desenvolvimento humano e solidariedade
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desenvolvimento humano e solidariedade
ANAIS DESENVOLVIMENTO HUMANO E SOLIDARIEDADE DE 19 A 22 DE NOVEMBRO DE 2013 UFPB - JOÃO PESSOA ISSN 2177-1413 ANAIS IX CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA JOÃO PESSOA, 19 A 22 DE NOVEMBRO DE 2013 Diretoria Presidente: Cleonice Pereira dos Santos Camino Vice-Presidente: Ilka Dias Bichara Primeira Secretária: Jane Farias Chagas Ferreira Segunda Secretária: Tania Mara Sperb Tesoureira: Karla da Costa Seabra Comissão Organizadora Nacional Cleonice Pereira dos Santos Camino Ilka Dias Bichara Jane Farias Chagas Ferreira Tania Mara Sperb Karla da Costa Seabra Adelaide Alves Júlio Rique Maria Cláudia Oliveira Vera Maria Ramos de Vasconcelos Comissão Organizadora Local Cleonice Camino Jaims Ribeiro Júlio Rique Comissão Executiva Local Coordenadores: Jaims Ribeiro Júlio Rique Membros: Anderson Mathias Lívia Braga Andrei Aguiar Lydia Sena Célia Chaves Moisés Fernandes Eloá Losano Mônica Correia Fabíola Aquino Pollyana Lucena Josemar Soares Rosiane Albuquerque Juerila Moreira Thalita Alencar Juliane Fernandes Thayanne Lima Karem Guedes Thiago de Andrade Comissão Científica Coordenadora: Ilka Dias Bichara Avaliadores Ad Hoc: Adelaide Alves Dias (UFPB) Adrián Oscar Montoya (UNESP) Ana Alayde Saldanha (UFPB) Ana Cecília Bastos (UFBA) Ana Cristina Loureiro (UFCG) Ana Karina Santos (USP) Ana Raquel Torres (UFPB) Ângela Donato Oliva (UERJ) Ângela Elizabeth Lapa Coêlho (UNIPE) Ângela Magda Rodrigues Virgolim (UnB) Ângela Maria Cristina Uchoa de A. Branco (UnB) Antônio Marcos Chaves (UFBA) Antônio Roazzi (UFPE) Anuska Irene de Alencar (UFRN) Bernardino Fernandez Calvo (UFPB) Celina Maria Colino Magalhães (UFPA) Claisy Maria Araújo (UnB) Clara Maria Melo Santos (UFRN) Claudia Broetto Rossetti (UFES) Cleonice Pereira dos Santos Camino (UFPB) Elder Cerqueira Santos (UFS) Fabíola Aquino (UFPB) Fabrício de Souza (UFBA) Fernando Augusto Ramos Pontes (UFPA) Heloisa Moulin de Alencar (UFES) Isolda de Araújo Gunther (UnB) Ilka Dias Bichara (UFBA) Jane Farias Chagas (UnB) Juliana Prates Santana (UFBA) Karla da Costa Seabra (UERJ) Leonardo Rodrigues Sampaio (UNIVASF) Luana Carramillo Going (UCS) Lúcia Vaz de Campos Moreira (UCSal) Luciana Maria Maia Viana (UNIFOR) Márcia Magalhães Paz (UNIPE) Maria Auxiliadora Campos Dessen (UnB) Maria de Fátima Pereira Alberto (UFPB) Maria Isabel Patrício C. Pedrosa (UFPE) Maria Salum Moraes (SES - SP) Maria Suzana de Stefano Menin (UNESP) Maria Virgínia Dazzani (UFBA) Mário Sergio Vasconcelos (UNESP) Miriane Santos (UEPI) Mônica Correia (UFPB) Monica Souza Neves Pereira (UnB) Nádia Maria R. Salomão (UFPB) Nelson Torro (UFPB) Patrícia Alvarenga (UFBA) Pompéia Villacham-Lyra (UFPE) Ricardo Pereira Tassinari (Unicamp) Rosangela Francischinni (UFRN) Sávio Silveira de Queiroz (UFES) Selma Leitão (UFPE) Sheila Daniela Medeiros dos Santos (UFGO) Silvia Helena Koller (UFRGS) Simone Souza da Costa Silva (UFPA) Suerde Miranda de Oliveira Brito (UEPB) Tania Mara Sperb (UFRGS) Vania Ribas Ulbricht (UnB) Vera Barros de Oliveira (USP) Vera Maria Ramos de Vasconcellos (UERJ) Verônica Lúcia do Rego Luna (UFPB) Zena Eisemberg (PUC-RJ) 5 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Temos o prazer de apresentar-lhes os Anais do IX CBPD, evento realizado pela Associação Brasileira de Psicologia do Desenvolvimento, que teve como tema Desenvolvimento Humano e Solidariedade. O IX CBPD foi realizado na cidade de João Pessoa-PB, em novembro de 2013, e contou com a participação de 809 pessoas (572 estudantes e 237 profissionais) de diversas regiões do Brasil, com predominância dos participantes provenientes dos Estados da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Distrito Federal, São Paulo, Bahia, Ceará, Minas Gerais e Pará. Ressaltamos que, mesmo os Estados que não se sobressaíram por sua participação, tiveram uma representatividade significativa no congresso. Os trabalhos apresentados no IX CBPD e aqui publicados recobrem vários eixos temáticos e são de diferentes naturezas: conferências, mesas redondas, simpósios, comunicações orais e pôsteres. Esperamos que os Anais, ora colocados à disposição de todos os interessados, proporcionem uma ampla difusão do conhecimento científico sobre a Psicologia do Desenvolvimento no Brasil e contribuam para a ampliação de redes de pesquisa e para o intercâmbio entre pesquisadores. Nesta oportunidade, expressamos nossa gratidão à CAPES, CNPq, UFPB, aos membros da Diretoria do CBPD, às comissões organizadoras (nacional e local), às comissões científica e executiva, aos patrocinadores e a todos aqueles cujo trabalho tornou possível a realização do IX CBPD. João Pessoa, 19 de novembro de 2013. Cleonice Pereira dos Santos Camino Presidente da Associação Brasileira de Psicologia do Desenvolvimento 6 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento SUMÁRIO 20 de novembro de 2013 CONFERÊNCIA Cognición y pobreza.................................................. 029 MESAS REDONDAS 1001. Juventude, resiliência e vulnerabilidade........ 035 1002. Interação pais-bebês.......................................... 035 1003. Perspectivas atuais em neuropsicologia do desenvolvimento.................................................... 035 O capital mental ao longo da vida: um olhar da neuropsicologia............................. 035 De olhos bem abertos a sonolentos e atrasados: neuropsicologia do sono no desenvolvimento humano............................ 035 Contribuições da neuropsicologia do desenvolvimento para o campo da educação infantil............................................. 036 2089. Valores na adolescência: o processo, ainda, em construção............................. 036 Adolescência, valores e bullying na escola: tecendo relações................................. 037 Estudo sobre valores na adolescência: justiça e convivência democrática..................... 038 Avaliando valores em escolares: resultados parciais de estudo piloto em jovens do ensino médio quanto ao respeito e à solidariedade..... 039 2394. Self, autoconsciência e cognição: ontogênese e relações transformativas no curso de vida................ 040 O desenvolvimento do pensamento interpretativo em narrativas autobiográficas de pré-adolescentes.................... 041 Autoconsciência, religiosidade e percepção da escola como comunidade em adolescentes praticantes e vítimas de bullying escolar............... 042 A dialética de transformação do self, autoconceito e autoconsciência no cárcere feminino.............................................. 044 Autoconsciência, habilidades de raciocínio e mediação cognitiva: aspectos desenvolvimentais na adolescência................... 045 1004. Epistemologia e desenvolvimento humano... 047 SUMÁRIO Epistemologia genética: dos limites do sujeito psicológico construtivista à sua expansão como sujeito do inconsciente........... 047 Contribuições da epistemologia genética para a psicologia do desenvolvimento............. 048 Teorias científicas e teorias filosóficas: sobre nossa compreensão do mundo que nos cerca e de nós próprios................................ 048 1005. Desenvolvimento sociocognitivo e da linguagem.............................................................. 049 Signo e desenvolvimento: uma perspectiva da psicologia cultural.......................................... 049 A questão do tempo no ensino de matemática e de história................................ 050 Desenvolvendo a compreensão de textos em crianças a partir da tomada de consciência do processo inferencial........................................ 050 1006. Ecologia do desenvolvimento........................ 051 Implicações de uma abordagem ecológica do desenvolvimento............................................. 051 As contribuições de Martha Muchow e de Roger Barker à ecologia do desenvolvimento humano.................................. 053 Estudos de desenvolvimento em contexto: algumas possibilidades metodológicas........... 054 2489. Mente, reflexividade e desenvolvimento: metodologias fenomenais na pesquisa em desenvolvimento cognitivo possibilidades e limites............................................... 055 Fala interna em estados autoconscientes na consciência de vigília: um estudo cognitivo fenomenológico com base na metodologia das facetas................................. 056 A fenomenologia do autoconceito das mulheres presas: uma análise de conteúdo........................................................... 057 Experiência interna, autorreconhecimento e fala interna em crianças com autismo de alto funcionamento: refletindo sobre os limites da pesquisa numa perspectiva fenomenal....... 058 Desenvolvimento da autoconsciência e mediação cognitiva por imagens mentais: um estudo em adolescentes da cidade do Recife.............................................. 060 2435. Desenvolvimento, família e justiça: da infância à velhice.................................. 061 7 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento As repercussões da prática de atores jurídicos nos casos de disputa de guarda no desenvolvimento infantil................................. 062 Alienação parental no contexto judicial: implicações psicológicas e reflexos no desenvolvimento............................................ 063 Filhos de pais apenados: uma análise na perspectiva do modelo bioecológico de Bronfenbrenner............................................... 064 Conflitos familiares envolvendo idosos com demência: desafios para o âmbito judicial e repercussões no desenvolvimento familiar........ 065 2243. O ensino, suas dificuldades e propostas de mudança................................................ 066 A psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem como diretrizes para ações eficientes no processo educacional................... 067 Problematizando como estratégia de educarte na sala de aula..................................... 068 Teoria da atividade e games educacionais: um estudo sobre identidade e desenvolvimento conceitual de jovens na contemporaneidade....................................... 069 “Eu e a matemática”: representações sociais, autoestima e autoconceito de estudantes dos anos iniciais................................................. 070 2423. Culturas infantis: entre a (in)visibilidade e a afirmação da infância como categoria social................................................. 072 A mídia televisiva nas culturas infantis: reflexões psicossociais acerca das representações de crianças sobre desenho animado televisivo............................... 073 Práticas interativas na educação infantil: a roda de conversa e as implicações sociais para a infância......................................... 074 Estilo e qualidade das interações adulto-crianças no contexto da pré-escola em João Pessoa.................................. 075 Crianças e professoras na educação infantil: a (in)visibilidade em mão dupla...................................................... 076 2255. Políticas educacionais e desenvolvimento infantil........................................... 077 O choro da criança na creche como abertura para a formação continuada........... 078 SUMÁRIO O perfil do professor de educação infantil da cidade do Rio de Janeiro............................. 079 Avaliação do ages and stages questionary: o olhar do educador infantil............................. 080 Percursos educacionais de crianças com necessidades especiais no Rio de Janeiro............. 081 SIMPÓSIOS 2376. Práticas interativas entre crianças-adultos na educação infantil: inserção, organização curricular e formação docente.................................. 082 Interações dialógicas adulto-crianças na educação infantil............................................ 083 A organização da rotina diária da educação infantil: introduzindo a questão....................... 084 Práticas interativas na educação infantil: discutindo a qualidade das relações estabelecidas pelos educadores com as crianças............................................................... 085 Inserção: o processo de entrada da criança e sua família à creche......................................... 086 2086. Diferentes olhares e momentos do percurso da criança no acolhimento institucional.................................................................. 088 O processo de saída da família e de recepção da criança na instituição de acolhimento...................................................... 088 A rotina de cuidados a crianças em espaço de acolhimento institucional: um olhar sobre o educador................................................... 089 Reintegração familiar: investigando esse processo em uma amostra de crianças institucionalmente acolhidas............................. 091 1992. A construção de projetos de vida em diferentes contextos..................................................... 092 Projetos de vida e humilhação: um estudo com universitários e egressos surdos................ 092 Estudos sobre adolescência e personalidade moral - um olhar sobre a construção do projeto de vida.................................................. 094 Projetos de vida de adolescentes que cuidam de seus irmãos diferem daqueles de jovens que não cuidam?.................................. 095 2251. Desenvolvimento sociocognitivo e vida em sociedade: pró-sociabilidade, comportamento antissocial e partilha.................................................. 095 8 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Cooperação e moralidade: considerações sobre alguns aspectos evolutivos....................... 096 Comportamento de partilha e desenvolvimento sociocognitivo na infância................................. 097 Sociocognição e afetividade: investigando o fenômeno dos atos infracionais cometidos por adolescentes................................ 099 COMUNICAÇÕES ORAIS COORDENADAS 2293. Infâncias normativas: ressignificando a vulnerabilidade, risco e bem-estar de crianças....... 100 “Se é direito, eu tenho!”: concepções de direitos de crianças de uma escola particular..................... 101 Procuram-se crianças desocupadas: revisando a literatura sobre atividades extracurriculares de crianças e adolescentes.................................... 102 Brincando na web: descrição e análise das atividades lúdicas desempenhadas por crianças de 5 a 12 anos na internet........... 103 As práticas de interações de crianças e adolescentes em ambientes on-line: oportunidades, riscos e desafios para promoção dos direitos na internet.................... 104 COMUNICAÇÕES ORAIS AVALIAÇÃO 2137. Avaliando a congruência valorativa em diferentes fases de desenvolvimento................. 105 2438. Concepções acerca dos direitos humanos: validação e propriedades psicométricas de uma escala de medida................................................. 106 2302. Identificando o transtorno do desenvolvimento da coordenação em crianças brasileiras: criação e validação de teste de desenvolvimento motor............. 107 2440. Procedimentos metodológicos para a construção de uma escala sobre as concepções de deficiência............................................................... 108 2113. Pré-teste sobre conhecimento temporal no ensino fundamental do Rio de Janeiro: elaboração e aplicação................................................ 110 2186. Resultados do pré-teste referente à noção de tempo de crianças do ensino fundamental.................................................... 111 SOCIALIZAÇÃO PARENTAL 2112. Metas de socialização: uma revisão sistemática da literatura................................ 112 SUMÁRIO 2334. Crenças parentais sobre criação dos filhos....... 113 2018. Metas de socialização e práticas parentais educativas em famílias com 1 a 3 filhos de nível socioeconômico médio.................... 114 1942. Envolvimento parental na tarefa escolar......... 116 2171. Aleitamento materno e relação mãe-bebê: uma análise de diferentes métodos em um estudo longitudinal....................................... 117 SEXUALIDADE 2153. Crenças infantis sobre sexualidade: possíveis articulações entre a psicologia genética e o desenvolvimento psicossexual............. 118 2244. Psicologia e diversidade sexual....................... 119 2248. @ adolescent@ homossexual e o discurso psicológico: uma revisão da literatura..................... 121 2170. A vivência transexual: uma perspectiva psicanalítica.................................... 122 2156. O desenvolvimento humano no contexto da experiência transexual: uma cartografia............................................................. 123 1981. Sexualidade na vida adulta após traumatismo raquimedular: reintegração através da reabilitação.......................... 124 2518. A sexualidade em adolescentes soropositivos................................................................. 126 RELAÇÃO AVÓS - NETOS 2331. O compartilhamento dos cuidados dos netos por avós da classe média......................... 127 1955. Interações de avós com seus netos que encontram em situação de acolhimento institucional na perspectiva bioecológica do desenvolvimento humano..................................... 128 1949. Uma proposta de intervenção psicoeducativa com avós que criam seus netos com indícios de ansiedade e depressão............................. 129 1956. Metas e estratégias de socialização de avós de criança em situação de acolhimento institucional.......................................... 130 ÉTICA, MORAL E VALORES NA ESCOLA 2118. Desenvolvimento moral e práticas em sala de aula na perspectiva sociocultural............... 131 2284. A reinvenção da educação e o trabalho com ética, valores e cidadania na escola.................. 133 9 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento 2168. Aprendizagem de ética no ensino fundamental..................................................... 134 2468. A ética e a educação infantil: um encontro no ‘chão’ da escola.............................. 135 DIFERENTES DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO 1959. Relação entre estratégias de ciclo de vida e percepção de (im)previsibilidade na infância..................................................................... 137 1975. A gênese do conceito de gênero: um estudo a partir da teoria piagetiana.................. 138 2450. O desenvolvimento de estratégias cognitivas numa tarefa de rotação mental de estímulos táteis................................................................ 139 2200. Desenvolvimento cognitivo e motor de crianças nos primeiros anos de vida e qualidade do contexto ambiental........................... 140 INFÂNCIA E CRECHE 2230. Separação-Individuação em mães e bebês que frequentaram ou não a creche............ 142 2238. Questionário de avaliação da adaptação do bebê à creche: evidências empíricas iniciais......................................................... 143 2231. Adaptação de bebês à creche e o processo de separação-individuação: reações dos bebês e sentimentos parentais.............................................. 144 2290. Espaços de desenvolvmento infantil na creche: um olhar a partir da pesquisa crítica de colaboração................................................. 145 PROBLEMAS COMPORTAMENTAIS E VIOLÊNCIA NA ESCOLA 2444. Violência escolar: um retrato do fenômeno em Boa Vista - Roraima............................................ 146 2443. Violência escolar na contemporaneidade: pesquisas na cidade de Boa Vista - Roraima........... 147 2169. O educador e as situaçoes de violência vividas por seu estudante: modos de enfrentamento.............. 148 2482. Indisciplina escolar: um estudo de correlação a partir da identificação grupal e da preferência musical............................................. 149 2199. Violência, imaginário e escola sob um olhar além do óbvio............................................ 150 SUMÁRIO DESENVOLVIMENTO NA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL 2003. Aplicação da FIEM-ZDP em interações professor-alunos.................................. 151 2033. Regulação semiótica e emergência de zonas de desenvolvimento proximal.................. 153 2479. A ação do coordenador pedagógico no desenvolvimento da prática docente: um olhar a partir da perspectiva histórico-cultural............... 154 2461. Vozes de crianças em tratamento oncológico: significados e sentidos do câncer pela perspectiva vigotskiana.......................... 155 2465. Análise microgenética: contribuições para a formação do jovem pesquisador em psicologia do desenvolvimento......................... 157 ADOLESCENTES EM CUMPRIMENTO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS 2100. Tráfico e crimes violentos: empatia, julgamento moral e valores humanos de adolescentes em conflito com a lei.......................... 158 2455. Desenvolvimento e experiências no CREAS: a prática junto a jovens em cumprimento de medidas socioeducativas............. 159 2215. Desenvolvimento e subjetivação de jovens em cumprimento de medida socioeducativa de internação..................................... 161 2259. A inserção da família no processo socioeducativo de adolescentes em privação de liberdade.................... 162 2371. Violência e apoio familiar: perspectivas de adolescentes que cumprem medidas socioeducativas............................................................. 163 2174. Responsabilização juvenil e desenvolvimento humano: o papel do atendimento socioeducativo...................................... 164 AUTISMO 2211. Estilos comunicativos de mães de crianças autistas no uso do computador................ 166 2051. Autismo e Síndrome de Down: concepções de profissionais de diferentes áreas................................. 167 2006. Autoreconhecimento e fala interna em crianças com autismo de alto funcionamento............................ 168 10 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento PROJETOS DE VIDA PROFISSIONAL/ PREMATURIDADE E DESENVOLVIMENTO 2060. Formação acadêmica e influência dos professores nos projetos profissionais de universitários............................................................ 169 2059. Projetos de vida e profissional: um estudo com universitários da área da saúde.............................. 170 2297. Aspectos psicossociais envolvidos nos cuidados adotados pelas mães de neonatos prematuros após alta hospitalar............... 171 2070. “Mas tu não vai trazer as maninhas? Por que tu ganhou e deixou lá?”: experiência dos irmãos frente ao nascimento prematuro do bebê.................................. 172 BRINCADEIRAS 2134. Brincadeiras: veredas. O desenvolvimento psicológico de crianças no período pré-escolar............................ 174 2038. Reprodução interpretativa em episódios de faz de conta............................................ 175 2000. Gênero e brincadeiras de faz de conta em Camaçari-BA: contribuições da reprodução interpretativa........................................... 176 2246. De espectadora a criadora: o conteúdo das novelas brasileiras na brincadeira de faz de conta da criança pequena.............................. 177 2081. Brincadeiras e travessias no centro de referência da assistência social: práticas lúdicas e cidadania com crianças............... 178 2234. Brinquedos artesanais: mediadores culturais para brincadeiras infantis em Salvador e região metropolitana............................... 180 SOCIALIZAÇÃO PARENTAL II 2472. Estudo exploratório sobre práticas educacionais parentais em casais binacionais Brasil-Alemanha...................................... 181 2350. As relações parentais e o envolvimento do adolescente com a escola: encontro ou desencontro?............................................................ 183 2370. A influência da idade materna na interação mãe-bebê................................................. 184 2369. Prematuridade e o desenvolvimento de bebês: o impacto da idade corrigida................. 185 SUMÁRIO ESTUDOS SOBRE SURDOS 2373. Surdez e biculturalidade: um estudo sobre o autoconceito a partir das interações surdo-surdo e surdo-ouvinte...................................... 186 2355. A cultura surda e suas nuances: triunfando sobre as diferenças.................................. 187 2068. Narrativas e processos de desenvolvimento bicultural: trajetórias escolares de surdos jovens.......................................... 188 2061. Vulnerabilidade e abuso sexual: analisando narrativas de surdos homossexuais........................... 189 1968. Atendimento psicológico a surdos: desafios e possibilidades............................................. 190 RELAÇÕES INTERGERACIONAIS 2028. O brincar coletivo e sua significação intergeracional....................................... 191 2039. Escola de pais e desenvolvimento humano: uma proposta mediadora de conflitos intergeracionais........................................... 193 2283. As famílias e as relações intergeracionais de universitários com experiência de trabalho infantil........................................................... 194 1971. Violência na transmissão geracional............. 196 1969. A noção de proteção da infância & as relações intergeracionais.................................... 197 ÉTICA E VALORES 2040. Comportamentos éticos na pesquisa acadêmica................................................ 198 2132. Ética e pesquisa com crianças: questões e desafios desde a sociologia da infância................. 199 2368. A compreensão de valores por crianças de 5 a 8 anos: estudo comparativo........................... 200 2399. Valores morais em uma telenovela brasileira..................................................... 202 2102. Sesi jovem na indústria: o protagonismo juvenil resgatando valores e desenvolvendo pessoas............................... 203 PREMATURIDADE/DESENVOLVIMENTO Educação e Creche 2405. Educadora na creche: uma revisão sistemática............................................. 204 11 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento 2325. Concepções de educadoras de creches públicas e privadas sobre desenvolvimento infanti............................................. 205 2477. Conversas e diálogos com educadores de creches: com a palavra, a infância....................... 207 2337. A infância na creche: notas sobre discursos e práticas de coordenadoras pedagógicas........................................ 208 2471. Trajetórias investigativas em creches............. 209 Bullying 2344. O que pensam os profissionais da educação sobre o bullying escolar?...................... 210 2119. Bullying, violência e cultura de paz: com a palavra professores e alunos da quarta série do ensino fundamental........................ 211 2233. Combater o bullying promovendo a paz: desenvolvendo práticas para construção do respeito no âmbito escolar................................... 212 1962. Vulnerabilidade e violência escolar: o caso do bullying homofóbico entre estudantes adolescentes............................................... 214 2019. Assassinos seriais: fenômeno social, violência e destrutividade............................... 215 CONSCIÊNCIA: LEITURA E ESCRITA 2401. Uma metanálise da relação entre a consciência morfológica e a leitura e escrita no português brasileiro................................ 216 2466. Consciência morfológica e consciência fonológica: uma contribuição independente na leitura e na escrita.................................................. 217 SUMÁRIO 1987. Os efeitos do processamento silábico no acesso lexical e sua relação com o processamento fonológico em crianças do 1ª ao 4ª ano do ensino fundamental................ 224 DIAGNÓSTICO 2077. Em busca por respostas: a complexidade do diagnóstico no caso de dupla excepcionalidade............................... 225 2058. O tratamento dado ao sintoma da criança: uma leitura psicanalítica....................... 226 2442. Impacto do diagnóstico em mães de crianças com autismo................................. 227 2281. (Des)colando do diagnóstico da criança atendida no CAPSi - intervenção precoce - Campina Grande, PB............................................... 228 DIALOGICIDADE 2467. O processo de investigação no interior do grupo de pesquisa linguagem, educação, formação de professores e infância.......................... 230 1983. Dinâmica das significações de si em crianças na perspectiva dialógico-cultural............. 231 1960. Desenvolvimento inicial de condutas protoargumentativas................................. 232 2272. A produção de sentidos na comunicação no começo da vida............................. 234 2158. Os processos de produção de sentidos na vida cotidiana de crianças: imagens fotográficas................. 235 2274. Microevoluções no embodied self................. 236 EDUCAÇÃO 2333. Relações entre a consciência metalínguística e as habilidades de leitura e escrita na EJA............................................................. 219 2075. A psicogenética walloniana nas reuniões da ANPED no período de 2000 a 2011 uma visão panorâmica................................................. 238 2042. Efeitos de um programa de promoção da linguagem referente aos estados mentais e da consciência metatextual: uma pesquisa de seguimento............................................................... 220 2383. Processos colaborativos na relação professores-supervisores e professores-tutores....................................................... 239 2052. O projeto livros abertos: extensão e pesquisa para a formação de leitores ativos......... 221 1952. Revisão textual: comparando-se crianças e adultos com níveis de escolaridade distintos.................................................. 222 2342. Permanecer na profissão professor, a despeito de dificuldades: um estudo na perspectiva de Henri Wallon............................... 241 2298. Atendimento educacional especializado no ensino de química.................................................. 242 2227. Discurso de professores da zona rural de Porto Acre-AC sobre suas práticas socioculturais........................................ 243 12 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento 1941. Pesquisas sobre eficácia coletiva de professores: uma análise acerca dos estudos desenvolvidos no período de 2000 a 2013............ 244 PÔSTERES 2553. A percepção da escola como comunidade difere de acordo com o gênero: um estudo com adolescentes pernambucanos.................................... 245 2555. Comparação entre médias de apego seguro e inseguro em pessoas de distintos níveis instrucionais....................................................... 246 2554. Diferença de afetos entre crianças: um estudo entre afetos negativos e positivos................ 247 2412. Afetividade, aprendizagem e relação professor-aluno: interlocução entre as abordagens psicogenética e psicanalítica................. 248 2381. Desenvolvimento do apego e habilidades sociais em adultos: comparação entre as médias de homens e mulheres.................... 250 2287. Atividades extracurriculares e desenvolvimento socioemocional em crianças......... 251 SUMÁRIO 2549. A importância da família na relação com o portador de Síndrome de Down: uma revisão da literatura........................................... 263 2516. A humilhação no cotidiano de pessoas portadoras de deficiência física............. 264 1997. Dia a dia das mães com filhos portadores da Síndrome de Down........................... 266 2541. A aprendizagem da tomada de decisão como estratégia no processo de orientação profissional: relato de experiência de um projeto de orientação profissional............................ 267 2258. A importância da relação professor-aluno no contexto de dificuldades de aprendizagem......................................................... 268 2559. Cirurgia plástica na adolescência: a busca pelo corpo da moda..................................... 269 2550. Nível de satisfação da imagem corporal entre adolescentes do sexo feminino em relação ao masculino............................................ 271 2241. Estudo da relação entre vinculação afetiva segura e vitalidade subjetiva.......................... 253 2374. A relação entre o autoconceito das crianças enquanto aprendizes e a percepção do professor sobre suas habilidades acadêmicas.............................................. 272 2020. Relações de apego entre a mãe e a criança em processo de adoecimento e hospitalização: existem mudanças?........................ 254 2527. O trabalho com cartilhas informativas em UTI neonatal como ferramenta para o desenvolvimento infantil............................... 273 2548. O brincar e a ludicidade: fatores fundamentais para o desenvolvimento infantil.......... 255 2473. Formação profissional de educadoras de creche e suas práticas pedagógicas em torno do brincar.................................................... 274 2269. Jogo para crianças surdas: o brincar e o desenvolvimento cognitivo................................. 256 2092. A clínica da pequena infância: quando o brincar indica sinais precoces de sofrimento psíquico..................................................... 257 2007. O brincar na clínica interdisciplinar da pequena infância: sinais precoces de sofrimento psíquico................................................ 258 2016. A importância do lúdico no contexto escolar de uma escola pública e privada de Feira de Santana.................................... 260 2014. Reações e benefícios à criança hospitalizada com relação à atuação dos doutores da brincadeira na percepção do acompanhante/cuidador...................................... 261 2396. Boneco expressões: uma prática interdisciplinar e extensionista................... 262 2417. Ações em educação e saúde voltadas para o crescimento e desenvolvimento da criança....................................... 275 2351. O caminho, a realidade e o olhar docente no desenvolvimento humano: uma análise do trajeto para as escolas rurais de Cunha - SP............... 276 2299. Um encontro entre Psicologia e Educação: investigando o relacionamento entre professores e alunos repetentes.................................. 277 2022. O psicólogo educacional e possíveis atuações no campo da educação de surdos....................................................... 279 2458. Enredando saberes: tecendo experiências, criando laços........................................ 280 2558. A proteção de crianças e adolescentes: uma análise institucional das aldeias infantis SOS............................................. 281 13 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento SUMÁRIO 21 de novembro de 2013 1011. Diferentes Contextos de Desenvolvimento Infantil......................................... 306 CONFERÊNCIAS 1012. Psicologia Social e Desenvolvimento Humano....................................... 306 Desenvolvimento humano: o legado de Piaget....................................................... 284 Valores humanos e desenvolvimento moral na perspectiva sociocultural......................... 289 MESAS REDONDAS 1007. Brinquedo, aprendizagem e saúde................ 290 Espaços para brincar: problematizando concepções............................. 290 Brinquedos e brincadeiras: explorando aprendizagens de crianças com os parceiros........ 292 1008. Psicologia dialógica........................................... 293 Psicologia cultural e o desenvolvimento do self dialógico: contribuições teórico-metodológicas......................................... 293 Dialogismo e Fenomenologia: a questão do self em Mikhail Bakhtin............... 294 Dialogismo como perspectiva no estudo da cognição humana: o caso da gênese do pensamento crítico-reflexivo......................... 295 1009. Teoria da mente e linguagem........................ 297 Contação de histórias e a Teoria da Mente das crianças.............................. 297 Teoria da Mente e Linguagem: estudo em contexto educacional.................................... 298 Teoria da Mente e Autismo: interações maternas e uso de histórias infantis................. 299 Teoria da mente: panorama da produção brasileira............................................... 301 1013. Desenvolvimento moral e solidariedade............. 302 Valores de solidariedade e respeito em professores e adolescentes: posicionamentos pró e contra valor em diferentes perspectivas sociais................. 303 2326. Competência social e competência emocional: estabelecendo relações........................... 306 Competência social e compreensão emocional: explorando a relação em crianças de 8 e 12 anos......................................... 307 Que relação há entre os estilos de apego seguro/inseguro e as habilidades sociais de adultos?.............................................................. 308 Estudo da relação entre o afeto e a superproteção parentais percebidos e as habilidades sociais de adultos............................ 309 Práticas culturais, socialização e desenvolvimento socioemocional na infância: um estudo transcultural................ 310 1945. Práticas para o desenvolvimento narrativo........................................................................ 312 As narrativas maternas e o discurso narrativo da criança............................. 312 A influência da conversação familiar sobre o passado no desenvolvimento narrativo............ 314 O processo de mudança nas narrativas de si: análise da temporalidade narrativa e da posição subjetiva........................................... 315 Narratividade sobre o adolescer: processos de construção de si............................. 316 1976. Violência sexual contra crianças e adolescentes: perfil das vítimas, dos agressores e consequências............................................................. 317 Agressores sexuais de crianças e adolescentes: uma revisão sistemática da literatura................ 318 Notificações de violência doméstica, sexual e outras violências contra crianças e adolescentes em Belém-Pará............................ 319 Solidariedade/Generosidade e sua relação com o amor.............................................. 304 Caracterização das notificações de violência sexual contra meninos ocorridas em Porto Alegre................................. 320 A cultura do bem comum e de direitos no contexto escolar.......................... 305 Sobre a gravidez advinda de estupro: uma revisão sistemática da literatura............... 321 1010. Interfaces entre a psicologia escolar educacional e as psicologias do desenvolvimento e da aprendizagem........................ 305 14 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento SIMPÓSIOS 2322. A psicologia no processo de desenvolvimento de professores: atuação e pesquisa....................................................... 322 Significações sobre o desenvolvimento docente na licenciatura: vozes de professores e alunos............................................. 323 A Psicologia da Educação na formação de professores em um contexto de educação bilíngue................................................. 324 O trabalho docente de psicologia nas licenciaturas: entraves políticos e desafios na contemporaneidade........................ 325 Pesquisa em psicologia: contexto de significação sobre aprendizagem matemática e desenvolvimento humano............................... 327 COMUNICAÇÕES ORAIS COORDENADAS 2453. Energia vital: o desenvolvimento de um raciocínio implícito........................................ 328 2197. Desenvolvimento humano e processos de ensino a distância................................. 329 Processos de ensino e aprendizagem em tempos de dispersão...................................... 330 A influência das características socioculturais, alfabetização e ubiquidade digital no rendimento acadêmico do estudante on-line...... 331 A coconstrução do conhecimento em ambientes virtuais de aprendizagem: contribuições à inclusão/formação do professor...................... 332 Subjetividade e interação nos fóruns on-line: reflexões sobre a permanência em educação a distância............................................................... 333 2107. Relações de gênero no sistema de garantia de direitos: desafios ao atendimento........................ 335 Relações de gênero e o fenômeno da adolescência no discurso de conselheiros/as tutelares de Goiás.................................................. 335 Oficinas de gênero: uma metodologia para a reflexão sobre o feminino no contexto das medidas socioeducativas............................... 337 O atendimento às adolescentes em privação de liberdade na cidade do Natal....................... 338 2605. Significações sobre família: apropriação e transmissão de regras e valores culturais.............. 338 SUMÁRIO A compreensão de relações familiares pelas crianças em situação de brincadeira....... 339 Construção de sentidos compartilhados sobre família por crianças: ontogênese de Representações Sociais................................... 340 Famílias brincadas em dois contextos de desenvolvimento: um estudo comparativo...... 341 Estratégias parentais de transmissão de valores................................................................ 343 A família como contexto de desenvolvimento: Representações Sociais construídas por jovens, adultos e idosos........................................ 344 COMUNICAÇÕES ORAIS BRINCADEIRA E EDUCAÇÃO 2250. Processos de aprender e pensar: o brincar como estratégia pedagógica interventiva................. 345 1974. O brincar na educação infantil e a relação adulto-criança........................................... 347 2481. O fluxo do significado do brincar com educadores de creches........................................ 348 2478. As contribuições do brincar e do brinquedo na visão de educadores de creches públicas........... 349 2320. Do brincar epistêmico ao brincar heurístico: brincando com bebês no contexto da creche............. 350 2386. Brincadeira e atividade escolar: sobre diversão e obrigação.......................................... 351 2414. Identidade negra, brincadeira de faz de conta e a prática docente: a reeducação das relações étnico-raciais................................................... 353 IMPACTO DE NOVAS TECNOLOGIAS EM CRIANÇAS E JOVENS 2451. O efeito de games na promoção do desenvolvimento cognitivo e de comportamentos pró-sociais....................................... 354 2448. Frequência, abrangência e significado do uso do facebook: um estudo exploratório............. 355 2289. Comportamentos comunicativos de crianças autistas no uso do computador................ 357 PERCEPÇÃO DA MÃE A RESPEITO DOS FILHOS 2441. Relatos maternos sobre atribuição de significado aos comportamentos de bebês de 4 e 9 meses............ 358 15 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento SUMÁRIO 2437. Percepções maternas acerca do desenvolvimento infantil: um estudo exploratório.................................... 359 2090. Investigando a ideia de possível em crianças em diferentes campos de conhecimento................ 378 2398. Habilidades sociocomunicativas de gêmeos na perspectiva materna............................................... 360 1944. O grupo prático de deslocamentos e o desenvolvimento do sujeito epistêmico.................. 380 2340. “Pirraça/Manha” ou a forma de linguagem e interação do bebê com o mundo?........................ 361 2361. Depois do balbucio os primeiros blá blá blá................................................... 381 ESTUDOS SOBRE NEUROPSICOLOGIA 2177. A influência de fatores do ambiente sociofamiliar sobre o desenvolvimento neuropsicomotor de crianças das unidades de educação infantil do município de Belém, Pará.......................................................................... 363 ADOLESCENTES INSTITUCIONALIZADOS/ VULNERABILIDADE 2066. Contribuições de Bourdieu ao tema do desenvolvimento do adolescente em contexto institucional socioeducativo...................................... 382 2377. Desenvolvimento neuropsicomotor de lactentes inseridos em creches públicas do município de João Pessoa, PB................................... 364 2480. Percepções de cuidado nas relações interpessoais de adolescentes socialmente vulneráveis do sul do Brasil...................................... 383 2483. Desenvolvimento da habilidade em reconhecer expressões faciais estáticas e dinâmicas: como se comportam crianças, adolescentes e jovens adultos?................................... 365 2173. A escola da perspectiva de estudantes adolescentes que vivem em contexto de vulnerabilidade social................................................. 384 2501. Avaliação neuropsicológica de idosos usuários de serviços de PSFs na cidade de Recife, PE................ 366 2547. Percepção de faces humanas e animais por recém-nascidos....................................................... 367 DESENVOLVIMENTO MORAL 1954. A internalização da lealdade no processo de socialização militar................................................. 369 2084. Amor e justiça: um estudo exploratório com adolescentes......................................................... 370 2203. Psicologia da Moralidade e Psicanálise: um estudo sobre a vergonha..................................... 371 2152. Juízo e ação moral de crianças em situações envolvendo a trapaça................................. 372 2172. Comportamento pró-social e hipocrisia em crianças em um jogo ditatorial.......................... 373 DIFERENTES DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO II 2360. Uma análise do efeito da explicitação dos princípios invariantes na resolução de problemas de raciocínio combinatório....................................... 375 1986. O jogo Lig-4 como instrumento de avaliação do nível de análise heurística de crianças.............. 376 2056. Importância do jogo com regras para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores....................................................................... 377 1977. Da rua ao trabalho: a reconstrução do projeto de vida de jovens em situação de ex-moradia de rua em Recife, PE.............................. 386 AGRESSIVIDADE E VIOLÊNCIA 2529. Prevenção de violências contra crianças e adolescentes: intervenções em grupos de sala de espera de um hospital universitário......................... 387 2180. Violência sexual contra mulheres: o que dizem as vitimadas?..................................................... 388 2141. Elementos descritivos e delineamentos protetivos do assédio sexual no ambiente de trabalho.................................................................... 389 DOCÊNCIA: LEITURA E ESCRITA 2128. Iniciação à docência (PIBID) na educação infantil: relato de uma experiência de leitura e escrita............................................................................ 390 2127. Iniciação à docência na educação infantil: práticas de leitura e escrita......................................... 391 1948. Professoras alfabetizadoras de sucesso: Quem são? O que fazem?.......................................... 392 DESENVOLVIMENTO INFANTIL EM ATENDIMENTO HOSPITALAR 2012. Desenvolvimento psicológico infantil e atuação do psicólogo nas unidades de terapia intensiva-neonatais: uma revisão da literatura...... 394 16 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento 2524. Grupo de acompanhantes: uma “ferramenta” facilitadora para a construção de rede de apoio em um hospital pediátrico........................................ 395 2393. Articulação entre instituição de acolhimento e escola em torno da medicalização de crianças e adolescentes................................................................ 396 TERAPIAS 2511 Intervenções da psicopedagogia e da arteterapia frente ao diagnóstico do TDAH.......... 398 2491. Efeitos da cognitive orientation to daily occupational performance (CO-OP) no desempenho de atividades de crianças com transtorno do desenvolvimento da coordenação......... 399 2242. Ateliê de contos: possibilidade de abordagem psicoterapêutica grupal com crianças da educação infantil.................................... 400 2531: Grupo terapêutico com crianças em situação de vulnerabilidade social..................... 401 2364: A arteterapia como possibilidade de expressão das vivências de crianças em acolhimento institucional.......................................... 402 2365. Adolescentes em vulnerabilidade social: a arte como instrumento de enfrentamento desse contexto............................................................... 403 2439. Aproximações entre a proposta da terapia social e a psicologia do desenvolvimento.............. 404 BRINCADEIRA E SAÚDE 2553. O lúdico voltado à compreensão das experiências das crianças diante do câncer............. 406 2116. O brincar enquanto ferramenta de promoção do desenvolvimento da criança hospitalizada............ 407 2117. A vivência do brincar em crianças com câncer..................................................... 408 INTERAÇÃO PAIS-FILHO 2321. Envolvimento paterno ao longo do primeiro ano do bebê no contexto de depressão pós-parto materna...................................... 410 2048. Estilos comunicativos na interação mãe-criança com deficiência visual: um estudo longitudinal.............................................. 411 2050. Cenas de atenção conjunta na interação mãe-criança com deficiência visual......................... 412 SUMÁRIO VIDA AFETIVA 2348. A construção do vínculo afetivo: qual a gênese.................................................................. 414 2082. Pontes da afetividade: um estudo sobre a atuação de professores tutores segundo a psicologia genética de Henri Wallon.................... 415 2025. Significados e sentidos da afetividade na prática docente....................................................... 416 2488. Consenso ou experiência passada: em quem devo confiar?.............................................. 418 2330. Desenvolvimento das emoções de crianças em situação de vulnerabilidade social: contribuições na perspectiva do nordeste brasileiro....................... 419 2537. Vínculos afetivos no acolhimento institucional: desafios e possibilidades................... 420 ESTUDOS SOBRE IDOSOS E ENVELHECIMENTO 2424. Aspectos gerais da idade adulta intermediária............................................................ 421 2496. Idosos, resiliência e saúde mental.................. 422 1943. Violência contra idosos na família: ouvindo o familiar que agride.................................. 424 1809. Acolhimento: estratégia de contribuição para melhorar a qualidade de vida psicoemocional do idoso........................................... 425 2035. Envelhe-ser - um enfoque psicanalítico. Estudos interdisciplinares sobre o envelhecimento ativo.............................................. 425 2282. A depressão e o processo de envelhecimento humano diante do acidente vascular cerebral........................................................... 427 2413. Experiência de perda e luto do cônjuge de idosos em instituição asilar de longa permanência: um relato de experiência na cidade de Lagoa Seca, PB...................................... 428 DESENVOLVIMENTO MORAL E PENSAMENTO RELIGIOSO 2095. As não admirações de adolescentes internos: estudo na área da moralidade.................. 430 2389. A moral do cuidado em profissionais de saúde mental........................................................... 431 17 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento 2460. A estrutura da representação social da interface lazer-religião em seminaristas anglicanos e pentecostais: um estudo do ethos religioso na perspectiva da Teoria das Facetas........................ 432 2232. Infância e cultura: um estudo sobre a emergência dos elementos da cosmovisão cristã ocidental em situações de faz de conta................... 433 PERDÃO 2262. Análises confirmatórias das escalas de motivação para receber o perdão e de reconhecimento da injustiça para o autoperdão................................. 434 2315. Análise léxica das injustiças reportadas na escala do perdão interpessoal – EFI (Enright Forgiveness Inventory)....................... 436 2379. A relação entre os estilos de socialização parental e as concepções de perdão em adolescentes................ 437 2208. Educação moral para o perdão em crianças..... 438 DIREITOS HUMANOS RELACIONADOS A OUTRAS DIMENSÕES PSICOSSOCIAIS 2198. Direitos Humanos e infância: aspectos da construção conceitual e histórica dessa relação........... 439 2005. Prioridade absoluta? Percepções de Direitos Humanos para crianças e adolescentes do sertão de Pernambuco................................................. 440 2545. Resolução de conflitos entre o domínio pessoal e o domínio dos Direitos Humanos por crianças e adolescentes de escola privada............... 442 2510. Entre o domínio pessoal e os Direitos Humanos análise da resolução de conflito por crianças e adolescentes de escola pública............... 443 2509. Relações entre uma técnica indutiva materna, a percepção e o comprometimento dos filhos referente aos Direitos Humanos............................... 444 2160. Representações sociais dos Direitos Humanos de aspirantes à carreira militar.................................. 445 EDUCAÇÃO INFANTIL 2256. A educação infantil como ferramenta no combate aos maus-tratos na infância....................... 446 2474. A chegada de crianças pequenas à instituição de educação infantil: notas conceituais.................. 448 2175. Contando histórias na escola: um estudo sobre teoria da mente e linguagem.......................... 449 SUMÁRIO 2147. Engajamento escolar, atitudes frente à escola e à aprendizagem: uma reflexão acerca da vivência escolar....................................................... 450 ABUSO SEXUAL INFANTIL 2349. A invisibilidade do masculino nos estudos sobre exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil........................................................................ 451 2345. Narrativa de adolescente vítima de abuso sexual: uma análise fenomenológica....................... 453 2346. Crianças e adolescentes oncológicos: representações da reinserção escolar........................ 454 2279. Abuso sexual infantil: impactos sobre o desenvolvimento e possíveis contribuições da psicologia para prevenção.......................................... 455 2249. Ameaça de inferno e abuso infantil............. 456 PSICOLOGIA ESCOLAR I 2071. Breve análise do sucesso escolar à luz de pressupostos da teoria histórico-cultural do desenvolvimento humano.......................................... 456 2139. Perspectivas de atuação do psicólogo escolar/educacional na pré-escola: uma experiência de estágio supervisionado..................... 457 2072. Práticas exitosas de psicólogos escolares da Secretaria de Educação do DF............................. 458 2544. A questão escolar: medicalização da educação................................................................... 459 TDAH 2229. O TDAH no discurso de professores: desafios à aprendizagem e desenvolvimento infantil.......... 460 2506. Conhecimento sobre TDAH de pais de crianças diagnosticadas com o transtorno............. 461 2397. Avaliação da relação entre as dificuldades características do Transtorno por Déficit de Atenção com hiperatividade e o baixo rendimento acadêmico no Ensino Fundamental I de Parnaíba, PI.................... 463 2505. Comportamentos de crianças com TDAH durante intervenção psicológica com jogos de regras...................................................... 464 2125. Jogos de regras como recurso de intervenção pedagógica na aprendizagem de crianças com Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade..................................... 465 18 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO 2366. A saída para as ruas: investigando os motivos identificados por adolescentes para o início das trajetórias de vida nas ruas..................... 467 2126. Bem-estar subjetivo de adolescentes em situação de rua...................................................... 468 1965. Concepções, de estudantes, sobre abrigos para crianças e adolescentes em situação de risco............... 469 2528. Circulação de crianças e adolescentes em situação de rua em instituições de atendimento na cidade de Salvador.................................................. 470 CRIATIVIDADE E SUBJETIVIDADE 2044. Epistemologia genética e o processo criativo.................................................... 471 2130. O corpo que brinca, narra, desenha e escreve: um estudo sobre as relações entre as atividades criadoras e o letramento.................... 472 2328. Os processos imaginativos e as narrativas infantis: construindo subjetividades na infância.......................................... 472 2378. O brincar infantil e a escrita poética: um ensaio sobre os devaneios etéreos do ato criativo.............................................................. 473 2353. Acerca da diferença e das práticas de subjetivação de adolescentes na escola.............. 475 2043. Criatividade na educação infantil: um estudo sociocultural construtivista de concepções e práticas de educadores....................... 476 SOCIALIZAÇÃO SUMÁRIO 2311. Relações do burnout com a demanda e recursos no trabalho entre profissionais de psicologia e serviço social.......................................... 483 2538. O auxílio do psicodiagnóstico precoce no desenvolvimento de crianças com suspeita de transtorno de déficit de atenção......................... 485 2526. Realidade da obesidade em adultos jovens no Brasil............................................................ 486 2432. Desconect@ndo: a influência da internet na ideação do suicídio entre adolescentes.............. 487 2323. Perfil do atendimento psicológico às crianças e adolescentes notificadas como suspeitas de vítimas de violência no HOSPED..................... 488 2319. A atenção na saúde a crianças e adolescentes vítimas de violência: uma revisão integrativa........ 490 2091. Caracterização da saúde mental infantil do município de Campina Grande, PB....................... 491 1998. Paciente hospitalizado em uti: opinião de familiares.................................................................. 492 2552. Violência escolar: vulnerabilidade dos discentes em uma escola pública da Paraíba......... 493 2551. Um olhar psicológico sobre a violência doméstica contra as mulheres................................... 494 2494. Casos notificados de violência em hospital de referência: perfil de crianças e adolescentes............ 495 2421. A importância de reconhecer, enfrentar e prevenir o bullying escolar: uma revisão sistemática da literatura.............................................. 497 2324. Notificação dos casos de violência contra crianças e adolescentes................................................ 498 2534. Identidades nacionais no contexto de integração regional................................................. 477 2312. Determinantes emocionais dos comportamentos agressivos em crianças e adolescentes................................................................ 499 2522. O adolescente e a construção do projeto de vida........................................................ 478 2261. Projetos e propostas de prevenção e controle de violência escolar na literatura científica............ 500 2023. (Re) construção da identidade adolescente e grupo de iguais.................................... 480 2260. Projetos e propostas de prevenção e controle do bullying na literatura científica.......................... 501 2610. “E a coisa agora é outra”: construção de sentidos de identidade e cirurgia bariátrica........... 481 2329. Novas famílias, novas conjugalidades: o discurso masculino em uma relação de coabitação................................................................ 501 PÔSTERES 2277. Aspectos psicodinâmicos e a depressão na enurese secundária: estudo de casos múltiplos.......................................... 482 2292. Separação dos pais e comportamento agressivo na infância................................................... 502 2031. Número de irmãos e interpretação de contos de fadas: um estudo a partir da teoria de Piaget........................................................ 504 19 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento 2029. Situação conjugal dos pais e interpretação de contos de fadas: um estudo a partir da teoria de Piaget.......................................... 505 2562. Novas configurações familiares - o afeto como elemento principal para a formação de núcleos familiares na adoção por casais homoafetivos................................................................. 506 SUMÁRIO 2105. Metodologias grupais em socioeducação: pesquisa e intervenção................................................. 522 A metodologia de oficina temática na pesquisa-intervenção com adolescentes do sexo feminino que cumprem medida socioeducativa em meio fechado...................... 523 2316. Interseções entre neuropsicologia e desenvolvimento infantil: um estudo de caso....... 507 Oficinas temáticas com adolescentes: uma alternativa metodológica para o atendimento socioeducativo em meio aberto........................ 524 2270. Aspectos afetivos em portadores de TEA e as contribuições da neuropsicologia: uma revisão bibliográfica........................................... 508 O papel dos grupos focais no levantamento de demandas de formação de profissionais do sistema socioeducativo.................................. 526 2296. O discurso religioso nas igrejas batistas na rpa1 da cidade do Recife acerca da sexualidade: repercussões na prevenção e enfrentamento contra o abuso sexual de crianças e adolescentes.............. 510 1016. Avaliação do desenvolvimento emocional: abordagens não verbais no contexto do apego e do bullying................................................................. 527 2065. A homossexualidade discutida sob a ótica do desenvolvimento da libido: o complexo de édipo e o complexo de castração revisitados........ 511 2280. Crenças parentais e práticas de cuidados de mães de crianças nascidas prematuras............... 511 2542. O conceito de paternidade para adolescentes de Natal, RN......................................... 512 2235. Maternidade: entre o desejo e a idealização............................................................... 514 22 de novembro de 2013 MESAS REDONDAS 1013. Avaliação do desenvolvimento cognitivo.... 517 ECCOS 4/10: teste psicométrico para avaliar competências cognitivas em crianças............... 517 Versão informatizada da ECCOS 4/10: um olhar pela Teoria da Resposta ao Item............. 518 Consciência fonológica e memória em pré-escolares: uso da “computerized adaptive testing” (CAT) para avaliação............................ 519 Análise multidimensional dos fatores cognitivos relacionados ao desenvolvimento da leitura na infância........................................... 521 1014. Educação em direitos humanos.................... 522 1015. Criatividade e desenvolvimento humano: contribuições de pesquisadores contemporâneos...... 522 Reconhecimento emocional de expressões faciais: análise em crianças através de desenhos e fotografia........................................... 528 Competência emocional e bullying: análise da percepção de crianças em fase escolar............. 529 O desenho da família na avaliação do Apego: problematizando indicadores tradicionais...................................... 530 Avaliando as relações de Apego secundárias: o caso da relação entre professor e aluno................................................... 532 1017. Psicologia evolucionista do desenvolvimento: o papel do outro no comportamento pró-social........................................ 533 Desenvolvimento do sentido de propriedade em crianças e interações sociais: relação entre dividir brinquedo e o alocentrismo familiar...... 533 Quanto mais eu olho e critico, mais eles cooperam: avaliação de fatores que interferem na doação de crianças a um bem comum............ 535 Ganhar ou perder: influência da idade em um jogo competitivo.................................... 536 1018. Cooperação internacional e desenvolvimento humano......................................... 537 O PEC-G e as dificuldades da cooperação brasileira para o desenvolvimento..................... 537 Direitos de propriedade intelectual e desenvolvimento humano............................... 537 A política brasileira de assistência alimentar internacional: entre o desenvolvimento humano e os interesses estatais.......................... 538 20 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento SUMÁRIO 1019. Abordagens psicológicas, intergeracionais e socioeducativas no envelhecimento humano............. 538 Relações entre gratidão e outros valores de crianças e adolescentes................................... 556 2433. Velhice e demência: reflexões sobre família, cuidados e solidariedade intergeracional................ 538 O desenvolvimento da gratidão: uma comparação de amostras com crianças e adolescentes no sul do Brasil........................... 557 Idosos com doença de Alzheimer: repercussões no funcionamento familiar........ 539 O capital mental ao longo da vida: um olhar para a velhice...................................... 540 Velhice, Doença de Alzheimer e solidariedade intergeracional: um modelo de intervenção psicogerontológica e educativa aos familiares cuidadores........................................... 541 2288. Relação creche-família: experiências de formação do educador da infância.......................... 542 Nas tramas e tessituras da inserção: diálogos com educadores da infância sobre as relações creche-família.................................... 543 A construção da relação creche-família no berçário: contribuição da pesquisa-formação...... 544 Relação creche-família e o processo de inserção......................................... 545 2078. Relações de gênero e o fenômeno da adolescência no discurso de conselheiros/as tutelares de Goiás......................................................... 546 2313. Emancipação e construção de si: novos tempos para as pessoas em situação de deficiência............ 547 Nós especiais temos direitos: narrativa de um jovem com deficiência intelectual............. 548 Família e inclusão no autismo: contribuições da perspectiva dialógica....................................... 549 Libras: a constituição de um território linguístico............................................ 550 SIMPÓSIOS 2499. Mediação e afetividade no processo de desenvolvimento docente..................................... 551 A afetividade caracterizando as possibilidades de mediação pedagógica na articulação entre teoria e prática............................................ 552 Significações na EAD: afetividade no ambiente virtual de aprendizagem................... 553 Mediação pedagógica e relações afetivas: produções de significados na atividade de ensino.................. 554 2602. O desenvolvimento da gratidão: valores de jovens no Brasil, EUA, Rússia e China.............. 556 Variações culturais na expressão da gratidão: pesquisas realizadas nos Estados Unidos, Rússia e China....................................................... 559 COMUNICAÇÕES ORAIS COORDENADAS 2395. A estrutura dos valores em crianças: explorando formas de avaliação e análise.............. 560 2286. Projetos de vida, sentimentos e os modelos organizadores do pensamento.................................. 561 Projetos de Vida e Moralidade: um estudo com jovens estudantes da cidade de São Paulo...... 562 Dimensão Afetiva dos Projetos de Vida de jovens....................................................... 563 Integração e regulação de valores e sentimentos nos Projetos de Vida na juventude................... 564 2603 Efeitos diferenciais da depressão pós-parto no desenvolvimento neuropsicomotor......................... 565 Efeitos da depressão materna sobre o desenvolvimento motor de crianças aos 12, 24 e 36 meses de idade.................................. 566 Efeito do estilo de apego sobre o desenvolvimento motor aos 12 meses de idade................................... 567 As consequências da depressão pós-parto na autorregulação emocional das crianças aos três anos de idade: um diálogo entre Winnicott e a neurociência do desenvolvimento.............. 568 COMUNICAÇÕES ORAIS DIFERENTES TIPOS DE INTERAÇÃO 2254. Interações de crianças em creches: um estudo sobre a linguagem num contexto de brincadeira livre...................................................... 569 2202. Estratégias de negociação entre crianças em situações de cooperação num planejamento de um teatro sobre família........................................ 571 2237. As relações familiares de crianças gêmeas e o papel do subsistema fraterno no desenvolvimento infantil........................................... 572 2013. Interações escolares: a simpatia enquanto elemento regulador das significações do aluno......... 573 21 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento GRAVIDEZ E MATERNIDADE I 2568. Gravidez e apoio social: uma revisão da literatura................................................................... 574 2502. Rede de apoio na transição para a maternidade............................................................... 576 2507. As famílias de origem de futuras mães e pais primíparos......................................................... 577 2239. Maternidade e trabalho: experiências maternas no período de licença e na entrada do bebê na creche......................................................... 578 IDOSOS EM DIFERENTES CONTEXTOS 2046. Desenvolvimento humano e solidariedade: intervenções psicológicas com idosos institucionalizados...................................................... 579 1978. Centro de convivência do idoso e desenvolvimento psíquico: um olhar acadêmico...... 581 2111. Educação gerontológica: um estudo com idosos frequentadores do programa municipal da terceira idade, Viçosa, MG.................................... 582 DESENVOLVIMENTO MORAL DA JUSTIÇA 2179. Uma comparação do julgamento moral de jovens adultos e adolescentes de diferentes contexto....................................................... 583 2359. Comportamento distributivo e sentimentos empáticos em situações assimétricas....................... 584 2120.“Dois pra mim e dois pra você” ou “dois pra mim e um pra você?” Justiça distributiva em um jogo ditatorial com crianças...... 585 2108. Ajudar ao próximo, ou receber sua recompensa? Comportamento distributivo infantil em situações envolvendo mérito pessoal e cuidado com o próximo............................. 587 DIREITOS HUMANOS: RESPEITO E VIOLAÇÃO 2533. Formação ética e Direitos Humanos na escola: o trabalho com a estratégia de projetos.................. 588 2363. A difusão de representações sociais dos Direitos Humanos pelo Jornal Nacional................... 589 2357. A defesa dos direitos das pessoas com deficiência como marca da história de vida de uma aluna com baixa visão................................. 590 2566. Um outro olhar sobre famílias e violações de direitos de crianças e adolescentes.................. 592 SUMÁRIO INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO E NO TRABALHO 2447. Entre concepções docentes e práticas pedagógicas: o processo de inclusão de alunos com deficiência intelectual na rede pública de ensino do Distrito Federal......................................... 593 2054. Estudos sobre a inclusão de estudantes com deficiência no ensino superior: uma análise acerca das pesquisas realizadas no período entre 2003 e 2013.......................................................... 594 2367. Análise da acessibilidade de pessoas com deficiência em uma universidade pública do Brasil......................................................... 595 2456. Inclusão no mundo do trabalho e diagnóstico de deficiência intelectual: desafios ao desenvolvimento adulto....................................... 596 2236. Modos de participação de um aluno com deficiência múltipla nas práticas escolares: questões sobre desenvolvimento humano e educação inclusiva................................................... 597 2062. Um estudo sobre as estratégias pautadas no bilinguismo............................................................. 599 DESENVOLVIMENTO EM DIFERENTES CONTEXTOS 2001. Infância e adolescência em assentamento do MST no sertão do Ceará: o que dizem as crianças............................................. 600 2194. O desenvolvimento psicossocial de jovens indígenas universitários........................... 601 2192. Uma etapa de transformações, vivências e (des)venturas: os ciganos em sua adolescência........ 602 2567. Observações preliminares de mães com seus bebês no cárcere......................................... 603 2226. A busca pela qualidade de vida: discurso de imigrantes haitianos no estado do Acre................. 604 POLÍTICAS PÚBLICAS 2135. Programa Jovem Aprendiz: sentidos e significados da formação e inserção profissional para gerentes........................................... 605 1951. Programa Bolsa-Família e desenvolvimento infantil: reflexões a partir de estudo comparativo entre crianças das unidades de educação infantil do município em Belém.................................................. 607 2314. Desenvolvimento infantil e políticas públicas: um relato de experiência........................... 608 22 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento 2257. ONG, esperança e medo – trajetórias em uma comunidade no Rio de Janeiro...................... 609 2601. Intervenção fisioterapêutica através de ações das políticas públicas nos agravos da meia-idade feminina............................................. 610 2154. Desenvolvimento de crianças e adolescentes na ótica dos profissionais de psicologia da política de assistência social..................................................... 611 PSICOLOGIA ESCOLAR II 2093. Família, escola e lazer: descobrindo novos contextos de desenvolvimento positivo.................. 613 1993. Educação e a arte da animação..................... 614 2285. Direito das crianças à educação e ao desenvolvimento: ações para a integração entre escola, família e comunidade................................... 615 2131. Hábitos de sono em crianças: construção de uma proposta de intervenção escolar................ 617 SAÚDE MENTAL 2426. Estudo etnográfico da vulnerabilidade da loucura andarilha na cidade de Campina Grande, PB................................................. 618 2556. Hospitalização psiquiátrica: reflexão acerca da internação compulsória em detrimento da atenção psicossocial.............................................. 619 2513. Construção narrativa do self em usuários de crack em tratamento............................. 621 2384. Adolescência e uso de drogas: relatos da vivência das modificações corporais entre adolescentes usuários de crack.................................. 622 2030. Caracterização da saúde mental infantil do município de Campina Grande, PB....................... 623 1972. Contribuições da teoria bioecológica do desenvolvimento humano no estudo da obesidade infantil.................................................. 624 DINÂMICA RELACIONAL ENTRE EDUCADOR E EDUCANDO 2002. Estratégias de articulação entre conhecimentos científicos e espontâneos utilizadas nas dinâmicas relacionais educador-educandos.............................. 625 2123. Interação educadora-criança: estilos linguísticos e desenvolvimento das habilidades sociocomunicativas..................................................... 626 SUMÁRIO 2122. Estilos comunicativos e desenvolvimento linguístico: análise da interação educadora-criança em creches públicas..................................................... 627 2327. Estilos comunicativos nas interações educadorcriança em creches públicas e privadas................... 629 2085. Trabalhando a importância das relações socioa fetivas entre alunos e professores da pré-escola por meio do brincar.................................................... 630 2486. A participação de crianças no campo de tensões entre os instituídos e as experiências........ 631 GRAVIDEZ E MATERNIDADE II 2570. As contradições da maternidade no contexto do HIV/AIDS: da culpa à realização...................... 633 2415. A experiência da gestação para mulheres usuárias da atenção básica em Campina Grande...................... 633 2098. Percepção da gravidez em gestantes adultas jovens e tardias............................................................. 635 2087. Gravidez tardia: bem-estar subjetivo em usuárias de unidades de saúde.................................. 636 FORMAÇÃO E INSERÇÃO PROFISSIONAL DE JOVENS E DESENVOLVIMENTO 2166. Desenvolvimento e vivências de jovens a partir da formação profissional........................... 637 2178. Ambientes de desenvolvimento infantil e prática docente na graduação em psicologia..................... 639 2263. Juventude e aprendizagem: a formação do jovem pesquisador e o pertencimento ao território do sertão nordestino........................... 640 2009. O desenvolvimento integral dos jovens e sua inserção no mercado de trabalho..................... 642 RELAÇÃO ENTRE DESENVOLVIMENTO MORAL E OUTROS TIPOS DE DESENVOLVIMENTO 2500. Altas habilidades/superdotação e desenvolvimento moral: discussões em pauta........... 642 2101. Relação entre julgamento moral e julgamento religioso.................................................... 644 2495. Moralidade e espírito esportivo em atletas do Vale do São Francisco........................................... 645 2047. Ética, desenvolvimento moral e adolescência: entre a competição e a cooperação nas aulas de educação física........................................................ 646 2452. Aspectos do desenvolvimento cognitivo e moral de crianças em situação de risco social............ 647 23 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento APRENDIZAGEM / ENSINO-APRENDIZAGEM 2161. Notas sobre processos de ensino-aprendizagem e desenvolvimento na abordagem histórico-cultural............................... 648 2217. As práticas pedagógicas e os significados atribuídos ao processo de ensino-aprendizagem da matemática de pessoas com deficiência visual.................................. 650 2318. Ser jovem no semiárido: uma aprendizagem significativa............................... 651 2429. O lúdico como linguagem, desenvolvimento e aprendizagem da criança pequena na escola........... 652 2339. Psicomotricidade e aprendizagem: uma análise da construção da imagem corporal pela criança de 5 e 6 anos por meio de autorretratos e a correlação com a escrita....................................... 654 INCLUSÃO 2485. Concepções de psicólogos sobre inclusão escolar em ensino regular........................................... 655 2484. Concepções de docentes sobre inclusão escolar em ensino regular........................................... 656 2037. Articulação entre instituição de acolhimento e escola em torno da medicalização de crianças e adolescentes.......................................... 658 O DESENVOLVIMENTO EM PESSOAS COM DEFICIÊNCIA 2430. Indefinições e imprecisões nos dados sobre deficiência no cenário nacional: os desafios da pesquisa em desenvolvimento humano............ 659 2470. Deficiência intelectual: diagnóstico e trajetórias de desenvolvimento................................. 660 2418. Estudo de revisão sistemática: redes sociais de suporte a pessoas com paralisia cerebral e deficiências associadas................................................ 662 2216. Estresse de pais de crianças com paralisia cerebral: uma revisão sistemática de literatura...... 663 2356. História de vida de uma aluna com baixa visão: construção de itinerários de aprendizagem em cursos técnicos agrícolas..................................... 664 DINÂMICA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO 2129. Promoção do desenvolvimento da criança nos seis primeiros anos de vida: a dinâmica da família................................................ 665 SUMÁRIO 1953. “Orfãos da mobilidade”: a s repercussões da migração da mãe na vida dos filhos que ficaram................................................ 666 2343. Representações sociais acerca da alienação parental: implicações para o desenvolvimento infantojuvenil............................................................... 667 2543. O divórcio destrutivo inscrito no ciclo vital da família e suas implicações: críticas aos postulados da alienação parental............................. 669 POLÍTICAS PÚBLICAS / PARTICIPAÇÃO POLÍTICA 2136. Sentidos e significados da formação e inserção profissional para jovens aprendizes.............. 670 2080. O mesossistema família-cras como contexto de desenvolvimento................................... 671 1990. #Ocupecocó: educação, participação política e a luta das juventudes................................. 673 2165. Participação política e criança: revisão da literatura internacional......................................... 674 BEM-ESTAR CONJUGAL 1957. Qualidade conjugal e apego: o papel mediador dos estilos de resolução de conflito em casais gaúchos................................... 675 1979. Qualidade, ajustamento e satisfação conjugal: revisão sistemática sobre as temáticas encontradas na literatura.................... 677 2403. Resiliência na fase inicial do casamento........... 678 2341. A deficiência adquirida por um policial militar: a visão do cônjuge................... 679 2159. Conjugalidade e infertilidade: considerações a partir da revisão da literatura................................ 680 SAÚDE MENTAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA 2309. Estresse materno e desenvolvimento infantil: uma revisão sistemática da literatura...... 682 2109. Ludicidade e direitos da criança na comunidade – uma intervenção a partir da Estratégia Saúde da Família.................................. 683 2055. Ideação suicida na adolescência: uma revisão da literatura........................................... 684 2540. Juventude descontinuada: sintomatologia depressiva no contexto prisional............................. 685 24 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento 2094. Problemas comportamentais em uma coorte de crianças nascidas pequenas para a idade gestacional............................................. 686 2497. Incidência da depressão infantil entre crianças nordestinas......................................... 687 VULNERABILIDADE E PROTEÇÃO SOCIAL 2155. Ações da psicologia frente a sujeitos em condição de vulnerabilidade social.......................... 689 2427. Vulnerabilidade e fatores de proteção na entrada da vida adulta de jovens paraibanos.............. 691 2162. Fatores de risco e de proteção na vida de crianças com necessidades especiais que foram adotadas.................................................... 692 TRABALHO INFANTIL 2431. Trabalho infantil em assentamento do MST em região semiárida do Ceará........................ 693 2183. Trabalho precoce doméstico e processo escolar: consequências dessa relação........................ 694 2124. Trabalho precoce: implicações para adultos.................................................................. 695 PERSPECTIVAS TEÓRICAS DO DESENVOLVIMENTO 2463. O desenvolvimento adulto das relações sociais segundo a psicologia analítica: contribuições para a reflexão sobre a formação do psicólogo............................................ 697 SUMÁRIO 2045. Pesquisas sobre desenvolvimento moral na psicologia brasileira: uma revisão de literatura..... 706 1876. Crianças pré-escolares em conflito: possibilidade de desenvolvimento moral............... 708 2240. Apego e valores humanos: que subfunções valorativas se associam às modalidades de apego adulto?.......................................................... 709 2142. Correlatos valorativos do desempenho acadêmico............................................. 710 2138 - Correlatos valorativos do bullying: um estudo pautado na teoria funcionalista dos valores........................................... 711 2266. Preconceito em relação à tatuagem em um grupo de operadores de direito e um grupo de psicólogos......................................... 712 2121. Espaço aberto: uma proposta de desenvolvimento global para crianças em risco social.............................................. 714 1770. (In) visibilidade social e adolescência: análise das medidas socioeducativas a partir no caso do Ônibus 174................................................ 715 2057. Recordações de eventos armazenados na memória autobiográfica vivenciados por idosos....... 716 1980. Efeitos da aprendizagem musical na infância para a memória de reconhecimento........ 717 1988. A subjetividade do idoso no contexto da sociedade capitalista.................................................... 718 2419. Multiculturalidade no pensamento de Erik Homburguer Erikson: análise de escritos originais do autor........................................................ 698 1995. A dimensão subjetiva da desigualdade social: um estudo sobre catadores de lixo na cidade de Campo Grande, MS.............................................. 720 2487. Objeto de discurso como recurso teórico e metodológico para identificação dos processos de inter-regulação associados à emergência de Zonas de Desenvolvimento Proximal............... 699 1973. TCC em grupos para idosos: um olhar sobre a necessidade de estimulação e desenvolvimento dos aspectos positivos................................................. 722 PÔSTERES 2492. Adolescência, gravidez e drogadição: uma revisão sistemática da literatura...................... 723 2459. Avaliação da rede social em puérperas......... 701 2375. Crack: repercussões na saúde mental e no âmbito familiar................................................... 724 2422. Mães de bebês prematuros hospitalizados: ansiedade e saúde da díade mãe-bebê...................... 702 1966. Álcool e fumo: concepções dos jovens de João Pessoa.............................................................. 725 2223. O processo criativo de crianças iniciantes em atividades de musicalização................................ 703 2523. Leitura e desenvolvimento da consciência morfológica em adolescentes do ensino fundamental.............................................. 726 2182. Honestidade e sensibilidade moral: um estudo com adolescentes.................................... 705 2181. Honestidade e vínculo em adolescentes: estudo com desconhecido, amigo e inimigo......... 705 1947. As estratégias de leitura de jovens e adultos pouco escolarizados.................................. 727 25 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento 1824. Psicologia dos desastres e das emergências: depoimentos dos psicólogos brasileiros que atuam na área............................................................... 728 2372. Amigos imaginários e desenvolvimento sociocognitivo............................................................... 729 2336. Avaliação do desenvolvimento de crianças urbanas no contexto da atenção integrada às doenças prevalentes na infância........................... 730 2196. Concepções sobre desenvolvimento infantil de enfermeiros que atuam na Estratégia Saúde da Família........................................................... 731 2140. Projetos de vida de adolescentes que cuidam de seus irmãos mais novos......................... 732 2512. Conceitos cotidianos por um ângulo infantojuvenil................................................. 734 2264. Rotinas: construindo inventários de pesquisa adaptados aos contextos...................... 735 Siglas utilizadas dentro dos anais: MRC: Mesas Redondas Convidadas MR: Mesas Redondas S: Simpósios COC: Comunicações Orais Coordenadas CO: Comunicações Orais P: Pôsteres SUMÁRIO 26 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento ESTRUTURA DO EVENTO ESTRUTURA DO EVENTO Dia 21 de Novembro 08h – Conferências 09h30 – Coffee-Break 10h – Simpósios, Mesas Redondas, Sessões de Comunicação Oral e Comunicação Oral Coordenada Dia 19 de Novembro 11h00 – Lançamento de livros 18h30 - Abertura do Evento 13h30 – Sessões de Comunicação Oral 19h – Homenagem ao Professor Lino de Macedo 14h – Conferências 20h – Conferência de Abertura 15h30 – Coffee-Break 21h – Programação Cultural e Coquetel 16h – Simpósios, Mesas Redondas, Sessão de Pôsteres e Sessões de Comunicação Oral Coordenada Dia 20 de Novembro 19h – Fórum de Intercâmbio entre Associações 08h – Conferências 09h30 – Coffee-Break Dia 22 de Novembro 10h – Mesas Redondas, Sessões de Comunicação Oral e Comunicação Oral Coordenada 08h – Conferências 9h30 – Coffee-Break 10h – Mesas Redondas 13h30 – Sessões de Comunicação Oral 10h – Mesas Redondas, Simpósios, Sessões de Comunicação Oral e Comunicação Oral Coordenada 14h – Conferências 13h30 – Sessões de Comunicação Oral 15h30 – Coffee-Break 14h – Conferências 16h – Simpósios, Mesas Redondas, Sessão de Pôsteres e Sessões de Comunicação Oral Coordenada 15h30 – Coffee-Break 18h30 – Homenagem Póstuma à Professora Maria Helena Novais 20h – Conferência 16h – Simpósios, Mesas Redondas, Sessão de Pôsteres e Sessões de Comunicação Oral Coordenada 18h – Reunião da Associação Brasileira de Psicologia de Desenvolvimento (ABPD) 27 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento 19 de Novembro Terça-feira INSCRIÇÕES 14h Credenciamento e entrega de material Hotel Tambaú Auditório Sérgio Bernardes 20h Homenagem ao professor Lino de Macedo Hotel Tambaú Salão Parahyba 21h Programação Cultural e Coquetel 19h O Desenvolvimento Humano e a Solidariedade Prof. Dr. Romero Venâncio (UFS) Hotel Tambaú HOMENAGEM CONFERÊNCIA DE ABERTURA Hotel Tambaú Auditório Sérgio Bernardes 28 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento 20 de Novembro quarta-feira CONFERÊNCIAS Auditório 411 08h Cognição e Pobreza Profa. Dra. Maria Cristina Richaud (Pontifícia Universidade Católica da Argentina (UCA) Auditório 412 08h Amizade e irmandade: contribuições feministas ao tema da solidariedade Prof. Dr. Eduardo Rabenhorst (UFPB) Auditório da Reitoria UFPB 08h Epistemologia e Psicologia Genéticas: Retrospectivas Prof. Dr. Lino de Macedo (USP) e Prof. Dr. Jean Marrie-Dolle (Université Lumière – França) Auditório 411 14h Psicologia Cognitiva da Leitura: como os psicólogos podem ajudar nossas crianças a ler Profª Drª Maria Regina Maluf (Pontifícia Univ. Católica – SP) Auditório da Reitoria UFPB 20h Desenvolvimento do adolescente e espiritualidade Profª Drª Anne Petersen (Univ. de Michigan – EUA) 29 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento CONFERÊNCIA COGNICIÓN Y POBREZA María Cristina Richaud de Minzi En los últimos años, dentro del paradigma de las neurociencias, se ha incrementado notoriamente el conocimiento sobre el desarrollo cognitivo asociado al Estrato socioeconómico (ESE), enfatizando su estudio en los procesos ejecutivos. El cortex prefrontal y las funciones ejecutivas siguen un curso de desarrollo postnatal (Diamond, 2002; Fuster, 2002), que posibilita que las experiencias tempranas de la vida diaria influyan en esas regiones del cerebro. Las regiones que involucran el cortex prefrontal han sido asociadas con la inteligencia general (Gray & Thompson, 2004) la cual se encuentra generalmente muy disminuida en las poblaciones de niños en riesgo (Ramey & Campbell, 1991; Brooks-Gunn & Duncan, 1997). Sin embargo, en los niños de estratos socioeconómicos bajos (ESB), no existiría un déficit disejecutivo orgánico primario, sino una dificultad para realizar tareas ejecutivas asociadas al medio, como consecuencia de la falta de estimulación específica para el desarrollo de estas funciones. De este modo, el pobre desempeño ejecutivo sería consecuencia de la escasa estimulación que provee el entorno lo que influiría en el desarrollo del lenguaje y en la autorregulación. Esto ocasionaría un perfil similar al de otras patologías pero que no supone un compromiso prefrontal orgánico en origen, aunque quizás sí secundario como consecuencia de la falta de estimulación prolongada en el tiempo. Existe una constante interacción entre las influencias de un medio ambiente específico y el intrincado circuito cerebral. En los primeros años de vida el cerebro se desarrolla rápidamente y establece muchas de las conexiones que constituyen la base del desarrollo posterior (Gazzaniga, 1992). Las experiencias que se repiten a menudo- sean positivas o negativas- tienen un gran impacto en la forma en que el cerebro se organiza. El fortalecimiento de los elementos sinápticos ocurre a través de la validación funcional, de forma tal que el cerebro se conecta para equiparar las necesidades del entorno (Andersen, 2003). Si el ambiente en que vive el niño no brinda las condiciones óptimas para su desarrollo (nutrición, estimulación sensorial, salud de la madre, apego madre/hijo, etc.) no se reforzarán ni la cantidad ni el tipo de vías neuronales adecuadas. El rol de la desnutrición por pobreza en el desarrollo cerebral ha sido difícil de resolver, debido a que el estatus CONFERÊNCIA nutricional está muy correlacionado con variables familiares y ambientales que probablemente impactan en el desarrollo neurocognitivo. En los últimos años el consenso con respecto al rol de la nutrición en los resultados cognitivos de los niños en pobreza ha cambiado, de causa primaria a un factor que contribuye indirectamente y a través de la sinergia con otras desventajas ambientales (Farah, Noble, & Hurt, 2005). Existen diversos factores ambientales, más allá de la desnutrición, que pueden afectar los procesos del desarrollo cerebral, pero uno de los más relevantes es el producido por el estrés ambiental, que impacta fuertemente la biología del cerebro, principalmente a través de su influencia en el funcionamiento hormonal del organismo (Lewis & Thomas, 1990; Larson, Gunnar, & Hertzgaard, 1991). Los circuitos neurales para afrontar el estrés son particularmente “plásticos” durante los períodos fetal y de la primera infancia. El estrés tóxico durante este temprano período puede afectar el desarrollo de los circuitos cerebrales y sistemas hormonales. Los sistemas de respuesta para controlar el estrés pueden resultar demasiado activos o demasiado lentos para desconectarse frente a la amenaza durante toda la vida (Caldji, et al., 1998; Gunnar & Donzella, 2002). Un buen funcionamiento de los sistemas del cerebro que responden al estrés es esencial para preservar la vida. En cambio, una respuesta al estrés pobremente controlada puede ser dañina para la salud y el bienestar si es activada frecuentemente o durante un tiempo muy largo (McEwen & Seeman, 1999). Las respuestas al estrés incluyen la activación de una variedad de hormonas y sistemas neuroquímicos, especialmente dos: (1) el sistema simpático-adrenomedular, que produce adrenalina en la parte central de la glándula suprarrenal y (2) el sistema hipotalámico-pituitario-adrenocortical, que produce cortisol en la capa externa de la glándula suprarrenal (Sapolsky, Romero, & Munck, 2000). Si bien la segregación de cortisol en forma moderada ayuda al organismo a afrontar efectivamente situaciones adversas, ya que moviliza los almacenamientos de energía, al mismo tiempo que suprime las respuestas inmunes, los efectos del cortisol a largo plazo afectan la regulación de la expresión génica en los circuitos neurales involucrados en la capacidad de respuesta al estrés, la emoción y la memoria (Sapolsky, Romero, & Munck, 2000). Influencia del maltrato Las relaciones que los niños tienen con sus padres juegan roles críticos en la regulación de la producción de la hormona del estrés durante los primeros años de vida. Aquellos que experimentan el beneficio de relaciones seguras tienen una reacción de la hormona del estrés cuando están molestos o se sienten amenazados. Estos niños pueden explorar el mundo, encontrar desafíos y 30 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento sentir miedo de vez en cuando sin sufrir los impactos neurológicos adversos de los niveles crónicamente elevados de hormonas, tales como el cortisol. Contrariamente, los niños cuyas relaciones son inseguras o desorganizadas muestran mayores niveles de cortisol aun cuando la amenaza sea baja (Gunnar & Doncella, 2002). Si el niño vive en un mundo caótico y amenazante, su cerebro estará en un estado de hiper alerta para el peligro; su supervivencia puede depender de ello. Pero si este ambiente persiste y el cerebro del niño se focaliza en estrategias de supervivencia (por lo que no desarrolla como corresponde otras estrategias), si el niño vive en un mundo que lo ignora, si no se le provee la estimulación adecuada para el crecimiento, su cerebro se focalizará en la supervivencia del día a día y no desarrollará habilidades cognitivas y sociales saludables (Ounce of Prevention Fund, 1996, citado en Lieberman & Zeanah, 1995). Efectos sobre el desarrollo cognitivo Los correlatos neurocognitivos de la pobreza más probados están relacionados con el segmento perisilviano izquierdo/sistema de lenguaje, el lóbulo temporal medial/sistema de memoria y el Prefrontal/Sistema ejecutivo, en particular el Prefrontal Lateral/ Memoria de trabajo y el Cingulado anterior/Componentes cognitivos del control. Hay gradientes en una gran variedad de medidas de salud física, muchas de las cuales afectan el desarrollo neurocognitivo de los niños en pobreza a través de una variedad de mecanismos diferentes: menor estimulación cognitiva, dificultades de los padres para conversar, diferentes expectativas y preocupaciones de los padres, sin contar el estrés antes descrito (Adler et al., 1994). El área cerebral más afectada por el cortisol es el lóbulo temporal medial relacionado con la memoria, aunque se ven impactados también los sistemas prefrontales relacionados con la regulación de la respuesta al estrés (Meaney et al. 1996). Esto resalta la importancia de la estimulación cognitiva y la nutrición socio-emocional en el niño. La primera influye el desarrollo del lenguaje mientras que la segunda afecta el desarrollo de la memoria (Farah et al. 2005). Desarrollo emocional El desarrollo emocional se construye en la arquitectura cerebral de los niños pequeños en respuesta a sus experiencias individuales y de acuerdo a las influencias de los medios en que ellos viven (Gunnar, & Davis, 2003). Los circuitos que están involucrados en la regulación de la emoción son altamente interactivos con los que están asociados a las funciones ejecutivas (tales como planificación, juicio y toma de decisiones), que están íntimamente involucradas en el desarrollo de las habilidades para CONFERÊNCIA la resolución de problemas. En términos del funcionamiento básico del cerebro, las emociones sostienen a las funciones ejecutivas cuando están bien reguladas, pero interfieren con la atención y la toma de decisiones cuando están controladas pobremente (Shonkoff & Phillips, 2000; Damasio,1999; Davis,1992; LeDoux, 1996); Bush, Luu, & Posner, 2000). Resultados de estudios de la influencia del ESE sobre el desarrollo cognitivo Se ha señalado que los factores ambientales influyen en la inteligencia tanto de manera positiva como negativa (Ceci & Williams, 1997). Según lo informado por diversos autores, el nivel socioeconómico influye en el vocabulario (inteligencia cristalizada), y se demuestra por un desarrollo más lento en niños de nivel socioeconómico bajo en relación a niños de nivel socioeconómico medio (Hart & Risley, 1995; Hoff, 2003; Noble et al., 2005). Resultados obtenidos en nuestros trabajos (Richaud de Minzi, 2008), al igual que lo demostrado en investigaciones de otros autores, señalan a la inteligencia - tanto fluida como cristalizada - como una habilidad altamente asociada al ESE. De este modo, la pobreza parece tener un efecto significativo sobre la capacidad intelectual del niño. Si bien se cree que la variación del CI se debe tanto a factores genéticos como ambientales, diferentes estudios han señalado que esta influencia no varía linealmente en función del ESE (Rowe, Jacobson & Van den Oord, 1999; Turkheimer, Haley, Waldron, D’Onofrio, & Gottesman, 2003). Según esta hipótesis, en las familias de alto ESE el porcentaje de variabilidad en el CI estaría explicado por los genes y no por factores ambientales, mientras que en las familias de ESB un alto porcentaje de variabilidad del CI se explica por la relación con el ambiente siendo la contribución de los genes cercana a cero (Turkheimer et al., 2003). Por lo tanto, se podría suponer que un alto porcentaje de la varianza de la inteligencia asociada al ESE se debería fundamentalmente a la influencia del ambiente. En nuestros trabajos hemos encontrado que el ESE explicó alrededor del 70% de la varianza de la inteligencia (Arán Filippetti, 2010). Respecto al lenguaje comprensivo, se evidencia que los niños de ESB no presentan dificultades en la comprensión de frases simples, pero sí en la comprensión de frases complejas que supone mayor atención y memoria de trabajo (Arán Filippetti, 2010). Estos resultados, están en línea con los obtenidos por estudios previos, que han demostrado una asociación entre el ESE y el desarrollo de diferentes procesos lingüísticos, como el nivel de vocabulario alcanzado (Hart & Risley, 1995; Hoff, 2003; Noble et al., 2005; Pan et al., 2005) y el lenguaje comprensivo (Noble et al., 2005; Noble et al., 2007). En general, los estudios sobre el tema indican que las diferencias en las 31 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento habilidades lingüísticas asociadas al ESE, se deberían fundamentalmente a la falta de experiencias relacionadas con el lenguaje y al menor nivel educativo de la madre, más que a un déficit en los mecanismos necesarios para adquirir el lenguaje (Hoff & Tian, 2005). A su vez, Noble et al. (2007) sugieren que debido a que las regiones cerebrales relacionadas con el lenguaje siguen un curso de desarrollo más prolongado que el de otras regiones, es posible que esta función sea más susceptible a la influencia del ambiente. En el mismo sentido Farah et al. (2008) afirman que la estimulación ambiental predice el desarrollo del lenguaje. Memoria verbal inmediata, diferida y curva de aprendizaje Al estudiar la memoria verbal y la curva de aprendizaje verbal, los niños de ESB emplean significativamente menos estrategias de recuerdo y organización que los niños de ESM, al mismo tiempo que tienen una menor capacidad de evocación a largo plazo (Arán Filippetti, 2010; Noble et al., 2007; Farah et al., 2006; Matute et al., 2009). Capacidad atencional Los niños de ESB obtienen un menor desempeño en tareas de atención selectiva, atención sostenida y concentración respecto a niños de ESM (Arán Filippetti, 2010; Matute et al., 2009; Mezzacappa, 2004). D’Angiulli et al. (2008) encontraron también una asociación entre el ESE y la atención selectiva auditiva medida a través de potenciales eléctricos. Estos autores concluyen que los niños de ESM pueden ignorar estímulos irrelevantes, mientras que los niños de ESB atienden del mismo modo a estímulos irrelevantes y relevantes. Si se atiende al contexto social de la pobreza, éste se caracteriza en general por presentar mayor inestabilidad, hacinamiento, hogares más ruidosos y un medio ambiente caótico (Evans, 2004; Richaud de Minzi, 2012). Además los niños de ESB tienen un menor tiempo de lectura, un menor acceso a libros, sus padres se involucran en menor medida en las actividades escolares, etc. Estas particularidades podrían influir asimismo en la falta de estrategias para seleccionar información relevante y en el desempeño que exige este tipo de tareas. Desempeño ejecutivo Estudios previos han demostrado que existe un retraso madurativo en la región frontal de niños preescolares de sectores sociales y culturales desventajosos (Otero, 1997; Otero, Pliego-Rivero, Fernandez, & Ricardo, 2003). En esta línea, otros estudios que emplean diferentes técnicas de registro cerebral, encuentran hipoactividad frontal izquierda en adolescentes de ESB (Tomarken, Dichter, Garber, & Simien, 2004) y alteración en la función pre- CONFERÊNCIA frontal en niños de ESB (Kishiyama, Boyce, Jimenez, Perry, & Knight, 2009). Estos datos apuntan a diferencias de tipo cuantitativo y están en línea con estudios previos que demuestran un menor desempeño ejecutivo en niños de ESB (Ardila et al., 2005; Farah et al., 2006; Mezzacappa, 2004; Noble et al., 2005; Noble et al., 2007; Waber, Gerber, Turcios, Wagner, & Forbes, 2006). Síntesis perfiles cognitivos según ESE Los niños de ESB obtienen desempeños inferiores en cuanto a: (a) las habilidades intelectuales (Ramey & Campbell, 1991; Smith, Brooks-Gunn, & Klebanov, 1997); (b) el nivel de vocabulario alcanzado (Hart & Risley, 1995; Hoff, 2003; Pan, Rowe, Singer, & Snow, 2005) y el lenguaje comprensivo (Noble, Norman, & Farah, 2005; Noble, McCandliss & Farah, 2007) (c) los procesos atencionales (Mezzacappa, 2004; Stevens, Lauinger & Neville, 2009) y d) desempeños inferiores en diversas tareas que valoran el funcionamiento ejecutivo (Farah et al., 2006; Noble et al., 2005; Noble et al., 2007). En cambio, el control de interferencia, la capacidad perceptiva, la comprensión de frases simples y los procesos cognitivos automáticos en la tarea de fluidez fonológica (Hurks et al., 2006) no serían sensibles al ESE. Factores madurativos y funciones ejecutivas según ESE Oosterlaan, Scheres y Sergeant (2005) argumentan que un retraso en el desarrollo de las FE sugiere que el perfil disejecutivo en trastornos infantiles se asocia con un retraso en la maduración del cerebro, mientras que una incapacidad permanente en las FE sugiere un déficit neurológico que se mantiene estable en el desarrollo. Desarrollo de las FE en el grupo de ESB Los niños de ESB presentan con respecto a los niños de ESM, un patrón madurativo diferente tanto cualitativa como cuantitativamente (Arán Filippetti, 2010). En primer lugar, a diferencia de los niños de ESM, la edad influyó en todas las funciones. En segundo lugar, se evidencian en todos los indicadores valores significativamente inferiores a los esperados para la edad. Estos resultados permiten inferir que, si bien las FE siguen un curso de desarrollo gradual por la influencia de los procesos madurativos, éste sería significativamente inferior y más lento debido la influencia negativa del ESE. Sin embargo, si bien el desempeño de los niños de ESB es inferior en cada grupo de edad, se encuentra un incremento gradual de estas funciones y no un déficit permanente, estable en el desarrollo. A nuestros resultados, sumamos la evidencia obtenida en los estudios de Otero y su equipo (Otero 1994, 1997; Otero, Pliego-Rivero, Fernandez & Ricardo, 2003) 32 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento que señalan un retraso en la maduración cerebral de las regiones temporales y frontales del cerebro en niños de ESB y que atribuyen estas diferencias a la falta de estimulación verbal y al retraso en el inicio de la escolaridad, y concluyen que la estimulación ambiental inadecuada o insuficiente es el factor principal que contribuye al retraso en la maduración cerebral. Relación entre las variables socioeconómicas y el desempeño cognitivo ¿Qué indicadores socioeconómicos se asocian al desempeño cognitivo? El nivel de instrucción de la madre es el principal predictor del desarrollo de las funciones cognitivas (tanto ejecutivas como no ejecutivas), observándose que a menor instrucción de la madre menor desarrollo ejecutivo y mayor impulsividad cognitiva, debido a estimulaciones cognitivas insuficientes y de menor riqueza lingüística (Arán Filippetti, 2010). En diferentes estudios, se ha demostrado consistentemente la relación entre el nivel educativo de los padres y el desempeño de los niños en tareas de memoria y atención (Matute et al., 2009) y en pruebas que ofrecen una medida de las funciones ejecutivas (Ardila et al., 2005; Klenberg et al., 2001; Noble et al., 2007; Farah et al., 2008). Hughes y Ensor (2009) afirman que el andamiaje materno - que enfatiza el papel del adulto como guía del niño durante tareas dirigidas hacia un objetivo - sería el modelo que mejor explica el desarrollo de las FE en niños. También las condiciones inadecuadas de alojamiento predicen significativa y negativamente el funcionamiento cognitivo (Arán Filippetti, 2011) probablemente debido a la escasez de recursos para estimular el desarrollo, el hacinamiento, las condiciones sanitarias inadecuadas y las relaciones conflictivas entre los miembros del núcleo familiar (Bradley & Corwyn, 2002; Guo & Harris, 2000; Santos et al., 2008). Arán Filippetti y Richaud de Minzi (2012) desarrollaron un modelo hipotético del desempeño ejecutivo asociado al ESE que indica, según el modelo que mejor ajusta, que la asociación entre el ESE y las FE se explicaría directamente (a través de variables sociales mediadoras), e indirectamente a través de mecanismos cognitivos mediadores como la impulsividad cognitiva pero no la inteligencia. Esto significa que el ESE influye sobre las FE más allá del efecto de las habilidades intelectuales, por lo que el CI descendido no explicaría el menor desempeño ejecutivo asociado al ESE, pero sí lo haría en parte la mayor impulsividad cognitiva. Es posible inferir entonces que el contexto ambiental y la experiencia recibida, a través de su influencia en la neurodinámica cortical, puede inducir diferencias respecto al modo de procesar la información y en la elaboración de planes eficaces. CONFERÊNCIA Diversos autores han planteado la posibilidad de aumentar la reflexividad en niños con problemas de impulsividad y han señalado la eficacia de los programas de intervención integrados a la tarea áulica (Gargallo, 1993a, 1993b), aunque los mismos se han centrado fundamentalmente en poblaciones escolares sin riesgo o grupos con trastornos clínicos específicos. Al momento, persiste la escasez de estudios respecto al éxito de los programas de intervención para aumentar la reflexividad en poblaciones en riesgo por pobreza. Un Programa de intervención (Arán Filipetti, Richaud de Minzi, 2011) Dentro de un programa mayor para fortalecer los recursos socioafectivos, cognitivos y lingüísticos en niños en vulnerabilidad social (Richaud, 2013), se desarrolló un subprograma dedicado a aumentar la reflexividad y la capacidad de planificación en función de los siguientes criterios. Entorno social Para promover la reflexividad y la autorregulación se incrementó el control externo y la supervisión de la conducta por medio de la propuesta de reglas simples y explícitas, la técnica del modelado para favorecer el uso de un lenguaje autodirigido, la enseñanza de estrategias reflexivas y el uso de reforzadores positivos mediante un sistema continuo de puntos. El interventor y luego el profesor impartieron las consignas y ejemplificaron la realización de los ejercicios en el pizarrón verbalizando los pasos necesarios para su correcta ejecución. Posteriormente las tareas fueron realizadas por los niños sin regulación verbal externa. Al finalizar los ejercicios se verificó en forma conjunta la ejecución de los mismos y se ofreció la posibilidad de autocorrección. Por último, cada niño con ayuda del interventor y/o profesor asignó la puntuación al ejercicio y de acuerdo a la misma avanzó un casillero de un camino final, a modo de recompensa con aprobación social. Lugar y tiempo de intervención La intervención se llevó a cabo en el mismo centro educativo, a razón de 3 a 4 sesiones semanales de 30 minutos cada una. El programa se aplicó durante aproximadamente tres meses, tiempo tras el cual se evalúo nuevamente la planificación y la impulsividad cognitiva para comparar las diferencias de funcionamiento cognitivo pre y post-intervención. El tiempo se determinó en función de lograr la implementación de 35 sesiones en el ámbito escolar. Naturaleza de la tarea Los ejercicios empleados fueron sencillos y las consignas simples y claras. Los mismos fueron diseñados con 33 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento el objetivo de plantear incertidumbre en las respuestas y estimular los tiempos de latencia, de modo de favorecer el uso de estrategias analíticas y el estilo reflexivo. Estrategias de intervención Se diseñaron cuadernos de intervención denominados P.E.C.E., Programa de Estimulación Cognitivo Escolar (Arán Filippetti & Richaud de Minzi, 2009, 2010, 2011), para estimular las funciones cognitivas básicas adaptadas al medio escolar. La intervención para aumentar los recursos cognitivos y la reflexividad se fundamentó en el uso de las siguientes estrategias: Modelado cognitivo, Autoinstrucciones y Enseñanza de estrategias de escudriñamiento o análisis cuidadoso Debido a que el objetivo final fue realizar una intervención con criterios ecológicos que se adapten a las necesidades áulicas y a la tarea educativa, los ejercicios del cuaderno se ofrecieron como modelo y los interventores trabajando en forma conjunta con el profesor diseñaron sus propias estrategias en función de los ejercicios base, pero adaptadas al currículo escolar. Resultados del programa Los resultados aportaron evidencia empírica a la hipótesis que apunta al papel del contexto ambiental en el desarrollo de estrategias analíticas y en la autorregulación. El estilo R-I se encuentra asociado a la vulnerabilidad social, lo que sugiere que el estilo cognitivo de las personas está explicado en parte por la estimulación verbal, el control externo, los estilos de interacción parental y las características del contexto en general entre otras variables. Los niños en situación de vulnerabilidad social manifestaron diferencias en el patrón de respuestas R-I en relación a los niños sin riesgo; específicamente se evidencia que cometen una mayor cantidad de errores y emplean un menor tiempo de latencia, indicadores ambos de mayor impulsividad cognitiva. Una de las hipótesis al respecto es que el alto grado de impulsividad podría deberse a dificultades en el uso del lenguaje interno para guiar las conductas, consecuencia a su vez de las escasas interacciones sociales que condicionan el desarrollo de la autorregulación. Según Diaz, Winsler, Atencio y Harbers (1992), en los niños impulsivos las dificultades no se deberían a una falta de lenguaje interno sino a una menor maduración y a un uso inadecuado del mismo para autorregular las conductas. En este sentido, las estrategias de intervención para reducir la impulsividad se destinan a internalizar el lenguaje interior ya existente o a utilizarlo de un modo más efectivo de manera que permita guiar las conductas. Asimismo la impulsividad podría explicarse por la menor estimulación cognitiva en los primeros años de vida, ca- CONFERÊNCIA racterística común en los contextos de pobreza. Los resultados respecto a los efectos de la intervención sobre el estilo cognitivo apuntan a la eficacia de los programas de intervención para aumentar la disposición reflexiva integrados a la tarea curricular áulica. En el grupo que recibió la intervención se evidenció una disminución en la cantidad de errores y un aumento en los tiempos de latencia a un nivel similar al del grupo control sin riesgo. Es necesaria la existencia de este patrón de respuesta ya que la sola presencia de un aumento de la latencia no constituye por sí misma un indicador de mayor reflexividad. Al mismo tiempo debe darse una disminución en la cantidad de errores, ya que el objetivo de la intervención consiste no sólo en lograr que los niños empleen más tiempo en dar una respuesta sino que además lo utilicen eficazmente. El carácter plástico del estilo cognitivo nos indica que debe prestársele especial atención desde edades muy tempranas y que deben volver a pensarse las praxis educativas, incorporando estrategias de intervención fácilmente aplicables al ámbito escolar para aumentar la reflexividad. De esta manera planteamos la importancia de evaluar el constructo R-I en la escuela, más aún en poblaciones en condiciones de vulnerabilidad social, por el alto grado de impulsividad encontrado y la evidencia tanto teórica como empírica a favor de la posibilidad de aumentar la reflexividad mediante un entrenamiento sistematizado. La planificación es una habilidad cognitiva que requiere de la capacidad de anticipar y prever consecuencias y de controlar y monitorear el curso de las acciones para alcanzar un objetivo. En este sentido, consideramos que la planificación se encuentra relacionada con el estilo cognitivo, ya que si la construcción de planes requiere de control y autorregulación se debería beneficiar del uso de un pensamiento reflexivo y de un estilo analítico frente al impulsivo. La capacidad de los niños para planificar reveló diferencias significativas según la vulnerabilidad social. Los niños provenientes de sectores marginales completaron una menor cantidad de laberintos y cometieron más errores, evidenciados por una mayor tendencia a entrar en pasajes sin salida. Una posible explicación al respecto es que la escasa estimulación que provee el entorno y la falta de regulación e interacciones verbales por parte del adulto, condicionarían el desarrollo de la autorregulación. Diversos estudios han indicado cómo los niveles de auto-control no estarían influidos únicamente por factores biológicos (Barkley, 1997; Beaver, Wright, DeLisi, & Vaughn, 2008), sino que estarían asimismo determinados por influencias sociales, como los factores familiares, las condiciones del barrio y el contexto escolar (Gottfredson & Hirschi, 1990; Hay, 2001; Turner, Piquero, & Pratt, 2005). Asimismo se ha señalado la importancia de la in- 34 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento teracción verbal madre-hijo en el desarrollo de la planificación (Gauvain, 2001; Gauvain & Perez, 2008) y en el desarrollo del sentido de temporalidad (Hudson, 2002). Esto sugiere que las características estimulares y la interacción adulto-niño influirían en el desarrollo de esta habilidad. Estudios previos han informado algunas diferencias respecto al estilo de la interacción cognitiva según el nivel socioeconómico (Ninio, 1980; Peralta de Mendoza, 1997; Peralta de Mendoza & Salsa, 2001) y la escolaridad materna (De Tejada & Otárola, 2006). Respecto a los efectos de la intervención sobre la capacidad de planificación, los resultados indican un aumento de esta función a favor del grupo que recibió el entrenamiento. El grupo experimental aumentó la capacidad de planificación en relación al grupo control con riesgo y obtuvo un nivel de desempeño similar al del grupo control sin riesgo. Al analizar conjuntamente los efectos de la intervención sobre la R-I y la capacidad de planificación se puede presumir razonablemente la existencia de una relación entre ambas variables. Esta relación se explica en parte por los procesos cognitivos que se ponen en juego en la realización de ambas tareas, ya que por un lado, para resolver problemas definidos por la incertidumbre se requiere no sólo del empleo de estrategias analíticas sino de la elaboración de planes eficaces, y por otro lado, la capacidad de hacer planes se debería beneficiar de un estilo analítico y reflexivo. Además, tanto el uso de estrategias analíticas como la capacidad de hacer planes requiere de control atencional y de un lenguaje autodirigido y autorregulado. Esto permite inferir que las estrategias cognitivas empleadas, tendientes a favorecer la autorregulación de la conducta y el uso de un pensamiento reflexivo, son igualmente efectivas para estimular tanto la capacidad de planificación como la disposición reflexiva. El hecho de que el desempeño en ciertas funciones ejecutivas como la planificación y la reflexividad cognitiva, mejore notablemente mediante el entrenamiento sistematizado, nos lleva a volver a pensar en el papel crítico de la experiencia en el desarrollo de estas funciones. Dowsett y Livesey (2000) sugieren que si bien son numerosos los estudios sobre los efectos del desarrollo neural (maduración) en el perfeccionamiento del desempeño ejecutivo, hay una falta de investigación respecto a los efectos de la experiencia en los procesos ejecutivos. Es importante indicar que la asociación entre el desempeño cognitivo y la pobreza estaría mediada por las variables que delimitan a la pobreza. Es decir que ciertos aspectos asociados a la pobreza tales como diferencias respecto a la salud física y mental (Adler et al., 1994), la deprivación económica (Duncan, Brooks-Gunn, & Klebanov, 1994), la falta de estimulación cognitiva en el hogar (Guo & Harris, 2000), la educación o nivel de inteligencia CONFERÊNCIA materno (Baharudin & Luster, 1998), una mayor exposición al estrés en el ambiente familiar y social (Dearing, 2008) y las características ambientales en general (Evans, 2004) explicarían de manera indirecta la asociación entre la pobreza y el desarrollo cognitivo. Finalmente señalar que si bien los cambios post-intervención apuntan a que sería la falta de experiencia y de entrenamiento específico la que ocasionaría diferencias de funcionamiento cognitivo en las poblaciones de niños en riesgo, esta falta de estimulación prolongada en el tiempo podría desencadenar trastornos del desarrollo futuros. Diferentes autores han señalado cómo los niños expuestos a condiciones de pobreza tienden a mostrar una declinación en su desarrollo cognitivo, motor y socioemocional (Brooks-Gunn, Duncan, Klevanov, & Sealand, 1993; Brooks-Gunn & Duncan, 1997; GranthamMcGregor et al., 2007; Dearing, 2008), menores logros académicos en el futuro (Brooks-Gunn et al., 1997) y un menor funcionamiento cognitivo en la adultez (Kaplan et al., 2001). Es decir que el menor desempeño cognitivo evidenciado, aunque reversible, podría perpetuarse en el tiempo alterando de manera más o menos definitiva la neurodinámica cortical. Por lo tanto, y teniendo en cuenta que el desarrollo del córtex prefrontal continúa hasta la adolescencia (Diamond, 2002), consideramos importante la intervención en las poblaciones en riesgo, valiéndonos de la ventana de oportunidades que ofrece el desarrollo cerebral y que convenientemente coincide con la etapa escolar (Richaud de Minzi, 2008). Los estudios sugieren que la intervención intensiva en niños en riesgo tiene efectos duraderos en el desarrollo cognitivo y académico (Campbell, Pungello, Miller-Johnson, Burchinal, & Ramey, 2001) y que en la reducción del impacto de la pobreza sobre los niños, las intervenciones más importantes son las que ocurren en la temprana infancia (Brooks-Gunn et al., 1997; Richaud de Minzi, 2013). 35 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento MESAS REDONDAS MRC-1001 Auditório 411 - 10h Juventude, Resiliência e Vulnerabilidade Sílvia Koller, UFRGS Ana Alayde Saldanha Werba, UFPB Ângela Elizabeth Lapa Coelho, UNIPE Maria de Fátima Pereira Alberto, UFPB MRC-1002 Auditório 412 - 10h Interação Pais-bebêS Nádia Maria Ribeiro Salomão, UFPB Karla da Costa Seabra, UERJ Maria Stella Coutinho de Alcantara Gil, UFSCar MRC-1003 Auditório 211 - 10h PERSPECTIVAS ATUAIS EM NEUROPSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO Nelson Torro Alves, Universidade Federal da Paraíba, E-mail: [email protected] Nas últimas décadas, a neuropsicologia tem trazido importantes contribuições à psicologia do desenvolvimento humano, ajudando a estabelecer relações mais bem definidas entre os domínios psicológico, social e biológico. Nessa mesa-redonda, serão apresentadas perspectivas atuais da neuropsicologia do desenvolvimento em três diferentes áreas da psicologia. Na psicologia do envelhecimento, será abordada a questão de como o Capital Mental, que constitui o conjunto dos recursos cognitivos e emocionais adquiridos ao longo da vida, pode contribuir para uma melhor qualidade de vida na velhice. Na psicologia do sono, serão discutidas as alterações e distúrbios do sono específicas de cada etapa do desenvolvimento, considerando suas características fenomenológicas, ontogenéticas e neurobiológicas. Na campo da psicologia da educação, serão apresentadas considerações acerca dos processos de neurodesenvolvimento e seu importante papel no aprendizado e desenvolvimento infantil. MESAS REDONDAS O CAPITAL MENTAL AO LONGO DA VIDA: UM OLHAR DA NEUROPSICOLOGIA Bernardino Fernández Calvo, Universidade Federal da Paraíba, E-mail: [email protected] O Capital Mental (CM) compreende uma série de recursos cognitivos e emocionais, que incluem a eficiência no aprendizado, a capacidade cognitiva, a inteligência emocional (e.g. empatia e cognição social) e a resiliência frente ao estresse. O CM condiciona a capacidade do indivíduo para desenvolver-se de uma forma eficaz na sociedade e experimentar uma melhor qualidade de vida. O CM se constrói durante a vida, tendo início nos primeiros anos com a escolaridade e a interação social e alcançando seu máximo potencial na vida adulta, através das experiências pessoais e da atividade física e mental. Por fim, o CM declina devido às mudanças intrínsecas associadas ao processo do envelhecimento. Entretanto, dependendo de como as pessoas “cultivem” seu CM durante o ciclo vital, ele pode estar associado a um maior ou menor bem-estar psicológico na velhice, podendo adiar o aparecimento de enfermidades crônicas como a demência. Em suma, serão apresentados nessa palestra evidências que sustentam o desenvolvimento do um Capital Mental e o modo pelo qual ele pode contribuir para uma velhice bem-sucedida. Palavras-chave: capital mental; resiliência; envelhecimento. DE OLHOS BEM ABERTOS A SONOLENTOS E ATRASADOS: NEUROPSICOLOGIA DO SONO NO DESENVOLVIMENTO HUMANO Katie Moraes de Almondes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, E-mail: [email protected] A importância da presente proposta reside na discussão das alterações e/ou distúrbios de sono específicos para cada etapa do desenvolvimento, considerando as características fenomenológicas, ontogenéticas e neurobiológicas, e apresentar a relação desses padrões alterados com os prejuízos cognitivos com repercussões acadêmicas, laborais e sociais, além dos custos econômicos e custos para a saúde biopsicossocial, atingindo crianças, adolescentes, adultos e idosos. O ponto norteador baseia-se no conhecimento de que a privação de sono total aguda e a restrição de sono crônica produzem déficits distintos em determinados processos cognitivos como a atenção, a memória declarativa e memória não declarativa, a visuoespacialidade e as funções executivas. Como consequência dessa proposta, o estudo da relação entre as alte- 36 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento rações de sono e os processos cognitivos em cada etapa do desenvolvimento compõe um campo de pesquisa para incrementar o conhecimento do desempenho cognitivo, com retorno para intervenções em saúde, em educação e para o trabalho. Palavras-chave: distúrbios de sono; desenvolvimento; Neuropsicologia; desempenho cognitivo. CONTRIBUIÇÕES DA NEUROPSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO PARA O CAMPO DA EDUCAÇÃO INFANTIL Pompéia Villachan-Lyra, Universidade Federal Rural de Pernambuco, E-mail: [email protected] Nos dias atuais, são crescentes as evidências a respeito da contribuição das Neurociências para o campo educacional, de modo geral, e, em particular, para o processo de desenvolvimento infantil. No campo das Neurociências é consensual afirmar que diversas atividades da vida cotidiana de uma criança, como brincar, interagir com outras crianças ou envolver-se em atividades artísticas, têm um profundo sentido educativo e impactam no curso do seu (neuro)desenvolvimento. Além de favorecer bem-estar e segurança à criança, levam ao desenvolvimento de redes neurais em seus cérebros plásticos e imaturos, que poderão ser acionadas em diversas aprendizagens posteriores, inclusive aquelas relacionadas à educação formal. O presente trabalho tem por objetivo destacar os fundamentos neurocientíficos do processo de neurodesenvolvimento no início da vida, defendendo a importância de construirmos novas aproximações entre os campos da Educação e das Neurociências, com ênfase na primeira infância. É crescente a importância da Educação Infantil como momento crucial para o desenvolvimento humano. As políticas públicas no Brasil voltadas para o campo educacional se baseiam numa visão de desenvolvimento integral, em detrimento de perspectivas assistencialistas. No seio desta discussão, pretendemos refletir sobre: 1. o papel das experiências iniciais vividas pela criança para o processo de desenvolvimento e organização estrutural e funcional do seu cérebro; 2. o papel das relações socioafetivas construídas entre a criança e seus cuidadores no início da sua vida familiar e escolar; 3. o impacto dos diferentes estilos de apego no neurodesenvolvimento infantil. A perspectiva sistêmica e sócio-histórica do desenvolvimento concebe o neurodesenvolvimento humano como um sistema aberto e susceptível às interações que ocorrem no contexto de relações socioafetivas. É marcante o caráter de imaturidade e plasticidade do Sistema Nervoso no início da vida, e tal característica possibilita ao cérebro em desenvolvimento reorganizar seus múltiplos padrões de resposta e conexões MESAS REDONDAS em função das experiências. Isso torna os bebês e crianças extremamente sensíveis às influências ambientais. No neurodesenvolvimento, o cérebro se constitui através de um processo dinâmico, envolvendo eventos aditivos/progressivos (a exemplo da sinaptogênese) e eventos subtrativos/ regressivos (a exemplo da poda), o que faz com que, apesar da superprodução de neurônios nos primeiros meses de vida, apenas metade sobreviva. O número de sinapses construídas e quais serão os neurônios sobreviventes será influenciado pela experiência do indivíduo, sobretudo na primeira infância, período em que a criança está inserida na Educação Infantil. Assim, a construção de uma relação de apego segura entre a criança e os seus cuidadores, considerando também o(a) professor(a), poderá favorecer a exploração do ambiente pela criança, o que a conduzirá a novas experiências de estimulação. Em contrapartida, a construção de relações de apego inseguras a conduzirá a evitar novas experiências e, ao mesmo tempo, a concebêlas como eventos estressores, podendo impactar negativamente sobre o seu neurodesenvolvimento. Assim, valorizamos a importância de uma boa adaptação escolar no início da vida, favorecida pela construção de relações de confiança com o(a) professor(a) durante os anos da Educação Infantil, bem como defendemos a existência de um ambiente físico e socioafetivo rico em oportunidades e de boa qualidade como fundamentais para o bom desenvolvimento da criança na primeira infância. Considerando tais características do processo de desenvolvimento, ressaltamos a necessidade da inclusão dessas discussões na formação dos professores da Educação Infantil, bem como no contexto das discussões para a elaboração de Políticas Públicas para a Educação Infantil. Palavras-chave: neurodesenvolvimento; afetividade; estimulação precoce. MR - 2089 Sala 401 - 10h VALORES NA ADOLESCÊNCIA: O PROCESSO, AINDA, EM CONSTRUÇÃO Maria Teresa Ceron Trevisol, Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC - Campus de Joaçaba (SC), E-mail: [email protected] Luana Uberti, UNOESC, Campus de Joaçaba (SC), E-mail: [email protected] Denise D´Aurea-Tardeli, Universidade Católica de Santos, E-mail: [email protected] Raul Aragão Martins, UNESP, Campus São José do Rio Preto, E-mail: [email protected] Maria Cecilia Bérgamo - UNESP, Campus São José do Rio Preto, E-mail: [email protected] 37 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Em termos jurídicos a adolescência é o termo designado, no Estatuto da Criança e do Adolescente1 , para as pessoas de 13 a 18 anos de idade que vivem no Brasil (BRASIL, 1990). Etimologicamente, a palavra “adolescência” é derivada do verbo latino “adolescere”, significando crescer com maturidade ou fazer-se grande. Seu significado sugere que é o período de amadurecimento, o corpo está em constante mudança, precisa aprender a lidar com a sexualidade que está sendo impulsionada pelos hormônios. Nesse sentido, ocorre uma espécie de preparação para entrar na vida adulta, o que, para o adolescente, pode significar um período de longa espera, visto que o indivíduo perdeu seu espaço na infância, mas ao mesmo tempo começam as cobranças, e ele ainda não tem a autonomia do jovem para decidir e guiar sua vida por conta própria. Nesse sentido, o objetivo proposto por esta mesaredonda é analisar a adolescência enquanto período em que os valores sociais e morais continuam em construção e discutir a presença dos mesmos e sua adesão no contexto escolar. A análise e discussão proposta pela mesa estão embasadas em dados resultantes de investigações em curso. O primeiro trabalho objetiva analisar as relações entre a fase da adolescência, a dimensão dos valores sociais e morais como norteadores das ações dos indivíduos e as manifestações de bullying no cotidiano escolar tendo como uma de suas explicações a ausência da base moral e de valores no trato entre os indivíduos, bem como a ausência de encaminhamentos que favoreçam a resolução de situações de conflitos entre estes indivíduos, vinculado, ainda, à ausência de confiança em profissionais da escola para que possam falar e solicitar ajuda. O segundo trabalho é um recorte do projeto “Avaliando Valores em Escolares e seus Professores: uma proposta de construção de uma escala”, desenvolvido pelo núcleo de pesquisas da Fundação Carlos Chagas com verba FAPESP e tem como objetivo mensurar a presença e a adesão de valores nos julgamentos que escolares e seus professores fazem em histórias hipotéticas da vida cotidiana. Pretende discutir o segmento “adolescência” enfatizando as manifestações do valor Justiça e Convivência Democrática e identificar a construção das dimensões éticas a partir de elementos que permitem articular as habilidades morais e os conhecimentos construídos nos vários contextos em que se insere, sobretudo, a escola e a família. O terceiro trabalho, também vinculado à pesquisa “Avaliando valores em escolares e seus professores: uma proposta de construção de uma escala”, objetiva apresentar e discutir resultados parciais da aplicação piloto de um instrumento, em fase de elaboração, destinado a avaliar a presença e a adesão de valores morais em pré-adolescentes do segundo ciclo da escola fundamental, em jovens do ensino médio e nos professores em exercício dos níveis apontados. Este trabalho funda-se na crença da instituição escolar como lugar MESAS REDONDAS e ferramenta fundamentais (porém não exclusivas) para a perpetuação dos valores e princípios universais inspirados pelo iluminismo: justiça, respeito e igualdade. ADOLESCÊNCIA, VALORES E BULLYING NA ESCOLA: TECENDO RELAÇÕES 2 Maria Teresa Ceron Trevisol, UNOESC, E-mail: [email protected] Luana Uberti, UNOESC, E-mail: [email protected] É possível observar que os estudos (TOGNETTA, 2005; 2010b; 2011; TOGNETTA & VINHA, 2010a; TARDELI & PASQUALINI, 2011; SILVA, 2010a; FANTE, 2005; FANTE e PEDRA, 2008; TEIXEIRA, 2011; MALDONADO, 2011; CALHAU, 2011; LOPES NETO, 2005, 2011; EYNG, 2011) convergem ao tratarem de características que são próprias do período da adolescência, o qual envolve mudanças corporais e psicológicas; todavia, os entendimentos divergem em relação a este período quando são abordadas as diferentes culturas em que os adolescentes se encontram inseridos, e as implicações desta variável na construção e desenvolvimento do ser humano, na relação e no convívio com o outro, na busca do espaço e do reconhecimento pelo outro. Nesse sentido, constitui objetivo deste trabalho analisar as relações entre a fase da adolescência, período do desenvolvimento importante para a constituição do indivíduo, a dimensão dos valores sociais e morais como norteadores das ações dos indivíduos e as manifestações de bullying no cotidiano escolar tendo como uma de suas explicações a ausência da base moral e de valores no trato entre os indivíduos, bem como a ausência de encaminhamentos que favoreçam a resolução de situações de conflitos entre estes indivíduos, vinculado, ainda, à ausência de confiança em profissionais da escola para que possam falar e solicitar ajuda. A base empírica deste trabalho foi constituída a partir de uma investigação, PIBIC/CNPQ, realizada com 171 adolescentes na faixa de idade entre 12 e 16 anos, que frequentam o 8ª ano do ensino fundamental, em uma escola pública e outra particular da região oeste de Santa Catarina. Como procedimento de coleta de dados foi utilizado um questionário, composto por questões abertas e fechadas. Todos os pesquisados foram consultados e receberam um Termo de Consentimento Livre Esclarecido detalhando os objetivos da pesquisa, os procedimentos utilizados para a coleta dos dados e solicitando a autorização dos pais e/ou responsáveis pelos alunos. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa CEP/UNOESC. As respostas dos questionários foram tabuladas com a utilização de uma ferramenta on- Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. 2 Este trabalho constitui parte de uma investigação PIBIC/CNPQ, intitulada “Bullying na escola: inquirindo sobre as razões promotoras dos conflitos “entre” e “dos” alunos”. 1 38 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento line (Google Docs). A escola é um espaço fundamental e primário, depois do ambiente familiar, em que a criança passa a maior parte do tempo e, por conseguinte, ali se desenvolve física, cognitiva e socialmente. É na escola que o convívio com os pares se intensifica. É por isso que a escola é por excelência, campo das relações para seus alunos, “e, se tem por objetivo ‘formar’, tem por meta um desenvolvimento moral que permita o respeito ao outro, como forma equilibrada de relações” (TOGNETTA, 2009, p. 9). É desse modo que se pode compreender por que o bullying não é somente mais comum na escola, como também é na escola que se encontram as ferramentas mais efetivas para combater esse mal. A escola reforça o desenvolvimento cognitivo e intelectual e, segundo Chalita, não há espaço para “[...] desenvolver habilidades pessoais e grupais para solucionar os dilemas existenciais” (2008, p. 191). O autor ainda exemplifica questões fundamentais, que ficam sem resposta, neste sistema orientado à supervalorização da cognição: “[...] como evitar a violência? Como enfrentar as agressões e as humilhações? Em quem confiar? A quem pedir ajuda? Como aprender a fazer amigos?” (2008, p. 191-192). Evidencia-se que a questão está muito mais implícita e é mais intensa do que puramente defender a “vítima” e condenar o “agressor”. É a educação voltada à moral que será capaz de dar espaço para que crianças e adolescentes não somente compreendam como lidar com situações de violência, mas também tenham a oportunidade de contribuir para uma discussão construtiva sobre o porquê dessas situações ocorrerem, como o alvo, o autor e a testemunha se sentem respectivamente em seus papéis. Tardeli e Pasqualini (2011, p. 192) trazem a seguinte contribuição: “E como se ensina ética? Talvez seja mais fácil explicar como não se faz. A ética se aprende com o exemplo e a prática. Aprende-se quando há conflitos e quando estes são abordados de forma coletiva, discutidos e analisados”. Não há outra forma mais eficiente de aprender valores, senão pela prática, pela confrontação direta entre “o que acontece” e o “o que eu posso fazer”. Tognetta (2010a) explora a questão de que os valores morais são aprendidos, e que é, portanto, tarefa dos adultos “humanizar” as crianças. Segundo a autora, “é ilusão acreditar que as crianças se educam moralmente sozinhas. Precisam de um adulto que lhes apresente o espírito das regras, que diga para aqueles que são autores de bullying: “Isso não se faz. Como você pode fazer para reparar o que fez com seu colega?” e que, ao mesmo tempo, para os alvos que não encontram, [...] forças para vencer seus algozes, seja um adulto presente ao dizer: “Por que você deixou que lhe tratem assim? O que podemos fazer para que isso não aconteça mais?”, ajudando a vítima de bullying a se indignar pelos insultos recebidos, ajudando-os a perceber o quanto é importante e o quanto precisa se dar valor e ser respeitada” (TOG- MESAS REDONDAS NETTA, 2010a, p. 15-16, grifo do autor). É importante dar suporte a todos os envolvidos nos casos de bullying de forma individual, pensando na preservação de cada sujeito. Mas é importante, também, que se aborde o tema com o coletivo, com a finalidade especial de prevenir episódios futuros, de explanar as consequências dos maustratos e a importância em lidar adequadamente com eles quando ocorrerem. Isso diz respeito inclusive, e talvez, principalmente, às testemunhas no sentido de que se percebam como sujeitos ativos, responsáveis pelo bem-estar do outro na medida em que denunciam a violência, que desprezam os maus-tratos e que deixam de ser o público que incentiva o autor e intimida o alvo. É pensando na educação moral que a escola se apresenta como referência para que se lide com a problemática do bullying. ESTUDO SOBRE VALORES NA ADOLESCÊNCIA: JUSTIÇA E CONVIVÊNCIA DEMOCRÁTICA Denise D´Aurea-Tardeli, Unisantos/SP, E-mail: [email protected] O presente estudo é um recorte do projeto “Avaliando Valores em Escolares e seus Professores: uma proposta de construção de uma escala”, desenvolvido pelo núcleo de pesquisas da Fundação Carlos Chagas com verba FAPESP e tem como objetivo mensurar a presença e a adesão de valores nos julgamentos que escolares e seus professores fazem em histórias hipotéticas da vida cotidiana através da construção de uma escala inédita. Este recorte da pesquisa pretende discutir o segmento “adolescência” e alguns aspectos relacionados ao perfil dos sujeitos entrevistados, enfatizando as manifestações do valor Justiça e Convivência Democrática a partir da coleta realizada. Tem como objetivo identificar a construção das dimensões éticas de sua formação a partir dos elementos que permitem articular as suas habilidades morais e os conhecimentos construídos nos vários contextos em que se insere, sobretudo a escola e a família. A pesquisa inspirase em autores de teorias do desenvolvimento moral, em autores que tratam do desenvolvimento pré-adolescente e adolescente, além de pesquisadores brasileiros da área da educação moral e psicologia. A metodologia da pesquisamãe envolveu um Questionário de Valores (elaborado pelo grupo de pesquisadores convidados pela Fundação Carlos Chagas para este fim, de várias universidades do Estado de São Paulo) e Questionário de Perfil (também elaborado para esta pesquisa) aplicados em aproximadamente 200 adolescentes na faixa de 14 a 20 anos, do Ensino Fundamental (segundo ciclo) e Ensino Médio, de escolas públicas e particulares de várias regiões de São 39 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Paulo. Apesar de existirem há várias décadas formas variadas de avaliação do julgamento moral que são instrumentos consagrados e competentes, como os testes de Kohlberg, este instrumento criado é voltado para as questões da atualidade, para situações hipotéticas de vários lócus da vida cotidiana do contexto brasileiro, que engloba a investigação de determinados valores simultaneamente, inspirados nas temáticas do documento de Ética dos Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC de 1997 e pode adequar-se à aplicação de crianças, jovens e adultos. É um instrumento objetivo com a situação apresentada e cinco alternativas para escolha que correspondem aos níveis de desenvolvimento moral da teoria kohlberguiana, distribuídos em possibilidades de adesão a valores ou a contravalores. A coleta geral consistiu em avaliar qual o nível de presença e adesão dos seguintes valores morais: justiça, respeito, solidariedade e convivência democrática com isso, identificar as variáveis identitárias dos adolescentes. Este segmento de pesquisa trabalhou somente os valores de Justiça e Convivência Democrática. Com isso foi possível identificar e comparar categorias de desenvolvimento moral a partir das respostas coletadas, verificar as perspectivas sociomorais e estabelecer parâmetros de comparação nas formações dos jovens. Tal proposta se insere numa perspectiva psicossocial de avaliação dos processos de desenvolvimento humano tendo em vista a elaboração de indicadores preditivos de seu desempenho. Trazemos neste trabalho as conclusões do estudo piloto para reestruturação do instrumento. AVALIANDO VALORES EM ESCOLARES: RESULTADOS PARCIAIS DE ESTUDO PILOTO EM JOVENS DO ENSINO MÉDIO QUANTO AO RESPEITO E À SOLIDARIEDADE Raul Aragão Martins, UNESP - Campus S.J. Rio Preto, E-mail: [email protected] Maria Cecilia Bérgamo Braga, UNESP - Campus S.J. Rio Preto, E-mail: [email protected] A sociedade atual manifesta seus valores através da arte, da cultura, das configurações urbanísticas, das discussões econômicas, políticas, mas principalmente, através das atitudes cotidianas dos seus personagens. Estes últimos, imersos na fluidez da vida pós- -moderna, parecem confusos quanto às questões éticas, entendidas aqui no sentido clássico, como boas escolhas para uma vida boa. O presente trabalho pretende apresentar e discutir resultados parciais da aplicação piloto de um instrumento em fase de elaboração por uma equipe de pesquisadores da Fundação Carlos Chagas (SP), destinado a avaliar a presença e a adesão de valores morais em pré-adolescentes do segundo ciclo da MESAS REDONDAS escola fundamental, em jovens do ensino médio e nos professores em exercício dos níveis apontados. A pesquisa intitulada: “Avaliando valores em escolares e seus professores: uma proposta de construção de uma escala” é coordenada pelas professoras Marialva Rossi Tavares (Fundação Carlos Chagas) e Maria Suzana De Stefano Menin (Faculdade de Ciências e Tecnologia, UNESP, Campus de Presidente Prudente) e conta com um grupo de pesquisadores da própria Fundação Carlos Chagas e da UNESP, da qual se inclui o Prof. Raul A. Martins, da UNICAMP, da UNIFRAN/ SP, da UFSC/Santa Catarina e UNISANTOS/São Paulo, além de pesquisadores pertencentes ao Grupo de Trabalho “Psicologia e Moralidade” da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP). Este trabalho funda-se na crença da instituição escolar como lugar e ferramenta fundamentais (porém não exclusivas) para a perpetuação dos valores e princípios universais inspirados pelo iluminismo: justiça, respeito e igualdade. Ocorre neste momento uma tendência ao questionamento quanto à universalidade e atemporalidade desses valores, assim como há ausência de um consenso quanto à melhor maneira de realizar a educação moral nas escolas. Questões de ruptura de paradigmas sociais e culturais em curso desde o final do século XX, trazendo valores em crise (LA TAILLE E MENIN, 2009) somam-se ao fato de que o público-alvo desta pesquisa constitui-se de jovens vivendo um período evolutivo bastante particular em termos de transformações biopsicossociais. Piaget, em uma conferência datada de 24 de julho de 1947 e publicada por Parrat e Tryphon em 1998, aponta a emancipação de pensamento que o adolescente pode alcançar nesta fase de ingresso no pensamento formal, desde que inserido num ambiente escolar que estimule a pesquisa, a reflexão e a crítica. Os valores a serem investigados pela pesquisa citada são: justiça, solidariedade, respeito mútuo, diálogo e convivência democrática. O critério de seleção destes valores guarda relação com a proposta contida nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), no volume que trata da ética como um dos Temas Transversais em Educação. Nesta apresentação, discutiremos somente os valores respeito e solidariedade, que conceituaremos brevemente a seguir. O respeito mútuo é, para Piaget (1994), uma condição alcançada pela criança somente após a vivência de um longo período do que ele chamou de respeito unilateral, este último marcado por relações assimétricas entre aquele que ordena e aquele que obedece e, portanto, baseadas no temor e culto à autoridade. Respeitar o outro e exigir respeito simultaneamente pressupõe a saída do egocentrismo (condição afetiva) e o alcance da reversibilidade de pensamento (condição cognitiva, operatória), algo a ser conquistado ao longo dos anos e das atividades escolares. A solidariedade, finalmente, pode ser definida como: “sentimento que leva os homens a se auxiliarem mutuamente.” (www.dicionarioweb.com.br; 40 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento acesso em 30/09/2012). Pressupõe, assim, a percepção da existência do outro, a disposição em colaborar com ele e a de aceitar a sua ajuda. Piaget (1931/1998) realizou estudos sobre o desenvolvimento do espírito de solidariedade nas crianças observando-as em sociedades espontâneas, especialmente em momentos lúdicos, envolvendo jogos. Identificou dois tipos de solidariedade, que ele nomeou como externa e interna. No primeiro tipo, os indivíduos são solidários entre si por obedecerem a uma regra exterior, imposta e arbitrária. Na etapa da solidariedade interna, no entanto, os indivíduos estão submetidos a regras elaboradas ou referendadas por eles próprios, por uma disposição intrínseca. Trata-se da etapa de autonomia moral, ou “moral do bem”, pois se caracteriza, dentre outros pontos, pela condição de reversibilidade, altruísmo e reciprocidade. Metodologia. A construção da escola está sendo planejada em três fases. A primeira foi a elaboração de uma matriz de referência para orientar a elaboração dos itens. Os valores selecionados, justiça, respeito mútuo, solidariedade e convivência democrática, foram inspirados nos PCNs (1997). A segunda fase foi a elaboração de 120 itens (cerca de 30 por valor). Eles retratam cenas do cotidiano de crianças, adolescentes e professores e situam-se em escolas, residências ou no mundo virtual (Internet). Cada item apresenta cinco possibilidades de respostas, sendo três para valores e duas para contravalores. Os valores são baseados nos níveis de desenvolvimento moral de Kohlberg (1992). A terceira fase constou de um pré-teste para verificação de adequabilidade dos itens, que foi aplicada em adolescentes. Resultados e discussão. Apresentamos os resultados dos valores Respeito Mútuo e Solidariedade entre adolescentes de ambos os sexos e oriundos de escolas públicas e privadas. Resultados iniciais mostram que as moças apresentam melhor desempenho, fazendo opções pelos níveis mais altos da escala. Em termos gerais os alunos das escolas privadas também apresentam melhores resultados do que os das escolas públicas. Estes resultados devem ser vistos com cautela, pois alguns itens se mostraram óbvios, isto é, praticamente todos escolheram a opção mais alta, e este é somente um pré-teste da escala, que agora passará por nova revisão antes de ser aplicada em uma amostra representativa de crianças, adolescentes e professores do estado de São Paulo. MR - 2394 Sala 402 - 10h SELF, AUTOCONSCIÊNCIA E COGNIÇÃO: ONTOGÊNESE E RELAÇÕES TRANSFORMATIVAS NO CURSO DE VIDA MESAS REDONDAS Alexsandro Medeiros do Nascimento Antonio Roazzi A proposta de interlocução aqui anunciada visa detalhar as relações entre Self, Autoconsciência e Cognição, numa perspectiva desenvolvimental no Curso de Vida (Baltes, 1987; Baltes, Lindenberger & Staudinger, 1998; Sigelman & Rider, 2009), levando-se em conta a ontogênese e relações transformativas entre estes sistemas psicológicos, mediadas pelo desenvolvimento cognitivo geral. O interesse do Ocidente pelo self é recente, experiência cultural que se inicia mais graficamente da Idade Média em diante (Baumeister, 1987), adentrando na psicologia desde os seus primórdios com os insights de James, Wundt, Mead e Calkins (Nascimento, 2008). Sua ontologia complexa é ainda em larga parte desconhecida e os fatores desenvolvimentais que presidem sua emergência e consolidação na ontogênese estão sendo ainda mapeados e refletindo-se em modelos teóricos mais rigorosos (Markus & Kitayama, 1991; Markus & Nurius, 1986; Triandis, 1989), em especial, após o advento da perspectiva cognitiva em psicologia (Beer & Ochsner, 2006). Nesta perspectiva, o self pode ser considerado como uma representação mental de si, uma estrutura pluridimensional e arquitetura cognitiva de alta ordem com múltiplos domínios ontológicos (Nascimento, 2008), podendo ser observado e explanado segundo Kihlstrom e Klein (1997) em termos de uma i. estrutura conceitual, de selves específicos ao contexto integrados funcionalmente num self prototípico; ii. uma história ou narrativa(s), que construímos/contamos a nós mesmos e aos outros que responde/m às questões fundantes sobre nossas origens, natureza, identidade, destino e significado de nossas vidas; iii. uma imagem, ou representação baseada na percepção; e, iv. uma rede associativa, ou conjunto de proposições sobre traços abstratos, experiências, pensamentos e ações do si mesmo. Salienta-se nesta compreensão numa perspectiva cognitiva a existência de conexões ontogeneticamente coagenciadas entre os diferentes modelos de self, bem como em relação à extensa rede de processos cognitivos que mediam suas construções individuais a serem ainda mapeadas e explanadas num modelo comum de mais ampla abrangência (Beer & Ochsner, 2006; Steinberg & Morris, 2001; Nascimento, 2008; Buss, 2001; Morin, 2004; Hart & Fegley, 2006). As pesquisas enfeixadas nesta mesa-redonda explicitam pontos nodais na compreensão em psicologia do desenvolvimento em termos do enraizamento da ontogênese do self e de seus processos reflexivos com os processos cognitivos mais amplos, em que pautas cognitivas baseadas em diferentes tipos de representações mentais como as verbais e imagéticas da base cognitiva dual (Paivio, 2007), contribuem para a modelagem mental do senso de self na relação com outras pessoas e o conhecimento social normativo em cada cultura (Nascimento, 41 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento 2008, Nascimento & Roazzi, 2013; Beer & Ochsner, 2006; Hart & Fegley, 2006). No Trabalho 1 (Macedo & Sperb) avança-se na compreensão do enlace entre o desenvolvimento do pensamento interpretativo em narrativas autobiográficas de pré- adolescentes em que a metodologia narrativa permite a observação da crescente complexidade composicional nas memórias do self como evidência da coordenação entre relembrar o passado e compreender as pessoas resultando no pensamento interpretativo. O Trabalho 2 (Nascimento, Roazzi, Gonçalves, Nascimento & Freire) tematiza as dificuldades de construção de instrumentos psicométricos para uso em adolescentes, e encontrou falhas em fatores protetivos ao bullying como religiosidade, senso de escola como comunidade e autoconsciência, como também déficits de autofoco nos estudantes masculinos. No Trabalho 3 (Basílio, Roazzi & Nascimento) discutem-se importantes mudanças no autoconceito e autoconsciência de mulheres adultas advindas pela experiência do cárcere, e a natureza dinâmica da autorreflexividade e das representações do self em seu devir na ontogenia. Por fim, no Trabalho 4 (Silva Junior, Nascimento & Roazzi), evidências de relativa independência no curso dos desenvolvimentos dos processos de autofocalização e das habilidades de raciocínio questionam modelo teórico de mediação cognitiva de Morin (2004), salientando assim a natureza especial do self no seio da cognição. Tomados conjuntamente, os trabalhos aqui apresentados levantam importantes considerações sobre as relações estruturais e funcionais entre self, autoconsciência e cognição no curso de vida, questionando modelos existentes na área e apontando novas rotas de investigação em perspectiva cognitivo-desenvolvimental. O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO INTERPRETATIVO EM NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS DE PRÉ-ADOLESCENTES Lídia Suzana Rocha de Macedo, UFRGS, CNPq, E-mail: [email protected] Tania Mara Sperb, UFRGS, E-mail: [email protected] CNPq Esse estudo investiga o desenvolvimento do pensamento interpretativo com base nas ideias de Bruner (1987; 2000) e na teoria neopiagetiana, desenvolvida por Case (1985). Ao aplicar a teoria de Case ao domínio da composição ficcional, o grupo de McKeough mapeou as estruturas que embasam o pensamento intencional que emerge no final da infância, identificou as mudanças qualitativas na transição para o pensamento interpretativo no início da adolescência e descreveu o aumento de complexidade do pensamento interpretativo ao longo da adolescência (Mckeough & Malcolm, 2010). Anterior- MESAS REDONDAS mente, já havia sido identificada uma tendência desenvolvimental na habilidade para usar dispositivos narrativos para construir histórias com duas linhas de história ou níveis de significado (Case et al., 1993). Habermas e Paha (2001) haviam referido que com a emergência da adolescência duas capacidades previamente independentes - relembrar o passado e compreender as pessoas - são coordenadas e que o resultado disso é uma percepção crescente de que o passado não é simplesmente o que está armazenado, mas algo que requer interpretação. Dito de outro modo, o resultado dessa coordenação é o pensamento interpretativo. Neste trabalho examina-se o desenvolvimento do pensamento interpretativo em narrativas autobiográficas de pré-adolescentes. São 10 pré-adolescentes com 11 e 12 anos de idade, de famílias de classe média. Foram entrevistados individualmente na escola e suas narrativas foram gravadas. Utilizou-se um procedimento estruturado (Habermas & Paha, 2001) para facilitar a construção de uma narrativa autobiográfica, o qual solicita os sete episódios mais marcantes da vida do pré-adolescente. Feita a transcrição das narrativas, iniciou-se a análise do desenvolvimento do pensamento interpretativo por meio da adaptação do método de McKeough e Genereux (2003). Para analisar a complexidade estrutural das narrativas foram examinados: 1) a estrutura do enredo; 2) o número de flashbacks; e 3) estrutura das histórias encaixadas. 1) A estrutura de enredo pode ter ênfase na ação, na intenção (níveis 1, 2 e 3) e na interpretação (4 e 5). No nível 1 (4 anos) a história apresenta uma sequência de eventos associados (temporal, causal ou referencialmente), mas ações e eventos ocorrem exclusivamente no mundo físico. No nível 2 (6 anos), a história inclui referência explícita ou implícita a estados mentais que motivam a ação no mundo físico e um problema é resolvido rapidamente no final. No nível 3 (8 anos), a história inicia com um problema, seguem-se complicações que levam a encontrar uma solução e estados mentais são mencionados ou deixados implícitos no contexto da história. No nível 4 (10 anos), há um impedimento ou subenredo bem desenvolvido com significância maior do que os demais, o que amplia as intenções/estados mentais dos personagens. No nível 5 (12 anos) o foco da história passa dos estados mentais dos personagens para o porquê de um estado mental em particular ser mantido; 2) flashback é o que ocorre quando está se desenrolando a história principal por algum tempo e o narrador a interrompe para falar sobre algo que aconteceu antes; 3) Para avaliar a estrutura das histórias encaixadas considerou-se uma história completa a que inclui um evento inicial, o objetivo resultante, a tentativa de alcançá-lo, o resultado da(s) tentativa(s) e a finalização. Cada um dos sete acontecimentos marcantes pode gerar uma história ou uma narrativa mínima (cf. Labov & Waletsky, 1967). Para avaliar a presença de conteúdos sociopsicológicos foram examina- 42 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento dos: 1) os tipos de flashbacks 2) as descrições dos personagens das histórias. 1) Os tipos de flashback podem ser não interpretativos ou interpretativos. Os não interpretativos são aqueles que embora contenham informações relevantes sobre a ação/evento ou sobre a intenção imediata dos personagens, não fornecem novos insights ou reinterpretação dos eventos. Os flashbacks interpretativos fornecem um novo insight psicológico para o significado da história e/ou sobre a própria natureza do personagem; 2) Descrições dos personagens (do narrador inclusive) podem ser: física/demográfica, intencional ou interpretativa. Em termos do nível de enredo, três pré-adolescentes produziram somente narrativas com enredo simples (nível 1). São sequências de eventos associados (temporal, causal ou referencialmente), mas as ações ocorrem exclusivamente no mundo físico. Três pré- adolescentes construíram narrativas de enredo simples (nível 1) e narrativas em que as ações são movidas pelas intenções dos personagens e há um problema resolvido rapidamente no final (nível 2). Um préadolescente construiu narrativas com enredos simples (1 e 2) e uma narrativa com enredo mais complexo (nível 3). No nível 3, a narrativa inicia com um problema, seguem-se complicações para encontrar uma solução e estados mentais são mencionados ou deixados implícitos no contexto da história. Finalmente, três pré-adolescentes construíram narrativas com enredos mais complexos (níveis 3, 4 e 5). No nível 5, o foco da história passa dos estados mentais dos personagens para o porquê de um estado mental em particular ser mantido. Assim, apenas em um terço da amostra podem ser encontradas narrativas que correspondem às da amostra de pré-adolescentes de 12 anos de McKeough e Genereux (2003). Quanto ao número de flashbacks ao narrarem cada acontecimento marcante: quatro pré-adolescentes permaneceram na linha de história principal, sem acréscimos; um pré-adolescente encaixou uma história na linha de história principal; quatro pré-adolescentes encaixaram duas histórias à linha de história principal e um pré-adolescente encaixou quatro histórias à linha de história principal. Assim, apenas a metade da amostra consegue se manter na linha de história principal, incluindo mais de uma história em sua narrativa. Quanto à estrutura das histórias, dois pré-adolescentes produziram somente histórias completas; sete pré-adolescentes construíram histórias completas e incompletas, e um pré-adolescente produziu apenas histórias incompletas. No que tange ao caráter interpretativo ou não interpretativo da narrativa, seis pré-adolescentes reproduziram suas experiências sem interpretá-las; dois pré-adolescentes interpretaram algumas experiências e outras não; e dois pré-adolescentes interpretaram todas as experiências que narraram. Assim, apenas menos da metade dos pré-adolescentes (40%) mostraramse capazes de refletir sobre o vivido e reinterpretar os fatos. Em relação aos descritores dos personagens, três pré- MESAS REDONDAS adolescentes utilizaram apenas informações físicas ou demográficas para descrevê-los; quatro pré-adolescentes utilizaram descrições físicas e intencionais, especialmente descrevendo tendências comportamentais; dois pré-adolescentes utilizaram descritores intencionais e interpretativos, como descrever mudanças na própria personalidade; um pré-adolescente privilegiou os descritores interpretativos em todas as narrativas. Os resultados confirmam a literatura ao mostrar que pré-adolescentes de 11 e 12 anos estão em plena fase de aquisição do pensamento formal (Piaget, 1971). O desenvolvimento cognitivo quando examinado em narrativas autobiográficas revela especificidades. Na pesquisa de McKeough e Genereux (2003), a maioria dos préadolescentes de 10 anos produziram narrativas no nível 4, enquanto nesse estudo, só um terço dos pré-adolescentes exibiu narrativas desse nível e de maior complexidade. Em McKeough e Genereux (2003), 17,5% construíram histórias completas, enquanto no presente estudo somente um dos pré-adolescentes não produziu histórias completas. A percentagem de flashbacks interpretativos é equivalente: 41,6% em McKeough e Genereux (2003) e 40% nesse estudo. Nos dois estudos existem mais descritores físicos/demográficos em comparação com descritores interpretativos. Porém, nesse estudo há uma presença maior de descritores interpretativos porque se consideram as descrições que o narrador faz de si mesmo. Os resultados mostram que as narrativas autobiográficas dos pré-adolescentes ilustram o desenvolvimento do pensamento abstrato interpretativo e da habilidade para construir perfis psicológicos coerentes para o próprio self e para os outros. Palavras-chave: desenvolvimento cognitivo; narrativa autobiográfica; pré-adolescência. Contato: Lídia Suzana Rocha de Macedo, UFRGS, E-mail: [email protected] AUTOCONSCIÊNCIA, RELIGIOSIDADE E PERCEPÇÃO DA ESCOLA COMO COMUNIDADE EM ADOLESCENTES PRATICANTES E VÍTIMAS DE BULLYING ESCOLAR Alexsandro Medeiros do Nascimento, LACCOSUFPE, E-mail: [email protected] Antonio Roazzi, LACCOS, UFPE, E-mail: [email protected] Andressa Carvalho Gonçalves, LACCOS-UFPE, E-mail: [email protected] Elaine Cláudia Silva do Nascimento, LACCOSUFPE, E-mail: [email protected] Marijaine Rodrigues de Lima Freire, LACCOS-UFPE, E-mail: [email protected] 43 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Bullying, palavra inglesa sem equivalente na língua portuguesa, se refere ao fato de alguém ser repetidamente no tempo sujeito a ações negativas por parte de uma ou mais pessoas, havendo forte discrepância de força ou poder entre a pessoa sendo vitimizada e seu vitimizador (Olweus, 1993). Tais ações negativas consistem geralmente em aflição intencional de injúria ou desconforto perpetrada às vítimas por ataques físicos, ou contato físico através de gestos faciais ou obscenos, palavras e exclusão intencional de um grupo. Nesse sentido, o bullying indicia uma problemática específica dentro de um leque extenso de tipos de interações entre pares, não sendo possível indicar interações agressivas entre pares, em especial, em idade escolar, quando há certo equilíbrio em força física ou mental entre os envolvidos (Dake, Price & Telljohann, 2003). O envolvimento em bullying traz efeitos pervasivos e a longo prazo às pessoas envolvidas, independente de na condição de vítimas, agressores, ou vítimas-agressoras, o que traz um interesse adicional aos estudos em desenvolvimento humano, no sentido de mapear seus fatores de risco, incidências concretas do fenômeno em contextos variados e transculturais, impacto sobre o desenvolvimento psicológico e variáveis protetivas, visando-se a construção de estratégias de intervenção mais proativas e eficazes que as atualmente disponíveis na literatura psicológica e educacional (Olweus, 2004). Estudos com adolescentes têm evidenciado altas taxas de envolvimento em bullying, tanto na modalidade vítima, quanto na de agressores; também que exposição frequente à vitimização ou a ataques a outros está fortemente associada a altos riscos de depressão, ideação e tentativas de suicídio, incluindo os com desfecho letal, em comparação com adolescentes não envolvidos em comportamentos de bullying, sendo tal relação ainda verdadeira, mesmo quando a participação em tais comportamentos é infrequente (Klomek et al., 2007). É certo afirmar-se a ainda insipiente catalogação das dinâmicas psicológicas que estão relacionadas ao bullying, agravado pelo fato de este período da adolescência ser muito lábil e transformativo, em franco processo de reestruturação dos sistemas psicológicos de base, em especial, os relacionados ao self e à personalidade. Salientamos a importância da autoconsciência, pedra angular de estruturação de um self humano, como competências reflexivas e autoatentivas (Duval & Wicklund, 1972; Buss, 2001) que exercem importante papel na autorregulação do sujeito (Nascimento, 2008) e suas respostas adaptativas ao meio escolar. A pesquisa das relações entre processos autofocalizadores e bullying está ainda começando, sendo teoricamente pensáveis possíveis perturbações na dinâmica da autoconsciência adolescente mediando a eclosão de comportamentos disruptivos (Roazzi, Nascimento & Gusmão, no prelo), dentre estes os relacionados ao fenômeno do bullying escolar. Estar MESAS REDONDAS autoconsciente em formas benignas e reflexivas (Trapnell & Campbell, 1999) deve colocar-se como capital cognitivo protetivo de grande significado desenvolvimental, prevenindo tanto o envolver-se com comportamentos hostis aos outros por um melhor acesso introspectivo ao sistema de Standards de correção (Duval & Wicklund, 1972), quanto o deixar-se abater diante de ataques vitimizadores por um mais acurado conhecimento dos recursos internos e externos do self para sua autoproteção e autocuidado (Nascimento, 2008). Está bem estabelecido na literatura papel benéfico e protetivo a comportamentos de risco exercido pela religiosidade (Zinnbauer & Pargament, 2005). Estudos recentes indicam um interesse renovado no tópico da religiosidade e espiritualidade nas vidas de adolescentes (Levenson, Aldwin & D’mello, 2005), e do significado positivo da adesão dos mesmos às instituições religiosas e suas atividades cotidianas. Também adolescentes que percebem a escola como comunidade funcional exibem escores mais altos de realização e motivação acadêmica, entendimento social, tendências altruísticas, conduta apropriada na escola, respeito pelos professores, e escores menos acentuados em comportamentos adictivos/violentos e outras atividades de risco (Schaps, Battistich, & Solomon, 2004). Nesta base erguese hipótese de serem a autoconsciência, religiosidade e percepção da escola como comunidade fatores protetivos ao bullying, sendo o objetivo deste trabalho a investigação das inter-relações entre estes construtos em população adolescente de Pernambuco, como também investigação das características psicométricas dos instrumentos utilizados na pesquisa. A amostra do estudo foi composta de 167 estudantes de escolas públicas pernambucanas, oriundos das séries 6ª a 9ª (51,49% de sexo feminino e 48,51% de sexo masculino), os quais responderam protocolo contendo Escala de Disposição ao Bullying Escolar (EDB), Escala de Autoconsciência Revisada (EAC-R), Escala de Religiosidade Geral (ERG) e Escala de Percepção da Escola como Comunidade (EPEC), além de questionário com variáveis sociodemográficas. Para análises dos dados foram utilizados procedimentos da Psicometria e Análise Fatorial, coadjuvados com análises multivariadas tipo SSA (Análise de Estrutura de Similaridade, Guttman, 1968) triangulada com o método das variáveis externas enquanto pontos, além de coeficientes de correlação de Pearson, Spearman e Ponto Bisserial. As projeções SSA levantaram evidências de necessidade de mais pesquisa consoante a estrutura fatorial da EAC-R e da ERG consoante a uso com adolescentes, tendo-se conseguido replicar a estrutura fatorial da EPEC. Adolescentes com maior autofoco público também exibem maiores escores de autofoco privado, além de que adolescentes de sexo feminino exibem maior tendência à autoconsciência pública e privada. Usando-se Comportamento Religioso (ERG, 1º 44 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento fator), não se evidenciaram inter-relações estatisticamente significantes entre religiosidade e as variáveis sexo, idade, série escolar, classe socioeconômica e nível de renda dos pais. Colaboração, Ajuda e Proximidade (EPEC, 1º fator) se correlacionam positivamente com classe socioeconômica, e negativamente com sexo, idade e série escolar, enquanto sexo se correlaciona negativamente com toda a escala EPEC, evidenciando uma percepção mais negativa da escola por parte das adolescentes de sexo feminino. Vítimas de bullying são em geral também agressoras, e de sexo masculino, e nem religiosidade nem percepção da escola como comunidade estão relacionadas a bullying nesta amostra. O estudo evidenciou a necessidade de mais investimento em construção e validação de instrumentos psicométricos voltados à população adolescente nordestina, como também à continuação de pesquisas voltadas à busca de fatores protetivos ao bullying escolar, cujos conhecimentos subsidiem intervenções escolares eficazes, que promovam com maior resolução o desenvolvimento cognitivo em geral nesta fase, e, em particular, competências para o enfrentamento do bullying, e de evitação de (re)caídas em comportamentos hostis voltados aos pares. Palavras-chave: autoconsciência; adolescentes; bullying escolar. Contato: Alexsandro Medeiros do Nascimento - Coordenador do Laboratório de Estudos da Autoconsciência, Consciência, Cognição de Alta Ordem e Self (LACCOS), Departamento de Psicologia, Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, E-mail: [email protected]. A DIALÉTICA DE TRANSFORMAÇÃO DO SELF, AUTOCONCEITO E AUTOCONSCIÊNCIA NO CÁRCERE FEMININO Lysia Rachel Moreira Basílio - FAVIP - LACCOS, UFPE, E-mail: [email protected] Antonio Roazzi - LACCOS, UFPE, E-mail: [email protected] Alexsandro Medeiros do Nascimento - LACCOS, UFPE, E-mail: [email protected] O presente trabalho elege o evento encarceramento, ou privação de liberdade decorrente de envolvimento em ato delituoso, como fator desencadeador de transformações no autoconceito e autoconsciência. Estas transformações, abordadas no universo feminino, podem elucidar aspectos da conceituação, dinâmica e permeabilidade do autoconceito e do funcionamento da autoconsciência, a fatores do meio externo, aos quais o sujeito está constantemente se defrontando durante toda a vida (Kinch, 1963; L’Écuyer, 1978, 1985; Demo, 1992). O autoconcei- MESAS REDONDAS to é composto por múltiplas dimensões do Self, que estão organizadas hierarquicamente, possuem uma mobilidade, em termos de posição mais ou menos central, em diferentes momentos da vida, e funcionam como esquemas da cognição (L’Écuyer, 1978). É ainda um produto estrutural complexo da atividade reflexiva, permeável a mudanças promovidas por novas situações, transições e papéis sociais, ou seja, o autoconceito é, concomitantemente, estável e dinâmico (Demo, 1992). Para investigação das transformações e estrutura no autoconceito das mulheres encarceradas, cinco mulheres participaram, na etapa qualitativa do estudo, de entrevistas semiestruturadas com base nas dimensões integradas do Self propostas por L’Écuyer (1978), e cento e cinquenta mulheres, na etapa quantitativa, responderam, em escala likert de 5 pontos, a um questionário, contendo o Inventário Feminino dos Esquemas de Gênero do Autoconceito (Giavoni; Tamayo, 2005), a Escala de Clareza do Autoconceito (Campbell et al., 1996, versão em português Nascimento, 2008), a Escala de Autoconsciência Situacional (Nascimento, 2008) e a Escala Crime Emoções (Canter; Ioannou, 2004). Na etapa qualitativa realizou-se a Análise de Conteúdo (Bardin, 1977; Moraes, 1999) das entrevistas, e na quantitativa, as estatísticas descritivas dos testes, análises de Componentes Principais (CP) e de consistência interna (Alfa de Cronbach), índice Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), Teste de Esfericidade de Bartlett, critérios da Raiz Latente (Autovalores) e do Gráfico de Declive (o Teste Scree) e rotação ortogonal de tipo varimax, além de Regressão Múltipla, Correlações r de Pearson e Correlações de Spearman. A hipótese examinada no estudo partiu de uma controvérsia no campo de estudo do autoconceito a respeito da natureza e dos limites de sua transformação durante o desenvolvimento do indivíduo. Demo (1992) enfatiza que, tradicionalmente, e em sua grande maioria, os estudos do autoconceito partem da sua definição como elementos estruturais do Self, que são relativamente estáveis e característicos de um indivíduo. Estes estudos investigam as dimensões estruturais do autoconceito, em detrimento dos seus aspectos temporais, sendo esta a razão do pouco conhecimento acerca dos condicionantes sociais que podem estar implicados na mudança e estabilidade do autoconceito, assim como suas qualidades dinâmicas, mutáveis e emergentes. Os estudos do autoconceito como estrutura (Cheek & Hogan, 1983; Epstein, 1980; Greenwald & Pratkanis, 1984; Kihlstrom & Cantor, 1984; Markus, 1983; McGuire & McGuire, 1981; Rosenberg; 1979; Wylie, 1979) o definem como tendo organização multifacetada, como configuração das características da personalidade (relativamente estáveis e generalizáveis de uma situação para outra), e o abordam enquanto estrutura cognitiva e conjunto de esquemas acerca do Self. Aqui, este Self é considerado objeto do autoconceito, mantendo-se estável e fixo em 45 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento determinado ponto da vida do indivíduo. Do outro lado desta controvérsia, perspectivas processuais do autoconceito, bem mais escassas, postulam a existência de mudanças e flutuações situacionais individuais nas atitudes em relação ao Self. Algumas perspectivas distinguem a “imagem do Self” (momentânea) da “concepção do Self” (relativamente permanente) (Turner, 1968), considerando a imagem do Self como cópia ativa da identidade, sujeita a constante mudança, revisão, edição e atualização em função das variadas situações vivenciadas pelos indivíduos (Burke, 1980). Outras perspectivas consideram a existência de uma faceta ativa do autoconceito (definido como universo de autoconcepções relativamente estáveis, centrais), que seria um subproduto temporário, composto por autoconcepções relevantes diante de uma dada situação (Markus et al., 1986). Outras, ainda, consideram a existência de um autoconceito momentâneo, continuamente ativo, que modifica o arranjo de autoconhecimento acessível (Markus & Wurf, 1987). Perspectivas neste grupo postulam a existência de uma base móvel, flutuante, durante curtos períodos de tempo, do autoconceito (a despeito de sua estrutura básica central se manter estável durante longos períodos). O presente estudo partiu desta premissa, a constituição ao mesmo tempo estável e maleável do autoconceito, para a alocação do encarceramento num lugar de evento de vida potencialmente promovedor de transformações nos esquemas cognitivos, podendo impactar sobremaneira o sistema Self e as dimensões do autoconceito daquelas que vivenciam a situação de privação da liberdade. Os elementos apontados nos resultados confirmaram a hipótese de uma organização dinâmica, processual e multidimensional do autoconceito das mulheres, e de que o cárcere configura um evento da vida adulta impulsionador de transformações desta dinâmica do autoconceito. A maioria destas transformações ocorreram em relação ao Self Pessoal, Self Adaptativo e Self/ Não-Self. Este caráter mobilizador do cárcere é reforçado pelo fato deste ser estruturado como um ambiente altamente instável, visto que alguns autores defendem que a estabilidade ambiental (estabelecimento de certa segurança em relação à vida pessoal e profissional, papéis e status sociais) cumpre um papel essencial na estabilização ou ancoramento do autoconceito adulto (Demo, 1992; Clausen, 1991; Ruble et al., 1990). Esta estabilização seria expressa como sentimentos de valorização do Self, resolução de dúvidas e inseguranças sobre si e estabelecimento de metas, configurando um autoconceito maduro e relativamente seguro. O encarceramento atuaria na contramão desta defendida segurança do Self, ilustrando a atuação das situações na maleabilidade do autoconceito. A investigação do autoconceito, nesta situação, permitiu o acesso ao movimento ativo das variações, revisões, atualizações e reforço nas atitudes em relação ao Self, considerando-se MESAS REDONDAS este movimento como forte indício da qualidade emergente, dinâmica e mutável do autoconceito, mesmo em etapas avançadas do desenvolvimento, a partir da vida adulta. As inter-relações presentes nos elementos do cárcere apreendidos no estudo impactam, especialmente, os fatores arrojamento e ajustamento social do autoconceito de gênero, a maximização da atuação de aspectos reflexivos da autoconsciência, a maior clareza do autoconceito, e as emoções positivas em relação ao crime. Somadas a estas contribuições, pode-se apontar a posição central conferida às dimensões pessoais, interpessoais e adaptativas da estrutura do Self na vivência do encarceramento, tomada aqui como mais uma evidência da maleabilidade do autoconceito e da autoconsciência a partir das demandas situacionais. Palavras-chave: autoconceito; autoconsciência; cárcere. Contato: Lysia Rachel Moreira Basílio, Doutora em Psicologia Cognitiva - UFPE Pesquisadora: LACCOS/UFPE (Laboratório de Estudos da Autoconsciência, Consciência, Cognição de Alta Ordem e Self), E-mail: [email protected] AUTOCONSCIÊNCIA, HABILIDADES DE RACIOCÍNIO E MEDIAÇÃO COGNITIVA: ASPECTOS DESENVOLVIMENTAIS NA ADOLESCÊNCIA Renê Marcelino da Silva Junior, Sec. de Educação, Esportes, Juventude, Ciência e Tecnologia, Caruaru-PE - LACCOS, UFPE, E-mail: [email protected] Alexsandro Medeiros do Nascimento, LACCOS, UFPE, E-mail: [email protected] Antonio Roazzi, LACCOS, UFPE, E-mail: [email protected] Uma das mais importantes tradições de estudo dos processos reflexivos do Self é a Teoria da Autoconsciência Objetiva de Duval e Wicklund (1972), os quais propuseram uma definição para autoconsciência passível de operacionalização experimental em termos de a capacidade do self de prestar atenção a si mesmo. Estudos experimentais evidenciaram que a autoconsciência mantém relações íntimas com vários processos psicológicos, como memória autobiográfica, autodescrição, autofala, autoavaliação, autoestima, autoconceito e teoria da mente (Morin, 2004; Nascimento, 2008). Indivíduos com elevados níveis de Autoconsciência demonstram maior e melhor conhecimento de si, apresentam uma percepção mais precisa de sua experiência subjetiva, são mais hábeis em inferir estados mentais de outras pessoas (Nascimento, 2008; Morim, 2004), ao mesmo tempo em que há evidência documentada de uma relação estreita entre níveis altos 46 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento de autofoco privado e indicadores de mal-ajustamento psicológico como depressão, ansiedade, ideação suicida, transtornos alimentares e baixa autoestima (Trapnell & Campbell, 1999), o que denota a natureza paradoxal da autoconsciência de mediar ao mesmo tempo crescimento e ajustamento psicológico, e também processos psicopatológicos e de ser uma função complexa e multifacetada que integra diferentes tipos de operações cognitivas de autoatenção (Morin, 2004; Nascimento, 2008; Nascimento & Roazzi, 2013). O Modelo Neurocognitivo e Socioecológico de Autoconsciência de Alain Morin (2004) explica a mediação de autoconsciência a partir de três fontes principais: i.o meio social, ii.o mundo físico, e, iii.o próprio Self, fazendo parte desta última fonte mecanismos cognitivos como autofala e imagens mentais, os quais replicam internamente os mecanismos sociais e permitem o escrutínio reflexivo para além do processo social estrito. Os caminhos cognitivos de mediação de autofoco não são bem conhecidos ainda, como também não se conhece em profundidade em que idades se desenvolvem as múltiplas operações de autofocalização, e o enraizamento desses mecanismos de mediação com o processamento cognitivo mais amplo, em especial, levando-se em conta as transformações profundas em todas as esferas de funcionamento do sujeito vivenciadas no período da adolescência, e de que forma os processos autoatentivos dialogam com estas transformações (Rankin et al., 2004; Higa et al., 2008). Para Steinberg e Morris (2001), o campo de estudos sobre a adolescência se organiza em torno de miniteorias, sem amplas generalizações e referências a investigações anteriores, faltam descrições sobre o desenvolvimento normativo da cognição dos adolescentes. As transformações sofridas pela cognição, principalmente em seu sistema central de processamento com a aquisição e incremento principalmente das capacidades dedutivas, põem em relevo o impacto que tais modificações teriam sobre os outros sistemas cognitivos, no que destacamos um impacto decisivo sobre as relações entre a inteligência e as operações autoconstrutivas do Self e a Autoconsciência (Morin, 1995; Demetriou & Kazi, 2006). A presente investigação objetivou avaliar as hipóteses de que Autoconsciência apresenta mudanças desenvolvimentais em adolescentes e demonstra um entrelaçamento funcional com as habilidades de raciocínio, propiciando mediação cognitiva de autofoco por imagens mentais e autofala. Visando avaliar tal hipótese, realizou-se estudo tipo ex-postfacto e desenvolvimental, com metodologia transversal. Participaram da primeira fase do estudo, a qual objetivou a validação da Escala de Autoconsciência Situacional Juvenil (EAS-J), 584 estudantes do Ensino Fundamental II (310 meninas e 274 meninos), sendo 294 alunos de escolas públicas (157 alunos do 7ª ano, idades de 12 e 13 anos; 137 alunos do 9ª ano, idades de 15 e 16 anos) MESAS REDONDAS e 290 alunos de escolas privadas (140 alunos do 7º ano, idades de 12 e 13 anos; 150 alunos do 9ª ano, idades de 15 e 16 anos). Na segunda parte do estudo, 278 estudantes responderam também a Bateria de Provas de RaciocínioBPR-5 (142 meninas e 136 meninos), sendo 150 alunos de escolas públicas (71 alunos do 7ª ano, idades de 12 e 13 anos; 79 alunos do 9º ano, idades de 15 e 16 anos) e 128 alunos de escolas privadas (71 alunos do 7º ano, idades de 12 e 13 anos; 57 alunos do 9ª ano, idades de 15 e 16 anos). Os dados foram analisados através de procedimentos da Psicometria e análise fatorial, análise multidimensional não métrica SSA - Análise de Estrutura de Similaridade (Guttman,1968), com apoio do método de variáveis externas como pontos de Cohen e Amar (1999), e coeficiente de correlação de Pearson. Não se conseguiu replicar a estrutura tripartite esperada da EAS-J, a qual obteve evidência de boas qualidades psicométricas e Alfa de Cronbach de .70 com uma solução unidimensional representando um único fator nomeado de Autoconsciência Global. O THV-J apresentou o fator Visualização Self para a série Self com alfa de .78 e Visualização NãoSelf para a série Não-Self com alfa de .82, com evidências de excelente fidedignidade e validade de construto. Autoconsciência apresentou correlações negativas com raciocínio verbal, numérico e o escore geral de habilidades e não demonstrou correlações estatisticamente significantes com raciocínio abstrato, mecânico e espacial, indicando relativa autonomia do autofoco perante as habilidades de raciocínio. A análise multidimensional levantou evidências de relativa autonomia entre a autoconsciência e as habilidades de raciocínio, estando estas últimas dispostas na projeção SSA estritamente próximas formando uma faceta e posicionadas no plano oposto ao da localização da autoconsciência no plano espacial. Não se encontraram evidências de desenvolvimento da autoconsciência dos 12 aos 16 anos de idade entre os adolescentes investigados. Adolescentes de escolas públicas apresentaram níveis mais elevados de autofoco e as meninas se apresentaram mais autoconscientes. Os adolescentes apresentaram desenvolvimento das habilidades de raciocínio e de visualização, de forma que alunos de escolas privadas demonstraram níveis mais elevados de desenvolvimento cognitivo. Os achados apontam para trajetórias de desenvolvimento diferenciadas entre cognição e autofoco, indicando a necessidade de investigações mais amplas da autoconsciência na adolescência trazendo questões à corroboração empírica do Modelo Neurocognitivo e Socioecológico de Morin (2004). Palavras-chave: autoconsciência; habilidades de raciocínio; adolescentes. Contato: Renê Marcelino da Silva Junior - Mestre em Psicologia Cognitiva - Professor de Ciências vinculado à Secretaria de Educação, Esportes, Juventude, Ciência 47 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento e Tecnologia do Município de Caruaru-PE - Membro do Laboratório de Estudos da Autoconsciência, Consciência, Cognição de Alta Ordem e Self (LACCOS), UFPE, E-mail: [email protected]. MRC - 1004 Auditório 411 - 16h EPISTEMOLOGIA E DESENVOLVIMENTO HUMANO Esta mesa discutirá a Epistemologia Genética em suas inter-relações com temas atuais que fazem corpo de algumas teorias ou doutrinas. Sávio Queiroz pretende discutir concepções de sujeito decorrentes dos conhecimentos proporcionados pela evolução da Psicologia Genética e da Psicanálise baseando-se nos estudos epistemológicos sobre o que cada disciplina passou a se ocupar, analisando novas perspectivas que se apresentam em função da reivindicação das próprias doutrinas psicológicas, muito notadamente a psicologia da moralidade, a qual precisa compreender e intervir exatamente sobre o mal-estar denunciado por todo sujeito. Adrián Montoya analisará a contribuição da Epistemologia Genética para a Psicologia do Desenvolvimento destacando a novidade que apresenta o estudo do desenvolvimento do pensamento individual bem como os seus desdobramentos na pesquisa psicológica e sociológica. Suas considerações levam em conta uma análise dialética na investigação psicológica que permitiu redefinições dos processos e mecanismos de desenvolvimento, das relações entre as funções psicológicas e, sobretudo, das relações entre indivíduo e sociedade. Ricardo Tassinari discutirá sobre o que temos chamado de “Modelo do Sistema de Esquemas de Ações e Operações sobre Símbolos e Signos”, em Epistemologia e Psicologia Genéticas, considerando a distinção, estabelecida pelo epistemólogo Gilles-Gaston Granger, entre conhecimento científico e conhecimento filosófico. A elaboração de modelos e teorias que visem tanto explicar quanto atribuir significação às nossas experiências é essencial à constituição de nossa compreensão do mundo que nos cerca e de nós próprios. EPISTEMOLOGIA GENÉTICA: DOS LIMITES DO SUJEITO PSICOLÓGICO CONSTRUTIVISTA À SUA EXPANSÃO COMO SUJEITO DO INCONSCIENTE Sávio Silveira de Queiroz, UFES, E-mail: [email protected] Este trabalho objetiva estudar o lugar e as concepções de sujeito decorrentes dos conhecimentos proporciona3 PIAGET, J. Lógica e conhecimento científico, 1967. MESAS REDONDAS dos pela evolução da Psicologia Genética e da Psicanálise. Pinheiro e Queiroz (2003) tomaram como fonte principal o livro “Lógica e conhecimento científico” 3 de Jean Piaget e abordaram alguns aspectos da Epistemologia Científica examinando o papel fundamental do sujeito nos métodos genéticos. Piaget (1967) sistematiza suas próprias reflexões e as de outros cientistas e filósofos contemporâneos sobre ‘o que é o conhecimento’. Logicamente o faz após longo desenvolvimento das pesquisas que efetua com crianças, mas imaginemos que o destaque que faz em Aristóteles seja o provável traçado inicial de suas preocupações nessa obra de 1967: “O que é primeiro na ordem da gênese é ultimo na ordem da análise”. Piaget destaca dois grandes grupos de métodos para estudar o conhecimento: 1) os métodos apriorísticos ou essencialmente reflexivos; 2) os métodos que consideram que os conhecimentos possuem modos de estruturação imprevisíveis, múltiplos e renováveis - cujas análises somente seriam possíveis sobre resultados ou durante a execução dos procedimentos de determinada ação. Ainda existem questões próprias da epistemologia sobre as quais se exige uma permanente reflexão para a tomada desse caminho: as estruturas são adquiridas pela experiência empírica do sujeito e, dessa forma, são abstraídas do objeto, ou o são pelo papel ativo do sujeito? Em caso da opção por esta última, a ação se dá apenas por imitação e cópia ou implica reorganizações que atuam sobre o objeto (adjunções) dando-lhe características outras? Essas adjunções deformam o objeto a ser conhecido em decorrência da atuação de fatores relacionados com a subjetividade egocêntrica? De modo mais clássico, a Lógica estuda as condições de verdade no âmbito do que ocorre entre sujeito e objeto numa relação de conhecimento. Pelo lado do sujeito, ocorrem representações de atividades que implicam em enunciados (juízos) sobre objetos. Esses juízos comportam estruturas (formas) que estão presentes em todas as relações de conhecimento e, assim, promovem as interações entre sujeito e objeto. Mas pertenceriam tais estruturas ao sujeito, ao objeto, a ambos ou apenas à relação entre os dois? Seria possível ainda que essas estruturas nada tenham a ver com tal relação? Piaget discutirá a inserção da Psicologia Genética no reino das ciências contemporâneas e sua classificação como método da epistemologia exatamente no interior dessa última concepção, verificando a parte que cabe ao sujeito do conhecimento quando examina as três condições necessárias a toda epistemologia científica. Obviamente não se encerram em Piaget as considerações sobre o sujeito nos métodos genéticos. Ferreira (2001 apud Oliveira, 2010) “indica que o que Freud chama de método genético ao tratar da forma como deveria organizar e expor os seus Estudos sobre a Histeria não parece ter dissonâncias com o que Piaget entende por epistemologia genética” (p. 139). Freud identifica a construção das manifestações 48 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento inconscientes na história pessoal do sujeito. Lembramos que a psicanálise contraria a ideia de um sujeito da verdade, aquele que com a razão encontra a origem de uma gênese, preferindo adotar o sujeito em sua divisão, não sendo representado por uma unidade racional resultante de seu conhecimento (Oliveira, 2010). Schimith (2013) estuda a vergonha considerando as perspectivas da psicologia da moralidade e da psicanálise. Citando Cabas (2009) afirma que o conceito de sujeito dentro da teoria psicanalítica sofreu transformações ao longo de tempo. Freud, embora nunca tenha se dedicado à elaboração de um conceito sobre o sujeito, trouxe à tona o sujeito estruturado a partir do inconsciente, tal como sistematizado por Lacan. Enfim, baseando-se nos estudos epistemológicos cada disciplina passa a se ocupar fortemente dos estatutos do sujeito. Para nosso contexto, trata-se de analisar nessa mesa-redonda novas perspectivas que se apresentam em função da reivindicação das próprias doutrinas psicológicas, muito notadamente a psicologia da moralidade, a qual precisa compreender e intervir exatamente sobre o mal-estar denunciado por todo sujeito. Acreditamos que a segurança fundamental para discutir tais intersecções ou dissidências reside na solidez da análise epistemológica possível para cada uma das disciplinas que resolvamos abordar. CONTRIBUIÇÕES DA EPISTEMOLOGIA GENÉTICA PARA A PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO Adrian Oscar Dongo Montoya, UNESP, E-mail: [email protected] Este trabalho se propõe analisar a contribuição da Epistemologia Genética para a Psicologia do Desenvolvimento. Para isso, destacaremos a novidade que apresenta o estudo do desenvolvimento do pensamento individual bem como os seus desdobramentos na pesquisa psicológica e sociológica. Postulamos que a grande conquista da Epistemologia Genética sobre o desenvolvimento individual é ter constatado que as operações do espírito derivam da ação e do esquematismo sensório-motor, mas, para se constituir, exigem uma descentração gradual em relação às formas iniciais de representação, as quais são fenomênicas e egocêntricas. Nessa perspectiva, portanto, o progresso do conhecimento individual não consiste apenas numa integração linear e simples dos esquemas iniciais nos esquemas ulteriores, mas numa inversão essencial de sentido, que retira a hegemonia do ponto de vista próprio para subordiná-lo à reciprocidade de todos os pontos de vista possíveis e à relatividade inerente dos sistemas de composição operatórios. Em tal sentido, os MESAS REDONDAS principais momentos da construção é a ação prática, o pensamento fenomênico e egocêntrico, e o pensamento operatório. Essa conquista, que exige uma análise dialética na investigação psicológica, permitiu redefinições dos processos e mecanismos de desenvolvimento, das relações entre as funções psicológicas e, sobretudo, das relações entre indivíduo e sociedade. TEORIAS CIENTÍFICAS E TEORIAS FILOSÓFICAS: SOBRE NOSSA COMPREENSÃO DO MUNDO QUE NOS CERCA E DE NÓS PRÓPRIOS Ricardo Pereira Tassinari, UNESP, E-mail: [email protected] Como são possíveis os diversos sistemas científicos e filosóficos? Em nossa comunicação, discutiremos tal questão a partir do que temos chamado de “Modelo do Sistema de Esquemas de Ações e Operações sobre Símbolos e Signos”, em Epistemologia e Psicologia Genéticas, e da distinção estabelecida pelo epistemólogo Gilles-Gaston Granger, entre conhecimento científico e conhecimento filosófico. A elaboração de modelos e teorias que visem tanto explicar quanto atribuir significação às nossas experiências é essencial à constituição de nossa compreensão do mundo que nos cerca e de nós próprios. Um desses modelos, baseados nos resultados teóricos e experimentais das Epistemologia e Psicologia Genéticas é o que temos chamado de “Modelo do Sistema de Esquemas de Ações e Operações sobre Símbolos e Signos” segundo o qual tal compreensão do mundo que nos cerca e de nós próprios é mediada pela construção de sistemas de operações internas sobre símbolos (imaginação) e signos (modelos e teorias). Entretanto, no caso da elaboração de modelos e teorias, existe, segundo Granger, uma distinção essencial: na ciência da empiria, temos a produção de conceitos dentro de modelos que podem ser submetidos a um processo de verificação experimental; na Filosofia, temos a produção de metaconceitos (que se aplicam a objetos, conceitos e aos próprios metaconceitos) que permitem ressignificar o vivido, mas que não são passíveis de uma completa verificação experimental. Nesse sentido, argumentaremos a favor da importância de se ter, em ciências humanas, por um lado, a busca de construção de modelos, em vista à constituição de um conhecimento comum, e, por outro, a constituição de visões filosóficas e do respeito intelectual e epistemológico entre elas, com vista a permitir as diversas visões possíveis a respeito da realidade que nos cerca e de nós próprios. 49 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento MRC - 1005 Auditório 412 - 16h DESENVOLVIMENTO SOCIOCOGNITIVO E DA LINGUAGEM Fabíola de S. Braz Aquino, UFPB, E-mail: [email protected] Maria Virgínia Machado Dazzani, UFBA, E-mail: [email protected] Zena Eisenberg, PUC-Rio, E-mail: [email protected] Alina Galvão Spinillo, UFPE, E-mail: [email protected] No âmbito dos estudos sobre o desenvolvimento humano, as habilidades sociocognitivas e da linguagem têm despertado o interesse de pesquisadores que defendem uma relação estreita entre o desenvolvimento de determinadas habilidades infantis e seu impacto no processo de escolarização e na construção de conhecimentos típicos de uma sociedade letrada e contemporânea. Circunscritas nesse debate, as proponentes dessa mesa apresentam reflexões e relatos de pesquisa que englobam temáticas referentes ao “papel do signo e sua relação com o desenvolvimento; ao desenvolvimento da compreensão de textos em crianças a partir da tomada de consciência do processo inferencial”, e à questão do tempo no ensino de matemática e de história. Propõe-se que a exposição inicie com as articulações apresentadas por Dazzani que resgata a relação do signo com o desenvolvimento na perspectiva da Psicologia Cultural, a partir da contribuição de Jaan Valsiner. Em sua exposição partirá de pressupostos desse autor que exploram o papel dos processos de mediação semiótica e da cultura como coconstitutivos da pessoa ao longo do tempo. Resgata dele a noção de cultura como um processo que possibilita aos seres humanos, por meio do uso dos signos, sintetizar novos sentidos e significados, tanto no domínio reflexivo quanto afetivo. Será explicitado de que forma a pessoa cria uma cultura pessoal no cenário intersubjetivo e suas repercussões para o desenvolvimento humano. Em seguida e no fluxo dessa discussão, Eisenberg abordará as noções de tempo que, segundo afirma, permeiam tanto o desenvolvimento sociocognitivo como o desenvolvimento da linguagem na criança. Segundo concebe, as noções temporais são, em grande parte, conceitos arbitrários e organizados culturalmente, constituindo-se em artefatos sociais e culturais presentes nas interações sociais e linguísticas. Discute a forma como os conceitos temporais estão sendo explorados nos livros didáticos de história e matemática e as práticas usadas em sala de aula por professoras do Ensino Fundamental I. Pontua a relevância das questões temporais, essenciais para a compreensão de conteúdos de história e no ensino de matemática, e defende que para além do âmbito escolar, a aprendizagem de conceitos temporais é condição valiosa para a inserção MESAS REDONDAS da criança na sociedade contemporânea, organizada e regida pelo tempo. A exposição de Spinillo abordará o desenvolvimento da compreensão de textos em crianças, uma habilidade complexa, multifacetada, que engloba as dimensões social, linguística e cognitiva, sendo considerada fundamental para os indivíduos de uma sociedade letrada. Por considerar que uma das principais dificuldades enfrentadas por crianças na tentativa de compreender textos repousa no estabelecimento de inferências, defende como necessário investigar a compreensão de textos, analisando sua relação com a metacognição a partir da tomada de consciência acerca do processo inferencial. Os resultados das intervenções realizadas com crianças do Ensino Fundamental de escolas públicas e com dificuldades de compreensão textual mostraram que a intervenção favoreceu uma compreensão mais global do texto em relação à capacidade de identificar as principais ideias nele veiculadas, bem como a capacidade de estabelecer inferências e explicitar as informações intra e extratextuais que lhes serviam de base. Para a autora, esses resultados abrem um debate acerca das relações existentes entre compreensão de texto e metacognição, no que concerne à tomada de consciência do processo inferencial, das relações entre aprendizagem e metacognição. Defende a compreensão de textos como um objeto de ensino e lança um desafio para educadores e psicólogos cognitivos. SIGNO E DESENVOLVIMENTO: UMA PERSPECTIVA DA PSICOLOGIA CULTURAL Maria Virgínia Machado Dazzani (Instituto de Psicologia/UFBA) Este trabalho abordará o tema do desenvolvimento à luz das recentes discussões da Psicologia Cultural do Desenvolvimento, sobretudo a partir da contribuição de Jaan Valsiner. A Psicologia Cultural do Desenvolvimento aborda o desenvolvimento humano na sua constituição simultaneamente cultural, histórica, social e psicológica (Valsiner, 2000, 2006, 2007, 2010, 2012). Esta é uma abordagem teórica recente na Psicologia que se beneficia da virada linguística nas Ciências Humanas e Sociais, e especialmente, desde os desdobramentos recentes da Psicologia HistóricoCultural e, nesse sentido, explora o papel dos processos de mediação semiótica através dos quais a pessoa e a cultura se coconstituem ao longo do tempo. Para a Psicologia Cultural do Desenvolvimento a cultura não é compreendida como um aspecto externo à pessoa, mas como mediação intrapsicológica e como processo semiótico que concorre para a constituição do campo psicológico ou subjetivo responsável pela autorregulação da ação criativa do indivíduo (Gillespie & Zittoun, 2010; Valsiner, 2007). Para Valsiner 50 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento (2007) a noção de cultura se refere ao processo que possibilita aos seres humanos, através do uso dos signos, sintetizar novos sentidos e significados, tanto no domínio reflexivo (das generalizações a partir dos significados das palavras) quanto afetivo. A pessoa cria uma cultura pessoal através da qual significa, interpreta, negocia e transforma suas posições e papéis no cenário intersubjetivo. Palavras-chave: signo; desenvolvimento; cultura; semiótica. A QUESTÃO DO TEMPO NO ENSINO DE MATEMÁTICA E DE HISTÓRIA Zena Eisenberg - PUC-Rio Financiamento: Faperj As noções de tempo permeiam tanto o desenvolvimento sociocognitivo como da linguagem na criança. As noções temporais são aprendidas nas interações da criança com o mundo a sua volta, com seus pares e adultos. Sendo uma grande parte dos conceitos arbitrários e organizados na nossa cultura de forma específica, tanto na linguagem como em artefatos culturais (relógio e calendário, por exemplo), sua aprendizagem só pode acontecer nas interações sociais e linguísticas. Em investigações recentes (2010 e 2013) encontramos um descompasso entre os conceitos temporais presentes nos livros didáticos de história e matemática recomendados pelo PNLD e as práticas usadas em sala de aula por professoras do Ensino Fundamental I. Assim também, o conhecimento temporal das crianças reflete um trabalho tímido com relação ao tempo nas escolas. Tendo em vista o cenário relatado, esta apresentação focará nos resultados das pesquisas citadas e na argumentação da importância de um trabalho sistemático e direcionado para questões temporais que servirão de base para a compreensão de conteúdos de história. Nessa mesma linha, defenderei o trabalho de conceitos temporais no ensino de matemática, com vistas a criar um alicerce para o ensino de História. Fora do âmbito escolar, a aprendizagem de conceitos temporais é condição valiosa para a inserção da criança na sociedade contemporânea, que é não somente organizada mas, ouso dizer, regida pelo tempo. DESENVOLVENDO A COMPREENSÃO DE TEXTOS EM CRIANÇAS A PARTIR DA TOMADA DE CONSCIÊNCIA DO PROCESSO INFERENCIAL Alina Galvão Spinillo - UFPE CNPq MESAS REDONDAS Há muito a compreensão de textos tem despertado o interesse de estudiosos de diferentes campos do conhecimento, seja pelo desafio de examinar fenômeno tão complexo e multifacetado, seja por sua relevância na vida dos indivíduos. Na realidade, compreender textos é uma atividade complexa e multifacetada que envolve diferentes dimensões: social, linguística e cognitiva (ver Spinillo, 2013) e que tem forte impacto na vida dos indivíduos quer em termos acadêmicos e profissionais, quer em termos de sua atuação na sociedade de maneira mais ampla. Do ponto de vista teórico, é importante conhecer como se processa a compreensão de textos (Kintsch, 1998) e identificar os fatores que a determinam (Oakhill & Cain, 2004; Oakhill & Yuill, 1996). Do ponto de vista aplicado, é crucial desenvolver nos indivíduos a habilidade de compreender textos para que possam atuar de maneira bem-sucedida em uma sociedade letrada em que o texto é a unidade de comunicação que permeia grande parte das interações entre as pessoas e a forma como elas atuam e se organizam. Uma das principais dificuldades que as crianças enfrentam na tentativa de compreender textos reside no estabelecimento de inferências (Cain & Oakhill, 2004; Vidal-Abarca & Rico, 2003). As inferências são consideradas o cerne do processo de compreensão textual (e.g., Coscarelli, 2003; Graesser, Swamer, Baggett & Sell, 1996; King, 2007; Kintsch, 1998; Marcuschi, 2008), pois nem tudo está explicitado no texto, tendo o leitor que inferir muitas das informações por ele veiculadas de forma implícita. O leitor proficiente é capaz de fazer uma leitura profunda do texto, indo além de uma compreensão rasa baseada apenas nas informações literais explicitamente mencionadas, construindo significados derivados de informações intratextuais e de seu conhecimento de mundo. Diante disso, cabe perguntar: Como desenvolver a compreensão de textos em crianças para termos os leitores que queremos em nossa sociedade? A literatura documenta estudos de intervenção realizados individualmente com crianças com dificuldades de compreensão de textos em que habilidades de decodificação, domínio de vocabulário, capacidade de memória de trabalho e habilidades de monitoramento, por exemplo, são trabalhadas de modo a terem um efeito positivo sobre a compreensão de textos (Coelho & Correa, 2010; Fuchs & Fuchs, 2007; Yuill & Oakhill, 1991). No entanto, segundo nossa análise, é necessário investigar outras facetas da compreensão de textos, analisando sua relação com a metacognição a partir da tomada de consciência acerca do processo inferencial. Além disso, parece ser igualmente necessário realizar estudos de intervenção que sejam conduzidos de forma coletiva em sala de aula. A partir dessas considerações, são apresentados e discutidos resultados específicos de duas investigações em que crianças com dificuldades de compreensão de textos são inseridas em situações de 51 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento leitura que requerem a tomada de consciência acerca de seu processo inferencial. Os participantes, em ambas as pesquisas, eram crianças de baixa renda, alunas do Ensino Fundamental de escolas públicas e com dificuldades de compreensão textual, segundo sondagem prévia realizada. Em uma pesquisa, a tomada de consciência era feita de forma individual, solicitando-se que a criança, a partir da leitura interrompida de uma história, respondesse perguntas inferenciais sobre o texto e em seguida explicasse as bases geradoras de suas inferências (Spinillo & Hodges, no prelo). Comparadas a outras situações de leitura, esta situação mostrou-se facilitadora da compreensão. Em uma segunda pesquisa, a tomada de consciência era feita de forma coletiva em sala de aula, solicitando-se que os alunos, em pequenos grupos, tomassem tanto o texto como seu processo inferencial como objetos de reflexão e análise (Spinillo, 2008). De modo geral, os dados mostraram que a intervenção facilitou a compreensão, auxiliando na superação das dificuldades identificadas pelos participantes antes da intervenção em sala de aula. A intervenção favoreceu uma compreensão mais global do texto em relação à capacidade de identificar as principais ideias nele veiculadas; bem como em relação à capacidade de estabelecer inferências e de explicitar as informações intra e extratextuais que lhes serviam de base. Tomados de forma conjunta, os resultados de ambas as investigações colocam em discussão as relações existentes entre compreensão de texto e metacognição, no que concerne à tomada de consciência do processo inferencial. Esta é uma discussão teórica relevante e atual que remete a uma segunda questão, de natureza aplicada, que coloca em discussão as relações entre aprendizagem e metacognição. Os dados mostram que leitores, sobretudo aqueles com dificuldades de compreensão, poderiam se beneficiar de situações de aprendizagem que favorecessem a tomada de consciência acerca das bases geradoras de suas inferências. Conclui-se que é possível desenvolver a compreensão de textos em crianças com dificuldades nesta área, seja a partir de situações individuais de leitura seja a partir de um conjunto de atividades coletivamente realizadas em sala de aula que favoreçam o estabelecimento de inferências. O cerne das discussões propostas nesta apresentação recai sobre o fato de que a compreensão de textos precisa ser considerada um objeto de ensino que necessita ser tratado didaticamente, como enfatizam Colomer e Camps (2002) e Viana e Martins (2009). Na perspectiva teórica aqui adotada, as inferências são mais do que um fator responsável pela compreensão textual, como o é a memória ou a capacidade de decodificar, por exemplo, mas como a compreensão propriamente dita. Assim, qualquer proposta didática que vise desenvolver leitores proficientes necessariamente tem que colocar as inferências como o centro da ação pedagógica. Conferir um tratamento didá- MESAS REDONDAS tico à compreensão textual não é tarefa fácil, mas é, sem dúvida, um desafio possível que merece ser assumido de forma interdisciplinar por educadores e psicólogos cognitivos que busquem desenvolver esta habilidade. Palavras-chave: compreensão de textos; inferências; metacognição. MRC-1006 Sala 402 - 16h Ecologia do desenvolvimento Coordenadora: Ângela Elizabeth Lapa Coêlho, UNIPÊ, E-mail: [email protected] Esta mesa-redonda busca articular pressupostos teóricos sobre ecologia e desenvolvimento humano com as possibilidades metodológicas para a compreensão do processo de desenvolvimento. Inicialmente, será apresentado um esboço sobre as implicações envolvidas na apropriação de uma abordagem ecológica sobre o desenvolvimento humano, discutindo os comprometimentos envolvidos no nível da transdisciplinaridade, do privilégio do estudo relacional, da necessidade de contextualização e de conexões e de posturas éticas e políticas implicadas. O segundo trabalho pauta-se no reconhecimento de que, para entender o processo do desenvolvimento, é necessário utilizar um método que coloque a vida quotidiana no cerne dos estudos da Psicologia e que busque obter claridade na compreensão dos fenômenos, a partir da perspectiva dos participantes da pesquisa. Nesse contexto, serão apresentadas as contribuições do trabalho precursor de dois pioneiros, Martha Muchow e Roger Barker, cujos estudos foram desenvolvidos ainda quando as áreas da Psicologia Ecológica e da Psicologia Ambiental estavam sendo geradas. O terceiro trabalho aborda a compreensão sobre o papel desempenhado pelo ambiente sob as mudanças que ocorrem ao longo da vida das pessoas. Reflete sobre os modelos que têm sido desenvolvidos e as pesquisas empíricas realizadas com intuito de revelar o poder das características contextuais sobre o desenvolvimento humano. Também argumenta que o reconhecimento da importância do contexto coloca em questão a validade ecológica de dados obtidos por meio de instrumentos padronizados, construídos em contextos cujas características se distanciam daquelas que marcam alguns ambientes. IMPLICAÇÕES DE UMA ABORDAGEM ECOLÓGICA DO DESENVOLVIMENTO Fernando Augusto Ramos Pontes, Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal 52 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento do Pará (NTPC- UFPA); E-mail: [email protected] Bolsista produtividade científica CNPq Pretende-se discutir nessa apresentação um esboço inicial das implicações envolvidas na apropriação de uma abordagem ecológica sobre o desenvolvimento humano. É evidente que a exaustão da temática proposta encontra-se além dos limites de texto e de tempo envolvido para esta apresentação, o que implica necessariamente na utilização de somente alguns recortes, desenvolvimentos posteriores são pretendidos de serem desenvolvidos em outras oportunidades. Procurar-se-á discutir os comprometimentos envolvidos no nível da transdisciplinaridade, do privilégio do estudo relacional, da necessidade de contextualização e de infinitas conexões e de posturas éticas e políticas implicadas. Se considerarmos que, de uma forma inicial, o conceito de desenvolvimento se refere a mudanças de padrão comportamental decorrido ao longo da ontogênese, essa definição, mesmo que com suas deficiências implícitas, é capaz de aglutinar diversas dimensões de desenvolvimento, tais como a cognitiva, emocional e social, compatíveis por sua vez, com os diversos sistemas teóricos, e seus diferentes enfoques e predileções de estudo. Desse modo, dos dois termos a serem associados, o de ecologia é o que definirá as principais implicações aqui a serem consideradas, e é nesse sentido que pretendo estender minha exposição. A palavra Ecologia é proveniente do grego oikos (lar), refere-se ao estudo do lar Terra. Mais precisamente, poderíamos dizer em conjunto com Capra (1996), que é o estudo das relações que interligam todos os membros do lar Terra. Este termo foi introduzido em 1866, pelo biólogo alemão Ernst Haeckel, que o definiu como a ciência das relações entre o organismo e o mundo externo circunvizinho. Por isso, o primeiro parâmetro e consequentemente implicação a ser estabelecida é que o termo Ecologia não se restringe ao escopo de somente uma disciplina. De fato, o conceito de ecologia é transdisciplinar e aqui defendemos que assume um caráter paradigmático, no sentido que reflete, como estabelecido por Morin (2001), um “conjunto das relações fundamentais de associação e/ou de oposição entre um número restrito de noções-chave, relações essas que vão comandarcontrolar todos os pensamentos, todos os discursos, todas as teorias” (p. 258), ou seja, funcionam como filtros que orientam o foco de nossa atenção e estruturam nossa visão de mundo. Esse parâmetro-implicação estabelece que a perspectiva transdisciplinar é inerente a essa perspectiva. Mais detalhes decorrentes dessa implicação serão discutidos mais abaixo em termos das conexões estabelecidas. Essa visão paradigmática que se concretiza em uma perspectiva da ecologia enquanto disciplina é a que as coisas não possuem propriedades intrínsecas, todas as propriedades fluem de suas relações. Isso é entender as MESAS REDONDAS propriedades das partes a partir da dinâmica do todo, pois essas relações são relações dinâmicas, a única maneira de entender a parte é entender a sua relação com o todo. Desse modo, uma segunda implicação é o foco nas relações, foco esse que deve ser entendido tanto no seu sentido amplo, ou seja, relação entre fenômenos a serem estudados, tanto quanto no seu sentido estrito, enquanto relacionamento interpessoal. Em um caso como em outro a unidade de análise está dirigida para o que ocorre entre. Desse modo, para fins de estudo do desenvolvimento, o relacionamento interpessoal se torna um objeto privilegiado. Outra decorrência do privilégio do relacionamento interpessoal no estudo do desenvolvimento está em assumir que unidade mínima de análise é a díade. Essa determinação não implica em negligenciar a existência das características do sujeito como um fenômeno a ser descartado, mas que tais características devem ser elas próprias contextualizadas, ou seja, tais características só podem ser concebidas enquanto resultantes de relações de propriedades do sujeito (por ex., neurofisiológicas ou em termos conceituais, cognitivas e afetivas) reveladas dentro de contextos relacionais, tal como o diádico, institucional ou cultural. O foco nas relações implica também em estabelecer conexões, ou, em outras palavras, contextualizar. As conexões podem ser estabelecidas entre sistemas menores, como neurofisiológico, com maiores, por exemplo, o de uma relação mãe-criança, uma relação maior em que esta relação mãe-criança se situa (sistema familiar) e uma rede de relações em que esta família compartilha (rede de apoio ou vizinhança) ou uma cultura. É evidente que essas conexões perpassam por conceitos de diferentes disciplinas, da química à fisiologia, da fisiologia à neuro, da neuro à psicologia, da psicologia à sociologia, e assim por diante. Desse modo, a perspectiva ecológica implica em perpassar por um conjunto de barreiras de disciplinas artificialmente delimitadas, sobrepujar territórios disciplinares, pois os fenômenos do desenvolvimento em uma perspectiva ecológica não são propriedades de uma disciplina particular. Nesse sentido, seria mais adequado falar em ciência do desenvolvimento humano como um espectro de um conjunto de disciplinas relacionadas. Por final a última implicação que pretendo abordar refere-se à mais complexa e difícil de um cientista optar, pois no seu treino fracionado do conhecimento foi acostumado com as clássicas separações entre conhecimento teórico e prático, entre a oposição da ciência básica com a aplicada. No limite, assumir uma perspectiva ecológica sobre o desenvolvimento pressupõe suplantar os limites estanques entre a academia e a vida cotidiana. Se pensarmos no conjunto de redes de conexões envolvidas em qualquer objeto de estudo, no último extremo o cientista é forçado a assumir uma postura ética e política. De modo que não basta assumir uma postura ecológica no micromundo da 53 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento academia sem refletir sobre as conexões que estão implicadas no seu conhecimento produzido. No limite em um elo que define responsabilidades sobre o seu fazer científico. É neste sentido que o elo da cadeia criada se volta recursivamente sobre o seu objeto de estudo e fecha-se um ciclo que realimenta a opção por um objeto e problema de investigação. Neste caminho, não há mais espaço para a produção de um saber asséptico, para uma ciência neutra e o cientista vê a sua ação científica contextualizada por opções que irremediavelmente tem de tomar. Palavras-chave: ecologia do desenvolvimento; perspectiva sistêmica; relação. AS CONTRIBUIÇÕES DE MARTHA MUCHOW E DE ROGER BARKER À ECOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO Isolda de Araújo Günther, Laboratório de Psicologia Ambiental, Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, (LPA/IP/UnB), E-mail: [email protected] Observações sistemáticas de crianças em contextos naturais fornecem registros detalhados sobre suas atividades e experiências, contribuem para fundamentar teorias e criam oportunidades para engajar as próprias crianças no processo de pesquisa. Nem sempre este pensamento foi prevalente na Psicologia do Desenvolvimento. Bronfenbrenner, ao desafiar as orientações dominantes nos anos setenta, descreveu a pesquisa sobre o desenvolvimento humano como sendo o estudo do comportamento estranho de crianças em situações estranhas, com adultos estranhos, pelo menor período de tempo (Bronfenbrenner, 1974). Este registro reconhece que, para entender o processo do desenvolvimento, é necessário utilizar um método que coloque a vida quotidiana no cerne dos estudos da psicologia e que busque obter claridade na compreensão dos fenômenos, a partir da perspectiva dos pesquisados. A ciência psicológica, enquanto ciência da vida, localizase entre as disciplinas biológicas, pois estuda a estrutura e o desenvolvimento dos organismos e as disciplinas das ciências sociais, cujas unidades de análise são os comportamentos molares de indivíduos ou de grupos de indivíduos, em seus diferentes contextos físicos e sociais. Uma grande preocupação nas ciências biológicas e sociais tem sido a natureza da interação organismo-ambiente, uma vez que esta interação dá apoio, influencia e determina tanto a extensão quanto os limites do viver. O termo genérico que define o estudo científico da interação organismo-ambiente é ecologia. Enquanto a ecologia é uma área da biologia, o termo ecologia humana diz respeito aos estudos realizados por geógrafos, sociólogos, psicólogos, MESAS REDONDAS concernentes aos padrões econômicos, sociais e culturais observados em indivíduos ou em grupos populacionais. Na Psicologia, verificou-se, nos últimos quinze anos, uma ênfase pronunciada no papel do chamado nicho ecológico na estrutura do comportamento. Antes desse período, quando as áreas da psicologia ecológica e da psicologia ambiental estavam sendo geradas, o trabalho precursor de dois pioneiros, Martha Muchow e Roger Barker, merece especial atenção. Martha Muchow (1892-1933) nasceu, viveu e morreu em Hamburgo, norte da Alemanha, em um período de mudanças radicais (Kurt Kreppner, in press). Foi professora da escola fundamental entre 1912 e 1919, cidadã politicamente engajada e arguta pesquisadora. Muchow foi aluna e colaboradora de William Stern e de Heinz Werner desde 1919, até sua morte. Seus interesses iniciais estavam relacionados à área da educação infantil, às ações fundamentadas nas proposições de Fridrich Fröbel, fundador do movimento dos jardins de infância, em Montessori, nos trabalhos desenvolvidos em Genebra por Claparède e pelo jovem Jean Piaget. Por meio de suas pesquisas Martha Muchow trouxe novos conhecimentos sobre como as condições do dia a dia das crianças impactam a trajetória de seu desenvolvimento. O programa de pesquisa que desenvolveu fez ver à Administração Escolar de Hamburg a premência de realizar uma reforma para adequar a escola às necessidades e habilidades dos seus estudantes. No seu livro Espaço de vida da criança urbana diferenciou três espaços de vida da criança e jovens: (1) o espaço de vida no qual a criança vive; (2) o espaço de vida que a criança percebe e experiencia; (3) o espaço de vida que a criança cria, se apropria. O conhecimento e o uso desse conhecimento, as atividades e as experiências das crianças filhas de trabalhadores em uma área de Hamburgo, previamente destinada a adultos, porém abandonada e reapropriada pelas crianças, bem como em escolas, em uma loja de departamento, em parques e outras áreas de recreação, entre outros ambientes urbanos, anteciparam teorias contemporâneas da psicologia do desenvolvimento, bem como temas, conceitos e métodos da psicologia ecológica e da psicologia ambiental. Muchow demonstrou, com rara habilidade, conhecimento teórico, criatividade na combinação de métodos e técnicas, opção pela interação com os participantes das suas pesquisas, contribuindo para ampliar o conhecimento sobre o desenvolvimento cognitivo e social de crianças e realizando um trabalho que se mostra, ainda hoje, após quase oitenta anos, inovador. Roger Barker (1903-1990) é identificado como o proponente do estudo da integração dos contextos físico e social, para estudar o comportamento humano. Defendeu a necessidade de observar os fenômenos complexos do comportamento que ocorrem em ambientes naturais, uma vez que, para ele, o comportamento é ligado ao ambiente físico e social, em um fluxo 54 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento contínuo. Iniciou na Universidade de Iowa, sob a influência de Kurt Lewin, uma linha de pesquisa para estudar o comportamento molar e o contexto ecológico no qual o comportamento se insere. Em 1947, ao se transferir para a Universidade de Kansas fundou, com Herbert Wright, a Midwest Psychological Field Station, em Oskaloosa, cidade com uma população de 715 pessoas, entre as quais 100 crianças. Em seu livro Ecological psychology: Concepts and methods for studying the environment of human behavior argumentou que seu interesse ia além das variáveis psicológicas, que comportamento e ambiente deveriam ser descritos e mensurados de maneira independente para que fosse possível entender a natureza da relação existente entre eles. Sugeriu o estudo da situação total, isto é, do ambiente ecológico, fenômeno que não pode ser estudado em termos do comportamento com o qual é relacionado, mas com as unidades ecológicas. As unidades ecológicas têm três características principais: 1) são autogeradas, ocorrem sem o feedback do investigador; 2) cada unidade tem um tempo e um espaço próprios; 3) os padrões internos são separados dos padrões externos. Barker denominou essas unidades ecológicas de behavior settings. Conceito inovador na psicologia, o termo enfatiza sua natureza ecocomportamental, pois se refere a um padrão característico de comportamento ligado a um local e a uma regularidade temporal e expressa a relação de interdependência comportamento-ambiente. Pinheiro (2011) salienta que a original formulação de Barker e colaboradores justifica o cuidado terminológico em disseminar o termo em sua grafia original, uma vez que as traduções para o português tendem a reafirmar a tradicional separação entre ambiente e comportamento. Martha Muchow e Roger Barker, em tempos e espaços próprios, lançaram as bases para o estudo da Ecologia do Desenvolvimento Humano. ESTUDOS DE DESENVOLVIMENTO EM CONTEXTO: ALGUMAS POSSIBILIDADES METODOLÓGICAS Simone Souza da Costa Silva, Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará (NTPC- UFPA), E-mail: [email protected] É consenso na literatura a compreensão sobre o papel desempenhado pelo ambiente sobre as mudanças que ocorrem ao longo da vida das pessoas. Modelos têm sido desenvolvidos, pesquisas empíricas realizadas com intuito de revelar o poder das características contextuais sobre o desenvolvimento humano. Todavia, o reconhecimento de sua importância coloca em questão a validade ecológica de dados obtidos através de instrumentos padroni- MESAS REDONDAS zados construídos em contextos cujas características se distanciam daquelas que marcam alguns ambientes. Para Bronfenbrenner, a validade ecológica de um dado conhecimento se refere ao quanto as suposições feitas pelos pesquisadores refletem a forma como os sujeitos experienciam determinado ambiente. Em geral, instrumentos padronizados são construídos em contextos urbanos onde o acesso a tecnologias faz parte da vida das pessoas. Portanto, pesquisas que se propõem a investigar o desenvolvimento em contextos pouco comuns se encontram diante do desafio de acessar a realidade de forma pertinente, sensível às suas peculiaridades. Neste sentido, nós do Laboratório de Ecologia do Desenvolvimento (LED) vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento temos acumulado nos últimos nove anos experiência em pesquisa em contextos diferenciados como, por exemplo, comunidades ribeirinhas. Em 2004 demos início à realização de um amplo projeto de pesquisa que dentre vários objetivos visava descrever a dinâmica das relações familiares, a relação família-escola, as brincadeiras infantis etc. Após algumas visitas no contexto da pesquisa, a equipe de investigação percebeu que seria necessário fazer algumas adaptações aos instrumentos que pretendia utilizar e para alguns objetivos seria necessário construir ferramentas que permitissem acessar os dados. Neste sentido, no presente trabalho serão apresentados dois instrumentos usados neste projeto de pesquisa, sendo um inventário de rotina (IR) e outro denominado de situações estruturadas (SE). O primeiro foi adaptado para este contexto a partir de uma versão inicial utilizada no contexto urbano. O segundo foi construído com o objetivo de descrever a dinâmica das relações familiares no contexto ribeirinho. Em sua primeira versão, que fora construída para investigar a rotina de moradores da periferia de Belém, o IR foi estruturado em 4 colunas referentes à hora, atividade, companhia e observação. A coluna de hora era constituída por intervalos de hora em hora. Todavia, ao ser aplicado no contexto ribeirinho foi verificado que seus habitantes não se organizavam em função da hora marcada em relógios. De fato, nas casas dos ribeirinhos não foi observada a presença de relógios nem tampouco seus moradores utilizavam relógios de pulso. Provavelmente este foi um dos motivos que inviabilizaram o uso do IR no formato usado no contexto urbano. Ademais, as pessoas que vivem às margens dos rios se referiam frequentemente aos sinais da natureza como marés, luas, posição do sol etc. para organizar suas atividades rotineiras. Assim, o IR sofreu adaptações em sua estrutura, sendo a coluna de horas constituída pelos turnos do dia, isto é, manhã, tarde, noite e madrugada; ou seja, a divisão em intervalos de hora em hora deixou de existir já que não fazia sentido nesse contexto da pesquisa. Em 2010, esta versão do IR foi utilizada para 55 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento investigar a rotina de populações ribeirinhas beneficiadas pelo Programa Bolsa-Família. Todavia, percebeu-se que o formato utilizado em 2004 não se adequava à população ora investigada uma vez que as comunidades se diferiam em suas características. O principal aspecto que as distinguia era a sua localização. A primeira comunidade estava localizada a 4 horas de viagem de barco enquanto a segunda se distanciava 15 minutos do centro de Belém. Isto repercutiu na noção de tempo dos participantes, uma vez que os moradores do segundo estudo regulavam sua rotina pela estrutura temporal presente no contexto urbano, haja vista que muitos trabalhavam na cidade, frequentavam as escolas, faziam compras etc. Assim, no segundo estudo optou-se por usar a versão inicial do IR que fora adaptado para a pesquisa de 2004. Outro instrumento que fora construído considerando as características contextuais foi as Situações Estruturadas que tinha por objetivo avaliar a dinâmica das relações de famílias moradoras em uma comunidade ribeirinha distante de Belém 4 horas de viagem. Após a investigação minuciosa acerca de instrumentos padronizados construídos com o objetivo de acessar as relações familiares, e de longos períodos de inserção no contexto ecológico, a equipe de pesquisa percebeu a inviabilidade dos instrumentos descritos na literatura no contexto de investigação. Em geral, estes instrumentos requerem a participação ativa dos sujeitos através da expressão verbal de aspectos subjetivos de seus relacionamentos. No entanto, foi verificado que os membros da comunidade tinham algumas dificuldades, por exemplo, para se expressar. Neste sentido foram planejadas situações estruturadas que embora fossem fictícias tratavam de questões do cotidiano da população ribeirinha, por exemplo, naufrágio, rituais religiosos etc. Além dessas situações fictícias, os participantes eram orientados a realizar uma atividade muito comum, dominada por todas as pessoas moradoras da comunidade, isto é, manusear o miriti. O miriti é uma palmeira típica da região e os ribeirinhos se utilizam desta para confeccionar utensílios domésticos como cestos, peneiras etc., além de brinquedos, acessórios etc. Esta situação era filmada e posteriormente analisada identificando os padrões de cooperação e conflito, intimidade e distanciamento entre os membros. As especificidades contextuais acarretam a necessidade de adaptações e produção de instrumentos sensíveis aos diferentes modos de se viver. De fato, a sensibilidade do pesquisador a estas peculiaridades permite a construção de um conhecimento com sentido, revelador de diferentes formas de se desenvolver. Ignorar estas especificidades implica na desconstrução uma vez que gera uma informação inválida sobre a vida das pessoas e seu desenvolvimento. Palavras-chave: ribeirinhos; famílias; rotinas. MESAS REDONDAS MR-2489 Sala401 - 16h MENTE, REFLEXIVIDADE E DESENVOLVIMENTO: METODOLOGIAS FENOMENAIS NA PESQUISA EM DESENVOLVIMENTO COGNITIVO POSSIBILIDADES E LIMITES A proposta da presente mesa-redonda é discutir criticamente a partir de trabalhos em curso dos autores o estatuto nas ciências cognitivas em geral, e na psicologia cognitiva, subárea dos estudos do desenvolvimento cognitivo, em particular, das metodologias fenomenais ou em 1ª pessoa em termos de seu alcance explanatório na pesquisa concreta das relações entre mente, reflexividade do self (autoconconsciência e autoconceito) e desenvolvimento. A pesquisa em experiência interna tem padecido de extremo ceticismo com a desqualificação progressiva na história da psicologia de procedimentos introspectivos para uma pesquisa válida em consciência, tendo-se afirmado a precariedade do acesso interno (Nisbett & Wilson, 1977), inadequação metodológica da introspecção (Monson & Hurlburt, 1993) e ausência de ontologia especial para eventos privados (Skinner, 1953), embora grande parte da força dos argumentos contra o uso de instrumentos em 1ª pessoa tenha sido perdida a partir de estudos metatéoricos e revisivos mais recentes (ver Hurlburt, 1993; Hurlburt & Heavey, 2001; Heavey & Hurlburt, 2008; Chalmers, 1996; Engelmann, 1997; Velmans, 2000; 2001; Stevens, 2000; Overgaard, Gallagher & Ramsøy, 2008). Resultados experimentais em psicologia e neurociências cognitivas sempre foram dependentes da validade dos métodos em 1ª pessoa (Jack & Roepstorff, 2002), os quais são ferramentas metodológicas centrais no estudo da consciência (Overgaard, Gallagher & Ramsøy, 2008) e estão aptos a gerar dados e resultados de confiança à pesquisa rigorosa em termos de validade, confiabilidade, replicabilidade e com validade ecológica (Ericsson & Simon, 1984; Hurlburt, Koch & Heavey, 2002; Nascimento, 2008; Uttl, Morin & Hamper, 2011). Um Consenso Emergente em torno de metodologias fenomenais salienta a necessidade de se desenvolver métodos em 1ª pessoa mais elaborados na pesquisa da consciência que aqueles usados nos últimos 50 anos e que levem em consideração a dupla ontologia do mental em termos de processamento representacional (domínio psicológico) e das vivências qualitativas supervenientes no processamento cognitivo (domínio fenomenal), segundo Chalmers (1996). Seguindo essa tendência nas ciências cognitivas de pesquisa de metodologias fenomenais que cubram os domínios psicológico e fenomenal da mente, no Trabalho 1 (Nascimento & Roazzi) discute-se o processo de validação de 56 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento instrumento fenomenal para investigação da fala interna em estados autoconscientes humanos na consciência de vigília norteado pelo aporte metateórico e técnicas estatísticas multivariadas da Teoria das Facetas num horizonte de triangulação de epistemologias, métodos e técnicas. O Trabalho 2 (Basílio, Roazzi & Nascimento) pretende refletir sobre as possibilidades de conjugação de uma epistemologia fenomenal no uso de técnicas de análise de conteúdo voltadas à compreensão das transformações no autoconceito de mulheres a partir da experiência do encarceramento. O Trabalho 3 (Golin & Nascimento) traz uma heurística reflexão sobre as possibilidades de pesquisa da experiência interna e processos autorreflexivos no horizonte do autismo numa perspectiva fenomenal. Por fim, no Trabalho 4 (Silva Junior, Nascimento & Roazzi) discute-se o aporte de instrumentos psicométricos fenomenais de autofoco e de visualização de imagens mentais no âmbito da pesquisa em desenvolvimento cognitivo de adolescentes. Pretende-se com a proposta discutir criticamente e propor critérios de qualificação de pesquisa cognitiva voltada às questões da reflexividade humana numa perspectiva cognitivo-fenomenológica em termos de suas possibilidades e limites. Palavras-chave: metodologias fenomenais; cognição; desenvolvimento. FALA INTERNA EM ESTADOS AUTOCONSCIENTES NA CONSCIÊNCIA DE VIGÍLIA: UM ESTUDO COGNITIVO FENOMENOLÓGICO COM BASE NA METODOLOGIA DAS FACETAS Alexsandro Medeiros do Nascimento, LACCOSUFPE, E-mail: [email protected] Antonio Roazzi - LACCOS, UFPE, E-mail: [email protected] Fala Interna representa um processo central em consciência e psicologia (Morin, 2009a;b). Estudos empíricos têm evidenciado que pelo menos ¼ da vida consciente de vigília é feita de pensamento verbal silencioso (Heavey & Hurlburt, 2008), adultos (96% dos participantes) reportam que eles às vezes falam em voz alta quando estão sozinhos (Winsler et al., 2006), fala autodirigida tem um papel crucial na regulação do pensamento e do comportamento (Fernyhough & Fradley, 2005), como também fala interna está frequentemente implicada em formas variadas de psicopatologia como esquizofrenia, ansiedade social e depressão (Allen et al., 2007). Em sendo um parâmetro central da cognição, sua importância à teoria psicológica não se coaduna com o relativo descaso e presença infrequente na literatura psicológica, havendo um descaso quanto a MESAS REDONDAS seu tratamento e investigação (Morin, 2009a). Nascimento (2008) recupera a dimensão experiencial da autoconsciência, e tem iniciado uma investigação sistemática de suas fenomenologias associadas, em diferentes estados da consciência, bem como subjacentes a diferentes dinâmicas de autofocalização, de natureza reflexiva e epistêmica ao self, ou de natureza ruminativa e associada a formas psicopatológicas, seguindo indicações de uma multidimensionalidade da autoconsciência, segundo Trapnell e Campbell (1999), e distintas mediações cognitivas por imagens mentais e autofala (Morin, 2005). O presente trabalho reporta o processo de validação de um instrumento fenomenal (em 1ª pessoa) para investigação da fenomenologia da fala interna em estados autoconscientes na consciência de vigília, na relação com as dinâmicas de autofocalização e religiosidade do self. Participaram da pesquisa 34 estudantes universitários de instituições de ensino superior públicas e privadas, os quais compuseram uma amostra de conveniência com um quantitativo ligeiramente superior de respondentes de sexo masculino (52.9%), com idade média de 29.6 anos (DP=8.77), oriundos das camadas de renda mediana, adeptos de alguma religião institucionalizada (67.6%) e de orientação religiosa cristã (39,1% de católicos e 39,1% de evangélicos), com filiação acadêmica a instituições de ensino superior privadas (79.4%). Os índices quantitativos foram colhidos com a Escala de Autoconsciência Situacional (EAS) e Escala de Religiosidade Global (ERG). O autorrelato da Mediação Cognitiva de Autoconsciência nos Estados da Consciência de Vigília (parâmetros comuns) e Incomuns (parâmetros modificados) foi colhido com uso da Entrevista Fenomenológico-Cognitiva dos Estados Autoconscientes (EFEA) de Nascimento (2008). EFEA constitui-se de um roteiro padronizado para investigação e descrição da fenomenologia autoconsciente e das mediações cognitivas associadas (imagens mentais, autofala), na relação a distintos parâmetros das consciências de Vigília (parâmetros comuns) e de Estados Incomuns (parâmetros modificados), avaliados em dois momentos respectivos segundo o estado da consciência em investigação, através de seus dois subroteiros respectivos - a Entrevista Fenomenológico-Cognitiva dos Estados Autoconscientes - Parâmetros da Vigília (EFEA-V) e Entrevista Fenomenológico-Cognitiva dos Estados Autoconscientes - Parâmetros dos Estados Incomuns (EFEA-I). No presente trabalho serão apresentados os resultados da fenomenologia dos estados autoconscientes mediados por fala interna na consciência de Vigília coletados através do EFEA-V, o qual é construído em torno de dois momentos específicos e sequenciados, nesta ordem: (1) Tarefa de Indução de Autoconsciência, onde a partir de uma instrução específica induz-se um estado de autofocalização direcionado à fonte de autoinformação cognitiva do self (ver Morin, 2005), e, em segui- 57 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento da, (2) Entrevista em Profundidade, com apoio no roteiro de orientação cognitivo-fenomenológica, com o objetivo de exploração e descrição exaustiva da fenomenologia da experiência autoconsciente desencadeada na tarefa e das mediações cognitivas associadas (imagens mentais e autofala) relacionadas aos parâmetros da consciência de vigília. EFEA foi encaminhada numa única seção, em ambiente tranquilo e sem estímulos autofocalizadores específicos como espelhos, videocâmeras, fotografias etc., as entrevistas durando em média 1,5 horas, e ocorrendo sempre antes da resposta ao protocolo de pesquisa contendo as demais medidas do estudo. As entrevistas foram audiogravadas com um dispositivo de MP3, e transcritas gerando um corpus qualitativo que foi submetido a procedimentos da Análise Categorial com parâmetro temático para levantamento dos conteúdos fenomenológicos dos estados autoconscientes. As escalas psicométricas foram analisadas por meio de procedimentos da Psicometria e Análise Fatorial, e o conjunto total de resultados das análises qualitativas e quantitativas foi triangulado com análises multivariadas tipo SSA (Análise de Estrutura de Similaridade, Guttman, 1968) triangulada com o método das variáveis externas enquanto pontos (Cohen & Amar,1999). Registrou-se a ocorrência de 140 momentos de autoverbalizações, com uma produção de 4.4 mediações de autoconsciência por fala interna em média por respondente. Através da Análise Categorial classificou-se os conteúdos da Autofala em Estado de Vigília em 16 agrupamentos semânticos distintos: C1.Autorregulação na Tarefa, C2.Propriocepções durante a Tarefa, C3.Self Físico, C4.Personalidade, C5.Valores Morais, C6.Self no Passado, C7.Personalidade no Futuro, C8.Selves Primários, C9.Selves Secundários, C10.Self Ocupacional, C11. Self Acadêmico, C12.Self Lazer, C13.Metafísica, C14.Objetos Pessoais, C15.Objetos Não Pessoais, e, C16.Natureza. A estrutura fenomenológica da projeção SSA das autoverbalizações levantadas revelou ser de tipo polar (ver Guttman, 1991), e o exame semântico segundo o critério da temática das autoverbalizações permitiu a nomeação das facetas em Privacidade, Publicidade, Conteúdo Situacional e Self Não Atual. Observou-se uma tendência de os indivíduos com mais altos escores de reflexão e religiosidade estarem relacionados a uma fenomenologia do self, enquanto os de menores escores de reflexão, ruminação e religiosidade se relacionarem a áreas não self da projeção. O conjunto dos achados levanta evidências da pervasiva presença da fala interna nos estados autoconscientes na vigília, de sua potência em cobrir toda a estrutura do self indo de áreas mais privadas (self privado), passando pelas relacionadas a aspectos abertos do self (self público), e alcançando áreas limítrofes (conteúdo situacional) e externas (não self) ao self. O estudo permitiu a validação de instrumento fenomenal (1ª pessoa) para inves- MESAS REDONDAS tigação das fenomenologias autoconscientes em língua portuguesa com apoio na metodologia das facetas, e uma reflexão sobre as possibilidades de investigação da fenomenologia da autoconsciência em distintos estados da consciência. Palavras-chave: autoconsciência; fala interna; teoria das facetas. Contato: Alexsandro Medeiros do Nascimento - Coordenador do Laboratório de Estudos da Autoconsciência, Consciência, Cognição de Alta Ordem e Self (LACCOS), Departamento de Psicologia, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - [email protected] A FENOMENOLOGIA DO AUTOCONCEITO DAS MULHERES PRESAS: UMA ANÁLISE DE CONTEÚDO Lysia Rachel Moreira Basílio - FAVIP - LACCOS, UFPE, E-mail: [email protected] Antonio Roazzi - LACCOS, UFPE, E-mail: [email protected] Alexsandro Medeiros do Nascimento, LACCOS, UFPE, E-mail: [email protected] O trabalho em pauta apresenta e discute as etapas de desenvolvimento de um método de análise qualitativo utilizado na investigação da fenomenologia do autoconceito de mulheres encarceradas. O autoconceito é composto por múltiplas dimensões do Self, que estão organizadas hierarquicamente, possuem uma mobilidade, em termos de posição mais ou menos central, em diferentes momentos da vida, e funcionam como esquemas da cognição (L’Écuyer, 1978; 1985a). É ainda um produto estrutural complexo da atividade reflexiva, permeável a mudanças promovidas por novas situações, transições e papéis sociais, ou seja, o autoconceito é, concomitantemente, estável e dinâmico (Demo, 1992). Na busca de elucidação das maneiras como a experiência da privação da liberdade impacta e estrutura o autoconceito das mulheres, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com cinco mulheres em situação de encarceramento. As perguntas do questionário utilizado foram elaboradas com base nas dimensões integradas do Self propostas por L’Écuyer (1978), que funcionaram como instrumental para emergência de conteúdos autoconscientes de linguagem submetidos à Análise de Conteúdo (Bardin, 1977; Moraes, 1999), sendo dada a liberdade de pronunciamento a respeito de qualquer tema que surgisse durante toda a entrevista, independentemente das perguntas realizadas pelo pesquisador. O questionário foi composto por quatorze perguntas abertas, elaboradas com o objetivo de acessar as múltiplas dimensões do Self: Self somático, Self 58 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento possessivo, imagem do Self, valor do Self, atividade do Self, Referência aos outros e Opinião dos outros sobre si (L’Écuyer, 1978). A Análise de Conteúdo da fenomenologia do autoconceito das mulheres foi realizada com filiação inicial à proposta de Bardin (1977), mas adotando-se, essencialmente, a interessante proposta de sistematização da técnica que pode ser encontrada em Moraes (1999). Tratou-se de uma análise qualitativa, construtiva ou heurística, pois embora os dados emergissem de certa estrutura da entrevista, categorias de análise puderam aparecer no decorrer da experiência autoconsciente. A análise de conteúdo foi, ainda, dirigida à investigação do sujeito que fala, considerando-se que as respostas emitidas pelas mulheres denotam, fenomenologicamente, suas crenças, valores e comportamentos, sendo estes representantes do autoconceito. Foi, também, uma análise direcionada à investigação do que o sujeito diz, por terem sido observados elementos da própria mensagem emitida, como os argumentos e movimentos reflexivos nas falas das mulheres. Cinco etapas processuais foram realizadas na análise, todas baseadas na proposta de Moraes (1999): preparação das informações, para decisão sobre a inclusão ou não, de cada uma das entrevistas, na amostra a ser analisada, em seguida, a unitarização dos dados, para escolha das Unidades de Análise (UA), que no estudo teve o recorte definido por frases que produzissem uma unidade de significado textual, e para elaboração e codificação das Unidades de Contexto (UC), ou categorias mais amplas que as UA. Na terceira etapa, categorização das unidades de análise, os conteúdos semânticos expressos nas UA determinaram a criação das categorias temáticas (válidas, exaustivas, homogêneas, exclusivas e consistentes). Na etapa seguinte, descrição das categorias, cada uma das categorias foi mais bem explicitada, utilizando inclusive, Unidades de Análise mais ilustrativas de cada categoria, para facilitar também a compreensão da quinta e última etapa, a interpretação, com realização de uma análise mais aprofundada, na tentativa de melhor compreensão acerca dos sentidos expressos em cada categoria, acessando-se, para tanto, tanto os conteúdos manifestos quanto os conteúdos latentes. Foram analisadas trezentas e oitenta e duas frases, subdivididas em trinta e sete Categorias de Análise construídas, contendo excertos da fenomenologia do autoconceito. Com base na saturação de frases e de entrevista das participantes em cada uma destas trinta e sete categorias, foram apontados alguns elementos da fenomenologia autoconceito das mulheres encarceradas a partir de aproximações dos seus relatos com as Estruturas, Categorias e Subcategorias do modelo hierárquico e integrado do Self proposto por L’Écuyer (1978). Os resultados apontaram a centralidade das dimensões Self Pessoal e Self Adaptativo na vivência do cárcere, possivelmente por uma necessidade do estabeleci- MESAS REDONDAS mento de uma autoimagem positiva, do reconhecimento das potencialidades, do reforço das autocaracterísticas valoradas positivamente pela sociedade, do planejamento para modificação da situação atualmente vivenciada e, ainda, necessidade do desenvolvimento da autonomia. Um achado inusitado encontrado diz respeito à centralidade consecutiva da dimensão Self/não-Self, em relação à referência aos outros, possivelmente impactada pela convivência grupal forçada (e suas dificuldades) que forçaria a consideração da opinião dos outros sobre si própria, e um ajustamento nas condutas, também como estratégia de proteção do Self e sobrevivência em contexto de privações materiais e emocionais e de violências de diversas naturezas. Este desenho metodológico precipitou a possibilidade de compreensão fenomenológica de elementos da estrutura do autoconceito das mulheres na situação do cárcere, considerando-se, consonantemente as perspectivas adotadas (Demo, 1992; Turner, 1968; Burke, 1980; Markus & Kunda, 1986) a sua permeabilidade, que garante um funcionamento dinâmico durante a vida, com modificação da centralidade de algumas dimensões em decorrência de diferentes eventos da vida. Palavras-chave: fenomenologia; autoconceito; análise de conteúdo. Contato: Lysia Rachel Moreira Basílio, Doutora em Psicologia Cognitiva - UFPE Pesquisadora - LACCOS/ UFPE, Docente - FAVIP, E-mail: [email protected] EXPERIÊNCIA INTERNA, AUTORRECONHECIMENTO E FALA INTERNA EM CRIANÇAS COM AUTISMO DE ALTO FUNCIONAMENTO: REFLETINDO SOBRE OS LIMITES DA PESQUISA NUMA PERSPECTIVA FENOMENAL Josiane Golin, Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE), UFPE, E-mail: [email protected] Alexsandro Medeiros do Nascimento, LACCOS, UFPE, E-mail: [email protected] Este trabalho teve como objetivo investigar a autoconsciência em crianças autistas de alto funcionamento, através do autorreconhecimento auditivo, o qual possibilita o desenvolvimento da fala interna, conjugado aos desenvolvimentos cognitivos em geral, e do autorreconhecimento visual em particular. Fala interna tem sido associada aos processos de pensamento e autoconhecimento, ocupando uma parcela significativa da consciência entendida como as percepções, pensamentos e sentimentos que se tem de si mesmo. O discurso interno entendido como conversa silenciosa consigo mesmo é de importância extrema para o desenvolvimento 59 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento da autoconsciência uma vez que ao dialogar consigo é possível que o sujeito identifique verbalmente processos e armazene dados sobre seu próprio estado físico e mental, além de avaliar comportamentos passados e presentes (Zivin, 1979; Morin, 2005). A fala interna é a forma de linguagem interna que é dirigida ao próprio sujeito e não a um interlocutor externo, e se desenvolve mediante um lento acúmulo de mudanças estruturais, fazendo com que as estruturas de fala que a criança já domina tornem-se estruturas básicas de seu próprio pensamento. Nesta fase a fala interior não tem a finalidade de comunicação com outros, portanto, constitui-se como uma espécie de “dialeto pessoal”, sendo fragmentada e abreviada. É característico do autista apresentar alguns déficits e excessos comportamentais em diversas áreas: perturbações nas relações afetivas com o meio, inabilidade linguística, presença de boas potencialidades cognitivas, aspecto físico aparente normal, comportamentos ritualísticos, início precoce. É muito comum, no entanto, crianças com este diagnóstico apresentarem desempenho além do normal em tarefas que exigem apenas atividades mecânicas ou memorização, ao contrário das tarefas nas quais é exigido algum tipo de abstração, conceituação, sequenciação ou sentido. Questionamos aqui como ocorre o desenvolvimento da fala interna em autistas, uma vez que sua fala tende mais à reprodução e imitação. As crianças autistas tendem a subutilizar a voz interior, quando trabalhando em tarefas cognitivas (Holland & Low, 2010). Em virtude de buscar uma maior compreensão acerca das crianças autistas e do seu autorreconhecimento, este estudo parte da ideia de que essas crianças desenvolvem um tipo de autorreconhecimento que possibilita desenvolvimento da fala interna. Deste modo, levantamos a hipótese de que a fala interna ocorre, após a “fase do espelho” (autorreconhecimento), adquirindo uma característica peculiar da criança autista, sendo este um processo lento, o qual exigirá o reconhecimento primário de sua significação para que se desenvolva, através da linguagem, a fala interna. Participaram da pesquisa três crianças autistas de alto funcionamento, sexo feminino, idades entre 6 e 7 anos, que atenderam os requisitos propostos pela pesquisa, todas frequentando o último ano da Educação Infantil de uma mesma escola particular de Recife/ PE. Foram aplicados em três sessões de atividades os Exames Piagetianos (Método Clínico, ver Piaget, 2009; Carraher, 1989), Teste da Marca (Gallup, 1970; Bard et al., 2006) e Teste do Autorreconhecimento Auditivo (TAA). Na primeira sessão foram realizados os exames do Método Clínico Piagetiano, que envolvem noções de acompanhamento visual, preensão do objeto, remoção de obstáculos, busca de objetos, conservação de quantidades, inclusão de classes e classificação, demonstrando MESAS REDONDAS qual o estágio do desenvolvimento cognitivo em que a participante se encontra. Na segunda sessão foi realizado o Teste da Marca, no qual a participante (criança) foi colocada inicialmente diante do espelho coberto por um anteparo (pano cor neutra), para que pudesse fazer o reconhecimento do objeto. Depois o espelho foi descoberto, tendo a participante a oportunidade de olhar-se por determinado tempo (em torno de 3 minutos). A seguir, foi feita uma marca vermelha (de rouge antialergênico) de um lado da testa e no lado oposto, uma marca incolor (pó facial de cor natural), as quais foram colocadas sem que a participante percebesse, recebendo, assim, o estímulo em ambos os lados da testa. Em seguida foi colocada novamente diante do espelho, sendo observada a sua reação. Esta situação foi realizada com as três participantes separadamente, sendo todas videografadas. Na terceira sessão foram apresentadas as gravações de diferentes vozes familiares e a sua própria voz (da criança) com duração de 1 minuto cada, para que a participante escutasse e esboçasse reações, as quais também foram videogravadas. Foram apresentados monólogos de falas familiares (mãe, professora, amiga, pesquisadora e da própria voz), uma por vez, com duração de 1 minuto, com um intervalo de 1 minuto entre uma e outra fala. Diante da situação, foram observadas as reações e produção sonora e/ou verbal da participante. Todas as sessões foram videogravadas, e posteriormente transcritas com as devidas observações e analisadas. A participante 1 respondeu a todas as provas dos exames piagetianos, deixando apenas de dar uma justificativa lógica para as respostas de comparação do todo com as partes, atendendo o nível pré-operatório próprio da idade. Apresentou autorreconhecimento em todas as fases do teste da marca, e reconheceu a sua própria voz entre todas as gravações familiares. A participante 2 respondeu bem as provas do exame piagetiano correspondente ao nível sensório-motor, porém no nível pré-operatório respondeu somente a primeira prova. Em relação ao teste da marca e ao teste de autorreconhecimento de sua voz, correspondeu igualmente à primeira participante. A participante 3 respondeu somente as provas do exame piagetiano correspondente ao nível sensório-motor, não conseguindo alcançar o nível pré-operatório. Respondeu bem todas as etapas do autorreconhecimento do teste da marca, porém não mostrou reconhecer nenhuma das vozes no teste do autorreconhecimento auditivo. As evidências apontam para um desenvolvimento concatenado entre as operações cognitivas de natureza simbólicorepresentacional e o autorreconhecimento como índice de autoconsciência, havendo uma aquisição tardia de um senso de self mais robusto constituído por mediação de elementos da experiência interna de natureza tanto visual (inicial) e auditivo-verbal (tardio, e dependente de ambos 60 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento - aquisição da linguagem e desenvolvimento cognitivo tomado amplamente), o que parece apoiar a hipótese de teoria de cognição geral como a do Código Dual para uma história desenvolvimental da cognição a partir de um arcabouço imagético inicial (Paivio, 2007). Discutiuse o impacto dos achados para estudos de cognição autorreferencial e experiência interna de crianças autistas. Palavras-chave: autorreconhecimento; fala interna; crianças com autismo de alto funcionamento. Contato: Josiane Golin, Faculdade Frassinetti do Recife (FAFIRE), Doutoranda em Psicologia Cognitiva, UFPE, E-mail: [email protected]. DESENVOLVIMENTO DA AUTOCONSCIÊNCIA E MEDIAÇÃO COGNITIVA POR IMAGENS MENTAIS: UM ESTUDO EM ADOLESCENTES DA CIDADE DO RECIFE Renê Marcelino da Silva Junior, Sec. de Educação, Esportes, Juventude, Ciência e Tecnologia, Caruaru-PE - LACCOS, UFPE, E-mail: [email protected] Alexsandro Medeiros do Nascimento, LACCOS, UFPE, E-mail: [email protected] Antonio Roazzi, LACCOS, UFPE, E-mail: [email protected] Autoconsciência é uma forma de consciência de alta ordem que possibilita o acesso a nossa vida interior e o autoconhecimento, sendo definida como a atividade de prestar atenção sobre si mesmo (Duval & Wicklund, 1972). Morin (2004) propõe o Modelo Neurocognitivo e Socioecológico de Autoconsciência segundo o qual o processo de autofocalização tem como fontes de disparo vários elementos do mundo físico (espelhos, fotos), do mundo social por meio de vários mecanismos como tomada de perspectiva, avaliação reflexiva e audiências. O próprio Self pode desencadear autofoco por meio da dupla estimulação sensória e de formas de autorrepresentação: a fala interior e as imagens mentais. Os sujeitos quando autoconscientes realizam avaliações dos seus aspectos públicos (características físicas, aparência etc.) e privados (sensações, emoções, traços de personalidade etc.) e obtêm autoinformação - ingrediente essencial para autocontrole, autoconhecimento e formação do autoconceito. A autofala e as imagens mentais desencadeiam, mantêm e expandem o processo autoconsciente e constituem as bases representacionais sobre as quais a autoinformação é codificada. Investigações sobre os mediadores cognitivos da Autoconsciência têm recebido pouca apreciação empírica; especificamente em relação às imagens mentais, Morin (1998, 2004) destaca o papel destas na expansão e reprodução dos mecanismos desencadeadores do auto- MESAS REDONDAS foco, permitindo seu funcionamento independente da interação face a face. Nascimento (2008) confirma empiricamente o papel mediacional das imagens mentais nos processos autofocalizadores em suas faces estado (situacional) e traço (disposicional) e levanta fortes indícios de um entrelaçamento funcional entre o subsistema de codificação não verbal da cognição humana e o autofoco. Paivio (2007) propõe que os objetos são capturados e simultaneamente inscritos cognitivamente em dois subsistemas, um verbal e outro icônico, de forma transmodal com conexões fechadas entre a dupla inscrição. Para Nascimento e Roazzi (2013) e Silva Junior (2013) o arranjo diversificado das habilidades de visualização construído ao longo do tempo desenvolvimental teria impactos sobre a Autoconsciência, de maneira que indivíduos mais hábeis na manipulação de imagens mentais teriam a seu dispor instrumental para ampliação e intensificação do autofoco e consequente aquisição da autoinformação. Neste sentido, o presente estudo objetivou investigar o entrelaçamento funcional entre imagens mentais e Autoconsciência situacional em adolescentes de 12 a 16 anos e validar a Escala de Autoconsciência Situacional Juvenil (EAS-J) e o Teste de Habilidades de Visualização Juvenil (THV-J) para esta população. Participaram do estudo 278 estudantes, sendo 71 alunos do 7º ano com idades de 12 e 13 anos e 79 alunos do 9º ano com idades de 15 e 16 anos de 3 escolas públicas. Participaram também 71 alunos do 7º ano com idades de 12 e 13 anos e 57 alunos do 9º ano com idades de 15 e 16 anos de 2 escolas privadas. Quanto ao sexo participaram 142 meninas (51%) e 136 meninos (49%), todos estudantes do ensino fundamental e de escolas situadas em Recife, PE. A Autoconsciência situacional foi aferida a partir de um conjunto inicial de 30 itens que avaliam os diversos tipos de autofoco e uma versão do Teste de Habilidades de Visualização (Nascimento, 2008) adaptado para população adolescente. A EAS-J obteve boas qualidades psicométricas e Alfa de Cronbach de .70 apresentou o fator Autoconsciência Global levantando indícios de que as várias operações de autofocalização da atenção ainda não estão plenamente construídas no seio da Autoconsciência desta amostra de adolescentes. Não foram encontradas evidências de desenvolvimento da Autoconsciência dos 12 aos 16 anos de idade entre os adolescentes investigados. É possível que o espectro de idade da amostra investigada neste estudo seja muito curto para demonstrar o desenvolvimento dos processos autofocalizadores. Adolescentes de escolas públicas apresentaram níveis mais elevados de autofoco, eles parecem desfrutar de maior permissividade dos pais para despender mais tempo em contextos extrafamiliares, as meninas apresentaram-se mais autoconscientes. O THV-J apresentou o fator Visualização Self para a série Self com α de .78 e Visualização Não-Self para a série Não-Self com 61 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento α de .82, com boas qualidades psicométricas e evidências de validade de construto. Autoconsciência apresentou correlações positivas com as Habilidades de visualização nas séries Self e Não-Self confirmando o papel das imagens mentais na mediação do autofoco. Os adolescentes apresentaram desenvolvimento das Habilidades de visualização, de forma que alunos de escolas privadas e alunos do 9º ano demonstraram níveis mais elevados de habilidades de visualização. Os resultados da análise de regressão passo a passo indicam que as variáveis preditoras da Autoconsciência foram as variáveis sexo, tipo de escola e imagens mentais Self explicando 2.3%, 1.9% e 2.6% da variância, respectivamente. A Análise da Estrutura de Similaridade (SSA) revelou maior proximidade da Autoconsciência com as variáveis sexo e tipo de escola. Estando a imagem mental na série Self mais próxima da Autoconsciência localizada no quadrante imediatamente inferior à Autoconsciência, o conjunto de achados confirma a possibilidade de as imagens mentais atuarem como mediadores cognitivos em idades precoces do desenvolvimento humano. No entanto, o desenvolvimento das habilidades de visualização parecem não influenciar o desenvolvimento do autofoco entre os 12 e 16 anos de idade. É possível que na primeira metade da adolescência os mediadores cognitivos não sejam os elementos centrais na produção, sustentação e desenvolvimento do autofoco; ao contrário, os processos sociais parecem ter maior influência sobre o autofoco, bem representado pelas diferenças no autofoco em função do sexo e do tipo de escola. Tais conclusões colocam vários questionamentos frente ao Modelo Neurocognitivo e Socioecológico de Autoconsciência de Morin (2004). Palavras-chave: autoconsciência; habilidades de visualização de imagens mentais; adolescentes. Contato: Renê Marcelino da Silva Junior - Mestre em Psicologia Cognitiva - Professor de Ciências vinculado à Secretaria de Educação, Esportes, Juventude, Ciência e Tecnologia do Município de Caruaru-PE - Membro do Laboratório de Estudos da Autoconsciência, Consciência, Cognição de Alta Ordem e Self (LACCOS), UFPE - [email protected] MR - 2435 Sala 403 - 16h DESENVOLVIMENTO, FAMÍLIA E JUSTIÇA: DA INFÂNCIA À VELHICE A família tem um papel fundamental na constituição dos indivíduos, sendo importante na determinação e na organização da personalidade, no processo de socialização ao longo do ciclo vital, estabelecendo formas e limites para as relações entre as gerações mais novas e mais velhas, MESAS REDONDAS favorecendo a adaptação às exigências da convivência na sociedade. Restritamente, refere-se ao núcleo familiar básico e, amplamente, ao grupo de indivíduos vinculados entre si por laços consanguíneos, consensuais, jurídicos ou afetivos, que constituem complexas redes de parentesco e de apoio através de intercâmbios, influenciados por aspectos biopsicossociais, históricos, culturais e econômicos (Falcão, 2006). Partindo desse contexto, o objetivo desta mesa-redonda é discutir o tema desenvolvimento, família e justiça, baseando-se numa perspectiva sistêmica e ecológica, pautando-se nos resultados de pesquisas de campo e atendimentos clínicos e jurídicos. No estudo intitulado “As Repercussões da Prática de Atores Jurídicos nos Casos de Disputa de Guarda no Desenvolvimento Infantil” serão apresentados os resultados de um trabalho de mestrado relacionado à visão dos atores jurídicos - juízes, promotores, psicólogos, assistentes sociais e advogados públicos e particulares que trabalham com os casos de disputa de guarda em varas de família do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios - acerca do bem-estar e dos melhores interesses da criança. O estudo denominado “Alienação Parental no Contexto Judicial: Implicações Psicológicas e Reflexos no Desenvolvimento” visa discutir a alienação parental no âmbito dos litígios judiciais de família, abarcando os aspectos psicológicos dos envolvidos, não só da prática dos atos em si, mas também dos prejuízos com a judicialização desses afetos, focalizando a extensão do dano ao desenvolvimento da criança ou do adolescente. Já a pesquisa intitulada “Filhos de Pais Apenados: Uma Análise na Perspectiva do Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner” objetivou investigar as repercussões nas vidas dos filhos cujos pais estão encarcerados cumprindo pena por delitos realizados tornando-os fora da lei. Participaram do estudo crianças e adolescentes cujos pais estão apenados e suas respectivas mães. Por último, o trabalho denominado “Conflitos Familiares envolvendo Idosos com Demência: Desafios para o Âmbito Judicial e Repercussões no Desenvolvimento Familiar” busca apresentar os principais conflitos identificados nas relações familiares de pessoas com a doença de Alzheimer, baseando-se em pesquisas de campo realizadas e na escuta de depoimentos obtidos em atendimentos nos contextos clínico e jurídico. Conclui-se que diante das mudanças ocorridas nas famílias nas últimas décadas, são muitos os desafios a serem refletidos pelos pesquisadores dessa área. A família é um sistema complexo, composto por subsistemas integrados e interdependentes que estabelecem uma relação bidirecional e de influência mútua com o contexto no qual está inserida (Minuchin, 1982). Espera-se que estes trabalhos possam evocar debates pertinentes e relevantes para esse campo de atuação, suscitando novas investigações que colaborem efetivamente com a população em geral. 62 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento AS REPERCUSSÕES DA PRÁTICA DE ATORES JURÍDICOS NOS CASOS DE DISPUTA DE GUARDA NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL Josimar Antônio de Alcântara Mendes, UnB, E-mail: [email protected] Julia Sursis Nobre Ferro Bucher-Maluschke, UnB, E-mail: [email protected] A infância se constitui uma das fases mais importantes para o desenvolvimento posterior do indivíduo. A partir desta perspectiva, foram elaborados vários documentos que enfatizam os direitos e o bem-estar da criança tanto na Organização das Nações Unidas, quanto no Brasil. No âmbito internacional tem-se a Declaração Universal dos Direitos da Criança que, entre outras coisas, garante os principais direitos que provem o bem-estar e os melhores interesses dela, respeitando e legitimando o seu desenvolvimento. No Brasil, essas questões também são tratadas na Constituição Federal e, especialmente, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Este último foca mais na questão da proteção integral e na legitimação da condição de desenvolvimento peculiar de crianças e adolescentes. Esses documentos, que inspiram e regulam políticas públicas e práticas de profissionais, orientam o trabalho de vários deles no âmbito da disputa de guarda na Justiça. De acordo com Ribeiro (2010), este contexto é engendrado pela separação conjugal, que pode se constituir como um evento do ciclo de vida das famílias, produzindo significativas mudanças nas relações entre a díade conjugal entre os pais e os filhos e, ainda, entre a própria díade conjugal enquanto pais. Segundo Schabbel (2005), o divórcio, também, pode representar uma legalização da discórdia entre o casal, além de levar a uma reorganização da estrutura doméstica e da convivência entre pais e filhos. Essa situação pode gerar angústias, incertezas e ameaça à estabilidade pessoal em todos os membros da família, causando mudanças na dinâmica familiar como um todo. Nessa direção, a qualidade das relações entre pais e filhos, bem como a garantia e a conservação dos melhores interesses deles, está intrinsecamente ligada à forma de relação e de comunicação que o par parental irá adotar após a separação. Frequentemente, a relação e a comunicação entre os pais separados são atravessadas por questões conjugais não resolvidas ou mal resolvidas, levando-os a uma interação que costuma deteriorar, além do respeito mútuo, o bem-estar físico e mental dos filhos. Portanto, a situação do divórcio e da disputa de guarda são fenômenos de grande impacto dentro de um sistema familiar e podem provocar uma série de reações nas crianças, entre elas, a produção de sofrimentos psíquicos, o medo consciente ou não de que o outro genitor também vá embora e a ideia de que os adultos não são confiáveis/honestos. MESAS REDONDAS Este é o cenário em que serão apresentados os resultados de uma pesquisa de mestrado relacionados à visão dos atores jurídicos - juízes, promotores, psicólogos, assistentes sociais e advogados públicos e particulares que trabalham com os casos de disputa de guarda em varas de família do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios - acerca do bemestar e dos melhores interesses da criança. A pesquisa se guiou pela perspectiva qualitativa, utilizando no método para a produção de dados a técnica da foto-elicitação e as conversações propostas por González Rey. Para a construção dos resultados, foram utilizadas as nuvens de palavras e as zonas de sentidos, estas últimas também propostas por González Rey. Os resultados indicaram que, apesar das normativas nacionais e internacionais, o bem-estar, os melhores interesses e, por conseguinte, o desenvolvimento da criança são bastante aviltados. O primeiro prejuízo para o desenvolvimento da criança é o seu envolvimento no conflito parental, o que torna o seu ambiente de crescimento instável e não favorável, conforme evidenciam as falas a seguir: “Tensão também, muito tensionada a criança, com medo de estar com o pai ou com a mãe, de tá feliz com o pai e a mãe ficar triste porque ela está feliz com esse pai quando apresenta visitação à casa do pai ou casa da mãe ou ao contrário, muita culpa, medo de desagradar os pais” (assistente social); “causa uma abalo psíquico na criança. É um problema entre eles que reflete diretamente na criança” (juiz); “ela se sente insegura, culpada, tudo de desespero que traz para a criança essa situação de ver os pais brigando” (promotor). O segundo prejuízo se traduz na não efetivação do princípio dos melhores interesses da criança, pois esta não é vista, escutada e, às vezes, não cuidada durante o processo de guarda, em especial pelos profissionais do Direito, conforme apontaram algumas falas dos atores jurídicos: “Ela [a criança] é objeto de disputa. Ela é quase que nem um personagem do processo. Ela nem é parte no processo” (defensora). As conclusões do trabalho indicaram que não se pode ignorar as interferências do contexto de disputa de guarda e o impacto das práticas dos atores jurídicos envolvidos no desenvolvimento da criança. O interesse desta reside na primazia pela convivência familiar, na manutenção de rotinas e referências, na proteção frente ao conflito parental, para que não seja envolvida, triangulada ou parentalizada. É preciso ainda refletir que a criança não seja posta em lugar de decisão da guarda e com quem ela irá morar. Deve-se ter um olhar mais atento e acolhedor para ela, favorecendo um espaço legítimo de escuta em que possa realmente ser entendida como um sujeito de direitos ao participar de um processo o qual diz respeito aos seus interesses e a sua vida. Também, é fundamental uma maior articulação entre os atores jurídicos e outros atores não jurídicos que têm participação direta e ativa na promoção dos interesses da criança, visando à consolidação de um trabalho interdisciplinar e constituição de uma rede de 63 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento proteção à infância e de apoio à família. Palavras-chave: disputa de guarda; criança; família. Contato: Josimar Antônio de Alcântara Mendes, UnB, E-mail: [email protected] ALIENAÇÃO PARENTAL NO CONTEXTO JUDICIAL: IMPLICAÇÕES PSICOLÓGICAS E REFLEXOS NO DESENVOLVIMENTO Wânia Cláudia Gomes Di Lorenzo Lima, Unipê, E-mail: [email protected] As famílias passaram por diversas mudanças ao longo do tempo, dentre elas, emergem demandas judiciais, cada vez mais complexas e que fomentam a expansão normativa, redirecionando as tomadas de decisões judiciais no âmbito do Direito de Família. As bases das novas intepretações judiciais valorizam os afetos e as emoções entre os membros, assumindo uma visão pluralista de família. Essas modificações asseguram a igualdade entre homens e mulheres dentro da relação matrimonial, garantindo conjunta ou simultaneamente o exercício do poder familiar sobre os filhos. Os dilemas tratados no presente estudo se referem às rupturas do vínculo conjugal ou da união estável, que nem sempre são de formas consensuais, deixando resquícios de mágoas e ressentimentos, que em maior grau desaguam nos conflitos judiciais com sentimentos de vingança, retaliação e frustrações que se traduzem consubstancialmente em práticas de alienação parental. Propõe-se discutir essa alienação no âmbito dos litígios judiciais de família, levantando os aspectos psicológicos dos envolvidos, não só da prática dos atos em si, mas também dos prejuízos com a judicialização desses afetos, focalizando a extensão do dano ao desenvolvimento da criança ou do adolescente. A Lei nº 12.318 de 20 de agosto de 2010 reconheceu a alienação parental no ordenamento jurídico brasileiro. Além de trazer conceitos, também levanta um rol exemplificativo de condutas, prevê punições ao alienador e possibilita um olhar de intervenção judicial mais ampla do ponto de vista psicológico. Ciente dos danos causados pela alienação parental, o legislador priorizou o andamento processual e assegurou a aproximação entre genitor alienado e a criança, no entendimento de prevenir ou diminuir os efeitos da alienação. O maior avanço da lei é o reconhecimento de que a prática de Alienação Parental fere direitos fundamentais da criança e do adolescente, em especial o de convivência familiar - reforçado pelo direito de participação ativa de ambos os genitores na formação dos filhos - considerada pela Constituição Federal e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente como essencial ao pleno desenvolvimento. O tema foi mencionado em 1985 pelo médico Richard Gardner, como um MESAS REDONDAS distúrbio que aparece quase exclusivamente no contexto das disputas em torno de custódia de crianças. Manifestase preliminarmente por campanha “denegritória contra um dos genitores”, podendo ser compreendida como uma “lavagem cerebral feita pelo genitor alienador no filho, de modo a denegrir a imagem do outro genitor, narrando maliciosamente fatos que não aconteceram” (Dias, 2011, p. 418). O filho torna-se objeto de disputa dos excônjuges ou companheiros, e para conseguir tê-lo ao seu lado, desqualifica o outro fazendo com que haja repúdio com o objetivo de romper os laços afetivos. A um dos genitores é atribuído um amor doentio, um apego desmedido, ao outro são direcionadas propostas indecorosas. O alienador usa da arma psicológica, que é a chantagem emocional, afirmando para a criança que o outro genitor é uma pessoa má para ela. Sendo manipulada, esta começa a odiá-lo por um capricho do outro que, em geral, sente ciúme e almeja se vingar de seu ex-parceiro. Nesse sentido, a alienação parental é o processo, a conduta do genitor ou do terceiro alienante, a prática de desmoralização, de desconstituição da imagem do genitor alienado e a implantação de realidades inverídicas na cabeça do menor. Por sua vez, a Síndrome da Alienação Parental relaciona-se com o resultado, com as consequências emocionais e comportamentos advindos da alienação a serem desenvolvidos pela criança e, por conseguinte, por toda a família. No judiciário, encontram-se relatos processuais com as mais bizarras condutas imputadas pelo alienador ao outro genitor, com denúncias judiciais graves, cada vez mais frequentes de abuso sexual, abandono afetivo, maus-tratos etc. Tais acusações ocorrem principalmente quando os filhos ainda são pequenos e mais facilmente manipuláveis. Isso remete à avaliação de valores na prática profissional, pois, do ponto de vista jurídico, o acolhimento dessas denúncias gera efeitos diretos na tutela jurisdicional, provocando erros judiciais graves com sequelas aos envolvidos. Além disso, há o desgaste em um processo judicial de rastreamento da alienação parental que, além de ser longo e cansativo, expõe sentimentos e alimenta a competição do ex-casal, favorecendo a visão de batalha, onde um será o vencido e, o outro, vencedor, sendo os filhos, o instrumento dessa guerra. A alienação pode durar longos anos (Leite, 2003). Os pais alienantes, em sua grande maioria, não têm consciência de que o maior prejudicado é a criança ou adolescente, que expostos a esses comportamentos, enfrentam uma crise de lealdade e ficam vulneráveis a desencadear diversos sintomas adversos a um desenvolvimento salutar. Além disso, gera o “sentimento de culpa quando, na fase adulta, constata que foi cúmplice de uma grande injustiça” (Dias, 2011, p. 453). A concretização da alienação parental, conforme prevê a lei, resulta abuso moral contra a criança ou adolescente alienado e a inadimplência dos deveres inerentes 64 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento às pessoas que exerçam autoridade parental ou em decorrência de tutela ou guarda. Dentre as consequências da criança vítima de alienação parental estão: transtornos de ansiedade, transtornos do sono e da alimentação, condutas agressivas, condutas de evitar o progenitor alienado, utilizações de linguagem e expressões de adultos, dependência emocional e dificuldade de expressar as emoções (Zaman, 2006). Observa-se que há um maior número de mães alienantes, talvez, pela prevalência judiciária da guarda unilateral dada a elas, bem como por fatores sociais e históricos dos papéis de gênero na educação dos filhos. Todavia, a alienação pode ser praticada pelo pai, avós, tios, ou terceiros, bem como pode afastar não só do convívio com o genitor alienado, mas com toda a família e amigos a ele vinculados. Por fim, entende-se que os males causados pela prática deste fenômeno podem ser eternos, deixando cicatrizes invisíveis no ser humano em formação. A extensão do dano da alienação atinge não só a prole e o genitor alienado, mas também a todos os indivíduos que os cercam. Reconhece-se que o conjunto de fatores psicológicos que envolvem o diagnóstico dificulta uma ação mais enérgica da tutela estatal frente ao problema, sendo inquestionável uma atuação interdisciplinar do judiciário em defesa do princípio maior da peculiar pessoa em desenvolvimento. Palavras-chave: alienação parental; família; judiciário. Contato: Wânia Cláudia Gomes Di Lorenzo Lima, Unipê, E-mail: [email protected] FILHOS DE PAIS APENADOS: UMA ANÁLISE NA PERSPECTIVA DO MODELO BIOECOLÓGICO DE BRONFENBRENNER Júlia Sursis Nobre Ferro Bucher-Maluschke, UnB, E-mail: [email protected] Gracy Ramos Nakamura, UCB, E-mail: [email protected] O Sistema Prisional brasileiro em seu último senso apresentou uma população carcerária de 496.251 presos, com uma proporção de 259,16 presos para cada 100.000 habitantes e, em sua maioria, são homens, com idade compreendida entre 18 e 24 anos e de raça parda (Depen, 2010). Considerando esses dados, percebe-se o estigma e o preconceito da sociedade, que tende a marginalizar estes “perfis”, tê-los como ameaçadores e merecedores do isolamento e ódio social (Belos, 2010), visto serem estes os que chegam à prisão e ao cumprimento de pena determinada conforme a Lei de Execução Penal. A Constituição Federal (1989), em seu Art. 5° e parágrafo XLV, preveem que “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do per- MESAS REDONDAS dimento de bens serem, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido”, ou seja, a pena-prisão não poderia estender-se além daquele que se encontra encarcerado, entretanto, os efeitos da Lei e da execução penal recaem sobremodo naqueles que se encontram fora do ambiente carcerário, tais como, os filhos, que sofrem de igual modo as suas consequências, assim como o prejuízo social, econômico, afetivo e relacional, que em suma, o Estado não se atém à reparação dos danos causados a estes. Nesse cenário, a família é supostamente a primeira base da segurança, apoio para o desenvolvimento da criança. Além disso, ela é a primeira transmissora da cultura, dos valores e da preparação da criança para a vida social. A cada etapa do curso de vida de seus filhos, os pais estarão exercendo essas atividades de formação, informação preparando-os para a vida adulta. Todavia, eventos que ocorrem na vida dos pais trazem consequências para os seus filhos. Esses eventos podem ser positivos ou negativos: enquanto os positivos se tornam bons exemplos para os processos identificadores dos filhos, os negativos, na vida dos pais ou de um deles têm sido pouco estudados no que concerne às repercussões nos filhos. Diante destas considerações e em razão da ausência de literatura brasileira que discorra sobre os efeitos do sistema prisional na subjetividade de filhos de presidiários, torna-se importante uma pesquisa que aborde esta realidade. As escolas e consultórios médicos e psicológicos vêm identificando problemas em crianças e jovens vivendo em contextos nos quais os pais estão em contextos provocados pela vivência de eventos negativos. Esta realidade nos levou a pesquisar as repercussões nas vidas dos filhos cujos pais estão encarcerados cumprindo pena por delitos realizados tornando-os fora da lei. Apresentaremos os resultados de uma pesquisa com abordagem qualitativa, cuja fundamentação teórica segue o modelo ecológico de Bronfenbrenner. Num primeiro momento foram entrevistadas as mães dos filhos participantes e elaborado um mapeamento da família através do genograma onde se detectaram aspectos transgeracionais envolvidos com o problema em estudo. Posteriormente, participaram as crianças e adolescentes cujos pais estão apenados. Foram utilizados, como instrumentos para a obtenção dos dados para as crianças, as fábulas de Duss, adaptadas ao contexto do estudo, um roteiro semiestruturado para entrevistas dos adolescentes. A análise dos resultados se organizou a partir dos sistemas ou subsistemas identificados no modelo bioecológico: no microssistema a análise se pautou nas relações face a face da criança e do jovem no interior da família. Nesse contexto ecológico, os resultados apontaram para uma grande preocupação das mães em passar uma imagem positiva dos pais. Raramente, os filhos visitam os pais; geralmente, é a mãe que o faz e 65 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento transmite mensagens aos filhos. Todavia, em dois casos, cujos filhos são pequenos, não foi possível entrevistá-los tendo em vista que num deles a mãe informou ao filho que o pai tinha falecido e, em outro caso, que o pai havia viajado para muito longe e não sabia quando ele voltaria. No mesossistema foram analisados os microssistemas nos quais as crianças e adolescentes interagem. Identificamos a família extensa, a escola, o clube, a igreja, o posto de saúde; no exossistema analisaram-se as repercussões de eventos não ocorridos numa relação face a face com as crianças e os adolescentes, porém, com repercussões em suas vidas. Identificamos a prisão onde o pai se encontra e o trabalho da mãe e as repercussões na vida dos filhos. No que concerne à prisão do pai muitas transformações foram observadas visando à proteção dos filhos por parte da mãe. Todavia, o auxílio-reclusão recebido do INSS foi considerado como tendo ajudado muito a família e foi informado por uma das mães que o pai foi mais importante para os filhos depois de preso porque chegou essa ajuda financeira que antes não chegava. Outro aspecto identificado no exossistema foi a necessidade da mãe de dobrar a carga de trabalho para a subsistência da família, também, trazendo repercussões sobre os filhos. O segredo na família foi observado em vários casos tendo em vista o preconceito social em relação a ter um apenado na família. O ditado popular “filho de peixe, peixinho é”, várias vezes, surgiu nas narrativas e a necessidade de preservar os filhos desta “sina”. No macrossistema foram analisadas algumas questões sobre políticas públicas em relação aos apenados e suas famílias, as crenças identificadas na cultura acerca dos apenados e suas famílias e outros aspectos inerentes ao que a sociedade e cultura oferecem nesse contexto. No macrossistema foi identificado o auxílio-reclusão que é um benefício no valor identificado pelo INSS para os dependentes do segurado recolhido à prisão, durante o período em que estiver preso sob regime fechado ou semiaberto. Não cabe concessão de auxílio-reclusão aos dependentes do segurado que estiver em livramento condicional ou cumprindo pena em regime aberto. Os resultados evidenciaram uma compreensão complexa dessa realidade no contexto da família. Na maioria dos casos, as repercussões nas crianças e nos jovens apontaram para uma tomada de consciência dessa realidade pouco estudada no contexto brasileiro, todavia, em dois casos pesquisados o segredo imperava na família e os filhos pequenos nada sabiam sobre a situação do pai apenado. Palavras-chave: desenvolvimento infantil; famílias de apenados; modelo bioecológico. Contato: Júlia Sursis Nobre Ferro Bucher-Maluschke, UnB, E-mail: [email protected] MESAS REDONDAS CONFLITOS FAMILIARES ENVOLVENDO IDOSOS COM DEMÊNCIA: DESAFIOS PARA O ÂMBITO JUDICIAL E REPERCUSSÕES NO DESENVOLVIMENTO FAMILIAR Deusivania Vieira da Silva Falcão, USP, E-mail: [email protected] Júlia Sursis Nobre Ferro Bucher-Maluschke, UnB, E-mail: [email protected] Constitui um desafio para os estudiosos compreender a família em desenvolvimento diante de contextos sociais e culturais em constantes transformações, especialmente, envolvendo os idosos. Um dos temas intrigantes nesse campo refere-se aos conflitos relacionados aos casos de pessoas com demência, sendo a mais comum delas, a doença de Alzheimer (DA). Nesse contexto, o conflito é um construto multidimensional que inclui frequência, modo de expressão, duração, intensidade e grau de resolução como elementos importantes, que devem ser considerados ao examinarmos o impacto na família. Ademais, os conflitos podem ser latentes, emergentes ou manifestos, envolvendo disputas entre duas ou mais pessoas com relação a valores ou competição por status, poder, recursos escassos, dentre outros. Nesse cenário, percebe-se que será cada vez mais frequente a vivência de dilemas por parte das famílias que possuem um idoso com demência e a procura por profissionais que as ajudem a lidar com as problemáticas advindas desse processo. Os conflitos vivenciados por essas famílias quando não são resolvidos pelos protagonistas, podem levar à necessidade da intervenção de profissionais atuantes nas áreas da Psicologia, do Serviço Social e em casos extremos, da área jurídica (Falcão & Bucher-Maluschke, 2010). Partindo dessas informações, neste estudo buscaremos apresentar os principais conflitos identificados nas relações familiares de pessoas com a doença de Alzheimer, por nós constatados em pesquisas realizadas e pela escuta de depoimentos obtidos em atendimentos nos contextos clínico e jurídico. Aliada a essa vivência, serão discutidas fundamentações pautadas na teoria sistêmica da família. Por fim, privilegiaremos, a mediação como um dos caminhos para administração de conflitos eclodidos ou desencadeados pelo surgimento ou desenvolvimento da DA. Começando pelo diagnóstico da enfermidade, é comum que alguns membros da família vivenciem conflitos pessoais pré-existentes e entre os membros do grupo devido à negação e a não aceitação da doença, chegando, por vezes, a dificultar o tratamento e a desfavorecer a convivência com os demenciados. Igualmente, os desafios diante da imprecisão do diagnóstico, e a incerteza da origem da doença, uma vez que há a possibilidade de envolver aspectos genéticos, preocupam parentes que temem passar pelo mesmo processo (Falcão 66 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento & Bucher-Maluschke, 2008). Nossos estudos sinalizaram que os conflitos relacionais e estruturais das famílias com idosos com doença de Alzheimer (DA) são causados, especialmente, devido à sobrecarga de papéis dos cuidadores e à falta de divisão de tarefas de cuidar; por comunicação inadequada ou deficiente; falta de informação e percepções equivocadas acerca da enfermidade e do exercício de cuidar; estereótipos, estigmas e preconceito em relação à velhice e à doença; posse ou distribuição desigual dos recursos materiais; subtração de dinheiro dos demenciados etc. Observamos ainda que, atreladas às dificuldades psicológicas e físicas, os cuidadores desses idosos tendem a enfrentar conflitos familiares decorrentes de problemas não resolvidos no passado, acirrando-se o desgaste emocional. Muitas dessas reações estão ligadas à vivência de perda da pessoa idosa e do lugar que esta ocupa na família. O fato é que o idoso com DA progressivamente assume um novo modo de ser, embora os traços físicos permaneçam. Conforme Boss (1998), essa situação é denominada “perda ambígua”, ou seja, o membro familiar está fisicamente presente e psicologicamente ausente, como no caso da demência. Portanto, é crucial levar em consideração os acontecimentos anteriores à doença, pois não é recomendável acreditar que o idoso é sempre a vítima e que os parentes são sempre os vilões (Falcão, 2006). Nas famílias que já não funcionavam bem, comumente persistem e até são exacerbados problemas de relacionamento após o surgimento da doença, embora haja casos de membros que reatam relações depois de um período de conflitos, ocasiões em que a doença tem a função de unir. Contudo, é comum que, em situações de crise, os conflitos tendam a se propagar ocasionando separações irreversíveis (Silveira, 2000). Durante os trabalhos desenvolvidos por nós em Varas de Família, ficou claro que a maior parte dos conflitos que envolviam idosos com demência era devido às questões de dinheiro, violência e descaso com a pessoa enferma. Também, foi detectado que alguns parentes, especialmente filhos, através de procurações, subtraíam dinheiro das contas bancárias de idosos com doença de Alzheimer e vendiam bens materiais de maneira ilícita, causando malestar entre os integrantes da família que nada podiam fazer a não ser entrar com um processo judiciário (Falcão & Bucher-Maluschke, 2006). Nesse contexto, é válido ressaltar que os indivíduos que sofrem de transtorno mental que suprima totalmente sua capacidade de compreensão são tidos pelo Código Civil de 2002 como absolutamente incapazes para a prática, por si só, dos atos da vida civil, segundo o seu art. 3º, inciso III. Assim sendo, devem ser interditados por meio de uma ação judicial de interdição (na forma do art. 1767, inciso I, do Código), a qual deverá ser promovida prioritariamente pelos pais ou tutores, pelo cônjuge ou por qualquer parente. Na falta desses, MESAS REDONDAS poderá ser promovida pelo Ministério Público. O processo de interdição envolvendo idosos com a doença de Alzheimer pode vir acompanhado de várias brigas que ecoam no judiciário. A equipe interprofissional deve ajudar as famílias favorecendo tentativas de negociação entre os membros. Nesse cenário, as intervenções poderão despertar nos protagonistas as iniciativas de busca pela psicoterapia (individual e/ou terapia de casal e de família) e grupos de apoio voltados para familiares que vivenciam situações semelhantes. Nesse contexto, a mediação familiar, também, é um processo de gestão de conflitos e não é um substituto à via judicial, mas uma via alternativa e complementar desta, malgrado possa ser utilizada independentemente da submissão do caso ao Judiciário. Concluímos que os resultados dos estudos analisados e dos casos a serem discutidos apontam a terapia familiar, os grupos psicoeducativos e, especialmente, a mediação como um procedimento pacífico e facilitador para os membros das famílias lidarem com os conflitos advindos com a demência. É através do diálogo argumentativo que, por vezes, chegam a um consenso em que as partes não se sintam lesadas em suas reivindicações. Espera-se que este trabalho possa evocar debates pertinentes e relevantes para a área, suscitando novas investigações que colaborem efetivamente com a população em questão. Palavras-chave: demência; conflitos; desenvolvimento familiar. Contato: Deusivania Vieira da Silva Falcão, USP, [email protected] MR-2243 Sala 405 - 16h O ENSINO, SUAS DIFICULDADES E PROPOSTAS DE MUDANÇA Eveline Vieira Costa, UFRPE Síntria Labres Lautert, UFPE Cláudia Roberta de Araújo Gomes, UFRPE Geovana Camargo Vargas, IFPB Mônica de Fátima Batista Correia, UFPB Izabel Hazin, UFRN Flávia Mendes de Andrade e Peres, UFRPE Não muito diferente da situação que acomete na maioria dos estados brasileiros, este trabalho de equipe ora proposto tem como tema central a deficiência na área educacional; os problemas oriundos da falta de motivação dos estudantes dentro da escola e os desafios dos professores. Os trabalhos aqui referidos situam-se na região metropolitana de Pernambuco e Paraíba. No trabalho proposto por Correia e Vargas escolas paraibanas são estudadas no que tange ao despreparo do papel dos coordena- 67 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento dores, psicólogos e professores. Tal despreparo demonstra a distância do ensino frente aos problemas cotidianos dos profissionais que frequentam esta comunidade de prática. Lave (1991) e Lave e Wenger (1991) afirmam que o tornarse sujeito participativo dentro de uma comunidade é uma condição necessária à participação periférica legítima. De outra forma, todos os profissionais pertencentes às comunidades de prática ficariam à mercê dos acontecimentos, sem a identificação necessária a uma atuação situada. Tal atuação tem primordialmente no modelo educacional a função da cognição situada. Partindo deste raciocínio Costa traz um estudo dentro da sala de aula (também na Região Metropolitana de Recife) no qual o professor aparece como um agente transformador quando usa da problematização como prática a fim de levar os alunos a se identificar com o sistema escolar. Nele, são estabelecidas quatro condições necessárias para que tal engajamento aconteça. Ainda dentro da mesma visão da cognição situada, partindo para o sentido do processo como ferramenta e como resultado (NEWMAN & HOLZMAN, 1993), segundo uma visão privilegiada de Vygotsky (1991; 2001), Peres aborda a forma como a tecnologia não só é uma ferramenta que vem contribuir para tornar a escola mais atraente, como também de que forma ela pode contribuir de maneira a engajar os sujeitos dentro de uma visão de participação periférica legítima. Em seu trabalho em escolas na região metropolitana do Recife, professores e alunos atuam como pesquisadores criando as condições de jogos educacionais, não como aqueles que se beneficiam dos programas já elaborados, mas que os constroem. De outra forma, Lautert, Araújo Gomes e Hazin, no trabalho proposto, também realizado em escolas na área metropolitana de Recife, investigam as representações sociais que estudantes têm da matemática. Os resultados preliminares a que chegam as autoras direcionam a reflexão para a indissociabilidade entre cognição e afeto. Desta forma, a mesa aborda temas relacionados com problemas que dizem respeito à forma de lidar com o trabalho cotidiano das escolas, passando por uma proposta de sala de aula diferenciada baseada na problematização dos conteúdos. Parte para novas formas de lidar com o conhecimento a partir do engajamento de professores e alunos em games educativos e termina apontando para a evidência, ainda presente no nosso cotidiano, da dificuldade dos alunos aprenderem matemática, levando esta temática para a consciência de que a autoestima e o afeto pelos professores são responsáveis pela produção escolar, mas dando margem à questão de que a identificação com a área exatas é uma coisa de dentro da escola, e, portanto, ainda pouco atraente para a maioria dos alunos. MESAS REDONDAS A PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM COMO DIRETRIZES PARA AÇÕES EFICIENTES NO PROCESSO EDUCACIONAL Mônica F. B. Correia, UFPB, E-mail: [email protected] Geovana C. Vargas, IFPB PIBIC/CNPq Nos últimos tempos pudemos testemunhar alguns esforços em direção à qualidade na educação brasileira, desde Planos Nacionais de Desenvolvimento (PCN) até ampliação de vagas, embora ainda estejamos bem distantes de um panorama satisfatório. Tais ações são necessárias, mas insuficientes frente aos dados de insucessos escolares e desigualdades culturais. Pesquisas têm apontado um problema estrutural como cerne das questões educacionais: a postura dos educadores junto ao processo ensino-aprendizagem, principalmente a prática pedagógica como elemento decisivo na produção de histórias de insucesso na vida escolar. Estes dados denunciam falhas da Pedagogia, no tocante à prática docente, mas também da Psicologia, no que se refere à mediação de conhecimentos que contribuem decisivamente para a eficiência do processo educacional. O(A) profissional da Psicologia, portanto, não tem se mostrado suficientemente preparado(a) para a atuação no contexto escolar. As investigações denunciam, dessa maneira, o distanciamento entre ideias que ampliaram nossa visão a respeito da construção de conhecimentos e a prática educativa. Ideias relacionadas à cognição não estão sendo compartilhadas no contexto mais fértil para sua discussão e cujo objetivo, supostamente, é a promoção de desenvolvimento e aprendizagem. As inserções neste cenário têm confirmado a desinformação sobre conhecimentos fundamentais para ações dirigidas à construção do saber - principalmente entre psicólogos(as), que deveriam atuar como mediadores entre tais fundamentos e o cenário educacional. Apresentaremos a análise de atuação deste profissional junto ao processo educacional e o que se esperava desta atuação do ponto de vista de profissionais e de estudantes, através de um estudo cuja amostra foi composta por 55 profissionais (entre coordenadores, psicólogos e professores) e 178 estudantes, de sete escolas públicas e particulares de médio e grande porte da cidade de João Pessoa-PB. Os resultados demonstraram que o trabalho dos psicólogos focaliza em acompanhamentos individuais de alunos com queixas disciplinares e “emocionais” ou atividades de organização, como perfil de notas e faltas. Diferentes fatores têm contribuído para essa realidade, desde deficiências na formação profissional até escassez de programas de formação continuada. Encontramos “equipes” peda- 68 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento gógicas que não trabalham em conjunto, profissionais que atuam de forma descontextualizada e se fundamentam em conhecimentos superficiais ou inadequados para o dinamismo do processo educacional. Nesta discussão, portanto, demonstraremos dados que comprovam este distanciamento da Psicologia Cognitiva do “chão da escola”, através de discursos veiculados nas instituições pelos professores, “equipe técnica” ou estudantes. Objetiva, assim, instigar reflexões que levarão a iniciativas mais produtivas, envolvendo as interrelações existentes na escola, o trabalho em equipe até problemas de aprendizagem e disciplina. Uma análise crítica nesta perspectiva é relevante porque subsidia uma demanda ostensiva, de modo a melhorar a qualidade da relação dos(as) estudantes com a construção do saber. Desafio que é enfrentado de maneira eficiente pelo(a) psicólogo(a) quando ciente dos pontos nevrálgicos do cotidiano escolar e munido de suporte teórico adequado. Além de ser relevante por mediar a consciência sobre a necessária aproximação entre avanços realizados no campo acadêmico e as prioridades relacionadas ao cotidiano educacional. Os objetivos, desta maneira, incluem apontamentos sobre estas contribuições da Psicologia; o fornecimento de subsídios para uma atuação contextualizada e em equipe; a construção de diretrizes que levarão a ferramentas e fundamentos para abordagem adequada das situações consideradas problemáticas no cotidiano escolar. Pretende-se, desta ótica, compartilhar subsídios demonstradamente necessários para maior competência na participação do(a) profissional da Psicologia na escola e da ciência psicológica no contexto educacional - campo de atuação marcado historicamente pela remediação de “problemas de aprendizagem”; modelo equivocado, porém ainda utilizado. Palavras-chave: psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem; processo educacional; atuação na escola. PROBLEMATIZANDO COMO ESTRATÉGIA DE EDUCARTE NA SALA DE AULA Eveline Vieira Costa, UFRPE, E-mail: [email protected] CAPES O trabalho ora em análise objetivou caracterizar estratégias utilizadas por um professor de matemática em sala de aula que atuava de forma predominantemente problematizadora, buscando encontrar justificativas para o debate contínuo com os alunos. Com base na sua atuação, fica constatada uma didática baseada na arte de educar, sobretudo quando se tem em mente a ideia remota dentro da filosofia de que a dúvida é o motor do conhecimento. O papel MESAS REDONDAS do professor de educar, dentro da sala de aula, mostrou ser um método de dar aulas fomentando o questionamento constante de premissas postas como verdade. Para considerar uma base de dados baseados nesta evidência, a pesquisa parte da perspectiva dialógica, contrastando-a com a perspectiva monológica. Estas duas perspectivas encontram eco na forma de inter(ação) do sujeito e a cultura que o cerca, seja na leitura de um texto, seja nas relações estabelecidas no dia a dia, seja na sala de aula. Em todas estas formas de inter(ação) a linguagem permeia os fenômenos que ocorrem e é a responsável pela sua interpretação. A primeira forma de interpretar o mundo (a dialógica), ao contrário da segunda (a monológica), aponta para a linguagem como veículo de comunicação problemática que questiona o modelo do emissor, do receptor e da mensagem tal qual utiliza Saussure (2002), partindo da crítica feita por Bakhtin (1981, 2000). Para o primeiro, o ruído, ou a falta de compreensão da mensagem de um dos falantes, é vista como algo não esperado, ou como uma incompetência dos interlocutores. Essa é a visão de um pensamento monológico. Ao contrário, a comunicação sempre enseja nuances de interpretações possíveis, de forma que não se apresenta como pronta e acabada, mas, ao contrário, se constitui como inter(ação). A mensagem ao ser construída tem o ouvinte como copartícipe da sua produção. Assim como Heráclito afirmou que “não poderias entrar duas vezes no mesmo rio” porque nem nós, nem o rio, seríamos os mesmos; assim também Bakhtin (1981, 2000) enseja a ideia de que não podemos dizer a mesma coisa duas vezes, porque nem nós nem o ouvinte, nem a situação ou contexto em que a mensagem será proferida serão os mesmos. De certa forma, o ouvinte/ situação/contexto modifica a mensagem proferida. Com base nessas ideias, foram analisadas em Costa (2012a) aulas sobre paralelismo e ângulo nos polígonos, ministrada pelo professor, escolhido ao acaso. As cenas videografadas transcorreram em uma escola da cidade de Recife e foram, posteriormente, transcritas. Os alunos frequentavam o sétimo ano do ensino fundamental. A partir da análise do vídeo foram constatadas mudanças marcantes na atuação do professor em diversos momentos que chamamos de Problematização. O método toma como parâmetro a forma dialogada ou monológica com a qual o professor educa. Conceitualmente partimos do princípio de que na Explanação, uma evidência de discurso monológico, é aquele no qual verdades são expostas e não questionadas. Na problematização, o professor se preocupa com o educarte. Ou seja, há uma determinação em criar um discurso dialógico sobre as verdades axiológicas. A internalização foi concebida como um momento resultante dos anteriores, no qual o discurso interior é verbalizado, como em um acordo tacitamente aceito. O método que substancia o presente trabalho parte de evidências descritivas sobre os momentos de Problematização. Os resultados que serão apresentados se basearão no 69 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento momento no qual o educarte assume sua real importância, qual seja aqueles da problematização dos conteúdos. Nestes, os debates foram sustentados em questionamentos sobre as verdades dos axiomas relacionados aos objetos matemáticos à medida que os alunos iam resolvendo os problemas no quadro. Os fragmentos analisados ilustrarão a forma como o professor problematiza os enunciados buscando o que chamamos de “sentido de acabamento” descrito por Bakhtin (2000). Esse termo indica que o sentido, diferentemente do significado, possui uma circunstancialidade que lhe é própria. Concluímos a análise reconhecendo quatro estratégias em que sua postura de levar o aluno a educar-se se baseia, não permitindo o esgotamento dos diálogos em perguntas, respostas e avaliações, como é comum em sala de aula. O modelo do educarte pode ser resumido em quatro passos essenciais, tal qual expostos em Costa (2012b), que são: 1 - O professor não coloca o assunto como verdade inquestionável: ele apela para a racionalidade do aluno em perceber a lógica resultante do uso dos axiomas trabalhados. No caso do conceito da igualdade entre os membros de equações, por exemplo, ele explicita o que os alunos já derivam. Ele não expõe simplesmente a igualdade como algo dado, pronto e acabado, mas proporciona aos alunos que tragam o conhecimento; questiona este conhecimento e só após ratifica a partir da demonstração; 2 - O professor questiona a certeza do aluno na resolução dos problemas: ele apela para as diferentes concepções dos alunos, mesmo quando o que é colocado condiz com a verdade do conteúdo matemático, a fim de proporcionar justificativas e discordâncias entre eles, de tal modo que cada aluno possa se colocar do seu ponto de vista, do seu lugar na apropriação dos conceitos; 3 - O professor admite como certo o que é acordado: nestes momentos, o professor entende quando se apresenta uma concordância entre os alunos e ratifica a certeza dos mesmos; 4 - O professor contrasta a certeza dos alunos com outras possibilidades: mesmo após haver concordância entre um ponto anteriormente levantado, o professor não deixa de questionar a possibilidade de formas diferentes de se chegar aos mesmos resultados a partir de estratégias distintas. Diante de um discurso permeado pelo constante questionamento, que é base para a mobilização do pensamento, acreditamos que o nosso professor tem uma postura da educação como arte. O diálogo como cerne do processo do ensino formal enfocado como objetivo de levar o aluno à autonomia sugere a visão da escola como comunidade de prática, na qual o processo de identificação do aluno com a atividade acadêmica aparece de forma a levá-lo a constituir-se como membro periférico legítimo desta comunidade (LAVE, 1991; LAVE & WENGER, 1991). Palavras-chave: problematização; dialogismo; comunidade de prática. MESAS REDONDAS TEORIA DA ATIVIDADE E GAMES EDUCACIONAIS: UM ESTUDO SOBRE IDENTIDADE E DESENVOLVIMENTO CONCEITUAL DE JOVENS NA CONTEMPORANEIDADE Flávia Peres, UFRPE, E-mail: [email protected] CNPq Ao refletirmos sobre contextos educacionais na sociedade contemporânea, marcados pela situação em um mundo de espaços informatizados e ferramentas digitais, é necessário refletir sobre os indivíduos que transitam nesses contextos e as práticas que se desdobram de suas ações, para enfatizarmos o papel ativo dos sujeitos e considerarmos as necessidades de novas competências cognitivas, erigidas do contexto atual. A capacidade de aprender - diante da quantidade de informações e dados em rede, das múltiplas formas de tratamento pessoal e participação em um mundo diversificado e das questões que cercam o desenvolvimento de valores e personalidades flexíveis e eticamente ancoradas em práticas sociais - torna-se mais um elemento para a compreensão da sociedade, passível de estudos e reflexões. No presente trabalho, propomos uma discussão sobre educação e identidade, a partir de uma pesquisa cujas reflexões, advindas da Teoria da Atividade (LEONTIEV, 1994; 2003), parecem favorecer uma abordagem para práticas escolares, em que a participação de alunos do Ensino Médio, em situações de desenvolvimento-uso de games educacionais, foi a chave para a aprendizagem situada. Verificaram-se as interações ao longo do processo e as ações dos alunos, para compreender suas transformações conceituais e também a produção de significados culturais típicos de práticas de desenvolvedores de software. A abordagem sócio-histórica para o uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) na escola de ensino médio, viabilizou-se como fundamentação para uma prática educacional situada e crítica, onde aos jovens oportunizou-se a realização de tarefas significativas e resolução de problemas, em um ambiente que refletiu seus interesses, motivações e múltiplos objetivos. A aprendizagem vista dessa forma implica construção não apenas de conceitos, mas de identidades como relações de longo prazo, vivas entre pessoas, seus lugares no mundo e sua participação em comunidades de prática. Dito isso, identidade, conhecimento e pertencimento social acarretaram-se mutuamente, em agenciamentos práticos que permitiram vivências em práticas sociais para além do conhecimento escolar, como forma fundamental de aprendizagem. Os estudos da escola de Vigotsky (DANIELS, 2002; VIGOTSKII; LURIA; LEONTIEV, 2001) forneceram o arcabouço teórico-metodológico para concebermos o sujeito como construído social- 70 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento mente através da interação com seus pares, cujas ações são sempre mediadas. A consciência emerge da atividade (social) e, consequentemente, a constituição mental de um indivíduo é delineada pelas atividades em que ele participa. Investigar a mente nesses termos, favorecidos pelos princípios da Teoria da Atividade, implica investigar o contexto sociocultural dos indivíduos e, principalmente, suas atividades. O trabalho aqui apresentado adquire constituição eminentemente materialista dialética e, decorrente disso, visa à transformação social através da educação, numa postura crítica. Um dos objetivos específicos foi tornar alguns usuários de jogos eletrônicos educativos (alunos de ensino médio) produtores dos mesmos. Ou seja, torná-los aptos não apenas à compreensão de conceitos e conteúdos curriculares encapsulados em games, os quais se desdobram no uso, mas torná-los aptos também às competências tecnológicas próprias aos processos de desenvolvimento dos softwares. Os dados foram produzidos ao longo do Desenvolvimento Educacional para Multimídias Sustentáveis (DEMULTS), projeto de pesquisa que visa ao aprimoramento de um processo de desenvolvimento participativo de jogos digitais educativos, com participação de alunos do ensino médio. Um dos diferenciais dos jogos desenvolvidos pelas atividades do DEMULTS é que a metodologia aplicada mobiliza estratégias de aprendizagens mais autorais, responsivas, motivadas e divertidas, aproximando-se dos processos cognitivos típicos dos jovens “nativos digitais” (PRENSKY, 2001) e gerando aprendizado no trânsito entre os polos complementares (não antagônicos) de desenvolvimentouso. Priorizamos a perspectiva de comunidades de prática (LAVE; WENGER, 2001; LAVE, 2001), a qual nos oferece um olhar para entender as situações de engajamento de alunos em situações de práticas semelhantes às vivenciadas em fábricas de software, mais especificamente situações de desenvolvedores de software educacionais como games. Comunidades de prática podem ser entendidas como um grupo de pessoas que possuem afinidades por partilhar interesses comuns, que se juntam a fim de aprender, discutir e pôr em prática ações que possam vir a solucionar problemas comuns em favor do tema central, adquirindo, a partir dessas interações entre os integrantes, maior conhecimento. Trata-se de uma pesquisa participativa, com intervenções dos pesquisadores no contexto de atividades educacionais a partir do contexto escolar. As atividades de desenvolvimento dos games ocorreram no laboratório de informática de uma escola pública de Recife, com alunos de 1º/2º ano do Ensino Médio, engajados em uma equipe composta também pelos pesquisadores do DEMULTS (alunos de graduação da UFRPE, advindos das áreas de estudo envolvidas: informática, design, licenciaturas diversas). As interações foram acompanhadas através de observação participan- MESAS REDONDAS te e entrevistas com os alunos; e registradas através de imagens estáticas (fotografias) e dinâmicas (videografias), documentos escritos e dados digitais de múltiplas ações em mídias sociais. Orientamo-nos por modelos qualitativos de produção, análise e compreensão dos dados. Para as análises, usamos ferramentas da Análise de Conteúdo e da Análise Interacional (GOODWIN, 2000). A unidade de análise da pesquisa foi definida pelo que tratamos como enunciados situados. Alguns conceitos de Vigotski (2001; VYGOTSKY, 1991) explicitamente implicaram-se nas práticas do projeto, como a ideia de Zona de Desenvolvimento Proximal, compreendendo-a como um processo de transformação de uma atividade coletiva em uma atividade individual, em um espaço simbólico de compartilhamento de significados. Houve um duplo movimento que favoreceu a ZDP no processo: O movimento de interação com sujeitos de níveis de desenvolvimento diferenciados e o movimento do aluno de se colocar com outro de si mesmo ao pressupor destinatários para o game, numa cadeia dialógica. Por concebermos essas circunstâncias, ao olharmos para o fenômeno da aprendizagem de jovens em contextos escolares, aprofundamonos na perspectiva sócio-histórica em psicologia, capaz de fornecer princípios para construção de uma metodologia de ensino para o tratamento de conceitos científicos que seja, ela mesma, ferramenta-resultado de aprendizagem (NEWMAN; HOLZMAN, 1993), já que a atividade psíquica é concebida como forma peculiar de atividade, produto derivado do meio externo e transformado em atividade consciente. Teoria e Método se articularam em um ciclo metodológico coerente para responder quais os impactos do processo DEMULTS sobre a aprendizagem e identidade dos jovens. Palavras-chave: atividade; identidade; games educacionais. “EU E A MATEMÁTICA”: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, AUTOESTIMA E AUTOCONCEITO DE ESTUDANTES DOS ANOS INICIAIS Sintria Labres Lautert , UFPE, E-mail: [email protected] Claudia Roberta Araújo Gomes, UFRPE, E-mail: [email protected] Izabel Hazin, UFRN, E-mail: [email protected] CNPq A Psicologia da Educação Matemática, enquanto campo de pesquisa e produção de conhecimento constitui-se na interseção de três disciplinas: Psicologia, Educação e Matemática. Da Psicologia, herdou o interesse pelo 71 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento estudo dos processos psicológicos envolvidos no desenvolvimento e na aprendizagem; da Educação o estudo de situações didáticas no processo de ensino e de aprendizagem; e da Matemática, a consideração dos campos conceituais específicos que fornecem foco conteudístico para a investigação. Uma problemática recente e relacionada à vertente psicológica da Psicologia da Educação Matemática tem sido a consideração da relação entre o ensino- aprendizagem e aspectos relacionados à subjetividade e afetividade (ARAÚJO e col. 2003; HANULLA; EVANS; PHILIPPOU & ZAN, 2004; HAZIN; FRADE & Da ROCHA FALCÃO, 2010; ZAN; BROWN; EVANS & HANNULA, 2006). Na esteira dessas reflexões, muitos questionamentos despontam como relevantes, dentre os quais destacamos as representações que as crianças têm de si, da matemática e das suas relações com a matemática. Segundo Da Rocha Falcão e Hazin (2007) a pesquisa em educação matemática tem paulatinamente elevado a afetividade à condição de variável de pesquisa, ainda que em contexto dicotômico. Tais pesquisas voltam-se para: (i) a descrição de emoções relacionadas à experiência matemática escolar e extraescolar; (ii) as relações de transferência e contratransferência na interação aluno e professor de matemática; (iii) as relações entre autoestima, autoconceito e desempenho escolar em matemática; (iv) atitudes e crenças acerca da matemática. Seguindo tal direção de investigação, o presente estudo elegeu o desempenho de estudantes em atividades matemáticas como representante da cognição e a autoestima, o autoconceito e a representação social da matemática das crianças envolvidas no processo, como representantes da afetividade. Ressaltamos que, embora representadas em separado, a perspectiva aqui defendida será da integração desses dois processos que se constituem mutuamente na subjetividade do estudante. O constructo conhecimento de si mesmo é aqui considerado enquanto conceito geral, que diz respeito aos conhecimentos, ideias e atitudes que temos sobre nós mesmos, no qual dois aspectos precisam ser considerados: o autoconceito, conteúdo deste conhecimento, refere-se às características ou atributos que utilizamos para nos descrevermos e a autoestima referente à avaliação ou julgamento que fazemos deste autoconceito, sendo esta dimensão avaliativa do autoconceito. Adicionalmente, Gómez-Chacón (1999, 2003) traz como contribuição ao debate a perspectiva de duas estruturas de afeto no sujeito, a saber, a local e a global. A autora propõe que não há como compreendermos as relações estabelecidas entre a afetividade do sujeito e o seu desempenho em matemática se restringirmo-nos a observar e conhecer os sentimentos e reações emocionais advindos de uma sessão de resolução de problemas, por exemplo (estrutura afetiva local). Torna-se essencial conhecer e compreender o sistema de valores, ideias e práticas culturais, já que estas cum- MESAS REDONDAS prem a função de estabelecer uma ordem que permita ao indivíduo orientar-se, proporcionando-lhe um código de comunicação (estrutura afetiva global). Sendo assim, torna-se imprescindível trabalhar com as duas perspectivas de estruturas afetivas do sujeito quando o objetivo é abordar a relação entre a dimensão afetiva e o desempenho matemático. Neste sentido torna-se relevante investigar as representações sociais (RS), acerca de objetos sociais específicos (aqui a matemática), construídas por estudantes de matemática. Em face do exposto o presente estudo investigou as representações sociais que estudantes têm da matemática, assim como a autoestima, o autoconceito. Participaram do estudo trinta estudantes, de ambos os sexos, do 4o ano do Ensino Fundamental I da rede pública da cidade do Recife. Para tanto, foi utilizada a Técnica Projetiva do Desenho-Estória, na qual as crianças foram solicitadas a produzirem desenhos e histórias, a partir de três temas: “Eu”, “A matemática”, “Eu e a matemática”. A análise das produções das crianças revela que em 96,67% dos relatos a matemática foi representada circunscrita ao contexto escolar, ou seja, ausente de outros contextos sociais. Tal fato fica evidente quando o participante 74 conta a história realizada “Na escola, eu e meus colegas, a gente fica fazendo o dever de matemática e é muito legal fazer o dever de matemática com o professor. Aqui é a sala, o quadro e os alunos. Isso é a árvore. Ela fica do lado de fora. Quando a gente vai pro recreio, a gente vai pro lado de fora. Quando a gente sai, a matemática fica do lado de dentro da sala” (sic). Ademais, verifica-se que 80% das crianças concebem a matemática como uma aquisição de conhecimento, procedimentos e conceitos matemáticos básicos, corroborando com as investigações de Gómez-Chácon (2003). Outro dado observado referese ao fato de que em 43% dos desenhos-estórias evidenciase a presença do professor como mediador da relação das crianças com o conhecimento matemático. A presença da professora, sempre sendo representada por uma mulher já que ainda temos o sexo feminino como representando com certa hegemonia a professora dos anos iniciais do ensino fundamental -, ocupava a posição de detentora do saber que era transmitido para as crianças. Os cenários de aprendizagem eram compostos pela professora ensinando o que está exposto no quadro para uma turma de crianças sentadas cada uma em sua carteira individual posicionada em fileiras, sendo a matemática representada pela atividade de fazer contas e tabuada, sendo necessário muito estudo e esforço para compreendê-la. Considerando o desempenho nas atividades matemáticas, consta que os alunos com baixo desempenho matemático ressaltavam as experiências negativas em suas relações com a matemática, bem como evidenciam gostar de matemática porque gostam da professora. Estudos evidenciam que a matemática tem forte correlação positiva entre gostar do 72 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento professor e gostar do conteúdo que está sendo, por ele ensinado. Isto porque “talvez a matemática que tínhamos na escola só existisse dentro da escola, e como consequência, todo contato que tínhamos com ela era através daquele professor ou professora” (LINS, 2005, p. 93). Enquanto isso, os alunos com alto desempenho demonstraram sentimentos de prazer e reconhecimento de suas habilidades com o conhecimento matemático descrevendo-se como crianças inteligentes porque sabem a matemática. Para Da Rocha Falcão e Hazin (2007), o desempenho em matemática encontra-se, ainda, fortemente associado ao desempenho em testes de inteligência, ao difundir a correlação estatística entre os resultados dos testes de inteligência e o desempenho em atividades envolvendo a matemática escolar. Os resultados preliminares aqui apresentados direcionam a reflexão para a indissociabilidade entre cognição e afeto, demonstrando que a representação que as crianças têm da matemática - aquela que é apresentada na sala de aula pela professora ‘mulher’, nos anos iniciais - está impregnada da relação afetiva que esta criança desenvolve com sua mestra e da motivação para a aprendizagem que essa mesma criança apresenta. Estudos mais aprofundados sobre como esta constituição mútua entre desenvolvimento cognitivo e afetivo ‘afeta’ a sala de aula de matemática têm sido realizados e possibilitarão uma compreensão mais clara dessa relação. Palavras-chave: afetividade; matemática; autoestima; representação social. MR - 2423 Sala 406 - 16h CULTURAS INFANTIS: ENTRE A (IN)VISIBILIDADE E A AFIRMAÇÃO DA INFÂNCIA COMO CATEGORIA SOCIAL Adelaide Alves Dias, UFPB Fernanda Cabral Coelho, UFPB Lenilda Cordeiro de Macedo, UFPB Geórgia Abrantes Dantas, UFPB Liana Gonçalves Pontes Sodré, UNEB Maria Jacilda Farias Laurindo, UNEB Esta mesa focaliza aspectos diversos de uma mesma possibilidade de se estudar as culturas infantis em contextos de interação social em creches e pré-escolas, com especial ênfase para as práticas de (in)visibilização e/ou de afirmação da infância enquanto categoria social. Prioriza a construção de contextos educativos que valorizam e põem em relevo a criança e suas infâncias a partir de uma perspectiva psicossocial, privilegiando as abordagens da Psicologia Sócio-Histórica e da Sociologia da Infância. As quatro pesquisas que constituem a mesa são todas de MESAS REDONDAS natureza qualitativa e estão vinculadas a dois núcleos de pesquisa (NUPEC/UFPB e GRAFHO/UNEB), envolvendo três instituições de ensino superior públicas (UFPB, UEPB e UNEB). Esses grupos de pesquisa vêm mantendo interlocuções constantes com o objetivo do desenvolvimento de pesquisas que têm como foco conceitos como: cultura, identidade, linguagem, representações, crianças e suas infâncias. Parte da compreensão que a diversidade de temas e as interfaces com outros campos de atuação propiciam a produção de conhecimentos nas áreas de cultura e educação infantil, no propósito de produzir efeitos nas subjetividades e nas práticas sociais. As quatro pesquisas, de natureza qualitativa, aqui apresentadas, possuem, ainda, a marca das produções acadêmicas balisadas por concepções de desenvolvimento infantil como multifacetado e multidimensional, de forma que a seu estudo prescinde de categorias analíticas rígidas e determinadas aprioristicamente. Assim, o primeiro trabalho, intitulado “A MÍDIA TELEVISIVA NAS CULTURAS INFANTIS: REFLEXÕES PSICOSSOCIAIS ACERCA DAS REPRESENTAÇÕES DE CRIANÇAS SOBRE DESENHO ANIMADO TELEVISIVO” tem como objetivo central discutir as representações de crianças sobre o desenho animado sob perspectivas psicossociais do desenvolvimento cognitivo infantil. Para isso, apresenta dados referentes a uma investigação que teve como objetivo conhecer as representações de crianças entre 4 e 5 anos sobre seus desenhos animados televisivos prediletos, destacando a importância da mediação e utilização dos desenhos animados televisivos como recurso educativo. O segundo trabalho: “PRÁTICAS INTERATIVAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A RODA DE CONVERSA E AS IMPLICAÇÕES SOCIAIS PARA A INFÂNCIA”, configura-se como uma pesquisa etnográfica, cujos objetivos são: compreender qual é o papel das práticas e vivências escolares na constituição do ser criança e da infância; analisar como as crianças vivem sua condição de infância na instituição de educação infantil e como elas reproduzem e produzem culturas no ambiente escolar. A terceira pesquisa intitulada “ESTILO E QUALIDADE DAS INTERAÇÕES ADULTO-CRIANÇAS NO CONTEXTO DA PRÉ-ESCOLA EM JOÃO PESSOA”, visou examinar a qualidade das relações que o professor de Educação Infantil promove com as crianças, mediante avaliação das situações de interação entre adulto-crianças inerentes ao contexto de pré-escolas. A quarta e última pesquisa intitula-se “CRIANÇAS E PROFESSORAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A (IN)VISIBILIDADE EM MÃO DUPLA” e teve como objetivo construir meios e modos para contar com a participação ativa das crianças, com vistas à análise da realidade vivenciada por elas na Educação Infantil. Contou com a participação de 100 crianças da Rede Municipal de Ensino de Teixeira de Frei- 73 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento tas, com idades variando entre 4 e 6 anos. O processo de interlocução com as crianças foi mediado por desenhos elaborados por elas próprias, os quais foram analisados a partir da concepção sócio-histórica de construção social. Todas as pesquisas aqui apresentadas têm, ainda, como propósito, contribuir com a melhoria das práticas educativas que acontecem no interior de creches e pré-escolas e, assim, propiciar o desenvolvimento integral das crianças pequenas. Palavras-chave: crianças; infâncias; educação infantil; culturas infantis. A MÍDIA TELEVISIVA NAS CULTURAS INFANTIS: REFLEXÕES PSICOSSOCIAIS ACERCA DAS REPRESENTAÇÕES DE CRIANÇAS SOBRE DESENHO ANIMADO TELEVISIVO Fernanda Cabral Coelho, UFPB Adelaide Alves Dias, UFPB Este texto objetiva discutir as representações de crianças sobre o desenho animado sob perspectivas psicossociais do desenvolvimento cognitivo infantil. Para isso, apresenta dados referentes a uma investigação que teve como objetivo conhecer as representações de crianças entre 4 e 5 anos sobre seus desenhos animados televisivos prediletos, destacando a importância da mediação e utilização dos desenhos animados televisivos como recurso educativo. Tratou-se de uma pesquisa empírica qualitativa baseada na Psicologia do Desenvolvimento, na abordagem sociointeracionista e na Sociologia da Infância. A pesquisa foi realizada numa escola pública de João Pessoa - Paraíba, tendo como sujeitos 7 crianças. Para aprofundamento e uma maior precisão nas informações, também foram realizadas entrevistas com as mães e professora destes sujeitos. Utilizamos como instrumentos a entrevista-conversa, confecção de desenhos e entrevista semiestruturada. Nosso questionamento principal foi como as crianças entre 4 e 5 anos, alunas do Pré-escolar II, representavam seus desenhos animados televisivos prediletos. Deste, surgiram outros desdobramentos: Que tipo de influência social e cultural existe nas mensagens e imagens apreendidas pelas crianças através destes desenhos? Essas mensagens e imagens podem incidir diretamente no comportamento e no desenvolvimento cognitivo das crianças? Partimos do pressuposto que as crianças são seres sociais plenos, em pleno processo de ação social. Ou seja, as crianças são produtoras de culturas próprias, as culturas da infância, que Sarmento (2007) prefere chamar de “entre-cultura”; desta maneira, o universo simbólico infantil se constrói a partir das interações estabelecidas em cada contexto cultural e social (TREVI- MESAS REDONDAS SAN, 2007; SARMENTO, 2007). Os principais resultados encontrados apontam que a programação televisiva mais assistida pelas crianças são os desenhos animados, mais especificamente, o Pica-pau. Ora, uma vez que o desenho animado tem como função principal divertir a criança e satisfazer sua necessidade de ludicidade, “todas as vezes que a realidade se torna, aos olhos da criança, difícil demais de ser reproduzida, ela a recria, combinando-a de modo a compensar seus aspectos menos facilmente assimiláveis” (COELHO, 2008, p. 16). Vygotsky (1987) denominou tal reconstrução de lei de dupla estimulação: tudo que está no sujeito existe antes no social (interpsicologicamente) e quando é apreendido e modificado pelo sujeito e devolvido para a sociedade, passa a existir no plano intrapsicológico (interno ao sujeito). A criança também se utiliza da brincadeira para resolver situações que lhe causam medo, insegurança ou inibição, revivendo-as de uma maneira imaginária a seu modo, a fim de poder assimilá-la. Este movimento interiorizado aponta que através dos desenhos televisivos as crianças vivem na sua imaginação conflitos, medos e aventuras, estimulando, assim, um amadurecimento emocional e cognitivo, de modo a assimilar e acomodar essas estruturas. Nesta perspectiva, assistir desenhos animados torna-se uma brincadeira educativa, para Piaget (1979, p. 40): “O brincar se dá quando, ao interagir com o meio, predominam os esquemas de assimilação sobre os de acomodação, isto é, quando predomina o prazer sobre o esforço de se transformar para acomodar”. Este ato de aprendizagem lúdica possibilita à criança justamente o prazer de se sentir atuante frente à situação não dominada por ela. A imitação é uma das ações infantis que mais permite a aquisição de conhecimentos na criança e possibilita a compreensão da atitude do outro, bem como permite a criação de ZPD, pois através da imitação a criança poderá realizar tarefas que vão além de sua capacidade atual. Para Vygotsky (1996), a imitação e o faz de conta permitem a reconstrução interna daquilo que é observado externamente. Através da imitação as crianças superam seus limites, pois a imitação é um instrumento de reconstrução. Os desenhos animados dão, sobretudo, a oportunidade às crianças de criarem suas próprias representações, leituras, formas e imagens, além de permitirem a exploração de questões pessoais e sociais de um modo subjetivamente significativo. Assim, com base em Piaget e Vygotsky, é possível afirmar que as representações infantis se constroem a partir das relações interativas estabelecidas em contextos formais e não formais de ensino. Os desenhos animados promovem a interação familiar, diretamente ou indiretamente, exercendo uma função socializadora (FERRÉS, 1998). No ambiente escolar, entretanto, os desenhos animados têm sido utilizados sem qualquer intenção educativa, apenas como um objeto lúdico para recreação. Portanto, para que os desenhos animados se transformem em instrumentos 74 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento educativos torna-se necessário um melhor planejamento da ação pedagógica. Visto que a televisão poderá ter caráter libertador à medida que a via emocional não impeça a capacidade crítica e racional: “[...] Será isso quando as mensagens [...] forem vividas de maneira lúcida, consciente e integradora” (FERRÉS, 1998, p. 275). Daí a importância da mediação na relação das crianças com a televisão, para que a leitura deste meio seja uma leitura autônoma de criação e recriação mais ampla em conteúdos significativos. Por fim, os resultados encontrados destacam, ainda, que os desenhos fazem parte da cultura infantil proporcionando desenvolvimento cognitivo, interações sociais. Através das imagens, os desenhos animados ativam as emoções, orientam condutas e marcam direções para a ação através da comunicação persuasiva. Portanto, a educação infantil necessita rever suas metodologias adequando-as às culturas da infância e respeitando suas preferências e possibilidades imaginativas. Palavras-chave: educação infantil; representações infantis; desenho animado televisivo. PRÁTICAS INTERATIVAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A RODA DE CONVERSA E AS IMPLICAÇÕES SOCIAIS PARA A INFÂNCIA Lenilda Cordeiro de Macedo, UEPB Adelaide Alves Dias, UFPB Agência financiadora: CAPES Este trabalho tem como objetivos: compreender qual é o papel das práticas e vivências escolares na constituição do ser criança e da infância; analisar como as crianças vivem sua condição de infância na instituição de educação infantil e como elas reproduzem e produzem culturas no ambiente escolar. A pesquisa foi realizada ao longo do ano de 2011, em duas turmas do pré-escolar de uma instituição de educação infantil, localizada na cidade de Campina Grande, PB. Ancoradas no método etnográfico, as técnicas utilizadas na produção dos dados foram a observação participante, a análise documental e entrevistas informais com 28 crianças e 4 professoras. Foram cerca de 160 horas de observações, nas quais nos utilizamos, para registro dos dados, de um diário de campo, câmera fotográfica e de vídeo. Vale acrescentar que os resultados e conclusões, parciais, que socializamos neste texto dizem respeito a um momento específico da rotina: o horário das atividades dirigidas, no qual sempre se organiza uma roda de conversa. A prática de falar às crianças e não com elas é culturalmente instituída. Sempre foi assim, criança não pode falar porque é in-fans. A palavra infância traz este ranço da ausência - aquele que não fala, não sabe, sendo categorizada como menor, dependente. Porém, a MESAS REDONDAS sociologia da infância (SARMENTO, 2004, CORSARO, 2011) anuncia uma nova perspectiva com relação à infância e à criança, ressaltando a necessidade de dar voz a estes sujeitos, os quais sofreram um processo de ocultamento social e político sem precedentes na história, tendo sido reservado a eles o status da subalternidade. A psicologia sócio-histórica defende que o sujeito se constitui a partir de uma relação dialética com o outro sendo um processo constituinte e constituído permanentemente no social. As crianças se apropriam dos significados sociais, apreendidos junto aos adultos e seus pares e produzem sentidos particulares. Ou seja, no ato discursivo com o outro ela apreende os significados culturais, os internaliza tornando singular aquilo que é plural/social. Este processo de reprodução de significados e produção de sentidos implica, portanto, em produção cultural (PINO, 2005; VIGOTSKY, 2007). A produção de cultura pela criança depende sempre do outro, do social. Ao internalizar os significados culturais ela reinterpreta-os, produz sentidos novos, singulares, sendo autora nesta relação, constituindo-se no conceito de reprodução interpretativa (CORSARO, 2011). A criança, nesta perspectiva, é autora/produtora de culturas infantis. A psicologia social e a sociologia da infância dialogam no sentido de dar visibilidade às ações das crianças e à infância, categoria social marginalizada ao longo da história (SARMENTO, 2009). Dar a palavra às crianças e inseri-las em eventos discursivos, nos quais tenham a oportunidade de se expressar, argumentar, falar sobre suas experiências, expor seus pontos de vista possibilita a elas a internalização dos significados sociais, da cultura em geral e, por conseguinte, a produção de sentidos sobre a realidade e, também, de saberes, valores, hábitos singulares, em síntese, de culturas infantis. “A palavra e os símbolos produzidos na interação, são elementos fundamentais para a organização do pensamento” (MOTTA, 2011). Os dados preliminares evidenciaram que as professoras, apesar de organizarem cotidianamente a “roda de conversa”, têm pouca disposição em dialogar com as crianças e de considerar seus pontos de vista: ignoram deliberadamente a fala delas, ou respondem com monossílabos encerrando um possível diálogo e demonstrando uma clara indisposição de interagir com elas, caracterizando-se mais como uma roda de desconversa. No entanto, as crianças, como sujeitos ativos em processo de desenvolvimento, que produzem e reproduzem culturas, insistem em perguntar, em falar, não se constrangem diante da prática monológica das professoras. Ademais, elas são propensas a falar de si, de suas experiências e saberes, sempre que um adulto se disponha a ouvi-las. Constatamos ainda que, pelo fato de as crianças serem marcadas pelas diferenças pessoais, sociais e culturais, respondem de forma diversa às situações e circunstâncias a que estão expostas. Algumas são mais ousadas, não se 75 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento intimidam com facilidade e estão sempre rompendo com as barreiras, transgredindo as regras na roda, argumentando, dando opiniões, mesmo que sejam desvalorizadas ou ignoradas pelas professoras; porém, outras crianças se retraem, respondem com a passividade e docilidade esperada e valorizada pelas professoras/estrutura. No entanto, o fato de responderem passivamente não significa que elas sejam, de fato passivas, a obediência e a passividade são formas deliberadas, refletidas, de resistir à estrutura autoritária instituída, pois segundo Giddens (1987) a estrutura é dual, ao tempo que coage os sujeitos, habilita-os para resistir a ela. Em face do exposto, concluímos que a prática interativa de natureza monológica pouco contribui para que as crianças se sintam confiantes para expor seus pontos de vista, narrar suas experiências, participar dos processos decisórios que lhes dizem respeito e nos ajuda a compreender sua percepção da realidade. Afinal, com base na teoria sócio-histórica, o que somos tem sempre como base o social e o cultural. Nesta perspectiva, a estrutura social tem um peso sobre nossa forma de ser e estar no mundo, implicando em uma grande responsabilidade daqueles que atuam como educadores e professores. A ação pedagógica junto às crianças, na educação infantil, reflete-se na construção de suas singularidades: falar a elas e não com elas; permitir que se expressem ou não; valorizar o que falam ou não; são decisões pedagógicas que têm implicações sociais profundas para a infância, categoria social marginalizada historicamente. Por isso, a título de proposição, refletimos sobre a necessidade de fortalecer as práticas interativas de natureza dialógica no interior das instituições de educação infantil. Consideramos que tais práticas têm implicações em várias dimensões: no campo político-social e ético, porque estamos valorizando um grupo geracional que foi destituído de poder ao longo da história, constituindo-se em uma atitude de solidariedade e justiça; no campo pedagógico e psicológico o diálogo com a criança nos ensina sobre quem são, o que sabem, como pensam, como aprendem, além de possibilitar a organização e reelaboração do pensamento; finalmente, no campo socioantropológico o diálogo nos leva a conhecer seus mundos de vida e suas culturas. Palavras-chave: educação infantil, criança; prática interativa. ESTILO E QUALIDADE DAS INTERAÇÕES ADULTO-CRIANÇAS NO CONTEXTO DA PRÉ-ESCOLA EM JOÃO PESSOA Adelaide Alves Dias, UFPB Geórgia Abrantes Dantas, UFPB Agência Financiadora: CNPq MESAS REDONDAS Este trabalho teve como objetivo principal examinar a qualidade das relações que o professor de Educação Infantil promove com as crianças, mediante avaliação das situações de interação adulto-crianças inerentes ao contexto de pré-escolas. A pesquisa, de natureza qualitativa, foi desenvolvida em sete escolas municipais de João Pessoa que oferecem Educação Infantil no segmento de pré-escola (4 e 5 anos), selecionadas a partir dos seguintes critérios: a faixa etária do atendimento, tipo de atendimento, quantidade de crianças atendidas, localização por polo e zona geográfica, privilegiando os bairros mais populosos da capital. As escolas ficam localizadas: uma na zona norte da cidade, duas na região sul, quatro na zona oeste e duas na zona sul. Como critérios de inclusão dos sujeitos foram consideradas participantes as pessoas que possuem vínculo empregatício, efetivo ou de contrato, com as sete escolas, o que totalizou 19 participantes, sendo 15 professoras, 4 monitoras. Com este desenho, desenvolvemos a coleta de dados para a obtenção de informações acerca das instituições e da formação dos educadores em exercício e das instituições de Educação Infantil. Buscamos analisar qual a formação dos educadores e como estes profissionais desenvolvem suas atividades junto às crianças, partindo do pressuposto que a qualidade das relações estabelecidas entre adulto e criança é propulsora de aprendizagens significativas no contexto da Educação Infantil, cuja finalidade é o desenvolvimento integral da criança. Utilizamos como instrumentos de pesquisa as fichas sobre a formação docente e a Escala de Empenhamento do Adulto, ambos extraídos e adaptados do “Manual do Projecto Desenvolvendo a Qualidade em Parcerias” - DQP (BERTRAM & PASCAL, 2009). Fizemos, também, observações da prática e utilizamos um diário de campo como registro dessas observações. Os resultados, em geral, apontaram para a constatação de que o nível de formação inicial das professoras atende aos requisitos exigidos pela legislação brasileira (BRASIL, LDB, 1996, art. 62, Lei nº 12.796, de 2013). O mesmo pode-se dizer em relação à formação das monitoras: das 4 investigadas apenas uma não atende aos requisitos da Lei. Estes dados significam que, do ponto de vista dos requisitos formais, professoras e monitoras, em sua grande maioria, atendem ao que é exigido pela legislação educacional brasileira no que diz respeito à formação docente. Em vista disso, nossa expectativa em relação à qualidade das interações desenvolvidas pelas educadoras foi a mais animadora possível na perspectiva da construção de relações significativas e criativas de aprendizagem. Todavia, as observações registradas no diário de campo evidenciaram o fato de que em todas as escolas existe uma divisão de trabalhos entre as professoras e monitoras, caracterizada pela dicotomia entre cuidar e educar, isto é, as professoras educam e ensinam e as monitoras só cuidam. Outro 76 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento resultado encontrado diz respeito à constatação de que na maioria das instituições ainda se encontra presente a visão maternalista de educação infantil, onde a escola se resume a um lugar seguro onde as mães podem deixar seus filhos para outras mulheres “cuidarem” deles como mães, ou seja, a visão de que a pessoa que trabalha com crianças pequenas, desempenhando funções de cuidado, mais especificamente as monitoras, não precisam ter formação específica. Outro ponto que merece destaque é em relação aos espaços físicos das escolas que deixam a desejar, possuem pouco espaço para lazer, faltam recursos e principalmente materiais didáticos. Partindo dessa compreensão, Dias (2008, p. 227) destaca ações que visam assegurar o direito da criança à educação de qualidade, entre as quais se destacam: o levantamento das condições das instituições que realizam a Educação Infantil; o estabelecimento de critérios mínimos para o funcionamento e credenciamento, a ampliação de recursos financeiros e pedagógicos capazes de garantir a melhoria das condições de educação desses espaços. Com relação às observações da escala de Empenhamento do Adulto, verificamos que as escolas se apresentam com um número considerável de observações da prática docente com pouco Empenhamento do Adulto, principalmente para a categoria Autonomia e muito empenhamento na categoria Sensibilidade. Vemos a importância do fomento de relações adulto-criança que propiciem aprendizagens significativas, as relações estabelecidas entre o adulto e as crianças são cruciais para o desenvolvimento infantil, visto que é nas interações que a criança experimenta, conhece e compreende o mundo. A interação face a face entre indivíduos particulares desempenha um papel fundamental na construção do ser humano: é através da relação interpessoal concreta com outros homens que o indivíduo vai chegar a interiorizar as formas culturalmente estabelecidas de funcionamento psicológico (OLIVEIRA, 1995, p. 38). Portanto, é importante frisar que as crianças se desenvolvem em situações de interação social, nas quais conflitos e negociação de sentimentos, ideias e soluções são elementos indispensáveis. A interação permite que se crie uma situação de ajuda na qual as crianças avancem no seu processo de aprendizagem. Palavras-chave: formação; educação infantil; interação criança-adulto. CRIANÇAS E PROFESSORAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: A (IN)VISIBILIDADE EM MÃO DUPLA Maria Jacilda Farias Laurindo, UNEB Liana Gonçalves Pontes Sodré, UNEB MESAS REDONDAS As distâncias entre adultos e crianças têm dificultado as relações nos diferentes espaços que compartilham suas vivências, especialmente para as crianças que desde pequenas são introduzidas no processo educacional formal, a exemplo da Educação Infantil. A pesquisa que aqui se inscreve contou com a participação de 100 crianças da Rede Municipal de Ensino de Teixeira de Freitas, com idades variando entre 4 e 6 anos. O processo de interlocução com as crianças foi mediado por desenhos elaborados por elas próprias. Dos desenhos e das explicações foram extraídos os elementos apontados pelas crianças. Para a análise dos desenhos, partiu-se do pressuposto de que são constituídos socialmente e, em decorrência, não se buscou uma análise interpretativa das produções gráficas das crianças em si, mas sim compreendê-los a partir de suas próprias verbalizações. O importante no processo de produção dos dados foram as explicações, pois os desenhos nem sempre eram claros. Foram extraídos das respostas das crianças os aspectos que elas indicaram como relevantes para destacar da Educação Infantil, a partir da análise de dois desenhos, sendo que: no primeiro desenhavam o que mais gostam na escola e, no segundo, o que desejariam para a escola. Os elementos indicados pelas crianças foram organizados em listagens diferentes com suas respectivas justificativas. O estudo teve por objetivo construir meios e modos para contar com a participação ativa das crianças, com vistas à análise da realidade vivenciada por elas na Educação Infantil. Por isso, é importante avaliar os locais para que o processo de adaptação das crianças seja o melhor possível, sempre respeitando as particularidades das mesmas, da sua cultura, assim como a participação dos pais. Como afirmam Vasconcellos e Vasconcellos (2003, p. 98), “o lugar é um importante componente na formação da subjetividade humana de modo que a forma de produção de infância de determinado lugar guarda aspectos próprios e diferenciados. Toda criança traz em si as marcas do lugar”. As crianças da rede pública quando inquiridas sobre o que mais gostam na Educação Infantil indicaram brinquedos e brincadeiras (26%) e elementos da natureza (25%). Das demais respostas identificadas mereceram destaque as que se referiam a materiais e atividades escolares (15%). Essa descrição permitiu afirmar que um pouco mais da metade das crianças gostam de estar em contato com a natureza, bem como com brinquedos e brincadeiras. O terceiro conjunto de respostas mostra a importância que a criança dá aos elementos usuais das escolas, tais como: o ler e o escrever e outras atividades e materiais que fazem parte do dia a dia das escolas. Além dessas respostas, outras aparecem em menor frequência, porém com uma variabilidade que não favoreceu o agrupamento das mesmas (SODRÉ, 2007). O que destacamos nesta análise é a indicação que não aparece no referido estudo: a professora. 77 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento No processo de interlocução com as crianças procuramos deixá-las à vontade para apontar o que achassem pertinente, e partíamos do pressuposto de que em algumas escolas a professora poderia ser citada. Em estudos subsequentes a figura da professora também não foi citada pelas crianças. Para iniciar a discussão sobre esta questão, recorremos a Dahlberg, Moss & Pense (2003), quando apontam que é preciso reconstruir uma pedagogia para as crianças que ressignifique as diferentes infâncias. Uma educação que não trate as crianças como iguais, mas, como afirma Morin (2001), que as perceba como seres singulares com especificidades, desejos e sonhos. Assim, a possibilidade da invisibilidade de cada criança por parte das professoras parece indicar um processo de mão dupla. Por um lado, o processo de exclusão das crianças da vida adulta no curso da história favoreceu um conceito de infância que se generalizou, e não contribuiu para a análise da condição infantil e, principalmente, do significado social desse período (ARIÈS, 1981; GONDRA, 2010). Assim, a infância passou a ser vista como uma categoria geracional, um “vir a ser”, uma projeção de futuro... A criança corporificada, presente nos diferentes espaços que frequenta, tornou-se invisível em suas subjetividades. Por outro lado, a criança, ao não se ver refletida no olhar da outra, também não a reconhece como um ser diferenciado, ou como uma professora especial que merece ser destacada das demais. A distância geracional, que era vista apenas na perspectiva da invisibilidade das crianças por parte dos adultos, também pode ter contribuído para o não reconhecimento do adulto quando este não reconhece cada criança que está ao seu redor. Acrescentamos ainda outro pressuposto como possibilidade de análise para a ausência da indicação da professora: a invisibilidade espelhada na relação de poder adulto-criança. Para os estudiosos do campo da sociologia da infância, a geração adulta demarcou um lugar específico para a criança: a escola. Aos poucos neste ambiente, até mesmo no da Educação Infantil, as crianças vão sendo moldadas para a vida futura, para uma vida adaptada ou subjugada aos espaços adultos. Assim, em meio a contextos adultocêntricos, os mundos sociais das diferentes infâncias vão sendo configurados a partir dos mundos sociais dos adultos, e, nessa perspectiva, as crianças, suas interações, brincadeiras, invencionices, seus jeitos e modos de ser vão se tornando invisíveis. Como acrescenta Dornelles (2011), a institucionalização da infância e a consolidação da escola como principal veículo de controle e poder sobre as crianças têm o intuito de transformá-las em crianças/ alunos, ou seja, crianças/razão, protótipo de um determinado modelo de adulto, os “bons indivíduos”. Assim, na invisibilidade das crianças também vemos a invisibilidade dos adultos, marcados em suas trajetórias de vida por processos de duplo silenciamento. Tais ponderações MESAS REDONDAS implicam reconhecer que frente à invisibilidade da professora nos desenhos das crianças é pertinente a problematização: como conseguir a construção de novas bases para a relação adulto/criança? É possível a construção de um diálogo solidário com as crianças? Porque ainda são incipientes os estudos que reconhecem à criança seu protagonismo e que direcionam seu olhar para as crianças e suas redes de relações, é possível concluir, diante deste indicador, que há um vasto campo de estudos pela frente para que se possa dar conta de compreender o sentido (etno) pedagógico e político-cultural do conjunto das práticas e das relações identificadas no contexto das sociedades que revelam o protagonismo e a autonomia das gerações mais novas. Importa-nos compreender os efeitos e as ressonâncias destes vetores de subjetivação que vêm de tantos outros mundos penetrando e constituindo-se nos mundos de infância, influenciando-os nos modos como interpretam, posicionam-se, ressignificam para si as outras experiências e (re)orientam suas ações. Reiteramos, por fim, que o protagonismo e a escuta infantil se constituíram numa das motivações desta pesquisa, uma vez que precisamos de espaços de Educação Infantil abertos para o diferente, o imprevisível, o inconcluso, trabalhando numa perspectiva de protagonização do “ser criança”, o que dificilmente poderá ser conquistado se não nos permitirmos ser tocados pelas crianças. Palavras-chave: criança; professora; educação infantil. MR-2255 Sala 412 - 16h POLÍTICAS EDUCACIONAIS E DESENVOLVIMENTO INFANTIL Vera Maria Ramos de Vasconcellos, UERJ Núbia Aparecida Schaper Santos, UFJF Marcia de Oliveira Gomes Gil, Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro Ana Carolina Fioravanti-Bastos, UNISUAM Maciel Cristiano da Silva, Secretaria Municipal de Educação de Nova Iguaçu Esta Mesa-Redonda apresenta resultados finais de pesquisas. Três delas foram desenvolvidas no Núcleo de Estudos da Infância: Pesquisa & Extensão/UERJ, por mestrandos e uma doutoranda da Linha de Pesquisa Infância, Juventude e Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (ProPEd/UERJ), e uma delas foi realizada pelo grupo Interação Social e Desenvolvimento (ISDES, PPGPS/UERJ) e o Departamento de Psicologia da Universidade Augusto Motta (UNISUAM). As pesquisas estão situadas nas áreas de Educação Infantil e Desenvolvimento Humano e visam 78 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento produzir discussões sobre as questões de desenvolvimento e os conflitos presentes na formação de subjetividades de crianças (0 a 42 meses) e adultos (educadores da infância e familiares), num ambiente educacional específico (creche). Articulam temas de pesquisa, valorizando a produção nacional da Psicologia do Desenvolvimento em interlocução com a Educação da Infância. Serão retratados os contextos e alguns dados de análise das políticas públicas de Educação Infantil, modalidade creche, em duas cidades: Rio de Janeiro e Juiz de Fora, MG, através do olhar de seus protagonistas. O primeiro trabalho (SCHAPER SANTOS, Núbia) discute o lugar do choro das crianças nas falas das coordenadoras/diretora das creches de Juiz de Fora, Minas Gerais. Os seguintes discutem as políticas públicas educacionais da cidade do Rio de Janeiro, após a realização de dois concursos públicos que modificaram o perfil dos profissionais de Educação Infantil da cidade. Foram eles: o concurso para agentes auxiliares de creche (Edital nº1 de 04/08/2007) e para Professores de Educação Infantil (Edital nº 91, de 25 de outubro de 2010). Assim, o trabalho de GIL, Marcia apresenta a visão das recém-empossadas (2011) professoras de Educação Infantil sobre a construção de suas identidades no confronto e nos conflitos com as agentes auxiliares e as diretoras de creche. FIORAVANTIBASTOS, Ana Carolina M. apresenta a opinião das agentes auxiliares de creches sobre o instrumento que lhes foi imposto pela Secretaria Municipal de Educação, em 2010, o questionário “Ages and Stages Questionary” (ASQ3), para avaliar as suas crianças de até 6 anos. O trabalho de SILVA, Maciel Cristiano descreve a peregrinação de quatro anos, de três mães de crianças com necessidades educacionais especiais para garantir uma educação de qualidade para seus filhos, identificados como sujeitos focais em 2009. Os trabalhos dialogam com diferentes perspectivas teóricas, como os ciclos de política de educação propostos por Sthephen Ball e a visão histórico-cultural do desenvolvimento humano, apresentada por Vygostki, Bakhtin, entre outros autores. Discutem os sentidos e os significados construídos por dirigentes, professores, agentes auxiliares e famílias em interlocução com pesquisadores acadêmicos. Todos os estudos têm o compromisso de analisar diferentes aspectos da educação e do desenvolvimento de crianças pequenas, a partir das concepções de seus participantes. Os registros dos dados se deram através de diferentes procedimentos metodológicos, tais como: análise documental, questionários, debates e/ou entrevistas gravadas e filmadas com profissionais da Educação Infantil (creche) e familiares de crianças com necessidades especiais. Os procedimentos metodológicos farão parte do nosso debate na busca de categorias de análise que indiquem aspectos relevantes sobre as questões em estudo. MESAS REDONDAS O CHORO DA CRIANÇA NA CRECHE COMO ABERTURA PARA A FORMAÇÃO CONTINUADA Núbia Aparecida Schaper Santos, UFJF, E-mail: [email protected] FAPERJ Este trabalho é o resultado da pesquisa de doutorado desenvolvida no Programa de Pós--Graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O objetivo foi discutir os sentidos e os significados sobre o choro da criança a partir do olhar das coordenadoras pedagógicas das creches públicas do município de Juiz de Fora, MG. O referencial metodológico adotado foi a pesquisa crítica colaborativa. O projeto parte da crença de que a formação continuada de educadores/educadoras na creche é uma atividade coletiva e que os envolvidos no processo são colaboradores/colaboradoras ou coconstrutores/construtoras do processo de produção do conhecimento. Diante disso, compreendemos que a formação de professores e professoras deve conjugar não somente os saberes produzidos e sistematizados pelo conhecimento canônico, mas também o permanente diálogo com outros espaços e campos do conhecimento, dentre eles, o contexto da própria creche e as práticas que a constituem. O corpus de análise constituiu-se de 10 sessões reflexivas realizadas com as coordenadoras das creches. Nelas buscamos a unidade indivisível entre teoria e prática, o que pode acontecer pela apropriação dos conceitos espontâneos em relação aos formais, além de tornar as participantes do processo de formação capazes de reconstruir suas práticas a partir da autoconsciência das mesmas. O conflito promove “contextos para confrontação entre os conceitos provenientes da cultura popular e os conceitos científicos construindo um quadro para reflexão e crítica dos conhecimentos anteriores e de apropriação de novas significações” (MAGALHÃES, 2004, p. 69). Optamos por trabalhar com a construção dos Núcleos de Significação a partir da perspectiva teórico-metodológica de Aguiar (2009), que explicita a necessidade de realização de algumas ações, a saber: leitura flutuante e levantamento de pré-indicadores; indicadores e conteúdos temáticos e núcleos de significação. Foram construídos cinco Núcleos de Significação: 1) Você não tem motivo pra chorar - Qual o motivo de você estar chorando? - Olhares para o choro das crianças nas creches; 2) Eu já pensei, posso brincar? - Estratégias para lidar com o choro a partir do relato das coordenadoras/diretoras; 3) O sentimento é respeitado, mas nem sempre a manifestação desse sentimento pode ser permitida - O controle/descontrole do choro das crianças na creche; 4) São hábitos que não estão de acordo com a nossa rotina de trabalho - Choro, 79 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento creche e família; 5) A gente não falava nem gato quando começou - Reflexão teórica/prática - reverberação sobre o choro das crianças no cotidiano na creche. O aporte teórico está circunscrito à perspectiva histórico-cultural de Henri Wallon que nos auxiliou a pensar sobre algumas questões: Será que o choro é tomado como uma categoria historicamente construída? De que modo essas reflexões podem reverberar no cotidiano e nas práticas pedagógicas no interior da creche? O autor reflete sobre as emoções na interface com o desenvolvimento infantil e a partir da discussão dialética entre afetividade, ação motora e inteligência. Para Wallon, o desenvolvimento humano é o resultado de um movimento constante, descontínuo e não linear, de alternância entre aspectos cognitivos e afetivos, com predominância de um deles, em consonância com cada etapa específica de desenvolvimento da criança. O choro é uma expressão emocional, com características fisiológicas e de caráter social, que permite a passagem da vida orgânica para a vida psíquica. Lidar com ele evoca as concepções de infância, educação e aprendizagem que se revelam nas ações dos profissionais no cotidiano nas creches. Pressupomos, então, que o choro faça parte do movimento cotidiano da creche e deve ser problematizado para além do momento de inserção das crianças pequenas nas instituições que as recebem. Assim, lidar com o choro evoca as concepções de infância, educação e aprendizagem que se revelam nas ações dos profissionais. Percebemos que o choro precisa ser problematizado para além do momento de inserção das crianças pequenas nas instituições que as recebem. Decorre disso, a necessidade de discutir o choro como linguagem própria do universo infantil. Além disso, apostamos na necessidade de formação dos profissionais que priorizem os saberes construídos e compartilhados no interior da própria instituição. No movimento das palavras, os sentidos e significados foram construídos, desconstruídos e reconstruídos para que a crise emergisse e desestabilizasse os nossos saberes. As sessões reflexivas trouxeram a necessidade de se pensar o desenvolvimento da criança e as manifestações do seu comportamento em situação coletiva. Se Wallon revela que o desenvolvimento infantil é um processo pontuado por conflitos, é importante que pensemos em maneiras de considerar esse elemento no ato de cuidar/educar a criança na creche. Palavras-chave: choro; creche; linguagem. O PERFIL DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Marcia de Oliveira Gomes Gil, UERJ e SME-RJ, E-mail: [email protected] MESAS REDONDAS Este trabalho é o resultado da pesquisa de mestrado desenvolvida no Programa de Pós- Graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A cidade do Rio de Janeiro tem uma história peculiar no que diz respeito aos profissionais com atuação pedagógica nas creches. O primeiro cargo criado para este fim foi o de Agente Auxiliar de Creche, para o qual o concurso organizado através do edital nº1 de 04/08/2007 exigiu dos candidatos apenas nível fundamental completo, desrespeitando a legislação que determina a obrigatoriedade de formação mínima em normal médio (LDB/96 art.62). Em 2008, outra gestão assumiu a prefeitura da cidade e, com isso, iniciou um processo de mudanças importantes no cenário da Educação Infantil. Destacamos a criação do cargo de Professor de Educação Infantil e a realização do primeiro concurso, através do edital nº 91, de 25 de outubro de 2010, exigindo como formação mínima o normal médio. A presente pesquisa teve por objetivo investigar o perfil dos professores de Educação Infantil do município do Rio de Janeiro, que trabalham em turmas de creche e são oriundos do primeiro concurso realizado para o cargo. Investiga os principais desafios e, em especial, os conflitos vivenciados no cotidiano e no encontro com os agentes auxiliares de creche. Para tanto, analisa as políticas públicas nacionais e regionais à luz do referencial do Ciclo de Políticas, de Ball e Bowe (1992-1994). Observa os diferentes contextos de produção das políticas, as tensões e embates envolvidos nesse processo de produção, que culminou com a criação do cargo de Professor de Educação Infantil (2010). Apresenta um breve levantamento dos dados sobre a cidade do Rio de Janeiro, em especial, o lugar que ocupa a Educação Infantil no sistema de ensino carioca, bem como o número de crianças matriculadas e professores existentes. A pesquisa adotou um referencial metodológico qualitativo-quantitativo (quali-quanti), tendo em vista a necessidade de se produzir dados, relativos a um universo extensor, como a cidade do Rio de Janeiro. Um questionário digital, elaborado na plataforma Google Docs4, foi produzido, contendo questões de identificação dos professores e referentes aos aspectos funcionais e formativos dos mesmos. A pesquisa obedeceu ao protocolo da Secretaria Municipal de Educação, isto é, o questionário foi enviado digitalmente às Coordenadorias Regionais de Educação (CRE), para que fosse enviado às creches e EDI5 , que o disponibilizavam aos professores de Educação Infantil nelas lotados. Depois foram realizados dois grupos focais com professores que responderam ao instrumento digital e aceitaram o convite para participação na modalidade presencial da pesquisa. As questões apresentadas nos Grupos Focais buscaram qualificar e significar os dados produzidos no questionário. Os encontros foram transcritos e para uma primeira análise do material utilizamos o Corpógrafo 80 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento IV, que registrou as palavras mais frequentes e os contextos nos quais elas foram utilizadas, além das ausências e substituições por palavras de significado semelhante. As análises qualitativas das falas dos professores apoiaram-se na perspectiva teórica de Lev Vigotski, entendendo os sujeitos sócio-históricos, imersos em contextos específicos de desenvolvimento e em processo contínuo de transformação. A análise quantitativa produziu dados relativos a idade, sexo, grupamentos de atuação, formação inicial e experiência profissional. A qualitativa ampliou a discussão sobre a formação inicial e continuada dos professores e o processo de construção da identidade profissional por eles vivido, dando destaque às situações de conflitos existentes nos ambientes de trabalho. Também desvelou práticas realizadas por diferentes profissionais, com tarefas iguais e hierarquicamente distintos. Os dados revelam que o cargo é ocupado prioritariamente por mulheres (97%), o mesmo percentual encontrado em pesquisas nacionais, como a Sinopse Estatística do INEP, de 2010. As professoras têm média de 37 anos, são em sua maioria graduadas em Pedagogia e atuam prioritariamente em turmas de maternal. Estas primeiras informações nos ajudam a entender as dinâmicas e práticas das instituições cariocas de Educação Infantil, bem como nos permitem apontar possibilidades e desejos dos professores nos seus processos identitários em construção. O acesso aos dados produzidos por esta pesquisa pode auxiliar a formulação de políticas públicas que busquem o desenvolvimento das crianças cariocas matriculadas nas creches, a partir do investimento em formação inicial e continuada, com profissionais especificamente formados para lidar com os desafios do trabalho com as crianças pequenas. Também nos leva a refletir se o trabalho realizado por diferentes profissionais, que atuam em um mesmo grupo e partilhando ações e intenções, pode ser entendido como multidocência e o que isso significa. Todas estas questões apontam para a necessidade de ampliação da pesquisa em foco. Palavras-chave: educação infantil; creche; professor de educação infantil. AVALIAÇÃO DO AGES AND STAGES QUESTIONARY: O OLHAR DO EDUCADOR INFANTIL Ana Carolina Fioravanti-Bastos, UNISUAM, UERJ, E-mail: [email protected] FAPERJ O desenvolvimento infantil e a busca por melhores modelos de gestão de políticas públicas, baseados no acompanhamento do desenvolvimento das crianças da rede de MESAS REDONDAS creches municipais e conveniadas do Rio de Janeiro, é nosso propósito de investigação. Nesta trajetória de pesquisa sobre o tema, destacamos a importância de pensar a avaliação do desenvolvimento infantil e seus desdobramentos. A proposta deste trabalho foi aperfeiçoar os indicadores levantados pelo questionário “Ages and Stages Questionary” (ASQ3), em um total de 45.650 crianças de 4 a 60 meses, de outubro a dezembro de 2010. A pesquisa se deu em parceria entre a Secretaria Municipal de Educação, o Departamento de Psicologia da PUC-Rio e o Grupo de Pesquisa Interação Social e Desenvolvimento (UERJ). O Ages and Stages Questionnaire (ASQ) foi criado na Universidade do Oregon, EUA, por Squires et al. (2009) contendo 30 itens divididos em cinco domínios - Comunicação, coordenação motora fina e ampla, resolução de problemas e pessoal/social, com objetivo de acompanhamento médico do desenvolvimento infantil de 2 meses a 6 anos de idade. Na aplicação na rede municipal do Rio de Janeiro foram observadas resistências dos educadores em relação ao questionário, tanto pela falta de contextualização de alguns itens com suas rotinas na creche, como por questões de disponibilidade de educadoras no momento da avaliação, dado o número grande de crianças por educadora. Questões como essas podem ter sido a causa de alguns problemas na estrutura psicométrica de itens do ASQ3, como reportado por Filgueiras (2011) nos estudos de validação do instrumento para a amostra brasileira. Torna-se importante um olhar para as concepções das educadoras em relação a esse instrumento, para que se possa construir caminhos mais homogêneos e confiáveis para a avaliação do desenvolvimento infantil nas creches do município. Alguns estudos brasileiros sobre crenças e valores reportam os objetivos educacionais de mães, avós e cuidadores, mas existem poucos estudos sobre a importância de crenças e valores dos educadores infantis, destacando assim a relevância dos resultados do trabalho de Friedlmeier et al. (2008). Para propormos uma escala mais contextualizada, discutimos as propriedades psicométricas do ASQ3 através da opinião dos educadores infantis em relação aos seus itens. Com essa iniciativa convidamos 28 educadores de creches de diferentes partes da cidade para emitir opinião sobre o ASQ3 através de dois instrumentos. O CASQ3 (Características do ASQ3), com opiniões pessoais e o ASQ3ACED que consta de uma reformulação do ASQ3 com os itens dos questionários revertidos em uma escala Likert onde o educador deve responder se ele acredita que o item é: “Pouco Importante”, “Irrelevante”, “Importante”, para avaliar o domínio em questão dentro da faixa etária relativa ao teste. Foram respondidos 504 questionários referentes às faixas etárias de 6 a 60 meses, analisados por um teste inferencial de proporção na distribuição das respostas - Qui-Quadrado (χ2) - para verificar a prevalência das respostas do CASQ3 e uma ANOVA de uma via no ASQ3ACED para identificar Hoje, em set. 2013, a plataforma é conhecida como Google Drive. 5 Espaços de Desenvolvimento Infantil – modelo criado pela atual gestão (2008-2012; 2012-2016). São prédios construídos para abrigar creche e pré-escola em um único espaço criado especialmente para este fim. 4 81 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento os grupos de itens que as educadoras consideravam mais importantes (o total dos pontos foi somado com o mesmo escore atribuído ao instrumento original: 0 = pouco importante; 5 = Irrelevante; 10 = Importante). O teste post-hoc para identificar diferenças individuais entre os níveis foi o Fisher’s Least Significant Difference (LSD). O Alpha de Cronbach foi utilizado para acessar a consistência das escalas e comparados com os originais do estudo de validação em amostra brasileira de Filgueiras (2011), com o objetivo de avaliar o quanto as educadoras concordam sobre a relevância dos itens referentes àquele construto. Os resultados do CASQ3 sugerem que apesar de compreenderem o conteúdo do teste, metade das educadoras propõe mudanças para um teste mais simples e claro, com perguntas adequadas, refletindo melhor o desenvolvimento infantil observado no ambiente de creches. Entretanto, as educadoras acreditam que o instrumento é informativo e traz novos olhares sobre suas crianças. Os dados do ASQ3 (ACED) sugerem que as educadoras acreditam que as questões sobre “Comunicação”, “Coordenação Motora Ampla” e “Pessoal / Social” possuem maior importância que questões acerca da “Coordenação Motora Fina” e da “Resolução de Problemas”, que pode ser explicado pela falta de adaptabilidade destas questões para o ambiente de suas creches. As correlações dos Alpha de Cronbach com o estudo de validação demonstraram que os quesitos Comunicação (r = 0.73); Coordenação Motora Ampla (r = 0.94); Coordenação Motora Fina (r = 0.86); Pessoal / Social (r = 0.71) são relevantes, no entanto, o quesito Resolução de Problemas (r = 0.54) apresentou correlação moderada, convergindo menos com seus valores e atuação profissional. De fato, o domínio “Resolução de Problemas” apresentou inconsistências nos dados normativos do ASQ3 (Filgueiras, 2011), com Alfa de Croncach relativamente baixo (0,67), baixo índice de confiabilidade Rho = 0,68 e de escalonabilidade L de = 0,30; o que pode ser explicado pelos temas presentes no CASQ3 e as diferenças encontradas no ASQ3 (ACED). As educadoras não discordam que o ASQ é um bom instrumento e que levanta indicadores relevantes, mas que esses indicadores poderiam estar mais associados ao trabalho de psicólogos do desenvolvimento ou psicopedagogos. Palavras-chave: avaliação; desenvolvimento infantil; educador; creches. PERCURSOS EDUCACIONAIS DE CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS NO RIO DE JANEIRO Maciel Cristiano da Silva, UERJ e SEMED - Nova Iguaçu/RJ, E-mail: [email protected] CNPq. MESAS REDONDAS O estudo surgiu pela demanda dos integrantes do Núcleo de Estudos da Infância: Pesquisa & Extensão (NEI:P&E/UERJ), coordenado pela Prof.ª Dr.ª Vera Vasconcellos, em compreender como ocorreu a trajetória educacional de crianças, acompanhadas em dois estudos realizados em creches do município do Rio de Janeiro, em 2009, após a saída delas das referidas instituições. Os estudos foram: i) Crianças focais: a triangulação educação-família-saúde na creche, realizado em 2008 e 2009 na Creche Institucional Dr. Paulo Niemeyer (OLIVEIRA, 2009); e ii) Infância, Educação e Inclusão: um estudo de caso, realizado em 2009 na Creche Municipal de Odetinha Vidal de Oliveira (SILVA, 2009). Entramos em contato com a equipe gestora das creches de origem para localizar as crianças participantes das pesquisas supracitadas. Em seguida, contatamos as famílias para obter informações sobre a situação escolar das crianças até naquele momento (2012). Soubemos, então, que duas delas continuavam na mesma instituição de educação. Por não ter havido alteração em suas trajetórias escolares, optamos por seguir somente com três famílias e crianças egressas das creches: duas do primeiro estudo e uma do segundo. As três crianças apresentaram hipóteses diagnósticas de autismo, porém nenhum deles tinha diagnóstico fechado até a conclusão da pesquisa. Sobre as sintomatologias: uma criança se destaca pelo seu comprometimento comportamental, outra tem perda auditiva e dificuldade motora e o terceiro tem declarado a suspeita de autismo por todos os profissionais que o atendem. O momento de retorno aos sujeitos teve como proposta um estudo de follow-up, onde daríamos continuidade às duas pesquisas anteriores. Analisamos o percurso de três (3) famílias (mãe) na tentativa de garantir uma educação de qualidade para seus filhos. Inicialmente, realizamos um levantamento bibliográfico e documental sobre o tema. Em seguida voltamos às famílias das crianças com o objetivo de investigar de que modo a escolarização foi sendo, durantes esses anos, propiciada a elas e como suas dificuldades de aprendizagem têm sido entendidas nos espaços educacionais que frequentam. Foi adotado o Estudo de Caso (YIN, 2005) como proposta metodológica. Para tanto, duas entrevistas foram realizadas com cada mãe das crianças, respectivamente em 2012 e 2013 e solicitado que elas respondessem ao Questionário de Caracterização Familiar (DESSEN, 2009), que delineava o perfil das mesmas, destacando as características sociodemográficas. Os dados produzidos foram sistematizados através da análise de conteúdo por temáticas (BARDIN, 2011 e MINAYO, 1992), com ênfase nas trajetórias das crianças e suas famílias em prol da garantia ao direito à Educação. Os instrumentos utilizados assumiram numa perspectiva dialética em que as informações foram ressignificadas na interação com os sujeitos em estudo (NEWMAN & 82 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento HOLZMAN, 2002). Inclusive as questões de investigação foram modificadas para atender as demandas e necessidades dos sujeitos investigados. Deste modo, trouxemos como eixo principal de análise as expectativas e experiências familiares, na busca de uma educação de qualidade para os seus filhos. Nessa dinâmica a pesquisa foi realizada em três estudos convergentes, que puseram em interlocução o tema da educação inclusiva e a infantil, através de uma análise documental, de um extenso levantamento bibliográfico e estudo em follow-up. No primeiro, os documentos oficiais evidenciaram a tensão existente nos atendimentos de sujeitos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento (TGD) e altas habilidades. A legislação nacional propõe o atendimento da criança pequena no sistema regular de educação, porém as orientações provindas da Coordenação Geral de Educação Infantil (COEDI), vinculada à Secretaria de Educação Básica (SEB) do MEC, não consideram o processo de desenvolvimento diferenciado, apresentado pelas crianças pequenas com deficiência e TGD. Esta ausência frutificou em produções específicas para o atendimento de crianças até 5 anos com NEE pela extinta Secretaria de Educação Especial , sem que houvesse diálogo com os demais setores. No campo legal não há menções diretas aos apoios e suportes pedagógicos para as crianças da Educação Especial 6, apesar de considerálas nos documentos oficiais e legais. A análise documental revelou a prioridade dada pelo governo e pelas agências multilaterais ao ensino fundamental. Isto se dá devido às influências das diversas arenas públicas em que os discursos em prol da inclusão vieram permeados pelos textos das agências multilaterais por meio de declarações internacionais de UNESCO, ONU, UNICEF e outros organismos. Esta dinâmica é refletida nas propostas de ação municipais que se voltam ao ensino fundamental ou às crianças nessa idade (a partir dos 6 anos), fato que proporciona menor atenção às crianças em idade de frequentar a Educação Infantil. Em diálogo com esse campo político a pesquisa conclui que as crianças aos 7 - 8 anos já não encontraram espaço no sistema regular de educação, seja no público ou privado, em contraste com o que garantem os documentos nacionais e municipais. As trajetórias e experiências relatadas pelas mães foram repletas de inseguranças e expectativas negativas por parte das escolas, relativo ao desenvolvimento e escolarização das crianças. Concluímos que não é suficiente conhecer os direitos à educação da criança com necessidades especiais, as instituições precisam reconhecer os familiares como parceiros privilegiados na construção de alternativas para a produção de conhecimentos dessas crianças. Os dados demonstraram a importância social das escolas especiais no atendimento especializado de crianças com necessidades especiais. Os lugares ocupados por 6 Extinta pelo Decreto nº 7.690, de 2 de março de 2012. SIMPÓSIOS essas instituições são reconhecidos pelas famílias como fundamental rede de apoio e suporte às crianças e famílias no processo de educação e inclusão escolar. Palavras-chave: experiências familiares; educação especial; educação para a infância. SIMPÓSIOS S-2376 Sala403 - 10h PRÁTICAS INTERATIVAS ENTRE CRIANÇASADULTOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: INSERÇÃO, ORGANIZAÇÃO CURRICULAR E FORMAÇÃO DOCENTE Adelaide Alves Dias, UFPB Ana Luiza Nogueira de Amorim, UFPB Maria Ghisleny de Paiva Brasil, UERN/UERJ Thaís de Oliveira Souza, UNESP Daniele Vieira de Azevedo, UERJ Vera Maria Ramos de Vasconcellos, UERJ Este simpósio tematiza a questão da organização curricular na educação infantil, com especial ênfase para as práticas formativas e interativas envolvendo crianças e adultos, no contexto de creches e pré-escolas. Focaliza a formação do educador infantil e as suas repercussões na organização das rotinas, nas interações (verbais e não verbais) e nos diálogos entre crianças pequenas e suas professoras, ocorridos em diferentes momentos do cotidiano da educação infantil. As quatro pesquisas que constituem o simpósio são todas de natureza qualitativa e estão vinculadas a dois núcleos de pesquisa (NUPEC/ UFPB e NEIPE/UERJ) que mantêm interlocuções por meio de programas de cooperação acadêmica (DINTER, PROCAD) envolvendo quatro universidades públicas (UFPB, UERJ, UNESP e UERN). Elas têm em comum a discussão sobre as práticas interativas a partir de uma perspectiva sócio-histórica. O primeiro trabalho, intitulado “INTERAÇÕES DIALÓGICAS ADULTO-CRIANÇAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL”, de autoria de Ana Luisa Nogueira de Amorim, da UFPB, teve como objetivo central discutir as interações dialógicas entre adultos e crianças no contexto da creche, analisando os momentos em que houve diálogo verbal ou não verbal entre as educadoras e as crianças. Buscou evidenciar as interações adulto-crianças nas creches como um dos eixos curriculares que embasam o trabalho com as crianças no sentido de lhes proporcionarem experiências sociais e culturais significativas. O segundo trabalho: “A ORGANIZAÇÃO 83 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento DA ROTINA DIÁRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL: INTRODUZINDO A QUESTÃO”, de autoria de Maria Ghisleny de Paiva Brasil, da UERN, configura-se como uma pesquisa bibliográfica na qual a autora buscou investigar as rotinas desenvolvidas na educação infantil, seus pressupostos e relações com as proposições oficiais para essa etapa da educação. Buscou apreender o que as rotinas representam, na organização curricular e na organização do tempo didático com as crianças. A terceira pesquisa de autoria de Thaís de Oliveira Souza, da UNESP/Assis e Adelaide Alves Dias, da UFPB, intitulada “PRÁTICAS INTERATIVAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DISCUTINDO A QUALIDADE DAS RELAÇÕES ESTABELECIDAS PELOS EDUCADORES COM AS CRIANÇAS”, com base na orientação contida no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - RCNEI (1998), fundada na premissa de que a forma como a criança interage com seus outros sociais é crucial para o seu desenvolvimento integral; visou estudar as relações entre adultos e crianças, analisando como estes profissionais estão desenvolvendo a sua atuação, a partir do exame das relações estabelecidas pelos educadores com as crianças. A quarta e última pesquisa, cujas autoras são Daniele Vieira de Azevedo e Vera Maria Ramos de Vasconcellos, ambas da UERJ, intitula-se “INSERÇÃO: O PROCESSO DE ENTRADA DA CRIANÇA E SUA FAMÍLIA À CRECHE” e teve como objetivo acompanhar e analisar, junto com os próprios professores/educadores, a trajetória de formação em serviço dos mesmos e suas concepções sobre criança, infância, educação e creche. Todas as pesquisas aqui apresentadas têm, ainda, como propósito, contribuir com a melhoria das práticas educativas que acontecem no interior de creches e pré-escolas e, assim, propiciar o desenvolvimento integral das crianças pequenas. Palavras-chave: currículo; formação; educação infantil; práticas interativas. INTERAÇÕES DIALÓGICAS ADULTOCRIANÇAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Ana Luisa Nogueira de Amorim, UFPB, E-mail: [email protected] Este trabalho discute as interações dialógicas entre adultos e crianças no contexto da creche, analisando os momentos em que houve diálogo verbal ou não verbal entre as educadoras e as crianças. É um recorte da pesquisa realizada na tese de doutorado que abordou a elaboração do currículo na Educação Infantil a partir da análise do currículo em ação observado em creches públicas de um município paraibano, com o foco no trabalho desen- SIMPÓSIOS volvido com crianças de 0 a 3 anos (AMORIM, 2011). O estudo foi desenvolvido a partir de pesquisa de campo realizada no berçário de quatro creches públicas municipais e a análise do currículo em ação se deu a partir da observação. A pesquisa foi realizada em três fases: a análise de documentos nacionais e locais, a observação dos momentos de planejamento e a observação das práticas educativas realizadas com as crianças em salas de berçário. O método dialético orientou o estudo que buscou captar a totalidade, considerando as inter-relações entre as políticas (nacionais e locais) e as práticas curriculares. Os dados empíricos das observações foram registrados em Diário de Campo e analisados a partir da Análise de Conteúdo (BARDIN, 1977). Compreendendo a Educação Infantil como direito das crianças, as concebemos como atores sociais e produtoras de cultura (DIAS, 2005; COHN, 2005; SARMENTO, 2007; 2008). No que diz respeito às questões curriculares, assumimos uma concepção ampla de currículo que o compreende como uma produção social e um artefato cultural que organiza os conhecimentos, os conteúdos e as experiências a serem vivenciadas pelos indivíduos em formação (AMORIM, 2011). Embasados nessas concepções, entendemos que as propostas curriculares precisam ser organizadas em cada instituição de Educação Infantil, com base nas necessidades e anseios dos sujeitos envolvidos no processo - professores, gestores, crianças, pais, comunidade etc. Daí entendermos que pensar e organizar um currículo para a Educação Infantil é uma questão de garantir o direito das crianças terem acesso a experiências de conhecimento e aprendizagem que provoquem seu desenvolvimento. É nessa perspectiva que destacamos as interações adulto-crianças nas creches como um dos eixos curriculares que embasam o trabalho com as crianças (DCNEI, 2009) no sentido de lhes proporcionarem experiências sociais e culturais que atuem na sua zona de desenvolvimento proximal e lhes proporcionem experiências sociais e culturais que lhes garantam o seu desenvolvimento (VYGOTSKY, 1993; 1991). Para tanto, nos embasamos em Vygotsky (1993) quando este afirma que a internalização dos conceitos e a capacidade de generalização se desenvolvem através da comunicação entre as pessoas, sendo, portanto, uma atividade eminentemente social que ocorre a partir das interações que as crianças estabelecem com os outros. Essa comunicação torna-se possível através da mediação dos signos, que, por sua vez, tornam-se compreensíveis por serem dotados de significados. Significado esse que não é dado pela palavra em si, mas pela atribuição de sentido que se dá em um grupo social e em determinado contexto sócio-histórico e cultural. Desse modo, cada indivíduo vai atribuindo significado aos signos que vão fazendo parte da sua vida, através da comunicação que estabelece com o meio e com os outros. Para o autor, desde a primeira infância, a crian- 84 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento ça desenvolve a linguagem e a comunicação a partir das interações que estabelece com os adultos que a cercam. É através desse contato social que estabelece com outros indivíduos de sua espécie que a criança vai desenvolvendo a linguagem e a comunicação, e isto favorece o desenvolvimento do seu pensamento. Sabendo da importância da interação com os adultos e com parceiros mais experientes para que a crianças possam se desenvolver de forma saudável e que isso lhes proporciona o desenvolvimento do pensamento, da linguagem e o emocional, analisamos os momentos de interações entre adultos e crianças observados nas creches. Ao analisarmos os momentos destacados a partir de nossas observações pudemos observar que o trabalho das educadoras foi conter, proteger e protegerse dos possíveis machucados das crianças. Assim, podemos afirmar que as situações analisadas são exemplos de interações dialógicas, mas com cada um dos envolvidos em sua posição, em seu modo de participação desigual (adulto versus crianças). Entretanto, se pensarmos no diálogo verbal, na conversa, no diálogo que pressupõe haver uma maior atuação e interação de ambos os sujeitos envolvidos, podemos afirmar que só ocorreu esse tipo de interação em dois dos momentos analisados. Nas demais situações, o que houve foi a fala das educadoras que eram recebidas e acatadas pelas crianças. Diante dessas análises nos perguntamos: Como as crianças podem desenvolver a linguagem se não são estimuladas para isso através de diálogos, conversas e outras atividades que lhes possibilitem falarem, dialogarem e se expressarem com os outros? E (re)afirmamos a importância da comunicação entre crianças-crianças e adultos-crianças e a necessidade de que sejam pensadas, planejadas e realizadas atividades de escuta e de diálogo com essas crianças, no sentido de lhes proporcionar o desenvolvimento do pensamento e da linguagem (VYGOTSKY, 1993). Nesse sentido, ao analisarmos as inter-relações entre o campo teórico, as orientações curriculares nacionais e locais, o planejamento com as professoras e o currículo em ação, pudemos verificar os descompassos existentes que evidenciam as contradições que ainda permeiam a Educação Infantil e, em especial, o trabalho com crianças menores de 3 anos. Outro resultado verificado aponta a não superação da dicotomia cuidar e educar nas creches, que se expressou na destinação de profissionais sem a formação mínima exigida para o trabalho educativo com as crianças, e nas práticas educativas assistemáticas e improvisadas, verificadas nos berçários. Tais práticas desconsideram a indissociabilidade cuidado/educação e a capacidade das crianças como seres inteligentes e produtoras de cultura. Fato que explica os poucos momentos de interações dialógicas entre adultos e crianças, bem como a falta de estímulos para o desenvolvimento da linguagem. Diante do exposto, defendemos que as propostas curriculares das instituições SIMPÓSIOS de Educação Infantil precisam ser (re)pensadas e (re)construídas na perspectiva de propiciar interações dialógicas efetivas, de modo a contribuir para que as instituições possam cumprir sua função social de cuidar e educar de forma indissociável as crianças de 0 a 5 anos de idade. A ORGANIZAÇÃO DA ROTINA DIÁRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL: INTRODUZINDO A QUESTÃO Maria Ghisleny de Paiva Brasil - UERN/UERJ, E-mail: [email protected] Este trabalho investiga as rotinas desenvolvidas na educação infantil: seus pressupostos e relações com as proposições oficiais para essa etapa da educação. As rotinas representam, na organização curricular, a estrutura sobre a qual será organizado o tempo didático com as crianças, fazendo-se necessário um currículo/uma rotina que respeite as especificidades e a singularidade das crianças de 0 a 5 anos. Objetiva-se sistematizar concepções teóricas acerca do conceito e papel das rotinas no contexto da Educação Infantil buscando compreender em que consistem, como são concebidas nas teorizações da área, como têm sido propostas em documentos oficiais destinados a referenciar ou normatizar esta etapa educativa. Ao buscar refletir sobre o cotidiano da educação infantil, diariamente executado, e muitas vezes mecanizado, partimos do pressuposto de que o planejamento e o desenvolvimento das atividades, a organização dos espaços, a distribuição do tempo, bem como as interações da professora com a criança, devem favorecer o desenvolvimento da identidade e da autonomia das crianças. O estudo assumiu a forma de uma pesquisa bibliográfica que possibilitou uma fundamentação teórico-metodológica para a construção das informações, assim como a análise documental que nos possibilitou conhecer o modo como o tema é concebido nos documentos oficiais acerca da Educação Infantil. Para isto, incursionou-se na discussão teórica e legal já existente sobre o contexto da infância e sua rotina. Assim, o objetivo do presente trabalho é sistematizar concepções teóricas acerca do conceito e papel das rotinas no contexto da Educação Infantil buscando compreender como são concebidas nas teorizações da área e como têm sido propostas em documentos oficiais destinados a referenciar ou normatizar esta etapa educativa. Com base nesse estudo bibliográfico percebe-se que é possível e preciso (re)pensar os modos como tradicionalmente se tem pensado a rotina em creches e pré-escolas com base na compreensão de criança como sujeito concreto, real e, portanto, singular, interativo, vulnerável e, ao mesmo tempo, capaz. Constata-se que rotinas rígidas e inflexíveis 85 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento desconsideram a criança, que precisa adaptar-se a elas e não o contrário, como deveria ser; desconsideram também o adulto, tornando seu trabalho monótono, repetitivo e pouco participativo. Daí a necessidade de adaptações/flexibilizações e diversificações permanentes na organização curricular e no cotidiano das crianças como garantia de condições efetivas de educação. Organizar o cotidiano das crianças da Educação Infantil pressupõe pensar que o estabelecimento de uma sequência básica de atividades diárias é, antes de tudo, resultado da leitura que fazemos do nosso grupo de crianças, a partir, principalmente, de suas necessidades (BARBOSA, 1999, p. 67) As rotinas são tratadas de forma mecânica dentro da escola e os profissionais não refletem sobre ela. Os professores sabem que a criança não é mais tratada como ‘ser sem fala’ e que produz cultura. Então, como as crianças veem esta organização? Participam dela expondo suas opiniões? Como organizariam este espaço? Como a rotina surgiu na historia? Ela é importante? Nesse estudo, buscamos compreender estas inquietações, acreditando oportunizar um repensar sobre o trabalho que desenvolvemos na Educação Infantil, além da análise dos teóricos, poder contribuir para uma reflexão sobre as políticas educacionais direcionadas ao desenvolvimento do cotidiano das escolas de Educação Infantil. Ancorados em uma concepção da função da educação infantil como sendo educar-cuidar, autores como Faria (1998), Oliveira (1998; 2001; 2002), Garcia (2001) Leite Filho (2001), Machado (2002), Arribas (2004), Vasconcellos (2007) e Kramer (2005) tratam da organização da Educação Infantil, evidenciando a importância da rotina. Do mesmo modo, nos documentos oficiais voltados à Educação Infantil com o propósito de normatizar, subsidiar ou referenciar a organização e funcionamento de instituições que atendem crianças de zero a cinco anos, numa perspectiva de que suas práticas garantam a realização da função social dessa etapa educativa em suas dimensões indissociáveis de cuidado e educação, a rotina figura como um dos aspectos relevantes. É o caso do Referencial Curricular para a Educação Infantil - RCNEI (BRASIL, 1998a), das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 1999), da Política Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 2006a) e dos Parâmetros de Qualidade para a Educação Infantil (BRASIL, 2006b). Em estudos acerca da qualidade na Educação Infantil como os de Zabalza (1998), Moss (2002) e Dahlberg, Moss, Vasconcellos (2007) e Pence (2003), o tipo de rotina estabelecido nas instituições aparece como um aspecto indicador de qualidade do atendimento. Segundo esses autores e os próprios documentos, nem sempre foi e ainda não é assim nas práticas institucionais. Em muitas instituições que atendem crianças, a rotina não é vista como uma dimensão do trabalho pedagógico estruturado pelos educadores para, a partir SIMPÓSIOS dela, desenvolverem as ações com e para as crianças no cotidiano da instituição. Na prática educativa de grande parte das creches e pré-escolas está sempre presente uma rotina de trabalho como uma sequência - imutável - de momentos que, em alguns casos, é usada como o “cartão de visitas” da instituição. A ideia de que as rotinas na educação infantil podem ser diárias, anuais e outras e a necessidade de vincular a rotina da escola com a da família; a flexibilidade dos horários; a alternância entre os distintos tipos de atividades e a manutenção da regularidade e da sequência diária, apontam para a necessidade de uma rotina flexível, como instrumento de apoio ao trabalho e não de regulação, de alternância do tipo de atividade, de usos de espaços, de pensar em tempos adequados para a realização das atividades, entre outros aspectos. No entanto, quando o discurso provém da experiência vivida nas instituições nem sempre se dá desta maneira. Numa perspectiva contemporânea de compreensão da criança como sujeito concreto, real e, portanto, singular, interativo, vulnerável e, ao mesmo tempo, capaz, é possível e preciso (re)pensar os modos como tradicionalmente se tem pensado a rotina em creches e pré-escolas. As crianças têm potencial, plasticidade, curiosidade, desejo de crescer e acima de tudo elas têm capacidade e vontade de relacionar-se com outras pessoas. Palavras-chave: infância; rotina diária; organização curricular. PRÁTICAS INTERATIVAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DISCUTINDO A QUALIDADE DAS RELAÇÕES ESTABELECIDAS PELOS EDUCADORES COM AS CRIANÇAS Thaís Oliveira de Souza, UNESP, E-mail: [email protected] Adelaide Alves Dias, UFPB, E-mail: [email protected] Agência Financiadora: CAPES Quando observamos a área da Educação Infantil na literatura sobre Psicologia do Desenvolvimento, assim como nos estudos sobre formação de professores, vemos a importância das relações e interações das crianças com os adultos para o seu desenvolvimento integral. O presente estudo está direcionado à formação docente na Educação Infantil, às relações estabelecidas pelos educadores com as crianças. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil - RCNEI (1998) destaca a importância das interações para o desenvolvimento infantil, salientando, por exemplo, que é na interação social que as crianças aprendem a linguagem falada, o código linguístico. Linguagem esta que traz em si uma forma de ler o mundo 86 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento específica a cada grupo social. Estudiosos como Vygotsky (2007) defendem o papel da interação para a formação e desenvolvimento humano, sendo nos grupos culturais que as crianças aprenderão maneiras particulares de ordenar o real. Cultura para Vygotsky (2007) não é só um macrocenário social, mas também um grupo cultural que dá ao sujeito um ambiente estruturado. Nas interações há a construção da subjetividade. Pedrosa (2009) relata que, nos encontros entre adulto e bebê, a criança pequena aprende não apenas sobre si, mas também sobre o outro. Vemos a partir de tais colocações que as relações estabelecidas entre as crianças e os adultos merecem ser analisadas e debatidas para alcançarmos ambientes propícios a uma educação que prime pela formação de cidadãos e de sujeitos ativos. A preocupação com a Educação Infantil, considerada hoje como primeira etapa da educação básica, atendendo crianças de 0 a 5 anos, se configura como uma ação que merece um olhar mais atento tanto da academia, quanto no cenário das Políticas Públicas. A presente exposição trata-se de um recorte de uma pesquisa de mestrado realizada por nós no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba. O trabalho teve como especificidade a formação docente do educador de creche, que trabalha com crianças de 0 a 3 anos, visto o diminuto número de estudos voltados ao tema nesta área, e por acreditar na grande importância da educação infantil para todo o desenvolvimento e crescimento das crianças. É nesse contexto que estudamos as relações entre adultos e crianças, analisando como estes profissionais estão desenvolvendo a sua atuação, voltando nosso olhar para as relações estabelecidas pelos educadores com as crianças. Realizamos uma pesquisa qualitativa em cinco Centros de Referência em Educação Infantil da cidade de João Pessoa-PB, escolhidos através de critérios geográficos e populacionais. Realizamos o preenchimento de fichas sobre a formação docente com 51 professores e auxiliares de educação infantil. Estas fichas de informações foram extraídas e adaptadas do “Manual do Projecto Desenvolvendo a Qualidade em Parcerias” - DQP (BERTRAM & PASCAL, 2009). Para a análise do material utilizamos a Análise de Conteúdo de Bardin (2002). Os dados demonstraram que, de modo geral, o nível de formação inicial das educadoras é consideravelmente baixo. Apesar de todo um movimento de valorização e dos crescentes estudos que mostram a importância da formação inicial desses profissionais, ainda vemos ações e decisões baseadas na visão maternalista de educação infantil, onde predomina a ideia de que a pessoa que trabalha com crianças pequenas desempenhando funções de cuidado, mais especificamente as auxiliares, não precisam ter formação específica. Verificamos dados onde podemos perceber que o educar é visto no seu lado maternal por esses profissionais. Historicamente a educação das crianças em idade SIMPÓSIOS pré-escolar era tida como uma função familiar. A creche inicialmente vista como refúgio assistencialista, uma ação voltada para a população de baixa renda, aparece como uma substituta para a família, limitando-se aos cuidados físicos das crianças, e preparando-as na pré-escola para a vida escolar. Vemos hoje que a educação infantil não pode ser vista apenas como o cuidado das necessidades físicas dos pequenos, deixando-os confortáveis e alimentados, mas também privilegiando o educar, a criação de um ambiente propício ao desenvolvimento físico, moral e psicológico da criança (OLIVEIRA, 2010). Vemos a importância do fomento de relações adulto-criança que propiciem aprendizagens significativas. Para Rogers (1973), a empatia e a congruência são pontos de extrema importância nas relações humanas. Segundo o autor, quanto mais o professor, as pessoas, estabelecerem relações autênticas, onde cada um dos sujeitos se permite mostrar ao outro quem realmente é, aceitando-se e estando aberto a aceitar o outro nas suas fraquezas, defeitos e qualidades, mais seguro e fecundo se encontra o ambiente, propício a uma aprendizagem significativa e ao crescimento pessoal e profissional de ambos os atores. Percebemos que jamais podemos reduzir a função do educador de crianças pequenas apenas ao cuidar. O educar com qualidade está ligado à criação de relações que valorizem questões como a autenticidade e estimulem a criança ao novo, à descoberta, ao aprendizado, ao exercício de sua autonomia. A educação infantil é uma etapa que exige do profissional conhecimento e uma formação holística. Palavras-chave: formação docente; educação infantil; interações. INSERÇÃO: O PROCESSO DE ENTRADA DA CRIANÇA E SUA FAMÍLIA À CRECHE Daniele Vieira de Azevedo, UERJ, E-mail: [email protected] Vera Maria Ramos de Vasconcellos, UERJ, E-mail: [email protected] O trabalho analisa o processo de inserção desenvolvido na Creche Municipal Engenho da Rainha, através de um estudo longitudinal, ocorrido nos meses de fevereiro e março, durante quatro anos (2010-2013). É parte da pesquisa Agente Auxiliar de Creche: Educadores da Infância Carioca, realizada em cinco creches municipais, que têm por objetivo acompanhar e analisar, junto com os próprios professores/educadores, a trajetória de formação em serviço dos mesmos e suas concepções sobre criança, infância, educação e creche. A pesquisa é coordenada pela equipe do Núcleo de Estudos da Infância: Pesquisa & Extensão (NEI:P&E/UERJ). Este artigo tem por objetivo apresentar 87 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento como as sugestões da pesquisa sobre o tema (inserção) foram recebidas e desenvolvidas na creche e discutir a partir de estudos recentes. Ênfase é dada à importância de um momento diferenciado de entrada da criança e sua família à creche. Assim, buscou-se, através da análise qualitativa das observações participativas e de questionários aplicados às educadoras, no ano de 2010, compreender como as mesmas agem e falam do processo de inserção na referida creche. Os relatos de observação foram produzidos por uma professora local (copesquisadora) em 2010, as próprias observações da bolsista (2011) e coorientadora das atividades de duas estagiárias, em fevereiro de 2012 e 2013. Em 2010, segundo o relato da copesquisadora, a direção da creche aceitou a proposta da pesquisa e promoveu um período de inserção diferenciado (Vasconcellos, 2010). Antes do início das atividades as salas foram organizadas para tornar o ambiente mais afetivo e acolhedor, favorecendo as interações adultos-crianças e crianças-crianças. Naquele ano as crianças do berçário foram divididas em três grupos, compostos por oito crianças cada. Cada grupo permanecia na creche durante 2 horas (com aumento gradativo7), com uma rotina flexível, que tinha por objetivo diminuir o estranhamento das crianças com os novos hábitos propostos pelo novo ambiente e que contava com a presença de um familiar (adulto de referência) durante a inserção. Para aproveitar a presença do familiar, foram realizadas, durante o período de inserção, entrevistas com os adultos de referência na busca de esclarecer a história de vida de cada criança, sua rotina e suas preferências (Moreira et al., 2012). A copesquisadora destacou que, naquele período, foram realizadas atividades em sala com música, contação de histórias, brinquedos, além das atividades ao ar livre no parquinho, casinha e banho de mangueira (Santos et al., 2012). O melhor relato e análise desse período pode ser encontrado no artigo de Santos et al. (2010). Nos anos seguintes, no início das atividades o berçário era dividido em três grupos e cada grupo ficou na creche 2 horas (com aumento gradativo desse tempo para as crianças que estavam menos chorosas). Foi sugerido pela direção da creche, aos responsáveis, que nesta primeira semana as crianças ficassem acompanhadas por um adulto de referência. Os resultados apontam que sempre houve muita dificuldade de convencer os responsáveis da importância em permanecer com as crianças em sala. Entretanto, mesmo com esta dificuldade, foi possível perceber que, para a maioria dos pais, nos primeiros dias, a grande preocupação estava relacionada ao cuidado da criança como, por exemplo, a alimentação e o choro. Por parte dos educadores8, houve grande dificuldade de promover atividades que facilitassem a inserção das crianças, ou seja, atividades que deixassem as crianças mais tranquilas e confiantes, além de facilitar as interações das mesmas com as pessoas da creche e com o novo ambiente. Durante as primeiras semanas eram rea- SIMPÓSIOS lizadas atividades com as crianças dentro e fora9 da sala de atividades, oportunizando várias vivências, inclusive entre crianças de idades diferentes. Algumas atividades realizadas no pátio foram: banho de mangueira, parquinho como todas as crianças da creche. E atividades dentro da própria sala que envolviam a família como, por exemplo, uma rodinha na qual a figura de referência participava com a criança e depois cada um recebeu um livro para contar a história para a criança. Em 2013 outro fato interessante no período de inserção foi a entrega de bonequinhos de pano às crianças (Almeida, 2012) que estavam entrando na creche naquele ano. O objetivo desse bonequinho era auxiliar o processo de inserção e ser uma ferramenta para o diálogo educador-família. Quando os bonecos chegaram à creche eles foram distribuídos entre as crianças que estavam no pátio, sem ter sido explicado para os responsáveis e os educadores qual o objetivo da entrega daqueles bonecos. Algumas crianças deixaram-no no pátio, porque estavam chorando e não queriam o boneco, outras deixaram na creche na hora em que foram embora e as que levaram para casa não trouxeram o bonequinho nos outros dias da semana. Durante as primeiras semanas o choro das crianças foi intenso. Entendemos o choro como parte importante do desenvolvimento infantil, e mais uma forma da manifestação da linguagem (SANTOS, 2012). Para muitas crianças o período de entrada na creche foi vivenciado como um processo “doloroso” de separação dos familiares e de conhecimento/apropriação desse novo espaço como seu, por isso, elas (crianças) manifestavam seu estranhamento ao novo ambiente através do choro. Outro item importante são as lacunas na formação dos profissionais presentes na creche, os Agentes Auxiliar de Creche (AAC). Já que muitos não possuíam nem a formação mínima exigida pela Lei de Diretrizes e Bases - Lei nº 9.394/96 (artigo 62) e, por isso, nem todos tinham a compreensão do que era ser educador da infância. Os resultados discutem o quanto os educadores avaliaram a importância do tema e o consideraram como um momento novo e repleto de mudanças para todos os envolvidos (crianças, suas famílias e eles mesmos), a partir de suas falas no questionário e nas ações observadas. Discute, ainda, a importância de uma proposta diferenciada de acolhimento de crianças e familiares à creche, como parte de uma política pública de educação infantil de qualidade, que respeite todos os envolvidos, pois a entrada da criança à creche não pode ser vista como uma simples questão de adaptação dela a um lugar desconhecido. O foco dos adultos (professores e familiares) envolvidos na educação da criança pequena deve estar no conforto da mesma e seu bem-estar no novo ambiente, com ênfase na promoção da interação crechecriança-família. Palavras-chave: creche; criança; inserção; família. O tempo de permanência das crianças aumentava gradativamente, de acordo com as interações e as explorações realizadas por elas no novo espaço, além da percepção dos novos vínculos afetivos que iam sendo estabelecidos com as demais crianças e os educadores. 8 Nesse ano a creche contava com a participação de agentes auxiliares de creche concursados e recreadores contratados pela Organização da Sociedade Civil (OSC). 9 Atividades na área externa da creche, no pátio e no parquinho. 7 88 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento S-2086 Sala 407 - 16h DIFERENTES OLHARES E MOMENTOS DO PERCURSO DA CRIANÇA NO ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL Ivy Gonçalves de Almeida, CINDEDI/FFCLRP-USP Maria Clotilde Rossetti-Ferreira, USP Celina Maria Colino Magalhães, UFPA Fernanda Lacerda Silva, USP/Unicastelo Laiane da Silva Corrêa, UFPA Lília Ieda Chaves Cavalcante, UFPA O acolhimento institucional de crianças é uma medida de proteção utilizada como último recurso em casos em que as famílias de origem estão com dificuldades para cuidarem delas satisfatoriamente. Mesmo que provisoriamente, as crianças são abruptamente separadas de pessoas de referência e colocadas em um ambiente estranho com pessoas desconhecidas. Várias pesquisas mostraram que, com frequência, esta medida de proteção sociojurídica coloca a criança frente a novas ameaças, desde a ruptura dos vínculos familiares até a imposição de uma longa permanência em ambiente institucional geralmente pobre em estímulos sociais, com pouca inserção na comunidade, o que pode vir a comprometer seu desenvolvimento. Na perspectiva de superar essa situação, planos, leis e orientações técnicas foram criados, na última década, com o objetivo de oferecer subsídios para a qualificação e reordenamento dos serviços de acolhimento de crianças e adolescentes. Porém, apesar dos avanços, ainda estamos longe de atingir serviços de acolhimento de qualidade. E, ao acolher crianças e/ou adolescentes em serviços de baixa qualidade, pode-se estar repetindo e até agravando a violação de direitos que elas/eles já vinham sofrendo. Desta forma, a qualificação das instituições e dos profissionais envolvidos exige um olhar para diferentes momentos pelos quais a criança, seus familiares e demais participantes passam no processo de acolhimento. Nesta apresentação propomos reflexões sobre: o momento de separação da família e inserção da criança na instituição, a partir da perspectiva de profissionais envolvidos nesses processos (conselheiros tutelares, coordenadores das instituições, psicólogos, assistentes sociais e educadores), que será abordado por Ivy Gonçalves de Almeida e Maria Clotilde Rossetti-Ferreira (CINDEDI/FFCLRP-USP); o período de permanência na instituição de acolhimento, onde Laiane da Silva Corrêa, Celina Maria Colino Magalhães e Lília Ieda Chaves Cavalcante (LED/PPGTPC/ UFPA) lançam um olhar especial para o educador e sua rotina de cuidados com a criança; e, finalmente, o processo de Reintegração Familiar, tema pouco estudado na SIMPÓSIOS literatura e abordado por Fernanda Lacerda Silva e Maria Clotilde Rossetti-Ferreira (CINDEDI/FFCLRP-USP), a partir dos autos processuais da Vara da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça e dos prontuários de crianças de três instituições de acolhimento. Esperamos com essas apresentações instigar discussões e reflexões sobre os desafios que ainda se colocam para a qualificação dos serviços de acolhimento institucional, com destaque para: a necessidade de planejamento dos momentos iniciais do processo de acolhimento institucional que se mostram muito precários e negligenciados; o reconhecimento da importância de um trabalho bem feito com a família de forma a favorecer a manutenção dos vínculos e a reintegração familiar; a valorização do educador como pessoa fundamental e promotora de um atendimento de qualidade a crianças que se encontram afastadas da família e com seus laços afetivos fragilizados; a importância de pesquisas que mostrem como o trabalho de reinserção vem sendo feito na prática a fim de embasar as necessárias adequações nas políticas públicas e no trabalho em rede. Palavras-chave: acolhimento institucional; criança; reinserção familiar. Contatos: Ivy Gonçalves de Almeida, Doutoranda da FFCLRP-USP, E-mail: [email protected] Maria Clotilde Rossetti-Ferreira, Professora Emérita da FFCLRP-USP, E-mail: [email protected] O PROCESSO DE SAÍDA DA FAMÍLIA E DE RECEPÇÃO DA CRIANÇA NA INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO Ivy Gonçalves de Almeida, CINDEDI/FFCLRP-USP, E-mail: [email protected] CAPES Maria Clotilde Rossetti-Ferreira, CINDEDI/ FFCLRP-USP, E-mail: [email protected] CNPq O acolhimento institucional de crianças é uma medida de proteção utilizada como último recurso em casos em que as famílias de origem estão com dificuldades para cuidarem satisfatoriamente delas (BRASIL, 1990; 2009a). Mesmo que provisoriamente, as crianças são abruptamente separadas de pessoas de referência e colocadas num ambiente estranho com pessoas desconhecidas. RossettiFerreira, Amorim e Vitória (1997) afirmam que a vivência inicial da criança na instituição, a forma como ela é recebida/acolhida, influenciará a construção de novas relações afetivas, bem como a manutenção dos vínculos afetivos anteriormente estabelecidos (com familiares, por exemplo), como proposto também por Mantovani e Terzi (1998). É fato que, no contexto de creche/educação infantil, o processo de recepção e acolhimento de bebês e crianças pequenas tem importância reconhecida dada sua influência na 89 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento forma como a criança enfrentará essa separação cotidiana (mesmo que por algumas horas) dos pais ou cuidadores, bem como na construção de novos relacionamentos. No entanto, o mesmo não acontece no acolhimento institucional, uma vez que, apesar de sua complexidade, tratase de um procedimento negligenciado e que recebe muito pouco cuidado na rotina das instituições. Como muito bem descreveu França (2007), algumas vezes, as crianças são tratadas como “coisas” a serem levadas daqui para ali, em alguns casos, com menos cuidados do que se teria ao transportar um móvel. Assim, pode-se afirmar que embora a medida de acolhimento deva ser aplicada como último recurso, em casos em que há a vitimização da criança, com certa frequência, a forma como ela é recebida e acolhida na instituição acaba se configurando como uma nova violência, causando consequentemente sua revitimização. Ademais, não existem pesquisas que abordem especificamente este assunto neste contexto. Assim, tendo como base teórico-metodológica a Rede de Significações, esta pesquisa tem como objetivo investigar os procedimentos de recepção e acolhimento de crianças de zero a seis anos de idade, desenvolvidos por instituições de acolhimento, a partir da perspectiva dos profissionais envolvidos nesse processo. Como objetivos específicos buscou-se: apreender indícios sobre o processo de tomada de decisão sobre o acolhimento da criança, bem como sobre sua retirada de seu contexto familiar e/ou de origem; conhecer os procedimentos de recepção e acolhimento de crianças, desenvolvidos por instituições de acolhimento; investigar as formas de participação da família e da criança, bem como dos demais adultos e crianças envolvidos; analisar as condições, contextos e oportunidades de interação entre a criança e sua família, promovidos pela instituição, e seus possíveis efeitos na manutenção dos vínculos familiares. A pesquisa contou com a participação de quatro instituições de uma cidade de grande porte, no interior do estado de São Paulo. Foram entrevistadas 23 pessoas, sendo três coordenadoras das instituições, quatro psicólogas, quatro assistentes sociais, sete educadoras, um apoiador técnico, além de quatro conselheiros tutelares. As entrevistas contaram com questões disparadoras sobre o assunto a ser pesquisado, no contexto de uma conversa. Os dados estão sendo analisados qualitativamente. Resultados preliminares apontam que a família é culpabilizada pelas dificuldades a que estão submetidas. A família pouco ou nada participa do processo de tomada de decisão sobre o acolhimento de sua criança. E, nesse processo, é completamente nula a participação da criança. Desta forma, no momento da retirada de seu contexto familiar e/ou de origem, ambas (família e criança) são surpreendidas. Consequentemente, a retirada e a chegada da criança na instituição são momentos carregados de sentimentos intensos, muitas vezes, contraditórios e de difícil elaboração para todos os envolvidos. Especificamen- SIMPÓSIOS te sobre o momento de chegada à instituição, destacam-se: profissionais de uma mesma instituição descrevem procedimentos diversos em relação ao acolhimento; as crianças já acolhidas, em geral, não são preparadas para a chegada de uma (ou várias) nova(s) criança(s), porém, possuem um papel fundamental nesse processo; quando acolhida, a criança não recebe informações sobre o porquê e o que acontecerá com ela; o acolhimento de bebês recebe ainda menos atenção e elaboração por parte dos profissionais; os profissionais, em geral, esperam que a criança faça perguntas para, então, darem algumas informações sobre suas vidas; profissionais pressupõem a incapacidade de compreensão da criança ou admitem a dificuldade que sentem para conversar com ela; sem (in)formações sobre o caso, os educadores não sabem como lidar com a criança; as ações são no sentido de distrair a criança de seu sofrimento (levar para brincar, oferecer brinquedo, mudar de assunto quando falam sobre a família, por exemplo); é vedado à família, com raras exceções, participar do momento de acolhimento; o que vem do contexto familiar/origem (chupeta, paninho, mamadeira, entre outros objetos significativos) é jogado fora, trocado ou esterilizado antes de ser aceito na instituição; a participação da família no contexto institucional resume-se a visitas semanais com uma hora de duração, com regras bastante rígidas a serem seguidas, dependendo da instituição; formações e supervisões pouco ou nada abordam sobre o processo de retirada/recepção da criança. Assim, o planejamento e condução desses momentos iniciais do processo de acolhimento institucional se mostram muito precários e negligenciados, cabendo a “cada um fazer do jeito que acha melhor”. Não há reflexão significativa e construção coletiva a esse respeito. E, de maneira geral, é possível concluir que as práticas adotadas desrespeitam orientações técnicas (Brasil, 2009b), bem como direitos e princípios assegurados por lei (Brasil, 1990; Brasil, 2009a), os quais preveem, por exemplo, que a criança seja informada sobre tudo o que lhe diz respeito, sendo tratada com respeito e dignidade. Espera-se, a partir desta pesquisa, contribuir com reflexões sobre a qualificação dos profissionais e dos procedimentos atualmente utilizados, frente à urgente necessidade de se desenvolver práticas que não (re)vitimizem crianças que estejam sob medida de proteção. Palavras-chave: acolhimento institucional; criança; recepção. Contato: Ivy Gonçalves de Almeida, FFCLRP-USP, E-mail: [email protected] A ROTINA DE CUIDADOS A CRIANÇAS EM ESPAÇO DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL: UM OLHAR SOBRE O EDUCADOR 90 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Laiane da Silva Corrêa, LED/PPGTPC/UFPA, E-mail: [email protected] CNPq Celina Maria Colino Magalhães, LED/PPGTPC/ UFPA, E-mail: [email protected] CNPq Lilia Ieda Chaves Cavalcante, LED/PPGTPC/UFPA, E-mail: [email protected] Dados atuais do Conselho Nacional do Ministério Público (2013) apontam que aproximadamente 30.000 crianças têm recebido atendimento às suas necessidades básicas e proteção especial diante de situações em que há risco à sua integridade física e psicológica nos serviços de acolhimento de todo o Brasil. O cenário nacional aponta para uma realidade que precisa de um olhar atento dos estudiosos do desenvolvimento, tendo em vista que, por vezes, esta medida de proteção sociojurídica coloca à criança novas ameaças, desde a ruptura dos vínculos familiares pelo seu progressivo distanciamento dos pais e irmãos, até a imposição de uma longa permanência em ambiente institucional geralmente pobre em estímulos sociais, o que também pode comprometer o seu desenvolvimento inicial. Na perspectiva de superar essa situação, planos (Brasil, 2006), leis (Brasil, 2009a) e orientações técnicas (Brasil, 2009b) foram sendo aprovados e executados no decorrer dos anos, procurando regulamentar os serviços de acolhimento de crianças e adolescentes e evitar assim graves sequelas a sua saúde física e mental. Na busca de proporcionar um ambiente adequado e propício ao desenvolvimento dos que vivem nestes espaços, pesquisas atuais resgatam a discussão de questões próprias das rotinas e práticas de cuidado infantil em instituições de acolhimento. Estudos sobre rotina da vida diária (Corrêa, Cavalcante, Silva & Dell’Aglio, 2011) e a organização dos ambientes (Ortín, 2012) podem fornecer o ponto de partida para uma compreensão abrangente das práticas que envolvem as interações cuidador-criança. Nesta direção cresce o interesse de conhecer como e que aspectos são relevantes nas interações nesses espaços de cuidado. Nessa perspectiva, este estudo se propõe apresentar dados da rotina de trabalho de educadores que lidam com crianças em uma instituição de acolhimento infantil, com destaque para a descrição de atividades realizadas ao longo de uma jornada de trabalho de doze horas - de 7 a 19 horas. Fizeram parte do estudo 10 educadores responsáveis pelo cuidado diário a crianças encaminhadas a um espaço de acolhimento institucional da cidade de Belém do Pará. A instituição acolhe em média 50 crianças de zero a seis anos nos moldes das instituições totais, com o atendimento de grandes grupos separados por faixas etárias. Estas crianças recebem os cuidados diários de educadores que trabalham em esquemas de plantão, diurno SIMPÓSIOS e noturno, além de diaristas. O conjunto dos dados observacionais reúne uma sucessão de episódios interativos que reconstituem práticas adotadas pelos educadores em situações cotidianas de um plantão de 12 horas de trabalho. Cada uma das dez participantes foi acompanhada em diferentes situações que caracterizam a rotina institucional, totalizando 120 horas de observação de suas práticas no cuidado infantil. Das sessões observacionais foram selecionados momentos em que cada educador esteve envolvido com situações de banho, alimentação, sono e brincadeira, sendo que estas atividades ocupam pouco mais de 60% da rotina de trabalho. Os resultados indicam um conjunto de situações que fazem parte da rotina em ambiente coletivo de cuidado, e destacam-se como episódios ricos em interações e aprendizado. Os dados indicam que há diferenças claras quanto à qualidade das interações, especialmente voltados para a orientação, estimulação e ensino. Nessa direção tem-se um grupo de educadores que tenderam a adotar práticas de cuidado valorizando a criança como um membro ativo, um indivíduo em desenvolvimento, que precisa ouvir e ser ouvido. Já outro grupo é caracterizado por práticas marcadas pelo que se deve ou não fazer, sem explicações à criança, adotando atitudes em que o coletivo sobrepõese ao individual, ou seja, as regras são feitas quase que exclusivamente pela figura do educador. O aspecto da experiência, tanto profissional como da maternidade, pode fornecer subsídios para explicar algumas destas diferenças entre os dois grupos. Os resultados indicam, ainda, a ocorrência de práticas de cuidado habituais, difundidas e consolidadas ao longo do tempo, o que está em consonância com as discussões propostas por Ortín (2012). Nesta perspectiva, vê-se que tais práticas estão geralmente em consonância com a política de atendimento às necessidades da criança acolhida pela instituição. Verificouse também que normas e regras institucionais tendem a ser observadas por técnicos, educadores e crianças, assim como o controle de horários e escalas procura assegurar o cumprimento das atividades programadas dentro das condições determinadas pela instituição. Tais atividades obedecem a uma ordem institucional, compõem a rotina de trabalho desses cuidadores profissionais e orientam o cotidiano das crianças. Entretanto, é importante notar que cada educador, em razão de uma conjunção de fatores ambientais e pessoais, tem a sua própria rotina alterada por padrões de comportamento inscritos no cotidiano. Isto significa modificar o conteúdo das práticas de cuidado e sequências temporais que organizam as atividades diárias, o que resulta em formas individuais de trabalho que não podem ser desconsideradas quando se pretende ter uma visão ecológica desse ambiente institucional. Além disso, observou-se que a rotina institucional pode sofrer alterações por razões as mais diversas, como 91 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento fatos e dinâmicas que forçam a reorganização do trabalho dos educadores e a grade de atividades com as crianças. Pelo exposto, considera-se que a jornada de doze horas de trabalho envolve diferentes espaços, agentes e atividades. É a partir deste cenário que se constrói a vida e a história de cada pessoa envolvida neste processo, dinâmico e complexo, por ser ditado pela interação entre educadores e crianças. Da mesma forma que fornece subsídios para conhecer como é o dia a dia do profissional que trabalha em instituições de acolhimento infantil, procurando, a partir disso, encontrar soluções para os desafios colocados à qualidade do cuidado nesse ambiente específico. Os dados apresentados neste estudo reforçam cada vez mais a importância do papel e da figura do profissional que lida com crianças em ambiente de acolhimento, conforme apontam estudos desenvolvidos por Cavalcante e Corrêa (2012), Marzol, Bonafé e Yunes (2012), Moré e Sperancetta (2010). Além de confirmar o quanto se faz necessário um olhar mais atento e cuidadoso sobre esse profissional, identificando que dentre as suas principais funções está a promoção de um atendimento de qualidade a crianças que se encontram afastadas da família e com seus laços afetivos fragilizados. Palavras-chave: acolhimento institucional; educadores; rotina de cuidados. Contato: Laiane da Silva Corrêa, Aluna de Doutorado do PPGTPC/UFPA, E-mail: [email protected] REINTEGRAÇÃO FAMILIAR: INVESTIGANDO ESSE PROCESSO EM UMA AMOSTRA DE CRIANÇAS INSTITUCIONALMENTE ACOLHIDAS Fernanda Lacerda Silva, CINDEDI/FFCLRP/USP, E-mail: [email protected] CNPq Maria Clotilde Rossetti-Ferreira, CINDEDI/ FFCLRP/USP, E-mail: [email protected] CNPq O Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) considera a criança e o adolescente como sujeitos de direitos, em condição peculiar de desenvolvimento e, dentre os seus direitos, está o de ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta. Dessa forma, a família é considerada como a base da sociedade e unidade de ação das políticas públicas sociais (Oliveira, 2010). Nessa direção, o ECA (1990) e as demais normativas legais (Brasil, 2009a; Brasil, 2009b; Brasil, 2009c; Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, 2006) concernentes à SIMPÓSIOS questão preveem que todos os esforços devem ser feitos por estas políticas para garantir o direito de crianças e adolescentes de conviverem com seu grupo de referência (família e comunidade). Partindo desses pressupostos, a reintegração familiar é o termo utilizado no âmbito jurídico para se referir ao processo de crianças e de adolescentes retornarem às suas famílias de origem (natural ou extensa) após terem passado por um período em acolhimento institucional ou familiar. Documentos jurídicos (anteriormente mencionados) que regulamentam o trabalho de reintegração e a literatura sobre esse tema enfatizam a necessidade de se investir na família para viabilizar, no menor tempo possível, o retorno seguro ao convívio familiar. Indicam, também, que a realização desse trabalho é função do serviço de acolhimento em articulação com a rede (Vara da Infância e da Juventude, Conselho Tutelar, Conselhos de Direitos, Ministério Público, Saúde, Educação, Habitação, Assistência Social, rede familiar e comunitária, dentre outros). Mas esse trabalho em rede ainda é novo e exige aprendizagem e experiência. Além disso, há poucas orientações sobre como deve ocorrer essa prática. Ainda, há um desconhecimento significativo sobre as famílias que sofrem intervenções da Justiça e do Estado. Pautando-se na perspectiva da Rede de Significações, esta pesquisa objetivou investigar o processo de reintegração familiar de crianças de 0 a 7 anos e seis meses que estiveram nos serviços de acolhimento institucional, em uma cidade de médio porte do interior de São Paulo, durante o período de setembro/2008 a setembro/2010. Para tal, foi realizada a caracterização dessas crianças, de suas famílias e de sua trajetória de acolhimento - reintegração familiar, a partir de 50 autos processuais na Vara da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça e dos prontuários institucionais, cujos dados foram analisados quantitativamente, através de estatística descritiva. Ressaltam-se alguns resultados: dentre as 50 crianças estudadas, havia 13 grupos de irmãos, totalizando 36 famílias. Sobre as crianças, 25 são meninas e 25 meninos (a igualdade entre os sexos aconteceu ao acaso); 66% foram registradas pelos pais juntos; 1/3 das crianças estavam na faixa etária de 0 a 6 meses (34%) e 50% delas tinham até dois anos de idade; 62% são brancas; 88% têm irmãos e 56% mantêm os vínculos com eles; 86% têm outros parentes além da família natural e 14% vivenciaram acolhimento(s) anterior(es). Sobre as famílias, encontrou-se uma significativa ausência de informações; famílias predominantemente dirigidas por mulheres - mães e avós; pais com idade entre 17 e 39 anos, predominantemente solteiros e separados, com baixa escolaridade, desempregados ou com trabalhos que exigem pouca qualificação e oferecem baixa remuneração. Com a realização desse panorama geral das crianças e de suas famílias, observa-se que estamos 92 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento diante de uma amostra composta por: um número relativamente baixo de famílias, em relação à quantidade de crianças; em grande parte, crianças registradas por ambos os pais; crianças pequenas, brancas e que possuem irmãos; um alto índice de grupos de irmãos acolhidos; um número elevado de não manutenção de vínculos entre os irmãos e não reconhecimento de sua importância e a presença significativa da família extensa. Com relação ao processo de reintegração familiar, há um desencontro de “com quem estava a criança antes do acolhimento” e “para quem ela foi após reintegração”, a maioria estava com os pais, sobretudo com as mães, e foi reinserida na família extensa, prevalentemente com as avós. Ademais, foi notória a participação da família materna nesse processo. No que diz respeito aos familiares que receberam as crianças após o período de acolhimento (reintegração), as informações são escassas; há registros sobre 39 pessoas, com idade entre 41 e 55 anos (41%), maior porcentagem de casados e amasiados; sobre a escolaridade, verificou-se um ligeiro aumento da graduação, comparados aos pais e aos outros responsáveis que estavam com a criança antes do acolhimento. O mesmo ocorreu em relação à profissão, além dos trabalhos manuais que exigem pouca qualificação, o qual constituiu a maioria dentre os registros dos pais, apareceu a realização de trabalhos semiespecializados. Os acolhimentos foram breves: 76% das crianças permaneceram até 75 dias na instituição, as mais velhas foram reintegradas mais rapidamente, principalmente aquelas que faziam parte dos grupos de irmãos e os bebês (0 a 6 meses) permaneceram acolhidos por um período maior (2,5 meses a 3 anos). Os principais motivos do acolhimento registrados foram: o uso abusivo de álcool e/ou drogas pelos pais (76%), negligência (66%), abandono (34%), falta temporária de condições, moradia e problemas socioeconômicos (30%). Intervenções que visam à reintegração resumem-se, basicamente, a entrevistas com as famílias e visitas domiciliares, realizadas pela equipe técnica das instituições de acolhimento e da equipe interdisciplinar do judiciário. Notou-se, ainda, a ausência de informações sobre o acompanhamento pós-reintegração. Observou-se a coexistência entre novas leis e velhas práticas: “cultura de institucionalização” x acolhimentos - reintegrações breves; (re)inserções ocorrendo predominantemente na família extensa e a presença do PIA e de guias de acolhimento/desacolhimento nos autos e prontuários. Tais resultados revelam a importância de pesquisas que mostrem como o trabalho de reinserção vem sendo feito na prática a fim de embasar as necessárias adequações nas políticas públicas e no trabalho em rede. Palavras-chave: reintegração familiar; criança; família; acolhimento institucional. Contato: Fernanda Lacerda Silva, Mestre em Psicolo- SIMPÓSIOS gia pela FFCLRP/USP, E-mail: [email protected] S-199 Sala 408 - 16h A CONSTRUÇÃO DE PROJETOS DE VIDA EM DIFERENTES CONTEXTOS Lia Beatriz de Lucca Freitas, UFRGS Alline Nunes Andrade Heloisa Moulin de Alencar, UFES Denise D’Aurea-Tardeli, UNISANTOS, UMESP Letícia Lovato Dellazzana-Zanon, UFRGS Toda conduta humana tem um fim, o qual tem valor porque desejado. Ao longo do desenvolvimento, o ser humano torna-se capaz de estabelecer prioridades para sua ação, construindo projetos de vida. A busca pessoal por uma vida boa, isto é, uma vida que vale a pena ser vivida (La Taille, 2006, 2009) implica a construção de um projeto, o qual além de ser significativo para a própria pessoa tem repercussões que ultrapassam o mundo privado (Damon, 2009). Neste simpósio, discutem-se resultados de pesquisas sobre projetos de vida realizados em diferentes contextos, valendo-se de diversas abordagens metodológicas. No primeiro trabalho, investigou-se a influência de humilhação pessoal nos projetos de vida de 16 surdos com idade entre 21 e 40 anos, matriculados no ensino superior, no estado do Espírito Santo. Os participantes foram entrevistados por meio do método clínico piagetiano em língua de sinais. No segundo trabalho, levantou-se a hipótese de que a falta de uma atividade ou interesse que possa dar sentido e direção na vida é prejudicial ao desenvolvimento humano. A autora apresenta resultados de quatro estudos realizados com adolescentes no estado de São Paulo, os quais examinam relações entre projetos de vida e construção da personalidade. No terceiro trabalho, investigaram-se projetos de vida de adolescentes que frequentavam escolas na periferia de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, com o objetivo de examinar a hipótese de que os projetos dos adolescentes que exercem atividades de cuidado de seus irmãos menores diferem daqueles dos jovens que não realizam cotidianamente essas atividades. Discutem-se ainda as implicações dos resultados dessas pesquisas para o estabelecimento de intervenções e/ou políticas públicas específicas para as populações estudadas. PROJETOS DE VIDA E HUMILHAÇÃO: UM ESTUDO COM UNIVERSITÁRIOS E EGRESSOS SURDOS 93 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (FAPES) Investigamos as perspectivas moral e ética de universitários e egressos surdos por meio da análise da possível relação entre as projeções de vida e a experiência pessoal de humilhação no passado. A humilhação traduz desrespeito à dignidade humana; em contrapartida, a questão de projetos de vida é atinente à reflexão sobre a vida boa, central na definição de ética adotada neste estudo. Em conformidade com Ricoeur (1990) e Tugendhat (1996/2007), La Taille (2006) associa ética à reflexão filosófica sobre o fenômeno social, com considerações sobre a vida que vale a pena ser vivida, reservando à moral o conjunto de regras que coordenam as relações sociais, que requer a vivência do sentimento de obrigatoriedade. Segundo Piaget (1932/1994), este sentimento inicia a vida moral, inovando ao considerar que a moral evolui, sendo determinante, nesse processo, a existência de dois tipos distintos de respeito, o unilateral e o mútuo, que conduzem a efeitos diferentes. Logo, há juízos morais correspondentes ao primeiro tipo de respeito, provenientes da heteronomia moral, e os juízos referentes a um raciocínio moral conhecido por autonomia moral. A heteronomia é reforçada pelas relações de coação, portanto geradoras de humilhação, ora definida como rebaixamento moral. Por sua vez, a autonomia só se conquista no seio da cooperação entre pares, o que implica reconhecer e ser reconhecido. O reconhecimento de si como alguém capaz de realizar determinadas ações sobre o mundo só é possível por meio da ajuda do outro (Ricoeur, 2004/2006), pois a obra humana está vinculada à capacidade de poder narrar- -se, habilidade tal que concentra a vida como um relato temporal e é construída socialmente. Ao refletir sobre a relação temporal, Sartre (1954) considera que o significado que um sujeito atribui ao seu passado tem estreita relação com o projetar-se. Portanto, as projeções de si no futuro decidirão o valor de um passado, pois, ao elegermos quem desejamos ser, escolhemos as características que pretendemos preservar ou modificar daquilo que fomos ou estamos sendo, podendo ser o outro considerado como protagonista ou não nessas escolhas. Participaram da pesquisa 16 surdos pré-linguísticos que haviam se matriculado no ensino superior, entre 21 e 40 anos, divididos igualmente quanto ao sexo e entrevistados individualmente por meio do método clínico piagetiano em língua de sinais. A pesquisa sobre os projetos de vida revela que os participantes se interessam pela própria ‘atividade profissional’ bem como pelo investimento na ‘formação acadêmica’, seguido pelo ‘relacionamento afetivo’ e pela aquisição de ‘bens materiais’. Todavia, argumentos do tipo ‘autocentrado’ são considerados em relação às próprias características, necessidades e potencialidades SIMPÓSIOS para atuar sobre o mundo, mas também há conteúdos hedonistas. A conexão está presente, sobretudo em relação a uma coletividade, pois há argumentos conectados com a comunidade surda e com a sociedade. No estudo sobre as experiências de humilhação, este tema é reconhecido pelos participantes, sendo igualmente as experiências frequentes. Há relatos de situações de ‘exclusão’, com destaque para a educacional, ‘injúria, calúnia e difamação’ e ‘impossibilidade de comunicação’, justificadas por meio de conteúdos de ‘impotência’ e de ‘condição’. Dentre os argumentos, foi nítida a desconsideração do outro pelos participantes, sendo que o principal tipo diz respeito a ‘pessoas próximas desconectadas de si’ e à ‘sociedade desconectada de si’. Os exemplos de humilhação considerados como os mais importantes pelos entrevistados são de ‘exclusão’, ‘injúria’, ‘impossibilidade de comunicação’, ‘incompreensão e/ou intolerância’ e ‘ausência de apoio’. Quanto à relação de influência entre humilhação e projetos de vida, para a maioria, a humilhação, cujo teor é negativo, não poderia influenciar os projetos de vida valorizados pelos participantes. Embora consideremos que a humilhação em si não impulsiona o expandir-se, a indignação como elemento afetivo presente nas situações de humilhação contribui com a necessidade subjetiva da expansão de si (La Taille, 2006). Existe o reconhecimento de que a língua de sinais, o contato com a comunidade surda, a possibilidade de comunicação livre e a experiência de estar crescendo intelectualmente por meio dessas relações são motivadores para a expansão de si. Os participantes evidenciaram que é possível ressignificar essa experiência por meio de projetos que transformem a realidade. Tomar consciência de ter sido humilhado é necessário, assim como o é a capacidade de narrar-se (Ricoeur, 2004/2006). Entendemos, porém, que o sentido da vida depende estreitamente da experiência subjetiva de expandir a si próprio (La Taille, 2006), o que, para os surdos a quem entrevistamos, foi possibilitado a partir do momento em que eles se viram parte de uma comunidade na qual as relações de reciprocidade foram possíveis, destituindo o poder transitório das relações de coação que eram reforçadas nas escolas da época em que as humilhações ocorreram. Os argumentos autocentrados ganham destaque, especialmente no que diz respeito ao reconhecimento de si como um ser capaz de agir no mundo, seguidos por justificativas conectadas. Projetar-se no futuro é uma forma de cooperar com os seus iguais, reforçando principalmente a educação de surdos e a divulgação da língua de sinais para a sociedade. A desconexão é mais expressiva na humilhação pessoal, principalmente a desconexão de si. Quanto às implicações práticas, os projetos influenciados pela humilhação são passíveis de realização, pois alguns participantes deixaram clara essa possibilidade, por estarem atuando na educação de sur- 94 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento dos. Os surdos elaboram projetos de vida em uma perspectiva ética, incluindo a si próprios como também o outro, com especial atenção para a comunidade surda, mas também com pretensão de inclusão da sociedade. Há ligação entre o presente, o passado e o futuro, sendo que a experiência humilhante de exclusão educacional ainda se reproduz no presente, quando os participantes investem na própria formação superior para futura atuação profissional. Esperamos que esse estudo seja útil à discussão sobre políticas públicas na área da educação especializada para surdos, como também contribua com a ampliação do conhecimento científico sobre a perspectiva moral e ética desse público. Palavras-chave: projetos de vida; humilhação; surdos. ESTUDOS SOBRE ADOLESCÊNCIA E PERSONALIDADE MORAL UM OLHAR SOBRE A CONSTRUÇÃO DO PROJETO DE VIDA A adolescência caracteriza-se, tradicionalmente, por um período de transição no desenvolvimento humano, que tem a função de inserir o indivíduo no contexto social representado pelo mundo adulto. É um momento em que escolhas são feitas e projetos começam a ser construídos. Nesses projetos, está contida a visão que o adolescente tem de si mesmo, das suas qualidades e daquilo que deseja alcançar. Contudo, há estudos atuais, nacionais e internacionais, que mostram que muitos jovens hesitam em assumir compromissos que definem a vida adulta e não conseguem encontrar o tipo de engajamento que torna a vida completa. Por que isso acontece? Quais valores estão sendo construídos por adolescentes hoje que podem interferir em suas escolhas futuras? Levantamos uma hipótese de que a falta de uma atividade ou interesse que possa dar sentido e direção na vida é prejudicial ao desenvolvimento humano e, com isso, pretendemos dar uma atenção especial ao conceito de “propósito” de William Damon da Universidade de Stanford/EUA que tem estudado este fenômeno. O propósito é um objetivo, uma busca pessoal de sentido, uma intenção em realizar algo que seja significativo para si e para o mundo que o cerca, enfim, algo que seja e tenha valor para o sujeito. O propósito se torna o aspecto central do seu projeto de vida se pensarmos neste projeto como a intenção de transformação da realidade que, na verdade, vai sendo construído desde a infância quando o sujeito apreende sua condição social por meio da família e da comunidade. Nessa ótica, a construção do projeto de vida é um processo de desenvolvimento pessoal e social em que são consideradas as condições reais da relação entre passado e presente na perspectiva de futuro. A construção do projeto de vida SIMPÓSIOS é uma configuração humana de ser sujeito de sua história individual e social. Para estabelecer a relação entre o projeto de vida e a construção da personalidade do adolescente, apresentamos as discussões de quatro pesquisas que seguem a mesma fundamentação teórica, inserida na área da Educação e Valores Morais, da Psicologia Moral e do Desenvolvimento Humano mais especificamente na teoria de Erik Erikson, Jean Piaget e Lawrence Kohlberg, e nos estudos de William Damon, Josep Maria Puig e Yves de La Taille, entre outros. Estudo 1: Solidariedade e Projeto de Vida - pesquisa realizada com 770 adolescentes entre 16 e 18 anos, a qual envolveu a aplicação do PROM (Prosocial Reasoning Objective Measure) e depoimentos escritos sobre sua vida futura e seus planos éticos. Estudo 2: Trabalho e propósito na adolescência - pesquisa realizada com aproximadamente 6 mil estudantes do Ensino Médio de 73 escolas da região da Grande São Paulo que envolveu um questionário objetivo para verificar: (a) se os adolescentes se preocupam com o futuro; (b) se já escolheram a profissão e (c) quais os fatores, segundo eles, ajudam ou dificultam no momento da escolha, além das áreas de interesse profissional. Estudo 3: Adolescência e formação para o Trabalho - pesquisa realizada com 396 adolescentes entre 15 e 18 anos que envolveu um depoimento escrito sobre os seus propósitos (conceito de Damon) em relação ao mundo do trabalho e se o trabalho aparece como um elemento essencial em seus planos futuros. Estudo 4: Adolescência e qualidade de Vida (em andamento) - pesquisa com 192 adolescentes entre 11 e 18 anos que envolveu a aplicação de um Questionário sobre a Satisfação com a Vida e outro Questionário sobre Valores para verificar se os adolescentes realizam antecipações sobre seu futuro sobre sua: (a) satisfação vital, (b) satisfação com os diferentes âmbitos de sua vida, (c) autoestima e, além disto, a percepção de apoio social e dos valores significativos. Esperamos com estes estudos poder compreender o mundo do adolescente em sua complexidade entendendo o projeto de vida como um produto de uma organização multidimensional que envolve as dimensões socioafetiva, sociocognitiva e sociomoral. Tais dimensões configuram-se pelo estabelecimento do diálogo entre a produção de ideias, a configuração dos afetos, da ética e da capacidade de ser afetado pelos outros. A visão de futuro está ligada às vivências e experiências que o adolescente vai estabelecendo na sua história de vida. As representações que faz de si no presente, a respeito de alguns aspectos tais como a percepção do apoio social recebido, os valores, as experiências passadas, a influência social de seu grupo e ainda outras percepções, opiniões, atitudes, estabelecem categorias que formarão a sua personalidade futura, que vão dar sentido e sustentação nesta construção, para poder compartilhá-la com seu grupo e comunicar seus desejos, planos e metas. 95 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Palavras-chave: projetos de vida; adolescência; personalidade moral. PROJETOS DE VIDA DE ADOLESCENTES QUE CUIDAM DE SEUS IRMÃOS DIFEREM DAQUELES DE JOVENS QUE NÃO CUIDAM? Financiamento: CAPES A adolescência tem sido descrita como um período crítico do desenvolvimento para a construção de projetos de vida. Graças à construção das estruturas formais de pensamento, o adolescente é capaz de raciocinar sobre hipóteses e ultrapassar as fronteiras do real (Piaget & Inhelder, 1955/1976). Além disto, passa a pensar o seu futuro dentro da sociedade. Todavia, conforme sugeriu Margulis (2001), existem diversas maneiras de vivenciar esse período do desenvolvimento. Por exemplo, resultados de um estudo sobre adolescentes que são responsáveis pelo cuidado de seus irmãos menores indicam que estes jovens têm suas atividades escolares prejudicadas e menos tempo para o lazer que aqueles que não têm essa responsabilidade (Dellazzana, 2008). Assim, decidiu-se investigar se a situação de cuidado tem alguma influência nos projetos de vida construídos na adolescência. O cuidado entre irmãos tem sido descrito como a vivência do adolescente que, em função de sua situação socioeconômica, da falta de cuidadores alternativos e de vagas em creches, assume o cuidado de um ou mais irmãos menores (Dellazzana, 2008; Ferreira, 1991; Poletto, Wagner, & Koller, 2004). O cuidado pode ser formal, quando o adolescente é o responsável pelo cuidado dos irmãos menores, ou informal, quando ele apenas ajuda a mãe a cuidar dos irmãos mais novos (Dellazzana & Freitas, 2010). O objetivo deste estudo é investigar se existe alguma diferença entre os projetos de vida de adolescentes que: (a) cuidam formalmente de seus irmãos, (b) apenas ajudam a cuidar dos irmãos quando a mãe não está presente e (c) não cuidam dos seus irmãos menores. Participaram desta pesquisa 113 adolescentes com idade entre 12 e 18 anos, oriundos de escolas municipais de Porto Alegre, os quais deveriam ter, no mínimo, dois irmãos mais novos. Utilizaram-se dois instrumentos: (a) Questionário de Tarefas Domésticas e de Cuidado entre Irmãos (QTDCI) (Dellazzana-Zanon, Zanon, & Freitas, 2012) adaptado do Household Responsabilities Questionnaire (Riggio, Valenzuela, & Weiser, 2010) e (b) Depoimento escrito sobre projetos de vida (D´Aurea-Tardeli, 2008). Solicitou-se aos adolescentes que redigissem um depoimento a partir da seguinte situação-problema: “Pense na pessoa que você é hoje. Imagine você mesmo daqui a 10 anos. Descreva como você desejaria que estivesse sua vida.” O escore total dos itens relativos à variável cuidado do QTDCI foi utilizado para classificar os adolescentes nos seguintes grupos: (a) SIMPÓSIOS grupo 1 - 33 adolescentes que cuidam dos irmãos menores; (b) grupo 2 - 42 adolescentes que ajudam suas mães no cuidado dos irmãos; e (c) grupo 3 - 38 adolescentes que não cuidam dos irmãos menores. Para analisar o depoimento escrito, realizou-se uma análise de conteúdo dos projetos de vida mencionados pelos participantes e registraram-se as suas frequências. Computou-se um total de 494 projetos de vida, sendo que em todos os grupos vários participantes mencionaram mais de um projeto. Agruparam-se estes projetos em seis categorias: (a) família; (b) carreira, que inclui estudo e trabalho; (c) bens materiais; (d) virtudes morais; (e) felicidade e (f) outros. Estes tipos de projeto apareceram em todos os grupos, sendo os mais frequentes projetos relativos a: (a) bens materiais, (b) carreira e (c) família (nesta ordem). Um dado interessante foi observado em relação à aquisição de bens materiais: 50% dos participantes de cada grupo mencionaram o projeto de ter uma casa própria no futuro. Isto sugere que independentemente do arranjo familiar em relação ao cuidado dos irmãos menores, os projetos relativos a bens materiais não dizem respeito à obtenção de coisas supérfluas. No que diz respeito à carreira, nos três grupos, os participantes referiram-se mais a projetos em relação ao trabalho que relativos ao estudo. Este dado é congruente com a literatura, a qual indica que estudantes de escolas públicas priorizam o trabalho, quando refletem sobre o seu futuro (Bock & Liebesny, 2003; Miranda, 2007; Santos, 2002). Todavia, encontrou-se uma diferença importante entre os três grupos: os adolescentes dos grupos 1 e 2 citaram mais projetos relacionados a ser bom ou a fazer o bem do que os adolescentes do grupo 3. Mais especificamente, constatou-se que a maior parte desses projetos referese a ajudar os pais (especialmente a mãe) ou irmãos. Este resultado parece estar relacionado à lógica da solidariedade (Amazonas, Damasceno, Terto, & Silva, 2003) que permeia o cotidiano de diversas famílias de baixa renda, nas quais todos participam da manutenção do grupo seja no provimento das necessidades básicas seja no cuidado com seus membros. Esta lógica opõe-se à lógica do individualismo, na medida em que os valores coletivos são mais importantes que os individuais. Talvez, o fato dos adolescentes serem solidários no presente, cuidando ou ajudando a cuidar de seus irmãos menores, possa fazer diferença naquilo que eles almejam para o futuro. Palavras-chave: projetos de vida; adolescência; cuidado entre irmãos. S-2251 Sala de Especialização - 16h DESENVOLVIMENTO SOCIOCOGNITIVO E VIDA EM SOCIEDADE: PRÓ-SOCIABILIDADE, COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL E PARTILHA 96 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Leonardo Rodrigues Sampaio, UNIVASF Franciela Félix de Carvalho Monte, UFPE Guilherme Eulálio Cabral, UFPE A vida em sociedade não pode prescindir da cooperação entre os indivíduos que fazem parte dela. As origens da cooperação humana ainda são desconhecidas, contudo a Psicologia tem buscado cada vez mais discutir essas questões e suas relações com aspectos ontogenéticos e filogenéticos. Estudos recentes apontam que a cooperação está relacionada a aspectos evolutivos que permitiram a nossa espécie adaptar-se plenamente à vida social (Chudek & Henrich, 2011; Henrich & McElreath, 2003; Richerson & Boyd, 2005), através do desenvolvimento de mecanismos afetivos e cognitivos que aperfeiçoaram enormemente nossas capacidades comunicacionais e interacionais. Ao longo da infância, o desenvolvimento sociocognitivo é responsável pelo surgimento e evolução de um conjunto de competências e habilidades que possibilitam às crianças se comunicar, interagir e relacionarse interpessoalmente de maneira satisfatória, a partir das normas e padrões culturais de seu grupo social. Estudos recentes indicam que mesmo antes do primeiro ano de vida, os bebês parecem já compreender relações de poder e dominação em situações de interação (Thomsen et al., 2011), exibir preferência por condutas sociais relacionadas à cooperação e ajuda (Hamlin, Wynn & Bloom, 2007) e atribuir estados mentais a outros indivíduos, o que aponta para a existência de rudimentos evolutivos de uma capacidade de Teoria da Mente (Jonhson, 2000), já em tenras idades. Por volta dos três anos as crianças já são capazes de avaliar a valência moral do comportamento de agentes sociais externos, tomando decisões distributivas que buscam recompensar indivíduos pró-sociais e desprivilegiar aqueles que se engajam em condutas de tipo antissocial (Kenward & Dahl, 2011). Acredita-se, portanto, que a capacidade de assumir a perspectiva dos outros e de fazer inferências sobre suas intenções frente às regras de conduta sociais, bem como sobre estados afetivos dos outros, seja crucial para guiar o processo de tomada de decisão em contextos de interação. Neste simpósio serão apresentados trabalhos que buscam discutir as relações entre o desenvolvimento sociocognitivo e o comportamento pró-social, condutas antissociais e a partilha. No primeiro trabalho será feita uma revisão teórico-conceitual sobre as origens evolutivas da cooperação humana e suas implicações em relação a aspectos morais, como a divisão de recursos. No segundo trabalho serão discutidos os resultados de pesquisas sobre o comportamento distributivo de crianças pequenas, em situações nas quais elas têm a possibilidade de controlar o resultado final da distribuição (jogo ditatorial). Por fim, o terceiro trabalho SIMPÓSIOS apresentará os resultados de um estudo empírico no qual empatia, valores humanos e julgamento moral foram avaliados em dois grupos de adolescentes (os que cometeram e os que não praticaram ato infracional). As discussões desses três trabalhos serão contextualizadas a partir de uma perspectiva psicogenética e evolutiva de autores como Jean Piaget, Martin Hoffman e Nancy Eisenberg, assim como de pesquisas recentes sobre desenvolvimento infantil. Para tanto, objetiva-se levantar questionamentos a respeito da importância do desenvolvimento sociocognitivo e afetivo para a aprendizagem de comportamentos e atitudes que objetivem o bem-estar social e evitem dano intencional aos outros, direcionando um possível caminho para intervenções no campo da educação moral/ética. COOPERAÇÃO E MORALIDADE: CONSIDERAÇÕES SOBRE ALGUNS ASPECTOS EVOLUTIVOS10 Guilherme Ribeiro Eulálio Cabral, UFPE, E-mail: [email protected] Capes A tendência à cooperação dos humanos pode ser vista como uma das características que nos distingue de outras espécies (Tomasello, 2009) e a psicologia tem se ocupado em investigar tal característica a partir de seus aspectos ontogenéticos, filogenéticos e sociogenéticos. A cooperação entre as pessoas é uma das formas de pró-sociabilidade (Batson & Powell, 2003) e se mostra como um fator essencial na compreensão do comportamento humano, sendo sua origem pouco compreendida e fruto de intenso debate. Este trabalho tem como objetivo discutir recentes abordagens sobre o estudo da evolução da cooperação na nossa espécie e suas implicações em relação a aspectos morais, como a divisão de recursos. A partir da Teoria da Evolução das Espécies proposta por Darwin (2004), entende-se que é através da competição que as espécies evoluem, ao disputar recursos escassos necessários à sobrevivência e à reprodução. Assim, o comportamento cooperativo parece não ser adequado em um mundo competitivo. Este problema começou a ser resolvido com as teorias de seleção por parentesco (Hamilton, 1964) e do altruísmo recíproco (Trivers, 1971), que mostraram que, mesmo em ambientes competitivos, existem possibilidades de se evoluir à cooperação (West, Griffin, & Gardner, 2007). Ao se teorizar sobre a evolução do caráter social do ser humano, tem-se resgatado o mecanismo de seleção de grupo (também referido como seleção multinível) como fator importante na explicação da evolução da cooperação (Nowak, 2006, 2012; Wilson, 2012), em que 97 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento fatores individuais e coletivos seriam levados em conta. Alguns autores têm considerado que a cultura propiciou a seleção multinível, tornando possível à espécie humana a evolução do comportamento cooperativo (Chudek & Henrich, 2011; Henrich & McElreath, 2003), através da coevolução gene-cultura (Richerson & Boyd, 2005). Desta forma, os seres humanos possuiriam mecanismos cognitivos especializados em adquirir e manter elementos culturais das mais variadas formas que lhes teriam possibilitado a transmissão e a evolução da cultura (Claidière & Sperber, 2007; Sperber & Hirschfeld, 2004). A diversidade cultural promoveria, portanto, diferentes maneiras de se cooperar, acarretando em normas e valores sociais próprios de cada cultura. Baumard, André e Sperber (2013) abordam a questão da evolução da cooperação sob uma perspectiva diferente, discutindo a seleção apenas ao nível individual no qual a cooperação teria evoluído de uma relação mutualista entre indivíduos. O mutualismo se caracteriza pelo benefício de ambos os envolvidos em uma relação. O comportamento cooperativo desta relação pode ser controlado pela penalização dos indivíduos que são beneficiados, mas não cooperaram, ou simplesmente deixando-se de escolher parceiros não cooperativos. Nesta perspectiva, os indivíduos estariam competindo em um mercado de cooperadores, ao invés de procurarem agir reciprocamente ao deixar de cooperar quando outra pessoa também não coopera. Ou seja, aqueles que agem egoisticamente deixariam de ser escolhidos como parceiros. O mutualismo seria um dos fatores evolutivos para o caráter cooperativo dos seres humanos, entretanto, nas relações sociais com estranhos não há como saber antecipadamente quem será cooperativo ou não. De forma que a sociabilidade beneficia aqueles que cooperam, mas também os que tenham vantagens competitivas sobre os outros membros, garantindo o maior usufruto dos recursos disponíveis. Para lidar com toda uma variedade de situações cooperativas e competitivas o cérebro humano deve ser dotado de mecanismos que favoreçam o bom desempenho para entender e prever atitudes e comportamentos de outras pessoas. Hauser, McAuliffe e Blake (2009) consideram que tanto a reciprocidade quanto o despeito entre as pessoas evoluíram por conta de demandas adaptativas das relações de cooperação entre pessoas estranhas à família que vive em grupos com um grande número de membros, ao mesmo tempo em que possuem capacidades para detecção de falta de equidade, tomadas de decisão voltadas para o futuro e inibição de comportamentos egoístas ou de autobenefício. Assim, para o indivíduo ser identificado como um cooperador, faz-se necessário ter comportamentos altruísticos genuínos, e não apenas estratégicos, para poder ser escolhido entre os demais como parceiro. Isto acarretaria um desenvolvimento do senso moral entre as pessoas (Baumard & 10 SIMPÓSIOS Sperber, 2012), exigindo também habilidades cognitivas para criar instituições sociais, sistemas simbólicos e tecnologias complexas para lidar com a imensa variedade de modos de cooperação existentes entre os humanos (Moll & Tomasello, 2007). A moralidade seria, portanto, fruto da habilidade humana em agir cooperativamente (Tomasello & Vaish, 2013), sendo uma forma de regular como os recursos produzidos pelas pessoas em determinado grupo deveriam ser distribuídos. Podem-se observar tendências altruísticas em diversos estudos com crianças ao dividir recursos (House, Henrich, Brosnan, & Silk, 2012; Melis, Altricher, & Tomasello, 2013; Moll & Tomasello, 2007; Tomasello & Warneken, 2008; Warneken, Lohse, Melis, & Tomasello, 2011). De um modo geral, os estudos sobre cooperação e altruísmo lidam com a divisão de recursos quando se tem uma ampla oferta de bens. Contudo, observa-se que a busca por autobenefício tem uma importante influência no comportamento humano, pois crianças são menos pró-sociais quando lidam com objetos que valorizam mais (Blake & Rand, 2009) e há casos em que a restrição extrema de recursos disponíveis em uma sociedade pode levar a uma acentuação de comportamentos egoístas (Sperber, 1993), indicando que tais situações podem implicar uma menor capacidade dos indivíduos para inibir o desejo de se apoderar de recursos valiosos. Por outro lado, Rand, Green e Nowak (2012) realizaram um experimento em que observaram que quanto mais rápida e intuitivamente as pessoas decidiam, mais cooperativas elas eram, pois heurísticas cooperativas se desenvolvem nas experiências individuais, já que, de uma maneira geral, a cooperação é vantajosa ao lidarmos com problemas do cotidiano. Ademais, Warneken, Lohse, Melis e Tomasello (2011) mostram uma tendência em crianças com três anos de idade a dividir igualmente o resultado de uma atividade conjunta. Tomasello e Warneken (2008) ressaltam que a forma igualitária de distribuição de bens entre pessoas se estabelece quando os envolvidos se identificam como sendo do mesmo grupo, podendo ser o caso de quando se trabalha em colaboração uns com os outros. Desta forma, a cooperação pode servir como um facilitador para processos cognitivos necessários em diferentes formas de relações sociais. Palavras-chave: cooperação; evolução; moral; prósociabilidade. COMPORTAMENTO DE PARTILHA E DESENVOLVIMENTO SOCIOCOGNITIVO NA INFÂNCIA 11 Leonardo Rodrigues Sampaio, UNIVASF, E-mail: [email protected] Este trabalho recebe apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. 98 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Seguir critérios para divisão de bens a partir das normas socialmente legitimadas é um importante conhecimento que permite interação eficaz do indivíduo com seus pares e com seu grupo, levando-o a construir noções relacionadas à cooperação, justiça e solidariedade. Discute-se que o comportamento de partilha tem suas origens relacionadas ao processo de construção das sociedades, uma vez que para aumentar suas capacidades e posses individuais os organismos tiveram que ser capazes de abrir mão de seus bens, em troca de aceitação no grupo e com a expectativa de ser tratado reciprocamente por seus semelhantes, aumentando o seu acesso a outros bens e serviços, virtualmente inalcançáveis por iniciativas ou esforços particulares. A maneira como as crianças dividem bens e constroem normas relacionadas à justiça foi primeiramente estudada por Piaget (1932/1994), que identificou a transformação dos julgamentos infantis ao longo dos períodos de anomia e heteronomia. Posteriormente, Damon (1980) observou uma evolução nos julgamentos distributivos infantis em estágios bem definidos, que se iniciam em princípios baseados nos interesses e desejos pessoais, passam pela defesa da igualdade e chegam até um nível no qual considerações sobre igualdade e reciprocidade são coordenadas com escolhas que levam em conta os motivos dos envolvidos e as demandas de situações específicas. Mais recentemente, diversos autores têm seguido uma linha de investigação na qual se avalia como as crianças se comportam em situações reais de divisão, comparando as estratégias usadas por elas para dividir seus bens com os julgamentos sobre partilha que elas emitem nessas situações (Blake & Rand, 2010; Blake & McAuliffeSmith, 2011; Fehr, Bernhard & Rockenbach, 2008). Em linhas gerais, esses estudos indicam que quando crianças por volta dos 4-5 anos de idade têm a oportunidade de definir como uma situação de partilha deve ser resolvida, elas tendem a se beneficiar, apesar de afirmarem que talvez o mais justo fosse distribuir os bens igualitariamente. Todavia, essa tendência a se autobeneficiar parece diminuir gradualmente, fazendo com que por volta dos oito anos as crianças exibam um comportamento de rejeição a divisões não igualitárias, mesmo em situações nas quais elas estejam em vantagem relativa. No presente trabalho serão apresentados e discutidos os resultados de três estudos recentemente desenvolvidos no Brasil, durante os quais o comportamento infantil de partilha foi investigado em situações reais, através do uso do jogo ditatorial. A partir das hipóteses levantadas por autores como Hoffman (2000) e Eisenberg (2000) e dos resultados de estudos anteriores sobre justiça distributiva (Batson et al., 2003; Sampaio, Camino e Roazzi, 2007), diferentes tipos de variáveis foram manipuladas, a fim de testar seus efeitos sobre a maneira como crianças entre três e oito anos de idade dividiam os recursos disponíveis e justificavam 11 SIMPÓSIOS seu comportamento. No primeiro estudo, 63 crianças foram solicitadas a distribuir adesivos que elas ganharam livremente entre elas mesmas e outra criança (fictícia) que viria brincar depois, em duas situações experimentais nas quais a distribuição era feita ou na presença de um adulto (contexto público) ou sem ninguém presente (contexto privado). O objetivo principal do estudo era verificar se as crianças submetidas ao contexto público tendiam a ser mais generosas com a outra criança do que aquelas que haviam distribuído no contexto privado, o que foi corroborado pelos resultados das análises. Além disso, se constatou que, no geral, as crianças tendiam a esperar que outros a tratassem de maneira igualitária, apesar de elas mesmas tenderem, independente de sua idade, a não se comportar desta maneira. No segundo estudo, informações situacionais sobre mérito pessoal e cuidado com o outro foram manipuladas em um contexto no qual 160 crianças jogavam um jogo computacional chamado de Sabichão contra “outra criança” (fictícia) e ganhavam como prêmio cinco cartelas de adesivos. Cada criança foi aleatoriamente alocada em uma de quatro situações experimentais nas quais o resultado final do Sabichão e o tipo de informação sobre a reação da “outra criança” ao término do jogo variavam, e foi solicitada a tomar uma decisão com relação aos adesivos que havia ganhado. Nos resultados, constatou-se efeito da idade e das manipulações experimentais realizadas, no sentido de que os participantes mais velhos e aqueles que estiveram na condição com maior mérito e “emotiva” foram mais generosos para com a “outra criança”, doando quantidades de adesivos que estabeleciam uma condição de quase igualdade entre os jogadores. Por fim, no terceiro experimento informações situacionais sobre a norma da justiça e sobre quem poderia ser o possível beneficiário da distribuição foram manipuladas, para verificar se crianças de 3 a 8 anos distribuíam quatro adesivos que haviam ganhado livremente. Basicamente, a diferença entre as condições experimentais envolvia a explicitação ou não do conceito de justiça (“lembre de ser justo quando for dividir” ou “faça o que quiser”) e da qualidade das informações sobre um possível beneficiário da distribuição (apresentação de um vídeo no qual uma criança do mesmo sexo e idade do participante se apresentava, ou simplesmente dizer que ele era “outra criança que viria brincar depois”). Em linhas gerais, os resultados demonstraram que os participantes da condição na qual o conceito de justiça era explicitado e que o vídeo da outra criança era exibido tenderam a doar mais adesivos que os participantes das outras três condições. Além disso, constatou-se que as crianças mais velhas foram mais generosas que as mais jovens. De maneira geral, considera-se que os resultados desses estudos lançam nova luz sobre as teorias que explicam como as crianças constroem o conceito de justiça, especialmente Este trabalho recebeu apoio financeiro do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico – CNPq. 99 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento no que tange à distribuição de bens. Levanta-se a possibilidade de que até por volta dos oito anos as crianças admitam uma espécie de “flexibilidade” na aplicação da norma de igualdade, especialmente quando seus próprios interesses estão envolvidos. Outro aspecto a ser destacado nos resultados é o efeito do contexto de distribuição e das informações situacionais disponibilizadas para a criança sobre o seu comportamento distributivo, o que será discutido frente aos resultados de estudos recentes, apresentando suas possíveis implicações para o campo do desenvolvimento sociocognitivo, bem como para a realização de pesquisas futuras. Palavras-chave: crianças; distribuição; jogo ditatorial. SOCIOCOGNIÇÃO E AFETIVIDADE: INVESTIGANDO O FENÔMENO DOS ATOS INFRACIONAIS COMETIDOS POR ADOLESCENTES 12 Franciela Félix de Carvalho Monte, UNINASSAU, E-mail: [email protected] Leonardo Rodrigues Sampaio, UNIVASF, E-mail: [email protected] Alguns estudos recentes vêm apontando a Empatia, Valores Humanos e Julgamento Moral como variáveis importantes para compreender como aprendemos e aderimos às normas sociais, bem como para entender as condutas desviantes ou antissociais. No caso da empatia, discute-se que esta habilidade cognitiva e afetiva funcione como um inibidor da conduta que provoque dano ao outro, uma vez que permite “antecipar” o sofrimento alheio (Del Prette & Del Prette, 2003), provocando no sujeito observador uma resposta afetiva no sentido de proteger o outro em sofrimento. Quanto ao Julgamento Moral, Kohlberg (1992/1954) propôs a existência de um percurso de desenvolvimento (seis estágios) que vai de um polo pré-convencional a outro pós-convencional onde as leis e normas convencionais podem ser questionadas em prol de direitos humanos universais. Os valores humanos, por sua vez, caracterizam um tipo de conhecimento sociocognitivo sobre o mundo, constituído por crenças e conceitos que guiam a seleção, avaliação e julgamento de comportamentos e eventos, representando cognitivamente as necessidades humanas (Gouveia, Milfont, Fischer & Santos, 2008; Schwartz, 2006). Estudos apontam que baixa empatia (Bjoerkqvist & Oesterman, 2000; Garcia, 2001; Pavarino, 2004), julgamento moral pouco desenvolvido (Bulzneck, 1975, 1979; Gibbs, Basinger & Fuller, 1992; Stams et al., 2006) e valores humanos orientados à dimensão pessoal - realização, experimentação, hedonismo (Formiga & Gouveia, 2005; Gouveia, 2010) - são co12 SIMPÓSIOS muns em sujeitos que se envolvem com comportamentos antissociais e desviantes. Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa foi observar as relações entre as variáveis Empatia, Valores Humanos e Julgamento Moral e o cometimento de atos infracionais por adolescentes. Método. Participantes. Participaram deste estudo 120 adolescentes da região metropolitana do Recife-PE (60 em conflito com a lei e 60 não infratores), de ambos os sexos, com idades entre 12 e 18 anos (M = 15,03; d.p = 1,53), pareados por sexo, idade, renda familiar e escolaridade. Instrumentos e Procedimentos. Os adolescentes do grupo I (em conflito com a lei) foram entrevistados em unidades socioeducativas de internação e o grupo II (não infratores) em escolas nos bairros de onde eram provenientes os primeiros. Todos os participantes responderam a um questionário socioeconômico e aos “Dilemas da Vida Real”: redução da maioridade penal e pena de morte (Galvão, 2010). Em seguida (alternadamente), responderam ao Questionário de Valores Básicos - QVB (Gouveia, 2003), o qual avalia a orientação (Social, Pessoal, Intrapessoal) e motivação (Idealistas, Pragmáticos) dos valores e a Escala Multidimensional de Reatividade Interpessoal - EMRI (Sampaio, Guimarães, Camino, Formiga & Menezes, 2011), que avalia a Tomada de Perspectiva (TP), Fantasia (FA), Angústia Pessoal (AP) e Consideração Empática (CE), sendo as duas primeiras dimensões cognitivas e as duas últimas afetivas da empatia. Análise dos dados. O Julgamento Moral dos adolescentes foi avaliado por três juízes independentes, considerando os estágios propostos por Kohlberg (1954/1992). Os demais dados foram tabulados e analisados usando os procedimentos próprios de cada escala, através do SPSS (Statistical Package Social Sciences, 18.0). Resultados. Quanto aos valores humanos, no grupo I, os participantes pontuaram mais nos Valores Pessoais que nos Valores Sociais (z = -3,70; p < 0,001). No grupo II, por sua vez, os escores dos sujeitos nos Valores Sociais foram maiores que os escores dos Valores Pessoais (z = -3,28; p = 0,001). Ainda, o grupo II obteve maiores escores de Empatia geral (t = -2,29; p = 0,024), CE (t = -1,98; p = 0,050), TP (t = -3,73; p < 0,001) e Índice Geral de Julgamento Moral (z = - 2,73; p = 0,060), além de maiores pontuações no dilema da Redução da Maioridade Penal (z = - 2,73; p = 0,060) quando comparados aos adolescentes que cometeram atos infracionais. A empatia esteve associada de forma significativa (p < 0,05) com o Índice Geral de Julgamento Moral (s = 0,21), JM no dilema da Pena de Morte (s = 0,20), Valores Sociais (s = 0,18) e Valores Humanitários (s = 0,22). Do mesmo modo, a Tomada de Perspectiva se relacionou com o Índice Geral de JM (s = 0,24), JM no dilema de Saddam Hussein (s = 0,22) e com os Valores Humanitários (s Este trabalho recebeu apoio financeiro do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico – CNPq. 100 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento = 0,22). Por fim, analisou-se um modelo de regressão logística para a variável dicotômica cometer ou não um ato infracional (χ 2 = 38,06; Razão de Chances = 15,17; p < 0,001), o qual obteve bons valores de Sensibilidade (70%) e Especificidade (86,9%). Aqui, contatou-se que os Valores de Experimentação predizem positivamente a ocorrência de ato infracional por adolescente (β = 0,19; p = 0,017) enquanto as variáveis Tomada de Perspectiva (β = -0,152; p = 0,001), Valores de Existência (β = -0,306; p = 0,013) e Julgamento Moral (β = -0,451; p = 0,009) estão relacionados negativamente com a ocorrência do evento ato infracional. Discussão. Conforme observado, a empatia, a capacidade de colocar-se no lugar de outro (TP) e de sentir compaixão por outrem (CE) é menor em adolescentes que cometem atos infracionais, o que está em conformidade com estudos anteriores sobre comportamento agressivo (Bjoerkqvist & Oesterman, 2000; Garcia, 2001; Pavarino, 2004) e com a concepção de que o dano intencional dirigido ao outro é um comportamento resultante da incapacidade de se sensibilizar com as emoções de medo, dor ou angústia alheias (Del Prette & Del Prette, 2003). Na mesma direção, a relação entre estas habilidades e os Valores Sociais e Humanitários aponta que adolescentes orientados aos interesses sociais e com foco na qualidade das relações interpessoais - apoio social, boa convivência (Gouveia, 2003) são mais afetivamente mobilizados pelo sofrimento alheio (Hoffman, 1987) e vice-versa. Por fim, entende-se que em níveis de JM mais desenvolvidos o sujeito defende direitos humanos universais, assumindo uma posição descentralizada, voltada à situação alheia, o que fez o próprio Kohlberg (1954/1992) acreditar que a Tomada de Perspectiva é um elemento imprescindível ao desenvolvimento moral, conforme os resultados desse estudo apontam. Deste modo, discute-se que a empatia, o julgamento moral e os valores humanos dirigidos ao bem-estar social estão relacionados com a promoção de uma convivência social mais harmoniosa e respeitosa, podendo inibir condutas antissociais e de dano ao outro, como o cometimento de atos infracionais. Palavras-chave: empatia; julgamento moral; valores humanos; atos infracionais; sociocognição. Contato: Franciela Félix de Carvalho Monte, Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU), E-mail: [email protected] COMUNICAÇÕES ORAIS COORDENADAS COMUNICAÇÕES ORAIS COORDENADAS COC-2293 Sala 418 - 16h INFÂNCIAS NORMATIVAS: RESSIGNIFICANDO A VULNERABILIDADE, RISCO E BEM-ESTAR DE CRIANÇAS A presente sessão tem por objetivo discutir pesquisas que abordem a temática da infância típica, de classe média, sem aparente vulnerabilidade econômica e social. O interesse por essa área de estudos surge da inquietação dos autores em perceber que os modos de vida, as vivências e especialmente as demandas que emergem entre as crianças consideradas socialmente como protegidas e inseridas socialmente não têm sido objeto de pesquisa, intervenção e muito menos preocupação social. Parte-se do pressuposto de que para compreender as condições de vida das crianças e suas produções culturais e formas de significação, é indispensável pesquisas que privilegiem as vozes destes sujeitos ativos, mas que muitas vezes são silenciados pela lógica da incompletude e incompetência. Além disso, compreender os modos de vida e as vicissitudes das crianças de classe média e alta dos centros urbanos possibilita entender muito da estrutura e dinâmica social mais ampla, conforme preconizam os teóricos dos Estudos Sociais da Infância. Neste sentido, essa sessão agrupa trabalhos que buscam debater temáticas específicas da vida das crianças, nomeadamente, a realização de atividades extracurriculares como um segundo ofício da criança contemporânea; os modos de brincar e significar os jogos eletrônicos; os usos e riscos da inserção das crianças nas redes sociais e internet, a partir de um serviço de orientação psicológica mediada pelo computador; e a compreensão dos direitos das crianças na perspectiva de meninos e meninas de uma escola particular de classe média. Todos os estudos evidenciam que as crianças estão ativamente construindo os seus modos de vida, a partir dos elementos culturais e contextos em que estão inseridas, sendo evidenciado que os recursos econômicos não são garantia de uma infância sem riscos e/ou vulnerabilidades. Somado a isso, os autores pontuam a importância de compreender as novas relações intergeracionais que decorrem de elementos jurídicos e culturais que condicionam a vida das crianças, como o Estatuto da Criança e do Adolescente ou mesmo o domínio do uso das tecnologias pelas crianças em detrimento ao uso não tão especializado dos responsáveis adultos. Espera-se que 101 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento o debate gerado a partir das comunicações apresentadas possibilite a diminuição da invisibilidade que circunda a vida das “crianças típicas”, socialmente amparadas e teoricamente protegidas. Palavras-chave: infância; direitos; atividades extracurriculares, mídias digitais, internet. “SE É DIREITO, EU TENHO!”: CONCEPÇÕES DE DIREITOS DE CRIANÇAS DE UMA ESCOLA PARTICULAR Juliana Prates Santana, UFBA, E-mail: [email protected] Janaina Rocha Avanzo, UFBA, E-mail: [email protected] Micaela Moitinho Libório, UFBA, E-mail: [email protected] Paula Rita Bacellar Gonzaga, UFBA, E-mail: [email protected] PIBIC/UFBA A infância tem sido uma temática que ganha cada vez mais relevância na pauta científica, social e política, principalmente no que se refere à promoção e garantia dos direitos das crianças. Existe ainda um marco legal abrangente relativo a esses direitos, destacando-se a Declaração dos Direitos da Criança, de 1959, em que as crianças foram, pela primeira vez, consideradas como sujeito de direitos próprios e, no Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente, instituído em 1990, que assumiu uma perspectiva de proteção integral. De fato, a assunção da criança à condição de sujeito de direitos reflete certo consenso social em torno dos direitos das crianças, principalmente no que se refere aos direitos de provisão e proteção (Sarmento & Pinto, 1997). No entanto, esse consenso não tem sido acompanhado de avanços equivalentes nas condições de vida das crianças em situações socioeconômicas desfavorecidas, menos ainda no que se refere aos direitos de participação para todas as crianças. O presente trabalho tem por objetivo descrever a concepção de direitos e deveres de crianças inseridas em uma escola particular da cidade de Salvador, visando compreender de que forma essas crianças se percebem enquanto sujeito de direitos e qual o entendimento ou teorias explicativas que constroem para justificar a existência de violação de direitos entre as crianças. Além disso, pretende-se descrever as estratégias utilizadas pelas crianças quando percebem que seus direitos estão sendo violados. Este trabalho foi realizado no âmbito de uma pesquisa mais abrangente que visava investigar a concepção de direitos de crianças inseridas em diferentes contextos, nomeadamente uma escola particular, um projeto social e um espaço de acolhimento COMUNICAÇÕES ORAIS COORDENADAS institucional. Buscava-se compreender de que forma os diferentes contextos determinavam as concepções das crianças, constrangendo ou ampliando as suas concepções sobre direitos e mesmo as vivências concretas de se perceberem enquanto possuidoras de tais direitos. Esta pesquisa utilizou como estratégia investigativa as metodologias participativas, que partem do pressuposto de que as crianças são sujeitos ativos e competentes na produção de conhecimento sobre seus modos de vida (Fernandes, 2009). As crianças participantes eram do quinto ano do ensino fundamental, do turno vespertino, sendo que a turma era composta por dezessete crianças. Destas, sete (3 meninos e 4 meninas) de 10 e 11 anos aceitaram, através do termo de assentimento, participar da pesquisa. No contexto da escola, as crianças foram convidadas a produzir um diário em que registraram durante uma semana momentos ou episódios em que percebiam que tinham seus direitos cumpridos e/ou garantidos. Além disso, foram realizadas entrevistas em duplas e/ou trios visando minimizar as situações formais de entrevistas, além da análise das atividades realizadas no âmbito de um projeto temático desenvolvido na própria escola sobre os direitos das crianças. Os resultados demonstram que as crianças inseridas na escola particular têm conhecimento da legislação existente para crianças e adolescentes, especificamente o Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo que são evidenciados os direitos de provisão e proteção. Nesse sentido, as crianças, em sua maioria, se reconhecem como portadoras de direitos e completamente amparadas pela legislação existente, sendo que a violação de direitos estaria associada diretamente a condições socioeconômicas desfavoráveis. Neste sentido, há uma atribuição individual para a condição de excluído, ou seja, o fato de existirem crianças sem direitos deve-se em grande parte a uma culpa dos familiares que não foram capazes de suprir as necessidades básicas dos seus filhos. A ênfase nos direitos de provisão e proteção e a associação da violação de direitos a condições socioeconômicas desfavoráveis são reforçadas nas atividades escolares desenvolvidas pelas crianças. Em relação ao direito de participação, as crianças afirmam que este direito se refere à possibilidade de expressarem sua opinião e em geral falam desse direito no contexto familiar e doméstico. Além disso, as crianças demonstram menos conhecimento e têm mais dificuldade em identificar momentos em que esses direitos são cumpridos ou mesmo violados quando comparados aos direitos de provisão e proteção. Por estarem inseridas em uma escola com orientação construtivista, a participação é incentivada, mas essa prática não se reflete completamente na percepção das crianças sobre os seus direitos. Ao serem questionadas sobre as estratégias de combate às violações de direitos, as crianças referem-se, quase que exclusivamente, aos pais e/ou familiares, parecendo des- 102 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento conhecer canais diretos de denúncia ou órgão competentes, como Conselhos Tutelares. Na verdade, este último é considerado um instrumento exclusivo para crianças pobres. Percebe-se a partir desta pesquisa que as crianças têm se apropriado do discurso acerca dos direitos, mas que ainda têm dificuldade em perceber situações de violações que extrapolem as questões socioeconômicas. Além disso, torna-se importante observar que a proteção integral só se efetiva quando os três “p”s dos direitos são garantidos (proteção, provisão e participação). Enfatiza-se a necessidade de uma divulgação maior para as crianças sobre formas de proteção que extrapolem a família, já que este conhecimento mais amplo torna-se fundamental para a garantia da proteção integral das crianças, uma vez que muitas das situações de violência podem acontecer no âmbito familiar e doméstico. Palavras-chave: infância; direitos; escola. Contato: Juliana Prates Santana, UFBA, E-mail: [email protected] PROCURAM-SE CRIANÇAS DESOCUPADAS: REVISANDO A LITERATURA SOBRE ATIVIDADES EXTRACURRICULARES DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES Anna Paula Brandão, UFBA, E-mail: [email protected] Camila Silva Mascarenhas Bezerra, UFBA, E-mail: [email protected] Lia da Rocha Lordelo, UFBA, E-mail: [email protected] PIBIC/PNPD-UFBA Esta é uma revisão de literatura que integra uma investigação da vivência da infância ou adolescência por crianças e adolescentes em contextos de formação extraescolares. Especificamente, o objetivo deste trabalho foi fazer um levantamento da literatura nacional e internacional, produzida nos últimos vinte anos, sobre o significado ou impacto das atividades extracurriculares de crianças e jovens em suas vidas. Este trabalho assenta-se teoricamente na psicologia cultural de orientação semiótica (Valsiner, 2012). Deste ponto de vista, entendemos que o desenvolvimento humano e o ambiente cultural estão intrinsecamente relacionados e que, portanto, a cultura é uma parte integrante, formadora dos processos psicológicos humanos; fenômenos culturais partilhados coletivamente são mediados simbolicamente pelo sujeito, compondo seus sentidos pessoais. Nosso atual objeto de estudo é um desdobramento a partir das conclusões do trabalho de doutorado de uma das autoras, concluído em 2011. A tese investigou os significados de trabalho e COMUNICAÇÕES ORAIS COORDENADAS de infância para crianças de diferentes contextos culturais, entrevistando crianças trabalhadoras e não trabalhadoras. Entre os pontos teóricos e empíricos levantados ao fim da pesquisa, destacamos: a percepção da polissemia dos significados (o que pode significar infância e o que pode significar trabalho varia significativamente entre as crianças); a heterogeneidade de situações laborais e impossibilidade de generalização empírica sobre estas; a construção ativa e pessoal de significados, a qual deve ser teoricamente compreendida por meio da análise das trajetórias individuais das crianças; a percepção, pelas crianças, da ocupação de seu tempo pelo trabalho escolar, remetendo a reflexões sociológicas que apontam a criança escolar contemporânea como “a nova criança trabalhadora” (Qvortrup, 1987, 2001); e, por fim, a preocupação predominante com crianças e adolescentes em situações de extrema pobreza e numa configuração de explícita exploração da mão de obra infantil. Os dois últimos pontos indicam a necessidade de estudarmos situações menos “visíveis” de trabalho na infância, e ainda de compreendermos os modos singulares de vivência da infância, fazendo-nos atentos para o modo como esses significados emergem ou são construídos e também para sua função desenvolvimental. Deste modo, justificamos a necessidade de direcionarmos nosso olhar para contextos de aprendizagem e formação extraescolares, compreendendo os significados, para crianças e adolescentes, de atividades regulares em suas semanas e de alguma forma independentes da rotina escolar. Por esta razão, voltamos nosso olhar, nesta investigação, para o que estamos chamando, em consonância com as reflexões do sociólogo Qvortrup (1987, 2001), de os novos meninos e meninas trabalhadores do século XXI. O levantamento de literatura foi feito em portais de periódicos nacionais como o Scielo e a Biblioteca Virtual de Psicologia; e em bases de periódicos internacionais, através do portal da CAPES. O material recolhido encontra-se em fase de organização e análise. Alguns pontos, entretanto, já podem ser elencados como resultados preliminares: o primeiro ponto, e o mais importante, é a nítida escassez de trabalhos dedicados ao estudo de atividades extracurriculares, em particular no Brasil, país em que o modelo de escola integral é pouco usual e, em contrapartida, a frequência de atividades desempenhadas por crianças e jovens no turno oposto ao da escola é bastante significativa. Segundo, chamamos atenção para a existência de estudos estrangeiros que afirmam que as atividades extracurriculares podem agir como variáveis moderadoras de evasão escolar e de comportamentos antissociais; terceiro, dentro da literatura nacional, percebemos que, quando os artigos tomam por objeto atividades de formação fora da escola, o olhar está voltado, em especial, para os jovens da escola pública, e há a tendência, aí, a considerar que as atividades 103 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento extracurriculares têm duas funções básicas: a de ocupação do “tempo livre”, no turno em que não se frequenta a escola, e a função de ampliar, principalmente para adolescentes, suas perspectivas futuras de inserção social e profissional. Concluímos, preliminarmente, que é necessário expandir e aprofundar os estudos sobre essas atividades extracurriculares, uma vez que o tempo livre tem se tornado cada vez mais raro nas rotinas das crianças e adolescentes brasileiros; e sugerimos atenção, também, para as crianças de famílias de nível socioeconômico médio ou alto, com frequência hiperocupadas, tanto pelas atividades formativas escolares, quanto por uma miríade de outras atividades consideradas indispensáveis para seu futuro - mas que se encontram via de regra fora do escopo de interesse de estudos em Desenvolvimento, Educação e outros campos das Ciências Humanas. Os impactos das atividades extraescolares para crianças e adolescentes de diversos contextos econômicos e culturais são distintos e heterogêneos, mas tais contextos podem estar sujeitos, de modo semelhante, à mesma lógica disciplinante do trabalho, impactando no perfil da criança necessariamente ocupada do século XXI. Palavras-chave: crianças; adolescentes; atividades extracurriculares. Contato: Lia da Rocha Lordelo, PNPD - UFBA, E-mail: [email protected] BRINCANDO NA WEB: DESCRIÇÃO E ANÁLISE DAS ATIVIDADES LÚDICAS DESEMPENHADAS POR CRIANÇAS DE 5 A 12 ANOS NA INTERNET Bianca Becker Lepikson, UFBA, E-mail: [email protected] Ilka Dias Bichara, UFBA, E-mail: [email protected] A contemporaneidade é marcada por uma série de características que a permeiam. Destacam-se o fascínio pelo ciberespaço e a difusão da cibercultura que proporcionam a abertura de um novo espaço de comunicação, socialização e ludicidade (Levy, 1999). Ressaltamos ainda a disseminação da cultura do medo e insegurança generalizada (Bauman, 1998) e o crescente número de pessoas trancadas em suas casas amedrontadas pela violência das cidades (Bichara, et al., 2011; Karsten & Vliet, 2006; Kawashima, et al., 2008). Nessa conjuntura a infância é caracterizada pela preferência dos adultos por espaços privados onde as crianças podem crescer e se desenvolver longe dos perigos urbanos (Rasmussen, 2004). Frente a esse cenário complexo e multidimensional, as mídias digitais aparecem como um interessante contexto lúdico COMUNICAÇÕES ORAIS COORDENADAS contemporâneo (Barra & Sarmento, 2008), oferecendo múltiplas possibilidades de diversão pautadas na interatividade e instantaneidade das informações (Santaella, 2004). No entanto, apesar da preferência dos adultos por espaços internos para o desenvolvimento infantil, as discussões ainda tendem para postura dicotômica e controversa no tocante às brincadeiras na internet (Narine & Grimmes, 2009). Tais polarizações, permeadas pela pouca visibilidade dada ao fenômeno da infância enquanto categoria estrutural (Qvostrup, 2010), acabam por impedir um olhar mais profundo sobre este complexo e diverso contexto da tecnologia computacional e como ele adentra em nossas vidas a partir das suas possibilidades lúdicas. Com o objetivo de conhecer este universo urbano contemporâneo, a presente pesquisa intentou investigar quais as atividades lúdicas que crianças de 5 a 12 anos da cidade de Salvador desenvolvem na internet, e como atuam e interagem nesse contexto de brincadeira. Como se trata de um fenômeno recente e pouco investigado, optou-se por um estudo exploratório. Participaram dessa pesquisa 35 crianças, estudantes de escola particular que possuíam livre acesso às mídias digitais em sua rotina comum. A coleta de dados se deu por meio de observação participante aliada à entrevista não estruturada. Os dados coletados foram descritos e classificados por meio de categorias empíricas e sofreram análise qualitativa a partir das técnicas de apreciação de conteúdo. Os resultados obtidos apontam para algumas tendências de análise que devem ser verificadas. Gênero e idade apareceram como prováveis variáveis diferenciadoras das brincadeiras na internet, visto que foram observados elementos de tipificação, estereotipia e segregação durante as atividades lúdicas na internet de meninos e meninas. Além disso, foram encontrados indícios de que as crianças brincam mais com seus pares do que sozinhas, ressaltando o caráter coletivo dessa atividade e aspectos da cultura de pares nesse contexto (Barra & Sarmento, 2008; Barros, 2005). A presença de elementos de reprodução interpretativa nas atividades lúdicas apontou para as formas como a cultura adentra o contexto lúdico digital e como este pode produzir cultura (Corsaro, 2006, 2009). O caráter contínuo com que se caracterizou a apropriação dos espaços de brincadeira na internet, chamou atenção para a possível sobreposição, e não oposição do que se convencionou chamar mundo real e mundo virtual durante as atividades lúdicas (Marsh, 2010). Por fim, indícios da relação brincadeira na internet e consumismo infantil foram encontrados, merecendo um olhar cuidadoso quanto a essa questão (Buckingham, 2000). Esperamos, com esses resultados, indicar os possíveis caminhos de interpretação do fenômeno investigado e contribuir para a superação da visão dicotômica e pouco esclarecedora das relações entre ludicidade e internet. 104 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Palavras-chave: atividades lúdicas; mídias digitais; reprodução interpretativa. Contato: Bianca Becker Lepikson, UFBA, E-mail: [email protected] AS PRÁTICAS DE INTERAÇÕES DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM AMBIENTES ON-LINE: OPORTUNIDADES, RISCOS E DESAFIOS PARA PROMOÇÃO DOS DIREITOS NA INTERNET Juliana Andrade Cunha, SaferNet Brasil, E-mail: [email protected] Na última década as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) se desenvolveram de forma veloz e têm sido incorporadas à vida dos brasileiros com muita rapidez, surpreendendo constantemente as estatísticas nacionais. A democratização e barateamento do acesso à rede no Brasil, entre outros fatores, têm feito crescer a posse de computador com internet nos domicílios brasileiros. Calcula-se sua presença em 39,8% dos domicílios, representando o maior crescimento entre os bens duráveis (IBGE, 2011). Estima-se hoje que o Brasil tenha 77,7 milhões de usuários de internet (IBGE, 2011). Destes, 10,9 milhões são crianças e adolescentes (IBGE, 2011). Em pesquisa realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI, 2012) com usuários da internet em idade de 9 a 16 anos, 47% dos participantes afirmam usar a internet todos os dias ou quase todos os dias. Dentre as crianças entrevistadas com idade entre 11-12 anos, 71% possuem perfil em redes sociais e na faixa etária entre 13-14 anos este número aumenta para 81%. Esses dados apontam para milhões de crianças e adolescentes frequentando (no próprio quarto, do celular, dos tablets, na escola ou em lan house) este novo, gigante e global espaço público chamado ciberespaço, na maior parte das vezes sem mediação e proteção adequadas. Infelizmente ainda não é clara a noção de que a Internet se configura um novo tipo de espaço público que precisa receber os cuidados e atenção sobre questões de proteção e segurança tanto quanto outros espaços públicos. Essa população tem a particularidade de estar começando a aprender direitos e deveres de cidadania e já conviver em um grande espaço público que é a internet. O uso da internet por crianças e adolescentes tem promovido boas oportunidades, mas também tem trazido alguns riscos. O número de novas denúncias envolvendo aliciamento sexual e pornografia infantil vem crescendo dramaticamente desde 2006 (SaferNet Brasil, 2013), quando sites de redes sociais se tornaram muito populares no Brasil. As tecnologias de informação e comunicação, especialmente as redes sociais, têm sido usadas no Brasil como uma ferramenta para COMUNICAÇÕES ORAIS COORDENADAS facilitar crimes e violações contra crianças e adolescentes, tais como aliciamento, chantagem, abuso e exploração sexual. Em 7 anos, a Central Nacional de Denúncias de crimes e violações contra os Direitos Humanos, coordenada pela SaferNet Brasil, recebeu 1.286.763 denúncias anônimas de Pornografia Infantil na Web, o que corresponde a 40,55% do total de denúncias recebidas no período (3.173.061). As crianças iniciam sua vida digital cada vez mais cedo, o que pode significar exposição precoce a conteúdos impróprios e a contatos potencialmente danosos para sua idade. Na mesma pesquisa realizada pelo CGI (2012), 23% das crianças e adolescentes entre 11-16 anos relataram que já tiveram contato na internet com pessoas que não conheciam pessoalmente. Sobre a percepção de riscos, 72% concordaram sobre a existência de coisas na internet que podem incomodá-las, por outro lado, apenas 6% dos pais acreditam que seus filhos tenham passado por uma situação de incômodo ou constrangimento ao utilizar a internet nos últimos 12 meses. Nota-se, portanto, um gap geracional entre pais e crianças em relação à percepção de riscos e possíveis danos vividos em ambientes on-line. A grande preocupação é se estas crianças que estão iniciando sua vida digital estão preparadas diante das incríveis oportunidades que a internet oferece para navegar de forma responsável e segura, se esquivando dos riscos existentes na rede. Desde 2007, como desenvolvimento da área de prevenção e proteção dos direitos da criança e adolescente, a organização não governamental SaferNet Brasil começou a oferecer informação e orientação através de e-mail sobre como se manter seguro e protegido na internet. Em 2012, foi lançado um serviço gratuito on-line de orientação, baseada em técnicas de aconselhamento psicológico, para crianças e adolescentes e/ou seus próximos que estejam vivenciando situações de risco e violência na internet, tais como: sexting, cyberbullying, stalker, assédio e aliciamento on-line, exposição inadvertida a conteúdos adultos e/ou violentos, abuso e exploração sexual, dentre outros. Para isso foi desenvolvido um sistema de atendimento por chat (sala de bate-papo), disponibilizado através de um Portal web (www.helpline.org.br) com ambientes, linguagens e recursos apropriados para o público infantojuvenil, baseado em tecnologias livres e padrões abertos (com criptografia e outras medidas de segurança para evitar vazamento e interceptação de dados), que permite ao usuário acionar e conversar em tempo real com uma equipe de psicólogas especializadas com conhecimento em cibercultura, direitos humanos e comportamento on-line de crianças e adolescentes. Este serviço oferece informação e suporte psicológico para crianças e adolescentes, orienta os pais sobre como mediar o uso da internet por seus filhos e ajuda educadores e agentes do sistema de garantia de direitos (SGD) a como lidar com situações de risco e vio- 105 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento lência contra crianças e adolescente na internet. Em seu primeiro ano de funcionamento o canal HelpLine Brasil atendeu 1.304 usuários. Destes, 405 foram atendidos via chat e 899 através de e-mail. Foram 166.992 acessos ao Portal Nacional Helpline Brasil; 9.952 acessos ao Canal de orientação via comunicado instantâneo; houve acessos em 115 municípios em 23 estados do Brasil e mais 11 cidades em 8 países. Este trabalho pretende apresentar os primeiros achados do contato diário com crianças e adolescentes on-line, compartilhando dados empíricos e indicadores relevantes nesta temática, bem como debatendo os desafios na compreensão deste cenário de interações de crianças e adolescentes na rede. Contato: Juliana Andrade Cunha, SaferNet Brasil, E-mail: [email protected] COMUNICAÇÕES ORAIS AVALIAÇÃO Sala 405 - 10h CO-2137 AVALIANDO A CONGRUÊNCIA VALORATIVA EM DIFERENTES FASES DE DESENVOLVIMENTO Thiago Medeiros Cavalcanti, UFPB, E-mail: [email protected] Valdiney Veloso Gouveia, UFPB, E -mail: [email protected] Kátia Corrêa Vione, UFPB, E-mail: [email protected] Rômulo Lustosa Pimenteira de Melo, UFPB, E-mail: [email protected] Larisse Helena Gomes Macêdo Barbosa, UFPB, E-mail: [email protected] Valores humanos são princípios-guia gerais, que transcendem objetos ou situações específicas. A concepção de que alguns valores podem manifestar conflito com outros pode ser encontrada na literatura nos trabalhos de Rokeach e Schwartz, cabendo ao último uma melhor estruturação e operacionalização desta temática (Rohan & Zanna, 2003). Concretamente, este autor propõe que existe um conflito inerente entre alguns tipos motivacionais ou valores (e.g., tradição e hedonismo), enquanto outros são compatíveis entre si (e.g., poder e realização) (Schwartz, 2011). Já Gouveia, autor da Teoria Funcionalista dos Valores Humanos, parte do pressuposto teórico de que a natureza do ser humano é benevolente, o que implica COMUNICAÇÕES ORAIS em pensar que todos os valores são positivos. Esta teoria, a qual vem crescendo nos últimos anos e se configurando como um modelo de valores mais integrador e parcimonioso, assume um sistema integrado, congruente dos valores, que se torna mais evidente em pessoas maduras (Medeiros, 2011). Essa teoria também oferece uma contribuição ao diferenciar dois conceitos-chave neste âmbito: (1) congruência valorativa, que diz respeito à integração do sistema valorativo dos indivíduos, indicando em que medida os valores podem ser congruentes entre eles, expressando três níveis (baixo, médio e alto); e (2) compatibilidade valorativa, retratando o quanto os valores são compatíveis com critérios externos (Gouveia, 2013). Ademais, tais valores são desenvolvidos, intrinsecamente, por meio do processo de socialização, em paralelo aos desenvolvimentos cognitivo e afetivo (Vione, 2012). Este estudo surgiu com o objetivo de avaliar a congruência valorativa em três grupos de desenvolvimento: adolescentes (12 a 18 anos), adultos jovens (19 a 34 anos) e adultos maduros (35 a 65 anos). Tratou- se de uma pesquisa transversal, contando com a participação de 36.845 pessoas de todas as unidades federativas, com idade média de 28 anos (dp = 12,62), distribuídas de forma equitativa quanto ao sexo, representando os três grupos amostrais: adolescentes (n = 9.638), jovens adultos (n = 16.520) e adultos maduros (n = 10.687). Todos responderam ao Questionário dos Valores Básicos (QVB) e perguntas demográficas (idade e sexo). Para testar a congruência, calcularam-se, primeiramente, as correlações de Pearson entre as subfunções valorativas. Em caso de ao menos uma correlação negativa, as correlações foram transformadas em cos-1, admitindo que a correlação entre duas variáveis expressa o cosseno do ângulo que as une. Posteriormente, calcularam-se ângulos médios e convertidos em correlações médias. Por fim, calculou-se um teste t para correlações interdependentes. As correlações para cada par de subfunções e o coeficiente médio, separadamente para cada grupo de desenvolvimento, foram como seguem: adolescentes [congruência baixa: rmédio = 0,09; congruência moderada: rmédio = 0,13; congruência alta: rmédio = 0,37; t (9.636) = -3,53; p < 0,01], adultos jovens [congruência baixa: rmédio = 0,08; congruência moderada: rmédio = 0,14; congruência alta: rmédio = 0,36; t (16.517) = -6,88; p < 0,01] e adultos maduros [congruência baixa: rmédio = 0,18; congruência moderada: rmédio = 0,26; congruência alta: rmédio = 0,46; t (10.684) = -8,24; p < 0,01]. Estes resultados corroboram os três níveis teorizados de congruência das subfunções valorativas nos três grupos de desenvolvimento. Comparando os grupos de desenvolvimento entre os três níveis de congruência, observou-se que diferem tanto no nível baixo (χ2 (3) = 73,61; p < 0,001), quanto médio (χ2 (3) = 126,73; p < 0,001) e alto (χ2 (3) = 103,18; p < 0,001). A congruência dos valores pode ser em decorrência de 106 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento vários fatores, como as características dos pais (que vão influenciar na educação oferecida), as próprias características da criança ou contexto de socialização. Os resultados aqui apresentados corroboram que existe uma diferença nas prioridades valorativas em diferentes fases do desenvolvimento. Também constatam que à medida que as pessoas vão ficando mais velhas, existe uma harmonia entre seus valores. Entende-se assim que a adolescência é um momento do ciclo da vida no qual as prioridades dos indivíduos não estão totalmente consolidadas. No entanto, quando inicia a fase a adulta por volta dos 19 anos, percebe-se uma maior integração entre os valores, os quais são consolidados na idade madura. Neste sentido, destaca-se a importância da socialização, que tem como função as modificações ocorridas nas prioridades valorativas das pessoas. Este processo de modificação acontece por causas multifatoriais, como o contexto histórico, a relação entre grupos e alterações demográficas e econômicas da sociedade. Deste modo conclui-se que os resultados aqui apresentados demonstram evidências que, segundo as pessoas se desenvolvem e amadurecem, seu sistema valorativo parece mais integrado ou congruente. Contudo, o próprio desenvolvimento está interligado à socialização, processo no qual vai acontecer a internalização dos valores, este por sua vez pode ocorrer por diversas formas, destacando-se fatores biológicos e socioculturais. Destarte, isto demonstra a importância de compreender como os valores vão se modificar nas diferentes fases da vida, pois vão definir os processos responsáveis por direcionar os indivíduos para adoção de padrões comportamentais, normativos e valorativos. Palavras-chave: valores humanos; congruência; desenvolvimento. Contato: Thiago Medeiros Cavalcanti, UFPB, E-mail: [email protected] CO - 2438 CONCEPÇÕES ACERCA DOS DIREITOS HUMANOS: VALIDAÇÃO E PROPRIEDADES PSICOMÉTRICAS DE UMA ESCALA DE MEDIDA Izayana Pereira Feitosa, UFCG, E-mail: [email protected] Cleonice Camino, UFPB Leonardo Sampaio, UNIVASF Nilton Formiga, UNINASSAU Márcia Paz, UNIPÊ Este estudo objetivou validar a Escala de Concepções acerca dos Direitos Humanos (CDH) e avaliar a influência das variáveis sociodemográficas sobre os fatores deste COMUNICAÇÕES ORAIS instrumento. Participaram deste estudo 300 estudantes matriculados nas rede pública e privada de ensino da cidade de João Pessoa, divididos igualmente quanto ao sexo e o tipo de escola. Esta amostra foi dividida em três grupos de idade que correspondem aos estágios do desenvolvimento cognitivo propostos por Piaget (1967/2007, 1970/2007): G1- 8 anos (operações concretas), G2- 12 anos (entrada nas operações formais) e G3- 16 anos (operações formais consolidadas). O instrumento utilizado continha duas partes: 1) ECDH - composta por 30 itens em que os participantes assinalaram se compreenderam ou não cada item proposto, bem como o grau de concordância em relação a cada um deles em uma escala tipo Likert de 5 pontos e 2) dados sociodemográficos (idade, sexo, tipo de escola). Observaram-se as recomendações éticas para pesquisa com seres humanos, e, depois da autorização das instituições de ensino, o instrumento foi aplicado de duas formas: individualmente com as crianças, em sala reservada para este fim, e coletivamente com os adolescentes em sala de aula. No SPSS (versão 21), foram computadas estatísticas descritivas, fatorial e índices de consistência interna (Alfa de Cronbach). Considerando-se o teste de esfericidade de Bartlett, os critérios de Kaiser e Cattell e a Análise Paralela, observou-se que a ECDH se organiza em três dimensões: O primeiro fator foi denominado de Princípios orientadores da humanidade. Este fator é composto por 6 itens que se referem a um conhecimento acerca da normatização e do aspecto jurídico legal dos DH, a um conhecimento universal dos direitos humanos e a uma ancoragem dos DH em princípios éticos gerais e a uma ideia dos direitos humanos acima da legalidade e em prol de uma organização social. Este fator apresentou um valor próprio de 5,87, explicou 21,73% da variância total; apresentou um índice de consistência interna (Alfa de Cronbach) que se situou em 0,87 e correlações itemtotal acima de 0,40; a média desse fator é 1,65 e desvio padrão de 1,31. O segundo fator foi denominado Princípios reguladores da sociedade; é composto por 9 itens que fazem referência à função dos direitos humanos como elementos que visam à proteção das pessoas quanto às injustiças e que visam a uma convivência social pacífica e harmoniosa; também se refere ao respeito da pessoa como cidadã e o direito à participação social. Tal fator apresentou um valor próprio de 1,74, explicou 6,43% da variância total; apresentou um índice de consistência interna (Alfa de Cronbach) de 0,78; média de 2,99 e um desvio padrão de 0,82. O terceiro fator foi denominado de Direitos Básicos Concretos - diz respeito à concepção dos Direitos Humanos com base no reconhecimento de exemplos dos direitos. Este fator apresentou um valor próprio de 4,37; explicou 16,18% da variância total; seu índice de consistência interna (Alfa de Cronbach) foi de 0,74, tendo correlações item-total acima de 0,30; ele apre- 107 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento sentou uma média de 3,50 e um desvio padrão de 0,57. A partir de uma análise descritiva (Média e desvio padrão), para cada item da escala, observou-se que as maiores médias, hierarquicamente, estiveram para os seguintes itens: Ter um direito é ser respeitado pelo que você é; Ter um direito é ter uma família; Ter um direito é ter uma casa para morar; Ter um direito é ter uma boa alimentação; Ter um direito é estudar numa boa escola; Ter um direito é viver livre; Os direitos fazem a vida de todos melhor; Ter direitos é poder participar na comunidade; Ter um direito é poder usar o que se necessita para viver dignamente bem. Como dado adicional, realizou-se um teste t para amostra pareada com o objetivo de avaliar a diferença das pontuações médias entre os fatores. Desta forma, observou-se que o fator Direitos Básicos Concretos apresentou média superior (M = 3,50 DP = 0,57) em relação ao fator Princípios orientadores da humanidade (M = 1,65 DP = 1,31) [t(299) = -23,25, p < 0,01] e em relação ao fator Princípios reguladores da sociedade (M = 2,99 DP = 0,82) [t(299) = 11,80, p < 0,01]. No que se refere aos fatores Princípios orientadores da humanidade e Princípios reguladores da sociedade, cujas médias foram, respectivamente, (M = 1,64 DP = 1,31) e (M = 2,99, DP = 0,82) [t(299) = -17,72, p < 0,01], este último fator revelou média superior ao primeiro. Num segundo momento, realizou-se uma Análise de Variância (Anova one-way) para avaliar a diferença na pontuação dos escores médios da idade e da inserção escolar sobre os níveis de concepções acerca dos DH. Foi possível observar os seguintes resultados: Em relação ao nível de concepção acerca dos DH representado pelo fator Princípios orientadores da humanidade, os participantes mais velhos (de 16 anos) apresentaram médias significativamente superiores aos demais. Por outro lado, os participantes de 8 anos apresentaram médias significativamente superiores em relação ao fator Direitos Básicos Concretos as dos participantes de 12 e 16 anos. Não houve diferenças significativas entre as idades com respeito à média do fator Princípios reguladores da sociedade. No que diz respeito ao tipo de escola e aos níveis de concepções acerca dos DH, observou-se que a média do fator Princípios orientadores da humanidade foi significativamente mais elevada para os estudantes da escola privada, enquanto a do fator Direitos Básicos Concretos foi significativamente mais elevada para os estudantes da escola pública. Quanto ao fator Princípios Reguladores da Sociedade não se verificou diferença significativa entre as médias dos participantes das duas escolas. Os resultados foram analisados e discutidos à luz de estudos empíricos pertinentes. Palavras-chave: Direitos Humanos; concepções; escala. Contato: Izayana Pereira Feitosa, Universidade Federal de Campina Grande, [email protected] COMUNICAÇÕES ORAIS CO - 2302 IDENTIFICANDO O TRANSTORNO DO DESENVOLVIMENTO DA COORDENAÇÃO EM CRIANÇAS BRASILEIRAS: CRIAÇÃO E VALIDAÇÃO DE TESTE DE DESENVOLVIMENTO MOTOR Lívia de Castro Magalhães, Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, E-mail: [email protected] Márcia Bastos Rezende, Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, E-mail: [email protected] Adriana Maria Valadão Novais Van Petten, Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, E-mail: [email protected] Olivia de Souza Agostini (UFRJ), Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, E-mail: [email protected] Pollyanne Maria L. Alcântara, Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, E-mail: [email protected] Joyce Cristina Cândido, Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, E-mail: [email protected] Isabella Oliveira do Carmo, Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, E-mail: [email protected] Cynthia Girundi Lima, Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, E-mail: [email protected] Bárbara Letícia Morais, Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, E-mail: [email protected] Ana Amélia Cardoso, Universidade Federal do Paraná-UFPR, E-mail: [email protected] O Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC) se refere à alteração motora discreta, mas que tem impacto importante na vida escolar, familiar e social da criança. Pais e professores são os primeiros a observar que a criança é desajeitada ou lenta na escrita e nas atividades diárias, mas nem sempre sabe identificar o que está acontecendo e como lidar com o problema. O diagnóstico formal do TDC é feito entre as idades de 6 e 12 anos e se aplica aos casos em que o desempenho motor está abaixo do esperado para a idade cronológica, inteligência e oportunidades para aquisição de habilidade, interferindo no desempenho escolar e das atividades de vida diária (APA, 2013). O transtorno não é devido a uma condição médica conhecida e é muito frequente, com prevalência internacional variando de 1,4 a 19% (Zwicker et al., 2012) e brasileira de 4,3 a 11,8 (Cardoso et al., no prelo; Souza et al., 2007). O TDC afeta mais meninos e não importa o status socioeconômi- 108 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento co ou nível educacional (APA, 2013). Considerando que o TDC afeta grande número de crianças e tem impacto nas atividades e na participação em casa, na escola e na comunidade (Summers et al., 2008; Wang et al., 2009; Cairney et al., 2010; Poulsen et al., 2011), é importante identificar o transtorno para permitir o tratamento adequado. Existem vários testes para identificação do TDC, mas todos foram criados no exterior e ainda não contamos com testes de coordenação motora validados para crianças brasileiras. Como alternativa para os testes internacionais, desde 2001 viemos trabalhando na criação de um teste brasileiro de desenvolvimento motor para a detecção do TDC (Magalhães, Nascimento, Rezende, 2003). A criação da Avaliação da Coordenação e Destreza Motora (ACOORDEM) (Magalhães, Rezende, Cardoso, 2009) seguiu metodologia proposta por Benson e Clark (1982), sendo que as três etapas iniciais de criação do teste - Planejamento, Construção e Avaliação Quantitativa - foram concluídas. Atualmente, estamos na quarta etapa, de validação e derivação de normas de desempenho por idade, na qual o teste completo foi aplicado em crianças de 6 a 8 anos, e a coleta de dados de crianças de 4 e 5 anos está em andamento. A ACOORDEM se enquadra na perspectiva atual de avaliar componentes do desempenho (destreza manual, coordenação fina, coordenação bilateral) em associação com habilidades funcionais relevantes para o desempenho em casa e na escola. A criação do teste foi norteada pela Classificação Internacional de Funcionalidade e Saúde - CIF (OMS, 2003) e seus itens refletem os vários conceitos dessa classificação de função (Cardoso, Magalhães, Lacerda, Andrade, 2012). A ACOORDEM oferece oportunidade para avaliar a criança sob diferentes perspectivas, segundo as áreas de função definidas pela CIF: (a) avaliação das habilidades sensório- motoras, por meio da observação de itens puramente motores, como equilíbrio e coordenação motora (Função do corpo); (b) observação do desempenho da criança em tarefas de agarrar bola, recortar e escrever (Atividade); e (c) apreciação do desempenho funcional em casa e na escola por meio de questionários para pais e professores (Atividade e Participação). Considerando o impacto do TDC da infância à vida adulta, justifica-se a criação de recursos adequados à realidade brasileira para diagnóstico dessa condição. A identificação do TDC pode contribuir para formulação de programas preventivos de intervenção, prevenindo os efeitos secundários do transtorno. Há evidências de bons resultados tanto de intervenções breves, focadas nas atividades de interesse da criança e que desafiam suas habilidades (Sugden, 2007, Green et al., 2008; Araújo, Cardoso, Magalhães, 2012), quanto intervenções no sistema escolar, o que justifica a identificação do TDC (Missiuna et al., 2012). Além disso, um teste brasileiro poderá estimular a pesquisa, contribuir para o treinamento de profissionais e melhoria da atenção a crianças na escola. COMUNICAÇÕES ORAIS Objetivos. Descrever as etapas do processo de padronização e apresentar dados do desempenho de crianças brasileiras de 6 a 8 anos de idade na ACOORDEM. Metodologia. Estudo descritivo, desenvolvido em quatro etapas: (a) Planejamento, (b) Construção, (c) Avaliação Quantitativa e (d) Validação. Será feita breve descrição das três primeiras etapas de criação da ACOORDEM, seguida de apresentação dos dados iniciais de validação, o que incluiu análise das qualidades psicométricas (confiabilidade e validade). Os participantes dos estudos de validação foram 266 crianças, meninos e meninas de escolas públicas e particulares, de 6 a 8 anos; outras 160 crianças de 4 e 5 anos estão sendo avaliadas. Análise dos dados incluiu o uso de correlação intraclasse (ICC), para investigar a confiabilidade, e comparação de grupos para investigar se idade, sexo e tipo de escola (pública ou particular) influenciam o desempenho na ACOORDEM. Resultado. Os valores de confiabilidade entre observadores (ICC) variaram de 0,8-1,0. Na confiabilidade teste-reteste, examinada aos 6 anos, 43,8% dos itens foram considerados de bom a excelente, com boa confiabilidade (≥ 0,80) para todos os itens dos Questionários de pais e professores. Os dados indicam poucas diferenças significativas no desempenho nos itens quando se compara gênero, tipo de escola e local de moradia, no entanto, há diferença no desempenho entre as idades. Aos 7 e 8 anos, cerca de 80,9% dos itens identificaram diferença significativa entre crianças típicas e com sinais de TDC. Conclusão. A padronização dos critérios para avaliação motora foi concluída e foram coletados dados normativos preliminares para crianças de 6, 7 e 8 anos. Os itens da ACOORDEM apresentam boa confiabilidade entre observadores, mas a confiabilidade teste-reteste de alguns itens abaixo do esperado sugere necessidade de ajustes. A maioria dos itens se mostrou útil para diferenciar o desempenho por idade e entre crianças com e sem sinais de TDC, no entanto, o teste é longo, sendo recomendada redução de itens para facilitar uso clínico. Os resultados indicam necessidade de tabelas normativas apenas por idade, pois poucos itens apresentaram resposta diferencial para gênero e tipo de escola. A ACOORDEM tem qualidades psicométricas similares a outros testes motores e mostrou bom potencial para identificação do TDC em crianças brasileiras. Espera-se que o teste seja útil para identificar crianças que necessitem de suporte para participar de atividades motoras em casa e na escola. CO - 2440 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA ESCALA SOBRE AS CONCEPÇÕES DE DEFICIÊNCIA 109 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Lúcia Pereira Leite, Unesp - Bauru, E-mail: [email protected] Cristina Broglia Feitosa de Lacerda, UFSCar, E-mail: [email protected] Apoio Financeiro: CNPq Vigotski (1991, 1997, 2004) defende que o desenvolvimento humano ocorre primeiro no campo social - interpsicológico - e depois no âmbito individual - intrapsicológico - pelo intermédio das interações sociais do indivíduo no seu contexto. Tal movimento se fundamenta na concepção de homem interativo, atribuída por Góes (1991) na leitura das obras do autor. A interatividade é circunscrita por participação ativa e passiva do homem perante o meio sociocultural e demarcada pelo momento histórico. Em linhas gerais, o desenvolvimento humano é marcado pela apropriação que o sujeito faz dos conhecimentos produzidos no decorrer da história. Porém, tal apropriação, de acordo com Leontiev (2005), se inicia no nascimento humano - em que está posta uma estrutura orgânica que será desenvolvida por toda a sua existência e que irá subsidiar a sua participação no contexto - e pode ser compreendida como um processo em curso em que os variados caracteres típicos da espécie humana são transmitidos e compartilhados pelos outros. Em função disso, o homem desenvolve capacidades que, por sua vez, lhe permitem aprender os conhecimentos existentes ao seu redor. Vigotski (1997, originalmente publicado em 1934) traz no quinto volume da coleção Obras Escogidas - Fundamentos da Defectologia, livro ainda não traduzido para o português, que a tipologia de deficiência é abordada à luz de duas perspectivas: a primária e a secundária. A deficiência primária, para o autor, se ancora numa concepção organicista, e abarca uma série de comprometimentos no organismo decorrente de padrões genéticos diferenciados, lesões neurais, malformações hereditárias, formação anômala, enfim uma série de ocorrências que levam a um funcionamento diferenciado do organismo físico. Já a deficiência secundária é decorrente dos prejuízos ocasionados em função da dificuldade do estabelecimento das interações sociais e consequentemente da inadequação da apropriação de conhecimentos necessários para o pleno desenvolvimento humano. Tal concepção é subsidiada na premissa da estreita relação entre social e biológico, que o último se desenvolve em função do outro, ou seja, o biológico é historicamente construído (GARCIA, 1999). Com a adoção desta postura, não se trata de negar a existência de mudanças orgânicas em função das deficiências, mas, sim, de compreendê-las como um fenômeno social, pois são significadas histórica e culturalmente e, por esta razão, deixam de ser exclusivamente um fato natural. Ao falar do conceito de deficiência, primeiramente há que se relacioná-lo ao contexto cultural e ao período histó- COMUNICAÇÕES ORAIS rico da sua ocorrência. Na análise da realidade brasileira percebe-se, na atualidade, uma propagação de ações que se dizem inclusivas, por parte do Estado, destinadas às pessoas com deficiência. Entretanto, em paralelo, ao adotar um modelo econômico que privilegia a produtividade e a perfeição, a ideia de deficiência se distancia da condição de igualdade de participação desse segmento populacional na sociedade em geral, e o perigo recai a associá-la a uma situação de desvantagem, diante dos demais sujeitos. No entanto, apesar de se constatar inúmeras conquistas em termos normativos, preceitos e ações excludentes ainda estão presentes nas relações e nos discursos da sociedade, de sorte na compaixão, na benevolência ou ainda embasados no assistencialismo. Neste sentido, esta pesquisa, que decorre de um estudo de pós- doutoramento, pretende descrever os procedimentos metodológicos utilizados para a construção de uma escala que identifique as concepções de deficiência, procurando descrever os procedimentos metodológicos adotados para a elaboração dessa escala. Após revisão da literatura nacional e internacional, foram elaboradas quatro concepções de deficiência: a) orgânica; b) psicossocial; c) sociocultural; d) metafísica. Para cada concepção foram elaboradas cinco asserções, dispostas em escala Likert de cinco pontos ordinais com variação de total concordância a discordância extrema. Para cada concepção foram elaboradas cinco asserções. Após esta primeira reescrita, foi encaminhado a um especialista em letras para averiguar a sintaxe da redação das assertivas. Foram feitos pequenos ajustes gramaticais. Na sequência, a escola foi encaminhada a dez juízes, todos com familiaridade teórico-metodológica em pesquisas relacionadas à temática deficiência, atuando como docentes e pesquisadores junto a programas de pós-graduação em educação especial, psicologia e/ou educação. Para a concretização desta etapa foi elaborada uma carta-convite de recomendação para anuência na participação e orientação sobre as atividades propostas. Após o recebimento das respostas, foi calculado o índice de concordância entre as classificações originais dos enunciados com as marcações dos juízes e cópia das respostas das questões em que as classificações foram discordantes. Das nove respostas obtidas, uma teve índice de concordância de 75%, uma 95% e três 85% e a mesma quantidade, de 90%. Também foi averiguado o índice de Alfa de Cronbach, para averiguar consistência interna e também o índice de Kappa entre os juízes avaliadores e os pesquisadores. Este instrumento foi considerado pertinente pelos juízes avaliadores para averiguar como as pessoas se manifestam diante de afirmativas que retratam posicionamentos diferenciados em relação às pessoas com deficiência, indicando como concebem e avaliam a deficiência. Palavras-chave: deficiência; inclusão social; educação inclusiva; educação especial; Escala. 110 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Contato: Lúcia Pereira Leite, Unesp - Bauru, E-mail: [email protected] CO - 2113 PRÉ-TESTE SOBRE CONHECIMENTO TEMPORAL NO ENSINO FUNDAMENTAL DO RIO DE JANEIRO: ELABORAÇÃO E APLICAÇÃO Cátia Papadopoulos, PUC-Rio, E-mail: [email protected] Jacinety Porto, PUC-Rio, E-mail: [email protected] Patricia Ameijeira, PUC -Rio, E-mail: [email protected] Simone Ferreira, PUC -Rio, E-mail: [email protected] Zena Eisenberg, PUC-Rio, E-mail: [email protected] Apoio Financeiro: Faperj Este trabalho tem como objetivo relatar a elaboração e aplicação do pré-teste temporal utilizado no projeto de pesquisa O tempo no Ensino Fundamental do Rio de Janeiro: O que as crianças sabem? orientado pela Professora Zena Eisenberg, coordenadora do Grupo de Pesquisa Desenvolvimento Humano e Educação (Grudhe). O projeto tem como objetivo avaliar o conhecimento temporal de crianças do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental do município do Rio de Janeiro. O referido instrumento de pesquisa foi elaborado e aplicado com os seguintes objetivos: a) verificar a qualidade dos itens temporais que o compõem para em uma segunda etapa aplicá-lo em uma amostra de escolas municipais do Rio de Janeiro; b) analisar como as crianças se comportam diante das questões temporais e como estas influenciam o processo de desenvolvimento da criança; e c) buscar entender como as crianças aprendem os conceitos temporais, tanto os cotidianos como os científicos, a fim de melhorar e facilitar a compreensão delas sobre o assunto. Para tanto, as questões do teste abordaram conhecimentos científicos e cotidianos sobre o tempo, com base nas definições trabalhadas por Vygotsky (2000). Por conceitos científicos compreende-se que são os saberes sobre o tempo apresentados e trabalhados na escola, e os conceitos cotidianos são aqueles aprendidos ao longo da história de vida da criança em suas interações diárias - tanto fora, como dentro do espaço escolar. Os itens temporais foram selecionados a partir de teste realizado em duas escolas do município de Vassouras em uma pesquisa anterior. Dos 74 itens originais, alguns foram retirados, com base nas análises feitas quanto à qualidade dos mesmos. Após a seleção de itens “antigos”, o grupo de pesquisa elaborou novos itens para serem testados, seguindo os seguintes critérios: COMUNICAÇÕES ORAIS a) criar itens de clara compreensão; b) distribuí-los entre conhecimentos cotidianos e científicos; c) permitir que as crianças se identificassem com o conteúdo apresentado; e 4) que dialogassem com os conhecimentos adquiridos. Além disso, respeitou-se um elenco de 11 subáreas temporais (hora/relógio, duração, passagem do tempo, meses do ano/calendário, semana, estações do ano, rotina, idade, ordem, espaço-tempo e linha do tempo), selecionadas em diálogo com os livros didáticos adotados no município de Vassouras e os 74 itens da pesquisa anterior. Os itens criados foram divididos em quatro cadernos, sendo que dois cadernos continham predominantemente itens antigos e os outros dois itens novos. O objetivo desta divisão foi testar numa mesma turma itens antigos e novos a fim de verificar quais manter e quais descartar. Além disso, os itens foram organizados por ordem de dificuldade, sendo que dois foram usados com os 2º e 3º anos e os outros dois foram usados com os 4º e 5º anos. Os quatro cadernos com o teste foram distribuídos entre os alunos de forma alternada a fim de evitar a cópia. A entrada nas escolas se deu através de contato telefônico e, posteriormente, reunião com as respectivas gestões, quando uma carta de apresentação, o projeto e a autorização da Secretaria Municipal de Educação foram entregues. O pré-teste foi realizado em três escolas: a Escola (A) dispunha de turmas do 2° ao 5° ano e 103 alunos participaram do teste; a Escola (B) dispunha de turmas de 2º e 3º ano e 48 alunos participaram do teste; a Escola (C) dispunha de turmas de 4° e 5° ano e participaram da pesquisa 45 alunos. Buscando um bom desempenho durante a aplicação do pré-teste, foi realizado um treinamento em que o grupo recebeu algumas orientações: a) não oferecer pistas nem respostas aos alunos; b) todos os alunos deveriam preencher a capa do caderno com sua identificação; c) para os 2º e 3º anos proceder à leitura de cada questão e aguardar que todos tivessem respondido antes de passar para a próxima questão. Caso necessário, a questão podia ser lida mais de uma vez. Este procedimento buscou garantir que aqueles alunos ainda em processo de alfabetização pudessem realizar o teste; d) para os 4° e 5° anos as próprias crianças deveriam ler e responder sozinhas às questões. A duração do teste variou entre 30 minutos e 1 hora. Após a aplicação do pré-teste temporal algumas observações foram registradas e discutidas pela equipe: a) mesmo tendo tomado o cuidado de administrar testes diferentes numa fila de crianças, houve cópia; b) a maioria das crianças teve dificuldade para resolver uma questão que perguntava sobre as estações do ano; c) as crianças que não sabiam ler apresentaram insegurança em responder às questões, mesmo com a leitura oral por parte de algum integrante da equipe; d) foi observada a necessidade de simplificar mais algumas questões, para as quais as crianças mostraram maior dificuldade; e) apesar das crianças não declararem não saber realizar as questões, 111 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento algumas apresentaram dificuldade e ficaram olhando o papel ou tentando adivinhar, ou, ainda, copiar do colega; f) um aluno, que estava como mediador, ficou andando pela sala e tirou a concentração de algumas crianças, pois passava pelas mesas e pegava objetos dos colegas (borracha, lápis); g) quando um integrante do grupo terminava de ler as alternativas, algumas crianças já não lembravam mais o enunciado e era necessário lê-lo de novo; h) alguns alunos apresentaram necessidade de saber se as questões estavam corretamente respondidas; i) foi observado que, para um bom andamento da aplicação do teste, o ideal era ter duas pessoas na sala, pois enquanto uma lia ou tirava dúvidas, a outra fazia o manejo de turma; j) as questões de relógio se mostraram difíceis para os alunos de 2° ano; l) as crianças do 2° ano demoraram para terminar o teste e os alunos do 3° ano que estavam na mesma sala ficaram impacientes; m) as crianças do 2º ano tiveram dificuldades em resolver questões com lacunas, parecendo não ter entendido a lógica da questão; e n) as crianças do 2º ano também mostraram dificuldade com textos longos. Constatou-se, por fim, que alguns itens no pré-teste necessitam ser melhorados, a fim de tornar as questões mais claras para a compreensão dos alunos. Palavras-chave: pré-teste; conceitos temporais; elaboração de instrumento. Contato: Zena Eisenberg, PUC-Rio, E-mail: [email protected] CO - 2186 RESULTADOS DO PRÉ-TESTE REFERENTE À NOÇÃO DE TEMPO DE CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL Karla Martins, PUC-Rio, E-mail: [email protected] Jéssica Castro, PUC-Rio, E-mail: [email protected] Zena Eisenberg, PUC-Rio, E-mail: [email protected] Apoio Financeiro: Faperj O que as crianças do Ensino Fundamental sabem sobre tempo? Conceitos como: horas, dias da semana, meses do ano, calendário e rotina são compreendidos por crianças de qualquer idade? Foi pensando em questões como essas que o projeto de pesquisa O tempo no Ensino Fundamental do Rio de Janeiro: O que as crianças sabem? buscou investigar as noções de tempo de crianças do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Em estudo anterior (2010) vimos que há um descompasso entre o que os PCNs e os livros didáticos estabelecem como noções temporais a serem compreendidas e trabalhadas com crianças nos diferentes anos do Ensino Fundamental e aquilo que, de fato, é trabalhado em sala e o que elas COMUNICAÇÕES ORAIS demonstram saber sobre estas noções. Um instrumento temporal foi desenvolvido a partir da elaboração de itens temporais com base em livros didáticos aprovados pelo PNLD e adotados pela prefeitura do município de Vassouras, onde o estudo foi realizado. Em face do descompasso encontrado naquele estudo, vimos a necessidade de fazer um diagnóstico mais abrangente do conhecimento temporal de crianças do município do Rio de Janeiro para, então, poder discutir com maior propriedade a questão do currículo na escola e a importância das noções temporais para mais de uma área de conhecimento: história, matemática e ciências. Para isso, elaboramos um novo instrumento temporal, que explicamos a seguir. A pesquisa foi realizada em 3 escolas municipais do Rio de Janeiro, que chamaremos aqui de A, B e C. Um total de 201 crianças participaram da pesquisa: na Escola A, 106 crianças do 2º ao 5° anos responderam ao teste; na Escola B, responderam 49 crianças do 2° e 3° anos e na Escola C turmas de 4º e 5º anos (com 46 crianças no total) responderam aos itens temporais propostos. Vale esclarecer que as Escolas B e C complementam uma a outra, já que os alunos vão da B para a C quando saem do ciclo de alfabetização. Após formularmos o novo instrumento temporal, aplicamos um pré-teste do mesmo nas três escolas selecionadas. O novo instrumento temporal foi formulado pensando em contemplar dois tipos de conceitos delineados por Vygotsky (2000): conceitos científicos e cotidianos. Os conceitos científicos referemse àqueles que necessitam de uma mediação explícita de outro sujeito para que haja o aprendizado, enquanto que para os conceitos cotidianos, esta mediação é implícita, ou seja, a criança os internaliza a partir de suas próprias interações e experiências no meio em que vive. Assim, o instrumento inclui tanto conceitos ensinados na escola, como calendário e relógio, como também aqueles aprendidos no dia a dia, como a diferença espaço-temporal entre quando e onde, ou a sequência de eventos na rotina. Além de estarem organizados em conceitos cotidianos e científicos, os itens do instrumento temporal contemplavam as seguintes subáreas de conhecimento: hora/ relógio, duração, passagem do tempo, meses do ano/calendário, semana, estações do ano, rotina, idade, ordem, espaço-tempo e linha do tempo. O instrumento temporal incluiu itens antigos, já usados no primeiro teste, mas também elaboramos itens novos para serem testados. Os itens antigos e os novos foram distribuídos em quatro cadernos: os cadernos 1 (itens antigos) e 3 (itens novos) continham itens para os 2º e 3° anos; os cadernos 2 (itens antigos) e 4 (itens novos) continham itens para os 4º e 5º anos. Destacaremos nos resultados o desempenho das crianças testadas de acordo com os anos escolares que cursam. O desempenho das crianças no pré-teste mostra uma curva ascendente, com maior diferença entre 112 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento o 2º e 3o anos (o que corrobora os resultados encontrados no estudo anterior). Olhando especificamente para cada ano, o desempenho das crianças foi desigual, com avanços e retrocessos. Discutiremos aqui seu desempenho nos itens de conceitos científicos. No 2º ano, as crianças não dominam inteiramente nenhum conceito científico testado. Apenas dias da semana (saber quais são e sua ordem) e meses (saber quantos meses tem o ano) mostram um desempenho superior a 50% nas escolas. As crianças do 3º ano mostram um desempenho bem melhor nos conceitos científicos. Na Escola B as crianças souberam os dias da semana e sua ordem, com 82% de acerto. Saber quantos são os dias da semana é difícil para estas crianças, com 58% de acerto na Escola A e 69% na Escola B. Ler a hora inteira no relógio teve um desempenho superior a 90% de acerto em ambas as escolas. Quando pedimos que desenhassem um relógio e colocassem os ponteiros marcando 10h, a Escola A teve 73% de acerto e a Escola B teve 100%. Por fim, saber quantos meses o ano tem mostrou um desempenho desigual entre as duas escolas, com 50% de acerto na Escola A e 73% na Escola B. No 4º ano, não houve desempenho superior a 90% em nenhum dos itens de conceitos científicos. Para o item que pedia os nomes de alguns meses do ano e sua ordem, a Escola C teve 89% de acerto, enquanto a Escola A obteve apenas 64% de acerto. Outras questões sobre os meses do ano obtiveram desempenho entre 60 e 70% de acerto. Quando pedimos que desenhassem um relógio e colocassem os ponteiros marcando 10h, a Escola A teve desempenho inferior a 50% de acerto; já a Escola C teve 60% de acerto, desempenho inferior ao 3º ano. No 5º ano vemos uma melhora na Escola A. Os alunos acertaram em 92% o item que pergunta quantos meses o ano tem. No 4º ano, o desempenho deles estava em 67% de acerto. Para o item que pedia os nomes de alguns meses do ano e sua ordem, a Escola C teve 86% de acerto, enquanto a Escola A mais uma vez mostra uma boa melhora, indo de 64% no 4º ano para 90% no 5º ano. Os resultados indicam que não há uma progressão uniforme no conhecimento de conceitos temporais científicos nas escolas estudadas. Isto sugere que o trabalho talvez não esteja sendo feito de forma sistemática pelas escolas. O diagnóstico futuro em uma amostra de escolas no município permitirá traçar um desenho mais claro desta situação. Palavras-chave: noção de tempo; ensino fundamental; desenvolvimento cognitivo. Contato: Zena Eisenberg, PUC-Rio, E-mail: [email protected] SOCIALIZAÇÃO PARENTAL I Sala 406 - 10h COMUNICAÇÕES ORAIS CO - 2112 METAS DE SOCIALIZAÇÃO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA Bianca Reis Fonseca, UFPA, E-mail: [email protected] Simone Souza da Costa Silva, UFPA, E-mail: [email protected] Lília Iêda Chaves Cavalcante, UFPA, E-mail: [email protected] O processo de socialização da criança presume a aquisição de costumes, valores, normas, papéis, conhecimentos e condutas, que são regulados e transmitidos através de processos socioculturais e individuais. Os valores e objetivos dos pais podem, assim, moldar práticas educativas dos filhos, influenciar a organização de ambientes de aprendizagem e afetar os resultados do seu desenvolvimento. Neste sentido, o presente trabalho objetiva apresentar um panorama dos estudos relacionados ao lugar e à importância das metas de socialização dos cuidadores e suas práticas de cuidado no desenvolvimento do comportamento pró-social de crianças de até cinco anos de idade. Foi realizada a revisão sistemática da literatura disponível na base de dados on-line, localizada no site da CAPES, utilizando-se o mecanismo de busca avançada e uma única palavra-chave: socialization goals. A amostra compreendeu as publicações de artigos indexados em periódicos selecionados a partir da leitura prévia de resumos e métodos que preenchiam os seguintes critérios: ter acesso gratuito, estar completo, envolver temas de pesquisa relacionados às metas de socialização dos pais e/ ou das mães de crianças até cinco anos de idade. Foram descartadas as duplicidades, os artigos que solicitavam pagamento, que disponibilizavam apenas o resumo e que tratavam de crianças com idade acima do critério estabelecido para inclusão. A busca feita nas diferentes bases eletrônicas e em periódicos indexados forneceu um total de 379 artigos. Após a leitura prévia deste material, foram selecionados 41 artigos que atendiam aos critérios preestabelecidos pelos pesquisadores. Deste modo, os demais artigos foram excluídos porque fugiam ao tema (242), eram repetidos (43) ou estavam disponíveis para download mediante pagamento (53). O assunto escolhido para revisão sistemática é recente, sendo possível observar um incremento das produções a partir do ano de 2009. A busca bibliográfica favoreceu o contato com artigos da literatura nacional e internacional, sendo possível perceber a escassez de trabalhos relacionados ao tema no Brasil. Os países que se destacaram na publicação sobre o tema foram os Estados Unidos (39%) e Alemanha (22%), 113 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento enquanto que no Brasil seus títulos contabilizaram 12% do total. Consequentemente, o inglês (93%) foi o idioma predominante utilizado para a escrita dos estudos, tendo sido o restante escrito em português ou espanhol. Com relação aos participantes, 73% dos artigos tiveram como participantes apenas as mães e 19,5% envolveram também os pais. Os estudos, em sua maioria, foram aplicados na residência das crianças (53,6%), enquanto que 17% em laboratórios, pré-escolas e hospitais. Entre os instrumentos de pesquisa mais mencionados, 22% utilizaram o Socializations Goals Interview (SGI), 22% um roteiro de entrevista semiestruturada geralmente elaborado pelos autores e 14,6% o Child-Rearing Questionnaire (CRQ). Quanto aos resultados obtidos nos artigos, a maioria dos estudos destacou o quanto as metas e os comportamentos dos pais têm um impacto sobre o desenvolvimento da criança, direta ou indiretamente. Em termos relacionados às crenças sobre práticas de criação, 37% das pesquisas analisadas demonstram uma valorização significativa dos pais associada ao estímulo da autonomia da criança, enquanto que 27% valorizam aspectos relacionais. Além destes resultados, 34% destes estudos enfatizam o quanto as váriáveis sociodemográficas exercem influência sobre as estratégias parentais. Deste modo, a análise da produção possibilitou obter um panorama geral acerca do material publicado por pesquisadores de diferentes países, principalmente os estudos que exploram a área da psicologia do desenvolvimento infantil envolvendo a família e suas relações. O material colhido foi assim agrupado e sistematizado de modo a traçar um perfil dessa produção, por se entender que os estudos relacionados a metas de socialização são importantes, pois possibilitam compreender a qualidade do cuidado e possíveis influências no desenvolvimento infantil. Assim como permitem abrir novos caminhos para se pesquisar a cultura e o desenvolvimento humano. Por isso, somos convidados a refletir sobre o conjunto de valores e crenças culturalmente construídos que se materializam em objetivos de longo prazo que os pais traçam para os seus filhos e que influenciam as suas práticas de cuidado com suas crianças. Estas crenças culturais que os pais apresentam são denominadas etnoteorias parentais, que correspondem a ações relativas à criação dos filhos que exercem influência direta na saúde e desenvolvimento da criança. Neste sentido, a partir da literatura revisada, compreendemos que as metas que os pais traçam para os filhos têm impacto sobre a socialização destes, entendida como o processo pelo qual a criança se apropria de conhecimentos, crenças e comportamentos que lhe permitem construir uma identidade individual ao participar como sujeito social competente em diferentes cenários da vida em comunidade. Dentro deste contexto, o conhecimento alcançado pela análise e sistematização COMUNICAÇÕES ORAIS destes artigos fomentam estudos mais específicos sobre o tema, como forma de contribuir para os caminhos que podem tornar o desenvolvimento na primeira infância e anos adiante. Palavras-chave: metas de socialização; desenvolvimento infantil; pais. Contato: Bianca Reis Fonseca, UFPA, E-mail: [email protected] CO - 2334 CRENÇAS PARENTAIS SOBRE CRIAÇÃO DOS FILHOS Lucivanda Cavalcante Borges, UFPB, E-mail: [email protected] Dalila Castelliano de Vasconcelos, UFPB, E-mail: [email protected] Nádia Maria Ribeiro Salomão, UFPB, E-mail: [email protected] As crenças parentais têm se constituído um importante tema de interesse dos pesquisadores nas últimas décadas (Bornstein & Cheah, 2006; Harkness & Super, 1994, 1996), especialmente pela possível relação que apresenta com as práticas de cuidado dos filhos e influência sobre o desenvolvimento infantil. Diferentes terminologias têm sido utilizadas para designar crenças, concepções ou cognições parentais, entretanto, apesar das divergências, os teóricos concordam que esses construtos apresentam uma significativa influência sobre as práticas de cuidado parental (Seidl de Moura et al., 2004). No presente trabalho, as concepções, ideias e cognições dos pais serão compreendidas a partir do termo crenças parentais, no sentido de designar o pensamento dos pais sobre as práticas de criação dos filhos. A relação entre crenças e práticas parentais não ocorre de forma unidirecional, pois é caracterizada por um conjunto de interinfluências das características da criança, dos pais, do contexto específico e da cultura mais ampla (Valsiner, 2007). Desse modo, a interação entre pais e filhos se constrói bidirecionalmente, envolvendo as caracterísiticas de ambos, assim como aquelas relacionadas ao contexto social e cultural em que eles vivem. A esse respeito, Lightfoot e Valsiner (1992) enfatizam que as crenças são organizadores mentais para as ações e não se traduzem obrigatoriamente em determinada forma de agir porque elas são construídas nas relações sociais, recebendo influência de vários contextos. Autores como Harkness e Super (1994, 1996) trazem uma vasta literatura sobre o sistema de crenças dos pais, também chamado de etnoteorias parentais. Para eles, esse sistema corresponde ao conjunto de ideias organizadas culturalmente a respeito da criança e de seus comportamentos, sobre a melhor 114 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento forma de educá-la e sobre o desenvolvimento infantil propriamente dito. Tais formas de pensar são desenvolvidas no contexto cultural, em um lugar e momento histórico específicos. Essas crenças, como apontam Miller e Harwood (2001) têm o papel de direcionar as escolhas sobre o tipo de criação a ser dada aos filhos, mediante valores e padrões culturais transmitidos no contexto social. Os sistemas de crenças dos pais, como parte do nicho de desenvolvimento, tratam da relação entre as crenças e expectativas daqueles que cuidam das crianças e suas metas de ação. Como fatores mediadores dessa ação, as representações, crenças e expectativas dos pais regulam suas ações nas práticas de cuidado e educação, e contribuem para a maneira como organizam os contextos da vida cotidiana da criança (Harkness & Super, 1994, 1996). Segundo Seidl de Moura et al. (2004), o sistema de crenças parentais é afetado pelo conhecimento que os pais têm sobre o desenvolvimento infantil, exercendo uma influência significativa na interação entre pais e filhos. Entre outros aspectos, esse conhecimento engloba crenças acerca dos períodos mais prováveis para aquisição de habilidades motoras, perceptuais e cognitivas durante o desenvolvimento infantil. Outrossim, o acesso à escolaridade, informação e serviços de saúde favorece o conhecimento sobre o desenvolvimento do bebê, o que por sua vez contribui para a qualidade do cuidado dado à criança e, em última instância, para o seu desenvolvimento saudável. Com base nas considerações teóricas apresentadas, este trabalho tem como objetivo realizar uma revisão sistemática da produção nacional sobre as crenças parentais acerca da criação dos filhos. Foi realizada uma revisão sistemática nos indexadores eletrônicos Scielo, Lilacs, PEPsic e BVS. Como descritores foram utilizadas as palavras-chave: crenças parentais/crenças maternas, cognições parentais/cognições maternas, concepções parentais/concepções maternas e etnoteorias parentais. A escolha desses descritores deve-se ao fato de não haver um consenso entre autores no uso do termo que melhor defina as crenças dos pais sobre o papel parental. Foram aceitos para esta revisão bibliográfica somente os trabalhos que contemplassem pesquisa de campo, tivessem sido publicados nos últimos cinco anos, em português e de acesso aberto e completo na base de dados. A partir dos resultados gerados com base nos critérios de inclusão supracitados, foram excluídos da análise aqueles artigos que não abordavam o tema central da pesquisa, artigos cujos participantes não fossem pais e/ou mães brasileiros, artigos referentes à validação de instrumento, assim como aqueles que se repetiam nas bases de dados pesquisadas. Para análise dos artigos encontrados após critérios de inclusão e exclusão, foram utilizadas as categorias: ano de publicação, região onde foi realizada a pesquisa, técnica de coleta de dados e tipo de instrumento (questionário, entrevista, observação, es- COMUNICAÇÕES ORAIS cala), participantes e principais resultados encontrados. Sem considerar os critérios de exclusão, encontraram-se inicialmente 52 publicações brasileiras no idioma português, entre os anos de 2009 e 2013. Depois de realizados os critérios de exclusão, restaram 09 artigos, sendo um referente ao ano de 2013, dois de 2012, três de 2011, dois de 2010 e um de 2009, todos publicados em revistas indexadas. Observou-se que essas pesquisas foram realizadas nas regiões Sudeste, Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com o predomínio de pesquisas na região Sudeste. Apenas um dos artigos contempla o contexto não urbano. Os instrumentos utilizados foram: entrevista semiestruturada, entrevista estruturada, observação, escalas e questionário com dados sociodemográficos. Esses dois últimos instrumentos foram os mais utilizados na coleta de dados. Em relação aos participantes das pesquisas, as mães aparecem em todos os 09 artigos, enquanto que os pais participam apenas em dois dos artigos analisados. De uma maneira geral, os resultados dos artigos analisados mostraram que as crenças parentais sobre a criação dos filhos no contexto brasileiro apresentam-se relacionadas à autonomia e interdependência. Ademais, os pais consideram a importância de investir nos fatores emocionais, intelectuais, sociais e familiares na educação dos filhos. Essas crenças se diferenciam em função do gênero dos pais, pois, em geral, as mães relataram investir mais que os pais, principalmente em relação aos cuidados. Em alguns estudos, as mães demonstraram insegurança no cuidado dos filhos, especialmente quando estes apresentam alguma deficiência ou quando elas são mães primíparas. Por fim, considera-se pertinente a realização de mais pesquisas sobre este tema através de técnicas de coleta de dados como a entrevista e observação em diferentes regiões do Brasil, para uma melhor compreensão das crenças parentais sobre criação dos filhos, considerando as especificidades de outras regiões brasileiras. Palavras-chave: crenças parentais; criação de filhos; desenvolvimento infantil. Contato: Lucivanda Cavalcante Borges, UFPB, E-mail: [email protected] CO - 2018 METAS DE SOCIALIZAÇÃO E PRÁTICAS PARENTAIS EDUCATIVAS EM FAMÍLIAS COM 1 A 3 FILHOS DE NÍVEL SOCIOECONÔMICO MÉDIO Karla Alves Carlos, CEM, E-mail: [email protected] Nádia Maria Ribeiro Salomão, UFPB, E-mail: [email protected] Apoio Financeiro: Capes 115 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento As metas de socialização e as práticas educativas utilizadas pelos pais na educação de seus filhos influenciam as interações que são estabelecidas e consequentemente têm importância no desenvolvimento infantil. As ciências sociais apontam a família como o elemento crucial não apenas para salvaguardar a sobrevivência dos indivíduos, como também para a socialização e proteção de seus integrantes, transmissão da cultura, do capital econômico e dos bens familiares, bem como das relações de gênero e de solidariedade entre as diferentes gerações. Dada a importância do ambiente familiar, destacam-se as mudanças que vêm ocorrendo na família, como a tendência à redução do número de filhos e o adiamento da gravidez, bem como da maior participação do pai nos cuidados básicos e diários dos filhos, fatores que têm proporcionado o surgimento de novos modelos de socialização. Através dessas interações é que ocorre a socialização e a educação das crianças. A família, portanto, é uma das instituições sociais básicas, constituídas através das relações de parentesco cultural e historicamente determinadas entre os seus membros, e também é o ambiente onde as primeiras interações ocorrem. A partir daí, estas relações vão se expandido dentro do grupo familiar, formando vários subsistemas, como as relações pai-criança e desta criança entre os irmãos. São estas interações e relações didáticas, principalmente mediadas pelo afeto, que fornecem ao indivíduo o desenvolvimento necessário para as relações em sociedade. Na intenção de educar seus filhos, os pais adotam práticas que exigem a interação do adulto com a criança, onde esta é confrontada com os padrões e regras morais da sociedade. As diferentes práticas educativas exigem interações díspares que ocorrem nas situações mais diversas e distintas. Assim, as práticas parentais são compreendidas como os comportamentos disciplinadores, interativos, socializadores e de apoio entre pais e criança. Esses aspectos servem para garantir a obediência em relação às regras e servem como referência para uma ação disciplinar quando os limites impostos pelos pais e as regras são violadas. As práticas parentais podem ser definidas como positivas ou negativas. Como negativas, podemos citar o comportamento por parte dos pais para com os filhos de negligência, abuso físico e psicológico, disciplina relaxada, punição inconsistente e monitoria estressante. Quanto às práticas educativas positivas, pode-se destacar o monitoramento positivo e o comportamento moral, um conjunto de comportamentos parentais que envolvem atenção para a localização de seus filhos, onde os pais sempre sabem onde os seus filhos se encontram, além de atenção para as atividades e formas de adaptação das crianças. O objetivo deste trabalho consistiu em investigar as Metas de Socialização e as Práticas Parentais Educativas em famílias com filho único e famílias com dois a três filhos através do relato materno. Participaram COMUNICAÇÕES ORAIS deste estudo 41 mães, de nível socioeconômico médio, casadas/conviventes, com ao menos ensino médio completo, com 1 a 3 filhos, estes entre 4 anos e meio e 7 anos de idade, residentes na cidade de João Pessoa, PB. Foram aplicados uma entrevista semiestruturada sobre Metas de Socialização, um Inventário de Práticas Parentais e um Questionário Sociodemográfico para caracterização das mães. Os dados foram tratados de forma a comparar os resultados dos dois grupos de mães e destacaram a importância do nível educacional da mãe para a educação proporcionada à prole. As informações foram obtidas através da aplicação dos instrumentos com 41 mães participantes de forma não probabilística e por conveniência. Foi aplicado um Questionário Sociodemográfico para caracterização das mães e também um Inventário de Práticas Parentais (IPP), já validado, contendo 29 itens respondidos referentes a práticas educativas positivas e negativas, em uma escala tipo Likert. Quanto às práticas parentais educativas, ressalta-se especificamente que dentro das práticas parentais negativas demonstradas através de estatística descritiva, que 9% das mães utilizam palmadas para educar as crianças com frequência, e 36,4% das mães frequentemente gritam com as crianças quando elas fazem algo de errado. Dentre as práticas positivas destacase que 72,8% das mães têm conversas amigáveis com seus filhos com frequência e 86,4% dizem frequentemente que amam seus filhos. Destaca-se, portanto, que as práticas educativas inadequadas têm se correlacionado com problemas no desenvolvimento cognitivo e social da criança e acarreta um rendimento acadêmico inferior nos filhos. Crianças que possuem pais mais envolvidos, afetuosos e verbalmente sensíveis, que possuem uma prática educativa que evita o uso de punições e restrições apresentam melhor desempenho acadêmico. Os resultados revelaram que não existe diferença significativa estatisticamente entre os dois grupos de mães que apresentam médias menores entre as mães de filho único e dois e três filhos no instrumento de práticas parentais no envolvimento social e de responsabilidade. Na entrevista sobre metas de socialização, a diferença foi indicada pela frequência superior em subcategorias no grupo de mães de filho único relacionadas aos aspectos sociais e de responsabilidade dos pais para com os filhos. Enfatiza-se que, apesar de a literatura apontar que o pai está mais participativo, ainda é atribuída à mãe a maior parte da responsabilidade e referência para a educação das crianças. As influências para a educação dos filhos independem do tamanho da família e não ocorrem de forma unilateral, sendo influenciadas pela ordem de nascimento, gênero, personalidade, idade e características da criança etc., bem como, das redes de apoio para o cuidado dos filhos, como as avós. Desse modo as atitudes e decisões educacionais são tomadas de forma individual para cada criança, independentemente 116 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento do número de filhos. Palavras-chave: metas de socialização; práticas parentais; família. Contato: Karla Alves Carlos, Escola de Enfermagem Nova Esperança, CEM, E-mail: [email protected] CO - 1942 ENVOLVIMENTO PARENTAL NA TAREFA ESCOLAR Ana Patrícia de Oliveira Fernandez, UFPA, Email: [email protected]/[email protected] Simone Souza da Costa e Silva Fernando Augusto Ramos Pontes Mayara Barbosa Sindeaux Lima Claudia Oliveira dos Santos Família e escola reconhecem a tarefa escolar como atividade de caráter pedagógico fundamental ao sucesso escolar. A fixação, o reforço e a retenção de conteúdo estão dentre os fatores que justificam a referida atividade (Carvalho, 2004). A legitimidade em torno da tarefa de casa encontra respaldo no argumento de que tal atividade desenvolve características no indivíduo essenciais ao sucesso não apenas acadêmico, como também ao desenvolvimento de potencialidades necessárias à vida como um todo. Contudo, alguns estudos da literatura têm discutido que para sua eficácia vários fatores devem ser considerados, como o tempo que a tarefa escolar demanda dos pais, a qualidade da relação entre pais e filhos, os sentimentos negativos dos pais em relação à realização da tarefa escolar, dentre outros (Paula, 2000; Carvalho, 2004; Rosário et al., 2008; Carneiro, 2010; Resende, 2011; Soares, 2011). Participaram deste estudo 12 responsáveis. A coleta foi realizada numa escola particular, de classe média, do ensino fundamental do 2º ciclo. Realizou-se uma entrevista estruturada, um grupo focal e aplicou-se um questionário sociodemográfico. Foram criadas 4 dimensões ou unidades de análise: A) Percepções dos pais acerca da funcionalidade da tarefa escolar; B) Percepção dos pais acerca do sentido que os filhos atribuem à tarefa escolar; C) Percepção dos pais em relação à participação na vida escolar dos filhos; D) Sentimentos dos pais acerca da realização da tarefa escolar. Utilizou-se a análise de conteúdo para tratamento dos dados. A) Percepções dos pais acerca da funcionalidade da tarefa escolar: tarefa escolar é uma atividade promotora de treinamento e retenção daquilo que o aluno aprendeu na escola, bem como uma prática desejável. A fala de Pedro-R indica também outras questões em termos pragmáticos: “A tarefa escolar [...] deveria ser mais uma fixação, mais um treinamento em casa, [...] do que foi feito em sala de aula [...]. O condicionante aqui sinalizado indica questionamentos COMUNICAÇÕES ORAIS acerca de seu uso. Em relação ao aspecto funcional da tarefa escolar, a literatura sugere que esta atividade é vista, tradicionalmente, como a capacidade de garantir reforço, fixação e preparação para aulas e provas, por meio de leituras ou de exercícios (Carvalho, 2000). B) Percepções dos pais em relação aos sentidos que os filhos atribuem à tarefa escolar: dentre os participantes, a percepção positiva em relação à tarefa escolar apareceu uma única vez, na fala de Alice-R: “Ela - referindo-se à filha - pelo jeito que ela faz, ela faz com muito carinho e com muita atenção a tarefa de casa. Então, pelo jeito que ela faz, ela só pode gostar [...]”. A percepção negativa se revelou por meio de uma quantidade razoável de falas, como as seguintes: “Muitas vezes deixam pra fazer na sala de aula” (Lúcia-B); “Pelo comportamento dele, ele não gosta, não. Deixa sempre pra depois” (João-I); “As tarefas que vão pra casa, ele esconde dentro do computador, sabe, dentro da impressora” (Vitor-I). As percepções negativas denotam que a tarefa escolar é tida como atividade desprovida de prazer, ou como tarefa realizada apenas sob efeito de pressão, com ausência de tomada de iniciativa. C) Percepção dos pais em relação à participação na vida escolar dos filhos: a participação direta na vida escolar apareceu de forma nítida, a exemplo das verbalizações a seguir: “Olha, gente, eu sou uma mãe muito participativa, eu procuro falar com qualquer professor, eu não espero reunião” (Maria-R). A participação indireta foi caracterizada por relatos carregados de preocupação com as implicações que certos estilos de envolvimento podem acarretar no desenvolvimento dos filhos: “A participação deve interferir até certo limite, senão eles acabam não tendo iniciativa própria” (João-I). Diante dos resultados encontrados, o envolvimento parental no dever de casa tem sido usualmente incentivado, apesar da ambivalência de sentimentos provocados nos pais que não conseguem corresponder a contento às obrigações que lhes são impostas (Rosário et al., 2008). Nessa perspectiva, tais incentivos parecem não se dar conta das adversidades e implicações subjacentes a essa política, conforme revelaram os discursos dos participantes desta pesquisa. D) Sentimentos dos pais acerca da realização da tarefa escolar: a categoria “Contra a tarefa” foi compreendida por falas que se posicionam contrários à tarefa escolar, como no exemplo a seguir:“Bom, eu não concordo muito com tarefa escolar, porque eu acho que é trabalho para os pai [...]. Eu sou contra tarefa escolar, porque o aluno tem que fazer as coisas na escola” (Ana-B). A categoria “Insegurança” representou sentimentos relacionados à falta de confiança advinda da ausência de repertório acadêmico para o devido acompanhamento das disciplinas pedagógicas: “Por exemplo, matemática, eu ‘tô’ em casa, eu já acompanho ele pouco. É porque eu também acho difícil” (Maria-R). Tais resultados vão de encontro aos achados de Corno e Xu (2004), que sugerem não haver necessidade de os pais possuírem 117 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento amplo conhecimento para auxiliar o filho. No entanto, esta falta de domínio com relação a alguns conhecimentos específicos pode comprometer o tipo de acompanhamento realizado em casa, interferindo tanto no desempenho acadêmico dos alunos, bem como nos sentimentos de insegurança dos pais, diante da dificuldade de acompanhamento. Os resultados permitiram concluir que a participação na vida escolar dos filhos reflete uma preocupação em corresponder às investidas de envolvimento parental incentivadas pela escola, a despeito dos sentimentos negativos dos responsáveis em relação à realização da tarefa escolar, o que indica a necessidade de discutir o aparente consenso em torno da aceitação da tarefa. Não se pretendeu com essa pesquisa levantar protestos contra ou a favor do dever de casa, mas apenas favorecer o esclarecimento de que a existência do dever de casa e sua consequente repercussão no desenvolvimento do aluno estão atreladas a todas as adversidades típicas da vida contemporânea. Palavras-chave: envolvimento parental; tarefa escolar; adolescente. Contato: Ana Patrícia de Oliveira Fernandez, UFPA, E-mail: [email protected]/[email protected] CO - 2171 ALEITAMENTO MATERNO E RELAÇÃO MÃE-BEBÊ: UMA ANÁLISE DE DIFERENTES MÉTODOS EM UM ESTUDO LONGITUDINAL Ariane Cunha Oliveira, UFTM, Bolsista FAPEMIG, E-mail: [email protected] Bruna Souza Tanios, UFTM, E-mail: [email protected] Fernanda Ribeiro Pazetto, UFTM, E-mail: [email protected] Geysa Cristina Marcelino Nascimento, UFTM, E-mail: [email protected] Letícia Bianquini Elias, UFTM, E-mail: [email protected] Letícia Trombini Vidotto, UFTM, E-mail: [email protected] Letícia Piovezan Carvalho, UFTM, Bolsista CNPq, E-mail: [email protected] Mayara Coletti, UFTM, E-mail: [email protected] Tatiane Santana Prado, UFTM, E-mail: [email protected] Sabrina Martins Barroso, UFTM, E-mail: [email protected] Conceição Aparecida Serralha, UFTM, E-mail: [email protected] COMUNICAÇÕES ORAIS Embora seja numerosa a literatura disponível sobre práticas de aleitamento materno, o enfoque dado às técnicas de alimentação alternativa ainda é restrito. Nesse sentido, até o presente momento a psicologia pouco se apresentou para investigar e discutir sobre o impacto dos diferentes métodos de aleitamento na vida das mães e dos bebês. Diante do exposto, o objetivo geral deste estudo foi investigar os aspectos psicológicos das díades mãe-bebê, que permeiam as diferentes formas de aleitamento materno (seio, mamadeira e copo). Optou-se por utilizar uma metodologia qualitativa e quantitativa. As díades eram formadas por mães que tinham possibilidade de amamentar e mães que não tinham essa possibilidade e necessitaram utilizar outras formas de aleitamento. A seleção foi por conveniência entre as mães que frequentaram o berçário ou os grupos de amamentação e/ou aleitamento do Hospital de Clínicas da UFTM. Após a assinatura do TCLE, as díades foram acompanhadas durante os primeiros 14 meses de vida do bebê, por meio de observações semanais realizadas por membros da equipe. Essas observações ocorreram em hora de alimentação, levando em consideração os momentos que antecederam e sucederam a alimentação do bebê. As observações foram gravadas em áudio e vídeo com duração aproximada de 1 hora (cada) e transcritas para posterior análise. Segundo Meira (1994), “o registro em vídeo de atividades humanas, apresenta- -se como uma ferramenta ímpar para a investigação microgenética de processos psicológicos complexos, ao resgatar a densidade de ações comunicativas e gestuais” (p. 61). As gravações foram analisadas de forma qualitativa em busca de elementos em comum que estivessem influenciando o relacionamento mãe-bebê, como também o que pudesse se destacar, mesmo que não se apresentasse em todas as díades (Turato, 2003). Além disso, os dados foram analisados em termos de porcentagem média e diferenças entre as categorias de comportamento observadas, em uma análise quanti. Assim, visando entender melhor a relação entre os comportamentos das mães e dos bebês, foram feitas análises de correlação de Spearman por tipo de aleitamento, considerando nível de significância de 5% (p < 0,05). Os comportamentos das crianças e das mães foram comparados por meio do teste qui-quadrado, para verificar diferenças entre amamentar no seio e utilizar outros métodos de aleitamento. Participaram da pesquisa 8 mães, das quais 5 mães puderam amamentar o bebê e 3 mães utilizaram outros métodos de aleitamento. Foram realizadas 260 observações completas, sendo a maior parte das observações realizadas no período da tarde (56,9%). As crianças observadas tinham entre 8 e 579 dias de vida, sendo que a maior parte das observações foi feita com crianças acima de 360 dias (20,0%). Foram feitas 173 observações com mães que podiam amamentar e 87 com mães que não podiam fazê-lo. As principais formas de 118 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento aleitamento utilizadas foram a mamadeira (55,0%) e o seio (42,7%) e o tempo médio gasto com o aleitamento foi de 9,28 minutos (DP + 9,07). Em relação aos diferentes métodos de aleitamento, as mães, de modo geral, ao mudarem o aleitamento do peito para a mamadeira, passaram a interagir mais com seus bebês e estes com as mães, embora devamos considerar o amadurecimento destes e a superação do período de cólicas do bebê. Houve correlação significativa entre o método de aleitamento e a fase de vida do bebê (rho = 0,53; p < 0,001), indicando que as mães amamentavam no seio as crianças menores e tendiam a utilizar mamadeira para alimentar crianças mais velhas. As mães também tenderam a usar mais a mamadeira quando ocorreram alterações em sua rotina (rho = - 0,22; p < 0,001). Observou-se que as crianças apresentaram mais desconforto (rho = - 0,20; p < 0,001), retorcimento facial (rho = - 0,431; p < 0,001) e vocalizações negativas (rho = - 0,40; p < 0,001) quando alimentadas no seio. Outro resultado observado é que ao amamentar no seio, as mães olhavam menos para os filhos (rho = - 0,30; p < 0,001), apresentaram falta de responsividade ao comportamento da criança (rho = - 0,12; p < 0,001) e maior falta de reação ao ambiente da criança (rho = 0,14; p < 0,001). O método de aleitamento não manteve relação significante com os demais comportamentos das mães e das crianças. Os comportamentos das mães e das crianças não diferiram quando o copinho ou a sonda foram utilizados, seja de forma exclusiva ou combinada com outros métodos de aleitamento. Alguns comportamentos das crianças se mostraram diferentes ao considerar o método de aleitamento. As crianças aleitadas no seio apresentaram mais desconforto (χ2 = 16,62; p < 0,05), mais expressões faciais com retorcimento (χ2 = 59,91; p < 0,001), maior falta de vocalização (χ2 = 29,43; p < 0,001) e mais vocalizações negativas (χ2 = 42,10; p < 0,001) do que as crianças aleitadas por mamadeira. Entende-se que essas reações mais enfáticas do bebê pareceram ter motivações mais ligadas a necessidades básicas não satisfeitas e que independem do método de aleitamento. As dificuldades de interação entre mãe e bebê, que puderam ser observadas, foram entendidas mais por momentos de imaturidade, sobrecarga, cansaço e sentimentos de culpa da mãe, dificuldades no relacionamento desta com o pai do bebê, falta de apoio do ambiente familiar e social e não pelo método de aleitamento, isoladamente. Assim, as dificuldades na interação pareceram se ligar mais à condição emocional da mãe, no momento e contexto da interação. Em alguns casos, as mães que amamentaram mostraram menos disposição ao atendimento dos bebês do que as que aleitaram o bebê por meio de mamadeira. Questionou-se se a maior disponibilidade destas poderia ser uma reação à culpa por não amamentar. Entendeu-se que este é um fator que influencia e pode estar bastante COMUNICAÇÕES ORAIS presente no início, mas tende a se dissipar à medida que a interação cresce e a mãe se sente confiante em sua capacidade de cuidar bem do bebê e de ser amada por este, apesar de não ter amamentado. A amamentação é importante para a saúde do bebê e deve sempre ser incentivada, se o contexto se mostra favorável a essa forma de aleitar. Por outro lado, entende-se que a amamentação não pode representar para a mãe a única forma de amar e cuidar de seu filho, uma vez que as circunstâncias podem dificultar o processo e, em consequência, um vínculo saudável entre mãe e bebê. Contato: Conceição Aparecida Serralha, UFTM, E-mail: [email protected] SEXUALIDADE Sala 407 - 10h CO - 2153 CRENÇAS INFANTIS SOBRE SEXUALIDADE: POSSÍVEIS ARTICULAÇÕES ENTRE A PSICOLOGIA GENÉTICA E O DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL Mariana Inés Garbarino, USP, E-mail: [email protected] Maria Thereza Costa Coelho de Souza, USP, E-mail: [email protected] Apoio Financeiro: CNPq A partir de diversas posições ideológicas, pedagógicas e epistêmicas, atualmente a sexualidade é um tema cada vez mais abordado na mídia, nas escolas e na família. No âmbito escolar, a “orientação sexual” constitui hoje um dos objetivos propostos pelo MEC como eixo transversal. Porém, existem diversos posicionamentos dos professores, que podem funcionar como prolongamento da família e reforço de seus valores, como meio de emancipação e abertura de horizontes, como agente moralizador ou informador (Guimarães, 1995). Na literatura acerca do tema prevalece a discussão sobre os preconceitos de professores e pais, os estereótipos sexuais fomentados pelas escolas, a vulgarização da sexualidade humana na mídia e a ausência ou distorções de explicações sobre diferenças sexuais, papéis de gênero, fecundação e sexualidade em geral. Levando em conta que a abordagem sobre a sexualidade cresce em diversos âmbitos de pesquisas, o presente trabalho tenta discutir quais são os possíveis aportes específicos da Psicologia do Desenvolvimento para melhor entender a construção desse conhecimento. Portanto, no contexto da psicologia genética piagetiana e do desenvolvimento sexual da psicanálise, parte-se das seguintes perguntas: as teorias de Piaget e Freud mantêm sua vigência 119 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento para analisar as crenças infantis sobre sexualidade na atualidade? Qual é o lugar do “outro” presente nessas explicações? Que ator prepondera como informante: a escola, a família ou a mídia? Assim, o objetivo deste trabalho é apresentar e analisar características de crenças sobre sexualidade manifestadas por crianças de 4 a 9 anos e o nível de reconhecimento da participação de informantes externos na construção do dito conhecimento. Para coletar os dados adotou-se o método clínico piagetiano. Foram realizadas 80 entrevistas individuais com perguntas acerca da fecundação, nascimento e diferenças sexuais. As respostas foram agrupadas por faixa etária em dois grupos: 4 a 6 anos e 7 a 9. Todos os participantes assinaram previamente um TCLE. Considerando especialmente os conceitos de egocentrismo de Piaget e narcisismo de Freud, as respostas acerca das “fontes de informação sobre sexualidade” foram categorizadas em três níveis: 1) Autorreferenciais: respostas egocêntrico-narcisistas; 2) Referentes à Família: aludem à mãe, pai ou avós, a partir de eventos familiares ou explicações verbais; 3) Outros Informantes: âmbito escolar, outras instituições e mídias como televisão (novelas, telejornal), livros, ultrassom, fotos, vídeos ou internet. A análise dos dados mostra que no grupo das crianças de 4 a 6 anos há uma concentração de respostas autorreferenciais nas quais a própria criança aparece em cena na explicação aludindo a vivências presentes e passadas, qualidades pessoais (como ser inteligente), anedotas e características de seus pais, e a sua história familiar em geral. O sistema explicativo prevalece estruturado em torno delas mesmas e sua família. Algumas mencionam lembranças da sua própria vida intrauterina ou nascimento, o que verificaria a noção de “lembranças falsas” de Piaget, e de memória e fantasias de Freud. Exemplos de crenças autorreferenciais para justificar as explicações são: “Como sei? É porque eu nasci sabendo. Eu vi que o médico estava abrindo a minha barriga e vi o negócio na mão dele”; “É porque eu sou esperta”; “Porque eu me lembro quando eu nasci”. As respostas das crianças mais velhas não se definem em termos desse egocentrismo, mas sempre aludem a terceiros ou a suportes midiáticos para explicar a fonte das informações recebidas. A referência familiar (predominantemente a mãe) constitui o informante mais mencionado entre as referências externas. A escola foi escassamente citada. Exemplos de menção de referências externas são: “A minha mãe e minha irmã já me falou”; “Porque tem um vídeo que é em espanhol que fica no youtube”; “A professora explicou um pouco”. Na perspectiva piagetiana a tendência egocêntrica/ narcisista intelectual (o “Eu sei”) funciona como a única prova possível da qual a lógica infantil se serve durante muito tempo e, dessa forma, no plano do pensamento verbal, as ideias se tornam crenças. Além disso, no período pré-operatório a criança remete ao plano do provável COMUNICAÇÕES ORAIS confundindo ficção com realidade (Piaget, 1924/1947). Tanto para Piaget como para Freud, o Eu não é dado desde o início, mas se desenvolve, portanto, manifesta diferentes níveis de expansão, subjetividade e consciência de si. O Eu se constrói na progressiva diferenciação do próprio e o externo, a partir de processos de descentração e mitigação do narcisismo infantil. Egocentrismo e narcisismo são características que serão atenuadas em favor da adaptação do Eu à realidade. Atenuadas e não extinguidas porque ambos os autores convergem em uma visão integrativa do desenvolvimento. Portanto, egocentrismo e narcisismo podem se manifestar nos adultos ainda que em expressões qualitativamente diversas das condutas das crianças. Essa progressiva expansão e conquista da objetividade foi corroborada na análise das crenças pesquisadas. De modo geral, e em concordância com essas características do desenvolvimento do Eu, é possível observar que a maioria das respostas mais descentradas e de melhor qualidade epistêmica concentra-se nas crianças velhas enquanto que as respostas mais egocêntricas e pré-lógicas prevalecem nas crianças mais novas. Em resumo, a comparação das crenças dos dois grupos etários mostra um desenvolvimento que, em linhas gerais, evidencia uma transição: do concreto (dados perceptivos) ao abstrato, do subjetivo ao objetivo, do egocêntrico ao descentrado e coordenado, e do difuso ao mais preciso. Enfim, os resultados da pesquisa apresentam, por um lado, regularidades que se correspondem com os postulados da psicologia genética piagetiana e do desenvolvimento psicossexual da psicanálise em termos de estruturas do pensamento, organização libidinal e socialização. Por outro, apontam um amplo potencial para aprofundar dito diálogo teórico à luz dos estudos da Psicologia do Desenvolvimento que focam a relação da afetividade e inteligência na construção do conhecimento. Palavras-chave: sexualidade; psicologia genética; desenvolvimento psicossexual. Contato: Mariana Inés Garbarino, USP, E-mail: [email protected] CO - 2244 PSICOLOGIA E DIVERSIDADE SEXUAL Glauberto José de Queiroz Júnior, Faculdade dos Guararapes (FG), E-mail: [email protected] Ana Raquel da Justa Silva Pinho, Faculdade dos Guararapes (FG), E-mail: [email protected] A homossexualidade é um tema bastante polêmico. Numa sociedade que não é apenas heterossexual, mas marcadamente heteronormativa (RIOS, 2007), a heterossexualidade é instituída como padrão. Apesar dos estu- 120 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento dos que contemplam a homossexualidade serem recentes no Brasil, é possível encontrá-los, sobretudo nas ciências humanas e sociais. No Brasil, as primeiras iniciativas de manifestações ligadas diretamente ao movimento homossexual surgiram no final da década de 70. Nos últimos anos, a Psicologia brasileira tornou-se alvo de críticas e até mesmo de ação civil pública, devido à Resolução 001/99: pela defesa da livre orientação sexual. A ação proposta pelo Ministério Público Federal (MPF), no dia 1º de dezembro de 2011, alegou que tal resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP) violou inúmeros princípios e regras constitucionais, como o da legalidade, o direito fundamental ao livre exercício profissional, o princípio da dignidade da pessoa humana e a liberdade de manifestação do pensamento, dentre outros. Em virtude desta interpretação errônea da Resolução do CFP, bem como das crescentes manifestações (projeto “cura gay”) no atual cenário do país, procuramos coletar informações dos estudantes da área de saúde (dos cursos de Fisioterapia, Psicologia e Nutrição) da Faculdade dos Guararapes (FG), acerca das experiências e opiniões sobre a sexualidade, conhecendo a visão desses futuros profissionais. Metodologia. Para a pesquisa intitulada “Psicologia e diversidade sexual” foi utilizado como instrumento de coleta um questionário (contendo 20 questões, das quais 8 eram fechadas). Inicialmente a pesquisa foi idealizada para ser aplicada apenas aos estudantes recém-inseridos no contexto acadêmico. Posteriormente, foi ampliada para os demais acadêmicos dos três cursos da área da saúde contemplados pela pesquisa, porém em séries mais avançadas, tendo como objetivo: a) identificar e catalogar as respostas; b) produzir gráficos comparativos. Foi disponibilizado, para cada participante, o termo de consentimento de cessão livre e esclarecido, o qual foi dividido em dois momentos: 1) contendo as informações sobre a pesquisa, bem como a sua finalidade; 2) contendo os esclarecimentos acerca da importância da veracidade das informações, para que, com isso, fosse possível alcançarmos os reais objetivos da pesquisa. Além disso, foi disponibilizado telefone para contato e uma cópia do termo. O questionário tinha como objetivo coletar o maior número de informações em um curto espaço de tempo, uma vez que a coleta ocorreu dentro da instituição de ensino superior, no horário matutino, no período de 3 a 10 de julho do ano corrente, aplicados em diferentes salas de aula, no campus da FG. O questionário foi dividido em três blocos temáticos: 1) Perfil socioeconômico (comportou 7 questões - contemplando os aspectos da sociabilidade dos voluntários); 2) Sexualidade (comportou 10 questões - abordando aspectos referentes à identidade sexual, dando ênfase especial à violência e discriminação devido à orientação sexual); 3) Opinião (comportou 3 questões procurando averiguar as experiências e opiniões relativas COMUNICAÇÕES ORAIS à violência, discriminação e aos direitos já conquistados por gays e lésbicas do país). Ao todo foram coletadas as informações e experiências de cento e seis estudantes. Os estudantes participaram de forma voluntária. Dos questionários respondidos, 40% pertenceram ao curso de Fisioterapia, 40% ao de Psicologia e os restantes 20% ao curso de Nutrição. Para compor a amostra não foi estipulado qualquer tipo de cota, exceto os pré-requisitos já informados anteriormente, porém, para potencializar a representatividade dos dados, os participantes responsáveis pelas aplicações dos questionários foram orientados a: a) diversificarem ao máximo seus respondentes, segundo clivagens de raça, sexo e identidade sociossexual; b) permanecerem disponíveis nos locais de aplicação, procurando abordar públicos diversos, bem como esclarecer possíveis dúvidas; c) realizarem as aplicações em horários vagos e/ou em horários preferenciais pelo grupo que iria participar evitando as aulas terminais e/ou o horário do intervalo, para que a veracidade das informações não fosse comprometida. Principais discussões/Resultados da pesquisa. Após as respostas os questionários foram identificados e catalogados de acordo com sua classificação, foram feitas comparações entre as respostas dos estudantes iniciantes e os de séries avançadas, por meio de gráficos comparativos. A análise dos resultados permitiu inferir sobre a visão desses futuros profissionais. Após a análise dos resultados, não foram identificadas diferenças significativas nas respostas dos participantes. Resultado este que chama nossa atenção, pois os profissionais da saúde lidam constantemente com a dor, seja ela física ou psíquica. O “simples” fato de desconhecer as diversas sexualidades pode vir a ser o princípio de uma extensão deste sofrimento. Segundo Rios (2009, p. 50) “quando uma pessoa adoece, conscientemente procura no cuidador a resposta para a doença e, inconscientemente, para os acontecimentos ocultos que acompanham o adoecer”. Por isso, os profissionais da saúde, por estarem em contato de forma mais direta com esse sofrimento, não devem apenas possuir os conhecimentos técnicos e práticos da sua especialidade, mas, sim, um conhecimento do humano e suas possíveis questões existenciais (a face encoberta do sofrimento, da dor e da morte), e torna-se importante construir “pontes” que permitam o atendimento integral. Evitando tratar esses usuários com discriminação, pois os mesmos já se encontram em uma situação de fragilidade, tampouco devem reforçar os preconceitos sociais existentes. Prezando pelo direito à vida e não a violência contra esses usuários. De fato, a humanização dentro dos serviços públicos de saúde, bem como nos textos oficiais e nas publicações de área da Saúde Coletiva, vem ganhando uma ênfase (RIOS, 2009). Considerações finais. Os resultados obtidos nos permitiram compreender que os estudantes não possuem conhecimento suficiente sobre 121 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento a diversidade sexual, e que mesmo após terem ingressado no ambiente acadêmico não ocorreram mudanças significativas, além da necessidade de que sejam enfatizados os compromissos éticos e sociais dessas profissões, bem como o direito humano do sujeito (paciente). Apesar de este estudo ter um caráter de investigação preliminar, já serve de alerta sobre os potenciais perigos da inserção desse profissional da área da saúde no mercado de trabalho, sem os conhecimentos específicos sobre um tema de crescente manifestação e repercussão nacional. Palavras-chave: homossexualidade; profissionais; saúde. Contato: Glauberto José de Queiroz Júnior, graduando em Psicologia pela Faculdade dos Guararapes. Email: [email protected] CO - 2248 @ ADOLESCENT@ HOMOSSEXUAL E O DISCURSO PSICOLÓGICO: UMA REVISÃO DA LITERATURA Maria Edna Silva de Alexandre Edgley Duarte de Lima Lilian Kelly de Sousa Galvão Emerson Araújo Do Bú Josilene do Nascimento Rodrigues Thallyane Rayssa da Silva Santiago Introdução/Justificativa: A adolescência é concebida pelo discurso científico como uma fase do desenvolvimento humano, marcada por diversas mudanças e conflitos, sobretudo no que se refere às questões de gênero e sexualidade. Em meio a esses discursos, a Psicologia produziu concepções normatizadoras e naturalizantes que engendravam padrões de se exercer a sexualidade, ancorados no discurso heteronormativo e biologizante. Contudo, as novas configurações ocorridas nas últimas décadas evidenciam que estes discursos não mais comportam outras produções de subjetividades no tocante às questões supracitadas. Nesse sentido, a diversidade sexual, em particular, a homossexualidade na adolescência se manifesta como um ponto nevrálgico, colocando-se como um desafio para a Psicologia (SANTOS, 2008). Sublinhase que se debruçar sobre as questões inerentes à homossexualidade significa desmistificar ideias engessadas que não compreendem a diferença entre o sexo biológico e a orientação sexual, sendo que esta última perpassa a forma como cada sujeito se reconhece no mundo. Nesse sentido, o presente estudo mostra-se de extrema relevância, pois, ao se tratar de uma revisão da literatura, fornecerá um panorama geral acerca dos estudos brasileiros sobre a temática, podendo, assim, respaldar teoricamente novas COMUNICAÇÕES ORAIS pesquisas e intervenções na área. Objetivo: Apresentar o estado da arte acerca dos estudos sobre a homossexualidade na adolescência, a partir do viés da Psicologia. Método: Realizou-se uma revisão sistemática da literatura nas principais bases de dados, a saber: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PEPSIC), e o Portal da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e IndexPsi. Utilizou- se, como descritores, os termos “homossexualidade” e “adolescência”, e foram encontrados 75 artigos. Para tanto, foram considerados os seguintes critérios de refinamento: artigos publicados em português que fossem escritos por psicólogos e/ou pesquisadores em Psicologia, exclusão de textos coincidentes e que não disponibilizassem o conteúdo completo ou não fizessem referência direta ao tema. Utilizando tais critérios, foram selecionados para análise o total de 6 artigos que foram lidos na íntegra. No LILACS encontraram-se 64 artigos, porém apenas 2 foram selecionados, no PEPSIC foram encontrados 3 e selecionados 2, no IndexPsi foram encontrados 3 e selecionado 1, na SciELO foram encontrados 5 e selecionados 2 e, por fim, no periódico da CAPES foram encontrados 3, porém nenhum atendeu aos critérios estabelecidos. No que tange à BVS, os artigos localizados que atendiam aos critérios já se apresentavam nas outras bases de dados pesquisadas. O tratamento dos dados foi realizado por meio da análise qualitativa dos artigos selecionados, confrontando-os de modo a extrair as convergências, divergências e novas perspectivas acerca do tema abordado. É relevante registrar que, na próxima etapa, essa revisão sistemática será ampliada para outros idiomas. Resultados: Após análise exaustiva dos artigos verificou-se que cinco pesquisas partiam da perspectiva da Psicologia Social (TONELI et al., 2003; PAIVA et al., 2008; SANTOS, 2008; TEXEIRA-FILHO et al., 2011; TEXEIRA-FILHO & RONDINI, 2012), enquanto apenas um tinha como referencial teórico a Psicanálise (SANTOS & FREITAS, 2005). Dentre as metodologias utilizadas, uma se tratava de um estudo de caso, uma revisão sistemática e quatro pesquisas empíricas, partindo de análises qualitativas e quantitativas. Em pesquisa realizada por Santos (2008), partindo das questões de gênero e sexualidade como uma construção histórica e cultural, o adolescente homossexual pode ser posicionado a partir de duas matrizes epistemológicas, uma que engendra a experiência homossexual como sendo negativa e outra como positiva, a depender da forma como o sujeito a vivencia. Ao passo que essa experiência será dolorosa/conflituosa a partir de suas relações e validação social. O mesmo ainda apresenta, como possível avan- 122 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento ço, a superação do discurso hegemônico da heteronormatividade, no tocante à compreensão das identidades sexuais. Já em estudos realizados por Teixeira-Filho et al. (2011, 2012), constatou-se que os “não heterossexuais” têm maior probabilidade de virem a cometer suicídio em relação aos heterossexuais, ocasionado majoritariamente pela não resolução dos conflitos vivenciados devido às experiências da adolescência e suas exigências sociais. Nesse sentido, o autor aponta ainda, como possíveis causas para os suicídios dos homossexuais, os efeitos do processo homofóbico, onde as meninas sofrem mais preconceitos dessa ordem. Em contraposição, Paiva et al. (2008) coloca que a homossexualidade feminina é mais bem aceita, devido à não perda da virgindade, corroborando assim com os resquícios da sociedade patriarcal que entende que a mulher deve permanecer virgem até o casamento. Em estudo realizado por Toneli et al. (2003), os resultados obtidos afirmaram existir uma manutenção de posições conservadoras a respeito da aceitação da homossexualidade, enquanto o estudo de Paiva et al. (2008) demonstra avanços na forma como a homossexualidade é percebida/aceita nas últimas décadas. Ainda em relação ao estudo de Toneli et al. (2003), ele aponta a curiosidade como a mola propulsora para a primeira experiência homossexual realizada na adolescência, mesmo que esta não venha a se repetir. Outro dado evidenciado se refere à importância da família no enfrentamento dos conflitos vivenciados pelo adolescente homossexual. Contudo, os dados apontados por Santos & Freitas (2005) sinalizam um afrouxamento dos vínculos familiares. Discussão: Os estudos demonstram poucas propostas de intervenções, apesar de se pautarem em discussões críticas que visam à superação de ideais e conceitos cristalizados em torno das questões inerentes à problemática aqui circunscrita. Percebeu-se que a metodologia utilizada pela maioria das pesquisas não contemplava uma análise contextualizada que privilegiasse os espaços onde os adolescentes consultados estavam imersos. Considerações finais: Dada a pouca produção sobre o tema apreciado, lança-se como necessidade e desafio para a Psicologia a superação de tais modelos que engessam os modos de ser que se distanciam da norma, tendo em vista que essa contribuiu muito mais para a normatização e validação das práticas sexuais hegemônicas. É importante salientar, por último, que a prática profissional do psicólogo deve ser mais implicada, assumindo uma postura crítica, embasada em uma intervenção que não enquadre a sexualidade adolescente como conflitos inerentes a esta fase do desenvolvimento, mas como questões que merecem reflexões considerando a singularidade dos casos. Palavras-chave: adolescência; homossexualidade; psicologia. COMUNICAÇÕES ORAIS CO - 2170 A VIVÊNCIA TRANSEXUAL: UMA PERSPECTIVA PSICANALÍTICA Taciana De Melo, FAFIRE, E-mail: [email protected] Anaysa De Souza, FAFIRE, E-mail: [email protected] Lucilayne Muniz, FAFIRE, E-mail: [email protected] Nos últimos anos, um conjunto de perspectivas teóricas tem tido receptividade em Psicologia. Dentre os variados fenômenos abordados nesta direção, aqueles relacionados à identidade sexual são amplamente debatidos, sendo problematizada, dentre outros aspectos, a construção de sentidos da transexualidade. No presente trabalho tem-se como objetivo apresentar a contribuição freudiana para a construção do caminho da sexualidade humana. Para tanto, apresentar-se-á a hipótese para o surgimento da transexualidade na perspectiva do autor contemporâneo Robert Stoller, um dos únicos autores com pesquisas densas que nos levam, a partir de seus estudos, para a compreensão dos fenômenos psíquicos envolvidos. Buscou-se a compreensão de Freud acerca da sexualidade humana, observando o percurso de seu pensamento clássico desde seus primeiros estudos sobre sexualidade infantil, desenvolvendo-se assim a ideia de um complexo de Édipo mais completo, onde tanto o menino quanto a menina, ao submeterem-se a vínculo de identificação e de relação de objeto, terão com ambos os sexos identificação, e o resultado final dependerá, segundo Freud, de predisposições de cada um, deixando margem a manifestações diversas da sexualidade, bem como a transexualidade (Freud, 1923). Diante disso, foi analisada criticamente a hipótese apresentada por Robert Stoller, apontando novas possibilidades de compreensão acerca do tema. Ressalta-se a importância da busca dos sentidos de identidade, levando em conta o roteiro cultural preeminente na definição do gênero feminino e masculino, bem como a organização subjetiva que fornece ao transexual a cirurgia de mudança de sexo e o seu arrependimento. Nesse estudo, voltamo-nos para os casos brasileiros conhecidos que vivem uma contínua reconstrução biopsicossocial. A valorização da vida como bem supremo é apontada por diversos estudos como uma característica comum das sociedades ocidentais contemporâneas (Costa, 2005; Foucault, 1999). Neste cenário, desdobra-se uma particular definição do humano, que Stoller (1982) propõe como menino transexual, e sua especificidade na formação de identidade: interessando-se com os fatores psicológicos bem mais do que os fatores biológicos. Logo, estudou 123 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento casos que variaram entre cinco e quarenta anos e, a partir desses casos, elaborou hipóteses sobre a existência de uma determinada configuração familiar que produz o transexual masculino. Para o autor, a reunião de alguns fatores elevaria a chance do mesmo acontecer. Neste contexto cultural de valorização da vida, ascende o corpo que supostamente é coerente com a anatomia física e emocional. No fenômeno transexual, o indivíduo não nega seu pertencimento biológico ao sexo indicado, mas acredita ser do sexo oposto. Não é condição necessária para que o sujeito seja considerado transexual a solicitação da cirurgia de mudança de sexo, pois, para alguns, não é tão importante, mas o fator em comum para a determinação do sujeito transexual é a exigência de mudanças na sua aparência que aliviem a inconformidade biopsíquica. No Brasil, as estatísticas dizem que em 2008 esta cirurgia atendeu 101 pessoas e em 2011 passou para 706 pessoas, superando esta marca em 2012, crescimento expressivo atendendo uma demanda reprimida. Os hospitais públicos que se especializaram na técnica estão na capital paulista, na capital carioca, em Goiânia e em Porto Alegre. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) a transexualidade é uma doença psíquica, fazendo parte do Código Internacional de Doenças (CID), razão pela qual é preciso que se cumpra o direito à inclusão dos procedimentos de mudança de sexo a partir de uma compreensão dos direitos fundamentais previstos constitucionalmente. O direito à busca do equilíbrio corpo-mente do transexual, ou seja, à adequação de sexo e prenome, está ancorado no direito ao próprio corpo, no direito à saúde (art. 6º e 196 da Constituição Federal), gerando a possibilidade de cada indivíduo se manifestar de acordo com suas convicções, o que, com o tempo, fez com que condutas anteriormente tidas como de moralidade discutível não só passassem a ser toleradas, mas, posteriormente, admitidas em nome da liberdade individual de expressão. A institucionalização da assistência a transexuais no Brasil esteve associada ao modelo estritamente biomédico, a noção de saúde integral deve promover uma abertura para as redescrições da experiência transexual numa articulação permanente entre os saberes biopolíticos dominantes e uma multiplicidade de saberes locais e minoritários. Neste complexo cenário, caberia pensar a multiplicidade de manifestações da sexualidade humana, bem como o sofrimento que permeia a vida do transexual por se sentir obrigado a aceitar o que seu corpo biológico indica, bem como a imprevisibilidade da cirurgia, na medida em que esta pode não representar o fim de seus conflitos. Considerando este aspecto, nota-se que Stoller se refere diretamente a sua prática clínica e, mesmo que as suas teorias reproduzam a normatividade do dimorfismo sexual em alguns momentos, caberia conhecer a construção da identidade sexual, reconstruindo um diálogo entre Freud e Stoller, onde se COMUNICAÇÕES ORAIS valesse a contribuição para descrição do fenômeno da transexualidade. Palavras-chave: Transexualidade; Psicanálise; Stoller. Contato: Taciana De Melo, FAFIRE, E-mail: [email protected] CO - 2156 O DESENVOLVIMENTO HUMANO NO CONTEXTO DA EXPERIÊNCIA TRANSEXUAL: UMA CARTOGRAFIA Polianne Delmondez, UnB, E-mail: [email protected] Apoio Financeiro: CNPq Este trabalho tem como objetivo introduzir a temática da transexualidade no contexto da Psicologia do Desenvolvimento Humano. Além disso, a fundamentação teórica desse trabalho é discutida a partir da perspectiva da teoria queer e dos processos de subjetivação constituídos nas práticas discursivas e sociais. Nesse sentido, essa proposta de trabalho visa contribuir para uma construção téoricoconceitual acerca do processo de definição da identidade de gênero em determinado momento no curso de vida do ser humano. Desde o seu nascimento, o ser humano está imerso numa série de normas discursivas que, inegavelmente, influenciam as suas práticas sociais e seus processos de identificação em relação ao gênero masculino ou ao feminino. A categoria de sexo, pautada pelo discurso da biologia, diz que há um conjunto de elementos anatômicos e fisiológicos que distinguem homens de mulheres e, assim, configura-se como um dado natural e a-histórico. Já a categoria de gênero está estreitamente ligada a uma construção social e histórica e à forma como as práticas sexuais e a sexualidade se definem. É por meio das escolhas ou práticas sexuais que o sujeito organiza o seu desejo e sua sexualidade, não havendo, portanto, uma essência biológica que determina suas possibilidades sexuais. Butler (2001) discorre sobre o problema de definir as identidades com base em categorias binárias de sexo, gênero e sexualidade. De outro modo, a categoria de sexo está ancorada na concepção de performatividade de gênero, em que há uma vinculação direta entre a materialidade do corpo e a forma de como o sujeito realiza as suas práticas sexuais. Portanto, o gênero é performativamente constituído, “o gênero não é algo que somos, é algo que fazemos, um ato, ou mais precisamente, uma sequência de atos, um verbo em vez de um substantivo, um ‘fazer’ em vez de um ‘ser’” (Salih, 2012, p. 89). Por sua vez, a identidade transexual subverte a gramática normativa do sistema sexogênero, visto que pressupõe a não conformidade entre os termos, produzindo outros efeitos de gênero e de sujeito. 124 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Esse modo de constituição da subjetividade, como sugere o próprio movimento instável do queer, perturba aqueles/ as que estão preocupados/as em conservar as oposições entre macho/fêmea, masculino/feminino, homo/hetero, e assim sucessivamente. A teoria queer busca contestar e desconstruir os binarismos dessas categorias e anuncia, com base na concepção de performatividade, a instabilidade e a indeterminação das identidades: “assim como está presente o processo de constituição do sujeito, ou seja, os modos pelos quais a identidade, em particular, a identidade de gênero, é construída no e pelo discurso [...] o sujeito se põe de pé e encena a sua identidade num palco metafórico de sua própria escolha” (Salih, 2012). As pessoas transexuais vivenciam uma experiência em que a identidade de gênero é, ou algum dia já foi, colocada em questão. Nesse sentido, este trabalho analisa como as pessoas transexuais dão sentido a sua experiência de subjetivação, ou seja, como constroem significações acerca de si e de seu processo de definição da identidade de gênero, levando em consideração também as dimensões sociais, políticas e institucionais envolvidas. Essa análise realizou-se por meio de narrativas de pessoas que vivenciam a experiência da transexualidade, com foco em eventos significativos como marcadores de trajetória e em processos dialógicos de reorganização e autorregulação psíquica frente à experiência. Além disso, é preciso salientar que a pesquisa foi realizada a partir da cartografia. Trata-se de um procedimento metodológico que surgiu a partir dos trabalhos teóricos de Deleuze/Guattari e Foucault e que está se tornando cada vez mais disseminado em grupos de pesquisa sobre políticas de saúde, educação, clínica, produção de subjetividade. Desse modo, tem sido um método relevante e inovador de produção de conhecimento para a psicologia do desenvolvimento. Entende-se que a cartografia é um método processual que não apresenta um modelo único de investigação, mas se organiza mediante procedimentos concretos encarnados em dispositivos. A construção de mapas com objetivo de análise e de interpretação dos resultados deve visar, portanto, a manutenção do caráter dinâmico dos movimentos de processualidade da subjetividade, do desenvolvimento e dos dispositivos. É necessário salientar que os dispositivos se situam em contextos de produção de dados. No contexto da produção de informações para a pesquisa, a investigação empírica foi realizada com dois transexuais e contou com os seguintes procedimentos: entrevistas nas modalidades narrativas e episódicas. É no contexto de sua experiência que o sujeito trans pode dizer a verdade sobre si e suas escolhas pessoais, além disso, a dimensão histórica de suas práticas de subjetivação dá margem para a construção de uma identidade que hoje pode ser enunciada: uma identidade transexual. A partir dos relatos das entrevistas, os transexuais são pessoas duplamente excluídas tanto pela questão de gênero como pela de classe, já que a maioria COMUNICAÇÕES ORAIS é oriunda de camadas sociais excluídas. Apesar de terem optado pela cirurgia de transgenitalização, um direito já garantido atualmente, é preciso salientar que existem outras demandas específicas de direitos para os transexuais como a despatologização da experiência e a mudança de nome e de sexo nos documentos de identidade. No contexto contemporâneo, as posições de identidade têm sido concebidas de forma temporária e fluida. Nesse sentido, as práticas de subjetivação têm sido constituídas por meio de margens discursivas da experiência e mediante processos de identificação posicionados nos discursos e nas práticas sociais. Em “A reinvenção do corpo - sexualidade e gênero na experiência transexual”, Berenice Bento (2006) prefere utilizar as expressões “posições identitárias”, “apegos identitários temporários” e “identidades rizomáticas” para problematizar qualquer tipo de universalização e abordar as inúmeras variações da transexualidade. A partir da análise dos resultados das entrevistas, foi possível construir indicadores acerca do processo de constituição da identidade de gênero no contexto da experiência transexual e, ainda, traçar um campo de problematização sobre como tal processo ocorre na experiência humana ao longo do desenvolvimento humano. Além disso, sugeriu a construção de propostas investigativas acerca de como se dá a constituição da identidade de gênero na infância e na adolescência. Palavras-chave: transexualidade; identidade de gênero; desenvolvimento humano. Contato: Polianne Delmondez, UnB, E-mail: [email protected] CO-1981 SEXUALIDADE NA VIDA ADULTA APÓS TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR: REINTEGRAÇÃO ATRAVÉS DA REABILITAÇÃO Klaylian Marcela Santos Lima Monteiro, IMIP-PE, E-mail: [email protected] O presente trabalho objetiva ilustrar a experiência da atuação do setor de psicologia e equipe através de processos de intervenção em grupo direcionados à temática da sexualidade, junto a pacientes portadores de traumatismo raquimedular (TRM). Estes são atendidos no centro de reabilitação do Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP), em Recife, PE. A incidência de traumatismo raquimedular nos últimos anos tem sido crescente. No serviço em questão, bem como em outros centros de referência, as estatísticas apontam os vários aspectos que contribuem para o fato, desde os acidentes de trânsito, em especial aqueles que envolvem motocicletas, até os altos índices de violência urbana, que também se 125 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento destacam como um importante fator, em especial os ferimentos por arma de fogo (Pereira, M., & Araújo, T., 2005). As quedas também se configuram como fatores para este diagnóstico. Esta realidade imprime a necessidade do desenvolvimento de estratégias de atenção integral a estes casos, desde as avançadas pesquisas de células-tronco às ferramentas de mobilidade e processos que garantam o apoio psicossocial. As lesões medulares são compreendidas a partir do grau de incapacidade que geram e da extensão das sequelas do traumatismo. O tempo de lesão é outra importante variável para determinação do prognóstico. Os quadros de paraplegia são caracterizados por lesões de níveis torácico, lombar ou sacral. Estes provocam perdas motoras e/ou sensitivas em tronco e pernas ou apenas nas pernas. Já as lesões que geram a tetraplegia são provocadas por traumas na coluna cervical, com prejuízo de funções motoras e/ou sensitivas e comprometimentos em braços, tronco e pernas (Dal Berto, C. & Barreto, D. B. M., 2012). O traumatismo raquimedular encontra-se envolto por inúmeros fatores que imprimem ao paciente vivências drásticas de mudanças de sua imagem corporal, mobilidade, atividades laborativas e relacionamentos sociais, familiares e afetivo-sexuais. Porém, após o recebimento deste impactante diagnóstico, as dificuldades também se colocam no campo do tratamento e prognóstico. Após alguns meses do traumatismo, o quadro ganha cotornos mais definidos, este é um tempo de tratamentos diários e exaustivos, incertezas, choque, angústias e por vezes desespero, enfim é um tempo de indefinição inicial e a certeza de que a mobilidade e sensibilidade corporais precisarão encontrar novos arranjos. A intervenção da equipe de reabilitação busca promover não apenas a independência dos lesionados, mas, sobretudo, o restabelecimento da qualidade de vida; por isso, as atividades em grupo ganham espaço nos centros de tratamento, objetivando estimular a autoestima, por meio da integração social e com ferramentas que favoreçam ao paciente a perspectiva de que não está sozinho na construção de sua reabilitação (Gheno, B. A. & Kantorski, L. P., 2013). Marcados por estereótipos de várias ordens, os pacientes afetados por este tipo de traumatismo se veem rodeados por inúmeras mudanças em seu cotidiano e desafiados a (re)aprenderem novas formas de viver, desenvolver suas atividades de vida diária e principalmente lidar com as mudanças que seus corpos lhes impõem. Após o trauma físico, advêm os de ordem subjetiva, momento em que repercussões na esfera afetiva e da sexualidade são evidenciadas. A partir deste momento é preciso lidar com um corpo que não obedece a comandos e com consequentes sentimentos de incapacidade, inutilidade, além do comumente preconceituoso olhar do social, que nem sempre é um olhar solidário. A sexualidade humana possui a especificidade de ir além do biológico, ela se torna uma forma de expressão psíquica, COMUNICAÇÕES ORAIS além de uma das motivações centrais da vida (Gomes, C. M., 2010). Assim sendo, as deficiências causadas pelas lesões medulares não inviabilizam a vivência da sexualidade, apenas a redefinem como parte integrante de sua existência (Cavalcante, K., Carvalho, Z., Barbosa, I., & Rolim, G., 2012). É comum que o paciente passe por um período de seis meses de anedonia sexual após o traumatismo. No entanto, comumente após este período, a sexualidade passa a ser uma preocupação para o paciente. Dois fatores em especial precisam ser levados em consideração: as dificuldades de mobilidade e as mudanças da sensibilidade, que evocam disfunções sexuais, processos que causam impacto na qualidade de vida dos pacientes e seus parceiros. Nestas situações, o processo de esclarecimento, psicoeducação, apoio, reasseguramento e reforço às defesas psíquicas é fundamental. Por isso, entendemos a noção de “intervenção em grupo” como formações possíveis de atividade interdisciplinar, que possibilitam o enfoque a inúmeras demandas e permitem o acolhimento das demandas tão específicas desses casos. Nossos objetivos se direcionam às demandas dos pacientes, de modo a auxiliá-los na compreensão e construção de uma nova imagem corporal, em que a sexualidade readquira seu status de atividade prazerosa e necessária do ponto de vista orgânico e psíquico, o que promove reelaborações que possibilitem seu exercício maduro e satisfatório após o advento da lesão medular. Além disso, orientações sobre DSTs, uso de preservativos e temas relacionados à gravidez também se tornaram foco das atividades. A intervenção em grupo é quinzenal, necessita de sala confortável que permita o sigilo e a acessibilidade dos cadeirantes. São utilizados recursos específicos para projeção de material, com orientações sobre as especificidades deste tipo de traumatismo e como a sexualidade passa a ser vivida, possibilitando que os debates ocorram com naturalidade, sobre a prática sexual e novas formas de experienciá-la. Aos pacientes é oferecido material didático de orientação sobre a lesão, suas consequências e perspectivas de evolução no tratamento, sendo a questão da sexualidade parte deste. A participação é facultativa, ao iniciar seus protocolos de atendimento no centro, são informados sobre a atividade, buscando-a por demanda própria, bem como sob encaminhamento dos profissionais das diversas áreas. Os resultados demonstram profundas mudanças de comportamento e sentimentos, além de relatos de melhoria do exercício da sexualidade. A atividade vem propiciando a redução dos níveis de ansiedade e a implementação de informações entre os pares, situações fundamentais ao sucesso do programa. A pretensão dos profissionais envolvidos neste projeto é que o grupo de pacientes assistidos cresça e possa envolver portadores de outras patologias, bem como profissionais dos diversos campos do saber, que contribuam para a implementação de novas ações, 126 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento evidenciando o papel da sexualidade como parte do processo de reabilitação e recuperação psicossocial. Palavras-chave: reabilitação; sexualidade; traumatismo raquimedular. Contato: Klaylian Marcela Santos Lima Monteiro, IMIP-PE, E-mail: [email protected] CO-2518 A SEXUALIDADE EM ADOLESCENTES SOROPOSITIVOS Janmeyca Rayanne Venancio de Oliveira, UFCG, E-mail: [email protected] Bruna Pereira Nóbrega, UFCG, E-mail: [email protected] Ingrid Michélle de Souza Santos, UFCG, E-mail: [email protected] A adolescência é marcada por mudanças físicas, psíquicas e sociais, podendo ser vivenciada das mais diversas formas pelos sujeitos que ultrapassam este período. De acordo com pesquisas, nesta etapa do desenvolvimento, o adolescente enfrenta dificuldades referentes ao reconhecimento e adaptação. Não é pra menos que a adolescência é socialmente entendida como o período propício para o início das descobertas sexuais; tempo do sujeito se haver com perigos e ameaças inerentes à fase. Um desses perigos que se circunscreve na atualidade são as doenças sexualmente transmissíveis, sendo importante ressaltar que no caso do HIV/AIDS o modo de contaminação não se dá apenas pela via sexual, mas também através da via vertical e de transfusão sanguínea. Quando se é diagnosticado com HIV/AIDS, o adolescente que normalmente é alvo de estereótipos negativos (como sujeito agressivo, impulsivo, entre outros), na maior parte dos casos, terá maior dificuldade de interagir com o outro e mesmo de aderir aos tratamentos. Partindo dessa premissa, buscamos conhecer a sexualidade do adolescente que vivencia essa fase sendo soropositivo independente da sua forma de contágio. Este estudo buscou analisar o material discursivo sobre a vivência da sexualidade em adolescentes soropositivos. O caminho que perfilhamos para a realização deste trabalho foi uma revisão sistemática de artigos científicos em português, dos anos de 2005 a 2012, em bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), mais precisamente Lilacs e Scielo. Para tanto, foram utilizados os seguintes descritores: “adolescentes soropositivos”, “sexualidade em adolescentes soropositivos” e “qualidade de vida em adolescentes soropositivos”. A partir dos descritores supracitados, foram encontrados 19 artigos, dos quais, eliminamos 11 que não atendiam aos critérios estabelecidos, a saber: “sexualidade soropositiva”, “adesão ao tratamento” e “estratégias de enfrentamento”. COMUNICAÇÕES ORAIS Em suma, os artigos foram lidos com o intuito de analisar como os adolescentes vivenciam a sexualidade enquanto soropositivos, bem como os elementos que favorecem a sua qualidade de vida na condição em que se encontram. O adolescente quando enviesado pela soropositividade ao HIV possui na maioria das vezes problemas de ajustamento psicológico em função do grande número de estressores que o afeta. Nos escritos analisados, foi possível observar que os adolescentes soropositivos possuem predisposição para fatores de ansiedade e depressão, além de possuírem características de insegurança e baixa autoestima acentuadas. Soma-se a isso o frequente desejo por ativar/reativar sua sexualidade e o comumente pacto de silêncio provocado pelo medo do preconceito e do estigma relacionados à sua condição inerente. Foi possível observar no material analisado que, de modo geral, as pessoas quando diagnosticadas com o vírus sentem a iminência da morte e consequentemente traçam poucos planos para o futuro; medo do abandono, discriminação e perdas sociais aparecem concomitantemente aos sentimentos de culpa, raiva e pânico. No entanto, o modo como o indivíduo enfrenta o diagnóstico depende de vários fatores, entre eles estariam os traços da personalidade, eventos de vida, estratégias de enfrentamento, a presença de uma rede de suporte social e também o estabelecimento de relações sociais. No tocante às estratégias de enfrentamento foi possível detectar no material discursivo a importância de estimar as relações das pessoas infectadas com amigos e familiares, além de ofertar um espaço para falarem dos seus sentimentos e angústias, a fim de promover o autocontrole, a aceitação de responsabilidade, a fuga-esquiva e a reavaliação positiva. No que se refere às doenças oportunistas e à ocorrência de internações, no Brasil houve uma diminuição significativa nos últimos anos devido ao seu engajamento no combate à epidemia e na adoção de políticas públicas mais equânimes. Tais avanços não parecem acompanhar os níveis de qualidade de vida, tendo em vista que os adolescentes ainda revelam dificuldades na própria adesão ao tratamento, quanto à mudança de comportamentos e nas relações socioafetivas. No que diz respeito à sexualidade do adolescente soropositivo, são raras as vezes que as políticas públicas a definem como um direito a ser protegido. A preocupação tem se centrado apenas no uso de medicamentos, negligenciando outros aspectos importantes na adesão ao tratamento que vão para além da medicalização. Questões como dimensão amorosa, intimidade e anseios reprodutivos são pouco evidenciadas; geralmente se fala no perigo que os “positivos” representam para os “negativos” reduzindo apenas o cuidado ao ato sexual. Na grande maioria dos casos, as primeiras experiências sexuais acontecem na adolescência; portanto, faz-se necessário conhecer as necessidades dos mesmos, principalmente quando são detectados com HIV/AIDS, para assim informá-los dos riscos e promover a conscienti- 127 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento zação de praticarem o “sexo seguro”, usando camisinha. O fato de ser soropositivo produz uma condição de “inferioridade” que pode levar os sujeitos a um desligamento do mundo podendo afetar tanto as suas relações interpessoais quanto a adesão ao tratamento, bem como, as novas possibilidades de vivenciarem sua sexualidade, agora no lugar de soropositivo. Destarte, é imprescindível a realização de um trabalho efetivo para com estes adolescentes garantindolhes cuidado integral e bem-estar; criando espaços para a orientação, aconselhamento, reflexão, trocas de experiências e estratégias de enfrentamento da doença. Finalmente, acreditamos que se houver um trabalho contínuo de educação sexual construído de modo dialógico, considerando problemas e dificuldades desses adolescentes, por si só eles adquirirão práticas seguras para não transmitirem a doença, logo, atuarão como sujeitos ativos e conscientes. Palavras-chave: sexualidade; adolescentes soropositivos; estratégias de enfrentamento. Contato: Janmeyca Rayanne Venancio de Oliveira, UFCG, E-mail: [email protected] RELAÇÃO AVÓS - NETOS Sala 408 - 10h CO-2331 O COMPARTILHAMENTO DOS CUIDADOS DOS NETOS POR AVÓS DA CLASSE MÉDIA Leila Sanches de Almeida, UFRJ, E-mail: [email protected] Fátima Maria Azeredo Melca, UFRJ, E-mail: [email protected] Luciana Puccci Santos, UFRJ, E-mail: [email protected] A família é a instituição mediadora entre o sujeito e a sociedade. Contém o sujeito e é seu principal agente de socialização. Na contemporaneidade, mudanças nas esferas política, econômica e social geraram formas múltiplas de família e novas questões. A conciliação da maternidade com o trabalho fora do lar é, entre outros, um grande desafio para a mulher da classe média. É necessário encontrar uma solução relativa aos cuidados de filhos pequenos (Almeida, 2006; 2012). Tendo em vista essas considerações este estudo, baseado na Rede de Significações (Rossetti-Ferreira et al., 2004) investigou, em um primeiro momento, as concepções sobre cuidados infantis em famílias cariocas. Participaram da pesquisa 68 sujeitos da classe média, de ambos os sexos e maiores de idade. Os participantes residiam nas Zonas Sul (23), Norte (25) e Oeste (20) do município. Para a coleta de dados, foi aplicada uma entrevista semiestruturada com os se- COMUNICAÇÕES ORAIS guintes eixos norteadores: conceito de família, divisão de tarefas, papéis familiares, cuidados dos filhos, educação, trabalho, lazer e relações familiares. As entrevistas eram gravadas e, uma vez transcritas, foram submetidas à análise de conteúdo (Bardin, 2000). Todos os entrevistados consideraram que a mãe é a figura ideal para os cuidados da criança pequena. Há o predomínio da concepção de que os cuidados infantis são inerentes à figura materna, expressando a naturalização do cuidado e do amor materno, de modo que a socialização primária da criança deve ser tarefa exclusiva da família. É como se a criança que é cuidada por uma figura não familiar ou em um ambiente fora do lar estivesse correndo o risco de ter seu desenvolvimento prejudicado em alguma esfera (Almeida, 2007). Assim, circunscrita à família surge na fala de 38% dos entrevistados a figura da avó como alternativa ao cuidado materno. Como apontado por Maranhão & Sarti (2008), é uma figura que significa a manutenção do modelo de cuidado individualizado dispensado por uma figura feminina no lar. Essa demanda pela figura da avó no compartilhamento dos cuidados e educação dos netos levou ao desenvolvimento de um segundo estudo que teve como objetivo compreender o que é ser uma avó cuidadora e os efeitos percebidos em si e em suas vidas pelo compartilhamento dos cuidados infantis com a filha ou nora que trabalham. Participaram do estudo 13 avós da classe média, que tinham até 72 anos de idade, moradoras do bairro de Copacabana. Seu tempo de residência em Copacabana era entre 25 e 60 anos. Com exceção de uma, todas tinham nível de educação superior. Foi realizada uma entrevista semiestruturada com as participantes, que tinha como eixos: envelhecimento, família, cuidados infantis e avós cuidadoras. A análise de conteúdo (Bardin, 2000) realizada revelou que as avós cuidadoras eram aposentadas, apesar de três terem retornado às suas atividades profissionais. Das 13 avós, 10 interromperam algumas atividades para cuidarem dos netos. As avós respondiam pelos cuidados de 19 netos. Seis avós cuidavam de dois netos e sete de um neto. Dois netos eram filhos de noras. Seus netos tinham entre zero e seis anos de idade. Em relação ao local de cuidados, 10 netos iam para a casa das avós, seis ficavam em suas casas e três moravam com as avós. Duas avós cuidavam em tempo parcial e uma cuidava, diariamente, nos horários que lhe era possível. As avós cuidavam da alimentação, higiene, lazer e, em alguns casos, dos deslocamentos dos netos para as instituições de educação infantil. Quanto à decisão de compartilhar os cuidados, dez avós revelaram que isso já era esperado, sempre foi assim na família. Onze delas também haviam tido o apoio de suas mães, que cuidavam dos seus filhos pequenos, para que elas pudessem trabalhar. As avós disseram estar muito felizes por cuidarem dos netos, apesar de acharem cansativo. Mas isso se tornava possível por- 128 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento que era um compromisso datado, pois os netos crescem e elas contavam com apoio, fosse do marido ou da própria mãe e de uma empregada ou babá. Elas se retratavam como idosas engajadas socialmente, solidárias com suas famílias, atentas ao envelhecimento saudável e com projetos de vida. Consideravam ter se tornado avós um acontecimento maravilhoso em suas vidas. Referiam-se ao amor que sentiam pelos netos como incomensurável. Os netos são objeto de um amor imenso e, muitas vezes, considerado maior que os já vividos anteriormente. Beauvoir (1990) considera que os sentimentos direcionados aos netos são os mais calorosos e mais felizes das pessoas. Provavelmente, porque o afeto aos netos é um sentimento puro que não traz em si obrigações maternais (Lins de Barros, 1987; Beauvoir, 1990). Sabemos que as emoções, integrantes dos afetos, têm múltiplas dimensões, é um fenômeno complexo (Neubern, 2000). Apesar de terem um substrato biológico, elas se constituem com as trocas sociais e formam um sistema emocional. A integração das emoções com outros processos psicológicos leva ao surgimento de novos sentidos, como acrescenta Neubern. Esses novos sentidos podem ser consequência de uma reconfiguração de outros sentidos atribuídos ao sujeito às suas vivências. Deste modo, cuidar dos netos pode trazer um sentimento de renovação ao velho, graças ao afeto, às emoções, aos sentidos emergentes. Pode fazer com que se esqueça da velhice. Afinal, os netos trazem a presença do novo para os idosos. Contudo, é difícil para um idoso cuidar de uma criança em tempo integral, mesmo com suporte social. A questão do envelhecimento foi abordada pelas avós e, apesar da variedade de respostas, prevaleceu que elas não se fixavam em suas idades cronológicas, preferindo ressaltar sua qualidade de vida. Se o compartilhamento dos cuidados dos filhos com as avós é desejado pelas famílias e têm boa receptividade e traz benefícios às avós, é necessário que as mães possam dividir melhor o tempo de cuidados dos filhos com essas idosas. Torna-se importante a implementação de políticas que flexibilizem o desempenho de atividades e o horário de trabalho das mulheres que têm filhos em idade pré-escolar, de modo que as mães trabalhadoras possam ampliar seu tempo de permanência em casa com os filhos. Palavras-chave: cuidados infantis; avós; família. Contato: Leila Sanches de Almeida, UFRJ, E-mail: [email protected] CO-1955 INTERAÇÕES DE AVÓS COM SEUS NETOS QUE ENCONTRAM EM SITUAÇÃO DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL NA PERSPECTIVA BIOECOLÓGICA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO COMUNICAÇÕES ORAIS Tamires Santos Rufino e Silva, Bolsa de mestrado CNPq, UFPA, E-mail: [email protected] Celina Maria Colino Magalhães, Bolsa de produtividade CNPq, UFPA, E-mail: [email protected] Lilia Iêda Chaves Cavalcante, UFPA, E-mail: [email protected] Os avós de hoje são pessoas dispostas a ajudar na condução da vida familiar, sobretudo em momentos de dificuldade (Sampaio, 2008), tornando-se figuras ativas e presentes nesse contexto ecológico, nos moldes em que pensou Bronfenbrenner (2011). Assim, os avós emergem no cenário contemporâneo como forma de apoio social com que os pais contam na tarefa de cuidar e educar suas crianças. Conforme Fonseca (1995), tanto no passado, como atualmente, crianças são criadas em vários arranjos familiares, e, por vezes, em instituições de acolhimento, sendo que os avós sempre foram uma alternativa comumente pensada quando os pais pretendem abrir mão do direito à guarda dos filhos. O estudo objetivou verificar como ocorriam as interações de crianças, em acolhimento institucional com seu avô e/ou avó, no momento em que esses familiares visitavam-nas. Participaram da pesquisa 25 avós, sendo 21 do sexo feminino e quatro do sexo masculino; e 31 crianças. A coleta de dados ocorreu em um espaço de acolhimento infantil na Região Metropolitana de Belém, sendo o ambiente privilegiado da pesquisa o pátio da instituição, por ser o local destinado à visita dos familiares às crianças. Foram registrados de maneira cursiva os dados observacionais sobre as interações estabelecidas entre as crianças e seus avós no momento da visita dos familiares no espaço da instituição. Os resultados foram orientados pela perspectiva bioecológica do desenvolvimento humano, tomando como base o modelo Pessoa-Processo-Contexto-Tempo: PPCT (Bronfenbrenner, 2011). Na categoria pessoa considerou-se a criança em desenvolvimento. As crianças que até o momento da coleta se encontravam no espaço de acolhimento institucional pesquisado e que haviam recebido visitas de seus avós somavam 31. Neste estudo, o núcleo Pessoa foi representado majoritariamente por: crianças do sexo masculino, possuíam mais de 12 meses, estavam há mais de seis meses na instituição, além disso estavam fora da escola, pois não tinham idade suficiente para frequentála. O Contexto corresponde ao ambiente físico e social da instituição. O ambiente físico em que ocorreu a maior parte dessas interações foi o pátio da instituição. No que tange ao ambiente social, avós e netos ficavam rodeados dos familiares de outras crianças também acolhidas pela instituição. O tempo de duração das visitas variou bastante. Pelo observado, a maioria dos avós passaram 120 minutos na instituição, iam visitar seus netos duas ou 129 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento três vezes por semana, e no que se refere ao tempo que permaneciam em interação com a criança, identificou-se que ficavam cerca de 120 minutos. Neste estudo, a análise bioecológica considerou as interações observadas entre os avós e seus respectivos netos no momento da visita. Identificou-se que o momento do encontro entre avó e/ ou avô com seu respectivo neto (a) ao longo da visita, em geral, foi marcado pelo estabelecimento de intensas trocas afetivas entre ambos, reconhecidas a partir da presença de comportamentos como abraçar, beijar e sorrir para o outro. Esta situação pode ser vista no seguinte episódio ilustrativo que foi extraído do relato de uma das sessões de observação realizadas.“A avó chega na instituição às nove horas, e dirige-se para o barracão. Chegando no local, senta-se em uma mesa longa e grande que está disponível. Ela permanece sentada à mesa e aguarda a chegada do neto. Após uns quinze minutos, uma educadora traz a criança até ela, que, imediatamente, o abraça, o beija. A criança retribui o carinho feito pela avó sorrindo para ela.” Participantes: avó (54 anos); neto (2 anos); educadora (34 anos). No episódio acima é possível perceber que há o estabelecimento de contato afetuoso entre a criança e a avó, que se manifesta por meio de comportamentos como abraçar e beijar um ao outro no momento em que a díade se encontra. Após este momento inicial que marca a saudação ao encontro por parte de avós e netos, inúmeras atividades são comumente realizadas pelas crianças e seu familiar. Este fato foi exemplificado no relato do episódio a seguir: “A avó anda até um banco que tem no barracão e senta com sua neta. [...] a avó retira um quebra cabeça de dentro da bolsa, e o coloca em cima da mesa e diz alegremente para criança: “Olha o que eu trouxe para você. Vamos brincar?” E a menina, responde entusiasmada: “ÊÊÊ”. Ambas ficam em torno de 45 minutos montando o brinquedo, ao terminar a avó olha para menina e lhe diz suavemente: “Ei minha linda, tão inteligente. Você conseguiu montar todinho [...].” (Participantes: avó - 50 anos; neta - 1 ano.) No episódio acima, observa-se uma dinâmica de interação intensa entre a avó e a criança, que se manifesta principalmente através da conversa que mantém entre si, o brincar junto, destacando assim a importância das interações que se dão através da brincadeira, visto ser esta uma atividade privilegiada para se observar o desenvolvimento da criança (Martins & Szymanski, 2004). O término da visita normalmente é marcado por comportamentos como beijar, abraçar e manifestações de protesto à separação, tal qual se pode observar no episódio ilustrativo relatado a seguir:“A avó beijou a criança no rosto, e disse lacrimejando, de maneira chorosa para ele: “Até mais!”. Se afastou da criança com os olhos cheios de lágrimas e demonstrava expressão de tristeza ao se despedir da neta.” (Participantes: avó56 anos ; neta- 7 meses). No episódio acima, percebe-se COMUNICAÇÕES ORAIS que a despedida entre a criança e sua avó é um delicado momento, sendo possível observar lágrimas, além de manifestações de tristeza que ganham expressão através de comportamentos que demonstram um sentimento de dor, tanto para a criança quanto para a avó. Os resultados deste estudo demonstram que as interações dos avós com seus netos ocorridas durante a visita podem ser vistas como de suma importância para o desenvolvimento dessas crianças, posto que a privação do convívio em família por elas experimentada e a permanência em instituições de acolhimento tendem a agravar a sua condição de vulnerabilidade e suas implicações sociais e emocionais. Pelo observado, entende-se ser possível afirmar que a convivência entre avós e netos mantida por meio das visitas pode favorecer o retorno da criança à sua família de origem. Palavras-chave: acolhimento institucional; avós; crianças institucionalizadas. Contato: Tamires Santos Rufino e Silva, PPGTPC/ UFPA, E-mail: [email protected] CO-1949 UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PSICOEDUCATIVA COM AVÓS QUE CRIAM SEUS NETOS COM INDÍCIOS DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO Emily Schuler, UNICAP, E-mail: [email protected] Jessica Carla Azevedo, UNICAP, E -mail: [email protected]; Prof. Dr. Cristina Maria de Souza Brito Dias, UNICAP, E-mail: [email protected] Devido ao aumento da longevidade humana, observase uma maior convivência entre as gerações, provocando uma mudança nos laços intergeracionais, quer no sentido positivo (proteção e ajuda mútua), quer no negativo (conflitos e interferências na criação). Os avós influenciam várias áreas da vida dos seus netos: emocional, escolar, social, formação de valores e do caráter dos netos. Eles são vistos como membros integrais da rede familiar, que dão apoio emocional e instrumental, não apenas aos netos como também aos filhos. Como as mulheres se envolvem mais nos cuidados com as crianças, a presente pesquisa focalizou as avós. Na atualidade observa-se, cada vez mais, uma crescente ocorrência de avós que cuidam de seus netos, ao menos um período no dia ou até definitivamente, com ou sem a ajuda dos pais. Os motivos que levam a isso são muito variados, entre os quais figuram: gravidez na adolescência, negligência, maus- tratos, trabalho, separação, doença, e falecimento por parte dos pais. Estudos constatam que cuidar dos netos é uma situação mescla- 130 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento da de sentimentos ambivalentes, pois pode trazer alegria e sentimentos de utilidade, mas acarreta muitas tarefas físicas e emocionais que para a pessoa idosa podem ser prejudiciais. Além disso, problemas de saúde ocasionados pelo estresse também podem ocorrer, como hipertensão, problemas cardíacos e dificuldades emocionais. Porém, se deve levar em consideração outros fatores que podem influenciar a saúde das avós que cuidam de seus netos, tais como o relacionamento com o cônjuge, a idade, a educação, a ocupação, e o próprio relacionamento com os netos. Muito comum é a ocorrência de níveis elevados de ansiedade e depressão em avós que cuidam dos seus netos, devido às pressões inesperadas que combinam os afazeres de cuidar dos netos com as necessidades emocionais por parte das avós e dos netos. Devido às dificuldades emocionais que o cuidado dos netos pode gerar, torna-se claro que as avós necessitam de uma assistência para lidar com o estresse que isso pode causar. Portanto, o objetivo geral desta pesquisa foi elaborar, implementar e avaliar os efeitos de uma intervenção psicoeducativa, dirigida a minorar a ansiedade e a depressão de avós que cuidam dos netos. Participaram da pesquisa 26 avós, divididas em dois grupos sendo o primeiro com 16 avós e o segundo com 10. Sua idade variou entre 45 e 86 anos e todas apresentaram um escore ao menos ‘leve’ no BAI (Inventário de Beck para Ansiedade) e/ou BDI (Inventário de Beck para Depressão), estabelecido como ponto de corte para a participação no grupo de intervenção psicoeducativa. Além disso, foi feita uma entrevista semiestruturada com perguntas relacionadas aos motivos que levaram as avós a cuidar de seus netos e como se sentem ao fazê-lo. Elas participaram da intervenção psicoeducativa que ficou composta por oito sessões semanais, abrangendo temas tais como: o desenvolvimento da criança e do adolescente, habilidades de comunicação e relacionamento familiar, cuidados pessoais e direitos dos idosos. O foco principal da intervenção psicoeducativa está em discutir temas psicológicos que visem ao desenvolvimento de habilidades e estratégias de enfrentamento diante de uma determinada dificuldade. Suas metas são educativas, de prevenção e de promoção da saúde psicológica. O objetivo da intervenção é trazer informações úteis para as avós que visem à reflexão para um melhor relacionamento entre as avós e suas famílias. Ao final da intervenção as avós foram retestadas e foi feita outra entrevista semiestruturada para saber como avaliaram a experiência. Os resultados obtidos indicam um efeito positivo da intervenção, uma vez que diminuíram os níveis de ansiedade e depressão. Desse modo, os escores médios de ambos os grupos foram os seguintes: no BAI de 17,3 para 11,94; e, no BDI de 11,8 para 10,67. Além disso, as avós relataram uma melhora nos seus relacionamentos, não apenas com os netos, mas com outros familiares. Pode-se também cons- COMUNICAÇÕES ORAIS tatar que apreciaram muito os conhecimentos obtidos e que pretendem repassá-los para conhecidos e vizinhos, tornando-se, assim, agentes de mudança em sua comunidade. Portanto, podemos concluir que a intervenção psicoeducativa atingiu seus objetivos. Espera-se que ela possa ser aperfeiçoada e utilizada por outros profissionais no intuito de oferecer suporte a essas avós. Apesar de ser um tema com, até então, pouca visibilidade, o estudo deste fenômeno é muito importante para compreender ambas as partes: os netos e as avós. Palavras-chave: avós; intervenção psicoeducativa; relacionamento familiar e intergeracional. Contato: Emily Schuler, UNICAP, E-mail: [email protected] CO-1956 METAS E ESTRATÉGIAS DE SOCIALIZAÇÃO DE AVÓS DE CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL Tamires Santos Rufino e Silva, Bolsa de mestrado CNPq, UFPA, E-mail: [email protected] Celina Maria Colino Magalhães, Bolsa de produtividade CNPq, UFPA, E-mail: [email protected] Lilia Iêda Chaves Cavalcante, UFPA, E-mail: [email protected] O processo de socialização da criança pressupõe a aquisição de valores, normas, costumes, papéis, conhecimentos e condutas transmitidos e regulados pela sociedade. Nesse contexto, a família constitui o nicho de desenvolvimento primário (Keller, 1998), oportunizando situações interativas entre seus membros. Assim, as características de personalidade e as cognições e crenças dos cuidadores infantis (como os avós) sobre as motivações e capacidades da criança, são significativas na modelação de práticas disciplinares (Bridges, Connell, & Belsky, 1988). Estudos como de Diniz e Salomão (2010) definem como metas de socialização os objetivos ou metas finais que deveriam ser idealmente alcançados, imaginados de maneira implícita ou explícita pelos avós em relação à forma que gostariam que seus netos fossem. Ou seja, diz respeito aos conhecimentos, valores e padrões de comportamento que os avós esperam que seus netos adquiram à medida que crescem. Tais metas norteiam as estratégias dos avós na tentativa de atingir os objetivos colocados estabelecendo um compromisso com seus valores pessoais e sociais. Para Bandeira et al. (2009), conhecer as metas de socialização é importante na perspectiva da qualidade do cuidado e possíveis influências no desenvolvimento infantil, principalmente quando se trata de crianças que 131 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento estão em situação de acolhimento institucional. O estudo teve como objetivo investigar as metas e estratégias de socialização dos avós acerca do futuro de seus netos que se encontram em instituições de acolhimento. Participaram da pesquisa 25 avós, sendo (21 do sexo feminino e quatro do sexo masculino), e ainda 31 crianças, de ambos os sexos. A coleta de dados ocorreu em um espaço destinado ao acolhimento infantil, serviço este localizado na região metropolitana de Belém-PA, que acolhe crianças de zero a seis anos em situação de vulnerabilidade social. Para coleta de dados os participantes responderam a um roteiro de entrevista semiestruturada desenvolvido por Harwood et al. (1996), e adaptada para o contexto brasileiro por Seidlde-Moura et al. (2008), composta por duas questões abertas que buscaram investigar as expectativas dos pais com relação ao futuro dos seus filhos. As questões se referiam às qualidades que os avós desejavam que seu neto(a) tivesse como adulto e o que eles como avós achavam necessário fazer para que a criança pudesse desenvolver essas qualidades. As respostas para a primeira questão Que qualidades você desejaria que seu neto(a) tivesse como adulto? foram classificadas segundo as seguintes categorias: autoaperfeiçoamento, autocontrole, emotividade, expectativas sociais e bom comportamento. Por sua vez, as respostas à segunda pergunta O que você acha necessário para que seu neto possa desenvolver as qualidades apontadas por você? foram classificadas em termos das possíveis estratégias de ação adotadas pelos pais. Harwood et al. (1996) e Seidl-de-Moura et al. (2008) sugeriram as seguintes classificações para estas estratégias: centradas em si e centradas no contexto. Os resultados apontam que no que se refere à primeira questão a categoria expectativas sociais foi a mais cotada pelos avós pesquisados, apresentando 42 menções. Como exemplo das respostas relacionadas a esta categoria, têm-se que as metas dos avós expressavam a sua preocupação com o neto/a no sentido de ser dedicado aos estudos, ter uma profissão, concluir um curso de graduação, ser trabalhador, ter bom caráter, ser alguém na vida, ser uma pessoa de bem, realizar seus sonhos, entre outras. Uma das respostas de uma avó que melhor expressou esse tipo de meta de socialização está contida na frase a seguir: “Eu gostaria que meu neto estudasse, fizesse uma faculdade, tenha uma profissão, e uma boa qualidade de vida para ofertar a sua família quando a tiver (A8)”. O predomínio desta categoria pode estar ligado ao fato de que durante todo o período da vida do indivíduo este é obrigado se colocar objetivos em função de expectativas sociais predominantes na sociedade e na cultura em que vive. Nas sociedades modernas, principalmente as ocidentais e industrializadas em que está se transformando a brasileira aos poucos, as pessoas devem estudar, destacar-se no período escolar e alcançar a estabilidade profissional, trazendo à tona o respeito às aspirações e aos interesses que COMUNICAÇÕES ORAIS marcam a tão valorizada individualidade apregoada pela sociedade capitalista. No que se refere à segunda questão, observou-se que a categoria que obteve maior destaque foi a centrada em si mesmo, apresentando 35 menções, o que leva à suposição de que os avós acreditam que sua participação é muito importante para que a criança possa desenvolver certos atributos, já que o exemplo e os ensinamentos que proporcionam seriam as principais formas de fazer com que seus netos alcançassem determinadas qualidades em seu desenvolvimento, como pode ser observado nas seguintes falas: “Acredito que ter uma boa criação, ter exemplo da família, amor e carinho por parte da família” (A5). O predomínio da categoria pode estar atrelado à crença nutrida pelos avós de que, assim como os pais, possuem em relação à criação e educação do neto inquestionável responsabilidade, ou seja, reconhecem que têm ainda um valioso papel na sociedade que é o de fornecer afeto e prover cuidados primários à criança cujos pais estão impedidos ou em dificuldade para assumir suas responsabilidades. Nesse sentido, o valor que os avós conferem à educação dos netos pode atuar como um fator decisivo para o desenvolvimento da criança (Diniz & Salomão, 2010), uma vez que a criança é influenciada pelos valores transmitidos desde os primeiros anos de vida e que estes consideram importantes. Entretanto, é preciso considerar que não existe um procedimento eficaz para alcançar as metas educativas traçadas pelos avós (Bandeira, 2009), pois esse processo depende tanto de fatores contextuais (características da sociedade, da cultura, da família) como pessoais (da criança, dos cuidadores primários). Portanto, na criação de filhos e netos, o importante é ser flexível e tentar aplicar diversas estratégias (Bandeira, 2009) levandose em consideração a situação, a idade da criança e o seu comportamento. Isto manifesta a complexidade da tarefa parental de educar crianças, que exige por parte do familiar responsável um constante esforço, principalmente quando se compreende que o desenvolvimento infantil recebe influências dos diversos contextos dos quais a criança participa, não apenas da família. Palavras-chave: avós; crianças em situação de acolhimento; metas e estratégias de socialização. Contato: Tamires Santos Rufino e Silva, UFPA, E-mail: [email protected] ÉTICA, MORAL E VALORES NA ESCOLA Sala 417 - 10h CO-2118 DESENVOLVIMENTO MORAL E PRÁTICAS EM SALA DE AULA NA PERSPECTIVA SOCIOCULTURAL 132 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Alia Barrios, UnB, E-mail: [email protected] Angela Uchoa Branco, UnB, E-mail: [email protected] Apoio Financeiro: CAPES Nos últimos anos, o desenvolvimento moral vem se constituindo um campo específico de pesquisa na psicologia do desenvolvimento, com diversos estudos que abrangem o tema por vários ângulos e diferentes perspectivas, com o predomínio da abordagem cognitivo-construtivista (Killen & Smetana, 2006). Algumas pesquisas se centram no estudo das concepções que as crianças têm sobre questões e conceitos relativos à moralidade, como regras morais, virtudes e noção de justiça, independentemente de suas próprias experiências nos contextos socioculturais em que se desenvolvem. Outras pesquisas estudam o papel que a educação formal pode ter no desenvolvimento moral. O estudo do desenvolvimento moral a partir de uma perspectiva teórica histórico-cultural, ou mesmo sociocultural, ainda é pouco expressivo na área. Nosso trabalho visa contribuir para este estudo, buscando identificar e analisar em contexto sociocultural específico (escola) o conjunto de fatores que atuam de forma sistêmica na canalização de ações e narrativas caracterizadas como de significação moral. Dando um destaque especial ao papel ativo da criança em desenvolvimento, o estudo busca, ainda, conhecer as concepções e crenças morais a partir das quais as crianças analisam e ressignificam suas próprias experiências no contexto escolar. A complexidade do fenômeno exige a adoção de uma perspectiva que enfatize a interdependência das dimensões psicológicas da cognição, da emoção e da ação intencional na ressignificação das crenças e valores sócio-morais que orientam a ação do sujeito no contexto de suas relações. Além disso, é preciso melhor conhecer as práticas pedagógicas e socioculturais adotadas pelos professores em sala de aula, e de que maneira estes estão gerando o desenvolvimento moral através do diálogo coconstrutivo, ou, ao contrário, estão agindo na contramão deste desenvolvimento pela adoção de práticas geradoras de conformismo e heteronomia. Adotando como fundamentação teórico-metodológica a perspectiva sociocultural construtivista, o objetivo principal da pesquisa foi identificar e analisar aspectos relevantes do discurso e argumentação de um grupo de alunos do quinto ano de uma escola pública do Distrito Federal, bem como aspectos relevantes das práticas e discursos de seu professor. Desta forma, investigaram-se as narrativas produzidas e as dinâmicas interativas típicas das práticas sociais e pedagógicas adotadas no contexto da turma e relacionadas à questão do desenvolvimento moral no ambiente escolar. A análise microgenética das interações sociais professor-aluno e aluno-aluno, e a análise da elaboração discursiva das crianças e do educador, COMUNICAÇÕES ORAIS foram parte essencial da metodologia qualitativa utilizada no estudo. Para identificar e analisar as concepções e crenças morais das crianças e do próprio professor, solicitou-se que este planejasse duas atividades estruturadas com o objetivo expresso de promover discussões entre as crianças sobre o tema da pesquisa. Estas atividades estruturadas pelo professor foram, então, filmadas e analisadas. Além disso, realizou-se uma sessão de grupo focal onde a pesquisadora solicitou às crianças que discutissem suas experiências e situações hipotéticas envolvendo questões de ordem moral, significativas para elas. Também foram realizadas duas entrevistas com o profissional, para analisar sua elaboração discursiva sobre questões de natureza moral. Dentre os resultados, observou-se que na escola pesquisada prevalece uma visão bastante equivocada do que significa o desenvolvimento moral das crianças e do papel da escola neste desenvolvimento, isto apesar de um discurso aparentemente inovador que aponta o desenvolvimento global da criança como um dos principais objetivos da escola pesquisada. Segundo o professor, indicado pela direção como excelente educador, o desenvolvimento moral se resume a um conjunto de regras e normas relacionadas à organização e à disciplina, as quais, segundo as observações feitas em sala de aula, eram apresentadas para as crianças de forma assimétrica e jamais discutidas. As crianças, entretanto, apresentaram habilidades concretas para analisar de forma abrangente suas experiências educativas e sociomorais, revelando a possibilidade de terem um papel mais ativo em seu próprio desenvolvimento moral. As possibilidades reais das crianças, porém, não foram aproveitadas pelo professor através de diálogos visando analisar e discutir questões de moralidade, o que resultou na perda de todo um conjunto de situações concretas que surgiam no cotidiano e no contexto das situações estruturadas, e que poderiam ter um papel fundamental para o desenvolvimento moral dos alunos. Os resultados do presente estudo enfatizam a importância e a necessidade da formação dos professores e da reestruturação do papel da escola em relação ao desenvolvimento moral dos alunos. A partir desses resultados e de outros estudos realizados em diferentes contextos, consideramos que um dos aspectos importantes na formação do professor relaciona-se à necessidade de uma mudança na visão negativa que a maioria dos docentes tem em relação a situações de conflitos, que surgem no contexto das interações e relações interpessoais de seus educandos. Outra questão fundamental para a formação docente é a compreensão da necessidade de participação ativa das crianças no processo de delimitação das regras e normas que regem seus relacionamentos, participação ativa nas diversas atividades que realizam, e, sobretudo, do necessário incentivo ao desenvolvimento de sua autonomia, responsabilidade e capacidade crítica e reflexiva 133 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento (Branco & Lopes de Oliveira, 2012). O presente estudo amplia, assim, a compreensão do desenvolvimento moral desde uma perspectiva sociocultural que enfatiza o caráter semiótico, dialógico e afetivo dos processos envolvidos no desenvolvimento moral, destacando o papel ativo do sujeito. Pesquisas em relação a estratégias participativas a serem implementadas no contexto escolar e estratégias de formação inicial e continuada de professores poderão, portanto, contribuir para promover o desenvolvimento moral dos estudantes, bem como favorecer o seu desenvolvimento integral como pessoas e cidadãos comprometidos eticamente com a construção de uma sociedade mais democrática. Palavras-chave: desenvolvimento moral; ensino fundamental; perspectiva sociocultural construtivista. Contato: Angela Uchoa Branco, Instituto de Psicologia, UnB, E-mail: [email protected] CO-2284 A REINVENÇÃO DA EDUCAÇÃO E O TRABALHO COM ÉTICA, VALORES E CIDADANIA NA ESCOLA Ulisses Araújo, USP, E-mail: [email protected] Buscando construir novos modelos educativos coerentes com as demandas de reinvenção da educação, em 2011 iniciamos um curso de pós-graduação na Universidade de São Paulo em parceria com a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP), semipresencial, gratuito, oferecido a 1.000 professores oriundos de doze cidades do estado de São Paulo: Ética, Valores e Cidadania na escola (EVC). Um dos aspectos centrais desse projeto foi promover a formação de professores de forma ativa, dentro do conceito learning by doing, levando-os a conhecer novos paradigmas educacionais experienciando ativamente projetos sobre temáticas de ética e de cidadania; empregando diferentes ferramentas pedagógicas e linguagens na produção do conhecimento; e trabalhando em grupos colaborativos e cooperativos na busca por resolução de problemas da realidade escolar em que atuam. A seguir, apresentaremos a estrutura desse curso de formação de professores, explicitando como o seu funcionamento implicou em mudanças nas dimensões dos conteúdos, da forma e das relações entre os sujeitos da educação; e traremos exemplos dos processos desenvolvidos pelos alunos. A dimensão dos conteúdos: Tendo como temática questões de ética e de cidadania, o primeiro pressuposto do curso foi a sua concepção interdisciplinar, rompendo com as estruturas disciplinares tradicionais da universidade e da homogeneidade da formação dos estudantes que buscam esse tipo de curso. Nes- COMUNICAÇÕES ORAIS se sentido, os conteúdos trabalhados foram organizados de forma a cruzar as tradicionais fronteiras e métodos disciplinares. Tendo que ser organizado em disciplinas, devido à estrutura acadêmica da Universidade, as disciplinas ofertadas na formação dos professores foram as seguintes: Temas Transversais e a estratégia de projetos; Educação e construção de valores; Educação comunitária e para a cidadania; Saúde e cidadania na escola; Educação em direitos humanos; Convivência democrática na escola; Ética e profissão docente; Educação Especial / Inclusiva. Como pode ser observado pelo título das disciplinas, além de uma concepção propositiva que busca direcionar os comportamentos e reflexões dos alunos (professores de educação básica) em direção a temáticas de natureza pró-social, os conteúdos abordados extrapolam as limitações das disciplinas tradicionais para tratar de temáticas de ética e de cidadania, articulando em sua organização conhecimentos de áreas distintas como saúde, pedagogia, sociologia, filosofia e direito. A dimensão da forma: A reinvenção da educação leva a repensar os tempos, espaços e relações nas instituições de ensino, incorporando propostas educacionais baseadas em “open and distance learning (ODL)”, espaços colaborativos e cooperativos de produção de conhecimento, e a utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) nas relações de ensino e de aprendizagem. Numa perspectiva de blended learning, o curso EVC uniu encontros presenciais com quatro horas semanais com a criação de um Ambiente Virtual de Aprendizagem que permitia e solicitava outras formas de relação com o conhecimento. No curso que estamos descrevendo de formação de professores tivemos como preocupação central a acessibilidade e a convergência de diferentes linguagens e ferramentas na própria concepção do curso e do Ambiente Virtual de Aprendizagem, dando condições para que pessoas com diferentes deficiências pudessem participar, e, ao mesmo tempo, demonstrando coerência com pressupostos de ética e de cidadania. Cada uma das disciplinas do curso era composta por 14 videoaulas, sendo que a cada semana duas delas eram disponibilizadas para os alunos no Ambiente Virtual de Aprendizagem. Destaca-se que cada videoaula era gravada também em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e legendadas, para garantir acessibilidade a pessoas com distintas deficiências. Cada uma dessas videoaulas tinha entre 15 e 20 minutos de duração, tempo suficiente para apresentar de maneira esquemática o estado da arte de cada um dos temas em questão. A cada semana, também visando enriquecer as experiências de aprendizagem e as reflexões dos alunos, os docentes indicavam outros vídeos e filmes disponíveis gratuitamente na internet, em plataformas bastante conhecidas como o youtube (www.youtube.com) e vimeo (http://vimeo.com). A UNIVESP TV produziu e exibiu mais de 10 programas 134 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento especiais para o curso de especialização em ética, valores e cidadania na escola, sobre temáticas como: Educação em valores (http://youtu.be/hilOC-1ZlEM); Representação Social dos Direitos humanos (http://youtu.be/PrZsHduiv6E); Práticas educacionais em direitos humanos (http:// youtu.be/dRtykdQy6Ts); A criança que não aprende (http://youtu.be/V_0noT10qVc); Interdisciplinaridade e transversalidade (http://youtu.be/cNpTwye78Vk); Dislexia (http://youtu.be/tyyd09_xfTI); Violência nas escolas (http://youtu.be/Z6lS_WQ0nWg); e outros mais. A dimensão das relações entre os sujeitos da educação: O modelo adotado foi o de encontros presenciais semanais obrigatórios, com carga horária de 4 horas, mediados por um professor formador para orientar, animar, incentivar os pequenos grupos de estudantes na busca de informação e conhecimentos que extrapolassem aqueles disponibilizados no AVA, e para o desenvolvimento de pesquisas relacionadas à resolução de problemas elaborados pelos próprios alunos em seu contexto de trabalho, vinculados às temáticas abordadas pelo curso. O caminho seguido foi o da Aprendizagem Baseada em Problemas e por Projetos (ABPP). Reunidos em grupos de seis estudantes e tendo um tema central como referência, em nosso curso cada grupo elabora um problema de pesquisa a ser investigado empiricamente, durante 16 semanas, baseado em questões importantes da realidade cotidiana em que vivem. Assim, o problema que investigam não é definido pelos docentes do curso, e sim pelos próprios estudantes, mudando de forma radical o eixo nos processos de aprendizagem. De temáticas gerais como “Construção de valores de ética e de cidadania”, no primeiro quadrimestre; e “Os valores de democracia e de direitos humanos na nossa escola”, no segundo quadrimestre; cada grupo, após algumas semanas de estudos aproximando-se, mapeando e buscando informações sobre como a temática reflete no cotidiano de suas escolas, elabora um problema de pesquisa, a ser investigado de forma colaborativa e cooperativa nos meses subsequentes. Considerações finais: O curso EVC aponta caminhos para uma educação moral em que metodologias ativas de aprendizagem, articuladas com novas e diversas Tecnologias de Informação e Comunicação e a preocupação com a ética pessoal e profissional, configuram-se como ferramentas poderosas para a transformação da realidade e a construção da justiça social. Palavras-chave: ética; valores; cidadania. Contato: Ulisses Ferreira de Araujo, USP, E-mail: [email protected] CO-2168 APRENDIZAGEM DE ÉTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL COMUNICAÇÕES ORAIS Maria Judith Sucupira da Costa Lins, UFRJ, E-mail: [email protected] Ana Lidia Felippe Guimarães,UFRJ, E-mail: [email protected] Ana Celi Pimentel Souza, UFRJ, E-mail: [email protected] Leni Ferreira Theodoro, UFRJ, E-mail: [email protected] Monique Maiques Resende, UFRJ, E-mail: [email protected] Educar moralmente uma criança é preocupação que se observa nos sistemas de ensino dos mais variados países, de modo que Educação Moral está sempre incluída entre as atividades escolares. No Brasil a presença dessa disciplina no currículo escolar é histórica embora tenha sido modificada pela atual legislação brasileira (BRASIL, 1996) por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) que introduz o Tema Transversal Ética com a indicação de que deve perpassar todos os conteúdos escolares. A prática pedagógica do Tema Transversal Ética (LINS, 2004) é frequentemente discutida pelos educadores visando a maior eficácia dessa proposta. A vida em sociedade exige de cada cidadão a ética de modo que as desigualdades sejam superadas e que todas as pessoas possam viver na plenitude dos Direitos Humanos. Pesquisas foram desenvolvidas (DEVRIES & ZAN, 1998) sobre as relações sociais das crianças e a construção da cidadania tendo como eixo de sustentação a vivência ética. Muitas pesquisas nessa área têm sido relatadas (LINS, 2000, 2007a) sempre buscando descobrir os melhores caminhos para o ensino e a aprendizagem de ética nas escolas com o objetivo de que os estudantes se desenvolvam integralmente, visando ao bem comum e reconhecendo o outro em sua dignidade. Essa comunicação apresenta a pesquisa qualitativa (ALVES-MAZZOTI, 1998) iniciada em 2009 e concluída em 2012 na qual foram obtidas informações referentes à aprendizagem de Ética nos primeiros anos do Ensino Fundamental. Ética é um problema fundamental no âmbito da Psicologia do Desenvolvimento. Ética se aprende desde a infância e a prática da Ética é indispensável para a vida em comum das pessoas para que todos vivam segundo a igualdade pertinente ao ser humano. O problema proposto foi a realização da aprendizagem de ética por meio de virtudes. Foram selecionadas seis escolas, públicas e particulares. Uma turma do segundo ano do Ensino Fundamental foi observada. No ano seguinte, com os mesmos alunos, observamos o ensino e a aprendizagem de ética no terceiro ano do Ensino Fundamental. A fundamentação teórica se encontra na perspectiva da Ética pelas virtudes elaborada por Aristóteles (1965), filósofo do século IV a.C., cuja obra Ética a Nicômaco é, sem dúvida, não só um marco nos estudos de Ética, 135 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento mas também de grande atualidade. A filosofia moral de Alasdair MacIntyre (1981), que parte da premissa aristotélica da ética por meio de virtudes para uma reflexão prática para a vivência da ética nas sociedades do século XXI foi a mais importante complementação teórica. Também foram levadas em consideração as contribuições de Jean Piaget (1973) concernentes ao desenvolvimento do juízo moral da criança e as informações trazidas por Lawrence Kohlberg (1981) que mostram a universalidade do desenvolvimento da capacidade moral da criança. O enfoque da Psicologia do Desenvolvimento levou os pesquisadores a iniciarem e acompanharem todo o trabalho tendo em vista as descrições e os comentários desses dois autores. Trata-se de uma pesquisa ação baseada na metodologia Barbier-Lins, que é a utilização da Escuta Sensível segundo René Barbier (1997) acrescida da prática de intervenção elaborada por Lins e colaboradores (2007). O material recolhido foi de grande riqueza e exigiu cuidadosa análise, de modo que durante os anos de 2011 e 2012 os pesquisadores se dedicaram à organização das observações e ao trabalho de identificação de unidades de significado, categorização e inferências segundo a Análise de Conteúdos de Laurence Bardin (1996). A ética nessa pesquisa foi enfatizada segundo a prática das virtudes para que os direitos humanos possam vir a ser realçados. Amizade, Temperança, Honestidade, Justiça e Perseverança foram as virtudes selecionadas conforme critérios que as apontavam como as mais próximas do desenvolvimento infantil. Por meio de atividades escolares dentro dos conteúdos curriculares próprios dos dois anos do Ensino Fundamental, os alunos tomaram conhecimento dessas virtudes e as exercitaram. Leitura de fábulas e debates sobre os personagens e quanto à moral da história, competições esportivas, conceituações e exemplificações por meio de desenho e outras técnicas, redações, dramatizações, exercícios de análise de situações concretas acontecidas em sala de aula e extraclasse, e trabalhos em grupos foram amplamente experimentados pelos alunos durante esses dois anos. Cabe ressaltar a inestimável cooperação de todas as professoras que se mostraram interessadas na pesquisa e que introduziram o Tema Transversal Ética em seus programas de ensino e planos de aula. Observamos que houve iniciativas das professoras referentes a essa preocupação em todas as escolas. Em duas escolas os resultados da vivência ética foram superiores e atribuímos essa diferença à própria concepção filosófica da escola como um todo que oferecia uma estrutura apropriada ao desenvolvimento da criança numa perspectiva ética. Nessas duas escolas havia na parede da sala de aula quadro de regras elaborado a partir de discussão prévia dos alunos. Nenhum das escolas faz parte de alguma ordem religiosa. Uma das escolas é fora do Brasil, três são no Estado do Rio de Janeiro, dentre essas uma é pública e a quinta esco- COMUNICAÇÕES ORAIS la está situada no Estado de Pernambuco. Todas as escolas eram frequentadas por meninos e meninas. Foram observadas algumas dificuldades concernentes às virtudes, incluindo a compreensão do significado de cada uma delas; entretanto, isso foi contornado pelas professoras que organizaram atividades para as crianças se desenvolverem em cada uma delas. Houve uma professora que teve a ideia de iniciar os trabalhos com o auxílio do dicionário depois de ter pedido aos alunos que se expressassem livremente sobre o que entendiam acerca da virtude em foco. A partir das práticas pedagógicas de todos os professores e observando as mudanças de comportamento, podemos concluir que houve um desenvolvimento das crianças no sentido de eliminar as desigualdades surgidas em sala de aula. Os alunos ficaram altamente motivados e foi possível observar em suas atitudes o cuidado em ser ético. Os resultados mostram o desenvolvimento da compreensão e prática das virtudes em todos os alunos e sugerem que se deva insistir no oferecimento de oportunidades para que aprendam ética na escola por meio do Tema Transversal. Palavras-chave: ética; aprendizagem; desenvolvimento infantil. Contato: Maria Judith Sucupira da Costa Lins, UFRJ, E-mail: [email protected] CO-2468 A ÉTICA E A EDUCAÇÃO INFANTIL: UM ENCONTRO NO ‘CHÃO’ DA ESCOLA Lúcia Helena Cavasin Zabotto Pulino, UnB, E-mail: [email protected] Polianne Delmondez, UnB, E-mail: [email protected] Este texto se propõe a refletir sobre as condições teórico-práticas para uma educação ética na contemporaneidade. Como introduzir a questão da ética em escolas de educação infantil? Esta é a pergunta que tem se colocado aos profissionais que se dedicam à educação de crianças pequenas. Antes deles, os próprios pais se preocupam em pensar maneiras de lidarem com questões de mediação de conflitos entre filhos, adotando atitudes justas, que mostrem às suas crianças que existem regras sociais de conduta e relacionamento que regem nossas ações e lhes indicam limites e possibilidades de atuação junto aos pais, irmãos e amigos. Efetivamente, essa função - de educar para uma ética das relações - tem tradicionalmente constituído o papel dos educadores, pais e professores. Também, encontra-se uma significativa produção escrita de teóricos da psicologia e da educação, sobre como se desenvolve intelectual, afetiva, social e moralmente a criança, o que tem subsidiado os educadores na elabo- 136 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento ração de propostas pedagógicas que considerem as condições da criança e seu momento de desenvolvimento, facilitando, assim, que se promova uma educação voltada para a compreensão e a prática dos direitos humanos na escola. Continuamos, entretanto, a nos colocar a pergunta relativa à introdução da questão da ética das relações, dos direitos humanos, do respeito à diferença, da atenção à diversidade, na escola de educação infantil. Por que continuamos, pais e professores, preocupados com isso, como se fosse uma novidade, como se nunca este tivesse sido o desafio da educação? Não tem sido satisfatória a contribuição dos teóricos da Psicologia, dos pedagogos, no sentido de orientar os professores para uma educação que envolva a perspectiva ética das relações? Será essa situação motivada apenas pela reconhecida dificuldade em se colocar a teoria em prática? Qual o sentido dessa preocupação, que tem envidado esforços não só das instituições de ensino, mas dos próprios órgãos oficiais, brasileiros e internacionais, que criam políticas públicas voltadas para a educação para os direitos humanos e a diversidade étnica, racial, de gênero, religião, dentre outras? Qual a especificidade desse processo de questionamento, como ele traduz a preocupação dos educadores que convivem com a criança no cotidiano escolar? Como podemos ler a insatisfação de professores, que se queixam do fracasso em conseguir lidar com os alunos, com seus pais, com as propostas governamentais, com os temas ligados à educação ética? Como podemos interpretar o discurso dos pais, que responsabilizam a escola e os professores pela formação ética de seus filhos e, ao mesmo tempo, são responsabilizados por, dizem os professores, terem abandonado seus filhos, entregando-os à escola, e deixando de cumprir seu papel de pais? Finalmente, tomando essas questões como elementos motivadores, elegemos algumas palavras ou termos e expressões que servirão de pistas para traçarmos um percurso de pensamento que nos permita refletir sobre as especificidades da educação ética na contemporaneidade e sobre a possibilidade de a abraçarmos, como educadores, com outra disposição que não a de vítimas, mas a de protagonistas. Nossas pistas serão: infância, humano, história, subjetividade, diversidade, experiência, direitos humanos, educação, ética, política. Cada uma será tomada do ponto de vista etimológico, explorando-lhe o sentido, desde sua origem e seu processo de significação histórico-cultural. O que é infância? Esta a pergunta que vai problematizar a palavra ‘infância’. Inicialmente, tomaremos a infância no contexto da Psicologia do Desenvolvimento, de orientação sócio-histórico-cultural, como período inicial da vida, em que o ser humano, aqui criança, gerada e nascida num determinado momento histórico e numa dada cultura, introduz-se na vida social e, relacionando-se com seus semelhantes, constrói sua identidade, ao mesmo tempo em que constrói o conhecimento do COMUNICAÇÕES ORAIS mundo. Considerando esse processo de desenvolvimento individual como característico da espécie humana, introduziremos a palavra ‘humano’ como tema, continuando a assumir a abordagem sócio-histórico-cultural e reintroduzindo o termo ‘infância’, agora para abarcar mais do que o período inicial da vida da criança, mas como uma concepção filosófica (Arendt, 1987, Agamben, 2005, Larrosa, 2000), que toma a infância como condição do humano. A partir dessa construção teórica, elegemos o termo ‘história’, assumindo-o em sua complexidade, numa perspectiva não linear e progressiva, mas com um olhar a partir do presente, dando a ela um sentido relacionado ao processo de tornar-se, ao devir, inspirado nas ideias foucaultianas. Com esses elementos, nessa mesma perspectiva teórica, problematizaremos a noção de ‘subjetividade’, marcada pela diversidade, que envolve processos de subjetivação, do tornar-se sujeito, ou do devir sujeito, na contemporaneidade. Aqui, ‘diversidade’ é vista como cultural, envolvendo distintos processos de subjetivação, que compreendem discursos, práticas, crenças, visões de mundo, estéticas diversas. São incluídas as diversidades de etnias e raças, de gênero, de religião, de condições intelectuais, afetivas e de condições globais de desenvolvimento da pessoa. Coloca-se ênfase no ‘outro’, no ‘diferente’, e nas possíveis relações sociais que se engendram a partir da presença desse ‘diferente’, apontando para uma perspectiva que pensa a cidadania, os direitos humanos, a educação e a práxis social. A ‘ética’, aqui é assumida em sua complexidade, na dimensão da diversidade. Uma ética do humano como sujeito que se constitui num processo de tornar-se, ao longo de toda a vida, no contexto das relações e valores sociais, a partir do outro, mas que, especialmente, se inventa e reinventa, apropriando-se dos valores e ideias vigentes, superando propostas de homogeneização, vivendo uma existência marcada pela singularidade, na perspectiva do cuidado de si e do outro. (Foucault, 2006) Uma ética solidária - em que as pessoas constroem juntas, maneiras de viverem, de pensarem, de sentirem, de produzirem resistência - é a dimensão que, acreditamos, pode dar conta de se constituir como uma política cidadã, na contramão de uma sociedade individualista e competitiva. A educação ética, longe de ser uma prática moralizante, normativa e prescritiva, constitui-se como uma proposta de experiência, que, como tal, se processa no cotidiano da comunidade escolar, em seus discursos e práticas, implicando cada um e todos os sujeitos envolvidos, numa dinâmica crítica e criativa, que os atravessa e transforma em coautores de sua história, comprometidos com o ethos humano do cuidado. Palavras-chave: processos de subjetivação; educação infantil; ética. Contato: Lúcia Helena Cavasin Zabotto Pulino, UnB, E-mail: [email protected] 137 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento DIFERENTES DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO I Sala 418 - 10h CO-1959 RELAÇÃO ENTRE ESTRATÉGIAS DE CICLO DE VIDA E PERCEPÇÃO DE (IM)PREVISIBILIDADE NA INFÂNCIA Cézar Donizetti Luquine Jr., IP/USP, E-mail: [email protected] Anna Beatriz Carnielli Howat-Rodrigues, IP/USP, E-mail: [email protected] Patrícia Izar, IP/USP, E-mail: [email protected] Apoio Financeiro: FAPESP (Procs. Nº. 11/23494-3 e 12/22753-8) A Teoria dos Ciclos de Vida propõe que os investimentos em reprodução e sobrevivência, realizados na vida adulta, relacionam-se a aspectos do ambiente infantil (Ellis et al., 2009). A percepção de imprevisibilidade no ambiente infantil é um dos fatores fundamentais no desenvolvimento dessas estratégias de investimento. Na infância, ela está muito relacionada à família: transição e perda de figuras parentais, capacidade de prover recurso etc. (Ross & Hill, 2000, 2002). As características de (im)previsibilidade do ambiente podem influenciar o adiantamento ou o adiamento dos marcos. Além da imprevisibilidade, as diferenças sexuais também podem afetar o investimento nos domínios reprodutivo e somático. A psicologia evolucionista considera que as diferenças sexuais em investimento parental (alto investimento materno e baixo investimento paterno na prole) contribuem para a variedade de estratégias reprodutivas humanas (Trivers, 1972; Hill, Ross & Low, 1998; Hill, Jenkins & Farmer, 2008). Esta pesquisa teve por objetivo analisar a relação entre a percepção de imprevisibilidade infantil e o desenvolvimento das estratégias de Ciclo de Vida, como o adiamento ou adiantamento de fases e eventos relevantes (marcos), levando em consideração as diferenças sexuais. Participaram da pesquisa 211 pessoas: 121 participantes eram mulheres com idade média de 21,60 (dp=2,19) anos e 90 eram homens com idade média de 21,46 (dp=2,0) anos. Seu perfil, caracterizado pela aplicação de um questionário sociodemográfico, era de pessoas sem bens próprios: 94,8% (n=200) dos participantes não tinham casa própria (em seu nome) e 86,3% (n=182) não tinham carro próprio. Quanto a relacionamentos amorosos e moradia, 2,4% (n=5) eram casados, 53,6% (113) não tinham namorado (a) e 37,9% (n=80) já não moravam com os pais. Apenas um participante tinha filho, porém 82,5% (n=174) já tinham tido sua primeira relação sexual. Quanto à escolaridade e trabalho, 97,2% dos participantes (n=205) haviam cursado COMUNICAÇÕES ORAIS ou estavam cursando o ensino superior e 33,6% (n=71) já haviam estado ou estavam em empregos com carteira assinada. Para mensurar os níveis de imprevisibilidade na infância, aplicamos a Escala de Imprevisibilidade Familiar (EIFI - Howat-Rodrigues, De Andrade & Tokumaru, 2012): 27 itens validados para a população brasileira com multidimensionalidade de 3 fatores: cuidado/apoio, recursos financeiros e alimentação. Para mensurar a expectativa de desenvolvimento de Ciclos de Vida no futuro e marcos aplicamos, um instrumento composto por dez itens representativos de marcos futuros, como na definição de Wilson & Daly (2006): ter a primeira relação sexual; ter o primeiro filho; constituir família; casar; comprar sua casa própria; ter seu primeiro emprego com carteira assinada; sair de casa/morar sozinho; ter seu carro próprio; entrar na faculdade; se formar na faculdade. Para cada item o participante teve que responder (sim/não) se o evento proposto já havia acontecido com ele. Se sim, com quantos anos, se não, com quantos anos ele achava que aconteceria. A análise das correlações entre as idades dos marcos de vida e a imprevisibilidade infantil mostrou que fatores de imprevisibilidade na infância correlacionaram-se significativamente de forma negativa com algumas idades de marcos já experienciados, ou seja, quanto maior a imprevisibilidade em um desses fatores, menor a idade de ocorrência do marco de vida. Esta relação ocorreu entre: (a) a idade da primeira relação sexual e a imprevisibilidade de apoio/cuidado (r=-0,182; p=0,05) e imprevisibilidade de alimentação (r=-0,164; p=0,05); (b) a idade do primeiro emprego com carteira assinada e apoio/ cuidado (r=-0,284; p=0,05), alimentação (r=-0,27; p=0,05) e recursos financeiros (r=-0,339; p=0,001). Outros fatores apresentaram correlação significativa positiva para marcos de vida já experienciados: (a) a idade de entrar na faculdade e a imprevisibilidade de recursos financeiros (r=0,187; p=0,001); (b) a idade de se formar na faculdade com imprevisibilidade de alimentação (r=0,323; p=0,05). Do mesmo modo, para cada marco de vida comparamos as médias de idade em dois grupos distintos: sexo (masculino e feminino) e imprevisibilidade (alta e baixa), sendo este segundo grupo gerado a partir da análise de cluster. Para as pessoas que já haviam realizado o marco de vida, o Teste t apresentou diferença de médias entre grupos sexuais para as idades de sair de casa/morar sozinho [t(78)=2,543; p=0,013] e ter a primeira relação sexual [t(172)=3,272; p=0,001]. Homens apresentaram menores médias de idade para ambos os itens, e entre os grupos de imprevisibilidade não houve diferença estatisticamente significativa entre as médias de idade para nenhum dos eventos. Para aqueles que não haviam realizado o marco ainda, apenas o evento comprar casa própria [t(198)=-2,727; p=0,007] foi significativo, sendo que o gênero masculino apresentou média maior. Em síntese, quanto maior a percepção de imprevisibilidade na infância, mais cedo a pessoa se engajou em atividade sexual e buscou seu 138 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento próprio emprego, e mais tarde iniciou seu estudo superior. Conclui-se que maiores níveis de imprevisibilidade percebida no ambiente infantil relacionam-se com o adiantamento de etapas de ciclo de vida. Embora haja essa correlação, grupos que relataram alta ou baixa imprevisibilidade na infância não apresentaram diferenciação entre as médias de idades dos marcos de vida. De outra forma, houve distinção entre as idades de ocorrência de marcos (especialmente o de ter primeira relação sexual) para homens e mulheres, na direção prevista. Por exemplo, homens investiram mais precocemente em tarefas reprodutivas, enquanto mulheres atrasaram o início dessas tarefas em favor do investimento em outros campos (Trivers, 1972; Baumer & South 2001; Crowder & Teachman 2004; Ellis et al., 2009). Para trabalhos posteriores é relevante a investigação dos fatores em populações com características diferentes (particularmente quanto à classificação socioeconômica). Palavras-chave: imprevisibilidade; teoria dos ciclos de vida; psicologia evolucionista. Contato: Cézar Donizetti Luquine Júnior, IP/USP, E-mail: [email protected] CO-1975 A GÊNESE DO CONCEITO DE GÊNERO: UM ESTUDO A PARTIR DA TEORIA PIAGETIANA Beatriz Torkomian de Campos, USP, E-mail: [email protected] Maria Thereza Costa Coelho de Souza, USP, E-mail: [email protected] Apoio financeiro: FAPESP O estudo de gênero é um campo de pesquisa acadêmica que procura compreender, a partir de uma abordagem interdisciplinar, as relações de gênero (masculino e feminino) na cultura e na sociedade humana. O gênero é definido como “termo usado para se referir à autorrepresentação, como homem ou mulher, ou a expressão psicossocial de se viver como homem ou mulher” (Narrow et al., 2008). A partir da questão de como aprendemos as diferenças, construídas socialmente, entre homens e mulheres, uma antropóloga, Michele Escoura, realizou recentemente (2012) um estudo com crianças pequenas analisando performances e contornos de gênero a partir das princesas das Disney. “O primeiro contato com o campo logo me fez perceber que, apesar de tão pequenas, aos cinco anos as crianças já sabiam muito bem o que era ser menina ou menino e que as diferenciações de gênero não estavam apenas apreendidas, como, inclusive, eram pelas crianças articuladas, cobradas e vigiadas no cotidiano escolar” (Escoura, 2012). Apesar da compreensão dos COMUNICAÇÕES ORAIS autores de que a criança entende o que é o gênero, faltam pesquisas que mostrem como as crianças compreendem tudo isso. O que, para elas, significa ser menino ou menina? Como era antes dessa compreensão? O campo de conhecimento que apresenta informações mais próximas da constituição do gênero por uma perspectiva psicológica da criança é a psicologia do desenvolvimento. Nesta área, diversos autores realizaram estudos empíricos para entender como se dá essa distinção relacionando-as com diversas teorias, em especial, a de Kohlberg e Mischel. Maccoby (1974) discutiu a etiologia da diferença de gêneros, citando a obra desses dois autores, e questionando o papel da vida social na definição de comportamentos tipificados. Alguns anos depois, Huston (1983) começou a sugerir teorias que integrassem melhor os diversos fatores que contribuem para a formação da classificação de gênero e suas consequências para os indivíduos. Isso foi feito recentemente pelos teóricos Bussey e Brandura (1999) em sua teoria SCT (social-cognitive theory) de desenvolvimento e diferenciação de gênero. Mas esta tem recebido diversas críticas. (Sobre isso ver o trabalho de Ruble&Szkrybalo e Martin). A teoria formulada por Kohlberg em relação ao desenvolvimento do gênero pode ser relacionada com a teoria formulada por Piaget; ambas tratam do desenvolvimento infantil em etapas sucessivas nas quais as crianças assimilam informações do mundo e transformam suas estruturas cognitivas (acomodação), constituindo, assim, a sua forma de lidar e compreender o mundo e a si mesmas. A presente pesquisa visa, então, compreender a gênese do conceito de gênero tendo como base a teoria de Piaget e de Kohlberg, ou seja, buscando compreender como, em etapas sucessivas, as crianças assimilam informações do mundo (relativas ao gênero) e transformam suas estruturas cognitivas, constituindo, assim, a sua forma de lidar e compreender o mundo e a si mesmas. Piaget definiu o desenvolvimento como um processo de maturação e adaptação das estruturas mentais à sociedade (o “outro” e a cultura) a partir das experiências (físicas e lógico-matemática) e da equilibração Assim, o desenvolvimento é dividido em etapas sucessivas com uma ordem definida em termos das possibilidades. Mas a velocidade com que as mudanças ocorrem pode ser alterada pelas diferenças de interações entre o sujeito e os objetos, assim como os interesses pessoais. Para este autor, portanto, o desenvolvimento se dá movido pela interferência de 4 fatores: maturação, experiência, interação social e equilibração. Kohlberg propôs o desenvolvimento do conceito de gênero dividido em três estágios. Anteriormente a esse desenvolvimento, há uma época em que a criança não classifica nem a si mesmo nem a outros em categorias de gênero. Por volta dos dois anos, a criança ingressa no primeiro estágio, de identidade de gênero, sendo seguido, aos três ou quatro anos, pelo segundo estágio, 139 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento chamado estabilidade de gênero e entrando, apenas com cinco anos, no terceiro e último estágio de constância do gênero. No estágio da identidade de gênero a criança é capaz de separar os indivíduos em dois gêneros, mas esta nova característica ocorre baseando-se, apenas, na aparência das pessoas. No segundo estágio, a criança passa a perceber o gênero como algo estável, ou seja, entende que a pessoa nasce, vive e morre mantendo-se, sempre, em um mesmo gênero, ainda não sendo capaz de perceber que este se mantém através das situações, fixando-se aos papéis sexuais estereotipados. Na última fase, a de constância de gênero, a criança percebe que o gênero é algo estável através do tempo e das situações (Maner, 1997). Kohlberg afirmou que a compreensão do gênero é essencial para organizar o pensamento e o comportamento relativo a seu gênero. Mas não deixou claro em sua obra qual o nível de conhecimento necessário para o desenvolvimento do gênero (Ruble&Szkrybalo e Martin, 2002). Esta pesquisa investigará 30 crianças, de 4 a 6 anos (10 de cada faixa etária), de ambos os sexos, sobre o conceito de gênero usando como instrumento uma história infantil comercializada para o público infantil. Os procedimentos para a coleta de dados serão a leitura e posterior entrevista sobre a história. A entrevista seguirá os princípios do método clínico proposto por Piaget segundo o qual se deve deixar a criança falar o mais livremente possível, mas trabalhar a partir de questões fornecidas pelo pesquisador com o objetivo de acompanhar a orientação de pensamento das crianças e suas crenças em relação a determinado tema. Os dados do Estudo Piloto revelaram que crianças mais jovens já apresentam conceitos ligados ao gênero, ainda que estes sejam diretamente ligados à sua experiência de vida, o que se harmoniza com a teoria de Piaget sobre as características do pensamento nesta idade. A coleta definitiva permitirá analisar um conjunto maior de resultados para confirmar o que foi observado no estudo piloto. Observou-se que o roteiro de questões elaborado é adequado para crianças de 4 a 6 anos, pois estas compreenderam tanto a história quanto as questões feitas. A maneira como compreenderam a história revelou características de seu pensamento e da noção de gênero, condizentes com seu nível de desenvolvimento cognitivo. Palavras-chave: gênero; Kohlberg; desenvolvimento. Contato: Beatriz Torkomian de Campos, USP, E-mail: [email protected] CO-2450 O DESENVOLVIMENTO DE ESTRATÉGIAS COGNITIVAS NUMA TAREFA DE ROTAÇÃO MENTAL DE ESTÍMULOS TÁTEIS COMUNICAÇÕES ORAIS Tiago Oliveira de Lima, UFPE, E-mail: [email protected] Rodrigo Oliveira Damasceno, UFPE, E-mail: [email protected] Leonardo Rodrigues Sampaio, UNIVASF, E-mail: [email protected] Define-se representação mental como um processo cognitivo pelo qual conceitos, episódios, objetos e outros tipos de conhecimentos são representados e manipulados mentalmente (Sternberg, 2008). Uma hipótese bastante aceita na literatura é a de que as representações mentais imagéticas são funcionalmente equivalentes aos perceptos visuais por elas representados. Evidências neuropsicológicas mostram que tais representações são processadas nas mesmas regiões corticais em que são processadas informações provenientes do sistema perceptivo (Farah, 1988). Dentre as formas de manipulação de imagens mentais mais investigadas destaca-se a Rotação Mental, que permite movimentar imagens em diferentes sentidos e direções. Em concordância com o princípio da equivalência funcional, o tempo necessário para rotacionar uma imagem mental é proporcional à distância angular a ser percorrida (Shepard & Metzler, 1971). Trabalhos empíricos reforçam a visão de que representações mentais se desenvolvem com base em uma complexa gama de processos neurocognitivos que atuam conjuntamente (Cohen et al., 1996). Assim, tanto a visão quanto os demais sentidos são importantes para o reconhecimento perceptivo, e para a construção de imagens mentais, que terão sempre uma natureza multimodal. Outros resultados sugerem que informações representadas em áreas visuais do cérebro podem não ser necessariamente de natureza visual, podendo ser ativadas por estímulos sensoriais de outros tipos (Ricciardi et al., 2007). Quanto à rotação mental de estímulos táteis, Prather e Sathian (2002) propuseram que tal processo envolve a eleição de pontos de referência que atuarão auxiliando a interpretação de tal estímulo. As chamadas estruturas de referência atuam como heurísticas cognitivas fazendo com que os sujeitos respondam mais rápido ao estímulo sem a necessidade de representálo completamente, promovendo assim economia cognitiva. É sabido que adultos conseguem experienciar e descrever atividades mentais privadas mais facilmente que crianças (Estes, 1998). Ao estudar a capacidade de adultos de avaliarem as qualidades fenomenais de experiências internas, Pearson, Rademaker e Tong (2011) perceberam que estes são dotados de um bom entendimento metacognitivo de suas próprias imagens mentais e que podem avaliá-las de forma confiável. Piaget (1928) defendia que este acesso consciente a processos mentais seria desenvolvido paulatinamente ao longo da infância. Shepard e Cooper (1982) demonstraram que adultos comumen- 140 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento te afirmam ter vívidas experiências subjetivas de rotação mental, descrevendo-a explicitamente para explicar suas performances em tarefas desse tipo. As crianças a partir dos quatro anos de idade já passam a relatar processos de rotação mental para justificar o desempenho nessas tarefas (Estes, 1998). Todavia, a capacidade de crianças em tarefas de rotação mental ainda não está plenamente esclarecida na literatura da área. Trabalhos empíricos encontraram diferenças significativas em relação à idade dos sujeitos e à velocidade com que eles desempenham a rotação mental (Kail, Pellegrino & Carter, 1980; Kosslyn et al., 1990), enquanto que outros estudos (Childs & Polich, 1979; Waber, Carlson & Mann, 1982) não encontraram resultados semelhantes. Neste sentido, o presente estudo buscou se haveria diferenças na capacidade de rotação de imagens mentais produzidas a partir do tato. Participaram do estudo 162 sujeitos com idades variando entre 7 e 24 anos (M=14,17; d.p.=4,66). Foram utilizados quatro objetos-estímulo (duas letras “R” e dois números “2”, nas posições normal e invertida) confeccionados com isopor e material emborrachado e uma base na qual foram demarcados ângulos de rotação de 0º, 60º, 120º, 180º, 240º, e 300°. Os participantes foram designados aleatoriamente para uma dentre duas condições experimentais: (I) letra “R” ou (II) número “2”, nas quais os objetos-estímulo eram apresentados 12 vezes, de acordo com os ângulos de rotação preestabelecidos. A cada nova apresentação o participante deveria tatear o objeto e responder se sua posição era “normal” ou “invertida” tendo cada tempo de resposta cronometrado. Ao fim das apresentações os participantes eram indagados acerca de suas estratégias cognitivas para a realização da tarefa. Os resultados demonstram que os tempos de resposta aumentaram à medida que crescia a rotação dos objetos. Uma Análise de Variância indicou que o Grupo etário 1 (7-10 anos) foi o que apresentou os maiores tempos de resposta e que não houve diferenças entre os Grupos 2 (11 a 14), 3 (15 a 18) e 4 (19 a 24). O Grupo 1 também foi o que menos acertou (M = 8,10; d.p. = .38), diferenciando-se dos demais grupos que, novamente, não diferiram entre si. De maneira geral, constatou-se que os participantes usaram cinco tipos de justificativa para explicar como haviam definido a posição do objeto-estímulo: 1) estruturas de referência, 2) própria rotação; 3) forma do objeto como um todo; 4) outras e 5) não soube responder. O Grupo 4 (19 a 24 anos) se diferenciou (p<.01) dos demais, pois 64,1% dos participantes deste grupo afirmaram ter usado estruturas de referência em suas estratégias, enquanto que nos Grupos 1, 2 e 3 esse percentual foi de 22,5%, 30% e 29, 3%, respectivamente. Os resultados encontrados no presente trabalho corroboraram o princípio da equivalência funcional aplicado à rotação de imagens mentais produzidas a partir do tato, pois os tempos de resposta dos sujeitos COMUNICAÇÕES ORAIS variaram de maneira direta e proporcional ao ângulo de rotação dos objetos-estímulos. Os dados indicam ainda que a habilidade de rotação mental já esteja presente por volta dos 7 anos de idade, mas que esta só atinge estabilidade na adolescência, quando já se observam desempenhos semelhantes aos de adultos. No que diz respeito às estratégias utilizadas para manipulação da imagem mental, constatou-se o uso daquelas mais elaboradas e a diminuição de estratégias mais elementares à medida que a idade avançava. Isso evidência, juntamente com o desenvolvimento visuoespacial em si, um aperfeiçoamento do sistema metacognitivo no curso do desenvolvimento. Além disso, a diminuição de respostas da categoria 5 (não soube ou não respondeu) a partir dos 8 anos de idade indica um aumento gradual no acesso consciente dos participantes aos processos que subjazem à realização da tarefa de rotação mental. Julga-se que esses resultados contribuem para ampliar o conhecimento na área de desenvolvimento cognitivo infantil, especialmente no que diz respeito aos processos de imaginação e representação mental do conhecimento. Além disso, contribuem para lançar novas luzes sobre o papel do tato na construção e manipulação de imagens mentais. Contato: Tiago Oliveira de Lima, UFPE, E-mail: [email protected] CO-2200 DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E MOTOR DE CRIANÇAS NOS PRIMEIROS ANOS DE VIDA E QUALIDADE DO CONTEXTO AMBIENTAL Rosane Luzia de Souza Morais, UFVJM, E-mail: [email protected] Alysson Massote Carvalho, Instituto Gammon, E-mail: [email protected] Lívia de Castro Magalhães, UFMG, E-mail: [email protected] Apoio Financeiro: CNPq, CAPES Introdução: os estudos consistentemente têm demonstrado que crescer no contexto da pobreza afeta negativamente o desenvolvimento em todos os seus domínios e ao longo de todo o ciclo vital. Alguns pesquisadores defendem que os primeiros anos de vida são considerados os mais importantes e suscetíveis aos fatores ambientais. Isto ocorre, pois, mesmo após o nascimento, o cérebro da criança encontra-se em intensa atividade neurofisiológica propiciando um período de grande potencialidade para o desenvolvimento. Por este motivo, estudos indicam que os investimentos focados em crianças nos primeiros anos de vida, mais do que outra fase do ciclo vital, trazem 141 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento melhor retorno ao indivíduo e também à sociedade. Objetivo: investigar a influência da qualidade dos ambientes ecológicos - casa, creche e vizinhança - no desenvolvimento cognitivo e motor de crianças pequenas residentes no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões com mais baixos indicadores socioeconômicos do Brasil. Metodologia: foi realizado estudo transversal, correlacional preditivo, por meio de modelagem de equações estruturais. Participaram do estudo 147 crianças, 24 a 36 meses de idade, que frequentavam creches públicas localizadas nas sedes de dois municípios do Vale do Jequitinhonha. Foram utilizados os instrumentos Bayley Scales of Infant and Todller Development para a avaliação do desenvolvimento infantil, o HOME Inventory, para qualidade das casas, e a Infant/Toddler Environment Rating Scale para avaliação da qualidade das creches. Um questionário sobre a qualidade da vizinhança foi elaborado a partir da literatura. Para a caracterização dos participantes foi elaborado questionário sobre as condições sociodemográficas das crianças. Resultados e Discussão: os resultados indicaram que, embora pertencentes a estratos econômicos inferiores, poucas crianças se encontravam em extrema pobreza. É possível que estes achados reflitam o fenômeno do declínio na diferença de renda que ocorreu no Brasil, entre 2004 e 2009, favorecendo a população economicamente desfavorecida no Brasil. Cerca de 1/3 apresentava de três a cinco riscos socioeconômicos, como ausência do pai, família numerosa com três ou mais irmãos e família monoparental feminina. Quanto à qualidade dos ambientes das casas, mais da metade deles foram considerados de risco para o desenvolvimento infantil. Isto ocorreu principalmente devido a menor oferta de “material de aprendizagem” e “envolvimento dos pais”. Estes resultados estão de acordo com outros estudos brasileiros que utilizaram o HOME no contexto de famílias economicamente desfavorecidas. A qualidade das creches variou de inadequada a minimamente adequada. Vários estudos em creches públicas brasileiras têm apontado diversos problemas como: qualificação insuficiente dos profissionais; infraestrutura precária; poucos materiais e equipamentos adequados; falta de projeto pedagógico; pequena participação das famílias e adoção de práticas mais voltadas para o suprimento de necessidades básicas de higiene e alimentação. Quanto à qualidade da vizinhança, observou-se que as famílias contavam com infraestrutura, serviços e rede de apoio formal. Entretanto, as redes de apoio informal entre os vizinhos eram restritas e faltavam espaços de brincadeiras ao ar livre. Segundo Kenney (2012), a estrutura da vizinhança precária, sem parques ou praças, não favorece estimulações importantes para o desenvolvimento da criança, como passeios e brincadeiras com os pares. A modelagem de equações estruturais revelou que a qualidade dos ambientes ecológicos não demonstrou COMUNICAÇÕES ORAIS impacto no desenvolvimento motor. Peterson e Albers (2001), em estudo no qual se comparou crianças economicamente desfavorecidas com seus pares de nível socioeconômico mais alto também encontraram que a pobreza teve maior impacto no desenvolvimento cognitivo das crianças do que no desenvolvimento motor. Ao dividirem os resultados conforme o gênero, os autores encontraram que os meninos em desvantagem econômica apresentavam melhor desempenho motor do que seus pares de nível socioeconômico mais alto. No presente estudo o desenvolvimento cognitivo, 25% das suas variações foram explicadas pelo índice socioeconômico, qualidade da vizinhança, casa e creche. A qualidade da vizinhança (ß 0,13) e o índice socioeconômico (ß -0,16) exerceram influência estatisticamente significativa, mas de magnitude modesta e de forma indireta, mediado pela casa. A influência direta ou indireta de indicadores econômicos no desenvolvimento infantil é controversa na literatura. Os dados do presente estudo corroboram com a pequena literatura existente sobre vizinhança e desenvolvimento infantil. Estes indicam que os pais de crianças pequenas agem no sentido de filtrar a exposição da vizinhança sobre a criança. A qualidade da casa (ß 0,42) e da creche (ß 0,30) teve impacto direto, positivo e estatisticamente significativo. Para o presente estudo, considerando a magnitude do efeito do ß padronizado, a qualidade do ambiente de casa contribuiu mais do que a qualidade da creche para o desenvolvimento cognitivo. É amplamente conhecida na literatura a importância do ambiente de casa para o desenvolvimento cognitivo da criança e considerando a centralidade dos pais na vida de crianças pequenas, alguns estudos têm indicado ser o ambiente da família o maior preditor do desenvolvimento infantil. No entanto, a creche também apresentou um impacto no desenvolvimento cognitivo das crianças do presente estudo. Estudos têm mostrado que frequentar creche de boa qualidade, principalmente considerando crianças de nível socioeconômico baixo, influência positivamente no desenvolvimento cognitivo refletindo mais tarde no desempenho acadêmico de crianças maiores e adolescentes e, em longo prazo, na fase adulta garantindo níveis mais elevados de escolarização e vantagens biopsicossociais. A análise do mesossistema casa-creche demonstrou que creche de melhor qualidade compensou o ambiente de casa de qualidade inadequada e vice-versa, influenciando positivamente no desenvolvimento cognitivo das crianças. Conclusão: Seria importante desenvolver políticas públicas voltadas para melhoria na qualidade das creches públicas. Além disso, as crianças se beneficiariam de intervenções nos demais ambientes ecológicos como, por exemplo, programas voltados para a maior escolarização dos pais e a criação de espaços de convivência nas vizinhanças. Por fim, o desenvolvimento infantil, considerando a abrangência de seus domínios e os diversos 142 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento fatores influentes, trata-se de uma área de interesse multidisciplinar. Desta forma, diversos profissionais da educação, das ciências humanas e da saúde podem contribuir e atuar de forma integrada, em diversos cenários, casas, creches, vizinhanças, entre outros. A criança economicamente desfavorecida seria a grande beneficiada. Palavras-chave: desenvolvimento infantil; pobreza; ambiente sociocultural. Contato: Rosane Luzia de Souza Morais, UFVJM, E-mail: [email protected] INFÂNCIA E CRECHE Sala 419 - 10h CO-2230 SEPARAÇÃO-INDIVIDUAÇÃO EM MÃES E BEBÊS QUE FREQUENTARAM OU NÃO A CRECHE Tatiele Jacques Bossi, UFRGS, E-mail: [email protected] Cesar Augusto Piccinini, UFRGS, E-mail: [email protected] Por volta dos quatro meses do bebê teria início o processo de separação-individuação (Mahler, Pine e Bergman, 1977) caracterizado por suas quatro subfases que se sobrepõem ao longo do desenvolvimento infantil, a saber, diferenciação, exploração, reaproximação e consolidação da individuação e constância de objeto emocional. Trata-se de um processo intrapsíquico que abrange dois aspectos inter-relacionados, sendo a separação, que envolve a saída da criança da fusão simbiótica estabelecida com a mãe; e a individuação que implica em aquisições psíquicas que permitem à criança assumir suas próprias características. O presente estudo teve o objetivo de investigar o processo de separação-individuação mãe-bebê ao longo do primeiro ano de vida de bebês que frequentaram ou não a creche. Participaram do estudo três díades mãe-bebê cujos bebês frequentavam a creche em período integral (entre 8h30min e 10h diárias) e três díades mãe-bebê cujos bebês não frequentavam a creche e que ficavam, prioritariamente, sob os cuidados maternos. Todas as mães eram primíparas, tinham idades entre 26 e 41 anos e residiam com o pai do bebê. As mães tinham nível socioeconômico médio e escolaridade que variou de ensino superior incompleto a pós-graduação. No que diz respeito aos bebês, eles estavam com aproximadamente seis meses de idade no início do estudo, o que corresponde à primeira subfase do processo de separação-individuação. Essa também foi a idade de entrada dos bebês na creche. Todas as díades participavam do projeto longitudinal intitulado O COMUNICAÇÕES ORAIS impacto da creche no desenvolvimento socioemocional e cognitivo infantil: estudo longitudinal do primeiro ao segundo ano de vida da criança - CRESCI (Piccinini, Becker, Martins, Lopes & Sperb, 2010) que acompanhou 77 famílias (29 bebês frequentaram e 48 não frequentaram a creche) e teve como objetivo geral investigar o impacto da creche no desenvolvimento socioemocional e cognitivo de bebês do primeiro ao segundo ano de vida. Para fins do presente estudo, utilizou-se um delineamento de estudo de caso coletivo (Stake, 1994), de caráter longitudinal, enfocando no processo de separação-individuação mãebebê no 6º e 12º mês de vida dos bebês que frequentaram ou não a creche. O processo de separação-individuação foi investigado a partir de entrevistas, sendo no 6º mês a Entrevista sobre a experiência da maternidade/6° mês, a Entrevista sobre momentos de separação mãe-bebê/6º mês e a Entrevista sobre a adaptação do bebê a creche/ versão mãe. Já no 12º mês as mães responderam a Entrevista sobre a experiência da maternidade/12º mês e a Entrevista sobre momentos de separação mãe-bebê/12º mês. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo qualitativa (Bardin, 1977; Laville & Dionne, 1999), quando se investigaram aspectos relacionados às subfases de diferenciação e exploração, com destaque para: características da mãe e do bebê; e, entrada e experiência do bebê na creche (para os casos que entraram na creche). Os dados revelaram que para as mães cujos bebês frequentaram a creche, essa decisão foi considerada como necessária, sem que os momentos de separação lhes trouxessem maiores sofrimentos e prejuízos, tanto no 6º quanto no 12º mês dos bebês. É plausível se supor que a dinâmica e estrutura da instituição tenham facilitado a adaptação e a permanência destes bebês na creche, de modo que as educadoras se tornaram, progressivamente, figuras de referência para o bebê, permitindo separações menos traumáticas dos bebês em relação às mães (Mahler et al., 1977). Já as mães cujos bebês não frequentaram a creche ressaltaram dificuldades frente às separações, especialmente aos seis meses do bebê, ressaltando o desejo de estarem com os filhos durante todo o dia, já que elas não percebiam os bebês ou mesmo elas com capacidade de se separarem um do outro. No entanto, aos 12 meses dos bebês elas já ressaltavam maior necessidade de se individuarem dos filhos estabelecendo uma rotina mais separada deles, justamente o momento em que os bebês apresentavam uma individuação maior em relação a elas. Isso apoia o que Colarusso (1990) já havia mencionado, destacando que, concomitante ao processo de separação-individuação do bebê ocorre um processo correlato na mãe. Ao perceberem a individuação dos filhos, elas começaram a desejar se individualizar deles, para retomar uma rotina para além dos cuidados e atenção dispensada aos bebês. Com relação aos bebês do presente estudo, parece que estavam 143 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento passando pelo processo de separação-individuação de maneira satisfatória, independente de terem frequentado ou não a creche. Eles apresentavam comportamentos que seriam esperados considerando o processo de separaçãoindividuação, tanto no 6° mês, quando apareceu maior interação com a mãe e o ambiente ao seu redor, indicando o que Mahler et al. (1977) se referiram como desabrochamento. O mesmo também apareceu no 12º mês, através de expressões de prazer frente às atividades que realizava de forma independente, a necessidade de reabastecimento emocional através do contato físico com a mãe e a impermeabilidade à frustração que o impulsionava na exploração do ambiente ao redor (Mahler et al., 1977). Os dados revelaram que, considerando os contextos de creche e das famílias investigadas, o processo de separaçãoindividuação mãe-bebê pode ocorrer como o esperado, independente do bebê frequentar ou não a creche. Palavras-chave: processo de separação-individuação; creche; desenvolvimento emocional. Contato: Tatiele Jacques Bossi, UFRGS, E-mail: [email protected] CO-2238 QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DA ADAPTAÇÃO DO BEBÊ À CRECHE: EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS INICIAIS Scheila Machado da Silveira Becker, UFRGS, E-mail: [email protected] Gabriela Dal Forno Martins, UFRGS, E-mail: [email protected] Natália Luz Feeburg, UFRGS, E-mail: [email protected] Andrea Rapoport, Unilasalle e Cesuca, E-mail: [email protected] Cesar Augusto Piccinini, UFRGS, E-mail: [email protected] A adaptação do bebê à creche tem sido entendida a partir de duas perspectivas complementares: a primeira focaliza a adaptação como processo de mudança no contexto de desenvolvimento da criança e nas relações pais-bebê; já a segunda se refere à adaptação como resultado esperado na criança após o período de transição (Aloa, 2008). Nesta última perspectiva, considera-se que é possível delinear um conjunto de comportamentos da criança que indicam uma transição satisfatória. Comumente, o choro é utilizado como principal sinal de que a criança está ou não se adaptando bem (Pantalena, 2010). No entanto, a literatura aponta também outros indicadores como irritação (Ahnert et al., 2004); alteração no padrão de alimentação, sono e evacuação (Aloa, 2008); capacidade de COMUNICAÇÕES ORAIS explorar o ambiente (Aloa, 2008; Rapoport & Piccinini, 2001); e a qualidade da interação com educadoras e outras crianças (Fein et al., 1993; Rapoport & Piccinini, 2001). Conhecer quais os comportamentos da criança indica como ela está se adaptando e pode fornecer subsídios para um planejamento e acompanhamento individualizado do processo de adaptação. Diante disso, o objetivo deste estudo foi apresentar algumas evidências empíricas sobre o Questionário de adaptação do bebê à creche (Rapoport, 2011), suas dimensões e a possibilidade de sua aplicação na pesquisa e na avaliação de crianças no dia a dia da creche. Este questionário tem como principal objetivo avaliar o quão adaptado está um bebê ao contexto de creche, a partir de um conjunto de indicadores comportamentais observáveis. Foi construído a partir do levantamento dos comportamentos mais enfatizados por educadoras quando questionadas sobre quais indicadores utilizavam para dizer se um bebê estava ou não adaptado (Rapoport & Piccinini, 2001). Esses indicadores foram organizados em 35 itens, distribuídos em oito dimensões: reações da criança na chegada; reações ao permanecer na creche; reações corporais da criança; interação com a educadora; interação com o ambiente; interação com outras crianças; manifestações afetivas; e, reações da criança na saída. No presente estudo treze educadoras responderam o questionário, considerando o processo de adaptação de 29 bebês (45% meninos), que ingressaram na creche com idade média de 6 meses (DP=1,24). Todos os participantes foram selecionados do projeto intitulado Impacto da creche no desenvolvimento socioemocional e cognitivo infantil: estudo longitudinal do primeiro ao segundo ano de vida da criança - CRESCI (Piccinini, Becker, Martins, Lopes, & Sperb, 2010). Ao final de cada uma das quatro primeiras semanas dos bebês na creche (S1, S2, S3, S4), as educadoras responsáveis por cada um deles avaliaram a frequência com que observaram os 35 comportamentos ao longo da semana. Os itens foram avaliados segundo uma escala que variava entre 1 (nunca) e 5 (sempre), sendo que escores maiores indicavam melhor reação da criança frente à adaptação. A análise dos dados envolveu: (a) criação do escore médio por item, para cada bebê - considerando que cada bebê foi avaliado semanalmente por mais de uma educadora, foram calculadas as médias das avaliações das educadoras; (b) cálculo do escore geral e do escore das dimensões; e, (c) comparação dos escores gerais e das dimensões entre as quatro semanas através dos testes de Friedman e de Wilcoxon (utilizado como post hoc). Os resultados indicaram que, conforme o esperado, o escore geral médio aumentou significativamente entre as quatro semanas (X2=18,88; p=0,001). Por sua vez, análises post hoc indicaram que o escore da S1 foi significativamente menor que todos os demais (p=0,001) e que o escore da S2 foi significativamente menor que o da S4 (p=0,37). Ainda, na maior parte das dimensões do 144 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento questionário, o teste de Friedman indicou que seus escores também aumentaram significativamente ao longo das quatro semanas. Os escores da dimensão Reações da criança na chegada diferiram significativamente entre a S1 e a S4 (p=0,001) e a S2 e a S4 (p=0,01). Já os escores da dimensão Reações corporais da criança diferiram significativamente entre a S1 e todas as demais semanas (p=0,001), entre S2 e S3 (p=0,006), e S2 e S4 (p=0,004). Finalmente, os escores referentes à Interação com o ambiente diferiram entre a S1 e todas as demais semanas (p=0,001) e os escores referentes à Interação com outras crianças diferiram entre a S1 e todas as demais semanas (p=0,002), bem como entre a S2 e a S4 (p=0,02). De maneira geral, estes resultados indicam que o questionário, embora necessite de ajustes em alguns de seus itens, parece ser sensível às mudanças no comportamento das crianças ao longo das quatro primeiras semanas na creche. Como é esperado a primeira semana parece ser a mais crítica para o bebê. A dimensão Reações corporais da criança foi a que apresentou maior diferença entre escores da primeira e quarta semana, sugerindo que os indicadores desta dimensão seriam comportamentos mais explícitos do processo de adaptação dos bebês. Já a dimensão Manifestações Afetivas foi a que apresentou menor diferença entre os escores das semanas, mantendo- -se com escores medianos. Com o passar das semanas, verificaram-se conquistas significativas relacionadas ao processo de adaptação dos bebês, sobretudo ligadas às reações de separação dos pais, chegada à creche e manifestações corporais (fisiológicas). Contudo, alguns aspectos sociais e emocionais parecem levar mais tempo para apresentar progresso, o que ressalta a importância das creches organizarem, nesses momentos iniciais do bebê, formas de promover a segurança e confiança da criança nesse novo ambiente. Palavras-chave: processo de adaptação; creche; educação infantil. Contato: Scheila Machado da Silveira Becker, UFRGS, E-mail: [email protected] CO-2231 ADAPTAÇÃO DE BEBÊS À CRECHE E O PROCESSO DE SEPARAÇÃOINDIVIDUAÇÃO: REAÇÕES DOS BEBÊS E SENTIMENTOS PARENTAIS Tatiele Jacques Bossi, UFRGS, E-mail: [email protected] Elenice Soares, UFRGS, E-mail: [email protected] Rita de Cássia Sobreira Lopes, UFRGS, E-mail: [email protected] Cesar Augusto Piccinini, UFRGS, E-mail: [email protected] COMUNICAÇÕES ORAIS O processo de separação-individuação (Mahler, Pine e Bergman, 1977) envolve dois aspectos que estão interrelacionados, sendo que a separação se refere à saída da criança da fusão simbiótica com a mãe, e a individuação que é marcada por aquisições que permitem à criança assumir suas próprias características. Por volta dos quatro meses, no ápice da simbiose mãe-bebê, começaria o processo de separação-individuação com suas quatro subfases: diferenciação (4 a 9 meses), exploração (10 a 16 meses), reaproximação (17 a 24 meses) e, consolidação da individuação e constância de objeto emocional (25 a 36 meses). Vale ressaltar que a teoria do processo de separação-individuação foi elaborada com base nos estudos de bebês que eram cuidados exclusivamente pelas mães, não tendo sido abordado o contexto dos cuidados alternativos. O presente estudo é uma tentativa de ampliar os achados existentes abordando o contexto de adaptação do bebê e dos pais à situação de creche. Dessa forma, o objetivo foi investigar a adaptação de bebês à creche considerando três diferentes idades de ingresso (6º, 12º e 20º mês de vida do bebê) que representam as três primeiras subfases do processo de separação-individuação, a saber, diferenciação, exploração e reaproximação, respectivamente. Participaram do estudo 13 bebês e seus pais (mãe e pai), sendo que seis bebês entraram na creche durante a subfase de diferenciação; quatro durante a subfase de exploração; e, três durante a subfase de reaproximação. As mães e pais apresentavam escolaridade que variou de ensino fundamental incompleto a ensino superior completo. Todos eram casados ou em união estável sendo que os bebês eram o primeiro filho dos casais. Todos eram participantes do projeto Estudo longitudinal de Porto Alegre: Da gestação à escola - ELPA (Piccinini, Lopes, Sperb & Tudge, 1998) que iniciou acompanhando aproximadamente 100 famílias à espera do primeiro filho, estendendo-se até a entrada da criança na escola. Foi utilizado o delineamento de estudo de caso coletivo (Stake, 1994) considerando cada uma das três subfases do processo de separação-individuação já mencionadas. A adaptação dos bebês à creche foi investigada a partir da Entrevista sobre a Experiência da Maternidade e Desenvolvimento do Bebê (GIDEP, 1998a) e da Entrevista sobre a Experiência da Paternidade e Desenvolvimento do Bebê (GIDEP, 1998b). O momento de realização da entrevista variou entre os casos levando em consideração a idade de entrada do bebê na creche. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo qualitativa (Bardin, 1977; Laville & Dionne, 1999) para investigar as reações do bebê frente à adaptação à creche e os sentimentos dos pais frente à adaptação do bebê em cada uma das subfases consideradas. Os dados apontaram que a maior parte dos bebês manifestou reações frente à entrada na creche, sendo que a recusa à alimentação e adoecimento fizeram-se presentes entre os bebês que se encontravam nas subfases de diferenciação (6° mês) e exploração (12º mês). 145 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento O choro foi mencionado como reação dos bebês em todas as subfases, no entanto foi a única reação destacada para aqueles que se encontravam na subfase de reaproximação (20° mês). As reações dos bebês frente à entrada na creche pareceram afetar, em certa medida, os sentimentos parentais, da mesma forma que estes pareceram influenciar as reações manifestas pela criança. Isso vai ao encontro do que Vitória e Rossetti-Ferreira (1993) preconizaram ao mencionar que para cada bebê a adaptação ocorre de forma particular, já que o modo como os envolvidos vivenciam a adaptação influenciará o bebê, assim como será influenciado por ele. Vale ressaltar que sentimentos de sofrimento, insegurança e tranquilidade frente à entrada do filho na creche foram destacados pelos pais em todas as subfases. Os sentimentos de tranquilidade fizeram-se mais presentes entre os pais dos bebês que se encontravam na subfase de diferenciação (6º mês), já que para eles a creche era um espaço adequado principalmente por ter mais de uma educadora disponível, o que evitaria a sobrecarga dos cuidados em apenas uma pessoa. Já os sentimentos de insegurança e sofrimento fizeram-se presentes em todas as subfases investigadas, sendo que na subfase de diferenciação (6° mês) e reaproximação (20° mês) tais sentimentos pareceram dificultar a adaptação da criança à creche. Isso tudo porque em alguns casos as mães e/ou pais vivenciaram intenso sofrimento e acabaram fragilizados o que, de certa maneira, os impediu de servirem como suporte emocional para a criança (Mahler et al., 1977) no momento de adaptação à creche. Já na subfase de exploração (12° mês) os sentimentos de insegurança dos pais apareceram de forma mais intensa, quando comparado às outras subfases, o que levou à interrupção da adaptação do bebê à creche, em três dos casos. Tais aspectos permitem perceber que a adaptação à creche pode ser um processo extremamente complexo para alguns bebês, mães e pais, por envolver não somente o mundo psíquico do bebê, mas também de seus genitores (Amorim, Vitoria & Rossetti-Ferreira, 2000; Rapoport & Piccinini, 2004). Os sentimentos destacados pelos pais deste estudo, por vezes, remetem ao seu próprio processo de separação-individuação (Colarusso, 1990), já que no momento da constituição da parentalidade e ao longo do desenvolvimento do bebê são ativados resquícios conscientes ou inconscientes do próprio processo de separação-individuação infantil que podem afetar a relação mãe-pai-bebê e, como destaca esse trabalho, a adaptação do bebê e dos pais à entrada na creche. O presente estudo destaca também a importância da presença parental no período de adaptação contribuindo para que a creche se torne uma referência para a criança, o que, de certa forma, possibilita o seguimento esperado do processo de separação-individuação, mesmo na ausência materna. Palavras-chave: adaptação à creche; processo de separação-individuação; desenvolvimento emocional. COMUNICAÇÕES ORAIS Contato: Tatiele Jacques Bossi, UFRGS, E-mail: [email protected] CO-2290 ESPAÇOS DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL NA CRECHE: UM OLHAR A PARTIR DA PESQUISA CRÍTICA DE COLABORAÇÃO Ana Rosa Costa Picanço Moreira, UFJF, E-mail: [email protected] Letícia de Souza Duque, UFJF, E-mail: [email protected] Apoio Financeiro: PROPESQ/UFJF Este estudo tem como foco problematizar algumas questões circunscritas às relações entre a organização dos espaços da creche e a apropriação da noção de espaço pelas crianças buscando contribuir para o campo da psicologia do desenvolvimento. Geralmente, a creche tem organizado as atividades e os ambientes para vivências únicas de infância com base em um conjunto de características consagradas como “a” referência de criança universal. Os ambientes têm sido planejados a partir da visão adultocêntrica, dificultando os movimentos e deslocamentos da criança pelo espaço de modo mais autônomo. No entanto, as ações das crianças não são determinadas pelo mundo que os adultos lhes ofertam. Ao contrário, as crianças dialogam com os significados propostos pelos adultos, construindo criativamente novos sentidos. Assim, muitas vezes, objetos e mobílias são utilizados pelas crianças na construção de cenários de brincadeiras, transformando significativamente o ambiente. Isto significa dizer que os ambientes não têm o mesmo significado para crianças e adultos. Adotamos um olhar plural e histórico-cultural para o espaço pautado nas ideias de Lefebvre, Santos, Vigotski e Wallon. Falamos de espaço geográfico, isto é, “o espaço que guarda a presença humana” (LOPES, 2012, p. 154). Na formulação do geógrafo Milton Santos (1999), o espaço geográfico é uma invenção humana híbrida, apresentando-se como um composto de formaconteúdo cujo significado só emerge quando a forma (material) e o conteúdo (social) são vistos em conjunto, dialeticamente, constituindo uma unidade indissociável. Ou seja, o espaço não abrange somente aquilo que é concreto, a forma; ele se constitui como campo de relações dialéticas, de tensões e embates permanentes, sendo, portanto, um elemento processual. O espaço é um sistema interdependente de formas (objetos) e ações sobre essas (conteúdo), no qual os objetos só podem ser compreendidos na relação com os homens em contextos histórico-culturais determina- 146 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento dos. Seguindo a perspectiva de Santos, no campo da Psicologia, Vigotski (1935/2010) e Wallon (1959/1986) apontam para a necessidade de conceber o espaço numa dimensão dialética na qual espaço e pessoa não se opõem; ao contrário, eles se constituem na relação de interdependência. Entendemos que a vivência das crianças no espaço se constitui na base para a produção de sentidos e significados sobre o mundo. Os dados foram produzidos num contexto de formação em serviço dos profissionais de creche, denominado “sessão reflexiva”. As sessões reflexivas se constituem em contextos nos quais são criadas oportunidades de construção de significados sobre a prática pedagógica em colaboração com pesquisadores externos, caracterizando-se como sessões de discussão (SZUNDY, 2005). Trata-se de uma estratégia metodológica adotada pelo Grupo de pesquisa Linguagem, Educação, Formação de Professores e Infância (LEFoPI/UFJF) para problematizar os saberes naturalizados pelos educadores possibilitando outras leituras da prática educativa e soluções para os problemas apresentados. O LEFoPI desenvolve a Pesquisa Crítica de Colaboração (PCCol), a qual busca a transformação da realidade mediante a reflexão que emerge da indissociabilidade entre teoria e prática (LIBERALI et al., 2012). Os sujeitos da pesquisa foram sete coordenadoras de creche presentes na sessão reflexiva que ocorreu em 18 de abril de 2012. Os temas das sessões reflexivas são previamente selecionados pelas coordenadoras de creche com base nas dúvidas e inquietações do cotidiano das creches. Utilizamos como técnicas de produção dos dados a videogravação e notas de campo realizadas por bolsistas do GP LEFoPI. Levantamos três aspectos presentes nas falas das coordenadoras para análise: (1) o espaço da brincadeira; (2) o mobiliário escolar; e (3) o lugar dos bebês. A análise dos dados revelou que, em relação aos espaços do brincar, muitas creches não dispõem de brinquedoteca e/ou cantinhos e brinquedos acessíveis à escolha da criança. De um modo geral, os cantinhos são organizados sem a participação direta das crianças. O mobiliário escolar, como mesas, cadeiras e murais, está presente nas salas de atividades de crianças de 2 a 3 anos, embora, em alguns momentos, ele seja transformado para compor o cenário da brincadeira, como cabana, carro, casa. Os bebês têm permanecido, na maioria do tempo, dentro da sala. Também, em creches de dois pavimentos, o berçário tem sido localizado no segundo andar, dificultando a saída deles para outros ambientes, como o pátio. De acordo com Goldschmied e Jackson (2006), este fator se constitui num obstáculo prático para o uso flexível do espaço externo. Além do acesso de bebês e adultos às outras áreas da creche ficar comprometido por esse motivo, existe a crença de que os bebês devem sair unicamente da sala para o banho de sol. Os resultados preliminares apontam para a COMUNICAÇÕES ORAIS necessidade de esse tema ser problematizado em contextos de formação dos profissionais de creche propiciando a reflexão crítica e a elaboração de propostas interessantes de organização espacial para bebês e crianças pequenas a partir do olhar sensível às suas necessidades e aos seus desejos. Ressaltamos que o planejamento espacial incorpore não somente a perspectiva dos adultos, mas, sobretudo, que partam dos desejos, das vivências e necessidades de locomoção e apropriação dos espaços pelas crianças. Entendemos que é de suma importância que os educadores repensem quais sentidos e significados atribuem à disposição de objetos, móveis e brinquedos em determinadas configurações para que sejam locais “apropriados” para a interação e o aprendizado das crianças. Esperamos que esse estudo, de caráter crítico-colaborativo, no qual os participantes se revezam como ouvintes e locutores, auxilie no planejamento e desenvolvimento de contextos críticos e significativos de formação em serviço dos educadores da infância capazes de oportunizar movimentos de reflexão no diálogo. Palavras-chave: espaço; desenvolvimento infantil; pesquisa crítica de colaboração. Contato: Ana Rosa Costa Picanço Moreira, UFJF, E-mail: [email protected] PROBLEMAS COMPORTAMENTAIS E VIOLÊNCIA NA ESCOLA Sala 420 - 10h CO-2444 VIOLÊNCIA ESCOLAR: UM RETRATO DO FENÔMENO EM BOA VISTA - RORAIMA Nataly de Oliveira Muniz, UFRR, E-mail: [email protected] Lourival Novais Néto, UFRR, E-mail: [email protected] Apoio financeiro: Capes Universal CNPq 014/2011 A violência está entre os temas mais comentados da atualidade. No mundo moderno onde as pessoas estão constantemente recebendo informações das mais variadas fontes, a violência tornou-se um assunto muito relevante no meio social devido às frequentes manchetes nos jornais de ocorrências violentas, o que leva a muitos questionamentos e a algumas interpretações equivocadas do que realmente está acontecendo com a sociedade atual. Uma das formas de eventos de violência é a que ocorre no âmbito escolar e educacional. A violência no contexto educacional não se refere somente aos alunos, uns com os outros, mas entre todos inerente nesse ambiente como professores, gestores, funcionários, significa 147 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento violência entre todos os sujeitos que ali estão. A violência deve ser entendida como um fenômeno multifacetado, pensada como um conceito amplo e devem ser estruturados planos preventivos desse fenômeno de acordo com o conceito diversificado, pois é impensável definir prevenção à violência sem antes compreender totalmente suas especificidades; assim, a violência vivenciada no ambiente escolar não é diferente podendo se apresentar de diversas formas. Partindo desse pressuposto o presente trabalho propõe-se a fazer o levantamento de denúncias de violência no contexto escolar na Delegacia de Defesa da Infância e Juventude (DDIJ) de Boa Vista, entre 2010 e 2011, a fim de classificar e categorizar esta violência que chega como demanda do judiciário, além de identificar as características da violência no contexto escolar em Boa Vista. Foi realizado um estudo de natureza qualitativa descritiva através da coleta de documentos, os boletins de ocorrência. A análise dos dados foi realizada quantiqualitativamente com base no conteúdo, a partir de categorias definidas a priori, nomeadamente, quem realiza a denúncia, tipificação denunciada, características dos envolvidos quanto ao sexo e a idade e configuração da escola como pública ou particular. A DDIJ é responsável por todos os processos que envolvem crianças e adolescentes no estado. Os registros analisados foram os BO (Boletim de Ocorrência) que são registros que estão em situação de apuração; BOC (Boletim de Ocorrência Circunstanciado) que geraram processo e foram encaminhados para a Vara da Infância e Juventude para julgamento; e Arquivados que são registros que não têm representação pelas partes envolvidas. Para realização da análise resultou um total de 253 registros no período dos dois anos, 2010 e 2011. Como resultado tem-se as categorias: Tipificação que é qual a violência denunciada; nessa categoria aparecem ocorrências de lesão corporal, o que é mais significativo, seguido de ameaça e vias de fato que pode ser caracterizada por agressão mútua, também se apresentam casos de injúria que são eventos de desrespeito, casos de indisciplina que são situações de agressão à instituição escola ou a quem a representa (professor, gestor etc.); Denunciante, quanto a quem realiza a denúncia que pode ser família, escola, policia; os mais representativos quantitativamente são família. Vale ressaltar a opção polícia, pois em Boa Vista existe a “Patrulha Escolar”, organizada pela polícia civil, que realiza ronda nas escolas, e na opção polícia estão contempladas as ocorrências dessa patrulha; Vitima e Autor, no que se refere aos envolvidos no evento, tanto em vítima como em autor o sexo masculino predomina, o que leva a supor que meninos são mais violentos que meninas, observando apenas a demanda das ocorrências. A faixa etária dos envolvidos apresenta-se entre 12 e 17 anos, mostrando que a violência escolar ocorre predominantemente entre pares, ou seja, mais entre os alunos, COMUNICAÇÕES ORAIS crianças e adolescentes; Escola, a configuração da escola onde ocorrem os registros é quase que 100% pública, ocorrendo apenas três casos em escolas particulares no decorrer dos dois anos analisados, 2010 e 2011, supondose que escolas particulares são mais pacíficas que escolas públicas, ou que não levam seus eventos ao judiciário ou que escolas particulares mascaram mais seus eventos de violência que escolas públicas, suposição levando em consideração apenas a demanda do judiciário. Com base nos levantamentos conclui-se que a escola não é um ambiente livre de violência, no que leva a demandas no judiciário através dos boletins de ocorrência, que suscitam questões como a necessidade de projetos de prevenção e combate à violência escolar interligando família e escola. Vale ressaltar que todas as considerações e conclusões do trabalho são baseadas no que foi analisado, o que estava nos registros, que pode ser entendido como a demanda do judiciário. Sabe-se que a violência e a violência no ambiente escolar são fenômenos complexos e mostram várias vertentes de influência; isso suscita a necessidade e importância de mais estudos sobre a temática. O presente trabalho é parte integrante de uma pesquisa apoiada pelo CNPq Universal denominada A construção do discurso da violência escolar sob a ótica social, educacional e jurídica em Boa Vista. Palavras-chave: violência; escola; denúncia. Contato: Nataly de Oliveira Muniz, UFRR, E-mail: [email protected] CO-2443 VIOLÊNCIA ESCOLAR NA CONTEMPORANEIDADE: PESQUISAS NA CIDADE DE BOA VISTA - RORAIMA Luana Rios Moura dos Santos, UFRR, E-mail: [email protected] Lourival Novais Néto, UFRR, E-mail: [email protected] Apoio Financeiro: Capes Universal - CNPQ 014/2011. No Brasil, desde 2009 diversas reportagens estão sendo desenvolvidas sobre violência no contexto escolar. No entanto, a partir do primeiro semestre de 2011 a recorrência sobre a temática em periódicos vem mostrando que o assunto ainda está em evidência. Revistas e jornais, com diferentes públicos-alvo, trazem o fenômeno à baila em suas manchetes de capa. Além das matérias desenvolvidas pela mídia, denúncias, projetos educacionais, pesquisas e normativas jurídicas estão sendo construídos sobre a temática. Esses fatores podem vir a constituir demandas de intervenção dos profissionais de Psicologia nos estabelecimentos escolares, jurídicos e na área de saúde. Dessa 148 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento forma, este projeto visa compreender discursivamente o fenômeno violência escolar no contexto contemporâneo sob a ótica social, educacional e jurídica no âmbito da cidade de Boa Vista em Roraima. Para isso, a pesquisa busca construir o estado da arte sobre violência escolar, levantar reportagens em mídia nacional e em jornal local de grande circulação; compreender, a partir da percepção dos coordenadores pedagógicos e orientadores educacionais nas escolas públicas de Boa Vista sobre o fenômeno bullying; levantar as jurisprudências sobre bullying enquanto encaminhamento à intervenção psíquica como medida protetiva à infância e adolescência. Na execução deste projeto faz-se necessária a revisão sistemática da literatura sobre violência, violência escolar, conflitos escolares, bullying, judicialização, direitos da criança e do adolescente e formação de subjetividade. A investigação, de cunho qualitativo, tem como instrumento de pesquisa entrevistas semiestruturadas que foram aplicadas com agentes educacionais nas escolas estaduais no município de Boa Vista, RR. Na fase inicial da coleta de dados, foram reunidas, classificadas e categorizadas 51 videorreportagens; criou-se também um banco de dados sobre violência escolar através de documentos dos periódicos CAPES, entre 1999 e 2011 em língua portuguesa e de resumos e artigos extraídos da V Conferência Mundial - IV Congreso Iberoamericano, Violencia en la Escuela, “Investigaciones, Intervenciones, Evaluaciones Y Politicas Publicas”, em língua inglesa; levantaram-se projetos de lei e leis sobre violência escolar como também legislação sobre bullying em âmbito nacional assim como se realizaram entrevistas, em profundidade, com os coordenadores pedagógicos e orientadores educacionais. Isso posto, o projeto encontra-se na fase de análise dos dados coletados. Palavras-chave: projeto; violência; escola. Contato: Luana Rios Moura dos Santos, UFRR, E-mail: [email protected] CO-2169 O EDUCADOR E AS SITUAÇOES DE VIOLÊNCIA VIVIDAS POR SEU ESTUDANTE: MODOS DE ENFRENTAMENTO Adinete Sousa da Costa Mezzalira, PUC-Campinas, E-mail: [email protected] Raquel Souza Lobo Guzzo, PUC-Campinas, E-mail: [email protected] Apoio Financeiro: CNPq A violência doméstica é um fenômeno que tem causado sérias preocupações na sociedade, e abordar esta temática é algo desafiador, principalmente, quando discuti- COMUNICAÇÕES ORAIS mos as diversas formas de os profissionais da Saúde e da Educação intervirem nessa situação. Esta pesquisa é permeada pela investigação documental e tem como objetivo refletir acerca das estratégias de enfrentamento dos profissionais da educação diante de casos de violência doméstica. As fontes de informações foram 719 diários de campo de psicólogos inseridos em duas instituições públicas de educação infantil em um período de seis anos - 2004 a 2010. Esses diários de campo fazem parte do acervo do projeto de extensão denominado “Voo da Águia” da PUC - Campinas que visa à promoção e acompanhamento do desenvolvimento emocional e social de crianças, a partir da discussão com famílias e professor sobre os processos educativos em diferentes contextos e situações do cotidiano. Em uma leitura preliminar dos diários de campo, identificamos seis estratégias de enfrentamento da escola diante de casos de violência doméstica, a saber: (1) notificação e busca do trabalho em rede; (2) encaminhamento ou compartilhamento com outros profissionais dos casos de suspeita; (3) conversa com a família; (4) resistência em buscar informações sobre a vida da criança; (5) resistência em contatar a família; e (6) fazer denúncia anônima. Em geral, esses resultados identificaram quais foram as primeiras ações e sentimentos dos educadores diante de uma situação de violência, antes de recorrer à denúncia e ao encaminhamento para os equipamentos de proteção à criança e ao adolescente. Com a leitura e análise desses registros, tivemos acesso a um pequeno recorte de como a escola tem procedido em relação aos casos de violência doméstica. Sabe-se que, como estratégias de intervenção, a denúncia e a busca de apoio nos setores da saúde, educação, assistência social e judiciária são algumas das instruções dadas à escola ou à comunidade diante de situações de violência física, sexual, institucional ou psicológica. Apesar disso, muitas situações ainda permanecem obscurecidas por outras práticas educativas. Há, ainda, uma distância entre a escola e as comunidades que é mantida tanto em decorrência da necessidade de um limite de segurança para os educadores quanto pela inoperância das redes psicossociais de proteção e prevenção. Os resultados deste estudo, juntamente com os dados da literatura, têm revelado, todavia, que a escola não se utiliza da denúncia como ação primária. Assim, diante dessa realidade, a criança e o adolescente ficam sem o acompanhamento de uma equipe especializada e sem proteção. De fato, vários fatores que permeiam o cotidiano escolar de uma escola pública inserida em uma comunidade marcada pela exclusão e violência levam ao impedimento concreto da denúncia. O Estatuto da Criança e do Adolescente obriga os profissionais a denunciarem, sob a pena de punição para quem não cumpri-lo. Apesar disso, nosso país não oferece uma rede de proteção aos profissionais que denunciam. Nesse tipo de contexto, a denúncia pas- 149 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento sa a ser pensada de forma responsável e contextualizada, considerando-se a segurança física da família e dos profissionais. O despreparo e o medo presente nos relatos dos educadores são aspectos que precisam ser considerados quando questionarmos o pressuposto de envolvimento do educador com as crianças. É nítido que os educadores conhecem o contexto de vida das crianças, mas não compartilham informações para não sofrerem represálias; sentem medo de explorar a situação de vida da criança e ficam no dilema sobre o que fazer. Por isso, os sentimentos de medo e impotência diante das situações de violência e negligência às quais as crianças da escola estão submetidas têm dificultado a realização da denúncia. Ao longo deste estudo, apontamos alguns elementos que podem se constituir como norteadores fundamentais, ainda que não suficientes, para que os psicólogos escolares tenham condições de concretizar propostas de atuação orientadas para a proteção e garantia dos direitos das crianças, como estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente. Para a ação do psicólogo escolar diante dessa situação, a sugestão é a promoção de espaços de discussão com a comunidade escolar sobre o impacto da violência no desenvolvimento de seus estudantes e de seus filhos, mostrando os benefícios da denúncia e do acompanhamento da criança e do adolescente por profissionais especializados. Enfim, é fundamental buscar em conjunto caminhos que viabilizem o acompanhamento das crianças e dos adolescentes vitimizados, sem trazer prejuízos à integridade física da família e dos educadores. Ressaltamos que a denúncia é necessária, mas não muda a realidade da criança e da escola. É um passo essencial para a proteção de crianças e adolescentes, embora saibamos que, isolada de outras ações, não é capaz de reverter uma situação tão complexa de violência. Por isso, há a necessidade de se trabalhar em rede e implementar políticas de prevenção. Repensar as políticas educacionais e as políticas públicas para a proteção de crianças, de suas famílias e de seus educadores tem se caracterizado uma tarefa urgente para aqueles profissionais que desejam melhores espaços de desenvolvimento a todos aqueles que crescem em nossas escolas e comunidades. É necessário que as pesquisas e estudos sobre esta temática resultem em propostas concretas de exercício das práticas psicossociais consequentes. Essa é a tarefa da práxis que integra e efetua a relação entre teoria e prática para a mudança social e, por consequência, a mudança no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Palavras-chave: violência doméstica; psicologia escolar; educadores. Contato: Adinete Sousa da Costa Mezzalira, PUCCampinas, E-mail: [email protected] COMUNICAÇÕES ORAIS CO-2482 INDISCIPLINA ESCOLAR: UM ESTUDO DE CORRELAÇÃO A PARTIR DA IDENTIFICAÇÃO GRUPAL E DA PREFERÊNCIA MUSICAL Aline Carvalho de Almeida, UFPB, E-mail: [email protected] Viviany Silva Pessoa Henrique Santos Ramos Silva Thacyane Barbosa Freire Jaciara de Lira Roberto Rafaella de Carvalho Rodrigues Araújo A indisciplina assim como todo comportamento, independente do grupo analisado é um fenômeno multideterminado. Dessa forma, é possível elencar diversos fatores biopsicossociais envolvidos, direta e indiretamente, nos comportamentos indisciplinados, apresentando prejuízos de diferentes dimensões para os indivíduos e elementos envolvidos no processo. Se a disciplina escolar é conceituada como um conjunto de normas estabelecidas, com o intuito de manter a organização e harmonia no contexto institucional, a inobservância dessas leis caracteriza a indisciplina (Tiba, 1996). O comportamento indisciplinar é caracterizado, principalmente, por condutas de dispersão e falta de atenção em sala de aula. É válido destacar e relacionar as queixas mais frequentes das equipes docentes atualmente: bagunça em sala de aula, conversas paralelas, vandalismo, falta de respeito aos professores, não realização das atividades solicitadas e sair sem permissão (Lima, 2009). A indisciplina tem representado para o contexto educacional um problema, principalmente para o aluno, que apresenta, entre outros fatores negativos, baixo rendimento escolar (Senos & Diniz, 1998), mas repercute também na equipe escolar que se desgasta e não consegue transmitir os conteúdos curriculares de forma satisfatória (Garcia, 2006), assim como prejudica a própria estrutura física da escola, que sofre as consequências dos comportamentos indisciplinados de depredação das suas instalações. Buscou-se estudar o fenômeno da indisciplina especificamente no período da adolescência, baseando-se no fato de que a adolescência é um período de maior propensão e potencialidade de comportamentos imprudentes se comparado com outras fases da vida, em todos os tempos e em todas as culturas (Arnett, 1992). Na adolescência a construção da identidade pessoal é uma tarefa primordial no processo de transição para a fase adulta. Esta formação da identidade pessoal acontece a partir dos aspectos intrapessoais, que são as capacidades e habilidades inatas como também as características próprias da personalidade; Diante dessa 150 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento problemática buscou-se relacionar variáveis fundamentais na vida dos adolescentes (preferência musical e identificação grupal) capazes de fornecer indicadores que auxiliam na compreensão dos comportamentos indisciplinados. O grupo representa para o adolescente, um núcleo de convivência muito importante, tornando-se fundamental para a construção da sua identidade social. Na elaboração da identidade social, insere-se também a prática da comparação, diferenciação e regulação de informações externas. O vestuário, a música a aparência física de uma forma geral constituem uma linguagem composta por “elementos simbólicos”, servindo como base para a formação e construção da identidade cultural do grupo, como também constituindo símbolos que possam diferenciar os grupos entre si (Pimentel, 2004). Destaca-se também como uma variável importante para compreender este processo de formação de identidade, a preferência musical, partindo do pressuposto que a música é utilizada como forma de comunicação entre as identidades (Tekman & Hortaçsu, 2002). Pessoas se conhecem e se aproximam através da música (Pimentel & Günther, 2009); comunica sobre as características dos indivíduos, possibilitando aos observadores inferir concepções a partir das preferências musicais (Rentfrow & Gosling, 2007); tem uma função reguladora que proporciona a reflexão acerca de questões pessoais, e uma espécie de fuga para os sentimentos, é também uma forma de se expressar e liberar energias e sentimentos como ansiedade e raiva, exercendo uma função catártica (Baker & Bor, 2008). A partir das considerações supracitadas o presente estudo tem como objetivo verificar em que medida a identificação grupal e a preferência musical estão relacionadas com comportamentos indisciplinados dos adolescentes. Para tanto, a pesquisa foi realizada com 249 estudantes do ensino médio de escolas públicas do município de João Pessoa - PB, com idades entre 14 e 19 anos (M = 16,1; DP = 1,15), sendo desses 126 homens que corresponde a 50,6% e 123 mulheres que corresponde a 49,4%, que responderam à Escala de Condutas Antissociais e Delitivas (adaptada para o contexto escolar), Escala de Preferência Musical, Escala de Identificação com Grupos Alternativos e um questionário sociodemográfico. A indisciplina, medida por meio da versão adaptada da escala de comportamentos antissociais para o contexto escolar, se correlacionou de forma positiva e estatisticamente significativa com a identificação com grupos alternativos (r = 0,22; p < 0,001) e com música alternativa (r = 0,29; p < 0,001). E, mesmo que se leve em consideração os outros estilos musicais (música refinada, música de massa e música convencional), é visto que apenas a preferência por música alternativa se correlaciona significativamente com a indisciplina. Ao verificar a variável identificação grupal (grupos alternativos), foi observado que, além de se correlacionar com a indisciplina de forma COMUNICAÇÕES ORAIS considerável, esta é uma variável que também apresenta uma correlação forte, direta e significativa com música alternativa (r = 0,37; p < 0,001) e uma correlação fraca e indireta, embora significativa, com música convencional (r = -0,15; p < 0,05). Os achados de pesquisa corroboram resultados apresentados anteriormente na literatura, por exemplo, Pimentel (2004) observou que os comportamentos antissociais, considerados neste estudo como comportamentos indisciplinados, estão diretamente associados à identificação por grupos alternativos (r = 0,23) e com a preferência por música alternativa (r = 0,21). Selfhout, Delsing, Bogt e Meeus (2008) também alertaram para a externalização de comportamentos problemáticos entre os indivíduos que têm por preferência musical o heavy metal. A proximidade desses resultados reforça a hipótese de que os comportamentos indisciplinados se associam em um considerável grau com grupos e estilos musicais considerados alternativos (Schwartz & Fouts, 2003). Conclui-se, portanto, que há um leque de possibilidades de aplicações das contribuições deste estudo para diversas áreas como Psicologia, Pedagogia e Psicopedagogia. Inicialmente ressalta-se a relevância do estudo para o entendimento das dificuldades de aprendizagem provenientes da indisciplina escolar e de suas possíveis causas, campanhas de intervenção e conscientização também podem ser trabalhadas esclarecendo e debatendo com a equipe docente e a escola como um todo. Tudo isso, focalizando os esforços para a promoção de uma aprendizagem de qualidade que, uma vez atenta aos elementos do universo de cada grupo e seu poder de influência para o comportamento, é capaz de favorecer o crescimento pleno desse sujeito social. Palavras-chave: indisciplina; identificação grupal; preferência musical. Contato: Aline Almeida, UFPB, E-mail: [email protected] CO-2199 VIOLÊNCIA, IMAGINÁRIO E ESCOLA SOB UM OLHAR ALÉM DO ÓBVIO Sheila Daniela Medeiros dos Santos, FE/UFG, E-mail: [email protected] Ludimila Gabriela Corrêa de Paula, FE/UFG, PIBIC/ CNPq, E-mail: [email protected] Karin Cristina de Souza Moraes Magalhães, FE/ UFG, PIVIC, E-mail: [email protected] Nas últimas décadas, a problemática da violência nas escolas tem provocado no cenário brasileiro excessiva perplexidade, o que justifica o aumento considerável de debates e publicações acerca da temática em pauta. 151 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento De acordo com Sposito (2001), apesar de as discussões sobre a relação intrínseca entre violência e escola ter se tornado objeto de estudo legítimo na esfera pública e acadêmica somente a partir da década de 1980, particularmente com o processo de redemocratização do país, de forma a obter a atenção do Estado e da sociedade, nota-se atualmente que diversos estudos como os de Abramovay e Rua (2002), Candau (2001), Guimarães (2005), Patto (2007), Peralva (2000), Pino (1995, 2007), Schilling (2004), Sposito (2001) e Zaluar (1995), fundamentados em posições teóricas distintas, têm buscado sistematizar um quadro interpretativo coeso e consolidado para explicar o fenômeno da violência na educação escolar. No entanto, se por um lado, todo esse arcabouço teórico promove avanços significativos para a compreensão do fenômeno da violência nas escolas brasileiras, por outro lado, ainda há profundas lacunas a serem investigadas. Nesse ínterim, cumpre lembrar que não apenas a educação materializada na escola é resultado de uma construção social histórica (Manacorda, 2002), como também o homem se constitui como sujeito nas/pelas relações sociais, múltiplas e contraditórias que envolvem aspectos históricos, políticos, econômicos e culturais (Leontiev, 1978). Atentando para esses aspectos, é evidente que a representação social da violência produzida no imaginário individual e coletivo, ao atingir determinados níveis de intensidade ressoa, indubitavelmente, no contexto escolar. Dentro desse quadro, com a disseminação da violência na vida social, sua banalização e seu influxo na escola, torna-se necessário a compreensão de suas raízes, bem como o direcionamento de um olhar para a complexidade desse fenômeno que possa ir além do óbvio. Desse modo, o presente trabalho objetiva circunscrever as bases epistemológicas que fundamentam a relação violência e imaginário na educação escolar a partir do material empírico de outra pesquisa realizada anteriormente em uma escola pública de ensino básico localizada em um bairro periférico do município de Campinas, SP (Santos, 2002). Esse material empírico, composto por reportagens de jornais locais que noticiavam os acontecimentos de violência na escola; por desenhos e produções escritas das crianças; e, ainda, por diários de campo, onde foram registradas as observações das situações recorrentes e/ou peculiares, bem como as conversas informais com os diversos atores sociais envolvidos no processo da pesquisa, foi devidamente organizado a partir de categorias de análise. Nesse momento, o referencial teórico-metodológico da perspectiva histórico-cultural em Psicologia (Vigotski, 1991, 1999), ancorado na matriz marxista, permitiu conceber e elaborar teoricamente os contornos conceituais dos termos: violência e imaginário, ultrapassando os limites do significado, e tentando alcançar o limiar da signifi- COMUNICAÇÕES ORAIS cação, de tal forma que fosse possível encontrar pistas para compreender a relação violência e imaginário na educação escolar. A partir de tais considerações, durante o processo investigativo, o instrumental analítico em que se ancorou a presente produção teórica evidenciou, fundamentalmente, os seguintes aspectos: 1) o significado da palavra violência, na sociedade atual, não traduz a densidade semântica que adquire no imaginário individual e coletivo, além de ser equivocadamente associado ao significado dos termos crime e agressão; 2) a violência é um predicativo da espécie humana, inexistente em outras espécies, que está atrelada e cerceada ao surgimento da cultura e, ainda, relacionada à transgressão das normas que determinam os limites das ações humanas nas organizações sociais; 3) a fonte primeira de construção do imaginário é constituída por imagens humanas, detentoras de significação cultural (Pino, 2006), não apenas por possibilitar ao homem a capacidade imagética e a atividade criadora, mas também por lhe conceder um caráter histórico; 4) o imaginário, cuja função criadora é adquirida ao longo da história, é um campo que se situa ente o real e o simbólico, de exclusivo acesso aos sujeitos, através do qual todas as nuances subjetivas perpassam antes de se tornarem realidade concreta e objetiva ao mundo externo. Nesse conjunto de reflexões, ao relacionar a dramaticidade das relações sociais com qualidade de violência que se instauram no âmbito escolar aos aportes teóricos de Vigotski (1991, 1999), nota- -se que a perspectiva histórico-cultural em psicologia oferece um caminho profícuo para compreender como a violência se constrói, evolui e se transforma na imbricada teia de relações sociais. Por fim, é possível depreender do processo de investigação que violência e imaginário são constructos que se defrontam e se entretecem, deixando marcas na linguagem da criança que desvelam uma realidade enigmática e surrealista na escola, expressam as condições de miséria humana e traduzem as ínfimas possibilidades de vida a que milhões de crianças e jovens estão, na sociedade contemporânea, brutalmente submetidos. Palavras-chave: violência; imaginário; escola. Contato: Sheila Daniela Medeiros dos Santos, FE/UFG, E-mail: [email protected] DESENVOLVIMENTO NA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL Sala 421 - 10h CO-2003 APLICAÇÃO DA FIEM-ZDP EM INTERAÇÕES PROFESSOR-ALUNOS 152 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Ivo Florentino Santos Silva, UFAL, E-mail: [email protected] Leilane Silva Ferreira, UFAL, E-mail: [email protected] Mariana Ferreira de Almeida, UFAL, E-mail: [email protected] Henrique Jorge Simões Bezerra, UFAL, E-mail: [email protected] Este estudo pretendeu contribuir para o desenvolvimento da ferramenta de Identificação da Emergência e Manutenção de Zonas de Desenvolvimento Proximal (FIEM-ZDP). Possui foco na análise de interações conversacionais entre professor-alunos. A ZDP é um espaço simbólico entre dois níveis de desenvolvimento (real e potencial), sendo uma região que permite a transição do funcionamento interpsicológico para o intrapsicológico (Vigotski, 1998; Meira & Lerman, 2001). Neste conceito é estabelecida uma relação intrínseca entre as dimensões social e individual, na qual as mudanças nos contextos interacionais e comunicativos acarretam mudanças na dinâmica do funcionamento individual e vice-versa (Wertsch, 1985). Isto permite que sujeitos em interação possam definir representações sobre objetos e eventos de forma colaborativa, sendo a conversação um meio privilegiado para que esses processos ocorram. Neste ponto a Análise da Conversação (AC) apresenta-se como ferramenta metodológica capaz de identificar os padrões conversacionais utilizados pelos participantes na regulação de suas contribuições durante a interação. A partir da análise das produções verbais dos interlocutores, buscamos identificar um padrão de interrupção (quebras tópicas) e continuidade dos assuntos tratados na conversação (tópicos conversacionais). Mais especificamente um tipo particular de interrupção seguida de sequências de turnos classificadas como subsequências encaixadas subordinadas (Marcuschi, 2001). Este tipo particular de subsequências foi apontado por Bezerra (2004) como indicador de que os participantes da interação estão conseguindo coordenar coerentemente suas produções de modo a compartilharem suas definições dos objetos discursivos sobre os quais conversam e, por conseguinte, manterem a continuidade tópica. Para Koch et al. (2011), a continuidade tópica constitui um princípio organizador do discurso, sendo este um dos requisitos para que seja considerado coerente. Para Chagas (2007), a coerência apresenta-se como um princípio de interpretabilidade, “envolvendo fatores de ordem cognitiva, interacional e linguística” onde um falante “utilizará certos sinais linguísticos no texto com o objetivo de dar pistas para ajudar os interlocutores a chegar a uma representação mental adequada” (p. 8). Neste sentido Blühdorn et al. (2001) explicam que a construção de sentido por processos discursivos e cognitivos é res- COMUNICAÇÕES ORAIS ponsável pela construção da coerência, e acrescentam que as noções de sentido e coerência se explicam mutuamente na medida em que a coerência se manifesta na presença de sentido e este, por sua vez, se apresenta naquilo que é coerente. Participaram da pesquisa uma professora de geografia e quarenta alunos do sexto ano do ensino fundamental de uma escola pública de Maceió, Al. Foram realizadas várias seções de filmagem de situações de sala de aula, utilizadas durante as sessões de análise videográfica (Jordan & Henderson, 1995; Meira, 1994) com o objetivo de selecionar, para posterior transcrição, situações prototípicas nas quais estão presentes padrões de interação e conversação entre professor e alunos. Para análise dos trechos transcritos, utilizamos como referencial metodológico os pressupostos da AC (Marcuschi, 2003; Jefferson, 2004). Neste estudo foram feitos um mapeamento e uma classificação das quebras tópicas ocorridas durante um episódio de instrução formal. Utilizamos um registro em vídeo de uma aula de geografia, a qual teve como tema principal o Relevo e seus agentes formadores. Os dados apontam para uma crescente aproximação das definições conceituais de professora e alunos, identificados por meio do aumento da frequência de quebras conversacionais, seguidas de subsequências encaixadas subordinadas, provocadas principalmente pelos alunos. Tais quebras emergiram através do uso de perguntas sobre os assuntos tratados, possibilitando aos interlocutores compartilharem mais aspectos sobre os objetos e conceitos abordados, o que permitiu a reorientação do discurso da professora, a qual organizou ou reorganizou as informações sobre os conceitos que estavam em discussão. Segundo Wertsch (1989) no início da interação é comum que os interlocutores compartilhem poucos aspectos dos objetos discursivos, mas através de um processo de negociação, utilizando a linguagem como instrumento de mediação, são capazes de transpor seus mundos privados e criar uma realidade social temporalmente compartilhada (Rommetveit apud Wertsch 1989). Professora e alunos conseguem, ao longo da conversação, operar conjuntamente no sentido de circunscrever os conceitos trabalhados com maior precisão ao emitirem assertivas que crescem em complexidade e quantidade de informação. Deste modo asseguram minimamente que estão falando sobre as mesmas coisas e, portanto, estão construindo e compartilhando significados. Tal fato nos permite então afirmar que este movimento indica a emergência e manutenção de ZDPs, visto que possibilita enxergar os momentos em que a professora presta assistência aos alunos durante o processo de apropriação e domínio conceitual. Os “erros” dos alunos também ganharam destaque no decorrer da análise, uma vez que os padrões discursivos foram alterados em função da assistência prestada pela professora num movimento de reelaboração conceitual mais aprofundado por 153 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento meio da negociação entre os interlocutores. Isto contribuiu decisivamente para sustentar a coerência discursiva e foi responsável por qualificar as subsequências como encaixadas subordinadas, uma vez que, mesmo apresentando exemplos errados, mantiveram-se relacionados ao tópico em curso. Dessa forma os participantes da conversação contribuem para circunscrever os conceitos dos quais estão falando ao enriquecê-los com novos aspectos. Na medida em que a atividade discursiva avança, as novas informações trazidas pelos participantes crescem em complexidade, adensando e definindo com mais clareza os conceitos discutidos durante a aula; assim, destacam-se os aspectos semióticos e interacionais que configuram a emergência da ZDP. Este estudo contribuiu para o desenvolvimento da ferramenta metodológica FIEM-ZDP que possibilitou a identificação da emergência e manutenção de ZDPs em interações professor-alunos a partir da análise de quebras conversacionais, sendo consistente com os dados obtidos por Bezerra (2004) em interações humanohumano-computador. Destacamos a eficácia do modelo em mapear as transformações discursivas no decorrer da interação e apontar os momentos críticos de negociação semiótica nos quais os interlocutores operam com o objetivo de construírem definições dos objetos dos quais estão falando. A relevância das quebras tópicas, especialmente das quebras seguidas de subsequências encaixadas subordinadas, para os processos de negociação conceitual está em contribuírem decisivamente para manutenção da coerência discursiva e para o processo de construção e compartilhamento de significado na conversação. Contato: Ivo Florentino Santos Silva, UFAL, E-mail: [email protected] CO-2033 REGULAÇÃO SEMIÓTICA E EMERGÊNCIA DE ZONAS DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL. Mariana Ferreira de Almeida, UFAL, E-mail: [email protected] Leilane Silva Ferreira, UFAL, E-mail: [email protected] Ivo Florentino Santos Silva, UFAL, E-mail: [email protected] Henrique Jorge Simões Bezerra, UFAL, E-mail: [email protected] Em linhas gerais, esta pesquisa buscou contribuir para reflexão sobre como atributos específicos de ações de linguagem possibilitam a emergência de fenômenos/ ações psicológicos, tomando a Teoria Sócio-históricocultural de Lev Vigotski como eixo central. Em outras COMUNICAÇÕES ORAIS palavras, o que se buscou foi a confluência entre características semióticas específicas de ações de linguagem (os atos de fala) e a emergência e manutenção do fenômeno psicológico em questão (a Zona de Desenvolvimento Proximal ou ZDP). Nesta pesquisa estarão sendo trabalhados os níveis semiótico e interacional da ZDP (Meira & Lerman, 2001; Bezerra & Meira, 2006). Em sua dimensão interacional, a ZDP está intimamente ligada ao conceito de Lei Geral do Desenvolvimento (Wertsch, 1985), o qual afirma que as funções mentais superiores são utilizadas primeiramente para regular as ações que ocorrem nas atividades sociais (nível interpsicológico), sendo apropriadas e transformadas posteriormente para a regulação das atividades individuais (nível intrapsicológico) (Vigotski, 1998). Na dimensão semiótica a ênfase recai sobre a natureza da regulação propriamente dita, ou seja, as ações são reguladas através do uso de sistemas sígnicos (mediação semiótica), dos quais a fala é considerada um dos mais fundamentais (Wells, 1999). Sendo assim, é possível afirmar que, no decorrer do desenvolvimento, os seres humanos se tornam capazes de regular as ações e pensamentos tanto uns dos outros como também os seus próprios; e que esta regulação é predominantemente de natureza semiótica, ou seja, envolve os processos de significação e produção de sentidos (Vigotski, 2000; Wertsch, 1985). O processo de aprendizagem e desenvolvimento associado ao domínio das formas culturais de regulação das ações e pensamentos é o que denominamos ZDP. Esta zona é um espaço simbólico que emerge durante a interação entre participantes engajados em atividades específicas, os quais atuam conjuntamente para produzir significados e sentidos (Meira & Lerman, 2001; Bezerra & Meira, 2006) para os estados-das-coisas-no-mundo, criando uma realidade social temporalmente compartilhada (Rometveit, 1992). Dito de modo mais simples, é a forma que adultos e crianças utilizam para representar e definir os objetos e os eventos em uma determinada situação. Este processo envolve tornar públicos os significados individuais e construir novos significados à medida que a atividade se desdobra. A Teoria dos Atos de Fala, por sua vez, contribuiu para dar continuidade à reflexão acima, ao propor que a linguagem é uma forma de ação sobre o mundo, responsável não apenas por representá-lo, mas também por constituí-lo (Austin, 1990). A TAF direciona suas análises para as situações de uso da linguagem, em contextos e com fins determinados e de acordo com certas normas e convenções (Searle, 1997). Para este estudo, o interesse principal é saber que tipos de ações humanas se realizam por meio da linguagem (Koch, 2001), considerando a referencialidade e a predicação, a força ilocucionária e seus efeitos sobre os interlocutores. Apesar de sua contribuição fundamental para o estudo dos eventos de fala, a TAF tem como unidade de análise a sentença e costuma enfatizar 154 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento a fala do locutor, ainda que considere seus efeitos sobre o ouvinte. Para os objetivos desta pesquisa, os atos de fala serão analisados levando em conta as trocas de turnos e sequências da conversação. Participaram da pesquisa uma professora de geografia e quarenta alunos do sexto ano do ensino fundamental de uma escola pública de Maceió, Al. Foram realizadas várias seções de filmagem de situações de sala de aula, utilizadas durante as sessões de análise videográfica (Jordan & Henderson, 1995; Meira, 1994) com o objetivo de selecionar, para posterior transcrição, situações prototípicas nas quais estão presentes padrões de interação e conversação entre professora e alunos. O trecho de vídeo selecionado foi uma aula sobre o relevo e seus agentes internos e externos. Para análise utilizou-se como referencial metodológico os pressupostos da TAF (Marcodes, 2006). A análise indicou que existiam modalidades de regulação dos funcionamentos interpsicológicos que eram expressas majoritariamente por meio de atos de fala assertivos e diretivos, respectivamente. Nas sequências de turnos analisadas, os atos assertivos eram emitidos principalmente pela professora a fim de fazer corresponder um conteúdo específico de sua fala a determinados estados-de-coisas-do-mundo como, por exemplo, “os agentes internos são toda a movimentação que ocorre no interior do planeta”, em que se elege um referente (agentes internos), um predicado (toda a movimentação no interior do planeta), uma força ilocucionária (explicação) e um efeito perlocucionário (alunos citam exemplos de agentes internos: maremoto e terremoto). Do ponto de vista psicológico, professora e alunos estão criando uma ZDP ao representar e definir colaborativamente objetos e eventos em uma determinada situação. É estabelecido um processo de compartilhamento de significados em que é explicitada e delineada uma categoria conceitual pela professora e exemplos consistentes com a categoria são apresentados pelos alunos. Nos casos em que os exemplos são inconsistentes, a professora reformula os atos de fala a fim de produzir ajustes conceituais. Os atos de fala diretivos foram emitidos tanto pela professora quanto pelos alunos. Seu objetivo seguia na direção contrária aos atos assertivos, ou seja, os participantes buscavam fazer corresponder certos estados-de-coisas-no-mundo a conteúdos específicos de linguagem. Manifestaram-se através de ordens ou pedidos emitidos durante a conversação. Neste caso, foram frequentes na fala da professora as perguntas de checagem, tais como: “o que é relevo?” ou “o granizo é um agente externo?”. Novamente se apresenta um referente (relevo), uma pergunta sobre predicado (o que é?), uma força ilocucionária (pedido/pergunta) e um efeito perlocuionário (resposta de um aluno: “é uma forma urbana”). Do ponto de vista psicológico, ao lançar desafios semióticos, a professora avalia se os alunos são capazes de produzir respostas correspondentes à categoria conceitu- COMUNICAÇÕES ORAIS al tratada (autorregulação). Ao constatar que a resposta não está coerente com o conceito trabalhado, a professora produz atos de fala com o fim de prestar assistência aos alunos sobre os aspectos conceituais que estes ainda não dominam de modo independente (inter-regulação). Tais resultados são coerentes com as pesquisas realizadas por Bezerra (2004) em interações com formato humanohumano-computador, as quais apontaram os atos de fala diretivos e assertivos, quando analisados dentro de sequências conversacionais, como reguladores semióticos centrais para a emergência e manutenção de ZDPs. Palavras-chave: aprendizagem; desenvolvimento conceitual; relação educador-educando. Contato: Mariana Ferreira de Almeida, UFAL, E-mail: [email protected] CO-2479 A AÇÃO DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NO DESENVOLVIMENTO DA PRÁTICA DOCENTE: UM OLHAR A PARTIR DA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL Edi Silva Pires, UnB, E-mail: [email protected] Maria Carmen V. R. Tacca, UnB, E-mail: [email protected] O estudo objetivou analisar os impactos da ação do coordenador pedagógico nas possibilidades de desenvolvimento da prática docente. Entendendo a dinâmica da coordenação como aspecto significativo na organização do trabalho pedagógico visando ao processo ensinoaprendizagem e, no intuito de conhecer aspectos que contribuem para evidenciar impactos dessa ação, consideramos a importância das relações sociais como princípio norteador da perspectiva histórico-cultural, e para tanto buscamos pesquisar. O trabalho vem delineado em cinco momentos. O primeiro articula teoricamente, o segundo explicita a metodologia utilizada, o terceiro contextualiza a pesquisa, as discussões são feitas no quarto momento e, no quinto momento são tecidas considerações acerca dos resultados da investigação. Tais aspectos estão alicerçados num fator importante que é a forma como as relações sociais no espaço escolar estão apoiadas em diálogos construtivos e numa comunicação educativa que visa desenvolvimento dos sujeitos em interação. Para Vygotski (1988), o desenvolvimento do sujeito é mediado pelas relações sociais e produções humanas, numa evolução histórica. Consonante com essa abordagem, o desenvolvimento do sujeito enquanto coordenador e professor implica que eles passem e se envolvam num processo reflexivo, para que seu trabalho cumpra seus propósitos, sendo significativo para eles. Assim, torna-se necessário 155 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento ter clareza dos aspectos que permeiam a relação professores e coordenador e de como esta pode contribuir para seu desenvolvimento, impactando sua atuação. Vygotski (1988, 1995) é categórico defendendo que aprendizagem precede desenvolvimento, que é na relação com o meio que a condição humana se constitui e desenvolve. Nesse sentido compreendemos que aprender e ensinar conectados ao meio em que vivemos são ações mobilizadoras de desenvolvimento. Então o interesse no estudo do impacto que a ação do coordenador pedagógico propicia à prática docente encaminha para uma contribuição em torno da qualidade dos processos educativos. Considerando o presente estudo e a complexidade que envolve seus objetivos, optou-se metodologicamente, pela epistemologia qualitativa, de González Rey (2005a, 2005b). O qualitativo se instala buscando explicar o que, na processualidade da pesquisa, se identifica por sua singularidade no contexto investigado, como o conhecimento vai se dando à medida que se caminha para realização dos objetivos da investigação. Assim, para desenvolvimento empírico da pesquisa foi escolhida uma instituição pública de ensino do Distrito Federal que atende alunos da educação básica. Fizeram parte da pesquisa quatro professoras do Bloco Inicial de Alfabetização, centrando-se o momento empírico na atuação de uma coordenadora pedagógica. Participou a equipe pedagógica intencionando estruturar informações condizentes com a organização da prática pedagógica escolar cotidiana, considerando aspectos que permeavam a coordenação pedagógica. A pesquisa realizou-se no primeiro semestre letivo de 2013. Apresentamo-nos à escola e esclarecemos os objetivos do trabalho, que era acompanhar a ação do coordenador pedagógico e seus possíveis impactos na prática dos professores. Definimos o grupo colaborador, passamos a participar do espaço da coordenação e momentos em sala de aula. Observamos como acontecia a coordenação pedagógica, a atuação da coordenadora em momentos coletivos e individuais, reações dos professores, como se relacionavam, se articulavam, estratégias desenvolvidas para atender necessidades do processo ensino-aprendizagem. Nesse período observamos que as atividades da escola se desenvolviam norteadas pelo projeto político-pedagógico (PPP), redimensionando o que se fazia necessário, em termos de práticas e saberes. Percebemos a prática de uma avaliação institucional interna, prevista no PPP, com base nos descritores da Prova Brasil e currículo. Coletivamente desenvolveram descritores comungando com princípios desses instrumentos, elaboravam questões de linguagem e matemática e os docentes faziam correção. Com o resultado em mãos, a coordenadora elaborava tabelas e gráficos e, na coordenação coletiva, analisavam os dados. O diagnóstico das fragilidades e possibilidades que permeiam o processo educativo; a avaliação desenvolvida como me- COMUNICAÇÕES ORAIS canismo reflexivo da ação pedagógica; o planejamento como estratégia de desenvolvimento dessa ação; a aprendizagem que se objetiva no sentido de transcender o caráter passivo-reprodutivo, assim como a escuta pedagógica viabilizadora da constituição do espaço coletivo de desenvolvimento da prática pedagógica, ganham relevância na discussão das ações pertinentes à função do coordenador pedagógico. Era perceptível o olhar investigativo, um movimento reflexivo se desenvolvia a partir dessa ação da coordenação pedagógica, nessa organização do espaço da coordenação pedagógica, numa estratégia de, junto ao coletivo escolar, analisar o trabalho desenvolvido em sala de aula e a avaliação em pauta, localizando dificuldades e possíveis soluções. Havia envolvimento da coordenação e docentes nas ações que permeavam a prática pedagógica para alavancar o processo ensino- aprendizagem; o espaço da coordenação pedagógica, na forma como era organizado por parte do coordenador, constituía-se em ambiente de aprendizagem. As estratégias desenvolvidas buscavam impactar e propiciar aos professores e aos estudantes mecanismos de desenvolvimento. As ações eram projetadas, o trabalho pedagógico redimensionado, olhares ajustados para que, o sucesso do aprender e do ensinar fosse pensado, repensado e construído coletivamente. O estudo concluiu que, na dinâmica educativa investigada, a forma como se desenvolvem as relações sociais entre coordenador e docentes, a constituição do espaço da coordenação pedagógica como um espaço dialógico-reflexivo e a ação comprometida do coordenador pedagógico frente aos desafios do processo ensino-aprendizagem, consonante com necessidades analisadas pelo coletivo escolar numa regularidade afinada e definida pelo PPP, fruto da construção coletiva, é possibilitadora de ação pedagógica comprometida com aprendizagem e desenvolvimento humano no espaço educativo. Palavras-chave: coordenação pedagógica; desenvolvimento; prática docente. Contato: Edi Silva Pires, UnB, E-mail: [email protected] CO-2461 VOZES DE CRIANÇAS EM TRATAMENTO ONCOLÓGICO: SIGNIFICADOS E SENTIDOS DO CÂNCER PELA PERSPECTIVA VIGOTSKIANA Sabrina Leite Cardoso dos Santos Jesuino, UFC, E-mail: [email protected] Jesus Garcia Pascual, UFC, E-mail: [email protected] Esta pesquisa teve por intuito a compreensão dos significados e sentidos do câncer em crianças sob tratamento 156 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento oncológico ambulatorial. Toda a investigação baseou-se na fundamentação teórica da Psicologia Histórico-Cultural de Vigotski e nas fontes referentes à Psiconcologia. Diante disso, apresenta-se como interesse científico a busca pelo entendimento de como as próprias crianças acometidas pelo câncer significam e atribuem sentido à doença. Secundariamente, procurou-se compreender como a família, copartícipe deste processo, influencia as crianças na transmissão do significado da doença. Buscamos, com isso, atentar para as necessidades essenciais da criança nas diferentes etapas do desenvolvimento infantil, e considerá-la dentro de cada contexto cultural, assim como as dificuldades decorrentes desse processo doloroso de adoecimento. Nesta conjuntura de hospitalização, é necessário dar crédito à fala da criança como importante recurso no entendimento das suas angústias, dores, satisfações/ insatisfações, ou seja, impõe-se garantir a essas crianças meios de expressão e significação da situação em que vivem. Trazemos, então, como objetivo geral desta pesquisa: compreender os significados e sentidos do câncer atribuídos pelos pacientes oncológicos infantis sob tratamento ambulatorial, considerando o discurso das crianças assim como dos seus membros familiares. Quanto aos objetivos específicos: identificar quais as atribuições de significado e sentido do câncer pela criança, baseados no discurso e na expressão lúdica sobre a doença e acerca do tratamento; buscar subsídios para contextualizar o discurso e a expressão das crianças nas concepções da doença e do tratamento do câncer expressa pelos pais/responsáveis das crianças investigadas e compreender o contexto de hospitalização e do tratamento do câncer infantil das crianças em tratamento, com apoio nas interações ocorrentes no ambiente hospitalar das crianças com a equipe e com a família. Esta investigação ergueu-se por meio do estudo de dois casos, cuja análise se concentrou no estudo microgenético das expressões de duas meninas de seis anos, submetidas ao tratamento oncológico ambulatorial no Centro Pediátrico do Câncer (CPC) de Fortaleza, Ceará. A pesquisa foi conduzida segundo o método qualitativo, de acordo com o qual foram priorizadas as particularidades do adoecimento de câncer para as crianças. Utilizaram-se como procedimentos de elaboração dos dados o desenho e o brinquedo, fontes importantes para a criação de um ambiente lúdico favorável à expressão das crianças. De posse das conversas, devidamente gravadas, empreendemos a fase de transcrição, leitura e recorte dos momentos interativos que pudessem compor o estudo de caso e concentrar-se no foco investigativo. Após a seleção das cenas, analisamos os excertos, conforme a análise microgenética proposta por Maria Cecília Góes (2000, 2012). Por meio da descrição e análise minuciosa, pudemos compor as temáticas dela decorrentes. Assim, tivemos a oportunidade de captar o texto e o subtexto da compreensão das COMUNICAÇÕES ORAIS crianças a respeito da sua doença. A observação participante (MINAYO, 2001) constituiu meio valioso de contextualização dos aspectos hospitalares e das interações de crianças com todo esse universo. As entrevistas com as mães forneceram subsídios complementares, com auxílio na composição dos casos e na contextualização do próprio entendimento da expressão da criança. A apreciação das falas das crianças, em cada caso específico, destacou os significados e sentidos referentes ao tumor, hospitalização, cirurgia, dentre outros. Abordar esta temática em crianças é percorrer, necessariamente, as linhas teóricas que nos conduzem ao entendimento da formação dos conceitos, caminho que nos aproximará dos significados das palavras utilizadas, como tumor, hospital e outros termos científicos e específicos à realidade histórico-cultural em que as crianças da pesquisa se encontram inseridas. Verifica-se que o pensamento dessas crianças em relação ao adoecimento se mostra fundamentalmente por complexo, fenotipicamente semelhante ao conceito propriamente dito pela qualidade e natureza psicológica. Temáticas como tumor, cirurgia, morte, hospital, internação, sofrimento, procedimentos hospitalares, queda do cabelo e uso da máscara são evidenciadas em suas falas. Destacamos aqui a palavra “tumor”, primeira e a mais forte da investigação, por todo o teor que carrega, dita e explicada pelas crianças. Com base no exposto pelas crianças, sem questionar a riqueza do pensamento e formulações a respeito das suas experiências, conseguimos aprender um contorno do conceito. Os significados e sentidos apreendidos nesta pesquisa, portanto, não constituem reflexo direto do pensamento infantil. Perceberam-se, então, a instabilidade dos significados apresentados pelas crianças, quando consideramos o conceito propriamente dito. Isso não expressa desvalorização do pensamento infantil e das suas experiências, pelo contrário. Acreditamos que tal investigação abra espaço para mais discussões acerca dos significados, sentidos, formação de conceito e outros desdobramentos que seguem a proposta da Psicologia Histórico-Cultural de Vigotski. A área da infância e da hospitalização carece de estudos mais pormenorizados, que venham se consolidar em auxílio no trabalho com essas crianças, com base no melhor entendimento da elaboração do seu pensamento e aquisição da linguagem. Com origem nos dados de entendimento da criança sobre a doença, poder-se-á, contribuir para maior adequação das comunicações com a díade mãe/paciente e maior aproximação do pensamento infantil e, consequentemente, maiores cuidados psíquicos à criança. Verificamos que as explicações sobre alguns procedimentos, aparentemente óbvios aos adultos, em específico, à equipe hospitalar, que algumas coisas não precisam ser ditas, pois as crianças não entendem. De fato, não poderão ter o entendimento básico sobre o que lhes está acontecendo, se a comunica- 157 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento ção entre as partes não ocorre. Ainda é muito presente também a ideia de tentar enganar ou omitir sobre algum acontecimento, temendo suas reações ou não aceitação de alguns eventos. Isso incomoda à equipe, aos pais, porque ainda é muito arraigada a ideia de que a criança deve ser obediente e não mostrar nenhuma insatisfação. De outro lado, percebemos que as explicações, não técnicas, mas condizentes com o vocabulário infantil, permitem maior aproximação da criança com o que está acontecendo ou previsto a ocorrer, admitindo a participação dela no processo de tratamento. Cremos que o interesse na escuta das crianças sobre os significados e sentidos atribuídos à doença permita, em primeiro lugar, maior aproximação da sua linguagem, do pensamento materializado refletido na palavra e das emoções que todo o processo desperta. Palavras-chave: significado; sentido; câncer infantil. Contato: Sabrina Leite Cardoso dos Santos Jesuino, UFC, E-mail: [email protected] CO-2465 ANÁLISE MICROGENÉTICA: CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMAÇÃO DO JOVEM PESQUISADOR EM PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO Lara Letícia Pinto Barbosa, UnB, E-mail: [email protected] Tathyana de Souza Lopes, UnB, E-mail: [email protected] Helena Lafetá Neves, UnB, E-mail: [email protected] Gabriela Sousa de Melo Mieto, UnB, E-mail: [email protected] Um dos principais desafios da Psicologia nas últimas décadas tem sido ultrapassar a análise de seus fenômenos centrada apenas no indivíduo, ou seja, assumir um posicionamento mais amplo de que toda atividade humana é mediada (Fávero, 2010). Tendo a família como o primeiro contexto de contato de um bebê na primeira infância, o objetivo deste trabalho é discutir algumas contribuições que a utilização da análise microgenética oferece à formação do jovem pesquisador em Psicologia do Desenvolvimento, a partir da replicação de experimento ainda na graduação. A abordagem microgenética tem se mostrado eficiente, tratando-se, nas palavras de Goés (2000), “de uma forma de construção de dados que requer a atenção a detalhes e o recorte de episódios interativos, sendo o exame orientado para o funcionamento dos sujeitos focais, as relações intersubjetivas e as condições sociais da situação, resultando num relato minucioso dos acontecimentos”. Compartilhado o interesse pelo desenvolvi- COMUNICAÇÕES ORAIS mento infantil nos primeiros meses de vida, um grupo de jovens pesquisadoras elegeu um estudo descrito por Rodriguez e Moro (1999) para ser replicado, a fim de atingirem três objetivos: a) exercitarem a construção de passos da metodologia microgenética; b) construírem dados comparativos entre o estudo original, realizado em contexto europeu, e o contexto brasileiro; c) construírem conhecimentos teórico-práticos advindos desta experiência metodológica em articulação com outras subáreas da Psicologia. A investigação escolhida (Rodriguez & Moro, 1999) está sendo replicada, inicialmente, em um único estudo de caso, a ser discutido nesta sessão. O objetivo do estudo é compreender como ocorre a mediação, não apenas entre o bebê e o adulto, mas entre o bebê, o adulto e o objeto que é apresentado ao bebê por este adulto, e sobre o qual se aprende nesta relação triádica. Trata-se de um estudo longitudinal com um único bebê sempre em interação com o mesmo adulto e os mesmos objetos, em que são feitas filmagens de interações entre a criança, a mãe e três brinquedos. Estas interações são observadas ao longo de sete meses, divididas em três sessões que acontecem aos 7, 10 e 13 meses de idade do infante. A cada sessão os brinquedos são apresentados nesta ordem: pequena caixa de tampa removível com encaixes para peças de cinco formatos diferentes; um telefone em formato de carrinho, que dispõe de um “dial” que faz barulho ao ser manuseado; e por último uma centopeia com um nariz que ao ser pressionado emite som e com três botões diferentes, que ao serem explorados, levantam cada qual uma placa com formato de um animal. Como o bebê ainda está em seu décimo mês de vida informa-se que os resultados ora apresentados serão parciais - com dados de apenas a primeira sessão. O tratamento dos dados começa com a elaboração de um resumo da sessão realizada, resultado de uma síntese de quatro diferentes pontos de vista de análise. As filmagens são assistidas exaustivamente pelas pesquisadoras, para posteriormente serem exploradas através do auxílio da ferramenta de análise ELAN, desenvolvido pelo Instituto Max Planck. Dados preliminares indicam que os resultados obtidos na primeira sessão da replicação do estudo convergem para determinadas categorias do estudo original, tais como “atenção”, “emoção” e “usos canônicos”. As categorias criadas foram resultados dos agrupamentos de observações a partir do tipo de natureza de cada um e dos seus graus de complexidade. A replicação deste estudo demonstra, até o momento, de forma bastante pontual às pesquisadoras, cuidados metodológicos a serem seguidos em todas as etapas da realização da investigação, desde o levantamento bibliográfico, às decisões de registro das sessões e de suas análises. De acordo com Werner (1999), na análise microgenética o foco de avaliação é deslocado do indivíduo para as relações interpsíquicas em ocorrência. Levando em conta que todo ator social que também 158 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento se encontra em interação é relevante para análise, no caso do presente estudo tanto a mãe quanto o brinquedo são participantes dessa tríade e atuam significativamente no processo de regulação do comportamento, afetando necessariamente as respostas da criança, bem como a criança também influencia nas respostas da sua mãe. Com essa análise em pauta será possível, após o término das três sessões, identificar funções psíquicas já formadas e aquelas em processo de formação. Em consonância ao terceiro objetivo desta sessão, a aproximação com este estudo específico, que faz uso da metodologia microgenética, tem possibilitado ao grupo de pesquisadoras construírem conhecimentos teórico-práticos advindos desta experiência metodológica em articulação com outras subáreas da Psicologia, também estudados ao longo do curso de graduação. Exemplo disto é o fato de que esta pesquisa reafirma a importância do olhar da Psicologia para a primeira infância, enfatizando as relações que são estabelecidas precocemente entre bebês e/ou crianças pequenas e seus cuidadores principais, reconhecidamente na cultura ocidental, como suas mães ou os pais. A partir deste marco de cuidado, compreende-se que no futuro - a sociedade composta pelas crianças de hoje, tenha uma visão de mundo que priorize a compaixão pelo próximo, a partir de posicionamentos virtuosos (Mieto, 2010), uma vez que a solidariedade como um conceito e uma prática fundamental, se aprende e desenvolve na interação com o outro, desde cedo. Murta et al. (2011) destaca que “intervenções preventivas, que visem ao ensino de estratégias de enfrentamento adequadas para o manejo do estresse inerente a esta nova situação, são de grande relevância nesse momento, a fim de minimizar as chances de ocorrência de problemas tais como [...] maus-tratos e negligência para com o bebê”. Esta experiência, portanto, demonstra contribuições para a formação de novas vocações, incluindo aspectos teórico-metodológicos e a reflexão sobre sua aplicação ética e de retorno à sociedade sobre os conhecimentos construídos. Palavras-chave: metodologia microgenética; desenvolvimento de bebês; mediação semiótica. Contato: Lara Letícia Pinto Barbosa, UnB, E-mail: [email protected]. ADOLESCENTES EM CUMPRIMENTO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS Sala 422 - 10h CO-2100 TRÁFICO E CRIMES VIOLENTOS: EMPATIA, JULGAMENTO MORAL E VALORES HUMANOS DE ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI COMUNICAÇÕES ORAIS Franciela Félix de Carvalho Monte, UFPE, E-mail: [email protected] Leonardo Rodrigues Sampaio, UNIVASF, E-mail: [email protected] Apoio financeiro: CNPq Recentemente, no Brasil, houve um aumento dos atos infracionais cometidos (AI) por adolescentes, em especial o tráfico de drogas (Brasil, 2010; 2011) chegando a representar aproximadamente 13% do total dos AIs cometidos por esses jovens (apenas 5% são crimes graves contra a vida). Apesar dos efeitos sociais deste AI (ver Brasil, 2009), a discussão sobre o tráfico é controversa, uma vez que a sociedade atribui a violência nas cidades a esta modalidade de crime, mas defende penas menores para este, quando comparado a penas atribuídas a outros AIs (Cardia, 2012). Ademais, os jovens que cometeram ato infracional compreendem o tráfico como um comércio e via de acesso ao status e visibilidade social (Faria & Barros, 2011; Monte, 2012). Destaca-se que a Psicologia do Desenvolvimento Moral tem discutido a influência que alguns aspectos do desenvolvimento psicossocial como os valores, a empatia e o julgamento moral exercem sobre as condutas socialmente aceitas ou rejeitadas. Aqui, entende-se a empatia como a capacidade de colocar-se no lugar do outro (cognitivamente) e responder afetivamente à situação alheia (Hoffman, 2000). Os Valores Humanos, por sua vez, podem ser entendidos como conceitos ou crenças que guiam a seleção, avaliação e julgamento de comportamentos/eventos (Schwartz, 2006). Por fim, o Julgamento Moral refere-se à capacidade do sujeito atribuir juízos valorativos sobre as ações (suas e dos outros) e pode passar por seis estágios contínuos de desenvolvimento (Kohlberg, 1954/1992). Nesta direção, o objetivo principal deste estudo foi avaliar os níveis de Empatia, Julgamento Moral e os tipos de Valores Humanos de três grupos de adolescentes (adolescentes que cometeram tráfico, outros AIs violentos e não infratores). Participaram deste estudo 113 adolescentes - 12 a 18 anos (M=15,30; d.p=1,53), de ambos os sexos, da região metropolitana do Recife-PE. Destes, 29 praticaram tráfico (Grupo I), 24 praticaram outros AIs violentos (Grupo II) e 60 não praticaram nenhum tipo de AI (Grupo III). Os adolescentes dos grupos I e II foram entrevistados em unidades socioeducativas de internação e o grupo III em escolas nos bairros de onde eram provenientes os adolescentes infratores. Todos os participantes responderam a um questionário socioeconômico e aos “Dilemas da Vida Real”: redução da maioridade penal e pena de morte (Galvão, 2010). Em seguida (alternadamente), responderam ao Questionário de Valores Básicos - QVB (Gouveia, 2003), o qual avalia a orientação (Social, Pessoal, Intrapessoal) e motivação (Idealistas, Pragmáticos) dos valores e à Escala Multidi- 159 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento mensional de Reatividade Interpessoal - EMRI (Sampaio, Guimarães, Camino, Formiga & Menezes, 2011) que avalia dimensões cognitivas (Tomada de Perspectiva e Fantasia) e afetivas (Angústia Pessoal e Consideração Empática) da empatia. O Julgamento Moral dos adolescentes foi avaliado por três juízes independentes, considerando os estágios propostos por Kohlberg (1954/1992). Os demais instrumentos foram tabulados e analisados através do SPSS (Statistical Package Social Sciences, 18.0). Os três grupos não diferem entre si quanto ao sexo, idade, escolaridade e renda média familiar (p>0,05). Quanto à Empatia, constatou-se a existência de diferenças significativas nos níveis de Empatia Geral [F(2, 110)=21,405; p<0,0010], Consideração Empática [F(2, 110)=16,072; p<0,001], Angústia Pessoal [F (2, 110)=13,038; p<0,001], Tomada de Perspectiva [F (2, 110)=18,390; p<0,001] e Fantasia [F(2, 110)=1,632; p<0,001]. O teste de post-hoc de Tukey aponta que, em todas as dimensões, os grupos I e III não se diferenciam entre si, mas que ambos têm escores mais elevados que o grupo II (p<0,05). No que tange aos Valores Humanos, os grupos diferiram em relação à Orientação Pessoal [F(2, 110)=7,302; p=0,001], motivador idealista [F(2, 110=5,349; p=0,006], valores Suprapessoais [F(2, 110)=3,502; p=0,034], de Realização [F(2, 110)=3,702; p=0,028] e de Experimentação [F(2, 110)=3,702; p=0,005]. Quanto aos valores Pessoais e Suprapessoais, o grupo I pontuou mais que o grupo III e II, entre os quais não houve diferença. Nos valores idealistas, de experimentação e realização, os grupos I e III (que não diferiram entre si) pontuaram mais que grupo II. Referente ao Julgamento Moral, apenas o Dilema da Redução da Maioridade Penal [F(2, 110)=3,098; p=0,023] e o Índice Geral de J.M [F(2, 110)=3,103; p=0,049] diferiram entre os grupos. Neste caso, os grupos I e II não diferiram entre si, mas ambos diferiram do grupo de não infratores, segundo o post hoc de Tukey (p<0,05). Inicialmente, observa-se que os dados corroboram pesquisas anteriores que propõem que a empatia funciona como um inibidor da conduta antissocial, antecipando o sofrimento alheio (Del Prette & Del Prette, 2003). Na mesma direção, o Julgamento Moral de adolescentes em conflito com a lei (grupos I e II) é menos desenvolvido, não permitindo aos sujeitos considerar as normas e leis como garantia dos direitos de outros (Kohlberg, 1954/1992). Ademais, observou-se no grupo de adolescentes que cometeram tráfico de drogas um predomínio de valores pessoais, idealistas, de realização e experimentação, além de suprapessoais, na direção de estudos anteriores (Formiga, 2010; Formiga & Gouveia, 2005). Sugere-se que alguns crimes possam estar relacionados à busca de satisfação de interesses pessoais. Vale destacar/ ressalvar a semelhança entre os grupos de adolescentes que cometeram tráfico e aqueles que não cometeram nenhuma infração, o que indica que o tráfico seja compreendido, COMUNICAÇÕES ORAIS neste público, não como uma questão moral (relacionada ao bem-estar de outras pessoas), mas, provavelmente em um domínio convencional (normas sociais arbitrárias) ou pessoal (onde a escolha não tem implicações sociais nem morais), conforme tipologia de Nucci (2000). Isto explicaria o discurso comum de que o tráfico é “apenas um comércio”, bem como as pontuações elevadas em valores pessoais, de realização e de experimentação, dirigidos ao bem-estar pessoal, restritamente. Ressalta-se que pesquisas adicionais são necessárias no sentido de conhecer as concepções morais, convencionais e pessoais de adolescentes brasileiros sobre o tráfico, o que pode explicar porque este ato infracional atrai e motiva tantos jovens e se constitui atualmente num problema social relevante. Palavras-chave: tráfico; atos infracionais; empatia; julgamento moral; valores. Contato: Franciela Félix de Carvalho Monte, UFPE, E-mail: [email protected] CO-2455 DESENVOLVIMENTO E EXPERIÊNCIAS NO CREAS: A PRÁTICA JUNTO A JOVENS EM CUMPRIMENTO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS Tâmara Ramalho de Sousa Amorim, UEPB, E-mail: [email protected] Maria de Fatima Pereira Alberto, UFPB, E-mail: [email protected] Alex Bruno Soares, UFPB, E-mail: [email protected] João Paulo Gomes de Souza, UFPB, E-mail: [email protected] Poliana Camila Ferreira Simões, UFPB, E-mail: [email protected] Rayssa Rosany de Castro Silva, UFPB, E-mail: [email protected] A noção de juventude pode ser caracterizada como uma construção histórica, que responde a condições sociais específicas que se deram com a emergência do capitalismo. O conceito de juventude pode ser desenvolvido por diferentes pontos de partida: uma faixa etária, um período da vida, uma condição social. Pensando na juventude como condição social, pode-se caracterizá-la como tendo qualidades específicas que se manifestam de diferentes maneiras. Assim, é importante tomar a ideia de juventude em seu plural - juventudes - devido à diversidade de situações existenciais que afetam os sujeitos (Sposito e Carrano, 2003). Quando um jovem se envolve com práticas de atos infracionais, eles são responsabilizados através da aplicação de medidas socioeducativas, de acor- 160 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento do com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), as quais têm como objetivo a reinserção social e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. A medida socioeducativa busca a proteção e a responsabilização a partir de uma ação pedagógica sistematizada e leva em consideração a condição de sujeitos em desenvolvimento (Francischini e Campos, 2005). O ECA estabelece as seguintes medidas socioeducativas: advertência; obrigação de reparar o dano; prestação de serviços à comunidade; liberdade assistida; inserção em regime de semiliberdade; e internação em estabelecimento educacional. Para que o ECA seja posto em prática e os direitos das crianças e dos adolescentes se efetivem, faz-se necessário um conjunto de instrumentos operativos, como as políticas públicas e os programas sociais. O Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) constitui-se como um desses instrumentos, tendo como objetivo prevenir e combater a violação de direitos, ofertando ações especializadas através de uma equipe multiprofissional de orientação, proteção e acompanhamento psicossocial e jurídico individualizado. O CREAS atende um amplo público-alvo, entre eles jovens em cumprimento de medida socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e Prestação de Serviços a Comunidade (PSC). Diante do exposto, o presente trabalho é fruto de um projeto de extensão em andamento e tem como objetivo apresentar um relato de experiência das atividades que estão sendo desenvolvidas com os jovens usuários do CREAS e seus familiares, de forma a trazer contribuições para a reflexão sobre a prática do psicólogo com jovens em cumprimento de medidas socioeducativas. Este trabalho se inscreve na perspectiva dos Direitos Humanos e da defesa dos direitos da criança e do adolescente e vê a psicologia como tendo um importante papel na garantia das condições dignas para o desenvolvimento biopsicossocial dos sujeitos. Participam do projeto de extensão 04 discentes do curso de Psicologia, os quais se dividiram em duas duplas e vão ao CREAS duas vezes por semana. Nos primeiros dois meses, os extensionistas participaram das atividades da instituição no intuito de fazer uma territorialização: acompanharam as oficinas com os jovens, conversaram com os profissionais, entre eles os de psicologia, conheceram o funcionamento da instituição, entre outros. Passado esse momento inicial de territorialização, houve uma reunião dos participantes e coordenadoras do projeto com a equipe do CREAS para definir de que atividades especificamente os extensionistas poderiam participar e de que forma poderiam contribuir. Ficou decidido que a participação deles se daria por meio das oficinas: uma dupla participaria das oficinas com os jovens e a outra dupla, de oficinas com os familiares dos jovens, sempre acompanhados de profissionais da instituição. Vale ressaltar que, diferente das oficinas com os jovens, as oficinas com os familiares não exis- COMUNICAÇÕES ORAIS tiam, foram criadas a partir desta reunião, algo que pode ser visto como uma contribuição do projeto de extensão para o desenvolvimento das atividades da instituição. As atividades de oficinas com os jovens acontecem uma vez por semana e são organizadas por um pedagogo do CREAS, em conjunto com dois extensionistas. Participam em média 05 jovens. Durante o período de territorialização, havia nas oficinas a utilização de recursos como filmes e a elaboração de cartazes sobre um determinado tema, finalizando com a discussão dialogada do tema. Os temas trabalhados nesse período foram redução da maioridade penal, violência, entre outros. Passado o período de territorialização, está sendo planejada a realização de um acordo de convivência, que consiste em cada uma das partes envolvidas sugerir um tema a ser trabalhado no grupo e proceder a um acordo acerca da forma e da periodicidade. O tema que está sendo trabalhado pelos extensionistas é “direitos” e será ouvido que tema os jovens sugerirão. Em relação às oficinas com os familiares dos jovens, estas acontecem também uma vez por semana, são organizadas por dois extensionistas em conjunto com uma psicóloga e uma assistente social. Participam em média 10 familiares. Até o momento foram realizados três encontros. O primeiro foi de apresentação e realização do acordo de convivência. O tema sugerido pela equipe foi “direitos” e o tema sugerido pelos familiares foi “drogas”, os quais começaram a ser trabalhados nos encontros seguintes. Comumente parte-se de uma técnica de dinâmica de grupo para uma discussão dialogada do tema, finalizando com uma avaliação do encontro. Nas atividades com os dois públicos, cabe aos extensionistas, a mediação do diálogo, incentivando a reflexão sobre os temas tratados e sobre os contextos sociais que os jovens e familiares estão vivenciando. Quando necessário cabe a eles também realizar articulações dos aspectos objetivos e subjetivos, tais como história de vida, experiências e processo de subjetivação, além da aplicação de técnicas de dinâmica de grupo, comumente com a finalidade de iniciar a discussão dialogada do tema. As oficinas demandam dos profissionais e extensionistas uma escuta atenta e o respeito ao momento da fala das participantes. A participação no projeto de extensão tem contribuído com a formação dos discentes para a prática profissional junto aos jovens em cumprimento de medidas socioeducativas. Considera-se que a atuação do psicólogo deve levar em conta os processos de subjetivação dos jovens que cometeram ato infracional, rompendo com a lógica desenvolvimentista presente na Psicologia (Gonzáles e Guareschi, 2009), que apresenta uma naturalização das etapas da vida e não observa que os períodos de desenvolvimento são entidades produzidas socialmente. Palavras-chave: desenvolvimento; medida socioeducativa; CREAS. 161 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Contato: Tâmara Ramalho de Sousa Amorim, UEPB, E-mail: [email protected] CO-2215 DESENVOLVIMENTO E SUBJETIVAÇÃO DE JOVENS EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO Tâmara Ramalho de Sousa Amorim, UEPB, E-mail: [email protected] Maria de Fátima Pereira Alberto, UFPB, E-mail: [email protected] Leilane Cristina Oliveira Pereira, FSM, E-mail: [email protected] Joana Azevedo Lima, Faculdade Ruy Barbosa/ Devry Brasil, E-mail: [email protected] A categoria juventude pode ser vista como uma construção histórica, que responde a condições sociais específicas que se deram com a emergência do capitalismo. Nos dias atuais, a definição de juventude pode ser desenvolvida por diferentes pontos de partida: uma faixa etária, um período da vida, uma condição social. Pensando na juventude como condição social, pode-se caracterizá-la como tendo qualidades específicas que se manifestam de diferentes maneiras. Assim, é importante tomar a ideia de juventude em seu plural - juventudes - devido à diversidade de situações existenciais que afetam os sujeitos (Sposito e Carrano, 2003). Quando um jovem se envolve com práticas de atos infracionais, eles são responsabilizados através da aplicação de medidas socioeducativas, as quais estão postas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e tem como objetivo a reinserção social e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. A medida socioeducativa busca a proteção e a responsabilização a partir de uma ação pedagógica sistematizada e leva em consideração a condição de sujeitos em desenvolvimento (Francischini e Campos, 2005). Apesar de o ECA ter o propósito de abranger a todos, na sociedade capitalista as juventudes de diferentes classes sociais não têm sido caracterizadas da mesma forma. De acordo com Trassi e Malvasi (2010), os jovens das elites são “excêntricos”, “contestadores”; já os pobres são “delinquentes”, “perigosos”. Quando os primeiros se envolvem com as práticas de atos infracionais, há uma tolerância social maior na compreensão de sua conduta, bem como nas práticas sociais de repressão. Já quando são jovens pobres, há uma criminalização de sua conduta e são empregados mecanismos de repressão e punição rigorosos: controle de circulação pelas cidades, sua representação como potencialmente perigosos e seu encarceramento ou até seu extermínio. Em um contexto de ausência ou mau fun- COMUNICAÇÕES ORAIS cionamento de redes de proteção social, a juventude dos bairros populares abatidos pelo peso do desemprego e do subemprego acaba buscando de formas ilícitas os meios de sobreviver (Wacquant, 2001). As consequências disso podem ser vistas no número de homicídios de jovens no Brasil. Dados do Mapa da Violência (Waiselfisz, 2011) apontam que é na faixa “jovem”, dos 15 aos 24 anos, que os homicídios atingem sua máxima expressão, principalmente entre os jovens do sexo masculino. Os que conseguem sobreviver acabam indo, por exemplo, para unidades de internação. Entretanto, dados do relatório de inspeção em unidades de internação realizado pelo Conselho Federal de Psicologia - CFP (2006) mostram a inadequação destas em relação aos parâmetros do Estatuto, a maioria delas servindo apenas como contenção e encarceramento para os jovens. Essa juventude a quem historicamente têm sido negados direitos, que tem sido vítima de violência e situações de vulnerabilidade, que tem sido submetida a medidas de controle e disciplinarização é público-alvo deste trabalho. Nesse sentido, o presente trabalho constitui-se como um recorte da dissertação da autora e tem como objetivo analisar a subjetivação dos jovens que cumprem medida socioeducativa de internação, a partir do processo de institucionalização. O embasamento teórico se deu sob a perspectiva pós-estruturalista de Foucault (1982/2011). Participaram da pesquisa três jovens que estavam cumprindo medida socioeducativa de internação no Centro Educacional do Adolescente (CEA). Os participantes tinham 17 anos de idade; dois se autodeclararam brancos e um, negro; os três possuíam ensino fundamental incompleto; a renda média das famílias variou de 01 a 03 salários mínimos; o número de pessoas com que moram variou de 06 a 08 pessoas; e dois já haviam cumprido medida de internação no CEA antes. Em relação ao procedimento, a pesquisadora chegou à instituição e explicou que se tratava de uma entrevista para uma pesquisa de dissertação de Mestrado e que gostaria de conversar com os educandos. Assim, a assistente social pediu aos agentes que os trouxessem para participar da entrevista. O instrumento utilizado foi um roteiro de entrevista semiestruturada. As entrevistas foram gravadas, transcritas e submetidas à Análise Crítica do Discurso (Gregolin, 2004; Nogueira, 2001) a partir das seguintes categorias: Quem fala? De onde fala? Que efeito de sentido gera? Que discursos aparecem? A partir de que acontecimento se reconta a história? Que história a oralidade revela? A oralidade dos educandos revelou histórias de jovens pobres que estão passando por um processo de institucionalização durante a adolescência, processo este que é constituinte de sua subjetivação. Jovens cujo desenvolvimento se dá a partir da vigilância e da pouca oportunização de autonomia, embora isso seja cobrado deles. Não se proporciona os meios para o de- 162 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento senvolvimento da autonomia, porém quando é cometida alguma infração, por exemplo, individualiza-se a culpa. São histórias de jovens que relatam sofrer punições físicas na instituição, mas, ao ser perguntado o que acham dessas punições, apresentam uma internalização de um discurso institucional da necessidade destas para disciplinar o comportamento. Segundo Foucault (1982/2011), a institucionalização pode ser vista como uma das ferramentas utilizadas para a construção do sujeito, por meio, por exemplo, de um procedimento de subjetivação do discurso considerado verdadeiro, que consiste em fazer seus os discursos que se reconhece como verdadeiros ou que foram transmitidos como verdadeiros. Entretanto, foram encontrados também discursos de resistência. Jovens que dizem ser fácil “entrar pra vida”, usando suas próprias palavras, mas que repetem ao longo da entrevista o seu desejo de “mudar de vida”. Esses discursos de resistência de jovens que sofreram e sofrem violência podem ser considerados como brechas nas quais pode se dar a atuação do psicólogo, levando em conta os processos de subjetivação dos jovens que cometeram o ato infracional e considerando os períodos de desenvolvimento como entidades produzidas socialmente. Palavras-chave: desenvolvimento; subjetivação; medida socioeducativa. Contato: Tâmara Ramalho de Sousa Amorim, UFPB, E-mail: [email protected] CO-2259 A INSERÇÃO DA FAMÍLIA NO PROCESSO SOCIOEDUCATIVO DE ADOLESCENTES EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE Fernanda Cavalcanti de Medeiros, CRDH/OBIJUV, E-mail: [email protected] Daniela Rodrigues Bezerra, OBIJUV/UFRN, E-mail: [email protected] Gabriel Miranda Brito, E-mail: [email protected] Ilana Lemos de Paiva, CRDH/UFRN, E-mail: [email protected] O presente trabalho pretende suscitar discussões acerca da inserção e participação da família no processo socioeducativo de adolescentes autores de atos infracionais. Para tal, serão compartilhadas experiências vivenciadas a partir do projeto de extensão “Familiares e a luta pela efetivação do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo”, que vem sendo executado pelo Observatório da População Infanto-juvenil em Contextos de Violência (OBIJUV/UFRN) em parceria com o Centro de Referência em Direitos Humanos (CRDH/UFRN) desde o início do ano de 2013, e já apresenta resultados consideráveis. COMUNICAÇÕES ORAIS Para que a investigação aqui proposta seja possível é preciso iniciar as reflexões a partir do histórico das políticas sociais brasileiras voltadas para crianças e adolescentes pobres e seus familiares, que, como apontam Rizinni e Rizinni (2004), remete a uma longa tradição assistencial repressiva, sobretudo com aqueles em conflito com a lei, com políticas paternalistas e higienistas que tinham como principal objetivo a contenção social. No Código de Menores de 1927, primeira legislação do Brasil voltada para a população infantojuvenil, o Estado colocava na família a total responsabilidade pelo cuidado e sustento dos “menores”, e quando a família era considerada incapaz destituía-se o poder familiar e institucionalizavam-se as crianças e adolescentes, que passavam a ser socializadas em instituições totais baseadas na reclusão e punição. Posteriormente, a partir das décadas de 1970 e 1980, foi ocorrendo uma série de lutas e pressões dos movimentos sociais, que culminaram, anos depois, em grandes avanços legislativos no campo da cidadania e direitos humanos. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) já apresenta, desde seu lançamento em 1990, direcionamentos em relação aos adolescentes autores de atos infracionais. No entanto, as disposições das legislações referentes à garantia dos direitos dessa população ainda hoje são desconhecidas pela população e vêm sendo descumpridas. Nesse sentido, a partir da necessidade de produzir parâmetros mais objetivos e procedimentos mais justos, o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) reformou a diretriz do ECA sobre a natureza pedagógica da medida socioeducativa. O SINASE foi sancionado em abril de 2012 com o objetivo de superar as denúncias de violência no contexto do sistema socioeducativo e desenvolver uma ação socioeducativa sustentada nos princípios dos direitos humanos. Sua criação deve-se ao fato de que, apesar dos inegáveis avanços legais estabelecidos pelo ECA, o que temos na prática, como apontam Rosa, Vicentin e Broide (2009), continuam sendo práticas de estigmatização, invisibilidade, redução, controle, redução e má qualidade das políticas sociais dirigidas aos adolescentes autores de atos infracionais. A construção do SINASE ocorreu em Consonância com o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC) e com o Sistema de Garantia de Direitos (SGD), que enfatizam o papel da família na socioeducação dos adolescentes, bem como a necessidade de garantir aos familiares condições necessárias para o cuidado com os seus filhos. Nesse sentido, Trassi (2006) atenta para o perigo da prática de culpabilização da família do adolescente autor de ato infracional, uma vez que essa família se encontra assentada na mesma base material que seus filhos, e Carvalho (2008) afirma que a família está no centro das políticas de proteção social, necessitando de apoio para desenvol- 163 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento ver seu potencial protetivo, independente das alterações e mudanças nas composições e arranjos familiares com as quais nos deparamos na contemporaneidade. Diante deste contexto, o referido projeto de extensão foi pensado como necessária forma de enfrentamento ao caos em que se encontra o sistema socioeducativo no estado do Rio Grande do Norte, e gestado a partir da aposta no movimento social enquanto forma mais potente de modificação da realidade de violência e violações que está posta. O referencial teórico é o materialismo histórico dialético, que compreende o sistema socioeducativo enquanto manifestação da questão social e problematiza a visão predominante na sociedade dos adolescentes autores de atos infracionais enquanto indivíduos que devem ser tratados pela via da repressão e segregação, bem como a fragilidade das políticas sociais, tanto na execução das próprias medidas socioeducativas como na articulação da rede de serviços para a proteção dos adolescentes e o fortalecimento de suas famílias. A metodologia utilizada nos encontros consiste em rodas de conversa e oficinas para a promoção da sensibilização e conscientização dos direitos fundamentais que vêm sendo violados cotidianamente nas instituições de internação. Os principais tópicos que vêm emergindo nos encontros se referem aos profissionais que atuam no sistema socioeducativo - profissionais antigos, cansados e doentes, equipes técnicas desfalcadas, falta de formação continuada, reprodução dos discursos de criminalização e higienização do senso comum em relação aos adolescentes; A visão dos profissionais e da sociedade sobre as próprias famílias - culpadas pelos atos infracionais cometidos por seus jovens, “desestruturadas”, muito julgadas, mas sem o suporte necessário e previsto nas legislações para o cuidado de seus filhos, às visitas e violações à convivência familiar e comunitária; A culpa que os familiares sentem pelo “fracasso” na educação dos adolescentes que cometem os atos infracionais; As violências e violações sofridas pelos adolescentes e o impacto na saúde dos mesmos e das famílias; Torturas, violência policial, medicalização e trânsito para unidades psiquiátricas, o medo de represálias em caso de denúncias “aos direitos humanos”; A “punição à família”, com violências e violações indiretas e ocultas, como nos procedimentos de revista íntima e situações vexatórias que afastam os familiares do convívio com seus adolescentes privados de liberdade; O desconhecimento dos direitos e da situação dos filhos no sistema socioeducativo - falta de informações acerca do processo, ociosidade e violação da escolarização, falta de defesa técnica qualificada, entre outras questões importantes. Além dos encontros de oficinas e discussões, ocorrem o planejamento e execução de ações de caráter político. A execução deste projeto de extensão tem-se mostrado relevante e instigante, uma vez que, ao proporcionar o espaço de expressão no grupo, COMUNICAÇÕES ORAIS proporciona-se também um possível lugar de destinação para a dor e a revolta, que ao invés de entristecer e adoecer podem gerar resistência, protagonismo e luta coletiva pela efetivação do SINASE e dos Direitos Humanos dos adolescentes e suas famílias. Palavras-chave: sistema socioeducativo; famílias; participação política. CO-2371 VIOLÊNCIA E APOIO FAMILIAR: PERSPECTIVAS DE ADOLESCENTES QUE CUMPREM MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS Antonio Luciano de Freitas, UNIPE, E-mail: [email protected] Francinete Silva da Silveira, UNIPE, E-mail: [email protected] Giulliana Karla Santos de Lima Marques, UNIPE, E-mail: [email protected] Monilly Ramos Araujo Melo, UNIPE, E-mail: [email protected] Os princípios fundamentais do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) - afirmam que crianças e adolescentes são prioridade absoluta, sujeitos de direitos e deveres e que devem ser tratados como indivíduos em condição peculiar de desenvolvimento (Silva, 2011). A adolescência por si só é uma fase do desenvolvimento humano repleta de processos complexos e por vezes dolorosos, em que começam a surgir determinadas responsabilidades, mas o jovem ainda não tem maturidade suficiente para lidar com essas mudanças. Segundo Shaffer (2008), o desenvolvimento simplesmente toma formas diversas nas diferentes culturas, classes sociais e grupos étnicos e raciais [...] e o desenvolvimento de cada pessoa é influenciado pelas mudanças sociais e eventos históricos que ocorrem durante sua vida. Em meio a esse cenário, as dificuldades dos pais, profissionais de educação, saúde e governantes em entenderem essas características e necessidades do adolescente podem fazer com que o mesmo se engaje no caminho da violência. A família tem sido apontada por muitos autores como sendo um fator de relevância e influência, tanto positiva quanto negativa, no egresso do jovem no mundo da criminalidade, já que na fase da adolescência o mesmo se torna muito mais frágil e vulnerável. A importância da família pode ser atribuída ao fato de ser ela a estrutura fundamental capaz de moldar o desenvolvimento psíquico do adolescente, uma vez que é onde acontecem as trocas emocionais e as experiências de vida que muito influenciam na formação de sua personalidade. A violência tem acompanhado a história da humanidade de diversos modos, 164 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento variando de cultura a cultura e decorrendo de uma série de fatores socioeconômicos e políticos que se articulam, interagem e se concretizam nas condições de vida de grupos sociais e de áreas específicas (Assis et al., 2004). Neste sentido tem sido de papel fundamental na organização da sociedade contemporânea. Sendo assim, situações que envolvem adolescente em atos infracionais geram grande impacto na sociedade, principalmente pelo índice de violência, causando diversos questionamentos em relação à responsabilidade dos adolescentes e em busca de justificativas para aqueles atos cometidos. As questões que fazem com que um jovem se envolva na criminalidade são diversas e complexas, podendo ser de ordem biopsicossocial, complicando o desenvolvimento e a formação do adolescente e produzindo danos, imediatos ou a longo prazo, para ele mesmo, sua família e para toda sociedade. O presente estudo se refere a uma pesquisa descritiva de abordagem quantitativa, que a partir dos dados analisados através do software SPSS 18.0, em uma amostra de 51 adolescentes do sexo masculino entre 12 e 17 anos, buscamos averiguar se esses jovens se sentem apoiados por suas famílias e qual a motivação para cometerem atos violentos. Utilizamos um questionário sociodemográfico e outro de apoio familiar (Koller; Ribeiro; Cerqueira-Santos; Morais, 2004). O critério para a escolha dos participantes foi feito através da técnica não probabilística. Pudemos constatar que a maior parte dos jovens participantes da pesquisa nasceram em João Pessoa (37,3%), seguidos de Santa Rita (21,6%) e Guarabira (9,8%) demonstrando uma maior concentração de jovens que cometem atos infracionais nascidos na capital do estado. Em relação à faixa etária, verificaram-se jovens entre 14 e 17 anos, sendo o índice de 49% de adolescentes com 17 anos de idade. Em relação ao estado civil pudemos constatar que 11,8% são casados, alguns relataram inclusive que já têm filhos, entretanto, a maioria (78,4%) disseram ser solteiros. Na aplicação dos questionários verificamos a dificuldade na leitura e na escrita dos adolescentes, a grande maioria pedia auxílio para entender melhor as questões. Isso se deu pelo fato de a maior parte (74,5%) dos jovens possuírem o ensino fundamental incompleto e 7,8% alegarem nunca terem ido à escola, mas que sabiam ler. A grande importância da família foi um importante dado constatado na pesquisa, já que a mesma é o agente intermediário das necessidades biológicas da criança e do caminho trilhado na sociedade (Trentin, 2011). É como o próprio Minuchin (1990) enxerga e relata ser a família: uma unidade social que influencia os diversos pontos de desenvolvimento. E Trentin (2011) complementa pontuando a relevância na formação do sujeito, do caráter e dos valores e que os pais acabam sendo as referências identificatórias dos filhos. Alguns adolescentes que cometem COMUNICAÇÕES ORAIS crimes podem vir a se comportar de maneira violenta e De Antoni & Koller (2002), citados por Nardi (2012), comentam que isso pode ser explicado pelo padrão de relações estabelecidas no seio familiar e que esse padrão pode ser transposto para as relações sociais externas. Assim, pudemos verificar que os jovens alegaram como principais motivações da violência: melhores condições financeiras (13,7%), problemas na família (15,7%), forma de proteção (17,6%) entre outros (25,5%), que indicaram motivação própria e acesso maior às drogas. Este dado confirma o que Garbarino (2009), citado por Nardi (2012), diz: “[...] a violência na adolescência usualmente começa a partir de uma combinação de dificuldades precoces nos relacionamentos, associadas a uma combinação de dificuldades temperamentais”. Além disso, o autor aponta que os jovens parecem apresentar um comportamento tão violento quanto é o seu entorno social. Nosso estudo constatou de fato a grande importância da família na vida e no desenvolvimento desses adolescentes, pois ao serem questionados se eles se sentem apoiados pelos seus familiares, 84,3% alegaram que sim. Steinberg (2000) pontuou que adolescentes que possuem vínculo saudável com a família apresentam altos níveis de autoconfiança e autoestima. Outro dado que contribui para reafirmar os dados anteriores é que quanto mais confiança ele possuir nos pais, menor será a probabilidade de envolvimento com a violência, o que ficou claro em 94,1% dos analisados. Esses dados chamam atenção e surge um questionamento: se eles se sentem apoiados no seio familiar, qual o real motivo para o ingresso no mundo do crime? Será que eles já se sentiam apoiados pelos familiares ou só sentiram esse apoio após terem cometido atos delituosos? É curioso este dado de que mesmo com um apoio familiar relevante os jovens se encontrem em regime fechado de medida socioeducativa. O que nos faz pensar a que nível esse apoio é dado e como ele é assumido pelos jovens. Palavras-chave: família; adolescente; violência. Contato: Giulliana Karla Santos de Lima Marques, UNIPE, E-mail: [email protected] CO-2174 RESPONSABILIZAÇÃO JUVENIL E DESENVOLVIMENTO HUMANO: O PAPEL DO ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO Fernanda Pinheiro Rebouças. UNB. E-mail: [email protected] Maria Claudia Santos Lopes de Oliveira. UNB. E-mail: [email protected] 165 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento O presente estudo, de caráter metanalítico, tem como objetivo discutir o conceito de responsabilidade/responsabilização que marca as discussões sobre a função do sistema socioeducativo na contemporaneidade. Trata-se de uma etapa preliminar de uma pesquisa empírica, que visa investigar concepções e práticas de técnicos que atuam no sistema socioeducativo, acerca da função do atendimento aos adolescentes autores de ato infracional como contexto de promoção de desenvolvimento humano. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), impulsionado pelas conquistas da Constituição de 1988, realizou uma ruptura com a antiga doutrina de situação irregular, por uma doutrina de proteção integral da criança e do adolescente. Por meio dessa nova doutrina, o Estado passou a proteger toda criança e todo adolescente e concebê-los como sujeitos de direitos, em fase especial do desenvolvimento. A nova concepção de infância e adolescência inaugurada pelo ECA permite que se deixe de olhar o “menor” em situação irregular e se passe a observá-lo enquanto cidadão com necessidade de proteção do Estado (Espíndula & Santos, 2004), a quem se atribui inimputabilidade penal. Destaca-se que imputabilidade, com origem no verbo imputar, significa atribuir responsabilidade penal. Desse modo, por o ECA acompanhar o Código Penal brasileiro quanto ao conceito de responsabilização, dizer que as crianças e os adolescentes são inimputáveis remete a retirar-lhes a possibilidade de responsabilização penal. O Código Penal considera inimputáveis as pessoas incapazes de compreender plenamente o caráter ilícito do ato cometido e parte do princípio de que os adultos, as crianças e os adolescentes não podem ser tratados de maneira igual, dadas as diferenças constitutivas entre eles, no que se refere à consciência do ato. No entanto, a inimputabilidade não estaria relacionada à impunidade, de acordo com as normas da legislação especial, mas sim, a uma responsabilização social e pessoal, ou seja, uma responsabilidade subjetiva compatível com a condição peculiar de desenvolvimento dos mais jovens. E, tal responsabilização seria atingida, judicialmente, por meio das medidas socioeducativas. Desse modo, o adolescente que comete ato infracional pode responder frente ao mesmo, de acordo com a severidade do ato, no cumprimento das medidas que estão elencadas no art.112, do ECA. A definição da medida deve levar em consideração a capacidade do adolescente em cumpri-la, as circunstâncias que sucederam o ato e a gravidade deste (Vorose & Lima, 2009). Ainda que a medida socioeducativa apareça como um importante elemento de responsabilidade jurídica, a simples execução dela não será suficiente para que o adolescente se posicione diante dos seus atos, rompa com as práticas infracionais e estabeleça novos vínculos sociais (Yokoy, 2012). A responsabilização juvenil objetiva a elaboração de novas possibilidades de ação, as quais COMUNICAÇÕES ORAIS possibilitem uma ruptura com a infração por meio de uma mudança de posicionamento subjetivo. Tal conquista somente se alcança por meio de uma adequada atuação do sistema, na forma de um atendimento socioeducativo eficaz. É interessante, observar que, apesar de sua relevância, existe pouca literatura a respeito da distinção entre a responsabilidade penal, a responsabilidade jurídica e a responsabilidade pessoal e social. Tais aspectos, somados às várias lacunas que o ECA apresenta quanto ao processo de disciplinamento da execução das medidas socioeducativas, resultam no predomínio de ações com caráter fortemente coercivo, aflitivo e punitivo, em detrimento do caráter pedagógico que este código preza. Na tentativa de responder a estas lacunas encontradas no ECA, bem como, padronizar as práticas do Sistema Socioeducativo, foi sancionada, em 18 de janeiro de 2012, a Lei do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). Esta lei deveria normatizar a atuação das instituições responsáveis pelo atendimento aos adolescentes autores de ato infracional e, por isso, configurar-se como um manual que abrange desde a forma política de traçar as diretrizes pedagógicas dos programas de atendimento, até como deve ser o trabalho multidisciplinar dos profissionais que assistem esses jovens. Em contrapartida, a lacuna referente à responsabilização do adolescente ator de ato infracional ainda configura-se como um problema, mesmo no SINASE. Apesar de reiterar o caráter pedagógico que deve primar nas medidas socioeducativas, que objetivam o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, na prática, ainda observa-se o predomínio de ações punitivas como meio e fim para atingir a responsabilização dos adolescentes. O pouco esclarecimento a respeito do conceito de responsabilidade/responsabilização trazido tanto pelo ECA, como pelo SINASE, e pela literatura jurídica, se soma para gerar ações inconsistentes e interpretações errôneas tanto sobre a finalidade, quanto sobre as funções e as metas das medidas socioeducativas. O efeito mais palpável disso é a ineficácia do sistema socioeducativo, que se concretiza, com muita frequência, na incapacidade de promover trajetórias de desenvolvimento humano saudável e de prevenir a reincidência em infração por parte do adolescente. Pretendemos com o estudo o aprofundamento do debate para salientar que, em vez de modificar a forma de conceber a justiça juvenil - a exemplo dos que defendem a redução da maioridade penal e requerem a imputabilidade do adolescente - devemos aprofundar a compreensão e qualificar a atuação do sistema socioeducativo. AUTISMO Sala 423 - 10h 166 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento CO-2211 ESTILOS COMUNICATIVOS DE MÃES DE CRIANÇAS AUTISTAS NO USO DO COMPUTADOR Ana Flavia de Oliveira Borba Coutinho, IESP, E-mail: [email protected] Carolina Silva de Medeiros, UFPB, E-mail: [email protected] Nádia Maria Ribeiro Salomão, UFPB, E-mail: [email protected] O autismo é classificado como um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, caracterizado por uma tríade de prejuízos que envolvem o comprometimento do desenvolvimento da interação social, da comunicação e da imaginação da criança. Com uma etiologia diversa, apresenta graus de comprometimentos variáveis, fatores estes que fazem com que a promoção da interação social de crianças autistas represente um desafio, sobretudo para aqueles que com convivem com estas crianças, a exemplo das mães (Bosa, 2006). Considerando a importância dos processos de interação para o desenvolvimento sociocomunicativo da criança, o computador surge, em meio a este contexto, como ferramenta auxiliar no processo de interação. O uso do computador e de softwares específicos justifica o desenvolvimento de estudos sobre a interação social de crianças autistas em ambientes digitais (Murray e Lesser, 2001; Hogetop e Santarosa, 2002; Ribeiro, 2004; Bauminger, Gal e Goren-Bar, 2007; Passerino e Santarosa, 2007; Battocchi et al., 2008; Herskowitz, 2009; King, 2011, Coutinho, 2012). Segundo Passerino e Santarosa (2007) o uso de ambientes digitais como instrumento de mediação da interação social é importante para o desenvolvimento de sujeitos com autismo, pois estes apresentaram melhorias na interação com o outro. Para Bosa (2006) o autista apresenta afinidade em realizar tarefas concretas e repetitivas. Neste ponto o computador enquanto ferramenta tecnológica aparece como extremamente amigável, visto que apresenta uma lógica rígida. Nesse contexto, existem soluções informáticas desenvolvidas especificamente para crianças com deficiência mental ou autismo, onde o foco consiste em ativar a alternância dos interlocutores para encorajar a interação (Bosa, 2006). Face a estas premissas, este trabalho teve como objetivo geral identificar os estilos de comunicação de mães de crianças autistas, através do uso do computador. Especificamente, foram verificadas e analisadas as estratégias maternas que estimulam a criança a fazer uso do recurso tecnológico supracitado. Para alcançar tais objetivos, utilizou-se a Perspectiva da Interação Social dos Estudiosos da Linguagem que considera o papel ativo da criança no seu desenvolvimento, destacando o conceito de bidirecionalidade, isto é, os COMUNICAÇÕES ORAIS parceiros têm os seus comportamentos influenciados um pelo outro. A premissa fundamental desta Perspectiva é de que a aquisição da linguagem se dará através dos processos de interação. Destaca-se ainda a presença de diferentes estilos comunicativos utilizados para comunicar-se com a criança, sendo alguns considerados como favorecedores ao desenvolvimento da linguagem, a exemplo das requisições e dos feedbacks (Salomão, 2010; Snow, 1994, 1997; Chapman, 1997; Salomão e Conti-Ramsden, 1994). Neste sentido, realizou-se um estudo descritivo, caracterizado por uma abordagem multimétodo. Participaram quatro díades mãe-criança, com idade entre quatro e seis anos. Foram utilizados três instrumentos: Questionário Sociodemográfico; Entrevista Semiestruturada e Filmagem. Os dados foram coletados nas residências dos participantes. Os dados obtidos através das entrevistas semiestruturadas possibilitaram a elaboração de um software para cada criança, que foi utilizado nas sessões fílmicas. O software foi elaborado com o objetivo de estimular a interação social, linguagem e comunicação de cada criança, com uma atividade direcionada a cada díade. O software, desenvolvido no PowerPoint, tem um forte apelo visual, com estímulo sonoro, e é facilmente configurável. A interface é constituída por 6 grandes botões que cobrem toda a tela. Os botões são configuráveis de forma a ter uma imagem e um som associados a cada um deles que podem ser facilmente adaptados a cada criança, ao objetivo que se deseja atingir com a atividade, e ao grau de comprometimento, constituindo um estímulo à promoção da interação social. Foram realizadas duas sessões fílmicas com cada díade, cada uma com duração total de 20 minutos, considerando os 10 minutos centrais para análise. Através da transcrição dos comportamentos comunicativos apresentados durante o processo interativo, foram elaboradas categorias e subcategorias, que possibilitaram a codificação dos resultados. Os resultados evidenciam que os estilos maternos verbais predominantes no uso do computador foram: requisição (díades A e B); diretivo (díade C); e informação (díade D). O uso predominante das requisições ilustra que as mães utilizaram um estilo linguístico com a função de engajar as crianças nas atividades. Já o diretivo, utilizado predominantemente por uma díade, retratou a intenção materna de direcionar a atividade da criança, enquanto que a informação foi utilizada com a finalidade de fornecer informações sobre o software; informar à criança acerca dos nomes e características das imagens apresentadas; ou ainda demonstrar ou descrever uma ação, visto que a criança tinha dificuldades em utilizar o mouse. Nesta última situação, reforça-se a presença da bidirecionalidade na interação, pois a mãe direcionou o seu comportamento mediante as necessidades da criança. Em relação aos comportamentos comunicativos maternos não verbais, o suporte de apoio foi o mais utilizado por 167 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento três díades (A, B e D), o que permitiu identificar a tendência das mães em direcionar as ações das crianças através da colocação de sua mão no mouse. Neste contexto, constata-se que este suporte de apoio pode ser usado para ajudar a criança a realizar uma tarefa, mas, se utilizado de forma excessiva, pode vir a ser uma forma intrusiva de ter o domínio do mouse para direcionar as ações dos filhos. Os resultados obtidos pelas filmagens revelam situações em que a criança recebeu um estímulo do mediador, isto é, da mãe, e realizou algo no computador, retornando um estímulo para o mediador. Este dado é positivo, pois nestes momentos pontuais identificaram-se comportamentos maternos promotores do desenvolvimento, retratados pela responsividade, carinho, e apoio na execução das atividades. Tais comportamentos reforçam os pressupostos da Perspectiva da Interação Social dos Estudiosos da Linguagem de que a relação mãe-criança é um pilar na promoção da interação social, a qual é construída através da troca entre os parceiros. Desta forma, este estudo permitiu compreender a criança autista, as relações que ela estabelece com a mãe, para assim poder desenvolver propostas de intervenção visando à melhoria da qualidade de vida das crianças autistas e familiares, considerando, sobretudo o papel do mediador, neste caso a mãe, que utilizará o computador como recurso promotor da interação social. Palavras-chave: autismo; interação mãe-criança; computador. Contato: Ana Flavia de Oliveira Borba Coutinho, IESP, E-mail: [email protected] CO-2051 AUTISMO E SÍNDROME DE DOWN: CONCEPÇÕES DE PROFISSIONAIS DE DIFERENTES ÁREAS Cibele Shírley Agripino-Ramos, UFPB, E-mail: [email protected] Nádia Maria Ribeiro Salomão, UFPB, E-mail: [email protected] Apoio Financeiro: CAPES O autismo é um transtorno do desenvolvimento que vem sendo bastante estudado em diversos campos do saber. Apesar de se caracterizar por uma tríade de prejuízos - na comunicação/linguagem, na interação social e no comportamento -, ele se apresenta de forma bastante heterogênea, isto é, há grande variabilidade nos quadros clínicos encontrados, o que contribui para que possa haver dificuldades em relação ao diagnóstico desse transtorno (Heidgerken, Geffken, Modi, & Frakey, 2005), dificultando, consequentemente, a realização da intervenção. Ob- COMUNICAÇÕES ORAIS serva-se que muitos estudos acerca do autismo procuram comparar algum aspecto relacionado a este transtorno com a síndrome de Down ou com o desenvolvimento típico. Os estudos comparativos do autismo e da síndrome de Down, especificamente, têm sido realizados com o intuito de conhecer a dinâmica familiar presente nos dois grupos (Griffith, Hastings, Nash, & Hill, 2010; Pisula, 2007; Sprovieri & Assumpção Jr., 2001), bem como o sistema de crenças dos genitores desses indivíduos (King, Baxter, Rosenbaum, Zwaigenbaum, & Bates, 2009; King et al., 2006). Com relação aos estudos que procuram investigar o conhecimento de profissionais sobre essas duas síndromes, verifica-se que têm sido realizados geralmente no âmbito escolar, isto é, tem-se investigado mais o conhecimento de profissionais da área da educação sobre esta temática, embora, ainda assim, sejam poucos os trabalhos (Goldberg, 2002; York, Fraunhofer, Turk, & Sedgwick, 1999). Considerando a importância tanto dos profissionais da área da educação quanto da saúde no atendimento a pessoas diagnosticadas dentro do espectro autista e aquelas com síndrome de Down, o presente estudo buscou investigar as concepções de profissionais de diferentes áreas do conhecimento acerca dessas duas condições, tanto daqueles com experiência quanto sem experiência no trabalho com tais indivíduos. Destaca-se que a incidência do autismo e da síndrome de Down tem sido considerada relativamente alta nos dias de hoje (Baron-Cohen, 2008; Melo-de-Aguiar, 2009), reforçando a necessidade de se conhecer o que os profissionais sabem a respeito dessas duas condições. Além disso, estudar as concepções de profissionais acerca do autismo e da síndrome de Down implica também levar em consideração algumas particularidades relacionadas a cada uma dessas síndromes, tais como: período em que é feita a identificação - a síndrome de Down pode ser identificada logo após o nascimento da criança, enquanto o autismo costuma ser diagnosticado somente por volta dos três anos de vida; funcionamento cognitivo - os indivíduos com síndrome de Down, em geral, apresentam deficiência mental variável, enquanto o autismo pode estar associado ou não à deficiência mental; e sociabilidade - o autismo é caracterizado por um prejuízo social, ao passo que as pessoas com síndrome de Down frequentemente são descritas como sociáveis e afetuosas, embora essa generalização seja contestada. Ressalta-se também, no presente estudo, a influência das concepções nas interações sociais e no comportamento, como destacam Harkness e Super (1996) e Seidl-de-Moura et al. (2004). Em relação a esse aspecto, partiu-se da ideia de que a forma como os profissionais concebem essas síndromes influencia nas estratégias de intervenção que serão adotadas e determina o tipo de informações que serão transmitidas aos pais de tais indivíduos, além de trazer implicações importantes para 168 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento as discussões acerca da inclusão de crianças e jovens com necessidades educativas especiais. Participaram do estudo 75 profissionais distribuídos nos seguintes grupos: psiquiatras, neurologistas, pediatras, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, psicólogos, pedagogos e professores. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os profissionais, as quais abordavam questões referentes à caracterização do autismo e da síndrome de Down, ao desenvolvimento desses indivíduos, às formas de intervenção a serem utilizadas, à inserção dos indivíduos com essas síndromes em escolas regulares e aos principais desafios relacionados ao trabalho com esses indivíduos e com suas famílias. As entrevistas foram transcritas literalmente e submetidas à técnica de Análise de Conteúdo Categorial-Temática, proposta por Bardin. Percebeu-se que a concepção do autismo como um transtorno do desenvolvimento que envolve uma tríade de prejuízos e que é caracterizado por um espectro de condições prevaleceu dentre aqueles profissionais com experiência com esses indivíduos, principalmente nas áreas da Psiquiatria, Psicologia e Terapia Ocupacional, enquanto aqueles sem experiência destacaram principalmente as dificuldades relacionadas à interação, sobretudo os fisioterapeutas, os professores e os educadores físicos. Quanto à síndrome de Down, a maior parte dos participantes, tanto aqueles com experiência quanto sem experiência no trabalho com tais pessoas, referiu-se às características físicas, o que foi mencionado por profissionais de todas as especialidades. Embora tenham considerado os prejuízos que podem estar presentes no autismo e na síndrome de Down, observou-se que, de uma forma geral, os participantes demonstraram também ter concepções positivas em relação a essas síndromes, ao reconhecerem as capacidades que tais indivíduos podem desenvolver e salientarem também as suas particularidades, a despeito do fato de terem uma síndrome. Os profissionais, em geral, apontaram para o papel do acompanhamento por parte da família, da escola e dos profissionais envolvidos na intervenção, sobretudo de uma equipe multidisciplinar, na promoção do desenvolvimento das pessoas com autismo e com síndrome de Down. Quanto à inclusão escolar, houve mais profissionais favoráveis à inserção de pessoas com síndrome de Down nas escolas da rede regular de ensino do que daquelas com autismo. Ainda que tenham citado as dificuldades em lidar com tais pessoas, sobretudo aquelas com autismo, os profissionais apontaram como o maior desafio em relação a essas síndromes a aceitação da sociedade, incluindo-se aqui também a família e a escola, o que foi mais prevalente no caso da síndrome de Down e referido principalmente pelos profissionais da área médica. Além disso, destacou-se o fato de alguns profissionais - duas professoras e um educador físico desconhecerem o autismo, o que não ocorreu em relação COMUNICAÇÕES ORAIS à síndrome de Down, o que aponta para a necessidade de uma maior capacitação dos profissionais, sobretudo quanto à primeira dessas condições, vindo a contribuir para a inclusão escolar e social desses indivíduos. Palavras-chave: autismo; síndrome de Down; concepções. Contato: Cibele Shírley Agripino Ramos, UFPB, E-mail: [email protected] CO-2006 AUTORECONHECIMENTO E FALA INTERNA EM CRIANÇAS COM AUTISMO DE ALTO FUNCIONAMENTO Josiane Golin, UFPE, E-mail: [email protected] Alexsandro Medeiros do Nascimento, UFPE, E-mail: [email protected] O autismo tem sido estudado como um problema que caracteriza um alheamento da criança acerca do seu mundo exterior, envolvendo a comunicação e a interação com o outro. Manifesta-se por um conjunto de sintomas e dificuldades que causam prejuízo qualitativo à interação social, dificuldade na comunicação verbal e repertório restrito de interesses e atividades (Rosa, 2006). Na maioria das vezes, as crianças não apresentam uma linguagem funcional e não iniciam a comunicação da forma que deveriam, nem no tempo que se espera dentro do desenvolvimento infantil. Por conter diversos graus de severidade (espectros), há situações nas quais a criança pode apresentar linguagem oral, mesmo que com características particulares, como ecolalia, “fala sem sentido”, entonação estranha (prosódia) e com prejuízo na compreensão da linguagem figurada (metáforas, piadas, provérbios), uso estereotipado ou repetitivo da linguagem, além de linguagem idiossincrática. O comprometimento na linguagem é um dos indícios mais relevantes para a construção de um diagnóstico, visto que tem a função de possibilitar o engajamento do indivíduo na sociedade, promovendo o estabelecimento de vínculos, relações com o outro e desenvolvimento da intersubjetividade. Um déficit na linguagem chama a atenção, não só a linguagem verbal, como também é observada e apresentada na literatura a linguagem enquanto capacidade de autorreconhecimento e autoconsciência, podendo significar e dar sentido a si mesmo e ao mundo. Para Vygotsky, o surgimento da fala egocêntrica indica a trajetória da criança: o pensamento vai dos processos socializados para os processos internos. A fala interior, ou discurso interior, é a forma de linguagem interna, que é dirigida ao sujeito e não a um interlocutor externo. Esta fala interior se desenvolve mediante um lento acúmulo de mudanças estruturais, 169 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento fazendo com que as estruturas de fala que a criança já domina se tornem estruturas básicas de seu próprio pensamento. Nesta fase a fala interior não tem a finalidade de comunicação com outros, portanto, constitui-se como uma espécie de “dialeto pessoal”, sendo fragmentada e abreviada. Quando a criança cresce, essa fala egocêntrica desaparece, ou, melhor dizendo, passa a pertencer a outra forma de linguagem. Segundo Morin (2004) os processos cognitivos do nosso cérebro geram processos de autorreconhecimento e autoconsciência, uma vez que a linguagem possibilita a fala interna/discurso interno, comportamentos autodirigidos e atenção voltada para si mesmo. A capacidade de autorreconhecer-se leva a uma consciência de si mesmo, a um reconhecimento do self. Ainda segundo o autor, o autoconhecimento em frente ao espelho (Teste da Marca) pressupõe pré-cognição de si. A fala interna ou autodirigida, segundo Morin (2002) tem um papel fundamental na regulação do pensamento e do comportamento. Devemos considerar, então, se existe uma “falha” na fala interna do autista, consequentemente as funções citadas estarão comprometidas. Fala interna tem sido associada aos processos de pensamento e autorreconhecimento. A fala interna ocupa uma parcela significativa da consciência. Consciência pode ser entendida como as percepções, pensamentos e sentimentos que se tem de si mesmo (Chalmers, 1996). O pico da fala interna em crianças ocorre em torno de 3 a 4 anos, tendo um decréscimo aos 6-7 anos, idade esta que coincide com o momento da aquisição ou desabrochar da linguagem na criança autista, devido às dificuldades e atrasos no seu processo, podendo estar relacionadas com questões cognitivas, sociais ou interacionais. Em virtude de buscar uma maior compreensão acerca das crianças autistas e do seu autorreconhecimento, este estudo parte da ideia de que essas crianças desenvolvem um tipo de autorreconhecimento que possibilita o desenvolvimento da fala interna. Deste modo, levanta-se a hipótese de que a fala interna ocorre após a “fase do espelho” (autorreconhecimento), adquirindo uma característica peculiar na criança autista, sendo um processo lento, o qual exigirá o reconhecimento primário de sua significação para que se desenvolva, através da linguagem, a fala interna. Assim, tem-se como objetivo investigar a autoconsciência em crianças autistas de alto funcionamento, através do autorreconhecimento, que, por sua vez, possibilita o desenvolvimento da fala interna. O trabalho se justifica pela necessidade de se estudar, compreender e ampliar o conhecimento da fala interna e autorreconhecimento em crianças autistas, uma vez que o assunto tem sido pouco explorado, apresentando enorme carência de trabalhos científicos que abordem o tema da autoconsciência e autorreconhecimento. Participaram da pesquisa três crianças autistas de alto funcionamento, sexo feminino, idades COMUNICAÇÕES ORAIS entre 6 e 7 anos, frequentando o último ano da Educação Infantil (ano que antecede o Ensino Fundamental), de uma mesma escola particular de Recife, PE. Todas as participantes foram submetidas aos Exames Piagetianos (Método Clínico de Piaget), o qual envolve problemas de raciocínio lógico; Teste da Marca (Gallup), no qual se utiliza um espelho vertical e tinta (rouge) vermelho para fazer a marca na criança e o Teste de reconhecimento auditivo, através de gravações de diferentes vozes familiares, e a própria voz da participante, em monólogos cotidianos, com curta duração. Diante da situação, foram observadas as reações e “verbalizações” das participantes. Estas sessões foram todas videogravadas, analisadas e transcritas, com as devidas observações. Os resultados mostram que as três crianças conseguiram responder as provas do estágio sensório-motor, e as provas iniciais do pré-operatório (que envolvem domínio dos códigos de linguagem e comandos matemáticos), porém, não responderam as provas seguintes deste estágio (que envolvem justificativa lógica para respostas, inclusão de classes e comparação do todo com as partes). Conseguiram ter bom resultado no Teste da marca, demonstrando passarem na fase do espelho, reconhecendo sua própria imagem, inclusive com a marca em seus corpos. No Teste de reconhecimento auditivo, duas crianças mostraram bom resultado, reconhecendo a sua própria voz, identificando os monólogos, através da expressão oral ou física, demonstrando assim a possível existência de um discurso interno. Diante disso, consideramos que uma vez a criança autista tendo demonstrado o processo de seu autorreconhecimento através do Teste da marca, leva-nos a conceber que essas crianças desenvolvem um tipo de autorreconhecimento que possibilita o desenvolvimento da fala interna, consequentemente, de autoconsciência de si, mesmo que com suas particularidades. A partir disso pudemos analisar a importância que o discurso/fala interna tem para a avaliação do nível de autoconsciência nas pessoas portadoras de autismo. Palavras-chave: autismo; autorreconhecimento; fala interna. Contato: Josiane Golin, UFPE, E-mail: [email protected] PROJETOS DE VIDA PROFISSIONAL/ PREMATURIDADE E DESENVOLVIMENTO Sala 423 - 10h CO-2060 FORMAÇÃO ACADÊMICA E INFLUÊNCIA DOS PROFESSORES NOS PROJETOS PROFISSIONAIS DE UNIVERSITÁRIOS 170 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Elzenita Falcão de Abreu, UNIVASF, E-mail: [email protected] Heloisa Moulin de Alencar, UFES, E-mail: [email protected] Constatamos que mudanças e progressos decorrentes, principalmente das rápidas e profundas transformações tecnológicas, vêm exigindo substanciais modificações na atividade educativa e na prática docente nos seus diferentes contextos de atuação. Hargreaves e Fullan (2006) consideram que o professor exerce influência na formação profissional e pessoal dos alunos e que essa influência é exercida, sobretudo, pelas crenças, convicções e valores pessoais, que são transmitidos no desenvolvimento de suas práticas e vivências, e esses nem sempre são claramente percebidos. Assim, o professor se torna responsável, não só pela transmissão dos conhecimentos, como também das suas experiências. Essa discussão nos leva a conceber que toda a prática pedagógica é inspirada em princípios determinados por valores. Logo, podemos dizer que a moral se encontra implícita na prática pedagógica (Pereira, 2008). Em conformidade com Ricoeur (1991) e Tugendhat (1996), a moral para La Taille (2006) diz respeito aos sistemas de regras e princípios que responde à pergunta ‘Como devo agir’? Concebe a experiência subjetiva de um sentimento de obrigatoriedade em todas as pessoas, que possibilita o cumprimento dos deveres. Contudo, segundo o autor, os deveres que emanam da moral precisam ser considerados dentro de um projeto de ‘vida boa’, de um projeto de felicidade relacionado ao plano ético, porque é preciso conhecer a perspectiva ética adotada, para poder compreender o processo que os leva a respeitar suas ações morais. Diante dessas perspectivas, buscamos conhecer pontos positivos e negativos da formação acadêmica e a influência dos professores nos projetos profissionais dos seus alunos. Entrevistamos 51 universitários da área da saúde, dos cursos de Enfermagem, Medicina e Psicologia, utilizando o método clínico de Piaget (1926/2005, 1932/1994). Os participantes foram indagados a respeito dos pontos positivos e negativos da formação; se os seus professores vêm exercendo alguma influência nos seus projetos de vida profissional e justificativa; e de que maneira os professores vêm exercendo essa influência. Verificamos que os pontos positivos e negativos da formação foram, respectivamente, os “professores” e a “estrutura da universidade”. A maior parte dos entrevistados considera que os professores exercem influência nos seus projetos pela “orientação e/ou incentivo na escolha dos caminhos”, determinados, principalmente, pelo “modo como se relacionam com os alunos” e pela “demonstração de conhecimento da área”. Diante das repostas e argumentos apresentados, conferimos que os estudantes divergem na forma como concebem a formação e algumas justificati- COMUNICAÇÕES ORAIS vas expressam conteúdos morais ou contrários à moral. No entanto, os pontos positivos da formação foram os mais apontados e os conteúdos morais mais presentes. Dessa forma, a maioria das respostas dos universitários fez referência à formação acadêmica como satisfatória e apontou os professores como influenciadores nos seus projetos profissionais, por apresentarem, na prática docente, valores pautados em princípios éticos. Assim, não é suficiente possuir um bom desempenho didático-pedagógico, embora as estratégias de ensino e a bagagem teórica continuem sendo consideradas importantes. O aluno considera que a convivência aberta, acolhedora e respeitosa com seus professores influencia positivamente nos seus projetos profissionais, com possíveis repercussões na atuação prática. Os resultados instigam, portanto, reflexão com futuros profissionais a respeito dos princípios que devem nortear a prática profissional comprometida com a ética e a transformação social. Palavras-chave: moral e ética; influência dos professores; projetos de vida profissional de universitários. Contato: Elzenita Falcão de Abreu, UNIVASF, E-mail: [email protected] CO-2059 PROJETOS DE VIDA E PROFISSIONAL: UM ESTUDO COM UNIVERSITÁRIOS DA ÁREA DA SAÚDE Elzenita Falcão de Abreu, UNIVASF, E-mail: [email protected] Heloisa Moulin de Alencar, UFES, E-mail: [email protected] Para considerar a ética, La Taille (2006) procura relacioná-la ao sentido da vida, à busca da felicidade, à reflexão sobre ‘Que vida eu quero viver’? Ou ‘Que vida vale a pena ser vivida?’, o que nos remete a uma aspiração, e não a um dever. Do ponto de vista psicológico, moral e ética não são esferas independentes da vida humana. O plano ético engloba o plano moral, pois é preciso conhecer a perspectiva ética que os homens adotam para poder compreender o processo que os leva a respeitar determinados princípios e regras. Neste estudo, abordamos o tema projeto de vida profissional. Partimos da concepção de que o futuro se constitui no espaço para construção de projetos entrelaçados, os quais se encontram norteados de valores que inspiram princípios e vão determinar nossa forma de ser e agir no mundo, nos diversos contextos de nossa existência. Foi dessa forma que tentamos compreender os projetos de estudantes da área da saúde. O objetivo foi conhecer esses projetos e justificativas, para discutilos a partir das perspectivas da moral e da ética, como 171 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento concebidas por La Taille (2006), e em conformidade com Ricoeur (1991) e Tugendhat (1996). Participaram da investigação 51 estudantes, de ambos os sexos, dos cursos de Enfermagem, Medicina e Psicologia, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), sendo esses dos primeiros e dos últimos períodos dos cursos. Realizamos entrevistas individuais de acordo com o método clínico de Piaget (1926/2005, 1932/1994). Considerando as respostas e argumentos mais frequentes, pudemos verificar que o projeto profissional que os estudantes mencionam é a “pós-graduação”, fazendo referência aos projetos voltados para a continuidade da vida acadêmica, como fazer especializações, mestrado, doutorado e/ou residência profissional. Atentamos, principalmente, para os conteúdos morais ou contrários à moral presentes ou não na elaboração dos seus projetos profissionais, uma vez que também foram solicitados os argumentos para tais respostas. Constatamos que os participantes justificaram seus projetos profissionais, principalmente pela “motivação e/ou interesse” em realizá-los, diante dos argumentos que dizem respeito ao gosto, à vontade do participante, ou seja, aos motivos pessoais. Chamou-nos a atenção a “qualidade de vida” como justificativa para alguns projetos profissionais, embora em número reduzido. Verificamos, que o que os estudantes expuseram como qualidade de vida diz respeito ao interesse em ter uma vida mais confortável, de não viver somente para o trabalho. Já, diante da justificativa denominada “desejo de ajudar as pessoas”, salientamos que o sentido expresso nos depoimentos dos participantes nos remete ao significado da virtude da generosidade. No entanto, consideramos que este argumento também foi em número reduzido. Enfim, partindo das perspectivas de moral e ética apresentadas neste estudo, verificamos que foram poucos os conteúdos morais identificados nas justificativas dos projetos profissionais dos nossos estudantes. Dessa forma, não podemos afirmar que os futuros profissionais fundamentam os aspectos mencionados em princípios morais e éticos no sentido que tratamos nessa pesquisa. Desejamos que os dados instiguem trabalhos de intervenção que proporcionem reflexões a respeito dos princípios, que devem nortear a prática profissional e incentivem novos estudos na área da moralidade. Finalmente, esperamos que o sentimento do dever, que envolve as ações morais, não seja exterior à consciência dos indivíduos e que as fontes energéticas que alimentam esse sentimento estejam voltadas para uma perspectiva ética - condição necessária para obtermos mudanças em determinadas práticas profissionais. Palavras-chave: moral e ética; projetos de vida profissional; estudantes universitários. Contato: Elzenita Falcão de Abreu, UNIVASF, E-mail: [email protected] COMUNICAÇÕES ORAIS CO-2297 ASPECTOS PSICOSSOCIAIS ENVOLVIDOS NOS CUIDADOS ADOTADOS PELAS MÃES DE NEONATOS PREMATUROS APÓS ALTA HOSPITALAR Jéssica Bezerra Soares, UFTM, E-mail: [email protected] Lívia Mazza de Freitas, UFTM, E-mail: [email protected] Sabrina Martins Barroso, UFTM, E-mail: [email protected] Conceição Aparecida Serralha, UFTM, E-mail: [email protected] A internação em uma UTI neonatal pode contribuir para gerar e intensificar sentimentos de medo e insegurança nos pais, já que é um ambiente marcado por desencontros entre pais e filho prematuro, que prejudica a formação do vínculo entre eles, muitas vezes pelo fato de os pais ficarem privados de participar dos cuidados ao filho. Os pais não estão preparados para os problemas que advêm dessa situação, tanto biológicos quanto psicológicos, uma vez que é difícil para eles conciliarem o bebê imaginado com aquele bebê real que exige cuidados médicos para manter-se vivo (Morsh & Braga, 2007). O ambiente da UTI neonatal, frequentemente marcado por um caráter invasivo, aniquila sonhos e fantasias dos pais ao introduzir a realidade de neonatos pequenos e frágeis. Todas as fantasias que precedem os nascimentos se desfazem em meio aos fios, sensores, monitores e tubos de respiradores artificiais (Morsh & Braga, 2007), impedindo, por exemplo, que a mãe interaja por meio do toque ou do olhar durante a amamentação (Moura, Ribas, Seabra, Pessôa, Ribas Jr, & Nogueira, 2004). Desse modo, discutese a importância do trabalho da equipe de saúde junto às mães e aos familiares, oferecendo informações que permitam à mãe cuidar do bebê após a alta hospitalar (Oliveira, Lopes, Viera & Collet, 2006). Assim, o presente estudo teve como objetivo verificar os aspectos psicossociais envolvidos nos cuidados oferecidos pela mãe ao bebê de nascimento prematuro após a alta hospitalar, a partir de uma investigação sobre as orientações recebidas durante a internação. Inicialmente, foram acessados os prontuários das mães que deram à luz no ano de 2010, no Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM). Esses prontuários foram consultados a fim de identificar o nascimento de prematuros e estabelecer contato com as mães. Após o contato, foi marcada uma entrevista com as mães que se voluntariaram à pesquisa, para melhor esclarecimento desta, assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e 172 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento realização de uma entrevista. Foram contatados também os profissionais que trabalharam na UTI no mesmo ano, e os que se disponibilizaram a participar assinaram o TCLE e foram entrevistados. A entrevista semiestruturada foi norteada por um roteiro elaborado pela equipe da pesquisa, e foi realizada no domicílio da mãe, ou no Centro de Estudo e Pesquisa em Psicologia Aplicada (CEPPA) da UFTM, conforme a disponibilidade das mães participantes. No caso dos profissionais, a entrevista foi realizada no próprio hospital. O roteiro constou de perguntas sobre as características da mãe e do bebê, o tipo de orientação recebida, como foram transmitidas as orientações, por quais profissionais e ainda se estas foram adotadas ou não, as causas da adoção ou não das recomendações, bem como informações sobre reinternações. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas para análise quantitativa e qualitativa. No estudo quantitativo, foram realizadas análises descritivas, de médias, desviospadrão, porcentagem e frequências. Além disso, foram feitas provas de diferenças estatísticas (Qui-quadrado) em busca de diferenças entre as orientações que as mães seguiram e as orientações que as mães consideraram inapropriadas a partir de seu ponto de vista e contexto. Ademais os dados foram analisados por meio de testes de correlação (Prova de Correlação de Spearman). Para a análise qualitativa, após serem selecionadas aleatoriamente seis entrevistas realizadas com as mães, procedeuse à análise de conteúdo, discutindo e interpretando os dados, correlacionando-os ao contexto histórico e social das famílias (Turato, 2003). Foram realizadas entrevistas com 23 mães e 42 profissionais atuantes na UTI neonatal e na pediatria do HC, no ano de 2010. Entre os profissionais entrevistados encontram-se enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, médicos e psicólogos. A partir das análises foi possível constatar que 100% das orientações foram passadas oralmente. Uma parcela das mães (29,2%) também recebeu orientações por escrito e embora 3% dos profissionais aleguem ter feito orientações audiovisuais, nenhuma mãe relatou ter recebido esse tipo de orientação. Identificou-se que as mães receberam orientações referentes aos cuidados com: o corpo do bebê, o seu próprio corpo, a alimentação do bebê, a prevenção de acidentes, o ambiente do bebê, consultas ao pediatra, a roupa do bebê, para evitar a reinternação e sobre a observação do estado de saúde do bebê. Os resultados mostraram que as orientações mais lembradas e realizadas pelas mães foram sobre os cuidados com o corpo do bebê e com a alimentação do bebê (17,9%). Entre os fatores que contribuíram para que as mães seguissem as orientações estão auxílio e experiência de parentes e amigos; experiências anteriores com a maternidade; e medo de complicações no estado de saúde do bebê. Já entre os fatores que levaram as mães COMUNICAÇÕES ORAIS a não seguir as orientações passadas pela equipe de saúde encontram-se: a falta de uma rede de apoio mais segura; o fato de que nem sempre, na ausência da mãe, quem despende os cuidados à criança está ciente do que os profissionais repassaram a ela; impedimentos fisiológicos, como o fato de o leite ter secado; ausência de vínculos com a equipe; medo de realizar os cuidados com a criança; sentimento de pena do filho; impedimentos ocasionados pelo trabalho da mãe; e impedimentos decorrentes do local de residência. Entretanto, observou-se baixo índice de reiternações no hospital, fato que levou à investigação das possíveis causas, por ser oposto à revisão de literatura. Os fatores encontrados contribuintes para a não reinternação foram: a superproteção materna, gerada a partir das consequências do nascimento prematuro, e a presença de forte rede de apoio dos profissionais da equipe hospitalar e dos membros da família. Os motivos de reinternação foram: pneumonia, bronqueolite, displasia pulmonar e infecção urinária. Tais complicações pareceram ocasionadas principalmente por questões sociais, entre estas a condição de moradia, que não atendia às orientações recebidas no hospital. A equipe de saúde deve estar preparada para tentar compreender a situação pela qual a mãe está passando e ajudá-la, levando em conta o seu contexto social. Somente assim, a mãe poderá ser efetivamente auxiliada a contornar, enfrentar e superar fatores sociais, biológicos e traços de personalidade, que podem interferir nos cuidados a serem realizados após a alta hospitalar. Palavras-chave: UTI neonatal; orientações aos pais; bebês prematuros. Contato: Conceição Aparecida Serralha, UFTM, E-mail: [email protected] CO-2070 “MAS TU NÃO VAI TRAZER AS MANINHAS? POR QUE TU GANHOU E DEIXOU LÁ?”: EXPERIÊNCIA DOS IRMÃOS FRENTE AO NASCIMENTO PREMATURO DO BEBÊ Lívia Caetano da Silva Leão, UFRGS, E-mail: [email protected] Diogo Felipe Kepler, UFCSPA, E-mail: [email protected] Paula Nunes Mousquer, GHC, E-mail: [email protected] Rita de Cássia Sobreira Lopes, UFRGS, E-mail: [email protected] Cesar Augusto Piccinini, UFRGS, E-mail: [email protected] Apoio Financeiro: CNPq 173 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento O nascimento prematuro de um bebê tem sido um fenômeno relativamente comum, já que cerca de 10% dos nascimentos registrados no Brasil ocorrem de forma prematura (Brasil, 2009). O bebê que nasce prematuro encontra-se biologicamente imaturo para a vida extrauterina (Behrman & Butler, 2007) e passa, portanto, a necessitar de outro ambiente onde possa se desenvolver e amadurecer - a chamada Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal (UTI Neo). Assim, o nascimento prematuro pode ser considerado um evento potencialmente traumático para toda a família do recém-nascido, inclusive para o irmão do bebê (Cahmi, 2005), uma vez que rompe com a previsibilidade de seu mundo familiar (Oehler & Vileisis, 1990). Frente à separação que comumente ocorre entre o filho mais velho e a mãe, o cuidado advindo de outros familiares tende a beneficiar o irmão, atenuando os efeitos adversos desta separação, como o pai (Cahmi, 2005) e avós e tios (Morsch & Braga, 2003). Autores nacionais e internacionais têm ressaltado a importância de as instituições hospitalares acolherem os irmãos dos bebês nascidos prematuros (Bliss, 2011; Brasil, 2011; Levick et al., 2010; Munch & Levick, 2001; Oehler & Vileisis, 1990; Valansi & Morsch, 2004) e, através do Programa Método Canguru, o Ministério da Saúde também tem enfatizado a importância desse acolhimento por meio da visitação destes irmãos à Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI Neo). O objetivo deste trabalho foi investigar as repercussões do nascimento prematuro do bebê para o(s) irmão(s), sob a perspectiva materna, durante a internação do bebê na UTI Neo. Participaram 37 mães que responderam, em torno do 15º dia após o nascimento do bebê, a instrumentos contemplando dados demográficos familiares, informações clínicas do bebê e da mãe, e experiência da maternidade no contexto da prematuridade. A entrevista sobre maternidade continha questões acerca do irmão do bebê, cujas respostas foram examinadas por intermédio de análise de conteúdo qualitativa, a partir de três eixos temáticos: a) rotina do irmão após o nascimento do bebê; b) reações e sentimentos do irmão diante do nascimento do bebê; e c) contato do irmão com o bebê. Os resultados revelaram alteração na rotina de cuidados frente a maior ausência materna, porquanto a grande maioria das mães (70%) referiu ter ficado menos presente em casa, por permanecerem longos períodos do dia junto ao bebê hospitalizado. No contexto do nascimento prematuro de um filho, o cuidado materno tende a se dirigir intensivamente ao filho frágil e imaturo biologicamente e o irmão do bebê pode passar a ser “esquecido” (Beavis, 2007; Morsch & Delamonica, 2005; Munch & Levick, 2001), ocupando um lugar mais discreto e periférico no contexto familiar. Frente a maior ausência materna, os irmãos passaram a ser cuidados COMUNICAÇÕES ORAIS por outros familiares, como a avó materna e/ou paterna, o pai e/ou algum irmão mais velho, cujo auxílio proporciona uma continuidade de cuidados e oportuniza o reabastecimento emocional à criança (Cahmi, 2005; Klaus & Kennell, 1993; Morsch & Braga, 2003). Quanto aos sentimentos e reações dos irmãos, constatou-se principalmente a existência de questionamentos acerca do ocorrido e do estado clínico do bebê (41% das mães). Embora o conteúdo das perguntas tenha sido bastante distinto dependendo da faixa etária, os irmãos em idade escolar e os adolescentes demonstraram compreender melhor o que é o nascimento prematuro, reconhecendo que o bebê não deixa de existir por não estar em casa ou na barriga da mãe. As questões levantadas pelos irmãos de bebês nascidos prematuros são obviamente esperadas (Kleiber et al., 1995; Morsch & Braga, 2003), assim como a variação de conteúdo das perguntas conforme a idade, como mostraram Morsch e Delamonica (2005) em pesquisa sobre os comportamentos dos irmãos de diferentes faixas etárias durante a visitação ao bebê na UTI Neonatal. Outra reação dos irmãos referida por algumas mães (18%) foi o ciúme após o nascimento do bebê, manifestado em todas as faixas etárias, exceto entre os irmãos adultos. Bliss (2011) aponta que este é um sentimento esperado por parte do irmão frente à chegada prematura de um bebê, principalmente devido aos longos períodos em que ele passa a ser privado da presença materna. Segundo o autor, muitas vezes, o ciúme é dirigido aos próprios pais, através de comportamentos agressivos ou mesmo de comportamentos de apego. Além destas, também foram expressas reações de ansiedade, contentamento e curiosidade em relação ao bebê. Quanto aos achados da última categoria, contato dos irmãos com o bebê, apenas algumas mães (22%) referiram que os irmãos visitaram o bebê na UTI Neo, o que para todas foi vivenciado como algo positivo, corroborando dados da literatura, que destaca que a visitação contribui para o maior entendimento do irmão sobre a situação, para a diminuição de suas fantasias e medos, bem como para a inauguração da ligação fraterna (Morsch & Delamonica, 2005; Munch & Levick, 2001; Valansi & Morsch, 2004). Conquanto algumas mães (20%) tenham decidido não levar os irmãos do bebê ao hospital, em 58% dos casos deste estudo a visitação não foi possível devido às normas institucionais dos hospitais onde os bebês se encontravam. Diante disto, várias mães (25%) valeram-se da fotografia como recurso para intermediar o contato entre o irmão e o bebê prematuro, proporcionando o primeiro encontro fraterno. Evidencia-se a importância de os irmãos serem atendidos em suas necessidades de cuidado ao longo deste período de hospitalização do bebê, visto ser um acontecimento mobilizador de diversas reações e mu- 174 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento danças importantes na família. Sugere-se ainda que a visitação do irmão ao bebê internado na UTI Neo seja problematizada enquanto uma prática de acolhimento por parte das equipes de saúde, considerando o desejo de visitar do irmão, da família e a viabilidade da visita caso a caso. Palavras-chave: irmão; nascimento prematuro; UTI neonatal. Contato: Lívia Caetano da Silva Leão, UFRGS, E-mail: [email protected] BRINCADEIRAS Sala 405 - 13h30 CO-2134 BRINCADEIRAS: VEREDAS. O DESENVOLVIMENTO PSICOLÓGICO DE CRIANÇAS NO PERÍODO PRÉ-ESCOLAR Antonio Sergio Vasconcelos Darwich, UEPA, E-mail: [email protected] Nosso trabalho trata da relação entre a brincadeira de papéis e o desenvolvimento da consciência na idade pré-escolar, a partir da abordagem da Psicologia Histórico-Cultural. Portanto, a consciência se constitui a partir de duas modalidades de funções: as elementares, de origem biológica, de estrutura imediata e de função adaptativa, predominantes no período pré-verbal; já as funções superiores, predominantes no período verbal, são de origem social (notadamente no processo do trabalho) e mediadas instrumental e semioticamente (ENGELS, 1979; LURIA, 1991). As funções elementares (atenção, percepção, memória, ação inatas) manifestamse como reações diretas do indivíduo ao meio; já as funções superiores (fala, pensamento, memória e percepção lógicas, atenção diferenciada, vontade, leitura, escrita, cálculo) reequipam as funções inatas do indivíduo, tornando-as culturais, mediadas pelos signos (VYGOTSKI, 2000; VYGOTSKI & LURIA, 2007). As brincadeiras de papéis são, portanto, “a atividade pré-escolar dominante” (Elkonin, 2012, p.164), porque colocam a criança em contato com as relações sociais mais fundamentais de sua cultura e o uso de signos, de instrumentos e a conduta voluntária (ELKONIN, 2009; FACCI, 2004; LEONTIEV, 2010; SANTOS, A. K. & DIAS, A. M, 2010; TEIXEIRA, S. R. S. ALVES, J. M., 2007, VYGOTSKI & LURIA, 2007). As situações sociais de desenvolvimento são as estruturas que integram as relações sociais, a personalidade da criança e determinam os diferentes períodos de desenvolvimento dos quais surgem as funções mentais orientadoras da trajetória da personalidade, as COMUNICAÇÕES ORAIS neoformações (Vygotski, 2006). As brincadeiras, no período pré-escolar, dão origem a neoformações peculiares, como a imaginação, a atenção diferenciada, o pensamento sincrético, a afetividade mediada por signos culturais e o controle voluntário sobre a própria conduta, via função planejadora dos signos internos (VIGOTSKI, 2001; VYGOTSKI, 2000; VYGOTSKI, 2006). No período pré-verbal, a conduta da criança é prisioneira das circunstâncias imediatas do meio físico-social, portanto, está presa “à situação ou ao campo em que se encontra” (VYGOTSKY, 2008 p. 29). A criança supera estas amarras da situação imediata, por meio das brincadeiras de papéis, graças às ações mediadoras dos signos ao transformar sua estrutura psicológica imediata e condicionada em histórico-social. A partir daí, a conduta da criança deixa de ser apenas resultado dos estímulos do meio, mas, também, produto de seus motivos internos e dos significados das palavras (Vigotski, 2008). No período pré-verbal e mesmo no início da aquisição da fala, as funções elementares são predominantes. Por isso, os objetos motivam a conduta da criança. Na brincadeira de papéis, no entanto, são as relações e os significados sociais que determinam a conduta da criança sobre os objetos (VIGOTSKI, 2008). Por outro lado, quando uma criança usa uma caixa de sapatos para representar um carro, significa que suas possibilidades de abstrações (isolar os atributos essenciais do objeto) e generalizações (aplicações destes atributos a diferentes situações), ampliaram-se, graças à mediação dos signos (GÓES, 2000). Por outro lado, a atenção, que isola da caixa de sapatos dos demais objetos para imitar o carro, desenvolveu-se e, agora, ordena a atividade para um fim (VYGOTSKY E LURIA, 1996). As brincadeiras de papéis também permitem às crianças o desenvolvimento da imaginação, pois, nestas, as crianças reconstroem criativamente as experiências sociais vivenciadas por elas (GÓES, 2000). Um processo similar ao da criação artística, pois sobrevém a partir da transformação do significado social no sentido individual (Vigotski, 2001, GÓES, 2000). Para discutir as premissas deste trabalho, realizamos uma coleta de dados a partir de diversas atividades de brincadeiras com crianças de 4 a 5 anos da Escola Municipal de Ensino Fundamental e Educação Infantil Eurídice da Cunha Gordo, situada no município de Moju, na região de Tocantins, do Estado do Pará. Realizamos a análise microgenética de algumas situações específicas de uma brincadeira de “feira do bairro”, quando as crianças imitaram papéis sociais de feirantes e de compradores. Nesta atividade analisamos alguns conceitos deste trabalho, como o comportamento mediado pelos signos, a inversão da equação objeto/significado para significado/ objeto, as relações entre significado e sentido, os papéis sociais mais relevantes e o desenvolvimento de neoforma- 175 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento ções (Vigotski, 2008; GÓES, 2000). A síntese dos resultados obtidos indica que a maioria das ações das crianças é orientada pelos significados sociais já estabelecidos: o predomínio do significado sobre o objeto apareceu 29 vezes; o predomínio do significado social sobre as ações, 88 vezes. Enquanto que a categoria do sentido pessoal tem frequência muito menor: o predomínio do sentido pessoal sobre o objeto apareceu uma só vez e o predomínio do sentido pessoal sobre as ações, somente cinco vezes. Os resultados demonstram que o desenvolvimento da linguagem já permite ações mediadas por signos, mas, por razões culturais e psicológicas, a atividade se restringe a normas conhecidas (LURIA & YUDOVICH, 1987). Isto corrobora estudos anteriores. Estes afirmam que a função predominante da linguagem é a social-comunicativa e o papel da imitação que leva a criança a se comportar em níveis acima do seu cotidiano, lançando bases para as atividades de arte e de ciências, no futuro. Enfim, com este trabalho, pretendemos discutir a brincadeira de papéis e sua importância para o desenvolvimento cultural da criança e para a educação pré-escolar, em instituições públicas. Num país, como o Brasil, que, ao mesmo tempo, possui uma rica cultura popular, 81% das crianças de 0 a 3 anos e 25% de 4 a 5 anos estão fora da pré-escola (IBGE/Brasil Em Números, 2012). As brincadeiras de papéis são, por conseguinte, uma vereda para educar, no período pré-escolar, quando permite às crianças assimilar sua cultura e, assim, humanizar-se e desenvolver a consciência, com ética e liberdade. Palavras-chave: brincadeiras; desenvolvimento; consciência. Contato: Antonio Sergio Vasconcelos Darwich, UEPA, E-mail: [email protected] CO-2038 REPRODUÇÃO INTERPRETATIVA EM EPISÓDIOS DE FAZ DE CONTA Shiniata Alvaia de Menezes, UFBA, E-mail: [email protected]; Bianca Becker, UFBA, E-mail: [email protected]; Ilka Dias Bichara, UFBA, E-mail: ilkabicharagamil.com Apoio Financeiro: CNPq A brincadeira é considerada um sistema comportamental selecionado e universal (Pellegrini & Smith, 1998). Nos grupos de crianças que compartilham brincadeiras sociais desenvolve-se o que Corsaro (2009) denominou cultura de pares, que se diferencia da cultura mais ampla através da reprodução interpretativa (Corsaro, 2009, 2011) - aspectos da cultura maior adentram a brincadeira e são ressignificados e reinterpretados pelas crianças. Entre tais COMUNICAÇÕES ORAIS aspectos - evidenciados principalmente nos episódios de faz de conta - destacam-se as questões de gênero, tais como a estereotipia (Bichara, 2001); a segregação (Martins & Fabes, 2001; Aydt & Corsaro, 2003); e a tipificação (Bichara & Carvalho, 2008; Pontes & Magalhães, 2003). Corsaro (2009) argumenta que, ao brincar, a criança contribui ativamente para a produção e mudança cultural, ao passo que suas infâncias são afetadas pelas sociedades e culturas das quais são membros. Este estudo analisou os aspectos de reprodução interpretativa de dois episódios de faz de conta, em que dois grupos distintos exclusivos utilizam o mesmo brinquedo na sua brincadeira: uma onça de pelúcia. A análise dos dois episódios possibilitou apontar a singularidade e subculturas dos grupos de brincadeira. Este estudo apresenta a análise de dois episódios de brincadeiras espontâneas, extraídos do banco de dados de uma pesquisa exploratória focada na interação criança/contexto escolar, realizada em uma escola pública municipal de Salvador, Ba. Participantes: cinco crianças (nomes fictícios), entre 5 e 6 anos, subdivididas em dois grupos de brincadeira formados espontaneamente: uma díade de meninas e um grupo de três meninos. Procedimento de coleta de dados: observação naturalística de episódios de brincadeira espontânea durante o recreio da escola. Os episódios observados foram registrados em protocolos de observação construídos para esta pesquisa e posteriormente recortados para fins de análise. O Episódio 1 durou 06 minutos e o Episódio 2 durou 15 minutos. As observações e seus registros foram realizados pela autora do estudo entre os meses de março e julho do ano de 2013. Procedimento de análise de dados: Os dados foram analisados a partir da técnica de Pedrosa & Carvalho (2005): análise de episódios para ilustrar empiricamente um argumento. Aspectos Éticos: O Projeto foi submetido à Plataforma Brasil. A pesquisa obteve consentimento informado pela Diretora da escola pesquisada e está isenta do consentimento informado dos participantes e/ou responsáveis, com base no artigo 6º da Resolução 016/2000 do CFP, de 20 de dezembro de 2000. O Episódio 1 tratou de um faz de conta que ilustrava uma festa de aniversario da onça de pelúcia (Lucas), em que duas meninas se colocaram nos papéis de mãe (Tina) e irmã (Francis.) O Episódio 2 ilustrou um faz de conta com temática de cuidado paternal envolvendo três meninos - Paulo, Silas e Carlos - que colocaram a onça de pelúcia (Onção) no papel do filho. O primeiro aspecto observado nos dois episódios é a formação espontânea de grupos de brinquedo segregados por gênero. Há aspectos da reprodução interpretativa (Corsaro, 2009, 2011) em três momentos: (1) Ritos culturais (aniversário): no Episódio 1, o canto/casa é organizado de modo característico nas brincadeiras das meninas (Bichara, 2001, 2003; Bichara & Carvalho, 2008). Isso ilustra a preferência das 176 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento meninas em criar brincadeiras que imitam situações da vida real ligadas ao espaço familiar, como festas (Wanderlind, Martins, Hansen, Macarini & Vieira, 2006; Bichara, 2001; Bichara & Carvalho, 2008). Ao reproduzir conjuntamente a festa, buscando cumprir todas as etapas, as meninas compartilham ou confrontam as informações de que dispõem sobre este rito social. (2) Aspectos de gênero: percebe-se, além da segregação: (2.1) Estereotipia - o Episódio 1 ilustra o aprendizado de expectativas culturais que associam determinadas cores aos gêneros (Bichara, 2001). (2.2) Tipificação - o Episódio 1 evidencia aspectos que sugerem a pressão social exercida sobre os meninos em relação à tipificação inadequada de gênero (Bichara, 2001; Wood, Desmarais & Gugula, 2002; Karsten, 2003). No Episódio 2, o grupo de brinquedo masculino constrói um faz de conta que se desdobra e é atravessado por outros tipos de brincadeiras, tipificadas como masculinas. No entanto, destaca-se o envolvimento dos meninos em comportamentos tipificados como femininos num episódio de faz de conta (Bichara & Carvalho, 2008; Wanderlind et al., 2006). Ainda assim o cuidado paternal explicitado no Episódio 2 contém elementos característicos do universo masculino, exemplificados pelos papéis sociais de cuidado escolhidos pelos brincantes (pai/tio) e pela ausência da referência feminina. (3) Cuidados parentais - As brincadeiras relacionam-se aos papéis de gênero desempenhados pelos adultos do grupo cultural no qual a criança está inserida (Bichara, 2001; 2003; Gosso, Otta, Salum & Morais, 2007; Seixas, 2007). No Episódio 1, as meninas ilustram a apreensão criativa dos valores associados ao papel feminino em nossa sociedade, tanto na escolha da temática, quanto no cuidado e atenção aos filhos (ação de “acalentar” os bonecos envolvidos). No Episódio 2, quando os meninos atribuem o papel de filho ao brinquedo disponível - não o transformando, por exemplo, em um super-herói ou bandido, conforme sugerido pela literatura (Smith, 2010; Bichara 2001; Bichara & Carvalho, 2008) - ressaltam a nova posição masculina na sociedade que ressignifica a paternidade, atendendo às expectativas contemporâneas que incluem, além do cuidado e envolvimento com os filhos, a participação em brincadeiras e no processo educativo (Bandeira, Goetz, Vieira & Pontes, 2005). Os episódios analisados reafirmam o grupo de brinquedo como um espaço de informação em que a criança pode exercitar-se como agente de criação e transmissão de cultura (Carvalho & Pedrosa, 2002). O presente trabalho elucida aspectos relevantes da reprodução interpretativa (Corsaro, 2009, 2011), dos valores sociais e da cultura de pares ao demonstrar que, embora utilizando o mesmo brinquedo, as subculturas formadas nos grupos de brincadeira direcionam temáticas e estilos lúdicos de maneira a formar dois episódios de faz de conta completamente diversos. Acredita-se que um desenho COMUNICAÇÕES ORAIS metodológico mais amplo, incluindo também a escuta da voz da criança, poderá revelar novas facetas desta complexa e dinâmica relação. Palavras-chave: reprodução interpretativa; cultura de pares; brincadeira. Contato: Shiniata Alvaia de Menezes, UFBA, E-mail: [email protected] CO-2000 GÊNERO E BRINCADEIRAS DE FAZ DE CONTA EM CAMAÇARI-BA: CONTRIBUIÇÕES DA REPRODUÇÃO INTERPRETATIVA Ilana Figueiredo Brandão, UFBA, E-mail: [email protected] Ilka Dias Bichara, UFBA As brincadeiras de faz de conta são definidas conforme a teoria da reprodução interpretativa, perspectiva teórica da sociologia da infância, como rotinas culturais em que a criança pode manipular objetos de forma imaginativa, atribuindo novos usos e características diferentes do habitual ou simular ações de pessoas da sociedade em que ela vive. Neste contexto de formação de grupos, a criança partilha com seus parceiros formas de ser e estar no mundo e essas parcerias são caracterizadas por modos de organização próprios. Nesta partilha, as crianças constroem formas específicas de compreender e agir no mundo e também expressam um conjunto de elementos culturais através das brincadeiras. Para compreender as particularidades desta atividade, este trabalho teve como objetivo investigar os processos reveladores da ocorrência do fenômeno de reprodução interpretativa em brincadeiras de faz de conta a partir das atividades desenvolvidas com enfoque nas diferenças entre os gêneros. O município de Camaçari, BA, mostrou-se um local privilegiado para este tipo de estudo, pois reúne uma diversidade de contextos no seu território, onde se encontram peculiaridades marcantes em suas diferentes regiões. Participaram 60 crianças entre quatro e seis anos. Esta pesquisa foi desenvolvida em três instituições escolares. Os instrumentos utilizados foram o registro cursivo e a filmagem dos comportamentos nas brincadeiras de faz de conta em situação natural durante as atividades livres e sem interferência de adultos. Foram realizadas sessões mensais de observação durante o período de oito meses e foram encontrados 51 episódios de brincadeira de faz de conta. Destacavase nestas observações a forma como as crianças lidavam com as referências culturais, se comunicavam e reproduziam estes conteúdos, não imitando fielmente os adultos, mas apresentando algo novo numa interpretação parti- 177 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento cular que faziam durante a brincadeira simbólica. Com relação ao número de episódios por gênero, foram observadas 29 brincadeiras envolvendo apenas meninos, 14 só de meninas e 8 de grupos mistos. Dentre as brincadeiras observadas, foram encontradas brincadeiras incidentais que foram divididas em brincadeiras de perseguição com e sem objetos e lutas com e sem objetos e todas elas foram desenvolvidas por meninos, num total de 14. Os papeis mais desempenhados pelos meninos foram: o de polícia (n=4), ladrão (n=4) e super-heróis (n=3) e os das meninas foram: mãe e filha (n=3), vendedora (n=2) e cozinheiras (n=2) e o papel desempenhado no grupo misto foi polícia (n=1). Foi interessante verificar o uso e as transformações dos objetos, sobre os quais as crianças atribuíram novas propriedades, configurando-os, às vezes, de forma inusitada; os meninos (n=16) e as meninas (n=9) utilizaram mais brinquedos manufaturados, seguidos de utensílios, enquanto o grupo misto brincou mais com elementos naturais (n=7). Os resultados mostram que os meninos variam as brincadeiras, enquanto as meninas brincam mais tempo da mesma temática. Também foi encontrada forte estereotipia de gênero na escolha dos temas, dos objetos e na encenação de papéis. Quanto às temáticas, constatouse a preferência dos meninos por aventura (n=14), fantasia (n=8) e transporte (n=2), as meninas se engajam nas atividades domésticas (n=8), semelhante ao grupo misto (n=4). A partir dos temas desenvolvidos, foram analisadas as fontes de influência do conteúdo e constatou-se que a realidade do cotidiano e a mídia foram os meios de inspiração utilizados pelas crianças para se apropriar dos elementos culturais, mas os conteúdos fantasiosos presentes na mídia estavam mais presentes nas brincadeiras dos meninos (n=13) e os conteúdos cotidianos nas atividades lúdicas das meninas (n=13), semelhante ao grupo misto (n=4). Quanto ao uso de objetos, estes sofreram transformações simbólicas, constituindo-se como objetos do mundo adulto em que os brincantes compartilhavam os seus significados nas interações de faz de conta. Também foi observado que a comunicação durante a brincadeira simbólica apresenta riqueza de elementos e a complexidade própria desta atividade, como por exemplo, os meninos utilizaram mais a modalidade verbalização com vocalizações (n=10), dado encontrado também no grupo misto (n=5) e as meninas comunicaram-se mais através da verbalização (n=5). Constatou-se que as interações sociais foram predominantemente cooperativas em todos os grupos, apesar da formação de grupos segregados. Enfim, verificou-se que a perspectiva da Reprodução Interpretativa e a psicologia do desenvolvimento constituíram-se como referências que explicavam o evento do faz de conta e suas interlocuções com a cultura de maneira satisfatória, e também se percebeu durante a análise dos dados, que as crianças trocaram muitas experiências sobre o seu modo COMUNICAÇÕES ORAIS de vida e conteúdos culturais midiáticos e os conteúdos foram reinventados, reinterpretados e ressignificados pelas crianças nas brincadeiras de faz de conta. Palavras-chave: brincadeira de faz de conta; gênero; reprodução interpretativa. Contato: Ilana Figueiredo Brandão, UFBA, E-mail: [email protected] CO-2246 DE ESPECTADORA A CRIADORA: O CONTEÚDO DAS NOVELAS BRASILEIRAS NA BRINCADEIRA DE FAZ DE CONTA DA CRIANÇA PEQUENA Bruna Pacheco de Almeida, UnB, E-mail: [email protected] Daniele Nunes Henrique Silva, UnB, E-mail: [email protected] O presente estudo, alicerçado no Grupo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Cultura, Diferença e Alteridade (GEIA/UnB), vincula-se ao projeto Imaginação, processos criativos e formação docente, e cuja proposta centra-se na problematização do lugar atribuído à atividade criadora no contexto escolar. Tendo como principal referencial teórico as contribuições da perspectiva histórico-cultural, a pesquisa em questão objetiva investigar a maneira como os elementos midiáticos, em particular, a novela brasileira, participam dos processos criativos infantis, especialmente, na brincadeira. Tais questões levam também à necessidade de reflexão sobre o lugar da criança e do lúdico nas vivências sociais, marcadas e mediadas por textos midiáticos sustentados pela cultura do consumo. Assim, busca-se compreender o modo como as crianças se apropriam e interagem com o discurso midiático e o que elas produzem a partir dessa intensa relação (Pereira, 2005). Ou seja, como tais experiências compõem a imaginação da criança pequena, focalizando centralmente as atividades criadoras. Os processos criativos, orientados pela imaginação, desdobram-se no decorrer de todo o desenvolvimento ontogenético e se manifestam de forma singular na infância. Para Vigotski (2009), os processos imaginativos possuem uma base sociogenética, ou seja, há uma interdependência entre a composição da imaginação e as experiências culturais, das quais a criança participa. Assim, o conteúdo imaginativo parte das impressões acumuladas nas/das vivências cotidianas da criança; pois, tem suporte na realidade (Silva, 2012). Entretanto, importa ressaltar que, apesar de partir do real para compor suas atividades lúdicas, a criança não está limitada a apenas reproduzir aquilo que viu ou ouviu. De fato, em 178 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento suas criações, ela insere elementos novos (Góes, 2000; Silva, 2012). Entre as atividades criadoras infantis, Vigotski (2009) destaca a brincadeira. No brincar, a partir da assunção de personagens, por exemplo, os pequenos recriam, de forma original, temas, enredos, cenários, situações para dar vida aos papéis fictícios. Nesse sentido, por meio do faz de conta, a criança revela seus modos de perceber, sentir, interpretar o real, passando, portanto, a intervir, de forma ativa, no mundo ao seu redor. Dessa forma, ao caracterizar-se como um personagem social (mãe, filha, professora, médica etc.), a criança não cria a partir disso algo ilusório, pois o faz de conta é regido por regras de funcionamento do mundo cultural adulto, no qual ela se encontra imersa. Cumpre ressaltar, ainda, que a brincadeira permite que a criança transite simultaneamente entre o real e o fantástico, desprendendo-se do campo perceptivo imediato. Atualmente, as pesquisas sobre o brincar têm enfatizado os conteúdos das encenações lúdicas como forma de compreender o modo como a criança representa e expressa o mundo circundante. Para além, tem-se problematizado como se configura a própria maneira de a criança pensar e sentir a cultura. Dentre esses aspectos, as relações entre mídia e infância têm assumido relevância. Sabe-se que a sociedade contemporânea é caracterizada por transformações decorrentes, sobretudo, das esferas tecnológicas e pós-industriais. Neste cenário, a cultura midiática vem ganhando espaço cada vez mais significativo, estabelecendo novos valores e modos de ser, de maneira a configurar-se como elemento protagonista na formação de subjetividades (Pereira, 2002, 2006 e 2009). No contexto dessas mudanças, as concepções acerca da infância assumem novos contornos. Assim, em resposta ao papel da criança consumidora, tornou-se corrente o olhar crítico acerca dos impactos negativos e prejudiciais da mídia no desenvolvimento infantil. Em meio às discussões, destaca-se o tema da perda da infância, cuja maior parcela de culpabilidade recai sobre a comunicação de massa, responsável por inserir a criança no mundo adulto ao produzir incessantemente, por meio de diferentes veículos, cenas que ressaltam o trabalho, a erotização, a criminalidade (Pereira, 2009). Destarte, muito se tem argumentado, por exemplo, sobre o caráter alienador da televisão e como este aparelho eletrônico (reprodutor de imagens) tem invadido o espaço do brincar, substituindo o brinquedo ou colocando este em segundo plano. No entanto, para além dessas questões, estudos recentes representam relevante iniciativa de distanciamento deste lugar comum de depreciação da mídia, em face da infância, à medida que deslocam o foco de atenção para a problematização das interações que a criança estabelece com a linguagem midiática, a partir de suas produções criativas desenvolvidas do outro lado da tela. Nessa li- COMUNICAÇÕES ORAIS nha de reflexão, um grupo de pesquisadoras organizou uma coletânea de artigos publicada no Caderno CEDES (v. 32, n. 86, Campinas, jan./abr. 2012), intitulado Cenas para a infância: personagens da literatura e de desenhos animados. Esse compilado abarca discussões sobre temas infantis produzidos pela linguagem midiática voltada para crianças e evidencia a forma como elas dialogam com tais produtos. As autoras atentam para o lugar periférico que ocupam essas produções culturais de mídia no campo científico e buscam, à vista disso, contribuir para o fomento dessas questões para as áreas de Educação, Comunicação e Psicologia. Seguindo essa linha investigativa, o presente trabalho, portanto, indaga: Como as experiências midiáticas, em especial as novelas, compõem as cenas lúdicas infantis? Com base nesse interesse investigativo, o presente estudo partiu de cenas de faz de conta. Tais cenas foram organizadas em forma de episódios que faziam menção aos contextos novelísticos. Nos episódios encontrados, crianças de 4-6 anos foram videogravadas em dinâmicas escolares e o material coletado, posteriormente, analisado. A partir daí, pôde-se observar o modo como a criança reelabora, no faz de conta, a cenografia e o discurso da novela. Nesse contexto, ela deixa de ser mera consumidora, espectadora e receptora passiva de uma relação unilateral, passando a agir sobre o produto midiático, estabelecendo uma interação dialógica com ele, à medida que se apropria das imagens vinculadas pela televisão, atribuindo-lhes novos sentidos, reconstruindo-as e reinventando-as. Palavras-chave: infância; processos criativos; mídia. Contato: Bruna Pacheco de Almeida, UnB, E-mail: [email protected] CO-2081 BRINCADEIRAS E TRAVESSIAS NO CENTRO DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: PRÁTICAS LÚDICAS E CIDADANIA COM CRIANÇAS Anne Graça de Sousa Andrade, E-mail: [email protected] Nara Maria Forte Diogo Rocha, E-mail: [email protected] Gislane Karla de Souza, E-mail: [email protected] Denise Alves de Neiva, E-mail: [email protected] Este trabalho tem como objetivo expor a experiência de um projeto de extensão com crianças desenvolvido em um Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), 179 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento na cidade de Sobral, CE. O CRAS é o equipamento social localizado em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinado ao atendimento socioassistencial de famílias, nele ocorre o desenvolvimento dos serviços socioassistenciais da Proteção Social Básica. Constitui espaço de concretização dos direitos socioassistenciais nos territórios, materializando a política de assistência social (MDS, 2004), com foco na prevenção e fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Compreendendo o CRAS, em seu sentido mais amplo, como um espaço educativo, ele também deve ser lugar para a prática política democrática. O projeto intitulado “Brincadeiras e Travessias: práticas lúdicas e ações em psicologia do desenvolvimento” existe no curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará - Campus Sobral desde 2010 e desenha-se, através da montagem e atuação em brinquedotecas, fortalecer vínculos familiares, trabalhar afetividades e cidadania. No período de um ano as extensionistas acompanharam 15 famílias de crianças de zero a seis anos, no CRAS Pe. João Batista Frota, localizado em uma área periférica do referido município. Vinculado ao Serviço de Convivência e Fortalecimento dos Vínculos para crianças até seis anos (Brasil, 2010), tais espaços contaram com a presença de brinquedistas, alunas do curso de Psicologia, que organizavam os momentos com as famílias, disponibilizando os brinquedos e formas de brincar na direção dos objetivos apontados, além da presença constante dos psicólogos dos CRAS. A brinquedoteca se constitui, portanto, como um espaço de desenvolvimento humano através do brincar. Inserida no contexto do CRAS, esse espaço possibilita a discussão e problematização do desenvolvimento humano como transformação da participação na atividade sociocultural (Rogoff, 2005), além de uma maior proximidade com a vivência cotidiana dessas famílias e um fortalecimento da rede social da qual estas famílias fazem parte. Nesse trabalho o brincar é concebido como um processo ativo e dialógico (Souza, 1994) e contribui para o desenvolvimento infantil por propiciar a mudança na relação da criança com os objetos; “a criança vê um objeto, mas age de maneira diferente em relação ao que vê, assim, é alcançada uma condição que começa a agir independentemente daquilo que vê” (Vygotsky, 1998, p. 127). Por conseguinte, é possível entender que a criança ao brincar não apenas diz de seu viver, mas também aponta vias de sua transformação. Nesse sentido a criança transforma o entorno do CRAS no quintal da sua brincadeira, explorando, criando história e afetando sua família bem como os profissionais com os quais se relaciona. Os pilares de uma compreensão de crianças e adolescentes como sujeitos de direitos estariam assentados na igualdade perante a lei e no respeito à diferença. Assim direitos universais são garantidos e a condição peculiar de desenvolvimen- COMUNICAÇÕES ORAIS to respeitada. Desta concepção derivam práticas em que crianças têm papel atuante na tomada de decisão sobre os programas nos quais estão engajadas. Há o reconhecimento de sua capacidade de falar por si. Considerar o momento peculiar de desenvolvimento não significa, porém, a defesa da lógica desenvolvimentista, que justifica a tutela. A lógica desenvolvimentista, segundo Coimbra, Bocco e Nascimento (2005) se ergue sob a primazia da razão, tomando a maturidade adulta como seu ápice e os outros momentos da vida apenas como preparação ou decrepitude. O conceito bakthiniano de Exotopia, como um excedente do olhar (Amorim, 2003), e o de Inacabamento em Freire e Agambem (Neto e Silva 2010), pela marca do sonho e da imaginação, podem ajudar a lidar com o paradoxo que o afirmar a criança como sujeito de direitos de forma radical pode aparentar, pois o constituir-se sujeito acontece em relação. Através da vivência cotidiana as extensionistas puderam perceber visivelmente os referenciais teóricos que refletirem no início da quebra da lógica desenvolvimentista e adultocêntrica abrindo espaços para a sociologia da infância, onde a criança é percebida como um sujeito autor de sua história. Através de recursos lúdicos as crianças falavam sobre si (os seus gostos, seus medos e desejos), também foi possível abrir espaços para que as mães pudessem falar um pouco de si e para que a equipe do CRAS ampliasse os seus horizontes sob o olhar da criança. Compreendendo seu lugar de aprendiz e proporcionando vivências mobilizadoras de discussões acadêmicas que envolvem psicologia do desenvolvimento, psicologia social, sociologia da infância, dentre outras temáticas, foi possível para as extensionistas qualificarem o olhar do psicólogo em formação e sua contribuição junto a este contexto, com vistas a colaborar no planejamento, execução e avaliação das atividades lá propostas, constituindo-se campo interativo fundamental para a circulação de saberes e práticas a respeito do brincar, da criança e das relações neste ambiente. Para além da socialização, acreditamos que o brincar possibilita a criação e fortalecimento de vínculos a partir da concepção de que as experiências lúdicas são formas privilegiadas de expressão, de interação, de proteção social, de comunicação compartilhada onde existem trocas que são independentes do nível de desenvolvimento em que os envolvidos estão (crianças e adultos, por exemplo). Percebemos também que a ação de brincar cria um ambiente onde é possível trabalhar questões que podem estar fragilizando os vínculos familiares entre as crianças e suas mães e a partir dessa percepção criar formas de reelaborar esses momentos em um espaço protegido (Brasil, p.15, 2010). Dentro desse contexto podemos também evidenciar as ações do profissional de psicologia e como este se relaciona com o brincar. Tendo em vista que ao psicólogo inserido no contexto da assistência social (especificamen- 180 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento te CRAS) compete o trabalho em prol da construção de espaços de organização familiar contribuindo assim para reduzir os ciclos de vulnerabilidade e fortalecimento de vínculos compreendendo também os processos subjetivos que contribuem para essa vulnerabilidade. Podemos então afirmar que na relação psicólogos, crianças e o brincar este profissional assume a postura de facilitador das trocas grupais, incentivador da participação tanto de adultos como de crianças, contribuindo assim para os processos de elaboração e reelaboração dos vínculos considerando todas as possibilidades que o brincar e as atividades lúdicas mostram trazer para o melhor desenvolvimento destes processos. Palavras-chave: práticas lúdicas; cidadania; centro de referência da assistência social. Contato: Anne Graça de Sousa Andrade; E-mail: [email protected] CO-2234 BRINQUEDOS ARTESANAIS: MEDIADORES CULTURAIS PARA BRINCADEIRAS INFANTIS EM SALVADOR E REGIÃO METROPOLITANA Clara Oliveira Carvalho Alves, UFBA, E-mail: [email protected] Thamires Wanke Alves Palma Ilka Dias Bichara O brinquedo artesanal é um elemento importante nos processos de desenvolvimento da criança, exercendo um papel fundamental na aproximação com a sua realidade social. Assim, não podemos considerar os brinquedos como objetos vazios de sentido, bem como não devemos encarar a criança que brinca como existindo fora de sua cultura. Ou seja, os brinquedos são escolhidos não só para entreter as crianças, nem apenas para satisfazer suas necessidades físicas e socioemocionais, mas, também, por serem símbolos sociais que fazem referências específicas a atitudes e práticas culturais. SuttonSmith (2003) afirma, então, que as crianças incorporam em seus repertórios de brincadeiras elementos culturais da sociedade na qual estão inseridas. Os brinquedos são tão importantes que a sociedade moderna dispõe de parque industrial exclusivamente voltado para produzi-los, porém ainda resiste em muitos lugares, uma produção artesanal, mesmo que residual e periférica. O brinquedo artesanal tem importância por representar aspectos culturais específicos da comunidade onde são produzidos, por isso, torna-se importante investigá-los como veículos importantes de transmissão de valores para as crianças. Assim, o objetivo do trabalho aqui relatado foi COMUNICAÇÕES ORAIS investigar a disponibilidade desses brinquedos na cidade de Salvador e Região Metropolitana, seus elementos constitutivos, origem e, posteriormente, o uso que as crianças podem fazer deles. O procedimento constou de visitas às feiras dos municípios selecionados (Salvador, Feira de Santana, Conde, BR-101) onde inicialmente se identificavam os locais de comercialização dos brinquedos e quais bancas possuíam materiais produzidos artesanalmente. Encontrada a peça artesanal, realizava-se a compra de um exemplar de cada modelo de brinquedo artesanal ofertado. Além disso, visando à caracterização dos brinquedos, questionava-se aos vendedores a origem, as formas de uso e o principal público consumidor. Realizou-se também o registro fotográfico das barracas e dos brinquedos. Tais brinquedos foram organizados e etiquetados conforme: procedência, material utilizado, figuração e destinação de gênero. Assim, os dados etiquetados sofreram uma análise qualitativa, tendo como base os dados obtidos sobre a cultura local, os modos de uso e o principal público alvo dos brinquedos. Nesse contexto, foi possível perceber que, na maioria das cidades visitadas, o número de barracas de brinquedos artesanais é ínfimo. A maior parte das feiras visitadas possuía pouca oferta desses objetos. O Mercado Modelo e a feira de São Joaquim, em Salvador, Ba, foram os locais onde se encontrou o maior número de barracas. Todavia, percebeu-se que a variedade de produtos era muito pequena. Isso parece estar relacionado ao fato de haver um baixo estímulo dos moradores de Salvador e região acerca dos brinquedos de origem artesanal, o que tem levado a uma baixa produtividade e, consequentemente, baixa variedade de produtos. Essa questão é reconhecida pelos próprios vendedores que, apesar de reconhecerem a importância e a interferência que eles podem exercer na formação do contexto cultural das crianças, afirmavam certa dificuldade na venda. A feira realizada na CEASINHA, em Salvador, Ba, foi a que dispunha do menor número de brinquedos, sendo encontrada apenas uma barraca ofertando brinquedos de origem artesanal. Além disso, outra análise importante é que a maioria das barracas que vendiam brinquedos artesanais não era exclusiva para a venda desses produtos, pelo contrário, estes dividiam espaço com outros materiais, como utensílios domésticos, ferramentas e brinquedos manufaturados. Isso mostra o quanto os brinquedos artesanais são desvalorizados, havendo uma disputa com a venda de outros materiais e um pequeno número de barracas a eles destinadas. Outro elemento muito avaliado em pesquisas diz respeito à escolha de brinquedos estando intimamente atrelada aos gêneros (feminino e masculino). Assim, são muitos os estudos que demonstram que as escolhas realizadas por meninos e meninas sobre brinquedos, estariam relacionadas com 181 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento a tipificação feita em cada sociedade para os gêneros. Assim, meninas preferem brinquedos considerados femininos (bonecas, móveis, utensílios domésticos etc.), enquanto os meninos preferem aqueles considerados masculinos (carros, bolas, piões etc.). Com brinquedos artesanais vendidos em feiras ou por ambulantes nas cidades, não é diferente: caminhões de madeira ou de miriti, cavalos, bois e carroças em cerâmica, barcos de miriti; bonecas de pano, mobílias em madeira, cerâmica e miriti, fogões e geladeiras também em madeira cerâmica e miriti; utensílios domésticos variados em cerâmica entre tantos outros exemplos encontrados em Sergipe e no Pará por Magalhães, Bichara e Pontes (2003) são representativos do que se encontra por todo o Brasil (Santos, 2005). Todavia, com o desenrolar da pesquisa aqui relatada, percebeu-se que, segundo muitos vendedores, essa questão da escolha dos brinquedos, onde as meninas preferem brinquedos “femininos” e os meninos preferem brinquedos “masculinos” não é passível de generalização, visto que tanto meninos quanto meninas escolhem os brinquedos pelo que eles apresentam, pelos atrativos contidos e não necessariamente pela carga sexista que eles possuem. Assim, é possível inferir que, em Salvador, o caráter feminino e masculino dos brinquedos artesanais não é considerado o único elemento que as crianças levam em consideração. Pelo contrário, este é o último fator avaliado. A feira realizada no Campo Grande, Salvador, Ba, foi a que possuiu uma maior variabilidade em formas e tipos de brinquedos. Nesta feira adquiriu-se um palhaço feito com tampas de refrigerante e potes de iogurte, confeccionado pelo próprio vendedor. Além deste, encontrou-se também uma bruxa feita de porcelana pintada, cordas finas e tecido, também produzida pelo próprio vendedor. Já os brinquedos encontrados em feiras de artesanato realizadas na BR-101, em sua maioria, não obtêm origem conhecida pelo vendedor, o que reflete o objetivo único de comercialização dos produtos. Além disso, nem todas essas feiras detinham brinquedos de origem artesanal (como as feiras realizadas no centro da cidade de Feira de Santana e Cachoeira). Nesse contexto, por conta da baixa produtividade e procura por brinquedos dessa espécie, foi possível analisar também que grande parte dos vendedores desconhecia e também não apresentava interesse pelas suas origens, o que não nos permite ter certeza quanto à origem dos objetos comprados. Assim, podemos concluir que os brinquedos possuem uma carga cultural intrínseca e, atualmente, sofrem forte concorrência com brinquedos de origem industrial. Palavras-chave: brinquedos artesanais; cultura; brincadeiras. Contato: Clara Oliveira Carvalho Alves, UFBA, E-mail: [email protected] COMUNICAÇÕES ORAIS SOCIALIZAÇÃO PARENTAL II Sala 406 - 13h30 CO-2472 ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE PRÁTICAS EDUCACIONAIS PARENTAIS EM CASAIS BINACIONAIS BRASIL-ALEMANHA. Allana Nascimento Vilhena, UFPA, E-mail: [email protected] Simone da Costa Silva, UFPA, E-mail: [email protected] Fernando Ramos Pontes, UFPA, E-mail: [email protected] Moritz Köster, University of Osnabrück, E-mail: [email protected] Joscha Kärtner, University of Osnabrück, E-mail: [email protected] As mudanças sociais a nível econômico, cultural, de crenças e valores, afetam também a estrutura familiar. Desde a década de 1970, a configuração da família tem sido transformada, com novos padrões de funcionamento entre seus membros, sobretudo quando se trata de famílias reconstituídas. Com a coexistência de diversos tipos de disposições familiares, o conceito de família vem sendo reponderado e houve um processo de assimilação e formulação de novos valores e práticas. Isso tem requerido, de seus membros, que se adaptem às mudanças de relacionamento, nos papéis e estrutura, além das respostas às demandas do sistema familiar (Zamberlan, 2003, citado por Mondin, 2008). Este movimento que vem incidindo na estrutura familiar corrobora para a importância de investigar seu funcionamento. Dentro dessa estrutura, os pais ainda são considerados como os maiores reforçadores, fontes de afeto e também modelos de aprendizagem para as crianças (Mondin, 2008). A necessidade de cuidar, educar e promover o desenvolvimento dos filhos é o que atravessa e marca a relação parental. Na literatura, há ocorrência de várias denominações para os comportamentos característicos deste tipo de relação, tomando como referencial os pais, a saber: práticas parentais, práticas educativas, práticas de cuidados, cuidados parentais. Também é possível encontrar diversos termos fazendo referência aos aspectos da cognição dos pais, tais como crenças, ideias, valores parentais e metas de socialização (Macarini, 2010). O fenômeno, no qual o pai e a mãe dividem a liderança e há o apoio mútuo nos papéis parentais, tem sido nomeado na literatura como coparentalidade (derivado do termo coparenting, em inglês). Abrange tanto aspectos de cooperação, concordância sobre a criação dos filhos, quanto às divergências e desacordos ao nível do sistema parental. Assim como ao acordo 182 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento ou desacordo em face de assuntos relacionados com a educação dos filhos, divisão do trabalho relacionado a estes, apoio ou dano do outro no papel parental, além da gestão conjunta das interações familiares (Frizzo e cols., 2005; Ferreira, 2009). O estudo deste elemento permite a observação das interações dentro da estrutura familiar e da constante negociação dos pais em apoiar ou se opor à intervenção do outro componente do sistema parental da criança (Cecconello, De Antoni & Koller, 2003). O sistema parental sofre influências do contexto biopsicossocial em que a família está inserida. A globalização afeta os deslocamentos espaciais da população, sendo que a migração não é mais restrita à cidade mais próxima, ou à capital do estado ou do país, o horizonte é o mundo (Martine, 2005). Em decorrência disto, a formação de sistemas parentais com indivíduos advindos de contextos culturais, países e até continentes diferentes, tem sido cada vez mais comum. Há uma série de aspectos que podem impactar no desenvolvimento, saudável ou não, dessa nova configuração de sistema parental constituída de casais binacionais, tais como as diferenças do meio ambiente físico e social, o choque de culturas e de estilos de vida, as barreiras linguísticas, as diferenças nos sistemas legais, dentre outros (Bolsoni-Silva & Marturano, 2002). Considerando que a coparentalidade exige uma constante negociação entre o casal, com ajustes e abdicações dentre tantas outras coisas, para contribuir ao bem-estar dos filhos, indaga-se como ocorreria tal fenômeno diante da condição do casal ser binacional, sendo imigrante ou o pai ou a mãe. Isto sugere ainda que um dos dois teve que abrir mão de morar em seu país para, em geral, buscar melhor qualidade vida no país do outro. Diante de backgrounds culturais tão distintos como o do Brasil e o da Alemanha, como se caracterizam a coparentalidade em casais/pais/cuidadores binacionais advindos destes países? Apresenta-se aqui um estudo exploratório de uma investigação mais ampla que trata da caracterização da Coparentalidade e de Metas de Socialização em Casais Binacionais com indivíduos advindos do Brasil e da Alemanha, no qual foi realizada uma caracterização descritiva das Práticas Educacionais Parentais de 7 destes casais Binacionais. Os participantes deste estudo foram 8 casais binacionais provenientes do Brasil e da Alemanha, com idade entre 35 e 46 anos, que autorizaram a utilização dos dados de seus questionários para fins científicos, por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A coleta de dados deu-se via internet, com o auxílio da plataforma SurveyMonkey®. A fim de manter o anonimato assegurado, cada questionário foi codificado com as iniciais do nome do participante mais a sua idade e os mesmos dados foram obtidos do seu/sua parceiro (a). Como Instrumento de Coleta de Dados foi utilizado um questionário autoaplicável que possuía itens fechados, nos quais constava uma escala do tipo Likert de 4 COMUNICAÇÕES ORAIS pontos, que variavam entre “quase nunca”, “poucas vezes”, “muitas vezes” e “quase sempre”, além de alguns itens abertos inquirindo sobre dados sociodemograficos e caracterizadores da estrutura familiar. Esta escala é constituída por 6 subescalas: 1 - Comportamentos das crianças no dia a dia; 2 - Práticas Educativas, quanto aos comportamentos dos pais; 3 - Práticas Educativas, comportamentos de indisciplina do filho; 4 - Práticas Educativas, comportamentos empáticos do filho para com pares; 5 - Práticas Educativas, comportamentos agressivos do filho para com pares e; 6 - Metas de Socialização dos Pais (expectativas com relação aos filhos). Para este estudo, foram utilizados os dados referentes à subescala 2, que traz 13 itens com afirmações indicativas dos comportamentos rotineiros dos pais dentro do sistema parental, nos quais os pais optavam pela frequência mais aproximada de sua realidade, a saber: Eu fico atenta (o) para que a minha criança participe das situações sociais, caso algo tenha que ser feito; Eu espero que a criança preste atenção em crianças mais jovens; Eu incentivo a minha criança a consolar outras crianças quando elas estão tristes; Eu peço à minha criança para ajudar sempre que possível; Eu exijo que a minha criança cuide de crianças mais jovens; Eu fico atenta para que a minha criança, sempre que possível, seja prestativa, útil; Eu fico atenta (o) para que a minha criança aprenda o mais cedo possível a ajudar em casa; Eu ensino à minha criança como é que ela pode consolar crianças mais jovens; Eu mostro à minha criança como é que ela pode cuidar de crianças mais jovens; Quando há pequenas coisas a fazer, a minha criança deve ajudar; Eu exijo que a minha criança ajude no trabalho do dia a dia; Eu mostro com frequência à minha criança como ela pode me ajudar e; A minha criança pode tentar acalmar crianças menores quando elas choram. No Casal FEN38-STE39, houve apenas 1 resposta coincidente, dos 13 itens, no entanto, é valido considerar que houve respostas aproximadas em 10 dos 12 itens restantes. Então, embora, a concordância absoluta tenha sido bastante escassa, com as respostas aproximadas não se pode dizer que o casal apresenta incongruência em suas práticas parentais. O Casal MAR29-STE40 apresentou 4 respostas coincidentes, dos 13 itens, mas apenas 2 respostas aproximadas dos 9 itens restantes. Da mesma forma, não é possível afirmar que o casal apresenta congruência ou incongruência em suas práticas parentais. O Casal CLA46-BER45 forneceu respostas correspondentes em 2, dos 13 itens da subescala 2, e discordou nos outros. Contudo, este casal apresentou respostas aproximadas em 5 dos 11 itens restantes. O Casal SLC42-BMC41 forneceu respostas correspondentes em 3 itens e discordou no restante. Entretanto, este casal apresentou respostas aproximadas em 6 dos 10 itens em que houve discordância. As respostas do Casal CAM30-THO39 foram similares, com respostas correspondentes também em 3 itens e com 6 res- 183 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento postas aproximadas. Nota-se nestes casais uma concordância menor com relação à frequência que os comportamentos indicados ocorrem, mas ainda assim, pode-se dizer que a congruência existe, pois somando-se as respostas correspondentes com as respostas aproximadas tem-se mais da metade da escala. O Casal MEI39-PAT36 e o Casal PAU32-BER34 apresentaram 7 respostas correspondentes, dentre os 13 itens da escala, o primeiro casal com 4 respostas aproximadas e o segundo com 5. Estes foram os casais que apresentaram maior congruência em suas respostas. Isto pode indicar um alto grau de competência parental, pois esta depende da clareza e concordância das instruções oferecidas aos filhos. Podese dizer então que as práticas parentais desses casais são congruentes, ao considerar que quanto maior a concordância, maior a probabilidade dos comportamentos questionados serem, de fato, emitidos no dia a dia. Diante da importância do outro significante no desenvolvimento saudável da criança, considera-se que as práticas parentais, dependendo do grau de congruência coparental, podem ser positivas ou negativas, ou seja, podem gerar competências ou disfunções à criança em desenvolvimento. É necessário notar que as dimensões que geram impacto sobre o desenvolvimento da criança não o determinam de forma isolada, pois este é multideterminado, mas as práticas parentais influenciam através da interação com essas outras dimensões, tais como os recursos, a força e a demanda do ser em desenvolvimento. Palavras-chave: família; coparentalidade; práticas parentais. Contato: Allana Cristine Nascimento Vilhena, UFPA, E-mail: [email protected] CO-2350 AS RELAÇÕES PARENTAIS E O ENVOLVIMENTO DO ADOLESCENTE COM A ESCOLA: ENCONTRO OU DESENCONTRO? Lúcia de Fátima Santos Wolmer, UFPB, E-mail: [email protected] Jérssia Laís Fonseca dos Santos, UFPB, E-mail: [email protected] Patrícia Nunes da Fonsêca, UFPB, E-mail: [email protected] Thiago Henrique de Assis Albuquerque, UFPB, E-mail: [email protected] Andrezza Mangueira Estanislau, UFPB, E-mail: [email protected] Amanda Cecília Gomes Ramos, UFPB, E-mail: [email protected] COMUNICAÇÕES ORAIS Os contextos familiar e escolar são os principais espaços que promovem o desenvolvimento humano, pois é a partir deles que as crianças aprendem sobre as normas, crenças e valores sociais, ao mesmo tempo em que vão sendo inseridos na sociedade (DESSEN; POLONIA, 2007). É importante que o aluno sinta que a família valoriza e se preocupa com a sua aprendizagem, estimulando-o no desenvolvimento escolar. Deste modo, os estilos parentais podem interferir de modo positivo no rendimento escolar dos filhos, na medida em que os pais demonstram interesse pelas atividades escolares (FERREIRA; BARRERA, 2010). De acordo com Gomide (2006), as práticas educativas parentais referem-se ao modo utilizado pelos pais, de socializar, controlar ou desenvolver valores e atitudes em seus filhos, e ao conjunto dessas práticas denomina-se estilo parental. Os estilos parentais (autoritário, autoritativo, permissivo e negligente) vão sendo construídos através das interações com os filhos, além disso, as experiências vivenciadas pelos pais na sua família de origem e uma série de características pessoais, culturais e sociais também são levadas em conta na definição do estilo (FALCKE; ROSA; STEIGLEDER, 2012). Pais que são exigentes e não demonstram afetividade são classificados como autoritários; aqueles que se apresentam como exigentes e ao mesmo tempo responsivos com seus filhos são denominados de autoritativos; os que não estabelecem controle, mas são afetivos, recebem a nomeação de permissivos; e, por fim, aqueles pais que não demonstram responsividade e nem fazem exigências para os filhos são designados de negligentes (PAIVA; RONZANI, 2009). Determinados tipos de estilos parentais demonstram maior eficácia em desenvolver competências sociais e instrumentais que outros estilos. Os filhos de pais autoritativos, por exemplo, são associados a aspectos positivos como melhor desempenho nos estudos, maior grau de otimismo (WEBER et al., 2004). Já os filhos de pais negligentes possuem baixo desempenho em vários domínios, apresentando comportamentos agressivos e antissociais, baixa autoestima e alto índice de fracasso escolar (FORMIGA, 2011; PACHECO; TEXEIRA; GOMES, 1999). Diante do exposto, percebe-se que os estilos parentais podem influenciar no desenvolvimento de comportamentos de risco, tais como comportamentos antissociais, uso de drogas, atitudes violentas; como também influencia o desenvolvimento de comportamentos de proteção, como por exemplo, habilidades sociais, bom desempenho escolar, boas atitudes frente à escola. Frente a isto, o presente estudo tem por objetivo verificar a influência dos estilos parentais no engajamento escolar dos adolescentes. Adotou-se uma metodologia quantitativa, com um delineamento correlacional. Participaram 184 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento 313 estudantes do município de João Pessoa, PB, com idades entre 13 e 19 anos (m=15,76; dp = 1,50), sendo 55,6% do sexo feminino, 31,6% do 3ª ano do ensino médio e 77% de escola pública. Os participantes responderam a um livreto contendo o Questionário de Percepção dos Pais (versão para as mães), a Escala de Engajamento Escolar e um questionário sociodemográfico. Para sua execução, contataram-se os diretores das escolas com a finalidade de explicar o objetivo da pesquisa e solicitar autorização para a aplicação dos instrumentos. Os dados foram tabulados e analisados no PASW. Os resultados mostraram que todos os estilos parentais correlacionaram-se de forma significativa com o engajamento escolar, embora, com o estilo parental autoritativo (r = 0,23; p< 0,01) e permissivo (r = 0,22; p< 0,01) as correlações tenham sido positivas, ao contrário do que ocorreu com os estilos parentais autoritários (r = -0,14; p< 0,01) e negligente (r = -0,21; p< 0,01) que apresentaram correlações negativas. Portanto, a relação que os pais estabelecem com os filhos influencia de forma positiva ou negativa no engajamento escolar dos estudantes, o que evidencia a importância dos estilos parentais no processo educacional dos jovens. De acordo com os resultados, os estilos parentais autoritativos e permissivos percebidos pelos adolescentes influenciam positivamente no desenvolvimento da motivação dos estudantes, a qual está relacionada com o maior engajamento escolar. Isto revela que o envolvimento parental, a participação nas atividades escolares, a valorização da autoexpressão e da autonomia favorecem o engajamento escolar dos filhos e, consequentemente, um bom desempenho acadêmico. Contrariamente, os estilos parentais negligente e autoritário se correlacionaram negativamente com o engajamento escolar dos estudantes, comprovando que ausência de afetividade dos pais, a falta de diálogo, a exigência excessiva prejudicam o desenvolvimento da motivação dos estudantes, fazendo com que eles não se interessem pelas atividades escolares. Deste modo, conclui-se que a responsividade dos pais, o envolvimento, o diálogo são essenciais para que os filhos sintam-se motivados e interessados em se engajar nas atividades escolares. Em contraste, a ausência de afeto, de compreensão e o distanciamento parental, não favorecem a motivação dos filhos, prejudicando o engajamento escolar destes. Ademais, este trabalho poderá ajudar profissionais da educação, a elaborar intervenções que levem em consideração a influência dos aspectos peculiares das famílias, sobretudo dos pais, no processo educacional dos adolescentes. Palavras-chave: estilos parentais; engajamento escolar; adolescentes. Contato: Lúcia de Fátima Santos Wolmer UFPB, E-mail: [email protected] COMUNICAÇÕES ORAIS CO-2370 A INFLUÊNCIA DA IDADE MATERNA NA INTERAÇÃO MÃE-BEBÊ Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues, UNESP/ FAPESP, E-mail: [email protected] Fernanda Longhini, UNESP/FAPESP, E-mail: [email protected] Carine Ramos de Oliveira, UNESP, E-mail: [email protected] A gravidez na adolescência pode ser considerada uma condição de risco. Os estudos mostram que isso ocorre quando associada a outros fatores como a realização tardia de pré-natal, falta de apoio familiar, abandono por parte do companheiro, entre outros (KREUTZ, 2001). A literatura tem mostrado que as mães adolescentes fornecem a seus filhos um ambiente de menor apoio, além de apresentarem uma menor responsividade a estes e uma menor estimulação verbal, quando comparadas a mães em idade adulta. Outros dados mostram que as mães adolescentes demonstram serem mais punitivas, intrusivas e menos sensíveis às necessidades de seus bebês (LEVANDOWSKI; PICCININI; LOPES, 2008; BIGRAS; PAQUETTE, 2007). A interação mãe-bebê já ocorre antes mesmo deste ter nascido (SEIDLDE-MOURA, 2009). Segundo Seidl-de-Moura et al. (2004), no primeiro mês de vida, a interação mãe-bebê ocorre pelo chamado espelhamento dos afetos, sentimentos e emoções, então diferente do que muitos acham, há sim a interação, o bebê reage às interações sociais da mãe. Já no segundo e terceiro mês, o bebê passa a ser capaz de demonstrar interesse pela fala da mãe e é capaz de orientar sua atenção para o rosto desta. A avaliação da interação do bebê pode ser feita a partir da frequência de respostas dele aos comportamentos da mãe, e também da intensidade dessas respostas, pode ser avaliada ainda pela tentativa de iniciar contato com a mãe, pela quantidade de sorrisos, vocalizações (SCHERMANN, 2007). O objetivo deste trabalho foi o de investigar a qualidade da interação entre as mães adolescentes e seus bebês e compará-la com a interação entre as mães adultas e seus filhos. Participaram 11 mães adultas (idade média de 30,7 anos) e seis mães adolescentes (idade média de 16,5 anos) e seus bebês com idade entre quatro e seis meses. A análise da interação foi feita a partir do Protocolo de Observação da Interação Mãe-Bebê 0-6 meses (POIMB 0-6 de SCHERMANN et al., 1997). O POIMB 0-6 é formado por 21 itens, dos quais 12 são referentes ao comportamento da mãe, oito ao comportamento da criança durante a interação, e um item referente ao comportamento da díade (sintonia da interação). A avaliação é feita em escala Likert de cinco pontos, sendo que escores mais altos equivalem à maior frequência ou a um desempenho mais satisfatório. 185 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Depois de identificadas e definidas as díades, em horário previamente agendado, foi realizada a filmagem. A mesma aconteceu em um momento lúdico com brinquedos disponíveis, cuja utilização não foi sugerida, ficando a critério da mãe. A criança podia estar na cama alta ou no colo da mãe, de acordo com a preferência da última. A sessão de filmagem teve a duração de 10 minutos. Os resultados comparando os comportamentos de interação das mães mostrou que o comportamento médio de interações das mães adultas foi de 4,65, maior do que os das mães adolescentes (4,53). Todavia, a diferença observada não foi significativa. Comparando os comportamentos de interação dos bebês observou-se que a média dos comportamentos dos bebês, filhos das mães adultas, foi maior (2,83) do que dos bebês filhos de mães adolescentes (2,58). A diferença observada também não foi significativa. Analisando a correlação entre comportamentos das mães e comportamentos dos bebês, para cada um dos grupos, observou-se correlação positiva significativa entre o comportamento social da mãe (se ela responde positivamente ao comportamento da criança) com a intensidade de resposta positiva do bebê à tentativa de comunicação da mãe (p=0,024) e entre a eficiência da mãe em consolar a criança e a quantidade de choro do bebê (p=0,004). Tais dados mostram que as mães adultas respondem adequadamente às interações do seu bebê. Analisando o comportamento das mães adolescentes observou-se correlação positiva entre o comportamento de olhar das mães (quantidade de contato visual) com dois comportamentos dos seus bebês: 1. Intensidade de resposta positiva do bebê à tentativa de comunicação da mãe (p=0,026) e, 2. A quantidade de vocalização da criança (p=0,026). Aqui se observa que a mãe adolescente, diferente da adulta, parece menos atenta aos sinais do bebê, mas também interage porém independente do comportamento do bebê. No entanto, a amostra estudada é reduzida e os resultados encontrados são apenas indicativos. Estudos com populações maiores poderão confirmar ou não os dados aqui encontrados. Palavras-chave: interação mãe-bebê; mães adultas; mães adolescentes. Contato: Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues, UNESP, E-mail: [email protected] CO-2369 PREMATURIDADE E O DESENVOLVIMENTO DE BEBÊS: O IMPACTO DA IDADE CORRIGIDA Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues, UNESP/ FAPESP, E-mail: [email protected] Amelie Bussolan Cintra, UNESP, E-mail: [email protected] COMUNICAÇÕES ORAIS Fatores biológicos e ambientais podem se caracterizar como de risco e/ou de proteção ao desenvolvimento humano. Atrasos no desenvolvimento são produzidos pela combinação de fatores de risco e uma das consequências é a prematuridade. Os prejuízos causados no desenvolvimento podem ser reduzidos pela detecção precoce de defasagens e podem ser minimizados por meio da implementação de programas de intervenção precoce. Portanto, identificar rapidamente os riscos prováveis e seus possíveis efeitos pode resultar em encaminhamento para serviços especializados, desde o nascimento, daqueles bebês com possibilidade de apresentar atrasos no curso de seu desenvolvimento. A avaliação do desenvolvimento de bebês prematuros possibilita identificar defasagens e, consequentemente, o planejamento de estratégias que visam minimizá-las ou eliminá-las possibilitando o desenvolvimento mais próximo possível do esperado de seus pares de idade cronológica. Para bebês prematuros há a indicação do uso da idade corrigida ao avaliar seu desenvolvimento que significa considerar a idade pós-natal do bebê subtraindo o número de semanas que faltou entre o nascimento do prematuro e o referencial de 40 semanas (RUGOLO, 2005). Para o autor seu uso é ideal em casos de prematuridade extrema, para que não classificá-lo erroneamente como uma criança anormal. Este estudo visou verificar os efeitos da prematuridade no desenvolvimento de bebês de um a doze meses de vida considerando a idade cronológica e a idade corrigida. Participaram 64 bebês na primeira avaliação, aos dois meses de idade (32 cada grupo) e 72 na segunda, aos quatro meses de idade (36 cada grupo). Para avaliação de desenvolvimento utilizou-se o Inventário Portage Operacionalizado (IPO) (WILLIAMS; AIELLO, 2001), um instrumento que avalia o repertório comportamental de crianças, distribuído nas áreas de Socialização, Cognição, Linguagem, Autocuidados e Desenvolvimento Motor. Os dados de desenvolvimento foram descritos e analisados tendo em vista a idade cronológica e corrigida dos bebês prematuros e comparados com os dados de desenvolvimento de bebês do Grupo Controle. As análises consideraram, na primeira avaliação, o desenvolvimento dos bebês prematuros aos três e aos quatro meses de idade corrigida e na segunda avaliação, aos cinco e aos seis meses de idade corrigida, de acordo com a idade gestacional dos mesmos. Comparando o desempenho dos bebês prematuros considerando a idade cronológica e o desempenho de pares no grupo controle observa-se que os bebês do Grupo Controle apresentaram, na primeira avaliação, aos dois meses, desempenho significativamente melhor em Linguagem e significativo para 90% em Socialização, Cognição e Desenvolvimento Motor que o G1a (bebês nascidos de 33 a 36 semanas de gestação). O G1b (bebês nascidos com menos de 32 semanas de gestação) foi significativamente pior em Linguagem, Socialização, 186 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Cognição e Desenvolvimento Motor. Na segunda avaliação, aos quatro meses, o G2a (bebês nascidos de 33 a 36 semanas de gestação) foi significativamente pior que o grupo controle em Linguagem, Socialização, Cognição e Desenvolvimento Motor e o G2b (bebês nascidos com menos de 32 semanas de gestação) foi significativamente pior em Socialização, Cognição e Desenvolvimento Motor. Considerando a idade corrigida dos bebês prematuros e comparando com o desempenho dos bebês do grupo controle observou-se que o G1a (bebês cuja idade foi corrigida em um mês) foi significativamente melhor em Autocuidado e Socialização e observou-se uma tendência em Desenvolvimento Motor. O G1b (bebês cuja idade foi corrigida em dois meses) foi significativamente melhor que o controle em quatro das cinco áreas avaliadas, com exceção de Linguagem. Na segunda avaliação o G2a (bebês cuja idade foi corrigida em um mês) foi melhor que o grupo controle em Autocuidado, não se observando diferenças entre os grupos nas demais áreas avaliadas. Os dados obtidos indicam que o desempenho dos bebês prematuros é pior do que o dos bebês do grupo controle quando se considera a idade cronológica, mas que ao corrigir a idade os prematuros superam os bebês do grupo controle em algumas áreas avaliadas ou têm desempenho semelhante. Se a avaliação de desenvolvimento é importante para definir serviços, os dados do presente estudo mostram que se corrigirmos a idade, bebês prematuros não precisariam deles. Porém, dados com amostras maiores e considerando o desempenho dos bebês em idades mais avançadas poderão confirmar ou refutar os encontrados neste estudo. Palavras-chave: prematuridade; desenvolvimento infantil; idade corrigida. Contato: Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues, UNESP/FAPESP, E-mail: [email protected] ESTUDOS SOBRE SURDOS Sala 407 - 13h30 CO-2373 SURDEZ E BICULTURALIDADE: UM ESTUDO SOBRE O AUTOCONCEITO A PARTIR DAS INTERAÇÕES SURDO-SURDO E SURDO-OUVINTE Ana Cecília Ferreira de Amorim, UnB, E-mail: [email protected] A partir de 2010, atuando como psicóloga voluntária no projeto Surdez e sofrimento psíquico: Em busca de um cuidado a partir da pesquisa em uma abordagem psicoeducacional, um estudo preliminar (Costa e Silva COMUNICAÇÕES ORAIS 2010), despertou-me o interesse nos modos de constituição subjetiva e a formação das concepções que pessoas surdas têm sobre si (autoconceito). Isto é, como esses indivíduos se percebem, o que falam de si, levando em consideração as interações surdo-surdo e surdo-ouvinte, a partir da abordagem teórica e metodológica aportada na perspectiva histórico-cultural. Para Vigotski (2000), a consciência (psiquismo) é uma síntese das relações sociais convertidas em processos subjetivos. É a partir da interação verbal, mediada pela palavra, que os processos psicológicos são internalizados para o plano individual (plano intrapsíquico), transformando-se em funções psicológicas superiores (Vigotski, 2000). Segundo as proposições de Bakhtin, alinhadas aos princípios da perspectiva histórico-cultural, todo signo (palavra) é ideológico; é, portanto, um reflexo e uma refração das estruturas sociais e da realidade social circundante. Cada signo ideológico é um fragmento material dessa realidade. Nesses termos, o domínio do ideológico coincide com o domínio dos signos: são mutuamente correspondentes (Bakhtin, 2010). Os surdos, sujeitos da investigação aqui delineada, se constituem, assim como os ouvintes, a partir dos processos enunciativos correntes no meio social. No caso deles, entretanto, a língua principal é a língua de sinais e o reconhecimento da condição bilíngue e bicultural dos surdos tem sido um ponto central de defesa dos interesses enquanto grupo linguístico minoritário (Sá, 2006; Skliar, 1997, 1998a; Ströbel, 2007). Dentro desse posicionamento ideológico, a língua de sinais é a única modalidade de linguagem plenamente acessível ao surdo e os surdos são reconhecidos em suas especificidades linguísticas, culturais, identitárias, educacionais, sociais etc. (Botelho, 2009; Quadros, 2006; Sá, 2006; Skliar, 1997, 1998b; Ströbel, 2007; Witkoski, 2009). É dentro desse contexto particular que o estudo sobre autoconceito assume relevância e traz contribuição para o campo mais amplo da Psicologia do Desenvolvimento (Amorim, 2013). De fato, os estudos sobre esse tema têm, tradicionalmente, sido orientados pela Psicometria, com elaboração e uso de instrumentos psicológicos para averiguação desse constructo ou variável - como é denominado por essa abordagem metodológica. Tal abordagem desconsidera o aspecto sociointerativo ou a constituição social e cultural dos modos como cada sujeito se percebe e se autoconceitua. Não se leva em conta o aspecto dinâmico, mutável e temporal do processo de autoconceituar-se, limitando sua investigação às mensurações que definem se o sujeito está ajustado ou adequado à sua capacidade de autoavaliar-se, omitindo o processo de (co)constiuição subjetiva. Em direção oposta, trabalhos investigativos baseados na perspectiva histórico-cultural abordam que o autoconceito se constitui no âmago das relações interpessoais circunscritas culturalmente (Oliveira, 2003 e Freire, 2008). O trabalho de Oliveira, especialmen- 187 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento te, evidenciou que o preconceito, que permeava as interações entre as crianças em uma sala de aula do ensino fundamental, está relacionado ao modo como os alunos considerados inferiores (em razão do gênero, da classe social ou da etnia) eram enunciados pelos outros alunos. As crianças com sinais diacríticos de negritude (negras) eram reconhecidas como sujas, escuras e burras. Comumente, essas mesmas crianças, ao falarem sobre si, diziam que seus cabelos eram duros, que elas eram burras e que ninguém gostava delas. A ação investigativa realizada no setting de atendimento aos surdos, no entanto, destacou a dinâmica e o sistema enunciativos pela viabilização de diálogos entre os participantes e uma equipe multidisciplinar composta por uma psicóloga, uma intérprete de Libras e um pedagogo, o que possibilitou, por outro lado, a problematização (re-posicionamentos) das vivências do grupo atendido no enfrentamento das questões vinculadas à condição da surdez (com temáticas sobre semelhanças e diferenças, preconceito, discriminação, memórias e narrativas de vida etc.). No total, participaram da pesquisa seis surdos (quatro homens e duas mulheres) que apresentavam surdez pré-lingual, sendo cinco com surdez profunda e um com surdez moderada e profunda, mas todos do tipo bilateral. Todos conheciam e eram usuários da língua de sinais (com variações na proficiência) e tinham idade entre 19 e 32 anos. As 18 sessões realizadas, foram registradas em vídeo e áudio (videogravação com utilização de câmera digital), com o devido consentimento livre e esclarecido dos participantes, e, posteriormente, transcritas, havendo, também, registro das sessões em diário de campo. Somados, compuseram o material utilizado na análise e discussão dos resultados. Pelos diálogos estabelecidos no atendimento, foi possível identificar as alteridades constituídas nos lugares enunciativos de cada sujeito. A partir das dinâmicas enunciativas que evidenciavam diferentes modos de se ver e de ser visto, destacaram-se três unidades de análise: A - Como eu me vejo e o que falo sobre mim (concepções de si); B - Como eu sou visto pelos outros (foco nas relações surdo-surdo e surdo-ouvinte); e C - Como eu vejo o outro (surdo e/ou ouvinte). A partir delas, realizou-se uma discussão sobre os resultados, na qual se pode afirmar que o modo como o sujeito se vê está diretamente relacionado à forma como é visto pelo outro, que esses são processos interdependentes que estão no cerne do processo de autoconceituação (processo de coconceituação). Essa situação tem uma relação direta com o que Vigotski afirma: “Eu me relaciono comigo tal como as pessoas se relacionaram comigo” (2000, citado por Marin & Góes, 2006, p. 244). Sendo assim, o surdo tem sido significado como o membro doente/deficiente da família, de seu meio circundante, onde as condições de produção culturalmente demarcadas sobre o que é surdez e o que é deficiência, ser surdo na sociedade ocidental COMUNICAÇÕES ORAIS contemporânea. A pesquisa realizada com os surdos demonstrou, portanto, que o ato de autoconceituar-se está relacionado ao modo como as palavras proferidas pelo outro vão constituindo o eu (para mim), por meio de dinâmicas enunciativas complexas, sendo esse, portanto, um processo de coconstituição, coconceituação. Em suma, afirma-se que o processo de autoconceitualizar-se é plural e determinado historicamente, no qual o eu se (co)constitui dialogicamente na(s) relação(ões) com o(s) outro(s), em uma constante contradição dialética, com base nas significações produzidas por meio das relações sociais, que são mediadas por signos ideológicos. Palavras-chave: surdez; (co)constituição subjetiva; perspectiva histórico-cultural. Contato: Ana Cecília Ferreira de Amorim, UnB, E-mail: [email protected] CO-2355 A CULTURA SURDA E SUAS NUANCES: TRIUNFANDO SOBRE AS DIFERENÇAS Karen Guedes Oliveira, UFPB, E-mail: [email protected] Simone Alves Nepomuceno Lemos, UFPB, E-mail: [email protected] Thiago Antonio Avellar de Aquino, UFPB, E-mail: [email protected] A cultura surda vem trazendo uma contribuição fundamental, tanto aos estudos surdos quanto às ciências sociais, no que diz respeito ao processo de construção de identidades e alteridades, mediante os códigos da audição e da comunicação vinculados à surdez. Existem duas concepções normativas da surdez (SILVA, 2012): A primeira é a vinculada ao saber médico, define a surdez como deficiência (falta de audição) e, portanto, o surdo como um diferente que aspira à condição de igualdade do ouvinte, ou seja, aponta para a condição natural do surdo a ser corrigida. A segunda se refere ao reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) como língua para todos os efeitos, define a surdez em termos da diversidade linguística, o que remete aos conceitos de cultura surda, com direitos específicos, reportando-se à dimensão cultural do usuário de Libras. Este estudo, portanto, utiliza-se do segundo entendimento acerca da surdez, isto é, a partir do modelo socioantropológico, a surdez como particularidade étnico-linguística. O presente trabalho partiu da concepção de que as pessoas surdas se constituem em uma genuína cultura, posto que compartilham signos como a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Tendo em vista a escassez de estudos sobre essa cultura na perspectiva psicométrica, este estudo teve como objetivo adaptar e 188 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento validar o Questionário Sentido de Vida (STEGER et al., 2006), a Escala de Atitudes Religiosas (AQUINO et al., 2013) e o Questionário dos Valores Básicos (GOUVEIA et al., 2008) para pessoas surdas. Para tanto, se fez necessário uma adaptação linguística desses mesmos instrumentos. Em um segundo momento, objetivou averiguar as possíveis associações entre os fatores desses instrumentos. Contou-se com 200 surdos de 9 estados do Brasil: Paraíba (69%), Rio Grande do Norte (5,5%), Pernambuco (3,5%), Ceará (4%), Rio Grande do Sul (4,5%), Paraná (4,5%), Minas Gerais (2%), São Paulo (5%) e Mato Grosso (2%). A amostra apresentou idade média de 28,6 (dp= 7,16), com amplitude de 18 a 56 anos, a maioria do sexo masculino (58%). A coleta de dados ocorreu tanto de forma on-line quanto presencial. Os resultados sugeriram que os instrumentos administrados são pertinentes para o contexto da cultura surda e que as variáveis religiosidade, sentido de vida e valores humanos se associaram de forma direta e significativa. Os resultados foram discutidos à luz da análise existencial de Viktor Frankl e da Teoria Funcionalista dos Valores Humanos. A dimensão somática pode ser vista como uma condição que não tira o sentido de vida de uma pessoa; antes, talvez, lhe proporciona um novo sentido. Destarte, a cultura surda permite perceber a existência dos valores criativos, vivenciais e atitudinais, uma vez que, geralmente, os surdos que participam dessa comunidade se engajam em projetos, eventos, em que nas próprias associações, presidentes, tesoureiros, secretários são eleitos para contribuir com o fortalecimento de sua cultura, seus direitos em sua cidade e no país onde moram. Neste mesmo contexto, são perceptíveis os relacionamentos interpessoais, formando um grupo coeso, onde tanto os surdos como as pessoas que participam desta cultura interagem, organizam torneios esportivos, comemorações festivas etc. e, por último e mais importante, o valor atitudinal que esta concepção apresenta, uma vez que os surdos passam a ser vistos como possuidores de uma cultura, formando uma teia de significações compartilhada por um grupo de humanos, passam então a vivenciar a vida com sentido e encontram na surdez uma oportunidade para interagir de forma diferente, porém, não inferior ou pejorativa em relação à cultura ouvinte. A constituição da cultura surda pode ser compreendida como esta oportunidade para triunfar diante de diferenças, sejam estas linguísticas, sociais e/ou psicológicas, pois como afirma Frankl (2008), quando o ser humano não tem mais condição de mudar uma situação, então ele é estimulado a mudar a si mesmo. Vale salientar as limitações desta pesquisa, a exemplo do número reduzido da amostra, que não representa necessariamente a população geral de participantes da cultura surda no Brasil, o que faz não ser possível generalizar os achados sobre sentido de vida, atitudes religiosas e valores básicos para além do COMUNICAÇÕES ORAIS intento deste estudo. Portanto, sugere-se que outras pesquisas sejam realizadas para corroborar com as validações aqui propostas para a cultura surda. Uma indicação de estudo seria adaptar e validar as duas escalas encontradas nas pesquisas sobre a cultura surda, DIDS (Deaf Identity Development), de Leigh et al. (1998) e DAS (Deaf Acculturation Sociale), de Maxwell-McCaw (2001) ao contexto brasileiro, a fim de delinear como as pessoas surdas podem desenvolver identidades saudáveis e correlacionar esses dados com as variáveis de sentido da vida e valores básicos obtidos no presente trabalho. Diversos estudos podem ser realizados, como por exemplo, averiguar as relações entre os direitos humanos e a cultura surda e como são as representações sociais dos surdos e dos ouvintes a respeito dessa questão. Outra sugestão seria conhecer como se estabelecem o conhecimento e respeito em relação aos direitos e a cultura surda e como estes aspectos podem influenciar na valorização ou desvalorização das pessoas que partilham dessa cultura no contexto brasileiro. Questões estas reconhecidamente importantes, uma vez que, como foi possível verificar neste estudo, a legislação relacionada aos direitos humanos dos surdos que oficializa a Libras com língua, contribui para a acessibilidade e, consequentemente, ao fortalecimento de uma cultura específica. Palavras-chave: cultura surda; diferenças; sentido de vida; religiosidade; valores. Contato: Karen Guedes Oliveira, UFPB, E-mail: [email protected] CO-2068 NARRATIVAS E PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO BICULTURAL: TRAJETÓRIAS ESCOLARES DE SURDOS JOVENS Camila de Brito Ribeiro, UnB, E-mail: [email protected] Daniele Nunes Henrique Silva, UnB, E-mail: [email protected] Apoio Financeiro: CNPq A escolarização dos surdos tem sido historicamente, um ponto amplo de discussão que tem demarcado o campo da surdez devido, principalmente, à singularidade linguística desses sujeitos. Para eles, a linguagem oral-auditiva é de difícil acesso e não acontece sem intervenção médica-audiológica, acarretando dinâmicas peculiares de desenvolvimento que se vinculam aos processos simbólicos específicos: a língua de sinais e a formação bicultural (Góes, 2002; Sacks, 2010, Skliar, 1997/2006, 1998/2012, entre outros). Por não ter acesso aos canais comunicativos pela comunidade majoritária ouvinte e, tampouco, à 189 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento língua de sinais, tal particularidade linguística ocasiona problemas ao desenvolvimento do surdo nos âmbitos sociais, educacionais e afetivos (Silva, 2007), já que 95% das crianças surdas nascem em famílias ouvintes (Goldfeld, 1997/2002; Sacks, 2010). Essa complexa condição de vida traz inquietações e colaborações para os estudos na Psicologia e Educação. No âmbito dessas preocupações, o problema da educação assume relevância. De fato, as distintas abordagens educacionais voltadas para os surdos pressupõem determinadas concepções de desenvolvimento e linguagem. Para algumas abordagens, a surdez é uma deficiência que precisa ser aliviada por meio de um processo de integração social, que só é possível com a aprendizagem da fala (oralistas). Para outras, os surdos possuem uma diferença linguística (expressada pelo canal visuoespacial), são sujeitos biculturais que guardam uma cultura própria, representativa da comunidade surda. Em cada abordagem diferenciam-se as compreensões sobre a inclusão dos surdos e os modos de entender a escolarização desses sujeitos. Todas essas adversidades decorrem em distintos modos de os surdos viverem a vida dentro e fora da escola. Por isso, pareceu pertinente focalizar as biografias dos surdos e seus processos de escolarização, indagando: O que narra o surdo sobre sua trajetória escolar? Qual é o impacto da experiência escolar em seu processo de desenvolvimento de gênese bicultural? Apoiando-se na perspectiva teórica histórico-cultural sobre desenvolvimento humano, as pesquisas evidenciam a centralidade da mediação semiótica na formação dos processos psicológicos superiores, que emergem nas relações sociais (Gesueli, 2006; Kelman, Silva, Amorim, Monteiro & Azevedo, 2011; Silva, 2007; Tunes, Tacca & Bartholo, 2006). Na experiência alteritária, a língua é um elemento fundamental para significação do mundo. De fato, a vida ocorre na (e pela) linguagem. Esse fundamento conceitual se desdobra, por exemplo, para os espaços específicos de aprendizagem, como a escola, em que significados e formação conceitual são produzidos, construídos e internalizados (Araújo & Lacerda, 2010). Desta maneira, a língua de sinais é fundamental para o desenvolvimento dos surdos, sendo garantida nas esferas de interação com interlocutores que a compartilham. A ênfase desses princípios teóricos articula-se com a proposta bilíngue de educação de surdos, em que a língua de sinais assume protagonismo e é considerada como ponto de partida (não de chegada) para a inclusão social dos surdos. Reconhecendo a instituição escolar como um espaço de constituição do sujeito, o presente estudo tem como temática especificamente as relações entre escolarização e constituição do sujeito. O objetivo do estudo foi de compreender as narrativas dos surdos sobre seus processos de escolarização, evidenciando como estas se articulavam às políticas e filosofias educacionais em prol COMUNICAÇÕES ORAIS daquele público e como a vida na escola tem se relacionado aos processos formativos biculturais. Os dados empíricos foram coletados a partir do trabalho desenvolvido pelo grupo de pesquisa Surdez e sofrimento psíquico: em busca de um cuidado a partir da pesquisa em uma abordagem psicoeducacional - um estudo preliminar (Costa & Silva, 2010) , no Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), que objetivava oferecer aos surdos um espaço de acompanhamento psicológico para melhorar a qualidade de vida dos mesmos. Esse trabalho foi mediado por uma equipe multidisciplinar (pedagoga, psicóloga e intérprete) e ocorreu no período de setembro de 2010 a junho de 2012, em encontros quinzenais. Os sujeitos da pesquisa foram quatro surdos usuários da Língua Brasileira de Sinais (Libras), proficientes ou não, com idade entre 19 e 32 anos. Esses sujeitos passaram por processos de escolarização bastante distintos, isto é, frequentaram escolas tanto oralistas, quanto bilíngues. O que as narrativas dos surdos sobre suas trajetórias escolares revelaram foi um contexto inadequado e limitado de inclusão: históricos de reprovação e falas que demonstram tristeza são a materialização de um sistema inclusivo que não funciona, desestruturado filosófica e pedagogicamente. Com relação à língua de sinais, a inclusão permite seu uso, mas não a centraliza e, ainda, mantém o molde institucional, reverberando a famigerada “educação para todos”, em que há integração dos sujeitos a um modelo ouvinte de educação. O processo de inclusão (que não inclui) os priva do compartilhamento de uma língua que possibilite o aprendizado escolar e interação social. Como desdobramentos ao processo de formação bicultural, os surdos crescem sem ter acesso a uma língua plena (a de sinais), não partilham dos significados culturais da comunidade surda e, tampouco, conseguem transitar pela ouvinte. Palavras-chave: escolarização; surdez; constituição identitária. Contato: Camila de Brito Ribeiro, UnB, E-mail: [email protected] CO-2061 VULNERABILIDADE E ABUSO SEXUAL: ANALISANDO NARRATIVAS DE SURDOS HOMOSSEXUAIS Fabrício Santos Dias de Abreu, UnB, E-mail: [email protected] Daniele Nunes Henrique Silva, UnB, E-mail: [email protected] No atual contexto de organização social existem estratégias de desqualificação e normatização a todos aqueles considerados desviantes dos padrões estabelecidos 190 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento pela sociedade hegemônica. Nessa configuração, nota-se a existência a configuração de sobreposições de categorias de diferenciação (síntese da junção de vários eixos de subordinação em um mesmo sujeito) como, por exemplo, ser surdo e homossexual (Foucault, 1999). A vida desses sujeitos se configura em diversos contextos de desigualdade social, que se estruturam por meio de repressão e opressão cotidianas. No caso dos surdos, sua condição social é marcada pelo lugar de incapacidade, limitação e inferioridade (bibliografia). O não pertencimento à sociedade majoritária (ouvinte) trouxe estigmatização e exclusão, sendo que a situação da surdez sempre esteve atrelada à problemática da deficiência (Skliar, 2010). Não diferente, o homossexual passou a ser considerado, após sua invenção conceitual, dotado de uma sexualidade incompleta, acidental e perversa; patológica, criminosa, imoral e destruidora da civilização (Borrillo, 2010). No discurso hegemônico, para esses tipos de sujeitos, surdo e/ou homossexuais, se haveria de inventar (e pôr em prática) uma sequência de ações visando à reintegração à normalidade, como práticas oralistas e de deslegitimação linguística (para os surdos) e criminalização e ações médico-corretivas (para os homossexuais). Ambas as categorias de sujeitos têm algo histórico em comum: demarcados e reconhecidos como desviantes da norma sendo seu destino a segregação e a reabilitação aos padrões hegemônicos de desenvolvimento e sexualidade. Em que pese toda a história, os preconceitos e o cerceamento de direitos desses grupos ainda persistem. Embora não sejam mais jogados ao mar ou lançados nas fogueiras, como no passado, continuam sendo duplamente silenciados pela sua situação orgânica (surdez) e pela expressão sexual considerada desviante (homossexualidade). Buscamos, seguindo essa linha, investigar experiências e vivências de surdos homossexuais analisando as narrativas sobre o primeiro ato sexual. O material construído partiu de situações de entrevistas semiestruturadas com 03 homens surdos (entre 32 e 38 anos) que identificavam a homossexualidade enquanto dinâmica sexual e afetiva de suas vivências. Os dados analisados, à luz da perspectiva histórico-cultural, revelaram que os sujeitos viveram uma condição de vulnerabilidade social e sexual, pois todos tinham sofrido abuso. Para além, é importante ressaltarmos que as suas primeiras relações sexuais, marcadas fortemente por essa violência física e simbólica, ocorridas na fase transitória entre a infância e a adolescência, foram incorporadas pelos entrevistados como um marco definidor da orientação homossexual e ponto nevrálgico da história ontogenética desses sujeitos. Ou seja, por meio dos relatos, podemos depreender que o abuso sexual sofrido preponderou no processo de construção da identidade sexual desses sujeitos. Assim, para os surdos entrevistados, existe uma relação direta entre o primeiro ato sexual e a vivência (atual) da homossexualidade. COMUNICAÇÕES ORAIS Palavras-chave: surdez, sexualidade, abuso sexual. Contato: Fabrício Abreu, UnB, E-mail: [email protected] CO-1968 ATENDIMENTO PSICOLÓGICO A SURDOS: DESAFIOS E POSSIBILIDADES Vanessa Nazário Cordeiro, UFPE/ IMIP, E-mail: [email protected] Juliana Monteiro Costa, IMIP Este trabalho surgiu em decorrência de alguns atendimentos de psicoterapia clínica, realizados no período de estágio obrigatório para a conclusão de curso, no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), em Recife, PE. Através do atendimento psicológico a uma paciente com surdez adquirida desde seus 2 anos de idade, começam a surgir as primeiras dificuldades no setting terapêutico. O primeiro atendimento ocorreu na presença da genitora e da paciente por conta da dificuldade inicial de se estabelecer uma comunicação fortemente eficaz com a mesma. A partir do segundo atendimento, somente a adolescente estava presente, e a maior dificuldade consistia no fato de que, apesar de sempre querer ler lábios, não havia compreensão de muitas palavras essenciais para tecer um diálogo. Além disso, ela também rejeitava LIBRAS, e justificava relatando que uma médica sugeriu que não a aprendesse, pois seria mais fácil se relacionar com outras pessoas através da oralidade. Ela ainda rejeitava qualquer tipo de trabalho que lembrasse atividades infantis, tais como: desenhos, livros de histórias e jogos. Ao longo dos atendimentos foi notado que ela se esforçava para ser compreendida. Isso era percebido através da sua linguagem corporal e feições faciais através da frustração e desistência quando frequentemente não era entendida. Por outro lado, também era notória sua expressão de alívio e satisfação no momento em que a terapeuta compreendia o que ela queria falar. A adolescente tem 17 anos, estuda numa escola regular, mas está fora da faixa etária, sempre demonstrando grande insatisfação de estar em uma turma de crianças e de ser dependente da mãe para ir aos lugares. Foi a partir do contexto aqui sinalizado que se observou a necessidade de buscar um conhecimento que dê conta de auxiliar o processo de psicoterapia. Afinal, de que modo conduzir um trabalho psicoterápico com um público adolescente surdo? Adentrando-se nessa temática procurou-se responder os questionamentos que vieram a fazer parte das reflexões sobre este caso. Foi necessário compreender, então, que em geral existem dois modelos de pensamentos recor- 191 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento rentes na forma de atuação de profissionais de saúde: o modelo clínico-terapêutico e o socioantropológico. O primeiro trata a surdez como uma deficiência ou doença para a qual há cura que precisa ser diagnosticada e organizada de forma que o surdo se insira no funcionamento do ouvinte; o segundo modelo, por sua vez, considera a surdez como característica de diferenciação da população surda com relação à população ouvinte, não a vendo como doença, mas como um aspecto particular de uma comunidade. O embate entre esses dois modelos é ainda muito presente nas questões relacionadas à inclusão social. O modelo clínico-terapêutico, embora passível de questionamentos, é frequentemente utilizado e foi identificado na prática da médica, quando a mesma indica a não aprendizagem da LIBRAS, mas opta pela comunicação oral visando à adaptação social. Nas práticas psicológicas, a existência de tal embate não é diferente. Nas décadas de 50 e 60 a surdez era relacionada a comportamentos de agressividade, impulsividade, dificuldade de aceitar limites, inteligência concreta e dificuldades motoras, traçando uma relação direta com problemas emocionais, intelectuais, sociais e linguísticos. Foi, contudo, no final dos anos 60 que essa forma de pensar sofreu grandes mudanças, havendo início da valorização da linguagem de sinais e a constatação de não existir diferença cognitiva entre filhos de pais surdos e filhos de pais ouvintes, nem diferenças socioafetivas. Para o surdo, a falta de comunicação, o preconceito social e o isolamento o tornam um ser dependente do ouvinte, mesmo que tenha se desenvolvido cognitivamente. Esse movimento foi percebido na adolescente, quando frequentemente ela perguntava a sua mãe e algumas vezes à psicoterapeuta, o porquê de sempre estar acompanhada e nunca poder sair só. Aqui está um dos conflitos geradores do sofrimento que a adolescente passa, pois se encontra dividida entre a vontade interna da conquista de sua autonomia e os limites que a ela são impostos tanto pela família quanto pela sociedade, esse é um belo exemplo que Erikson chamaria de crise psicossocial. Na fase da adolescência há uma necessidade de individuação e construção de identidade, mas para isso ela deverá lidar com o meio que a cerca e se posicionar de forma a encontrar um caminho favorável ao seu desenvolvimento e elaboração de sua identidade, ao mesmo tempo em que tenta se adaptar cada vez mais ao meio social. Contudo, é importante nunca perder de vista o estado de totalidade que ecoa no sistema familiar, pois se este é um conflito da adolescente, certamente atinge os demais membros familiares, uma vez que a condição de surdez repercute em todos os sistemas em que ela faz parte, de modo a dificultar mais ainda o seu processo de encontro de si mesma. Gonçalves (2012) afirma que a dependência COMUNICAÇÕES ORAIS reduz a autoestima e estimula o surgimento de conflitos e sofrimento psíquico. É importante salientar que além da acolhida psicoterápica ao surdo, o trabalho possa se estender à família, pois ela representa, de maneira geral, o principal sistema e um dos maiores focos de conflito da pessoa com esse tipo de deficiência. Trata-se de um momento em que coexistem a possibilidade de crescimento, fortalecimento, maturidade e o risco de transtornos psíquicos, tanto dos indivíduos como dos seus vínculos familiares (FIAMENGHI & MESSA, 2007). Ao longo dos atendimentos foi percebido um grande avanço da paciente ao se trabalhar com a abordagem sistêmica, uma vez que a mesma permite não só a criação de um bom vínculo terapêutico, mas uma maior flexibilização com relação as técnicas utilizadas, não limitando o campo de ação. Neste sentido, o terapeuta assume uma postura relacional, passando a ver o paciente numa visão holística, física, mental e espiritualmente. Por fim, ressalta-se a escassez de profissionais que lidem com esse público, sobretudo pela dificuldade na comunicação, o que acaba por negligenciar essa parcela da população e influencia a qualidade de serviço de saúde prestado. Portanto, esse trabalho também é um convite aos profissionais a adentrarem-se nessa área. Palavras-chave: adolescência; surdez; psicoterapia. Contato: Vanessa Nazário Cordeiro, UFPE/ IMIP, E-mail: [email protected] RELAÇÕES INTERGERACIONAIS Sala 408 - 13h30 CO - 2028 O BRINCAR COLETIVO E SUA SIGNIFICAÇÃO INTERGERACIONAL Micaela Ferreira dos Santos Silva, UFPB, E-mail: [email protected] Ana Raquel de Oliveira França, UEPB, E-mail: [email protected] Giovana Carla Cardoso Amorim, UERN, E-mail: [email protected] Pierre Normando Gomes-da-Silva, UFPB, E-mail: [email protected] Danielle Menezes de Oliveira Gonçalves, PMJP, E-mail: [email protected] Esta pesquisa objetiva analisar a relação intergeracional das brincadeiras infantis, sendo elas tradicionais ou eletrônicas, identificando os fatores socioculturais que influenciam o brincar infantil. Por meio das brincadeiras, as crianças identificam características próprias da sua cultura e sociedade, contribuindo para o desenvolvimento 192 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento das relações infantis entre criança/criança, criança/adulto e criança/sociedade. As brincadeiras foram classificadas em dois grupos: brincadeiras tradicionais e brincadeiras que envolvem o aparato eletrônico. A partir dessa classificação, identificamos os fatores que influenciaram o brincar no contexto de brincadeiras das crianças de ontem e de hoje. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, cujo instrumento de coleta de dados foi uma entrevista coletiva para crianças e um questionário para os adultos. Os sujeitos desse estudo foram selecionados pelo procedimento de amostragem aleatória simples. O campo de estudo foi a Escola Municipal Paulo Cavalcante de Moura situada na cidade de Mossoró, RN. Foram estudadas turmas da Educação Infantil, nível II e os primeiros cinco anos do Ensino Fundamental. Foi utilizado um questionário com questões abertas. O marco teórico foi organizado em três partes: a primeira aborda a questão da cultura lúdica, em que foram utilizados estudos de Brougère, Müller e Vygotsky; na segunda parte, tratamos das brincadeiras e sua temporalidade. Para tanto, utilizamo-nos dos textos de Piaget, Lopes, Mendes e Farias, Fernandes; por fim o brincar no contexto sociocultural das crianças de hoje e de ontem. Para Brougère (2011), o brincar não está limitado somente a sua relação com o real e com o prazer, para ele, o brincar é uma imagem cultural que acompanha o indivíduo por toda a vida. O autor não considera o brincar uma atividade natural do ser humano. Para ele, o brincar, assim como outras atividades sociais, precisa de aprendizagem, pois é “dotada de significações” (p. 20). Os brinquedos modernos tais como os jogos eletrônicos, podem criar uma nova vivência lúdica, que acaba modificando a cultura lúdica das crianças, formando o que Brougère (2011) chama de cultura lúdica contemporânea. Em suma, a cultura lúdica pode ser entendida pela apropriação que a criança faz de elementos socioculturais para subsidiarem, de certo modo, suas brincadeiras e jogos. O brinquedo pode ser visto como um meio que propicia a brincadeira. Dessa forma, qualquer objeto, inclusive o corpo pode ser utilizado no ato do brincar e pode ser considerado brinquedo, pois a criança atribui, nesse momento, sentido e significado enquanto brinca (GOMES-DA-SILVA, 2011). Vygotsky (2007) expõe uma relação entre a cultura, inteligência e educação, em que cada pessoa possui traços específicos que caracterizarão a forma que cada um irá agir. Tanto os brinquedos, quanto as brincadeiras trazem a imagem do seu tempo. De acordo com as ideias de Fernandes (2009), as brincadeiras tradicionais são parte da cultura lúdica. Elas são transmitidas culturalmente, de geração a geração, trazendo elementos e valores. Conforme Lima (2011), contemporaneamente, há um surgimento de uma multiplicidade de brinquedos e jogos eletrônicos, cada vez mais modernos que induzem, de certa forma, o COMUNICAÇÕES ORAIS brincar individualizado da criança. O contato com meios eletrônicos permite também que a criança desenvolva a coordenação motora fina, a leitura, o raciocínio lógico, a atenção, a concentração, ao passo que as crianças focam em determinada atividade e se dedicam a ela até cansar, descobrindo nesse processo um contentamento particular interior. A socialização e comunicação entre as crianças vão ficando cada vez mais restritas, diminuindo também os laços afetivos que o brincar coletivo pode proporcionar. Para obtenção dos dados necessários para esta pesquisa, foram utilizados dois questionários. O primeiro deles foi aplicado com oito crianças (respondida de forma oral) e o segundo questionário, aplicado com oito professoras da escola estudada. A partir dos questionários, foi possível perceber os principais aspectos relacionados às brincadeiras dessas crianças e se há diferenciação e/ou relação entre elas. Os sujeitos que fizeram parte da pesquisa encontram-se entre 5 e 55 anos de idade. Através da análise dos dados vimos que as crianças dos dias atuais preferem as brincadeiras que supõem a participação do outro, como pega-pega, esconde-esconde, brincadeiras com bola etc. Entre as crianças de ontem, as brincadeiras eleitas por elas foram boneca, comidinha, escondeesconde e roda. Nesse sentido, as crianças de ontem e de hoje apresentaram semelhanças na maioria das atividades lúdicas. Quanto ao local de realização das brincadeiras, a maioria dos sujeitos pesquisados explicitou que brincavam na maior parte do tempo em suas casas. Apenas alguns deles poderiam brincar na rua. As crianças de ontem brincavam também embaixo de árvores de suas casas. Podemos destacar como aspecto relevante, as brincadeiras coletivas. A maior parte dos sujeitos expôs que preferem brincar coletivamente. Nesse sentido, essa prática é responsável pela perpetuação de algumas brincadeiras populares, além de contribuir significativamente para a socialização, afetividade, entre outros. Sabemos que a participação dos pais e/ou adultos nas brincadeiras infantis possui um papel fundamental na disseminação cultural das práticas de um lugar. Entretanto, conforme os dados analisados, a maior parte dos pais não participa das brincadeiras dos filhos. Nessa perspectiva, ressaltamos que esta participação fortalece os laços afetivos e estimula o brincar dos pequenos. Constatamos que entre as crianças de ontem, nenhuma delas teve contato com brincadeiras ou brinquedos eletrônicos. Contudo, metade das crianças dos dias de hoje têm o contato com esse tipo de brinquedo. A outra metade delas expôs que não brinca ou brinca apenas eventualmente com brinquedos que envolvem aparato eletrônico. Concluímos, inicialmente, com o auxílio teórico, que reflexões acerca da brincadeira e suas interfaces são complexas, pois envolvem aspectos que se relacionam com o desenvolvimento de habilidades infantis e estão em constante conexão com a cultura e a so- 193 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento ciedade. A brincadeira possibilita, além de outras coisas, algumas das primeiras relações socioculturais da criança. Elas transmitem e constroem de tempos em tempos, traços culturais que são repassados, geração a geração. Palavras-chave: brincar; cultura; intergeracional. Contato: Micaela Ferreira dos Santos Silva, UFPB, E-mail: [email protected] CO-2039 ESCOLA DE PAIS E DESENVOLVIMENTO HUMANO: UMA PROPOSTA MEDIADORA DE CONFLITOS INTERGERACIONAIS Eudes Basílio Alencar, UNI-RN, E-mail: [email protected] A escola e a família são instituições socializadoras em que o conhecimento percorre caminhos específicos por meio das interações e das experiências vivenciadas na diversidade dos contextos em que crianças, adolescentes e jovens estão inseridos. Em tempos de instabilidades e de incertezas nesse emaranhado social, surgem dúvidas relacionadas às dificuldades das escolas e famílias em lidar com os processos desenvolvimentais das crianças, adolescentes e jovens que, por sua vez, precisam de cuidado e orientação. O estabelecimento de um vínculo de confiança no contexto familiar e escolar, que esclareça as dúvidas, facilite as relações e proporcione reflexões sobre a importância dos laços afetivos, em um movimento de conhecimento mútuo é uma condição necessária e facilitadora para minimizar os conflitos intergeracionais. Partindo dessa concepção, a escola de pais se constitui numa proposta mediadora das demandas do contexto familiar e da instituição escolar, sobre as dificuldades relacionadas na compreensão do processo de desenvolvimento humano. A construção de um espaço de vivência e socializador dos conhecimentos científicos sobre o desenvolvimento humano constitui-se como uma estratégia mediadora de conflitos intergeracionais no contexto familiar e educacional. A finalidade do desenvolvimento enquanto construção é propiciar ao sujeito recursos que possibilitem sua autonomia de acordo com as vivências nas faixas etárias do seu ciclo vital. As ciências do desenvolvimento são multidisciplinares, não sendo uma área específica da ciência psicológica; desta forma, a escola de pais é organizada para atender as contribuições que os diversos profissionais desenvolvimentalistas, a partir de uma visão unificada e científica, podem dar sobre o processo de construção desenvolvimental. As continuidades e mudanças desenvolvimentais experimentadas pelas crianças, adolescentes e jovens no atual contexto social, estão afetando as famílias e ins- COMUNICAÇÕES ORAIS tituições escolares na capacidade de compreender o desenvolvimento humano dentro de uma perspectiva que estabeleça inter-relações importantes entre os aspectos físicos, cognitivos, sociais e emocionais. A perspectiva do senso comum, que permeia muitas famílias e escolas, impossibilita o entendimento dos padrões típicos de mudanças (desenvolvimento normativo) e das variações individuais (desenvolvimento ideográfico) desenvolvimentais na construção do ser humano. As ausências de instrumentos mediadores, conceituais e psicológicos, dificultam um diálogo intergeracional, desencadeando conflitos que poderiam ser amenizados se a família e a escola se instrumentalizassem acessando conhecimentos científicos que facilitam uma relação de compreensão das especificidades desenvolvimentais ao longo da vida. O conhecimento científico sobre o desenvolvimento humano promove as bases fundantes relacionais entre as gerações, facilitando o entendimento do que é peculiar no ciclo da vida minimizando o enfrentamento ou desentendimentos. A escola de pais proporciona condições para que a família e a instituição educacional encontrem e elaborem estratégias mediadoras de conflitos, constituindo-se em um espaço contínuo para discussões e orientações acerca do desenvolvimento humano das crianças, dos adolescentes e dos jovens atendendo as necessidades suscitadas em decorrência dos conflitos intergeracionais. O tema central gerador das discussões e encontros é: Desenvolvimento humano e autonomia. A partir do tema central são organizadas as temáticas que atendem principalmente o conhecimento sobre os aspectos sociais, psicológicos, físicos e biológicos, sem perder de vista a concepção holística desenvolvimental. A primeira etapa caracteriza-se por uma coleta de informações por meio de uma entrevista diagnóstica institucional com professores, pedagogos, psicólogos, coordenação e direção. Os dados coletados são provenientes das demandas observadas nos atendimentos realizados pela equipe escolar e da própria dinâmica do cotidiano no âmbito escolar. A principal necessidade detectada é a dificuldade dos pais e da escola em lidar com as questões relacionadas ao desenvolvimento. As demandas levantadas são relacionadas ao padrão de normalidade ou não das características e processos que configuram um determinado ciclo do desenvolvimento. Estas manifestações indagativas são acrescidas da carência de recurso em saber lidar com as idiossincrasias das construções do sujeito em seu desenvolvimento. O conhecimento enquanto processo de construção a partir da interação com o meio social como fonte de desenvolvimento, possibilita um estado de equilíbrio interno frente às dificuldades e conflitos intergeracionais vivenciadas no contexto escolar e familiar. A segunda etapa destina-se à organização dos módulos que irão compor a escola de 194 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento pais. As temáticas são organizadas atendendo a seguinte sequência: Módulo I - O desenvolvimento físico e perceptivo; Módulo II - O desenvolvimento cognitivo; Módulo III - O desenvolvimento psicológico e emocional; Módulo IV - A construção sócio-histórica do desenvolvimento humano; Módulo V - Desenvolvimento e autonomia. De acordo com as especificidades dos conhecimentos discutidos, cada módulo temático é coordenado por um profissional especialista, sendo eles: psicólogos, médicos, biólogos, pedagogos, psicopedagogos, sociólogos, assistentes sociais etc. O Módulo V é organizado em forma de mesa-redonda onde estarão presentes todos os palestrantes dos quatro módulos realizando uma interseção das diversas perspectivas abordadas durante a escola de pais. Nesta ocasião, os participantes poderão participar com perguntas e contribuições acerca das temáticas trabalhadas. Esta proposta caracteriza-se como um instrumento mediador dos conflitos intergeracionais, garantindo um espaço de diálogo entre a instituição escolar, família e profissionais desenvolvimentistas. Mobiliza em seus participantes por meio do conhecimento científico, atitudes saudáveis na difícil tarefa de compreender o desenvolvimento como um processo de transformação integral e de possibilidades para a autonomia. Este trabalho proporciona o entendimento de que a experiência e a vivência dependem da condição do sujeito na faixa etária de seu desenvolvimento. Estas condições são também determinadas pelas relações estabelecidas no contexto familiar e escolar. As atitudes mediadoras do adulto que atende as necessidades internas circunstanciais das crianças, adolescentes e jovens, possibilitam um ambiente favorável onde o sujeito pode dar conta das demandas do seu processo. O desenvolvimento para a autonomia é determinado pela relação estabelecida nos contextos sociais, pelas características próprias dos sujeitos e inclusive das experiências anteriores e oportunidades promovidas pelas condições que o adulto estabelece. Os participantes durante os módulos atualizam suas experiências anteriores neste novo universo de possibilidades, mobilizando novas vivências acerca do processo desenvolvimental. Promovem melhores condições que estabelecem uma relação intergeracional mais apropriada no contexto familiar e escolar no qual estão inseridos. Descobrem que além das demandas do meio o próprio adulto é responsável por promover condições internas que desencadeiem novas ressignificações e experiências oportunizando um desenvolvimento de equilíbrio em que os sujeitos são atendidos em suas necessidades. Palavras-chave: desenvolvimento; escola de pais; conflitos. Contato: Eudes Basílio de Alencar Segundo Júnior, UNI-RN, E-mail: [email protected] COMUNICAÇÕES ORAIS CO-2283 AS FAMÍLIAS E AS RELAÇÕES INTERGERACIONAIS DE UNIVERSITÁRIOS COM EXPERIÊNCIA DE TRABALHO INFANTIL Andrea Abreu Astigarraga, UVA, E-mail: [email protected] O objetivo deste texto é descrever e analisar as características das famílias e as relações intergeracionais de quatro universitários egressos dos cursos de Enfermagem e Direito da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral, CE. A metodologia da pesquisa utilizada foi qualitativa. Através de entrevistas narrativas, verificamos os percursos existenciais do trabalho infantil na roça aos cursos seletos universitários. Diante da ausência de políticas públicas, os valores pessoais (disciplina, determinação, responsabilidade, solidariedade etc.), os vínculos afetivos, o valor atribuído ao estudo, entre outros, foram cruciais tanto no desenvolvimento humano quanto na formação escolar e profissional, assim como na mudança da “cultura do trabalho infantil” na roça para o estudo no ensino superior. Para Boaventura Santos, todo conhecimento é autoconhecimento (2008, p. 80). As nossas trajetórias de vida pessoais e coletivas (enquanto comunidades científicas) e os valores, as crenças e os prejuízos que transportam são a prova íntima do nosso conhecimento, sem o qual nossas investigações laboratoriais ou de arquivo, os nossos cálculos ou os nossos trabalhos de campo constituiriam um emaranhado de diligências absurdas sem fio nem pavio. Para o sociólogo português, não se trata tanto de sobreviver como de saber viver. Para isso é necessária outra forma de conhecimento, um conhecimento compreensivo e íntimo que não nos separe e antes nos una pessoalmente aos que estudamos (Idem, p. 85). O conceito de desenvolvimento está cada vez mais assumindo um caráter relacional presente na definição de Bronfenbrenner (1996, p. 05): “uma mudança duradoura na maneira como uma pessoa percebe e lida com o seu ambiente”. Portanto, na família, a criança encontra as suas primeiras relações intersubjetivas onde aprende, por meio de trocas, os modos humanos de existir, os significados da existência e a constituição de ser sujeito. “A cultura familiar particular está impregnada de valores, hábitos, mitos, pressupostos, modos de sentir e de interpretar o mundo que definem modos específicos de trocas intersubjetivas e, consequentemente, tendências para a constituição do sujeito” (SZYMANSKI, 2007, p. 23). O nosso interesse nesta pesquisa surgiu diante da constatação de que havia pouco conhecimento, no âmbito universitário, sobre os percursos de formação pessoal, intelectual e pro- 195 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento fissional dos acadêmicos oriundos da zona rural e com experiência de trabalho infantil. Que percursos foram construídos da experiência do trabalho infantil na roça às carreiras seletivas da universidade? No contexto do semiárido da zona norte do estado do Ceará, diante das precárias condições socioeconômicas e da ausência de políticas públicas de democratização do Ensino Superior, que fatores contribuíram para superar o improvável sucesso pessoal e acadêmico dos jovens pesquisados? Nos estudos que realizamos uma das inquietações que estiveram presentes foi a constituição de valores intersubjetivos e intergeracionais no contexto da família rural, onde a geração dos avós predominantemente trabalhou na roça e não foi escolarizada, os pais trabalharam na roça e frequentaram os primeiros anos do Ensino Fundamental e os filhos que trabalharam mas, além da escolarização básica (Fundamental e Média) ingressaram e concluíram o Ensino Superior. Desde 2002, através de atividade didática, ministrando a disciplina História Social da Criança, no curso de Pedagogia da UVA, e utilizando como dispositivo de formação o relato escrito das memórias de infância das acadêmicas matriculadas na disciplina, encontramos vários depoimentos de jovens universitários (as) com experiência de trabalho infantil. As alunas descreveram atividades onde ajudavam a cuidar do serviço doméstico na casa e os alunos narram atividades realizadas no plantio e colheita da roça. A partir desta experiência didática, em sala de aula, publicamos um artigo com o título “Memória na formação do educador infantil: as universitárias e suas lembranças da infância” (COSTA et al., 2005). Essa descoberta sobre a experiência de trabalho infantil na roça entre universitárias redimensionou o foco dos nossos estudos. Se anteriormente pesquisamos crianças e adolescentes com experiência de trabalho precoce e as implicações desse tipo de trabalho em suas vidas, tais como a redução/supressão de vivências consideradas propriamente da infância (artefatos lúdicos, tais como: brinquedos e brincadeiras e escolarização regular), passamos a investigar os jovens que, apesar de terem vivido o trabalho infantil doméstico conseguiram ingressar na universidade e mudar o rumo de uma vida, narrando percursos improváveis dentro do Ensino Superior. O ingresso desses jovens na universidade contradiz o “mito” de que a universidade é um lugar elitizado e que o filho do pobre não ingressa em cursos considerados seletos, tais como o curso de Direito e Enfermagem. Portanto, a pergunta básica que norteou a presente pesquisa foi: Quem é esse jovem com experiência de trabalho infantil que ingressou em um curso seleto da universidade? Ao longo do texto, ao tratar de jovem, adotaremos o masculino neutro, mas considerando que são estudantes universitários e estudantes universitárias. De acordo com dados obtidos no relatório das Pró-Reitorias, a maioria dos jovens universitá- COMUNICAÇÕES ORAIS rios é oriunda, predominantemente: do norte do estado do Ceará, da região do semiárido, de famílias de pequenos agricultores com pouco acesso à escolarização (a maioria dos pais não completou o ensino fundamental); com renda per capta de até três salários mínimos. Esses dados demonstram que os universitários são predominantemente da classe trabalhadora e representam uma geração que, ao contrário de seus pais, conseguiu ascender/ingressar no Ensino Superior. Portanto, os resultados apresentados nos primeiros passos da pesquisa foram: primeiro, considerando que estudos sobre a realidade dos estudantes universitários pobres eram quase inexistentes na região e na universidade pesquisada, percebemos a relevância da pesquisa para conhecer o contexto vivencial desses estudantes, suas dificuldades, identificar estratégias pessoais, familiares e escolares de sucesso para superar a experiência de trabalho infantil para ingressar, permanecer e concluir o Ensino Superior. Segundo, verificou-se, preliminarmente, a urgência de políticas públicas de inclusão no Ensino Superior para atender uma demanda considerável de pessoas que não ingressam ou ingressaram na universidade e, com muitas dificuldades, permanecem e concluem seus estudos, principalmente na UVA que, por ser universidade de âmbito estadual, não operacionaliza as novas políticas democráticas do ensino superior, tais como ENEM e Ações Afirmativas (cotas étnicas). Foi com esse perfil inicial dos alunos que partimos para aprofundar o estudo através de entrevistas narrativas. Portanto, esta pesquisa teve como objeto de estudo o processo de inclusão no ensino superior de estudantes universitários, oriundos da zona rural, que tiveram experiência da cultura do trabalho infantil na região norte do estado do Ceará. Os aspectos positivos apontados foram: o discernimento dos pais em relação à importância dos estudos para os filhos, mesmo inseridos na “cultura do trabalho infantil” na roça, a ponto de romper com a cultura local; ajuda mútua nos estudos entre os irmãos; a importância dos benefícios públicos do estágio com bolsa aprendizagem para alunos com bom aproveitamento nos estudos; o valor do supletivo para superar a defasagem idade/série; a aculturação da vida urbana; o reverso da cultura migratória para outras regiões do Brasil, principalmente o Sudeste brasileiro; o estudo como fator de mobilidade social e, finalmente, a consolidação de valores sólidos que fundamentaram a conquista de espaços educacionais, tais como, a universidade, os grupos sociais inerentes a ela e às atividades acadêmicas e profissinalizantes, tais como, bolsas de iniciação científica, bolsas de extensão e aprovação em seleção de emprego. Verificamos que entre os quatro entrevistados houve semelhança na experiência de si quando trabalharam na roça com os pais durante a infância. Também há semelhanças em alguns aspectos vividos durante o ensino formal: dificulda- 196 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento des de acesso e precariedade na estrutura da escola, na formação dos professores etc. No entanto, as experiências de si, no Ensino Superior divergem. Palavras-chave: família e relações intergeracionais; desenvolvimento humano; trabalho infantil na roça. Contato: Andrea Abreu Astigarraga, UVA, E-mail: [email protected] CO-1971 VIOLÊNCIA NA TRANSMISSÃO GERACIONAL Ana Caroline Cabral Cristino, IFCE, E-mail: [email protected] Álvaro Rebouças Fernandes, UNIFOR, E-mail: [email protected] O objeto de estudo se constituiu a partir de uma reflexão mais crítica sobre os significados da violência para os adolescentes em medidas socioeducativas. Essa teia de reflexão se deu devido ao estágio em psicologia e às experiências como profissional que levaram o pesquisador, autor do trabalho científico, a um posicionamento mais específico para esses adolescentes que cometeram algum tipo de ato infracional, partindo de um olhar analítico de que as relações de violência, apresentadas pelos jovens, estavam presentes não apenas no cotidiano deles, como também de seus familiares: pais, irmãos, avós, tios, primos. A violência se mostrava uma realidade comum, algo não surpreendente em suas vidas. Além disso, colocava-se como uma das formas principais dos adolescentes se relacionarem em seus vínculos. Diante dessa realidade, uma curiosidade surgiu: o quanto o comportamento violento tinha relação com a transmissão da forma de se relacionar entre gerações e entre seus pares. Acrescido a indagação de constatar se há alguma afinidade entre violência e transmissão geracional, intenciona-se suscitar nos adolescentes em tela a percepção dessa afinidade e o questionamento de relações interpessoais de violência, já cristalizados, através do Psicodrama. Costuma-se associar violência ao crime, já que essa modalidade se faz mais evidente no dia a dia e nos meios de comunicação, ganhando então maior visibilidade para a população. Contudo, existem muitas outras formas de violência, algumas delas tão sutis que se tornam veladas ou incorporadas ao nosso cotidiano, sem maiores reflexões. Para compreender o fenômeno é importante trazer também o olhar para a história das gerações familiares, já que os padrões de relacionamentos interpessoais podem estar associados a dinâmicas que ultrapassam o indivíduo e sua família constituída. Cada família se constrói a partir de influências genéticas, culturais e históricas de seus membros. Os modelos COMUNICAÇÕES ORAIS relacionais são transmitidos e configuram-se no sistema familiar através de crenças compartilhadas entre os membros da família, já pré-estabelecidos a priori. As crenças compartilhadas auxiliam na unidade familiar, dando um sentido ao seu arranjo. Mesmo quando as crenças não são adaptativas e estão em desacordo com a realidade, elas podem ser acolhidas, pelo menos inicialmente, como uma verdade absoluta. Contudo, as gerações seguintes têm a possibilidade de transformar o que é repassado ou apenas repeti-lo. Diferentes abordagens psicológicas vão tratar da transmissão geracional, dentre elas, pode-se citar as visões psicanalítica, sistêmica e psicodramática. As duas primeiras serão essenciais para trazer embasamento sobre o tem no que diz respeito a sua origem. A última, psicodramática, a partir da fundamentação metodológica da pesquisa-ação será a perspectiva adotada para interagir e analisar as informações obtidas com os sujeitos participantes do estudo. A teoria psicodramática enfatiza a relação e o diálogo, apontando que o ser humano só é plenamente humano quando está em relação com outro ser humano. Esse nasce indiferenciado e repleto de espontaneidade que vai sendo reduzida por fatores advindos do meio ambiente, uma vez que este impõe ao indivíduo regras e normas, impedindo-o de responder, livremente, a novos estímulos. Para recuperar a espontaneidade, faz-se necessário a modificação dos padrões fixados pela cultura. Esses padrões (condutas, costumes, artefatos materiais etc.) são nomeados de conserva cultural, que são o resultado final de um processo de criação. A conserva cultural pode se tornar uma barreira já que pode manter fixos comportamentos, relações interpessoais e papéis, enfraquecendo a sensibilidade e a inspiração criadora. O eu, para o Psicodrama, surge através da aprendizagem dos papéis. Logo, por eu, entende-se como a conexão contínua entre os papéis por meio das relações interpessoais. Assim, as primeiras relações e climas afetivos estabelecidos entre os membros da família e a criança são de grande importância na constituição da personalidade, já que deixam marcas em registros posteriores e no modo do indivíduo se perceber e relacionar-se com a realidade que o cerca. No intuito de compreender a dinâmica da violência na família e averiguar se há relações com a transmissão geracional, foram selecionados três sujeitos, a partir das informações da equipe técnica do Centro de Semiliberdade Mártir Francisca, com o seguinte perfil: adolescente em conflito com a lei, classe baixa e morador de periferia. Três profissionais da equipe técnica também foram entrevistados (assistente social, pedagoga e advogada), sendo uma sessão para cada profissional. O intuito foi entender suas ideias acerca da violência e como a percebem na vida do adolescente. Para finalizar o cruzamento de informações, realizou-se uma entrevista com as mães dos adolescentes, com a finalidade de saber mais sobre a famí- 197 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento lia e a violência. Diante das vivências psicodramáticas dos jovens e das entrevistas com os profissionais e com as mães deles, pode-se notar a evidência da transmissão psíquica entre grupos juvenis de uma cultura que entende a violência diretamente relacionada a atos infracionais. Isso não significa que não viveram outros tipos de violência e violações, porém os seus pensamentos e ações estão tão vinculados ao crime que criaram um papel hiperdesenvolvido do criminoso. Nesse papel, desenvolvem laços afetivos, de cuidados e proteção mútua, chegando a serem percebidos como parentes pela afinidade recíproca. Desse modo, a transmissão psíquica mais fortemente diagnosticada na pesquisa foi a do contágio coletivo nas falas dos entrevistados. Os sentidos são comunicados e divididos entre os membros do grupo. A família dos jovens tenta ser um espaço de referência, a partir de ideias pré-formuladas sobre a função deste sistema, porém o cuidado familiar pouco é experienciado no cotidiano, pois as mesmas famílias que deveriam dar todo o apoio, quase não vivenciaram o sentido desta palavra. O Psicodrama possibilitou uma reflexão sobre os processos de transmissão entre as gerações. Contudo, a pesquisa mostrou a necessidade de uma intervenção mais ampliada, tanto no número de encontros como na abrangência de adolescentes, para dar oportunidade aos jovens protagonistas reencontrarem a força espontânea em suas vidas. Também demonstrou ser importante um trabalho com os jovens e suas famílias para o resgate das histórias geracionais familiares. Palavras-chave: violência; transmissão geracional; adolescentes. Contato: Ana Caroline Cabral Cristino; Instituto Federal do Ceará (IFCE); E-mail: [email protected]. CO-1969 A NOÇÃO DE PROTEÇÃO DA INFÂNCIA & AS RELAÇÕES INTERGERACIONAIS Suzana Santos Libardi, UFRJ, E-mail: [email protected] Lucia Rabello de Castro, UFRJ, E-mail: [email protected] Apoio financeiro: CNPq Este trabalho advém de projeto de doutorado que tem como objeto a noção de proteção da infância. Visto que a pesquisa se encontra em fase inicial, este trabalho problematiza a ideia de proteção a partir de revisão teórica sobre construção da infância, mostrando como a noção prototípica de infância fundamenta a proteção como imperativo para este grupo geracional. Nesta pesquisa, a proteção da infância está sendo investigada a partir do COMUNICAÇÕES ORAIS cenário das relações intergeracionais, buscando compreender o papel da proteção na diferenciação de crianças e adultos enquanto indivíduos de grupos geracionais distintos. Estamos interessadas na maneira como a ideia de proteção vem se concretizando enquanto matriz alteritária para relação entre gerações mais velhas e mais novas na medida em que opera diferenciando os papéis de um grupo perante o outro. As origens da distinção entre crianças e adultos, jovens ou velhos advêm da construção da infância como fase específica da vida na qual sujeitos desse grupo compartilham algum(s) traço(s) em comum e que os diferenciam de outros grupos etários. A percepção da infância como fase de vida específica tal qual concebemos hoje foi inaugurada na Modernidade (ARIÈS, 1978; PEREIRA, 2002; GILLIS, 2011). A era Moderna teve seu projeto marcado pelo Racionalismo que colaborou para produção de modelo subjetivo fundado na razão. A partir do papel historicamente desempenhado pela escola (como instituição destinada à preparação, capacitação e formação do sujeito racional), emergiu a ‘descoberta’ da infância e construção do ‘ sentimento’ de infância como fase distinta da adultez. As crianças, concebidas agora como sujeitos infantis, foram os indivíduos para os quais se destinou o projeto moderno de escola, fazendo com que a infância aparecesse associada à ideia de aprendiz. Ou seja, daquele que não sabe, de seres em preparação, como pessoas que estão numa fase da vida caracterizada majoritariamente pela tarefa de aprender. A compreensão de que a criança está desprovida das habilidades exigidas pelo mundo adulto legitima elaboração de roteiro para seu desenvolvimento, oferecendo-lhe socialmente suposta proteção ao longo desse processo. Lentamente foi se concretizando separação dos “mundos” adulto e infantil, distinguindo-os um do outro. A noção de uma infância ideal foi fundamentada pela ciência moderna, especialmente pelos primeiros estudos em Psicologia do Desenvolvimento que contribuíram para uma imagem social da infância operando como protótipo para crianças. A variabilidade da infância foi reduzida a trajetórias-guia que autorizam intervenções junto a essa população mais nova para serem cuidadas, educadas, assistidas, instruídas (ALANEN, 2001). Essa concepção de infância produziu a chamada menoridade do infante (SARMENTO, 2005), que formaliza no âmbito do direito o lugar social reservado a esse segmento geracional. Para o interesse desta pesquisa, a reflexão sobre a menoridade da infância é importante porque essa figura jurídica fundamenta ações de proteção reservadas às crianças e também aos adolescentes. Nesse caso, a assunção da menoridade da infância proporciona à criança direitos específicos que se concretizam como instrumento de assegurar a proteção especial que a infância demanda (PINHEIRO, 2006). Com este trabalho buscamos então visibilizar o quanto 198 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento a proteção pode, paradoxalmente, se sustentar sob uma imagem negativa da criança, ou seja, uma imagem de tudo que lhe falta, e não do que ela pode desde pequena ser estimulada a fazer e experienciar de seu lugar geracional particular. Dentre as alternativas teóricas que se posicionam criticamente à visão tradicional da infância, destacamos o uso do conceito de ‘geração’ no campo da sociologia da infância (MANNHEIM, 1982; SARMENTO, 2005). A Teoria das Gerações de Mannheim oferece elementos para pensar a geração além de seu referencial etário. Para Mannheim geração não se refere apenas a um determinado grupo que compartilha a mesma faixa etária, mas é eminentemente fenômeno de natureza cultural. A posição geracional dos indivíduos os limita a vivenciar dados acontecimentos e restringe sua intervenção no processo histórico a aquilo que sua posição na estrutura social lhe permite (WELLER, 2010). Considerando então a geração em seu aspecto estruturante, crianças (enquanto membros da geração infantil) ocupam lugar específico na ordem social. A posição majoritariamente reservada à infância é aquela que enxerga como período inicial da vida, remetendo-se a uma fase da trajetória individual do desenvolvimento do sujeito. Em nossa vida cotidiana, uma das consequências desse processo é a ideia de proteção da infância: crianças têm de ser protegidas porque elas estão em desenvolvimento. Este trabalho objetiva, ao fim, explorar ainda dentro da Psicologia do Desenvolvimento as ideias de imaturidade e vulnerabilidade, visibilizandoas como dois importantes fundamentos que sustentam o regime de tutela característico da posição geracional hegemonicamente reservada às crianças - apesar de suas distintas infâncias. Palavras-chave: proteção da infância; relações intergeracionais; criança. Contato: Suzana Libardi, UFRJ, E-mail: [email protected] 27- ÉTICA E VALORES Sala 417 - 13h30 CO-2040 COMPORTAMENTOS ÉTICOS NA PESQUISA ACADÊMICA Wagner Teixeira Dias, PUC-Rio, E-mail: [email protected] Zena Eisenberg, PUC-Rio, E-mail: [email protected] Apoio Financeiro: CNPq/FAPERJ Este estudo aborda aspectos éticos relacionados ao plágio e à autoria em trabalhos de pesquisas utilizadas como instrumento de avaliação. Pressupomos que, em COMUNICAÇÕES ORAIS se tratando de avaliação, uma via de mão dupla deve ser considerada: a) ter um comportamento ético por parte dos alunos que fazem as pesquisas, de modo que as mesmas estejam inseridas em paradigmas da integridade acadêmica; b) o professor elaborar uma proposta de pesquisa eficaz, orientando e acompanhando o processo investigativo de modo a fomentar a construção de conhecimento. Trata-se de parcelas de responsabilidade de ambos os lados, o que faz com que a educação venha a ser compreendida como um ato ético. Um trabalho de pesquisa eticamente construído se inicia por uma proposta investigativa realizada pelo professor, passa pelo cuidado de acompanhar seus orientandos, sensibilizando-os, conduzindo-os, respeitando-os como autores e sancionando os casos de plágio reincidentes. No caso dos licenciandos, é preciso agir eticamente ao compor os trabalhos, entendendo que autorar é manter um diálogo com ideias de outrem sem, contudo, usá-las desrespeitando as normas que devem regê-las. Temos como objetivos para esta pesquisa: 1) elencar os problemas que têm sido enfrentados por professores e estudantes de cursos de licenciatura, no que concerne ao entendimento do que é ou não ético no processo de construção da pesquisa acadêmica utilizada como avaliação; 2) colocar em discussão as questões de ética em pesquisa, enfocando a relação professor-aluno em cursos de licenciatura, uma vez que estes licenciandos serão os professores que em médio prazo estarão nas escolas ensinando a fazer pesquisa. Com cunho qualitativo, a pesquisa produziu dados com base em entrevistas semiestruturadas com trinta licenciandos e nove professores universitários. O roteiro de entrevistas visou aferir: a) a compreensão acerca do que sejam plágio e autoria; b) como os sujeitos entrevistados se relacionam com tais conceitos; c) de que modo a ética tem ou não norteado os trabalhos de pesquisas de licenciandos e d) as posturas dos professores no processo de ensino de pesquisa. A análise dos dados foi realizada com o auxílio do software Atlas. Ti, que organiza as falas coletadas facilitando a construção de planilhas e permitindo tecer os comentários referentes às categorias de análise utilizadas: pesquisa, plágio, autoria e avaliação. Nossas discussões se ancoram em propostas da educação como campo complexo, como posto por Perrenoud (2008). Canário (2006) e Monteiro (2000) colocam-nos em contato com a crise da escola atual, assumindo-a como espaço para a produção do conhecimento. Fernandes & Freitas (2013) apontam-nos implicações sobre avaliação, afirmando que a mesma deve ser diagnóstica e não meramente classificatória. Os estudos de Luckesi (2005/2013), por sua vez, nos auxiliam a pensar a ética no processo avaliativo, apresentando implicações do ato ético, tanto para alunos como para professores, a pretexto de uma avaliação que fuja dos modelos classificatórios e contribua mais, diagnosticando e mostrando caminhos 199 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento para uma construção profícua do conhecimento. Para o debate acerca da ética, nossas abordagens dialogam com a tese do ato ético de Bakhtin (2010), que nos auxilia no pensamento da educação como um compromisso de seus agentes, não permitindo álibis. Os dados de pesquisa indicam alguns pontos que consideramos antiéticos nas condutas de professores e licenciandos quando a construção da pesquisa acadêmica está no prelo. No que diz respeito ao papel do professor, percebemos que no grupo estudado faltou orientação, fomento à construção autoral, rigor no acompanhamento, leitura, discussão sobre ética e sobre a função social do professor, da pesquisa e dos instrumentos de avaliação. A verificação de plágio não tem ocorrido. Os professores acreditam que esta é uma ação de policiamento, no entanto, é preciso compreender que nem todos os licenciandos plagiam por trapaça, de modo que verificar plágio é um ato educativo. Apenas detectando-o será possível orientar de modo profícuo, na tentativa de amenizar o quadro que, cada vez mais, vem ganhando espaço dentro de nossas universidades. A pesquisa não tem sido ensinada e essa ação deve ocorrer dentro da sala de aula, uma vez que nem todos os alunos podem pertencer a grupos de pesquisa e compreender que existem normas que regem um fazer investigativo. Por outro lado, os licenciandos não estão cientes de seus papéis como estudantes e não compreendem a pesquisa como oportunidade de aquisição de conhecimento. Esta, para a maioria dos entrevistados, serve como instrumento para distribuição de notas e para a construção de rankings. Não tem havido exposição de pontos de vista autorais e a reflexão acerca de um futuro docente, moldado pela ética, tem sido frágil. O plágio tem sido banalizado e praticado de diversas formas, uma vez que o licenciando ou não se reconhece como plagiário, ou porque deseja de fato, ludibriar seus professores. Assim, com base nesses resultados, elaboramos as considerações que se apresentam no item seguinte. A avaliação, do nosso ponto de vista, constitui o momento do processo de ensino-aprendizagem que norteia, tanto o professor quanto o aluno, permitindo verificar o que funciona ou necessita de modificações no processo didático de ensino-aprendizagem. No caso da pesquisa como ferramenta de avaliação, há de haver compromissos éticos por parte de licenciandos e seus professores. Se cobrarmos do aluno um compromisso ético, responsável na construção de seus trabalhos, o mesmo compromisso deve ser esperado dos professores, que devem: a) orientar; b) ler os trabalhos dos alunos; c) dar nova oportunidade àqueles que possuem dificuldades ou que cometeram plágio, seja ele intencional ou acidental e d) sancionar os casos de plágio reincidentes. Apenas com uma ação conjunta entre licenciandos e professores, apoiados pelas universidades e suas políticas de condutas éticas, obteremos licenciados capazes de transmitir para COMUNICAÇÕES ORAIS os seus alunos a importância da autoria e das condutas éticas na educação e para a vida desde o início do processo educativo. Palavras-chave: ética; plágio; autoria; pesquisa; educação. Contato: Wagner Teixeira Dias, PUC-Rio, E-mail: [email protected] CO-2132 ÉTICA E PESQUISA COM CRIANÇAS: QUESTÕES E DESAFIOS DESDE A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA Rosângela Francischini, UFRN, E-mail: [email protected] Natália Fernandes, UMINHO/PT, E-mail: [email protected] As especificidades da pesquisa com crianças têm, principalmente a partir dos “novos estudos sobre a infância”, emergentes ao final da década de 1980, ganho visibilidade nas produções acadêmicas, nas diversas áreas de conhecimento, com destaque para a Sociologia da Infância. A partir do final da década de 80 e, principalmente, na década de 90, assistimos à emergência e consolidação dessa área de estudos, que tem, dentre seus pressupostos fundantes, o reconhecimento da criança enquanto “ator social”. (Prout, A. and James, A., 1990; James, A. and Prout, A., 1997; James, A., Jenks, C., and Prout, A., 1998; Sirota, Régine, 1998; James, A. and James, A., 2004). Paralelamente, assistimos, em 1989, à promulgação da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Crianças que reconhece a condição de “sujeitos de direitos” para essa parcela da população. A convergência desses dois fatores - sujeitos de direito e atores sociais -, trouxe implicações para os pesquisadores, dentre as quais destacamos a defesa da participação ativa das crianças em pesquisas que lhe dizem respeito. Fernandes (2009: 87) refere a este propósito que “[...] ao desafiar as tradicionais concepções, a sociologia da infância é o mais poderoso aliado do movimento de direitos das crianças; ao defender para ela um conjunto de direitos políticos sustenta a possibilidade de concretização da sua acção e participação.” Em acréscimo, e mesmo decorrente dessa mudança epistemológica, comparece nas produções acadêmicas, propostas de mudanças metodológicas, a partir do questionamento sobre as limitações dos métodos e procedimentos empregados nas pesquisas com adultos. Esse reconhecimento colocou, ainda, os pesquisadores diante de questões e desafios que até então, pouco, ou quase nada, compareciam nas pesquisas: as responsabilidades éticas no fazer pesquisa com essa população (Alderson, 1995; Morrow e Richards, 1996; 200 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento Thomas e O’Kane, 1998; Christensen e Prout, 2002). Assim, as questões éticas “tradicionais” estendem-se às investigações com crianças, não obstante as particularidades das quais se revestem, acrescidas, ainda, de questões emergentes. Nesse sentido, dentre as principais questões éticas em pesquisa, cabe ao pesquisador assegurar às crianças: - O direito à explicitação da proposta da pesquisa, com ênfase nos seus objetivos, métodos e propósitos, garantindo todas as informações necessárias para que o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido seja efetivamente uma escolha/opção desses sujeitos e/ou daqueles que por eles são responsáveis; - O respeito aos direitos de privacidade e confidencialidade, nas condições de construção e de divulgação dos dados; - As informações sobre os possíveis benefícios da pesquisa e a garantia de que o mesmo não será submetido a situações consideradas de risco; - O direito de não participação em situações que julgar inapropriadas, inadequadas ou que lhe causem algum incômodo, e o direito de deixar de participar da investigação em qualquer momento de seu percurso; - O direito a ter acesso aos resultados da investigação, antes mesmo de que eles se tornem públicos; - A garantia de que os custos da participação na pesquisa serão de responsabilidade do investigador e que a participação deverá se dar em horários que não prejudiquem outras atividades exercidas pelos sujeitos. Considerando a definição deste conjunto de salvaguardas, nos caminhos éticos na investigação com crianças, e a indiscutível importância que assumem para respeitar a imagem da criança como sujeito humano com direitos, continuam, no entanto, a subsistir, contextos de investigação nos quais ou os mesmos são ignorados, ou são desvalorizados ou, então, ainda mal interpretados. Recorte de um projeto mais amplo esta pesquisa propõe-se a refletir sobre os cuidados éticos na pesquisa com crianças, considerando a condição da criança enquanto sujeito de direitos. Foi realizado um recorte da produção acadêmica representativa na área, nos sites da International Society of Sociology e da European Society of Sociology identificando as preocupações dos autores com questões relacionadas à ética na pesquisa com crianças. De 42 artigos identificados a partir da expressão “sociologia da infância”, em seis (06) a ética na pesquisa é objeto de reflexão. Dos artigos analisados, 3 deles assumem um carácter estritamente teórico e os outros três dão conta de trabalhos empíricos. Nos primeiros, as preocupações emergentes ilustram especificidades que a ética assume dependendo do país (Austrália, França e Reino Unido), sustentando-as no discurso dos Direitos da Criança e nas suas implicações teórico-metodológicas na pesquisa com esses sujeitos. Apresentam, também, questões relacionadas aos Comitês de Ética, questionando o seu papel no processo de pesquisa. Comparece, ainda, o reconhecimento da capacidade da criança de expressar-se e produzir interpretações sobre seu cotidiano. Nos segundos, prevalece a abordagem COMUNICAÇÕES ORAIS sobre o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e as questões relacionadas à postura do investigador, no que diz respeito às diferenças de poder entre pesquisador (adulto) e pesquisado (criança). A recente história dos “novos estudos sobre a criança” justifica, em parte, o que pudemos constatar com este estudo: a quase ausência de discussões sobre a questão da ética na pesquisa com esses sujeitos, a emergência de novos desafios para o pesquisador e o estágio, ainda embrionário, e o enfrentamento, ainda tímido, desses desafios. No entanto, das pesquisas aqui abordadas, e das demais pesquisas que trazem a questão da ética na pesquisa com crianças, podemos afirmar sua importância e identificar a crescente preocupação dos pesquisadores para a garantia da tessitura das três dimensões apontadas por Anderson (1995; 2004; 2011) - direitos, deveres e danos/ benefícios - de forma que sua ação seja permeada por dinâmicas que contribuam para fortalecer os direitos, acautelar os deveres e salvaguardar o bem-estar das crianças. Este trabalho apresenta as principais questões e desafios que os novos estudos da infância suscitaram. Ainda recentes em processos de discussão, essas questões necessitam de maior debate e diálogo entre as diversas áreas de conhecimento que vêm se ocupando de compreender a infância, as crianças, seus anseios, suas possibilidades enquanto atores nos diversos contextos que frequentam. Palavras-chave: pesquisa com crianças; ética; direitos das crianças. Contato: Rosângela Francischini, UFRN, E-mail: [email protected] CO-2368 A COMPREENSÃO DE VALORES POR CRIANÇAS DE 5 A 8 ANOS: ESTUDO COMPARATIVO Maria Waleska Camboim L. de Andrade, UFRPE, E-mail: [email protected] Aurora Camboim L. de Andrade Lula, UFPB, E-mail: [email protected] Mayra Wanessa Gomes Dantas, UFRPE, E-mail: [email protected] Cleonice Camino, UFPB, E-mail: [email protected] Determinar o estágio cognitivo ou o desenvolvimento social de uma criança leva a compreender como a criança olha o mundo e a evitar esperar desta criança uma habilidade conceptual ou emocional que ela ainda não desenvolveu. Esta afirmativa de Selman (1976), baseada na teoria de Jean Piaget, permite a indagação central que direcionou o presente estudo, qual seja: que valores crianças pequenas compreendem? Valores são princípios- 201 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento guia para a vida (Gouveia, 1998) ou esquemas mentais nos dizeres de Piaget (1981). Podem ser tomados também como nomes aos quais as crianças são submetidas durante a fase de socialização (Lopes de Andrade, 2006). Considerando o desenvolvimento das formas cognitivas em face à socialização, Piaget (1933/1995) afirma que a criança passa de uma socialização “interna” para uma socialização “externa”. O número de interações aumenta com a idade, diminuindo a preponderância do self que não aceita facilmente a penetração da sociedade, não existindo uma harmonia preestabelecida entre a constituição psíquico-biológica e o conjunto de valores morais e intelectuais propostos pela vida comum, esta exigiria um ajustamento laborioso na forma de “educação”. O estudo aqui proposto pretende identificar quais os valores que são em geral compreendidos pelas crianças de cinco a oito anos ou quais os valores, dentro de um conjunto préestabelecido, que estas parecem ser capazes de reconhecer, considerando-se o nível de compreensão em que se encontram, e como variam à medida que adquirem maior complexidade cognitiva e social. Focaliza a forma como os valores como nomes são adquiridos ou em que medida seriam construídos tomando como base as necessidades individuais ou socialmente impostas pela educação direcionada. Na tentativa de encontrar a forma como as crianças, gradativamente, passam a compreender valores como nomes, um primeiro estudo encontrou um padrão complexo que gerou a necessidade de replicá-lo de maneira a aprofundar a descrição desse processo. Procurou-se então observar como os participantes de uma população diferente da primeira (estados da Paraíba e de Pernambuco) demonstravam sua compreensão quanto aos mesmos valores. As respostas conjuntas e separadas para cada grupo foram analisadas. Método: Participaram do estudo 83 crianças, sendo 42 oriundas do estado da Paraíba e 41 do estado de Pernambuco, todas com idades variando de 5 a 8 anos em proporção relativamente igual por idade e gênero. Utilizou-se como instrumento de medida uma lista contendo 25 valores como nomes para os quais as crianças foram solicitadas a dizer o que conheciam a respeito. Tais valores foram retirados dentre os mais conhecidos da tipologia proposta por Schwartz e Sagiv (2005). Foram feitas entrevistas individuais nas escolas durante o período letivo. As respostas foram organizadas, conforme categorias preestabelecidas (L. de Andrade, Camino & Dias, 2008), em níveis de compreensão variando como segue: (1) Não conhecem o valor; (2) Respostas Egocêntricas (reconhecimento); (3) Respostas Pouco Elaboradas; (4) Respostas Conceituais, (definição concreta) e (5) Respostas Complexas, (além do sentido concreto do nome). Três juízes independentes chegaram a uma concordância média de 70% para todos os valores. Resultados e Discussão: Foi feita uma análise de qui-quadrado para identificar a COMUNICAÇÕES ORAIS relação entre as variáveis, considerando os dois grupos em conjunto e em separado, relativamente a duas faixas etárias 5-6 e 7-8 anos. Para o conjunto de 83 participantes, chegou-se aos seguintes resultados, quanto à variação conforme a idade: - valores que aumentam, significativamente, o nível de compreensão quando aumenta a idade: Prazer (□2 = 17,8; dp = 3; p = 0,00); Pessoa Capaz (□2 = 9,6; dp = 3; p = 0,02); Curiosidade (□2 = 9,1; dp = 3; p = 0,02); Lealdade (□2 = 10,2; dp = 2; p = 0,00); Responsabilidade (□2 = 6,8; dp = 2; p = 0,03) e Educação (□2 = 8,2; dp = 2; p = 0,01). Esses resultados demonstraram que para 24% dos valores o nível de compreensão das crianças sobre estes aumenta com a idade. Um aumento no tamanho da amostra poderá confirmá-los em estudos futuros. Entretanto, pode-se investigar ainda como se daria a relação com o nível de compreensão considerando-se as diferenças no processo de socialização nos estados ou como as crianças de cada faixa etária compreendem os valores considerando o estado de procedência; - valores cujo nível de compreensão não variou significativamente com o estado de procedência, ou seja, não existe diferença significativa entre os grupos dos dois estados quanto ao nível de compreensão das crianças. Lealdade (□2 = 3,2; dp = 2; p = 0,2); Prazer (□2 = 1,9; dp = 3; p = 0,59); Responsabilidade (□2 = 2,6; dp = 2; p = 0,27); Obediência (□2 = 7,6; dp = 4; p = 0,10); Curiosidade (□2 = 0,7; dp = 3; p = 0,88); - valores cujo nível de compreensão variou significativamente com o estado de procedência, ou seja, existe uma diferença entre os dois estados quanto ao nível de compreensão das crianças. Pessoa Capaz (□2 = 7,9; dp = 3; p = 0,04) e Segurança (□2 = 6,1; dp = 2; p = 0,04) foram mais bem compreendidos pelas crianças da Paraíba do que pelas crianças de Pernambuco; Beleza (□2 = 8,8; dp = 2; p = 0,01) tem um nível de compreensão alto entre as crianças de Pernambuco. Ficou confirmado o padrão encontrado em pesquisa anterior de que alguns valores são compreendidos de maneira relacionada com a idade das crianças e observou-se ainda que existem valores que são compreendidos de maneira específica pelas crianças de um ou do outro estado. Conclusão: Observou-se que existem variações na compreensão das crianças para alguns valores conforme a maneira como são socializadas e a sua idade. O que determina o nível de compreensão que um grupo de crianças de certa idade chega a ter? Pode-se considerar que tais variações ocorrem pelas experiências de vida, ou pelo número de interações sociais, como também pela educação formal, como sugerido por Piaget. A indiferenciação quanto aos estados de origem demonstra a semelhança entre as amostras, ambas da região Nordeste do Brasil. Os valores que parecem ser mais trabalhados ou repetidos com mais frequência são os que apresentam um diferencial quanto ao nível de compreensão conforme a procedência do grupo de crianças. Tais resultados 202 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento nos levam a refletir sobre que valores estamos trabalhando com as crianças e como isso está sendo feito. Palavras-chave: valores; compreensão; crianças. Contato: Maria Waleska Camboim Lopes de Andrade, UFRPE, E-mail: [email protected] CO-2399 VALORES MORAIS EM UMA TELENOVELA BRASILEIRA Julian Bruno Gonçalves Santos, UFPB, E-mail: [email protected] Cleonice Pereira dos Santos Camino, UFPB, E-mail: [email protected] Anderson Mathias Dias Santos, UFPB, E-mail: [email protected] O objetivo desta pesquisa é identificar e analisar os valores morais presentes em uma novela atual, a partir de uma tipologia cognitivo-desenvolvimentista. A decisão de estudar telenovelas foi tomada devido às mesmas serem um elemento cultural da identidade brasileira, serem programas de grande audiência, por despertarem, em sua estrutura melodramática, aspectos de dimensões cognitivas e afetivas, por permitirem uma análise contextualizada dos seus conteúdos sociais, afetivos e morais, e porque permitem, por serem veículos de massa, a possibilidade de se pensar numa moral institucionalizada. Soma-se a isso o número reduzido de pesquisas sobre Telenovelas na área da psicologia e da psicologia moral e o fato de a última pesquisa realizada versar sobre telenovelas da década de 1980. A presente pesquisa é embasada na teoria de desenvolvimento moral de Lawrence Kohlberg, que propõe um desenvolvimento moral que se dá por estágios, em que cada estágio corresponde a uma forma geral de resolver questões morais. Essa teoria admite três níveis distintos de pensamento (pré-convencional, convencional e pós-convencional) e, dentro de cada nível, dois estágios relacionados. No nível pré-convencional o indivíduo responde a regras culturais e rótulos de bom e ruim, de certo e errado, interpretando esses rótulos em termos das consequências físicas ou hedonistas. Este estágio subdivide-se em: Estágio 1 - Orientação para punição e para obediência - a moralidade de um ato é definida em termos de suas consequências físicas para o agente; Estágio 2 - Hedonismo instrumental relativista - a ação moralmente correta é definida em termos do prazer ou da satisfação das necessidades da pessoa. No nível convencional é valioso para o indivíduo manter as expectativas e as regras provindas da família, do seu grupo ou nação. Este estágio subdivide-se em: Estágio 3 - Moralidade do bom COMUNICAÇÕES ORAIS garoto, da aprovação social e relações interpessoais - é correto seguir normas que correspondam às expectativas dos familiares, amigos e grupos de referência para preservar a imagem; Estágio 4 - Orientação para a lei e a ordem - há grande respeito pela autoridade, por regras fixas e pela manutenção da ordem social. No nível pósconvencional há a adoção de princípios autônomos que têm uma validade e uma aplicação que sugerem a autoridade dos grupos ou das pessoas que os mantêm, indo além da identificação do indivíduo com estes grupos ou pessoas e com o sistema social mais amplo. Este estágio subdivide-se em: Estágio 5 - Orientação para o contrato social - as leis não são consideradas válidas pelo mero fato de serem leis. O indivíduo admite que as leis ou costumes morais podem ser injustos e devem ser mudados; Estágio 6 - Princípios universais da consciência - o indivíduo reconhece os princípios morais universais da consciência individual e age de acordo com eles. A amostra é composta pelos capítulos de número ímpar da novela “Avenida Brasil” (90 capítulos) transmitidos de março a outubro de 2012. Os capítulos foram gravados e os diálogos transcritos, tendo como unidade de recorte a cena, definida pela focalização da câmera em um contexto físico ou humano. Cada mudança de contexto é considerada mudança de cena. As cenas foram analisadas por três juízes que consideraram as verbalizações e/ou comportamentos emitidos por cada personagem. Um conteúdo era visto como válido se obtivesse 75% de concordância dos juízos. Na análise foi feita uma primeira classificação de acordo com os estágios propostos por Kohlberg, sendo que foram acrescidas as seguintes modificações: foram classificados no Estágio 1 as verbalizações e comportamentos relativos ao uso de autoridade, da coação, da ofensa gratuita e da justiça expiatória; o Estágio 3 foi dividido em Estágio 3 Afetivo e Estágio 3 Convencional e Estágio 5[3], este quando se refere a raciocínio de estágio 5, mas com centralização de estágio 3. A segunda classificação consistiu na categorização de acordo com as intenções (Fim) dos personagens que o emitiram e com as ações planejadas ou realizadas para alcançar este fim (Meio). A terceira classificação foi feita com base na: Concordância, que é a valorização, a defesa, a aceitação e emissão de certo raciocínio moral, como a intenção, a proposta, o planejamento e a realização de um tipo de comportamento moral; e na Discordância, que são os comportamentos de transgressão e as verbalizações que demonstram uma crítica, desacordo ou rejeição ao uso de determinado uso de moral, assim como a referência à moral de outro personagem, com conotação negativa. A análise de conteúdo de 977 cenas demonstra que o estágio em que se concentra a maior frequência foi o Estágio 2, contando com 32 ocorrências de concordância das 52 encontradas. A frequência 203 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento desse estágio é seguida por aquelas dos Estágios 1, 3A, 4, 3B e 5. As finalidades mais frequentes foram Obter benefícios, Evitar consequências negativas, Manter imagem, Praticar Justiça e Ofender o outro. Os meios mais frequentes foram Dissimular/encenar, Ferir confiança do outro, Tramar, Pressionar, Usar o outro, Praticar desonestidade, Ajudar, Agredir verbalmente, Perseguir o outro, Agredir fisicamente, Acusar o outro, Role-taking, Punir expiatoriamente, subornar e advertir/aconselhar. Pode-se dizer que os valores morais predominantes nas novelas são aqueles em que o certo significa fazer aquilo que maximiza seus benefícios, não traz consequências negativas para o sujeito, ou ainda o que beneficia amigos, familiares e pessoas próximas. Os meios e o fins encontrados revelam, em sua maioria, práticas e objetivos que são consonantes com os estágios encontrado, sobretudo para os Estágio 1 e 2. O fato de esses estágios serem tão presentes pode estar na própria construção do enredo melodramático que prioriza uma estrutura maniqueísta para gerar no público o fascínio pela trama. Apresentar aspectos negativos da moral humana é um meio de ver o triunfo de certos personagens em relação a outros. A estrutura bem versus o mal é utilizada e pode levar os telespectadores a entender que uma moral de nível inferior é necessária ao andamento das tramas. Palavras-chave: telenovelas, valores morais, cognitivo-desenvolvimentista. Contato: Julian Bruno Gonçalves Santos, UFPB, E-mail: [email protected] CO-2102 SESI JOVEM NA INDÚSTRIA: O PROTAGONISMO JUVENIL RESGATANDO VALORES E DESENVOLVENDO PESSOAS Paula Cristina Fischer da Silva Dorn, SESI-PR, E-mail: [email protected] Eliane Cristina da Silva, CNPq, E-mail: [email protected] Juliana de Rezende Penhaki, SESI-PR, E-mail: [email protected] Amanda do Nascimento Oliveira, SESI-PR, E-mail: [email protected] Karina Martins Nogueira, Robert Bosch Ltda., E-mail: [email protected] Luiza Batiston Prado, INRB, E-mail: [email protected] Camile Pazda Fagundes, Robert Bosch Ltda., E-mail: [email protected] Bianca Camille Camargo, Robert Bosch Ltda., E-mail: [email protected]. COMUNICAÇÕES ORAIS O desenvolvimento do protagonismo juvenil tem sido amplamente reconhecido como importante instrumento de incentivo à construção e resgate de valores que, por sua vez, cumprem o papel de garantir o desenvolvimento social do indivíduo e de minorar o processo de exclusão social. Nesse intuito, o presente projeto destinase a jovens estudantes que atuam na indústria na modalidade de aprendizagem industrial, tendo como objetivo contribuir com o desenvolvimento pessoal e social dos mesmos, valorizando a dimensão humana em ambientes de trabalho. A parceria com a indústria ocorre a partir da demanda por formação de pessoas capazes de transformar informações em conhecimento e de cooperar na construção de ambientes inovadores. Esta iniciativa faz parte do Edital SESI/SENAI de Inovação, sendo reconhecido na edição de 2012 como uma tecnologia social inovadora. A escolha dos aprendizes considera a necessária complementariedade que deve haver entre o conhecimento técnico e pessoal. O projeto iniciou em fevereiro do presente ano com finalização em agosto de 2014. A primeira turma contou com 76 jovens aprendizes, que participaram semanalmente de oficinas cuja função é promover o desenvolvimento pessoal e social por meio do estímulo ao protagonismo juvenil. O tema transversal ao trabalho é o combate e prevenção às drogas. Essas oficinas são estruturadas de acordo com a metodologia do Arranjo Educativo Local. Elas contribuem para o estabelecimento de vínculos entre atores distintos, reforçam o sentimento de pertencimento e promovem ações cotidianas características de comunidades sustentáveis. Neste sentido o estímulo ao protagonismo juvenil é reconhecido como importante instrumento de incentivo à criação e resgate de valores, valendo-se de competências relacionais, pessoais, produtivas e cognitivas. Considera o jovem uma representação autêntica de iniciativa, compromisso e liberdade, não um mero repositório de informação e conhecimento. Sob esta ótica é condição sine qua non a capacidade da geração adulta em criar condições que permitam aos jovens identificar, incorporar e praticar valores positivos construídos ao longo da evolução histórica da humanidade. Sendo que a instauração desta dinâmica enseja o entendimento de que os valores precisam ser vivenciados, e não meramente transmitidos. O estímulo ao protagonismo ocorre por meio de intervenções dirigidas com a prática de resolução de desafios, resiliência, comunicação, responsabilidade, cidadania e autoestima. A metodologia aplicada propõe uma maior interação entre as pessoas e com seu entorno, por meio de ações coletivas, de modo que o processo de aprendizagem se dê em diferentes ambientes. O planejamento e a execução das ações consideram o contexto histórico-cultural local e os interesses manifestos pelo público participante. No cronograma estão previstos 25 encontros semanais organiza- 204 | IX Congresso Brasileiro de Psicologia do Desenvolvimento dos em três fases: “Eu”, “Eu com os outros” e “Nós no mundo”. O projeto também prevê a atividade “Círculo de Diálogo” que tem como base metodológica o desenvolvimento do voluntariado e do protagonismo juvenil. É quando os jovens participantes, por meio de uma dinâmica interativa e dialógica, são estimulados e orientados a construir propostas de melhoria das comunidades e no entorno da sua cidade. Para isso, passam a conhecer os “Oito Jeitos de Mudar o Mundo - Objetivos de Desenvolvimento do Milênio” e são incentivados a atuar em prol do desenvolvimento local. A avaliação do projeto ocorre a partir de duas perspectivas: a do aprendiz e a da indústria, representada pelos colaboradores responsáveis pela orientação do trabalho dos aprendizes nas diversas áreas da empresa, chamados aqui de orientadores. Com o aprendiz é realizada inicialmente uma pesquisa de capital social. A mesma pesquisa é realizada ao final das oficinas, e posteriormente, feito o comparativo entre situação inicial e final. Com os orientadores é realizada uma pesquisa de situação inicial e final, visando levantar expectativas sobre o projeto e sua contribuição para o jovem aprendiz, no que envolve o desenvolvimento e melhoria de competências pessoais e sociais no seu fazer diário na empresa, bem como sua contribuição para a indústria. Após a conclusão da 1º turma já é possível observar resultados a partir dos relatos dos participantes e orientadores. As oficinas tiveram 100% de adesão dos jovens do início ao final, o que demonstra comprometimento e interesse dos aprendizes e da empresa com a proposta. Houve baixo índice de abstenção dos encontros, sendo todas as ausências justificadas. Ao final das oficinas foi realizada uma ação mobilizadora em parceria com uma instituição da comunidade que contou com o envolvimento de crianças residentes na comunidade vizinha à empresa. Esta ação foi organizada pelos aprendizes, o que denota a capacidade de organização e mobilização dos jovens. Gestores da empresa relataram observar maior integração entre os jovens aprendizes provenientes de diferentes instituições, o que antes era motivo de preocupação devido à segregação existente entre os grupos e conflitos velados. Segundo os mesmos, também foram perceptíveis as mudanças comportamentais dos aprendizes, sendo essa uma dimensão intangível do projeto, pois são observados principalmente por quem vivencia o processo diariamente com o aprendiz. Citaram o desenvolvimento da autoestima, da autonomia e de aspectos relacionais, com destaque para habilidades de comunicação. As pesquisas encontram-se na fase de tabulação, com resultados quantitativos ainda inconclusivos. Contudo, os relatos dos participantes e demais envolvidos comprova como a aposta na juventude tende a contribuir com a mudança do cenário social contemporâneo. Palavras-chave: juventude; protagonismo; sustentabilidade. COMUNICAÇÕES ORAIS Contato: Paula Cristina Fischer da Silva Dorn, SESI Paraná, E-mail: [email protected] PREMATURIDADE/DESENVOLVIMENTO EDUCAÇÃO E CRECHE Sala 418 - 13h30 CO-2405 EDUCADORA NA CRECHE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA Dalila Casteliano Vasconcelos, UFPB, E-mail: [email protected] Inayara Oliveira de Santana, UFPB, E-mail: [email protected] Lucivanda Cavalcante Borges, UFPB, E-mail: [email protected] A creche, até o século XX, apresentava um caráter assistencialista, destinada às famílias em desvantagem social e econômica, cujo principal objetivo era cuidar, alimentar e ensinar à criança comportamentos de higiene. Com a Constituição de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 1990 e a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação (LDB, 1996), uma nova concepção de criança, aquela como sujeito de direitos, traz em seu ensejo um novo conceito de creche, referindo-se, pela primeira vez na história brasileira, a direitos específicos das crianças, superando as expressões de mero cuidado e incluindo a educação como princi