Editorial - Educação e Cultura em Geociências

Transcrição

Editorial - Educação e Cultura em Geociências
boletim paranaense
de geociências
volume 70 (2013)
Editorial
Este volume do BPG oferece um conjunto de contribuições muito especiais para a evolução conceitual das geociências no Brasil,
por envolver diferentes abordagens sobre a geodiversidade. Com um time de autores que reflete o estado da arte em boa parte do
território brasileiro e com exemplos de outros países, revela-se um panorama consolidado sobre novos rumos na pesquisa geocientífica,
que se aproxima das ciências sociais, oferecendo este conhecimento como aporte cultural necessário à cidadania plena e à inclusão.
São notórias as consequências sociais, para o Brasil, da descoberta do petróleo e sua possibilidade de extração abaixo da
camada de sal das bacias sedimentares costeiras e, por isso, dificilmente este assunto é ignorado, atualmente, em escolas, na mídia ou
pela comunidade em geral. O interesse despertado pela geologia, em função do potencial econômico, trouxe em seu bojo a importância
da divulgação científica e a necessidade de aumento na massa crítica para questões ligadas ao substrato geológico. Não se pode conduzir
um país ignorando-se a geologia no gerenciamento do território e esta geologia não possui somente um valor econômico, mas outros
valores que podem estar sujeitos a risco.
As ideias de patrimônio geológico ou de patrimônio mineiro são fruto de um amadurecimento científico e de uma consciência
social que transcendeu os limites da ciência e abrange questões que tocam a todos os cidadãos deste século XXI. Inicialmente incentivado
pela UNESCO, este novo segmento do pensamento geocientífico encontrou eco em vários países e vem se desenvolvendo no Brasil de
forma vertiginosa. Não obstante as preocupações com conservação e divulgação da geodiversidade tenham exemplos mais antigos, foi no
início dos anos 2000 que o chamado trinômio “geodiversidade-geoturismo-geoconservação” cravou suas raízes no Brasil. Desde então,
houve uma difusão assombrosa deste novo paradigma entre geólogos, geógrafos e profissionais ligados ao meio-ambiente, turismo e
órgãos de cultura. A geologia vem se tornando menos hermética para a população e participa mais incisivamente no processo de
educação e inclusão social.
Em sintonia com as rápidas mudanças que acontecem nestes novos tempos, o Boletim Paranaense de Geociências abre suas
portas para a publicação de artigos neste novo segmento de pesquisa, mantendo o espírito que norteou o seu surgimento e sua história
como importante periódico no panorama nacional. Esperamos que o conteúdo deste volume inspire novas contribuições e que possa
subsidiar novas pesquisas e avanços nesta área e em outras.
Antonio Liccardo
Editor-associado
boletim paranaense
de geociências
volume 70 (2013) 02 - 27
Iniciativas institucionais de valorização do patrimônio
geológico do Brasil
Institutional programs for the valuation of geological heritage of Brazil
1
2
2
KÁTIA LEITE MANSUR , ANTONIO JOSÉ DOURADO ROCHA , AUGUSTO PEDREIRA (in memoriam) ,
2
3
4
5
CARLOS SCHOBBENHAUS , EDUARDO SALAMUNI , FLÁVIO DA COSTA ERTHAL , GIL PIEKARZ ,
6
7
8
MANFREDO WINGE , MARCOS ANTÔNIO LEITE NASCIMENTO , ROGÉRIO RODRIGUES RIBEIRO .
1
2
Universidade Federal do Rio de Janeiro - [email protected]
Serviço Geológico do Brasil (CPRM) - [email protected] - [email protected]
3
Universidade Federal do Paraná - [email protected]
4
Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ) - [email protected]
5
Serviço Geológico do Paraná (MINEROPAR) - [email protected]
6
Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP) - [email protected]
7
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - [email protected]
8
Instituto Geológico de São Paulo (IG) - [email protected]
Resumo
O presente artigo tem como objetivo apresentar e discutir as iniciativas para divulgação e popularização do patrimônio geológico do
Brasil. São apresentados casos de âmbito nacional, na forma das ações de inventário promovido pela SIGEP e dos projetos Geoparques e
Banco de Dados de Geossítios do Brasil da CPRM. No âmbito estadual são apresentadas as experiências dos projetos Caminhos Geológicos
do Estado do Rio de Janeiro desenvolvido DRM-RJ, Sítios Geológicos e Paleontológicos do Paraná da MINEROPAR, Caminhos Geológicos da
Bahia da CPRM e Petrobras, dos Monumentos Geológicos do Rio Grande do Norte do IDEMA e dos Monumentos Geológicos de São Paulo
do IG-SP. Os casos demonstram que existe um amplo espaço para desenvolvimento dos projetos de geoturismo e divulgação do
patrimônio geológico para a sociedade e que este espaço vem sendo ocupado pelos serviços geológicos e entidades afins de âmbito
estadual, onde a implantação de painéis interpretativos tem sido um dos principais instrumentos utilizados. Fica clara, ainda, a
necessidade de que haja uma organização responsável pela implantação e manutenção dos painéis. Considera-se que estes tipos de
projetos propiciam a participação comunitária e o desenvolvimento de projetos educacionais. Vislumbra-se que as unidades de
conservação são lugares especiais para a implantação deste tipo de sinalização, propiciando a divulgação da geodiversidade em conjunto
com a biodiversidade. Por fim, considera-se, ainda, que o maior obstáculo a ser superado é a comunicação com a sociedade. Para tanto,
precisa-se avançar no conhecimento sobre o usuário dos painéis interpretativos. É necessária, portanto, a realização de pesquisas sobre o
público-alvo e planejamento prévio da interpretação, ou seja, deve-se melhorar cada vez mais a comunicação para despertar o interesse
do usuário / visitante.
Palavras-chave: Patrimônio Geológico; Geoconservação; Geoturismo; Divulgação das Geociências.
Abstract
This paper aims to present and discuss the initiatives for interpretation and popularization of geological heritage of Brazil. National
examples are presented in the form of inventory actions promoted by SIGEP and by CPRM projects: Geoparks and Database of Geosites of
Brazil. At the State level are presented the experiences of the Geological Paths Project of the State of Rio de Janeiro developed by DRM-RJ;
Geological and Paleontological Sites of Paraná by MINEROPAR; Geological Paths of Bahia by CPRM and Petrobras; Geological Monuments
of Rio Grande do Norte by IDEMA; and the Geological Monuments of São Paulo by IG-SP. These cases demonstrate that there is a broad
space for development of geotourism projects and popularization of geological heritage for society. This space has been occupied by the
geological survey and related entities at the State level. The implementation of interpretative panels has been one of the main
instruments used. It is clear, though, that is indispensable an organization be responsible for the implementation and maintenance of the
panels. It is considered that these types of projects encourage community participation and the development of educational projects.
Protected areas are special places for the implementation of this type of signage, enabling the dissemination of geodiversity in
conjunction with biodiversity. Finally, it is considered that the biggest hurdle to be overcome is communication with the society. To do so,
will need to advance in the knowledge of the user of the interpretative panels. It is necessary, therefore, to carry out research on the target
audience and prior planning of interpretation, in other words, it should be increasingly improving communication to user interest.
Keywords: Geological Heritage; Geoconservation; Geotourism; Disclosure of Geosciences.
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1. INTRODUÇÃO
1.1. Histórico
Iniciativas de divulgação da geologia para a
sociedade no Brasil existem há décadas. Confirma esta
afirmação a implantação, em 1988, de 17 marcos de
concreto com descrição geológica de afloramentos ao
longo da Rodovia SC-438, na Serra do Rio do Rastro, em
Santa Catarina. Esta sinalização deu visibilidade pública à
denominada Coluna White, ou seja, a coluna
estratigráfica definida em 1908 no relatório do geólogo
Israel White, sobre a borda sudeste da Bacia do Paraná,
um representante clássico da história evolutiva do
Gondwana (Orlandi Filho et al. 2002).
Outros exemplos, como o Parque do Varvito, em Itu, e o
Parque da Rocha Moutonnée, em Salto, ambos no Estado
de São Paulo, fundados na década de 1990, promovem a
informação geológica, por meio da ampla visitação que
recebem (Rocha-Campos, 2002a; 2002b).
A SIGEP - Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e
Paleobiológicos, criada em 1997 com a missão de
organizar o banco de dados nacional, tornou disponível
na internet as descrições de geossítios apresentadas
pelos pesquisadores e avaliadas no mérito por
representantes de instituições brasileiras relacionadas à
Geologia. A SIGEP também vem fomentando descrições
dos sítios em linguagem popular “com vistas à ampla
divulgação das geociências e da mentalidade
preservacionista com relação aos nossos monumentos
geológicos, promovendo assim, simultaneamente, a
popularização das geociências” conforme consta da
apresentação da comissão no seu endereço eletrônico
(http://sigep.cprm.gov.br/).
Todavia, somente no início do século 21, projetos de
divulgação geológica sistemática começaram a ser
e s t r u t u ra d o s n o p a í s . E s t e s p ro j e t o s v ê m
proporcionando uma abertura para a inserção da
geologia nas comunidades, na sinalização de unidades de
conservação e no desenvolvimento de programas
educacionais locais. Quase todos baseiam suas iniciativas
na confecção de painéis e folhetos interpretativos sobre a
evolução geológica de monumentos de importância
paisagística, científica e/ou turística e se estruturaram
como projetos de âmbito estadual.
1.2. Popularização da Geologia e Valorização do
Patrimônio Geológico: Compromissos e Desafios
No Brasil, projetos de divulgação científica têm
sido cada vez mais comuns, como pode ser avaliado nas
edições da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia,
onde, a cada nova edição, ampliam-se as atividades e a
participação popular. Ações relacionadas às áreas de
popularização da Física, Medicina, Matemática,
Astronomia, entre outras, vêm despertando grande
atenção nos meios escolares o que certamente permitirá,
em pouco tempo, seu fácil reconhecimento e
entendimento. Um exemplo desta possibilidade de
inserção pode ser tomado da Biologia, onde alguns dos
seus termos técnicos já compõem o vocabulário do
cidadão comum, dado o entendimento da importância
do mundo biótico e da necessidade de se manter o
planeta sadio. Da mesma forma, espera-se incluir o
respeito e atenção ao planeta como um todo, para
garantir o espaço de divulgação das Ciências da Terra no
conjunto da população.
Os grandes agentes de financiamento de pesquisa em
C&T já possuem linhas para atendimento das demandas
na área de popularização da ciência, desde o CNPq –
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico até as FAPs – Fundações de Amparo a
Pesquisa de âmbito estadual. Neste contexto, a
popularização da geologia pode se desenvolver
amplamente.
A despeito da repercussão positiva dos projetos de
disseminação do conhecimento geológico no Brasil,
tanto no meio geológico quanto na sociedade em geral,
um desafio tem sido colocado incessantemente para
aqueles que trabalham com o tema: adequar a linguagem
hermética praticada pelos geólogos para entendimento
pelo cidadão comum.
Os modelos de comunicação pública em ciências ainda
promovem polêmicas entre os autores que, cada vez
mais, buscam uma forma democrática e inclusiva para
promover os temas de CTS (Ciência, Tecnologia e
Sociedade) para a população (Durant 1999; Moreira e
Massarani 2002; Lewenstein & Brossard 2005; Moreira
2006; Navas et al. 2007; Navas 2008). O modelo mais
tradicional, denominado Modelo de Déficit, parte do
pressuposto que o cientista precisa aportar seu
conhecimento para aqueles grupos que não o possuem,
suprindo um déficit de conhecimento. Esta forma de
comunicação vem sendo combatida por não levar em
conta os saberes tradicionais. Posteriormente, surgiu o
Modelo da Participação Pública que estimula a
participação e manifestação do conhecimento popular
pela participação em fóruns, debates e reuniões, onde
público e cientistas têm papéis equivalentes.
A principal forma de comunicação dos projetos de
divulgação geológica sistemática no Brasil se dá por meio
da implantação de painéis interpretativos (Nascimento et
al. 2009). Esta técnica é utilizada em muitos países (Hose
1997, 2000, 2008; Dias et al. 2003; Carter 2001). A
comunicação também pode ser feita utilizando-se de
folhetos, cartazes, jogos, CDs / DVDs, páginas na internet,
livros, instalações interativas, entre outros. Pode ser
realizada ao ar livre, em museus, em escolas ou, mesmo,
na própria residência do usuário, se utilizadas
ferramentas que permitam a inclusão digital.
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2. PROJETOS EM EXECUÇÃO NO BRASIL
2.1. Visão geral
Um dos compromissos que necessita ser
assumido pela comunidade geológica brasileira é o da
união perante as ameaças sofridas pelo patrimônio
geológico. Não são poucos os casos de denúncias e,
mesmo, destruição de ambientes geológicos especiais
como sítios paleontológicos e espeleológicos, dunas e
outros ambientes costeiros, afloramentos únicos para a
ciência e ensino.
Segundo Cendrero Uceda (1996) e Brilha (2005)
a divulgação é uma importante ferramenta a ser utilizada
em programas de geoconservação, cuja essência é a
gestão científica para a conservação do patrimônio. A
gestão, por sua vez, pressupõe a formalização de um
gestor e de um programa baseado no conhecimento
geológico e planejamento de ações de controle,
divulgação e monitoramento. Este é um ponto crítico
para a geoconservação no Brasil: as organizações de
gestão ambiental, em geral, ainda não incorporam a
proteção da geodiversidade na sua missão.
Por outro lado, a maioria das instituições
estaduais de cunho geológico foi extinta entre os anos
1980 e 1990. Atualmente, apenas oito dos 26 estados
brasileiros possuem instituições específicas voltadas
para fomento da mineração e/ou conhecimento
geológico. São eles: Bahia, Goiás, Mato Grosso, Paraíba,
Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins. Há,
portanto, um descompasso entre o aumento do
conhecimento geológico, com consequente geração de
informação, e a capacidade de gestão do patrimônio
identificado. Os dois mais antigos e prolíficos projetos de
divulgação geológica do Brasil são gerenciados por
serviços geológicos estaduais, DRM-RJ e MINEROPAR e,
das oito instituições estaduais existentes, quatro delas, as
de Goiás, Mato Grosso, Paraíba e Tocantins, ainda não
iniciaram projeto de disseminação da geologia para a
sociedade. Por outro lado, o Projeto Caminhos
Geológicos da Bahia foi criado sem a coordenação da
CBPM – Companhia Baiana de Pesquisa Mineral.
Em 2006, o Rio Grande do Norte, apesar de não possuir
uma organização pública com foco específico na geologia
e mineração, por meio do Instituto de Desenvolvimento
Sustentável e Meio Ambiente, em convênio com a
PETROBRAS, criou o Projeto Monumentos Geológicos do
Rio Grande do Norte. Ainda, foi inaugurado um painel
durante o Simpósio de Geologia do Sudeste, em 2007,
pelo projeto Monumentos Geológicos de Minas Gerais
(Figura 1), porém, não se tem notícias sobre perspectivas
de sua continuidade.
Figura 1 – Painel inaugurado em 2007 no Centro de Geologia Eschwege, em Diamantina, MG
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Já em São Paulo, a instituição pública estadual
de geologia, o Instituto Geológico – IG, está vinculado à
Secretaria de Meio Ambiente - SMA e criou o Projeto
Monumentos Geológicos. Esta vinculação tem permitido
a aplicação de instrumentos clássicos da gestão
ambiental à proteção do patrimônio geológico, como a
criação do Conselho Estadual de Monumentos
Geológicos, em 2009, para apoiar o IG na elaboração do
inventário e na geoconservação. O conselho é consultivo
e seus membros são representantes do poder público
(SMA) e convidados com reconhecida atuação nos temas
relacionados direta ou indiretamente com geossítios /
monumentos geológicos.
2.2. Ação da SIGEP
A Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e
Paleobiológicos (SIGEP), criada em 1997, ocupou-se pela
primeira vez no Brasil da identificação, avaliação,
descrição e publicação de sítios do patrimônio geológico
de forma sistêmica e com a participação essencial da
comunidade geocientífica. Com suas atividades
suspensas desde meados de 2012, por razões a seguir
explicitadas, a SIGEP representou a mais importante e
abrangente iniciativa no movimento pela conservação do
patrimônio geológico nacional, seguida de algumas
iniciativas em nível estadual.
Essa iniciativa descreveu e avaliou sítios
geológicos e paleontológicos de valor excepcional – os
chamados geossítios, feições notáveis identificadas no
contexto da extensa diversidade geológica do país que
representam a memória geológica nacional - patrimônio
geológico do Brasil. Os geossítios são assim locais-chaves
para o entendimento da história da dinâmica da Terra e
da história da vida, desde a sua formação, razão pela qual
precisam ser preservados. Muitos deles possuem
extraordinária beleza paisagística.
O inventário do patrimônio geológico segue,
sobretudo, critérios científicos, mas outros tipos de
interesses são considerados, a exemplo do interesse
educativo que é essencial para a formação de alunos e
professores de todos os níveis de ensino ao serem
colocados frente a frente com a realidade da geologia,
representada no geossítio por rochas, minerais e feições
geológicas, um verdadeiro arquivo da natureza. Por outro
lado, o interesse turístico e cultural é importante na
promoção da geologia junto ao público leigo e pode
contribuir para o desenvolvimento sustentado das
populações locais.
A Comissão Brasileira dos Sítios Geológicos e
Paleobiológicos - SIGEP, contou com representantes das
seguintes instituições: Academia Brasileira de Ciências ABC, Associação Brasileira para Estudos do Quaternário ABEQUA, Departamento Nacional de Produção Mineral DNPM, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio,
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN, Petróleo Brasileiro S/A - PETROBRAS, Serviço
Geológico do Brasil - CPRM, Sociedade Brasileira de
Espeleologia - SBE, Sociedade Brasileira de Geologia SBG, Sociedade Brasileira de Paleontologia - SBP e União
da Geomorfologia Brasileira - UGB.
A principal atribuição da SIGEP – de elencar os
geossítios brasileiros – foi implementada com o
gerenciamento de um banco de dados nacional e
disponibilizado em site da internet
(http://sigep.cprm.gov.br) na forma de artigos científicos
bilíngues – inglês e português - elaborados por
especialistas que trabalharam nas áreas dos geossítios
aprovados.
Desde o início, o processo seletivo dos
geossítios seguiu a orientação da SIGEP de avaliação de
cada sítio segundo sua tipologia principal (Astroblema;
Espeleológico; Estratigráfico; Geomorfológico;
Hidrogeológico - só casos especiais; História da Geologia,
Mineração, Paleontologia; Ígneo; Marinho-submarino;
Metamórfico; Metalogenético; Mineralógico;
Paleoambiental; Paleontológico; Sedimentar; Tectonoestrutural; outro) e tendo como critérios: (i) sua
singularidade na representação de sua tipologia ou
categoria; (ii) importância na caracterização de processos
geológicos-chave regionais ou globais, períodos
geológicos e registros expressivos na história evolutiva da
Terra; (iii) expressão cênica; (iv) bom estado de
conservação; (v) acesso viável; e (vi) existência de
mecanismos ou possibilidade de criação de mecanismos
que lhe assegure conservação e consequente
aproveitamento.
Mesmo instituída e exercendo de fato as suas
competências, a SIGEP não foi oficializada de direito no
âmbito do Poder Público, o que lhe tirava a capacidade de
adotar medidas legais para a preservação dos geossítios.
Assim, em agosto de 2012, quinze anos depois de sua
criação, a SIGEP, suspendeu o recebimento de novas
propostas de geossítios em virtude da publicação de
Portaria N0 170, de 20 de junho de 2012, da Secretaria de
Geologia, Mineração e Transformação Mineral do
Ministério de Minas e Energia que instituiu o Grupo de
Trabalho Interministerial de Sítios Geológicos e
Paleontológicos (GTI-SIGEP) com a responsabilidade de
propor a institucionalização das atividades da SIGEP e a
revisão dos procedimentos afetos à seleção de novos
sítios geológicos e paleontológicos de natureza especial e
ao gerenciamento e divulgação de tais informações, ou
seja, com o objetivo de instituir o marco legal que
permitirá impulsionar, de forma oficial, a identificação, a
preservação, divulgação, valorização e uso de sítios
re p re s e ntat i vo s d o p at r i m ô n i o ge o l ó g i co e
paleontológico brasileiro.
O GTI-SIGEP concluiu suas atividades em
novembro de 2012 ao apresentar minuta de proposta de
edição de decreto presidencial, objetivando a criação da
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Comissão do Patrimônio Geológico do Brasil, com as
atribuições de identificar e reconhecer os bens que
constituem o Patrimônio Geológico do Brasil e definir e
encaminhar propostas de acautelamentos aos órgãos
competentes.
Sintetizando, pode-se dizer que a SIGEP, uma
comissão multi-institucional, coordenou e promoveu
entre 1997 e 2012, de mãos dadas com a comunidade
geocientífica, o inventário parcial de sítios geológicos e
paleontológicos do Brasil a serem preservados na forma
de artigos científicos complementados por sugestões de
medidas de proteção.
A ampla divulgação na internet e em volumes
impressos (livros) (Figura 2), atingindo não só os órgãos
públicos - municipais, estaduais e federal, mas também o
setor privado e a opinião pública em geral, certamente é
da maior importância para propiciar a preservação e bom
uso do patrimônio natural, através da necessária sinergia
entre os vários órgãos públicos, empresas interessadas e
comunidade, envolvidos na preser vação da
geodiversidade.
Números referentes à produção da SIGEP
registrados no site ou publicados (Schobbenhaus et al.
2002, Winge et al. 2009, Winge et al. no prelo) são
apresentados a seguir:
l
l
l
l
l
116 geossítios publicados em 3 volumes e
disponibilizados em PDF na internet (Figura 3);
51 geossítios aprovados, mas sem descrição
disponível (Figura 4);
4 geossítios dos publicados em versão para leigos
publicados na internet;
26 sugestões preliminares de geossítios não
formalizadas;
26 propostas de geossítios canceladas (causas:
pouca relevância, superposição com outras
propostas, destruição).
Figura 2 – Capas dos volumes I e II da SIGEP. Acessíveis em: http://sigep.cprm.gov.br
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Figura 3 – Localização dos sítios aprovados pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos – SIGEP, publicados na forma de
artigos científicos e complementados por sugestões de medidas de proteção.
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SIGEP
SÍTIOS GEOLÓGICOS E PALEONTOLÓGICOS
NÃO PUBLICADOS
Sítios
3
1
15
5
27
14
46
16
26
49
28
4
10
12
24
23
8
9
13
11
20
22
7
17
21
19
6
18
32
25
31
43
42
45
29
30
41
37
36
39
40
38
44
34
48
33
2
47
35
Nome
UF
1
Dunas do Araçá
AM
2
Canyon de Xingó
SE/AL
3
Pico da Neblina
AM
4
Raso da Catarina
BA
5
Inselbergs de Quixadá
CE
6
Morro de Penedo
7
Pães-de-açúcar de Pancas e Pedra Torta
ES
8
Cachoeira do Rio das Almas
GO
9
Cavernas da região de Guarani de Goiás e São Domingos
GO
10
Córrego Alagadinho
GO
11
Paraúna
GO
12
Pilar de Goiás
GO
13
Silexisto microfossilífero e estromatólitos da Fazenda Funil
14
Floresta Petrificada de Teresina
15
Lençóis Maranhenses e Dlta do Parnaíba
16
Vertebrados Permianos de Pastos Bons
MA
17
Bacia do Gandarela
MG
18
Gruta da Serra do Ibitipóca
MG
19
Mina de Passagem
MG
20
Pico do Itacolomy de Buritizeiro
MG
21
Morraria do Urucum
22
Pedreira Saladeiro
MS
23
Baías do Pantanal
BR/BO
24
Chapada dos Guimarães
MT
25
Geyseritos Permianos de Anhembi
PA
26
Fósseis Invertebrados de Rancharia
PE
27
Fauna Permiana de Mocambo
28
Pedra Furada/Serra da Capivara
PI
29
Estrias Glaciais de Witmarsum
PR
30
Icnofósseis Devonianos de São Luiz do Purunã
PR
31
Dedo de Deus
RJ
32
Pico das Agulhas Negras
RJ
33
Armação dos Búzios
34
Restinga da Marambaia
RJ
35
Parque das Dunas
RN
36
Astroblema de Cerro do Jarau
RS
37
Distrito Mineral do Alto Uruguai
RS
38
Parque Guaritas e o litoral de Torres
RS
39
Vulcanismo Rodeio Velho do Arroio Carajá
40
Furna Marinha de Sombrio
41
Mafra-Rio Negro
42
Lavas Almofadadas de Pirapora do Bom Jesus
SP
43
Marundito do Pico Pelado
SP
44
Paleolagunas na Estação Ecológica JurÚia-Itatins
45
Turfeira da Campina do Encantado
SP
46
Sítio Espeleológico Serra do Martins
RN
47
Marmitas do Rio Carnaúba
RN
48
Maciço dos Três Picos
RN
49
Dioritos Almofadados do Rio Espinharas
RJ
ES
GO
MA
PI/MA
MS
PI
RJ
RS
SC
SC/PR
SP
Figura 4 – Localização dos sítios aprovados pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos – SIGEP, sem número de
cadastro SIGEP e sem publicação disponível na forma de artigo científico.
2.3. Projetos do Serviço Geológico do Brasil - CPRM
2.3.1. Geoparques
A CPRM tem como uma de suas missões
precípuas a geração e a difusão de informações
geológicas. Por ser o grande gerador e detentor do
conhecimento geológico nacional, cabe ao Serviço
Geológico do Brasil com o apoio da área acadêmica e dos
serviços geológicos estaduais, realizar de forma
sistemática o inventário dos sítios do patrimônio
geológico do Brasil, tanto de importância internacional,
quanto nacional ou regional/local.
A CPRM promove a identificação,
caracterização e avaliação, visando à conservação do
patrimônio geológico brasileiro através do Projeto
Geoparques. Os sítios geológicos ou geossítios
cadastrados e quantificados pelo Projeto Geoparques
são destinados a integrar um acervo para a preservação
do patrimônio geológico. Também, como membro da
SIGEP, a CPRM se ocupou nos últimos 15 anos da
identificação, avaliação, descrição e publicação de
geossítios.
Um geoparque corresponde a uma área com
limites bem definidos e com uma dimensão suficiente
para que possa servir ao desenvolvimento econômico e
cultural local (especialmente por meio do geoturismo)
( h t t p : / / w w w. u n e s c o . o r g / n e w / e n / n a t u r a l sciences/environment/earth-sciences/geoparks/globalgeoparks-network/). Os sítios devem ser importantes do
ponto de vista da ciência, raridade, educação e / ou
estética. Um geoparque é uma área onde geossítios
fazem parte de um conceito holístico de proteção,
educação e desenvolvimento sustentável. No entanto, o
geoparque deve levar em conta o contexto da região e
não unicamente incluir locais de significado geológico. A
sinergia entre a biodiversidade, geodiversidade e cultura,
além do patrimônio tangível e não tangível devem ser de
tal ordem que temas não geológicos devem ser
destacados como parte integrante do geoparque,
especialmente quando a sua importância em relação à
paisagem e geologia pode ser demonstrado aos
visitantes. Por essa razão, é necessário também incluir e
destacar locais de interesse ecológico, arqueológico,
histórico e cultural dentro do geoparque (UNESCO 2010).
O programa Geoparque vem suprir uma lacuna
para reconhecimento internacional do patrimônio
geológico de importância nacional ou regional. A
iniciativa da UNESCO para apoiar os geoparques, bem
sucedida em nível mundial, responde à forte demanda
expressa por muitos países, que tem como objetivo,
entre outros, constituir uma série global de sítios
geológicos ou geossítios destinados a integrar um acervo
para a preservação do patrimônio geológico.
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Nesse sentido, os geossítios são vistos como
complementares à Lista do Patrimônio Mundial da
UNESCO, possibilitando desenvolver um mecanismo
adequado para o reconhecimento de locais de
importância internacional, identificados a partir de
inventários geológicos nacionais (UNESCO 2008; Eder &
Patzak 2004).
O Projeto Geoparques da CPRM representa
importante papel indutor na proposição de geoparques
no território nacional. Esse projeto tem como premissa
básica a identificação, levantamento, descrição,
diagnóstico e ampla divulgação de áreas com potencial
para futuros geoparques no território nacional. Durante
esse processo realiza-se o cadastro e quantificação de
geossítios de diversas tipologias, dentro dos limites do
proposto geoparque. Para esse trabalho concorre o
acervo de levantamentos geológicos existentes no País e
a experiência do corpo técnico da empresa, além do
aporte de estudos e propostas da comunidade
geocientífica. Em alguns casos, essa atividade indutora é
feita em conjunção com universidades e outros órgãos ou
entidades federais, estaduais ou municipais que tenham
interesses comuns, em consonância com as
comunidades locais. A ação catalisadora desenvolvida
pela CPRM representa, entretanto, somente o passo
inicial do futuro geoparque. As áreas propostas para os
geoparques foram selecionadas por sua importância
geológica, que em muitos casos associa-se a formas de
relevo com excepcional valor estético ou beleza cênica.
Nessa etapa inicial as áreas propostas pelo Projeto
Geoparques constituem em primeira instância parques
geológicos, que possibilitam conhecer a sua história
geológica através dos geossítios, roteiros geológicos ou
pela geomorfologia da paisagem.
Para a transformação de um parque geológico
em um geoparque, além dos atributos geológicos, outros
atributos devem coexistir na área proposta e ambos
deverão promover o desenvolvimento econômico
sustentável e a geoconservação, comumente através do
geoturismo/ecoturismo. Em praticamente todas as áreas
selecionadas para os geoparques potenciais, já existe um
fluxo turístico, em maior ou menor grau, no entanto, sem
associação direta com a geologia. A criação de uma
entidade de gestão e outras iniciativas complementares
permitirá que o parque geológico seja transformado em
um geoparque, cabendo-lhe promover o geoturismo.
Alguns geoparques propostos coincidem em seus limites
com unidades de conservação ou parques naturais, em
especial por apresentarem rara beleza cênica. No
entanto, os limites de um geoparque não coincidem
necessariamente com os parques naturais ou outras
áreas de reservas ambientais. Propostas de áreas com
potencial de se transformarem em geoparques, objeto
do Projeto Geoparques, estão indicadas na Figura 5.
Figura 5 – Mapa de localização das propostas de geoparques concluídas (1 a 17), em execução e programadas do Projeto Geoparques da
CPRM.
09
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
Nos últimos cinco anos foram concluídos
estudos de 17 propostas de geoparques pelo Projeto
Geoparques cobrindo áreas de norte a sul do país.
Dessas, 14 foram publicadas pela CPRM no primeiro
volume do livro “Geoparques do Brasil-Propostas”
(Schobbenhaus & Silva 2012). Diversas outras propostas
estão em fase de avaliação ou serão avaliadas em etapas
seguintes.
Uma atividade essencial realizada pelo Projeto
Geoparques é a identificação, cadastramento e valoração
de geossítios ou sítios do patrimônio geológico na área
do território proposto para o potencial geoparque. Até o
momento foram cadastrados 376 geossítios nos 17
propostos geoparques. Esses geossítios apresentam
diferentes pontos de interesse: científico, didático,
turístico, cultural e outros. A sua importância varia de
regional/local (59 %), nacional (31 %) a internacional (10
%). Dentro das áreas propostas para geoparques, cerca
de 48% relacionam-se a geossítios do Pré-Cambriano,
24% do Paleozoico, 24% do Mesozoico e o restante do
Cenozoico. Os litótipos mais comuns são de interesse
geomorfológico, estratigráfico e paleoambiental,
normalmente associados a geoformas de valor estético
ou beleza cênica. Outros são paleontológicos, ígneos,
petrológicos, metalogenéticos e espeleológicos. Outros
ainda incluem importantes registros da história da
mineração ou ainda tem importantes valores préhistóricos e histórico-culturais associados.
2.3.2. Geossit
As atividades do Projeto Geoparques abrangem
o cadastramento e a quantificação de geossítios,
contemplando as metodologias de Brilha (2005) e GarciaCortés & Urquí (2009), adaptadas ao Brasil.
Independentemente das futuras ações a serem tomadas
com relação aos propostos geoparques, o cadastramento
dos geossítios realizado será incorporado em uma
atividade mais ampla de âmbito nacional: o Inventário de
Sítios do Patrimônio Geológico do Brasil. Para permitir a
alimentação de um banco de dados a CPRM desenvolveu
um aplicativo web para cadastramento e quantificação
automática de geossítios, denominado GEOSSIT (Lima et
al. 2012). O aplicativo GEOSSIT é uma ferramenta para a
padronização do cadastramento de geossítios do Brasil. É
de livre consulta e será operado por meio de uma base de
dados específica do Sistema GEOBANK do Serviço
Geológico do Brasil - CPRM. O aplicativo web GEOSSIT é
operado mediante utilização das seguintes ferramentas
de software livre: linguagem de programação PHP 5.3 e
banco de dados MySQL 5.1.
As informações solicitadas (localização,
caracterização geológica e geomorfológica, áreas de
interesse, presença de unidades de conservação, etc.),
seguidas da quantificação das características intrínsecas,
do uso potencial e da necessidade de proteção,
permitem classificar o geossítio como de interesse
regional, nacional ou internacional (metodologia de
Brilha 2005) e definir o valor relativo quanto ao interesse
científico, didático e turístico (metodologia de GarciaCortés & Carcavilla 2009).
A metodologia de Garcia-Cortés & Urquí (2009)
permite também o cálculo da vulnerabilidade do
geossítio cujo valor adicionado ao valor do interesse
cientifico, didático ou turístico, permite estabelecer a
urgência para que sejam adotadas medidas de proteção
ao geossítio.
Apesar de originalmente o GEOSSIT estar
vinculado ao Projeto Geoparque, gradativamente foi
ficando claro o potencial de sua utilização como
ferramenta para alimentar um banco de dados nacional
de geossítios. Desse modo, o GEOSSIT será integrado ao
banco de dados da CPRM, denominado GEOBANK. Para
acessar o aplicativo o endereço é
www.cprm.gov.br/geossit, sendo que a visualização dos
dados preenchidos pode ser efetuada clicando no nome
do geossítio. O aplicativo possui o módulo de
preenchimento (exige senha) e o módulo de visualização
(acesso livre).
2.3.3. Sinalização Interpretativa no Quadrilátero Ferrífero
Projeto financiado pelo Serviço Geológico do
Brasil (CPRM) em parceria com a Universidade Federal de
Minas Gerais e executado pelo Instituto Terra Brasilis, no
contexto da proposta do Geoparque Quadrilátero
Ferrífero. Em sua primeira etapa, o projeto teve como
principal objetivo a elaboração, confecção e instalação de
placas com informações geológicas em sítios do
Quadrilátero Ferrífero, com linguagem acessível e
bilíngue (português e inglês), aproximando o cidadão
comum de seu patrimônio geológico e promovendo a
geoconservação. Os sítios contemplados foram: Serra do
Rola Moça, Serra da Piedade, Serra do Curral, Gnaisse de
Cachoeira do Campo e Pico do Itacolomi. Os painéis de
sinalização do Geopark Quadrilátero Ferrífero foram
idealizados em modelo único no formato prancheta com
ângulo de inclinação confortável à leitura. Levou-se em
conta para isto as características dos locais sinalizados,
em sua maioria, áreas de mirante, onde a disposição no
formato prancheta favorece a apreciação da paisagem
(Figura 6).
Cada painel é composto por dois módulos, no
módulo da esquerda são apresentadas as informações
sobre o conceito de Geoparque e sobre a geologia do
Quadrilátero Ferrífero. Já no módulo da direita são
apresentadas as informações sobre o geossítio
propriamente dito, focando suas peculiaridades e
atrativos, contextualizando-o na proposta do Geoparque
(Ruchkys et al. 2012).
10
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
importante evento brasileiro de geologia que,
atualmente, já possui réplicas em muitos dos eventos
regionais e temáticos.
A comunicação com os não geólogos através da
linguagem, escrita ou visual, sempre foi o grande desafio
do projeto e, por este motivo, ele vem sendo construído a
partir da interação com as comunidades onde os painéis
são implantados. A metodologia básica de elaboração e
localização dos painéis do Projeto Caminhos Geológicos
do Estado do Rio de Janeiro foi publicada por Mansur &
Nascimento (2007).
Até abril de 2013 foram implantados 104 painéis
em 31 municípios, cuja manutenção é um item
importantíssimo a ser considerado (Figuras 7 e 8).
Figura 6 – Exemplos de painéis de sinalização interpretativa na
Serra do Caraça e Parque das Mangabeiras, Quadrilátero
Ferrífero, MG. Fotos: Andreá Trevisol.
2.4. Caminhos Geológicos do Estado do Rio de Janeiro
O projeto Caminhos Geológicos foi concebido
em 2000 e inaugurado em 2001, pelo DRM-RJ – Serviço
Geológico do Estado do Rio de Janeiro. Seu objetivo geral
é popularizar a geologia pela implantação de painéis
interpretativos nos principais monumentos geológicos
do Estado do Rio de Janeiro. Como decorrência, se
transformou num projeto que tem um forte apelo na
geoconservação. São objetivos específicos: (a)
Reconhecer e preservar os monumentos geológicos do
Estado do Rio de Janeiro; (b) Divulgar o conhecimento
geológico entre as comunidades e também para
profissionais e cidadãos em geral; (c) Incentivar o
desenvolvimento socioeconômico relacionado com a
geologia; e (d) Fortalecer o potencial turístico das
regiões, criando novos circuitos de visitação a partir de
uma proposta ecológica, científica e cultural.
É um projeto que conta com a parceria fixa do
Departamento de Estradas de Rodagem – DER-RJ e da Cia
de Turismo do Estado - Turisrio. Tem nas universidades
que estudam a geologia fluminense a base da parceria
científica que confere credibilidade ao projeto. Recebe
apoio de prefeituras, ONGs, empresas públicas e
privadas e de agências de fomento, como a FAPERJ.
Como foi o primeiro projeto de sinalização
sistemática do Brasil, vem cumprindo um papel de
indutor de experiências semelhantes em outros estados.
Da mesma forma, teve participação decisiva na
formatação do Simpósio sobre Monumentos Geológicos,
no XLII Congresso Brasileiro de Geologia, em Araxá, em
2004, primeira experiência com esta temática no mais
Figura 7 – Painel interpretativo implantado no Pão de Açúcar
Figura 8 – Placa de estrada, indicativa de painel interpretativo.
Seu desenvolvimento envolve ações que
avançam além da colocação dos painéis interpretativos,
consolidando-se na vertente educacional (Mansur
2009a) e outras. Assim, são realizadas ações:
a) na comunidade escolar, envolvendo alunos e
professores, trabalhos de campo e elaboração de
material didático e paradidático próprio (Talarico 2004;
Talarico et al. 2005, Mansur 2009a) (Figuras 9 e 10);
11
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
Figura 9 – Alunos de São José de Ubá, apontando seus desenhos
no painel colocado em sua escola.
Figura 12 – Treinamento sobre geologia para os funcionários do
Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu
c) na governança local, incluindo prefeituras,
produtores rurais (Figura 13), APLs de base turística;
Figura 10 – Alunos do Projeto Jovens Talentos para a Ciência em
trabalho de campo em Santo Antônio de Pádua
b) junto à sociedade civil organizada como
ONGs, associações de moradores, comitês de bacia,
conselhos gestores de Unidades de Conservação - UCs
(Nascimento & Mansur 2008), gestores ambientais e
coletivos educadores ambientais, como os livros do
Projeto Conhecer para Preservar (Mansur et al. 2007a,
2007b) (Figuras 11 e 12);
Figura 13 – Apresentação sobre geologia em praça pública para
produtores rurais em Bom Jardim
d) no meio acadêmico, apoiando e realizando
conjuntamente pesquisas geológicas com Universidades,
como UFF (Figueiredo Jr et al. 2004), UERJ (Schmitt et al.
2004, Valeriano 2006); UENF (Alves et al. 2009) e UFRJ e
Museu Nacional (Mansur et al. 2009b) ou na orientação
acadêmica de alunos;
Figura 11 – Publicações sobre geologia de UCs, organizadas pelo
Coletivo Educador Conhecer para Preservar.
e) na parceria com museus, como o Museu da
Geodiversidade da UFRJ (Carvalho et al. 2009), e outras
entidades que trabalham na popularização da ciência,
como a Casa da Ciência da UFRJ e o MCTI – Departamento
de Divulgação e Popularização da Ciência, por meio do
Projeto Caminhos de Darwin (Moreira et al. 2009,
Mansur 2009d) (Figura 14);
12
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
escopo o cumprimento das seguintes metas:
a) definir a política de administração do
patrimônio geológico do Paraná, inserindo estas políticas
nas comunidades locais, inclusive para sua conservação;
b) inventariar e selecionar os principais sítios
geológicos do Estado do Paraná, com o intuito de
democratizar a informação e o conhecimento científico;
c) integrar estas informações a programas de
turismo ou geoturismo;
Figura 14 – Painel do Projeto Caminhos de Darwin em Maricá
f) na esfera patrimonial, atuando com o INEPAC
(Schmitt et al. 2004) e IPHAN (Mansur et al. 2008), além
das entidades municipais, no tombamento e preservação
de bens de natureza geológica (Mansur et al. 2009b).
Também, na expectativa de ampliar o horizonte
de usuários (ou “visitantes”) do projeto, foi elaborada
u m a
p á g i n a
d a
i n t e r n e t
(www.caminhosgeologicos.rj.gov.br) que apresenta
informações teóricas e abordagens didáticopedagógicas, como jogos, quebra-cabeças e textos
voltados para o público jovem. Possui um webmapa onde
se pode acessar cada painel na íntegra, com fotos dos
monumentos e possibilidade de envio de cartões-postais
personalizados. Garcia et al. (2008) apresentam a ficha
técnica do desenvolvimento da página, quase
exclusivamente baseada em softwares livres. Porém, um
dos mais importantes itens da página, que ainda está em
alimentação, é o inventário dos monumentos geológicos
do Estado do Rio de Janeiro, associado a um esquema de
valoração dos bens (Mansur & Carvalho 2010).
Em pesquisa de opinião realizada em locais
onde estão localizados painéis do Projeto Caminhos
Geológicos, em 2008, 89% dos entrevistados acreditam
que eles são eficientes para a preservação dos
patrimônios geológicos sinalizados (Mansur & Silva
2011).
2.5. Programa Sítios Geológicos e Paleontológicos do
Estado do Paraná
O programa Sítios Geológicos e Paleontológicos
do Paraná da Mineropar vem ao encontro do movimento
global sobre o inventário, conservação, valorização,
divulgação e uso sustentável do patrimônio geológico no
âmbito do Estado do Paraná. Levando-se em
consideração que o patrimônio geológico é um
patrimônio natural, as ações já desenvolvidas no
programa, inserido em atuações de diversos órgãos
governamentais e não governamentais, tiveram como
d) formar e treinar guias e/ou condutores nas
comunidades próximas aos sítios geológicos
selecionados visando à geração de emprego e renda,
bem como à sustentabilidade física e financeira dos sítios
com o envolvimento da comunidade.
Os trabalhos necessários para o
desenvolvimento do projeto envolveram a confecção de
um inventário inicial, onde foram cadastrados os sítios
geológicos e paleontológicos de valor turístico mais
relevante do estado. Posteriormente foram escolhidos
alguns sítios, de notória relevância, como locais pilotos
para a implantação de painéis e confecção de folhetos. O
método está centrado em criar aparatos e materiais que
estimulem o aprendizado a respeito do ambiente natural
e sua formação e/ou evolução ao longo do tempo
geológico.
2.5.1. Inventário
O inventário do patrimônio geológico do Paraná
foi realizado tendo por base dois enfoques principais: o
primeiro apoia-se na identificação da demanda do
geoturismo, contemplando-se as principais atrações paisagens, afloramentos, pontos geológicos,
geomorfológicos e paleontológicos notáveis em
unidades de conservação, municípios, paisagens com
abrangência restrita e/ou em simples afloramentos,
todos com significativa visitação e, portanto, com
demandas por explicação geológica mais acurada. O
segundo caminho, em contínuo desenvolvimento e
aprimoramento, segue a confecção e o preenchimento
de um banco de dados (Figura 15) com informações das
características geológicas, geomorfológicas e
paleontológicas, com informações acerca da
identificação e da localização, além de informações sobre
outras observações a respeito dos sítios selecionados.
Esse banco de dados serve para a quantificação
e a classificação dos geossítios paranaenses. Sua
elaboração embasou o desenvolvimento de projetos de
roteiros geoturísticos, especificamente os roteiros
denominados de "Geoturismo na Rota dos Tropeiros",
"Geoturismo em Curitiba" e "Geoturismo no Karst", os
dois últimos na região metropolitana de Curitiba.
13
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
Figura 15 – Modelo de ficha eletrônica utilizada para alimentar o banco de dados que permite inventariar o patrimônio geológico e
paleontológico do estado do Paraná
Antes da definição de ações de conservação, no
entanto, a Mineropar experimentou disseminar
conhecimento, o que a permitiu entender que, em se
tratando de monumentos naturais, membros de uma
dada população instruídos e educados para a valoração
de um monumento geológico adquirem rapidamente o
sentido de sua preservação.
Dessa maneira, para que servisse de elementos
concretos para a própria disseminação do conhecimento,
a Mineropar confeccionou e colocou à disposição de
turistas e potenciais turistas, os seguintes produtos: (a)
painéis geológicos; (b) folhetos geológicos e (c) roteiros
geoturísticos, os quais foram disponibilizados tanto
fisicamente quanto digitalmente.
2.5.2. Painéis e folhetos geológicos
Os painéis e folhetos servem como material de
distribuição local nos sítios geoturísticos, despertando a
atenção de turistas para o patrimônio geológico e a
necessidade de cuidados com sua preservação e
conservação. O conteúdo dos painéis e folhetos fornece
explicações geológicas que abrangem, por exemplo,
áreas maiores como é o caso de todo o território do
município de Tibagi (Sítio Geológico de Tibagi); de áreas
mais restritas, que podem englobar porções de um ou
mais municípios, por exemplo, o Parque Estadual de Vila
Velha (Sítio Geológico Parque Estadual de Vila Velha), ou
tão somente afloramentos notáveis, como, por exemplo,
o Sítio Geológico Estrias Glaciais de Witmarsum e até
uma paisagem específica, como a Serra do Mar.
A observação continuada do programa permitiu
concluir que os produtos gerados têm tido grande
eficácia para a divulgação do patrimônio geológico e a
disseminação da informação geocientífica.
A implantação dos painéis seguiu a experiência do
Projeto "Caminhos Geológicos" do DRM-RJ. No estado do
Paraná foram implantados pela Mineropar 48 painéis em
21 diferentes geossítios, quase todos com dimensões de
200cm x 120cm (Figura 16). Nesses painéis,
confeccionados com adesivo de alta aderência sobre
chapa metálica, está descrita a geologia e a
geomorfologia do local de interesse, bem como aspectos
relevantes do ponto de vista turístico.
14
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
Figura 16 – Exemplo de Painel Geológico. Sítio geológico Cratera de Impacto de Vista Alegre, município de Coronel Vivida – PR.
Por sua vez, os folhetos geológicos estão
relacionados aos painéis, contendo as mesmas
informações, ou seja, os folhetos permitem que o
visitante tenha em mãos as informações do painel,
permitindo que as leve após sua visita ao sítio. Por outro
lado, o folheto tem servido como material que desperta a
atenção de potenciais turistas que ainda não visitaram
determinado sítio, nesse caso servindo inicialmente
como elemento de propaganda e estímulo tanto quanto
de informação.
Na elaboração, tanto dos painéis quanto dos
folhetos, foram tomados cuidados para o correto
dimensionamento do volume de informações, para fazer
com que o texto prenda a atenção do usuário. Para tanto
foi necessário definir uma adequada densidade de
informações, evitando-se o "didatismo" e que o
conteúdo exposto apresente uma redução de conteúdo
para torná-lo simples demais.
2.5.3. Roteiros Geoturísticos
São roteiros geológicos direcionados para a
educação e para o turismo. Devido a dificuldades em
atrair o cidadão leigo em geociências diretamente para
roteiros geológicos/geoturísticos específicos, uma boa
alternativa é compor roteiros adaptados a roteiros
turísticos já implantados e em funcionamento, como
fator de agregação de valor. Tal estratégia foi assumida
pela Mineropar que a considera eficiente, havendo
inclusive a implantação de alguns roteiros para o
atendimento de demandas de cursos de capacitação
para um público bem diverso, como professores da rede
de ensino médio e fundamental, guias e condutores de
turismo e sociedade em geral.
Um dos exemplos mais didáticos trata-se do
"Roteiro Geoturístico de Curitiba" (Liccardo et al. 2008),
publicado em forma livro guia, cujo conteúdo abrange
diversos pontos turísticos notáveis da cidade onde a
geologia e/ou a geomorfologia constituem fator
determinante da visitação, como por exemplo antigas
pedreiras transformadas em parques municipais, que
constituem geossítios científicos importantes.
Outros roteiros que podem ser mencionados,
como importante experiência cognitiva e científica, são
aqueles denominados de "Geoturismo na Rota dos
Tropeiros" localizada na Bacia do Paraná e nos Campos
Gerais no Paraná e que abrange um produto turístico
consolidado no estado; "Geoturismo no karst
paranaense", que se trata de um produto adaptado a três
circuitos turísticos na região metropolitana de Curitiba e
que, inclusive, aproveita para mostrar a problemática da
ocupação urbana do karst, região reconhecidamente
frágil do ponto de vista geotécnico.
2.5.4. Divulgação e Conservação
A divulgação do patrimônio geológico para a
sociedade, tanto em linguagem científica quanto mais
popular, é decisiva para a sua valorização e conservação.
Deste modo, a MINEROPAR tem colocado o geoturismo
como um programa importante, pois é através dele que a
instituição tem conseguido divulgar a geologia para a
15
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
sociedade em geral, sensibilizando-a para a importância
da geoconservação.
Ao mesmo tempo o programa aponta para a
necessidade de cuidados adicionais com geossítios muito
vulneráveis, como determinados afloramentos
fossilíferos e de minerais, onde até a coleta, de forma
descuidada ou errônea do material para pesquisa,
poderia prejudicar de forma irremediável estes
geossítios.
Em função desse necessário cuidado e em
atenção à necessidade de preservação e valorização de
determinados geossítios, a MINEROPAR, em conjunto
com prefeituras, encaminhou para o Conselho do
Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná (CEPHA – PR),
órgão vinculado à Secretaria de Estado da Cultura - PR
três propostas para a política de tombamento. O
primeiro geossítio tombado foi uma pedreira desativada
no município de Coronel Vivida (PR) com área
aproximada de 10.000m2, situada no centro da Cratera
de Vista Alegre, astroblema com diâmetro de 9,5km,
onde afloram estruturas que comprovam a colisão de um
corpo celeste com a Terra (Crósta et al. 2011). Além da
importância para a geoconservação, este tombamento
causou a valorização do referido geossítio com a
formalização de projetos de infraestrutura para receber
visitantes. O outro geossítio tombado é um lajeado de
arenito (Grupo Itararé) com 50 m2 (Figuras 17 e 18), onde
estão impressas estrias glaciais formadas durante a
glaciação permocarbonífera na Bacia do Paraná,
denominada de “Estrias Glacias de Witmarsum”, já
transformada em produto turístico e com medidas de
geoconservação tomadas pela própria comunidade. O
terceiro sítio tombado pelo CEPHA igualmente é um
lajeado de arenito, pertencente à Formação Furnas
(Bacia do Paraná) na região da serrinha de São Luiz do
Purunã, onde estão impressos rastros de vermes
(icnofósseis) bastante preservados e que possuem
grande interesse paleontológico. Há um quarto geossítio
paleontológico em processo de tombamento que é um
importante afloramento de fósseis de pterossauros em
Cruzeiro do Oeste - PR.
Portanto, em geoconservação, o programa tem
atuado na política convencional, ou seja, a dos processos
de tombamento vinculados a instituições
governamentais. A experiência mostrou que para os
geossítios que não estejam em unidades de conservação
o regime de tombamento é uma boa política de
valorização e preservação do geossítio.
Figura 17 – Estrias Glaciais de Witmarsum. Afloramento
tombado pelo CEPHA – PR
Figura 18 – Estrutura implantada para a conservação e
divulgação do geossítio.
16
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
2.6. Caminhos Geológicos da Bahia
O Projeto Caminhos Geológicos da Bahia foi o
resultado de reuniões informais mantidas durante o ano
de 2002 por geólogos da PETROBRAS e da CPRM - Serviço
Geológico do Brasil. Uma vez que alguns desses geólogos
eram sócios da Sociedade Brasileira de Geologia e
mesmo membros da diretoria do Núcleo Bahia/Sergipe,
esta Sociedade também passou a participar do projeto.
O plano inicial do projeto era viabilizar a
implantação de cerca de 30 painéis distribuídos ao longo
das rodovias BR-324 (Salvador- Feira de Santana), BR101
(Conceição do Jacuípe - Alagoinhas), BR-110 (Simões
Filho-Alagoinhas) e BA-093 (Entre Rios - Pojuca). Estas
rodovias propiciariam a divulgação dos conhecimentos
básicos sobre a Bacia Sedimentar do Recôncavo.
Adicionalmente seriam colocadas cerca de 50 placas
secundárias para sinalização dos painéis.
Para a execução deste projeto, foi formada uma
comissão composta de um coordenador geral, um
conselho editorial com cinco membros e uma equipe de
produção e apoio com três membros; os autores das
informações a serem apresentadas nas placas seriam
convidados de entidades externas ao projeto.
Posteriormente o objetivo do projeto foi ampliado para a
confecção de 36 placas a serem implantadas até o ano de
2009, em locais distribuídos por todo o estado da Bahia.
A primeira placa foi inaugurada no dia 4 de abril
de 2004, entre o Mercado Modelo e o Elevador Lacerda,
em Salvador (Figuras 19 e 20).
Figura 19 – Painel dedicado à falha de Salvador..
Figura 20 – Elevador Lacerda que liga os blocos alto e baixo da
falha.
Antes da inauguração uma equipe desceu de
“rappel” o Elevador Lacerda. A CPRM- Serviço Geológico
do Brasil produziu e distribuiu um folder resumindo as
informações contidas no painel interpretativo.
A segunda placa foi inaugurada alguns meses
depois na fonte do Dique do Tororó. De acordo com o
folder distribuído, as águas da fonte do Dique teriam sido
utilizadas desde o século XVIII e a fonte seria de um tipo
específico (fonte de vale). Os autores convidados para a
elaboração desta placa foram professores do Instituto de
Geociências da Universidade Federal da Bahia.
Em abril de 2005 foram inauguradas mais duas
placas: no Serrano, na cidade de Lençóis, e no Posto Pai
Inácio em frente ao morro homônimo, no município de
Palmeiras . As Figuras 21 e 22 reproduzem o folder
distribuído na ocasião.
Figura 21 – Frente do folder patrocinado pela CPRM e
distribuído durante a inauguração da placa do Serrano, em
Lençóis, Bahia.
1
Luiz Rogério Bastos Leal e Joana Angélica Luz
A elaboração do texto da placa do Serrano contou com a colaboração da Prof. Marjorie C. Nolasco da Universidade Estadual de Feira de
Santana e o da placa do Posto Pai Inácio foi redigido pelo geólogo Antonio Jorge Magalhães, da Petrobras, em colaboração com o geólogo
Augusto J. Pedreira da CPRM.
2
17
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Figura 22 – Verso do folder patrocinado pela CPRM e distribuído
durante a inauguração da placa do Serrano, em Lençóis, Bahia.
Finalmente, em junho de 2005, foi implantada
uma última placa, dedicada à deriva continental. O local
escolhido foi o Aeroclube Plaza Show, um “Shopping
Center”, localizado à beira-mar na praia de Piatã
(Salvador). As Figuras 23 e 24 mostram o folder
distribuído na inauguração da placa.
Apesar da assinatura de um memorando de
entendimento entre os representantes da PETROBRAS,
SBG e CPRM por ocasião da inauguração da primeira
placa, o projeto não teve apoio institucional. Por causa
disso, nunca houve contatos prévios com as
comunidades onde as placas seriam instaladas.
Em consequência, as placas foram sendo
destruídas, removidas ou abandonadas: a placa da Falha
de Salvador, já bastante deteriorada foi removida pela
PETROBRAS para consertos; a placa do Dique do Tororó,
simplesmente desapareceu; a placa do Serrano foi
destruída pela comunidade; a do morro do Pai Inácio,
derrubada por uma tempestade e não recolocada e,
finalmente, a da deriva Continental, abandonada e
destruída juntamente com o Aero Clube Plaza Show.
O projeto tinha outros desdobramentos
previstos, como a “Cidade da Geologia” e apoio à
confecção de material de divulgação da geologia para ser
utilizado durante o 43º Congresso Brasileiro de Geologia.
Para o desenvolvimento do primeiro projeto foi escolhida
a cidade de Jacobina, em 2002, por suas características
regionais estratigráficas, sedimentológicas, estruturais,
petrológicas, geoeconômicas e tradição mineira. Este
projeto, sequer saiu do papel.
Finalmente, o último projeto consistiu na
preparação de papeis de bandeja para serem distribuídas
nos “Shopping Centers” e outros estabelecimentos da
cidade de Aracaju, durante a realização do 43º Congresso
Brasileiro de Geologia. Foram preparados cinco modelos
ilustrando fenômenos geológicos (Figura 25), e
financiados por empresas privadas, com os seguintes
temas: Terremoto, Tsunami, Vulcão, Petróleo e Gás e O
Ciclo da Água.
Figura 23 – Frente do folder, patrocinado pela CPRM e
distribuído durante a inauguração da placa no Aeroclube Plaza
Show.
Figura 25 – Papel de bandeja / mini-toalha distribuído durante o
43º Congresso Brasileiro de Geologia, em Aracaju-SE.
Figura 24 – Verso do folder, patrocinado pela CPRM e
distribuído durante a inauguração da placa no Aeroclube Plaza
Show.
O Projeto Caminhos Geológicos da Bahia,
mesmo antes da disseminação de conhecimentos acerca
de patrimônio geológico, geodiversidade,
geoconservação e geoturismo, foi pioneiro neste aspecto
na região. Entretanto por falta de apoio federal, estadual
ou municipal, foi paralisado, estando em estado latente.
Havendo tal apoio ele poderá ser reativado, aproveitando
18
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
a extraordinária geodiversidade do estado da Bahia.
2.7. Monumentos Geológicos do Rio Grande do Norte
O Instituto de Desenvolvimento Sustentável e
Meio Ambiente do RN - IDEMA/RN criou, no início de
2006, o projeto Monumentos Geológicos do Rio Grande
do Norte e a partir daí firmou um convênio com a
PETROBRAS/CEFET/FUNCERN, estabelecendo para a sua
execução uma parceria em conjunto com a CPRM –
Serviço Geológico do Brasil e a Universidade Federal do
Rio Grande do Norte - UFRN, no intuito de contar um
pouco da história geológica potiguar através de painéis
explicativos.
A parceria com geólogos, professores e
pesquisadores da UFRN, CPRM (Núcleo de Natal –
NANA), PETROBRAS e CEFET (atual IFRN) permitiu o
levantamento dos dados e a geração das informações
científicas para a confecção dos painéis interpretativos
úteis para levar a sociedade o entendimento acerca da
evolução geológica do Rio Grande do Norte.
O objetivo do projeto foi propiciar a divulgação
das geociências, dos seus monumentos, para
proporcionar uma série de fatores, como: i) reconhecer e
preservar os monumentos geológicos do Estado; ii)
divulgar o conhecimento geológico entre as
comunidades; iii) fortalecer o potencial geoturístico da
re g i ã o e i v ) i n c e nt i va r o d e s e nvo l v i m e nto
socioeconômico relacionado com a geologia.
Figura 26 – Exemplos de sítios geológicos escolhidos para
sinalização geoturística no RN. Dunas de Jenipabu (em
Extremoz). Fotos: Alenuska.
Figura 27 – Exemplos de sítios geológicos escolhidos para
sinalização geoturística no RN. Dunas do Rosado (em Porto do
Mangue). Foto: IDEMA.
Figura 28 – Exemplos de sítios geológicos escolhidos para
sinalização geoturística no RN. Pico do Cabugi (em Angicos).
Foto: Marcos Nascimento.
Figura 29 – Exemplos de sítios geológicos escolhidos para
sinalização geoturística no RN. Granito de Acari (em Acari).
Foto: Marcos Nascimento.
19
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
A meta foi confeccionar painéis informativos
com conteúdo didático sobre geologia, geomorfologia,
petrologia, paleontologia, arqueologia e espeleologia,
contendo nestes um título, mapa de localização,
explicação em um texto em português de fácil
entendimento (e uma versão resumida em inglês) e os
aspectos da evolução geológica de cada ponto
selecionado.
No primeiro momento do projeto, foi
selecionado em conjunto pelo IDEMA/RN, CPRM e UFRN,
um total de 16 pontos de interesse geológico para
colocação dos painéis. Os monumentos escolhidos
foram:
a) No Litoral: Morro do Careca, Parque das
Dunas, Dunas de Jenipabu (Figura 26), Dunas do Rosado
(Figura 27), Arenitos Praiais, Recifes de Corais e Falésias
de Pipa;
b) No Interior: Pico vulcânico do Cabugi (Figura
28), Caverna de Pedra de Martins, Granito de Acari
(Figura 29), Lajedo de Serra Caiada, Lajedo de Soledade,
Tanques Fossilíferos de São Rafael, Mina Brejuí,
Pegmatitos de Parelhas e Poço 9-MO-13-RN (primeiro
poço produtor de óleo na Bacia Potiguar).
Paralela à implantação desses painéis foram
também elaborados cartões-postais úteis para uma
divulgação mais ampla desses monumentos geológicos.
Essa iniciativa, pioneira no Brasil, está recebendo elogios
de pessoas interessadas no assunto e coordenadores de
projetos co-irmãos. Além disso, também foram
elaborados os painéis itinerantes, contendo as mesmas
informações e imagens dos painéis colocados ao lado dos
monumentos geológicos. Estes servem para levar à
sociedade todas as informações sobre cada monumento
sendo muito utilizado em feiras e exposições pelo Estado
do Rio Grande do Norte.
Figura 30 – Outras formas de divulgação das geociências no
âmbito do Projeto Monumentos Geológico do Rio Grande do
Norte. Espaço Ecológico criado em um Shopping de Natal,
expondo as diferentes ações realizadas pelo IDEMA no Estado,
com destaque para a Exposição Monumentos Geológicos do Rio
Grande do Norte e seus painéis itinerantes.
Figura 31 – Outras formas de divulgação das geociências no
âmbito do Projeto Monumentos Geológico do Rio Grande do
Norte. Visitante admirando os diferentes cartões-postais com
imagens da geodiversidade potiguar. Foto: Marcos Nascimento.
A exemplo de estados como Rio de Janeiro,
Paraná e Bahia, o Rio Grande do Norte tornou-se o quarto
Estado brasileiro a criar um programa específico para
proteção dos monumentos geológicos e divulgação
destes para a sociedade.
2.8. Projeto Monumentos Geológicos do Estado de São
Paulo
As primeiras ações bem sucedidas de
sinalização/divulgação do patrimônio natural geológico
no Estado de São Paulo ocorreram com a criação dos
Parques Municipais “Rocha Moutonnée” (1991) e
“Varvito de Itu” (1995), localizados respectivamente nas
cidades paulistas de Salto e Itu.
Após devidamente estudados (Rocha-Campos,
2 0 0 2 a , 2 0 0 2 b ) e co n s e r va d o s , a eta p a d e
divulgação/sinalização desse patrimônio contou com a
elaboração de painéis geológicos explicativos e com
placas rodoviárias indicando a atração turística (Figuras
32, 33, 34, 35, 36, 37, 38 e 39).
Atualmente, o Parque da Rocha Moutonneé
passa por reformas que ampliarão seu potencial turístico
e de divulgação da geodiversidade. Com recursos
oriundos do Departamento de Apoio ao
Desenvolvimento das Estâncias (DADE), da Secretaria
Estadual de Turismo, estão previstas, entre outras
melhorias, a adequação das normas de acessibilidade,
construção de auditório, praça cívica, painéis
museográficos, sinalização e totens explicativos das
atrações, bem como a implantação de réplicas de
dinossauros robotizados.
Figura 32 – Sinalização/divulgação do Monumento Geológico
Varvito de Itu: Painel Rodoviário (fonte: acervo IG/SMA – dez.
2009)
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Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
Figura 36 – Sinalização / divulgação do Monumento Geológico
Rocha Mountonneé: Painel Rodoviário (fonte: acervo IG/SMA –
dez. 2009).
Figura 33 – Sinalização/divulgação do Monumento Geológico
Varvito de Itu: Painéi geológico referente ao geossítio Varvito
de Itu, existente no Parque Municipal do Varvito, Itu (SP)
(Fonte: Acervo IG/SMA – dez. 2009).
Figura 37 – Sinalização / divulgação do Monumento Geológico
Rocha Mountonneé: Painel Rodoviário (fonte: acervo IG/SMA –
dez. 2009).
Figura 34 – Sinalização/divulgação do Monumento Geológico
Varvito de Itu: Painéi geológico referente ao geossítio Varvito
de Itu, existente no Parque Municipal do Varvito, Itu (SP)
(Fonte: Acervo IG/SMA – dez. 2009).
Figura 38 – Sinalização / divulgação do Monumento Geológico
Rocha Mountonneé: Totem de entrada do Parque Municipal
Rocha Mountonneé, Salto (SP), confeccionado com o famoso
granito róseo de Itu.
Figura 35 – Sinalização/divulgação do Monumento Geológico
Varvito de Itu: Painéi geológico referente ao geossítio Varvito
de Itu, existente no Parque Municipal do Varvito, Itu (SP)
(Fonte: Acervo IG/SMA – dez. 2009).
Figura 39 – Sinalização / divulgação do Monumento Geológico
Rocha Mountonneé: Painéis geológicos (Fonte: Acervo IG/SMA
– dez. 2009).
21
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
No governo do Estado, as primeiras políticas de
divulgação do patrimônio geológico também datam da
década de setenta, especialmente com a publicação do
Decreto Estadual nº 11.138/78. Este documento
colocava sob a égide da antiga Divisão de Proteção de
Recursos Naturais (DPRN) e do Instituto Geológico (IG) as
atribuições de manutenção dos “serviços de conservação
de monumentos geológicos naturais para fins científicos
culturais e turísticos” (artigo 436, VII – grifo nosso).
Posteriormente, já na década de oitenta, as ações de
divulgação do patrimônio foram reunidas e repassadas
definitivamente ao Instituto Geológico, agora integrante
da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SMA), por
meio da criação da Seção de Monumentos Geológicos
(Decretos Estaduais nº 24.931/86 [art. 10°, III] e n°
26.942/87 [art. 1°]).
No âmbito da Seção de Monumentos
Geológicos foi desenvolvido o Projeto Monumentos
Geológicos de São Paulo, importante instrumento criado
para a divulgação do patrimônio geológico paulista. O
projeto foi apresentado no dia 27 de março de 2009, na
sede do IG, durante a celebração dos 123 anos de criação
da Commissão Geographica e Geológica (CGG) da então
Província de São Paulo. Nesta mesma data também se
comemora o aniversário do IG, visto que o instituto é
oriundo da referida Comissão.
Ainda em andamento, este instrumento tem
como principal objetivo promover o registro, o
conhecimento, a conservação e a divulgação do
patrimônio geológico do Estado de São Paulo, abordando
a geodiversidade como arcabouço fundamental da
biodiversidade.
Alguns produtos deste projeto voltados
especificamente para a divulgação/sinalização do
patrimônio geológico são: a sua logomarca, os primeiros
marcadores de página da série “Monumentos
Geológicos de São Paulo", folderes, bloco de notas,
cartões postais, etc. (Figuras 40, 41, 42, 43, 44 e 45).
Figura 40 – Primeiros produtos do Projeto Monumentos
Geológicos de São Paulo: Logomarca.
Figura 41 – Primeiros produtos do Projeto Monumentos
Geológicos de São Paulo: Marcadores de página.
Figura 42 – Primeiros produtos do Projeto Monumentos
Geológicos de São Paulo: Folder de divulgação Secretaria de
Estado de Lazer e Turismo.
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Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
No final de 2012, foram lançados os primeiros
painéis geoturísticos com o objetivo de divulgar o
patrimônio geológico paulista. Trata-se de painéis
autoexplicativos e didáticos que contam a origem
geológica e geomorfológica do geossítio denominado
“Morro do Diabo”, localizado no município paulista de
Teodoro Sampaio (Figuras 46 e 47). Os painéis reuniram
instituições públicas e universitárias paulistas para sua
elaboração e implantação
Figura 46 – Primeiros painéis elaborados no âmbito do Projeto
Monumentos Geológicos de São Paulo referentes ao geossítio
“Morro do Diabo”, sito no município de Teodoro Sampaio (SP).
Figura 43 – Primeiros produtos do Projeto Monumentos
Geológicos de São Paulo: Bloco de notas.
Figura 44 – Primeiros produtos do Projeto Monumentos
Geológicos de São Paulo: Cartão postal do Monumento
Geológico Carste e Cavernas do PETAR.
Figura 45 – Primeiros produtos do Projeto Monumentos
Geológicos de São Paulo: Cartão postal do Monumento
Geológico do Astroblema de Colônia.
Figura 47 – Primeiros painéis elaborados no âmbito do Projeto
Monumentos Geológicos de São Paulo referentes ao geossítio
“Morro do Diabo”, sito no município de Teodoro Sampaio (SP).
Em 2009 foi criado, por meio da Resolução SMA
nº 076/2009, o Conselho Estadual de Monumentos
Geológicos (CoMGeo-SP), junto à Secretaria de Estado de
Meio Ambiente. O CoMGeo-SP, de caráter consultivo,
tem com principal objetivo auxiliar, no âmbito da SMA, as
ações e atividades que envolvam a pesquisa,
conservação e divulgação dos Geossítios e Monumentos
Geológicos de São Paulo (grifo nosso). É composto pelo
Secretário do Meio Ambiente (que é seu presidente),
pelo diretor do IG, pelo chefe da Seção de Monumentos
Geológicos (que é o Secretário Executivo) e por outros 16
Conselheiros, reconhecidos pela atuação nos temas
relacionados aos Geossítios e Monumentos Geológicos
(Figura 48).
Além do Varvito de Itu, e da Rocha Mountonnée,
outros quatro geossítios compõe os seis monumentos
geológicos declarados pelo CoMGeo-SP até abril de 2013:
23
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
Carste e Caverna do PETAR, Cratera de Colônia, Geiseritos
do Anhembi e Pedra do Baú.
Figura 48 – Reunião Ordinária do CoMGeo-SP – Sede SMA/SP.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quanto aos aspectos metodológicos, entendese que:
a) para gerar uma ação sistemática de
conservação do patrimônio geológico de um território é
necessário categorizar os sítios de interesse, apoiando-se
no inventário realizado para, então, definir as medidas de
conservação, que necessariamente devem seguir uma
ordem sequencial.
b) para o desenvolvimento de projetos desta
natureza, o método ideal é a implantação dos painéis em
decorrência da finalização do inventário do patrimônio
geológico local, seja a área de um município ou de todo o
estado. Apesar disto, geossítios notáveis no estado do
Paraná, de grande relevância geológica e/ou paisagística
já comprovada pelo histórico de demanda turística,
foram contemplados com os painéis de forma
concomitante à confecção do inventário.
c) é fundamental a avaliação pedagógica do
material dos painéis, buscando sua continua evolução.
Para tanto, conclui-se pela necessidade de solicitar que,
tanto leigos no conhecimento geológico quanto
profissionais com experiência em redação em
geociências, opinem sobre o conteúdo gráfico e textual
do material.
d) a disseminação do conhecimento por
intermédio dos materiais produzidos são mais efetivos
quando acompanhados por cursos de capacitação de
monitores e/ou guias. Ou seja, tal ação deve estar
prevista em todas as atividades anteriormente
mencionadas, seja na elaboração de roteiros ou na
simples implantação de painéis e folhetos em áreas que
permitem a sua realização, como municípios ou unidades
de conservação. Estes cursos multiplicaram a informação
geológica para a sociedade local, amplificando ainda
mais dois dos objetivos principais do programa, que é a
educação e conservação do patrimônio geológico.
De modo mais geral, fica claro que existe um
amplo espaço para desenvolvimento dos projetos de
geoturismo e divulgação do patrimônio geológico para a
sociedade e que este espaço vem sendo ocupado pelos
serviços geológicos e entidades afins de âmbito estadual.
Os relatos apresentados demonstram esta tendência
positiva. Acredita-se, pelas notícias que chegam a partir
da participação nos diversos eventos realizados pelo país,
que novos projetos estejam por despontar em breve. Por
outro lado, o exemplo da Bahia demonstra a clara
necessidade de que haja uma organização responsável
pela implantação e manutenção dos painéis.
Observa-se, também, que as unidades de
conservação são lugares especiais para a implantação
deste tipo de sinalização, propiciando a divulgação da
geodiversidade em conjunto com a biodiversidade.
Um aspecto a ser ainda mais discutido e
considerado é que um projeto de sinalização sistemática
possui um desdobramento muito maior do que a
disponibilização de equipamentos de geoturismo. Ele
também propicia a participação comunitária e
certamente o desenvolvimento de projetos
educacionais. Esta inserção necessita ser aproveitada ao
máximo.
Por fim, considera-se, ainda, que o maior
obstáculo a ser superado é a comunicação com a
sociedade. Para tanto, precisa-se avançar no
conhecimento sobre o usuário dos painéis
interpretativos. É necessária, portanto, a realização de
pesquisas sobre o público-alvo e planejamento prévio da
interpretação, ou seja, deve-se melhorar cada vez mais a
comunicação para despertar o interesse do usuário /
visitante.
24
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
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Manuscrito ID 31729
Submetido em abril de 2013
Aceito em julho de 2013
27
boletim paranaense
de geociências
volume 70 (2013) 28 - 40
Valoración del patrimonio geológico en Europa
Valuation of geoheritage in Europe
LUIS CARCAVILLA1, ENRIQUE DÍAZ-MARTÍNEZ1 , LARS ERIKSTAD2 , ÁNGEL GARCÍA-CORTÉS1.
1
Instituto Geológico y Minero de España (IGME) - [email protected] - [email protected] - [email protected]
2
Norwegian Institute for Nature Research (NINA) - [email protected]
Resumen
Los orígenes del estudio del patrimonio geológico en Europa se sitúan en la segunda mitad del siglo XX, si bien mucho antes ya se habían
puesto en marcha iniciativas para la protección de enclaves singulares de interés estético. Desde entonces, cada una de las 50 naciones
europeas ha diseñado distintas estrategias y mecanismos para el estudio y conservación del patrimonio geológico, con diferente grado de
desarrollo y avance. Este ha dependido generalmente de la iniciativa de los geocientíficos pero también del interés mostrado por las
administraciones competentes en conservación del patrimonio natural, de manera que, aunque cada país tiene su problemática
particular, hay muchas situaciones comunes. Algunos programas globales promovidos desde Europa, como la Red Global de Geoparques y
Global Geosites, han impulsado el inventario y divulgación del patrimonio geológico, si bien a día de hoy no existe una directiva europea
que promueva la conservación del patrimonio geológico, lo que sin duda impulsaría definitivamente la geoconservación en todos lo
estados. Algunos países pueden servir de ejemplo al destacar en la elaboración de inventarios nacionales, en la legislación o en el diseño
de metodologías para la geoconservación, pero en términos generales, el patrimonio geológico en Europa siempre ha ido a remolque de
las iniciativas de conservación de la biodiversidad. Aún queda mucho camino por recorrer para desarrollar sistemas de valoración y
estrategias de geoconservación en todos los países.
Palabras clave: Europa; geodiversidad; geoconservación; patrimonio geológico.
Abstract
Although the origins of geoheritage studies in Europe date back to the second half of the 20th century, many initiatives had been
implemented long time before but towards the protection of unique sites with aesthetic interest. Since then, each of the 50 European
nations has designed and implemented different strategies and methodologies towards the study and conservation of geoheritage, but
with different degrees of development and advance. This has generally relied on the geoscientists initiative, but also the interest shown by
public administrations in the conservation of natural heritage, so that, even if each country has its own specific problems, there are also
many common situations. Some global programs promoted from Europe, such as the Global Geopark Network and Global Geosites, have
promoted inventories and public outreach on geoheritage. Nowadays, there is not a common European directive promoting the
conservation of geoheritage, which would certainly promote geoconservation. Some countries may serve as examples of the
implementation of national inventories, legislation or design of methodologies towards geoconservation, but in general terms,
geoheritage in Europe has always gone behind biodiversity conservation initiatives. There is still much to be done in order to develop
geoheritage assessment systems (valuing) and geoconservation strategies in all countries.
Key words: Europe; geoconservation; geodiversity; geoheritage.
1. INTRODUCCIÓN
Los orígenes del estudio del patrimonio
geológico en Europa se sitúan en la segunda mitad del
siglo XX, cuando tuvieron lugar diversas iniciativas
puntuales, generalmente basadas en experiencias
concretas de geoconservación en afloramientos
emblemáticos realizadas incluso décadas antes. En cada
una de las 50 naciones europeas se han diseñado
distintas estrategias y mecanismos para el estudio y
conservación del patrimonio geológico, con diferente
grado de desarrollo y avance en función del interés
mostrado por las administraciones competentes y de los
recursos disponibles. Desde el continente europeo se
han promovido diversas declaraciones, programas y
recomendaciones con el ánimo de impulsar la
conservación del patrimonio geológico y, aunque cada
país tiene su problemática particular, sí hay muchas
situaciones comunes. Algunos programas, como el de la
Red Global de Geoparques (GGN, de sus siglas en inglés),
sirven de impulso para el inventario, conservación y
divulgación del patrimonio geológico, pero es a escala
nacional donde más énfasis debería hacerse, ya que
actualmente no existe una directiva europea que
fomente la conservación del patrimonio geológico, como
sí existe para la biodiversidad. Así que, en términos
generales, y a pesar de lo mucho que se ha avanzado en
esta materia, se puede seguir afirmando que la
conservación del patrimonio geológico en Europa no está
generalizada y que, a pesar de los importantes avances en
las últimas décadas, aún queda mucho camino por
28
Carcavilla et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 28-40
recorrer para implantar sistemas eficientes de valoración
y de geoconservación.
2. ORÍGENES DEL ESTUDIO DEL PATRIMONIO
GEOLÓGICO Y LA GEOCONSERVACIÓN EN EUROPA
El estudio del patrimonio geológico figura entre
las más recientes áreas de investigación incorporadas al
ámbito de la Geología. Es el resultado de una nueva
manera de entender los recursos geológicos como bienes
con interés científico y cultural que deben ser protegidos
y que pueden ofrecer interesantes posibilidades para el
desarrollo local. Por ello, el estudio del patrimonio
geológico es cada vez más multidisciplinar, incorporando
en su gestión aspectos relacionados con la legislación, los
espacios protegidos, el turismo o la economía. El objetivo
final del estudio del patrimonio geológico es promover su
conservación, más aún teniendo en cuenta que la
mayoría de los enclaves de alto valor geológico son
recursos no-renovables, por lo que su destrucción es
irreversible. Por ello, desde hace unos años se habla de
geoconservación, en referencia a las técnicas de
conservación del patrimonio geológico, que a menudo
difieren de las utilizadas en otros aspectos del medio
natural.
A pesar de los importantes avances realizados
en Europa en las últimas décadas, todavía hay claras
deficiencias en el desarrollo metodológico acerca del
patrimonio geológico, su estudio sistemático, e incluso el
reconocimiento general en el propio colectivo de
estudiosos de las Ciencias de la Tierra. Se puede afirmar
que el patrimonio geológico es el gran olvidado en la
protección del medio ambiente en la actualidad. Incluso
se lo sigue considerando como la “cenicienta” de las
políticas de conservación de la naturaleza, pues es, a
menudo, eclipsada por el interés suscitado por los
aspectos bióticos del medio natural. A pesar de su
innegable valor, es una constante en Europa que su
protección ha ido siempre a remolque de los pasos dados
en materia de conservación del medio biótico. Sin
embargo, desde hace unas décadas, el panorama
nacional e internacional está cambiando. Las principales
entidades científicas geológicas se han ido haciendo eco
de la necesidad de conservar el patrimonio geológico, e
incluso han creado comisiones y grupos de trabajo ad
hoc. Han surgido asociaciones específicas orientadas al
estudio del patrimonio geológico, e incluso la atención al
patrimonio geológico empieza a ser participativa y surge
como iniciativa de entidades locales y de voluntarios. Y lo
que es más importante, diversos países han impulsado
los inventarios nacionales y han promulgado leyes
específicas para la conservación del patrimonio
geológico o con mención explícita dentro de leyes de
patrimonio natural. El objetivo del presente trabajo es
realizar un repaso a esta evolución y, sobre todo, a los
conceptos y diversas interpretaciones sobre el
patrimonio geológico.
El estado de los estudios, especialmente en
materia de conservación, muestra un avance desigual
según los países. Hay casos en los que existe tradición en
el estudio del patrimonio geológico, y otros donde su
avance es muy reciente o escaso. Desde el impulso
nacional se ha pasado al diseño de planes
internacionales, e incluso existen notables experiencias
de acciones participativas de asociaciones no
gubernamentales y de voluntariado, cuyos resultados en
materia de conservación empiezan a ser patentes. En
muchos casos, los términos hasta ahora definidos se
integran en una serie de programas nacionales o
internacionales de patrimonio geológico, siendo
denominados por siglas referidas al proyecto en el que se
inscriben. Se trata, por tanto, de conceptos análogos,
pero que son denominados de diferente manera en
función del marco legal, administrativo o conceptual en
el que se inscriban.
Los trabajos sobre patrimonio geológico y
geoconservación realizados en diversos países europeos
dieron lugar a que en 1988 se reunieran geólogos de siete
países (Austria, Dinamarca, Finlandia, Reino Unido,
Irlanda, Noruega y Holanda) para poner en común sus
ideas y problemáticas. Esta “primera reunión
internacional de geoconservación” incluía entre sus
temas fundamentales cómo afrontar el proceso de
selección y clasificación del patrimonio geológico y su
posterior gestión garantizando su conservación. Esta
primera cita sirvió de base para que se realizaran varias
reuniones más, entre las que destaca la que tuvo lugar en
Digne (Francia) en 1991, y a la que acudieron más de un
centenar de especialistas, incluyendo geólogos de otros
países, como Suiza, Francia, España y Bélgica. Esta
reunión se considera el germen de una verdadera
conciencia geoconservacionista entre los geólogos
europeos. Fruto del trabajo conjunto, surgió en 1991 la
llamada Declaración de Digne (Martini, 1994), que
establece las bases conceptuales y teórica en las que se
basa la geoconservación. A pesar de que han pasado más
de 20 años desde su redacción, sigue vigente y los
principios en los que se inspira siguen siendo válidos. Uno
de los efectos de esta reunión fue que tan sólo dos años
más tarde, en 1993, se creó la Asociación Europea para la
Conservación del Patrimonio Geológico (ProGEO), de la
que hablaremos más adelante.
3. ALGUNAS CARACTERÍSTICAS DE LA
GEOCONSERVACIÓN EN EUROPA
Como ya se ha comentado, aunque cada nación
europea ha llevado su propio camino a la hora de
inventariar, proteger y divulgar su patrimonio geológico,
hay una serie de características comunes que se repiten
de manera sistemática. Cabe destacar que, en muchos
países europeos, los primeros pasos de la
geoconservación son realmente antiguos. Generalmente
se trata de la protección de algunos afloramientos
29
Carcavilla et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 28-40
geológicos singulares, gracias a la mediación de
personajes de la nobleza y realeza de la época. Por
ejemplo, uno de los antecedentes más antiguos es la
emisión de un decreto con fines conservacionistas para
controlar el acceso a la cueva Baumann (Alemania),
emitido en 1668 por el Duque Rudolf August. También en
Alemania, en 1832, se protegió el Drachenfels, cerca de
Bonn, por iniciativa del Príncipe de la corona prusiana
Friederich Wilhelm; en 1840, el rey de Bavaria promovió
la protección de un corte en rocas jurásicas cerca de
Weltenburg; y en 1844 fue protegida una roca
granodirítica llamada Totentein en Sajonia (Röhling,
2012). Pero Alemania no es el único caso. Por ejemplo, en
1856, el conservador del Museo de Linz convenció a la
Figura 1 – Fósil de Archaeopteryx encontrado en las canteras de
caliza litográfica de Solnhofen (Alemania), un KonservatLagerstätte del Jurásico. Los primeros fósiles de Archaeopteryx
se encontraron en estas canteras a finales del siglo XIX.
Asociación Austriaca de Doctores y Científicos para que
comprara un terreno con objeto de evitar que fueran
explotados en cantera unos bloques exóticos de granito
(Hofmann, 2012). También a mediados y finales del siglo
XIX fueron encontrados interesantes ejemplares fósiles
que formaron parte de colecciones de museos (fig.1). Así
que parece que el origen de la preocupación por la
conservación y valoración del patrimonio geológico
surgió de la conciencia conservacionista iniciada en
algunos países a finales del siglo XIX y principios del XX,
que entendía que ciertos enclaves naturales poseen un
notable valor por sí mismos y que, por lo tanto, deben ser
protegidos y conservados.
Dentro de estos iniciales movimientos conservacionistas
del medio natural, fue la protección de ciertos elementos
geológicos la que adquirió mayor relevancia, debido a su
alto valor escénico.
En relación con la protección de lugares
amenazados, la declaración del primer parque nacional
del mundo, el de Yellowstone en Estados Unidos en 1872,
sin duda marcó un modelo de gestión basado en la
declaración de áreas protegidas que tuvo reflejo en los
países europeos. Así, Suecia fue el primer país europeo
en declarar una ley de conservación de la naturaleza en
1909. Otros países se irían sumando posteriormente a
este enfoque creando sus propias leyes de conservación
de la naturaleza, como Noruega en 1910, Estonia en 1916
y España en 1917. Sin embargo, cabe destacar que, en
1837, el rey Leopold I de Bélgica ya había creado la
Comisión Real de Monumentos y Paisajes con
responsabilidad en la protección de monumentos
naturales (Jacobs, 2012). Fruto de estas legislaciones
conservacionistas del patrimonio natural, tuvo lugar una
primera época de protección de lugares de interés
geológico, generalmente enclaves paisajísticos
emblemáticos. Así, en 1919 se protegió el fiordo de Oslo
en Noruega y en 1923 varios bloques erráticos en el
suroeste del país (Erikstad, 2012); en 1920 fueron
protegidos en Holanda un afloramiento del Carbonífero y
un acantilado costero sobre un till llamado
Mirdunmmerklif (Ancker & Jungerius, 2012); y en 1924 se
declaró el Parque Natural Alpino del Mt. Triglav en
Eslovenia (Hlad, 2012). Por su parte, Polonia estableció
en 1926 una comisión de protección de la naturaleza que
dos años más tarde publicó el listado de Monumento
Naturales Inanimados de la República Polaca (Malkowski,
1928; Alexandrowicz, 2012), mientras que en España se
declararon en 1918 sus dos primeros parques nacionales,
ambos con una gran significación geológica, y en 1927
diversos Sitios Naturales de Interés Nacional mediante
los cuales se protegieron enclaves de gran significación
geológica (Carcavilla et al., 2009) (fig.2). Por tanto, son
muchos los países europeos que durante las primeras
tres décadas del siglo XX protegieron enclaves geológicos
singulares, en el marco de una política de protección de la
naturaleza con un cierto aire romántico, dando prioridad
a los paisajes emblemáticos, en una mezcla de
emotividad y admiración por la naturaleza, más que con
un verdadero criterio científico o de representatividad.
La Primera Guerra Mundial (1914-1917) supuso un
paréntesis en esta tendencia pero no una ruptura, como
sí lo fue la Segunda Guerra Mundial, que dejó devastadas
a gran parte de las naciones europeas.
30
Carcavilla et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 28-40
Figura 3 – Reserva Natural de las Aiguilles Rouges (Francia), un
espacio protegido declarado en la década de 1970 por su flora y
fauna, aunque también incluye elementos geológicos de gran
valor.
Figura 2 – Ciudad Encantada de Cuenca (España), un relieve
kárstico que fue protegido en 1929 con objeto de representar la
diversidad geológica española.
En la década de los años 60 y 70 del siglo XX
resurgió en Europa una filosofía conservacionista de que
la actualmente somos herederos. En muchos países se
actualizaron las antiguas leyes de conservación de la
naturaleza y se declararon numerosos espacios
protegidos. Amparados bajo esas leyes, numerosos
lugares de interés geológico fueron protegidos, pero en
casi todos lo casos se trataba de leyes que orientaban sus
acciones a la preservación de la flora y fauna. La geología
y los elementos geológicos perdieron el escaso
protagonismo que habían tenido hasta entonces,
quedando relegados a un segundo plano y siendo
considerados exclusivamente por su aspecto estético o
escénico (fig.3). Si bien la conservación de la
biodiversidad recibió un importante impulso, el
patrimonio geológico, salvo honrosas excepciones como
en Gran Bretaña, fue completamente olvidado. Tanto fue
así, que los modernos esfuerzos por impulsar la
geoconservación en Europa que se han tomado entre los
años 90 y la actualidad, en muchos casos han tenido en
los propios colectivos y entidades de conservación de la
naturaleza su mayor enemigo, pues no entendían que la
geología podía formar parte del patrimonio natural. Sea
por convencimiento, por la intensa labor de difusión
promovida por neocientíficos o por saturación de
espacios naturales de flora y fauna, el caso es que en las
últimas dos décadas el panorama ha ido cambiando,
aunque de manera muy desigual en cada país.
Hoy en día se considera que la gestión del
patrimonio geológico debe basarse en 4 acciones: 1)
realizar inventarios, 2) establecer un marco legal que
apoye la protección del patrimonio geológico, 3) puesta
en marcha de medidas de geoconservación, y 4)
divulgación, difusión y promoción de los valores del
patrimonio geológico (Carcavilla et al., 2007). Y aquí es
donde vienen las mayores diferencias entre los países
europeos, pues cada uno de ellos ha afrontado con
desigual intensidad y eficacia cada una de estas acciones.
Es cierto que prácticamente todos los países cuentan con
un inventario, aunque sea preliminar, de lugares de
interés geológico. Pero son muy distintas las entidades
que los han promovido y, sobre todo, el rango legal que
tienen los lugares incluidos en dichos inventarios. El
espectro varía entre países con inventarios “informales”
promovidos por asociaciones de geocientíficos pero sin
ningún apoyo legal, y entre países que cuentan con
catálogos aprobados por leyes que otorgan una
protección estricta a un número importante de lugares
de interés geológico. Por ejemplo, Bulgaria hizo su primer
inventario nacional el año 1964 con la identificación de
55 lugares de interés geológico, y países como Gran
Bretaña y España dieron sus primeros pasos en la década
de los años 70 del siglo XX, aunque en este último caso no
llegaría a ser completado por motivos presupuestarios.
Por el contrario, otros países han afrontado dichos
inventario en épocas muy recientes. El caso es que
numerosos países cuentan con inventarios más o menos
completos, como Albania que tiene inventariados cerca
de 350 lugares de interés geológico (Serjani, 2012),
Bulgaria que tiene más de 200 lugares de interés
geológico inventariados y cartografiados con criterios
uniformes (Todorov, 2012), Dinamarca que cuenta con un
inventario de cerca de 400 lugares (Holm, 2012),
Eslovaquia con casi 500 (Liscak, 2012) y Rumanía con más
de 200 (Andrasanu, 2012).
31
Carcavilla et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 28-40
Una singularidad de los inventarios realizados
por los diferentes países es que en la clasificación de los
lugares de interés geológico incluidos se han seguido
diferentes sistemas. Si bien en casi todos ellos la
clasificación se ha realizado identificando una serie de
categorías temáticas, existen muchas diferentes. Así,
países con una alta geodiversidad han identificado del
orden de 10 categorías de lugares asociadas a disciplinas
de Ciencias de la Tierra, como estratigrafía,
sedimentología, paleontología, petrología, mineralogía,
tectónica, hidrogeología, históricos, cosmogénicos, etc.
Este es el caso de los inventarios de países como Rusia,
España, Rumanía, Portugal, Italia, Francia o Gran
Bretaña. Por el contrario, en otros países geológicamente
menos diversos, las clasificaciones son más específicas,
como en el caso de Islandia, que define rasgos
geomorfológicos del Pleistoceno, elementos del sustrato
(volcánicos, estratigráficos, petrológicos, mineralógicos y
paleontológicos) y elementos geológicos del Holoceno
(Ásbjörnsdóttir et al., 2012) (fig.4); Holanda incluye sobre
todo formas del terreno, procesos y sedimentos del
Pleistoceno y Holoceno (Ancker & Jungerius, 2012) y
Lituania algo similar, pero vinculados a las glaciaciones
Figura 4 – Zona termal de Geysir (Islandia), sin duda uno de los
lugares de Europa con mayor interés geológico debido a la
combinación de fenómenos volcánicos y tectónicos activos,
unidos al glaciarismo.
cuaternarias (Satkunas et al., 2012). Por otro lado, en
algunos países, algunos rasgos geológicos adquieren
especial protagonismo, por lo que son objeto de una
especial atención. Es el caso de los rasgos kársticos,
especialmente las cavidades, en Eslovaquia, Eslovenia,
Hungría y Croacia (fig.5).
Como ya se ha comentado, la declaración
(protección mediante legislación) de espacios protegidos
es la principal estrategia utilizada para la protección de
elementos geológicos singulares. Este ha sido el
mecanismo utilizado en casi todos los países europeos,
ya que la protección se refiere a un territorio concreto
donde se estipulan una serie de usos permitidos o
prohibidos orientados a garantizar la conservación del
lugar. Las figuras utilizadas con mayor frecuencia son las
de parque nacional, monumento natural, parque natural
o reserva natural, con sus consiguientes modalidades
nacionales. Pero una característica común en la mayoría
de los países europeos es que el hecho de que un
elemento geológico esté incluido dentro de un espacio
protegido no siempre garantiza su conservación, ya que
no siempre los gestores están al corriente de su
existencia e importancia. El patrimonio geológico va al
remolque de la conservación de la biodiversidad y no ha
alcanzado un protagonismo similar. Por otro lado, si se
revisan los porcentajes nacionales de territorio protegido
en cada país se puede apreciar que hay notables
diferencias. Hay naciones como Finlandia que sólo
cuentan con un 8% de su superficie protegida (Kananoja
et al., 2012), lo que contrasta con el 42% de Austria
(Hofmann, 2012). En cualquier caso, estos porcentajes
sólo aportan una información parcial, ya que la presión
sobre el territorio y el porcentaje de suelo ocupado es
muy desigual en los diferentes países, así que un índice
de protección bajo no es necesariamente sinónimo de
una gran presión sobre el medio natural. Una
particularidad es que diversos países europeos incluyen
en sus territorios nacionales regiones de ultramar,
diversificando su red de espacios protegidos de carácter
geológico al incluir elementos de contextos geológicos
muy diferentes (fig.6).
Figura 6 – Conos y coladas recientes en el Piton de la Fournaise,
en la Isla Reunión, una de las regiones de ultramar francesas,
declarada Parque Nacional y World Heritage.
Figura 5 – Isla de Rab (Croacia), con morfologías exokársticas de
muy diverso tipo.
32
Carcavilla et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 28-40
Con respecto a la gestión del patrimonio
geológico, en muchos de los países europeos hay tres
niveles de gobierno: nacional (de todo el país), estatal (de
una región o comunidad) y local (de una comarca,
provincia o municipio). Generalmente, el gobierno
nacional o federal establece una legislación de referencia
y luego los gobiernos estatales pueden adaptarla a su
territorio manteniéndola como está o volviéndola más
restrictiva. Sin embargo, en otros países, la competencia
en materia de conservación de la naturaleza no es
nacional sino sólo estatal, mediante organismos o
agencias específicas. Uno u otro sistema de gestión
tienen sus correspondientes ventajas e inconvenientes
en relación con la geoconservación, ya que la sensibilidad
y predisposición de cada uno de los gobiernos puede ser
muy variable. Por otro lado, los servicios geológicos
europeos también han mostrado una atención desigual
al patrimonio geológico, existiendo ejemplos de alta
implicación, como en el caso del Bureau de Recherches
Géologiques et Minières (BRGM) francés o el Instituto
Geológico y Minero de España (IGME), frente a otros que
no han atendido este tema. El papel de los servicios
geológicos ha consistido en impulsar inventarios,
desarrollar metodologías de inventario, promover
normas legales que amparen la geoconservación,
potenciar actividades de divulgación y promoción del
patrimonio geológico, y participar en programas como el
de geoparques.
4. DOS PROYECTOS EUROPEOS DE DIMENSIÓN
INTERNACIONAL: GLOBAL GEOSITES Y GEOPARKS
Desde diversas naciones europeas se han
promovido en las últimas décadas dos iniciativas globales
para el conocimiento, conservación y divulgación del
patrimonio geológico: los proyectos Global Geosites y
Geoparks. Si bien el primero fue abandonado y no se
llegó a completar, sí ha servido de estímulo a diversos
países para plantear un inventario nacional de lugares de
interés geológico de relevancia internacional, como más
adelante se describirá. Por su parte, los geoparques
surgieron como una iniciativa europea, pero han
sobrepasado este ámbito y son una propuesta global,
bajo los auspicios de la UNESCO, en clara expansión y con
una gran proyección de futuro. A ellos habría que añadir
el programa World Heritage de la UNESCO, que incluye
entre sus bienes aquellos enclaves que poseen
características excepcionales que los convierten en los
ejemplos mundiales en su categoría. Bajo esta figura se
han declarado elementos geológicos tan singulares como
el Volcán Teide (España), la Calzada de los Gigantes
(Irlanda) (fig.7), los travertinos de Plitvice (Croacia) o el
yacimiento paleontológico de Messel (Alemania).
Figura 7 – Calzada de los Gigantes (Irlanda), lugar de interés
geológico declarado Patrimonio Mundial por la UNESCO y que
recibe al año más de 500.000 visitantes.
El proyecto Global Geosites fue puesto en
marcha en 1995 por la Unión Internacional de las Ciencias
Geológicas (IUGS) con el co-patrocinio de la UNESCO. Se
basaba en la idea de que las estrategias de protección del
patrimonio geológico a nivel internacional requieren un
inventario previo. Resulta sencillo comprender la
dificultad de establecer un inventario mundial de los
elementos más sobresalientes del patrimonio geológico
del Planeta, teniendo en cuenta la complejidad del
registro geológico de la tierra y la gran diversidad de
litologías, eventos, paleoambientes, etc, registrados no
solo durante los tiempos geológicos, sino también a todo
lo largo y ancho del mundo. Por ello, se diseñó una
metodología de trabajo que no se dirigía directamente a
la selección de los puntos de interés geológico, sino que
planteaba un paso previo: elegir en cada país unos
contextos geológicos (frameworks) en base a su especial
significado en el registro geológico mundial. En una fase
posterior, para cada uno de estos contextos geológicos,
se seleccionan los puntos de interés más representativos
e ilustrativos del mismo. Este concepto de contexto es
clave y se refiere a cualquier elemento geológico de
escala regional, evento tectónico, metalogenético o de
cualquier otra naturaleza, serie estratigráfica, asociación
paleobiológica, etc. Los puntos de interés geológico o
“geositios” (geosites) no son, por tanto, seleccionados de
forma aislada sino en el marco de un contexto
previamente escogido por su relevancia internacional. De
este modo la selección de los puntos de interés geológico
se ve orientada y facilitada por su representatividad
dentro del contexto geológico abordado y en
comparación con otros en el resto del mundo. El objetivo
era seleccionar eventos, áreas y características
fundamentales para comprender la historia geológica del
Planeta y crear una base de datos asociada a nivel global.
No se trata de identificar ejemplos concretos
representativos de la geología de un país o lugar, sino
contextos geológicos que sean fundamentales para
entender la evolución del Planeta, como registros
33
Carcavilla et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 28-40
sedimentarios, fases tectónicas, sistemas
morfogenéticos, etc. Cada país debe identificar sus
contextos, para luego comparar con los seleccionados en
los países vecinos. Así se seleccionan los contextos de
valor supranacional y global. Siguiendo esta
metodología, diversos países realizaron sus listados,
como Polonia, Bulgaria, España, Reino Unido y Portugal.
Como se ha mencionado anteriormente, el proyecto a
escala global fue abandonado, pero esta metodología
sirvió a diversos países para realizar un listado
homogéneo de los lugares de interés geológico de
relevancia internacional contenidos en su territorio,
constituyendo una valiosa herramienta para la
realización de inventarios nacionales. Actualmente,
ProGEO ha vuelto sobre la idea y ha empezado a
promover la continuación del proyecto y que éste sea
retomado por la IUGS; habiendo conseguido ya que la
Unión Internacional para la Conservación de la
Naturaleza (UICN) lo adopte en una resolución (Res 5.048
de 2012).
Por su parte, los Geoparques surgieron a
principios de la década de los 90 en Europa, siendo
Francia, Alemania, Grecia y España los socios fundadores
(fig.8). Desde entonces, su número ha ido en aumento y
ya es una iniciativa global. Un geoparque (Geopark o
parque geológico) es un territorio que presenta un
patrimonio geológico notable y que lleva a cabo un
proyecto de desarrollo basado en su promoción turística,
de manera que debe tener unos objetivos económicos y
de desarrollo claros. La declaración de un geoparque se
basa en tres principios: 1) la existencia de un patrimonio
geológico que sirva de protagonista y eje conductor, 2) la
puesta en marcha de iniciativas de geoconservación y
divulgación, y 3) favorecer el desarrollo socioeconómico
y cultural a escala local. Así que tres son los pilares que
sustentan la creación y funcionamiento de un
geoparque: patrimonio geológico, geoconservación y
desarrollo local. Por ello, los geoparques deben tener
unos límites claramente definidos y una extensión
adecuada para asegurar el desarrollo económico de la
zona, pudiendo incluir áreas terrestres, marítimas o
subterráneas. En Europa existen ya más de 50
geoparques en casi una veintena de países. Italia, España
y Reino Unido son los países que por el momento más
geoparques aportan a la Red Europea. En estos países, los
geoparques se han afianzado como iniciativas para
promover el uso y conservación del patrimonio
geológico. Es importante dejar claro que los geoparques
no son espacios naturales protegidos en sentido estricto
(aunque pueden coincidir en espacio y tiempo), sino un
territorio con una estrategia de gestión orientada a los
tres principios indicados anteriormente.
Figura 8 – Bosque Petrificado de Lesvos (Grecia), uno de los
cuatro lugares fundadores de la iniciativa geoparques a finales
de los años 90.
5. ALGUNOS EJEMPLOS SINGULARES
Dentro del contexto europeo, hay muchos
ejemplos de buenas prácticas relacionadas con el
patrimonio geológico y la geoconservación. Pero entre
todas ellas se pueden elegir unos ejemplos que muestran
enfoques particulares a una misma problemática y que
han mostrado ser eficaces, y pueden servir de ejemplo o
estímulo a otros países.
5.1. Inventarios nacionales: Reino Unido
En relación con los inventarios, destaca el caso
del Reino Unido, donde el estudio del patrimonio
geológico se inició en 1949, aunque el estudio
sistemático en realidad comenzó en 1977 y se dio por
concluido en 1990. Este inventario poseía una clara
vocación conservacionista, ya que estaba acompañado
de un mecanismo legal de protección de los LIGs. Esto
último es lo que da un especial valor a dicho inventario, y
la prueba es que, a pesar del paso del tiempo, existen en
la actualidad pocos inventarios europeos que
contemplen dicho aspecto.
En este contexto están los Geological
Conservation Review sites de Gran Bretaña (GCR sites).
Estos lugares de interés fueron descritos dentro del
marco del proyecto Geological Conservation Review, que
consistió en un inventario nacional de lugares de interés
geológico que inició su búsqueda de lugares en 1977 y
finalizó en 1990, auspiciado por el Joint Nature
Conservation Committee (JNCC). No obstante, las labores
de selección de enclaves puntuales ya se habían iniciado
a finales de la década de los 40. Dentro de este proyecto
se incluía un ambicioso plan de documentación sobre la
geología del país y la consulta a numerosos especialistas
de diferentes especialidades geológicas. El resultado fue
la publicación de 44 volúmenes temáticos de la geología
del Reino Unido, denominados Geological Conservation
Review Series (Ellis, 2005).
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Carcavilla et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 28-40
El equivalente en Irlanda del Norte se denominó Earth
Science Conservation Review (ESCR).
De los más de tres mil GCR sites identificados se
seleccionaron los más importantes (por su relevancia
internacional y nacional) para que gozaran de una
protección legal (Joint Nature Conservation Committee,
2005). De esta manera surgieron los cerca de 1.400 Sites
of Special Scientific Interest (SSSI) que constituyen una
red de lugares importantes para el “pasado, presente y
futuro desarrollo de la geología en Reino Unido”, de
manera que representan lo más significativo de la
geología de ese país, reflejando la diversidad de su
historia geológica. Su declaración se basa en la Wildlife
and Countryside Act de 1981, aunque recientemente en
el año 2000 una nueva normativa denominada
Countryside and Rights of Way Act 2000 (CROW Act)
actualizó y aumentó el régimen de protección. Es muy
importante recalcar que los SSSI gozan de un sistema de
protección legal y un amplio reconocimiento a escala
nacional, lo que hace que la conservación del patrimonio
geológico en Gran Bretaña sea de las más avanzadas de
Europa. La equivalencia en Irlanda del Norte de los SSSI se
denominan Areas of Scientific Interest (ASSI), y en Gales
se denominan Site of Importance for Nature
Conservation (SINC).
Otro ejemplo de la manera de trabajar en el
inventario y conservación del patrimonio geológico en
Reino Unido es el de los Regionally Important
Geological/Geomorphological Sites (RIGS). También
fueron establecidos en Gran Bretaña en 1990 por el
Nature Conservancy Council (NCC) y consiste en un
programa desarrollado por iniciativas voluntarias de
asociaciones locales no gubernamentales (RIGS groups)
que cuentan con la aprobación informal de las
autoridades locales. Frente a los SSSI y los GCR sites, que
son propuestas institucionales, los RIGS son iniciativas
voluntarias de carácter particular que no poseen ningún
reconocimiento legal oficial. Los RIGS groups definen los
County Geological Sites (CGS), también llamados RIGS
sites cuando el propietario del terreno permite el acceso.
Ambos sirven de complemento a los SSSI y son puestos
en conocimiento de las autoridades y tenidos en cuenta
en la planificación. En la actualidad existen más de 50
RIGS Groups en Reino Unido, formados
mayoritariamente por museos y asociaciones
ecologistas, y en menor medida, por sociedades
geológicas y universidades.
5.2. Inventario nacional e internacional en el marco del
proyecto Global Geosites: Portugal
Algunos países han desarrollado la metodología
del proyecto Global Geosites como sistema para iniciar o
completar su inventario nacional. Dos de los casos más
sobresalientes son los de Portugal y España, que incluso
han colaborado para aplicar una metodología común que
les permita complementar la información de cada país.
En el caso de España, el proyecto se desarrolló entre 1999
y 2008 liderado por el IGME, que hace las veces de
Servicio Geológico Nacional. En una primera fase se
identificaron 20 contextos geológicos españoles de
relevancia internacional (frameworks) que fueron
presentados en el 31 Congreso Geológico Internacional
de Río de Janeiro en el año 2000. A partir de entonces, se
empezaron a definir los lugares de interés geológico que
representaban esos contextos, que fueron 148
repartidos en 216 recintos. Actualmente España cuenta
con una cartografía precisa de esos enclaves y con una
base de datos de los lugares de interés geológico que,
como más adelante se explicará, tienen reflejo en el
marco legal de conservación del patrimonio natural
nacional.
Portugal inició las labores del proyecto Global
Geosites más tarde que España. Pero supo aprovechar la
experiencia de su país vecino para identificar sus
contextos de una manera rápida y eficaz. En el año 2000
se creó el grupo portugués de ProGeo y en el año 2004 se
propuso una primera lista con 14 contextos de relevancia
internacional (Brilha et al., 2005), varios de los cuales
tenían una clara conexión con contextos definidos en
España. Posteriormente, fueron definidos otros
contextos con la idea de representar la geodiversidad
portuguesa, de manera que se definieron un total de 29
contextos y 326 lugares de interés geológico. Algunos de
los contextos definidos previamente fueron redefinidos
y/o englobados en nuevas denominaciones, más amplias
y que daban cabida a otros lugares de interés
relacionados (Brilha et al., 2009). En ellos se ha estimado
su valor intrínseco y su vulnerabilidad para orientar su
gestión a las autoridades competentes. De esta manera,
la metodología del proyecto Global Geosites ha sido
utilizada en Portugal para definir 15 contextos de
relevancia internacional y otros 14 de relevancia nacional
o regional, completando de una manera muy eficaz un
inventario nacional que combina la singularidad con la
representatividad.
5.3. Legislación para la geoconservación: el caso de
España
Para que la conservación del patrimonio
geológico sea realmente eficaz es necesario contar con
un marco legal que ampare su preservación y protección.
En la mayoría de los países europeos la protección se
realiza en el marco de leyes de conservación del
patrimonio natural, definiendo figuras de protección que
pueden englobar o proteger elementos geológicos, como
parques nacionales o naturales, monumentos naturales,
etc. En algunos países la legislación para la conservación
del patrimonio natural pone especial atención en el
patrimonio geológico, como ocurre en el caso de España.
Durante el año 2007, tres nuevas leyes
supusieron un cambio radical en lo referente a la
legislación para la geoconservación en España.
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Carcavilla et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 28-40
La primera de estas leyes fue la Ley 42/2007 de
Patrimonio Natural y Biodiversidad, en la que tuvieron
una activa participación el IGME, el Colegio Profesional
de Geólogos (ICOG) y la Sociedad Geológica de España
(SGE). La receptividad del Ministerio de Medio Ambiente
tuvo como resultado que, desde primera vez desde los
comienzos de la geoconservación en España, una Ley
tuviera entre sus principios inspiradores la conservación
de la geodiversidad. Las principales aportaciones de la
Ley son de tres tipos: 1) menciones expresas en sus
artículos a la geología, patrimonio geológico, geoparques
y geodiversidad; 2) crea un inventario nacional de
patrimonio natural que tendrá un inventario de lugares
de interés geológico; 3) adopta medidas de conservación
del patrimonio geológico y la geodiversidad; y 4) amplia
los bienes que pueden ser protegidos, haciendo mención
concreta a los elementos geológicos como parte de los
monumentos, parques y reservas naturales.
Además, esta Ley dice explícitamente que el
Ministerio de Medio Ambiente, con la colaboración de las
comunidades autónomas y de las instituciones y
organizaciones de carácter científico, elaborará un
Inventario Español del Patrimonio Natural y de la
Biodiversidad, que incluirá un inventario de Lugares de
Interés Geológico representativo de, al menos, las
unidades y contextos geológicos (frameworks) del
proyecto Global Geosites y otros ocho sistemas
geológicos representativos de la geodiversidad española
(fig.9). También estipula que se llevará a cabo un Plan
Estratégico Estatal del Patrimonio Natural y de la
Biodiversidad que incluirá, a su vez, un diagnóstico anual
de la situación y de la evolución del patrimonio natural y
la biodiversidad y geodiversidad.
menciona de manera explícita el turismo geológico y
minero (geoturismo) y propone aprovechar los recursos
geológicos para potenciar el desarrollo sostenible en el
medio rural, dando prioridad a la conservación del medio
ambiente, el paisaje y el patrimonio natural y cultural,
algo que va en clara sintonía con la declaración de
Geoparques, de los cuales existen 9 en España (año 2013)
(fig.10).
Como se puede ver, el nuevo marco normativo
pone solución (teóricamente) a algunos de los problemas
esenciales de la geoconservación en España, como eran
la ausencia de un marco legal adecuado, la ausencia de
inventario o la inadecuada definición de las figuras de
protección. Los retos para los próximos años serán
aprovechar la oportunidad que ofrecen estas nuevas
leyes y seguir implantando los programas internacionales
(fundamentalmente Geoparks y Global Geosites) para,
desde la perspectiva nacional y la internacional, dar el
impulso definitivo a la geoconservación en España.
Figura 10 – Geoparque de Sobrarbe (España), uno de los más de
50 pertenecientes a la Red Europea de Geoparques.
5.4. La geoconservación integrada en un marco
holístico: Noruega
Figura 9 – Límite Cretácico-Terciario en Zumaya (España), uno
de los lugares de interés geológico de relevancia internacional
identificados en el proyecto Global Geosites.
L a s e g u n d a l e y i m p o r t a n t e p a ra l a
geoconservación en España es la Ley de Parques
Nacionales, que incluye en un anexo los sistemas
naturales españoles que deben estar representados en la
Red de Parques Nacionales, entre los que se encuentra
una decena de sistemas geológicos. Por su parte, la Ley
(45/2007) para el Desarrollo Sostenible en el Medio Rural
Noruega es un país europeo pero no pertenece
a la Unión Europea. Como algunos otros países,
recientemente ha promulgado leyes relacionadas con la
conservación de la naturaleza incorporando referencias a
la geoconservación. La Ley de Diversidad Natural del año
2009 establece como uno de sus principios proteger la
diversidad biológica y geológica a través de la
conservación y el uso sostenible.
Ya se mencionó con anterioridad que la
geoconservación tiene raíces muy antiguas en Noruega,
con una primera ley de conservación de la naturaleza
promulgada en 1910 (Erikstad, 2012). Aunque el
patrimonio geológico no era mencionado de manera
específica como justificación para la adopción de
medidas de conservación en la legislación, la realidad es
que sí ha formado parte del sistema de protección
noruego entre 1954 y 2009. Especialmente en el periodo
comprendido entre 1970 y la década de los 90, cuando
fueron realizados numerosos inventarios y fueron
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Carcavilla et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 28-40
declarados numerosas áreas protegidas en forma de
reservas, monumentos y paisajes naturales protegidos.
Con posteridad, la geología quedó relegada a un segundo
plano, como ocurrió en muchos otros países europeos,
quedando la geoconservación eclipsada por la
protección de la biodiversidad. Sin embargo, la nueva
legislación ofrece numerosas posibilidades a la
geoconservación y la integra dentro de la gestión natural.
Noruega contaba con 2.759 áreas protegidas en
enero de 2012, cubriendo un 17% de su superficie.
Aproximadamente 200 de ellas están etiquetadas como
áreas de conservación geológica, ya que en ellas
dominan los aspectos geológicos o la conservación
geológica está integrada en su plan de gestión. Muchas
de ellas son realmente pequeñas, pero las de gran
tamaño (como parques nacionales o paisajes protegidos)
contienen valores geológicos de gran extensión
integrados en el paisaje. Una clara tendencia dentro de
los parques nacionales es incluir la conservación de los
elementos geológicos entre sus objetivos, y aún en los
casos donde no se refleja de manera expresa, está
protegido desde una perspectiva general como elemento
constitutivo del paisaje y de la naturaleza.
Las islas árticas de Svalvard tienen su propia
legislación medioambiental, estando protegido un 60%
de su territorio.
La amplitud de miras de la nueva legislación,
que incluye la conservación y el uso sostenible como
principios, proporciona la oportunidad de incluir el
patrimonio geológico y la geodiversidad en la gestión
ambiental. Además, ofrece oportunidades para la
geoconservación al margen de la declaración de áreas
protegidas, integrándola en la planificación territorial,
evaluaciones de impacto ambiental y estrategias del
paisaje. También incluye elementos geológicos dentro de
los sistemas naturales del país, que incluyen hábitats y
paisajes, y empiezan a incorporarse en los inventarios
locales y en la lista nacional de sistemas naturales
amenazados (Erikstad, in press).
La geoconservación en Noruega aún está por
detrás de la preservación ecológica, ambiental y del
patrimonio cultural, pero esta legislación de enfoque
holístico puede favorecer y beneficiar a la biodiversidad,
a la geodiversidad y al paisaje.
6. DIRECTIVAS COMUNITARIAS COMO APOYO A LA
GEOCONSERVACIÓN
Los países de la Unión Europea deben sumar a
su marco normativo nacional una serie de
recomendaciones y directivas de ámbito europeo, siendo
optativo en las primeras de ellas y obligatorio en las
segundas traspasarlas a su legislación. En la actualidad no
existe ninguna directiva europea referida al patrimonio
geológico, pero sí hay varias que pueden ayudar o
suponer un apoyo a la geoconservación.
En el año 2004 el Consejo de Ministros de la
Unión Europea (Council of Europe, 2004) aprobó las
recomendaciones para la conservación del patrimonio
geológico y de áreas de interés geológico (Rec, 2004).
Entre estas recomendaciones se encontraban las de
promover y realizar inventarios, reforzar los mecanismos
legales para proteger áreas de interés geológico o asignar
recursos presupuestarios para financiar las iniciativas
expuestas anteriormente. A pesar de que suponían un
excelente marco para el impulso de políticas nacionales
de geoconservación, al ser únicamente
recomendaciones, los diferentes países las aplicaron de
manera muy desigual y no hubo un seguimiento tras el
plazo de 5 años que establecía. Por desgracia, estas
recomendaciones no vinieron seguidas de una directiva
de geoconservación, que habría sido la herramienta de
impulsarla definitivamente en la Unión.
Por su parte, en el año 2000 fue adoptada la
Convención Europea del Paisaje, que fue puesta en
marcha en 2004. Se trata de la primera convención que
aborda el multidisciplinar asunto del paisaje con el
objetivo de promover su protección. Parte de la idea de
que cada paisaje está formado por diferentes
componentes y estructuras, entre las cuales la geología
Figura 11 – Algunos de los hábitats incluidos en la Directiva
Hábitats de la red Natura 2000 de la Unión Europea tienen una
clara componente geológica, como las cavidades kársticas, por
lo que muchas de ellas gozan de una protección al menos
indirecta. Cueva de Vallgornera (España).
es una de ellas. Por ello, aunque la directiva no centra su
atención en el patrimonio geológico, puede servir como
herramienta para la geoconservación de aquellos
elementos geológicos que formen parte importante de
paisajes singulares y/o representativos. Algo parecido
ocurre con la Directiva de Hábitats, creada con objeto de
proteger los hábitats más singulares de la Unión Europea.
Aunque esta directiva está diseñada con un marcado
carácter fitosociológico, varios de los hábitats incluidos
en su listado como de protección especial son elementos
geológicos, como tobas calcáreas, cavidades o sistemas
de dunas (fig.11). Por ello, puede suponer una
i n te re s a n te h e r ra m i e n ta p a ra p ro m o ve r l a
geoconservación en esos sistemas. Su adopción como
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una directiva sería una gran paso hacia delante, aunque
el esfuerzo de reconocer la geoconservación con su
propio derecho dentro del sistema de conservación de la
naturaleza (la directiva de hábitats y la red NATURA 2000)
debe ser establecido en el trabajo práctico del día a día
(Erikstad, en prensa).
Como se ha comentado con anterioridad, en
Europa la legislación y la forma de actuar de cada uno de
los países en materia de geoconservación es muy
desigual (Wimbledon & Smith-Meyer, 2012; Erikstad,
2008). La perspectiva internacional no proporciona
grandes ventajas porque la geoconservación no está
contemplada en ninguna directiva de la Unión Europea,
de manera que no existe ninguna imposición para
afrontarla. Se propuso su integración como parte de la
Estrategia Europea del Suelo, que aspira a convertirse en
una directiva. En ella, el patrimonio geológico sería
integrado como una de las funciones del suelo a proteger,
entendido el suelo en su sentido más amplio ya que
puede contener o constituir ese tipo de patrimonio. En
caso de que fuera aceptada, constituiría un importante
paso adelante, aunque dicha directiva ha sido retrasada
(o incluso detenida) por los numerosos desacuerdos
entre los países miembros. El resultado es que la
geoconservación no goza del mismo reconocimiento que
la conservación de otros elementos del patrimonio
natural.
Por otro lado, en Europa se definió la primera
convención internacional dedicada exclusivamente al
paisaje. Se integra dentro del programa de Medio
Ambiente del Consejo de Europa y Naciones Unidas
denominado “Estrategia pan-europea para la diversidad
biológica y del paisaje”, que fue aprobada por los
ministros de medio ambiente de los 55 países implicados
en Sofía (Bulgaria) en 1995. La acción 4 del Plan de Acción
para 1996-2000 se denominó “Conservación de los
paisajes” y entre los objetivos formulados para ser
alcanzados en el año 2000 figuraba “prevenir futuros
deterioros de los paisajes y del patrimonio geológico y
cultural a ellos asociados y preservar su belleza e
identidad. Corregir la ausencia de percepción integral de
los paisajes como un mosaico de rasgos culturales,
naturales y geológicos y establecer una mayor conciencia
pública y por parte de las administraciones y mejorar su
protección en toda Europa" (Council of Europe, 2006). La
convención del paisaje aporta una visión muy amplia
englobando todos los elementos que le confieren calidad
y singularidad, por lo que puede ser una buena
herramienta para la geoconservación en Europa.
Además, hace especial énfasis en cómo la gente percibe
el paisaje y en la importancia de la participación e
implicación local.
7. EL PAPEL DE PROGEO
ProGEO es la Asociación Europea para la
Conservación del Patrimonio Geológico. Se trata de una
asociación abierta a todo tipo de profesionales e
instituciones que trabajan hacia ese objetivo, y cuenta
con miembros de la mayoría de las naciones europeas.
ProGEO trabaja para promover la protección de los
paisajes y lugares de interés geológico representativos y
más importantes de Europa, así como las múltiples
formas en que se muestran los fenómenos geológicos y
sus resultados, analizando su valor y destacando sobre
todo su interés científico e importancia cultural para
definirlo como patrimonio y que sea protegido como tal.
ProGEO intenta dar a la conservación del patrimonio
geológico y la geodiversidad una voz más fuerte en
Europa, y servir como foro de discusión sobre estos
temas, asesorando y tratando de influenciar en las
políticas y la administración del patrimonio (Fig.12).
Figura 12 – ProGEO participa activamente en la integración de la
geoconservación en diferentes foros, por ejemplo asistiendo a
las dos últimas reuniones de la Unión Internacional de
Conservación de la Naturaleza (UICN) en 2008 y 2012.
ProGEO es un marco de referencia actual a nivel
no solo europeo sino también internacional para la
conservación y estudio del patrimonio geológico. El
objetivo principal de esta asociación es dar a la
geoconservación un mayor protagonismo y relevancia,
para que sea tenida en cuenta en las decisiones sobre
conservación del patrimonio natural. ProGEO organiza
reuniones periódicas y trabaja mediante subcomisiones
regionales que agrupan países por criterios geográficos y
culturales. La web actual es: http://www.progeo.se
8. PERSPECTIVAS DE FUTURO
Como se ha visto con anterioridad, no existe una
política común para abordar la valoración, estudio y
conservación del patrimonio geológico en Europa. Los
diferentes países han abordado el tema según la
receptividad de las administraciones y el dinamismo de
los propios geólogos, dando como resultado diversos
modelos que tienen sus particularidades. A pesar de que
se asume que el mayor campo de acción para la
geoconservación se sitúa en el ámbito local, sin el
impulso de leyes nacionales o directivas transnacionales
38
Carcavilla et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 28-40
es difícil que se alcancen objetivos realmente
ambiciosos. Actualmente, y a pesar de que se han hecho
muchos avances para el diseño de directivas europeas, la
geoconservación está en un claro segundo plano frente a
la conservación de la biodiversidad. La promulgación de
leyes específicas para la conservación del patrimonio
geológico solucionaría este asunto, pero es poco
probable que las administraciones redacten este tipo de
normas legales. Por ello, son también muy interesantes
las normas legales de carácter holístico, que pueden
constituir una buena aproximación porque permiten
vincular al patrimonio geológico con otros elementos del
medio natural.
Por otro lado, es interesante cómo, a falta de
directivas europeas, diferentes instituciones con ProGEO
a la cabeza promueven trabajos trasnacionales, como
retomar las labores de inventario del proyecto Global
Geosites en aquellos lugares donde los trabajos
nacionales están más avanzados, como Europa
suroccidental o la región báltica. Por su parte, los
geoparques, que van en aumento, también juegan un
importante papel, sobre todo para mostrar cómo el
patrimonio geológico puede constituir un importante
motor para el desarrollo de la economía local. Sin duda,
la concienciación y la educación son las armas para el
futuro, por lo que la divulgación no sólo es un recurso
interesante, sino una garantía para la geoconservación a
largo plazo. Mientras tanto, es esencial trabajar en
elaborar inventarios, redactar leyes y asegurar la
preservación de los lugares de interés geológico más
amenazados.
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Acessado em 10 febrero 2013.
Manuscrito ID 31501
Submetido em abril de 2013
Aceito em julho de 2013
40
boletim paranaense
de geociências
volume 70 (2013) 41 - 52
A valorização cultural do patrimônio
geológico-mineiro do Paraná
Cultural enhancement of the earth and mining heritage of the state of Paraná
GILSON BURIGO GUIMARÃES1, ANTONIO LICCARDO1 , GIL FRANCISCO PIEKARZ2.
1
Universidade Estadual de Ponta Grossa - [email protected] - [email protected]
2
Minerais do Paraná S.A. - [email protected]
Resumo
O estado do Paraná apresenta características geológicas peculiares em função de sua clara compartimentação espaço-temporal, tendo
recebido um aporte de pesquisas desde o século XIX com escopo essencialmente prospectivo para a mineração e desenvolvimento
geocientífico. Com base no conhecimento acumulado e com um novo paradigma científico que aponta a valorização de aspectos não
necessariamente extrativistas da geologia, este trabalho propõe uma discussão preliminar sobre os pontos que constituem o patrimônio
geológico e mineiro do estado e seu aproveitamento para fins diferentes da mineração. São apresentados os resultados de iniciativas
ligadas ao patrimônio geológico no Paraná, tais como o Programa SIGEP (nacional) e da Mineropar, além de uma relação preliminar dos
geossítios e áreas representativas do patrimônio geológico do estado. A sensibilização da comunidade científica para algumas questões
de geoconservação aponta para dois pontos-chave: a necessidade do maior envolvimento científico dos geólogos na valorização do
patrimônio e a transposição didática do conhecimento geológico para leigos. Estes desafios constituem um novo paradigma em que tão
importante quanto desenvolver o conhecimento geocientífico é comunicá-lo à sociedade, de modo a aumentar a massa crítica e permitir
melhores tomadas de decisão no planejamento por parte do poder público e da iniciativa privada.
Palavras-chave: patrimônio geológico; patrimônio mineiro; geodiversidade; estado do Paraná
Abstract
The state of Paraná shows a peculiar set of geological features, closely related to its spatial and temporal framework, which has been
researched since the nineteenth century, mainly for mining and geoscientific purposes. Based on the accumulated knowledge and a new
scientific paradigm, that points to valuing aspects not necessarily linked to economic geology, this paper proposes a preliminary
discussion of the geosites that make up the earth and mining heritage of the state and its use other than to mineral exploration and mining
activities. Earth heritage initiatives are presented, such as the SIGEP Program (Brazilian Commission of Geological and Palaeobiological
Sites) and from Mineropar (State of Paraná Geological Survey), with a preliminary list of the geosites and representative areas of the earth
heritage of the state of Paraná. The awareness of the scientific community for geoconservation issues leads to two key points: the need for
greater scientific involvement of geologists in the valuation process of the heritage, and the didactic transposition of geological
knowledge to lay person. These challenges constitute a new paradigm, where as important as developing the geoscientific knowledge is
bring it to the society, increasing the critical mass and enabling wise decisions at the planning-level by the government and the private
sector.
Key words: earth heritage; mining heritage; geodiversity; state of Paraná.
1. INTRODUÇÃO
As rochas e os minerais, assim como outros
objetos do estudo geológico (geomorfologia, solos...),
representam importante fonte de informações
tradicionalmente ligada à potencialidade de uso que
podem apresentar. A prospecção mineral ou a
capacidade agrícola dos terrenos impulsionaram a
evolução da sociedade e trouxeram um valioso
aprendizado sobre várias facetas da geodiversidade.
Entretanto, preocupações ligadas ao meio ambiente,
assim como os processos de valorização da memória
coletiva, conduziram ao surgimento de novos conceitos
sobre patrimônio, que vão além dos aspectos
puramente econômicos.
Não obstante a geodiversidade brasileira ser
normalmente tratada como mercadoria, ou seja,
materiais que possam ser produzidos e quantificados em
unidades monetárias por tonelada, existem outros
aspectos que passaram a ser valorizados nos últimos
anos e que indicam uma mudança conceitual no uso da
informação geológica. As geociências apresentaram
profundo progresso nas últimas décadas, amparado não
somente pela tecnologia, mas também por um
amadurecimento científico e cultural traduzido em
responsabilidade e consciência ambiental. Todo o
conhecimento gerado inicialmente para a busca de
minérios hoje se reflete também em outras interfaces
com a sociedade, como estudos de áreas de risco,
41
Guimarães et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 41-52
de poluição, geoturismo ou mesmo questões culturais. O
próprio resultado da atividade de mineração é um
conjunto cultural valioso para o entendimento da
evolução social, denominado hoje como patrimônio
mineiro, e que apresenta forte correlação com a
Arqueologia Industrial.
Desde 1972, a UNESCO promove a evolução do
significado de patrimônio, inicialmente dividido em
natural e cultural, mas que depois recebeu um maior
aporte intelectual para a definição de patrimônio
imaterial. Mais recentemente discute-se
internacionalmente o conceito de patrimônio geológico
(ver Gray, 2004; Brilha, 2005; dentre outros), discussão
esta que não pode prescindir do conhecimento
acumulado por geólogos, mas que também não deve ser
exclusividade destes profissionais.
O Paraná é um dos estados brasileiros que
apresenta uma história de aprimoramento do
conhecimento geológico que remonta aos tempos do
Brasil colonial, com relatórios técnicos tais como os de
José Bonifácio e Martim Francisco (Andrada, 1847),
movidos pela exploração mineral de ouro e diamante, ou
os trabalhos de White (republicados em 2008) pelos
recursos energéticos (carvão). O capital científicocultural acumulado com todos os levantamentos já
realizados neste território, seja pelos próprios autores ou
disponível em outros trabalhos, permite hoje a
possibilidade de discussão a respeito de um patrimônio
geológico do estado, tema que este artigo se propõe a
apresentar à comunidade geológica, considerando
especialmente sua geodiversidade como fator cultural e
voltado à possível educação científica em vários níveis,
além do potencial econômico.
Alicerçado em um volume de pesquisas da
ordem de milhares de monografias, mapas, artigos,
livros, teses, relatórios técnicos, desde os estudos
pioneiros do século XIX, pode-se afirmar com segurança
que o Paraná é um estado com uma expressiva
geodiversidade, no sentido defendido por Gray (2004).
Do Paleoproterozoico (eventualmente desde o
Arqueano) ao Holoceno encontra-se um amplo espectro
de produtos magmáticos, sedimentares e metamórficos,
em diferentes ambientes geotectônicos, controlando
uma variada gama de tipos de solos, formas de relevo e
mineralizações. Uma parte deste conteúdo constitui o
que vem sendo denominado Patrimônio Geológico. O
histórico de utilização extrativista conduz à possibilidade
de se considerar a mineração em certos pontos como
parte de um Patrimônio Mineiro (Liccardo & Cava, 2006).
2. PATRIMÔNIO GEOLÓGICO E MINEIRO
O conjunto dos geossítios de um lugar que
apresentem valor singular do ponto de vista científico,
didático, cultural, turístico, econômico ou funcional,
compõe seu o Patrimônio Geológico, conforme Brilha
(2005). Ponciano et al. (2011) propõem, ainda, uma
subclassificação em patrimônio geológico in situ (o acima
citado) e ex situ (como as coleções científicas, museus –
aquele que foi retirado de seu lugar de origem). Dado o
caráter preliminar dos levantamentos, este trabalho
discute apenas o primeiro caso, não obstante a
importância do segundo para a educação.
Nos últimos anos diversos autores têm
contribuído para um entendimento geral deste conceito
e para sua aplicação específica à geodiversidade
(Sharples, 2002; Gray, 2004; Brilha, 2005; Carcavilla et al.,
2007; Nascimento et al., 2008; Mochiutti, 2013), com
uma forte tendência em se selecionar geossítios de
destacada importância científica para compor o
Patrimônio Geológico de uma dada região. Porém, ao
considerar que um dos desafios atuais da comunidade
geocientífica é o de alcançar a sociedade em geral, a
apresentação das áreas de destaque da geodiversidade
do estado não pode enfatizar apenas aquelas de valor
científico-acadêmico. O ponto-chave é que há várias
frentes de atuação, das quais a educação (formal, não
formal e informal) em todos os níveis deve ser
privilegiada.
É preciso considerar um patrimônio geológico
que seja reconhecido por parte expressiva da sociedade
e que não tenha apenas um caráter “corporativo”. É
igualmente importante aos locais com valor científico
que apresentem também outros valores da
geodiversidade, como os culturais, didáticos ou
estéticos, por exemplo. Zelar pela integridade de locais
que somente uma minoria (geólogos) consegue percebêlos como especiais é tão relevante quanto ampliar a
parcela da população em condições de entender e
apreciar a geologia e seus segredos. Ambas as linhas de
intervenção necessitam da participação direta dos
profissionais de geociências, o que implica num
compromisso de aumentar seus esforços para traduzir à
comunidade o significado de rochas, minerais, fósseis,
formas de relevo, solos e os processos que os geram.
Um inventário do Patrimônio Geológico do
Paraná embasado em procedimentos metodológicos
cientificamente debatidos (Brilha, 2005; Lima, 2008),
ainda está por ser realizado. O estabelecimento de uma
hierarquia e classes deverá levar em conta as múltiplas
variantes da geologia (estratigrafia; petrologia; geologia
estrutural / geotectônica; mineração; mineralogia;
geomorfologia; paleontologia; geologia ambiental;
sedimentologia, etc.) e os grandes domínios tectônicotemporais responsáveis pela geodiversidade paranaense
(rochas e estruturas pré-brasilianas e brasilianas;
sequências sedimentares da Bacia do Paraná; produtos
magmáticos, sedimentares e estruturais ligados ao
processo de abertura do Oceano Atlântico; etc.).
Uma vez que se pretenda ampliar o alcance do
conceito de patrimônio geológico, este inventário deverá
também contemplar elementos da geodiversidade com
valores culturais, estéticos, didáticos e funcionais (Gray,
2004), em consonância com o entendimento de
42
Guimarães et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 41-52
patrimônio apregoado pela UNESCO.
A história da mineração tem sido usada em
muitos países como um fator de resgate cultural para
comunidades que se desenvolveram em áreas de
extração intensa. Na Europa verificam-se vestígios de
mineração dos tempos do Império Romano ou
anteriores, os quais têm sido preservados e resgatados
como um aspecto da memória e patrimônio cultural dos
lugares trabalhados. O conteúdo material relacionado
(ruínas, pedreiras, equipamentos...), assim como os
aspectos intangíveis (cultura, memória, miscigenação...)
são hoje considerados Patrimônio Mineiro, vertente da
discussão em torno do Patrimônio Geológico. Num país
como o Brasil, de histórico fortemente ligado à
mineração, estes patrimônios podem convergir
facilmente.
3. INICIATIVAS DE VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO
GEOLÓGICO E MINEIRO DO PARANÁ
Curitiba, capital precursora no Brasil em vários
aspectos urbanísticos, foi pioneira na valorização do
Patrimônio Mineiro, mesmo que não tenha sido esta a
intenção inicial, no começo da década de 1990. Num
planejamento ousado, que rendeu grande visibilidade ao
município, várias frentes de lavra desativadas foram
transformadas em parques e áreas de lazer público, o que
hoje fornece ao turismo a maior parte de seu atrativo na
cidade. Não obstante as informações geológicas terem
sido esquecidas, por exemplo, na divulgação do Parque
Tanguá, Pedreira Paulo Leminski, Universidade Livre do
Meio Ambiente e Zoológico Municipal, estes pontos
considerados entre os principais atrativos turísticos
colocam o visitante em contato com um resgate da
história de mineração de Curitiba. Liccardo et al. (2008)
apresentaram esta correlação entre a geologia e história
da mineração nos parques com os aspectos culturais
atualmente divulgados, buscando uma associação com o
uso turístico (geoturismo). Em vários casos ainda é
possível encontrar importantes vestígios da atividade,
como britadores e outros equipamentos no Parque
Tanguá.
Somente a partir de 2003 o Patrimônio
Geológico passou a ser discutido no Paraná e isto
aconteceu dentro de três grandes movimentos em prol
de sua valorização e conservação. O primeiro coube à
Mineropar, o Serviço Geológico do Paraná, através do
projeto Sítios Geológicos e Paleontológicos do Paraná
tendo como um de seus principais resultados a
implantação de 48 painéis, presentes em 20 pontos de
leste a oeste do Paraná (Figura 1). No âmbito deste
projeto ainda foram editados dois livros (Geoturismo em
Curitiba e Geoturismo no Karst) com a seleção de
geossítios do município de Curitiba e mais três
municípios vizinhos à capital paranaense, estando um
terceiro programado para 2013 (Geoturismo em Tibagi).
Outro movimento ligado a esta temática
aconteceu com a participação na lista brasileira de sítios
geológicos e paleobiológicos, a SIGEP. Nela o Paraná está
representado com 13 áreas, entre geossítios publicados e
propostas (Figura 1). Há uma evidente distribuição
desigual ao longo do território, pois nove dos geossítios
se situam no contexto dos Campos Gerais do Paraná,
borda leste do Segundo Planalto Paranaense. No projeto
da Mineropar, mesmo com uma distribuição mais ampla
que os geossítios da SIGEP, também existe uma
concentração de intervenções na área dos Campos
Gerais. Assim, não é surpresa o fato de inúmeras
instituições de ensino, do nível fundamental ao superior,
do próprio estado ou não, elegerem esta região como um
de seus destinos preferenciais para trabalhos de campo e
visitas técnicas de diversas disciplinas das geociências
(Guimarães et al., 2006; Melo et al., 2007; Guimarães et
al., 2009; Melo e Guimarães, 2012).
Estas duas iniciativas valorizam e divulgam
aspectos da geodiversidade estadual, inclusive com
sobreposição de temas, sendo concebidas para públicos
diferentes (especializado para o SIGEP e mais genérico
nos painéis da Mineropar). A divulgação e o alcance
resultantes também foram distintos, seja por publicação
de livros e pela internet (SIGEP) ou diretamente pela
visita aos geossítios (painéis). O conjunto, entretanto,
está longe de constituir um panorama pleno do
patrimônio geológico existente no Paraná.
A terceira estratégia, menor em quantidade de
geossítios, porém de extrema importância para a
geoconservação, foi uma consequência dos movimentos
anteriores. Foi o processo de tombamento de quatro
geossítios (Estrias de Witmarsum, Icnofósseis de São Luiz
do Purunã, Cratera de Impacto em Coronel Vivida e Sítio
Fossilífero de Pterossauros em Cruzeiro do Oeste) junto à
Secretaria da Cultura do Paraná, tornando-os parte
integrante do patrimônio natural do Paraná de acordo
com seu valor cultural. O tombamento destes geossítios
não obedeceu a uma estratégia pré-concebida, o que
seria mais adequado, mas sim a necessidades imediatas
de preservação de sítios que se encontravam sob o risco
iminente de perda de sua integridade. No Paraná a
política de tombamento pode se configurar numa
importante ferramenta legal para a preservação e
conservação do patrimônio geológico (Piekarz et al,
2012).
4. LISTA PRELIMINAR DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO
PARANAENSE
Mesmo com a carência atual de levantamentos
que ponderem a relevância científica de geossítios no
estado do Paraná, as ações anteriores fornecem subsídios
para a proposição de um conjunto preliminar
representativo de seu Patrimônio Geológico-Mineiro
(Tabela 1), o qual traduz os principais acontecimentos da
história da Terra presentes no território paranaense
(figuras 2 a 15) e que ajudaram a construir a
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Guimarães et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 41-52
Plataforma Sul-Americana, com destaque para produtos
do Ciclo Brasiliano, supersequências paleozoicas e
mesozoicas da principal sinéclise desta plataforma (Bacia
do Paraná), fenômenos associados à abertura do Oceano
Atlântico-Sul e à deriva da Placa Sul-Americana, além do
modelado cenozoico do relevo.
São incluídos locais com diferentes níveis de
atratividade e acessibilidade, mas que permitem
interpretar geoprocessos que não sejam
demasiadamente complexos com relativa facilidade de
transposição didática. Alguns deles já apresentam
estruturas diretamente ligadas ao geoturismo, e que têm
servido também como ferramenta de educação não
formal e combinam valores científicos, didáticos,
culturais, estéticos e funcionais.
Pa ra u m a p r i m e i ra a p rox i m a ç ã o d a
geodiversidade do Paraná (por exemplo, para alunos de
ensino médio e fundamental e geoturistas), o conjunto
de geossítios A a G (Tabela 1) permite reconhecer as
grandes unidades de relevo e a maior parte dos principais
episódios da história geológica do estado. Estes se situam
em unidades de conservação públicas, ou seja, parques
municipais (geossítio C) e estaduais (geossítios A, B, E),
um parque nacional (geossítio G) e áreas de proteção
ambiental (geossítios D, F), o que facilita o
reconhecimento de conexões com a biodiversidade
(valor funcional), viabilizando uma percepção integral de
aspectos diversos do patrimônio natural estadual.
Figura 1 – Mapa geológico simplificado do Estado do Paraná com indicação dos geossítios cadastrados no SIGEP e dos painéis instalados
pela Mineropar. Fonte: Mineropar.
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Guimarães et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 41-52
Tabela 1 – Lista preliminar de geossítios representativos do patrimônio geológico do Paraná.
Geosítio
Nome
Localização
Contexto Geológico
A
Ilha do Mel
Litoral
Rochas do Ciclo Brasiliano, Magmatismo Serra Geral,
abertura do Oceano Atlântico, transgressões-regressões
quaternárias, dinâmica litorânea
B
Complexo Marumbi
Serra do Mar
Magmatismo granítico brasiliano, Sistema de Riftes
Cenozoicos do Sudeste do Brasil, evolução do relevo,
movimentos de massa e áreas de risco
C
Grutas de Bacaetava e
Lagoa Verde
Primeiro Planalto
Paranaense
Sedimentação carbonática da Formação Capiru, faixa de
dobramentos brasiliana, recursos minerais (rochas
carbonáticas), relevo e aquífero cárstico, riscos
geológicos
D
Mirante do Cristo/São
Luiz do Purunã
Escarpa Devoniana
E
Parque Estadual de Vila
Velha
Segundo Planalto
Paranaense
F
Mirante do
Morungava/Serra da
Esperança
Contato Bacia do Paraná-Embasamento, faixa de
dobramentos brasiliana (Formação Votuverava),
Sequência Paraná da Bacia do Paraná, contraste
geológico-geomorfológico do 1º e 2º planaltos
Sequências Paraná e Gondwana I (base), relevo
ruiniforme, carste em arenitos
Topo da Sequência Gondwana I (formações Rio do Rasto
Escarpa da Serra Geral e Piramboia), Gondwana III, contraste geológicogeomorfológico do 2º e 3º planaltos, área de recarga do
Aquífero Guarani
G
Parque Nacional do
Iguaçu
Terceiro Planalto
Paranaense
H
Pico Paraná
Serra do Mar
I
Parque Municipal Aníbal
Khury
Primeiro Planalto
Paranaense
Faixa de dobramentos brasiliana, sedimentação
carbonática da Formação Capiru
Formação Guabirotuba
(Cidade Industrial de
Curitiba)
Primeiro Planalto
Paranaense
Sedimentação plio / pleistocênica da Bacia de Curitiba,
mudanças climáticas globais, fósseis de vertebrados,
contato com embasamento
Parques-pedreiras de
Curitiba
Mina da Plumbum em
Adrianópolis
Primeiro Planalto
Paranaense
Primeiro Planalto
Paranaense
Rochas meso a paleoproterozoicas retrabalhadas no
Ciclo Brasiliano
Mineração de chumbo e zinco, faixa de dobramentos
brasiliana, sedimentação carbonática
M
Estrias de Witmarsum
Segundo Planalto
Paranaense
Sequências Paraná e Gondwana I, Glaciação
Permocarbonífera, deriva continental, mudanças
climáticas globais
N
Monumento da Pedra
Caída em Rio Negro
Segundo Planalto
Paranaense
Sequência Gondwana I, Glaciação Permocarbonífera,
fósseis
Segundo Planalto
Paranaense
Em diversos geossítios (Buraco do Padre, Furnas
Gêmeas, Cachoeira de Santa Bárbara, etc.):
magmatismo granítico brasiliano, sequências Rio Ivaí e
Paraná, estruturas do Arco de Ponta Grossa, contraste
geológico-geomorfológico do 1º e 2º planaltos, carste
em arenitos, Aquífero Furnas
J
K
L
O
Parque Nacional dos
Campos Gerais
Magmatismo Serra Geral, Cataratas do Iguaçu
(Patrimônio da Humanidade), principal rio
eminentemente paranaense (rio Iguaçu)
Magmatismo granítico brasiliano, Sistema de Riftes
Cenozoicos do Sudeste do Brasil, evolução do relevo,
movimentos de massa e áreas de risco, ponto
culminante do Paraná e da região sul do país
45
Guimarães et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 41-52
Bacias molássicas tardibrasilianas (Grupo Castro),
sequências Rio Ivaí e Paraná, diques do Magmatismo
Serra Geral, estruturas do Arco de Ponta Grossa,
contraste geológico-geomorfológico do 1º e 2º
planaltos, drenagens antecedentes (canyon do rio
Iapó), carste em arenitos
P
Parque Estadual do
Guartelá
Segundo Planalto
Paranaense
Q
Diamante do Rio Tibagi
Segundo Planalto
Paranaense
Sequências Paraná e Gondwana I (base), diques do
Magmatismo Serra Geral, recursos minerais (diamante e
ouro), geomorfologia fluvial
R
Carvão de Figueira
Segundo Planalto
Paranaense
S
Folhelho betuminoso de
São Mateus do Sul
Segundo Planalto
Paranaense
Sequência Gondwana I (Formação Rio Bonito), Flora
Glossopteris, deriva continental, recursos minerais
(carvão, urânio e água)
Sequência Gondwana I (Formação Irati), fósseis, deriva
continental, recursos minerais (óleo, gás, enxofre, argila)
Em diversos geossítios (saltos São Francisco, São João,
Barão do Rio Branco, etc.): topo da Sequência
Gondwana I (formações Teresina, Rio do Rasto e
Piramboia), Gondwana III, soleiras do Magmatismo
Serra Geral, contraste geológico-geomorfológico do 2º
e 3º planaltos, maior cachoeira do sul do Brasil (Salto
São Francisco), área de recarga do Aquífero Guarani
T
Cachoeiras de
Prudentópolis
Segundo e Terceiro
Planaltos Paranaenses
U
Astroblema de Vista
Alegre
Terceiro Planalto
Paranaense
Sequência Gondwana III, feições de impacto
meteorítico, formas especiais de relevo, eventos
singulares e seus efeitos
Mina de Ametista em
Chopinzinho
Terceiro Planalto
Paranaense
Magmatismo Serra Geral e mineralização de quartzo
violeta em geodos
V
Figura 2 – Ilha do Mel, geossítio representativo do patrimônio
geológico do Litoral (acervo Mineropar).
Figura 3 – Pico do Paraná, geossítio representativo do
patrimônio geológico na transição Litoral/Primeiro Planalto
Paranaense (Serra do Mar).
46
Guimarães et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 41-52
Figura 4 – Parque Tanguá (Curitiba), geossítio representativo do
patrimônio geológico-mineiro do Primeiro Planalto
Paranaense.
Figura 5 – Gruta Bacaetava (Colombo), geossítio representativo
do patrimônio geológico do Primeiro Planalto Paranaense.
Figura 6 – Estrias Glaciais de Witmarsum (Palmeira), geossítio
representativo do patrimônio geológico do Segundo Planalto
Paranaense.
Figura 7 – Buraco do Padre (Ponta Grossa), geossítio
representativo do patrimônio geológico do Segundo Planalto
Paranaense.
Figura 8 – Parque Estadual de Vila Velha (Ponta Grossa),
geossítio representativo do patrimônio geológico do Segundo
Planalto Paranaense.
Figura 9 – Canyon do Guartelá (Castro/Tibagi), geossítio
representativo do patrimônio geológico do Segundo Planalto
Paranaense.
47
Guimarães et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 41-52
Figura 10 – Extração de geodos de ametista no basalto
(Chopinzinho), geossítio representativo do patrimônio
geológico-mineiro do Terceiro Planalto Paranaense.
Figura 11 – Parque Nacional do Iguaçu (Foz do Iguaçu), geossítio
representativo do patrimônio geológico do Terceiro Planalto
Paranaense.
Figura 12 – Vestígios da mineração de ouro em Timbotuva
(Campo Largo), imagem representativa da história da
mineração no Paraná.
Figura 13 – Extração de diamantes por mergulho com
escafandros (Tibagi/1935).
Figura 14 – Mina de carvão em Ortigueira, ativa até a década de
1970.
Figura 15 – Extração de folhelho pirobetuminoso (São Mateus
do Sul).
48
Guimarães et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 41-52
5. VALORIZAÇÃO E PROMOÇÃO DO PATRIMÔNIO
GEOLÓGICO PARANAENSE
A história do Planeta Terra deixou capítulos
interessantes e variados no que hoje é o estado do
Paraná e este é um acervo sobre as memórias do
território paranaense difundido ainda de modo precário
e certamente insuficiente. Carneiro et al. (2004) expõem
com propriedade os motivos de se incluir temas
geológicos na educação básica, necessários para a
formação de cidadãos responsáveis e consequentes. Os
autores destacam os desafios de se levar o mundo real
para a sala de aula e vice-versa, a atenção para a
geoconservação das áreas especiais para a compreensão
do passado geológico, preferencialmente tomando-se o
cuidado de realizar a oferta cultural do patrimônio
geológico local. Exemplos concretos e com resultados
estimulantes, no Paraná e em estados vizinhos (Carneiro,
2007; Bruczkovski e Guimarães, 2011; Alencar et al.,
2012), demonstram o potencial didático de elementos da
geodiversidade na fixação de conteúdos de Ciências e
Geografia do ensino fundamental e médio, tomando-se
por base exemplos locais.
Outra maneira de aproximar o patrimônio
geológico da comunidade em geral é através de museus e
exposições. O Centro de Informações Minerais Professor
Riad Salamuni e a Exposição de Minerais e Rochas Orville
Derby, ambos situados na Mineropar, receberam visitas
da ordem de 12.000 estudantes no ano de 2012
(PARANÁ, 2012). A externalização do acervo do
laboratório didático de Geologia da Universidade
Estadual de Ponta Grossa em corredores, saguões e área
exterior de um de seus blocos didáticos, além da
reprodução de quase todo o conjunto de painéis
geológicos da Mineropar, trouxe a oportunidade de tanto
a comunidade universitária como a de visitantes
ocasionais tomarem conhecimento de elementos da
geodiversidade em geral, e do patrimônio geológico
paranaense em particular (Liccardo et al., 2012).
Museus, centros de divulgação e exposições
acabam sendo, muitas vezes, a melhor forma de levar à
população dois componentes da geodiversidade que, por
questões de escala, fragilidade e/ou valor científico,
normalmente não podem ser vistos em seus locais
originais de coleta: fósseis e minerais. O estado do Paraná
é uma referência nacional quando o assunto são os
fósseis de invertebrados marinhos do Devoniano, a
Fauna Malvinocáfrica. Apesar de serem conhecidos
diversos afloramentos fossilíferos da Formação Ponta
Grossa (Sequência Paraná), principalmente nos
municípios de Ponta Grossa, Tibagi e Jaguariaíva
(inclusive integrando a SIGEP; Bolzon et al., 2002), não há
muito sentido em indicá-los para uma lista dos geossítios
que divulguem à população em geral o patrimônio
geológico paranaense, seja pela dificuldade de pronta
observação dos fósseis, da necessidade de conservação
de material de interesse científico ou restrições de
acesso, conservação e segurança de alguns destes locais
(como é o caso do Sítio SIGEP 65, em Jaguariaíva).
O “conjunto básico” de geossítios (A a G na
Tabela 1) para contato com o patrimônio geológico do
Paraná encontra-se, como já destacado, em unidades de
conservação. Estas, em maior ou menor proporção,
contam com mecanismos de proteção e divulgação
(infelizmente excessivamente dirigidos à
biodiversidade), algumas delas com equipamentos e
pessoal voltados à exploração turística. Deve-se ressaltar
que na lei federal que criou o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza (SNUC; Brasil,
2000), onde são listados seus objetivos, estão explícitas
as missões tanto de proteger como de permitir o acesso
da população a elementos ímpares da natureza
brasileira, os quais claramente incluem o patrimônio
geológico:
(...)
VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de
notável beleza cênica;
VII - proteger as características relevantes de natureza
geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica,
paleontológica e cultural;
VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
(...)
X - proporcionar meios e incentivos para atividades de
pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental;
(...)
XII - favorecer condições e promover a educação e
interpretação ambiental, a recreação em contato com a
natureza e o turismo ecológico (artigo 4 da Lei Federal
9.985, 2000).
Alguns dos principais destinos turísticos do
Paraná possuem sua atratividade estreitamente
vinculada à geodiversidade (Cataratas do Iguaçu, Ilha do
Mel, Parque Estadual de Vila Velha), apesar dos
operadores turísticos e gestores das unidades de
conservação subestimarem o componente abiótico
destes locais. Esforços têm ocorrido para superar esta
deficiência, com a implantação de painéis explicativos,
treinamentos de guias e condutores, elaboração de
roteiros geoturísticos e participação nos conselhos
consultivos das unidades de conservação (Melo, 2006;
Guimarães et al., 2006; Letenski et al. 2009; Moreira,
2008, 2011), mas ainda há espaço para muito progresso
(Melo et al., 2004; Guimarães et al., 2008).
Recentemente tem havido intensos debates
sobre uma definição para geoturismo (Hose, 2011;
Martini et al., 2012). Mas um consenso entre os teóricos
desta vertente turística está no acréscimo de
conhecimento a quem dele usufrui, o que implica a
promoção de um ganho cultural. Portanto o geoturismo
representa ao mesmo tempo uma ferramenta de
conservação do patrimônio geológico, geração de renda
e valorização e divulgação científico-cultural.
I n st r u m e nto s q u e p o d e m a u x i l i a r a
49
Guimarães et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 41-52
disseminação do conhecimento sobre o patrimônio
geológico, tanto no campo do geoturismo como da
educação (formal, informal e não-formal), são os roteiros
e guias geológicos. Há décadas a comunidade de
geocientistas tem lançado mão do recurso da elaboração
de roteiros para divulgar as peculiaridades da
geodiversidade nacional, com ótimos exemplos no
estado do Paraná (de Mendes, 1968 a Matsumura, 2010),
inclusive culminando na realização do 1º Simpósio de
Roteiros Geológicos do Paraná em 2002 (Fernandes et al.,
2002).
Estes roteiros, frequentemente voltados a um
público especializado (mineralizações de F, Pb e Ag: Lima
e Silva, 1987; geologia e paleontologia da Bacia do
Paraná: Zalán et al., 1987, Rösler et al., 2000;
icnopaleontologia do Grupo Paraná: Tognoli et al., 2002;
geologia do petróleo na Bacia do Paraná: Milani et al.,
2006), também acabam por auxiliar novas gerações de
professores universitários que buscam alternativas para
seus trabalhos de campo. Apenas recentemente tem se
percebido a publicação de roteiros que buscam atender
profissionais das geociências que não diretamente
geólogos, ou mesmo que pretendam mediar a
transmissão de conhecimentos específicos para
condutores de turismo e o público em geral (Letenski et
al., 2009; Augusto & Lama, 2010).
Seja porque possuam alcance restrito, muitas
vezes acompanhando boletins de resumos ou atas de
eventos científicos, ou pela linguagem excessivamente
técnica, os roteiros atendem apenas parcialmente o
papel de divulgação do patrimônio geológico. Folhetos,
mapas e guias geoturísticos dirigidos ao público em geral,
de uso consagrado no exterior, têm começado a ocupar
este espaço no Paraná, complementando as funções
exercidas por painéis, museus e condutores. A coleção de
folhetos explicativos produzidos pela Mineropar
(disponíveis em www.mineropar.pr.gov.br), os guias
geoturísticos de Curitiba (Liccardo et al., 2008) e do
carste na região metropolitana de Curitiba (Piekarz,
2011), o mapa geoturístico de Tibagi (Liccardo et al.,
2010) e o mapa/folheto do patrimônio espeleológico de
Ponta Grossa (GUPE, 2013) são exemplos que deveriam
ser estendidos às demais áreas ilustrativas do patrimônio
geológico do Paraná.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos últimos anos a sociedade brasileira tem
visto, nos grandes veículos de divulgação em massa, um
número cada vez maior de notícias relacionadas ao
mundo profissional dos geólogos. As “descobertas do
pré-sal”, desastres naturais no Brasil (por exemplo,
movimentos de massa em Santa Catarina, Rio de Janeiro
e na região litorânea do Paraná) e no exterior
(terremotos, tsunamis, erupções vulcânicas), novidades
científicas no campo paleontológico ou astronômico (por
exemplo, explicações sobre as missões norte-americanas
em Marte) têm trazido geólogos aos programas de
televisão, revistas, jornais, etc.
Também com frequência aparecem notícias
destacando a necessidade do país em formar um número
maior de geólogos. Isto tem levado a Geologia a ser
apontada como uma das melhores opções profissionais,
em publicações voltadas para estudantes do ensino
básico, com garantias de inserção imediata no mercado
de trabalho.
Por outro lado a constatação cotidiana indica
que a sociedade em geral, como regra, possui uma
enorme lacuna na compreensão de elementos básicos
das geociências. Isto se revela no contato com alunos de
disciplinas de Geologia Geral (e equivalentes) das séries
iniciais do ensino superior (cursos de Engenharia,
Agronomia, Geografia, Biologia). Também esta situação
ocorre com profissionais de diferentes órgãos da
administração pública, inclusive aqueles responsáveis
pela prevenção de situações de risco a desastres naturais
ou das políticas de uso e ocupação do solo.
No estado do Paraná há atualmente apenas um
curso de graduação em Geologia, mas diversos cursos
com disciplinas básicas das geociências em cursos de
Geografia, Ciências Biológicas, Agronomia, Engenharia
Civil, Química, dentre outros. No primeiro caso seria
recomendável a oferta de disciplinas, aos futuros
geólogos, que contemplassem estratégias de
identificação, proteção e divulgação do patrimônio
geológico, tais como Geoconservação e Geoturismo.
No que diz respeito à graduação de profissionais
de outras áreas existe uma dupla missão. “Alfabetizar”
geologicamente futuros bacharéis (biólogos, geógrafos,
turismólogos, engenheiros etc.) e preparar para a tarefa
de transmissão de conhecimento geocientífico aqueles
que atuarão como professores do ensino fundamental e
médio (principalmente professores de Geografia e
Ciências).
Auxiliar a sociedade a perceber-se como
elemento indissociável e integrante do mundo geológico
é uma ação cultural que não deveria se resumir às
universidades e bancos escolares, necessitando ser
abraçada por indivíduos, associações e órgãos que
congreguem profissionais das geociências. Em todas
estas situações acredita-se que os exemplos do
patrimônio geológico paranaense facilitarão o
entendimento de aspectos básicos das geociências e
suas implicações para a população em geral.
Agradecimentos: Os resultados e discussões aqui
apresentados são oriundos, em parte, de projetos
financiados pela Fundação Araucária e pela Mineropar,
aos quais estendemos nossos agradecimentos. Os
créditos das imagens deste artigo, quando não
discriminados, pertencem aos autores.
50
Guimarães et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 41-52
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ZALÁN P. V., CONCEIÇÃO J. C. J., ZANOTTO O. A., VOLFF Z.
1987. Roteiro de excursão - Estratigrafia e estruturas
da Bacia do Paraná. In: III Simpósio Sul-Brasileiro de
Geologia, Curitiba/PR. Anais. SBG PR/SBG RS-SC,
Curitiba, 80-86 p.
Manuscrito ID 32439
Submetido em junho de 2013
Aceito em junho de 2013
52
boletim paranaense
de geociências
volume 70 (2013) 53 - 76
Patrimônio geológico no estado de São Paulo
Geological heritage in the the state of São Paulo
VIRGINIO MANTESSO-NETO , ROGÉRIO RODRIGUES RIBEIRO , MARIA DA GLÓRIA MOTTA GARCIA ,
ELIANE APARECIDA DEL LAMA , ANTONIO THEODOROVICZ .
¹Conselho de Monumentos Geológicos / SP - [email protected]
²Instituto Geológico de São Paulo - [email protected]
³Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo - [email protected] - [email protected]
4
CPRM / SP - [email protected]
Resumo
O Estado de São Paulo tem cerca de 250.000km² e 41 milhões de habitantes, com uma taxa de urbanização que ultrapassa 95%. Sua
geologia é constituída de cerca de 30% de embasamento cristalino, cerca de 70% de Bacia do Paraná e pequenas bacias terciárias e
quaternárias; sua geomorfologia reflete essencialmente a base geológica. Seu patrimônio geológico natural é rico e variado, cobrindo
quase toda a história terrestre, múltiplas litologias, e uma grande variedade de cavernas, incluindo um dos maiores portais calcários do
mundo; o patrimônio geológico construído é também muito abrangente, incluindo o uso de rochas locais e importadas. A história da
mineração no seu território abrange algumas das primeiras minas do Brasil e tem importância continental. O estado criou o primeiro
Conselho de Monumentos Geológicos do país, tem geossítios de valor científico internacional e está desenvolvendo seu inventário. Tem
potencial para pelo menos um geoparque. Conta com muitas instituições de ensino e pesquisa nas geociências, e diversos museus. Por
tudo isso, a perspectiva para o bom uso do seu patrimônio geológico, com a preservação adequada, é uma possibilidade real e um dos
objetivos de sua comunidade geocientífica.
Palabras clave: São Paulo; patrimônio geológico natural; patrimônio geológico construído; geoparque; geoturismo.
Abstract
The State of São Paulo has an area of 250.000km² (97.000sq.mi.) and a population of 41 million inhabitants, of which over 95% in urban
areas. Its geology is made up of about 30% of crystalline basement terrains, about 30% of Paraná Basin terrains and minor tertiary and
quaternary basins; its geomorphology clearly reflects its geological basis. Its natural geological heritage is rich and varied, covering most of
the Earth's history, multiple lithologies, and a large variety of caves, including one of the largest limestone portals in the world. Its built
geological heritage is also quite meaningful, including the use of both domestic and imported dimension stones. The history of mining in
its territory includes some of the oldest mines in Brazil and has continent-wide meaning. This state created the first Council of Geologic
Monuments in the country, has geosites of international significance, and is developing its inventory of geosites. It has the potential for at
least one geopark. It has many geoscience researching and teaching institutions, which host a number of museums. For all of these
reasons, the perspective for the proper use of its geological heritage, with adequate preservation, is a real one, and one of the goals of its
geoscientific community.
Key words: Sao Paulo; natural geological heritage; built geological heritage; geopark; geotourism.
1. INTRODUÇÃO
O Estado de São Paulo tem 248.223 km²; está
dividido em 14 regiões administrativas, com 645
municípios e 4 regiões metropolitanas; sua população
em 2013 é de 42,3 milhões de habitantes, dos quais 20,1
milhões na Região Metropolitana da Capital. A taxa de
urbanização é muito alta, e era, em 2010, acima de
95,9%. (SEADE, 2013). Neste trabalho apresentamos
uma visão geral e abrangente sobre o patrimônio
geológico no estado, tentando cobrir as várias facetas do
tema, e suas interfaces com outras áreas das geociências
e mesmo outras ciências, inclusive humanas.
Dividimos o Patrimônio Geológico em dois
grandes grupos: o natural e o construído. O patrimônio
natural é constituído por geossítios, onde o aspecto de
interesse apresenta-se essencialmente em seu estado
original, e a intervenção humana, se houve, teve efeito
mínimo. O patrimônio construído abrange todos os
elementos da geodiversidade que, por intervenção
humana, tornaram-se itens de valor patrimonial.
No Brasil começou a ser recentemente
constatado o resultado já conhecido em outros países de
que roteiros geoturísticos são muito úteis na divulgação e
disseminação do conhecimento geocientífico, além de
contribuir para a preservação do patrimônio geológico.
Assim, esperamos que esse artigo, sem ser um guia,
possa eventualmente ser usado como tal, estimulando o
usufruto e o estudo dessa rica herança geológica e
cultural.
2. ESBOÇOS DA GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA
Em grandes linhas, quase 30% do território
paulista correspondem ao Embasamento Cristalino (com
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Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
idades entre Arqueano e Proterozoico Superior) e quase
70% à Bacia do Paraná (do Devoniano ao Cretáceo),
ocorrendo ainda pequenas áreas com coberturas
cenozoicas, incluindo bacias (intracontinentais e
costeiras) terciárias e pacotes sedimentares litorâneos
(também intracontinentais e costeiros) quaternários
(Figura 1).
Figura 1 – Esboço Geológico do Estado de São Paulo, segundo Santos (2004).
As características geomorfológicas são
fortemente condicionadas pela estrutura geológica; são
reconhecíveis, por critérios morfoesculturais, as
seguintes grandes unidades geomorfológicas: Província
Costeira, Planalto Atlântico, Depressão Periférica,
Cuestas Basálticas e Planalto Ocidental (Figura 2).
Figura 2 – Esboço Geomorfológico do Estado de São Paulo, baseado no conceito de morfoesculturas (Estado de Sao Paulo images, s/d).
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Como se nota no esboço geológico da Figura 1,
as duas unidades principais do estado são a Bacia do
Paraná, a noroeste, e o embasamento cristalino, a
sudeste. Um roteiro que tenha início no extremo
noroeste (p. ex. em Ilha Solteira) até o extremo sudeste
(p. ex. em Santos) mostrará inicialmente rochas
jurocretáceas do topo da Bacia do Paraná pertencentes
aos g r u p o s B a u r u e S ã o B e n t o , d e a m b i e n t e
predominantemente continental, seguidas de litotipos
permo-triássicos do Grupo Passa Dois, de ambiente
continental eólico e, em seguida, rochas de ambientes
glácio-marinhos do Grupo Itararé (Carbonífero
/Permiano). Localmente, a sudeste, ocorrem também
depósitos fluviais a costeiros devonianos do Grupo
Paraná, que constituem a base da sequência sedimentar
que compõe a bacia no estado. O conjunto todo repousa
sobre uma faixa alongada orientada na direção
nordestesudoeste composta na sua maior parte por
rochas metamórficas de baixo a alto grau cortadas por
corpos granitoides de diferentes idades.
Esseembasamento cristalino tem idades desde
arqueanas (~ 3 Ga) até proterozoicas superiores
(chegando, pontualmente, a cambrianas, ~ 500 Ma) e foi
afetado por inúmeros eventos tectônicos. Numerosas
falhas e zonas de cisalhamento transcorrentes geradas
como resultado de colisões continentais registram os
episódios de aglutinação do Supercontinente
Gondwana, no Neoproterozoico, que corresponde ao
último grande evento termo-tectônico que afetou a
região – o Brasiliano/Pan-Africano. No Cretáceo teve
início a fragmentação do Gondwana e a abertura do
Oceano Atlântico Sul, durante a qual o desenho atual da
linha de costa do Continente Sul-Americano começou a
ser delineado. Subprodutos tardios destes movimentos
extensionais, tais como as bacias cenozoicas (Taubaté,
São Paulo, etc.) distribuídas ao longo de um rifte
orientado paralelamente à costa e a Serra do Mar, uma
das mais espetaculares feições do sul-sudeste do Brasil,
também foram gerados, além de planícies litorâneas e
bacias costeiras, como a de Santos.
Em razão desta grande diversidade de rochas,
estruturas, paisagens e processos geológicos construídos
ao longo de quase toda a história do planeta, o Estado de
São Paulo, detém, em seu território, geossítios de valor
inestimável, seja pela relevância geocientífica, beleza
cênica ou importância histórica. Vários destes geossítios
já se constituem em (ou estão bastante próximos de)
locais de turismo convencional ou de turismo de
aventura. Alguns já estão disponíveis como locais de
visitação geoturística e possuem projetos de divulgação e
proteção. A maioria deles, entretanto, carece de ações
que promovam a interface entre o patrimônio natural e
as comunidades, uma situação que representa um
grande desafio para o poder público, a comunidade
científica e a sociedade.
3. HISTÓRICO DO RECONHECIMENTO E GESTÃO DO
PATRIMÔNIO GEOLÓGICO
As primeiras ações governamentais visando a
gestão do patrimônio natural geológico no Estado de São
Paulo tiveram início na década de 1970, com o
tombamento parcial da de uma antiga pedreira de
varvito no município de Itu, em 1974, pela Secretaria
Estadual da Cultura.
Outras ações governamentais visando a gestão
do patrimônio natural geológico iniciaram-se com a
publicação do Decreto Estadual nº 11.138/78. Este
documento colocava sob a égide da antiga Divisão de
Proteção de Recursos Naturais (DPRN) e do Instituto
Geológico (IG), então órgãos da Secretaria de Estado da
Agricultura (SAA), a elaboração de normas técnicas que
visavam o uso racional, a salvaguarda e o serviço de
conservação dos Monumentos Geológicos para fins
científicos e culturais, bem como a perpetuidade de
monumentos naturais por meio de regimes especiais de
proteção (arts. 368, IX e X; 423, IX). Posteriormente, já na
década de 1980, boa parte dessas atribuições foram
reunidas e repassadas definitivamente ao Instituto
Geológico, por meio da criação da Seção de Monumentos
Geológicos, quando da expedição do Decreto Estadual nº
24.931/86 (art. 10°, III). No ano de 1987, o IG se
desacoplou da Secretaria da Agricultura e foi transferido
para a recém-criada Secretaria de Estado do Meio
Ambiente (SMA) (Decreto nº 26.942/87, artº 1º).
Na transição dessas duas décadas a gestão do
patrimônio geológico ganhou outro aliado, a Secretaria
de Estado da Cultura, por meio do Decreto Estadual n°
13.426/79. Neste documento, observa-se um estímulo à
valorização cultural e à proteção desse patrimônio, ao ser
preconizada a necessidade da defesa dos monumentos
naturais paisagísticos por meio do tombamento (arts. 3°
e 140, § 1°). Finalmente, em 1989, a promulgação da
atual Constituição Paulista ratificou a valorização do
patrimônio geológico como bem natural a ser tombado,
ao incluir como patrimônio cultural a ser protegido “os
conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e
científico” (art. 260).
Na década de 1990, duas importantes ações do
poder público local foram a criação do Parque Municipal
da Rocha Moutonneé, em 1991, em Salto, e do Parque
Municipal Varvito de Itu, em 1995.
O Instituto Geológico, por meio da Seção de
Monumentos Geológicos, teve forte atuação na gestão
do patrimônio natural geológico paulista até meados da
década de 1990, quando iniciou contatos com as
prefeituras do estado solicitando indicações ou
sugestões de ocorrência de lugares com interesse
geológico em seu território, que merecessem um estudo
técnico. Entretanto, por falta de pesquisadores e de
pessoal técnico, esta Seção ficou praticamente
inoperante até 2007, quando foi reativada com a
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inserção, via concurso público, de novos pesquisadores
científicos e com o lançamento dos projetos
"Monumentos Geológicos do Estado de São Paulo" e
"Monumentos Geológicos da Região de Rio Claro”.
Em 2009 foi criado, por meio da Resolução SMA
nº 076/2009, o Conselho Estadual de Monumentos
Geológicos (CoMGeo-SP), junto à Secretaria de Estado de
Meio Ambiente. O CoMGeo-SP, de caráter consultivo,
tem como principal objetivo auxiliar, no âmbito da SMA,
as ações e atividades que envolvam a pesquisa,
conservação e divulgação dos Geossítios e Monumentos
Geológicos de São Paulo. É composto pelo Secretário do
Meio Ambiente (seu presidente), pelo diretor do IG, pelo
chefe da Seção de Monumentos Geológicos (seu
Secretário Executivo) e por outros 16 Conselheiros,
vindos de diversas áreas de atuação e conhecimento, e
reconhecidos por sua atuação nos temas relacionados
aos Geossítios e Monumentos Geológicos.
No âmbito acadêmico, duas iniciativas pioneiras
podem ser citadas dentro do Instituto de Geociências da
Universidade de São Paulo: 1) A criação, em 2011, do
Núcleo de Apoio à Pesquisa em Patrimônio Geológico e
Geot ur ismo d a Uni versi dad e de S ão Paul o
(GeoHereditas), com o apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa
da USP. O núcleo tem como objetivos principais
promover a pesquisa, a geoconservação e a divulgação
do patrimônio geológico no Estado de São Paulo e em
outros estados, tendo como alicerces a Geologia Básica,
a divulgação das Geociências e a melhoria da qualidade
de vida das comunidades envolvidas. 2) Uma nova linha
de pesquisa, denominada “Patrimônio Geológico natural
e construído e Geoconservação”, foi incluída, em 2012,
no Programa de Pós-Graduação em Mineralogia e
Petrologia do IGc/USP.
Monumentos Geológicos, os primeiros marcadores de
página da série “Monumentos Geológicos de São Paulo”
e painéis geológicos (Figuras 3 a 6), além da ficha de
proposta de criação de Monumento Geológico, folders e
bloco de notas.
Figura 3 – Imagem ilustrativa da Logo do Projeto Monumentos
Geológicos de São Paulo.
4. INICIATIVAS NA ÁREA DE PATRIMÔNIO GEOLÓGICO
No estado, há várias instituições com
programas ligados a aspectos do movimento pela
valorização do patrimônio geológico. Os principais
programas e iniciativas são:
Figura 4 – Imagem ilustrativa do Inventário Preliminar de
Geossítios e Monumentos Geológicos Paulistas do Projeto
Monumentos Geológicos de São Paulo.
4.1. MONUMENTOS GEOLÓGICOS DO ESTADO DE SÃO
PAULO
O já mencionado Projeto “Monumentos
Geológicos do Estado de São Paulo” tem como principal
objetivo promover o registro, conhecimento,
conservação e divulgação do Patrimônio Geológico
estadual, abordando a geodiversidade como arcabouço
fundamental da biodiversidade. Visa também preencher
uma lacuna na gestão do patrimônio natural geológico,
permitindo que o Estado de São Paulo coloque-se em
posição compatível com as ações já existentes em esfera
mundial e em outros estados do Brasil.
Alguns produtos deste Projeto são a sua
logomarca, o Inventário Paulista (Preliminar) dos
Figura 5 – Imagem ilustrativa do marcador de página (frente e
verso) do Projeto Monumentos Geológicos de São Paulo.
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Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
Foram identificados onze locais com ocorrência
de elementos da geodiversidade apresentando
significativo valor científico. Segundo a metodologia
utilizada para inventário e quantificação desses onze
geossítios, quatro apresentaram também valor científico
em nível internacional. A próxima fase será o
encaminhamento desses geossítios para apreciação por
parte do Conselho de Monumentos Geológicos
(CoMGeo-SP).
Figura 6 – Imagem ilustrativa do Painel Geológico do Projeto
Monumentos Geológicos de São Paulo.
Dos cerca de trinta geossítios identificados no
território paulista (pela SIGEP ‒ ver item 4.6 ‒ e por
instituições de pesquisa), até meados de 2013, seis
apresentaram as condições mínimas para uma gestão
adequada e foram declarados como Monumentos
Geológicos Paulistas pelo CoMGeo-SP. São eles: O Carste
e as Cavernas do Parque Estadual Turístico Alto do Ribeira
(PETAR); a Rocha Moutonnée; o Varvito de Itu; a Cratera
de Colônia; os Geyseritos de Anhembi; e a Pedra do Baú.
Os demais sítios deverão ser paulatinamente apreciados
pelo mesmo fórum.
4.2. MONUMENTOS GEOLÓGICOS DA REGIÃO DE RIO
CLARO
Figura 7 – Elemento da área coberta pelo Projeto Monumentos
Geológicos da Região de Rio Claro: o Cuscuzeiro de Analândia,
morro-testemunho constituído por arenitos da Formação
Botucatu (Bacia do Paraná, idade jurássica), localmente
“cozidos” e silicificados pelo basalto da Formação Serra Geral
(Foto: Virginio Mantesso-Neto).
De 2007 até 2012 foi desenvolvido o Projeto
“Monumentos Geológicos da Região de Rio Claro”
(Figuras 7 e 8). Essa região é composta pelos municípios
de Analândia, Charqueada, Corumbataí, Ipeúna,
Itirapina, São Pedro, Rio Claro, Limeira e Santa Gertrudes.
É conhecida por apresentar um patrimônio natural
bastante diverso, e já conta com trabalhos de
levantamento do patrimônio geológico elaborados por
Zaine & Perinotto (1996), Perinotto (2009), Zaine & Zaine
(2009) e Perinotto & Mantesso-Neto (2013a, 2013b),
com importantes considerações sobre o potencial
turístico da área e propostas de educação ambiental.
Foram objetivos deste projeto:
a) contribuir para o registro, o conhecimento e a
divulgação do Patrimônio Geológico do Estado de São
Paulo;
b) identificar, selecionar e caracterizar o
patrimônio geológico de excepcional valor científico
existente na região, como forma de suportar iniciativas
de geoconservação;
c) contribuir com o Inventário Paulista dos
Monumentos Geológicos (Ribeiro et al., 2012).
Figura 8 – Elemento da área coberta pelo Projeto Monumentos
Geológicos da Região de Rio Claro: Formação Irati (Bacia do
Paraná, idade permiana), da qual se origina esta placa de
calcário, notável por apresentar 9 fósseis de mesossaurídeos,
todos com o crânio preservado, e indícios de que um deles seja
de uma fêmea prenha. Museu de Geociências IGc/USP. Escala
5cm. (Foto: Virginio Mantesso- Neto).
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Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
4.3. VALE DO RIBEIRA - PARQUES E GEOPARQUE
Consequência de uma longa e complexa história
geológica que, do Arqueano ao Fanerozoico, envolveu a
superposição de vários eventos tectônicos de abertura e
fechamento de mares e oceanos, e consequentes
colisões de massas continentais e intensa granitogênese
associada, a região sul-paulista, limítrofe com o estado
do Paraná, conhecida como Vale do Ribeira, se
caracteriza por ser uma das mais complexas e variadas na
geologia do Brasil. É um geoambiente especial em vários
sentidos. Notadamente na sua porção mais montanhosa,
conhecida como Alto Vale do Ribeira, apresenta um rico e
diversificado patrimônio geológico, ambiental,
paisagístico e mineral, com destaque para uma das
maiores concentrações das mais belas e impressionantes
cavernas do mundo (cerca de 300 conhecidas), muitas
das quai s com fei çõ es úni ca s e em pleno
desenvolvimento (Figuras 9 a 12). O estado de São Paulo
criou, pelo Decreto nº 32.283 de 19/05/1958, o Parque
Estadual e Turístico do Alto Ribeira – PETAR
(www.petaronline.com.br), com a finalidade de
resguardar e proteger o patrimônio espeleológico e a rica
biodiversidade aí presentes; a SIGEP (ver item 4.6)
reconheceu a região como um dos importantes
patrimônios espeleológicos do Brasil, registrando esse s i
stemadecavernascomoSítio043
(sigep.cprm.gov.br/sitio043/sitio043.htm).
Figura 10 – Caverna Teminina, travertinos em formação. Foto:
Antonio Theodorovicz.
Figura 11 – Caverna Teminina, jato d´água saindo do teto da
caverna como uma grande ducha. Foto: Antonio Theodorovicz.
Figura 9 – Caverna Teminina, salão conhecido como Jardim
Suspenso. Foto: Antonio Theodorovicz.
Figura 12 – Caverna Teminina, jato d´água saindo do teto da
caverna como uma grande ducha. Tomada do painel existente
no Núcleo Caboclos. Foto: Antonio Theodorovicz.
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Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
Protegem e também aproveitam turisticamente
o extraordinário patrimônio geológico e ambiental da
região outras grandes áreas de preservação ambiental da
categoria Parques do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação – SNUC, os parques estaduais Intervales ‒
PEI e Caverna do Diabo, e o Parque Municipal Morro do
Ouro de Apiaí (www.apiai.sp.gov.br), este último criado
com o intuito de proteger e aproveitar uma antiga
mineração de ouro primário.
A l é m d o ex t r a o r d i n á r i o p a t r i m ô n i o
espeleológico concentrado nas áreas dos parques,
existem outros patrimônios naturais importantes,
distribuídos por uma região bem mais abrangente do que
a de domínio das áreas de conservação. Esses atributos,
em seu conjunto, tornam essa região de alto potencial
geoturístico também um didático laboratório a céu
aberto para o estudo dos mais diversos temas da bio e
geodiversidade. Parte desse patrimônio não está sendo
preservado, sofrendo degradação pelo avanço
desordenado das pastagens e dos reflorestamentos com
espécies exóticas, que pouco a pouco homogeneízam a
vegetação com todos seus impactos ambientais e cênicos
negativos.
Infelizmente, causa também impacto negativo a
constatação de que, contrastando com seu
ricopatrimônio natural, a região é
historicamenteconhecidapor ser uma das mais pobresdo
estado, estando aí localizados alguns de seus municípios
de menores IDHs. Essa contradição leva a concluir que
não se está sabendo aproveitar adequadamente o que a
região tem de melhor ‒ seu patrimônio natural ‒ como
fator de melhoria das condições socioeconômicas da
população. Muito se tem falado em mudar essa realidade
através do ecoturismo. Projetos governamentais com
esse intuito são muitos e antigos. No entanto, as
iniciativas até o momento tomadas são tímidas e se
concentram basicamente no incentivo à visitação às
áreas dos parques.
Preocupa mais ainda o equivocado conceito
que tem boa parte da população que não se beneficia
economicamente do turismo praticado nos parques de
que eles são um dos limitadores do desenvolvimento
socioeconômico da região. Esse conceito leva essa
população a rechaçar qualquer proposta de criação de
novas unidades de preservação ambiental da categoria
parques do SNUC. Essa postura, por sua vez, aumenta
ainda mais o risco de degradação desse patrimônio.
É com essa preocupação que o Serviço
Geológico do Brasil (SGB/CPRM), através do seu Projeto
Geoparques(www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.ex /
sys/start.htm?sid=134) achou por bem selecionar, dentre
outras do Brasil, uma área de cerca de 2.500 km² no Alto
Vale do Ribeira (www.cprm.gov.br/Geo_Site/), que
envolve partes de municípios paulistas de Apiaí,
Iporanga, Ribeira, Barra do Turvo, Eldorado Paulista e
Itaoca e do vizinho município paranaense de
Adrianópolis, como adequada para aplicar uma novidade
de uso e ocupação do solo que são os Geoparques termo criado pela UNESCO, para distinguir áreas do
mundo onde o patrimônio geológico é preservado e,
através do geoturismo, é aproveitado como indutor de
crescimento econômico, de cultura e de educação
ambiental.
É, portanto, um conceito de preservação
totalmente distinto dos parques do SNUC, uma vez que
um Geoparque não é cercado; não é necessário que seja
uma figura jurídica; não envolve desapropriações; não
exige a saída dos moradores; não proíbe nenhuma forma
de uso e ocupação, nem mesmo da mineração (que pode
até ser aproveitada como um atrativo turístico). É uma
concepção de desenvolvimento sustentável que tem por
objetivo melhorar as condições de vida da população e
fazer com que ela passe a preservar e a ter orgulho do
meio em que vive. Um Geoparque tem também por
finalidade permitir que o turista ao visitá-lo se divirta,
que possa, ao mesmo tempo, adquirir conhecimentos
sobre a sua história e a sua importância geológica. Esse
conhecimento é repassado principalmente por meio de
painéis interpretativos montados em locais
estrategicamente selecionados, denominados de
Geossítios.
Geossítio é o termo empregado para
caracterizar um local onde existe uma singularidade
qualquer da geodiversidade que mereça ser preservada e
visitada, seja pela sua exclusividade, ou pela sua
importância para o entendimento da evolução geológica
em nível local, regional ou global, ou seja, ainda, por
qualquer outro aspecto ligado às ciências da Terra ‒
inclusive aspectos culturais ou históricos. A cada
geossítio está normalmente associado um painel
explicativo, que tem não apenas o objetivo de passar
informações, mas também o de fazer o turista refletir
sobre a geologia e o meio ambiente, e conscientizar-se da
necessidade da preservação do seu entorno.
Muitas vezes, particularmente em regiões onde
a paisagem ‒ ou, em última análise, a geomorfologia ‒ é
um atrativo, o geossítio, além de suas outras
características, é também um local de onde se pode
admirar uma bela vista (Figuras 13 e 14).
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Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
Figura 13 – Imagem tirada do mirante sobre o vale do rio Betari,
exemplo de geossítio de interesse geológico, geomorfológico e
turístico. O vale foi condicionado por duas histórias geológicas
distintas, distantes no tempo geológico: a tectônica colisional
Brasiliana, responsável pela deformação das sequências
marinhas do Grupo Lajeado, e, no Fanerozoico, a abertura do
Atlântico. A paisagem resultante ‒ ou seja, a geomorfologia
hoje visível ‒ é um forte atrativo cênico. (Ver também Figura 14,
tirada do mesmo local). Foto: Antonio Theodorovicz.
Se uma entidade está situada numa região que apresenta
características geológicas e outros atributos adequados,
dispõe de infraestrutura receptiva e
administrativa já em operação compatível com a filosofia
de um Geoparque, e apresenta um dossier de
candidatura, ela pode vir a receber da UNESCO um selo
de aval e passar a integrar a Rede Global de Geoparques
(Global Geoparks Network ‒ www.globalgeopark.org).
Essa rede busca manter, por um sistema de orientação,
partilha e colaboração entre seus membros, uma
plataforma de ações com o intuito de proteger e
aproveitar o patrimônio geológico como indutor de
educação, entretenimento e desenvolvimento
sustentável.
Justificativas para tornar realidade um projeto
de Geoparque na região, segundo os pressupostos da
UNESCO, existem muitas. Dentre elas, salientam-se:
i) o excepcional patrimônio espeleológico e
geológico (Figuras 13 a 22), em grande parte bem
protegido nas áreas dos parques, porém também
existentes em outros domínios, que necessitam ser
preservados e podem ser mais bem aproveitados
turisticamente que hoje são – o que seria importante
para melhor socializar as benesses econômicas advindas
do turismo, reconhecidamente gerador de muitos
empregos;
ii) a excelente infraestrutura receptiva e
educacional oferecida pelos parques, e à qual, para ficar
adequada à filosofia turística de um Geoparque, falta
apenas a sinalização geológica;
Figura 14 – Imagem tirada do mirante sobre o vale do rio Betari,
exemplo de geossítio de interesse geológico, geomorfológico e
turístico. O vale foi condicionado por duas histórias geológicas
distintas, distantes no tempo geológico: a tectônica colisional
Brasiliana, responsável pela deformação das sequências
marinhas do Grupo Lajeado, e, no Fanerozoico, a abertura do
Atlântico. A paisagem resultante ‒ ou seja, a geomorfologia
hoje visível ‒ é um forte atrativo cênico. (Ver também Figura 13,
tirada do mesmo local). Foto: Antonio Theodorovicz.
Essa filosofia de uso do solo sob o formato de
Geoparque coaduna-se perfeitamente com a realidade
socioeconômica e ambiental da região, e também vem
ao encontro dos projetos governamentais idealizados
para o Vale do Ribeira, que têm como metas promover o
seu desenvolvimento, enfatizado no ecoturismo. A
aplicação desse conceito na região pode também ser
uma ferramenta disciplinadora de práticas negativas de
uso e ocupação e de convencimento da população de
que é muito mais vantajoso economicamente aproveitar
o patrimônio natural com o turismo do que depredá-lo
com formas inadequadas de uso do solo.
iii) a existência de afloramentos de rochas
representativas de boa parte da história geológica das
regiões Sul e Sudeste do Brasil, em especial do
Proterozoico e do Fanerozoico. O Proterozoico é
constituído, principalmente, pelas sequências
metavulcanossedimentares e metassedimentares
marinhas do Supergrupo Açungui (Figura 17), que, na
região, agrega, por justaposição tectônica colisional
Brasiliana, unidades geológicas das mais diferentes
origens e idades. O Fanerozoico é espacialmente pouco
extenso, porém, não menos importante, uma vez que é
representado por diques de diabásio, relacionados à
tectônica de abertura do Oceano Atlântico Sul, fato que
desperta bastante curiosidade do turista;
iv) os vestígios da histórica atividade de
mineração, que deixou um interessante legado
arqueológico (Figura 18), arquitetônico e cultural,
incluindo quilômetros de galerias subterrâneas (Figura
19), onde chumbo, prata e ouro foram, por muito tempo,
explorados; essas galerias já são parcialmente
aproveitadas em empreendimentos turísticos (Figura 20)
e continuam sendo importantes para estudos geológicos
e metalogenéticos;
60
Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
v) por toda a região o relevo é montanhoso,
arquitetado com belas e curiosas formas e drenado por
um denso e complexo sistema de cristalinos cursos
d´água, muitos dos quais escorrendo sobre substrato
rochoso formando corredeiras, cachoeiras e piscinas
naturais (Figuras 21 e 22), constituindo um atrativo para
o turismo contemplativo e para a prática de esportes
radicais;
vi) a ocorrência de áreas contínuas e bem
preservadas do pouco que resta neste estado da Mata
Atlântica e ecossistemas associados (Figuras 23 e 24), de
extraordinário valor turístico, botânico e ambiental,
considerada pela UNESCO como Reserva da Biosfera ‒
variável que ganha cada vez mais proeminência no
cenário turístico mundial atual e soma muitos pontos
positivos na proposição de um Geoparque;
Figura 16 – Exemplo de um local onde o turista pode observar os
efeitos da deformação colisional Brasiliana sobre rocha calcária
do Grupo Lajeado ‒ um geossítio de interesse geológico,
paleoambiental e turístico. Exposições desse tipo são raras no
Brasil. Foto: Antonio Theodorovicz.
vii) - os aspectos culturais da típica tradição
cabocla e das várias comunidades quilombolas; incluindo
a produção da cerâmica artesanal com motivos
zoomórficos e antropozoomórficos, única no Brasil;
viii) - o patrimônio arquitetônico da época do
Brasil colônia, pequeno, porém bastante representativo.
Figura 17 – Bloco de metamorfito dolomítico cinza do Grupo
Açungui, comumente chamado “mármore de Apiaí”, no qual a
erosão diferencial formou figuras curiosas e surpreendentes.
Foto: Antonio Theodorovicz.
Figura 15 – Portal da caverna Casa de Pedra. Esculpido em um
paredão calcário dobrado, com 219m de altura, é um dos
maiores portais do mundo. Foto: Antonio Theodorovicz.
Figura 18 – Estrutura em pedra deixada pelas primeiras
atividades garimpeiras de ouro aluvionar no Brasil, vestígio da
ocupação da região desde meados do século XVI. Foto: Antonio
Theodorovicz.
61
Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
Figura 19 – O Parque Morro do Ouro, em Apiaí, é um bom
exemplo de aproveitamento turístico relacionado à história da
mineração. Entrada do Parque, com estátua de garimpeiro.
Foto: Antonio Theodorovicz.
Figura 22 – Riachos de águas limpas e cachoeiras convidam o
turista para uma caminhada. Cachoeira das Andorinhas. Foto:
Antonio Theodorovicz.
Figura 20 – O Parque Morro do Ouro, em Apiaí, é um bom
exemplo de aproveitamento turístico relacionado à história da
mineração. Uma das várias bocas de galeria da época da
mineração de chumbo na Mina do Lageado, em Iporanga. Foto:
Antonio Theodorovicz.
Figura 21 – Riachos de águas limpas e cachoeiras convidam o
turista para uma caminhada. Rio Betari. Foto: Antonio
Theodorovicz.
Figura 23 – Exemplo da exuberante vegetação da região,
classificada pela UNESCO como Reserva da Biosfera. Foto:
Antonio Theodorovicz.
Figura 24 – Exemplo da exuberante vegetação da região,
classificada pela UNESCO como Reserva da Biosfera. Foto:
Antonio Theodorovicz.
62
Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
Pelo descrito, analisado à luz do conceito de
geoparque e comparado com geoparques existentes em
várias regiões do mundo, constata-se que a região tem
condições para ser transformada em um Geoparque. Se
esse conceito for bem aplicado, será uma maneira
eficiente de preservar e melhor aproveitar
economicamente esse extraordinário patrimônio
natural. A decisão de transformar a proposta em
realidade depende exclusivamente da vontade da
população e de ações conjuntas entre os poderes
municipal, estadual e federal. Ao SGB/CPRM, através de
seu Projeto Geoparques, cabem os papeis de divulgador
e indutor do processo, e de apoiador técnico,
notadamente no que se refere às questões relacionadas
ao tema geodiversidade.
científico não ficar limitado a instituições acadêmicas,
bem como proporcionar melhores condições de vida
para as comunidades locais, são as principais bases do
Geoturismo.
Em meados de 2013, três dissertações de
Mestrado (respectivamente nas regiões de Ubatuba, São
Sebastião e Ilhabela) e uma tese de Doutorado (na região
de Caraguatatuba) estão em andamento. Estas pesquisas
têm como enfoque principal o inventário dos geossítios
de acordo com critérios de relevância e potencial
científicos e educacionais, mas locais onde a
geodiversidade já constitui um atrativo turístico
tradicional não foram descartados. Cerca de trinta
geossítios, organizados em função da história geológica
da região, foram definidos até o momento. Alguns deles
são mostrados nas Figuras 25 a 28.
4.4. PATRIMÔNIO GEOLÓGICO DO LITORAL PAULISTA
Este projeto está vinculado ao GeoHereditas, do
IGc/USP e teve início em 2010 com um trabalho voltado à
avaliação da potencialidade de trilhas nas Unidades de
Conservação do Litoral Norte como geossítios. Como
base inicial do trabalho, foram utilizadas as trilhas
cadastradas no Passaporte de Trilhas de São Paulo,
publicado pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado.
A escolha da região levou em consideração não apenas
sua grande beleza natural, mas principalmente sua
história geológica, que inclui registros da fusão, do
desenvolvimento e da fragmentação do supercontinente
Gondwana ao longo do Neoproterozoico-Paleógeno
(Garcia et al., 2011; Garcia, 2012). Além disso, a região
detém o maior segmento contínuo preservado da Mata
Atlântica no Brasil, a maioria dos quais incluídos no
Parque Estadual da Serra do Mar (PESM), que faz parte do
Projeto de Preservação da Mata Atlântica (PPMA), o que
aumenta sua importância como zona protegida. Embora
essas unidades tenham sido criadas principalmente para
preservar a biodiversidade, a região tem um grande
potencial de geoturismo, pelos afloramentos rochosos e
paisagens em diferentes estágios de evolução geológica.
Grande parte dos atrativos turísticos presentes na região
está relacionada a formações rochosas, a processos de
sedimentação costeiros ou à dinâmica da paisagem, mas
pouco é divulgado sobre a origem, idade ou processos
que levaram à sua formação, bem como sobre as
ameaças a que estão sujeitas.
A estes aspectos físicos somam-se registros de
uma história de ocupação humana que remonta a 2.500
anos, além de inúmeras construções do período colonial
que contam uma história de desafios entre os povos
nativos e os conquistadores. O conjunto destes aspectos
deu origem a uma cultura rica, caracterizada pela mistura
de costumes de populações tradicionais diversas e que
delinearam os valores culturais atuais. Neste sentido, o
apoio à integração da população costeira e/ou geração
de emprego e renda por estas atividades estão entre os
principais focos do projeto, pois fazer o conhecimento
Na Praia de Camburizinho, a sul de São
Sebastião, um belíssimo afloramento de gnaisses
ortoderivados registra diferentes estágios dos eventos
relacionados à amalgamação e separação do Gondwana
desde o Neoproterozoico até o Mesozoico - dobras que
evoluem para uma foliação regional transposta,
paleodiques organizados como boudins de anfibolito
com deformação interna e diques basáticos. Na Ilha
Anchieta, em Ubatuba, um monzogranito datado em 500
Ma (Azevedo Sobrinho et al., 2011), representa um dos
registros mais setentrionais do último evento orogênico
antes da abertura do Atlântico Sul. O costão rochoso da
Ponta da Sela, no sul de Ilhabela, registra exemplos de
diques de composições, tamanhos e relações de intrusão
variadas que, no conjunto, constituem uma feição
onipresente no sudeste brasileiro e representam os
estágios de fragmentação do Gondwana. Finalmente, a
história geológica pós-fragmentação do Gondwana pode
ser observada do Morro do Santo Antônio, em
Caraguatatuba, de onde é possível ver a linha de costa, a
planície sedimentar homônima, parte de São Sebastião e
Ilhabela. Ao fundo, com seu relevo em blocos, destaca-se
a feição morfológica mais relevante do litoral da região
sudeste: a Serra do Mar.
Figura 25 – Geossítio selecionado do Litoral Norte Paulista.
Gnaisse ortoderivado com boudins anfibolíticos no Ilhote de
Camburizinho, São Sebastião. Foto: Maria da Glória Motta
Garcia.
63
Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
geológica da região, além de conhecimento geológico
básico, tem sido disseminada aos monitores ambientais
das unidades de conservação envolvidas por meio de um
projeto de Interpretação Geológica em Trilhas (Figuras 29
a 31). Experiências anteriores sugerem que o
conhecimento da importância dos monumentos naturais
e das paisagens é um passo imprescindível para que a
população passe a valorizá-los e protegê-los. Ao
tornarem-se agentes de disseminação do conhecimento,
os monitores aprendem a valorizar não só a flora e a
fauna, mas também a história da paisagem que os cerca,
desenvolvendo o seu senso de pertencimento e de
valorização do meio ambiente.
Figura 26 – Geossítio selecionado do Litoral Norte Paulista.
Monzogranito Ilha Anchieta (500 Ma), Ubatuba. Foto: Maria da
Glória Motta Garcia.
Figura 27 – Geossítio selecionado do Litoral Norte Paulista.
Diques máficos e lamprófiros intrusivos em rochas do
embasamento, Ilhabela. Foto: Maria da Glória Motta Garcia.
Figura 29 – Exemplo de roteiro geodidático confeccionado com
base em técnicas de interpretação ambiental e utilizado em
curso ministrado a monitores ambientais no Núcleo Picinguaba
do Parque Estadual da Serra do Mar, em Ubatuba. Mapa da
Trilha da Brava da Almada, uma das mais percorridas do parque.
Fotos: Maria da Glória Motta Garcia.
Figura 28 – Geossítio selecionado do Litoral Norte Paulista.
Panorama visto do mirante do Morro de Santo Antonio,
mostrando a planície costeira, a linha de costa e a Serra do Mar.
Caraguatatuba. Foto: Eliane Aparecida Del Lama.
O inventário do patrimônio geológico do litoral
central e sul do estado também está em andamento.
A gestão destes geossítios está em fase
preliminar e inclui a confecção de um amplo plano
geoturístico que envolva também os aspectos históricos
e culturais e sirva de base para o desenvolvimento de um
turismo sustentável na região. Além disso, a história
Figura 30 – Exemplo de roteiro geodidático confeccionado com
base em técnicas de interpretação ambiental e utilizado em
curso ministrado a monitores ambientais no Núcleo Picinguaba
do Parque Estadual da Serra do Mar, em Ubatuba. Um de seus
pontos de interpretação geológica. Fotos: Maria da Glória
Motta Garcia.
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Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
Figura 31 – Exemplo de roteiro geodidático confeccionado com
base em técnicas de interpretação ambiental e utilizado em
curso ministrado a monitores ambientais no Núcleo Picinguaba
do Parque Estadual da Serra do Mar, em Ubatuba. Um de seus
pontos de interpretação geológica. Fotos: Maria da Glória
Motta Garcia.
Figura 32 – Painel informativo em Pirapora do Bom Jesus
(LiGEA/IGc-USP), de autoria de E. G. Nakashima. Foto: André
Bonacin.
4.5. AS “PILLOW-LAVAS” DE PIRAPORA DO BOM JESUS
4.6. SIGEP e GEOSSIT
Outra iniciativa que merece destaque está
sendo realizada em Pirapora do Bom Jesus, pequena
cidade que fazia parte da antiga rota dos Bandeirantes.
Além de outros atrativos, a região apresenta potencial
para desenvolvimento do geoturismo, com destaque
para as exposições de rochas ígneas de composição
basáltica com estruturas almofadadas (“pillow-lavas”),
de grande interesse para os geocientistas. Segundo
Boggiani (2010), o projeto de preservação foi organizado
por alunos e professores do LiGEA/Instituto de
Geociências-USP e resultou numa Praça Geológica onde
foi instalado um painel explicando, em linguagem
adequada a um público leigo, essa feição geológica
incomum (Figura 32).
A SIGEP (Comissão Brasileira de Sítios
Geológicos e Paleobiológicos) foi a iniciativa pioneira na
identificação e catalogação de sítios do patrimônio
geológico numa escala nacional; hoje está sob a
administração da CPRM. Já publicou dois volumes
impressos, e o terceiro está em preparo. A versão online é
um portal dinâmico, cujas informações atualizadas
podem ser a qualquer momento conhecidas no site
sigep.cprm.gov.br/. Esses projetos cobrem todo o país,
mas a Tabela I mostra apenas a situação dos sítios
catalogados no Estado de São Paulo até o mês de junho
de 2013, apresentando a respectiva etapa de catalogação
e divulgação nos Volumes I e II (já impressos), na versão
pré-print do Volume III, e online.
65
Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
Sítio
Nº
013
Título SIGEP
(Nome do sítio)
Icnofósseis da
Usina Porto
Primavera
Subtítulo SIGEP
Situação em
Endereço da
(Descrição sucinta)
junho de 2013
Informação online
Rastros de dinossauros e de
mamíferos em rochas do
Vol. II - impresso sigep.cprm.gov.br/sitio013/sitio013.pdf
deserto neocretáceo Caiuá
021
Rocha
Moutonnée
de Salto
Típico registro
de abrasão glacial do
Neopaleozoico
Vol. I - impresso sigep.cprm.gov.br/sitio021/sitio021.htm
032
Sítio Fossilífero
de
Pirapozinho
Extraordinário depósito
de
quelônios do Cretáceo
Vol. I - impresso sigep.cprm.gov.br/sitio032/sitio032.htm
035
Pavimento
Estriado
Guaraú, Salto
Marcas de geleira
neopaleozoica no sudeste
brasileiro
Vol. II - impresso sigep.cprm.gov.br/sitio035/sitio035.pdf
043
Carste e Cavernas
do Parque Estadual
Turístico do
Alto Ribeira
(PETAR)
Sistemas de cavernas com
paisagens subterrâneas
únicas
Vol. I - impresso sigep.cprm.gov.br/sitio043/sitio043.htm
049
Estromatólitos de
Nova Campina e
Itapeva
Primeiros estromatólitos
descritos na
América do Sul
Vol. III - pré-print sigep.cprm.gov.br/sitio049/sitio049.pdf
053
Répteis Fósseis
de
General Salgado
Registro de transformações
ambientais na Bacia Bauru Vol. III - pré-print sigep.cprm.gov.br/sitio053/sitio053.pdf
durante o Cretáceo
055
Pedra do Baú,
São Bento
do Sapucaí
Imponente relevo residual na
superfície de erosão
Vol. III - pré-print sigep.cprm.gov.br/sitio055/sitio055.pdf
Gondwana
062
Varvito de Itu
Registro clássico
da glaciação
neopaleozoica
Vol. I - impresso sigep.cprm.gov.br/sitio062/sitio062.htm
078
Fazenda
Santa Fé
(Tremembé)
A maior associação
de fósseis
do Terciário brasileiro
Vol. I - impresso sigep.cprm.gov.br/sitio078/sitio078.htm
079
Jazigo Icnofossilífero
do Ouro
(Araraquara)
Ricas pistas de
tetrápodes do
Jurássico
Vol. I - impresso sigep.cprm.gov.br/sitio079/sitio079.htm
080
Escarpamento
Estrutural
Furnas
Raro sítio
geomorfológico
brasileiro
Vol. I - impresso sigep.cprm.gov.br/sitio080/sitio080.htm
087
Jazigo Rodovia
Quiririm-Campos
do Jordão,
km 11
(Tremembé)
Macrofósseis vegetais
do
Terciário
Vol. I - impresso sigep.cprm.gov.br/sitio087/sitio087.htm
098
Cavas de Ouro
Históricas do
Jaraguá
Os primórdios
da mineração
no Brasil
Vol. I - impresso sigep.cprm.gov.br/sitio098/sitio098.htm
66
Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
Sítio
Nº
Título SIGEP
(Nome do sítio)
116
Cratera de Colônia
125
Campo de
Estromatólitos
Gigantes de
Santa
Rosa de Viterbo
-
Subtítulo SIGEP
(Descrição sucinta)
Provável astroblema
com registros do
paleoclima
quaternário na Grande
São Paulo
Excelente registro
do litoral
do mar permiano Irati,
Bacia
do Paraná
Situação em
junho de 2013
Endereço da
Informação online
Vol. II - impresso sigep.cprm.gov.br/sitio116/sitio116.pdf
Vol. II - impresso sigep.cprm.gov.br/sitio125/sitio125.pdf
Não tem (N.A.: são milhares
Cones de
de cones silicosos ao meio
sigep.cprm.gov.br/propostas/Geyseritos
hidrotermalito silicoso
Minuta - Revisão
de sedimentos finos e
PermianosAnhembiSP.htm
de Anhembi
margosos do Permiano da
Bacia do Paraná)
-
Lavas Almofadadas
de Piraporado Bom
Jesus, SP
Evidência de atividade
vulcânica formadora
de crosta oceânica
às margens do
Rio Tietê
-
Marundito do
Pico Pelado,
Guarulhos
Vestígios de mineralizações
de ouro em mar
mesoproterozoico
-
Paleolagunas na
Estação Ecológica
Juréia-Itatins
Não tem (N.A.: Sítio de
interesse paleoambiental,
sedimentar, estratigráfico e
geomorfológico, com
vestígios arqueológicos)
-
Turfeira da Campina
do Encantado,
Pariquera-Açu
Não tem (N.A.: Sítio de
interesse paleoambiental,
sedimentar, estratigráfico e
paleontológico, com
vestígios arqueológicos)
Proposta
aprovada
sigep.cprm.gov.br/propostas/Lavas_
almofadadas_Pirapora_Bom_Jesus_SP.
htm
Proposta
aprovada
sigep.cprm.gov.br/propostas/Marundito
_Pico_Pelado_Guarulhos_SP.htm
Proposta
aprovada
sigep.cprm.gov.br/propostas/Estacao_
Ecologica_Jureia_Itatins.htm
Proposta
aprovada
sigep.cprm.gov.br/propostas/Turfeira_
Campina_Encantado_SP.htm
Tabela 1 – Situação dos sítios do Estado de São Paulo catalogados no SIGEP até junho de 2013, apresentando a etapa da respectiva
catalogação e divulgação nos Volumes I e II, já impressos, na versão pré-print do Volume III, e online.
O GEOSSIT (Sistema de Cadastramento e
Quantificação de Geossítios) é um aplicativo inovador,
recém-disponibilizado online pela CPRM, de livre
consulta, destinado ao inventário, qualificação e
valoração quantitativa de geossítios. Com o passar do
tempo, os geossítios paulistas serão inseridos nesse
sistema. Seu site é www.cprm.gov.br/geossit/.
5. PERSPECTIVAS DE INVENTÁRIO DO PATRIMÔNIO
GEOLÓGICO NATURAL PAULISTA
A inexistência de uma estratégia de
conservação do patrimônio geológico definida para o
Estado de São Paulo dificulta os trabalhos de
identificação, inventário e quantificação dos geossítios, e
consequentemente a implantação de novas políticas
públicas voltadas à conservação do patrimônio natural
geológico. Tal deficiência é recorrente em nível nacional e
as iniciativas existentes são geralmente frutos de esforço
pessoal, de caráter localizado. Lima (2008) apresentou
uma proposta para a sistematização do inventário do
patrimônio geológico brasileiro. Esta proposta, que pode
ser livremente adotada, de maneira voluntária, pelos
estados, requer destes entes federativos os seguintes
passos:
a) definição do objetivo do inventário;
b) organização de grupos de trabalho;
c) revisão bibliográfica;
d) identificação e caracterização dos contextos
67
Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
geológicos;
e) identificação dos geossítios para cada
contexto geológico;
f) caracterização dos geossítios.
Apesar de ter sido o primeiro estado a criar um
conselho para gerir o patrimônio geológico, São Paulo
ainda carece de uma articulação satisfatória que envolva
instituições de pesquisa e ensino, equipe de especialistas
e recursos para realizar o inventário sistemático de todo
o seu território, fundamental para embasar diversas
políticas públicas voltadas para a gestão desse
patrimônio. Esse quadro, entretanto, pode mudar com o
recém lançado Projeto “Inventário do Patrimônio
Geológico Paulista”, organizado pelo Instituto de
Geociências da USP em parceria com a Universidade do
Minho, Portugal e com o apoio do Programa Ciência sem
Fronteiras, do governo federal (MEC/CAPES/CNPq). O
projeto tem como objetivo realizar o inventário
sistemático do patrimônio geológico do Estado,
utilizando para isso as bases da metodologia aplicada em
Portugal, com as devidas adaptações ao nosso território.
Com isso, São Paulo poderá vir a ser o primeiro estado
brasileiro a contar com um inventário de seu patrimônio.
6. PATRIMÔNIO GEOLÓGICO CONSTRUÍDO E
MUSEALIZADO
As discussões sobre patrimônio e
particularmente a abrangência do conceito de
“Patrimônio Geológico” são parte do momento atual do
meio geocientífico brasileiro, e portanto é conveniente
explicar como esses termos serão aqui utilizados. Por
analogia com alguns conceitos das áreas de estudos do
patrimônio e de museologia (ver, entre outros, Lima,
2012 e vários itens de sua lista de referências), serão aqui
adotadas duas expressões ainda não muito comuns no
meio geocientífico ‒ salvo, e mesmo assim não com
muita frequencia, na comunidade dedicada exatamente
ao tema do patrimônio geológico. A expressão
“patrimônio geológico construído” será usada em
referência a elementos da geodiversidade, de qualquer
origem, que tenham sido incorporados, seja como base,
componente estrutural ou componente decorativo, a
construções e produtos de vários tipos ‒ na maioria dos
casos imóveis, monumentos, túmulos ou estátuas. A
expressão “patrimônio geológico musealizado”,
designará elementos da geodiversidade colocados sob a
tutela de um museu, lembrando que isso pode ocorrer
seja pela remoção do elemento de sua localização
original e transporte ao espaço físico do museu (por
exemplo, a placa de calcário da Figura 8), seja pela
manutenção do elemento na sua localização original, à
qual se aplicará a tutela do museu, constituindo-se a
musealização in situ (prática comum em arqueologia,
mas no estado de São Paulo ainda muito incipiente na
paleontologia e inexistente para a preservação de outros
elementos do patrimônio geológico).
O patrimônio geológico construído e o
musealizado podem apresentar-se sob diversas formas, e
estão com mais frequência associados a ambientes
urbanos. Apesar de meio urbano ser na maioria dos casos
dissociado da geologia tradicional, vários autores (e.g.
Stern et al., 2006; Liccardo et al, 2008; Del Lama et al,
2009; Liccardo et al., 2012) defendem que, pelas
facilidades oferecidas ‒ em particular a proximidade e as
facilidades de acesso a baixo custo, que estimulam a
visitação por turistas e estudantes ‒ esse é um caminho
privilegiado para aproximar o público da geologia.
Os elementos possíveis de serem enquadrados
como patri môni o geo lóg ico const ruí do são
potencialmente muito variados e incluem
principalmente: elementos geológicos in situ porém
retrabalhados por obras, como áreas de antigas
pedreiras; e rochas utilizadas na construção civil, em
monumentos, estatuária e em cemitérios. Um tipo
particular de patrimônio geológico construído ‒ e que na
maior parte dos casos está fora do ambiente urbano ‒ é o
ligado a atividades de mineração, indo desde o local de
minas até eventuais instalações e equipamentos
conservados.
No estado de São Paulo, até o momento, o
patrimônio geológico musealizado limita-se a espécimes
(rochas, minerais e fósseis) expostos em museus.
O estudo do patrimônio geológico construído
normalmente inclui a aproximação com outras áreas de
conhecimento, particularmente a Arquitetura e a
História. Essa interligação trabalha nos dois sentidos,
enriquecendo o conhecimento integrado; esse é um
excelente caminho de divulgação das geociências, e
particularmente da geologia, a qual é reconhecida como
uma ciência ainda distante da sociedade (Martini et al.,
2012, pg. 187). Conceitualmente, o turismo geológico
pode ser entendido como um tipo de turismo cultural,
pois, segundo o ICOMOS (1996), “turismo cultural é o
tipo de turismo cujo objetivo é, entre outros, a
descoberta de monumentos e sítios.”
No Estado de São Paulo, há duas cidades com
estudos e publicações sobre aspectos do patrimônio
geológico construído: a Capital e a cidade de Rio Claro.
Um guia com aspectos do geoturismo e de locais
históricos das cidades de Santos e São Vicente, impresso
na forma de folheto, foi apresentado e distribuído no 46º
Congresso Brasileiro de Geologia, em 2012 (MantessoNeto et al., 2012).
6.1. PATRIMÔNIO GEOLÓGICO CONSTRUÍDO NA CIDADE
DE SÃO PAULO, AO AR LIVRE
Roteiros geoturísticos para o chamado “centro
velho” de São Paulo já foram propostos por Stern et al.
(2006), Augusto & Del Lama (2011), e Rodrigues (2012).
68
Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
praticamente toda a cidade ‒ na realidade, pouco mais
do que uma vila, com suas construções em taipa, e raros
imóveis tendo mais de dois pisos. Nessa época, com a
riqueza proporcionada pelo café, inicia-se a
transformação em uma cidade moderna, com o uso de
novos materiais ‒ e inicia-se exatamente por essa região,
atualmente chamada de “Centro Velho”, explicando-se
assim a concentração nessa área de inúmeros
monumentos e edifícios nos quais a pedra entra como
elemento de construção ou decoração.
Apesar de muitas das rochas utilizadas serem
importadas, principalmente da Itália e de Portugal, há
também muitas rochas brasileiras, particularmente
paulistas. Entre essas, destacam-se o Granito Itaquera e o
Granito Cinza Mauá, o primeiro mais usado no começo
do século XX e o segundo, a partir da década de 40 desse
mesmo século (Del Lama et al., 2009).
Num percurso pelos principais edifícios e
monumentos históricos que compõem o Centro Velho
podem ser visualizadas as seguintes rochas: Granito
Itaquera, Granito Cinza Mauá, Granito Rosa Itupeva,
Granito Verde Ubatuba, Granito Preto Piracaia, Granito
Azul Bahia, Calcário Sete Lagoas, Arenito Itararé,
Cipollino, Porfido Rosso Antico, microbialito, travertino,
conglomerado, calcário fossilífero, serpentinito,
mármore e sienito. No cômputo geral, as rochas ígneas,
principalmente os granitos, foram as preferidas.
O Obelisco da Memória (Figura 33), construído
em 1814, o monumento mais antigo da cidade, é lavrado
em Granito Itaquera, uma das rochas que veio a ser mais
utilizada, sendo observada em vários monumentos e
edifícios.
Figura 33 – O monumento mais antigo da cidade de São Paulo ‒
Obelisco da Memória (1814). É constituído pelo Granito
Itaquera, e a escadaria implantada no século XX é constituída
pelo Granito Cinza Mauá. Foto: Lauro Kazumi Dehira.
O Granito Cinza Mauá foi, e ainda é, muito
utilizado em São Paulo, como pode ser visto em boa parte
do revestimento do piso do Centro Velho e em muitas
estações do metrô. Apesar de estar localizado um pouco
distante do Centro Velho, um dos cartões postais da
cidade, o Monumento às Bandeiras, é constituído por
este granito (Figura 34).
Figura 34 – O Monumento às Bandeiras, de Victor Brecheret,
esculpido em Granito Cinza Mauá, levou 6 anos para ser
finalizado e foi implantado em 1953, para as comemorações do
IV Centenário da cidade (25 de janeiro de 1954). Foto: Lauro
Kazumi Dehira.
Rochas sedimentares foram pouco utilizadas
nas construções do Centro Velho. Destacamos aqui a
fachada do Teatro Municipal e a Prefeitura Municipal de
São Paulo. O teatro (Figura 35) é constituído pelo Arenito
Itararé, proveniente da área da atual Flona (Floresta
Nacional) de Ipanema. O atual prédio da Prefeitura, em
estilo neoclássico de inspiração fascista, foi concluído em
1938/39, para ser a sede do então poderoso grupo
Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo; sua fachada é
revestida, segundo consta (Folha de S. Paulo, 2004) por
170.000 placas de travertino italiano (Figura 36). O
mesmo tipo de rocha também é encontrada em vários
edifícios comerciais e residenciais do Centro Velho.
Figura 35 – Teatro Municipal de São Paulo (inaugurado em
1911), fachada frontal em Arenito Itararé e base de Granito
Itaquera. Foto: Lauro Kazumi Dehira.
69
Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
locais do mundo. Como parte também de um programa
de recuperação social da área central da cidade, foi
estabelecida na praça uma base de policiamento da
Guarda Civil Metropolitana (Figura 37).
Figura 36 – Prefeitura do Município de São Paulo (prédio de
1938), imóvel revestido por travertino italiano. Foto: Lauro
Kazumi Dehira.
As rochas metamórficas foram mais utilizadas
em interiores e em monumentos, sendo a mais
destacada o mármore, particularmente o que é
considerado o mais “nobre” deles para fins de estatuária,
o de Carrara, que ocorre em grande parte das fontes e
monumentos da cidade.
6.2. PROBLEMAS E PROTEÇÃO DE MONUMENTOS NA
CIDADE DE SÃO PAULO
Infelizmente, o que se constata é que o estado
de conservação da maioria dos monumentos de São
Paulo não é bom. Como são relativamente recentes, a
alteração intempérica teve pouca influência na sua
degradação. Sem dúvida, o principal fator de degradação
dos monumentos é o vandalismo: pichações, quebras,
roubo de partes, uso inadequado.
Um triste exemplo dos desafios encontrados é a
fonte situada na Praça Júlio de Mesquita. Inaugurada em
1927, em plena euforia do café, como marco de
modernismo da cidade, enfrentou as últimas décadas em
um clima de degradação urbana, incluindo queda de
atividades comerciais, queda do valor e eventual estado
de abandono de imóveis, presença constante de uma
população de moradores em situação de rua, tráfico de
drogas, e uso da base da fonte como, praticamente,
banheiro público. Originalmente a fonte tinha entre seus
elementos de decoração 4 faces mitológicas femininas e
várias lagostas de bronze, cada peça com cerca de 1m de
altura, que foram quase todas roubadas. O mármore foi
acentuadamente atacado pela urina humana e de
animais de companhia. Num projeto de preservação, a
Prefeitura concluiu em meados de 2013 um trabalho de
restauro da fonte, recolocou ‒ agora feitas de fibra de
vidro ‒ as faces femininas e as lagostas (localmente
muitas vezes chamadas de “aranhas” ou “caranguejos”) e
instalou ao seu redor uma estrutura de pilares de metal e
painéis de vidro, formando uma espécie de “aquário”.
Esta solução não é uma invenção local; é usada para
proteger monumentos, e mesmo geossítios, em diversos
Figura 37 – Fonte Monumental, instalada em 1927, na Praça
Júlio de Mesquita. Confeccionada em mármore de Carrara, com
elementos decorativos originalmente em bronze, hoje em fibra
de vidro. Proteção tipo “aquário” instalada em meados de 2013,
após restauro ou substituição de todos os elementos da fonte.
Notar, à esquerda, veículo da Guarda Civil Metropolitana, em
plantão permanente. Foto: Virginio Mantesso-Neto.
Existem outros exemplos de monumentos
esculpidos em rocha, e vários imóveis com fachadas em
rocha, partes de um patrimônio geológico construído, em
lastimável situação de (falta de) preservação. Há também
outros casos de cercamento de monumentos, como o da
Amizade Sírio-Libanesa, do Duque de Caxias e o de
Camões.
Este não deveria ser um padrão para a
conservação de monumentos mas infelizmente é uma
opção até que se consiga tornar realidade um trabalho de
educação patrimonial mostrando a importância destas
obras para a preservação da história da cidade, e que
diversos outros desafios sociais sejam superados.
6.3. HISTÓRIA GEOLÓGICA DO CENTRO DE RIO CLARO
Além dos resultados do projeto descrito no item
4.2, Perinotto (2009) publicou um excelente trabalho
aproximando geologia, história, e vida cotidiana, fazendo
uma “demonstração de como as paisagens se sucederam
ao longo do tempo geológico na cidade de Rio Claro e
região” (pg. 187). Após uma breve introdução de
conceitos geológicos (tempo geológico, estratigrafia,
evolução biológica, coluna estratigráfica, descrição das
unidades, etc.), o trabalho foca-se no centro da cidade
(Praça da Liberdade) e ilustra, com fotos de ambientes
atuais similares, o que seria o aspecto do seu entorno ao
tempo da deposição de cada unidade da coluna
estratigráfica local, concluindo com o período da história
humana.
Esse tipo de trabalho de divulgação científica
pode ser um elemento auxiliar na formação de futuras
70
Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
gerações com maior consciência preservacionista,
componente cada vez mais protagonista de uma
cidadania plena e responsável. Uma contextualização
mais ampla desse potencial é discutida por Perinotto &
Mantesso-Neto (2013a e 2013b).
6.4. SHOPPING CENTERS COMO ELEMENTOS DO
PATRIMÔNIO GEOLÓGICO CONSTRUÍDO
A proliferação de shopping centers, tanto na
Capital quanto nas cidades do interior do estado, é uma
tendência comercial e urbanística absolutamente
estabelecida. A ABRASCE, Associação Brasileira de
Shopping Centers, estima que atualmente existam 165
no estado, sendo 54 na Capital; em outras palavras, 2/3
deles estão no interior (ABRASCE, 2013).
Nos shoppings centers as rochas ornamentais
são muito utilizadas, tanto nas áreas comuns, quanto nas
unidades comerciais. As áreas são em geral muito
amplas, e a escolha frequentemente recai sobre a
combinação de diversos tipos de rocha, que permitem
soluções estéticas interessantes, pelo uso de rochas com
estruturas bastante vistosas, contraste de cores e
formação de desenhos com padrões muito variados.
Por esses vários motivos, os shoppings centers
têm potencial para tornar-se locais de destaque dentro
da já mencionada possibilidade de usar elementos
urbanos como fatores de aproximação do público leigo às
geociências; sobre essa possibilidade, ver, por exemplo,
Sallun Filho & Fairchild (2005).
6.5. ARTE CEMITERIAL, OU FUNERÁRIA, OU TUMULAR
Em várias cidades do mundo os cemitérios são
incluídos nas listas de atrações turísticas, inclusive com
visitas guiadas que em alguns deles são muito
frequentadas. Osman & Ribeiro (2007, p. 3) atestam que
o cemitério é “um ponto turístico consolidado nos mais
diferentes países do mundo”. Entre nós, esse patrimônio
só recentemente começou a ser valorizado, e os mais
interessantes são aqueles datados de um período que vai
desde aproximadamente meados do século XIX até
meados do século XX.
Além do valor histórico e de veneração à
memória de personalidades importantes, no estado de
São Paulo muitos deles são quase que verdadeiros
museus a céu aberto, com acervos importantes
principalmente de pequenas obras arquitetônicas e de
esculturas. Parte destas é em bronze, mas boa parte é de
esculturas em rochas. As rochas presentes podem ser da
própria região, ou vir praticamente de qualquer lugar do
mundo; uma altamente valorizada é o mármore de
Carrara.
A arte tumular pode ser utilizada para
geoturismo de diversas maneiras. As rochas utilizadas
são muito variadas, e podem apresentar superfícies de
fratura bruta, ou superfícies polidas (às vezes ambas,
combinadas em diferentes partes do túmulo), e
apresentar cantos (triedros), permitindo boa visualização
tridimensional de algumas características. O estado atual
dela pode permitir observações interessantes sobre a
questão do intemperismo, com a vantagem de
apresentar uma data inicial desse processo; já existem
estudos sobre esse tema, por exemplo os de Kuzmickas &
Del Lama (2008 e 2009).
Indo para o universo de outros saberes, pode-se
associar os túmulos, as estátuas e o material utilizado a
questões de moda, de demonstração de riqueza e de
poder, ao estilo artístico do escultor, às maneiras como a
morte foi encarada em diferentes momentos e por
diferentes grupos sociais, às diferenças na composição
étnica da camada mais rica da sociedade paulistana.
Na cidade de São Paulo quatro cemitérios são
particularmente ricos em esculturas pétreas. O da
Consolação, primeiro cemitério civil da cidade,
inaugurado em 1858, o do Araçá, inaugurado em 1887, e
o São Paulo, de 1926, estavam entre os preferidos pela
classe econômica mais alta. O Cemitério do Brás (Quarta
Parada), inaugurado em 1893, é o segundo maior em
área dentre os inaugurados no século XIX; apesar do nível
econômico das famílias sepultadas ser inferior aos três
outros citados, tem a peculiaridade de ter servido à maior
comunidade de imigrantes da cidade, a italiana. Como os
cemitérios na Itália costumavam ter muitas estátuas e a
quase totalidade dos escultores de estátuas em São Paulo
era constituída de italianos (Giovannetti Neto, 1992,
passim), esse cemitério tem um acervo muito grande de
estátuas, apesar destas serem, no geral, menores que
nos outros três. Para o Cemitério da Consolação há um
Roteiro Geológico (Kuzmickas & Del Lama, 2011). Um
estudo bastante aprofundado sobre as rochas
ornamentais utilizadas no Cemitério da Consolação, suas
diversas formas de alteração e recomendação para a
conservação dos jazigos pode ser encontrado em
Kuzmickas (2013).
No interior do estado, há diversos cemitérios
interessantes, principalmente ao longo dos eixos
ferroviários que caracterizaram o ciclo do café,
favorecidos pela combinação da riqueza gerada pelo
“ouro verde” com a presença de imigrantes italianos,
que, no cômputo geral, constituem o maior conjunto de
escultores que atuaram também no âmbito geográfico
do estado. Alguns exemplos, sobre os quais há estudos
em dissertações de mestrado e teses de doutoramento,
livros publicados ou sites na Internet, são os de Campinas
(Saudade), Jundiaí (Nossa Senhora do Desterro), Ribeirão
Preto (Saudade), Piracicaba (Saudade), Rio Claro (São
João Batista), São João da Boa Vista (São João Batista) e
Santos (Paquetá).
6.6. MUSEUS GEOLÓGICOS
Os museus, particularmente os especializados
(geológicos, mineralógicos ou paleontológicos) são uma
71
Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
componente importante de preservação do patrimônio
geológico. Existem diversos deles no estado de São
Paulo. Além do acervo específico de minerais, rochas e
fósseis, alguns ampliam sua atratividade incluindo
seções de espeleologia, de gemologia, de arqueologia, e
atrações como esqueletos de dinossauros, loja de
souvenirs com venda de livros, minerais e réplicas de
fósseis. A maior parte deles oferece, mediante
agendamento, visitas guiadas específicas para diversas
faixas etárias, ou para grupos de escolares, associações, e
outros. Os principais museus paulistas que abrigam itens
do patrimônio geológico são: Museu Geológico
Valdemar Lefèvre, do Instituto Geológico, e Museu de
Geociências do Instituto de Geociências da USP, na
Capital; Museu de Minerais e Rochas “Heinz Ebert”, e
Museu de Paleontologia e Estratigrafia “Prof. Dr. Paulo
Milton Barbosa Landim”, ambos do Instituto de
Geociências e Ciências Exatas da UNESP, em Rio Claro;
Museu de Paleontologia de Monte Alto; e Museu de
História Natural de Taubaté.
Azevedo (2013) discorre sobre a conservação de
coleções geológicas, abordando mais especificamente os
minerais, usando como referência o Museu do Instituto
de Geociências da USP.
7. PATRIMÔNIO MINEIRO
São relativamente poucos os itens ligados ao
patrimônio mineiro no estado de São Paulo, mas alguns
têm grande importância histórica.
No Vale do Ribeira existem as galerias de minas
de chumbo e o Parque Morro do Ouro, já mencionados
no item 4.3.
Em Araçariguama, nas proximidades da Capital,
existe uma das mais antigas minas de ouro horizontais do
Brasil, a Mina do Cantagalo, com uma galeria visitável e
um pequeno museu.
Também sobre o ouro, deve-se destacar o
Geoparque Ciclo do Ouro (Pérez-Aguilar et al., 2012 e
2013), em Guarulhos, que faz parte do livro recém
publicado “Geoparques do Brasil – Propostas”
(Schobbenhaus & Silva, 2012, pg. 543-582). A área do
geoparque, criado em 2008, inclui regiões das serras da
Cantareira e Mantiqueira onde afloram rochas
metavulcanossedimentares mesoproterozoicas do
Grupo Serra do Itaberaba. Devido às mineralizações de
ouro primário ocorrem muitas estruturas arqueológicas
relacionadas à história mineira do primeiro Ciclo do Ouro
no Brasil (Figura 38). Diversos links indicados nas
Referências Bibliográficas trazem mais detalhes.
Figura 38 – Geoparque Ciclo do Ouro, Guarulhos - Afloramento
de margarita-coríndon xisto (marundito) e topázio xisto
(topazito) cuja gênese está associada a processos
hidrotermais/metassomáticos que geraram zonas de alteração
hidrotermal, as quais foram posteriormente metamorfisadas
na fácies anfibolito. Por seus minerais constituintes (margarita,
coríndon, topázio e rutilo), pela raridade das rochas e, por
estarem vinculadas à gênese de mineralizações de ouro na
região, apresentam um grande interesse científico e
educacional, sendo mais um elemento de atração do
Geoparque Ciclo do Ouro (Pérez-Aguilar et al., 2012).
Uma outra importante pesquisa está em
andamento nas proximidades da Capital. Nos arredores
do Pico do Jaraguá foram identificadas com segurança
cinco cavas de mineração de ouro (Carneiro, 2000) que,
ao que tudo indica, foram exploradas pela família
Sardinha a partir da década de 1580. Em 1810 o inglês
John Mawe visitou-as e encontrou-as em atividade,
descrevendo minuciosamente o processo de lavagem do
solo para separação do ouro (Mawe, 1812, p. 77-79).
Nesse mesmo livro (entre as pg. 78 e 79) ele apresenta
uma imagem muito interessante da “escada” usada para
essa lavagem (Figura 39).
Figura 39 – Gravura publicada por Mawe (1812) das escadas de
lavagem do ouro, constituindo a única representação gráfica até
hoje encontrada das atividades mineiras na região do Pico do
Jaraguá. Estão em curso pesquisas visando a identificação exata
desse local.
72
Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
A pesquisa para identificar a localização tanto
quanto possível precisa dessa escada está em progresso,
havendo no momento vários locais selecionados como
bons candidatos (Silva, 2013). Em 1820 José Bonifácio de
Andrada e Silva, então recentemente chegado de
Portugal, realizou, acompanhado pelo irmão Martim
Francisco, uma “Viagem mineralógica na província de
São Paulo”, e no seu relato refere-se às “antigas minas de
ouro”, nos arredores do Jaraguá, citando nominalmente
cinco delas (Silva, 1963, Vol. I, pg. 510), e descrevendo
aspectos de sua geologia e técnicas de retirada do ouro.
Ele menciona também a existência, nas proximidades, de
outras “muitas e boas minas de ouro, que estão
presentemente abandonadas”, sempre apresentando
dados geológicos. As “minas”, ou mais precisamente as
cavas, eram todas trabalhadas no solo de alteração, e o
ouro ocorria também em guapiaras (cascalheiras
superficiais) e em diversos riachos. José Bonifácio
reconheceu a associação do ouro in situ a veios de
quartzo, e nos depósitos aluviais a diversos minerais
(hoje genericamente chamados de “satélites”), mas não
menciona nenhum trabalho de mineração nas rochas
metamórficas sãs. Outros pesquisadores também falam
dessas minas, como Eschwege, Calógeras, Derby, Oliveira
(Prefeitura, pg. originais 6-8).
Apesar da área ter sido bastante
descaracterizada (principalmente por urbanização,
industrialização, abertura de estradas e obras de
terraplanagem) três das cavas já identificadas estão sob
um processo que visa o estabelecimento de um futuro
parque, e está em andamento um pedido de
tombamento pelo IPHAN. As pesquisas prosseguem, mas
a geologia local sugere que trata-se da mesma
mineralização presente no Geoparque Ciclo do Ouro, e
também em Araçariguama. Já foram também
encontradas outras áreas que preliminarmente parecem
ser outras cavas similares.
N a q u e s t ã o d a m i n e r ç ã o d o fe r r o ,
importantíssima por sua utilidade desde o início da
presença dos portugueses no Brasil, situa-se na cidade de
Iperó a antiga Fazenda Ipanema. Nesse local o pai e filho
Afonso Sardinha (homônimos) estabeleceram em 1591
os dois primeiros fornos siderúrgicos do país, criando um
foco de irradiação para a colonização de áreas próximas.
Com altos e baixos, essas minas foram sempre uma
referência e uma esperança nacionais, sendo objeto de
estudos e tentativas de melhor aproveitamento, entre
outros, por Varnhagen e por José Bonifácio, no final do
período colonial. Durante o Segundo Reinado, a Fazenda
Ipanema atingiu proporções consideráveis (Figura 40).
Hoje, é sede de uma unidade de preservação ambiental
(Flona Ipanema) e um dos maiores complexos industriais
antigos preservados no estado.
Figura 40 – A Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema
(nome oficial) em funcionamento em 1884, durante seu
período de auge, que durou aproximadamente de 1865 a 1965.
(Foto: Júlio Durski, Coleção Princesa Isabel; fonte:
www.cidadedeipero.com.br/ipanema.html).
Com todos esses estudos, os dois conjuntos –
antigos locais de mineração de ouro, e fornos de
produção de ferro em Ipanema – tornam-se, tanto pela
antiguidade dos sítios quanto pelo conhecimento
acumulado, importantes referências do patrimônio
geológico e mineiro não só do Estado de São Paulo, mas
do Brasil e da própria América do Sul.
8. CONCLUSÃO: OUTROS DESAFIOS, NOVAS FRENTES E
INTERFACES
Além das iniciativas aqui listadas, deve ser
destacado o crescente interesse de professores e alunos
não só das áreas de geociências, mas também das áreas
de turismo, de história, e outras, nas questões de
patrimônio geológico, geoturismo e afins.
Por outro lado, em regiões onde o geoturismo já
tem maior tradição – particularmente na Europa ‒ a
experiência demonstra que, com raríssimas exceções, o
geoturismo por si só é economicamente insustentável.
“Geoturismo, como qualquer outro tipo de turismo, é
uma atividade econômica. Isto significa que espera-se
que essa atividade gere dinheiro que garanta uma renda
sólida para investidores e trabalhadores. ... Porém, as
geociências não são populares para a população em
geral. ... O número de pessoas interessadas em viajar e
gastar dinheiro apenas para uma atividade de turismo
geológico é inquestionavelmente baixo. Naturalmente
essas atividades são muito benvindas por geocientistas e
por quem tem algum tipo de formação nessa área, mas a
quantidade de tais pessoas é baixa demais para garantir a
sustentabilidade econômica de muitas companhias de
geoturismo. A ampliação do conceito de geoturismo
aumentará o numero de turistas potenciais, uma
tendência essencial para atingir o sucesso dessa
atividade econômica” (Martini et al 2012, pg. 187).
73
Neto et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 53-76
Para ser feita de maneira conscienciosa, a etapa
inicial de todo esse processo de desenvolvimento do
geoturismo deve iniciar-se pelo preparo do inventário,
estudos, classificação, etc., dos geossítios e dos locais de
patrimônio geológico construído, e da aplicação das
medidas de segurança e proteção eventualmente
necessárias. Nos momentos adequados, há três
importantes caminhos práticos que podem ajudar a
aumentar o volume de geoturistas:
1) investir no inventário, caracterização,
proteção e divulgação do patrimônio geológico;
2) facilitar o acesso à informação e, após
promover a respectiva proteção onde necessário, o
acesso físico aos geossítios e aos locais de patrimônio
geológico construído;
3) associar um grande número de locais de
geoturismo a atividades turísticas convencionais.
Deve ser sempre lembrado que o geossítio, e
mesmo os locais de patrimônio geológico construído, se
caracterizam por uma total imobilidade física ‒ ninguém
consegue transportar um afloramento para colocá-lo
mais perto do turista. Assim, só o terceiro caminho ‒ que
por sua vez só pode ser atingido através do primeiro e
depois do segundo ‒ permitirá a formação do que o
segmento turístico chama de “clusters” (em tradução
literal “cachos”), que são aglomerações de atrações
turísticas relativamente próximas umas das outras,
permitindo que se aproveite a presença física do turista
“convencional” nas região para oferecer-lhe também,
como adicional, programas e atividades geoturísticas.
Esse provavelmente será o caminho para tornar
economicamente viável (ainda que, no início, apenas
minimamente) a prática sistemática do geoturismo, uma
ferramenta que, se bem aplicada, possibilita o bom uso
do patrimônio geológico, sua fruição no presente e a sua
concomitante preservação para o futuro.
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Manuscrito ID 32741
Submetido em julho de 2013
Aceito em setembro de 2013
76
boletim paranaense
de geociências
volume 70 (2013) 120 - 136
Patrimônio geológico e mineiro do Quadrilátero Ferrífero,
Minas Gerais – Caracterização e iniciativas de uso para
educação e geoturismo
Geological and mining heritage of iron quadrangle, Minas Gerais - Characterization and strategies
for education and geotourism
ÚRSULA AZEVEDO RUCHKYS, MARIA MÁRCIA MAGELA MACHADO
Universidade Federal de Minas Gerais - [email protected] - [email protected]
Resumo
O Quadrilátero Ferrífero - QF é internacionalmente reconhecido como uma das maiores províncias minerais do planeta. Constituído por
rochas que contam parte da história da Terra associada ao Arqueano e Paleoproterozoico e com vestígios de mais de 300 anos de
exploração mineral contínua, especialmente de ouro e ferro, esta região se destaca por seu significativo patrimônio geológico e mineiro.
Este trabalho apresenta inicialmente aspectos da geologia e da história da mineração do Quadrilátero Ferrífero. Em seguida, são descritos
quinze sítios representativos da história geológica do QF que justificam a relevância de seu contexto geológico e evolução tectônica para a
compreensão da história geológica da Terra. Na sequência, é descrito parte do patrimônio mineiro desta região por meio do
detalhamento de onze sítios que compõem parte significativa da história da mineração no Brasil. Finalmente, são apresentadas iniciativas
de educação e geoturismo realizadas na região.
Palavras-chave: Quadrilátero Ferrífero; patrimônio geológico; patrimônio mineiro; história da mineração no Brasil; geoturismo.
Abstract
The Quadrilátero Ferrífero (Iron Quadrangle) - Minas Gerais/Brazil is well-known worldwide as one of the world's largest mineral province.
The region consists of rocks that show part of Earth's history associated with the Archean and Paleoproterozoic, together with remains of
more than 300 years of continuous mining, particularly gold and iron. The paper initially presents a general characterization of the Iron
Quadrangle, considering its geology and mining history. Then, it describes thirteen sites representatives of the geological history,
highlighting the relevance of its geological context and tectonic evolution for understanding of the Earth's history. The mining heritage is
also described, detailing eleven sites that compose a significant part of the mining history of in Brazil. Finally, initiatives of geotourism and
education initiatives developed in the region are presented.
Key words: Iron Quadrangle; geological heritage; mining heritage; history of mining in Brazil; geotourism.
1. INTRODUÇÃO
O Quadrilátero Ferrífero (QF) localiza-se na
porção centro-sudeste do Estado de Minas Gerais. Com
área de cerca de 7.000 km², abrange parte dos
municípios de Bom Jesus do Amparo, São Gonçalo do Rio
Abaixo, Barão de Cocais, Santa Bárbara, Catas Altas,
Alvinópolis, Mariana, Ouro Preto, Ouro Branco,
Congonhas, Jeceaba, Belo Vale, Moeda, Itabirito, Rio
Acima, Brumadinho, Mario Campos, Sarzedo, Ibirité,
Nova Lima, Raposos, Sabará, Caeté, Belo Horizonte e
Santa Luzia (Figura 1).
Constituído por rochas que contam parte da
história da Terra associada ao Arqueano e
Paleoproterozoico e com vestígios de mais de 300 anos
de exploração mineral que compõe grande parte a
história da mineração no Brasil, esta região se destaca
por seu significativo patrimônio geológico e mineiro.
Suas riquezas minerais e as consequentes atividades
mineiras desenvolvidas, inegavelmente,
desempenharam papel fundamental na ocupação do
interior do Brasil.
As buscas por metais preciosos no interland
brasileiro, que se sucederam pelos séculos XVI e XVII,
estão amplamente ligadas ao impacto causado pelas
notícias dos enormes tesouros encontrados na América
pelos espanhóis, sobretudo pela descoberta das ricas
minas de prata de Cerro Potosí, em 1545. As descobertas
de ouro no atual território mineiro vieram das entradas
paulistanas cada vez mais freqüentes e atentas aos
cascalhos e areias dos ribeirões pela experiência nas
lavras do litoral.
A notícia dos primeiros descobrimentos, por
volta de 1690, fez aumentar o número de expedições de
exploração e os achados proliferaram rapidamente
causando o primeiro grande rush minerador da história
mundial. Inicialmente na região de Ouro Preto e Mariana,
as famosas “Minas Gerais dos Cataguás” que incluíam
jazidas como as de Itaverava, Itatiaia, Antônio Dias, Padre
120
Machado & Ruchkys/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 120-136
Faria, Bento Rodrigues, Ribeirão do Carmo, e logo se
expandiram para Inficcionado (Santa Rita Durão),
Furquim, São Caetano (Monsenhor Horta), Ouro Branco,
Casa Branca, Itabira do Campo (Itabirito), Catas Altas da
Noruega e muitas outras. A região de Sabará caracterizou
um novo grupo conhecido como “Minas do Rio das
Velhas” e incluía entre outras as ricas jazidas de
Congonhas do Sabará (Nova Lima), Raposos, Santo
Antônio do Rio Acima (Rio Acima). As “Minas do Caeté”
incluíam as famosas lavras de Cuiabá e Morro Vermelho.
E eram tantas as minas que, em 1720, foi criada a
Capitania de Minas Gerais. Ao fim das primeiras décadas
do século XVIII praticamente todo o território das Minas
Gerais estava ocupado, havia uma profusão de cidades e
vilas em função da disseminação das lavras auríferas
(Machado 2009).
Figura 1 – Mapa de localização com os municípios que integram o Quadrilátero Ferrífero.
Segundo Machado (2009), depois de
aproximadamente 100 anos de atividades mineiras em
profusão, o declínio acentuado da extração de ouro nas
últimas décadas do século XVIII trouxe as primeiras
pesquisas científicas e contribuições sobre a constituição
geológica dos terrenos tendo como objetivo a
descoberta de novos recursos minerais. Durante todo o
século XIX a região foi palco do que havia de mais recente
em termos de ciência na Europa, ao receber em seus
terrenos, renomados pesquisadores estrangeiros. As
observações geológicas desses naturalistas se referem,
basicamente, aos mesmos lugares por força de um
itinerário de interesse comum, que passava
obrigatoriamente pelas famosas minas de topázio nos
arredores de Ouro Preto e minas de ouro, então
exploradas por companhias inglesas. Alguns desses
estrageiros, com formação mais específica em Geologia,
como o Barão de Eschwege, Peter Claussen, Virgil von
Helmreichen, além do detalhamento das formações,
produziram mapas geológicos da região, estando entre
estes as primeiras representações da geologia do Brasil.
Na primeira década do século XX, a descoberta
das enormes reservas de manganês e ferro colocou mais
uma vez a região em evidência no cenário internacional e
impulsionou novamente as atividades mineiras. Em
função dessas reservas e dos limites da área bem
marcados pelo relevo, a designação Quadrilátero
Ferrífero foi introduzida na literatura, em 1952, numa
comunicação apresentada no XVIII Congresso
Internacional de Geologia. A partir daí foi disseminada de
tal forma que, rapidamente, extrapolou a comunidade
geológica e hoje é amplamente reconhecida e utilizada,
indiscriminadamente, para citar ou se referir à região
(Machado 2009).
O interesse pela área permanece até os dias
atuais, não apenas pelas grandiosas reservas de minério
de ferro e outras riquezas minerais existentes, como o
ouro ainda explorado, mas também por serem sua
121
Machado & Ruchkys/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 120-136
geologia, mineralogia e geodinâmica uma das mais
fascinantes do mundo.
Um reconhecimento recente está associado ao
seu significativo patrimônio geológico constituído por
numerosos afloramentos de rochas de excepcional
interesse científico e pedagógico que permitem a
compreensão dos processos de evolução da história
geológica da Terra.
Liccardo (2007) salienta a importância de Minas
Gerais em termos de características geológicas ligadas à
história da mineração, destacando para a região do
Quadrilátero Ferrífero os municípios de Ouro Preto e
Mariana cuja história e turismo se confundem com a
mineração e a geologia. Segundo Cesar-Mendes (2003),
nestes municípios ainda pode ser visto importante
patrimônio geológico/mineiro, sendo sua preservação
primordial para as gerações futuras. Outros autores
também registram o valor patrimonial do Quadrilátero
Ferrífero, como Ruchkys et al. (2006); Silva (2007);
Ruchkys (2007); Ruchkys (2009); Ruchkys et al.(2009);
Machado (2009); Castro et al. (2011); Ostanello (2012) e
Ruchkys et al. (2012).
Este importante patrimônio geológico e mineiro
revela grande potencial para uso turístico, conforme
Ruchkys (2007) e pode integrar planos de
desenvolvimento regional agregando valor a produtos
típicos tradicionais já existentes. Uma estratégia
interessante é a proposta de criação do Geopark
Quadrilátero Ferrífero apresentada pelo Governo do
Estado à UNESCO, em 2009. O QF reúne os requisitos
básicos de um geoparque: é uma área com longa história
de exploração mineral, geologia complexa com
afloramentos privilegiados, enorme biodiversidade,
belas paisagens, sendo um território propício para ações
baseadas na geoconservação e geoturismo.
2 . PAT R I M Ô N I O G E O L Ó G I C O - M I N E I R O ,
GEOCONSERVAÇÃO E GEOTURISMO
A palavra patrimônio está associada à herança,
aquilo que é transmitido de geração para geração.
Segundo Choay (2001) esta palavra foi requalificada por
diversos adjetivos como genético, natural, cultural, entre
outros, que fizeram dela um conceito nômade (Ruchkys
2007).
Gallego e García (1996) definem o patrimônio
geológico como o conjunto de recursos naturais não
renováveis de valor científico, cultural e educativo,
incluindo as formações, estruturas geológicas, formas do
terreno, os jazimentos paleontológicos e mineralógicos,
que permitem reconhecer, estudar e interpretar a
evolução da história geológica da Terra e os processos
que tem modelado.
Para Riart (2000), o patrimônio mineiro é algo
mais complexo de se definir, já que em alguns casos está
associado ao patrimônio geológico, mas também se
relaciona com o patrimônio cultural (arquitetônico,
arqueológico, arqueológico-industrial, etc.). O mesmo é
colocado por Rodrigues et al. (2011) ao afirmarem que o
patrimônio mineiro nem sempre tem tido um
posicionamento claro perante ao patrimônio geológico,
sendo habitualmente integrado ao patrimônio industrial.
Seguindo o conceito proposto por Cordeiro
(2010), o patrimônio mineiro se relaciona ao patrimônio
geológico por incluir os vestígios materiais e imateriais
relacionados com a atividade mineira, assim como os
aspectos geológicos que promovem a exploração.
A necessidade de proteger o patrimônio
geológico e mineiro tem levado ao desenvolvimento de
estratégias que incluem a criação de leis para proteção
deste patrimônio e iniciativas de valorização e
divulgação. Cabe salientar que alguns países,
principalmente europeus, dispõem de legislação
específica para a proteção do patrimônio geológico. No
Brasil este patrimônio vem sendo protegido de forma
indireta pela criação de unidades de conservação que
tem respaldo em diversos instrumentos legais
relacionados às políticas públicas para a conservação da
biodiversidade. Além disso, existem referências legais
específicas para determinados tipos de patrimônio que
integram o patrimônio geológico. Abaíde (2012), por
exemplo, destaca o Art. 216 da Constituição Federal de
1988, onde no rol dos bens integrantes do patrimônio
cultural brasileiro estão incluídos os sítios
paleontológicos. No caso de iniciativas envolvendo
valorização e divulgação merece destaque o geoturismo,
que tem como uma de suas preocupações a de tornar o
patrimônio geológico e mineiro acessível ao grande
público, recorrendo para isso ao artifício de traduzir o
significado deste patrimônio para uma linguagem
comum.
O termo geoturismo passou a ser comumente
utilizado a partir de meados da década de 90 depois que
uma primeira definição, cunhada por Hose (1995), foi
amplamente divulgada numa revista profissional de
interpretação. Posteriormente, o próprio Hose (2000)
definiu geoturismo como sendo:
“A provisão de facilidades interpretativas e
serviços para promover o valor e os benefícios
sociais de lugares e materiais geológicos e
geomorfológicos e assegurar sua
conservação, para uso de estudantes, turistas
e outras pessoas com interesse recreativo ou
de lazer.” (Hose 2000)
Uma definição brasileira de geoturismo foi dada
por Ruchkys (2007) que apresentou a atividade como um
segmento do turismo que tem o patrimônio geológico
como seu principal atrativo e busca sua proteção por
meio da sensibilização do turista, utilizando para isto a
interpretação para torná-lo acessível ao público leigo,
além de promover sua divulgação e o desenvolvimento
das ciências da Terra.
122
Machado & Ruchkys/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 120-136
3. ASPECTOS DA GEOLOGIA DO QUADRILÁTERO
FERRÍFERO
Para Ruchkys et al. (2006), o geoturismo oferece
oportunidade para uma aproximação da geologia com o
público, além de ser um novo produto de turismo
direcionado a pessoas motivadas por sede
conhecimento intelectual e por atividades que envolvam
exploração, descoberta e imaginação. A necessidade de
prover conhecimento faz a interpretação, meio eficaz de
informar em linguagem acessível, ter um papel
preponderante no aumento do interesse pela geologia e
geoconservação, além de promover sua divulgação.
O contexto geológico do Quadrilátero Ferrífero
é caracterizado por três grandes associações de litotipos:
duas de idade arqueana representadas por terrenos
granito-gnáissicos e por uma unidade do tipo greenstone
belt (Supergrupo Rio das Velhas), e a terceira composta
por uma sequência metassedimentar paleoproterozoica
contendo formações ferríferas bandadas do tipo lagosuperior (Supergrupo Minas) (Figura 2). Encontram-se no
Quadrilátero Ferrífero elementos geológicos
representativos de parcela considerável da evolução PréCambriana.
Figura 2 – Mapa geológico simplificado do Quadrilátero Ferrífero. Fonte: Alkmin & Marshak (1998)
Os terrenos granito-gnáissicos correspondem
ao embasamento cristalino e representam as rochas mais
antigas da região (Ca. 2800Ma). Estas rochas distribuemse ao redor e na parte central do Quadrilátero Ferrífero,
e, geralmente, apresentam estrutura dômica. Suas
principais ocorrências são os complexos do Bação, Belo
Horizonte, Caeté, Bonfim e Florestal (Renger et al. 1994).
O Supergrupo Rio das Velhas (aproximadamente
2700Ma) corresponde a uma seqüência de rochas de
origem vulcânica intercaladas com rochas de origem
sedimentar e abrange os Grupos Nova Lima e Maquiné.
No Grupo Nova Lima estão concentradas as ocorrências e
maiores jazidas de ouro no Quadrilátero Ferrífero,
responsáveis pela designação do estado como “Minas
Gerais”.
O Supergrupo Minas (de 2500 a 2100Ma) está
dividido nos Grupos: Caraça; Itabira e Piracicaba. O
Grupo Caraça apresenta as Formações Moeda e Batatal,
sendo os quartzitos da Formação Moeda responsáveis
pela sustentação do relevo de algumas serras do QF
(como a Serra da Moeda). O Grupo Itabira apresenta as
Formações Cauê e Gandarela. Na Formação Cauê estão
os principais depósitos de ferro do QF. O Grupo
Piracicaba é formado pelas formações Cercadinho; Fecho
do Funil; Taboões e Barreiro. Ocorrem ainda no QF os
Grupos Sabará e Itacolomi. O Grupo Itacolomi, cuja
123
Machado & Ruchkys/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 120-136
deposição se deu entre, aproximadamente, 2100 a
1750Ma, é composto principalmente por quartzitos que
estão presentes no Pico de Itacolomi, em Ouro Preto, e
na Serra de Ouro Branco, em Ouro Branco.
No contexto geológico regional do Quadrilátero
Ferrífero, além da sequência estratigráfica descrita
anteriormente, destaca-se também a presença de rochas
básicas e metabásicas intrusivas que cortam as
sequências supracrustais e os terrenos granitognáissicos especialmente a oeste de Belo Horizonte e na
Serra do Caraça (Alkmim & Noce 2006).
O Fanerozoico encontra-se restrito a pequenas
bacias intramontanas cenozóicas, como a bacia do
Gandarela, sendo representado essencialmente por
rochas pelíticas, linhitos da Formação Fonseca (Castro
et al. 2001) e conglomerados compostos por clastos de
itabiritos da Formação Chapada de Canga (Santana et al.
1997).
Sobre a evolução tectônica do complexo padrão
do Quadrilátero Ferrífero, destaca-se o modelo proposto
por Alkmin & Marshak (1998) no qual os autores
distinguem quatro fases de deformação ocorridas no QF
dentro do seguinte processo de evolução: 1) Formação
dos terrenos granito-greenstone arqueanos: rochas
cristalinas mais antigas 3200Ma e deposição do SGRV
entre 2800Ma-2700Ma; 2) Formação da bacia Minas:
entre 2600-2400Ma (evento extensional); 3) Evento
Transamazônico: aproximadamente em 2100Ma, a
região foi envolvida por um cinturão de dobramentos e
cavalgamentos com vergência noroeste; 4) Colapso
orogênico transamazônico: entre 2095-2051Ma: regime
extensional com desenvolvimento de terrenos em
quilhas e domos; 5) Rift Espinhaço: reflexo no QF do
desenvolvimento da bacia Espinhaço com a intrusão de
diques de diabásio em torno de 1750Ma; 6) Brasiliano:
segundo evento contracional, ocorreu entre 700-430Ma
e criou um cinturão de dobramentos e cavalgamentos
para oeste que reativou antigas estruturas do QF.
4. A MINERAÇÃO NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO
Os recursos minerais, por constituirem insumos
essenciais a praticamente todos os ramos do setor
industrial e terem distribuição irregular na crosta
terrestre, tem ao mesmo tempo uma enorme dimensão
econômica e caráter internacional. Assim, é natural o
interesse governamental em pesquisa, exploração e
regulação do setor mineral. No caso específico do ouro,
desde a antiguidade, esse metal adquiriu status
diferenciado entre produtos comercializados. É o único
metal precioso que une à facilidade para ser trabalhado,
resistência à corrosão, características estéticas como
beleza e brilho e ainda raridade. Estas propriedades
fizeram com que o ouro começasse a ser usado na
cunhagem de moedas e na produção de jóias e artefatos
ainda nos primeiros séculos da antiguidade. Suas
propriedades físicas, químicas e bioquímicas
garantem-lhe hoje aplicações nas indústrias eletrônica,
química, de perfumaria, textil, de impressão, papel,
plásticos, produtos alimentícios, laminação de vidros,
construção civil, na odontologia na medicina, entre
outras (Nery & Silva 2001).
Entretanto, é basicamente a sua capacidade de
reserva de valor que o tornou tão especial. Sobretudo,
para Portugal em meados do século XVII profundamente
enfraquecido em termos políticos e econômicos logo
após a separação da Espanha. A nação apresentava uma
balança de comércio deficitária advinda dos altos custos
para a reinstalação do Reino, da retração dos mercados
consumidores, particularmente o do açúcar em função
da concorrência da produção antilhana e da escassez de
metal (Martins 1984).
O ouro brasileiro viria como remédio para esses
males. Tanto que as atividades de mineração
desenvolvidas no período de aproximadamente 100
anos, entre a descoberta do ouro e a exaustão do minério
de fácil extração no Quadrilátero Ferrífero, têm
características bem definidas em função da política
mercantilista portuguesa – exploração das riquezas
coloniais visando somente o abastecimento da
metrópole. A lavra no Ciclo do Ouro era baseada na
experiência e na observação e não em conhecimento
científico, se caracterizando unicamente pela aplicação e
aprimoramento de técnicas de mineração. Lavrava-se
sem planejamento, produzindo montanhas de estéreis
que eram depositadas muitas vezes sobre camadas ricas
inviabilizando seu aproveitamento.
Primeiramente foram descobertos e minerados
os depósitos nos leitos dos rios, os aluviões, onde o ouro
era encontrado misturado aos seixos, areia, argila. A
crescente escassez dos cascalhos ricos, facilmente
acessíveis, alterou não só os trabalhos nos leitos dos rios
como levou os mineiros a buscar os depósitos de aluvião
nas margens ou “tabuleiros”, e sob uma camada não
muito espessa de terra nas encostas dos morros, as
“grupiaras”. Nas encostas era usado o método conhecido
como “talho aberto”. A mineração subterrânea só
acontecia diante da impossibilidade de exploração do
filão rico a céu aberto, uma vez que o serviço era muito
penoso e arriscado. As galerias eram estreitas e sinuosas,
escavadas acompanhando a formação do veio, e
chegavam a atingir centenas de metros, somente nas
partes mais ricas eram alargadas. Os morros eram
perfurados de um lado para o outro sem o menor
planejamento ou controle, assim aconteceu em Ouro
Preto, Mariana e outros localidades.
A sede de enriquecimento rápido, o total
despreparo com relação ao conhecimento da estrutura
das jazidas, aliada a falta de orientação ou fiscalização
por parte da metrópole, pelo contrário, a imposição do
oneroso quinto sobre o ouro fizeram com que o modo de
minerar no ciclo do ouro funcionasse como algoz da
mina. A exploração do ouro entrou em acentuado
declínio a partir dos anos 60 do século XVIII.
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Machado & Ruchkys/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 120-136
Logo depois da independência, aproveitando a
legislação brasileira favorável à entrada de capital
estrangeiro para o desenvolvimento da atividade de
mineração, começaram a chegar os ingleses. Nos anos
1820 e 1830 foram formadas na Inglaterra seis
companhias para explorar ouro em Minas Gerais.
As Companhias inglesas trouxeram mudanças
significativas em todos os estágios de produção de ouro,
introduziram o emprego da pólvora e mais tarde da
dinamite, amalgamação por mercúrio e a utilização
generalizada de força hidráulica nas operações de
drenagem, ventilação e transporte (com vagonetes e
caçambas movidos por roda d'água), e engenhos
hidráulicos de redução do minério os quais foram
responsáveis pelos maiores ganhos de produtividade.
Apesar de terem obtido o controle das melhores jazidas,
as companhias inglesas suavizaram o ritmo, mas não
reverteram a tendência de queda do setor aurífero, pelo
menos em termos de quantidade produzida até 1860. A
produção anual média que havia sido 1.884 Kg em
1801/1820, caiu para 1.602 Kg em 1820/1860, dos quais,
aproximadamente, 52% foram extraídos em Gongo Soco,
Morro Velho e Cata Branca (Martins 1989).
Em fins do século XIX começaram a aparecer os
reflexos do apelo capitalista por minerais industriais
como carvão, petróleo, ferro e manganês. Com a
intensificação e diversificação do processo de
industrialização pós-Primeira Guerra e consequente
aumento da demanda por combustível e matéria-prima,
as riquezas minerais do Quadrilátero Ferrífero se
tornaram, mais uma vez, o centro das atenções, desta
feita, o manganês e o ferro. No início dos 1900 o interesse
dos países produtores de aço, principalmente a
Inglaterra, pelas jazidas de manganês e ferro de Minas
Gerais já era patente. Entre 1905 e 1920 houve uma
intensa aquisição de jazidas de minério de ferro por
estrangeiros. A constituição republicana de 1891 havia
aberto esta prerrogativa. No que se refere ao direito de
propriedade das minas, o chamado sistema dominial
vigente durante o Império, no qual o subsolo pertence à
nação, foi substituído pelo sistema norte-americano,
submetendo a propriedade das minas à da superfície
(Machado 2009).
Na década de 30, com as mudanças
introduzidas pela promulgação do Código de Minas do
país, entre elas a necessidade de autorização do governo
da União para pesquisa e lavra e somente para cidadãos
brasileiros ou empresas organizadas no Brasil, as
companhias estrangeiras que exploravam o minério de
ferro no Quadrilátero Ferrífero, passaram por um
processo de nacionalização.
Em 1946, por ordem constitucional, a
mineração em território brasileiro foi reaberta à
participação de capital estrangeiro, em 1988 foram
restabelecidas as restrições e, finalmente, em 1995, os
impedimentos ao capital externo foram novamente
suprimidos. Hoje o Quadrilátero Ferrífero é responsável
por cerca de 60% do minério de ferro exportado pelo
Brasil que, em 2011, atingiu a marca de 331 milhões de
toneladas de uma produção da ordem de 390 milhões.
De acordo com a Secretaria do Comércio Exterior - SECEX,
do Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do
Comércio Exterior, em 2011, o minério de ferro
permaneceu liderando a pauta das exportações
nacionais. A Companhia Vale do Rio Doce é,
destacadamente ,a principal exportadora brasileira de
minério de ferro, com 79% do total das exportações
(Sinferbase 2011).
Existem ainda no Quadrilátero Ferrífero
ocorrências de urânio, prata, arsênio, enxofre, bário,
topázio imperial, talco, serpentina, agalmatolito,
calcário, dolomito, quartzo, caulim, grafita, rochas
ornamentais, areia, argilas, entre outras.
5. PATRIMÔNIO GEOLÓGICO DO QUADRILÁTERO
FERRÍFERO
As rochas que afloram no Quadrilátero Ferrífero
datam do Arqueano e Paleoproterozoico que,
juntamente com o Hadeano (intervalo que marca os
primórdios de formação do planeta), ocupam cerca de
8/10 da história da evolução da Terra. Nesta época a Terra
esteve submetida a diversos eventos como vulcanismo,
tectonismo, mudanças na atmosfera, hidrosfera, biosfera
e nos sistemas de sedimentação. Registros destes
eventos estão preservados nos diferentes conjuntos de
rocha do Quadrilátero Ferrífero: complexos
metamórficos de rochas cristalinas arqueanas;
sequências do tipo greenstone belts arqueana
representada pelo Supergrupo Rio das Velhas e
sequências metassedimentares paleo e
mesoproterozoicas representadas pelo Supergrupo
Minas, Grupo Sabará e Grupo Itacolomi. Assim, para
apresentação desse patrimônio geológico foram
selecionados sítios de diferentes unidades geológicas
com base nas descrições de Ruchkys et al. (2006);
Ruchkys (2007); Ruchkys (2009); Ruchkys et al. (2009) e
Ruchkys et al. (2012).
5.1. GNAISSE DE CACHOEIRA DO CAMPO
É um sítio de interesse regional do ponto de
vista científico e educativo e está localizado no distrito de
Cachoeira do Campo. O embasamento cristalino granitognáissico-migmatítico de composição tonalitotrondhjemito-granodiorito (TTG) corresponde às rochas
mais antigas do Quadrilátero Ferrífero, sendo a base de
todas as unidades geológicas desta região. Os gnaisses de
composição TTG, juntamente com sequências do tipo
greenstone belt, são os constituintes mais característicos
dos crátons arqueanos. As primeiras crostas continentais
da Terra e os primeiros núcleos protocratônicos que
começaram a se formar em quatro bilhões de anos eram
compostos por gnaisses desse tipo. No Quadrilátero
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Ferrífero o embasamento cristalino é dividido em
complexos que recebem denominações locais
diferentes: Complexo Bação; Complexo Bonfim;
Complexo Belo Horizonte; Complexo Caeté; Complexo
Santa Bárbara. O sítio do gnaisse de Cachoeira do Campo
(Figura 3) encontra-se no Complexo Bação.
5.3. META-ARENITOS DA SERRA DO ANDAIME
Sítio de interesse regional do ponto de vista
científico e educativo. Este sítio está localizado no
município de Itabirito na Serra do Andaime e está
relacionado ao Grupo Maquiné e o Supergrupo Rio das
Velhas. Os meta-arenitos da Serra do Andaime são
interpretados por Pedreira (1995) e Baltazar & Pedreira
(2000) como uma associação litorânea originados em
ambiente marinho raso no Arqueano, sendo, portanto, o
registro de uma das primeiras praias do Brasil. Os
afloramentos indicam as litofácies desse ambiente: água
rasa com influência de maré e dunas costeiras (Figura 5).
Figura 3 – Visão geral do gnaisse de Cachoeira do Campo no
Complexo Bação. Fonte: acervo CPRM
5.2. METAVULCÂNICAS DO SUPERGRUPO RIO DAS
VELHAS
É um sítio de interesse regional do ponto de
vista científico e educativo. Trata-se de rocha
metaultramáfica serpentinizada e xistificada da base do
Supergrupo Rio das Velhas, representado por sucessões
sedimentares e de rochas vulcânicas depositadas no
Quadrilátero Ferrífero entre 2800-2700 Ma que contém
importantes depósitos de ouro (Figura 4). O
desenvolvimento do Supergrupo Rio das Velhas
caracterizou um evento de crescimento da crosta
continental formando uma plataforma relativamente
grande.
Figura 4 – Afloramento de rocha metaultramáfica
serpentinizada da base do Supergrupo Rio das Velhas. Fonte:
Dionisio Tadeu de Azevedo
Figura 5 – Detalhe de marcas de onda nos meta-arenitos da
Serra do Andaime. Fonte: Dionisio Tadeu de Azevedo.
5.4. QUARTZITOS E CONGLOMERADO BASAL DA
FORMAÇÃO MOEDA – SERRA DA MOEDA
Sítio de interesse nacional do ponto de vista
científico, educativo, estético, cultural e turístico. O sítio
está localizado na Serra da Moeda, cerca de 20 km ao sul
de Belo Horizonte. Em um contexto de relativa
quiescência global e existência de uma plataforma
arqueana recém-consolidada, foi implantada a protobacia Minas com sedimentação inicialmente continental
e posteriormente marinha. O Supergrupo Minas
começou a se depositar em aproximadamente 2500Ma,
ao longo de uma bacia de margem passiva desenvolvida
na plataforma continental preexistente. O primeiro
registro da abertura dessa bacia é marcado pelos
metaconglomerados auríferos e uraniníferos que se
encontram na parte basal da Formação Moeda. A
sequência é constituída ainda por quartzito que sustenta
a Serra da Moeda (Figura 6).
126
Machado & Ruchkys/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 120-136
5.6. SERRA DA PIEDADE
Figura 6 – Afloramento de quartzito da Formação Moeda na
serra homônima.
5.5. SANTUÁRIO DA SERRA DO CARAÇA
Sítio de interesse internacional do ponto de
vista científico, educativo, estético, cultural, religioso,
histórico e turístico, reconhecido pelo SIGEP como
patrimônio geológico do Brasil. Serra do Caraça é o nome
genérico para um conjunto de montanhas que abriga as
maiores altitudes do Quadrilátero Ferrífero, com Pico do
Sol atingindo 2.072 metros de altitude (Figura 7). É
composta essencialmente por quartzitos da Formação
Moeda do Grupo Caraça, com ocorrência de cavernas
entre as quais se destaca a Gruta do Centenário, a maior
do mundo nesta litologia. Seus condutos formam uma
rede labiríntica quadrática atingindo 481m de desnível e
3.790 m de projeção horizontal (4.700m de
desenvolvimento linear). Hoje, o Caraça é uma Reserva
Particular do Patrimônio Natural (RPPN).
Sítio de interesse internacional do ponto de
vista científico, educativo, estético, cultural, religioso,
histórico e turístico. Com expressivos afloramentos de
BIF's (Banded Iron Formation) regionalmente conhecidas
como itabiritos (Figura 8), a Serra da Piedade foi
reconhecida pelo SIGEP como patrimônio geológico e
paleontológico do Brasil, descrita por Ruchkys et al.
(2009). Além da importância geoecológica para
compreensão dos fenômenos que levaram à evolução da
vida dos oceanos e da atmosfera no Pré-Cambriano, os
itabiritos apresentam grande importância econômica.
No Quadrilátero Ferrífero, há várias minas de ferro
hospedadas dentro de formações ferríferas bandadas
onde a lixiviação de minerais de ganga (principalmente
quartzo e dolomita) promoveu o enriquecimento
residual de ferro na rocha.
Figura 8 – Afloramento de itabirito dobrado na Serra da
piedade. Foto: Dionisio Tadeu de Azevedo.
5.7. SERRA DO CURRAL
Figura 7 – Vista geral da Serra do Caraça. Foto: Dionisio Tadeu
de Azevedo.
Sítio de interesse nacional do ponto de vista
científico, educativo, estético, cultural, histórico e
turístico. A serra do Curral corresponde a um homoclinal,
cujo eixo se orienta, em linhas gerais, de NE para SW,
constituindo o limite norte do Quadrilátero Ferrífero.
Afloram na Serra do Curral parte da seqüência
metassedimentar do Supergrupo Minas: grupos Caraça,
Itabira e Piracicaba. Essas unidades apresentam inversão
estratigráfica ocasionada pela tectônica e caracterizam
uma diversidade litoestrutural e morfológica e um relevo
acidentado. A Serra do Curral tem seu nome associado ao
antigo Curral Del Rey, arraial que se desenvolveu em sua
base e que daria lugar a atual cidade Belo Horizonte.
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5.8. SINCLINAL DO GANDARELA
5.10. PICO DO ITACOLOMI
Sítio de interesse regional do ponto de vista
científico e educativo. Caracterizado pela ocorrência de
carbonatos, um dos indícios da mudança paleoambiental
- a dissolução dos gases atmosféricos nas águas conduz à
formação do ácido carbônico (H2CO3) que é fixado sob a
forma de carbonato de cálcio ou de magnésio (Figura 9).
Sítio de interesse internacional do ponto de
vista científico, educativo, estético, cultural, religioso,
histórico e turístico (Figura 11). O Grupo Itacolomi tem
sua importância global associada ao registro do ciclo
orogênico no Quadrilátero Ferrífero, fase extencional do
Evento Transamazônico. Representa uma deposição
típica de ambiente fluvial entrelaçado e leques aluviais
em bacias intermontanas estreitas. Os leques aluviais são
feições deposicionais que ocorrem tipicamente
adjacentes às áreas montanhosas.
Figura 9 – Visão geral de afloramento de mármore da Formação
Gandarela. Foto: Úrsula Ruchkys.
5.9. PEDREIRA DO CUMBI
Figura 11 – Vista geral do pico do Itacolomi a partir da cidade de
Ouro Preto. Foto: Dionisio Tadeu de Azevedo.
Sítio de interesse regional do ponto de vista
científico e educativo. Carbonato rico em estruturas
sedimentares resultantes da atividade de cianobactérias
– os estromatólitos (Figura 10). Os estramatólitos précambrianos, além de ser a evidência indireta mais antiga
de vida, constituem um importante registro de
mudanças climáticas, paleogeográficas e ambientais.
5.11. SERRA DE OURO BRANCO
Figura 10 – Detalhe dos estromatólitos preservados na Pedreira
do Cumbi. Foto: Dionisio Tadeu de Azevedo.
Sítio de interesse regional do ponto de vista
científico, educativo, estético, cultural, histórico e
turístico, tendo sido tombada pelo Instituto Estadual do
Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA.
A Serra de Ouro Branco, a exemplo do Pico do Itacolomi,
tem sua importância associada ao ciclo orogênico. A
evolução do QF proporcionou uma estruturação dômica
marcada por diversos sinclinais e anticlinais distribuídos
pelos compartimentos que o constituem tornando
possível a observação, em campo, de contrastes muito
bruscos na topografia, principalmente em trechos onde
m o v i m e n t o s t e c t ô n i c o s p r o v o c a ra m fo r t e s
desnivelamentos. A Serra de Ouro Branco permite o
entendimento desta relação entre as cotas altimétricas e
as características litológicas e estruturais da região assim
como disponibiliza excepcionais afloramentos de
quartzitos do Grupo Itacolomi. É um marco paisagístico
que materializa o limite meridional do QF no sentido W-E,
tendo sido descrito sob o nome de Serra do Deus-TeLivre, invariavelmente, por todos os naturalistas
estrangeiros que estiveram na região nos três primeiros
quartéis do século XIX (Figura 12). É formada por um
paredão com cerca de 20 km de extensão, tendo em seu
topo um planalto cuja altitude varia entre 1.250 e 1.568
metros. Possui belos mirantes e muitas cachoeiras.
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Figura 12 – Vista geral da Serra de Ouro Branco suportada por
quartzitos do Grupo Itacolomi. Foto: Maria Márcia Magela
Machado.
5.12. SÍTIO PALEONTOLÓGICO DE FONSECA
Sítio de interesse nacional do ponto de vista
científico. A bacia de Fonseca, descrita por Mello et al.
(2002), foi reconhecida pelo SIGEP como patrimônio
geológico e paleontológico do Brasil. Constitui um
clássico exemplo de sedimentos paleógenos, tendo
despertado o interesse de vários pesquisadores, desde a
segunda metade do século passado, por conter
depósitos de “canga”, linhito e sedimentos fossilíferos. O
registro fossilífero da Formação Fonseca é caracterizado
por uma grande variedade de famílias de Angiospermas,
sendo as famílias Melastomataceae e Mimosaceae as
mais abundantes. O fóssil mais notável pertence à
Família Bombacaea – uma flor, relativamente bem
conservada, apresentando a impressão das pétalas e
androceu (órgão reprodutor masculino).
Figura 13 – Exposição de canga na Serra do Rola Moça. Foto:
Dionisio Tadeu de Azevedo.
6. PATRIMÔNIO MINEIRO DO QUADRILÁTERO
FERRÍFERO
Com cerca de trezentos anos de atividade
extrativa mineral contínua, o Quadrilátero Ferrífero
possui um importante espólio mineiro advindo
principalmente da exploração do ouro e do ferro. A
mineração deixou também um importante legado
patrimonial imaterial ligado à identidade e a memória
das populações mineras. Parte do patrimônio mineiro
do QF é descrito a seguir, com base em Ruchkys et
al.(2006); Ruchkys (2007); Ruchkys (2009) e Ruchkys et
al. (2012) e Machado (2009), a partir de sítios
representativos de diferentes períodos da história da
mineração.
6.1. RUÍNAS DA CASA DE FUNDIÇÃO CLANDESTINA DE
OURO
5.13. SERRA DO ROLA MOÇA
Sítio de interesse internacional do ponto de
vista científico, educativo, estético, cultural, histórico e
turístico. O Parque Estadual da Serra do Rola Moça
apresenta boas exposições de carapaça laterítica
ferruginosa, regionalmente conhecida como canga, cuja
formação se deve ao processo de intemperismo do
itabirito (Figura 13). Os processos de laterização e a
conseqüente formação de canga são relativamente
recentes, estando comumente relacionados a processos
de aplainamento do relevo gerados pela atuação de
processos erosivos. No caso das cangas do Quadrilátero
Ferrífero, vários autores associam a formação de lateritas
ao desenvolvimento da superfície de aplainamento SulAmericana, considerada Paleógena por King (1956).
Sítio de interesse regional do ponto de vista
histórico, educativo e turístico. O sítio da falsa casa de
fundição do Paraopeba é de extrema importância para
história da mineração, sendo um exemplo dos
descaminhos do ouro no Período Colonial. A fundição
clandestina de ouro é um exemplo das múltiplas táticas
de fraude desenvolvidas no Período Colonial,
principalmente no período do estabelecimento das
primeiras Casas de Fundição oficiais entre 1724 e 1735.
Montada por Inácio de Souza Ferreira, juntamente com
Manuel Francisco e outros cúmplices, em um sítio
estratégicamente posicionado, esta fundição cladestina
produzia barras de ouro e moedas com cunhos legítimos,
furtados das casas de fundição e dados como inutilizados
(Figura 14).
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6.3. MINA DE MORRO VELHO
Figura 14 – Ruínas da casa de fundição clandestina no vale do
Paraopeba. Foto: Úrsula Ruchkys de Azevedo.
6.2. FÁBRICA PATRIÓTICA
Sítio de interesse nacional do ponto de vista
histórico, científico e educativo. Assim como a
mineração, a siderurgia também marca a vocação da
região do Quadrilátero Ferrífero.
O ferro era produzido no Brasil, desde o início da
colonização, em pequenas forjas que produziam por
métodos primitivos e, quase que exclusivamente, por
força braçal.
Com a necessidade de suprir as demandas da
mineração um decreto baixado em 1801 revogou o
Alvará de 1785 que proibia a existência de fábricas na
colônia, liberando a fabricação de ferro em escala
industrial. Entretanto, o impulso para criação de fábricas
de ferro só veio em 1808 com a elevação do Brasil a sede
do Reino. A “Fábrica Patriótica”, instalada pelo alemão
Barão de Eschwege em Congonhas do Campo, produziu
ferro pela primeira vez em 12 de dezembro de 1812 e
funcionou até por volta de 1822. Foi o primeiro
estabelecimento a produzir ferro em escala industrial no
Brasil. O conjunto das ruínas da Fábrica Patriótica é
preservado pelo IPHAN como testemunho histórico da
indústria siderúrgica do Brasil (Figura 15).
Sítio de interesse internacional do ponto de
vista científico, educativo, cultural, histórico e turístico.
Em Morro Velho, antiga freguesia de Nossa Senhora do
Pilar de Congonhas (hoje Nova Lima), a exploração do
ouro remonta ao período colonial, tendo se iniciado por
volta de 1725. A mina, ao longo de sua existência,
experimentou a evolução nas técnicas de mineração do
ouro e foi nos anos 1920 a mina mais profunda do mundo
e a mais produtiva do Brasil tornando-se um referencial
para a história da mineração. A mina foi paralisada em
outubro de 2003 e está atualmente no processo de
descomissionamento. A administração mantém, desde
1994, o Centro de Memória Morro Velho, aberto ao
público, onde é resgatada a história da mineração do
século XIX com grande acervo de peças e documentos
históricos.
6.4. HONÓRIO BICALHO
Sítio de interesse regional do ponto de vista
educativo, cultural e histórico. A descoberta do ouro no
Rio das Velhas e no Ribeirão de Macacos levou ao
desenvolvimento de Honório Bicalho, atual distrito de
Nova Lima. A localidade experimentou grande
prosperidade até fins dos 1700, quando a fadiga da
mineração do ouro, impôs à região uma decadência que
só começou a ser revertida depois de praticamente um
século com a entrada de capital estrangeiro. Depois das
tentativas fracassadas de exploração por parte da Societé
de Mines D'or de Faria, de capital francês, e da inglesa
Faria Gold Mining Company of Brazil Limited, em 1908 a
empresa inglesa Saint Jonh Del Rey Mining Company
adquiriu o espólio da mina do Faria, filão mais rico, e a
região voltou a se desenvolver (Figura 16). A localidade
passou a ser conhecida pelo nome da estação ferrroviária
– Honório Bicalho, inaugurada em 1890, assim batizada
em homenagem ao engenheiro responsável pela
construção do trecho.
Figura 16 – Entrada da mina de ouro do Faria atualmente
desativa em Honório Bicalho. Foto: Úrsula Ruchkys de Azevedo.
Figura 15 – Ruínas da Fábrica Patriótica. Foto: Úrsula Ruchkys
de Azevedo.
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6.5. MORRO DA QUEIMADA
6.7. MINA DE PASSAGEM
Sítio de interesse nacional do ponto de vista
histórico, científico e turístico, onde são encontrados
construções e galerias de minas relacionadas à extração
de ouro. O Morro da Queimada abrigou um dos
primeiros núcleos populacionais de Vila Rica, hoje cidade
de Ouro Preto. Passou a ser chamado de Morro da
Queimada após ser incendiado a mando do então
governador, Conde de Assumar, em represália à revolta
liderada por Felipe dos Santos contra a proibição de
circulação de ouro em pó e a criação das casas de
fundição para arrecadação do quinto do ouro em 1720.
Hoje, a região do Morro da Queimada está sendo
transformada em um parque arqueológico, sendo
responsável por essa iniciativa o Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.
Sítio de interesse nacional do ponto de vista
científico, educativo, cultural, histórico e turístico. Entre
1729 e 1819, vários mineiros obtiveram concessões para
explorar a propriedade mineral de Passagem até que, em
1819, ela foi adquirida, junto com algumas concessões
vizinhas, pelo Barão de Eschwege que criou a primeira
companhia mineradora do País de capital privado, com o
nome de Sociedade Mineralógica da Passagem.
Eschwege modernizou o processo de lavagem e
beneficiamento do minério aurífero com a instalação de
um engenho com nove pilões e moinhos para pedras, até
então desconhecidos no Brasil e estabeleceu o primeiro
plano de lavra subterrânea. A Mina da Passagem,
atualmente desativada, pertence à Companhia de Minas
de Passagem - CMP e está aberta a visitação. A descida
para as galerias subterrâneas se faz de através de um
trolley, em um plano inclinado que chega a 315m de
extensão e 120m de profundidade (Figura 18).
6.6. MINA DE CHICO REI
Sítio de interesse internacional do ponto de
vista científico, educativo, cultural, histórico e turístico. A
Mina de Chico Rei é uma escavação artesanal
subterrânea que se estende sob a cidade de Ouro Preto
por aproximadamente 11.500 metros, distribuídos em
vários níveis (Figura 17). Seus primeiros 50 metros, que
seguem até o chamado salão de cristais, um átrio a partir
do qual sai um tunel mais elevado, estão iluminados e
abertos à visitação turística. O nome tem origem na
história de Chico Rei, personagem real que segundo a
tradição oral, foi trazido do Congo como escravo e
trabalhou na exploração do ouro até comprar sua carta
de alforria e, depois, sua própria mina. Atualmente a
mina está sendo mapeada por estudantes de geologia.
Figura 18 – Entrada da mina da Passagem. Foto: Dionisio Tadeu
de Azevedo.
6.8. MINA DE GONGO SOCO
Figura 17 – Entrada da mina de Chico Rei aberta a visitação.
Foto: Úrsula Ruchkys de Azevedo.
Sítio de interesse nacional do ponto de vista
educativo, cultural, histórico e turístico. No século XIX a
Mina de Gongo Soco viveu seu apogeu com a mineração
aurífera subterrânea, mecanizada e industrializada. A
mina foi explorada por ingleses da Cornuália, entre 1826
a 1856, que lá criaram uma autêntica vila inglesa, com
hospital, capela e cemitério particular (IEPHA, 1995). As
ruínas, tombadas pelo IEPHA/MG em 1995, estão
localizadas no município de Barão de Cocais, a 76
quilômetros de Belo Horizonte. Com a escassez do rico
mineral, a mina ficou paralizada durante muito tempo e,
em 1986, a extração do ouro foi substituída pela do ferro,
atividade ainda existente no local (Figura 19).
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Figura 20 – Vista geral da mina de Capão do Lana. Foto: Maria
Márcia Magela Machado.
Figura 19 – Ruínas da mina de Gongo Soco. Foto: Acervo CPRM.
6.9. CAPÃO DO LANA
Sítio de interesse internacional do ponto de
vista científico, turístico e histórico. No Brasil, o topázio
amarelo foi descoberto por volta de 1760 na região de
Ouro Preto, provavelmente em aluviões lavados em
busca de ouro. A descoberta de topázios no morro da
Saramenha, em 1772, atraiu grande número de mineiros
para o local. No século XIX as viagens científicas
realizadas por naturalistas europeus no sudeste
brasileiro incluiam, invariavelmente, as minas de topázio
nos arredores de Ouro Preto, em função do interesse que
despertavam. As lavras de topázio do Capão do Lana, na
região de Rodrigo Silva, são objeto de observações
geológicas no relato da viagem por Minas Gerais, em
1818, de Spix e Martius e também de Francis de la Porte,
o Conde de Castelnau, que lá esteve em 1843 (Machado
2009). A Topázio Imperial Mineração iniciou sua
operação em Capão do Lana em 1971, chegando a
empregar 80 pessoas. Realizou levantamentos
geológicos e pesquisas de seu subsolo, cumprindo todos
os requisitos legais. Opera de acordo com planos de lavra
aprovados, acompanhados e fiscalizados pelos órgãos
oficiais de mineração (Figura 20). Atualmente, com ritmo
modesto de produção continua a abastecer grandes
indústrias joalheiras.
6.10. PONTE DO BIQUINHA
Sítio de interesse nacional do ponto de vista
cultural, histórico e turístico. Para evitar o descaminho do
ouro entre as minas e o Rio de Janeiro, o governo
português determinou que apenas o Caminho Velho e,
depois, o Caminho Novo, aberto como alternativa para
evitar a rota marítima entre Paraty e o Rio de Janeiro,
poderiam ser utilizados para transporte desse bem. Estes
caminhos oficiais receberam o nome de Estrada Real. No
trecho Ouro Branco - Ouro Preto existem ainda vários
vestígios arqueológicos como pontes, bueiros, galerias
fluviais e pluviais, contenções, muros de arrimo e restos
de piso e é um dos trechos originais mais bem
preservados da Estrada Real em Minas Gerais. A Ponte do
Biquinha é um destes remanescentes, feita em pedra de
cantaria, arco pleno ou romano e parapeitos incompletos
do século XIX (Figura 21).
Figura 21 – Vista da ponte do Biquinha em trecho preservado da
Estrada Real. Foto: Úrsula Ruchkys de Azevedo.
132
Machado & Ruchkys/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 120-136
6.11. FAZENDA PÉ DO MORRO
A Fazenda Pé do Morro foi construída no século
XVIII, com todas as paredes em pedras, nas proximidades
da Serra de Ouro Branco, daí o seu nome. Serviu como
hospedagem para visitantes, atividade que, com o
tempo, parece ter ganhado muito importância. Em
meados do século XIX teve um acréscimo de pau a pique
e sofreu algumas modificações (Figura 22). A origem da
fazenda está relacionada à necessidade de
abastecimento das sociedades fundadas na base
econômica da mineração que se preocuparam muito
pouco com a produção de gêneros alimentícios, fato que
resultou em várias crises de abastecimento durante o
ciclo do ouro. Atualmente é tombada pelo Patrimônio
Histórico e funciona como Hotel Fazenda sendo um
exemplo vivo de uma imensa riqueza histórica.
Figura 22 – Vista da Fazenda Pé do Morro. Foto: Úrsula Ruchkys
de Azevedo.
Figura 23 – Aqueduto Bicame de Pedra exibindo portal em arco
romano. Foto: Acervo CPRM.
6.13. PICO DE ITABIRITO
Sítio de interesse internacional do ponto de
vista científico, educativo, estético, cultural, histórico e
turístico. Trata-se de um corpo verticalizado de minério
de ferro compacto, constituído de óxidos de ferro
(hematita e magnetita), de origem hidrotermal, formado
durante o evento termotectônico denominado
Transamazônico, de idade paleoproterozóica e está
inserido na Formação Cauê, Grupo Itabira do Supergrupo
Minas (Rosière et al. 2005). O Pico de Itabirito é uma
referência histórica e geográfica. Localizado junto à
rodovia que liga Belo Horizonte a Ouro Preto, na borda do
Sinclinal Moeda, serviu como marco geográfico para os
bandeirantes e exploradores do território mineiro nos
século XVI e XVII e para os naturalistas viajantes no século
XVIII (Figura 24).
6.12. BICAME DE PEDRAS
O Bicame de Pedra foi construído em 1792 por
Manoel Ferreira Pinto para fornecimento de água para
mina de ouro na Serra de Boa Vista. Constitui atração
turística da Estrada Real e oferece uma linda vista do
Caraça. O muro tem 4 metros de altura com portal em
forma de arco romano sobre o qual a água era conduzida
para ser utilizada na lavagem de cascalho para lavra de
ouro nos séculos XVIII e XIX. Sua construção custou uma
arroba (cerca de 15 Kg) de ouro (Figura 23).
Figura 24 – Vista geral do Pico de Itabirito. Foto: Dionisio Tadeu
de Azevedo.
133
Machado & Ruchkys/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 120-136
7. EXEMPLOS E PROPOSTAS DE VALORIZAÇÃO
PATRIMONIAL NO QUADRILÁTERO FERRÍFERO
O Quadrilátero Ferrífero já foi e é alvo de
projetos e propostas de valorização de seu patrimônio
geológico e mineiro, sendo neste artigo apresentadas,
como exemplos, seis destas propostas: 1) Valorização por
percursos geoturísticos-culturais, proposto por Ruchkys
et al. (2006); 2) Criação de um Geopark a ser integrado na
GGN/UNESCO proposto por Ruchkys (2007); 3) Excursão
virtual pelo Quadrilátero Ferrífero, proposto pela CPRM
(2007); 4) Descomissionamento da Mina de Gongo Soco,
proposto por Neto (2008); 5) Painéis interpretativos de
sítios geológicos em um projeto conjunto desenvolvido,
em 2012, pela CPRM/UFMG; 6) Valorização pelo
geoturismo do Parque Estadual do Itacolomi, proposto
por Ostanello (2012).
Ruchkys et al. (2006) propõem a valorização
patrimonial do Quadrilátero Ferrífero por meio de três
percursos geoturísticos apresentando quatorze pontos
de interesse que contemplam os diferentes aspectos que
caracterizam esta que é uma das regiões geologicamente
e historicamente mais importantes de Minas Gerais. A
definição dos percursos geoturísticos buscou organizar e
integrar as potencialidades do Quadrilátero Ferrífero. Os
percursos auxiliam na organização de segmentos
específicos, para atender às demandas também
específicas.
Ruchkys (2007) mostra o potencial do
Quadrilátero Ferrífero para a criação de um geoparque, a
partir da análise dos critérios operacionais da UNESCO
para reconhecimento de áreas como geoparques
descritos no documento Operational Guideline for
National Geoparks seeking UNESCO´s assistance. Para
isso faz uma seleção de sítios geológicos do Quadrilátero
Ferrífero representativos de sua história geoecológica e
da história da mineração. A seleção desses sítios está
baseada em critérios internacionais e sua descrição
segue a recomendação da UNESCO e do SIGEP. Com base
nessas recomendações os sítios são descritos mostrando
sua importância em termos globais e/ou regionais e são
propostas medidas de proteção. A análise dos sítios e dos
critérios da UNESCO mostra que a idéia de criação de um
geoparque reconhecido pela UNESCO pode ser aplicada
ao Quadrilátero Ferrífero, constituindo um instrumento
de divulgação e conservação de um exemplo significativo
do patrimônio geológico pré-cambriano da Terra e do
patrimônio associado à história da mineração do Brasil.
A CPRM disponibilizou em 2007 no site
http://www.cprm.gov.br/estrada_real/ o Projeto
“Excursão Virtual pela Estrada Real no Quadrilátero
Ferrífero. Aspectos geológicos, históricos e turísticos”. O
projeto teve como objetivo proporcionar a sinergia do
conhecimento geocientífico com a história, a economia,
a sociologia e o turismo de uma região que surgiu para o
país como o berço da própria cidadania nacional desde
meados do século XVII. A excursão apresenta um mapa
do roteiro com a descrição de pontos de interesse
geológico e cultural.
Neto (2008) com base em uma avaliação
mínero-geoambiental apresenta como uma das
alternativas de plano de fechamento para a mina de
Gongo Soco (cuja expansão está projetada para até 2014)
uma valorização para uso exclusivo voltado à
conservação. Neste contexto o autor sugere a criação de
uma unidade de conservação com vistas à implantação
de estrutura de pesquisa, divulgação, visitação e
educação. Para esta valorização Neto (2008) salienta a
importância do resgate do passado e a apropriação da
história local pelas antigas e atuais comunidades
mineras. Tais proposições poderiam contribuir para o
desenvolvimento local, por meio de projetos de
conservação, restauro e uso turístico e educativo de
antigas minas e demais elementos do patrimônio
mineiro, a exemplo do que ocorre em muitas regiões
mineiras de diversos países.
Sobre o geoturismo merece destaque o Projeto
de Sinalização Interpretativa financiado pelo Serviço
Geológico do Brasil (CPRM) em parceira com a
Universidade Federal de Minas Gerais e executado pelo
Instituto Terra Brasilis. O projeto teve como principal
objetivo elaborar e instalar placas com informações
geológicas em sítios do Quadrilátero Ferrífero com
linguagem acessível, aproximando o cidadão comum de
seu patrimônio geológico e promovendo a
geoconservação. Na primeira etapa do projeto os sítios
contemplados foram: Serra do Rola Moça, Serra da
Piedade, Serra do Curral, Gnaisse de Cachoeira do Campo
e Pico do Itacolomi. Além de focar a geologia específica
de cada sítio geológico as placas também trazem uma
informação geral sobre a evolução geológica do
Quadrilátero Ferrífero.
Ostanello (2012) faz um reconhecimento e
descrição de feições geológicas localizadas ao longo de
trilhas do Parque Estadual do Itacolomi e demonstra sua
potencialidade geoturística. Como contribuições da
pesquisa, foram feitas considerações sobre a inclusão do
geoturismo às ações de uso público do Parque. A autora
sugere também a inserção dos resultados de sua
pesquisa no contexto do Geopark Aspirante Quadrilátero
Ferrífero, contribuindo com seus objetivos de divulgação
da geologia e desenvolvimento social.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Quadrilátero Ferrífero é uma província
mineral rica em geossítios e lugares mineiros. O
esgotamento dos recursos e consequente encerramento
da atividade extrativa no Quadrilátero Ferrífero podem
levar a um processo de declínio social, desertificação
humana, degradação patrimonial e ambiental como já
ocorrido em outras fases da história da mineração neste
mesmo território e há muitos exemplos em outros
lugares. Neste contexto, propostas associadas à
134
Machado & Ruchkys/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 120-136
valorização do patrimônio geológico e mineiro devem ser
desenvolvidas e fomentadas tais como a constituição de
circuitos geo-mineiros que valorizam o território como
herdeiro de uma história extrativa secular e que
promovam as geociências junto ao grande público.
Salienta-se ainda que valores patrimoniais na interface
entre a geologia e a mineração, cujas atividades se
desenvolvem na região desde o ciclo do ouro no Brasil
colonial, devem ser também valorizados incluindo o
patrimônio imaterial associado. Alguns projetos e
propostas já vêm sendo desenvolvidos com este fim e nos
últimos anos tem avançado com o inventário do
patrimônio geológico e mineiro. No entanto, é
importante um levantamento ainda mais detalhado não
somente em nível de território - Quadrilátero Ferrífero,
mas incluindo um inventário do patrimônio geológico e
mineiro de cada município.
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Acesso em 10 de abril de 2013.
Manuscrito ID 31541
Submetido em abril de 2013
Aceito em junho de 2013
136
boletim paranaense
de geociências
volume 70 (2013) 77 - 86
Consideraciones sobre el patrimonio minero desde la
perspectiva de un servicio geológico nacional
Mining heritage considerations from the standpoint of a national geological survey
CARMEN MARCHÁN, ALEJANDRO SÁNCHEZ.
Instituto Geológico y Minero de España (IGME) - [email protected] - [email protected]
Resumen
Se examina el concepto de patrimonio minero como materia de estudio para diversas especialidades de la arqueología, la historia y la
etnografía. Se hace una sucinta revisión de los elementos constitutivos de este patrimonio y su posible puesta en valor, con fines
científicos, didácticos y turísticos. Por otro lado, se analiza la importancia de la labor de apoyo que pueden brindar los servicios geológicos
nacionales, a la variada gama de entidades comprometidas en la preservación de dicho patrimonio. Se exponen algunas ideas y dos
manuales sobre métodos de identificación y valoración de sus posibles elementos constitutivos. Finalmente, se revisan las principales
organizaciones internacionales, de ámbitos diversos, que contemplan entre sus cometidos la protección del patrimonio minero.
Palabras clave: Organismos internacionales; patrimonio minero; servicios geológicos; valoración; valorización.
Abstract
We examine the concept of mining heritage from the archaeological, historical and ethnographic point of view. We also make a brief
review of the elements which constitute this patrimony and their potential assessment, for scientific, educational or tourist purposes.
Moreover, we look at the support provided by national geological surveys to the varied range of organizations involved in the preservation
of mining heritage. Several ideas and two manuals about identification methods, analysis and assessment of potential mining heritage
sites are also explained. Lastly, we review the main international organizations from several fields, which include mining heritage
protection as one of their scopes.
Key words: Assessment; geological surveys, international organizations; mining heritage; valuation.
1. INTRODUCCIÓN
1.1. Definición
El concepto de patrimonio histórico minero
comprende a todos los vestigios de las actividades
mineras del pasado, reciente o lejano, a las que un grupo
social atribuye valores históricos, culturales o sociales
(Puche Riart et al. 1994). Es decir, puede tratarse tanto de
estructuras muebles e inmuebles, como de objetos,
documentos y elementos inmateriales. De este
enunciado tan generalista se deduce que los elementos
constitutivos del patrimonio minero pueden formar
parte del patrimonio histórico, arqueológico, industrial,
paisajístico cultural, etnográfico o incluso geológico y por
lo tanto pueden ser objeto de estudio para la
arqueología, la historia de la tecnología, la historia
económica y la historia social (Sánchez, 2011).
1.2. Valor histórico y social
En la segunda mitad del siglo XIX, cuando los
avances tecnológicos aportados por la primera
revolución industrial permitieron la intensificación y
profundización de las explotaciones, se despertó el
interés por los restos de utensilios y artefactos, de edad
incierta, descubiertos a medida que se recuperaban
labores antiguas y que se incorporaban a las colecciones
museísticas, puesto que en aquella época la geología, la
arqueología y la prehistoria se consideraban disciplinas
científicas muy afines.
Hasta los años 60 del siglo XX la noción de
patrimonio histórico minero aludía a los restos de las
explotaciones mineras de los periodos preindustrial y
protoindustrial, es decir anteriores a la primera
revolución industrial, y se circunscribía casi
exclusivamente al campo de la arqueología (Figura 1).
Conviene recordar que la primera revolución industrial
aportó a la minería la máquina de vapor y otros ingenios
complementarios que facilitaron enormemente, entre
otras, las tareas del desagüe y del transporte y al mismo
tiempo las instalaciones se volvieron más complejas. De
esta manera el patrimonio minero pasa a ser considerado
como una subdivisión del patrimonio industrial
(Guiollard, 2005).
77
Marchan & Sánchez/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 77-86
Tras el cierre y abandono de las explotaciones
de un distrito minero, entre la población asentada suele
producirse una toma de posiciones antagónicas:
solamente los que allí trabajaron se sienten partícipes de
la cultura minera y manifiestan un orgullo de clase
profesional y entre el resto de la población, por el
contrario, se incrementan las actitudes desfavorables
hacia el pasado minero, considerándolo como algo
ominoso. Tras el transcurso de dos o más generaciones,
las posiciones contrarias se matizan, por lo general, y
renace el interés por recuperar la memoria y los vestigios
de aquel pasado.
Figura 1 – Minas romanas de oro. Las Médulas (España).
Patrimonio arqueológico.
A partir de esos años se inició el desarrollo de la
arqueología industrial, como una nueva especialidad de
la historia, y del patrimonio industrial, como concepto
derivado (Parejo, 2010), en el que se abría la posibilidad
de incluir aquellas explotaciones mineras de la época
contemporánea, que reuniesen determinados valores.
En las explotaciones mineras de largo recorrido histórico,
los restos del periodo industrial se encuentran
frecuentemente superpuestos a los de etapas previas. Su
valor histórico, en este caso, puede proceder de la doble
consideración de los vestigios arqueológicos y de los
restos calificables como patrimonio industrial (Figura 2).
Figura 2 – Minas de Río Tinto (España). Patrimonio industrial
minero superpuesto.
En ámbitos regionales y locales, el patrimonio
minero de época contemporánea significa la memoria
física de un pasado, y su recuperación, el
restablecimiento de los vínculos que existieron entre los
habitantes de la zona y los recursos minerales de su
subsuelo.
Pero igualmente puede conllevar las opiniones
negativas respecto a la minería, como actividad industrial
explotadora de los trabajadores, contaminante del
medio ambiente y destructora del paisaje.
2. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DEL PATRIMONIO
MINERO
La explotación de las minas tiene algunas
peculiaridades respecto a otras ramas de la industria. Su
ubicación está condicionada por la del yacimiento
mineral y esto, aunque parezca una obviedad, determina
el carácter autosuficiente de un buen número de
instalaciones mineras en regiones apartadas, sobre todo
en el pasado, hasta tal punto que además de las
instalaciones directamente relacionadas con el laboreo y
el beneficio de los minerales, se les dota de un amplio
panel de instalaciones auxiliares, urbanizaciones,
infraestructuras de transporte, plantas de energía,
etcétera.
El propio desarrollo de la explotación comporta
una evolución continua de los tajos, desde su apertura
hasta el cierre definitivo, y la adaptación, modificación o
destrucción de las instalaciones ante los avances
técnicos. Los yacimientos se explotan hasta su
agotamiento o hasta su pérdida de rentabilidad,
quedando las labores, instalaciones e infraestructuras
abandonadas y arruinadas, y así ha sido al menos hasta la
denominada era ecológica.
El resultado es un heterogéneo conjunto de
elementos susceptibles de constituir un legado
patrimonial de la minería (Pérez de Perceval Verde,
2010), clasificables, tal y como se expone en la
introducción, en elementos inmuebles y muebles,
documentos, herencia inmaterial y paisaje cultural.
Veamos, de forma sucinta, los elementos que pueden
incluirse en cada una de estas categorías:
2.1. Patrimonio inmueble
En el patrimonio inmueble se incluyen
habitualmente instalaciones de grandes dimensiones
que sin embargo, en determinadas circunstancias, son
susceptibles de traslado y reubicación, como son las
estructuras metálicas, o de madera, para carga y
transporte (Figuras 3, 4, 5).
78
Marchan & Sánchez/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 77-86
? Infraestructuras, instalaciones y edificaciones
para la carga en la periferia de la plaza.
? Infraestructuras hidráulicas.
Figura 3 – Corta Atalaya, minas de Río Tinto (España).
?
? Labores y obras, subterráneas y a cielo
abierto.
? Instalaciones y edificaciones para las
operaciones de arranque, carga, transporte vertical y
transporte horizontal, en la plaza de la mina.
Figura 5 – Hornos de reducción, Pontenova (Lugo, España).
2.2. Patrimonio mueble
La lista de los elementos muebles puede ser
inacabable y contener tanto a las máquinas específicas
de las operaciones mineras como a otras de uso más
extendido, herramientas manuales propias del trabajo
minero, sistemas de iluminación, sistemas de protección
e incluso utensilios domésticos, documentos
particulares, fotografías y películas (Figuras 6, 7). Un
elemento documental de características singulares lo
constituyen los testigos de los sondeos, ordenados y
clasificados.
Figura 4 – Casa de máquinas tipo Cornish, mina Santa Catalina,
Berlanga (Badajoz, España).
? Instalaciones y edificaciones para la
generación de energía.
? Instalaciones mineralúrgicas, metalúrgicas y
siderúrgicas, plantas químicas y edificaciones anexas.
? Edificios administrativos.
? Urbanizaciones y edificaciones auxiliares de
carácter social.
? Escombreras y escoriales.
? Infraestructuras, instalaciones y edificaciones
para el transporte en la periferia de la plaza.
Figura 6 – Máquina de vapor locomóvil, minas de Vilanova
(Orense, España).
79
Marchan & Sánchez/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 77-86
2.4. Patrimonio inmaterial
Constituido por la superposición de elementos
sociales, económicos y culturales a lo largo de los
diversos periodos de actividad de las explotaciones.
Igualmente, se incluyen la destreza en los diversos oficios
propios del sector minero y su adaptación a las
innovaciones de la técnica y la memoria viva de la vida
cotidiana y de la actividad laboral en los diversos
estamentos de las compañías. Se puede hablar de una
cultura minera como simbiosis de las actividades
meramente productivas y de los usos, comportamientos
sociales y folclore aportados por la mano de obra de muy
diversa procedencia, cultura que puede permanecer tras
el abandono de las explotaciones e incluso ser
reivindicada por la población que ocupa actualmente los
antiguos poblados mineros (Pérez de Perceval Verde,
2010) (Figura 9).
Figura 7 – Teodolito. Museo Geominero. Instituto Geológico y
Minero de España.
2.3. Archivos documentales
Por lo común se trata de documentos del
periodo industrial, porque los de épocas anteriores, si
existieran, deberían encontrarse en los archivos
históricos nacionales. Constituyen la memoria de las
compañías y son un elemento esencial para el estudio de
la historia de las explotaciones abandonadas y de la
evolución de las cuencas y distritos (Pérez de Perceval
Verde, 2010). Sin embargo, su fragilidad intrínseca,
incluso durante las etapas de actividad de las empresas,
los hace a menudo irrecuperables (Guiollard, 2005). De
ordinario, la documentación se distribuye en tres o
cuatro secciones, tales como: dirección, administración,
técnica y comercial (Figura 8).
Figura 8 – Acción de la Compañía Minera de Linares. Archivo
histórico de la Sociedad Minero Metalúrgica de Peñarroya
(S.S.M.Peñarroya)-España (IGME).
Figura 9 – Barrenero en la mina Los Guindos, 1936 (Jaén,
España).
2.5. Paisaje cultural minero
Según la Convención del Patrimonio Mundial de
la UNESCO, el paisaje cultural refleja la influencia del
desarrollo de actividades humanas, de índole diversa,
sobre un determinado territorio, interviniendo en él
componentes naturales y culturales, tanto tangibles
como intangibles (Figura 10). En nuestro caso, es el
resultado de la interacción de las operaciones mineras
con el medio natural y lo forman la combinación de los
huecos de las explotaciones, las escombreras, y otros
acopìos diversos, y los restos de las instalaciones, y
construcciones, con las alteraciones morfológicas y
geoquímicas del terreno derivadas de las explotaciones.
Figura 10 – El Cerco, Peñarroya (Córdoba, España). Paisaje
cultural industrial y minero.
80
Marchan & Sánchez/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 77-86
Se trata del elemento patrimonial más
controvertido, puesto que para los detractores de la
minería es la constatación de la destrucción y
perturbación del medio natural, provocadas por la
explotación «desmedida» de los recursos geológicos. Sin
embargo, el paisaje minero puede comportar un valor
intrínseco cultural (IGME, 2012) e incluso aportar
impactos positivos al medio, como el afloramiento de
elementos del patrimonio geológico o la generación de
nuevos ecosistemas en los huecos de las explotaciones y
en las instalaciones abandonadas.
3. VALORIZACIÓN DEL PATRIMONIO MINERO
La valorización, como puesta en valor o
incremento de valor, del patrimonio minero es la
consecuencia del interés en recuperar el legado de la
pasada actividad minera de una región, o de una
localidad, promovido por iniciativas muy diversas y que
surgió inicialmente, a finales de los años sesenta del
pasado siglo, en los países desarrollados con una fuerte
tradición minera.
Guiollard (2005) plantea cuatro cuestiones
fundamentales, independientemente de la entidad que
se proponga llevar a cabo esa tarea: ¿Por qué valorizar?,
¿quién valoriza?, ¿con qué objetivos? y ¿con qué
medios?.
Las actuaciones más habituales, con objetivos
científicos, didácticos o turísticos, se traducen en la
creación de museos y archivos mineros, labores mineras
inactivas visitables, parques mineros, paisajes culturales,
espacios naturales con vestigios mineros, etcétera.
En situaciones de abandono reciente de las
explotaciones, la valorización del patrimonio puede
constituir una posible alternativa, con la creación de
empleos directos y desarrollo turístico, para resolver
problemas de tipo socioeconómico, pero es fundamental
planificar los proyectos teniendo presente las
características de la población residente y sus
inquietudes sociales y económicas (Pérez de Perceval
Verde, 2010).
La puesta en valor de una antigua explotación
minera, o de un grupo de explotaciones, no puede ser
una intervención aislada, sino un proyecto que precisa
definición y análisis para un plazo medio-largo, no sólo
para evitar el fracaso económico, sino igualmente los
daños que pudieran ocasionarse a los vestigios que se
pretendía proteger (Sánchez, 2011).
4. EL PATRIMONIO MINERO EN EL ÁMBITO DE LOS
SERVICIOS GEOLÓGICOS NACIONALES
Entre las misiones que tienen encomendadas la
mayor parte de los servicios geológicos nacionales, bien
que adaptadas a las circunstancias de cada país, figuran
las de crear una infraestructura de conocimiento en el
ámbito de las ciencias y las tecnologías de la Tierra y
prestar asistencia técnico-científica, e informar, en ese
ámbito, a las entidades públicas, privadas y a la sociedad
en general. Por otra parte, los servicios geológicos
cuentan con fondos documentales en los que está
recogida buena parte de la información generada en el
estudio de los yacimientos minerales del territorio
nacional, por la propia administración estatal y por los
titulares de derechos mineros.
Los estudios sobre los vestigios mineros de los
periodos preindustrial y protoindustrial se enmarcan de
forma mayoritaria, como ya hemos dicho, en el campo de
la arqueología, constituyendo una especialización que
desde sus inicios ha sabido utilizar la información
infraestructural que, de ordinario, proporciona un
servicio geológico. Por el contrario, las actuaciones para
preservar y valorizar el patrimonio minero industrial
parten de iniciativas promovidas desde una gama muy
amplia de entidades, desde asociaciones locales de los
propios habitantes de los distritos mineros, hasta
organismos de las diversas administraciones estatales,
pasando por entidades culturales de ámbito diverso,
incluso dentro del «amateurismo», y por último desde las
propias compañías mineras. Y salvo en ese último caso,
por lo general se aprecia una exigüidad en las propuestas
de los aspectos científicos y técnicos de la geología y la
minería. Así, los datos históricos, sociales, tecnológicos o
económicos se presentan desvinculados de la
caracterización del yacimiento, aun tratándose de un
recurso geológico sobre el que generaciones pasadas
desarrollaron una industria.
Por lo tanto, vemos la necesidad de contar con el
apoyo de una institución técnica experta en la
investigación, gestión y aprovechamiento de los recursos
minerales y con amplios conocimientos sobre la geología
y la metalogenia del país, que desarrolle un programa
encaminado a estudiar, inventariar y valorar el
patrimonio minero, a instancias tanto de las
administraciones estatales como de otras entidades y
asociaciones (Féraud et al., 2001). De esta manera se
proporciona a la sociedad, en general, una información
de carácter infraestructural indispensable a la hora de
llevar a cabo investigaciones científicas acerca del pasado
económico, social y tecnológico de un determinado
distrito minero, así como para cualquier tipo de programa
de actividades didácticas o turísticas relacionadas con el
medio natural.
Evidentemente, la colaboración de un servicio
geológico nacional no puede extenderse al estudio de
todas las categorías de elementos patrimoniales
expuestas más arriba. Las competencias están muy claras
en el caso de los elementos inmuebles, una buena parte
de los muebles, los documentos y los componentes
antrópicos del paisaje cultural minero.
Po r o t ra p a r te , co nv i e n e i n c i d i r e n
determinados aspectos de la protección de elementos
del legado minero en los que esta colaboración es
fundamental: el rescate y la conservación de los archivos
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Marchan & Sánchez/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 77-86
documentales, ante su abandono por parte de las
propias compañías, y la preservación ocasional, por
representar algún valor científico, didáctico o turístico,
de labores mineras abandonadas frente a las
disposiciones legales de seguridad minera, que
obligarían a su destrucción.
En el primer caso, los servicios geológicos
cuentan con probada experiencia en la gestión de sus
archivos de documentación geológica-minera y más aún
teniendo en cuenta la casi certeza de que ya existan
datos, en esos archivos, sobre las minas abandonadas
que se pretende valorar, puesto que la mayor parte de las
legislaciones mineras nacionales atribuyen a los servicios
geológicos la misión de receptores de la información
generada en los trabajos de investigación desarrollados
por las empresas públicas o privadas, sobre las distintas
categorías de derechos mineros.
En la hipotética situación de que un proyecto de
valorización, con la aquiescencia del organismo de
cultura pertinente, aconsejara respetar determinadas
labores mineras que por imperativos de seguridad
debieran estar destruidas y cegadas, el servicio geológico
nacional puede jugar el papel de mediador legal y
técnico, entre las administraciones y las entidades
promotoras del estudio (Féraud. et al., 2001).
5. IDENTIFICACIÓN Y VALORACIÓN DEL PATRIMONIO
MINERO
Parafraseando a Luis Carcavilla en su
formulación sobre el patrimonio geológico (Carcavilla et
al., 2007), podemos decir que cualquier resto de una
actividad minera no es, a priori, patrimonio minero.
La calificación y la valoración de los vestigios de
las explotaciones como integrantes de un patrimonio
minero comportan habitualmente una fuerte carga de
subjetividad, y además no es fácil separar los criterios de
identificación de los de valoración. La identificación de
un elemento ya comporta una valoración, a priori. El
atribuir valor patrimonial a una determinada explotación
minera puede ser fruto de una opinión generalizada, de
un grupo de ámbito regional o local, o de un investigador
independiente (Pearson & McGowan, 2000).
Dada la gran variedad tipológica de los
elementos susceptibles de ser clasificados como
integrantes de un patrimonio minero inmueble, es
aconsejable llevar a cabo la valoración por un panel de
expertos que, al menos, comprenda las siguientes
especialidades: minería, historia de la tecnología,
arqueología, arquitectura, metalurgia y geografía.
A día de hoy, no existe unanimidad, ni tan
siquiera a un nivel primordial, en el procedimiento para
abordar la identificación y valoración de los diversos
elementos del patrimonio minero, ni tampoco se dispone
de suficiente información publicada al respecto.
De lo que conocemos, vamos a exponer de
forma resumida la guía del Instituto Geológico y Minero
de España (IGME) y a hacer una breve referencia a los
manuales del Australian Council of National Trusts and
Australian Heritage Commission.
En la normativa del IGME (IGME, 2009, 2012),
para identificar y valorar el patrimonio minero, se
recomienda un planteamiento interdisciplinario, que
recoge técnicas de la exploración minera y de la
prospección arqueológica. De la primera toma el
procedimiento utilizado habitualmente en la descripción
de las características del yacimiento mineral, las labores
mineras que sirvieron para su explotación, así como las
instalaciones anejas. De la prospección arqueológica,
sigue el método del reconocimiento superficial, sin
remoción del terreno, para tratar de interpretar las
funciones de las estructuras visibles.
En cada distrito se hace una selección previa de
los indicios de interés potencial, mediante encuestas
entre los conocedores de la zona y análisis de la
documentación existente. El estudio de cada enclave
comporta una nueva revisión de la documentación y un
reconocimiento sobre el terreno. Todos los datos
quedarán reseñados en una ficha-informe ad hoc, que
además contendrá las conclusiones sobre la valoración
preliminar de los restos examinados.
Para la fase de valoración se establecen unos
valores intrínsecos y de uso. Inicialmente las
características se puntúan de 0 a 4 y por el carácter
subjetivo de la calificación, como ya se ha indicado, lo
recomendable es la valoración múltiple promediada, por
un grupo de expertos.
Los intrínsecos se distribuyen según tres
criterios o aspectos, que pueden presentarse tanto
aislados como combinados: arqueológico industrial,
arqueológico e histórico, y paisajístico cultural (tabla 1).
Además de esos tres valores intrínsecos se considera un
factor de vulnerabilidad.
El valor de uso representa la posible
rentabilidad económica y social derivada de la utilización,
del bien de que se trate, con fines científicos, didácticos y
recreativos o turísticos, de forma independiente o
combinada.
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Tabla I - Valores intrínsecos
Valor
Elementos
Características a valorar
Estado de conservación1
Grado de conocimiento científico previo2
Instalaciones y edificaciones de la plaza Representatividad3
Relevancia tecnológica4
Instalaciones y edificaciones de la
Relevancia arquitectónica5
periferia
Singularidad6
Relevancia histórica, económica y social7
Labores
Arqueológico
industrial
Estado de conservación
Grado de conocimiento científico previo
Representatividad
Instalaciones y edificaciones de la plaza Relevancia tecnológica
Relevancia arquitectónica
Singularidad
Instalaciones y edificaciones de la
Relevancia histórica, económica y social
periferia
Relación con yacimientos arqueológicos8
Labores
Histórico y
arqueológico
Paisajístico cultural
Grado de transformación9
Impactos visuales positivos de labores, Grado de evolución10
instalaciones y edificaciones
Extensión11
Espectacularidad o belleza12
1
Se refiere a su estado en el momento de llevar a cabo los reconocimientos sobre el terreno.
Indica si los restos han sido objeto de estudios científicos y su alcance.
3
Informa sobre la calidad como arquetipo del elemento en cuestión.
4
Informa sobre el grado de innovación y eficiencia que pudieron alcanzar las labores e instalaciones de las que aún quedan restos.
5
Informa sobre la singularidad constructiva o representatividad de un género arquitectónico en las instalaciones y edificios y anexos.
6
Informa sobre las circunstancias que permiten clasificar a uno o más de los diversos restos como peculiares o poco frecuentes, a escala nacional o regional.
7
Informa sobre la importancia histórica, económica y social que pudieron tener, a cualquier escala territorial, las explotaciones, los materiales extraídos y
sus usos.
8
Informa sobre la posible relación con yacimientos arqueológicos, situados en un radio predeterminado, en los que aparezcan vestigios de actividades
mineras y metalúrgicas.
9
Se refiere al estado final tras el cierre o abandono de la explotación o explotaciones.
10
Se refiere al estado actual por implantación de actividades ajenas a la minería.
11
Admite una valoración doble. Por un lado se puede considerar la extensión como un valor intrínseco del paisaje y por otro la vulnerabilidad disminuye en
razón inversa a la extensión.
12
De las alteraciones morfológicas generadas por las actividades mineras.
2
El «Mining Heritage Places Assessment
Manual» se editó en 2000 (Pearson & McGowan), tras
unas publicaciones previas iniciadas en 1995, con el
objetivo de facilitar el registro, análisis y valoración de
enclaves de posible patrimonio minero. Está organizado
con una estructura sencilla, de tal manera que pueda ser
utilizado por personas no expertas en minería o en
patrimonio, y que sin embargo puedan tomar decisiones
básicas sobre valores patrimoniales.
Se compone de seis guías, las tres primeras son
para el registro, análisis, identificación y valoración de los
elementos que puedan considerarse patrimonio minero,
dentro de cada complejo minero. Las otras tres
contienen ayudas e informaciones complementarias.
Además se incluye un apéndice con información sobre
las tipologías y las morfologías de yacimientos minerales
más frecuentes en Australia.
6. EL PATRIMONIO MINERO Y LAS ORGANIZACIONES
INTERNACIONALES
Las organizaciones internacionales del ámbito
de la cultura comenzaron a tomar conciencia, a finales de
los años 60 del pasado siglo, de la necesidad de preservar
los restos de instalaciones industriales abandonadas que
pudieran tener un valor histórico, tecnológico o
científico.
6.1. Unión Europea
El marco normativo europeo en materia de
patrimonio industrial se limita a un conjunto de
recomendaciones (Rec), propuestas metodológicas y
códigos de buenas prácticas encaminadas a su
identificación, protección, conservación y difusión, entre
83
Marchan & Sánchez/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 77-86
las que podemos destacar: la Rec(1979)872, relativa a la
arqueología industrial; la dedicada a las ciudades
industriales europeas, orientada a la revitalización de
zonas tradicionalmente industriales y en declive,
Rec(1987)24 y la relativa a la protección y a la
conservación del patrimonio técnico, industrial y de
obras de arte en Europa, en la que se pone de manifiesto
la especificidad del patrimonio industrial y el propósito
de su protección y conservación, proponiendo a los
países miembros la realización de inventarios y la
adopción de medidas jurídicas protectoras, Rec(1990)20.
Además de estas recomendaciones, la Unión
Europea ha promovido numerosos programas de
financiación para la puesta en valor y conservación del
patrimonio industrial; entre ellos, podemos destacar:
? El programa de Itinerarios Culturales en el que
se inscribe la «Ruta del hierro» en los Pirineos (2004) que
conecta distintos asentamientos a lo largo de un
recorrido transfronterizo vinculado a la explotación de
dicho metal. Dentro del mismo programa se encuentra
también el proyecto sobre la “Ruta del wolframio.
Memoria de los Hombres y Patrimonio Industrial”(2012).
? Dentro de los Programas Interreg, financiados
con fondos FEDER se están llevando a cabo proyectos de
patrimonio minero como fue el proyecto Green Mines,
cuya segunda fase es el proyecto ATLANTERRA (20102013), sobre puesta en valor de puntos de interés minero
en la Zona Atlántica Europea.
? El programa Central Europe, también de la
Unión Europea, promueve la cooperación entre países de
la Europa Central para mejorar la innovación,
accesibilidad y el medio ambiente, y aumentar la
competitividad y atractivo de sus ciudades y regiones. El
objetivo principal del grupo de trabajo es reunir
conceptos sostenibles de uso innovador del patrimonio
cultural tras el cierre de minas (Resource-CE.EU, 2013).
Por último, hay que mencionar el Convenio
Europeo del Paisaje (Florencia, 20 de octubre de 2000)
auspiciado por el Consejo de Europa y ratificado por
España el 26 de noviembre de 2007, que constituye un
punto de referencia para la consideración del espacio
minero como paisaje cultural. La Estrategia Territorial
Europea (ETE) incluye los paisajes culturales como
integrantes del patrimonio cultural de la Unión Europea,
y los considera un factor económico de importancia
creciente para el desarrollo sostenible. Actualmente se
está llevando a cabo un Plan Nacional de Paisajes
Culturales para el período 2012-2016 con el objeto de
salvaguardar aquellos más relevantes.
6.2. Unesco
La UNESCO reconoce el valor del patrimonio
industrial con la incorporación a la lista de Lugares
Patrimonio de la Humanidad de numerosos restos
industriales, muchos de ellos derivados de actividades
mineras y metalúrgicas. Es necesario destacar que la
UNESCO asigna al concepto de patrimonio industrial un
significado extenso al no establecer límites cronológicos.
El Consejo Internacional de Monumentos y
Sitios Histórico-Artísticos (ICOMOS), fundado en 1965, en
Polonia, es la única organización internacional no
gubernamental cuyo cometido es promover la teoría,
metodología y tecnología aplicadas a la conservación,
realce y apreciación de los monumentos, los conjuntos y
los referidos sitios. Como tal, forma parte del Comité de
Patrimonio Mundial.
En 1981 se estableció la red ICOMOS-ICOMUNESCO, creándose la base de datos bibliográficos
«ICOMOS» y la conexión directa con la UNESCO.
Por otra parte, el Comité Internacional para la
Conservación del Patrimonio Industrial (TICCIH), es la
organización mundial encargada del patrimonio
industrial y como tal es asesor especial de ICOMOS en
cuestiones de dicho patrimonio. Es precisamente en la
Carta de Nizhny Tagil, resultado del XII Congreso
Internacional TICCIH, en 2003, donde se concretan
exactamente las definiciones de patrimonio industrial y
arqueología industrial. También se establece el periodo
histórico en el que se puede hablar de patrimonio
industrial, que se extiende desde el principio de la
Revolución Industrial, la segunda mitad del siglo XVIII,
hasta la actualidad, si bien se estudian sus raíces
preindustriales y protoindustriales anteriores.
La UNESCO auspicia también la Red Global de
Geoparques. El patrimonio minero ha servido, en algunos
casos, como criterio fundamental para la declaración de
geoparques en Europa, como es el caso de Copper Coast
(Irlanda) y Rocca di Cerere (Sicilia) y el Parque Geológico y
Minero de Cerdeña, ambos en Italia.
Otros organismos: Con objetivos o fines ligados
a la geología y la minería, pero que también incluyen
líneas de actuación relacionadas con el patrimonio
minero: conservación, rehabilitación, puesta en valor
para un desarrollo sostenible:
L o s s e r v i c i o s ge o l ó g i co s n a c i o n a l e s ,
individualmente y dentro de la organización
Eurogeosurveys (The Geological Surveys of Europe) que
agrupa a 33 de ellos, entre sus objetivos tienen el de
preservar el patrimonio minero como parte de la
evolución cultural en Europa, así como promover el
desarrollo de instalaciones, lugares y exposiciones que
mejoren el conocimiento y valoración de la minería, la
exploración minera y la geología, en tanto contribuyen al
turismo y al potencial económico.
El patrimonio minero supone un registro de
parte de nuestra historia cultural y tecnológica;
proporciona la oportunidad de gran variedad de
experiencias educativas y puede jugar un importante
papel dentro del turismo cultural, lo que contribuye al
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Marchan & Sánchez/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 77-86
desarrollo de las economías locales.
Así mismo, la Asociación europea de industrias
mineras, menas metálicas y minerales industriales
(EUROMINES), que funciona como red para la
cooperación e intercambio de información del sector en
Europa y con la comunidad minera mundial, realiza
actuaciones sobre el papel que la recuperación del
patrimonio minero puede suponer para el desarrollo
regional (Euromines, 2013).
Finalmente, debe mencionarse el Programa
Iberoamericano de Ciencia y Tecnología para el
Desarrollo (CYTED), que trata de impulsar la
recuperación y reutilización de las zonas mineras tras el
cese de la actividad extractiva, articulando políticas y
estrategias para la protección del medio ambiente, con
una planificación y gestión del territorio que deberá
incluir aquéllas que abordan la protección del patrimonio
minero.
Entre sus objetivos específicos está: «En el caso
de sitios mineros de valor patrimonial promover la
puesta en valor de su legado y la instalación de usos
culturales (de turismo cultural de patrimonio minero) y
educativos, como factor que contribuya a dinamizar la
economía, al mismo tiempo que preservar la identidad
local».
7. CONSIDERACIONES FINALES
La protección y el estudio del patrimonio
minero, tanto si se refiere a una rama del patrimonio
industrial, como al que se considera patrimonio histórico
o arqueológico, es hoy día una cuestión de creciente
interés en ámbitos geográficos y sociales muy diversos.
Los servicios geológicos nacionales, expertos en
la exploración y explotación de los recursos minerales
pueden desempeñar una labor importante como
asesores de las múltiples entidades que se ocupan del
patrimonio minero. Pero también es aconsejable que
adquieran un papel más activo que el de simples
consultores y, aprovechando su experiencia, medios
humanos y técnicos, aborden programas de inventario
del patrimonio minero de los principales distritos del
país.
Otra cuestión de capital importancia, en la que
los servicios geológicos deberían tener más
protagonismo, es la recuperación, ordenación y puesta
en consulta de los archivos históricos de las compañías
mineras extinguidas.
En lo que concierne a la metodología, o más bien
a su ausencia, parece recomendable que las diversas
asociaciones o federaciones continentales de servicios
geológicos consideraran este asunto en alguna de sus
comisiones, con el propósito de adoptar unas normas
básicas, o guía general, para la identificación y valoración
de este patrimonio. Pueden contribuir a alcanzar
acuerdos las recomendaciones y programas de las
diversas organizaciones internacionales, del ámbito de la
cultura, la minería y la geología, que incluyen entre sus
cometidos la protección del patrimonio minero.
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Manuscrito ID 31502
Submetido em abril de 2013
Aceito em julho de 2013
86
boletim paranaense
de geociências
volume 70 (2013) 87 - 102
Panorama actual del patrimonio geológico en Argentina
Current situation of geologiacal heritage in Argentina
FERNANDO MIRANDA, HEBE LEMA.
SEGEMAR, Argentina - [email protected] - [email protected]
Resumen
La República Argentina cuenta con una larga historia en cuestiones de protección del patrimonio natural. No obstante, dentro de este
campo, el concepto más específico de patrimonio geológico es relativamente nuevo. Su tratamiento más integral comenzó a partir del
inicio de la década del 90, momento en el cual, instituciones y profesionales de diversos ámbitos, abordaron el interés por la temática.
Muchos han sido los esfuerzos individuales, pero en la actualidad se torna necesario un trabajo conjunto, con continuidad en tiempo y
bajo un marco legal adecuado. La presente contribución constituye una puesta al día de algunas acciones realizadas, otras que se están
llevando a cabo y el ensayo de algunas reflexiones acerca del futuro en este contexto.
Palabras clave: Patrimonio geológico; Geología; Argentina.
Abstract
The Republic of Argentina has a long history in what concerns natural heritage protection. However, the more specific concept of
geological heritage is relatively new. Its comprehensive treatment began in early 90s, when some institutions and professionals from
various domains developed an interest for this topic. Many have been individual efforts but today it is necessary to work together with
continuity in time and under a proper legal framework. This contribution presents an update of some actions done in recent years and
others being presently carried out. Finally, some thoughts about the future of geoconservation in Argentina are presented.
Key words: Geological heritage; Geology; Argentina.
2. LOS ANTECEDENTES EN ARGENTINA
1. INTRODUCCIÓN
La República Argentina se extiende desde los
Andes hasta la cuenca del Plata y la plataforma
submarina, y desde la llanura chaqueña y la altiplanicie
de la Puna hasta la Antártida. La amplia extensión en
latitud y longitud y su ubicación geográfica en el
hemisferio austral, le otorga, dentro del ámbito de
América del Sur, una gran variedad de geografías y climas
y la posibilidad de transitar y admirar escenarios
naturales imponentes. Este abanico de paisajes es el
resultado de diferentes procesos geológicos que han
actuado a lo largo de millones de años y que han dejado
testimonio de épocas que abarcan desde los primeros
tiempos del Proterozoico hasta eventos geológicos
recientes. Muchos de estos paisajes son majestuosos,
pero muchos de ellos también son frágiles en extremo.
Algunos de ellos albergan o constituyen en sí mismos
sitios de interés geológico, entendiendo por tales a
aquellos cuya exposición y contenido son especialmente
adecuados para reconocer e interpretar las
características y la evolución de los procesos geológicos
que han modelado nuestro planeta. Estos sitios forman
parte del conjunto de recursos naturales de valor
científico, cultural, educativo y recreativo que aunamos
bajo la idea de patrimonio geológico.
Así como el concepto de patrimonio se ha
impuesto de modo evidente tanto en la vida cultural
como en las políticas públicas mundiales de los últimos
decenios, en el caso de la República Argentina puede
decirse que la protección del patrimonio natural cuenta
con una larga historia. Ya en el año 1913, la sanción de la
ley 9.080 fue un hito interesante. Esta ley, aunque nunca
fue realmente aplicada y hoy en día ha sido superada, fue
la primera en declarar como propiedad de la Nación las
ruinas y yacimientos arqueológicos y paleontológicos de
interés científico (Endere & Podgorny 1997).
Para esa época también comenzaban a sumarse
las inquietudes de naturalistas y profesionales geólogos
por la conservación de los espacios naturales. En este
sentido, cabe mencionar como ejemplo al Dr. Juan José
Nágera, uno de los primeros geólogos argentinos, que en
1932, en ocasión de la publicación de la carta geológica
de Tandilia (provincia de Buenos Aires), menciona como
una necesidad la creación de Parques Naturales en esa
región en bien de la comunidad. En sus propias palabras
dice Nágera: “...deberá conservarse la naturaleza original
facilitándose en toda forma el paseo por los mismos.
Deberán publicarse además guías que expliquen su
historia natural...” (Cingolani 2008). Actualmente la
región de Tandilia es considerada un geositio de
87
Miranda & Lema/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 87-102
importancia nacional ya que allí se encuentran las rocas y
fósiles más antiguos del país.
Sin duda uno de los acontecimientos más
importantes en el sentido de protección del patrimonio
natural fue la sanción de la ley 12.103 (9 de octubre de
1934) por la cual se creó la Dirección de Parques
Nacionales. Esta permitió la creación de los Parques
Nacionales Nahuel Huapi e Iguazú, convirtiendo a la
Argentina en el primer país de Latinoamérica y tercero en
el mundo en crear Parques Nacionales, luego de los
Estados Unidos (Parque Yellowstone, 1872) y Canadá
(Parque Banff, 1885). Un detalle de interés para la época,
es la aparición de la guía geológica del Parque Nacional
Nahuel Huapi (Primo 1951) cuyo estilo de escritura está
dirigido al público en general (Figura 1).
Figura 1 – Detalle de la tapa de la Guía Geológica del Parque
Nacional Nahuel Huapi (Primo 1951).
Dentro del campo del patrimonio natural, el
concepto más específico de patrimonio geológico es
relativamente nuevo en Argentina. No obstante, al incluir
en él al patrimonio minero y al paleontológico, vemos
que este último contó con leyes de protección desde
1913: ley 9.080 y a partir del año 2003 con la nueva ley
25.743. Más allá de esta salvedad, el tratamiento del
patrimonio geológico en su integridad comenzó mas
exhaustivamente a partir de la década de los años 90,
momento en el cual, instituciones y profesionales de
diversos ámbitos, abordaron el interés y compartieron
una preocupación por la conservación de esta herencia.
En particular, el Servicio Geológico Minero
Argentino (SEGEMAR) a partir de la promulgación en
1993 de la Ley 24224, que establece en su Capítulo I “De
las Cartas Geológicas” la necesidad de realizar la
investigación geológica regional sistemática del país a
través de un Programa Nacional de Cartas Geológicas,
incorpora en cada Hoja Geológica un capítulo exclusivo
sobre Sitios de Interés Geológico (SIG), definidos éstos
como recursos no renovables de índole cultural, cuya
exposición y contenido resultan óptimos para reconocer
e interpretar el diseño de los procesos geológicos que
han modelado nuestro planeta. Además, en la normativa
establecida para la ejecución de las Hojas, se señala que
su conjunto conforma el patrimonio geológico de cada
región y del país, destacando incluso que la importancia
de algunas singularidades geológicas puede ser de valor
supranacional (SEGEMAR-IGRM, 1994).
Agrega también que su desaparición o
tratamiento inadecuado constituye un gran daño al
patrimonio de la humanidad, daño que la mayoría de las
veces es irreversible. Con posterioridad, y como anexo de
la normativa, se incorporaron y modificaron fichas
descriptivas para el relevamiento y catalogación de los
sitios (SEGEMAR-IGRM, 1997). Esto permitió que la
Institución reuniera gran cantidad de información acerca
de estos lugares y hasta el momento lleva inventariados
más de trescientos cincuenta sitios de interés.
Como mencionáramos anteriormente, la idea
de patrimonio geológico es relativamente reciente en
Argentina y ha surgido (o si se quiere resurgido) a partir
de las nuevas tendencias europeas, y en simultaneidad
con trabajos y proyectos realizados en escenarios
latinoamericanos. Esto ha fomentado, durante los
últimos años, la aparición de trabajos de carácter local en
diversas ramas de la temática, tales como sitios de interés
geológico, geoturismo y parques geológicos, entre otros.
Dentro de los antecedentes vinculados al
patrimonio geológico y su conservación, uno de los casos
destacables es sin duda el vinculado al aspecto
patrimonial y de geoconservación del Monumento
Natural Puente del Inca, merecedor de un simposio
especial dentro del XII Congreso Geológico Argentino y II
Congreso de Exploración de Hidrocarburos llevados a
cabo en la provincia de Mendoza en el año 1993.
Enmarcado en el ámbito de la Cordillera
Principal de Mendoza, el denominado Puente del Inca,
uno de los caprichos naturales más famosos de la
República Argentina (Figura 2), es una compleja
estructura natural en forma de puente en arco, cuyo
origen y perdurabilidad se debe, entre otras condiciones,
a la presencia de aguas termales en el área (Ramos 1993,
Rubio et al. 1993, Aguirre Urreta & Ramos 1996, Ramos et
al. 2008). Hasta la construcción del hotel y estación de
baños termales que funcionara hasta 1965, el puente
constituía un sistema natural en equilibrio. La captación
de las aguas termales hacia el establecimiento para los
baños y el empleo de zanjas de desvío para la confección
de artesanías mermaron la irrigación natural sobre el
puente, provocando el desecamiento y agrietamiento de
su parte superior. Simultáneamente, el tránsito de
animales y vehículos aceleró su erosión e inició el
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Miranda & Lema/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 87-102
paulatino deterioro de su estructura, poniendo al puente
en una situación de inestabilidad. En 1991 el gobierno
provincial declaró al monumento natural “zona
intangible” mediante decreto 2291/91. Es interesante
destacar la valorización que se hace de este monumento
en el decreto de referencia, el cual plantea:”…la
necesidad de solucionar en forma inmediata el problema
suscitado por el deterioro que presenta la estructura
geológica del puente natural existente en la localidad
cordillerana de Puente del Inca, monumento provincial,
nacional y universal, objeto de admiración generalizada y
fuente de recursos turísticos del patrimonio de la
Provincia de Mendoza”. Por intermedio de tal decreto se
restringió el paso de animales y vehículos, procediendo
luego, entre otras obras, al relleno de grietas con sales
provenientes del agua termal, la eliminación de bloques
rocosos del lecho del río y la reactivación del drenaje
natural de las aguas termales sobre la estructura del
puente (Rimoldi 1993), algo que podríamos considerar
como caso de “Geo-restauración” del patrimonio
geológico.
Figura 2 – Monumento natural Puente del Inca, provincia de
Mendoza. A una altura de 2.719 metros sobre el nivel del mar,
las aguas termales y esta curiosa formación natural de puente
en arco ya eran conocidas desde tiempos precolombinos por
quienes habitaban el imperio incaico. Muchos fueron los
viajeros, naturalistas e investigadores -entre ellos Charles
Darwin- que dedicaron páginas a este singular paisaje. La
cobertura del puente está compuesta por sustancias minerales
y costras algáceas. Si bien las hipótesis sobre el origen de este
puente son variadas, todas señalan a las sales contenidas en las
aguas termales como partícipes necesarios en su formación y
perdurabilidad (Fotografía por Luis Fauqué).
3. LEGISLACIÓN
Varios son los autores que señalan que en
Argentina la información disponible y las propuestas para
la conservación del patrimonio natural se refieren
predominantemente a aspectos biológicos, no
recibiendo la misma atención los recursos relacionados
con los paisajes y sus formas, los procesos y rocas, a
excepción de aquellos que han quedado dentro de áreas
protegidas o que se consideran Monumentos Naturales
(Ley Nacional 22.351/80 “Parques Nacionales,
Monumentos Naturales y Reservas Nacionales”) (Ibáñez
Palacios et al. 2012).
En la actualidad, no hay herramientas legales
del ámbito nacional directa y estrictamente vinculadas al
patrimonio geológico, pero sí algunas que pueden ayudar
a su inclusión. En este sentido, la Ley Nacional 25.675/02,
Ley General del Ambiente, sancionada el 6 de noviembre
de 2002 y promulgada parcialmente el 27 de Noviembre
de ese año, persigue entre otros objetivos: Asegurar la
p res er vació n , co n s er vació n , recu p eració n y
mejoramiento de la calidad de los recursos ambientales,
tanto naturales como culturales, en la realización de las
diferentes actividades antrópicas (art 2° inciso a.). La Ley
Nacional 25743/03 de “Protección del patrimonio
arqueológico y paleontológico”, promulgada en junio de
2003, establece en su articulo 1° que su objeto es la
preservación, protección y tutela del Patrimonio
Arqueológico y Paleontológico como parte integrante del
Patrimonio Cultural de la Nación y el aprovechamiento
científico y cultural del mismo. En su artículo 2° aclara
que: forman parte del Patrimonio Arqueológico las cosas
muebles e inmuebles o vestigios de cualquier naturaleza
que se encuentren en la superficie, subsuelo o
sumergidos en aguas jurisdiccionales, que puedan
proporcionar información sobre los grupos
socioculturales que habitaron el país desde épocas
precolombinas hasta épocas históricas recientes, y en
relación al Patrimonio Paleontológico los organismos o
parte de organismos o indicios de la actividad vital de
organismos que vivieron en el pasado geológico y toda
concentración natural de fósiles en un cuerpo de roca o
sedimentos expuestos en la superficie o situados en el
subsuelo o bajo las aguas jurisdiccionales. En tal sentido,
entre las facultades señaladas en su artículo 4° se
encuentra que será exclusividad del Estado Nacional:
ejercer la tutela del Patrimonio Arqueológico y
Paleontológico. En orden a ello deberá adoptar las
medidas tendientes a su preservación, investigación y a
fomentar la divulgación.
Medina (2012) analiza la presencia del término
“geología” en las leyes de Áreas Protegidas provinciales
con el fin de resaltar la importancia de la presencia o
ausencia de este término dentro de una ley, de manera
que la misma no resulte ambigua.
Así este autor señala términos como el de
“formaciones geológicas y geomorfológicas” como
objetos a preservar (provincias de Buenos Aires,
Córdoba, Chaco, Chubut, La Pampa, Mendoza, Neuquén,
Rio Negro, Salta, San Juan y San Luis); “formaciones
fisiográficas” (provincias de Catamarca, Entre Ríos, Jujuy,
La Rioja y Tierra del Fuego, donde también se utilizó la
denominación subjetiva de paisaje de gran valor
escénico). Y encuentra una tercera situación en las leyes
de las provincias de Formosa Ley 1335/00, Misiones Ley
2932/92 y Tucumán Ley 6292 donde no se incluyen
términos geológicos ni tampoco sobre aspectos
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escénicos del paisaje.
4. EL PATRIMONIO GEOLÓGICO Y LA COMUNIDAD
GEOLÓGICA
La aparición de la temática de sitios de interés
geológico durante un Congreso Geológico Argentino se
dio por primera vez en la XV edición de esa reunión
científica, en el año 2002, en la provincia de Santa Cruz. El
Relatorio o compendio de la geología de la provincia
anfitriona del evento, incluyó un extenso trabajo en
referencia a 127 sitios de interés geológico distribuidos
en todo el territorio provincial. Los sitios seleccionados
surgieron de los incluidos en las hojas geológicas a escala
1:250.000 del SEGEMAR y de la contribución y
orientación de profesionales con experiencia en la
región. El trabajo se desarrolló bajo el criterio de
itinerarios que recorrían grupos de sitios (Ardolino et al.
2002).
En ocasión de esa reunión también tuvo lugar el
I Simposio de Patrimonio Geológico y Aspectos
Geológicos y Ambientales de la Espeleología. Los trabajos
allí presentados abordaron diferentes temas. Entre ellos:
el inventario y caracterización de 28 puntos de interés
geológico del territorio de la provincia de Córdoba -junto
a propuestas para su aprovechamiento y su protección(Leynaud 2002); una propuesta de valoración turística
recreativa de recursos geológicos, paleontológicos y
paisajísticos en la ciudad de Neuquén para el proyecto
(no concretado) Monumento Natural Parque de los
Dinosaurios (Vejsbjerg et al. 2002); el relevamiento de
áreas de valor científico, cultural y estético en riesgo ante
la realización de obras de infraestructura en la localidad
de Nogolí, provincia de San Luis (Lacreu et al. 2002) y el
análisis de la potencialidad y posibilidades de desarrollo
de los georecursos del Parque Nacional Talampaya
(Caselli 2002) (Figura 3).
Figura 3 – El Parque Nacional Talampaya, en el sudoeste de la
provincia de La Rioja, es una extraordinaria reserva
paleontológica y uno de los pocos yacimientos en el mundo que
contiene un interesante y completo registro de vertebrados
fósiles que permite explicar su evolución y el desarrollo de la
vida en la región durante todo el período Triásico. Tal contenido,
junto a un interesante conjunto de geoformas de
inconmensurable belleza lo posicionó como Patrimonio Natural
de la Humanidad de UNESCO (Caselli 2008) (Fotografía por
Fernando Miranda).
Ya en el año 2005, el XVI Congreso Geológico
Argentino (La Plata, provincia de Buenos Aires), incorpora
la temática de Sitios de Interés Geológico. En el
encuentro surgen trabajos vinculados al inventario de 44
sitios de interés en la provincia de Entre Ríos (Bertolini et
al. 2005) y otros 30 en la provincia de San Juan. Estos
últimos, seleccionados en el marco del Proyecto
“Identificación y Valoración del Patrimonio Geológico de
la Provincia de San Juan, su Proyección Científica,
Cultural, Educativa y Turística” 2003 – 2005 (Baraldo et al.
2005).
Contrariamente a lo esperado, para el año 2008
la edición del XVII Congreso Geológico Argentino (en la
provincia de Jujuy) no incluyó el capítulo Sitios de Interés
Geológico o alguno equivalente. A pesar de ello, trabajos
relacionados participaron en el Simposio de Enseñanza
de la Geología, encuentro durante el cual se presentaron
propuestas para la implementación de circuitos de
interés geológico en la Cuenca Carbonífera de Río Turbio,
en la provincia de Santa Cruz (Tello & Defago 2008),
experiencias vinculadas al trabajo social y la transferencia
de conocimientos geológicos a comunidades locales en la
provincia de San Juan (Vallecillo et al. 2008), y un
proyecto piloto de implementación de paneles temáticos
in situ en la Reserva Laguna del Diamante, provincia de
Mendoza (Miranda & Sáenz 2008).
No obstante la ausencia de un simposio
especifico en el Congreso, durante su desarrollo se
presentó la obra “Sitios de Interés Geológico de la
República Argentina – Los geólogos nos cuentan…”
editado por el SEGEMAR y al cual nos referimos mas
adelante en mayor detalle.
Simultáneamente a la aparición del Patrimonio
Geológico como tema de congresos y reuniones
científicas, varias universidades nacionales comenzaron
a abordar esta materia. A modo de ejemplo, la provincia
de San Luis incorpora capítulos de geositios en los Atlas
de Recursos Geoambientales de las localidades de
Potrero de Funes y Juana Koslay, (Ojeda et al. 2007,
2008). También la Universidad Nacional de La Plata, a
través de publicaciones de la Facultad de Humanidades y
Ciencias de la Educación, abordó la propuesta y
necesidad de realización de un inventario de patrimonio
geológico nacional (Martínez 2008).
Para el año 2011, el XVIII Congreso Geológico
Argentino, realizado en la provincia de Neuquén, volvió a
presentar la temática de patrimonio, geositios,
geoturismo y geoparques. Es así que en el Relatorio de la
provincia se incorporó un capitulo exclusivo dedicado a la
descripción de un total de 32 sitios o áreas provinciales
destacadas desde el punto de vista geológico-patrimonial
(Danieli et al. 2011). A su vez, durante el desarrollo del
Congreso, el Simposio (S9) -Patrimonio natural y Cultural
en su Contexto Geológico- reunió un interesante
conjunto de trabajos. Entre ellos: propuestas de
incorporación de atractivos geológicos a circuitos
turísticos tradicionales, como en el caso del cerro San
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Miranda & Lema/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 87-102
Bernardo en la provincia de Salta (Barrientos Ginés &
Moya 2011), varios vinculados a la dupla e interacción
entre arqueología y geología (Brandán et al. 2011,
Tchilinguirian et al. 2011, Vattuone Sampietro et al.
2011), propuestas de rutas geoturísticas (Ermili &
Martínez 2011, Guido & Sesma 2011), reflexiones acerca
de cuestiones de patrimonio geológico, paisaje natural y
el rol profesional en este tipo de cuestiones (Kulemeyer
2011, Neder & Ríos 2011), propuestas de geositios
específicos, como Rosario de La Frontera en la provincia
de Salta y el rol del termalismo del área vinculado al
desarrollo histórico de la región (Ríos & Neder 2011),
inventario y evaluación de geositios en la Quebrada del
Portugués, provincia de Tucumán (Palacios et al. 2011), la
relación entre afloramientos rocosos específicos y
especies vegetales amenazadas (Cantero et al. 2011),
casos de estudio y recomendaciones para el manejo y
gestión del patrimonio geológico y paleontológico
(Iparraguirre & Oliva 2011, Goso et al. 2011) y el trabajo
social a partir de la geología en La Cienaga de Huaco,
provincia de San Juan (Vallecillo & Caballero 2011), lugar
declarado como Área Natural Protegida por la Cámara de
Diputados de la provincia en el año 2005 (ley 7.640). En
este último caso el área protegida, de unas 9.600
hectáreas, tiene por objeto preservar el valor geológico y
arqueológico, el equilibrio ecológico y el patrimonio
autóctono del lugar. En el sitio pueden observarse
formaciones geológicas de gran interés sedimentológico
y fósiles de edad ordovícica.
Trabajos más recientes incluyen la presentación
del primer circuito de geoturismo en la provincia de
Córdoba, y primero con carácter oficial en el país;
iniciativa coordinada entre la Dirección de Geología de la
Secretaría de Minería de Córdoba y la Agencia Córdoba
Turismo (Sfragulla et al. 2010). El circuito se desarrolla a
lo largo de 120 km sobre la Ruta Provincial Nº 28, entre
las localidades de Tanti y Chancaní. Posee una dirección
general este-oeste que atraviesa las principales unidades
geológicas aflorantes en ese sector de las Sierras
Pampeanas de Córdoba y cuenta con 14 puntos de
interés geológico y/o paisajístico con paneles
informativos sobre los aspectos geológicos del lugar.
Entre ellos: el Batolito de Achala, intrusión granítica de
edad devónica (principal unidad geológica de la región);
yacimientos pegmatíticos ricos en minerales de
colección; el contacto del Batolito con rocas
metamórficas de edad cámbrica inferior; el Complejo
Volcánico de Pocho, compuesto por traquiandesitas
neógenas y uno de los lugares panorámicos mas
espectaculares de la Sierra de Córdoba, conocido como
Los Túneles, que como su nombre lo indica resultan en
una serie de túneles excavados en rocas metamórficas de
la Sierra de Pocho (Sapp et al. 2008).
Otro nuevo aporte es el inventario preliminar
relacionado con criogeoformas cuaternarias de la región
del Parque Nacional Campo de Los Alisos (Sierra del
Aconquija) en las provincias de Tucumán y Catamarca
cuyo objetivo, además de divulgar y contribuir a la
preservación de ese patrimonio geológico, plantea la
posibilidad de generar recursos para la actividad turística
(Ibáñez Palacios et al. 2012). Una de las contribuciones
más recientes corresponde a un trabajo integral que
abarca propuestas de geoconservación aplicables a la
República Argentina -tomando como base las prácticas
de esta temática en España, Portugal y el Reino Unido- e
ideas para la realización del inventario sistemático del
patrimonio geológico argentino y su respectiva
evaluación cuantitativa (Medina 2012).
4.1 Patrimonio Minero
Dentro del contexto de patrimonio geológico es
importante destacar la realización de trabajos y
proyectos que rescatan al patrimonio de origen minero.
Entre ellos, el vinculado a las posibilidades de desarrollo
de un turismo sustentable basado en el patrimonio
geológico-minero e industrial en la región sudeste de la
provincia de Buenos Aires (Fernández & Ramos 2007),
donde la enorme disponibilidad de rocas de aplicación,
posibilitó el desarrollo de una actividad minera pujante.
Trabajos posteriores condujeron a propuestas para la
creación de rutas turísticas y para la dinamización de
espacios basados en el patrimonio geológico-minero del
Sistema de Tandilla (Fernández et al. 2008). Hoy en día,
una importante área de Tandil que incluye las sierras
como recurso natural y con potencial turístico está
declarada como paisaje protegido (Ley Provincial 14.126,
marzo de 2010, Congreso de la Provincia de Buenos
Aires). Esto promovió trabajos de inventario (localización
y evaluación del estado actual) de áreas con pasivos
ambientales mineros en la localidad de Tandil que
permitieron su valorización y el análisis de su inserción
territorial y valor patrimonial como parte de una
alternativa de uso recreativo sostenible (Fernández et al.
2012).
Otras propuestas han tratado el tema de las
oportunidades y obstáculos para transformar el
patrimonio geológico-minero en productos turísticos en
diferentes provincias del país -particularmente donde la
actividad minera ha desaparecido- las políticas
orientadas al turismo minero y su potencialidad para
incrementar las posibilidades de estas regiones
(Fernández et al. 2009). Una de estas iniciativas fue el
denominado Programa Nacional de Turismo Geológico
Minero (2001/2002), convenio entre el Ministerio de
Turismo y la Secretaria de Minería de la Nación, cuyo fin
fue el de promover los sitios que por sus características
geológico – mineras pudiesen atraer el interés y generar
ingresos económicos a través de la actividad turística.
Acciones similares y más recientes ha tomado la
provincia de Catamarca a través de su Secretaría de
Turismo provincial. Esta dependencia se encuentra
estudiando las factibilidades para la creación de un
circuito de turismo minero en la zona, no sólo con el
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Miranda & Lema/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 87-102
objetivo de difundir la actividad minera y mejorar la
actividad y oferta turística catamarqueña, sino también
pensando en los posibles beneficios que estos circuitos
brinden a las comunidades aledañas a las minas. La idea
es comenzar con experiencias piloto y entre las áreas
bajo consideración se encuentran el complejo Muschaca,
en Andalgalá, las ruinas de las minas de oro de Incahuasi
(Monumento Histórico Nacional, Decreto N° 16.482 del
17/12/1943) ubicadas en Antofagasta de la Sierra, y otras
como Yampa, Farallón Negro y la Alumbrera (Diarios
“Andalgala Hoy”, Catamarca, 12/10/12 y La Unión
Digital”, Catamarca, 13/09/12).
Existen otros varios emprendimientos en los
que el patrimonio minero es parte fundamental de la
propuesta turística y del patrimonio del lugar, entre ellos
Mina La Carolina, en la provincia de San Luis, el famoso
cablecarril de la mina la Mejicana en la provincia de la
Rioja (Figura 4) declarado Monumento Histórico
Nacional por decreto Nº 999 del 25/10/1982 (Marcos
2008) o las geodas de Minas de Wanda-Libertad, en la
provincia de Misiones (Ávila et al. 2008) sólo para
mencionar algunos.
reserva natural de más de 250 hectáreas se remonta a
1993, siendo la primera en su tipo de toda Sudamérica.
Operado por el Museo Paleontológico Egidio Feruglio
(MEF) con sede en Trelew, el geoparque ofrece un
recorrido por el pasado natural de este rincón de la
Patagonia. Allí se pueden observar fósiles parcialmente
expuestos (Figura 5) testigos de una historia de cambios
geológicos y climáticos que afectaron la región durante
los últimos 40 millones de años, desde mediados del
periodo Paleógeno a la actualidad. El geoparque ofrece
excursiones diurnas y nocturnas, con guías profesionales
y programas vinculados a paleontología, botánica y
astronomía (Cúneo 2008).
Figura 5 – Protecciones vidriadas en los sitios con restos fósiles
(Fotografía Fernando Miranda).
Figura 4 – Estación Nº 1 del Cablecarril de la mina La Mejicana
en Chilecito. Allí el museo "Dr. Santiago Bazán" exhibe
maquinarias, herramientas y elementos diversos utilizados en
la época de funcionamiento del cable (Fotografía por Fernando
Miranda).
5. LOS PARQUES GEOLÓGICOS Y LOS GEOPARQUES
Otra de las modalidades en la conservación y
valoración del patrimonio geológico es la que aborda el
concepto de parques geológicos y geoparques. Argentina
cuenta con varios parques geológicos o reservas que
contemplan, principalmente, contenidos
paleontológicos, pero también geológicos y mineros. Si
bien no se trata de geoparques miembros de la Red
Global de Geoparques (GGN) amparados bajo la tutela
de la UNESCO, comparten objetivos similares:
conservación, educación y desarrollo sustentable.
El Geoparque Bryn Gwyn (que en galés significa
“Loma Blanca”) se localiza en el noreste de la provincia
del Chubut, sobre la margen sur del río homónimo y a 8
kilómetros de la localidad de Gaiman. El origen de esta
El Parque Geológico Sanagasta, en la provincia
de La Rioja, fue creado por decreto Nº 115 del 7 de Marzo
del 2001 y ratificado por Ley Provincial Nº 7093. Se trata
de un área de poco más de 800 hectáreas ubicada
próxima a la Villa Sanagasta. El hallazgo de un gran
número de nidos y abundantes cáscaras de huevos de
dinosaurios significó un cambio en el esquema
geocronológico de la región, trasladando al Cretácico
Superior estratos considerados hasta entonces terciarios
(Hünicken 2005, Tauber 2007). Debido a las excelentes
exposiciones de rocas graníticas del basamento y de la
secuencia sedimentaria, con buenos contactos y
contrastes de colores que hacen de la geomorfología un
recurso paisajístico, se propuso al Gobierno de la
Provincia de La Rioja la creación del Parque Geológico
Sanagasta. El Decreto de creación adjudica al Centro
Regional de Investigaciones Científicas y Transferencia
Tecnológica (CRILAR) el control científico y académico de
este parque geológico. El parque ha tomado gran impulso
durante estos últimos años, convirtiéndose en un gran
atractivo desde el punto de vista ambiental, ecológico,
educativo y turístico.
La Reserva natural Divisadero Largo, en la
provincia de Mendoza, comprende 492 hectáreas,
ubicadas en el pedemonte de la precordillera, 8
kilómetros al oeste de la ciudad de Mendoza, capital de la
provincia. Fue declarada Área Protegida en 1983 y su
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nombre hace referencia al Cerro Divisadero, desde el cual
los nativos avistaban el tránsito de las manadas de
guanacos y otros animales para darles cacería. Más allá
de la belleza natural del área, se destaca en la Reserva
una evidente falla geológica cuyo desplazamiento ha
permitido el afloramiento de diferentes niveles de rocas
sedimentarias que representan un intervalo de tiempo
mayor de 200 millones de años. El principal propósito de
la creación de la Reserva lo constituye la protección del
conjunto de afloramientos de rocas sedimentarias
fosilíferas (Figura 6).
Figura 6 – Panorama desde el Mirador Geológico de la Reserva
Natural Divisadero Largo (Fotografía por Cecilia Iglesias).
La provincia de Neuquén ha adquirido gran significado a
nivel paleontológico debido a sus numerosos e
importantes hallazgos de sitios fosilíferos y por esta razón
hoy se la conoce como “Tierra de Dinosaurios”. El Centro
Paleontológico Lago Barreales (CePaLB), comprende un
yacimiento que posee gran cantidad de restos fósiles del
período Cretácico: peces, plantas, tortugas, cocodrilos,
pterosaurios, dinosaurios herbívoros de diversos grupos
y dinosaurios carnívoros como Unenlagia paynemili y
Megaraptor namunhuaiquii. En síntesis un ecosistema
casi completo de un lapso de la Era Mesozoica. El Centro
(Figura 7) depende de la Universidad Nacional del
Comahue, que resguarda esta pequeña parte del suelo
neuquino. Con el apoyo de empresas y del gobierno
provincial, se cuenta con instalaciones adecuadas, que
garantizan tanto la protección del patrimonio natural y
cultural del área, como las condiciones de seguridad del
equipo de trabajo permanente, de los estudiantes y del
público visitante.
El sitio ha tomado trascendencia internacional
ya que se ha convertido en la única excavación de
dinosaurios en el mundo, abierta al público todo el año.
El CePaLB tiene como finalidad la educación en geología y
paleontología a través de las vivencias personales que
obtienen los visitantes en las excavaciones, senderos
interpretativos y miradores panorámicos, así como en las
visitas al centro de interpretación con proyección de
videos, a la sala de exhibición paleontológica con servicio
de guías y al laboratorio, donde el visitante puede
interiorizarse de las técnicas de trabajo para la
preparación de piezas fósiles para su exposición (Calvo
et al. 2008).
Figura 7 – El Centro se encuentra enmarcado por un paisaje
natural en el que se desarrollan actividades educativas y
culturales para todos los grupos que visitan el sitio, para todos
los niveles, incluso el universitario. Se muestran todas las
etapas en el rescate de restos de dinosaurios, desde la
extracción hasta su estudio científico final y puesta en
exhibición de las piezas rescatadas (Fotografía Jorge Calvo).
También cabe destacar acciones tendientes a la
preservación del patrimonio a través de la interacción
entre el Estado y la actividad privada. Un ejemplo de ello
es el de la protección y puesta en valor turístico del
Bosque Petrificado “Florentino Ameghino” bajo la figura
jurídica de Custodio Rural (Lech & Reinoso 2008, Reinoso
& Lech 2010). Esta área situada en el valle inferior del Río
Chubut, departamento Gaiman, provincia del Chubut, es
un recurso natural no renovable y al mismo tiempo un
objeto del patrimonio cultural-paleontológico. La
experiencia en esta área concilia actividades científicoacadémicas, de protección patrimonial, empresarialturística privada, junto a un programa de actividades
educativas. El plan de manejo contempla aporte
científico, desarrollo turístico, inversión empresarial
privada en infraestructura y servicios y, sobre todo, la
coordinación y contralor del Estado como el responsable
primario de la preservación del patrimonio. El Bosque
Petrificado “Florentino Ameghino” (Figura 8) se
encuentra en un terreno privado, con los derechos
inalienables que ello conlleva; no obstante el dominio de
ese elemento patrimonial es exclusivo del Estado
Provincial.
Figura 8 – El Bosque petrificado “Florentino Ameghino" es el
primer Custodio Rural de la Provincia del Chubut y único en la
República. El Bosque forma parte de la Formación Salamanca, y
los troncos petrificados corresponderían a árboles que
formaban parte de un extenso bosque de lauráceas y fagáceas
que existió hace 60 millones de años.
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La Reserva Natural Pehuen Co-Monte Hermoso,
en la costa atlántica del sudeste de la provincia de Buenos
Aires, alberga, en una extensión de más de 3 kilómetros a
lo largo de la playa, rocas sedimentarias del Pleistoceno
tardío en las que se pueden observar numerosas huellas
fósiles. Se trata de un yacimiento paleoicnológico donde
se conservan pisadas de fauna y megafauna (megaterios
y gliptodontes) de 12.000 años de antigüedad. La
cantidad y calidad de improntas fósiles lo convierten en
un lugar único. En el área de la Reserva se encuentra a su
vez uno de los dos puntos de mayor importancia
paleontológica descubiertos por Darwin en el transcurso
de su viaje a bordo del Beagle (1832 y 1833), la Barranca
Monte Hermoso. Otro de los sectores de la Reserva
conserva el testimonio de huellas de aborígenes de 7.000
años de antigüedad. En diciembre de 2005, la Cámara de
Diputados de la provincia de Buenos Aires promulgó la
ley 13.394 que lo declara Reserva Geológica y
Paleontológica Provincial, aunque aún no ha sido
reglamentada ni puesta en práctica (Manera, 2008).
6. EL PROYECTO SITIOS DE INTERÉS GEOLÓGICO DE LA
REPÚBLICA ARGENTINA
El Servicio Geológico Minero Argentino
(SEGEMAR) es el organismo a quien incumbe, entre otras
funciones, el relevamiento geológico y temático del
Territorio Nacional, aportando la investigación de base
necesaria para el desarrollo productivo, y debiendo
atender asimismo a la difusión de sus resultados y a la
protección del patrimonio natural. En este escenario, y
consciente de la importancia que tiene la identificación
de los Sitios de Interés Geológico (SIG), el SEGEMAR inició
a fines del año 2004 -en oportunidad de conmemorar
100 años de su creación -el proyecto Sitios de Interés
Geológico de la República Argentina. A fin de alcanzar
algunos de sus objetivos y llevar a cabo otras tareas
especificas, el Instituto de Geología y Recursos Minerales
(IGRM) del SEGEMAR creó el Grupo de Trabajo de Sitios
de Interés Geológico, cuya función es dar a conocer a la
comunidad en general los sitios de interés geológico,
difundir el conocimiento geológico y brindar información
que sirva de base para la realización de otras actividades
vinculadas con el medio natural (Lema & grupo CSIGA,
2007).
El proyecto se orientó fundamentalmente a
satisfacer una demanda cada vez más creciente del
público en general, proporcionando datos,
características y explicaciones que en forma
comprensible permitan al público acceder al
conocimiento geológico de áreas emblemáticas del país.
Para una mejor valoración y comprensión del
patrimonio, este proyecto requirió del trabajo conjunto
con instituciones locales, provinciales y municipales,
constituyéndose de este modo en una fuente de
información útil para pobladores, escuelas y
organizaciones vinculadas al turismo.
7. ALGUNAS ACCIONES DE DIVULGACIÓN DEL
PATRIMONIO GEOLÓGICO
En una primera etapa el Grupo de Trabajo se
abocó a la edición del libro “Sitios de interés geológico de
la República Argentina, los geólogos nos cuentan…”
(CSIGA 2008). Esta publicación fue el resultado del
esfuerzo conjunto del SEGEMAR y más de 120 autores
representantes de 40 instituciones públicas y privadas,
así como de organizaciones no gubernamentales. La obra
se organizó en dos volúmenes que corresponden al norte
y sur del país y se ocupa de los “cómo, cuándo y por qué”
de 72 sitios de interés - entre los que se incluyen lugares
famosos por sus paisajes - y en los que se tratan diversos
temas tales como vulcanismo, geomorfología,
paleontología, hidrogeología, tectónica, peligrosidad
geológica y estratigrafía, entre otros.
Los capítulos fueron editados por la Comisión de
Sitios de Interés Geológico de la República Argentina
(CSIGA) con el objeto de llegar a un público no
especializado, por lo que cada sitio está descrito con
lenguaje ameno e ilustrado con mapas, fotografías,
esquemas y cuadros cronológicos que facilitan la
comprensión de los diferentes procesos y temas
geológicos. Algunos capítulos sugieren medidas de
protección y, donde éstas ya están en vigencia, otras
nuevas son puestas a consideración.
Las conexiones entre geología y antropología,
así como referencias históricas sobre la actividad minera
y las exploraciones e investigaciones científicas pioneras,
enriquecen algunos de los capítulos, además de
menciones especiales sobre flora y fauna. Al especial
interés geológico de la gran mayoría de los SIG escogidos,
se contempló la accesibilidad, buen estado de
preservación y gran belleza y expresividad escénica. Los
volúmenes están escritos en idioma español y cada sitio
cuenta con un breve resumen introductorio en inglés. La
obra tiene el propósito de difundir el conocimiento
geológico, contribuir a la transmisión del pensamiento
científico y estimular actividades educativas, y de esta
manera promover la protección del patrimonio (Miranda
& grupo CSIGA, 2009, 2010; Echeverría et al. 2010).
Figura 9 – Sitios de Interés Geológico de la República Argentina.
Volumen I (Norte) y Volumen II (Sur).
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Tanto el proyecto, como la obra, han sido
galardonados con sendos premios: el VII premio
Convenio Andrés Bello “Somos Patrimonio” en el año
2008 y el Premio Especial Bicentenario otorgado en 2010
por Gaea, Sociedad de Estudios Geográficos de la
República Argentina en virtud del carácter divulgativo de
la obra.
Para el público en general, el patrimonio
geológico y la geología como ciencia son muy poco
conocidos, a pesar de las interrelaciones entre el entorno
geológico, los demás elementos del ecosistema y el
medio socio-cultural. Sin embargo, en estas últimas
décadas, el interés por los aspectos geológicos del
territorio muestra un marcado crecimiento (Voth 2008).
Teniendo en cuenta esta consideración y con el objetivo
de identificar actividades e inquietudes de los lectores y
potenciales interesados en la temática de la publicación,
y a fin de establecer futuras líneas de trabajo, se procedió
a la elaboración de una breve encuesta permanente en la
que se consultaba acerca del motivo de interés en el libro
(Miranda 2011). Sin ponderar a aquellos profesionales
vinculados específicamente con las Ciencias Geológicas,
los resultados arrojaron que la población interesada
correspondía a personas con estudios universitarios
completos o en curso y de variadas profesiones:
administración, agronomía, biología, comunicación
social, contabilidad, docencia, geografía, guardaparques,
informática, ingeniería, medicina y turismo. También se
recibieron consultas por parte de estudiantes, tiendas de
venta de libros y puestos de regalos o recuerdos en
museos, ONGs y fundaciones.
Por los intereses e inquietudes planteados
puede señalarse que: el 31 % se vinculaba con el área de
educación; al turismo le correspondió el 14%: agencias u
operadores, y particulares que manifestaron su deseo de
conocer más sobre los lugares que visitarían o habían
visitado; un 15 % lo requirió como material de consulta:
solicitudes de bibliotecas, fundaciones, organizaciones
no gubernamentales y otras instituciones; el 8% para
cultura general -interés por las áreas naturales o por las
ciencias geológicas; un 7% agrupó a quienes consultaron
por la posibilidad de reventa, tanto en tiendas
comerciales como en tiendas de museos y el 1 %
correspondió a otros motivos. Un 23 % no respondió la
encuesta, pero de los datos recabados surgió claramente
la fuerte atracción que en general despiertan los temas
geológicos.
La divulgación científica admite muy variadas
formas, tales como conferencias, muestras, museos
interactivos, charlas, libros, revistas y folletos, entre
otros (Gallardo 2005). Muchas son las personas que
visitan un área en particular atraídas por su paisaje. Allí,
la información a través de paneles temáticos in situ de
aquello que se contempla en forma directa resulta de
gran efectividad y una buena oportunidad de acercar al
público en general a aspectos concernientes a las
ciencias de la Tierra.
En este sentido, en enero de 2007, se realizó una
experiencia piloto (Figura 10) en la Reserva Natural
Laguna Diamante, provincia de Mendoza, que contó con
financiamiento privado y estatal (Miranda & Sáenz 2008).
El área en cuestión se encuentra a unos 3.500 metros de
altura sobre el nivel del mar en la cordillera de los Andes y
a escasos kilómetros del límite argentino-chileno. A pesar
del difícil acceso, el área recibe durante la temporada
estival numerosos visitantes, locales y extranjeros, que
desarrollan diferentes actividades, entre ellas, pesca
deportiva, andinismo o “simplemente” turismo. Si bien la
reserva contaba en su haber con cuantiosa información
sobre flora y fauna, aquella relacionada a la geología del
área y al paisaje -que es lo que el público percibe en forma
instantánea- resultaba escasa o confusa. En el ámbito de
la reserva se destaca la imponente figura del Volcán
Maipo, de 5.323 metros de altura, inmerso en una
estructura oval de 20 por 16 kilómetros denominada
Caldera Diamante, cuyas paredes, constituidas por rocas
sedimentarias y volcánicas más antiguas, rodean al
volcán. La historia más “reciente” del área,
científicamente documentada (Sruoga et al. 2005), se
remonta a la súbita erupción de unos 350 kilómetros
cúbicos de cenizas incandescentes o ignimbritas unos
450.000 años atrás. Esto y el posterior desarrollo del
volcán Maipo durante los últimos 100.000 años,
permiten acercar al público en general a uno de los
aspectos más espectaculares de las ciencias de la Tierra,
el volcanismo.
El éxito de esta primera prueba indujo a
continuar con la tarea en otros lugares del país
Figura 10 – El cartel, de 200 por 70 centímetros, consta de un
texto principal en el que se describen los estadios evolutivos del
centro eruptivo volcán Maipo – caldera del Diamante, textos
secundarios vinculados al paisaje actual, historia eruptiva y
peligrosidad, vistas panorámicas explicativas y fotografías de
diferentes sectores del área, imagen satelital y texto resumido
en inglés.
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La ejecución de los paneles, financiados con
fondos otorgados por el Convenio Andrés Bello (Miranda
y grupo CSIGA 2009) está a cargo de la Comisión de Sitios
de Interés Geológico de Argentina del SEGEMAR. La tarea
comienza con sitios propuestos por los potenciales
interesados (Municipio, ONG´s, etc), que en la medida de
las posibilidades, son examinados en el terreno para
evaluar su interés geológico, accesibilidad,
infraestructura disponible (prevención de actos
vandálicos) y ubicación espacial para el diseño de los
paneles. Atendiendo a las sugerencias y necesidades de
los receptores locales, los temas son seleccionados y
presentados con el soporte de artículos científicos
actualizados y con la participación activa de
profesionales que desarrollan tareas en el área,
garantizando un óptimo nivel de información.
Trabajos de esta índole se han realizado en la
Reserva Natural Urbana General San Martín en la
provincia de Córdoba (Gaido et al. 2010); en La Reserva
Natural Urbana Parque del Este, Baradero y en diferentes
áreas de San Pedro, ambas localidades de la provincia de
Buenos Aires (Voglino 2008, Miranda et al. 2011); en el
área del Monumento Histórico Nacional y Patrimonio
Cultural de la Humanidad de la UNESCO (1999) Cueva de
las Manos, en la provincia de Santa Cruz (Geuna &
Escosteguy 2008), en el Parque provincial Aconcagua en
la Provincia de Mendoza (Cegarra y Ramos 2008); en el
área del Lago Buenos Aires, localidad de Los Antiguos,
provincia de Santa Cruz (Escosteguy & Geuna 2008), y se
proyecta continuar con estas tareas en el ámbito de
Parques Nacionales, por ejemplo en el parque Nacional
Monte León en la Provincia de Santa Cruz (Sacomani et al.
2008). Todos estos paneles abordan los contenidos
geológicos que el visitante puede contemplar (Figuras 11
a 18).
Figura 11 – Paneles temáticos instalados en el marco del
proyecto Sitios de Interés Geológico del SEGEMAR. Reserva
Natural Laguna del Diamante, provincia de Mendoza.
Figura 12 – Paneles temáticos instalados en el marco del
proyecto Sitios de Interés Geológico del SEGEMAR. Reserva
Natural Urbana Geral. San Martin, provincia de Córdoba.
Figura 13 – Paneles temáticos instalados en el marco del
proyecto Sitios de Interés Geológico del SEGEMAR.
Monumento Histórico Nacional y Patrimonio de la Humanidad.
Cueva de Las Manos, provincia de Santa Cruz.
Figura 14 – Paneles temáticos instalados en el marco del
proyecto Sitios de Interés Geológico del SEGEMAR. Reserva
Natural Urbana Parque del Este, provincia de Buenos Aires.
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Figura 15 – Paneles temáticos instalados en el marco del
proyecto Sitios de Interés Geológico del SEGEMAR. Reserva
Natural Vuelta de Obligado, provincia de Buenos Aires.
Figura 18 – Paneles temáticos instalados en el marco del
proyecto Sitios de Interés Geológico del SEGEMAR. Los
Antiguos, provincia de Santa Cruz.
Figura 16 – Paneles temáticos instalados en el marco del
proyecto Sitios de Interés Geológico del SEGEMAR. Parque
Provincial Aconcagua, provincia de Mendoza.
Durante el año 2012 otras acciones relacionadas
con paneles temáticos -desde otros organismos- fueron
la puesta en valor del patrimonio paisajístico y la
implementación de miradores interpretativos en la
provincia de Jujuy. Esto fue llevado a cabo a través de un
Programa Nacional de Inversiones Turísticas y de
Señalización Turística de la Provincia de Jujuy, encarado
por la Secretaría de Turismo y Cultura de la provincia con
el apoyo del Ministerio de Turismo de La Nación. Los
miradores y los paneles (Figura 19) brindan información
sobre paisajes icónicos de la provincia y muestran en
muchos casos una breve descripción de las formaciones
geológicas, con textos en idioma español, inglés y
portugués. Están ubicados a la vera de rutas nacionales y
provinciales. Entre los puntos seleccionados se
encuentran las Salinas Grandes, la Cuesta de Lipán, la
Paleta del Pintor, las Huellas de Dinosaurios, las Termas
de Reyes, el Dique La Ciénaga, la Laguna Desaguadero (en
Yala) y el Parque Nacional Calilegua.
Figura 17 – Paneles temáticos instalados en el marco del
proyecto Sitios de Interés Geológico del SEGEMAR. Puente del
Inca, provincia de Mendoza.
Figura 19 – El primer mirador geológico de Jujuy fue habilitado
en la localidad de Purmamarca, con vista al Cerro Siete Colores
(Fotografía por Fernando Miranda).
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4) Continuidad de los programas en el tiempo.
6. REFLEXIONES FINALES
El concepto de patrimonio geológico es
relativamente nuevo en nuestro país. No obstante, de los
párrafos anteriores se desprende que no han sido ni son
pocos los profesionales e instituciones interesados en la
materia. Cabe aclarar aquí que solo hemos hecho
mención de algunas acciones, siendo conscientes de la
existencia de trabajos vinculados al tema en otras
diferentes áreas del país.
Sin embargo, más allá de los muchos esfuerzos
individuales se torna necesario un trabajo conjunto y con
continuidad en el tiempo. Es entonces cuando surgen
cuestiones acerca de ¿Cómo lograr éxito en el desarrollo
de los programas, especialmente cuando muchas veces
los recursos económicos no son los adecuados? ¿Cómo
evitar la superposición de tareas a nivel de Instituciones?
¿De qué manera conservar el entusiasmo de proyectos
que se inician?...
Cada pregunta tendrá su particular respuesta,
pero sin duda hay premisas fundamentales que cumplir, y
las siguientes son algunas:
1) Inventario, catalogación y confección de un
listado sistemático de los bienes que integran el
patrimonio geológico, a escala local, provincial o regional
y nacional.
2) Designación de un organismo de nivel
nacional que sea referente y a la vez formador en el tema,
encargado de articular el accionar de los distintos actores
intervinientes.
3) Formulación de una política de divulgación y
protección del patrimonio geológico, con adjudicación
de recursos adecuados.
La identificación, descripción, divulgación y
protección del patrimonio geológico es de vital
importancia pues su degradación casi siempre es
irreversible. Los sitios de interés geológico deben ser
considerados como un elemento más del patrimonio, e
incluidos en una correcta gestión del territorio, puesto
que, siendo los sitios construcciones naturales, desde el
momento en que se los conceptualiza y se brinda
conocimiento sobre ellos se transforman en una parte
fundamental del patrimonio natural y cultural de las
personas, paso indispensable para promover a su
protección.
Debe insistirse en que el patrimonio geológico
abarca múltiples aspectos que a menudo se olvidan.
Como ejemplo vaya el resguardo y mantenimiento de
colecciones centenarias de rocas, minerales y fósiles que
han soportado décadas de abandono.
Dada su particularidad, es necesario evaluar - en
el contexto de normas generales - medidas de protección
concretas para el patrimonio geológico, entendiendo
como parte de esto el desarrollo de legislación específica.
En la actualidad, tanto los destinos turísticos
más conocidos como aquellos menos tradicionales, pero
que también son visitados por gran cantidad de personas,
requieren como valor agregado la información geológica
como parte de las actividades recreativas y turísticas que
promueven la apreciación del medio natural. Estos
paisajes son inmejorables aliados para introducir a
terceros en el tema del patrimonio geológico.
Los resultados de cualquier estrategia de
prevención sólo se ven a largo plazo; el tiempo urge y se
debe asumir esta tarea como un compromiso.
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Manuscrito ID 31555
Submetido em abril de 2013
Aceito em julho de 2013
102
boletim paranaense
de geociências
volume 70 (2013) 103 - 119
Patrimônio geológico e mineiro no nordeste do Brasil
Geological and mining heritage in northeastern Brazil
MARCOS ANTONIO LEITE DO NASCIMENTO*, ANTONIO JOSÉ DOURADO ROCHA**,
MARJORIE CSEKO NOLASCO***.
*Universidade Federal do Rio Grande do Norte - [email protected]
**Serviço Geológico do Brasil (CPRM) - [email protected]
***Universidade Estadual de Feira de Santana - [email protected]
Resumo
O Nordeste brasileiro apresenta uma diversidade geológica ímpar e que faz parte do patrimônio geológico nacional. Esta região, em
termos de minerais, rochas, fósseis, paisagens (relevo), além de outros elementos da geodiversidade, apresenta exemplos dos mais
didáticos e completos, indo desde rochas antigas do embasamento cristalino (> 3 bilhões de anos) até as coberturas de dunas (< 5 mil
anos) e sedimentos recentes em seus leitos de rios, lagos e lagunas. Muitos desses exemplos constituem potenciais monumentos que vêm
atualmente despertando, além do interesse científico-didático, também turístico, histórico e cultural. No momento temos ao todos 164
geossítios cadastrados, espalhados em diferentes bases, constituindo 14 categorias temáticas, com destaque para a sedimentologia,
paleontologia e geomorfologia. São inúmeros os exemplos de patrimônio geológico-mineiro identificados, porém convém lembrar, que
esses são apenas uma pequena amostra do que o Nordeste possui. Conhecer melhor este patrimônio e protegê-lo é de suma importância,
haja vista que ele possui a particularidade de ser único e irrecuperável: uma vez deteriorado estará perdido para sempre!
Palavras-chave: Patrimônio Geológico; Patrimônio Mineiro; Nordeste.
Abstract
The Brazilian Northeast has a unique geological diversity and is part of the national geological heritage. This region, in terms of minerals,
rocks, fossils, landscapes (relief), and other elements of geodiversity, presents examples of the most instructive and comprehensive,
ranging from ancient rocks of the crystalline basement (> 3 billion years) until the coverage dunes (<5000 years) and recent sediments in
their beds of rivers, lakes and lagoons. Many of these examples are potential monuments, which are now awakening, as well as scientific
interest-didactic, too touristic, historical and cultural. At the moment we have all 164 geosites, scattered in different bases, constituting 14
thematic categories, with emphasis on sedimentology, paleontology and geomorphology. There are countless examples of geologicalmining heritage identified but it should be remembered that these are only a small sample of what the Northeast has. Better understand
this heritage and protecting it is importance, given that it has the particularity of being unique and irretrievable: once decayed is lost
forever!
Key words: Geological Heritage; Mining Heritage; Northeast.
1. INTRODUÇÃO
Recursos Naturais são todas as partes
componentes da natureza, exceto o homem e os seus
produtos, que possam ser pelo mesmo aproveitadas de
diferentes formas. Assim a palavra recurso natural esta
vinculada a uso e não envolve valor intrínseco dado a
natureza ou as divisões nela estabelecidas pelo homem.
Os recursos dividem-se em bióticos e abióticos, em
grandes termos. Os primeiros são em sua maioria
renováveis se respeitados os seus ciclos geracionais e os
segundos envolvem recursos similares conduzidos por
ciclos puramente geoquímicos como a água e o ar (autolimpantes) e não renováveis, ou seja, de uso não
retornável ao meio, a exemplo dos minerais, rochas,
recursos energéticos (carvão mineral, hulha, óleo) cujo
uso pelo homem implica na sua supressão da natureza.
Aqui vale apontar que estes últimos podem sofrer, depois
da retirada e primeiro uso, reciclagem, reutilização,
reduzindo a necessidade de retirada primária, como
todos os demais recursos. Mas não podem ser criados,
plantados, ou ter seu ciclo de reconstituição respeitado,
pois não apresentam tal processo, exceto no tempo
geológico, ao qual o homem e suas necessidades não
pode se submeter ou esperar.
Dentro destes recursos ditos energéticos ou
minerais fósseis estão alguns cujo uso o homem não
consegue mais abrir mão, apesar de conseguir reduzir
seu volume de retirada primária, pois apresentam
importância hoje similar a água, ar e energia. Como
exemplo pode-se citar: o vidro (sílica ou quartzo), os
plásticos (petróleo), diversos metais como o ferro,
chumbo, alumínio; os materiais de construção como
blocos, tijolos, filtros e telhas (argilas) areia, fragmento
de rocha, o cimento (calcário); os minerais de usos
tecnológicos como terras raras, titânio, ouro, diamante;
entre muitos outros. Eles atendem no dia a dia, na saúde,
na habitação, na escola, no avanço da ciência e da cultura.
Como se pode perceber a relação entre o
homem e os minerais e rochas é intensa e antiga e deste
longo aprendizado tem resultado toda(s) a(s)
103
Nascimento/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 103-119
civilização(ões) humana(s), conclui-se o homem é
minero-dependente!
Deve se destacar que a configuração geológica
define a própria escolha de locais de fixação e
urbanização, ou colonização e dominação, pela
disponibilidade de recursos. Por isto mesmo o desenho
da ocupação ou urbis denuncia, ainda hoje, os dois mais
importantes deles: a conformação da paisagem no
quesito acesso e segurança e a presença da água- um
recurso necessário a vida e de múltiplos usos, ao longo da
qual se extende toda a civilização, para não adentrar na
conquista do fogo.
A maioria dos recursos citados tem origem
direta ou indireta na mineração, assim sendo a mina é a
expressão do uso dos recursos abióticos, a mais clara e
uma das mais antigas marcas da relação entre a
sociedade e a geodiversidade e da dependência
geológica da humanidade.
Patrimônio diz de herança, daquilo que fala
sobre a identidade de um grupo, de um local, região, do
mundo! Algo relevante, marcante em cada nível ou em
todos eles, para o Homem. Pode ter várias tipologias,
como o recurso, as mais amplas delas são material e
imaterial, além de natural ou cultural que podem se
mesclar com os anteriores. Em ambas as divisões, os
primeiros grupos (material e cultural) são fartamente
conhecidos e trabalhados, como em edificações,
tombamento de monumentos, prédios, moveis,
esculturas e mesmo em alguns raros casos, em áreas
mineiras especialmente de ouro.
Já os termos Patrimônio Natural e Imaterial são
menos difundidos, refere-se o primeiro a paisagens,
artes rupestres pré-históricas e outros sítios
arqueológicos e, o segundo, a memória no seu aspecto
não documental e ao que não é tocável, mas relaciona-se
a manifestações culturais e sociais, como festejos e
costumes, a música, as históricas contadas e ao
artesanato.
Contextualizado os conceitos e suas definições,
será que as minas e a mineração fazem parte da
memória, ou mais amplamente da herança de um povo?
Deve-se registrar que é mais comum e usual o
reconhecimento do rural no agropecuário, no
extrativismo animal e vegetal como atividades de povos
tradicionais. Talvez, por desconhecimento ou um silêncio
pouco esclarecido, ou ainda por não serem os povos
mineiros dados a conversas ou aparições, o extrativismo
mineral, a atividade minera ou ainda mais longe
garimpeira, não é reconhecida formalmente. Entretanto,
em diversos países da Europa e America Latina,
especialmente de influência espanhola, já se reconhece e
indica a existência de um patrimônio mineiro.
Uma mina expõe o patrimônio geológico de
uma região como poucos pontos do planeta, permitindo
a formação de profissionais diversos e o entendimento
do funcionamento da “nossa casa” Terra, assim ela
guarda patrimônio dito natural, do tipo geológico.
Também guarda toda a memória das técnicas e das
dificuldades dos povos das minas, para o bem e para o
mal, a forma como lidamos e nos apropriamos dos
recursos, implicando patrimônio imaterial e material.
Seja no alto dos Andes, nos Pirineus, na Chapada
Diamantina ou em Diamantina, ou mesmo em Carajás.
Da prata ao sal, do diamante ao ferro, a história da
evolução humana, dos domínios entre os povos, e da
tecnologia, esta marcada e conduzida pelo fazer mineiro
e seu desenvolvimento.
O povo que trabalha dentro da Terra, ou é
herdeiro destes, compreende ou aprende como poucos a
entendê-la, a reverenciá-la, a respeitá-la como força que
cria trabalho e possibilidades e também que mata! Uma
noção que assusta outros grupos profissionais e
populações não mineiras. Sua forma de ser, suas
histórias, suas músicas, seus “causos” são moldados pela
sua relação com a rocha, o minério, a paisagem,
configurando arraigados vínculos com a mineração e
patrimônio imaterial.
Não é possível entender em separado este
patrimônio. O patrimônio mineiro é um patrimônio
misto: material no que diz respeito ao natural que é
geológico e paisagístico, histórico no que se traduz
industrial e arquitetônico, tecnológico e documental e
imaterial tanto cultural como também histórico centrado
na memória, na cultura, nas artes e no trabalho, ou seja,
na natureza da relação dos grupamentos mineiros e
garimpeiros com as rochas.
Assim, apresentar o patrimônio geológicomineiro do Nordeste do Brasil é o objetivo principal desse
artigo. Conhecê-lo é de suma importância para protegêlo, pois só se cuida daquilo que se conhece!
2. PATRIMÔNIO GEOLÓGICO E MINEIRO
O patrimônio pode ser considerado como bem
ou conjunto de bens culturais ou naturais, de valor
reconhecido para determinada localidade, região ou
país, ou para a humanidade, e que, ao se tornar(em)
protegido(s), como por exemplo, pelo tombamento,
deve(m) ser protegido(s) para o usufruto de todos os
cidadãos. Portanto, o conceito de patrimônio é muito
amplo e está associado a uma herança comum, que tem
importância para uma dada região, um dado país ou
mesmo para toda a humanidade. Os bens culturais e
naturais, saberes e modos de fazer pertencem a todos e,
portanto, devem ser cuidados para que não se percam.
Integra o patrimônio natural, o patrimônio
geológico, que é constituído pelos geossítios (sítios
geológicos ou locais de interesse geológico) que
registram a memória da história da Terra, num período
que alcança milhares, milhões e até bilhões de anos e que
incluem (i) afloramentos de rochas; (ii) minerais; (iii)
fósseis; (iv) conjuntos de valor paisagístico: serras,
montanhas, picos, vales; e (v) coleções de museus de
geociências ou de história natural. Porém, quando esses
104
Nascimento/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 103-119
elementos da geodiversidade se encontram em um
espaço territorial compreendido por atividades de
extração, a esse conjunto é dado o nome de patrimônio
mineiro. Assim é inegável a forte associação entre esses
dois tipos de patrimônios, o geológico e o mineiro,
mesmo os mesmos sendo considerados tipos de
patrimônios distintos. Para Brilha (2005), dada a
diferença de conceitos e metodologias, esses dois termos
devem ser mantidos separados.
Um geossítio é considerado a “ocorrência de um
ou mais elementos da geodiversidade (aflorantes quer
por resultado da ação de processos naturais, quer devido
à intervenção do homem), bem delimitado
geograficamente e que apresenta valor singular do ponto
de vista científico, educativo, cultural, turístico ou outro”
(Brilha, 2005).
O conceito de patrimônio geológico está
estreitamente relacionado à geodiversidade, contudo
este patrimônio não deve ser encarado como sinônimo
de geodiversidade, esta sendo a variedade de ambientes
geológicos, fenômenos e processos ativos que dão
origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e
outros depósitos superficiais que são o suporte para a
vida na Terra. O patrimônio geológico é apenas uma
pequena parcela da geodiversidade, que apresenta
características especiais e, por conseguinte,
merece/necessita ser conservado.
Assim, o patrimônio geológico é definido como
“o conjunto de geossítios inventariados, caracterizados e
bem delimitados geograficamente, em uma dada área ou
região, onde ocorrem um ou mais elementos da
geodiversidade com elevado valor científico, pedagógico,
cultural, turístico e outro” (Brilha, 2005; Nascimento et
al. 2008).
De acordo com Cortés (1996) esse patrimônio
pode ser classificado pelo seu conteúdo em
E s t r a t i g r á f i c o , P a l e o n t o l ó g i c o , Te c t ô n i c o ,
Hidrogeológico, Petrológico, Geotécnico, Mineiro,
Mineralógico, Geomorfológico, Geofísico, Geoquímico e
Museus e coleções, entre outros. Vale ressaltar aqui que
este autor credita o “mineiro” como um tipo de
patrimônio geológico.
3. OS DIFERENTES TIPOS DE PATRIMÔNIO GEOLÓGICO
Uma das primeiras providências para se
desenvolver qualquer atividade ligada a geodiversidade
(e, consequentemente, ao seu patrimônio geológicomineiro) é a identificação de aspectos geológicos com
particular valor científico, educativo ou turístico. Neste
último caso, no nordeste brasileiro, por exemplo, sem
dúvida, muitos locais de interesse geológico já eram
atrações turísticas antes de os geocientistas os terem
estudados. Alguns são verdadeiros cartões-postais, que
servem, inclusive, para atrair turistas do exterior, com
destaque para Lençóis Maranhenses (MA); Jericoacara e
Canoa Quebrada no litoral cearense (CE); Cânion do Rio
São Francisco (Al/SE); Morro do Careca e Dunas de
Jenipabu (RN), entre muitos outros.
O Nordeste, por sua geodiversidade, é detentor
de inúmeras feições geológicas que possuem
características de patrimônio. A seguir, serão
apresentados exemplos de geossítios nas diversas
categorias em que o patrimônio geológico pode ser
classificado: geomorfológico, paleontológico,
espeleológico, sedimentológico, paleoambiental,
marinho e tectônico; acrescentando ao final o
patrimônio mineiro, este sempre intimamente ligado ao
patrimônio geológico.
3.1. PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO
No Nordeste brasileiro, o relevo se destaca
proporcionando paisagens de grande beleza cênica com
mirantes que permitem a contemplação dessas áreas,
formadas por chapadas, serras, picos, morros e
cachoeiras, cujos melhores exemplos são: Chapada
Diamantina (BA), Serra da Capivara e Sete Cidades (PI);
pico vulcânico do Cabugi (RN), dentre muitos outros.
De forma geral, nesse relevo destacam-se duas
categorias de altos topográficos, ambas com sua base
constituída por rochas cristalinas (metamórficas e/ou
ígneas). Uma categoria possui no topo coberturas
sedimentares identificadas pelo topo plano (as
conhecidas chapadas). Estas estão representadas pelas
serras de Santana, dos Martins e Portalegre (ambas no
RN) e pelas chapadas sustentadas por rochas
sedimentares, no caso Chapada do Araripe (CE/PE/PB),
Chapada do Apodi (RN/CE), Chapada da Ibiapaba (CE/PI)
e Chapada Diamantina (BA) (Figuras 1 a 6). Aquelas
constituídas unicamente por rochas cristalinas, portanto
formadas por litologias ígneas e/ou metamórficas,
mostram-se com topo pontiagudo ou irregular. Na
constituição desse relevo, destacam-se as serras, os picos
e afloramentos de rochas cujos melhores exemplos são
as serras/picos do Cabugi e do Totoró (RN), do Jabre (PB),
entre outras. Essas serras e picos são formados
principalmente por granitos, basaltos, mármores e
gnaisses. Locais como o Morro do Pai Inácio-BA (Pedreira
& Bomfim, 2002), o Parque Nacional de Sete Cidades-PI
(Della Favera, 2002), os Eolinitos de Flecheiras/MundaúCE (Carvalho et al. 2009) e a Ponta de Jericoacara-CE
(Julio et al. 2012) fazem parte do cadastro de geossítios
da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e
Paleobiológicos (SIGEP).
105
Nascimento/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 103-119
Figura 1 – Exemplo de feições geomorfológicas identificado no
Nordeste. Morro do Pai Inácio, Chapada Diamantina (BA).
Figura 4 – Exemplo de feições geomorfológicas identificado no
Nordeste. Serra de Portalagre (RN).
Figura 2 – Exemplo de feições geomorfológicas identificado no
Nordeste. Chapada do Araripe (CE).
Figura 5 – Exemplo de feições geomorfológicas identificado no
Nordeste. Pico do Totoró (RN).
Figura 3 – Exemplo de feições geomorfológicas identificado no
Nordeste. Pedra da Tartaruga, Parque Nacional Sete Cidades
(PI).
Figura 6 – Exemplo de feições geomorfológicas identificado no
Nordeste. Pico do Cabugi (RN).
106
Nascimento/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 103-119
A atuação dos processos erosivos, com
predomínio de erosão diferencial, juntamente com a
atuação dos processos de intemperismo, proporcionam
o desgaste da rocha, com a conseqüente formação do
cenário atual.
No litoral do Nordeste do Brasil, a paisagem se
destaca pela presença de falésias, escarpas costeiras
abruptas, muitas vezes não cobertas por vegetação, que
se localizam na linha de contato entre a terra e o mar,
sendo do tipo ativa ou inativa, especialmente entre os
estados do Ceará e da Bahia. A associação desse
patrimônio com o patrimônio sedimentológico é bem
evidente, em geral, essas paisagens são formadas por
arenitos e conglomerados, principalmente da Formação
Barreiras. Como alguns exemplos de destaque, têm-se as
falésias de Pipa (RN), Ponta Grossa (CE) e Porto Seguro
(BA). Outros atrativos paisagísticos do litoral nordestino
são as dunas geradas por acumulação de areia
depositada pela ação do vento, podendo ser fixas ou
móveis. Muitas dessas dunas são consideradas cartõespostais dos lugares onde ocorrem. É o caso das dunas dos
Lençóis Maranhenses (MA), do Morro do Careca (RN) e
da área da Lagoa do Abaeté em Salvador (BA) (Figuras 7 a
10). Destacam-se ainda os cordões de arenitos
encontrados em boa parte do litoral nordestino,
descritos como beachrocks (ou arenitos praiais) que
servem como substrato rochoso para acúmulos de
diferentes tipos de corais. Locais como o Campo de
Dunas inativas do médio Rio São Francisco-BA (Barreto et
al. 2002), a Costa do Descobrimento do Brasil-BA
(Dominguez et al. 2002), o Cânion do Rio Sergi-BA
(Pedreira 2002) e os Arrecifes-PE (Barreto et al. 2010)
fazem parte do cadastro de geossítios da Comissão
Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP).
Figura 7 – Exemplo de feições geomorfológicas litorâneas
observado no Nordeste. Falésias da Praia de Pipa (RN).
Figura 8 – Exemplo de feições geomorfológicas litorâneas
observado no Nordeste. Falésias da Praia de Ponta Grossa (CE).
Figura 9 – Exemplo de feições geomorfológicas litorâneas
observado no Nordeste. Dunas dos Lençóis Maranhenses (MA).
Figura 10 – Exemplo de feições geomorfológicas litorâneas
observado no Nordeste. Dunas do Morro do Careca (RN).
107
Nascimento/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 103-119
A intenção de utilizar a paisagem (e seu relevo)
como atração geoturística, por exemplo, vem da
necessidade de cobrir uma lacuna do ponto de vista da
informação. A idéia é permitir que o observador (um
turista, por exemplo) não só contemple aquelas
paisagens, mas também entenda algo sobre os processos
geológicos responsáveis por sua formação, o que
acarretaria maior valorização do cenário.
3.2. PATRIMÔNIO PALEONTOLÓGICO
O fascínio em saber algo sobre o passado da
vida na Terra faz com que os locais onde existem esses
registros sejam hoje sítios paleontológicos bastante
visitados.
No Nordeste, são inúmeros os sítios
paleontológicos, destacando-se a Chapada do Araripe
(CE-PE), o Vale dos Dinossauros (PB), a rica fauna
pleistocênica da Serra da Capivara (PI), os estromatólitos
das fazendas Cristal e Arrecife (BA), o Lajedo do Apodi
(RN), os tanques fossilíferos de Itapipoca (CE) e São
Rafael (RN), entre muitos outros (Figuras 11 a 14). O
principal interesse em um sítio paleontológico é a
presença de fósseis, que compreendem restos ou
vestígios deixados nas rochas por animais e/ou plantas
no passado geológico.
Figura 12 – Exemplo de patrimônio paleontológico no
Nordeste. Pegada de dinossauro no Vale dos Dinossauros em
Sousa (PB).
Figura 13 – Exemplo de patrimônio paleontológico no
Nordeste. Estromatólito na Fazenda Arrecife (BA).
Figura 11 – Exemplo de patrimônio paleontológico no
Nordeste. Fóssil de inseto libélula (símbolo do Museu de
Paleontologia de Santana do Cariri, CE).
Figura 14 – Exemplo de patrimônio paleontológico no
Nordeste. Fóssil de megafauna no Lajedo de Soledade (RN).
108
Nascimento/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 103-119
Um excelente exemplo de sítios
paleontológicos no Nordeste brasileiro está no
Geoparque Araripe, primeiro geoparque nacional com
reconhecimento da Rede Global de Geoparques sob os
auspícios da UNESCO. Provavelmente, a região é a mais
rica em depósitos de vertebrados fósseis do Brasil e um
dos mais importantes do mundo, chamando a atenção
pelo excelente estado de preservação. É de lá a origem
dos milhares de fósseis de peixes encontrados nas feiras
e lojas por todo o Brasil – vale salientar que o comércio de
fósseis é crime. No geoparque, ocorrem fósseis de
dinossauros (mais raros), bem como de peixes,
tartarugas, crocodilianos, pterossauros, foraminíferos,
crustáceos, gastrópodes, ostracóides, bivalves e
equinóides. A região oferece uma possibilidade única
para se compreender parte importante do passado
geológico e da vida na Terra.
Em muitos sítios paleontológicos são
encontradas também artes rupestres (pinturas e
gravuras) representando aspectos do dia-a-dia, danças,
ritos e cerimônias dos antigos habitantes da região, além
de figuras de animais, alguns já extintos. Essas artes préhistóricas, com idades que variam de 2 a 12 mil anos,
estão gravadas em paredões de rochas. Vale salientar
que, muitas vezes, as artes rupestres fazem parte dos
sítios paleontológicos; todavia, estas são consideradas
patrimônio cultural e protegidas pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e,
portanto, enquadram-se no patrimônio cultural.
Outros sítios paleontológicos do nordeste estão
cadastrados junto a Comissão Brasileira de Sítios
Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), são eles: Fazendo
Cristal-BA (Srivastava & Rocha 2002a), Fazendo ArrecifeBA (Srivastava & Rocha 2002b), Icnofósseis da Bacia do
Rio do Peixe-PB (Leonardi & Carvalho 2002), Membro
Crato da Formação Santana-CE (Viana & Neumann 2002),
Membro Romualdo da Formação Santana (Kellner 2002),
Toca da Janela da Barra do Antonião-PI (Guerin et al.
2002), Lajedo de Soledade-RN (Porpino et al. 2009),
Tanques Fossilíferos de Itapipoca-CE (Ximenes 2009) e
Afloramento Fossilífero de Oiti-PI (Pociano et al. 2010).
16,3 km de extensão – terceira maior caverna descoberta
no país. As principais cavernas de interesse ocorrem na
região da Chapada Diamantina, com várias de grande
extensão e beleza, como a Lapa Doce. Registra-se, ainda,
a região de Campo Formoso, que apresenta as duas
maiores cavernas do país: Toca da Boa Vista (Auler &
Smart, 2002) e Toca da Barriguda, com 105 km e 32 km de
extensão, respectivamente. No município de Morro do
Chapéu existem a Gruta dos Brejões com 7 km de
extensão, com grande diversidade de espeleotemas, e a
caverna do Cristal, com cerca 4 km de extensão,
praticamente desprovida de espeleotemas, embora com
potencial paleontológico (Figuras 15 e 16).
Figura 15 – Exemplo de patrimônio espeleológico no Nordeste.
Gruta dos Brejões (BA), formada em calcários.
3.3. PATRIMÔNIO ESPELEOLÓGICO
Esse tipo de patrimônio se refere às cavernas
que se desenvolvem, principalmente, em calcários e
mármores, embora ocorram também em formações
ferríferas bandadas, arenitos, quartzitos e granitos. Esse
tipo de relevo apresenta um conjunto de feições muito
características que, além das próprias cavernas,
configuram uma grande beleza cênica, como maciços
rochosos expostos, paredões ou escarpas, vales, torres,
depressões, dolinas, lagoas, além dos espeleotemas
(estalactites, estalagmites, bolo de noiva, etc).
Segundo Auler & Zogbi (2005), o Nordeste é
uma região favorável à descoberta de novas grutas. Na
Bahia, por exemplo, destaca-se a Gruta do Padre, com
Figura 16 – Exemplo de patrimônio espeleológico no Nordeste.
Casa de Pedra de Martins (RN), formada em mármore.
109
Nascimento/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 103-119
No Ceará, uma das mais conhecidas é a Gruta de
Ubajara, um dos parques nacionais mais antigos do
Brasil. No Rio Grande do Norte, a região entre Felipe
Guerra e Apodi concentra a maior quantidade de
cavernas, com destaque para a Casa de Pedra de Martins,
considerada a segunda maior caverna em mármore do
Brasil.
Muitas cavernas no Nordeste já são
consideradas de uso turístico. Esse tipo de geoturismo,
também denominado “turismo espeleológico” (ou
espeleoturismo), é a prática puramente esportiva e
recreativa de visitação às cavernas, mas que deve ser
realizada com o auxílio de especialistas. Para Auler &
Zogbi (2005), a abertura de uma caverna para o turismo
em massa provoca uma série de intervenções que podem
vir a alterar ou mesmo danificar permanentemente a
caverna. A instalação de luz artificial, por exemplo, pode
levar à alteração da temperatura e da umidade da
caverna. Uma das cavernas mais impactadas pela
adaptação para o turismo é a Furna dos Morcegos (SE),
próxima a Paulo Afonso (BA). Nessa gruta, a escavação de
um elevador na rocha e a construção de um enorme
chafariz descaracterizaram irreversivelmente o ambiente
da caverna.
Na lista dos sítios espeleológicos cadastrados na
Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e
Paleobiológicos (SIGEP) estão a Toca da Boa Vista-BA
(Auler & Smart 2002), as Grutas de Iraquara-BA
(Laureano & Cruz Jr. 2002), a Lapa dos Brejões-BA
(Berbert-Born & Karmann 2002) e o Poço Encantado-BA
(Karmann et al. 2002).
Figura 17 – Exemplo de patrimônio paleoambiental no
Nordeste. Calcários da Pedreira Poty (PE) onde ocorre registro
do limite K-T.
3.4. PATRIMÔNIO PALEOAMBIENTAL
Os paleoambientes correspondem aos
ambientes antigos em que ocorreu a formação das
rochas. A reconstituição dos paleoambientes exige o
estudo das fácies, características litológicas e
paleontológicas das formações geológicas, que
permitem compreender e interpretar o ambiente
existente quando o estrato sedimentar se formou.
No Nordeste brasileiro alguns geossítios,
inclusive cadastrados na Comissão Brasileira de Sítios
Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), são considerados
patrimônio paleoambiental, como é o caso das serras do
Tombador (Pedreira & Rocha 2002) e do Sincorá
(Pedreira 2002), ambas na Chapada Diamantina (BA),
sendo a primeira um belo registro de um deserto antigo
e, a segunda, exemplo de paleopláceres de diamante
com beleza paisagística. Os calcários da Pedreira Poty
(PE) (Albertão & Martins Jr. 2009) mostram evidências de
um evento catastrófico no primeiro registro do limite K-T
descrito na América do Sul, enquanto na região de Brejo
do Piauí (PI) são descritos pavimentos estriados (Caputo
& Ponciano 2010), registrando geleiras continentais com
cerca de 360 milhões de anos (Figuras 17 e 18).
Figura 18 – Exemplo de patrimônio paleoambiental no
Nordeste. Pavimentos estriados na região de Brejo do Piauí (PI)
evidenciando antiga geleira.
3.5. PATRIMÔNIO TECTÔNICO
Esse tipo de patrimônio está ligado a qualquer
processo geológico em que se tem movimentação ou
deslocamento de massas rochosas, construindo ou
reorganizando a estrutura terrestre devido a tensões
crustais, por exemplo, orogênese, epirogênese,
falhamentos, diapirismo, etc.
Assim, feições estruturais ímpares impressas
sobre as rochas podem ser identificadas como
patrimônio, a exemplo das importantes deformações
tectônicas cenozóicas observadas em rochas
sedimentares da Formação Barreiras nas falésias na Praia
de Ponta Grossa (CE) (Sousa et al. 2009), já cadastrada na
lista da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e
Paleobiológicos (SIGEP), bem como a Falha Geológica de
Salvador (BA), esta caracterizando o desnível existente
entra a Cidade Alta e a Cidade Baixa da capital da Bahia.
Olhando em direção ao Elevador Lacerda, observa-se
110
Nascimento/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 103-119
ao fundo um paredão de rocha. Essa escarpa que une a
Cidade Alta e a Cidade Baixa - incluindo toda a faixa
esverdeada pela vegetação - define o Plano da Falha
Geológica de Salvador (Figuras 19 e 20).
nordeste chegou-se a 164 geossítios identificados,
embora vários ainda não possuam a respectiva descrição
e, inclusive, em alguns casos as coordenadas não estejam
disponíveis (Figura 21). Para tal levantamento lançou-se
mão de fontes bibliográficas (Figura 22), descritas abaixo:
? 19 geossítios - Schobbenhaus et al 2002;
? 08 geossítios - Winge et al 2009;
? 03 geossítios - Wing et al (no prelo);
? 14 geossítios - Já aprovados pela SIGEP;
? 47 geossítios - Cadastrados no aplicativo
GEOSSIT desenvolvido pela CPRM;
? 25 geossítios Dsiponibilidados na Tese de
Doutorado de Pereira (2010);
Figura 19 – Exemplo de patrimônio tectônico no Nordeste.
Falésias na Praia de Ponta Grossa (CE).
Figura 20 – Exemplo de patrimônio tectônico no Nordeste.
Escarpa de Falha na cidade de Salvador (BA).
? 48 geossítios - Schobbenhaus & Silva 2012.
Figura 21 – Total de geossítios identificados na região nordeste
(dados de Abril de 2013).
4. ESTÁGIO ATUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE GEOSSÍTIOS
NO NORDESTE
A região nordeste do Brasil possui uma grande
diversificação litológica, com ampla distribuição ao longo
da escala de tempo geológico. Este fato implica em uma
responsabilidade da comunidade local com a
preservação dos geossítios que constituem patrimônio
geológico desta região. Essa responsabilidade deve ser
compartilhada pelos geólogos e demais profissionais que
atuam na área, entidades de classe, órgãos públicos e
empresas particulares, além das universidades.
Neste sentido, o passo inicial seria decidir o que
deve ser protegido. Essa decisão exige a realização de um
inventário amplo (estadual, por exemplo) sistemático de
geossítios, que poderia ser desenvolvido tendo como
base as unidade litológicas, na escala 1:250.000, que
constam do GEOBANK (Banco de Dados) da CPRM.
Em um levantamento realizado para a região
Figura 22 – Fontes consultadas para identificação dos geossítios
na região nordeste.
111
Nascimento/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 103-119
A análise por estados mostra a Bahia com o
maior número de geossítios identificados (Figuras 23 e
24). No outro extremo está o estado de Alagoas, com um
geossítio identificado. Esta situação decorre,
provavelmente, no primeiro caso da presença de
universidade, unidade regional da CPRM, órgão estadual
com atuação no setor mineral ou tradição de pesquisa
em algum campo da geologia, a exemplo da
paleontologia. E, no segundo caso do fato de não existir
um curso de geologia no estado, nem a presença de uma
Superintendência ou Núcleo da CPRM em Maceió.
De uma maneira geral o atual cenário de
identificação de geossítios reflete também a ação
individual de alguns pesquisadores, bem como o fato de
que algumas instituições já se mostram receptivas ao
assunto.
Figura 23 – Distribuição da quantidade de geossítios por
estados no nordeste.
Figura 24 – Distribuição dos geossítios por estados no nordeste.
112
Nascimento/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 103-119
Os geossítios identificados estão distribuídos em 14 categorias temáticas, com destaque para a sedimentologia,
paleontologia e geomorfologia (Figura 25).
Figura 25 – Classificação temática para os geossítios encontrados no nordeste.
O cenário atual relativo ao número de geossítios, distribuição por estados e número de classes temáticas, deverá
ter alterações profundas, na medida em que sejam implementados os cadastramentos estaduais. Esse cadastramento pode
ser conduzido pelos estados, de acordo com uma sistemática a ser estabelecida, ou mesmo venha ser realizado pela CPRM.
Neste último caso teríamos 3 cenários distintos (Tabela 1):
Projetos
Características do Geossítio
Vantagens
Desvantagens
Em desenvolvimento
Ao final dos trabalhos o chefe
do projeto indica os
geossítios.
Baixo custo. Respostas a
curto e/ou médio prazo.
--------------------------------
O geólogo que foi o chefe do
projeto indica os geossítios.
Baixo custo. Respostas a
curto e/ou médio prazo.
A equipe do projeto pode
não mais pertencer aos
quadros da empresa.
Ao final dos trabalhos o chefe
do projeto indica os
geossítios.
Respostas a médio/longo
prazo.
Não é possível prever a data
de conclusão do projeto.
Concluído
A ser iniciado
Tabela 1 – Sistemática envolvida no cadastramento de geossítios.
113
Nascimento/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 103-119
Em face do tamanho e do grau de dificuldade da
tarefa, seguramente a CPRM deverá buscar parceiras,
preferencialmente com as universidades, que inclusive já
desenvolvem o cadastro em alguns estados do Nordeste.
5. PATRIMÔNIO MINEIRO
A mineração apresenta um potencial enorme
na divulgação dos elementos da geodiversidade. Essa
atividade já é bastante difundida em outros países e, no
Nordeste, tem forte potencial ainda a ser explorado.
A Mina Brejuí (Currais Novos – RN), localizada a
cerca de 180 km de Natal (RN), na região do Seridó
Potiguar, é um exemplo de sucesso no que se refere à
adaptação de uma mina para desenvolvimento de
atividade geoturística. Ela foi uma das maiores
produtoras de scheelita (minério rico em tungstênio) da
América do Sul, com sua exploração iniciada em 1943 e
tendo seu apogeu durante a Segunda Guerra Mundial.
Em 1996, essa mina teve suas atividades paralisadas,
retornando a elas no ano de 2005. No entanto, já a partir
de 2000, as atividades voltadas ao turismo começaram a
ser implantadas. Hoje, a mina Brejuí é considerada o
maior parque temático do Rio Grande do Norte, sendo
visitada diariamente por turistas e estudantes oriundos
de todas as regiões do Brasil e do exterior,
contabilizando-se mais de 30.000 turistas em visita à
mina. Os turistas e estudantes podem desfrutar das
riquezas históricas e culturais da mina por meio da
visitação aos túneis e galerias, dunas de rejeito, museu
mineral e outras atrações (Figura 26 a 29).
Figura 26 – Exemplo do patrimônio mineiro encontrado na
Mina Brejuí (Currais Novos, RN). Entrada com Parque Temático.
Figura 27 – Exemplo do patrimônio mineiro encontrado na
Mina Brejuí (Currais Novos, RN). Entrada do túnel preparado
para visitação (Galeria Fernando, nível 3378).
Figura 28 – Exemplo do patrimônio mineiro encontrado na
Mina Brejuí (Currais Novos, RN). Bica e vagonete utilizados para
descida e retirada do minério.
Figura 29 – Exemplo do patrimônio mineiro encontrado na
Mina Brejuí (Currais Novos, RN). Um dos salões visitados dentro
da Mina Brejuí.
114
Nascimento/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 103-119
Outra estratégia importante é criar roteiros que
integrem minas e garimpos, assim valorizando e
preservando esse rico patrimônio mineiro. Um exemplo
desse tipo de roteiro foi publicado por Liccardo &
Nascimento (2008) sendo definido como “Roteiro de
Turismo Mineral no Nordeste” (Figuras 30 a 32). Neste, o
passado e o presente registram a história, a identidade e
a cultura da região associada aos diferentes recursos
minerais encontrados em minas e garimpos. O
conhecimento geocientífico disponibilizado neste
roteiro valoriza o patrimônio geológico-mineiro,
tornando-o acessível às comunidades locais e aos
visitantes.
Esse roteiro é apresentado em consonância
com atrativos turísticos tradicionais, unindo quatro
estados do Nordeste e dois pólos de entrada do turismo
internacional (Natal/RN e Fortaleza/CE). Integra ainda
produção com potenciais consumidores. O trajeto
proposto parte de Natal/RN e termina em Fortaleza/CE,
mas pode ser utilizado em ambos os sentidos. Ao longo
desta rota são considerados os principais pólos com as
seguintes localidades: Natal/RN; Lajes Pintadas/RN com
produção de água-marinha e esmeralda, além de
minerais de coleção ligados aos pegmatitos e pedrasabão; Currais Novos/RN com a famosa Mina Brejuí
(scheelita), já transformada em atração turística, e um
núcleo de artesanato mineral e lapidação; Carnaúba dos
Dantas/RN com quartzo rosa, espessartita e berilo;
Parelhas/RN com turmalinas verdes, azuis e vermelhas,
água-marinha, heliodoro e outros; Equador/RN com
raríssimos euclásios azuis; Junco do Seridó/PB com a
única produção mundial de turmalina-da-Paraíba,
material que alcança preços de até 100 mil dólares por
grama e uma profusão de rochas ornamentais; Campina
Grande/PB com o Centro Gemológico do Nordeste;
Souza/PB, importante sítio paleontológico/arqueológico
dentro do trajeto, com as pegadas de dinossauros;
Tenente Ananias/RN com água-marinha e esmeralda;
Solonópole/CE com turmalina e água-marinha;
Quixeramobim/CE que produz berilo em seu entorno e é
um pólo de desenvolvimento de joalheria e
aproveitamento de materiais; Pedro II/PI com a segunda
maior produção mundial de opala nobre, associada à
Bacia Sedimentar do Parnaíba, e um forte núcleo de
artesanato mineral e joalheria; Buriti dos Montes/PI que
apresenta produção inicial de opala-de-fogo, também
ligada às rochas sedimentares. Este roteiro apresenta
uma série de atrativos geoturísticos ligados à paisagem
do sertão, propondo uma verdadeira interação do
intenso turismo que acontece no litoral com o interior
destes estados.
Figura 30 – Uso de minas e garimpos em roteiro de turismo mineral. Mapa do Roteiro de Turismo Mineral no Nordeste.
115
Nascimento/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 103-119
recursos bióticos) até as grandes minas, que são uma
forma elaborada de coleta (extração). Pode se observar
desde a pré-história exemplos desta dependência em
três linhas básicas que conduzem ao avanço cultural e
tecnológico:
1. Os registros do homem feito em pedras e com
insumos minerais, evoluindo para as tintas, o uso do
grafite e o laser.
2. As habitações que inicialmente usam a
própria paisagem em forma de grutas, lapas e cavernas,
seguida da moldagem de barro em varas, evoluindo até o
vidro e as ligas metálicas.
Figura 31 – Uso de minas e garimpos em roteiro de turismo
mineral. Fluorescência em scheelita da Mina Brejuí (RN).
Figura 32 – Uso de minas e garimpos em roteiro de turismo
mineral. Opala nobre produzida em Pedro II (PI).
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há poucos anos as pesquisas em geologia, que
eram voltadas quase exclusivamente para a prospecção
mineral, incorporaram a discussão do meio ambiente ao
ensino e à pesquisa, sintonizando rapidamente com as
exigências de uma conscientização mundial sobre as
relações do homem com seu habitat. As inúmeras linhas
de pesquisa, teses e publicações que surgiram deram
novo corpo ao estudo da geologia, inclusive aprimorando
e adaptando a extração mineral para minimização de
impactos.
A dependência do homem com relação a
extração/uso mineral evoluiu da coleta (como os
3. A saúde e a guerra, que se confundem e se
complementam, indo do bastão as pontas de flechas e
facas de pedra, da pólvora e das armas de metal e ogivas
nucleares as agulhas e bisturis a laser e equipamentos de
radioterapias.
Algo semelhante acontece hoje quanto à
inclusão da geodiversidade na ampla compreensão
ambiental. Encarar certos aspectos da geodiversidade
como algo valioso – Patrimônio no seu sentido mais
nobre – traz à tona uma mudança de paradigma, uma
nova conscientização do profissional em geociências.
Incluir o meio abiótico e fazer com que a sociedade
compreenda o estreito vínculo da biodiversidade com a
geodiversidade são hoje necessidades prementes. A
visão segmentada do meio ambiente dos anos passados
não serve mais num mundo globalizado de hoje, que
acompanha os processos naturais de transformação do
planeta – terremotos, tsunamis, furacões, vulcões - em
tempo real.
Assim, conhecer essa parte do patrimônio
natural, relacionado ao meio abiótico é de suma
importância e o nordeste brasileiro tem uma diversidade
geológica ímpar e que faz parte do patrimônio geológico
nacional. Percebe-se, por fim, que a região nordeste do
Brasil, em termos de minerais, rochas, fósseis, paisagens
(relevo) e outros elementos da geodiversidade,
apresenta exemplos dos mais didáticos e completos,
indo desde rochas antigas do embasamento cristalino (>
3 bilhões de anos) até as coberturas de dunas (< 5 mil
anos) e sedimentos recentes em seus leitos de rios, lagos
e lagunas. Muitos desses exemplos constituem
potenciais monumentos, que vêm atualmente
despertando, além do interesse científico-didático,
também interesses turístico, histórico e cultural. Tão
importante quanto, é o potencial nordestino em termos
de patrimônio mineiro.
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Nascimento/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 103-119
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Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e
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Manuscrito ID 31446
Submetido em abril de 2013
Aceito em julho de 2013
119
boletim paranaense
de geociências
volume 70 (2013) 137 - 155
Conservação e restauro do patrimônio geológico e sua
relevância para a geoconservação
Conservation and restoration of geological heritage and its relevance to geoconservation
KÁTIA LEITE MANSUR, LUIZA CORRAL MARTINS DE OLIVEIRA PONCIANO,
ALINE ROCHA DE SOUZA FERREIRA DE CASTRO, ISMAR DE SOUZA CARVALHO
Universidade Federal do Rio de Janeiro - [email protected] - [email protected] - [email protected] [email protected]
Resumo
O desenvolvimento e adaptação de metodologias e diretrizes específicas para a conservação e o restauro do patrimônio geológico in situ e
ex situ são temas relevantes para as ações voltadas para a Geoconservação. A fim de contribuir para o desenvolvimento desta área, foram
analisadas intervenções em monumentos e geossítios brasileiros e internacionais, visando sua preservação frente às ameaças naturais ou
antrópicas. Algumas medidas de conservação e restauro podem deteriorar o valor científico, didático e estético dos geossítios, quando
não é realizado um planejamento adequado e análise crítica prévia. São sugeridas algumas ações práticas para o controle da erosão e
outros efeitos do intemperismo, o restauro de geossítios danificados por vandalismo e a realização de projetos de educação patrimonial,
incluindo a participação de profissionais de diversas áreas para consolidar novos métodos de preservação do patrimônio geológico.
Palavras-chave: Geoconservação, Restauro, Educação Patrimonial, Patrimônio Geológico.
Abstract
This paper aims to highlight the necessity to develop and adapt methodologies and guidelines to conservation and restoration of the in
situ and ex situ geological heritage. At the moment, these issues have been superficially discussed in the available literature on
Geoconservation in Brazil. The interventions in national and international monuments and geosites were analyzed in form to contribute to
their preservation against natural and anthropogenic threats. Some conservation and restoration technics can damage the aesthetic,
scientific and didactic value of the geosites, if the responsible for its protection doesn´t make planning and critical analysis of the
interventions. It is suggested practical actions to erosion control and other weathering effects, to the restoration of geosites damaged by
vandalism and to the implementation of projects of heritage education. It is important too, the participation of professionals of several
knowledge areas to consolidate news approaches to the preservation of geological heritage.
Key words: Geoconservation, Restoration, Heritage Education, Geoheritage.
1. INTRODUÇÃO
Com base na análise das várias formas de
proteção do patrimônio cultural, Flores (2005) define
Preservação como todas as ações que beneficiam a
manutenção do bem cultural, incorporando, inclusive, a
legislação. Conservação é o conjunto de medidas
destinado a conter as deteriorações de um objeto ou
resguardá-lo de danos. Restauração é o trabalho de
recuperação feito em construção ou em objeto
parcialmente destruído ou é a intervenção que se realiza
num objeto com a finalidade de recompô-lo. Para Flores
(2011) a conservação visa interromper os processos de
deterioração, conferindo estabilidade à obra, enquanto a
restauração atua sobre um objeto para não apenas
conferir-lhe estabilidade, mas recuperar, ao máximo
possível, as informações nele contidas. Todas estas
definições foram apropriadas de análises sobre os bens
culturais e conclui-se que a preservação envolve a
conservação (prevenção ou manutenção) e a restauração
(recuperação) (Mansur 2011). A compreensão destes
conceitos pode variar de acordo com a área em que são
utilizados. Para o patrimônio geológico, no entanto,
parecem perfeitamente aplicáveis. Destaca-se que o
patrimônio paleontológico está incluso nesta análise.
O patrimônio cultural conta com a preocupação
sistemática para sua proteção desde a Revolução
Francesa, com a tomada de consciência após a destruição
de bens artístico- culturais e a decisão de restaurá-los,
além da expropriação dos bens do clero, dos imigrados e
da monarquia, o que configura, inclusive, o valor público
do patrimônio (Choay 2001).
Segundo Gonçalves (2002), é a distância
espacial ou temporal em relação àquilo que os bens
significam que os faz desejáveis e, consequentemente,
alvo das práticas de apropriação, restauração e
preservação. Enquanto significantes, esses objetos são
usados para significar uma realidade que jamais poderá
ser trazida por eles, uma realidade que será, como todo
objeto de desejo, para sempre ausente. As práticas de
apropriação, restauração e preservação desses objetos
137
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 137-155
são estruturalmente articuladas por um desejo
"permanente e insaciável" pela autenticidade, que é o
efeito de sua própria perda. O restauro possui uma Carta
Patrimonial específica (Cury 2000), a Carta de Veneza, de
1964, sobre a conservação e a restauração de
monumentos e sítios, embora o tema seja tratado desde
a Carta de Atenas, de 1931, que foi a primeira a ser
instituída no âmbito da Sociedade das Nações,
organismo internacional que antecedeu à Organização
das Nações Unidas – ONU. Merece menção a Carta de
Paris, de 1962, relativa à salvaguarda da beleza e do
caráter das paisagens e sítios e também se destaca a
importância do Parque Nacional de Yellowstone. Criado
em 1872, nos Estados Unidos, foi o primeiro parque a ser
preservado nos moldes atuais, sem a presença humana
(Bensusan 2006). Para Choay (2001) a Itália foi a primeira
nação a se preocupar com a conservação in situ dos seus
monumentos, ainda no século XIX.
No caso do patrimônio construído, antigamente
os reparos eram feitos substituindo-se toda a rocha
degradada por um material novo similar, o que destruía a
originalidade do monumento. Há, desta forma, que se
fazer uma discussão sobre os aspectos éticos e estéticos
da restauração (Fernandes 2008).
Serão apresentadas a seguir algumas tentativas
isoladas de proteção contra as ameaças naturais e
antrópicas, como a instalação de coberturas e até mesmo
o soterramento dos geossítios, que podem deteriorar o
valor científico, didático e estético destas localidades,
quando não é realizado um planejamento adequado e
análise crítica prévia.
Este trabalho tem ainda como objetivo enfatizar
a necessidade do desenvolvimento e adaptação de
metodologias específicas para a conservação e o restauro
do patrimônio geológico. Assim sendo, são sugeridas
linhas de ação para o controle da erosão, restauro de
geossítios danificados e projetos de educação
patrimonial, incluindo a participação de profissionais de
diversas áreas para consolidar novos métodos de
preservação do patrimônio geológico brasileiro.
Portanto, a fim de contribuir com a conservação
in situ dos geossítios e com a conservação ex situ das
amostras retiradas destas localidades (depositadas em
coleções científicas) e de seus registros associados,
optou-se por utilizar a separação proposta por Ponciano
et al. (2011) de elementos in situ e ex situ do patrimônio
geológico, a fim de aprofundar a discussão sobre as
metodologias mais adequadas para a conservação e
restauração dos elementos considerados como
patrimônio em seu lugar de origem ou fora dele.
O componente in situ do patrimônio geológico é
claramente identificado pela maioria dos geocientistas,
estando ainda em processo de reconhecimento pela
sociedade em geral. De outro modo, a caracterização do
componente ex situ é complexa até mesmo entre a
comunidade científica, ainda estando em debate quais
elementos podem ser incluídos e, mesmo, se os
elementos ex situ podem ser classificados como
patrimônio geológico.
Segundo Ponciano et al. (2011), acompanhando
o conceito de Brilha (2005), patrimônio geológico in situ
corresponde ao conjunto de depósitos minerais ou
fossilíferos (aflorantes ou não), paisagens e solos de uma
determinada região, bem delimitados geograficamente,
onde ocorrem elementos da geodiversidade com
singular valor do ponto de vista científico, didático,
cultural, estético, entre outros.
Os mesmos autores definem patrimônio
geológico ex situ como os exemplares da geodiversidade
retirados do seu sítio de origem para integrarem coleções
científicas de instituições de pesquisa e os registros
relacionados à coleta, guarda e estudo deste material e
de outros elementos da geodiversidade que apresentem
conspícuo valor científico, didático, cultural, estético,
histórico entre outros. Citam como exemplos: (1) as
coleções científicas de rochas, minerais, fósseis e solos
em museus, universidades e outros institutos de
pesquisa; (2) as publicações científicas raras ou históricas
(livros e artigos em periódicos); (3) os dados científicos
não publicados e com valor associado a aspectos da
história da ciência ou sobre descobertas científicas
(monografias, dissertações, teses, cadernetas de campo,
fotografias, filmes, ilustrações, mapas, perfis
estratigráficos, entre outros); (4) as reproduções
(réplicas, esculturas, desenhos e pinturas) de fósseis,
rochas e minerais e as reconstituições anatômicas,
biomecânicas, paleoambientais, paleoecológicas e
paleogeográficas realizadas com técnicas, métodos e
conhecimentos vigentes em época pretérita; e (5) os
instrumentos científicos e laboratórios antigos utilizados
no desenvolvimento de estudos geológicos,
paleontológicos e em áreas relacionadas.
2. MARCO CONCEITUAL
A deterioração das rochas pode ocorrer
lentamente para a escala humana, entretanto alguns
tipos são alterados com maior facilidade devido às suas
características intrínsecas e à ação antrópica.
Vandalismos e outros fatores, como a poluição
atmosférica e hídrica, aceleram o processo intempérico
(Reys et al. 2008).
A degradação natural das rochas pode ocorrer
por processos químicos e físicos, que podem ser
acelerados por agentes biológicos, devido (1) às reações
que se processam na superfície e nas descontinuidades
das rochas, com a formação de minerais secundários; (2)
aos fenômenos de expansão e contração dos minerais,
provocados por variações térmicas, abalos físicos de
várias origens, e por expansões decorrentes da geração
de minerais secundários (hidratação de minerais
argilosos expansivos, ação da tensão superficial da água
no decurso de processos naturais de saturação e
secagem, e ação das forças de cristalização de sais); e (3)
138
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 137-155
ao crescimento de micro-organismos e vegetais sobre as
rochas, além dos detritos fecais de diversos tipos de
animais, como pássaros, morcegos e roedores (AiresBarros 1991). Em cavernas, por exemplo, a simples
presença de visitantes pode aumentar a umidade relativa
do ambiente, o que pode danificar espeleotemas e
outros elementos do geossítio. Isto, quando não são
depredadas por visitantes, como vem ocorrendo desde
com as cavernas mais conhecidas do país, como a Gruta
de Maquiné, até outras de menores dimensões (Figuras 1
e 2).
da preservação do seu valor intrínseco. Por esta razão,
antes da intervenção, é necessário definir uma
metodologia adequada às características de cada
geossítio: documentar e registrar todas as ações
realizadas durante a restauração, a metodologia, os
materiais e as análises empregadas (modificado de Reys
et al. 2008). Um bom exemplo a ser citado é o estudo para
restauração de rochas no sítio arqueológico do Vale do
Côa, em Portugal, onde ensaios e experiências foram
realizados por empresas que utilizaram técnicas e
abordagens diversas, com o intuito de preservar pinturas
rupestres em xisto, ameaçadas por intemperismo e
erosão (Fernandes 2008). No Brasil, sítios arqueológicos
de alta relevância, sofrem com deterioração natural e
depredação antrópica (Figura 3 a 6).
Figura 1 – Espeleotemas danificados por depredação. Gruta de
Maquiné, MG, uma das mais importantes e famosas do Brasil
(Fotografia: Kátia Mansur, 2007).
Figura 3 – Deterioração natural em sítios arqueológicos.
Crescimento de líquen e vegetação sobre parte da exposição in
situ do Sambaqui da Tarioba, em Rio das Ostras, RJ. Em 2012
este sítio foi fechado temporariamente à visitação para que
fosse feita manutenção e higienização do afloramento
(Fotografia: Kátia Mansur, 2010).
Figura 2 – Espeleotemas danificados por depredação. Caverna
da Pedra Santa, em Cantagalo – RJ, uma das poucas cavernas
calcárias mapeadas no estado foi fechada para a visitação
porque seus espeleotemas vêm sendo destruídos (Fotografia:
IBAMA Nova Friburgo).
Por outro lado, deve-se destacar que
intervenções efetuadas com o objetivo de conservação e
restauro do patrimônio não devem ultrapassar o limiar
Figura 4 – Deterioração natural em sítios arqueológicos.
Eflorescência salina em painel de pinturas da Serra da Capivara,
Piauí (Fotografia: Ismar de Souza Carvalho, 2010).
139
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 137-155
Figura 5 – Depredação em sítios arqueológicos. Pintura
rupestre usada como alvo de tiros na Serra da Lua, Pará
(Fotografia: Marcela Nogueira de Andrade).
Figura 6 – Depredação em sítios arqueológicos. Pichação sobre
pintura rupestre na Pedra do Castelo, Piauí
(Fotografia:hyperlinK"http://www.restaurabr.org/siterestaura
br/ARC_Vol_3/CONSERVACAODEARTERUPESTRENONORDEST
EDOBRASILluiscavalcante.pdf"http://www.restaurabr.org/site
restaurabr/ARC_Vol_3/CONSERVACAO%20DE%20ARTE%20R
UPESTRE%20NO%20NORDESTE%20DO%20BRASIL%)uis%)20c
avalcante.pdf).
Os métodos hoje utilizados para restauro são cada vez
mais eficientes e consideram o aspecto final do bem
restaurado de formas variadas, de acordo com a
abordagem teórica escolhida. Desde o século XIX, duas
correntes se destacaram como tendências antagônicas
no ocidente, lideradas por Viollet-le-Duc, na França, e
John Ruskin, na Inglaterra. A tendência francesa é mais
intervencionista e defende o retorno, o mais próximo
possível, à aparência original do bem. Já a inglesa
defende a postura de que as intervenções sejam
realizadas apenas para a consolidação do monumento,
descartando as questões estéticas (Braga 2003).
A evolução desses conceitos resulta na teoria do
restauro crítico criada por Cesari Brandi na década de
1930, na Itália. Brandi estabelece critérios para
intervenções de restauro, onde são considerados tanto
valores estéticos quanto históricos. Reintegrações são
permitidas desde que preservando a autenticidade da
obra. O tratamento das lacunas deve ser reconhecível
quando visto de perto, buscando a unidade potencial da
obra. Dois princípios básicos foram estabelecidos: o de
utilização de materiais reversíveis e o da mínima
intervenção. Quando não é possível o uso de materiais
reversíveis, deve-se procurar por aqueles que aceitem
novos tratamentos, o que foi denominado como terceiro
princípio, o da compatibilidade (Brandi 2000).
A princípio, pode-se analisar o conceito de
patrimônio por sua origem etimológica, como sendo algo
de valor que é passado ou herdado por uma nova geração
(Gonçalves 2002; Assunção 2003). Na atualidade,
segundo Grunberg (2000), o significado permanece, e
pode ser também atribuído a um bem cultural, ou seja,
àquilo através do qual se pode compreender e identificar
uma determinada cultura, situado em um determinado
local e tempo. Um bem cultural ou um patrimônio
constituem uma evidência concreta de experiência do
passado. Se isso não ocorrer, não há sentido na sua
preservação (Grunberg 2000).
O próprio conceito de Patrimônio remete à ideia
de valor, o que nos permite lembrar o seu caráter de
signo. É uma poderosa construção sígnica, constituída e
instituída a partir de percepções identitárias e
integralmente vinculada ao sentimento de pertença, a
partir do qual se reflete em todos os jogos da memória e
se expressa em todas as representações sociais. Em
outras palavras, expressa as relações que cada grupo
social estabelece com a natureza ou com sua produção
cultural, estando diretamente influenciado pelas
maneiras sob as quais cada sociedade compreende
Natureza e Cultura (Scheiner 2006).
Um patrimônio pode ser dividido em bens
tangíveis e intangíveis. O primeiro reúne qualquer
evidência material, como construções e documentos. O
segundo corresponde aos elementos que não se
materializam, ocorrem em um determinado tempo, mas
não se perpetuam, como o modo de fazer, as danças, as
receitas culinárias, entre outros. Estes se preservam
140
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 137-155
através da tradição e da sua prática (Grunberg 2000). No
que tange ao patrimônio geológico, pode-se encontrar
estas duas formas. As técnicas de coleta, preparação,
métodos de lavra e outros modos de fazer são partes do
patrimônio intangível, enquanto que os afloramentos,
paisagens e amostras, por exemplo, são tangíveis.
Para Fonseca (2005), o patrimônio situa-se
entre dois pontos, o primeiro correspondente às
identidades coletivas, envolvendo questões como
memória e tradição, e o segundo envolvendo a sua
utilização como meio de legitimar a ideia de nação. Em
ambos os casos, o que muda é o valor simbólico atribuído
ao bem cultural. Ressalta-se que há o entendimento que
os bens naturais podem ser compreendidos como
culturais, uma vez que estão diretamente associados às
apropriações e atribuições de valor, produtos da ação
humana. Um objeto, uma paisagem, uma área, um
documento, ou até uma dança ou procissão, enquanto
estão apenas com a sua atribuição de funcionalidade,
não são patrimônio. A diferença está na interpretação
que autoridades legítimas realizam ao atribuir um valor
simbólico de excepcionalidade perante os demais (Lima
1997). A reinterpretação que se faz do produto cultural
ao qualificá-lo na categoria de bem cultural é uma
atribuição de valor, um juízo elaborado pelo campo
cultural que o consigna como elemento possuidor de
caráter diferencial, que o distingue, tornando-o especial
e em posição de destaque perante os demais objetos da
natureza (Lima 1999).
De modo diverso do patrimônio construído, as
metodologias de conservação e restauração do
patrimônio geológico são tratadas de modo disperso e
superficial na literatura. A maioria dos trabalhos
existentes aborda outras etapas das medidas necessárias
para a promoção da geoconservação, conforme indicado
por Brilha (2005).
de desenvolvimento sustentável no local na forma de
projetos de geoturismo e educação patrimonial.
Contudo, a continuidade das pesquisas científicas pode
ser afetada dependendo do tipo de estratégia de
conservação aplicada ao patrimônio in situ. Se o
tombamento for escolhido para um determinado
geossítio, as pesquisas que dependem de coleta de
material poderiam de ser interrompidas, por exemplo, se
isto não estiver previsto no ato normativo do
tombamento. Caso o sítio possua elementos muito
frágeis e mesmo assim seja divulgado para receber
turistas antes da instalação de estruturas de proteção, o
patrimônio pode acabar sendo rapidamente depredado
(Ponciano et al. 2011; Souza et al. 2007).
Para que a conservação do patrimônio in situ
seja efetiva é necessária uma estrutura de fiscalização
eficiente e a integração com outras políticas de
conservação, a fim de evitar vandalismos ou furtos nos
geossítios. Estes atos geralmente estão relacionados com
a ação de “paleo-piratas” ou “geovândalos”, grupos que
além de furtarem fósseis também destroem
afloramentos e seu entorno (Fedonkin et al. 2009).
Porém, alguns geocientistas (formados ou em formação)
também são responsáveis por diversos tipos de
depredação, seja por ignorância ou omissão. Marcações
de símbolos e números feitas em tinta permanente, por
exemplo, não deixam de ser pichações só porque foram
feitas por pesquisadores. Afloramentos históricos e
muito utilizados para fins científicos, didáticos e turísticos
deveriam ter ao menos suas partes principais
conservadas do melhor modo possível.
3. CONSERVAÇÃO DE SÍTIOS GEOLÓGICOS E
PALEONTOLÓGICOS IN SITU
A geoconservação, ou conservação do
patrimônio geológico, pressupõe a adoção de medidas
como inventário, quantificação, proteção legal,
divulgação, conservação e monitoramento de geossítios
(Brilha 2005). Existem diversas publicações tratando de
algumas destas medidas. No entanto, pouco material
encontra-se disponível sobre a conservação in situ do
patrimônio geológico na forma de geossítios ameaçados
pela ação antrópica ou natural.
A conservação de ao menos uma parte do
patrimônio geológico in situ poderia ser viabilizada
adaptando-se a metodologia da Arqueologia de
manutenção de blocos testemunhos (Delphim 2004),
assegurando assim que ao menos uma parte dos sítios
seja preservada para pesquisas futuras. Além da questão
científica, a conservação do patrimônio geológico in situ
também é relevante pela manutenção da potencialidade
Figura 7 – Amostra coletada na pista de pegadas de dinossauros
em Sousa, Paraíba, danificou a integridade do geossítio.
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Figura 8 – Afloramento de diamictito da Formação Bebedouro,
na Chapada Diamantina, onde a extração de amostras do clasto
de gnaisse causou danos ao afloramento (Fonte: Mansur, 2009).
Devido à maior exposição ao intemperismo, o
patrimônio geológico in situ deve ser constantemente
monitorado, pois, mesmo em locais com baixo impacto
antrópico, os processos naturais também causam a
destruição de exemplares da geodiversidade ou
inviabilizam o acesso aos afloramentos. Um exemplo de
conservação in situ integrada com o componente ex situ
é o do Museu “Phu Kum Khao Dinosaur Site”, na Tailândia
(Boonchai et al. 2009) e Geoparque Lesvos, na Grécia. No
Brasil, alguns exemplos de conservação in situ
combinada com musealização de sítios arqueológicos
também são conhecidos, como sambaquis no Rio de
Janeiro e petroglifos em Santa Catarina (Figuras 9 a 14).
Assim, com o objetivo de reduzir os efeitos da exposição
contínua às alterações naturais, diversos tipos de
estruturas de proteção são construídos, como
coberturas para sombreamento ou isolamento do
material, andaimes para controlar e facilitar o acesso dos
visitantes e barreiras para escoramento ou desvio de
águas superficiais. Contudo, estas interferências podem
ser exageradas ou equivocadas, ocasionando até mesmo
o desinteresse dos visitantes pelos geossítios. A
instalação de estruturas deve ser bem planejada, de
preferência por uma equipe multidisciplinar, com base
em uma ampla análise das características dos geossítios e
do clima local, para orientar a escolha dos melhores tipos
de materiais e metodologias. A implantação de barreiras
físicas, como coberturas, muros, grades e cercas,
também pode ser empregada para impedir a
aproximação dos visitantes de elementos mais
vulneráveis, porém não pode obstruir a visualização dos
objetos de interesse (Mansur & Nascimento 2007;
Ponciano et al. 2011).
Figura 9 – Exemplo da união dos dois modos de conservação.
Museu “Phu Kum Khao Dinosaur Site” construído ao redor de
um geossítios com os fósseis in situ, na Tailândia (extraída de
Boonchai et al. 2009). O clima úmido local é um sério problema
para a conservação do afloramento e, em 1999, um prédio
permanente foi construído cobrindo o afloramento.
Figura 10 – Afloramento do Geoparque de Lesvos (Grécia), onde
uma estrutura foi construída para proteger in situ os troncos
fossilizados. O resultado estético desta intervenção é
inadequado (fotografia extraída de apresentação de José
Brilha).
Figura 11 – Musealização in situ no Sambaqui da Tarioba, em Rio
das Ostras, RJ (Fotografia: Kátia Mansur, 2010).
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Figura 12 – Musealização in situ no Sambaqui da Beirada, em
Saquarema, RJ (Fotografia: Felipe Medeiros, 2006).
Talvez por falta de tradição na área de
conservação e restauro de sítios geológicos in situ,
observa-se que, na tentativa de conservar um geossítio,
às vezes são utilizados métodos que podem colocá-lo em
maior risco ou comprometer seu caráter estético. A
Figuras 15 a 19 ilustram alguns sítios geológicos,
paleontológicos e arqueológicos ameaçados por ação
natural ou antrópica que sofreram intervenções com
objetivo de conservação e restauração. Um caso
exemplar para a discussão de conservação in situ no
Brasil é o dos pavimentos com pegadas de dinossauro em
Sousa, na Paraíba, conhecido como o Vale dos
Dinossauros. A erosão fluvial, o intemperismo e as
inundações vêm colocando em risco este que é um dos
sítios paleontológicos e arqueológicos (representados
pelos petroglifos associados aos icnofósseis) mais
importantes do Brasil.
Figura 13 – Estrutura construída para proteção dos petroglifos
no Costão do Santinho, Florianópolis, SC. Fotografia:
http://trilhasemfronteiras.blogspot.com.br/2009/06/sitioarqueologico-no-costao-do.html.
Figura 15 – Sítio de Laetoli, na Tanzânia: são as mais antigas
pegadas de humanoides (3,7 milhões de anos), impressas sobre
cinza vulcânica. O geossítio foi recoberto por solo para impedir
a erosão e destruição antrópica. Posteriormente, sementes
presentes no solo utilizado neste processo brotaram e
colocaram a área em risco de destruição ainda maior. Discutese, inclusive, a retirada das placas com as pegadas para sua
realocação em um museu (Fotografia: http://www.africanarchaeology.net/news/news.html). Vista do sítio recoberto por
rochas em 2011. Importante ressaltar a ineficiência do uso
turístico, didático ou científico do sítio enquanto permanecer
esta condição, mas a sua integridade deve vir em primeiro lugar.
Figura 14 – Costão do Santinho, Florianópolis: petroglifo
sofrendo intemperismo que produz esfoliação na rocha
( I C O M O S ,
2 0 0 8 ) .
F o t o g r a f i a :
http://trilhasemfronteiras.blogspot.com.br/2009/06/sitioarqueologico-no-costao-do.html.
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Figura 20 – Destruição de afloramento fossilífero da Formação
Pimenteira, na entrada da cidade de Picos (PI). Toda a área
plana da fotografia era a continuação do morro visto ao fundo.
Este afloramento, rico em icnofósseis e concreções fossilíferas,
foi removido entre 2009 e 2011 para aterrar o buritizal da figura
21, visando a construção de um estacionamento (Fotografias:
Luiza Ponciano, 2012).
Figura 18 – Sousa, PB: erosão fluvial no pavimento que contém
as pegadas de dinossauros (Fotografia: Ismar Carvalho, 2010).
Figura 16 – Espanha: afloramento de depósito glacial com
dropstones, no Parque Alto Tajo, protegido com grades para
evitar geovandalismo. Infelizmente as grades também causam
um efeito secundário negativo junto aos visitantes (Fotografia:
Luis Carcavilla).
Figura 19 – Rio Piranhas, Parque Vale dos Dinossauros, Sousa,
Paraíba - Foi construído um muro que, infelizmente, não
consegue deter as águas durante o período chuvoso
(Fotografia: Aline Castro, 2012).
Figura 17 – Volta Redonda, RJ: construção de praça na tentativa
de conter a erosão em afloramento de depósitos sedimentares
com evidências de neotectônica, onde se conseguiu evitar o
revestimento do afloramento por grama após explicar a
importância didática do local para os moradores (Fotografia:
Luiza Ponciano, 2007).
Por vezes é o crescimento das cidades que
provoca a destruição de geossítios. Este é o caso da
cidade de Picos (Piauí), onde os afloramentos fossilíferos
são sistematicamente removidos para serem utilizados
em aterros de rios e áreas alagáveis (como os buritizais)
visando à construção de casas no centro da cidade. Os
afloramentos que ainda resistem e são acessíveis não
recebem qualquer tipo de proteção ou indicação de
existência. Algumas localidades fossilíferas citadas na
literatura já não podem mais ser encontradas, pois os
pontos de referência utilizados desapareceram (Souza
2006; Ponciano et al. 2010, 2012).
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Araripe, através da criação do Geossítio Pedra Cariri, num
trecho de uma pedreira abandonada. Neste geossítio é
possível obter informações sobre a geologia e os fósseis
encontrados ali, assim como o seu processo de extração.
No entanto, este exemplo também demonstra que ainda
é necessária uma maior discussão sobre a musealização
de geossítios, principalmente quando os fósseis não
estão expostos.
Figura 21 – Buritizal em Picos (PI), citado na figura 20
(Fotografia: Luiza Ponciano, 2012).
Ta i s p ro b l e m a s s ã o a g rava d o s p e l o
desconhecimento da importância destes geossítios pela
população do entorno, que ainda necessita ser
apresentada e conscientizada sobre o significado dos
fósseis que podem ser encontrados nos quintais de suas
casas em Picos. A retirada dos fósseis sem a preocupação
com a educação e conscientização da comunidade gera
ameaças ao patrimônio geológico, pois quando os
pesquisadores saem dos sítios os moradores podem
acabar depredando o local na busca por materiais de
valor econômico. Cita-se o exemplo dos clastos facetados
incrustados em pavimentos estriados no sul do Piauí
(Caputo & Ponciano 2010) que foram parcialmente
arrancados pela população local após verem
pesquisadores fotografando e tomando medidas na
localidade. A falta de comunicação com os moradores
pode chegar a originar conflitos, e a comunidade pode
tentar impedir o acesso dos pesquisadores aos
afloramentos.
Situação similar ocorre com os afloramentos do
Membro Crato, da Formação Santana da Bacia do
Araripe, entre os municípios de Santana do Cariri e Nova
Olinda, Ceará. A maior parte dos geossítios são pedreiras
em atividade, onde a extração do calcário laminado não é
legalizada (Figuras 22 e 23). Estas pedreiras representam
uma das poucas oportunidades de emprego nesta
região, porém provocam impactos ambientais relevantes
como remoção da cobertura de solo, retirada da mata
úmida, destruição dos corpos hídricos e disposição
inadequada de rejeitos. Os fósseis encontrados nestes
afloramentos possuem inegável valor científico, tanto
pela diversidade de organismos, quanto pela qualidade
da preservação que apresentam. Nesta conjuntura, a
grande dificuldade que envolve a conservação do
geossítios da região é conseguir conciliar os interesses
econômicos, científicos e sociais. As iniciativas de
educação não formal podem ser uma boa opção. Nas
Figuras 24 e 25 podemos verificar um projeto de
divulgação e educação realizado pelo Geoparque
Figura 22 – Bacia do Araripe: Mina Pedra Branca, onde as lajes
de calcário laminado (ou pedra cariri) são extraídas. Através
desta atividade, fósseis são encontrados diariamente.
(Fotografia: Aline Castro, 2012).
Figura 23 – Bacia do Araripe: trabalhador manejando as lajes.
Esta atividade apresenta-se como alternativa de emprego e
movimenta a economia da região (Fotografia: Aline Castro,
2012).
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Figura 24 – Geoparque Araripe: geossítio Pedra Cariri, com
destaque para os painéis interpretativos. (Fotografia: Aline
Figura 25 – Bacia do Araripe: alunos da rede pública que fazem
parte do Programa Jovens Talentos, coordenado pelo Geopark
Araripe. O programa consiste na conscientização dos
trabalhadores das pedreiras e no recolhimento de fósseis
doados para o Museu de Paleontologia de Santana do Cariri
(Fotografia: Aline Castro, 2012).
4. CONSERVAÇÃO DOS ELEMENTOS EX SITU DO
PATRIMÔNIO GEOLÓGICO
O patrimônio geológico ex situ, sob a forma de
coleções científicas, é resultado da coleta dos fósseis em
locais com risco de degradação, incorporando-os a um
ambiente controlado. Idealmente, diversos fatores como
a umidade, temperatura, sujidades e acesso de pessoal
teriam de ser constantemente monitorados. Este
ambiente representa uma área de segurança, onde o
acervo é registrado, documentado, sofre intervenções
(quando necessário) e é acondicionado em mobiliário
adequado (Ponciano et al. 2011, Souza et al. 2007).
Além da guarda das cadernetas de campo, as
informações mais relevantes sobre a coleta do material
também devem ser registradas em fichas catalográficas,
no período mais breve possível após o recebimento das
amostras e de preferência com a participação dos
próprios coletores. O controle terminológico de tais
fichas deve ser padronizado, pois auxiliará na posterior
recuperação da informação. Ao serem inseridos no
acervo, os fósseis, rochas e outros elementos da
geodiversidade devem ser acondicionados e
documentados corretamente por profissionais
experientes contratados especialmente para este fim, os
curadores. Estes são responsáveis pela conservação,
guarda, manutenção, seleção de acervo e dos sistemas
de documentação da coleção. Os sistemas de
documentação são tão importantes quanto os próprios
acervos, pois neles está registrada a memória de cada
exemplar. Por isso, o correto acondicionamento da
documentação, bem como sua automação e
disponibilização do banco de dados via Internet são
medidas de segurança consideradas essenciais (Souza et
al. 2007). Ainda referente à importância da
documentação, destaca-se o trabalho do Comitê de
Documentação do Conselho Internacional de Museus
(ICOM), o CIDOC. O Comitê recomenda algumas
diretrizes para museus ou instituições de pesquisa que
queiram realizar um tratamento museológico sobre o seu
acervo. As diretrizes são extensas e, por isso, serão
destacadas apenas aquelas consideradas mais
importantes pelas autoras. Todas as demais informações
podem ser consultadas no sítio do CIDOC
(http://icom.museum/the-committees/).
A documentação do acervo sempre deve ser a
mais completa possível e a ficha catalográfica deve
conter inúmeros campos, mesmo que nem sempre estes
sejam preenchidos. Estas fichas devem conter
informações que conectam a ficha ao objeto, ou seja, o
registro de uma numeração que remeta ao local onde o
acervo está depositado (gaveta ou armário) e ao próprio
acervo (lastro).
Outras informações, além das classificações
taxonômicas e litoestratigráficas usuais em acervos
geopaleontológicos, devem integrar a ficha. Esses
campos devem remeter (1) à forma de aquisição do
acervo e nomes dos coletores; (2) à integridade do objeto
(conservação), (3) ao número e se possível identificação
dos espécimes da amostra; (4) às suas medidas e outras
características, com descrição por escrito; (5) à
instituição de guarda e informações dos curadores, entre
muitos outros. Informações que registram a memória do
acervo (como fotografias do objeto e do local de
proveniência, mapas de localização e as cadernetas com
as informações dos trabalhos de campo) também são
muito importantes, sendo raras as instituições que
efetuam tal registro. Também integram a memória do
objeto os dados de empréstimo, participações em
exposições, figuração em artigos, os números de tombo
recebidos anteriormente (como os do livro de entrada ou
de outras coleções), entre outras possibilidades.
O processo de musealização e
patrimonialização adotado para os fósseis, rochas e
146
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 137-155
minerais também pode ser utilizado, com algumas
adaptações, para a guarda de suas reproduções e
informações relacionadas. Aconselha-se inclusive a
inserção de réplicas, esculturas, desenhos, pinturas e
instrumentos antigos nas coleções dos museus,
universidades e outros institutos de pesquisa brasileiros,
desde que (re)significados como patrimônio.
A conservação das publicações científicas raras
e/ou históricas e dos dados científicos não publicados
possibilita a recuperação de valiosas informações sobre
sítios que já foram destruídos pelo crescimento das
cidades ou exploração comercial. A digitalização dos
acervos pelas bibliotecas tem sido importante aliado
nesta tarefa. Numa outra vertente, a conservação das
cadernetas de campo, além do valor histórico, também
auxilia na reconstituição do contexto geológico de
amostras depositadas em museus e universidades, que,
posteriormente, podem vir a ser estudadas por
pesquisadores que não acompanharam o processo
original de coleta e mapeamento. Um bom exemplo de
patrimônio geológico ex situ são as cartas, mapas,
cadernetas de campo e Fotografias do paleontólogo
Kenneth Edward Caster, da Universidade de Cincinnati
(Ohio, EUA), que realizou diversos trabalhos de campo no
Brasil na década de 1940 (Ponciano 2013). Estes
documentos representam um importante registro dos
primórdios da paleontologia e geologia no Brasil. As
cadernetas de campo de K.E. Caster já possibilitaram, em
agosto de 2012, a descoberta de horizontes com
concreções ferruginosas in situ da Formação Pimenteira
na cidade de Picos. Infelizmente, o principal ponto de
coleta de concreções fossilíferas de K.E. Caster é um
morro localizado no centro de Picos, hoje em dia
completamente ocupado por construções. Como este
afloramento não é mais acessível para coleta de material
e novas pesquisas (Figura 26), as informações sobre esta
localidade só podem ser recuperadas a partir destas
antigas cadernetas de campo, o que destaca a
importância da conservação dos elementos ex situ do
patrimônio geológico (Ponciano 2013).
Figura 26 – Afloramento fossilífero da Formação Pimenteira estudado em 1947 por K.E. Caster, em Picos (PI), atualmente inacessível para
novas pesquisas in situ.
5. RESTAURO DO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO
Pelo exposto, fica claro que são necessárias
análises prévias sobre os métodos de preservação dos
geossítios contra o intemperismo, como a contenção de
erosão, controle do fluxo de águas superficiais,
consolidação de rochas, preenchimento de fraturas e
fissuras, entre outros, antes da execução do restauro dos
geossítios e elementos ex situ do patrimônio geológico.
Neste contexto de restauro do patrimônio
geológico, entendido como as intervenções realizadas
com a finalidade de recomposição sem
descaracterização do valor intrínseco dos objetos, uma
linha de pesquisa que deve ser desenvolvida é a de
estudos sobre adequação dos métodos de restauro do
patrimônio construído que possam ser aplicados aos
geossítios.
Processos de restauro executados
indevidamente podem piorar o estado de deterioração
da superfície exposta das rochas, modificando ou
danificando seu aspecto estético, pela perda de brilho e
manchamentos, devido à interação das características
intrínsecas das rochas com os agentes do meio ambiente
e os procedimentos de fixação, limpeza e manutenção
(Frascá 2003).
Cada caso deve ter sua análise e solução
própria. Isto fica muito evidente quando se observa a
Pedra do Índio, em Niterói, RJ (Figuras 27 e 28). Este
monumento natural foi tombado como patrimônio
estadual e encontra-se em franco processo de erosão.
Uma decisão urgente a ser tomada é quanto à realização
de uma intervenção para contenção do processo erosivo
do mar ou, então, observar seu desabamento.
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crescimento de vegetação nestas fraturas e moldes, que
além de dificultarem a visibilidade, aceleram o processo
de destruição destes icnofósseis pelo intemperismo.
Figura 27 – Pedra do Índio em Niterói, tombada pelo Estado,
por parecer do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural –
INEPAC. Imagem de 1894 (acervo do Museu Histórico
Nacional).
Figura 29 – Exemplos de restauração do patrimônio geológico.
Restauro de patrimônio construído – Partenon de Atenas
(Grécia), onde é nítida a diferença do mármore original e a
restauração atual. O processo de restauração tem sido mais
cuidadoso que as intervenções anteriores, que resultaram na
intensificação das fissuras e fraturas e consequente destruição
dos blocos originais de mármore. Atualmente as novas peças de
mármore são fixadas com grampos de titânio e um tipo de
cimento solúvel, metodologia que também poderia ser
aplicada em geossítios (Fotografia: Luiza Ponciano, 2010).
Figura 28 – Pedra do Índio em Niterói. Imagem de 2008
(Fotografia: Kátia Mansur).
O uso de escoras ou o preenchimento das
fraturas podem ser soluções a serem consideradas. Em
casos onde é necessária a contenção da erosão, um dos
fatores a ser considerado é a composição da argamassa
ou resina que poderia ser utilizada no preenchimento das
áreas fraturadas, pois ela deve ser compatível com o tipo
de rocha. Por exemplo, em uma rocha porosa, a utilização
de argamassa inadequada pode levar à percolação de
águas pluviais. Rachaduras, quebras, manchas e lascas
também podem ser originadas pela cristalização de sais
introduzidos na rocha pelo cimento utilizado nas
argamassas (Smith 1999). As empresas de conservação
que trabalham com patrimônio construído geralmente
utilizam argamassas à base de cal hidráulica, que é um
produto que endurece tanto no ar quanto na água.
O preenchimento de fraturas e fissuras seria
particularmente útil em um geossítio como o de Souza
(Figuras 29 a 33), onde a ameaça aos icnofósseis e
petroglifos é iminente. Outra ocorrência recorrente é o
Figura 30 – Uso de argamassa como solução para
preenchimento de fraturas: fraturas em rocha do sítio
arqueológico de arte rupestre do Vale do Côa, em Portugal
(fotografia extraída de Fernandes, 2008).
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Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 137-155
Figura 31 – Uso de argamassa como solução para
preenchimento de fraturas: uso em sítio paleontológico em
Aliaga, Espanha (Fotografia de Kátia Mansur, 2009).
Figura 33 – Possível uso de argamassa como solução para
preenchimento de fraturas: algumas pegadas em Sousa não
estão dentro do território protegido pelo Parque dos
Dinossauros, o que agrava ainda mais a situação dos geossítios.
Estas amostras afloram em terreno particular e os proprietários
não recebem incentivos para preservá-las. A pegada e o
petroglifo atravessados pelas fraturas poderão ser facilmente
destruídos pela erosão se não for realizada uma intervenção no
local (Fotografia: Aline Castro, 2012).
Figura 32 – Uso de argamassa como solução para
preenchimento de fraturas: uso em sítio paleontológico em
Aliaga, Espanha . É possível ver os detalhes do preenchimento
com argamassa, além do contorno acentuado das pegadas, que
causou um impacto desnecessário ao afloramento (Fotografia:
José Brilha).
O preenchimento de furos originados pela
coleta de testemunhos também é outro método de
restauro em geossítios, onde poderiam ser utilizados
diferentes tipos de argamassa. Uma metodologia
sugerida por MacFadyen (2011) é primeiramente
preencher o espaço com outro testemunho de diâmetro
ligeiramente menor ou com pequenos fragmentos da
rocha, retirados de blocos rolados do mesmo tipo de
rocha (nunca de material in situ). O espaço restante deve
ser preenchido com argamassa e/ou resina adequadas
para o tipo da rocha que está sendo restaurada. A parte
superior do furo deve ser recoberta com o pedaço
quebrado do testemunho que foi extraído, ou deve ser
reproduzida a textura da superfície da rocha trabalhando
a argamassa ou resina. No caso do uso de fragmentos de
rocha, eles devem ser reduzidos para um tamanho
pequeno e misturados à argamassa ou resina antes da
aplicação no furo, para que o espaço seja completamente
preenchido.
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A tentativa de restauração apresentada a seguir
demonstra uma intervenção efetuada incorretamente
(Figuras 34 e 35). Foi solicitado que o grupo de
pesquisadores responsável pela coleta dos testemunhos
em um geossítio clássico na costa oeste da Escócia
retornasse ao local para restaurar a parte danificada.
Além de não terem sido completamente preenchidos, os
furos foram recobertos com um material de textura e
coloração diferentes, que não foi resistente ao
intemperismo em curto período de tempo. Como
agravante, os fragmentos de rocha no interior dos furos
foram coletados de calcários in situ, situados na zona de
contato com a intrusão de onde foram removidos os
testemunhos (MacFadyen 2011).
Outro geossítio do Reino Unido (Wales)
constitui um exemplo muito interessante de restauração
de um afloramento modificado por ações antrópicas,
visando conter o processo de erosão costeira e enchentes
(Figuras 36 e 37). As autoridades locais constataram em
2006 a construção ilegal de um muro gabião de 110
metros de extensão, que cobriu cerca de 50 metros de um
geossítio de especial interesse científico. Após uma longa
disputa, em 2011 foi realizado o processo de restauração,
quando as rochas do muro foram removidas e enterradas
na praia, após acordo entre as autoridades locais e o
dono da terra. As rochas foram enterradas na esperança
de auxiliar a conter o processo erosivo, motivo da
construção do muro pelo dono da terra (Roberts 2011).
Figura 36 – Aparência do geossítio em 2011, após a remoção do
muro gabião que estava cobrindo parte de um geossítio onde
afloram tilitos que marcam um importante contato
Pleistoceno/Quaternário.
Figura 34 – Tentativa de restauração efetuada incorretamente
em um geossítio clássico na costa oeste da Escócia (MacFadyen
2011).
Figura 37 – A situação do local antes do processo de
restauração, em 2006 (Roberts 2011).
Figura 35 – Tentativa de restauração efetuada incorretamente
em um geossítio clássico na costa oeste da Escócia (MacFadyen
2011).
Nos casos de restauro, uma importante questão
a ser discutida é a reversibilidade das intervenções,
conforme mencionado na proposta de Brandi (2002).
Apesar dos materiais utilizados atualmente nestes tipos
de procedimentos serem considerados reversíveis, todas
as intervenções alteram os objetos enfocados. Mesmo
que os vestígios materiais possam ser removidos após
algum tempo, os efeitos da interação entre eles e o
objeto não serão totalmente reversíveis. O intervalo de
tempo em que terá de ser realizada a manutenção das
intervenções e a quantidade de recursos alocados
150
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 137-155
também devem ser considerados, para que seja viável
manter as intervenções efetuadas do modo como foram
originalmente planejadas (Fernandes, 2008).
A erosão é, sem dúvida, o processo natural que
mais põe em risco o patrimônio geológico.
Curiosamente, ela é responsável pela construção da
maioria dos geomorfossítios porque tem papel central na
escultura do relevo. Em alguns sítios onde a atuação da
erosão é intensa assume-se a perda da paisagem, porque
o processo é inexorável e a escala da intervenção
necessária é muito grande (Mansur et al. 2012). A perda
da paisagem antiga pode ser entendida como o ganho de
uma nova paisagem. Este é o caso observado na Ilha do
Francês, no Arquipélago de Sant'Anna, em Macaé. Nos
lineamentos associados a falhas (brechas tectônicas), há
uma intensificação do intemperismo que favorece a
infiltração de água e a consequente instabilidade da
encosta (Figuras 38 a 41). A praia teria se formado pelo
recuo da encosta por movimentos de massa sucessivos
no tempo. Este processo levará à divisão da ilha, uma vez
que a erosão na vertente leste apresenta processo
idêntico.
Figura 39 – Ilha do Francês, Arquipélago de Santana em Macaé,
RJ. Vista da praia na porção A da Ilha (Figura 38).
Figura 40 – Ilha do Francês, Arquipélago de Santana em Macaé,
RJ. Movimento de massa no ponto A e B (esquerda e direita Figura 38).
Figura 38 – Ilha do Francês, Arquipélago de Santana em Macaé,
RJ. Imagem Google Earth com os lineamentos. A e B,
representam vistas das praias.
Figura 41 – Ilha do Francês, Arquipélago de Santana em Macaé,
RJ. Movimento de massa no ponto A e B (esquerda e direita Figura 38).
151
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 137-155
A Ilha do Francês é um exemplo de construção
da paisagem, onde se constata que a atuação de
processos erosivos considerados como visualmente
desagradáveis podem condicionar a formação de locais
de grande beleza cênica. A beleza do processo geológico
se destaca, apesar da aparente feiúra da cicatriz na
encosta (Mansur et al. 2012).
Vale, ainda, destacar o uso geoturístico,
científico e educacional que pode ser dado a sítios
degradados pela mineração, sem que restauro seja
realizado. Exemplos como os de Ametista do Sul (RS) e o
Parque Paleontológico de São José de Itaboraí, RJ devem
ser destacados (Figuras 42 e 43).
Figura 42 – Usos para áreas degradadas. Ametista do Sul, RS:
área de visitação geoturística com apresentação de materiais e
processos utilizados na lavra (Fotografia: Ismar Carvalho,
2010).
Figura 43 – Usos para áreas degradadas. Parque Paleontológico
de São José de Itaboraí, RJ: com o fim da vida útil da jazida, a
área foi abandonada pela empresa mineradora. Hoje, um novo
uso está sendo viabilizado para a área na forma de geoturismo
(Fotografia: Kátia Mansur, 2012).
6. EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
A Educação Patrimonial é uma ferramenta
pedagógica desenvolvida pela área cultural, mas que é
perfeitamente adaptável como proposta de trabalho nas
localidades onde ocorrem os geossítios, no intuito de
complementar a grade de ensino e as atividades
geoturísticas (Castro & Machado 2011). Entende-se por
Educação Patrimonial o processo permanente e
sistemático de trabalho educacional enfocando o
patrimônio como fonte primária de conhecimento e de
enriquecimento individual e coletivo, utilizando objetos
e/ou expressões como ponto de partida para
desenvolver atividades pedagógicas, observando-os,
questionando-os e explorando nos aspectos possíveis e
traduzindo-os em conceitos e conhecimento (Grunberg
2000). Esse processo é muito útil para a preservação do
patrimônio geológico por dois principais motivos. O
primeiro deles é o investimento na sua salvaguarda. Uma
vez que a população local passa a se identificar e a
compreender a importância daqueles elementos da
geodiversidade como patrimônio, ela irá desejar e
incentivar a sua proteção. Na ausência do poder público,
depredações e vandalismos poderão ser coibidos pela
população local. O segundo motivo é o compromisso
social que todos os cientistas devem ter. Com a proposta
da educação patrimonial há um retorno para a
comunidade, transmitindo o conhecimento que foi
construído através dos geossítios (Souza 2006; Castro &
Machado 2011).
Nesta linha, destacam-se alguns projetos
sistemáticos de popularização da geologia que têm sido
instituídos no Brasil, como os Caminhos Geológicos do
Rio de Janeiro (2001), Sítios Geológicos e Paleontológicos
do Paraná (2003), Caminhos Geológicos da Bahia (2003),
Monumentos Geológicos do Rio Grande do Norte (2006)
e Monumentos Geológicos de São Paulo (2009). Em
geral, baseiam-se em iniciativas ligadas ao Geoturismo e
Geoconservação, especialmente por meio de
implantação de painéis interpretativos (Piekarz &
Liccardo 2006; Cunha et al. 2006, Nascimento et al. 2007;
Mansur & Nascimento 2007).
Estas iniciativas podem inverter a tendência
geral ainda vigente em nosso país de tentar retirar a
maior quantidade possível de elementos da
geodiversidade de seu lugar de origem, com o objetivo de
salvá-los da destruição em lugares ermos e com uma
população que desconhece a sua importância científica,
didática e patrimonial. Um projeto que pode auxiliar na
conservação in situ dos geossítios é o GEOSSIT, um banco
de dados da CPRM destinado ao inventário, qualificação
e valoração quantitativa de geossítios brasileiros
(http://www.cprm.gov.br/geossit/geossitios), sendo
livre consulta e operado por meio de uma base de dados
específica do Sistema GEOBANK da CPRM. Também são
muito relevantes os trabalhos publicados pela SIGEP
(Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e
152
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 137-155
Paleobiológicos: http://sigep.cprm.gov.br/sitios.htm) e o
p r o j e t o
G e o p a r q u e s :
http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/st
art.htm?sid=134).
Atualmente, a necessidade de um retorno do
conhecimento científico para a população do local onde
são coletados os fósseis é cada vez mais difundida.
Acredita-se que somente através da inclusão da
comunidade local em projetos de educação patrimonial e
geoturismo (com a instalação de museus, parques,
centros de pesquisa e outras formas de geração de
trabalho e renda), a conservação do patrimônio
geológico in situ poderá ser concretizada em um país com
as dimensões e problemas sociais do tamanho do Brasil
(Ponciano et al. 2011).
A realização de programas de educação
patrimonial também é fundamental para combater
ameaças como o geovandalismo e outros danos
antrópicos ao patrimônio. Em locais de visitação turística,
um projeto especial de interpretação do geossítio deve
ser elaborado para buscar uma melhor relação entre o
visitante e a preservação do patrimônio. Entende-se que
os aspectos funcionais e estéticos de um sítio devem ser
desenvolvidos em toda a sua potencialidade, portanto
diversos profissionais devem ser envolvidos nos projetos,
como engenheiros, geógrafos, arquitetos, biólogos,
museólogos e turismólogos, além de geólogos e
paleontólogos, obviamente. A inclusão da disciplina de
geoconservação nos cursos universitários que formam os
profissionais citados acima também contribuiria para a
difusão da importância da conservação do patrimônio
geológico.
7. COMENTÁRIOS FINAIS
A análise preliminar dos estudos de caso
apresentados indica que devem ser direcionados mais
esforços na proposição e experimentação de materiais e
técnicas de conservação e restauração voltadas para o
patrimônio geológico, assim como para a compreensão
de tudo o que está associado com as intervenções, como
as causas e efeitos dos processos naturais e antrópicos
que interferem no local. Por exemplo, alguns trabalhos
de arqueologia realizam um monitoramento topográfico
dos afloramentos e das vertentes onde estes se
encontram, além da análise detalhada de fatores
sísmicos, geomorfológicos e climáticos da região.
A efetividade da conservação do patrimônio
geológico in situ dependerá da implantação eficaz de
uma ampla estrutura de fiscalização, manutenção e de
atividades didáticas e recreativas contínuas, que devem
ser reavaliadas e adaptadas segundo os tipos e graus de
problemas da área e de participação da população do
entorno e visitantes dos geossítios. As atividades
didáticas e recreativas e o monitoramento das
instalações e da infraestrutura devem ser frequentes
para evitar o abandono dos sítios pela comunidade e
pelos visitantes, pois se o local não estiver em boas
condições de visitação (afloramento visível aos visitantes,
com os acessos e infraestrutura limpos e bem
conservados, por exemplo) as pessoas irão se deslocar
para outras regiões.
O restrito conhecimento geológico e
paleontológico da maioria da população brasileira,
derivado da precária educação formal e informal na área
das geociências, tem relação direta com a carência de
medidas de conservação e restauração do patrimônio
geológico. Grande parte dos professores dos diferentes
níveis de ensino não foi apresentada nem aos conteúdos
básicos de geologia e paleontologia durante mais de uma
década e meia de ensino formal. Enquanto estas
disciplinas não são incluídas nos currículos escolares em
todos os níveis de educação formal, projetos de educação
patrimonial nas comunidades próximas aos sítios
paleontológicos, exposições em museus, publicação de
textos de divulgação em sites e revistas, palestras e
cursos professores são alternativas para auxiliar na
divulgação das geociências para a sociedade.
Finalmente, é muito importante o
desenvolvimento de uma visão patrimonial em todos
aqueles que trabalham direta ou indiretamente com os
geossítios brasileiros, independentemente de sua
formação acadêmica. O nosso patrimônio geológico está
sujeito a diversos tipos de ameaças, e em muitos casos os
próprios geocientistas são os responsáveis por sua
destruição. Portanto, sugere-se que antes da realização
da coleta de material em trabalhos de campo, a
distribuição e o modo de ocorrência das concentrações
fossilíferas e de outros elementos da geodiversidade
sejam avaliadas de acordo com as peculiaridades dos
depósitos e os objetivos dos estudos, a fim de evitar a
retirada excessiva de material in situ dos geossítios.
Acredita-se que a conservação dos geossítios in situ
poderia ser mais difundida e aprimorada através da
elaboração de um código de conduta para trabalhos de
campo em Geologia e Paleontologia no Brasil.
153
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 137-155
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Manuscrito ID 31871
Submetido em maio de 2013
Aceito em julho de 2013
155
boletim paranaense
de geociências
volume 70 (2013) 156 - 165
Conservação do patrimônio paleontológico do Geopark
Araripe (Brasil): enquadramento, estratégias e
condicionantes
Conservation of geological heritage of Geopark Araripe (Brazil): framework, strategies and
constraints
MARIANA VILAS BOAS*, JOSÉ BERNARDO R. BRILHA*, FLAVIA FERNANDA DE LIMA**
*Universidade do Minho, Portugal - [email protected] - [email protected]
**Geopark Araripe - [email protected]
Resumo
O reconhecimento da importância geológica do Geopark Araripe é, em grande parte, fruto da sua riqueza paleontológica, destacando-se a
bacia sedimentar do Araripe que contém, à escala mundial, uma das mais importantes associações fossilíferas do Cretáceo Inferior.
Infelizmente, apesar do impedimento legal, continua a se verificar o comércio ilegal de fósseis da bacia do Araripe e a saída de muitos deles
do país. Os mais raros e com melhor grau de preservação, que adquirem deste modo um excepcional valor científico, são os alvos
privilegiados deste comércio. São várias as causas para esta situação, que está documentada há décadas, mas que tarda em se encontrar
uma solução. Com este trabalho pretende-se promover ações que integram uma estratégia de educação formal e informal, no sentido de
consolidar a prática da geoconservação do patrimônio paleontológico do Geopark Araripe. Embora se reconheça que os resultados e
efeitos concretos destas propostas não sejam imediatos, são iniciativas que podem ser utilizadas numa estratégia de geoconservação.
Estas ações são aplicáveis no Geopark Araripe, assim como em outras áreas fossilíferas do Brasil e do mundo.
Palavras-chave: patrimônio paleontológico, fósseis, geoconservação, Geopark Araripe.
Abstract
The geological recognition of the importance of the Araripe Geopark is mainly due to palaeontological features, with emphasis on the
Araripe sedimentary basin that contains one of the most important fossil associations of the world for Lower Cretaceous rocks.
Unfortunately, despite the existent legal framework, the illegal trade of fossils of the Araripe basin is still active with the consequent
smuggling of many fossils out of the country. The main targets for this trade are the rarest fossils with perfect preservation conditions,
which acquire an exceptional scientific value. There are several causes for this situation that is documented for decades but with no
efficient solution implemented so far. This work intends to promote and disseminate several activities that may integrate a formal and
informal education strategy in order to consolidate the geoconservation of the palaeontological heritage in the Araripe Geopark. As any
other educational plan, the expected results will not be immediate but, even so, these proposals can be applied in the geoconservation
strategy of the Araripe Geopark or in any other fossil areas of Brazil and of the world.
Key words: palaeontological heritage, fossils, geoconservation, Araripe Geopark.
1. INTRODUÇÃO
A geoconservação tem como objetivo a
conservação e gestão do patrimônio geológico,
materializado pelo “conjunto de todos os geossítios
inventariados e caracterizados numa dada área ou
região” (Brilha 2005). De acordo com este autor, uma
estratégia de geoconservação pretende manter a
integridade física dos geossítios, assegurando um
adequado uso científico, educativo ou turístico. As
iniciativas de gestão de geossítios devem ser adaptadas
ao tipo de elemento geológico que interessa
salvaguardar. A conservação de um geossítio
geomorfológico, por exemplo, pode não ser conseguida
usando as mesmas estratégias que são aplicadas a um
geossítio mineralógico ou paleontológico.
O patrimônio paleontológico possui diversas
especificidades face a outros tipos de patrimônio
geológico. Concretamente, deve ter-se em consideração
que a conservação de geossítios paleontológicos não se
restringe à conservação exclusiva dos fósseis, uma vez
que o seu contexto geológico também deve ser
valorizado (Henriques 2007). No entanto, em algumas
situações, este objetivo pode não ser o mais apropriado,
e pode até mesmo ser impossível de alcançar, havendo a
necessidade de enveredar por uma gestão equilibrada do
local, onde muitas vezes a preservação de um sítio ou de
um espécime in situ pode não ser o melhor interesse para
a ciência (Besterman 1988). Em muitas situações, a
melhor maneira de preservar fósseis consiste no seu
resgate e transporte para instituições que possam
156
Vilas Boas et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 156-165
assegurar a sua proteção. Ao contrário de outros
elementos da geodiversidade, a conservação do
patrimônio paleontológico ex-situ pode manter o seu
valor científico, educativo e turístico. As coleções
museológicas, desde que bem geridas e colocadas à
disposição de todos, são usadas para pesquisas
científicas por paleontólogos (valor científico), são
visitadas por estudantes de diversos graus de ensino
(valor educativo) e são admiradas pelo público em geral
(valor turístico).
O patrimônio geológico está sujeito a diversos
tipos de ameaças (Gray 2004; Brilha 2005), a grande
parte delas de origem antrópica. Algumas destas
ameaças são particularmente fortes sobre os bens
paleontológicos, em particular. O elevado valor
econômico de alguns fósseis, em resultado de fatores
como raridade, qualidade de preservação, valor estético,
etc., dão origem a um comércio que, em grande parte dos
países, é ilegal, colocando em risco muitas jazidas
paleontológicas, em especial em países com níveis
socioeconômicos mais débeis. Segundo Carvalho & DaRosa (2008), a questão da preservação do patrimônio
paleontológico brasileiro é bastante complexa. O
contrabando nacional e internacional de fósseis, bem
como as atividades de exploração mineral, são fatores
que limitam a adoção de estratégias de conservação, em
comunidades onde as jazidas fossilíferas representam
uma fonte de rendimento para as populações.
O aumento da pesquisa científica, desde a
década de 70 do século XX, destacou a alta diversidade e
qualidade do registro paleontológico da bacia do Araripe,
no nordeste brasileiro. Porém, este aumento de
visibilidade contribuiu para um incremento do interesse
generalizado deste registro, que associado a poucas
medidas efetivas para a sua conservação, originou um
maior risco de perda dos fósseis, em especial devido ao
comércio ilegal (Kellner 2002; Viana & Neumann 2002;
Viana 2002; Martill 2011; Vilas-Boas 2012). Além disso,
nesta região, a conservação dos elementos
paleontológicos está em permanente conflito com a
mineração, atividade de grande relevância econômica e
social que suporta uma percentagem significativa da
população.
A criação do Geopark Araripe, que pretende
promover o desenvolvimento sustentável dos municípios
constituintes do seu território e a melhoria das condições
de vida dos seus habitantes, constitui uma estratégia que
pode contribuir para a conservação do patrimônio
paleontológico local sujeito a uma depredação já
documentada. Este trabalho pretende elencar as razões
que explicam as ameaças ao patrimônio paleontológico
no Araripe e propor programas, projetos e ações de
cunho educativo, que podem ser implementados pelo
Geopark Araripe, para apoiar a conservação deste
notável patrimônio paleontológico brasileiro e mundial.
2. ENQUADRAMENTO LEGAL PARA A PROTEÇÃO DO
PATRIMÔNIO PALEONTOLÓGICO BRASILEIRO
De acordo com a legislação brasileira, existe
uma base legal para a proteção do patrimônio
paleontológico. Atualmente, no ordenamento jurídico
brasileiro, embora alvo de várias interpretações, os
fósseis são definidos como bens integrantes do
patrimônio cultural (artigo 216º da Constituição Federal CF), com natureza de bem de domínio público (nos
termos do artigo 20º da CF). Os fósseis são também
regidos pelo Decreto-lei nº 4.146/42 onde se refere que
“os depósitos fossilíferos são propriedade da Nação, e,
como tais, a extração de espécimes fósseis depende da
autorização prévia do Departamento Nacional de
Produção Mineral, do Ministério da Agricultura”
(atualmente o Departamento Nacional de Produção
Mineral - DNPM, vincula-se ao Ministério de Minas e
Energia). Porém, a conservação do patrimônio
paleontológico no Brasil ainda está longe de atingir os
resultados preconizados pela respectiva legislação. O
conjunto das leis brasileiras apresenta subjetividade no
que respeita à sua aplicação, de forma a possibilitar a
preservação de jazidas fossilíferas, enquanto patrimônio
cultural da sociedade brasileira, como também parece
ser insuficiente para assegurar a proteção destes bens,
enquanto propriedade da União (Abaide 2009).
Em função das peculiaridades do material fóssil,
previsivelmente existe uma contraposição na fixação de
competências para a gestão do património
paleontológico. Como o património paleontológico é
considerado património cultural por determinação legal
(artigo 216.º da CF), o IPHAN (Instituto do Património
Histórico e Artístico Nacional) deve zelar por medidas de
proteção a esse património (Dresh 2006). Mas por outro
lado, devido ao Decreto-lei 4.146/42, o DNPM tem a
responsabilidade de fiscalizar e controlar o exercício das
atividades relacionadas ao património fossilífero
(colheita, transporte, entre outras) de modo a assegurar
a sua proteção. Para além da questão legal, parece haver
alguma dificuldade de atuação do DNPM no que respeita
à proteção e conservação do patrimônio paleontológico
brasileiro, em especial pelo fato de existirem extensas e
numerosas áreas de mineração sob a fiscalização de um
reduzido número de técnicos.
3. GEOPARK ARARIPE
O Geopark Araripe foi criado a partir da
iniciativa da Universidade Regional do Cariri (URCA) em
parceria com o Governo do Estado do Ceará. Foi aceito,
em 2006, na Rede Global de Geoparques, sendo até hoje
o único geoparque da América do Sul a integrar esta
estrutura internacional, reconhecida pela UNESCO.
O geoparque localiza-se no sul do estado do
Ceará, na região nordeste do Brasil (Figura 1) e integra os
municípios de Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte, Missão
157
Vilas Boas et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 156-165
Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri, totalizando uma
área de 3796 km². A gestão do geoparque é atribuição da
URCA e possui um grupo amplo de apoio institucional:
uma coordenação executiva; um conselho de gestão
formado por representantes de instituições do terceiro
setor, poder público municipal, estadual e federal, e
iniciativa privada; um comitê científico formado por
investigadores da URCA e outras instituições de pesquisa
do território; e uma equipe técnica com profissionais de
diferentes formações acadêmicas. Além disso, a
estrutura do Geopark Araripe também compreende o
Museu de Paleontologia da URCA, em Santana do Cariri.
A estratégia adotada para o Geopark Araripe é a
promoção do desenvolvimento territorial sustentável da
região, tendo como mote principal o fortalecimento de
atividades científicas, culturais, turísticas e econômicas,
com ênfase na história evolutiva da Terra e da Vida.
O campo de atuação do Geopark Araripe
abrange atividades no âmbito do patrimônio geológico,
biológico, arqueológico e cultural, como também da
educação ambiental. O Museu de Paleontologia da URCA
promove a aproximação entre o conhecimento
paleontológico e as escolas públicas e particulares da
região do Cariri, possibilitando a visitação de alunos e
professores. Na pesquisa científica, destaca-se a
realização de escavações paleontológicas, dentro do
geossítio Parque dos Pterossauros, e também o projeto
“Jovens Paleontólogos” desenvolvido pelo Geopark
Araripe em parceria com o museu e escritório do DNPM
no Crato. Neste projeto, jovens do ensino médio do
município de Santana do Cariri, são capacitados nas
temáticas de geologia e paleontologia, visando o
levantamento de dados e a coleta de materiais
paleontológicos nas explorações de calcário da região.
O Centro de Interpretação e Educação
Ambiental do Geopark Araripe, localizado no município
do Crato, constitui outro importante ponto de apoio para
a recepção de escolas e visitantes. Possui um espaço de
exposição e interpretação dos principais elementos
naturais e culturais do geoparque, onde também têm
lugar oficinas lúdicas, no âmbito da educação ambiental,
com o objetivo envolver a comunidade, em especial as
escolas. Todas as atividades estão relacionadas com os
propósitos do geoparque, nomeadamente oficinas de
réplicas de fósseis, teatro de bonecos, reutilização de
materiais recicláveis, entre outras.
Tem-se verificado uma expressiva consolidação
da proposta de geoparque no território desde 2009, em
especial ao nível da educação ambiental, da
geoconservação, da comunicação e promoção do
geoturismo e do aumento da efetivação de parcerias com
os diversos atores do território. Contudo, é notório o
forte sistema burocrático adotado, que dificulta a
tomada de decisões em tempo útil. Muitas das atividades
desenvolvidas pelo Geopark Araripe apresentam um
caráter pontual, sem continuidade temporal, o que
diminui a sua eficácia quanto aos resultados esperados e
possíveis de alcançar.
Figura 1 – Mapa de localização do geoparque no Brasil e no estado do Ceará. Sede dos municípios do Geopark Araripe: *1– Santana do
Cariri; *2 - Nova Olinda; *3 - Crato; *4 - Juazeiro do Norte; *5 – Barbalha; *6 - Missão Velha (adaptado de Geopark Araripe 2010).
158
Vilas Boas et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 156-165
A evidência morfoestrutural mais significativa
na área do Geopark Araripe é representada pela Chapada
do Araripe, um planalto que apresenta altitudes médias
que variam entre 700 e 1000 metros (Geopark Araripe
2010).
Quanto ao enquadramento geológico geral, o
geoparque insere-se na área da bacia sedimentar do
Araripe, que se estende pelos estados do Ceará,
Pernambuco e Piauí. É a mais extensa das bacias
interiores do nordeste do Brasil, sendo que a sua
ocorrência engloba a Chapada do Araripe e o Vale do
Cariri (Assine 1992). A bacia sedimentar do Araripe
apresenta uma complexa história geológica, constituída
por sequências estratigráficas, limitadas por
discordâncias regionais, que representam o registo
fragmentário da formação de bacias em ambientes
tectônicos distintos (Assine 2007). A bacia está
estreitamente ligada aos períodos Jurássico e Cretáceo,
quando os continentes da América do Sul e da África
eram parte do antigo continente Gondwana, que
lentamente se separou com a abertura do oceano
Atlântico Sul (Herzog et al. 2008). Entre as várias
formações da bacia do Araripe, a Formação Santana é
estratigraficamente a mais complexa e também a mais
estudada, não só pelas extensas jazidas de gipsita, mas
principalmente por constituir o principal depósito
fossilífero brasileiro (Assine 1992). Na verdade, o
Geopark Araripe insere-se numa região conhecida
internacionalmente pelo importante registro geológico
do Período Cretáceo, com particular destaque para o seu
conteúdo paleontológico, que apresenta um excepcional
estado de preservação e uma enorme diversidade
biológica dos fósseis.
4. O PATRIMÔNIO PALEONTOLÓGICO DO GEOPARK
ARARIPE
O reconhecimento nacional e internacional do
Geopark Araripe é, em grande parte, fruto da sua riqueza
paleontológica associada à bacia sedimentar do Araripe
que contém, à escala mundial, uma das mais importantes
associações fossilíferas do Cretáceo Inferior. A notória
diversidade de fósseis da bacia sugere a existência de um
ambiente pretérito favorável à vida, associado a
condições especiais de pós-morte que favoreceram a
fossilização. A distinção de Konservat-Lagerstätten é
aplicada à Formação Santana pois esta apresenta fósseis
com um grau de preservação extraordinário.
Segundo Assine (2007), a Formação Santana é
constituída pelas Camadas Ipubi (gipsita) e pelos
Membros Crato e Romualdo, dois dos principais
depósitos fossilíferos do Brasil e do mundo desta idade
(Figura 2).
Figura 2 – Alguns exemplares da riqueza fossilífera da Formação Santana. Membro Crato: A, Brachyphyllum obesum Heer, 1881; B,
Cordulagomphus fenestratus Carle & Wighton, 1990; C, Arariphrynus placidoi Leal & Brito, 2006. Membro Romualdo: D, Araripemys
barretoi Price, 1973; E, Neoproscinetes penalvai Figueiredo & Silva Santos, 1987; F, Cladocyclus gardnery Agassiz, 1841 (a nomenclatura
dos fósseis foi obtida em Moura et al. 2006 e em Saraiva et al. 2010).
159
Vilas Boas et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 156-165
O Membro Crato representa a sequência
inferior da Formação Santana e possui origem lacustrina.
Apesar da maioria dos estudos paleontológicos deste
membro ter início na década de 1980, em pouco mais de
20 anos foram descobertas e descritas mais de 200 novas
espécies a partir das rochas do Membro Crato (Martill &
Bechly 2007). Este registro fossilífero destaca-se pela
diversidade, abundância e qualidade de preservação de
fósseis, nomeadamente fósseis de algas, vegetais,
artrópodes, moluscos, peixes, anfíbios, pterossauros e
penas de aves (Carvalho & Santos 2005). Esta diversidade
de grupos zoológicos e botânicos justifica que a
comunidade científica direcione esforços para o
reconhecimento geológico e caracterização da
paleobiota, colocando os afloramentos desta formação
entre os mais importantes sítios paleontológicos
mundiais (Lima 1979; Barreto et al. 2000; Barreto et al.
2012). Destaca-se ainda a grande abundância e
diversidade de espécies representantes da classe
Insecta, que corresponde a cerca de 80% das espécies
descritas para este membro (Moura et al. 2006).
A preservação dos exemplares fósseis do
Membro Romualdo, que representa a sequência
estuarina, é, na maioria dos casos, excepcional o que
tornou este material paleontológico conhecido em nível
nacional e internacional (Kellner 2002). Este membro
apresenta uma biota diversificada, com exemplares
fósseis de vegetais, artrópodes, moluscos, equinoides,
peixes, dinossauros terópodes, além de uma grande
variedade de pterossauros (Carvalho & Santos 2005). A
ictiofauna constitui o grupo de organismos mais
abundantes, sendo composta por mais de 19 gêneros
pertencentes a várias famílias (Wenz et al. 1993; Maisey
2000 apud Fara et al. 2005). Os fósseis são encontrados
principalmente em nódulos e concreções calcárias,
sendo comum a preservação tridimensional sem exibir
sinais de compactação (Kellner 2002). É ainda frequente
a ocorrência de espécimes totalmente articulados e
fósseis de vertebrados e invertebrados com elevada
qualidade de preservação dos tecidos moles (Martill
1988; Kellner 1996; Kellner & Campos 1998; Smith 1999
apud Fara et al. 2005).
Na região do Geopark Araripe, este patrimônio
paleontológico está acessível no Museu de Paleontologia
da Universidade Regional do Cariri, no município de
Santana do Cariri (que reúne uma coleção superior a 3 mil
exemplares) e no Centro de Pesquisas Paleontológicas da
Chapada do Araripe (CPCA) vinculado ao DNPM, no
município do Crato (Carvalho & Da-Rosa, 2008).
5. AMEAÇAS AO PATRIMÔNIO PALEONTOLÓGICO DO
GEOPARK ARARIPE
São várias as ameaças que afetam a
conservação do patrimônio paleontológico do Geopark
Araripe e, de modo geral, de toda a região da bacia do
Araripe. O comércio de fósseis ao longo das últimas
décadas tem representado uma verdadeira ameaça ao
patrimônio paleontológico da região do Araripe e do país,
apesar de ser ilegal no Brasil. As inúmeras descobertas de
novos exemplares de grande qualidade fez com que estes
fósseis começassem a ser mais valorizados por cientistas,
museus, colecionadores e paleontólogos amadores,
aumentando a demanda por novas amostras.
Como em qualquer relação comercial, o
comércio de fósseis está baseado numa relação entre a
“oferta” e a “procura” (Tabela 1). Por um lado, a “oferta” é
sustentada por uma população inserida numa região com
uma situação socioeconômica desfavorecida, que não
reconhece nem valoriza os fósseis enquanto patrimônio
de todos. Por outro lado, a relevância científica e estética
dos fósseis, que lhes confere um elevado valor
econômico, contribui para a existência de uma “procura”
diversificada. O excelente grau de preservação, a sua
beleza, o fato de serem exemplares representativos do
seu tempo geológico e até mesmo todo o imaginário
criado à sua volta, fazem destes fósseis um objeto de
contemplação pelo cidadão comum e um precioso bem
científico, desejado pela comunidade científica
paleontológica.
160
Vilas Boas et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 156-165
Comércio ilegal de fósseis no Araripe
OFERTA
Fatores
- Vasta ocorrência de fósseis, em parte resultado da
atividade extrativa;
PROCURA
Fatores
- Relevância científica dos fósseis;
- Relevância estética dos fósseis;
- Baixo nível salarial dos trabalhadores das pedreiras
que encaram a venda de fósseis como complemento
de renda;
confere
- Elevado valor econômico aos fósseis.
- Deficiente fiscalização e controle por parte do DNPM
e das forças policiais;
- Reduzida conscientização social sobre o real
significado e valor patrimonial dos fósseis.
Atores
Atores
- Trabalhadores das pedreiras;
- Palentólogos profissionais e amadores;
- Coletores amadores;
- Público em geral;
- Intermediários.
- Instituições como museus, universidades, etc.
Tabela 1 – Fatores e atores que dominam a relação entre a “oferta” e a “procura” e que enquadra o comércio ilegal de fósseis no Araripe.
A vasta ocorrência de fósseis na região da bacia
do Araripe é, em parte, resultado da atividade de
exploração mineral, onde os trabalhadores apresentam
baixo nível salarial e encaram a venda de fósseis como
um complemento de renda. Infelizmente, são poucos os
proprietários das pedreiras que estabelecem
procedimentos rigorosos para os trabalhadores não
recolherem os fósseis para posterior venda. Para a
extração da gipsita (Camadas Ipubi da Formação
Santana), normalmente as pedreiras removem toda a
camada de rochas que está sobrejacente. Esta é a
camada correspondente ao Membro Romualdo, uma das
mais fossilíferas da Formação Santana. Como resultado
desta atividade, o nível de concreções fossilíferas
exposto é, comumente, depositado nas enormes
acumulações de “rejeitos”. Apesar da exploração de
gipsita ser essencialmente na parte sudoeste da Chapada
do Araripe (Pernambuco), a maior parte dos registros da
recolha ilegal de fósseis centra-se no Ceará, sendo
apenas alguma em Pernambuco (Vidal & Castro 2009).
No Piauí, como não existe exploração de gipsita, as
concreções calcárias são encontradas em menor
quantidade. Para além desta ocorrência de concreções
fossilíferas, típicas do Membro Romualdo, na exploração
do calcário laminado ocorre um número
surpreendentemente elevado de fósseis de alta
qualidade do Membro Crato (Martill & Bechly 2007). No
lado leste da Chapada do Araripe, coincidente com a área
do Geopark Araripe, existe a indústria da “Pedra Cariri”,
para produção de rochas ornamentais (pedras de
pavimentação e revestimento) e também de cimento.
Devido à informalidade e alta rotatividade dos
produtores é difícil ter um controle do material fossilífero
que tem origem nas áreas de mineração, para fins
comerciais. Apesar de ser um ato ilegal, sabe-se que
parte da venda dos fósseis da bacia do Araripe está
associada às explorações de calcário laminado. Os
destinatários desta venda são vários, desde
revendedores conhecidos na região, colecionadores
particulares e até pesquisadores ligados às
universidades.
Além destes fatores, a falta de fiscalização eficaz
e a existência de legislação com caráter subjetivo no que
respeita ao patrimônio paleontológico, têm contribuído
para o comércio ilegal de fósseis. As leis, apesar de terem
sido criadas para proteger os fósseis muito raros e
cientificamente importantes, determinam de forma
muito confusa quem tem competência para avaliar e
preservar o patrimônio paleontológico. A única
regulação sobre fósseis não está enquadrada no Código
de Mineração, nem na lei de patrimônio cultural, mas sim
numa lei especial (Decreto Lei 4.146/42) que não
estabelece nenhum regime para além de definir a
competência do órgão responsável pelo setor mineiro
nacional para fiscalizar e autorizar a extração de fósseis
com fins científicos. Segundo o Decreto-Lei 4.146/42, os
fósseis estão sob fiscalização do DNPM, uma vez que
estes integram os bens e riquezas do solo que compõem
161
Vilas Boas et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 156-165
o domínio da União mas, ao mesmo tempo, são
considerados como bens integrantes do patrimônio
cultural, onde a lei confere a fiscalização ao órgão da
cultura (IPHAN).
antecedido de um outro onde seriam ministrados
conhecimentos básicos de paleontologia, geologia
sedimentar e tempo geológico.
6.2. AÇÕES EDUCATIVAS INFORMAIS
6. ESTRATÉGIAS PARA A CONSERVAÇÃO DO
PATRIMÔNIO PALEONTOLÓGICO DO GEOPARK ARARIPE
A solução para reduzir, ou mesmo eliminar, as
ameaças ao patrimônio paleontológico do Geopark
Araripe não é simples uma vez que estas são sustentadas
por fatores diversos. Alguns desses fatores estão
relacionados com a raridade e qualidade de preservação
e outros são de tal amplitude que não permitem a
implementação de medidas que dependem apenas do
Geopark Araripe, mas sim de várias instituições em nível
federal e estadual. No entanto, o geoparque pode fazer
um importante trabalho com as comunidades locais,
especialmente no que se refere à educação.
A promoção da educação é essencial em
qualquer programa de desenvolvimento sustentável,
particularmente numa estratégia de geoconservação em
geoparques. Com efeito, práticas cotidianas de
co n s e r va çã o d o p at r i m ô n i o p a l e o nto l ó g i co,
protagonizadas pelos cidadãos, só se efetivam se estes
compreenderem o caráter excepcional da fossilização e a
relevância do registro fóssil para o conhecimento da
história da vida na Terra e para a antevisão do futuro do
planeta (Henriques 2007). Assim, é proposta uma
estratégia educativa com várias ações de âmbito formal e
informal que visam consolidar a prática da conservação
do patrimônio paleontológico no Geopark Araripe. Esta
estratégia educativa foi planejada de forma a atingir o
máximo da população do geoparque e tanto é aplicável
neste território, como noutras áreas fossilíferas do Brasil
e até mesmo de outros países, com eventuais adaptações
a outras realidades.
6.1. AÇÕES EDUCATIVAS FORMAIS
As ações educativas de caráter formal têm como
finalidade difundir o conhecimento sobre o patrimônio
paleontológico do Geopark Araripe e alertar a
comunidade escolar sobre a importância da prática da
geoconservação, assim como disponibilizar novas
ferramentas educativas aos professores. É proposto um
curso de formação para professores que lecionam
Ciências e Geografia no nível de ensino médio, com a
duração de 2 dias. O curso contemplaria uma parte
teórica, onde seriam discutidos conceitos de
geoconservação e apresentado o patrimônio
paleontológico do Geopark Araripe. Na parte prática são
propostas aulas de campo, as quais proporcionariam aos
professores uma forma mais estimulante de abordagem
sobre o geoparque e o seu patrimônio paleontológico. No
caso dos professores não possuírem uma formação
científica mínima sobre geociências, este curso deve ser
A educação informal do público em geral é um
aspecto muito relevante na perspectiva da
sustentabilidade de um geoparque. O entendimento dos
conceitos da conservação do patrimônio natural e
cultural e o respeito pela identidade regional são
essenciais para um padrão de desenvolvimento
diferenciado, como é entendido pelo conceito de
geoparque (Baci et al. 2009). Neste sentido, são
propostas várias ações educativas de caráter informal,
dirigidas ao público em geral, nomeadamente à
população local, trabalhadores das pedreiras e turistas.
Estas ações foram planejadas tendo em conta as
características socioeconômicas da população local, mas
também a promoção de um turismo sustentável.
6.2.1. Exposição itinerante de fósseis do Araripe
Com esta ação pretende-se divulgar o
patrimônio paleontológico do Geopark Araripe, em que o
seu público-alvo é constituído pelos estudantes e o
público em geral.
Consiste na organização de uma exposição
itinerante com fósseis da bacia do Araripe e que deverá
percorrer os seis municípios que integram o Geopark
Araripe. Esta exposição deverá ser exibida em locais que
possam atrair o maior número possível de visitantes,
assim como em todas as escolas do geoparque.
6.2.2. Concurso: O fóssil do ano
O concurso é dirigido à população local, e em
particular aos trabalhadores das pedreiras. O principal
objetivo desta iniciativa é distinguir cidadãos residentes
no território do Geopark Araripe que doam fósseis por
eles resgatados. Também tem como finalidade contribuir
para a salvaguarda de mais e melhores fósseis e
sensibilizar a sociedade para a importância do
patrimônio paleontológico da região.
Este concurso deverá ser promovido pelo
Geopark Araripe, com o apoio do Museu de
Paleontologia da URCA e do DNPM, escritório regional do
Crato. Todos os anos, um júri avalia as ofertas que forem
feitas e atribui um certificado a quem resgatar e entregar
o exemplar fóssil com maior valor científico/educativo.
Este fóssil deverá integrar a coleção do Museu de
Paleontologia, com reconhecimento público expresso ao
seu doador.
6.2.3. Fóssil Quiz
Com esta iniciativa pretendemos divulgar
162
Vilas Boas et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 156-165
informações sobre o patrimônio paleontológico do
Araripe, para o público em geral. Esta ação consiste em
colocar questões diversas, na página do geoparque na
internete, sobre o patrimônio paleontológico local e que
podem ser respondidas pelo público. Todos os meses
será elaborada uma nova questão e será selecionada a
pessoa que der a resposta correta no mês anterior (terá
de haver um sorteio, no caso de haver várias respostas
corretas). Ao vencedor seria atribuído um prêmio
simbólico alusivo ao Geopark Araripe.
período de férias escolares, os jovens efetuariam
trabalhos com fósseis nas lajes calcárias extraídas nas
pedreiras da região. Fariam também uma primeira
seleção e tratamento dos exemplares recolhidos, sob a
orientação de um professor ou responsável pela
atividade. Alguns dos fósseis encontrados pelos
estudantes seriam doados às respectivas escolas, com a
ficha técnica completa e identificação do aluno que o
resgatou. Esta atividade deve decorrer sempre sob a
supervisão do DNPM.
6.2.4. Ser paleontólogo por dois dias
6.2.6. Empresa amiga do fóssil
Esta é uma ação para candidatos a paleontólogo
amador, que tem como público-alvo os turistas e o
público em geral. Pretende-se proporcionar a
experiência de ser paleontólogo promovendo, em
simultâneo, o contato do geoparque com as pedreiras
locais. O programa desta atividade seria distribuído por
dois dias, mas poderia ser dada oportunidade de
participar apenas no primeiro dia. Depois de uma breve
apresentação sobre o patrimônio paleontológico do
Araripe, o participante seria convidado a recolher fósseis
que ocorrem nas lajes calcárias extraídas nas explorações
de “Pedra Cariri”. Também seria ministrado um rápido
treinamento sobre como proceder numa primeira
seleção e tratamento dos exemplares recolhidos,
recorrendo a um kit de paleontólogo fornecido aos
participantes (martelo de bico chato, pincel, lupa,
talhadeira e papel para embrulhar as amostras). Durante
o segundo dia seria realizado o tratamento dos
exemplares selecionados anteriormente. Dependendo
do estado do material, seriam facultadas técnicas de
preparação mecânica e limpeza das amostras. Numa fase
posterior, estas amostras poderiam ser colocadas na
exposição do próprio museu, como também poderiam
ser aproveitadas para outras exposições, por exemplo
naquelas propostas na ação “Exposição itinerante dos
fósseis do Araripe”.
Durante toda a atividade os participantes
devem ser acompanhados por um paleontólogo, ou
responsável do geoparque com formação adequada.
Destaca-se também que, durante o recolhimento dos
fósseis nas mineradoras, os participantes estarão sempre
sob a orientação do DNPM e de um trabalhador da
empresa destacado para o efeito.
Esta ação é dirigida especialmente às empresas
mineradoras e tem com objetivo principal criar uma
parceria entre o geoparque e as empresas, de forma a
promover a conservação dos fósseis e destacar o
importante papel das mineradoras no resgate dos
mesmos. Propõe-se a atribuição, por parte do
geoparque, de um selo “empresa amiga do fóssil” para as
mineradoras que colaborarem com as atividades
desenvolvidas pelo geoparque e que doarem os fósseis
que vão sendo encontrados durante a atividade de
mineração. Esta ação deverá ter o apoio do Museu de
Paleontologia da URCA e do DNPM.
6.2.5. Escavação paleontológica para estudantes
Os estudantes do ensino médio são público-alvo
desta ação, que pretende que estes vivenciem as
atividades de coleta e preparação de fósseis,
promovendo o envolvimento das pedreiras locais no
geoparque.
Os estudantes (máximo 10) do ensino médio de
diferentes escolas da região seriam convidados a
participar numa semana de coleta de fósseis. Durante o
7. CONCLUSÕES
No Geopark Araripe, dentre os vários tipos de
patrimônio geológico, o paleontológico é dos que mais se
encontra sujeito a pressões antrópicas que podem
contribuir para a sua perda irreparável. Toda a região da
bacia do Araripe enfrenta o grande problema do
comércio ilegal de fósseis. Este é resultado de um
conjunto de fatores interligados, que materializam várias
ameaças à integridade do patrimônio paleontológico.
Atualmente, apesar do aumento de condicionantes
legais e das políticas de fiscalização, esta prática persiste
de uma forma mais comedida, mas não menos
alarmante. Existe uma “procura” pela qualidade e não
pela quantidade, isto é, a procura pelos fósseis é menos
intensa mas, no entanto, seletiva na medida em que os
fósseis mais raros e com maior valor científico,
continuam a sair da região e até mesmo do território
brasileiro.
Mediante a magnitude dos vários fatores que
afetam diretamente a conservação do patrimônio
paleontológico, entende-se que o campo de atuação do
Geopark Araripe deverá estar próximo da população. É
proposto que o geoparque tenha como alvo os “atores”
intervenientes na perda deste patrimônio paleontológico
de relevância mundial, ou seja, as pessoas que de forma,
direta ou indireta, podem influenciar o destino dos
fósseis da região.
O Geopark Araripe está inserido numa região
economicamente desfavorecida, onde a população
enfrenta vários problemas de ordem social e educativa.
163
Vilas Boas et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 156-165
Como consequência, esta população denota um baixo
reconhecimento da importância do patrimônio
paleontológico local. Este fato está na base das razões
que levam à existência de uma “oferta” de fósseis que
alimenta o comércio ilegal, obviamente complementado
pela sua vasta ocorrência na região e uma deficiente
fiscalização e controle por parte do poder público. Por
outro lado, a “procura” pelos fósseis é sustentada por
pessoas que os valorizam pela sua importância científica
e até mesmo pela sua beleza, e que também estão
disponíveis para os comprar, características que
aumentam ainda mais a valoração econômica deste
patrimônio.
Apesar de ser necessário encontrar uma rápida
e definitiva solução para a conservação do patrimônio
paleontológico do Araripe, destaca-se que a estratégia
educativa proposta, para ser implementada pelos
gestores do Geopark Araripe, dificilmente irá produzir
resultados duradouros a curto prazo. No entanto, tendo
em conta a dimensão e variedade dos fatores que
propiciam a depredação do patrimônio paleontológico,
as ações educativas concebidas são uma contribuição no
combate ao comércio dos fósseis.
Em complemento a esta estratégia educativa, o
incremento da fiscalização e a consequente aplicação das
leis vigentes no país, ambos fora das competências do
Geopark Araripe, poderiam dar um importante sinal aos
compradores que, de alguma forma, incentivam a coleta
de fósseis por parte de uma população ainda pouco
esclarecida. É sobre os compradores que as medidas
fiscalizadoras e repressivas devem ser mais incisivas, uma
vez que a redução de seu número certamente conduzirá a
uma diminuição da coleta de fósseis desincentivando,
deste modo, o comércio de patrimônio paleontológico.
Terminar com o comércio ilegal de fósseis pode
parecer uma pretensão ingênua. Desde que haja um
fóssil com valor econômico e um potencial comprador,
existem condições para que este bem seja negociado. No
entanto, os geoparques, enquanto instrumentos de
desenvolvimento territorial, possuem a obrigação de
criar estratégias que promovam a conscientização da
sociedade e a necessária mudança de mentalidades que,
inevitavelmente, vão contribuir para o tão almejado
desenvolvimento sustentável.
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Manuscrito ID 31418
Submetido em abril de 2013
Aceito em junho de 2013
165
boletim paranaense
de geociências
volume 70 (2013) 166 - 179
A extração de diamantes na história geológica
e mineral no Paraná
Diamond extraction in mining and geolocical history of Paraná
ANTONIO LICCARDO*, LUIZ ANTONIO CHIEREGATI**
*Universidade Estadual de Ponta Grossa - [email protected]
**Serviço Geológico do Brasil (CPRM) - [email protected]
Resumo
O início da extração de diamantes no Paraná remonta à segunda metade do século XVIII, poucas décadas depois da descoberta deste
mineral em Diamantina (MG). Pouco conhecido em seus aspectos de gênese, depósitos e reservas, este diamante retirado da Bacia do Rio
Tibagi e adjacências é estudado há muito tempo e teve vários ciclos de maior ou menor importância econômica. Os depósitos de origem
secundária, minerados durante muitos anos por garimpeiros e mergulhadores em pesados escafandros, proporcionam intensos debates
quanto à compreensão de sua gênese e alimentam o folclore e a cultura locais. Ao longo da evolução da ciência geológica no Paraná o
entendimento sobre estes diamantes recebeu um expressivo aporte de informações, sem que, no entanto, isto resultasse em controles
prospectivos ou modelos geológicos mais precisos. Rochas kimberlíticas ou lamproíticas nunca foram localizadas na região, assim como
não há indícios de minerais mantélicos que pudessem ser ligados à sua gênese. A associação com as rochas sedimentares glaciogênicas do
Grupo Itararé parece ser a melhor possibilidade de fonte, sem maiores comprovações, entretanto. Considerados de importância menor
no panorama de produção diamantífera do Brasil, estes depósitos apresentam um contexto histórico especial de cunho científico,
socioeconômico e cultural que começa a ser tratado como patrimônio na ótica da valorização da geodiversidade que ocorre em escala
mundial. A correlação do conteúdo geocientífico e da história mineral com os aspectos socioculturais é o caminho para que as várias
facetas deste contexto ímpar da região de Tibagi sejam devidamente consideradas. Este artigo propõe o aporte da informação geológica
para o fortalecimento e valorização do patrimônio imaterial constituído pela memória da extração de diamantes no Paraná.
Palavras-chave: diamante; patrimônio mineiro; história da mineração.
Abstract
The beginning of diamond extraction in Paraná goes back to the second half of 18th century, a few decades after the discovery of this
mineral in Diamantina, Minas Gerais. Little known on the aspects of its genesis, deposits and reserves, this diamond from of the Tibagi
River basin and vicinity have been studied from long time and had several cycles of greater or lesser economic importance. The secondary
source deposits, mined for many years by divers in heavy helmets provide intense debates as to the understanding of its genesis and feed
on the folklore and local culture. The efforts to identify huge deposits and/or the primary sources of these diamonds led to a significant
amount of geological information about this region, without however, resulting in prospective controls or more accurate geological
models. Kimberlitic or lamproitic rocks have never been found in the region, as well as there is no evidence of mantelic minerals that could
be linked to its genesis. The connection with the glacio-sedimentary rocks of Itararé Group appears to be the best possible source,
however with no further evidence,. Considered to be of minor importance in diamond production of Brazil, these deposits have a
historical context of scientific, socio-economic and cultural nature that begins to be treated as equity in the context of global geodiversity
discussion. The correlation of scientific content and mineral history with social and cultural aspects is the path for the development of this
unique context. This paper proposes the connection between geological data and cultural heritage constituted by the memory of
diamond extraction in Paraná.
Key words: diamond; mining heritage; mining history.
1. INTRODUÇÃO
Entre 1725 e 1866, a maior parte dos diamantes
nas cortes europeias era proveniente do Brasil e teve um
papel extraordinário na economia e cultura de Portugal.
A importância dos diamantes nesta época refletiu-se em
toda a Colônia de várias maneiras, inclusive nos
desconhecidos depósitos do rio Tibagi, no atual território
do Estado do Paraná, segunda ocorrência encontrada até
então na América Portuguesa.
Descobertos em 1754, esses sempre foram
pouco conhecidos quanto ao seu potencial de produção
ou reservas, situação que persiste até hoje. Mesmo sem o
controle oficial e produzindo clandestinamente, os
depósitos no Paraná participaram da produção brasileira
do período áureo (séculos 18 e 19) e sofreram as
influências da conjuntura político-econômica. Contudo,
algumas diferenças levaram esta região a um contexto
socioeconômico menos dependente da mineração, mas
sujeita à sua influência por mais de dois séculos.
O aspecto cíclico é uma característica da
166
Liccardo & Chieregati/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 166-179
produção no rio Tibagi, com picos de extração em certas
épocas que podem ser correlacionados com
circunstâncias econômicas e sociais do Brasil, como a
migração de garimpeiros baianos no início do século 20
(Liccardo et al., 2012). Condicionantes ligadas à geologia
dos depósitos e às características mineralógicas podem
ter sido fatores determinantes para este contexto de
produção mineral peculiar e fazem destes depósitos um
conjunto único em termos científicos e culturais. As
Figuras 01 e 02 mostram um típico garimpeiro da região
utilizando as mesmas técnicas de prospecção que se
utilizava há 200 anos e um mergulhador da década de
1980, ainda utilizando escafandros alimentados por
bombeamento manual.
Figura 1 – Aspectos típicos das técnicas de recuperação de diamantes do leito ativo no Rio Tibagi: garimpeiro trabalhando manualmente
depósitos de cascalho. Foto A. Liccardo, 2008.
Figura 2 – Aspectos típicos das técnicas de recuperação de diamantes do leito ativo no Rio Tibagi: mergulhador com escafandro para
trabalhos mecanizados no fundo do rio. Foto D. Mesquita, 1985.
167
Liccardo & Chieregati/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 166-179
Os depósitos encontram-se
predominantemente em leito ativo de rios e córregos,
com eventuais paleocascalheiras em depósitos de
colúvio e elúvio. Com distribuição aparentemente
errática, as ocorrências estendem-se por boa parte do
Segundo Planalto Paranaense, com uma forte
concentração no rio Tibagi entre a cidade homônima e o
município de Telêmaco Borba, não obstante algumas
manchas de extração ao norte e ao sul (Figura 03).
Figura 3 – Mapa de distribuição dos depósitos diamantíferos sobre o Segundo Planalto Paranaense. A mancha entre Tibagi e Telêmaco
Borba é a mais significativa, onde a extração se concentrou. Modificado de Mineropar (2006).
168
Liccardo & Chieregati/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 166-179
Uma revisão dos dados conhecidos e a
possibilidade de correlação com análises socioculturais
da região são as propostas deste artigo e podem trazer o
aporte da informação geológica ao âmbito da discussão
cultural. Este conjunto aponta a atividade de extração de
diamantes no Paraná como um tipo de patrimônio
imaterial que requer levantamentos mais específicos
para a sua eventual preservação.
2. DA DESCOBERTA AO SÉCULO 19
O viajante francês Saint-Hilaire (1820), ao
passar pelo Paraná, mencionou a existência de
contrabandistas de diamante, próximo à Jaguariaíva, e
cogitou que este já poderia ser conhecido dos primeiros
bandeirantes, no século XVI. O primeiro registro escrito,
no entanto, sobre a presença de diamante nesta região é
de 1754, por Ângelo Pedroso Lima, quando seu escravo
de nome Anselmo, faiscando os córregos em busca de
ouro se deparou com uma “pedra cristalina e lustrosa”
(sic). Esta foi colocada na coroa de Nossa Senhora da
Penha e, posteriormente, entregue ao governador da vila
de Santos, Inácio Elói de Madureira (Lopes, 2002).
Em 1802, Martim Francisco de Andrada (irmão
de José Bonifácio), então diretor geral das Minas de
Prata, Ouro e Ferro da capitania de São Paulo, esteve na
região em expedição científica examinando os córregos
Monjolo, Faisqueira, Fortaleza, São Domingos, Santa
Rosa, Borges e quase todos os braços do Tibagi em ambas
as margens. Seu relatório é bastante extenso e
detalhado, incluindo uma descrição dos diamantes
encontrados. Segundo ele,
“...uns cor de aguardente do reino, outros brancos, cor
de prata, e alguns cor de aços cristais brancos e
amarelos de ouro...”. O mineralogista especula, ainda,
sobre as fontes deste mineral: “...os diamantes foram
achados em caldeirões tendo sido transportados pelas
águas que com as grandes chuvas, rasgando as
formações poudinguiças, lavaram-nas e consigo os
trouxeram. Quanto porém aos tirados das ditas
formações não permanentes, que de riquezas se não
deveria esperar quando estas se descobrissem?”
Outros famosos viajantes também
mencionaram a existência de diamantes neste território,
que se estende pelos Campos Gerais do Paraná, a
exemplo de Eschwege (1833) que cita o rio Tibagi como
sendo o mais rico da região. O engenheiro inglês BiggWither (1878) em sua passagem pelo Paraná apontou o
recrutamento forçado de homens para a Guerra do
Paraguai (1864-1870) como um fator desestimulante
para a mineração na região Sul. Sugeriu, ainda, que a
decadência da mineração do diamante só ocorreu por
ausência de uma companhia importante, tendo a região
sido explorada apenas superficialmente. De fato os
garimpos de diamante no Sul nunca dispuseram da
grande quantidade de escravos utilizados em Minas
Gerais, já que a média de escravos naquela região mais
pobre, de economia mais ligada à pecuária, era de um
escravo por propriedade menor que 100 ha (Gutierrez,
2006).
Bigg-Wither (1878) citou fatos curiosos em seus
diários, que ajudam a dimensionar a produção na época,
como a troca de um escravo ao preço de 100 libras por
uma xícara de diamantes, ou que o preço usual de um
diamante de “pura água” (incolor), pesando um quarto
de oitava (1g), era de 50 libras. Relatou, também, o
contato com Herbert Mercer sobre uma malograda
tentativa de mineração pelos ingleses. Descendentes
deste engenheiro publicaram mais tarde importantes
relatos sobre os garimpos de Tibagi (Mercer & Mercer,
1934).
Possivelmente graças à interpretação dos
relatos positivistas de Bigg-Wither (1878), disseminou-se
a ideia de que por baixo da cidade de Tibagi estende-se
um “rico lençol de diamantes”, já que o inglês especulou
sobre a extensão das paleocascalheiras lavradas a cerca
de 5 km do município. De fato, ainda hoje, nessa
localidade conhecida como Lavra dos Ingleses, são
produzidos pequenos diamantes.
Ainda em finais de século XIX, intensificou-se o
estudo sobre a geologia no Brasil, com os trabalhos de
Hartt (1870) que fez referência ao diamante do Tibagi em
seus levantamentos e especialmente Derby (1878), que
publicou o primeiro estudo detalhado sobre a geologia
da província diamantífera do Paraná.
Orville Derby, considerado o pai da geologia
paranaense, sugeriu que a possível fonte dos diamantes
seriam os arenitos da Formação Furnas (Devoniano) que
uma vez trabalhados pelos rios dispersariam estes
minerais nos sedimentos do leito.
3. O CONHECIMENTO E A EXTRAÇÃO A PARTIR DO
SÉCULO 20
3.1. PRIMEIRA METADE DO SÉCULO
Por volta de 1912, os garimpos que se
encontravam em quase total abandono começaram a
receber afluência de garimpeiros vindos de Minas Gerais
e Bahia, que se fixaram na região, influenciando a
economia e a cultura locais. Com a explosão econômica
do diamante entre os anos 20 e 40, outros pesquisadores
desenvolveram estudos sobre este mineral e sua
geologia. Oliveira (1927), no detalhamento do primeiro
mapa geológico do Paraná, escreveu uma nota sobre o
diamante, concordando com a origem aventada por
Derby (1878), e Bastos (1936) e Oliveira (1937) o
relataram mais minuciosamente para o Serviço
Geológico Mineralógico.
¹ Termo do português arcaico provavelmente proveniente do inglês puddingstone, ou conglomerado.
169
Liccardo & Chieregati/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 166-179
As informações mais completas, no entanto, são
devidas a Oppenheim (1936), do antigo Serviço de
Fomento da Produção Mineral, que descreveu os
garimpos, enumerou as ocorrências (Tabela 1) e
discorreu sobre a geologia e possível gênese deste
mineral. Oppenheim (1936) contrapôs-se às ideias
sugeridas por Derby e atribuiu a dispersão de diamantes
ao desgaste de rochas ácidas do embasamento
(pegmatitos), conforme as teorias predominantes em
sua época, defendidas principalmente para os diamantes
de Minas Gerais por Djalma Guimarães (1933). No
entanto o autor apontou como “rocha matriz
secundária” no Tibagi sequências glaciais
conglomeráticas do Permiano Inferior (atual Grupo
Itararé) e descartou qualquer participação das inúmeras
intrusões básicas presentes na região. As Figuras 04 a 07
mostram os perfis do rio Tibagi em três pontos distintos,
enfatizando as características geomorfológicas dos
depósitos diamantíferos, conforme a interpretação de
Oppenheim (1936).
1
São Francisco
21 Pocinho
41 Cachoeira Feia
2
Poço de Carranca
22 Limeira
42 Salto Aparado
3
Cachoeira dos Pampas
23 Barreirinho
43 Poço do Gique
4
Cachoeira dos Pinheiros
24 Caldeirões
44 Salto dos Alemães
5
Mato bom
25 Saltinho
45 Cachoeirinha
6
Cachoeira das Cavernas
26 Mandasaia
46 Chupador
7
Cachoeira do Bonifácio
27 Imbauzinho
47 Cachoeira dos Quizamba
8
Cachoeira da Usina
28 Pedra Grossa
48 Barra Grande
9
Cachoeira de Tibagy
29 Anta Magra
49 Caldeirão
10 Salto Peludo
30 Arroio Grande
50 Ilha dos Cavalos
11 Santa Rosa
31 Drummond
51 Cachoeira dos Porcos
12 Cascalho duro
32 Cachoeira do Tigre
52 Cachoeirinha
13 Barra da Conceição
33 Cachoeirinha
53 Cachoeirão
14 Poço do Assombro
34 Vira Panela
54 Cachoeira do Horácio
15 Rio Imbaú
35 Estreito
55 Poço do Tigre
16 Saltinho
36 Ilha das Formigas
56 Cachoeira Grande
17 Cachoeira dos Ingleses
37 Ilha Fechada
57 Jaguatirica
18 Lambedor
38 Cachoeira dos Pupos
58 Areado
19 Varanol
39 Barra do Lageado
59 Salto Mauá
20 Cachoeira da Mortandade
40 Cachoeira Grande
Tabela 1 – Ocorrências de diamante cadastradas por Oppenheim em 1936.
Figura 4 – Perfil transversal do rio Tibagi, num dos garimpos conhecido como Mato Bom acima do município de Tibagi, ilustrando o
entendimento, à época, das armadilhas de relevo para os depósitos diamantíferos (baseado em Oppenheim, 1936).
170
Liccardo & Chieregati/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 166-179
Figura 5 – Perfil longitudinal do rio Tibagi, num dos garimpos conhecido como Mato Bom a montante do município de Tibagi, ilustrando o
entendimento, à época, das armadilhas de relevo para os depósitos diamantíferos (baseado em Oppenheim, 1936).
Figura 6 – Perfil transversal mostrando as cascalheiras e sua concentração em certos trechos, nos garimpos de Cascalho Duro, já no
município de Telêmaco Borba (baseado em Oppenheim, 1936).
Figura 7 – Perfil transversal mostrando as cascalheiras e sua concentração em certos trechos, nos garimpos de Salto dos Alemães, já no
município de Telêmaco Borba (baseado em Oppenheim, 1936).
171
Liccardo & Chieregati/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 166-179
Passado este período de intensa garimpagem,
Maack (1968) publicou uma comunicação sumária em
que afirmou ter extraído diamante das rochas glaciais da
região. Este fato, contudo, ainda não foi confirmado por
nenhum outro autor e sobre o local exato desta possível
extração se perdeu com a morte de Maack.
Na década de 1980, um novo surto de
mineração ocorreu no Tibagi e empresas como a CPRM e
a Mineropar implantaram grandes projetos de pesquisa e
prospecção na região, incluindo uma lavra experimental
(Mineropar) em Campina dos Pupos, no município de
Telêmaco Borba. Neste período, Svisero (1979) teve a
oportunidade de analisar a mineralogia e as inclusões
destes diamantes e Chieregati (1989), em dissertação de
mestrado posterior, realizou um extenso panorama
sobre a geologia dos depósitos, baseado em numerosos
levantamentos de campo da CPRM. Mais tarde alguns
dados foram complementados por Perdoncini (1997),
também em dissertação de mestrado. Vários trabalhos
sobre o diamante de Tibagi foram ainda apresentados
em 2010, por ocasião do Simpósio Brasileiro de Geologia
do Diamante que aconteceu pela primeira vez em Tibagi,
reaquecendo as discussões sobre o tema.
3.2. LAVRA EXPERIMENTAL DA MINEROPAR
Entre 1982 e 1987 a Mineropar, à época uma
empresa estatal dedicada à pesquisa, prospecção e
fomento da mineração, realizou atividades de pesquisa e
extração de diamante e ouro na bacia do rio Tibagi em
várias localidades, entre elas Ilha dos Cavalos, Barra
Grande e Campina dos Pupos, no âmbito do Projeto
Diamante. Na localidade conhecida como Campina dos
Pupos foi implantada uma lavra experimental que
permitiu um detalhamento geológico da morfologia do
leito do rio, com seu característico trapeamento. Esta
lavra foi realizada em uma parceria da Mineropar com a
cooperativa de garimpeiros existente à época, que
contava com 55 associados, e com o geólogo detentor
dos direitos minerários, Atamon Domingues de Oliveira,
sobre um antigo garimpo, caracterizado por cascalheiras
que formam ilhas em trechos do rio. As atividades
envolveram o desvio das águas por bombeamento
contínuo e a construção de uma barragem para secagem
do leito, a dragagem para a retirada do cascalho
mineralizado transportado por meio de vagonetes e
guinchos (ver Figura 08) e a posterior lavagem e
separação com uso de jig em local seco, para a
recuperação do diamante (Liccardo & Mesquita, 2010).
Figura 8 – Imagem da geomorfologia do fundo do rio Tibagi,
obtida na época da construção da barragem e desvio das águas.
Em alguns trechos a profundidade do rio pode alcançar 30m e
ficam evidentes as inúmeras armadilhas para concentração de
diamante. Atualmente este local, Campina dos Pupos, inclusive
o muro, foram cobertos pelas águas, graças à construção da
hidrelétrica em Salto Mauá, a jusante. Foto D. Mesquita, 1985.
Registros mantidos desta época indicam a
retirada de 6.741 pedras (1.836,96 ct) em três grandes
lotes: o primeiro, com 1.628 pedras, pesando 456,11ct, o
segundo com 3.206 pedras que totalizavam 848,90ct (ver
Figura 09) e o terceiro lote que se compunha de 1.907
pedras que pesavam 531,96ct. Esses dados permitiram a
inferência de algumas características gerais sobre os
diamantes produzidos nesta localidade com bastante
representatividade, já que os trabalhos eram
controlados sistematicamente pelas três partes
interessadas e representam, possivelmente, o melhor
controle estatístico já realizado em populações de
diamantes desta região em mais de 250 anos de extração
(considerando a quantidade de espécimes). Das 6.741
pedras (1836,96 quilates) retiradas em poucos meses de
extração descontínua por problemas com chuvas,
percebe-se o tamanho pequeno em média (0,27ct).
Ainda conforme estes registros, o maior destes
diamantes pesava 9,10ct (avaliado em US$ 2.180,00 em
novembro de 1985), sendo muito pouco comum nos
lotes a presença de pedras com mais de 3ct. O material
recuperado nesta lavra experimental foi classificado
como tipo gema (41%), tipo “lasca” (parcialmente
aproveitável em lapidação - 19%) e tipo indústria (40%).
As Figuras 10 a 12 mostram a distribuição dos indivíduos
conforme esta classificação e o peso para diferentes lotes
(Liccardo & Mesquita, 2010).
Não obstante as dificuldades para a construção
da barragem, que foi interrompida inúmeras vezes em
função da grande variação do nível do rio pelas chuvas, e
independentemente dos resultados econômicos
obtidos, as informações sobre o leito do rio Tibagi nesta
época e esta significativa população de diamantes
trouxeram novas ideias sobre as características dos
depósitos e dos diamantes.
172
Liccardo & Chieregati/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 166-179
Figura 9 – Parte do segundo lote produzido em 1985 pela lavra
experimental na Campina dos Pupos, município de Telêmaco
Borba, mostrando as principais características dos diamantes
de Tibagi, como a predominância de cristais inteiros por
exemplo. Foto: Mineropar, 1985.
Figura 10 – Distribuição da quantidade de indivíduos (barras à
esquerda) e peso dos diamantes (barras à direita) nos intervalos
de tamanho entre menores que 0,17ct e maiores que 2ct, numa
população de 646 indivíduos classificados como “gema”.
Baseado nos dados de produção da Mineropar em 1985.
Liccardo e Mesquita, 2010.
Figura 11 – Distribuição da quantidade de indivíduos (barras à
esquerda) e peso dos diamantes (barras à direita) nos intervalos
de tamanho entre menores que 0,17ct e maiores que 2ct, numa
população de 285 indivíduos classificados como “lasca”.
Baseado nos dados de produção da Mineropar em 1985.
Liccardo e Mesquita, 2010.
Figura 12 – Distribuição da quantidade de indivíduos (barras à
esquerda) e peso dos diamantes (barras à direita) nos intervalos
de tamanho entre menores que 0,17ct e maiores que 2ct, numa
população de 695 indivíduos classificados como “indústria”.
Baseado nos dados de produção da Mineropar em 1985.
Liccardo e Mesquita, 2010.
173
Liccardo & Chieregati/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 166-179
3.3. SITUAÇÃO NO SÉCULO 21
Mais recentemente, em 2005-2006, houve uma
retomada na produção, com dezenas de dragas atuando
ao longo do rio, entre Tibagi e Telêmaco Borba. Este
fenômeno de aquecimento do mercado se explica
parcialmente pela entrada do Brasil, nesta época, no
sistema internacional de certificação de procedência de
diamantes, conhecido como Processo Kimberley. Em
2006 a Mineropar editou um histórico da mineração no
Paraná, onde os diamantes receberam papel destacado
(Liccardo & Cava, 2006). Irregularidades legais na
mineração, problemas ambientais e a crise econômica
internacional em 2009 levaram a um novo período de
retração, situação que parece perdurar até o momento.
Períodos de grande produtividade intercalados com
p e r í o d o s d e g ra n d e re c e s s ã o, s o m a d o s a o
desconhecimento da origem geológica ainda hoje
parecem confirmar a história cíclica de extração de
diamantes em Tibagi.
O maior rigor na fiscalização de impactos
ambientais em leitos de rio, nos últimos anos, levou a
grandes dificuldades na legalização de garimpos e na
definição de áreas de extração. A recente construção de
barragens para hidrelétricas sobre as áreas mais
produtivas também gerou dificuldades para a extração, o
que aponta para uma possível extinção desta atividade
na região nos próximos anos.
Liccardo et al. (2012) propuseram uma
abordagem como patrimônio cultural para todo o
contexto do diamante em Tibagi e adjacências,
discutindo a correlação entre as características dos
garimpos, do diamante e sua gênese com a história local
e o desenvolvimento peculiar que aconteceu nesta parte
do Brasil. Em 2013, o governo estadual prepara uma
legislação adequada para eventuais registros e
tombamentos de patrimônios cultural e imaterial, onde
possivelmente este conjunto de fatores possa vir a se
enquadrar.
4. DISCUSSÃO GEOLÓGICA
Os garimpos de diamante da bacia hidrográfica
do rio Tibagi (PR) e áreas adjacentes vêm sendo
explorados desde o século dezoito, em cascalheiras do
leito ativo dos rios, em aluviões antigos e recentes, bem
como em colúvios. Estas ocorrências estão posicionadas
sobre rochas da Formação Furnas (Devoniano) e do
Subgrupo Itararé (Permo-Carbonífero), na porção
sudeste da Bacia do Paraná e os depósitos são, em geral,
de pequenas dimensões, tendo havido em alguns locais
trabalhos mecanizados de lavra e de beneficiamento. O
teor em diamante é baixo, oscilando entre 0,04 a 0,80
ct/m3 nos níveis mais ricos. No decorrer dos anos
oitenta, a produção dos garimpos oscilou entre 400 a
1.000 ct/ano (Chieregati & Svisero, 1990).
Svisero (1979) mostrou, por meio de análises
em microssonda eletrônica, que inclusões de granada,
espinélio e olivina contidas nestes diamantes, possuem
características químicas típicas de diamantes
peridotíticos, apontando uma derivação a partir de
fontes essencialmente kimberlíticas. No decorrer de
1984, a CPRM e a Mineropar realizaram pesquisas de
avaliação dos garimpos da região, ocasião em que foram
classificados e avaliados os tipos de depósitos, tendo sido
ressaltado o teor baixo das ocorrências (CPRM
1984,1986). A partir da década de 1980 houve uma
intensa busca por kimberlitos no Brasil, como o Projeto
Kimberlitos (Mineropar, 1986), mas a localização das
fontes dispersoras destes diamantes do Paraná, contudo,
ainda permanece desconhecida.
Chieregati et al. (1987) apresentaram um estudo
prospectivo baseado no rastreamento de minerais
pesados, a partir de uma amostragem regional realizada
em garimpos dos rios Verde, Itararé, Jaguariaíva, Cinzas,
Laranjinhas e Tibagi, cobrindo uma área de
aproximadamente 200x150km. Os resultados indicaram
a presença de magnetita, ilmenita, cromita, jacobsita,
limonita, granada, turmalina, epidoto, hornblenda,
rutilo, monazita, xenotímio, apatita, zircão, estaurolita,
cianita, anatásio, coríndon, cassiterita, sulfetos, ouro e
diamante, com algumas variações de frequência nas
áreas amostradas. Os minerais de interesse prospectivo,
como a granada e a ilmenita, foram analisados com
microssonda eletrônica e as análises químicas indicaram
granada rica em FeO (25,55-34,68%), que corresponde ao
termo almandina, derivada provavelmente de rochas do
embasamento cristalino. Da mesma forma, os cristais de
ilmenita são isentos de MgO e Cr2O3, impurezas típicas
de ilmenitas kimberlíticas, tendo sido relacionadas
também a rochas do embasamento (Chieregati & Svisero,
1990).
A ausência dos indicadores tradicionais de
kimberlitos (piropo cromífero, ilmenita magnesiana,
cromita magnesiana e diopsídio cromífero), constituem
uma situação geológica diferente daquela observada em
outras regiões, como em Coromandel, Minas Gerais
(Svisero et al., 2005), o que sugere que o diamante da
região do Tibagi esteja relacionado a ciclos erosivos
antigos. Outras evidências relativas ao diamante e à
geologia da região reforçam essa possibilidade, como por
exemplo:
a) diamantes de granulometria baixa e
qualidade gemológica alta (% de gemas entre 60 a 70%),
sugerindo transporte prolongado (Liccardo et al., 2010);
b) associação dos depósitos a unidades
permocarboníferas da Bacia do Paraná, onde estão
presentes litotipos derivados de glaciação (diamictitos);
c) presença de pavimentos estriados por ação de
geleiras em rochas da região (Chieregati 1989, RochaCampos et al. 2008).
174
Liccardo & Chieregati/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 166-179
As direções de paleocorrentes registradas nos
litotipos (sedimentos do Grupo Itararé e rochas do
embasamento) indicam transporte (pré ruptura do
continente Gondwana) de S para N e NW (Santos et al.,
1996). A associação desses fatos sugere que os
diamantes da região do Tibagi foram transportados por
processos glaciogênicos durante a deposição dos
sedimentos permocarboníferos da Bacia do Paraná. As
fontes dispersoras estariam situadas a sul dos depósitos
atuais, possivelmente no continente africano em uma
época anterior a fragmentação do Gondwana. Chieregati
et al. (2010) apresentaram nova interpretação dos dados
que confirmam a proveniência do diamante dos
depósitos de origem glacial do Grupo Itararé. Não há
evidências geoquímicas ou mineralógicas, ou mesmo
datações dos diamantes até o momento, que pudessem
corroborar algum destes modelos genéticos.
A história geológica destes diamantes
apresenta pontos de especial fascínio e remetem a um
amplo entendimento dos processos naturais que o
planeta passou em termos temporais e espaciais. Esta
história devidamente adaptada a outras linguagens pode
ser utilizada como fator de cultura e educação científica,
conforme os critérios preconizados pela UNESCO nas
últimas décadas. Em termos de geologia regional, as
características enigmáticas dos processos de deposição,
desde a intemperização da rocha portadora (kimberlito)
até as armadilhas de relevo fluvial, determinaram o tipo
de mineração e a sua continuidade desde sua
descoberta, há mais de 200 anos, até os dias de hoje,
influenciando diretamente nos aspectos
socioeconômicos locais.
5. CARACTERÍSTICAS DOS DIAMANTES
Conforme ressaltado por diversos autores, o
diamante da região de Tibagi caracteriza-se pela
predominância de pedras pequenas com peso médio
variando entre 0,1 e 0,3ct. Chieregati (1989) estudou a
distribuição do peso de diamantes de garimpos de
Telêmaco Borba e de Tibagi a partir de um lote de 219
pedras, obtendo uma moda predominante em torno de
0,10ct. Liccardo & Mesquita (2010), descreveram um lote
de 6.741 pedras com tamanho médio de 0,27ct, não
obstante eventuais espécimes com até 10ct. Alguns
relatos citam pedras de 107ct, mas sem maior
comprovação. Historicamente, não são conhecidas
ocorrências de grandes diamantes na área de Tibagi,
como aquelas registradas na região de Coromandel
(MG), onde são frequentes pedras com dezenas ou
mesmo centenas de quilates (Reis, 1959).
Chieregati (1989) caracterizou a morfologia a
partir de vários lotes obtidos no leito ativo do rio Tibagi
em 1985, num total de 2.210 pedras. O exame individual
dos exemplares permitiu identificar os principais hábitos
cristalinos, estando presente por ordem de frequência
decrescente: 61,0% de rombododecaedros, 16,0% de
octarrombododecaedros, 10,3% de cristais irregulares,
5,7% de fragmentos de clivagem, 4,3% de octaedros, 1%
de geminados, 1% de cristais cúbicos e 0,5% de agregados
cristalinos. De modo geral, os diamantes são bem
formados, euédricos, sendo pequeno o número de
fragmentos de clivagem, como mostra a Figura 13.
Figura 13 – Imagem parcial de um lote de 102 diamantes
retirados de um colúvio (Lavra dos Ingleses, em Tibagi) em
2012. Os cristais enquadram-se perfeitamente em todas as
descrições já realizadas desde o século XIX, mostrando
considerável constância nas características físicas, como a
predominância de formas de transição, como
rombododecaedros ou hexatetraedros. Foto Liccardo, 2012.
O mesmo autor levantou as características de
cor do diamante da região a partir de lotes de garimpos
das regiões de Telêmaco Borba (130 pedras), Ortigueira
(115 pedras), Rio Santa Rosa (21 pedras), e Campina dos
Pupos (1.605 pedras), perfazendo um total de 2.115
exemplares. A análise do conjunto indicou a presença por
ordem decrescente de 56,5% de cristais incolores, 23,6%
de castanhos claros, 9,7% de castanhos escuros, 6,4% de
amarelos e 3,6% de verdes. Apesar dos diamantes
apresentarem dimensões pequenas comparadas com
outras áreas garimpeiras, eles se destacam pela presença
de pedras coloridas (fancy colors), atualmente de grande
valor no mercado.
Barelli (1973) identificou, por meio de difração
de raios X, inclusões de olivina, enstatita e granada no
interior de diamantes de garimpos do rio Tibagi. Meyer &
Svisero (1975) analisaram, por meio da microssonda
eletrônica, cristais de piropo cromífero contendo até
17,5% de Cr2O3 e de espinélio rico na molécula cromita.
Svisero (1979) apresentou análises, também por
microssonda, de olivina (forsterita), piroxênio (enstatita)
e espinélio (cromita) e as características químicas destas
inclusões indicam uma paragênese típica de diamantes
peridotíticos.
Barelli (op.cit.) estudou um lote de 27 cristais
por espectroscopia no infravermelho, onde constatou a
predominância do tipo Ia, ou seja, diamantes contendo
impurezas de nitrogênio. Liccardo et al. (2010)
175
Liccardo & Chieregati/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 166-179
analisando um lote de 11 amostras de cores variadas,
verificaram tratar-se de diamantes do tipo IaAB. Este tipo
de diamante é o mais comum na natureza e nele o
nitrogênio ocorre na forma de agregados A, B e em
grupos de três átomos conhecidos como N3. Estes
centros absorvem parcialmente a luz causando
colorações pálidas entre o amarelo e o castanho, e graus
variados de fluorescência. Ainda segundo os referidos
autores, os diamantes incolores apresentam os centros A
e B em proporções semelhantes. Nos diamantes
castanhos predominam os centros B e nos amarelos e
verdes os centros A.
Uma das características marcantes dos
diamantes da região de Tibagi é a predominância dos
tipos gemológicos sobre os do tipo indústria, na
proporção de 65/35%, respectivamente. Outra
qualidade gemológica de destaque é a presença de
diamantes coloridos (fancy). Com relação à cor, a análise
de um lote de 120 pedras baseada nos critérios do
Gemological Institute of America (GIA), indicou a
presença de 50% de diamantes incolores (categorias D a
G), seguidos por 30 a 40% de cristais de cor castanha
(categorias Q a R) e menos de 5% de diamante verde ou
amarelo intenso (Liccardo et al., 2010). Embora não
existam dados estatísticos em relação ao grau de pureza
(clarity) dos diamantes de Tibagi, a prática comercial tem
evidenciado a predominância de cristais com poucas
inclusões e de bom aproveitamento na lapidação. Além
disso, o predomínio de cristais euédricos em relação a
fragmentos de clivagem (lascas) e agregados cristalinos é
outro fator positivo no aproveitamento destes
diamantes.
6. INFLUÊNCIA SOCIOCULTURAL DA MINERAÇÃO
Entre 1730 e 1733, o preço do diamante na
Europa “despencou” pelo excesso de diamantes no
mercado (Azevedo, 1988) e, a partir de 1740, a extração
no Brasil passou a ser totalmente controlada pela Coroa
Portuguesa, com direitos exclusivos para a compra dos
diamantes produzidos. Esta situação perdurou até a
independência em 1822 quando, então, volta a ser livre a
procura por esta gema.
A mineração plena de diamante só veio a se
desenvolver no Brasil com a chegada do século XIX,
revelando grandes jazidas (Lins et al., 2000). Apesar de
notícias sobre a existência de diamantes na Bahia (e no
Paraná), a produção até então se concentrou em Minas
Gerais. Segundo Martins et al. (1989), entre 1830 e 1865
houve a maior produção de diamantes no Brasil,
superada logo depois pela descoberta dos riquíssimos
depósitos na África. A maior parte dos autores atribui a
decadência na mineração à perda de valor econômico no
mercado internacional em função das pedras que
chegavam das minas africanas.
Apesar do papel periférico da mineração em
Tibagi, o conhecimento da população sobre a existência
do diamante remonta ao século XVIII, o que diferencia
culturalmente esta região de qualquer outra do Paraná e
até mesmo do sul do Brasil. A articulação entre
exploração mineral e as práticas culturais costuma se
refletir nas características singulares dos lugares de
ocorrência, neste caso o município de Tibagi,
principalmente, e outros nos arredores, como Telêmaco
Borba, Ortigueira ou Jaguariaíva.
A cultura de mineração esteve desde o início
arraigada aos primeiros desbravadores (brancos) do
território e teve grande impulso no século XX, com a
vinda dos mineradores de Minas Gerais e Bahia, negros e
mulatos em sua maioria. A miscigenação da população,
desde então, causou um enriquecimento cultural que se
reflete hoje no folclore, músicas e no imaginário dos
habitantes da região. Tibagi tem hoje uma das maiores
populações negras do Paraná. Boa parte da história
econômica de Tibagi também está relacionada aos
aquecimentos (e rupturas) da economia da mineração,
assim como às flutuações populacionais com levas de
mineradores que iam e vinham conforme as épocas de
maior ou menor produção (Liccardo et al., 2012).
Diversamente de outras áreas diamantíferas no
Brasil, onde grandes achados fizeram fortunas imediatas
e trouxeram, como consequência, o aumento de
violência e o extremo contraste social, em Tibagi há uma
tendência para a produção de pedras pequenas, o que
possivelmente causou um impacto menor e determinou
a extração paulatina, sem grandes surtos. Não obstante,
a participação desta extração mineral na economia local
apresentou inúmeros reflexos, entre eles o
assentamento de boa parte dos garimpeiros que vieram a
compor a população da região.
O Museu Histórico Desembargador Edmundo
Mercer, também chamado Museu do Garimpo, é
conhecido como um dos mais importantes acervos do
Paraná. Criado em 1985 com a proposta de manutenção
cultural da história do município, destacou-se pelo
conteúdo ligado ao garimpo, sendo sua principal sala de
exposições o único local da região Sul do Brasil a
apresentar os objetos, imagens e textos sobre o tema da
mineração. Dos museus diretamente ligados à história do
diamante no Brasil, o museu de Tibagi figura entre os
mais completos e bem documentados, além de constituir
atualmente um atrativo turístico obrigatório do
município. Uma das salas do museu também é dedicada à
participação dos negros na formação da identidade
cultural do município (Liccardo et al., 2012).
7. CONTEXTO DO DIAMANTE COMO PATRIMÔNIO
IMATERIAL
A Constituição Federal de 1988, em seus artigos
215 e 216, ampliou a noção de patrimônio cultural ao
reconhecer a existência de bens culturais de natureza
material e imaterial e, também, ao estabelecer outras
formas de preservação - como o Registro e o Inventário -
176
Liccardo & Chieregati/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 166-179
além do Tombamento, instituído pelo Decreto-Lei nº. 25,
de 30/11/1937, que é adequado, principalmente, à
proteção de edificações, paisagens e conjuntos históricos
urbanos (IPHAN, 2013). Os Bens Culturais de Natureza
Imaterial dizem respeito àquelas práticas e domínios da
vida social que se manifestam em saberes, ofícios e
modos de fazer; celebrações; formas de expressão
cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos lugares,
como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas
culturais coletivas.
A Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) define como
Patrimônio Cultural Imaterial:
"as práticas, representações, expressões,
conhecimentos e técnicas – com os instrumentos,
objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são
associados - que as comunidades, os grupos e,
em alguns casos os indivíduos, reconhecem como
parte integrante de seu patrimônio cultural".
Esta definição está de acordo com a Convenção
da UNESCO para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural
Imaterial, ratificada pelo Brasil em março de 2006
(IPHAN, 2013). Como patrimônio cultural ou imaterial
estão compreendidas, então, as possibilidades de
utilização dos recursos naturais para os mais variados
fins, bem como as práticas cotidianas relacionadas ao
modo de vida, organizado no que se pode chamar de
experiências vividas.
O patrimônio cultural,
representado tanto pela cultura erudita quanto pela
cultura popular, pode ser identificado nas manifestações
sociais atuais, e mais do que isso, pode ser considerado
elemento importante na formação sociocultural das
populações que lhe são recorrentes.
Desde a década de 1970, a relação da sociedade
com as práticas cotidianas passou a receber atenção e
valorização, sendo considerada como patrimônio
imaterial, uma memória que contribui com o
entendimento da ordenação social, espacial e
econômica, como, aliás, pode ser encontrado nos
municípios do Paraná ligados à extração de diamante. O
patrimônio cultural torna-se incorporado à sociedade
quando, associada a ele, a memória social é fixada
através de elementos que possuem significado para a
vida coletiva, e a importância deste patrimônio está
diretamente relacionada à carga simbólica que ele
representa, assim como ao poder de pertencimento que
ele proporciona (Monastirsky, 2005). A história do
diamante em Tibagi refere-se a esta carga de simbolismo
e certamente exerce papel fundamental na cultura local.
Tibagi e Telêmaco Borba, os principais
municípios produtores de diamante, apresentaram uma
evolução socioeconômica diferente da maioria dos
municípios da região, como Castro, por exemplo, cuja
influência da pecuária e do tropeirismo no século XIX
impregnou culturalmente de maneira diversa do que a
prática garimpeira. Mesmo o número de escravos
ligadosà mineração foi muito inferior aos utilizados nas
fazendas ligadas à pecuária e, mais ainda, sem
comparação com áreas mineradoras de Minas Gerais ou
Bahia. Certamente a extração de diamante no sul do país
não recebeu a mesma ênfase de outras áreas e por isso
seus ciclos de altos e baixos não tiveram impacto
negativo tão profundo. Esta característica, por si só, faz
desta história de extração algo diferente de outros
lugares do Brasil e permitiu a longevidade desta atividade
de maneira artesanal.
As grandes cheias do rio Tibagi tornam inviáveis
os trabalhos em certas épocas do ano, obrigando à
sazonalidade na atividade extrativa e impondo atividades
paralelas de subsistência aos garimpeiros (como a
agricultura, por exemplo). Diamantes grandes são
extremamente raros e, na maior parte dos casos, o
tamanho pequeno das pedras limita os ganhos, não
obstante serem de ótima qualidade gemológica. O
desconhecimento de sua origem geológica ou, mais
especificamente, de sua rocha-fonte dificulta projetos
racionais que proponham um planejamento nos moldes
de uma mineração moderna. Esta conjuntura faz com que
a atividade de mineração seja de pequeno porte e com
tendência a utilizar técnicas tradicionais de trabalho
artesanal. Possivelmente os aspectos histórico-culturais
deste processo representem maior valor para a
comunidade que o aspecto econômico ligado a esta
atividade, no caso desta região.
Com a construção de barragens para
hidrelétricas no rio Tibagi é possível que a garimpagem,
nos moldes em que é praticada atualmente, seja extinta.
A proposta desta discussão é que se busquem
mecanismos de preservação e valorização do conteúdo
histórico-cultural e sejam avaliados seus impactos sobre
a sociedade e a memória local. O conhecimento e as
reflexões geológicas devem ser considerados um
importante instrumento para alicerçar este processo, por
apresentar dados consistentes e registros de alta
confiabilidade. Assim como estes dados costumam
balizar pesquisas de prospecção geológica, podem ser
utilizados também para balizar o registro como
patrimônio imaterial do Paraná.
177
Liccardo & Chieregati/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 166-179
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Manuscrito ID 31655
Submetido em maio de 2013
Aceito em julho de 2013
179
boletim paranaense
de geociências
volume 70 (2013) 180-189
Mina do Morro do Ouro, Apiaí, SP – A transformação em
parque
Morro do Ouro Gold Mine, Apiaí, SP – Transformation into a park
HÉLIO SHIMADA
Instituto Geológico – SMA, São Paulo - [email protected]
Resumo
A extração de ouro em depósitos secundários em Apiaí, no sul do Estado de São Paulo, foi iniciada na segunda metade do século 17, sendo
realizada de maneira descontínua até meados do século 19. A mineração subterrânea na mina do Morro do Ouro foi iniciada em 1889,
funcionando de maneira intermitente até 1942, quando foi paralisada compulsoriamente, e não mais voltou a operar. Em 1998, após
longo tempo de abandono, foi transformada em área de utilidade pública por meio de lei municipal. Em 2002, foi elaborada proposta para
a conversão da mina abandonada em atrativo turístico, aproveitando as galerias ainda preservadas e as ruínas do beneficiamento. A
proposta foi aceita pelo município, que iniciou a efetiva implantação do parque em 2003. Em 2004, foi oficialmente criado o Parque
Natural Municipal do Morro do Ouro, caracterizando a conversão de um passivo ambiental em sítio geoturístico.
Palavras-chave: Morro do Ouro; Apiaí; mina de ouro; geoturismo; parque natural.
Abstract
The exploitation of gold in secondary deposits started in Apiaí in the second half of the 17th century, and was discontinuously performed
until the end of the 19th century. The underground mining was initiated in 1889 in the Morro do Ouro mine and operated intermittently
until 1942, when it was compulsorily closed, not operating since them. In 1998, after being abandoned for a long time, it turned into an
area of public interest by a municipal law. In 2002, a proposal to turn the former mine into a geotouristic attraction was accepted by the
municipality wich started the effective set up of the park in 2003. In 2004, the Parque Natural Municipal do Morro do Ouro was officially
created, characterizing the conversion of an environmental liability into a geotouristic site.
Keywords: Morro do Ouro; Apiai; gold mine; geotourism; nature park
1. Introdução
O presente texto apresenta o Parque Natural
Municipal do Morro do Ouro (PNMMO), em Apiaí, SP,
criado numa mina abandonada de ouro, convertendo um
passivo ambiental em importante sítio geoturístico. São
abordados o contexto geológico da mineralização
aurífera, o histórico da mineração no Morro do Ouro, o
processo de criação do PNMMO e as considerações sobre
seu futuro e as possibilidades de outras iniciativas
similares na região.
2. Localização
O acesso, partindo de São Paulo, pode ser feito pelo
seguinte roteiro: rodovia Castelo Branco (SP-280) até
Tatuí; rodovia Tatuí – Itapetininga (SP-127), e rodovia
Itapetinga – Apiaí (SP-250). Uma outra opção de acesso, a
partir de São Paulo, é a rodovia Regis Bittencourt (BR116) até Jacupiranga; rodovia Jacupiranga – Eldorado (SP193); e rodovia Eldorado – Apiaí (SP-165) passando por
Iporanga, com o trecho até Apiaí ainda não pavimentado.
Partindo de Curitiba, o roteiro de acesso é:
rodovia Curitiba – Adrianópolis (PR-476) e rodovia
Ribeira – Apiaí (SP-250). Opcionalmente, há o acesso via
Jacupiranga, como acima descrito.
O PNMMO localiza-se imediatamente a leste da
zona urbana de Apiaí (Figuras 1 e 2), no divisor de águas
das bacias dos rios Ribeira de Iguape e Paranapanema.
180
Shimada/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 180-189
Figura 1 – Localização do Parque Natural Municipal do Morro do Ouro.
Figura 2 – O Parque Natural Municipal do Morro do Ouro em imagem do Google Earth.
181
Shimada/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 180-189
3. Contexto geológico da mina do Morro do Ouro
A região da mina do Morro do Ouro está situada
no alto Vale do Ribeira, no largo segmento crustal
denominado Cinturão Ribeira, com cerca de 2.500 km de
extensão e constituindo parte do Sistema Orogênico
Mantiqueira (Brito Neves et al., 1999). O Cinturão
Ribeira, paralelo à linha da costa sudeste, é cortado por
um sistema de zonas de cisalhamentos transcorrentes
dextrais, relacionado às colisões oblíquas entre os
crátons São Francisco, Congo, Luís Alves e Paranapanema
durante o Neoproterozóico (Campanha & Sadowski,
1999; Faleiros et al., 2011). No Neoproterozóico, durante
a Orogenia Brasiliano/Pan-Africana, esse segmento
crustal foi amalgamado, deformado e metamorfizado
(Heilbron et al., 2004; Faleiros et al., 2011; Siga Junior et
al., 2009, 2011; Campanha et al. 2008a, b). Vários autores
realizaram trabalhos de caráter regional no Vale do
Ribeira, entre os quais podem ser citados Campanha
(1991), Daitx (1996), Fassbinder (1996) e Faleiros (2008).
A porção sul do Cinturão Ribeira abrange, de norte para
sul, os terrenos compostos Apiaí, Curitiba e Luís Alves,
delimitados pelas zonas de cisalhamento Lancinha e
Serra do Azeite. O Terreno Apiaí, onde está situado o
Morro do Ouro (Figura 3), é composto por sequências de
rochas supracrustais de baixo a médio grau metamórfico,
originalmente designadas como Grupo Açungui,
posteriormente elevado à categoria de Supergrupo
(Campanha, 1991; Campanha & Sadowski, 1999). A
região foi também objeto de vários projetos de
mapeamento geológico e trabalhos avulsos como os
executados pela CPRM (1981) e Chiodi Filho (1984).
Figura 3 – Contexto geológico da região de Apiaí.
182
Shimada/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 180-189
No Morro do Ouro, predominam as rochas
metamórficas de baixo grau da Formação Água Clara
(Figura 5), com a predominância de xistos variados com
intercalações de calcários, filitos, dolomitos, rochas
calciossilicáticas e quartzitos. As mineralizações auríferas
do Morro do Ouro ocorrem em dois tipos de minério:
veios de quartzo escuro (Figura 4) cortando rochas
metassedimentares de fácies xisto verde da Formação
Água Clara (ca. 1450 - 1500 Ma; Weber et al., 2004) e
m i n é r i o l i m o n í t i co, fo r m a d o p o r q u a r z t i to
(possivelmente chert recristalizado) enriquecido em
óxidos de ferro e intercalado com níveis de limonita
(Paiva e Morgental, 1980) (Figura 6). Nos veios, o ouro
está contido nas estruturas cristalinas dos sulfetos
metálicos de ferro e cobre que, quando oxidados,
apresentam o ouro na forma livre, em partículas de
dimensões variadas. No minério limonítico, o ouro livre
está associado aos óxidos presentes.
Figura 4 – Veio de quartzo aurífero no teto do túnel T-15.
Faleiros (2012) estudou os regimes de fluidos
hidrotermais e a formação dos veios de quartzo aurífero
do Morro do Ouro, identificando dois sistemas: veios NW
extensionais subverticais e veios NE subverticais
paralelos aos planos axiais de dobras apertadas. Os
primeiros foram formados sob pressão de fluidos
litostática a supralitostática (110 - 225 MPa a 225º C), e os
últimos foram formados sob pressão de fluidos próxima a
valores hidrostáticos (55- 80 MPa e a 225º C). Os dois
tipos de veios apresentam inclusões fluidas dos sistemas
CO2-CH4 e H2O-CO2-CH4-NaCl-CaCl2, com salinidades
variando de 4 a 67% em peso de NaCl equivalente.
A mesma autora sugere que os veios mineralizados
podem estar relacionados à falha do Carumbé,
transcorrente dextral de direção NE, adjacente ao Morro
do Ouro, que teria atuado como falha-válvula. Os fluidos
hidrotermais em interação com as rochas encaixantes
foram, provavelmente, enriquecidos em ouro nelas
contido, ocorrendo a posterior precipitação devido às
alterações nas condições físico-químicas dos fluidos. Tais
variações ocorreram como consequência de flutuações
cíclicas na pressão dos fluidos e do regime tectônico
associado a episódios de atividades sísmicas
relacionadas à falha.
183
Shimada/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 180-189
Figura 5 – Mapa geológico simplificado da área do Morro do Ouro.
184
Shimada/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 180-189
Figura 6 – Perfil geológico esquemático A-B (NW-SE) da área do Morro do Ouro.
4. Breve histórico da mina do Morro do Ouro
As mineralizações auríferas do Morro do Ouro
são conhecidas, segundo Calazans (1996), desde a
segunda metade do século 17, quando aventureiros em
busca de ouro, partindo de Iguape, subiram o rio Ribeira
de Iguape até o local então denominado Porto de Apiahy,
a jusante de Itaóca. Sánchez (1984) cita como possível a
descoberta no ano de 1675. Desse local, alcançaram os
ribeirões com cascalho aurífero nos arredores da cidade
atual. O número de garimpeiros aumentou rapidamente,
instalando-se o povoado em Vila Velha do Peão, a norte
do Morro do Ouro. Este passou a ser vasculhado pelos
mineradores por volta do ano de 1770, em busca de
minérios coluviais e eluviais. Na área a oeste do morro
surgiu o povoado de Santo Antonio das Minas de Apiahy,
elevado à categoria de vila em 14 de agosto de 1771. Foi o
19º povoado paulista a se tornar município; porém, sua
emancipação consolidou-se somente em 6 de agosto de
1797, sendo elevado a comarca em 7 de janeiro de 1937.
Após a exaustão das reservas de minério
secundário superficial, foi iniciada a lavra subterrânea do
minério primário no Morro do Ouro, que funcionou de
maneira intermitente entre 1889 e 1942. Neste ano, foi
paralisada de maneira compulsória pelo governo federal
devido ao fato de a mina ser operada por uma empresa
japonesa, permanecendo a mina paralisada e
abandonada até o início dos anos 2000. Paiva e
Morgental (1980) sintetizaram cronologicamente os
fatos relevantes relacionados à mina do Morro do Ouro:
1885 - A empresa Resende & Cia. incumbiu o Eng.
Gonzaga de Campos a realizar pesquisa na zona de Apiaí,
tendo sido a propriedade do Morro do Ouro, considerada
a mais importante entre as estudadas.
1889 - José de Souza organizou uma sociedade,
instalando pilões de madeira com sapatas de aço para
trituração do minério, construindo também uma estrada
de carros de boi subindo o morro.
1902 - Antonio Carlos Melchert constituiu, com alguns
amigos, a empresa Antonio Melchert & Cia., montando
185
Shimada/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 180-189
um sistema de dez pilões e completo equipamento para
amalgamação e cianetação. A iniciativa não produziu os
resultados esperados, sendo paralisada em 1904,
limitando-se os trabalhos às pesquisas em pequena
escala até o ano de 1910.
1910 - David Carlos MacKnight, Frank Edward Krug e
Walter Charnley obtiveram uma opção para estudar a
jazida e oportunamente constituir uma empresa
mineradora. Planejando operações conjuntas com as
instalações de Melchert, encomendaram um moinho
com capacidade de 50 toneladas diárias; porém, a morte
súbita do último motivou o fracasso do
empreendimento. O maquinário ficou depositado em
Itapeva (então Faxina) até 1922.
1922 - MacKnight e seus sócios adquiriram as
propriedades do Morro do Ouro e Água Limpa. No
mesmo ano, um incêndio destruiu as instalações de
Melchert. Mesmo assim, o grupo continuou a lavra do
minério, abrindo 1.600 m de galerias e recuperando 6,5
kg de ouro através de amalgamação até o ano de 1924. O
metal recuperado tinha 76% de ouro e 24% de prata.
1939 - Com o advento do Código de Minas, em 1934,
MacKnight, Krug e Charnley conseguiram o Manifesto de
Mina sob registro no 399, em 20 de abril de 1939. A mina
e seus imóveis estavam então arrendados, desde 16 de
março de 1939, à Cia. de Mineração de Apiaí, com
participação de capital japonês, pelo prazo de 15 anos
com opção para outros 15. A atividade dessa empresa foi
autorizada pelo Decreto no 5.021 de 13 de dezembro de
1939, dando-se início imediato aos trabalhos. No prazo
de um ano, foram abertos 2.500 m de galerias, das quais
saíram cerca de 10.000 t de minério a um teor médio de 5
g/t. Na época, as reservas da jazida foram estimadas em
100.000 toneladas de minério. O tratamento do minério
consistia em britagem, moagem, e recuperação do ouro
grosso por amalgamação com mercúrio. O ouro fino era
recuperado por cianetação, onde o metal era dissolvido
em solução de cianeto de sódio e, após filtragem,
recuperado por precipitação com adição de zinco.
1942 - Com o início da segunda guerra mundial, a mina foi
paralisada por força do Decreto Lei no 4.166, que
determinou o confisco dos bens dos súditos do Eixo
Alemanha - Itália - Japão, sendo nomeados
interventores.
1945 - Ordem de liquidação extra-judicial da empresa.
1960 - A União reconhece que os legítimos donos da
empresa não eram súditos do Eixo, devolvendo o
remanescente do empreendimento à Cia. de Mineração
de Apiaí. Porém, a longa paralisação havia provocado o
colapso no sistema subterrâneo de galerias,
inviabilizando o reinício da lavra conforme o plano
original. Somando-se a isso as condições desfavoráveis
do mercado do ouro na época, a empresa considerou
inviável um novo planejamento de lavra.
Paiva e Morgental (1980) estimaram a reserva
remanescente de minério, para os dois tipos citados e
acima da cota 860 m, em 1.040.000 t de minério, com
teor médio ponderado de 2,58 g/t de ouro. A estimativa
admitiu a extensão do minério ao Morro da Água Limpa.
5. A criação do Parque Natural Municipal do Morro do
Ouro
Em 28 de maio de 1998, a lei municipal de autoria do
então vereador Donizetti Borges Barbosa transformou o
Morro do Ouro em área de utilidade pública, inicialmente
visando apenas preservar os mananciais da cidade.
Shimada (2002) observou que as ruínas das instalações
de beneficiamento poderiam ser recuperadas e algumas
galerias ainda permitem acesso seguro, exibindo as
mineralizações auríferas, e propôs à prefeitura de Apiaí o
aproveitamento geoturístico da mina do Morro do Ouro,
nos moldes de iniciativas similares que conheceu no
exterior. A proposta foi aceita pela prefeitura, decidindose pela criação de um parque natural municipal. Na
época, a propriedade do terreno ainda era privada,
constituindo obstáculo para o projeto. Em 2003, a
empresa Camargo Corrêa Cimentos, que opera fábrica na
cidade, adquiriu o terreno, doando-o à prefeitura. Assim,
teve início a efetiva implantação do parque, oficializada
pelo Decreto Municipal 003/2004. Atualmente, o Parque
Natural Municipal do Morro do Ouro, em área de cerca
de 450 hectares, recebe constantes melhorias na
infraestrutura e conta também com trilhas de caminhada
e um Centro de Informações Turísticas que funciona 24
horas/dia, todos os dias da semana, inclusive feriados
(Figura 7), transformando-se em destacado atrativo
geoturístico e de educação ambiental da região, descrito
por Shimada (2008).
Figura 7 – CIT - Centro de Informações Turísticas do PNMMO
O PNMMO constitui o primeiro dos atrativos
relacionados à história da mineração na região, cujo
início remonta ao século 17, mas tem sido pouco
valorizado. Nesse contexto, Silva & Shimada (1997) e
Shimada et al. (1998) já haviam estudado as minas
abandonadas de chumbo e prata da região, propondo a
recuperação e aproveitamento geoturístico desses sítios,
compondo o "Roteiro das Minas" regional. Os variados
atrativos naturais da região, aliados a esse roteiro,
resgatariam a rica história da mineração e seria mais uma
186
Shimada/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 180-189
interessante opção para os visitantes.
No PNMMO, complementando a infraestrutura
externa de recepção de visitantes e da recuperação das
instalações de beneficiamento (Figura 9), foi proposta a
melhoria das condições do túnel T-15 (Figura 8), o mais
bem preservado, onde é possível implantar um roteiro de
visitação que permite a observação das mineralizações.
Para tanto, foi contratada a consultoria de um
Engenheiro de Minas, que elaborou relatório propondo
medidas de segurança nas galerias (Figura 10), como
interdições de trechos perigosos, aberturas de saídas de
emergência e escoramentos localizados.
Figura 10 – Proposta de adequaçãodo túnel T-15 da mina do
Morro de Ouro ao geoturismo.
O acesso seguro às galerias da antiga mina não
proporcionaria apenas atrativo para os turistas, mas
também de pesquisadores interessados em estudos da
mineralização aurífera, como os realizados por Faleiros
(2012).
6. Considerações finais
Figura 8 – Uma das entradas do túnel T-15
Figura 9 – Ruínas das instalações de beneficiamento, próximas
ao CIT
Paralelamente, foi proposto o mapeamento
detalhado dos demais túneis do Morro do Ouro, para
seleção daqueles mais adequados para potencial
aproveitamento geoturístico.
O Parque Natural Municipal do Morro do Ouro é
uma iniciativa pioneira na região do alto Vale do
Ribeira/alto Paranapanema, e tem atraído numerosos
visitantes, principalmente dos municípios vizinhos,
incluindo excursões didáticas das escolas. No entanto, a
criação do Parque Natural Municipal do Morro do Ouro
pode ser considerada apenas parcialmente bem sucedida
porque, apesar de regularmente visitado, ainda
demanda medidas essenciais para a sua completa
implantação. Considera-se adequada a infraestrutura
externa de recepção; mas, as medidas propostas para a o
túnel T-15 ainda não foram executadas devido à
indisponibilidade de recursos, comprometendo a
preservação do patrimônio geológico nele contido.
Também não foi realizado o mapeamento dos demais
túneis para possível aproveitamento geoturístico.
C o n s i d e ra - s e a l t a m e n t e re l e va n t e a
preservação dos atrativos geoturísticos do PNMMO e das
outras minas antigas da região, visto que a região é
sabidamente carente de opções de renda. O aporte de
recursos pelos turistas certamente contribuiria para o
desenvolvimento sustentável e valorizaria a história da
mineração.
187
Shimada/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 180-189
Agradecimentos: O autor agradece a Secretaria de
Turismo, Cultura e Meio Ambiente que, nas pessoas de
sua Secretária, Milena Alencar, da Diretora de Meio
Ambiente Paula Daniel Fogaça e do Diretor do PNMMO,
Francisco de Assis Ferrenha Junior, forneceram
informações importantes para este artigo.
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Manuscrito ID 30970
Submetido em fevereiro de 2013
Aceito em junho de 2013
189
boletim paranaense
de geociências
volume 70 (2013) 190 - 199
Cavernas como patrimônio geológico
Caves as geological heritage
HEROS AUGUSTO SANTOS LOBO*, PAULO CESAR BOGGIANI**
*Universidade Federal de São Carlos - [email protected]
**Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo - [email protected]
Resumo
Cavernas são feições geológicas que apresentam também aspectos bióticos e abióticos, além dos geológicos, que possibilitam enquadrálas em diferentes categorias do patrimônio natural. Se forem considerados ainda aspectos históricos e culturais, outras formas de
enquadramento como patrimônio são possíveis, além do paisagístico, no qual a maioria das cavernas do Brasil vem sendo enquadradas,
quando caracterizadas como patrimônio. No presente texto pretende-se discutir a relação entre cavernas e patrimônio geológico,
entendendo-se como patrimônio geológico apenas as feições geológicas de excepcional valor científico. Partindo-se desse pressuposto,
raras são as cavernas que podem ser enquadradas desta forma. Para subsidiar trabalhos futuros no enquadramento de cavernas como
patrimônio geológico, o que somente deverá ser feito após a realização de inventário e categorização de valores, é apresentado um
panorama geral sobre as cavernas no Brasil, com destaque para as que apresentam feições geológicas notáveis, juntamente com
discussão sobre as formas de acesso da sociedade a esse patrimônio e sua proteção.
Palavras-chave: Patrimônio Geológico; Cavernas; Carste; Geoturismo; Espeleoturismo.
Abstract
Caves show not only geological features, but also biotic and abiotic characteristics, everything which allows them to be classified as
natural heritage sites. Caves can be classified as sites of historic and cultural heritage, in addtion of landscape heritage value, by which the
most Brazilian caves are classified. In this text, there is a discussion about the relationship between caves and geological heritage, keeping
in mind that only which is remarkable in terms of geological record is considered as a heritage. Under this definition, not all caves can be
considered as Geological Heritage. An overview of Brazilian caves is shown with the subject to begin the discussion, because only after a
complete inventory will be possible to list the caves which can be regarded as geological heritage, along with a discussion on the visitation
and the conservation of Brazilian caves.
Key words: Geological Heritage; Caves; Karst; Geotourism; Speleotourism.
1. INTRODUÇÃO
Cavernas são mais conhecidas pela beleza de
seus espeleotemas ou dimensões de seus portais e
salões subterrâneos. Geralmente são esses atributos os
primeiros a serem utilizados para justificar a importância
e necessidade de sua preservação. No entanto, cavernas
não apresentam apenas valores cênicos e paisagísticos.
Apresentam um rico conjunto de elementos bióticos,
climáticos, paleontológicos e geológicos por vezes
atípicos, o que justifica enquadrá-las com patrimônio
natural. Podem também, conforme o caso, serem
consideradas patrimônio cultural, histórico e
arqueológico, dada a diversidade de características
naturais, históricas e culturais que apresentam.
No presente texto, é apresentada discussão
sobre o enquadramento específico de cavernas como
patrimônio geológico, entendendo-se este, a princípio,
como as feições geológicas raras e excepcionais que
auxiliam na interpretação da evolução geológica do
Planeta. Ao seguir esse direcionamento, raras serão as
cavernas a serem enquadradas como patrimônio
geológico, o que não exclui, naturalmente, a classificação
em outras categorias patrimoniais.
Apenas após um inventário detalhado e o mais
completo possível das cavernas brasileiras é que seria
possível listar as que poderiam vir a ser considerada
exclusivamente como patrimônio
geológico. No sentido de subsidiar essa discussão é
apresentado diagnóstico preliminar, em parte no que já
foi proposto para a Comissão Brasileira dos Sítios
Geológicos e Paleobiológicos – SIGEP.
Definidas as cavernas a se enquadrarem como
patrimônio geológico, o próximo passo é dar acesso a
esse patrimônio para a sociedade. Apesar de muitas
cavernas no Brasil encontrarem-se em franca atividade
turística, pouco ou nada é divulgado a respeito do
conhecimento geológico e raras são as regiões onde as
comunidades envolvidas se beneficiam desta atividade
turística.
190
Lobo & Boggiani/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 190-199
2. CAVERNAS COMO PATRIMÔNIO GEOLÓGICO
Uma caverna pode vir a ser considerada
patrimônio geológico se ela, por si só, possibilitar
interpretação paleoambiental ou paleoclimática, ou
mesmo apresentar registro geológico atípico. A ausência
de preservação destas feições implica em prejuízo para as
ciências geológicas no sentido de não ser mais possível
entender o processo que ali ocorria.
Levando-se em consideração que para se
classificar como patrimônio, nas mais diferentes
categorias, a excepcionalidade e raridade é um dos
principais critérios, nem toda caverna se enquadra como
patrimônio geológico, assim como nem toda edificação,
documento ou bem cultural é considerado patrimônio
arquitetônico, histórico ou cultural.
Uma caverna pode vir a ser considerada como
patrimônio paisagístico, em função da excepcional
beleza, mas isso não implica que essa caverna venha a ser
um patrimônio geológico. Pode também vir a ser inserida
como patrimônio histórico, se ela foi palco de algum ato
passado de importância histórica, ou cultural, como
algumas utilizadas para eventos religiosos. Da mesma
forma que pode ser considerada como patrimônio
paleontológico ou arqueológico, em função da
preservação de fósseis e vestígios humanos pretéritos.
Uma caverna pode, então, ser enquadrada
como patrimônio paisagístico, histórico, cultural,
paleontológico ou arqueológico, mas a questão que se
pretende levantar é como uma caverna pode ser
considerada patrimônio geológico, no seu sentido
exclusivo, ou seja, relacionado a feição ou processo
geológico raro e excepcional que seja fundamental para o
entendimento da evolução geológica da área onde se
encontra ou da evolução cárstica em geral.
A Associação Européia para Conservação do
Patrimônio Geológico (ProGEO) apresentou protocolo e
princípios de geoconservação (ProGEO 2011) onde
patrimônio geológico é definido como as localidades
(geossítios) e objetos (espécies in situ e em museus) que
fornecem percepções especiais para a evolução orgânica
e inorgânica da Terra desde sua formação, há 4,5 bilhões
de anos atrás.
Pela definição acima, fica claro que nem toda
feição geológica ou paleontológica pode ser
caracterizada como patrimônio geológico. A
excepcionalidade do patrimônio geológico, assim como
em outras formas de patrimônio, já havia sido destacada
na definição apresentada por Brilha (2005), segundo a
qual, esse tipo de patrimônio envolve o conjunto de
ocorrências in-situ (geossítios) e ex-situs (coleções
museológicas), onde elementos da geodiversidade têm
um excepcional valor científico. A diferença é que o
citado autor considera também as feições que
apresentam valores educativos e turísticos associados.
No processo de definição das feições geológicas
e amostras que venham a ser consideradas como
patrimônio é necessário definir a valoração destas
ocorrências, o que acaba sendo algo subejtivo, como
apresentado por Brilha (2005), o que torna difícil e
complicado o processo de categorização e definição do
que venha a ser considerado patrimônio geológico.
Algumas cavernas no Brasil já são consideradas
patrimônio e tombadas pelo Iphan – Instituto do
Patrimônio Artístico e Histórico Nacional, tendo como
base os valores paisagísticos. As grutas do Lago Azul e
Nossa Senhora Aparecida, localizadas em Bonito-MS,
foram registradas no Livro do Tombo Arqueológico,
Etnográfico e Paisagístico deste órgão em função de seu
valor paisagístico e a gruta da Mangabeira, na Bahia, pelo
seu valor cultural. Cabe ressaltar que na instrução para o
tombamento destas cavernas, nenhum aspecto explícito
da geologia foi considerado (Delphim 2009).
São raras, portanto, as cavernas que possam vir
a ser considerada exclusivamente como patrimônio
geológico. Se uma caverna apresenta dimensões
extremas, esta pode ser enquadrada como patrimônio
paisagístico, bem como quando apresenta espeleotemas
com formas, arranjos e cores inusitados, mas não
exclusivamente geológico. Seria geológico se apresentase ocorrência mineralógica rara, independente da beleza
dos espeleotemas.
Em função do potencial de uma caverna para
registros paleoambientais, principalmente a partir de
estudos geoquímicos de espeleotemas, este pode vir a
ser um critério significativo para definir uma cavidade
como patrimônio geológico. Os estudos paleoclimáticos
a partir de espeleotemas são realizados a partir da
investigação do registro de razões isotópicas de oxigênio,
juntamente com datações das variações desses registros
pelo método U/Th. O Brasil tem se mostrado uma região
importante para esse tipo de estudo, em função da
distribuição geográfica das cavernas por diferentes
latitudes, o que possibilita comparações das variações
climáticas registradas no mesmo intervalo de tempo
(Auler et al. 2009, Cruz Jr et al. 2009).
Uma caverna pode apresentar fenômeno
geológico atípico no processo de sua formação ou de
geração de determinado espeleotema raro. Exemplo
seria a toca da Boa Vista na Bahia, considerada a maior
caverna no Hemisfério Sul, onde interpreta-se que sua
origem estaria relacionada a raro processo de oxidação
de sulfetos (Auler & Smart 2002). Na Serra da
Bodoquena, em Mato Grosso do Sul, o processo de
formação de tufas calcárias é tão intenso ao ponto de
formar cavidades com dezenas de metros de
desenvolvimento. Ao contrário das demais cavernas,
essas cavidades originam-se pelo crescimento de tufa ao
redor redor do espaço e não por dissolução, como a
maioria das cavernas, sendo assim cavernas acrescionais
(Sallun Filho et al. 2009). Exemplo deste atípico processo
191
Lobo & Boggiani/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 190-199
de formação de caverna em tufas foi descrito também no
Vale do Ribeira - caverna do Rio Fria - no Estado de São
Paulo (Sallun Filho et al. 2011).
Outra forma de uma caverna vir a ser
considerada como patrimônio geológico seria a
presença, em seu interior, de exposição de feição
excepcional da rocha encaixante, mas nesse caso, a
caverna teria sua importância apenas em função de
possibilitar o acesso e observação desta feição e não pela
sua característica geoespeleológica intrínseca.
3. PANORAMA DAS CAVERNAS NO BRASIL E
POTENCIAIS SÍTIOS GEOLÓGICOS
As cavernas apresentam dimensão variada e
são formadas principalmente em rochas carbonática,
podendo se desenvolver também em arenitos,
quartzitos e formações ferríferas.
Neste vasto cenário espeleológico, torna-se
impossível obter uma estimativa real sobre a quantidade
de cavernas que existem no mundo. No Brasil, as
estimativas variam bastante, chegando em 300.000
c av i d a d e s ( P i l ó & A u l e r 2 0 1 1 ) , d a s q u a i s
aproximadamente 10.220 já foram cadastradas, segundo
dados do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de
Cavernas (CECAV), do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vinculado ao
Ministério do Meio Ambiente (Jansen et al. 2012).
Grande parte das cavernas conhecidas encontra-se nas
extensas áreas de exposição de rochas carbonáticas do
Brasil Central (MG, GO, DF, BA), no vale do Ribeira (SP/PR)
e na Serra da Bodoquena (MS), bem como em áreas em
franca expansão de lavra de minério de ferro, como a
Serra dos Carajás, no Pará.
Se quantitativamente as comparações perdem
sentido na vastidão de cavernas existentes no país e no
mundo, qualitativamente elas ganham escopo a partir
dos critérios tradicionalmente estabelecidos, como
grandezas, variedades litológicas, fenômenos raros ou
mesmo contextos paisagísticos diferenciados. A começar
pelas grandezas, e com base nos dados do Cadastro
Nacional de Cavernas (CNC) da Sociedade Brasileira de
Espeleologia (SBE 2013) e da National Speleological
Society (NSS 2013), a mais extensa caverna do mundo já
conhecida é a Mammoth Cave, nos Estados Unidos da
América, com aproximadamente 643 km já mapeados.
No Brasil, a mais extensa é a Toca da Boa Vista, em Campo
Formoso, BA, que já tem 107 km explorados e mapeados,
sendo a 21ª na lista mundial. A mais profunda de todas é
o abismo Voronya (também conhecido como Krubera),
na Geórgia, na fronteira entre Europa e Ásia, com 2.197 m
de profundidade. No Brasil, o abismo Guy Collet, em
Barcelos, no Estado do Amazonas, é o maior desnível já
registrado, com 670 m. Além disso, trata-se do mais
profundo abismo em quartzito do mundo.
Ainda no campo das grandezas, está em
território brasileiro a caverna que provavelmente possui
o maior pórtico de entrada do mundo, a gruta Casa de
Pedra, no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira
(PETAR), em Iporanga, SP, cujo registro oficial é de 215 m
de altura. Sem conotação de grandeza mundial, mas
também com dimensão notável em sua categoria, o lago
do Cruzeiro, no interior do Buraco do Inferno da Lagoa do
Cemitério, em São Desidério, BA, possui área de 12.860
m2, sendo o maior lago subterrâneo conhecido no país. A
gruta das Bromélias, no Parque Estadual de Ibitipoca,
Minas Gerais, com 2.342 m de desenvolvimento, está
entre as cinco mais extensas do mundo nas litologias
arenito/quartzito – apesar de não estar oficialmente
listada pela NSS (2013). Uma última menção interessante
na escala das grandezas é a gruta Riacho Subterrâneo, em
Itu, SP. Com 1.291 m já topografados, trata-se da mais
extensa caverna em granito no manto de alteração dessa
rocha do Brasil e, embora também não conste na lista da
NSS (2013), se posiciona na atualidade como a terceira
mais extensa do mundo para tal litologia.
No campo dos fenômenos naturais raros, talvez
o caso mais notável no Brasil seja o sifão de ciclo
intermitente no interior da dolina do João Baio, em São
Desidério, BA. Trata-se de uma das ressurgências do rio
João Rodrigues, por meio da gruta do João Baio I, no
fundo da dolina homônima. Em um período cíclico de
poucos minutos, pode-se observar a variação do nível do
rio na saída da caverna, que oscila entre 30 cm e 100 cm,
conforme a época do ano (Figuras 1 a 4). Trata-se de um
registro único no país, e um dos poucos já descritos no
mundo.
192
Lobo & Boggiani/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 190-199
Figura 1 – Primeiro estágio de variação do nível d'água na
ressurgência da gruta do João Baio, em São Desidério-BA. O
nível d'água apresenta o seu volume mínimo habitual.
(Fotografia de Alexandre Lobo).
Figura 2 – Estágio intermediário de variação do nível d'água na
ressurgência da gruta do João Baio, em São Desidério-BA.
(Fotografia de Alexandre Lobo).
Figura 3 – Estágio intermediário de variação do nível d'água na
ressurgência da gruta do João Baio, em São Desidério-BA.
(Fotografia de Alexandre Lobo).
Figura 4 – Quarto estágio de variação do nível d'água na
ressurgência da gruta do João Baio, em São Desidério-BA. O
nível d'água apresenta o seu volume máximo. O ciclo completo
ocorre em menos de 5 min (fotografias de Alexandre Lobo).
A análise das cavernas que constam da na lista
da Comissão Brasileira dos Sítios Geológicos e
Paleobiológicos – SIGEP na categoria de sítios
espeleológicos (Tabela 1) demonstra que parte são
apresentadas em conjunto e integradas ao carste onde se
desenvolvem ou isoladas, mas em ambos os casos foram
propostas principalmente com base no valor paisagístico,
e não apenas no geológico.
193
Lobo & Boggiani/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 190-199
Sítio
Localização
Categoria de proteção
Carste e Cavernas do Parque Estadual Iporanga e Apiaí, SP
Parque Estadual.
Turístico do Alto Ribeira, SP
Vespasiano, Pedro Leopoldo, Área de Proteção Ambiental - APA Federal,
Carste de Lagoa Santa, MG
Confins, Lagoa Santa, Matozinhos, Parque Estadual e Monumentos Naturais
Funilândia e Prudente de Morais, Estaduais.
MG
Gruta do Centenário, Pico do Inficionado Mariana e Catas Altas, MG
Reserva de Patrimônio Natural Privada –
(Serra do Caraça), MG
RPPN.
Toca da Boa Vista, BA
Campo Formoso, BA
Localizado em área particular, sem
proteção formal específica.
Cavernas do Vale do Rio Peruaçu, MG
Januária e Itacarambi, MG
Grutas de Iraquara, BA
Iraquara, Seara e Palmeiras, BA
Parque Nacional.
Parcialmente em Parque Nacional. Grande
parte das cavernas se encontra em áreas
particulares, sem proteção formal
específica.
Lapa dos Brejões - Vereda Romão São Gabriel, João Dourado e Morro
Gramacho, Chapada Diamantina, BA
do Chapéu, BA (Berbert-Born & APA Estadual.
Karmann 2012)
Caverna Aroe Jari, Chapada dos Guimarães, Chapada dos Guimarães, MT
Localizado em área particular, sem
MT
proteção formal específica.
Poço Encantado, Chapada Diamantina Itaetê, BA
Localizado em área particular, sem
(Itaetê), BA
proteção formal específica.
Furna do Buraco do Padre, PR
Ponta Grossa, PR
APA Estadual e Parque Nacional.
Gruta do Lago Azul, MS
Bonito, MS
Patrimônio tombado pelo Iphan e
Monumento Natural Estadual.
Tabela 1 – Sítios espeleológicos descritos no SIGEP - Comissão Brasileira dos Sítios Geológicos e Paleobiológicos e estado atual de
proteção. Fonte: Dados do SIGEP (2013), complementado pelos autores.
Existe ainda no SIGEP outros dezesseis sítios
espeleológicos indicados e mais oito sugestões
preliminares, como a gruta de Maquiné, MG e as grutas
do Parque Nacional de Ubajara, CE. Embora a lista seja
considerável, não esgota em representatividade a
variedade espeleológica nacional. Exemplos como a
gruta Guy Collet, em Barcelos, AM, ou mesmo o carste de
São Desidério, BA, estão entre aqueles que merecem
destaque no âmbito nacional e mundial, e demonstram
que a lista dos sítios geológicos no SIGEP, na categoria de
cavernas, necessita ser complementada.
No âmbito mundial, a questão do patrimônio
espeleológico e cárstico vem sendo tratada pela União
Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN),
sob os auspícios da UNESCO. A primeira tentativa de
obtenção de uma lista mundial, publicada por Williams
(2008), aponta para um total de 45 sítios ao redor do
mundo, que são listados como bens do patrimônio
m u n d i a l c o m fe i ç õ e s c á rs t i c a s e c av e r n a s
internacionalmente significativas. Em sua maioria, estão
localizados em regiões temperadas úmidas (13 sítios) e
tropicais úmidas (7 sítios). Em termos geopolíticos,
destacam-se a Austrália, China (5 sítios cada), Cuba e
Estados Unidos (3 sítios cada). Além desta lista, uma
segunda acompanha a publicação, com locais que
representam tentativas para a inclusão na lista, com 30
sítios. Nesta lista aparece a única menção ao Brasil, com o
canyon do rio Peruaçu, localizado no Parque Nacional
Cavernas do Peruaçu, entre Januária e Itacarambi, MG
(Figuras 5 a 8). Segundo Williams (2008), sua inclusão se
justifica por se tratar, possivelmente, do mais longo
canyon formado por colapso em área cárstica registrado,
acompanhado de uma caverna com excepcional
decoração de espeleotemas, percorridos por um rio com
significativa variação no nível d'água. Além disso, outras
feições chamam a atenção ao autor, como as enormes
dolinas de colapso, pontes naturais, nascentes e rios e
feições cársticas típicas.
194
Lobo & Boggiani/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 190-199
Figura 5 – Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no Norte de
Minas Gerais. Gruta do Janelão. (Fotografia de Heros A. S.
Lobo).
Figura 8 – Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no Norte de
Minas Gerais. Sítio arqueológico escavado na lapa do Boquete,
onde foram encontrados vestígios datados em 12.000 BP
(Fotografia de Heros A. S. Lobo).
Por outro lado, cabe ressaltar que a inclusão de
um sítio na lista de patrimônios naturais mundiais
depende de critérios já estabelecidos pela UNESCO,
sendo a lista de áreas cársticas e cavernas uma primeira
tentativa de enquadramento. Em síntese, os critérios que
justificam a inclusão de um sítio como patrimônio natural
mundial são, conforme Williams (2008):
- abrigar fenômenos naturais superlativos, ou
áreas de excepcional beleza natural ou importância
estética;
Figura 6 – Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no Norte de
Minas Gerais. Painel de pinturas rupestres no paredão ao lado
da lapa dos Desenhos. (Fotografia de Heros A. S. Lobo).
- apresentar exemplos marcantes dos estágios
da história da terra, incluindo registros da vida, processos
geológicos e de desenvolvimento do relevo, ou mesmo
características geomórficas ou fisiográficas significativas;
- apresentar exemplos marcantes de processos
ecológicos e biológicos evolutivos, de ecossistemas
terrestres, aquáticos, costeiros e marinhos;
- abrigar hábitats importantes para a
conservação in situ da diversidade biológica, incluindo
aqueles que contêm espécies ameaçadas de marcante
valor universal, sob a ótica da ciência ou da conservação.
Figura 7 – Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no Norte de
Minas Gerais. Feições do carste local, na trilha da lapa do
Carlúcio. (Fotografia de Heros A. S. Lobo).
Do ponto de vista técnico, uma área pode ser
considerada como patrimônio natural da humanidade ao
atender a um dos requisitos acima. No caso específico
das cavernas e áreas cársticas, Williams (2008) cita
também que a localização no hemisfério sul é um critério
importante a ser considerado, uma vez que a maioria dos
sítios formalmente reconhecidos se localiza no
hemisfério norte, o que aumenta a importância deste
tipo de estudo no Brasil.
195
Lobo & Boggiani/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 190-199
4. USO TURÍSTICO DAS ÁREAS CÁRSTICAS E CAVERNAS
O turismo no Brasil em área cársticas e cavernas
ainda é subexplorado, em relação ao seu potencial de
aproveitamento. Aproximadamente 200 cavernas
apresentam algum tipo de visitação no país (Lobo et al.
2008) seja de forma turística tradicional - como
contemplativo, educacional, religiosos e de aventura - ou
com visitação esporádica.
Poucas são as cavernas com fluxo constante de
visitação e com infra-estrutura adequada. As cavernas
mais visitadas têm recebido fluxos anuais da ordem de
50.000 visitantes, como é o caso das grutas do Lago Azul
(Bonito-MS) e de Maquiné (Cordisburgo-MG). Algumas
podem receber ordem de grandeza semelhante, mas
devido a não apresentarem controle de número de
visitas fica difícil precisar, como seriam algumas cavernas
da Chapada Diamantina na Bahia. No PETAR, o conjunto
de cavernas recebe por volta de 20 000 visitas por ano.
Também é notável o fluxo de visitação em cavernas que
recebem romarias, como o santuário de Bom Jesus da
Lapa, na Bahia. Nos últimos anos, a visitação desta
caverna, com seu interior transformado em igreja, tem se
aproximado da casa de 1 milhão de visitantes, entre
romeiros e turistas. Trata-se de uma forma diferenciada
de visitação, motivada pela religiosidade.
Dentre os casos citados, exemplos como a gruta
de Maquiné ou as cavernas do PETAR são emblemáticos,
por despontarem como destinos evidentemente
espeleoturísticos, com alto grau de dependência do
desenvolvimento do turismo em função das cavernas.
Como consequência, observa-se o desenvolvimento da
cadeia produtiva do turismo em função destes atrativos,
com maior grau de especialização e formação das
comunidades locais para atender especificamente a
estas demandas, gerando centenas de empregos diretos
e indiretos e permitindo ampliar o desenvolvimento
local.
Por outro lado, ações como o fechamento das
cavernas ocorrido em 2008 no PETAR, por falta de licença
ambiental dos empreendimentos turísticos ali
realizados, geraram situações que contradizem os
princípios sociais do Ecoturismo e mesmo do
Espeleoturismo (sensu Lobo et al. 2010). Isto porque o
fluxo de visitantes à região, no período de fechamento
das cavernas, chegou praticamente a zero (Lobo 2008),
gerando prejuízos temporários para as comunidades
locais dependentes do turismo e mesmo para a imagem
do destino, os quais ainda não são plenamente
conhecidos. Alia-se a isso o fato de que, passados cinco
anos, as cavernas ainda não têm um instrumento legal de
gestão implantado, funcionando em caráter precário e
sem um procedimento adequado de limites de uso e
gestão do fluxo de visitantes, prejudicando a imagem do
destino e afastando os turistas da região.
Em outro contexto, a gruta do Lago Azul, em
Bonito-MS, embora seja a caverna com maior número de
visitas anuais no Brasil nos últimos anos, não pode ser
co n s i d e ra d a co m o u m d e st i n o t i p i ca m e nte
espeleoturístico. A exposição massiva na mídia faz com
que os turistas que visitam Bonito necessariamente
queiram ir à gruta, mas é necessário ressaltar que a gruta
não é o único atrativo a atrair turistas à região, procurada
pelos rios e nascentes de águas límpidas com formações
de tufas calcárias na forma de cachoeiras e barragens
naturais associadas ao relevo cárstico. A existência
destes atrativos se deve à sua localização em um terreno
cárstico, o qual por suas características geológicas e
hidrogeológicas, gera formas de relevo inusitadas e
visualmente atraentes. Bonito, em suma, é um destino
de turismo cárstico, termo pouco usado no Brasil, mas
comum no exterior, tendo como exemplos clássicos o
Kras Turizen esloveno, o Plitvice Jezera, na Croácia ou
mesmo os parques cársticos chineses. Nestes casos, a
abordagem é voltada para aspectos gerais da paisagem,
mais próximo ao Geoturismo, como recentemente vem
sendo recentemente desenvolvido no Brasil. Todavia, a
região de Bonito ainda aproveita de forma incompleta
este contexto paisagístico cárstico, deixando de
considerar um potencial latente de educação e
informação ao visitante, principalmente relacionado ao
excepcional conjunto de tufas calcárias em suas
drenagens. Projeto em curso para implantação do
Geopark Bodoquena - Pantanal pode contribuir para o
início da reversão deste cenário.
5. MEDIDAS FORMAIS DE PROTEÇÃO DO CARSTE E DAS
CAVERNAS
O Brasil é deficiente de legislação específica
para a proteção de suas áreas cársticas e cavernas.
Diversas tentativas de proposição de uma legislação para
tal já foram realizadas, com notável enfoque nas
cavernas (como elementos isolados) e, em perspectivas
mais amplas, com alguma abordagem sistêmica. A falta
de articulação específica da sociedade civil, aliada à baixa
prioridade que notoriamente é dada no âmbito político
para a questão ambiental, culminaram recentemente na
promulgação do Decreto 6.640, de 7 de novembro de
2008. Este, segundo seu caput, tem por objetivo dispor
“sobre a proteção das cavidades naturais subterrâneas
existentes no território nacional”.
Na prática tal instrumento vem sendo
questionado pela sociedade civil e em comunicações
científicas (e.g. Berbert-Born 2010; Trajano & Bichuette
2010; Figueiredo et al. 2010), sobretudo em função da
tentativa de classificação das cavernas segundo graus de
relevância. De um modo geral, argumenta-se que o
caminho de classificação da relevância abre
possibilidades para definir uma caverna como
irrelevante, sob critérios ainda não consolidados e
196
Lobo & Boggiani/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 190-199
e desproporcionais em relação aos diversos estudos
ambientais necessários. Por outro lado, na prática, os
estudos de análise de relevância têm apontado para
resultados que inviabilizam o desenvolvimento de
algumas atividades de mineração na área onde as
cavernas ocorrem, o que demonstra que o mencionado
decreto e seus mecanismos posteriores não atendem de
forma satisfatória nem os aspectos da conservação e
nem aqueles do desenvolvimento econômico.
Deve-se considerar que a atividade turística em
caverna, necessária para acesso da Sociedade a esse bem
e para o desenvolvimento de projetos educacionais, se
não realizada com os cuidados e planejamento
específicos pode gerar danos até irreversíveis (Cigna &
Burri 2000; Lobo 2006). No Brasil, tem sido empregado o
Plano de Manejo Espeleológico (PME) como instrumento
para compor ou até mesmo substituir o processo de
licenciamento ambiental de empreendimentos
turísticos, embora não haja consenso sobre ser este o
formato mais adequado para tal (Boggiani et al. 2007). Os
resultados práticos destes instrumentos têm
demonstrado que o enfoque dos estudos muitas vezes é
equivocado, pois concentra-se na descrição e
caracterização geral do ambiente, mas sem considerar de
modo adequado a escala, intensidade e frequência do
vetor de pressão representado pelo turismo. Assim,
muitos dos PMEs produzidos no país são amplos em seus
diagnósticos ambientais – e, portanto, custosos – e
superficiais em aspectos fundamentais, como o manejo
do Espeleoturismo e a avaliação do impacto das
infraestruturas internas e externas necessárias à
visitação.
Talvez o maior problema neste caso seja fato de
que os PMEs das poucas cavernas brasileiras que
possuem este estudo não são implantados como
propostos originalmente. Os PMEs vêm se tornando
apenas um instrumento formal para fins de
cumprimento da legislação ou para precaução do órgão
gestor em caso de implicações legais – por exemplo,
quando da ocorrência de acidentes fatais. Desta forma,
não há sequer como discutir a eficácia do PME, já que
exemplos concretos de seu funcionamento ainda são
raros no Brasil.
Outro aspecto a ser considerado no âmbito da
conservação do carste e das cavernas do Brasil é a sua
relação com o desenvolvimento agrícola. Instrumentos
como os providos por meio do Decreto 6.640 são
normalmente aplicados nos casos de atividades de
mineração e de hidrelétricas, onde existe a evidente
possibilidade de supressão ou destruição total de uma
área, carecendo de estudos que autorizem estes
procedimentos. Para as atividades de turismo, prevê-se a
elaboração de Planos de Manejo Espeleológico, através
do qual tem-se por objetivo promover a visitação
turística com o mínimo de impacto ambiental. No
entanto, observa-se que as atividades agrícolas não têm
sido objeto de análise por nenhum diploma legal que
relacione as suas práticas à conservação do carste e das
cavernas. Trata-se de um caso delicado e de necessidade
de resolução urgente, já que tais atividades, muitas
vezes, não promovem a supressão direta do recurso
ambiental, mas podem causar danos irreversíveis
principalmente na rede hidrológica superficial e
subterrânea, além da aceleração dos processos erosivos
e também pelo uso de defensivos agrícolas. Como
exemplo, é comum a ocorrência de cavernas assoreadas
quase que por completo, quando da existência de
propriedades agrícolas à montante dos cursos d'água
que as alimentam.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sendo possível enquadrar cavernas nas diversas
formas de patrimônio, na sua maioria pelo valor
paisagístico, raras são as que podem vir a ser
enquadradas exclusivamente como patrimônio
geológico. Para tal, deve-se considerar apenas aquelas
que apresentam fenômeno geológico raro, ou então
registro paleoambiental ou climático. De uma certa
forma, as dimensões excepcionias de galerias, portais e
desenvolvimento total, poderiam justificar a inclusão na
categoria de patrimônio geológico, e não apenas
paisagístico, uma vez que encontram-se relacionadas a
processos geológicos também excepcionais.
Com a expansão da atividade minerária,
discussões vêm sendo realizadas sobre a relevância de
uma caverna. Diante desta situação, a definição de quais
se enquadram como patrimônio geológico é necessária.
Definidas as cavernas que representam patrimônio
geológico, formas para sua conservação devem ser
implantadas. Para tanto, o recurso de tombamento, ou o
enquadramento na modalidade de Unidade de
Conservação de categoria Monumento Natural, têm se
mostrado satisfatórios.
Outra medida a ser tomada é o amplo acesso da
sociedade a esse patrimônio, através do Geoturismo e do
Espeleoturismo, com ênfase nos projetos educacionais e
de divulgação científica. Tendo em mente que essas
formas de turismo, como modalidades derivadas do
ecoturismo, implicam no benefício das comunidade
locais. Desta forma, as cavernas cumpririam sua função
social, vindo a ser não mais um problema para a
expansão econômica, e sim uma possível solução
sustentável para regiões sem opções de emprego e
renda.
197
Lobo & Boggiani/Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 190-199
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Manuscrito ID 31698
Submetido em abril de 2013
Aceito em agosto de 2013
199
boletim paranaense
de geociências
volume 70 (2013) 200 - 208
Knickpoint Finder: ferramenta para a busca de geossítios
de relevante interesse para o geoturismo
Knickpoint Finder: tool for searching geosites of relevant interest for geotourism
EDUARDO SALAMUNI, EDENILSON ROBERTO DO NASCIMENTO, PEDRO AUGUSTO HAUCK DA SILVA,
GUSTAVO LOPES QUEIROZ, GRACIANY DA SILVA
Universidade Federal do Paraná - [email protected]
Resumo
O trabalho objetiva mostrar a aplicação no geoturismo de uma nova ferramenta computacional de análise morfométrica da rede de
drenagem baseada nos métodos de Hack (1957, 1973) e Etchebehere (2004), para aplicação em estudos de enfoque neotectônico. A
rotina criada trabalha a partir de um modelo digital de elevação (MDE) de modo a gerar um mapa de pontos de ruptura de declive de
drenagem e/ou quebra de relevo (knickpoints) e foi programada em Python para uso acoplado ao software de sistemas de informação
geográfica ArcGIS®, denominada de Knickpoint Finder.Uma área de estudo foi selecionada de maneira a testar e avaliar a capacidade do
software na análise e identificação de knickpoints a partir do estudo da morfologia de um recorte geográfico na Serra do Mar no estado do
Paraná, com o objetivo de determinar possíveis geossítios com interesse geoturístico. Após a aplicação da ferramenta na área de estudo
constatou-se que os dados de knickpoints obtidos podem caracterizar com rapidez e eficácia pontos de interesse relevante à pesquisa
geoturística inicial, principalmente no que tange ao inventário de pontos de beleza cênica relevante em se tratando de corredeiras,
cachoeiras ou cascatas. Para que a análise regional possa ser realizada a contento é necessário o emprego de técnicas de representação
espacial de dados que podem ser realizadas pelo próprio ArcGIS®, imediatamente após o processamento do Knickpoint Finder. Os
resultados da técnica mostraram-se satisfatórios na correlação da maior ocorrência de knickpoints com a probabilidade do encontro de
geossítios em áreas de grande amplitude, constatando-se ganho de velocidade de delimitação dos mesmos. Desta forma pode-se
considerar a ferramenta virtual obtida como satisfatório recurso de auxílio na análise morfométrica voltada ao geoturismo, podendo ser
aplicada em qualquer área onde haja cobertura de modelos digitais de elevação.
Palavras-chave: Geoturismo; geossítios; MDE; knickpoint; software.
Abstract
The study aims to illustrate the geotourism application of a new computational tool for morphometric analysis of the drainage network
that is based on Hack (1957, 1973) and Etchebehere (2004), for application in studies of neotectonic approach. The computational routine
works starting from a digital elevation model (DEM) to generate a map of drainage-slope breaking points and/or relief break (knickpoints)
and was programmed in Python for use coupled to the geographical information systems software ArcGIS®, and has been named
Knickpoint Finder. An area of study was selected in order to test and evaluate the software's ability to analyze and identify knickpoints
from the study of the morphology of a geographical cutout in the Serra do Mar in the state of Paraná, in order to determine possible
geosites with geotouristic interest. After application of the tool in the area of study, it was verified that the knickpoint data obtained can
characterize quickly and effectively points of interest relevant to the initial geotouristic research, especially in regard to the inventory of
relevant points of scenic beauty when it comes to rapids, waterfalls or cascades. To ensure that the regional analysis can be done
successfully it is necessary to employ spatial data representation techniques which can be performed directly in ArcGIS, immediately after
the processing of Knickpoint Finder. The results of the technique where satisfactory in the correlation of the highest occurrence of
knickpoints with the probability of finding geosites in extensive areas, which demonstrated the speed gain in delimiting these sites. Thus,
the obtained virtual tool is considered a satisfactory feature in assisting morphometric analysis focused on geotourism, which can be
applied in any area where there is coverage of digital elevation models.
Key words: Geotourism; geosites; DEM; knickpoint; software.
1. INTRODUÇÃO
De acordo com Hose (1995), o turista que visita
um patrimônio natural, ao adquirir conhecimento a
respeito da geologia e/ou geomorfologia de um sítio,
deixa de ser apenas um espectador da estética da
paisagem. Assim, o geoturismo passa a ter também por
missão agregar conhecimento técnico e/ou científico ao
valor estético, que sendo subjetivo, pode valorizar ainda
mais a paisagem, inclusive para que estas sejam
preservadas como patrimônios naturais ou culturais.
Segundo Moreira (2011) o geoturismo é uma
tendência mundial que vem propiciando uma atividade
educativa, além de acrescentar "uma nova dimensão e
diversidade ao produto turístico oferecido". Liccardo et
al. (2008) ressaltam que o geoturismo fundamenta-se
nos conceitos de geodiversidade, patrimônio geológico e
200
Salamuni et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 200-208
geoconservação. Assim sendo, sítios geológicos (ou
geossítios) são locais de relevante interesse para o
estudo geológico ou geomorfológico, importante sob o
ponto de vista geocientífico, que necessitam possuir
apelo didático e/ou turístico, fundamentalmente devido
à singularidade das formações geológicas tais como
afloramentos especiais, artefatos naturais, por exemplo,
uma cratera de impacto de meteorito ou o próprio
meteorito, grandes bombas vulcânicas - camadas ou
formações fossilíferas, ou sítios geomorfológicos
marcantes pela sua beleza estética natural e/ou pela sua
história evolutiva, fazem parte do universo da
geodiversidade que pode servir aos propósitos do
geoturismo. Grandes exposições artificiais tais como
pedreiras, apesar de sua ausência de apelo cênico
natural, podem ser úteis aos estudos da geodiversidade
local.
A determinação de elementos geomorfológicos
ou morfoestruturais notáveis, que constituem um dos
tipos de geossítios, a partir de imagens de abrangência
regional, traz uma complexidade inerente devido à
dificuldade de se realizar a análise visual ponto a ponto.
Em razão dessas limitações, foi confeccionada uma rotina
automática, ou seja, um software que funciona de
maneira acoplada ao ArcGIS®, denominado de
Knickpoint Finder, cuja finalidade é a de buscar locais
onde há quebras de relevo em segmentos de drenagens,
perenes ou intermitentes, denominados de knickpoints.
Segundo Crosby & Whipple (2006) knickpoints
são quebras ou rupturas de declive, que criam anomalias
de relevo no perfil longitudinal do canal de um rio. De
acordo com esses autores e outros pesquisadores, tais
como Gardner (1983), Whipple (2004), Bishop et al.
(2005) e Harbor et al. (2005), são várias as causas desse
desequilíbrio mas as principais estão ligadas à natureza
dos litotipos envolvidos, sua erosão diferencial e a brusca
mudança de nível de base, inclusive pelas estruturas
tectônicas herdadas de ciclos anteriores ou ainda pela
neotectônica local.
Geralmente, os knickpoints são anomalias,
geradas a partir da ampliação do gradiente topográfico,
que formam corredeiras e cachoeiras. Portanto, a
determinação de knickpoints é um dos caminhos para se
identificar cachoeiras que podem ser consideradas como
bons geossítios, posto que, quase sempre, estão
associados à formação e modificação da paisagem a ser
considerada como atrativa ao geoturismo.
O objetivo do presente trabalho é explanar
genericamente o funcionamento do software Knickpoint
Finder, bem como abordar sua aplicabilidade no
geoturismo por meio da apresentação de um estudo de
caso, ou seja, o Salto Morato localizado na Serra do Mar
paranaense e classificado como geossítio relevante,
ligado a uma quebra de relevo, que por sua vez configura
uma anomalia de drenagem.
2. MÉTODO
O trabalho basicamente foi desenvolvido a
partir de testes laboratoriais por meio de
geoprocessamento e observação de resultados em
imagens orbitais, as quais foram comparadas com
fotografias reais de geoformas notáveis.
Como necessárias para o desenvolvimento do
trabalho foram utilizadas as seguintes ferramentas: o
software Knickpoint Finder para a busca de anomalias de
relevo em drenagem; o algoritmo denominado de River
Merge desenvolvido para unificar segmentos de
drenagem; o software de geoprocessamento ArcGIS
v.10.1® para o sistema básico de integração de
informação e plataforma de funcionamento do
Knickpoint Finder; as imagens raster do Shuttle Radar
Topography Mission (SRTM® - NASA), processadas - via
interpolação pelo método de convolução cúbica - pelo
Projeto Topodata e com resolução espacial de 30m. Para
a busca dos knickpoints identificados foram visualizadas
as imagens do Google Earth®, onde foram localizadas as
referências espaciais dos pontos de interesse turístico.
Os equipamentos de informática utilizados são
computadores simples de mesa, com capacidade de
processamento mediana a boa, e funcionamento de dois
monitores simultâneos. A plataforma na qual foi
desenvolvido o software é o Windows®, todavia o
algoritmo pode ser adaptado para programas de GIS
desenvolvidos para o Linux, porém isso depende do
trabalho de adaptação de um usuário mais especializado.
3. DESENVOLVIMENTO
3.1 RELAÇÕES GEOMÓRFICAS E GEOTURÍSTICAS
Em qualquer região é possível encontrar locais
com características do meio físico que, pela sua natureza,
possam ser consideradas como patrimônio geológico.
Em geral são paisagens que apresentam uma rica
geodiversidade, seja pela sua formação original seja pela
transformação da mesma, via intemperização, nesse
caso o conjunto Pão de Açúcar e Corcovado; ou
deformação estrutural, nesse caso a impressionante
Zona de Falha Além Paraíba. Ambos os casos, localizados
no estado do Rio de Janeiro, podem ser denominados de
geossítio sem qualquer restrição.
Tais geossítios são passíveis de receber a visita
de turistas, leigos ou profissionais das geociências, cujo
olhar diferenciado, proporcionado pelo conhecimento
geológico e morfoestrutural já levantado, pode impactar
positivamente a atividade geoturística. Tal disseminação
do conhecimento comprovadamente valoriza o
ambiente do entorno como um todo, já que inibe sua
degradação por meio de impactos antrópicos negativos
e, consequentemente, tem o viés de contribuir para o
desenvolvimento econômico local, por meio da atividade
201
Salamuni et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 200-208
turística sustentável.
De acordo com Rodrigues (2009), o Patrimônio
Geológico não pode ser visto exclusivamente do ponto
de vista do conhecimento científico mas além disso, deve
ter condições de ser transmitido ao público por meio de
ações de divulgação de Geologia que se encaixam na
própria perspectiva geoturística, que se desenvolve em
torno de um geossítio ou geotopo. Os geossítios podem
ser pontos ou áreas naturais de notável beleza cênica e
que possuem formações de interesse geocientífico, tanto
no que concerne à sua formação ou à sua esculturação.
Em geral ali se confunde a natureza geológica do
substrato ou do elemento cênico com sua evolução
geológico intrínsecas da região em foco, bem como sua
evolução geomorfológica, essencialmente ligada a
processos morfotectônicas, (Nascimento et al. 2008,
Silva 2008).
Nesse contexto, a quebra de relevo, como
elemento geomórfico, é um tipo de modificação na
paisagem, indicativas de relevantes estruturas
(morfoestruturas) que possibilitam a predição ou a
definição de eventuais geossítios, passíveis de
preservação e/ou uso para o geoturismo (Piekarz 2011),
ou seja, são intrinsicamente relevantes como Patrimônio
Geológico.
A determinação de uma área ou local
(geoforma) como geossítio ou geotopo, de maneira
geral, independe da sua escala de abrangência, posto
que a grandeza escalar não determina, a princípio, sua
importância geocientífica. Igualmente, um geossítio
independe de sua importância do ponto de vista
econômico.Tanto no primeiro quanto no segundo caso
deve-se considerar que tanto as Cataratas do Iguaçu
quanto o Salto Santa Rosa na região central dos Campos
Gerais (Tibagi-PR) devem ser reconhecidos como
importantes sítios geológicos/geomorfológicos. No
entanto, é necessário considerar que o geoturismo como
atividade, depende, em parte, de uma vertente
econômica.
O conhecimento atual das geoformas que
podem ser caracterizadas como importantes geossítios
ainda é baixo no Paraná (Lima et al. 2010), posto que a
preocupação em catalogar tais elementos naturais é
bastante recente, como mostram documentos técnicos
internos da Minerais do Paraná S.A. (MINEROPAR). A
dificuldade está centrada na complexidade da
localização e da avaliação in situ de um dado elemento
geomórfico, necessária à sua consideração como
geossítio relevante, tanto do ponto de vista de sua beleza
cênica quanto do interesse geológico-científico que
desperta em estudiosos e/ou visitantes.
Em função disso é interessante considerar que a
utilização de ferramentas automáticas e/ou digitais de
visualização em forma de imagens de satélite, modelos
digitais de elevação, mapas hipsométricos, fotografias
aéreas, entre outros pode ampliar, em muito, o
inventário de geossítios. Os softwares de visualização
automáticos estão disponíveis em vários ambientes,
desde os mais sofisticados de GIS até os populares
Google Earth®e BingMaps®. Todavia, esquadrinhar uma
imagem em busca de um desconhecido elemento
geomórfico de real interesse ao geoturismo é um
trabalho manual bastante cansativo e, na maior parte das
vezes, pouco eficaz.
O software Knickpoint Finder, acoplado ao
ArcGIS, busca pontos que caracterizariam rupturas no
terreno, que recebem o nome técnico de knickpoints, e
que em síntese, estando localizados em um rio podem
revelar a existência de uma cascata ou cachoeira e
eventualmente poderiam ser considerados geossítios ou
geotopos. A busca se realiza de forma automática, a
partir de imagens que possuam dados altimétricos,
independente da escala de levantamento e abrangência
regional e diminui em muito e até anula a complexidade
inerente à identificação manual de locais onde há tais
rupturas de relevo. Em geral, tais anomalias não são
facilmente identificáveis em imagens de satélite ou
fotografias aéreas, pois o caráter bidimensional comum à
maioria das imagens impede a identificação e
mensuração dos knickpoints. Sendo assim, é necessária a
utilização de imagens com dados topográficos para
caracterizar cachoeiras, cascatas, corredeiras, enfim
locais com mudanças abruptas de relevo, a partir de um
perfil longitudinal, ou um trecho do perfil de um rio ou do
curso de uma drenagem intermitente.
É importante ressaltar que os estudos de
deformação de superfície ou de paisagens mostram que
rios ou canais de drenagem naturais são bastante
sensíveis às modificações da cota do terreno, ou níveis
geodésicos de referência, ainda mais quando ocorrem
com rapidez em resposta a sistemas tectônicos ativos
(Keller& Pinter 1996). Tal consideração tem sido
abordada por diversos autores que estudam processos
de mudanças morfológicas do terreno em áreas sujeitas a
sismos a partir de processos tectônicos ativos (Volkov et
al. 1967, Burnett & Schumm 1983, Rodriguez & Suguio
1992, Merrits & Hesterberg 1994).
Ou seja, rios são excelentes elementos
geomórficos com possibilidade de mostrar estruturas, ao
nível de superfície do terreno, criadas a partir de
processos tectônicos (morfotectônica). A quebra de
relevo é uma das características mais notáveis na
superfície e pode ser caracterizada por importantes
anomalias de drenagem (nesse caso traduzidas por
cachoeiras ou cascatas) e, em geral, são representados
pelos knickpoints, os quais, dependendo da diferença da
cota da quebra de relevo, bem como do volume de água e
acréscimo de energia propiciam efeitos paisagísticos
notáveis. Nesse caso poderiam ser considerados como
alvo inicial para considerá-los como geossítios.
O software Knickpoint Finder tem por foco
acelerar o processo da análise geomórfica e
m o r fo m é t r i ca n o co ntex to ge o m o r fo l ó g i co,
possibilitando um bom grau de precisão e detalhe na
202
Salamuni et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 200-208
busca desses pontos paisagísticos, que a depender de
outros fatores, como por exemplo sua importância
geocientífica e sua facilidade de acesso, podem se
constituir excelentes pontos geoturísticos.
3.2 MÉTODOS
O software Knickpoint Finder se baseia no
parâmetro morfométrico proposto por Hack (1973),
denominado de índice StreamLenght-Gradient (SL) - ou
Índice de Hack - e refere-se a perfis longitudinais de rios
ou de segmentos de drenagem, que indicam anomalias
locais (Martinez et al. 2011). Esse parâmetroé obtido
pelo cálculo da declividade do segmento da drenagem
multiplicada pela distância entre o segmento
considerado e a nascente do rio. Etchebehere et al.
(2004) propuseram uma derivação do Índice de Hack,
denominando-o de RDE (Relação Declividade-Extensão),
que leva em consideração o aumento da energia da
corrente em determinado segmento da drenagem,
utilizando como variável a declividade da superfície do
canal. O índice RDE para um segmento (RDEs) pode ser
calculado da seguinte maneira (figura 1):
RDEs = (ΔH / ΔL) . L
(Eq. 1)
ΔH = diferença altimétrica entre as duas
extremidades de um segmento ao longo de um
rio;
ΔL = extensão do trecho em planta;
L = distância entre a extremidade inferior desse
trecho e a nascente do rio.
Figura 1 – Perfil longitudinal de um canal, mostrando como o
índice RDEs é medido para um segmento de comprimento Δl,
diferença altimétrica de Δh, e distância da nascente do rio de L.
A variante RDE total (RDEt), que se refere à
extensão total de um rio, leva em consideração a
declividade total entre a nascente e a foz, e o logaritmo
natural de toda a sua extensão (Seeber & Gornitz 1983,
Etchebehere 2006). O cálculo é feito da seguinte forma:
RDEt = (ΔH / ΔL) .ln(L)
(Eq. 2)
O objetivo final, após medir os índices RDEs de
diversos segmentos e os índices RDEt de suas respectivas
drenagens, é compará-los para determinar quais
segmentos possuem declividade anômala.
As anomalias mais significativas determinam os
knickpoints de interesse de estudos morfotectônicos ou
morfoestruturais. Keller & Pinter (1996) estudaram o
índice SL da San Gabriel Mountains, Sul da Califórnia, e
perceberam que ali os valores mostram-se
anormalmente altos, o que possibilitou a geração de
knickpoints ligados a altas taxas ascensionais de terreno.
O índice RDE, proposto por Etchebehere et al.
(2004), foi utilizado para criar o algoritmo que identifica
knickpoints que, por sua vez, embasou a confecção do
Knickpoint Finder para operar em conjunto com o
software ArcGIS®, como uma toolbox. O algoritmo desta
ferramenta utiliza imagens raster com dados
altimétricos, de onde a drenagem tridimensional é
obtida para a análise de RDEs e RDEt, cujos cálculos
necessitam da confecção dos perfis longitudinais
completos de todos os rios que estão sendo estudados.
Desta forma, é necessário unificar todos os segmentos
em cada uma das linhas de drenagem para que seja
reconhecida como uma feição única, da cabeceira à foz.
Para este processo como não existe ferramenta
específica no ArcGIS®, foi criado um algoritmo exclusivo
denominado de River Merge.
Após a unificação dos segmentos de drenagem,
a ferramenta transforma as linhas 2D da rede de
drenagens em linhas 3D, adicionando o valor de altitude
(Z), obtido da imagem que contém os dados altimétricos,
utilizando-se, no caso do ArcGIS®, da ferramenta
InterpolateShape. Após esta etapa cada nó (vértice) de
cada linha possuirá os valores de altitude (Z), além de
coordenadas X e Y. Ao final do processo é feita a medição
dos índices RDE e marcado automaticamente um ponto
no mapa (knickpoint).
O banco de dados dos pontos gerados guardam,
além das coordenadas X e Y e do grau de anomalia, os
valores de RDEs, RDEt e RDEs/RDEt do segmento. Há uma
relação de escala de trabalho, que é uma variável
fornecida pelo usuário, ou seja, quanto menor o valor da
equidistância altimétrica fornecida pelo usuário, maior
será o número de dados (pontos) no resultado final.
Assim, o resultado final da ferramenta Knickpoint Finder
é uma malha de pontos, cuja densidade dependeda
escala de trabalho e do valor escolhido para as curvas de
nível virtuais (equidistância altimétrica fornecida pelo
usuário).
4. DESENVOLVIMENTO E DISCUSSÃO
Para testar a ferramenta desenvolvida, o
KnickpointFinder foi aplicado ao recorte geográfico da
Serra do Mar paranaense, com o intuito de obter os
knickpoints (figuras 3 e 4), os quais foram analisados à luz
dos dados geológicos (figura 2).
203
Salamuni et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 200-208
Por meio das figuras 3 e 4, é possível observar
que há uma grande quantidade de knickpoints no fronte
da escarpa da serra, nos segmentos de rios que formam a
bacia hidrográfica litorânea. Isso faz sentido exatamente
pelo fato de ali haver importante sequência de quebras
de relevo, geradas fundamentalmente por rupturas dos
terrenos, nesse caso pela ocorrência de falhas geológicas
com direção NE-SW, bem como por alinhamentos
estruturais como diques de diabásio com direção NW-SE.
Assim, é possível que as rupturas de terreno,
geradas pelas reativações de planos de falhas de direção
NSW e também estruturas menores de direção NW, nas
quais se acomodam trechos de rios, apresentem
boadensidade de knickpoints. Todavia, não se pode
descartar que há knickpoints gerados por processos
erosivos e/ou intempéricos que agem de forma diversa
em litotipos variados, devido às diferenças de resistência
entre rochas de natureza diversificadas.
A seleção de áreas com prováveis locais que
apresentam pontos geomórficos de beleza cênica
relevante, representam os alvos preferenciais para a
pesquisa facilitando a busca por pontos de real interesse.
É possível traçar um paralelo, dessa forma, com os
métodos de exploração mineral e a busca por alvos de
interesse econômico.
Figura 2 – Mapa geológico simplificado da região da Serra do Mar paranaense (Fonte: Nascimento 2013)
204
Salamuni et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 200-208
Partindo-se desse princípio, o método permite
que o aumento da escala da imagem aproxime, por sua
vez, o objeto de análise e a busca visual restrita a áreas
onde o adensamento de knickpoints é maior, permitindo
que se possibilite ampliar a identificação dos pontos de
interesse. Na figura 4, por exemplo, há três áreas de
interesse, a sul, no centro da área e a norte. São nessas
áreas que a busca de knickpoints deve se concentrar para
que se aumente a chance de encontrar geossítios com
potencial vocação geoturística ou até mesmo voltada ao
turismo de aventura.
Optando-se por uma dessas concentrações,
verifica-se em imagens de satélite do Google Earth o
ponto exato onde o Knickpoint, representado por uma
cascata/cachoeira, está posicionado. A partir desse
ponto é possível determinar se o local encontrado é, de
fato, compatível com os critérios intrínsecos a um
geossítio.
Figura 3 – Modelo digital de elevação mostrando os principais knickpoints identificados na área de estudo, a partir dos valores de RDEs.
205
Salamuni et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 200-208
Figura 4 – Mapa de estimativa de densidade de knickpoints identificados na área de estudo.
206
Salamuni et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 200-208
A figura 5 mostra a sequência utilizada para a
busca de um sítio relevante para o desenvolvimento
geoturísitico local. Nesse caso o geossítio é representado
pela cachoeira de Salto Morato de cerca de 160 m de
queda de água, já conhecida, cujas coordenadas
geográficas de latitude é 25°09'50”S e de longitude é
48°17'54”O.
A figura 6 mostra que foi possível encontrar o
Salto Morato e muitos outros pontos de grande beleza
natural utilizando-se da técnica de busca simples a partir
de imagens de satélite e dos pontos de knickpoints mais
marcantes encontrados pelo software.
Para a definição de que esse ponto, de fato,
constituiria um geossítio seria necessário o
levantamento de sua relevância geocientífica, por
exemplo ressaltando que nesse caso, caracterizaria a
evolução morfotecônica de sua região de abrangência.
No caso em tela, o ponto encontrado constitui um
excelente referencial para o entendimento da evolução
geomorfológica e geológica-estrutural do fronte da
escarpa da Serra do Mar. Como já se conhece, de
antemão, sua vocação turística, principalmente o
turismo de aventura, é possível classificá-lo como um
geossítio.
6. CONCLUSÃO
Figura 5 – Sequência de etapas necessárias para se identificar
um geossítio a partir de um modelo digital de elevação
utilizando-se o software Knickpoint Finder.
Figura 6 – Esquema de identificação de um ponto geoturístico,
neste caso o Salto Morato, a partir de análise multi-escala de
imagens de satélite do Google Earth®. O relevo apresenta
exagero vertical de 3 vezes (escalas indefinidas)
O software Knickpoint Finder funciona acoplado
ao ArcGIS®. Um dos ganhos fundamentais no processo
automático de identificação de knickpoints é a rapidez da
busca desse tipo de anomalia, ou elemento
morfométrico, em imagens que deve necessariamente
estar em formato raster e possuir dados altimétricos.
O aumento na velocidade e na facilidade de
busca de dados morfométricos, no caso os knickpoints,
torna a ferramenta eficaz e eficiente na identificação de
prováveis geossítios de interesse geoturístico, em se
tratando de rupturas de relevo em perfis longitudinais de
rios ou segmentos de drenagem.
Os knickpoints necessariamente precisam
passar por uma avaliação visual em ferramentas virtuais
do tipo Google Earth® e Bing® e para que possam ser
considerados geossítios de interesse geoturístico
p re c i s a m , p o ste r i o r m e nte , p a s s a r p o r u m a
caracterização e avaliação focadas nessa meta. Tal
avaliação deve incluir os critérios que têm sido propostos
e apresentados em vários trabalhos de pesquisa sobre
geoturismo como, por exemplo, a síntese mostrada por
Nascimento et al. (2008).
O Knickpoint Finder é um software de código
aberto à comunidade e está disponível na forma de
arquivo digital no sítio eletrônico do Grupo de Pesquisa
em Neotectônica da Universidade Federal do Paraná
(http://www.neotectonica.ufpr.br). A partir do código
aberto, eventuais interessados podem adaptá-lo em
outros programas ou pacote voltados a GIS, necessitando
para isso que o algoritmo seja modificado de acordo com
as especificações do programa de geoprocessamento.
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Manuscrito ID 32797
Submetido em julho de 2013
Aceito em setembro de 2013
208
boletim paranaense
de geociências
volume 70 (2013) 02 - 27
Iniciativas institucionais de valorização do patrimônio
geológico do Brasil
Institutional programs for the valuation of geological heritage of Brazil
1
2
2
KÁTIA LEITE MANSUR , ANTONIO JOSÉ DOURADO ROCHA , AUGUSTO PEDREIRA (in memoriam) ,
2
3
4
5
CARLOS SCHOBBENHAUS , EDUARDO SALAMUNI , FLÁVIO DA COSTA ERTHAL , GIL PIEKARZ ,
6
7
8
MANFREDO WINGE , MARCOS ANTÔNIO LEITE NASCIMENTO , ROGÉRIO RODRIGUES RIBEIRO .
1
2
Universidade Federal do Rio de Janeiro - [email protected]
Serviço Geológico do Brasil (CPRM) - [email protected] - [email protected]
3
Universidade Federal do Paraná - [email protected]
4
Serviço Geológico do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ) - [email protected]
5
Serviço Geológico do Paraná (MINEROPAR) - [email protected]
6
Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP) - [email protected]
7
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - [email protected]
8
Instituto Geológico de São Paulo (IG) - [email protected]
Resumo
O presente artigo tem como objetivo apresentar e discutir as iniciativas para divulgação e popularização do patrimônio geológico do
Brasil. São apresentados casos de âmbito nacional, na forma das ações de inventário promovido pela SIGEP e dos projetos Geoparques e
Banco de Dados de Geossítios do Brasil da CPRM. No âmbito estadual são apresentadas as experiências dos projetos Caminhos Geológicos
do Estado do Rio de Janeiro desenvolvido DRM-RJ, Sítios Geológicos e Paleontológicos do Paraná da MINEROPAR, Caminhos Geológicos da
Bahia da CPRM e Petrobras, dos Monumentos Geológicos do Rio Grande do Norte do IDEMA e dos Monumentos Geológicos de São Paulo
do IG-SP. Os casos demonstram que existe um amplo espaço para desenvolvimento dos projetos de geoturismo e divulgação do
patrimônio geológico para a sociedade e que este espaço vem sendo ocupado pelos serviços geológicos e entidades afins de âmbito
estadual, onde a implantação de painéis interpretativos tem sido um dos principais instrumentos utilizados. Fica clara, ainda, a
necessidade de que haja uma organização responsável pela implantação e manutenção dos painéis. Considera-se que estes tipos de
projetos propiciam a participação comunitária e o desenvolvimento de projetos educacionais. Vislumbra-se que as unidades de
conservação são lugares especiais para a implantação deste tipo de sinalização, propiciando a divulgação da geodiversidade em conjunto
com a biodiversidade. Por fim, considera-se, ainda, que o maior obstáculo a ser superado é a comunicação com a sociedade. Para tanto,
precisa-se avançar no conhecimento sobre o usuário dos painéis interpretativos. É necessária, portanto, a realização de pesquisas sobre o
público-alvo e planejamento prévio da interpretação, ou seja, deve-se melhorar cada vez mais a comunicação para despertar o interesse
do usuário / visitante.
Palavras-chave: Patrimônio Geológico; Geoconservação; Geoturismo; Divulgação das Geociências.
Abstract
This paper aims to present and discuss the initiatives for interpretation and popularization of geological heritage of Brazil. National
examples are presented in the form of inventory actions promoted by SIGEP and by CPRM projects: Geoparks and Database of Geosites of
Brazil. At the State level are presented the experiences of the Geological Paths Project of the State of Rio de Janeiro developed by DRM-RJ;
Geological and Paleontological Sites of Paraná by MINEROPAR; Geological Paths of Bahia by CPRM and Petrobras; Geological Monuments
of Rio Grande do Norte by IDEMA; and the Geological Monuments of São Paulo by IG-SP. These cases demonstrate that there is a broad
space for development of geotourism projects and popularization of geological heritage for society. This space has been occupied by the
geological survey and related entities at the State level. The implementation of interpretative panels has been one of the main
instruments used. It is clear, though, that is indispensable an organization be responsible for the implementation and maintenance of the
panels. It is considered that these types of projects encourage community participation and the development of educational projects.
Protected areas are special places for the implementation of this type of signage, enabling the dissemination of geodiversity in
conjunction with biodiversity. Finally, it is considered that the biggest hurdle to be overcome is communication with the society. To do so,
will need to advance in the knowledge of the user of the interpretative panels. It is necessary, therefore, to carry out research on the target
audience and prior planning of interpretation, in other words, it should be increasingly improving communication to user interest.
Keywords: Geological Heritage; Geoconservation; Geotourism; Disclosure of Geosciences.
02
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
1. INTRODUÇÃO
1.1. Histórico
Iniciativas de divulgação da geologia para a
sociedade no Brasil existem há décadas. Confirma esta
afirmação a implantação, em 1988, de 17 marcos de
concreto com descrição geológica de afloramentos ao
longo da Rodovia SC-438, na Serra do Rio do Rastro, em
Santa Catarina. Esta sinalização deu visibilidade pública à
denominada Coluna White, ou seja, a coluna
estratigráfica definida em 1908 no relatório do geólogo
Israel White, sobre a borda sudeste da Bacia do Paraná,
um representante clássico da história evolutiva do
Gondwana (Orlandi Filho et al. 2002).
Outros exemplos, como o Parque do Varvito, em Itu, e o
Parque da Rocha Moutonnée, em Salto, ambos no Estado
de São Paulo, fundados na década de 1990, promovem a
informação geológica, por meio da ampla visitação que
recebem (Rocha-Campos, 2002a; 2002b).
A SIGEP - Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e
Paleobiológicos, criada em 1997 com a missão de
organizar o banco de dados nacional, tornou disponível
na internet as descrições de geossítios apresentadas
pelos pesquisadores e avaliadas no mérito por
representantes de instituições brasileiras relacionadas à
Geologia. A SIGEP também vem fomentando descrições
dos sítios em linguagem popular “com vistas à ampla
divulgação das geociências e da mentalidade
preservacionista com relação aos nossos monumentos
geológicos, promovendo assim, simultaneamente, a
popularização das geociências” conforme consta da
apresentação da comissão no seu endereço eletrônico
(http://sigep.cprm.gov.br/).
Todavia, somente no início do século 21, projetos de
divulgação geológica sistemática começaram a ser
e s t r u t u ra d o s n o p a í s . E s t e s p ro j e t o s v ê m
proporcionando uma abertura para a inserção da
geologia nas comunidades, na sinalização de unidades de
conservação e no desenvolvimento de programas
educacionais locais. Quase todos baseiam suas iniciativas
na confecção de painéis e folhetos interpretativos sobre a
evolução geológica de monumentos de importância
paisagística, científica e/ou turística e se estruturaram
como projetos de âmbito estadual.
1.2. Popularização da Geologia e Valorização do
Patrimônio Geológico: Compromissos e Desafios
No Brasil, projetos de divulgação científica têm
sido cada vez mais comuns, como pode ser avaliado nas
edições da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia,
onde, a cada nova edição, ampliam-se as atividades e a
participação popular. Ações relacionadas às áreas de
popularização da Física, Medicina, Matemática,
Astronomia, entre outras, vêm despertando grande
atenção nos meios escolares o que certamente permitirá,
em pouco tempo, seu fácil reconhecimento e
entendimento. Um exemplo desta possibilidade de
inserção pode ser tomado da Biologia, onde alguns dos
seus termos técnicos já compõem o vocabulário do
cidadão comum, dado o entendimento da importância
do mundo biótico e da necessidade de se manter o
planeta sadio. Da mesma forma, espera-se incluir o
respeito e atenção ao planeta como um todo, para
garantir o espaço de divulgação das Ciências da Terra no
conjunto da população.
Os grandes agentes de financiamento de pesquisa em
C&T já possuem linhas para atendimento das demandas
na área de popularização da ciência, desde o CNPq –
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico até as FAPs – Fundações de Amparo a
Pesquisa de âmbito estadual. Neste contexto, a
popularização da geologia pode se desenvolver
amplamente.
A despeito da repercussão positiva dos projetos de
disseminação do conhecimento geológico no Brasil,
tanto no meio geológico quanto na sociedade em geral,
um desafio tem sido colocado incessantemente para
aqueles que trabalham com o tema: adequar a linguagem
hermética praticada pelos geólogos para entendimento
pelo cidadão comum.
Os modelos de comunicação pública em ciências ainda
promovem polêmicas entre os autores que, cada vez
mais, buscam uma forma democrática e inclusiva para
promover os temas de CTS (Ciência, Tecnologia e
Sociedade) para a população (Durant 1999; Moreira e
Massarani 2002; Lewenstein & Brossard 2005; Moreira
2006; Navas et al. 2007; Navas 2008). O modelo mais
tradicional, denominado Modelo de Déficit, parte do
pressuposto que o cientista precisa aportar seu
conhecimento para aqueles grupos que não o possuem,
suprindo um déficit de conhecimento. Esta forma de
comunicação vem sendo combatida por não levar em
conta os saberes tradicionais. Posteriormente, surgiu o
Modelo da Participação Pública que estimula a
participação e manifestação do conhecimento popular
pela participação em fóruns, debates e reuniões, onde
público e cientistas têm papéis equivalentes.
A principal forma de comunicação dos projetos de
divulgação geológica sistemática no Brasil se dá por meio
da implantação de painéis interpretativos (Nascimento et
al. 2009). Esta técnica é utilizada em muitos países (Hose
1997, 2000, 2008; Dias et al. 2003; Carter 2001). A
comunicação também pode ser feita utilizando-se de
folhetos, cartazes, jogos, CDs / DVDs, páginas na internet,
livros, instalações interativas, entre outros. Pode ser
realizada ao ar livre, em museus, em escolas ou, mesmo,
na própria residência do usuário, se utilizadas
ferramentas que permitam a inclusão digital.
03
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
2. PROJETOS EM EXECUÇÃO NO BRASIL
2.1. Visão geral
Um dos compromissos que necessita ser
assumido pela comunidade geológica brasileira é o da
união perante as ameaças sofridas pelo patrimônio
geológico. Não são poucos os casos de denúncias e,
mesmo, destruição de ambientes geológicos especiais
como sítios paleontológicos e espeleológicos, dunas e
outros ambientes costeiros, afloramentos únicos para a
ciência e ensino.
Segundo Cendrero Uceda (1996) e Brilha (2005)
a divulgação é uma importante ferramenta a ser utilizada
em programas de geoconservação, cuja essência é a
gestão científica para a conservação do patrimônio. A
gestão, por sua vez, pressupõe a formalização de um
gestor e de um programa baseado no conhecimento
geológico e planejamento de ações de controle,
divulgação e monitoramento. Este é um ponto crítico
para a geoconservação no Brasil: as organizações de
gestão ambiental, em geral, ainda não incorporam a
proteção da geodiversidade na sua missão.
Por outro lado, a maioria das instituições
estaduais de cunho geológico foi extinta entre os anos
1980 e 1990. Atualmente, apenas oito dos 26 estados
brasileiros possuem instituições específicas voltadas
para fomento da mineração e/ou conhecimento
geológico. São eles: Bahia, Goiás, Mato Grosso, Paraíba,
Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins. Há,
portanto, um descompasso entre o aumento do
conhecimento geológico, com consequente geração de
informação, e a capacidade de gestão do patrimônio
identificado. Os dois mais antigos e prolíficos projetos de
divulgação geológica do Brasil são gerenciados por
serviços geológicos estaduais, DRM-RJ e MINEROPAR e,
das oito instituições estaduais existentes, quatro delas, as
de Goiás, Mato Grosso, Paraíba e Tocantins, ainda não
iniciaram projeto de disseminação da geologia para a
sociedade. Por outro lado, o Projeto Caminhos
Geológicos da Bahia foi criado sem a coordenação da
CBPM – Companhia Baiana de Pesquisa Mineral.
Em 2006, o Rio Grande do Norte, apesar de não possuir
uma organização pública com foco específico na geologia
e mineração, por meio do Instituto de Desenvolvimento
Sustentável e Meio Ambiente, em convênio com a
PETROBRAS, criou o Projeto Monumentos Geológicos do
Rio Grande do Norte. Ainda, foi inaugurado um painel
durante o Simpósio de Geologia do Sudeste, em 2007,
pelo projeto Monumentos Geológicos de Minas Gerais
(Figura 1), porém, não se tem notícias sobre perspectivas
de sua continuidade.
Figura 1 – Painel inaugurado em 2007 no Centro de Geologia Eschwege, em Diamantina, MG
04
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
Já em São Paulo, a instituição pública estadual
de geologia, o Instituto Geológico – IG, está vinculado à
Secretaria de Meio Ambiente - SMA e criou o Projeto
Monumentos Geológicos. Esta vinculação tem permitido
a aplicação de instrumentos clássicos da gestão
ambiental à proteção do patrimônio geológico, como a
criação do Conselho Estadual de Monumentos
Geológicos, em 2009, para apoiar o IG na elaboração do
inventário e na geoconservação. O conselho é consultivo
e seus membros são representantes do poder público
(SMA) e convidados com reconhecida atuação nos temas
relacionados direta ou indiretamente com geossítios /
monumentos geológicos.
2.2. Ação da SIGEP
A Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e
Paleobiológicos (SIGEP), criada em 1997, ocupou-se pela
primeira vez no Brasil da identificação, avaliação,
descrição e publicação de sítios do patrimônio geológico
de forma sistêmica e com a participação essencial da
comunidade geocientífica. Com suas atividades
suspensas desde meados de 2012, por razões a seguir
explicitadas, a SIGEP representou a mais importante e
abrangente iniciativa no movimento pela conservação do
patrimônio geológico nacional, seguida de algumas
iniciativas em nível estadual.
Essa iniciativa descreveu e avaliou sítios
geológicos e paleontológicos de valor excepcional – os
chamados geossítios, feições notáveis identificadas no
contexto da extensa diversidade geológica do país que
representam a memória geológica nacional - patrimônio
geológico do Brasil. Os geossítios são assim locais-chaves
para o entendimento da história da dinâmica da Terra e
da história da vida, desde a sua formação, razão pela qual
precisam ser preservados. Muitos deles possuem
extraordinária beleza paisagística.
O inventário do patrimônio geológico segue,
sobretudo, critérios científicos, mas outros tipos de
interesses são considerados, a exemplo do interesse
educativo que é essencial para a formação de alunos e
professores de todos os níveis de ensino ao serem
colocados frente a frente com a realidade da geologia,
representada no geossítio por rochas, minerais e feições
geológicas, um verdadeiro arquivo da natureza. Por outro
lado, o interesse turístico e cultural é importante na
promoção da geologia junto ao público leigo e pode
contribuir para o desenvolvimento sustentado das
populações locais.
A Comissão Brasileira dos Sítios Geológicos e
Paleobiológicos - SIGEP, contou com representantes das
seguintes instituições: Academia Brasileira de Ciências ABC, Associação Brasileira para Estudos do Quaternário ABEQUA, Departamento Nacional de Produção Mineral DNPM, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio,
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPHAN, Petróleo Brasileiro S/A - PETROBRAS, Serviço
Geológico do Brasil - CPRM, Sociedade Brasileira de
Espeleologia - SBE, Sociedade Brasileira de Geologia SBG, Sociedade Brasileira de Paleontologia - SBP e União
da Geomorfologia Brasileira - UGB.
A principal atribuição da SIGEP – de elencar os
geossítios brasileiros – foi implementada com o
gerenciamento de um banco de dados nacional e
disponibilizado em site da internet
(http://sigep.cprm.gov.br) na forma de artigos científicos
bilíngues – inglês e português - elaborados por
especialistas que trabalharam nas áreas dos geossítios
aprovados.
Desde o início, o processo seletivo dos
geossítios seguiu a orientação da SIGEP de avaliação de
cada sítio segundo sua tipologia principal (Astroblema;
Espeleológico; Estratigráfico; Geomorfológico;
Hidrogeológico - só casos especiais; História da Geologia,
Mineração, Paleontologia; Ígneo; Marinho-submarino;
Metamórfico; Metalogenético; Mineralógico;
Paleoambiental; Paleontológico; Sedimentar; Tectonoestrutural; outro) e tendo como critérios: (i) sua
singularidade na representação de sua tipologia ou
categoria; (ii) importância na caracterização de processos
geológicos-chave regionais ou globais, períodos
geológicos e registros expressivos na história evolutiva da
Terra; (iii) expressão cênica; (iv) bom estado de
conservação; (v) acesso viável; e (vi) existência de
mecanismos ou possibilidade de criação de mecanismos
que lhe assegure conservação e consequente
aproveitamento.
Mesmo instituída e exercendo de fato as suas
competências, a SIGEP não foi oficializada de direito no
âmbito do Poder Público, o que lhe tirava a capacidade de
adotar medidas legais para a preservação dos geossítios.
Assim, em agosto de 2012, quinze anos depois de sua
criação, a SIGEP, suspendeu o recebimento de novas
propostas de geossítios em virtude da publicação de
Portaria N0 170, de 20 de junho de 2012, da Secretaria de
Geologia, Mineração e Transformação Mineral do
Ministério de Minas e Energia que instituiu o Grupo de
Trabalho Interministerial de Sítios Geológicos e
Paleontológicos (GTI-SIGEP) com a responsabilidade de
propor a institucionalização das atividades da SIGEP e a
revisão dos procedimentos afetos à seleção de novos
sítios geológicos e paleontológicos de natureza especial e
ao gerenciamento e divulgação de tais informações, ou
seja, com o objetivo de instituir o marco legal que
permitirá impulsionar, de forma oficial, a identificação, a
preservação, divulgação, valorização e uso de sítios
re p re s e ntat i vo s d o p at r i m ô n i o ge o l ó g i co e
paleontológico brasileiro.
O GTI-SIGEP concluiu suas atividades em
novembro de 2012 ao apresentar minuta de proposta de
edição de decreto presidencial, objetivando a criação da
05
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
Comissão do Patrimônio Geológico do Brasil, com as
atribuições de identificar e reconhecer os bens que
constituem o Patrimônio Geológico do Brasil e definir e
encaminhar propostas de acautelamentos aos órgãos
competentes.
Sintetizando, pode-se dizer que a SIGEP, uma
comissão multi-institucional, coordenou e promoveu
entre 1997 e 2012, de mãos dadas com a comunidade
geocientífica, o inventário parcial de sítios geológicos e
paleontológicos do Brasil a serem preservados na forma
de artigos científicos complementados por sugestões de
medidas de proteção.
A ampla divulgação na internet e em volumes
impressos (livros) (Figura 2), atingindo não só os órgãos
públicos - municipais, estaduais e federal, mas também o
setor privado e a opinião pública em geral, certamente é
da maior importância para propiciar a preservação e bom
uso do patrimônio natural, através da necessária sinergia
entre os vários órgãos públicos, empresas interessadas e
comunidade, envolvidos na preser vação da
geodiversidade.
Números referentes à produção da SIGEP
registrados no site ou publicados (Schobbenhaus et al.
2002, Winge et al. 2009, Winge et al. no prelo) são
apresentados a seguir:
l
l
l
l
l
116 geossítios publicados em 3 volumes e
disponibilizados em PDF na internet (Figura 3);
51 geossítios aprovados, mas sem descrição
disponível (Figura 4);
4 geossítios dos publicados em versão para leigos
publicados na internet;
26 sugestões preliminares de geossítios não
formalizadas;
26 propostas de geossítios canceladas (causas:
pouca relevância, superposição com outras
propostas, destruição).
Figura 2 – Capas dos volumes I e II da SIGEP. Acessíveis em: http://sigep.cprm.gov.br
06
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
Figura 3 – Localização dos sítios aprovados pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos – SIGEP, publicados na forma de
artigos científicos e complementados por sugestões de medidas de proteção.
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SIGEP
SÍTIOS GEOLÓGICOS E PALEONTOLÓGICOS
NÃO PUBLICADOS
Sítios
3
1
15
5
27
14
46
16
26
49
28
4
10
12
24
23
8
9
13
11
20
22
7
17
21
19
6
18
32
25
31
43
42
45
29
30
41
37
36
39
40
38
44
34
48
33
2
47
35
Nome
UF
1
Dunas do Araçá
AM
2
Canyon de Xingó
SE/AL
3
Pico da Neblina
AM
4
Raso da Catarina
BA
5
Inselbergs de Quixadá
CE
6
Morro de Penedo
7
Pães-de-açúcar de Pancas e Pedra Torta
ES
8
Cachoeira do Rio das Almas
GO
9
Cavernas da região de Guarani de Goiás e São Domingos
GO
10
Córrego Alagadinho
GO
11
Paraúna
GO
12
Pilar de Goiás
GO
13
Silexisto microfossilífero e estromatólitos da Fazenda Funil
14
Floresta Petrificada de Teresina
15
Lençóis Maranhenses e Dlta do Parnaíba
16
Vertebrados Permianos de Pastos Bons
MA
17
Bacia do Gandarela
MG
18
Gruta da Serra do Ibitipóca
MG
19
Mina de Passagem
MG
20
Pico do Itacolomy de Buritizeiro
MG
21
Morraria do Urucum
22
Pedreira Saladeiro
MS
23
Baías do Pantanal
BR/BO
24
Chapada dos Guimarães
MT
25
Geyseritos Permianos de Anhembi
PA
26
Fósseis Invertebrados de Rancharia
PE
27
Fauna Permiana de Mocambo
28
Pedra Furada/Serra da Capivara
PI
29
Estrias Glaciais de Witmarsum
PR
30
Icnofósseis Devonianos de São Luiz do Purunã
PR
31
Dedo de Deus
RJ
32
Pico das Agulhas Negras
RJ
33
Armação dos Búzios
34
Restinga da Marambaia
RJ
35
Parque das Dunas
RN
36
Astroblema de Cerro do Jarau
RS
37
Distrito Mineral do Alto Uruguai
RS
38
Parque Guaritas e o litoral de Torres
RS
39
Vulcanismo Rodeio Velho do Arroio Carajá
40
Furna Marinha de Sombrio
41
Mafra-Rio Negro
42
Lavas Almofadadas de Pirapora do Bom Jesus
SP
43
Marundito do Pico Pelado
SP
44
Paleolagunas na Estação Ecológica JurÚia-Itatins
45
Turfeira da Campina do Encantado
SP
46
Sítio Espeleológico Serra do Martins
RN
47
Marmitas do Rio Carnaúba
RN
48
Maciço dos Três Picos
RN
49
Dioritos Almofadados do Rio Espinharas
RJ
ES
GO
MA
PI/MA
MS
PI
RJ
RS
SC
SC/PR
SP
Figura 4 – Localização dos sítios aprovados pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos – SIGEP, sem número de
cadastro SIGEP e sem publicação disponível na forma de artigo científico.
2.3. Projetos do Serviço Geológico do Brasil - CPRM
2.3.1. Geoparques
A CPRM tem como uma de suas missões
precípuas a geração e a difusão de informações
geológicas. Por ser o grande gerador e detentor do
conhecimento geológico nacional, cabe ao Serviço
Geológico do Brasil com o apoio da área acadêmica e dos
serviços geológicos estaduais, realizar de forma
sistemática o inventário dos sítios do patrimônio
geológico do Brasil, tanto de importância internacional,
quanto nacional ou regional/local.
A CPRM promove a identificação,
caracterização e avaliação, visando à conservação do
patrimônio geológico brasileiro através do Projeto
Geoparques. Os sítios geológicos ou geossítios
cadastrados e quantificados pelo Projeto Geoparques
são destinados a integrar um acervo para a preservação
do patrimônio geológico. Também, como membro da
SIGEP, a CPRM se ocupou nos últimos 15 anos da
identificação, avaliação, descrição e publicação de
geossítios.
Um geoparque corresponde a uma área com
limites bem definidos e com uma dimensão suficiente
para que possa servir ao desenvolvimento econômico e
cultural local (especialmente por meio do geoturismo)
( h t t p : / / w w w. u n e s c o . o r g / n e w / e n / n a t u r a l sciences/environment/earth-sciences/geoparks/globalgeoparks-network/). Os sítios devem ser importantes do
ponto de vista da ciência, raridade, educação e / ou
estética. Um geoparque é uma área onde geossítios
fazem parte de um conceito holístico de proteção,
educação e desenvolvimento sustentável. No entanto, o
geoparque deve levar em conta o contexto da região e
não unicamente incluir locais de significado geológico. A
sinergia entre a biodiversidade, geodiversidade e cultura,
além do patrimônio tangível e não tangível devem ser de
tal ordem que temas não geológicos devem ser
destacados como parte integrante do geoparque,
especialmente quando a sua importância em relação à
paisagem e geologia pode ser demonstrado aos
visitantes. Por essa razão, é necessário também incluir e
destacar locais de interesse ecológico, arqueológico,
histórico e cultural dentro do geoparque (UNESCO 2010).
O programa Geoparque vem suprir uma lacuna
para reconhecimento internacional do patrimônio
geológico de importância nacional ou regional. A
iniciativa da UNESCO para apoiar os geoparques, bem
sucedida em nível mundial, responde à forte demanda
expressa por muitos países, que tem como objetivo,
entre outros, constituir uma série global de sítios
geológicos ou geossítios destinados a integrar um acervo
para a preservação do patrimônio geológico.
08
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
Nesse sentido, os geossítios são vistos como
complementares à Lista do Patrimônio Mundial da
UNESCO, possibilitando desenvolver um mecanismo
adequado para o reconhecimento de locais de
importância internacional, identificados a partir de
inventários geológicos nacionais (UNESCO 2008; Eder &
Patzak 2004).
O Projeto Geoparques da CPRM representa
importante papel indutor na proposição de geoparques
no território nacional. Esse projeto tem como premissa
básica a identificação, levantamento, descrição,
diagnóstico e ampla divulgação de áreas com potencial
para futuros geoparques no território nacional. Durante
esse processo realiza-se o cadastro e quantificação de
geossítios de diversas tipologias, dentro dos limites do
proposto geoparque. Para esse trabalho concorre o
acervo de levantamentos geológicos existentes no País e
a experiência do corpo técnico da empresa, além do
aporte de estudos e propostas da comunidade
geocientífica. Em alguns casos, essa atividade indutora é
feita em conjunção com universidades e outros órgãos ou
entidades federais, estaduais ou municipais que tenham
interesses comuns, em consonância com as
comunidades locais. A ação catalisadora desenvolvida
pela CPRM representa, entretanto, somente o passo
inicial do futuro geoparque. As áreas propostas para os
geoparques foram selecionadas por sua importância
geológica, que em muitos casos associa-se a formas de
relevo com excepcional valor estético ou beleza cênica.
Nessa etapa inicial as áreas propostas pelo Projeto
Geoparques constituem em primeira instância parques
geológicos, que possibilitam conhecer a sua história
geológica através dos geossítios, roteiros geológicos ou
pela geomorfologia da paisagem.
Para a transformação de um parque geológico
em um geoparque, além dos atributos geológicos, outros
atributos devem coexistir na área proposta e ambos
deverão promover o desenvolvimento econômico
sustentável e a geoconservação, comumente através do
geoturismo/ecoturismo. Em praticamente todas as áreas
selecionadas para os geoparques potenciais, já existe um
fluxo turístico, em maior ou menor grau, no entanto, sem
associação direta com a geologia. A criação de uma
entidade de gestão e outras iniciativas complementares
permitirá que o parque geológico seja transformado em
um geoparque, cabendo-lhe promover o geoturismo.
Alguns geoparques propostos coincidem em seus limites
com unidades de conservação ou parques naturais, em
especial por apresentarem rara beleza cênica. No
entanto, os limites de um geoparque não coincidem
necessariamente com os parques naturais ou outras
áreas de reservas ambientais. Propostas de áreas com
potencial de se transformarem em geoparques, objeto
do Projeto Geoparques, estão indicadas na Figura 5.
Figura 5 – Mapa de localização das propostas de geoparques concluídas (1 a 17), em execução e programadas do Projeto Geoparques da
CPRM.
09
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
Nos últimos cinco anos foram concluídos
estudos de 17 propostas de geoparques pelo Projeto
Geoparques cobrindo áreas de norte a sul do país.
Dessas, 14 foram publicadas pela CPRM no primeiro
volume do livro “Geoparques do Brasil-Propostas”
(Schobbenhaus & Silva 2012). Diversas outras propostas
estão em fase de avaliação ou serão avaliadas em etapas
seguintes.
Uma atividade essencial realizada pelo Projeto
Geoparques é a identificação, cadastramento e valoração
de geossítios ou sítios do patrimônio geológico na área
do território proposto para o potencial geoparque. Até o
momento foram cadastrados 376 geossítios nos 17
propostos geoparques. Esses geossítios apresentam
diferentes pontos de interesse: científico, didático,
turístico, cultural e outros. A sua importância varia de
regional/local (59 %), nacional (31 %) a internacional (10
%). Dentro das áreas propostas para geoparques, cerca
de 48% relacionam-se a geossítios do Pré-Cambriano,
24% do Paleozoico, 24% do Mesozoico e o restante do
Cenozoico. Os litótipos mais comuns são de interesse
geomorfológico, estratigráfico e paleoambiental,
normalmente associados a geoformas de valor estético
ou beleza cênica. Outros são paleontológicos, ígneos,
petrológicos, metalogenéticos e espeleológicos. Outros
ainda incluem importantes registros da história da
mineração ou ainda tem importantes valores préhistóricos e histórico-culturais associados.
2.3.2. Geossit
As atividades do Projeto Geoparques abrangem
o cadastramento e a quantificação de geossítios,
contemplando as metodologias de Brilha (2005) e GarciaCortés & Urquí (2009), adaptadas ao Brasil.
Independentemente das futuras ações a serem tomadas
com relação aos propostos geoparques, o cadastramento
dos geossítios realizado será incorporado em uma
atividade mais ampla de âmbito nacional: o Inventário de
Sítios do Patrimônio Geológico do Brasil. Para permitir a
alimentação de um banco de dados a CPRM desenvolveu
um aplicativo web para cadastramento e quantificação
automática de geossítios, denominado GEOSSIT (Lima et
al. 2012). O aplicativo GEOSSIT é uma ferramenta para a
padronização do cadastramento de geossítios do Brasil. É
de livre consulta e será operado por meio de uma base de
dados específica do Sistema GEOBANK do Serviço
Geológico do Brasil - CPRM. O aplicativo web GEOSSIT é
operado mediante utilização das seguintes ferramentas
de software livre: linguagem de programação PHP 5.3 e
banco de dados MySQL 5.1.
As informações solicitadas (localização,
caracterização geológica e geomorfológica, áreas de
interesse, presença de unidades de conservação, etc.),
seguidas da quantificação das características intrínsecas,
do uso potencial e da necessidade de proteção,
permitem classificar o geossítio como de interesse
regional, nacional ou internacional (metodologia de
Brilha 2005) e definir o valor relativo quanto ao interesse
científico, didático e turístico (metodologia de GarciaCortés & Carcavilla 2009).
A metodologia de Garcia-Cortés & Urquí (2009)
permite também o cálculo da vulnerabilidade do
geossítio cujo valor adicionado ao valor do interesse
cientifico, didático ou turístico, permite estabelecer a
urgência para que sejam adotadas medidas de proteção
ao geossítio.
Apesar de originalmente o GEOSSIT estar
vinculado ao Projeto Geoparque, gradativamente foi
ficando claro o potencial de sua utilização como
ferramenta para alimentar um banco de dados nacional
de geossítios. Desse modo, o GEOSSIT será integrado ao
banco de dados da CPRM, denominado GEOBANK. Para
acessar o aplicativo o endereço é
www.cprm.gov.br/geossit, sendo que a visualização dos
dados preenchidos pode ser efetuada clicando no nome
do geossítio. O aplicativo possui o módulo de
preenchimento (exige senha) e o módulo de visualização
(acesso livre).
2.3.3. Sinalização Interpretativa no Quadrilátero Ferrífero
Projeto financiado pelo Serviço Geológico do
Brasil (CPRM) em parceria com a Universidade Federal de
Minas Gerais e executado pelo Instituto Terra Brasilis, no
contexto da proposta do Geoparque Quadrilátero
Ferrífero. Em sua primeira etapa, o projeto teve como
principal objetivo a elaboração, confecção e instalação de
placas com informações geológicas em sítios do
Quadrilátero Ferrífero, com linguagem acessível e
bilíngue (português e inglês), aproximando o cidadão
comum de seu patrimônio geológico e promovendo a
geoconservação. Os sítios contemplados foram: Serra do
Rola Moça, Serra da Piedade, Serra do Curral, Gnaisse de
Cachoeira do Campo e Pico do Itacolomi. Os painéis de
sinalização do Geopark Quadrilátero Ferrífero foram
idealizados em modelo único no formato prancheta com
ângulo de inclinação confortável à leitura. Levou-se em
conta para isto as características dos locais sinalizados,
em sua maioria, áreas de mirante, onde a disposição no
formato prancheta favorece a apreciação da paisagem
(Figura 6).
Cada painel é composto por dois módulos, no
módulo da esquerda são apresentadas as informações
sobre o conceito de Geoparque e sobre a geologia do
Quadrilátero Ferrífero. Já no módulo da direita são
apresentadas as informações sobre o geossítio
propriamente dito, focando suas peculiaridades e
atrativos, contextualizando-o na proposta do Geoparque
(Ruchkys et al. 2012).
10
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
importante evento brasileiro de geologia que,
atualmente, já possui réplicas em muitos dos eventos
regionais e temáticos.
A comunicação com os não geólogos através da
linguagem, escrita ou visual, sempre foi o grande desafio
do projeto e, por este motivo, ele vem sendo construído a
partir da interação com as comunidades onde os painéis
são implantados. A metodologia básica de elaboração e
localização dos painéis do Projeto Caminhos Geológicos
do Estado do Rio de Janeiro foi publicada por Mansur &
Nascimento (2007).
Até abril de 2013 foram implantados 104 painéis
em 31 municípios, cuja manutenção é um item
importantíssimo a ser considerado (Figuras 7 e 8).
Figura 6 – Exemplos de painéis de sinalização interpretativa na
Serra do Caraça e Parque das Mangabeiras, Quadrilátero
Ferrífero, MG. Fotos: Andreá Trevisol.
2.4. Caminhos Geológicos do Estado do Rio de Janeiro
O projeto Caminhos Geológicos foi concebido
em 2000 e inaugurado em 2001, pelo DRM-RJ – Serviço
Geológico do Estado do Rio de Janeiro. Seu objetivo geral
é popularizar a geologia pela implantação de painéis
interpretativos nos principais monumentos geológicos
do Estado do Rio de Janeiro. Como decorrência, se
transformou num projeto que tem um forte apelo na
geoconservação. São objetivos específicos: (a)
Reconhecer e preservar os monumentos geológicos do
Estado do Rio de Janeiro; (b) Divulgar o conhecimento
geológico entre as comunidades e também para
profissionais e cidadãos em geral; (c) Incentivar o
desenvolvimento socioeconômico relacionado com a
geologia; e (d) Fortalecer o potencial turístico das
regiões, criando novos circuitos de visitação a partir de
uma proposta ecológica, científica e cultural.
É um projeto que conta com a parceria fixa do
Departamento de Estradas de Rodagem – DER-RJ e da Cia
de Turismo do Estado - Turisrio. Tem nas universidades
que estudam a geologia fluminense a base da parceria
científica que confere credibilidade ao projeto. Recebe
apoio de prefeituras, ONGs, empresas públicas e
privadas e de agências de fomento, como a FAPERJ.
Como foi o primeiro projeto de sinalização
sistemática do Brasil, vem cumprindo um papel de
indutor de experiências semelhantes em outros estados.
Da mesma forma, teve participação decisiva na
formatação do Simpósio sobre Monumentos Geológicos,
no XLII Congresso Brasileiro de Geologia, em Araxá, em
2004, primeira experiência com esta temática no mais
Figura 7 – Painel interpretativo implantado no Pão de Açúcar
Figura 8 – Placa de estrada, indicativa de painel interpretativo.
Seu desenvolvimento envolve ações que
avançam além da colocação dos painéis interpretativos,
consolidando-se na vertente educacional (Mansur
2009a) e outras. Assim, são realizadas ações:
a) na comunidade escolar, envolvendo alunos e
professores, trabalhos de campo e elaboração de
material didático e paradidático próprio (Talarico 2004;
Talarico et al. 2005, Mansur 2009a) (Figuras 9 e 10);
11
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
Figura 9 – Alunos de São José de Ubá, apontando seus desenhos
no painel colocado em sua escola.
Figura 12 – Treinamento sobre geologia para os funcionários do
Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu
c) na governança local, incluindo prefeituras,
produtores rurais (Figura 13), APLs de base turística;
Figura 10 – Alunos do Projeto Jovens Talentos para a Ciência em
trabalho de campo em Santo Antônio de Pádua
b) junto à sociedade civil organizada como
ONGs, associações de moradores, comitês de bacia,
conselhos gestores de Unidades de Conservação - UCs
(Nascimento & Mansur 2008), gestores ambientais e
coletivos educadores ambientais, como os livros do
Projeto Conhecer para Preservar (Mansur et al. 2007a,
2007b) (Figuras 11 e 12);
Figura 13 – Apresentação sobre geologia em praça pública para
produtores rurais em Bom Jardim
d) no meio acadêmico, apoiando e realizando
conjuntamente pesquisas geológicas com Universidades,
como UFF (Figueiredo Jr et al. 2004), UERJ (Schmitt et al.
2004, Valeriano 2006); UENF (Alves et al. 2009) e UFRJ e
Museu Nacional (Mansur et al. 2009b) ou na orientação
acadêmica de alunos;
Figura 11 – Publicações sobre geologia de UCs, organizadas pelo
Coletivo Educador Conhecer para Preservar.
e) na parceria com museus, como o Museu da
Geodiversidade da UFRJ (Carvalho et al. 2009), e outras
entidades que trabalham na popularização da ciência,
como a Casa da Ciência da UFRJ e o MCTI – Departamento
de Divulgação e Popularização da Ciência, por meio do
Projeto Caminhos de Darwin (Moreira et al. 2009,
Mansur 2009d) (Figura 14);
12
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
escopo o cumprimento das seguintes metas:
a) definir a política de administração do
patrimônio geológico do Paraná, inserindo estas políticas
nas comunidades locais, inclusive para sua conservação;
b) inventariar e selecionar os principais sítios
geológicos do Estado do Paraná, com o intuito de
democratizar a informação e o conhecimento científico;
c) integrar estas informações a programas de
turismo ou geoturismo;
Figura 14 – Painel do Projeto Caminhos de Darwin em Maricá
f) na esfera patrimonial, atuando com o INEPAC
(Schmitt et al. 2004) e IPHAN (Mansur et al. 2008), além
das entidades municipais, no tombamento e preservação
de bens de natureza geológica (Mansur et al. 2009b).
Também, na expectativa de ampliar o horizonte
de usuários (ou “visitantes”) do projeto, foi elaborada
u m a
p á g i n a
d a
i n t e r n e t
(www.caminhosgeologicos.rj.gov.br) que apresenta
informações teóricas e abordagens didáticopedagógicas, como jogos, quebra-cabeças e textos
voltados para o público jovem. Possui um webmapa onde
se pode acessar cada painel na íntegra, com fotos dos
monumentos e possibilidade de envio de cartões-postais
personalizados. Garcia et al. (2008) apresentam a ficha
técnica do desenvolvimento da página, quase
exclusivamente baseada em softwares livres. Porém, um
dos mais importantes itens da página, que ainda está em
alimentação, é o inventário dos monumentos geológicos
do Estado do Rio de Janeiro, associado a um esquema de
valoração dos bens (Mansur & Carvalho 2010).
Em pesquisa de opinião realizada em locais
onde estão localizados painéis do Projeto Caminhos
Geológicos, em 2008, 89% dos entrevistados acreditam
que eles são eficientes para a preservação dos
patrimônios geológicos sinalizados (Mansur & Silva
2011).
2.5. Programa Sítios Geológicos e Paleontológicos do
Estado do Paraná
O programa Sítios Geológicos e Paleontológicos
do Paraná da Mineropar vem ao encontro do movimento
global sobre o inventário, conservação, valorização,
divulgação e uso sustentável do patrimônio geológico no
âmbito do Estado do Paraná. Levando-se em
consideração que o patrimônio geológico é um
patrimônio natural, as ações já desenvolvidas no
programa, inserido em atuações de diversos órgãos
governamentais e não governamentais, tiveram como
d) formar e treinar guias e/ou condutores nas
comunidades próximas aos sítios geológicos
selecionados visando à geração de emprego e renda,
bem como à sustentabilidade física e financeira dos sítios
com o envolvimento da comunidade.
Os trabalhos necessários para o
desenvolvimento do projeto envolveram a confecção de
um inventário inicial, onde foram cadastrados os sítios
geológicos e paleontológicos de valor turístico mais
relevante do estado. Posteriormente foram escolhidos
alguns sítios, de notória relevância, como locais pilotos
para a implantação de painéis e confecção de folhetos. O
método está centrado em criar aparatos e materiais que
estimulem o aprendizado a respeito do ambiente natural
e sua formação e/ou evolução ao longo do tempo
geológico.
2.5.1. Inventário
O inventário do patrimônio geológico do Paraná
foi realizado tendo por base dois enfoques principais: o
primeiro apoia-se na identificação da demanda do
geoturismo, contemplando-se as principais atrações paisagens, afloramentos, pontos geológicos,
geomorfológicos e paleontológicos notáveis em
unidades de conservação, municípios, paisagens com
abrangência restrita e/ou em simples afloramentos,
todos com significativa visitação e, portanto, com
demandas por explicação geológica mais acurada. O
segundo caminho, em contínuo desenvolvimento e
aprimoramento, segue a confecção e o preenchimento
de um banco de dados (Figura 15) com informações das
características geológicas, geomorfológicas e
paleontológicas, com informações acerca da
identificação e da localização, além de informações sobre
outras observações a respeito dos sítios selecionados.
Esse banco de dados serve para a quantificação
e a classificação dos geossítios paranaenses. Sua
elaboração embasou o desenvolvimento de projetos de
roteiros geoturísticos, especificamente os roteiros
denominados de "Geoturismo na Rota dos Tropeiros",
"Geoturismo em Curitiba" e "Geoturismo no Karst", os
dois últimos na região metropolitana de Curitiba.
13
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
Figura 15 – Modelo de ficha eletrônica utilizada para alimentar o banco de dados que permite inventariar o patrimônio geológico e
paleontológico do estado do Paraná
Antes da definição de ações de conservação, no
entanto, a Mineropar experimentou disseminar
conhecimento, o que a permitiu entender que, em se
tratando de monumentos naturais, membros de uma
dada população instruídos e educados para a valoração
de um monumento geológico adquirem rapidamente o
sentido de sua preservação.
Dessa maneira, para que servisse de elementos
concretos para a própria disseminação do conhecimento,
a Mineropar confeccionou e colocou à disposição de
turistas e potenciais turistas, os seguintes produtos: (a)
painéis geológicos; (b) folhetos geológicos e (c) roteiros
geoturísticos, os quais foram disponibilizados tanto
fisicamente quanto digitalmente.
2.5.2. Painéis e folhetos geológicos
Os painéis e folhetos servem como material de
distribuição local nos sítios geoturísticos, despertando a
atenção de turistas para o patrimônio geológico e a
necessidade de cuidados com sua preservação e
conservação. O conteúdo dos painéis e folhetos fornece
explicações geológicas que abrangem, por exemplo,
áreas maiores como é o caso de todo o território do
município de Tibagi (Sítio Geológico de Tibagi); de áreas
mais restritas, que podem englobar porções de um ou
mais municípios, por exemplo, o Parque Estadual de Vila
Velha (Sítio Geológico Parque Estadual de Vila Velha), ou
tão somente afloramentos notáveis, como, por exemplo,
o Sítio Geológico Estrias Glaciais de Witmarsum e até
uma paisagem específica, como a Serra do Mar.
A observação continuada do programa permitiu
concluir que os produtos gerados têm tido grande
eficácia para a divulgação do patrimônio geológico e a
disseminação da informação geocientífica.
A implantação dos painéis seguiu a experiência do
Projeto "Caminhos Geológicos" do DRM-RJ. No estado do
Paraná foram implantados pela Mineropar 48 painéis em
21 diferentes geossítios, quase todos com dimensões de
200cm x 120cm (Figura 16). Nesses painéis,
confeccionados com adesivo de alta aderência sobre
chapa metálica, está descrita a geologia e a
geomorfologia do local de interesse, bem como aspectos
relevantes do ponto de vista turístico.
14
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
Figura 16 – Exemplo de Painel Geológico. Sítio geológico Cratera de Impacto de Vista Alegre, município de Coronel Vivida – PR.
Por sua vez, os folhetos geológicos estão
relacionados aos painéis, contendo as mesmas
informações, ou seja, os folhetos permitem que o
visitante tenha em mãos as informações do painel,
permitindo que as leve após sua visita ao sítio. Por outro
lado, o folheto tem servido como material que desperta a
atenção de potenciais turistas que ainda não visitaram
determinado sítio, nesse caso servindo inicialmente
como elemento de propaganda e estímulo tanto quanto
de informação.
Na elaboração, tanto dos painéis quanto dos
folhetos, foram tomados cuidados para o correto
dimensionamento do volume de informações, para fazer
com que o texto prenda a atenção do usuário. Para tanto
foi necessário definir uma adequada densidade de
informações, evitando-se o "didatismo" e que o
conteúdo exposto apresente uma redução de conteúdo
para torná-lo simples demais.
2.5.3. Roteiros Geoturísticos
São roteiros geológicos direcionados para a
educação e para o turismo. Devido a dificuldades em
atrair o cidadão leigo em geociências diretamente para
roteiros geológicos/geoturísticos específicos, uma boa
alternativa é compor roteiros adaptados a roteiros
turísticos já implantados e em funcionamento, como
fator de agregação de valor. Tal estratégia foi assumida
pela Mineropar que a considera eficiente, havendo
inclusive a implantação de alguns roteiros para o
atendimento de demandas de cursos de capacitação
para um público bem diverso, como professores da rede
de ensino médio e fundamental, guias e condutores de
turismo e sociedade em geral.
Um dos exemplos mais didáticos trata-se do
"Roteiro Geoturístico de Curitiba" (Liccardo et al. 2008),
publicado em forma livro guia, cujo conteúdo abrange
diversos pontos turísticos notáveis da cidade onde a
geologia e/ou a geomorfologia constituem fator
determinante da visitação, como por exemplo antigas
pedreiras transformadas em parques municipais, que
constituem geossítios científicos importantes.
Outros roteiros que podem ser mencionados,
como importante experiência cognitiva e científica, são
aqueles denominados de "Geoturismo na Rota dos
Tropeiros" localizada na Bacia do Paraná e nos Campos
Gerais no Paraná e que abrange um produto turístico
consolidado no estado; "Geoturismo no karst
paranaense", que se trata de um produto adaptado a três
circuitos turísticos na região metropolitana de Curitiba e
que, inclusive, aproveita para mostrar a problemática da
ocupação urbana do karst, região reconhecidamente
frágil do ponto de vista geotécnico.
2.5.4. Divulgação e Conservação
A divulgação do patrimônio geológico para a
sociedade, tanto em linguagem científica quanto mais
popular, é decisiva para a sua valorização e conservação.
Deste modo, a MINEROPAR tem colocado o geoturismo
como um programa importante, pois é através dele que a
instituição tem conseguido divulgar a geologia para a
15
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
sociedade em geral, sensibilizando-a para a importância
da geoconservação.
Ao mesmo tempo o programa aponta para a
necessidade de cuidados adicionais com geossítios muito
vulneráveis, como determinados afloramentos
fossilíferos e de minerais, onde até a coleta, de forma
descuidada ou errônea do material para pesquisa,
poderia prejudicar de forma irremediável estes
geossítios.
Em função desse necessário cuidado e em
atenção à necessidade de preservação e valorização de
determinados geossítios, a MINEROPAR, em conjunto
com prefeituras, encaminhou para o Conselho do
Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná (CEPHA – PR),
órgão vinculado à Secretaria de Estado da Cultura - PR
três propostas para a política de tombamento. O
primeiro geossítio tombado foi uma pedreira desativada
no município de Coronel Vivida (PR) com área
aproximada de 10.000m2, situada no centro da Cratera
de Vista Alegre, astroblema com diâmetro de 9,5km,
onde afloram estruturas que comprovam a colisão de um
corpo celeste com a Terra (Crósta et al. 2011). Além da
importância para a geoconservação, este tombamento
causou a valorização do referido geossítio com a
formalização de projetos de infraestrutura para receber
visitantes. O outro geossítio tombado é um lajeado de
arenito (Grupo Itararé) com 50 m2 (Figuras 17 e 18), onde
estão impressas estrias glaciais formadas durante a
glaciação permocarbonífera na Bacia do Paraná,
denominada de “Estrias Glacias de Witmarsum”, já
transformada em produto turístico e com medidas de
geoconservação tomadas pela própria comunidade. O
terceiro sítio tombado pelo CEPHA igualmente é um
lajeado de arenito, pertencente à Formação Furnas
(Bacia do Paraná) na região da serrinha de São Luiz do
Purunã, onde estão impressos rastros de vermes
(icnofósseis) bastante preservados e que possuem
grande interesse paleontológico. Há um quarto geossítio
paleontológico em processo de tombamento que é um
importante afloramento de fósseis de pterossauros em
Cruzeiro do Oeste - PR.
Portanto, em geoconservação, o programa tem
atuado na política convencional, ou seja, a dos processos
de tombamento vinculados a instituições
governamentais. A experiência mostrou que para os
geossítios que não estejam em unidades de conservação
o regime de tombamento é uma boa política de
valorização e preservação do geossítio.
Figura 17 – Estrias Glaciais de Witmarsum. Afloramento
tombado pelo CEPHA – PR
Figura 18 – Estrutura implantada para a conservação e
divulgação do geossítio.
16
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
2.6. Caminhos Geológicos da Bahia
O Projeto Caminhos Geológicos da Bahia foi o
resultado de reuniões informais mantidas durante o ano
de 2002 por geólogos da PETROBRAS e da CPRM - Serviço
Geológico do Brasil. Uma vez que alguns desses geólogos
eram sócios da Sociedade Brasileira de Geologia e
mesmo membros da diretoria do Núcleo Bahia/Sergipe,
esta Sociedade também passou a participar do projeto.
O plano inicial do projeto era viabilizar a
implantação de cerca de 30 painéis distribuídos ao longo
das rodovias BR-324 (Salvador- Feira de Santana), BR101
(Conceição do Jacuípe - Alagoinhas), BR-110 (Simões
Filho-Alagoinhas) e BA-093 (Entre Rios - Pojuca). Estas
rodovias propiciariam a divulgação dos conhecimentos
básicos sobre a Bacia Sedimentar do Recôncavo.
Adicionalmente seriam colocadas cerca de 50 placas
secundárias para sinalização dos painéis.
Para a execução deste projeto, foi formada uma
comissão composta de um coordenador geral, um
conselho editorial com cinco membros e uma equipe de
produção e apoio com três membros; os autores das
informações a serem apresentadas nas placas seriam
convidados de entidades externas ao projeto.
Posteriormente o objetivo do projeto foi ampliado para a
confecção de 36 placas a serem implantadas até o ano de
2009, em locais distribuídos por todo o estado da Bahia.
A primeira placa foi inaugurada no dia 4 de abril
de 2004, entre o Mercado Modelo e o Elevador Lacerda,
em Salvador (Figuras 19 e 20).
Figura 19 – Painel dedicado à falha de Salvador..
Figura 20 – Elevador Lacerda que liga os blocos alto e baixo da
falha.
Antes da inauguração uma equipe desceu de
“rappel” o Elevador Lacerda. A CPRM- Serviço Geológico
do Brasil produziu e distribuiu um folder resumindo as
informações contidas no painel interpretativo.
A segunda placa foi inaugurada alguns meses
depois na fonte do Dique do Tororó. De acordo com o
folder distribuído, as águas da fonte do Dique teriam sido
utilizadas desde o século XVIII e a fonte seria de um tipo
específico (fonte de vale). Os autores convidados para a
elaboração desta placa foram professores do Instituto de
Geociências da Universidade Federal da Bahia.
Em abril de 2005 foram inauguradas mais duas
placas: no Serrano, na cidade de Lençóis, e no Posto Pai
Inácio em frente ao morro homônimo, no município de
Palmeiras . As Figuras 21 e 22 reproduzem o folder
distribuído na ocasião.
Figura 21 – Frente do folder patrocinado pela CPRM e
distribuído durante a inauguração da placa do Serrano, em
Lençóis, Bahia.
1
Luiz Rogério Bastos Leal e Joana Angélica Luz
A elaboração do texto da placa do Serrano contou com a colaboração da Prof. Marjorie C. Nolasco da Universidade Estadual de Feira de
Santana e o da placa do Posto Pai Inácio foi redigido pelo geólogo Antonio Jorge Magalhães, da Petrobras, em colaboração com o geólogo
Augusto J. Pedreira da CPRM.
2
17
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
Figura 22 – Verso do folder patrocinado pela CPRM e distribuído
durante a inauguração da placa do Serrano, em Lençóis, Bahia.
Finalmente, em junho de 2005, foi implantada
uma última placa, dedicada à deriva continental. O local
escolhido foi o Aeroclube Plaza Show, um “Shopping
Center”, localizado à beira-mar na praia de Piatã
(Salvador). As Figuras 23 e 24 mostram o folder
distribuído na inauguração da placa.
Apesar da assinatura de um memorando de
entendimento entre os representantes da PETROBRAS,
SBG e CPRM por ocasião da inauguração da primeira
placa, o projeto não teve apoio institucional. Por causa
disso, nunca houve contatos prévios com as
comunidades onde as placas seriam instaladas.
Em consequência, as placas foram sendo
destruídas, removidas ou abandonadas: a placa da Falha
de Salvador, já bastante deteriorada foi removida pela
PETROBRAS para consertos; a placa do Dique do Tororó,
simplesmente desapareceu; a placa do Serrano foi
destruída pela comunidade; a do morro do Pai Inácio,
derrubada por uma tempestade e não recolocada e,
finalmente, a da deriva Continental, abandonada e
destruída juntamente com o Aero Clube Plaza Show.
O projeto tinha outros desdobramentos
previstos, como a “Cidade da Geologia” e apoio à
confecção de material de divulgação da geologia para ser
utilizado durante o 43º Congresso Brasileiro de Geologia.
Para o desenvolvimento do primeiro projeto foi escolhida
a cidade de Jacobina, em 2002, por suas características
regionais estratigráficas, sedimentológicas, estruturais,
petrológicas, geoeconômicas e tradição mineira. Este
projeto, sequer saiu do papel.
Finalmente, o último projeto consistiu na
preparação de papeis de bandeja para serem distribuídas
nos “Shopping Centers” e outros estabelecimentos da
cidade de Aracaju, durante a realização do 43º Congresso
Brasileiro de Geologia. Foram preparados cinco modelos
ilustrando fenômenos geológicos (Figura 25), e
financiados por empresas privadas, com os seguintes
temas: Terremoto, Tsunami, Vulcão, Petróleo e Gás e O
Ciclo da Água.
Figura 23 – Frente do folder, patrocinado pela CPRM e
distribuído durante a inauguração da placa no Aeroclube Plaza
Show.
Figura 25 – Papel de bandeja / mini-toalha distribuído durante o
43º Congresso Brasileiro de Geologia, em Aracaju-SE.
Figura 24 – Verso do folder, patrocinado pela CPRM e
distribuído durante a inauguração da placa no Aeroclube Plaza
Show.
O Projeto Caminhos Geológicos da Bahia,
mesmo antes da disseminação de conhecimentos acerca
de patrimônio geológico, geodiversidade,
geoconservação e geoturismo, foi pioneiro neste aspecto
na região. Entretanto por falta de apoio federal, estadual
ou municipal, foi paralisado, estando em estado latente.
Havendo tal apoio ele poderá ser reativado, aproveitando
18
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
a extraordinária geodiversidade do estado da Bahia.
2.7. Monumentos Geológicos do Rio Grande do Norte
O Instituto de Desenvolvimento Sustentável e
Meio Ambiente do RN - IDEMA/RN criou, no início de
2006, o projeto Monumentos Geológicos do Rio Grande
do Norte e a partir daí firmou um convênio com a
PETROBRAS/CEFET/FUNCERN, estabelecendo para a sua
execução uma parceria em conjunto com a CPRM –
Serviço Geológico do Brasil e a Universidade Federal do
Rio Grande do Norte - UFRN, no intuito de contar um
pouco da história geológica potiguar através de painéis
explicativos.
A parceria com geólogos, professores e
pesquisadores da UFRN, CPRM (Núcleo de Natal –
NANA), PETROBRAS e CEFET (atual IFRN) permitiu o
levantamento dos dados e a geração das informações
científicas para a confecção dos painéis interpretativos
úteis para levar a sociedade o entendimento acerca da
evolução geológica do Rio Grande do Norte.
O objetivo do projeto foi propiciar a divulgação
das geociências, dos seus monumentos, para
proporcionar uma série de fatores, como: i) reconhecer e
preservar os monumentos geológicos do Estado; ii)
divulgar o conhecimento geológico entre as
comunidades; iii) fortalecer o potencial geoturístico da
re g i ã o e i v ) i n c e nt i va r o d e s e nvo l v i m e nto
socioeconômico relacionado com a geologia.
Figura 26 – Exemplos de sítios geológicos escolhidos para
sinalização geoturística no RN. Dunas de Jenipabu (em
Extremoz). Fotos: Alenuska.
Figura 27 – Exemplos de sítios geológicos escolhidos para
sinalização geoturística no RN. Dunas do Rosado (em Porto do
Mangue). Foto: IDEMA.
Figura 28 – Exemplos de sítios geológicos escolhidos para
sinalização geoturística no RN. Pico do Cabugi (em Angicos).
Foto: Marcos Nascimento.
Figura 29 – Exemplos de sítios geológicos escolhidos para
sinalização geoturística no RN. Granito de Acari (em Acari).
Foto: Marcos Nascimento.
19
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
A meta foi confeccionar painéis informativos
com conteúdo didático sobre geologia, geomorfologia,
petrologia, paleontologia, arqueologia e espeleologia,
contendo nestes um título, mapa de localização,
explicação em um texto em português de fácil
entendimento (e uma versão resumida em inglês) e os
aspectos da evolução geológica de cada ponto
selecionado.
No primeiro momento do projeto, foi
selecionado em conjunto pelo IDEMA/RN, CPRM e UFRN,
um total de 16 pontos de interesse geológico para
colocação dos painéis. Os monumentos escolhidos
foram:
a) No Litoral: Morro do Careca, Parque das
Dunas, Dunas de Jenipabu (Figura 26), Dunas do Rosado
(Figura 27), Arenitos Praiais, Recifes de Corais e Falésias
de Pipa;
b) No Interior: Pico vulcânico do Cabugi (Figura
28), Caverna de Pedra de Martins, Granito de Acari
(Figura 29), Lajedo de Serra Caiada, Lajedo de Soledade,
Tanques Fossilíferos de São Rafael, Mina Brejuí,
Pegmatitos de Parelhas e Poço 9-MO-13-RN (primeiro
poço produtor de óleo na Bacia Potiguar).
Paralela à implantação desses painéis foram
também elaborados cartões-postais úteis para uma
divulgação mais ampla desses monumentos geológicos.
Essa iniciativa, pioneira no Brasil, está recebendo elogios
de pessoas interessadas no assunto e coordenadores de
projetos co-irmãos. Além disso, também foram
elaborados os painéis itinerantes, contendo as mesmas
informações e imagens dos painéis colocados ao lado dos
monumentos geológicos. Estes servem para levar à
sociedade todas as informações sobre cada monumento
sendo muito utilizado em feiras e exposições pelo Estado
do Rio Grande do Norte.
Figura 30 – Outras formas de divulgação das geociências no
âmbito do Projeto Monumentos Geológico do Rio Grande do
Norte. Espaço Ecológico criado em um Shopping de Natal,
expondo as diferentes ações realizadas pelo IDEMA no Estado,
com destaque para a Exposição Monumentos Geológicos do Rio
Grande do Norte e seus painéis itinerantes.
Figura 31 – Outras formas de divulgação das geociências no
âmbito do Projeto Monumentos Geológico do Rio Grande do
Norte. Visitante admirando os diferentes cartões-postais com
imagens da geodiversidade potiguar. Foto: Marcos Nascimento.
A exemplo de estados como Rio de Janeiro,
Paraná e Bahia, o Rio Grande do Norte tornou-se o quarto
Estado brasileiro a criar um programa específico para
proteção dos monumentos geológicos e divulgação
destes para a sociedade.
2.8. Projeto Monumentos Geológicos do Estado de São
Paulo
As primeiras ações bem sucedidas de
sinalização/divulgação do patrimônio natural geológico
no Estado de São Paulo ocorreram com a criação dos
Parques Municipais “Rocha Moutonnée” (1991) e
“Varvito de Itu” (1995), localizados respectivamente nas
cidades paulistas de Salto e Itu.
Após devidamente estudados (Rocha-Campos,
2 0 0 2 a , 2 0 0 2 b ) e co n s e r va d o s , a eta p a d e
divulgação/sinalização desse patrimônio contou com a
elaboração de painéis geológicos explicativos e com
placas rodoviárias indicando a atração turística (Figuras
32, 33, 34, 35, 36, 37, 38 e 39).
Atualmente, o Parque da Rocha Moutonneé
passa por reformas que ampliarão seu potencial turístico
e de divulgação da geodiversidade. Com recursos
oriundos do Departamento de Apoio ao
Desenvolvimento das Estâncias (DADE), da Secretaria
Estadual de Turismo, estão previstas, entre outras
melhorias, a adequação das normas de acessibilidade,
construção de auditório, praça cívica, painéis
museográficos, sinalização e totens explicativos das
atrações, bem como a implantação de réplicas de
dinossauros robotizados.
Figura 32 – Sinalização/divulgação do Monumento Geológico
Varvito de Itu: Painel Rodoviário (fonte: acervo IG/SMA – dez.
2009)
20
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
Figura 36 – Sinalização / divulgação do Monumento Geológico
Rocha Mountonneé: Painel Rodoviário (fonte: acervo IG/SMA –
dez. 2009).
Figura 33 – Sinalização/divulgação do Monumento Geológico
Varvito de Itu: Painéi geológico referente ao geossítio Varvito
de Itu, existente no Parque Municipal do Varvito, Itu (SP)
(Fonte: Acervo IG/SMA – dez. 2009).
Figura 37 – Sinalização / divulgação do Monumento Geológico
Rocha Mountonneé: Painel Rodoviário (fonte: acervo IG/SMA –
dez. 2009).
Figura 34 – Sinalização/divulgação do Monumento Geológico
Varvito de Itu: Painéi geológico referente ao geossítio Varvito
de Itu, existente no Parque Municipal do Varvito, Itu (SP)
(Fonte: Acervo IG/SMA – dez. 2009).
Figura 38 – Sinalização / divulgação do Monumento Geológico
Rocha Mountonneé: Totem de entrada do Parque Municipal
Rocha Mountonneé, Salto (SP), confeccionado com o famoso
granito róseo de Itu.
Figura 35 – Sinalização/divulgação do Monumento Geológico
Varvito de Itu: Painéi geológico referente ao geossítio Varvito
de Itu, existente no Parque Municipal do Varvito, Itu (SP)
(Fonte: Acervo IG/SMA – dez. 2009).
Figura 39 – Sinalização / divulgação do Monumento Geológico
Rocha Mountonneé: Painéis geológicos (Fonte: Acervo IG/SMA
– dez. 2009).
21
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No governo do Estado, as primeiras políticas de
divulgação do patrimônio geológico também datam da
década de setenta, especialmente com a publicação do
Decreto Estadual nº 11.138/78. Este documento
colocava sob a égide da antiga Divisão de Proteção de
Recursos Naturais (DPRN) e do Instituto Geológico (IG) as
atribuições de manutenção dos “serviços de conservação
de monumentos geológicos naturais para fins científicos
culturais e turísticos” (artigo 436, VII – grifo nosso).
Posteriormente, já na década de oitenta, as ações de
divulgação do patrimônio foram reunidas e repassadas
definitivamente ao Instituto Geológico, agora integrante
da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SMA), por
meio da criação da Seção de Monumentos Geológicos
(Decretos Estaduais nº 24.931/86 [art. 10°, III] e n°
26.942/87 [art. 1°]).
No âmbito da Seção de Monumentos
Geológicos foi desenvolvido o Projeto Monumentos
Geológicos de São Paulo, importante instrumento criado
para a divulgação do patrimônio geológico paulista. O
projeto foi apresentado no dia 27 de março de 2009, na
sede do IG, durante a celebração dos 123 anos de criação
da Commissão Geographica e Geológica (CGG) da então
Província de São Paulo. Nesta mesma data também se
comemora o aniversário do IG, visto que o instituto é
oriundo da referida Comissão.
Ainda em andamento, este instrumento tem
como principal objetivo promover o registro, o
conhecimento, a conservação e a divulgação do
patrimônio geológico do Estado de São Paulo, abordando
a geodiversidade como arcabouço fundamental da
biodiversidade.
Alguns produtos deste projeto voltados
especificamente para a divulgação/sinalização do
patrimônio geológico são: a sua logomarca, os primeiros
marcadores de página da série “Monumentos
Geológicos de São Paulo", folderes, bloco de notas,
cartões postais, etc. (Figuras 40, 41, 42, 43, 44 e 45).
Figura 40 – Primeiros produtos do Projeto Monumentos
Geológicos de São Paulo: Logomarca.
Figura 41 – Primeiros produtos do Projeto Monumentos
Geológicos de São Paulo: Marcadores de página.
Figura 42 – Primeiros produtos do Projeto Monumentos
Geológicos de São Paulo: Folder de divulgação Secretaria de
Estado de Lazer e Turismo.
22
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
No final de 2012, foram lançados os primeiros
painéis geoturísticos com o objetivo de divulgar o
patrimônio geológico paulista. Trata-se de painéis
autoexplicativos e didáticos que contam a origem
geológica e geomorfológica do geossítio denominado
“Morro do Diabo”, localizado no município paulista de
Teodoro Sampaio (Figuras 46 e 47). Os painéis reuniram
instituições públicas e universitárias paulistas para sua
elaboração e implantação
Figura 46 – Primeiros painéis elaborados no âmbito do Projeto
Monumentos Geológicos de São Paulo referentes ao geossítio
“Morro do Diabo”, sito no município de Teodoro Sampaio (SP).
Figura 43 – Primeiros produtos do Projeto Monumentos
Geológicos de São Paulo: Bloco de notas.
Figura 44 – Primeiros produtos do Projeto Monumentos
Geológicos de São Paulo: Cartão postal do Monumento
Geológico Carste e Cavernas do PETAR.
Figura 45 – Primeiros produtos do Projeto Monumentos
Geológicos de São Paulo: Cartão postal do Monumento
Geológico do Astroblema de Colônia.
Figura 47 – Primeiros painéis elaborados no âmbito do Projeto
Monumentos Geológicos de São Paulo referentes ao geossítio
“Morro do Diabo”, sito no município de Teodoro Sampaio (SP).
Em 2009 foi criado, por meio da Resolução SMA
nº 076/2009, o Conselho Estadual de Monumentos
Geológicos (CoMGeo-SP), junto à Secretaria de Estado de
Meio Ambiente. O CoMGeo-SP, de caráter consultivo,
tem com principal objetivo auxiliar, no âmbito da SMA, as
ações e atividades que envolvam a pesquisa,
conservação e divulgação dos Geossítios e Monumentos
Geológicos de São Paulo (grifo nosso). É composto pelo
Secretário do Meio Ambiente (que é seu presidente),
pelo diretor do IG, pelo chefe da Seção de Monumentos
Geológicos (que é o Secretário Executivo) e por outros 16
Conselheiros, reconhecidos pela atuação nos temas
relacionados aos Geossítios e Monumentos Geológicos
(Figura 48).
Além do Varvito de Itu, e da Rocha Mountonnée,
outros quatro geossítios compõe os seis monumentos
geológicos declarados pelo CoMGeo-SP até abril de 2013:
23
Mansur et al./Boletim Paranaense de Geociências 70 (2013) 02-27
Carste e Caverna do PETAR, Cratera de Colônia, Geiseritos
do Anhembi e Pedra do Baú.
Figura 48 – Reunião Ordinária do CoMGeo-SP – Sede SMA/SP.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quanto aos aspectos metodológicos, entendese que:
a) para gerar uma ação sistemática de
conservação do patrimônio geológico de um território é
necessário categorizar os sítios de interesse, apoiando-se
no inventário realizado para, então, definir as medidas de
conservação, que necessariamente devem seguir uma
ordem sequencial.
b) para o desenvolvimento de projetos desta
natureza, o método ideal é a implantação dos painéis em
decorrência da finalização do inventário do patrimônio
geológico local, seja a área de um município ou de todo o
estado. Apesar disto, geossítios notáveis no estado do
Paraná, de grande relevância geológica e/ou paisagística
já comprovada pelo histórico de demanda turística,
foram contemplados com os painéis de forma
concomitante à confecção do inventário.
c) é fundamental a avaliação pedagógica do
material dos painéis, buscando sua continua evolução.
Para tanto, conclui-se pela necessidade de solicitar que,
tanto leigos no conhecimento geológico quanto
profissionais com experiência em redação em
geociências, opinem sobre o conteúdo gráfico e textual
do material.
d) a disseminação do conhecimento por
intermédio dos materiais produzidos são mais efetivos
quando acompanhados por cursos de capacitação de
monitores e/ou guias. Ou seja, tal ação deve estar
prevista em todas as atividades anteriormente
mencionadas, seja na elaboração de roteiros ou na
simples implantação de painéis e folhetos em áreas que
permitem a sua realização, como municípios ou unidades
de conservação. Estes cursos multiplicaram a informação
geológica para a sociedade local, amplificando ainda
mais dois dos objetivos principais do programa, que é a
educação e conservação do patrimônio geológico.
De modo mais geral, fica claro que existe um
amplo espaço para desenvolvimento dos projetos de
geoturismo e divulgação do patrimônio geológico para a
sociedade e que este espaço vem sendo ocupado pelos
serviços geológicos e entidades afins de âmbito estadual.
Os relatos apresentados demonstram esta tendência
positiva. Acredita-se, pelas notícias que chegam a partir
da participação nos diversos eventos realizados pelo país,
que novos projetos estejam por despontar em breve. Por
outro lado, o exemplo da Bahia demonstra a clara
necessidade de que haja uma organização responsável
pela implantação e manutenção dos painéis.
Observa-se, também, que as unidades de
conservação são lugares especiais para a implantação
deste tipo de sinalização, propiciando a divulgação da
geodiversidade em conjunto com a biodiversidade.
Um aspecto a ser ainda mais discutido e
considerado é que um projeto de sinalização sistemática
possui um desdobramento muito maior do que a
disponibilização de equipamentos de geoturismo. Ele
também propicia a participação comunitária e
certamente o desenvolvimento de projetos
educacionais. Esta inserção necessita ser aproveitada ao
máximo.
Por fim, considera-se, ainda, que o maior
obstáculo a ser superado é a comunicação com a
sociedade. Para tanto, precisa-se avançar no
conhecimento sobre o usuário dos painéis
interpretativos. É necessária, portanto, a realização de
pesquisas sobre o público-alvo e planejamento prévio da
interpretação, ou seja, deve-se melhorar cada vez mais a
comunicação para despertar o interesse do usuário /
visitante.
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Manuscrito ID 31729
Submetido em abril de 2013
Aceito em julho de 2013
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