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1 Micheline Gaia Hoffmann Fallgatter Indicadores à construção de um modelo de inovação organizacional: relações entre as estratégias das empresas do setor têxtil de Blumenau e as redes externas componentes do entorno da inovação Florianópolis, dezembro, 2006. 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DOUTORADO Indicadores à construção de um modelo de inovação organizacional: relações entre as estratégias das empresas do setor têxtil de Blumenau e as redes externas componentes do entorno da inovação Micheline Gaia Hoffmann Fallgatter TESE SUBMETIDA COMO REQUISITO PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE DOUTOR EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Florianópolis, dezembro, 2006. 3 Indicadores à construção de um modelo de inovação organizacional: relações entre as estratégias das empresas do setor têxtil de Blumenau e as redes externas componentes do entorno da inovação Micheline Gaia Hoffmann Fallgatter Esta tese foi julgada adequada o para obtenção do título de Doutor em Engenharia de Produção (área de concentração Gestão do Design e do produto) e aprovada em sua forma final pelo Curso de Pós Graduação em Engenharia de Produção Professor Edson P. Paladini, Dr. Coordenador do Curso APRESENTADA À COMISSÃO EXAMINADORA INTEGRADA PELOS PROFESSORES: Prof. Nelci Moreira de Barros, Dr. Eng. (Universidade Federal de Santa Catarina-Orientador) Prof. Ademar Dutra, Dr (UNISUL – Moderador) Profª Evanir Dario Dr.ª (ASSESC - Faculdades Integradas) Prof. Carlos Eduardo Negrão Bizzotto, Dr. (Universidade Regional de Blumenau FURB) Prof. Neri dos Santos, Dr. Ing. (Universidade Federal de Santa Catarina UFSC) 4 Aos meus tesourinhos, Rafael, Bruno e Melissa, Com o amor maior do mundo! 5 Agradecimentos Este é o resultado de várias experiências, proporcionadas, vividas e compartilhadas com pessoas e instituições que fizeram história em minha vida. É com muito amor que dedico os próximos parágrafos a agradecer cada oportunidade, apoio ou singelo gesto de carinho. Cinco pessoas merecem ocupar este primeiro espaço, infinitamente pequeno para o tamanho da minha gratidão. Rafael, Bruno, Melissa, pai e mãe: obrigado pelo amor de vocês. Ele é a minha força e a minha inspiração. Embora a trajetória tenha sido longa, alguém que entrou recentemente em minha vida foi especial o suficiente para fazer toda a diferença sobre o resultado que pude obter. Alexandre, você chegou bem em tempo de ocupar seu lugar nestas linhas iniciais. Para lidar com a complexidade do desafio, contei com a dedicação de meu orientador, Prof. Nelci. Pelo apoio recebido, meus agradecimentos. Agradeço também ao Guilherme, meu companheiro de muitos anos, por jamais ter deixado de incentivar meu crescimento intelectual e profissional. A dedicação irrestrita que tive aos estudos e pesquisas neste período só foi possível porque pude contar com pessoas especiais como minha irmã Fabiana, minha madrinha Dulcinéa, minha amiga Cristiane; meus amigos do Instituto Gene: Bizzotto, Horst, Priscila, e Candy; a equipe do IPS, Instituto de Pesquisas Sociais da FURB, em especial a Profa. Henriette e a Leonice; o apoio da administração da FURB, nas pessoas dos professores. Egon José Schramm (reitor na época da elaboração desta Tese), do então pró-reitor de pesquisa e pósgraduação, Prof. Edésio Luiz Simionatto e do atual reitor, Prof. Eduardo Deschamps. Ainda no campo institucional, agradeço ao CNPq, pelo apoio financeiro, à Ampe, Sintex e Acib, cujo apoio institucional foram decisivos à realização das entrevistas e realização da pesquisa junto às empresas. Obrigado a Deus, por ter me permitido voar e crescer. 6 Sumário 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 14 1.1 Definição do Problema de Pesquisa ................................................................... 14 1.2 Objetivo Geral .................................................................................................... 17 1.3 Objetivos Específicos .......................................................................................... 17 1.4 Justificativa......................................................................................................... 18 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 22 2.1 As múltiplas dimensões entre o conhecimento e o desenvolvimento – conceitos associados à inovação......................................................................................................... 22 2.2 Inovação – atores associados ao entorno ........................................................... 31 2.3 As diferentes perspectivas da inovação.............................................................. 36 2.4 A cultura da burocracia e suas relações com a inovação .................................. 46 a) Determinismo e possibilidades – a natureza da razão que guia a inovação ..... 46 b) Burocracia: origens, características e relações com a inovação........................ 49 2.5 O estrato da empresa no entorno da inovação .................................................. 52 a) Estratégia – conceitos básicos e relações conceituais pertinentes ao escopo da inovação 52 b) Formulação estratégica nas empresas: a lógica convencional e a lógica da inovação com valor ............................................................................................................ 57 c) Métodos de gestão e estruturas organizacionais que reforçam a lógica estratégica convencional .................................................................................................... 61 2.6 O estrato das Universidades nas redes externas que compõem o entorno da inovação 65 a) Incerteza: a natureza da ciência potencializando a universidade como agente de inovação disruptiva. ...................................................................................................... 65 b) Limitações ao potencial inovador das Universidades........................................ 70 2.7 O estrato dos governos, agências de fomento e instituições privadas de apoio ao desenvolvimento empresarial nas redes externas que compõem o entorno da inovação 74 a) Inovação e desenvolvimento econômico............................................................. 74 2.8 Os sistemas de inovação ..................................................................................... 76 a) Os sistemas nacionais de inovação ..................................................................... 78 b) Os sistemas regionais de inovação...................................................................... 81 c) O que ativa a rede de interação dos sistemas de inovação? .............................. 84 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................ 102 3.1 Delimitação da Pesquisa ................................................................................... 102 3.2 A escolha do setor ............................................................................................. 102 3.3 Categorias de Análise ....................................................................................... 103 3.4 Da Amostra ....................................................................................................... 103 3.5 Coleta, Tabulação e Análise de Dados ............................................................. 104 3.6 Limitações da Pesquisa..................................................................................... 107 4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA .............. 109 4.1 Caracterização das empresas pesquisadas ...................................................... 109 4.2 Produtos e serviços ........................................................................................... 110 4.3 Aspectos financeiros ......................................................................................... 110 4.4 Recursos humanos ............................................................................................ 112 4.5 Rede de relacionamentos.................................................................................. 112 4.6 Estratégias competitivas................................................................................... 125 4.7 Processo de inovação ........................................................................................ 134 7 5. CONCLUSÕES ........................................................................................................ 150 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 159 REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES ....................................................................... 167 ANEXOS .......................................................................................................................... 168 8 Lista de figuras Figura 1: Níveis do processo interativo que compõem a inovação............................. 24 Figura 2: O quadrante de Pasteur................................................ 25 Figura 3: A transferência de tecnologia no processo de inovação............................... 31 Figura 4: Componentes dos Sistemas de Inovação...................................................... 76 9 Lista de tabelas Tabela 1: Indicadores de C&T no Brasil...................................................................... Tabela 2: Artigos publicados em periódicos científicos internacionais 26 indexados no ISI........................................................................................... 29 Tabela 3: Plano Amostral............................................................................................. 104 Tabela 4: Áreas de atuação........................................................................................... 109 Tabela 5: Rede de relacionamento............................................................................... 113 Tabela 6: Foco das relações estabelecidas com os parceiros pelas grandes empresas....................................................................................................... Tabela 7: 116 Foco das relações estabelecidas com os parceiros pelas médias empresas....................................................................................................... 117 Tabela 8: Barreiras para as alianças/parcerias.............................................................. 118 Tabela 9: Existência de barreiras que impedem a empresa de realizar parcerias......... 118 Tabela 10: Tipos de barreiras que impedem as parcerias............................................... 119 Tabela 11: Razões que tornam a empresa competitiva no mercado onde atua.............. 125 Tabela 12: Como a empresa formula suas estratégias.................................................... 129 Tabela 13: Quem participa diretamente da formulação das estratégias da empresa...... 130 Tabela 14: Fatores determinantes ao sucesso da empresa nos próximos dois anos....... 131 Tabela 15: Fatores determinantes de sucesso às médias empresas para os próximos dois anos....................................................................................................... Tabela 16: 132 Fatores determinantes de sucesso às pequenas empresas para os próximos dois anos....................................................................................................... 133 Tabela 17: Principais objetivos dos esforços de inovação............................................. 136 Tabela 18: Existência de um núcleo ou setor responsável exclusivamente pelas atividades de P&D........................................................................................ 137 Tabela 19: Existência de uma política de investimento sistemático em P&D............... 138 Tabela 20: Utilização de recursos de fundos de fomento .............................................. 138 Tabela 21: Atividades para as quais os recursos de fomento foram utilizados.............. 139 Tabela 22: Importância dos recursos de fomento nos resultados da empresa................ 140 Tabela 23: Intenção da empresa utilizar recursos de fundos de fomento outras vezes.. 140 Tabela 24: Motivos pelos quais a empresa nunca utilizou recursos de fomento........... 141 10 Tabela 25: Itens de políticas públicas para a inovação considerados prioritários.......... Tabela 26: Principais dificuldades enfrentadas pela empresa para Pesquisa e 142 Desenvolvimento.......................................................................................... 143 Tabela 27: Atividades de pesquisas realizadas pelas empresas..................................... 144 Tabela 28: Como ocorre a inovação nas empresas........................................................ 145 Tabela 29: As inovações realizadas pela empresa......................................................... 146 Tabela 30: Natureza da competência essencial da empresa........................................... 147 11 Lista de gráficos Gráfico 1: Estratégias de negócios prioridade nº 1 para grandes empresas.................. 126 Gráfico 2: Estratégias de negócios prioridade nº 1 para médias empresas.................... 127 12 Resumo Esta pesquisa dedicou-se a investigar como os indicadores que contribuem na construção de um modelo de inovação organizacional influenciam as relações entre as estratégias das empresas têxteis de Blumenau e as redes externas componentes do entorno da inovação. A pesquisa tomou como parâmetros três universos distintos: as indústrias de grande, médio e pequeno porte de Blumenau. A amostra alcançada foi de 270 pequenas, 34 médias e 13 grandes empresas, correspondentes a uma confiabilidade de 95% para os dois primeiros universos. No caso das grandes, a pesquisa atingiu a totalidade do universo. Para o atendimento dos objetivos propostos, foram contempladas as seguintes categorias de análise: premissas estratégicas da empresa quanto à inovação como fator de competitividade; práticas de formulação estratégica na empresa; tipo, freqüência, e resultados das relações estabelecidas com universidades, focadas na implantação de estratégias e ações de inovação; tipo, freqüência, e resultados das relações estabelecidas com o governo, focadas na implantação de estratégias e ações de inovação; tipo, freqüência, e resultados das relações estabelecidas com agências de fomento, focadas na implantação de estratégias e ações de inovação; tipo, freqüência, e resultados das relações estabelecidas com instituições privadas de apoio ao desenvolvimento empresarial, focadas na implantação de estratégias e ações de inovação; complementaridade das relações estabelecidas e dos resultados atingidos a partir das interações entre estratégias internas das empresas e as redes externas que compõem o entorno da inovação. Palavras-chave: Inovação. Indicadores. Têxtil. Estratégia empresarial. Blumenau. 13 Abstract This research aimed at investigating how the indicators contributing to the construction of a an innovative organizational model influence the rapports between Blumenau’s textile company strategies and the external networks comprising the innovative environment. The parameters used to attain such a goal encompassed three distinct universes, so to say, the large, médium and small-sized companies of Blumenau. The sample reached 270 small companies, 34 medium ones and 13 large companies, being the level of trust 95%, regarding the two first universes. In the case of the big companies, the research covered the whole mentioned universe. To attain proposed objectives, the following categories of analysis were contemplated: strategic premisses of the company, concerning innovation, as a factor of competitiveness; strategic formulation practices in the company; type, frequence and results of the relations established with the government, focused on the implementation of innovation strategies and actions; type, frequence and results of relations established with fomentation agencies, focused on the implementation of innovation strategies and actions; type, frequence and results of relations established with private institutions supporting entrepreneurial development, focused on the implentation of innovation strategies and actions; complementarity of established relations and of the results achieved from interactions between internal strategies of the companies and the external network encompassing the innovation environment. Key words: Innovation. Indicators. Textile. Enterprise strategy. Blumenau. 14 1. INTRODUÇÃO A competitividade das empresas e o desenvolvimento sócio-econômico das regiões estão diretamente relacionados à capacidade das empresas e regiões para inovar. Inovação é elemento de destaque na Nova Economia e, como tal, é alvo de atenção e investimento. No âmbito das empresas, existe a preocupação em incorporá-la nas estratégias que, por sua vez, darão origem às estruturas criadas para dar suporte às atividades inovadoras. Adicionalmente, com vistas à promoção do desenvolvimento sócio-econômico, políticas públicas pertinentes ao campo da Ciência, Tecnologia e Inovação orientam as ações e programas dos vários atores que atuam com o propósito de fomentar e apoiar atividades voltadas a incrementar a capacidade inovativa do setor produtivo. Apesar desta atenção explícita que o tema tem recebido, o que se verifica são resultados insatisfatórios, se considerado todo o espectro de possibilidades que o conceito de inovação resguarda. Uma abordagem simplificada parece embasar as estratégias de inovação, restringindo-as a uma perspectiva incremental, voltada à melhoria de produtos e processos. Visões e ações propensas à criação e disseminação de produtos e formas de produção radicalmente novas, baseadas na descontinuidade tecnológica, são raras e isoladas. Como o conhecimento e os recursos físicos disponíveis tanto no âmbito das empresas quanto no âmbito institucional podem ser rearranjados com vistas a incrementar a capacidade das regiões para competir com base em novos parâmetros, é uma questão que poderá ser respondida pela pesquisa proposta. 1.1 Definição do Problema de Pesquisa No contexto de investimento em inovação pelas empresas blumenauenses, pode ser observado que as ações inovadoras consistem em melhorias, não implicando essencialmente inovação. Neste mesmo contexto, já foi observado em pesquisas sobre o tema (Fallgatter, 2004) que as 15 melhorias realizadas são de caráter reativo tanto no motivo (solução de problemas, acompanhamento de tendências e dos movimentos da concorrência) como no objetivo (manter ou recuperar market share). Assim, a abordagem que norteia as ações de inovação é de caráter incremental e reativo. Pode-se verificar, deste modo, que a lógica estratégica predominante nas empresas é a lógica convencional. As estratégias são formuladas no sentido de seguir tendências de mercado, alcançar ou ultrapassar a concorrência. As próprias ferramentas utilizadas para apoiar o processo de formulação da estratégia, bem como as estruturas internas das empresas, direcionam suas ações às condições pré-existentes em seu entorno. Uma vez que as demandas do mercado por soluções substancialmente novas não são espontâneas e considerando-se a possibilidade de que a mesma lógica norteie as estratégias dos concorrentes, fica fortalecida a abordagem de inovação incremental entre as empresas de um modo geral. A lógica estratégica da inovação com valor, que permite às empresas transcender as condições do entorno, tornando a concorrência irrelevante e criando vantagem competitiva significativamente maior por meio da construção de novas curvas de valor, pode ser identificada com freqüência escassa, em casos localizados. Algumas características pertinentes a outros estratos do entorno podem ser considerados elementos ativos na articulação deste panorama. Um destes estratos corresponde às universidades, atores que por natureza poderiam atuar como geradores e disseminadores de novos conhecimentos na sociedade, uma vez que, em tese, seriam mais guiados pela tecnologia que pelo mercado. Não obstante, pode ser verificado que possuem limitações em sua capacidade para fazer ciência sob a perspectiva da descontinuidade tecnológica. Adicionalmente, pesquisas apontam um distanciamento entre as empresas e as universidades. As empresas com freqüência buscam os recursos para a realização da inovação em sua estrutura interna ou junto a fornecedores de sua cadeia produtiva. Paralelamente, os instrumentos de transferência de tecnologia das universidades e centros de pesquisa para o setor produtivo ainda são frágeis, desde os aspectos legais e pertinentes à proteção da propriedade intelectual, até os aspectos comerciais, relacionados à prospecção de oportunidades de negócios e interação com as empresas. Com isso, resultados da pesquisa científica podem deixar de serem apropriados no setor produtivo, impedindo, assim, a consolidação do processo de inovação e a geração de ganhos econômicos, tanto ao próprio 16 centro de pesquisa, quanto à empresa e à sociedade de um modo geral. Especificamente sob o ponto de vista da empresa, deixa-se de usufruir das descobertas e invenções realizadas no campo da ciência para impulsionar saltos competitivos por meio da aceleração do desenvolvimento de novas cadeias de valor. Um terceiro estrato que compõem o entorno da inovação é formado pelas instituições privadas de apoio ao desenvolvimento empresarial. No Brasil, os atores componentes deste estrato são aqueles com as quais as empresas mais interagem em suas redes externas. Algumas destas instituições têm demonstrado sensibilidade para a questão da inovação como elemento à competitividade. Por freqüentemente congregarem várias organizações e, por conseqüência, um volume mais heterogêneo de conhecimento, estas instituições podem ampliar a rede de relações das empresas, contribuindo, assim, para sua capacidade inovativa. Contudo, percebese que algumas delas têm criado ecossistemas próprios, que limitam os relacionamentos das empresas aos elementos internos destas instituições. Isso pode restringir o universo de possibilidades existentes no entorno, caso as empresas passem a orbitar apenas em torno das estratégias e estruturas da instituição com a qual interagem. Mais especificamente, isso pode restringir o universo de conhecimento disponível, que as empresas poderiam utilizar para ampliar sua capacidade de inovação. Adicionalmente, esta estratégia pode implicar na criação de estruturas redundantes numa mesma região, dificultando a otimização de recursos, sabidamente escassos. Outro estrato relevante na configuração deste entorno é composto pelos governos e agências de fomento. Estes atores se mostram preocupados em criar instrumentos aptos a promover o desenvolvimento sócio-econômico do país por meio do incremento da capacidade de inovação das empresas. Contudo, fatores como o foco no curto prazo e em soluções de baixo risco podem levar à priorização de projetos mais amadurecidos, em prejuízo daqueles potencialmente com maior agregado tecnológico. Sob a lógica estratégica convencional, esta postura é justificável. Contudo, ela pode constituir uma barreira ao desenvolvimento tecnológico de valor pelas empresas e pelo país. Isto parece especialmente relevante se considerado o fato de que a lógica dos governos e agências de fomento pode reforçar a postura dos demais atores do entorno, uma vez que deles se originam as regulamentações e desregulamentações, bem como os recursos de suporte à inovação. 17 Nos quatro estratos acima descritos, verifica-se que aspectos culturais podem exercer influência sobre a lógica estratégica adotada pelos respectivos atores. Tanto no âmbito das empresas, quanto das universidades, dos governos e agências de fomento e das instituições privadas de apoio ao desenvolvimento empresarial, aspectos culturais oriundos do paradigma burocrático de gestão podem ser limitadores do potencial inovador. Assim, a capacidade de inovação das empresas pode estar associada a uma rede complexa de relações entre as suas próprias estratégias e estruturas internas e as estratégias e estruturas de outros atores, posicionados em outros estratos de seu entorno. Compreender estas relações pode contribuir para o incremento da capacidade das empresas para realizar inovação sob a perspectiva da descontinuidade tecnológica, a partir da lógica estratégica da inovação com valor. Adicionalmente, pode proporcionar a otimização das estruturas internas e externas criadas com vistas à inovação. Pode ser formulado, a partir destes elementos, o seguinte problema de pesquisa: Como os indicadores que contribuem na construção de um modelo de inovação organizacional influenciam as relações entre as estratégias das empresas do setor têxtil de Blumenau e as redes externas componentes do entorno da inovação? 1.2 Objetivo Geral Verificar como os indicadores que contribuem na construção de um modelo de inovação organizacional influenciam as relações entre as estratégias das empresas do setor têxtil de Blumenau e as redes externas componentes do entorno da inovação. 1.3 Objetivos Específicos Verificar as relações estabelecidas entre as empresas e universidades na implantação de estratégias e ações de inovação. Verificar a efetividade das políticas e programas criados e desenvolvidos pelos governos e respectivas agências de fomento no apoio ao processo de formulação e implementação de estratégias e ações de inovação pelas empresas. 18 Identificar as relações estabelecidas entre as empresas e instituições privadas de fomento ao desenvolvimento empresarial na implantação de estratégias e ações de inovação. Descrever resultados em inovação alcançados a partir das relações entre estratégias e as redes externas componentes do entorno da inovação. 1.4 Justificativa O problema de pesquisa anteriormente formulado ultrapassa o paradigma da inovação como um fenômeno linear e endógeno às empresas, para adotar uma perspectiva interativa. Por interatividade entendem-se as colaborações internas realizadas na empresa, bem como as relações e cooperações estabelecidas com as redes externas. A interatividade proporciona a intensificação do processo de aprendizagem e uma maior disponibilidade de conhecimento, contribuindo, assim, para a capacidade de se gerar inovação. Sobretudo para a geração de inovações mais vigorosas, que geram descontinuidade, estratégias endógenas podem ser limitadoras, tendendo a prender a empresa ao paradigma vigente. No Brasil, existem gaps de desempenho quanto à capacidade inovativa das empresas em relação à potencialidade do país. Estas deficiências podem estar relacionadas as estratégias ou estruturas internas das empresas, caso sejam elas limitadoras de seu potencial inovador, mas podem também estar associadas a interações inadequadas ou insuficientes com atores de outros estratos que compõem o entorno da inovação. Adicionalmente, podem ser advindas da ausência de atores específicos, cujo papel esteja descoberto, ou de desempenho equivocado por atores existentes. O presente trabalho propõe-se a investigar o cenário de Blumenau, o que se justifica pelos motivos que seguem baseados em Fallgatter (2004), que consta em documento disponível na FURB-Universidade Regional de Blumenau, realizado com patrocínio do CNPq. A taxa de inovação das empresas blumenauenses pode ser considerada satisfatória: 72,3% delas implantaram alguma inovação entre 2001 e 2004. Um estudo publicado em 2004 pela ANPEI – Associação Nacional de P&D das Empresas Inovadoras - indicou que a taxa de inovação da indústria nacional é de 31,5%. 19 Contudo, a investigação mais detalhada da natureza das inovações realizadas pelas empresas de Blumenau aponta um caráter que pode ser classificado como reativo, uma vez que, em grande parte, elas estão associadas ao acompanhamento de tendências e ao atendimento de necessidades imediatas. A taxa de 72,3% de empresas inovadoras é reduzida para 18% se mantidas apenas as inovações para o mercado (o restante constitui algo novo apenas para o contexto da empresa). De qualquer modo, este não é um cenário desfavorável se comparado à média nacional, onde também a grande maioria das inovações implantadas corresponde a produtos, serviços ou processos novos apenas no âmbito da empresa. Em Blumenau, assim como no cenário nacional e internacional, o setor industrial aparece à frente, apresentando as maiores taxas de inovação para o mercado, seguido do setor de serviço. O setor comercial blumenauense apresenta desempenho consideravelmente menos satisfatório neste quesito. Blumenau apresenta uma peculiaridade, segundo o documento já que não se identifica uma distinção significativa da taxa de inovação com relação ao porte da empresa. Outros estudos constatam que as maiores taxas de inovação estão associadas a grandes empresas. No caso das empresas de Blumenau as grandes são de fato aquelas que mais inovam. No entanto, quando a análise é feita sob a perspectiva da inovação para o mercado, o desempenho das grandes empresas não é significativamente superior ao das pequenas. Embora as inovações para o mercado nacional e internacional sejam mérito das grandes, em nível local e regional as pequenas estão à frente. É possível, que as empresas industriais e de serviços de grande porte, que apresentam as melhores taxas de inovação, são também aquelas onde atividades sistemáticas de P&D estão presentes com maior freqüência em Blumenau. O mesmo ocorre com os valores investidos nas inovações realizadas. Os maiores investimentos são identificados nas grandes empresas de serviço, seguidas das grandes indústrias. Em linhas gerais, destacam-se os setores de indústria e serviço quanto às estratégias e resultados relacionados à inovação. Quanto ao porte, embora as pequenas e médias empresas apresentem resultado satisfatório com relação à inovação, a questão dos investimentos associados às estruturas que favorecem os processos inovativos ainda pode constituir um limitador. 20 Com relação à interação entre universidade - empresas, a freqüência é muito baixa. As empresas que interagem com universidades são as do setor de serviço, de grande porte, atuantes no mercado nacional e com foco em clientes de grande porte. De maneira geral, estas empresas buscam a universidade para inovações que não estão disponíveis no mercado. É interessante observar que as empresas que interagem com a universidade são aquelas que apresentam os melhores resultados quanto à geração de patente no município. Este cenário aponta aspectos favoráveis para a economia de Blumenau, quando comparada à média nacional, mas simultaneamente alguns alertas, que podem constituir oportunidades de melhorias, caso sejam implantadas estratégias apropriadas neste sentido. Contudo, o cenário delineado a partir da pesquisa anteriormente citada, é bastante superficial, na medida em que abrange empresas dos mais variados setores. Sabe-se que o comportamento das empresas quanto à inovação varia conforme porte e setor de atuação, levando-se em conta a intensidade tecnológica e o grau de competitividade a ele inerentes (ANPEI, 2004; IEDI, 2004). Adicionalmente, esta pesquisa não explora suficientemente as redes de relações externas das empresas nas quais elas interagem com vistas a gerar inovação. Não obstante, para uma contribuição mais apropriada às políticas de desenvolvimento tecnológico das empresas do município, faz-se necessário um estudo setorial, que inclua também recortes segundo o porte das empresas pesquisadas. O estudo ora proposto permitirá verificar se as empresas pesquisadas estão atuando sob o paradigma interativo de inovação ou se mantém no paradigma linear. Em caso positivo, estando elas engajadas num processo interativo, será possível identificar quais as instituições envolvidas e qual a contribuição efetiva de cada uma delas em relação ao seu papel e contribuição potenciais, sob o ponto de vista conceitual. O estudo permitirá também estabelecer relações entre as estratégias e as estruturas empresariais, os vários atores das redes externas identificados como relevantes, e os resultados quanto à capacidade das empresas para gerar inovações de caráter disruptivo, ou seja, provocadoras de descontinuidade tecnológica. Em caso negativo, ou seja, verificando-se que as empresas gerenciam a inovação sob uma abordagem linear e endógena, a análise quanto a sua capacidade para a geração de inovações disruptivas será relacionada às suas estratégias e estruturas internas. Adicionalmente, a pesquisa poderá demonstrar motivos pelos quais estas empresas não mantém relações sistemáticas com as redes externas. O estudo poderá demonstrar ainda, a existência ou não de 21 um sistema regional de inovação na região pesquisada, sob uma análise crítica das contribuições e limitações deste arranjo para a capacidade das empresas que o compõem quanto à geração de descontinuidades tecnológicas. O conjunto de relações acima apresentadas confere o caráter inédito da pesquisa proposta. A proposta de pesquisa tem relevância que transcende ao estágio puramente acadêmico, uma vez que oferece contribuição social no âmbito da inovação. 22 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 As múltiplas dimensões entre o conhecimento e o desenvolvimento – conceitos associados à inovação O ato de inovar está associado a um arcabouço de novos conhecimentos e de conhecimentos previamente existentes reunidos e combinados com vistas ao desenvolvimento e implantação de novas tecnologias de processos produtivos e gerenciais e ao desenvolvimento, lançamento, comercialização e apropriação de novas tecnologias de produtos no mercado, de tal forma que possam agregar valor à economia. Trata-se de conceito amplo, multidimensional e complexo, uma vez que engloba vários outros, aos quais está intrinsecamente associado. É o conhecimento, gerado a partir da experiência prática ou de esforços sistemáticos de P&D realizados na própria empresa, ou gerado externamente, fruto de P&D realizado em outras empresas e instituições de pesquisa ou de pesquisa científica desenvolvida no ambiente acadêmico. Este último, o conhecimento científico, tem sua relevância à inovação crescentemente reconhecida, embora durante muito tempo tenha sido considerado exógeno ao processo inovador. Freeman (1998) dedica-se a embasar esta perspectiva, remetendo à List, que defendeu não haver descoberta científica que não possa contribuir para a melhoria da indústria. Em contrapartida, o reconhecimento de que a ciência por si só não constitui inovação, precisando ela das empresas para transformar-se em bens de valor econômico e social, estabelece um caminho de mão dupla, no qual a interação entre a indústria e as instituições de caráter científico constitui uma relação de interdependência no processo de inovação. Sob a perspectiva shumpeteriana, ao parágrafo anterior cabe agregar a noção de invenção, como a criação de alguma coisa nova. Segundo o Thema Guide (1998), uma invenção apenas torna-se uma inovação quando colocada em uso. Em sua teoria, Shumpeter (1982) demonstrou que enquanto não são levadas à prática, ou seja, enquanto não transformadas em inovação, as invenções são economicamente irrelevantes. Inovar vai, assim, além de inventar; 23 o inovador precisa convencer o consumidor a apropriar e utilizar sua invenção para que ela se converta em inovação. Só então se tem uma contribuição para o desenvolvimento. O conceito de tecnologia surge do contexto anterior, podendo ser compreendido como a aplicação do novo conhecimento aprendido por meio da ciência a algum problema prático (Audretsch et ali, 2002). Embora seja freqüentemente resultado da ciência, a tecnologia é sempre lapidada e fortemente influenciada pelas demandas e forças do mercado, além de questões relacionadas à economia, ao ambiente e a investimentos financeiros (Thema Guide, 1998), que muitas vezes restringem ou atuam como elementos limitadores da potencialidade inovadora de uma determinada tecnologia. Contudo, como a mudança tecnológica e a capacidade de inovação de um país estão associados à taxa em que o novo conhecimento é colocado em uso e difundido (Norway Ministry Of Trade And Industry, 2004) os fenômenos relacionados ao mercado, à economia e ao ambiente em que a empresa está inserida, não podem deixar de serem levados em conta no estudo da inovação. Portanto, a inovação envolve conhecimento não apenas no que diz respeito ao desenvolvimento da tecnologia, embora esta constitua um elemento-chave. Para a inovação acontecer, todo um espectro de conhecimentos que ultrapassam o escopo da tecnologia faz-se necessário; aspectos como o financiamento, a produção, a logística, e a difusão mercadológica são não apenas pertinentes como essenciais para que se migre da invenção à inovação. Nesta perspectiva, no European Innovation Scoreboard a inovação é compreendida sob três perspectivas: como um processo criativo, como um processo de consumo-demanda por produtos inovativos e como um processo de difusão. Do conhecimento à inovação propriamente dita, existem três níveis nos quais e dentre os quais ocorrem trocas relevantes ao processo inovativo como um todo, como ilustrado na figura 1. 24 Figura 1 – Níveis do processo interativo que compõem a inovação Fonte: WALTER, Gunter H. Mechanisms for Enhancing Co-operation between Academia and Industry: Activated Technology Transfer as an Example. In: ANGUELOV, S. & P.Lasserre. European S&T Policy and the EU Enlargement. Venice: UNESCO Venice Office, 2000, pp. 43-58. As trocas que ocorrem dentro do nível da ciência, por meio das pesquisas (a) e pesquisas aplicadas (a’), contribuem para o refinamento da própria ciência. Na medida em que passam para o nível da tecnologia, contribuem para o processo de inovação por meio da transferência de conhecimento (b,c), que favorece o desenvolvimento de competências. A migração direta para o nível da utilização (d) é muito rara. Conforme descrito anteriormente, a tecnologia é a ponte de acesso da ciência à inovação. As trocas realizadas segundo o escopo da tecnologia, contribuem para o refinamento de competências e podem ser caracterizadas como desenvolvimento (f, f’). Quando levadas para o nível da utilização, as tecnologias contribuem para a solução de problemas. Este processo é a chamada transferência de tecnologia (g). O movimento de tecnologias para o nível da ciência tem sua relevância nos feedbacks acerca de gaps de competência (e) que podem ser resolvidos por meio de pesquisa aplicada (a’) e transferidos novamente sob a forma de conhecimentos aprimorados (c) para o nível da tecnologia, onde ocorre, então, o desenvolvimento das competências necessárias. Segundo o escopo da tecnologia, trocas internas ao mercado consistem apenas no aprimoramento e difusão da própria utilização (j). O intercâmbio tem importância estratégica 25 ao desenvolvimento de novas pesquisas a partir da identificação de áreas de interesse e potencialidades no mercado (h). São os feedbacks do mercado para a ciência. E os intercâmbios da utilização para o nível da tecnologia visam solucionar gaps de competência (i) identificados no mercado, para aperfeiçoamento e retorno por meio do processo de transferência de tecnologia (g). No escopo do exposto anteriormente, Audretsch (2002) estabelece um paralelo entre invenção e ciência e entre inovação e tecnologia. É possível atribuir à primeira dupla de conceitos o valor da relevância científica, enquanto responsáveis pela geração de conhecimento fundamental. À segunda, o valor da relevância tecnológica, já que a inovação e a tecnologia são responsáveis pela utilização e difusão do novo conhecimento, resultando em ganhos econômicas e sociais. Stokes (1997) analisa o comportamento e os resultados de quatro cientistas – Audubon, Bohr, Edison e Pasteur - sob a perspectiva da contribuição científica e tecnológica, utilizando dois eixos cartesianos, como pode ser visto na figura 2. QUADRANTE DE AUDUBON Figura 2 – O quadrante de Pasteur Fonte: STOKES, Donald E. Pasteur’s quadrant. Washington, D.C.: Brookings, Institution Press, 1997 No primeiro quadrante está Audubon, um biólogo de grande reputação, cujo legado está relacionado ao alarme à sociedade quanto à destruição do habitats, mas que, contudo, não apresenta destaque, tanto sob o prisma científico quanto tecnológico. Já a classificação de Bohr na analogia de Stokes denota a grande contribuição de suas pesquisas sob o prisma científico, dada a importância dos conhecimentos gerados a partir de seus estudos para o desenvolvimento da ciência. Contudo, não faz parte de seus resultados a aplicação destes 26 conhecimentos sobre produtos ou processos, de modo que pode ser considerada baixa ou nula sua contribuição sob o prima tecnológico. Em posição inversa Stokes classifica Thomas Edison, cujo mérito e destaque são relativos a sua capacidade de aplicação estratégica da ciência no desenvolvimento de novos produtos e processos. Finalmente, Pasteur está classificado no topo do desenvolvimento científico e tecnológico, em função da sua dedicação e capacidade para a aplicação extrema dos conhecimentos que acumulou e criou. A transposição da analogia de Stokes para o cenário brasileiro demonstra a predominância dos quadrantes de Bohr e de Edison sobre o quadrante de Pasteur. Os números demonstram isso, como pode ser visto na tabela abaixo, contendo indicadores obtidos a partir de cálculos efetuados com base em dados do MCT (2005), conforme mostra a Tabela 1. Tabela 1 – Indicadores de C&T no Brasil PAÍS DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DE PESQUISADORES (Brasil 2000; Coréia 2001; Japão 2001; EUA 1999) Instituições Ensino Em Relação ao PIB 64,68 FINANCIAMENTO DISPÊNDIOS NACIONAIS EM P&D (1999) Per capita US$ correntes Empresas PIB (2001) Governo 1 73,2 39,9 4,73 1.060,8 69,9 Japão 63,7 29,6 3,06 816,3 73 EUA Israel Coréia 26,72 DISPÊNDIOS NACIONAIS EM P&D (1999) DEPÓSITO DE PATENTE (2001) Por bilhão U S$ correntes do PIB 80,5 14,7 2,67 963,7 64,4 Fonte: MCT, (2005). Os dispêndios em P&D no Brasil, além de serem significativamente menores que em países referência no quesito desenvolvimento tecnológico, como é o caso da Coréia, Israel, Japão e 27 Estados Unidos, ainda têm no governo a principal fonte de financiamento, enquanto naqueles países, as empresas investem mais da metade do total. Do total de recursos investidos em atividades inovativas pelas empresas brasileiras, P&D absorve 58,26%. Apesar de entre 1996 e 1999 os investimentos na rubrica de P&D terem aumentado 56,68%, dentre os recursos aplicados em atividades inovativas, as rubricas que mais cresceram foram serviços técnicos e aquisição de tecnologia. O distanciamento do foco das empresas na pesquisa também pode ser constatado a partir do volume de pesquisadores atuando nas empresas. A grande concentração dos pesquisadores no Brasil é nas instituições de ensino – 64,68%. Na Coréia, 73,5% dos pesquisadores estão nas empresas; no Japão, este percentual é de 63,7 e nos Estados Unidos, de 80,5. Assim, embora em valores absolutos o total de pesquisadores existentes no Brasil não seja ruim, análises mais criteriosas demonstram um cenário desfavorável em relação a outros países. Além da distribuição dos pesquisadores entre empresas e instituições de ensino, outra análise importante é o total de pesquisadores existentes em relação à População Economicamente Ativa (PEA). No Brasil, 1,5 pessoas em cada 1.000 da PEA é pesquisador, contra 4,6 na Coréia e 5,8 no Canadá, por exemplo (FAPESP, 2003). Outra análise relevante, recomendada pelo Manual de Camberra, da OCDE, é a relação entre o número de pessoas em ocupações técnico-científicas e/ou com escolaridade superior em relação ao conjunto da PEA. Em FAPESP (2003) tem-se este cruzamento e concluiu-se que em 1999, apenas 3,41 milhão de pessoas com nível superior estavam envolvidas em atividades técnico-científicas no Brasil, representando 4,3% da PEA, contra 13% na Espanha, 15% na França e no Reino Unido e 20% na Bélgica. Adicionalmente, a evolução destes números é desfavorável, uma vez que no Brasil eles têm crescido em ritmo muito inferior ao daqueles países. Como a escolaridade da população brasileira aumentou de maneira expressiva nos últimos anos, uma possível explicação para estes números é que o país não tem sido capaz de gerar ocupações para estas pessoas com a intensidade desejável. Segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia (2004), entre 1996 e 2003, o número de concluintes do ensino superior aumentou em 102,94%, de mestrado, em 187,94% e de doutorado, em 174,47%. Contudo, nas empresas, o volume de doutores atuando em atividades inovativas aumentou apenas 8,01%. Uma possível explicação para isso é exatamente o baixo montante de recursos investidos em P&D pelas empresas que, conseqüentemente, não geram postos de trabalho de alto valor agregado focados no desenvolvimento da capacidade inovativa. 28 Os índices anteriormente apresentados ajudam a explicar o baixo índice de depósito de patentes no Brasil. Os limitados investimentos realizados pelas empresas, somados à maciça concentração dos pesquisadores nas instituições de ensino e à falta de uma cultura de proteção à propriedade intelectual e de exploração comercial da propriedade intelectual (especialmente nas universidades) limita a potencialidade do país em termos de concessões de patentes. De qualquer maneira, vale observar que os índices de depósito de patentes brasileiras vêm melhorando nos últimos anos. Por exemplo, o número de patentes concedidas pelo escritório norte-americano ao Brasil aumentou 204,76% entre 1996 e 2004. Embora este índice seja muito próximo ao da Coréia, que cresceu em 207,43%, é essencial observar que em valores absolutos a diferença entre os dois países no ano de 2004 foi de 4.398 patentes (o Brasil com 192 e a Coréia com 4.590). Adicionalmente, é essencial observar que apesar do crescimento das concessões recebidas pelo Brasil, no mesmo período as remessas ao exterior por contratos de transferência de tecnologia (licença de exploração de patentes) diminuiu 70,51%. Ou seja, a comercialização, que proporcionaria a apropriação e a difusão da nova tecnologia no setor produtivo, gerando então os ganhos sociais e econômicos esperados do processo de inovação, não estão ocorrendo na mesma proporção do desenvolvimento tecnológico. Este quesito seria a chave para o Brasil migrar para o quadrante de Pasteur na analogia de Stokes, alinhando capacidade de geração, aplicação e difusão de conhecimento científico. A propósito da capacidade nacional para a geração de conhecimento, os números sugerem que o desenvolvimento científico vem ocorrendo em ritmo mais satisfatório que o tecnológico no Brasil. O volume de artigos publicados em periódicos científicos internacionais indexados no ISI sustenta esta argumentação. A tabela abaixo, montada a partir de dados do MCT (2005) demonstra que o Brasil ocupa a 17a posição entre os vinte países com maior produção científica em nível global. Vale observar os resultados de Israel neste quesito, que não se posicionou entre os vinte. 29 Tabela 2 – Artigos publicados em periódicos científicos internacionais indexados no ISI Brasil Coréia 11,285 15,643 Crescimento % 1981-2992 498,04 6.701,3 Israel 9,313 91,27 Japão 69,83 158, 81 2o EUA 245,578 42,75 1o 2002 Classificação 170 14o Fonte: MCT 2005 O confronto destes números com o total de patentes depositadas, utilizando-se como referencial os dados de 2005 dos Indicadores do Ministério da Ciência e Tecnologia, observase a desproporção entre o desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil. As patentes concedidas pelo escritório norte-americano ao Brasil em 2004 correspondem a 1,7% do total de artigos publicados em periódicos científicos internacionais indexados no ISI, ao passo que este índice para a Coréia foi de 29,34% (o montante de artigos publicados é referente a 2002). Assim, os números demonstram a existência de um gap de desempenho no Brasil, que impede sua classificação no quadrante de Pasteur, apesar de existir potencialidade científica e tecnológica para tal. Isso distingue o Brasil de países como o Japão, por exemplo, que tem conseguido realizar inovações alinhando sua base científica e a capacidade de seus engenheiros para realizar desenvolvimento e criar novas técnicas de comercialização (Landau, 1991). No caso do Brasil, uma das limitações parece ser a dificuldade de se levar o conhecimento da ciência à indústria. Walter (2000) classifica a transferência de tecnologia em três tipos: Transferência de tecnologia “soft”, que envolve a transferência de informações e a troca de experiências entre a ciência e a indústria. Transferência de tecnologias conectadas, que envolve um nível de interação mais avançado, como consultorias tecnológicas, estudos científicos mais aprofundados, cessão de equipamentos às empresas e intercâmbio de profissionais. Transferência de tecnologia “hard”, o nível mais sofisticado, que envolve, por exemplo, pesquisas desenvolvidas com foco em demandas ou licenciamento de propriedade intelectual. 30 Neste sentido, mais do que a transferência de conhecimento por meios de comunicação como artigos científicos, a transferência de tecnologia diz respeito à transferência de competência entre diferentes instituições, o que envolve pessoas. Ações no sentido de promover a troca de competências dominadas por pessoas de diferentes organizações é que podem preencher o gap existente entre o mundo científico e o mundo empresarial. Walter (2000) assinala a problemática da eficácia de programas de transferência de tecnologia de conteúdo científico, que geralmente são orientados pela oferta. Para o autor, esta característica confere a tais programas um efeito limitado, em função de problemas de aceitação na economia. Por isso propõe o conceito da transferência tecnológica ativada, que procura ultrapassar estas limitações baseando-se num modelo orientado pela demanda. Esta problemática já foi abordada por Shumpeter (1982), ao apontar as limitações da teoria do fluxo circular, baseada na noção de que a satisfação das necessidades é o significado da atividade econômica e que a produção deve ser guiada pelo mercado (market push). Contudo, ao relacionar o conceito de desenvolvimento econômico à capacidade para o estabelecimento de novas combinações, de forma descontínua e desequilibrada, Shumpeter (1982) acusa a teoria do fluxo circular de desprover a economia guiada pela pressão da necessidade objetiva, de qualquer capacidade criativa. Ele destaca que, embora a satisfação das necessidades seja o fim de toda produção, mudanças descontínuas não ocorrem espontaneamente na esfera das necessidades dos consumidores dos produtos finais. A espontaneidade das necessidades é pequena. Portanto, cabe ao produtor iniciar a mudança econômica e educar os consumidores a querer coisas novas, diferentes das habituais, criando, assim, novas necessidades, anteriormente inexistentes. Este é o conceito de desenvolvimento para Shumpeter (1982), intrinsecamente relacionado è inovação. Assim, se por um lado a transferência de tecnologia guiada pela oferta encontra barreiras para penetração no mercado, por outro, aquela guiada pela demanda apresenta limitações quanto à dimensão da inovação. Este problema será abordado em maiores detalhes no item 2.3, que discute as diferentes dimensões da inovação e sua relação com as leis do mercado. De qualquer maneira, toda a inovação envolve transferência de tecnologia em algum grau. E, para que o conhecimento seja apropriado e difundido no mercado, há que se encontrar mecanismos de governança, capazes de mediar os vários atores e fenômenos envolvidos. Sem 31 esta capacidade de governança, toda a potencialidade para processos de inovação bem sucedidos pode estar comprometida. Figura 3 - A transferência de tecnologia no processo de inovação Fonte: WALTER, Gunter H. Mechanisms for Enhancing Co-operation between Academia and Industry: Activated Technology Transfer as an Example. In: ANGUELOV, S. & P.Lasserre. European S&T Policy and the EU Enlargement. Venice: UNESCO Venice Office, 2000, pp. 43-58. Ou seja, é elevado o grau de complexidade que caracteriza o processo de inovação. São muitas as variáveis envolvidas, que exigem uma interação sistemática entre atores de diferentes naturezas. Ou seja, a inovação não pode ser desenvolvida dentro de um contexto único e específico. Ela não depende apenas da tecnologia; envolve também variáveis relacionadas à ciência, à economia, à sociedade, ao governo. Assim, torna-se necessária a interação entre atores, com vocações e competências complementares em relação aos diferentes desafios que caracterizam o processo de inovação como um todo. O próximo item dedica-se a explorar quais são estes atores e a natureza da relação entre eles. 2.2 Inovação – atores associados ao entorno No item anterior viu-se que para que a inovação aconteça, não é suficiente a pesquisa científica. O ciclo da inovação apenas se consolida quando seus resultados são apropriados no setor produtivo e difundidos a ponto de gerarem ganhos econômicos e sociais. Para isso fazem-se necessários processos de transferência de tecnologia, comercialização e distribuição. Por outro lado, embora as empresas possam desenvolver novas tecnologias internamente, via de regra o conhecimento científico será fundamental. Mormente quando as empresas desejam realizar inovações mais vigorosas, pesquisas desenvolvidas em diferentes ciências podem ser 32 de contribuição decisiva. Adicionalmente, outras interações com empresas atuantes em outros setores ou mesmo com concorrentes tem se demonstrado caminhos para a realização da inovação, por meio de contratos de licença, joint venture, dentre outros mecanismos (Landau, 1991). O compartilhamento de conhecimento entre diferentes empresas e instituições é enriquecedor ao processo de inovação, à medida em que cada ente possui uma história, capacidades e experiências muito distintas. Landau (1991) cita o exemplo do Japão, cuja capacidade inovativa é a utiliza a base científica disponível em outros países, atrelada à capacidade interna para o desenvolvimento e a comercialização. Assim, existe uma variedade de atores de diferentes naturezas associados ao entorno da inovação, justificada pelas diferentes fases que compõem o processo como um todo, e que caracterizam, por sua vez, diferentes necessidades. Audresch (2002) classifica-as com base nas fontes de recursos que se apresentam mais adequadas a cada momento, da seguinte maneira: Pesquisas básicas e orientadas à aplicação: as pesquisas desta natureza são aquelas que proporcionam as vantagens da inovação sustentáveis a longo prazo. Entretanto, por envolverem a criação do conhecimento básico, estão relacionadas a habilidades também de longo prazo. Conseqüentemente, o longo prazo é, da mesma maneira, o horizonte para o retorno dos investimentos neste tipo de pesquisa. Somado a estes fatores, o elevado risco, relacionado às incertezas quanto ao potencial de mercado envolvido nestas pesquisas, torna o interesse ou mesmo a aceitação por parte da iniciativa privada para investir nelas bastante restrito. Surge aí, o papel do Estado para viabilizar a pesquisa, principalmente a básica. Reside aí, o papel das Universidades, enquanto instituições não apenas de pesquisa, mas de ensino, até o momento não mencionado, mas básico ao processo de criação formal de conhecimento, por meio do sistema de educação e P&D orientado à inovação e design criativos para idéias de negócios de alto valor agregado: Para esta fase, que envolve a realização de estudos de viabilidade e a criação de novas empresas, o autor destaca o desafio às universidades, no sentido do desenvolvimento de uma cultura que fomente a realização de negócios a partir da pesquisa. Para Audresch (2002), aqui começa a haver espaço de interesse ao investidor privado. Parcerias público-privadas, onde pesquisadores, com sua reputação, conhecimento científico e suporte do Estado, por um lado, e empresários, com o capital, o conhecimento do mercado e a rede de relacionamentos para a comercialização, possam interagir em prol do desenvolvimento de projetos de interesse comum. Aqui aparece a 33 empresa privada como outro ator do processo. Podem ser apontadas também as instituições de suporte à criação e desenvolvimento de empresas de base tecnológicas, como incubadoras e parques tecnológicos. Teste de aceitação de mercado quanto às idéias de negócios e suporte às habilidades gerenciais necessárias ao sucesso da implementação da inovação: esta fase, que envolve pesquisa e desenvolvimento de mercado, produção, e vendas, está claramente, relacionada à economia privada. Nesta fase, o tempo de chegada ao mercado e, portanto, de retorno do investimento, bem como o risco de sucesso de mercado, são significativamente menores. A abordagem de Audresch (2002) acerca do financiamento das atividades da inovação por atores públicos ou privados destaca duas variáveis chave: o tempo de retorno do investimento e o risco envolvido. Assim, tem-se que o crédito é ingrediente essencial ao estabelecimento de novas combinações. Assim, existe uma conexão direta entre o crédito e a inovação. Para efeito de ilustração, num retorno à teoria do fluxo circular (Shumpeter, 1982), se verificaria que a situação nele prevista não teria no crédito um fenômeno essencial, uma vez que a empresa se financiaria com os retornos da produção anterior. A necessidade do financiamento está relacionada à realização de combinações efetivamente novas. Mas não é apenas pela questão das diferentes fontes de financiamento necessária nas diferentes fases, que a inovação exige a interação de atores diversos. Outro fator a considerar diz respeito ao compartilhamento e construção de conhecimento. Estudos sobre inovação realizados por diferentes instituições, como visto em ONUDI (2002) concluem que a cooperação entre as empresas apresenta importância máxima no processo inovativo. Um dos fatores que pode incrementar a relevância da cooperação é a intensificação da competitividade global, que exige das empresas uma crescente especialização em torno de suas competências básicas. Em ONUDI (2002) são apontadas três estratégias principais por meio das quais as empresas estabelecem estas relações de cooperação. A primeira delas é com empresas da mesma cadeia de valor. Por meio desta estratégia, as empresas podem adquirir tecnologia desenvolvida por seus provedores de maneira rápida, porém a custos elevados. 34 A segunda estratégia vislumbra custos e também riscos menores. As alianças e consórcios de investimentos constituem alternativas plausíveis para amenizar o volume de recursos e a intensidade de incerteza que caracterizam principalmente as fases básicas e pré-comerciais do processo inovativo. Parcerias desta natureza tomaram grande impulso nas últimas décadas. ONUDI (2002) informa que apenas entre 1980 e 1998, foram formadas 5100 alianças, movimento liderado pelos Estados Unidos, responsáveis por 80% dos acordos conhecidos. Nestes acordos, a participação de empresas européias ocorre em 42% dos casos; as empresas japonesas aparecem com menor freqüência, em apenas 15% das alianças. Ainda no escopo da segunda estratégia, uma alternativa reconhecida para atender as mesmas necessidades é a aglomeração geográfica. Já tendo sido alvo de várias discussões entre os economistas, as vantagens da aglomeração geográfica tomaram novo impulso com a identificação de suas vantagens para o compartilhamento de conhecimentos intrínseco ao processo de desenvolvimento de novas tecnologias, além da otimização de recursos, economias de escala, dentre outros benefícios tradicionalmente reconhecidos. Uma discussão mais detalhada sobre as relações entre os temas aglomerações geográficas, inovação, competitividade e desenvolvimento regional será estabelecida mais adiante. Estas duas estratégias sugerem a viabilização de experiências de cooperação restritas a uma única cadeia de valor. Por meio de alianças como as anteriormente apresentadas, avanços obtidos em diferentes setores ou áreas do conhecimento podem passar despercebidos, ficando o processo de aprendizagem comprometido e a potencialidade inovativa prejudicada. A terceira estratégia apontada em ONUDI (2002), contudo, ultrapassa esta limitação. O relatório demonstra as empresas estão investindo crescentemente no estabelecimento de vínculos mais estreitos com as ciências básicas, com vistas a extrair maior aproveitamento dos conhecimentos especializados das universidades e centros de pesquisa. Na medida em que estas instituições têm caráter multidisciplinar, esta estratégia constitui uma oportunidade para as empresas acessarem conhecimento de diferentes ciências, o que não ocorre nas duas estratégias apresentadas anteriormente. A importância do compartilhamento de conhecimentos relativos a diferentes ciências para o processo inovativo será discutida no próximo item, quando serão estabelecidas ponderações entre inovações de natureza incremental e inovações disruptivas. Aos atores externos relevantes ao processo de inovação, cabe não deixar de lembrar dos atores internos. A importância das atividades de P&D desenvolvidas pelas empresas e sua 35 influência sobre os resultados corporativos no quesito inovação tem seu reconhecimento tão explícito ao ponto de os investimentos em P&D constituírem um dos principais indicadores adotados em estudos sobre o comportamento inovador de empresas e mesmo de regiões e países. Contudo, a ascensão de temas como aprendizagem organizacional (Senge, 1990) e gestão do conhecimento nas empresas (Nonaka, 1991; Nonaka e Takeuchi, 1997) têm em comum o fato de despertarem para o ponto em que se deve reconhecer que, no processo inovativo, há mais por ser considerado nas empresas que o departamento de pesquisa e desenvolvimento. Freeman (1995) atribui importância crucial para a inovação e para o êxito das empresas, à capacidade para acumulação e geração interna de conhecimento, por meio dos processos formais e informais de formação de pessoal, apesar da dificuldade em se definir e principalmente em se mensurar este aspecto (diferentemente do que ocorre com as estruturas de P&D). Seguindo sua argumentação, Freeman (1995) coloca com muita propriedade que a inovação é um processo interativo em que a empresa, além de adquirir conhecimentos a partir de sua própria experiência nas etapas de desenho, desenvolvimento, produção e comercialização, também está em processo permanente de aprendizagem em função de suas relações com diversas fontes externas, como fornecedores, clientes, concorrentes, consultores, universidades e centros de pesquisa. Isso resulta num processo complexo e interativo, que ultrapassa a compreensão da inovação sob uma premissa mecanicista, baseada em modelos seqüenciais e lineares, da pesquisa à produção e desta para o mercado (Tödling e Kaufmann, 2002). A interatividade do modelo não linear refere-se não apenas às colaborações internas entre os diversos departamentos que compõem a empresa, mas também à interação da empresa com diferentes atores de seu entorno. No presente trabalho, a importância da estratégia para a capacidade inovativa das empresas é considerada na base da problemática. Por isso, todo o item 2.3 será dedicado a aprofundar a dinâmica deste elemento em relação à inovação. No mesmo sentido, os itens 2.4 e 2,5 detalham as relações pertinentes ao escopo do papel das universidades e dos governos no processo inovativo. O próximo item explora o conceito de inovação sob diferentes perspectivas. Várias são as dimensões do conceito, que podem ainda ser compreendidas sob perspectivas distintas. Por isso, um aprofundamento na própria conceituação da inovação faz-se necessária. 36 2.3 As diferentes perspectivas da inovação Quando o assunto é inovação, o esclarecimento acerca do objeto em questão – produto ou processo, do impacto desta inovação – progressivo / incremental ou revolucionário / radical e da origem e motivação para a inovação - impulsionada pela tecnologia ou pelo mercado, pode ser essencial à condução coerente de uma discussão. Por isso, várias classificações estão disponíveis sobre o tema. A tipologia acima, adotada em COTEC (1998) congrega, de maneira clara e objetiva, várias outras. Na perspectiva baseada no objeto da inovação, a distinção entre inovação de produto e de processo é a mais genérica, mas faz-se suficiente para o contexto deste trabalho. Outros autores dedicam-se a criar várias categorias adicionais, que de uma forma ou outra poderiam estar agrupadas sob estas duas principais, especialmente sob a inovação de processo. Cabem nesta perspectiva distinções conceituais entre produto ou processo novos para a empresa e produto ou processo novos para o mercado (IBGE, 2000). Nos primeiros dois casos, a inovação realizada caracteriza-se por algo efetivamente novo apenas no âmbito da empresa, uma vez que o produto ou processo em questão já são conhecidos no mercado. Nesta perspectiva, os dois últimos casos é que proporcionariam o lançamento de algo novo de fato no mercado. Em Prates, Silva e Melo Júnior (2004) encontra-se uma conceituação sobre inovação de produto que agrega elementos a esta distinção adotada em IBGE (2000). Fala-se em produto tecnologicamente aperfeiçoado e em produto tecnologicamente novo. O primeiro é compreendido como um produto já existente (portanto, em princípio não poderia ser considerado “novo para o mercado” e sim, apenas “novo para a empresa”) mas que teve seu desempenho aprimorado ou ao qual foram adicionadas novas funcionalidades. Sob esta ótica, dependendo do grau do aprimoramento realizado e das funcionalidades adicionadas, embora se trate de um produto já existente, pode-se obter um nível de distinção considerável que torne inadequado restringir o conceito de “produto tecnologicamente aperfeiçoado” ao de “produto novo para a empresa”. O produto tecnologicamente aperfeiçoado, embora não consista em algo radicalmente novo, pode implicar na oferta de valor anteriormente não previstas no mercado. Por outro lado, o conceito de “produto tecnologicamente novo” não deixa dúvidas quanto a sua relação direta com o “produto novo para o mercado”. Como visto em Prates, 37 Silva e Melo Júnior (2004), um produto é tecnologicamente novo quando não apenas suas características tecnológicas, mas também os usos pretendidos são diferentes daqueles já disponíveis no mercado. O impacto de um ou outro tipo de inovação (tecnologicamente aperfeiçoado ou tecnologicamente novo) sobre os resultados da empresa e sua capacidade competitiva pode ser influenciado por um conjunto de elementos que variam conforme a realidade de cada empresa, seu market share e as condições de competitividade no seu mercado de atuação. Isso torna delicado o julgamento quanto à maior ou menor importância de produtos tecnologicamente novos ou aperfeiçoados e ao maior ou menor mérito intrínseco a um ou outro tipo de inovação. Inclusive vale observar que em pesquisas como a apresentada em IBGE (2000) e em ANPEI (2004) os dois conceitos são tratados conjuntamente em diversas categorias de análise, inclusive na avaliação do impacto da inovação sobre a competitividade da empresa. Especificamente no caso do Brasil, em que apenas 4% do total das empresas industriais com 10 ou mais empregados lançaram algum produto novo para o mercado entre 1998 e 2000 (ANPEI, 2004), pode ser delicado negar a importância de investimentos em inovação de produtos tecnologicamente aperfeiçoados. A segunda perspectiva apresentada em COTEC distingue a natureza mais incremental ou revolucionária das inovações. Enquanto a primeira proporciona à empresa melhorias gradativas ao longo do tempo, seguindo a filosofia Kai-Zen (Masaaki Imai, 1998) a segunda supõe produtos ou processos integralmente novos, implicando mudanças desde a organização da produção até a organização dos mercados, às quais estão também intrinsecamente relacionadas mudanças organizacionais e institucionais (Freeman, 1998). Assim, as duas apresentam diferentes níveis de inputs de conhecimento e proporcionam resultados distintos não apenas para as empresas que as realizam, mas para seu entorno. Retornando aos conceitos vistos anteriormente – produto tecnologicamente aperfeiçoado ou tecnologicamente novo – pode-se relacionar o primeiro à inovação incremental e o segundo à inovação radical. Na viabilização de inovações radicais, as estruturas de P&D parecem exercer importância maior em relação às inovação incrementais, uma vez que naquela fazem-se necessários conhecimentos novos. A dimensão da inovação radical envolve pesquisa de ruptura, ao passo 38 que na inovação incremental, modificações de produto que não exigem pesquisas tão vigorosas são suficientes para atender as necessidades já explícitas do mercado. Para demonstrar isso, Freeman (1998) cita alguns estudos que comprovam que as maiores inovações do século XX não teriam sido possíveis sem a prévia acumulação de conhecimentos científicos. Isso sugere que não apenas a realização de P&D na empresa, mas também a relação entre ciência e indústria, apresentada no capítulo anterior, seja mais relevante à viabilização de mudanças radicais do que às de natureza incremental. De qualquer maneira, estas inovações não dispensam o conhecimento científico. Os estudos apontados por Freeman (1998) mostram que nestes casos a pesquisa científica raramente exerce papel de grande relevância, exceto naqueles setores em que a ciência é praticamente indistinguível da tecnologia. À propósito, outros estudos (IEDI, 2004; ONUDI, 2002; CNI e FINEP, 2002) demonstram que o setor de atuação da empresa exerce influência direta em sua postura em relação à dedicação a inovações mais incrementais ou radicais. O total de empresas que efetivamente realizam inovações radicais é pequeno, e estas poucas empresas estão concentradas num restrito universo de setores. Isso pode sugerir que a intensidade do relacionamento das empresas com o meio acadêmico varie em função do setor no qual ela atua. Alguns autores chegam a classificar os setores, em função da intensidade de inovação tecnológica intrínseca a cada um deles, em alta, média ou baixa tecnologia (IBGE, 2000; ONUDI, 2002). A relevância crescente de inovações de maior fôlego, relativas aos setores de alta tecnologia, pode ser constatada nos números do comércio mundial. Conforme demonstrado em ONUDI (2002), entre 1980 e 1997, as exportações de produtos de alta e média tecnologia cresceram mais rápido que a exportação de outras manufaturas. Na atualidade, estes produtos complexos representam dois terços das exportações do mundo, e estão ganhando terreno em relação a atividades baseadas em escassa utilização de tecnologia e em recursos. Isso justifica a classificação encontrada IEDI (2004) que faz uso das expressões “setores muito dinâmicos” e “setores em decadência”. Na estrutura industrial brasileira, predominam os setores de baixa e média-baixa tecnologia, com 62% da receita líquida da indústria nacional. Os setores classificados como de alta tecnologia respondem por apenas 8,1% (IBGE, 2000). 39 Estudos como ONUDI (2002), IBGE (2002) e ANPEI (2004) verificam também a relação entre o porte da empresa e sua estratégia de inovação. As conclusões apontam para uma maior concentração de inovações radicais pelas empresas de grande porte, sugerindo como possível justificativa a maior disponibilidade de recursos para investimentos em P&D e no processo de inovação de um modo geral por estas empresas, em relação às de pequeno e médio porte. A literatura neoshumpeteriana sugere uma tipologia que classifica as empresas em “dominadas pela oferta”, “intensivas em produção” e “baseadas na ciência”. Mas uma simplificação desta abordagem é que tem sido alvo de um grande debate e muitas controvérsias em torno deste assunto: a inovação guiada pelo mercado - market push ou pela tecnologia - technology pull. Na primeira concepção, a origem das inovações consistiria numa resposta a demandas formuladas e apresentadas pelo mercado, estando mais inclinada a inovações de natureza incremental. Na segunda, a inovação seria estimulada pelos avanços científicos, apresentando maior potencialidade para inovações radicais. Freeman (1998) critica a visão binária que fundamenta as discussões entre uma abordagem ou outra, postura típica de uma concepção mecanicista e linear em relação ao processo de inovação. A concepção da inovação como um processo interativo e circular, conforme visto no item anterior, não condiz com esta dualidade. Até porque a mudança radical, embora freqüentemente possa parecer repentina, muitas vezes é resultado de um conjunto sistemático de mudanças incrementais, que proporcionaram à empresa a possibilidade de desenvolver a experiência e o conhecimento necessários para viabilizar a grande transformação (Tema Guide, 1998). Ao defender veementemente a perspectiva da inovação como um fenômeno de grandes transformações, Shumpeter (1982) demonstra acreditar que o ícone não apenas da competitividade empresarial, mas do desenvolvimento econômico das regiões, seria a inovação do tipo technology push. Sua argumentação é de que o desenvolvimento não consiste em adaptação; suscita um fenômeno qualitativamente novo. Assim, sugere a superioridade da abordagem radical em relação à incremental. Contudo, o mercado dificulta o desenvolvimento conforme este conceito, atuando como fator restritivo às rupturas. Shumpeter (1982) alerta que é a força do próprio mercado que impõe às empresas a opção pela alternativa market push, em função dos seguintes motivos: 40 • A espontaneidade das necessidades é em geral pequena. As inovações no sistema econômico não aparecem a partir da demanda de seus potenciais usuários. Raramente o consumidor vislumbra uma possibilidade de inovação (ou sequer identifica uma necessidade) e solicita ou vai em busca de uma solução para efetivá-la (ou solucioná-la). Ao contrário, cabe a um agente externo promovê-la e, mais que isso, criar necessidades ainda sequer identificadas ou imaginadas pelos seus potenciais consumidores para que ela seja efetivamente apropriada. • O ato de inovar está além da invenção; o inovador tem o desafio de convencer o consumidor a apropriar sua invenção para que ela se converta em inovação. • Para acontecer, a inovação precisa romper com o estado de estabilidade e lidar com a resistência. Schumpeter (1982) observa que essa resistência se manifesta antes de tudo nos grupos ameaçados pela inovação, depois na dificuldade do inovador para encontrar a cooperação necessária e, finalmente, na dificuldade para conquistar os consumidores. Paradigmas dominantes representam um conjunto de soluções e regras conhecidas e dominadas que oferecem aos seus seguidores a confortável sensação de certeza, estabilidade e controle sobre a situação atual. Descontinuar um paradigma dominante rompe com este conforto e exige o abandono do apego ao estado estável, constituindo, assim, fator complicador da inovação. • A atividade de inovar vai além das fronteiras da rotina, onde nem todos estão capacitados a chegar. Neste ponto, Schumpeter (1982) posiciona a figura do empreendedor como força motriz da inovação. Empreendedores, entendidos como aqueles que imaginam, desenvolvem e realizam visões, estão então diretamente associados à inovação, posicionados como questionadores do presente e prospectores de novas possibilidades para o futuro. • Os fatores acima restringem as possibilidades de empresas já estabelecidas navegarem os mares turbulentos, incertos e de alto risco da inovação. Por isso, ela é realizada em grande parte por entrantes. Isso intensifica outra problemática; a do financiamento. O entrante não possui recursos para financiar sua inovação e não possui perspectiva de fluxo de caixa no curto prazo, porque além do período de pesquisa e desenvolvimento, tem que arcar com o desafio de criar em seu cliente a nova necessidade, convencê-lo de 41 abandonar uma solução antiga que atende as suas necessidades percebidas no momento e finalmente a apropriar a nova tecnologia. Dada a limitação dos recursos produtivos disponíveis, surge outra dificuldade ao inovador, especialmente quando a lógica da racionalidade aplicada para lidar com a escassez de recursos, adota uma perspectiva passado-presente, atuando para fortalecer ou aperfeiçoar o entorno do paradigma tecnológico dominante. Estas circunstâncias reforçam o tipo de inovação market push e justificam sua forte inclinação ao incrementalismo. Uma pesquisa apresentada em Fremann (1998) que confrontou a importância da pesquisa científica (vista anteriormente como elemento importante à viabilização de inovações mais vigorosas) e da demanda para a inovação, concluiu que a oscilação dos níveis da atividade inovadora era diretamente proporcional à atividade investidora. Ou seja, o estímulo à inovação vinha da demanda, medida pelos investimentos da indústria em novos bens de capital. Contudo, nos anos que seguiram este e outros estudos, a abordagem da inovação guiada pelo mercado passou a sofrer fortes críticas, baseadas em estudos que concluíram que o desempenho da produção e os investimentos eram diretamente relacionados aos aumentos no número de patentes e de produção de artigos científicos. A análise qualitativa de vários estudos de caso sugeriu a importância da interação científico e tecnológico, que permitiriam o aumento da atividade inventiva e das inovações técnicas. Especialmente na atualidade, onde a competitividade global requer grandes transformações, o questionamento à inovação guiada pela demanda ganha impulso. Defensor árduo da inovação pela descontinuidade, à qual atrela o conceito de inovação disruptiva, Christensen (2000) alerta que as tecnologias podem progredir mais rápido que as demandas de mercado. O cerne da tese deste autor é que a maioria das empresas que cultivam a disciplina de ouvir seus melhores clientes e identificar novos produtos que prometem grande lucratividade e crescimento são raramente capazes de construir um caso de investimento em tecnologias disruptivas antes que seja tarde demais. Por isso, freqüentemente as tecnologias disruptivas são inicialmente comercializadas em mercados emergentes ou insignificantes, por empresas nascentes. 42 Esta perspectiva não destaca, contudo, o valor da inovação sob parâmetros de continuidade. Estudos de Freeman (1998) e Landau (1991) sugerem que as melhorias subsequentes `s introdução de uma inovação podem ser mais importantes economicamente do que a inovação em sua forma original. O próprio Christensen (2000) cita exemplos de pesquisas realizadas junto à indústria de refinação de petróleo e da indústria de drives, concluindo que metade dos benefícios econômicos de novas tecnologias vinham de processos de melhorias introduzidas depois que uma nova tecnologia era comercialmente estabelecida. Para ilustrar a partir do caso da indústria de drives, metade dos avanços conseguidos em megabites por polegada quadrada da superfície de disco podem ser atribuídos a novas tecnologias componentes e a outra metade a melhorias incrementais em componentes já existentes e a refinamentos em design de sistemas. Neste ponto cabe esclarecer alguns aspectos relacionados à abordagem de Christensen (2000), notadamente aos conceitos de inovação disruptiva e de inovação sustentada. Embora numa primeira análise tenda-se a estabelecer um paralelo entre o conceito de inovação disruptiva e radical, e entre a inovação sustentada e a incremental, o autor enfatiza que esta relação não está correta. O que caracteriza uma inovação sustentada é o fato de ela favorecer o incremento de performance de um produto ou serviço em dimensões que a corrente principal de clientes tem valorizado historicamente. E o que torna uma inovação diruptiva é o fato de ela trazer para o mercado uma proposta de valor muito diferente daquela disponível anteriormente; elas redefinem as trajetórias de performamce. Assim, por exemplo, uma inovação radical pode ser sustentada se, embora incorpore conhecimentos fundamentalmente novos, estiver baseada nas dimensões de performance historicamente definidas pelo mercado. Da mesma maneira, uma inovação sustentada será incremental se tiver sido construída sobre capacidades tecnológicas já bem praticadas. Nesta perspectiva, mesmo uma inovação disruptiva pode ter um caráter incremental, pois é possível oferecer a um determinado mercado uma proposta nova de valor a partir de tecnologias já dominadas em outros mercados. Assim, retornando à tipologia da COTEC (1998), os conceitos de inovação disruptiva e sustentada estão mais para a noção de inovação impulsionada pela tecnologia ou pelo mercado do que para a inovação incremental ou radical. As tecnologias disruptivas geralmente apresentam, num primeiro estágio de seu ciclo de desenvolvimento, performance inferior a dos principais produtos já estabelecidos nos principais mercados. Em contrapartida, possuem outras características valorizadas por um 43 conjunto de novos clientes. Assim, o processo de difusão deste tipo de inovação tende a ter sucesso a partir de uma estratégia de identificação e exploração de novos nichos. Como as tecnologias sustentadas sustentam as taxas de melhoramento da performance dos produtos e processos, as empresas dominantes tendem a dedicar-se a adotar e desenvolver estas tecnologias, em detrimento do avanço daquelas disruptivas. Numa analogia com a curva S, a adoção de uma tecnologia disruptiva exige o salto de uma curva para outra. Os movimentos ao longo de uma mesma curva freqüentemente são resultado de melhorias sobre uma abordagem tecnológica já existente. À medida em que a curva evolui, chega-se ao limite do que esta abordagem pode oferecer; tem-se, então, uma tecnologia maturada. O crescimento a partir daí exige o salto para outra abordagem – numa nova curva. Embora a difusão da tecnologia disruptiva no mercado seja lenta, freqüentemente a partir da exploração de novos nichos, como apontado anteriormente, o entrante desta tecnologia conquista uma vantagem competitiva significativa em relação à concorrência, tendo em vista o tempo que estas empresas levam para assimilar a necessidade de mudança de curva de valor. Adicionalmente, assimilado este desafio, o tempo exigido para que elas alcancem o estágio da empresa pioneira na curva pode ser fatal. Christensen (2000) ilustra esta tendência com exemplos reais da indústria de drives. Mostra que à medida em que os drives de 8 polegadas penetraram no mercado de mainframe, os produtores já estabelecidos de drives de 14 polegadas começaram a ter problemas. Dois terços deles jamais introduziram o modelo de 8 polegadas e aqueles que o fizeram, saíram dois anos atrás dos entrantes. O mesmo ocorreu depois, na substituição dos drives de 8 polegadas pelos de 5,25. As primeiras empresas a produzir o novo modelo foram entrantes, e as produtoras já estabelecidas o fizeram em média dois anos depois. Entre as décadas de 80 e 90, a capacidade dos novos drives cresceu em torno de 50% ao ano. Em 1985, apenas a metade dos produtores dos drives de 8 polegadas estava produzindo o novo modelo; a outra metade jamais o fez. A estratégia de inovação disruptiva pode ser posicionada no extremo oposto à estratégia de benchmarking, que explicitamente está focada no aperfeiçoamento de tecnologias dentro de uma curva de valor estabelecida. Para o mercado, o benchmarking apresenta a vantagem de representar mais oferta, com conseqüente elevação de qualidade e redução de preço. Contudo, para as empresas que oferecem a tecnologia, a competição baseada nesta premissa é 44 extremamente frágil, pois o lançamento sistemático de similares pela concorrência corrói a lucratividade potencial de uma inovação, comprometendo os resultados esperados sobre os investimentos realizados. Isto se torna especialmente verdadeiro quando se considera que o ciclo de vida das tecnologias está sendo sistemática e significativamente reduzido. Neste contexto, as vantagens que se pode esperar dos investimentos em inovação são limitadas. Em contrapartida, a estratégia disruptiva permite à empresa usufruir, durante algum período, das vantagens de monopólio. Isso é possível não apenas a partir de uma política de proteção da propriedade intelectual, mas também em função do estágio do concorrente na curva de aprendizagem relativa ao desenvolvimento, produção e comercialização da nova tecnologia. Ainda que ele seja capaz de copiar um determinado produto, todo o conhecimento construído pelo pioneiro o manterá à frente em termos de distribuição e posicionamento de mercado. Isto demonstra a importância da perspectiva disruptiva na formulação estratégica da inovação, sob o ponto de vista de seu impacto potencial sobre a capacidade competitiva da empresa. O Tema Guide (1998) aponta exemplos de empresas que falharam na aprendizagem e na mudança e que, por conta disso, interromperam histórias de sucesso. Alguns deles são nomes como Kodak, IBM e GM, dentre outros, que na década de 70 estavam entre as 500 maiores e 30 anos depois deixaram de existir; segundo Tema Guide (1998), 50% delas. Apesar da importância da capacidade inovativa pela disruptura à competitividade, vários fatores dificultam a difusão desta prática entre as empresas. Um deles é o próprio mercado. O paradigma gerencial de manter-se próximo ao cliente impede a disruptura, porque os clientes não levam as empresas rumo a inovações das quais não precisam (pelo menos não conscientemente) num determinado momento. Ainda em relação ao mercado, outro fator que se posiciona a favor das tecnologias sustentadas é que as empresas de sucesso não sabem como comercializar e distribuir tecnologias disruptivas. Elas desenvolveram muito bem esta competência em torno das tecnologias atuais oferecidas aos clientes correntes. Assim, as capacidades da maioria das organizações são especializadas, sendo esta especialização definida e refinada pelos tipos de problemas enfrentados no passado. Ou seja, são moldadas pelas características das redes de valores nas quais a organização historicamente tem competido. Freqüentemente, os novos mercados proporcionados pela tecnologia disruptiva requerem capacidades muito diferentes. 45 Outro aspecto crítico diz respeito à alocação de recursos. Tendo-se em vista a escassez de recurso, a lógica econômica leva o empresário a investir nas alternativas que se apresentem como financeiramente mais atrativas o que não é o caso das tecnologias disruptivas – pelo menos não a curto prazo. Além disso, na maioria dos casos, as informações mínimas necessárias para se fazer investimentos frente à tecnologia disruptiva, não existem, o que eleva significativamente o risco. Assim, empresas de sucesso, que não toleram o erro em inovações sustentadas, terão ainda maior dificuldade para tolerar a falha naquelas disruptivas. A história da evolução da indústria de drives, apresentada por Christensen (2000), acomoda exemplos que ilustram com propriedade os aspectos acima. A dificuldade da transição dos produtores das arquiteturas vigentes para as novas freqüentemente esteve associada ao fato de que as inovações apresentavam soluções diferentes das expectativas dos clientes então atendidos. Por exemplo, os protótipos dos drives de 3,5 polegadas foram testados pelas empresas produtoras de drives de 5,25 junto aos clientes do mercado de desktop que eles serviam. Como a nova arquitetura tinha capacidade inferior aquela que os clientes desejavam, a custos maiores, estas empresas estabelecidas rejeitaram a nova tecnologia. Assim, apenas 35% daquelas que outrora foram líderes na implantação e difusão do drive de 5,25 polegadas, conseguiram introduzir drives de 3,5 polegadas, quando assim o desejaram. Vale destacar que esta incapacidade não esteve relacionada a limitações de engenharia destas empresas. A dificuldade foi em lidar com os desafios intrínsecos à tecnologia disruptiva. O ciclo seguinte na história da indústria de drives apresentou características distintas. O drive de 2,5, que substituiu o de 3,5, foi introduzido em 1990 e no ano seguinte todos os produtores da arquitetura anterior tinham aderido com sucesso à inovação. Mas não foi porque a lição do ciclo anterior fora aprendida. O fato é que esta inovação não apresentava caráter disruptivo. Tratava-se de uma inovação sustentada – o novo drive apresentava performance melhorada nas dimensões que os clientes desejavam. A transição para a arquitetura de 1,8 polegadas comprova que a lição não fora aprendida. Três anos após a introdução deste novo drive, 98% de um mercado de 130 milhões de dólares era dominado por entrantes. É essencial destacar que não era o mercado de computadores o alvo destas novas empresas, mas sim o de monitores cardíacos portáteis. Assim, alguns dos fatores que restringem a disposição e capacidade das empresas para a inovação disruptiva estão relacionados a aspectos bastantes objetivos pertinentes à lógica 46 econômica da alocação de recursos. Contudo, existem outros aspectos, mais subjetivos, que estão na base deste fenômeno. Trata-se dos padrões de pensamento sobre os quais são formulados os conceitos, as estratégias e a tomada de decisão. O próximo capítulo dedica-se a explorar estas questões, relacionando-as ao paradigma de gestão predominante nas organizações: a Burocracia. 2.4 A cultura da burocracia e suas relações com a inovação a) Determinismo e possibilidades – a natureza da razão que guia a inovação Quando a temática é Economia do Conhecimento, as palavras ciência e tecnologia têm ocupado posição chave. Na busca da inovação, ícone de competitividade e desenvolvimento neste contexto, o domínio da ciência e da tecnologia parece sugerir a conquista da vitória. De fato, como visto no item 2, ciência e tecnologia são fatores estratégicos à competitividade e ao desenvolvimento na atualidade. Contudo, a perspectiva acima modifica a noção de complexidade estabelecida sobre o conceito de inovação nos itens anteriores. Trata-se de uma abordagem simplificadora e determinista, onde se supõe conhecidas todas as variáveis. Drucker (1994) afirmou que a inovação é mais um fenômeno econômico-social do que científico-tecnológico. Esta compreensão insere um grande conjunto de novas variáveis e, com isso, aumenta consideravelmente a complexidade relacionada ao conceito de inovação. Isso já foi visto no item 2-a, quando foram apontadas questões pertinentes a vários atores julgados relevantes ao processo de inovação. Neste item, o foco é a importância do elemento humano no fenômeno da inovação. Mais especificamente, será focada a mente das pessoas como peça central da Economia do Conhecimento. Na visão a seguir apresentada, os demais elementos relevantes ao processo de inovação são posicionados como secundários em relação à importância dos padrões de pensamento humano. Inovação implica descontinuidade. Ainda que compreendida sob diferentes perspectivas, conforme descrito no item anterior, a inovação envolve, em maior ou menor grau, a ruptura no processo de continuidade que caracteriza a rotina. A repetição de padrões tecnológicos 47 selecionados em função de resultados bem sucedidos no passado constitui a base da continuidade. Ela gera paradigmas, que, como filtros (Khun, 1964), impedem a organização de vislumbrar soluções significativamente novas, prendendo-a à noção de sucesso na perspectiva passado-presente. Assim, o paradigma tecnológico dominante gera modelos mentais (Senge, 1990) que congelam os padrões de pensamento ao habitual e conhecido, impedindo a redefinição da trajetória do progresso, que caracteriza a inovação. Shumpeter (1982) relacionou o apego das pessoas ao habitual e conhecido à vida econômica. Para ele, a internalização de padrões bem sucedidos nos estratos do inconsciente gera um padrão de comportamento automático que facilita a vida consciente. Sob a perspectiva econômica, isso implica que, fora dos canais habituais, o indivíduo sinta-se desprovido de dados concretos para a tomada de decisão e de regras de conduta por ele conhecidas em profundidade. Por isso, ele rejeita este caminho. Assim, as mudanças resultariam apenas da pressão da necessidade objetiva, ficando qualquer papel criativo ausente do sistema econômico. Ao discorrer sobre as inovações disruptivas no contexto empresarial, Christensen (2000) alertou que elas envolvem tecnologias radicalmente novas em relação à competência central da empresa, implicando, muitas vezes, o descarte de tecnologias bem sucedidas, nas quais investiu-se volume significativo de recursos e sobre as quais se possui domínio. Questões desta natureza, objeto da discussão neste item, constituem diferença essencial entre as inovações disruptivas e as sustentadas, podendo ser apontadas como justificativa para a predominância da segunda sobre a primeira. As inovações por acumulação de conhecimento não implicam ruptura e, assim, não trazem em seu bojo os desafios da descontinuidade. Estas mesmas afirmações podem ser aplicadas no âmbito da ciência. Popper e Kuhn (in Lakatus e Musgrave, 1979) rejeitam a visão de que a ciência progride por acumulação. Ao contrário, enfatizam o processo revolucionário pelo qual uma teoria mais antiga é rejeitada e substituída por uma nova, incompatível com a anterior. Kuhn demonstra que na chamada ciência normal, responsável pela imensa maioria do trabalho desenvolvido em ciência básica, os testes realizados não questionam a teoria corrente. Ao dedicar-se a um problema de pesquisa normal, o cientista toma a teoria corrente com regra do jogo. Caso ela não passe no teste, não conseguindo solucionar a problemática em questão, quem é posto à prova é o 48 cientista, nunca a ciência corrente. A ciência normal estaria associada, assim, à inovação pela acumulação, pela continuidade, e a ciência extraordinária, à inovação disruptiva. Shumpeter (1982) explica que esta maneira de agir, apegada ao conhecido, não é acidente – tem uma base racional. A continuidade é resultado de um raciocínio linear, baseado na noção de causalidade a partir de uma lógica bivalente. A descontinuidade é proporcionada por um raciocínio circular, que reconhece uma multiplicidade de variáveis e a complexidade das relações entre elas (Maturana, 1997). Predominantemente, o comportamento de um indivíduo é estabelecido em função de seus valores, que são construídos sobre sua experiência. Estes valores ajustam-se uns aos outros e vão sendo alvo de repetição sistemática, gerando um sistema de grande estabilidade (Schon, 1971). Esta estabilidade proporciona uma zona de conforto, que tem função poupadora de energia. Neste contexto, além de as respostas e soluções poderem ser apresentadas em caráter automático, a partir da repetição de padrões e experiências passadas, os resultados são à prova de crítica e de contradição. Este é o contexto do raciocínio linear e os motivos que justificam sua predominância. Ramos (1989) ressalta como limitadora a racionalidade predominante na sociedade moderna, aquela que Weber (1968) chamou de zweckratinalitat, ou racionalidade instrumental. Guiada pelo cálculo utilitário em busca da expectativa de resultados pré-determinados, esta dimensão da razão humana prende o indivíduo às regras vigentes, inserindo-o numa perspectiva de continuidade. Assim como a lógica linear, é responsável pela construção de um cenário determinista. Por outro lado, a wertrationalitat, ou racionalidade substantiva, permite ao indivíduo a escolha pelo julgamento de valores. Por meio dela torna-se possível questionar a repetição dos valores construídos sobre a experiência passada, pois ela, diferentemente da razão instrumental, não é guiada por uma expectativa de resultados. Neste sentido, é libertadora. Portanto, é nesta dimensão que reside a potencialidade humana para a inovação pela descontinuidade. Em sintonia com o pensamento circular, cria o cenário de possibilidades transformadora requer. que a criação 49 Ramos (1984) demonstra que também Aristóteles e outros pensadores clássicos destacaram a importância da racionalidade substantitva, sob a perspectiva de que seria ela a característica distintiva do ser humano em relação aos outros animais. Ser natural e socialmente determinado não são peculiaridades do homem. A dimensão do homem como animal político, segundo Aristóteles, constitui sua essencial distinção, aquilo que o torna sui generis. Assim, a racionalidade substantiva constituiria a essência da forma política de vida. Ou seja, embora o campo para a escolha individual esteja sempre delimitado, em maior ou menor grau, pelos hábitos e convenções sociais (Shumpeter, 1982), a construção de um cenário onde as possibilidades para a inovação se concretizam requer o exercício da dimensão substantiva da razão. b) Burocracia: origens, características e relações com a inovação As explicações para as diferenças nas taxas de inovação de empresas e países não estão restritas à incorporação de tecnologia ao capital. Como visto nos itens anteriores, existem relações importantes com outros elementos. Um deles corresponde aos sistemas de gestão, que exercem influência direta sobre aspectos relevantes às habilidades e ao processo de aprendizagem, tais como as relações interpessoais, os sistemas de comunicação, os sistemas de controle e a organização do trabalho. Freqüentemente, inovações de produto ou processo implicam inovações nos sistemas de gestão. Assim, a inovação requer flexibilidade organizacional. Nas palavras de Freeman (1998), o crescimento macroeconômico a partir da inovação requer diversidade e instabilidade microeconômica. Paradoxalmente, prossegue o economista, referenciando estudos de outros colegas, o crescimento necessita de processos de controle, padronização e o estabelecimento de rotinas para evitar a instabilidade caótica e conseguir economias de escala. No contexto microeconômico, o paradigma burocrático de gestão emergiu ao ponto de tornar-se predominante entre organizações de diferentes naturezas ao longo de séculos justamente por atender preceitos como estes. A ascensão da burocracia na sociedade ocidental deu-se no final do século XIX, à época da Revolução Industrial e da ascensão também do capitalismo e da sociedade de massa. Neste momento, a demanda era por uma produção em larga escala de produtos básicos, e por isto, buscava-se na produção mecanizada, na divisão do trabalho, na profissionalização da 50 administração e da tomada de decisões e na especialização, o máximo de eficiência. Defrontadas com o desafio de competir numa economia de mercado, as organizações precisavam crescer e desenvolver uma produção e distribuição de larga escala. Neste contexto, a forma de se combinar os três fatores de produção devia ser diferente da tradicional, e assim, fazia-se necessária uma mudança na forma de administração (Wren, 1979). Surgiram então os gerentes, a busca por capacitação, disciplina e treinamento, o planejamento e o controle das operações. O primeiro tipo de burocracia foi encontrado no âmbito do Estado, mais precisamente no modo de produção asiático que apareceu no início do período histórico da Índia, Egito e China. No ocidente, o estado burocrático surgiu, segundo Etzioni (1989), das ruínas da sociedade feudal, trazendo uma organização de massa que substituiu o domínio exclusivo de grupos fechados. Ou seja, a burocracia teve início como um sistema de organização das atividades governamentais, mas com a ascensão do capitalismo, migrou também para o contexto da empresa. Weber caracterizou o tipo burocrático de administração como superior a qualquer outro em precisão, estabilidade, rigor disciplinar e confiança. Para ele, tais características tornam a Burocracia capaz de atingir o mais elevado grau de eficiência, proporcionando um grau particularmente elevado de calculabilidade dos resultados. Assim, pode-se definir a burocracia, em linhas gerais, como um paradigma de gestão que pretende, através do uso de instrumentos de cálculo, facilitar a previsibilidade, de modo a reduzir a instabilidade aos menores níveis possíveis. Por isso, assim como o modelo de servidão foi adequado à Idade Média, a burocracia atendeu aos desafios e peculiaridades que caracterizaram o contexto da Revolução Industrial. Weber (in Campos, 1978) demonstrou que o desenvolvimento da moderna forma de organização coincide em todos os setores com o desenvolvimento e contínua expansão da administração burocrática. Contudo, ao mesmo tempo em atendem com elevado grau de satisfação os desafios do final do século XIX, os princípios que norteiam a Burocracia estão em dissonância com os desafios atuais. Ramos (1983) analisa uma série de autores que, ao tratar da Burocracia, enfatizam seus aspectos distorsivos, compondo a sociologia negativa do comportamento burocrático. Dentre eles estão Michels, Ludwig von Mises, Manheim, Merton e Crozier, que apresentam em suas análises vastas críticas à rigidez que a estrutura burocrática impõe às organizações. Sob a 51 perspectiva da inovação, os elementos apontados nestas análises aparecem como fatores críticos. Especificamente em relação aos aspectos discutidos no item anterior, vale observar as implicações da Burocracia sobre a racionalidade humana. Para preservar a desejada calculabilidade dos resultados, o modelo burocrático de gestão não apenas enfatiza a dimensão instrumental da razão, como impede o desenvolvimento e até mesmo a manifestação e exercício da razão substantiva. O ser humano é enquadrado numa abordagem simplificadora, que desconsidera sua dimensão política. O comportamento como forma de conduta baseada na racionalidade instrumental e desprovida de conteúdo ético é ditado por imperativos exteriores, notadamente a obediência a normas, desprovida de legitimação (Ramos, 1989). A falta de significado do trabalho e o restrito espectro de visão proporcionado pelos princípios burocráticos impedem a identificação das possibilidades do ambiente, que proporcionariam a capacidade criativa e inovadora necessária à competitividade no contexto atual. Soluções estáticas e momentâneas substituem a busca sistemática da transformação. Adicionalmente, a noção de estabilidade como padrão desejável compromete o ritmo da organização, inserida num contexto em que o fator tempo é outro imperativo. Foi uma ampla revolução estrutural na sociedade ao final do século XIX que contribuiu para a transformação no âmbito das organizações que consolidou a burocracia como paradigma predominante de gestão. Não apenas a Burocracia, mas a teoria administrativa como um todo, tem evoluído de acordo com características contextuais referentes a cada momento histórico. Ou seja, as características estruturais e culturais de cada sociedade influenciam diretamente a forma de administração, de modo que o entendimento sobre gerência e organizações está atrelado a contextos de vários valores culturais através da história. Assim, o desenvolvimento de um corpo de conhecimento sobre como administrar é envolvido por uma rede de facetas econômicas, sociais e políticas de várias culturas, pois o pensamento administrativo é simultaneamente processo e produto de seu ambiente cultural (Wren, 1979). O contexto da Era do Conhecimento implica uma nova transformação social e gera discrepâncias em relação à Burocracia. Os próximos itens, que discutem aspectos relevantes à inovação no entorno das empresas, das universidades e dos governos, demonstrarão que muitas das limitações existentes em relação à 52 capacidade inovativa dizem respeito a restrições geradas pelos modelos de gestão, ainda largamente baseados nos princípios burocráticos. Isto poderá sugerir que a formulação de alternativas para a potencialização da inovação passará pela revisão de alguns destes princípios. 2.5 O estrato da empresa no entorno da inovação a) Estratégia – conceitos básicos e relações conceituais pertinentes ao escopo da inovação A sobrevivência num ambiente intensamente competitivo como é o mercado globalizado requer das organizações a capacidade de conduzirem suas atividades de maneira a conquistar uma posição diferenciada na área em que atuam. Para tanto, faz-se necessário o estabelecimento de parâmetros para a tomada de decisão que permitam a criação de um espaço competitivo capaz de proporcioná-la vantagens em relação à concorrência. A formulação de estratégias competitivas é um instrumento do qual se pode lançar mão a fim de atender tal desafio (Porter, 1991). De um modo geral, o conceito de estratégia está associado ao escopo dentro do qual são tomadas as decisões que desenham o futuro da organização. Este efeito de cadeia gerado pela estratégia nas organizações leva autores como Luehrman (1998) a relacionar este conceito a uma “séria de escolhas”. Ainda vinculando-a ao processo decisório, Campbel (1997) destaca que a estratégia é o elemento-guia das decisões que permitem às empresas atingirem seus objetivos e, por conseqüência, cumprir sua missão. No mesmo sentido, Wright et al (1992:3) conceitua-na como planos estabelecidos pela alta administração de uma organização com vistas a atingir resultados congruentes com sua missão e objetivos. Esta perspectiva poderia ser contraposta por outra, segundo a qual a partir da criação de estratégias vencedoras é que uma empresa definiria seus objetivos rumo ao estabelecimento de vantagem competitiva. Assim, a estratégia viria antes dos objetivos e não o contrário. O próprio Campbel (1997), apesar de explicitar o conceito apresentado anteriormente, formula este questionamento, que vai ao encontro dos desafios inerentes à busca de inovações de ruptura, discutidos no item 2.1. A formulação da estratégia a partir dos objetivos pode prender 53 a empresa numa perspectiva de continuidade, a menos que os gestores consigam libertar-se genuinamente das referências de objetivos estabelecidos e alcançados no passado, para a formulação daqueles voltados ao futuro. Caso esta libertação não ocorra, os novos objetivos podem manter-se na mesma curva de valor (Christensen, 2000) e, assim, impedir a formulação de estratégias disruptivas. Um elemento adicional ao conceito de estratégia apontado por Campbel (1997), é que ela é um instrumento por meio da qual a empresa cria valor aos seus stakeholders e assim, estabelece vantagem competitiva em seu ambiente de atuação. Portanto, embora não explicite esta referência, Campbel (1997) remete à Porter (1990; 1991), tanto no que tange aos stakeholders, quando este autor se refere às forças competitivas, quanto no que tange à relação entre estratégia e vantagem competitiva. Ao abordar a questão dos stakeholders, Campbel (1997) destaca que as estratégias tanto são formuladas com vistas a eles, quanto são influenciadas por eles, como num sistema de resposta circular. Conforme definição de Follet (1973) num sistema de resposta circular as ações influenciam e são influenciadas pelo ambiente no qual são realizadas. No mesmo sentido, a abordagem de Maturana (1997) quando explica o raciocínio circular, também ajuda indiretamente a entender a complexidade das relações que caracterizam a formulação das estratégias. Paralelamente às tentativas de influenciar o ambiente, os estrategistas se defrontam com a pressão para atender as demandas por ele formuladas, através dos stakeholders. Este fenômeno pode gerar paradoxos, onde, por exemplo, a empresa simultaneamente busca a inovação como estratégia competitiva, mas a curto prazo fica presa a ações conservadoras impostas por seus stakeholders, também com vistas à manutenção de sua competitividade. A estratégia focada na criação de valor ao stakeholder, visando conquistar e/ou manter sua fidelidade, remete a empresa à curva de valor já conhecida e quiçá dominada, afastando-na da inovação de ruptura. Conforme visto em Christensen (2000) e considerações correlatas apresentadas no item 2.1, inovações disruptivas freqüentemente não atendem necessidades explícitas dos clientes, nem tampouco expectativas dos acionistas, possibilidades disponíveis aos fornecedores, ou vontades dos funcionários (contemplando-se aí o grupo de stakeholders ativo apontado por Campbel, 1997). Segundo a perspectiva deste autor, quando um estrategista fala em criação de vantagem competitiva, está falando em aperfeiçoamento do 54 atendimento aos stakeholders. Portanto, a partir das ponderações estabelecidas anteriormente, poderia-se sugerir que tais estrategistas estariam presos ao incrementalismo em função do apego e talvez até da prisão dos stakeholders ao conhecido, ao seguro, ao previsível (Schon, 1971; Schumpeter, 1982), a menos que estes apresentassem um certo grau de empreendedorismo e pioneirismo. De qualquer modo, vale reconhecer que o pensamento estratégico dos gestores é influenciado e pode ser limitado às fronteiras do pensamento dos stakeholders, o que, adicionado às experiências obtidas pela empresa dentro de uma determinada rede de relacionamentos e às estruturas e culturas feitas sob medida para este rede específica, pode caracterizar uma situação de determinismo. O próximo item, ao discutir a formulação estratégica, apresenta um conceito que transcende esta “lógica convencional” (Kim, 2004) e vislumbra a estratégia como alternativa para potencializar a inovação de ruptura na empresa. De qualquer maneira, o conceito de estratégia, de modo geral, está associado ao estabelecimento de parâmetros para a tomada de decisão com vistas à criação de vantagem competitiva. Portanto, este é um conceito que, em princípio, apontaria sempre para o futuro. Entretanto, Mintzberg (2000) demonstra que, sob algumas abordagens, a estratégia pode estar fortemente vinculada ao passado. Este autor define estratégia utilizando-se de cinco metáforas: estratégia como um plano, como um padrão, como perspectiva, como posição e como truque. A metáfora da estratégia como um “plano” compreende-a como um guia de como levar a organização de uma situação vigente até outra, desejada. Assim, esta perspectiva de compreensão, apesar de tomar o presente como referência, aponta para o futuro, enfatizando o papel da estratégia no sentido de construir algo desejado. Por outro lado, a metáfora do “padrão” enfatiza as realizações passadas, uma vez que posiciona a estratégia como um caminho baseado num comportamento bem sucedido e por isso reforçado ao longo do tempo. Desta forma, a estratégia como um plano poderia ser compreendida como estratégia pretendida, ao passo que a metáfora do padrão caracterizaria estratégias realizadas. A partir desta reflexão, Mintzberg sugere que as estratégias podem ser deliberadas ou emergentes. As deliberadas, compreendidas como aquelas estratégias que efetivamente eram pretendidas e, ao contrário, as emergentes, como aquelas que foram surgindo ao longo do processo, sem vontade ou deliberação expressas. Relacionando estes conceitos a sua potencial 55 contribuição à inovação, vale refletir que as estratégias emergentes contam com um volume maior de conhecimento, uma vez que podem envolver um conjunto maior de pessoas e contar sistematicamente com novos inputs não previstos e portanto ignorados na estratégia deliberada. Por outro lado, este entendimento de estratégia tende a favorecer a inovação incremental, já que, como visto, o grau de espontaneidade para inovações de ruptura tende a ser baixo, na medida em que elas geram descontinuidade dos elementos que caracterizam a rotina, rompendo com o conforto proporcionado pelo estado de estabilidade, certeza e previsibilidade. Uma vez que a inovação incremental proporciona melhoria de performance sem a necessidade da descontinuidade, ela tende a prevalecer nas estratégias emergentes. A inovação disruptiva estaria, assim, mais associada a uma vontade deliberada da direção da empresa de traçar estratégias capazes de promover grandes saltos competitivos no médio e longo prazo, o que seria proporcionado por rupturas tecnológicas com mais eficiência do que por melhorias. Assim, este primeiro “dueto” (estratégia como plano e como padrão), estabelece duas perspectivas de compreensão bem distintas. A primeira, presente – futuro e, a segunda, passado – presente. Em relação à potencial contribuição à inovação, percebe-se uma maior afinidade com a primeira, uma vez que, adotando um espectro de visão mais amplo, ela abrange um maior leque de possibilidades. A segunda, poderia ser caracterizada como mais conservadora, na medida em que se restringe às alternativas conhecidas por meio das experiências já vivenciadas. A terceira e quarta metáforas adotadas por Mintzberg (2000) classificam a estratégia como posição e como perspectiva, focalizando os elementos que proporcionam a manutenção da empresa numa posição por ela ocupada no mercado e a relação entre esta posição e a visão mais ampla da empresa em seu ambiente de negócios, respectivamente. O autor destaca o desafio à mudança, cada vez mais presente na rotina das organizações, e constata a maior dificuldade inerente a mudar a perspectiva, em relação a mudar a posição dentro de uma mesma perspectiva. Resgatando-se os conceitos de inovação sustentada e disruptiva, pode-se estabelecer um paralelo entre o desafio da mudança de perspectiva com o da inovação disruptiva, enquanto que o desafio da mudança de posição dentro de uma mesma perspectiva se assemelharia mais à inovação sustentada. Adicionalmente, pode-se inferir que o entendimento da estratégia como uma posição seria uma abordagem limitadora da inovação 56 de um modo geral, na medida em que esta visão reforça a estratégia como uma posição específica e de significativo valor para a empresa. Portanto, o elemento temporal “futuro” nesta discussão sobre potencialidades para a inovação disruptiva aparece com certo destaque. Contudo, a escolha acerca do melhor entendimento de estratégia não necessariamente descarta a importância do passado. Drucker (1997) reflete sobre a contribuição do passado, caracterizando-o não como fonte para a repetição de padrões, mas para a identificação de ícones com potencialidade para interferir no futuro. Por outro lado, mesmo o entendimento da estratégia com foco no futuro pode ser limitador à capacidade inovativa de uma empresa, caso ela aponte para o futuro presa aos padrões passados. Kim (1997) alerta para este aspecto. Assim, chega-se a um ponto de sugerir que a potencialidade inovativa das estratégias de uma empresa não diga respeito necessariamente ao grau de importância que os estrategistas dêem (ou deixem de dar) ao passado, mas sim à forma como pensam o passado e ao futuro. Kim explicita esta reflexão ao afirmar que a criação de novos espaços de mercado requer diferentes padrões de pensamento estratégico. Como já visto no item 2.2 esta perspectiva de entendimento da questão remete à disponibilidade para o exercício da racionalidade substantiva no ambiente organizacional. No escopo da razão instrumental, a predominância do cálculo utilitário limitará mesmo aqueles que compreendem a estratégia como plano e como perspectiva, ou seja, que apontam para o futuro, a uma perspectiva de inovação incremental. O maior espectro de possibilidades que o vislumbre da ruptura requer necessita do espaço para o exercício da razão substantiva. Kim (1997) remonta à Taylor para demonstrar como a ciência de gestão tradicional dificulta a cooperação ativa e, desta maneira, o compartilhamento de conhecimento e aplicação da criatividade que potencialmente proporcionam incremento da capacidade inovativa. Para Kim (1997), este estilo de gestão está baseado na compensação por resultados alcançados, compensação esta baseada em princípios formais e hierárquicos. Confiança e comprometimento, elemento chave do processo inovativo, não fariam parte do contexto idealizado por Taylor. Estas reflexões reforçam a percepção de que as escolas de gerenciamento estão sujeitas também a um processo de constante mudança, tendo em vista os desafios apresentados pelos ambientes sedimentados em cada momento, em cada local, em cada situação (Wren, 1979 Pinchot, 1994). 57 Um retorno à abordagem de Ramos pode ajudar a explicar esta colocação de Kim (1997). Um ambiente onde predomina o cálculo utilitário sobre o julgamento de valores pode dificultar a seus membros que aufiram o sentido de suas ações. O comportamento guiado por elementos externos e eximido de valores pode, assim, prejudicar a confiança e o comprometimento, apenas conquistados quando há identificação pessoal com as ações, quando há sentido (Frankl, 1991). Finalmente, o quinto conceito de estratégia apresentado por Mintzberg está associado a truque, ou seja, uma tramóia ou maneira sutil de desviar a atenção do concorrente ou de induzi-lo numa determinada direção para a qual ele não iria se compreendesse a situação como de fato ela se configura. Trata-se de uma abordagem mais relacionada às questões de poder nas organizações, tema ao qual também se dedica Mintzberg. O próximo item irá demonstrar, baseado em Kim (2004) que este conceito também pode ser limitador da capacidade de ruptura por parte da empresa. Assim, a partir da discussão acima, pode-se inferir que as estratégias são influenciadas pelos próprios estrategistas, pelos stakeholders e pelo passado da organização. Permeando estes três elementos, está a cultura, que interfere no pensamento dos estrategistas, no comportamento e nos desejos dos stakeholders e interferiu na sedimentação do passado. b) Formulação estratégica nas empresas: a lógica convencional e a lógica da inovação com valor Vários são os modelos e ferramentas sugeridos para a orientação e apoio ao processo de formulação das estratégias nas empresas. Para o contexto deste trabalho, mais relevante do que descrever e analisar os diferentes modelos, parece ser compreender as diferenças existentes entre os pressupostos neles implícitos quanto às relações entre a empresa, seus concorrentes e clientes. Kim (2004) presta sua contribuição neste sentido, ao classificar a lógica estratégica adotada pelas empresas em dois tipos: a lógica convencional e a lógica da inovação com valor (value innovation). 58 Aquelas que atuam com base na lógica convencional, têm seu pensamento estratégico focado na busca por ultrapassar a concorrência. Para tanto, a estratégia ideal, segundo esta lógica, é agir para ser melhor que os concorrentes. De maneira bastante distinta, para as empresas norteadas pela lógica da inovação com valor, a concorrência não é foco central de atenção. A estratégia não consiste na busca por ser melhor. Tomando como pressuposto a possibilidade de transcender as condições da indústria, estas empresas conquistam seu mercado sendo diferentes dos rivais. Enquanto as do outro grupo têm na concorrência o centro das atenções e formulam suas estratégias com base nos padrões por ela determinados, para aquelas adeptas à lógica da inovação com valor, os concorrentes chegam a ser classificados como irrelevantes. Assim, a perspectiva das empresas baseadas na lógica convencional é mais determinista. Elas tomam as condições dadas de sua indústria como limite para o pensamento estratégico. Isto as prende às possibilidades da inovação sustentada. Na busca pelo estabelecimento de vantagens em relação à concorrência, as empresas vão competindo por quotas incrementais. Ou seja, saltos significativos de competitividade são raros neste cenário. Guiadas pela ambição de dominar o mercado por meio de grandes saltos, as empresas do segundo grupo utilizam seus recursos para identificar e distribuir fontes de valor completamente novas. Deste modo, estão mais próximas das possibilidades abertas pelas inovações disruptivas. Assim, é possível estabelecer uma relação entre a abordagem de Kim (2002; 2004) e a de Christensen (2000). Embora a lógica da inovação com valor não tenha como prioridade o estabelecimento de vantagens sobre a concorrência, paradoxalmente, este é o resultado que as empresas adeptas a esta corrente acabam por conquistar – maiores vantagens competitivas. Além disso, a criação de uma nova curva de valor torna a imitação difícil e custosa, constituindo uma barreira à entrada dos competidores no novo mercado. Esta dificuldade pode ser explicada pelo conceito de rede de valor, apresentado por Christensen (2000). Uma rede de valor é o contexto no qual uma empresa identifica e responde às necessidades de seus clientes, resolve seus problemas, procura seus inputs, reage aos seus competidores, enfim, é o contexto no qual ela atua no sentido de tornar-se ou manterse lucrativa. As redes de valor interferem sobre vários aspectos, desde a arquitetura de produtos e estruturas de custos, por exemplo, até a estratégia competitiva da empresa, suas 59 escolhas de mercado e sua percepção do valor econômico de uma nova tecnologia. Isso ocorre em função da tendência à repetição de padrões bem sucedidos no passado. Como visto anteriormente, esta atitude está intrínseca à busca da certeza e da estabilidade que o conhecido proporciona. Adicionalmente, vale notar que, de fato, à medida em que adquire experiência dentro de uma determinada rede, a empresa desenvolve capacidades, estruturas organizacionais e culturas feitas sob medida para aquela rede específica. É nela, portanto, que está concentrada a competência da empresa. É nela também que está a referência das pessoas, seu conhecimento e sua experiência, que justificam a posição hierárquica ocupada na empresa. Na medida em que este conhecimento e esta experiência podem se tornar irrelevantes no futuro, qualquer mudança constitui uma ameaça (Hamel e Prahalad, 1997). Assim, se a rede de valor construída no passado levou uma empresa à liderança, ela tende a mantê-la com vistas à manutenção desta performance no futuro. Esta função das redes de valor constituem uma importante vantagem ao inovador disruptivo, porque a atratividade da nova oportunidade tecnológica demora a ser percebida pela empresa, submersa em sua rede. Uma vez percebida, a competência para realizar a inovação gera outra dificuldade, porque os recursos e capacidades desta empresa estão estruturados sob as premissas da rede anterior. Assim, a desvantagem das empresas baseadas na lógica convencional, que remetem-nas à estratégia de inovação sustentada, não está baseada em menor capacidade organizacional ou tecnológica; trata-se de diferentes posições nas redes de valor. O conceito da curva de valor está diretamente relacionado ao da curva s. O pensamento sobre estratégia de tecnologia de uma empresa está baseado na lógica da curva S. Isto sugere que, conforme prevê a noção da curva S, a magnitude da melhoria de performance de um produto num dado período de tempo ou em relação a uma dada quantia de esforço de engenharia tende a diferir à medida em que a tecnologia intrínseca a este produto matura. Várias correntes pregam que a essência da gestão estratégica da tecnologia consiste em identificar quando o ponto de inflexão da curva s da tecnologia presente passou, e em identificar e desenvolver a tecnologia sucessora que eventualmente irá suplantar a abordagem presente. Assim, de acordo com esta perspectiva, o desafio consiste em trocar de tecnologia no ponto em que a curva s da velha e da nova se cruzam. Christensen (2000) mostra que a inabilidade para antecipar a ameaça de novas tecnologias e para trocá-las num percurso de 60 tempo adequado tem freqüentemente sido causa de problemas fatais a empresas estabelecidas e fonte de vantagem competitiva para entrantes. A relação entre os conceitos da curva s e da rede de valor pode ser estabelecida a partir desta compreensão. A estrutura típica de intersecção da curva s é uma conceitualização de mudanças de tecnologias sustentadas dentro de uma única rede de valor, onde o eixo vertical marca uma medida única de performance de produto. Por isso, uma inovação disruptiva não pode ser desenhada numa curva s conforme a perspectiva acima, porque o eixo vertical para uma inovação disruptiva, por definição, precisa mensurar diferentes atributos de performance que aqueles relevantes nas redes de valor estabelecidas. Uma tecnologia disruptiva tem seu início comercial em redes de valor emergentes. Por isso, antes de ingressar em redes estabelecidas, outro tipo de estrutura de curva s é necessária para descrevê-la. Ou seja, tecnologias disruptivas emergem e progridem por si próprias, em sua própria rede de valor. Isto não significa que ela jamais irá ocupar um espaço em outras redes. Ao contrário, elas podem progredir a tal ponto que satisfaçam o nível e a natureza de performance demandada nas redes das tecnologias estabelecidas melhor que elas próprias, especialmente quando estas já se encontram no estágio de maturidade na curva s, onde incrementos de performance são extremamente raros e custosos. Esta é a oportunidade para invadir a outra rede de valor e eliminar a tecnologia estabelecida em velocidade impraticável pelas empresas desta rede. Em suma, a noção de rede de valor sugere que as curvas s de tecnologia são prognósticos importantes apenas para tecnologias sustentadas. Tecnologias disruptivas geralmente crescem em paralelo àquelas já estabelecidas, de modo que suas trajetórias não se encontram. Portanto, a lógica de gestão no contexto da estratégia convencional, que atua na perspectiva da inovação sustentada, é diferente da lógica no contexto da estratégia de inovação com valor, que tem na ruptura tecnológica seu paradigma. Assim, as decisões gerenciais que fazem sentido num contexto, não o fazem em outro. Como bons gerentes agem sobre o que faz sentido, e o que faz sentido é primeiramente definido pela sua rede de valor, decisões que implicam na troca de rede tornam-se compreensivelmente raras. Christensen (2000) mostra pesquisas cujos resultados apontam claramente que firmas estabelecidas que se confrontaram com mudanças tecnológicas disruptivas não tiveram no desenvolvimento do requisito tecnologia um problema ou uma dificuldade. O que ocorreu foi que projetos disruptivos freqüentemente foram protelados quando se defrontaram com a 61 problemática da escassez de recursos, que confrontou produtos e propostas de desenvolvimento tecnológico concorrentes na decisão de investimento . Como projetos sustentados atendem necessidades dos clientes mais importantes da empresa, e projetos disruptivos apontam para mercados pequenos, baseando-se em necessidades ainda não identificadas ou mal definidas pelos clientes, os primeiros freqüentemente têm vantagem na decisão de alocação. Como mencionado anteriormente, a questão em torno do projeto disruptivo não é, portanto, tecnológica. A lógica que sustenta o processo de tomada de decisão descrito acima é a que Kim (2004) chama lógica convencional. Ela privilegia e está baseada sobre os recursos e capacidades existentes na estrutura atual da empresa, confinando-a numa perspectiva determinista (Ramos, 1984). Inovações disruptivas, quando ou se ocorrem em empresas baseadas nesta lógica, freqüentemente fazem uso de recursos secundários. Neste contexto, o que se verifica é que os métodos de gestão e estruturas organizacionais predominantes privilegiam e reforçam esta lógica convencional. Abaixo serão apresentadas algumas considerações acerca da gestão de marketing, de recursos humanos e dos centros de P&D, conforme concepção predominante, no intuito de corroborar a assertiva anterior. c) Métodos de gestão e estruturas organizacionais que reforçam a lógica estratégica convencional Três dos elementos relevantes ao processo de inovação nas empresas são as atividades de P&D, que visam, por meio de pesquisa, gerar conhecimento específico para o desenvolvimento de processos e produtos inovadores; as pessoas, cujo conhecimento constitui a base de toda inovação; e as ações de marketing, visto que toda inovação visa o mercado. Cabe neste momento uma ressalva, baseada em Freeman (1998) quanto à opção por P&D como indicador dos esforços diretos das empresas quanto à inovação. Outros fatores, como desenho e engenharia, consultorias tecnológicas, monitoramento de informações científicas e tecnológicas e capacitação técnica, são também intervenientes no processo de inovação. Este autor destaca que em alguns setores os indicadores de P&D refletem esta gama mais ampla de elementos, mas em outros, isso não ocorre. Por isso, para efeito da pesquisa de campo deste trabalho, os instrumentos de coleta de dados contemplaram os demais elementos, 62 complementarmente ao P&D. De qualquer maneira, os indicadores de P&D ocupam posição de destaque, sendo responsáveis por metade dos gastos da indústria com inovação. Iniciando pelos métodos de gestão de marketing, pode-se observar que suas premissas explicam as decisões estratégicas calcadas na lógica convencional. A começar pelo plano estratégico de marketing, que freqüentemente usa a análise SWOT (anagrama de Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats) como ferramenta para diagnóstico estratégico do ambiente, existe uma limitação às condições apresentadas num determinado momento na definição das estratégias. O espectro de possibilidades futuras é simplificado com base em circunstâncias vigentes. Embora Porter (1990) recomende, na análise da concorrência, atenção aos produtos substitutos, ao concorrente indireto e aos entrantes potenciais, a análise do cliente é focada no perfil do mercado tradicionalmente explorado pela empresa. Novos nichos podem ser vislumbrados, mas permanece-se na mesma curva de valor. Adicionalmente, o modelo de Porter resguarda um paradoxo. Ao mesmo tempo em que contempla a possibilidade da disruptura, ao chamar a atenção para o produto substituto, apresenta um caráter reativo, na medida em que se limita a recomendar às empresas usuárias do modelo prestar a atenção, em sua análise estratégica, na inovação que outros já fizeram ou estão fazendo. No mesmo sentido, a análise da tecnologia recomendada na análise SWOT, é mais focada no tempo presente que numa abordagem prospectiva. Além disso, este instrumento mantém seu usuário na mesma curva de valor, prendendo-o a uma abordagem estratégica reativa. As forças e fraquezas atuais são tomadas como parâmetro para, a partir de uma análise comparativa em relação a concorrência, definir-se as estratégias que promovam a desejada vantagem competitiva. Como a análise é feita com base nos mesmos critérios de performance da concorrência, suas curvas tendem a aproximar-se cada vez mais, contrastando com a curva dos estrategistas inovadores disruptivos, cujo foco é exatamente afastar ao máximo a curva. Na perspectiva de gestão weberiana, segundo o princípio da divisão das tarefas (Weber, 1978), a criação e desenvolvimento de produto cabe ao pessoal de P&D. Christensen (2000) aponta que, em posse de um novo protótipo recebido de setor de P&D, os profissionais de marketing dirigem-se aos principais clientes das linhas de produtos existentes para obter sua avaliação. Supondo que a estes clientes são apresentadas várias propostas de novos produtos, 63 incluindo desde alternativas que atendem aos atributos da curva de valor vigente, até alternativas disruptivas, que propõem uma nova curva, tem-se uma situação de fragilidade às propostas mais inovadoras. Como os recursos são escassos e as decisões de investimento são concorrentes, e visto que há que se fortalecer sistematicamente a competitividade da empresa junto aos clientes já conquistados para ampliar market share, via de regra a opção é pela inovação incremental. Ela apresenta menos risco, requer menor investimento e proporciona retorno num horizonte de tempo inferior. Desta forma, assim como o planejamento, as pesquisas de mercado têm potencialidade restrita para promover tecnologias disruptivas nas decisões de investimento. Christensen (2000) destaca: mercados que não existem não podem ser analisados. Quando o objeto de análise são tecnologias sustentadas, o tamanho e as taxas de crescimento de mercado são conhecidas. Da mesma forma, tem-se conhecimento das necessidades e expectativas dos clientes. Ou seja: planejamento e pesquisa de marketing, da forma como se conhece, são ferramentas adequadas a tecnologias sustentadas, mas não favorecem decisões de investimento em prol de tecnologias disruptivas. A necessidade de quantificação de mercado e projeções de retorno financeiro dos executivos baseados na lógica convencional não permite que eles tomem decisões inerentes ao risco da disruptura. Para fazer planejamento e pesquisa conforme a lógica convencional, é preciso saber o que se deseja descobrir. Na lógica da inovação com valor, o desafio é descobrir o que se precisa descobrir (Christensen, 2000). As ferramentas tradicionais não contribuem para que se vença este desafio. O segundo aspecto a ser analisado neste item são as estruturas de P&D. Baseadas nos princípios burocráticos, as atividades de pesquisa e desenvolvimento são freqüentemente desenvolvidas num setor criado especificamente para este fim. Internamente a este setor, as tarefas são divididas, de modo que o desenvolvimento de um produto pode ser realizado em diferentes grupos, responsáveis por diferentes componentes. Assim, para efeito de inovação disruptiva, esta estrutura possui limitações em três níveis. Primeiro, seu input é oriundo das atividades de marketing baseadas nos pressupostos anteriormente discutidos. Segundo, uma vez dado o ingresso no centro de P&D, o processo de troca com conhecimentos externos torna-se restrito. Terceiro, divisões internas ao próprio setor dificultam inovações em nível de arquitetura de produto, porque a organização do trabalho proporciona a sedimentação da visão em nível de componente. Nesta estrutura, o processo de aprendizagem, que alimentaria a potencialidade para a inovação disruptiva, defronta-se com várias barreiras. 64 Nonaka e Takeuchi (1997) demonstram que esta não é a realidade japonesa, onde os modelos de gestão proporcionam integração entre P&D, marketing e produção, além de intensa interação entre a empresa e atores do ambiente externo. Em contrapartida, resultados de pesquisas demonstrados por Freeman (1998) apontam que, nos Estados Unidos, em muitas empresas os profissionais de P&D não mantém contato algum com a produção, conforme também alertado por Nonaka e Takeuchi (1997). Estes exemplos podem sugerir mais uma vez a influência negativa da cultura ocidental, calcada nos princípios burocráticos, sobre a inovação. Tendo em vista tais limitações, alguma reflexão pode ser estabelecida em torno da questão da terceirização de P&D. Se por um lado ela pode agravar a perda de aprendizagem acima apontada, por outro, o parceiro externo pode constituir mais uma fonte de conhecimento. Para Freeman (1998), as duas estratégias são complementares, sendo a opção por qualquer uma das duas limitadoras sob o ponto de vista da capacidade inovativa da empresa. Os princípios do processo de gestão praticado podem exercer influência importante no menor ou maior aproveitamento sob a perspectiva da criação de conhecimento. Chega-se assim, ao terceiro elemento proposto a este item: as pessoas, visto que o conhecimento está na base do processo inovativo. Assim, as questões pertinentes a aprendizagem na empresa tornam-se críticas ao entorno da inovação, assim como as limitações impostas pela burocracia à expressão e desenvolvimento da potencialidade humana. Vários autores, como Argyris (1993), Senge (1990), Nonaka e Takeuchi (1997) e Ramos (1983;1984;1989), apresentam análises e propõem alternativas acerca desta problemática, embora não a relacionando diretamente à inovação. Em caráter conclusivo a estas análises, pode-se dizer que as pessoas são flexíveis e apresentam potencialidade para a aprendizagem (e notadamente para a criatividade e a inovação). O ambiente no qual estão inseridas pode tolher ou promover esta potencialidade. Ocorre que a estrutura burocrática foi responsável pela sedimentação de uma cultura, que passa a influenciar o pensamento e comportamento das pessoas, que por sua vez formulam as estratégias, que vão reforçar a estrutura vigente para sustentar-se, num círculo vicioso. Esta conclusão pode sugerir que uma transformação cultural seja a porta de entrada para a quebra deste círculo. 65 2.6 O estrato das Universidades nas redes externas que compõem o entorno da inovação a) Incerteza: a natureza da ciência potencializando a universidade como agente de inovação disruptiva. As idéias desenvolvidas até este item enfatizam a compreensão de que inovação é um processo que tem em sua essência o conhecimento. A construção de novos conhecimentos ou o estabelecimento de novos arranjos com os conhecimentos já existentes é que pode permitir a obtenção de um novo processo, um novo produto ou um novo serviço. E conhecimento pode ser construído de várias maneiras. Freeman (1998) cita a experiência prática ou esforços deliberados e sistemáticos de pesquisa como alternativa. Neste contexto, em busca de aumentar sua capacidade inovativa, as empresas investem, dentre outras, em atividades de pesquisa. Especificamente, atividades de P&D têm sua importância reconhecida quanto à contribuição para a competitividade empresarial baseada na inovação (Norway Ministry Of Trade And Industry, 2004). Até mesmo para avaliar-se a capacidade inovativa de um país, os níveis de investimento em P&D pelas empresas são utilizados como indicadores (IEDI, 2004; ONUDI, 2002). No caso do Brasil, os dispêndios realizados pelas empresas estão aquém do desejável, se comparado com os índices apresentados pelos países desenvolvidos, como se pode observar em (ANPEI, 2004; CNI e FINEP, 2002). Além disso, dentre os gastos em atividades voltadas à inovação, as rubricas de P&D são as menos significativas, além de serem as que menos crescem, perdendo para serviços técnicos e aquisição de tecnologia (MCT, 2005). Adicionalmente, o volume de pesquisadores com titulação de mestre e doutor atuantes nas empresas é bastante restrito. Não obstante, pesquisas demonstram que as empresas brasileiras esperam realizar suas inovações a partir deste tipo de estratégia de gestão tecnológica atualmente vigente, de caráter endógeno. Isso pode ser constatado pelo baixo índice de parcerias estabelecidas com instituições ou organizações externas em projetos inovativos (CNI e FINEP, 2002). 66 Agrava este cenário o fato de que existe um tipo de pesquisa também necessária à inovação e para a qual as empresas apresentam baixa vocação: a pesquisa básica, responsável pela geração do conhecimento essencial. Este é o contexto da ciência. Assim, se, como visto anteriormente, a inovação tem em sua base o conhecimento, e se é na ciência que ocorre a geração do conhecimento essencial, então é possível inferir que a inovação é um fenômeno que tem início na ciência. Isso justifica posicionamentos como o de (Norway Ministry Of Trade And Industry, 2004), que classifica o conhecimento científico como elemento chave de uma sociedade de alta tecnologia, ultrapassando-se a visão predominante durante algum tempo, segundo a qual o conhecimento científico era algo exógeno ao processo inovador, como demonstra Freeman (1998). Com o foi apresentado, não é na empresa que o conhecimento científico encontra o habitat mais favorável para se desenvolver. Audresch et ali (2002) podem justificar esta assertiva, quando explicam que a ciência é a procura por conhecimento. Assim, em seu processo de construção, a ciência tem início com condições conhecidas, mas a procura a leva a fins e resultados desconhecidos. Desta forma, está intrínseco ao papel da ciência lidar com a incerteza. Rip (2002) sugere que quando o pesquisador de uma ciência, atua num projeto sem se preocupar com especificações pré-definidas por pesquisador de outra ciência, pode gerar resultados simultaneamente inesperados e valiosos. Guiadas pela lógica de mercado, as empresas não encontram neste um cenário atrativo. Shumpeter (1982) já explicou este fenômeno. O compromisso do empresário com a geração de resultados pré-estabelecidos afasta-o da pesquisa científica em função do risco e do tempo a ela inerente. A orientação à solução de problemas e à demandas explícitas de mercado inibe a descoberta, podendo prender as empresas à lógica estratégica convencional, focada na inovação sustentada, como demonstram Kim ( 2004) e Christensen (2000). Em contrapartida, a universidade, no desempenho de seu papel de gerar e compartilhar propriedade intelectual (Wright et al, 2004), apresenta vocação e compromisso com as peculiaridades da ciência. O compromisso com o prazo ou resultados previamente estabelecidos é substituído pela descoberta. Isso potencializa a universidade como ambiente favorável para a geração de inovações disruptivas, conforme conceito de Christensen (2000). 67 Retornando-se a uma análise do cenário nacional, a observação dos números apresentados pelas universidades aponta para a evolução da ciência no Brasil. Como já visto, o país encontra-se classificado em 17o. lugar no ranking mundial de publicação de artigos científicos em periódicos indexados. É também nas universidades que se encontra a grande concentração de pesquisadores titulados. Contudo, a contribuição da universidade tem permanecido no campo da relevância científica. Os conhecimentos gerados a partir da pesquisa básica pouco têm contribuído para o aumento da competitividade do país. Permanecem como conhecimento, sem transformar-se em tecnologia passível de ser apropriada no setor produtivo. Assim, a relevância tecnológica do conhecimento científico gerado no Brasil pode ser classificada como insatisfatória. A potencialidade para a geração de inovações disruptivas não se concretiza em resultados práticos, e a indústria nacional permanece concentrada em estratégias de inovação sustentada, como pode ser visto em CNI e FINEP (2002) e MCT (2005). No espectro da capacidade inovativa de um país, que vai, então, da ciência básica ao consumo, teoricamente seis estágios estão compreendidos, como demonstra Leme (1994): • Pesquisa científica; • Pesquisa aplicada; • Desenvolvimento; • Engenharia; • Manufatura; • Utilização / Consumo. Segundo Vasconcelos (2005), nos países desenvolvidos, há um equilíbrio entre estes seis estágios, embora nos últimos anos venha se configurando um processo de opção pela manufatura fora. Os países subdesenvolvidos tem sido a opção, como visto em Vernon (1973), que podem encontrar-se, na classificação deste autor, na região II ou III. Para os países enquadrados nesta situação fica reforçada, como sugere Barros (2000), a condição de subdesenvolvimento tecnológico. 68 A produção científica apresentada pelas universidades brasileiras, o país tem um bom desempenho no estágio 1. Assim, a base elementar da inovação está atendida. Contudo, há uma queda significativa nos níveis 2 e 3, como visto em ANPEI (2004), que também exercem papel de base para que a inovação seja potencializada. CNI e FINEP (2002) mostram que os níveis de P&D, tradicionalmente baixos, apresentaram uma queda acentuada entre 2000 e 2003: de 7.412 empresas que realizavam, atividades de pesquisa e desenvolvimento, passouse para 4.941. Essa redução ocorreu especialmente entre as empresas onde estas atividades não têm caráter permanente e sistemático, mas sim, ocasional. O relatório demonstra que nas empresas que fazem P&D contínuo, a redução foi menor. As análises da pesquisa sugerem que a redução ocorreu como reflexo de uma ameaça de recessão no período, que remeteu a uma redução nos investimentos. O P&D contínuo não sofre reflexos tão aparentes porque é mais complexa a eliminação de estruturas já instaladas. Assim, em média, o P&D contínuo acaba crescendo mais que o ocasional. As multinacionais instaladas no Brasil, que apresentam investimentos em P&D mais estáveis, têm optado por concentrar estas atividades em outros países, como demonstra estudo da ANPEI (2004). E as universidades, em função da cobrança sobre ela exercida em torno da publicação de artigos científicos, também não fazem P&D. Fica, assim, um gap. Vasconcelos et al (2005) analisam como crítico no Brasil, o fato de que além das empresas investirem pouco em P&D interno, seja sistemático ou ocasional, e desta taxa estar em declínio, elas também não têm o hábito de adquiri-la externamente. O relatório CNI e FINEP (2002) demonstra que as empresas brasileiras optam por focar as atividades de inovação internamente. Vasconcelos et al (2005) demonstram que nos Estados Unidos, por exemplo, o desenvolvimento interno e a aquisição externa, são complementares. O desenvolvimento interno é focado principalmente naquelas tecnologias consideradas estratégicas à competitividade da empresa. Para ter conhecimento destas core technologies, nota-se a probabilidade de tornar-se necessária a existência de processos de gestão estratégica da tecnologia nestas empresas. Aquelas que não realizam gestão estratégica de tecnologia podem sentir dificuldade em dimensionar sua gestão de portfólio. Assim, a combinação de fontes externas e internas tem a ver com a estratégia tecnológica da empresa, que deve estar alinhada com a estratégia global da empresa. Vasconcelos et al destacam que estas core technologies inclusive não são sequer licenciadas pelas empresas que, embora pudessem obter a partir do licenciamento uma fonte de receita, têm clara a noção que estrategicamente é mais válido optar por não fortalecer seus competidores. Quanto à aquisição de tecnologia externa, os 69 mesmos autores argumentam que ela é importante por questões como time to market, redução de custo e de risco, apontados anteriormente como fatores que afastam as empresas da vocação para a pesquisa básica, onde eles são mais críticos. Existem várias fontes por meio das quais as empresas podem adquirir tecnologia: clientes, competidores, fornecedores, universidades e institutos de pesquisa. As formas de aquisição também podem variar: licenciamento, contrato de P&D, joint venture, consórcio de pesquisa, aquisição de empresa, contratação de pessoal e alianças tecnológicas. No Brasil, a aquisição de tecnologia junto a universidades foi apontada pelas empresas, em pesquisa realizada pela CNI e FINEP, como não importante. Vale notar que as demais fontes externas também são classificadas como não importantes, reforçando a conclusão de que a abordagem de gestão da inovação adotada pelas empresas brasileiras é endógena. Contudo, as universidades foram consideras menos importantes do que clientes, competidores e fornecedores. Um panorama traçado para cinco anos na mesma pesquisa indicou que as universidades passariam a ser consideradas mais importantes do que o desenvolvimento interno. Porém, o estudo CNI e FINEP (2002) demonstra que este panorama não se configurou de fato. As empresas continuam considerando as universidades uma fonte pouco importante de aquisição de tecnologia. Isso pode ser avaliado como um paradoxo, tendo-se em vista a potencialidade da universidade brasileira, como visto anteriormente. Surge a questão: por que, se a universidade brasileira demonstra bom resultados na geração de conhecimento científico e, sendo este reconhecido como elementar à geração de inovações (especialmente aquelas de caráter disruptivo), as empresas permanecem considerando-a pouco importante neste processo? Existe a possibilidade da explicação estar no contexto da empresa. Estes fatores já foram explorados no item anterior. O paradigma burocrático de gestão pode estar entre as explicações para o fato. Outra possível explicação é a existência de problemas no contexto da universidade. Ou, ainda em ambos. Neste item, cabe avaliar as potenciais limitações existentes nas universidades. 70 b) Limitações ao potencial inovador das Universidades A efetividade da universidade não se consolida apenas com o ensino e a pesquisa; é o que argumenta Walter (2000). Em seu papel de gerar e compartilhar propriedade intelectual cabe também à universidade resolver problemas para a indústria e para a sociedade. Mais que isso, para o autor, cabe à universidade antecipar soluções e prospectar oportunidades de desenvolvimento tecnológico às empresas. Neste sentido, os resultados obtidos a partir do ensino podem ser insatisfatórios. Por isso, (Norway Ministry Of Trade And Industry, 2004) aponta outras alternativas no sentido de proporcionar uma contribuição mais efetiva do resultado da pesquisa básica à inovação. A comercialização é uma delas. Contudo, como demonstram Wright et al (2004), os aspectos gerenciais intrínsecos à comercialização e sobretudo à geração de lucros comerciais pelas universidades, não são triviais, embora algumas delas, que ostentam grandes contratos de pesquisa, tenham aprendido como fazer isso. Ou seja, comercializar requer habilidades específicas para tal. Isso pode ser difícil às universidades, que não têm nesta uma atividade tradicionalmente desenvolvida. Outro fator que pode atuar como dificultador da capacidade das universidades para comercializar os resultados da pesquisa é o fato de que apenas um pequeno número de idéias novas e patenteadas evoluem para um sucesso comercial, como demonstra (Norway Ministry Of Trade And Industry, 2004). Neste contexto, torna-se um desafio particular identificar aquelas pesquisas com a potencialidade comercial adequada. Ou seja, esta nuance pode enquadrar as universidades numa perspectiva de orientação ao mercado, afastando-nas de sua vocação natural para a pesquisa básica. Isto pode constituir uma grande perda à sociedade, que tem na universidade o único ator com vocação natural para dedicar-se à pesquisa básica. A capacidade inovativa desta sociedade ficaria, assim, também prejudicada. Neste sentido, Chauí (2001) estabelece críticas utilizando-se de expressões como “o papel crescente da ciência e da tecnologia como agentes de acumulação capitalista”. Para esta autora, a participação da universidade na economia e na sociedade como prestadora de serviços às empresas privadas, pode levá-la a um total descaso pela pesquisa fundamental e de longo prazo. Até mesmo as agências públicas de financiamento à pesquisa são criticadas pela autora, sob o argumento de que as universidades, ao internalizar as regras fixadas por 71 estas agências, deixam de distiguir entre critérios de financiamento e critérios de pesquisa. Para ela, a pesquisa necessita de liberdade para desenvolver sua potencialidade. Estas colocações demonstram que as limitações da universidade à comercialização dos resultados da pesquisa não são apenas gerenciais. Existem também questões de natureza ideológica contempladas, que remetem à razão de ser das universidades. Por outro lado, ainda levando-se em conta o papel da universidade na sociedade, pode-se referenciar outros autores com posições distintas às de Chauí (2001). Por exemplo, a de Wright et al (2004), para quem seu papel é criar e compartilhar propriedade intelectual. À propósito, para estes autores, a cultura nas universidades está mudando e deixando de ser tão hostil, para passar a aceitar o empreendedorismo na ciênca. Como visto o ensino não é instrumento suficiente para realizar este compartilhamento de propriedade intelectual apontado por Wright et al (2004), especialmente no sentido de disseminação do conhecimento gerado. Pode-se ainda rever Shumpeter (1982), para quem a inovação só se consolida quando o resultado da pesquisa é apropriado no setor produtivo. Nesta perspectiva, sem apropriação, a pesquisa não geraria resultado sócio-econômico satisfatório. Retornando à Chauí (2001), em determinados momentos os argumentos da autora parecem sugerir sua crença de que a contribuição da universidade à sociedade estaria relacionada à formação de pessoal. Esta visão é sugerida por afirmações como aquelas que caracterizam a universidade como inútil e desprovida de funcionalidade, à medida que os diplomas perdem seu valor e os salários são reduzidos, assim como os níveis de emprego. Interessante observar que, ao desenvolver tais críticas, Chauí reconhece a vinculação da universidade com o mercado. Ela classifica a universidade como inútil quando gera desempregados, por não conseguir atender às exigências do mercado. Contudo, em seguida a autora resgata a questão da pesquisa como elemento central à atividade das universidades, lado a lado ao ensino. Mais especificamente, estabelece uma crítica apropriada ao assunto ora em questão: a capacidade das universidades contribuírem para o desenvolvimento sócio-econômico por meio do incremento da capacidade inovativa das empresas a partir da apropriação do resultado da pesquisa no setor produtivo. A crítica vai no sentido da fragmentação existente entre o ensino e a pesquisa, reflexo da natureza 72 eminentemente burocrática das universidades. Esta característica a iguala às empresas, no que tange ao estilo de gestão baseado na especialização, na fragmentação, que ao dividir o trabalho, o simplifica, reduzindo seu sentido, como visto em Ramos (1984; 1989). Foi visto em itens anteriores que a inovação é um fenômeno que envolve interdisciplinaridade e interação. Ao organizar a geração de conhecimento por departamentos, e ao separar as atividades administrativas, docentes e de pesquisa, a universidade cria uma limitação estrutural a sua capacidade inovativa. Adicionalmente, há que se considerar as contribuições da universidade ao saber. Chauí acusa a universidade brasileira de reduzir a esfera do saber à do conhecimento, ignorando o trabalho do pensamento. O conceito de conhecimento considerado neste contexto está associado à capacidade do indivíduo para apropriar-se intelectualmente de um campo dado de fatos ou de idéias que constituem o saber estabelecido. E o conceito de pensar, está associado à capacidade do indivíduo enfrentar, pela reflexão, a escuridão de uma experiência nova, cujo sentido ainda precisa ser formulado. Para tanto, Chauí (2001) indica que a única garantia é o contato com a experiência. Com isso, mais uma vez a autora sugere a relevância da interação com o mercado, já que é nele que se pode realizar a experiência. Adicionalmente, a autora propõe a existência de uma realidade, nas universidades, similar àquela verificada nas empresas que, sob os efeitos das disfunções da Burocracia, restringem a racionalidade humana a sua dimensão instrumental, como visto em Ramos (1984;1989). Assim, a restrição da potencialidade que a dimensão substantiva da razão confere ao pensar, tanto a empresa quanto a universidade passam a ter na Burocracia um limitador da capacidade humana para a inovação. Mais especificamente, nessa perspectiva da repetição de modelos, da restrição burocrática do possível ao campo do provável e do previsível, a capacidade para a geração de inovações de caráter disruptivo fica prejudicada. O espectro de possibilidades para a inovação é restringido à perspectiva incremental. Portanto, a limitação não está apenas relacionada ao fato de que, em função de aspectos culturais e ideológicos, ela optou por uma estratégia endógena, sem interação com a comunidade externa (notadamente as empresas). Viu-se que também seus processos internos são limitadores. Podem ser apontadas ainda, limitações de natureza legal, relacionadas a 73 entraves jurídicos à interação universidade-empresa. Estas questões serão abordadas no item a seguir, quando serão tratados aspectos pertinentes à Lei da Inovação (Lei 10.973, de 02 de dezembro de 2004). Toda a discussão até o momento foi estabelecida em torno da comercialização do resultado da pesquisa como alternativa para que a universidade contribua com a capacidade inovativa das empresas. Existe outra alternativa freqüentemente citada (Wright et al, 2004): a criação de spin-offs. Para os autores, esta é uma mudança em relação à postura tradicional da universidades, que costumavam dar preferência ao licenciamento de tecnologia como forma de transferi-la ao setor produtivo. Como visto anteriormente, a criação de novas empresas pode ser uma importante alternativa à geração de inovação, dadas as limitações enfrentadas pelas empresas já estabelecidas (Shumpeter, 1982). Contudo, ao se tratar de spin-offs, é importante considerar, como destacam Wright et al (2004) que as nuances intrínsecas à criação de spin-offs por universidades são diferentes da criação de novas empresas de base tecnológica, freqüentemente foco das incubadoras. No caso das universidades, da mesma maneira como discutido anteriormente, como elas tradicionalmente não estão orientadas à comercialização, várias barreiras podem surgir e dificultar o desenvolvimento do emprendedorismo. O próprio desenvolvimento de uma cultura empreendedora pode ser um desafio. Adicionalmente, existem as questões de natureza legal que precisam ser levadas em conta. Por exemplo, a propriedade intelectual resultante das pesquisas pertence à universidade. Como o pesquisador–empreendedor deseja ter participação no resultado de sua atividade, a elaboração de uma política que direcione e regulamente claramente estas questões torna-se essencial ao sucesso de uma estratégia de criação e desenvolvimento de spin-offs, como alertam Wright et al (2004). A experiência demonstra que as estratégias adotadas pelas universidades são variadas. Algumas optam pela comercialização, outras pela geração de spin-offs, outras por ambas, ou ainda outras alternativas. De qualquer forma, a geração de spin-offs envolve o desenvolvimento de habilidades empreendedoras no ambiente universitário. Neste sentido, assim como no caso da opção pela comercialização, a Burocracia pode novamente representar fator restritivo, pelos motivos já discutidos. 74 2.7 O estrato dos governos, agências de fomento e instituições privadas de apoio ao desenvolvimento empresarial nas redes externas que compõem o entorno da inovação a) Inovação e desenvolvimento econômico O que foi mostrado sugere que a inovação não acontece aleatoriamente, ao acaso. Assim, empresas sem ações deliberadas neste sentido, têm pouca probabilidade de conquistarem níveis inovativos satisfatórios. Neste sentido, o desenvolvimento sistemático de atividades de criação, aplicação e disseminação de conhecimento está intrínseco ao processo de inovação. Adicionalmente, a argumentação desenvolvida até o momento sugere que nem tampouco a inovação é uma atividade interna das empresas. Ela é, sim, um processo de interação entre as empresas e seu ambiente. Interação se refere à colaboração interna entre as pessoas dos diferentes departamentos da empresa, bem como a cooperação externa com outras firmas (especialmente clientes e fornecedores), provedores de conhecimento (como universidades e centros de tecnologia), recursos financeiros, treinamento e a administração pública (Tödling e Kaufmann, 2002). Esta noção reflete o conceito de inovação sob a perspectiva interativa, um dos fundamentos das teorias de autores como Shumpeter (1982), Freeman (1995) e Lundvall (1992), em contraposição à perspectiva da inovação como um fenômeno linear, interno às empresas. No mesmo sentido, Landau (1991) refere-se a diferentes perspectivas de crescimento econômico a partir da tecnologia como um fenômeno endógeno ou exógeno às empresas. Assim, inovação não é apenas questão pertinente ao contexto empresarial. É tema de política pública, pois vários atores, direta ou indiretamente influenciados pelas regulamentações dos governos, constituem elemento participativo no processo de inovação. Adicionalmente, na Economia do Conhecimento, o investimento em estruturas que favoreçam a inovação tem relação direta com o desenvolvimento sócio-econômico. Segundo a ONUDI (2002) os produtos cuja participação mais cresce nas exportações mundiais são aqueles de alta e média-alta tecnologia, enquanto aqueles de baixa e média-baixa tecnologia têm perdido sistematicamente seu espaço. Contudo, mesmo para aquelas indústrias que não são intensivas em tecnologia, a inovação apresenta-se como fator primordial de competitividade, como ressaltado em Norway Ministry Of Trade And Industry (2004). Várias pesquisas corroboram 75 esta assertiva; um estudo do IPEA (IPEA, 2005) demonstrou que no Brasil, por exemplo, os níveis de investimento em inovação de produto estão diretamente relacionados aos de exportação. A pesquisa apontou também que a inovação gera reflexos sobre faturamento, preços de venda e níveis salariais. Aquelas que inovam faturam 100 vezes mais, pagam salários 3 vezes maiores e conseguem preço de venda até 30% maior. Isso tem implicações diretas sobre o crescimento econômico. A ONUDI destaca a capacidade para competir internacionalmente como condição indispensável para a expansão do setor industrial, classificando a ênfase de um país sobre recursos primários e mão-de-obra barata como forma de economizar, mas não de promover desenvolvimento sustentável. Barros (2000) amplia as considerações em torno do modelo de Vernon (1973), concebendo, em sua definição, o espaço econômico como independente da territorialidade física. Tais concepções complementam a análise da ONUDI e ajudam a justificar os esforços dos países no sentido de promover o desenvolvimento tecnológico de sua indústria. Vernon identifica três regiões, classificadas pelo nível de desenvolvimento tecnológico vigente no modo de produção de cada uma delas: • Região I: dispondo de grande volume de recursos para pesquisas inovadoras, de uma força de trabalho com elevado nível de qualificação e da capacidade para promover descontinuidades tecnológicas por meio da convergência de produtos, esta distinguese pela engenharia criativa e tecnologia desenvolvida. • Região II: a partir da tradição industrial, os recursos desta região são aplicados com vistas à continuidade tecnológica. Predomina a fabricação qualificada, tecnologia em desenvolvimento e boa densidade de mão-de-obra qualificada. • Região III: a mão-de-obra desqualificada e a tecnologia subdesenvolvida, propiciam a esta região o status de fabricação desqualificada. Barros (2000) ressalta que a Região I constitui o ícone central do processo de desenvolvimento. Os países desenvolvidos, em grande parte enquadrados nesta categoria I, distribuem os processos de produção para as demais regiões, conforme sua própria conveniência, especialmente no que tange aos custos. Isto gera um processo de reestruturação e reorganização espacial da 76 indústria, em escala internacional, que freqüentemente é problemático para os países que compõem as Regiões II e, especialmente, a III, que passam a reforçar sua condição de subdesenvolvimento tecnológico. Como muitas tecnologias não estão acessíveis às empresas destes países, elas acabam tornando-se obsoletas, perdendo competitividade, encerrando suas atividades e gerando desemprego (ou o subemprego). Assim, o desenvolvimento de um país requer cuidado em manter-se próximo ao limiar do conhecimento, que se move em velocidade crescente. Ou seja, a transformação econômica envolve um processo sistemático de aprendizagem, no qual novos conhecimentos são produzidos e aplicados no setor produtivo. 2.8 Os sistemas de inovação O conceito de sistema de inovação está associado ao conjunto de instituições, organizações e empresas que interagem em um determinado ambiente com vistas a promover a capacidade inovativa das empresas. Na visão de Freeman (1995), mais que estarem associados, os sistemas de inovação derivam das interações e das redes de relacionamento que caracterizam a natureza da arte de inovar. Lundvall (1992), outro nome expoente quando o tema em foco é sistemas de inovação, enfatiza que o processo interativo no qual as empresas, instituições e organizações se envolvem para produzir, utilizar e difundir conhecimentos sob a forma de novos produtos, serviços e processos, está na base do conceito. Portanto, trata-se de termo que ultrapassa o paradigma da inovação como um fenômeno linear e endógeno às empresas. Até aqui, dois componentes ficam colocados em evidência como parte dos sistemas de inovação: as organizações (nas quais estão incluídas as empresas) e as instituições. Silva (2003) propõe a inclusão do território como um terceiro componente. De maneira gráfica, o modelo proposto pelo autor pode ser representado da seguinte forma: 77 Figura 4 – Componentes dos Sistemas de Inovação Fonte: Adaptado de Silva, Fábio Q. B. Sistemas Locais de Inovação: Algumas reflexões para a construção de uma base conceitual. I Simpósio em Gestão Estratégica de Negócios. Rio de Janeiro, 2003. A figura 4 facilita a compreensão da classificação dos sistemas de inovação em dois diferentes níveis: o nacional e o regional, da qual originam-se os conceitos de Sistemas Nacionais de Inovação e Sistemas Regionais de Inovação. A partir da figura, os Sistemas Nacionais, poderiam ser compreendidos como resultantes das interações entre o eixo das organizações e das instituições, já que o componente território seria mais frágil em função do baixo nível de concentração geográfica intrínseco a este conceito. Já os Sistemas Regionais, originar-se-iam das interações entre os três eixos, visto que, além das organizações e instituições de nível local e regional, neste nível a alta concentração geográfica permite a inclusão da componente território. Isto poderia sugerir que o nível do sistema regional seja superior ao nacional em potencialidade. Contudo, o que se percebe, é que existe complementaridade entre os dois conceitos. Os papéis, limitações e potencialidades de ambos em termos de contribuição ao desenvolvimento econômico a partir do incremento da capacidade inovativa das empresas, são complementares, conforme visto no item a seguir. Assim, a inovação acontece em diferentes níveis geográficos e é influenciada pelas estruturas regulatórias e pelas políticas das autoridades não apenas regionais e nacionais, mas também, internacionais, como visto em Norway Ministry Of Trade And Industry (2004) onde é possível concluir estar o bom diálogo entre estes diferentes níveis, chave para a organização da política de inovação. Ou seja, nas redes externas nas quais as empresas interagem com vistas ao desenvolvimento de sua capacidade inovativa, governos e agências de fomento ocupam espaço no sentido de criar e desenvolver políticas que contribuam para a consolidação de um ambiente favorável à inovação. No conceito de sistemas de inovação, estes atores encontram-se no componente institucional, sendo desejável que o componente territorial atue no sentido de promover a complementaridade entre os programas oriundos destas políticas. Isto é, no nível regional, estes atores estariam focados no desenvolvimento de ações capazes de atender peculiaridades não atendidas pelos programas nacionais, mas em sinergia com a política comum a todos os componentes do sistema. Neste sentido, o conceito de sistemas de inovação supõe haver responsabilidades centralizadas no status nacional, acompanhadas de responsabilidades de interlocução com as empresas que cabem a instâncias regionais e locais. 78 Adicionalmente, além de reconhecerem peculiaridades regionais, os programas oriundos de uma política de desenvolvimento tecnológico têm o desafio de estabelecer tratamento diferenciado às empresas de diferentes portes e setores. A dinâmica de pequenas ou grandes empresas, ou de empresas atuantes em setores intensivos em capital ou em trabalho, por exemplo, é diferente. Todas estas variáveis influenciam na forma como as empresas inovam. As estratégias que guiam a inovação, bem como as estruturas que lhes dão suporte, são distintas nestas diferentes categorias de empresas. Portanto, no estrato dos governos e agências de fomento que compõem as redes externas de suporte à inovação, é desejável encontrar programas que vêm ao encontro de tais peculiaridades. Por outro lado, esta variedade de programas convergentes com uma política comum, pode enriquecer a aprendizagem proporcionada pela interação na rede. a) Os sistemas nacionais de inovação Freeman (1995) e Lundvall (1992) são os principais nomes apontados à origem deste conceito. Contudo, Freeman (1995) preocupa-se em destacar a importância de List (1904) na elaboração do termo. Para Freeman, embora tenha utilizado a expressão sistema nacional de política econômica, na realidade “esboçou com muita propriedade os aspectos fundadores do conceito de sistema nacional de inovação” (Freeman, 1995, p8). O foco de List era a questão da promoção do desenvolvimento da Alemanha em relação à Inglaterra, na época líder mundial em tecnologia. List propôs políticas para acelerar a industrialização e o crescimento econômico alemão baseadas num processo de aprendizagem e aplicação de novas tecnologias. Esta era a visão defendida por ele para países subdesenvolvidos em busca de um processo de crescimento. Outro aspecto antecipado por List e destacado por Freeman (1995) foi a interdependência da importação de tecnologias estrangeiras e o desenvolvimento tecnológico nacional. Na tarefa de alcançar (ou avançar em relação a) a Inglaterra na segunda metade do século 19, os Estados Unidos obtiveram maior sucesso que a Alemanha. Enquanto a Alemanha enfatizou o papel do Estado, os EUA enfatizaram os investimentos estrangeiros. 79 Assim, embora Freeman seja apontado com freqüência como autor do conceito de sistemas nacionais de inovação, ele atribui a List o mérito de vislumbrar com um século e meio de antecedência variáveis tão relevantes para a atualidade e particularmente nas discussões sobre os Sistemas Nacionais de Inovação, como são a relação entre industrialização, desenvolvimento econômico, aprendizagem e aplicação de novas tecnologias e entre a importação de tecnologias estrangeiras e desenvolvimento tecnológico nacional. Contudo, Freeman (1995) não deixa de apontar outros dois elementos que também vieram a adquirir importância significativa neste contexto: os investimentos das empresas em centros de P&D internos e as empresas transnacionais. De qualquer maneira – e isso o próprio Freeman destaca em outra reflexão (Freeman, 1998) – um sistema nacional de inovação é muito mais que uma rede de instituições de suporte às atividades de P&D das empresas. Implica relações de várias naturezas entre as empresas, envolvendo também um amplo conjunto de diferentes instituições e políticas públicas, visão corroborada por Lundvall (1992) e seus colegas neoshumpeterianos. À propósito, o conceito de sistema nacional de inovação associa as questões pertinentes à ciência, tecnologia e inovação à economia, constituindo uma síntese da elaboração evoluvionista (ou neo- shumpeteriana), como analisa Albuquerque (2004) . Numa análise comparativa entre os sistemas nacionais de inovação de diferentes países, correlacionando suas características com os respectivos resultados, Freemann (1998) consegue ilustrar as considerações acima. O sistema soviético, por exemplo, se desenvolveu sobre uma abordagem que manteve os institutos de pesquisa do sistema acadêmico, responsáveis pela pesquisa básica, focados para cada setor industrial específico, onde ocorria a pesquisa e desenvolvimento aplicados. Eram frágeis as inter-relações entre todas as diferentes instituições. Além disso, a busca pelo cumprimento das metas quantitativas de produção era responsável por um incentivo negativo à inovação no nível das empresas. Adicionalmente, com exceção ao mercado de armas, havia pouca exposição à competição internacional. Ao contrário, no Japão, havia intensa integração entre P&D, produção e importação de tecnologia no nível das empresas. Os investimentos pelas empresas em P&D era bastante elevado, assim como sua experiência em competição no mercado internacional. 80 Outro paralelo estabelecido pelo autor é entre a América Latina e o Leste Asiático. Nas décadas de 60 e 70 ambos passaram por um processo de franco crescimento. Contudo, nos anos 80 algumas diferenças começaram a aparecer. Os países do leste asiático cresciam a uma taxa de 8% ao ano, enquanto que a maioria dos países latino-americados, incluindo o Brasil, a taxas inferiores a 2%. As grandes mudanças sociais realizadas por muitos países asiáticos, que vieram por sua vez a facilitar transformações técnicas e estruturais, além do sistema de educação, da presença de P&D no nível das empresas, da infra-estrutura de telecomunicações e da difusão de novas tecnologias, todas em condições significativamente mais favoráveis nos países asiáticos, podem ser apontados como elementos que justificam os diferentes resultados obtidos nos dois cenários. Sistemas nacionais de inovação virtuosos reconhecem e executam com eficácia seu papel no financiamento do investimento inovativo, por meio da ação do governo e agências de fomento. Financiamento da pesquisa (especialmente da pesquisa básica), incentivos fiscais e subsídios à inovação tecnológica são questões que compõem o espectro de ação dos SNI. Na base disso, está o papel da regulamentação, desempenhado exclusivamente pelo governo. Adicionalmente, é também no contexto dos sistemas nacionais de inovação que os programas de fomento e apoio à geração de novas empresas têm tomado força. Embora sejam estruturas regionais que dão o suporte efetivo à criação das start-ups, linhas de financiamento federais e regulamentação apropriada são indispensáveis ao deu desenvolvimento e consolidação. A importância do papel das empresas nascentes na criação e difusão de inovação no setor produtivo é sugerida pela dificuldade encontradas pelas empresas já estabelecidas no desempenho desta tarefa, como visto anteriormente. Notadamente no que diz respeito ao investimento em inovações disruptivas, as empresas consolidadas apresentam grande resistência, tendo em vista os elevados níveis de investimento, risco e tempo de retorno a elas inerentes. Como visto, a estratégia de inserção de uma inovação disruptiva no mercado freqüentemente requer a exploração inicial de um nicho específico. Isso implica num volume de vendas tímido. Sob o ponto de vista de uma empresa consolidada, mais que tímido, o volume pode ser compreendido como irrisório a ponto de não justificar todo o investimento exigido na viabilização do produto em questão. Contudo, sob o prisma de uma empresa nascente, como demonstra Christensen (2000), o mesmo volume pode representar fator de grande motivação. Assim, duas alternativas podem ser formuladas no sentido de se tolerar as 81 dificuldades intrínsecas ao investimento em inovações disruptivas. A primeira, seria a mudança dos valores que norteiam o processo decisório das empresas consolidadas. Como visto em item anterior, não há dificuldade tecnológica que impeça estas empresas de promover inovações disruptivas; trata-se de questão cultural. A segunda alternativa é a criação de novas empresas. É neste contexto que se justifica a importância atribuída à criação das start-ups neste trabalho. Adicionalmente, quando o assunto em questão é financiamento e regulamentação em prol da inovação por agentes federais, trazer à tona a questão da criação de novas empresas tem sua relevância relacionada ao fato de que são as empresas já existentes aquelas que, em princípio, têm maior força para exercer influência sobre os atores em questão. Os investimentos na criação de novas empresas têm influência aparentemente indireta sobre a capacidade inovativa de um país, sobretudo se a analise tomar como base uma perspectiva de curto prazo. Contudo, um sistema nacional de inovação virtuoso, além de promover fundos e regulamentação favorável à capacidade inovativa do setor produtivo, tem como princípio a sustentabilidade e, portanto, o longo prazo. As estruturas de apoio à criação e desenvolvimento de start-ups será retomada mais adiante, em item específico. b) Os sistemas regionais de inovação Alguns paradoxos acompanham o fenômeno da globalização. Um deles consiste no fato de que, paralelamente ao impulso que ele exerce sobre a interdependência entre empresas de diferentes países, tem-se tornado também crescente a importância de fatores relacionados à localização e à territorialidade no processo de criação de vantagem competitiva das empresas e de desenvolvimento econômico regional. Nesse sentido, a conquista de competitividade na economia global está fortemente relacionada a aspectos locais e regionais, como o conhecimento, os relacionamentos e as motivações, cujo acesso por competidores distantes é freqüentemente difícil (Porter, 1990). A prosperidade de uma região é criada por fundamentos microeconômicos de competitividade, que é conquistada a partir da sofisticação da indústria. Como a conquista desta sofisticação depende do ambiente no qual a indústria está inserida, o foco para a prosperidade é o aperfeiçoamento da qualidade do ambiente de negócios da região. Sob a perspectiva da inovação como um fenômeno interativo, a interação entre empresas, 82 organizações e instituições caracteriza a maior ou menor qualidade deste ambiente. As diferentes regiões, portanto, passam a se distinguir entre si não exclusivamente pela presença de empresas e instituições, mas pela existência e qualidade de estratégias que possibilitem a melhoria da interação entre os diferentes atores da região com vistas à inovação. É neste contexto que está inserido o conceito de sistemas regionais de inovação. Resgatando os três componentes dos sistemas de inovação apontados anteriormente, nota-se que os sistemas regionais diferenciam-se dos nacionais em função da territorialidade. Assim, no componente organizacional, onde estão situadas as empresas, a territorialidade estimula a formação de clusters. E no componente institucional, além de proporcionar uma interatividade mais intensa em função dos laços de confiança estabelecidos no território, estimula a criação de estruturas como incubadoras e parques tecnológicos, que constituem por natureza ecossistemas de inovação e, por isso, podem desempenhar papel fundamental nos sistemas regionais. Assim, a diferença básica entre os sistemas regionais e os nacionais está situada no processo de aprendizagem proporcionado por cada um deles. Em função do componente território, os sistemas regionais têm vantagem sobre os nacionais no sentido de que podem proporcionar o compartilhamento de conhecimento tácito (Nonaka e Takeuchi, 1997), que requer interação direta, confiança, cumplicidade e outros elementos em que a distância geográfica pode ser fatal. Lundvall (1992) e Porter (1990) são grandes defensores desta potencialidade intrínseca à territorialidade. Contudo, esta vantagem pode facilmente tornar-se um ponto fraco se os componentes do sistema regional mantiverem sua rede de relações restritas ao território. Pesquisas ilustram esta assertiva ao apontar que as empresas confinadas a sua região tendem a caracterizar-se por menor nível de inovação em relação àquelas que mantem redes externas (Todling e Kauffmann, 2002). Por mais que o compartilhamento de conhecimento tácito seja importante ao processo de inovação, o conhecimento disponível dentro de uma determinada área geográfica tende a ser inferior às possibilidades existentes fora dela. Além disso, como chamam a atenção Todling e Kauffmann (2002), as regiões apresentam diferenças em termos de pré-condições para a inovação; elementos como qualidade da educação ou infra-estrutura de pesquisa, por exemplo, podem tornar algumas regiões superiores às outras em elementos particulares. A interatividade extra-regional pode tornar estas diferenças mais um elemento de aprendizagem. 83 Outro exemplo para ilustrar esta perspectiva pode ser obtido em Asheim e Isaksen (2002). Estes autores são explícitos ao relacionar a capacidade de pequenas e médias empresas para inovações disruptivas à existência de relações complementares àquelas que proporcionam o conhecimento informal e tácito. Para eles, a longo prazo, uma empresa não pode se sustentar apenas sobre a aprendizagem localizada, mas precisa ter acesso a conhecimentos mais universais, que podem ser acessados via interação, por exemplo, com o sistema nacional ou mesmo internacional de inovação. Assim, embora os sistemas em nível nacional ou internacional estejam mais restritos à aprendizagem baseada em conhecimento formal e explícito, talvez eles desempenhem papel decisivo na viabilização de inovações de natureza mais disruptiva. A natureza homogênea das relações freqüentemente estabelecidas nos sistemas regionais pode tornar-se mais favorável à inovação sustentada. Isso pode sugerir que o estabelecimento de contatos na rede seja em nível local ou regional quando o objetivo da interação exigir compartilhamento de conhecimento tácito e, em nível nacional ou internacional quando o objetivo puder ser alcançado por meio de compartilhamento de conhecimento formal ou explícito. Estas considerações apontam mais uma vez para a complementaridade entre os diferentes níveis de sistemas de inovação. Cooke (2002) aponta este caráter complementar baseado em outros elementos. Para ele, é importante ressaltar as diferentes vocações dos sistemas nacionais e regionais. Especificamente, a questão de funding para pesquisa e de venture capital aparecem com destaque como pontos fracos dos sistemas regionais, residindo aí um importante papel dos sistemas nacionais. Esta complementaridade de vocações e papéis pode, assim, ser somada aos diferentes tipos de aprendizagem proporcionados nos diferentes níveis da rede. Como acrescenta o próprio Cooke (2002), da constatação desta complementaridade pode-se sugerir o estabelecimento de redes horizontais e verticais como essenciais ao desenvolvimento da capacidade de inovação de uma empresa isoladamente, de um cluster, de uma instituição ou de toda uma região. Isto implica em, mais do que extrapolar a territorialidade, ultrapassar as barreiras dos setores, visando a variedade de conhecimentos necessária à viabilização da inovação, enquanto fenômeno multidisciplinar (Norway Ministry Of Trade And Industry, 2004). Esta abordagem respeita o princípio interativo da inovação; modelos de interação fechados à região poderiam caracterizar um retorno aos modelos baseados no conceito de inovação como um fenômeno linear. 84 c) O que ativa a rede de interação dos sistemas de inovação? Diretamente relacionado à eficácia dos sistemas regionais de inovação está o conceito de clusters. Porter (1998) enfatiza com veemência a importância deste elemento, que define como uma concentração geográfica de empresas e instituições de um determinado campo, interconectadas. O autor posiciona o cluster como responsável por oferecer vantagens competitivas chave em relação à integração vertical às empresas componentes. Embora isso possa sugerir superioridade do cluster em relação aos sistemas nacionais de inovação, a partir do que foi discutido em itens anteriores pode-se inferir que, indiretamente, cabe ao cluster papel essencial à eficácia não apenas dos sistemas regionais, mas também dos nacionais. Esta inferência torna-se possível porque, como visto, o bom funcionamento dos sistemas de inovação em nível nacional depende do desempenho daqueles atuantes em nível regional e vice-versa, uma vez que os componentes de ambos e respectivas vocações são complementares. Um desmembramento do conceito de clusters apresentado por Porter (1998; 2001) confrontado com os componentes dos sistemas de inovação indicados por Silva (2003) sugere que os clusters possam ser compreendidos, por si só, como sistemas regionais de inovação. A concentração geográfica de empresas e instituições garante ao conceito os componentes territorial, organizacional e institucional, tal como se espera de um sistema regional de inovação. Assim, aos exemplos de componentes do cluster destacados por Porter (1998) fornecedores de inputs especializados, tais como serviços, componentes e equipamentos, e provedores de infra-estrutura especializada – pode ser somada a existência de instituições como universidades, centros de pesquisas, agências de fomento, órgãos governamentais e associações empresariais. A tipificação de Cooke (1998) contribui para uma melhor compreensão em torno da evolução proporcionada pelos diferentes componentes dos sistemas regionais de inovação sobre seu desempenho. O primeiro tipo conceituado pelo autor não chega a ser considerado como um sistema, mas como uma rede regional de inovação, onde as empresas componentes baseiam 85 suas atividades de inovação sobre o processo de aprendizado proporcionado pela proximidade geográfica, cultural e social. Neste tipo, não há interações significativas com organizações de conhecimento. O segundo tipo já constitui o conceito usual de sistemas regionais de inovação. O que o difere do anterior é o reforço da infra-estrutura institucional, composta por institutos de pesquisa e desenvolvimento, organizações de treinamento técnico e profissional, dentre outras instituições locais cuja vocação contribua para o processo de inovação das empresas. Neste tipo, a cooperação não é estimulada apenas pela aglomeração, mas constitui um processo planejado de constituição de uma rede sistêmica, composta por outras organizações e instituições além das próprias empresas. Isto confere uma evolução conceitual em relação ao modelo anterior, por proporcionar uma abordagem mais endógena e interativa do processo de inovação. Por outro lado, o fato dos componentes deste tipo de sistema de inovação ser restrito à localidade, limita a capacidade para inovações mais vigorosas pelas empresas. A capacidade de aprendizagem diferenciada, sobretudo pelo compartilhamento de conhecimento tácito proporcionado pela aglomeração passa a constituir uma limitação. Um processo mais sistemático de geração de conhecimentos suplementares torna-se necessário para permitir às empresas posicionar-se no limiar da competitividade em nível global. Neste contexto está a importância do terceiro tipo de sistema regional de inovação apontado por Cooke (1998): o sistema nacional de inovação regionalizado. Este modelo é caracterizado pela integração funcional das empresas e instituições com os sistemas nacional e internacional de inovação, constituindo uma rede que abrange atores de fora da região. Assim, os provedores de conhecimento do cluster, por exemplo, podem ser advindos de fora do território específico em que ele está localizado. Isso proporciona acesso a conhecimentos mais universais, por um lado, mas dificulta o processo de inovação baseado no princípio da interatividade, em função da distância geográfica. Assim, as relações desta natureza estão mais baseadas em conhecimentos explícitos, diferentemente do modelo anterior, que tem no compartilhamento de conhecimento tácito um ponto forte de seu processo de aprendizagem. Como no processo de aprendizagem os dois conhecimentos são complementares e por isso relevantes, (Nonaka e Takeushi, 1997), os diferentes tipos de sistemas regionais de inovação caracterizados por Cooke (1998) podem ser apontados também como complementares, inclusive na capacidade das empresas componentes para a geração de inovações incrementais 86 e radicais, de caráter sustentado ou disruptivo. Os parágrafos a seguir permitem uma visualização de como isso ocorre nos clusters. De um modo geral, o sucesso de um cluster é avaliado em função da capacidade competitiva das empresas que o compõem. A contribuição do cluster ao incremento da competitividade destas empresas dá-se em função de uma série de vantagens (Tödtling e Kaufmann, 2002), tais como: suporte ao desenvolvimento de fornecedores locais especializados; geração de economias de escala; ampliação da disponibilidade e da flexibilidade do mercado de trabalho; disponibilidade de informação, eliminação de gargalos tecnológicos comuns, dentre vários outros. Adicionalmente, como já visto, em função dos processos de interação e networking intrínsecos ao cluster, facilitados pela proximidade física, ele proporciona ainda a seus integrantes maiores possibilidades para o aprendizado coletivo e para a conversão de conhecimento tácito em ações e benefícios concretos. Contudo, paralelamente às vantagens que clusters bem sucedidos proporcionam a seus integrantes, alguns aspectos desfavoráveis têm sido observados em várias experiências (IEDI, 2003; Cooke, 2002) e merecem ser considerados, dentre eles: tendência à localização de parcerias na própria região; cooperação externa, quando ocorre, especialmente centrada em clientes e fornecedores da própria cadeia produtiva; baixa freqüência de cooperação com parceiros externos focados na inovação; pequena cooperação com a academia e com outras cadeias produtivas; foco maior na solução de problemas do que na exploração de oportunidades; inflexibilidades geradas pelo excesso de especialização; poucos gastos em inovação e desenvolvimento de produtos; dificuldades de acesso a informações sobre produtos e tendências de mercado; carência de serviços técnicos e profissionais especializados. Alguns dos aspectos acima podem limitar a potencialidade do cluster para processos mais vigorosos de inovação, sobretudo aquelas de natureza disruptiva. A interação proporcionada pelos clusters contribui bastante para o processo de melhoria contínua, associado aos conceitos de inovação incremental e sustentada. A estes resultados está associado o compartilhamento de conhecimento tácito, viabilizado pelas relações de confiança, cooperação e interação freqüente estabelecidas no interior do cluster. No entanto, embora estas inovações sejam relevantes à manutenção da competitividade empresarial no mercado global, vantagens competitivas mais significativas exigem, cada vez mais, saltos de qualidade 87 associados a inovações de caráter disruptivo. E a ausência de relações externas à localidade do cluster limita o acesso a culturas, experiências e conseqüentemente, conhecimentos mais heterogêneos. Além disso, a ausência do componente institucional na rede do cluster, especialmente de instituições focadas na inovação, podem representar limitações às empresas no que tange a capacidade para inovações mais intensas e vigorosas. Algumas instituições que podem contribuir neste sentido são as universidades, centros de pesquisa, incubadoras, parques tecnológicos e centros de transferência de tecnologia. O papel das universidades e centros de pesquisa, bem como dos centros de transferência de tecnologia, relacionado à geração de conhecimento básico e à intermediação entre o ambiente acadêmico e o empresarial respectivamente, foi discutido anteriormente. Cabe ressaltar novamente a importância destas instituições na rede de interação do cluster, no sentido de ampliar o espectro de conhecimentos disponíveis aos processos inovativos. Como visto, apesar de não constituir uma vocação das empresas, a pesquisa básica é o elemento fundamental de inovações mais vigorosas, especialmente daquelas de caráter disruptivo. Por meio da interação com a ciência esta limitação pode ser ultrapassada pelas empresas componentes do cluster. A participação de incubadoras e parques tecnológicos na rede também pode contribuir nesta direção. No caso das incubadoras, o grau desta contribuição pode depender do conceito adotado. Segundo o Glossário ANPROTEC e SEBRAE (2002, pg 59), o termo incubadoras de empresas significa “(a) Agente nuclear do processo de geração e consolidação de micro e pequenas empresas; (b) mecanismo que estimula a criação e desenvolvimento de micro e pequenas empresas industriais ou de prestação de serviços, empresas de base tecnológica ou de manufaturas leves, por meio da formação complementar do empreendedor em seus aspectos técnicos e gerenciais; (c) agente facilitador do processo de empresariamento e inovação tecnológica para micro e pequenas empresas”. O terceiro conceito sinaliza uma visão das incubadoras como arranjos institucionais que visam apoiar novos empreendimentos cuja vantagem competitiva tenha na inovação um elemento de destaque. Este conceito pode abranger empresas de qualquer área do conhecimento e não apenas empresas das áreas tecnológicas, visto que a inovação constitui ingrediente essencial à competitividade de todo empreendimento no atual contexto. Assim, poder-se-ia afirmar que não há sentido uma incubadora desenvolver ações de apoio à criação, 88 consolidação e desenvolvimento de novas empresas sem a realização de ações sistemáticas voltadas à inovação. Neste contexto, dentre as principais contribuições das incubadoras de empresas ao desenvolvimento sócio-econômico de um país, estaria ao lado da geração de emprego e renda e do recolhimento de impostos, indicadores freqüentemente priorizados pelos modelos de avaliação de incubadoras (ANPROTEC, 2005), a ampliação da competitividade do setor produtivo como um todo, graças à maior disponibilidade de tecnologias inovadoras. Especificamente as incubadoras de empresas de base tecnológica, contemplam um rol de empresas dedicadas ao desenvolvimento de produtos e soluções aptas a promover a competitividade de seus clientes por meio da inovação. Por esta razão, as atividades de P&D são intrínsecas a estas empresas. Além disso, a proximidade da relação das incubadoras com Instituições de ensino e pesquisa, agrega ainda como valor o acesso facilitado às pesquisas científicas, berço da inovação. No Brasil, por exemplo, 72 % das incubadoras possuem vínculo formal com Iep’s, segundo o Panorama ANPROTEC 2005 (ANPROTEC, 2005). Finalmente, pode-se considerar também a vocação das empresas nascentes para inovações disruptivas, conforme visto em item anterior. Ao incentivar e fortalecer o processo de geração de novas empresas, e especialmente ao fomentar a inovação como estratégia competitiva destes empreendimentos nascentes, as incubadoras reforçam sua condição de ambiente potencializador da capacidade inovativa de um país. Contudo, o movimento de incubadora enfrenta alguns desafios, que podem ser caracterizados, dentro de uma perspectiva mais determinista, como limitações. Sua capacidade para promover a comercialização das empresas incubadas é um destes desafios. Mas a articulação de processos eficazes para potencializar as vendas das incubadas é ainda um gargalo. Dois motivos podem ser associados a este fenômeno. O primeiro corresponde à dificuldade natural, já discutida em itens anteriores, para a penetração de mercado por produtos inovadores (que supostamente é o caso das empresas incubadas, segundo conceito discutido anteriormente). O segundo diz respeito ao porte e estágio destas empresas, que pode gerar insegurança nos clientes, sobretudo quando o produto adquirido propuser uma ruptura em processos ou até mesmo em estratégias vigentes. A rede de relacionamento da incubadora é acionada no sentido de ultrapassar estas barreiras para a geração dos primeiros “cases” das empresas nascentes, com vistas à geração de referências que proporcionem maior confiabilidade aos clientes. 89 A associação deste desafio configurado às incubadoras, com as limitações apontadas anteriormente aos clusters no que tange o desenvolvimento de sua capacidade inovativa, pode sugerir que uma parceria entre estes dois instrumentos seja bem sucedida para efeito de desenvolvimento regional (Fallgatter, 2005). Ao mesmo tempo em que as incubadoras podem ser propulsoras da capacidade inovativa das empresas componentes do cluster, utilizando-se das relações de confiança estabelecidas a partir das interações freqüentes proporcionadas pela aglomeração, os clusters podem constituir nichos de comercialização dos produtos e serviços desenvolvidos pelas empresas incubadas. Não obstante, estes dois instrumentos não têm caminhado em parceria no Brasil, embora ambos tenham seu espaço na Política Industrial, de Tecnologia e de Comércio Exterior (PITCE) do governo federal. Especificamente no caso dos clusters, cujo termo foi adaptado para arranjos produtivos locais, ou APL’s (Sebrae, 2005) desde 2004 vêm ocupando espaço estratégico não apenas nas políticas governamentais, mas também nas ações das instituições privadas de apoio ao desenvolvimento empresarial. A PITCE tem como objetivo a elevação da capacidade competitiva no mercado nacional e internacional das micro e pequenas empresas inseridas nos APLs, por meio de inovações gerenciais e tecnológicas. Ou seja, os APL’s são o canal por meio do qual as ações são implementadas no setor produtivo. E no caso das incubadoras, os números referentes à evolução do movimento no Brasil demonstram sua credibilidade junto ao governo federal e a instituições privadas de apoio às empresas, visto que FINEP, CNPq e SEBRAE são apontados como importantes órgãos financiadores (ANPROTEC, 2005). Das duas primeiras incubadoras implantadas em 1988, o movimento saltou para 299 em 2004. A APROTEC – Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas, que congrega incubadoras e parques tecnológicos em operação e em implantação em todo o Brasil, tem demonstrado que, por parte destas instituições, existe sensibilidade para a importância de atuação conjunta com os APL’s. Isso pode ser ilustrado pelo fato de o XIV Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas ter tido como um dos temas chave exatamente a relação entre os APL’s e as incubadoras (ANPROTEC, 2003). Contudo, o mesmo não acontece na direção oposta. Isto é, não se visualiza projetos de APL’s que tenham nas incubadoras um instrumento relevante na promoção de sua capacidade 90 competitiva por meio da inovação. Este talvez seja um fator que dificulte o desenvolvimento das parcerias, que para serem genuínas, precisam ser consideradas estratégicas e prioritárias pelas duas partes. Conforme visto anteriormente, os APL’s constituem um ícone de referência na Política Industrial, de Tecnologia e de Comércio Exterior (PITCE) do governo federal. E as incubadoras são reconhecidas como ambiente de inovação relevante no contexto desta política, o que pode ser comprovado pela existência do Programa Nacional de Apoio à Incubadoras – PNI, um dos Programas de Apoio às Empresas do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT, 2005), pelo espaço por elas ocupado na Lei da Inovação (lei 10973, de 02 de dezembro de 2004) e pelos vários editais de apoio a incubadoras lançados pela FINEP e CNPq, na qualidade de agências de fomento do governo federal (FINEP, 2005; CNPq, 2005). Apesar disso, não existem editais do CNPq ou da FINEP que proponham projetos conjuntos entre incubadoras e APL’s (finep, 2005; cnpq, 2005). Existe uma série de editais dirigidos a cada um dos dois conjuntos de instituições em separado, mas em nenhum momento os dois conceitos se encontram numa mesma chamada de projetos. Vale observar que, ao mesmo tempo em que as incubadoras são reconhecidas como ambientes de inovação, editais que apresentam como objetivo a modernização dos APL’s com vistas ao incremento de sua competitividade, sequer sugerem o estabelecimento de parcerias entre ambos. Uma possível explicação para isso pode estar no fato de que, na estrutura do MCT, os APL’s e incubadoras são tratados por secretarias distintas. Os APL’s, estão sob a responsabilidade da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social. E as incubadoras, são desenvolvidas no contexto da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, como pode ser visualizado no organograma do MCT (MCT, 2005). Esta fragmentação oriunda da estrutura burocrática do ministério pode dificultar a visualização dos pontos de convergência entre os dois grupos de instituição e as possibilidades de projetos cooperados. Entretanto, não é apenas no governo que esta problemática está presente. No contexto das instituições privadas de apoio ao desenvolvimento empresarial, podem ser encontrados exemplos similares, como é o caso do SEBRAE. 91 Dentre as prioridades desta instituição para o período de 2003 – 2005 estão: “atuar em ações coletivas e priorizar arranjos produtivos” e “promover acesso à tecnologia e estimular inovação”, sendo que neste segundo é explicitada a intenção em “promover o desenvolvimento e a consolidação de incubadoras, além de parques tecnológicos, universidades e centros de pesquisa para a solução das demandas dos pequenos empreendimentos quanto à atualização tecnológica e inovação.” (SEBRAE, 2005). Contudo, uma análise da Metodologia de Desenvolvimento dos APL’s (Caporali e Volker, 2004) adotada pelo SEBRAE, sugere o baixo nível de sintonia com o programa de apoio a incubadoras da instituição. Por exemplo, para fortalecer os APL’s, o SEBRAE incentiva a participação de ONG’s, sindicatos, cooperativas e associações empresariais. Incubadoras não são citadas dentre as instituições consideradas relevantes para a rede de parcerias dos APL’s. A metodologia de desenvolvimento, está estruturada sobre três eixos: Desenvolvimento Empresarial e Organização da Produção; Informações e Acesso a Mercado; e Dinâmica de Distrito. No eixo Dinâmica de Distrito são trabalhados os fundamentos de natureza interativa relativos ao processo de desenvolvimento de cada setor em questão. Isso demonstra que a metodologia reconhece na interatividade um aspecto relevante. Adicionalmente, vale observar que este eixo contempla o desenvolvimento da componente institucional, discutida anteriormente em Silva (2003) como parte essencial a um sistema de inovação. Dentre as instituições citadas na metodologia, aquela que mais diretamente remete à questão da capacidade inovativa do APL são os Centros Tecnológicos, apontados como alternativa à dificuldade das micro e pequenas empresas para manterem estruturas próprias de P&D. Mas as incubadoras permanecem ausentes. Nos outros eixos, tampouco elas são citadas. A respeito destes dois eixos, vale destacar o foco da metodologia nos programas do próprio Sebrae como atividades elencadas para as propostas ao desenvolvimento dos APL’s. Assim, embora o eixo Dinâmica de Distrito tenha apontado o reconhecimento da interatividade, este foco nos programas internos pode caracterizar, por outro lado, uma tendência a uma estratégia endógena por parte da instituição. A formulação de alternativas para parcerias entre incubadoras e APL’s pode utilizar-se do modelo da tripla hélice. As incubadoras podem ser vistas como elemento integrador entre as três hélices – indústria, academia e governo. A história do movimento de incubadoras no Brasil favorece esta alternativa, dada a força da relação que estas instituições mantém 92 naturalmente com estes três atores. De sua relação com a academia, as incubadoras possuem o conhecimento científico, base da inovação. Da relação com a indústria, a demanda, as potencialidades de mercado, a possibilidade de aplicação do conhecimento científico e da consolidação do ciclo de inovação. Da interação com o governo, a compreensão das políticas públicas pertinentes à promoção do desenvolvimento tecnológico. Juntando os “recursos” que obtém a partir destas interações, as incubadoras podem oferecer à sociedade produtos e serviços de alto valor agregado, capaz de incrementar a competitividade da indústria e desta maneira contribuir para o desenvolvimento sócio-econômico da região. Do ponto de vista prático, a relação das incubadoras com os clusters pode se dar por meio de dois caminhos. Primeiramente, a incubadora como solucionadora de problemas e gargalos tecnológicos identificados no cluster. Esta constitui uma estratégia centrada na inovação sob a perspectiva incremental, uma vez que, na busca pela solução de problemas, freqüentemente os projetos de inovação visam o curto prazo e o baixo risco. Nestas circunstâncias, raramente é desenvolvida uma inovação de maior porte. O segundo caminho consiste na criação de estruturas, junto às incubadoras, focadas na identificação de potencialidades de mercado não exploradas e, em paralelo, no estímulo ao desenvolvimento de pesquisas científicas (focadas na construção do conhecimento básico) e na criação de empresas (focadas na transformação do conhecimento básico em tecnologia). Estas estruturas podem ser centros de transferência de tecnologia, com grande potencialidade para alavancar os processos inovativos dos clusters a longo prazo. O papel das associações empresariais e outras instituições privadas focadas no apoio ao desenvolvimento das empresas também pode ser lembrado aqui. Pesquisas demonstram que instituições desta natureza aparecem com destaque na lista de atores considerados mais importantes pelas empresas em sua rede de relacionamentos externos (CNI e FINEP, 2002). Não apenas consideradas mais importantes, estas instituições são de fato aquelas que apresentam maior interação com as empresas. Assim, elas podem estimular, impulsionar e dar escala ao processo de relacionamento entre as empresas e atores externos com potencialidade para incrementar sua capacidade inovativa, como é o caso das incubadoras e centros de transferência de tecnologia, abordados anteriormente. Seguindo esta linha para a visualização de um modelo conceitual de um entorno favorável ao desenvolvimento regional baseado no estímulo à capacidade inovativa das empresas, a figura 93 dos parques tecnológicos também surge como instrumento com potencialidade para promover a integração de diferentes atores. Na realidade, as incubadoras e centros de transferência de tecnologia apontados anteriormente, são apenas uma parcela dos instrumentos contemplados nos parques, embora com papel bastante específico no apoio à geração de empresas inovadoras e na promoção da interação universidade empresa, respectivamente. Adicionalmente, a presença de associações empresariais e outras instituições privadas de fomento empresarial, também apontadas, de centros de pesquisa, laboratórios das universidade, empresas de base tecnológica já estabelecidas, centros de P&D de empresas externas, agentes de fomento e empresas de serviços de alto valor agregado, como consultoria empresarial, jurídica e tecnológica, contribuem para configurar os parques, por si só, como sistemas regionais de inovação. Esta analogia foi feita anteriormente para as incubadoras, com base em Silva (2003). Contudo, vale observar que tanto no componente organizacional, quanto institucional e territorial, a configuração do parque torna-o mais completo que a da incubadora. No que diz respeito ao componente organizacional, a variedade de empresas é maior, visto que estão presente empresas start-ups e spin-offs (por meio das incubadoras) empresas de serviços de alto valor agregado, empresas de setores tradicionais (por meio de seus centros deP&D) e empresas de base tecnológica, além das associações empresariais. No componente institucional, tem-se a presença de agências de fomento, órgãos de governo relacionados à ciência e tecnologia, universidades, instituições financeiras, dentre outros. E o componente territorial completa a densidade dos parques em relação às incubadoras, uma vez que, via de regra, os atores acima não fazem apenas parte de uma rede virtual estabelecida pelo parque. Estão fisicamente integrados, num aglomerado que permite caracterizar os parques tecnológicos como ecossistemas de inovação. Conforme ressalta Annerstedt e Haselmayer (2004), os parques tecnológicos estão sendo tornando-se, cada vez mais, partes integrantes de um cluster urbano ao invés de atuarem como entidades independentes. Alguns dos parques tecnológicos existentes no Brasil são classificados por Annerstedt e Haselmayer (2004) como sendo de “Primeira Geração”. Essa geração teve início na década de 60, inspirada nos modelos da Universidade de Stanford e das Universidades americanas. A primeira geração é uma extensão da universidade, que inclui incubadora de empresas para start-up’s, serviços para empresas e interação com tecnologias baseadas em pesquisa. A 94 filosofia de inovação é science push. Estes parques são deliberadamente separados do contexto urbano e localizados em uma zona projetada especificamente para este fim. Os parques de Segunda Geração, ainda segundo Annerstedt e Haselmayer (2004), permanecem como uma extensão da universidade (ou institutos de pesquisa). No entanto, a energia decisiva vem dos negócios, interessados na criação e crescimento de empresas baseadas em inovação. Os gestores do parque oferecem um mix de serviços e estruturas de alta qualidade. Estes parques são “market pull” e por isso não estão muito preocupados com a exploração inicial de resultados científicos, mas sim com os estágios finais do processo de inovação. Da mesma forma que os anteriores, a terceira geração de parques é uma instituição gerida por profissionais especialistas em apoio à inovação. O objetivo é ampliar a riqueza da comunidade na qual o parque está instalado através da promoção, de diversas formas, da interação governo-indústria-ciência. Este tipo de parque oferece um conjunto mais completo de serviços relacionados à inovação. Uma diferença chave desta geração de parque é a sua natureza urbana, a qual integra o parque a uma ampla faixa de atividades sócio-econômicas e culturais. A filosofia de um parque de terceira geração é “inovação interativa orientada para o cluster”. É ao mesmo tempo science push e market pull. Um aspecto a ressaltar em relação à terceira geração é que o parque deixa de basear-se no modelo linear de geração da inovação, para fazer uso mais efetivo das redes de comunicações nas relações governo-indústria-ciência. Nesta direção, Lacave e Iori (2004) afirmam que nos anos 80, quando os parques começaram a se multiplicar, existia um grande debate para distinguir business park, office parks, science parks, technology parks, technopoles, researrch parks, incubators, innovation centres etc. A abordagem tendia a ser fragmentada, correspondendo a uma idéia de que a inovação era um processo linear e que os diferentes tipos de produtos tinham que ser propostos em diferentes estágios do processo empreendedor (inovador): incubadoras e parques de pesquisa nos estágios iniciais, depois parques científicos etc. até os business e office parks, os quais eram projetados para negócios bem estabelecidos. Atualmente, a idéia é que os parques devem atender, ao mesmo tempo, empresas inovadoras e baseadas em conhecimento (start-up, spin-off, PME’s ou grande empresa) e laboratórios de pesquisa. Este atendimento é feito a partir da oferta de uma grande variedade de serviços, os 95 quais são oferecidos por uma grande quantidade de organizações, integradas em rede, com o objetivo global de ampliar a competitividade das empresas. A importância de elementos como incubadoras e parques tecnológicos à capacidade inovativa das empresas é reconhecida pelo governo, ao qual cabe, então, o estabelecimento de uma política favorável e de regulamentação com ela congruente. Adicionalmente, a alocação de recursos para o apoio ao financiamento das atividades destinadas à inovação pode contribuir sobremaneira para o incremento da taxa de inovação no setor produtivo, como pode ser visto nos números apresentados pelos países desenvolvidos (ONUDI, 2002, CNI, 2001). Os números demonstram também peculiaridades inerentes aos diferentes portes e setores das empresas, sugerindo a necessidade de programas específicos a diferentes grupos. No Brasil, a Lei no. 10.973, de 02 de dezembro de 2004, cujo objeto é a apresentação de medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à capacitação e ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento industrial do País, aponta as incubadoras e parques tecnológicos como ambientes de inovação. Assim, esta lei, que vem dar sustentação à Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior do país, pretende viabilizar mecanismos de desenvolvimento tecnológico baseados na facilitação da relação entre empresas e instituições de pesquisa, e sugere que incubadoras e parques sejam instrumentos úteis neste sentido, em consonância com o que foi desenvolvido nos parágrafos anteriores. Esta Lei, denominada Lei da Inovação, contempla vários mecanismos que vêm ao encontro de conceitos e problemáticas discutidas no âmbito deste trabalho. Neste sentido, alguns aspectos merecem destaque. Primeiramente, vale notar o conceito de inovação apresentado - “introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou serviços”. Uma análise realizada pela ANPEI (2005) observa que este conceito exclui as melhorias, ou seja, aquelas ações realizadas sobre processos, produtos e serviços que visam seu aperfeiçoamento, mas que não necessariamente resultem em algo efetivamente novo. Assim, aparentemente a lei descarta de seu espectro de interesse as inovações de natureza incremental. Por um lado, esta restrição pode ser interpretada como sensibilidade e percepção do governo quanto à relevância de se fomentar e apoiar as inovações mais vigorosas. Como elas exigem maiores volumes de investimento, envolvem maior risco e seus resultados 96 (quando se concretizam) podem ser percebidos apenas no médio a longo prazo, os investimentos espontâneos pelas empresas são raros. Esta problemática foi discutida em itens anteriores. Portanto, o foco da lei em criar mecanismos que pressionem as empresas a investirem em inovações desta natureza é uma oportunidade para o desenvolvimento tecnológico do país. Os investimentos em melhorias, que freqüentemente estão associadas a uma estratégia reativa por parte das empresas, predominam nos esforços de inovação atualmente realizados (ANPEI, 2004, Fallgatter 2004). Assim, já acontecem, de modo que uma interpretação pode ser no sentido de não ser justificável a implantação de estruturas adicionais de fomento e apoio neste sentido. Por outro lado, esta restrição da lei pode ser interpretada de maneira negativa, como foi o caso da análise da ANPEI, visto que as inovações incrementais apresentam importância significativa ao incremento sistemático da competitividade das empresas. Mesmo no que diz respeito às inovações mais vigorosas, Christhensen (2000) demonstrou que sua difusão requer um conjunto de melhorias que a tornem mais amigável. Assim, o incrementalismo não seria descartável, mas complementar a estratégias focadas em inovações disruptivas ou simplesmente radicais. Outro ponto a destacar na lei diz respeito a sua preocupação em eliminar os impedimentos para que a universidade explore o resultado da pesquisa científica. Os mecanismos criados contribuem para transpor um importante gargalo do desenvolvimento tecnológico do país, uma vez que incentivam as universidades a levarem conhecimento e tecnologia às empresas. Contudo, a lei não conseguirá atuar sobre os aspectos de natureza cultural e ideológica que influenciam esta problemática. De fato, a interação universidade – empresa aquém de sua potencialidade, em parte ocorria, no Brasil, pela ausência de instrumentos legais que a amparasse. Mas há também o fator cultural, já discutido, que não está sob a alçada legal e, portanto, pelo menos a curto prazo, não será transposto pela lei. De qualquer maneira, resultados positivos gerados por projetos de cooperação com o setor empresarial, que impliquem ganhos de diferente naturezas às universidades, podem, a médio e longo prazo, contribuir para a renovação dos valores que sustentam a cultura atualmente em vigor. A interação universidade-empresa não é incentivada apenas pela eliminação de barreiras legais anteriormente existentes quanto à exploração das estruturas e resultados da pesquisa científica. A lei contempla mecanismos que atuam na direção contrária, ou seja, que incentivam as empresas a buscarem o conhecimento científico construído nas universidades. O incentivo ocorre de duas formas: propondo benefícios a projetos de desenvolvimento 97 científico e tecnológico que envolvam cooperação com universidades e fomentando, por meio de subvenções de até cinqüenta por cento do valor da remuneração, a contratação de pesquisadores titulados como mestres ou doutores para atuarem em projetos de inovação tecnológica dentro das empresas. Estas medidas fomentam que as estratégias de inovação das empresas façam uso de estruturas instaladas em atores das redes externas (no caso, as universidades), mas simultaneamente criem estruturas internas de pesquisa. Empresas com programas estruturados de gestão estratégica da tecnologia costumam adotar esta prática. Nos Estados Unidos, por exemplo, verifica-se que as ações de P&D pelas empresas, são realizadas em parte internamente e, em parte, terceirizadas (Vasconcelos et al, 2005). No Brasil, estudos demonstram que a inovação ainda é tratada como um fenômeno endógeno. Assim, as empresas apostam apenas na sua própria estrutura como instrumento de sustentação das atividades de P&D, embora em alguns setores, como de papel e celulose, madeira, máquinas e materiais elétricos e químicas, a parceria com terceiros seja utilizada com intensidade; nas empresas de álcool, por exemplo, a opção é pela aquisição de tecnologia já desenvolvida por terceiros (CNI e FINEP, 2002). Mas o desenvolvimento isolado ainda é a regra, e a lei da inovação poderá contribuir para modificar este cenário. Contudo, um fator que poderá influenciar este resultado é a capacidade de relacionamento entre empresas e universidades. Organizações de naturezas distintas, empresas e universidades podem encontrar nas suas diferenças uma barreira para uma relação bem sucedida. Estas questões já foram discutidas anteriormente e merecem um reforço neste momento, pois a importância de se encontrar mecanismos que viabilizem uma interação eficaz entre estas duas partes pode ter importância decisiva sobre as potencialidades abertas pela Lei da Inovação. Finalmente, a lei atua no sentido de fortalecer os incentivos financeiros à inovação. Ela apresenta alternativas que podem ser categorizadas em dois grandes grupos. O primeiro corresponde à disponibilização de recursos por meio de subvenção, financiamento ou participação societária. Este grupo vem compensar a falta de vocação do sistema financeiro tradicional para assimilar o risco e o tempo inerentes aos investimentos para fins inovativos. O segundo, corresponde a incentivos fiscais para empresas que realizam atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Estes dois grupos de medidas têm significado de destaque ao se considerar que, dentre as dificuldades enfrentadas pelas empresas para desenvolver estratégias de desenvolvimento tecnológico, a principal é a questão do 98 financiamento. O relatório de CNI e FINEP (2001) destaca que, para a concretização de seus projetos de investimento, as empresas brasileiras dependem de maneira crítica da disponibilidade de recursos próprios, o que é ainda mais complexo quando se trata de investimento em novas tecnologias, em razão do maior risco e do elevado período de maturação envolvido. Assim, ao criar instrumentos que possibilitem o aumento dos investimentos pelas empresas em P&D&I, a lei contribui para o desenvolvimento tecnológico do país. Quanto ao primeiro grupo, convém salientar que a concessão de recursos fica vinculada a orçamento e um conjunto de decisões que podem comprometer sua regularidade a médio e longo prazo. Trata-se de aspecto crítico, visto que projetos de inovação tecnológica freqüentemente fazem parte de estratégias de longo prazo das empresas. Salvo em projetos de inovação incremental, as fases de pesquisa e desenvolvimento via de regra envolvem um horizonte de tempo mais abrangente. Assim, a instabilidade quanto à disponibilização de recursos governamentais de fomento à inovação pode gerar restrições quanto ao interesse das empresas em relação a estes benefícios da lei. O interesse pode ser ainda menor naquelas empresas que não consideram a inovação dentre seus fatores críticos de sucesso e não a incorporam como prioridade na formulação das estratégias. Como o acesso a estes recursos pelas empresas requer a elaboração de projetos específicos, possivelmente empresas que não atribuam valor estratégico a inovação não irão submeter projetos aos órgãos competentes e, conseqüentemente, não usufruirão dos recursos. Por outro lado, para o caso daquelas que o fizerem, a agilidade do processo de obtenção e utilização dos recursos, pode também ser crítica à efetividade dos fundos de recursos para subvenção econômica. Entende-se aqui que esta efetividade está relacionada à capacidade para envolver uma variedade de empresas, de diferentes setores, portes e localizadas em diferentes regiões, visto que na essência da inovação como instrumento de desenvolvimento sócio-econômico está a difusão. Quanto ao segundo grupo – os incentivos fiscais, a lei 11.196, de 21 de novembro de 2005, apresenta um conjunto de mecanismos por meio do qual dispêndios em P, D &I podem ser aplicados na redução do Imposto de Renda e da CSLL. De fato, as possibilidades apresentadas constituem um estímulo ao investimento em pesquisa, desenvolvimento e projetos de inovação de um modo geral pelas empresas. Contudo, o universo de empresas que podem ser beneficiadas pelos mecanismos criados é pequeno, porque apenas podem usufruir dos incentivos aquelas empresas que optam pelo lucro real. Além disso, é preciso que a 99 empresa apresente lucro ao final do exercício em que foram realizadas as despesas para usufruir dos incentivos. Assim, todo o universo de empresas não lucrativas que optam pelo lucro presumido, ficam excluídas do benefício. Ou seja, para as empresas de micro, pequeno e médio porte, a lei não representa uma conquista no que diz respeito a incentivos fiscais para projetos de inovação. O universo beneficiado fica, assim, restrito às grandes empresas lucrativas, que historicamente já são aquelas que mais investem em P&D (ANPEI, 2004). Para estas empresas, um avanço foi a eliminação da exigência de apresentação prévia de Programa de Desenvolvimento Tecnológico Industrial/Agropecuário (PDTI/PDTA), medida que tende a tornar menos burocrático e, portanto, mais atrativo o processo de acesso aos benefícios. Para efeito de ilustração, no período de 2000 a 2003 os PDTI e PDTA foram responsáveis por 0,7% dos dispêndios em P&D no Brasil. Isto demonstra o quanto restrito ou pouco atrativo tem se demonstrado este incentivo às empresas. O panorama pode mudar com alguns dos avanços conquistados com a nova lei, mas de fato o universo de empresas que podem usufruir dos incentivos permanece restrito. Assim, as redes externas que constituem o entorno da inovação contemplam uma variedade de atores, com características distintas, porém complementares. Ocorre que as diferenças dificultam o processo de interação, que não acontece espontaneamente. Desta forma, estas redes precisam ser “ativadas” para que sua potencialidade possa gerar resultados concretos à sociedade. Identificar a qual (ou a quais) atores cabe o papel de ativá-las, e por meio de quais mecanismos, ainda é um desafio. O governo atua no sentido de criar regulamentações que proporcionem um ambiente favorável às interações que resultam em inovação, mas não tem o dinamismo e a flexibilidade necessários para assumir o papel de catalizador do processo. A interação entre as universidades e as empresas também enfrenta algumas barreiras. O tempo e o compromisso com resultado podem ser apontados como uma delas. No ambiente acadêmico, as pesquisas não têm compromisso com estes elementos, ao passo que no ambiente empresarial, eles são cruciais. Isso dificulta a relação entre os dois atores. Adicionalmente, existem os aspectos culturais que, no lado da universidade, ainda alimentam o questionamento quanto à consistência entre atividades de cooperação com as empresas e os objetivos primeiros da ciência. Pelo lado da empresa, a crença na auto-suficiência prende-as numa estratégia de gestão endógena. 100 O estímulo a mecanismos de cooperação entre empresas, como é o caso dos APL’s, têm contribuído para mudar esta postura. Contudo, nota-se que as interações que têm sido promovidas em torno dos APL’s não privilegiam atores com grande potencialidade para a intensificação da capacidade inovativa das empresas. Foi visto que instituições como centros de transferência de tecnologia, incubadoras e parques tecnológico apresentam vocação para promover interações proveitosas focadas exatamente na inovação. Mas estas são instituições relativamente jovens no Brasil, que ainda não estão disseminadas, acessíveis, nem mesmo compreendidas por parte significativa das empresas. As instituições privadas de apoio ao desenvolvimento empresarial aparecem como aquelas que as empresas consideram mais importantes em suas relações externas; isso pode justificar o fato de ser com instituições desta natureza que se dá a maior freqüência de interações por parte das empresas. Algumas destas instituições, como é o caso de SENAI e SEBRAE, têm demonstrado sensibilidade para questões discutidas neste trabalho, tais como a importância da inovação à competitividade, o papel do conhecimento à capacidade inovativa, contribuição da geração de novas empresas inovadoras ao desenvolvimento sócio-econômico. Neste sentido, estas instituições têm criado programas de capacitação, estruturas de pesquisa e até mesmo incubadoras de empresas. Assim, contribuem para apresentar às empresas com que interagem, mecanismos de cooperação e estruturas externas aptas a contribuir para sua capacidade inovativa. Contudo, percebe-se que elas têm criado ecossistemas próprios – suas próprias incubadoras, seus próprios programas de capacitação, seus próprios laboratórios e linhas de pesquisa. Para ilustrar, o SEBRAE, por exemplo, estrutura sua Metodologia para o Desenvolvimento de APL’s em torno de seus próprios programas. Estratégias como esta podem restringir o universo de possibilidades existentes, caso as empresas passem a orbitar apenas em torno das estratégias e estruturas da instituição com a qual interagem. Mais especificamente, isso pode restringir o universo de conhecimento disponível, que as empresas poderiam utilizar para ampliar sua capacidade de inovação. Adicionalmente, esta estratégia pode implicar na criação de estruturas redundantes numa mesma região, dificultando a otimização de recursos. De qualquer maneira, o fato de introduzirem as empresas em redes de cooperação para a inovação, ainda que estas redes possam ser consideradas, de certa forma, endógenas a estas instituições, tem valor na transformação da cultura de isolamento e autosuficiência por parte das empresas. 101 Concluindo, a interação entre atores com naturezas tão distintas como aqueles que compõem o entorno da inovação é complexa. Como, em princípio, nem as empresas, nem as universidades e tampouco o governo, precisam destas interações para sobreviver a curto prazo, cada uma delas pode optar por traçar estratégias baseadas nas possibilidades de sua própria estrutura. Esta opção por um lado lhes conferiria autonomia, mas por outro, limitaria a potencialidade de cada um dos três grupos de atores e, conseqüentemente, inibiria o desenvolvimento sócio-econômico do país. Talvez atores que tivessem como fator crítico de sucesso a ativação destas redes de relações poderiam apresentar dedicação mais intensa neste sentido. Isto poderia ter uma conotação um tanto quanto burocrática em curto prazo. Mas, por outro lado, a indução de casos de sucesso poderia gerar efeito demonstração que incentivasse nova experiência e provocasse uma sistematização de relacionamentos até então esporádicos. Pesquisas demonstram que após participarem de uma experiência bem sucedida de parceria para a inovação, as empresas passam a desenvolver atividades inovativas e em parceria com maior freqüência e sistematicamente (Tödling e Kaufmann, 2002). A instituição com perfil mais adequado para o desempenho deste papel pode variar de uma região para outra. Como visto, pode ser uma associação de empresas, um APL, uma instituição privada de suporte empresarial, uma incubadora, uma agência de inovação, um parque tecnológico. O desafio consiste em explorar ao máximo o espectro de possibilidades que os vários atores, em conjunto, abrem a projetos cooperados de inovação. Redes fechadas em subsistemas já estabelecidos mantém a abordagem da inovação como um fenômeno linear e endógeno, conceitualmente ultrapassado (Tödling e Kauffmann, 2002). 102 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 3.1 Delimitação da Pesquisa A pesquisa está limitada às empresas dos setores Têxtil do município de Blumenau. 3.2 A escolha do setor Um dos setores mais fortes da região em geral e da cidade de Blumenau, em particular, é o têxtil, por isso a escolha. Só as empresas têxteis respondem por 17,73% dos empregos do município, 23% do faturamento e 50% das exportações do Estado de Santa Catarina. Comparados com os mesmos indicadores em nível estadual, estes números mostram que o pólo de Blumenau está à frente dos demais pólos têxteis do Estado no que tange a volume de exportações, o que sugere a força de seu diferencial competitivo em relação a parâmetros internacionais. Contudo, um corte longitudinal indica uma evolução negativa destes números. Entre 1990 e 2002, houve um decréscimo de 60,14% no faturamento, 42,88% nas exportações e 30,44% nos níveis de emprego. Portanto, o movimento dos números do setor sugere uma perda de competitividade – e de espaço – por parte da indústria têxtil blumenauense. Extrapolando-se a análise para o cenário mundial, é essencial observar a ascensão da China, que detém 30% do mercado mundial do setor (contra 0,9% do Brasil). Evidentemente, fatores como a estabilidade da moeda, que permite uma visão de longo prazo na exportação, os salários e respectivos custos sociais mais baixos e carga tributária inferior, influenciam nesta posição da China. Contudo, é importante notar que os chineses são compradores de 75% do mercado mundial de máquinas têxteis. Portanto, o fator tecnológico pode estar influenciando na competitividade da indústria chinesa. Um estudo realizado pelo IPEA corrobora este pressuposto. A pesquisa, realizada junto a 72.000 indústrias com mais de dez funcionários, concluiu que os resultados pertinentes à exportação (fator estratégico tanto ao crescimento das empresas quanto ao desenvolvimento econômico das regiões) são diretamente influenciados pela taxa de inovação de uma empresa. Dentre as empresas pesquisadas, o grupo classificado como não inovador (composto por 55.000 empresas) é também aquele que apresenta o pior resultado quanto à exportação. Em 103 contrapartida, como já visto, as empresas inovadoras conseguem preços de venda melhores na exportação, faturam mais e pagam salários maiores do que suas concorrentes pouco inovadoras. Portanto, um estudo quanto às estratégias, estruturas e relações mantidas pelas empresas do setor em prol da inovação pode contribuir para a identificação de fatores relevantes à recuperação de sua competitividade. 3.3 Categorias de Análise Para atendimento dos objetivos propostos, o estudo contempla as seguintes categorias de análise: • Premissas estratégicas da empresa quanto à inovação como fator de competitividade. • Práticas de formulação estratégica na empresa. • Tipo, freqüência, e resultados das relações estabelecidas com universidades, focadas na implantação de estratégias e ações de inovação. • Tipo, freqüência, e resultados das relações estabelecidas com o governo federal, estadual e municipal, focadas na implantação de estratégias e ações de inovação. • Tipo, freqüência, e resultados das relações estabelecidas com agências de fomento, focadas na implantação de estratégias e ações de inovação. • Tipo, freqüência, e resultados das relações estabelecidas com instituições privadas de apoio ao desenvolvimento empresarial, focadas na implantação de estratégias e ações de inovação. • Complementaridade das relações estabelecidas e dos resultados atingidos a partir das interações entre estratégias internas das empresas e as redes externas que compõem o entorno da inovação. 3.4 Da Amostra Tendo em vista as particularidades relativas ao porte da indústria têxtil, foram considerados três universos distintos, ou seja, Pequeno, Médio e Grande porte. 104 Nesse contexto, para a elaboração do plano amostra, utilizou-se o método de Amostragem Probabilística, por conhecer-se o universo e pelo mesmo ser um método eficiente para extrair uma amostra que reflita corretamente a variação existente na população. Considerando que o grupo das industrias de pequeno porte representa um universo pequeno (> 50 elementos), para se ter uma amostra capaz de gerar resultados precisos para os parâmetros da população, necessita-se de uma amostra relativamente grande (em torno de 80% da população), ou o trabalho com o universo de pesquisa. Com o parâmetro do universo de pesquisa, foi selecionado aleatoriamente um número de elementos dos grupos do tamanho da amostra/universo desejado. A seleção da amostra para as pequenas e médias empresas, considerou uma confiabilidade mínima de 95%, o que representa uma probabilidade de 95% a 100% de que os resultados obtidos na amostra sejam válidos para o universo das indústrias consideradas. Admitiu-se ainda uma margem de erro de 8,3% para as médias empresas e 5,4% para as pequenas empresas, pois os resultados da amostra não podem ser rigorosamente exatos em relação ao universo que pretendem representar. Assim sendo, o tamanho da amostra alcança proporções mínimas estabelecidas estatisticamente, o que auxilia no que diz respeito às necessidades práticas de tempo e custos, além de garantir a possibilidade de generalização dos dados. No que diz respeito às industrias de grande porte, trabalhou-se com o universo de pesquisa. A tabela 3 apresenta em números a amostra da pesquisa. Tabela 3 – Plano Amostral Porte (1) Empregados Pequeno 0 a 49 Médio Estabelecimentos Amostra Realizados 1485 305 270 de 50 a 249 45 40 34 Grande acima de 249 13 13 13 - Total 1543 358 317 Fonte: Base de dados PIS-IPS/FURB (1) A classificação por porte, levou em conta a classificação existente na base de dados do IPS; A listagem das empresas pesquisadas consta do Anexo 1. 3.5 Coleta, Tabulação e Análise de Dados A pesquisa foi realizada por meio de entrevista estruturada, conforme roteiro apresentado nos Anexos A e B. As entrevistas foram realizadas in loco, tendo a duração máxima de 30 105 minutos para as empresas de pequeno porte e 90 minutos para as empresas de médio e grande porte. Nas empresas de médio e grande porte, houve agendamento de entrevistas. A escolha das empresas foi feita aleatoriamente, através de base de dados do Instituto de Pesquisas Sociais (IPS/FURB) (em suas dependências). Nos casos em que a empresa selecionada não se disponibilizava a participar da pesquisa, o procedimento foi a escolha da empresa seguinte junto a base de dados. No decorrer da pesquisa de campo, houve o trabalho de supervisão, crítica e verificação. Este procedimento consiste num procedimento de controle de qualidade onde 30% dos questionários foram refeitos parcialmente via telefone com o mesmo entrevistado para checar suas informações e descartar qualquer possibilidade de fraude. Visando otimizar a confiabilidade das respostas obtidas, foram tomados cuidados adicionais antes do início da coleta de dados. Um destes cuidados foi no sentido de motivar o público-alvo para participar da pesquisa. A medida inicial foi a identificação de instituições cuja área de atuação viesse ao encontro da problemática em questão, com o objetivo de atraí-las como parceiras de um potencial projeto de desenvolvimento tecnológico do setor têxtil de Blumenau, no qual a realização da pesquisa seria a etapa inicial. Entendia-se que a participação de instituições respeitadas pelo públicoalvo ampliaria a credibilidade e, assim, a receptividade para a adesão. Neste sentido, três instituições foram parceiras: Instituto Gene-Blumenau, SINTEX e AMPE. O Instituto Gene-Blumenau é uma associação civil sem fins lucrativos que tem na Universidade Regional de Blumenau (FURB) e na Associação Empresarial de Blumenau (ACIB) duas de suas fundadoras. O foco central de ação do Instituto é a promoção do desenvolvimento regional por meio da inovação. O projeto foi enquadrado em uma de suas quatro unidades de negócio, o Centro de Transferência de Tecnologia, que atua diretamente na realização de projetos de inovação em empresas de vários setores, especialmente envolvendo a interlocução entre empresas, universidades, centros de pesquisa e agências de fomento. A participação do Instituto Gene não se limitou ao apoio institucional. O alinhamento da proposta de pesquisa com um projeto em desenvolvimento pelo Instituto, intitulado “Oferta e demanda de tecnologia: promovendo o desenvolvimento regional por meio do fortalecimento de um mecanismo de conexão entre a ciência e a indústria” e apoiado 106 pelo CNPq permitiu que a coleta de dados contasse com recursos financeiros deste órgão federal. As outras duas parcerias são instituições representativas da classe empresarial. O SINTEX, sindicato patronal das indústrias têxteis do Vale do Itajaí, atuante especificamente no setor objeto da pesquisa e especialmente junto a empresas de médio e grande porte. E a AMPE, associação das micro e pequenas de Blumenau, por meio de sua Câmara Têxtil. A abordagem dos parceiros junto ao público-alvo deu-se por meio de uma carta de apresentação (vide anexo 3), assinada pelos representantes das instituições. Para as empresas de médio e grande porte, apresentou-se o Instituto Gene, paralelamente ao SINTEX, instituição representativa junto a este público. No caso das empresas de pequeno porte, substituiu-se o SINTEX pela AMPE, tendo em vista o maior ajuste de foco desta segunda junto a este público específico. Além das cartas de apresentação, entregues pelos pesquisadores no ato da entrevista, também foram utilizadas como estratégias de contato e-mails e telefonemas. Todos os associados do SINTEX e da Câmara Têxtil da AMPE receberam e-mails apresentando e convidando para a pesquisa. No caso das grandes, foram feitas ligações pessoais pela diretoria do SINTEX para sensibilização e para a identificação da pessoa (ou das pessoas) mais indicadas para o fornecimento das respostas. Independentemente das ligações de cunho institucionais realizadas, os pesquisadores tomaram o cuidado de, no agendamento prévio da entrevista, certificar-se de que estariam se dirigindo à pessoa adequada. No caso das pequenas, optou-se pelo não agendamento, conforme apresentado adiante. Outro cuidado foi à validação do roteiro de entrevista junto ao público alvo. A aplicação de testes piloto permitiu a identificação de fragilidades do instrumento inicialmente elaborado, que resultou na alteração de algumas questões. Adicionalmente, como resultado dos testes pilotos, obteve-se a verificação da necessidade de reduzir o instrumento das pequenas empresas. A aplicação do roteiro de entrevista original demandou, nos testes, um período de tempo considerado excessivo pelos entrevistados, que no caso das pequenas empresas, era o próprio empreendedor. Esta foi a razão apresentada por empresas que se recusaram a participar da pesquisa. Assim, a redução do questionário das pequenas empresas deu-se após o início da coleta de dados oficial, quando as recusas apontaram uma possível dificuldade em 107 atingir-se o número de empresas mínimo para a garantia de uma amostra satisfatória. Vale observar que a inclusão da AMPE como parceira da pesquisa ocorreu neste mesmo contexto, quando sentiu-se que as instituições apresentadas não surtiam a influência desejada sobre este público específico no sentido de motivá-lo a participar do estudo. Resultou também destas experiências iniciais com as pequenas empresas a decisão em não realizar o agendamento prévio das entrevistas. Como nestas empresas o alvo eram os próprios empreendedores, e tendo em vista a participação direta e ativa destes indivíduos nas atividades operacionais do negócio, a resistência em atender o pesquisador poderia advir da preocupação em comprometer o andamento da rotina. De fato, obteve-se uma significativa redução no número de recusas após optar-se por surpreender o empreendedor com a proposta da entrevista. Um terceiro grupo de medidas tomadas foi o treinamento dos pesquisadores (quatro acadêmicos da Universidade Regional de Blumenau) tanto para a adequada compreensão dos conceitos envolvidos no roteiro de entrevista quanto para a forma de elaboração das perguntas e condução da entrevista, visando minimizar os riscos de influenciar a posição do entrevistado. A elaboração de um caderno com as questões mais complexas para que o entrevistado pudesse acompanhar o enunciado realizado pelo pesquisador com sua própria leitura, evitando-se assim dispersão da atenção ou esquecimento de alternativas, complementou os cuidados tomados para efeito de ampliar as possibilidades de fidedignidade dos dados coletados. Para efeito de tabulação e análise, foi utilizado o software Sphinx, especialmente pelas vastas opções de cruzamentos que ele possibilita. Assim, foram utilizadas técnicas de análise cruzada entre as diferentes categorias componentes do instrumento de coleta de dados para que se possa responder adequadamente à pergunta de pesquisa. Os cruzamentos realizados estão explicitados na apresentação dos resultados, com vistas a viabilizar a utilização da mesma metodologia para outros universos de pesquisa. 3.6 Limitações da Pesquisa O estudo está limitado à Blumenau, especificamente ao setor têxil. Como visto em capítulo anterior, as relações estabelecidas em prol da inovação podem variar significativamente de uma região para outra, tendo em vista o tecido organizacional e institucional instalado, políticas públicas locais, aspectos culturais, sócio-econômicos e demográficos. Além disso, as 108 relações também variam segundo o setor de atuação das empresas e segundo o porte. Desta forma, os resultados do estudo não podem ser extrapolados para outras regiões e setores. 109 4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA 4.1 Caracterização das empresas pesquisadas No sentido de caracterizar o conjunto das empresas pesquisadas, uma das primeiras informações levantadas foi sua data de fundação. Dentre as grandes, 46,15% foram fundadas antes de 1947, quando não existia uma sequer das médias e pequenas; 61,53 % das grandes foram criadas antes de 1970 . O fluxo mais intenso de criação das médias e pequenas iniciouse apenas em 1985. Somente 5,88 % das médias empresas e 3,33% das pequenas foram criadas antes desta data. Quanto às áreas de atuação, o foco evidente é em confecção. Para as grandes vem em segundo lugar o beneficiamento; para as médias, a fabricação de acabamentos e acessórios; para as pequenas, as estamparias, como pode ser visto na tabela 4. Tabela 4 – Áreas de atuação Área de atuação Grande Empresas % Média Empresas % Pequena Empresas % 30,77 2 5,88 1 0,37 15,38 2 5,88 3 1,11 2 15,38 2 5,88 13 4,81 1 11 1 1 1 - 7,69 84,62 7,69 7,69 7,69 - 5 25 1 2 1 14,71 73,53 0,00 2,94 5,88 2,94 11 206 4 25 10 - 4,07 76,30 1,48 9,26 3,70 - 2,94 - - 4 Beneficiamento 2 Fiação Fabricação de tecidos Fabricação de Acabamentos e acessórios Confecção Tecelagem Estamparia Tingimento Bordados Chinelos Fabricação de não tecidos Revisa, embala peças Total 23 -1 41 274 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Grandes empresas: o percentual foi calculado sobre 13 empresas; Médio porte: o percentual foi calculado sobre 34 empresas; Pequeno porte: o percentual foi calculado sobre 270 empresas. 110 4.2 Produtos e serviços No escopo das áreas predominantes acima apresentadas, os produtos que aparecem com destaque no setor de confecção são camisas, cama, mesa e banho. O número de produtos oferecidos pelas grandes empresas ao mercado em 2005 varia entre 500 e 2.500 para 69,15% delas, sendo que estes valores não apresentaram uma variação considerável nos últimos três anos. No caso das médias, para 91,18% o número máximo oferecido é de 1.000, sendo que para 44,12% são oferecidos menos de 50; apenas uma das grandes oferece menos de 50 produtos. Portanto, há uma relação direta entre o porte da empresa e o número de produtos oferecidos ao mercado. No caso de produtos novos, a concentração da maioria, tanto médias quanto grandes, está em menos de 10. Para os produtos inovadores, o índice predominante é zero; apenas em casos pontuais é apontada a oferta de produtos inovadores ao mercado. É importante observar que está questão não foi contemplada no roteiro de entrevista das pequenas empresas. Considerou-se “produto novo” o produto novo para a empresa, mas que já existia no mercado, e “produto inovador” o produto novo para a empresa e para o mercado, aquele produto que corresponde a algo anteriormente desconhecido, inexistente no mercado.Os itens de uma nova coleção foram considerados produtos inovadores apenas se contemplaram características inovadoras que ultrapassaram elementos como cores e modelos, ou seja, elementos que sempre mudam com o lançamento de novas coleções e que usualmente são diferentes de uma empresa para outra, mas que efetivamente não caracterizam inovação. 4.3 Aspectos financeiros Não existe empresa de capital estrangeiro no universo das pesquisadas. Em relação ao destino das vendas, fica clara a maior concentração das pequenas no próprio Estado e das médias e grandes em outros Estados e regiões. A exportação fica claramente concentrada nas grandes. A concentração do faturamento das médias é de 1 a 20 milhões, o que corresponde à realidade de 47,06% delas em 2006. Para 38,46% das grandes (a maior concentração neste grupo) o faturamento em 2006 varia entre 50 a 200 milhões. 111 Não se verificou relação direta entre a área de atuação da empresa e sua faixa de faturamento. Tampouco a análise cruzada dos dados apontou a existência de alguma relação entre a existência de produto inovador na empresa, o faturamento, as vendas ao exterior e o ano de fundação da empresa. Ou seja, não são as empresas mais jovens aquelas que apresentam melhores resultados quanto à inovação, como se poderia supor. Também não se verificou que as empresas que inovaram no período investigado obtiveram melhores resultados em faturamento ou vendas ao exterior. Apenas pode-se dizer que as empresas que apresentaram melhor relação entre o lançamento de novos produtos, especificamente quanto ao seu impacto sobre o faturamento, atuam na área de confecção. A ausência de reflexo do produto inovador sobre o faturamento das empresas encontra respaldo nas reflexões de Christensen (2000) vistas na fundamentação teórica. Especialmente neste caso, que envolve empresas de médio e grande porte, o impacto de um produto sobre os resultados globais da empresa pode ser ínfimo; este inclusive é o motivo que afasta muitas empresas dos elevados investimentos e risco inerentes ao processo de investimento em um projeto inovador. Neste mesmo contexto de análise, foram estabelecidos cruzamentos para investigar possíveis relações entre a concentração das vendas das empresas no Estado e seu perfil quanto a faturamento, existência de produtos novos e inovadores, número de empregados e rede de relacionamento. Inclusive no caso da rede de relacionamentos, foram feitos cruzamentos individualmente, para cada parceiro contemplado na pesquisa e para cada um dos tipos de interação que as empresas poderiam manter com seus parceiros. Em nenhum destes casos, foram encontrados elementos que permitissem o estabelecimento de relações entre estas categorias de análise. Adicionalmente, foram feitas investigações quanto às possíveis relações entre estas mesmas categorias e a capacidade de vendas ao exterior demonstrada pelas empresas. Neste caso, foram encontrados elementos novos. Verificou-se que a maior concentração de grandes empresas que exportam dá-se entre aquelas que se enquadram nas maiores faixas de faturamento e de número de empregados. Além disso, pôde-se observar que aquelas que exportam mantêm relações de cooperação mais freqüentes com universidades que as demais, 112 especificamente quanto à troca de idéias, uso de equipamentos e laboratórios e utilização de corpo técnico / docente. 4.4 Recursos humanos Quanto ao número de colaboradores internos versus terceirizados, não foi possível verificar uma relação entre a intensidade da terceirização e o porte da empresa. Existem terceirizados em todas as áreas de atuação, embora a concentração maior se dê na confecção, tanto em freqüência de citações quanto em volume de terceirizados. A questão da terceirização não foi investigada nas pequenas empresas. Nas médias e grandes, 35,29% e 38,46% respectivamente, possuem pessoas físicas terceirizadas e 67,65% e 69,23% respectivamente, possuem terceirizados pessoas jurídicas. A questão que avalia o nível de escolaridade dos empregados, demonstra a maior concentração de pessoal com maior nível de qualificação, notadamente superior completo, especialização e mestrado, nas grandes empresas. Vale notar o baixo percentual de pessoal com este nível de qualificação. Especialmente pesquisadores com mestrado e doutorado, praticamente inexistentes nas empresas pesquisadas. 4.5 Rede de relacionamentos A análise da rede de relacionamentos das empresas verificou com quais dos seguintes atores as empresas mantém relações: • Universidades • Instituições de ensino superior • Governo • Entidades de classe • Concorrentes • Fornecedores • Clientes • Empresas de Consultoria • Instituições prestadoras de serviço 113 Para cada empresa, verificou-se se a freqüência das relações mantidas, ou seja, se trata-se de uma relação esporádica ou sistemática. Adicionalmente, a questão formulada investigou o objeto da relação: • Troca de idéias • Uso de equipamentos e laboratórios • Ações conjuntas de P&D • Uso de corpo técnico / docente • Transferência de tecnologia • Treinamento • Consultoria • Orientação empresarial • Ações de marketing • Recursos financeiros Inicialmente, a partir dos resultados obtidos com a tabulação das respostas, criou-se a tabela a 5, que condensa o número de empresas, por porte, que mantêm relações de parceria com cada um dos atores. Esta tabela engloba parcerias esporádicas e sistemáticas, sem distinção. Tabela 5 - Rede de relacionamento Parceiros Universidades/Centros de Pesquisa Instituições de Ensino Superior Governo Entidade da Classe Empresarial Concorrentes Fornecedores Clientes Instituições Prestadoras de Serviços Grandes Médias Pequenas Empresas % Empresas % Empresas % 7 53,85 4 11,76 3 1,11 5 6 38,46 46,15 0 3 0 8,82 1 2 0,37 0,74 8 6 10 9 61,53 46,15 76,92 69,23 9 3 13 7 26,47 8,82 38,24 20,59 23 28 41 34 8,52 10,37 15,18 12,59 9 69,23 11 32,35 17 7,08 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Grande porte: o percentual foi calculado sobre 13 empresas; Médio porte: o percentual foi calculado sobre 34 empresas; Pequeno porte: o percentual foi calculado sobre 270 empresas. 114 A análise destes dados demonstrou um comportamento significativamente diferente entre as empresas de diferentes portes, com uma relação direta entre o porte e a amplitude da rede de relacionamento.Distinguindo-se a freqüência das relações mantidas (entre esporádicas e sistemáticas) nota-se que no caso das grandes, clientes, fornecedores e entidades de classe são os atores com quem as empresas mais mantém relações sistemáticas, com freqüência de citação de 46,15% para os clientes e de 38,46% para os outros dois grupos de atores. Nos três casos, as relações mantidas estão focadas na troca de idéias. Ações de P&D sistemáticas são mantidas por poucas empresas; apenas duas, com fornecedores, e uma, com entidades de classe e concorrentes. Quando o foco são as relações esporádicas das grandes, as empresas de consultoria aparecem como o ator mais citado, por 38,46% das empresas. O objeto destas relações são treinamentos, consultoria e orientação empresarial. Em segundo lugar, apontada por 30,77% das empresas, estão as universidades, com relações focadas em compartilhamento de equipamentos e laboratórios, os clientes, com ações conjuntas de P&D, empresas de consultoria e instituições prestadoras de serviço, com trocas de idéias. E em terceiro lugar nas relações esporádicas, apontadas por 23,08% das grandes empresas, estão novamente as universidades, com trocas de equipamentos e treinamento; as entidades de classe, com orientação empresarial; os concorrentes, com troca de idéias; os fornecedores, com treinamento; as empresas de consultoria, com corpo técnico; e as instituições prestadoras de serviços, com transferência de tecnologia e treinamento. Uma comparação entre as relações mantidas com universidades e aquelas mantidas com outras instituições de ensino superior posiciona a universidade com destaque. As parcerias com o governo também são bastante pontuais, ocorrendo em três empresas para a troca de idéias e em duas para recursos financeiros. No caso das médias, a parceria com universidades sofre alguma perda em relação às grandes. Não foram verificadas parcerias sistemáticas e as esporádicas são apontadas por um número mais restrito de empresas. A maior incidência de citações é de 5,88%, correspondente a duas empresas, para uso de equipamentos e laboratórios e ações conjuntas de P&D. De qualquer maneira, trocas de idéias, uso de corpo técnico / docente e treinamento continuam aparecendo como objeto possível de parceria entre as empresas e universidades. No caso das IES, não foi verificada citação de parceria alguma com médias empresas. Quanto ao governo, obteve-se um incremento da variedade de parcerias, embora a maior citação tenho sido feita por apenas duas empresas, para recursos financeiros. Trocas de idéias, transferência de tecnologia, treinamento e consultoria foram acrescentados ao rol do objeto de parcerias aos quais se presta o governo, embora citados por apenas uma empresa. A maior concentração de citações obtida foi para relações sistemáticas mantidas com fornecedores para a troca de 115 idéias (20,59%, correspondente a 7 empresas). A segunda maior citação foi de 11,76% (4 empresas), para relações esporádicas mantidas com entidades de classe, para trocas de idéias e orientação empresarial, e com clientes, para ações conjuntas de P&D e troca de idéias, esta última em caráter sistemático. Passando para as empresas de pequeno porte, o que se verifica é uma queda significativa da freqüência de parcerias. Aproximadamente 90% das empresas não mantém relação de parceria alguma. A mais freqüente citação de relações sistemáticas foi para fornecedores e clientes; em ambos os casos, apontadas por 8,52% das empresas e focadas em trocas de idéias. A segunda e terceira maior freqüência de citações, com 4,07% e 2,96%, para concorrentes e entidades de classe respectivamente, ambos focados na troca de idéias. Nota-se assim, que das relações sistemáticas mantidas, a mais importante é a troca de idéia, ainda que bastante tímida, tendo em vista o volume de citações obtido. As relações de caráter esporádico não são mais intensas. A maior freqüência obtida foi de 6,3% para troca de idéias com concorrentes. Em seguida vêm a troca de idéias com fornecedores, com clientes e com entidades de classe, respectivamente apontadas por 5,19%, 4,07% e 2,96% das empresas. Assim, fica em destaque a troca de idéias como o objeto de parceria mais valorizado por pequenas empresas. Vale observar que as trocas de idéias especificamente com fornecedores e clientes são mais freqüentemente realizadas em caráter sistemático que esporádico. Para finalizar a análise das redes de relacionamentos das pequenas empresas, é válido destacar o quase inexistente contato com universidades, IES e governos. Solicitadas a enquadrar sucintamente suas relações com os parceiros em P&D, produção ou comercialização, as grandes empresas destacaram o papel das universidades para a produção e P&D, embora este em segundo lugar. As relações com o governo, em sua maioria, não se aplicam a nenhum dos três objetos de cooperação apontados. A forma como a questão foi apresentada não permitiu que se identificasse a natureza da cooperação mantida pelas empresas com este ator. Com as entidades de classe e empresas de consultoria, existe uma distribuição bastante equilibrada quanto ao objeto da cooperação. No caso dos concorrentes, a concentração evidente é em P&D. Para fornecedores, o foco é a produção; e para clientes, a comercialização. As instituições prestadoras de serviços têm sido buscadas eminentemente para atividades relacionadas à produção. A tabela 6 ilustra com números estas constatações: 116 Tabela 6 – Foco das relações estabelecidas com os parceiros pelas grandes empresas Grandes Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) Relações Estabelecidas Empresas Relações Universidades E/Ou Centros 3 Relações Governos 1 Relações Entidades de Classe 2 Relações Concorrentes 3 Relações Fornecedores 3 Relações Clientes 1 Relações Empresas De Consultoria 4 Relações Instituições Prestadoras Serviços 2 % Produção Empresas % Comercialização Empresas % Não se aplica Empresas % 42,86 16,67 6 0 85,71 0,00 1 2 14,29 33,33 0 4 0,00 66,67 25,00 3 37,50 2 25,00 2 25,00 50,00 0 0,00 1 16,67 2 33,33 30,00 11,11 7 1 70,00 11,11 5 8 50,00 88,89 2 1 20,00 11,11 40,00 4 40,00 6 60,00 1 10,00 22,22 6 66,67 2 22,22 3 33,33 Fonte: A partir da pesquisa Nota: Não se aplica – empresa possui parceria, porém as relações estabelecidas estão voltadas a outras finalidades. Relações Universidades e/ou Centros: o percentual foi calculado sobre 7 empresas que possuem parcerias; Relações Governos: o percentual foi calculado sobre 6 empresas que possuem parcerias; Relações Entidades de Classe: o percentual foi calculado sobre 8 empresas que possuem parcerias; Relações Concorrentes: o percentual foi calculado sobre 6 empresas que possuem parcerias; Relações Fornecedores: o percentual foi calculado sobre 10 empresas que possuem parcerias; Relações Clientes: o percentual foi calculado sobre 9 empresas que possuem parcerias ;Relações Empresas de Consultoria: o percentual foi calculado sobre 10 empresas que possuem parcerias; Relações Instituições Prestadoras Serviços: o percentual foi calculado sobre 9 empresas que possuem parcerias. No caso das empresas de médio porte, o destaque do papel das universidades para P&D é unânime. O papel dos governos sofreu modificação significativa, obtendo o foco de 100% das empresas em produção. Diferentemente das grandes, cujas relações com entidades de classe estão distribuídas entre os três focos, para as médias empresas o papel central destas está relacionado à comercialização. Similarmente, às grandes, para as médias os concorrentes também têm papel significativo nas ações de P&D. Contudo, sua participação em atividades relacionadas à produção, que dentre as grandes é nula, aqui é citada por duas das três empresas que afirmam manter relações com concorrentes. 117 Tabela 7 – Foco das relações estabelecidas com os parceiros pelas médias empresas Médias Pesquisa e desenvolvimento (p&d) Relações estabelecidas Relações univ. E/ou centros Empresas Produção Comercialização Não se aplica Empresas % Empresas % Empresas % 4 % 100,0 0 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 2 15,38 1 14,29 1 10,00 3 27,27 Relações governos Relações entidades de classe 0 0,00 3 100,00 0 4 44,44 3 33,33 7 Relações concorrentes 2 66,67 2 66,67 1 Relações fornecedores 8 61,54 5 38,46 6 Relações clientes Relações empresas de consultoria Relações instituições prestadoras serviços 5 71,43 2 28,57 5 6 60,00 2 20,00 4 0,00 77,7 8 33,3 3 46,1 5 71,4 3 40,0 0 2 18,18 6 54,55 1 9,09 Fonte: A partir da pesquisa Nota: Não se aplica – empresa possui parceria, porém as relações estabelecidas estão voltadas a outras finalidades. Relações Universidades e/ou Centros: o percentual foi calculado sobre 4 empresas que possuem parcerias;Relações Governos: o percentual foi calculado sobre 3 empresas que possuem parcerias;Relações Entidades de Classe: o percentual foi calculado sobre 9 empresas que possuem parcerias;Relações Concorrentes: o percentual foi calculado sobre 3 empresas que possuem parcerias;relações Fornecedores: o percentual foi calculado sobre 13 empresas que possuem parcerias; Relações Clientes: o percentual foi calculado sobre 7 empresas que possuem parcerias; Relações Empresas de Consultoria: o percentual foi calculado sobre 10 empresas que possuem parcerias; Relações Instituições Prestadoras Serviços: o percentual foi calculado sobre 11 empresas que possuem parcerias. O papel dos fornecedores e das consultorias está distribuído entre os três focos, porém com destaque para P&D. Os clientes estão relacionados principalmente a comercialização, como no caso das grandes, mas também a P&D. E as instituições prestadoras de serviço, assim como nas grandes, estão focadas na produção. Percebe-se, assim, uma maior concentração que nas grandes das ações de parcerias mantidas em ações de P&D. Questionadas quanto às barreiras enfrentadas na operacionalização das alianças, aproximadamente a metade das empresas dos três portes concorda que não há dificuldades. A principal dificuldade são os custos dos serviços oferecidos pelo parceiro, embora ela seja percebida com freqüência distinta entre as empresas dos diferentes portes, como mostra a tabela 8. 118 Tabela 8 – Barreiras para as alianças/parcerias Barreiras Alianças/Parcerias Grandes Médias Pequenas Empresas 5 % 45,45 Empresas 11 % 52,38 Empresas 27 % 44,26 Dificuldade de acesso ao parceiro 1 9,09 2 9,52 15 24,59 Comunicação deficiente 2 18,18 2 9,52 14 22,95 Aspectos políticos 2 18,18 2 9,52 4 6,56 Custo dos serviços oferecidos pelo parceiro 6 54,55 4 19,05 19 31,15 Diferenças culturais 2 18,18 3 14,29 4 6,56 Falta de pessoal qualificado no parceiro 1 9,09 3 14,29 10 16,39 Infra-estrutura inadequada do parceiro Falta de envolvimento/sinergia entre teoria e prática 1 9,09 0 0,00 1 1,64 1 9,09 0 0,00 Não há barreiras/dificuldades 0,00 Comercial (concorrência) 0 0,00 1 4,76 0,00 Fidelidade as informações geradas pela parceria 0 0,00 1 4,76 0,00 Falta de interesse do empresariado. 1 1,64 Não tem muita necessidade deste serviço 1 1,64 Política da empresa 1 1,64 Total 21 29 97 Fonte: A partir da pesquisa Nota: - Questão de escolha múltipla; Grande porte: o percentual foi calculado sobre 11 empresas que possuem parcerias; Médio porte: o percentual foi calculado sobre 21 empresas que possuem parcerias; Pequeno porte: percentual foi calculado sobre 61 empresas que possuem parcerias. Pergunta similar foi apresentada àquelas que não possuem parcerias, com o objetivo de explorar por que as empresas que não mantém relações de cooperação optam por esta postura. A tabela 9 mostra que a maioria destas empresas não identificam barreiras ou dificuldades relevantes que impeçam o estabelecimento das parcerias. Tabela 9 – Existência de barreiras que impedem a empresa de realizar parcerias Barreiras Sim Não Total Grandes Empresas 2 2 Médias Empresas 3 10 13 Pequenas Empresas 43 166 209 % 20,57 79,43 100 Fonte: A partir da pesquisa Nota: - Grande porte: o percentual foi calculado sobre 2 empresas não possuem parcerias; Médio porte: o percentual foi calculado sobre 13 empresas não possuem parcerias; Pequeno porte: o percentual foi calculado sobre 209 empresas que possuem parcerias. Dentre aquelas que identificam barreiras, são apontadas com destaque pelas pequenas o alto custo dos serviços oferecidos, bem como dificuldade de acesso ao parceiro. Dentre as médias 119 não há um consenso; as razões ficam dispersas entre a dificuldade de acesso, o custo dos serviços, a comunicação deficiente e a falta de informações, além da falta de pessoal qualificado, como pode ser visto na tabela 10. Tabela 10 – Tipos de barreiras que impedem as parcerias Grandes BARREIRAS Dificuldade de acesso ao parceiro Comunicação deficiente Aspectos políticos Custo dos serviços oferecidos pelo parceiro Diferenças culturais Falta de pessoal qualificado no parceiro Infra-estrutura inadequada do parceiro Falta de informação Burocracia Falta de tempo Infra-estrutura inadequada da empresa. Não há necessidade delas Negaram Parceria. Pouca instrução do administrador (gestor) Total Empresas Médias % Empresas Pequenas % Empresas % - - 1 1 0 33,33 33,33 0,00 16 13 6 37,21 30,23 13,95 - - 1 0 33,33 0,00 26 5 60,47 11,63 - - 1 33,33 8 18,60 - - 0 1 0,00 33,33 0,00 0,00 5 1 1 11,63 0,00 2,33 2,33 0,00 0,00 0,00 1 1 1 2,33 2,33 2,33 0,00 1 85 2,33 - - 5 Fonte: A partir da pesquisa Nota: - Grande porte: nenhuma empresa respondeu sim na questão “ Há algum tipo de barreira que esteja impedindo sua empresa de realizar parcerias? (PARA QUEM NÃO TEM NENHUMA PARCERIA)” Médio porte: o percentual foi calculado sobre 3 empresas responderam sim na questão “ Há algum tipo de barreira que esteja impedindo sua empresa de realizar parcerias? (PARA QUEM NÃO TEM NENHUMA PARCERIA)” Pequeno porte: o percentual foi calculado sobre 43 empresas responderam sim na questão “ Há algum tipo de barreira que esteja impedindo sua empresa de realizar parcerias? (PARA QUEM NÃO TEM NENHUMA PARCERIA)”. Este módulo da entrevista também avaliou os resultados obtidos pelas empresas a partir das relações de parceria mantidas. No caso das universidades e centros de pesquisa, os principais resultados apontados pelas empresas de grande porte foram: aperfeiçoamento do processo produtivo (por 57% das sete empresas que mantém parceria com ator desta natureza); melhoria da produtividade (57%); melhoria da qualidade (42,86%) e aperfeiçoamento do processo de gestão (42,85%). Já as 120 médias empresas apontaram os seguintes resultados: ampliação de market share (50% das 4 empresas que mantém esta parceria); aperfeiçoamento do processo produtivo (50%); melhoria da produtividade e melhoria da qualidade. Para as pequenas, o resultado de destaque é o aperfeiçoamento do processo de gestão, apontado por 66,67% das 3 pequenas empresas que mantém relação com universidades. Assim, os dois principais resultados obtidos junto às universidades, independentemente da análise por porte, é o aperfeiçoamento do processo produtivo e a melhoria da produtividade. Aparentemente, tais resultados afastam-se de premissas apresentadas na fundamentação teórica, a partir das quais se espera que das relações com universidades obtenha-se resultados significativos em inovação. Inclusive a partir de cruzamentos estabelecidos, verificou-se que das duas grandes empresas que geraram patente, apenas uma mantém algum tipo de relação esporádica com universidade, especificamente quanto à troca de idéias e uso de equipamentos e laboratórios. Em nenhum dos dois casos verificou-se a existência de alguma cooperação sistemática. Especificamente em P&D, não foi possível verificar sequer algum processo esporádico de cooperação. As cooperações sistemáticas mantidas por estas empresas são com fornecedores (troca de idéias e recursos financeiros), clientes (troca de idéias, ações de marketing e recursos financeiros), empresas de consultoria (troca de idéias, ações de P&D, uso de corpo técnico, consultoria, treinamento e orientação empresarial). Passando-se aos resultados obtidos a partir das relações estabelecidas com Instituições de Ensino Superior por 5 empresas de grande porte e uma pequena empresa, pode-se destacar a melhoria da qualidade, o aperfeiçoamento do processo produtivo e de gestão (60%, 40% e 40% respectivamente, para as grandes) e a melhoria da qualidade, da produtividade e a ampliação de market share, para a única pequena. O próximo ator da rede de relacionamento que teve seus resultados investigados foi o governo. A análise dos dados obtidos aponta uma grande dispersão das respostas, o que sugere a possibilidade do governo contribuir para uma variedade de atividades, de acordo com as necessidades e objetivos das empresas, bem como com a natureza das relações de parceria estabelecidas. A análise dos resultados obtidos junto às entidades de classe apresenta como destaque o aperfeiçoamento do processo de comercialização, citado por 37,5% (de 8 empresas) das 121 grandes, 66,67% (de 9) das médias e 39,13% (de 23) das pequenas. Um segundo resultado que pode ser destacado é a ampliação de market share para as pequenas (34,78%) e para as grandes, em menor escala (25%). Para as médias pode-se destacar o aperfeiçoamento do processo produtivo e de gestão (55,56%). Passando aos concorrentes, o resultado de destaque para as grandes é o aperfeiçoamento do processo produtivo (50% de 6 empresas) que também obteve certo destaque para as pequenas (46,43% de 28). Os principais resultados obtidos pelas pequenas são melhoria da qualidade(53,57%), aumento do faturamento (53,57%), aumento da lucratividade (50%) e melhoria da produtividade (50%). Melhoria da qualidade e da produtividade é também destaque para as médias, juntamente com ampliação de market share, todos apontados por 66,67% (de 3 empresas). Na análise dos resultados obtidos a partir das parcerias com fornecedores, têm destaque para as grandes o aperfeiçoamento do processo produtivo, a melhoria da qualidade e da produtividade (todos citados por 70% das 10 empresas que mantêm parcerias com fornecedores), seguidos por lançamento de novo produto e aumento da lucratividade (citados por 50% das empresas). O resultado das empresas médias e pequenas é bastante próximo ao das grandes, com exceção de aumento da lucratividade, no caso das médias, que aparece com freqüência de citação menos relevante (apenas 23,08%). A análise cruzada dos dados obtidos nesta questão demonstra que o aumento da lucratividade pode estar relacionado à melhoria da qualidade e da produtividade, visto que 71,42% das grandes empresas e 53,57% das pequenas que obtiveram melhorias desta natureza também apresentaram ganho de lucratividade. Contudo, nas médias esta relação é menos intensa – apenas 27,7%, o que pode sugerir que a hipótese formulada anteriormente esteja equivocada. Entretanto, a pesquisa não contemplou elementos para explorar esta questão. Seguindo, a entrevista avaliou os resultados obtidos junto aos clientes. Para as grandes, o resultado mais expressivo foi o aperfeiçoamento do processo de comercialização (88,88%) que, para as pequenas aparece com importância menor (38,24%) e para as médias quase nula (14,29%). 122 Nos resultados obtidos junto aos clientes aparece com freqüência superior a dos demais parceiros o lançamento de novos produtos e de produtos inovadores, bem como ampliação de market share e aumento do faturamento e da lucratividade. Interessante observar que nos itens lançamento de novos produtos e produtos inovadores, as médias empresas tiveram desempenho pior que as grandes e pequenas. Enquanto 44,44% das grandes que mantêm parcerias com clientes e 47,06% das pequenas indicaram lançamento de novos produtos como resultado, apenas 28,57% das médias o fizeram. Da mesma forma, enquanto 22,22% das grandes e 20,59% das pequenas obtiveram lançamento de produto inovador, nenhuma das médias conseguiram este resultado. No mesmo sentido, o resultado das grandes e pequenas foi melhor que o das médias em relação ao aumento do faturamento e da lucratividade; 66,67 % das grandes e 52,94% das pequenas tiveram aumento do faturamento, contra apenas 28,57% das médias. Adicionalmente, 44,44% das grandes e 52,94% das pequenas conseguiram aumento da lucratividade, contra apenas 14,29% das médias. Assim como no caso dos fornecedores, foram estabelecidos alguns cruzamentos com o objetivo de explorar possíveis relações entre o lançamento de produtos novos e inovadores e a ampliação de market share, com conseqüente aumento de faturamento e de lucratividade. No caso das grandes empresas, verificou-se que 75% daquelas que lançaram novos produtos obtiveram aumento de faturamento e 50% delas conseguiram aumentar a lucratividade. Analisando no sentido contrário, viu-se que 40% daquelas que tiveram aumento do faturamento e 66% daquelas que tiveram aumento da lucratividade eram empresas que tinham lançado produto novo. O estabelecimento destas relações quanto ao produto inovador é mais delicada, já que apenas duas grandes empresas lançaram produtos com esta característica. De qualquer maneira, vale observar que dentre as duas, uma conquistou simultaneamente aumento de market share, de faturamento e de lucratividade. A segunda, não obteve nenhum destes resultados, o que dificulta a interpretação quanto a uma possível relação entre estas categorias de análise. A possibilidade de se estabelecer relações apenas entre aumento de market share, faturamento e lucratividade é mais forte, já que 100% das empresas que obtiveram aumento de market share também apresentaram aumento de faturamento e 75% tiveram aumento de lucratividade. No caso das médias, considerando-se o ínfimo percentual da amostra que apresentou lançamento de produto novo ou inovador a partir de parceria com clientes, é difícil explorar 123 estas relações; qualquer sugestão teria pouca representatividade. De qualquer maneira, podese comentar que mesmo entre as poucas empresas das quais se dispõe para fazer estes cruzamentos, a dispersão das respostas é elevada. Já dentre as pequenas, 60% daquelas que lançaram novos produtos tiveram ganho de market share e 66,66% tiveram aumento de faturamento ou de lucratividade. Quanto ao produto inovador, nota-se que 71,42% delas tiveram também aumento de market share e de faturamento e 100% tiveram aumento de lucratividade. Contudo, a análise inversa sugere uma redução da intensidade destas possíveis relações. Dentre as empresas que tiveram como resultado das relações com clientes o aumento do faturamento, 55,55% lançaram produto novo ou produto inovador. Os mesmos percentuais valem para aquelas que tiveram aumento de lucratividade. Ou seja, existem outros fatores potencialmente tão relevantes quanto o lançamento de produtos novos e inovadores atuando sobre os ganhos de faturamento e lucratividade das empresas. Quanto aos resultados obtidos junto às empresas de consultoria, o destaque fica para o aperfeiçoamento do processo de gestão, com 90% de freqüência nas grandes, 70% nas médias e 60% nas pequenas. Para as médias, também aparecem com destaque o aperfeiçoamento do processo produtivo (50%), a melhoria da qualidade (60%) e da produtividade (60%). No caso das grandes, é possível destacar o aperfeiçoamento do processo de comercialização (60%). E para as pequenas, os resultados aparecem dispersos. As empresas de consultoria também apresentam resultado que merece ser mencionado quanto a lançamento de novo produto e de produto inovador, aumento de faturamento e aumento da lucratividade. Na realidade, quanto à lucratividade, é o terceiro parceiro com melhor desempenho nas grandes empresas (40%), perdendo apenas para fornecedores (50%) e clientes (44,44%). No caso das pequenas, o parceiro que apresenta melhor desempenho quanto ao aumento da lucratividade são os clientes (52,94%), seguidos dos fornecedores (41,46%) e finalmente das empresas de consultoria (40%). As relações estabelecidas pelas médias empresas não apresentam resultados tão significativos quanto para as pequenas e grandes no quesito lucratividade. Finalmente, o último parceiro a ser avaliado quanto a resultados obtidos são as instituições prestadoras de serviços. O item que merece destaque inicial é a melhoria da qualidade, com 124 77,78% de citação pelas grandes empresas, 54,55% pelas médias e 58,82% pelas pequenas. Melhoria da produtividade é outro item de destaque, com 55,56% de freqüência entre as grandes, 63,64% entre as médias e 35,29% entre as pequenas. E o terceiro a ser destacado é o aperfeiçoamento do processo produtivo: 55,56% entre as grandes, 36,36% entre as médias e 41,18% entre as pequenas. É interessante perceber o praticamente nulo reflexo destes resultados sobre a participação de mercado das empresas. No caso das médias, também é irrelevante o ganho conseguido quanto a aumento de faturamento e de lucratividade. Nestes dois últimos quesitos, as grandes e pequenas apresentam resultados um pouco mais satisfatório. Contudo, o cruzamento das categorias demonstrou que esta conquista pode estar mais relacionada a lançamento de novos produtos do que a aperfeiçoamento de processo. Dentre as grandes empresas que obtiveram melhoria do processo produtivo a partir destas parcerias, 60% tiveram também aumento de faturamento e de lucratividade. Já dentre as que geraram novos produtos, 100% tiveram estes resultados. O cenário das pequenas é similar; 28,57% das que tiveram melhoria de processo produtivo conseguiram aumentar faturamento e lucratividade, contra 66,66% para aquelas que lançaram novos produtos. No caso das médias, esta análise não se faz possível visto que não houve lançamento de novos produtos, ganhos de faturamento ou de lucratividade. Após o levantamento dos resultados obtidos no passado, foram verificadas as intenções das empresas quanto às relações de parceria para o futuro pelas grandes e médias empresas. Em nenhum dos casos foi declarada a intenção em encerrar uma parceria. No caso das médias, as parcerias mais votadas para serem objeto de intensificação foram, em primeiro lugar, o governo e os concorrentes (com 66,67% de 3 empresas); em segundo, as instituições prestadoras de serviços (50%) e em terceiro, os fornecedores (46,15%). Para as grandes, devem ser intensificadas as relações de parcerias sobretudo com fornecedores (60%), clientes (55,56%) e entidades de classe (50%). Em quarto lugar, 42,86% das grandes empresas que mantêm relações com universidades e centros de pesquisa também explicitam vontade de intensificar relações com parceiros desta natureza. A sensibilização das grandes empresas para os fornecedores vai além da intensificação da relação com os parceiros atuais; o índice de intenção de identificar novos parceiros desta natureza também é elevado: 40% - o mais elevado entre as grandes. Questionadas sobre a necessidade de parcerias adicionais às atualmente mantidas, as médias (71,43%) e pequenas 125 (57,38%) declaram-se mais propensas à busca de novos parceiros. Considerando-se que a rede de relacionamentos externos das grandes demonstrou-se mais ampla e intensa que a das médias e pequenas, e levando-se em conta as maiores limitações estruturais que as empresas de menor porte possuem em relação às maiores (conforme visto em estudos como ANPEI, 2004) este perfil de resposta constitui um cenário coerente. 4.6 Estratégias competitivas Ao desenvolverem seus novos produtos, a perspectiva de mercado que prevalece tanto entre as grandes quanto entre as médias empresas (esta questão não foi aplicada às pequenas) é de âmbito nacional. Apenas 15,38% das grandes e 2,94% das médias vislumbram o mercado internacional. O principal elemento de competitividade, segundo a ótica das empresas pesquisadas, é a satisfação do cliente. Para as grandes, tecnologia e inovação vêm em segundo e terceiro lugar respectivamente, conforme opinião de 69,23% e 61,54% das empresas. No caso das médias, estes fatores possuem menor relevância: tecnologia fica em terceiro lugar (com 67,65% de citação) e inovação apenas em sexto (44,12%). A tabela 11 apresenta um panorama mais detalhado do entendimento das empresas quanto aos fatores relevantes a sua competitividade. Tabela 11 – Razões que tornam a empresa competitiva no mercado onde atua Razões Participação de mercado Preço Rentabilidade Crescimento Grandes Empresas 7 6 2 4 Médias % 53,85 46,15 15,38 30,77 Empresas 20 26 8 20 % 58,82 76,47 23,53 58,82 Tecnologia 9 69,23 23 67,65 Grau de inovação/pioneirismo Exportações 8 4 61,54 30,77 15 1 44,12 2,94 Satisfação do cliente Ciclo de vida do produto Marca Desenvolvimento do produto, diferencial Qualidade Valor aos empregados Total 12 3 1 0 0 0 56 92,31 23,08 7,69 0 0 0 28 16 0 1 1 1 160 82,35 47,06 0,00 2,94 2,94 2,94 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Questão de escolha múltipla; Grande porte: o percentual foi calculado sobre 13 empresas; Médio porte: o percentual foi calculado sobre 34 empresas 126 O papel de destaque percebido para os clientes pode limitar a capacidade de inovações disruptivas pelas empresas. Como visto na fundamentação teórica, o foco em satisfazer os clientes pode prender a empresa na curva de valor vigente, reconhecida e aprovada pelos usuários dos produtos ou serviços oferecidos pelas empresas. Inovações de ruptura podem não ser desejadas pelos clientes e manter a empresa na continuidade. Vistas as razões que tornam a empresa competitiva, foram investigadas as estratégias de negócio priorizadas nos últimos cinco anos. Como prioridade número 1 para as grandes, apareceu citado por 38,46% das empresas (a maior concentração obtida na questão) o lançamento de produtos e serviços novos e inovadores (23,08 para novos e 15,35% para inovadores). As duas outras prioridades que obtiveram destaque foram: expansão do volume de produção e novos mercados geográficos (ambas citadas por 23,08% das empresas). Finalmente, ainda como prioridade apareceram novos métodos de gestão, item citado por uma das treze grandes empresas. O gráfico 1 ilustra a distribuições das estratégias de negócios que as grandes empresas implantaram nos últimos cinco anos como prioridade número 1. Estratégias de negócios prioridade no. 1 - Grandes empresas 8% 23% 23% 15% 23% 8% Lançamento de novos produtos Lançamento de produtos inovadores Novos métodos de gestão Expansão do volume de produção Novos mercados geográficos Não informou Gráfico 1 – Estratégias de negócios prioridade nº 1 para grandes empresas Fonte: a partir da pesquisa O gráfico 2 apresenta os mesmo indicadores para as médias empresas, demonstrando similaridade com as respostas obtidas junto às grandes. 127 Estratégias de negócio prioridade no. 1 Médias empresas Lançamento de novos produtos Lançamento de produtos inovadores Novos processos de produção 3% Novos métodos de gestão 3% 15% 28% Marketing mais intenso Mais investimento em design 6% Investimento em P&D 6% 3% 3% 3% 18% 12% Investimento em capacitação de RH Expansão do volume de produção Novos segmentos de mercado Expansão da capacidade de exportação Gráfico 2 – Estratégias de negócios prioridade nº 1 para médias empresas Fonte: a partir da pesquisa Foram estabelecidos cruzamentos para verificar se as duas empresas que priorizaram o lançamento de produtos inovadores como estratégia competitiva, eram aquelas que obtiveram patente no período investigado pela pesquisa. Esta hipótese não se confirmou; os cruzamentos demonstraram tratar-se de empresas distintas. Migrando o foco do grau de prioridade número 1 para as cinco estratégias priorizadas pelas empresas nos últimos anos, os itens mais citados foram novos processos de produção e expansão do volume de produção. Em seguida vêm maiores investimentos em RH e em terceiro lugar, novos métodos de gestão e marketing mais intenso. O lançamento de produtos novos e inovadores aparece em quarto lugar. Os investimentos em P&D são citados entre as cinco estratégias prioritárias por apenas 3 das 13 grandes empresas. 128 O resultado das médias apresenta algumas diferenças em relação às grandes. Juntamente com os novos métodos de produção, o item mais apontado pelas empresas dentre as cinco estratégias priorizadas nos últimos anos, é o lançamento de novos produtos / serviços. O segundo mais citado foram os investimentos em RH e o terceiro, o lançamento de produtos inovadores. O lançamento de produtos novos e inovadores não apenas obteve destaque entre as cinco estratégias priorizadas nos últimos anos, como ocupou primeiro e segundo lugar como a estratégia número 1 em grau de prioridade no período analisado. Estas estratégias foram formuladas, tanto nas grandes como nas médias empresas, sobretudo a partir da identificação dos desejos e necessidades dos clientes, o que é coerente com a tabela 4.8, onde ficou evidenciado o papel de destaque atribuído aos clientes como elemento de competitividade das empresas. Novamente, cabe ressaltar o potencial restritivo que esta abordagem pode representar à capacidade da empresa para formular estratégias mais arrojadas, sobretudo de ruptura. A importância atribuída à avaliação da satisfação dos clientes em relação a estratégias passadas enfatiza ainda mais este quadro. Por outro lado, esta postura de certa forma conservadora e de baixo risco, focada nos padrões de sucesso passados, é equilibrada com uma abertura para possibilidades como “buscar atender desejos e necessidades ainda não formulados pelos clientes”, “identificar alternativas que permitam criar novas necessidades”, “analisar oportunidades em novos ambientes de negócios” e “identificar caminhos para o ingresso em novos mercados”. Um índice que chama a atenção é a quase nula atenção conferida pelas grandes empresas a outros setores da economia. O desafio intrínseco às alternativas apresentadas no parágrafo anterior pode demandar dos gestores responsáveis pela formulação das estratégias uma abertura do espectro de visão que a atenção a empresas de outros setores poderia proporcionar, sobretudo para a viabilização de inovações disruptivas, que envolvem a construção de novas curvas de valor. 129 A tabela 12 apresenta em números os itens que balizam a formulação das estratégias das empresas pesquisadas. Tabela 12 – Como a empresa formula suas estratégias Grandes Como empresa formula suas estratégias Empresas Analisando as oportunidades e ameaças de seu ambiente de negócios 10 Comparando seus recursos e capacidades com os dos concorrentes e identificando, a partir disso, seus pontos fortes e fracos 5 Identificando desejos e necessidades explícitas de seus clientes 13 Buscando atender desejos e necessidades ainda não formuladas pelos clientes 9 Avaliando o comportamento estratégico de empresas de outros setores 1 Avaliando a satisfação de seus clientes em relação às estratégias passadas 8 Identificando possibilidades que permitam a criação de novas necessidades junto aos seus clientes 8 Analisando oportunidades em novos ambientes de negócios 6 Identificando caminhos para o ingresso em novos mercados 6 Outros 0 Total 66 % Médias Empresas 76,92 23 67,65 38,46 17 50,00 100 27 79,41 69,23 14 41,18 7,69 12 35,29 61,54 24 70,59 61,54 20 58,82 46,15 19 55,88 46,15 0 23 0 179 67,65 0,00 % Fonte: a partir da pesquisa Nota: Questão de escolha múltipla; Grande porte: o percentual foi calculado sobre 13 empresas Médio porte: o percentual foi calculado sobre 34 empresas. Analisados estes vários elementos que permeiam o processo de formulação estratégica nas empresas, cabe identificar quem são as pessoas por ele responsáveis. A tabela 13 demonstra que tanto nas grandes como nas médias, trata-se de um processo centralizado em nível de diretoria e gerência. Consultores externos ocupam espaço com freqüência superior a funcionários e clientes, o que pode ser relevante sob a ótica dos comentários anteriores que apontam para o papel de conhecimentos alheios à realidade e experiência da própria empresa no processo de ruptura de paradigmas que estratégias inovadoras podem exigir. 130 Tabela 13 – Quem participa diretamente da formulação das estratégias da empresa Quem participa diretamente da formulação das estratégias Diretores Gerentes Funcionários em geral Consultores externos Clientes Fornecedores Parceiros externos Analista de qualidade Representantes Total Grandes Empresas 13 11 1 2 0 0 0 1 0 28 Médias % 100 84,62 7,69 15,38 0 0 0 7,69 0 Empresas 33 29 6 10 6 2 1 0 1 88 % 97,06 85,29 17,65 29,41 17,65 5,88 2,94 0,00 2,94 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Questão de escolha múltipla; Grande porte: o percentual foi calculado sobre 13 empresas ; Médio porte: o percentual foi calculado sobre 34 empresas. Uma das bases que orientam a elaboração das estratégias é o entendimento acerca dos fatores que influenciam o sucesso da empresa no futuro, não apenas no longo prazo, mas também no curto. Questionadas sobre fatores de determinantes de sucesso para perspectiva dos próximos dois anos, as empresas apontaram com ênfase para a capacidade para mudar estratégias de marketing. Em seguida, foram apontados também em caráter de prioridade alta o desenvolvimento e lançamento de produtos novos e inovadores, a capacidade de expansão da base produtiva e o desenvolvimento de recursos humanos. Alternativas consideradas relevantes para o contexto deste trabalho, como a capacidade de mudar estratégias com ênfase em P&D e a abertura de novos mercados, também foram citadas com freqüência elevada, como pode ser visto na tabela 14. 131 Tabela 14 – Fatores determinantes ao sucesso da empresa nos próximos dois anos Grandes Fatores Prioridade baixa Empresas Renovação e atualização dos equipamentos Utilização mais eficiente dos equipamentos Alterações expressivas no sistema de gestão Desenvolvimento e lançamento de novos produtos Desenvolvimento e lançamento de produtos inovadores Capacidade de mudar estratégias com ênfase em P&D Capacidade de mudar estratégias marketing Capacidade de expansão da base produtiva Fomento/financiamentos Abertura de novos mercados Ampliação da capacidade de exportação Aperfeiçoamento da capacidade logística Desenvolvimento de recursos humanos Intensificação de parcerias % Prioridade média Empresas % Prioridade alta Empresas % 4 30,77 5 38,46 4 30,77 1 7,69 7 53,85 5 38,46 5 38,46 4 30,77 4 30,77 1 7,69 6 46,15 6 46,15 4 30,77 3 23,08 6 46,15 3 23,08 6 46,15 4 30,77 4 30,77 2 15,38 7 53,85 3 7 4 23,08 53,85 30,77 4 3 6 30,77 23,08 46,15 6 3 3 46,15 23,08 23,08 4 30,77 6 46,15 3 23,08 2 15,38 7 53,85 4 30,77 1 3 7,69 23,08 6 7 46,15 53,85 6 3 46,15 23,08 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Os percentuais foram calculados sobre 13 empresas. A comparação entre as respostas obtidas nesta pergunta, que aponta para o futuro, e aquelas obtidas em questão apresentada anteriormente, que apontava para o passado, demonstra a manutenção do padrão de prioridades estabelecido pelas empresas. Embora toda manutenção de padrão possa parecer negativa quando o assunto em foco é inovação, vale observar que na lista de prioridades formulada pelas empresas há espaço para se acomodar processos inovativos. A tabela 15 demonstra os fatores determinantes de sucesso para os próximos anos conforme a percepção das médias empresas. 132 Tabela 15 – Fatores determinantes de sucesso às médias empresas para os próximos dois anos Médias Fatores Prioridade baixa Empresas Renovação e atualização dos equipamentos Utilização mais eficiente dos equipamentos Alterações expressivas no sistema de gestão Desenvolvimento e lançamento de novos produtos Desenvolvimento e lançamento de produtos inovadores Capacidade de mudar estratégias com ênfase em P&D Capacidade de mudar estratégias marketing Capacidade de expansão da base produtiva Fomento/financiamentos Abertura de novos mercados Ampliação da capacidade de exportação Aperfeiçoamento da capacidade logística Desenvolvimento de recursos humanos Intensificação de parcerias % Prioridade média Empresas % Prioridade alta Empresas % 1 2,94 15 44,12 18 52,94 1 2,94 8 23,53 25 73,53 10 29,41 13 38,24 11 32,35 1 2,94 6 17,65 27 79,41 4 11,76 12 35,29 18 52,94 5 14,71 11 32,35 18 52,94 7 20,59 11 32,35 16 47,06 7 20,59 10 29,41 17 50,00 17 50,00 13 38,24 4 11,76 7 20,59 9 26,47 18 52,94 14 41,18 10 29,41 10 29,41 7 20,59 12 35,29 15 44,12 0 0,00 12 35,29 22 64,71 22 64,71 8 23,53 4 11,76 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Os percentuais foram calculados sobre 34 empresas. Da mesma forma que na tabela 15, na tabela 16 estão apresentados os fatores determinantes de sucesso conforme a visão das pequenas empresas. 133 Tabela 16 – Fatores determinantes de sucesso às pequenas empresas para os próximos dois anos Pequenas Fatores Prioridade baixa Empresas Renovação e atualização dos equipamentos Utilização mais eficiente dos equipamentos Alterações expressivas no sistema de gestão Desenvolvimento e lançamento de novos produtos Desenvolvimento e lançamento de produtos inovadores Capacidade de mudar estratégias com ênfase em P&D Capacidade de mudar estratégias marketing Capacidade de expansão da base produtiva Fomento/financiamentos Abertura de novos mercados Ampliação da capacidade de exportação Aperfeiçoamento da capacidade logística Desenvolvimento de recursos humanos Intensificação de parcerias % Prioridade média Empresas % Prioridade alta Empresas % 52 19,26 105 38,89 113 41,85 42 15,56 97 35,93 131 48,52 72 26,67 118 43,70 80 29,63 38 14,07 63 23,33 169 62,59 54 20,00 73 27,04 143 52,96 51 18,89 106 39,26 113 41,85 51 18,89 92 34,07 127 47,04 31 120 62 11,48 44,44 22,96 100 109 75 37,04 40,37 27,78 139 41 133 51,48 15,19 49,26 172 63,70 68 25,19 30 11,11 85 31,48 100 37,04 85 31,48 57 51 21,11 18,89 150 138 55,56 51,11 63 81 23,33 30,00 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Os percentuais foram calculados sobre 270 empresas. É merecedora de destaque a postura das pequenas empresas, que destacam como prioridade alta para os próximos dois anos o desenvolvimento de produtos novos e inovadores, a expansão da capacidade produtiva e a abertura de novos mercados, postura muito congruente com os princípios favoráveis à ampliação da capacidade inovativa. Inclusive a capacidade de mudar estratégias com ênfase em P&D é apontado como prioridade alta por uma parcela considerável das empresas. E quanto às médias, o perfil é muito similar, apenas com uma atenção mais forte que as pequenas e grandes para a renovação, atualização e utilização mais eficiente dos equipamentos, o que é coerente com a realidade de empresas para as quais o preço e a tecnologia são considerados elementos chave de sua competitividade, como visto em questão 134 anterior. Esta questão também corrobora as respostas obtidas junto às médias no módulo “rede de relacionamentos”. Vale notar que a ampliação da capacidade de exportação não é prioridade alta para nenhum dos grupos de empresas. Para as pequenas, chega a ser classificada por um grupo significativo como prioridade baixa. No mesmo sentido encontra-se a inclinação das empresas para a busca de fomento ou financiamento, classificada como prioridade baixa para a maioria. 4.7 Processo de inovação Este módulo da pesquisa migra das estratégias competitivas da empresa de um modo geral para focar nas percepções, intenções e investimentos realizados pelas empresas especificamente sobre o processo de inovação. Uma das questões exploradas diz respeito aos objetivos dos esforços de inovação. Os resultados obtidos são muito similares para as empresas dos diferentes portes. Para as grandes, são objetivos igualmente importantes: • Melhorar a qualidade dos produtos • Aumentar a participação de mercado • Aumentar as vendas • Aumentar a lucratividade. No caso das médias, ficam em primeiro lugar: • Melhorar a qualidade dos produtos • Aumentar as vendas. Em segundo lugar para as empresas deste porte estão: • Aumentar a flexibilidade de produção • Aumentar a participação de mercado 135 E para as pequenas empresas, são os dois objetivos mais citados, nesta seqüência: • Aumentar a lucratividade • Aumentar as vendas Em seguida, para as pequenas, vem um conjunto de objetivos coerentes entre si. A partir do desejo de melhorar a qualidade dos produtos, estas empresas buscam reduzir os custos de mão-de-obra, o consumo de matéria-prima, de energia e aumentar a flexibilidade de produção. Preocupações desta natureza, bem como a adequação das empresas a normas, padrões e regulamentações técnicas, são inerentes a pequenas e médias e bem menos significativas nas grandes. Apesar da predominância das respostas focadas em melhoria de produtos e processos, que apontam para a tendência à inovação incremental, como já identificado em questões anteriores abordadas no item Estratégias Competitivas, há abertura para a definição de objetivos que dão margem à inovações mais vigorosas, de caráter radical ou disruptivo. Os índices obtidos em alternativas como “ser pioneiro”, “criar” e “entrar em novos mercados” podem ser considerados satisfatórios. 136 A tabela 17 quantifica estas respostas. Tabela 17 – Principais objetivos dos esforços de inovação Principais objetivos Grandes Médias Pequenas Empresas % Empresas % Empresas % Substituir produtos 3 23,08 11 32,35 120 44,44 Melhorar a qualidade dos produtos 12 92,31 28 82,35 232 85,93 Ampliar a gama de produtos 6 46,15 21 61,76 161 59,63 Reduzir custos da mão-de-obra 6 46,15 21 61,76 209 77,41 Reduzir o consumo de matéria prima 4 30,77 19 55,88 202 74,81 Reduzir o consumo de energia 4 30,77 23 67,65 208 77,04 Reduzir danos ambientais 5 38,46 17 50 164 60,74 Entrar em novos mercados Adequar a empresa a normas, padrões e regulamentações técnicas 7 53,85 21 61,76 145 53,70 1 7,69 22 64,71 174 64,44 Aumentar a flexibilidade da produção 7 53,85 25 73,53 199 73,70 Ser pioneiro 6 46,15 18 52,94 127 47,04 Aumentar a participação de mercado 12 92,31 25 73,53 204 75,56 Criar novos mercados 6 46,15 17 50 175 64,81 Aumentar vendas 12 92,31 28 82,35 239 88,52 Aumentar lucratividade 12 92,31 24 70,59 245 90,74 - - - - 4 1,48 Outros Total 103 320 2808 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Questão de escolha múltipla; Grandes empresas: o percentual foi calculado sobre 13 empresas; Médio porte: o percentual foi calculado sobre 34 empresas; Pequeno porte: o percentual foi calculado sobre 270 empresas. As questões seguintes exploram a estrutura interna mantida pela empresa para o suporte a atividades inovativas. Um dos itens de estrutura investigados diz respeito à existência de setor de P&D e ao pessoal a ele vinculado. A tabela 18 demonstra um percentual satisfatório de empresas que mantêm em suas estruturas internas um setor de P&D, com natural predominância nas de grande porte. 137 Tabela 18 – Existência de um núcleo ou setor responsável exclusivamente pelas atividades de P&D Empresa possui Núcleo ou Setor responsável P&D Sim Não Total Grandes Empresas 8 5 13 Médias % 61,54 38,46 100 Empresas 17 17 34 % 50,00 50,00 100,00 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Grande porte: o percentual foi calculado sobre 13 empresas; Médio porte: o percentual foi calculado sobre 34 empresas. Nas grandes empresas, em média 21 pessoas atuam neste setor, enquanto nas de médio porte, a média é de 5 pessoas. A área de formação predominante deste pessoal é moda, engenharias e técnicos têxteis. Esporadicamente, pessoas de outras áreas da empresa participam do processo de desenvolvimento dos produtos; as principais áreas de onde estas pessoas são oriundas são marketing, vendas e produção. Interessante observar que o único profissional com nível de mestrado empregado dentre as médias empresas está locado na estrutura de P&D. Contudo, dentre os 5 empregados nas grandes, apenas um dedica-se a atividades de pesquisa e desenvolvimento. Tanto nas grandes, quanto médias e pequenas empresas as atividades de desenvolvimento de novos produtos são desenvolvidas internamente, quer seja dentro do setor de P&D, quer seja por equipe dedicada ao desenvolvimento de produto, quando não há uma área de pesquisa e desenvolvimento na estrutura. Os únicos casos de contratação externa foram identificados em pequenas empresas, especificamente em 12,96% delas. Isso comprova a tendência já verificada em estudos como ANPEI (2004) que constatam a opção por restringir as atividades à estrutura interna quando o assunto é desenvolvimento de produto. Sobre a política de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, verifica-se um índice surpreendentemente superior de investimentos sistemáticos pelas médias empresas em relação às grandes, como mostra a tabela 19: 138 Tabela 19 – Existência de uma política de investimento sistemático em P&D Grandes Política Investimento Sistemático P&D Médias Pequenas Empresas % Empresas % Empresas % Sim 4 30,77 21 61,76 43 15,93 Não 9 69,23 13 38,24 227 84,07 Total 13 100 34 100 270 100,00 Fonte: a partir da pesquisa Dentre estas empresas que investem sistematicamente, o percentual do faturamento dedicado a este fim é de até 10% na maioria dos casos. Adicionalmente, vale notar o baixo índice de empresas que consideram como sendo seu investimento nestas atividades apenas a alocação de recursos humanos. Ou seja, há a percepção de que P&D envolve decisões orçamentárias. Ainda relativamente à alocação de recursos financeiros para a inovação, investigou-se a utilização de recursos de fomento pelas empresas. Paradoxalmente, a grande concentração de respostas positivas deu-se junto às grandes empresas, que em tese teriam maior disponibilidade financeira em relação às médias e pequenas. Tabela 20 – Utilização de recursos de fundos de fomento Grandes Médias Pequenas Utilizou recursos fundo de fomento Empresas % Empresas % Empresas % Sim 6 46,15 2 5,88 31 11,48 Não 7 53,85 32 94,12 239 88,52 Total 13 100 34 100 270 100,00 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Grande porte: o percentual foi calculado sobre 13 empresas; Médio porte: o percentual foi calculado sobre 34 empresas; Pequeno porte: o percentual foi calculado sobre 270 empresas. Contudo, ao verificarem-se as atividades para as quais os recursos de fomento foram utilizados, identifica-se um baixíssimo foco em P&D, como pode ser visto na tabela a 21. 139 Tabela 21 – Atividades para as quais os recursos de fomento foram utilizados Grandes ATIVIDADES P&D Comercialização Produção Treinamento Consultoria Aquisição de Equipamentos e Ampliação do parque fabril Pagamento de empréstimos anteriores/ Incentivos às exportações Construção Total Empresas 1 1 5 1 1 % 16,67 16,67 83,33 16,67 16,67 Médias Empresas 0 0 0 0 0 % 0 0 0 0 0 1 16,67 0 0 1 0 11 16,67 0 0 2 2 0 100 100 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Questão de escolha múltipla. Grande porte: o percentual calculado sobre 6 empresas que responderam sim na questão “A empresa já utilizou recursos de fundos de fomento” ; Médio porte: o percentual calculado sobre 2 empresas que responderam sim na questão “A empresa já utilizou recursos de fundos de fomento”. A análise das fontes de recursos justifica este perfil; predominam entre as instituições apontadas pelas empresas BADESC, BNDES, BRDE, FINASA, cujas linhas não possuem como foco o apoio a atividades de pesquisa e desenvolvimento. Instituições com vocação mais centrada nesta direção, como é o caso da FAPESC, do CNPq, da FINEP e de algumas linhas do SEBRAE não aparecem na lista apontada pelas empresas, com exceção de dois casos específicos. Um cruzamento dos fundos utilizados com a geração de patente demonstrou que as empresas que obtiveram este resultado utilizaram recursos no montante médio de R$ 17.310.000,00 originados das seguintes fontes: BADESC, Fundos Setoriais/FINEP e BNDS. Quanto aos volumes de recursos captados junto a estas instituições, a média obtida pelas grandes foi de R$10.400.000,00 e das empresas de médio porte, R$275.000,00. Embora a grande maioria das empresas que utilizaram recursos de fomento tenha afirmado não terem enfrentado dificuldades para a obtenção destes recursos e tenham considerado-os importantes para os resultados da empresa, como mostra a tabela 22, apenas a minoria das empresas tem a intenção de utilizá-los outras vezes. 140 Tabela 22 – Importância dos recursos de fomento nos resultados da empresa Grandes Médias Pequenas Importância dos Recursos Empresas % Empresas % Empresas Muito importante 2 33,33 1 50 23 74,19 Importante 4 66,67 1 50 8 25,81 Pouco importante 0 0 0 0 0 0,00 Total 6 100 2 100 31 100,00 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Grande porte: o percentual calculado sobre 6 empresas que responderam sim na questão “A empresa já utilizou recursos de fundos de fomento”; Médio porte: o percentual calculado sobre 2 empresas que responderam sim na questão “A empresa já utilizou recursos de fundos de fomento” Pequeno porte: o percentual calculado sobre 31 empresas que responderam sim na questão: “A empresa já utilizou recursos de fundos de fomento”. A tabela 23 apresenta em números as intenções das empresas em repetir as experiências de utilização de recursos de fomento. Tabela 23 – Intenção da empresa utilizar recursos de fundos de fomento outras vezes Intenção de utilizar recursos de fomento Sim Não Talvez Não sabe Total Grandes Empresas 3 1 2 6 Médias % 50,00 16,67 33,33 100,00 Empresas 0 1 1 0 2 % 0,00 50,00 50,00 0,00 100,00 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Grande porte: o percentual calculado sobre 6 empresas que responderam sim na questão “A empresa já utilizou recursos de fundos de fomento”; Médio porte: o percentual calculado sobre 2 empresas que responderam sim na questão: “A empresa já utilizou recursos de fundos de fomento”. É curioso observar na tabela 24, que o principal motivo apontado pelas empresas para não utilizarem recursos de fomento é não necessitarem dele. Isso é congruente com a questão que verifica os fatores críticos de sucesso para as empresas para os próximos anos, onde elas posicionam financiamentos e fomentos como baixa prioridade. Por outro lado, pode denotar uma tendência à continuidade de investimentos tímidos em inovação. Conforme já visto na fundamentação teórica, o processo de inovação é um processo que envolve não apenas custos elevados, como riscos. Estes custos e riscos tornam-se maiores quanto maior a dimensão da inovação vislumbrada. 141 A identificação de fundos de recursos com vocação para atender projetos com tais peculiaridades pode ser decisivo para que a empresa possa de fato desenvolver ações audaciosas no campo da inovação. Contudo, a aparente cultura de auto-suficiência financeira vigente nas empresas pesquisadas pode dificultar estratégias mais arrojadas. Tabela 24 – Motivos pelos quais a empresa nunca utilizou recursos de fomento Por que a empresa nunca utilizou recursos de fomento Grandes Médias Pequenas Empresas % Empresas % Empresas % Desconhecia a existência destes recursos 1 14,29 2 6,25 6 2,51 Tentou, mas não obteve sucesso 1 14,29 3 9,38 24 10,04 Falta de informação - não sabe como fazer - - 1 3,13 19 7,95 Não precisa 4 57,14 21 65,63 172 71,97 Financiamento direto com o fornecedor 1 14,29 Trabalha com o próprio capital 2 6,25 3 1,26 Burocracia 1 3,13 5 2,09 Custo do dinheiro oferecido 1 3,13 0,00 Inviável 1 3,13 0,00 Outro Banco 2 0,84 Campo de atuação restrito 1 0,42 dificuldade de acesso Entraram com a documentação e estão aguardando retorno Não financiam aquisição de terreno (não era interesante para empresa) 1 0,42 1 0,42 1 0,42 Não teve oportunidade ainda. 1 0,42 Os financiamentos tem muitos juros 1 0,42 Outro tipo de recurso 1 0,42 Prefere não utilizar Primeiro dar os primeiros passos com recursos próprios, depois buscar estes recursos 1 0,42 1 0,42 Total 7 32 240 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Questão de escolha múltipla; Grande porte: o percentual foi calculado sobre 7 empresas que responderam não na questão “A empresa já utilizou recursos de fundos de fomento”; Médio porte: o percentual foi calculado sobre 32 empresas que responderam não na questão “A empresa já utilizou recursos de fundos de fomento”; Pequeno porte: o percentual foi calculado sobre 239 empresas que responderam não na questão “A empresa já utilizou recursos de fundos de fomento”. 142 Questionadas quanto à política pública para a inovação, as empresas apontaram com destaque para os incentivos fiscais para investimento em P&D, o que configura um panorama favorável, tendo em vista as diretrizes da Lei da Inovação, que toma este item da política como uma de suas prioridades. A tabela a seguir demonstra também a sensibilidade das empresas para outros dois elementos que também estão contemplados na referida Lei: os incentivos à implantação do que a Lei chama em seu capítulo II de “ambientes especializados e cooperativos de inovação” (na entrevista foram abordados especificamente parques tecnológicos e incubadoras) e a subvenção econômica, apresentada no capítulo IV, parágrafo 19 da mesma Lei. Portanto, nota-se uma sintonia entre os instrumentos legais criados no país e as expectativas das empresas. Contudo, dada a postura verificada em termos de interação com agências de fomento e os tipos e freqüência de interações apresentadas pelas empresas em sua rede de relacionamentos, o bom aproveitamento dos benefícios abertos pela Lei poderá exigir uma mudança de atitude por parte delas. Tabela 25 – Itens de políticas públicas para a inovação considerados prioritários Itens prioritários Incentivos fiscais para investimentos em P&D Política de compras governamentais para produtos inovadores Incentivo à implantação de incubadoras e parques tecnológicos Subvenção econômica Incentivos fiscais na geração de empregos Redução de impostos Não informou Total Grandes Empresas 9 4 5 5 23 % 69,23 30,77 38,46 38,46 - Médias Empresas 26 11 16 12 1 1 1 68 % 76,47 32,35 47,06 35,29 2,94 2,94 2,94 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Questão de escolha múltipla; Grande porte: o percentual foi calculado sobre 13 empresas; Médio porte: o percentual foi calculado sobre 34 empresas. O questionamento quanto às principais dificuldades enfrentadas pelas empresas em suas ações de P&D demonstra que elas ou não estão satisfeitas com as medidas de apoio apresentadas pelo governo ou não estão devidamente informadas sobre as possibilidades disponíveis. As grandes empresas também destacam a escassez de recursos financeiros próprios, o que destoa da resposta obtida na pergunta sobre o porquê da não utilização dos recursos de fomento, quando afirmaram não precisarem destes recursos. No caso das médias, outra alternativa que obteve destaque foi a falta de pessoal qualificado. Esta afirmação apresenta-se em sintonia com a postura declarada pelas empresas nos últimos cinco anos. Como visto anteriormente, investimento em capacitação de RH ficou no segundo grupo de alternativas mais priorizadas 143 pelas empresas. Adicionalmente, as médias empresas também declararam considerar o desenvolvimento de recursos humanos um fator chave ao seu sucesso nos próximos anos (terceira alternativa com maior número de citações na questão pertinente). Contudo, na tabela de relacionamentos mantidos por estas empresas, verifica-se que não há interações significativas relativas à capacitação de pessoal ou à utilização de corpo técnico de parceiros, o que aponta para uma opção endógena para estratégias desta natureza. A tabela 26 demonstra os itens considerados pelas empresas como principais dificuldades enfrentadas em suas ações de P&D. Tabela 26 – Principais dificuldades enfrentadas pela empresa para Pesquisa e Desenvolvimento Dificuldades Não possui estratégias regulares de desenvolvimento tecnológico Escassez de recursos financeiros próprios Dificuldade de acesso a financiamento Dificuldade de formar parcerias Dificuldade de mudar a cultura da empresa Falta de pessoal qualificado Falta de apoio governamental Falta de informações sobre tecnologias Instabilidade do mercado Total Grandes Médias Empresas % Empresas % 3 23,08 12 35,29 6 46,15 5 14,71 4 2 30,77 15,38 5 13 14,71 38,24 4 3 8 30,77 23,08 61,54 8 22 17 23,53 64,71 50,00 30 - 4 1 87 11,76 2,94 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Questão de escolha múltipla; Grande porte: o percentual foi calculado sobre 13 empresas; Médio porte: o percentual foi calculado sobre 34 empresas. A questão que explorou o tipo de atividade de pesquisa realizada pelas empresas apresenta como resultado uma variedade de alternativas, tanto para as empresas de grande quanto de médio porte, como pode ser visto na tabela 27. 144 Tabela 27 – Atividades de pesquisas realizadas pelas empresas Atividades de Pesquisa Grandes Empresas Não realiza nenhum tipo de pesquisa Prospecção mercadológica Coleta de dados e informações técnicas e científicas Pesquisa / prática para geração de novos produtos Pesquisa / prática para geração de novos processos Construção de protótipos Experiência piloto Serviços de assistência técnica como fonte de informação, orientando decisões de P&D Pesquisa / prática para aprimoramento de produtos Pesquisa / prática para aprimoramento de processos Pesquisa para solução de problemas tecnológicos Outros Total 71 Médias % Empresas % 7 53,85 6 19 17,65 55,88 8 61,54 9 26,47 7 53,85 22 64,71 8 9 8 61,54 69,23 61,54 18 20 18 52,94 58,82 52,94 2 15,38 6 17,65 7 53,85 24 70,59 8 61,54 20 58,82 7 - 53,85 - 16 - 47,06 - 178 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Questão de escolha múltipla; Grande porte: o percentual foi calculado sobre 13 empresas; Médio porte: o percentual foi calculado sobre 34 empresas. A natureza das inovações realizadas pelas empresas está mais concentrada na melhoria e aperfeiçoamento que no desenvolvimento de produtos e processos significativamente novos, embora os números relativos a esta segunda opção tenham sido elevados. Inclusive vale observar que estes números (apresentados a seguir) não condizem com o ínfimo número de produtos inovadores informados no início da entrevista. Isso pode apontar uma lacuna de entendimento dos respondentes quanto aos conceitos de inovação, produtos inovadores, e outros associados a estas questões. De qualquer maneira, a tabela a seguir também deixa explícito o maior foco em inovação de produto que de processo pelas empresas pesquisadas, o que as diferencia do cenário da indústria nacional visto em ANPEI (2004), onde se concluiu que a taxa de inovação de produto é inferior à inovação de processo. Por outro lado, vale observar que, as empresas pesquisadas apresentam um perfil similar ao freqüentemente verificado junto às empresas de setores que estão entre aqueles que, apresentam maior intensidade e complexidade tecnológica e que podem ser considerados como geradores e 145 transmissores de progresso técnico para outras atividades econômicas, nas quais a inovação de produto é mais importante do que a inovação de processo (IEDI, 2004). Tabela 28 – Como ocorre a inovação nas empresas Quando a empresa inova, isso ocorre Por meio de melhoramento dos produtos e serviços existentes Por meio do desenvolvimento de produtos e serviços radicalmente novos, que envolvem o desenvolvimento de novas tecnologias e novas competências Por meio de melhoramento dos processos existentes Por meio do desenvolvimento de processos radicalmente novos, que envolvem o desenvolvimento de novas tecnologias e novas competências A empresa não promove inovação Total Grandes Empresas Médias % Pequenas Empresas % Empresas % 11 84,62 26 76,47 213 78,89 7 53,85 20 58,82 139 51,48 10 76,92 27 79,41 210 77,78 4 30,77 13 38,24 136 50,37 - - - - 21 7,78 32 86 719 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Questão de escolha múltipla; Grande porte: o percentual foi calculado sobre 13 empresas; Médio porte: o percentual foi calculado sobre 34 empresas; Pequeno porte: o percentual foi calculado sobre 270 empresas. Numa análise mais detalhada do tipo de inovações realizadas pelas empresas, verifica-se que elas atuam, sobretudo, sobre necessidades explícitas dos clientes. O índice de ação das empresas sobre necessidades ainda não formuladas pelos clientes e no sentido de gerar novas necessidades é inferior. 146 Tabela 29 – As inovações realizadas pela empresa As inovações realizadas pela empresa Atuam sobre necessidades explícitas dos clientes Atuam sobre necessidades não formuladas pelos clientes Geram novas necessidades nos clientes Implicam na mudança do perfil de cliente explorado anteriormente pela empresa Colocam a empresa à frente da concorrência Tornam a empresa significativamente diferente da concorrência Permitem à empresa igualar-se à concorrência Aumentam a participação de mercado da empresa Permitem à empresa explorar novos mercados, já explorados pela concorrência Permitem à empresa explorar novos mercados, que a concorrência não conseguiria explorar Aumentam o faturamento da empresa Influenciam positivamente nas exportações da empresa Aumentam a lucratividade da empresa Aumentam a produtividade da empresa Reduzem o índice de refugos da empresa Outros Total Grandes Empresas % Médias Empresas % 11 84,62 26 76,47 6 46,15 16 47,06 5 38,46 20 58,82 2 15,38 7 20,59 10 76,92 25 73,53 7 53,85 18 52,94 2 15,38 9 26,47 12 92,31 27 79,41 6 46,15 19 55,88 3 23,08 18 52,94 11 84,62 23 67,65 5 38,46 6 17,65 9 69,23 19 55,88 7 53,85 22 64,71 7 53,85 - - 17 272 50,00 - 103 Fonte: a partir da pesquisa Nota: Questão de escolha múltipla; Grande porte: o percentual foi calculado sobre 13 empresas; Médio porte: o percentual foi calculado sobre 34 empresas. Os parâmetros de competitividade são as estratégias vigentes no ambiente competitivo já estabelecido, o que dificulta a realização de inovações de natureza disruptiva. Esta lógica tem conferido às empresas como um dos resultados o aumento de sua participação de mercado e aumento do faturamento. O aumento de lucratividade e da capacidade de exportação, contudo, não são índices tão significativos. Ficam, assim, abertas possibilidades relacionadas à abertura de novos mercados ainda não explorados pela empresa, como pode ser visto na tabela a seguir. Os critérios para a tomada de decisão quanto à realização de uma inovação diferem entre as empresas segundo o porte. Para as grandes e pequenas, o critério número um é o 147 volume de investimento envolvido no projeto. Em segundo lugar, vem a potencialidade da inovação em questão. Já para as médias, a potencialidade vem em primeiro lugar, à frente do volume de investimento, posicionado em segundo. Os fatores tempo e risco são analisados pelas empresas com menor intensidade de importância em relação a volume de investimento e potencialidade. A pesquisa investigou também se as empresas possuem alguma competência essencial que a permita diferir significativamente da concorrência. A maioria afirma que sim e classifica esta diferenciação conforme pode ser visto na tabela 30. Tabela 30 – Natureza da competência essencial da empresa Grandes COMPETÊNCIA DIRETAMENTE RELACIONADA Ao principal produto da empresa A vários produtos da empresa A todos os produtos da empresa Ao processo produtivo da empresa Ao processo de gestão da empresa Ao processo de comercialização da empresa Outros Total Médias Empresas 1 5 3 4 5 % 12,5 62,5 37,5 50 62,5 Empresas 3 5 10 7 8 % 15,00 25,00 50,00 35,00 40,00 2 20 25 - 7 40 35,00 - Fonte: a partir da pesquisa Nota: Questão de escolha múltipla; Grande porte: o percentual foi calculado sobre 8 empresas que responderam sim na questão “A empresa possui uma competência, essencial a sua competitividade e que a diferencia da concorrência? Médio porte: o percentual foi calculado sobre 20 empresas que responderam sim na questão “A empresa possui uma competência, essencial a sua competitividade e que a diferencia da concorrência? Estas competências foram, em maioria, quase absoluta desenvolvidas pela própria empresa, com a única exceção aberta a um fornecedor, que é titular da propriedade intelectual do projeto. Num recorte voltado ao futuro, a pesquisa investiga se as empresas estão prospectando possibilidades tecnológicas para o futuro. Os resultados ficaram próximos; o número de empresas que identificaram tecnologias que deverão possuir no futuro para serem competitivas é próximo ao número que não o fez – cerca da metade. O tipo de tecnologia identificado está concentrado em equipamentos para aperfeiçoamento do processo produtivo. Algumas exceções de inovações para o mercado foram identificadas, valendo destacar duas empresas de grande porte que apontaram para a biotecnologia e a nanotecnologia. Interessante 148 observar que estas duas empresas que indicaram ações de inovação mais diferenciadas são as duas cujas redes de relacionamento são as mais amplas e cujas relações são as mais intensas. Quase a totalidade delas já identificou os fornecedores para as necessidades mapeadas (com exceção de duas médias empresas) o que indica tratar-se de tecnologias já disponíveis no mercado. A propósito dos fornecedores, é válido observar o perfil das empresas que atualmente fornecem para as pesquisadas. No caso das grandes, 39,13% dos fornecedores é do próprio estado de Santa C atarina, 47,82% são de outros estados e 13,04% de outros países, com predominância da Alemanha. Quanto às pequenas, cresce a participação dos fornecedores locais e do próprio estado (57,57%) e do exterior (27,27%), com localização mais pulverizada que no caso das grandes, mas 100% concentrada na Europa, reduzindo a de outros estados (15,15%). Vale observar que dentre os fornecedores do estado, prevalecem os de Blumenau, com ênfase no fornecimento de software. O principal canal, por meio do qual estas empresas identificaram estas necessidades, e os respectivos fornecedores, foi a visita a feiras, citada por 71,43% das grandes e por 76,92% das médias. Para as grandes, em segundo lugar na ordem de importância (citadas por 57,14% dos entrevistados) vêm a leitura especializada, a internet e o contato com universidades e centros de pesquisa. As médias apresentam um perfil distinto. Com grande concentração nas feiras, o segundo lugar (internet) é citado por 53,85% dos casos e o terceiro (leitura especializada) por apenas 38,46%. O contato com universidade e centros de pesquisa não foi citado. Numa perspectiva similar às questões anteriores e também focada no recorte temporal para o futuro, a pesquisa questionou se as empresas identificaram tecnologias entrantes capazes de modificar substancialmente seu negócio; 69,23% das grandes, 70,59% das médias e 58,89 das pequenas disseram que sim. Os resultados quanto às iniciativas para acessá-las são similares aos obtidos no conjunto de perguntas anterior. Apesar de as universidades não terem sido apontadas como fonte para a identificação de possibilidades tecnológicas para o futuro, em questão aberta que investigou oportunidades de inovação que permitirão à empresa diferenciar-se no futuro, a maior aproximação a instituições desta natureza foi um dos nove itens citados. Adicionalmente, vale observar que dois dos oito itens citados nesta questão dizem respeito especificamente à implantação de métodos de gestão que permitam à empresa tornar-se mais 149 inovadora. Similarmente, de oito itens apontados em questão aberta que investigou os gargalos tecnológicos destas empresas, dois dizem respeito à dificuldades estruturais para a promoção da inovação e um, à falta de integração e universidades e centros de pesquisa. Assim, apesar do cenário atual apresentar limitações quanto às ações efetivas relacionadas à inovação, há abertura e sensibilidade para o aperfeiçoamento no futuro. 150 5. CONCLUSÕES Para o fechamento deste trabalho, optou-se pelo resgate dos principais resultados obtidos e apresentação das conclusões formuladas de forma relacionada aos objetivos específicos propostos. Neste sentido, um primeiro conjunto de considerações diz respeito às estratégias de inovação formuladas e implantadas pelas empresas. O percentual de novos produtos em relação ao total de produtos oferecidos pelas empresas ao mercado é bastante pequeno e torna-se ainda menor quando se trata de produtos inovadores. O foco de mercado é local. Mesmo quando falam dos planos futuros, as empresas apontam o mercado nacional como objeto de seus interesses estratégicos. A maior abrangência geográfica é proporcional ao porte das empresas. Assim, a concentração de exportação dá-se junto às grandes. O número de mestres e doutores é baixo. Verificou-se que não há maior concentração de pesquisadores com elevado nível de formação em empresas de grande porte em relação às de médio e pequeno. Não há relação estreita entre a estratégia corporativa e a estratégia de P&D. Embora as empresas desejem inovar, inclusive considerando essa uma de suas prioridades estratégicas, ações de P&D não aparecem com destaque nas parcerias mantidas externamente. A pesquisa sugere que as estratégias de inovação adotadas pelas empresas sejam de caráter endógeno. Assim, a perspectiva da inovação como um fenômeno interativo, conforme defendido por Shumpeter (1982), Freeman (1995) e Lundvall (1992), não é verificada nas empresas pesquisadas. Isso pode ser reflexo de um padrão cultural que fomenta uma postura de auto-suficiência por parte das empresas, mas também pode estar relacionado a uma gestão tecnológica frágil. Ou seja, à ausência de uma postura pró-ativa quanto à inovação, além da falta de entendimento quanto à relação entre as tecnologias centrais da empresa e sua capacidade competitiva. Um bom entendimento acerca destas questões poderia resultar num 151 processo de gestão de portfólio mais consistente, capaz de conferir à empresa maior clareza quanto aos projetos a serem mantidos sob sigilo e aqueles passíveis de cooperação. Independentemente do estabelecimento de relações de cooperação para o desenvolvimento de projetos específicos, as interações externas, que se apresentam como essenciais na geração dos novos conhecimentos que constituem a base da inovação, também aparecem com baixa intensidade. Vale observar que esta intensidade é reduzida proporcionalmente à redução do porte da empresa. Quanto menor a empresa, menor a variedade da rede de relacionamentos e a intensidade das interações estabelecidas. As empresas maiores, que supostamente possuem maior riqueza de recursos internos, são aquelas que mais estabelecem parcerias externas. As parcerias atuais e as intenções de parcerias futuras estão principalmente focadas em membros da curva de valor atual da empresa – clientes, concorrentes e fornecedores. O objeto das interações é principalmente a troca de idéias. Interações de maior complexidade, como a transferência de tecnologia e ações conjuntas de P&D fica com baixo nível de destaque. Adicionalmente, o espectro de visão estratégica das empresas está restrito a estes atores com grande importância na curva de valor presente. Mesmo quando questionadas sobre a prospecção de tecnologias e oportunidades futuras, demonstram-se limitadas a este raio de análise. Aquelas que ultrapassam a interação com parceiros usuais, citam como instrumentos de acesso à informação feiras setoriais e leituras especializadas. Apesar da importância destes instrumentos, eles restringem a visão estratégica das empresas à curva de valor tradicional. Neste contexto, verificou-se que o principal stakeholder que influencia as estratégias das empresas são os clientes. A satisfação dos clientes é apontada pela maioria como a razão que as torna competitiva. Esta percepção pode ser uma das responsáveis pela ausência de estratégias mais agressivas quanto à inovação. Na busca de manter a satisfação dos clientes atendendo as demandas formuladas pelo mercado em que historicamente atua, a empresa fica, a curto prazo, presa a ações conservadoras impostas por este mercado, justamente com vistas à manutenção de sua competitividade. A estratégia focada na criação de valor ao cliente, visando conquistar e/ou manter sua fidelidade, remete a empresa à curva de valor já conhecida e quiçá dominada, afastando-a da inovação de ruptura. O pensamento estratégico dos gestores é influenciado e pode ser limitado às fronteiras do pensamento dos stakeholders, o que, adicionado às experiências obtidas pela 152 empresa dentro de uma determinada rede de relacionamentos e às estruturas e culturas feitas sob medida para este rede específica, pode caracterizar uma situação de determinismo. Uma alternativa a esta limitação poderia novamente ser o desenvolvimento da gestão tecnológica nas empresas. Na definição do portfólio de projetos, se poderiam prever a criação de espaços para investimentos mais ousados e de maior risco, nos quais a utilização de linhas de fomento hoje não utilizadas amenizaria custos e diluiria riscos. Contudo, a pesquisa sugere que todo este panorama não seja reflexo de descaso das empresas em relação à inovação, quando identificam o desenvolvimento de novos produtos e de produtos inovadores como as duas principais prioridades estratégicas das empresas nos últimos cinco anos. Por outro lado, os objetivos definidos pelas empresas em relação aos seus esforços de inovação apontam principalmente para a melhoria da qualidade, aumento das vendas e na participação em seu mercado de atuação e conseqüente aumento de faturamento, além de aumento da lucratividade. Trata-se de objetivos focados especialmente no crescimento a partir da melhoria de produtos e processos, que permitem classificar as estratégias de inovação como estratégias incrementais. Intenções estratégicas, assim como ações voltadas à realização de inovação disruptivas, conforme visto em Christensen (2000) não são verificadas. Dentro das perspectivas temporais que caracterizam a formulação das estratégias, nota-se que as empresas vislumbram o futuro e as possibilidades a ele inerentes, mas sempre tomando o passado e a posição nele sedimentada como fortes referências, de modo que se torna difícil afirmar se o entendimento de estratégia predominante é como “plano” ou “padrão”, “posição” ou “perspectiva”, conforme referências conceituais vistas em Mintzberg (1999). Parece haver um mix entre estes conceitos. Contudo, é possível afirmar que a lógica estratégica predominante, segundo a perspectiva de Kim (2004) é a “lógica convencional”, em detrimento da “lógica da inovação com valor”. Mesmo quando focadas nas possibilidades futuras – e as empresas demonstraram estar em busca de novas experiências e oportunidades em relação às já vivenciadas – a referência são os concorrentes e clientes atuais, suas necessidades e expectativas. A influência dessa restrição à curva de valor atual sobre a capacidade inovativa foi discutida anteriormente. O segundo conjunto de considerações diz respeito às relações estabelecidas 153 pelas empresas com universidades, governos e entidades privadas de fomento ao desenvolvimento empresarial. As universidades e centros de pesquisa não estão entre os três atores com os quais as empresas mais mantêm relações de cooperação e parceria, embora apareça com freqüência significativa entre as grandes. O objeto desta relação é, sobretudo quanto à troca de idéias, uso de equipamentos e laboratórios e utilização de corpo técnico. Os principais resultados obtidos são o aperfeiçoamento do processo produtivo e a melhoria da produtividade. Assim, as relações com universidades não apresentaram como resultado principal contribuições significativas a inovações mais vigorosas, o que pode estar mais relacionado à ausência de uma inclinação neste sentido pelas estratégias destas empresas do que ao baixo potencial das universidades em contribuírem efetivamente para este fim. Cruzamentos que demonstraram serem as empresas com resultados em exportação aquelas que apresentam relações mais freqüentes com universidades podem sugerir alguma potencialidade deste parceiro quanto à conquista de diferencial competitivo de caráter global. Quanto às relações com políticas e programas de governo e respectivas agências de fomento, verificou-se que os instrumentos disponíveis não estão atingindo as empresas têxteis blumenauenses, nem contribuem diretamente para a superação do déficit em inovação destas empresas. Esta situação pode ser influenciada por aspectos culturais, que as tornam fechadas o suficiente para não perceberem as possibilidades de apoio e fomento disponíveis, mas também pode ser um gap na comunicação por parte dos governos e respectivas agências com as empresas deste setor. Pode-se ainda supor que haja uma inadequação das políticas criadas em relação às necessidades existentes, embora isso não pareça ser verdadeiro tendo em vista que as expectativas explicitadas pelas empresas quanto às políticas públicas estão em sintonia com alguns dos instrumentos mais relevantes da lei da inovação. Incentivos para investimentos em P&D, subvenção econômica e incentiva à implantação de parques tecnológicos e incubadoras de empresas, elementos balizadores da referida lei, são explicitamente apontados pelas empresas como centro de suas expectativas em relação ao apoio do governo às suas atividades voltadas à inovação. Isso sugere a carência por instrumentos de comunicação mais efetivos. Os recursos públicos utilizados pelas empresas estão em sintonia com sua estratégia 154 incrementalista; ou seja, muito mais focados no aumento e melhoria da capacidade produtiva do que no desenvolvimento de projetos de inovação mais vigorosos. Os recursos de fomento não são objeto de intenção futura das empresas, que julgam não necessitar de auxílio neste sentido. Conforme já visto na fundamentação teórica e comentado na análise dos resultados, o processo de inovação é um processo que envolve não apenas custos elevados, como riscos, que se tornam maiores quanto maior a dimensão da inovação vislumbrada. Neste sentido, a identificação de fundos ou programas de fomento com vocação para atender projetos com tais peculiaridades pode ser decisiva para que as empresas possam de fato desenvolver ações audaciosas no campo da inovação. A maior aproximação entre as empresas e os programas de fomento torna-se particularmente relevante quando se considera que o volume de investimento necessário a um projeto de inovação é apontado pelas empresas como fator número um no processo decisório, à frente de fatores como risco e tempo. E quanto às relações com instituições privadas de fomento ao desenvolvimento empresarial, pode-se afirmar que este grupo de parceiros aparece com destaque superior às universidades e governos. O principal objeto das relações é a troca de idéias e os principais resultados obtidos estão relacionados ao aperfeiçoamento do processo de comercialização, produtivo e de gestão. Passando-se aos resultados obtidos pelas empresas a partir das relações entre suas estratégias de inovação e as interações estabelecidas externamente, conclui-se que, corroborando as estratégias implantadas, os resultados estão mais concentrados na melhoria e no aperfeiçoamento que no desenvolvimento de produtos e processos significativamente novos. As poucas empresas que inovaram no período pesquisado não auferiram ganhos de faturamento merecedores de destaque. Mesmo assim, a lógica estratégica adotada pelas empresas de um modo geral tem proporcionado ganhos como o aumento de faturamento e da participação de mercado. Resultados como o aumento da lucratividade e da capacidade de exportação, entretanto, não aparece com índices significativos. Ou seja, as inovações mais vigorosas ainda representam um ganho pequeno em relação ao universo de possíveis fontes de faturamento disponíveis nas empresas. Especialmente nas grandes, os ganhos conseguidos são insignificantes se confrontados com o total, destacando a pequena atratividade, no curto prazo, que as inovações disruptivas podem 155 proporcionar às empresas, especialmente aquelas de grande porte. Por outro lado, uma perspectiva de análise voltada para o futuro pode sugerir que o desenvolvimento da capacidade inovativa seja uma alternativa à ampliação da capacidade de criação de novos mercados e de exportação, com conseqüente ampliação mais significativa de faturamento. Adicionalmente, os ganhos de lucratividade, ora frágeis, também podem ter na inovação uma aliada. Cruzamentos focados em explorar possíveis relações entre o lançamento de novos produtos e de produtos inovadores, melhoria de processo e ganhos de faturamento e lucratividade. Sugerem que a inovação de produto proporciona melhores ganhos financeiros e de participação de mercado que a inovação de processo. Os resultados são visivelmente inferiores para as médias em relação às grandes e pequenas, tanto com relação a lançamento de novos produtos, quanto a ganhos de faturamento e lucratividade. Além destas conclusões relacionadas diretamente aos objetivos específicos propostos ao trabalho, algumas considerações de caráter geral também podem ser estabelecidas no contexto da presente pesquisa. Primeiramente, parece possível afirmar que não há, em Blumenau, um cluster têxtil, se considerado o conceito apontado por Porter (1998), que o define como uma concentração geográfica de empresas e instituições de um determinado campo, interconectadas. O componente “empresarial” está apresente, assim como o componente “territorial” e o componente “institucional”. Contudo, a interconexão, caracterizada por relações de interação sistemáticas, existe em baixíssima intensidade, sobretudo nas médias e ainda mais nas pequenas. A caracterização de um cluster exigiria ações no sentido de promover a intensificação destas relações. Especialmente levando-se em conta a pressão competitiva deste segmento e a urgência da inovação, relações com instituições capazes de contribuir com atividades mais vigorosas de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias poderiam surtir bons resultados. A escassez de relações com parceiros provedores de ciência e tecnologia pode envolver questões culturais que mantêm separadas as instâncias acadêmicas e empresariais. Contudo, pode-se supor também a existência de um gap de comunicação, que gera um desconhecimento por parte das empresas quanto às possíveis contribuições da ciência a sua capacidade inovativa. Adicionalmente, outro aspecto pode ser o distanciamento e a postura autosuficiente também das universidades e centros de pesquisa. Entretanto, com a crescente 156 cobrança pela apropriação do resultado da pesquisa no setor produtivo para efeito de geração de ganhos sócio-econômico a partir dos investimentos na ciência, e com os benefícios e incentivos crescentes a projetos de cooperação universidade-empresa, as instituições de natureza científica estão criando estruturas que deverão facilitar este tipo de relação. A criação de núcleos de inovação tecnológica (NIT’s), incubadoras de empresas e a participação em parques tecnológicos, são exemplos de estruturas que podem facilitar a redução deste gap. Uma abertura cultural por parte das empresas poderá ser importante para consolidar o avanço. Os incentivos oferecidos pela Lei da Inovação poderão contribuir neste sentido. Contudo, a existência de figuras animadoras, que otimizem inclusive o processo de comunicação às empresas sobre estas possibilidades, poderá ser decisiva. Aparentemente, as próprias universidades, por meio das estruturas citadas acima, é que desempenharão este papel. Avançando as reflexões em torno do funcionamento dos clusters, a pesquisa faz cogitar a restrição da potencialidade das relações de cooperação estabelecidas no contexto do cluster quanto à inovação. Ou seja, projetos cooperativos desenvolvidos no contexto do cluster estarão limitados à perspectiva sustentada, talvez até simplesmente à melhoria e superação de gargalos. Projetos mais vigorosos, que apontem para rupturas tecnológicas, conforme visto em Christensen (2000), serão desenvolvidos individualmente por empresas que façam gestão estratégica da tecnologia, e que, portanto, saibam perceber quando um projeto pode ter um impacto estratégico na sua capacidade competitiva que compense um volume mais significativo de investimento e um índice mais intenso de risco. Esta pode ser uma limitação do conceito de cluster à inovação. Como estas questões não fazem parte do escopo deste trabalho, poderiam ser exploradas em pesquisas futuras. De qualquer maneira, empresas com um processo de gestão estratégica da tecnologia bem desenvolvido, terão maior segurança para explorar as redes de relação que o cluster proporciona. Ainda no campo das observações de caráter geral, é interessante observar que os resultados obtidos na pesquisa apontam muitas similaridades a outros estudos já referenciados na fundamentação teórica, tanto de âmbito local (Fallgatter, 2003), quanto nacional (ANPEI, 2004; IBGE, 2002; CNI e FINEP, 2002) e internacional (IEDI, 2004; ONUDI, 2002; Tödling e Kaufmann, 2002). As fragilidades verificadas no setor têxtil de Blumenau não posicionam estas empresas em condições inferiores a empresas de setores tradicionais de outras regiões e países. 157 Tampouco suas estratégias e forma de lidar com a questão da inovação diferem significativamente. Localmente, os resultados deste estudo são bastante próximos àqueles obtidos em pesquisa realizada junto a empresas dos vários setores empresariais. Estes vários estudos demonstram que o setor de atuação da empresa exerce influência direta em sua postura em relação à inovação. O total de empresas que efetivamente realizam inovações radicais e, sobretudo disruptivas, é pequeno, e estas poucas empresas estão concentradas num restrito universo de setores. Viu-se que em setores tecnologicamente mais dinâmicos, as estratégias e os recursos aplicados em P&D tendem a ser altamente críticos, constituindo, em alguns deles, requisito básico para a sobrevivência das empresas. Inversamente, em setores tradicionais, como é o caso do têxtil, essas estratégias aparecem principalmente como fator de diferenciação competitiva para empresas mais dinâmicas. Também foram vistos na fundamentação teórica estudos que verificam a relação entre o porte da empresa e suas estratégias de inovação. As conclusões apontam para uma maior concentração de inovações pelas empresas de grande porte, sugerindo como possível justificativa a maior disponibilidade de recursos para investimentos em P&D e no processo de inovação de um modo geral por estas empresas, em relação às de pequeno e médio porte. Nesta pesquisa, verificou-se uma aparente situação de fragilidade das médias empresas. Em vários dos indicadores contemplados na pesquisa, nota-se que as médias apresentam condições inferiores às pequenas e às grandes. Formulou-se a hipótese de que as empresas deste porte não encontrem o amparo institucional que as pequenas recebem, nem tampouco contem com a estrutura e capacidade própria que as grandes possuem. Mas esta é uma questão que merece análise específica e extrapola os limites deste trabalho. As pesquisas acima referenciadas concluíram que empresas que tiveram apoio direto em projetos para a inovação são inovadoras de maior sucesso do que aquelas que não tiveram. A perspectiva temporal contemplada nesta pesquisa, bem como a forma como foi concebido o instrumento de coleta de dados, não foram conclusivos quanto a esta questão, que pode ser relevante à tomada de decisão por instituições de fomento à inovação. Por isso, este é mais um ponto que merece exploração adicional. Finalmente, podem-se apontar, a partir das colocações anteriores, alguns desafios, a título de considerações finais. Viu-se que a conclusão do ciclo da inovação exige ir da geração à aplicação e à difusão do conhecimento. Isso envolve o estabelecimento de vínculos entre atores de diversas naturezas. 158 Constatada a natureza interativa da geração de conhecimento e da própria inovação, como visto em Shumpeter (1982), Freeman (1995) e Lundvall (1992), empresas solitariamente têm sua capacidade inovativa restringida. Identificados os desafios intrínsecos a esforços de inovação mais vigorosos, torna-se importante reconhecer a necessidade de apoio por parte de instituições e governos. Concedidas medidas de apoio por parte de governos e instituições privadas, torna-se novamente relevante a interação entre as empresas, para que processos de cooperação permitam a otimização dos recursos de apoio recebidos. Verificada a dificuldade de interação entre estes vários atores, arestas estruturais e culturais necessitam ser aparadas para que os esforços possam estar sintonizados. Modificações estruturais, apesar de poderem ser realizadas no curto ou médio prazo, requerem um horizonte de longo prazo, para que se justifiquem as mudanças que os demais atores da rede venham a fazer para ajustarem-se a elas. Trata-se de ajustes mutuamente dependentes; por isso, salvo sob um horizonte de longo prazo, que embase mudanças sustentáveis, a transformação pode não ocorrer. Por exemplo, a concessão de medidas de apoio por parte de instituições e governos requer políticas de longo prazo, de modo que se justifiquem mudanças de estratégia e estrutura por parte das empresas com vistas a estarem em sintonia com as possibilidades disponibilizadas por estas políticas. Adicionalmente às mudanças estruturais, mudanças culturais surgem como relevantes, visto que os problemas de interação freqüentemente não estão atrelados a dificuldades explícitas, mas a pressupostos e efetivamente a diferenças de valores arraigados nos diferentes atores. Tanto no caso das mudanças estruturais quanto culturais, um processo de comunicação intenso parece necessário. Atores com vocação para “animar” e “alinhar” o processo de transformação tornam-se importantes. Instituições focadas na promoção da inovação parecem apresentar esta vocação. Universidades, governos e empresas, submersos em suas atividades fins, sustentadas por estruturas e culturas lapidadas para garantir sua operação, podem apresentar limitações para a atitude neutra e visionária que este desafio requer. Mas esta também é uma questão que merece exploração adicional. Ficam, assim, algumas reflexões e sugestões de trabalhos futuros que possam gerar um corpo de conhecimento capaz de contribuir para a construção de modelos de inovação organizacional. 159 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE, Eduardo da Motta e. Apresentação. In: Revista Brasileira de Inovação,v 3, n1, jan-jun, pg 9-13, 2004. ANPEI. Como alavancar a inovação tecnológica nas empresas. São Paulo, 2004. ANPROTEC. Panorama 2004. Acessado em outubro de 2005. Disponível em www.anprotec.org.br. ANPROTEC. Empreendedorismo e inovação promovendo o desenvolvimento sustentado. XIV Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas – Anais. Porto de Galinhas, 2004. ANPROTEC e SEBRAE. 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Disponível em www.sebrae.com.br. 168 ANEXOS ANEXO A QUESTIONÁRIO PARA AS GRANDES E MÉDIAS EMPRESAS DO SETOR TÊXTIL Estratégias de inovação no setor têxtil Blumenauense – Roteiro de entrevista A) CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA 1. Razão Social da Empresa: 2. Nome comercial: 3. Endereço completo: 4. Telefone/Fax: 5. Homepage: 6. Diretor responsável pelas informações: Nome: E-mail: Nome: E-mail: Nome: E-mail: Nome: E-mail: Nome: E-mail: 7. Ano de fundação da empresa: 8. Área de Atuação: ( ) Beneficiamento ( )Fabricação de Acabamentos e Acessórios ( ) Fiação ( ) Confecção ( ) Fabricação de Tecidos ( ) Outros ______________________________________ _______________________________________________ B) PRODUTOS / SERVIÇOS 1) Principais linhas de produtos comercializados pela empresa: DESCRIÇÃO DO PRODUTO 1. 2. 3. 4. 2) Evolução número de produtos PRODUTOS Número total de produtos oferecidos ao mercado Número total de novos produtos1 Número total de produtos inovadores2 Número de produtos que representam 80% ou mais do faturamento 2003 2004 2005 169 1. PRODUTO NOVO: produto novo para a empresa, mas que já existia no mercado. 2. PRODUTO INOVADOR: produto novo para a empresa e para o mercado, ou seja, trata-se de algo anteriormente desconhecido, inexistente no mercado. Obs.: Os itens de uma nova coleção serão considerados produtos inovadores apenas se contemplarem características inovadoras que ultrapassem elementos como cores e modelos, ou seja, elementos que sempre mudam com o lançamento de novas coleções e que usualmente são diferentes de uma empresa para outra, mas que efetivamente não caracterizam inovação. C) ASPECTOS FINANCEIROS 1) Distribuição do capital da empresa (considerando 100%): % nacional: % estrangeiro: 2) Destino das vendas da empresa (considerando 100%): % dentro do estado: % outros estados ou regiões: % exterior: 3) Faturamento da empresa: Estimativa do faturamento para este ano (2006): R$ Faturamento total da empresa no ano anterior: R$ Percentual do faturamento com novos produtos: (lançados nos últimos dois anos) Percentual do faturamento com produtos inovadores: (lançados nos últimos dois anos) Percentual do faturamento de produtos com patente: (lançados nos últimos dois anos) D) RECURSOS HUMANOS 1) Número de colaboradores da empresa: ________ empregados ________ terceirizados (pessoa física) ________ terceirizados (pessoa jurídica) 2) Número de empregados por grau de instrução Fundamental incompleto: Pós-Graduação: Fundamental completo: • Especialização: Médio incompleto: • Mestrado: Médio completo: • Doutorado: Superior incompleto: Superior completo: 170 E) REDE DE RELACIONAMENTO 1) Principais parcerias estabelecidas pela empresa, objeto e freqüência das relações pertinentes às parcerias. Utilizar as opções: N – não se aplica, E – esporádica, S – sistemática, para caracterizar a freqüência. PARCEIROS Universidades e/ou centros de pesquisa. Qual (is)? Instituições de Ensino Superior Qual (is)? Governo Entidades de classe empreariais. Qual (is) ? Concorrentes Fornecedores Clientes Empresas de consultoria Instituições prestadoras de serviços (SEBRAE, Sesi, Senai, Senac, etc.). Qual (is) ? OBJETO DAS RELAÇÕES Troca de idéias e informações N N N E S N N E S N E S N E- E- E- E- S- S- S- S- Uso de equipamentos e laboratórios N N N E S N N E S N E S N E- E- E- E- S- S- S- S- Ações conjuntas de P&D N N N E S N N E S N E S N E- E- E- E- S- S- S- S- Uso do corpo técnico / docente E- N S- Transferência de tecnologia E- N E S N N E S N E S N E- E- S- S- S- N S- Treinamento N E- N N E S N N E S N E S N E- E- E- S- S- S- N N N E S N N E S N E S N E- E- E- E- S- S- S- S- Caso não haja nenhuma parceria, pular para a questão 8. E S N E S N E S N E S N E S N E S N E S N E S N E S N E S N E S N E S N 171 2) As relações estabelecidas com os parceiros estão voltadas a: FINALIDADE PARCEIROS Universidades Pesquisa e/ou Centros Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) PRODUÇÃO COMERCIALIZAÇÃO NÃO SE APLICA de Governos Entidades de Classe Concorrentes Fornecedores Clientes Empresas de consultoria Instituições prestadoras de serviços 3) Quais são as barreiras para estas alianças/parcerias? Múltipla escolha ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) Não há barreiras / dificuldades Dificuldade de acesso ao parceiro Comunicação deficiente Aspectos políticos Custo dos serviços oferecidos pelo parceiro ( ) ( ) ( ) Diferenças culturais Falta de pessoal qualificado no parceiro Infra-estrutura inadequada do parceiro ( ) Outra(s). Especificar: ______________ ________________________________ ________________________________ 4) Em relação aos fornecedores de tecnologia: Principais Cidade / Estado / País fornecedores? (até 3 principais) 1. ____________________ Principais tecnologias fornecidas por estes fornecedores (citar até 3) 1. _________________________________ 2. ____________________ _________________________________ 3. 2. 1. ____________________ _________________________________ 2. ____________________ _________________________________ 3. 3. 1. ____________________ _________________________________ 2. ____________________ _________________________________ 3. 172 5) Com os resultados das interações estabelecidas por meio das parcerias, a empresa tem obtido: Instituições de Ensino Superior Governo Entidades de classe empresariais Concorrentes RESULTADOS Clientes Universidade s e/ou centros de pesquisa Fornecedores PARCEIROS Empresas de consultoria Instituições prestadoras de serviços Lançamento de novo produto Lançamento de produto inovador Geração de patente Ampliação market share (participação de mercado) Inserção em novo mercado Aperfeiçoamento processo produtivo Aperfeiçoamento processo gestão Aperfeiçoamento processo de comercialização Melhoria da produtividade Melhoria da qualidade Aumento do faturamento Aumento da lucratividade Outros 6) Assinale a intenção futura da empresa em relação às parcerias: INTENÇÕES Manter parceria PARCEIROS Universidades e/ou Centros de Pesquisa Governos Entidades de Classe Concorrentes Fornecedores Clientes Empresas de consultoria Instituições prestadoras de serviços Intensificar parceria Aperfeiçoar parceria Encerrar parceria Identificar novos parceiros Não se aplica 173 7. Além das parcerias atuais há necessidade de novas parcerias? ( ) Sim ( ) Não Continuar o questionário no GRUPO F, página seguinte. 174 8) (PARA QUEM NÃO TEM NENHUMA PARCERIA) Há algum tipo de barreira que esteja impedindo sua empresa de realizar parcerias? ( ) Sim ( ( ( ( Dificuldade de acesso ao parceiro Comunicação deficiente Aspectos políticos Custo dos serviços oferecidos pelo parceiro ) ) ) ) ( ) Não ( ( ( ( ) ) ) ) Diferenças culturais Falta de pessoal qualificado no parceiro Infra-estrutura inadequada do parceiro Outra(s). Especificar: ______________ ________________________________ ________________________________ F) ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS 1) Ao desenvolver novo produto, na maioria das vezes, a empresa objetiva: ( ) Mercado nacional ( ) Mercado internacional 2) Quais as razões que tornam sua empresa competitiva no mercado onde atua (múltipla escolha) ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) Participação de mercado Preço Rentabilidade Crescimento Tecnologia ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) Grau de inovação/Pioneirismo Exportações Satisfação do cliente Ciclo de vida do produto Outro. Especificar________________ _______________________________ 3) Quais as estratégias de negócios priorizadas nos últimos 5 anos? Numerar de 1 a 5, por ordem de importância, sendo 1 o mais importante. ( ) Lançamento de novos produtos / serviços ( ) ( ) Lançamento de produtos / serviços inovadores Novos processos de produção Novos métodos de gestão Marketing mais intenso Mais investimentos em design Mais investimentos em logística ( ) ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) Investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento (P&D) Mais investimentos em capacitação de Recursos Humanos (RH) Expansão do volume de produção Novos mercados geográficos Novos segmentos de mercado Expansão da capacidade de exportação Outra (s). Especificar___________________ ____________________________________ ____________________________________ 4) Como a empresa formula suas estratégias? (múltipla escolha) 175 ( ) Analisando as oportunidades e ameaças de seu ambiente de negócios ( ) Comparando seus recursos e capacidades com os dos concorrentes e identificando, a partir disso, seus pontos fortes e fracos ( ) Identificando desejos e necessidades explícitas de seus clientes ( ) Buscando atender desejos e necessidades ainda não formuladas pelos clientes ( ) Avaliando o comportamento estratégico de empresas de outros setores ( ) Avaliando a satisfação de seus clientes em relação às estratégias passadas ( ) Identificando possibilidades que permitam a criação de novas necessidades junto aos seus clientes ( )Analisando oportunidades em novos ambientes de negócios ( ) Identificando caminhos para o ingresso em novos mercados ( ) Outro. Especificar__________________________________________________________________ 5) Quem participa diretamente da formulação das estratégias da empresa? (múltipla escolha) ( ( ( ) ) ) Diretores Gerentes Funcionários em geral ( ( ( ) ) ) ( ) Consultores externos ( ) Clientes Fornecedores Parceiros externos. Quais?____________ __________________________________ Outro (s). Especificar________________ __________________________________ 6) Em que o sucesso da empresa dependerá nos próximos dois anos? Fatores Renovação e atualização dos equipamentos Utilização mais eficiente dos equipamentos Alterações expressivas no sistema de gestão Desenvolvimento e lançamento de novos produtos Desenvolvimento e lançamento de produtos inovadores Capacidade de mudar estratégias com ênfase em P&D Capacidade de mudar estratégias com ênfase em marketing Capacidade de expansão da base produtiva Fomento/financiamentos Abertura de novos mercados Ampliação da capacidade de exportação Aperfeiçoamento da capacidade logística Desenvolvimento de Recursos Humanos Intensificação de parcerias Prioridade baixa Prioridade média Prioridade alta 176 G) PROCESSO DE INOVAÇÃO 1) Quais os principais objetivos dos esforços de inovação? ( ) Substituir produtos ( ) ( ) Melhorar a qualidade dos produtos Ampliar a gama de produtos Reduzir custos da mão-de-obra Reduzir o consumo de matéria prima Reduzir o consumo de energia Reduzir danos ambientais Entrar em novos mercados ( ) Adequar a empresa a normas, regulamentações técnicas Aumentar a flexibilidade da produção ( ) ( ) ( ) Ser pioneiro Aumentar a participação de mercado Criar novos mercados ( ) ( ) ( ) Aumentar vendas Aumentar lucratividade Outros ____________________________________ __________________________________________ ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) padrões e 2) A empresa possui um núcleo ou setor responsável exclusivamente pelas atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D)? ( ) Sim (Se sim, indique quantas pessoas atuam diretamente nesta atividade: _______) ( ) Não (Se não, pule para a questão 4) 3) Das pessoas que atuam em P&D, _______ (nº de pessoas) são doutores e _____são mestres. 4) As atividades de desenvolvimento de novos produtos na empresa: ( ) são realizadas internamente, dentro do setor de P&D ( ) são realizadas internamente, por equipe dedicada exclusivamente ao desenvolvimento de produto ( ) são realizadas internamente por equipe dedicada ao desenvolvimento de produto em caráter não exclusivo ( ) são contratadas externamente. Nome do fornecedor_______________________ Cidade/Estado/País_________________ Nome do fornecedor_______________________ Cidade/Estado/País_________________ Nome do fornecedor_______________________ Cidade/Estado/País_________________ Nome do fornecedor_______________________ Cidade/Estado/País_________________ Nome do fornecedor_______________________ Cidade/Estado/País_________________ Nome do fornecedor_______________________ Cidade/Estado/País_________________ Nome do fornecedor_______________________ Cidade/Estado/País_________________ 177 5) Caso as atividades de desenvolvimento de produtos sejam desenvolvidas internamente: Quantas pessoas atuam: em caráter exclusivo em caráter esporádico Qual sua área de formação: (múltipla escola) ( ) Técnico têxtil ( ) Moda ( ) Engenharias ( ) Outro__________________________ __________________________________ 6) Caso pessoas de diferentes setores da empresa envolvam-se em caráter esporádico no desenvolvimento de produtos, aponte os setores aos quais elas pertencem: ( ) Marketing ( ) Produção ( ) Vendas ( ) Financeiro ( ) Outro ______________ 7) A empresa utiliza metodologias voltadas ao desenvolvimento de produtos? ( ) Sim ( ) Não 8) Se SIM, identifique as metodologias ( ) Brainstorm ( ) Método Delphi ( ) Target Costing ( ) Quality Function Deployment ( ) Conjoint Measurement ( ) Outros _____________________________ ______________________________________ 9) Existe uma política de investimento sistemático em P&D? ( ) Sim Se sim, quanto investido? do faturamento é ( ) Até 10% ( ) 21 a 30% ( ) 11 a 20% ( ) Acima de 30% ( ) Somente recursos humanos ( ) Não 10) A empresa já utilizou recursos de fundos de fomento (Ex. Badesc, Blusol, CNPq, Sebrae...)? ( ) Sim ( ) Não (passe para a questão 17) 11) Para que atividades os recursos obtidos foram utilizados? Múltipla escolha ( ( ( ) P&D ) Comercialização ) Produção ( ( ( ) ) ) Treinamento Consultoria Outra (s). Especificar_____________ ______________________________ 178 CNPq CNPq Fundos Setoriais/FIN EP Fundos Setoriais/FI NEP SEBRAE– Tec FAPESC RESULTADOS BLUSOL FONTES BADESC RESULTADOS Lançamento de novo produto Lançamento de produto inovador Ampliação da participação de mercado Aperfeiçoamento do processo produtivo da empresa Aperfeiçoamento do processo de gestão da empresa Aperfeiçoamento do processo de comercialização da empresa 1. Fundo de mão de obra para P&D RHAE1/CN Pq SEBRAE– Tec FAPESC BLUSOL BADESC FONTES RHAE1/CNP q 12) Aponte as fontes de recursos (fomento) utilizadas e os resultados obtidos a partir de sua utilização Outro(s) Especificar Outro(s). Especificar Melhoria da produtividade Melhoria da qualidade Aumento da lucratividade Aumento do faturamento Outro (s). Especificar _________________ _________________ 1. Fundo de mão de obra para P&D 13) Qual o volume de recurso obtido? R$ _____________________________ 14) A empresa enfrentou dificuldades para obtenção dos recursos? ( ) Sim ( ) Não ( ) Em parte 179 15) Tem a intenção de utilizar recursos de fundos de fomento desta natureza outras vezes? ( ) Sim ( ) Não ( ) Talvez ( ) Não sabe 16) Qual a importância destes recursos nos resultados da empresa? ( ) Importante ( ) Pouco importante ( ) Muito importante Pular para a questão 18. 17) Por que a empresa nunca utilizou recursos de fomento? (Múltipla escolha) ( ) Desconhecia a existência destes ( ) Não precisa recursos ( ) Tentou, mas não obteve sucesso ( ) Outra ______________________________ ( ) Falta de informação – não sabe como _______________________________________ fazer 18) Responda quais itens de políticas públicas para a inovação sua empresa considera prioritários. (Múltipla escolha – resposta estimulada). ( ) Incentivos fiscais para investimentos em ( ) Incentivo à implantação de incubadoras e P&D parques tecnológicos ( ) Política de compras governamentais para ( ) Subvenção econômica produtos inovadores ( ) Outros ___________________________________________________________________ 19) Quais as principais dificuldades que a empresa enfrenta para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)? (Múltipla escolha) ( ) Não possui estratégias regulares de ( ) Dificuldade de mudar a cultura da empresa desenvolvimento tecnológico ( ) Escassez de recursos financeiros ( ) Falta de pessoal qualificado próprios ( ) Dificuldade de acesso a financiamento ( ) Falta de apoio governamental ( ) Dificuldade de formar parcerias ( ) Falta de informações sobre tecnologias ( ) Outros ______________________________________________________________________ 20) Quais as atividades de pesquisas efetivamente realizadas pela empresa? (Múltipla escolha) ( ) Não realiza nenhum tipo de ( ) Experiência piloto pesquisa ( ) Prospecção mercadológica ( ) Serviços de assistência técnica como fonte de informação, orientando decisões de P&D ( ) Coleta de dados e informações ( ) Pesquisa / prática para aprimoramento de produtos técnicas e científicas ( ) Pesquisa / prática para geração ( ) Pesquisa / prática para aprimoramento de processos de novos produtos ( ) Pesquisa / prática para geração ( ) Pesquisa para solução de problemas tecnológicos de novos processos ( ) Construção de protótipos ( ) Outros. Quais?________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ 180 21) Quando a empresa inova, isso ocorre (Múltipla escolha) – (Cartão resposta): ( ) Por meio de melhoramento dos produtos e serviços existentes ( ) Por meio do desenvolvimento de produtos e serviços radicalmente novos, que envolvem o desenvolvimento de novas tecnologias e novas competências ( ) Por meio de melhoramento dos processos existentes ( ) Por meio do desenvolvimento de processos radicalmente novos, que envolvem o desenvolvimento de novas tecnologias e novas competências ( ) A empresa não promove inovação 22) As inovações realizadas pela empresa (Múltipla escolha): ( ) Atuam sobre necessidades explícitas dos clientes ( ) Atuam sobre necessidades não formuladas pelos clientes ( ) Geram novas necessidades nos clientes ( ) Implicam na mudança do perfil de cliente explorado anteriormente pela empresa ( ) Colocam a empresa à frente da concorrência ( ) Tornam a empresa significativamente diferente da concorrência ( ) Permitem à empresa igualar-se à concorrência ( ) Aumentam a participação de mercado da empresa ( ) Permitem à empresa explorar novos mercados, já explorados pela concorrência. ( ) Permitem à empresa explorar novos mercados, que a concorrência não conseguiria explorar ( ) Aumentam o faturamento da empresa ( ) Influenciam positivamente nas exportações da empresa ( ) Aumentam a lucratividade da empresa ( ) Aumentam a produtividade da empresa ( ) Reduzem o índice de refugos da empresa ( ) Outros _____________________________________________________________________ 23) Para a realização de uma inovação, os critérios adotados pela sua empresa são: (numerar por ordem de importância, sendo 1 o mais importante) ( ) volume de investimento (R$) ( ) risco ( ) tempo ( ) potencialidade 24) A empresa possui uma competência, essencial a sua competitividade e que a diferencia da concorrência? ( ) Sim ( ) Não (pule para a questão 29) 25) Esta competência está diretamente relacionada (Múltipla escolha): ( ) Ao principal produto da empresa ( ) Ao processo produtivo da empresa ( ) A vários produtos da empresa ( ) Ao processo de gestão da empresa ( ) A todos os produtos da empresa ( ) Ao processo de comercialização da empresa ( ) Outros ________________________________________________________________________ 181 26) Esta competência foi desenvolvida: ( ) Pela própria empresa ( ) Por fornecedores do setor ( ) Por meio de contrato de P&D em caráter de confidencialidade e exclusividade com universidade / centro de pesquisa ( ) Por meio de contrato de P&D com universidade / centro de pesquisa, sem critérios de confidencialidade e exclusividade ( ) Por meio de licenciamento exclusivo junto a universidade / centro de pesquisa ( ) Por meio de licenciamento não exclusivo junto a universidade / centro de pesquisa ( ) Por meio de projeto cooperado entre várias empresas do setor ( ) Por meio de projeto cooperado entre várias empresas de diferentes setores ( ) Outro. Especificar. _____________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ __________ 27) A propriedade intelectual desta competência: ( ) É da empresa ( ) É de parceiro externo – universidade / centro de pesquisa ( ) É da empresa e do parceiro externo (universidade / centro de pesquisa) ( ) É de outro parceiro externo. Especificar_____________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ __________ 28) Esta competência resultou em algo que foi patenteado? ( ) Sim ( ) Não 29) A empresa já identificou tecnologias que deverá possuir no futuro próximo para manter-se competitiva? ( ) Sim ( ) Não (pule para a questão 34) 30) Quais são estas tecnologias?______________________________________________________ ___________________________________________________________________________ _____ 31) Já identificou potenciais fornecedores? ( ) Sim ( ) Não 32) Já tomou iniciativas no sentido de acessar / adquirir estas tecnologias? ( ) Sim ( ) Não 33) Se SIM, quais? (Espontânea) ( ) Visita a feiras ( ) Leitura especializada ( ) Internet ( ) Conversar com outras empresas / profissionais ( ) Contato com Universidades / Centros de Pesquisa ( ) Outros: ___________________________________ ______________________________________________ 182 34) Há tecnologias entrantes, capazes de modificar substancialmente o cenário futuro do seu negócio? ( ) Sim ( ) Não (pule para a questão 38) 35) Já identificou potenciais fornecedores para estas tecnologias? ( ) Sim ( ) Não 36) Já tomou iniciativas no sentido de acessar / adquirir estas tecnologias? ( ) Sim ( ) Não 37) Se SIM, quais? (Espontânea) ( ) Visita a feiras ( ) Leitura especializada ( ) Internet ( ) Conversar com outras empresas / profissionais ( ) Contato com Universidades / Centros de Pesquisa ( ) Outros: ___________________________________ ______________________________________________ 38) Descreva as três principais inovações realizadas na empresa nos últimos dois anos e aponte aspectos relacionados à viabilização de cada uma delas. Características da Inovação INOVAÇÃO Melhoria/ Novidade para a empresa Pioneirismo/ Novidade para o mercado Cooperações Estabelecidas para realizar a Inovação Sem Cooperação Com Cooperação • Qual parceiro (s) • Objeto da cooperação 1- 2- 3- LEGENDA: Objeto da cooperação RF recursos financeiros CNS consultoria I CNH Informação Conhecimento DH TT desenvolvimento humano transferência de tecnologia TH talentos humanos O outros IE infra-estrutura 183 39) Aponte três gargalos tecnológicos que têm dificultado inovações na empresa. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 40) Aponte oportunidades de inovação que permitirão à empresa diferenciar-se da concorrência nos próximos anos. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ____________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ____________________ 184 ANEXO B QUESTIONÁRIO PARA AS PEQUENAS EMPRESAS DO SETOR TÊXTIL Estratégias de inovação no setor têxtil Blumenauense – Roteiro de entrevista A) CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA 1. Razão Social da Empresa: 2. Nome comercial: 3. Endereço completo: 4. Telefone/Fax: 5. Homepage: 6. Pessoa responsável pelas informações: Cargo: E-mail: 7. Ano de fundação da empresa: 8. Área de Atuação: ( ) Beneficiamento ( )Fabricação de Acabamentos e Acessórios ( ) Fiação ( ) Confecção ( ) Fabricação de Tecidos ( ) Outros ______________________________________ _______________________________________________ B) ASPECTOS FINANCEIROS 1) Destino das vendas da empresa (considerando 100%): % dentro do estado: % outros estados ou regiões: % exterior: C) RECURSOS HUMANOS 1) Número de empregados por grau de instrução Fundamental incompleto: Pós-Graduação: Fundamental completo: • Especialização: Médio incompleto: • Mestrado: Médio completo: • Doutorado: Superior incompleto: Superior completo: D) REDE DE RELACIONAMENTO 1) Principais parcerias estabelecidas pela empresa, objeto e freqüência das relações pertinentes às parcerias. Utilizar as opções: N – não se aplica, E – esporádica, S – sistemática, para caracterizar a freqüência. 185 PARCEIROS Universidade s e/ou centros de pesquisa. Qual (is)? Instituiçõ es de Ensino Superior Qual (is)? N N OBJETO DAS RELAÇÕES Troca de idéias e informaçõe s ESUso de equipament os e laboratório s E- Ações conjuntas de P&D E- Uso do corpo técnico / docente E- Transferên cia de tecnologia E- Treinament o ES- N N E S N E Clientes N S N S N E S N E S N S- N E S N N E S N E S N E S N E E- E- E- S- S- S- N N E S N N E S N E E- E- E- S- S- S- N N E S N N E S N E S N E- E- E- S- S- S- N N E S N N E S N E S N E- E- E- S- S- S- N N N E S N N E S N E Instituições prestadoras de serviços (SEBRAE, Sesi, Senai, Senac, etc.). Qual (is) ? S SN Empresa s de consultor ia S N E S N E S- N S- S Fornecedor es E- N S- E Concorren tes E- N S- N Entidades de classe empreariais. Qual (is) ? E- N S- Governo S N E- E- E- S- S- S- E S N E S N E S N E S N E S N E S N 186 PARCEIROS Universidade s e/ou centros de pesquisa. Qual (is)? Instituiçõ es de Ensino Superior Qual (is)? N N OBJETO DAS RELAÇÕES Consultoria s Governo N E Entidades de classe empreariais. Qual (is) ? S N Concorren tes N E Fornecedor es S N E Clientes S N E S N E E- E- E- E- S- S- S- S- Orientação empresarial N N N E S N N E S N E E- E- E- S- S- S- S- N N N E S N N E S N E E- E- E- S- S- S- S- Recursos financeiros ES- N N N E S N N E S N E S N E- E- E- S- S- S- Caso não haja nenhuma parceria, pular para a questão 5 N S N S N E S N S N E S N E E- E S N Instituições prestadoras de serviços (SEBRAE, Sesi, Senai, Senac, etc.). Qual (is) ? S S N E S N E E- Ações de marketing Empresa s de consultor ia 187 2) Quais são as barreiras para estas alianças/parcerias? Múltipla escolha ( ) Não há barreiras / dificuldades ( ) Diferenças culturais ( ) Dificuldade de acesso ao parceiro ( ) Falta de pessoal qualificado no parceiro ( ) Comunicação deficiente ( ) Infra-estrutura inadequada do parceiro ( ) Aspectos políticos ( ) Custo dos serviços oferecidos pelo ( ) Outra(s). Especificar: ______________ parceiro ________________________________ Entidades de classe empresariais Empresas de consultoria Clientes Instituições de Ensino Superior Fornecedores resultados Universi dades e/ou centros de pesquisa Concorrentes Parceiros Governo 3) Com os resultados das interações estabelecidas por meio das parcerias, a empresa tem Instituições prestadoras de serviços Lançamento de novo produto Lançamento de produto inovador Geração de patente Ampliação market share (participação de mercado) Inserção em novo mercado Aperfeiçoamento processo produtivo Aperfeiçoamento processo gestão Aperfeiçoamento processo de comercialização Melhoria da produtividade Melhoria da qualidade Aumento do faturamento Aumento da lucratividade Outros 4. Além das parcerias atuais há necessidade de novas parcerias? ( ) Sim ( ) Não 5) (PARA QUEM NÃO TEM NENHUMA PARCERIA) Há algum tipo de barreira que esteja impedindo sua empresa de realizar parcerias? ( ) Sim ( ) Não ( ) ( ) Dificuldade de acesso ao parceiro Comunicação deficiente ( ) ( ) Diferenças culturais Falta de pessoal qualificado no parceiro 188 ( ) ( ) Aspectos políticos Custo dos serviços oferecidos pelo parceiro ( ) ( ) Infra-estrutura inadequada do parceiro Outra(s). Especificar: ______________ ________________________________ ________________________________ E) ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS 1)Em que o sucesso da empresa dependerá nos próximos dois anos? Fatores Prioridade baixa Prioridade média Prioridade alta Renovação e atualização dos equipamentos Utilização mais eficiente dos equipamentos Alterações expressivas no sistema de gestão Desenvolvimento e lançamento de novos produtos Desenvolvimento e lançamento de produtos inovadores Capacidade de mudar estratégias com ênfase em P&D Capacidade de mudar estratégias com ênfase em marketing Capacidade de expansão da base produtiva Fomento/financiamentos Abertura de novos mercados Ampliação da capacidade de exportação Aperfeiçoamento da capacidade logística Desenvolvimento de Recursos Humanos Intensificação de parcerias F) PROCESSO DE INOVAÇÃO 1) Quais os principais objetivos dos esforços de inovação? ( ) Substituir produtos ( ) ( ) Melhorar a qualidade dos produtos Ampliar a gama de produtos Reduzir custos da mão-de-obra Reduzir o consumo de matéria prima Reduzir o consumo de energia Reduzir danos ambientais Entrar em novos mercados ( ) Adequar a empresa a normas, regulamentações técnicas Aumentar a flexibilidade da produção ( ) ( ) ( ) Ser pioneiro Aumentar a participação de mercado Criar novos mercados ( ) ( ) ( ) Aumentar vendas Aumentar lucratividade Outros ____________________________________ __________________________________________ ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) padrões 2) As atividades de desenvolvimento de novos produtos na empresa: ( ) são realizadas internamente, dentro do setor de P&D ( ) são realizadas internamente, por equipe dedicada exclusivamente ao desenvolvimento de produto e 189 ( ) são realizadas internamente por equipe dedicada ao desenvolvimento de produto em caráter não exclusivo ( ) são contratadas externamente. Nome do fornecedor_______________________ Cidade/Estado/País_________________ Nome do fornecedor_______________________ Cidade/Estado/País_________________ Nome do fornecedor_______________________ Cidade/Estado/País_________________ Nome do fornecedor_______________________ Cidade/Estado/País_________________ 3) Existe uma política de investimento sistemático em P&D? ( ) Sim Se sim, quanto do faturamento é ( ) Até 10% ( ) 21 a 30% investido? ( ) 11 a 20% ( ) Acima de 30% ( ) Somente recursos humanos ( ) Não 4) A empresa já utilizou recursos de fundos de fomento (Ex. Badesc, Blusol, CNPq, Sebrae...)? ( ) Sim ( ) Não (passe para a questão 9) Lançamento de novo produto Lançamento de produto inovador Ampliação da participação de mercado Aperfeiçoamento do processo produtivo da empresa Aperfeiçoamento do processo de gestão da empresa Aperfeiçoamento do processo de comercialização da empresa Melhoria da produtividade CNPq Fundos Setoriais/FI NEP RHAE1/ CNPq SEBRAE– Tec FAPESC RESULTADOS BLUSOL FONTES BADESC 5) Aponte as fontes de recursos (fomento) utilizadas e os resultados obtidos a partir de sua utilização Outro(s). Especificar 190 Melhoria da qualidade Aumento da lucratividade Aumento do faturamento Outro (s). Especificar _________________ _________________ 1. Fundo de mão de obra para P&D 6) Qual o volume de recurso obtido? R$ _____________________________ 7) A empresa enfrentou dificuldades para obtenção dos recursos? ( ) Sim ( ) Não ( ) Em parte 8) Qual a importância destes recursos nos resultados da empresa? ( ) Muito importante ( ) Importante ( ) Pouco importante Pular para a questão 10. 9) Por que a empresa nunca utilizou recursos de fomento? (Múltipla escolha) ( ) Desconhecia a existência destes ( ) Não precisa recursos ( ) Tentou, mas não obteve sucesso ( ) Outra ______________________________ ( ) Falta de informação – não sabe _______________________________________ como fazer 10) Quando a empresa inova, isso ocorre (Múltipla escolha) – (Cartão resposta): ( ) Por meio de melhoramento dos produtos e serviços existentes ( ) Por meio do desenvolvimento de produtos e serviços radicalmente novos, que envolvem o desenvolvimento de novas tecnologias e novas competências ( ) Por meio de melhoramento dos processos existentes ( ) Por meio do desenvolvimento de processos radicalmente novos, que envolvem o desenvolvimento de novas tecnologias e novas competências ( ) A empresa não promove inovação 11) Para a realização de uma inovação, os critérios adotados pela sua empresa são: (numerar por ordem de importância, sendo 1 o mais importante) ( ) volume de investimento (R$) ( ) risco ( ) tempo ( ) potencialidade 191 12) Há tecnologias entrantes, capazes de modificar substancialmente o cenário futuro do seu negócio? ( ) Sim ( ) Não 13) Já identificou potenciais fornecedores para estas tecnologias? ( ) Sim ( ) Não 14) Já tomou iniciativas no sentido de acessar / adquirir estas tecnologias? ( ) Sim ( ) Não 15) Se SIM, quais? (Espontânea) ( ) Visita a feiras ( ) Leitura especializada ( ) Internet ( ) Conversar com outras empresas / profissionais ( ) Contato com Universidades / Centros de Pesquisa ( ) Outros: ___________________________________ ______________________________________________ 16) Descreva as três principais inovações realizadas na empresa nos últimos dois anos e aponte aspectos relacionados à viabilização de cada uma delas. Características da Inovação INOVAÇÃO Pioneirismo/ Novidade para o mercado Melhoria/ Novidade para a empresa Cooperações Estabelecidas para realizar a Inovação Sem Cooperação 1- 2- 3- 5.1.1.1.1.1.1 LEGENDA: Objeto da cooperação RF I CNH TH IE recursos financeiros informação conhecimento talentos humanos infra-estrutura CNS DH TT O consultoria desenvolvimento humano transferência de tecnologia outros Com Cooperação • Qual parceiro (s) • Objeto da cooperação 192 17) Aponte três gargalos tecnológicos que têm dificultado inovações na empresa. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ _______________ 18) Aponte oportunidades de inovação que permitirão à empresa diferenciar-se da concorrência nos próximos anos. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ____________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ____________________ 193 ANEXO C LISTA EMPRESAS PESQUISADAS Grande porte (13 empresas) 1. Sul Fabril SA 2. Karsten S/A 3. Rovitex Indústria e Comércio de Malhas LTDA 4. Haco Etiquetas LTDA 5. Pacífico Sul Indústria Têxtil Confecção LTDA 6. Cia Hering 7. Lancaster Beneficiamentos Têxteis LTDA 8. Malwee Malhas Blumenau LTDA 9. Dudalina S/A 10. Malharia Cristina LTDA 11. Pl Indústria e Comércio de Confecção LTDA 12. Teka Tecelagem Kuehnrich SA 13. Altemburg Indústria Têxtil LTDA Médio Porte (34 empresas) 1. Loa Indústria Têxtil 2. Pijama e Companhia Ltda. 3. Villa Confecção Ltda. 4. W8 Têxtil Ltda. 5. Núcleo Indústria Têxtil Ltda. 6. Pierim Confecções Ltda. 7. Suell Têxtil Ltda. 8. Charlotte Indústria e Comércio Ltda. 9. Allbasic Ltda. 10. Dicotone Têxtil Ltda. 11. Luli Indústria e Comércio de Confecções Ltda. 12. Tecnoblu Comércio Importação e Exportação Ltda. 13. Tex Cotton Indústria e Confecção Ltda. 14. Kreefeld Indústria e Comércio Ltda. 15. Perlo Indústria e Comércio Ltda. 16. Lombok Serviços Têxteis Ltda. 17. K2 Indústria e Comércio Ltda. 18. Del Mondo Confecções Ltda. 19. Vale Tecidos 20. Veneto Indústria de Bordados Ltda. 21. Mesh Comércio e Confecção de Roupas Ltda. 22. Kako Confecções Ltda. 23. Helli Brasil 24. Malharia Camila Ltda. 25. Schwanke Indústria Têxtil Ltda. 26. Estamparia Andi Ltda. 27. Smile Indústria e Comércio Ltda 194 28. MCS Têxtil Ltda 29. Fios Blumenau Ltda. 30. Comércio Indústria Resima SA 31. Rollatex Indústria e Comércio Têxtil Ltda 32. AB Indústria e Comércio 33. K & A Confecções Ltda. 34. Indústria e Comércio Reeltex Ltda. Pequeno Porte (270 empresas) 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. Contex Confecção Têxtil Ltda. Trapiá Confecções Ltda. Blu Malhas Indústria e Comércio Ltda. Tapeçaria Vila Formosa Indústria e Comércio Ltda. Techno Cotton Baby Tex Confecções Ltda. Tecmalhas Tecelagem e Malharia Ltda. ME Teobem Confecções RCG Têxtil Aristides da Luz GPM Têxtil Ltda. Graciana Lustosa de Brito ME Lunny Confecção Ltda. Gibi Estamparia Têxtil Ltda. Drakow Indústria e Comércio de Confecção Vila Verde Confecções Fortunata Indústria e Comércio de Confecções Ltda. Coisas Brancas Indústria Têxtil Ltda. Estamparia Drijean Ltda. Lai Confecção Plus Estamparia Ltda. Maré Cheia Confecções Ltda. Kurzawa Cia Ltda. Vilese Têxtil Ltda Etiquetas Termotex Ltda. ZT Indústria e Comércio de Confecção Ltda. Auto Capa 2000 Fino Toque Têxtil Cooperativa Confecções Thiago Ltda. Têxtil IDP Ltda. Capital Estamparia Ltda. Têxtil WK Ltda. Mix Service Ltda. OCE Confecções Ltda. Sid Alem Confecções Ltda Mari Milena Ltda. Eroni da Costa Ltda. Lela Facção Ltda. ME Marcia Confecções Ltda. Iracema Pereira Ltda. 195 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47. 48. 49. 50. 51. 52. 53. 54. 55. 56. 57. 58. 59. 60. 61. 62. 63. 64. 65. 66. 67. 68. 69. 70. 71. 72. 73. 74. 75. 76. 77. 78. 79. 80. 81. 82. 83. 84. 85. 86. 87. 88. 89. 90. WJ Confecções Ltda. Votrich Confecções Ltda. Blu Like Confecções Ltda. Kichei Confecções ME Planeta Indústria e Comércio de Confecções Ltda. Têxtil HP Ltda. Maras Confecções Ltda. ME Vitraf Confecções Ltda. Jef Sul Confecções Ltda. Loja e Confecção Frunz Volles Ltda. Marcia Ramos Confecções ME Matuchak Comércio de Confecções Ltda. Kreando Moda Confecções Ltda. ME Linear Confecções Bluatual Indústria e Comércio de Confecção Word Stamp Ltda. Dietrich Confecções Ltda. Pontual Bordados Ltda. Godoi Confecções Ltda. EPP Carlos Araldi ME Malhas Rico Ltda. Indústria Têxtil Grafiese Ltda. Star Etiquetas Ltda. Malhas Mandel Ltda. Malhas Lion Ltda. T. Carrara Confecções Ltda. Merlik Confecções ME Germani Indústria Têxtil Ltda. Merlo Confecções e Estamparia Confecções Schneider Ltda. ME Nicéia Zancanaro ME Vilmalhas Comércio de Amarinhos Ltda. Confecções Chartouni Ltda. ME Logyn Moda Pequena Ltda. Confecções Jolite Ltda. Dulevan Indústria de Bordados Estamparia Santa Maria Confecções Stoll Ltda. ME Gaby Têxtil Ltda. ME Luviza Baby Indústria e Comércio de Confecção Ltda. Terezinha Iracema Perini ME Verruma Têxtil Ltda. EPP GGS Confecções Ltda. DR Comércio de Aviamentos Confecções Sampierro Ltda. Kari Karola Confecções Ltda. Fruto da Imaginação Malhaville Indútria e Comércio de Malhas Patchwork Arte e Confecções Ltda. Malhas Guará Sul Ltda. 196 91. 92. 93. 94. 95. 96. 97. 98. 99. 100. 101. 102. 103. 104. 105. 106. 107. 108. 109. 110. 111. 112. 113. 114. 115. 116. 117. 118. 119. 120. 121. 122. 123. 124. 125. 126. 127. 128. 129. 130. 131. 132. 133. 134. 135. 136. 137. 138. 139. 140. WT Indústria e Comércio de Confecções Ltda. Inovação Indústria Têxtil Ltda. Marvin Têxtil Ltda. Pasold Comércio de Aviamentos Ltda. ME Extenção Indústria e Comércio Ltda. Mahochs Indústria e Comércio de Confecção Ltda. Brasmart Industriado Vestuário Ltda. Morato Confecções e Artigos de Época Ltda. Núbia Comércio de Confecções Ltda. Joceani Confecções Ltda. NK Estamparia Ltda. ME Acapulco Confecções Ltda. Hermes Bordados Ltda. Confecções MKR Ltda. Pedro Fernandes Ramos ME Maria Volmet ME Confecções Schimitt Ltda. Fitt Boy Indústria e Comércio Têxtil Ltda. Mara Rúbia Confecções ME Confecções Corda Bamba Ltda. Vivenda Presentes e Decorações Ltda. Andi Comercial Ltda. Brinkids Indústria Têxtil Ltda. Indústria e Comércio de Confecções Crispim Ltda. Serpa’s Comércio de Confecções Ltda. Nacional Têxtil LTDA Konciny Industria Comércio de Roupas LTDA Tecnopan Etiquetas Indústria e Comércio LTDA ME Confrari Confecções LTDA Estamparia Badenfurt LTDA MC Izaura Closs Demmer Malhas Camisaria Tutti Giorni LTDA Sutex Comércio de Confecções Borda Mania Rothenburg Indústria e Comércio de Etiquetas LTDA LO Confecções LTDA Facção Diomar Gonzaga ME Nuro Têxtil Industria de Confecção LTDA Meteorito Confecções LTDA Trovattex Indústria e Comércio LTDA Oscar de Souza ME Lele Modas LTDA DK2 Têxtil Family Guerreiro Confecção LTDA EPP Francisco Alves Feitosa Junior ME Pertex Indústria e Comércio Têxtil LTDA ACP Confecções LTDA Lu Rosa LTDA Rogério Weber ME 197 141. 142. 143. 144. 145. 146. 147. 148. 149. 150. 151. 152. 153. 154. 155. 156. 157. 158. 159. 160. 161. 162. 163. 164. 165. 166. 167. 168. 169. 170. 171. 172. 173. 174. 175. 176. 177. 178. 179. 180. 181. 182. 183. 184. 185. 186. 187. 188. 189. 190. SRP Malhas LTDA Bordatec Indústria Têxtil LTDA Bernadete Merten Pedro ME Gênesis Estamparia Têxtil LTDA Baby Model Confecções LTDA Leoma Indústria e Comércio Confecções LTDA Tilico Malhas LTDA Solange Kuriski Szydlowski ME H+ Manufatura de Roupas LTDA ERN Confecções LTDA Trovatto Esportes LTDA Pro Punch Programação LTDA Maria Aparecida Cardoso ME Cotton force Confecção LTDA Nevada Beneficiamento Têxtil LTDA Personald Têxtil LTDA Bubutex LTDA Toki Confecções de Malhas LTDA L’epoque Confecções LTDA NZ Confecções LTDA Pandidi e Pandini LTDA Letmar Confecções Mega Bordados LTDA ME Arte e Estilo LTDA WM Studio Têxtil LTDA Sidera Confecções LTDA Loja e Alfaiataria Perreira LTDA Special Baby Confecções LTDA Intencional Indústria e Comércio de Confecções LTDA Haife Indústria e Comércio de Confecções LTDA Dedal Dourado Confecções LTDA DIVIEGE Indústria e Comércio LTDA Facção Denise ME JVL Etiquetas LTDA Confecções Estudantil LTDA Zanotti Malhas LTDA Vice Versa LTDA ME Terra D’água Indústria e Comércio de Confecções Ltda ME Via Paraíso Malhas Ltda Marineusa Ferreira ME De Leni Fritzke Trevisani ME Dyoshe Modas e Confecções Alice Oderdenge ME Meia Manga Comércio e Confecção Confecções Chaplin Ltda RZV Confecções Ltda Progride Indústria de Malhas Ltda Marcativa Produções Manufaturos Ltda ME Confecções Nina Ltda Maria Rosa Neundorf ME 198 191. 192. 193. 194. 195. 196. 197. 198. 199. 200. 201. 202. 203. 204. 205. 206. 207. 208. 209. 210. 211. 212. 213. 214. 215. 216. 217. 218. 219. 220. 221. 222. 223. 224. 225. 226. 227. 228. 229. 230. 231. 232. 233. 234. 235. 236. 237. 238. 239. 240. Etiquetar Indústria de Etiquetas Ltda Cânula Confecções VLS Confecções Ltda Paccatá Indústria e Comércio de Confecções Ltda Amatex Indústria Comércio Sanluz Indústria e Comércio Ltda DH Confecções Ltda Anderson Matos Estamparia Ltda Magnific Indústria e Comércio de Confecção Ltda ME Indústria e Comércio de Confecções MC Gomes Madre Paulina Confecções Agetec Etiquetas Indústria e Comércio Ltda Blufera Indústria e Comércio Ltda Lauter Kamp Confecções Ltda Bordopacker Bordados Ltda Julesca Malhas e Tecidos Ltda EPP Autêntico Jeans Indústria e Comércio de Confecções Ltda ACK Comércio e Estamparia Ltda Indústria e Comércio Melim Modas Ltda Natural Leafe Ltda Rosemari Adão EPP Pólo Sol Confecção Ltda Confecção Universal Scope Confecções Ltda Top Line Confecções Ltda Maynai Confecções Ltda Gold Line Indústria e Comércio de Confecções Ltda JCA Serviços de Embalagens Ltda Silva Sauro Confecções Ltda Natan Indústria e Comércio de Artigos e Vestuário Ltda Susu Confecções Ltda Missi Confecções Ltda Bumer Confecções Ltda ME Tuek Malhas Ltda Confecções Raimondi Ltda Attitude Confecções Ltda Confecções Fischer Ltda Facção Jacinta Ltda Confecção Linha Reta Ltda Ana Ju Confecções ME Tom Natural Indústria e Comércio Ltda MSC Indústria e Comércio de Confecções Ltda Patrícia de Almeida ME SM Indústria e Comércio Ltda Mais Confecções Indústria e Comércio Ltda Estamparia São José Ltda Cotton Fibra Indústria e Comércio Ltda Alexandra Rossi ME Promocotton Confecções Ltda Wintex Indústria Têxtil Ltda 199 241. 242. 243. 244. 245. 246. 247. 248. 249. 250. 251. 252. 253. 254. 255. 256. 257. 258. 259. 260. 261. 262. 263. 264. 265. 266. 267. 268. 269. 270. Estamparia Weber Ltda Toque Íntimo Comércio de Confecções Ltda NN Facção Ltda Facção Gilli Ltda Bluma Têxtil Ltda Limana Têxtil Ltda Tece Comércio de Tecidos Ltda Indústria Comércio Representações Daclejur Blumax Têxtil Ltda Lenacler Enxovais Ltda Ivedo Comércio de Modas Ltda Blumetex Confecções e Estamparia Ltda Têxtil Ágape Rimagen Confecções Ltda Confecções Halkchaday Ltda ME Fitex Indústria e Comércio Ltda Objetiva Indústria e Comércio de Confecções Ltda Indústria e Comércio de Tecidos Tex Service Ltda Confecções JWS Ltda ME Wetex Fabril Ltda ME Adrilex Comércio Confecções Ltda Estofele Confecções Ltda Altino Confecções Ltda ME 100% do Brasil Ltda Victor Têxtil Confecções Ltda ME Cotton Conection Têxtil Ltda Ticontati Ltda ME Flerte Confecções Ltda Glória Brasil Ltda ME Koella Confecções Ltda ME