Faça AGORA! - Arquidiocese de Vitória

Transcrição

Faça AGORA! - Arquidiocese de Vitória
vitória
Ano X
•
Nº 124
•
Dezembro de 2015
Revista da Arquidiocese de Vitória - ES
O passado brilha
de novo:
uma nova
Catedral
TAM BORES
/ Lu ci o s Ro l a m e n to s
M ANCAIS
| w w w . l u c i o s . c o m | ( 2 7 ) 3 2 3 2 - 4 24 2
Belo Horizonte - MG | Cachoeiro de Itapemirim - ES | Matriz Vitória - ES | São Paulo - SP
Ip a t in g a - MG | J o ã o M o nl ev a d e - MG | R i o d e J a n e iro - RJ | S ã o Luí s - M A
editorial
A porta da catedral restaurada
será Porta da Misericórdia
E
Maria da Luz Fernandes
Editora
ste final de ano apresenta-se com perspectivas difíceis, mas também
com alegrias. Assistimos ao desastre ecológico no Rio Doce e às dificuldades de cidades inteiras para lidarem com a falta de água, mas
também à solidariedade imensurável das pessoas para tentarem amenizar
os sofrimentos de outros.
Não temos capacidade de interferir nessa realidade, resta-nos potencializar ‘o bom’ que se manifesta.
Por outro lado iniciamos o Ano da Misericórdia proclamado pelo
Papa Francisco com o objetivo de proporcionar experiências e vivências
pessoais e comunitárias de “deixar-se abraçar pela misericórdia de Deus e
comprometer-se a ser misericordioso com o outro como o Pai é conosco”.
A proposta de um Ano da Misericórdia é um sinal de esperança em um
mundo desesperançoso.
Entrar pela Porta da Misericórdia na Arquidiocese de Vitória é, também,
passar pela porta da catedral restaurada e mergulhar na beleza deste templo
que apresentamos nesta edição.
Boa leitura! n
fale com a gente
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vitória
Revista da Arquidiocese de Vitória - ES
Ano X – Edição 124 – Dezembro/2015
Publicação da Arquidiocese de Vitória
08
05 Atualidade
retrospectiva
17
Festa da Penha chegada da imagem à
Prainha, na Romaria das
Mulheres, em abril
18
26
espiritualidade
diálogos
O bom combate
Sinos de Natal
Economia Política
28 Comunicação
42 Pergunte a quem sabe
46 acontece
Viver bem
A arte de
viver o
presente
24
03
14
20
editorial
ideias
Nos longínquos destinos
seguindo os rastros de Deus
caminhos da bíblia
A benção da criação e o
cuidado do homem
34
Mundo Litúrgico
Natal, festa da reconciliação
44
Ensinamentos
O Sacramento para os fisicamente
debilitados
13
Especial
30
entrevista
33
sugestões
O Carisma dos
Jesuítas
e o Ano da
Misericórdia
O imaginário do
Papai Noel carrega
os sentimentos
o Natal
Em clima de
fim de ano
23
36
41
carismas
religiosos
Irmãs da
Consolação
reportagem
Igreja, cultura
e economia
crescem juntos
em Araguaia
cultura
capixaba
O modo de
ser capixaba
Arcebispo Metropolitano: Dom Luiz Mancilha Vilela • Bispo auxiliar: Dom Rubens Sevilha • Editora: Maria da Luz Fernandes
/ 3098-ES • Repórter: Letícia Bazet / 3032-ES • Conselho Editorial: Albino Portella, Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri,
Gilliard Zuque, Marcus Tullius, Vander Silva • Colaboradores: Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Raquel Tonini, Pe. Andherson Franklin
• Revisão: de texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: [email protected] - (27) 3198-0850
Fale com a revista vitória: [email protected] • Projeto Gráfico e Editoração: Comunicação Impressa - (27) 33199062 Ilustradores: Richelmy Lorencini • Designer: Albino Portella • Impressão: Gráfica e Editora GSA - (27) 3232-1266
Atualidade
Maria da Luz Fernandes
Marcus Tullius
Raquel Tonini R. Schneider
O passado brilha de novo:
uma nova Catedral
O
alerta veio
com pequenos sinais:
água de chuva entrando no presbitério e um
pedaço de vitral no
chão. Acenderam-se
as luzes e começou a
corrida para conseguir
aprovações e verbas que
permitissem restaurar
a catedral de Vitória.
Diversos problemas
estruturais surgiram e
a avaliação das neces-
sidades foi se construindo: fiação, piso, pintura,
vitrais, presbitério, iluminação, tudo precisava
ser avaliado e assim se
construiu um grande
projeto em diversas
etapas.
Em 2008 o projeto
foi enviado ao Ministério da Cultura e em
2010 iniciaram-se as
obras começando com
a troca do telhado e
das calhas.
A construção da
catedral, em estilo neogótico, foi iniciada por
Dom Benedito Paulo
Alves de Souza, 3º bispo do Espírito Santo
que demoliu a antiga
catedral Nossa Senhora
da Vitória, construída
em estilo colonial jesuítico, considerada
pequena e transferiu o
serviço litúrgico durante 14 anos para a Igreja
São Gonçalo. Em 1933
revista vitória I Dezembro/2015
5
com a missa do Galo
foi inaugurada a nova
catedral.
Durante estes 82
anos, a catedral passou
por pequenas reformas
e aos poucos algumas
modificações alteraram
suas origens. O restauro
atual fez também um
resgate histórico e ajustou algumas alterações
realizadas.
Para os visitantes e
os fiéis grande parte do
trabalho do restauro não
ficará visível por estar
escondido nas paredes
como fios e tubulações
necessárias à segurança, mas muitas novi-
Atualidade
dades realçam a beleza
para quem busca arte e
ambiente de oração para
aqueles que querem um
lugar para rezar. Refletores de LED foram colocados na parte externa
para valorizar a verticalidade da construção; a
cor original das paredes
foi resgatada com raspagem das camadas de tinta;
as cruzes espalhadas nos
dois lados da nave foram
banhadas a ouro retoman-
do sua cor original; nas
molduras as folhas de
acanto foram realçadas
com nova pintura; acima
da porta principal de entrada o símbolo mariano e
a coroa foram destacados
com douramento; três novos vitrais foram coloca-
dos ao fundo do altar, em
substituição aos elementos vazados existentes; a
iluminação interna traz refletores direcionados para
as abóbadas que criam um
clima favorável à liturgia
e à oração; o piso original
foi totalmente recuperado
e o portal interno, também
conhecido como Portal
do Arcanjo por ter em
uma das abas o arcanjo Gabriel, voltou à cor
original de douramento
em bronze; a sonorização
foi adequada não só para
a liturgia, mas também
para atender concertos
de grande porte que venham a colocar a catedral
de Vitória nos circuitos
culturais nacionais e internacionais.
Presbitério
Dois grandes destaques surgem deste
restauro contemplando
as tendências artísticas
contemporâneas que valorizam o sentido da arte
sacra de conduzir o ser
humano à oração seguindo um caminho místico: o
presbitério (altar, ambão,
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6
imagem de Nossa Senhora e brasão do arcebispo)
e as salas do batismo e da
reconciliação.
O novo altar foi
construído em pedra natural maciça, do Norte do
Espírito Santo, com acabamento escovado e vai
destacar a centralidade do
espaço celebrativo. Sua
forma traz a base em cruz
que se abre como uma flor
para formar o tampo de
dois metros e meio em
bloco único evocando
as linhas curvas ogivais
do estilo gótico. O altar
existente assim como o
ambão serão transferidos
para a cripta.
O ambão foi construído com a mesma pedra
e acabamento do altar e
ficará mais próximo do
povo. Sua forma em quatro
peças recorda a unicidade
do Evangelho narrado por
São Mateus, São Marcos,
São Lucas e São João.
salas de batismo e
reconciliação
As salas de batismo
e reconciliação são uma
recuperação dos espaços
não originais existentes
na lateral esquerda da
catedral. Esses espaços
foram identificados pelos
vitrais (batismo e reconciliação) que os circundam
indicando que essa teria
sido a ideia da extensão
lateral da construção. A
sala do batismo tem forma
octogonal que nos recorda o oitavo dia, o dia da
Ressurreição e, a nova
fonte batismal, de pedra
maciça também de oito
lados acompanha o conceito formal do altar. Dela
brota água corrente como
de uma fonte tornando-se
sinal mais expressivo do
sacramento do batismo. O
mosaico do pavimento de
forma circular apresenta
as linhas que remetem às
águas do batismo e nele
a presença de oito peixes
recordam a nova criação
e a aliança definitiva.
Na sala da Reconciliação as curvas do piso
lembram nosso próprio
caminho. Os mosaicos e
o mobiliário não foram
contemplados nesta etapa, mas seguirão a mesma
linha dos espaços concluídos. Este lugar, antes utilizado para atendimento
da pastoral da saúde, continuará sendo espaço de
renovação e cura.
Itinerário espiritual
O projeto de adequação litúrgico propôs
à equipe de restauro, a
abertura de uma porta que
liga as salas do batismo e
reconciliação com a assembleia. Assim, temos
um itinerário espiritual
que pode ser repetido pelo
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7
fiel frequentemente: entrar pela sala de Batismo
(renovar suas promessas
batismais), passar pela
sala da Reconciliação
(arrepender-se dos pecados), unir-se à assembleia,
escutar a Palavra de Deus
e participar da Eucaristia.
Além dos mosaicos
na sala da Reconciliação,
a cripta e a capela do Santíssimo serão restaurados
na próxima etapa. n
ectiva
p
s
o
r
t
Re
2015
Abertura da Campanha da
Fraternidade no Convento da
Penha, em fevereiro
va
specti
o
r
t
e
R
2015
Treinamento da Campanha
do Dízimo, em março
va
specti
o
r
t
e
R
2015
Festa da Penha chegada da imagem à
Prainha, na Romaria das
Mulheres, em abril
ectiva
p
s
o
r
t
Re
2015
Bispos reunidos no Muticom, no Centro
de Convenções de Vitória, em julho
ectiva
p
s
o
r
t
Re
2015
Lançamento do livro de Dom Luiz
Mancilha - ‘Conversando com a mãe
aflita’, no Encontro das Mães que oram
pelos filhos, em outubro
especial
O Carisma dos Jesuítas
e o Ano da Misericórdia
Q
uem faz os Exercícios
Espirituais de Santo
Inácio de Loyola sabe
muito bem que a etapa chave
para desenvolver bem seus exercícios é a chamada “1ª Semana” ou Semana da Misericórdia
quando o exercitante é chamado
a meditar não tanto sobre seus
pecados, mas sobre a misericórdia de Deus que nos dá Jesus
Cristo Crucificado, o grande
sinal da misericórdia do Pai,
a certeza de seu imenso amor
por todos e cada um de nós.
Também na “3ª Semana”, chamada Semana da Paixão, contempla-se não tanto
os sofrimentos de Cristo, mas
o porquê deles, sua entrega ao Pai e sua misericórdia
para conosco, os pecadores.
Somos convidados a nos
unirmos ao Cristo padecente
que vai à paixão por nossa
causa, por nossos pecados.
E tudo mais nos Exercícios nos fala da Misericórdia,
desde a encarnação onde o
Verbo se faz homem para nos
salvar, passando pela vida pública, pela paixão e também
pela ressurreição, à Misericórdia que está ao fundo de
tudo, dando sentido a tudo.
Portanto para um jesuíta, celebrar o Ano Santo da
Misericórdia é ter a oportuni-
“para um jesuíta, celebrar o Ano Santo da
Misericórdia é ter a oportunidade de celebrar mais
intensamente, durante um ano, o Cristo do alto
da cruz dizendo ‘tudo está consumado’ e
entregando sua alma ao Pai, após haver
redimido todos nós”.
dade de celebrar mais intensamente, durante um ano, o
Cristo do alto da cruz dizendo “tudo está consumado” e
entregando sua alma ao Pai,
após haver redimido todos nós.
O Papa Francisco, filho
espiritual de Inácio de Loyola,
imbuído dessa espiritualidade,
apresenta a toda Igreja a oportunidade de desfrutar da misericórdia de Deus e por causa dela
se tornar mais próximo do Pai. É
a espiritualidade do Coração de
Jesus, manso e misericordioso!
São José de Anchieta, o
jesuíta canonizado pelo Papa no
ano passado, escreveu falando
da chaga do Coração de Jesus:
“Quem feriu o Coração não
foi a lança do soldado, mas a
misericórdia de seu coração.”
Poderíamos declinar uma
multidão de nomes de jesuítas
que tiveram devoção especial à misericórdia de Deus,
como Cláudio de La Colombière e a devoção ao Coração de Jesus, São Roque de
Santa Cruz e tantos e tantos!
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Também a permanente
disposição do jesuíta em ouvir
confissões e o hábito de haver
em nossas igrejas horários para
atender confissões fazem parte do modo de ser inaciano.
O Santuário Nacional de
São José de Anchieta acolheu
de braços abertos a missão de
ter em seu templo uma “Porta
da Misericórdia”. Assim, os
romeiros vindos em peregrinação à ”Cela de Anchieta”, para
venerar parte da tíbia do Apóstolo do Brasil e o local de sua
“páscoa”, também poderão ganhar as indulgências próprias do
Jubileu Extraordinário, atravessando a Porta Santa e tendo confessado, comungado e rezado
nas intenções do Santo Padre.
Companhia de Jesus, o
nome da Ordem dos Jesuítas,
significa Companhia do Jesus
Padecente, daquele que, por misericórdia, abraçou a cruz e, com
ela, redimiu a Humanidade. n
Padre César Augusto dos Santos
Sacerdote jesuíta e reitor do Santuário
Nacional São José de Anchieta
ideias
Nos longínquos
destinos seguindo os
rastros de Deus
O
cosmo nos plasmou nos longínquos destinos
seguindo os rastros de Deus. Ele somou faíscas, poesias e partículas em bilhões e bilhões
de anos, numa álgebra complexa e infindável, e compôs
mundos e mundos em números para além de qualquer
possibilidade de se imaginar. E dentre tantos – não
entre os primeiros, nem entre os últimos – formou
uma planeta azul, lindo como ele só. Cheio de graça
e beleza... Fez-se a Terra.
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14
Mas os rastros de Deus tênues
e discretos seguiam adiante, e o
cosmo procurava-os em tentativas
de compor novos arranjos naquele
planeta pendurado ali nas franjas de
uma galáxia tão semelhante a tantas
outras. Ali os pesos e as levezas,
as gravidades e os fluxos celestes,
as águas e a lua, as lavas e as brisas definiram num agito de muitos
componentes e ritmos o surgimento
de organismos... Fez-se a vida.
O universo então se alongou
por distâncias desmedidas arrastando o mundo em suas tentativas
de ganhar tempo para que nas entranhas daquele planeta onde surgira a vida novos acontecimentos
se dessem. E a vida, incipiente e
frágil se dobrou e desdobrou em
infinitas combinações nos vales e
campinas, nas florestas e cavernas,
nas montanhas e pradarias, nos
rios e desertos até que uma de suas
criações se ergueu distinta... Fez-se
o homem.
Até então bilhões de anos tinham se sucedido em bilhões de
eventos luminosos, sóis se tinham
acendido e se apagado, mundos se
tinham formado e se acabado... mas
o universo seguia cego, cego. Foi
no olhar assustado do ser humano,
num encanto de luz e consciência,
que o universo curou-se de sua
cegueira e viu-se a si mesmo...
Fez-se a lucidez.
Mas a lucidez tem um preço.
O universo começou a se perceber.
Começou a se avaliar em busca de
entendimentos sobre si próprio.
Não sem demora se viu portador
de infindáveis luzeiros, mas também de densas, densas e extensas e
frias escuridões... E o universo se
assustou consigo mesmo... Fez-se
o medo.
Novos rastros de Deus precisavam ser encontrados e o cosmo
todo passou a gemer e se contorcer
na inquietação de não ter ainda parido o que devia parir, e se voltou
para o ser bípede em esperanças
de nele ver nascer algo novo que
desse sentido a todas as coisas, e
que fosse a ligação com a origem de
tudo. O universo percebeu que das
durezas da vida, pelas suas lutas
por comida e abrigo o pequeno ser
bípede descobria em si uma força
sutil e poderosa, a força da compaixão. Ele aprendia a condoer-se dos seus pares, dava-se em
solidariedade aos que padeciam as
mesmas dificuldades... O Universo
respirou... feliz... Fez-se o amor.
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15
No entanto o universo intuiu
que no fundo do coração daquele
ser humano coabitavam o medo e
o amor, luzes e escuridões frias, tal
qual em suas próprias imensidões;
e que o medo fazia surgir outra
força, quase tão poderosa quanto
o amor. No desejo de posse e de
garantir egoisticamente a segurança e bem-estar surgiam as disputas
violentas, as guerras... Fez-se o
ódio.
Então o cosmo todo se arregimentou em buscas por novos rastros de Deus, outro passo precisaria
ser encontrado. O universo definiu
que seus astros todos estivessem
atentos às pistas que Deus deixara.
Homens, feras e astros buscaram
um sinal. Esta empreitada também
foi longa e demorada. Mas enfim...
Enfim... Um pequeno cometa traçou um caminho no céu. E coube
a ele, a uns magos, a uns pastores
e a uns animais a honra de testemunharem o acontecimento desde
sempre esperado: glória a Deus
nas imensidões do cosmo e paz na
terra aos que se guiam pelo amor...
E nasceu Jesus. n
Dauri Batisti
Economia Política
Bons ventos
B
ons ventos os que trouxeram à crise
política pela qual passa o Brasil, a nota
emitida no final de outubro pelo Conselho Permanente da CNBB que trata da realidade
sociopolítica brasileira, suas dificuldades e
oportunidade. Oportuna diante do debate enviesado fomentado por ações políticas menores
e ampliadas pelo noticiário de parte dos meios
de comunicação, inclusive as redes sociais.
A nota alerta contra o pessimismo que
contamina e que leva muitos à conclusão equivocada de que o Brasil se encontra em um beco
sem saída. Indica que esse pessimismo pode
levar à sensação de derrota que transforma –
como indica o Papa Francisco – muitos em
pessoas lamurientas e desencantadas com cara
de vinagre.
Reconhece a crise de governabilidade e
indica que ela deve ser buscada com apoio
que oportunismos e soluções fáceis precisam ser
evitadas e que o bem comum deve ser buscado.
A fala do Papa Francisco no Congresso
americano é lembrada: “uma sociedade política
dura no tempo quando, como uma vocação,
se esforça por satisfazer as carências comuns,
estimulando o crescimento de todos os seus
membros, especialmente aqueles que estão em
situação de maior vulnerabilidade ou risco.”
Convoca a sociedade civil a exigir que os governantes do executivo, legislativo e judiciário
recusem terminantemente mecanismos políticos
que, disfarçados de solução, aprofundam a exclusão social e alimentam a violência. Dentre
esses, as tentativas de redução da maioridade
penal, a flexibilização ou revogação do Estatuto
do Desarmamento e a transferência da demarcação de terras indígenas para o Congresso
Nacional indicam a necessidade de construção de pontes que favoreçam
“uma sociedade política dura no tempo quando, como uma
o diálogo amplo envolvendo
segmentos que legitimamente
vocação, se esforça por satisfazer as carências comuns,
representam a sociedade.
estimulando o crescimento de todos os seus
Cita o Papa Francisco quando
membros, especialmente aqueles que estão em
fala de corrupção - “praga da
situação de maior vulnerabilidade ou risco.”
sociedade” - que acomete insPapa Francisco
tituições privadas e públicas.
ampliado e através do funcionamento adequado
Lembra que ao Estado cabe cumprir com rigor
dos três poderes. Enfatiza a necessidade do País
e imparcialidade a sua função de punir igualbuscar o crescimento sustentável; a diminuição
mente corruptores e corruptos, de acordo com
das desigualdades; a transformação na saúde
os ditames da lei e as exigências de justiça.
e na educação. Indica a necessidade de am Assim seja! n
pliação da infra-estrutura e de políticas sociais
que cuidem das populações mais vulneráveis.
Arlindo Vilaschi
Reconhece que respostas a essas necessidades
Professor de Economia na Universidade Federal do
Espírito Santo
têm que se dar através da consciência de todos
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17
espiritualidade
O bom combate
C
reio que toda pessoa pergunta-se em
algum momento da vida: Vale a pena
se esforçar para ser bom, enquanto a
maioria das pessoas está despreocupada com
isso e o mal parece triunfar sobre o bem?
Em algumas situações trágicas surge espontaneamente a dúvida: Por que certas pessoas
boas sofrem tanto e outras que são maldosas
e desonestas estão numa vida boa? A Bíblia
reporta esses questionamentos inúmeras vezes
e sempre dá a devida resposta: “De novo vereis a distância que há entre o justo e o ímpio,
entre o que serve a Deus e o que não serve”
(Mal 3, 18) e o Salmo 1 canta: “Ele (o justo)
é semelhante a uma árvore que está plantada
na beira do rio... Eis que tudo o que ele faz
vai prosperar. Mas bem outra é a sorte dos
perversos, são iguais à palha seca espalhada
e dispersada pelo vento. Pois Deus vigia o
caminho dos eleitos, mas a estrada dos mal-
vados leva à morte”. Resumindo: o mal não
compensa nunca. O bem sempre triunfará.
Porém, hoje é grande a tentação de desanimar do bem e, na minha modesta opinião,
a internet está contribuindo para isso. As
desgraças e notícias chocantes são oferecidas
“ao vivo” como alimento para um público de
péssimo paladar e que gosta de comida ruim.
Como sou otimista e acredito que a humanidade
aos poucos vai se reeducando, espero que ela
logo se enjoe desse excesso de comida ruim.
Assim sendo, todos os meios de comunicação
passarão a oferecer aos seus educados e exigentes consumidores, notícias e informações
mais saudáveis e balanceadas.
O problema não está na maravilhosa instantaneidade da comunicação atual. O problema,
a meu ver, está no péssimo gosto do consumidor de notícia que ainda na sua maioria gosta
de lixo. A Igreja é depositária de alimento
saudável e encarregada por Deus para distribuir o Pão da Vida, que é o próprio Cristo. É
missão da Igreja levar as ovelhas para a fonte
de água viva. Desse modo, os filhos de Deus
alimentados e saciados terão ânimo e força
para percorrer o caminho longo e difícil que
conduz à Vida Eterna. Assim seja. n
A Igreja é depositária de alimento saudável e
encarregada por Deus para distribuir o
Pão da Vida, que é o próprio Cristo.
Dom Rubens Sevilha, ocd
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória
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19
caminhos da bíblia
A bênção da
e o cuidado do homem
T
oda a criação é vista, na Bíblia, como
uma bênção. O dom da terra e de
toda a sua fecundidade é a afirmação plena desta bênção que atinge toda a
criação. Nela Deus se revela e se mostra
como a única e verdadeira potência que
abraça todas as coisas, colocando, por
meio da liberdade soberana do seu amor,
os fundamentos para tudo o que existe.
Todavia, quando o homem se distancia
desta intenção amorosa de Deus ele se
torna um perigo para si mesmo e para a
própria natureza.
- homem e mulher - à sua imagem e semelhança e os convida à comunhão com Ele
e, também, com toda a criação. Na bênção
divina dirigida ao homem e à mulher em Gn
1,28, está expressa a sua vocação: “Sede
fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra
e submetei-a, dominai sobre os peixes do
mar, as aves do céu e todos os animais que
rastejam sobre a terra”.
Ao receber de Deus a indicação
de submeter toda a terra, a humanidade
é convidada a tomar posse da mesma e
reconhecê-la como dom a ser partilhado
igualmente. O convi“O consumismo de nosso tempo e a
te do domínio sobre
todos os animais repreocupação com o lucro desmedido fazem
vela o compromisso
com que a natureza não seja vista em sua
de todo homem com
globalidade, em sua dimensão profunda de dom divino.”
o criador, ser aquele
Deus cria por meio de sua palavra. O
que garante a propagação da bênção, o que
“falar” de Deus é, em si mesmo, um ato
acompanha e dirige, o que cuida e é pastor de
criador, uma palavra viva e eficaz, que se
toda a criação. Todavia, o relato da criação
desdobra, fazendo surgir a imensa bioditambém alerta para o perigo da negligência,
versidade presente nos primeiros versículos
da violência e da perda do sentido profundo
da Bíblia. No final do primeiro capítulo do
deste cuidado com a criação, algo que se
livro do Gênesis, Deus cria a humanidade
manifesta, quando a humanidade esquece a
revista vitória I Dezembro/2015
20
criação
sua vocação de “pastor do criado” e se desvia do chamado de
Deus de ser portador da bênção
(Gn 6,11-12). O consumismo
de nosso tempo e a preocupação
com o lucro desmedido fazem
com que a natureza não seja
vista em sua globalidade, em
sua dimensão profunda de dom
divino. O nosso mundo corre
o grande risco de dissolver-se
na valorização desmedida do
presente, considerando-o como
único valor, perdendo assim a
sua ligação fundamental seja
com as suas raízes, seja com
o sentido profundo do projeto
divino para a criação, como lugar da manifestação da bênção
divina para todas as gerações. A
criação sofre e junto a ela toda a
humanidade padece à causa do
descaso e descuido, promovidos
pela inconsciência e a despreocupação com um crescimento
ecologicamente sustentável. Ao
mais profundo de bênção para
todos, despertando-nos assim
para a necessidade de defesa e
o cuidado com toda a natureza,
como um compromisso e responsabilidade de cada cristão e
cristã. Mas para que isso aconteça é preciso recuperar o valor
“A criação sofre e junto a ela toda
a humanidade padece à causa do descaso
e descuido, promovidos pela inconsciência
e a despreocupação com um crescimento
ecologicamente sustentável.”
esquecer a sua missão junto à
criação, o homem expõe ao risco
todas as coisas e a si mesmo,
afastando-se do seu papel de
defensor e promotor da bênção
divina, rompendo com a comunhão com Deus e com toda a
criação.
A renovação de cada homem
e mulher unidos a Cristo deve
refletir diretamente numa compreensão mais ampla da vida em
todas as suas dimensões. Neste
caso, é necessário recuperar o
valor da criação e seu sentido
da contemplação, do estupor pela
descoberta da racionalidade, que
governa tudo e remete a razão
divina por excelência (Sl 8; 138;
148). Só quem é ainda capaz de
reconhecer e contemplar pode
ainda amar, preservar e cuidar.
Sendo assim, a questão ecológica
não é incompatível com a fé, mas
lhe está diretamente vinculada,
já que toda a criação, enquanto
dom divino, pede de nós uma
constante e diligente acolhida,
uma promoção, uma valorização
e um cuidado comprometido. n
Pe. Andherson Franklin, professor de Sagrada Escritura
no IFTAV e doutor em Sagrada Escritura
revista vitória I Dezembro/2015
21
carismas religiosos
Marcus Tullius
Durante este ano, por ocasião do Ano da Vida Consagrada que segue até fevereiro
de 2016, conhecemos um pouco da diversidade de congregações presentes na
Arquidiocese de Vitória e a forma como os seus fundadores inspiraram os religiosos
a viverem a mensagem do Evangelho. Nesta última edição, conheceremos quatro
congregações que desenvolvem seus trabalhos na dimensão social.
Irmãs
Dimesse
Missionárias de
Nossa Senhora
de Fátima
Irmãs da
Consolação
Congregação das Irmãs
Dimesse Filhas de Maria
Imaculada. Este é o nome
da congregação fundada
pelo franciscano Fr. Antônio Pagani, no ano 1579 na
Itália. O nome Dimesse é um
convite ao despojamento,
ao esvaziamento. O carisma
da congregação está baseado no capítulo 2 da carta
aos Filipenses. Cada irmã
é chamada à conformidade
a Jesus Cristo Crucificado e Ressuscitado. Estão
presentes na Paróquia Nossa Senhora da Conceição
Aparecida, em Cobilândia,
onde atuam nas atividades
pastorais e conduzem a Fraternidade Leiga Fr. Antônio
Pagani.
O nome da congregação já
indica o carisma iniciado por Maria Rosa Molas em 1857. As religiosas buscam evangelizar como
instrumentos da Misericórdia e
Consolação, entre os que sofrem
qualquer necessidade, anunciando Jesus Cristo e estendendo o
seu Reino. Dentre as atividades
realizadas na Arquidiocese, está o
trabalho desenvolvido no Centro
Social Santa Mônica, em Guarapari.
Com o lema “abraçadas à
cruz, servir ao Senhor na alegria”, as Irmãs Missionárias de
Nossa Senhora de Fátima tem
como carisma a tarefa missionária difundindo a mensagem
de Fátima. É uma congregação
iniciada no Brasil, em 26 de julho de 1964 pelo Pe.Menceslau
Valiukevicius.
A presença
das religiosas
em Guarapari
é voltada para
o Recanto dos
Idosos.
Scalabrinianas
Uma congregação com carisma de acolher
e cuidar dos migrantes, o “dom de amar o conterrâneo no estrangeiro e o estrangeiro, na nossa
pátria”. Isso foi o que propôs o fundador Beato
João Batista Scalabrini para a Congregação das
Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu,
juntamente com Padre José Marchetti e Madre
Assunta Marchetti. O carisma é vivenciado em
nossa Arquidiocese no acompanhamento da Pastoral do Migrante e junto as demais pastorais
sociais. n
revista vitória I Dezembro/2015
23
viver bem
A arte de
viver o
presente
revista vitória I Dezembro/2015
24
F
azemos parte de um presente, mas nem sempre estamos nele. Por isso mesmo,
não foram poucos os místicos,
poetas e sábios que nos vários
momentos da história humana
chamaram a atenção para a importância da insuspeita e difícil
arte de viver o presente. Preocupados com as inúmeras demandas
do dia a dia, vemos o presente
passar velozmente, sem que tenhamos tempo de saboreá-lo e
experimentá-lo enquanto dádiva.
Ele, e tudo que o envolve, acaba
entrando no número das estatísticas, ou das datas, que vamos
fixando em nossas caminhadas.
Levados pela ansiedade e
pela correria de um mundo agitado, perdemos a dimensão de
eternidade que poderá ser encontrada nos gestos e atos que
realizamos. Tudo se torna coisa
que chega e passa, sem que dela
tenhamos qualquer intimidade,
e assim, entramos no mundo das
mesmices, em um cotidiano, que
se arrasta sem novidade, espanto
ou encantamento, pois tudo isto
depende de nós e nossa capacidade afetiva e criativa. Viramos
coisas entre coisas. O outro, o
próximo, também se torna coisa
mensurável e quantificável, perde
o seu mistério, e com isto também
nos perdemos. O mundo da rotina
nos engole. Meio caminho para
as experiências depressivas.
Horácio, conhecido poeta e
filósofo da Roma Antiga, em um
dos seus conhecidos poemas, chamava a atenção para o essencial
em duas palavras: Carpe Diem. A
expressão latina poderia ser traduzida, como “colha o dia”, “viva
o presente”. Ele não faz apologia dos simples prazeres fugazes
e passageiros, mas indica uma
experiência contemplativa, que
torna grande as pequenas coisas.
Para isso, temos que ter disponibilidade interior, sensibilidade
para apreciar de maneira solene as
coisas que nos envolvem, com um
olhar novo. Assim tudo passa a
ter sabor, sentido, e ganha vida. O
que implica em uma reeducação
da nossa sensibilidade, dos nossos
olhos, para a beleza que nos cerca.
Mas para enxergar a beleza de
fora é preciso que antes ela nos
habite. Como nos lembra Rubem
Alves, é preciso acordar a beleza que está adormecida em nós.
Assim poderemos aprender a ver
o essencial que mora nas coisas
mais simples, que muitas vezes
não vemos, por encontrarmos
distantes da arte de amar, o que
impede uma vida transbordante.
Conferir importância e significado ao momento presente,
com a grandeza de alma que ele
requer, não pressupõe negação
do passado, ou mesmo, do futuro. Enquanto seres históricos,
trazemos muitas marcas: alegrias,
tristezas, conquistas, traumas etc.
que muitas vezes nos impedem
de viver bem o presente. Como
nos diz as Sagradas Escrituras, a
mulher de Ló virou estátua de sal,
petrificou-se quando ficou a olhar
para trás. Por outro lado, somos
também pessoas que sonham.
Somos pessoas de esperanças.
Estamos sempre a buscar o que
não temos e desejamos. O desejo
ou amor nos movem. Vivemos em
uma tensão entre o passado e o
futuro, mas quando vivemos bem
o presente conseguimos integrar
estes dois aspectos da vida e com
eles realizamos em plenitude as
nossas possibilidades.
É preciso, no presente, o
sonho de quem sonha acordado,
assim como, a recuperação de
uma memória que nos permita
estar reconciliado com o passado. Desta forma nos tornamos
livres para a vida, e a vida livre
para nós. n
Antônio Vidal Nunes
revista vitória I Dezembro/2015
25
diálogos
Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc. • Arcebispo de Vitória ES
Sinos de Natal
I
niciamos o mês de Dezembro
com sentimentos de alegria. Em
muitos cartões de Natal, revistas
religiosas e mesmo em lojas comerciais vemos, entre os diversos símbolos de Natal, os sinos. É festa! Os
sinos tocam nas catedrais, igrejas
paroquiais, mosteiros. Os cristãos,
de modo geral, sentem-se motivados
e sensibilizados a viver este tempo
com espírito de alegria e paz.
A expressão popular e religiosa
de tocar os sinos provoca ou faz
nascer uma curiosidade: Por que os
sinos, há séculos, vêm marcando
presença nos diversos aspectos da
vida humana e, principalmente, como
expressão natalina?
Se formos olhar a história da
humanidade, constataremos que o
sino, antes de tudo, é um instrumento de comunicação interpessoal
ou comunitário. O som do sino
chama atenção do destinatário de
que há algo a comunicar, algum
fato que precisa da atenção dele.
Historicamente, o sino é um instrumento que convoca para a reflexão, o luto, a alegria e a festa. Em
muitas cidades pequenas o tocar do
sino é sinal de preparar-se para a
celebração ou o anúncio de morte na comunidade. A criatividade
das diversas culturas sobre este
instrumento é notória. Cada povo
em cada país sabe usar, com arte,
o sino, seja por razões religiosas
ou patrióticas.
A música assumiu o sino na
sua gama instrumental e usando-o
na sua expressão melódica deu-lhe
perpetuidade, pois, ao soar o sino ou
os sinos, o compositor ou o músico
assinala notas musicais que não só
agradam o ouvido humano como
elevam os sentimentos do coração.
As notas musicais produzidas pelos
sinos fazem as pessoas erguerem a
cabeça, colocarem brilho nos olhos
e unirem os corações ao Criador e
Pai de toda a humanidade.
Deixe o Sino de Belém,
Sino de Natal, soar nos
ouvidos de seu coração e
o Amor que vem do Alto o
transformará!
A Igreja Católica, cuja espiritualidade se expressa e é vivida
em símbolos e sinais, vem usando,
através da história, o sino como um
convite à mística, à oração, à solidariedade e tantos outros sentimentos
que surgem das criatividades e iniciarevista vitória I Dezembro/2015
26
tivas religiosas. Ora são os monges
a se deixarem guiar nos momentos
de parada para o silêncio orante ou
a oração comunitária; ora são as
catedrais e igrejas a convocarem os
fiéis para a Celebração dos Santos
Mistérios; ora a comunidade a expressar sua alegria pelo nascimento
de novos cristãos; ora como recurso
de convocação em ocasiões de sofrimento onde é necessário ser solidário
ou compadecer-se em torno da dor
humana, sem perder a esperança
cristã. Lembro-me, neste momento,
do lindo poema de Manuel Carneiro
de Souza Bandeira Filho, Os Sinos:
Sino de Belém,
Sino da Paixão...
Sino da Paixão, pelo meu irmão...
Sino da Paixão,
Sino do Bonfim...
Sino do Bonfim, ai de mim, por mim!
Sino de Belém, que graça ele tem!...
O Natal aproxima-se. Repiquem
os sinos das catedrais e de todas as
igrejas! Um grande evento se deu
na história da humanidade: o Verbo
de Deus fez-se Homem! O Verbo de
Deus fez-se Humanidade Nova para
que todos os humanos se renovem!
Sinos de Belém, que graça ele
tem! Feliz Natal!
Deixe o Sino de Belém, Sino
de Natal, soar nos ouvidos de seu
coração e o Amor que vem do Alto
o transformará! n
revista vitória I Dezembro/2015
27
Comunicação
Maria da Luz Fernandes
Imitação da
Q
vida e ficção
que a vida real não lhe permitiria. Ao ver a
vida retratada e ficcionada na tela, o telespectador deixa de perceber os limites entre o real
e a ficção e passa a incluir os personagens da
novela no âmbito familiar, ou ainda, confunde
o ator com o personagem interpretado e transfere para ele os sentimentos de empatia ou
repulsa. A proximidade e, ao mesmo tempo, a
identificação de afinidades fizeram das novelas
brasileiras uma verdadeira extensão da vida,
tornando-se o assunto nas rodas de conversa,
na mesa de jantar ou mesmo nas filas de ônibus
e supermercados.
Importante para quem assiste novela é
considerar que os temas abordados e a forma
de abordá-los dependem da visão, da vivência
e do incômodo que os temas sugeridos causam
ou provocam no autor. É essa visão, juntamente com a interpretação do ator ou atriz, que
é mostrada para o
“Quando se estabelece a dúvida sobre a novela imitar a vida
telespectador. Para
tornar atrativos os
ou a vida imitar a novela é possível que a melhor resposta
desejos e pensaseja o título deste artigo. A novela é uma imitação
mentos, todos os
envolvidos preda vida, inspira-se nos costumes e histórias
cisam ‘exagerar’
reais, mas ao mesmo tempo, os ficciona”.
as interpretações,
criar textos e imagens de impacto e compor
que trabalhavam os dramas da vida cotidiaas cenas com imagens e cores que provoquem
na, os conflitos, as falas do povo nas ruas, o
os afetos de quem assiste. Assim, o telespectajeito e o humor brasileiro que foi criando sua
dor tende a envolver-se com essas formas de
identidade e se afastando da teatralidade para
comunicação e tem dificuldade de distanciaradotar o naturalismo, onde o povo facilmente
-se e separar o “real” da “ficção” criada para
se identifica. A identificação acontece pelos
envolvê-lo. A novela é uma ficção que trabalha
enredos traçados para as novelas, que estão
com histórias da realidade cotidiana, cabe, por
constantemente ligados àqueles vividos por
isso, ao telespectador a decisão de esforçar-se
qualquer cidadão comum: problemas familiares,
para criar as devidas distâncias e criar a sua
violência, romance, dilemas existenciais, etc.
própria opinião sobre o que assiste, sem deixar
Na prática, a novela dá novos significados
de apreciar a arte dos folhetins e a interpretação
à vida e “permite” o público que assiste expedos personagens. n
rimentar sensações, adotar palavras e estilos
uando se estabelece a dúvida sobre
a novela imitar a vida ou a vida imitar a novela é possível que a melhor
resposta seja o título deste artigo. A novela é
uma imitação da vida, inspira-se nos costumes
e histórias reais, mas ao mesmo tempo, os
ficciona. Se resgatarmos o surgimento e um
pouco da história da novela no Brasil, ‘Sua
vida me pertence’, primeira novela; ‘2-5499
Ocupado’, a primeira com transmissão diária
e, a ainda lembrada e citada hoje, ‘O direito
de nascer’, podemos citar Élide Fogolari no
livro ‘O visível e o invisível no ver e no olhar
a telenovela’, que se refere à novela “como
narrativa ficcional que aproxima a história
narrada ao mundo vivido dos indivíduos”.
Inicialmente as novelas foram traduzidas de produções argentinas e cubanas e, aos
poucos, substituídas por produções brasileiras
revista vitória I Dezembro/2015
28
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entrevista
Maria da Luz Fernandes
O imaginário do Papai Noel
carrega os sentimentos do Natal
Se você quando olha a figura de Papai Noel pensa que está vendo apenas os olhos dele
saiba que ele também está olhando os seus. O olhar das pessoas é o que marca o Papai Noel
profissional. Sabíamos que entrevistar Papai Noel poderia ser uma surpresa e foi. Quem
começou a entrevista foi ele: “atendendo o pedido de vocês é um prazer muito grande
estar aqui, é um privilégio. Deus abençoe a senhora e todas as nossas famílias. Se Deus me
escolheu para fazer esse papel não é por acaso, porque o Natal sem Cristo não é Natal”.
vitória - O senhor conversa com
as crianças?
PN - Converso um pouquinho com
cada um. Eu pergunto às crianças o
que nós comemoramos no dia de Natal
e eles respondem que é o nascimento
de Jesus Cristo. Alguns empresários
não gostam muito, mas eu acho que
é um dever colocar na cabecinha das
crianças e dos adultos também que o
Natal é Jesus.
vitória - Como é a reação delas?
PN - Um dos casos mais bonitos nem
aconteceu comigo, foi com outro
Papai Noel na inauguração de um
shopping na Serra, era a minha primeira vez como Papai Noel profissional. Uma criança com cerca de 9 anos
chegou para ele e perguntou: “oi Papai
Noel tudo bem?”, ele respondeu que
sim e perguntou o nome e o que queria
ganhar de presente. Ela respondeu:
“Papai Noel eu não quero presente, eu
quero que meu pai e minha mãe deixem de brigar em casa”. Numa hora
dessas cadê o Papai Noel? Ele chorou,
se emocionou. Isso marca a gente.
Outra história aconteceu comigo. O
menino chegou e disse: “Papai Noel
revista vitória I Dezembro/2015
30
eu só quero uma bicicleta e um pai”.
Ele tinha perdido o pai fazia 10 dias.
Tudo é muito comovente, a criança
chega para te abraçar e diz emocionada: “Papai Noel eu te amo”. Então
como cortar essa alegria e fantasia
da criança? E tem adulto também,
aconteceu comigo há 3 anos, chegou
um casal irradiando tanta alegria que
quem passava percebia o quanto eles
estavam felizes. Um deles disse: “eu
nunca tirei uma fotografia com Papai
Noel, você permite?”, eu disse que
não tinha problema, então ele sentou
num braço da cadeira e a esposa do
outro lado. Curioso, eu perguntei o
porquê de tanta alegria e o marido
respondeu: “nós estamos comemorando 50 anos de casados”.
vitória - A barba e o bigode do
senhor são naturais?
Sim, tudo natural. Se não fosse
eu não iria. Nem se me pagasse uma
fortuna eu botava aquele negócio. Uma
vez eu fui colocar, quando vi na foto
aquilo tudo esquisito, fora do lugar,
falei que não queria saber daquilo.
PN -
se abraçava, um momento de muita
paz. O Natal foi feito para tudo isso
e é muito importante esse clima. Por
mim Natal seria todo o dia.
vitória - E profissionalmente
como começou?
PN - Parece até fantasia ou que a
gente inventa, mas foi interessante.
Com a barba já comprida para fazer
os festejos da família eu estava num
banco aqui em Vila Velha. Passou
um camarada com uma barba bonita
mais baixa que a minha e eu disse
assim: “oi Papai Noel, tudo bem?”,
ele olhou para mim e disse: “você
também é Papai Noel?”, eu falei que
não, fazia apenas em casa. Ele perguntou: “você não quer trabalhar no
shopping? A minha empresária está
ali”. Fomos conversar e ela que já
estava no mercado há mais de 20
anos deu-me todas as coordenadas,
os cuidados de não beijar as crianças,
apenas deixar que elas beijem, tratar
com disciplina, com decência. E assim
eu comecei.
ano todo?
PN - Não. Quando chega o dia 25 eu
tiro a barba, corto bastante o cabelo
e fico uma pessoa normal (risos).
A partir de abril começa a barba a
crescer e o cabelo.
vitória - O senhor também faz o
papel de Papai Noel nas famílias?
PN - Sim, muitas famílias convidam
a gente para entregar presentes, às
vezes também os condomínios, clubes, Igrejas, a gente deixa uma cota
para a firma, porque a indumentária
não é nossa, e a gente faz.
vitória - Quando começou a fazer
vitória - Tem criança que tem
vitória - O senhor fica assim o
o Papai Noel?
PN - Na família eu sempre fazia. Depois do culto, o agradecimento a Deus
pelo ano, às vezes algum estava aborrecido com o outro e chegava aquele
momento era comovente, todo mundo
medo de Papai Noel?
PN - Tem.
vitória - O senhor tenta conven-
cer?
PN - Não, eu deixo, fico quieto, fico
revista vitória I Dezembro/2015
31
esperando a reação dos pais, porque
realmente tem criança que tem medo
e eu tenho história triste para contar
a respeito disso. Uma senhora uma
vez viu um caso de criança com medo
e chegou para mim e disse para eu
não ficar triste, pois algumas pessoas intimidam as crianças, dizendo
que se não fizer o que mandam vai
chamar o velho de barba branca e
saco nas costas para pegá-las. Então
a criança passa para outra e nesses
casos a criança chora desesperada. A
partir de 3 anos a criança vai vendo
fotografias e outras propagandas e
vai se acostumando. Eu tenho neto
pequeno, com 5 anos sei como é, e
tenho com 16 anos também.
vitória - E o caçula o que ele faz
com o Papai Noel?
PN - Ele quando era menor, subia
no sofá, mexia no meu cabelo, ria,
enfiava o dedo na barba e eu deixava
ele à vontade e brincava com ele.
vitória - E nas ruas as pessoas
chamam o senhor de Papai Noel?
PN - Sim. Já acostumei, se me chama
de Papai Noel eu faço ho...ho...ho.
vitória - O que mais marcou o
senhor nesse tempo todo?
PN - O que marca é o brilho no olhar
das pessoas, é a coisa mais gratificante. A pessoa olha com admiração:
Poxa, Papai Noel! Outros olham meio
desconfiados e isso marca a gente:
o olhar, o sorriso, a conversação, a
solidariedade, a gratificação é sempre
superior à crítica.
vitória - A família do senhor
apoia?
entrevista
clima de alegria e só traz paz, o
Papai Noel ajuda a trazer o clima
natalino. As pessoas olham para
você com um olhar cativante, com
surpresa, alegres, sorridentes, algumas mais assustadas.
vitória - E quando chega dia
Todo mundo gosta. Eles colocam no facebook e vai para os
Estados Unidos, Alemanha. Não tem
como você entrar em dificuldades
quando você tem Jesus no coração.
O salmista já dizia ‘o Senhor é meu
pastor e nada me faltará’. Eu não
durmo sem cantar este salmo, não
consigo.
PN -
vitória - O espírito de festa de
Natal acompanha o senhor durante todo o ano?
PN - O espírito do Natal sempre
foi motivo de muita alegria e de
exemplo também, esse clima me
acompanha também durante o ano.
Isso é muito importante e Natal
sem a alegria do Senhor Jesus não
é Natal. Esse negócio de bebedeira,
de fumo, de ir não sei para onde e
corre daqui, corre de lá, você observa que o pessoal não faz esse
tipo de congraçamento, de solidariedade, quer ir para a farra, para o
botequim beber.
vitória - Ao olhar para Papai
Noel você acha que a pessoa lembra dessas atitudes?
PN - A figura do Papai Noel é um
25 e o senhor se olha no espelho
sem barba, cabelo cortado, qual
a sua reação?
PN - Aí é o descanso da barba, da
pele. Porque tem que ter muito cuidado com a barba, muito shampoo,
muito creme e na hora de comer tem
que cuidar bem para não sujar. Então
nesse tempo é preciso cuidar bem.
vitória - Mas quando você olha
no espelho sem barba tem a impressão de não ser você?
PN - Eu penso, bom agora por alguns
meses eu vou ficar sem a barba,
tranquilo, é um descanso, eu volto
a ser normal.
vitória - Quais são as coisas
materiais que as pessoas mais
pedem?
PN - As meninas gostam de pedir
boneca, os meninos bola, carrinho
de mão. Mas teve um rapaz com
mais ou menos 22 anos, ele sentou
na minha perna e deu uma carta
que escreveu para mim que ele estava querendo uma guitarra e disse:
“eu acredito em você Papai Noel,
por favor eu preciso de uma guitarra”. Eu falei: “você vai ganhar
sua guitarra, agora não sei quando
vai chegar na sua mão, mas precisa
ver se você realmente merece”. A
figura de Papai Noel é presentear,
revista vitória I Dezembro/2015
32
ajudar, trocar ideias. Ele recebe os
presentes quando a pessoa chega
e entrega escondidinho e a criança sente aquela sensação de que é
mesmo o Papai Noel que está dando.
Agora estão pedindo muito celular,
smartphone, computador. O depósito lá do Papai Noel é muito grande,
tem muitos presentes (risos), mas eu
sempre pergunto à criança se ela é
obediente, se estuda, se tira notas
boas. Digo que ela precisa fazer
tudo bem feitinho para merecer o
presente que ela está querendo.
vitória - Já aconteceu da criança pedir e depois voltar agradecer
o senhor?
PN - Já. Acontece muito isso. Elas
chegam e agradecem o presente
que pediram e receberam. Os pais
ajudam dizendo para elas pedirem
a Papai Noel.
vitória - E o senhor acredita
em Papai Noel?
PN - Realmente Papai Noel é uma
figura decorativa, uma figura que
passa, mas como ela é influente
nessa época de Natal, naquele momento Papai Noel é útil, porque ele
cativa, contagia, leva alegria, leva
solidariedade e sobretudo transmite
o amor. Então, por esses momentos
eu acredito.
vitória - E o nome do senhor
de onde vem?
PN - Meu pai era Leon, mas tem uma
coincidência com o Natal. Leia meu
nome de trás para a frente (Leon
- NOEL). Mas isso é só uma coincidência mesmo. n
Música
Vitória em Cena
So
lid
ar
ied
ad
e
sugestões
Depois de receber grandes nomes da
música brasileira, o Centro Cultural Sesc Glória
é palco para o show solo de Paula Toller, por meio
do projeto Vitória em Cena. A apresentação de seu
disco ‘Transbordada’ será no dia 12 de dezembro. Os
ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do Teatro
ou pelo site do Blueticket.
Em clima de fim de ano
Mais um ano chega ao fim e que tal deixar o espírito
natalino agir, nesta época em que se fortalece a solidariedade,
a promoção do bem comum e a fraternidade na esperança
de uma sociedade mais justa. Essa é uma oportunidade de
desacumular aquilo que você já não utiliza mais e doar para
quem esteja precisando – roupas, calçados e brinquedos para as crianças, são sempre bem-vindos! Muitas
paróquias e comunidades arrecadam alimentos para
tornar a ceia de algumas famílias mais feliz e você
também pode contribuir. Estabeleça um gesto
concreto para este Natal e ajude um irmão a
ter um fim de ano mais completo!
Cultura
Natal Som e Luz
Orquestra
A nova Catedral
O Atualidade já antecipou todas as
mudanças e curiosidades da Catedral
Metropolitana após o restauro. Se você
não conseguir participar da cerimônia
de abertura, no dia 08 de dezembro,
não se preocupe! Outras oportunidades já
estão agendadas para o público visitar esse
importante patrimônio capixaba. Confira:
Pegando carona com a reportagem da Revista que
subiu a região serrana capixaba, deixamos como dica a
programação cultural Natal Som e Luz de Alfredo Chaves,
que neste ano realiza-se de 20 a 23 de dezembro no Centro
da Cidade. Haverá praça de alimentação e feira com artesanato
do município. Neste período, também acontecem todas as noites
apresentações culturais na Praça Colombo Guardia, além da bela
decoração natalina na praça e prédios da cidade.
Dia 11 de dezembro, às 20h – apresentação da
Orquestra Sinfônica do Estado do Espírito Santo.
Dia 13 de dezembro, às 10h – abertura da Porta Santa
com Celebração Eucarística do Jubileu da Misericórdia.
Dia 18 de dezembro, às 20h – apresentação da Orquestra
Baccarelli – Natal Petrobras
Dia 19 de dezembro, às 20h – apresentação da Orquestra
David Machado - Natal Petrobras
Mundo Litúrgico
Natal, festa da reconciliação
No século IV foi introduzida a festa
do Natal de Jesus. A finalidade foi reviver,
liturgicamente, a encarnação do Verbo como
manifestação à humanidade, sem o objetivo
de celebrar a data histórica do nascimento de
Jesus Cristo, a qual é desconhecida. Escolheuse 25 de dezembro na intenção de suplantar
a festa pagã do “Natalis solis invicti” (culto
do sol) e afastar os cristãos dessa idolatria.
Mais que o sol, Cristo é a verdadeira luz que
ilumina a humanidade e as nações.
A vivência do Natal como um Tempo
do Ano Litúrgico acontece desde as vésperas
de 24 de dezembro até a celebração do
Batismo do Senhor, em janeiro, e possibilita
a renovação da fé dos cristãos no mistério
da encarnação do Senhor e sua repercussão
na vida humana: em Cristo toda a vida foi
recapitulada, ou seja, pela sua encarnação Ele
restitui à humanidade decaída, a comunhão
com Deus e, assim, torna-se o único mediador
e intercessor das criaturas perante o Criador;
assumiu os seres humanos para dar-lhes o que
é seu, regenerando-os como filhos de Deus.
Para este ciclo da história humana, seja
acolhida a graça e a alegria da encarnação,
e tudo seja renovado em lucidez, sanidade
e integração de vida plena para todos, na
benignidade daquele que faz novas todas as
coisas (cf. Ap 21,5).
Fr. José Moacyr Cadenassi, OFMCap
revista vitória I Dezembro/2015
34
Espiritualidade do Advento
O Tempo do Advento é período
que inaugura o novo Ano litúrgico e
prepara o povo de Deus para o Natal.
No decorrer das quatro semanas, a
liturgia faz a memória da primeira
vinda de Jesus Cristo e, também,
“por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da
segunda vinda do Cristo no fim dos
tempos” (Normas Universais sobre
o Ano Litúrgico e o Calendário,
39). Não é um tempo de tristeza,
mas é marcado por piedosa e alegre expectativa da salvação. Este
desejo é acentuado, principalmente,
de 17 a 24 de dezembro, dias que
antecedem ao Natal e que se reza
as “Antífonas do Ó”. São pequenas
orações dirigidas a Cristo e entoadas
na aclamação ao Evangelho. Elas
expressam a admiração da Igreja
diante do mistério da Encarnação.
Advento é tempo de esperança, é o tempo do caminho. “Este
caminho não está nunca concluído.
Como na vida de cada um de nós, há
sempre necessidade de começar de
novo, de levantar-se, de reencontrar
o sentido da meta da própria existência, assim, para a grande família
humana é necessário renovar sempre
o horizonte comum rumo ao qual
somos encaminhados. O horizonte
da esperança! Este é o horizonte
para fazer um bom caminho.” (Papa
Francisco)
Marcus Tullius
Comissão Arquidiocesana de Liturgia
O lugar do Sacramento da Reconciliação
Jesus Cristo é o rosto da
misericórdia do Pai. O mistério
da fé cristã parece encontrar
nestas palavras a sua síntese. Tal
misericórdia tornou-se viva, visível
e atingiu o seu clímax em Jesus
de Nazaré. (...) Na “plenitude do
tempo” (Gl 4, 4), quando tudo
estava pronto segundo o seu plano
de salvação, mandou o seu Filho,
nascido da Virgem Maria, para nos
revelar, de modo definitivo, o seu
amor. Quem O vê, vê o Pai (cf. Jo
14, 9). Com a sua palavra, os seus
gestos e toda a sua pessoa, Jesus
de Nazaré revela a misericórdia de
Deus.
C om e s t a s p a l av r a s o
Papa Francisco dá início à Bula
de Proclamação do Jubileu
Extraordinário da Misericórdia,
Misericordiae Vultus, cujo Ano
Santo abrir-se-á neste dia 08 de
dezembro, solenidade da Imaculada
Conceição. Misericordiosos como
o Pai é o “lema” do Ano Santo, que
entre tantas outras propostas, nos
convida a uma maior aproximação
do sacramento da Reconciliação.
Assim, movidos pelas
orientações do Concílio Vaticano
II, que celebra seus 50 anos de
encerramento nesta mesma
data, o projeto de adaptação
litúrgica e restauro da Catedral
de Vitória resgatou o Lugar
da Reconciliação, propondo
em linha contemporânea dois
confessionários para atendimento
aos fiéis. A iconografia já presente
neste espaço, através dos vitrais,
nos garante a autenticidade da
intervenção e recupera a função
original do acréscimo lateral do
edifício. Unido à Capela Batismal
e agora com abertura para o
transepto, permite um caminho que
nos recorda aquele da nossa própria
vida, em convite permanente a viver
e praticar a misericórdia. n
revista vitória I Dezembro/2015
35
Raquel Tonini R. Schneider
Comissão Arte Sacra e Bens Culturais
da Arquidiocese de Vitória, Setor Espaço
Celebrativo - CNBB
Reportagem
Letícia Bazet
Igreja, cultura e economia crescem juntos
em Araguaia
U
m lugar onde se escuta
o canto dos pássaros,
o balançar das árvores
e o movimento do vento. Foi
nesse cenário aparentemente
pacato que a Revista Vitória
produziu a reportagem deste
mês de dezembro: Araguaia,
distrito de Marechal Floriano,
na região serrana do Estado.
A tranquilidade do local não
reflete necessariamente o ritmo
de vida de seus moradores. Agricultores e pequenos empresários
trabalham, e muito, para manter
suas famílias e também fazer
girar a economia da região. O
Gorete na fábrica de pão
carro chefe da produção local é
o café, - a tradicional ‘Festa do
Café’ chegou a sua 22ª edição
este ano - e a população, em
sua maioria, é católica, é o que
afirma o site da Prefeitura de
Marechal Floriano e também o
padre Josemar Stein, pároco há
um ano na paróquia São Miguel
Arcanjo, ponto de partida para
a nossa matéria. Nessa região,
a religiosidade mistura-se com
as manifestações culturais,
tradições familiares, respeito
à natureza e desenvolvimento
econômico.
A primeira parada foi lá
no meio dos cafezais, mas o
produto era outro. Depois de um
pequeno percurso por estrada
de chão encontramos Gorete
atarefada para dar conta da produção de sua pequena fábrica
de pães. Ela vem para Vitória
duas vezes na semana e abastece duas feiras tirando delas o
sustento familiar. De segunda a
sexta-feira, a rotina de Gorete é
pesada: “Nos dias que faço feira
- quarta-feira em Santo Antônio
e sábado em Jardim da Penha -,
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levanto às 5h venho pra fábrica,
fico aqui até por volta de 19h,
chego em casa e durmo até 1h,
arrumo as coisas e saio para a
feira. Retorno por volta de 16h
e assim vai seguindo. Sábado,
após chegar de Jardim da Penha,
Matheus Modolo
e domingo eu abandono tudo e é
o meu descanso, faço apenas a
rotina de casa mesmo”. Gorete
é uma mulher batalhadora, ela
mesmo produz os pães, arruma
o seu pequeno caminhão com os
produtos e dirige até Vitória, e
afirma que “eu e meus irmãos
fomos criados assim, somos
acostumados com esse pique
puxado mesmo. Minha mãe já
fazia feira, construiu a casa ali
embaixo com dinheiro que ganhou na feira”. Na despedida
agradeceu o padre pela presença
e disse que depois da bênção seu
trabalho está indo muito bem.
Ela também lembrou da celebração que deseja realizar em
seu local de trabalho, reunindo
a família e a comunidade.
Na região, outras famílias
também se dedicam à fabricação
de doces e pães, mas não existe
concorrência, pois cada um vai
descobrindo novos mercados.
E de mercado o povo da região
entende. Alguns fortalecem a
agricultura, outros lutam pela
fidelidade ao café, e entre estes,
encontramos a família Modolo.
No início da conversa, Marinete
já toma a iniciativa e afirma que
sua prática na igreja desde os
13 anos ajuda no cuidado com
que auxilia seu marido Mauro
a cuidar do café com paixão.
“Mesmo com as dificuldades
por causa da escassez de água,
o café continua sendo a nossa
melhor alternativa, porque desistir é a saída dos fracos, o forte
é aquele que insiste. Além disso,
há o gosto, a paixão em plantar
o café. Precisamos pensar em
preservar tudo isso para o futuro
da nossa família”.
Além da preservação das
plantações de café, a família
Modolo tem mais motivos
para se orgulhar. O pequeno
Matheus, filho de Marinete e
Mauro, que cursa o 6° ano, na
Escola Estadual Victório Bravim, mostra com orgulho as medalhas conquistadas pelo bom
desempenho escolar. “O que ele
não ganhou medalha, ganhou
certificado. Agora está esperando o resultado da Olímpiada Brasileira de Matemática”,
contou orgulhosa a mãe.
Agricultura, pequenos negócios, cultura, religião e outro
aspecto relevante da vida em
Araguaia é a educação. A escola onde Matheus estuda se
destacou nos últimos anos em
programas de avaliação, nas
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Família Modolo
competições esportivas e também de matemática e português.
Continuando o percurso
pelas estradas de terra, a mata
preservada em muitos pontos
do local perde espaço, em alguns momentos, para as várias
plantações de eucalipto, áreas
tomadas de troncos empilhados
e os caminhões que transportam o material para abastecer
as grandes empresas de papel
e celulose do Estado.
Cruzando esses caminhos,
chegamos a LP Ferramentas
Reportagem
Agrícolas, empresa com mais
de 100 anos de história, que tem
como carro-chefe a produção
de foices e facões. Passada de
geração em geração, hoje é administrada por Leandro e seus
dois irmãos. Ao falar sobre o
negócio e a história de sua família, os seus olhos brilham e é
possível notar a admiração em
preservar as tradições. Leandro
conta que ele e seus irmãos largaram os estudos e decidiram
se dedicar integralmente para
fazerem a empresa crescer. Ele
conta que a LP é a empresa em
Araguaia que mais gera emprego. “Os clientes confiam em
nosso produto e isso é o grande
fator do nosso crescimento”.
E com essa confiança, a família resolveu investir em outro
ramo: o de calçados. Oferecer
emprego às mulheres foi um dos
motivos para essa decisão, disse
Leandro “e aqui entrou outro fator muito importante, pois aqui
em Araguaia temos dificuldade de serviços para mulheres,
e por isso elas se sujeitam ao
serviço da ‘panha’ de café. Se
você acompanhar um dia nessa atividade vai ver o quanto é
difícil e que até muitos homens
rejeitam”. Leandro afirma que
na nova empresa as mulheres
são a maioria, tanto pela oportunidade de empregá-las, quanto
pelo capricho que elas colocam
na atividade. “Quando abrimos a
fábrica não demos conta de tanta
mulher que apareceu querendo
emprego”, contou.
Os traços familiares e o
aprendizado com seu pai destacam-se na conversa com Leandro. Ele se orgulha de ter aprendido a generosidade e o senso
de justiça. “Há funcionários que
começaram e se aposentaram
aqui. Outros se aposentaram e
querem continuar trabalhando
Produção dos facões da LP
revista vitória I Dezembro/2015
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conosco, por causa dessa relação de patrão e empregado.
Aqui todos têm a liberdade de
vir falar comigo, porque estou
sempre presente”. À pergunta se a sua vivência na Igreja
influencia na relação com os
funcionários, Leandro faz uma
reflexão interessante: “Meu pai
sempre teve o funcionário como
o parceiro principal do negócio
dele, e não porque temos que
bajular o funcionário, mas dar
Leandro
o reconhecimento. A igreja me
ensinou a valorizar mais a família, irmãos, pai, mãe e hoje eu
já consigo ser um apaziguador,
ser o cara que faz a oração nos
momentos que estamos juntos.
Socialmente eu posso dizer que
mudei bastante meu jeito por
causa da Igreja. Mas os ensinamentos do meu pai já faziam
com que eu agisse dentro da
empresa como um verdadeiro
cristão”.
Leandro afirma que a empresa estar localizada em Araguaia não traz dificuldades para
os negócios. A mão de obra é
toda local, os funcionários são
valorizados e respeitados e as
mulheres também ganharam
espaço em uma profissão.
Para encontrarmos essas
pessoas precisamos de um guia
que sabia chegar na casa delas e
também nas fábricas, reconhecia
cada um e sabia o nome, tinha
número de telefone e era, por
sua vez, reconhecido e tratado
com familiaridade. Aparentemente tudo parecia harmonioso
e fraterno, mas tanto o nosso
guia, padre Josemar, pároco,
quanto os entrevistados sabem
que a criação da paróquia não
foi fácil e ainda tem desafios.
A paróquia São Miguel Arcanjo
foi criada juntando comunidades
antes pertencentes à paróquia
Nossa Senhora da Conceição
de Alfredo Chaves e Sant’Ana
de Marechal Floriano. No começo houve muita resistência,
as comunidades tinham laços
estabelecidos e um sentido de
pertença tanto com a paróquia
como com o município e, por
isso, não está sendo fácil criar
a nova identidade.
Da comunidade Santa
Maria, Odete afirmou que “no
começo a gente não queria a
criação da paróquia, mas agora
a presença do padre, as celebrações e as orientações que
ele dá estão sendo muito boas.
Ele determinou que uma vez
na semana estará aqui fazendo atendimentos, ouvindo as
pessoas. No mês de novembro
tivemos nove missas na nossa
comunidade e isso é um fato
histórico!”.
O padre Josemar confirmou
o que ouvimos da comunidade:
“Os quatro meses iniciais foram
bem difíceis, mas hoje é outra
situação, o pessoal abraçou a
causa e eu digo que agora está
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bem tranquilo. No início foi
difícil a compreensão, mas com
muita conversa fomos nos entendendo”.
Marinete também contou
que algumas comunidades apresentaram mais resistência do que
outras, “mas hoje eu percebo
que essas pessoas estão muito
satisfeitas com o padre Josemar
e o trabalho que ele tem realizado aqui. Muitos acreditaram que
Araguaia não teria condições,
estrutura para abrigar uma nova
paróquia”.
Padre Josemar respeita os
tempos de cada grupo, mas não
deixa de fazer propostas que
favoreçam a unidade e afirma
que “a Igreja não tem limites
geográficos”. Neste sentido,
Odete elogiou a preparação
para a festa do padroeiro. “A
Quaresma de São Miguel foi
Reportagem
um momento muito bom para as
comunidades. Cada comunidade
levava a imagem do padroeiro
na outra comunidade e a nossa,
(Santa Maria), que é a maior da
paróquia, levou para uma comunidade bem pequena. Isso fez a gente
se aproximar”. A preparação da
festa, a visita à comunidade, uma
formação ou reunião em comunidades diferentes, aliado à presença
do padre mais frequente vai aos
poucos aliviando os sofrimentos
da separação, deixando sobressair
o lado positivo de ter uma assistência religiosa mais presente e
uma proximidade com a matriz
que permite receber orientações
mais precisas e de maneira mais
rápida. A comunidade de Santa
Maria elogia muito a presença
do padre em ocasiões que antes
não eram possíveis por causa das
distâncias. “Nunca havíamos feito
a procissão do encontro e neste ano
a gente realizou e foi maravilhoso.
Corpus Christi ele estava sempre
aqui também, e isso para nós foi
algo muito novo, porque não era
assim que acontecia antes, embora
tivéssemos um relacionamento
muito bom com nossos padres
anteriores”, disse Odete.
Na parte da cultura, Araguaia
destaca-se por possuir o maior
acervo cultural do Estado, material e imaterial. É o que afirma
Rogéria Guimarães, funcionária
da prefeitura, responsável pelo
Centro Cultural do distrito. Colonizado por imigrantes, principalmente, italianos, o local abriga
museus, uma estação ferroviária
e as tradições são preservadas e
lembradas pelos grupos de dança
e corais. Mas Rogéria afirma que
a preservação desses patrimônios
de Araguaia depende do empenho
da população. “Nós precisamos
da cultura, pois um povo que não
tem cultura não tem história. E a
comunidade contribui muito, tudo
o que é doado nós tratamos com
o maior carinho”.
As manifestações culturais de
Araguaia estão bastante ligadas à
religião, com a aproximação do
resgate dos traços da imigração que
povoou a região. Os grupos de dança e os corais, expressões da cultura
local, destacam-se, principalmente
na Festa do Padroeiro São Miguel
Arcanjo e também na tradicional
Festa da Cultura Italiana. “O padre
Josemar inclusive rezou uma missa
belíssima na última festa toda em
italiano, foi um momento único e
marcante”, conta Rogéria. O Natal também é uma época rica em
Araguaia. “Toda a comunidade se
reúne de forma voluntária e prorevista vitória I Dezembro/2015
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duz todos os materiais utilizados
na decoração, deixando o Centro
lindo, todo iluminado. A abertura
é feita pelo Coral e a noite fica
muito bonito”, diz.
A integração que percebemos o tempo todo é de que a vida
familiar, o trabalho e a religião
caminham juntas e muito bem. O
convívio social e a cultura estão
completamente integrados seja nos
eventos que nos foram descritos
seja nos diálogos que participamos. Se tem desafios para integrar
uma paróquia com comunidades
de dois municípios, não podemos
esquecer que ali as raízes culturais
e sociais têm a fé como sustento. A pequena Araguaia é grande
porque faz da região pacata, do
canto dos pássaros e do balançar
do vento a melodia perfeita para
preservar tradições, alimentar a
fé e prosperar nas relações e nos
negócios de maneira integrada e
feliz n
cultura capixaba
ca
pi
xaba
O modo de ser
Todo capixaba tem um segredo de espuma
Uma conversa de duna
Um disse me disse
Todo capixaba é chique
Todo capixaba tem um pouco de beija flor no bico
Uma panela de barro no peito
Uma orquídea no gesto
Um cafezinho no jeito
Elisa Lucinda
S
egundo os estudiosos do assunto a
palavra Capixaba significa “roça,
roçado, terra limpa para plantação”.
Nesse caso, capixaba era como os indígenas chamavam as grandes plantações de
milho feitas pelos colonizadores na ilha
Vitória, mais precisamente na região que
compreende hoje o início da Avenida Jeronimo Monteiro (Centro de Vitória) onde
podemos encontrar o Chafariz e o Mercado
da Capixaba.
Primeiro a expressão foi usada para
todos os habitantes nascidos na ilha de Vitória, posteriormente, o termo foi estendido
aos moradores do estado do Espírito Santo
e o vitoriense passou a ser “capixaba da
gema”.
Certo é que assim como reconhecemos
um típico australiano, francês ou israelense
pelas suas características únicas, assim
também podemos diferenciar um típico
capixaba de um paulista, pernambucano
ou gaúcho.
Viver entre o mar e a montanha. Espremido entre o território de mineiros, cariocas
e baianos fez do Espírito Santo um local
bom para se viver, por possuir uma pitada
das características de cada um. O modo de
ser capixaba pode ser resumido como um
caldeirão de misturas de sons e sabores.
Daí a explicação de que capixaba não
tem sotaque. Misturamos todos eles! n
Diovani Favoreto
Historiadora
revista vitória I Dezembro/2015
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Pergunte a quem sabe
Economia
Tem dúvidas? Então pergunte para quem sabe.
Envie sua pergunta para [email protected]
Vitor Noronha
Economista e seminarista da
Arquidiocese de Vitória
O que são as pedaladas fiscais?
“Pedaladas fiscais” ou “contabilidade criativa” são apelidos dados às práticas de manipulação da contabilidade fiscal em que o Tesouro
Nacional atrasa o repasse de recursos aos Bancos
Públicos (Caixa, Banco do Brasil e BNDES) para
apresentar contas públicas mais equilibradas.
Entretanto, por sua vez, os Bancos Públicos não
transferem o atraso aos beneficiários, adiantam
com recursos próprios os pagamentos e cobram
juros ao Tesouro Nacional. Tal prática se iniciou no governo Fernando Henrique Cardoso,
em 2001, se estendendo por todos os governos
subsequentes, de Lula e de Dilma Rousseff. No
caso atual, as cifras chegam a R$ 40 bilhões,
compreendendo o seguro-desemprego, o programa Minha Casa, Minha Vida, o Bolsa Família,
o Programa de Sustentação do Investimento
(PSI) e o crédito agrícola.
saúde
-se acompanhamento com psicólogo que dará o
suporte necessário para a superação dessa fase
repleta de desafios.
Doutora Lourdes Landeiro
Psicóloga e sexóloga pela USP
No período em que a mulher deixa de produzir os hormônios, quais são os cuidados
necessários?
Esse é um período de transformações fisiológicas, reprodutivas, emocionais e sociais.
Nessa fase é importante que a mulher procure
outros profissionais além do seu ginecologista
habitual. Devido a redução do metabolismo,
pode haver ganho de peso, aumento do nível do colesterol e pressão arterial. Portanto
recomenda-se uma visita ao cardiologista.
Trata-se de uma fase onde a autoestima
costuma ficar baixa e, com muita frequência,
o surgimento ou agravamento da depressão.
Para evitar sofrimentos maiores recomenda-
Todas as mulheres precisam de reposição
hormonal?
Cada caso deverá ser estudado com cuidado.
A reposição hormonal melhora diversos
sintomas como calor, dor de cabeça, contribui
para melhorar a diminuição da libido e alterações de humor, beneficia o cabelo, melhora a
elasticidade da pele e da mucosa.
O uso de hormônios pode trazer grandes
benefícios, mas a aplicação em cada paciente
deve ser cuidadosamente estudada pelo ginecologista para avaliação de riscos.
Quando não há fator de risco, como histórico familiar ou pessoal de câncer de mama, a
reposição hormonal pode ser uma boa opção.
Lembrando que essa opção só deve ser feita
quando riscos e benefícios forem bem calculados.
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Psicologia
Religião
Professor Dr. Alexandre C. Aranzedo
Coordenador do curso de Psicologia da Faculdade Católica Salesiana do ES
Como os pais devem lidar com a descoberta
da sexualidade dos filhos na adolescência?
Quem deve tomar a iniciativa para conversar
sobre o assunto: o pai ou a mãe?
Precisamos ressaltar que sexualidade não
é sinônimo de ato sexual. Vários autores da
Psicologia ponderam que a sexualidade é algo
mais abrangente que engloba vários aspectos
da vida humana, permeados por cada cultura,
tais como a afetividade, satisfação, prazer,
sentimentos, etc. No que diz respeito aos adolescentes, considera-se como um segmento
etário cujo desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial potencializa as buscas pela
formação da identidade e da consciência da
sexualidade. Isto pode gerar reflexões, questionamentos por parte dos filhos e discussões
no âmbito familiar em torno das descobertas
da sexualidade, que devem ser tratados pelos
pais com bastante naturalidade.
O diálogo sobre a sexualidade é fundamental para o desenvolvimento humano, e deve
ser tratado como um tema importante para os
adolescentes e suas famílias, principalmente
porque tal assunto é comumente discutido
entre os grupos de pares e amplamente explorado pela mídia. A iniciativa da conversa
pode ser dos adolescentes, do pai, da mãe,
etc. Em muitos casos, os diálogos podem ser
estimulados a partir de situações cotidianas:
notícias de jornais, filmes, situações vividas
por outras pessoas. Ressalta-se que o conteúdo das conversas deve ser amplo e objetivo,
tratando de aspectos da afetividade, cuidados
com o corpo, limites, vida reprodutiva, higiene
e saúde.
Padre Hugo Scheer
Diretor do Instituto de Teologia
e Filosofia da Arquidiocese de
Vitória (IFTAV)
Por que os evangélicos falam orar e os católicos rezar?
Ambas as palavras derivam do latim.
Não quero apresentar uma monografia sobre a oração cristã, mas somente recordar
alguns elementos fundamentais. Rezar, do
latim recitare (recitatio) = declamar, recitar
= pronunciar um texto já pronto; assim os
cristãos recitam os salmos do Antigo Testa-
mento ou o Pai Nosso do Novo Testamento
ensinado aos discípulos pelo próprio Senhor.
Orar, do latim orare (oratio) = falar, expressar,
exprimir = elaborar um texto com as próprias
palavras, falar livremente. Não importa se
usamos no diálogo orante com Deus palavras
já elaboradas como os Salmos ou o Pai-nosso
e/ou se falamos com Deus através das nossas
palavras pessoais, o que importa é que nós
sabemos que o centro da oração cristã está
sempre em orar no próprio mistério de Deus.
Quando rezamos “Pai nosso...” Jesus nos pede
para entrarmos no mistério da nossa filiação
divina e para habitarmos n’Ele no Espírito,
pelo Filho; como filhos e filhas amados, no
mistério do Pai. n
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ensinamentos
O Sacramento para os fisicamente
É
fundamental que os católicos
compreendam a finalidade do
Sacramento da Unção dos Enfermos, denominado Sacramento de
Cura, para evitar equívocos como o
descrédito ou as visões supersticiosas, pois não é uma fórmula mágica.
São Tiago (Tg 5, 14-15) sintetiza o
sentido profundo da Unção dos Enfermos: “Alguém dentre vós está doente?
Mande chamar os presbíteros da Igreja
para que orem sobre ele, ungindo-o com
óleo no nome do Senhor. A oração da fé
salvará o enfermo e o Senhor o levantará.
E se tiver cometido pecados, receberá o
perdão”.
Pela Unção dos Enfermos e pela
oração dos sacerdotes (padres e bispos
– somente eles são os ministros desse
sacramento), a Igreja confia os doentes
aos cuidados do próprio Cristo sofredor
e glorificado, para que sejam salvos e
os seus sofrimentos sejam aliviados.
O Papa João Paulo II deu atenção
revista vitória I Dezembro/2015
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debilitados
especial a essa questão na Carta Apostólica Salvifici doloris, refletindo sobre
o sentido salvífico do sofrimento na
perspectiva cristã. Nossos sofrimentos
associados ao sofrimento de Cristo são
oportunidades de conversão e de intensa
oração em favor de toda a Igreja.
A Unção dos Enfermos não se destina somente a quem está morrendo, mas
aos doentes, debilitados fisicamente e
idosos; inclusive a quem vai ser submetido à cirurgia de alto risco. A Unção dos
Enfermos pode ser recebida sempre que
for necessária. O rito essencial consiste
na unção da testa e das mãos do doente
(no rito católico romano), acompanhada
da oração do sacerdote, pedindo a graça
especial concedida por Deus.
O sacramento da Unção dos Enfermos promove a união do paciente com a
paixão de Cristo, para seu bem e o bem
de toda a Igreja; o reconforto, a paz e
a coragem para suportar cristãmente os
sofrimentos da doença ou da velhice; o
perdão dos pecados, se o doente não pode
obtê-lo pelo sacramento da Penitência; o
restabelecimento da saúde, se isso convier à salvação espiritual e a preparação
para a passagem à vida eterna.
Toda a comunidade cristã é chamada a dar atendimento especial aos
doentes, acompanhando-os com orações
e atenções fraternas, além da catequese
sobre o sentido e os benefícios desse
Sacramento de Cura. Esse serviço vem
sendo desenvolvido pelos ministros extraordinários da Sagrada Comunhão em
parceria com a Pastoral da Saúde.
A Arquidiocese de Vitória recomenda a Celebração de Missas específicas
para o atendimento de doentes e idosos,
nas quais seja ministrada a Unção dos
Enfermos, observando-se para que não
ocorram desvios do significado desse
sacramento. n
Vitor Nunes Rosa
Professor de Filosofia na Faesa
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Acontece
Abertura do Ano Santo da Misericórdia
De 8 de dezembro de 2015 a 20 de novembro de 2016, a Igreja Católica vivencia o
Ano da Misericórdia proclamado pelo Papa Francisco.
13 de dezembro
w Solenidade na Arquidiocese de Vitória a partir das 10h30 na Igreja
São Gonçalo seguindo para a Catedral com abertura das portas e
missa presidida pelo Arcebispo Dom Luiz Mancilha Vilela.
w19h abertura Solene da Porta do Santuário Nacional de Anchieta.
18 de dezembro
w18h abertura da porta da Matriz antiga Nossa Senhora da
Conceição em Guarapari.
20 de dezembro
w10h na Matriz Nossa Senhora da Conceição em Serra Sede.
27 de dezembro
w08h da Igreja Matriz da Paróquia São Sebastião Afonso Cláudio.
29 de dezembro
abertura da Igreja Matriz em Santa Isabel, Domingos
Martins.
w19h
Posse do novo bispo de São Mateus
A ordenação episcopal do novo bispo da Diocese de São Mateus, Dom
Paulo Bosi Dal’Bó acontece no dia 12 de dezembro, às 17h, no ginásio da
Arca, em Aracruz. Já a sua posse canônica será no dia 26 de dezembro, às 17
horas, na Catedral de São Mateus.
Corradi
Foi em uma lojinha localizada no Bairro
Aeroporto onde funcionava um armarinho que
o casal Narcizo Severgnine e Maria das Neves
Mozer com os filhos Carlinhos, Adriana e
Alessandra começaram uma trajetória de
sucesso.
Com fé em Deus, muito trabalho, união da
família, diálogo com os colaboradores, sintonia
com as comunidades, uma boa comunicação e
respeito com os clientes; a família transformou
a lojinha numa rede de lojas que atualmente
comemora 30 anos de história.
Matriz: Aeroporto
Filial I: Muquiçaba
Filial II: Centro
Filial III: Alfredo Chaves
"Ocupar um espaço na memória do consumidor e receber este premio diante de tantas
opções de produtos e serviços oferecidos no mercado é ao mesmo tempo um tremendo
desafio e uma grande conquista que toda família celebra com muita alegria e gratidão.
É o reconhecimento do trabalho e da dedicação diária com cada consumidor. Este prêmio
queremos compartilhar com todos os colaboradores, fornecedores e clientes".
Vitor Maioli - Diretor