Tecnologia para todos

Transcrição

Tecnologia para todos
1
2
Agosto · 2016
C Á E N TRE N ÓS
Tecnologia para todos
O
setor sucroenergético precisa aumentar
a produtividade, a eficiência, ser mais
sustentável economicamente. Para isso,
é preciso investir em tecnologias de ponta.
“Elas já existem. O Brasil tem a melhor tecnologia sucroenergética do mundo. É de fazer
inveja aos estrangeiros, muitos tentam copiar,
mas sem a mesma qualidade”, diz José Paulo
Stupiello, presidente da STAB – Sociedade dos
Técnicos Açucareiros e Alcooleiros do Brasil.
Sim, o setor pode desfrutar de inovações
em conectividade e as tecnologias de telemática
em máquinas agrícolas, que representam nova
fronteira no uso mais eficiente dos equipamentos e contribuição significativa para os sucessivos ganhos de produtividade no campo.
Pode obter canaviais cheio de saúde por
meio da tecnologia de muda pré-brotada (MPB),
que também facilita a adoção de variedades
mais produtivas e, ainda possibilita ao setor realizar a Meiosi, intercalando a cana com outras
culturas como soja e amendoim, obtendo ganhos agronômicos e renda extra.
“Tecnologias existem, estão no mercado.
O que precisa é que usinas e produtores tenham
acesso à essas ferramentas”, observa Antonio
Eduardo Tonielo, presidente do Grupo Virálcool,
da Copercana, e presidente de honra da Agrocana 2016.
Democratizar o acesso à tecnologia passou a ser outra meta do setor. Um exemplo é a
parceria entre a BASF e a Coopercitrus para que
até mesmo os pequenos produtores adotem a
AgMusa™ - Agriculta de Mudas Sadias. Os cooperados que adquirem a AgMusa™ da Coopercitrus, recebem um amplo pacote de serviços: o voo do VANT, que irá mapear as linhas
de plantio; empréstimo de um trator com Piloto
Automático; uma plantadora de mudas; um simulador para auxiliar na implantação da Meiosi. Nele, são colocadas as informações específicas de cada área, como tamanho, espaçamento,
possível renda com a cultura intercalar, variedade e qual a taxa de multiplicação esperada.
E também a supervisão de um técnico que irá
acompanhar o plantio do início ao fim.
A Coopercitrus possui uma linha de financiamento voltada para a aquisição de mudas
AgMusa™ através da Sicoob Credicitrus. Com
ela, o produtor paga esse pacote apenas dois
anos após a aquisição e em parcela única.
É isso aí: tecnologia para todos!
Luciana Paiva
[email protected]
Clivonei Roberto
[email protected]
3
ÍN D I C E
CAPA
MPB para todos
Holofote
-Mais palha e mais
pragas no canavial
-O setor está voltando às compras?
Tendências
Capa
-Soja: otimismo,
mas com cautela
-Projeto Mais Cana: uma onda
bem-vinda para o canavial
-O MPB tem tudo para viralizar
Tecnologia
Agrícola
-Chega ao
mercado nova
plantadora de cana
Fitotécnico
-A praga é microscópica,
mas o estrago é gigante
Editores:
Luciana Paiva
[email protected]
Clivonei Roberto
[email protected]
Redação:
Adair Sobczack
Jornalista
[email protected]
Leonardo Ruiz
Jornalista
[email protected]
Marketing
Regina Baldin
Comercial
[email protected]
Editor gráfico
Thiago Gallo
Comunicação
-A cana-de-açúcar
no mundo digital
Pesquisa & Desenvolvimento
-Mosca-dos-estábulos:
a relação entre a pecuária
e o setor sucroenergético
Aproveite melhor sua
navegação clicando em:
Vídeo
Fotos
Áudio
Link
Entre em contato:
Opiniões, dúvidas e sugestões sobre a revista CanaOnline serão muito bem-vindas:
Redação: Rua João Pasqualin, 248, cj 22
Cep 14090-420 – Ribeirão Preto, SP
Telefones: (16) 3627-4502 / 3421-9074
Email: [email protected]
www.canaonline.com.br
CanaOnline é uma publicação
digital da Paiva& Baldin Editora
H O LOFOTE
“As usinas estão
comprando “de picado”
N
o caso de produtos químicos como
de, podemos oferecer melhor preço, além
de gastar menos com frete, pois pequenas
quantidades geram muitas viagens.
Mirele Paulo, analista de RH e
clarificantes, antiespumantes para
marketing da Engclarian, empresa
fermentação e antincrustantes, desde que
localizada em Sertãozinho, SP
a usina esteja moendo, produzindo açúcar
ou etanol, não tem como deixar de utilizá-los do começo ao fim da safra. Ou seja,
precisam ser comprados. Mesmo assim, a
crise interferiu na forma de compra, levou
muitas usinas a utilizarem polímeros de
menor qualidade, menor desempenho e
de preço menor. Não deixamos de vender
por causa da crise, mas percebemos que
Ainda não é hora
de abusar, mas tem
área que não pode
deixar de investir
O
s preços do etanol e do açúcar melhoraram, não dá para negar que o
cenário é bem mais positivo, porém, não
muitas usinas optaram por produtos de
podemos esquecer que ainda não te-
menor eficiência. A melhor remuneração
mos nenhuma garantia de políticas públi-
do setor já reflete positivamente nas ven-
cas que deem mais tranquilidade para que
das, as usinas começam a voltar a comprar
possamos investir. Também o clima está
e a privilegiar produtos de alto desempe-
muito instável, é seca, geada, tudo com-
nho como os nossos. Com várias certifica-
prometendo a produção. Assim, aconse-
ções, como a ISO 9001:2008 e a KOSHER
lho maior cautela na hora do produtor ir
– Antiespumantes e Dispersantes, produ-
às compras. Deve adquirir só o que vai fa-
zimos polímeros de alta performance. Mas
zer a diferença, que vai ajudá-lo a produzir
ainda a situação não está normalizada,
mais e melhor. E tem coisa que não se pode
pois as usinas mudaram o hábito de fa-
abrir mão nunca, como fertilizantes e fitos-
zer estoque e estão comprando de picado.
sanitários. Se deixamos de controlar pragas
Antes da crise, compravam carreta cheia
e as plantas daninhas, além das per-
de produtos, faziam estoque. Agora, com-
das de produtividade, depois gasta-
pram aos poucos, cada semana pedem
remos muito mais para voltar aos ní-
uma quantidade. Assim como comprar
veis aceitáveis. Deixar de investir em
produtos de qualidade inferior acaba sain-
tratos culturais é matar a atividade.
do mais caro – uma vez que o de-
Roberto Cestari, produtor
sempenho é menor –, comprar
rural e presidente da
de picado pode não represen-
Associação dos
tar redução de custos. Quando
se compra em maior quantida-
Produtores de Cana
de Orindiúva, SP
7
H O LOFOTE
Melhorou muito!
O
s bons preços do setor e a expectativa de mercado em alta realmente es-
tão estimulando os investimentos na área
agrícola. Estamos até surpresos com a forte demanda, tão diferente da baixa que
enfrentamos em anos anteriores. O crescimento já começou em 2015, e em todas
as feiras que participamos em 2016 notamos uma sensível melhora no volume de negócios. Estamos vendendo
muitos cultivadores, sulcadores e a
Plantadora de Cana Picada PCP 6000
Automatizada.
Auro Pardinho, gerente
de marketing da
DMB Máquinas e
Implementos Agrícolas,
de Sertãozinho, SP
área que tem recebido menos investimentos por parte do setor, adquirimos ou
realizamos melhorias em vários equipamentos, como cozedores, flotadores, só
cromatógrafos temos quatro. Não deixar
de investir é um dos fatores responsáveis
pelos bons índices alcançados por nossa
empresa. Nesta safra a ATR (açúcar total
recuperável) está 3% superior à da safra
passada. A eficiência da indústria também melhorou: o RTC (Recuperado Total
Corrigido) está em 94,6%, contra 93% do
ciclo anterior. Outra boa notícia é o baixo
índice de impurezas vegetais registrado
pela Barralcool. No ranking da Fermentec, que inclui seus 88 clientes, estamos
em terceiro lugar. Entregamos na indústria matéria-prima com qualidade. Cerca de 95% de nossa colheita é mecanizada, a média de produtividade por hectare
é de 83 toneladas, com idade média do
Barralcool investe
mesmo na crise
N
canavial de seis cortes, mesmo com 80%
dos 30 mil hectares com cana estando
em solo de ambiente considerado res-
ão deixamos de investir mesmo na
tritivo (D e E). A expectativa de moagem
época de crise. Só na indústria, a
para a safra 2016/17 é de 2,5 milhões de
toneladas.
José Carlos Santos, engenheiro
agrônomo, e Luiz Eduardo Santana
Carvalho, líder de laboratório
da Usina Barracool, localizada
em Barra do Bugres, MT
8
Agosto · 2016
9
H O LOFOTE
Perto do marasmo
que estava,
melhorou muito
A
crise foi tão profunda que reduziu até
mesmo investimentos em tratos cul-
turais, e a renovação dos canaviais foi pos-
Na área industrial os
investimentos ainda
são insignificantes
A
inda é fraco, muito fraco, só alguma
coisa na área de manutenção. Mas
não esperávamos algo diferente, o buraco
tergada, mesmo apresentando baixa pro-
do caixa das usinas é muito profundo, vai
dutividade. Mas sentimos que um clima de
precisar de muito resultado positivo para
otimismo começou a tomar conta do se-
estancar as dívidas e depois voltar a in-
tor. O que é ótimo. A confiança em um ce-
vestir. Os recursos chegam primeiro à área
nário mais positivo - não só no curto pra-
agrícola, pois é preciso garantir a produ-
zo - e a melhor remuneração aquecem os
ção. Na área industrial, o socorro virá ini-
investimentos. Percebemos que
cialmente na parte de manutenção, mui-
cresce no setor o foco de
tas unidades deixaram de realizá-la há
investir em produtos e
três, quatro entressafras. Assim, acredi-
tecnologias que contri-
tamos que a partir de outubro comecem
buam para o crescimento
os pedidos de orçamento para a realiza-
vertical da produção. Para
ção na próxima entressafra. O cenário das
isso, já acontece a melho-
empresas sertanezinas continua dramá-
ria nos tratos das so-
tico, nos últimos anos fechamos mais de
queiras, o aumen-
nove mil vagas de trabalho. A maior par-
to do controle
cela das empresas está com 90% da capa-
mais eficiente das pragas, das plantas da-
cidade ociosa. Ainda não temos conheci-
ninhas. E já se ouve que haverá maior re-
mento sobre pedidos para ampliação do
novação do canavial, aumentando a ado-
parque industrial, mas a expectativa é de
ção de mudas pré-brotadas de cana com
que virão em 2017, pois o cenário do setor
alta sanidade (a Syngenta oferece o Plene
é muito favorável. Pelo menos agora te-
PB) e o sistema de plantio de Meiosi, tom-
mos perspectiva positiva. Antes, nem isso
bando a cana em áreas intercaladas com
tínhamos.
Paulo Gallo, presidente do
soja, por exemplo.
10
Leonardo Pereira, gerente
Centro Nacional das Indústrias
de marketing para Cana
do Setor Sucroenergético e
Brasil da Syngenta
Biocombustíveis (CeiseBr)
Agosto · 2016
TE N D ÊN CIAS
Soja: otimismo,
mas com cautela
O MELHOR DESEMPENHO DA SOJA, NO ANO DE 2015, FOI
FRUTO DAS EXPORTAÇÕES, DA ELEVADA DEMANDA MUNDIAL
DA COMMODITY E DA DESVALORIZAÇÃO DO REAL
Lara Moraes1 e Ana Palazzo2
A
crise econômica esteve entre os
uma das principais pautas do ano de 2016.
temas mais discutidos no ano de
O agronegócio foi o setor menos impacta-
2015 e ainda permanece como
do pelas condições adversas da economia
11
brasileira. E a soja, principal produto agrí-
O melhor desempenho da soja, no
cola no Brasil, também conseguiu ter um
ano de 2015, foi fruto das exportações e
bom desempenho no ano passado, com
da elevada demanda mundial da commo-
um Valor Bruto da Produção (VBP) que
dity, aliadas à desvalorização do real. Tudo
atingiu R$ 106,4 bilhões, mais de 8% de
indica que a mesma situação deverá ser
elevação em relação à 2014.
vivenciada novamente em 2016. No ano
O bom resultado também veio acom-
passado, segundo dados do Ministério
panhado de muitos desafios, principal-
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
mente quando se trata de custo de pro-
(Mapa), o Brasil embarcou quase 19% mais
dução e preço internacional do grão. Para
soja do que em 2014, chegando a 54,3 mi-
2016, o cenário para a oleaginosa prome-
lhões de toneladas. A evolução do volume
te ser parecido com o de 2015, o que em
exportado foi motivada pela desvaloriza-
outras palavras significa dizer que existe a
ção de 45% do real frente ao dólar, o que
possibilidade de atingir novamente cres-
garantiu rentabilidade às exportações. Se-
cimento e rentabilidade em meio a tantas
gundo a Associação Brasileira das Indús-
dificuldades vividas pelo Brasil.
tria de Óleos Vegetais (Abiove), o volume
Os Estados Unidos, maiores produtores de soja, podem ter sua
área de plantio com a oleaginosa reduzida na safra 2016/17
12
Agosto · 2016
13
TE N D ÊN CIAS
exportado deverá crescer 1,8% nesse ano
comparado a 2015.
O grande destaque deste ano aconteceu nos primeiros dias do mês de junho,
quando a cotação da soja alcançou altas
China
históricas, superando US$ 11,0/bushel, le-
A China, que importa 75% da produ-
vando a saca a ser cotada a R$ 94,7 em
ção nacional de soja, deve continuar im-
Paranaguá. O resultado foi motivado pela
portando o grão em grandes quantidades.
demanda firme, aliada às incertezas na
Apesar da sua desaceleração econômi-
oferta por parte do Brasil e Argentina, uma
ca, a expectativa é que a importação de
vez que problemas climáticos poderão di-
Quanto aos preços internacionais, o ano de 2015 foi marcado
por queda nas cotações devido à elevada oferta do grão
alimentos permaneça elevada em função
minuir a produção nos dois países. Além
do esforço do governo chinês em garan-
disso, os Estados Unidos, maior produtor
tir melhor qualidade de vida à população,
de soja, pode ter sua área de plantio com
através do maior acesso aos alimentos.
a oleaginosa reduzida na safra 2016/17,
Quanto aos preços internacionais, o
em razão da preferência pelo plantio do
ano de 2015 foi marcado por queda nas
milho, o que também contribui para sus-
cotações devido a elevada oferta do grão,
tentar os preços.
resultado de anos consecutivos de safras
Por outro lado, a depreciação do real
recordes nos principais países produtores.
faz com que os custos de produção cres-
14
Agosto · 2016
A Argentina
é responsável
por 50,3% das
exportações de
óleo de soja
çam em larga escala. Isso ocorre porque a
atualmente sofre com excesso de chuvas e
maior parte dos insumos necessários para
grande possibilidade de menor produção.
a produção é importada e tem como con-
De qualquer maneira, o aumento da con-
sequência a redução da margem de lucro
corrência com a produção brasileira será
com a cultura, que embora menor, ainda
uma realidade.
foi positiva no ano passado.
Dessa forma, os desafios de aumento nos custos de produção e as incertezas
Argentina
quanto aos preços podem ser compensa-
Outro ponto de atenção em 2016 é
dos através de planejamento na compra
o posicionamento da Argentina. O país é
dos insumos, aproveitando preços melho-
responsável por 48,8% das exportações
res, e por meio de estratégias de hedge e
mundiais de farelo e 50,3% das exporta-
atenção às oscilações cambiais, garantindo
ções de óleo de soja. Os últimos anos não
assim bom retorno com as exportações. A
foram favoráveis para o agronegócio ar-
única certeza neste momento é que a soja
gentino. Condições econômicas internas
permanecerá como grande pilar do agro-
desafiadoras e a implementação de políti-
negócio nacional, gerando valor e dando a
cas de tributação para exportação de pro-
sua contribuição na superação das dificul-
dutos, incluindo soja em grão e seus deri-
dades da economia brasileira.
vados, reduziram sua competitividade.
Todavia, é esperado que as mudanças atualmente em curso na política econômica argentina, que incluem a gradual
redução nas tarifas de exportação de óleo
e farelo de soja, sejam capazes de minimizar o quadro de dificuldades e melhorar
o desempenho da indústria esmagadora.
A melhora do cenário também dependerá do desempenho da safra no país, que
Especialista em
Agribusiness
da PwC Brasil
1
Especialista em
Agribusiness
da PwC Brasil
2
15
TE C NOLOGIA AGRÍCOL A
Chega ao mercado nova
plantadora de cana
SIMPLES, LEVE, CONSUMO
DE MUDAS NA MEDIDA, ALTA
PRECISÃO E ALTA PERFORMANCE
ESTÃO ENTRE AS CARACTERÍSTICAS
Plantadora de cana
automatizada TT8022
Inteligente, 100%
fabricada no Brasil
DA PLANTADORA DE
CANA AUTOMATIZADA
TT8022 INTELIGENTE
Luciana Paiva
O
plantio mecanização já é uma realidade no cultivo da cana-de
-açúcar. As grandes extensões de
plantio e o período curto com as condições
ótimas de clima, além da economia em
mão de obra têm sido as causas da mecanização das operações de plantio de cana.
Em muitas unidades sucroenergéticas e empresas agrícolas o plantio mecanizado já se aproxima de 100%, no entanto,
profissionais do setor observam que essa
prática precisa evoluir, pois é uma ativida-
canizada. “Mas acredito que o plantio com
de custosa, que demanda grande quanti-
máquinas vai evoluir mais rápido do que
dade de mudas - em torno de 40% supe-
ocorreu com a colheita mecanizada. Em-
rior ao plantio manual.
presas em parceria com os técnicos do se-
Para Cássio Paggiaro, diretor Agrícola do Grupo Clealco, de Clementina,
tor trabalham para aperfeiçoar a tecnologia e superar os gargalos”, ressalta.
SP, o resultado final e a tecnificação estão
Seguindo essa linha de coopera-
aquém do nível atingido pela colheita me-
ção entre o setor e empresas fornecedo-
16
Agosto · 2016
ras, a DOBLE TT, empresa Argentina com
Barbieri, profissional da área Comercial e
36 anos atuando na fabricação de ma-
Marketing da DOBLE TT do Brasil Ltda, ex-
quinas agrícolas com presença em mais
plica que a TT8022 Inteligente é uma plan-
de 20 países, investe desde 2015 em sua
tadora articulada, sendo que a unidade de
nova unidade no Brasil, DOBLE TT do Bra-
plantio é acoplada no terceiro ponto do
sil Ltda., produzindo sua nova plantadora
trator, o que garante que os sulcos serão
feitos na mesma linha de deslocamento
do trator, sempre no local correto, inclusive em curvas de nível mais pronunciadas.
A Plantadora conta com Computador de bordo de fácil manuseio e interpretação. Automação de dosagem de mudas
e adubo. Compartimento de armazenagem de cana com exclusivo sistema Autonivelante. Sistema “Split Flow” de dosagem
uniforme entre os sulcos, devido ao exclusivo sistema de um dosador de mudas para
os dois sulcos. Sulcador de disco que reduz ainda mais a necessidade de potência
no trator. Oferece ainda baixa compactação
do solo, devido ao menor peso estrutural
e aos pneus “Super Flotation” (22% menor
peso estrutural e 18% maior apoio no solo).
Entre os diferenciais da TT8022 Inteligente apontados pela empresa, estão: Uniformidade na distribuição, alto rendimento
em hectares trabalhados por dia, velocida-
de cana TT8022 Inteligente, 100% fabrica-
de de trabalho, agilidade nas manobras de
da no Brasil.
cabeceiras, precisão nas linhas de plantio
Instalada em Lençóis Paulista – SP,
cidade está conhecida pelo alto nível de
mesmo em curvas de nível, baixo custo de
manutenção e economia de combustível.
tecnificação de seus produtores de cana,
A edição de setembro da CanaOnline
que já estão utilizando esta nova tecnolo-
trará matéria completa com todas as caracte-
gia de plantio.
rísticas da TT8022 Inteligente e o parecer dos
O Engenheiro Agrônomo Leonardo
usuários sobre seu desempenho. Imperdível!
17
18
Agosto · 2016
F I TOT ÉCN ICO
A praga é microscópica,
mas o estrago é gigante
PRESENTES EM MAIS DE 70% DAS ÁREAS DE CULTIVO
DE CANA-DE-AÇÚCAR NO PAÍS, OS NEMATÓIDES PODEM
NEWTON MACEDO
REDUZIR EM ATÉ 50% A PRODUTIVIDADE DO CANAVIAL
Ataque de Pratylenchus spp à raiz da cana-de-açúcar
Leonardo Ruiz
P
opularmente chamados de pra-
co dos nematóides, após adentrar a raiz
gas, os nematóides são, na verda-
da cana-de-açúcar, eles passam a consu-
de, agentes patogênicos. A dife-
mir os aminoácidos e açúcares produzi-
rença consiste no fato de que as pragas
dos, especificamente para seu consumo e
são organismos que comem tecidos ve-
sobrevivência.
getais prontos. Já os agentes patogêni-
Porém, independente do termo utili-
cos alteram a fisiologia da planta para que
zado, é importante ficar atento a esse pro-
ela trabalhe para eles. No caso específi-
blema microscópico, já que os nematóides
19
F I TOT ÉCN ICO
Leila Luci afirma que
a umidade exerce
dupla influência
nas populações
de nematóides
estão disseminados por, praticamente, todas as áreas de cultivo de
cana-de-açúcar do Brasil. Estimativas apontam que em mais de 70%
dos canaviais ocorra, ao menos,
uma espécie de grande importância. Entretanto, em regiões onde predo-
des podem causar grandes danos ao sis-
minam solos arenosos, esse número pode
tema radicular das plantas, que se tornam
ser superior a 90%.
deficiente se pouco produtivas. Em casos
Mundialmente, mais de 300 espécies,
de variedades muito suscetíveis e/ou níveis
dentro de 48 gêneros, já foram associadas
populacionais muito altos, as perdas po-
à cultura. No entanto, segundo a pesqui-
dem chegar em até 50% da produtividade.
sadora do Instituto Agronômico de Cam-
Porém, mesmo com tamanho poten-
pinas (IAC), Leila Luci Dinardo-Miranda, os
cial de danos, muitos produtores e usinas
nematóides mais problemáticos para a ca-
não dão a devida atenção aos nematóides,
na-de-açúcar no país são os das galhas
muitas vezes, devido à sua difícil detecção,
(Meloidogyne incognita e M. javanica) e os
não podendo ser vistos a olho nu. Entre-
das lesões radiculares (Pratylenchus zeae).
tanto, como dizia o nematologista Wilson
“Muitas pessoas se preocupam apenas
Roberto Trevisan Novaretti, falecido em
com os nematóides do gênero Meloido-
2015, “não é porque não se pode ver, que
gyne, devido ao seu alto poder de destrui-
significa que não existe nematóide. Existe
ção. Na opinião da pesquisadora, Pra-
e a perda é grande.”
tylenchus zeae é a espécie de nematóide
Além disso, seus danos podem ser
mais importante para a cana-de-açúcar, já
facilmente confundidos com deficiências
que ela é facilmente encontrada em altos
nutricionais e fisiológicas de outras ori-
níveis de infestações com grande poten-
gens, como, por exemplo, déficit hídri-
cial de danos.”
co. O fato de os nematóides não poderem
Uma vez que parasitam o sistema ra-
ser detectados na indústria, como no caso
dicular, bulbos e tubérculos, os nematói-
da broca-da-cana, por exemplo, também
20
Agosto · 2016
21
F I TOT ÉCN ICO
é outro grande empecilho, dificultando a
ficuldade para que eles se desenvolvam e
sua detecção.
reproduzam.”
Além disso, Leila ressalta que a umi-
“Nematóides reduzem
a produtividade,
mas não matam a cana”
dade também interfere no desenvolvi-
A pesquisadora do IAC explica que
que a cana ganha massa de raiz à medi-
no setor canavieiro existe o falso conceito
da que envelhece, porém, não de forma
de que os nematóides só estão presentes
contínua. Ou seja, nos períodos com exce-
ta. “Na verdade, essa praga causa redução
de produtividade, fazendo com que o canavial fique desuniforme, mas não morto”.
te de alimento para essa praga. “Ocorre
NEWTON MACEDO
em áreas onde há a presença de cana mor-
mento do sistema radicular da cana, fon-
Essa desuniformidade é reflexo de
um sistema radicular debilitado, incapaz
de absorver água e nutrientes necessários
para o bom desenvolvimento das plantas
que, em consequência, tornam-se menores, raquíticas, cloróticas, com sintomas
de “fome de minerais”, murchas nas horas
mais quentes do dia e menos produtivas.
“Caso algum talhão se enquadre nessas características, é importante realizar
uma amostragem, única forma de diagnosticar, realmente, se há ou não uma infestação e em qual nível populacional.”
Porém, a pesquisadora ressalta que
essa amostragem não pode ser feita em
qualquer época, já que as populações de
nematóides flutuam ao longo do ano, sendo altas nos períodos chuvosos e baixas
nos secos. “Isso ocorre pois, quando há
falta de chuvas, a umidade do solo fica
prejudicada, o que causa redução nas populações de nematóides, pois há maior di-
22
Amostragem: iscas para nematóides
Agosto · 2016
dente hídrico ela ganha massa de raiz, enquanto que na seca, ela perde. Dessa forma, como os nematóides precisam de raiz
viva para sobreviver, a umidade exerce dupla influência nas populações, pois, além
de terem seu desenvolvimento e reprodução impactados, a disponibilidade de alimento será baixa”.
Amostrando com
mais eficiência
Conforme afirmado anteriormente, a
amostragem é a única forma de avaliar se
uma área está ou não infestada com nematóides e o nível de infestação. Tradicionalmente, a amostragem é feita da seguinte
forma: uma equipe vai até o campo, escolhe alguma soqueira já velha, de quar-
“O uso de variedades resistentes e o controle
biológico são formas ineficazes de combate
aos nematóides”, diz Newton Macedo
to ou quinto corte, abre uma trincheira ao
redor dela e a arranca. Essa touceira, por
cesso, tenho que realizar a coleta e des-
sua vez, virá com um emaranhado de raí-
pachá-la rapidamente, pois, caso contrá-
zes velhas e jovens, que serão ambas en-
rio, as amostras irão perder a validade”.
viadas para um laboratório para que seja
O nematologista ressalta, ainda, que não
feita a análise.
adianta nem mesmo guardar esse material
É nesse ponto, segundo o nemato-
na geladeira, porque as raízes mais jovens
logista e consultor Newton Macedo, que
serão as primeiras que começarão a mor-
se encontra o primeiro erro desse méto-
rer e apodrecer.
do, uma vez que, caso a maioria das raízes
Dessa forma, visando evitar e/ou mi-
seja velha, a leitura dos dados ficará dis-
nimizar os problemas de coleta de raízes
torcida, já que o ideal é coletar o máximo
e o comprometimento na remessa, Mace-
possível de raízes jovens.
do sugere a metodologia de amostragem
Outra desvantagem dessa metodo-
com iscas em embalagens.
logia é relacionada à curta janela de tem-
O processo começa com a limpe-
po entre a coleta das raízes no campo e o
za da superfície de uma cana já velha, de
envio para o laboratório. “Com esse pro-
quinto corte, por exemplo. Em seguida, o
23
F I TOT ÉCN ICO
colaborador deve raspar e cavar ao lado
gar a reserva do tolete, pois, dessa forma,
da região da rizosfera da planta. Com um
a brotação será mais rápida e o desenvol-
balde limpo, pega-se um pouco de terra e
vimento da muda será melhor.
raiz velha e de forma aleatória, repetindo
Após o plantio, é importante cuidar
o processo em 10 subamostras, que irão
corretamente desses materiais, como se
representar até 25 hectares distribuídos
fosse um viveiro tradicional: expondo-o ao
em ziguezague na área. “Mesmo se o solo
sol e molhando-o periodicamente. Com
estiver seco, os nematóides estarão ali,
40 a 60 dias, a isca já estará pronta para
em modo de resistência, esperando uma
ser levada para o laboratório. “Se aberta a
oportunidade para se desenvolver”.
embalagem após esse período, será possí-
Após a coleta, deve-se encher as embalagens com a terra coletada no campo
vel ver, além das raízes velhas, muitas outras jovens que brotaram dos toletes”.
e, em seguida, plantar de três a cinco to-
E, diferentemente da outra metodo-
letes. Macedo ressalta que é essencial pe-
logia, nesta o envio do material coletado
24
Agosto · 2016
Fonte: Newton Macedo
poderá demorar até mesmo duas sema-
níveis de infestação devem, imediatamente,
nas, sendo que, nesse meio tempo, os ne-
ser tratados a fim de que o problema seja
matóides presentes não irão morrer. “Fa-
atenuado, já que a erradicação completa, de
zendo desse modo não tem erro. Dá mais
acordo com o nematologista Newton Mace-
trabalho, porém, a precisão é muito me-
do, é impossível. “Uma vez com nematóides,
lhor”, afirma o especialista.
nunca mais sem eles. Você atenua a infestação, a cana volta a produzir e ter longevida-
Formas de controle
de, mas o canavial não irá ficar livre.”
Uma vez enviado o material, o labo-
Macedo conta que, atualmente, exis-
ratório o analisará a fim de que seja cons-
tem quatro métodos de controle dos ne-
tatada a presença ou ausência de nemató-
matóides, sendo que alguns são mais efi-
ides naquela área e em qual porcentagem
cientes que os outros, conforme relatados
populacional. Canaviais com altos e médios
a seguir.
25
F I TOT ÉCN ICO
•Variedades resistentes: infelizmente, segundo o nematologista, não há cultivares resistentes no mercado. “Existem boatos de que, em dois anos, teremos alguns
novos materiais que serão lançados com
essa característica. Porém, acho muito difícil isso acontecer.”
•Controle biológico: Macedo explica
que a rizosfera é uma arena de batalha entre microrganismos antagonistas a nematóides, como: bactérias, fungos, protozoários, anelídeos e artrópodes, componentes
da flora e fauna naturais. Dessa forma, desenvolver técnicas que permitam o emprego de tais formas em alta eficiência em
escala comercial no controle dos nemató-
Rafael Factor: o Comet® entrega um
amplo controle fúngico das principais
podridões de solo e possibilita que a
cana se desenvolva tão bem quanto em
áreas onde foi aplicado o nematicida
Fonte: Newton Macedo
26
Agosto · 2016
ides tem sido objeto de muitas pesquisas
o parasitismo, conforme a quantidade de
que, por enquanto, têm falhado. “Uma di-
matéria orgânica no solo. “É pouco prová-
ficuldade observada nos fungos e bacté-
vel que no curto prazo se poderá contar
rias é a grande variabilidade na virulên-
com um ou mais agentes biológicos que
cia do organismo, devido à variabilidade
possam ser facilmente multiplicados, em
genética.”
larga escala, a baixo custo, e que se mos-
Segundo ele, o efeito “tampão bio-
trem capazes de promover um controle
lógico” é outro fenômeno observado, em
eficiente e persistente dos nematóides em
que muitos organismos de solo encon-
cana-de-açúcar.”
tram-se em um estado de equilíbrio dinâ-
•Rotação de culturas: É muito co-
mico, de forma que a adição de um de-
mum encontrar pesquisadores afirmando
terminado agente de biocontrole poderá
que a rotação de culturas com legumino-
ativá-lo, resultando em uma rápida redu-
sas não controla os nematóides e que, em
ção ou, até mesmo, eliminação da popu-
vez disso, apenas aumenta sua população
lação do agente introduzido. Além dis-
no solo. Porém, Newton Macedo discor-
so, muitos fungos biocontroladores são
da dessa afirmação. De acordo com ele,
saprofitas. Por isso, não necessariamen-
caso a cana seja rotacionada com Crota-
te atacam os nematóides, o que prejudica
laria spectabilis, Crotalaria ochroleuca ou
27
F I TOT ÉCN ICO
Amendoim, as infestações poderão sim
ser reduzidas.
•Controle químico: Por último, Macedo destaca os nematicidas, estratégia
mais importante para enfrentar o problema e que é a favorita dos produtores e usinas brasileiras.
Efeito 3 em 1
Por ter um número limitado de ferramentas de controle, o manejo de áreas infestadas com nematóides tem se baseado
no uso de nematicidas e antagonistas químicos aplicados no momento do plantio
e/ou nas soqueiras logo após a colheita.
Um produto que pode promover
efeitos fisiológicos positivos na planta é o
“O uso do Comet® na Usina Cerradão,
resultou em um aumento de
produtividade entre 5 e 7 toneladas de
cana por hectare”, diz Michel Fernandes
Comet®, da BASF, contribuindo para proporcionar maior arranque, enraizamento,
tes patogênicos, fazendo com que, ao fi-
uniformidade no stand, além de estimular
nal do ciclo da cultura, sejam encontradas
as defesas naturais das plantas de cana-de
menores quantidades de fêmeas capazes
-açúcar, o que contribui para o manejo ra-
de se reproduzir ou produzir ovos.”
cional da população de nematóides.
Factor explica que isso ocorre por-
O técnico em desenvolvimento de
que o Comet® estimula a planta a pro-
mercado de cana-de-açúcar da BASF, com
duzir uma série de enzimas e fitoalexinas,
atuação nos estados de GO, MG, MS e MT,
compostos de defesa de baixo peso mole-
Rafael Factor, ressalta, porém, que o Co-
cular, que se acumulam nas zonas de en-
met® não é um nematicida, e sim um pro-
tradas do patógeno e acabam interferindo
duto fungicida que, além de entregar um
na alimentação e na entrada, ou atrasando
amplo controle fúngico das principais po-
a infecção nos tecidos da planta. “É des-
dridões de solo, pode promover efeitos
sa forma que o Comet® pode agir como
fisiológicos positivos na planta, contri-
um indutor químico de resistência para as
buindo para um efeito supressor de ne-
plantas.”
matóides. “O Comet® pode contribuir na
Outro destaque do Comet® é o fato
redução do desenvolvimento desses agen-
de trazer a tecnologia AgCelence em sua
28
Agosto · 2016
formulação. Essa é uma marca mundial da
uma região com condições edafoclimáti-
BASF que identifica os produtos que, além
cas favoráveis à ocorrência de nematóides.
de promoverem proteção dos cultivos,
Porém, o gerente de produção agrícola da
ainda contribuem para o aumento da pro-
Unidade, Michel da Silva Fernandes, co-
dutividade das culturas. “Com ele, é certe-
meçou a perceber que aquelas áreas que
za de que o produtor ou a usina terão uma
haviam recebido o produto Comet® visan-
cana muito mais produtiva e com melhor
do o combate de fungos estavam mais
custo benefício.”
vigorosas.
Após uma série de estudos de cam-
Menos nematóides
e mais produtividade
na Usina Cerradão
po, Fernandes comprovou que a utilização
Localizada no município mineiro de
matóides. “No entanto, sou catedrático
Frutal, a Usina Cerradão se encontra em
em afirmar que o Comet® não mata ou in-
do Comet® também estava contribuindo
para a solução do problema com os ne-
29
F I TOT ÉCN ICO
toxica os nematóides, pois sua população,
já testou diversos outros fungicidas. Po-
mesmo nas áreas em que ele foi aplicado,
rém, percebeu que o produto Comet® da
permanece inalterada.”
BASF trazia, além de um amplo espec-
O gerente de produção agrícola ex-
tro de controle, mais produtividade, devi-
plica que, na verdade, o produto pode
do, principalmente, ao efeito AgCelence,
proporcionar um incremento entre 20%
que contribui para maior enraizamen-
a 30% da quantidade de raízes da cana-
to, maior velocidade de brotação e stand
de-açúcar. “Assim, o número de nemató-
mais uniforme.
ides por grama de raiz é menor, causan-
“Do ponto de vista fúngico, hoje diria
do menos danos às plantas, e resultando
que o Comet® é um dos produtos que tem
na possibilidade de aumento de produti-
o maior espectro de controle de fungos no
vidade entre 5 e 7 toneladas de cana por
sulco de plantio. Sou catedrático em di-
hectare.”
zer que o produto contribui para proteção
Segundo ele, para realmente reduzir
contra os fungos que vão incidir no siste-
a população de nematóides da área, seria
ma radicular. Desde que comecei a utili-
necessária a aplicação de um nematicida
zá-lo, o ganho com a aplicação do pro-
específico. Porém, observa que, em mé-
duto no sulco de plantio varia de 6 a 10
dias e baixas infestações, isso pode não
toneladas.”
ser preciso, porque o Comet® pode contribuir de forma positiva. “Será que vale a
pena controlar os nematóides com algum
nematicida, um fungicida para combater
os fungos e ainda utilizar outro produto
para aumentar o sistema radicular? Como
o orçamento nos dias atuais é baixo, não
vejo razão para fazer isso, ao menos que
a população de nematóides seja extremamente alta.”
Atualmente, a Usina Cerradão utiliza
o Comet® em 100% da sua área de plan-
ATENÇÃO rigoso
AAAAA
Este produto é peà saúde humana, animal e ao meio ambiente. Leia
atentamente e siga rigorosamente as instruções contidas no rótulo, na bula e na receita. Utilize sempre os equipamentos de
proteção individual. nunca permita a utilização do produto por menores de idade.
CONSULTE SEMPRE UM
ENGENHEIRO AGRÔNOMO.
VENDA SOB RECEITUÁRIO
AGRONÔMICO.
tio. “Com o plantio mecânico, devido a todos os ferimentos e fissuras que ele causa
no tolete, há uma ação mais rápida e danosa dos fungos.”
Fernandes conta que, no passado,
30
+ Uso exclusivamente agrícola. Aplique
somente as doses recomendadas. Descarte
corretamente as embalagens e restos de
produtos. Incluir outros métodos de controle
do programa do Manejo Integrado de Pragas
(MIP) quando disponíveis e apropriados.
Registro MAPA: Comet® nº 08801.
Agosto · 2016
31
F I TOT ÉCN ICO
Com o início do recolhimento da palha pelas usinas, foi
criado nos canaviais um novo cenário: sem fogo e sem palha
Mais palha e mais
pragas no canavial
NOVO AMBIENTE DE PRODUÇÃO FAVORECE O AUMENTO DE
CERTAS PRAGAS E EXIGE NOVAS FORMAS DE CONTROLE
Leonardo Ruiz
C
onstantes e profundas modifica-
últimas décadas. Até o final de 1960, a co-
ções marcaram o ambiente dos
lheita era realizada manualmente, porém,
canaviais brasileiros ao longo das
sem a utilização da queimada. Com o iní-
32
Agosto · 2016
cio do carregamento mecânico, foi adota-
Já nos últimos anos, devido aos bons
da a prática da queima da palha do ca-
preços da energia, as usinas começaram a
navial, horas antes do corte. O intuito era
olhar para essa palha com outros olhos e
elevar a produtividade para conseguir
passaram a investir pesadamente no seu
acompanhar a maior intensidade das ou-
recolhimento. Esse material seco, unido ao
tras operações.
bagaço, aumenta a geração de energia ou
Já entre o final da década de 1990
os dias de geração, por parte da usina.
e o início dos anos 2000, a mecanização
É obvio que, com o avanço da tecno-
da colheita de cana crua dava seus pri-
logia, é necessária uma readaptação dos
meiros passos, ganhando ainda mais in-
processos cotidianos. Porém, cada mu-
tensidade com a assinatura do Protocolo
dança na colheita da cana-de-açúcar im-
Agroambiental, em 2007. Neste novo sis-
plica, posteriormente, em alterações nas
tema, a palha, anteriormente queimada,
espécies e níveis populacionais das pra-
permanece sobre o solo, variando de 5 a
gas presentes nos canaviais, uma vez que
15 toneladas por hectare, dependendo da
há uma modificação no microclima dessas
variedade.
áreas, resultando em mudanças na umi-
Cigarrinha-das-Raízes foi a primeira praga que mudou
de importância com o advento da colheita de cana crua
33
F I TOT ÉCN ICO
dade, temperatura e amplitude térmica,
A pesquisadora do Instituto Agronô-
o que favorece alguma espécie em detri-
mico de Campinas (IAC), Leila Luci Dinar-
mento de outras.
do-Miranda, conta que, logo no início dos
processos mecanizáveis, foi realizada uma
De praga secundária para
uma das mais importantes
pesquisa, conduzida no município paulis-
Até o final da década de 1990, épo-
ças populacionais dessa praga nas áreas
ca em que a colheita ainda era realizada
com e sem queimada. Foi constatado que,
com a prévia queimada, a Cigarrinha-das
numa mesma fazenda, o número de ninfas
-Raízes (Mahanarva fimbriolata) era con-
+ adultos por metro na cana queimada era
siderada uma praga secundária e de pou-
de 0,5. Já nas áreas onde a cana foi colhi-
ca importância, já que o fogo matava as
da sem a presença do fogo, esse número
formas biológicas da mesma, eliminando
saltou para 20,2. “A Cigarrinha-das-Raízes
seu potencial de danos em função de uma
foi, portanto, a primeira praga que mudou
população menor. Porém, com a introdu-
de importância com o advento da colhei-
ção do sistema de cana crua, os problemas
ta de cana crua.”
com essa praga começaram a ganhar novas proporções.
34
ta de Guaíra, para saber se haveria diferen-
Porém, Leila afirma que a ausência
do fogo não foi o fator que mais impac-
Agosto · 2016
tou as populações, já que a fêmea coloca
diminuem grandemente. “O motivo é que,
seus ovos a uma profundidade de 10 cm,
quando retiramos esse material da linha
o que impossibilita que o fogo pré-colhei-
de cana, os raios solares incidem com mais
ta, que atinge apenas as camadas superfi-
intensidade e, por causa disso, as ruas se-
ciais do solo, os eliminasse. “Dessa forma,
cam, o que prejudica o desenvolvimento
o fator mais impactante foi mesmo a pre-
dessa praga.”
sença da palha.”
Pesquisas apontam que somente a
A pesquisadora explica que o impac-
retirada da palha reduz em cerca de 60% a
to da palha sobre a Cigarrinha é tão gran-
população de Cigarrinha presente naque-
de que, uma vez retirada, as populações
la área. “Essa é uma ferramenta importan-
Pesquisas apontam que somente a retirada da palha reduz em cerca
de 60% a população de Cigarrinha presente em uma área
35
F I TOT ÉCN ICO
te e que pode ser usada no
manejo, porém, essa técnica sozinha não a eliminará
por completo, apenas atenuará o problema”, afirma
Leila.
Métodos cruciais
de controle
Para Victor
Silveira, a
utilização de
tecnologias de
aplicação que
direcionem
o produto
para a base
da touceira é
essencial para
o controle da
Cigarrinha
Se a retirada da palha
controla 60% da população de Cigarrinha presente
na área, é importante que
o produtor utilize outras
formas de controle para combater aque-
fibras e dos colmos mortos, o que dimi-
les 40% restantes. E engana-se quem pen-
nui a capacidade de moagem, além da ex-
sa que esse valor não causará tantos estra-
tração de grandes quantidades de água e
gos, já que os danos causados pela praga
nutrientes das raízes pelas ninfas.
são significativos, mesmo em níveis de in-
Para Victor Silveira, técnico da área
festação menores. Entre os prejuízos cau-
de desenvolvimento técnico de mercado
sados por ela, estão a redução do teor de
da Syngenta, existem certas ações que são
açúcar nos colmos e o aumento do teor de
cruciais para que se tenha a máxima eficiên-
36
Agosto · 2016
cia no controle da Cigarrinha-das-Raízes.
utilização de tecnologias de aplicação que
O primeiro passo, segundo ele, é con-
direcionem o produto para a base da tou-
trolar a primeira geração da praga. “Para
ceira (cortador de soqueira, 70/30 ou Dren-
isso, é essencial contar com equipes de le-
ch), além do uso das doses recomendadas.
vantamento populacional capacitadas para
Por fim, Silveira ressaltou o Actara
que seja possível pegar a praga no timing
750SG, inseticida sistêmico de rápida ação
certo. Lembrando, sempre, que a técnica
e elevada persistência que controla eficaz-
preconiza a realização de avaliações a cada
mente um vasto número de insetos. “Nosso
15 dias no período de maior incidência.”
produto, além de controlar até mesmo as
Outro ponto problemático é a perda
novas espécies de Cigarrinha, entrega um
de sensibilidade do inseto ao inseticida.
canavial mais produtivo, com melhor enrai-
“Esse é um ponto que a Syngenta tem pre-
zamento e absorção de nutrientes e com
ocupação constante.” Por isso, a compa-
uma soqueira mais bem estabelecida.”
nhia tem um laboratório focado em per-
eficiente contra a Cigarrinha. “Temos cole-
“A palha é extremamente
benéfica para o
Sphenophorus levis”
tas anuais, tanto no Centro-Sul, como no
Se a Cigarrinha-das-Raízes foi a pri-
Nordeste, em que acompanhamos as po-
meira praga em que foram constatados
pulações para sabermos se a efetividade
impactos decorrentes da presença da pa-
do produto está sendo mantida.”
lha no canavial, o Sphenophorus levis foi a
da de sensibilidade, o que é importante
para garantir que o produto sempre seja
O técnico também sugere certas for-
segunda. De acordo com a pesquisadora
mas de manejo, como a retirada da palha da soqueira,
“desafogamento” em áreas
com histórico de altas infestações, visando uma eficiência melhorada do inseticida,
Em áreas sem a
prévia queima da
cana, a população de
Sphenophorus levis
cresce exponencialmente
37
F I TOT ÉCN ICO
do IAC, Leila Luci Dinardo-Miranda, a po-
mento por si só não será a medida que vai
pulação desse inseto cresce exponencial-
resolver o problema, já que o Sphenopho-
mente em áreas sem queima, em função
rus levis é muito resistente a condições
de dois motivos principais: sem o fogo,
adversas.
os adultos continuam perambulando pelo
go à praga, por conter menores tempe-
De 3% de tocos atacados
para 25% em um ano
raturas e maior umidade. “Nesse calorão
Além de resistente, essa praga, já dis-
dos meses de agosto, setembro e outubro,
seminada por todo o Estado de São Paulo,
até o Sphenophorus levis (Sl)gosta de ficar
e em algumas regiões de MG, GO, PR, MT
debaixo de uma sombrinha.”
e MS, é extremamente danosa. As larvas
solo; além disso, a palha proporciona abri-
Leila ressalta que a palha é, portan-
se abrigam no interior do rizoma e danifi-
to, muito benéfica para o Sl e que, quanto
cam os tecidos. A partir daí, pode ocorrer
maior for sua presença no campo, maior
a morte da planta e falhas nas brotações
será a quantidade de tocos atacados.
das soqueiras, causando prejuízos na or-
“Dessa forma, o fato de recolher a palha
dem de 30 toneladas de cana por hectare.
pode ajudar a controlar o problema, pois
A longevidade do canavial também é re-
as condições que ficarão no campo não
duzida, obrigando reformas extremamen-
serão tão adequadas, fazendo com que a
te precoces.
população desse inseto cresça mais lenta-
Portanto, mesmo com a retirada da
mente.” Porém, ela salienta que o recolhi-
palha, é importante adotar medidas rápi-
38
Agosto · 2016
das para que os danos causados pelo Sl
tância de se controlar rapidamente as in-
sejam os menores possíveis. De acordo
festações. “Se este ano estou com 3% de
com José Carlos Rufato, da área de desen-
tocos atacados e resolvo deixar o controle
volvimento técnico de mercado da Syn-
para o ano seguinte, o problema se mul-
genta, se olharmos o potencial de danos,
tiplicará exponencialmente, pois a infesta-
é possível, inclusive, pensar que essa não é
ção passará para cerca de 25% de tocos
uma praga muito severa. Porém, o princi-
atacados.”
pal problema é a redução de produtivida-
Segundo ele, para que o controle
de e o dano que ela traz no ano, que dei-
seja eficiente é necessário que o inseticida
xa graves sequelas para a cultura durante
adotado pela usina ou produtor seja:
todo o ciclo.
Sistêmico: Ele deve ter capacida-
O técnico da Syngenta explica que o
de de entrar dentro da planta e conseguir
ciclo biológico do Sphenophorus levis é
contaminar os vasos para que, quando as
de cerca de 70 dias, fazendo com que exis-
larvas começarem a se alimentar dentro
tam de quatro a cinco gerações por ano.
do rizoma, elas possam ser contaminadas;
“Essa informação é muito importante, pois
Resistente à seca: Como a maior
mostra o grau de capacidade de desen-
parte do controle dessa praga ocorre nos
volvimento da praga. Se eu não controlo
períodos mais secos, o produto deve ter
uma fêmea, ela vai conseguir passar por quatro gerações. Dessa forma, quando ela morrer
de forma natural em
210 dias, até seus bisnetos já estarão na área
se multiplicando.”
Para Rufato, esse
é o motivo da impor-
Rufato: “Para que o
controle de Sl seja
eficiente, o inseticida
deve ser sistêmico,
resistente à seca,
flexível nas modalidades
de aplicação, eficiente
e desalojante
39
F I TOT ÉCN ICO
capacidade de se distribuir pela plan-
res de cápsulas microscópicas que liberam
ta mesmo com pouca disponibilidade de
seu conteúdo de forma gradual e por difu-
água no solo;
são. Dessa forma, as substâncias são man-
Flexível nas modalidades de apli-
tidas no solo sem perdas, fazendo com
cação: Seja em Drench ou no corte de
que o resultado final seja uma ação resi-
soqueira;
dual específica e poderosa.”
Eficiente: Deve garantir alto poder
Outro ponto positivo do produto,
residual, com liberação gradual, essencial
segundo ele, é o fato de ser o único com
para um controle eficiente do Sl;
efeito bioativador comprovado, entregan-
Desalojante: O produto deve tirar a
do uma cana-de-açúcar com maior vigor,
fêmea adulta do esconderijo e fazer com
maior perfilhamento, mais vigorosa, com
que ela tenha um contato maior com a
melhor brotação e com sistema radicular
área contaminada.
mais desenvolvido.
E, de acordo com Rufato, o insetici-
A recomendação do técnico da Syn-
da Engeo Pleno, da Syngenta, é a melhor
genta é que o Engeo Pleno seja utilizado
opção para o controle de Sphenophorus
de maio a outubro com a modalidade cor-
levis, por contar com todas as caracterís-
te de soqueira, visando o controle de pra-
ticas citadas anteriormente. “Por possuir
gas de solo. Já de novembro a fevereiro, é
dois ingredientes ativos (Lambda-cialo-
recomendável o produto com a modalida-
trina e Tiametoxam) em sua composição,
de de Drench ou 70/30 para o controle de
cada gota de Engeo Pleno contém milha-
pragas de solo e/ou Cigarrinha-das-Raízes.
40
Agosto · 2016
Software utiliza banco
de dados da usina para
otimizar o manejo integrado
de pragas e doenças da cana
SMARTBIO TEM CAPACIDADE DE ANÁLISE DE ATÉ
99 QUATRILHÕES DE DADOS, PODENDO SER UM
INSTRUMENTO DECISIVO NA GESTÃO DO NEGÓCIO
Num primeiro momento, o SmartBio conta apenas
com o módulo para controle da broca-da-cana
A
Syngenta apresentou, duran-
nejo integrado das pragas e doenças.
te o 12º Insectshow - Seminá-
O programa é fruto de uma parceria
rio sobre Controle de Pragas
entre a multinacional e a companhia
da cana, o SmartBio, um software em
que dá nome ao sistema.
desenvolvimento desde 2012 e que
Segundo Leonardo Pereira, ge-
tem como objetivo utilizar do conhe-
rente de marketing da Syngenta, o sis-
cimento escondido no banco de da-
tema entra no banco de dados da usi-
dos de cada unidade em prol do ma-
na e avalia 60 fatores de determinada
41
F I TOT ÉCN ICO
área, como produtividade, variedade,
tipo de solo, mês de corte e uso de
vinhaça. Posteriormente, ele compara
os talhões e forma blocos de manejo.
O software tem capacidade de análise de até 99 quatrilhões de dados, podendo ser um instrumento decisivo na
gestão do negócio. “Seja para a usina
ou para o produtor, é uma oportunidade de ganho de eficiência.”
Pereira observa que utilizar tecnologias como essa já é uma tendência para grandes corporações ao redor
do globo. “Já temos gigantes no mundo olhando para a agricultura neste conceito de análise de dados. Mas
ainda nenhuma companhia no Brasil -
Leonardo Pereira: “Seja para a usina
ou para o produtor, o SmartBio é uma
oportunidade de ganho de eficiência”
e nenhuma em cana-de-açúcar - utiliza este conceito”, diz.
No desenvolvimento desta ferramenta, a Syngenta contou com a par-
ramento da tecnologia. “Queríamos
como parceira uma empresa aberta
para tecnologia.”
ceria da Usina Guaíra, que ofereceu
Num primeiro momento, o Smar-
instalações e dados para o aprimo-
tBio conta apenas com o módulo para
controle da broca-da-cana. Ainda em
2016, o software estará pronto para
auxiliar na gestão da cigarrinha-das
-raízes, ferrugens e do Sphenophorus
levis. Para 2017, o sistema já terá condições de contribuir com a maturação,
em evitar florescimento e em alocação
varietal.
A Syngenta já disponibiliza a ferramenta para o mercado.
42
Agosto · 2016
43
C A PA
Dinâmica na
Feacoop com
plantadora de
uma linha de
muda pré-brotada
AgMusa™ da BASF
MPB para todos
A PLANTADORA DE MUDA PRÉ-BROTADA AGMUSA™ DA BASF
PARA UMA LINHA DE CANA REFORÇA QUE A TECNOLOGIA DE
MPB É ACESSÍVEL DO PEQUENO AO GRANDE PRODUTOR
Luciana Paiva e Leonardo Ruiz
E
m 2013, a agroindústria canaviei-
O primeiro a anunciar esta tecnologia de
ra conheceu um novo conceito de
multiplicação foi o Instituto Agronômico
multiplicação de mudas de cana,
(IAC) da Secretaria de Agricultura e Abas-
o sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB).
tecimento do Estado de São Paulo. Na
44
Agosto · 2016
época, Mauro Alexandre Xavier, pesqui-
de mudas que vai a campo. Para o plantio
sador do IAC e integrante da equipe do
de um hectare de cana, o consumo de mu-
Programa Cana que desenvolveu o MPB,
das cai de 18 a 20 toneladas por hectare,
disse: “esse sistema pretende aumentar a
no plantio convencional, para duas tone-
eficiência e os ganhos econômicos na im-
ladas no MPB. Isso significa que 18 tone-
plantação de viveiros, replantio de áreas
ladas que seriam enterradas como mudas
comerciais e, possivelmente, renovação e
irão para a indústria produzir álcool e açú-
expansão de áreas de cana-de-açúcar. Tra-
car, gerando ganhos.”
ta-se de um novo conceito no método
A informação atraiu muitos profis-
de multiplicação, reduzindo volume e le-
sionais da área de cana ao IAC, em Ribei-
vando para o campo, efetivamente, uma
rão Preto, SP. Todos queriam saber mais
planta.”
sobre o novo método e o pesquisador ex-
Xavier ressaltou ainda se tratar de
plicava: no método convencional, abre-se
uma tecnologia que contribuirá para a
o sulco e coloca-se colmo-semente den-
produção rápida de mudas, associando
tro. Agora propomos colocar a planta. A
elevado padrão de fitossanidade, vigor e
tecnologia do MPB permite mudar a forma
uniformidade de plantio. “Outro grande
de produção de mudas, realizada pratica-
benefício está na redução da quantidade
mente do mesmo jeito desde que a cana
Mauro Xavier durante apresentação do sistema MPB, em 2013, na Agrishow
45
C A PA
chegou ao Brasil, em 1530. No lugar dos
ca. Mesmo assim, novidade sempre gera
colmos como sementes, entram as mu-
certa desconfiança. No entanto, logo após
das pré-brotadas, que são produzidas a
a divulgação realizada pelo IAC, a BASF
partir de cortes de canas, chamados mi-
lançou sua tecnologia de muda-pré-bro-
nirrebolos, onde estão as gemas. Depois,
tada AgMusa™ – Agricultura de Mudas Sa-
passam por uma seleção visual e são tra-
dias – para a implantação de viveiros com
tados com fungicida. São colocados em
alto potencial produtivo. Um pacote tec-
caixas de brotação, com temperatura e
nológico que oferece: orientação no pre-
umidade controlada e, ao final, inseridas
paro do solo, no manejo, fornecimento da
em tubetes que passam por duas fases de
muda, realização do plantio, irrigação e
aclimatação.”
assistência técnica.
Foi o reforço que o sistema necessi-
AgMusa™ contribuiu
para acelerar a retomada
da formação de viveiros
com mudas sadias
tava para vingar. Além do mais, chegou no
Era uma ótima notícia no meio de um
viais com mudas de má qualidade e sem
cenário marcado pela crise sucroenergéti-
sanidade. “Temos um posicionamento téc-
momento em que o setor vivia a dura realidade da queda de produtividade, muito em decorrência da expansão de cana-
Agricultura de Mudas Sadias – para a implantação de viveiros com alto potencial produtivo
46
Agosto · 2016
se perdeu ao longo da última década em
função da necessidade grande de expansão”, observa Douglas Leme de Oliveira,
gerente de Marketing de Território para
os Cultivos de Cana, Café, Citros e Amendoim. Prática que, segundo o executivo,
voltou a ser um dos focos do setor. “Agora, quando sentamos para conversar com
Peraceli salienta que a tecnologia
AgMusa™ é uma inovação que quebra
paradigmas do setor sucroenergético
produtores ou profissionais das usinas, a
questão de formação de viveiros e de mudas de qualidade é um dos temas principais. E a receptividade é ótima, porque se
nico de portfólio dentro de uma
oferta muito robusta de soluções em todo ciclo da cana, buscando manter nossa posição de
liderança no setor sucroenergético”, pontua Cristiano Ortigosa
Peraceli, gerente de Marketing
e Cultivos para Cana-de-Açúcar.
Ouvir os clientes sobre suas necessidades e buscar soluções faz
parte desse posicionamento da
Basf e é o que levou a empresa a
criar o sistema AgMusa™.
“Com o AgMusa™, a BASF
retomou o conceito de formação de mudas de qualidade, que
Na Meiosi, a canamuda é tombada
em um solo
livre de pragas
47
Meiosi MPB AgMusa intercalada com soja
conscientizaram que a formação de vivei-
também incentiva o setor a adotar méto-
ros deve ser prioridade para se alcançar al-
dos como a Cantose (viveiro plantado em
tas produtividades dos canaviais em esca-
um talhão “num canto” da propriedade
la comercial.”
que servirá de muda para o plantio meca-
Peraceli salienta que a tecnologia Ag-
nizado após alguns meses do plantio efe-
Musa™ é uma inovação que quebra para-
tivo da MPB) e Meiosi (Método Inter-rota-
digmas do setor sucroenergético. É outra
cional Ocorrendo Simultaneamente) para
maneira de plantar cana, e que apresen-
formação de áreas comerciais. “São práti-
ta adesão crescente.” Cada vez mais, uni-
cas que aumentam a sustentabilidade do
dades sucroenergéticas e produtores de
setor ao gerar ganhos agronômicos, renda
cana buscam os benefícios oferecidos por
extra e redução de custo”, diz Antônio Cé-
este sistema de mudas sadias. Tanto que,
sar Azenha, gerente Sênior de Marketing –
em 2015, já havia mais de três mil hecta-
Proteção de Cultivos BASF.
res plantados com AgMusa™ com ótimas
Na Meiosi, intercala-se ruas de cana
expectativas de crescimento para a safra
com culturas como, por exemplo, amen-
2016/17.
doim e soja. A cana proveniente de mudas
sadias é tombada nas linhas onde foi co-
Com MPB, setor
abraça a meiosi
lhida a outra cultura, em um solo de quali-
Com a tecnologia AgMusa™, a BASF
à uma economia de até R$ 2.500,00 por
48
dade, livre de pragas. A prática pode levar
Agosto · 2016
hectare. Isso ocorre devido ao menor uso
dutores devido à sua capacidade de fixar
de mudas, rentabilidade auxiliar na cultura
nitrogênio direto da atmosfera, por sim-
intercalar e maior quantidade de cana en-
biose. Para que o canavial seja formado
tregue à usina.
com o máximo de sanidade possível, ou
Por se tratar de um método que traz
seja, com menor risco da ocorrência de
ganhos para o produtor, disseminar infor-
doenças, como raquitismo e escaldadura,
mações sobre seu uso passou a ser pre-
e de introdução de pragas (Sphenopho-
sença obrigatória na programação dos
rus levis, por exemplo), as linhas de cana
eventos técnicos do setor. Como aconte-
dessa área de demonstração foram plan-
ceu na 17ª Feacoop (Feira de Negócios da
tadas com as mudas de alta qualidade Ag-
Coopercitrus), realizada na Estação Expe-
Musa™. A variedade escolhida foi a preco-
rimental de Citricultura de Bebedouro, SP,
ce RB 855156.
entre 1 e 4 de agosto.
A cana foi plantada em julho de 2015
Os visitantes puderam conferir uma
e a soja em setembro de 2015, sendo que
área de Meiosi, onde a cultura intercalar
a colheita da leguminosa e a desdobra
escolhida foi a soja. Essa leguminosa, in-
ocorreram em maio deste ano. A taxa de
clusive, está entre as preferidas dos pro-
multiplicação obtida foi de 1 para 12, ou
“Com o AgMusa™, a BASF retomou o conceito de
formação de mudas de qualidade”, diz Douglas Leme
49
Irrigação por gotejamento logo após o plantio da muda
seja, um hectare plantou 12 hectares.
áreas”, observa Azenha. É o caso da Usina
A gerente de projetos da Cooperci-
Alta Mogiana, em São Joaquim da Barra, SP,
trus, Alessandra Barreto, explica que, nes-
que já plantou acima de dois mil hectares
sa área de testes, foi possível economizar
com MPB. Mais de 90% das mudas manu-
cerca de 43% no custo de plantio em re-
seadas pela Alta Mogiana seguem para a
lação ao sistema convencional, em função da diluição do investimento na muda.
“Além disso, como promovemos uma prática de rotação de culturas, ainda conse-
Biofábrica
móvel
AgMusa™
guimos obter uma receita extra com venda da cultura intercalar, que neste caso foi
a soja.”
Biofábrica móvel AgMusa™
Áreas com 5 e 10 hectares plantados
com mudas pré-brotadas (MPB) é a realidade da maioria do setor. “Mas há clientes
mais estruturados que já plantam grandes
50
Agosto · 2016
“Mas há clientes mais
estruturados que
já plantam grandes
áreas”, observa Azenha
formação de viveiro secundário. Uma das ferramentas que facilita o plantio
de MPB em larga escala na Alta Mogiana
tonio de Posse, SP, para a industrialização
é biofábrica móvel AgMusa™ de extração
das gemas, a biofábrica móvel é levada até
de gemas de cana. Lançada pela BASF em
o canavial do cliente. A cana cortada pas-
2014, a biofábrica móvel é um equipamen-
sa pela biofábrica onde é realizado a ex-
to patenteado pela empresa e que tem o
tração das gemas, o que equivale de 2 a
objetivo de fazer a extração de gemas pró-
3% da cana. O restante da matéria-prima
xima ao talhão, onde a cana será plantada.
vai para a usina se transformado em açú-
Funciona assim: a usina fechou ne-
car, etanol, energia, gerando receita para
gócio com AgMusa™, construiu seu vi-
o cliente. A gema segue para a biofábri-
veiro primário dentro dos parâmetros de
ca fixa da BASF, para a industrialização e
sanidade do sistema e, passado um ano,
produção da muda, que retorna ao campo
quer multiplicar esse varietal. Ao invés de
dois meses depois.
a cana ser colhida e levada para a biofá-
Nos canaviais da Alta Mogiana en-
brica da BASF, no município de Santo An-
contram-se quatro unidades da biofábrica
móvel AgMusa™. A Usina trabalha com a
BASF em duas linhas de negócios com relação à tecnologia MPB: a linha Premium,
em que compra a muda, e a linha compartilhada, em que extraí gemas de materiais oriundos de meristemas da própria
usina, por meio das biofábricas móveis. Há
mais de 20 unidades de biofábrica móvel
AgMusa™ espalhadas por outras unidades
sucroenergéticas na região Centro-Sul.
Pacote tecnológico
Desenvolver soluções para que a tec-
51
C A PA
nologia apresente alto desempenho faz
primordial, pois proporciona entrelinhas
parte do pacote AgMusa™. Entre elas, res-
com qualidade muito superior ao método
salta Douglas Leme, está a garantia de pe-
convencional. A empresa também investe
gamento da muda e a possibilidade de
no desenvolvimento e no aprimoramento
plantio o ano todo, o que dependem mui-
de plantadoras das mudas. “Esse conjunto
to de irrigação, que deve entrar logo após
de ações faz parte da política da compa-
o seu plantio. A BASF, junto com os clien-
nhia, de não entregar apenas a muda, mas
tes e empresas parceiras, busca as melho-
um sistema completo, que vai garantir o
res práticas na área de irrigação dirigidas
sucesso da tecnologia”, diz Marcos Pavan,
ao plantio de MPB, como o gotejamento e
gerente de Negócios da BASF, responsável
o sistema de barras irrigadoras.
comercial pelas culturas de Cana-de-açú-
Mas o acompanhamento aos clientes
car, Citros, Café e Amendoim.
AgMusa™ começa bem antes da irrigação,
Dependendo do tamanho da área a
com a orientação sobre preparo de solo, a
ser plantada com mudas AgMusa™ (se for
importância da coleta de amostras de solo
superior a 5 hectares) e da negociação, a
georreferenciadas, a aplicação de insumos
BASF disponibiliza ao produtor ou à usi-
em taxa variável e o uso de piloto auto-
na uma plantadora de duas linhas. Trata-
mático para o plantio de MPB - ferramenta
se de uma máquina que foi adaptada para
“Não entregamos apenas a muda, mas um sistema completo”,
diz Marcos Pavan, gerente de Negócios da BASF
52
Agosto · 2016
o plantio semimecanizado de cana, e que
no saca-mudas para que as mudas fiquem
realiza sulcação e toda operação de adu-
soltas, facilitando o posterior manuseio. A
bação e aplicação de defensivos.
velocidade da plantadora é de 2 km/h.
A fazenda a receber o equipamento
Vale ainda destacar que o plantio
para o plantio de AgMusa™ deve disponi-
mecanizado do AgMusa™ exige que seja
bilizar um trator de cerca de 180 CV e pro-
feito previamente um preparo de solo
fissionais para fazerem o plantio. A máqui-
adequado. O rendimento médio da má-
Plantadora adaptada para o plantio semimecanizado de duas linhas de MPB AgMusa
na é acoplada ao sistema de três pontos
quina é de 2 a 4 ha/dia, mas varia de acor-
do trator. Além do operador do trator, duas
do com o preparo da área e o comprimen-
pessoas vão sentadas retirando as mudas
to do talhão.
da bandeja e colocando na pinça ou tam-
Sempre que a plantadora de AgMu-
bor que realiza o plantio. Outras duas pes-
sa™ é disponibilizada para um produtor ou
soas caminham ao lado da máquina para
usina, a BASF também envia para acompa-
retirar as bandejas do suporte e colocá-las
nhar a operação um coordenador de plan-
53
C A PA
tio que realiza os ajustes do equipamento.
cionada por tratores de 80 a 110 CV e que,
O posicionamento técnico da planta-
diferente da outra de duas linhas, não re-
dora BASF é o seguinte:
aliza a sulcação e adubação, ou seja, antes
- profundidade de sulco: 35-45 cm;
de plantar o produtor deverá realizar es-
- profundidade da muda: 25-35 cm;
sas operações. Com relação ao rendimen-
- cobertura da muda: 5-10 cm;
to, é praticamente igual ao da plantado-
- profundidade de calha: 10-20 cm;
ra de duas linhas, já que a capacidade de
- espaçamento entre mudas: 50-60 cm.
mudas dela é maior, ou seja, não é neces-
O plantio também pode ser feito
sário ficar parando para o abastecimento
manualmente - quatro pessoas fazem um
de mudas. “A plantadora atende peque-
hectare por dia. Vai uma pessoa com a ma-
nos e médios produtores e ao plantio de
traca e outra caminha do lado com ban-
Meiosi”, ressalta Degaspari.
deja ou balde cheio de mudas. Um bate a
irrigação para eliminar qualquer bolsão de
MPB com acesso para
todos, mas sem abrir
mão da sanidade
ar e depois repetir a irrigação conforme a
Por ser um sistema bastante favorá-
matraca e outro coloca a muda. Depois é
só chegar a terra com o pé e entrar com a
necessidade da muda.
vel, a adoção do MPB se espalha pelo se-
Mas para facilitar e agilizar o plan-
tor. Muitas unidades sucroenergéticas e
tio em menores áreas ou no sistema de
produtores de cana já plantam muda pré
Meiosi, onde se planta uma linha de cana,
-brotada. E muitos passaram a produzir
a BASF lançou, na 17º Feacoop, sua plan-
suas mudas para uso próprio ou comercia-
tadora para uma linha de cana. Nilton De-
lizá-las. Mas é fundamental lembrar que a
gaspari, gerente técnico para AgMusa™,
base desse sistema não se resume em mul-
explica que essa plantadora pode ser tra-
tiplicar mudas em larga escala e em tem-
Veja o plantio
da plantadora
de 2 linhas de
mudas AgMusa
54
Veja o plantio
da plantadora
de 1 linha de
mudas AgMusa
Agosto · 2016
As mudas são inseridas no tambor da plantadora de uma linha
po menor, mas produzir mudas com alta
nhar o plantio do início ao fim. “Lembran-
sanidade. Se os cuidados necessários para
do que não há problemas se o produtor
isso não forem respeitados, o sistema de
quiser utilizar seu próprio trator. Caso ele
muda pré-brotada irá disseminar em lar-
não tenha piloto automático, nós levamos
ga escala doenças e pragas nos canaviais.
todo o equipamento e instalamos tempo-
Para que isso não ocorra, a BASF tem
rariamente na máquina do cliente.”
firmado parcerias para que até mesmo pe-
Outro equipamento disponibiliza-
quenos produtores tenham acesso à tec-
do pela BASF para auxiliar na hora de im-
nologia AgMusa™. Uma dessas parcerias
plantar o sistema de Meiosi é um simula-
é com a Coopercitrus. Alessandra Barre-
dor simples e prático. Nele são colocadas
to, gerente de Projetos da Cooperativa,
as informações específicas de cada área,
explica que os cooperados que adquirem
como tamanho, espaçamento, possível
AgMusa™ da Coopercitrus receberão um
renda com a cultura intercalar, variedade e
amplo pacote de serviços: desde o voo do
qual a taxa de multiplicação esperada. “To-
VANT, que irá mapear as linhas de plan-
dos os técnicos da Coopercitrus possuem
tio, empréstimo de um trator com Piloto
esse simulador e conseguem realizar rapi-
Automático e de uma plantadora, além da
damente alguns cálculos com a realidade
supervisão de um técnico que irá acompa-
da fazenda de cada produtor, mostrando
55
C A PA
Em detalhe o plantio da muda realizado pela plantadora de 1 linha
na hora quais serão os lucros obtidos de-
tar serviços para atender tanto o pequeno
correntes da adoção de AgMusa™”, afirma
quanto o médio produtor. Ele não preci-
a gerente de projetos.
sa fazer grandes investimentos, deixando
A Coopercitrus possui uma linha de
financiamento voltada para a aquisição de
que a Coopercitrus faça por ele”, finaliza
Alessandra.
mudas AgMusa™ através da Sicoob Credi-
Essa parceria BASF-Coopercitrus fa-
citrus. Com ela, o produtor paga esse pa-
cilitou ao produtor canavieiro José Pedro
cote apenas dois anos após a aquisição e
Fernandes Sala, proprietário de cerca de
em parcela única. “Nosso objetivo é pres-
700 hectares na região paulista de Matão,
adquirir um pacote de Muda Pré-Brotadas
AgMusa™ para a realização de um siste-
Nilton Degaspari
fala sobre a
plantadora de 1
linha
ma de Meiosi em 120 hectares de sua área.
O produtor conta que adquiriu as
mudas da BASF através da Coopercitrus, e
vai poder desfrutar seus benefícios: redução de custos na formação de viveiros e
implantação do canavial comercial; maior
velocidade na introdução de novas varie-
56
Agosto · 2016
Alessandra Barreto
explica que os
cooperados que
adquirem a AgMusa™
da Coopercitrus,
receberão um amplo
pacote de serviços
dades; menor risco da ocorrência de doen-
realização do plantio, além de uma equi-
ças como raquitismo e escaldadura; elimi-
pe técnica que irá me acompanhar, garan-
nação de riscos de transporte e introdução
tindo, assim, máxima eficiência da ope-
de pragas (Sphenophorus levis) via mudas
ração”, afirma José Pedro Fernandes Sala,
e formação de canavial comercial com vi-
que optou pela soja como cultura inter-
veiro de mudas de alta qualidade.
calar. “Além de maior sanidade e, conse-
O pacote também inclui uma am-
quentemente, maior produtividade na ca-
pla gama de serviços e benefícios ofere-
na-de-açúcar, ainda terei lucro extra com a
cidos pela cooperativa. “Após a entrega
venda da soja.” Um belo exemplo de aces-
das mudas, a Coopercitrus irá disponibi-
so à tecnologia de ponta, mudas sadias e
lizar uma plantadora automatizada para a
alta produtividade.
O produtor José Pedro
e seu filho Felipe:
maior sanidade,
produtividade e lucro
extra com a aquisição
do pacote AgMusa
pela Coopercitrus
57
Produção de muda pré-brotada
(MPB): acesso mais rápido dos
produtores às novas variedades
Projeto Mais Cana:
uma onda bem-vinda para o canavial
RESULTADOS DO PRIMEIRO PERÍODO COMPROVAM DESEMPENHO DO
PROJETO E TRAZEM BOAS PERSPECTIVAS PARA NOVOS POLOS PRODUTORES
Texto: Clivonei Roberto
Fotos: Ewerton Alves e Ricardo Carvalho
N
o dia 27 de julho, a Coplana (Co-
No encontro, as entidades também
operativa Agroindustrial), a Soci-
apresentaram os resultados do primeiro
cana (Associação dos Fornecedo-
período do projeto (1ª Onda), com base
res de Cana de Guariba) e o IAC (Instituto
no trabalho dos sete polos produtores que
Agronômico da Secretaria de Agricultu-
foram formados.
ra do Estado de São Paulo) fizeram o lan-
Além do uso da tecnologia de Mudas
çamento da 2ª Onda do “Mais Cana, Mais
Pré-Brotadas (MPBs), desenvolvida pelo
Produtividade para o Canavial”, programa
IAC, o programa prevê a capacitação dos
iniciado em março de 2015 com o objeti-
produtores, acesso a variedades de acordo
vo de promover a sustentabilidade da la-
com os ambientes de produção e comple-
voura canavieira.
to suporte técnico.
58
Agosto · 2016
Resultados da
1ª Onda do Mais Cana:
quirir experiência. Na primeira fase, iniciaram o processo direto na propriedade;
•aprovação, pelos produtores, da as-
•a instalação na propriedade ocorre-
sistência técnica, com presença dos técni-
rá somente depois da capacitação no IAC;
cos e pesquisadores nas propriedades;
•acesso às novas variedades;
•autonomia do produtor em relação
ao manejo das variedades;
•capacitação na cultura da cana;
•introdução de 12 variedades em
cada polo produtor;
•produção da muda a um custo menor que no mercado.
•os produtores irão trabalhar com
um conhecimento maior do sistema;
•haverá redução dos custos iniciais
de implantação por conta da mudança na
dinâmica.
Ao avaliar a 1ª Onda do projeto, José
Antonio Rossato Junior, presidente da Coplana, destaca que o “Mais Cana” traz um
novo olhar para a cultura. “Aqui falamos de
uma evolução depois de mais de 500 anos.
O que muda na
2ª Onda do projeto:
Atuamos como a ponte entre o IAC e o
•os produtores irão produzir as mu-
nor custo e de aumento de produtividade
das no IAC para conhecer a estrutura e ad-
produtor, ao trazer esta tecnologia de mee de competitividade ao produtor rural.”
Cooperados da Coplana presentes no lançamento da
2ª Onda do “Mais Cana, Mais Produtividade para o Canavial”
59
C A PA
Bruno Rangel Geraldo Martins, presi-
isolado, sem acesso às novas tecnologias.
dente da Socicana, enfatizou a aproxima-
Através da Socicana e da Coplana, este tra-
ção entre produtor e institutos de pesqui-
balho abre as portas das instituições para
sa. “Esta era uma carência muito grande,
que o produtor possa melhorar sua gestão
em um cenário em que o produtor ficava
e aumentar a sua produtividade.”
DEPOIMENTOS DE PRODUTORES DOS POLOS DO MAIS CANA
Projeto é viável
oferece variedades novas e mais sanidade
“Eu, em nome dos cinco produtores
nas mudas, que apresentam bastante vi-
do meu polo, posso dizer que estamos sa-
gor. Isso vai agregar em maior produtividade. A gente faz o que mais gosta, que é
ver nascer a planta. É outra vida.
Sérgio Pavani, José Bonifácio, SP
Mudas com sanidade
“A parte mais interessante foi a transferência de tecnologia, com a parceria da
tisfeitos. Produzimos até mais mudas do
Coplana, Socicana e IAC, e o aparato téc-
que o esperado. Estamos bem contentes.
nico que oferecem na produção de MPB.
Em um ano já deu para perceber que o
projeto é viável.”
Eduardo Bignardi, Pindorama, SP
É outra vida
“A avaliação é positiva. O projeto
A produção de MPB, em si, não é complicada, mas demanda muito cuidado e zelo.
Aprendemos o sistema, e eu creio que o
projeto venha contribuir muito para termos mudas com sanidade.”
Levi Mendes Junior, Guariba, SP
60
Agosto · 2016
Meiosi em área total
Uma grande vantagem é identificar qual
“O projeto foi muito interessante
variedade vai se comportar melhor den-
para inserir novas variedades na fazenda,
tro da sua propriedade. O produtor tem
possibilitar a produção de mudas sadias
uma opção de variedades muito maior,
e mudar o sistema de plantio. Plantamos
e, num espaço muito pequeno [de terra],
você consegue produzir uma quantidade
de mudas muito grande.”
Ricardo Bellodi Bueno, Jaboticabal, SP
Potencial genético
A partir da implantação do Mais
Cana na propriedade, notamos um avanço
tecnológico muito grande. O projeto abriu
cana há 50 anos do mesmo jeito. É a sani-
as portas de nossa propriedade, e tivemos
dade do canavial que vai melhorar. A pers-
um contato direto com os pesquisadores,
pectiva é iniciar com Meiosi em área total
pessoal da entomologia, nutrição, melho-
e, num futuro próximo, plantar uma área
ramento. O pessoal da Coplana, da Soci-
comercial de MPB.”
cana, do IAC e de outras entidades pro-
Mateus da Silva Carneiro, Dumont, SP
Consciência
“Este é um projeto que trouxe novidades e desafios e uma consciência sobre
a produção de muda de cana. Passamos
moveu um aporte tecnológico gigantesco
para um futuro muito promissor. As novas
variedades estão muito à frente do que tínhamos aqui e são variedades que realmente imprimem seu potencial genético:
produzem mais e crescem mais, sem falar
a ter a dimensão sobre o que é a sanida-
na facilidade de multiplicação. A mudança
de na lavoura, desde o viveiro primário até
do plantel varietal da propriedade é mui-
o momento em que a muda está pron-
to rápida.
ta para ir ao campo para a multiplicação.
Renato Trevizoli, Taquaritinga, SP
61
C A PA
O MPB tem tudo para viralizar
MARCOS LANDELL JÁ VISLUMBRA O MOMENTO EM QUE SERÁ
POSSÍVEL A USINA E O FORNECEDOR PRODUZIREM MUDAS
SUFICIENTES PARA PLANTAR O CANAVIAL COMERCIAL
Área de produção de muda pré-brotada (MPB), no IAC, em Ribeirão Preto
Clivonei Roberto
O
engenheiro agrônomo Marcos
mais do que uma nova alternativa à dispo-
Landell, diretor do Centro de
sição do produtor. Para Landell, o conceito
Cana do IAC, em Ribeirão Preto,
que está por trás do MPB quebra todos os
não é apenas um pesquisador. É também
paradigmas que se tem em cana-de-açú-
um visionário. Entre os vários projetos em
car. “O MPB, na minha visão, já é revolu-
cana-de-açúcar que já desenvolveu e se
cionário, e nesse momento está projetan-
dedicou ao longo da carreira, fala com ca-
do uma nova canavicultura.”
rinho especial sobre as mudas pré-brotadas, carinhosamente denominada MPB.
Ele enxerga nesta tecnologia muito
62
Para criar um novo modelo de produção de cana-de-açúcar, que garanta
sustentabilidade ao negócio, o produtor
Agosto · 2016
“O MPB, na minha visão,
já é revolucionário, e
nesse momento está
projetando uma nova
canavicultura”, diz Landell
tem que estar aberto a outra dinâmica de produção. E
hoje o MPB é uma das ferramentas que podem garantir, na produção de mudas e adoção
a touceira. Terei condição de saber pre-
de novas variedades, ganho em agilidade
viamente que a muda x originou tal tou-
e dinamismo. Mas Landell vai além: ele já
ceira. E isso nos remete à agricultura de
vislumbra o momento em que será pos-
precisão.”
sível a usina e o fornecedor produzirem
Em cana hoje ninguém sabe onde
mudas suficientes para plantar o canavial
está a unidade biológica. Joga-se um mon-
comercial.
te de colmo no sulco e as plantas nascem
“Quando isso ocorrer, ao invés de
entrelaçadas. Às vezes não nascem, ou
plantar cana como convencionalmente se
nascem muitas, e se nascem muitas possi-
faz, o plantio no sistema de MPB permitirá
velmente está havendo uma intercompe-
localizar a unidade biológica do canavial,
tição. Mas o MPB poderá organizar espacialmente um canavial. “Isso
abrirá a nossa cabeça em
termos de oportunidades.”
A partir do momento
que se tem um canavial bem
espacializado, com a posição
geográfica de cada touceira,
isso vai ajudar na definição
da nutrição da lavoura, no
O passo a passo
do IAC para a
obtenção do MPB
63
C A PA
Mais de 600
produtores rurais
e técnicos já
participaram do Curso
Técnico e Prático de
Formação de Mudas
Pré-brotadas do IAC
controle de matos e pragas, permitirá ter
dutores rurais e técnicos. E o sucesso do
dados muito mais precisos sobre a produ-
MPB ultrapassou as fronteiras do país. De
ção do canavial.
acordo com Landell, profissionais de paí-
É difícil dizer o quanto já se plantou
ses da América Latina, como El Salvador,
de mudas pré-brotadas ou qual tem sido
Guatemala e México, estão fazendo o cur-
o crescimento médio da adoção desta tec-
so. Fora as inúmeras visitas internacionais
nologia. Mas o que já se sabe é que atual-
interessadas no MPB que o Centro de Cana
mente vários grupos sucroenergéticos, em
do IAC recebeu, como delegações do Egi-
diferentes ritmos, já estão aderindo a este
to e da Austrália. Vários lugares do mundo
sistema.
já querem plantar cana por meio das mu-
“Desde quando lançamos esta tec-
das pré-brotadas.
nologia com este nome, em 2012, o MPB
O curso de MPB do IAC permite de-
chegou num tamanho maior do que ima-
mocratizar o acesso à tecnologia. Mas al-
ginávamos”, salienta Landell, que festeja:
gumas empresas estão investindo no po-
“isso mostra que o setor está se abrindo
tencial deste tipo de tecnologia, como as
para a mudança”.
multinacionais Basf e Syngenta. Landell
Exemplo do alto interesse pela tec-
acredita que o mercado que se consolida-
nologia é o grande número de profissio-
rá no futuro terá tanto a atuação das em-
nais que já participaram do Curso Técnico
presas privadas, que oferecem mudas com
e Prático de Formação de Mudas Pré-bro-
alta qualidade, como unidades e produ-
tadas do IAC, que está em sua décima edi-
tores com estrutura própria de produção.
ção em curso. Nas turmas formadas até
“E isso é extremamente positivo para a ca-
agora, já foram treinados mais de 600 pro-
na-de-açúcar, porque neste setor, duran-
64
Agosto · 2016
te mais de uma década, pouco se pensou
negativo. Multiplicaram variedades anti-
em qualidade de muda. E termos produto-
gas, lançadas na década de 1990.
res, usinas e empresas de tecnologia tra-
Mas a mentalidade mudou. Os em-
balhando ao mesmo tempo nesta área é
presários e técnicos do setor, indepen-
muito importante.”
dente do tamanho da empresa, têm se
conscientizado. “Desde 2010, 2011, pau-
Nova consciência
latinamente, todo mundo começou a fa-
A negligência ao uso de mudas de
lar de qualidade de muda, o que reflete na
qualidade e à adoção de novas varieda-
produção. Hoje já se ouve várias notícias
des, mais modernas e produtivas, princi-
positivas de aumento de produtividade
palmente verificada na década passada,
dos canaviais mais novos. De forma geral,
foi um fator primordial para que o setor
são variedades novas e com boa quali-
sucroenergético não tivesse um ganho
dade de muda. Quando se somam essas
nominal na produtividade do canavial. A
duas coisas, não tem como fugir: o resul-
produção estagnou.
tado é a elevação da produtividade.”
Para as empresas que tiveram esta
Ele cita o exemplo de uma usina da
prática, especialmente nas áreas de ex-
região de Ribeirão Preto, que no ano pas-
pansão da cana-de-açúcar, o resultado foi
sado estava com pouco menos de 80 t/ha
de produtividade. Mas com todas as mudanças adotadas, deverá fechar 2016 com
105 t/ha, mesmo estando em ano mais
seco do que 2015.
Mais Cana: um outro olhar
Segundo Landell, há dois anos, os
produtores da Socicana e da Coplana não
falavam em adoção de novas variedades:
90% dos materiais que usavam eram da
década de 1990.
Mas, na visão do pesquisador, com a
Pesquisador Mauro
Xavier, do IAC, mostra
na Agrishow como
produzir MPB: disseminar
informações é fundamental
65
C A PA
criação do “Mais Cana”, parece que todos
cientes vem do mercado: “Temos certeza
os produtores de cana das entidades fo-
que os próximos três anos serão de bons
ram contagiados por um outro modo de
preços. O produtor tem que correr para
olhar a canavicultura.
aproveitar a oportunidade, mas quem não
Números da 1ª Onda do projeto? “Ain-
conseguir, perderá a oportunidade.”
da não temos, o levantamento dos resultados está sendo feito, mas com certeza os
O resgate do produtor rural
reflexos do ‘Mais Cana’ serão expressivos.”
A criação da 1ª Onda do “Mais Cana”
Segundo ele, o sucesso do programa
veio de um diagnóstico preocupante rea-
é perceptível principalmente pela dinâmi-
lizado em 2014: na média dos produtores,
ca de adoção de novas variedades. Permi-
a produtividade era baixa e as variedades
te ganho em velocidade, o que tem cha-
usadas eram muito antigas.
mado até a atenção de outras associações.
Para modificar rapidamente essa si-
“E isto é importante porque os processos
tuação, priorizou-se a adoção de varie-
na canavicultura não podem mais aconte-
dades modernas, adaptadas à região, aos
cer lentamente. Não temos mais tempo. E
solos, ao clima. Mas isso tinha que ser rá-
o MPB vem perfeitamente contribuir com
pido. Como dar agilidade a esse proces-
essa dinâmica e temos agora a oportuni-
so? Usando o MPB. “Fizemos uma série de
dade de mudar a nossa história.”
treinamentos, que mostrou ao produtor
Sinal da urgência de medidas efi-
como seria possível fazer do MPB um ve-
O Plene PB, da Syngenta, também ganha espaço nos canaviais, levando mudas de alta sanidade
66
Agosto · 2016
MPB agiliza a adoção de novas variedades de cana
ículo ágil para a mudança da situação em
vão aprender a fazer o MPB e os que tive-
que se encontravam”, relata Landell.
rem interesse vão investir para montar nú-
Os polos que foram formados vira-
cleos em suas propriedades.”
ram minifábricas de produção de mudas
De acordo com Landell, o investi-
de cana, e os produtores ficaram apaixo-
mento para se montar um núcleo de mu-
nados. “Dedicar-se ao MPB cria um vínculo
das pré-brotadas pode variar muito. É
entre o produtor, a sua atividade e a terra.
possível inclusive aproveitar estruturas
Por isso que digo que uma das consequ-
que a própria fazenda possui para redu-
ências do projeto foi o resgate do produ-
zir custos. “No entanto, em média, o inves-
tor rural.” Para ele, esta foi a grande con-
timento fica entre R$ 60 e R$ 70 mil para
quista do “Mais Cana”
se montar um núcleo.” Valor que pode ser
.
Para a 2ª Onda do projeto, houve
uma mudança do foco. “Simplificamos o
maior ou menor de acordo com o tamanho da estrutura.
projeto para reduzir os investimentos da
fazenda. Vamos usar o nosso núcleo, do
Garantia de sanidade
IAC, como núcleo escola. Os produtores
Mas o MPB produzido pelas próprias
67
C A PA
usinas e fornecedores tem sanidade asse-
neste mercado de mudas de alta qualida-
gurada? Landell explica que a sanidade é
de. “Estas empresas que têm alto nível tec-
garantida primeiramente pelo interesse e
nológico que vão produzir os matrizeiros
pela consciência do próprio produtor. “O
para esses produtores.”
produtor consciente toma todos os cui-
Para Landell, a expansão do MPB abre
dados, pega muda certificada. Segue to-
um campo enorme de negócios e oportu-
dos os procedimentos que são ensinados
nidades. E explica o motivo com cálculos:
no curso de fabricação de MPB, senão vai
se considerar a área anual de plantio de
tudo por água abaixo”, diz Landell.
cana, tem-se aproximadamente 1 milhão
Na verdade, o investimento com o
de hectares. Se multiplicar por dez mil,
A produção de MPB se espalha pelo Brasil: na Agrovale, na Bahia
MPB só é bem-sucedido se o compromis-
que é o número de MPBs por hectare, se-
so do produtor com a sanidade for total.
riam necessários 10 bilhões de mudas pré
“Não adianta multiplicar variedade nova
-brotadas para fazer o plantio a cada ano.
sem sanidade. É preciso ter consciência de
“É um número maluco. Mas se um
que é fundamental ter muda boa. Quem
dia o produtor chegar à conclusão de que
busca alternativas baratas e rápidas só sai
plantando com MPB vai aumentar entre
penalizado.”
20% e 30% sua produtividade, teremos
Para assegurar a qualidade, segundo
demanda para tudo isso de mudas. Todos
ele, os produtores podem obter material
vão correr atrás para montar núcleos de
com as próprias multinacionais que atuam
MPB e as companhias que oferecem mu-
68
Agosto · 2016
das de alta sanidade poderão oferecer sua
mais rápido que se imagina. Não será in-
tecnologia.”
tegralmente, mas produtores e usinas vão
O retorno do investimento em MPB é
aos poucos aderindo ao sistema. “Não
obtido rapidamente pela usina e pelo pro-
tenho dúvida de que já teremos gran-
dutor de cana, o que acontece simples-
de número de produtores plantando MPB
mente com o aumento da produtividade
nos dois próximos anos em área comer-
obtido já no primeiro corte do canavial.
cial. Teremos áreas 100% plantadas com o
No IAC, a equipe de Landell continua
sistema.”
trabalhando com afinco não apenas na ex-
Inclusive ele relata que alguns pro-
pansão do MPB, como também no apri-
dutores que aderiram ao projeto “Mais
moramento de todo o sistema. Quando
Cana” já querem plantar toda área comer-
o instituto começou a fazer as mudas pré
cial em um ou dois anos.
-brotadas, por exemplo, eram necessários
O pesquisador do IAC acredita que
80 dias. Hoje se faz com 50 dias e já existe
o MPB deve chegar primeiro para o for-
a meta de produzir em 45 dias.
necedor de cana. E isto está muito propício no momento, segundo ele, por conta
O futuro do MPB
do processo de reestruturação e moder-
O sistema de mudas pré-brotadas
nização que a Orplana (Organização dos
tenderá a ganhar força cada vez maior na
Plantadores de Cana da Região Centro-
canavicultura brasileira. Para Landell, o
Sul do Brasil) vem passando. “É uma gran-
plantio em áreas comerciais vai chegar o
de oportunidade para o fornecedor ficar
Viveiro de MPB
na fazenda
Santa Isabel,
em Guariba, SP
69
C A PA
Área com Plene PB,
da Syngenta, na
usina Nardini, em
Vista Alegre do Alto,
SP: após plantio
entra a irrigação
mais forte, com melhor qualificação e
maior capacidade de
produção. Será a hora de virar o jogo a fa-
de produção da muda, para que tenha boa
vor dos produtores.”
capacidade quando for a campo.”
Outro processo que não deverá tra-
Mas o processo como um todo vai
zer problemas à expansão do MPB é a me-
ser aperfeiçoado no dia a dia. Landell re-
canização do plantio. Landell acredita que
lata um produtor de um dos núcleos do
já existem transplantadoras eficientes no
“Mais Cana” que montou um caminhão
mercado e a tendência é serem aperfeiço-
pipa e o transformou num modelo eficien-
adas conforme este negócio cresça e des-
te de irrigação. Agora pode plantar doze
perte maior interesse por parte dos fabri-
meses por ano porque é possível irrigar
cantes de máquinas.
com facilidade.
“O nosso maior problema que está
“Quando um produtor perceber que
sendo resolvido está no próprio proces-
o MPB que produziu deu certo, o vizinho
so de produção do MPB; já o segundo é o
vai se interessar. E um produtor que con-
processo de rustificação, que consiste em
seguir produzir mais mudas do que for
colocar plantas com boa capacidade de
utilizar, poderá fornecer o excedente à
adaptação e promover isso no momento
propriedade mais próxima, inclusive oferecendo o serviço da transplantadora, otimizando a
estrutura que montou. Assim o MPB tem tudo para
viralizar”, profetiza Landell.
Se a muda não
tiver sanidade,
não adianta nada
70
Agosto · 2016
71
CO M U NICAÇÃO
A cana-de-açúcar no mundo digital
COMPLETA DEZ ANOS A RGB, AGÊNCIA RESPONSÁVEL POR APRESENTAR À
CADEIA SUCROENERGÉTICA OS BENEFÍCIOS DA COMUNICAÇÃO DIGITAL
Atualmente mais de 50% dos 563 clientes da agência são do setor sucroenergético
Clivonei Roberto
A
cadeia sucroenergética está cada
gir o público alvo, além da interatividade e
vez mais conectada. Os próprios
agilidade na troca de informações.
empresários já perceberam as
Tradicionalmente é o varejo que mais
vantagens do mundo digital e já colhem
aposta no digital, mas o setor industrial e
frutos ao investirem e ousarem em comu-
de bens de capital também está se mo-
nicação. É cada vez mais nítido que, com a
dernizando, até porque se faz necessá-
mídia digital, se consegue fazer um traba-
rio aprimorar a maneira como se relacio-
lho mais direcionado e eficiente para atin-
na com seus clientes. Esta evolução já é
72
Agosto · 2016
perceptível no setor sucroenergético, que
nicação online do cliente”, diz Junior. Atu-
está mais aberto às novas realidades digi-
almente mais de 50% dos 563 clientes da
tais. Independente do segmento em que
agência são do setor.
atue, o empresário precisa estar antenado
às novas tecnologias de comunicação.
Origem
Uma das grandes responsáveis por
Há dez anos, o setor sucroenergético
levar à cadeia sucroenergética os bene-
brasileiro passava por um franco período
fícios da comunicação digital foi a RGB,
de expansão. Por reunir várias empresas da
agência criada há dez anos em Sertãozi-
área, Sertãozinho, SP, cresceu a reboque do
nho, SP, por Junior, Ricardo e Rubens Gal-
boom da cana-de-açúcar. “Vimos poten-
vani. Pioneira em comunicação digital
cial de atender as indústrias em comunica-
na agroindústria canavieira, hoje atende
ção digital, que estavam mal atendidas na
grande parte das empresas desta cadeia
cidade”, sublinha Junior. No negócio, ele e
– usinas, indústrias de serviços e de bens
seu pai utilizaram da experiência que já ti-
de capital, além de escritórios de proje-
nham no mercado. Rubens trabalhava com
to e inovação. “A RGB sempre trabalha em
mídia digital em outra empresa, e Junior
parceria, assumindo toda área de comu-
atendia clientes como publicitário.
Junior Galvani: “Independente do segmento em que atue, o empresário
precisa estar antenado às novas tecnologias de comunicação”
73
CO M U NICAÇÃO
A agência
tem 23
funcionários
e uma rede de
colaboradores
que fornece
serviços à
distância
No começo, além de pai e filho, a
tamos o que dá certo nesta área.” Outras
RGB tinha apenas um funcionário. “Mas
agências, sem afinidade com o sucroener-
rapidamente começamos a agregar no-
gético, adotam estratégias que geram dis-
vos profissionais”, recorda-se Junior. Hoje
persão e pouco resultado.
a agência tem 23 funcionários e uma rede
de colaboradores que fornece serviços à
distância.
Outro importante passo ocorreu há
três anos, quando instalou uma filial em
Ribeirão Preto. “Foi uma estratégia comercial, porque temos muitos clientes na cidade. Também nos ajudou a diversificar
nosso portfólio de clientes”, explica Junior.
DNA canavieiro
A empresa sempre atingiu alto nível
de confiança. É por isso que conquistou
vários parceiros do setor sucroenergético.
“Como nosso DNA está neste segmento,
sabemos o que funciona. O mercado reconhece este nosso diferencial, pois ofer-
74
Ricardo, o terceiro sócio da RGB
Agosto · 2016
Em comunicação online, o dinamis-
so negócio, oferecemos boas estratégias
mo é muito grande. As tecnologias es-
no Google, fomentando o negócio.” É uma
tão em constante mutação. Mas o segredo
agência full em serviços para internet. De-
do sucesso da RGB está em um elemento
senvolve websites, lojas, portais, e oferece
que vem de sua fundação: a qualidade da
suporte e atualização.
prestação de serviços. “Temos uma equipe
Relacionamento de redes sociais é
muito capacitada em todas as áreas, mas a
o foco de outro departamento da agên-
prestação de serviço pós-entrega dos pro-
cia. “É um serviço ainda pouco usado pe-
jetos sempre foi o nosso diferencial. Isso
las indústrias, mas a cada dia temos novos
nos fez crescer, mantendo os parceiros do
adeptos pelos bons resultados obtidos.”
A RGB oferece boas estratégias no Google e nas mídias sociais
início da empresa, como o Grupo Agora,
Para o setor industrial, não apenas o
que foi o nosso primeiro cliente”, relata
Facebook traz retorno. O LinkedIn é uma
Junior.
opção interessante e o uso do Youtube
não para de crescer. Este já é o segundo
Mídias sociais
maior buscador do mundo. “Por esta rede
A RGB não apenas propõe o de-
social, é possível mostrar um conteúdo
senvolvimento de websites, mas cria fer-
técnico”, explica Junior. O vídeo é conte-
ramentas que permitem que as empre-
údo e vem sendo utilizado pelas empre-
sas sejam encontradas na internet pelos
sas por apresentar ao público de forma di-
compradores. “Desde o começo do nos-
ferenciada depoimentos, procedimentos e
75
CO M U NICAÇÃO
produtos, tanto na indústria como na agrí-
integração ainda maior entre os canais.
cola. “Dá muito resultado e quem está uti-
Quando o cliente acessa a página de uma
lizando este canal colhe bons frutos.”
empresa, o próprio site capta seus dados e
depois o aciona no Facebook e dispara um
Futuro
e-mail. “São mídias que conversam entre
Ao longo dos últimos dez anos, a co-
si. Essa convergência de tecnologias e ca-
municação digital evoluiu muito. Aí está
nais, baseada na internet, vai ser mais co-
um dos desafios da RGB: estar sempre
mum e presente.”
atualizada nas novidades que surgem em
E os investimentos em comunicação
um universo tão dinâmico. “Hoje 65% do
pelo setor sucroenergético deverão ga-
fluxo do Google já é mobile. As empresas
nhar novo impulso em breve. Esta é a opinião dos sócios da
RGB, que acreditam
na retomada da ca-
Rubens Galvani:
“Apostamos na
recuperação do
setor no curto
espaço de tempo”
deia sucroenergética. “Apostamos nessa recuperação no
que não se adaptam estão perdendo flu-
curto espaço de tempo”, afirma Rubens
xo. Essa mudança veio rápida e estamos
Galvani.
correndo para atualizar a comunicação
dos clientes”, diz Junior.
“Em Sertãozinho, já estamos percebendo a recuperação. Muitas empre-
Segundo ele, é tendência cada vez
sas que estavam com projetos pausados
maior a assertividade na comunicação,
aguardando o mercado reagir já estão re-
principalmente em definição de públi-
tomando. Esta é a mesma opinião das prin-
co e medição de resultado. “A mídia digi-
cipais lideranças da cidade. Acredito que
tal ajuda a atingir as pessoas certas e no
Sertãozinho será das primeiras a retomar
momento certo.” No futuro deverá haver
o crescimento no país”, conclui Rubens.
76
Agosto · 2016
77
P E S Q U ISA & D E SE N VOLV IMENTO
Mosca-dos-estábulos:
a relação entre a pecuária
e o setor sucroenergético
NO BRASIL, ESTIMATIVAS APONTAM PREJUÍZOS ANUAIS CAUSADOS
PELA PRAGA SUPERIORES A US$ 300 MILHÕES; A PRINCIPAL
SOLUÇÃO É O DIÁLOGO ENTRE OS SETORES ENVOLVIDOS
Mosca-dos-estábulos
*Taciany Ferreira de Souza Dominghetti
C
onhecida
popularmente
mosca-dos-estábulos
como
(Stomo-
de importância para os setores pecuário e
sucroenergético.
xys calcitrans), esta mosca tem
De hábito hematófogo e sem es-
se destacado como uma praga de gran-
pecificidade por hospedeiros, alimenta-
78
Agosto · 2016
domésticos e humanos.
Esta praga possui um
aparelho bucal picador-
SITE DE FOTOS:
HTTP://WWW.BIOIMAGES.ORG.UK/HTML/R160588.HTM
se de animais silvestres,
Destaque ao
aparelho bucal
picador-sugador
da praga
sugador e ao se alimentar de seus hospedeiros,
especialmente bovinos,
causa
picadas
dolori-
das que provocam alterações comportamentais
nos animais.
No Brasil, estimativas apontam prejuízos anuais causados por esta mosca su-
São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Mato Grosso.
periores a US$ 300 milhões, excluindo o
As larvas e pupas da mosca-dos-es-
impacto decorrente dos surtos ocorridos
tábulos se desenvolvem em diversos tipos
recentemente em várias regiões do Brasil.
de substratos, geralmente contendo ma-
De modo geral, os surtos têm se concen-
téria orgânica vegetal em decomposição,
trado nas regiões Centro-oeste e Sudes-
eventualmente misturada a dejetos ani-
te do país, principalmente nos estados de
mais, como fezes bovinas. Os substratos
TACIANY FERREIRA
Manejo inadequado das instalações pecuárias, formando
local de desenvolvimento da mosca-dos-estábulos
79
P E S Q U ISA & D E SE N VOLV IMENTO
TACIANY FERREIRA
Manejo inadequado
das instalações
pecuárias,
formando local de
desenvolvimento
de larvas da
mosca-dos-estábulos
orgânicos oriundos de atividades sucroenergéticas, principalmente a torta de filtro
e a palha da cana-de-acúcar, misturados à
vinhaça, se mostram adequados ao desen-
praga. Após emergência nas áreas da usi-
volvimento desta mosca.
na, as moscas - em sua fase adulta - retor-
No contexto envolvendo estabele-
nam às fazendas em busca de seus hospe-
cimentos pecuários e usinas, tem-se veri-
deiros para alimentação, principalmente
ficado uma estreita relação entre a época
os bovinos.
de safra de cana-de-açúcar e a abundância
Em situações específicas, como na ci-
de moscas. Estudos recentemente realiza-
dade de Planalto, SP, onde as lavouras ca-
dos sobre dinâmica populacional de mos-
navieiras se aproximam das áreas urbanas,
ca-dos-estábulos em usina e fazendas pe-
também têm sido relatados ataques de
cuárias adjacentes comprovou esta relação.
mosca-dos-estábulos a cães e humanos.
De fato, o aumento da abundância de mos-
Atualmente, estes fatos geram um cená-
ca ocorre após o início da safra e reduz gra-
rio de acusações mútuas e o diálogo tor-
dativamente após o término das atividades.
na-se cada vez mais difícil entre os seto-
Outro fato é que a população basal
res envolvidos, dificultando ainda mais os
de mosca-dos-estábulos, mantida nas fa-
avanços nas ações de prevenção ou con-
zendas pecuárias no período da entressa-
trole desta praga.
fra, torna-se a fonte inicial para a primeira
Em períodos de explosões popula-
geração de moscas que, após o início da
cionais de S. calcitrans são comumente
safra, são atraídas para as áreas canaviei-
observadas nas fazendas pecuárias deze-
ras, dando origem à criação massiva desta
nas de moscas alimentando-se dos bovi-
80
Agosto · 2016
TACIANY FERREIRA
nos, causando comportamento de aglomeração
do rebanho e frequentes
movimentos para se livrarem das picadas, levando a um expressivo
gasto de energia e significativas
quedas
de
produção.
Além das perdas
Pátio de compostagem de
torta de filtro com acúmulo
de umidade na base das leiras
causadas diretamente à
TACIANY FERREIRA
produção pecuária, soma-se aos prejuí-
cenças ambientais; entre outros.
zos a tentativa das usinas em controlar a
As usinas, na tentativa de controlar
mosca-dos-estábulos. Apesar de não ser
esta praga, têm investido principalmente
uma praga que causa danos à produtivi-
em ações de controle químico e de ma-
dade das lavouras canavieiras, o setor su-
nejo de seus subprodutos, com resultados
croenergético sofre prejuízos diretos e in-
variáveis. No estado de Mato Grosso do
diretos, os quais incluem: despesas com
Sul, os investimentos anuais das usinas di-
produtos químicos; investimentos com
recionados ao controle da mosca-dos-es-
equipamentos; aumento da mão de obra;
tábulos em municípios com registros de
imagem negativa da usina; conflitos com a
surtos são estimados em cerca de R$ 100
sociedade; dificuldades na obtenção de li-
mil/ milhão de tonelada de cana-de-açú-
Propriedade
pecuária próxima
da usina: animais
se aglomeram para
se protegerem do
ataque da mosca
81
TACIANY FERREIRA
P E S Q U ISA & D E SE N VOLV IMENTO
Aplicação de vinhaça por aspersão em áreas canavieiras
car colhida. Também há relatos de usina
mentos pecuários, tem colaborado signi-
em Minas Gerais com investimentos supe-
ficativamente para a proliferação de focos
riores a um R$ 1 milhão, visando apenas o
de criação da praga nestas áreas.
controle de S. calcitrans.
Dentre as ações de prevenção e con-
A ausência de manejo adequado à
trole de mosca-dos-estábulos, tanto nas
prevenção do desenvolvimento de mos-
usinas como nas propriedades adjacentes
ca-dos-estábuos nas usinas, somada à
de produção pecuária, sugere-se o que
falta de manejo sanitário nos estabeleci-
está apresentado nas tabelas 1 e 2.
Tabela 1
Para o controle da mosca-dos-estábulos, os estabelecimentos pecuários devem:
• Realizar a higienização das instalações, removendo diariamente as fezes e restos alimentares;
• Destinar adequadamente os materiais retirados das instalações pecuárias
(compostagem);
• Usar produtos químicos visando o controle da mosca-dos-estábulos. Cabe
salientar que o uso de inseticidas de maneira incorreta pode propiciar seleção
e desenvolvimento de populações de moscas resistentes;
• Utilizar armadilhas para redução das infestações de moscas nos animais, principalmente no entorno dos currais e confinamentos.
82
Agosto · 2016
Tabela 2
Para combater a mosca-dos-estábulos, as usinas sucroenergéticas devem:
Larvas e pupa de mosca-dos-estábulos em desenvolvimento na palha com vinhaça
• Diminuir o volume de vinhaça aplicado por hectare, ou parcelar este volume,
visando a redução da umidade da palhada;
• Realizar a incorporação ou escarificação da palha de cana ao solo antes da
primeira aplicação de vinhaça;
• Realizar a queima profilática de forma estratégica e conforme autorização do
órgão ambiental competente, conforme orientações do Comunicado Técnico
126 publicado pela Embrapa Gado de Corte;
• Ajustar corretamente a máquina de compostagem para que haja o revolvimento total das leiras de torta de filtro;
• Realizar a secagem mecânica das poças e vazamentos de vinhaças nas áreas
canavieiras;
• Utilizar calcário em locais com acúmulo de vinhaça para elevação do pH;
83
P E S Q U ISA & D E SE N VOLV I MENTO
Armadilha reflexiva
utilizada para
monitoramento
populacional de
mosca-dos-estábulos
em áreas canavieiras
e propriedades
pecuárias
• Revestir os canais
de vinhaça. No caso
de canais provisórios não revestidos,
realizar a secagem
imediata após sua
utilização;
• Definir o produto e
dose a ser aplicada,
após análise in loco
para avaliar o nível populacional da
praga;
• Monitorar
popula-
ção de mosca-dos
-estábulos em áreas
canavieiras com o uso de armadilhas reflexivas, para que as ações de controle sejam mais efetivas.
Considerando a importância socioeconômica do problema e as consequências
de um controle cada vez mais oneroso e menos eficaz, ressalta-se a necessidade de diálogo e trabalho conjunto entre os setores envolvidos. Além disso, fazse necessário o acompanhamento por profissional qualificado para que as ações
de prevenção e controle sejam específicas para cada usina e, consequentemente, mais eficazes.
*Taciany Ferreira de Souza Dominghetti é bióloga, mestre em Meio Ambiente, doutoranda
em Ciência Animal pela Univ. Federal de Mato Grosso do Sul, em parceria com a Embrapa
Gado de Corte, e responsável técnica pela empresa Volare Consultoria Ambiental
84
Agosto · 2016
85