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Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EFD) Uma nova metodologia para caracterizar portais de ensino e popularização da ciência Leila Cardoso Teruya* (PG), Guilherme Andrade Marson (PQ) *[email protected] Instituto de Química – Universidade de São Paulo – Av. Prof. Lineu Prestes, 748. São Paulo – SP CEP 05508-000. Palavras-Chave: portais educacionais, divulgação científica, metrias de informação. RESUMO: Os portais educacionais constituem uma importante modalidade de divulgação científica, contribuindo para que a sociedade tenha acesso ao conhecimento científico. Isso tem motivado pesquisas na área, que tratam dos conteúdos dos portais, principalmente, e também do seu uso. Apesar do menor destaque recebido, estudar o uso de portais educacionais é fundamental para conhecer o público do portal e entender como os usuários apropriam-se do mesmo. Os escassos trabalhos sobre o assunto reportam com poucos detalhes a metodologia adotada e apresentam uma visão fragmentada dos dados analisados. Neste trabalho, descreveu-se uma metodologia construída para analisar o uso de portais educacionais a partir de arquivos de log, sendo essa metodologia aplicada no escopo do portal Química Nova Interativa. O percurso metodológico seguido foi descrito em detalhes e os resultados obtidos com a análise permitiram a caracterização do portal, corroborando a relevância do mesmo como recurso de divulgação científica. INTRODUÇÃO O acesso ao conhecimento científico, seja em espaços formais ou não formais de educação, pode ser considerado um fator determinante para o desenvolvimento socioecononômico de um país. Para Germano e Kulesza (2007), é justamente a ideia de “acesso ao conhecimento científico” que aproxima todos os discursos sobre vulgarização, alfabetização, popularização e divulgação científica, a despeito de suas especificidades. Atualmente, verifica-se que é crescente a importância atribuída a ações que favoreçam tal acesso, em especial às ações de divulgação científica, termo usado com maior frequência no Brasil, segundo os autores. Dentre as várias modalidades de divulgação científica existentes, pode-se citar as exposições, desenvolvimento de materiais paradidáticos, apresentações artísticas, palestras, debates, jornalismo científico, por exemplo. Adicionalmente, são muitos os meios de divulgação das ações, dentre os quais se destaca o meio digital, via websites e/ou portais. Nesse contexto, os portais educacionais constituem um recurso de divulgação científica capaz de contribuir para o acesso ao conhecimento científico, de diversas áreas do saber, por um grande público. Em vista disso, os portais educacionais têm sido objeto de estudo de diversas pesquisas acadêmicas. Na literatura, é possível encontrar trabalhos que descrevem portais educacionais, analisam aspectos de seu conteúdo e/ou categorizam os portais XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EFD) segundo indicadores variados (SINGH e MAHAJAN, 2010; SOTIRIOU e cols., 2011; SILVA e cols., 2012; MATEUS e GONÇALVES, 2013; MARSON e cols., 2013). Nestes trabalhos, o foco de investigação tende a ser, predominantemente, os conteúdos e recursos disponíveis no portal, os quais são avaliados pelo pesquisador segundo o referencial teórico por ele adotado. Por outro lado, a análise dos portais também pode ser realizada sob uma perspectiva mais próxima do usuário, ou seja, de quem acessa e faz uso do portal de fato. A partir desse tipo de estudo, é possível conhecer o público principal do portal analisado, saber como esse público chega até o portal e avaliar se os objetivos e as expectativas de seu uso estão sendo atendidos. Segundo Jansen (2009), a análise dos acessos de um website permite, ainda, inferir como os usuários apropriam-se dos conteúdos e recursos nele existentes, o que daria suporte para eventuais mudanças no website, no sentido de aperfeiçoá-lo. Sob a ótica da divulgação científica, a análise dos portais educacionais quanto ao seu uso possibilta dimensionar o alcance do portal em prover o acesso ao conhecimento científico, além de explorar a demanda por esse conhecimento. Os dados necessários para pesquisar o uso de portais e websites, em geral, podem ser obtidos de diferentes maneiras. No estudo de Pynoo e cols. (2012), por exemplo, foi aplicado um questionário on line para se pesquisar como o portal KlasCement era utilizado por professores que o acessavam. Já MaKinster e cols. (2002), com o objetivo de investigar como estudantes realizavam pesquisas na internet, fizeram entrevistas com alunos e empregaram um dispositivo de gravação em vídeo para monitorar cada procedimento executado pelos estudantes. Tais metodologias, embora possam oferecer informações relevantes do ponto de vista qualitativo, são limitadas quanto ao alcance do público pesquisado, uma vez que não permite conhecer ou estimar a real dimensão dos dados globais de acesso. Ademais, podem ser limitadas também quanto à fidedignidade das informações obtidas, visto que os dados, no caso dos questionários, por exemplo, não são coletados em situações reais de uso do portal. Alternativamente, há estudos em que os dados de acesso de portais e websites são obtidos via mecanismos de monitoramento interno do site pesquisado e outros via monitoramento externo. Silva e Pinheiro (2007) pesquisaram o uso do portal Canal Ciência a partir dos dados fornecidos pelo servidor do próprio portal, que foram tratados por meio de programas estatísticos (Webalizer e AWStats) que fazem a análise de arquivos de log. O uso do mesmo portal foi avaliado, posteriormente, por Ribeiro e cols. (2013). Nesse estudo, os autores utilizaram o Google Analytics, uma ferramenta que é capaz de coletar dados de acesso do website analisado, gerando relatórios sobre o uso do mesmo. Já Sotiriou e cols. (2011), ao analisarem os acessos ao portal educacional Cosmos, fizeram uso conjunto da análise de arquivos de log gerados pelo servidor e do Google Analytics. Tais metodologias envolvem a coleta de dados em situações reais de uso e contemplam um número consideravelmente maior de acessos ao portal para análise. Entretanto, esses trabalhos reportam com poucos detalhes o percurso metodológico do estudo, incluindo as etapas de coleta de dados, em estado bruto, e de XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EFD) sua análise. Essa descrição minuciosa da metodologia empregada torna-se ainda mais relevante quando se considera que são poucas as pesquisas que avaliam o uso de portais educacionais, particularmente por meio dos acessos globais. Ademais, as pesquisas mencionadas que fizeram o uso de programas estatísticos e do Google Analytics não apresentaram uma visão integrada dos dados de acessos dos portais investigados. Tais acessos foram analisados sem se estabelecer qualquer relação entre os diferentes aspectos investigados, de modo que a visão de cada acesso, como registro único e individual, não constituiu foco de análise. Dada a importância de se pesquisar o uso de portais educacionais e a escassez de estudos amplos e detalhados na área, este trabalho tem como objetivo descrever uma metodologia para análise de portais educacionais. Tal metodologia foi utilizada no contexto do portal Química Nova Interativa (QNInt) e utilizou dados de log do próprio portal. Além disso, esta pesquisa apresenta alguns dos resultados obtidos a partir dessa análise, que incluem a origem dos acessos ao QNInt, termos de busca que direcionaram os usuários ao portal e conteúdos temáticos mais visitados. METODOLOGIA QNInt Neste trabalho, estudou-se o uso do portal QNInt, lançado em junho de 2009 pela Sociedade Brasileira de Química com o objetivo de difundir o conhecimento químico para a sociedade. De acordo com Marson e cols. (2013), o QNInt disponibiliza conteúdos provenientes, em sua maioria, de publicações da Sociedade Brasileira de Química (Química Nova, Química Nova na Escola e Revista Virtual de Química), os quais se distribuem em diferentes categorias, incluindo: conteúdos temáticos, conteúdos conceituais, sugestões de atividades e de pesquisas voltadas para o ensino de química, além de recursos para a visualização interativa de estruturas moleculares tridimensionais. Ainda segundo os autores, quase 80% dos usuários cadastrados no portal identificam-se como professores e alunos. O número de acessos ao QNInt tem crescido expressivamente desde 2009, já contabilizando mais de 1,3 milhão de acessos de janeiro a maio de 2014 (SBQ, 2014). Período investigado Pesquisou-se o acesso ao QNInt realizado de 2010 a 2012. O ano de 2011 foi considerado de maior relevância para investigação por se tratar do Ano Internacional da Química, data em que diversas ações em prol da divulgação da química foram realizadas, contando com a participação do portal QNInt, inclusive (TERUYA e cols., 2013). Optou-se por não analisar o uso do portal em 2009 porque, nesta data, o QNInt ainda se encontrava em um estágio de desenvolvimento muito incipiente, com apenas cinco conteúdos disponíveis (entre conteúdos temáticos e conceituais). Em virtude do grande volume de dados disponível, decidiu-se restringir a pesquisa ao intervalo de tempo mencionado. Arquivos de log Jansen (2009) define o arquivo de log (search log) como um arquivo que registra a comunicação entre um sistema e usuário que o acessa. De forma mais XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EFD) detalhada, o sistema pode ser um motor de busca (Google, Yahoo, Bingo etc) ou qualquer outro website da internet, enquanto o usuário pode ser humano ou robôs de busca, programas computacionais que fazem uma varredura na rede com o objetivo de indexar conteúdos para os motores de busca. Adicionalmente, a comunicação estabelecida pode ser entendida como solicitações realizadas pelo usário do sistema (pesquisa por palavras-chave, por exemplo) e as respostas que delas se derivam (a exibição de uma webpage específica, por exemplo). Arquivos de log do QNInt Os arquivos de log foram convertidos em planilhas, nas quais cada linha representa o registro de uma interação entre sistema e usuário, podendo haver milhares de linhas em um único arquivo. Cada coluna, por sua vez, corresponde a um descritor que caracteriza essa interação. No caso dos arquivos de log do QNInt, os registros contêm informações sobre: data e horário de acesso; endereço de IP (Internet Protocol) do computador utilizado pelo usuário; localização geográfica do usuário (país, estado, cidade, CEP, latitude, longitude); DNS (Domain Name System, sistema que faz conversões entre IPs e nomes de domínios na internet), página acessada no QNInt, origem de acesso e navegador para internet utilizado. Para o presente trabalho, foram analisados especificamente os dados de data de acesso, página acessada e origem de acesso. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir dos arquivos de log do QNInt, caracterizou-se o uso do portal diversos descritores. Devido ao grande número de arquivos de log (aproximadamente 600 até janeiro/2014), foi necessário fazer uma seleção prévia dos dados a serem analisados. Além disso, os arquivos de log apresentavam dados em estado bruto que precisaram ser submetidos a um tratamento prévio que viabilizasse a análise. A seguir, são descritas as etapas de seleção e tratamento de dados que antecederam a análise por categorias. i) Seleção dos dados por intervalo de tempo. Realizou-se o levantamento dos arquivos de log com dados correspondentes ao período de 2010 a 2012. No total, foram identificados 350 arquivos que atendiam a esse critério. Em conjunto, os mesmos somavam mais de 3 milhões de entradas. ii) Seleção dos dados pela relevância dos dados para caracterizar o portal. Para cada arquivo de log, foram coletados dados sobre o período de tempo contemplado pelo arquivo e o número de registros originados no Brasil e fora do país. É preciso esclarecer que parte dos registros não continha dados sobre o país de origem. Esse subgrupo de dados foi denominado “Não Brasil”, assim como aqueles em que um país estrangeiro estava indicado. Dessa forma, foi possível caracterizar o uso do portal a partir de acessos seguramente brasileiros, foco de interesse dessa pesquisa. Esses dados foram compilados conforme apresentado na tabela 1, que também mostra o número de acessos “Brasil” e “Não Brasil” por dia para parte dos 350 arquivos de log. XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Especificar a Área do trabalho (EFD) Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Tabela 1: Dados de data e número de acessos por país de origem para arquivos de log individuais Arquivo de log Data inicial Data final Intervalo de tempo / dias Número de acessos Brasil/dia Número de acessos Não Brasil/dia 1 11-12-2009 18-01-2010 38 47 249 2 18-01-2010 09-02-2010 22 68 433 3 09-02-2010 25-02-2010 16 85 540 4 25-02-2010 10-03-2010 13 132 566 5 10-03-2010 01-04-2010 12 137 552 349 28-12-2012 30-12-2012 2 213 4583 350 30-12-2012 02-01-2013 3 123 2941 Os dados tabelados apontam que a maior parte das entradas no registro de log do QNInt é proveniente de fora do Brasil. Tal padrão foi observado não apenas para a amostra apresentada na tabela 1, mas para todos os arquivos de log coletados. Uma análise preliminar revelou que os acessos “Não Brasil” originaram-se de países variados, em que se fala a língua portuguesa (como Angola e Portugal) ou não (como Estados Unidos, Rússia, China, Argentina etc). Destaca-se, ainda, que um grande número de acessos foi realizado por robôs (softwares de indexação automática). Nos arquivos de log do QNInt, por exemplo, registros oriundos da cidade de Mountain View permitiram reconhecer os acessos por robôs do Google, empresa sediada nesse local. Visitas de robôs aos websites são importantes para compilação de dados pelos motores de busca, por meio dos quais os usuários da internet podem tomar conhecimento de sua existência (SCHELLEKENS, 2013). Na literatura, não foram encontradas pesquisas sobre portais educacionais nas quais são feitas considerações sobre os acessos de um país em particular e a varredura por robôs. Feito o trabalho de compilação, procedeu-se a formação de clusters a partir dos 350 arquivos de log selecionados. Os dados de diferentes arquivos foram agrupados de acordo com as datas dos registros, de modo a se obter arquivos com dados referentes a um mês, aproximadamente. Isso resultou em 36 arquivos que abrangeram todo o período de 2010 a 2012. As médias mensais de acessos diários, considerando os grupos “Brasil” e “Não Brasil”, são apresentados na figura 1. XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EFD) 7000 2500 6000 1500 4000 3000 1000 2000 500 Acessos Brasil/dia Acessos Não Brasil/dia 2000 5000 1000 0 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 0 Não Brasil / dia Brasil / dia Figura 1: Média mensal de acessos diários para os grupos “Brasil” e “Não Brasil” no período de 2010 a 2012 A partir dessa figura, é possível verificar que o número de acessos ao QNInt cresceu gradativamente no período investigado. O aumento pode sugerir um maior número de novos visitantes e/ou um maior número de visitas de usuários que já conhecem o portal. Além disso, a análise da figura 1 permite reconhecer uma sazonalidade nos acessos ao QNInt. Esse perfil sazonal reflete bem o calendário escolar, no sentido de que os meses de pico de acesso correspondem ao período letivo, enquanto os meses com menos acessos são aqueles de férias escolares. Os resultados obtidos fornecem fortes indícios de que o principal público do QNInt é o escolar, formado por professores e estudantes, mostrando que o portal tem cumprido seu papel de “prover instrumentação confiável para a formação em Química”, um dos propósitos originais do QNInt. Outros estudos também mostraram uma correspondência entre o uso da web e o período letivo. Silva e Pinheiro (2007), por exemplo, encontraram um padrão de acessos ao portal Canal Ciência em conformidade com calendário escolar, assim como foi observado para o QNInt. Já Medeiros (2009) verificou que o número de dúvidas enviadas a um sistema de tutoria em química na web era maior durante o período de aulas e menor nos meses de férias. Após identificar o caráter sazonal dos acessos, selecionou-se para análise somente os arquivos dos meses de janeiro, abril, maio, julho, outubro e novembro (de 2010, 2011 e 2012), contemplando, portanto, meses de maior e menor acesso. No total, os 18 arquivos somavam pouco menos de 1,5 milhão de entradas. Na sequência, foram descartados os dados referentes ao grupo “Não Brasil” de cada um dos 18 arquivos resultantes, bem como os dados de horário de acesso, referencial geográfico, IP, DNS e Navegador para o grupo “Brasil” remanescente. Dessa forma, foram selecionados para análise somente os dados de relevância para caracterizar o portal conforme os objetivos desse estudo. XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EFD) iii) Decodificação dos dados. Parte dos dados encontrados nos arquivos de log apresenta a linguagem de programação URL (uniform resource locator), pela qual são empregados códigos para especificar algumas letras do alfabeto, sinais de pontuação, letras maiúsculas e caracteres especiais em geral. Fez-se uso de um guia de referência para decodificar esses dados, viabilizando a sua compreensão. Análise dos dados de log A seguir, são apresentados alguns resultados obtidos pela análise dos dados de log do QNInt. O uso do portal foi caracterizado segundo a origem de acesso, os termos de busca que direcionam o usuário ao portal e os temas mais visitados. Cabe assinalar que os resultados são apresentados por ano e cada ano é representado pela compilação dos dados de seis meses (janeiro, abril, maio, julho, outubro e novembro). i) Origem de acesso. Por meio dos dados fornecidos por esse descritor, é possível saber como o usuário da internet chegou até o QNInt. Segundo Ortega e Aguillo (2010), há três modos principais pelos quais uma pessoa acessar um website: por meio de um motor de busca; clicando em um weblink; e/ou digitando a URL do portal. A análise preliminar da origem de acessos revelou que a forma de acesso predominante é o link, mais especificamente aqueles exibidos por motores de busca. Em vista disso, optou-se por separar os dados de origem em “Buscador” e “Não Buscador”, conforme mostrado na tabela 2. Tabela 2: Origem dos acessos ao QNInt Origem 2010 (%) n = 19.189 2011 (%) n = 103.457 2012 (%) n = 146.375 Buscador Não Buscador 89,7 58,9 84,9 10,3 41,1 15,1 Esses resultados apontam que o QNInt é acessado principalmente por usuários que estão utilizando motores de busca para realizar pesquisas na internet. A análise refinada dos dados indicou também que o Google é o buscador empregado em mais de 95% dos acessos via motor de busca, considerando suas versões web, images e scholar. O Google também configura a principal via de entrada do portal Canal Ciência, conforme mostrado no estudo de Ribeiro e cols. (2013). Para o portal Cosmos, no entanto, as visitas via motor de busca correspondem somente a 15% do total de acessos (SOTIROU e cols., 2011). Lavene (2010) pontua que os buscadores representam uma interface para uma imensa quantidade de conteúdos disponíveis na rede, motivo pelo qual são tão utilizados. Tal consideração é corroborada por estudos recentes que mostram os motores de busca como uma das principais portas de acesso para notícias on line em diversos países, inclusive o Brasil (REUTERS, 2013). Essa tendência também é observada para conteúdos relacionados à ciência e tecnologia (PCST, 2014). As origens de acesso enquadradas na categoria “Não Buscador” compreendem, majoritariamente, o próprio endereço do QNInt (usuários que digitaram a URL do portal) e o portal Quimica 2011, lançado por ocasião do Ano Internacional da XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EFD) Química em 2011. Esse portal foi a principal via de acesso para o QNInt em 2011 e 2012, correspondendo a 71% e 38%, respectivamente, dos registros categorizados como “Não Buscador”. O dado obtido para 2011, aliás, permite inferir por quê a origem de acessos ao QNInt por buscadores foi menos expressiva em 2011 do que em 2010 e 2012. Nesse contexto, tal resultado pode ser interpretado como um indicador de impacto das ações promovidas no Ano Internacional da Química. Adicionalmente, ele sugere um efeito sinergético de ações de divulgação científica, caso se entenda que o portal Química 2011 contribuiu para promover o QNInt. Outras origens de acessos com algum destaque na categoria “Não Buscador” foram os blogs (em especial, os blogs pessoais) e representantes da academia (universidades, agências de fomento à pesquisa, por exemplo). Ressalta-se que as subcategorias citadas foram construídas a partir da leitura dos dados, sem a qual não seria possível o agrupamento de elementos diversos. Essa leitura também foi necessária para os demais clusters formados no decorrer de toda a análise dos dados. ii) Termos de busca. O descritor “origem de acesso” fornece dados adicionais, quando a origem é um buscador. Nesses casos, além de apontar qual o motor de busca, o dado também revela qual o termo de busca utilizado pelo usuário em sua pesquisa. A partir da análise preliminar desses dados, foi possível identificar alguns perfis de palavras-chave empregadas na busca. No quadro 1, são apresentados exemplos de termos de busca que remeteram os usuários ao tema “Ciclos Globais de Carbono, Nitrogênio e Enxofre”, um dos primeiros conteúdos publicados no QNInt em 2009. Quadro 1: Exemplos de termos de busca que direcionaram os usuários ao tema “Ciclos Globais de Carbono, Nitrogênio e Enxofre”. Termos de busca i) ciclos globais ii) impacto ambiental dos ciclos biogequimicos do carbono, nitrogenio e enxofre iii) ciclo do nitrogênio química nova iv) como o nitrogenio se torna reativo na atmosfera? v) qual a importância das florestase das aguas marinha para a manutençao da quantidade de oxigenio no ar? vi) por que alguns estados de oxidação aparecem em algarismos romanos vii) equação do ciclo do carbono viii) um resumo sobre: qual é a importância de estudar a pressão atmosferica, e suas consenquencias ix) exercicios sobre dioxido de enxofre x) figuras do ciclo natural do carbono É possível observar, nos exemplos apresentados, a ocorrência de termos que: são mais gerais e temáticos (i, ii, iii); são apresentados na forma de perguntas mais pontuais (iv, v, vi); indicam a busca por uma referência específica (iii); acabam não XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Especificar a Área do trabalho (EFD) Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) levando o usuário ao conteúdo esperado (vi, viii, ix); sugerem a busca por conteúdos com um formato ou uma finalidade específica (viii, ix, x). De modo geral, os termos de busca identificados parecem atender às demandas escolares de professores e estudantes, que as expressam das mais variadas formas. De acordo com Medeiros (2009), as dúvidas de química manifestadas por alunos e professores na web correspondem, principalmente, a perguntas diretas e solicitações, sem contextualização ou problematicidade. Já MaKinster e cols. (2002) destacaram que nem todos os estudantes são bem sucedidos no uso da web como fonte de informações científicas. Segundo os autores, alguns dos motivos para tal insucesso incluem o baixo nível de conhecimento do tema científico pesquisado, o uso inadequado de palavras-chave e a falta de experiência no uso mais refinado de motores de busca. Além disso, cabe salientar que a visão integrada dos dados de log permitiu analisar a correspondência entre os termos de busca utilizados e os conteúdos acessados a partir dos mesmos. No estudo de Silva e Pinheiro (2007), foram apontadas as palavras-chave que mais frequentemente remeteram usuários ao portal Canal Ciência. Contudo, os resultados descritos pelos autores não forneceram quaisquer indícios sobre o êxito da busca efetuada. iii) Temas mais acessados. Nesse estudo, os dados de log foram utilizados para contabilizar os acessos absolutos de cada tema, por ano. Em uma etapa posterior, a data de publicação de cada conteúdo foi empregada para se normalizar esses dados. Apesar de os acessos absolutos não corresponderem a acessos acumulados, considerou-se a possibilidade de que conteúdos publicados há mais tempo poderiam apresentar uma visibilidade maior para os usuários da internet, o que levaria a um maior número de acessos para conteúdos mais antigos. Em linhas gerais, a normalização foi realizada dividindo-se o número de acessos de cada tema pelo número de dias que cada um deles estava desponível no portal. Sobre a evolução das publicações, cabe mencionar que, ao fim de novembro de 2010, 2011 e 2012, havia 6, 41 e 52 temas disponíveis no QNInt, respectivamente. Feita a normalização, os conteúdos foram ordenados em um ranking, por acessos absolutos e normalizados. O quadro 2 apresenta esses resultados para os anos de 2011 e 2012. Quadro 2: Ranking dos conteúdos temáticos mais acessados, considerando valores absolutos e normalizados por tempo de publicação. Posição 2011 Acessos absolutos 1º 2º 2012 Acessos normalizados Acessos absolutos Ciclos Globais de Ciclos Globais de Ciclos Globais de Carbono, Carbono, Carbono, Nitrogênio e Nitrogênio e Nitrogênio e Enxofre Enxofre Enxofre Oxigênio dissolvido em ecossistemas Oxigênio dissolvido em ecossistemas Oxigênio dissolvido em ecossistemas XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Acessos normalizados Oxigênio dissolvido em ecossistemas aquáticos A descoberta do DNA Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EFD) aquáticos aquáticos aquáticos 3º Cachaça Cachaça A descoberta do DNA Ciclos Globais de Carbono, Nitrogênio e Enxofre 4º Por que todos os nitratos são solúveis? Atividade biológica Cachaça Cachaça 5º Atividade biológica A descoberta do DNA Atividade biológica Fluxos de matéria e energia no solo 6º A origem das moléculas orgânicas Antioxidantes Química forense Atividade biológica 7º Biocombustível Biocombustível Mercúrio em lâmpadas fluorescentes Antioxidantes 8º A descoberta do DNA Mercúrio em lâmpadas fluorescentes Antioxidantes Mercúrio em lâmpadas fluorescentes 9º Mercúrio em lâmpadas fluorescentes Embalagem longa vida Biodiesel Embalagem longa vida 10º Vitamina C Refrigerante Refrigerante Refrigerante Primeiramente, nota-se que há mudanças nas posições de alguns temas, considerando tanto o ano quanto o tipo de dado, se absoluto ou normalizado. Alguns resultados podem ser destacados nesse quadro. O primeiro deles diz respeito ao tema “Ciclos Globais de Carbono, Nitrogênio e Enxofre”. Esse conteúdo foi o mais acessado nos dois anos analisados, porém, a sua popularidade parece ter diminuído pelos dados normalizados de 2012. Trata-se de um assunto amplamente interdisciplinar, alinhado a uma proposta de educação ambiental e que faz parte dos temas estruturadores do ensino de química, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2000), o que poderia explicar a posição ocupada por esse tema no ranking. Ribeiro e cols. (2013) analisaram as pesquisas mais acessadas do portal Canal Ciência e também constataram uma grande procura por conteúdos de temática ambiental, tal qual observado neste estudo. Todavia, os autores não fizeram ressalvas quanto ao tempo de publicação dos conteúdos. Outro ponto interessante é o tema “Por que todos os nitratos são solúveis?”, em que se discute a solubilidade dos nitratos e outros íons e também foi publicado em 2009. Apesar de ocupar uma posição de destaque em 2011, esse tema já não aparece entre os dez primeiros colocados quando se normalizam os XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014. Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP) Especificar a Área do trabalho (EFD) dados do mesmo ano, nem está presente no ranking de 2012. Em contrapartida, o interesse pelo tema “A descoberta do DNA” parece ter aumentado de 2011 para 2012, o que é corroborado pelos dados normalizados. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho, descreveu-se uma metodologia construída para analisar o uso de portais educacionais utilizando-se dados de log. As diferentes etapas seguidas durante o estudo foram apresentadas em detalhes e propiciaram uma visão abrangente de como a análise foi realizada. Com o emprego dessa metodologia para avaliar o uso do QNInt, foi possível obter informações relevantes sobre o portal, tais como o padrão sazonal de acessos, em concordância com o calendário escolar, e a relevância dos motores de busca como meio de os usuários acessarem o QNInt. Os resultados, de um modo geral, apontaram que o portal tem sido um importante recurso para prover o acesso ao conhecimento científico pela sociedade, um dos pontos-chave da divulgação científica, atendendo especialmente o público escolar. Além disso, ressalta-se que a descrição minuciosa da metodologia utilizada evidencia o seu potencial para fornecer informações mais aprofundadas sobre o uso de portais educacionais. Uma vez coletados e tratados, os arquivos de log possibilitam ao pesquisador explorar uma variedade de questões a partir da análise integrada dos arquivos de log. Foram apresentados, neste estudo, somente alguns dos resultados obtidos na análise dos arquivos de log do QNInt. Dessa forma, o trabalho deve ter prosseguimento, investigando-se outros pontos de interesse para se caracterizar melhor o uso do portal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. 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