO,
sendo que o seu crescente uso se deve ao melho1992 citado por REBOUÇAS et al., 2002), 100 milhões
ramento das técnicas de construção de poços e dos
dos quais nos Estados Unidos, onde são perfurados
métodos de bombeamento, permitindo a extração de
cerca de 400 mil poços por ano, com uma extração
água em volumes e profundidades cada vez maiores e
de mais de 120 bilhões de m3/ano, atendendo mais de
possibilitando o suprimento de água a cidades, indústrias, projetos de irrigação, etc.
70% do abastecimento público e das indústrias.
A relação, em termos de demanda quanto ao uso,
Na África do Norte, China, Índia, Estados Unidos
varia entre os países, e nestes, de região para região,
e Arábia Saudita, cerca de 160 bilhões de toneladas
constituindo o abastecimento público, de modo geral,
de água são retirados por ano e não se renovam. Essa
a maior demanda individual (PROASNE, 2003).
água daria para produzir comida suficiente para 480
Segundo Leal (1999), praticamente todos os países
milhões de pessoas por ano (RODRIGUES, 2000).
do mundo, desenvolvidos ou não, utilizam água subA expansão das terras agrícolas vem provocando
terrânea para suprir suas necessidades. Países como a
também o uso intensivo das águas subterrâneas, além
Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Holando uso habitual das fontes superficiais. Existem diverda, Hungria, Itália, Marrocos, Rússia e Suíça
sos exemplos no mundo de esgotamento
atendem de 70 a 90% da demanda para o Alguns
de aqüíferos por sobrexploração para
abastecimento público (OECD, 1989 citado especialistas
uso em irrigação (CEPIS, 2000). Avalia-se
por REBOUÇAS et al., 2002). Outros uti- indicam que a
que existam no mundo 270 milhões de
lizam a água subterrânea no atendimento quantidade de
hectares irrigados com água subterrânea,
total (Dinamarca, Arábia Saudita, Malta) água subterrânea
13 milhões desses nos Estados Unidos e
ou apenas como suplementação do abas- pode chegar até 60
31 milhões na Índia (PROASNE, 2003).
tecimento público e de atividades como milhões de km3
Vários núcleos urbanos no Brairrigação, produção de energia, turismo,
sil abastecem-se de água subterrânea
indústria, etc. (PIMENTEL, 1999). Na Austrália, 60% do
de forma exclusiva ou complementar, constituindo
país depende totalmente do manancial subterrâneo
o recurso mais importante de água doce. Indústrias,
e em mais de 20% o seu uso é preponderante (HARpropriedades rurais, escolas, hospitais e outros estaBERMEHL, 1985 citado por REBOUÇAS et al., 2002). A
belecimentos utilizam, com freqüência, água de poços
cidade do México atende cerca de 80% da demanda
profundos. O maior volume de água ainda é, todavia,
dos quase 20 milhões de habitantes (GARDUÑO e
destinado ao abastecimento público. Importantes ciARREGUIN-CORTES, 1994 citado por REBOUÇAS et
dades do país dependem integral ou parcialmente
al., 2002).
da água subterrânea para abastecimento, como, por
A UNESCO estimava, em 1992, que mais de 50%
exemplo: Ribeirão Preto (SP), Mossoró e Natal (RN),
da população mundial poderia estar sendo abastecida
Maceió (AL), Região Metropolitana de Recife (PE) e
pelo manancial subterrâneo (REBOUÇAS et al., 2002).
Barreiras (BA). No Maranhão, mais de 70% das cidades
Regiões áridas e semi-áridas (Nordeste do Brasil e a
são abastecidas por águas subterrâneas, e em São
Austrália), e certas ilhas, têm a água subterrânea como
Paulo e no Piauí esse percentual alcança 80%. As águas
o único recurso hídrico disponível para uso humano.
subterrâneas termais estimulam o turismo em cidades
Até regiões desérticas, como a Líbia, têm a demanda
como Caldas Novas em Goiás, Araxá e Poços de Calde água em cidades e na irrigação atendida por poços
das em Minas Gerais. Além disso, atualmente, a água
tubulares perfurados em pleno deserto do Saara.
mineral é amplamente usada pelas populações dos
Estima-se em 300 milhões o número de poços percentros urbanos, por sua qualidade (MMA, 2003).
a composição química da água subterrânea é o resultado combinado da composição
da água que adentra o solo e da evolução química influenciada diretamente pelas
litologias atravessadas, sendo que o teor de substâncias dissolvidas nas águas
subterrâneas vai aumentando à medida que prossegue no seu movimento.
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matéria tema
Mesmo em casos de elevado teor salino,
como nas áreas de ocorrência dos sistemas
aqüíferos fissurados do semi-árido nordestino, as águas subterrâneas constituem,
não raro, a única fonte de suprimento permanente (LEAL, 1999).
Segundo o Censo de 2000 (IBGE, 2003),
aproximadamente 61% da população brasileira é abastecida, para fins domésticos, com
água subterrânea, sendo que 6% se autoabastece das águas de poços rasos, 12% de
nascentes ou fontes e 43% de poços
profundos. Portanto, o número de poços tubulares em operação no Brasil está estimado em cerca de 300.000, com um número
anual de perfurações de aproximadamente
10.000, o que pode ser considerado irrisório
diante das necessidades de água potável
das populações e se comparado com outros
países (MMA, 2003). Os estados com maior
número de poços perfurados são: São Paulo (40.000), Bahia, Rio Grande do Sul, Ceará
e Piauí (LEAL, 1999).
Aqüíferos
Aqüífero é uma formação geológica do
subsolo, constituída por rochas permeáveis,
que armazena água em seus poros ou fraturas. Outro conceito refere-se a aqüífero
como sendo, somente, o material geológico
capaz de servir de depositório e de transmissor da água aí armazenada. Assim, uma
litologia só será aqüífera se, além de ter seus
poros saturados (cheios) de água, permitir a
fácil transmissão da água armazenada.
Um aqüífero pode ter extensão de poucos quilômetros quadrados a milhares de
quilômetros quadrados, ou pode, também,
apresentar espessuras de poucos metros a
centenas de metros (REBOUÇAS et al., 2002).
Etimologicamente, aqüífero significa: aqui =
água; fero = transfere; ou do grego, suporte
de água (HEINEN et al., 2003).
Os aqüíferos mais importantes do
mundo, seja por extensão ou pela transnacionalidade, são: o Guarani - Argentina,
Brasil, Paraguai, Uruguai (1,2 milhões de
km2); o Arenito Núbia-Líbia, Egito, Chade,
Sudão (2 milhões de km2); o Kalaharij Karoo
-Namíbia, Bostwana, África do Sul (135 mil
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Tipos de Aqüíferos
Aqüífero poroso ou sedimentar - é aquele
formado por rochas sedimentares consolidadas,
sedimentos inconsolidados ou solos arenosos,
onde a circulação da água se faz nos poros
formados entre os grãos de areia, silte e argila de granulação variada. Constituem os mais
importantes aqüíferos, pelo grande volume de
água que armazenam, e por sua ocorrência em
grandes áreas. Esses aqüíferos ocorrem nas bacias sedimentares e em todas as várzeas onde
se acumularam sedimentos arenosos. Uma particularidade desse tipo de aqüífero é sua porosidade quase sempre homogeneamente distribuída, permitindo que a água flua para qualquer
direção, em função tão somente dos diferenciais de pressão hidrostática ali existente. Essa
propriedade é conhecida como isotropia.
Aqüífero fraturado ou fissural - formado
por rochas ígneas, metamórficas ou cristalinas,
duras e maciças, onde a circulação da água se
faz nas fraturas, fendas e falhas, abertas devido
ao movimento tectônico. Ex.: basalto, granitos,
gabros, filões de quartzo, etc. (SMA, 2003). A
capacidade dessas rochas de acumularem água
está relacionada à quantidade de fraturas, suas
aberturas e intercomunicação, permitindo a
infiltração e fluxo da água. Poços perfurados
nessas rochas fornecem poucos metros cúbicos
de água por hora, sendo que a possibilidade de
se ter um poço produtivo dependerá, tão somente, desse poço interceptar fraturas capazes
de conduzir a água. Nesses aqüíferos, a água só
pode fluir onde houverem fraturas, que, quase
sempre, tendem a ter orientações preferenciais.
São ditos, portanto, aqüíferos anisotrópicos.
Um caso particular de aqüífero fraturado é representado pelos derrames de rochas vulcânicas basálticas, das grandes bacias sedimentares
brasileiras.
Aqüífero cárstico (Karst) - formado em
rochas calcáreas ou carbonáticas, onde a circulação da água se faz nas fraturas e outras
descontinuidades (diáclases) que resultaram da
dissolução do carbonato pela água. Essas aberturas podem atingir grandes dimensões, criando, nesse caso, verdadeiros rios subterrâneos.
São aqüíferos heterogêneos, descontínuos, com
águas duras, com fluxo em canais. As rochas são
os calcários, dolomitos e mármores.
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matéria tema | Águas subterrâneas
km2); o Digitalwaterway vechte - Alemanha, Holanda
(7,5 mil km2); o Slovak-Karst-Aggtelek-República Eslováquia e Hungria); o Praded - República Checa e
Polônia (3,3 mil km2) (UNESCO, 2001); a Grande Bacia
Artesiana (1,7 milhões km2) e a Bacia Murray (297 mil
km2), ambos na Austrália. Em um recente levantamento, a UNECE da Europa constatou que existem mais
de 100 aqüíferos transnacionais naquele continente
(ALMASSY e BUZAS, 1999 citado em UNESCO, 2001).
Tipos de Aqüíferos
A litologia do aqüífero, ou seja, a sua constituição
geológica (porosidade/permeabilidade intergranular
ou de fissuras) é que irá determinar a velocidade da
água em seu meio, a qualidade da água e a sua qualidade como reservatório. Essa litologia é decorrente da
sua origem geológica, que pode ser fluvial, lacustre,
eólica, glacial e aluvial (rochas sedimentares), vulcânica
(rochas fraturadas) e metamórfica (rochas calcáreas),
determinando os diferentes tipos de aqüíferos.
Quanto à superfície superior (segundo a pressão da
água), os aqüíferos podem ser de dois tipos:
Aqüífero livre ou freático - é aquele constituído por
uma formação geológica permeável e superficial, totalmente aflorante em toda a sua extensão, e limitado na
base por uma camada impermeável. A superfície superior da zona saturada está em equilíbrio com a pressão
atmosférica, com a qual se comunica livremente. Os
aqüíferos livres têm a chamada recarga direta. Em
aqüíferos livres o nível da água varia segundo a quantidade de chuva. São os aqüíferos mais comuns e mais
explorados pela população. São também os que apresentam maiores problemas de contaminação.
Abril | maio | junho | 2008
Aqüífero confinado ou artesiano - é aquele constituído por uma formação geológica permeável, confinada entre duas camadas impermeáveis ou semipermeáveis. A pressão da água no topo da zona saturada
é maior do que a pressão atmosférica naquele ponto,
o que faz com que a água ascenda no poço para além
da zona aqüífera. O seu reabastecimento ou recarga,
através das chuvas, dá-se preferencialmente nos locais onde a formação aflora à superfície. Neles, o nível
da água encontra-se sob pressão, podendo causar
artesianismo nos poços que captam suas águas. Os
aqüíferos confinados têm a chamada recarga indireta
e quase sempre estão em locais onde ocorrem rochas
sedimentares profundas (bacias sedimentares).
O aqüífero semi-confinado que é aquele que se
encontra limitado na base, no topo, ou em ambos,
por camadas cuja permeabilidade é menor do que a
do aqüífero em si. O fluxo preferencial da água se dá
ao longo da camada aqüífera. Secundariamente, esse
fluxo se dá através das camadas semi-confinantes, à
medida que haja uma diferença de pressão hidrostática entre a camada aqüífera e as camadas subjacentes
ou sobrejacentes. Em certas circunstâncias, um aqüífero livre poderá ser abastecido por água oriunda de
camadas semi¬confinadas subjacentes, ou vice-versa.
Zonas de fraturas ou falhas geológicas poderão, também, constituir-se em pontos de fuga ou recarga da
água da camada confinada.
Em uma perfuração de um aqüífero confinado,
a água subirá acima do teto do aqüífero, devido à
pressão exercida pelo peso das camadas confinantes
sobrejacentes. A altura a que a água sobe chama-se
nível potenciométrico e o furo é artesiano. Numa
perfuração de um aqüífero livre, o nível da água
não varia porque corresponde ao nível da água no
aqüífero, isto é, a água está à mesma pressão que
a pressão atmosférica. O nível da água é designado
então de nível freático.
Saneas | 11
matéria tema | Águas subterrâneas
Áreas de Reabastecimento e
Funções dos Aqüíferos
Descarga do Aqüífero
Além de suprir água suficiente para manter os curUm aqüífero apresenta uma reserva permanente
sos de águas superficiais estáveis (função de produção),
de água e uma reserva ativa ou reguladora que são
os aqüíferos também ajudam a evitar seu transbordacontinuamente abastecidas através da infiltração da
mento, absorvendo o excesso da água da chuva inchuva e de outras fontes subterrâneas. As reservas
tensa (função de regularização). Na Ásia tropical, onde
reguladoras ou ativas correspondem ao escoamento
a estação quente pode durar até 9 meses e onde as
de base dos rios.
chuvas de monção podem ser bastante
A área por onde ocorre o abasteci- A constituição
intensas, esse duplo serviço hidrológico é
mento do aqüífero é chamada zona de geológica do
crucial (SAMPAT,2001).
recarga, que pode ser direta ou indireta. O aqüífero é que
Segundo o mesmo autor, os aqüíferos
escoamento de parte da água do aqüífero irá determinar
também proporcionam uma forma de
ocorre na zona de descarga (ANA, 2001).
armazenar água doce sem muita perda
a velocidade da
Zona de recarga direta: é aquela água em seu meio, a
pela evaporação - outro serviço particuonde as águas da chuva se infiltram dire- qualidade da água
larmente valioso em regiões quentes, protamente no aqüífero, através de suas áreas e a sua qualidade
pensas à seca, onde essas perdas podem
de afloramento e fissuras de rochas sobre- como reservatório
ser extremamente altas. Na África, por
jacentes. Sendo assim, a recarga sempre é
exemplo, em média, um terço da água exdireta nos aqüíferos livres, ocorrendo em toda a sutraída de reservatórios todo ano perde-se pela evapoperfície acima do lençol freático. Nos aqüíferos conração. Os pântanos, habitats importantes para as aves,
finados, o reabastecimento ocorre preferencialmente
peixes e outras formas de vida silvestre, nutrem-se,
nos locais onde a formação portadora de água aflora
normalmente, de água subterrânea, onde o lençol
à superfície.
freático aflora à superfície em ritmo constante. Onde
Zona de recarga indireta: são aquelas onde o
há muita exaustão de água subterrânea, o resultado
reabastecimento do aqüífero se dá a partir da drenaé, freqüentemente, leitos secos de rios e pântanos
gem (filtração vertical) superficial das águas e do fluxo
ressecados.
subterrâneo indireto, ao longo do pacote confinante
Portanto, os aqüíferos podem cumprir as seguintes
sobrejacente, nas áreas onde a carga potenciométrica
funções (REBOUÇAS et al., 2002):
favorece os fluxos descendentes.
- Função de produção: corresponde à sua função
Zona de descarga: é aquela por onde as águas
mais tradicional de produção de água para o consumo
emergem do sistema, alimentando rios e jorrando com
humano, industrial ou irrigação.
pressão por poços artesianos.
- Função de estocagem e regularização: utilizaAs maiores taxas de recarga ocorrem nas regiões
ção do aqüífero para estocar excedentes de água que
planas, bem arborizadas, e nos aqüíferos livres. Nas
ocorrem durante as enchentes dos rios, correspondenregiões de relevo acidentado, sem cobertura vegetal,
tes à capacidade máxima das estações de tratamento
sujeitas a práticas de uso e ocupação que favorecem
durante os períodos de demanda baixa, ou referentes
as enxurradas, a recarga ocorre mais lentamente e de
ao reuso de efluentes domésticos e/ ou industriais.
maneira limitada (REBOUÇAS et al., 2002).
- Função de filtro: corresponde à utilização da caSob condições naturais, apenas uma parcela dessas
pacidade filtrante e de depuração bio-geoquímica do
reservas reguladoras é passível de exploração, consmaciço natural permeável. Para isso, são implantados
tituindo o potencial ou reserva explotáveL Em geral,
poços a distâncias adequadas de rios perenes, lagoas,
esta parcela é calculada entre 25% e 50% das reservas
lagos ou reservatórios, para extrair água naturalmente
reguladoras (REBOUÇAS, 1992 citado em ANA, 2001).
clarificada e purificada, reduzindo substancialmente
Esse volume de explotação pode aumentar em função
os custos dos processos convencionais de tratamento.
das condições de ocorrência e recarga, bem como dos
- Função ambiental: a hidrogeologia evoluiu de
meios técnicos e financeiros disponíveis, considerando
enfoque naturalista tradicional (década de 40) para
que a soma das extrações com as descargas naturais
hidráulico quantitativo até a década de 60. A partir
do aqüífero para rios e oceano, não pode ser superior
daí, desenvolveu-se a hidroquímica, em razão da utià recarga natural do aqüífero.
lização intensa de insumos químicos nas áreas urbanas,
12 | Saneas
Abril | maio | junho | 2008
matéria tema | Águas subterrâneas
Representação esquemática das províncias
hidrogeológicas do Brasil
Fonte: Adaptado de ONPMICPRM (1983), citado em
MMA (2003)
indústrias e nas
atividades agrícolas. Na década de 80
surgiu a necessidade de
uma abordagem multidisciplinar integrada da geohidrologia ambiental.
- Função transporte: o aqüífero é utilizado como
um sistema de transporte de água entre zonas de recarga artificial ou natural e áreas de extração excessiva.
- Função estratégica: a água contida em um
aqüífero foi acumulada durante muitos anos ou até
séculos e é uma reserva estratégica para épocas de
pouca ou nenhuma chuva. O gerenciamento integrado das águas superficiais e subterrâneas de áreas
metropolitanas, inclusive mediante práticas de recarga artificial com excedentes da capacidade das
estações de tratamento, os quais ocorrem durante os
períodos de menor consumo, com infiltração de águas
pluviais e esgotos tratados, originam grandes volumes
hídricos. Esses poderão ser bombeados para atender
o consumo essencial nos picos sazonais de demanda,
nos períodos de escassez relativa e em situações de
emergência resultantes de acidentes naturais, como
avalanches, enchentes e outros tipos de acidentes que
Abril | maio | junho | 2008
reduzem a capacidade do sistema básico de água da
metrópole em questão.
- Função energética: utilização de água subterrânea aqueci da pelo gradiente geotermal como fonte
de energia elétrica ou termal.
- Função mantenedora: mantém o fluxo de base
dos rios (WREGE,1997).
Ocorrências no Brasil
A combinação das estruturas geológicas com fatores geomorfológicos e climáticos do Brasil resultou na
configuração de 10 províncias hidrogeológicas, que
são regiões com sistemas aqüíferos com condições
semelhantes de armazenamento, circulação e
qualidade de água (MMA, 2003). Essas províncias
podem estar divididas em subprovíncias.
Sendo assim, as águas subterrâneas no Brasil
ocupam diferentes tipos de reservatórios, desde as
zonas fraturadas do embasamento cristalino (escudo)
até os depósitos sedimentares cenozóicos (bacias
sedimentares), reunindo-se em três sistemas aqüíferos: porosos, fissurados e cársticos.. Os escudos são
formados por rochas magmáticas e metamórficas e
correspondem aos primeiros núcleos de rochas emersas que afloraram desde o início da formação da crosta terrestre. As bacias sedimentares são depressões
preenchidas, ao longo do tempo, por detritos ou sedimentos provenientes de áreas próximas ou distantes
que normalmente estão dispostas de forma horizontal (COELHO, 1996).
Os sistemas aqüíferos brasileiros armazenam os
importantes excedentes hídricos, que alimentam uma
das mais extensas redes de rios perenes do mundo,
com exceção dos rios temporários, que nascem nos
domínios das rochas do embasamento geológico
subaflorante do semi-árido da região Nordeste
(REBOUÇAS et al., 2002), e desempenham, ainda, importante papel socioeconômico, devido à sua potencialidade hídrica (MMA,2003).
Sistemas porosos: formados por rochas sedimentares que ocupam 42% (3,6 milhões de km2) da área
total do país e compreendem cinco províncias hidrogeológicas (bacias sedimentares): Amazonas, Paraná,
Parnaíba-Maranhão, Centro-Oeste e Costeira. A estruturação geológica, com alternância de camadas
permeáveis e impermeáveis, assegura lhes condição
de artesianismo.
As Bacias do Paraná, Amazonas, Parnaíba e a Subprovíncia Potiguar-Recife destacam-se pela extensão
e potencialidade (ABAS, 2003).
Saneas | 13
matéria tema | Águas subterrâneas
Representação esquemática dos principais
aqüíferos brasileiros
Fonte: Adaptado de MMA (2003)
As Províncias Amazonas e Parnaíba posicionam-se como a segunda e terceira do Brasil, respectivamente, em volume de água armazenado. A pouca
evaporação da Província Amazonas, motivada pela
elevada umidade do ar e a cobertura florestal, contribui também para uma maior absorção das águas
superficiais pelas suas rochas.
A Província Centro-Oeste compreende as Subprovíncias Ilha do Bananal, Alto Xingu, Chapada dos
Parecis e Alto Paraguai, localizadas na região Centro-Oeste do país, cujos principais aqüíferos são o
Aquidauana, Parecis e Botucatu.
A Província Costeira abrange praticamente toda
zona costeira do Brasil, excetuando-se as porções dos
Estados do Paraná, São Paulo, sul do Rio de Janeiro,
norte do Pará, Ilha de Marajó e sudeste do Amapá.
Essa província apresenta-se bastante diversifica da,
por abranger várias bacias sedimentares costeiras, de
diferentes constituições e idades geológicas. As suas
subprovíncias são: Alagoas/Sergipe; Amapá; Barreirinhas; Ceará/Piauí; Pernambuco; Potiguar; Recôncavo;
Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Os aqüíferos mais
importantes são os arenitos cretáceos e terciários nas
Bacias Potiguar, Alagoas e Sergipe. Os sistemas aqüíferos Dunas e Barreiras são utilizados para abastecimento humano nos Estados do Ceará, Piauí e Rio Grande
14 | Saneas
do Norte. O Aqüífero Açu é intensamente explotado
para atender ao abastecimento público, industrial e
em projetos de irrigação (fruticultura), na região de
Mossoró (RN). O Aqüífero Beberibe é explotado na
Região Metropolitana do Recife, por meio de 2.000
poços que atendem condomínios residenciais, hospitais e escolas.
A Província São Francisco participa desse sistema
com a parte granular-arenítica das Formações UrucuiaAreado.
A Bacia Sedimentar do Paraná constitui, sem
dúvida, a mais importante província hidrogeológica do
Brasil, com cerca de 45% das reservas de água subterrânea do território nacional, em função da sua aptidão
em armazenar e liberar grandes quantidades de água e
pelo fato de se encontrar nas proximidades das regiões
relativamente mais povoadas e economicamente mais
desenvolvidas do país, além de possuir o maior volume
de água doce em sub-superfície, com reserva estimada
de 50.400 km3 de água.
Localizada no centro-leste da América do Sul, com
uma superfície total de aproximadamente 1.600.000
km2 é considerada também a segunda bacia mais importante da América do Sul, constituindo-se em uma
fossa muito profunda, que alcança de 6.000 a 7.000 m,
ao longo do seu eixo central que se encontra abaixo
do Rio Paraná. Está composta por uma impressionante
seqüência de rochas sedimentares, que vão desde o
Paleozóico até o Cenozóico (triássicas-jurássicas-cretáceas) (DELGADO e ANTÓN, 2002). A porção que se
encontra em território brasileiro perfaz 1.000.000 km2
e tem uma espessura máxima de 6.000 m. As formações paleozóicas apresentam baixa permeabilidade e
representam sistemas aqüíferos pouco produtivos, não
sendo muito satisfatórios com respeito à qualidade
de suas águas. Entre os aqüíferos paleozóicos mais
importantes encontram-se os arenitos Furnas, Aquiduana, Itararé e Rio Bonito. Muito mais importantes são
as formações triássicas-jurássicas que se encontram
separadas por um pacote basáltico de grande extensão
lateral, formando um aqüífero de dimensões continentais, o Guarani, composto pelas Formações Botucatu e
Pirambóia, e que constitui um dos principais sistemas
aqüíferos da mesma.
A cobertura de basaltos constitui-se num aqüífero
fraturado - Formação Serra Geral (com mais de 1.500
m de espessura) - que cobre o Aqüífero Guarani, de
forma a reduzir sua área de exposição a apenas 10%
da área total de distribuição geográfica sub-superficial. A sua extensão original estimada em 4.000.000
Abril | maio | junho | 2008
matéria tema | Águas subterrâneas
km2 acha-se reduzida a 1.000.000 km2, aflorando de
forma praticamente contínua, sobre cerca de 56%
dessa área, e, no restante, sendo recoberta pelos sedimentos dos Grupos Bauru/Caiuá (o primeiro localizado
no Estado de São Paulo e o segundo, no Estado do
Paraná). A grande importância econômica dos basaltos advém da reconhecida fertilidade dos solos, base
de intensa exploração agropecuária característica da
região e dos condicionamentos favoráveis (topográficos e geotécnicos) a implantação de hidrelétricas. A
sua importância hidrogeológica decorre da relativa
explorabilidade das suas zonas aqüíferas pelos meios
técnicos e financeiros disponíveis. Em termos de potabilidade, as águas dos basaltos revelam uma forte
tendência alcalina (pH= 5.5 e 6.5) e mineralização total inferior a 300 mg/L.
Os Grupos Bauru/Caiuá, arenitos que cobrem
cerca de 315.000 km2 da Formação Serra Geral, apresentam uma espessura média de 100 m, que contêm
água geralmente de boa qualidade. Devido ao baixo
custo de captação, esses dois aqüíferos são intensamente explorados. Em 1999 já existiam mais de 16.000
poços tubulares, 2/3 dos quais captando o Aqüífero
Bauru (LEAL, 1999), de modo a garantir o abastecimento doméstico e parte das demandas de pequenas
indústrias da região. Essa condição advém do fato de
ser um sistema livre, local e ocasionalmente freático
e é submetido a uma abundante recarga. Contudo,
essa condição faz com que esse manancial seja potencialmente muito vulnerável aos agentes polui dores
provenientes das atividades agro-industriais, principalmente. As seqüências arenosas e argilosas alternadas do Grupo Bauru no Brasil, depositadas sobre o
pacote de rochas vulcânicas (basaltos) durante o cretáceo superior correspondem às Formações Quebrada
Monardes na Argentina; Acaray no Paraguai e Mercedes-Ascencio no Uruguai, (ARAÚJO et aI., 1999
citado por REBOUÇAS et al., 2002a).
Outros importantes aqüíferos da Província do
A Bacia
Sedimentar
do Paraná
tem uma
reserva
estimada de
50.400 km3
de água
Paraná são: Marizal, São Sebastião
(com espessura de mais de 3.000 m)
e Ilhas (2.500 m).
Sistemas fraturados ou fissurados: ocupam uma área de cerca de
4,6 milhões de km2, correspondente
a 53,8% do território nacional. Compreendem as Províncias Hidrogeológicas dos Escudos Setentrional, Central,
Oriental e Meridional. As duas primeiras províncias
com rochas fraturadas do embasamento apresentam
razoáveis possibilidades hídricas, devido aos altos índices pluviométricos da área. A Província Oriental está
dividida em duas sub-províncias (Nordeste e Sudeste).
A Província Meridional, em Santa Catarina e no Rio
Grande do Sul é de substrato alterado. Os altos índices
pluviométricos da região asseguram a perenização dos
rios e contribuem para a recarga dos aqüíferos, cujas
reservas são, em parte, restituídas à rede hidrográfica
(MMA,2003).
Esse sistema apresenta reservas de águas subterrâneas da ordem de 10.080 km3 (REBOUÇAS, 1988
citado por LEAL, 1999). As águas são de boa qualidade
química, podendo ocorrer localmente teores de ferro
acima do permitido. No domínio do embasamento
cristalino subaflorante, como na Província Hidrogeológica Escudo Oriental do Nordeste onde está localizada a região semi-árida - há pequena disponibilidade hídrica, devido à formação de rochas cristalinas.
É freqüente observar teor elevado de sais nas águas
dessa região, o que restringe ou impossibilita seu uso
(MMA, 2003). Nesse domínio subaflorante é que nascem os rios temporários.
Sistemas cársticos: formados pelo sistema cárstico-fissural da Província Hidrogeológica do São Francisco, e pela Formação Jandaíra (subprovíncia Potiguar).
Inclui os domínios do calcário do Grupo Bambuí com
mais de 350.000 km2 nos Estados da Bahia, Goiás e
Minas Gerais e a Formação Caatinga. As profundi-
A Bacia Sedimentar do Paraná constitui a mais importante província hidrogeológica
do Brasil, com cerca de 45% das reservas de água subterrânea do território
nacional, em função da sua aptidão em armazenar e liberar grandes quantidades de
água e pelo fato de se encontrar nas proximidades das regiões relativamente mais
povoadas e economicamente mais desenvolvidas do país.
Abril | maio | junho | 2008
Saneas | 15
matéria tema | Águas subterrâneas
dades do desenvolvimento cárstico são muito variáveis,
com média em torno de 150 m. Enquanto o Bambuí
pode fornecer vazões superiores a 200 m3jh, o Jandaíra,
apresenta vazões muito baixas (geralmente inferiores a
3,5 m3jh). Outro importante aqüífero cárstico é o Pirabas com profundidade média de 220 m e vazão de
135 m3jh (MMA, 2003) e a Formação Capiru do Grupo
Açungui, com vazão média 180 m3jh e profundidade
média de 60 m.
Impactos Ambientais sobre os Aqüíferos
O manancial subterrâneo acha-se relativamente
melhor protegido dos agentes de contaminação que
afetam rapidamente a qualidade das águas dos rios,
na medida em que ocorre sob uma zona não saturada
(aqüífero livre), ou está protegido por uma camada relativamente pouco permeável (aqüífero confinado) (REBOUÇAS, 1996). Mesmo assim, está sujeito a impactos
ambientais (CPRM, 2002), tais como:
Contaminação: a vulnerabilidade de um aqüífero
refere-se ao seu grau de proteção natural às possíveis
ameaças de contaminação potencial, e depende das
características litológicas e hidrogeológicas dos estratos que o separam da fonte de contaminação (geralmente superficial), e dos gradientes hidráulicos que
determinam os fluxos e o transporte das substâncias
contaminantes através dos sucessivos estratos e dentro
do aqüífero (CALCAGNO, 2001). A contaminação ocorre
pela ocupação inadequada de uma área que não considera a sua vulnerabilidade, ou seja, a capacidade do
solo em degradar as substâncias tóxicas introduzidas no
ambiente, principalmente na zona de recarga dos aqüíferos. A contaminação pode se dar por fossas sépticas
e negras; infiltração de efluentes industriais; fugas da
rede de esgoto e galerias de águas pluviais; vazamentos
de postos de serviços; por aterros sanitários e lixões; uso
indevido de fertilizantes nitrogenados; depósitos de lixo
próximos dos poços mal construídos ou abandonados.
Entretanto, a mais perigosa, é a contaminação provoca
da por produtos químicos, que acarretam danos muitas
vezes irreversíveis, causando enormes prejuízos, à medida que impossibilita o uso das águas subterrâneas em
grandes áreas (MUSEU DO UNA, 2003).
Mapa geológico simplificado da Bacia do Paraná
Fonte:Modificado de Paulipetro (1981)
Superexplotação ou superexploração (sobreexplotação ou sobreexploração) de aqüíferos: é a extração de água subterrânea que ultrapassa os limi-tes de
produção das reservas reguladoras ou ativas do aqüífero, iniciando um processo de rebaixamento do nível potenciométrico que irá provocar danos ao meio ambiente
ou para o próprio recurso. Portanto, a água subterrânea
pode ser retirada de forma permanente e em volumes
constantes, por muitos anos, desde que esteja condi-
Calcula-se que a extração anual dos aqüíferos é de 160 bilhões de metros cúbicos
(160 trilhões de litros) no mundo
16 | Saneas
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matéria tema | Águas subterrâneas
cionada a estudos prévios do volume armazenado no
subsolo e das condições climáticas e geológicas de reposição (DRM, 2003).
Além da exaustão do aqüífero, a superexplotação
pode provocar:
- indução de água contaminada causada pelo deslocamento da pluma de poluição para locais do aqüífero;
- subsidência de solos, definida como “movimento para
baixo ou afundamento do solo causado pela perda de
suporte subjacente”, provocando uma compactação
diferenciada do terreno que leva ao colapso das construções civis;
- avanço da cunha salina definida como o avanço
da água do mar em subsuperfície sobre a água doce,
salinizando o aqüífero, em áreas litorâneas (MELO et
aL, 1996, citado em CPRM, 2002). Sem dúvida, a maioria dos aqüíferos costeiros são suscetíveis à intrusão
salina, que geralmente resulta da sobreexplotação em
poços muito próximos do mar. Algumas das cidades
que tiveram problemas de salinização de seus poços
são, entre outras: Lima (Peru); Santa Marta (Colombia);
Coro (Venezuela); Rio Grande e Natal (Brasil) e Mar deI
Plata (Argentina). No caso de Buenos Aires-La Plata, o
problema de salinização se deve ao conteúdo de sais
de uma formação costeira (DELGADO e ANTÓN, 2002).
O crescimento desordenado do número de poços tem
provocado significativos rebaixamentos do nível de
água e problemas de intrusão salina em Boa Viagem,
no Recife (MMA,2003).
O desenvolvimento de poderosas bombas elétricas
e a diesel permitiu a capacidade de extrair água dos
aqüíferos com maior rapidez do que é substituída pela
chuva, sem considerar, ainda, que os aqüíferos têm
diferentes taxas de recarga, alguns com recuperação
mais lenta que outros (CEPIS, 2000).
Calcula-se que a extração anual dos aqüíferos é de
160 bilhões de metros cúbicos (160 trilhões de litros)
no mundo (POSTEL, 1999 citado por BROWN, 2003).
Em quase todos os continentes, muitos dos principais aqüíferos estão sendo exauridos com uma rapidez
maior do que sua taxa natural de recarga. A mais severa exaustão de água subterrânea ocorre na Índia, China, Estados Unidos, Norte da África e Oriente Médio,
causando um déficit hídrico mundial de cerca de 200
bilhões de metros cúbicos por ano (SAMPAT,2001).
Existem diversos exemplos no mundo de esgotamento de aqüíferos por superexplotação para uso em
irrigação. O esgotamento das águas subterrâneas já
provocou o afundamento dos solos situados sobre os
Abril | maio | junho | 2008
aqüíferos na cidade do México e na Califórnia, Estados
Unidos, assim como em outros países (CEPIS, 2000).
No Brasil, como não há legislação específica que
discipline o uso das águas subterrâneas e coíba a
abertura de novos poços, essa franquia de ordem legal
tem contribuído para problemas de superexplotação
(BROWN, 2003). Outro fator que está provocando o
comprometimento da qualidade e disponibilidade
hídrica dos aqüíferos reside na ocupação inadequada
de suas áreas de recarga (CAVALCANTE e SABADIA,
1992, citado em CPRM, 2002).
Nos Estados Unidos, segundo um estudo da BBC
Mundo (2003), verificou-se que o maior aqüífero desse
país, o Ogallala, está empobrecendo a uma taxa de 12
bilhões de m3 ao ano. A redução total chega a uns 325
bilhões de m3, um volume que iguala o fluxo anual dos
18 rios do estado do Colorado. O Ogallala se estende
do Texas a Dakota do Sul e suas águas alimentam um
quinto das terras irrigadas dos Estados Unidos. Muitos
fazendeiros nas pradarias altas estão abandonando a
agricultura irrigada ao se conscientizarem das conseqüências de um bombeamento excessivo e de que a
água não é um recurso inesgotável.
A utilização de poços, fontes e vertentes deve ter
a orientação de um profissional habilitado nessa área,
de modo que o seu uso não comprometa o uso futuro
desses recursos (seja por uma possível contaminação
ou a exploração de uma vazão superior à admissível), e nem exponha a saúde da população abastecida
a possíveis doenças de origem ou veiculação hídrica,
devido à utilização de mananciais inadequados ou
contaminados. Em suma, a compatibilização do uso
dessa importante alternativa estratégica de abastecimento com as leis naturais que governam a sua
ocorrência e reposição, além de proteger as áreas de
recarga de possíveis contaminações poderá garantir a
sua preservação e uso potencial pelas gerações futuras
(SILVA, 2003). Além disso, conhecer a disponibilidade
dos sistemas aqüíferos e a qualidade de suas águas
é primordial ao estabelecimento de política de gestão
das águas subterrâneas (LEAL, 1999).
Fonte: Livro “O Aqüífero Guarani” de autoria de Nádia Rita Boscardin Borguetti, José Roberto Borghetti e Ernani Francisco da Rosa Filho
website: www.oaquiferoguarani.com.br
(*) Dados fornecidos pela ABAS - Associação Brasileira
de Águas Subterrâneas
Saneas | 17
entrevista
Everton de oliveira
“
Você, eu e praticamente toda a
população bebemos água subterrânea”
Saneas: Como as águas subterrâneas são conceituadas no universo das águas indicadas para
abastecimento de consumo?
Everton: Você, eu e praticamente toda a população já
bebemos água subterrânea, seja por meio da ingestão
de uma água mineral engarrafada ou distribuída por
uma Companhia Estadual de Saneamento Básico,
como a Sabesp. Elas representam 97% da água disponível para consumo no Planeta. Portanto, é um
produto muito comum, necessário para suprir o abastecimento de várias regiões brasileiras e, como tal, utilizado em grande escala.
Saneas: Assim como toda a população consome,
também todo mundo pode abrir seu poço?
Everton: A rigor, pode. Trata-se de um recurso hídrico
absolutamente democrático, que está sendo usado em
moradias individuais, em condomínios, em empresas
e nos mais diversos complexos de consumo, porém
existe uma legislação de outorga, para o acesso ao
mesmo dentro de uma legislação, estudo de sua quantidade e análise da sua qualidade.
Geólogo de formação, com doutorado no Canadá,
Everton de Oliveira é presidente da ABAS (Associação Brasileira de Águas Subterrâneas) e diretor da
Hidroplan, uma empresa especializada em Hidrogeologia e Planejamento Ambiental, situada em Cotia, cidade que faz parte do entorno da Grande São
Paulo. Pela característica visual da empresa que dirige, dá para se perceber um despojamento estudado,
semelhante ao da sua personalidade, que tenta, com
êxito, abordar temas complexos, com a máxima simplicidade possível.
Foi na área externa da Hidroplan, onde obviamente tem
um poço e o verde predomina, que nosso entrevistado,
a pedidos, posou para a foto e também discorreu parte
dessa entrevista, iniciada em sua sala de trabalho.
18 | Saneas
Saneas: Como pode-se avaliar a eficácia da legislação brasileira em termos de quantidade, qualidade e consumo desse recurso? E quais são os
órgãos competentes para o exercício da mesma?
Everton: No Brasil, pela própria extensão de seu território, se tem uma legislação muito pulverizada. São
Paulo é o estado mais bem legislado, no qual as outorgas são de competência do DAEE (Departamento de
Abril | maio | junho | 2008
Águas e Energia Elétrica) e a qualidade da água extraída
de poços é avaliada pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental). Já em âmbito nacional, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
tem o poder de fechar um poço e a Saúde Pública o de
autuar o responsável pela operação. A ANA (Agência
Nacional de Águas), dentro do Plano Nacional de Recursos Hídricos, desenvolveu um termo de cooperação
com a ABAS no sentido de se homogeneizar a legislação nacional e capacitar os estados para sua aplicação.
Saneas: As águas subterrâneas, no Brasil, são
consideradas uma solução futura para escassez de
água nas bacias hidrográficas?
Everton: Elas já são uma solução para o presente,
inclusive com um trabalho reconhecido pela ANA
(Agência Nacional de Águas), que por meio da ABAS
já deu andamento para efetivação de vários termos de
cooperação e convênios, nas áreas de capacitação.
Saneas: Como é a estrutura, qual é o objetivo e
como é o funcionamento da ABAS, entidade que o
senhor preside?
Everton: A ABAS é uma entidade com sede central em
São Paulo, fundada em 1978, que congrega milhares
Abril | maio | junho | 2008
de associados em todo o Brasil. O nosso objetivo é a
exploração racional das águas subterrâneas, um recurso que tem o seu valor renovado a cada dia. Promover um intercâmbio de estudo, pesquisa, aplicação
de tecnologia e disseminar a preservação e desenvolvimento das águas subterrâneas são os mandamentos
que seguimos em nossa estrutura de trabalho, razão
pela qual realizamos congressos, simpósios, seminários
e conferências, voltados a esse setor. Também é de
nossa competência estudar e propor procedimentos,
normas, padronizações, regulamentos e legislação de
interesse do setor, aos órgãos apropriados.
Saneas: Existe alguma qualificação adotada pela
ABAS em relação às empresas e profissionais inseridos na exploração das águas subeterrâneas?
Everton: Existe. A Abas, inclusive, iniciou um movimento de conscientização e informação para a sociedade, sobre as vantagens do recentemente criado
“Sistema de Qualificação das Empresas com Atividades
em Hidrogeologia e Águas Subterrâneas”. Por meio
dele, os organismos serão certificados quanto as suas
condições de atuar tecnicamente dentro das normas
da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e
receberão um Selo de Qualidade da Abas.
Saneas | 19
opinião
Everton de oliveira
A era da água
Geólogo de
formação,
Everton de
Oliveira é
presidente
da ABAS
(Associação
Brasileira
de Águas
Subterrâneas)
e diretor da
Hidroplan,
uma empresa
especializada em
Hidrogeologia
e Planejamento
Ambiental,
situada em
Cotia, cidade
que faz parte
do entorno da
Grande São
Paulo.
Água hoje em dia é assunto. Há até conjecturas
sobre possíveis guerras futuras para o acesso à água.
Hoje água é pauta para várias discussões. E 97% da
água disponível para consumo humano no planeta é
subterrânea. Logo, a pauta deverá inexoravelmente
caminhar para o entendimento desta como parte de
nosso dia a dia. Todos nós vimos um poço um dia em
nossas vidas, mas poucos de nós parou para pensar em
como a água chega ao seu interior, se sua quantidade
varia com o passar do tempo, se a qualidade também
varia com o passar do tempo. As respostas simples para
estas questões indicam permitem-nos organizar nossas
ações visando a preservação da água subterrânea e, por
extensão, das águas como um todo. Por serem subterrâneas, esses 97% nos são praticamente invisíveis, somente aparecendo em nascentes e lembradas quando
vemos um poço.
Em primeiro lugar, as águas subterrâneas são armazenadas nos poros do material geológico que compõe os chamados aqüíferos, cuja etimologia remete a
um material com capacidade de armazenar e transmitir
água em quantidades apreciáveis. As águas de chuva,
ao atingirem a superfície do solo dividem-se em uma
parte que escoa superficialmente, indo alimentar diretamente os rios e lagos e outra parte que se infiltra,
indo alimentar os aqüíferos. Esse fenômeno chama-se
recarga e é o responsável pela realimentação da água
que aparece nos poços e, em grande parte, das águas
que fluem nos rios e drenagens superficiais. Muitos rios
do nordeste do Brasil são alimentados quase que exclusivamente por água subterrânea. Logo, a quantidade
de água de um poço depende de sua recarga. Longos
períodos de estiagem irão corresponder a uma menor
disponibilidade hídrica subterrânea. Por outro lado, a
qualidade da água subterrânea depende, em princípio,
da interação com o material geológico que compõe o
aqüífero e de possíveis alterações causadas pela introdução de compostos estranhos à sua composição:
poluição. Ao contrário de rios e lagos, onde a poluição
é imediata pois o acesso à água é direto, nos aqüíferos
a poluição é muito mais lenta, pois o fluxo das águas
subterrâneas também é lento, tipicamente variando
entre 1 metro por dia a 1 metro por ano. Nos aqüíferos,
a água encontra-se mais abrigada tanto da evaporação
quanto de potencial contaminação. Logo os aqüíferos
são mais protegidos, mas não são imunes a contaminações e devem ser remediados (termo técnico) quando
tiverem sua qualidade alterada. Inúmeras são as possibilidades de se poluir as águas em geral, e as águas
subterrâneas em particular, mas o elemento poluidor
mais onipresente é o esgoto doméstico. Como somos
um país ainda mal servido pela coleta de esgotos,
este infiltra-se no solo, indo eventualmente parar nos
aqüíferos. Uma fossa nada mais é do que um sistema
de infiltração. Preocupante, não? Devemos nos lembrar
20 | Saneas
que o problema água hoje é pauta mais por estarmos
sujando a água que posteriormente iremos utilizar, do
que pela sua escassez, uma vez que a quantidade de
água do planeta é praticamente invariável. Esgoto doméstico é um vilão, sem dúvida.
No Brasil temos uma tradição muito forte de uso de
águas superficiais. Quando se fala em água, sempre são
mencionados os mananciais de superfície: represas, lagos, rios, córregos. Entretanto, para surpresa de muitos,
no Estado de São Paulo, o mais desenvolvido da federação, apro-ximadamente 50% dos municípios são abastecidos exclusivamente por águas subterrâneas. Sim,
água de poço. Além disso, outros 25% são parcialmente
abastecidos por águas subterrâneas. Somente 25% do
total são abastecidos exclusivamente por águas superficiais. Parece paradoxal a água subterrânea ser sempre
mencionada como fonte alternativa. Mesmo regiões
áridas, como o nordeste brasileiro, dispõe de recursos
hídricos subterrâneos que podem e devem ser utilizados. As águas nesses reservatórios podem apresentar
uma maior dificuldade relativa para serem explotadas,
afinal é preciso construir um poço. Entretanto isso é
um pro-blema menor quando se compara com a qualidade superior da água, que vai requerer menor tratamento, quando isso for necessário. Ou ainda se considerarmos a distribuição de água subterrânea, muito
mais otimizada, uma vez que os poços são localizados
próximos aos consumidores.
Temos na região Sudeste do Brasil o maior sistema
aqüífero do mundo, o Sistema Aqüífero Guarani, que
armazena um total de 45.000 km3 como reserva permanente, isto é, reserva que pode ser utilizada e que
é recomposta pela infiltração das águas de chuva. Se
lembrarmos que um cidadão precisa de 200 litros por
dia, e que 1 km3 corresponde a 1 bilhão de litros. Bons
poços no Guarani produzem mais de 400 milhões de
litros por hora. Números fantásticos e animadores.
Claro que nem todo aqüífero é o Guarani, assim
como nem toda água superficial é um rio Amazonas.
Mas há abundância no país e a gestão integrada dos
recursos hídricos deve orientar o uso racional desta imensidão de recursos que o país dispõe.
Nosso país deve orientar-se claramente pelo uso
da água subterrânea em toda sua potencialidade. Os
estados precisam estar equipados com leis adequadas
para permitirem que técnicas corretas de perfuração de
poços, de explotação de quantidades que não superem
a capacidade de reposição de água pela recarga, enfim,
de gestão correta do uso deste recurso, além de se equiparem para sua preservação, uma vez que o esgoto
doméstico é o principal poluente potencial de nossos
aqüíferos e é função do estado de fazer sua coleta.
Água vai continuar a ser assunto, e as águas subterrâneas virão cada vez mais à superfície das discussões
em torno do uso racional dos recursos hídricos.
Abril | maio | junho | 2008
especial
Fenasan se destaca como
o maior evento do mercado
de saneamento em 2008
Na edição deste ano, o evento promovido pela AESABESP cresce e se
consolida como um dos eventos mais importantes do setor de
saneamento ambiental do Brasil e do exterior.
Veja a programação completa do xix encontro técnico aesabesp
Promovida há 19 anos consecutivos pela Associação dos
Engenheiros da Sabesp, a Fenasan 2008 - Feira Nacional de
Materiais e Equipamentos para Saneamento, que será realizada em 19, 20 e 21 de agosto, no Expo Center Norte , em
São Paulo, se destaca como o maior evento do mercado de
saneamento em 2008.
Tal constatação é demonstrada pelos números da Feira
que com mais de 110 expositores de diversos segmentos:
sistemas de captação, adução, tratamento e distribuição da
água; sistemas de coleta, afastamento e tratamento de esgotos; gestão ambiental; manutenção e energia; água de
reúso; resíduos sólidos; recursos hídricos; desenvolvimento
de produtos e de materiais, além de alguns estreantes como
laboratórios e fabricantes de estruturas metálicas.
Haverá ainda cenários demarcados como as empresas que
compõem a Ilha Sindesam (Sindicato Nacional das Indústrias
de Equipamentos para Saneamento Básico), um núcleo setorial da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos). Outra ilha também será formada por
20 empresas filiadas em duas entidades do setor, que estão
pela primeira vez na Fenasan: a Apecs (Associação Paulista de
Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio
Ambiente) e Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de
Arquitetura e Engenharia Consultiva).
Na edição da Fenasan 2008, 60% das empresas são
conhecidas e expositoras de edições passadas, mas 40% são
novas e atraídas pelos grandes investimentos públicos e de
grupos privados internacionais. Para se ter uma idéia, só em
São Paulo, já está assegurado o aporte de R$ 7 bilhões, até
2010, para se manter a universalização no fornecimento de
água tratada e chegar a 84% na coleta e esgoto, nos 367
municípios atendidos pela Sabesp.
Tema central:
Regulação do Saneamento
Nova Era, Novos Horizontes
• Gestão de Perdas
• Água e Reuso
• Automação de Sistemas de Saneamento
• Gestão Ambiental
• Meio Ambiente
• Resíduos Sólidos
• Águas Subterrâneas
• Inovações Tecnológicas
• Sistemas de Abastecimento de Água
• Sistemas de Coleta e Tratamento de Efluentes
• Manutenção e Energia
• Saúde Pública
• Recursos Hídricos
• Desenvolvimento de Produtos e Materiais
• Aplicações de Softwares no Saneamento e
Meio Ambiente
• Legislação do Setor de Saneamento e
Meio Ambiente
Encontro Técnico AESABESP
Programação
19 de agosto de 2008 - manhã
Programação sujeita a alterações
9h00
Credenciamento de congressistas
Encontro Técnico AESABESP
10h00
Auditório principal - Solenidade de abertura
11h00
Palestra: “DESPERTE O GIGANTE QUE EXISTE EM VOCÊ”
Profa. Maria de Lourdes Ferreira Machado – “Lurdinha”
13h00
Abertura oficial da XIX FENASAN
Feira Nacional de Materiais e Equipamentos para Saneamento
| Saneas
22 | 22
Saneas
| maio | junho
Abril | maio
Abril| junho
2008 | 2008
19 de agosto de 2008 - Tarde
Auditório 1
Mesas redondas
Auditório 2
Mesas redondas
13h30
14h10
Regulação do
saneamento
Moderador
Umberto Cidade
Semeghini
SABESP
14h50
Participantes
Dilma Seli Pena
Secretaria de
Estado de
Saneamento e
Energia
Rodolfo Costa
e Silva
Deputado Estadual
15h30
Marfisa Ximenes
Conselheira Diretora
da ARCE
Luiz Augusto
de Lima Pontes
AIDIS
16h10
Parcerias de Interesse
Público: O papel das
OSCIPs na promoção
do desenvolvimento
sustentável
Moderador
Ivan Norberto Borghi
DAEE
Participantes
Ricardo Falcão
RFalcão Cons. e
Planejamento
João Quimio Nojiri
Instituto Navega
São Paulo
Dra. Juliana
Amaral
Toledo Figueiredo,
Lopes, Golfieri, Toledo
e Storto Advogados
Associados
Leno F. Silva
LENOorb
Comunicação
Sergio Pinto Parreira
ABES - SP
Relator
Antonio Lívio Abraços
AA Engenharia /
Consórcio ETEP / ENGER
/ MAUBERTEC
Mario Mantovani
SOS Mata Atlântica
16h50
| junho
| maio || 2008
Abril | maio
Abril
junho | 2008
Relator
Walter Orsatti
SABESP
Auditório 3
Palestras técnicas
Auditório 4
Palestras técnicas
Auditório 5
Palestras técnicas
Mapeamento dos
núcleos habitacionais
subnormais como
ferramenta no controle
de perda aparente
Rogério Welsel
e equipe
SABESP
ICMS ecológico
como instrumento
econômico para o
desenvolvimento
sustentável de bacias
hidrográficas
Priscila Mariaca
e equipe - SABESP
Tratamento e reúso
direto do efluente
de uma empresa da
indústria têxtil - relato
de uma experiência
Flávia Cavaleiro Costa
e equipe
GEOPLAN
Recuperação de perdas
aparentes por medição
de vazão de volume de
esgoto na UN-Norte
José Ribamar Moraes
e equipe
SABESP
Proposta de gestão
de riscos operacionais
(GRO) para o
processo de
distribuição de água
Ana Maria Ribeiro
SABESP
Sistema de tratamento
para remoção de ferro
e manganês (meio
filtrante à base
de zeólito)
Sueli Cristina Gomes
e equipe- SABESP
Readequação do subsetor de abastecimento
Vila Baiana utilizandose modelagem
matemática hidráulica
Fernando Martins
e equipe
SABESP
A conversão
dos gases de
efeito estufa em
créditos de
carbono e a
sua negociação
Pedro José da Silva
e equipe
FAAP
Utilização de
geoprocessamento
como ferramenta para
gestão de mananciais:
projeto sistemas
produtores alto
Tietê e Rio Claro
Sérgio Lourenço Correa
e equipe
SABESP
Sistema informatizado
para apuração e
controle de
custos de projetos
Alexandre Flor
Mesquita e equipe
SABESP
Medida de
ompensação
ambiental - plantio
de árvores isoladas
em áreas urbanas estudo de caso
Clenia Gomes Alves
e equipe
SABESP
Sonda Zaia
de alta precisão
para medidas
de vazão
G. Vitor Zaia
e equipe
POLI USP
São Paulo
Balanço hídrico e
ferramenta para
o combate das
perdas reais
Marcia Maria Marques
e equipe
Restor
Implementação da
gestão institucional de
recursos hídricos
na Sabesp
Vania Lucia Rodrigues
e equipe
SABESP
Espectometria
on-line da água
potável ao
esgoto
Dimitrius Anastase
Tzortzis e Doron Grull
JOB Engenharia
Teste para
Projeto de recuperação
determinação
ambiental de
do fator de condição
Vila Machado:
da infra-estrutura
gestão territorial
- FCI e pesquisa de
compartilhada aliada
vazamentos não
ao monitoramento
visíveis em redes e
para a ação e a eficácia
ramais, utilizando
Dilmara Souza/Márcia
gás hidrógeno
Alves/Carlos Dardis/
Sirley Olimpio Michele
Maria Borba
e equipe
SABESP
SABESP
Plano de
lubrificação dos
componentes
mecânicos
das bombas
da EEAB Biritiba
Wagner Almeida
e equipe
SABESP
| 23
| 23
Saneas
Saneas
20 de agosto de 2008 - manhã
Auditório 1
Mesas redondas
Medidor
Woltmann de
alto desempenho
Fabrício Mardegan
Sensus Metering
Systems
9h00
9h40
Auditório 2
Palestras técnicas
Ano Internacional
do Saneamento
e a Metrópole
paulista:
tratamento
de esgoto sanitário
Adensamento,
desidratação e
secagem de lodo
José Maria e
Luis Ramos
Pieralisi do Brasil
Moderador
Marcelo Morgado
SABESP
10h20
Nova tecnologia em
válvulas reguladoras de
pressão: maior proteção
para redes de água
José R. Martins Filho
e Moshe Cohen
Pedro Alem Sobrinho
Invel Comércio Indústria
USP
Participações
Jaime Pinto Ortiz
USP
Participantes
Eduardo Pacheco
Jordão
UFRJ
Wanderley Paganini
SABESP
11h00
Relator
Carlos Massuyama
APECS
11h40
| Saneas
24 | 24
Saneas
Reúso de água
Antonio Sérgio Hilsdorf
Degrémont Tratamento
de Águas
Gerenciamento de
dados em plantas
de saneamento
com visualização
e relatórios em
tempo real
Paulo Pironti e
Christian Vieira
GE Fanuc do Brasil
Auditório 3
Auditório 4
Palestras técnicas
Palestras técnicas
Elaboração de diag.
operac. de perdas reais
Programa de
e perdas aparentes
educação
de água
ambiental na
e elaboração de
micro-bacia
balanço hídrico
do Córrego
anual da LWA nos
Itaim
setores de abastec.
Magali Bittencourt
da Unidade de
e equipe
SABESP
Negócio Leste
Pedro Luis Rocha
e equipe - SABESP
Plano de redução de
Ação mútua de
perdas na cidade de
prevenção em prod.
Campo Grande: a
perigosos no transp.
terrestre com risco de
associação do
impacto aos mananciais
método MASPP I
com gestão de pessoas e de captação de água
para abastec. público
tecnologia
Guilherme Francisco
apropriável
Gomes da Silva
Mário Augusto Baggio
e equipe
e equipe
SABESP
Hoperações Consult.
Programa de recuper.
Os impactos das ações
ambiental da baixada
nos hidrômetros sobre
santista: soluções
o indicador de perda
integradas em
aparente de um setor de saneamento para as
abastecimento
cidades litorâneas do
Cícero Ferreira Batista
Estado de SP
e equipe
Reynaldo Eduardo
SABESP
Young Ribeiro
e equipe - SABESP
Perdas físicas - estudo
Fatores educacionais
de caso: Projeto Piloto
e de paisagismo
- redução do índice de
em estações de
perdas em uma zona
tratamento
de abastec. VIIIA, do
de esgotos Jardim Aeroporto na
o caso de
cidade de Franca - ações
Jales - SP
operacionais
João Sergio Cordeiro
Antonio Carlos Gianotti
e equipe
e equipe
UFSCAR
SABESP
Perdas físicas - estudo
de caso: Projeto Piloto
Sistema gerencial dos
- redução do índice de
planos integrados
perdas em uma zona
regionais “SIGPIR” da
de abastec. VIIIA, do
Diretoria Metropolitana
Jardim Aeroporto na
da Sabesp
cidade de Franca - ações
Helio Hasegawa
operacionais
e equipe
Welton de Araujo Cintra Sanebras Engenharia
Junior e equipe
SABESP
Auditório 5
Palestras técnicas
Sistema de tecnologia
da informação
para gestão de
empreendimentos
da Sabesp
Silvio Leifert
e equipe
SABESP
Integração de
tecnologia, processos e
pessoas na nova era da
gestão dos
serviços de
manutenção de
campo
Ernani Roic
e equipe
SABESP
Laboratório
móvel de
verificação
metrológica
de hidrômetros
no campo
José Yazo Gondo
e equipe
SABESP
Energia solar
para dosagem
de produtos
químicos
Mauro Massaru Inoue
e equipe
SABESP
Especificação de
software SIG para a
integração entre o
cadastro de redes de
água e consumidores
com o software EPANET,
utilizando software livre
TERRALIB
José Maria Villac
Pinheiro e equipe
Min. das Cidaddes
| maio | junho
Abril | maio
Abril| junho
2008 | 2008
20 de agosto de 2008 - Tarde
Auditório 1
Mesas redondas
13h30
14h10
14h50
15h30
16h10
16h50
Auditório 2
Auditório 3
Palestras técnicas
Palestras técnicas
Programa de redução das
Perdas físicas - Estudo
perdas globais e avaliade caso: ações de caçação da sua eficiência e
fraudes na cidade de
viabilidade econômica
Franca - ações
dentro do âmbito do
comerciais
projeto de despoluição
Welton de Araujo Cintra
do Tietê
Junior e equipe
Hugo Chisca Junior
SABESP
BBL Engenharia ConCertificação
strução e Comércio
profissional no
Operação de estações
Kemira - FilamentEx saneamento elevatórias de água
a mais nova
contribuição para
tratada com inversores
tecnologia para
qualificação dos
de frequência, com foco
controle de
serviços e redução
na redução de perdas
filamentosas em
de perdas
de água e consumo de
sistemas de
energia elétrica - caso
tratamento
Moderador
EEAT Suzano
de esgotos
Osvaldo I Niida
Alexandre Domingues
Juan Gonzales
SABESP
Marques e equipe
Kemwater Brasil
SABESP
Participantes
Eficiência e viabilidade
Marcelo Neris
econômica na redução
ABENDE
Métodos para agilizar a
de perdas do setor de
rotina microbiológica
abastec. de água PasJoaquim José
Elisa Uemura
sagem Funda - zona leste
dos Santos
Interlab Distribuidora de
do munic. de SP
Petrobras
Produtos Científicos
Noemi Cristina de Souza
Carrera e equipe
Paulo S. Padilha
SABESP
SABESP
MASPP II aplicado no
atingimento de metas de
Margareth
A telemetria como
redução de perdas d’água
Burguer
ferramenta de gestão
e de fatur. na Sabesp
SANEPAR
Renato Cunha e
- Unidade de Negócio
Fausto Pardini
Metropolitana Oeste-MO
João Augusto S.
ADTS - Soluções em
Mário Augusto Baggio
Alves
Automação e Engenharia
e equipe
Opertec
Hoperações Consultoria
Método de detecção de
Rubem da Costa
Adequação
da
ETE
de
n-fugas em tubulações
Restor
Marines com sistema
através da análise das
Aqwise
para
remoção
reflexões
de pulsos de
Relator
de
nutrientes
alta
freqüência
Jairo Tardelli
Guy Gadot e José Correa Juliana Barbosa Palhares
SABESP
Centroprojekt do Brasil
Vivaldi e equipe
Unicamp
Desenvolvimentos
Controle de Perdas recentes de
Os índices mundiais de
equipamentos e
perdas e as mais recentes
controle operacional tecnologias de medição e
de redes hidráulicas
controle
Edmundo Koelle
Daniel Duarte e
Glass Ind. e Com. de
Andrés Forghieri
Bombas e Equipamentos
Digitrol
| junho
| maio || 2008
Abril | maio
Abril
junho | 2008
Auditório 4
Palestras técnicas
Redução de
Perdas reais
João Thomaz
Pereira Junior
Hydrax Saneamento
de Tubulações
Auditório 5
Palestras técnicas
Otimização dos processos de manobra com
o apoio do sistema de
inform. geográficas no
saneamento - Signos, na
área de Diretoria Metrop.
da Sabesp
Nagip Abrahão e equipe
SABESP
Interface baseada em
rede de dados para telemetria e telecomando
em sistemas inteligentes
de abastec. de água
Rafael Vieira de Sousa e
equipe - Getesi Indústria
Eletrônica / CNPq
Os procedimentos de
outorga no âmbito da
Sanepar e estudo de
caso: ETE Atuba Sul
Candice Schauffert
Garcia e equipe
SANEPAR
Diretrizes para definição
da cota de assente de
estruturas de
saneamento visando
a sua proteção
a inundações
Soraia Giordani e equipe
SANEPAR
Instrumentos legais
de proteção
ambiental dos
sistemas produtores
da RMSP
Célia Maria Machado
Ambrozio e equipe
SABESP
Controle da floração
de cianobactérias e a
redução de incidências
de gosto e odor
na água tratada do
sistema produtor
Alto Tietê
Adilson Macedo
e equipe - SABESP
Eficiência hidráulica
e redução do
consumo de
energia elétrica o estudo de caso
do extremo
norte da RMSP
Alex Orellana
e equipe - SABESP
Avaliação da qualidade
ambiental como subsídio
a projetos de saneamento
ambiental na bacia do
rio Cotia, SP
Sandra Eliza Beu
e equipe - FMU
Sistema de
acompanhamento de
núcleos de baixa renda
Gustavo José Rosário
e equipe
SABESP
A várzea do rio Taiaçupeba Guaçu e a eficiência
na redução de cianobactérias que afluem à
represa Taiaçupeba
Adilson Macedo
e equipe
SABESP
Redução do nível médio
do reservatório do setor
Brasilândia de água
tratada e avaliação do
volume de água macromedido disponibilizado
Robson Oliveira e equipe
SABESP
| 25
| 25
Saneas
Saneas
21 de agosto de 2008 - manhã
Auditório 1
Mesas redondas
Auditório 2
Mesas redondas
9h00
Créditos de
carbono:
quantificação,
pagamento e
bolsa no mundo
9h40
Moderador
Marcelo Salles
Holanda
de Freitas
SABESP
Participantes
Francisco Maciel
Iniciativa Verde
10h20
Oscar Bahia
ESALQ-USP
Fernando
Adhemar Costa
SABESP
Maurik Jehee
Banco Real
11h00
Marco Antonio
Fujihara
Sustain Capital
Relatora
Maria Aparecida
de Paula Santos
SABESP
11h40
| Saneas
26 | 26
Saneas
Nova visão da
Engenharia segundo a
resolução 1010/2005
do CONFEA
Moderador
João Carlos Bibbo
SEESP
Participantes
Celso Atienza
Vice-Presidente
da SEESP
Newton Guenaga Filho
Coord. da Câmara
Especializada de
Engenharia de
Segurança do
Trabalho
Auditório 3
Palestras técnicas
O combate às perdas
reais - áreas de
controle e
recorrências de
vazamentos nas
redes de distribuição
Robson Fontes da Costa
e equipe
SABESP
Balanço hídrico
em gestão
de controle
de perdas
Robson Fontes
da Costa e equipe
SABESP
Ações de combate
às perdas no setor
de abastecimento
Salesópolis
João Dojcsar
e equipe
SABESP
Ações para redução
de perdas reais com a
utilização de sistema de
informações geográficas
Relator
(SIG) e metodologia
José Roberto Guimarães
MASP no setor de
de Almeida
abastecimento Santana
APAEST
Cesar Ridolpho e equipe
SABESP
Luiz Antonio
Moreira Salata
Composição do volume
utilizado através
do mapeamento de
incremento das ações
comerciais
Jean Mineiro Ribeiro
e equipe
SABESP
Auditório 4
Palestras técnicas
Auditório 5
Palestras técnicas
Desinfecção de água
Sistema de controle
bruta utilizando filtração
de protocolos
granular e oxidação
de efluentes
catalítica com
não domésticos peróxido de
Protend da Unidade
hidrogênio
de Negócio Centro
Niege Madeira Soares
Sonia Regina Rodrigues
Barbosa e equipe
e equipe
UFSC
SABESP
Saneamento
básico o pioneirismo
de Theodoro
Sampaio
Marcos Almir
Oliveira
e equipe
SABESP
Uso de tubos de geotêxtil
para desidratação de
lodo gerado em estação
de tratamento de esgoto
por processo de lodos
ativados - ETE Limoeiro
Léo Cesar Queiroz
Cavalcante Melo
e equipe
Allonda Geossintéticos
Ambientais
Recuperação estrutural
e impermeabilização de
O mecanismo de
reservatórios de concreto
desenvolvimento limpo
armado na Unidade
aplicado no tratamento
Oeste da Sabesp, com
de resíduos líquidos de
a utilização de
fazendas de bovinos
novos produtos
Pedro José da Silva
Renato Hochgred Frazão
e equipe
e equipe
FAAP
SABESP
Materiais de tubulações
utilizadas na coleta e
transporte de esgotos
Nelson Bevilacqua
e equipe
SABESP
Lagoa facultativa aerada
superficialmente: um
conceito de baixo
custo para aumento de
eficiência. Estudo de
caso distrito de
Rechã - SP
Marcelo Pohlmann
e equipe
Brasworld Consultoria
Ambiental
Medidor proporcional
de intercepto
zero
Carlos Eduardo Méier
e equipe
Medidores Meier
& Giacaglia
Reúso da água de
processo (PRED)
no laboratório de
meio ambiente da
PUC-Campinas
Juliana Barbosa
Palhares Vivaldi
e equipe
PUC-CAMPINAS
| maio | junho
Abril | maio
Abril| junho
2008 | 2008
21 de agosto de 2008 - Tarde
Auditório 1
Mesas redondas
Reposicionamento
estratégico das
empresas de
saneamento no
Século XXI
Moderador
Paulo Massato
SABESP
Participantes
Gesner Oliveira
SABESP
14h50
Claudio di Mauro
Agência Nacional de
Águas - ANA
Yves Besse
Presidente ABCON
José Lucio Machado
Águas do Amazonas
15h30
16h10
Auditório 3
Palestras técnicas
Regulação do
Estudo de ações para
saneamento: nova
redução de vazamentos
conceituação de direitos
em adutoras de água
e deveres - informação
José do Carmo de Souza
e transparência
Júnior e equipe
Luis Carlos Aversa
SABESP
SEESP
13h30
14h10
Auditório 2
Palestras técnicas
Relator
José Carlos Karabolad
Secretaria de Estado
de Saneamento
e Energia
O objetivo
almejado pelo
Projeto Eficaz JICA
Masahiro Shimomura
Ação de redução e
controle de perdas com
aplicação de gestão de
projetos no setor
Itaim Paulista
Marcos dos Santos Jorge
e equipe
SABESP
Aumento da
Recuperação de adutora
confiabilidade de
de água potável com
bombas de alta pressão
instalação de
na ETE ABC
anel de vedação
e ETE Suzano
Nuno Barbosa
utilizando o TPM
e equipe
Aristeu Massao
Newsan
Matsumoto
Saneamento
ETE Suzano - SABESP
Melhoria da produção
de lodo aplicando a
metodologia TPM na
ETE São Miguel
e ETE Franca
Marcos Marcelino de
Andrade Cason
ETE Franca - SABESP
Regulação do
saneamento, uma
realidade na central de
atendimento telefônico
Maria José da Silva
Verdile e equipe
SABESP
Redução de perdas
com a implantação
do TPM no
extintor de cal da
ETA Rio Grande
e da ETE Parque
Novo Mundo
José Carlos Ortega
ETA Rio Grande
Marco Antonio
Wanderlei Castro
ETE Pq. Novo Mundo
SABESP
Sistema de adensamento
e desidratação da lama
gerada no processo
de tratamento de
água da unidade
de negócios refinaria
Gabriel Passos
Fernanda Gualberto
e equipe
AQUAMEC
16h50
| junho
| maio || 2008
Abril | maio
Abril
junho | 2008
Auditório 4
Auditório 5
Palestras técnicas
Palestras técnicas
Aplicação do sistema
de desaguamento,
condicionamento e
Otimização de bacias de
destinação final de
esgotamento - piloto
lodo na estação de
da bacia TA-13
tratamento de esgoto
Cambuci II
no município Itaberá - Marcelo Renato da Silva
Estado de São Paulo
Andrade e equipe
SABESP
Jorge Narciso de Matos
Júnior e equipe
SABESP
Empresas de
saneamento básico
operando sistemas
Hidrômetros de
de aterros sanitários.
Oscilação Fluídica
Uma proposta em
SmartMeter
conformidade com a
Dr. David Smith
Lei 11.445/2007
Gamma Cobra
Benigno José Souza
Neto e equipe - SABESP
O Isolamento
Compostagem através
de aqüíferos
de leiras revolvidas
potencialmente
da ETE Limoeiro/
produtores de flúor já
Presidente Prudente
no processo construtivo
como alternativa de
de perfuração
tratamento do lodo
tubular profunda
Marcelo Miki
Jose Paulo Godoy
e equipe
Martins Neto e equipe
SABESP
Maxiágua
Produção de óleo
Válvulas de
essencial em parcelas
Fluxo Anular
de Eucalyptus
Apresentação e
Citriodora adubadas
Aplicações do Produto
com lodo de esgoto
Saint-Gobain
plantadas em diferentes
Canalização
espaçamentos
André Marques
Alexandre Ferraz
Saint-Gobain
e equipe - USP
Canalização
Identidade da
manutenção
Roberto Santos
e equipe
SABESP
Desafios da Automação
em Saneamento Case Sanepar
Tânia Mara
SANEPAR
Palestra de Encerramento
Cerimônia de Entrega do Prêmio
Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa
| 27
| 27
Saneas
Saneas
Painel
Tecnologias para
Saneamento Básico 2008
No dia 12 de novembro, paralelamente à FEIPLAR COMPOSITES & FEIPUR 2008,
Fotos Tecniplas
será realizado um evento focado a profissionais das companhias de água e esgoto
O painel tem o objetivo de apresentar as inovações em composites/plástico
reforçado e poliuretano e será composto por cinco palestras técnicas, que serão
apresentadas por renomados especialistas do mercado
Inscreva-se:
Local:
&YQP$FOUFS/PSUF
1BWJMIÍP7FSNFMIP
Horário:II
EVENTO GRATUITO
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O maior evento de tecnologia em
composites/plástico reforçado e poliuretano
da América Latina
%FBEFOPWFNCSPEFtII(exposição)
1BWJMIÍP7FSNFMIPt&YQP$FOUFS/PSUFt4ÍP1BVMP
Apoio:
.FHBQBUSPDJOBEPSFT:
Realização:
artigo técnico
Otimização da Exploração de
Poços no Aquífero Fissurado de Lins
Fernando Wili Bastos Franco Filho
César Bianchi Neto
O sistema de abastecimento de água do município
de Lins – SP, operado pela Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo – SABESP, é constituído
exclusivamente por captação de água subterrânea,
através de 15 poços tubulares profundos. Perfurados
nos aqüíferos sedimentares da Formação Adamantina, aflorante, pertencente ao grupo Bauru, o Sistema
Aqüífero Guarani (SAG), constituído pelas Formações
Botucatu e Pirambóia, mais profundo e o fissural, constituído pelos Basaltos da Formação Serra Geral. O volume mensal total de 509.901 m3 (dado de janeiro de
2006) atende 100% da população.
Os dois poços no sistema aqüífero Guarani, o PPJ2
e o PPS 10, correspondem a aproximadamente 68% do
volume mensal produzido, mas os teores de fluoretos,
acima do padrão estabelecido pela OMS, presente na
água, limitam a sua exploração.
Para utilização desta água aos padrões exigidos,
a SABESP utiliza o método da diluição, através dos
poços perfurados nos demais aqüíferos (Formação
Serra Geral e Formação Adamantina).
Os 10 poços perfurados no aqüífero fissural vem
apresentando interferências entre si, dificultando o
ge-renciamento operacional.
OBJETIVO
Estudar o comportamento hidrogeológico dos poços, através de monitoramento de precisão, visando a
otimização da exploração sem que haja danos ao aqüífero.
LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE
ESTUDO
A área em estudo está localizada na porção noroeste do Estado de São Paulo, pertencendo a Bacia
Hidrográfica dos rios Tietê/Batalha, entre as coordenadas (U.T.M): 7601 - 7605 N e 627 - 632 E.
A região encontra-se na porção nordeste da Bacia
Paleozóica do Paraná, sobre sedimentos cretáceos pertencentes à Formação Adamantina.
Abril | maio | junho | 2008
MAPA DE LOCALIZAÇÃO
REFERÊNCIA: FOLHA TOPOGRÁFICA – IBGE: Nº136 (LINS) e SF- 22-XC-VI-2, e Nº135 (Promissão) SF-22-X-C-VI-1 - ESCALA: 1:50.000
LEGENDA
Poços no aqüífero cristalino (com monitoramento de vazão)
Poços no aqüífero cristalino (com monitoramento de vazão e nível)
METODOLOGIA UTILIZADA
Levantamento dos dados operacionais dos poços
do aqüífero fissural no período de 2000 a 2005.
Posteriormente, foi selecionado o P.3 que apresenta características hidrogeológicas e construtivas
adequadas à execução de monitoramento de vazão e
nível correspondente, utilizando-se registradores/acumuladores de dados, para posterior análise. Como este
poço dispõe de medidores eletromagnéticos de vazão,
foi instalado registrador/acumuladores tipo DATALOGGER, diretamente no medidor eletromagnético.
As medições de níveis foram executadas com a utilização de sondas (DIVER), conectada a um datalogger,
que registra os dados. A partir dos dados levantados,
foram elaborados gráficos em planilha Excel, relativo
ao período completo de medições e posteriormente,
após análise destes, foram selecionados intervalos
diários para uma melhor avaliação.
Saneas | 29
artigo técnico
DADOS OPERACIONAIS DOS POÇOS
Estas informações foram tratadas e foram definidos como:
1. Volume produzido (m3/mês) – corresponde ao volume de água obtido em um período entre 29 a 31
dias, através da diferença entre a leitura do 1o e
último dia do período, de um totalizador de volume
(hidrômetro, medidor eletromagnético, etc.).
2. Regime de bombeamento médio (h/dia).mês - é a
Volume Mensal (m3/mês):
Ano
2000
17.000
Mínimo
29.000
Máximo
23.000
Médio
razão entre o horário de funcionamento mensal do
poço, pelos dias do mês. O tempo de funcionamento
é medido em um período entre 29 a 31 dias, através
da diferença entre a leitura do 1o e último dia do
período, de um totalizador de horas (horímetro).
3. Vazão média (m3/h)X mês - É o quociente entre o
volume mensal produzido pelo poço pelo horário
de funcionamento no mês. Com base nos dados de
analisados dos poços durante 5 anos:
2001
21.000
2002
16.000
2003
8.000
2004
10.000
2005
15.000
27.000
24.000
17.000
18.000
17.000
24.000
20.000
13.000
14.000
16.000
Tempo de funcionamento (h/dia/mês):
Ano
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Mínimo
12
15
18
15
16
16,5
Máximo
19,5
20
20
20
19
18
Médio
15,75
17,5
19
17,5
17,5
17,25
2001
2002
2003
2004
2005
40
28
18
20
29
48
41
30
35
32
44
34,4
24
27,5
30,5
Vazão média (m3/h.mês)
Ano
2000
Mínima
40
Máxima
50
Média
45
ANÁLISE:
Volume produzido (m3/mês): Este apresentou variação de 13,5 a 20 mil m3/mês, mantendo-se constante nos anos
de 2000 e 2001, e queda de aproximadamente 20% em 2002, com o maior tempo de bombeamento no período
(19 h/dia), de 45% em 2003, 40% em 2004 e 32% em 2005, com regime de bombeamento médio de 18 h/dia.
Regime de operação: praticamente constante em 17:30 h,
Vazão média: variação acentuada em torno de 45%, em função do volume produzido.
30 | Saneas
Abril | maio | junho | 2008
artigo técnico
DADOS OBTIDOS DURANTE MONITORAMENTO EXECUTADO
GRÁFICO VAZÃO X NÍVEL
DE 26/12/2006 A 4/1/2007 – PERÍODO COMPLETO
ELEMENTOS OBSERVADOS:
Vazão máxima no período: 26,95 m3/h,
Capacidade específica: 3,58 m3/h.m,
Vazão mínima: 24,00 m33/h,
Nível máximo no período: 74,84 m,
Nível mínimo: 67,33 m
Rebaixamento máximo no período: 7,51 m
ANÁLISE:
Foram identificados 3 padrões de funcionamento
distintos, um no dia 29 de dezembro de 2006, outro no dia 1 e outro no dia 3 de janeiro de 2007.
GRÁFICO VAZÃO X NÍVEL DINÂMICO
29 DE DEZEMBRO DE 2006
ANÁLISE:
Observa-se dois padrões cíclicos de operação: intermitência com grande número de paralisações
do bombeamento produzindo oscilações de nível
e vazão (das 00:00 ás 8:18 h) e (18:00 às 21:00)
e contínuo (8:30 às 18:00). Durante a operação
contínua, nota-se uma tendência a estabilização
de nível e vazão.
GRÁFICO VAZÃO X NÍVEL DINÂMICO
1 DE JANEIRO DE 2007
ANÁLISE:
Funcionamento descontínuo (das 00:00 às 9:30
h), com várias paralisações, e contínuo (das 9:30
às 13:20 h), por 3:40 h, e intermitente com algumas paralisações das 13:21 h às 00:00 h. A vazão
apresentou uma tendência à estabilização, e o
nível dinâmico para esta vazão não apresentou
esta tendência.
GRÁFICO - VAZÃO X NÍVEL
30 DE DEZEMBRO 2006
ANÁLISE:
Foi selecionado um dia de operação contínua para
a verificação da estabilização da vazão e nível
dinâmico. Neste dia o poço operou 20 h ininterruptas, tendo sido verificado que o nível estabilizou
em 73,55 m, com uma vazão de 24 m3/h,
Abril | maio | junho | 2008
Saneas | 31
artigo técnico
CONCLUSÕES
Analisando-se os dados operacionais deste poço,
podemos diagnosticar os seguintes aspectos:
A metodologia empregada mostrou-se eficaz e
possibilitou a definição do perfil de funcionamento do
poço, ferramenta fundamental para realização de uma
operação otimizada deste, visando à obtenção de um
maior volume explorado de forma sustentável.
O acompanhamento contínuo de vazões e níveis
possibilitou verificar que a operação atualmente em
curso mostra-se inadequada, com sub-exploração da
potencialidade real do poço, com maior custo do m3
extraído. O sistema de automação atual de operação
privilegia somente quando o reservatório “pede” água,
minimizando a real potencialidade do poço.
RECOMENDAÇÕES
Com base na análise dos dados operacionais levantados e o monitoramento executado podemos recomendar o seguinte:
• Promover uma automação que privilegie uma
constância na vazão extraída do poço durante todo o
período de funcionamento, e reduzir as paralisações
deste, visando um melhor aproveitamento da sua capacidade produtiva,
• Após teste de vazão e medidas de interferência, verificar a possibilidade de aumento de produção, visto
que foi verificado, durante o monitoramento executado, um rebaixamento pouco expressivo,
• Executar uma inspeção ótica no poço, com vista a
executar um programa de manutenção neste, visando
prolongar a vida útil deste.
• O regime diário de bombeamento não deve exceder
18h/dia.
32 | Saneas
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. DAEE - Departamento de Águas e
Energia Elétrica, Manual de Operação e
Manutenção de Poços - DAEE, São Paulo,
1982, 2ª ed., 90p.
2. HANTUSH, M.S. 1956. Analysis of data
from pumping tests in leaky aquifers.
Am. Geophysics. Union Transactions,
Washington, 37:702-714.
3. IPT - Mapa Geológico do Estado de São
Paulo. Escala 1:500.000. Volume 1. Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado
de São Paulo. São Paulo. 1981. 126p.
4. Martins Netto, J.P.; Diniz, H.N., 2002.
Franco F., F.W.B., Bianchi N., C., Desincrustação Química Em Poços Tubulares
Profundos A Partir da Utilização de Ortofosfatos Ácidos – Estudo De Um Caso Em
Presidente Prudente, SP - XII Congresso Brasileiro de
Águas Subterrâneas, Florianópolis, ABAS/DNPM/UFSCPPGEA, - 2002, CD-ROM
5. Subterrâneas, Florianópolis, ABAS/DNPM/UFSC-PPGEA, - 2002, CD-ROM
6. SABESP – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Arquivo técnico de poços,
7. SABESP – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sistemas de Produção na R,
Fernando Wili Bastos Franco Filho,
[email protected]
Geólogo da SABESP – formado 1975, pela UNESP – Rio
Claro, Especializado em Engenharia de Saneamento
Básico pela Faculdade de Saúde Pública – USP, responsável pela elaboração de projetos e acompanhamento
de um grande número de obras de perfuração e recuperação de poços; Cursos ministrados e Assessoria a
Órgãos Estaduais e Prefeituras na área de poços, geologia e hidrogeologia.
César Bianchi Neto, [email protected]
Geólogo da SABESP – formado 1983, pela UNESP – Rio
Claro, Especializado em Engenharia de Saneamento
Básico pela Faculdade de Saúde Pública – USP, responsável pela elaboração de projetos e acompanhamento
de um grande número de obras de perfuração e recuperação de poços; Cursos ministrados e Assessoria a
Órgãos Estaduais e Prefeituras na área de poços, geologia e hidrogeologia.
Endereço: Av. do Estado, 561, São Paulo - SP – Brasil
Fone: (11) 3388-7366
Abril | maio | junho | 2008
artigo técnico
Desafios do abastecimento
Paulo Guimarães
Breve Histórico
Águas do Amazonas instalou-se em Manaus, no dia
04 de Julho de 2.000, com um contrato de concessão de
30 anos pelos serviços de água e esgoto, após arrematar
a Manaus Saneamento, em Junho do mesmo ano, em
um leilão na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.
Manaus, a capital, é uma metrópole com, aproximadamente, 1,8 milhão de habitantes e está situada às
margens do Rio Negro que, junto com o Rio Solimões,
encontram suas águas para abraçar a cidade e depois
levar o caudaloso rio Amazonas até o mar.
Este é o ambiente da Águas do Amazonas, primeira
privatização do setor de saneamento de uma capital
brasileira, onde a diversidade da natureza amazônica
se harmoniza ao contexto urbano de uma grande cidade, gerando na empresa o compromisso cada vez
maior de integração com a comunidade, sua história,
cultura e, sobretudo, com a responsabilidade de prestar um serviço eficiente.
Apesar da grande disponibilidade de água superficial os Poços correspondem hoje por 20% da água distribuída pela Empresa, representando um volume médio
de 3.500.000 m3/mês com a produção de 136 poços.
Os poços estão distribuídos nas Zonas Leste e Norte
da Cidade, áreas mais distantes do ponto de captação
e tratamento da água superficial.
Geologia Local
A Cidade de Manaus está assentada sobre a Formação Altér do Chão. A formação sedimentar encontrase representada por arenitos e pelitos de coloração
avermelhada, relacionados a um sistema deposicional
continental ao longo do período do cretáceo superior.
Essa formação tem espessura que varia em torno
dos 200 a 250 metros de profundidade e aparece assentada discordantemente sobre calcários da Formação Olinda.
As características das rochas que constituem a
Formação Altér do Chão, formam aqüíferos semiconfinados, proporcionando condições adequadas
para a exploração de água subterrânea.
Em função das características das rochas que
cons-tituem a Formação Olinda, os poços são construídos com o objetivo de captar água somente dos
aqüíferos da Formação Altér do Chão, com profundidade entre os 200 a 250 metros.
Abril | maio | junho | 2008
Características dos Poços
Águas do Amazonas iniciou seus trabalhos operando cerca de 75 poços profundos, os quais foram
construídos pela antiga Concessionária – Cosama.
Mas os mesmos já apresentavam acentuada queda de
vazão em função da falta de manutenção preventiva e
colmatações das seções filtrantes.
Para superar a queda de vazão e atender o crescimento populacional, o número de poços construídos
e absorvidos foi aumentando a cada ano, chegando a
130 poços até o inicio de 2007.
A metodologia e os preços praticados para a construção dos poços eram definidos por um único fornecedor local, onde reinava o monopólio e o resultado
tanto na questão de
qualidade
técnica
como na vazão de exploração do poço não
atendia a expectativa
da empresa.
No inicio de 2007,
com a repactuação
do Contrato de Concessão, a Águas do
Amazonas junto com a
Poço Japiim – Vazão 250m3/h
Prefeitura de Manaus
(Poder Concedente) definiu um Plano de Expansão do
abastecimento de água, no qual contemplava a construção de 33 poços.
A necessidade de construir essa quantidade de
poços e alcançar os resultados desejados, tanto na
qualidade dos serviços como na redução dos custos e
na eficiência da produção de cada poço, fez com que
a empresa buscasse qualificar a gestão completa dos
trabalhos e o acompanhamento do dia a dia da operação dos poços já existentes.
Para a construção dos novos poços foram criteriosamente avaliados os locais a serem perfurados,
de forma a eliminar a interferências entre os poços já
existentes e manter a proximidade dos setores que seriam atendidos. Também foi realizado um trabalho de
levantamento dos materiais necessários, com definição
dos fabricantes, das especificações técnicas e quantidades a serem utilizadas no projeto.
Saneas | 33
artigo técnico
Em virtude da qualidade da água subterrânea da
região apresentar um pH ácido (em torno dos 5 – 5,5)
foi definido que os poços seriam revestidos com tubos em PVC geomecânico reforçados, a fim de evitar a
agressão química da água.
Definidas as locações dos poços e materiais
necessários para aplicação, foram convidadas as principais empresas do país para concorrerem na prestação dos serviços de mão de obra para a construção dos
poços. Na forma de contratação a Águas do Amazonas
forneceria todos os materiais a serem aplicados e a
empresa perfuradora faria a execução do furo, aplicação dos materiais, desenvolvimento e teste de vazão
de cada poço.
Pela quantidade de poços a serem construídos, foi
então fechado contrato com quatro empresas, sendo
três delas da região Sudeste e uma empresa local. Com
poço. O projeto previa uma média de vazão em torno
dos 50m3/h e os resultados obtidos após a construção
de 10, dos 33 poços, já apresentava uma media de
vazão de 80m3/h.
Com esse resultado pode-se reavaliar o projeto,
possibilitando definir melhor a necessidade de cada
bairro pelo volume até então disponível e consegui-se
uma redução no número de poços a ser construídos,
reduzindo de 33 para 21 poços.
Desses 21 poços construídos, cinco já entraram em
operação e estão contribuindo para melhoria do abastecimento local e até o final de julho todos os outros
já estarão em pleno funcionamento.
Preocupação Sócio-Ambiental
Na implantação dos novos poços a preocupação da
sustentabilidade sócio-ambiental sempre esteve presente. Os novos poços foram posicionados
em área que evitasse a interferência com
Projetos dos Poços
outros poços, tempo de operação de cada
Poço com profundidade de 200m, revestido em PVC Geomecânico, 8”. Incluso
poço limitado ao máximo em 20horas/dia
urbanização civil, subestação elétrica, painel de comando equipado com
de funcionamento e vazão de exploração
soft-start e equipamento de bombeamento.
obedecendo aos valores abaixo do “Ponto
Crítico” da curva de rebaixamento do
Custo R$
poço.
R$ 340.000,00
Até 2007
Novo projeto
Economia por poço
Economia total no novo projeto
R$ 250.000,00
R$ 90.000,00
R$ 2.970.000,00
isso quebrou-se o monopólio e abriu-se a concorrência
dos trabalhos de uma forma justa e profissionalizada.
Os materiais para aplicação foram todos de primeira linha, adquiridos direto dos fabricantes, até mesmo
o pré-filtro, que são seixos de areia bem selecionada,
tipo pérola, que foi negociada com o fornecedor de
São Paulo.
Como o volume de materiais a serem utilizados nos
33 poços seria grande, também foi possível realizar
satisfatórias negociações com os fornecedores, possibilitando uma larga margem na redução dos custos.
Outra característica importante desse projeto foi
o objetivo de investigar toda a espessura da Formação Altér do Chão, aonde alguns poços chegaram a
ter 250m de profundidade. Com os estudos realizados
foi possível receber a contribuição de águas que ficam
armazenadas na camada arenosa que constitui a base
dessa formação.
Com a metodologia definida e um acompanhamento direto das operações realizadas, consegui-se
superar as expectativas de vazão de produção de cada
34 | Saneas
Desenvolvendo Fornecedores
Outra dificuldade superada pela Empresa, que conta hoje com 136 poços em
operação, foi na contratação de serviços
para realização das manutenções corretivas e preventivas dos poços em operação. A falta de empresas
capacitadas fazia com que a Águas do Amazonas pagasse um valor cerca de oito vezes maior que a média
do mercado para um trabalho de substituição de equipamento em um poço.
Foram avaliados fornecedores locais e o escolhido
recebeu toda orientação técnica para aquisição de
equipamentos e ferramental necessário a realização
dos trabalhos, além disso todo quadro de funcionários
recebeu orientações e treinamentos de capacitação
na execução dos trabalhos, de forma que pudesse
atender a necessidade da Águas do Amazonas.
Com o desenvolvimento e capacitação desse fornecedor, consegui-se uma redução no tempo em que
o poço fica parado para realização de manutenções
e também uma significativa redução nos custos das
intervenções para substituição de equipamentos,
chegando a uma redução de 70% no valor que era
pago antes.
Abril | maio | junho | 2008
artigo técnico
TERRENOS CALCÁRIOS:
ÁREAS DE RISCO GEOLÓGICO
PARA A ENGENHARIA E PARA
O MEIO AMBIENTE
Álvaro Rodrigues dos Santos
Em 1981, na cidade de Mairinque - SP, várias edificações apresentaram trincas e afundamentos de piso.
Em 12 de agosto de 1986, o bairro Lavrinhas, em
Cajamar, município integrante da Região Metropolitana de São Paulo, foi afetado por fenômenos de colapso
e subsidência de grandes proporções, especialmente
impactantes por ocorrerem em plena área urbana.
Cerca de 60 dias após os primeiros sinais, na principal área atingida três casas haviam sido tragadas em
uma cratera de cerca de 30 metros de diâmetro e 15
metros de profundidade, enquanto recalques e trincas
afetaram dezenas de outros imóveis até distâncias de
400 metros do local.
Em março de 1988, no município de Sete Lagoas,
Região Metropolitana de Belo Horizonte, um afundamento de cerca de 20 metros de diâmetro e 5 de profundidade tragou parte da arquibancadas do Estádio
Municipal, muros e paredes de edificações próximas,
sendo que sinais de movimentação foram observados
em edificações situadas em um raio de 40 metros.
Em meados de 1992, no município de Almirante
Tamandaré, Região Metropolitana de Curitiba, foram
observados vários pequenos afundamentos de ter-
Afundamento em Teresina (PI)
Abril | maio | junho | 2008
reno, trincas de edificações, inclinações de edificações,
descolamento entre alvenaria e peças estruturais,
rebaixamento do nível d’água em poços, cacimbas e
pequenos lagos.
Em 28 de dezembro de 1999, à Rua Simplício Mendes, região central da cidade de Teresina - PI, verificouse grande afundamento com comprometimento total
de várias edificações.
Em 1999, no município de Cajamar - SP, parte das
edificações da moderna fábrica da Natura (Cosméticos) sofreu danos estruturais advindos de afundamentos em suas fundações.
Em meados de junho de 2007, no município de
Almirante Tamandaré, Região Metropolitana de Curitiba, ocorreu um dos maiores afundamentos de que se
tem notícia na região, com forma elipsoidal, 50 metros
de comprimento, 40 metros de largura e cerca de 30
metros de profundidade.
Em 14 de agosto de 2007, também no Paraná, no
Bairro de Campininha do Capivari, Município de Bocaiuva do Sul, um outro colapso com uma cratera de 5
metros de diâmetro e 5 metros de profundidade.
Muitos outros eventos similares de afundamentos
Afundamento em Cajamar (SP)
Saneas | 35
artigo técnico
O principal fenômeno cárstico de interesse da ende terrenos já aconteceram por todo o país, e que, por
genharia é o afundamento, brusco ou lento, de ternão terem causado danos maiores, não obtiveram rerenos. Esses afundamentos, que podem destruir por
percussão de mídia e a devida atenção de especialistas
completo edificações de superfície, colocando em
para sua análise e registro técnicos.
risco patrimônios e vidas humanas, são decorrentes
Dois fatos em comum em todos esses eventos:
do colapso de um teto de caverna (que pode estar a
foram no passado precedidos de eventos semelhantes
dezenas de metros de profundidade) ou da contínua
em suas regiões e todos eles aconteceram em terrenos
migração de solo para o interior de fendas ou cavernas
calcários.
subterrâneas, o que, com o tempo, vai também deterEsse último traço comum expressa ainda uma esminar um afundamento em superfície. Em boa parte
pecificidade: terrenos calcários com feições cársticas,
do território brasileiro, por decorrência de seu clima
ou seja, rochas calcárias que apresentam feições sutropical úmido, as rochas calcárias cársticas estão coperficiais (cavernas, lapas, drenagens intermitentes,
bertas por uma camada de solos de espessura variada,
sumidouros e ressurgências, dolinas - depressões
os chamados carstes cobertos, o que torna muito code relevo circunscritas, vales secos) e subterrâneas
mum o abatimento decorrente da migração de solo
(cavernas, fendas, vazios e canais subterrâneos interpara o interior de fendas e cavernas.
comunicantes) originadas de processos lentos de disQuase sempre a aceleração de um processo de
solução química da rocha calcária.
afundamento de terreno em regiões cársticas está asAs regiões de Cajamar e Mairinque afetadas pelos
sociada a algum tipo de
abatimentos estão situainterferência humana no
das em rochas calcárias do
lençol freático, especialGrupo São Roque, as de
mente a um seu rebaixaSete Lagoas em calcários
mento mais intenso decodo Grupo Bambuí, as de
rrente de uma excessiva
Almirante
Tamandaré
exploração de água subem calcários do Grupo
terrânea através de poços
Açungui e as de Teresina,
profundos.
provavelmente em bancos
Um outro grande risco
calcários da Bacia Sediadvindo da ocupação de
mentar do Parnaíba (para
terrenos cársticos está
esse caso em particular,
relacionado à construção
faltam ainda estudos mais
de grandes reservatórios
conclusivos).
de água (barragens para
As rochas calcárias são
Afundamento em Almirante Tamandaré (PR)
produção de energia ou
rochas carbonáticas, em
abastecimento). As águas
que predominam os cardo reservatório podem migrar em grande vazão para os
bonatos de cálcio (CaCO3) e magnésio (MgCO3), que as
vazios da rocha calcária, não só impedindo o completo
compõem em diferentes proporções, formando então
enchimento do lago, como provocando variações de
os calcários calcíferos (mais ricos em carbonato de cálnível, fluxo e pressões no lençol subterrâneo, o que, de
cio) e os calcários dolomíticos (mais ricos em carbonsua parte, coloca em risco a própria obra da barragem,
ato de magnésio). As águas de chuva (H2O) interagem
como também outras edificações próximas.
com o gás carbônico (CO2) do ar produzindo um ácido
Do ponto de vista ambiental, os terrenos cársticos,
fraco, o ácido carbônico (H2CO3). Essas águas assim
pela franca e rápida drenagem com que podem propilevemente acidificadas, ao encontrar um maciço calciar a comunicação entre águas superficiais e águas
cário fraturado, penetram por essas descontinuidades
subterrâneas, obrigam um redobrado cuidado para
e vão lentamente, através do tempo geológico, dissolque se evite a contaminação do lençol freático por povendo a rocha e produzindo vazios que podem evoluir
luentes urbanos, industriais ou rurais de superfície.
para grandes fendas, cavernas e canais por onde fluem
Depreende-se que os terrenos calcários, pela possias águas interiores. A maior parte das famosas e bebilidade de apresentar feições cársticas, devem ser enlas cavernas brasileiras, com suas estalactites e estatendidos como típicas áreas de risco para a ocupação
lagmites, são feições originadas desse fenômeno de
humana por obras de engenharia: cidades, barragens,
dissolução de rochas calcárias.
36 | Saneas
Abril | maio | junho | 2008
artigo técnico
termoelétricas, instalações industriais, estradas, linhas de transmissão,
etc., sugerindo, portanto, cuidadosa investigação preliminar a qualquer
decisão de engenharia. De tal forma que, detectadas feições cársticas,
ou o empreendimento humano em questão possa ser deslocado para
situações geologicamente mais seguras ou, impedido ou desaconselhado esse deslocamento, possa-se adotar as medidas necessárias para que
acidentes e futuros problemas venham a ser evitados. Uma das medidas
que comumente é cogitada para o tratamento de terrenos cársticos é a
injeção de calda de cimento, com o que se procuraria obturar os vazios
subterrâneos. A experiência tem mostrado que essa medida raramente
traz algum sucesso, uma vez que os volumes necessários para se conseguir a desejada obturação são exageradamente grandes e de quase
impossível quantificação anterior exata. Um outro aspecto que recomenda muita ponderação para se decidir pela alternativa de injeção de
calda de cimento é a possibilidade de se interferir negativamente no
escoamento da água subterrânea da região, implicando em reflexos que
podem ser muito problemáticos para áreas próximas.
No Brasil são abundantes os terrenos calcários, e nesses terrenos são
abundantes as feições cársticas. A identificação dessas feições, pelo levantamento do histórico regional e por exame superficial dos terrenos,
é um procedimento fácil e corriqueiro para a geologia. Como também
são conhecidas e eficientes as técnicas geológicas diretas (sondagens
mecânicas) e indiretas (sondagens geofísicas elétricas) para o mapeamento das condições subterrâneas dos maciços calcários, identificando
a existência ou não de vazios, sua distribuição, seu comportamento
hidrogeológico, etc. No entanto, falta ainda que esses procedimentos
sejam definitivamente incorporados como uma providência normal
e corriqueira aos estudos preliminares de obras de engenharia, como
também aos planos de gestão urbana de cidades já instaladas sobre
esse tipo de terreno. De modo que, nesse último caso, esses planos de
gestão incorporem, por sua vez, ações de monitoramento permanente e de cuidados preventivos (por exemplo, a não exploração da água
subterrânea, ou ao menos sua exploração em condições controladas
e limitadas), assim como planos contingenciais de Defesa Civil e um
Código de Obras limitante, por exemplo, da construção de edificações
com mais de dois pavimentos na região afetada.
Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos ([email protected])
• Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT
• Ex-Diretor da Divisão de Geologia do IPT
• Pesquisador Sênior V pelo IPT
• Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e
Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Cubatão” e “Diálogos
Geológicos”
• Consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente
• Criador da técnica Cal-Jet de proteção de solos contra a erosão
Abril | maio | junho | 2008
Saneas | 37
visão de mercado
thelma harumi chira
Economista e
Consultora da
Pezco Pesquisa e
Consultoria Ltda.
O Saneamento através
de Indicadores
Devido às importantes conseqüências de
natureza econômico-financeira, este assunto
é muito polêmico. O impacto da complexidade
dos objetivos e da forma como um indicador de
desempenho deve se apresentar é claramente traduzida nas diferentes maneiras de mensuração e
comparação da eficiência. Marques (2007) resenha
aplicações da chamada regulação por comparação
(benchmaking regulation) e conclui que esta apresenta-se de forma díspar, podendo ser uma simples
publicação do desempenho (regulação sunshine)
ou ainda ter formas mais determinantes nos processos dos sistemas tarifários (regulação por pricecap, na qual o fator “X” é determinado com base
nos resultados das outras entidades gestoras).
Assim, através de indicadores de desempenho
é possível uma verificação de necessidades do
sistema para que os serviços gerem benefícios de
maneira amplificada.
No Brasil, o setor de saneamento pode contar
com duas fontes de dados: SNIS (Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento – Ministério das Cidades) e o IBGE (Instituto Brasileiro de
Estatística: Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios, Pesquisa Nacional de Saneamento
Básico). De forma geral, ambos
consideram a abrangência terÍndice de perdas de
faturamento (%)
ritorial como classificação das
informações disponibilizadas.
38
Apesar da defasagem, o SNIS
34
apresenta um maior detalhamento das informações, com
27
desagregações
importantes
17
para que investidores, gestores
21
e sociedade criem indicadores
e acompanhem o desempenho
26
do sistema.
A avaliação do desempenho de organizações
assume um protagonismo crescente nas sociedades contemporâneas. Os indicadores expressam
o nível do desempenho efetivamente atingido,
tornando direta e transparente a comparação entre objetivos de gestão e resultados obtidos, simplificando uma situação que, se analisada de outra
forma, seria complexa. Indicadores devem ser utilizados como instrumentos para uniformização da
informação e avaliação de desempenho com base
em definições claras e uma linguagem comum.
A questão em cheque está diretamente relacionada a definição do objetivo a ser alcançado
em uma mensuração de desempenho, ou seja, a
eficiência. Conceitualmente, a mensuração de
eficiência pode ser definida como o resultado
máximo obtido de acordo com os fatores empregados. Ou ainda como a capacidade de a empresa
utilizar os fatores de produção em proporção
ótima, minimizando os custos de produção. Essas
duas definições coexistem e compõem a chamada
eficiência econômica. De forma clara: é mais eficiente quem consegue produzir mais com menos.
TABELA 1 - Índices médios por regiões
Índice de produção de pessoal
total (ligações/empregados)
Norte
193
Nordeste
470
Centro-Oeste
279
Sudeste
454
Sul
410
Brasil
410
1 MARQUES, R. C. Uso de benchmarking na regulação de serviços públicos. V Congresso Brasileiro de Regulação da ABAR. Recife/PE.
06 a 09 de maio de 2007
38 | Saneas
Abril | maio | junho | 2008
Visão de mercado
De acordo com a maneira como é selecionado pelo
pesquisador, pode apresentar resultados diferenciados.
Por exemplo, a consideração direta dos indicadores do
SNIS neste quesito pode levar a resultados que dependem de atenção em sua interpretação. A Tabela 1
mostra os indicadores: Índice de Produção de Pessoal
Total e Índice de Perdas de Faturamento, média por
regiões em 2005. Porém, não se pode extrair conclusão
direta sem uma análise minuciosa de vários aspectos
subjacentes, assim como de variáveis de controle que
devem ser necessariamente consideradas. Note-se que
a análise também pode ser realizada por municípios,
conforme as Figuras 1 e 2.
É importante ressaltar que, além de considerar a
hipótese a ser pesquisada, as informações serem autodeclarativas e defasadas, existem características não
controláveis, como o nível de adensamento do sistema,
dado que poderia haver ganho de escala regional,
elencando locais de maior ou menor eficiência.
A análise de indicadores é fundamental para o
acompanhamento e gestão eficiente do sistema, assim
como as considerações não tão facilmente tangíveis
em números, para que variáveis e classificação sejam
adequados à realidade.
Abril | maio | junho | 2008
Figura 1 - Índice de Produção de Pessoal
Total (lig/empreg), por municípios
Fonte: SNIS (2005)
Figura 2 - Índice de Perdas de Faturamento
(%), por municípios
Fonte: SNIS (2005)
Saneas | 39
lançamento
Regulação dos Serviços de
Água e Esgoto
Marfisa Maria
de Aguiar
Ferreira
Ximenes,
arquiteta,
ConselheiraDiretora
da Agência
Reguladora do
Ceará (ARCE) e
Coordenadora da
Câmara Técnica
de Saneamento
da Associação
Brasileira de
Agencias de
Regulação
(ABAR).
Passados mais de um ano e meio da promulgação da Lei 11.445/2007, a praxe tem demonstrado
que a construção da regulação no país será uma
tarefa árdua para o setor de saneamento.
Há vários problemas que dificultam o desenvolvimento dessa atividade. A principal delas continua
sendo a definição da titularidade dos serviços, pelo
Supremo Tribunal Federal, ainda pendente. Além
disso, não se conseguiu estabelecer uma agenda
mínima para discussão institucional do setor. Até
mesmo as iniciativas pontuais, conduzidas pelo
Programa de Modernização do Setor de Saneamento – PMSS, estão sendo finalizadas sem que
o governo federal aponte solução de continuidade para o referido programa. No que se refere às
agências reguladoras, embora se constate alguns
avanços, ainda há muito a fazer em termos de
regulação efetiva do setor.
Podem ser destacados avanços, em estados
como o Rio Grande do Sul e São Paulo, tais como a
delegação da regulação de quase 50 municípios do
Rio Grande do Sul à Agência Estadual – AGERGS
e de mais de 100 contratos de programa assinados em São Paulo, que delegaram a regulação dos
serviços a ARSESP, além da consolidação dessa
atividade nos Estados do Ceará, Pernambuco, Goiás
e Distrito Federal.
Nesse contexto, também vem se demonstrando
que a regulação por consórcios é inviável nos termos da Lei 11.445/2007, pois até o presente momento os defensores deste formato sequer conseguiram construir um modelo teórico para esse
tipo de modelagem institucional.
Apesar dessas dificuldades, a Associação Brasileira de Agências de Regulação - ABAR, por intermédio de sua Câmara Técnica de Saneamento, vem
empreendendo algumas ações para capacitação e
organização do setor, no sentido de contribuir para
a melhoria da governança regulatória.
Uma dessas iniciativas é o CD Saneamento
Básico 2008, lançado neste XIX Encontro Técnico
da Associação dos Engenheiros da Sabesp, o qual
traz a coletânea de toda a produção legal, técnica e
científica das agências reguladoras de saneamento. Esse instrumento disponibilizará leis, decretos,
notas técnicas, termos de referência, entre outros,
além de apresentar levantamento nacional sobre
40 | Saneas
as características de gestão e de operação de todas
as agências do setor. A consulta ao CD permitirá
otimizar recursos quando da elaboração de novos
instrumentos de regulação, seja pelas agências
reguladoras, seja pelos prestadores de serviço.
Encarte do cd-rom
Outra ação realizada pela Câmara Técnica é a
edição do livro sobre “Normatização da Prestação
dos Serviços de Água e Esgoto” prevista para outubro deste ano. Definida como competência das
agências reguladoras, conforme o artigo 23 da
Lei 11.445/07, a normatização exigirá toda uma
mudança cultural na gestão dos serviços. Aspectos como transparência, notadamente em relação
a tarifas e custos dos serviços, serão elementos
obrigatórios nessa nova regulamentação. Assim,
para coletar subsídios do setor no sentido de
aprimorar as normas de referência, que farão
parte desse livro, a ABAR realizou consulta pública
nacional nos meses de julho e agosto, tendo recebido inúmeras contribuições. Considerando
que a maioria das agências ainda não dispõe de
normas estabelecidas, essas resoluções de referência poderão significar o marco inicial para estabelecimento das novas regras do setor. Ademais,
a possibilidade de adoção de regras com base
técnica semelhante permitirá, no futuro, a adoção
de parâmetros comuns para utilização em modelos
de benchmarking.
Por fim, é necessário avançar na discussão e na
construção da regulação do setor. Iniciativas como
o Encontro Técnico da AESABESP, que traz como
tema a “Regulação do Saneamento: nova era, novos horizontes”, são fundamentais, pois a regulação exige, além de melhoria na forma da gestão
dos serviços, mudança cultural na forma de agir e
pensar o setor.
Abril | maio | junho | 2008
“Causos” Do Saneamento
Atendendo ao convite do Presidente da AESabesp, Luiz Narimatsu, vamos
iniciar esta seção, denominada “Causos” Do Saneamento. Convidamos
você, associado, que tem “causos”, estórias e histórias do dia a dia do
seu trabalho, que sejam interessantes, pitorescas ou engraçadas, que
participe desse espaço, nos enviando o seu relato.
Vamos ao “causo” de estréia:
A história da coruja
Por João Carlos Herrera
Na época desse acontecimento eu estava trabalhando
como Engenheiro de Apoio no Setor Técnico de Lins. Além
dos serviços normais de manutenção de redes adutoras
e áreas operacionais, eu também dava apoio à área de
atendimento ao cliente.
Certa vez a atendente me chamou pelo ramal interno,
dizendo que atendia um cliente ao telefone, que estava
muito bravo com a Sabesp por um motivo que ela não
conseguia entender e não havia meios de acalmá-lo ou
mesmo resolver o problema.
Ela havia informado ao cliente que estava transferindo a
ligação para um ENGENHEIRO, estabelecendo-se assim o
seguinte diálogo:
- Pois não, boa tarde! Disse eu com voz moderada,
demonstrando prestatividade e atenção.
O Cliente, então, muito alterado, perguntou em voz muito
alta e grave:
- O senhor é mesmo Engenheiro?
- Sou sim e estou às suas ordens – respondi.
O cliente então já foi logo dizendo:
- Bom “Doutor” eu acho um absurdo a Sabesp deixar
acontecer uma coisa dessas.
- Mas o que aconteceu meu AMIGO?
- O senhor fique sabendo que aconteceu o maior absurdo
aqui na minha casa: fui pegar água na torneira e vi que
saiu uma pena grande de passarinho. Foi então que
resolvi subir na caixa d’água, aqui de casa, e quando tirei a
tampa, vi que havia uma CORUJA morta lá dentro . Como
é que pode a Sabesp deixar que aconteça isso? Mandar
uma coruja junto com a água aqui pra casa?
Logo perguntei:
- Mas a caixa d’água tem tampa e está colocada
direitinho?
E ele já foi respondendo de modo áspero:
- Nem me fale de tampa, já vi “tudinho” e não tem nada
errado.
Tendo ouvido atentamente, fiquei pensando em
uma resposta que convencesse o nosso cliente da
impossibilidade de que tal fato pudesse ter ocorrido
daquela forma. Foi então que tive uma idéia e coloquei
em prática dizendo ao cliente o seguinte:
- Para responder a vossa pergunta eu preciso que o senhor
faça aquele sinal de “POSITIVO” com o polegar da mão
que está livre, e olhe bem para ele.
Abril | maio | junho | 2008
Diz o Cliente:
- O senhor não está de brincadeira comigo não “né”?
- Não, de jeito nenhum.
- Já fiz o sinal que o senhor pediu, disse o meu
interlocutor.
- Então, o que eu quero dizer para o senhor é que a
“grossura”(diâmetro) do cano que liga a rede principal
de distribuição de água até a vossa caixa é idêntica à
“grossura” do seu dedo polegar, então, eu gostaria que o
senhor me dissesse como que uma coruja pode passar por
um cano tão estreito assim? Perguntei.
A partir desse momento estabeleceu-se um longo
silêncio...
Preocupado, falei:
- Meu senhor ...!
Mais uns instantes e ele responde:
- Desculpe doutor – disse o cliente – é que eu fiquei aqui
pensando no que o senhor falou, então eu vou subir lá na
caixa d’água de novo e vou ver direito, e telefono para o
senhor já, já.
Quando fui falar, ele já havia desligado.
Instantes depois, a atendente, agora sorridente me passa
o cliente que novamente estava ao telefone e queria falar
comigo.
Então num tom bastante amistoso ele já foi falando:
- Eh! Eh! Doutor, o senhor é sabido mesmo hein? O senhor
sabe – continuou ele – que quando vi a coruja lá na caixa
eu nem pensei e nem vi direito como estava aquela tampa,
mas agora com mais calma eu pude ver que havia um
cantinho da tampa da caixa que estava quebrada, e ficou
um buraco assim do tamanho de uma mão fechada, e deu
pra ver que tinha até uns “cocozinhos” dos passarinhos ali
nesse canto.
Ainda sorridente com tom de bom amigo emendou:
- Sabe doutor eu falei tanta besteira para o senhor, mas
o senhor foi sempre muito educado comigo, e eu estou
muito agradecido, e dia desses eu passo por aí para
conhecer o senhor.
Passados uns 15 dias apareceu o Sr. Antonio (nome
fictício) com uma garrafa de cachaça com Jurubeba com
a seguinte frase:
“Tomando uma não tem erro, você acerta aonde a CORUJA
faz o ninho”.
Fim
Saneas | 41
Palavra de amigo
O gaúcho que
se “apaulistou”
Por Carlos Eduardo Quaglia Giampá
João Carlos Simanke de Souza, natural de Porto
Alegre – RS, graduou-se em Geologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – URGS, em 1.974
e iniciou sua vida profissional atuando na área de
Hidrogeologia e Perfuração de Poços Tubulares na
“Companhia T. Janer”, em Porto Alegre e posteriormente em Curitiba.
Mudou-se para São Paulo em 1.978, atuando na
empresa “Air Lift” até o início de 1.979, quando fui o
responsável por levá-lo para atuar na incipiente área
de Águas Subterrâneas da Sabesp.
Atuamos juntos até agosto de 1.986, período de
muitas realizações, consolidações e transformações,
ocasionadas tanto nas atividades de Águas Subterrâneas quanto no desenvolvimento tecnológico da
Construção de Poços Tubulares Profundos.
Pioneiramente, junto com os Programas de Perdas
realizados pela Companhia de Saneamento Básico do
estado de São Paulo, realizamos as primeiras ações
visando a adequação operacional dos Sistemas de
Poços. O processo de “Instalação de Sistemas de
Medições e Monitoramento de seus Parâmetros Hidrodinâmicos” foi implantado e,
desde aquela época, vem permitindo a
avaliação da eficiência dos mesmos.
42 | Saneas
Nesse
período, também sua
participação
na
consolidação
da
ABAS – Associação
Brasileira de Águas
Subterrâneas foi de
singular importânCarlos Eduardo
cia, resultando na
Quaglia Giampá e
sua
participação
João Carlos Simanke
em vários cargos
de Souza
na Diretoria da Entidade, até culminar
com a Presidência, cuja gestão ocorreu entre 1999 e
2000.
A publicação de inúmeros trabalhos que vieram
contribuir para o conhecimento e desenvolvimento
das Águas Subterrâneas em São Paulo e no Brasil,
bem como a participação em eventos que discutiram
e implantaram os diversos Planos, Projetos e Regulamentações de Leis dessa área, foram algumas de suas
atividades que se perpetuarão na história do cenário
deste setor.
As realizações dos cursos de Pós - graduação e
o Doutorado em Hidrogeologia pela USP coroaram
a sua carreira profissional, encerrada na Sabesp em
2.007, com sua aposentadoria. Nesse ínterim, nosso
amigo João Carlos Simanke de Souza atuou, por duas
gestões, como Presidente da Câmara Técnica de Água
Subterrâneas – CTAS do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, participando ativamente das alterações
e modernizações necessárias para a modernização
desse segmento.
Porém, apesar de perder o hábito do “chimarrão”,
não perdeu o gosto pela Geologia e por São Paulo, assumindo em 2.007 a presidência da APG - Associação
Paulista de Geólogos
Atualmente reside em Peruíbe, no litoral paulista e
presta eventuais consultorias.
Abril | maio | junho | 2008
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
MAKING MODERN LIVING POSSIBLE
Economizar até 30% em energia elétrica,
sem abrir mão do bem-estar das pessoas.
Para o maior aeroporto do Brasil, isto é possível.
Um projeto que teve início em 2004, significou uma nova alternativa de economia
de energia em Guarulhos, o maior aeroporto do Brasil, o que representou a redução
nos gastos com refrigeração em até 30%. A iniciativa partiu da Infraero, sendo
implantado por meio de duas etapas: a primeira parte do projeto foi a substituição
das unidades resfriadoras de líquido. Em seguida, a implantação de conversores de
freqüência Danfoss e válvulas de balanceamento, como também automação do
sistema. O resultado: uma economia de R$ 1,5 milhão ao ano no consumo de energia
elétrica e maior conforto para o público. Os conversores de freqüência VLT® Danfoss
representaram um terço desta economia. Reduzir o consumo de energia é fazer uso
consciente dos recursos hídricos, preservando o meio ambiente. Uma prática que a
Danfoss aplica no mundo e no Brasil. Isto é EnVisioneering.
Abril | maio | junho | 2008
EnVisioneering.
O jeito de pensar e agir da Danfoss
em parceria com os seus clientes.
Saiba mais:
www.envisioneering.danfoss.com.br
ENGINEERING + ENERGY EFFICIENCY + ENVIRONMENT = ENVISIONEERING
Saneas | 43
44 | Saneas
Abril | maio | junho | 2008

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