GESTãO ESTRATéGICA NO JUDICIáRIO: ASPECTOS
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GESTãO ESTRATéGICA NO JUDICIáRIO: ASPECTOS
Newton Meyer Fleury Graduado em Administração e Mestre em Gestão Empresarial pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, Doutorando pela COPPE/UFRJ, Professor da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Turismo, e Coordenador do Programa de Pós-graduação em Gestão Empresarial e Sistemas de Informações, na Universidade Federal Fluminense, Professor convidado dos Programas de Pós-graduação em administração judiciária da Fundação Getulio Vargas (FGV in Company) , Professor colaborador dos Programas de Pós-graduação da Universidade da Força Aérea (UNIFA), Pesquisador e instrutor em programas de modernização da gestão em instituições do Poder Judiciário 1. Introdução Nos últimos dez anos a modernização da gestão tem sido enfatizada como um dos meios fundamentais para o reordenamento do papel das instituições públicas na sociedade, na busca da otimização das suas competências essenciais1. No âmbito da administração pública brasileira, não obstante os esforços pontuais que resultaram na criação de “ilhas de excelência” no setor público desde a década de 1970, a reflexão mais intensa sobre o processo de modernização da gestão se deu a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, que consagrou os princípios que devem reger o desempenho na administração pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência2. 1 Papéis que cabem exclusivamente ao Estado, tendo em vista a natureza de suas funções e as possibilidades de outros atores nas esferas do mercado e terceiro setor poderem desenvolver outras funções a contento. MARTINS, Humberto Falcão (2005) 2 Artigo 37 da Constituição Federal Revista ENM 315 GESTÃO Gestão Estratégica no Judiciário: aspectos conceituais e lições aprendidas Tendo como pano de fundo a recomendação da Carta Magna do País, diversos movimentos se desenvolveram desde então, no sentido de promover uma gestão eficiente e eficaz voltada à melhoria da qualidade dos serviços prestados aos cidadãos. Nesta linha se insere o GESPÚBLICA3, programa ao qual têm aderido diversas instâncias do Poder Público, incluindo o Judiciário, cujas principais diretrizes estão voltadas para o aumento da capacidade de formulação, implementação e avaliação das políticas públicas, melhor aproveitamento dos recursos, e adequação entre meios, ações, impactos e resultados alcançados, entre outros aspectos. É neste contexto que a gestão estratégica se insere, como um dos elementos fundamentais para a promoção de um processo de aperfeiçoamento da governança pública. Este artigo tece considerações sobre a aplicação dos conceitos e métodos relacionados à formulação e implementação de estratégias no setor público, com ênfase nas instituições do Poder Judiciário. Destaca também o papel que deve ser exercido pelos magistrados, especialmente quando investidos de funções gerenciais na condução dos órgãos julgadores4. O texto está dividido em três seções: a primeira apresenta conceitos básicos e busca desenvolver a compreensão sobre os processos de gestão estratégica e de planejamento estratégico; a segunda discorre sobre os objetivos e os resultados que devem ser perseguidos com a formulação e a implementação da gestão estratégica e do planejamento estratégico no Poder Judiciário; a terceira busca identificar a contribuição do magistrado como agente de formulação e implementação das estratégias de gestão, e os requisitos de formação e comportamentais necessários ao desempenho deste papel. 2. Gestão Estratégica e Planejamento Estratégico Para entendermos a aplicação nas organizações da gestão estratégica e do planejamento estratégico, há que se distinguir inicialmente o que significam estes dois conceitos e qual é a relação entre os mesmos. O que é Gestão Estratégica? Estratégia é a direção e o escopo de atuação de uma organização, em um horizonte de tempo, constituindo instrumento gerencial imprescindível tanto no setor privado como na administração Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização – GESPÚBLICA, instituído pelo Decreto no 5.378, de 23/2/2005 4 Os órgãos julgadores são as unidades diretamente relacionadas à entrega da prestação jurisdicional, tais como as varas de 1a Instância e as câmaras de 2a Instância nas cortes. 3 316 Revista ENM pública. As estratégias, dessa forma, representam as principais linhas de ação a serem seguidas pela organização para atingir seus objetivos, consubstanciadas em políticas, planos de ação, projetos e alocação de recursos. Assim, a gestão estratégica “é um processo contínuo e iterativo, que visa manter uma organização como um conjunto apropriadamente integrado ao seu ambiente” (Certo & Peter, 1993). Tal definição nos permite então afirmar que ele reveste-se de três características fundamentais: continuidade, iteratividade e integração com o ambiente externo no qual a empresa desempenha suas atividades. Quando vista sob a perspectiva da continuidade, a gestão estratégica deve ser entendida como um processo que tem data de início mas não de conclusão, isto é, após desencadeado deve manter-se como uma ação permanente envolvendo toda a organização. A iteratividade significa que a gestão estratégica se dá por meio de um conjunto de etapas que se repetem ciclicamente, e cada ciclo tenderá a tornar os resultados do processo mais precisos. É o que afirmam Certo & Peter ((1993 : 8): O termo “iterativo” usado na definição de administração estratégica indica que o processo de administração estratégica começa pela primeira etapa, vai até a última e, então, começa novamente com a primeira etapa. A administração estratégica, então, consiste de uma série de etapas que são repetidas ciclicamente. Finalmente, a integração com o ambiente externo consiste na implementação de estratégias em sintonia com as necessidades e expectativas dos atores que fazem parte do relacionamento permanente e contínuo com a instituição, sejam estes fornecedores, parceiros ou clientes dos produtos e serviços que fazem parte do ambiente do negócio. A integração também deve se dar por meio de adaptações a novas condições ambientais que surgem, tais como a legislação que afeta a instituição, novas condições políticas e econômicas, ou tecnologias emergentes, entre outros aspectos. O processo de pensar estrategicamente com o foco na flexibilidade e agilidade organizacional, associado à adaptação às condições ambientais externas, é assim estabelecido por Motta (1999 : 76): Devido à sua complexidade, as organizações tendem à inflexibilidade e lentidão, incompatibilizando-se com a velocidade das demandas e tornando-se insensíveis a valores sociais externos. Assim, recomendase como um elemento indispensável à mudança a análise profunda Revista ENM 317 e sistemática da ambiência na qual a empresa opera. No mundo moderno, o êxito de qualquer instituição depende de sua capacidade de perceber alterações em valores ambientais e incorporá-los aos objetivos organizacionais. Em outras palavras, é preciso aprender a pensar estrategicamente considerando variações ambientais e seus efeitos sobre a missão da empresa. Levados em conta os pressupostos anteriores, deve-se complementarmente entender que o processo de gestão estratégica, antes de um conjunto de ações concretos, é um “modelo mental”5 que deve ser disseminado e internalizado entre todos os membros da organização. Nesta linha de raciocínio, embora embasada no pensamento sistematizado e na racionalidade, a gestão estratégica é também decorrente da experiência vivida, das emoções e dos valores pessoais de cada uma das pessoas que fazem parte da organização. Pensar e agir estrategicamente, então, consiste em atuar no presente de forma proativa, tendo consciência dos fatores críticos que devem ser enfrentados e superados para possibilitar o alcance do cenário futuro aonde se pretende chegar. Adicionalmente, em conformidade com o modelo originalmente proposto por Kaplan e Norton (2009), o pensamento estratégico deve contemplar quatro perspectivas complementares entre si6: (1) financeira/resultado global, (2) cliente/usuário/sociedade, (3) processos; e (4) aprendizagem/crescimento. A perspectiva financeira/resultado global tem como foco a geração de impactos relacionados à satisfação e aos ganhos financeiros para os acionistas nas empresas privadas, e voltados à geração de valor público, no caso específico das empresas e demais instituições na esfera do Poder Público. Assim, as organizações públicas devem prioritariamente buscar geração de valor para a sociedade, por meio da contribuição de suas ações para a efetividade das políticas públicas. A perspectiva do cliente/usuário/sociedade tem como foco o alcance de resultados que atendam às expectativas quanto a atributos associados aos produtos e serviços fornecidos, tais como preço, qualidade, disponibilidade, Modelos mentais são representações conceituais e operacionais, na mente das pessoas, de situações e eventos reais, ou de pensamentos e situações imaginárias (WIIG, 2004) 6 A formulação original dos autores trabalha com as perspectivas financeira, de clientes, processos e aprendizagem e crescimento. Em relação às duas primeiras perspectivas estamos acrescentando os termos resultado global (perspectiva 1) e usuário/sociedade (perspectiva 2), de modo a contemplar de forma mais precisa as organizações do setor público. 5 318 Revista ENM seleção e funcionalidade, ou relacionados ao relacionamento entre a empresa e o cliente, e quanto à imagem da instituição. No caso específico do setor público, além dos atributos anteriores devem ser incorporados aspectos associados à garantia do acesso igualitário de todos os cidadãos aos serviços e informações disponibilizados, transparência da gestão e accountability7. A perspectiva dos processos contempla os impactos relacionados a otimizações nos procedimentos internos, ou relacionados ao ambiente externo, que resultem na melhoria dos serviços para clientes internos ou externos, nas relações com o ambiente externo, ou no controle da gestão interna. A perspectiva de aprendizagem/crescimento tem como foco os impactos relacionados à evolução da instituição, em termos de melhorias na sua infraestrutura de operações, especialmente quanto a tecnologias de informação e comunicação; desenvolvimento de ambientes de informação e conhecimento para apoio ao processo decisório; e capacitação e desenvolvimento dos seus quadros técnicos, administrativos e gerenciais. Sintetizando os conceitos anteriormente apresentados, a gestão estratégica é então uma ação contínua que deve se institucionalizar no seio da organização e ser internalizada pelos seus quadros funcionais em todos os níveis. Ela diferencia-se do planejamento estratégico que, como veremos adiante, constitui um processo sistematizado e suportado por métodos e técnicas específicos. O que é Planejamento Estratégico? Segundo Bryson e Alston, “o planejamento estratégico é um esforço disciplinado para produzir decisões e ações fundamentais, que moldam e guiam o que é uma organização, o que ela faz, e porque faz” (1996 : 3). Então, por meio do planejamento estratégico as organizações devem: (1) examinar o ambiente externo, onde existem e operam; (2) observar os aspectos organizacionais e gerenciais internos; (3) avaliar os desafios que devem enfrentar e superar para cumprir a sua missão; e (4) formular e implementar objetivos e metas para curto, médio e longo prazos. A execução do planejamento estratégico deve ser apoiada em uma metodologia para definir a direção que a empresa deve seguir, concretizada por meio da identificação e formulação de objetivos e metas não subjetivos. Deve constituir-se em um processo participativo, não exclusivo da alta O termo accountability é aqui usado no sentido dos meios que a empresa disponibiliza para o exercício da fiscalização da sua gestão pelos cidadãos e pela sociedade, procurando estabelecer formas de controle de baixo para cima sobre os governantes e burocratas (conforme propõe CENEVIVA : 2006) 7 Revista ENM 319 administração, tendo como resultado um documento escrito denominado de Plano Estratégico. Para que o planejamento estratégico seja efetivo, ele deve ser orientado para ações e resultados concretos e mensuráveis, abrangendo um horizonte de médio e longo prazos8, e deve estar relacionado aos planos de ação nos níveis tático e operacional. Deve ser executado como um projeto específico, dividido em etapas e dentro de um prazo determinado, usualmente entre três a quatro meses. Após sua implementação, deve ser revisto sistematicamente de forma a incorporar ajustes decorrentes de modificações nos ambientes interno e externo. Assim, diferentemente da gestão estratégica, o planejamento estratégico tem datas de início e de conclusão, e cada uma das suas etapas deve estar relacionada a produtos e resultados específicos, conforme demonstrado na figura que se segue. Processo de Planejamento Estratégico Análise de Contexto ( externo e interno) Construção (ou revisão) da Identidade Institucional Formulação da Estratégia Elaboração dos Planos de Ação Implementação e Acompanhamento dos Planos de Ação A Análise de Contexto tem por finalidade, de um lado, identificar no ambiente externo as ameaças e oportunidades que se apresentam face à organização e, de outro lado, determinar as suas vulnerabilidades e potencialidades internas. As ameaças externas são fatores ou situações identificadas no ambiente 8 Não existe um horizonte padrão para o plano estratégico, que é condicionado pelas características de cada setor de negócio específico. No Judiciário brasileiro, as diretrizes do Conselho Nacional de Justiça recomendam o desenvolvimento de planejamento estratégico plurianual abrangendo, no mínimo, cinco anos (anexo II da Resolução CNJ no 70, de 18/3/2009). 320 Revista ENM externo que, se ignoradas ou não enfrentadas, poderão dificultar a instituição no desempenho efetivo de sua missão. Já as oportunidades externas são fatores ou situações identificados no ambiente externo que, se adequadamente aproveitados, poderão contribuir favoravelmente para os seus resultados. As vulnerabilidades internas constituem deficiências associadas a recursos ou capacitações que, se ignoradas ou não enfrentadas, poderão dificultar o desempenho da instituição, ao passo que as potencialidades internas constituem aspectos a serem valorizados e enfatizados como meios efetivos para a consecução das estratégias corporativas. A Análise de Contexto é um método bastante explorado na literatura sobre planejamento estratégico, e constitui instrumento consagrado e eficaz para subsidiar a formulação das estratégias corporativas. Em complementação à análise de contexto, deve ser salientada a importância de se identificar e clarificar os mandatos relacionados à organização, que são constituídos por prescrições externas sobre o que deverá ser feito no âmbito da instituição, usualmente associados a leis, normas e instruções provenientes de órgãos reguladores de determinadas atividades e políticas públicas, entre outros aspectos. Nesta linha, Bryson e Alston postulam que, no estabelecimento do curso futuro para a organização, os mandatos devem ser levados em conta como restrições que condicionarão a formulação das estratégias: “é vital que a organização tenha claro entendimento dos seus mandatos e das implicações relacionadas a suas ações e utilização de recursos” (1996 : 37). A Construção (ou revisão) da Identidade Institucional é a etapa seguinte no processo de planejamento estratégico, e deve resultar na formulação da missão, da visão de futuro e dos valores da organização. A missão deve deixar claro o propósito da instituição (sua razão de ser e de existir), por meio de uma formulação objetiva e precisa, possível de ser entendida e assimilada por todos que dela fazem parte, ou pelos que com ela mantêm relações significativas. Já a visão de futuro, estabelece um cenário sobre como se deseja estar e ser visto em um determinado horizonte de tempo, constituindo um balizador essencial para o direcionamento dos esforços internos e junto aos atores externos com os quais se interage. Embora a formulação da missão e da visão de futuro seja uma prática consagrada, e bastante usual, no processo de planejamento estratégico, segundo Kaplan e Norton (2009) tais direcionadores não raro são descritos em termos que não favorecem a execução. Ainda em conformidade com os mesmos Revista ENM 321 autores, a missão deve ser breve, geralmente em uma ou duas sentenças, enquanto a visão de futuro deve buscar incorporar três componentes vitais: objetivo ousado, definição de nicho e horizonte temporal. Nesta linha, exemplificam o que postulam com os casos do GOOGLE, para ilustrar uma missão de forma objetiva, e da Universidade de Leeds, no Reino Unido, para caracterizar uma visão de futuro dotada dos requisitos por eles propostos (Kaplan e Norton, 2009 : 39 – 41): Organizar as informações disponíveis no mundo e torná-las acessíveis e úteis para todos – missão do GOOGLE. Classificar-se entre as 50 universidades mais importantes (objetivo ousado), integrando pesquisa, bolsas de estudos e educação de classe mundial (nicho) até 2015 (horizonte temporal) – visão de futuro da Universidade de Leeds. Os valores organizacionais estabelecem as regras de conduta essenciais que devem nortear as ações da instituição e das pessoas que dela fazem parte, tanto nas práticas de trabalho internas como nas relações com o ambiente externo. A identificação de valores não é uma tarefa fácil, dada a tendência de se buscar formulações genéricas e sem uma vinculação com objetivos e ações de caráter prático. Exemplificando, se uma organização considera a transparência como um valor que deve fazer parte de sua estratégia, deve-se tornar explícito o seu significado em termos de ações concretas: utilização dos meios de comunicação para informação e divulgação dos seus atos e procedimentos. A Formulação da Estratégia é o passo seguinte do processo de planejamento estratégico, iniciada com a explicitação dos desafios estratégicos institucionais, que são os focos de ação e de mudança essenciais que devem ser contemplados pela organização, de forma a cumprir sua missão e caminhar no sentido de alcançar a visão de futuro estabelecida. Conforme postulado por Bryson, “a identificação dos desafios estratégicos é o coração do processo de planejamento estratégico” (1995 : 104). É uma questão política fundamental, afetando mandatos, missão e valores organizacionais, produtos ou serviços ofertados, estrutura organizacional, paradigmas quanto à gestão e outras questões essenciais. Ainda em conformidade com Bryson, “a identificação dos desafios estratégicos é tipicamente um dos mais excitantes passos do planejamento 322 Revista ENM estratégico, para os que dele participam. Virtualmente, cada desafio estratégico envolve conflitos: o que será feito, por que será feito, como será feito, quando será feito, onde será feito, quem fará o quê e quem será favorecido ou prejudicado pela sua concretização” (1995 : 104 – 105). A escolha dos desafios estratégicos, portanto, é o momento da escolha dos caminhos fundamentais a serem trilhados na direção do futuro, quando vai se definir o que é prioritário para a organização. Eles devem ter caráter seletivo, abrangendo as questões chave a serem enfrentadas, e a percepção dos mesmos decorre de uma análise acurada e integrada dos resultados apurados nas etapas precedentes do planejamento estratégico: análise de contexto e construção da identidade institucional. Alguns exemplos de desafios estratégicos são a seguir apresentados, a partir de situações vivenciadas ou constatadas pelo autor: Eficiência na gestão do salário educação e na gestão dos programas finalísticos (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE)9; elevar a produção de julgados (Superior Tribunal de Justiça)10; garantir a agilidade nos trâmites judiciais e administrativos (Conselho Nacional de Justiça).11 A partir de sua explicitação e formalização, os desafios estratégicos passam a constituir, então, os balizadores que direcionam o estabelecimento dos objetivos estratégicos e das metas a eles associados que correspondem às diretrizes de ação fundamentais para o cumprimento da missão e o alcance da visão de futuro estabelecida. Os objetivos estratégicos representam resultados a serem alcançados ou mantidos pela instituição, podendo extrapolar o horizonte do plano estratégico, e as metas devem fluir naturalmente dos mesmos, constituindo pontos de referência para avaliação do progresso das estratégias de ação. As estratégias representam as principais linhas de ação a serem seguidas, devendo responder a seguinte questão básica: como vamos chegar aos objetivos e metas pré-estabelecidos? Segundo Bryson & Alston (1996), elas se materializam por meio de políticas, decisões, planos de ação, projetos e alocação de recursos. Plano Estratégico do FNDE, 2004 - 2006 Plano de Gestão do STJ, 2006 - 2008 11 A Estratégia do Poder Judiciário, CNJ, Anexo I da Resolução no 70, de 18/3/2009 9 10 Revista ENM 323 Deve ser entendido também que as estratégias podem constituir-se por meio de decisões e ações imediatas, ou através de planos de ação e mobilização de recursos de médio e longo prazo. Outrossim, podem estar relacionadas a um objetivo estratégico como um todo, ou à determinada meta específica. Ainda cabe salientar que o alcance de cada meta deve ser sistematicamente acompanhado e avaliado, para o que são estabelecidos instrumentos para a sua mensuração, os indicadores de desempenho que, conforme Cérutti & Gattino, “constituem um dado objetivo que descreve uma situação do ponto de vista estritamente quantitativo, que constata um resultado” (1992 : 6). A utilização de indicadores de desempenho como instrumento de apoio à gestão parte do princípio que a avaliação de qualquer empreendimento, seja no plano da organização como um todo ou na dimensão de ações e projetos específicos, deve estar apoiada em critérios objetivos de medição. Entretanto, para implementar um sistema de medição em uma organização, as seguintes providências básicas se fazem necessárias: a) definir os objetos (ou campos) de medição (o que medir); b) estabelecer critérios objetivos de medição (fórmula e variáveis associadas à medição); c) definir o significado de cada variável, e as fontes de sua obtenção; d) definir o resultado esperado (meta); e) estabelecer os processos de obtenção dos dados associados às variáveis de medição. Exemplificando os conceitos anteriores, vamos utilizar como exemplo direcionadores relacionados ao plano estratégico do Tribunal de Justiça de Goiás, para o período 2009 – 201112: Objetivo Estratégico: ser efetivo nos trâmites judiciais, trabalhando com foco no atendimento ao cidadão e buscando a melhoria contínua do desempenho. Meta 1: Reduzir para 78% a taxa de congestionamento de 1o grau. Meta 2: Reduzir para 30% a taxa de congestionamento de 2o grau. Estratégias (linhas de ação): promoção do programa Justiça Ativa nas comarcas, incentivo ao sistema não adversarial de resolução de conflitos, alocação de equipes de apoio itinerante. 12 Manual do Plano Estratégico 2009 / 2011, disponível em http://www.tjgo.jus.br, acesso em 16/8/2009. 324 Revista ENM Indicadores de desempenho (relacionados à meta 1): o indicador mede o índice que reflete a divisão dos casos não sentenciados pela soma dos casos novos mais os casos pendentes de julgamento, e indica se a Justiça consegue decidir com presteza as demandas da sociedade, ou seja, se as novas demandas e os casos pendentes do período anterior são finalizados ao longo do ano. A Elaboração dos Planos de Ação, e sua subsequente Implementação e Acompanhamento, constituem as etapas finais do planejamento estratégico. Para que sejam criadas condições efetivas para o alcance dos objetivos e metas estabelecidos, este momento deve abranger o detalhamento das ações de implementação necessárias à consecução de cada estratégia específica. Nesta ocasião, são também especificadas as datas de início e término de cada uma das ações, assim como os valores orçados para a alocação dos recursos humanos, técnicos e materiais necessários à sua execução. Cabe salientar que esta é uma etapa extremamente delicada do processo de planejamento estratégico, pois é aqui que se estabelece a ponte entre o nível estratégico e os níveis tático e operacional da instituição, onde estarão as instâncias que responderão pela concretização de todas as ações planejadas. Conforme postulam Bryson & Alston, “a mera criação de um plano estratégico não é suficiente. O desenvolvimento de planos de ação efetivos, e sua posterior implementação, dará vida à estratégia e agregará valor real e concreto à organização” (1996 : 97). Finalmente, cabe aqui enfatizar a necessidade imperiosa da existência de uma unidade dentro da organização que articule, de forma integrada e sistemática, a elaboração e implementação das ações, seja mobilizando os recursos necessários ou, posteriormente, coordenando a avaliação dos resultados alcançados e promovendo a revisão, quando necessário, dos objetivos e metas estabelecidos e do próprio plano estratégico como um todo. É por meio desta ação catalisadora que o processo de planejamento se tornará iterativo, conforme proposto por Certo & Peter (1993), com um conjunto de etapas se repetindo ciclicamente. 3. A Gestão Estratégica no Poder Judiciário No âmbito do Poder Judiciário, as preocupações quanto à modernização da sua gestão remontam à primeira metade da presente década de 2010. Naquela ocasião, o Ministro Nelson Jobim, então Presidente do Supremo Tribunal Federal, argumentava que a legitimidade do Judiciário deveria estar Revista ENM 325 alicerçada na prestação do serviço jurisdicional com qualidade e eficiência, o que dependeria de uma gestão orientada por objetivos e metas voltados à eliminação dos gargalos apresentados pelo sistema judiciário para ofertar decisões, identificação, qualificação e quantificação das demandas, e redução dos custos da prestação jurisdicional, entre outros aspectos.13 Desde então, diversos tribunais em todas as instâncias do Poder Judiciário vêm desenvolvendo ações no sentido de, mediante uma visão estratégica, consolidar as bases para responder, com efetividade, as demandas básicas da sociedade por justiça: maior acesso da população ao Judiciário, prestação de serviços em tempo razoável, efetividade e celeridade no julgamento e na aplicação das decisões. Neste contexto, há que salientar o papel indutor à gestão e ao planejamento estratégico que vem sendo desempenhado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), especialmente a partir dos mandatos14 que institucionalizaram o processo no âmbito do Poder Judiciário e, complementarmente, com a promoção de encontros de âmbito regional e nacional, congregando os presidentes e principais gestores de todas as cortes para a discussão conjunta de problemas e soluções no âmbito do planejamento e da gestão. A ação de coordenação do CNJ, através da Resolução no 70, recentemente baixada pelo órgão, buscou pautar os principais desafios que devem ser enfrentados e superados pelas cortes no âmbito da eficiência operacional, do acesso ao sistema de justiça, da responsabilidade social, do alinhamento e integração, da atuação institucional, da gestão de pessoas, da infraestrutura e tecnologia, e da garantia de recursos orçamentários necessários à execução das estratégias15. Ainda na mesma Resolução foram estabelecidas dez metas de nivelamento para o ano de 2009, visando o início de um processo de equalização de ações e resultados entre todas as instituições e instâncias do Poder Judiciário16. A partir das diretrizes emanadas do CNJ, torna-se oportuna uma digressão sobre a situação atualmente existente em algumas cortes, quanto à gestão e ao planejamento estratégico, baseada na experiência vivida e na observação participante do autor em algumas instituições do Judiciário. JOBIM, Nelson (2004). Resolução CNJ no 49, de 18/12/2007, que dispôs sobre a organização de núcleos de Gestão Estratégica nos órgãos do Poder Judiciário, e Resolução CNJ no 70, de 18 de março de 2009, que dispôs sobre o planejamento e a gestão estratégica do Poder Judiciário. 15 Anexo I da Resolução CNJ no 70: A Estratégia do Poder Judiciário. 16 Anexo II da Resolução CNJ no 70: Metas Nacionais de Nivelamento – Ano de 2009. 13 14 326 Revista ENM Inicialmente, não nos parece que existam problemas para a mobilização dos quadros gestores internos, especialmente em nível da administração dos tribunais, para apoiar e participar da formulação das estratégias, já que o funcionamento de comissões de modernização da gestão e grupos similares tem sido bastante participativo e proveitoso nos projetos observados. A análise dos contextos interno e externo e a construção da identidade institucional (missão, visão de futuro e valores organizacionais), são etapas que não constituem problema significativo nos processos de planejamento observados, visto que os temas envolvidos já estão bastante difundidos e assimilados nos tribunais, principalmente a partir da ação do CNJ e dos tribunais superiores, que têm incentivado e orientado tais formulações. Por outro lado, a maioria das cortes tem sistematicamente envolvido seus principais quadros em programas de capacitação em administração judiciária, nos quais esta temática já é abordada de forma corriqueira. Os encontros regionais e nacionais do Poder Judiciário, promovidos pelo CNJ para a discussão da gestão estratégica, já salientados anteriormente, também têm auxiliado na sensibilização e no envolvimento das pessoas com o tema. A etapa de formulação das estratégias, especialmente quanto aos objetivos estratégicos, metas e indicadores de desempenho, a despeito do material que tem sido amplamente disseminado na literatura sobre o tema, constitui ainda um desafio a ser superado, em face de a cultura de gestão baseada em critérios objetivos de medição não estar ainda arraigada no setor judiciário de forma sistemática. Uma das principais razões para tal dificuldade deve-se ao fato que, especialmente no nível dos órgãos julgadores, os dados primários sobre a atividade de prestação jurisdicional carecem ainda de maior precisão e padronização, dificultando a sua obtenção e tratamento com qualidade. A despeito de as instâncias superiores do Poder Judiciário virem insistindo formalmente no sentido de que os tribunais gerem resultados padronizados para possibilitar uma comparação mais objetiva e precisa entre as cortes17, o fato concreto é que o acompanhamento dos resultados através de indicadores carece ainda de uma adequada infraestrutura de dados primários, conforme salientado acima, de forma a possibilitar um acompanhamento coerente e eficaz das ações desenvolvidas. 17 As Resoluções CNJ no 4, de 24/8/2005, e no 15, de 20/4/2006, dispõem sobre a criação e regulamentação do Sistema de Estatística do Poder Judiciário. Revista ENM 327 Nesta linha, cabe enfatizar a necessidade, que ainda se faz sentir, de uma abordagem mais sistemática e objetiva para a geração de indicadores de desempenho com a qualidade almejada, a partir da estruturação de um processo centrado em um roteiro conforme preconizado anteriormente: definição dos objetos (ou campos) de medição (o que medir); estabelecimento de critérios objetivos de medição (fórmula e variáveis associadas à medição); definição do significado de cada variável e das fontes de sua obtenção; definição do resultado esperado (meta); e estabelecimento dos processos de obtenção dos dados associados às variáveis de medição. No âmbito das unidades prestacionais, especialmente em nível da primeira instância, o envolvimento dos magistrados e servidores no processo de planejamento ainda deixa a desejar, provavelmente porque não tem havido mobilização efetiva destas unidades no sentido de integrá-las de forma mais direta no processo de gestão. Esta situação se fez notar em praticamente todas as instâncias do Judiciário observadas pelo autor, especialmente quando se trata das comarcas do interior dos estados. Ainda existe dificuldade na formulação das metas e resultados para prazos maiores do que dois anos, de um lado pela necessidade de sanar problemas emergenciais que afligem cotidianamente a vida das unidades judiciais e administrativas, de outro lado pela dificuldade em se visualizar horizonte maior do que aquele associado à Administração que está à frente da gestão do Tribunal. Tal situação ainda é vista mesmo naqueles casos onde existe um “pacto informal” de continuidade administrativa entre os gestores atuais e futuros, pois tal compromisso geralmente não é diretamente percebido por aqueles que exercem as funções de comando nas instâncias de nível tático e operacional. A elaboração e a posterior implementação dos planos de ação (como chegar lá, isto é, como definir e estruturar as ações e responsabilidades para chegar aos objetivos e metas pré-estabelecidos) constitui um grande problema na maior parte das situações, devido à dificuldade de mobilizar efetivamente as pessoas para pensarem em planos de ação concretos e focados em ações encadeadas, e em indicadores efetivos para medir o progresso das ações e dos resultados alcançados. Este fato deve-se a nosso ver, em primeiro lugar, ao envolvimento ainda insuficiente da maioria dos quadros da instituição no processo inicial de formulação das estratégias, ou à inexistência de mecanismos que tornem efetiva a motivação e o comprometimento de todos com a mudança e com o alcance das metas estabelecidas. 328 Revista ENM Por outro lado, a divulgação e assimilação dos direcionadores estratégicos e das estratégias provenientes da cúpula dos tribunais junto à maior parte da população que compõem os quadros dos órgãos julgadores ainda não é um processo consolidado. Isto porque nos parece ainda faltar, na cultura de boa parte das organizações do Judiciário, uma ação arraigada voltada para a criação de mecanismos e atitudes que tornem fluida a comunicação entre os diversos níveis organizacionais. Não queremos dizer, com a afirmação anterior, que não existam esforços e intenções neste sentido. Todos os tribunais, via de regra, possuem ambientes de comunicação eletrônica através da internet e das redes internas, são criados folhetos ilustrativos das diretrizes e intenções da Administração quanto à estratégia, e “banners” são espalhados pelas instalações, com a divulgação da missão, dos valores organizacionais e do cenário futuro a que se pretende chegar. Entretanto, os efeitos pretendidos pela administração, em termos do envolvimento coletivo e de respostas sob forma de ações concretas, têm sido bastante tímidos e abaixo das expectativas, em nosso entendimento. Nesta linha, já observamos experiências de divulgação dos direcionadores estratégicos da instituição – a missão, a visão de futuro e os valores organizacionais – na rede corporativa interna, a intranet, seguida da formulação de uma pergunta para todos os funcionários, “como você pode contribuir para o alcance da missão e da visão de futuro do Tribunal?”, mas os resultados constatados, em termos de retorno de contribuições e sugestões, foram pouco significativos. Dessa forma, pode-se concluir que o modelo mental proposto na literatura de um “pensar estrategicamente” envolvendo toda a instituição, a nosso ver ainda é mais uma aspiração do que um fato real nos tribunais observados pelo autor. Finalmente, o que se percebe é um enorme esforço para dotar as instituições de métodos e tecnologias para apoio à formulação e à implementação das estratégias, sem que haja ainda uma institucionalização de políticas consistentes de recursos humanos para criar contrapartidas de incentivo real para recompensar o alcance das metas estabelecidas, seja em termos financeiros ou por meio de outras formas de premiação aos funcionários individualmente ou a grupos (times) envolvidos com a concretização dos planos. 4. O magistrado como agente de mudança na gestão estratégica Conforme enfatizado no início deste trabalho, a gestão estratégica é uma ação contínua que deve se institucionalizar no seio da organização e Revista ENM 329 internalizar-se nos seus quadros funcionais em todos os níveis. O planejamento estratégico, visto como um esforço disciplinado para produzir decisões e ações fundamentais, é o instrumento conceitual e metodológico para concretizar a formulação e a implementação das estratégias. Entretanto, por melhor que sejam as formulações derivadas do processo de planejamento, elas não são um substituto para a liderança como o meio fundamental para motivar as pessoas, desencadear as ações e fazer acontecer os resultados em qualquer instância da organização. Nas instituições do Judiciário o principal foco de concentração das ações estratégicas, tendo como propósito final a prestação do serviço jurisdicional com qualidade e eficiência, deve estar voltado para os órgãos julgadores, no âmbito da primeira e da segunda instâncias. É neste contexto que deve se ressaltar o papel chave dos magistrados como os agentes fundamentais nas ações de formulação e de implementação das estratégias. Tendo como referência a compreensão da natureza dos processos inerentes ao Poder Judiciário, conforme proposto por Dakolias (1996), além do seu exclusivo espaço do livre convencimento para a resolução dos conflitos, razão de ser da instituição judiciária, o magistrado ainda atua na esfera da administração da justiça em outra instância, a da gestão das funções administrativas dos órgãos julgadores e da tramitação do processamento das ações relacionadas à resolução dos conflitos de interesse entre as partes envolvidas. É nesta dimensão administrativa do órgão julgador que ressalta o papel do magistrado como agente da transformação estratégica da gestão. Nesta situação, para uma atuação eficaz, ele deve desvincular-se do modelo mental utilizado no processo de formação do seu convencimento para a resolução das lides, orientado por uma atuação bastante individualizada e condicionada pelos fatos inerentes ao processo que está sendo analisado, pelas normas e doutrinas do direito e pelos seus valores pessoais. Na figura de gestor administrativo, alinhado com a estratégia da instituição, o magistrado deve desenvolver e internalizar outros papéis e habilidades, especial mente no sentido de conduzir os processos que requerem, essencialmente, o desempenho de tarefas de natureza interpessoal, conforme proposto a seguir. Em primeiro lugar deve entender o contexto estratégico em que está atuando, sendo capaz de perceber como as proposições relacionadas à missão, visão de futuro e valores organizacionais podem transformar-se em ações concretas no âmbito de sua esfera de atuação, o órgão julgador. 330 Revista ENM Para tanto, de forma a atuar efetivamente como o principal agente facilitador do processo de mudança, o magistrado deve, antes de tudo, internalizar o sentido do que significa pensar e agir estrategicamente na sua esfera de atuação, para o que é imperativo o desenvolvimento de uma visão clara, objetiva e sucinta dos fatores críticos a serem enfrentados e superados para o sucesso da implementação das ações propostas no órgão onde atua. Em seguida, deve envolver o pessoal sob sua jurisdição (os funcionários do gabinete e do cartório) na execução das ações propostas, para o que faz-se necessária uma prévia discussão com os mesmos a respeito dos direcionadores estratégicos formulados e da forma como eles podem impactar o funciona mento e os resultados da unidade prestacional. A partir da compreensão das pessoas sobre o significado das diretrizes estratégicas no seu cotidiano, o passo seguinte do magistrado é investir-se da missão de ser o patrocinador político das mudanças no seu contexto de jurisdição. Neste papel, ele não estará necessariamente envolvido nos detalhes do dia a dia das ações, mas deverá acompanhar acuradamente o progresso das ações e a reação das pessoas às mudanças que estarão acontecendo. Como principal articulador local da implementação das estratégias, deve também dispor de um canal efetivo de comunicação com a administração da instituição, notadamente com a unidade responsável pela gestão estratégica, de forma a garantir os recursos necessários para a concretização das ações, especialmente quanto à provisão dos meios materiais, e à capacitação, reconhecimento e recompensa das pessoas envolvidas. Finalmente, no seu papel de líder do processo de mudanças, deve utilizar o diálogo e as discussões em grupo como os meios essenciais para construir um ambiente de transformação dotado de significado para as pessoas. 5. Conclusões A aplicação da gestão estratégica nas organizações públicas é plenamente factível, desde que a cultura predominante favoreça a adoção de procedimentos centrados na racionalidade do processo de gestão. O primeiro e principal benefício potencial da gestão estratégica é a oportunidade de se criar um ambiente coletivo orientado para o pensamento e a ação estratégica no âmbito da organização como um todo. Este é o principal resultado a ser alcançado. Revista ENM 331 Neste sentido, o planejamento estratégico tem utilidade somente se dele resultarem elementos que facilitem e fortaleçam o pensamento e a ação estratégica. Como decorrência do primeiro, o segundo benefício potencial consiste na possibilidade de se alcançar melhores resultados na gestão do negócio, a partir do foco nos desafios cruciais que se apresentam à organização, tanto no plano interno como no relacionamento com o ambiente externo. O terceiro benefício potencial, melhor resposta aos desafios provenientes do ambiente externo e maior transparência da gestão, é uma decorrência direta e natural dos dois primeiros. A implementação da gestão estratégica no setor público tem o mesmo grau de complexidade que nas empresas privadas, entretanto apresenta uma conotação bastante diferente quando observada a perspectiva dos seus resultados, dado que estes devem contemplar a contribuição da instituição para a efetividade das políticas públicas estabelecidas. No caso do Poder Judiciário, a formulação das estratégias deve buscar o fortalecimento de suas instituições no sentido de prover uma efetiva prestação jurisdicional para a sociedade, política pública estabelecida pelas suas instâncias de nível superior. A experiência recente nas organizações do Judiciário, conforme percebido pelo autor, revela um contínuo progresso na utilização de processos de planejamento estratégico como um meio sistemático de fortalecer a compreensão de sua missão e a visão do cenário futuro onde se pretende chegar. Entretanto ainda permanece, como um grande desafio, a concretização efetiva do “pensar estrategicamente” envolvendo toda a instituição, que ainda constitui mais uma aspiração do que um fato real nas situações observadas pelo autor. Para se chegar efetivamente ao cenário desejado, ressalta a missão que deve ser assumida pelos magistrados como agentes da transformação estratégica da gestão. Na figura de gestor administrativo alinhado com a estratégia corporativa, o magistrado deve desenvolver e internalizar novos papéis e habilidades, notadamente no sentido de conduzir os processos que requerem, essencialmente, o desempenho de tarefas de natureza interpessoal, especialmente quanto à comunicação, negociação e condução de grupos. 332 Revista ENM Referências Bibliográficas BRYSON, John M.; ALSTON, Farnum K. Creating and Implementing your Strategic Plan: A Woorkbook for Public and Nonprofit Organizations. San Francisco, Jossey-Bass Inc Publishers, 1996. BRYSON, John M. 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