Estudo da síndrome alcoólica fetal
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Revista Eletrônica de Educação e Ciência – REEC Volume 02 Número 01 Março/2012 Páginas 1-9 ISSN 2237-3462 Estudo da síndrome alcoólica fetal (saf) Study of fetal alcohol syndrome (fas) Juciane Aparecida Pereira Rossi1 , Karina Basso Santiago2,3 e Otávio Augusto Martins1,3 1 Faculdades Integradas Regionais de Avaré, Fundação Regional Educacional de Avaré, Avaré, São Paulo, Brasil. 2 Programa de Pós-Graduação Biologia Geral e Aplicada, Instituto de Biociências de Botucatu, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Botucatu, São Paulo, Brasil. 3 Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Botucatu, São Paulo, Brasil Resumo O presente trabalho teve como objetivo compreender o efeito do consumo abusivo de álcool em gestante e a síndrome alcoólica fetal (SAF). A SAF envolve um grande risco devido à embriotoxidade e teratogenicidade fetal. São relatados os mecanismos de reação do etanol sobre o desenvolvimento do embrião e do feto; os principais sintomas da SAF; potencialidades e dificuldades enfrentadas por meninos e meninas portadoras da SAF; e, desenvolvimento neuropsicomotor do portador de SAF. Conclui-se que o consumo abusivo de etanol por gestantes ocasiona sérios danos para o feto, como por exemplo, a SAF. Palavras chaves - Síndrome Alcoólica Fetal; Álcool; Gestante. Abstract This study aimed to understand the effect of heavy alcohol consumption during pregnancy and fetal alcohol syndrome (FAS). FAS involves a great risk because of fetal embryotoxicity and teratogenicity. Are reported the reaction mechanisms of ethanol on the developing embryo and fetus, the main symptoms of FAS, potential and difficulties faced by girls and boys suffering from FAS, and neurodevelopment of patients with FAS. We conclude that the abuse of ethanol by pregnant women causes serious harm to the fetus, for example, SAF. Key words - Fetal Alcohol Syndrome; Alcohol; Pregnancy. 1 Revista Eletrônica de Educação e Ciência – REEC Volume 02 Número 01 Março/2012 Páginas 1-9 ISSN 2237-3462 Introdução O consumo abusivo de álcool tem aumentado nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento. O consumo abusivo de álcool ou o alcoolismo está associado a uma série de consequências adversas para o próprio indivíduo ou para a sociedade. O problema do alcoolismo transformou-se num dos fenômenos sociais mais generalizados das últimas décadas[1]. Existem muitas maneiras de encarar o alcoolismo, seja do ponto de vista médico, psiquiátrico, psicológico, econômico, social, de saúde pública e muitos outros. O alcoolismo é uma psicopatologia de origem genética e ou ambiental[1]. Alguns profissionais da área de saúde avaliam que ingerir álcool de forma moderada é uma prática saudável para o nosso organismo[2]. O álcool é uma droga aceita pela sociedade e suas conseqüências de uso abusivo são notórias na literatura[1,2]. Atualmente na sociedade, o álcool é utilizado como um ritual de passagem da vida infantil para a vida adulta, como prática de socialização, e de inclusão em um determinado grupo social[2]. Durante muito tempo, o alcoolismo esteve associado com a população masculina. Atualmente, ocorre um crescente aumento no consumo abusivo de álcool na população do sexo feminino[3]. Com base nessas informações, o presente trabalho tem como objetivo compreender o efeito do consumo abusivo de álcool em gestantes e a SAF. I. Metodologia Para a compreensão do efeito do consumo abusivo de álcool em gestantes e a SAF foi realizado uma revisão bibliográfica para abordar o tema atual que vem crescendo entre a população feminina em todo o mundo. II. Alcoolismo feminino O consumo de bebida alcoólica vem crescendo demasiadamente no Brasil e em todo mundo[4]. A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que o álcool é uma substância psicoativa mais consumida e a droga de escolha entre crianças e adolescentes em todo o mundo[5]. O álcool é a droga mais antiga utilizada pela espécie humana. Na literatura médica, tem o registro por volta do século 385 a.C. pelas anotações de Hipócrates. Segundo os Egípcios, o Deus 2 Revista Eletrônica de Educação e Ciência – REEC Volume 02 Número 01 Março/2012 Páginas 1-9 ISSN 2237-3462 Osíris teria ensinado os homens a cultivar a videira e a cevada para a fabricação de bebidas capazes de “inspirar a alma”[6]. O alcoolismo envolve um conjunto de diagnóstico. De uma forma básica, o alcoolismo é considerado como um vício de ingestão excessiva e regular. O alcoólico é o indivíduo que consome de forma abusiva o álcool. O alcoolismo feminino tem aumentado em muitos países, tais como, Brasil, Estados Unidos da América, França, e muitos outros[7]. A OMS considera o uso moderado um termo impreciso que define um padrão de consumo no qual são empregadas quantidades de álcool que, por si só não causam problemas à saúde. Muitas vezes o uso moderado é empregado como sinônimo de uso social, definido como não problemático e ditado conforme os costumes, as motivações e as formas socialmente aceitas[8]. O uso abusivo do álcool está associado a muitas doenças. Além de desencadear desordens mentais, suicídios, câncer, cirrose, comportamento agressivo, perturbações familiares, acidentes no trabalho e produtividade industrial reduzida, está associado com comportamentos de alto risco, incluindo sexo inseguro que podem acarretar as doenças sexualmente transmissíveis e o uso de outras substâncias psicoativas[9]. Problemas relacionados ao álcool afetam não só ao consumidor individual, mas também toda comunidade, mesmo pessoas que não bebem, incluindo familiares e vítimas das violências e dos acidentes associados ao uso de bebidas alcoólicas. As mulheres que consomem bebidas alcoólicas podem ter o risco de uma gravidez indesejada expondo-se a SAF[9]. A prevalência do alcoolismo entre mulheres é significativamente menor que a encontrada entre homens. Ainda assim, o consumo abusivo e/ou a dependência do álcool, traz reconhecidamente inúmeras repercussões negativas sobre a vida social, e sobre a saúde física e psíquica da mulher[10]. A dependência alcoólica feminina é comumente negada e o consumo de álcool é realizado às escondidas. Em geral, esse quadro acompanha uma co-morbidade com doenças afetivas, especialmente a depressão, o que pode mascarar o quadro e agravá-lo. Nessa fase, a suspeita diagnóstica é feita durante uma consulta clínica ou ginecológica de rotina; no entanto, na maioria das vezes, os profissionais envolvidos não estão adequadamente preparados para orientar estas pacientes[10]. Alguns apontam para uma ocorrência duas vezes maior de consumo de bebida alcoólica durante a gravidez entre mulheres solteiras quando comparadas com as casadas, possivelmente porque a gestação em mulheres solteiras com frequência está associada a outros fatores de risco 3 Revista Eletrônica de Educação e Ciência – REEC Volume 02 Número 01 Março/2012 Páginas 1-9 ISSN 2237-3462 para o consumo de bebida alcoólica, como baixa escolaridade, baixo nível socioeconômico e gravidez indesejada[10,11]. III. Gravidez e alcoolismo O alcoolismo é uma síndrome complexa que envolve fatores ambientais, sociais, psicológicos e genéticos[6]. O amplo uso social de bebidas por mulheres em idade reprodutiva e o papel do etanol como agente teratogênico tem sido objeto de vários estudos[6,12]. A presença de problemas emocionais em gestantes pode colaborar para o uso de substâncias psicoativas e vice-versa. É comum associar problemas emocionais e o consumo de álcool[12,13]. O consumo de álcool tende a diminuir quando a mulher engravida. Porém, com o aumento do consumo de bebidas alcoólicas pela população feminina, grande proporção de mulheres e seus fetos são expostos a doses variáveis deste agente. As bebedoras moderadas têm maior chance de parar ou reduzir seu consumo durante a gravidez, mas entre bebedoras mais severas 2/3 diminuem o consumo e 1/3 continuam a abusar do álcool durante toda gestação. Bebedoras severas seriam aquelas que consomem entre 5 e 6 drinques de cada vez, e uma média mínima de 1 a 3 drinques por dia[7]. A SAF se refere a um conjunto de más formações que podem estar presentes em crianças geradas por mães que consumiram muita bebida alcoólica durante a gestação. A exposição pré-natal ao álcool pode trazer sérias conseqüências que permanecem pela vida toda[14,15]. O consumo de álcool durante a gestação está associado ao aumento de risco para a SAF. Em mulheres alcoólicas, o risco de ter uma criança portadora da SAF é muito grande. Estima-se que nascem milhões de crianças/ano com más formações maiores ou menores, causadas pela exposição do álcool no pré-natal[10,14,15]. IV. Absorção do álcool pelo feto e saf O álcool tem como efeito primário uma vaso contrição no cordão umbilical e na placenta, o que pode incrementar a duração da exposição fetal devido à redução do fluxo sanguíneo[10,16]. A exposição ao álcool tem muitos efeitos complexos na função da placenta e no crescimento e desenvolvimento fetal. O álcool cruza a placenta pelo sangue materno e vai para o líquido amniótico e para o feto. Em cerca de 1 hora, os níveis de etanol no sangue fetal e no líquido amniótico são equivalentes ao do sangue da gestante[10,16]. 4 Revista Eletrônica de Educação e Ciência – REEC Volume 02 Número 01 Março/2012 Páginas 1-9 ISSN 2237-3462 O acetaldeído também cruza a placenta, mas seu nível no transporte é variável. A placenta humana tem capacidade metabólica limitada para o álcool, e o fígado fetal não tem um sistema eficaz para metabolizá-lo, de modo que a redução dos níveis de álcool acontece primordialmente pela reentrada na circulação materna[10,16]. A isoenzima do álcool desidrogenase pode alterar a evolução fetal, pois os mecanismos de ação do etanol parecem ser muitos, incluindo efeitos no metabolismo e alteração da função endócrina fetal, transporte de aminoácido pela placenta, redução da absorção de nutrientes, por intermédio da mucosa intestinal e alterações no metabolismo hepático materno[17,18]. Em vista das manifestações nocivas provocadas por alterações no organismo materno e pelo comprometimento do fluxo sanguíneo placentário, pode-se considerar a ação diretamente exercida pelo álcool na embriogênese ou na fetogênese, consubstanciada a sua absorção. Entretanto o assunto se reveste de aspectos variados, uma vez que a atuação deste agente subordina-se a diversos períodos críticos da ontogênese de cada tecido, que por sua vez relacionam-se com as atividades metabólicas e de reprodução celular, nas distintas fases de diferenciação e desenvolvimento, bem como, as características bioquímicas que conferem suscetibilidade própria a cada espécie[9,17,18]. O comprometimento da evolução fetal pode ocorrer em reduzidas dimensões sem concomitância de efeitos morfológicos, mas com comprometimento do desenvolvimento global. Além do consumo de álcool pela mãe, seu efeito pode estar associado com outras substâncias psicoativas e com deficiências nutricionais durante a vida intra-uterina, podendo induzir a más formações, até o extremo da teratogênese grosseira. Os efeitos teratogênicos do álcool sobre o feto em desenvolvimento estão relacionados com a ocasião e o nível máximo de exposição intrauterina[17,18]. O etanol induz a formação de radicais livres de oxigênio que são capazes de danificar proteínas e lipídios celulares, aumentando a apoptose e prejudicando a organogênese. Também inibe a síntese de ácido retinóico, que é uma substância reguladora do desenvolvimento embrionário. Tanto o etanol, quanto o acetaldeído, tem efeitos diretos sobre vários fatores de crescimento celular, inibindo a proliferação de certos tecidos[19]. O consumo de álcool na gestação está relacionado ao número de abortos e a fatores comprometedores do parto, com risco de infecções, deslocamento prematuro de placenta, hipertonia uterina, prematuridade do trabalho de parto e líquido amniótico meconial[19]. A variabilidade fenotípica provavelmente resulta de exposição a drogas em quantidade diferentes e em diversas épocas gestacionais, dependendo do padrão genético do feto. Quase todos 5 Revista Eletrônica de Educação e Ciência – REEC Volume 02 Número 01 Março/2012 Páginas 1-9 ISSN 2237-3462 os pacientes reconhecidamente portadores da SAF, são filhos de alcoólicas crônicas com grande consumo diário ou muito frequente ingestão[19,20]. V. SAF em recém nascidos O diagnóstico da SAF é mais fácil de ser realizado após o período neonatal, quando também se associam o retardo mental e o déficit de crescimento. No entanto, os recém nascidos de mães alcoólicas devem ser examinados cuidadosamente à procura dos sinais da SAF. Essas crianças podem apresentar sintomas como dificuldade de sucção, opistótono, hiperexitabilidade e irritabilidade durante semanas ou meses[14,15]. No período neonatal as crianças podem apresentar um quadro clínico de convulsões, o que poderá corresponder a uma síndrome de abstinência[21]. Os autores sugerem que esses achados sejam utilizados para a identificação precoce dos recém nascidos afetados pelo álcool durante o período pré-natal[14,15,21]. A exposição ao álcool pode continuar no período pós-natal, pois o álcool está presente no leite materno em níveis idênticos aos sanguíneos, não sendo, no entanto, o acetaldeído excretado por esta via. Apesar do nível sérico de álcool na criança ser baixo, o efeito na relação nutricional e emocional é significativo. Há três preocupações fundamentais em relação ao leite materno: a quantidade de leite disponível (e a própria capacidade de cuidados maternos) será diminuída se a mamada for precedida imediatamente por consumo de álcool, a produção de prolactina e ocitocina reduzidas pela sucção diminuída e a própria capacidade de sucção por parte do bebê com SAF é menor[21]. Quando as más formações clínicas não são completas, sem os sinais de dismorfismo facial, a síndrome é chamada de Efeito Alcoólico Fetal (EAF)[10,16]. VI. Considerações finais Embora que durante esta revisão tenham sido identificados alguns distúrbios específicos relacionados ao álcool, são necessárias mais pesquisas para identificar possíveis fatores de suscetibilidade, associações com más formações fetais, sobrevida e efeitos para gerações futuras. Com base nas informações disponíveis atualmente sobre o potencial teratogênico do álcool, os profissionais da saúde devem tentar obter uma historia sobre o consumo de álcool em todas as mulheres em idade reprodutiva. 6 Revista Eletrônica de Educação e Ciência – REEC Volume 02 Número 01 Março/2012 Páginas 1-9 ISSN 2237-3462 As gestantes alcoólicas e seus fetos merecem controles e cuidados pré-natal e pós-natal redobrados, bem como os recém nascidos. O impacto do uso abusivo do álcool pela mãe, sobre o desenvolvimento da criança, pode necessitar de acompanhamento médico em longo prazo, ou até mesmo por toda a vida. Pois o álcool parece afetar todos os sistemas em desenvolvimento, mas a consequência mais grave do uso abusivo do álcool é a lesão cerebral que se traduz em retardo mental. Como conclusões destacam-se também algumas recomendações como abstinência alcoólica nas mulheres grávidas ou que planejam engravidar, pois ainda se desconhece se há um nível seguro de ingestão de álcool durante a gravidez; desenvolvimento de programas educacionais alertando para as consequências deletérias do álcool no feto; conscientização dos profissionais da saúde no que se diz respeito a SAF e à sua prevenção, avaliação cuidadosa de todas as crianças com a síndrome; disponibilização de serviços apropriados aos pais; legislação que obrigue à colocação de avisos em todas as bebidas alcoólicas ao perigo de ingestão durante a gravidez e que promova a informação em locais públicos acerca da SAF, já que ainda é uma doença desconhecida pela grande maioria da população. AGRADECIMENTOS Todos os autores agradecem as Faculdades Integradas Regionais de Avaré, Avaré, São Paulo, Brasil. REFERÊNCIAS 1. Martins OA. Estresse, alcoolismo e vitamina E: avaliação de parâmetros bioquímicos e morfofisiologia prostática [Tese de Doutorado]. Botucatu: Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista (UNESP); 2007. 2. Farias H. Alcoolismo e dependência. Rio de Janeiro: Interação Humana; 2007 [dezembro de 2007]. Interação Humana; [about 1p]. Available: http://www.interacaohumana.com.br/2/index.php?option=com_content&task=view&id=56&Itemid =9. 3. Cesar BAL. Alcoolismo feminino: um estudo de suas peculiaridades – resultados preliminares. J. Bras Psiquiatr. 2006; 1: 208-211. 7 Revista Eletrônica de Educação e Ciência – REEC Volume 02 Número 01 Março/2012 Páginas 1-9 ISSN 2237-3462 4. Reinaldo AMS, Pillon SC. Repercussão do alcoolismo nas relações familiares: estudo de caso. Revista Latino-Am. Enfermagem. 2008; 16:1-2. 5. 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