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REVISTA CITRUSBR | OUTUBRO 2015 | ANO 2 | Nº 6 NESTA EDIÇÃO: O CONSUMO DE SUCO NO MUNDO ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS EXPORTADORES DE SUCOS CITRICULTOR FÁBIO BOOMEN WWW.CITRUSBR.COM ISS 2359-1889 OUTUBRO 2015 | ANO 2 | Nº 6 “Na laranja, é preciso cada vez mais buscar eficiência” O pomar NA PALMA DA MÃO Com controle rigoroso da produção, citricultores como Fábio Boomen estão trasnsformando a pequena Campos de Holambra num polo citrícola, onde se colhe uma média de 1.700 caixas por hectare e se produz a um custo médio de R$ 7 a caixa. Conheça a fórmula de sucesso desses produtores Índice 67 14 Capa Conheça a incrível fórmula de produtores de Campos de Holambra, no sudoeste de São Paulo, que alcançam produtividades de quase 2 mil caixas por hectare 12 Entrevista 60 Compras 27 Consecitrus 94 Car Joel Nelsen, manda-chuva da California Citrus Mutual, fala sobre mercado de frutas de mesa Posição da CitrusBR em relação à proposta de adequação do estatuto Estudo mostra que consumo de suco de laranja caiu 15,2% entre os anos de 2004 e 2014 e perda acumulada chega a 450 milhões de caixas no período EUA lança programa de compra de suco para reduzri estoques americanos As vantagens de correr para preencher o Cadastro Ambiental Obrigatório 28 Repercussão Desoneração sem reclamação. Entidades do setor concordam com projeto da CitrusBR 30 Estoques Notas Total de FCOJ equivalente deve chegar a equíbrio técnico na próxima safra 04 ACONTECE Tudo o que aconteceu em Cordeirópolis 34 Bolsa 08 TENDÊNCIAS Governo de S. Paulo quer mais laranja na mesa Veja o comportamento das cotações durante o ano-safra que terminou em julho passado 55 Cajú 10 JUICE MARKET Coluna sobre mercado mundial de sucos 60 Pepsi investe em plantio de caju e aposta no suco da fruta como nova matéria-prima 56 Cancro Doença se alastra pelo Estado. A mudança na legislação é medida urgente para o setor 58 Máquinas Valtra aposta em tratores para pequenos e médios produtores 62 Miau... Por que Tony, o Tigre da Kellogs, se tornou um gatinho com mudanças no café da manhã 2 | CITRUSBR outubro 2015 Artigo 95 CICERO CARTAXO DE LUCENA Analista da Embrapa fala sobre baixa emissão de carbono 58 36 PES Reflexões sobre os resultados do Projeto de Estimativa de Safra do Fundecitrus FOTO DE CAPA DE JULIO VILELA Carta ao leitor Um marco para a citricultura CITRUSBR OUTUBRO 2015 ANO 2 | Nº 6 EQUIPE O projeto Pesquisa de Estimativa de Safra (PES), realizado pelo Fundecitrus, entrou para a história da citricultura brasileira como a prova definitiva de que os setores produtivos e industriais não só podem como devem trabalhar em conjunto. Idealizado pela CitrusBR, o projeto nasceu com o intuito de transferir à cadeia citrícola um conhecimento que até este ano era propriedade de cada uma de nossas empresas associadas, as quais, durante os últimos 20 anos, desenvolveram de forma individual seus métodos de pesquisa e estimativa de safra baseadas no que os Estados Unidos fazem há décadas. Para tanto, foram necessários alguns meses de conversas entre CitrusBR e Fundecitrus, apresentações da proposta ao Conselho Deliberativo daquela entidade e muitas trocas de ideias com técnicos, citricultores, governos e afins. Nesta edição, dedicamos um artigo especial com algumas descobertas que só puderam vir à tona graças a esse projeto. E tem sido muito bom ouvir com frequência de conselheiros do Fundecitrus que projetos com essa envergadura são necessários para o bom funcionamento do setor. Além disso, trazemos outros assuntos interessantes, como a história de produtores de Campos de Holambra que, aliás, ilustram a nossa reportagem de capa. Em suas histórias podemos conhecer suas estratégias para alcançar altas médias de produtividade. Trazemos também uma entrevista com Joel Nelsen, presidente da California Citrus Mutual, que fala sobre a importância das marcas para a venda de fruta in natura. Também inauguramos uma seção com a assinatura do Juice Maket, uma das mais conceituadas publicações que acompanha todos os sabores de suco no mercado internacional. Sem dúvida um ganho importante. Como de costume, escolhemos um tema um pouco fora do ambiente dos sucos, mas próximo da ocasião de consumo, no caso, o café da manhã, com a história recente da Kellog, que enfrenta problemas de queda de consumo semelhantes aos vividos pela categoria de sucos. E por falar em queda de consumo, trazemos os principais dados do já tradicional estudo realizado há cinco anos pela Markestrat com apoio da Tetra Pak. O material mostra preocupantes dados que apontam para uma diminuição de 15,2% no consumo de suco de laranja entre os anos 2004 e 2014. O material completo está disponível no site da CitrusBR. É isso e muito mais. Assim, esperamos continuar nossa contribuição para trazer informação de qualidade e de maneira acessível. REVISTA Editor Eduardo Savanachi Subeditora Juliana Ribeiro Colaboraram nesta edição: Marcos Fava Neves, Vinícius Trombim, Rafael Bordonal Kalaki, Denise Oliveira, Taciana Bovo, Julio Vilela (fotos) Direção/ produção de arte Fabiano Duarte Ilustração e infografia Denis Cardoso e Fabiano Duarte Tratamento de imagem Daniel Costa Revisão Mario Garrone Jr. Agradecimentos Fundecitrus, Décio Joaquim e Embrapa PARA ASSINAR A REVISTA [email protected] 11 2769-1205 ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS EXPORTADORES DE SUCOS CÍTRICOS Entre em contato conosco e receba a revista CitrusBR gratuitamente em sua casa. Voce também pode enviar sugestões de pautas A todos uma boa leitura. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS EXPORTADORES DE SUCOS CÍTRICOS Diretor-executivo Ibiapaba Netto Diretora de Relações Internacionais Larissa Popp Coordenadora de projetos Isabela Costa Coordenadora Administrativa Debora Dezan Assistente Administrativo Tamires Pereira Ribeiro IBIAPABA NETTO Diretor-executivo CitrusBR [email protected] CITRUSBR outubro 2015 | 3 ACONTECE SANIDADE OS NOVOS VOOS DO PSÍLIDEO O mais recente levantamento realizado pelo Fundecitrus apontou que o greening continua avançando. De acordo com a pesquisa, 17,89% dos pomares do parque citrícola de São Paulo e das regiões do Triângulo Mineiro estão contaminados com a doença. Para realizar o estudo, o Fundecitrus avaliou, nos meses de junho e julho, 24,2 mil plantas em todas as regiões do parque citrícola, estratificadas de acordo com variedade, idade e tamanho de propriedade. A seguir os principais dados do levantamento 159 % FOI QUANTO A INCIDÊNCIA DA DOENÇA CRESCEU DESDE 2012, QUANDO FOI REALIZADO O ÚLTIMO LEVANTAMENTO 4 | CITRUSBR outubro 2015 35 50 42,5 DE PLANTAS ESTÃO DOENTES, DESTAS 44% APRESENTAM SINTOMAS SEVEROS É O TAMANHO DA PERDA DE PRODUÇÃO NAS ÁRVORES AFETADAS, DEVIDO À REDUÇÃO DO TAMANHO E À QUEDA PREMATURA DE FRUTOS É A INCIDÊNCIA DO GREENING NA MACRORREGIÃO SUL, A MAIS AFETADA DO CINTURÃO CITRÍCOLA E QUE ENGLOBA OS MUNICÍPIOS DE LIMEIRA, PORTO FERREIRA E CASA BRANCA MILHÕES % % FOTO DE JULIO VILELA NEGÓCIOS COCA-COLA ORGÂNICA A Coca-Cola está apostando alto no mercado de bebidas orgânicas. Depois de adquirir a Honest Tea, marca de chás orgânicos em 2011, a companhia comprou 30% da empresa californiana de sucos orgânicos Suja Life LLC por US$ 90 milhões. A negociação permite que a gigante dos refrigerantes adquira 100% da Suja após três anos. Quem também adquiriu uma parcela da companhia foi o Goldman Sachs, que pagou US$ 60 milhões por 20% de participação. Com isso, o valor de mercado da Suja está estimado em US$ 300 milhões, montante sete vezes superior ao seu faturamento anual, que foi de US$ 42 milhões no ano passado. O investimento marca o movimento da Coca-Cola em direção ao mercado de bebidas orgânicas prensadas a frio e evidencia a aposta da gigante na diversificação ao pagar por uma empresa o equivalente a cerca 30 vezes o faturamento anual atual. SANIDADE II MERCADO GREENING NO CELULAR 100% FRUTA Um aplicativo para smartphone promete ser a mais nova arma contra o greening. De acordo com o pesquisador da Universidade da Flórida James Tansey, o programa, batizado de FLCHMA, permite aos citricultores registrar uma série de dados sobre cada área, para controle do manejo, incluindo tipo de colheita, insetos encontrados, data da colheita, histórico de aplicações e até se o pomar é voltado para frutas de mesa ou suco para mercado interno ou externo. A fabricante brasileira de sucos Mitto acaba de lançar seu suco de tangerina integral em garrafa de vidro. A novidade amplia o portfólio da companhia, que já oferece os tradicionais sucos de uva e uva branca, e novos sucos integrais de maçã, açaí e açaí com guaraná. Segundo a Mitto, a linha de bebidas já está disponível nas principais lojas do país, nas versões 300 ml e 1 litro. BRITÂNICOS MAGUARY TEM NOVO DONO Em busca de expansão internacional, a fabricante de bebidas britânica Britvic acaba de fincar sua bandeira no Brasil. A empresa fechou a compra da empresa de sucos brasileira EBBA, dona das tradicionais marcas Maguary e Dafruta. O negócio foi de 120,8 milhões de libras ou cerca de R$ 580 milhões. Com o acordo, a Britvic, líder em diversos mercados da Europa, consegue acesso ao sexto maior mercado de refrigerantes do mundo e amplia sua expansão internacional para além de Estados Unidos, Índia e Espanha. MAIS ESTÍMULOS PARA O POMAR Shane O’Connel, pesquisador da Universidade da Irlanda, fala sobre o uso de poliestimulantes nos pomares O que são os poliestimulantes? Eles são moléculas que ajudam na redução do stress e contribuem para estimular as plantas no seu desenvolvimento. Quais os benefícios deles para o pomar? Eles atuam principalmente na redução do stress hídrico que as plantas sofrem em períodos de seca, mas também temos visto melhora na qualidade e uniformidade dos frutos. Isso contribui para a produtividade? Sem dúvida. Quando as plantas começam a florir e os frutos vão se formando, as árvores estão sob muito stress. A aplicação de poliestimulantes em pontos-chave das plantas nesse período reduz significativamente o stress e resulta em aumento da produtividade. De quanto é esse aumento em média? Temos dados de aplicações dos poliestimulantes em propriedades citrícolas no Brasil cujo volume de frutas colhidas por planta cresceu entre 7% e 17%. CITRUSBR outubro 2015 | 5 ACONTECE CERTIFICADO TRABALHO RECONHECIDO O Fundecitrus recebeu o reconhecimento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) pela contribuição na implementação do manejo regional do greening (HLB) na América Latina e no Caribe. O certificado foi entregue ao pesquisador do Fundecitrus Renato Bassanezi durante a reunião da FAO, que ocorreu em Santiago, no Chile. Desde 2011 o fundo, cujo diretor é Juliano Ayres (foto), tem contribuído com o projeto da FAO de “Assistência Técnica para a Gestão Regional do Huanglongbing na América Latina e no Caribe”. CRIANÇAS PRODUTO LIGHT SUCO DE VITAMINAS O NOVO NÉCTAR DA SUFRESH CHÁ FUNCIONAL A empresa WOW! Nutritional resolveu apostar no segmento de bebidas funcionais, mas voltado para o público infantil. A empresa lançou a Luminus Kids, um suco de fruta 100%, nos sabores uva e laranja, que não contém açúcar nem conservantes. De acordo com a empresa, além de fornecer os nutrientes do suco de frutas, a bebida contém o Life Mix, uma composição de vitaminas, minerais e fibras que auxilia no funcionamento do intestino. 6 | CITRUSBR outubro 2015 Depois de lançar sua primeira linha de sucos 100% no ano passado, a Sufresh, também do grupo WOW! Nutritional volta a investir no segmento de néctares. Desta vez, a companhia lançou uma linha premium de néctares de laranja. O novo produto possui 65,9% de suco de fruta, bem acima dos 40% exigidos pela legislação, e vem nas versões com gominho e light. Quem também quer crescer no mercado de produtos funcionais é a empresa Sanavita. Ela acaba de lançar a bebida Mate Verde & Matcha, que combina substâncias naturais que, segundo a empresa, favorecem a queima de gorduras e a inibição do apetite. BENEFÍCIOS SUCO PRA NÃO ESQUECER De acordo com um estudo realizado por cientistas da Universidade de Reading, na Inglaterra, beber suco de laranja todos os dias pode ajudar a melhorar a memória de idosos. A pesquisa mostrou que os “flavonoides”, compostos presentes em grandes quantidades na laranja, podem ajudar a melhorar a memória através da ativação do hipocampo, uma parte do cérebro associada à aprendizagem e ao armazenamento de informações. FÔLEGO RENOVADO LANÇAMENTO O NOVO CHÁ DA ARIZONA DO BEM NA VOLTA ÀS AULAS Depois de inúmeras disputas no tribunal, entre os sócios, a Arizona Beverage Corp’s, uma das primeiras fabricantes do chá gelado nos Estados Unidos parece estar recuperando o fôlego. A empresa acaba de lançar o chá gelado Good Brew, feito com folhas das plantas ao invés de pó e a cerveja Crazy Cowboy. A meta da companhia é dobrar as vendas em cinco anos e brigar com gigantes como Coca-Cola, PepsiCo e Nestlé. A do bem aproveitou o retorno das aulas após as férias de julho para lançar no mercado uma versão pequena do suco de uva integral. O produto já está sendo vendido no varejo, em embalagens de 200 ml. Segundo a companhia, a embalagem menor é ideal para que as crianças possam levar o suco como lanche na escola. FOTOS DE JULIO VILELA, SHUTTERSTOCK E DIVULGAÇÃO ORGÂNICOS O VAI E VEM DO CONSUMO NATIVE DE CARA NOVA A empresa de produtos orgânicos Native ampliou os sabores de sua linha de bebidas. Os novos sabores são caju, limão e tangerina. Os sucos completam o portfólio de matinais da empresa, que conta ainda com cafés, achocolatados, cookies e alimentos à base de soja. SABORIZADO TECNOLOGIA ULTRAPAN TANGERINA ENERGÉTICA POLÍMERO INTELIGENTE O REFRESCO QUE VIROU NÉCTAR Após fazer sucesso com seu energético TNT sabor maçã verde, o Grupo Petrópolis decidiu investir em outro sabor e lançou o TNT tangerina. De acordo com a gerente de propaganda do grupo, Eliana Cassandre, a bebida de maçã verde responde por 8% das vendas de energéticos do grupo, o que fez a empresa se animar para investir em novos sabores. O grupo afirma que o mercado de energéticos saborizados ainda é pouco explorado no Brasil e tem um alto potencial de crescimento. Segundo dados da empresa, o mercado brasileiro de bebidas energéticas vem crescendo nos últimos dez anos a uma taxa de 26,9% ao ano. Cientistas da Universidade da Flórida desenvolveram um polímero biodegradável que promete ser uma ferramenta para fornecer nutrientes e pesticidas para as plantas de citrus de forma mais eficaz. De acordo com o pesquisador responsável, Brent Sumerlin, ao entrar no sistema das plantas, esse polímero emite estímulos-resposta que facilitam o transporte das substâncias pelo caule. A grande diferença é que a liberação das substâncias acontece de forma controlada, segundo as necessidades da planta. DESENHOS DAFRUTA PARA CRIANÇAS As empresas de bebidas Dafruta firmou uma parceria com a fabricante de brinquedos Mattel para remodelar as embalagens de sua linha de néctares voltados para as crianças. Nos sabores abacaxi, morango, uva e frutas cítricas, as novas embalagens serão estampadas com personagens como Barbie e Hot Wheels, como forma de atrair a atenção dos pequenos. A empresa Ultrapan, fabricante da famosa marca de refrescos Topico, resolveu apostar numa linha de néctares funcionais. De acordo com a empresa, a nova linha, batizada de Frutaria, possui alto teor de polpa de fruta, baixa caloria e tem sabores de frutas que trazem benefícios para a saúde. Confira os destaques do Relatório da Nielsen sobre o valor e o consumo de suco de laranja no mercado norteamericano nas últimas quatro semanas com término em 1/8/2015 2,6 % foi o percentual total de reajuste do preço do galão de suco de laranja – incluindo NFC e Reconstituído. Com isso, o preço médio na gôndola chegou a US$ 6,60 o galão, o equivalente a R$ 6,35 o litro. -4,4 % foi o quanto caiu o volume total de suco de laranja consumido nos EUA, cujo patamar chegou a 126,7 milhões de litros. -3,7 % de NFC foi consumido pelos norte-americanos no período, já que o volume atingiu 74,5 milhões de litros. INOVAÇÃO 100% PARA OS PEQUENOS A fabricante norte-americana de bebidas Harvest Hill Beverage Company decidiu revitalizar a sua marca de sucos 100% Juicy Juice Splashers voltada para o público infantil. A companhia também investiu no lançamento de novos produtos para a marca, que agora está disponível nos sabores morango, melancia, pêssego e cranberry. CITRUSBR outubro 2015 | 7 TENDÊNCIAS 1 Mercado in natura MAIS LARANJA NA MESA Novo programa do governo do Estado de São Paulo pretende estimular o plantio de citros voltados para mesa. O programa, batizado de “Programa Citricultura Nota 10”, foi anunciado durante a realização do fórum Citrus de Mesa, realizado em meados de julho no Centro de Citricultura Sylvio Moreira, em Cordeirópolis. A ideia é que sejam disponibilizadas cerca de 60 variedades de porta-enxertos de citros de mesa para serem validados pelos citricultores paulistas. O programa também irá permitir a validação desses materiais em pomares distribuídos no Estado de São Paulo, etapa necessária e que antecede a liberação para o plantio em grande escala e ao Registro Nacional de Cultivares (RNC) no Ministério da Agricultura. Para particiEnergia par do programa, o citricultor deve preencher formulário de interesse para ser feita a pré seleção, firmar o termo de transferência de material IRRIGAÇÃO genético do IAC e instalar o lote com as cultivares. Os produtores parMAIS ceiros precisam também permitir o acesso dos pesquisadores do BARATA Centro de Citricultura para validação e compartilhar as informações O custo para irrigar as lavoucom a equipe técnica do IAC. Os interessados devem se cadastrar no programa até dezembro de 2015 pelo site www.centrodecitricultura.br ras pode ficar menor nos pró- 2 ximos meses. A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, tem negociado junto à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para excluir a atividade de irrigação agrícola da lista da bandeira vermelha, tarifa extra de energia aplicada desde janeiro para períodos. A taxação extra representa um acréscimo de R$ 0,055 para cada quilowatt hora consumido. 3 CADE PEPSI E AMBEV FECHAM ACORDO O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou, sem restrições, a formalização do acordo firmado entre Ambev, do Grupo A-B Inbev, e PepsiCola Industrial da 4 Amazônia, do Grupo Pepsico. Com isso, o Grupo A-B Inbev terá exclusividade no engarrafamento, na distribuição e no marketing de determinadas bebidas não alcoólicas, como isotônicos, do Grupo Pepsico. Flórida O Departamento de Citrus da Flórida (FDOC) tem uma nova diretora-executiva. Trata-se de Shannon Shepp, que substitui Doug Ackerman, que renunciou após quatro anos no cargo. Além da direção, o FDOC anunciou também mudanças na área de marketing, com a contratação da agência Edible, do grupo Edelman, especializada em relações públicas nas áreas de alimentos e bebidas. Com contrato de US$ 8 milhões, a agência será responsável por vitalizar as ações de marketing da entidade. 8 | CITRUSBR outubro 2015 NOVO COMANDO NO FDOC FOTOS DE JULIO VILELA E DIVULGAÇÃO 5 Energéticos MERCADO ACELERADO O mercado europeu de bebidas energéticas cresceu 4,9% durante o ano passado, de acordo com relatório da empresa de pesquisa de mercado Canadean. O robusto crescimento foi impulsionado pelo surgimento de opções de baixas calorias. Segundo o levantamento, há expectativa de que cerca de 550 milhões de litros de bebidas energéticas sejam produzidos em todo o continente europeu ao longo de 2015. 6 7 Pesquisa GREENING NO RADAR Uma pesquisa da Universidade da Califórnia apontou que o greening afeta árvores cítricas antes mesmo de elas começarem a mostrar sinais de infecção. As novas descobertas indicam que a doença causa estragos nas redes hormonais, que são fundamentais para a capacidade das árvores de se defenderem de infecções. Os novos resultados podem ajudar no desenvolvimento de testes diagnósticos e tratamentos para a doença. 9 Financiamento MAIS RECURSO PARA O POMAR Embrapa QUANTO MAIS ÁRVORE MELHOR Aumentar o nível do adensamento pode gerar um ganho de 89% na produtividade dos pomares. Esse é o resultado de um estudo desenvolvido pela Embrapa Fruticultura em parceria com a Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro (EECB). De acordo com os responsáveis pelos estudos, nos experimentos realizados no interior paulista estão sendo testados novos espaçamentos que fazem com que o adensamento passe de 550 plantas por hectare para 2.500. Os estudos ainda são preliminares e a viabilidade do modelo ainda está sendo testada. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo anunciou que terá mais R$ 46,5 milhões para desenvolver os programas de financiamentos voltados ao desenvolvimento e fomento do agronegócio paulista. Um dos projetos aprovados é voltado para a fruticultura e prevê um limite de até R$ 200 mil por produtor rural para investir em itens necessários para a instalação e manutenção de pomares até o início de produção de frutas tropicais, subtropicais e temperadas. O beneficiário terá 96 meses, com carência de 60 meses, para pagar, com juros de 3% ao ano, respeitando o ciclo produtivo da cultura a ser implantada. 8 Aquisições ENCONTRO DAS ÁGUAS A empresa britânica CBL Drinks e a Speaking Water Brands anunciaram que vão firmar uma fusão para criar uma nova empresa, batizada de Clearly Drinks. A principal marca do novo grupo será a linha Perfectly Clear de águas saborizadas, a qual vem registrando crescimento anual da ordem de 20% e contribui com cerca de 40% da receita total do grupo. A marca, originalmente pertencente à Speaking Water Brands, já está no mercado há aproximadamente 20 anos. Fale com a redação: [email protected] CITRUSBR outubro 2015 | 9 A CITRUSBR TRAZ COM EXCLUSIVIDADE UMA INÉDITA PARCERIA COM O JUICE MARKET, RELATÓRIO INTERNACIONAL QUE TRAZ INFORMAÇÕES SOBRE OS BASTIDORES DO MERCADO MUNDIAL DE SUCOS, NOS MAIS DIFERENTES SABORES E FORNECEDORES AO REDOR DO MUNDO Outros cítricos Suco de maçã A safra 2015/16 de maçã na Polônia se aproxima. As estimativas apontam para uma produção de cerca de 3,2 milhões de toneladas, ou cerca de 80 milhões de caixas de 40,8 quilos. A Polônia é o principal produtor de suco de maçã da Europa. Apesar da boa produção da última safra, houve uma forte demanda do mercado de produtos frescos na Europa, bem como uma demanda inesperada dos EUA. O excesso de oferta de fruta na Polônia na última safra fez com que os preços baixassem, tornando-os competitivos em relação ao suco de maçã chinês com destino ao mercado americano. Embora os estoques tenham caído e sejam praticamente insignificantes, a demanda também está fraca, com compradores aguardando o início da próxima safra. Já na China, a previsão é que a próxima safra de maçã esteja dentro dos padrões históricos, com o produto sendo oferecido no mercado a US$ 1.100 a tonelada do suco de maçã concentrado 70 Brix (FOB China). A esses preços, relatam, os processadores apontam prejuízo devido a elevados preços de matéria-prima (fruta) na safra passada. Para esta temporada não há sinalização se o preço da maçã será suficientemente baixo para que os processadores possam produzir suco a um valor competitivo. A safra 2014/15 de grapefruit na Flórida acabou em maio. Uma das poucas indicações sobre a produção da próxima safra é que a falta de novos plantios é mais evidente para o grapefruit, especialmente o grapefruit branco, em comparação com as laranjas. Por essa razão, os analistas na Flórida sugerem que a queda na produção de grapefruit será mais acentuada do que na de laranja. A safra 2015 de limão na Argentina ainda está em andamento. A produção deve voltar aos níveis normais após uma campanha fracassada na última temporada. Cerca de 60% da oferta já foi alocada e a demanda permanece efervescente. No entanto, os compradores estão hesitantes com os preços de US$ 3.500/tonelada 400gpl (gramas por litro de ácido cítrico) (FOB Buenos Aires). Maracujá O Equador está prestes a começar o período de pico de produção de maracujá entre os meses de agosto e setembro. Fontes locais no Equador afirmam que a produção de concentrado de maracujá para 2015 ainda é estimada em 12.500 toneladas, mas as preocupações de que o clima reduzirá a produção final estão crescendo. 10 | CITRUSBR outubro 2015 FOTOS DIVULGAÇÃO Para descascar o abacaxi... Maior produtor mundial de suco de abacaxi, a Tailândia vê grandes problemas na atual temporada. A safra é descrita como uma das piores nas últimas duas décadas. A produção está pelo menos 30% abaixo dos níveis históricos, a qualidade do fruto é ruim e os preços atingem níveis recorde. O mercado agora já passa a observar a safra de inverno no Hemisfério Norte. A maioria das previsões é pessimista devido à péssima colheita da safra de verão. Simplesmente não há frutas o bastante nas plantações para fazer frente à baixa oferta, dizem os analistas. 3.000 2.500 Carta na manga 2.000 (US$/tonelada fob 60/65 brix Tailândia) 1.500 1.000 500 n/ 0 de 0 z/ 0 no 0 v/ 0 ou 1 t/ 0 se 2 t/ 0 ag 3 o/ 04 ju l/ 0 ju 5 n/ 0 m 6 ai /0 ab 7 r/ 0 m 8 ar /0 9 fe v/ 10 ja n/ 1 de 1 z/ 1 no 1 v/ 1 ou 2 t/ 13 se t/ 1 ag 4 o/ 15 0 ja Um clima seco na Colômbia fez com que a safra de manga do verão fosse até meados de agosto. Em termos de qualidade, as frutas se mostraram menores em tamanho devido às condições de seca, mas ricas em brix. A demanda tem sido forte, e a maioria dos fornecedores já vendeu toda a sua produção. Preço do suco de abacaxi nos últimos 15 anos na Tailândia Fonte: Juice Market Uva O mercado de suco de uva concentrado na Argentina permanece sem movimentações. A maioria dos compradores aparentemente firmou contratos de longo prazo durante a safra anterior, em março. Os processadores anseiam recuperar o ano anterior com exportações mais robustas. Contudo, dizem, isso dependerá principalmente da evolução do mercado de concentrado de maçã. Os dois produtos têm perfis de cor e sabor similares e, portanto, usos finais similares. ESTA COLUNA É UMA VERSÃO DA REVISTA JUICE MARKET, PUBLICADA NO SITE www.juicemarket.info Contato: Stefan Worsley. Tel.: +44 (0) 7711 564 219. Email: [email protected] CITRUSBR outubro 2015 | 11 entrevista | Joel Nelsen, presidente da California Citrus Mutual “UMA MARCA FORTE ATRAI CONSUMIDORES” A produção de citrus do Estado da Califórnia responde por 85% da fruta in natura consumida nos Estados Unidos e movimenta US$ 2 bilhões por ano. Mas o principal diferencial do modelo de citricultura implementado naquela região está na aposta dos produtores na construção de marcas próprias para vender seus produtos. Por lá, produtores transformaram seus pomares em empresas, como as tradicionais Paramount e Sunkist, e conseguem agregar valor às suas frutas e vendê-las com sua marca nos principais supermercados americanos. Em entrevista exclusiva à revista CitrusBR, o presidente da California Citrus Mutual (CCM), associação que representa 2,2 mil produtores do Estado, explica as vantagens desse modelo e fala sobre as estratégias da região para vencer desafios como o greening e a falta de água. Qual é o peso da Califórnia na produção americana de citrus? De acordo com o USDA, a Califórnia fornece 85% dos citrus frescos do país. As principais variedades são as laranjas navel, mandarins e os limões. A California Citrus Mutual representa 2,2 mil produtores, que produzem entre 65% e 70% do volume total do Estado. A nossa produção de frutas cítricas é de cerca de 98 milhões de caixas de 40,8 quilos cada. Todo esse volume é comercializado no mercado interno? Nosso principal mercado é o doméstico, que responde por cerca de 70% da produção. O restante, entre 25% e 30%, é exportado principalmente para Canadá, Coreia, China, Japão, Austrália e Malásia. 12 | CITRUSBR outubro 2015 A FORÇA DO NOME Os exemplos da Sunkist e da Paramount, que comercializam frutas com marca própria, mostram que é possível agregar valor à fruta e chamar a atenção de clientes Os produtores da Califórnia são reconhecidos por apostar na marca própria. Quais são os benefícios dessa estratégia? No caso das mandarins, a marca tornou-se muito importante. Nas laranjas também temos casos bem-sucedidos, como o da Sunkist, uma cooperativa de produtores que criou a marca há décadas e é tão conhecida que gerou valor agregado ao produto. O uso de uma marca no mercado certamente atrai mais consumidores, mas, muito além disso, a consistência, a qualidade e o sabor da fruta é que os mantêm fiéis. Podemos dizer que ter um produto com marca deixou a produção mais competitiva? É difícil dizer. A demanda vem excedendo a oferta por causa das mudanças que fizemos nos últimos anos. Por outro lado, não podemos aumentar muito os preços por causa da competição com outras frutas, mas, apesar disso, a nossa indústria tem se saído bem economicamente. Como o senhor avalia o mercado americano de citrus de mesa? Nossa participação de mercado está se expandindo porque mudamos nossos padrões de maturidade da laranja navel e agora enviamos frutas mais precoces e mais saborosas ao mercado. Apesar disso, testemunhamos uma leve queda no consumo, já que os consumidores têm outras opções e buscam novos sabores. As laranjas de verão tiveram leve queda, mas, de forma geral, os números vêm crescendo para a nossa indústria. FOTOS DIVULGAÇÃO Quais são os principais desafios do setor? O maior desafio é a falta de água em algumas áreas, o que vem reduzindo o tamanho das frutas. Atrelado a isso, temos a importação de citrus, que cresceu cerca de 500% nos últimos 15 anos e vem preocupando os produtores da Califórnia. Isso porque em alguns países os custos de produção são menores e os citricultores são assistidos pelo governo, o que torna as frutas mais competitivas. Além disso, elas chegam aos Estados Unidos com uma tarifa de 3%, enquanto nossas exportações são taxadas entre 20% e 25%. “A DEMANDA VEM EXCEDENDO A OFERTA, MAS NÃO PODEMOS AUMENTAR OS PREÇOS POR CAUSA DA COMPETIÇÃO COM OUTRAS FRUTAS. APESAR DISSO, ESTAMOS NOS SAINDO BEM” Quais são as diferenças no manejo das frutas de mesa em relação às processadas? A primeira diferença está no custo maior de produção, porque precisamos nos prevenir de forma mais eficaz da infestação por doenças. A fruta que vai ser processada pode ser disforme e ter cicatrizes, mas as frutas de mesa não. Além disso, a fruta de mesa precisa ter um nível melhor de sabor e equilíbrio, porque é consumida individualmente, não há como fazer um blend, como ocorre no suco. O tamanho e a firmeza da fruta também são mais importantes para as frutas frescas, já que os consumidores não apreciam as de menor tamanho. Há alguma ação de marketing para fomentar o consumo? Sim. Nossos comerciantes têm conseguido bons resultados apostando na tendência de consumo de alimentos mais saudáveis que cresce nos EUA. Além disso, temos ações importantes, como a campanha Citrus Strong e o movimento Citrus Matters (Citrus Importa, em tradução livre), feito em parceria com a empresa Bayer, que estão focadas em levar informações sobre a importância da nossa indústria, os benefícios dos citrus e os desafios enfrentados pelo setor. E em relação ao greening, a doença já afeta a produção californiana? Nós tivemos um caso de uma árvore infectada pelo Haunglongbing (HLB) em um jardim em Los Angeles, e algumas árvores da vizinhança passaram a ser monitoradas. Aqui na Califórnia chamamos de HBL, porque greening é usado mais para quando há registros positivos da doença, o que não é o caso. E como vocês têm trabalhado para manter o greening longe dos dos seus pomares? Nós temos um programa de US$ 25 milhões para monitoramento de pragas e doenças. Temos realizado um trabalho firme para que os produtores façam avaliações de seus pomares e se inscrevam em um programa para a instalação de armadilhas, detecção e tratamento. Acreditamos que manter o citricultor ativamente envolvido no combate à doença, como um parceiro, é de importância vital. Fazemos monitoramento dos pomares constantemente para determinar se existe a doença e, felizmente, após centenas de milhares de análises, o HLB não foi detectado. Diante desse cenário, quais são as perspectivas para esse mercado? Nós continuamos otimistas, embora a falta de água e o aparecimento de doenças possam impactar o nosso otimismo. Achamos que o Leste Europeu e alguns países árabes podem expandir suas produções e exportações. Enxergamos oportunidades futuras em países em desenvolvimento, como Vietnã, Tailândia e Índia. CITRUSBR outubro 2015 | 13 capa | Por Juliana Ribeiro, de Campos de Holambra Fotos de Julio Vilela A FÓRMULA da produtividade Com rígido controle de custos, manejo cuidadoso e organização, um grupo de produtores vem transformando a pequena Campos de Holambra, no sudoeste de São Paulo, em um verdadeiro polo citrícola, onde a média de produtividade já bate a marca de 1.700 caixas por hectare 14 | CITRUSBR outubro 2015 FÁBIO BOOMEN, da Holancitrus “Controle rígido das operações me ajudou a alcançar uma produtividade média de 1.800l caixas por hectare e tornar a laranja um bom negócio” CITRUSBR outubro 2015 | 15 capa H á quase 20 anos, quando decidiu apostar na citricultura como forma de diversificar suas atividades agrícolas, o produtor Fábio Boomen estava disposto a implantar um sistema diferente. Tradicional cerealista, ele resolveu adotar nos pomares o mesmo modelo de produção que aplicava nas lavouras de trigo e milho, tradicionalmente cultivadas por sua família. Uma fórmula que deu certo. Hoje em dia, nos 340 hectares ocupados por laranja, Boomen ostenta uma ótima produtividade média de 1.800 caixas por hectare. A integração no cultivo da laranja com os grãos ainda permite otimizar os gastos, melhorar o manejo e equilibrar as atividades da fazenda, o que faz seu custo de produção médio girar em torno de R$ 7,22 por caixa de 40,8 quilos, na árvore. “Em todas as minhas atividades sempre busquei o máximo de eficiência, na laranja não poderia ser diferente”; ressalta o citricultor. Boomen é um dos exemplos de um grupo de produtores que estão transfor- mando Campos de Holambra, uma pequena colônia holandesa localizada no sudoeste paulista, num verdadeiro polo citrícola. Uma região cuja produtividade média já chega a 1.700 caixas por hectares. Mais do que o dobro da média do Estado, de 691 caixas por hectare, de acordo com os dados da Pesquisa Estimativa de Safra (PES), realizada pelo Fundecitrus, “Buscamos usar nosso conhecimento adquirido na agricultura para extrair o máximo dos pomares.” No caso de Boomen, um dos aspectos que fazem a diferença no cultivo dos 230.000 pés de laranjas que ocupam sua fazenda é a forma como ele se valeu da topografia da região. Por ali, o plantio dos grãos é feito de forma circular, para permitir a irrigação por meios de pivôs centrais. Essa disposição faz com que existam espaços entre a lavoura e o equipamento. É justamente nesse espaço que as laranjas foram plantadas. “Nessas áreas a terra é mais bem preparada, o que ajuda no desenvolvimento das plantas.” A experiência com os grãos fez com que algumas práticas fossem “herdadas” pela laranja. Um FAZENDA ÁREA: Variedades plantadas: HECTARES PERA HAMLIN BAHIA BAIANINHA VESTIN RUBI MURCOT VALÊNCIA NATAL FOLHA MURCHA CHARMUT 340 6 VIVEIROS COM CAPACIDADE PARA 500 mil MUDAS ADENSAMENTO MÉDIO: 676 exemploe é a análise plantas anual do solo, em POR HECTARE que são avaliados todos os componentes da terra e a partir daí é estabelecido um calendário de PÉS PRODUTIVOS adubação, aplicando E NÃO exatamente o que o PRODUTIVOS solo precisa. Além 230.000 disso, os cereais acabam “dividindo” os custos de adubação, pulverização e outras aplicações com o citrus, o que ajuda na viabilidade dos pomares. O resultado dessa integraCAMPO FÉRTIL PARA A LARANJA Dos 110 associados da cooperativa, 20 já investem na citricultura, cuja safra 2015 está estimada em 1,2 milhão de caixas 16 | CITRUSBR outubro 2015 HOLANCITRUS O CONSULTOR DOS POMARES Destino: PRODUTIVIDADE MÉDIA: 1.800 caixas POR HECTARE DE TALHÕES PRODUTIVOS 70 PARA % MERCADO CUSTO DE PRODUÇÃO POR CAIXA: R$ 7,22 na árvore 30 % PARA INDÚSTRIA DESTAQUE: PREVISÃO DE COLHER 350 mil caixas NA SAFRA 2015/16 Fonte: Fábio Boomen e Campo Consultoria Agrícola ção é uma atividade que, além de produtiva, se mostra rentável e já responde por uma boa parte dos negócios da Holancitrus, empresa agrícola que reúne quatro fazendas na região. De acordo com os valores médios de vendas reportados pelo produtor, é possível estimar que ele alcance um faturamento médio de R$ 12.200 por hectare. Cultivando as variedades pera, hamlin, bahia, O engenheiro agrônomo Décio Joaquim, sócio da Campo Consultoria, é um dos responsáveis pela orientação técnica dos citricultores de Campos de Holambra e conta sobre as principais características que transformaram a região em referência de produtividade: Quais fatores explicam o sucesso dos produtores em Campos de Holambra? Um conjunto de atitudes e situações os leva para essa condição. O profissionalismo na atividade que abraçam; o papel da consultoria; a sanidade das mudas empregadas; a fertilidade do solo utilizado; e as vantagens climáticas. Na verdade, o fator diferencial que atribuo aos produtores da Holambra e a outros tantos da região sudoeste de SP é a importância dada ao custo/benefício dos serviços e produtos utilizados na produção. O que há de diferente nessa relação custo/benefício? Parece ser de entendimento comum entre eles que a mais cara é aquela empreitada que não repercute em bom resultado. O caro e o barato são atribuições relativas em função dos resultados que geram. Os números e, principalmente, os valores aferidos justificam a execução de atividades alardeadas pela tradição como “impossíveis de se fazer”. Por exemplo, é fato comprovado que executar um serviço braçal em milhares de plantas – seja ele qual for – é plenamente justificado economicamente, desde que os seus resultados sejam comparativamente superiores à prática mecanizada. A não tradição da região na citricultura é um diferencial? Na realidade, o desenvolvimento dos pomares da região se faz sem a herança arraigada de outras épocas e lugares, estimulando a descoberta de novos valores, de atitudes inovadoras, de um empreendedorismo estimulante, que promovem uma produtividade impressionante. Essa, sim, é determinante para o crescimento de qualquer atividade. A busca do lucro advindo da produtividade é capaz de melhor sustentar a base produtiva. É a chave do sucesso. A região fica distante das processadoras. Ainda assim, o custo compensa a atividade? O frete é um dos três maiores custos do citricultor da região sudoeste paulista que destina a fruta para a indústria. Percebe-se, então, a atração cada vez maior exercida pelo mercado de fruta fresca, que costumeiramente adquire a laranja “sobre o caminhão” e, muitas vezes, “na árvore”. A produtividade, o aspecto da fruta, a cor de sua casca e a localização geográfica dos pomares favorecem e estimulam a comercialização in natura. Qual é o mix médio entre mercado e indústria? O que determina essa distribuição? É difícil de calcular, uma vez que existe grande variabilidade a cada ano. O certo é que a comercialização para o mercado melhora o preço médio da fruta ao final de uma safra. Além disso, os produtores têm a estratégia de negociar com mais de uma empresa moageira, possibilitando alternativas em seu fluxo de caixa. Me arriscaria a dizer que cerca de 25% a 30% da fruta produzida na região destina-se ao mercado. O valor negociado, o modo de pagamento, as condições momentâneas da fruta, a demanda, as variedades, todos estes são parâmetros para a decisão. CAMPO CONSULTORIA Décio Joaquim Tel.: (15) 99791-4004 E-mail: [email protected] CITRUSBR outubro 2015 | 17 capa O POMAR baianinha, westin, rubi, murcot, valência, natal, folha murcha e charmut, a expectativa é de colher 350.000 caixas na safra 2015/16. Desse total, 30% é comercializado para indústria. A maior parte COMO MANEJO ADEQUADO, ORIENTAÇÃO vai para o mercado de fruta in natura. “Uma das vantagens de COMO vender para o mercado é que o PRODUZEM frete, em torno de R$ 2,50 por caixa, é responsabilidade do Variedades plantadas: varejista, que busca as frutas FOLHA MURCHA nas propriedades”, pondera Boomen. CHARMUT BAIANINHA VALÊNCIA BAHIA O modelo de citricultura de CamMURCOT HAMLIN pos de Holambra lembra a produção NATAL PERA de outro polo citrícola altamente proRUBI VESTIN dutivo, na região de Paranavaí (PR). A exemplo de lá, os produtores estão 7 ANOS É A IDADE organizados numa cooperativa, no MÉDIA DOS POMARES caso a Cooperativa Agroindustrial de Campos de Holambra. “Dos 110 associados, 20 já investem na citricultura e 1.700 1,2 R$ 7 o número deve aumentar nos próximos ação, que inclui caixas É O CUSTO milhão POR HECTARE É MÉDIO DE DE CAIXAS É A anos”, explica Simon Veldt, presidente acompanhamento A PRODUTIVIDADE PRODUÇÃO PRODUÇÃO da entidade. O projeto para desenvolver técnico, manejo MÉDIA POR CAIXA TOTAL DOS DA REGIÃO NA ÁRVORE COOPERADOS a citricultura na região começou em rigoroso, negociação 2006, quando os cooperados passaram conjunta de insumos a buscar uma opção de cultura para e comercialização via aproveitar as áreas que “sobravam” cooperativa. O modelo entre os pivôs centrais. “Vimos que as vem dando bons fruoportunidades de retorno e o mercado tos e a laranja já ocupa para a citricultura poderiam ser viáveis 1.500 hectares, sendo que cerca de 500 caixas. O sócio da para a nossa região”, revela Veldt. Com hectares são de plantios novos, não Campo Consultoria ajuda da cooperativa, os produtores produtivos. A expectativa é de que e um dos responsádesenharam um plano conjunto de a produção chegue a 1,2 milhão de veis pela orientação técnica dos produtores, Décio Joaquim, (veja entrevista na página NOVAS CULTURAS 17), explica que o Produtores investem em pomares de laranja para fato de a maioria diversificar plantio de grãos dos citricultores ter formação em agronomia e profundo conhecimento técnico se tornou um diferencial. “Eles sabem da importância de seguir as recomendações de manejo e o quanto isso é fundamental para o aumento da produtividade. O resultado está aí”, explica. 18 | CITRUSBR outubro 2015 INFOGRAFIA DE FABIANO DUARTE COM SOTAQUE HOLANDÊS TÉCNICA E CLIMA AMENO TRANSFORMARAM A PEQUENA CAMPOS DE HOLAMBRA EM RECORDISTA DE PRODUTIVIDADE: 1,5 mil hectares DE CITRUS SENDO 500 HA DE POMARES NOVOS (não produtivos) 615 plantas QUEM SÃO 110 cooperados POR HECTARE DE ADENSAMENTO MÉDIO 20 são citricultores no total QUANTO FATURAM R$ 430 milhões É O FATURAMENTO TOTAL DA COOPERATIVA EM 2014 R$ 14 milhões FOI O FATURAMENTO COM CITRUS 20 % FRUTAS DE MESA PARA ONDE VENDEM 80 % FRUTAS PARA INDÚSTRIA Fonte: Cooperativa Agroindustrial Holambra Embora a citricultura da região venha se mostrando positiva, o presidente da cooperativa já observa desafios que precisam ser superados. Um deles está no transporte da fruta dos pomares para as fábricas processadoras de suco, que ficam num raio de 300 quilômetros de distância. Esse aspecto se torna um desafio logístico para os produtores, já que encarece o frete. Por isso, a cooperativa estuda a viabilidade de investir, no futuro, em uma indústria própria. “Isso nos permitiria reduzir os custos e criar uma marca de frutas, agregando valor ao produto”, pondera Veldt. Enquanto a fábrica própria não chega, Boomen segue controlando custos e focando no manejo para extrair o máximo da terra. “O segredo está em ter atenção no manejo e investir em soluções inovadoras, que possam trazer maior eficiência”, afirma. Aliás, a gestão desses aspectos é mostrada na história da próxima página. CITRUSBR outubro 2015 | 19 capa O recordista dos pomares Com uma produtividade média que beira as 2.000 caixas por hectare, o citricultor Patrick Beckers aposta na gestão profissional como arma para obter lucros na citricultura Pelo menos uma vez por mês, o produtor Patrick Beckers acompanha os técnicos agrícolas pelos pomares de sua fazenda. Por ali, a palavra desses profissionais tem força de lei e suas recomendações são seguidas à risca. Um modelo de gestão altamente profissionalizado que, em apenas 7 anos dedicados à citricultura, ajudou a transformar a fazenda Talismã numa verdadeira máquina de produzir laranjas, onde se colhe, em média, nada menos do que 1.800 caixas por hectare. Em algumas áreas da fazenda, onde se cultiva a variedade folha murcha, que representa pouco mais de 11% da produção, essa média chega a incríveis 2.700 caixas por hectare. “Viemos de um setor com alta tecnificação e sabemos como produzir o máximo possível por área. E sabemos também que, quanto 20 | CITRUSBR outubro 2015 PATRICK BECKERS, sócio da Fazenda Talismã “O alto rendimento dos 200 hectares de pomares que eu cultivo representa 50% do faturamento nos negócios da família” maior a produção, mais diluído o custo”, explica Beckers. Um conceito que foi apresentado pelo economista Alexandre Mendonça de Barros, no estudo “Modelo Consecitrus”. Patrick toca a fazenda da família ao lado do irmão Wilhelmus. A descendência holandesa ajudou os irmãos a cultivar uma visão estratégica de seus negócios rurais, cujo foco sempre está voltado para o alto rendimento como forma de elevar os ganhos. Com a citricultura não foi diferente. Quando optaram pelos citrus para diversificar sua atividade, todos os detalhes dos FAZENDA TALISMÃ PARANAPANEMA, SP ÁREA: 200 HECTARES BALANÇA EQUILIBRADA A alta produtividade por hectare, combinada com consultoria técnica e pomar mais adensado contribui para diluir o custo de produção Variedades plantadas: HAMLIN RUBI BAIANINHA PERA VALÊNCIA NATAL FOLHA MURCHA LIMÃO TAHITI PRODUTIVIDADE MÉDIA: Destino: 1.850 caixas POR HECTARE 50 % PARA MERCADO CUSTO DE PRODUÇÃO POR CAIXA: R$ 6,48 pomares foram pensados para se conseguir extrair o máximo das plantas com o menor custo possível. “A alta ADENSAMENTO produtividade é essencial para conseguir diluir conside50 % MÉDIO: PARA ravelmente os nossos custos, que hoje ficam em torno de INDÚSTRIA 550 R$ 12 mil por hectare”, afirma Patrick. Com esse valor, plantas o custo por caixa gira em torno de R$ 6,48 na árvore. POR HECTARE Fonte: Patrick Beckers e Campo Alguns dos aspectos que ajudam a fazenda a Consultoria Agrícola DESTAQUE: conquistar esse alto rendimento estão no uso de plantio direto e na adoção de um maior adensamento dos pomares, que gira em torno de 550 plantas por hectare. Para caixas Para se ter ideia, de acordo com o levantamento feito manter a ciPOR HECTARE DE NÚMERO FOLHA MURCHA pelo Fundecitrus, o adensamento médio do Estado tricultura em DE PÉS é de 431 árvores por hectare. Na região, a média é de alta, os irmãos PRODUTIVOS E 438 árvores por hectare. Não por acaso, o fato de estar Beckers não descuiIMPRODUTIVOS: numa área mais adensada é apontado como principal dam de outro fator im114.000 aspecto para a alta produtividade da variedade portante, a saúde dos pomares: a preofolha murcha, que na fazenda está plantada com cupação com doenças como o greening adensamento de 660 plantas por hectare. é constante, com pulverizações rotativas Com esses resultados, a citricultura, que começou como uma mera coadjuvante na dos talhões e erradicação de plantas. Um fazenda, já representa 40% do faturamento dos negócios da família. Atualmente, além cuidado que garante à fazenda um índa folha murcha, eles mantêm 114.000 pés das variedades hamilin, rubi, baianinha, dice de infestação da doença de apenas pera, valência, natal, e também de limão tahiti, tudo cultivado em áreas de sequeiro. 0,2%. “Todo cuidado é pouco quando Para esta safra, a estimativa de colheita gira em torno de 370.000 caixas, aproximadao assunto é sanidade”, ensina. Mas é mente 15.000 toneladas. Metade da produção da Talismã é comercializada para a innas páginas seguintes, em que se conta dústria e a outra metade vai para o mercado de fruta in natura, tudo comercializado via a história da fazenda FonteBoa, que é cooperativa. “Na prática, o cuidado no manejo e com a qualidade das frutas é o mesmo possível ver como o controle sanitário no pomar todo, independentemente do destino. Assim podemos trabalhar o destino se transformou num dos pilares da alta das frutas de acordo com as melhores opções do mercado”, pondera. produtividade. Confira. 2.700 CITRUSBR outubro 2015 | 21 capa NO MEIO DA LAVOURA O pomar localizado entre os pivôs é uma das características da citricultura na região de Campos de Holambra Onde o psilídeo não tem vez Como o cultivo da fruta nas áreas ao redor da lavoura de grãos ajudou o produtor Eduardo Swart a afastar o greening de seus pomares e fazer do rígido controle sanitário um aliado na luta por mais produtividade Eduardo Swart é um tipo de produtor que está sempre atento a boas oportunidades. E foi observando o trabalho feito nos vizinhos que ele enxergou na laranja uma alternativa de negócio. A exemplo de Fábio 22 | CITRUSBR outubro 2015 Boomen, retratado no inicio desta reportagem, seus pomares também foram plantados nas áreas entre os grãos e os pivôs centrais. Mas no seu caso, além de aproveitar a terra e dividir custos, ele enxergou uma outra utilidade, também fundamental dessa integração: a ajuda no controle sanitário da fazenda. Esse modelo de plantio, cercado por soja, algodão e milho, acabou criando na fazenda uma barreira contra o psilídeo, o inseto vetor do greening, que tanto prejuízo tem causado à citricultura paulista. Prova disso é que atualmente o índice de infestação em sua fazenda, a Fonte Boa, é de apenas 0,1%, enquanto a média do Estado ronda os 19%, de acordo com o Fundecitrus. “Esse modelo ajuda a diminuir a proliferação dos psilídeos, já que os pomares ficam distantes uns dos outros, em áreas mais isoladas”, explica. A proximidade com as outras lavouras ajudou a propriedade, mesmo numa área pequena, com 70 hectares, a ter uma bordadura, aspecto fundamental no combate à doença. Com o greenig sob controle, Swart consegue reduzir custos e aproveitrar melhor os recursos da fazenda. O que o ajuda a colher uma média de 1.200 caixas por hectare. Uma produtividade que não é tão alta quanto a média da região, mas ainda assim está muito superior à média do Estado. “Ter pomares saudáveis é fundamental para ter resultados eficientes”, ressalta o citricultor. De acordo com Swart, o rigor no controle sanitário é um dos aspectos que têm feito a produção de laranja deslanchar na região. A conta é FAZENDA FONTE BOA simples: quanto menos greening, menos pés são erradicados, o que diminui a necessidade de replantas, reduz custo e aumenta a produção. Com essa combinação, o produtor tem conseguido girar a um custo Variedades PRODUTIVIDADE Destino: ÁREA: plantadas: MÉDIA: médio de R$ 10 por caixa na 70 HAMLIN árvore. Para manter esse status, 1.200 HECTARES PERA caixas é seguida à risca uma receita VALÊNCIA POR HECTARE que tem entre seus ingredientes NATAL FOLHA MURCHA principais o manejo adequado, 25 % com calendário rigoroso de pulverizações, observação PARA MERCADO das orientações técnicas e eliminação das árvores infectadas no menor prazo possível. “Não sabemos quais desses fatores vêm contribuindo mais para CUSTO manter os baixos índices da doença. O fato é que a ADENSAMENTO DE PRODUÇÃO MÉDIO: combinação deles vem dando resultado e por isso POR CAIXA: temos seguido esses passos em todas as propriedades”, 535 R$ 10,00 plantas pondera o consultor Joaquim, da Campo Consultoria. % POR HECTARE PARA Na citricultura desde 2007, Swart revela que a exINDÚSTRIA pectativa para essa safra é produzir cerca de 83.300 caixas de 40,8 quilos. A estrela da propriedade tem sido Fonte: Eduardo Swart e Campo a variedade folha murcha, com a qual ele consegue uma Consultoria Agrícola DESTAQUE: média de produtividade de 1.600 caixas por hectare. NÚMERO Muito em razão do maior adensamento de 660 pés por menos 50% DE PÉS hectare. Mas a variedade representa apenas uma pequeda produção PRODUTIVOS E caixas na parte da colheita. No restante da fazenda o adensacomo fruta POR HECTARE DE IMPRODUTIVOS: FOLHA MURCHA mento médio é de 535 plantas por hectare. Do volume in natura. “É 37.500 total produzido 75% é vendido para a indústria, o resum mercado que tante para exige mais, já que a o mercaaparência e o tamanho da do de fruta de mesa. Mas o foco para os fruta fazem diferença”, explica. próximos anos é aumentar a participação Satisfeito com os caminhos que sua da venda para o varejo, destinando pelo citricultura tem trilhado, ele já planeja novos investimentos para ganhar escala e baixar ainda mais os custos. EDUARDO SWART, O plano é ampliar a área com 30 da Fazenda hectares adicionais nas próximas Fonte Boa temporadas. Os resultados obtidos “Sinergia entre produção têm ficado tão acima da média que de citrus e cereais ajudou vêm inspirando outros produtores a a manter investimentos na investir na formação de pomares, como citricultura mesmo em períodos é o caso do agrônomo Abel Simões, cuja menos favoráveis do mercado” história você conhece a seguir. 75 1.600 CITRUSBR outubro 2015 | 23 capa Sorrindo para o futuro Atento às oportunidades da citricultura, o engenheiro agrônomo Abel Simões desenvolveu na Fazenda Olhos D’Água um ousado projeto de pomares 100% fertirrigados, que pode render 2.000 caixas por hectare Os bons resultados que a citricultura vem obtendo na região de Campos de Holambra estão chamando a atenção de outros produtores por ali, atentos a alternativas para diversificar o plantio e aumentar a produtividade da terra. Um desses casos é o da fazenda Olhos D’Água, em Itaí (SP). A propriedade, que pertence a uma família da região que prefere não se identificar, é tocada sob a batuta do engenheiro agrônomo Abel Rodrigues Simões. Há três anos, ele vem seguindo à risca os exemplos de sucessos dos vizinhos na citricultura. Os pomares foram plantados há dois anos e meio nas áreas que entremeiam o plantio de outros produtos, como sorgo e milho. Não contente em copiar o que está dando certo, Simões apostou alto na nova atividade e investiu em um projeto arrojado: manter 100% dos 154 hectares de citrus irrigados por um sistema subterrâneo de gotejamento. Ele garante : a iniciativa, considerada ABEL SIMÕES, Engenheiro agrônomo e gerente da Fazenda Olhos D’Água “O sistema de fertirrigação subterrâneo é o coração dos pomares da fazenda” 24 | CITRUSBR outubro 2015 FAZENDA OLHOS D’ÁGUA ITAÍ, SP ÁREA: 154,5 HECTARES INVESTIR PARA LUCRAR Com meta de produzir 320.000 caixas, investimentos iniciais do pomar chegaram a R$ 8 milhões Variedades plantadas: PERA NATAL VALÊNCIA BAIANINHA CHARMUT RUBI MURCOT LIMÃO TAHITI PRODUTIVIDADE MÉDIA: 2.000 caixas * POR HECTARE Destino: 100 PARA % INDÚSTRIA CUSTO um tanto ousada por outros produtores, será um dos CAPEX pilares que devem garantir à propriedade índices de POR CAIXA: produtividade em torno de 2.000 caixas por hectare DESTAQUE: R$ 19,50 ADENSAMENTO POMAR quando as plantas começarem a produzir. (PARA PRIMEIRA MÉDIO: COLHEITA) A expectativa é de que a primeira colheita seja 585 % feita já em meados do próximo ano e alcance 40.000 plantas irrigado * previsão POR HECTARE caixas. Quando estiver em seu pico de produtividade, Fonte: Abel Simões e Campo Consultoria Agrícola a meta é que o pomar alcance 320.000 caixas. Para tanto, o agrônomo revela que, mais do que simplesMais do que o simples fornecimente oferecer água para as plantas em períodos de mento de água em períodos de estiaestiagem, o sistema de irrigação também funciona NÚMERO gem, o sistema de fertirrigação tamcomo um condutor de fertilizantes e outros nutrienDE PÉS bém fornece os fertilizantes e demais tes necessários para o pleno desenvolvimento das PRODUTIVOS E nutrientes às plantas de forma direta. árvores. “Isso sem falar na economia de insumos e IMPRODUTIVOS: Isso faz com que cada planta receba água, já que a dosagem é minimamente controlada, 90.500 a quantidade necessária de insumos o que garante melhor desenvolvimento das plantas”, para se desenvolver, evitando o desrevela. Para tanto, ele conta que o investimento na perdício de produtos e garantindo formação dos pomares bateu a casa dos R$ 8 milhões. melhor desenvolvimento por árvore. É claro que a produtividade da Olhos D’Água não depende apenas da irrigação. “O sistema de fertirrigação subterrâAs avaliações técnicas e o adensamento dos pomares, cuja média gira em torno neo é o coração dos nossos pomares”, de 585 plantas por hectare, também contribuem para a futura rentabilidade revela Simões. Tanto é que, em uma do pomar. Ali são cultivadas as variedades pera, natal, valência, baianinha, nova etapa do projeto, a equipe de Sicharmut, rubi, murcot, além de limão tahiti. Enquanto o período da colheita não mões já avalia a viabilidade de fazer o chega, os investimentos em manejo seguem a todo vapor. Atualmente, o custo da manejo para a prevenção do greening fertirrigação por hectare gira em torno de R$ 9.500, investimento elevado, já que via sistema de irrigação. “Estamos os pomares ainda não começaram a produzir. Com isso, Simões estima que o custo estudando a aplicação de inseticidas Capex inicial por caixa, para plantas com idade entre zero e 36 meses, deverá ficar em R$ 19,50, valor que, tende a ir baixando ao longo das próximas safras. “A meta é para controle do psilídeo por meio desse sistema”, explica. vender 100% da produção para a indústria”, revela Simões. 100 CITRUSBR outubro 2015 | 25 capa No radar dos holandeses Programa que ajuda a melhorar gestão e analisar oportunidades é um dos segredos do bom desempenho da citricultura de Campos de Holambra SIMON VELDT, presidente da Cooperativa de Campos de Holambra A distância das indústrias processadoras acaba por encarecer o frete. Por isso, a cooperativa estuda a viabilidade de ter indústria e marca própria de frutas de mesa Os reflexos da influência holandesa em Campos de Holambra podem ser observados não apenas nos moinhos de vento espalhados pelo distrito, mas também na forma profissionalizada com que a agricultura é tocada por ali. Afinal, muito dos aspectos que tornam a citricultura da região diferenciada são apontados pelo banco Rabobank, que também é de origem holandesa, como pontos fundamentais para se ter sucesso nessa atividade. Produção em larga escala, produtividade elevada e custos competitivos, são alguns dos itens que tradicionalmente fazem parte da rotina dos produtores de Holambra e que, não por acaso, também são listados pelo banco como elementos chaves para uma produção eficiente. Esse diagnostico está presente num recente relatório publicado pelo Rabobank, chamado “Suco de laranja brasileiro: oportunidades e desafios no mercado global”. Na publicação, a instituição traça um cenário de oportunidades para a cadeia 26 | CITRUSBR outubro 2015 produtiva da laranja no Brasil e aponta modelos de produção que, em sua avaliação, podem conseguir melhores resultados no médio prazo. Outros itens citados pelo banco são o uso intenso de tecnologia e boa logistica. “Tradicionalmente, a agricultura da região é planejada e são estudados todos os pontos que possam tornar a atividade não só viável, como também lucrativa”, explica o presidente da Cooperativa Agroindustrial de Holambra, Simon Veldt. Um exemplo disso é um projeto de planejamento estratégico que vem sendo implantado na cooperativa com a ajuda da consultoria Markestrat. Desenvolvido há pouco mais de um ano, o programa visa mapear oportunidades de mercado para os produtores e analisar possíveis vulnerabilidades da produção. “É um projeto tradicional para cooperativas, método que desenvolvemos em nossas pesquisas na USP e que estamos aplicando com êxito em organizações cooperativistas”, ressalto o sócio da Markestrat e professor titular do Departamento de Economia da FEA/USP de Ribeirão Preto, Marco Fava Neves. De acordo com o professor, tratase de um processo desenvolvido em etapas. A primeira delas é estudar oportunidades e ameaças de mercado, além dos pontos fortes e fracos da organização. Dessa forma, é produzido um diagnóstico das oportunidades para o futuro. “Para isso são feitos vários estudos externos e workshops internos na organização. São levados em conta pontos como produção, pessoas, estrutura física, finanças, operações, entre outros”, explica. Foi diante dos resultados do projeto que a cooperativa tomou decisões estratégicas como, por exemplo, deixar a produção de flores e focar na expansão de atividades como graõs e laranja. Fava ressalta que o projeto ainda não apresentou resultados financeiros, mas a meta é dobrar o tamanho da cooperativa até 2025. “É possível chegar lá com a divisão de venda de insumos e de grãos, além das frutas”. Por Ibiapaba Netto Diretor-executivo da CitrusBR consecitrus CitrusBR esclarece respostas às entidades que representam os citricultores no Consecitrus SÃO PAULO – Após a análise da proposta de alteração do estatuto do Consecitrus, apresentada pelas associações que representam os citricultores, a CitrusBR encaminhou às referidas associações o seu posicionamento sobre o tema. A CitrusBR entende que a proposta apresentada por Associtrus, Faesp e Sociedade Rural Brasileira contém aspectos não compatíveis com os objetivos do Consecitrus por variados motivos, detalhados a seguir. A proposta das associações que representam os citricultores contém, em síntese, dispositivos que visam quatro aspectos: 2 Não cabe ao Consecitrus, nem seria legalmente sustentável, a imposição de limitações à liberdade de empreender a quem quer que seja, sob qualquer pretexto, já que impor tal obrigatoriedade seria inconstitucional; 3 O Consecitrus é uma entidade meramente informativa, assim como outros conselhos do gênero, sem participação direta na atividade comercial dos agentes econômicos que o compõem e não constitui seu objetivo a criação de contratos-padrão, regras para fixação de preço ou interferência nas relações comerciais de quaisquer agentes econômicos. 1 Limitar a utilização do sistema previsto pelo Consecitrus única e exclusivamente aos seus associados ou a membros integrantes de seus associados; 2 Estabelecer limitações às atividades da indústria citrícola; 3 Estabelecer critérios de fixação do preço da laranja; 4 Estabelecer regras relativas a cronogramas de colheita, prazo para recebimento e descarte de frutas. A CitrusBR entende que as referidas propostas não podem prosperar porque não só vão além dos termos definidos pela decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que autorizou a criação do Consecitrus, como também representam não atendimento à legislação concorrencial brasileira pelos pontos a seguir: 1 O Consecitrus não tem por objetivo a criação de privilégios para determinados agentes econômicos ou entidades do setor em detrimento de outros, não sendo admissível a existência de limitações à abrangência do Consecitrus, do qual poderão participar quaisquer entidades que preencham as condições estabelecidas pelo Cade; Por todas as razões acima, reafirmamos nosso entendimento de que a proposta de ajuste ao estatuto do Consecitrus apresentada pelas associações dos citricultores não apenas foge do objetivo do Consecitrus, mas é incompatível com a liberdade associativa e de livre iniciativa, não atendendo às regras estabelecidas pelo Cade e, mais do que isso, contendo disposições que ferem a legislação concorrencial brasileira. Diante do exposto, permanecemos aguardando que as entidades que representam os produtores possam rever a proposta feita e nos encaminhe, o quanto antes, sugestões de ajustes ao estatuto vigente que atendam ao objeto do Consecitrus, às determinações do Cade, à legislação concorrencial brasileira e ao princípio constitucional da livre inciativa, de modo que possamos levá-las em consideração e implementar o estatuto dentro do prazo fixado pelo Cade. CITRUSBR outubro 2015 | 27 Política Todos pela DESONERAÇÃO Algumas das principais lideranças políticas do País declaram apoio ao projeto que busca reduzir a carga tributária dos sucos de frutas 100% e enxergam na proposta uma alternativa para transformar a citricultura brasileira É um projeto que irá beneficiar os consumidores, não só no aspecto econômico, porque vai ampliar o acesso a um suco de melhor qualidade com preço mais competitivo, mas também no aspecto de educação e saúde, porque vai incentivar o consumo de produtos mais saudáveis” Gustavo Junqueira Presidente da Sociedade Rural Brasileira A expectativa para esse projeto é muito boa. Vemos com bons olhos, achamos que é fundamental desonerar o suco. Todas as entidades do setor estão apoiando o pedido. Esse é um tema que já está na pauta há anos e, se aprovado, vai tornar o suco 100% mais competitivo frente a outros produtos” Frauzo Sanches Presidente do Sindicato Rural de Ibitinga e Tabatinga 28 | CITRUSBR outubro 2015 Nesse primeiro momento é importante que haja a diferenciação de impostos. É importante frisar que uma água saborizada não pode ter o mesmo imposto do suco. É preciso ter um reconhecimento de que são produtos distintos, que não podem ter a mesma taxação” Arnaldo Jardim Secretário de Agricultura do Estado de São Paulo Esse projeto é muito bom para a cadeia produtiva da citricultura, visto que o suco de laranja hoje tem muitos concorrentes. Além disso, trará muitos benefícios para o consumidor, já que o mercado interno é bastante importante e o suco 100% tem alto preço de comercialização por conta da alta carga de impostos” Cyro Penna Coordenador da Comissão de Citricultura da Faesp É imprescindível que o governo promova essa desoneração. Sabemos que o preço é determinante para o consumidor. Se essa desoneração vier, os produtores e engarrafadores repassarão esse preço às prateleiras, permitindo um aumento do consumo” Paulo Biasioli Diretorexecutivo da Alicitros Em minha carreira política tenho um histórico de luta em favor da citricultura. Apoio toda decisão que implique em reduzir custos e promover o aumento do consumo interno de suco, um alimento rico e completo. A desoneração ajudará a ampliar o mercado, beneficiando toda a cadeia produtiva” Edinho Araújo Deputado federal licenciado (PMDB) e ministro de Portos Nos últimos meses a CitrusBR vem fazendo um amplo esforço para divulgar um projeto de desoneração fiscal para os sucos de frutas 100%. Uma proposta que, se colocada em prática, pode impulsionar o mercado brasileiro, transformando o país em um dos principais consumidores de suco de laranja do mundo. Isso geraria uma demanda adicional de 50 milhões de caixas ao longo de 10 anos e ajudaria o setor a retomar o caminho do crescimento. Esse é um projeto importante, que vai contribuir com o aumento do consumo e divulgação do produto. O suco de laranja 100% é o preferido do brasileiro, embora o consumo ainda seja limitado por conta da carga tributária. Outra parte importante disso está na margem que o varejo coloca sobre o preço” Flávio Viegas Presidente da Associtrus Devemos mostrar aos governos os benefícios que isso proporcionará a toda a cadeia, principalmente quando vemos a quantidade de fruta que poderá ser utilizada para atender uma possível demanda, além de oferecer ao consumidor um produto de qualidade” Emílio Fávero Presidente da Associação Brasileira de Citros de Mesa e Presidente da Câmara Setorial de Citros FOTOS DE JULIO VILELA E DIVULGAÇÃO Mais do que isso, o desenvolvimento do mercado interno contribuiria para a mudança de hábitos alimentares dos brasileiros, que teriam acesso a um produto com alto valor nutricional, com preços que permitissem a democratização do consumo de suco. Embora a proposta esteja tramitando dentro do governo com o apoio de figuras importantes como a ministra Kátia Abreu, trata-se de uma proposta que requer tempo e sobretu- Esse é um projeto de extrema importância e que, se for aprovado, vai beneficiar o país, porque beneficiará os produtores e os envasadores e gerará milhares de empregos. O importante é ter boa vontade de começar a colocar esse produto no mercado brasileiro, para que o consumidor adquira o hábito de consumo” Marco Antonio dos Santos Presidente da Câmara Setorial de Citrus de Brasília Temos insistido junto aos governos da necessidade de avançarmos com o consumo interno do suco de laranja integral para absorver parte da produção nacional de laranja. É fundamental que todos os agentes da cadeia produtiva se unam com o objetivo de conquistar esta importante medida para o setor” João Sampaio Ex-secretário de agricultura do estado de São Paulo do engajamento para sua aprovação. A CitrusBR acredita que tal projeto não deve ser apenas uma iniciativa da associação, mas sim um projeto do setor, no qual todos os elos da cadeia estejam envolvidos e empenhados na construção desse cenário. Por isso, a revista CitrusBR ouviu as principais lideranças do setor citrícola para mostrar suas análises e posições em torno desse projeto que pode transformar a citricultura brasileira. Sou favorável a qualquer tipo de redução de impostos e aplicação de incentivos para o setor alimentício. Mais do que isso, apoio também o suco nas escolas públicas e centros esportivos. Tudo isso é saudável para o consumidor e para o setor. Somos os maiores produtores e exportadores de suco de laranja, mas temos que aproveitar melhor os benefícios desse produto nacional” Nelson Marquezelli Deputado federal Para ser atraente e disputar com o suco "feito na hora", o suco 100% precisa chegar aos pontos de venda a preços mais convidativos. A desoneração total deve diminuir em 30% o custo final. Dessa forma, o suco chegaria aos brasileiros com preços acessíveis. Isso seria bom para o consumidor, bom para o citricultor e bom para a indústria” Maurício Mendes Consultor da GConci e diretor da AgroTools CITRUSBR outubro 2015 | 29 estoques ESTOQUES AUDITADOS EM 30 DE JUNHO DE 2015, PROJEÇÃO APROXIMADA DE ESTOQUES EM 30 DE JUNHO DE 2016 E COMPARATIVO HISTÓRICO DOS ESTOQUES NA DATA CORTE DE SAFRAS A Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR) informa que os estoques globais de suco de laranja brasileiro em posse de suas empresas associadas eram de 510.393 toneladas convertidas em FCOJ equivalente a 66º Brix em 30 de junho de 2015, data considerada corte da safra 2014/2015 para a safra 2015/2016. Como de costume, o levantamento foi realizado por auditorias em cada uma das empresas associadas e, posteriormente, consolidado por auditoria externa independente. Do total armazenado, 335.775 toneladas encontravam-se em unidades industriais, centros de estocagem e terminais marítimos das associadas no Brasil. As outras 174.618 toneladas, portanto, encontravam-se em trânsito marítimo, bem como em terminais portuários, centros de armazenagem e distribuição no Exterior (Estados Unidos, Europa, Ásia e Oceania). Na página ao lado, para efeito comparativo, a CitrusBR detalha os históricos de estoque de FCOJ equivalente a 66º Brix nos períodos de corte de safra (30/06) e meio de safra (31/12) nos anos anteriores. 30 | CITRUSBR outubro 2015 ILUSTRAÇÕES SHUTTERSTOCK HISTÓRICO DA EXISTÊNCIA DE ESTOQUES DE SUCO DE LARANJA BRASILEIRO EM PODER DOS ASSOCIADOS DA CITRUSBR NO MUNDO Tons FCOJ equivalente 66o Brix (FCOJ+NFC) Período de mensuração dos estoques Meio de safra Corte de safra Data dos estoques auditados nas associadas da CitrusBr Data de divulgação dos dados de estoque Estoques existentes no Brasil (+) Estoques existentes no Exterior (+) Estoques existentes globais (=) Estoques globais em semanas de consumo Dia, mês e ano Tons FCOJ equiv. 66 o Brix Tons FCOJ equiv. 66 o Brix Tons FCOJ equiv. 66 o Brix Semanas equivalentes Estoques em 31.12 2011 15.03.2012 815.602 116.398 932.000 Estoques em 31.12.2012 19.02.2013 923.998 220.374 1.144.372 Estoques em 31.12.2013 10.02.2014 779.196 267.269 1.046.465 Estoques em 31.12.2014 29.01.2015 776.318 225.720 1.002.038 Estoques em 30.06.2011 18.07.2011 71.221 143.148 214.369 7 Estoques em 30.06.2012 28.08.2012 461.829 200.623 662.452 29 Estoques em 30.06.2013 08.08.2013 550.542 215.382 765.924 35 Estoques em 30.06.2014 21.07.2014 337.254 197.275 534.529 23 Estoques em 30.06.2015 30.07.2015 335.775 174.618 510.393 25 Estoques em 30.06.2016 (projeção aproximada) Projetado ND ND 329.700 15 Estimativa de produção e de processamento de laranja para a safra 2015/2016 Em 19 de maio passado, o Fundo de Defesa do Citricultor (Fundecitrus), por meio do Projeto PES, divulgou estimativa para a safra 2015/16 para São Paulo e Triângulo Mineiro em 278,9 milhões de caixas de laranja de 40,8 quilos. A CitrusBR estima que desse total 30 milhões de caixas serão absorvidas pelo mercado interno para o consumo de frutas in natura, restando 248,9 milhões de caixas para processamento por todas as indústrias associadas e não associadas à CitrusBR, 13% a mais do que o estimado em maio de 2015. Estimativa de rendimento industrial de suco e produção de suco de laranja para a safra 2015/2016 Com base nos meses de maio, junho e julho, em que as indústrias paulistas experimentaram um dos piores índices de rendimento industrial já vivenciados, é possível estimar que o rendimento industrial projetado para a safra 2015/2016 será de 280 caixas de 40,8 quilos de laranja para a produção de uma tonelada de FCOJ equivalente a 66º Brix. O volume é 16,5% superior às 240,5 caixas necessárias para a produção da mesma tonelada de FCOJ equivalente a 66º Brix na temporada anterior. A produção total de FCOJ está estimada num total de 888.452 toneladas de FCOJ equivalente a 66º Brix na safra 2015/16. A piora do rendimento industrial é decorrente do excesso de chuvas ocasionado pelo fenômeno El Niño, que ainda pode trazer índices pluviométricos acima da média para os próximos meses. Como consequência direta, a CitrusBR estima que o Brix médio da safra será de 10,5, abaixo do considerado ideal, mas acima do mínimo estabelecido no “Code of Practice” da Associação Europeia de Sucos de Frutas (AIJN, sigla em francês). O fenômeno climático também pode trazer danos ao chamado “pegamento” dos frutos por se tratar de uma safra de múltiplas floradas. HISTÓRICO DE RENDIMENTO INDUSTRIAL DOS ASSOCIADOS DA CITRUSBR NA PRODUÇÃO DE SUCO DE LARANJA (incluso pulp/core-wash, exclusas células congeladas) Ano safra Caixas de 40,8 kg por tons FCOJ equiv. 66 o Brix Oscilação em relação à safra anterior Ano-safra Oscilação em relação à safra anterior Caixas de 40,8 kg por Tons FCOJ equiv. 66 o Brix 2000/01 246,87 n/d 2008/09 252,88 -10,7% 2001/02 236,52 4,2% 2009/10 262,52 -3,8% 2002/03 224,85 4,9% 2010/11 240,58 8,4% 2003/04 226,64 -0,8% 2011/12 265,36 -10,3% 2004/05 244,19 -7,7% 2012/13 263,54 0,7% 2005/06 226,42 7,3% 2013/14 282,00 -7,0% 2006/07 232,69 -2,8% 2014/15 240,50 14,7% 2007/08 228,49 1,8% 2015/16 Projetado 280,15 -16,5% CITRUSBR outubro 2015 | 31 estoques Histórico das exportações Secex e estimativa de demanda interna e externa de suco de laranja para a safra 2015/16 A CitrusBR estima para a temporada 2015/16 uma demanda total de 1.069.500 toneladas de FCOJ equivalente a 66º Brix, em torno de 8,7% abaixo do registrado no ano-safra anterior, finalizado em 1.171.000 toneladas. Da demanda total prevista estima-se que 1.014.500 toneladas serão exportadas e 55.000 toneladas destinadas ao mercado interno. A retração estimada tem como base os altos estoques reportados pelo Departamento de Citrus da Flórida (FDOC), 12,9% superior do que o registrado na mesma data do ano anterior (42ª semana), arrefecendo a necessidade de suco importado para o consumo americano. Abaixo, o histórico de exportações brasileiras base Secex, assim como o balanço de oferta, demanda e estoque de FCOJ equivalente a 66º Brix. HISTÓRICO DAS EXPORTAÇÕES DE SUCO DE LARANJA - SECEX SANTOS 11 SAFRAS (000 tons FCOJ equiv. 66 o Brix) Ano-safra julho a junho 2004/05 2005/06 2006/07 2007/08 2008/09 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13 2013/14 2014/15 Comparação 14/15 vs. 13/14 Exportações totais 1.324 1.269 1.357 1.254 1.147 1.206 1.100 1.095 1.092 1.073 1.113 40 3,7% Exportações para a Europa 917 869 932 861 839 861 788 792 748 721 709 -12 -1,7% Exportações para a América do Norte 215 199 242 259 158 181 122 156 211 231 272 41 17,9% Exportações para a Ásia 159 172 148 109 119 133 163 130 112 104 109 5 5,0% Exportações para outros destinos 32 29 35 25 31 30 27 17 21 18 24 6 31,5% 32 | CITRUSBR outubro 2015 BALANÇO DE OFERTA, DEMANDA E ESTOQUES DE SUCO DE LARANJA DO CINTURÃO CITRÍCOLA DE SÃO PAULO E DO TRIÂNGULO MINEIRO PARA A SAFRA 2015/16 Itens projetados Volume projetado Caixas de 40,8 kg Fonte de dados Produção total de laranja em São Paulo e no Triângulo Mineiro 278.990.000 Caixas de 40,8 kg Fundecitrus - Projeto PES Consumo de laranja no mercado in-natura (30.000.000) Caixas de 40,8 kg Estimativa da CitrusBr Processamento das associadas e não associadas a CitrusBR 248.990.000 Caixas por tonelada de FCOJ Equiv. 66 o Brix Estimativa da CitrusBr Rendimento da indústria de suco de laranja Produção total de suco de laranja das associadas e não associadas a CitrusBR Estoque de corte de safra em 30.06.2015 Disponibilidade total de suco de laranja (estoque inicial + produção estimada da safra) Consumo de suco no mercado interno brasileiro 280,15 Toneladas de FCOJ equiv. 66 o Brix 888.774 Toneladas de FCOJ equiv. 66 o Brix o 510.393 Toneladas de FCOJ equiv. 66 Brix 1.399.167 Toneladas de FCOJ equiv. 66 o Brix o Projeções de cada associada da CitrusBr consolidadas confidencialmente por auditoria externa independente Estimativa da CitrusBr Auditoria de estoques de cada associada da CitrusBr e posteriormente consolidada confidencialmente por auditoria externa independente Estimativa da CitrusBr (55.000) Toneladas de FCOJ equiv. 66 Brix Estimativa da CitrusBr Exportações Secex Santos (1.014.500) Toneladas de FCOJ equiv. 66 o Brix Estimativa da CitrusBr Demanda total de suco de laranja - julho 2015 / junho 2016 (1.069.500) Toneladas de FCOJ equiv. 66 o Brix Estimativa da CitrusBr Estoque de corte de safra em 30.06.2016 329.667 -2,8% Estimativa da CitrusBr Comparação de dados de fechamento da safra 2014/15 e estimativas da safra 2015/16 Para a temporada 2015/16 a CitrusBR estima uma redução de 21,2% na produção de suco na região do Cinturão Citrícola, se comparado com a temporada anterior. O recuo será de, aproximadamente, 240 mil e se dará pelos seguintes fatores: 1. Substancial queda no rendimento industrial com acréscimo de 16,5% de matéria-prima (laranja) para produção de uma tonelada de FCOJ equivalente a 66º Brix em comparação com o índice obtido na safra 2014/15 de 240,5 caixas por tonelada para a produção de uma tonelada de FCOJ equivalente 66º Brix. Essa conjuntura se mostra extremamente favorável aos citricultores, mas desfavorável às indústrias processadoras. Isso porque a laranja adquirida apresenta mais quantidade de água e menos teor de sólidos solúveis. Dessa forma, o rendimento se torna responsável por 57% da queda na produção estimada de FCOJ equivalente a 66º Brix. 2. Redução na estimativa de processamento de laranja pelas associadas e não associadas à CitrusBR na safra 2015/16 da ordem de 8,3% em comparação com a safra 2014/15 em decorrência da projeção de queda da produção da fruta estimada pelo Fundecitrus em maio passado. Dessa forma, portanto, a menor oferta de suco é responsável por 43% da queda na produção estimada de FCOJ equivalente. COMPARAÇÃO DE DADOS DE FECHAMENTO DA SAFRA 2014/15 E ESTIMATIVAS DA SAFRA 2015/16 Itens projetados Unidade de medida Fechamento da safra 2014/15 Estimativa da safra 2015/16 Comparação 15/16 vs. 14/15 Produção total de laranja em São Paulo e no Triângulo Mineiro Caixas de 40,8 kg 311.400.000 278.990.000 (32.410.000) -10,4% Consumo de Laranja no Mercado In-Natura Caixas de 40,8 kg (40.000.000) (30.000.000) 10.000.000 -25,0% Processamento das associadas e não associadas à CitrusBr Caixas de 40,8 kg 271.400.000 248.990.000 (22.410.000) -8,3% Rendimento indústria de suco de laranja Caixas por tonelada de FCOJ equiv. 66 o Brix 240,50 280,15 40 16,5% Produção total de suco de laranja das associadas e Não associadas à CitrusBr Toneladas de FCOJ equiv. 66 o Brix 1.128.482 888.774 (239.708) -21,2% CITRUSBR outubro 2015 | 33 finanças Perdas na bolsa Atualização da série histórica mostra desvalorização de 8,5% na média da cotação em dólares por tonelada de FCOJ na Bolsa de Nova York, indo de US$ 1,672 na safra 13/14 para US$ 1,531 na safra 14/15 Uma das principais referências para o preço do suco de laranja no mercado internacional, a Bolsa de Nova York registrou queda na média da cotação em dólares por tonelada de FCOJ em junho último. No mês que marcou o fechamento da safra 2014/15, a média do preço do suco foi de US$ 1.316,10 por tonelada de FCOJ. Valor bem inferior se comparado com o mesmo período do ano passado, quando a cotação média ficou em US$ 1.880,30, uma redução de 30%. Os dados podem ser observados na tabela ao lado que traz a atualização do histórico, ano a ano, dos preços médios mensais do fechamento diário das cotações do suco de laranja (FCOJ), com os números referentes a junho de 2014 até junho de 2015, Média de cotação da Bolsa de Nova York em dólar por libra de sólidos solúveis em junho de 2015 Média de cotação da Bolsa de Nova York em dólar por libra de sólidos solúveis em junho de 2015, livre de imposto de importação norte-americano Quantidade de sólidos solúveis existente em 1 tonelada de FCOJ 66º Brix 34 | CITRUSBR outubro 2015 o que dá a ideia do comportamento da bolsa durante toda a safra 2014/15. Para chegar a esses dados, é preciso estar atento para a forma correta de fazer o cálculo de conversão entre dólar por libra de sólido solúvel para dólar por tonelada de FCOJ. Isso porque, na hora de analisar esses números, é fundamental levar em conta os impostos pagos ao governo americano, uma vez que o suco brasileiro paga US$ 415 por tonelada para acessar aquele mercado. Caso contrário, a ordem de grandeza dos dados pode ficar distorcida. Conforme explica o quadro abaixo, para se chegar à média da cotação de US$ 1.316,10 – 908 U S $ 1,1 854 2 , 0 $ S U 0 46 U S $ 0.9 x 1 . 45 5 16, 1 0 U S $ 1. 3 por tonelada de FCOJ registrada em junho, é necessário subtrair da média da cotação da Bolsa de Nova York em dólar por sólido solúvel referente a essa data o valor de US$ 0,2854, referente ao desconto do imposto de importação norte-americano em dólar por libra de sólido solúvel. Esse valor equivale aos US$ 415 pagos por tonelada de FCOJ 66º Brix. O resultado dessa conta será a média da cotação da Bolsa de Nova York em dólar por libra de sólido solúvel em junho de 2015, livre de impostos. Para se chegar à média de cotação por tonelada de FCOJ, é preciso multiplicar esse número por 1.455, que é a quantidade de sólido solúvel existente em uma tonelada de FCOJ 66º Brix. Dessa forma, fazendo a conversão corretamente e levando em conta os impostos pagos pelo produto brasileiro no mercado americano, é possível ter uma visão real do mercado e, com base nessas informações, ter análises mais precisas sobre as exportações brasileiras de suco de laranja. Desconto do imposto de importação norteamericano em dólar por libra de sólidos solúveis/equivalente a US$ 415 por tonelada de FCOJ 66º Brix Média de cotação da Bolsa de Nova York em dólar por tonelada de FCOJ 66º Brix em junho de 2015, livre de imposto de importação norte-americano FOTO DIVULGAÇÃO PREÇO MÉDIO MENSAL DO FECHAMENTO DIÁRIO DAS COTAÇÕES DO FCOJ NA BOLSA DE NOVA YORK NAS ÚLTIMAS 20 SAFRAS DÓLARES POR LIBRA DE SÓLIDO SOLÚVEL (Incluso Imposto de Importação Americano e Taxas Anti-Dumping) SAFRA Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Média da Safra Média do Ano Calendário 1995-96 $0,9782 $1,0500 $1,1161 $1,1596 $1,2327 $1,2090 $1,1793 $1,2416 $1,3278 $1,3207 $1,2323 $1,2217 $1,1891 1995 $1,0784 1996-97 $1,1640 $1,1720 $1,1014 $1,1150 $1,0159 $0,8870 $0,8356 $0,8036 $0,8298 $0,7513 $0,7864 $0,7595 $0,9351 1996 $1,1649 1997-98 $0,7486 $0,7221 $0,6999 $0,6982 $0,7802 $0,8411 $0,9098 $0,9767 $1,0594 $0,9707 $1,0996 $1,0373 $0,8786 1997 $0,7714 1998-99 $1,0401 $1,1018 $1,0818 $1,1524 $1,1772 $1,0857 $0,9966 $0,9300 $0,8348 $0,8447 $0,8542 $0,8923 $0,9993 1998 $1,0577 1999-00 $0,8016 $0,9255 $0,9297 $0,8852 $0,9485 $0,9319 $0,8437 $0,8466 $0,8482 $0,8249 $0,8177 $0,8444 $0,8707 1999 $0,8979 2000-01 $0,7965 $0,7407 $0,7142 $0,7003 $0,7399 $0,8042 $0,7601 $0,7569 $0,7480 $0,7425 $0,7833 $0,7702 $0,7547 2000 2001-02 $0,8136 $0,7768 $0,8081 $0,8526 $0,9376 $0,9167 $0,8941 $0,8964 $0,9268 $0,8961 $0,9117 $0,9140 $0,8787 2001 $0,8055 2002 $0,9447 $0,7934 2002-03 $0,9542 $1,0093 $1,0030 $0,9514 $1,0053 $0,9736 $0,9204 $0,8708 $0,8468 $0,8549 $0,8574 $0,8530 $0,9250 2003-04 $0,8131 $0,7866 $0,7717 $0,7077 $0,7011 $0,6701 $0,6295 $0,6097 $0,6121 $0,5945 $0,5611 $0,5766 $0,6695 2003 $0,8045 2004-05 $0,6674 $0,6727 $0,7999 $0,8249 $0,7499 $0,8346 $0,8211 $0,8502 $0,9484 $0,9529 $0,9371 $0,9624 $0,8351 2004 $0,6777 2005-06 $0,9988 $0,9159 $0,9572 $1,0803 $1,1995 $1,2506 $1,2307 $1,3018 $1,3994 $1,4484 $1,5509 $1,5823 $1,2430 2005 $0,9895 2006-07 $1,6304 $1,7749 $1,7478 $1,8462 $1,9772 $2,0123 $2,0033 $1,9562 $1,9998 $1,7173 $1,6503 $1,3836 $1,8083 2006 2007-08 $1,3310 $1,2960 $1,2506 $1,4253 $1,3643 $1,4436 $1,3692 $1,2823 $1,1880 $1,1573 $1,1230 $1,1200 $1,2792 2007 $1,5684 $1,6252 2008-09 $1,2163 $1,0360 $0,9476 $0,8141 $0,7981 $0,7382 $0,7440 $0,6925 $0,7372 $0,8055 $0,9074 $0,8195 $0,8547 2008 $1,0658 2009-10 $0,9366 $0,9776 $0,9361 $1,0796 $1,1327 $1,2883 $1,3747 $1,3738 $1,4630 $1,3312 $1,4029 $1,4105 $1,2256 2009 $0,9214 2010-11 $1,4351 $1,3888 $1,5029 $1,5068 $1,5648 $1,6316 $1,7551 $1,7342 $1,6812 $1,6887 $1,8006 $1,8799 $1,6308 2010 $1,4488 2011-12 $1,9806 $1,7465 $1,6365 $1,7000 $1,7988 $1,7023 $1,9766 $1,9043 $1,8192 $1,4918 $1,1439 $1,1613 $1,6718 2011 $1,7587 2012-13 $1,1826 $1,2199 $1,2617 $1,1254 $1,1581 $1,3044 $1,1323 $1,2522 $1,3400 $1,4390 $1,4665 $1,4378 $1,2767 2012 $1,3958 2013-14 $1,4090 $1,3635 $1,3168 $1,2312 $1,3348 $1,3989 $1,4238 $1,4574 $1,5277 $1,6010 $1,5785 $1,5777 $1,4350 2013 $1,3435 2014-15 $1,4803 $1,4522 $1,4576 $1,3841 $1,3611 $1,4543 $1,4330 $1,3312 $1,1972 $1,1572 $1,1506 $1,1908 $1,3375 2014 $1,4796 DÓLARES POR TONELADA DE FCOJ 66 BRIX (Livre de Imposto de Importação Americano e Taxas Anti-Dumping) SAFRA Jul Média da Safra Média do Ano Calendário Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun 1995-96 $947 $1.051 $1.147 $1.211 $1.317 $1.283 $1.239 $1.330 $1.455 $1.445 $1.316 $1.301 $1.254 1995 $1.093 1996-97 $1.230 $1.241 $1.139 $1.158 $1.014 $827 $752 $705 $743 $629 $680 $641 $897 1996 $1.231 1997-98 $638 $599 $567 $564 $684 $772 $872 $969 $1.090 $961 $1.148 $1.058 $827 1997 $671 1998-99 $1.074 $1.164 $1.135 $1.238 $1.274 $1.141 $1.011 $914 $776 $790 $804 $859 $1.015 1998 $1.100 1999-00 $740 $920 $926 $862 $954 $929 $801 $805 $808 $774 $763 $802 $840 1999 $880 2000-01 $739 $657 $619 $599 $656 $750 $686 $681 $668 $660 $719 $700 $678 2000 $734 2001-02 $763 $710 $755 $820 $944 $913 $881 $884 $928 $883 $906 $910 $858 2001 $752 2002-03 $968 $1.048 $1.039 $964 $1.042 $996 $919 $847 $812 $824 $827 $821 $926 2002 $954 2003-04 $763 $724 $702 $609 $600 $555 $496 $467 $470 $445 $396 $419 $554 2003 $750 2004-05 $551 $558 $744 $780 $671 $794 $774 $817 $960 $966 $943 $980 $795 2004 $566 2005-06 $1.033 $885 $943 $1.117 $1.285 $1.357 $1.329 $1.430 $1.567 $1.636 $1.781 $1.825 $1.349 2005 $1.005 2006-07 $1.893 $2.097 $2.059 $2.198 $2.383 $2.432 $2.420 $2.353 $2.415 $2.016 $1.921 $1.545 $2.144 2006 $1.886 2007-08 $1.471 $1.421 $1.357 $1.604 $1.518 $1.630 $1.525 $1.402 $1.269 $1.226 $1.177 $1.173 $1.398 2007 $1.806 2008-09 $1.309 $1.054 $930 $741 $719 $634 $642 $570 $633 $729 $873 $749 $799 2008 $1.097 2009-10 $914 $972 $913 $1.116 $1.191 $1.411 $1.532 $1.531 $1.657 $1.471 $1.572 $1.583 $1.322 2009 $893 2010-11 $1.618 $1.552 $1.713 $1.719 $1.801 $1.895 $2.069 $2.040 $2.026 $2.037 $2.200 $2.315 $1.915 2010 $1.637 $2.128 2011-12 $2.461 $2.121 $1.961 $2.053 $2.197 $2.056 $2.456 $2.350 $2.227 $1.750 $1.244 $1.269 $2.012 2011 2012-13 $1.305 $1.359 $1.420 $1.222 $1.269 $1.482 $1.232 $1.406 $1.534 $1.678 $1.718 $1.676 $1.442 2012 $1.615 2013-14 $1.634 $1.568 $1.500 $1.376 $1.526 $1.620 $1.656 $1.705 $1.807 $1.914 $1.881 $1.880 $1.672 2013 $1.525 2014-15 $1.738 $1.697 $1.705 $1.598 $1.565 $1.700 $1.669 $1.521 $1.326 $1.268 $1.258 $1.317 $1.531 2014 $1.737 CITRUSBR outubro 2015 | 35 especial PES 2015 36 | CITRUSBR outubro 2015 FOTOS DIVULGAÇÃO Por Ibiapaba Netto Diretor-executivo da CitrusBR COM “O PES” NO CHÃO O P R O J E T O D E E S T I M AT I VA D E S A F R A REALIZADO PELO FUNDECITRUS TRAZ UMA S É R I E D E E N S I N A M E N T O S Q U E P O S S I B I L I TA M UM CHOQUE DE REALIDADE SOBRE A VERDADEIRA CONDIÇÃO DO CINTURÃO CITRÍCOLA DE S Ã O PAU L O E D O T R I Â N G U L O M I N E I R O CITRUSBR outubro 2015 | 37 especial PES 2015 APÓS a divulgação do tão esperado projeto Pesquisa e Estimativa de Safra (PES) do Fundecitrus, a citricultura brasileira voltou seus olhos para os resultados lá encontrados. Nesse sentido, e de posse de uma quantidade de dados sem precedentes na história da laranja no Brasil, comecei meu trabalho de tentar entender o que, afinal, esses dados trazem de novidade. E elas são muitas. Da idade produtiva das plantas até a área em que se encontram os novos plantios, passando pela densidade dos novos pomares em formação, é incrível a quantidade de informação que se pode obter com o trabalho realizado. E, a seguir, trago algumas impressões e achados nessa robusta pesquisa científica. A tabela 1, por exemplo, que mostra a estratificação de propriedades por tamanho e manejo de água, traz um dado surpreendente. Enquanto 40% das propriedades acima de 1.000 hectares possuem sistema de irrigação, apenas 12,5% das propriedades com menos de 100 hectares se utilizam dessa tecnologia. Tal estratificação mostra que esse recurso tecnológico vem sendo utilizado majoritariamente em grandes propriedades e acende o sinal de alerta para que haja planos de gestão e incentivos de 38 | CITRUSBR outubro 2015 políticas públicas no sentido de disseminar esse tipo de manejo. Já na tabela 2, que mostra o número de produtores, estratificado pelo número de árvores, podemos perceber que há também uma tendência de concentração no cinturão citrícola. Vamos aos dados: cerca de 67% das propriedades possuem menos de 10 mil árvores e outras 13% estão numa faixa entre 10 mil e 20 mil árvores, o que significa que 80% das propriedades do cinturão citrícola podem ser consideradas de pequeno porte. Do ponto de vista do número de produ- tores, portanto, a citricultura pode ser considerada uma atividade típica de pequenos citricultores. Por outro ângulo, cerca de 176 propriedades, ou 2,32% do total, estão na faixa entre 100 mil a 200 mil árvores, enquanto 181 propriedades, ou 2,37%, possuem mais de 200 mil plantas. Isso significa dizer que as propriedades médias e grandes são responsáveis por 60% das árvores mensuradas no cinturão e, quiçá, da produção. O gráfico 1, que disponibilizamos a seguir, demandou um pouco mais de trabalho. Cruzando dados TABELA 1 E S T R AT I F I C A Ç Ã O D E P R O P R I E D A D E S POR TAMANHO E MANEJO DE ÁGUA Faixas de tamanho de propriedade (considerando a área total de laranjas) (hectares) Propriedades de citros Área de laranja total Área de laranja irrigada Percentual % (número) (hectares) (hectares) 0,1 - 10 3.651 18.007 1.629 11 - 50 2.631 62.654 7.232 11,54 605 42.524 6.659 15,66 6.887 123.185 15.520 12,59 558 117.871 24.478 20,77 79 55.400 12.243 22,10 51 - 100 Subtotal 0 a 100 101 - 500 501 - 1.000 Acima de 1.000 Subtotal acima 100 Total Fonte: Fundecitrus 9,05 64 134.166 53.547 39,91 701 307.437 FALSO 29,36 7.588 430.622 105.788 24,57 TABELA 2 P R O P R I E D A D E S E S T R AT I F I C A D A S P O R NÚMERO DE ÁRVORES DE LARANJA Faixas de número de árvores de laranja na propriedade Propriedades Percentual de propriedades Árvores não produtivas e produtivas Percentual de árvores não produtivas e produtivas (número) % (1.000 árvores) % (número) Inferior a 10 mil 5.149 67,86 18.009,14 9,10 10 - 19 mil 977 12,88 13.799,92 6,97 20 - 29 mil 421 5,55 10.223,12 5,17 30 - 49 mil 383 5,05 14.605,90 7,38 50 - 99 mil 301 3,97 20.810,02 10,52 100 - 199 mil 176 2,32 24.989,87 12,63 Acima de 200 mil Total 181 2,37 95.421,23 48,23 7.588 100,00 197.859,18 100,00 Fonte: Fundecitrus do levantamento divulgado pelo Fundecitrus, conseguimos encontrar onde, afinal, está a maior parte dos pomares em formação. E, para nossa surpresa, pudemos constatar que o volume maior de novos plantios não está mais nas chamadas novas fronteiras, a exemplo da região sudoeste, localizada ao longo da rodovia Castelo Branco ou mesmo no Triângulo Mineiro. Por incrível que pareça, a maior parte dos pomares em formação está localizada em municípios absolutamente tradicionais na citricultura, liderados por Matão, Bebedouro, Duartina e Porto Ferreira, respectivamente primeiro, segundo, terceiro e quarto colocados. Só na quinta e na sexta posição é que novas regiões aparecem, como Triângulo Mineiro e Avaré. Os motivos para isso podem ser variados. Contudo, podemos apontar como premissas um replantio mais intensificado devido ao manejo intenso de combate ao greening em talhões e pomares “condenados”, a proximidade com as fábricas e, portanto, o menor custo de transporte das frutas. Também podemos apontar entre os fatores que contribuíram para que essas áreas concentrassem a maior parte dos pomares em formação a reciclagem e o replantio de pomares que foram plantados nas décadas de 1980 e 1990 com espaçamento inadequado e que nos dias de hoje, com o uso de áreas mais adensadas e, portanto, mais produtivas, além da própria vocação da região para a produção de laranja. GRÁFICO 1 ONDE ESTÃO OS POMARES EM FORMAÇÃO? Matão Bebedouro Duartina Porto Ferreira Triângulo Mineiro Avaré Limeira Brotas São José do Rio Preto Votuporanga Itapetininga 62 417 765 823 941 1.165 1.262 1.502 1.609 2.707 2.832 3.047 (em milhares de árvores) Altinópolis CITRUSBR outubro 2015 | 39 especial PES 2015 GRÁFICO 2 REGIÕES DE MAIOR INCIDÊNCIA DE R E P L A N T A E M P O M A R E S A D U LT O S Brotas Porto Ferreira Altinópolis Limeira Matão Se por um lado o intenso controle do greening pode estar associado a um novo florescimen- Bebedouro Duartina Avaré São José do Rio Preto to de regiões tradicionais, por outro, os dados de índice de replantio divulgados pelo Fundecitrus con- Votuporanga 0,71% 1,7% 1,73% 2,16% 3,51% 4,01% 4,14% 4,70% 4,91% 4,98% 5,01% 5,29% (em %) Triângulo Mineiro Itapetininga vergem para o fato de que as regiões que até então tiveram a maior incidência da doença também são aque- GRÁFICO 3 DENSIDADE DOS POMARES EM FORMAÇÃO Avaré Porto Ferreira Limeira Bebedouro Matão Itapetinga Brotas Duartina Triângulo Mineiro São José do Rio Preto 497 540 588 596 611 639 640 648 655 densidade 658 662 711 (plantas por hectare) Altinópolis Votuporanga 62 765 Número de plantas por região dos pomares em formação (em milhares) 1.262 1.609 40 | CITRUSBR outubro 2015 1.165 2.832 3.047 417 941 2.707 1.502 823 cruzarmos os dados de pomares em formação com os municípios e avaliarmos também a densidade média desses mesmos pomares, percebemos um abismo entre diferentes tecnologias que vão conviver em uma citricultura cada vez mais competitiva. Apenas para exemplificar, enquanto os pomares em formação do município de Avaré apresentam uma densidade média de 711 plantas por hectare, aqueles pomares plantados em Votuporanga têm registrado uma média de 497 plantas por hectare. Isso significa uma diferença de adensamento em novos plantios da ordem de 43%, o que certamente fará com que os pomares altamente adensados de Avaré tenham uma produtividade exponencialmente maior e, portanto, um custo de produção significativamente menor quando comparados a seus pares plantados em Votuporanga. las com o maior índice de replantio nos talhões em produção, conforme pode ser constatado no gráfico 2. Apenas como exercício, podemos observar que o município de Matão, por exemplo, é o número 1 em pomares em formação e apenas o quinto em número de replantios, o que corrobora a tese de que a tecnologia de combate ao HLB está entre os fatores que incentivam o investimento, seja em pomares novos, seja no replantio de árvores. Da mesma forma a cidade de Porto Ferreira é a quarta em número de pomares em formação e a terceira em número de replantio. DIFERENÇAS Mas de todo o trabalho realizado pelo Fundecitrus e após esmiuçar diferentes entradas de dados do trabalho, é o gráfico 3 que mais chama a atenção e causa preocupação. Ao O resultado dessa diferença poderá ser percebido em um largo ganho de produtividade do primeiro município em relação ao segundo, em um negócio em que a produtividade é cada vez mais importante para diluir os custos de produção. Quando observamos a idade média dos pomares adultos no gráfico 4, podemos perceber grande destaque para as regiões tradicionais, onde se encontram os pomares mais jovens. Novamente, a renovação vem acontecendo, seja pela erradicação e replantio motivado por doenças seja mesmo pela opção da adoção de padrões tecnológicos, genética e adensamento mais adequados. O fato é que, como a citricultura paulista vem conseguindo manter um controle e um combate mais efetivos do greening e do cancro em relação ao que vem acontecendo na GRÁFICO 4 I D A D E M É D I A D O S P O M A R E S A D U LT O S 11,7 11,2 11,1 10,6 10,2 9,6 9,5 8,0 7,9 idade 7,6 9,2 9,3 (anos) Brotas José do Votuporanga São Rio Preto Bebedouro Matão Altinópolis Duartina Porto Ferreira Limeira Triângulo Mineiro Itapetininga Avaré 8.534 25.755 Número de plantas adultas produtivas (em milhões de árvores) 7.614 9.317 9.737 22.303 16.903 5.094 22.936 16.419 18.947 10.566 CITRUSBR outubro 2015 | 41 especial PES 2015 TABELA 3 VIDA ÚTIL DOS POMARES EM PRODUÇÃO Flórida, os polos tradicionais do cinturão citrícola de São Paulo e do Triângulo Mineiro voltarão, muito em breve, a ser responsáveis por grandes produções, à medida que os pomares atinjam o auge produtivo. O gráfico 4 mostra com precisão que, entre os 12 principais municípios estratificados pela idade de pomares jovens e em produção, apenas três estão fora do eixo mais tradicional, o que aponta para uma recuperação das regiões tradicionais. Contudo, vale um minuto de atenção para os dados da tabela 3. Nela podemos ter um olhar mais abrangente sobre a vida útil dos po- Idade (anos) 3 4 5 6 7 8 9 22 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 1993 23.305 22.498 22.840 28.210 40.333 37.050 32.997 4.888 Densidade média 577 571 552 507 502 490 460 330 Número de árvores 13.047,36 12.458,29 12.195,31 13.734,37 19.493,31 17.392,03 14.575,50 1.567,64 Anos de plantio Hectares Fonte: Fundecitrus mares em produção. Embora exista o mito de que a vida útil de um pomar é de 15 anos, os registros mostram que citricultores industriais ou independentes que têm um controle fitossanitário adequado estendem a vida útil de seus pomares para, em média, 22 anos nas regiões menos afetadas pelo greening e cancro e para 20 anos nas regiões onde existe a maior incidência dessas doenças. Ao utilizar essa faixa etária de corte, nos causa espanto perceber que 27.437 hectares ou 6,8% dos 403.492 hectares produtivos sejam formados justamente por pomares TABELA 4 HISTÓRICO DO PREÇO DE VENDA DO SUCO DE LARANJA PELAS INDÚSTRIAS E D O P R E Ç O D E V E N D A D A L A R A N J A P E L O S F O R N E C E D O R E S D A F R U TA MÉDIAS DOS FECHAMENTOS DIÁRIOS DAS COTAÇÕES DO SUCO DE LARANJA NA BOLSA DE NOVA IORQUE MÉDIA PONDERADA DO PREÇO DO FCOJ BOLSA NY + EUROPA PREÇOS PAGOS PELAS ASSOCIADAS DA CITRUSBR À LARANJA DE FORNECEDORES Dólares por ton de FCOJ 66º Brix Dólares por caixas 40,8 kg COM IMPOSTOS E TAXAS SEM IMPOSTOS E TAXAS PREÇO MÉDIO DO FCOJ NA EUROPA FATURADO PELAS ASSOCIADAS DA CITRUSBR Dólares por libra de sólido solúvel Dólares por ton de FCOJ 66º Brix Dólares por ton de FCOJ 66º Brix 2000/01 US$ 0,7547 US$ 677,79 US$ 824,65 US$ 785,02 US$ 2,1206 2001/02 US$ 0,8787 US$ 858,17 US$ 888,02 US$ 882,77 US$ 2,9615 2002/03 US$ 0,9250 US$ 925,54 US$ 1.089,43 US$ 1.044,78 US$ 3,0327 2003/04 US$ 0,6695 US$ 553,75 US$ 1.048,47 US$ 941,41 US$ 3,1611 2004/05 US$ 0,8351 US$ 794,76 US$ 864,33 US$ 847,74 US$ 2,8081 SAFRAS 2005/06 US$ 1,2430 US$ 1.349,13 US$ 1.078,08 US$ 1.140,66 US$ 3,3719 2006/07 US$ 1,8083 US$ 2.144,37 US$ 1.726,07 US$ 1.824,82 US$ 4,6253 2007/08 US$ 1,2792 US$ 1.397,68 US$ 2.043,38 US$ 1.884,70 US$ 5,4269 2008/09 US$ 0,8547 US$ 798,54 US$ 1.500,56 US$ 1.383,86 US$ 5,2835 2009/10 US$ 1,2256 US$ 1.321,99 US$ 1.122,06 US$ 1.161,66 US$ 3,8501 2010/11 n/d n/d n/d n/d n/d 2011/12 n/d n/d n/d n/d n/d 2012/13 n/d n/d n/d n/d n/d 2013/14 n/d n/d n/d n/d n/d 2014/15 n/d n/d n/d n/d n/d Fonte: Markestrat - Analise de Uma Decada na Cadeia da Laranja n/d = não disponível 42 | CITRUSBR outubro 2015 23 24 30 31 32 33 34 35 + que 35 anos 1992 1991 1985 1984 1983 1982 1981 1980 Anterior a 1979 3.750 4.585 2.395 264 547 191 131 177 1.591 340 318 257 313 313 303 348 343 1.235,23 1.425,69 573,87 78,24 162,49 67,16 42,21 59,16 com mais de 22 anos de idade. Essa importante parcela de pomares com idade avançadíssima e baixíssima produtividade certamente tem dificuldade de produzir laranja a custos competitivos. Assim, o alto custo do suco de laranja oriundo das frutas desses pomares faz com que tenham HISTÓRICO DE PLANTIO NÚMERO DE ÁRVORES DE LARANJA PLANTADAS POR ANO NO CINTURÃO CITRÍCOLA 450,71 dificuldades para competir no mercado internacional, que hoje conta com uma enorme gama de sucos de outras frutas e bebidas artificiais não alcoólicas de baixíssimo custo. Considerando que para se manter o parque atual de 174,1 milhões de pés produtivos, levando em conta uma vida útil de 20 anos, ou uma taxa de mortalidade de 5,88% ao ano, 10,2 milhões de plantas ao ano. Mas a história recente mostra que os plantios aconteceram numa velocidade muito superior a isso. Observando a tabela 4, é possível constar um período de forte plantio com 14,6 milhões de novas plantas de laranja em 2006, 17,4 milhões de plantas em 2007 e 19,5 milhões em 2008. Esses dados podem suscitar uma interpretação equivocada e simplista de que o avanço em questão seja fruto de investimentos desenfreados das industriais no plantio de imensas áreas de novos pomares próprios, de modo a caminharem para sua alto sufi- HISTÓRICO DE PROCESSAMENTO DE LARANJA PELAS ASSOCIADAS DA CITRUSBR VOLUME DE MATÉRIA PRIMA PROCESSADA PELAS ASSOCIADAS DA CITRUSBR SAFRAS PROVENIENTE DE POMARES PRÓPRIOS Milhares de caixas 40,8 kg Calendario Milhares de árvores 2000 5.273 2000/01 66,254 2001 4.311 2001/02 50,438 2002 6.411 2002/03 74,742 PROVENIENTE DE FORNECEDORES DE LARANJA TOTAL GERAL Milhares de caixas 40,8 kg % do total Milhares de caixas 40,8 kg 33% 135,630 67% 201,883 29% 123,481 71% 173,919 28% 196,657 72% 271,399 % do total 2003 8.391 2003/04 56,960 28% 148,228 72% 205,187 2004 10.746 2004/05 78,954 27% 215,459 73% 294,412 2005 12.925 2005/06 62,324 24% 200,480 76% 262,803 2006 14.575 2006/07 79,004 25% 236,858 75% 315,862 2007 17.392 2007/08 88,932 28% 225,779 72% 314,710 2008 19.493 2008/09 83,188 29% 205,243 71% 288,431 2009 13.734 2009/10 93,541 35% 171,329 65% 264,870 2010 12.195 2010/11 78,408 31% 172,654 69% 251,062 2011 12.458 2011/12 118,031 30% 280,059 70% 398,089 2012 13.047 2012/13 115,086 38% 186,558 62% 301,644 2013 11.154 2013/14 n/d n/d n/d n/d n/d 2014 5.983 2014/15 n/d n/d n/d n/d n/d Fonte: PES - Fundecitrus Fonte: MBAgro - O Modelo Consecitrus - Respostas as duvidas quanto ao principio metodológico do modelo de parametrização e divisão de riscos e retorno na cadeia citrícola brasileira CITRUSBR outubro 2015 | 43 especial PES 2015 ciencia, assim como alardeados por aqueles que viram as costas para uma análise histórica dos dados. Contudo, um vez observando um cruzamento de dados macroeconômicos do setor, é possível perceber, claramente, que foi nos períodos de “vacas gordas” na citricultura, entre as safras 2006/07, 2007/08 e 2008/09, em que mais se plantou laranja. Nesses anos, uma sequencia de furacões assolaram a produção de laranja na Florida, provocando um desbalanço de oferta e demanda do produto, o que, consequentemente, levou as alturas os precos do suco de laranja das industrias e da laranja aos fornecedores. Esse cenário provocou entao uma forte expansão de oferta de laranja proveniente, principalmente, de citricultores fornecedores das industrias. Verdade seja dita, esses eventos climáticos extremos serviram como combustível para que produtores independentes, embalados pelos professor Marcos Fava Neves. De posse desses dados e diante do gráfico 5, podemos verificar a evolução do cinturão citrícola de São Paulo e do Triângulo Mineiro. O histórico de safra compreendido entre os anos-safra 1988/89 e 2009/10 foram retirados do livro “O Retrato da Citricultura Brasileiro”, do professor Marcos Fava Neves. Entre os anos de 2010/11 e 2014/15 das estimativas de safra publicadas pela CitrusBR. A estimativa da safra 2015/16 é assumido número publicado pelo Fundecitrus. Ao observarmos o histórico de 28 safras, percebemos quatro grupos: abaixo de 300 milhões de caixas, consideradas pequenas, com oito eventos ou 28,6% das safras nesse período. O segundo grupo são as das safras médias, situadas entre 300 milhões e 330 milhões de caixas. Nesse caso, podemos verificar também a existência de oito eventos, ou bons preços praticados no mercado de suco e da fruta, acelerassem seus plantios. Por outro lado, enquanto isso, muitos outros citricultores, industriais ou não, continuaram com seu ritmo de renovação e re-investimento, aperfeiçoando sistemicamente seus pacotes tecnológicos, genética e adensamento propiciando cada vez maiores produtividades no campo. Não por acaso, após essas árvores entrarem em produção impulsionadas por um clima perfeito, tivemos em 2012 a segunda maior safra da história com 428 milhões de caixas. Para adicionar um pouco mais de análise ao contexto em que esses plantios ocorreram, adicionamos a média das cotações da bolsa de Nova Iorque, bem como o preço do FCOJ na Europa (ano-safra julho a junho), das empresas associadas à CitrusBR, calculados pela consultoria Markestrat para o livro “Uma década na citricultura paulista”, de autoria do GRÁFICO 5 PRODUÇÃO DE LARANJA EM S Ã O PA U L O E N O T R I Â N G U L O M I N E I R O (em milhões de caixas de 40,8 quilos) 460,0 428,2 430,0 400,0 318,1 311,2 377,8 351,0 323,3 272,8 44 | CITRUSBR outubro 2015 289,9 317,4 303,4 256,0 278,6 268,4 268,3 278,9 2015/16 2014/15 2013/14 2012/13 2011/12 2010/11 2009/10 2007/08 2008/09 2006/07 2005/06 2004/05 2003/04 2002/03 2001/02 2000/01 1998/99 1999/00 1997/98 1996/97 1994/95 1995/96 1993/94 1991/92 1990/91 246,8 1989/90 214,0 385,4 356,0 302,2 1988/89 220,0 367,5 338,5 307,3 280,0 250,0 349,7 356,3 1992/93 310,0 428,0 371,0 370,0 340,0 436,0 TABELA 5 E S T I M AT I VA D E S A F R A D E LARANJA 2015/2016 POR SETOR Setor Área de pomares adultos Árvores produtivas Estimativa de safra de laranja 2015/16 Por árvore¹ Por hectare Total (hectares) (1.000 árvores) (caixas/árvores) (caixas/hectare) (1.000 caixas) Norte 85,685 37.963 1,68 744 63.76 Noroeste 45,554 19.054 0,99 414 18.85 116,249 47.454 1,39 567 65.95 Sul Centro 84,740 35.366 1,72 717 60.79 Sudoeste 71,264 34.289 2,03 977 69.64 403,492 174.126 1,60 691 278.99 Total Fonte: Fundecitrus 28,6% do total. Entre 330 milhões e 360 milhões de caixas há cinco eventos, totalizando 17,8% das últimas 28 safras. E, por último, podemos observar que nas consideradas safras grandes, acima de 360 milhões de caixas, houve sete eventos, ou 25%. Dessa forma, nos últimos 28 anos, safras pequenas e médias somam 57,2% dos eventos, enquanto as safras médias-grandes e grandes somaram 42,8% das ocorrências. Ao olhar a produtividade em milhões de caixas a cada safra, é possível verificar a correlação que há entre os índices de produção e o número de árvores plantadas a cada ano na mesma área. Para se ter uma ideia, as 19.493 árvores plantadas em 2008 tiveram sua primeira produção colhida na safra 2011/12, quando o volume atingiu 428 milhões de caixas de 40,8 quilos. O trabalho de manutenção e controle do greening também tem efeito importante nessa combinação, já que a erradicação de plantas doentes e a substituição por mudas sadias reduzem as perdas dos pomares. Para se ter uma ideia mais clara sobre os índices de produtividade em cada região, a tabela 5 mostra a correlação entre as áreas do Cinturão Citrícola e a estimativa de safra. Em se tratando de área, a maior concentração de pomares produtivos está justamente na região central, com 116.249 hectares. Porém, mesmo esta safra sendo de baixa produtividade em geral devido a fatores climáticos, a produtividade nessa região na safra 2015/16 está estimada em apenas 567 caixas por hectare. A título de comparação, a região sudoeste, que possui 71.264 hectares, consegue uma produtividade 58% superior, estimada em 977 caixas nesta safra. Já a região nordeste, que possui 45.554 hectares, apresentou uma produção estimada em 414 caixas na safra corrente por hectare, dado extremamente preocupante em uma citricultura em que cada dia mais a produtividade é um fator primordial para a diluição de custos. Isto por si só explica os motivos pelos quais uma parcela dos citricultores consegue progredir em seus negócios enquanto outros têm dificuldade em levar a atividade adiante. Deixando de lado os extremos, percebemos que a região norte mos- tra uma produtividade estimada em 744 caixas por hectare nesta safra, em uma área total de 85.685 hectares, e a região sul com 717 caixas por hectare nesta safra numa área total de 84.740 hectares. Juntas, essas áreas detêm 42,2% de todo o parque citrícola. Se as somarmos aos 71.264 hectares da faixa mais produtiva, perceberemos que 59,8% do Cinturão Citrícola segue a tendência de buscar produtividades mais elevadas. Por outro lado, 11% da área está na faixa mais baixa, com uma produtividade de 414 caixas por hectare na safra corrente, em uma área de 45.554 hectares. Somado aos 116.249 hectares da região Centro, cuja produtividade é de 567 caixas por hectare, teremos um total de 40,2% nos estratos de menor produtividade e, portanto, mais suscetíveis a dificuldades nos controles de custo. Outro ponto interessante nos dados demonstrados pelo Fundecitrus é que a produtividade média é superior justamente nas regiões com maior adensamento, mesmo quando observamos o quesito caixas por árvore. Não é raro ouvir a máxima de que um maior adensamento, embora aumente o número de caixas por hectare, não oferece o mesmo desempenho quando o assunto é caixas por árvores. Olhando os dados, porém, é possível perceber justamente o contrário. A região sudoeste, que é justamente a mais adensada, é também a mais produtiva seja no quesito caixas por hectare, conforme demonstrado anteriormente, seja em caixas por árvore. Enquanto a produção na região sudoeste está estimada em 2,03 caixas por árvore, a estimativa para a nordeste é de apenas 0,99. CITRUSBR outubro 2015 | 45 especial PES 2015 Rodovias federais Rodovias estaduais Todas as laranjas Limas ácidas e limões Tangerinas ÁREA NOROESTE - 90 municípios Votuporanga 54 MUNICÍPIOS São José do Rio Preto 36 MUNICÍPIOS Álvares Florence, Américo de Campos, Aparecida D’Oeste, Aspásia, Auriflama, Cardoso, Dirce Reis, Dolcinópolis, Estrela D’Oeste, Fernandópolis, General Salgado, Guaraçaí, Guarani D’Oeste, Guzolândia, Indiaporã, Jales, Macedônia, Marinópolis, Meridiano, Mesópolis, Mira Estrela, Mirandópolis, Murutinga do Sul, Nova Canaã Paulista, Nova Castilho, Ouroeste, Palmeira D’Oeste, Paranapuã, Parisi, Pedranópolis, Pereira Barreto, Pontalinda, Pontes Gestal, Populina, Riolândia, Rubineia, Santa Albertina, Santa Clara D’Oeste, Santa Fé do Sul, Santa Rita D’Oeste, Santa Salete, Santana da Ponte Pensa, Santo Antônio do Aracanguá, São Francisco, São João das Duas Pontes, São João de Iracema, Sud Mennucci, Suzanápolis, Três Fronteiras, Turmalina, Urânia, Valentim Gentil, Vitória Brasil, Votuporanga Adolfo, Altair, Bady Bassitt, Bálsamo, Cedral, Cosmorama, Floreal, Guapiaçu, Icém, Ipiguá, Jaci, José Bonifácio, Macaubal, Magda, Mendonça, Mirassol, Mirassolândia, Monções, Monte Aprazível, Neves Paulista, Nhandeara, Nipoã, Nova Aliança, Nova Granada, Onda Verde, Orindiúva, Palestina, Paulo de Faria, Planalto, Poloni, Potirendaba, São José do Rio Preto, Tanabi, Ubarana, União Paulista, Zacarias SP-310 BR-153 ÁREA CENTRO - 80 municípios Duartina 43 MUNICÍPIOS Matão 22 MUNICÍPIOS Brotas 15 MUNICÍPIOS Agudos, Álvaro de Carvalho, Alvinlândia, Arealva, Avaí, Balbinos, Bastos, Bauru, Boraceia, Cabrália Paulista, Cafelândia, Campos Novos Paulista, Duartina, Echaporã, Espírito Santo do Turvo, Fernão, Gália, Garça, Getulina, Guaiçara, Guaimbê, Guarantã, Iacanga, Iacri, Júlio Mesquita, Lins, Lucianópolis, Pupércio, Marília, Ocauçu, Parapuã, Paulistânia, Pederneiras, Pirajuí, Piratininga, Pongaí, Presidente Alves, Reginópolis, Sabino, Santa Cruz do Rio Pardo, São Pedro do Turvo, Ubirajara, Uru Américo Brasiliense, Araraquara, Bariri, Boa Esperança do Sul, Borborema, Cândido Rodrigues, Fernando Prestes, Gavião Peixoto, Ibitinga, Itajú, Itápolis, Jaboticabal, Matão, Monte Alto, Motuca, Nova Europa, Novo Horizonte, Rincão, Santa Ernestina, Santa Lúcia, Tabatinga, Taquaritinga Analândia, Bocaina, Brotas, Corumbataí, Dois Córregos, Dourado, Ibaté, Itirapina, Mineiros do Tietê, Ribeirão Bonito, Santa Maria da Serra, São Carlos, São Pedro, Torrinha, Trabiju 46 | CITRUSBR outubro 2015 Guacho Santa Cruz do Rio Pardo SP-270 ÁREA SUDOESTE - 58 municípios Avaré 38 MUNICÍPIOS Itapetininga 20 MUNICÍPIOS Águas de Santa Bárbara, Angatuba, Anhembi, Araçoiaba da Serra, Arandu, Arciópolis, Avaré, Bofete, Boituva, Borebi, Botucatu, Cabreúva, Capela do Alto, Cerqueira César, Cerquilho, Cesário Lange, Conchas, Guareí, Iaras, Igaraçu do Tietê, Iperó, Itatinga, Itu, Laranjal Paulista, Lençóis Paulista, Manduri, Óleo, Pardinho, Pereiras, Piraju, Porangaba, Porto Feliz, Pratânia, Quadra, Salto de Pirapora, São Manuel, Sorocaba, Tatuí, Tietê Alambari, Buri, Campina do Monte Alegre, Capão Bonito, Coronel Macedo, Itabera, Itaí, Itapetininga, Itapeva, Itaporanga, Itararé, Nova Campina, Paranapanema, Pilar do Sul, São Miguel Arcanjo, Sarapuí, Sarutaiá, Taquarituba, Taquarivaí, Tejupa ILUSTRAÇÃO E INFOGRAFIA DE DENIS CARDOSO ÁREA NORTE - 71 municípios BR-050 BR-153 SP-425 Sucorrico Bebedouro 34 MUNICÍPIOS Campina Verde, Campo Florido, Canápolis, Comendador Gomes, Conceição das Alagoas, Frutal, Gurinhatã, Itapagipe, Ituiutaba, Iturama, Monte Alegre de Minas, Planura, Prata, São Francisco de Sales, Uberaba, Uberlândia Ariranha, Barretos, Bebedouro, Cajobi, Catanduva, Catiguá, Colina, Colômbia, Elisiário, Embaúba, Guaraci, Ibirá, Irapuã, Itajobi, Marapoama, Monte Azul Paulista, Novais, Olímpia, Paraíso, Pindorama, Pirangi, Pitangueiras, Sales, Santa Adélia, Severínia, Tabapuã, Taiaçu, Taiúva, Taquaral, Terra Roxa, Uchoa, Urupês, Viradouro, Vista Alegre do Alto SP-330 Bascitros Colina Colina Triângulo Mineiro 16 MUNICÍPIOS Mirassol SP-345 Uchoa Catanduva SP-334 Bebedouro Altinópolis 21 MUNICÍPIOS, SENDO 12 EM SÃO PAULO E 9 EM MINAS GERAIS Altinópolis, Batatais, Brodowski, Cajuru, Cássia dos Coqueiros, Cristais Paulista, Delfinópolis, Fortaleza de Minas, Franca, Ibiraci, Igarapava, Jacuí, Jeriquara, Monte Santo de Minas, Nova Resende, Patrocínio Paulista, Pedregulho, Santo Antônio da Alegria, São Pedro da União, São Sebastião do Paraíso, São Tomás de Aquino Bebedouro Agromex Itajobi SP-322 SP-351 Itápolis KB Dobrada SP-323 ÁREA SUL - 50 municípios SP-310 Matão Matão SP-255 SP-326 40 SP-333 SP-3 Araraquara hidebrand São Carlos SP-318 0 -33 SP SP-215 SP-344 Sucorrico Araras Araras SP-342 Selial Citros Rio Claro SP-225 SP-310 Conchal Limeira SP-352 Engenheiro Coelho SP-300 SP-3 SP-225 40 SP-332 BR-383 Porto Ferreira 19 MUNICÍPIOS Limeira 31 MUNICÍPIOS Aguaí, Caconde, Casa Branca, Cravinhos, Descalvado, Guatapará, Guaxupé, Luiz Antônio, Mococa, Pirassununga, Porto Ferreira, Santa Cruz da Conceição, Santa Cruz das Palmeiras, Santa Rita do Passa Quatro, Santa Rosa do Viterbo, São José do Rio Pardo, São Simão, Tambaú, Vargem Grande do Sul Águas de Lindoia, Americana, Amparo, Araras, Artur Nogueira, Atibaia, Bragança Paulista, Charqueada, Conchal, Cordeirópolis, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Espírito Santo do Pinhal, Estiva Gerbi, Holambra, Ipeúna, Iracemápolis, Itapira, Jaguariúna, Jarinu, Leme, Limeira, Lindoia, Mogi Guaçu, Mogi Mirim, Paulínia, Piracicaba, Rio Claro, Santa Gertrudes, Santo Antônio de Posse, Serra Negra, Socorro BR-381 SP-101 SP-308 SP-7 5 SP-209 SP-065 SP-280 SP-70 SP -34 8 SP-7 5 0 -33 SP SP-270 SP-270 SP-160 SP-21 SP-127 BR-101 SP-150 SP-258 BR-373 SP-55 BR-116 CITRUSBR outubro 2015 | 47 POLIS especial PES 2015 90 6 06 94 0 15 4 0 3 6 VISÃO GERAL DOS POMARES DE LARANJA EM 2015 ÁREA DOS POMARES DE LARANJA (em hectares) Total Duartina Avaré Bebedouro Matão Limeira Porto Ferreira 403.492 52.379 54.173 51.668 42.755 45.125 39.615 27.130 4.429 1.767 4.327 4.704 1.771 2.430 Total 430.622 56.808 55.940 55.995 47.459 46.896 42.045 Pomares adultos (plantios anteriores a 2013) 403.492 52.379 54.173 51.668 42.755 45.125 39.615 27.130 4.429 1.767 4.327 4.704 1.771 2.430 430.622 56.808 55.940 55.995 47.459 46.896 42.045 440 442 462 440 390 440 452 Pomares adultos (plantios anteriores a 2013) Pomares em formação (plantios 2013 e 2014) 9 2 91 0 ÁRVORES DE LARANJA (em milhares) 97 Pomares em formação (plantios 2013 e 2014) Total DENSIDADE MÉDIA DOS POMARES DE LARANJA Precoces POMARES ADULTOS (plantios anteriores a 2013) POMARES EM FORMAÇÃO (plantios 2013 e 2014) Meia Eestação 472 487 522 514 490 471 461 Tardias 435 436 488 426 386 419 415 Densidade média 448 456 492 450 414 441 435 Precoces 637 641 733 622 529 599 847 Meia estação 637 600 771 680 665 654 639 Tardias 624 611 669 628 648 673 649 Densidade média 631 611 711 655 648 658 662 459 468 499 465 437 449 448 DENSIDADE MÉDIA DO CINTURÃO CITRÍCOLA RETRATO DOS POMARES EM 2015 TOTAL DE CITRUS: 492.560 HECTARES (100 % ) 9.950 10.070 13.980 27.940 HECTARES DE POMARES ABANDONADOS HECTARES DE TANGERINAS HECTARES DE LARANJA LIMA, BAHIA, SHAMOUTI E LIMA DOCE HECTARES DE LIMA VERDE E LIMÃO 2,03% 2,04% 2,89% 5,67% ADENSAMENTO MÉDIO TAMANHO DOS TALHÕES: PROPRIEDADES CITRÍCOLAS: 11.561 48 | CITRUSBR outubro 2015 TALHÕES: 50.668 8,5 HECTARES EM MÉDIA 448 PLANTAS PLANTAS (POMARES ADULTOS) (POMARES EM FORMAÇÃO) POR HECTARE 631 POR HECTARE Triângulo Mineiro Votuporanga São José do Rio Preto Brotas Itapetininga Altinópolis 23.229 23.073 22.482 21.110 17.093 10.790 2.521 1.540 1.400 1.472 653 116 25.750 24.613 23.882 22.582 17.746 10.906 23.229 23.073 22.482 21.110 17.093 10.790 2.521 1.540 1.400 1.472 653 116 25.750 24.613 23.882 22.582 17.746 10.906 438 425 449 418 523 504 508 407 467 356 448 510 449 422 422 378 532 483 463 411 443 380 503 496 598 550 699 600 646 749 625 496 583 647 733 532 565 483 578 641 518 491 596 497 588 639 640 540 476 416 451 397 508 497 DISTRIBUIÇÃO DAS ÁRVORES PRODUTIVAS E NÃO PRODUTIVAS DE LARANJA POR VARIEDADE (EM PERCENTUAL E MILHARES) WESTIN 3.183 1,5% RUBI 3.841 1,8% VALÊNCIA AMERICANA VALÊNCIA ARGENTINA SELETA PINEAPPLE JOÃO NUNES HECTARES 430.620 HECTARES DE LARANJAS (87,4%) DE POMARES EM FORMAÇÃO/ NÃO PRODUTIVOS 403.490 HECTARES IRRIGAÇÃO 24,57% DA ÁREA TOTAL, SENDO: 88,3% DESSA ÁREA COM IRRIGAÇÃO LOCALIZADA 11,7% IRRIGADA POR ASPERSÃO 0,6% 1.405 0,04% 76, 06 0,4% 1.002 68.979 58.721 NATAL 21.406 9.029 BAHIA/ BAIANINHA 1.105 SHAMOUTI 974 10,51% 0,5% 0,4% 2.158 LIMA TARDIA 148 0,07% PIRALIMA 186 0,09% LIMA SOROCABA 673 0,3% 42 28,82% 4,43% LIMA VERDE LIMA ROQUES 33,85% 0,00% 5 VALÊNCIA DE POMARES PRODUTIVOS 11,7% 3,1% 6.362 PERA RIO FOLHA MURCHA 27.130 23.847 HAMLIN 1,0% 0,02% LIMA DA PÉRSIA 212 0,1% OUTRAS 406 0,2% CITRUSBR outubro 2015 | 49 especial PES 2015 O CLIMA DA SAFRA Verdade seja dita, essa é a primeira vez que um trabalho da envergadura do projeto PES vem à tona e isso acontece justamente num ano de clima atípico, seguido de uma seca sem precedentes que culminou em múltiplas floradas. Portanto, a produtividade média de 691 caixas por hectares, ou 1,6 caixas por árvore talvez não seja, exatamente, a melhor referência de um comportamento mediano no Cinturão Citrícola. Dessa forma, e pedindo licença para fazer apenas um exercício, considerei hipoteticamente a mesma área de 403 mil hectares e número de plantas nas últimas quatro safras justamente para aproveitar dessa precisão nunca antes divulgada. Assim, podemos calcular por aproximação de produtividade a média por TABELA 6 EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE MÉDIA NO CINTURÃO CITRÍCOLA Safra Produção total Hectares produtivos Produtividade estimada milhões de caixas milhões caixas por hectare 2011/12 428,0 403,7/ N/D 1.060 2012/13 385,4 403,7 /N/D 954 2013/14 289,9 403,7 /N/D 718 2014/15 311,4 403,7/ N/D 771 2015/16 278,9 403,7 691 1.693,6 2.018,5 839 Soma/ Média 5 safras Fonte: Fundecitrus (ND = não disponível) hectare para cada uma dessas safras. Podemos ver na tabela 6, que entre as últimas safras, a de 2015/16 e com suas 691 caixas estimadas por hectare é a pior em termos de produtividade agrícola. Já o ciclo 2011/12, considerando a mesma área e número de plantas, teria alcançado 1.060 caixas por hectares em média, culminando numa supersafra de 428 milhões de planta e a melhor produtividade dos últimos anos. Nesse período, assumidas as premissas aqui colocadas, de uma TABELA 7 E S T I M AT I VA D A S A F R A D E L A R A N J A E S E U S COMPONENTES POR GRUPO DE VARIEDADES Grupo de variedades Componentes da estimativa em maio/2105 Área de pomares adultos Densidade média (hectares) (árvores/ hectare) Estimativa de safra de laranja 2015/16 Árvores produtivas Frutos por árvore na derriça Frutos estimados por caixa * Taxa estimada de queda Por árvore Por hectare Total (1.000 árvores) (número) (número) (número) (caixas/ árvore) (caixas/ hectare) (1.000 caixas) Precoces: Hamlin, Westin, Rubi 68.052 440 28.786 672 270 11 2,10 888 60.43 Outras precoces: Valência Americana, Valência Argentina, Seleta, Pineapple 18.710 438 7.860 524 245 11 1,81 758 14.18 Meia-estação: Pera Rio 128.572 472 58.495 398 254 17 1,24 563 72.35 Tardias: Valência, Folha Murcha 141.326 441 60.006 485 229 20 1,60 681 96.25 46.832 418 18.979 572 230 20 1,89 764 35.78 Média - 448 - 498 245 17 1,60 691 Total 403.492 - 174.126 _ _ _ Natal Fonte: Fundecitrus 50 | CITRUSBR outubro 2015 _ 278.99 produção total agregada das quatro safras da ordem de 1,6 bilhão de caixas produzidas, encontraríamos uma produtividade agrícola mediana ao redor de 1,9 caixa por árvore ou 839 caixas por hectare. Obviamente, é sabido que no período aqui analisado aconteceram muitas mudanças no Cinturão Citrícola. Muitos citricultores saíram da atividade em regiões tradicionais e outros chegaram ou expandiram seus negócios nas novas fronteiras. No gráfico 3, pudemos perceber taxas aceleradas de plantio e replantas, na média muito mais adensadas. Também observamos a entrada de novos pomares em produção muito mais produtivos do que seus pares erradicados. Todo esse conjunto tem feito com que o cinturão como um grande “organismo vivo” alcançasse melhores níveis de produtividade agrícola, salvo anos de intempéries climáticas, assim com mostra o exercício da tabela 7. Contudo, mesmo com a precisão dos números que indicam o total de caixas por região, a safra corrente trouxe uma série de surpresas. Afinal, como se diz na citricultura, nenhum ano é igual ao anterior. Das 278.990.000 de caixas estimadas para a safra 2015/2016, haverá um total de quatro floradas, o que indica dificuldade e encarecimento da colheita por parte dos citricultores, a deterioração do rendimento industrial e do conteúdo de suco na fruta e o consequente aumento do custo de matéria-prima para as indústrias, uma vez que a compra destas é feita por caixa peso e não por sólidos solúveis contidos nas frutas. A tabela 8 mostra a distribuição da produção por florada. TABELA 8 E S T I M AT I VA D E S A F R A D E LARANJA 2015/2016 POR FLORADA FLORADA 1ª 2ª 3ª 4ª Total Estimativa de safra de laranja 2015/16 (1.000 caixas) 83.65 166.56 19.96 8.82 278.99 Percentual da estimativa de safra de laranja por florada 30% 59,7% 7,1% 3,2% 100% Fonte: Fundecitrus Do total a ser produzido, aproximadamente 30 milhões de caixas devem ser colhidas entre os meses de fevereiro e abril, no auge das chuvas e da entressafra, o que indica uma deterioração ainda maior no rendimento industrial dessas frutas, tornando-as antieconômicas para a produção de suco e consequentemente mais aproveitáveis ao mercado de mesa. Outro aspecto importante quando se trata de estimativa de safra é o cálculo do número de frutos por árvore, bem como, por consequência, o número de frutos por caixa. O primeiro é consequência da produtividade e o segundo de características do próprio fruto como diâmetro e, peso, entre outros. Para fins de estimativa de safra, também é necessário calcular a taxa de queda dos frutos, o que interfere diretamente na quantidade de laranja disponível para a colheita. Nesse sentido, a tabela 6 nos apresenta alguns dados interessantes. O primeiro deles é que a produtividade das variedades precoces, como de costume, continua bem aci- ma das chamadas laranjas de meia-estação e tardias. A quantidade de frutos por caixa também é maior nas precoces, devido ao fato de serem frutas miúdas. A Hamilin apresentou um número grande de frutos por caixa: 270 ante 245 de outras precoces. Nas variedades de meia-estação a Pera Rio apresentou estimativa de 254 frutos por caixa, as tardias 229 frutos por caixas e a natal 230. Quando nos debruçamos sobre a comparação de produtividade estimada por variedade e região, mesmo nesta safra de 2015/16 que se inicia sendo uma das menores safras e, portanto, com menor produtividade registrada no passado recente, nos deparamos com imensas diferenças entre modelos de produção e produtividade em diferentes regiões. A tabela 9, que trata da comparação de produtividade por variedade na safra atual mostra que enquanto as variedades precoces (Hamlin, Westin e Rubi) estão estimadas com uma produtividade de 468 caixas por hectare na região nordeste, as mesmas variedades na região sudoeste conseguem aferir incríveis CITRUSBR outubro 2015 | 51 especial PES 2015 1.341 caixas por hectare, ou seja, uma produtividade 186% melhor. Com uma diferença um pouco menor, mas ainda assim com abismo produtivo entre algumas regiões, a soma da estimativa de produção para cada uma das variedades selecionadas tem como resultado final alguns dados já apresentados neste artigo, que mostram, justamente, que embora os parques citrícolas de São Paulo e do Triângulo Mineiro tenham avançado em termos de produtividade e tecnologia de produção, há um longo caminho a ser percorrido para diminuir o abismo entre os pomares mais produtivos e os menos produtivos. No caso das laranjas de meia-estação, a diferença também é considerável. Na região noroeste, a produtividade estimada de 367 caixas por hectare é apenas 48% das 759 caixas encontradas na região sudoeste. Nas tardias Folha Murcha e Valência, a discrepância é incrível. Enquanto a região noroeste trabalha com 312 caixas por hectare, a região sudoeste deve alcançar 946 caixas por hectare, ou seja, a produção estimada para a região noroeste é de apenas 33% da estimada para a região sudoeste. No caso da Natal, a maior diferença está entre as 556 caixas por hectare estimadas para a região norte e as 1.096 caixas estimadas para a região sudoeste, ou seja, a primeira é praticamente metade da segunda, ou precisamente 52,5%. Como o projeto de PES fez um anúncio de visão estática, literalmente uma fotografia de um momento do parque citrícola num determinado período, para que cada leitor possa traçar seu próprio cenário 52 | CITRUSBR outubro 2015 TABELA 9 C O M PA R A Ç Ã O D E P R O D U T I V I D A D E E S T I M A D A POR VARIEDADE E REGIÃO NA SAFRA 2015/16 Produtividade média de caixas por hectare 40,8 kg Noroeste Norte Centro Sul Sudoeste Total Precoces: Hamlin, Westin, Rubi 468 1.078 585 892 1.341 888 Outras precoces: Valência Americana, Valência Argentina, Seleta, Pineapple 560 713 788 782 1.022 758 Meia-estação: Pera Rio 367 623 525 579 759 563 Tardias: Valência, Folha Murcha 312 692 534 747 946 681 Natal 669 556 635 811 1.059 764 Total 414 744 567 717 977 691 Fonte: Fundecitrus vamos arriscar algumas projeções de quantidades de plantas produtivas para as próximas safras, como demonstrado na tabela 10. A conta que propomos leva em consideração o parque atual com uma idade média de 20 anos para renovação, dos quais as árvores produzirão por 17 anos, devido aos três primeiros anos que não são produtivos. Assim, conforme colocado anteriormente, propomos uma taxa de renovação de 5,88% ao ano devido à mortalidade de plantas apenas para que o parque se mantenha como está. No entanto é preciso considerar que entrarão nessa conta as árvores plantadas nos anos de 2013, 2014 e 2015 para que possamos ter um cenário para os próximos dois anos. O infográfico 1 detalha como essa conta pode ser feita e perceberemos que enquanto em 2015 encontramos um parque citrícola de 174,1 milhões de árvores, encontraremos cerca de 178,3 milhões de árvores em 2016 e 177,1 milhões de plantas em 2017, números que deverão, ob- viamente, ser verificados pelo projeto PES, que trouxe, sem dúvida, novas ferramentas para que o produtor possa pensar no seu negócio e tentar antever os cenários. Desde que o Fundecitrus divulgou seu trabalho, participei de diferentes eventos, feiras e encontros com produtores. Com base no que vi e conversei com centenas de citricultores é possível afirmar que todos estão fazendo suas contas e levando muito a sério os detalhes encontrados no projeto PES. Esse comportamento se deve à credibilidade que o projeto alcançou principalmente pela transparência das ações. Por essa razão, cumprimento e parabenizo a todos os envolvidos a começar pelo presidente do Fundecitrus, Lourival Mônaco e, seu vice-presidente, Roberto Jank. Também agradeço a todos os conselheiros titulares citricultores: Antonio Ricardo Violante, Edelcio Oliveira, Helton Carlos de Leão, Marco Antonio dos Santos, Renê Sanches e Ricardo Krauss, que além de citricultor TABELA 10 C O N TA G E M D E Á RV O R E S D E L A R A N J A P O R S E T O R E A N O D E P L A N T I O D I V U L G A D A P E L O P E S PA R A C Á L C U L O D A E S T I M AT I VA D A S A F R A 2 0 1 5 / 1 6 D O C I N T U R Ã O C I T R Í C O L A D E S Ã O PA U L O E D O T R I Â N G U L O M I N E I R O Ano de plantio Anterior a 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Árvores produtivas 2013 2014 Replantas* Árvores não produtivas Total Norte Noroeste Centro Sul Sudoeste Total (1.000 árvores) 85,23 13,11 6,2 9,94 82,16 26 125,13 86,75 52,05 51,05 41,95 192,83 36,69 155,82 100,56 101,63 179,82 166,16 282,79 504,05 1.017,92 1.366,49 1.120,47 976,52 2.124,25 2.582,84 2.566,14 3.394,61 3.870,84 3.657,31 3.665,31 2.933,98 2.836,44 3.550,35 37.963,37 (1.000 árvores) 22,48 4,23 3,42 3,73 1,89 5,02 91,89 144,39 14,58 71,27 139,01 96,63 59,63 17,22 44,31 126,3 105,05 29,21 7,78 100,46 43,95 280,15 413,66 292,91 563,94 873,37 608,1 1.378,16 1.597,60 3.334,97 2.042,31 2.381,56 2.358,52 1.796,41 19.054,08 (1.000 árvores) 68,71 1,35 4,18 4,39 194,79 83,5 47,49 195,76 193,27 437,11 212,94 98,01 391,1 253,07 314,78 484,88 707,66 1.192,77 1.076,66 1.354,94 1.053,64 2.415,96 2.378,88 2.555,09 3.959,44 3.711,13 4.843,30 5.468,78 3.513,43 2.883,33 3.626,82 3.726,55 47.453,68 (1.000 árvores) 263,72 41,81 5,11 45,47 74,27 27,21 146,59 333,78 204,77 111,64 354,43 597,9 482,26 424,03 343,06 570,17 807,98 496,16 543,74 1.050,45 913,56 1.681,68 1.214,94 1.546,08 1.582,11 2.162,15 2.196,49 2.517,39 2.895,04 2.327,53 2.026,47 2.599,57 2.262,68 2.515,56 35.365,77 (1.000 árvores) 10,58 27,49 6,66 15,61 15,47 14,85 167,82 44,99 232,19 358,41 634,18 540,15 688,62 434,23 313,51 241,03 536,88 322,17 315,21 589,76 508,73 1.180,11 1.742,25 2.572,84 3.595,01 3.574,22 4.185,25 4.704,72 2.486,86 1.396,87 1.373,83 1.458,49 34.288,98 (1.000 árvores) 450,71 59,16 42,21 67,16 162,49 78,24 573,87 663,27 486,71 474,71 960,86 1.682,88 1.425,69 1.235,23 1.567,64 1.485,40 1.721,15 1.417,44 2.078,84 3.169,90 3.367,30 5.273,02 4.311,43 6.411,57 8.391,43 10.746,29 12.925,17 14.575,50 17.392,03 19.493,31 13.734,37 12.195,31 12.458,29 13.047,36 174.125,88 3.354,22 1.043,17 1.367,33 5.764,72 952,59 635,71 374,01 1.962,36 4.457,31 2.238,82 2.134,05 8.830,18 1.442,60 1.332,75 1.749,79 4.525,14 947,75 733,00 970,15 2.650,90 11.154,47 5.983,45 6.595,38 23.733,30 43.728,09 21.016,44 56.283,86 39.890,91 36.939,88 197.859,18 *Árvores não produtivas em pomares adultos E S T IM AT I VA DA C I T RUS B R PA R A CO N TAG E M D E Á R VO R E S P R O D U T I VA S N A S P R ÓX IM A S 2 S A F R A S Árvores produtivas informadas pelo PES em maio de 2015 Estimativa de mortalidade média anual de 5,88% das árvores produtivas (expectativa média de vida de 20 anos) Entrada em produção das árvores plantadas em 2013 Entrada em produção de 50% das replantas existentes nos pomares adultos em maio de 2015 Estimativa da CitrusBr para contagem de árvores produtivas na safra 2016/17 Estimativa de mortalidade média anual de 5,88% das árvores produtivas (expectativa média de vida de 20 anos) Entrada em produção das árvores plantadas em 2014 Entrada em produção de 50% das replantas existentes nos pomares adultos em maio de 2015 Estimativa da CitrusBr para contagem de árvores produtivas na safra 2017/18 174.125,88 -10.242,60 +11.154,47 +3.297,69 =178.335,44 -10.490,22 +5.983,45 +3.297,69 =177.126,36 Fonte: Fundecitrus CITRUSBR outubro 2015 | 53 especial PES 2015 hoje acumula a função de diretor da Sucorrico. Agradeço e cumprimento os conselheiros ligados às indústrias: Renato Marchi, Francisco Groba Netto e Waldir Guessi. Sou testemunha de que todos eles não mediram esforços para que o projeto fosse implantado com o mais elevado grau de transparência e seriedade. Nesses meses em que convivi mais próximo ao Fundecitrus aprendi a entender um pouco mais a dinâmica dessa entidade que não diferencia conselheiros titulares de suplentes e a principal credencial para participar dos debates é justamente ser um citricultor. Dessa forma, também agradeço e cumprimento outros conselheiros que mesmo diante das dúvidas que surgiram no começo do projeto deram seu voto de confiança e hoje são responsáveis pelo sucesso desse trabalho, como Frederico Lopes, o Fred, Fernando Rocha Bortholucci, Gilberto Antonio Cabianca, Guilherme de Souza Santos, José Eugênio, José Gibran, Nelson Ivan Barrancos, Rafael Machado, Nicolau de Souza Freitas, Ronaldo Antonio Bovo, Luiz Fernando Catapani e Vilson Freschi. O projeto PES teve em sua origem um trabalho muito dedicado por parte dos técnicos dos departamentos das empresas associadas à CitrusBR que ajudaram a montar o projeto que foi apresentado ao Fundecitrus. Essa turma, formada por estatísticos e agrônomos, entre outros, trabalhou de forma incansável para viabilizar a parte técnica. Como testemunho dessa história, estávamos em Ribeirão Preto trabalhando no fatídico dia em que o Brasil perdeu da Alemanha por 7x1. Esse grupo era formado por 54 | CITRUSBR outubro 2015 Leandro Góis, Roseli Reina, Bruno Zacarin, Hélio Triboni, Jackeline Carvalho, Fernando Delgado, Isabela Costa, Renato Rovarotto e Silvia Pasqua. Muitos desses profissionais trocaram mais de 20 anos de trabalho em suas companhias para integrar a equipe formada no Fundecitrus, num projeto que ninguém sabia ao certo que resultado daria ao final, literalmente, das contas. Toda essa coordenação aconteceu sob a batuta do jovem cientista Vinícius Trombin, da Markestrat, que assumiu a coordenação do projeto. Acredito que o Vinícius nunca tenha trabalhado tanto em sua vida e, justamente, num período em que se tornou pai pela segunda vez. Toda essa turma, que se encarregou de ser o grande receptáculo de informações já dentro do Fundecitrus, recebeu a companhia de Francisco Cianfione e Sebastião Bertolucci. Trocaram o certo pelo incerto e agora trabalham para todo o setor. Uma vez no Fundecitrus, o projeto PES também contou com um apoio importante da academia e fizeram parte dessa missão os professores Marcos Fava Neves, da USP de Ribeirão Preto, que manteve intenso contato com o departamento de pesquisa de safra do USDA no sentido de manter as metodologias alinhadas, assim como o professor José Carlos Barbosa, da Unesp de Jaboticabal, responsável por ser o guardião das normas estatísticas no projeto para que tudo fosse feito de acordo com as melhores metodologias disponíveis. Todo o projeto ainda contou com mais de 50 técnicos que, por meses, percorreram os talhões que formam o Cinturão Citrícola de São Paulo e do Triângulo Mineiro e, para tanto, foi necessário uma gestão de custos bastante eficiente. Mal gerenciado, um projeto dessa proporção pode simplesmente se mostrar inviável. Por essa razão, cumprimento o gerente-geral do Fundecitrus, Juliano Ayres, que, certamente, ganhou alguns cabelos brancos a mais devido não só ao rígido controle de custos, mas também à nova atribuição que a instituição recebeu com o projeto PES. O projeto também contou com a participação de profissionais de dois importantes players da citricultura paulista, Aprígio Tank Jr, da Agroterenas, e Ivan Brandimarte, da Cambuhy. Uma das preocupações iniciais do projeto e que é não só uma preocupação, mas sobretudo um cuidado na CitrusBR, é justamente a atenção extrema às normas concorrenciais. Dessa forma, o projeto contou ainda com o apoio jurídico dos advogados Fernando Moraes e Arnaldo Lima, que deram as orientações para que tudo estivesse não só de acordo com a legislação concorrencial, mas em linha com as melhores práticas de compliance. E se agora o caro leitor se pergunta o porquê da necessidade de citar tantas pessoas, com tantas atribuições diferentes, a resposta é uma só: transparência. Seja pelo número de pessoas envolvidas, pelas instituições que representam, seja pelo resultado alcançado, os motivos para comemorar são grandes. Que venham outros projetos que beneficiem a cadeia citrícola. Que venham novos tempos para a citricultura e que todos trabalhem em harmonia pelo desenvolvimento de nosso setor. Saúde! internacional Os cajus da Pepsi Empresa investe em produção da fruta na Índia e aposta no suco de caju como uma opção mais barata para substituir sucos mais nobres como os de maçã e laranja nas suas misturas Desde o ano passado, os produtores de caju da região de Ratnagiri, na Índia, foram surpreendidos pelo interesse, até então inesperado, da multinacional americana PepsiCO, disposta a comprar boa parte da produção local. O mais curioso para os produtores é que o interesse não era na castanha, considerada a parte nobre do fruto, mas, sim, na fruta propriamente dita, algo que antes era simplesmente descartado. Mas o súbito desejo da gigante dos refrigerantes pelo caju não tem nada de inusitado. Trata-se de uma estratégia de mercado. A empresa enxergou no suco de caju uma opção mais barata para ser usada como base de alguns de seus produtos, substituindo sucos FOTO SHUTTERSTOCK mais caros como os de maçã e laranja. “Sucos de romã e limão e água de coco são populares, mas o custo está se tornando uma questão importante”, declarou o vice-presidente de produção mundial na PepsiCo Índia, V. D. Sarma, em entrevista ao jornal The New York Times. “Por isso estamos sempre em busca de novas fontes de sucos produzidos localmente para ajudar a baixar os preços, para nós e para os consumidores.” O plano da empresa é que, já a partir deste ano, o suco de caju seja parte de uma bebida mista de frutas, que será vendida no mercado indiano sob a marca Tropicana. No futuro, a companhia pretende adicioná-lo à fórmula de suas bebidas em todo o mundo. “Podemos contar uma história tendo o suco de caju como base”, diz o gerente sênior de sucos e bebidas de frutas na Índia, Anshul Khanna. A empresa também considera que o produto tem potencial para se tornar o próximo suco da moda. Um processo pelo qual já passaram a água de coco e o suco de açaí, por exemplo. Para fazer deslanchar seu projeto na Índia, a PepsiCo fez uma parceria com a Fundação Clinton, que tem ajudado a implementar medidas para melhorar o plantio, a colheita e o processamento dos cajus. Diante do interesse da gigante dos refrigerantes, o Brasil pode se tornar também um fornecedor da companhia. Afinal, o país é uma das maiores fontes mundiais de castanhas de caju e processa apenas 12% de sua safra dos frutos do caju a cada ano. De qualquer forma, pode estar nascendo mais um concorrente para o suco de laranja no mercado internacional. CITRUSBR outubro 2015 | 55 sanidade Com a infestação de cancro cítrico em níveis alarmantes, setor produtivo defende mudanças na legislação de combate à doença e fim da erradicação de árvores contaminadas UMA MANCHA NO CAMPO INFESTAÇÃO Nível de incidência de cancro já chega a 5% dos pomares O cancro cítrico, doença que há mais de cinco décadas habita os pomares paulistas, se tornou, na verdade, um drama. Hoje, por conta da legislação vigente, centenas de citricultores estão com suas propriedades interditadas e impedidos de comercializar a sua produção. Tudo isso porque a lei obriga o poder público a embargar fazendas em que se constate a presença dessa bactéria. Essa é a face mais cruel da proliferação da doença, que atingiu nos últimos anos níveis nunca vistos. Em algumas regiões do Estado, como a de Jales, a proliferação é endêmica e o que não falta 56 | CITRUSBR outubro 2015 são relatos, ainda que sob anonimato, de produtores temerosos e desesperados com a situação. De acordo com acompanhamento do Fundecitrus, o nível de infestação nos pomares, que em 2010 era de 0,27%, chegou a 1,39% em 2012, ano em que foi realizado o último levantamento. Com base em cálculos matemáticos, o Fundo estima que atualmente o nível de infestação já esteja em 5% dos pomares. Com o fungo em patamares alarmantes, especialistas defendem mudanças no atual modelo de combate à doença, que perdurou por mais de 50 anos, mas que hoje em dia já não parece ser economicamente viável. “O modelo atual de combate funcionou por um bom tempo, mas agora precisa ser ajustado à lei sanitária federal. Se formos erradicar teremos que erradicar, 100 milhões de árvores”, afirma o advogado Laerte Biazotti, responsável pela defesa de um grupo de produtores que tenta na Justiça a liberação de suas propriedades. No modelo atual, a Secretaria de Agricultura de São Paulo, por meio da FOTOS DIVULGAÇÃO E JULIO VILELA LOURIVAL MÔNACO Diálogo entre governo e setor produtivo é essencial para avançar no combate à doença Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA), realiza fiscalizações aleatórias em decorrência de denúncias. Uma vez identificada a presença da doença, a propriedade fica impedida de comercializar seus frutos ou até mesmo plantar novas árvores, até que se erradique os pés contaminados. “É uma situação complicada porque, uma vez constatados o cancro e a necessidade de erradicação, fica praticamente inviável a continuidade daquela produção”, ressalta o advogado. Para azedar ainda mais essa laranja, os produtores reclamam da falta de pagamento de indenizações por conta dos pés erradicados, a exemplo do que acontece na pecuária em animais com a Febre Aftosa que são abatidos e seus criadores indenizados. “Esse é um direito previsto e que estamos buscando”, ressalta Biazotti. Um dos pilares dos argumentos favoráveis à alteração na legislação é o fato de que, diferentemente do que acontece com o greening, o cancro não mata o pé de laranja, que continua produtivo. Além do que, ambas as doenças não oferecem risco à saúde humana. “Não adianta continuarmos com uma legislação hoje que pune o produtor e não permite manter a doença sob controle”, explica o pesquisador e professor de patologia da Esalq/USP José Belasques. Dessa forma, poderiam ser adotados manejos de prevenção e controle, a exemplo do que já acontece em outras regiões, como no Paraná. São medidas como escolha de mudas sadias, implantação de quebra-ventos e controle na entrada de pessoas e material no pomar. “O controle pode ser feito por meio de inspe- ções preventivas e da aplicação de cobre nos momentos de brotação, uma vez que inseticidas sistêmicos em plantas novas induzem a tolerância à doença”, explica o pesquisador do Fundecitrus Franklin Behlau. Uma das principais entidades envolvidas no combate ao cancro, o Fundecitrus acredita que o diálogo entre governo e setor produtivo é fundamental. “Nós respeitamos a legislação vigente, embora os dados levantados pelo Fundecitrus, que mostram o nível atual em que se chegou a infestação do cancro, nos alertem sobre a necessidade de olharmos a legislação com outros critérios e outros cuidados”, pondera o presidente do Fundecitrus e também citricultor, Lourival Mônaco. O próprio secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, durante reunião realizada com representantes do setor produtivo na última edição da Semana da Citricultura, se mostrou disposto a debater a legislação. “Foi aberto o nosso processo de revisão das normas sobre o cancro cítrico. Já há uma proposta apresentada e nós estamos rediscutindo, pois é óbvio que a situação não pode continuar como está. A mudança é necessária”, afirmou. Embora exista um grande apoio do setor em torno da ideia de alteração da legislação, há quem acredite que o modelo atual ainda é a melhor forma de combate ao cancro. De acordo com o diretor do Escritório de Defesa Agropecuária de Barretos, Paulo Fernando de Brito, um dos aspectos que devem ser estudados é o fato de o Estado ser exportador de frutas in natura, além de comercializar esse produto para outras regiões do país. “Precisamos verificar as regras sanitárias das regiões que recebem a laranja de São Paulo.” Ele ressalta que qualquer mudança precisa ser mais bem debatida, embora aponte que alguns pontos devem ser revistos. “A interdição da propriedade por dois anos é assunto que poderia ser melhorado e talvez revisto”, aponta. DOENÇA QUE SE ALASTRA 1,39 Veja o aumento da incidência de cancro nos últimos anos em São Paulo (em %) 0,70 0,99 0,44 0,27 0,08 0,11 0,22 0,14 0,11 0,19 0,10 0,17 0,14 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 CITRUSBR outubro 2015 | 57 tecnologia Valtra aposta em nova geração de tratores voltados para pequenos e médios produtores com motores superpotentes e alto nível de tecnologia embarcada Hora de ACELERAR Faz tempo que pequenos e médios produtores deixaram de se contentar com tratores mais básicos, que pouco oferecem em termo de inovações. Essas máquinas mais simples ainda têm seu público, mas é cada vez maior a procura por tratores médios que sigam a linha de seus “irmãos” mais robustos e ofereçam alto desempenho e um bom nível de tecnologia embarcada. De olho nessa tendência de mercado, a Valtra, empresa do grupo norte-americano AGCO, resolveu apostar na sua linha Série A Fruteiro, desenvolvida sob medida para culturas de café e citrus. São tratores de menor porte, mas que têm como principal característica a alta potência de seu motor, que pode chegar até a 96 cavalos. O que, segundo a companhia, coloca a máquina como uma das mais potentes nesse segmento. “Cada vez mais 58 | CITRUSBR outubro 2015 os pequenos e médios produtores demandam equipamentos com alta tecnologia, que otimizem a operação nas fazendas”, explica o gerente de marketing da marca, Winston Quintas. Ao todo são quatro modelos nas versões A650 (66cv), A750, (78cv), A850 (85cv) e A950 (96cv). Em comum, eles têm o novo sistema de injeção, que faz com que seja possível aumentar a potência no campo com baixo consumo de combustível. De acordo com Quintas, essa característica, antes restrita a máquinas maiores, vem se mostrando um diferencial nos pomares de menor porte porque combina aumento da produtividade com menor custo operacional. Além disso, essas máquinas já operam de forma eficaz em terrenos em declive. Outro diferencial da linha está no fato de ela ter sido desenvolvida pensando em melhorar o desempenho dos implementos que são acoplados aos tratores WINSTON QUINTAS, DA VALTRA Tratores menores com mais tecnologia embarcada são a nova tendência de mercado FOTOS DIVULGAÇÃO E JULIO VILELA MAIS POTENTES Os tratores da Série A Geração II oferecem tecnologia ao alcance dos pequenos e médios produtores 1. O modelo A950F possui 96 cavalos 2. Sistema de injeção com bomba em linha proporciona menor consumo de combustível 3. Plataforma plana garante maior estabilidade ao operador 4. Alavancas laterais facilitam as manobras e garantem mais agilidade PEQUENOS TURBINADOS Nova linha de tratores compactos oferece uma série de itens para melhorar seu desempenho TECNOLOGIA Válvula de fluxo constante (40 litros por minuto) POTÊNCIA Disponível nas versões 66cv, 78cv, 85cv e 96cv 1 2 4 3 DURABILIDADE Baixo custo de manutenção e sistema que facilita limpezas periódicas CONFORTO para o trabalho no campo. “Com os nossos motores, é possível trabalhar com um sistema econômico, que oferece o máximo de potência para o trabalho com o máximo rendimento”, diz Quintas. Em resumo, mesmo quando a operação exige mais força do motor para o manuseio de implementos pesados, a potência e o desempenho são mantidos, sem que haja consumo extra do combustível. “No fim das contas, essa equação se traduz em ganho de produtividade”, diz Quintas. Ele explica ainda que outra tendência no mercado de pequenos e médios está na procura cada vez maior por produtos que aliem produtividade e conforto. Nesse sentido, a opção de tratores cabinados é uma tendência que deve continuar em alta nas próximas temporadas. Além disso, o gerente destaca alguns itens como válvulas laterais, assentos ergonômicos, ar-condicionado e plataformas planas, que até pouco tempo atrás eram deixados em segundo plano pelos compradores de tratores de pequeno e médio porte. “Isso também vem mudando. Cada vez mais há demanda por itens que ofereçam não só maior conforto na operação, mas também segurança”, afirma. Nesse sentido, ele destaca as válvulas laterais nas plataformas e no painel. “Antes, elas ficavam em uma posição menos ergonômica, o que exigia do operador um movimento constante de abaixar e levantar, tornando a operação muito mais cansativa.” Versão com e sem cabine, com regulagem de altura e profundidade do volante CITRUSBR outubro 2015 | 59 Política 18 % FOI QUANTO AS EXPORTAÇÕES DE MAÇÃ DA POLÔNIA CAÍRAM DESDE O EMBARGO RUSSO QUANDO O GOVERNO Programas governamentais ajudam a equilibrar estoques excedentes de suco de laranja nos EUA e de suco de maçã na Polônia e mostram que mecanismos desse tipo podem ajudar em caso de excesso de oferta do produto Nos últimos meses, a continua queda de consumo de suco de laranja nos Estados Unidos, em conjunto com a elevação dos estoques do produto em solo americano devido ao aumento das exportações, vem provocando uma retração na cotação da commodity. Os estoques, que em 8 de agosto registraram alta de 5,8% ante a semana anterior e chegaram a 336,3 milhões de libras-peso (152.543 toneladas), provocaram uma queda de 60 | CITRUSBR outubro 2015 8% nos contratos futuros na bolsa de Nova York (ICE Futures). Essa queda nos preços no mercado futuro, associada às constantes quedas no consumo do varejo, criou um cenário um tanto quanto preocupante, que culminou com o anúncio do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) de que comprará US$ 20 milhões de suco de laranja para ajudar a recuperar os preços do produto. A ação do USDA está de acordo com uma lei que permite ao governo norte-americano remover o excesso de oferta de alimentos do mercado caso isso esteja derrubando os preços. A expectativa é de que a compra remova cerca de 2,5% da oferta de suco de laranja FCOJ, algo em torno de 6 milhões de libras-peso (2.721 toneladas). A medida veio em resposta aos pedidos do Florida Citrus Mutual, entidade que reúne os citricultores daquele estado. No mês passado, em reunião com FOTO SHUTTERSTOCK 5,8 % FOI QUANTO SUBIRAM OS ESTOQUES AMERICANOS DE SUCO DE LARANJA EM AGOSTO BEBE SUCO o secretário de Agricultura, Tom Vilsack, o executivo-chefe da associação, Michael Sparks, solicitou que o governo adquira US$ 100 milhões em suco por ano, nos próximos cinco anos. “Acreditamos que a compra de US$ 20 milhões é o início do que deveria ser uma série de aquisições nos próximos anos para ajudar a aliviar os estoques”, disse Sparks. Os volumes adquiridos são distribuídos em programas sociais do governo ou doados a projetos beneficentes. Movimento semelhante de apoio aos produtores aconteceu na Polônia, que desde 2014 vem sofrendo com o excesso de maçãs no mercado, por conta dos embargos impostos pela Rússia, que até então comprava 56% da fruta exportada pelo país, algo em torno de 677 mil toneladas. Entre setembro do ano passado e fevereiro deste ano, o volume total de maçãs exportado pela Polônia ficou em 430 mil toneladas, ante 525,3 mil toneladas do mesmo período da safra anterior. Enquanto em janeiro e fevereiro do ano passado a Polônia exportou 175 mil toneladas da fruta para aquele país, nos dois primeiros meses deste ano, o volume embarcado ficou em 36 mil toneladas. Com isso, as frutas inundaram o mercado europeu e acabaram processadas e transformadas em suco, fazendo o preço da commodity despencar em toda a Europa. Dainta desse cenário, o governo polonês e da União Europeia anunciaram compras de fruta para dar um respiro ao mercado interno. No Brasil, contudo, projeto semelhante não foi para a frente. A CitrusBR chegou a oferecer, em 2012, um projeto em que suco de laranja concentrado a 42º Brix seria distribuído pela Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab, em programas sociais. Porém, a estatal alegou à época que não tinha controle sobre a água que seria usada para reconstituir a bebida. Dessa forma, rejeitou o projeto e o País perdeu uma grande chance de oferecer um produto de qualidade para a sua população e auxiliar um setor em dificuldades econômicas. Ganhou o perde-perde. CITRUSBR outubro 2015 | 61 negócios | Bloomberg 62 | CITRUSBR outubro 2015 O ILUSTRAÇÕES E INFOGRAFIA DE FABIANO DUARTE TIGRE QUE VIROU GATINHO COMO A MUDANÇA NO HÁBITO DE CONSUMO DOS AMERICANOS NO CAFÉ DA MANHÃ TEM AFETADO AS RECEITAS DA KELLOGG, ASSIM COMO TEM IMPACTADO O CONSUMO DE SUCO DE LARANJA, O QUAL TEM 75% DO VOLUME CONSUMIDO NESSA REFEIÇÃO J ohn Bryant é um voraz consumidor de cereais. Quase todas as manhãs, ele consome uma tigela de All-Bran Buds, da Kellogg. Bryant também dá esses alimentos aos seus seis filhos. “Posso assegurar que consumimos uma quantidade enorme de cereais”, diz ele. Isso torna a família Bryant um tanto anacrônica em um momento em que os americanos migraram para barras de granola, redescobriram as virtudes das refeições quentes, como aveia e ovos, e caíram no feitiço do iogurte grego. Mas não Bryant. Ele é o diretor-executivo da Kellogg, a maior fabricante mundial de cereais, cujas marcas também incluem Frosted Flakes, Rice Krispies, Corn Flakes, Froot Loops e Apple Jacks. Em 12 de fevereiro, Bryant, fortalecido por sua porção habitual de All-Bran, chegou na sede da Kellogg em Battle Creek, Michigan, para transmitir uma má notícia. As vendas líquidas da empresa de alimentos caíram 8% no quarto trimestre de 2014 nos EUA. Esta foi a sétima queda trimestral consecutiva da divisão. “É muito frustrante”, afirmou. Por quase um século, a Kellogg definiu o café da manhã americano, que foi personificado pelos mascotes dos desenhos animados da Kellogg, como o vigoroso Tony, o Tigre e o Tucano Sam, do Froot Loops. A empresa ainda gasta mais de US$ 1 bilhão por ano em publicidade, mas já não tem o mesmo poder sobre o café da manhã. CITRUSBR outubro 2015 | 63 negócios As vendas de 19 dos 25 principais cereais da empresa caíram no ano passado, de acordo com a consultoria Consumer Edge Research. As vendas de Frosted Flakes, a marca número 1 da empresa, caíram 4,5%. Enquanto isso, o Special K Red Berries, um dos principais sucessos da empresa na década passada, caiu 14%. Bryant, de 49 anos, culpa a evolução dos gostos dos volúveis consumidores de café da manhã pelos problemas financeiros da Kellogg. Atualmente os americanos têm menos filhos. Ambos os cônjuges muitas vezes trabalham e não têm mais tempo para saborear uma porção de cereal. Muitas pessoas pegam algo no caminho para o trabalho e o devoram em seus carros ou nas suas mesas ao verificar os e-mails. Ladeira abaixo Histórico da queda na receita total da Kellogg: As pessoas que ainda tomam café da manhã em casa preferem alimentos que exigem um trabalho de preparação mais intensivo, de acordo com uma pesquisa recente da Nielsen. Elas passam mais tempo na frente do fogão, preparando aveia (as vendas subiram 3,5% no primeiro semestre de 2014) e ovos (até 7% no ano passado). Eles estão aquecendo waffles congelados, rabanadas e panquecas (as vendas desses alimentos aumentaram 4,5% nos últimos cinco anos). Esta última inclinação deveria estar ajudando a Kellogg: afinal, ela é a proprietária dos waffles congelados Eggo. Mas as vendas dos produtos não foram suficientes para compensar as quedas de cereais nos EUA. E a Kellogg enfrenta uma tendência mais ameaçadora. Nos últimos anos, os americanos estão se afastando de alimentos processados. Se esses compradores ainda comem cereais, eles preferem o tipo “sem glúten”, cujas vendas subiram 22%, de acordo com a Nielsen. Bryant afirma que a Kellogg está trabalhando para desenvolver cereais que vão superar essas mudanças culturais e acabar com a sua miséria matutina. Seus dois maiores concorrentes, a General Mills, fabricante do Cheerios e Lucky Charms, e a Post Holdings, estão enfrentando as 2010 Lançamentos de novos cereais e ampliação da linha de congelados ajudou a melhorar os resultados 2011 Companhia sente os efeitos da crise econômica de 2009, com retração no consumo e mudança dos hábitos alimentares dos norte-americanos 7,0 3,5 4,5 -1,5 % % % % OVOS AVEIA PANQUECAS E WAFFLES CEREAIS Fonte: Nielsen Dados em 2014 % 2012 Queda nas vendas na Europa e na América do Norte 3,76 64 | CITRUSBR outubro 2015 Enquanto alguns produtos ganham espaço com mudanças de hábitos dos americanos, outros acumulam perdas -2,16 -2,98 % DISPUTA PELO CAFÉ DA MANHÃ NOS EUA % E GRE A I O T RD A PE RÇ FO Vendas da companhia por região mesmas tendências matutinas. A queda nas vendas de cereais da General Mills em 2014 foi tão ruim quanto a da Kellogg, e a Post obteve um aumento de 2%. As vendas desanimadoras da Kellogg são indicativos de problemas maiores da empresa. Houve três diretores de alimentos para o café da manhã nos EUA em NOS ESTADOS UNIDOS... Café da manhã Snacks Canais especiais de venda* US$ 779 milhões US$ 776 milhões US$ 864 milhões 1o trimestre de 2015 US$ 854 milhões 1o trimestre de 2014 US$ 372 milhões 1o trimestre de 2015 US$ 361 milhões Canais especiais de venda* 1o trimestre de 2014 1o trimestre de 2015 1o trimestre de 2014 NO RESTO DO MUNDO .... Outros países da América do Norte 1o trimestre de 2014 1o trimestre de 2015 1o trimestre de 2014 US$ 482 milhões US$ 433 milhões US$ 705 milhões Europa 1o trimestre de 2015 US$ 607 milhões 1o trimestre de 2014 US$ 278 milhões América Latina 1o trimestre de 2015 US$ 295 milhões 1o trimestre de 2014 US$ 242 milhões Ásia 1o trimestre de 2015 US$ 230 milhões * Incluem vendas para escolas, instituições militares, grupos de escoteiros e hotéis, entre outros Fonte: Bloomberg -1,92 -3,67 2013 2014 % % Redução de 5,7% nas vendas de cereais na América do Norte Retração nas vendas de cereais matinais e snacks na América do Norte Fonte: Bloomberg quatro anos conforme os lucros da divisão caíram. O esquema mais recente de Bryant para reanimar as vendas de cereais adicionando mais frutas e ingredientes naturais a algumas das suas marcas mais conhecidas parece inverossímil na melhor das hipóteses. A crise em Battle Creek é intrigante porque, até recentemente, a empresa era conhecida como uma organização bem gerida. “A Kellogg era talvez a empresa de produtos de consumo mais respeitada lá fora”, afirma David Palmer, analista do Setor de Alimentos da RBC Capital Markets. “Ela saiu dos trilhos”. Os problemas da Kellogg começaram alguns anos depois de a companhia ter comprado a fabricante de cereais saudáveis Kashi em 2000, por US$ 33 milhões. Menos de uma década após a compra, o faturamento da nova empresa sediada na Califórnia saltou de US$ 25 milhões para US$ 600 milhões. Nesse período, nada menos do que três executivos lideraram a Kellogg, sendo o último David Mackay, então diretor de operações da empresa. Em 2008, Mackay iniciou uma iniciativa de redução de custos de três anos de US$ 1 bilhão denominada K-Lean, que visava os gastos desnecessários nas fábricas. Porém, uma série de problemas transformou o plano de reestruturação em um verdadeiro fracasso. Em 2010, a Kellogg substituiu Mackay por Bryant. Sua primeira tarefa foi arrumar a bagunça do K-Lean. Conforme a Kellogg fracassava, a General Mills reforçava a sua posição. Naquele ano, quando muitos americanos estavam escolhendo iogurte em vez de Cheerios, a empresa pagou US$ 1,1 bilhão pelo controle acionário da Yoplait, a segunda maior produtora de iogurte do mundo. Assim que pôde, Bryant realizou o que considerava uma compra transformadora. Em 2012, ele orquestrou a aquisição da Pringles, uma marca de batata frita enlatada da Procter & Gamble, por US$ 2,7 bilhões. O negócio impulsionou as vendas líquidas da Kellogg em mais de US$ 1 bilhão naquele CITRUSBR outubro 2015 | 65 negócios A QUEDA DA GIGANTE Desempenho da Kellogg no primeiro trimestre de 2015 Vendas líquidas Lucro operacional Ganho por ação 1o trimestre de 2014 1o trimestre de 2015 1o trimestre de 2014 1o trimestre de 2015 1o trimestre de 2014 1o trimestre de 2015 US$ 3,74 milhões US$ 3,55 milhões US$ 0,614 milhões US$ 0,384 milhões US$ 1,12 milhões US$ 0,64 milhões -5,0 % -37,5 % -42,9 % Fonte: Kellogg ano, para US$ 14 bilhões, e permitiram que Bryant afirmasse que a Kellogg não era mais tão dependente de cereais. A Kellogg ainda contava com o Frosted Flakes e seus irmãos para o café da manhã que juntos representavam mais de um terço dos seus lucros operacionais, que, por sua vez, ficavam cada vez menores. Em novembro de 2013, Bryant intrigou Wall Street ao anunciar um plano de redução de custos de quatro anos com mais um título memorável: Projeto K. Ele prometeu eliminar 7% da força de trabalho da Kellogg e usar uma parte das economias para criar novos cereais empolgantes. Os analistas do setor estavam céticos. Em 2014, a Kellogg fechou uma fábrica de cereais em Londres, Ontário, e uma operação de lanches australiana. As vendas de alimentos matinais continuaram caindo em 2014. Alguns produtos Special K registraram quedas de dois dígitos. O Kashi Heart to Heart caiu 27%, enquanto o Kashi GoLean Crunch perdeu 30% das vendas. Analistas dizem que parte do problema é a indecisão da Kellogg com a divisão. Em 2013, ela mudou a Kashi do sul da Califórnia para Battle Creek, mudança que, segundo a empresa, seria melhor para posicioná-la para o crescimento futuro. Então, no ano passado, Bryant anunciou que a Kellogg estava levando a Kashi de volta para La Jolla para que a 66 | CITRUSBR outubro 2015 unidade em apuros estivesse mais próxima de suas raízes. “A Kashi é uma marca que perdeu o seu caminho”, afirma Palmer, da RBC. Enquanto Bryant atacava os custos, seus concorrentes acrescentavam novos cereais em resposta à mudança de hábitos dos consumidores de café da manhã. Em janeiro de 2014, a General Mills anunciou o Cheerios livre de organismos geneticamente modificados (OGM). O anúncio também afirmava que a empresa lançaria uma versão similar do Grape-Nuts. A Kellogg afirma que não pode fazer o mesmo com o Frosted Flakes, porque quase todo o milho produzido nos EUA é geneticamente modificado. Em novembro, Bryant fez uma tentativa tardia de lançar novos alimentos para café da manhã no mercado, apresentando um Special K sem glúten. Três meses depois, Bryant reconheceu que a divisão de lanches norte-americana da Kellogg também estava doente. No ano passado, suas vendas caíram 2%. Isso colocou ainda mais pressão sobre ele para ressuscitar a divisão de cereais, algo que ele descreve como um plano de resgate de longo prazo. Ele quer fazer o “rebranding” do Special K passando de uma marca de dieta para um cereal para os consumidores preocupados com a saúde, como é o caso do Special K Protein Cinnamon Brown Sugar Crunch. A empresa também está promovendo o Raisin Bran com Cranberries. Bob Goldin, vice-presidente-executivo da Technomic, um consultor do setor de alimentos, duvida que esses novos cereais terão um grande impacto sobre as vendas da empresa. “A categoria é muito madura”, diz. “Já não é mais tão fácil introduzir uma nova linha ou fazer um novo anúncio de TV e a vida ser boa novamente.” Bryant também está determinado a recuperar a credibilidade da Kashi junto aos compradores de produtos naturais. A Kellogg já tem 15 cereais livres de OGM nos supermercados. Ele espera adicionar outros este ano. Focar no Special K e Kashi traz o risco de negligenciar as marcas mais velhas que mantêm a Kellogg em evidência. Embora o Frosted Flakes praticamente não seja um produto de café da manhã de última geração, a empresa vendeu US$ 439 milhões no ano passado, tornando-se o segundo cereal mais popular nos EUA depois do Honey Nut Cheerios, da General Mills. Além disso, a Kellogg aumentou as vendas de Froot Loops em 3%, atingindo US$ 266 milhões, ao comercializar os anéis coloridos para adultos como um lanche de fim de noite. “Estas não são marcas mortas”, diz Mary Zalla, vice-presidente global da Landor Associates, uma consultora de branding. “Há um incrível patrimônio no nome Kellogg.” Bryant não está preocupado. “A empresa existe há cerca de 109 anos”, diz. “Nós temos tempo. Temos um plano para recuperá-la.” É melhor ele mostrar resultados rapidamente. O consenso em Wall Street é que a Kellogg é uma candidata à aquisição. “Ele está em um ponto crítico em sua carreira”, diz Palmer sobre Bryant. Com Matthew Boyle ESPECIAL CONSUMO DE SUCO DE LARANJA RECUA “UMA SAFRA E MEIA” EM DEZ ANOS CITRUSBR outubro 2015 | 67 SÉRIE CONSUMO DE SUCO DE LARANJA P EN E S A NDO EM ALT I AT RN V AS 68 | CITRUSBR outubro 2015 PA R AE NFRENTAR A A D E U Q ILUSTRAÇÕES DE DENIS CARDOSO DE N O C O M SU CO U S O D MARCOS FAV A NE V E S VINICIUS GUSTA VO TROM BIN RAFAEL BORDO NAL KAL AKI Este artigo tem como objetivo, baseado nos dados mais recentes, discutir novamente a queda de consumo e outras mudanças existentes na cadeia produtiva do suco de laranja e chamar a atenção para a necessidade de união, de se atacar o mercado interno e observar mais atentamente o comportamento de consumo mundial. Está estruturado em seis partes, começando com os mais recentes números de consumo, o crescimento e abastecimento dos mercados asiáticos, o desafio do mercado americano, os mais recentes números do varejo e um emblemático caso de fusão, para terminar com os impactos e mensagens à cadeia produtiva no Brasil. CITRUSBR outubro 2015 | 69 SÉRIE CONSUMO DE SUCO DE LARANJA NOVOS NÚMEROS AUMENTAM PREOCUPAÇÃO O painel anual do consumo de suco de laranja nos ber praticamente 450.000.000 de caixas de laranja de 40,8 quilos em forma de suco, considerando um rendimento médio de 250 caixas necessárias para a produção de uma tonelada de FCOJ. 40 mercados que representam quase 100% do consumo Essa queda na demanda é um fenômeno único mundial, feito pela Markestrat em parceria com Fearp/ no agronegócio brasileiro. Em outras cadeias, como USP, Citrus BR, Tetrapak e diversas outras fontes, foi con- a das proteínas animais, dos grãos como a soja e o cluído, e as notícias não são boas, pois o consumo de suco milho, açúcar, papel e celulose, café, frutas, etanol, caiu preocupantes 3,2% em 2014, de 2.108.000 toneladas entre outros, a expansão é inegável e contínua. Esta para 2.042.000 toneladas. Simplesmente 66.000 tonela- queda permanente no consumo só não afeta mais bru- das sumiram do consumo mundial. Entre os anos de 2004 talmente as exportações brasileiras devido à queda e 2014 o mercado mundial de suco de laranja encolheu da produção da Flórida, que obriga os americanos a 15,3%, caindo de 2.412.000 toneladas de suco concentra- comprarem mais suco brasileiro. Como resultado, foi do (FCOJ equivalente 66º Brix), para 2.042.000 toneladas. possível observar um avanço de 6% nas exportações Levando-se em consideração todo o período do ano safra 2014/2015 (julho-junho). entre 2004 e 2014, nada menos do que 1.800.000 Comparando 2014 com 2013, os EUA (maior mer- toneladas de suco de laranja deixaram de ser con- cado mundial com 688.000 toneladas equivalentes de sumidas. Isso significa que o mundo deixou de be- suco concentrado congelado consumidos) tiveram que- 70 | CITRUSBR outubro 2015 6 | CITRUSBR julho 2015 da no consumo de quase 6%. Quando comparamos 2014 Do lado europeu, juntando os três maiores tomadores com 2004, o consumo nos EUA despencou em 33%. Isso de suco (consumo acima de 100.000 toneladas), tem- significa que os norte-americanos deixaram de tomar -se a Alemanha, o Reino Unido e a França, que totalizam 250.000 toneladas de suco ao ano, o equivalente a apro- 415.000 toneladas, e nesses países a queda em dez anos ximadamente 65.000.000 de caixas de laranja (40,8kg). foi de 100.000 toneladas de consumo ao ano, totalizando Se pensarmos que nesse período a população cresceu 25.000 caixas, para uma população estável. Somados aos em quase 25 milhões de pessoas, a queda no consumo EUA, apenas nesses quatro mercados a cadeia produtiva per capita beira a 40%. É preciso estancar esse dreno. perdeu 90.000.000 de caixas de consumo ao ano. O segundo maior mercado, a Alemanha (153.000 Como nesses países houve sensível aumento de toneladas), também teve retração de 4%. A França renda per capita (30%), pode-se afirmar que a queda (147.000 toneladas) apresentou queda de 2% e o de consumo não está associada à renda. Os dados de Reino Unido (115.000 toneladas) e Japão (49.000 to- 2014 corroboram a análise de que as inúmeras novas be- neladas) tiveram quedas ao redor de 7%. Austrália, bidas concorrentes vêm, la- Espanha, Coreia do Sul, Holanda, Bélgica, Suécia, mentavelmente, tomando o Noruega e Áustria, mercados bem menores, também espaço do suco apresentaram quedas. O único país desenvolvido que de laranja. não perdeu mercado foi o Canadá, que praticamente ficou na mesma. O mundo rico reduziu. Em outras cadeias pro- CITRUSBR outubro 2015 | 71 SÉRIE CONSUMO DE SUCO DE LARANJA dutivas, os países emergentes têm um papel cada vez 2004 a renda líquida per capita anual naquele país era maior na compra de alimentos básicos e minimamente de 873 dólares/ano. Já em 2014 a renda per capita subiu processados. Por se tratar de produtos acessíveis a para 4.652 dólares por ano, um aumento de 432%. muitos e de primeira necessidade, verificam-se avan- Na Alemanha, maior mercado para suco de laranja ços pujantes nos mercados asiáticos liderados princi- na Europa, a renda líquida per capita foi de 22.428 dóla- palmente pela fome de 3 bilhões de chineses ávidos res em 2004 e de 29.775 dólares em 2014, um crescimen- por consumir mais e melhor. to de 32%. Embora a renda chinesa proporcionalmente Apenas como comparação, de acordo com dados tenha crescido muito mais do que a renda alemã, ainda demográficos levantados neste estudo (que se encon- existe um abismo entre o poder de consumo médio dos tra disponível na página da CitrusBR), constata-se que habitantes desses dois países. um dos motivos para essa ascensão está justamente Encontram-se na questão da renda dos países no aumento de renda desses povos. E, mais uma vez emergentes alguns obstáculos para o aumento de con- tomando a China como exemplo, percebe-se que em sumo de suco de laranja nesses mercados. O primeiro 72 | CITRUSBR outubro 2015 deles é que o suco de laranja não é exatamente um Como a renda média do chinês ainda é uma parcela produto básico e de primeira necessidade. Há o efei- da renda de um alemão, o mesmo acontece com o con- to da presença no mercado de produtos mais baratos sumo per capita de suco de laranja. Enquanto a China que podem ser substituir qualquer suco 100%, entre eles consome 0,9 litro de sucos 100% (todos os sabores) por águas, néctares, refrescos e bebidas base-fruta. habitante, cada alemão consome 23,4 litros/ano. Mesmo Portanto, o grande consumo de suco de laranja, que se leve em consideração aspectos como hábitos assim como sucos 100% de outros sabores, está mais de consumo e diferenças culturais, há relação entre a concentrado em países com renda per capita elevada renda disponível e o consumo. e observa-se que, conforme aumenta a renda, au- Seguindo na mesma lógica, ao se observar os países menta o consumo de sucos 100% e do sabor laranja separados em blocos econômicos, podemos perceber em particular. Com o aumento de renda na China de que o consumo na Oceania caiu 5%, enquanto que na Ásia 432% entre 2004 e 2014, o consumo de suco de laranja avançou 23%, e esse é o ponto que merece destaque. O cresceu 189% no mesmo período. crescimento da Ásia será abordado na sessão seguinte. CITRUSBR outubro 2015 | 73 SÉRIE CONSUMO DE SUCO DE LARANJA CONSUMO DE SUCO DE LARANJA 2004 40 PRINCIPAIS MERCADOS '000 tons de FCOJ equiv. 66ºB 2005 Taxa de cresc. anual '000 tons de FCOJ equiv. 66ºB 2006 Taxa de cresc. anual '000 tons de FCOJ equiv. 66ºB 2007 Taxa de cresc. anual '000 tons de FCOJ equiv. 66ºB 2008 Taxa de cresc. anual '000 tons de FCOJ equiv. 66ºB Taxa de cresc. anual RANK PAÍSES SELECIONADOS 2.412 0,3% 2.397 -0,6% 2.346 -2,1% 2.298 -2,1% 2.246 -2,3% 1 ESTADOS UNIDOS 1.028 3% 988 -4% 924 -6% 882 -5% 826 -6% -1% 2 ALEMANHA 228 -10% 208 -9% 210 1% 198 -5% 196 3 FRANÇA 147 -3% 153 4% 158 3% 163 3% 163 0% 4 CHINA 49 6% 57 16% 64 13% 75 17% 85 13% 5 REINO UNIDO 139 -3% 136 -2% 139 2% 130 -7% 140 8% 6 CANADÁ 119 2% 135 14% 111 -18% 106 -4% 103 -3% 7 JAPÃO 97 6% 95 -2% 95 0% 92 -3% 78 -15% 8 RúSSIA 59 16% 63 6% 74 18% 79 7% 78 -1% 9 BRASIL 37 -17% 40 7% 41 3% 37 -11% 38 3% -3% 10 AUSTRÁLIA 55 4% 56 2% 57 2% 59 3% 58 11 ESPANHA 45 6% 47 3% 46 -2% 46 0% 47 1% 12 COReIA DO SUL 43 -4% 42 -3% 40 -3% 39 -3% 39 -1% 3% 13 POLÔNIA 33 2% 34 2% 34 1% 33 -5% 33 14 ÁFRICA DO SUL 21 4% 20 0% 21 2% 21 0% 21 3% 15 MÉXICO 29 -7% 30 4% 30 -2% 32 7% 30 -6% 16 HOLANDA 37 2% 35 -6% 35 2% 32 -8% 32 -2% 17 ARABIA SAUDITA 16 6% 17 11% 19 9% 21 10% 22 4% 18 ARGENTINA 5 24% 5 1% 6 37% 9 40% 11 22% 19 ITÁLIA 33 -1% 33 1% 31 -6% 30 -5% 29 -1% 20 BÉLGICA 22 0% 22 1% 24 5% 23 -1% 23 -2% 21 SUÉCIA 24 -10% 24 0% 25 5% 25 -2% 24 -3% 22 NORUEGA 13 13% 14 9% 15 5% 15 2% 17 7% 23 ÁUSTRIA 18 -8% 18 1% 17 -3% 17 -2% 17 -2% 24 CHILE 6 11% 7 13% 8 12% 9 16% 11 17% 25 SUÍÇA 14 -4% 14 -1% 14 -4% 14 2% 14 0% 26 TURQUIA 4 35% 5 33% 7 44% 7 -5% 7 0% 27 UCRÂNIA 10 55% 12 25% 14 17% 17 18% 17 2% 28 INDONÉSIA 3 18% 3 -2% 3 12% 4 10% 4 25% 29 FINLÂNDIA 13 -16% 14 8% 13 -7% 11 -17% 10 -7% 30 DINAMARCA 12 3% 12 -1% 12 -2% 11 -6% 11 -1% 31 IRLANDA 13 5% 14 4% 14 0% 14 2% 14 0% 32 GRÉCIA 11 -2% 12 4% 12 -1% 11 -8% 11 3% 33 ÍNDIA 1 29% 1 31% 3 101% 4 53% 4 1% 34 MARROCOS 1 9% 2 139% 2 31% 3 30% 4 26% 35 NOVA ZELÂNDIA 6 -5% 6 -1% 7 5% 7 4% 7 3% 36 COLÔMBIA 3 -3% 3 -1% 3 -1% 3 3% 4 4% 37 TAIWAN 6 -10% 6 5% 6 -3% 6 -3% 6 1% 38 ISRAEL 5 1% 5 -4% 4 -11% 4 -6% 4 -3% 39 FILIPINAS 3 -6% 3 1% 3 9% 4 3% 4 2% 40 ROMÊNIA 3 22% 4 30% 5 6% 6 22% 6 5% Consumo de FCOJ equivalente a 66° Brix não inclui suco de laranja utilizado em carbonatados 74 | CITRUSBR outubro 2015 2009 '000 tons de FCOJ equiv. 66ºB 2010 Taxa de cresc. anual '000 tons de FCOJ equiv. 66ºB 2011 Taxa de cresc. anual '000 tons de FCOJ equiv. 66ºB 2012 Taxa de cresc. anual '000 tons de FCOJ equiv. 66ºB 2013 Taxa de cresc. anual '000 tons de FCOJ equiv. 66ºB 2014 Taxa de cresc. anual '000 tons de FCOJ equiv. 66ºB Taxa de cresc. anual VARIAÇÃO 2004 a 2014 2.272 1,2% 2.255 -0,8% 2.228 -1,2% 2.123 -4,7% 2.108 -0,7% 2.042 -3,2% -15,3% 851 3% 807 -5% 791 -2% 704 -11% 729 4% 688 -6% -33% -33% 185 -6% 185 0% 181 -2% 167 -8% 159 -5% 153 -4% 168 3% 165 -1% 159 -4% 158 -1% 149 -5% 147 -2% 0% 94 12% 118 25% 126 7% 124 -1% 136 10% 141 4% 189% 136 -3% 135 -1% 133 -1% 127 -5% 123 -3% 115 -7% -17% 107 4% 109 1% 111 2% 109 -2% 112 2% 113 1% -5% 76 -2% 76 0% 64 -17% 65 2% 53 -18% 49 -8% -49% 73 -7% 64 -11% 65 0% 68 4% 62 -8% 60 -4% 2% 41 8% 45 10% 48 8% 55 14% 53 -4% 58 8% 55% 57 -1% 57 1% 57 -1% 58 1% 50 -12% 47 -7% -15% 47 1% 48 2% 46 -5% 39 -15% 38 -2% 37 -3% -18% 38 -1% 38 -2% 37 -3% 37 1% 25 -32% 24 -4% -44% 34 3% 36 4% 33 -9% 30 -9% 32 9% 34 4% 1% 23 5% 24 5% 25 6% 25 2% 30 19% 30 0% 47% 32 7% 30 -4% 30 -1% 32 5% 30 -5% 27 -11% -8% 32 1% 32 -1% 32 0% 30 -5% 29 -6% 28 -2% -24% 23 3% 26 17% 27 4% 29 5% 33 16% 34 3% 119% 13 19% 17 31% 19 8% 23 25% 25 8% 24 -4% 419% 29 -1% 29 0% 29 0% 28 -4% 26 -8% 25 -4% -25% 23 0% 23 -2% 23 1% 22 -3% 21 -5% 20 -1% -8% 24 -1% 23 -2% 22 -4% 20 -12% 19 -6% 17 -7% -28% 17 3% 17 -2% 17 1% 17 1% 17 -1% 16 -5% 22% 17 1% 17 0% 18 6% 17 -3% 15 -11% 15 -6% -18% 144% 11 -1% 11 7% 14 20% 15 13% 16 3% 15 -4% 14 0% 14 1% 14 0% 14 0% 14 0% 14 0% -2% 7 -2% 7 10% 7 0% 11 51% 10 -3% 11 6% 204% 13 -26% 12 -2% 12 -7% 10 -9% 10 0% 9 -13% -7% 6 43% 8 22% 8 10% 9 6% 10 12% 11 11% 281% 11 10% 11 -3% 11 0% 10 -6% 10 -4% 9 -10% -34% 11 -2% 10 -3% 10 -5% 9 -4% 10 4% 10 -1% -20% 13 -11% 11 -10% 10 -8% 10 -8% 9 -7% 8 -9% -40% 11 -2% 10 -6% 10 0% 9 -16% 9 8% 9 -7% -23% 4 3% 5 24% 7 28% 7 2% 7 -3% 7 9% 620% 956% 4 14% 6 33% 7 13% 6 -3% 7 15% 8 9% 7 -4% 6 -4% 7 0% 6 -7% 6 -2% 6 -2% -7% 3 -11% 3 -4% 3 -10% 4 38% 4 12% 4 1% 27% 6 -4% 5 -7% 4 -24% 4 7% 4 -6% 4 2% -31% 4 1% 4 1% 4 4% 5 4% 4 -4% 4 2% -15% 4 -3% 4 2% 4 2% 4 14% 5 30% 6 5% 84% 5 -15% 5 -10% 4 -1% 4 -18% 3 -6% 3 0% 5% CITRUSBR outubro 2015 | 75 SÉRIE CONSUMO DE SUCO DE LARANJA O CRESCIMENTO E O ABASTECIMENTO DO MERCADO ASIÁTICO E DE OUTROS EMERGENTES foram 62.000 toneladas, um retrocesso de 30%. Já para a China foram 35.000 toneladas em 2004 ante 31.000 toneladas em 2014. Alguns fatos explicam isso. O primeiro deles é a produção de suco na própria China. Apesar de não existirem dados consolidados de quanto Embora o Oriente esteja fazendo a sua parte no que é a real produção chinesa, é visível o esforço do governo tange ao crescimento do consumo de suco de laranja, o daquele país em buscar a autossuficiência. A produção de Brasil pouco tem se aproveitado disso. Em 2004 exporta- frutas cítricas na China, de onde a laranja é originária, pode ram-se 80.000 toneladas de suco para o Japão. Em 2014 estar próxima de 600.000.000 de caixas de 40,8 quilos. O QUE ESSA QUEDA REPRESENTA EM CAIXAS DE LARANJA 450 1,8 milhões milhão de tonelada de caixas (em'000 toneladas FCOJ equiv. 66ºB) é quanto o mundo deixou de consumir de suco de laranja desde 2004 REGIÕES - TOTAL 2.500 2.412 2.397 2.346 2.298 2.246 2.272 2.255 2.228 2.000 2.123 foi quanto o mundo deixou de consumir no período 2.108 2.042 Variação 2004 a 2014 1.500 -15,3 % 1.000 500 0 2004 2005 2006 REGIÕES SELECIONADAS AMÉRICA DO NORTE EUROPA ÁSIA AMÉRICA LATINA OCEANIA ÁFRICA ORIENTE MÉDIO 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Variação 2004 a 2014 -25% -15% 23% 44% -5% 85% 88% 76 | CITRUSBR outubro 2015 O Japão, por outro lado, de acordo com informações é o da África, que consumia 21.000 toneladas em 2004 de importadores, tem aumentado a compra de suco e demandou 39.000 toneladas em 2014. Desse total, oriundo de Israel em busca de menores níveis de su- 30.000 toneladas foram consumidas pela África do Sul, crose, algo estranho já a sucrose, um tipo de sacarose, que também é produtora de frutas cítricas e de suco de é um indicador de qualidade. Mas, independentemente laranja. Não custa lembrar que a renda per capita na das razões japonesas para a compra de suco de Israel e África do Sul é de cerca de 4.100 dólares. não do Brasil, fato é que o aumento de consumo na Ásia, infelizmente, ainda não beneficiou o Brasil. Analisando especificamente os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e adicionan- Quando se analisam alguns destinos menos tradi- do-se o México, por conta de acordos de preferência cionais no consumo de suco de laranja, como América com os Estados Unidos, no mesmo período de 2004 Latina e Oriente Médio, percebe-se avanço de 85% e a 2014, esse grupo saltou de 175.000 toneladas para 88%, respectivamente. O problema com esses blocos 293.000 toneladas. Enquanto isso, no mesmo espaço é que, mais ainda do que os asiáticos, estamos falando de tempo, no resto do mundo, o que inclui Estados de bases muito pequenas de consumo. A América La- Unidos e Europa, o consumo despencou de 2.297.000 tina saltou de 81.000 toneladas em 2004 para 128.000 toneladas para 1.749.000 toneladas. toneladas em 2014, enquanto o Oriente Médio avançou de 21.000 toneladas para 38.000 toneladas. Constata-se que, infelizmente, o avanço de 66% das principais estrelas emergentes não compensa a Para fazer essa pequena quantidade de suco bas- queda de 18% dos mercados tradicionais. Na próxima tam apenas 9.500.000 caixas de laranja de 40,8 qui- sessão analisaremos mais o mercado norte-america- los, apenas para exemplificar. Caso semelhante no e seus grandes desafios. CITRUSBR outubro 2015 | 77 SÉRIE CONSUMO DE SUCO DE LARANJA DESAFIOS DO MERCADO AMERICANO Nos últimos anos, a indústria brasileira de suco de laranja vem lidando com um cenário desafiador. Além dos dados já citados anteriormente, o relatório Nielsen, que avalia as últimas quatro semanas de consumo com término em 4/7/2015, baseado no acompanhamento das vendas da bebida nas principais redes varejistas, mostra que as vendas do produto recuaram 5,3%, atingindo um dos menores patamares da safra, com vendas da ordem de 129.500.000 de litros. Há grande preocupação com essa queda, motivada pela concorrência com outros produtos substitutos ao suco de laranja ou mesmo pela diminuição de consumo na ocasião do café da manhã. Outros produtos como os cereais passam por problemas semelhantes, que são abordados nesta edição (ver desafios da Kellogg’s). 78 | CITRUSBR outubro 2015 ELASTICIDADE DO MERCADO DE SUCO DE LARANJA NOS EUA Relação de elasticidade entre aumento de preço e queda de volume - safra a safra Preço 1,0% 0,0% 1,0% -1,0% 2,0% 6,0% 22,0% 3,0% -6,0% -3,0% 7,0% 6,0% -1,0% 1,0% Volume -7,0% -1,0% -2,0% 3,0% -4,0% -7,0% -4,0% -6,0% 3,0% -5,0% -2,0% -11,0% 4,0% -6,0% Preço por litro reportado pelo Nielsen (US$ por litro) Consumo atribuído de FCOJ 66 Brix 1.200 $2,50 1.111 1.100 $2,00 $1,90 $1,92 $1,92 1.032 1.028 1.024 1.001 $1,74 988 $1,54 $1,50 $1,00 $1,80 $1,76 $1,81 $1,72 $1,59 $1,45 $1,44 $1,43 $1,41 $1,39 $1,37 924 $1,33 $1,34 $1,35 $1,26 $1,19 882 $1,15 $1,17 $1,17 $1,18 $1,17 $1,06 $1,03 $1,04 $1,03 $1,03 $0,99 $0,99 826 $1,50 $1,46 $1,19 $1,65 $1,64 $1,66 $1,56 $1,27 $1,33 1.000 $1,27 $1,29 900 $1,17 851 807 QUEDA DE 38 % 791 800 729 $0,50 704 689 $0,00 700 Preço médio do suco de laranja NFC Preço médio do suco de laranja reconstituído 13 /1 4 12 /1 3 11 /1 2 10 /1 1 09 /1 0 08 /0 9 07 /0 8 06 /0 7 05 /0 6 04 /0 5 03 /0 4 02 /0 3 01 /0 2 00 /0 1 99 /0 0 600 Preço médio do suco de laranja NFC + reconstituído CITRUSBR outubro 2015 | 79 SÉRIE CONSUMO DE SUCO DE LARANJA O BALANÇO DA OFERTA E DA DEMANDA DE SUCO DE LARANJA NOS ESTADOS UNIDOS SAFRA NOS ESTADOS UNIDOS OUTUBRO/SETEMBRO 93-94 94-95 95-96 96-97 97-98 98-99 99-00 00-01 ESTOQUE INICIAL DE SUCO DE LARANJA EM 1° DE OUTUBRO Tons Equiv.66º 152.818 230.291 176.825 194.323 283.193 358.086 359.050 437.332 PRODUÇÃO INTERNA DE SUCO DE LARANJA Tons Equiv.66º 789.414 882.453 887.206 1.009.890 1.086.195 861.826 1.051.296 973.644 Tons Equiv.66º 740.545 849.426 849.652 973.752 1.044.469 811.331 988.495 944.224 CALIFÓRNIA/ARIZONA Tons Equiv.66º 48.656 31.613 36.917 34.229 40.099 49.222 61.245 25.460 TEXAS Tons Equiv.66º 212 1.414 636 1.909 1.627 1.273 1.556 3.960 Tons Equiv.66º 300.654 169.970 156.153 208.544 198.504 247.624 239.400 182.240 Tons Equiv.66º 256.060 103.536 104.381 136.662 123.657 184.236 166.815 118.829 FLÓRIDA IMPORTAÇÃO DE SUCO DE LARANJA BRASIL MÉXICO Tons Equiv.66º 31.776 49.725 31.392 37.372 48.099 35.144 30.311 22.940 COSTA RICA Tons Equiv.66º 2.720 4.336 6.421 13.592 15.871 17.318 24.129 22.468 BELIZE Tons Equiv.66º 5.278 5.819 7.271 13.042 5.827 7.879 11.731 9.285 CANADÁ Tons Equiv.66º 461 841 796 676 959 1.067 1.046 1.728 REPÚBLICA DOMINICANA Tons Equiv.66º 142 179 1.024 1.340 521 23 291 1.140 HONDURAS Tons Equiv.66º 2.014 3.875 3.615 5.586 3.255 654 3.467 4.332 OUTROS PÁISES Tons Equiv.66º 2.203 1.660 1.253 274 315 1.302 1.611 1.518 73.883 82.299 89.304 104.778 102.900 102.462 101.104 86.917 EXPORTAÇÃO DE SUCO DE LARANJA Tons Equiv.66º CANADÁ Tons Equiv.66º 17.992 22.044 23.925 28.126 30.580 34.173 32.214 35.205 EUROPA Tons Equiv.66º 28.621 38.642 39.060 54.484 47.914 42.292 44.251 33.388 JAPÃO Tons Equiv.66º 13.798 4.045 10.884 9.908 12.716 12.207 9.760 8.303 OUTROS PAÍSES Tons Equiv.66º 13.472 17.567 15.435 12.260 11.690 13.791 14.880 10.021 230.291 176.825 194.323 283.193 358.086 359.050 437.332 474.102 11,7 9,8 9,9 13,3 18,5 16,8 22,0 24,1 938.711 1.023.591 936.557 1.024.786 1.106.906 1.006.024 1.111.310 1.032.197 33% 9% -9% 9% 8% -9% 10% -7% Tons Equiv.66º ESTOQUE FINAL EM 30 DE SETEMBRO CONSUMO ATRIBUÍDO AOS ESTADOS UNIDOS VARIAÇÃO ANUAL 80 | CITRUSBR outubro 2015 Semanas de consumo equivalente Tons Equiv.66º 01-02 02-03 03-04 04-05 05-06 06-07 07-08 08-09 09-10 10-11 11-12 12-13 13-14 474.102 467.965 481.282 562.079 426.307 315.622 256.761 441.419 475.909 387.883 276.687 306.617 370.275 1.012.920 882.864 1.038.367 684.024 699.045 627.726 822.000 749.037 590.933 643.366 683.171 614.878 477.513 990.006 845.240 1.018.919 636.923 648.338 570.795 776.738 724.779 563.846 603.939 655.590 593.485 438.616 21.499 35.785 17.468 44.838 49.364 54.809 43.565 23.338 26.478 38.201 26.724 20.283 36.878 1.414 1.839 1.980 2.263 1.344 2.122 1.697 919 609 1.226 858 1.110 2.019 133.535 205.756 157.244 252.826 211.336 282.402 286.799 224.460 231.648 187.570 157.918 297.387 295.351 77.768 161.341 109.355 164.008 141.393 184.417 174.428 120.997 129.498 90.623 72.314 167.835 175.083 29.259 9.522 5.812 38.881 32.728 50.514 62.436 62.541 64.156 67.175 49.214 87.031 85.059 17.005 20.329 22.637 20.967 19.450 30.363 26.506 23.025 20.647 15.910 19.707 26.153 21.000 2.702 5.757 14.284 21.467 9.737 7.703 15.141 11.615 10.820 4.264 6.178 8.330 7.942 1.710 1.795 2.312 3.552 2.745 2.987 4.655 3.649 1.184 5.263 7.242 5.975 4.846 1.097 1.092 926 1.007 1.365 1.045 1.286 763 1.268 1.283 1.078 428 185 3.155 895 1.180 1.543 1.043 2.180 328 678 1.343 1.431 720 329 214 839 5.024 740 1.401 2.874 3.193 2.018 1.192 2.732 1.619 1.466 1.304 1.022 128.169 74.109 86.959 84.222 97.348 86.712 98.091 88.147 103.735 151.479 107.320 119.831 119.318 33.946 38.614 40.057 45.135 45.615 53.395 62.659 46.804 45.658 61.195 62.115 65.750 71.114 69.053 15.382 27.949 21.245 36.082 18.508 18.854 22.108 37.178 64.689 25.446 27.617 15.849 9.137 4.031 4.689 3.013 2.546 2.164 1.818 2.185 764 997 884 785 905 16.033 16.082 14.265 14.830 13.105 12.645 14.760 17.051 20.134 24.597 18.876 25.679 31.450 467.965 481.282 562.079 426.307 315.622 256.761 441.419 475.909 387.883 276.687 306.617 370.275 335.189 24,3 24,3 29,6 24,0 18,6 16,2 27,0 30,7 25,5 20,4 21,9 28,0 26,8 1.024.423 1.001.193 1.027.856 988.399 923.718 882.277 826.049 850.860 806.872 790.652 703.839 728.776 688.631 -1% -2% 3% -4% -7% -4% -6% 3% -5% -2% -11% 4% -6% CITRUSBR outubro 2015 | 81 SÉRIE CONSUMO DE SUCO DE LARANJA O BALANÇO DA OFERTA E A DEMANDA DE SUCO DE LARANJA NOS ESTADOS UNIDOS PARTICIPAÇÃO DAS ENTRADAS DE SUCO DE LARANJA NOS EUA 93-94 94-95 95-96 96-97 97-98 98-99 99-00 00-01 BRASIL % do total 85,2% 60,9% 66,8% 65,5% 62,3% 74,4% 69,7% 65,2% MÉXICO % do total 10,6% 29,3% 20,1% 17,9% 24,2% 14,2% 12,7% 12,6% COSTA RICA % do total 1,8% 3,4% 4,7% 6,3% 2,9% 3,2% 4,9% 5,1% BELIZE % do total 0,2% 0,5% 0,5% 0,3% 0,5% 0,4% 0,4% 0,9% CANADÁ % do total 0,2% 0,5% 0,5% 0,3% 0,5% 0,4% 0,4% 0,9% REPÚBLICA DOMINICANA % do total 0,0% 0,1% 0,7% 0,6% 0,3% 0,0% 0,1% 0,6% HONDURAS % do total 0,7% 2,3% 2,3% 2,7% 1,6% 0,3% 1,4% 2,4% OUTROS PÁISES % do total 0,7% 1,0% 0,8% 0,1% 0,2% 0,5% 0,7% 0,8% PARTICIPAÇÃO DO SUCO BRASILEIRO NA OFERTA TOTAL AOS EUA % do total 23,5% 9,8% 10,0% 11,2% 9,6% 16,6% 12,9% 10,3% PARTICIPAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS PARA A AMÉRICA DO NORTE (EUA + CANADÁ) % do total 35,0% 21,0% 18,0% 17,0% 18,0% 20,0% 23,0% 18,0% Se pelo lado da demanda, a situação dos EUA não A relação direta entre preço e consumo pode ser é das melhores, na ponta da oferta há também dificul- mais bem compreendida no gráfico acima. O que se dades, reflexo das consecutivas baixas de produção da percebe ao analisar os números é que da safra 99/00 Flórida, consequência do acelerado avanço do greening. até a temporada 13/14, o volume de suco de laranja A doença derrubou a oferta de fruta, impondo elevados consumido no país caiu 38%. Nesse mesmo período, custos de produção. A safra 2014/2015 deve ser finali- o preço médio do litro do suco no varejo, somando o zada em cerca de 96.400.000 caixas, ante 104.000.000 NFC e o reconstituído, subiu 44%, passando de US$ 1,15 de caixas no ciclo anterior, segundo o Usda. A produção para US$ 1,66, acima da inflação dos EUA. Observa- tombou 8% neste ano, e uma menor oferta da bebida -se uma queda ainda mais acentuada a partir da safra sustenta também o aumento dos preços, o que acaba 05/06, quando o preço médio do suco atingiu US$ 1,26 por afastar o consumidor, num complexo círculo vicioso. e daí para a frente registrou aumentos mais acentua- Os dados apontam que para cada ponto percentual de dos até atingir o atual preço. Mesmo sendo mercado aumento no preço do suco nas gôndolas, há uma queda de alta renda, o preço do produto tem seu efeito. média de 2% no consumo da bebida. 82 | CITRUSBR outubro 2015 Entre as safras de 1992/93, o consumo americano 01-02 02-03 03-04 04-05 05-06 06-07 07-08 08-09 09-10 10-11 11-12 12-13 13-14 58,2% 78,4% 69,5% 64,9% 66,9% 65,3% 60,8% 53,9% 55,9% 48,3% 45,8% 56,4% 59,3% 21,9% 4,6% 3,7% 15,4% 15,5% 17,9% 21,8% 27,9% 27,7% 35,8% 31,2% 29,3% 28,8% 2,0% 2,8% 9,1% 8,5% 4,6% 2,7% 5,3% 5,2% 4,7% 2,3% 3,9% 2,8% 7,1% 1,3% 0,9% 1,5% 1,4% 1,3% 1,1% 1,6% 1,6% 0,5% 2,8% 4,6% 2,0% 2,7% 1,3% 0,9% 1,5% 1,4% 1,3% 1,1% 1,6% 1,6% 0,5% 2,8% 4,6% 2,0% 1,6% 0,8% 0,5% 0,6% 0,4% 0,6% 0,4% 0,4% 0,3% 0,5% 0,7% 0,7% 0,1% 0,1% 2,4% 0,4% 0,8% 0,6% 0,5% 0,8% 0,1% 0,3% 0,6% 0,8% 0,5% 0,1% 0,1% 0,6% 2,4% 0,5% 0,6% 1,4% 1,1% 0,7% 0,5% 1,2% 0,9% 0,9% 0,4% 0,3% 6,8% 14,8% 9,1% 17,5% 15,5% 20,3% 15,7% 12,4% 15,7% 10,9% 8,6% 18,4% 22,7% 13,0% 20,0% 14,0% 16,0% 16,0% 18,0% 21,0% 14,0% 15,0% 11,0% 14,0% 19,0% 23,7% era de 708.400 toneladas de FCOJ 66º Brix. Não demo- 66º Brix. O México, segundo colocado, exportou 10.000 rou e a safra 1996/97 chegou ultrapassando a barreira toneladas. A participação brasileira no consumo norte de 1.000.000 de toneladas e assim ficou por pratica- americano era de 26%. Nos anos subsequentes, confor- mente dez anos. Hoje, passadas duas décadas daquele me mostra a tabela acima, as participações no consumo período dourado, o maior mercado do mundo voltou e nas importações variaram bastante, tendo como prin- para os patamares do início da década de 1990 quando cipal fundamento a oferta de fruta na Flórida. o assunto é demanda. Há 20 anos, ninguém adivinharia Quando se analisa a temporada 2013/14, percebe- que um mercado que se encontrava em pura ascensão se muita diferença. Se nos anos 90 o consumo subia, passaria por problemas duas décadas depois. Quem a segunda década de 2000 se mostra implacável no dissesse isso provavelmente não seria levado a sério. aspecto da demanda. Se há 20 anos todos os olhos Na mesma safra 1992/1993, a produção de suco de laranja alcançou 664.400 toneladas de FCOJ equivalen- estavam voltados para oferta de fruta, hoje a grande preocupação é justamente a demanda. te a 66º Brix e 88% das importações de suco daquele Para o Brasil em particular, além do tamanho do país vinham do Brasil, ou 186.000 toneladas de FCOJ mercado americano, alguns acordos econômicos CITRUSBR outubro 2015 | 83 SÉRIE CONSUMO DE SUCO DE LARANJA Desde que o tratado MUNDOS DIFERENTES passou a vigorar, favorecendo o México, a Veja a diferença entre o tamanho do mercado de bebidas dos EUA e do Brasil participação brasileira nas im- 7.268 portações americanas caiu de 88% para 59%. Contudo, quando se observa a (em milhões de litros ) participação brasileira no consumo americano, 5.615 é possível constatar que houve uma recuperação na temporada 2013/14. Tal fenômeno, porém, só foi possível por causa da drástica diminuição da safra da Fló- Suco 100% Néctar Refresco rida em decorrência do greening. Com uma produção menor, os americanos precisam importar mais suco e, de certa forma, apesar dos acordos firmados para o Nafta, o Brasil conseguiu se beneficiar desse fato. 1.016 1.334 1.027 241 EUA Mesmo diante de anos difíceis do ponto de vista de demanda, os EUA ainda são os maiores consumidores de suco de laranja do mundo e seus números, Brasil EUA Brasil EUA Brasil superlativos. O mercado de sucos 100% corresponde a 5,6 bilhões de litros e o sabor laranja responde por 3,1 bilhões de litros desse volume. Quando se comparam os hábitos de consumo do colocaram água no suco nacional. Por conta do Naf- mercado norte-americano com o mercado brasilei- ta, o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio, o ro, a diferença é gritante. No Brasil, o mercado total México avançou nas importações americanas e, de de sucos 100% de laranja é estimado em cerca de 10.000 toneladas na safra 1992/93, saltou para mais 70.000.000 de litros, o equivalente a apenas 2,5% do de 84.000 toneladas na safra 2014/15. O acordo, que mercado americano. No entanto, quando se observa passou a valer em 1994 e tem como signatários os a categoria de néctares, cuja penetração é maior em Estados Unidos, Canadá e México, prevê que a co- nosso país, as diferenças não são tão grandes e o Bra- mercialização de vários produtos entre esses países, sil mostra até alguma vantagem. incluindo alimentos e bebidas como o suco de laranja, tenha tarifas reduzidas de importação. 84 | CITRUSBR outubro 2015 Nos EUA, em 2014, o consumo total de néctares foi de pouco mais de 1,016 bilhão de litros, enquanto o MEIO CHEIO, MEIO VAZIO Entenda como o Brasil perdeu participação no mercado americano nos últimos anos 2004 2014 CONSUMO DE SUCO NOS EUA 1.028 (em mil toneladas FCOJ equiv. 66ºB) CONSUMO DE SUCO NOS EUA 688 (em mil toneladas FCOJ equiv. 66ºB) B rasil demandou 1,334 bilhão de litros. A lição que fica diante desses números é que há no Brasil um grande potencial de consumo, a exemplo do texto da revista número 5. Entre os fatores que explicam essa diferença no consumo estão alguns aspectos econômicos e sociais. Participação do suco brasileiro na importação de suco dos EUA 65 % Enquanto a população dos Estados Unidos, da ordem Participação do suco brasileiro na importação de suco dos EUA 59 % de 318 milhões de pessoas, tem renda per capita média de US$ 40.900 por ano, no Brasil, esse rendimento não passa de US$ 7.700 anuais. Além disso, a inflação norte-americana em 2014 foi de 1,6%, enquanto no Brasil esse índice chegou a 6,3% e seus efeitos foram sentidos especialmente na perda do poder de consumo dos brasileiros. Conhecidos alguns aspectos recentes do mercado norte-americano, a próxima sessão anali- Participação do suco brasileiro no consumo de suco dos EUA 17 % Participação do suco brasileiro no consumo de suco dos EUA 25 % sa o elo varejista, composto por gigantes. CITRUSBR outubro 2015 | 85 SÉRIE CONSUMO DE SUCO DE LARANJA OS GIGANTES DO VAREJO Cresce a tendência de concentração do mercado segundo os dados do estudo da Markestrat, com base em varejista no mundo, e grandes redes possuem cada vez informações da Planet Retail ilustradas na tabela “Poder mais força para negociar diante de fornecedores cada vez de Negociação dos Varejistas”. Isso é o equivalente ao PIB mais pressionados. Trata-se do mais recente movimento do México. Somente a rede Walmart, a maior do mundo, de um fenômeno econômico crescente e que impacta fechou 2014 com vendas de US$ 524,9 bilhões, uma riqueza significativamente o mercado mundial de alimentos e proporcional ao PIB da Argentina em 2014. bebidas: a concentração do varejo em todo o mundo. Em Além do maior poder de negociação conquistado por busca de ganhos de escala, aumento de competitividade meio de aquisições e fusões, até mesmo as redes “menores” e maior presença em mercados estratégicos, não foram da Europa conseguem se impor no mercado por meio de poucos os grandes grupos que se uniram ou fizeram negociações conjuntas. São os chamados pools de compra, aquisições para ficarem ainda maiores. O resultado dessa que reúnem empresas em organizações. O principal deles realidade é um enorme ganho de poderio econômico é o AMS, que reúne 12 supermercados, presentes em 28 dessas empresas em relação aos seus fornecedores. países e que somam um faturamento de US$ 214,3 bilhões. Quando se observam os números dessas companhias, Existem cinco grandes organizações desse tipo que a impressão é que não se fala de faturamento e sim de atuam na Europa, representando a maior parte da compra “PIB”: apenas as cinco maiores redes varejistas do planeta de produtos no Velho Continente. O alto nível de con- somaram juntas em 2014 um faturamento de US$ 1,08 trilhão, centração do varejo pode ser observado ao se constatar 86 | CITRUSBR outubro 2015 CITRUSBR outubro 2015 | 87 SÉRIE CONSUMO DE SUCO DE LARANJA PRINCIPAIS VAREJISTAS NO MUNDO FATURAMENTO TOTAl US$ 119 bilhões US$ US$ 114 bilhões US$ US$ 134 bilhões 114 bilhões 524 bilhões que, somando os pools de compra e as grandes redes do Estados Unidos a concentração das vendas está abaixo mundo, se têm dez grupos econômicos que respondem de 60%, ficando ao redor de 40,1%, mas quando se analisa pela maior parte da compra de alimentos e bebidas e regionalmente, afinal os EUA são “diversos países”, os que juntos somam um faturamento de US$ 1,707 trilhão, índices de concentração são bem maiores. ou o equivalente ao PIB da Rússia. Os dados levantados pelo estudo de consumo mos- Na Alemanha, principal país consumidor de suco tram exemplos emblemáticos como a Rússia, onde as de laranja da Europa, apenas cinco grupos respondem cinco principais redes que atuam no país respondiam por nada menos do que 75,6% das vendas de alimentos. por 60,9% das vendas em 2000 e em 2014 passaram a Em 2000, eles eram responsáveis por 66,4% das vendas. responder por 76,9%. Na Espanha essa relação passou Quando se observa a evolução da participação na venda de 52,7% em 2000 para 66,1% em 2014. No Reino Unido, de alimentos das cinco principais redes varejistas dos a concentração também avançou e passou de 50,6% mercados selecionados, é possível notar que essa ten- para 60,6%. Um movimento que dá às redes um grande dência é crescente. Dos 15 países analisados, apenas nos poderio na hora de negociar condições e margens e que 88 | CITRUSBR outubro 2015 traz reflexos diretos para toda a cadeia produtiva. Já é possível notar esse mesmo fenômeno em mercados PODER DE NEGOCIAÇÃO DOS VAREJISTAS - 2014 em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, onde as cinco ORGANIZAÇÕES DE COMPRA DOS VAREJISTAS NA EUROPA principais redes varejistas, Casino, Carrefour, Walmart, Lojas Americanas e Cencosud, também têm aumentado seu poder de compra e já respondem por um faturamento conjunto ORGANIZAÇÃO de US$ 71,6 bilhões. Este fato impacta na concentração da AMS 28 países indústria de sucos, o que será visto a seguir. UM CASO EMBLEMÁTICO: A FUSÃO DA AHOLD E DELHAIZE Duas das principais redes de supermercados da Europa, a Ahold e a Delhaize, oficializam sua fusão e criam mais uma gigante do varejo disposta a ganhar espaço no mercado americano Dispostas a conquistar espaço no cobiçado mercado americano, a holandesa Ahold e a belga Delhaize resolveram juntar forças. A fusão dos dois grupos cria mais uma gigante do varejo, cujas ven- SPAR International 14 países COOPERNIC/ CORE 16 países AGENOR/ ALADIS 8 países EMD 20 países das devem somar US$ 25 bilhões o que a tornaria a quinta maior rede de supermercados dos EUA e a VAREJISTAS PARTICIPANTES Ahold Esselunga Migros Booker ICA Morrisons Dansk Supermarked Jerónimo Martins Superquinn Delhaize Kesko Système U Franquiados do Spar nos seguintes países: Áustria Finlândia Holanda Bélgica Grécia Suíça República Tcheca Hungria Reino Unido Dinamarca Itália Eire Eslovênia Rewe Group IKI Conad Coop Schweiz Edeka Intermarché Axfood Musgrave Group Norgesgruppen Euromadi Tuko Logistics Superunie Casino ESD Italia SuperGros Mercator Colruyt Faturamento total dos membros da organização Dólares (bi) $214.318 $138.301 $111.417 $123.833 $111.588 quarta maior da Europa. A estratégia das empresas é mais um movimento da concentração do varejo em Faturamento total Dólares (bi) VAREJISTA todo o mundo e, de acordo com o comunicado conjunto das empresas, deverá ajudar a reduzir custos, a Casino - Extra, Pão de Açucar $30.164 aumentar a presença e a ganhar escala no mercado Carrefour $16.652 Walmart $12.644 norte-americano. O plano é incomodar outro gigan- 5 PRINCIPAIS VAREJISTAS NO BRASIL te, o Walmart, principal grupo varejista dos EUA. A fusão dos dois grupos, que dará origem à Ahold Delhaize, acontece num momento em que grupos de supermercados nos EUA e na Europa enfrentam vários desafios, que vão desde a ascensão Lojas Americanas $7.884 Cencosud $4.313 WEB SITE PARA CONSUMIDORES DO REINO UNIDO VERIFICAREM OS PREÇOS DA LISTA DE COMPRA EM TODOS OS SUPERMERCADOS DE SUA VIZINHANÇA ANTES DE IREM ÀS COMPRAS www.mysupermarket.co.uk Fonte: Planet Retail das redes de desconto alemãs até a mudança dos hábitos do consumidor. A ideia é que, ao se associa- lojas e 375.000 funcionários, atendendo a mais de rem, as empresas poderão usar o aumento de es- 50.000.000 de clientes semanais. cala para negociar melhores condições com os for- Embora anunciado como “fusão entre iguais”, o negó- necedores. Tanto a holandesa Ahold como a belga cio foi estruturado como uma tomada de controle. Assim, Delhaize geram a maior parte de suas vendas nos os acionistas da Ahold, que tem um valor de mercado de EUA, onde possuem redes como Stop & Shop, Giant US$ 16,8 bilhões, controlarão 61% do capital da nova em- e Food Lion. Juntas elas contam com mais de 6.500 presa. Os acionistas da Delhaize deterão o restante. CITRUSBR outubro 2015 | 89 SÉRIE CONSUMO DE SUCO DE LARANJA CONCENTRAÇÃO NA VENDA DE ALIMENTOS NOS CINCO PRINCIPAIS VAREJISTAS DOS MERCADOS SELECIONADOS MERCADOS SELECIONADOS 2000 PARTICIPAÇÃO DE MERCADO 2005 2010 2013 2014 De acordo com o comunicado, as empresas pretendem obter uma economia de custos de 500.000.000 de euros em três anos. O Israel 99,3% 99,5% 100,0% 100,0% 100,0% principal executivo da Ahold, Dick Boer, disse que a meta representa um desafio, mas pode Suíça ser alcançada. “Estamos muito convencidos 80,7% 85,1% 92,5% 96,2% 91,6% de que 500.000.000 de euros são factíveis, mas será um trabalho árduo”, disse. Boer Coreia do Sul 58,5% 72,3% 84,4% 96,4% 90,0% será o principal executivo do novo grupo, enquanto Frans Muller, principal executivo da Delhaize, será seu vice, e acompanhará Áustria 72,5% 71,9% 84,4% 82,7% 83,8% a integração das duas companhias. Com uma base de lojas que se estende desde Rússia a Costa Leste dos Estados Unidos até a Indo60,9% 55,1% 74,4% 77,8% 76,9% nésia, a associação terá de ser aprovada pelos órgãos reguladores. “Há muito a ser feito”, disse Canadá 60,6% 54,8% 73,7% 63,8% 76,7% 66,4% 72,9% 80,0% 75,6% 75,6% 70,0% 64,8% 74,7% 72,8% 72,9% 66,6% 63,4% 66,5% 72,2% 72,2% 52,7% 56,7% 69,2% 64,7% 66,1% 41,0% 40,5% 43,0% 53,1% 63,3% 69,6% 67,5% 67,1% 64,4% 62,4% 51,4% 41,6% 53,2% 60,9% 61,2% 50,6% 59,8% 67,9% 62,9% 60,6% 42,7% 45,3% 46,3% 48,5% 40,1% Alemanha França Japão Espanha Brasil Itália Polônia Reino Unido EUA Fonte: Planet Retail Pequeno varejo e mercearias de bairro não estão incluídos 90 | CITRUSBR outubro 2015 Muller. As empresas informaram que preveem a conclusão da operação para meados de 2016. A CONSOLIDAÇÃO DO VAREJO E MARCAS PRÓPRIAS MUDAM O COMPORTAMENTO DA INDÚSTRIA DE SUCOS particular na Alemanha, principal cliente do Brasil na venda de suco de laranja para o mercado europeu. Nos últimos 30 anos uma série de marcas deixou o mercado ou foi comprada por outras empresas, em um movimento contínuo que faz com que cada vez mais a compra de suco esteja nas mãos de menos empresas. Um fator ainda mais complicador dentro de um mercado altamente competitivo como o de suco de frutas. Além de impactar nas negociações junto aos fornecedores Colocar um produto à venda na prateleira de um supermercado e no preço final do produto na gôndola, a consolidação do varejo está longe de ser tarefa das mais fáceis. Principalmente porque acabou se tornando também o principal fator de mercado para a quem atua no mercado mundial de alimentos e bebidas precisa se concentração de outro elo da cadeia, os engarrafadores, donos acostumar a enfrentar verdadeiros gigantes do varejo que a cada das marcas de sucos. Um dos exemplos mais emblemáticos desse ano têm aumentado sua força na hora de negociar com quem quer modelo foi a união das empresas alemãs Gerber-Emig e Refresco, colocar seu produto em suas prateleiras. A explicação para esse que deu origem à maior envasadora da Europa, denominada Re- fenômeno está numa verdadeira “queda de braço” entre fresco Gerber Group. Uma gigante que sozinha é responsável pela as redes varejistas e as marcas de produtos. compra de cerca de 15% de todo o suco brasileiro que é exportado. O caso da Refresco Gerber Group reflete uma tendência que vem acontecendo na Europa em geral e de forma muito Desde os anos 70, os supermercados têm intensificado a internacionalização de suas marcas e aumentado sua presença em HIPERMERCADO CITRUSBR outubro 2015 | 91 SÉRIE CONSUMO DE SUCO DE LARANJA mercados estratégicos. De acordo com o professor Nirmalya Kumar, autor do livro “Estratégias das Marcas Próprias”, que trata da concentração desse mercado, essa estratégia foi desenvolvida para que essas empresas se tornassem mais competitivas, aumentando suas escalas e reduzindo custos. CONCLUSÃO: MAIS DESAFIOS À CADEIA PRODUTIVA NO BRASIL Como visto nas sessões anteriores, os problemas da cadeia Além disso, com poucas empresas sendo responsáveis citrícola não estão apenas nas dificuldades e nos custos da pela maior parte das vendas, o varejo consegue aumentar sua oferta de fruta, mas principalmente na menor sede mundial influência no marketing das marcas e na distribuição das margens por suco de laranja. O consumo mundial desse produto tão do setor. Uma prova disso é o avanço do segmento dos private brasileiro caiu 15,3% nos últimos dez anos e as perdas em labels, as marcas próprias dos supermercados, principalmente relação à demanda de 2004 somam 450.000.000 de caixas, na Europa. É interessante notar que cerca de 70% das vendas de que deixaram de ser consumidas na forma de suco. suco de laranja na Europa são oriundas de marcas próprias dos supermercados e apenas 30% de marcas tradicionais. Também foi visto que a quebra da safra americana em decorrência do greening tem aumentado os custos de produção Nos Estados Unidos, por outro lado, acontece exatamen- e os preços que chegam aos consumidores nas gôndolas dos te o oposto: 70% das vendas são de marcas tradicionais e supermercados. E a alta desses preços interfere no consumo apenas 30% de marcas próprias de supermercado. Um dos negativamente. Além disso, tem-se a concentração varejista grandes problemas das marcas próprias de supermercado vindo forte mais uma vez, com o faturamento somado dos cinco é que seu grande diferencial é o preço. maiores varejistas mundiais, assim como os cinco maiores Com os private labels as redes varejistas têm o poder de até pools de compra somando mais de US$ 1,7 trilhão. substituir determinadas marcas da prateleira por um de marca E é justamente nesse ambiente externo hostil que se encontra própria, na maioria das vezes sublocando fábricas a um custo a cadeia citrícola brasileira. Com a mudança dos paradigmas, dos unitário menor do que a marca “original”. Esse mecanismo traz hábitos de consumo e a maior concentração do varejo, mudam reflexo para o mercado de sucos, pois trata-se de produtos cujo também os desafios enfrentados pelo setor. Assim, enquanto apelo está no preço e não em seu valor agregado, o que gera no passado, a principal preocupação da citricultura estava na desvalorização. Num mercado dominado por esse tipo de produto, oferta adequada de fruta, agora, as atenções se voltam para o a agregação de valor não é um aspecto muito trabalhado, o que desafio de reverter a queda no consumo da bebida. diminui a distribuição de renda para toda a cadeia. Diante desse desafio, a CitrusBR, com o apoio de institui- Outro exemplo da força que a concentração das grandes redes ções do setor, vem encabeçando uma importante campanha varejistas exerce em todo o mercado está numa recente estratégia em prol do desenvolvimento do mercado interno, por meio do da rede americana Walmart, que tem negociado junto aos seus estímulo ao consumo do suco 100%, em que a cadeia produtiva fornecedores que reduzam suas margens (ver matéria nesta edição). se beneficiaria duplamente, vendendo no mercado interno e Tudo para que a gigante americana volte a usar o 92 | CITRUSBR outubro 2015 secando um pouco o duto que vai ao mercado externo. apelo de preços mais baixos aos consumi- Assim, mais do que buscar alternativas para restabelecer dores americanos e afaste a crescente a demanda pelo suco apenas olhando para os mercados in- concorrência de outras redes de ternacionais, torna-se cada vez mais fundamental enxergar as menor porte que usam o oportunidades que temos de incrementar a demanda dentro de mesmo atrativo. casa, por meio de medidas como a desoneração do suco 100%. Mas para que esse projeto se transforme em uma realidade promissora, no entanto, mais do que o apoio governamental, é preciso que haja também a participação ativa e o apoio de todos os elos da cadeia, em um cenário de ampla cooperação, a fim de que se possa extrair do mercado brasileiro todo o potencial que ainda está adormecido. Com essa importante estratégia, ganha o setor, ao recuperar parte de sua demanda, ganha o consumidor, ao ter acesso a um produto de alta qualidade a um preço mais competitivo, e ganha a economia brasileira, com a geração de empregos, renda e estímulos ao consumo. A cadeia do suco de laranja é como um grande “sucoduto”, em que o produto sai do Brasil e chega aos mercados de destino. Quanto mais fechada a torneira nesses mercados, mais suco “sobra” nesta grande “caixa-d’água” de suco que é o nosso país. Isso mostra a fundamental importância de se observar e discutir fortemente as questões de consumo e formas de recuperá-lo. E ,sem a devida união do setor, as torneiras do mundo continuarão cada vez mais fechadas. CITRUSBR outubro 2015 | 93 finanças | Por Denise Oliveira Não deixa o CAR te atropelar Para aumentar o volume de registro, instituições financeiras e empresas de seguro já oferecem benefícios para quem realizou o Cadastro Ambiental Rural (CAR). Após 2016, quem não se cadastrar não terá acesso às linhas de crédito Atualmente produtores rurais de todo o País enfrentam uma burocrática corrida contra o tempo. Depois da prorrogação anunciada pelo governo federal, até o mês de maio de 2016, todo proprietário de área agrícola deverá preencher o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que é o registro público das informações ambientais dos imóveis rurais. Com isso, a partir de 2017, quem não estiver em dia com o CAR terá seu acesso às linhas de crédito suspenso. Mas antes mesmo de o prazo se encerrar já há perdas para quem ainda não regularizou sua situação. Isso porque há bancos e empresas que estão concedendo benefícios para quem está em dia com essa regulamentação. “A Caixa Econômica Federal já está colocando o CAR como item obrigatório na análise de risco”, afirma o diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro, órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, Raimundo Deusdará Filho. De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), as instituições financeiras ainda não estão dei94 | CITRUSBR outubro 2015 xando de dar crédito para quem está fora do CAR, mas o cadastro já rende um “pontinho” a mais para quem procura crédito. “As empresas de seguro estão reduzindo o deságio para quem tem CAR. Se você não tem CAR, paga um pouco mais de seguro. Esses mecanismos de mercado, muito mais do que o Estado regulador, vão fazer o CAR acontecer”, garante Deusdará. De acordo com dados da Secretaria de Agricultura de São Paulo, o ritmo de cadastro tem sido positivo. No Estado, a área passível de cadastro é de cerca de 16,9 milhões de hectares. Desse total, até a primeira quinzena de junho, já foram cadastrados 10,2 milhões de hectares. O problema ainda está nas pequenas propriedades. “Pequenos proprietários precisam do nosso apoio para fazer os cadastros. Estamos MATA REGISTRADA Veja como está o andamento do CAR nas regiões brasileiras CADASTRO Em maio de 2016 termina o prazo para fazer o Cadastro Ambiental Rural. Em São Paulo, 10,2 milhões de hectares já foram cadastrados. Na foto ao lado, Caroline Vigo Cogueto, da Secretaria do Meio Ambiente, afirma que o foco está nas pequenas propriedades identificando estratégias para alcançar esse valor da área faltante”, afirma a diretora do Centro de Monitoramento da Secretaria do Meio Ambiente, Caroline Vigo Cogueto. O cadastramento é gratuito e obrigatório para todo imóvel rural. Todo o processo é realizado por meio de um programa online e é necessário apenas que o proprietário esteja em posse de todos os documentos para conseguir finalizar seu cadastro. “A ferramenta foi desenvolvida para que todos consigam preencher seus dados sozinhos. Mas em São Paulo há prefeitura e escolas técnicas que oferecem técnicos à disposição de quem precisar de ajuda”, explica Deusdará. ÁREA REGISTRÁVEL CADASTRADO (em milhões de hectares) Norte Centro-Oeste Sudeste Nordeste Sul (em %) 71,5 67,1 19,3 15,1 32,0 Norte CentroOeste 75,3 51,7 Sudeste Nordeste 35,2 19,8 Sul 17,5 FOTOS DE JULIO VILELA E DIVULGAÇÃO artigo | Por Cicero Cartaxo de Lucena José Eduardo Borges de Carvalho* Citricultura de baixa emissão de CO2 A citricultura nacional ocupa uma área plantada de aproximadamente 800 mil hectares, destacando o Brasil como o maior produtor mundial de citros. Apesar dessa destacada liderança, as práticas de cultivo convencional adotadas nos pomares no controle de plantas daninhas na citricultura com uso de herbicidas e o grande número de operações de roçagem e gradagens podem contribuir para o aumento das emissões de CO2, além de causar a compactação do solo, contribuindo para sua degradação ao longo dos anos, pela perda dos seus atributos físicos, químicos e biológicos e, consequentemente, sua fertilidade e produtividade, reduzindo a capacidade desse solo em armazenar carbono. A adoção de coberturas vegetais nas entrelinhas de pomares de citros é uma tecnologia que pode contribuir para a redução desses impactos. A contribuição da agricultura para a redução de emissão de CO2 motivou o Brasil a implementar uma política de governo para o setor agrícola com a criação do Plano Setorial de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas, visando a consolidação de uma economia de baixa emissão de carbono na agricultura que, dentro de sua estrutura, criou o Programa ABC, linha de crédito específica que incentiva produtores rurais a adotarem técnicas agrícolas sustentáveis. Atuando na vanguarda do conhecimento, a Embrapa Mandioca e Fruticultura continua dando prioridade a essa linha de pesquisa, contribuindo para o desenvolvimento de tecnologias baseadas no uso de cobertura vegetal, como a recomendação de espécies de coberturas e a definição de período crítico de interferência de plantas daninhas em pomares de citros, permitindo que essas plantas FOTO DIVULGAÇÃO consideradas “daninhas” passem a ser “companheiras”. Atualmente, ações de transferência de tecnologia vêm sendo implementadas nos polos de produção de citros de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Sergipe, Alagoas e Amazonas. Os resultados obtidos nesses polos de produção vêm demonstrando que a adubação verde, quando adequadamente escolhida, conduzida e manejada, além de propiciar o controle de plantas infestantes, promove aumento na produtividade dos citros e, sobretudo, protege e conserva o solo. Essas práticas tornam a agricultura menos dependente de insumos externos, pois as leguminosas, de um modo geral, se apresentam como recicladoras de nutrientes em função dos sistemas radiculares profundos que trazem até as camadas superficiais do solo, nutrientes que seriam perdidos pela lixiviação. Em relação à produtividade, tem-se conseguido incremento médio de 25% a 30% na produtividade para as condições do Nordeste brasileiro, com o manejo de coberturas vegetais no controle integrado de plantas infestantes, quando comparado ao manejo convencional do produtor. Para a condição do Estado de São Paulo, o incremento médio foi de 12,5% (Carvalho et al., 2005). Das espécies de leguminosas e gramíneas avaliadas, as que mais se adequaram como melhoradoras de solo, incorporadoras de biomassa e nutrientes e supressoras de plantas infestantes foram feijão-de porco (Canavalia ensiformis), calopogônio (Calopogonium muconoides), crotalária juncea (Crotalaria juncea), braquiária decumbens (Brachiaria decumbens) e braquiária ruziziensis (Brachiaria ruziziensis). “A ADOÇÃO DE COBERTURAS VEGETAIS NAS ENTRELINHAS DE POMARES DE CITROS É UMA TECNOLOGIA QUE PODE CONTRIBUIR PARA A REDUÇÃO DOS IMPACTOS DA EMISSÃO DE CO2 E AJUDA A GERAR UM INCREMENTO DE PRODUTIVIDADE DE 12,5% NO ESTADO DE SÃO PAULO” Cicero Cartaxo de Lucena Analista da Embrapa Mandioca e Fruticultura, doutor em fitotecnia * Pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, doutor em agronomia (solos e nutrição de plantas) CITRUSBR outubro 2015 | 95