Baixar relatório 2014

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Baixar relatório 2014
GOVERNO DO RIO DE JANEIRO, SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA E
LEI ESTADUAL DE INCENTIVO À CULTURA DO RIO DE JANEIRO,
PETROBRAS, IBM apresentam
#animaforum2014
Relatório
2014
OFERECIMENTO
PATROCÍNIO
GOVERNO DO RIO DE JANEIRO, SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA E
LEI ESTADUAL DE INCENTIVO À CULTURA DO RIO DE JANEIRO,
IBM apresentam
GOVERNO DO RIO DEPETROBRAS,
JANEIRO, SECRETARIA
DE ESTADO DE CULTURA E
LEI ESTADUAL DE INCENTIVO À CULTURA DO RIO DE JANEIRO,
PETROBRAS, IBM apresentam
#animaforum2014
Relatório
2014
OFERECIMENTO
PATROCÍNIO
Sumário
A cauda longa do curta
6
Apresentação:
As estratégias de produção e exportação
da Animação Francesa
Convidado: Philippe Alessandri
60
Masterclass 1
Inventando Dragões
e Vikings Críveis e Divertidos
Convidado: Simon Otto
84
A integração Latino-americana
88
Rede de Festivais Latino-Americanos
144
Masterclass 2
Fazendo rostos
Convidado: Chris Landreth
170
Projeto SEA
174
Masterclass 3
Criando Personagens Memoráveis
Convidado: Eric Goldberg
228
Animação & Games – e Vice-Versa
232
29 de Julho
A cauda
longa do
curta
Convidados:
Guigo Pádua – SAV-MinC
Felipe Lopes – SEC – RJ
Talita Arruda – Canal Curta!
Zé Brandão – Copa Studio
Moderador: Fabio Yamaji
A cauda longa do curta
O Anima Forum já tem uma história longa.
encarar a animação como uma atividade
Em sua oitava edição, o evento firma-
econômica”, disse.
se como o ponto de encontro anual em
que animadores, produtores, e todos os
Ao palco, Coelho convidou Heliana Marinho,
interessados que compõem a cadeia da
representante do segundo parceiro,
animação no Brasil se reúnem para discutir,
igualmente importante, o SEBRAE.
avaliar, planejar e pensar os rumos do
setor. É o espaço privilegiado da troca. Na
“Assim como o BNDES, o SEBRAE também
abertura de 2014, Cesar Coelho, um dos
tem se debruçado muito sobre a questão
quatro diretores do festival Anima Mundi,
econômica, tudo que está ligado às linhas
além de dar as boas-vindas ao público, fez
criativas. A animação e o audiovisual são vitais
um agradecimento especial à participação
nesse processo. Desde 2006, nós criamos
efetiva dos patrocinadores.
uma gerência de economia criativa. Nesse
sentido, o SEBRAE também se aproxima
“A gente faz o Forum com o apoio de
do Anima Mundi, principalmente do Anima
dois patrocinadores muito importantes.
Forum, e com olho grande no Anima
O BNDES é talvez a primeira instituição
Business. É aí que a gente acha que pode
brasileira a entender, em termos
plantar algumas sementes. Nossa missão
institucionais e de planejamento, a
é apoiar pequenos empreendimentos, e é
importância da economia da cultura.
em busca desses empreendimentos, dessas
Tanto que eles criaram o Departamento da
possibilidades de negócio, de ampliação desse
Economia da Cultura, o DECULT, que está
mercado, que nós estamos aqui”, disse ela.
se debruçando no estudo de toda essa
economia que envolve todas as atividades
O Anima Forum estava aberto. O outro
culturais, com foco no audiovisual. E, no
diretor do Anima Mundi presente neste dia,
audiovisual, eles têm uma predileção
Marcos Magalhães, anunciou o tema da
também estratégica pela animação.
primeira mesa: “A cauda longa dos curtas”.
Foi uma das primeiras instituições a
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mudar o escopo da animação. Como
“A gente tem que discutir a importância dos
banco de desenvolvimento, começou a
curtas-metragens frente aos investimentos
9
A cauda longa do curta
que são feitos hoje na animação”, disse
Magalhães sobre o que considera o
laboratório da animação, o celeiro das
grandes ideias. “Esse ano, a gente se
permite ser um pouco mais poético, pensar
mais em ideias, em conceitos. A gente
já viu muitos números e leis aqui, e elas
continuam sendo importantes. São dados
da realidade. Mas o momento é de um
mercado razoavelmente estabelecido, o
que nos permite pensar em voltar para
estratégias que mostraram sucesso no
passado e pensar também no futuro. A
ideia dos universos que se pode criar para
a animação é o que delineia as quatro
mesas programadas para esta edição. A
mesa ‘A cauda longa dos curtas’ vai falar
da permanência que têm os curtas, os que
foram feitos no passado e os que estão por
vir. Isso para nunca acharmos que curta
é aquele formato iniciante que deve ser
abandonado uma vez que a indústria se
Fábio Yamaji
estabeleça. Pelo contrário, tem de continuar
Esta é uma mesa importante, voltada a um
vivo, e cada vez mais forte”, passando a vez
tema que não tem tido a devida atenção e o
ao moderador, o animador Fábio Yamaji.
devido espaço, disse Fábio Yamaji, logo na
apresentação. “Eu sou curtametragista, meu
ofício principal é fazer curtas. Enfim, como
a vida é curta [risos], eu fui escolhido aqui
para gente conversar um pouco sobre esse
assunto”, ele anunciou.
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Fábio Yamaji cercou-se também de
apoio da ABCA – Associação Brasileira
pesquisa acadêmica. “Eu peguei como base
de Cinema de Animação –, ele fez, pela
o mestrado do animador Léo Ribeiro, o
internet, um chamado aos autores de
texto ‘Considerações sobre a relevância da
curtas-metragens brasileiros com o
produção de curta-metragem de animação
objetivo de conhecer a trajetória dos
no Brasil’. Segundo ele, a animação
curtas de animação autorais que tiveram
pode ser dividida em três diferentes
boa participação em festivais nacionais e
grupos de formato de exibição: curta-
internacionais.
metragem, para festivais e mostras; série,
Fábio Yamaji
A cauda longa dos curtas
Curta é o tema de Yamaji em campo. Com
para televisão; e longa-metragem, para
“Os autores deveriam conhecer a carreira
distribuição cinematográfica. Cada qual
dos seus curtas e como eles foram
com sua especificidade e características
viabilizados, para a gente tentar enxergar
próprias. Também podemos dividir a
qual que é a importância do apoio público
animação relacionando as obras aos
– porque a gente sabe que muita gente faz
objetivos da produção, em dois grandes
curta-metragem sozinho, bancando o seu
grupos: as produções autorais – animação
próprio trabalho. Claro que a maioria das
independente, animação experimental ou
animações é feita com recursos próprios,
marginal – e as comerciais, que incluem
no tempo livre, mas isso é um problema,
indústrias de animação, grandes estúdios
porque reflete diretamente no resultado
e publicidade”, Fábio citou boa parte
final. Se tivesse uma grana a gente podia
do trabalho do colega, rememorou os
elaborar um pouco melhor o roteiro, fazer
fundamentos e questionou os caminhos
um cenário maior, ter mais personagens.
da ABCA.
Porque é um processo muito demorado, e
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muitas vezes pode levar um ano para fazer
“A animação que a gente está defendendo
um curta se não tiver esse apoio”, explicou.
aqui é a animação autoral e totalmente
A ideia da pesquisa, portanto, era detectar
livre de qualquer amarra, de qualquer
como são feitos os curtas e a importância
formatação, sendo que o curta de animação
do apoio para o curta-metragem,
só vai fazer sentido se ele tiver essa
principalmente para a animação.
liberdade. Eu sou um dos fundadores da
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está pensando aqui em arte, não somente
em indústria, não somente em ter um
retorno financeiro, a classe de animadores
Fábio Yamaji
A cauda longa do curta
ou um longa-metragem. E como a gente
e curtametragistas da ABCA sentia essa
necessidade de fazer barulho e buscar esse
espaço que a gente perdeu”, disse.
Yamaji fez uma defesa fervorosa do curtametragem como expressão de arte. “A
gente sempre pensa o curta-metragem
como uma peça de expressão artística. A
formatação para televisão e a exibição em
ABCA, que juntou animadores, basicamente
Internet seriam saídas secundárias para o
curtametragistas, porque quando a ABCA
nosso trabalho”, defendeu.
foi fundada ainda não se faziam séries e
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longas, e a ideia era buscar um apoio, a
De volta ao estudo do colega, o moderador
gente se organizar para que a gente pudesse,
fez questão de pontuar a importância
como classe, demandar os editais para
dos festivais de animação ou curta-
curta-metragem. Isso aconteceu. A gente
metragem como uma rede paralela de
conseguiu um edital específico com o MinC,
distribuição. É por onde os animadores
em 2004, mas depois nunca mais voltou.
ganham visibilidade e alcance. Mas não
É nesse ponto que a gente está voltando
rentabilizam a expressividade ganha.
agora: por que a ABCA acabou direcionando
Trata-se, portanto, de um modelo que
a sua força para séries, para longa-
atende muito mais a produtores do que
metragem?”, questionou.
aos autores.
O curta perdeu espaço, segundo Yamaji. “Eu
Para demonstrar que o caminho do festival
continuo no curta-metragem e, por enquanto,
como difusor nem sempre rende os frutos
não tenho nenhum projeto de fazer série
que o animador espera, Fábio Yamaji
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maioria deles foi feita com recursos
prêmio de melhor animação brasileira do
próprios. Alguns chegam à competição. E
Anima Mundi, desde a estreia do festival
os que acabam sendo premiados são os
como mostra competitiva.
que tiveram apoio de edital”, sentenciou.
“São prêmios de público. O que eu notei aqui,
A pesquisa de Yamaji também abrangeu
por exemplo, é que os primeiros filmes, lá no
um outro festival, desta vez estrangeiro,
finzinho dos anos 1990, foram viabilizados
o Annecy. “Eu estou pegando o principal,
com recursos próprios. Ou seja, o próprio
que são os curtas brasileiros que passaram
animador bancou seu trabalho”, afirmou.
pelo festival. Nem falo de competição,
Fábio Yamaji
A cauda longa do curta
tomou como base os filmes ganhadores do
porque foram só cinco vezes. O primeiro
O apoio público para o curta-metragem, as
curta-metragem brasileiro a competir
políticas públicas específicas para produção,
em Annecy foi ‘Tourbillon’ (1963), de
defendeu Yamaji, são determinantes para
Bassano Vaccarini e Rubens Lucchetti.
a viabilização e a trajetória do filme. E,
E o que eu queria pontuar aqui é que
fundamentalmente, influenciam a qualidade
dos animadores que chegam ao festival
do produto final. Os exemplos vão de “O
internacional, todos eles ou quase todos
Espantalho” (1998), de Alê Abreu; “Deus
eles tiveram um destaque no cinema, ou
é Pai” (1999), de Allan Sieber; “Chifre de
na animação e no cinema. No caso do
Camaleão” (2000), de Marão, “O Lobisomem
Rubens Lucchetti, competiu em Annecy,
e o Coronel” (2002), de Elvis K. Figueiredo e
depois ele se tornou um dos grandes
Ítalo Cajueiro, a “Os Irmãos Williams” (2000),
roteiristas do cinema brasileiro e também
de Ricardo Dantas.
de quadrinhos”, exemplificou. “O que eu
quis mostrar é que o curta deu força para
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“Não sei se é uma coincidência, mas os
que depois esses animadores pudessem
curtas que passaram a ter esse apoio
seguir fazendo longa, fazendo séries e,
público foram esses que chegaram a ser
enfim, criando festivais, seguindo assim no
premiados no Anima Mundi. Contando
cinema, mostrando a importância do curta-
que hoje são mais de trezentas inscrições
metragem para a carreira dos animadores,
de curtas brasileiros no festival, a grande
para o mercado de animação”, finalizou.
17
A cauda longa do curta
realista, menos apaixonada”, ele brincou e
avisou seria esse o rumo que seguiria.
“Vamos tentar uma abordagem mais
pragmática, já que eu represento, de
certa forma, a indústria”, ele seguiu, bemhumorado, numa tentativa de explicar o
mercado brasileiro de animação: “Lá na
PUC, falaram que eu devia fazer isso e
eu não sou tão pragmático talvez, nem
tão apaixonado, talvez. Mas fiz a minha
pesquisa. Fui em todos os animadores com
quem já trabalhei e que já trabalharam lá
no Copa, perguntando para eles todos os
estúdios de animação que eles conheciam
no Brasil. Foi a minha amostragem,
Zé Brandão
Copa Studio
A tarefa de defender o curta é fácil,
avisou Zé Brandão. Defesa apaixonada,
abordagem pragmática: “Gostei desse
negócio do ‘curta é vida’. Achei maneiro.
A vida é curta, curta a vida, a vida é curta...
é bom! E aí por essas coisas, ‘a vida é curta
e é maneiro’, eu quis também dar um
título para a minha fala. Eu não sei o que é
pragmático, mas a minha mulher me falou
que é uma abordagem um pouco mais
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mas é uma amostragem interessante. A
gente conseguiu levantar que o mercado
brasileiro de animação hoje tem 60 estúdios
de animação, e a nossa referência para
estúdio de animação era pelo menos cinco
pessoas dentro do estúdio. Esses estúdios
produziam publicidade, institucionais,
séries, games e longas-metragens. Dentro
desses estúdios se tem mais ou menos 800
profissionais trabalhando. Eu fiquei meio
impressionado com esse número. E, no
mercado, a gente tem muitos animadores
independentes. Temos no Brasil o segundo
maior festival de animação do mundo,
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“Eu dirigi um curta, lá atrás, depois outro,
em 2013 e outro 2014, sendo que, em 2014,
com incentivo. ‘Rattus Rattus’ (2009) passou
me corrija se eu estiver errado, o Brasil
aqui no Anima Mundi, e muito me orgulhou.
era o país com o maior número de longa
Eu trouxe minha mãe ao Rio de Janeiro, ela
metragens da mostra. Alguém me confirma
até chorou, tadinha. Mas minha mãe chora
isso? Ninguém confirma? Então vocês são
até em inauguração de supermercado,
tão desinformados quanto eu”, provocou.
então não é uma coisa assim. Então, eu
Zé Brandão
A cauda longa do curta
correto? Tivemos um vencedor do Annecy
comecei dirigindo com o curta. Eu acho que
Tudo isso para dizer o que ele considera
eu não dirigiria uma série hoje se eu não
inquestionável: o Brasil é um país que
tivesse a experiência de dirigir curtas”, disse
tem leis de incentivo e bastante produção
o diretor de “Tromba Trem”.
própria de animação. O mercado pode ser
carente, mas é lindo, na definição dele, por
Zé Brandão enumerou exemplos dos
obra e graça dos curtas.
diretores que hoje atuam em longasmetragens e séries de TV, todos com
20
“Os curtas são os grandes responsáveis.
curtas-metragens no currículo. “Está fácil
Porém, os curtas estariam perdendo terreno,
para mim defender a tese de que o curta-
é a tese que estamos levantando aqui
metragem é importante para todo o resto
hoje. Como eu não posso falar por outros
da indústria de animação. Mas, como se não
estúdios, eu vou falar do estúdio em que eu
bastassem essas coisas mais pragmáticas,
trabalho. O Copa tem seis anos, três sócios,
a gente pode ainda destacar o quanto os
54 colaboradores, três séries em andamento.
curtas-metragens são referências para
Desses 54 colaboradores, 45 são artistas.
qualquer pessoa que queira fazer animação.
E antes de entrarem no Copa, 41 já haviam
O quanto eles são experiências, o quanto
colaborado com algum curta-metragem
você pode testar. O canal não vai bancar. E
antes. Ou seja, a grande maioria deles
quando eu digo bancar, não é só dinheiro,
adquiriu experiência, entre outras coisas,
é uma aposta em vários níveis, muitas
trabalhando em curtas-metragens”, ele fez
experiências. Eu acho que o Leo Ribeiro
as contas para comprovar a força do curta,
foi meio duro lá quando ele disse que
inclusive em sua trajetória como diretor.
‘nós, animadores, que fizemos o caminho
21
Zé Brandão
A cauda longa do curta
contrário para a indústria e nunca mais
fizemos o caminho de volta’.
É preciso, portanto, reconhecer que os
incentivos governamentais são importantes
e necessários. “Em todas as áreas em
diversos países. Na verdade, quase todas
as indústrias, em algum momento, tiveram
algum tipo de incentivo governamental.
Então, não tem que ter vergonha de ter
uma indústria que, para crescer, precisa
de incentivo do governo. Isso é básico na
economia como um todo”, pontuou.
Os incentivos existem, garantiu Zé Brandão,
principalmente para séries e longas. Mas é o
curta que mais precisa de patrocínio:
na série de animação, a gente tem inclusive
22
“Existem vários tipos de incentivo. Existe
a possibilidade de o canal investir recursos
aquele patrocínio direto de recursos não
do chamado dinheiro bom, que é o dinheiro
reembolsáveis, e é isso que eu acho que
não incentivado, do seu próprio bolso com
o curta-metragem precisa. Existem vários
uma porcentagem do valor da série. Hoje
incentivos interessantes para série e longa-
em dia, a gente não tem um canal no Brasil
metragem, que não servem muito ao
que tenha a capacidade de bancar 100% do
curta. E eu não posso ser leviano de achar
valor de uma série, mas ele pode dar 20%,
que a indústria de animação brasileira
30%, ou seja, algum dinheiro já pode vir
de série e de longa sobreviveria sem
de um dinheiro não incentivado, enquanto
incentivo estatal. Mas o curta, pelas suas
para o curta isso é muito difícil. Você não
características, tem mais dificuldade de
tem instituições que patrocinem curtas-
conseguir outros incentivos. Por exemplo,
metragens que não tenham de alguma
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Que besteira. Olha, vocês, animadores, são
pessoas incríveis. Por que vocês tem medo
de estar entre os outros tipos de curtas
Zé Brandão
A cauda longa do curta
entre todos os outros curtas-metragens?
metragens?” Não! A gente não tem medo. O
problema é que é quase impossível avaliar
os dois ao mesmo tempo com a mesma
parcimônia”, argumentou, ele, dando um
exemplo concreto:
“Eu participei como júri de um
edital que era todo ele muito bem
intencionado. Tanto é que chamaram
dois representantes da animação para
garantir que a animação tivesse a sua
defesa. Mas era um edital em que os
curtas estavam juntos. Poderia dar certo?
Não deu. Eu tive acesso depois, à nota de
um dos jurados, e vi que para todos os
curtas que eram de animação, o jurado
forma alguma relação com incentivos
tinha dado nota um, que era a menor
públicos. Muitas vezes, quando grandes
nota possível. A justificativa do cara se
empresas patrocinam o curta-metragem
resumia a uma palavra: animação. Ele deu
elas estão fazendo isso também através de
um em todas as animações. Por que isso?
leis de incentivo fiscal”, analisou.
Só porque é animação ganha um? E, por
incrível que pareça, ele foi muito sereno,
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O pleito é por mais editais e linhas de
e disse: ‘eu não tenho parâmetros para
editais específicas para o curta-metragem
avaliar animação, cara. Desculpa’. E aí eu
de animação: “Ah, mas que panelinha,
achei que era só uma dificuldade desse
que covardia, porque você não quer estar
cara. Não! Todos os outros concordaram:
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A cauda longa do curta
‘Olha, a gente entende o que é uma boa
narrativa, um bom filme. Mas, na hora em
que a gente avalia um orçamento, prazo, a
linguagem visual e a técnica, a gente tem
essa dificuldade’. Então, a partir daquele
momento, eu defendo que as linhas de
edital sejam específicas pra animação.”
Além da especificidade, Zé Brandão
defende a inscrição para pessoas físicas, a
diversidade e, fundamentalmente, o curtametragem como essencial para a formação
da mão de obra em animação.
“O Brasil tem uma escolha: ser um país
que faz mão de obra barata para os outros
países criarem o conteúdo e a gente animar
aqui, ou o Brasil quer ser co-criador de
conteúdo. A gente tem essa escolha, e eu
acho que a gente tem muito mais o perfil
de criador de conteúdo. A gente tem que
perceber que o valor agregado cultural
que essa indústria criativa tem é muito
importante, inclusive para que a gente
seja soberano. É uma questão econômica,
mesmo.A gente tem de pensar na economia
criativa de uma maneira bem consciente.
E eu acho que o curta perder espaço não é
uma maneira muito inteligente de construir
uma indústria criativa”, encerrou.
26
Talita Arruda
Canal Curta!
Talita tem cinco anos de experiência em
curtas-metragens e mais dois no canal
Curta! Segundo sua visão o curta não
perdeu o espaço que lhe é de direito. Sua
fala caminharia mais pelo panorama da
distribuição do curta.
“Antigamente, a gente só tinha a Lei do Curta,
que era para exibição em sala de cinema
e as TVs públicas. De uns tempos pra cá,
27
A cauda longa do curta
entraram a TV paga, a internet. São dois
ser licenciado, precisa desses dois
cenários para os quais eu quero chamar
documentos e da taxa da Condecine”, ela
bastante atenção. Uma preocupação que a
explicou.
gente tem de ter aqui neste encontro, é não
encarar o curta-metragem como formato à
A Lei da TV Paga (12.485) criou um novo
margem. O curta é um formato específico,
cenário. “A gente está experimentando, mas
não é só um formato para se iniciar carreira”,
é uma lei favorável porque obriga os canais
ela esclareceu.
de TV por assinatura a exibirem conteúdo
brasileiro independente. É um cenário que
A Synapse, que atua no mercado de
aumenta a quantidade e a qualidade dos
distribuição de conteúdo audiovisual há
produtos, porque aí você passa a ter mais
mais de 25 anos, foi a referência e o ponto
políticas de incentivo, que vêm do Fundo
de partida de Talita para abordar o tema
Setorial Audiovisual.”
específico da distribuição, feita a partir de três
mercados: TVs públicas, home vídeo e VoD
Com a demanda e maior circulação de
(Video on demand). “Esses são seguimentos de
conteúdo, o que favorece produtores e
mercado em que a gente consegue trabalhar
emissoras, os contratos exclusivos começam
melhor a animação”, disse ela.
a ser repensados. “A gente tem de cumprir
cota, preencher uma grade, exibir conteúdo
O trabalho envolve lidar com as
que seja brasileiro e que seja independente.
burocracias e exigências para o
E cada canal tem a sua demanda, tem o seu
licenciamento de curtas-metragens
calendário”, explicou ela.
características de cada segmento. “Todos
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os mercados exigem que você tenha
Talita partiu, então, para a demonstração de
CPB, o Certificado de Produto Brasileiro,
como o Canal Curta! trabalha animação. Cabe
o registro que você emite na Ancine. Ele
a ela a contratação de curtas. Em um ano e
possibilita que o seu curta seja negociado
meio no ar, o canal contratou 140 curtas, dos
em vários mercados de trabalho. Logo
quais 20 são animações. O número não é
depois, tem o CRT, que é o Certificado
expressivo, ela reconheceu, mas foi o possível
de Registro de Título. Cada curta, para
de ser absorvido dentro da programação.
29
Talita exibiu um vídeo em que o animador
e desenhista Marcelo Marão conta sua
trajetória e descoberta da animação, desde
Talita Arruda
A cauda longa do curta
curta”. Para explicar as demandas do canal,
a adolescência até os primeiros trabalhos,
a mudança do Rio para São Paulo, a
fundação da ABCA.
“Essa é uma peça que fica circulando no
intervalo. A gente tem não um dogma, mas
uma prática no canal, em que as pessoas
que estão lá trabalhando são pessoas
próximas ou que pelo menos tentam estar
sempre próximas dos realizadores e falar
das coisas que elas fazem. Essa é uma
das missões do canal”, disse ela, após
a exibição.
“Inicialmente, era um pouco mais difícil
porque a gente estava trabalhando com
Sobre financiamento para curtas-
semanas temáticas. Então fizemos uma
metragens, Talita realçou que o Fundo
reorganização e passamos a trabalhar com
Setorial Audiovisual, ao mesmo tempo em
dias temáticos. E ficou mais fácil trabalhar
que ganha destaque, privilegia as séries. Os
os conteúdos e fazer aquisição de conteúdo
curtas, por sua vez, ficam dependentes dos
de uma forma mais livre”, explicou ela,
editais e, o que ainda é comum, de recursos
exibindo o canal no telão.
próprios do animador. “Outras formas de
investimento que a gente tem são através
Em valores, a média do curta por minuto,
dos programadores, os canais.”
no Canal Curta!, é de R$ 80. A exibição
30
é feita de duas formas, no “Curta!
Os mercados, na outra ponta, estão se
Relâmpago” e no programa “A vida é
ampliando. O VOD, vídeo sob demanda,
31
A cauda longa do curta
segundo Talita, merece destaque. “É um
mercado super novo. No Brasil, a gente
está experimentando e vendo como ele
vai se construir ao longo do tempo, mas
são esses serviços que a gente tem, como
o Netflix. O Youtube acaba sendo também
um tipo de VOD.”
As brechas a serem exploradas existem.
Outra empreitada destacada por Talita,
o site Porta Curtas, que exibe curtasmetragens brasileiros desde 2002, bem
antes do advento do Youtube, já tem um
acervo de mais de 1.500 filmes online, dos
quais 162 são de animação 162. “Uma das
formas que a gente também achou de
movimentar o acervo de curta-metragem
foi trazer o Porta Curtas para dentro do
canal”, contou ela, preparando a exibição
de mais uma peça, desta vez de promoção
do conteúdo do Porta Curtas no canal. Para
encerrar, Talita endossou a reivindicação de
Zé Brandão: os curtas carecem de editais
específicos de animação.
Felipe Lopes
SEC/RJ
O Superintendente de Audiovisual da
Secretaria de Cultura, Felipe Lopes, teve
como tarefa principal explicar o apoio ao
curta-metragem e animação. Tomando
como base a última gestão, ele iniciou com
um breve balanço: três programas digitais,
2008, 2010 e 2012, com investimento total
de R$ 1,7 milhão. Dos 27 projetos de curtasmetragens, apenas três são de animação.
32
33
metragem em evidência. No rol das
apoiar a animação é evidente. Assim como
questões que envolvem o setor em que
a garantia de formação e capacitação
tudo é urgente, ele chamou a atenção
profissional do setor e a criação de políticas
também para os festivais, tratados como
públicas que garantam o aumento da
estratégicos pela formação de público e por
produção. Tudo isso, segundo Felipe Lopes,
funcionarem como primeira janela para o
deveria caminhar paralelamente. “Na
curta-metragem.
Felipe Lopes
A cauda longa do curta
A necessidade de formas específicas de
Secretaria, a gente tem visto o aumento do
investimento para o longa-metragem, e tem
Formar plateias é um tema caro à Secretaria
tentado equiparar com as outras áreas”,
de Cultura, garantiu Felipe. Um bom exemplo
afirmou.
é o programa Cinema Para Todos, feito em
parceria com a Secretaria de Estado de
O interesse tem a ver também com o
Educação (SEEDUC). Com foco no audiovisual,
respeito à história do curta. “é fundamental
é realizado pelo ICEM – Instituto Cultura em
pensar numa outra questão que às vezes
Movimento, que estimula e democratiza o
fica um pouco invisível nos debates, que
acesso dos alunos da rede estadual às salas
é a preservação e o acervo. Há curtas de
de cinema. O objetivo também é provocar
animação importantíssimos para a nossa
debates e reflexões dentro e fora da sala
História. E se gente não tiver uma política
de aula. Mais de mil escolas da rede pública
que cuide desse acervo, que dê meios para
estadual já foram atendidas.
as produtoras, para donos de conteúdos
cuidarem da melhor forma desses acervos,
Também como parte do programa,
eles vão acabar se perdendo. E é importante
foram selecionadas 30 escolas da rede
que a gente sempre tenha acesso a esses
estadual para a implantação do Circuito
grandes expoentes que fazem parte da
de Cineclubes. Cada escola recebeu um
história da animação e da história do curta-
kit de equipamentos de áudio e vídeo,
metragem nacional”, defendeu.
acervo de filmes com direitos de exibição
liberados para exibição e uma oficina de
34
Felipe reafirmou a necessidade e a
capacitação. “A gente vê como é a recepção
importância de se colocar o curta-
de alunos, muitos deles vendo um filme pela
35
a gente vê que no Porta Curtas a gente
tem curtas com mais de quinhentas mil
visualizações, a gente vê que tem uma
Felipe Lopes
A cauda longa do curta
de renda das salas comerciais. E quando
demanda para esse conteúdo.”
Mas o setor, como um todo, tem de se
ajustar, uma ponta ajudar a outra. “Os
festivais, por exemplo. Hoje, a maioria
deles não têm um controle de público de
forma tão rígida, e seria muito bacana para
o realizador do curta-metragem poder
saber quanto está tendo de retorno. Não
só financeiro, mas do alcance que sua
obra está tendo na população em geral.
Isso faz parte da história do filme, isso dá
margem, dá amparo para que se possa lutar
primeira vez. Isso é fundamental, porque é
com mais embasamento para as políticas
incorporado como meio de formação desse
públicas”, afirmou.
aluno”, ressaltou.
Para o realizador, seja qual for a sua
O curta-metragem também tem o seu
linguagem, capitalizar também é essencial.
lugar e deve ser assimilado como conteúdo
E as possibilidades, cada vez mais, se
a ser perpetuado, que vai fazer parte do
ampliam: internet, games, aplicativos, séries
que o publico quer ver e do que o público
de TV, longas-metragens, além do curta,
consome, pontuou Lopes. Ou seja, o próprio
obviamente.
público sinaliza o desejo:
Sobre a animação, especificamente,
36
“Hoje, a gente tem uma política que é
Felipe Lopes lembrou das oportunidades
muito guiada pelos resultados de público,
de licenciamentos. “Você tem um
37
Assembleia Legislativa, e aproveitou o espaço
esse produto de outras formas. É uma
para mostrar como funciona a Secretaria
oportunidade para o realizador pensar a
de Cultura. “Nós somos um órgão vinculado
sua obra e o que ele faz com algo que pode
ao Estado, o que faz com que a gente fique
ter continuidade. Historietas Assombradas
sujeito ao orçamento anual do governo.
(para crianças malcriadas) e Minhocas são
Ficamos suscetíveis a contingenciamentos e
bons exemplos”.
a questões que vão além do setor cultural.
Felipe Lopes
A cauda longa do curta
personagem, e consegue trabalhar
Um dos principais pontos da Lei Estadual de
O curta que vira longa, que pode virar game,
Cultura é a criação de um Fundo Estadual de
que pode vir a ser uma animação para
Cultura, o que traz para o estado um pouco
dispositivo móvel, e por aí vai. As linguagens
mais de previsibilidade dos recursos, de
vão se combinando, se desdobrando,
continuidade, o que é fundamental, para que
dialogando. Novos produtos vão surgindo e
se trabalhe não de forma sazonal, mas que
os mercados se abrindo. Os estúdios 2DLab,
tenhamos um fluxo contínuo de projetos.
Copa Studio e BEELD, segundo Felipe, são
Isso, em complementação à Lei de Incentivo
emblemáticos no quesito animadores que
à Cultura”, explicou.
trabalham com carteira de projetos. “Acho
isso bacana, faz um e pensa no outro. O
Felipe tratou do assunto de forma ampla para
(Marcelo) Marão tem essa característica de
abranger todos os temas. Do público à falta
ser realizador independente. Faz curta e
de estudos e dados concretos que fortaleçam
está desenvolvendo um longa, ao mesmo
as políticas públicas para o audiovisual; de
tempo, então é bom pensar nesse mercado,
direitos de licenciamento até a cadeia da
que é muito pujante e tem muito recurso
economia criativa. “Tem toda uma gama de
para o audiovisual”, disse ele, reconhecendo
obras que são feitas e que acabam sendo
que, quando o assunto é curta, no entanto,
ou esquecidas ou não evidenciadas por não
os recursos são outros - ou melhor, são
estarem no circuito de premiações”, disse
escassos.
ele. “A gente tem hoje esse boom de janelas
e de oportunidades que permitem que você
38
Felipe Lopes anunciou que o projeto da Lei
explore o seu produto, mas tem que pensar
Estadual da Cultura está em tramitação na
também num equilíbrio de licenciamento,
39
A cauda longa do curta
em como você pensa em viabilizar o próximo
projeto para poder ter uma visão estratégica
de continuidade.”
Para Felipe, o conceito contemporâneo
de economia criativa agrega todas essas
questões. “É você ter uma visão de
empreendedorismo e de negócio. A criação
artística faz parte disso tudo, e o sistema
não é tão dicotômico assim. Então, quando
a gente pensa política pública, a gente
tem de ter essa visão macro para tentar
garantir que todas as formas de criação
sejam apoiadas e deem oportunidade a
novos criadores, novos artistas, novos
profissionais. Que a formação seja vista, que
a preservação do acervo seja vista, assim
como a distribuição a formação”, afirmou.
40
Guigo Pádua
SAV-MinC
Da linha de montagem para o envolvimento
com a política no audiovisual. A trajetória
de Guigo Pádua foi exatamente assim.
Uma das suas primeiras empreitadas foi a
participação da criação, em Belo Horizonte,
da Associação Curta Minas. “Desde essa
época, a gente já tinha essa visão de
trabalhar com curta-metragem não como
uma passagem, mas como uma estética
própria, um produto, um fim em si mesmo.
E eu tinha sempre essa impressão de que
41
metragem. Foram premiados 25 curtas-
Para minha surpresa, agora (ele está no
metragens. Está terminando a fase de
cargo desde fevereiro), encontro uma visão
recurso para os ganhadores, não sei dizer o
contrária”, disse ele.
número exato de animações”.
O curta-metragem é, sim, valorizado. Assim
A constante necessidade de voltar atrás
como outras linguagens. “Hoje em dia, até o
rendeu uma conclusão. Ainda sem solução:
game tem uma valorização concreta dentro
“Essa política de editais tem um problema
da Secretaria do Audiovisual”, afirmou.
sério na base. Nós recebemos 1200, 1300
Felipe Lopes
A cauda longa do curta
o governo não tratava isso dessa forma.
inscrições para premiar 25 curtas. Isso é
Por outro lado, há o tal do
ridículo, é absurdo. Então, a gente tem de
contingenciamento. “A gente chega lá com
criar uma outra forma de atender a uma
um orçamento maravilhoso, faz orçamentos
demanda que está por aí. A gente não
gigantescos, pensamos ‘vamos fazer,
sabe ainda o que fazer, mas existe essa
vamos acontecer’ , etc. Daí a um mês,
preocupação dentro da SAV”, reconheceu ele.
alguém diz ‘olha, vai ter um corte’. Opa!
Agora você gasta mais um mês desfazendo
O cenário ainda é confuso. Mais ainda com a
o orçamento. Aí você acaba perdendo
entrada em vigor da Lei da TV Paga. “Entrou
os pontos de contato que você estava
um dinheiro novo no setor, que não passa
articulando”, contou ele.
diretamente pela SAV, mas o setor está se
movimentando”, disse ele.
O ano de 2014, especificamente, foi ainda
mais atípico para a SAV. Copa do Mundo,
A qualificação está na ordem do dia: a SAV
Eleições, e o planejamento vai ficando de
está organizando oficinas de formatação
lado, o orçamento que era gigantesco vai
de projeto, especialmente para as regiões
perdendo elasticidade.
Norte e Nordeste. “A ideia inicial seria fazer
oficina no Brasil inteiro, não vamos ter
42
“Mas não estamos parados. Daqui a pouco
fôlego para isso ainda em 2014. Mas vamos
a gente deve soltar a portaria com o
fazer em cinco estados do Nordeste, quatro
resultado do último concurso de curta-
do Norte, além de Brasília, São Paulo e
43
Guigo Pádua
A cauda longa do curta
Porto Alegre”, contou. A cobertura de todos
os estados ficou como meta para 2015.
Em cada cidade, serão três oficinas de dois
módulos, envolvendo produtos seriados
e produtos não-seriados, com foco no
mercado de televisão. Entre os meses de
setembro e outubro, serão lançados os
editais do PRODAV, o Programa de Apoio
ao Desenvolvimento do Audiovisual. “Essas
oficinas serão oficinas de preparação. As
pessoas irão se qualificar para fazer seus
projetos para ingressar nos editais. Por que
a gente está dando esta ênfase ao Norte e
Nordeste? Porque a gente está vendo que
existe um número muito menor nessas
regiões e, das inscrições que chegam, a
qualidade é baixa. Foi o caminho que a
gente achou. Tem que se associar a outras
secretarias, outros órgãos. Aí, infelizmente,
irão ficar prontos ao longo de 2014. Se
a temática não pode ser livre”, ele afirmou.
possível, nós vamos refazer essa parceria.
Tivemos o Curta Criança, com 12 projetos.
Guigo deu quatro exemplos de editais
E, especificamente para animação, nós
cuja temática foi direcionada: “A gente se
tivemos o Curta Animação de Resíduos
associou à Fundação Palmares e fizemos
Sólidos, que são filmes curtíssimos. Foram
um edital específico para a juventude negra.
40 projetos, que receberam a primeira
Foi criado o Edital Carmen Santos Cinema
parcela agora para realização.”
de Mulheres, em 2013, de apoio a curta
44
e média-metragem, que é para mulheres
O trabalho, ele realçou, envolve a escassez
realizadoras. Foram 20 filmes, que
de recursos. “Não existe um descaso da SAV,
45
A cauda longa dos curtas
PERGUNTAS E
COMENTÁRIOS
o que existe é uma falta de fôlego mesmo.
Para vocês terem ideia, a gente tem um
programa desenhado, o PRONAF (Programa
Nacional de Apoio aos Festivais), e a gente
descobriu, através do jurídico do Ministério
da Cultura, que nós não podemos apoiar
eventos. Então nós estamos buscando
alternativas para ver como, a partir de
agora, poderemos apoiar os festivais. E por
aí vai, gente. A gente vai lutando sempre
contra essas dificuldades”.
Há boa vontade e abertura, ele pontuou.
“Não é que a gente funcione sob demanda,
mas ajuda muito quando vem a demanda
organizada. Então, essa coisa do edital
específico para animação para 2015 ou
para 2016 só vai sair se isso chegar à SAV
de forma organizada. Como uma demanda
real, como uma demanda concreta e visível.
Então, fica aí a chamada para todos os
setores, é meio por aí, ajuda muito o nosso
discurso”, ele deu o recado.
Pergunta
Tenho visto que as pessoas passam a fazer
os filmes em torno dos projetos, e não
filmes com uma personalidade. Todo mundo
começa a fazer séries em ondas, como está
acontecendo. Ninguém pensa no outro lado,
nos artistas geniais do Ceará, Pernambuco,
Rio, São Paulo, no Brasil todo, que têm um
trabalho muito interessante, mas não são
pessoas que escrevem projetos. Conheço
também muitos produtores não tão
talentosos, mas que conseguem os editais
porque sabem muito bem como fazer
projetos. A gente acaba, sem querer, criando
uma máfia em torno desses projetos. Um
caminho seria apoiar não os projetos, mas
os artistas. Quantas possibilidades a gente
está perdendo com pessoas que não sabem
formatar um projeto e têm que contratar
um produtor. Como a gente consegue
repensar o apoio aos artistas? Como pensar
em outras possibilidades que contemplem
mais essa criação artística e menos esses
projetos burocráticos?
46
47
Guigo PáduaA gente precisa que vocês falem mais sobre
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
A cauda longa dos curtas
isso para o poder público. Eu concordo
totalmente. Dentro do governo, tem muita
gente que também concorda com você. A
gente precisa é de mais caldo para defender
essa ideia. Acho que não tem muita dúvida
quanto a esta especificidade da animação,
assim como o documentário também tem
as suas especificidades também.
Felipe Lopes
Vou só complementar a mensagem do
Guigo. Para além dessa demanda, que
é necessária para o poder público, é
também pensar em propostas que fujam
um pouco do que a gente tem de padrão
de edital. Uma coisa que chama muito
a minha atenção são laboratórios de
criação, espaços de coworking. Trabalhar
incubadoras ou núcleos de criação, que
fiquem menos presos a um projeto só e
que deem margem a um leque, a uma
cartela de projetos para que não fique
48
Guigo Pádua
Essa política de editais criou também essa
tão amarrado a essa coisa de projeto que
política de construção de projetos. Tem
você inscreveu naquele edital, e que você
o edital ali, vou fazer um projetinho para
vai ter que entregar, depois de X tempo,
encaixar. É claro que surgem projetos muito
aquilo finalizado. Essa possibilidade dá
legais e um monte de paraquedistas. Seria
uma perspectiva de continuidade. Essa
necessário um trabalho mais de base,
demanda pode ser pensada por essa
de longa escala, de longo prazo, em que
associação, pelos realizadores e pela gente
você não está trabalhando com iminência
da política pública também.
de um prazo do edital, a grana ali para
49
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
A cauda longa dos curtas
fazer, mas você está consolidando um
trabalho. São essas alternativas que a gente
tem de começar a procurar. Pegar 1200
inscrições, metade paraquedista, um terço
paraquedista, para premiar 25, isso não é
política, isso é cala-boca.
Pergunta
Há menos inscrições em editais de
animação do que de live-action. Havendo
um edital específico, como já houve alguns,
associados com outras secretarias, outros
grupos, não haveria maior número de
inscritos?
Felipe Lopes
Em curta-metragem é um número bem
menor em percentual. A gente pode
analisar o que está acontecendo no
mercado, a partir do surgimento da
nova Lei da TV Paga, da demanda que
isso acabou criando, um pouco induzida
as diversas linguagens, as experimentações
no segmento de TV por assinatura.
de linguagem, como projetos de animação
Para desenvolvimento de série de TV, a
que são documentários. É possível a gente
proporção é outra, é mais de um terço
pensar por outras diretrizes que não sejam
de selecionados. A gente pena para
específicas, mas que possam criar números
conseguir escolher projetos que sejam
mínimos.
até de documentário, porque tem muita
animação boa. Então, é um pouco também
50
Zé Brandão
O porquê de um edital que não é específico
pensar em políticas que possam ser
para animação vir a ter uma inscrição
direcionadas. Eu, particularmente, acredito
menor é que, às vezes, você não quer nem
que é possível fazer políticas que incluam
se arriscar a entrar com um projeto dentro
51
a necessidade de desburocratização do
claro que é sempre bom você conseguir
Estado. Eu falo das esferas federal, estadual
um patrocínio para o seu filme. Mas, às
e municipal. Como viabilizar projetos
vezes, você vê um edital não específico
artísticos, viabilizar o fomento de cultura
de animação que quer que você faça 15
dentro de uma legislação que muitas vezes
minutos de animação com um valor que
não compreende o que é esse setor, dentro
não procede, ou com prazo muito curto,
de amarras burocráticas que não entendem
então você realmente não se inscreve. Para
a expressividade e o que é uma criação
não correr o risco de ganhar, porque aí você
artística? Acho que esse é um debate que
ganha para fazer, e você vai fazer mais ou
tem até que ser mais amplo do que só uma
menos?
mesa. É uma questão de desburocratização
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
A cauda longa dos curtas
de determinados parâmetros de edital. É
da política cultural como um todo.
Pergunta
Os editais, como um dos principais fomentos
que se têm hoje, deveriam ser desvinculados
Zé Brandão
Gui falou da importância de que a gente
da pessoa jurídica e direcionados para
se organize, que a gente apresente as
pessoas físicas. Principalmente para o curta-
propostas organizadas. E eu queria
metragem, porque você tem que se associar
convidar, caso alguém aqui já não
ao produtor, e o produtor levar o seu projeto
faça parte, para que a gente continue
até o edital para aí ele ganhar. É diferente
dando força para a ABCA. Para que a
quando você pode ganhar o edital e aí
ABCA continue sendo cada vez mais um
procurar uma produtora. É só uma maneira
momento de encontro de discutir e de
mais fácil de conseguir as coisas, uma
pleitear coisas juntos. Seria talvez mais
maneira mais justa.
legítimo que uma associação grande, de
grande relevância dentro de todo o meio
52
Felipe Lopes
Pensando em edital, em recurso público,
da animação, fosse aquela que pudesse
realmente a pessoa jurídica é uma questão.
indicar nomes. Mas para que isso aconteça,
O último edital de curta-metragem foi
ela tem de estar em todos os estados, ela
só para PJ. Vou colocar para os relatórios
tem que ter um número bem grande. Eu
atuais essa demanda, mas tem algumas
acho que todo mundo que está aqui tem
questões que acabam aparecendo. Como
de ir até a ABCA. E é isso.
53
Felipe Lopes
Deixa eu aproveitar para convidar a instigar
nos tempos de duração. O que seria essa
a ABCA e os membros do Rio de Janeiro.
limitação de tempo para televisão?
Pela memória que eu tenho, nesses três
anos na Secretaria, acho que é uma das
Talita Arruda Na verdade, a gente não tem uma limitação.
associações com a qual a gente teve menos
Televisão trabalha meio que com alguns
reunião e diálogo. Eu não tenho memória
formatos de 26 a 50 minutos, mas, para
disso, mas como superintendente, estou
curta-metragem, o que acaba implicando é
disposto a conversar, pensando um
que por ser valor por minutagem, por filme
pouco nessa questão de nosso programa
que é muito pequeno, a gente não consegue
de editais. No último, a gente entrou
pagar muito. Mas funciona também. O que
em contato com todas as associações
falo pela minha experiência no canal é que a
e representações que têm esse diálogo
gente acaba contratando alguns filmes que
com a gente. É bom ter essa organização
ficam numa média entre 10, 20 minutos,
representativa, que é um caminho mais
mas não tem um limite definido. A gente
institucional de se falar como representante
consegue trabalhar com qualquer tipo.
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
A cauda longa dos curtas
de classe mesmo.
Pergunta
Zé Brandão
Só queria dizer que a sua pergunta é
Por que a animação entra como gênero,
super relevante como forma de encaixar
nos editais? Animação não é um gênero. É
na grade da TV. Mas a gente tem de
uma linguagem e está procurando espaço
pensar sempre em produzir o filme ideal,
para isso.
independentemente se é curta-metragem,
de como vai se encaixar. Eu não sei
Felipe Lopes
Isso de gênero é uma regulamentação
exatamente, mas eu imagino que para os
que vem de narrativas da ANCINE. Então
festivais é interessante que os curtas não
a gente segue um pouco o que diz a
sejam muito longos, porque você tem a
regulação federal.
possibilidade de montar as sessões com
um maior número de filmes. Eu acho que o
54
Pergunta
A gente fala muito na liberdade da criação
ideal é você pensar no seu filme, no quanto
dos curtas, mas quando a gente quer que um
ele deve durar para ser um ótimo filme, e
curta passe em algum lugar, vai esbarrando
depois encaixar nas grades. A não ser que
55
diferenciada? E também se existe a
possibilidade de voltar a fomentar e
não setorizar? A gente não deixou de
mandar as propostas, a gente continua,
insistentemente, mandando as propostas,
criando coisas novas. Mas a gente tem visto
sempre as mesmas duas, três pessoas
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
A cauda longa dos curtas
já que animação é uma linguagem
ganhando o edital e continuando a fazer
os projetos. Pessoas que nem precisam
mais. Estou falando de fomentar, olhar para
os novos artistas e criar possibilidades.
Isso está faltando há muito tempo no
país. Outra coisa que eu queria saber é
se seria possível repensar, nos editais, a
questão da formatação. É muito difícil, o
seja um projeto de série ou minissérie. Mas
tempo não é suficiente. A mesma proposta
no caso de curta-metragem, tem de pensar
tem de ser reinventada para cada edital.
no que vale para o seu filme.
Haveria a possibilidade de a gente criar uma
linguagem mais universal?
Talita Arruda Só completando, é realmente isso. É muito
fácil encaixar o curta. E, além da TV, a gente
Zé Brandão
Bom, na questão da formatação, muito
tem a internet. A gente faz um esforço para
dessa complicação é resolvida através
conseguir abraçar tudo da forma que é, e
do Salic (Sistema de Apoio às Leis de
tentar fazer essa produção livre circular
Incentivo à Cultura). Só como informação,
também.
até porque não tem nada concreto ainda,
existe um grupo interno do Ministério da
56
Pergunta
Seria possível, também atendendo aos
Cultura estudando formas de simplificar o
pedidos gerais de pessoa física, garantir
Salic. É sabido que ele é complicado. Isso
maior tempo para fazermos a proposta,
aí está sendo visto. Eu acho que muito
57
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
A cauda longa dos curtas
dessa qualificação dos projetos passa por
programas, por trabalhos de qualificação
dos proponentes. Sobre o fomento, todos
os editais têm sempre uma cota para
estreantes. Não resolve problema, é claro,
mas significa que existe um mínimo de
pensamento nessa renovação.
Felipe Lopes
Falando um pouco da realidade da
Secretaria de Cultura, a padronização
deveria vir de um setor federal, mas eu
não sei se eu concordo tanto com isso. A
debate. Não. O curta é unanimidade. Eu
gente já tentou trabalhar a padronização
acho válido a gente continuar pensando
de formulário de inscrição internamente,
em editais de animação. A gente sabe
e aparece uma coisa nova e muda tudo.
que existe o dinheiro, mas a forma como
Existem formatos que a gente consegue
está formatado o acesso a esse dinheiro
trabalhar, e que são sempre os mesmos,
não está aberta para o curta. Mas talvez
mas tem novos editais que vão surgindo e
um projeto criativo de um canal que faz
novas propostas de fomento que acabam
curta possa reunir um monte de talentos
exigindo novos pensamentos do que vai
reconhecidos ou emergentes, e incluir
ser avaliado ali. A inscrição da gente é toda
produtores. Esse produtor de animação
online e a gente tem tido poucas críticas de
seria um ‘parceiro criativo’, aquele que
quem se inscreveu aqui do Rio.
abriga o autor, entende as demandas
dele e o livra dessas preocupações de
58
Marcos Magalhães retomou o microfone
preencher formulários de edital e saber
para encerrar a primeira mesa do Anima
quanto de dinheiro ainda tem para gastar
Forum. “Nós encerramos a mesa e não
no filme. Então, seria muito bacana a gente
ouvimos aquela voz contra dizendo que
conseguir montar um projeto que pudesse
o curta é uma completa perda de tempo,
entrar para usar estes recursos e continuar
que deve acabar, para esquentar o
valorizando o curta”, finalizou.
59
Philippe Alessandri
29 de Julho
Apresentação:
As estratégias
de produção e
exportação da
Animação Francesa
Convidado:
Philippe Alessandri
No Brasil pela primeira vez, Philippe
Allesandri deu as boas vindas ao público,
elogiou a qualidade da animação brasileira
e disse estar maravilhado com a qualidade
dos filmes apresentados no Anima Mundi.
Fez um preâmbulo bem-humorado sobre
o mercado de animação francês e sobre
como o Brasil e a França podem ganhar
em produções conjuntas. Alessandri
também contou como o seu país evoluiu,
nas últimas duas décadas, em técnica, arte,
61
O internacional Zodiak Kids vende e distribui
internacionais.
no mundo inteiro programas produzidos
também por outras empresas, e mantém
“Eu vou falar da produção francesa e da
uma equipe que desenvolve o que eles
maneira como a gente poderia coproduzir
chamam de ‘merchandising associada
juntos, porque depois de passar três dias
às séries’. Allesandri listou algumas das
com vocês eu estou realmente convencido
produções dos braços franceses do grupo,
de que a França e o Brasil têm interesse
ambos com sede em Paris:
Philippe Alessandri
Animação Francesa
ensino e produção, para ganhar mercados
em trabalhar juntos na animação, seja
no domínio do longa-metragem ou
- A Marathon Medias, que produziu a série
na televisão”, disse, anunciando que
Totally Spies!, vista na América Latina no
falaria, em particular, sobre o domínio da
canal Cartoon Network, realizou também
televisão, área que, segundo ele, parece
séries como Martin Mystère e, mais
ainda mais propícia à colaboração entre os
recentemente, Lolly Rock.
dois países.
- A Tele Images é produtora dos programas
Philippe Allesandri dirige duas sociedades,
Atomic Betty, uma coprodução com Canadá,
Marathon e Tele Images, ambas filiais do
Foot de Rue (“Street football” em inglês),
Zodiak, grupo internacional presente em 19
ambas exibidas na América Latina pelo
países, sobretudo na Europa.
Cartoon Network; e Sally Bollywood, série
atualmente apresentada pelo Gloob no
“No seio do Zodiak Media existe uma
Brasil.
divisão que se chama Zodiak Kids, que
62
cuida da produção e da venda internacional
A coprodução com a França tem muitas
de programas para a juventude,
vantagens, assegurou Allesandri: “Somos
especificamente de séries de animação
um território interessante para coproduzir.
para a televisão. Dentro dessa divisão, há
Primeiramente, porque lá, como no
três grupos de produção, o Foundation, na
Brasil, há muita expertise em todos os
Inglaterra; e o Marathon Medias e o Tele
níveis. E, além disso, existe financiamento
Images, na França.”
disponível para a criação original de séries
63
Philippe Alessandri
Animação Francesa
de animação. Então, temos disponíveis, ao
mesmo tempo, uma expertise artística e
uma expertise de produção”, afirmou.
No que concerne à expertise artística, a
França possui diversas instituições voltadas
para a formação de técnicos e artistas, ou
seja, toda a mão de obra necessária para
a linha de produção de séries e longasmetragens de animação.
“Todos os anos, a França forma 500
jovens no campo da animação. Eles são
generalistas, isso não quer dizer que nós
não ensinamos os estudantes a utilizar
os programas específicos em 3D ou em
2D numérico, mas sim que, de início,
nós os formamos para fazer cinema.
Nós os formamos para fazer animação,
animação tradicional. E uma vez que
que eles sigam suas vidas profissionais
eles compreenderam o que é o cinema,
com serenidade, já que os programas vão
a animação tradicional e o desenho, é
continuar mudando”, defendeu.
somente neste momento que nós vamos
64
especializá-los em um programa ou outro.
A expertise no domínio da produção, por
E assim eles podem entrar tranquilamente
sua vez, é garantida pela presença dos
no mercado de trabalho”, explicou ele,
muitos estúdios e produtores. “Existem
lembrando que esse processo leva em
muitas pessoas que produzem animação na
consideração que os programas evoluem
França, e a fragmentação é um obstáculo
a cada dois, três ou cinco anos. “Somente
que, ao mesmo tempo, permite aos
uma formação generalista vai permitir
grupos prosperar, porque existe muita
65
O Brasil, no entanto, não figura entre
exibiu um quadro com os 10 principais
os principais compradores da animação
produtores franceses, que representam
francesa, o que se repete em toda a América
cerca de 60% do mercado. Xilam, Gomo,
Latina.
Tele Images e Marathon estão na lista.
“Quando observamos os países que
Conhecimento do mercado internacional,
compram as nossas animações, nos
segundo Allesandri, também é uma
damos conta que as animações francesas
expertise importante. Foi o que permitiu,
se difundem no mundo inteiro, mas
há mais de dez anos, a exportação de
constatamos também que o mercado
produções e produtores franceses. No
da animação francesa na América Latina
telão, ele exibiu algumas das séries que são
continua muito baixo, menos de 5%. E é por
difundidas na América do Sul, sobretudo
essa razão que os produtores franceses
no Brasil, em canais fechados como Gloob,
estão sempre interessados em colaborar
Nicklodeon e Cartoon Network, e nos canais
com os produtores latino-americanos,
abertos, como TV Brasil e TV Cultura.
sobretudo com o Brasil, que é talvez o
Philippe Alessandri
Animação Francesa
concorrência no mesmo mercado”, ele
líder da América Latina. Para oferecer mais
A exportação da animação francesa
chances às produções francesas neste
está em ascensão, assegurou Allesandri.
continente, que é um mercado que vai se
“Atualmente, com venda e pré-venda,
desenvolver muito nos próximos anos”,
movimentamos mais de 60 milhões de
justificou.
euros. Essa é a prova que nós podemos
66
defender nossa cultura e nos exportar para
A lista de razões para alavancar a
todo mundo ao mesmo tempo. É a escolha
coprodução França-Brasil vai além. Para
que o Brasil fez, assim como a França:
Philippe Allesandri, os sistemas dos
proteger sua cultura e a revelar para o
dois países são parecidos, inclusive nos
mundo todo. Sob esse ponto de vista, os
mecanismos de financiamento. “A França,
dois países têm uma abordagem parecida
como o Brasil, tem um mercado rico que
face a outras culturas, sobretudo aos norte-
traz financiamento para as séries de
americanos.”
animação. Lá nós temos, como aqui, dois
67
contrário de vocês, nós não temos outros
canais americanos no financiamento
das animações francesas - não
obrigatoriamente, depois que Nicklodeon e
Cartoon Network escolheram ser difundidos
Philippe Alessandri
Animação Francesa
Channel, também estão por lá. “Mas, ao
a partir de Londres. Portanto, eles não
têm nenhuma obrigação com a França.
Ao contrário de vocês, que conseguiram
obter sucesso no financiamento com esses
dois canais. Eu espero que no futuro a
gente possa convencer esses difusores
a participar do financiamento da criação
francesa também.”
tipos de clientes, os canais abertos e os
O financiamento de obras audiovisuais
canais pagos. Dentre os canais abertos,
na França vem, basicamente, de fontes
estão grandes clientes, como o France
privadas, nas quais os canais abertos
Television, que representa praticamente a
participam em maior parcela, porque
metade dos investimentos em animação
são taxados; e de recursos públicos,
francesa. Já entre os difusores privados,
provenientes do CNC (Centro Nacional
temos TF1 e M6, que abordam assuntos
de Cinematografia), um dos órgãos de
gerais; e um canal 24h, o Gulli, que é
regulação audiovisual mais antigos do
menor, com menos dinheiro, mas que está
mundo, que é ligado ao Ministério da
crescendo”, afirmou.
Cultura e administra a política da França nas
áreas de cinema e outras artes e indústrias
Entre os canais pagos, os mais expressivos
da imagem animada.
são o Canal+ e o Canal J (ou TéleToon).
68
Entre os pequenos, Allessandri citou Piwi
O financiamento via CNC baseia-se
e Tiji. Canais americanos, como o Disney
fundamentalmente no recolhimento de
69
de televisão franceses”, disse ele, relatando,
do sistema é que o dinheiro recolhido
em seguida, o caminho obrigatório que
retorna diretamente para o setor
as coproduções percorrem, ou seja, as
audiovisual, ou seja, as taxas aplicadas aos
medidas regulamentares:
difusores são redistribuídas aos criadores.
- 50% do financiamento deve ser francês.
Outros investidores do audiovisual francês
“Essa é uma regra européia nova, que
são exatamente os seus concorrentes
pode causar o principal problema entre
americanos. Presentes em boa parte das
nós. Por isso devemos criar um tratado
salas de cinema, os filmes de Hollywood
de coprodução bilateral entre a França e o
têm seus ingressos taxados.
Brasil. O que já existe para o cinema deve
Philippe Alessandri
Animação Francesa
taxas especiais. Uma das particularidades
funcionar para a televisão;
Há ainda recursos que vêm do exterior.
É exatamente aí que entram as coproduções
- Um difusor deve participar do
com outros países que, como a França,
financiamento das obras. “No Brasil, vocês
o Brasil, a Itália, o Canadá ou a Austrália,
devem ter uma participação de, no mínimo,
escolheram proteger suas indústrias
15%, para poder acessar o fundo da Ancine.
nacionais de animação com financiamento
Na França, são 25% de participação dos
público e privado, assim como com cotas
difusores franceses. Esses 25% não são
de exibição impostas aos seus difusores
do valor total, são da parte francesa, é
nacionais.
bom deixar claro, porque no caso de uma
coprodução entre a França e o Brasil, esses
Eis a razão do atual foco francês na
25% serão somente da parte francesa”;
animação brasileira. A coprodução é uma
70
meta e uma vontade, mas existem algumas
- Meta de 14 pontos criativos em 21. “São
regras a serem levadas em conta. “O
os pontos levando em consideração a
mais importante é que a gente encontre
criação e a produção. Isso parece muito,
um projeto comum que seja capaz de
mas não é tão complicado assim de
seduzir as crianças brasileiras e as crianças
alcançar esses 14 pontos e, por outro
francesas, os canais brasileiros e os canais
lado, uma vez que tenhamos um tratado
71
franceses e os brasileiros podem encontrar
brasileiros como os franceses, e os
projetos em comum.”
franceses como os brasileiros. Então,
no final das contas, não há nenhuma
As demandas na França, como no Brasil,
dificuldade para se alcançar 14 pontos de
estão em todas as faixas etárias. A pré-
21. Mais uma vez, é uma razão para que
escolar representa cerca de 20% do
nós tenhamos um tratado de coprodução
mercado. A faixa entre os 5 e 8 anos fatura
entre a França e o Brasil.”
40% do mercado e está espalhada por todos
Philippe Alessandri
Animação Francesa
de coprodução, a gente considera os
os canais, como TF1, M6, France Télévision.
O ponto de partida, realçou Philippe
Há também um mercado para a faixa de 6 a
Allesandri, é encontrar um projeto comum.
10 anos, igualmente distribuída em todos os
“Uma vez que nós somos criadores, como
canais, por meio de dois estilos que são: a
somos todos nós, mesmo se nós somos
comédia e a ação-comédia.
produtores, realizadores ou autores, é a
paixão que nos coloca em um projeto e é
“Se eu pudesse imaginar um modelo
necessário estar apaixonado de um lado
ideal de coprodução França e Brasil, eu
e do outro do oceano atlântico para ter
diria um projeto que fosse compartilhado
vontade de fazer uma coprodução. Sendo
artisticamente desde o começo. Em que
assim, é necessário que a gente tenha a
70% de financiamento viesse da França,
certeza de encontrar um projeto comum
porque é isso que nos permitiria gerar
que possa seduzir as crianças brasileiras e
o crédito de imposto e o máximo de
as crianças francesas, os canais brasileiros
contribuição financeira; e uma participação
e os canais franceses. Mas eu não estou
de 30% do Brasil. Obviamente que poderia
preocupado, porque eu percebo que nossas
ser o contrário. O ideal seria que nos
séries de animação francesa têm uma boa
próximos meses nós pudéssemos ter
audiência nos diferentes canais no Brasil.
um tratado entre a França e o Brasil”,
Também, quando há longas-metragens
ele encerrou e abriu o microfone para
brasileiros apresentados no festival de
perguntas da plateia.
Annecy, eles ganham prêmios. Portanto, eu
não estou inquieto, porque eu penso que os
72
73
Pergunta
Philippe Alessandri
Animação Francesa
PERGUNTAS E
COMENTÁRIOS
Os modelos de financiamento no Brasil são
claros e demorados, nós já temos um timing
na cabeça. Para ter um projeto aprovado
pela Ancine são seis meses. Se aprovado,
é quase um ano para receber os recursos.
Quanto tempo leva para que na França um
projeto seja aprovado e o parceiro consiga
levantar os recursos? Qual o tempo com o
qual vocês trabalham?
Resposta
Na verdade, a gente tem a necessidade
do mesmo tempo que vocês, mas por
uma razão diferente. Os nossos canais
74
de televisão, cada dia mais, quase que
do momento em que a gente realiza um
sistematicamente, nos forçam a passar
piloto de dois minutos, isso nos permite ir
por uma convenção de desenvolvimento. A
logo em seguida para a imagem final e isso
gente vai vê-la geralmente com uma bíblia
nos dá uma visão da série. Esse processo
gráfica e literária e um primeiro roteiro.
leva um ano e, durante esse ano, a gente
Para um longa-metragem, a gente vai vê-la
vai procurar financiamento internacional.
com um roteiro total e depois um projeto
Portanto, se vocês têm necessidade de um
gráfico. E, depois que a gente fez um roteiro
ano para passar pelo filtro administrativo
e uma bíblia literária e uma bíblia gráfica, o
da Ancine, isso não é nenhum problema, a
canal de televisão nos pede para passar um
não ser quando isso acontece no momento
ano escrevendo outros roteiros e realizar
que a gente apresenta aos canais franceses
um pequeno piloto de dois minutos. Aliás,
nosso projeto. Em todo caso, a partir do
isso é muito interessante, porque a partir
momento em que um canal francês nos
75
televisão se vendia menos no exterior. Por
em uma fase de desenvolvimento. Então,
qual razão? Porque, inconscientemente, nós
a gente diz a vocês que nós vamos levar
tínhamos permanecido muito franceses
um ano, para que vocês possam aproveitar
e os outros países não viam a série como
esse ano para vender aos canais brasileiros
uma série que poderia dialogar com seu
e para “enrolar” a Ancine. Depois disso,
público. E toda vez que trabalho com dois
a gente vai ter 18 meses de produção. Eu
países juntos, não importam os países - eu
acredito que nós somos todos um pouco
já trabalhei com a Austrália, coproduzi com
parecidos.
o Canadá, com a Alemanha ou com a Itália
Philippe Alessandri
Animação Francesa
diz que isso o interessa, a gente vai entrar
- cada vez que as diferenças nacionais mais
PerguntaAs culturas francesa e brasileira têm
fortes são amenizadas, nós conseguimos
coisas em comum, mas também têm
uma maior universalidade. E eu não tenho o
coisas muito diferentes nas suas formas
sentimento de ter tornado desinteressante
de ser, sobretudo para as crianças. Então,
o projeto. O exemplo mais marcante é Sally
como você vê essa questão, porque pode
Bollywood. Primeiramente, é uma série
ser muito difícil de conseguir atingir um
que fala sobre uma menininha de origem
resultado que seja apreciado pelos dois
indiana, mas que vive em uma grande
lados, sem ser bizarro ou estranho, ou
cidade ocidental. Na França, a gente não
que não fale às crianças por causa dessa
tem imigração indiana, se tivermos é bem
diferença cultural.
pouco, ocorre mais na Inglaterra ou no
Canadá. Então, já é uma transferência para
76
Resposta
Há tanto diferenças como semelhanças,
nós. Nós coproduzimos com dois países,
mas eu considero essas diferenças uma
a Alemanha e a Austrália. Isso nos faz rir,
sorte, e eu não digo só por dizer, explico
mas os australianos ficaram muito ligados
o porquê. Em minha experiência na
ao fato de que as crianças se comportam
vida profissional, a cada vez que a gente
bem. É um tipo de moral anglo-saxã bem
produzia sem um parceiro estrangeiro
forte, enquanto os franceses eram muito
- não porque a gente tivesse recusado,
ligados à comédia. É necessário que a gente
mas porque não tínhamos encontrado
possa rir, mesmo que às vezes as crianças
mesmo - sistematicamente nossa série de
transponham uma certa moral. Os alemães
77
quer impor seus pontos de vista. Mas, ao
fim de seis meses, nós encontramos um
ponto de equilíbrio.
Pergunta
Existem assuntos que são mais
Philippe Alessandri
Animação Francesa
das dificuldades iniciais, quando cada um
interessantes para coproduzir?
Resposta
Sim, existem assuntos em comum, mas isso
muda muito rápido, cuidado. É como aqui
no Brasil, eu imagino, isso quer dizer que os
difusores mudam a cada seis meses. E isso
quando temos sorte, porque quando não
temos sorte, é a cada três meses. Mesmo
assim a gente consegue, porque existem os
pontos fundamentais. Existem alguns temas
que vão voltar eternamente para todas as
crianças, isso é a primeira coisa em que
nós devemos nos apoiar. A segunda é que
78
davam muita importância para a lógica
existem canais americanos na França e no
das enquetes, para que tudo seja crível
Brasil que procuram um pouco a mesma
e lógico. Cada um tinha suas referências
coisa, como Disney Channel, Nick, Cartoon
culturais, portanto estava sendo bem
Network. Em Londres e em Paris, eles
difícil de achar um ponto de equilíbrio.
buscam quase a mesma coisa que procuram
Mas, no fim das contas, foi uma das séries
na América Latina. Isso porque os canais
que mais venderam. Então, eu considero
americanos têm uma visão completamente
uma sorte ter essas diferenças culturais. É
globalizada, completamente universal, e
preciso experimentá-las para ter certeza,
deixam pouco espaço para o resto. Então,
mas eu jamais fiquei decepcionado com as
essa é uma outra maneira de coproduzir,
coproduções internacionais, mesmo diante
é necessário que a gente crie o hábito.
79
exterior e decidimos se o projeto é do nosso
Network amam um projeto francês e nos
interesse ou não.
pedem para coproduzir com eles, talvez
que se a gente falasse com Disney Channel,
Pergunta
É bom ver a receptividade e o interesse
Nick, Cartoon Network na América Latina,
francês em coproduções com o Brasil. Há
eles também se interessassem e, no lugar
um capital relevante, uma qualidade de
de pouco financiamento, nós teríamos
produção e execução aqui. A possibilidade
muito financiamento compartilhado. E nós
é excitante, mas como seriam os direitos?
poderíamos trabalhar juntos, cada um com
Algumas coproduções internacionais não
um episódio. Eu fiz isso com Atomic Betty e
funcionaram de forma competente por
deu super certo: cada um fica responsável
questões burocráticas. Qual a abertura da
pelos seus episódios e funciona super bem.
Zodiac em relação a isso?
Philippe Alessandri
Animação Francesa
Quando Disney Channel, Nick, Cartoon
No fim das contas, ninguém é capaz de dizer
que um episódio foi canadense e outro
Resposta
Primeiramente, você tem razão, é
francês. Ou então, compartilhando as taxas.
necessário que as instituições públicas
Vocês são muito fortes em animação, nós
não sejam um obstáculo para nós. Já é
um pouco menos, talvez, então, pode ser
muito difícil vender uma produção a um
que a animação seja feita no Brasil, mas,
canal, desenvolver artisticamente um
por outro lado, a pré-produção e a pós-
projeto e produzi-lo. Não há necessidade
produção fiquem com a França. Todas as
de imposições legais e administrativas. O
cooperações são possíveis.
peso está mais no lado da CNC na França,
porque a Ancine é muito favorável a
Pergunta
Como a gente pode fazer para submeter um
firmar o tratado. É responsabilidade dos
projeto na Zodiak ou para na Tele Images?
produtores franceses fazer isso andar. No
que diz respeito à coprodução e Zodiak, a
80
Resposta
É muito simples, você pode escrever para
gente sempre considerou os coprodutores
qualquer pessoa, para mim, por exemplo,
como parceiros, que devem estar
porque nós temos todos os meses dentro
associados a todas as receitas. A gente tem
do grupo Zodiak Kids uma reunião em que
uma atitude extremamente simples, que
analisamos os projetos que chegam do
consiste em associar nossos parceiros à
81
Philippe Alessandri
Animação Francesa
altura do financiamento que ele traz. Então,
se em uma série, por exemplo, a gente
tem uma coprodução brasileira em torno
de de 30% ou 40%, a gente vai reverter
40% de todos os benefícios ao nosso
coprodutor, sabendo que, em geral, cada
produtor guarda 100% de direitos do seu
território, porque é mais simples. A gente
faz o nosso parceiro estrangeiro aproveitar
com o Grupo Zodiak a distribuição, o
merchandising e a produção. Você dizia
que podem existir dificuldades em termos
de produção, e nisso não há outra solução
senão trabalhar muito bem junto, preparar
muito bem o primeiro ano, e não produzir
nesse primeiro momento, porque estamos
concentrados no desenvolvimento,
porque nós esperamos o acordo com as
autoridades. Então, é importante aproveitar
esse ano para preparar o trabalho de modo
que, na produção, tudo funcione muito
82
bem. Até porque, não podemos negar
tempo juntas. É importante beber cerveja,
que quando estamos a 20 mil quilômetros
jantar [risos]. Outra maneira é promover
uns dos outros, isso pode ser às vezes
temporadas de um membro da equipe
muito complicado. Existem, claro, muitas
artística brasileira em Paris, e vice-versa. Ter
maneiras de facilitar o processo. Uma delas
um brasileiro lá, e um francês aqui facilita
é, desde o início, fazer encontros não só
muito as coisas e diminui os conflitos,
com os produtores, mas, também com
quando eles aparecem. É isso, são pequenas
os realizadores, diretores de produção,
coisas que podem tornar a coprodução mais
para que todas essas pessoas passem um
tranquila.
83
Simon Otto
30 de Julho
Masterclass 1
Inventando
Dragões
e Vikings Críveis
e Divertidos
Convidado:
Simon Otto
O desenvolvimento de personagens sempre
acompanhou a carreira de Simon Otto,
primeiro através da criação de esculturas
comerciais de neve, em resorts suíços, e da
ilustração de charges para o jornal da sua
cidade natal, Gommiswald, e depois através
da animação, seguindo sua passagem pela
prestigiosa escola Les Gobelins, em Paris.
Otto reconhece a enorme contribuição da
instituição na sua trajetória, mas afirma que
“por melhor que seja a escola, a animação é
85
Simon Otto
Masterclass 1
algo que aprendemos através da observação
da vida real. Passei a vida inteira desenhando,
e, portanto, posso afirmar que já estudava
animação bem antes de me dar conta disto”.
os dois longas da franquia Como Treinar o
Seu Dragão (2010, 2014), nos quais trabalhou
como diretor de animação de personagens.
Em sua Masterclass, Simon Otto
compartilhou com o público a história de
um garoto que cresceu em uma zona rural,
Ainda em Paris, Otto estagiou na Disney,
onde desenvolveu ainda mais seu talento,
antes de ser integrado ao primeiro projeto
de animação da Dreamworks, O Príncipe do
Egito, de 1997. Fundou-se, assim, a tradição
impecável do estúdio dentro do cânone da
animação, com importante contribuição
de Otto, em filmes como Spirit: O corcel
indomável(2002), Por Água Abaixo (2006), Os
Sem-Floresta (2006), e, mais recentemente,
86
longe da indústria da animação, e que hoje
é diretor de animação de personagens em
um dos maiores estúdios de animação
do mundo. Através dessa jornada
retrospectiva, ele explicou como essas
experiências moldaram as diretrizes da sua
vida profissional. Otto apresentou exemplos
dos bastidores de Como Treinar o Seu Dragão
2 para ilustrar a construção de um mundo
de dragões crível e divertido, e de uma
filosofia de animação própria.
87
30 de Julho
A integração
Latino-americana
Convidados:
Manoel Rangel – ANCINE
Cláudio Grandinetti – UIPAA
Guille Hiertz – Split Filmes
Maria Graciela Severino – GONG
Ralph Karam – Le Cube
Miguel Del Moral – CutOut Fest
Moderadores: Cesar Coelho e Luciane Gorgulho
A integração Latino-americana
Cesar Coelho, um dos diretores do Anima
Mundi, assumiu o papel de mediador da
tarde mais latino-americana do Anima
Forum. Para compor a mesa, ele anunciou
as presenças de Luciane Gorgulho, chefe do
Departamento da Economia da Cultura do
BNDES (um dos patrocinadores do fórum);
Manoel Rangel, diretor presidente da ANCINE;
Miguel Del Moral, presidente do CutOut
Festival, do México; Claudio Grandinetti, da
comissão executiva da União Industrial de
Produtores de Animação Argentina (UIPAA);
Guille Hiertz, diretor de animação da Split
Filmes, de São Paulo; Maria Graciela Severino,
produtora executiva da Gong! Animation
Studio (GONG), do Chile; e, por fim, Ralph
Karam, diretor criativo da Le Cube, produtora
que trabalha entre Brasil e Argentina.
Antes do debate, Cesar faz um breve
Um bom exemplo para realçar esse viés,
histórico do Anima Mundi, festival pensado
segundo ele, é a evolução da indústria da
como peça estratégica de promoção e
animação francesa nos últimos 15 anos.
desenvolvimento da indústria da animação
como arte no Brasil.
“Alguns anos atrás, logo nos primeiros Foruns,
a gente fez uma mesa latino-americana
90
“A gente acha importante que o Festival
em que tentávamos entender a nossa
cumpra não só o papel de divertir, de revelar
realidade na área de animação. Mais de 15
artistas, mas que seja também referência
anos atrás, trouxemos alguns produtores
de discussão e planejamento estratégico da
que representavam uma cooperativa
própria atividade em si”.
formada na França. Na época, a animação
91
A integração Latino-americana
matinal inteira. Com isso, a coisa foi
evoluindo, e hoje a animação francesa está
muito poderosa em todas as áreas. Eles
têm grandes escolas de animação, estão
começando a produzir longas-metragens de
ponta, blockbusters e tudo”.
Já mirando a troca entre os latinoamericanos, a edição de 2013 do Anima
Forum contou com a presença de Iain
Harvey, vice-presidente da Cartoon Media,
uma entidade europeia que teve a mesma
preocupação duas décadas atrás. “Eles
pensavam como poderiam reforçar as
companhias de animação da Europa e
92
francesa não era o que é hoje. Mas eles
criaram essa associação, que em 20 anos
estavam justamente preocupados com o
revolucionou o panorama de animação
mercado francês, com a invasão, na televisão
na Europa. A Cartoon Media tem hoje um
francesa, principalmente para as crianças, de
orçamento trienal de 200 milhões de euros.
produções – filmes e animação – americanas
Eles promovem encontros de produtores
e asiáticas. Eles queriam ver mais produtos
europeus para troca de experiências e
franceses na televisão. Então, eles criaram
projetos, coordenam esforços dos produtores
uma associação incentivada pelo próprio
associados e trocam recursos. A Cartoon
governo, e isso foi importante para conquistar
Media também desenvolve programas
o mercado. Eles começaram a entrar no
de aperfeiçoamento e desenvolvimento
mercado internacional de animação, não
de tecnologia interna e um programa de
isoladamente, mas coletivamente, e com isso
intercâmbio com produtores fora da Europa”,
chegavam com uma produção muito mais
Cesar elogiou, numa clara associação com
substancial. Em vez de oferecer um ou dois
o que a direção do Anima Forum pretende
programas, ofereciam uma programação
alavancar na América Latina.
93
A integração Latino-americana
“Desde o início, nós identificamos que a
animação tinha um potencial bastante
diferenciado de desenvolvimento como setor.
Potencial de desenvolvimento artístico, de
geração de emprego, de mão de obra etc. E
passamos a desenvolver diversas ações em
relação a isso. Nós temos linha de crédito a
longo prazo, fundos de investimentos; temos
um edital de cinema há quase 20 anos, que
Luciane Gorgulho
BNDES
Patrocinador do Anima Mundi e do
Anima Forum, o BNDES, como banco de
desenvolvimento, dá o devido crédito
à economia criativa. Luciane Gorgulho,
convidada para dividir a mediação da mesa
com César Coelho, ressaltou que a aposta
do BNDES no setor é tamanha, que foi
criado um departamento exclusivo para
tratar da economia da cultura, que funciona
desde 2006.
94
tem contemplado de duas a três animações
longas a cada ano, e tem ajudado vários
projetos, como o mais recente do Alê Abreu, O
Menino e o Mundo”, enumerou Luciane.
O BNDES, segundo a chefe do Departamento
da Economia da Cultura, tem atuado,
fundamentalmente, para ajudar o setor a
se organizar. Particularmente voltado para
a América Latina, o banco mantém, há três
anos, um escritório em Montevidéu. “O
objetivo é promover financiamentos e uma
maior integração entre os países”, afirmou
Luciane Gorgulho.
95
A integração Latino-americana
disse ele, avisando que mostraria alguns
números representativos da indústria
cinematográfica e da animação no México.
Quinto lugar mundial em média de público
em salas e décimo maior comprador de
ingressos em bilheteria no mundo, o
México tem uma produção cinematográfica
própria expressiva, ou seja, é um dos países
com maior número de filmes produzidos
anualmente. Segundo Del Moral, o país foi
o principal produtor em 2013 na América
Latina, com 126 filmes entre ficção,
documentários e animação.
“Nos anos de 2011 e 2012, a animação foi o
Miguel Del Moral
CutOut Fest
Presidente do CutOut Festival, Miguel Del
Moral começou com um breve panorama
da animação no México: um mercado
ainda incipiente, com coproduções raras e
esquálida produção de longas-metragens.
“Para podermos situar o Brasil em um
caminho de coprodução no México, ainda
temos que percorrer um longo caminho.
Mas é para isso que estamos aqui”,
96
gênero que mais atraiu público entre os filmes
que estrearam. Isto quer dizer que no México
há um grande mercado para a animação.
Lamentavelmente, toda a receita das salas vai
para outros países, principalmente para os
Estados Unidos”, afirmou.
A fala de Del Moral é baseada em números
do Anuário Estatístico do Cinema Mexicano,
segundo o qual 79% do público no país vai
atrás de produções americanas. Isso significa
que tanto as produções mexicanas como as
demais produções latino-americanas têm
pouco público em salas mexicanas.
97
com 3; a República Dominicana e o Uruguai
com 2 cada um; a Bolívia e a Suiça com uma
coprodução cada. O Brasil não aparece na
lista. Del Moral lembrou que, desde 2007, os
Miguel Del Moral
A integração Latino-americana
e a Dinamarca com 5 cada uma; o Peru,
dois países não atuam conjuntamente seja
em ficção ou documentários.
Em relação à produção de animação, o
México viveu a década de 1990 sem que
nenhum filme fosse produzido. No quadro
da produção de animação no país desde a
década de 1970, o total é de 26 animações.
A década de 1990 foi o período de maior
O Estado participa do financiamento e apoia
ostracismo, sem nenhuma produção. Entre
as coproduções, continuou Del Moral. “Em
2000 e 2008 houve oito produções, sendo
2013, o governo participou com 75% do
que o pico se deu entre 2009 e 2011, com 10
financiamento dos filmes, que é uma cifra
produções realizadas. Em 2013, foram três.
muita alta”, comentou. As coproduções,
no entanto, representaram apenas 15% de
“Está melhorando, embora a indústria
todas as produções realizadas.
esteja começando. A maioria dos estúdios
vive da publicidade e faz outros tipos de
Entre os anos de 2007 a 2013, houve
trabalhos relacionados com comerciais. Na
incremento das coproduções com diversos
cinematografia, há pouquíssima animação”,
países, com destaque para os Estados
disse Del Moral.
Unidos, que aparece na lista com 27
98
coproduções realizadas. Em seguida,
O México tem algumas necessidades
aparecem a Espanha, com 23; a Colômbia,
específicas, mas que se assemelham ao
com 12; a Argentina, com 11; a França, com 9;
cenário latino-americano. Del Moral citou
o Chile, com 8; o Canadá, com 6; a Holanda
como principais:
99
trabalhou no país. Faltam mais qualidade
que implica em melhorar a formação
e quantidade de pessoal especializado, de
profissional e a capacitação técnica,
professores, apesar da grande quantidade
promover a certificação, melhorar a
de alunos formados por ano. Também
informação sobre o mercado global e
precisamos elevar a competitividade dos
aumentar a qualidade e a quantidade de
estúdios para aumentar a disponibilidade dos
professores e instrutores;
recursos financeiros para essas indústrias. O
Miguel Del Moral
A integração Latino-americana
- A formação de capital humano, o
governo não apoia, e uma das ferramentas
- Elevar a competitividade das empresas
pode ser também a coprodução internacional
e estúdios, que movimentam a indústria,
e a coprodução latino-americana. Precisamos
o que envolve incrementar recursos
também promover a criação de organismos e
financeiros para empresas, criar organismos
grupos que representem a indústria.”
representativos, promover a propriedade
intelectual internacionalmente, realizar
É preciso impulsionar o funcionamento das
estudos analíticos da indústria;
industrias latino-americanas, promover essa
indústria e situá-la nacionalmente, além
- Promover o crescimento dos mercados
de atingir nível internacional e capacidade
local e global, o que significa impulsionar a
técnica.
indústria latino-americana; e
“São muitos os pontos que acredito que
- Impulsionar um marco legal de promoção
temos de trabalhar. Mas, dada a situação
do crescimento da indústria de animação,
em que vive a indústria de animação no
o que demanda a homologação de práticas
México, há muito por fazer, e acho que é isto
com organismos internacionais.
que temos de combinar: trabalhar para que
passemos a ter propriedade intelectual latino-
100
“Não há informação de quanto cobrar, como
americana que seja exportada para o resto do
cobrar, não há tabelas. A animação é uma
mundo, e que tenhamos uma indústria forte,
indústria bastante desarticulada. No cinema,
porque os mercados existem. O mercado
temos trabalhado um pouco mais, mas a
brasileiro é gigante, e o mercado mexicano
animação é um assunto que ainda não se
também é dos mais importantes. O mercado
101
A integração Latino-americana
latino-americano tem um grande potencial,
mas tudo está sendo importado, todo o
dinheiro está indo embora. É uma pena não
termos ainda o sucesso latino-americano
como existe em outros países”, finalizou.
Pergunta – Qual é a técnica mais utilizada
para produzir animação de longa-metragem
no México?
Miguel Del Moral – Ultimamente é uma
combinação de técnicas de 3D e 2D
compostos, pouco stop motion, apesar
de o México ser um um dos países que
melhor dominam a técnica em stop motion,
precisamente porque não viemos de uma
formação acadêmica como animadores.
Há uma formação plástica, há também
uma formação cinematográfica e creio
que o stop motion é uma das técnicas que,
combinando a plástica com a cinematografia
de live-action, pode ter resultados
interessantes. No México, desenvolvemos
bem uma construção de personagens
imaginários muito interessantes e temos
curtas-metragens incríveis. Dificilmente se
faz uma coprodução de longa-metragem
em stop motion, não sei porquê, talvez seja
mais caro, mas por ai há alguns projetos que
estão sendo trabalhados em stop motion.
102
Claudio Grandinetti
UIPAA
Segundo Claudio Grandinetti,
representande da União Industrial de
Produtores de Animação da Argentina, a
animação vive cenários parecidos em toda a
América Latina.
“A UIPAA é uma organização formada em
2009 com o objetivo de profissionalizar o
setor e dar forma à indústria audiovisual
na área de animação, que era o que nos
103
pudessem ser consumidos em toda parte do
momento. A partir daí, começamos a ver
mundo, para exportar produto intelectual,
o que estava acontecendo no mercado,
teríamos que pensar em trabalhar com
no mundo, o que estava acontecendo
países que entendiam dessas coisas e que
conosco. Na Argentina, tínhamos lugares
hoje estão tendo êxito”, disse.
onde mostrar nossos trabalhos de
produção, os trabalhos comerciais, os
Claudio Grandinetti compartilhou com
trabalhos de animação a que a gente
a plateia do Anima Forum o caminho
assiste normalmente na televisão; mas o
percorrido para entender como funcionam
trabalho de fazer seriados na televisão ou
e se concretizam as coproduções, a
no cinema, não estava sendo explorado.
colaboração com outros países, com outros
Então, desenvolvemos algumas estratégias”,
colegas. “Iniciamos um trabalho que incluía
contou ele, sobre o início da associação.
mercados internacionais. Formamos uma
Claudio Grandinetti
A integração Latino-americana
preocupava, como produtores, naquele
proposta, e a apresentamos à “ANCINE”
Hoje, a entidade reúne 43 produtoras
da Argentina. Para nós, foi uma proposta
espalhadas por todo o país. “Estão todos
histórica, porque em 22 anos nunca tivemos
buscando o mesmo objetivo e trabalhando
uma visão por parte do governo e do setor
do âmbito privado ao governamental para
privado de criarmos uma indústria como
fortalecer a indústria, que acreditamos
estamos criando”, contou ele.
ser emergente e a mais frutífera deste
novo milênio. As produtoras associadas
A estratégia de convencimento envolveu
contribuem para o desenvolvimento e a
a formulação da proposta e a criação de
oferta de serviços em diferentes frentes do
um concurso em que se apresentavam
audiovisual”, afirmou.
pilotos prontos para competir no mercado
internacional. “Isso significa que estávamos
104
“A turma foi atrás do governo e das empresas
instituindo, desde o princípio, a criação
privadas, insistiu que as coproduções eram
de produtos que pudessem, pelo menos,
importantes para alavancar a indústria.
ser colocados numa mesa de negociação
Entendíamos que para podermos nos
num mercado internacional, e serem
profissionalizar e gerar produtos que
produzidos”.
105
em andamento. E os planos agora são
foi uma grande aceitação no mercado
de expansão. “Pensamos em explorar o
local. “Tivemos 83 projetos apresentados,
mercado e encontrar com alguns colegas do
20 selecionados e premiados com a
Chile, Brasil, México e Colômbia. Nossa ideia
possibilidade de produzirem o piloto,
é unir esforços e lançar produtos para a
com o mercado internacional incluído na
América Latina, competir no mundo e poder
realização. Com esse material, preparamos
crescer juntos”, encerrou.
Claudio Grandinetti
A integração Latino-americana
O resultado do concurso, sendo Grandinetti,
um primeiro catálogo, que levamos ao
mercado internacional para começar a
entenderem o que se passava com nossos
produtos e nossos projetos. Essa iniciativa
superou todas as nossas expectativas. E
a partir daí, iniciamos projetos já com o
mercado aberto para produzir. Na verdade
não foi nada fácil”, assumiu.
No ano de 2013, quando todos estavam
olhando para a Argentina, vieram as
dúvidas. “Faltava algo mais. Então nos
pusemos a trabalhar com canais públicos
e armamos uma estratégia para poder
financiar os projetos que tínhamos. Já
que o catálogo teve muita repercussão,
era a hora de aproveitar. E o governo
entendeu que essa é uma indústria com
muito futuro, e trabalhamos em uma nova
proposta”, esmiuçou. O empenho rendeu
um financiamento que pode variar de
30% a 50%, dependendo do projeto. Pelo
menos três, de uma leva de 12, já estão
106
107
A integração Latino-americana
geração de conteúdo tem vários invólucros”,
o que ele explicaria em seguida. “A empresa
surgiu com o intuito de fazer conteúdo. Mas
a grande verdade é que a gente tem contas
a pagar mensalmente, então, o que passa
de animação na nossa frente a gente pega
e faz. Em São Paulo há uma demanda muito
forte de publicidade e, paralelamente, a
gente tem esse nosso business de conteúdo,
que é uma coisa que não dá dinheiro, até
que dê dinheiro. Temos de fazer publicidade
para nos manter”, contou ele.
A coprodução passou a ser realidade para
o Split Filmes em 2013, contou Guille.
Especificamente a partir de um email da
Guille Hiertz
Split Filmes
Pela segunda vez no Anima Forum, Guille
Hiertz, no papel de representante das
produtoras independentes de animação,
anunciou que o foco de sua fala seria a
coprodução com países da América Latina.
O Split Studio, fundado em 2009, é um
estúdio recente, mas já com algumas
conquistas consistentes. “Ele surgiu com
o objetivo claro de fazer conteúdo. E essa
108
Gong!.”Quando recebemos o e-mail do
pessoal do Chile, pensamos taí, tá pronto!
Boa qualidade, ótimo humor. O Gong! era
mais novo que a gente. Eu consigo falar de
um projeto pelo nível de maturidade que
tinha, mas, no caso deles, já veio uma coisa
muito bem feita e de muito boa qualidade.
Imediatamente, nós também fomos atrás
deles e conversamo e aí, a gente vai fazer
só conteúdo?, vamos atender outras coisas?,
vamos fazer dinheiro de que forma?, qual
o dilema de vocês no momento? E parecia
um caminho muito promissor. Mas, sabe
como é o Brasil, tínhamos todo o preparo
109
a gente tentou trabalhar animação live
aqui, por falta de dinheiro. E isso por causa
action e o canal não confia R$ 1 milhão para
da Lei 12.485, aprovada em 2012. A partir
o projeto, mas se eu pedir R$ 5 milhões para
daí, os próprios canais me disseram, em
fazer animação, ele vai dar”, ponderou.
Guille Hiertz
A integração Latino-americana
para fazer, mas não podíamos produzir
algumas ocasiões, que antes de 2012, o
melhor projeto, fosse chileno, argentino
O mercado de animação, segundo Guille,
ou brasileiro, recebia a verba. Após a
segue um compasso diferente, é mais
Lei, mudou muito o panorama lá fora e a
linear e mais previsível. “Tudo depende de
torneira se fechou para a América Latina.
dinheiro. Eu adoro o trabalho do pessoal
Se o Cartoon Network tiver uma verba para
da Argentina, mas não posso coproduzir
investir na América Latina, provavelmente
com eles porque a gente não tem lei e o
vai investir aqui porque não paga multa.
meu conteúdo não pode ser qualificado
Aqui ele consegue produzir conteúdo e
como independente brasileiro, infelizmente.
manter o canal dele em ordem”, explicou
No caso do Chile, tínhamos um acordo
ele, assegurando que não se tratava de
cinematográfico de 1997, mas tivemos que
reclamação.
ligar para a Ancine e perguntar se ainda
estava valendo. E fomos os primeiros a usar.
A Lei 12.485, de acordo com Guille, trouxe
Foram 17 anos para o acordo ser usado”,
avanços, mas travou, de certo modo, os
criticou.
investimentos. “Eu não estou criticando
110
a Lei, seria pior sem ela, mas o risco de
Buscar parceiros é importante, mas as
investir o dinheiro em algo que não dá
contribuições têm de vir com planos e
certo, e ser responsabilizado por isso, foi
ideias. “A gente devia trabalhar mais entre
limado. Agora, se der mal ou se der bem
vizinhos sul-americanos, o que faz muito
tanto faz, vai para o cofre do governo.
mais sentido. Mas a gente tem questões
Ganha quem sabe levantar dinheiro. Esse
burocráticas legais permeando o nosso
é o dilema que a gente enfrenta hoje nessa
caminho. Por exemplo, a RioFilmes faz uma
área. Então, demora muito tempo para se
contrapartida da verba de 1 real para 1 e
levantar um projeto de animação no Brasil.
½, o que é interessante. Por outro lado,
Mas o curioso no mercado brasileiro é que
obrigava que o projeto entrasse no Fundo
111
A integração Latino-americana
em janeiro, e estivesse pronto em 12 meses.
Isso funciona para série, documentário, não
para animação. Esse é só um exemplo de
que, ao longo de todo o caminho, a gente
tem de brigar com o mercado, com os
canais, com as leis”, desabafou Guille.
O cenário, segundo ele, é positivo. “A
animação está estrategicamente colocada
a um passo da televisão, a um passo do
cinema, a um passo dos games e a um
passo das editoras, já que qualquer livro
infantil vira uma animação e vice-versa.
E, no Brasil, nós temos o que o mercado
pede, temos consumidor interno, temos
qualidade, sabemos contar histórias, só
precisamos que o dinheiro chegue à nossa
mão”, fechou.
Maria Graciela
Severino – GONG
Maria Graciela, a Maru, é produtora
executiva do Gong!, o parceiro chileno
do Split Filmes, e também é vicepresidente da associação dos produtores
de animação do Chile. No Anima Forum,
ela avisou, teria uma conversa sobre
a animação chilena, coprodução e
representação de toda uma geração
de produtores.
112
113
fora e fazer parcerias para desenvolver
o Chilemonos; oito universidades que
os projetos com a qualidade que nós
preparam para a carreira de animação,
queremos. E acho que esse é o ponto de
com cursos que variam de dois a quatro
reflexão: se pensamos em fazer produções
anos, entre técnicos e profissionais; e
em nosso país, nós precisamos reduzir
também tem uma associação que agremia
a qualidade em tudo. E a gente não quer
produtores, enumerou Maria Graciela.
fazer isso, a gente quer fazer produtos
Maria Graciela
A integração Latino-americana
O Chile tem um festival de animação,
capazes de competir com os melhores
“Somos aproximadamente 30 empresas
conteúdos do mundo.”
fazendo animação, algumas com uma
direção voltada para conteúdo, outras com
Sobre a estrutura de financiamento no
mistura de conteúdo com publicidade, e
Chile, Maria Graciela explicou as fontes
muitas, especialmente as mais jovens, que
disponíveis. A primeira delas é o CORFO,
estão fazendo conteúdo para internet,
instituição voltada para estimular o
games e muitas coisas. Mas são sempre
empreendedorismo e fortalecer a
empresas pequenas”, ela afirmou, antes
capacidade tecnológica. “Eles têm um
de exibir uma pequena seleção de diversas
financiamento que, no caso da animação,
animações realizadas no Chile, por variados
pode ser utilizado principalmente para o
estúdios.
desenvolvimento. Nós já o solicitamos em
duas ocasiões. A cada vez, podemos pegar
Após a amostra – e aplausos –, ela
até 36 mil dólares, aproximadamente”,
continuou, já com a questão do
contou.
financiamento em coproduções: “Vou falar
114
primeiro da nossa visão. Nós temos de
Há também os fundos do Conselho
olhar primeiro para os nossos projetos,
Nacional da Cultura e das Artes (CNCA).
para a natureza da técnica, que, no caso
“Tem um fundo que financia o roteiro,
da animação, precisa de mais recursos.
outro com uma linha exclusiva para
Nesse sentido, em países pequenos como
animação, e vai financiar até 60 mil dólares,
o Chile, onde não temos um mercado
aproximadamente. E tem um fundo
interno sustentável, temos de olhar para
especial para as regiões fora de Santiago.
115
A integração Latino-americana
Como tudo é bem centralizado, esse é
um fomento para que as outras regiões
possam desenvolver seus projetos. Tem
outro fundo, para televisão, cujo custo
é relacionado ao minuto de produção”,
explicou.
Sobre a relação Split e Gong!, Maru lembrou
que Brasil e Chile têm um acordo de
coprodução datado de 1996. E o acordo
assinado entre as duas produtoras,
segundo ela, foi o primeiro assinado
como coprodução legal. Existem outras
coproduções, mas que não estão assinadas
nos mesmos termos.
“Por nove anos, eu viajei pelo Brasil,
conheci de Pelotas a Rondônia. Depois
retornei ao Chile, montei os estúdios, criei
empresas, entre elas a Gong!. Mas a gente
viu que a coprodução estava na natureza
da animação. E o primeiro país que a gente
olhou foi o Brasil. Com a ajuda da ABPITV,
nós contatamos os estúdios que tinham
algo em comum conosco. A gente escreveu
para a Split, eles abriram os braços para
os nossos projetos, e assim começou a
relação. Até agora, a gente só tem coisa
boa para falar”, ela elogiou, finalizando.
116
Ralph Karam
Le Cube
Ralph Karam vive uma experiência já
binacional. Ele é diretor da Le Cube, uma
produtora baseada no Brasil e na Argentina.
Após exibir um vídeo de animações
produzidas pela Le Cube, ele explicou:
“Somos três sócios. Um em São Paulo, outro
em Buenos Aires, e eu, que fico no meio
do caminho entre os dois países. E, além
disso, temos uma série de amigos muito
117
Ralph foi conhecendo gente, trabalhando,
projeto”, disse Ralph.
fincando os pés – e as mãos – na animação
argentina.
A ideia de coprodução surgiu de maneira
espontânea. “Na época, eu estudava design
“Acabei ficando por lá. Comecei a conhecer
gráfico em Florianópolis, e fui fazer um
muita gente talentosa, e foi tudo muito
intercâmbio na Argentina – do qual nunca
espontâneo. Eu fazia trabalhos como
mais voltei, já faz quase dez anos. E o
freelancer e, como conhecia muita gente
principal motivo foi que eu encontrei um
aqui, começamos a dividir. Meu irmão
nicho em Buenos Aires com o qual eu nunca
Gustavo entrou depois nesse processo para
tinha tido contato no Brasil. Quando eu
fazer a coisa se estruturar, e depois veio o
estava aqui, eu trabalhava em agência de
Juan. A gente faz uma brincadeira dizendo
publicidade, como diretor de arte, que era
que a gente chuta uma árvore e começam
a principal saída para quem tinha estudado
a cair animadores, porque tem muita gente
design. E lá, eu conheci um mundo de
talentosa.”
Ralph Karam
A integração Latino-americana
talentosos que nos acompanham em cada
estúdios de animação, uma coisa que eu
nunca tinha encontrado aqui”, contou ele.
A coprodução fluiu naturalmente, no caso
de Ralph. “Eu nunca tive pudor de chamar
O mercado é diferente, o cenário é outro, o
alguém para fazer um trabalho. Eu via o
ensino também conserva particularidades
trabalho de alguém na internet, no flickr,
nos dois países. “Pela minha experiência
gostava, escrevia para o cara para fazermos
universitária, eu diria que temos um modelo
alguma coisa juntos”, disse ele. E foi assim
mais teórico no Brasil. Já nas universidades
que os núcleos começaram a se espalhar e a
argentinas, é mais prático. E tem uma galera
ultrapassar fronteiras de Brasil e Argentina:
recém-formada que vai para o mercado e
118
faz coisas incríveis. Nos primeiros estúdios
“Ano passado, recebemos gente da Suécia.
em que eu trabalhei na Argentina, a
Esse ano, uma animadora da Bélgica.
primeira coisa que me impactou foi ver que
Vários franceses já vieram, e foi tudo muito
os donos desses estúdios tinham acabado
natural. Acho que isso se reflete bastante no
de sair da faculdade”, comparou.
nosso trabalho: a gente está dentro de um
119
A integração Latino-americana
contexto de animação, mas não foca numa
técnica. Usamos animadores da França,
amigos ilustradores do Chile com traços que
combinam com o projeto, conectamos tudo
e, no fim, dá uma salada bem interessante.
Nossa visão de coprodução é mais ver gente
que tem um trabalho com o qual a gente
adoraria colaborar, e encontrar um jeito de
fazer juntos”, simplificou.
Manoel Rangel
ANCINE
Além de presidente da Ancine, Manoel
Rangel foi um dos responsáveis pela Lei
da TV Paga, a 12.485, que revolucionou
o mercado de audiovisual brasileiro,
principalmente o de animação, assim César
Coelho anunciou o próximo palestrante.
“O momento é especial para o setor
audiovisual brasileiro e o mercado está
120
121
paga, continuou Rangel, teve como
Manoel Rangel, logo de início e com números
primeiro mecanismo de estímulo o artigo
para justificar a euforia: o número de salas
39 da Medida Provisória 2228. Esse foi o
de cinema cresce a uma taxa de 8% ao ano, e
mecanismo que criou laços entre canais
o crescimento das TV por assinatura beira os
de televisão por assinatura, inclusive os de
13% ao ano. Dois mercados que incorporam
animação, com produções independentes.
milhões de potenciais consumidores de
Antes disso, praticamente não havia
produção audiovisual.
produções independentes brasileiras
Manoel Rangel
A integração Latino-americana
extraordinariamente aquecido”, afirmou
circulando nos canais.
“No Brasil, nós temos uma televisão aberta
muito robusta. Tínhamos um mercado
O artigo 39 foi importante para criar um
de DVD que era um dos maiores do
relacionamento, mas a transformação,
mundo e esse mercado tem diminuído
de fato, veio com a Lei 12.485, a lei da
sua importância – fruto da pirataria e das
TV Paga, que criou a obrigatoriedade de
transformações tecnológicas que colocam
carregamento de conteúdo brasileiro: três
outros serviços em operação. Mas o fato
horas e meia por semana, sendo que a
objetivo é que nós temos um mercado se
metade disso de produção independente;
expandindo todos os anos, de maneira
três horas e meia no horário nobre, e a
recorrente”, assegurou Rangel.
obrigação de carregamento de canais
brasileiros de espaço qualificado.
O respaldo está nos números. Em 2013,
foram lançados 129 filmes de longa-
“A construção dessa Lei transformou
metragem nas salas de cinema, e os filmes
o cenário da demanda por conteúdo
brasileiros tiveram participação de 18,6% no
brasileiro, não só de produção
mercado, a maior da América Latina. “É um
independente de televisão, mas também
número bastante expressivo no processo de
de cinema. Porque foi a partir daí que,
crescimento da ocupação”, afirmou.
pela primeira vez no Brasil, a televisão
compareceu como um ativo comprador,
122
A presença do conteúdo brasileiro de
além de passar a ser um ativo agente de
produção independente na televisão
encomenda de produção de obras, com
123
Manoel Rangel
A integração Latino-americana
deslocamento de recursos das matrizes
para serem aplicados para além dos
recursos públicos disponíveis”, explicou
Rangel.
Retomando a queixa de Guille Hiertz sobre
a decisão de um canal em alocar verba
da América Latina prioritariamente para
o Brasil, Rangel retrucou: “Tem a ver com
a necessidade de oferecer resposta para
produzir mais conteúdo no Brasil, e não com
o mecanismo do art. 39. Tem a ver com as
obrigações de carregamento de conteúdo
brasileiro, o que coloca para eles como
prioridade produzir no Brasil.”
foi reservada a condição de mercado
Obviamente, prosseguiu o presidente da
consumidor, não de mercado produtor.
Ancine, a Lei não foi feita para concorrer
Por isso as verbas de produção estão
com o Chile, com a Argentina, com o México,
concentradas no mercado norte-americano,
com o Paraguai ou com a Bolívia. “O alvo da
nos EUA e no Canadá.”
Lei não é concorrer com os nossos vizinhos
latino-americanos. Mas é dizer que o mundo
A melhor maneira de enfrentar a situação
não está organizado entre países que são
construída no mercado internacional,
produtores de conteúdo e países que são
defende Rangel, é construir mecanismos
meramente consumidores de conteúdo. E
de defesa nos mercados nacionais. Isso, ele
a verdade é que os grandes estúdios e os
assegura, a Lei 12. 485 garante.
grandes canais, os grandes programadores
124
internacionais organizaram o mundo
“A Lei tramitou durante cinco anos no
entre produtores e consumidores. A nós,
Congresso brasileiro, foi debatida por
brasileiros, argentinos, chilenos, mexicanos
todo o setor audiovisual. Não foi medida
125
“Estamos investindo pouco mais de R$ 90
ao contrário, foi um ato nascido de várias
milhões no desenvolvimento de projetos,
iniciativas parlamentares. O papel da
documentários, animação, ficção para
Ancine foi conduzir os debates de forma
televisão e para cinema com investimentos
que o interesse público prevalecesse.
de tipos diferentes. Estamos investindo em
Que interesse público? Não-arranjo
54 núcleos criativos dentro de empresas,
entre agentes econômicos, não-arranjo
em seis laboratórios de desenvolvimento
entre as telefônicas, as operadoras de
nos quais a produtora vai poder
TV por assinatura e as programadoras
desenvolver o roteiro e se capacitar no
estadunidenses. Quando a gente diz canais
meio desse processo. Além do investimento
internacionais no Brasil, vamos combinar,
direto através de uma terceira linha voltada
é um eufemismo. Nós falamos de canais
para o desenvolvimento de projetos de
estadunidenses no Brasil, porque todos
produtoras que julgam não precisar do
eles operam a partir dos EUA, com o centro
laboratório”, listou.
Manoel Rangel
A integração Latino-americana
provisória nem um ato fechado do governo,
da sua compra e do seu investimento em
produção no mercado dos EUA. Não tenho
A Ancine também colocou em marcha
nada contra, só quero a mesma coisa para o
cursos de capacitação de mão de obra
mercado brasileiro”, afirmou.
técnica em 12 capitais nas várias regiões
do Brasil, para formação de mão de obra
A Lei demanda outras ações concretas,
técnica que possa se engajar na produção
segundo Rangel. O plano de diretrizes
de audiovisual.
e metas organiza o desafio do
126
desenvolvimento do mercado audiovisual
“Com a lei da TV Paga, nós passamos a viver
brasileiro. Com o documento como base,
um ambiente de escassez de mão de obra
foi lançado o programa Brasil de Todas
para produção de conteúdo para cinema e
as Telas, cujo investimento é de R$ 700
televisão, sobretudo no Rio e em São Paulo,
milhões. Aproximadamente R$ 315 milhões
que começou a drenar a mão de obra de
em produção de conteúdo brasileiro
Pernambuco, Bahia, Ceará, Rio Grande do
para cinema e televisão no decorrer dos
Sul, Paraná, esvaziando também outros
próximos 12 meses.
centros de produção”, justificou.
127
sido capaz de produzir longas-metragens
exibidor também ganha reforço. “É um
de animação no nível que a indústria
pacote de R$ 1,2 bilhão oriundos do Fundo
hegemônica estabeleceu como padrão.
Setorial de Audiovisual, que é um fundo
“Eu não estou me referindo à capacidade
alimentado com recurso recolhidos na
técnica, e, sim, à estratégia geral de
própria atividade econômica, fruto também
produção, da concepção da obra à entrega
das conquistas da Lei 12.485.”
final, e isso é muito mais complexo do que
Manoel Rangel
A integração Latino-americana
A expansão e digitalização do parque
técnica ou investimentos tecnológicos.”
Manoel Rangel apresentou ainda dados
específicos da animação no Brasil, a
A Ancine, assegurou Rangel, tem dado
começar pela evolução da produção e
sua contrapartida. Entre junho de 2012
exibição em salas de cinema:
e julho de 2014, aprovou 30 projetos
de longa-metragem de animação para
- Entre 1995 e 2004, foi lançado apenas um
captar recursos para se transformar em
longa-metragem de animação em salas de
filmes. Nesse mesmo intervalo, 58 séries
cinema brasileiras;
de animação para TVs aberta e paga
também foram aprovadas. Cinco séries de
- Entre 2005 e 2009, seis longas de animação
animação vão direto para o mercado de
estrearam nas salas de cinema do país;
DVD, entre elas a Galinha Pintadinha. No
balanço de Rangel, 26 obras de animação
- Entre 2010 e 2014, serão nove longas-
foram apoiadas pelo Fundo Setorial de
metragens de animação estreando.
Audiovisual nos quatro primeiros anos de
operação.
“É pouco, está muito aquém do que nós
128
precisamos ter na realidade do mercado
“Com isso, estou querendo afirmar que não
brasileiro, mas é mais ou menos o que os
há o bom momento sem a coordenação de
estúdios nacionais conseguem produzir
um conjunto de fatores e eu diria que se o
para ocupação no mercado de salas”,
talento é indispensável, e é ele a matéria
justificou Rangel, apontando para um outro
prima definidora de tudo isso, a construção
problema: o cinema nacional não têm
de uma política robusta foi determinante
129
prazos para que uma obra de ficção fique
pronta dentro da lógica do Fundo Setorial
de Audiovisual são prazos de 30 meses e
não de 18 meses, como são os prazos para
Cesar Coelho
É unanimidade a necessidade de fazemos
os longas-metragens de ficção e para as
essa integração latino-americana na área
obras de documentário, porque se conhece
de animação. Mas, pensando em termos
a peculiaridade da animação. A lógica
mais práticos, como a gente poderia evoluir
do financiamento também é diferente”,
essa proposta? Vocês acham que existe
comparou.
interesse de se construir um organismo
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
A integração Latino-americana
PERGUNTAS E
COMENTÁRIOS
para que esse salto pudesse ocorrer. Os
multinacional, que comece a organizar e a
Ainda que os tempos sejam outros, os
gerenciar essa integração de maneira mais
desafios persistem, principalmente para a
efetiva? Existe essa possibilidade? E como
integração latino-americana, por sua vez:
poderíamos fazer isso?
“Os institutos nacionais de cinema, nós,
130
Manoel Rangel
Uma proposta é promover um encontro
estamos muito longe de ter uma estratégia
de coprodução latino-americana para
articulada para maior coprodução de
projetos de animação específicos. Anima
animação, mas digo a vocês que há
Mundi, ABCA, UIPAA, Associação do
um crescente olhar da Conferência de
México e os demais poderiam, juntos,
Autoridades Cinematográficas Ibero
propor um encontro de coprodução de
Americanas, que reúne todos os estúdios e
projetos para TV, para cinema, cadastrando
cinema de Espanha e Portugal e da América
projetos ou propostas de projetos para
Latina, para o ambiente da TV pública e para
que circulem entre os interessados. O
uma articulação da política de audiovisual
primeiro problema em coproduzir é que as
que coloque a televisão pública em um
pessoas se conheçam. A segunda sugestão
papel relevante nessa operação. E isso
é aproveitar que, ao longo dos próximos
chegará inevitavelmente, a uma estratégia
quatro meses, a Secretaria de Audiovisual e
também de coprodução para animação”,
a Ancine estão conduzindo uma articulação
anunciou, otimista.
com as 27 TVs públicas brasileiras para
131
México, é possível articular com rapidez um
pequeno fundo, o que daria um gás para
se armar a produção. E o resto do dinheiro
se daria dentro da lógica de financiamento
dos países. Essa é uma das vantagens de
coproduzir, poder obter dinheiro em dois,
três, quatro países.
Guille Hiertz
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
meus pares na Argentina, Uruguai, Chile e
Bom, se você diz que é tão simples, que
não envolve um esforço tão absurdo
essa integração entre televisões, eu já
adianto que isso é muito bem vindo. Para
já! Eu estou com medo de querer ser um
pouco mais realista, mas acho que, a
coprodução no Brasil – e estou falando
no meu caso e trazendo experiências
de outros estúdios que estão na mesma
pegada – é assunto simplesmente porque
falta dinheiro. O dilema é que eu acho que
132
um conjunto de editais. Simultaneamente,
essa lei aprovada tira o apetite do canal
está havendo um levantamento da
de colocar dinheiro do bolso dele. Isso
realidade das TVs públicas em diversos
aconteceu comigo em 2012. Eu estava com
países latino-americanos. Nós poderíamos
um projeto aprovado em várias instâncias
juntar algumas televisões do continente
do Cartoon Network e, no advento da lei
para serem parceiras numa convocatória
ser aprovada – foi aprovada em setembro
específica para projetos de coprodução.
daquele ano –, o canal congelou todo
Havendo uma articulação desse tipo, posso
gasto que não era vindo de um subsídio ou
dizer que a Ancine coloca um dinheiro
fundo. E todos os projetos previstos nos
para isso acontecer. E lhes digo que com
12 meses seguintes morreram, inclusive
133
também incentivo do governo. Mas hoje,
nos primeiros dois anos prejudicou. Enfim,
no Brasil, eu não consigo convencer canal
a gente faz coprodução quando falta
nenhum a colocar dinheiro do lucro deles
dinheiro! Eu procuro parceria não porque
por causa das leis.
adoro a animação argentina, apesar de
gostar muito. Eu sou muito a favor que se
Manoel Rangel
Posso fazer só um comentário? Eu acho
regulamente, sim, como cada setor deve
que você mistura duas coisas e precisa
se comportar, mas eu acho que o que traz
separá-las. Sua linha de raciocínio está
realmente a capacitação técnica não é
clara e há mais pontos de convergência
fazer curso de roteiro, mas é o mercado
entre o que a política de cinema e
regular qual a qualidade que o roteiro tem
audiovisual propõe e o seu pensamento
que alcançar. Porque, no final das contas,
do que você imagina. Nosso esforço tem
ou ele compra ou não. O que eu sinto hoje
sido o de introduzir risco nessa atividade.
é que tem uma grande possibilidade de
Eu concordo com você quando diz que o
dinheiro, ao mesmo tempo que tirou o
risco é qualificador e importante para que
apetite dos caras, eles não querem investir
o cara tenha compromisso, para que a
porque sabem que ali tem a segurança
qualidade se amplie e para que o resultado
de colocar um dinheiro que não é deles, e
de comunicação seja maior e melhor. Não é
eles não precisam se responsabilizar por
à toa que o Fundo Setorial exige devolução
essa quantia. Não sei qual é a solução.
de recursos. O FSA foi o primeiro
Certamente, mobilizar televisão que tem
mecanismo na política pública de cinema
poder de compra vai fazer muita diferença,
e audiovisual no país que introduziu
inclusive se a gente estiver falando de
a obrigação de devolver participação
produções internacionais. Acho que
dos recursos. Uma coisa é o fomento à
depender efetivamente de incentivos
produção de conteúdo, a outra coisa é a
públicos gera insegurança. Hoje, o que eu
obrigação de veicular conteúdo brasileiro.
sei é é que não consigo convencer canal
Não é verdade que os canais hoje
nenhum a colocar dinheiro do lucro dele.
estejam apenas investindo em obras com
E esse é o segredo da indústria norte-
recursos públicos. Não é. Peixonauta teve
americana, não há só incentivo privado, há
investimento de dinheiro privado dos
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
A integração Latino-americana
134
o meu. Então, a lei que veio para ajudar,
135
Guille Hiertz
Eu estou falando da minha experiência,
obviamente, mas não estou colocando
somente ela. Para concluir, eu entendo
que o Fundo Setorial envolve recurso,
mas ele é hoje completamente preterido
pelos canais de animação, todos eles falam
‘pensa muito bem se você quer entrar no
FSA’, porque nós temos outros mecanismos
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
A integração Latino-americana
para investir. Isso porque o fundo setorial
é considerado um dinheiro caro para o
próprio investidor.
Manoel Rangel
E sabe por quê? Porque obriga o canal a
pagar 15% sobre o licenciamento da obra,
enquanto se você fizer pelo art. 39 não vai
receber nada de remuneração pela obra.
Você está confundindo o mecanismo da
obrigação de carregar conteúdo brasileiro,
canais, outras séries têm tido investimento
que é o que está gerando demanda para
privado dos canais. Tem várias produções
a sua produtora e para as produtoras em
que o canal tem bancado integralmente, o
geral. A política de financiamento público
que muda é a capacidade de negociar de
é outra coisa. Não foi a Lei da TV paga que
cada produtora, a disposição do executivo
fez as duas coisas, ela fixou a obrigação
de correr o risco dentro do projeto que foi
de carregar conteúdo brasileiro, que é o
posto na mesa dele. Então, não é fato que
que está gerando demanda real para sua
existe só investimento de dinheiro público.
empresa e para o mercado
Ao contrário, essa é a primeira vez que
os canais estão pagando para comprar
136
Cesar Coelho
Voltando para a questão latino-americana,
conteúdo e não simplesmente dando
gostaria de ouvir os demais membros da
dinheiro para produzir uma obra.
mesa.
137
Miguel Del Moral
Independentemente de casos específicos,
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
A integração Latino-americana
boas ou más histórias que cada estúdio
tenha, é importante retomar o como vamos
fazer. É importante usar os festivais para
começar a trabalhar e gerar não apenas
práticas, mas mesas completas para
trabalho. Não só no Anima Mundi, mas
em todos os outros. Há muito que fazer
em cada país para trazer a indústria. Há
muitíssimas linhas para trabalhar, e esses
esforços locais podem ser reunidos nos
próximos festivais. O mais importante é
saber em quê nós nos comprometemos
a trabalhar para que no próximo ano
tenhamos resultados completos aqui no
Anima Mundi.
muitos países da América Latina, como
138
Maria Graciela Antes de procurar a Split, eu já conhecia
nós, não temos isso. Então, para nós,
a cultura brasileira, mas acho que muita
organização é fundamental para fazer
gente no Chile, e creio que posso falar da
pressão. Não é que os canais e os meios
América em geral, tem muita distância
tenham que mudar a política para que
do que acontece aqui. O Brasil tem outra
nós desenvolvamos nossos projetos,
língua, outra estrutura, outro jeito de
acho que a responsabilidade também é
fazer as coisas, e nós não conhecemos.
nossa de termos o poder necessário para
Em países como o Chile, se fizermos como
negociar. Nesse sentido, acho que temos
aqui, o que a gente vai conseguir é fazer as
que começar conhecendo as produtoras,
TVs irem embora. A diferença é que vocês
porque uma coprodução é um casamento.
têm um tamanho de mercado grande,
Nós e a Split levamos mais de um ano nos
capaz de fazer a pressão necessária
conhecendo. Nenhuma relação é fácil,
para garantir poder na negociação. E
você não vai atirar os projetos e ver quem
139
nenhum arcabouço regulatório, nenhuma
afinidade, saber os valores, visões das
estrutura legal, não tínhamos fonte de
empresas e isso é uma coisa que precisa
financiamento. Tínhamos um mercado
de tempo. Mas, paralelamente, as regiões
destroçado. Então, o PL 29, que virou a Lei
e as políticas públicas têm de ter uma
12.485, era um sonho demorado, distante,
direção única. Para mim, o planejamento
que em muitos momentos não acreditamos
estratégico é o primeiro passo. Se nós
que fosse acontecer. Enfim, acho que deu
pegamos o dinheiro, com um planejamento
um salto histórico. Dito isso, de volta ao
estratégico bom, coordenado, podemos ter
tema da integração latino-americana, eu
sucesso.
reforço que o Brasil é muito fechado, e
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
A integração Latino-americana
pega. Não. Tem que conhecer, criar uma
nós não somos integrados com a América
Claudio Grandinetti
Eu creio que é nossa responsabilidade
Latina. Temos a Cordilheira do Andes e
gerar propostas que permitam alertar
a barreira da língua, que nos separam.
autoridades, canais e países latinos a
De alguma forma, o governo brasileiro
encontrar um ponto que nos permita
e o BNDES, na sua modesta atribuição,
entregar a mesma informação. Uma coisa
estão começando a trilhar esse caminho.
que está emergindo é a necessidade de falar
Sob esse ponto de vista, eu pergunto ao
com vários colegas, de vários países latino-
Manoel e aos demais, o que poderíamos
americanos. Hoje e nos próximos festivais
fazer no âmbito da questão dos canais. Ter
temos que ter um objetivo, ou não vamos
programadoras mais fortes, que pudessem
sair do lugar e não teremos nada para fazer.
carregar canais latino-americanos ou
Vamos criar propostas para apresentar em
brasileiros? O que vem sendo pensado no
cada país para que possam entender quais
sentido de fortalecer o comércio bilateral
as nossas necessidades. O mundo, me
de conteúdo pela via de programadoras
parece, está mirando na América Latina, se
e canais de conteúdo brasileiros e latino-
não trabalhamos em conjunto, perdemos
americanos?
uma grande oportunidade.
Luciane Gorgulho
140
Manoel Rangel
Eu vejo essa questão como desafio
A discussão pontual sobre a questão da
estratégico. A internacionalização da
lei parece até surreal. Nós não tínhamos
produção de conteúdo brasileiro só
141
pode atuar. Uma questão interessante
quando nós formos capazes de fazer com
é que a gente poderia criar uma escola de
que programadoras brasileiras programem
capacitação de nível internacional, que a
canais em outros territórios, em outros
gente conseguisse fazer em bloco; iniciativas
países. Quando uma programadora
pequenas, mas com repercussão a longo
brasileira for capaz de manter três, quatro,
prazo, como a iniciativa que reuniu Brasil,
cinco ou seis canais internacionais que
Dinamarca e Japão, na Animation Workshop.
possam ser veiculados nos países da
Em curto prazo, podemos pensar iniciativas
América Latina, da Ásia, Europa, África e na
modestas, mas concretas, em todas as
América do Norte. Com o mesmo conceito
áreas relacionadas ao audiovisual. Temos
pelo qual nós nos acostumamos a encarar
de pensar numa maneira de gerar recursos
as tais programadoras internacionais.
coletivamente.
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
A integração Latino-americana
será enfrentada de maneira profissional
Ou seja, se existem empresas que se
estruturaram com multiplicidade de canais
a partir da base do território dos Estados
Unidos, não é uma condição natural que
se faça isso, exclusivamente, a partir da
base do território dos Estados Unidos.
É possível você alavancar produtoras
nacionais para ocuparem a cena
internacional.
Claudio Grandinetti
Eu saio um tanto entusiasmado dessa
conversa. Nós somos afiliados tanto
da Ancine quanto da UIPAA, e vemos a
possibilidade de fomento para fazer o que
se gosta e quer.
Cesar Coelho A coprodução é muito importante, mas
não é a única instância na qual a gente
142
143
30 de Julho
Rede de
Festivais
Latino-Americanos
Convidados:
Margarita Cid – Chilemonos
Rosanna Manfredi – Expotoons
Miguel Del Moral – CutOut Fest
Marcos Magalhães – Anima Mundi
Rede de Festivais Latino-Americanos
Quatro festivais de animação reunidos
é razão para celebrar. O Anima Forum
reuniu representantes de Chile, México,
Brasil e Argentina para que cada contasse
a sua experiência e como eles têm se
entrelaçado. E a ideia de que outros
venham se juntar ao grupo.
Do lado brasileiro, Marcos Magalhães
representava o Anima Mundi, que já tem 22
anos de história para contar.
“No último ‘Chilemonos’, a Margarita (Cid)
promoveu essa união formal, que não
está fechada a esses quatro festivais que
estão presentes hoje. A gente espera que
outros festivais, que estão acontecendo
e se firmando na América Latina, venham
participar dessa rede”, disse Magalhães,
realçando que o objetivo é que os encontros
frutifiquem. “Cada um dos quatro festivais
tem feito isso, e a gente quer juntar esforços
para que isso aconteça mais no âmbito da
América Latina”, completou.
Para realçar a importância da integração
entre os países da América Latina, Marcos
Magalhães citou o documentário Walt &
El Grupo, sobre a viagem do lendário Walt
Disney e sua trupe, na década de 1940, à
América Latina:
146
147
Rede de Festivais Latino-Americanos
“A gente vê, nesse filme, o Disney e a
sua equipe discutindo, descobrindo e se
deliciando com as riquezas do Brasil, da
Argentina, do Chile. Vê o Disney dançando,
um relaxamento que a gente nunca vê em
outros materiais. Eles fizeram aqui uma
festa, um carnaval. E se inspiraram muito,
trouxeram cores e enriqueceram muito. Essa
contribuição da América Latina, da nossa
cultura, para a animação, para esse emblema
da cultura hegemônica da animação, que
foi o Disney, é evidente. Só que não teve
brasileiro conversando com argentino,
nem com chileno. Eles foram em cada país,
o aviãozinho foi lá, pulando, pegou o que
tinha de melhor de cada um, fez um longa
e isso ficou uma coisa meio caricatural, o
Zé Carioca e tal. E nós mesmos não fizemos
o mesmo. Nós não tivemos troca aqui,
como esses países que participaram dessa
aventura. A gente está aqui, a gente gosta
de tantos quadrinhos argentinos, do chileno
Condorito, para ficar no mais conhecido, fora
tudo o que a gente tem mostrado esses anos
todos no Anima Mundi”, falou.
A rede de Festivais serve exatamente
ao propósito de formalizar a junção de
mercados, culturas e gostos, segundo
Magalhães.
148
Miguel Del Moral
CutOut Fest
Sim, a iniciativa é importantíssima,
concordou Miguel Del Moral, representante
do mexicano CutOut Fest, cuja sexta
edição ocorrerá em novembro, na cidade
de Querétaro, a 300 quilômetros da Cidade
do México.
“Graças à Margarita, conheci esses grandes
festivais latino-americanos. E acredito que
149
público. A cada ano, o festival reúne alguns
que se inicia, para que comecemos a ter
dos artistas mais influentes, que dão
mudanças e a fortalecer a indústria latino-
provas de criatividade e inovação. Além
americana da animação”, disse Miguel.
disso, trata-se de um espaço criado para
a promoção de uma cultura de negócios
Para dar uma ideia do alcance do festival,
criativos, e de estímulo à indústria e novas
mesmo tão recente, Del Moral exibiu um
ideias.
Miguel Del Moral
Rede de Festivais Latino-Americanos
é algo muito, muito importante, esta união
vídeo de um minuto sobre a edição de 2013
do CutOut Fest. Uma referência visual que
Em 2013, o CutOut Fest contou com um 94
reunia nomes como Michael “Mikey” Please
artistas convidados, 84 atividades e mais de
e Johnny Goodman.
600 curtas-metragens inscritos em disputas.
Houve inscritos de 54 países. Para a edição
O CutOut Fest, segundo Miguel, é o maior
de novembro, que já está com as inscrições
do país em torno da animação e da arte
encerradas, serão 800 curtas inscritos, de
digital, reconhecido por sua competição
64 países.
internacional de curtas. “Havia mais de
80 festivais de cinema no país, e nenhum
Ainda não há disputa para longa-metragem,
deles dedicado à animação. O impulso veio
e a explicação é uma só: a indústria de
em 2009, quando começávamos a ver o
animação mexicana ainda não apresenta
crescimento da indústria em todo país”,
uma produção consistente. “Lá se produzem
contou ele, otimista sobre o incremento do
poucos longas por ano. Então, nós focamos
setor em toda a América Latina, mas realista
no curta. Exibimos alguns longas, mas não
sobre o longo percurso que ainda deve ser
fazemos premiação.”
trilhado. Tanto no México como no restante
da região.
Ao contrário do que vira no Anima Mundi e
no Chilemonos, ambos com boa frequência
150
Em sua vasta programação, o CutOut Fest
do público infantil, Miguel ressaltou seu
oferece workshops, conferências, palestras,
festival é mais destinado ao público de
exibição de filmes e exposições de arte.
18 a 35 anos, que representam 85% dos
Todas as atividades são gratuitas para o
frequentadores:
151
A oportunidade é para o público e também
As crianças adoram animação, mas estão
para animadores, produtores, e interessados
muito mais acostumados a ver o que lhes
no setor. Em formato similar ao do Anima
é oferecido comercialmente pelos grandes
Forum, o CutOut Fest inaugurou, em
canais de televisão, pelo cinema. Essa
2013, atentos à formação da indústria
animação, talvez mais de vanguarda, esses
de animação no México, o Living Market.
autores que propomos têm uma recepção
“O CutOut Fest começou simplesmente
muito melhor entre os jovens que entre os
como um encontro mais artístico-cultural.
adultos”, afirmou.
Ano passado, Living Marketing foi um
Miguel Del Moral
Rede de Festivais Latino-Americanos
“Talvez pelos conteúdos que escolhemos.
experimento que conseguimos também
O começo, para o CutOut Fest, foi igual
graças a participação do Reino Unido como
ao de muitos festivais independentes:
país convidado, que chegou com muita força,
com muita vontade e poucos recursos.
com várias empresas de animação e de TI”,
Na medida em que se consolidou, ganhou
contou Miguel.
mídia e divulgação. “Começamos com um
festival sem nenhum orçamento, depois
Foi um impulso, Miguel avalia. Se não existe
continuamos sem pagar nem uma nota
um mercado de animação, se a produção de
de publicidade. Não pagamos para que
longas-metragens é incipiente, também não
nos publiquem ou nos coloquem nos
existe um mercado consumidor.
meios, mas os próprios meios aceitaram
um evento que gera conteúdo para eles. E
“É complexo gerar um espaço de mercado,
então eles vão lá cobrir o festival. Interessa
porque você não pode convidar as
a eles divulgar toda essa experiência que
produtoras ou distribuidoras que vendam
se vive no México”, avaliou Miguel. Outros
conteúdo. Realmente, não funcionava
grandes aliados na divulgação são as redes
assim e, então, começamos a experimentar
sociais. “O impacto que elas podem gerar
qual deveria ser o modelo de mercado”,
é impressionante. É o que temos utilizado,
ponderou.
todos esses anos, para fazer contato com
152
as pessoas e manter a proximidade e o
O Living Market foi criado, inclusive, para
envolvimento com o público”, disse.
pensar modelos de coprodução. “Esse vai
153
em no país. Em 2009, começamos com um
toda essa de rede de festivais e todas as
fórum de 3 mil pessoas, e não tivemos o
propostas que estão surgindo aqui, que
retorno dos investimentos. E, como vocês
surgiram primeiro no Chilemonos e que
podem ver, as cifras foram crescendo de
depois vai para o Expotoons e para o CutOut
forma exponencial até o ano passado.
em novembro, que se dê seguimento, como
Pulamos de 96 para 632 curtas em 2013.
falávamos na conversa passada, que sejam
Eram apenas quatro países na primeira
4, pelo menos, 4 momentos ao longo do
edição”, ele encerrou convidando o público
ano, latino-americanos, para o diálogo para
brasileiro a encarar a viagem.
Miguel Del Moral
Rede de Festivais Latino-Americanos
ser o espaço do Living Market, para que
as coproduções, para os intercâmbios,
de questões de cinema, de televisão e
O endereço do site do festival: www.
tudo o que tenha a ver com os conteúdos
cutoutfest.com
animados. Acredito que o Living Market vai
ser um espaço fundamental.”
O CutOut Fest extrapola a animação. “Não
só focamos na tela do cinema, na animação
para cinema, mas também em conteúdos
ou propostas, negociações de artistas
que fazem espetáculos de multimídia, de
animação em outros formatos que não
só os de tela grande. A animação está
em todos os lados e tem muitas outras
indústrias relacionadas”, explicou.
E, finalmente, para justificar a carência de
festivais do porte do CutOut Fest no México,
Miguel usou os números: “Crescemos
de uma forma impressionante, como
aconteceu com poucos festivais de cinema
154
155
Rede de Festivais Latino-Americanos
objetivo de sermos um pouco os motores
do crescimento e nessa linha, durante
estes anos, fomos criando um pouco e nos
apoiando em toda uma política de estado.
Como no Brasil, também na Argentina nestes
anos houve muito apoio. Ainda falta muito,
mas não tínhamos nada. E estamos agora
em uma posição bastante melhor. O Festival
serviu para que hoje estivéssemos nesta
mesa, já não mais lutando pela animação
argentina, mas unidos nesta atitude latinoamericana, porque nos demos conta de que
juntos vamos ser muito mais rápidos. E esse
é o objetivo número um.”
Rosanna prosseguiu com a exibição de
slides sobre o Expotoons: ocorrerá de 18 a
Rosanna Manfredi
Expotoons
Representante do lado argentino na mesa,
Rosanna Manfredi iniciou sua participação
com a exibição de um vídeo com uma
amostra da animação feita pelos hermanos.
O Festival Expotoons vai para a sua oitava
edição em 2014. “Ou seja, já faz sete anos
que estamos desenhando a animação
argentina. Nós produzimos o festival com o
156
21 de setembro, em Buenos Aires. “Nosso
Festival não está somente na capital, mas
também percorre outras cidades, buscando
outros talentos, levando as conferências.
São formas de nos aproximarmos e fazer
crescer toda a região”, ressaltou.
Com o objetivo de divulgar a animação
como um motor de crescimento nas
indústrias audiovisuais e culturais, o
Expotoons firmou-se como espaço
para a troca de tendências, tecnologias,
conhecimentos, propostas artísticas e
157
mostrar que projetos existem na região,
reúne animadores, produtores, estudos
na Argentina, na América Latina, para que
de comunicação, agências de publicidade,
possam conhecer os projetos e as pessoas
canais de televisão, empresas de tecnologia,
que fazem os serviços”, defendeu. Já que a
instituições de ensino, fornecedores e
grande maioria das empresas não possui
estudantes.
grandes estruturas de pessoal, como é
Rosanna Manfredi
Rede de Festivais Latino-Americanos
experiências entre os países. A cada edição,
muitas vezes necessário em um projeto, a
O viés no mercado é forte. “Nós temos,
ideia da complementação é recorrente.
por um lado, o que chamamos ‘roda de
negócios’, em que se apresentam projetos
Avançando com os slides, Rosanna exibiu
em uma roda, onde convocamos os
os mais diversos projetos que estão em
compradores das emissoras de televisão,
curso na Argentina, bem como alguns
de aquisição, produtoras importantes.
já realizados. Na medida em que os
Fazemos um convite e, nesses encontros,
projetos avançam, impulsionam o Festival
o que estamos procurando são projetos
Expotoons. Segundo ela, o Pakapaka,
que estejam maduros para o mercado, que
primeiro canal público voltado para o
tenham um piloto, que se possam tanto
público infantil, operado pelo Ministério da
apresentar quanto procurar coproduções,
Educação, foi um passo importante para
para ver de que forma se pode produzi-los”,
a animação do país, que ganhou uma tela
explicou.
para exibição.
Este ano, a convocação seguirá para
“Acredito que isto foi um apoio
produtoras de toda a América Latina, não
importantíssimo e que gerou a possibilidade
somente da Argentina. “O que fazemos
de que os projetos por aí, que não são tão
é mostrar o trabalho, ou seja, uma das
grandes, também tenham o seu canal de
chaves é nos conhecer, porque uma
exibição e possam ser vistos”.
coprodução, como bem já se disse, é quase
158
um casamento. Então, como vamos fazer se
Desde que foi iniciado o Expotoons, vários
não nos conhecemos e não conhecemos os
acordos e contatos foram delineados para
projetos? Com isso, o Expotoons pretende
alavancar o mercado de animação na
159
que não é menor, é um tema que estamos
uma das indústrias que tem mais potencial,
trabalhando em conjunto para que as
como bem já se disse por aí. Nós tivemos
produtoras possam manter seus direitos
um crescimento importante, mas esse
e dividi-los com as coproduções, como
crescimento foi exponencial em todo o
é lógico, segundo o capital e segundo o
mundo”, ponderou ela. Em 2012, o país
suporte que cada um recebe”, afirmou ela.
Rosanna Manfredi
Rede de Festivais Latino-Americanos
Argentina. “Evidentemente, a animação é
passou de uma média de dois filmes anuais
para cinco produções. Parece pouco,
Na sequência, Manfredi exibiu um vídeo
mas, para a Argentina, não é o caso. “Nós
de Metegol, animação em 3D dirigida pelo
temos mais apoio no cinema que na área
argentino Juan Jose Campanella, diretor de
de séries, que ainda está começando a
filmes como O filho da noiva e O segredo dos
ter algum apoio. A área cinematográfica
seus olhos. “A Argentina também está em
sim, tem um trajeto mais importante e as
um momento complicado, mas se chega
coproduções têm uma porcentagem maior
a fazer um filme de $ 20 milhões, que foi
de suporte, porque é mais simples fazer
vendido para 70 países, que estreou nos
uma coprodução cinematográfica que fazer
EUA dublada por atores americanos e
uma série”.
com muito sucesso”, ressaltou. Na área de
séries, ainda que com mais dificuldade para
O embate que as séries enfrentam para
produzir, também houve um crescimento
se firmar em telas argentinas, segundo
acentuado, em relação com anos anteriores.
Manfredi, se dá, principalmente, na
Outra frente em que os argentinos
área dos direitos. “A lei argentina não
estão ganhando espaço, inclusive com
deixa o direito das séries em poder das
coproduções, é a área de serviços.
produtoras. E isso é uma dificuldade
160
quando alguém sai para o mercado de
Segundo Rosanna Manfredi, cresceu
trabalho e tenta vender um projeto.
não apenas o volume de animações
Estamos nessa discussão, vendo de que
argentinas, mas também a qualidade
maneira podemos contar com os fundos
das produções evoluiu. “O filme Metegol
públicos, mas que isto não signifique que
contribuiu para elevar o nível geral e
fiquemos sem os direitos. Esse é um tema
gerou uma quantidade de gente mais
161
Rosanna Manfredi encerrou sua
os grandes líderes da animação”, avaliou
participação no Anima Forum, mas não
ela, exibindo um exemplo de projeto
sem antes convidar a plateia a fazer uma
transmídia, outra tendência. “É pensar em
viagem rápida a Buenos Aires para conferir
projeto que não é para série, nem para
o Expotoons. “Estamos fazendo um convite
cinema, mas com várias telas convivendo
para que façamos os festivais seguirem
em todos os diversos meios”, afirmou.
trabalhando juntos. A ideia é seguir
“Trata-se de um projeto que começou
trabalhando de forma conjunta e que este
como uma série para tornar-se depois um
fórum se repita em setembro. Obrigada.”
Rosanna Manfredi
Rede de Festivais Latino-Americanos
capacitada para trocar experiência com
transmídia muito importante, no qual se
mesclam o conhecimento com a diversão
O endereço do site do festival:
de uma maneira muito original, muito
http://www.expotoons.com
divertida, que tem várias temporadas de
êxito e que está dando bem com esse
mundo, em que a internet também tem um
papel muito importante, que se atualiza
permanentemente.”
Transmídia pode ser o futuro, defendeu
Rosanna. E as crianças são um público que
requer particular atenção. “As crianças
querem produzir conteúdo e são elas
que impulsionam um pouco todo este
desenvolvimento e que nos obrigam
a repensar-nos em função de estar
sintonizados com o que elas querem”,
argumentou. Um bom exercício, portanto,
para aprender a escutar as crianças, seria
mudar de lugar com elas e deixar espaço
para que elas possam participar.
162
163
Rede de Festivais Latino-Americanos
Diretora executiva do Chilemonos,
Margarita esclareceu o que é e quais os
objetivos do Festival. A inspiração, ela fez
questão de pontuar de onde veio:
“Contamos com a generosidade e com a
sintonia com Brasil. Nossa primeira edição
foi realmente um tremendo impulso. Nosso
festival de referência sempre foi o Anima
Mundi. Não foi Annecy. Foi incrível, porque
em nossa primeira edição, pudemos contar
com a presença do César (Coelho, diretor do
Anima Mundi), e contamos com a presença
de mais, do Carlos Saldanha, que foi falar
sobre o que é fazer animação nos grandes
estúdios americanos. Sem dúvida, para
nós, foi um impulso muito grande, porque
partimos já grandes, ou seja, sendo capazes
de congregar diversas instâncias, e podendo
Margarita Cid
Chilemonos
Margarita Cid teve participação decisiva
na formação da Rede de Festivais Latinoamericanos. Foi no Chilemonos, o mais
jovem entre os participantes da mesa, com
apenas três edições realizadas, que nasceu
a ideia de reunir as iniciativas e promover
trocas entre os países.
164
mostrar o que era a animação no Cone Sul,
na América Latina e no mundo.”
Criado para promover a difusão e o
intercâmbio da animação chilena tanto
dentro do país como nos principais centros
do mundo, o Festival Chilemonos tem três
pilares fundamentais:
- Exibição, através de mostras, competições
e exposições;
165
do Chile, a organização do Festival partiu
laboratórios, encontros e workshops;
para arranjos que criassem oportunidades
de difusão em todo o país. “Todos sabem o
- Mercado, através do MAI! (Mercado,
quão grande o Chile é. E o quão complexo
Animação e Indústria), plataforma de
é conseguir articular qualquer iniciativa
coprodução latino-americana, criada para
que tenha por missão unificar o país. Nós,
promover o encontro de produtores,
no ano passado e neste, implementamos
distribuidores e canais. O objetivo é servir
a competição nas áreas de séries, curtas
de estímulo ao crescimento da indústria de
e estudantil, muito importante a nível
animação no continente.
nacional e internacional. Implementamos
Margarita Cid
Rede de Festivais Latino-Americanos
- Formação, através de masterclasses,
as séries latino-americanas com votação
Para que a plateia conhecesse, Margarita
nacional nas escolas do Chile”, explicou.
explicou exibiu um vídeo das versões
anteriores.
O objetivo, ressaltou Margarita, era
formar uma audiência que começasse a
Desde a primeira edição, os organizadores
se acostumar e a entender, desde cedo, a
entenderam que não basta querer
linguagem do audiovisual. Uma audiência
conquistar o mundo, é preciso unir forças,
preparada para valorizar o que é a
acentuou ela:
animação, e, por outro lado, entender os
temas que traduzidos nas séries.
“Era nosso primeiro festival, e pensamos:
‘sozinhos não vamos conseguir’, temos de
“Além de sermos um festival, somos um
fazer em forma conjunta. A ideia era fazer
estúdio de animação e, quando tomamos a
crescer rapidamente, porque necessitamos
decisão, há três anos, de gerar um festival,
que isto seja real, necessitamos conseguir
tínhamos que encontrar uma janela que
que o mercado se mobilize, e necessitamos
permitisse difundir o que se fazia dentro do
que coisas concretas aconteçam”, disse.
nosso país, e permitir o crescimento do que
poderia estar por vir.
Na tentativa de impor a animação como
viés importante para a economia criativa
166
O Chile possui uma quantidade acentuada
167
ano, tanto para o festival quanto para o
a indústria é pequena, não absorve a mão
mercado, será o Brasil. Portanto, vamos
de obra. Margarita insistiu que os festivais
fazer uma convocatória, na qual a gente
têm também essa missão: “No caso do
possa contar com as melhores opções e
Chilemonos, nós temos a responsabilidade
os melhores esforços para trabalhar em
de gerar uma rede que permita a inserção
conjunto com as produtoras e festivais.
laboral, que permita a inserção de produtos
Nós sabemos que uma das necessidades
que estejam começando gerar um nível alto
mais evidentes, em todos os países, é o
de especialização.”
suporte oriundo do financiamento público
Margarita Cid
Rede de Festivais Latino-Americanos
de escolas de animação per capita. Mas, se
e uma política conjunta. E desejamos que
O eixo fundamental do Festival, em 2014,
no próximo ano, assim como criamos uma
foi a criação de uma rede latino-americana
rede de festivais, possamos começar a criar
que permitisse difundir e a animação,
uma rede e um corredor também para essa
e potencializar a coprodução latino-
questão governamental. Esperamos contar
americana. E, a partir daí, exportar.
com o talento brasileiro, com a vontade de
produzir e com a mentalidade generosa,
Margarita exibiu ainda um clip sobre a
que faz com que os projetos cresçam e
inserção da programação latino-americana
floresçam. Obrigada!”
no Festival. Além da exposição em todo
o país, foram convidados conferencistas
O endereço do site do festival:
latino-americanos, com o objetivo de
festivalchilemonos.com
valorizar o produto e o realizador. “Nós
pensamos que a curto prazo, não a médio,
isso vai gerar um ponto de inflexão e de
crescimento.”
A vontade de estabelecer vínculos e
parcerias é grande. “Sem dúvida, o Brasil é
uma grande referência para nós. Tanto que
já definimos que o país foco do próximo
168
169
Chris Landreth
31 de Julho
Convidado:
Chris Landreth
Masterclass 2
Fazendo
rostos
Poucos animadores iniciam suas carreiras
como engenheiros mecânicos, mas Chris
Landreth não é um animador comum, e sua
primeira profissão talvez o tenha ajudado
a compreender melhor as engrenagens
da animação, e da psicologia e anatomia
humanas. Não demorou muito para ele
engrenar na nova carreira, que descobriu
ser muito mais divertida, e ele logo foi
contratado pela produtora Alias Inc. (hoje
conhecida como Autodesk), onde criou seus
171
Chris Landreth
Masterclass 2
primeiros curtas em computação gráfica,
The End (1995) e Bingo (1998). Com uma
narrativa que explora a psicologia e um
visual fotorrealista das personagens, os
curtas marcam as primeiras experiências
dentro do que o diretor chama de
“psicorrealismo”, uma maneira de “expor
o realismo da qualidade incrivelmente
complexa, desarrumada, caótica, às vezes
mundana, e sempre contraditória que
chamamos de natureza humana”.
metragem de Animação em 2004), os
Explorando os meandros e limites da
paradoxos da codependência matrimonial,
natureza humana e da animação, Chris
no sombrio The Spine (2009), e as limitações
percorreu temas como a decadência do
da memória humana, no bem-humorado
artista, no documentário animado Ryan
Subconscious Password (2013). Seu próximo
(ganhador do Oscar de Melhor Curta-
projeto será um longa-metragem baseado
na vida do escritor de terror H.P. Lovecraft.
Além do seu trabalho como animador, Chris
também ministra aulas de animação facial,
em um curso chamado “Making Faces”
(Fazendo Rostos), que apresentou este ano
entre as Master Classes. Partindo da ideia
de que somos naturalmente programados
para reconhecer os mínimos detalhes do
rosto humano, o curso teve o objetivo
de demonstrar como expressões faciais
são capazes de evidenciar sentimentos
complexos.
172
173
31 de Julho
Projeto
SEA
Convidados:
Eduardo Valente – ANCINE
Morten Thorning – The Animation Workshop
Hiromi Ito – Office H
Marcos Magalhães – Anima Mundi
Amir Admoni – Participante SEA 2014
Emerson Rodrigues – Participante SEA 2014
Paolo Conti – Participante SEA 2014
Pedro Eboli – Participante SEA 2014
Sérgio Glenes – Participante SEA 2014
Moderador: Reynaldo Marchesini – Moderador
Projeto SEA
Um projeto criado para integrar. A tarde de
quinta-feira, penúltimo dia do Anima Forum,
foi reservada a um tema caríssimo para o
próprio Anima Mundi: o projeto SEA Concept
Development Master Class (South America,
Europe e Asia), um workshop intensivo
de exatas duas semanas, que reuniu 15
animadores do Brasil, Dinamarca e Japão.
Com o objetivo de fortalecer a conexão
entre artistas dos três continentes, o projeto
foi organizado e gerenciado pelo Anima
Mundi, do lado latino-americano; pela The
animadores é de criadores de conteúdo. E
Animation Workshop, do lado europeu; e o
o programa SEA tem essa pegada de criar
Office H, representando os asiáticos.
conteúdos, mas criar em parceria com
outros países. É um projeto que demonstra
Conhecedor do mercado de animação, o
a possibilidade de quebrar barreiras
produtor Reynaldo Marchesini, há 17 anos
culturais e comerciais, através da linguagem
na área infanto-juvenil, responsável pela
da animação”, realçou Marquesini, que
produção artística da série Sítio do Pica Pau
viajou como palestrante convidado.
Amarelo, e pela série Princesas do Mar (2004),
fez uma breve introdução ao tema da mesa:
Em seguida, o moderador convidou Eduardo
Valente, da Ancine, Morten Thorning, do The
176
“A gente falava muito, em 2004/2005, sobre
Animation Workshop, Hiromi Ito, do Office
qual seria o papel da animação brasileira no
H, e Marcos Magalhães, do Anima Mundi,
mercado de séries de animação, e sempre
para compor a mesa. Cada um falaria
tinha aquela discussão: O Brasil vai crescer
sobre a sua participação no SEA. No final,
a mão de obra em animação ou vai crescer
os participantes brasileiros apresentariam
um criador de conteúdo? A gente sempre
o que desenvolveram nos 15 dias de
defendeu que o Brasil, nosso DNA como
intercâmbio.
177
Projeto SEA
estão nesse oceano profundo que a gente
começou a navegar”, disse o coordenador
do Anima Forum.
O entusiasmo com a proposta SEA, contou
Magalhães, foi imediato. O contato com a
comunidade internacional, para a turma
do Anima Mundi, não é novidade, ele
relembrou que o embrião do festival foi
exatamente o acordo Brasil–Canadá,
firmado nos anos 1980. “Os quatro diretores
do festival se encontraram e começaram
a pensar em conceitos de animação
internacionais, trabalhando com o Canadá,
que abriu essa porta. Já havia essa vocação
universal de trazer russos, holandeses,
japoneses, todo tipo de nacionalidade,
para fazer filmes lá”, contou Magalhães.
Marcos Magalhães e a
“Perspectiva Brasileira”
178
A parceria internacional, portanto, é um
caminho bom, prático e real, acentuou.
A relação com os dinamarqueses é recente,
mas o entusiasmo é grande. “A Animation
Marcos Magalhães apresentou o SEA
Workshop nos encantou. Primeiro, com
Project com evidente orgulho: “South
a apresentação que o Morten fez aqui no
America, Europa e Ásia. Três países,
Anima Mundi. Depois, com a oportunidade
de três continentes, e a sigla acaba em
que a gente teve de ir até lá pessoalmente
‘mar’, porque, realmente, é um mar de
– eu e o César (Coelho) – e viver um pouco
possibilidades. A gente tem muito o que
da atmosfera que ele criou na escola.
nadar para pegar todos os peixes que
Realmente, é um ambiente muito inspirador,
179
possíveis. Foi tudo pensado com a ideia de
pessoas criando em todos os cantos, muito
ser animação comercial, de serem universos
bem equipadas. É um lugar muito aberto a
de animação, não somente projetos
novas ideias”, contou.
específicos para série de TV, para longas
ou para jogos. Mas tudo isso”, explicou. A
O Japão é um parceiro igualmente valioso.
ordem era criar personagens, universos que
Magalhães contou como se deu o processo
pudessem ser explorados em quaisquer
e os porquês da participação asiática: “O
desses ambientes.
Marcos Magalhães
Projeto SEA
onde você vê desenho por toda parte, vê
Japão é a segunda indústria de animação,
não digo nem segundo lugar, é o número
A semente foi plantada. Cinco sementes,
um [risos], em quantidade e qualidade. É
Marcos Magalhães foi preciso, já começam
o único lugar onde a animação, o desenho
a desabrochar do lado brasileiro. “A gente
animado está lá, firme, no mercado”,
vai ver as notícias que eles vão dar aqui,
Magalhães prosseguiu, animado.
do que aconteceu nesse tempo, nesses
seis meses. Mas acho que é um projeto de
Se vontade e entusiasmo geram ações, o
longo prazo. Lá pelo quinto SEA, a gente
SEA Project é uma prova real.
vai ter um acervo de sucessos que vai,
incontestavelmente, deixar todo mundo
“Foi tudo meio de última hora. A gente
impressionado”, garantiu, empolgado. Isso
conseguiu, com a Ancine, um apoio que
significa que a sigla dos continentes pode
foi fundamental para que todo mundo
crescer, já que os planos são de expansão. E
pudesse ir mais descansado, sem precisar
a América Latina será o próximo alvo.
desembolsar uma grande quantia. Você
180
investir 800 euros para passar duas
“É possível a gente fazer isso também com
semanas tendo tanta informação e criando
países sul-americanos, assim como a Hiromi
network, para emplacar um projeto
está pensando na Coreia. A gente já teve
ou emplacar você mesmo no mercado
outras pessoas de países europeus, não
internacional, é super barato. É um projeto
apenas da Dinamarca. E o entusiasmo dos
muito viável”, disse ele, adiantando os
brasileiros impressionou a eles também.
resultados: “São ideias muito fortes,
Porque a gente teve 100 inscritos e um
181
Brinquei um pouco com eles. Por outro lado,
muita dificuldade de escolher esses cinco.
tem uma coisa interessante de coprodução
Por coincidência, são cinco rapazes. Para
internacional. O Brasil já fez algumas séries
contrapor as cinco meninas japonesas”,
em coprodução. Mas, normalmente, essa
ele brincou, garantindo que não foi uma
conversa é entre produtores executivos,
decisão intencional.
e, de certa forma, é interessante colocar
Marcos Magalhães
Projeto SEA
prazo muito pequeno de inscrição. Tivemos
os criadores brasileiros num espaço de
O objetivo, agora, é expandir o conceito,
coprodução. Na verdade, eles passaram duas
fazer os animadores selecionados
semanas coproduzindo. A gente só vai se
circularem pelos países envolvidos. Ora
tornar também um criador de conteúdo com
na Dinamarca, ora no Brasil, ora no Japão.
produções internacionais se a gente também
“A indústria precisa desse ambiente de
desenvolver essa relação de coprodução,
cooperação. É mercado? É. A gente está
entender o olhar do outro, a sutileza dos
lidando com propriedades comerciais que
japoneses, o olhar europeu”, disse ele.
a gente tem de proteger. Eventualmente,
fazer o jogo de sigilo ou de estratégia. Sim,
tem de fazer isso. A gente tem que aprender
a lidar com isso sem perder a criatividade,
sem perder a colaboração e esse ambiente
humano”, defendeu ele, avisando que a
plateia faria seu próprio julgamento dos
trabalhos que seriam apresentados mais
adiante.
Reynaldo Marchesini, na moderação,
brincou:
“Como produtor executivo, fiquei muito feliz
em ver que em quinze dias na Dinamarca dá
para fazer todo o trabalho de criação [risos].
182
183
Projeto SEA
para apresentar essa ideia, que ainda estava
em formação. Num primeiro momento, eu
já adiantei que era um projeto que tinha
tudo a ver com uma série de coisas que a
gente estava tentando fazer. E que se ele
de fato avançasse, que eles nos procurasse
mais adiante. E, no final do ano, eles nos
procuraram, e conseguimos enquadrar isso
num programa que já temos na Ancine”, ele
contou as primeiras conversas.
O projeto, segundo Valente, é estratégico do
ponto de vista da política pública, uma vez
que reúne três frentes em que a Ancine está
investindo:
- Investimento na coprodução como
Eduardo Valente
ANCINE Como se deu a participação da Ancine no
projeto e qual o futuro do SEA. Falar sobre
esses temas foi tarefa de Eduardo Valente.
“No ano passado, eu vim participar de um
debate sobre colaboração Brasil-Alemanha,
no Anima Forum. Na saída da conversa, o
César (Coelho), um dos diretores do festival,
me pegou para falar muito rapidamente
184
caminho para a internacionalização
do produto, do artista e do produtor
audiovisual brasileiros, seja na animação,
seja em outros setores. “A gente sabe que
tentar inserir um produto como 100%
brasileiro no mercado internacional é
muito difícil. E a coprodução, pelo fato de
a obra já nascer binacional, no mínimo,
facilita a inserção e a circulação da obra
nos mercados”;
- Ampliação do Programa de Apoio
à Participação de Filmes Brasileiros
185
O SEA, para a Ancine, foi o projeto certo,
cerca de 80 eventos pelo mundo, e o
apresentado na hora exata.
realizador brasileiro, se tem uma obra
selecionada, automaticamente a Ancine
“Foi a junção do programa com todas essas
dá um apoio. O que fizemos foi ampliar
linhas que a gente já via como estratégicas.
e, em vez de trabalhar apenas a obra
O resto, é apoiar, é vir aqui e ver o que sai
pronta, inclur também os workshops”,
disso por que é isso que interessa para a
disse ele sobre o programa que, em
Ancine: como política pública viabilizar que
2014, passou a Programa de Apoio à
coisas interessantes aconteçam. Nós vamos
Participação de Filmes Brasileiros em
continuar apoiando as próximas edições do
Festivais Internacionais e de Projetos de
SEA, não tenha a menor dúvida. Então, eu
Obras Audiovisuais em Laboratórios e
diria para as pessoas que é importante se
Workshops, que contempla os projetos
informar sobre os programas que a gente
audiovisuais convidados para um dos 27
têm. Todos têm regulamento, listagem de
laboratórios ou workshops internacionais
eventos que a gente apoia , públicos e etc
pré-listados pela Ancine;
no site da Ancine. Quem faz são vocês”,
Eduardo Valente
Projeto SEA
em Festivais Internacionais. “São
Valente deixou o recado. E o site da Ancine:
- Criação do Programa de Apoio à
ancine.gov.br.
Participação de Produtores de Audiovisual
em Eventos de Mercado e Rodadas de
Negócios. “A gente percebeu também que
para os projetos surgirem é importante
que as produtoras circulem mais no
universo do audiovisual, nas rodadas de
negócios. São Pontos de encontro, são
momentos em as pessoas todas estão
juntas, como aqui no Anima Mundi. Então
a gente começou, esse ano, um programa
que apoia essa participação. São 22
eventos listados pela Ancine.
186
187
Projeto SEA
Dividida em sete departamentos, a The
Animation Workshop oferece graduação
em Artes para Design de Personagens de
Animação, Computação Gráfica ou Narrativa
Gráfica; formação profissional, uma
academia dedesenho, workshops abertos,
um centro pedagógico de animação, além de
desenvolvimento de negócios e uma rede de
inovações. E foi exatamente lá que ocorreu o
SEA Concept Development Master Class.
“Temos dez mil metros quadrados
dedicados apenas à animação”, disse
Morten, que atua na instituição desde
a fundação, em 1989, e dedica-se ao
desenvolvimento da animação europeia e
a sua inserção no mercado internacional,
numa tentativa de competir igualmente com
os mercados americano e asiático.
Morten Thorning
The Animation Workshop
Já conhecido do público do Anima Forum,
Morten Thorning é o diretor geral da The
Animation Workshop, uma escola de cinema
de animação e centro de residência para
artistas que desejam se especializar em
design de personagens, computação gráfica,
desenvolvimento de conceitos e design.
188
Depois de apresentar a escola, ele contou
como se desenrolaram as conversas
que resultaram no programa. “Eu já fui
convidado pelo Marcos para participar do
Anima Mundi, e foi uma experiência ótima.
Lembro que, logo antes de voltar para casa,
telefonei para ele e falei que precisávamos
fazer o projeto juntos. O Anima Mundi é
incrível. Então voltei e tentei imaginar como
faríamos para financiar.”
189
globais. “Quem trabalha com animação
projeto poderia ser desenvolvido em
sabe que é uma coisa muito territorial.
parceria:
Uma série de TV que funciona muito bem
nos Estados Unidos pode não funcionar
“Decidimos então fazer um concept
na América do Sul, ou uma que é boa para
development laboratory (laboratório de
os japoneses pode não vender na Europa.
desenvolvimento conceitual) internacional.
É muito territorial, muito cultural. Nós
Envolveria cinco artistas brasileiros, cinco
queremos saber se conseguimos criar
europeus e cinco japoneses. Separaríamos
ideias globais”, disse Morten, que também é
em cinco grupos, com um brasileiro, um
roteirista, produtor, ator e diretor de vários
japonês e um europeu, e torceríamos para
programas de rádio; dirigiu animações e foi
que eles conseguissem fazer alguma coisa
diretor executivo de mais de 40 curtas de
juntos. Seria um experimento. É ótimo
animação.
Morten Thorning
Projeto SEA
As discussões seguiram sobre o tipo de
poder fazer experimentos assim, porque
quando você faz um você pode dizer com
Morten Thorning exibiu um vídeo do projeto
alguma tranquilidade ‘ah, falhamos’. Mas
SEA. “Vendo isso, vocês devem imaginar que
vocês vão ver por si mesmos se falhamos ou
estávamos comendo o tempo inteiro. [risos]
não”, disse ele, em tom bem-humorado.
Nós queríamos oferecer a melhor situação
possível para essas pessoas criarem. Então
O programa era intenso. “Eles só tiveram
colocamos todos em um prédio, fechamos
um dia para arrumar a agenda e já
as portas, enchemos de comida e dissemos
trabalhariam com um diretor de teatro.
‘vocês têm de criar algo que seja realmente
Fariam exercícios para se conhecer melhor,
fantástico’ [risos]. É isso, obrigado!”
tentar encontrar as diferenças criativas
e descobrir quem gosta mais de quem,
Para conhecer na internet:
quem prefere trabalhar com quem”, Morten
http://www.animwork.dk
explicou a dinâmica dos grupos.
O esforço era para que os participantes
criassem conexões fortes, conexões
190
191
Projeto SEA
O SEA (South America Europe and Asia)
representou um grande desafio para a
criação de algo novo, tendo em vista o
aspecto multicultural do programa. As
diferenças entre brasileiros, japoneses
e dinamarqueses ficou evidente. Basta
observar o comportamento de cada um
em situações corriqueiras. Em um ponto de
ônibus, por exemplo:
“Eu diria que 99% dos brasileiros olham
na direção que seu ônibus ou trem vem.
Acredito que eles não confiam no horário.
E eu me pergunto: ‘por que todos estão
olhando para lá?’ Já 99% dos japoneses ficam
em linha muito ordenadamente, olham
estritamente para a frente (ou para seus
smartphones) e entram no ônibus também
em fila. Já os dinamarqueses nunca são
Hiromi Ito
Office H
Hiromi Ito tem uma longa relação com
a animação. Entre curtas, festivais e
programas de formação de profissionais.
Já o Office H é uma empresa que oferece
serviços profissionais de planejamento
estratégico, gerenciamento de marketing e
novos negócios.
192
vistos até cinco minutos antes do horário da
partida. A 30 segundos do horário, eles se
reúnem ‘do nada’. Onde estavam?”, Hiromi
brincou sobre os costumes.
Entre as características dos participantes
japoneses, todas meninas, Hiiromi realçou
que, tradicionalmente, elas aliam o
tradicional e o moderno, são acolhedoras,
e administram bem meninos. Com faixa
etária de 20 a 40 anos, elas têm experiência
193
de seleção para o programa. A troca de
já se conheciam, outros se viram pela
informação é importante tanto para o
primeira vez”, disse. No quesito fluência na
próprio programa como para alavancar
língua inglesa, duas dominam a língua, uma
uma coprodução. No entanto, Hiromi
fala com certa destreza, e duas são ainda
realçou que, especificamente no caso do
iniciantes na conversa de negócios.”
SEA, essa lacuna poderia ser preenchida
Hiromi Ito
Projeto SEA
de diretor júnior a produtor sênior. “Alguns
com informações disponíveis na internet,
Não houve desistências, festejou Hiromi,
na jornais, revistas e nos sites e blogs dos
ao dar o feedback dos japoneses sobre
parceiros envolvidos. “Eu reconheço que
o programa: “Todas ficaram satisfeitas
foi um desafio, mas nós buscamos cumprir
em fazer parte do SEA. Foi maravilhoso
os objetivos fundamentais que eram lidar
para elas passarem duas semanas apenas
de modo produtivo com a diversidade de
estudando e criando. Elas se deram bem
culturas e participantes, e encontrar um
com seus companheiros, com exceção
novo estilo de coprodução multicultural.
de alguns. No entanto, fizeram menos
Assim, eu espero que elas desafiem e
networking do que suas expectativas.”
encarem o mercado global e não desistam
de seus sonhos facilmente.” Quem é o japonês, ou melhor, quem é o
criador japonês? Segundo Hiromi, esse é um
Para conhecer na internet:
aspecto relevante para o programa. Em geral,
http://blogs.yahoo.co.jp/hiromi_ito2002jp
eles programam as ações, seguem o roteiro
pré-estabelecido. Os princípios, portanto,
devem estar claros desde o princípio
para que o trabalho em equipe funcione.
Profundamente detalhistas, têm uma
capacidade ímpar de criar histórias novas.
De acordo com o feedback que recebeu,
as japonesas, por exemplo, reclamaram da
pouca informação disponível no processo
194
195
Projeto SEA
Uma equipe afiada, pronta para o desafio
de criar uma série em duas semanas.
Parece fácil.
Para o produtor e diretor do longa-metragem
Minhocas, sempre há mais para aprender.
Havia três diretores no grupo de Paolo.
“A primeira coisa que o time tinha de fazer
era definir a tarefa de cada um. Ou a gente
só iria brigar. Então decidimos dessa forma:
o David vai dirigir, eu seria o produtor, a
Agure faria o designer e o Niels faria o
conceito. Isso parece uma bobagem, mas
isso foi o que fez a gente não se matar
duas semanas que teríamos de seguir”,
ele contou, bem-humorado, como foi a
tes
cipan
Parti eiros
l
brasi
Paolo Conti
Participante SEA 2014
Projeto: Bubblebit & Miau
série de TV / 52 episódios de 11 minutos.
Público: crianças de 5 a 9 anos
Gênero: Ação/comédia
Animação CG
Equipe: Aguri Agura (designer),
Niels Dolmer (concept artist),
David Tousec (diretor/produtor)
e Paolo Conti (diretor/produtor)
196
adaptação aos colegas.
O projeto foi definido: “Nós decidimos que
faríamos uma série de TV de ação e comédia,
em computação gráfica, para o público de 5 a
9 anos. Nisso, a gente já estava visualizando
o que a minha produtora poderia contribuir
na produção se isso se viabilizasse, e o que
a produtora do David também poderia fazer
para a produção.”
O produto foi desenhado, portanto, para ser
uma coprodução entre as empresas.
197
Paolo Conti
Projeto SEA
Participantes
brasileiros
“A série conta as aventuras de um pequeno
alienígena chamado Bubblebit e a detetive
mirim Miau. Ele vem de um pequeno
planeta onde ajudar as pessoas é a única
coisa que importa. Já na cidade onde ele vai
parar, ninguém se importa com ninguém.
A única pessoa que se importa é a detetive
Miau. Juntos, os dois amigos, vão resolver os
problemas da cidade. O confronto cultural
entre os dois heróis e a cidade inteira é a
base cômica e narrativa dos episódios da
série”, explicou.
No projeto de Paolo e seus colegas, Bubblebit
e sua amiga Miau irão entreter a criançada
com histórias cheias de momentos meio
desajeitados e tecnologias únicas, e amigos
que cuidam uns dos outros sem esperar
pessoas que não merecem ser ajudadas,
recompensa. “A ideia era criar um conceito
e é daí que vem a comicidade da série”,
de comédia num universo onde dois
contou Paolo.
personagens querem ajudar, e o resto do
mundo não se importa com nada.”
O super poder de Bubblebit é criar
robozinhos, que também têm o propósito
198
Paolo mostrou o Bubblebit , o alienígena
de ajudar o próximo. “O robozinho é
cujo único propósito é usar seus
criado única e exclusivamente para ajudar
superpoderes para ajudar aos outros.
aquele personagem que precisa de ajuda.”
Seja como for, mesmo que ele não tenha a
Bubblebit não fala. Quando quer se
menor ideia de como fazer isso. Bubblebit
comunicar, produz uma bolha que sai de
é a representação da inocência. “Ele quer
dentro da sua boca.” Mas não é uma bolha,
ajudar de qualquer forma, mesmo as
é como se fosse um ‘cuspe’. Nessa bolha
199
única vontade de um personagem que está
ele tá pensando”. A ideia dos hologramas
na cidade. Os telefones não param de tocar,
estava alinhada aos treinamentos e
são milhares de ligações ao mesmo tempo ,
capacitação que o grupo teve no Workshop.
de todos os cantos da cidade”, ele exibiu as
Paolo Conti
Projeto SEA
Participantes
brasileiros
aparece um holograma, que mostra o que
imagens para apresentar os personagens
“Essa ideia se apropria de ícones de celular.
para a plateia.
Então, a gente poderia desdobrar aplicativos
de Bubblebit para comunicar entre telefones
Paolo também mostrou a arte conceitual
para as crianças. Isso é bem interessante,
do que é a casa da Miau. “Ela mora em um
por que hoje se usa muito símbolos para
lugar que é totalmente destruído, assim
expressar emoções ou ideias.”
como toda a cidade. Mas como agora ela
se importa, ela tentou dar um jeito de
No universo criado pelo grupo, ainda não
deixar a vida dela mais alegre. Então ela
existe wireless, é tudo comunicação com
pintou as paredes, está tentando deixar
fios. “É como se fosse início dos anos 1980.
tudo mais bonito”, ele explicou também a
Muitos fios e a tecnologia mais avançada
estrutura: “Basicamente, Bubblebit e Miau
que tem é pager. A gente quer mostrar para
chegam sempre ao lugar de onde partiu
as crianças as coisas que ela não conhecem.
o telefonema, Bubblebit tenta resolver o
Máquina de escrever, aparelho de fax, etc.
problema sozinho, mas piora a situação,
Todas essas coisas foram recuperadas nesse
Miau entende o que está acontecendo e o
nosso conceito de série.”
ajuda a criar a solução. Ou seja, o robozinho
certo. Aí é o gancho da próxima história.
A cidade que desafia Bubblebit é cheia de
Essa é a estrutura básica.”
problemas. E cada casa ou edifício tem
uma linha telefônica direta com a única
central de polícia que existe no lugar. “Nós
representamos visualmente o egoísmo de
cada um desses cidadãos. Cada telefone
tem uma cor, uma forma diferente e
representa um único pensamento ou uma
200
201
Projeto SEA
Uma versão reduzida, mas que deu a exata
ideia do que se tratata. No seleto grupo
dos cinco, Emerson Rodrigues teceu loas ao
programa e fez questão de citar os colegas
Participantes
brasileiros
com os quais trabalhou: Maho Yosida, que
é do Japão, Pernille Sihm, dinamarquesa,
e Anne Louise, também dinamarquesa,
que entrou para reforçar o grupo, o que
aconteceu com todos os outros.
“Pip & Mo, nome do nosso projeto, é
também o nome do personagem principal.
É uma série para TV. Todas as pessoas que
vinham prestar consultoria para a gente
tinham uma base muito forte em série,
era em que tinham uma expertise maior.
O nosso formato foi de 26 episódios de
tes
cipan
Parti eiros
l
brasi
Emerson Rodrigues
Participante SEA 2014
Projeto: Pip & Mo
série de TV / 26 episódios de 7 minutos.
Público: crianças de 4 a 6 anos
Gênero: Ação/comédia
Animação 2D
Equipe: Emerson Rodrigues,
Maho Yosida,
Anne Louise,
Pernille Sihm
202
sete minutos cada, em animação 2D, para
crianças de 4 a 6 anos. Nosso público alvo
eram criancinhas bem novinhas”, explicou.
Os personagens criados pelo grupo de
Emerson foram devidamente apresentados
em imagens, enquanto ele explicava como
se deu o processo de criação. “A gente
estava caminhando para uma coisa bem
diferente, com um outro conceito. Mas a
gente estava caminhando e o que a gente
tinha por certo era fazer uma coisa baseada
na amizade entre dois personagens bem
203
das montanhas –, as flores e as plantas
e lento, e o outro já é bem agitado. A base
acompanham o caminhar dele”, Emerson
da gente eram as explicações malucas que a
mostrou o desenho do movimento . O
criança inventa. Tipo: ‘de onde vem o vento?’
resultado final é de uma cena colorida.
Aí, inclusive, uma das participantes, a Anne
“Mo é o gordinho, uma pessoa bem lenta.
Louise dizia que quando ela era criança
Pip é apaixonado por objetos pequenos e
acreditava que o vento era produzido pelas
tem uma coleção de tudo que existe. Na
árvores quando balançam. Então, a gente
verdade, ele coleciona tudo o que encontra.
partiu desse conceito para criar o mundo”,
E o Mo, na velocidade dele, tenta ajudar no
ele contou.
que ele pode”, Emerson explicou e mostrou
Emerson Rodrigues
Projeto SEA
Participantes
brasileiros
diferentes. Um é bem gordinho, preguiçoso
os detalhes.
No mundo habitado por Pip & Mo, todas
as explicações, por mais malucas, são
Para encerrar, Emerson exibiu um clip curto
válidas e acontecem de verdade. “Os dois
da música original criada para a nossa
empacotam as informações desse mundo
série. “Era isso que eu tinha para mostrar.
e mandam para o nosso mundo em forma
Obrigado, gente.”
de sonho”, ele mostrou os desenhos de
conceito, que acentuam as diferenças entre
os protagonistas, e também de outros
personagens. “São personagens que vivem
nesse mesmo mundo da gente, como as
flores e plantas, que são secretamente
apaixonadas por um outro personagem
igualmente real, o Sol.
Emerson prosseguiu com uma sequência de
desenhos em que ficam claras as relações
entre as personagens. “Toda vez que o
sol passa – e ele todo dia aparecia para
comer um sanduíche e sentar em cima
204
205
Projeto SEA
Sérgio Glenes é designer e ilustrador, com
mais de dez anos de experiência. Ainda
assim, o SEA foi um desafio:
Participantes
brasileiros
“Além da questão da língua, da questão da
cultura, é desafiador você criar uma coisa
forte e que fale a muita gente. A nossa
série é uma série sobre gatos, um convite
à descoberta de um novo ponto de vista
sobre as coisas.”
O projeto do grupo de Glenes foi produzido
em animação clássica 2D para TV. “Foi
pensado para crianças em idade escolar.
As crianças que estão indo para o mundo,
se enchendo de informação, cheias de
curiosidades e perguntas sobre como as
tes
cipan
Parti eiros
l
brasi
Sérgio Glenes
Participante SEA 2014
Projeto: Time Cat Forgotten
Série de TV / 26 episódios de 7 minutos.
Público: crianças de 6 a 9 anos
Gênero: Ação/comédia
Animação 2D
coisas funcionam”, a escolha do público
influenciou diretamente o tipo de desenho:
“São histórias leves, são como docinhos,
balas de caramelo em 7 minutos e 26
episódios”, definiu.
Time Cat Forgotten é sobre uma gata chamada
Charlotte. “As pessoas têm imaginário
rico a respeito dos gatos. Que eles são
misteriosos, que vêm de outra dimensão,
que são inteligentes. Eles são hipnotizantes,
são uma coisa interessante para crianças,
jovens e adultos”, daí a escolha.
206
207
Sérgio Glenes
Projeto SEA
Participantes
brasileiros
“Charlotte é uma gata especial, óbvio.
Charlotte sabe das coisas. Charlote pensa,
Charlotte não fala. Você nunca vai ouvir
ela vai falar, vai ouvir o pensamento dela.
Charlotte tem opinião, observa, questiona,
imagine uma pessoa, é uma pessoa mesmo.
Imagine uma pessoa dentro do corpo de um
gato. Uma terapeuta, uma psicóloga, uma
as pessoas, conhece os lugares. Charlotte
filósofa, alguém que realmente sabe das
vai à vida”, contou o empolgado Glenes,
coisas e que é inteligente”, explicou ele.
enquanto mostrava alguns desenhos.
A esperteza de Charlotte, que mora em
Charlotte, claro, tem outros poderes. “Como
uma casa com seu dono, Peter, é evidente.
toda série, essa série tem um herói, uma
Peter é um cara mediano, bom cara, pacato,
pessoa que se modifica a cada episódio.
do tipo que sabe das coisas da vida pelo
Então, para cada um dos 26 episódios, por
Facebook e a Wikipedia. Apesar de trabalhar
exemplo, teremos uma situação diferente.
em uma empresa de tecnologia e ter acesso
Personagens dos mais diferentes e variados
a muita informação, as opiniões que ele
tipos, crianças, adultos, jovens, que estão
tem sobre as coisas são medianas, nada é
em seu momento de aflição e que estão
muito aprofundado. Charlotte, no entanto,
querendo mudar. E aí eles conhecem a gata
fica entediada e trata de dar voltas além dos
e conseguem resolver seus problemas.
domínios do condomínio onde vivem.
Toda vez que Charlotte volta para casa, ela
traz uma coisinha. E Pedro, na sua santa
“Charlotte tem uma capacidade
ignorância, vai ficar nisso por um bom
interdimensional e ela consegue virar uma
tempo. Ele vai sempre dizer um jargão, algo
esquina, virar outra esquina, e aparecer
do tipo – Charlotte, você deu seu passeio
em Madri, em Londres. É capaz de andar à
hoje ou você ficou dormindo?”
vontade por aí. Então, o que acontece é que
208
Charlotte conhece o mundo. Essa é a grande
Peter não tem a menor ideia do que
diferença entre ela e Peter. Charlotte conhece
acontece, finalizou Sérgio Glenes.
209
Projeto SEA
Especial, fantástico, inesquecível. A lista
de adjetivos de Amir para o SEA é longa.
““Foi uma experiência que mudou a gente,
eu posso falar por mim. Como todos os
Participantes
brasileiros
grupos, a gente precisava produzir muito.
Ainda fico meio assombrado ao pensar
no quanto a gente conseguiu produzir
em duas semanas” ”, disse ele, antes de
explicar o projeto desenvolvido pelo grupo
do qual fez parte.
Uma série de TV em animação 2D, para
adolescentes acima de 12 anos, com
temporadas de 26 episódios de 11 minutos.
Eis o projeto. Mas, chegar até essa definição
é que foi a parte boa:
tes
cipan
Parti eiros
l
brasi
Amir Admoni
Participante SEA 2014 Projeto: Ship n’ sea
Série de TV / 26 episódios de 11 minutos.
Público: crianças de mais de 12 anos
Gênero: Ação/comédia
Animação 2D
“Foi incrível quando juntou o grupo,
porque não fomos nós que selecionamos
quem estaria conosco. A seleção foi feita
por eles, através de diretrizes que a gente
dava no questionário. E foi incrível como,
quando a gente se encontrou e começou
a debater, a gente viu que a gente tinha
muita afinidade. Todos nós tínhamos um
humor sarcástico, a gente queria trabalhar
com alguma cutucada, com alguma coisa
que fosse divertida, mas que não fosse
diversão pura”, contou ele, animado.
210
211
Amir Admoni
Projeto SEA
Participantes
brasileiros
O motivo principal da série estava definido:
“A gente ia evidenciar o comportamento
humano nas coisas óbvias, aquelas que a
gente sempre toma como garantidas, mas
usando um elemento externo para criar um
estranhamento, um desligamento”, disse.
Ship n’ sea, portanto, mostraria um chimpanzé
num escritório. Amir exibiu alguns vídeos para
apresentar seus personagens. “Tem muito a ver
também com a relação que a gente estava
tendo ali: três pessoas de lugares diferentes,
o jeito que a gente se cumprimentava, o
jeito que a gente expunha as idéias. E eu,
que me achava uma pessoa super retraída,
era o que falava demais. Então, eu vejo que
essa série traz um grande reflexo desses
pequenos atritos e diferenças que geram o
variedade de episódios”, defendeu. No
encontro de três culturas diferentes. Então
porto existe um escritório, onde as ações
pra isso, para materializar a série, a gente
também se desenrolam. O mais, ou melhor,
pegou um personagem muito parecido com
o que se desenrola na série, é esperar para
a gente: um macaco da América do Sul na
conferir.
Europa, sempre farejando alguma coisa
estranha”, explicou.
Para finalizar, Amir contou que o grupo
começou a desenvolver também uma série
212
O universo de Ship n’ sea é um porto. “É só
de produtos para merchandising. “Como a
um porto, mas ele tem uma ligação com um
história é voltada para o escritório, há uma
mundo exterior, sempre tem coisas vindo
série de produtos que a gente pode usar
e saindo do cais e a rede de ligação entre
com uma temática macaco num escritório. É
eles é muito ampla, o que fornece muita
basicamente isso. Obrigado!”
213
Projeto SEA
“A gente queria usar essa oportunidade
para fazer uma coisa que juntasse várias
culturas. E a gente começou a explorar
a ideia de mitos e lendas de diferentes
Participantes
brasileiros
países. A minha primeira reação foi: ‘que
bosta, mitos e lendas é uma parada careta’.
Só que, na verdade esse tema sempre
foi tratado de uma forma muito careta.
O nosso desafio foi tentar achar uma
forma legal de tratar desse tema”, ele
começou a explicar.
A série logo virou um longa metragem.
“Poko é o nosso personagem principal: é
uma criaturinha pequena, indefesa e super
ingênua, e ele é tão pequenininho que ele
não conseguia sair do canyon onde ele
nasceu. Então ele passou a vida inteira
tes
cipan
Parti eiros
l
brasi
Pedro Eboli
Participante SEA 2014
Projeto: Myth boy
Longa-metragem
Animação 2D
O Myth boy começou como um projeto
de série. O grupo de Pedro Eboli queria
fazer algo que fosse verdadeiramente
multicultural:
214
dentro desse buraco, e construiu uma
casinha. Ali ele plantou a própria horta
e, com folhas secas, fez um livro. E nesse
livro ele começou a escrever as coisas que
vinham à cabeça dele. Ele gostava muito de
olhar para o céu e ver criaturas estranhas
voando, nuvens de formatos esquisitos. E
ele escrevia no caderninho tudo que via.
Um dia, um passarinho tentou roubar o
livro dele, ele jogou o livro no passarinho,
o livro bateu na parede, a parede rachou e
ele encontrou um túnel”, eis a história.
215
Projeto SEA
Participantes
brasileiros
PERGUNTAS E
COMENTÁRIOS
Mas, não, não acaba aí. Poko encontrou
o túnel, por esse túnel foi parar numa
caverna, na caverna havia uma árvore
gigantesca. E embaixo dessa árvore, Poko
viu um lobo gigante, preto, assustador e
Pergunta
Para o Morten, se você, pelo o que você viu
acorrentado, humilhado, sem forças para
dessa troca cultural, o que você imagina
levantar. Onde esses dois vivem? Em um
para as próximas edições do SEA? O que
mundo que se chama Lenda e é habitado
pode ser incorporado dessa experiência?
por lendas e mitos do mundo todo. Lá,
Quais são os aprendizados que a gente já
todo mundo já nasce sabendo o seu
pode imaginar para as futuras edições?
propósito. Menos o Poko, que não sabe,
mas vai procurar saber. E está contada a
Morten Thorning
Se, e quando, nós vamos fazer a próxima
história. Ou melhor, o comecinho da história
edição. Especialmente, nós precisamos
criada pelo grupo de Pedro Eboli no SEA.
de um roteirista em cada equipe. Nós
Os aplausos ao fim da exibição detalhada
tivemos muitos produtores. A ideia é juntar
foram efusivos.
artistas – e artistas podem ser pessoas
que imaginar mundos e conseguir colocar
“A gente apresentou o filme como se fosse
para fora e transformar numa história de
uma série, a gente não apresentou como
verdade. [para os participantes] Todos vocês
se fosse um filme. Seria uma série em que
conseguiram fazer, mas tiveram dificuldades
a cada episódio Poko conheceria um mito
com o roteiro. Então, um roteirista é muito
diferente. Só que a nossa série precisava
importante. E precisamos de mais gente que
desse final. Uma das coisas que as pessoas
realmente desenhe, para que possamos ver
mais gostavam era esse final. E esse arco
o que estão criando. Mas não estou dizendo
do Poko é tão forte que a gente resolveu
o contrário - vocês fizeram um trabalho
transformar num filme”, contou, agradecido
lindo, e muito obrigado por participarem
e orgulhoso.
desse experimento.
Pergunta
O Japão tem um jeito muito particular
de fazer animação e o anime é muito
216
217
nós tínhamos disponível para trabalhar,
as animadoras japonesas? Não vi muitos
já que todos os dias nós tínhamos uma
elementos japoneses nas animações e
bateria intensa de aulas. Apesar de todos
imagino que elas tenham aprendido a fazer
nós irmos para lá com esse sonho de
tudo de uma forma bem restrita, então
criar um conceito com os japoneses e os
como foi essa troca?
europeus, a cada aula que nós fazíamos,
os professores nos puxavam para o
Hiromi Ito
Obrigada pela pergunta. Falando
chão, dizendo: ‘vocês têm de criar para o
francamente, acredito que mesmo sem o
mercado, vocês tem de produzir uma coisa
SEA, é sempre bom misturar desenhistas.
que o mercado vá consumir, vocês têm de
Alguns conceitos vêm de histórias
pensar no licenciamento’. O programa, na
japonesas, mas todos os projetos são bem
minha percepção, é feito justamente para
misturados, culturalmente falando.
provocar esse misto que é como criar coisas
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
Projeto SEA
forte. Como foi a transição cultural para
realmente novas, inovadoras, criativas, mas
Morten Thorning
É verdade que quando você olha para esses
saber de que forma colocá-las dentro de
projetos não vê um desenho muito japonês.
um pacote comercial. Não tem coisa mais
Não vê o anime. Mas acho que uma das
deliciosa do que você sentar com quatro
coisas bonitas, também, é que os elementos
artistas, todos hipertalentosos, e ficar
japoneses também estão no desenrolar
discutindo livremente por duas semanas
da história. Ao mesmo tempo, lembre-se
o que cada um defende. Todo mundo ali
que tudo o que você viu foi criado muito
desenhava muito bem e tinha grandes
rapidamente. É arte conceitual, não é o design
ideias, mas nós tínhamos que ser coerentes
final, ainda tem muito o que ser trabalhado.
com o objetivo do programa. O ideal, acho
que todo mundo concorda, seria fazer, sei
Pedro Eboli
Eu queria fazer um depoimento. Nossas
lá, dez semanas. Aí, sim, nós teríamos uma
atividades iam de segunda a sábado.
integração incrível.
Nós tínhamos o domingo disponível,
depois voltávamos. Mas, na verdade, aos
218
Pergunta
Os projetos continuaram, existe algum
domingos, nós trabalhávamos também.
plano de prosseguir com o que já foi
Porque era quase que o único tempo que
produzido?
219
Paolo Conti
Depois que o programa acabou, a gente
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
Projeto SEA
andou muito com o projeto. Acho que
porque a gente se organizou logo no
começo. Ficou claro para todos os três e
depois quatro, porque o Niels chegou por
último, o que cada um deveria fazer. Então,
aqui no Brasil, o projeto foi submetido
a dois programas da Ancine. A gente já
apresentou para algumas TVs, e já está
começando a trabalhar com a possibilidade
de financiamento pelo BNDES. Ou seja, o
projeto está andando. Todos entendem
que é um projeto com potencial para ser
realizado. É mesmo o resultado de três
culturas diferentes. Acho que a gente
cumpriu bem o nosso papel.
a gente teria de abrir mão da parte criativa
Emerson Rodrigues
A gente está tentando continuar. Falando
total do projeto. E agora a nossa participante
do meu grupo, andou bem menos do
japonesa está trabalhando duro lá no Japão
que a gente esperava. A gente teve algum
para tentar viabilizar a produção do filme.
progresso mas foi muito pequeno. Mas a
gente está tentando levar o melhor que a
gente pode.
Sérgio Glenes
Bom, essa é até uma coisa interessante de a
gente falar. Quando a gente viu e soube do
SEA, dos participantes e tudo mais, a gente
220
Pedro Eboli
(“Não sei se eu posso falar”) A gente teve
recebeu um documento acordando que a
uma oferta de um estúdio dinamarquês
propriedade intelectual que seria criada
interessado em comprar a propriedade
seria de bem comum. Então é um ponto
intelectual para fazer por eles mesmos. E a
que amarra muito as questões quando
gente, depois de debater muito, não aceitou a
você quer avançar com o projeto. No meu
proposta deles comprarem o projeto porque
caso, o projeto foi praticamente criado em
221
Pedro Eboli
Saca aula de teatro? Então, teve massagem
arrancando os cabelos, não tinha ideia, o
coletiva. (risos) Não, eu não estou
negócio não vinha. Enfim, é muito intenso.
brincando, estou falando sério. A gente fez
Depois que acabou o SEA dá aquele
vários exercícios de fechar o olho, e guiar
relaxamento. É claro que eu sonho. É claro
a pessoa, reconhecer uma pessoa só de
que eu quero continuar com o projeto. Há
sentir a mão. Rolou todo esse processo.
conversas esporádicas entre nós, mas é uma
A gente fez um exercício super legal que
coisa que leva tempo. Normalmente, uma
é uma pessoa descrevia um personagem
série, um produto para TV e para cinema
para outras duas pessoas e aquelas
demora anos para sair. Então, é pouco tempo
duas pessoas tinham que desenhar o
para dizer que não deu em nada ou que já
personagem que aquela primeira estava
deu em alguma coisa. Ainda é um processo.
descrevendo. E, no final, a gente recebeu
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
Projeto SEA
quatro dias. A gente estava desesperado,
um formulário em que a gente tinha que
Amir Admoni
No nosso caso, um norueguês participante
dizer quais pessoas deixaram a gente
da banca ficou muito interessado. E como
curioso, com quais a gente sentiu uma
nós já tínhamos um norueguês no grupo,
afinidade maior, quais a gente não curtiu
eles já começaram a articular um possível
muito. A gente não escolheu os grupos.
piloto. Mas está ainda sendo articulada
Mas deu muito certo, foi muito legal,
uma ajuda com o governo da Noruega. Mas
no final das contas acho que os grupos
eu acho importante falar que mesmo que
casaram demais. Eles fizeram alguma
o projeto não tenha dado o espaço que a
mágica lá, com essa dinâmica de grupo que
gente esperava, criou-se uma rede, que foi
foi sensacional.
semada ali.
Pergunta
Pergunta
Como se dá esse primeiro encontro
Como a organização vê a possibilidade de
sediar o SEA no Brasil ou no Japão?
entre os participantes lá, como que vocês
identificam e como vocês conversam para
222
Marcos Magalhães
A intenção é fazer um rodízio. Não sei se
decidir qual que vai ser o grupo? Tem
já no segundo, porque vai depender dos
alguma dinâmica específica inventada pelo
financiamentos. A gente está procurando
SEA ou é só bate-papo?
os apoios, para ver os orçamentos, mas
223
Paolo Conti
Eu acho que cada grupo teve sua forma de
equacionar a cultura. Mas a percepção que
eu tenho, e o que aconteceu no meu grupo,
é que por algum motivo os brasileiros
mediavam o processo de integração entre
os europeus e os japoneses. Porque as
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
Projeto SEA
chegavam nesse equilíbrio, basicamente?
japonesas, por mais que elas fossem
abertas pra uma cultura mais universal, elas
eram mesmo japonesas. Absolutamente
tímidas, perto dos brasileiros. Para você
conseguir extrair uma informação era
bastante difícil. Mas eu acho que passados
alguns dias, todo mundo percebeu que as
ideias eram de fato aceitas e que todos
existe essa intenção, porque é interessante
tinham suas opiniões respeitadas. Foi um
o território onde as pessoas se encontram,
processo de criação de amigos. E na hora
acho que faz uma diferença grande. Então
que você fica amigo da pessoa, você confia
a gente vai ter coloridos diferentes em cada
e fica mais seguro em falar as suas ideias,
edição desse projeto, se a gente conseguir
você começa a se abrir.
fazer esse rodízio.
224
Pergunta
Pedro Eboli
Eu achei que os dinamarqueses são
Como que foi essa dinâmica, esse conflito,
grandes mediadores, estão de parabéns
de vocês terem culturas tão diferentes e
[risos]. Não sei o que vocês ensinam no
como é que vocês decidiam, o que que
colégio lá, mas se a Dinamarca tomasse
poderia ser considerado uma coisa mais
conta do mundo, não teria guerra.
universal, e o que que vocês podiam
Impressionante, eles são muito pacientes,
colocar da própria cultura que não ficaria
educados. A gente que é brasileiro não
muito estranho ou que... como é que vocês
liga para um pouco de barraco, um pouco
225
pouco. Inclusive para lidar com as questões
abraço e tudo mais. E as japonesas, além
culturais, para as pessoas se abrirem umas
do problema da língua, elas são mais
com as outras. Acho que tempo poderia ser
tímidas e introvertidas mesmo. Eu falo
um pouco maior.
pelos cotovelos e tal, e acho que uma hora
ela tinha que sair da sala até e dar um
Reynaldo Marquesini
De acordo com a percepção que eu tive,
break de mim. [risos] Mas o bom de ter
quando estive lá, os meus questionamentos
os dinamarqueses é que a toda hora eles
também eram dessa natureza: de estrutura,
perguntam are you happy? Are you okay?
de composição de personagem. E uma das
What do you think? Excelente! Então estão
sugestões que eu fiz foi que tivesse um
de parabéns, acho que a ONU devia ser
roteirista na equipe.
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
Projeto SEA
de gritaria e tal, depois é brother, dá um
composta só de dinarmaqueses. A gente
precisa da Dinamarca no Conselho de
Morten
Segurança da ONU urgentemente. [risos
Claro, nós pretendemos ser muito melhores
da próxima vez.
da plateia]
Reynaldo Marchesini
Hiromi Ito
Concordo plenamente com você. [risos]
Eu gostaria de fazer um último comentário.
Em 2007, quando participei também
pela primeira vez do Anima Forum, as
Morten ThorningObrigado por essas palavras tão gentis.
discussão nas salas eram muito em
As pessoas estão brigando por ideias, por
torno de ‘como vamos fazer a indústria
histórias. É importante estarmos juntos
brasileira de animação acontecer?’
para fazermos histórias universais. [muitos
Obviamente, essa pergunta ainda não
aplausos da plateia]
está totalmente respondida, mas é
inquestionável que a gente está fazendo
226
Pergunta
Senti que todos os artistas envolvidos têm
perguntas mais sofisticadas. Já há questões
um grande potencial, mas senti falta de uma
se desdobrando. A animação brasileira
estrutura nos projetos. Senti falta de mais
está discutindo capacitação, coprodução
gente na equipe. Roteirista, por exemplo,
internacional, troca com outros países,
alguém para lidar com a produção. Acho
como reforçar o curta-metragem, o que é
que duas semanas são realmente muito
um excelente sinal.
227
1 de Agosto
Masterclass 3
Criando
Personagens
Memoráveis
Convidado:
Eric Goldberg
Eric Goldberg joga nas onze. Nos longasmetragens, curtas-metragens, comerciais
e especiais de TV nos quais trabalhou, seja
como diretor, designer, animador ou até
dublador, este versátil artista se sente tão
confortável animando à mão quanto em
um computador de última geração. Em
todos estes campos, desenvolveu técnicas
pioneiras, com a ajuda da sua mulher,
Eric Goldberg
Masterclass 3
parceira de trabalho e diretora de arte, Susan.
Afinal, para Goldberg, na animação, “uma boa
ideia pode vir de qualquer lugar, não importa
se você é diretor, finalizador, ou serve o café”.
Seu talento e versatilidade o levaram a
grandes estúdios, como a Warner Bros.
e a Disney, onde dirigiu a animação de
personagens memoráveis e adorados,
como o amorfo Gênio, de Aladdin,e o sátiro
Phil, de Hércules. Dirigiu ainda o primeiro
longa-metragem da Disney baseado em
fatos históricos, Pocahontas, e dois belos
episódios para o poético Fantasia/2000.
Este ano, Eric apresentou sua Masterclass
Criando Personagens Memoráveis, que
demonstrou processos criativos capazes de
desenvolver personalidades únicas, com as
quais o público se identifique e se divirta, e
como criar, nas telas, as relações entre essas
personagens. O diretor ilustrou seus exemplos
com desenhos feitos na hora, assim como
trechos de filmes.
230
231
1 de Agosto
Animação &
Games – e
Vice-Versa
Convidados:
Alê McHaddo – ABRAGAMES
Conrado Testa – Sword Tales
Sebastian Gonzalez – ACE TEAM
Rafael Rodrigues – Aquiris
Moderador: Arthur Protásio
Animação & Games – e Vice-Versa
A última mesa, um grande fechamento
Esse foi o objetivo:
para o Anima Forum de 2014, anunciou
Marcos Magalhães. Na indústria, há pouca
“A gente vai encerrar com chave de ouro
conversa entre quem faz animação e
um ciclo bem legal, que é pensar sobre os
quem faz game. Foi a hora de reunir as
vários universos criados pela animação.
turmas dos dois lados e provocar o diálogo.
E hoje a gente vai falar de dois universos
Afinal, se personagem de animação pode
que também correm em paralelo, um mais
virar game, e personagens que nasceram
popular que o outro. Acho que o de game
no game podem ser transformados em
superou o de animação, a movimentação
animação, é bom que essa galera converse.
do produto game é maior. Mas tudo vem
da mesma fonte, da vontade da gente de
criar e construir e ver histórias narrativas,
experiências que a gente tenta enriquecer.
O objetivo de tudo é sempre criar a nossa
experiência de vida mais rica, mas treinar
bastante jogando jogos e, no caso do
animador, cristalizar para o público a
experiência que ele tem intensa na mente
dele, na vida dele. É a primeira vez que
a gente faz formalmente uma discussão
sobre esse processo. Vamos juntar essas
duas galeras tão legais e ver o que têm em
comum”, disse o coordenador do evento,
anunciando o mediador da vez.
234
235
Animação & Games – e Vice-Versa
incrível ver esses mundos se conectando”,
afirmou Arthur, esclarecendo que
não é animador, seu trabalho é atuar
como roteirista e designer de narrativa
em diversas mídias, incluindo jogos e
animações.
A conversa seria sobre personagens,
narrativas, histórias que são criadas
e como essas histórias devem ser
engajantes independentemente da
mídia em que é criada. A animação como
metalinguagem
“Na prática, a animação é a ferramenta de
viabilização do jogo. A representação visual
Arthur Protasio
do jogo é absolutamente crucial e não
seria possível se a gente não tivesse tanto
esmero e tanto cuidado na hora de criar;
Discutir jogos é uma grande oportunidade,
se não pensasse na abordagem artística,
realçou Arthur Protasio, já no papel de
na abordagem estética, como que é que
moderador da mesa. “O videogame é uma
a gente vai usar todos esses elementos
mídia que está crescendo muito como
para comunicar nossa mensagem”,
produção criativa e como mercado. Eu
disse ele, logo antes de exibir um curta
acho que conforme a mídia dos jogos
inspirado no jogo Monkey Island, produzido
foi crescendo e se tornando cada vez
exclusivamente para introduzir à mesa.
mais relevante, a gente começou a ver
236
vários pontos em que a animação e jogos
Ao longo do curta, foram exibidas micro
passaram a se encontrar. E não só se
animações de jogos como Pong!, Dragon’s
encontrar, mas também colaborar. E é
Lair, The Legend of Zelda, Megaman, Super
237
Animação & Games – e Vice-Versa
Mario, Street Fighter II, Pokemon Red/Blue,
Metal Gear Solid, The Sims 3, Shadow of
the Colossus, Andry Birds, Journey e GTA V
com o Ludobardo, personagem criado
por Arthur, interagindo com os cenários e
heróis. O objetivo do vídeo é mostrar que
a animação é uma grande ferramenta de
comunicação visual. “Esse vídeo, inclusive,
foi coproduzido pela minha produtora
Fableware e uma desenvolvedora de jogos,
a Doubledash. Ou seja, é prova de que
pessoas que trabalham com jogos têm
de ter esse contato com a animação para
poder criar essas experiências”, afirmou ele.
Para começar de fato a conversa, Arthur
anunciou os componentes da mesa:
“Primeiro, a gente vai ter aqui o Rafael
Rodrigues, que é produtor executivo da
Aquiris Game Studio. Em seguida, a gente
o Alê McHaddo, que é CEO da 44 Toons e
presidente da Abragames. Depois, Conrado
Testa, que é diretor de animação da
Swordtales. E, por fim, Sebastian Gonzalez,
que é produtor da ACE Team, do Chile. A
intenção aqui é que basicamente cada um
possa falar um pouco do seu trabalho, a
comunicação entre o que eles produzem,
e qual a conexão direta com o mundo dos
jogos”, explicou.
238
Rafael Rodrigues
Aquiris
A animação e os jogos têm muito em
comum, iniciou Rafael Rodrigues. “São
universos em que as linguagens se
encontram, um pode abastecer o outro
com conteúdos para produzir histórias que
realmente possam entreter a audiência”,
disse ele, antes de explicar como funciona
o Aquiris Game Studio. Munido de vídeos,
ele explicaria como funciona e como é
a empresa, e como animação tem sido
importante para o desenvolvimento de
vários produtos.
239
entrando no mundo dos jogos. Hoje, o
estúdio, em Porto Alegre, está chegando a
um pouco mais de 50 pessoas. No início, a
gente trabalhou basicamente atendendo
Rafael Rodrigues
Animação & Games – e Vice-Versa
material gráfico interativo, e acabaram
a agências de propaganda e fazendo jogos
para marcas – os famosos advergames –
e, eventualmente, a qualidade dos jogos
chamou atenção de algumas empresas
de entretenimento, entre elas a Cartoon
Network. Nos últimos dois anos e meio,
produzimos com eles quatro jogos, digamos
assim, top de linha, e boa parte do portfólio
que vocês viram nesse vídeo tem a ver com
a Cartoon Network”, contou.
O namoro entre entretenimento digital e
Para começar, ele mostrou um reel com a
animação, continuou Rafael, começou com o
apresentação da história da Aquiris, uma
projeto de divulgação de uma série baseada
sequência de cases e alguns dos trabalhos
na franquia Como treinar o seu dragão.
realizados nos últimos sete anos. Entre os
jogos exibidos no telão, estavam Ballistic,
“A Cartoon, junto com a Dreamworks,
Wrath of Psychobos, Super Vôlei Brasil, The
transmitia uma série chamada Riders of Berk,
Great Prank War, Game NBB, Unity Bootcamp,
que conta um pouco a história da relação
Copa Toon, Dragons: Wild Skies, Talk or Fight e
entre os dragões e os moradores da vila de
Eagle GT Challenge.
Berk. O briefing que a gente recebe para
produzir esse jogo é ‘como é que a gente
240
“O estúdio começou muito pequeno.
conta essa história, essa mesma história,
É aquela velha história de dois amigos
para os jogadores’. O bacana desse briefing,
que trabalhavam no quarto, produzindo
que vem relativamente aberto, é que a
241
lugares se existia uma definição geográfica
história completamente nova. Tem algumas
de como ela era, não encontramos, então a
algumas limitações, como, por exemplo, não
gente acabou criando do jeito que a gente
pode utilizar os personagens do desenho
imaginava que faria sentido”, contou. “O
animado, então, o primeiro passo é a
jogo tem de contar um pouco da história do
criação dos personagens.”
personagem e como que ele se relaciona
Rafael Rodrigues
Animação & Games – e Vice-Versa
gente tem a oportunidade de contar uma
com o dragão. O que ele tem de fazer para
O desafio, Rafael pontuou, é manter a
que um dragão ganhe a confiança dele?
mesma unidade. “A gente teve de criar
O dragão não é um cachorrinho, não é
personagens completamente novos. Então
um gatinho, é um animal selvagem. Você
a gente chegou, depois de muitas idas e
precisa ganhar a confiança para, então,
vindas, a esses dois personagens que não
passar pela etapa de poder voar com ele”,
têm nome – essa é uma das bacanices de
esmiuçou.
fazer um jogo: quando o jogador começa, a
primeira coisa que ele faz é definir o nome
Para ilustrar o trabalho, Rafael mostrou
do personagem que ele vai conduzir. Isso é
uma imagem inicial do protótipo. O
o tipo de interação que jogos, apenas jogos,
modelo do dragão, Banguela, que que
conseguem entregar para os jogadores.”
foi adaptado para o jogo. “O jogo tem
também muitas cinemáticas. Cinemáticas
242
Nesses casos, é preciso ter muito
são, essencialmente, entender como é
conhecimento de causa. “A gente tem
que funciona uma animação e reproduzir
de criar um jogo que faça sentido e que
isso dentro de um jogo, mas com toda
converse, mesmo que surja como um spin-
a limitação técnica que a gente possui.
off, com aquela narrativa que a gente viu
Diferente de um filme, ou de uma animação
nas telas. A gente tem que, por exemplo,
digital, uma animação de jogo acontece
pegar todo o material que a Dreamworks
em tempo real, na placa de vídeo do
produziu para o filme, e investigar. Em
usuário. Então, a gente não pode abusar na
cima do concept art deles, a gente tem que
quantidade de polígonos – pro pessoal que
criar uma ilha que é possivelmente a ilha
é mais entendido –, as texturas tem de ser
de Berk. A gente procurou em todos os
bem medidas”, ele explicou.
243
antes de um mês do lançamento da Copa. E
conceituais, o produtor executivo da
foi o aplicativo mais vendido no Brasil para
Aquiris exibiu a animação impecável do
iPad por mais de um mês. E também ficou
jogo. Tudo muito bem explicado: “Nessa
entre os Top 10 mais vendidos nos Estados
parte você já ficou amigo do Banguela.
Unidos e é possivelmente o jogo que mais
São treze dragões que você tem que
vendeu para iPad em toda a América Latina
desbloquear para voar com todos eles e
durante o mês da Copa”, contou.
Rafael Rodrigues
Animação & Games – e Vice-Versa
Entre imagens de protótipos e artes
fazer desafios aéreos. O jogo, pra quem
conhece, parece um pouco com o Sandbox
Outro motivo de orgulho que Rafael fez
– ele tem uma ilha gigante para explorar e
questão de mostrar no Anima Forum foi The
eventualmente você encontra os dragões
Great Prank War. Jogo feito para uma série,
pelo caminho.”
foi traduzido para 15 línguas. No Brasil, é o
Grande Guerra das Pegadinhas. “O bacana
Seguindo adiante, Rafael exibiu Dragons:
desse jogo é que ele foi baseado numa
Wild Skies (Corcel Indomável, no Brasil), um
propriedade intelectual da qual eu já era
dos principais produtos desenvolvidos
fã, a Regular Show, que de regular e comum
em parceria com a Cartoon Network. Na
não tem nada”, ele disse, mostrando os
sequência, ele exibiu os vídeos promo
dois personagens principais e contando um
de dois novos jogos, jogos que rodam no
pouco dos episódios:
browser e também em iPad, e jogos para
franquias famosas, como Ben 10, da nova
“São dois personagens malucos, que vivem
temporada. E ainda, na mesma sequência,
em um parque. Eles são os zeladores do
um jogo criado para a Copa do Mundo:
parque, tem o chefe maluco que é uma
daquelas máquinas de chiclete. Tem um
244
“A Cartoon Network aqui da América
episódio da terceira temporada, se não me
Latina tem uma propriedade intelectual
engano, que se chama Prankless, ou Sem
chamada Copa Toon, que é uma mistura de
Pegadinhas, em que o Jimmy – a máquina
várias franquias da Cartoon Network com
de doces – está obcecado com a guerra
personagens jogando futebol. Esse jogo foi
das pegadinhas e tá tentando dominar o
lançado para dispositivos móveis, um pouco
parque para ele. Na história do episódio, o
245
Animação & Games – e Vice-Versa
Musculoso, um dos personagens, não quer
mais fazer pegadinha e, por causa disso,
esse cara consegue dominar o parque. Até
que o Musculoso, por motivos pessoais,
resolve voltar à guerra das pegadinhas
e põe ele pra correr. E a gente tem um
desafio muito grande quando a Cartoon
vira pra gente e diz: ‘a gente quer fazer um
jogo baseado nesse episódio, e o resto é
com vocês’. A gente decidiu que a gente
queria fazer algo com impacto visual
realmente único.”
A Aquiris é um estúdio que faz
essencialmente jogos em 3D. Mas, para
esse jogo, especificamente, eles decidiram
animar os personagens em 2D. Rafael
exibiu ilustrações do processo de estudo e
o resultado final utilizado dentro do jogo.
“Quando a gente fala de jogo, a gente de
otimizar muito porque, tecnicamente,
tudo isso aqui tem que ir para dentro da
memória do teu iPad, do teu iPhone, e,
ainda assim, o jogo tem que rodar. Tem de
ter uma otimização muito grande”, afirmou.
Para encerrar, ele mostrou o vídeo
promocional do jogo The Great Prank War
que, para alegria do estúdio, foi parar entre
os Top 5 mais baixados para iPad nos EUA.
246
Alê McHaddo
Abragames
Diretor de animação e game designer, Alê
McHaddo é hoje presidente da Abragames,
Associação Brasileira de Jogos Eletrônicos,
e CEO da 44 Toons e da 44 Toons Interativa,
além de diretor executivo do BIG (Brazilian
Independent Game Festival), um festival de
games que acontece em São Paulo.
“É sobre a minha experiência nesses três
chapéus que eu vou falar aqui. Eu comecei a
247
mesa de bilhar, onde se amontoavam
e não tinha como. Eu trabalhava em um
os computadores. “Sempre que a gente
estúdio que fazia multimídia, em 1994, e
fazia uma venda, a gente que dobrava as
eu convenci o pessoal que poderia usar
embalagens e ia mandando. Infelizmente,
um software bem antigo, que morreu, para
esse mercado foi para o saco logo. Os
fazer um adventure game, que é um jogo
consoles ficaram mais evoluídos, o PC
parecido com Monkey Island. Basicamente,
passou a não ser mais o principal lugar onde
o adventure game é uma história e o
as pessoas jogavam videogame”, contou ele.
Alê McHaddo
Animação & Games – e Vice-Versa
fazer jogos porque eu queria fazer animação
personagem vai andando conforme você
vai dando os comandos, e a história vai se
A época rendeu histórias engraçadas. Uma,
desenrolando”, contou.
em especial, ele fez questão de dividir com
o público: “Ontem, eu estava tentando
Em 1996, a turma lançou um jogo chamado
pegar um vídeo do Enigma da Esfinge– que
Enigma da Esfinge, que foi muito bem. “O
não roda mais em lugar nenhum – com a
mercado naquela época era maravilhoso;
minha ex-sócia, que a era programadora do
você colocava um jogo na prateleira e
jogo. Ela me falou: ‘você lembra que a gente
vendia, você concorria até com Disney.
ligou para o Anima Mundi perguntando se
Não existia console – o melhor console que
eles aceitavam jogos?’ Na época, a gente
tinha era o Nintendo, acho que ainda o de
falou ‘mas é animação! só que é interativa,
32 (bits). Você tinha kit multimídia, todo
mas é animação’. E alguém falou que não
mundo queria colecionar CD-Rom, era uma
pode, e não sei o quê. É engraçado lembrar
maravilha. Esse foi meu primeiro título e
essa história porque é exatamente isso que
vendeu super bem, o Natal daquele ano foi
o Arthur estava falando. Na Abragames, eu
impressionante”, relembrou.
costumo dizer que game é o audiovisual
interativo. Até que, por umas questões
248
O começo foi parecido com o de muita
políticas, a gente tem que entender que
gente. O escritório da 44 Bico Largo, a
aquilo é conteúdo, é onde você pode contar
primeira empresa de Alê, uma criadora
história, você pode se expressar e não é
de jogos, funcionava no salão de jogos
joguinho, aquele ‘joguinho’, no diminutivo,
da casa da mãe dele, em cima de uma
que às vezes acaba atrapalhando algumas
249
Alê McHaddo
Animação & Games – e Vice-Versa
conquistas que a gente tem feito. O
importante é lembrar que a gente está
falando em audiovisual, só que é um
audiovisual em que a pessoa pode
interagir”, defendeu.
Os tempos são outros, Alê aproveitou
para mostrar a estrutura da 44 Toons
Interactive, que é derivada da 44 Toons,
estúdio de animação criado muito depois
da 44 Bico Largo.
“Quando o mercado de jogos diminuiu, abri
a 44 Toons e as coisas foram evoluindo.
Naquela época, eu fazia prestação de
serviço e, hoje, a gente está com uma
atividade bem aquecida dentro do estúdio.
aventura especial que vai render um longa-
Por outro lado, a 44 Bico Largo, que
metragem, com lançamento previsto para
começou fazendo jogos – a gente fez quatro
2015. Outra propriedade do estúdio é Nilba
jogos e o mercado foi despencando –,
e os Desastronautas, uma série produzida
parou. No momento em que a gente passou
inteiramente no Brasil e de baixo orçamento.
a fazer animação, a gente foi deixando de
“A gente fez sem dinheiro público – a TV
fazer jogos. Até que, hoje, a gente reativou.
Cultura investiu um pouco, e a gente investiu
Ainda é uma equipe pequena, de três
o resto. A gente conseguiu vender para um
pessoas, para fazer jogos exclusivos para
canal americano, furando uma barreira ali,
séries e longas.”
porque nunca alguém da América Latina
tinham vendido para eles. Não sei nem se
250
Todos os projetos têm a vertente do
isso vai acontecer de novo, são aquelas
game. A criação mais sofisticada, segundo
coisas que acontecem uma vez. A diretora de
Alê, é o jogo BugiGangue no Espaço, uma
compras do canal era fã de ficção científica e
251
é pífia.” Ainda segundo a pesquisa, o Brasil
vendendo e foi super legal”, contou ele,
possui, em média, 200 estúdios em ação.
exibindo a introdução da animação.
“Todo ano alguns fecham, abrem outros,
essa é a média. Poucos continuam vivos.
Foi aí que Alê decidiu que a empresa faria
Quem continua vivo desde a década de
adaptações para jogos. “Comecei a trabalhar
1990 foi fazer outra coisa junto com games,
com jogos no mesmo momento que eu
que é o exemplo da 44 Bico Largo”, realçou.
Alê McHaddo
Animação & Games – e Vice-Versa
se apaixonou pelo projeto e a gente acabou
comecei a trabalhar na Abragames, onde
a gente exclusivamente está defendendo
O mercado, no entanto, mudou. A chegada
o mercado de produção de conteúdo
dos dispositivos móveis, dos telefones e
nacional. Game é uma plataforma de lance
iPads, abriu novamente a possibilidade
imaginário de personagens tão forte ou
de produção mais democrática. “Hoje,
talvez mais forte que a animação hoje, é só
qualquer pessoa publica na App Store ou no
olhar o Ballistic. É muito importante que a
Google Play. O difícil é depois você se tornar
gente entenda que a capacidade brasileira
conhecido. E a gente começou a retomar (a
tem que dar vazão ao nosso conteúdo
produção de jogos) por entender que essa
do mesmo jeito que aconteceu com a
transformação do mercado colocava as
animação”, comparou.
possibilidades de divulgar os jogos de novo”,
afirmou.
Para reforçar a fala, Alê se baseou em uma
pesquisa feita pelo BNDES que aponta
A tese defendida largamente por Alê é
o Brasil como o décimo primeiro maior
uma só: jogos são um produto cultural
mercado de games do mundo – o maior da
importante, que deve, assim como a
América Latina:
animação, ser reconhecido no mercado
audiovisual, inclusive para o financiamento
“Algumas outras nos colocam como o
dos fundos setoriais.
terceiro maior mercado consumidor de
252
jogos do mundo e nosso consumo de
Em defesa também da produção conjunta
jogos é muito maior do que o mercado de
entre jogos e animação, Alê enumerou as
audiovisual. Apesar disso, a nossa produção
boas razões: as equipes são semelhantes – a
253
conglomerados e as produtoras de jogos,
têm animadores, texturizadores, roteiristas;
idem”, ele realçou as dificuldades. “Então
a marca pode ganhar em expansão;
o que se consegue é: a Pixar licencia para
aumentam as possibilidades de retorno.
se fazer jogos deles; a Aidos licencia Tomb
“Nenhum estúdio vai conseguir recuperar
Raider para se fazer um filme”, disse.
todo o investimento de uma série só
Para Alê, a produção conjunta renderia
vendendo para televisão. Se tiver um jogo,
experiência mais enriquecedoras.
Alê McHaddo
Animação & Games – e Vice-Versa
produtora de games e a produtora de jogos
vai facilitar. E a gente pode, de fato, pensar
numa produção transmídia. A gente pensa
Há uma tendência de compra de pequenos
muito no transmídia em qualquer série
estúdios por gente grande. É o caso do
que vai para jogo e jogo que vai para série,
Disney Interactive, estúdio montado a
mas pensar de fato em transmídia é muito
partir da compra de empresas canadenses;
difícil. Até os estúdios americanos têm uma
e da Warner. “Só que a vantagem que a
certa dificuldade, porque você tem que
gente tem no Brasil é que somos pequenos,
pensar em uma lógica integrada desde o
então eu posso conversar com a Aquiris
princípio. Então, você vai ter que pensar um
e criar um jogo em conjunto. A gente não
filme que vai continuar em um jogo e eles
tem aquele conglomerado enorme, em
são complementares, não é simplesmente
que é preciso falar com 15 diretorias e
uma adaptação do filme no jogo, isso é o
16 departamentos para liberar a marca.
crossmídia, é o spin-off”, afirmou ele.
Então, esses pequenos arranjos produtivos
são possíveis no Brasil. A gente é pequeno,
Um exemplo bem-sucedido de transmídia,
mas a gente é ágil”, finalizou.
segundo Alê, é Matrix. “É um exemplo
254
legal de que você consegue engajar o seu
Antes de passar a vez a Conrado Testa, o
público em todas as mídias e não só no
moderador, Arthur Protásio, reforçou que a
cinema. Você pode ter uma mídia principal,
produção transmídia é algo absolutamente
em que você aposte, mas você trabalha
crucial na lógica de produção entre animação
de forma colaborativa. Por que isso não
e jogos. E quanto mais integradas forem as
acontece com tanta frequência? Porque
produções, maior será a possibilidade de
os estúdios americanos são grandes, são
geração de conteúdo opcional.
255
Animação & Games – e Vice-Versa
“Nós queríamos produzir um jogo, nós
queríamos produzir algo que tivesse uma
história e que, nessa história, as pessoas
jogassem, entendessem, interagissem com
o personagem, com o inimigo, com todo
o cenário que a gente tinha”, explicou o
diretor de animação.
O trio tinha seis meses para criar todo o
início, meio e fim do jogo. Feita uma etapa,
para garantir a nota e o diploma, ficou o fim
para depois. A ideia era fazer várias etapas,
até chegar ao fim de verdade.
“Então, com a conclusão do curso, nós
continuamos. Nós não recebíamos briefing
de outras empresas, como a Aquiris. Nós
não recebíamos briefing externo. Nós
só tínhamos o que a gente queria fazer
Conrado Testa
Swordtales
Três alunos de pós-graduação no Rio
Grande do Sul, com a tarefa de fazer um
jogo de verdade para o projeto de conclusão
de curso. Assim começou a Swordtales,
empresa recente mas cheia de ambição,
disse Conrado Testa, logo no início da sua
participação na mesa:
256
do jeito que a gente podia fazer. Então
nós éramos extremamente indies, isso
seria um mercado indie, porque nós
trabalhávamos fora, nós trabalhávamos
em outras empresas, com outros projetos,
e nós éramos uma equipe extremamente
pequena tentando fazer algo que estava
muito além da nossa capacidade, até. Nós
tentamos continuar o jogo por mais meio
ano, mas estava ficando muito difícil de
fazer. Então nós decidimos que teríamos
257
“A gente não podia entrar no artigo 18
de produção. E recomeçar. Só que, dessa
porque tem umas classificações para
vez, a gente teria de fazer em uma forma
games que não entravam nas classificações
diferente”, contou ele.
do artigo 18. Então, tinha uma lei a mais
que entrava que era o artigo 26. Mas
Como trabalhar só no tempo livre não
ele tem um probleminha básico que é: a
estava funcionando, eles decidiram ir
empresa vai te dar cem reais, mas você vai
atrás de financiamento. Foi aí que se
receber oitenta, então para você receber
interessaram pela Lei Rouanet. “Então
100 reais, a empresa tem que bancar 120
nós resolvemos juntar tudo e montar de
reais. Então, na teoria, ela também está
novo todo o nosso briefing”, disse ele.
perdendo dinheiro. Aí a gente começou
Desta vez, ao contrário do que vinham
a fazer várias contrapropostas para
fazendo, teriam de ajustar toda a história
conseguir empresas que nos ajudassem.
e personagens, definir exatamente os
Então as empresas começaram a dizer que
rumos do jogo. Foi preciso reestruturar
‘vocês são jogos’. Isso é um problema até
tudo. A ideia era ambiciosa, mas o projeto
hoje”, contou.
Conrado Testa
Animação & Games – e Vice-Versa
deletar o jogo inteiro, depois de um ano
foi aprovado. “A gente entrou para fazer o
jogo, só que a Lei Rouanet não é como a
Nas contas das empresas, era mais fácil
gente inicialmente pensou: ‘Ah! Nós vamos
e rentável patrocinar quaisquer outros
pegar um dinheiro, nós vamos pagar as
projetos. “A gente mostrava os dados que
pessoas e aí a gente vai conseguir fazer o
a Abragames tem e tal, ‘olha, veja como
que a gente realmente quer’. Não é bem
o mercado de games é grande’. Como
assim.[risos] Não foi muito dessa maneira”,
a empresa ainda não conhecia jogo, ela
realçou ele.
preferia pagar música, teatro, músico e
teatro de rua, a pagar pra gente.
258
Metade de um ano fazendo captação, os tais
Até porque jogo é mais caro de se fazer,
artigos 18 e 26 no meio do caminho, uma
a gente acabava pedindo retorno
questão legal, além do desconhecimento,
financeiro muito grande. Então a
por parte das empresas, do real potencial
gente conseguiu poucas empresas que
de alcance dos jogos:
pudessem nos ajudar.”
259
com a idade dela. Ela é pequena, então tem
a gente conseguir acabar aquilo que a gente
problemas relacionado a ela pequena. Se
não tinha conseguido antes, de tirar tudo
ela é média, vêm problemas de quando ela
o que a gente tinha de produção e levar a
é adolescente. E quando ela é adulta, ela
um projeto maior e com mais qualidade,
vai correndo contra o tempo porque a coisa
na verdade. A gente chegou a contratar até
está passando. A gente traz essa ideia mais
16 pessoas, entre animador, modelador,
filosófica do jogo. O legal de tudo isso foi
assistente para roteiro. A gente gastou
que a gente está conseguindo trazer essa
muito dinheiro porque não sabia o que
narrativa das dificuldades dela, e as pessoas
fazer, e nem como fazer. Mas, ao mesmo
têm gostado”, ele encerrou.
Conrado Testa
Animação & Games – e Vice-Versa
A dificuldade teve o seu lado bom. “Isso fez
tempo, a gente aprendeu”, ele avaliou.
Arthur Protasio agradeceu, e reforçou o
Participar de um Global Game Jam ajudou.
caráter da animação como elemento de
“O que é isso? É criar um jogo, pequeno
comunicação essencial no jogo. Ainda
ou grande, em 24 horas. É um tempo
que o grande diferencial do jogo seja a
extremamente curto para testar as coisas.
possibilidade real de interatividade, imagem
Mas a gente queria testar câmera, efeito,
é determinante para atrair a atenção. “O
animação nova, corte de cena. A gente fez
Toren, por exemplo, tem muita visibilidade
pequenos jogos”, disse ele, anunciando que
tanto por sua abordagem estética quanto
iria mostrar o trailer do Toren, que está na
por sua abordagem visual. Se não fosse
quarta versão. A história é a mesma, mas a
por esse primeiro impacto visual, pode ser
animação evoluiu.
que as pessoas nem chegassem à história”,
opinou o moderador.
O Toren é um jogo de aventura, a plateia
conferiu o teaser, e Conrado explicou:
“Você joga com uma menininha, que
está aprisionada numa torre. Ela vai
crescendo de acordo com as coisas que vai
descobrindo. Os problemas vão evoluindo
260
261
Animação & Games – e Vice-Versa
Já nos Estados Unidos, Gonzalez percebeu
que se havia desejo, havia também
muito trabalho. “No início se trabalha
muito fazendo animação. E outra coisa
que me chamou muita atenção era que
todas as histórias eram muito comerciais,
tipo Pixar. E todas as histórias eram as
mesmas. Com isso, me desencantei um
pouco. E, justamente, estava havendo
uma onda experimental de jogos. Eu
gosto de jogos, gosto de computadores,
então me matriculei em todas as escolas
de arte e, finalmente decidi trabalhar com
videogames”, ele contou.
De volta ao Chile, com um par de joguinhos
como demo em mãos, Sebastian foi
trabalhar em uma empresa onde havia
Sebastian Gonzalez
ACE TEAM
Bastou assistir a Toy Story para que o chileno
Sebastian Gonzalez decidisse o que gostaria
de fazer para o resto da vida dele. Com a
intenção de aprender animação, foi estudar
nos EUA. E algumas dessas experiências,
sobre como partiu da animação para os
jogos, mais tarde, ele dividiu com o público
do Anima Forum.
262
apenas 15 pessoas, e era uma das maiores.
Na conversa com o chefe, ele sacou o que
tinha de trunfo:
“Mostrei o disco com dois jogos interativos
e uma tecnologia que ele não conhecia,
e não existe mais, imagino! Chama-se
Macromedia Director. E comecei a trabalhar
fazendo cafezinho (risos). Fui aprendendo
todo o trabalho de um produtor. Até que,
finalmente, me confiaram um trabalho de
produção”, contou. Foi aí que ele conheceu
263
contou o feito. Com a boa aceitação, vieram
Bordeu, os garotos que fundaram a ACE
investimentos, mais reforço para o trabalho,
TEAM. “Eu era desenhista nessa época e
e o Zeno Clash saiu do PC para o Xbox. Foi a
tinha feito um par de jogos para PC. Os
entrada no mundo real dos videogames.
movimentos que havia eram muito difíceis
de se trabalhar, porque havia muito pouca
A mecânica do jogo não era simplesmente
memória, não eram touch, era outra época”,
apontar e disparar, como a maioria que
ele relembrou o ritmo intenso de trabalho
existia e queria ser como Call of Duty.
que enfrentou nos dois anos seguintes.
O objetivo era ser um jogo de primeira
Sebastian Gonzalez
Animação & Games – e Vice-Versa
Andres Bordeu, Carlos Bordeu e Edmundo
pessoa focado no combate corpo a
Na sequência, Sebastian exibiu um vídeo
corpo, com punho e pernas. O realismo
para que a plateia conhecesse a ACE
fantástico embutido nas criaturas, armas,
Team, fundada há sete anos. “O ACE vem
hábitos vestuário agradou, e os jogadores
das iniciais de Andres, Carlos e Edmundo.
começaram a comprar. Com o sucesso do
Estamos baseados em Santiago, e
primeiro, veio a oportunidade do segundo.
desenvolvemos software independente
Desta vez, o jogo de estratégia Rock of
de entretenimento. É importante ressaltar
Ages, no qual, basicamente, dois jogadores
que nós conservamos nossas propriedades
assumem o controle de uma pedra gigante
intelectuais, o que é super valioso. Podemos
e a proteção de um castelo. Sendo que
fazer qualquer coisa que quisermos, e
a pedra gigante de um tem de destruir o
não temos que pedir permissão a outros
castelo do oponente.
produtores intelectuais”, afirmou.
Zeno Clash II, a segunda parte de Zeno
264
Desenvolvedor licenciado do Xbox 360
Clash, veio com um mundo maior que o
e PlayStation 3, o estúdio desenvolve
original e a mecânica de combate melhorou
produtos para Xbox Live Arcade, PlayStation
bastante, segundo Sebastian. Com mais
Network e PC. O primeiro jogo, Zeno Clash,
de cem personagens, o quais claramente
foi lançado pela empresa em 2009. “Foi um
consumiram muito tempo do artista. O
jogo que levou dois anos de produção, e
trabalho levou um ano e meio para ficar
foi lançado até na Rússia e na Polônia”, ele
pronto. Foi cansativo, ele reconheceu.
265
e anunciou um novo jogo, recém-lançado,
jogo realmente impressionante. Ao mesmo
o Abyss Odyssey, para Playstation III e PC.
tempo nós não esperávamos que a crítica
O principal propósito do jogo era que ele
não fosse muito boa, principalmente porque
pudesse ser jogado mais de uma vez, e
nos compararam com títulos grandes”, disse.
de forma diferente. Além disso, houve
preocupação em fazer com que o inimigo
Sebastian mostrou alguns personagens
pudesse retornar, ou seja, o jogo dá a
para a plateia já familiarizada com a criação
chance de o inimigo retornar de maneira
da ACE TEAM, com destaque para Gollen,
inteligente. O esquema de lutas, Gonzalez
Rimat. Com lançamento principalmente
comparou, pode fazer muita gente se
em 3D, em disco, o foco agora é o
lembrar de Double Dragon.
Sebastian Gonzalez
Animação & Games – e Vice-Versa
“Demoramos e, mesmo assim, fizemos um
lançamento digital, por ter um alcance
maior e ser mais viável economicamente.
Arthur Protasio agradeceu e, antes
“Lamentavelmente, a América Latina não é
de passar para as perguntas, fez uma
o melhor lugar para vender. Do México até
observação sobre a questão da interação:
o Chile, as vendas somam apenas pouco
“A gente sempre está falando que existe um
mais de 1% do total”, relatou.
trabalho de animação na área dos jogos,
mas um trabalho de animação na área dos
A relação da ACE TEAM com animação é
jogos tem de, em vez de prever um caminho
real. “Somos quatro pessoas na arte, dois
linear, tem de prever muitos outros”,
modeladores, um ilustrador, um animador e
afirmou, citando exemplos de como a
dois desenhistas do jogo, dos quais um sou
animação vem explorando novos caminhos
eu. Passo a metade do tempo animando e
com os jogos. Machine foi um deles.
a outra desenhando o jogo. Temos quatro
programadores, um músico e um par de
Ao abrir a rodada de perguntas ao público,
ilustradores que nos ajudam em algumas
Arthur Protasio tratou de fazer, ele mesmo,
coisas”, e é isso, ele relacionou a equipe.
primeira delas:
Em seguida, exibiu um vídeo com os
trabalhos mais emblemáticos da ACE TEAM,
266
267
de criação, mas tudo o que a gente cria
comunicação entre animação e jogos? Quais
passa pelo crivo deles. É possível que essa
ferramentas a gente usa para engajar o
seja uma tendência, é possível que as duas
público?
coisas se conectem, e aí você já não vê
Conrado Testa – Acho que a previsão é
Sebastian Gonzalez
Animação & Games – e Vice-Versa
Quais são os caminhos futuros da
sempre bastante arriscada, mas acho
que é uma tendência. Participei do Anima
Business, e foi-me apresentado um
projeto que, teoricamente, era pra ser
um projeto de animação e, eu como sou
da área digital, eu me considero parte
da indústria de entretenimento digital.
Não necessariamente jogos, porque eu
acredito que, futuramente, as coisas vão
fazer uma mais parte da outra, e isso não
é uma coisa só. Acredito que o futuro é
algo que vai nos dar sentido. A Cartoon
Network, cerca de anos atrás, percebeu
que tinha propriedades intelectuais
dela que estavam sendo usadas por
desenvolvedores de jogos. E a companhia
pensou ‘por que eu mesmo não produzo
268
os jogos?!’ Então ela criou todo um setor,
mais a diferença do que é um jogo, o que
que já existia, mas que vem crescendo e
é uma história, o que é ilustração, o que é
criando força. Eles assinam os jogos como
quadrinho. E, sim, que está contando uma
Cartoon Network Games, e a criação que
história para um jogador, para uma pessoa.
a gente faz para os jogos é orientada pelos
Você quer transmitir entretenimento e
roteiristas da série. Então, tudo o que a
isso vai passar, por inúmeras cabeças. Eu
gente cria, a gente tem toda essa liberdade
imagino que vá por aí.
269
Alê McHaddo – É difícil falar de tendência.
uma coisa que eu vi esses dias, no Android,
Primeiro, acho que filme vai continuar sendo
que era uma mistura entre animação, livro
filme. TV não tanto, mas cinema vai continuar
e jogo. Era um jogo, um aplicativo, em que
sendo cinema, isso é o que eu tenho certeza.
você começava vendo uma animação, aí
De resto, eu acho que os meios digitais
parava tudo, e ele começava a explicar
vão sofrer alterações grandes em um curto
uma história além daquela animação. Em
espaço de tempo. Não vejo muito tempo
seguida, ele aplicava um jogo em cima disso.
para a televisão, como ela é organizada hoje,
Então, acho que no futuro essa transmídia
se sustentando. Da mesma maneira que
seja cada vez mais integrada, pois tem sido
não vejo os consoles, já se disse, a gente
o foco nas empresas.
está na última geração de consoles. Esses
Sebastian Gonzalez
Animação & Games – e Vice-Versa
Rafael Rodrigues – Eu só queria acrescentar
consoles vão acabar, e acabou. Não vai ter
Sebastian Gonzalez – Uma coisa que venho
mais outro, não vai ter Playstation 5. Porque
percebendo é que interessante o novo
a tendência é que se vá para os dispositivos
mercado que está se criando. Está na hora
móveis, ou para outras mídias. A única
de se produzir jogos utilizando endings,
certeza que tenho é que não importa para
em que eu necessito de algum modelo,
onde a tecnologia vá, tecnologia tem de ser
uma animação, um som, algum tipo de
entendida como segundo plano, a gente tem
programação particular que não posso
de pensar em história e personagem.
produzir, então eu compro inteiro meu jogo.
E eu, como criador, modelador, animador,
posso vender meus produtos dentro deste
mercado, para que consumam criadores
como nós, que em algum momento não
conseguem ir à frente. Ou contrato alguém e,
se sou uma equipe independente pequena,
provavelmente me sai mais barato comprar
produto pronto. Então entendo que é muito
valioso como uma forma alternativa de ter
lucro e fazer o que gosta no seu tempo livre.
270
271
Pergunta
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
Animação & Games – e Vice-Versa
PERGUNTAS E
COMENTÁRIOS
Como vocês acham que as produtoras de
game, artistas, programadores e todos
os interessados poderiam fomentar o
interesse por games na América Latina?
Teria como fazer alguma coisa mais autoral
e conseguir um sucesso, como fazem as
grandes empresas norte-americanas?
que existe aí uma regulamentação que é
Alê McHaddo
272
Eu acho que a gente não precisa de
necessária. Até porque com os $14 bilhões
apoio governamental. A gente precisa
que elas movimentam anualmente, a
regulamentar um mercado que é
gente está perdendo a chance de criar o
completamente injusto. A gente tem
imaginário brasileiro. Então, não é uma
aqui três companhias explorando um
questão de financiamento do governo,
mercado que é gigante, com remessas de
não é passar o chapéu. A gente está
lucro constante, que controlam inclusive
falando de regulamentar, de desatar
se você vai ou não distribuir o jogo na
alguns nós, porque esse mercado é
plataforma delas. Acho que, no mínimo,
injusto. Esse discurso de dependência
a gente tem que regulamentar isso. Se
do governo, financiamento do governo
fizer um paralelo dos jogos com o que é
e cota é retrógrado. O Canadá tem um
a televisão e o mercado cinematográfico,
financiamento governamental para games
os mídias são muito menos impositivos
e para animação maior do que qualquer
do que são as produtoras de console.
país, inclusive se posicionou desa forma por
Seria mais ou menos assim , você faz
causa de um apoio governamental. A gente
um filme usando uma câmera Sony, que
tem de deixar de lado essa ideia de que está
só pode passar num projetor Sony, num
pegando dinheiro para fazer um filminho,
cinema Sony, se ela deixar. Então, claro
um joguinho. Não. A gente está investindo
273
Apesar de ser uma coisa divertida,
desenvolver jogos vira uma coisa muito
séria e a gente sabe que é uma indústria
poderosa. Acho que desde 2009, quando a
Apple liberou para criação de aplicativos,
ela espalmou um mercado todo novo de
desenvolvimento de jogos, qualquer um
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indústria, mas a gente está formando.
nessa sala tem a liberdade de fazer um jogo.
Mas o que eu sempre digo é: faça jogos.
Comece com um jogo simples, bobinho,
se preocupe menos com a diversidade de
interações, de arte. Faça um jogo simples.
Aprenda aquele processo.
em um mercado que hoje está caminhando
para ser fundo de investimento. Esse é o
Conrado Tesla
grande caminho.
Para conseguir crescer, mesmo, como
pessoa e como artista, eu acho que tem de
pegar cada vez mais projetos desafiadores.
Rafael Rodrigues
Concordo com tudo que o Alê falou.
Tanto na criação, como no desenvolvimento
Também sou professor de desenvolvimento
e na distração. Você vai ver que as coisas
de jogos na pós-graduação da PUC de Porto
vão começar a crescer.
Alegre, na cadeira de empreendedorismo, e
uma das primeiras coisas que eu falo é que
274
Arthur Protasio
Concordo totalmente. Complementando
eu estou ali para dizer como é que vocês
o que já foi dito aqui, eu acho que tem
fazem para viver de jogos. É uma coisa que
também a ideia de ‘eu tenho que me
eu posso falar porque eu vivo, eu dou aula
envolver, eu tenho que pegar projetos
sobre jogos, eu trabalho desenvolvendo
que me desafiem, eu tenho que correr
jogos. E uma das coisas que eu sempre
atrás, eu tenho que ser proativo para
bato o martelo e insisto é que a gente não
fazer isso acontecer’. Na IGDA, que é mais
tem uma indústria. Vai existir como uma
focada no desenvolvedor, volta e meia
275
Alê McHaddo
É arte. Ponto! Não tem mais que continuar
Então, artista procura animador ou
discutindo isso. O Moma tem sessões de
animador procura designer, que procura
game, eu acho que essa discussão não
programador, que procura outras pessoas.
deve nem existir. É óbvio que é. Tem jogo
Todos apresentam seus projetos, e acho
bom, jogo ruim, tem Candy Crush, tem jogos
que é bem por aí. Se você não colocar a mão
ótimos, precisos. O jogo, além de contar
na massa para começar a desenvolver, isso
uma história , pode fazer o cara que está
nunca vai se tornar um negócio rentável.
experimentando aquela arte ter aquela
Hoje em dia existem vários espaços para
sensação de uma maneira mais próxima, às
mostrar o jogo como uma mídia criativa.
vezes, que o cinema.
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
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eu faço encontros desses profissionais.
Mas acho que o mais importante aqui é a
palavra mídia. Porque o jogo como mídia
Sebastian Gonzalez
Sim, no fundo, jogos são artes.
acaba tanto sendo útil do ponto de vista
Independentemente de onde trabalho e
criativo, arte mesmo, como ele também
do que tenha de fazer para criar meu jogo,
cumpre a sua função como produto. E um
porque tudo trata do aprendizado, como
outro fator que se liga totalmente com
posso melhorar, como posso expressar
isso é o fato de a gente ter cada vez mais
uma coisa que realmente quero fazer.
espaços culturais voltados para os jogos.
Agora, se posso fazer com uma equipe
Isso é ótimo por que a gente começa a
continuamente, até que saia o que gosto,
mostrar que temos uma mídia muito
isso é genial! Caso contrário, faça como os
criativa e que tem inúmeros espaços para
outros, compre um jogo pronto.
explorar. Isso é muito bacana.
276
Pergunta
Rafael Rodrigues Uma das coisas mais recorrentes que
Haveria alguma possibilidade de pensar no
ouço de quem quer trabalhar com jogos é
game como uma forma de arte “pura”, sem
‘o que eu tenho que fazer para trabalhar
aniquilar as possibilidades transmídia? Uma
na EA (Electronic Arts)’? A primeira coisa
coisa que possa ser admirada e apreciada
que você tem que fazer é não querer
de uma forma única mas similar a como
trabalhar na EA. Primeiro, você precisa
você ir ver um filme no cinema, ou um filme
ter um trabalho bom, o resto tudo é
destes do Anima Mundi, por exemplo?
consequência.
277
com a Constituição. Para a gente realmente
mostrar que é uma mídia expressiva e que
se o cinema está protegido, se a animação
está protegida, o jogo também está
protegido. Por que ele também é capaz,
através da sua narrativa, personagens e
de sua história, tecer mensagens que são
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
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para o jogo como uma mídia, de acordo
cada vez mais envolventes e engajantes,
que acabam se sustentando como discurso
comunicativo, científico, cultural e por aí vai.
Arthur Protasio
Pergunta
Eu queria explorar um pouco mais o ponto
A gente tem de enxergar o jogo do ponto de
transmídia que, pelo debate, parece ser a
vista da arte e também do ponto de vista
tendência do futuro. Vocês estão vendo um
legal. Uma das pesquisas mais substanciais
mundo de possibilidades ampliado. Como
que fiz na FGV (Fundação Getúlio Vargas)
vocês estão enxergando as possibilidades
foi sobre a censura de jogos. A gente tem
das empresas brasileiras? Como partir para
muitos jogos proibidos no mundo inteiro. Só
esse desafio do transmídia?
que, quando você vai analisar as decisões
judiciais ou os projetos de lei que correm
278
Conrado Testa
Acho que essa é uma possível tendência,
na câmara, você vê que eles são pifiamente
mas não acho que essa deveria ser uma
fundamentados ou carecem de uma boa
preocupação imediata. Eventualmente vai
argumentação. Isso acaba muitas vezes
acontecer quase que naturalmente de as
acontecendo porque quem está avaliando
coisas se fecharem um pouquinho mais
ou quem está decidindo sobre aquela
e se tornarem uma coisa só. Acho que vai
mídia não tem um contato direto para
acontecer naturalmente e vai nascer de
poder ter uma noção melhor do que está
demandas de grandes proprietários de
acontecendo. Concomitantemente, a gente
propriedades intelectuais, ou a gente aqui,
precisa defender a liberdade de expressão
produzindo um jogo que acha muito legal,
279
nesses elementos conectados, lá na frente,
gente fizesse um fórum, uma ação onde as
você acaba tendo uma situação muito
pessoas se encontrassem?
difícil de sustentar. A minha preocupação é
fazer uma boa obra, um bom produto, seja
Sebastian Gonzalez
Acho que o transmitia é uma possibilidade
animação, curta-metragem, jogo, filme ou
grande e lucrativa e etc, mas não é a única.
história em quadrinho, o que quer que seja.
Em relação ao dia a dia das empresas, em
O transmídia, como o nome já diz, é uma
uma pesquisa que o próprio BNDES acabou
narrativa que se conecta por diferentes
de fazer, a gente identificou que o maior
mídias, mas qual é o valor dessa grande
problema é como fazer esse jogo ficar
narrativa conectada por diferentes mídias
conhecido. Publicar é fácil. Mas são 40 mil
se essas mídias em si não se sustentam
novos aplicativos por dia. O mercado é tão
ou estão capengas? Primeiro, é preciso
competitivo e tão árido para os produtores
ter certeza de que vão consolidar essas
de videogame, que eu tenho certeza que as
determinadas áreas e, uma vez tendo essa
companhias brasileiras que estão vivas são
certeza, se esse é um modelo de negócio
extremamente bem dirigidas, entendem
sustentável para sua abordagem ou para
de modelo de negócio, trabalham muito
sua obra específica.
PERGUNTAS E COMENTÁRIOS
Animação & Games – e Vice-Versa
mas ao mesmo tempo pensa Po! E se a
bem. Acho que a gente arrumando a forma
como o mercado de games está organizado
Marcos Magalhães agradeceu a todos e falou,
no Brasil, regulando, a gente vai ter uma
como um dos diretores do Anima Mundi,
explosão imediata. As nossas conversas
que instituições como o BNDES, o Sebrae,
com a Ancine tem sido muito positivas,
a Secretaria de Cultura do Estado do Rio
o Ministério da Cultura também tem
e a Ancine vêm demonstrando interesse
apontado para que está pensando na parte
e efetivando ações para incluir o game na
cultural do game, na parte de conteúdo.
economia criativa. Os interessados devem
Mas também tem a parte de tecnologia.
ficar de olho nas oportunidades. Já como
animador, assumiu ser fã de Candy Crush,
Arthur Protásio
Mais uma vez complementando, o
Angry birds e Subway surf. E encerrou a mesa.
transmídia bem feito precisa ser pensado
do início. Se você não pensa desde o início
280
281
CRÉDITOS
DIREÇÃO
Aída Queiroz
Cesar Coelho
Léa Zagury
Marcos Magalhães
INTÉRPRETE
Martha Moreira Lima
COORDENAÇÃO GERAL DE PROJETOS
Iara Carnauba
PROJETO GRÁFICO DO RELATÓRIO
PANTALONES / Ricardo Souza
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO
Tainá Vital
DESIGNER GRÁFICO
OESTUDIO
ASSISTENTE DE PRODUÇÃO
Lívia Egger
FOTOGRAFIA
I HATE FLASH
RECEPTIVO
César Alfonzo
Clara Medeiros
Guilherme Marcondes
Fabiana Oliveira
Susana Amaral
CENOGRAFIA
Douglas Nogueira
EDIÇÃO E REDAÇÃO
Maria da Luz Miranda
ILUSTRAÇÃO
Ennio Torresan
PATROCÍNIO MASTER
PATROCÍNIO PRATA
PATROCÍNIO VIA EDITAL
Patrocínio
via edital
APOIO
apoio
HOTÉIS OFICIAIS
PATROCÍNIO VIA EDITAL
APOIO
HOTÉIS OFICIAIS
PATROCÍNIO MASTER
PATROCÍNIO OURO
PATROCÍNIO MASTER
APOIO INSTITUCIONAL
REALIZAÇÃO
Patrocínio
Master
PATROCÍNIO
MASTER
apoio
institucional
APOIO INSTITUCIONAL
PATROCÍNIO OURO
PATROCÍNIO PRATA
J
PATROCÍNIO
PATROCÍNIO
MASTER MASTER
PATROCÍNIO OURO
J
PATROCÍNIO PRATA
PATROCÍNIO
OURO
PATROCÍNIO
MASTER
PATROCÍNIO PRATA
Patrocínio ouro
PATROCÍNIO
PATROCÍNIO
OURO OURO
Hotéis oficiais
PATROCÍNIO VIA EDITAL
HOTÉIS OFICIAIS
APOIO
PATROCÍNIO PRATA
PATROCÍNIO OURO
PATROCÍNIO VIA EDITAL
HOTÉIS OFICIAIS
APOIO
PATROCÍNIO
PATROCÍNIO
PRATA PRATA
PATROCÍNIO VIA EDITAL
HOTÉIS OFICIAIS
APOIO
APOIO INSTITUCIONAL
REALIZAÇÃO
Patrocínio
PATROCÍNIOprata
PRATA
PATROCÍNIO VIA EDITAL
APOIO
APOIO INSTITUCIONAL
HOTÉIS OFICIAIS
J
APOIO INSTITUCIONAL
PATROCÍNIO
PATROCÍNIO
VIA EDITALVIA EDITAL
APOIO
REALIZAÇÃO
HOTÉIS OFICIAIS
HOTÉIS OFICIAIS
APOIO
J
APOIO INSTITUCIONAL
PATROCÍNIO VIA EDITAL
J
APOIO
REALIZAÇÃO
HOTÉIS OFICIAIS
REALIZAÇÃO
Realização
REALIZAÇÃO
Neste relatório foram utilizadas as fontes:
Open Sans
Cholla Sans
Jellyka –Estrya’s Handwriting
REALIZAÇÃO
PETROBRAS,
IBM apresentam
TADUAL DE INCENTIVO
À CULTURA
DO RIO DE JANEIRO,
PETROBRAS, IBM apresentam
#anim
OFERECI
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