aqui
Transcrição
aqui
MENSAGEIRO DO CORAÇÃO DE JESUS Testemunhar o Evangelho num país Islâmico pág. 4 Dar de comer a quem tem fome pág. 10 Taizé: ecumenismo da confiança JANEIRO | 2016 abertura MENSAGEIRO Propósitos de novo ano DO CORAÇÃO DE JESUS pack 2016 Prepare o novo ano com o AO 12,30€ agenda calendário evangelho diário Janeiro 2016 // Ano CXLI n.º 13 Diretor António Valério, s.j. Administração Rua S. Barnabé, 32, 4710-309 BRAGA (Portugal) Contactos: Geral: 253 689 440 Revistas: 253 689 442 Livraria: 253 689 443 Fax: 253 689 441 E-mail: [email protected] Web: www.revistamensageiro.pt www.apostoladodaoracao.pt Direção de arte e produção gráfica Francisca Cardoso Paginação Editorial A.O. Impressão e acabamentos Empresa Diário do Minho, Lda. Rua de Santa Margarida, 4 , 4710-306 BRAGA Contr. nº 504 443 135 Redação, Edição e Propriedade Secretariado Nacional do Apostolado da Oração Província Portuguesa da Companhia de Jesus (Pessoa Coletiva Religiosa – N. I. F. 500 825 343) Depósito Legal 11.762/86 ISSN 0874-4955 Isento de Registo na ERC, ao abrigo do Decreto Regulamentar 8/99 de 9/6, artigo 12º, nº 1 a Tiragem: 9.000 exemplares ASSINATURA PARA 2016 Na compra do pack completo os portes de correio são oferecidos Pode também comprar cada artigo individualmente Portes de correio incluídos nos preços Agenda Calendário Evangelho Diário Portugal: 4,30€; Europa: 5,30€; Fora da Europa: 5,95€. Portugal: 6,40€; Europa: 6,50€; Fora da Europa: 7,15€. Portugal: 4,20€; Europa: 6,15€; Fora da Europa: 9,65€. Pedidos: Secretariado Nacional do A.O. Rua de S. Barnabé, 32, 4710-309 Braga mail: [email protected]; tel: 253689443 www.livraria.apostoladodaoracao.pt Envio feito mediante pagamento prévio Portugal (incluindo as Regiões Autónomas): 14,00€ Portugal (2 anos): 27,00€ Europa: 20,00€ 25,00 Fr. Suíços Fora da Europa: 26,00€ 40,00 USD 40,00 CAD Preço por exemplar: 1,30€ Pagar por transferência bancária: De Portugal: NIB – 0033 0000 0000 5717 13255 (Millennium.BCP – Braga); Do Estrangeiro: IBAN – PT50 – 0033 0000 0000 5717 13255 Swift/Bic: BCOMPTPL (Millennium.BCP – Braga). Agradecemos o envio do comprovativo da transferência bancária (data, valor, titular da conta e número de assinante). P. António Valério, s.j. É já um lugar-comum que, no início do novo ano, se fale de propósitos, metas, coisas a melhorar. A ocasião é propícia, naturalmente. Os inícios têm sempre uma maior dose de energia e vontade de fazer com que as coisas melhorem em nós e à nossa volta. Este é um primeiro desafio, desejar que este novo ano cumpra os melhores desejos e, da parte da equipa da Revista Mensageiro do Coração de Jesus, esperamos contribuir para que este seja, para o caro leitor, um tempo para estar mais perto de Deus e da sua vontade, na sua vida pessoal e na atenção aos grandes desafios do mundo e da missão da Igreja, em união com o Papa Francisco. Mas importa não viver a perspetiva do futuro sem uma consciência muito clara do passado e de como este nos deve servir de base para não assentar o futuro em ideais que depois não tocam o nosso compromisso com a história. O ano de 2015 acabou com uma série de interrogações sérias, no nosso mundo e no nosso país, sobre a violência, a morte, especialmente a perpetrada em nome de Deus, o acolhimento de quem é diferente de nós, sobre a ganância de poder, sobre muitas formas de oportunismo que conduzem a estratégias para debilitar os valores fundamentais da dignidade humana e da vida. O novo ano de 2016 pede-nos maior compromisso e a consciência de que não podemos ficar indiferentes ao que se passa à nossa volta. Sentir-se impotente para mudar as estruturas injustas e violentas do mundo não significa ser um cristão passivo. Naquilo que está ao seu alcance, deve esforçar-se por fazer o melhor possível. Um cristão passivo nada mais é que um cristão ausente… e assim se vai instalando a ideia de que a Igreja e o Evangelho já têm pouco a dizer ao nosso mundo. Se é verdade que muitos já não querem ouvir, é mais triste que nós não nos queiramos fazer ouvir. Sumário abertura - Propósitos de novo ano P. António Valério, s.j.................................................................. 1 opinião - Pensei que tinha tempo... Isabel Figueiredo........................................................................ 12 intenções do papa Org: António Coelho, s.j.............................................................. 2 dossier - Taizé: “Juntos na espera de Deus” António Marujo........................................................................... 13 destaque Testemunhar o Evangelho num país islâmico Entrevista a Paolo Bizetti, s.j., vigário episcopal de Anatólia...... 4 Crescer com jesus novidade! Batismo: O abraço de Deus Domingas Brito e P. José Maria Brito, s.j................................. 21 TIRAR A Bíblia DA ESTANTE - Para ler S. Lucas Visitados pela alegria Miguel Gonçalves Ferreira, s.j. .................................................. 7 esquema de reunião e de oração de grupo Manuel Morujão, s.j................................................................... 22 informar - Terrorismo ético Vasco Pinto de Magalhães, s.j. ...................................................8 ano da misericórdia novidade! Dar de comer a quem tem fome Alexandre dos Santos Mendes, s.j. .........................................10 Livraria.....................................................................................24 notícias Elisabete Carvalho...................................................................... 25 Mãos À obra... Uma vida entregue novidade! Entrevista a Teresa Olazabal....................................................30 Fotos: Capa: ©Wiesa Klemens; pág.10: © Alexandre dos Santos Mendes, s.j.; pág.13: ©Wiesa Klemens; pág. 14: ©Maria Rocha Pinto; pág. 15: ©Wiesa Klemens e Maria Rocha Pinto; págs. 18-20: ©Wiesa Klemens; pág. 26: © JRS; págs. 30-31: © Todos os direitos reservados; Arquivo A.O. ATENDIMENTO AO PÚBLICO Horário: 9h-12h30 / 14h30-19h janeiro 2016 | 3 Org.: António Coelho, s.j. intenções do papa Intenção pela evangelização Para que as famílias, de modo particular as que sofrem, encontrem no nascimento de Jesus um sinal de esperança segura. Intenção Universal Para que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça. Diálogo Inter-religioso «... a liberdade religiosa […] não é só um dom precioso do Senhor para quantos têm a graça da fé: é um dom para todos, porque é a garantia fundamental para qualquer outra expressão de liberdade […]. A fé recorda-nos melhor que ninguém que se temos um único criador, somos todos irmãos. A liberdade religiosa é um baluarte contra todos os totalitarismos e um contributo decisivo para a fraternidade humana» (João Paulo II, Mensagem à nação albanesa, 25 de abril de 1993). Mas imediatamente é preciso acrescentar: «A verdadeira liberdade religiosa afasta a tentação da intolerância e do sectarismo e promove atitudes de respeito e diálogo construtivo» (ibid.). Temos que reconhecer que a intolerância para com aqueles que têm convicções religiosas diferentes é um inimigo particularmente perigoso, que infelizmente se está a manifestar em várias regiões do mundo. Como crentes, devemos estar atentos a que a religião e a ética que vivemos com convicção e da qual damos testemunho com paixão se exprima sempre em atitudes do mistério que pretende venerar, rejeitando decididamente como falsas, por não serem dignas nem de Deus nem dos homens, todas as formas que representam um uso distorcido da religião. A realização autêntica é fonte de paz e não de violência. Matar em nome de Deus é um grande sacrilégio. Discriminar em nome de Deus é inumano. [...]. Olhemos à nossa volta e vejamos quantas necessidades têm os pobres para vermos quanto falta ainda às nossas sociedades para encontrarem caminhos para uma justiça social mais partilhada, para um desenvolvimento económico inclusivo. A alma humana não pode perder de vista o sentido profundo das experiências de vida e necessita de recuperar a esperança. Nestes âmbitos, homens e mulheres inspirados nos valores das suas tradições religiosas podem fornecer uma ajuda importante e insubstituível; é um terreno especialmente fecundo para o diálogo inter-religioso. (Encontro com líderes religiosos, 21 de setembro de 2014) Papa Francisco Unidade dos Cristãos Intenção pela evangelização Para que, através do diálogo e da caridade fraterna, com a graça do Espírito Santo, sejam superadas as divisões entre os cristãos. Cristo, que não pode estar dividido, quer atrair-nos a Ele, aos sentimentos do seu coração, ao seu abandono total e confiado nas mãos do Pai, para o despojamento radical, por amor à humanidade. Só Ele poder ser o princípio, a causa e o motor da nossa unidade. [...]. O Decreto do Vaticano II sobre o ecumenismo (...) afirma de maneira significativa: «A Igreja fundada por Cristo é única. Contudo, são várias as Igrejas que se apresentam aos homens como a verdadeira herança de Jesus Cristo. Todas elas se confessam como discípulas do Senhor, mas sentem de maneira diferente e vão por caminhos distintos, como se Cristo estivesse dividido». E o mesmo Concílio acrescenta: «Esta divisão contradiz clara e abertamente a vontade de Cristo, é um escândalo para o mundo e prejudica a santíssima causa de pregar o Evangelho a toda a criatura» (Unitatis redintegratio, 1). As divisões prejudicaram-nos a todos. Nenhum de nós deseja ser causa de escândalo. Por isso caminhamos juntos, fraternalmente, pelo caminho da unidade que vem do Espírito Santo e se caracteriza por uma singularidade especial que só Espírito pode lograr: a diversidade reconciliada. O Senhor esperanos e acompanha-nos a todos, está com todos nós neste caminho da unidade. Cristo não pode estar dividido. Esta certeza deve animar-nos a todos para continuar com humildade e confiança pelo caminho para o restabelecimento da plena unidade visível de todos os crentes em Cristo. A obra destes Pontífices [João XXIII, Paulo VI, João Paulo II] conseguiu que o aspeto do diálogo ecuménico se tenha transformado numa dimensão essencial do ministério do Bispo de Roma, ao ponto de que hoje não se entenderia plenamente o serviço petrino sem incluir nele esta abertura ao diálogo com todos os crentes em Cristo. [...] Peçamos para que todos sejamos impregnados dos sentimentos de Cristo, para podermos caminhar para a unidade que Ele quer. (Vésperas na celebração da solenidade da conversão de S. Paulo, 25 de janeiro de 2014) Papa Francisco NOTA: A partir deste número do Mensageiro, as reflexões sobre as Intenções são, na sua totalidade, constituídas por palavras do Papa, proferidas em variadas circunstâncias. 4 | Mensageiro janeiro 2016 | 5 destaque sejam nacionalistas ou religiosas, como em tantos outros países do mundo. Por isso, será necessário que me mova com cautela e respeito. No entanto, há uma carta famosa de São Francisco Xavier que, respondendo a quem queria convencê-lo a não ir para uma determinada região perigosa ou a, pelo menos, levar os antídotos para os venenos, escreveu que a única coisa de que devemos realmente ter medo é de perder a confiança em Deus. Penso que é mesmo assim, ainda que não seja fácil seguir São Francisco Xavier nesta estrada. Entrevista a Paolo Bizetti, vigário episcopal de anatólia, na Turquia Testemunhar o Evangelho num país islâmico O jesuíta Paolo Bizetti, recentemente ordenado Bispo, é o novo Vigário Episcopal de Anatólia, na Turquia. Nesta entrevista exclusiva ao Mensageiro, fala das dificuldades inerentes ao exercício do ministério episcopal num contexto quase exclusivamente islâmico e aponta algumas especificidades da comunidade cristã Há alguns meses foi nomeado, pelo Papa Francisco, Vigário Episcopal de Anatólia, na Turquia. Que perspetivas tem para o exercício do ministério episcopal num contexto maioritariamente islâmico? Conheço bem a terra da Turquia, mas nunca estive lá a trabalhar pastoralmente, por isso, antes de mais, terei de escutar muito e perceber quais são as prioridades. De um modo geral, posso dizer que, num contexto quase exclusivamente islâmico, é necessário, antes de mais, um testemunho de vida evangélica. Em segundo lugar, é preciso ajudar as 6 | Mensageiro local, que, apesar das dificuldades, mantém as suas convicções e celebra a sua fé. Paolo Bizetti defende uma Europa politicamente empenhada para pôr fim aos jogos sujos dos traficantes de armas e dos grandes líderes que querem repartir o mundo entre eles. E acredita que «o Evangelho oferece a possibilidade de uma verdadeira humanização das relações entre as pessoas». pessoas para que possam distinguir o Cristianismo do mundo ocidental. Em terceiro lugar, responder a quem nos pergunta pelas razões da nossa religião de um modo sereno, sem procurar fazer proselitismo: nestes países do Médio Oriente, no passado, foi feito um proselitismo que deixou marcas negativas. O seu antecessor, D. Luigi Padovese, foi assassinado em 2010. Esta «herança» intimida-o? Certamente que é melhor não ser ingénuo e ter consciência de que existem franjas extremistas, Como se deve desenrolar a relação entre um líder da Igreja Católica na Turquia e as autoridades políticas e líderes religiosos locais? No sul da Turquia, especialmente em Antioquia, as relações são cordiais e eu pretendo seguir nesta linha. O problema principal é que, infelizmente, a Igreja Católica não tem um reconhecimento jurídico, como seria normal num país laico, democrático e que garante o pluralismo religioso. Isto torna tudo mais complicado e acentua a convicção de que a Igreja latina é uma realidade estranha ao país. Como descreve a comunidade cristã da Turquia? As comunidades cristãs na Turquia são uma pequeníssima minoria que pode facilmente ser confundida com uma seita por parte de quem não conhece o Cristianismo e foi educado com lugares comuns que muitas vezes são só preconceitos. Portanto, é uma vida não muito fácil. Porém, as comunidades que conheço são compostas por cristãos felizes com a sua fé, conscientes de terem uma vocação difícil e que permanecem cristãos por convicção. Aceitam serem vistos da mesma maneira como nós, na Europa, às vezes olhamos para certas minorias que não conhecemos de perto. Quando viver lá poderei aperceber-me melhor dos pontos fortes e dos limites que têm. Por agora digo que, como em todos os outros sítios, um grande desafio é a formação dos leigos para que tenhamos cristãos adultos. Lá, tal como na Europa, é necessário adquirir uma maior consciência acerca daquilo que pertence ao património fundamental da nossa fé e daquilo que, pelo contrário, são hábitos, tradições recentes e secundárias, etc. Coisas boas, mas que precisam ser repensadas à luz da Palavra de Deus e da grande Tradição. Depois, também lá existe o forte problema das vocações à vida consagrada e sacerdotal. A família parece-me ser mais sólida do que na Europa, mas, é claro, o consumismo ofusca muitos jovens. Creio que a conversão a que nos chama o Papa Francisco, com o seu estilo e com a sua mensagem, tem de encontrar, também lá, uma resposta forte. De que forma estas pessoas vivem a sua fé diariamente e celebram as principais datas do calendário litúrgico? A vida normal de um cristão na Turquia é como cá, com o desafio de discernir – como já dizia a carta a Diogneto, no século II – aquilo que nos distingue a nós, como cristãos, daquilo em que podemos viver uma vida normal, como todos os outros. O acesso aos sacramentos, à liturgia, aos momentos formativos, às festas... é, por outro lado, muito mais dificultado porque em tantíssimos lugares não há uma igreja, um pastor, uma estrutura eclesial. Gostaria que as pessoas de Portugal, tal como as de Itália e de tantos outros países, se apercebessem das enormes possibilidades que têm à disposição e cuidassem dos locais e das iniciativas que lhes são proporcionadas para viverem a vida eclesial. Nós devemos a cada dia dar graças ao Senhor pela riqueza que temos! O relacionamento com os crentes islâmicos é pacífico e saudável? Antes de mais, devo esclarecer que também entre os islâmicos existem os que acreditam em sentido genérico, os praticantes, aqueles que reduzem a religião a apenas alguns momentos do ano; depois há tantos agnósticos que, tal como por cá, pensam só nos seus próprios interesses e em viverem comodamente... A esmagadora maioria da população que frequenta a mesquita, que observa os preceitos, etc., é pacífica e tem um verdadeiro sentido religioso da sua existência. Acredito que não haja problemas com estes e há até um verdadeiro respeito e admiração quando encontram homens de Deus, que rezam, que são honestos e socorrem os pobres. Depois há as franjas fundamentalistas, mas estas são uma praga que existe em todos os lados do mundo e em todas as religiões. No Médio Oriente ainda está muito viva a memória dos massacres – também de cristãos! – feitos pelos cruzados a caminho de Jerusalém. Tal como as duas guerras do Golfo criaram uma forte aversão em relação às nações que as promoveram ou suportaram e onde a maioria se diz «cristã». janeiro 2016 | 7 tirar a bíblia da estante para ler S. Lucas Visitados pela alegria Miguel Gonçalves Ferreira, s.j. Quais as principais dificuldades sentidas neste campo? É aliciante dar testemunho do Evangelho num contexto «adverso»? O Evangelho encontra sempre um contexto adverso, desde o primeiro anúncio! Os Evangelhos mostram-nos que também as pessoas «religiosas» e que se creem justas têm fortes reações contra Jesus: basta-nos recordar o homem da sinagoga de Cafarnaum (Mc 1, 23). Num mundo onde o deus dinheiro, o comércio das armas, o hedonismo barato do consumismo que encoraja o individualismo, o desinteresse pelos pobres e pelos refugiados.... prosperam imperturbados, pois bem, neste contexto nunca é fácil viver como discípulo de Jesus, não só na Turquia, mas em todo o lado. Hoje, o desafio do Evangelho tornou-se global. Mas olhando para os desastres do assim chamado progresso e os problemas de uma cultura individualista, consumista e libertina, os discípulos do Evangelho sabem que têm uma proposta de vida muito válida, do ponto de vista humano. Eu acredito que o Evangelho oferece a possibilidade de uma verdadeira humanização das relações entre as pessoas, baseada numa verdadeira igualdade. 8 | Mensageiro Num país como a Turquia, uma comunidade cristã muito pobre, seja de meios, seja de pessoas, e com escassa liberdade de movimentos, pode fazer muito pouco. Assim, vale a lógica do grão de mostarda. É preciso renunciar a muitas das gratificações que nos chegam da evangelização: os números dos fiéis serão sempre pequeníssimos, as estruturas insuficientes, socialmente permaneceremos insignificantes. Assim, também os operadores pastorais devem aceitar viver a «vida de Nazaré», em que aparentemente não acontece nada por muitos anos. Aceitar perder a vida, semear gratuitamente e ver o fruto de tantos esforços frustrado. A Turquia é porto de abrigo para muitos sírios, que fogem à guerra no país. Como têm sido recebidos neste país de acolhimento? Que tipo de apoio é possível prestar a esta população? A Turquia foi claramente generosa, acolhendo mais de dois milhões de refugiados, como realçou o Papa na sua visita, no final de novembro passado (novembro 2014). É preciso fazer um esforço, sobretudo para ajudar os cristãos a permanecerem, a não fugirem: seja pelo Cristianismo, seja pelo papel positivo que eles têm na sociedade. A Europa tem de se empenhar politicamente para que terminem os jogos sujos dos traficantes de armas e dos grandes líderes que querem repartir o mundo entre eles e suportam este ou aquele governo, desde que seja amigo deles. Iniciamos neste artigo uma leitura do Evangelho de S. Lucas, que nos irá acompanhar ao longo de 2016. Lucas é o evangelista do presente ano litúrgico e também o evangelista da misericórdia, o que torna este exercício particularmente adequado ao ano jubilar que celebramos. Iremos assim percorrendo os vinte e quatro capítulos deste Evangelho, trazendo à luz temas que nos ajudem a crescer como discípulos que conhecem, amam e seguem Jesus Cristo. Vamos tirar a Bíblia da estante e ler o Evangelho de S. Lucas! O primeiro e segundo capítulos do Evangelho de Lucas apresentam-nos o ciclo da infância de Jesus. Aí se narram, lado a lado, o nascimento de João Batista e de Jesus de Nazaré. São passagens que surpreendem pela sua luminosidade e alegria. O nascimento de João será para muitos motivo de alegria (1, 49), mas de um modo especial para Isabel, seus parentes e vizinhos (1, 57). Nessa linha, também Maria recebe o anúncio do nascimento de Jesus, cumprindo as profecias e a esperança de Israel: «alegra-te (kaire), ó cheia de graça, o Senhor está contigo!» (1, 28). A palavra grega «kaire», usada pelo anjo, evoca uma alegria que só Deus pode dar. Essa alegria prolonga-se na visita que Maria faz a Isabel: até João salta de alegria no seio da mãe (1, 44). Maria retribui com uma canção de louvor, pois está alegre em Deus, seu salvador (1, 46). Os anjos anunciam aos pastores «uma grande alegria» (2, 10) e eles voltam do presépio «louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido» (2, 20). Esta alegria prolonga-se no Templo com Simeão, que «esperava a consolação de Israel» (1, 25), e com Ana, mulher com uma vida sofrida mas que, ainda assim, se põe «a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Israel» (1, 38). Ao longo do Evangelho de S. Lucas, encontram-se várias menções à alegria, que se torna num dos temas que distinguem este evangelista. Jesus, ao acolher os discípulos que regressam da missão, estremece de alegria por ação do Espírito Santo (10, 21). Alegra-se a mulher que encontra a moeda perdida, o homem que encontra a ovelha extraviada e o pai que reencontra o seu filho (15, 4-32). Esta alegria é comparável à que há no Céu por um só pecador que se converte, mais que por noventa e nove justos, que não precisam de conversão (15, 7). Também Zaqueu, ao converter-se, acolhe Jesus «cheio de alegria» (19, 6). Em várias passagens, o povo dá louvores a Deus pelas maravilhas que Jesus faz (18, 43) e, ao entrar em Jerusalém, o grupo dos discípulos começa «a louvar alegremente a Deus em voz alta por todos os milagres que tinham visto» (19, 37). A ressurreição parece aos discípulos uma alegria boa demais para acreditar (24, 41) e, depois da ascensão, eles voltam para Jerusalém «com grande alegria» (24, 52). Deus visita o seu povo, é essa a causa da alegria! Isso não significa ingenuidade ou inconsciência quanto às dificuldades. Jesus chora mesmo sobre Jerusalém, por não ter reconhecido o tempo em que foi visitada (19, 41-44). Neste ano de graça, cada um de nós está destinado a receber a visita do «coração misericordioso do nosso Deus» (1, 78). Poderemos então experimentar, no meio das provas da vida, uma alegria surpreendente, que só Deus pode trazer, uma alegria pascal. janeiro 2016 | 9 INformar Vasco Pinto de Magalhães, s.j. Terrorismo ético UMA ESCLARECEDORA REFLEXÃO DO P. VASCO PINTO DE MAGALHÃES, S.J. A PROPÓSITO DA APROVAÇÃO, EM NOVEMBRO PASSADO, PELOS DEPUTADOS À ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA, DAS ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS QUE VIABILIZAM A ADOÇÃO DE CRIANÇAS POR PARES DE HOMOSSEXUAIS E A INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA DA GRAVIDEZ SEM PAGAMENTO DE TAXAS MODERADORAS. A 20 de novembro, de rajada, foram aprovadas duas leis contra a vida e anunciada uma terceira: a facilitação do aborto sem taxas moderadoras, a adoção de crianças por homossexuais e as barrigas de aluguer, para breve. Tudo com a promessa de continuar o ataque. O facto é grave por si mesmo, e é oportunista pelo aproveitamento do momento de indefinição política existente. É grave. Mas toda a gente sabe que, muitas vezes, «legal» não quer dizer «bom», nem «verdadeiro», nem «justo», mas apenas que há força para levar por diante determinada imposição. Legal não é igual a legítimo. E também toda a gente sabe que uma maioria, só por ser maioria, não tem razão: tem força e, por vezes, força bruta. Será que os deputados estão ao serviço do povo e do seu maior bem? Ou ao serviço de uma ideologia qualquer a impor ao povo? Será que ignoram a Iniciativa Legislativa de Cidadãos pelo Direito de Nascer, que foi aprovada em setembro passado, apoiada por 50 mil subscritores? Ou acham que podem passar por cima dela, arrasando-a? Este ataque é à vida e à ética da vida. O que se legalizou, agora, é contra a vida e contra a justiça. O abortar, que não trata nenhuma doença (!) (alguém duvida que elimina uma vida autónoma e pessoal?), passa à frente do tratamento dos doentes porque ultrapassa os outros devido aos prazos e passa a ser estimulado: executa-se sem consentimento informado e aparece como um «serviço» gratuito, que os outros (nós!) hão de pagar. Terrorismo contra a mãe (que não é ajudada a responsabilizar-se), contra a criança, contra a natalidade e contra a consciência e missão dos médicos (encorajando -os a um ato não médico). A barriga de aluguer é também contra a vida e a dignidade da mulher, ao fazer dela, sob a capa de 10 | Mensageiro alguém que presta «um serviço», uma incubadora impessoal. É uma instrumentalização, uma «coisificação» da pessoa humana, que corta violentamente a relação íntima gerada ao longo dos meses de gestação. É, no fundo, prostituição (mesmo que se diga que não é paga). E bem sabemos que há países que até apresentam catálogos de escolha de certos traços pretendidos e os respetivos preços. A adoção por pares de homossexuais é também uma violência desnecessária imposta à criança. Primeiro porque ninguém, seja homo ou heterossexual, tem direito a possuir um filho (e ainda menos um adotado), as crianças é que precisam de um enquadramento familiar saudável. Além do mais, em Portugal, para cada criança em condições de ser adotada há três casais normais disponíveis para o fazer. Não há, pois, razão nenhuma para forçar uma criança a uma realidade, à partida, transtornada e antropologicamente incompleta. Se estas leis não são violência destruidora de vida, sem razão mínima que não seja a cegueira, o desejo ressentido de poder e a ideia adolescente de liberdade (pois delas não virá qualquer bem ao mundo e à sua humanização), não sei como as possam justificar. Na realidade, apresentam-se como atos de terrorismo, e são-no! Só poderei dar a isto o benefício da dúvida vendo na sua origem a falta de pensamento crítico, o engano de uma consciência (pseudo-ética) formada nos «direitos» do subjetivismo consumista e a cultura de uma ideologia sem esperança e imediatista, cujo valor maior é «o que me dá jeito (poder e dinheiro), agora». Há um critério ético, simples e direto para saber o que é imoral, onde está a imoralidade ou não: é imoral o que ataca a vida, ou seja, o que não tem futuro; o que degrada ou destrói as relações humanas e a esperança. O aborto destrói o futuro da mãe e do filho. Um mundo homossexual não tem futuro. A manipulação da pessoa ameaça o futuro e a liberdade, desvalorizando a dignidade do indivíduo e entregando-o nas mãos do dinheiro e do poder perverso. Inquietante e perigosa é uma cultura que já não consiga distinguir o bem do que «parece bem» e caia nas garras de uma ideologia de «igualdade» que mate a diferença e de uma «liberdade» que não consegue dar espaço ao outro. Cai na mentira que gera violência: é terrorista. janeiro 2016 | 11 ano da misericórdia Alexandre dos Santos Mendes, s.j. Das obras de misericórdia corporais Dar de comer a quem tem fome Na Comunidade São João Batista, uma das comunidades da paróquia da Catedral de Tete, Moçambique, vivia um homem na rua. Mais em concreto, debaixo de uma árvore tombada, ancestral. Ao lado da árvore passava um pequeno riacho de água pútrida que ia desaguar numa poça no encontro dos três caminhos principais do bairro. Lembro-me de lá ter passado uma vez, logo no início, aquando da minha chegada. Lembro-me de ter desviado o meu olhar, de ter tapado a lente da máquina fotográfica. Passei adiante como o sacerdote da parábola. O tempo passou e um dia, no final de uma das missas de domingo, uma jovem aproximou-se e pediu para falar comigo: – «Padre, preciso da sua ajuda! Tenho visitado um homem que vive na rua e gostaria que o conhecesse e que fizéssemos algo por ele». Inicialmente, pensei que fosse um outro que entretanto conheci, noutro dos meus passeios de sacerdote de olhar desviado. Combinei ir com ela visitar o dito senhor no dia seguinte. Encontrámo-lo debaixo da árvore deitada, no mesmo desalinho e no mesmo grito silencioso. Juntaram-se imensas crianças e alguns adultos. «Que veio fazer?». Na minha perplexidade, toquei pela primeira vez a omnipotência daquele homem ferido. – «Que podemos fazer, padre?» – perguntou-me a jovem. – «Não sei, … mas algo faremos!», prometi-lhe. Guardei o sorriso daquela jovem depois de ouvir a minha resposta, assim como o contacto do Sr. José, o guardião do Sr. Arnaldo, aquele que o recebeu no seu quintal… e que me disse: «Apareceu-me, Sr. Padre, numa manhã, como um anjo… eu sei lá de onde, talvez do céu… chegou e ficou…!». Sentindo-me interpelado pelo meu usual «desvio de olhar de sacerdote», pela chaga da perna direita do Arnaldo e pelo sorriso da jovem, movi-me a ser alguém para ele. Em pouco tempo íamos mudar o rumo de uma vida que ali estancara há seis anos. E esse dia finalmente chegou. Depois de estacionar o carro, aproximei-me do Sr. Arnaldo para lhe pegar, juro que tive medo que me saltasse uma cobra ou um lagarto debaixo 12 | Mensageiro dele, tais são os nossos fantasmas e resistências ao amor. Deitado atrás, no carro, olhava apenas o teto, envolto nos seus trapos, como uma ovelha enfiada no meio da lã acabada de tosquiar. Deixou-se levar. Prometi-lhe roupa e comida. Quando chegamos à machamba das Irmãs, foi o banho, o corte de cabelo, pensos e ligaduras. Barba feita e roupa nova e… o velho tornou-se um jovem! Rejuvenesceu, ou fui eu que o vi com um olhar rejuvenescido. A única coisa que reclamou a altos brados, quando o vestimos foi: – «Quero calças com botão! Quero calças com botão!». Nada de ceroulas nem pijamas. Passadas algumas semanas, voltei ao bairro onde vivia o Sr. Arnaldo. Acerquei-me da árvore deitada e logo a criançada me rodeou. Perguntaram-me imediatamente com o olhar: – «E o Arnaldo? Como está?» – «Está bem» – disse-lhes eu – «parece um jovem, tem a barba cortada, o cabelo está alinhado e já se põe de pé, tem umas calças com botão e a ferida já está a secar». As crianças, ao ouvirem isto, correram como passarinhos loucos a contar a novidade aos adultos. Todos tinham saudades. Aqui e ali, uma mulher, uma criança, um jovem, um adulto diziam-me comovidos e com lágrimas: «Sr. Padre, gritava-nos a meio da noite, “tenho fome, tenho fome! Não quero chima, quero carne!” e nós levantávamo-nos, ora uns ora outros, para o alimentar, fosse a que horas fosse!» O sacerdote com o olhar desviado comoveu-se com este grito a meio da noite e com o levantar de uns e outros para o socorrer na sua fome. Assistia em primeira mão ao início da comunidade, de toda a comunidade humana. Caí na conta da força desse grito a meio da noite e lembrei-me de todos os recém-nascidos que unem pai e mãe a meio da noite e celebram a sua origem como família. Num ápice de tempo, que me pareceu uma eternidade, revivi e celebrei com gozo essa verdade primordial que sempre me acompanha e norteia, a de que Deus Se fez homem porque tínhamos fome. janeiro 2016 | 13 opinião Isabel Figueiredo Pensei que tinha tempo... Naquela manhã, pensei que tinha tempo para tudo. Sabia a hora da minha partida, olhei para o relógio, fiz umas contas rápidas e não resisti à tentação de andar a pé, até à estação do metropolitano. Estava frio, mas o azul do céu brilhava, lindo. Quando cheguei à estação, uma voz justificava atrasos precisamente na minha linha… percebi de imediato que corria sérios riscos de perder o próximo transporte, que me levaria até ao Porto. Voltei atrás, enfiei-me num táxi e pedi pressa, explicando o que se passava. Quando finalmente me sentei no comboio, estava cansada e consciente de que tinha «esticado a corda» ao relógio que tão bem conhece as minhas corridas contra o tempo. Toda aquela corrida aconteceu porque ia visitar uma instituição criada para promover a autonomia e integração de jovens deficientes, a Associação Somos Nós. Fui recebida por uma mãe, fundadora deste projeto, e fomos de imediato para a Associação. Após os cumprimentos iniciais, fizemos uma pequena roda para as apresentações habituais. Nunca poderei esquecer as hesitações e sorrisos daquele grupo de rapazes e raparigas. Todos foram dizendo o seu nome, a idade e a cidade onde moravam. Mas o que mais me marcou foi ouvir um deles concluir o que tinha a dizer, com determinação: «… e sou filho do meu pai e da minha mãe». Foi uma afirmação que transbordava confiança, orgulho, sentimento de pertença, saber quem sou, porque sei de quem sou. Falei com os técnicos, jovens, disponíveis e sorridentes. Conheci uma voluntária às voltas com 14 | Mensageiro pequenas árvores de Natal. Fui olhando para cada um deles e senti-os felizes. Explicaram-me a rotina das atividades pensadas, a normalidade dos dias, as pequenas vitórias de saber ir às compras, de servir um café, de atravessar as ruas com segurança. Regressei de sorriso na cara. Estamos a iniciar um novo ano e este começo traz sempre consigo novas esperanças, novas promessas. Para esta pequena Associação, a esperança está numa nova sede, capaz de dar espaço e autonomia àqueles jovens e a tantos outros que aguardam a sua vez, numa lista de espera. E ao recordar aquele dia, que começou tão apressado, porque fiz a opção errada, percebo uma vez mais a importância das opções que todos os dias exigem a nossa resposta. Precisamos de fazer escolhas. Foi o que aconteceu com um grupo de pais e amigos que tomaram a decisão de ajudar alguns jovens deficientes a serem mais autónomos e integrados. Pode ser uma gota de água, um grão de areia, mas faz toda a diferença na vida de cada um deles. Cada um, filho do seu pai e da sua mãe. Como cada um de nós. Estamos a iniciar um novo ano e este começo traz sempre consigo novas esperanças, novas promessas. Taizé: “Juntos na espera de Deus” António Marujo MENSAGEIRO | DOSSIER 12 a celebração adapta também algumas fórmulas ao espírito ecuménico e plural de Taizé. Na oração eucarística, por exemplo, reza-se não só pelo Papa, mas também pelos patriarcas e bispos ortodoxos orientais e pelos bispos e pastores protestantes e anglicanos. No tempo que resta, as pessoas participam nas tarefas necessárias para manter a vida da aldeia – acolhimento, preparação e distribuição de comida, limpeza... – e partilham experiências e modos de viver a fé em grupos de reflexão bíblica ou temática. Muitas vezes, com ajuda de deputados ou dirigentes políticos, responsáveis de comunidades religiosas ou activistas de organizações de solidariedade, ou pessoas empenhadas em pequenos gestos de solidariedade. Na carta que propunha a reflexão para 2015, o irmão Aloïs escrevia: «Redescubramos a bondade de Deus e a bondade humana; elas são mais profundas do que o mal! Através delas, atingimos o coração da mensagem de Cristo. Foi neste espírito de Evangelho que o Papa Francisco lançou um ano da misericórdia: todos são chamados a reflectir, através da sua vida, o perdão e a compaixão sem limite de Deus». Taizé, a Páscoa semanal Quando os sinos começam a tocar, três vezes ao dia, convocando para a oração, já a Igreja da Reconciliação está quase cheia. Lentamente, chegam mais e mais pessoas – sobretudo jovens – para viver aquele que é o momento central da vida em Taizé, a pequena colina da Borgonha (França), onde se situa a comunidade ecuménica que reúne monges católicos e de diversas origens protestantes. Rapidamente se vai fazendo silêncio. Quebrado apenas pelo cântico inicial – muitas vezes um Aleluia que irrompe como um grito de júbilo. No Verão, as três mil ou cinco mil vozes que enchem a aldeia dão uma energia especial ao canto. Mas, mesmo quando há menos gente, a intensidade dos cânticos de Taizé permite que a pessoa se implique com todo o seu corpo, a sua inteligência e o seu espírito naquilo que se canta. A oração em Taizé não precisa de muito: cantos que «permitem a todos participar e manter-se juntos na espera de Deus», como se lê num texto da comunidade sobre a oração comum, curtos trechos do Evangelho, um salmo, um tempo longo de silêncio, pequenas orações a lembrar quem luta, quem sofre 16 | Mensageiro ou quem se faz presente a outros... O espaço da igreja, sóbrio, é decorado na zona do altar por tijolos, panos, velas e alguns ícones. Uma luz pouco intensa, discretos candeeiros, vitrais coloridos, representando cenas e personagens bíblicas, completam o ambiente. Ao centro, o branco do hábito dos monges de Taizé. «Em Taizé (...) descobrimos que a beleza de uma oração comunitária cantada pode permitir que os jovens pressintam o desejo de Deus, e entrem assim mais profundamente numa espera contemplativa», escrevia o irmão Roger, fundador e primeiro prior da comunidade, sobre a oração, no livro Deus Só Pode Amar. E o irmão Aloïs acrescenta: «É ao celebrar os mistérios da fé que acedemos a eles de forma mais profunda. A beleza das celebrações conduz à alegria da fé». Redescobrir a bondade Se a oração é o centro diário da vida em Taizé, ela marca também o ritmo da Páscoa semanal que ali se celebra, ao ritmo de chegadas e partidas: os jovens são convidados a viver uma semana de partilha (de experiências, de modos de viver a fé, de trabalho ou de cultura), que culmina, nos últimos dias, com três momentos que retomam semanalmente a experiência da Páscoa. A adoração da cruz, sexta à noite, é a ocasião para que cada pessoa pouse, junto do ícone da cruz, as suas feridas e esperanças. Diante do ícone da cruz, vindo da tradição ortodoxa, deitado no chão, os jovens ajoelham-se, prostram-se, rezam. Durante duas, três horas, prolongando-se pela noite, sucedem-se os cantos, aqui mais meditativos. «Mon âme se repose en paix sur Dieu seul: de lui vient mon salut. Oui, sur Dieu seul mon âme se repose, se repose en paix». (A minha alma repousa em paz apenas em Deus: d’Ele vem a minha salvação.) Na noite de sábado, cada pessoa tem uma pequena vela na mão para celebrar a luz pascal e festejar a ressurreição. A luz, «uma pequena luz bruxuleante/ brilhando incerta mas brilhando», para citar o poema de Jorge de Sena, passa de mão em mão, como um testemunho que se multiplica, cada um iluminando o caminho do outro. Domingo, finalmente, a celebração da eucaristia assume a urgência de trabalhar pela unidade, também a nível sacramental: seguindo o rito latino, janeiro 2016 | 17 Irmão Roger: Deus vem através do rosto de Jesus. Em Setembro último, no colóquio sobre o pensamento teológico de Roger Schutz, o irmão Richard, de Taizé, explicava que esse era o modo como o fundador entendia a revelação. E esse rosto de Jesus – acrescentava – mostrava-se, para o irmão Roger, nas vidas de quem mais sofre. Tudo isto levou o cardeal alemão Walter Kasper, ex-presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, a considerar, no mesmo colóquio, que o irmão Roger era «um verdadeiro teólogo, ou seja, alguém que sabe falar de Deus». O discurso do irmão Roger, mesmo se repousava numa teologia e numa espiritualidade profundas, fazia-se sobretudo pelo seu olhar, pela palavra (mesmo que quase só sussurrada, nos últimos anos da sua vida), pela forma de rezar que Taizé foi criando e propondo ao longo de décadas ou pela sua escrita transparente. Nos seus textos, esse «quase nada» traduz(ia)-se também na escolha de palavras depuradas de artifícios e na proposta de expressões que dizem tudo, de forma essencial. Basta exemplificar na relação e na com quase nada, falar de Deus com a própria vida No princípio, adivinhava-se já uma vida simples: como não havia água canalizada, por exemplo, era preciso os irmãos irem lavar-se ao ribeiro, onde também lavavam a roupa ou enchiam potes de água para poderem cozinhar. E quando faziam uma sopa com as poucas coisas que conseguiam cultivar, ainda repartiam com os prisioneiros de guerra alemães. Hoje, em Taizé, a água já é canalizada e há o essencial para comer. Mas a vida continua a ser simples como no início, em 1940, quando o jovem pastor calvinista Roger Schutz ali chegou com a ideia de criar uma comunidade. Ele próprio escrevia: «Com quase nada, antes de tudo pelo dom da nossa vida, Cristo, o Ressuscitado, espera que em nós se tornem perceptíveis o fogo e o Espírito» (1). Esse quase nada permitia, no entanto, criar uma extraordinária riqueza. Numa entrevista, no Verão de 2014, dizia-me o irmão Daniel, um dos três primeiros que se juntou a Roger Schutz: «Ele tinha 18 | Mensageiro o sentido da vida rural, da festa, das crianças... isso permite a vida criativa de uma comunidade onde cada um dá a sua pedra para o edifício criativo e tudo isso forma um todo». Nascido há pouco mais de 100 anos, a 12 de Maio de 1915, Roger era o mais novo de nove irmãos, filhos do pastor Karl Ulrich Schutz e Amélie Henriette Schutz-Marsauche. Durante a juventude, enfrentou problemas de saúde que o deixaram fragilizado. Influenciado pelo exemplo da sua mãe e da sua avó, que era capaz de entrar numa igreja católica e ali rezar (num tempo em que católicos e protestantes chegavam a atravessar a rua para não terem de se cumprimentar), foi-se solidificando a ideia de uma comunidade dedicada à reconciliação entre os cristãos. A 19 de Agosto de 1940, quando pela primeira vez chega a Taizé, Roger ainda não tem tudo claro, mas as intuições principais já estão no seu horizonte. E no centro estava a ideia de que o conhecimento de presença dessas palavras essenciais em alguns dos títulos dos seus livros: o amor (Deus só pode amar; O seu amor é um fogo; O espanto de um amor); a unidade e a reconciliação (A unidade, esperança de vida; Em tudo, a paz do coração; Violência dos pacíficos); a escuta de Deus (Viver o hoje de Deus; Viver o inesperado; Que floresçam os teus desertos); a esperança (A paixão de uma espera; Pressentes uma felicidade?). E, enfim, o fazer tudo isto com quase nada (Dinâmica do provisório; Que a tua festa não tenha fim) (2). A sua teologia não era especulativa, mas ligava-se à vida, dizia, no colóquio de Setembro, Michel Stavrou, professor no Instituto de Teologia Ortodoxa de São Sérgio (Paris). «O irmão Roger tinha um pensamento teológico que partia do coração, uma teologia da ágape», acrescentava Gottfried Hammann, professor de Teologia em Neuchatel (Suíça), ex-membro do Grupo ecuménico de Dombes. E Beata Bengard, doutorada em teologia protestante pela Universidade de Estrasburgo, falava do «ecumenismo espiritual fundado sobre a confiança» que o irmão Roger propôs com a sua vida. (1) Com quase nada... é precisamente o título da biografia do irmão Roger, escrita por Sabine Laplane e publicada em 2015 (Ed. Du Cerf). (2) Neste parágrafo, retomo uma ideia que propus num texto publicado no sítio do Departamento Nacional de Pastoral Juvenil na internet; o texto está disponível no endereço http://portal.ecclesia.pt/pjuvenil/site/index.php/grao-de-mostarda/498-irmao-roger-com-quase-nada janeiro 2016 | 19 Rezar com ícones ou restos de casca de árvores Quando se entra na Igreja da Reconciliação, de Taizé, o olhar repousa sobre ícones e vitrais: os primeiros vêm da tradição ortodoxa, os segundos radicam na tradição das grandes catedrais. Mas a maior parte deles saiu da meditação espiritual do irmão Eric (1925-2007), um dos primeiros monges da comunidade de Taizé, artista do «vaivém entre a luz e a sombra», como o próprio se definia. A arte e a beleza têm, desde o início, um lugar destacado na aldeia que, desde 1940, acolhe a comunidade de monges protestantes de diferentes origens e católicos. Isso acontece, no entanto, numa relação permanente com a Bíblia, fonte de inspiração primeira e fundadora. Essa era já uma referência do irmão Roger, o fundador e prior da comunidade até 2005, quando foi morto na Igreja da Reconciliação, durante a oração do final da tarde. Os ícones são fundamentais na proposta de 20 | Mensageiro oração de Taizé, feitos «para nos ajudar a entrar numa relação com Deus, para aprofundar esta relação e ajudá-la a crescer», escreve o irmão Jean-Marc, de Taizé. A cruz, o ícone da amizade ou a Transfiguração, por exemplo, são sempre pintados a partir de uma meditação espiritual do seu autor e traduzem uma riquíssima simbólica bíblica. Permitem ainda a reflexão sobre a vida de cada pessoa a partir de cenas, episódios e personagens bíblicos ou propostas espirituais da tradição cristã. «A Bíblia fala (...) do que há no fundo mais íntimo de Deus», escreve o irmão François, um dos biblistas de Taizé. A criação do ícone da misericórdia, que pretende complementar a reflexão proposta para 2015-2016, é a última proposta. A ideia teve em conta o Ano da Misericórdia proclamado pelo Papa Francisco e as palavras-chave escolhidas para reflexão em Taizé nestes próximos anos, de entre o léxico fundamental do irmão Roger: misericórdia, alegria, simplicidade. É a primeira vez que, na história da iconóstase, se representa a misericórdia. O ícone toma como ponto de partida a parábola do bom samaritano, representando Jesus, de pé, ao centro, rodeado de seis cenas que contam a história da parábola: o assalto, o levita e o sacerdote que ignoram a vítima, o samaritano que se condói e o leva para a estalagem e, na última cena, o samaritano, a vítima e o estalajadeiro a partilhar uma refeição. A vítima tem sempre a cor branca de Jesus, a refeição final remete para o ícone da Trindade e a eucaristia e várias das outras representações apontam para a paixão de Jesus. Outra das propostas recentes dos irmãos de Taizé nasceu a partir de colagens de restos de árvores: eucalipto, araucária, bananeira, acácia, bambu,... A ideia surgiu na pequena fraternidade de irmãos de Taizé em Nairobi (Quénia). O irmão Denis, que vive em África praticamente desde 1977, pegou nas cascas de árvores, muitas delas destinadas a apodrecer no chão, e recriou 18 cenas do Evangelho. São como «um livro de imagens», explicava ele, em Agosto, a propósito deste Caminho do Evangelho que, em Taizé, desce da aldeia até à Fonte de Santo Estêvão. Um caminho em que as personagens não têm rostos, o que permite a cada pessoa que o faz colocar o seu próprio rosto nas personagens com quem se identifique. Este Caminho do Evangelho acompanha a vida de Jesus: anunciação, visitação, nascimento, fuga para o Egipto, baptismo, uma cura, Pedro salvo das águas, a transfiguração, o bom pastor e a ressurreição de Lázaro. E culmina com a sua paixão e ressurreição: lava-pés, oração no Getsémani, crucifixão e morte na cruz, ressurreição, encontro com os discípulos de Emaús, ascensão e Pentecostes. «São cenas do Evangelho, protótipos do que poderia ser um caminho de peregrinação à volta da fraternidade», diz o irmão Denis. Ou, como dizia Clarisse, uma jovem congolesa no final do caminho: «Uma forma original de fazer meditação com arte e contemplar a natureza, como que uma refontalização». janeiro 2016 | 21 Reconciliação entre os cristãos: a urgência da credibilidade Hoje é visto como uma urgência, mas nem sempre foi fácil: um pequeno grupo de protestantes que decidia viver em comunidade, com isso quebrando um tabu da tradição da reforma, que praticamente deixara de ter monaquismo, era visto com suspeição pelos seus amigos. «A família espiritual na qual Roger Schutz nasceu e cresceu é a Igreja reformada. As suas relações com ela nunca foram simples: como todos os pioneiros, o irmão Roger fez rachar as ligações», afirmava, em Agosto, à Ecclesia, o pastor Laurent Schlumberger, da Igreja Protestante Unida de França. Hoje, essas dificuldades foram praticamente ultrapassadas e, apesar de Taizé também ter sido olhada de soslaio por largos sectores da Igreja Católica, a comunidade é hoje aceite por todas as grandes tradições cristãs. Por coincidência de calendário, a comunidade propõe anualmente um encontro de jovens numa cidade da Europa, que se realiza no final do ano, três semanas antes do Oitavário de Oração pela Unidade dos Cristãos. Em 2015, a cidade escolhida foi Valência. No encontro, a proposta passou pela reflexão sobre a misericórdia, seguindo a sugestão do ano proclamado pelo Papa e do mote escolhido pela comunidade para a reflexão dos jovens em 2015-2016. A dimensão ecuménica, na perspectiva da reconciliação entre os cristãos, mais do que o diálogo institucional, marcou a história da comunidade, desde a chegada do irmão Roger a Taizé, a 20 de Agosto de 1940 – há pouco mais de 75 anos. Na perspectiva do irmão Roger, não é necessário renunciar à identidade cristã de cada pessoa, mas apenas reconciliar as suas origens com as das restantes tradições. Em Agosto, Schlumberger acrescentava: «O irmão Roger permaneceu sempre ligado às convicções centrais da Reforma e não negou nunca a sua tradição espiritual. Mas esse foi o ponto de partida de um caminho, de uma aventura da qual toda a Igreja é beneficiária». Roger Schutz aprendeu com a sua mãe e a sua avó essa atitude. A sua avó, gostava ele de recordar, era capaz de entrar numa igreja católica para rezar, o que lhe poderia custar ser marginalizada pela sua própria comunidade. «A verdadeira unidade é sempre um alargamento», comentava o pastor Schlumberger, em Agosto. E o irmão Roger levou «a exigência da catolicidade» ao coração das Igrejas da Reforma. A «urgência» da reconciliação é uma das insistências 22 | Mensageiro Crescer com Jesus Batismo: O abraço de Deus Domingas Brito e P. José Maria Brito, s.j. Ilustração: www.damadearroz.com que, na esteira do irmão Roger, o actual prior da comunidade tem feito: «Como poderemos nós, que somos cristãos, ser testemunhas deste Cristo que “destruiu o muro de separação” entre os homens, se permanecermos divididos entre nós?», pergunta o irmão Aloïs no livro Ousar Acreditar. E acrescenta: «Apenas se o fizermos juntos poderemos dar um testemunho credível». Bibliografia consultada: - Frère Roger, de Taizé, Dynamique du Provisoire, ed. Ateliers et Presse de Taizé, 2014. - Irmão Roger, de Taizé, Deus Só Pode Amar, ed. Gráfica de Coimbra, 2004. - Irmão Aloïs, de Taizé, Ousar Acreditar, ed. Paulinas, 2012. - Hermano François, de Taizé, El pan del silencio, es la Palabra, ed. Ateliers et Presse de Taizé, 2009. - Frère Jean-Marc, de Taizé, Les icônes, ed. Ateliers et Presse de Taizé, 2011. - Irmão John, de Taizé, A Caminho da Terra da Liberdade, ed. AO, 2005. - Frére Eric, de Taizé, Artiste de l’Ombre et de la Lumière, ed. Ateliers et Presse de Taizé, 2015. - Sabine Laplane, Frère Roger, de Taizé – Avec Presque Rien, Les Éditions du Cerf, Paris 2015. Textos de António Marujo Jornalista; escreve no blogue religionline.blogsopt.pt; o autor utiliza a anterior norma ortográfica Pais, avós, irmãos, … tantas pessoas que se encontram diante do desafio de transmitir a Fé. Não como conteúdo ou fórmula memorizada. A Fé como relação, como experiência de ser amado. Não como seguro de vida, mas como confiança na presença fiel de Deus. Esta aventura começa de pequenino, quando se dá os primeiros passos, se tenta as primeiras palavras ou se aprende o espanto. Esta secção quer ajudar os que acompanham crianças até aos seis anos no começo da relação com Deus. Como falar do batismo às crianças? Era uma vez… Era uma vez... não é uma boa forma de começar. O Batismo não é uma história inventada. É um acontecimento marcante. Um encontro que transforma. Mas como se diz isso em «criancês»? Podemos dizer que, do mesmo modo que a mãe quer abraçar a criança mal ela nasce, Deus também quer que o bebé se sinta abraçado e muito querido desde pequenino, como um filho muito amado (a veste branca). Deus quer que a criança experimente uma grande alegria, que aprenda que a vida é um presente muito grande. O maior de todos (a água). Deus não quer que ninguém tenha medo ou se sinta no escuro. Quer que cada passo seja dado com toda a confiança (a vela). É por isso que os pais pedem o batismo para o seu filho, porque querem que ele se experimente feliz e porque sabem que o filho não lhes pertence – é um presente de Deus. Os pais desejam que a criança seja acolhida por toda a comunidade; porque, tendo consciência de que eles e ela têm limites e fragilidades, querem que seja protegida por um amor mais Dos 0-6 anos forte do que tudo o que nos faz tristes. O batismo significa e realiza esse amor. Pelo batismo, a criança é abraçada por Deus. Os padrinhos ajudam os pais na educação na fé e devem ser escolhidos com muito cuidado e critério. Como preparar a celebração do Batismo? Além de todas as conversas que se possam ter sobre o batismo, o modo como uma criança sentir, ouvir e vir os adultos prepararem o Batismo é o que mais a pode marcar. A preparação deve envolver pais, padrinhos, família e amigos com muita alegria. Há formas muito simples de o fazer: escolher as leituras a partir do ritual e daquilo que a família quer transmitir. Envolver cada pessoa com os seus talentos (preparar cânticos, ler, escrever uma oração de agradecimento, ser acólito...). Todos podem viver intensamente o Batismo e rezar para que a criança se sinta acolhida na Igreja. Que tudo seja simples e significativo: ✎ O vestido, eventualmente o usado por todas as crianças da família; ✎ Uma toalha branca com a data do Batismo; ✎ A vela com um aro onde serão gravadas as datas do nascimento e do Batismo e, mais tarde, as da Profissão de Fé, do Crisma ou, até, do Matrimónio, da Ordenação Sacerdotal, da Profissão Religiosa. ✎ É importante fazer festa! À volta da mesa – como Jesus com os amigos –, o ministro que batizou, os padrinhos, a família e os amigos, juntos com muita alegria e sem fazer do momento um acontecimento social! Depois, é preciso ir encontrando formas simples de ajudar a crescer com Jesus e ser exemplo. janeiro 2016 | 23 reunião de grupo Esquema de reunião e de oração de grupo Manuel Morujão, s.j. Reunião «Sem um grupo, tu és um órfão», assim alguém afirmou. Neste caso, trata-se de ser «órfão» fraterno, pela falta de irmãos e irmãs, que nos completem. Na vida cristã, ainda com mais razão, os outros fazem parte de mim: «ama o teu próximo como a ti mesmo» (Mt 22, 39), especialmente quando pertencemos a um mesmo grupo, como é o caso do Apostolado da Oração. Valorizemos e estimemos os que pertencem ao nosso grupo de trabalho, de convívio, de oração e de serviço na Igreja. Oração inicial – Oração do Oferecimento (com a fórmula tradicional ou com outra) 1.ª Parte Intenções do Papa para o mês de janeiro O responsável, ou outra pessoa do grupo, poderá fazer uma apresentação da intenção universal e da intenção pela evangelização do Papa Francisco para este mês de janeiro. Poderá servir-se do que vem nas primeiras páginas desta revista. A intenção universal refere-se à necessidade do diálogo inter-religioso: «Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça». A intenção pela evangelização recorda-nos: «Que, Oração (poderá ser feita por ocasião da reunião, no começo ou ao fim, ou noutra ocasião oportuna, numa sala ou numa igreja/capela, com ou sem sacerdote) Presidente: A graça, a paz e a misericórdia de Deus Pai, reveladas no Coração de seu Filho Jesus, estejam sempre convosco. 24 | Mensageiro através do diálogo e da caridade fraterna, com a graça do Espírito Santo, sejam superadas as divisões entre os cristãos». 2.ª Parte Os grupos do AO são grupos de oração e de ação Dar algum tempo para partilhar o que os membros do AO poderão fazer, na linha das intenções que o Papa Francisco nos propõe, talvez respondendo às seguintes perguntas: – Que poderemos fazer para facilitar o diálogo e o encontro das pessoas, tanto a nível familiar como a nível social, político e religioso? – Tendo presente que no primeiro dia do ano se celebra o Dia Mundial da Paz, que nos ocorre para que sejamos promotores da bem-aventurança da paz, proclamada por Cristo: «Felizes os construtores da paz, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9)? 3.ª Parte Assuntos práticos do grupo do AO Terminar com uma leitura da Palavra de Deus (por exemplo, o Evangelho do domingo seguinte à reunião) e com uma oração ou um cântico. Todos: Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo. Presidente: Iniciamos o novo ano com a celebração do Dia Mundial da Paz, logo no dia 1 de janeiro. Este ano de 2016, o tema proposto pelo Papa Francisco é: «Vence a indiferença e conquista a paz». Peçamos a Deus o seu perdão misericordioso pelas nossas indiferenças e faltas de paz. Leitor: Pelas vezes que o sofrimento de quem vive ao nosso lado nos deixou indiferentes, perdão, Senhor, misericórdia. Todos: Perdão, Senhor, misericórdia. Leitor: Pelas vezes que não soubemos ver no nosso próximo necessitado o próprio Cristo que espera a nossa solidariedade e ajuda, perdão, Cristo, misericórdia. Todos: Perdão, Cristo, misericórdia. Leitor: Pelas vezes que não cumprimos a bem-aventurança de sermos construtores da paz, perdão, Senhor, misericórdia. Todos: Perdão, Senhor, misericórdia. Presidente: Escutemos o que Deus nos diz nesta passagem de uma carta do apóstolo Paulo. Leitor: Leitura da carta de São Paulo aos Efésios (Ef 4, 1-7) Eu, o prisioneiro no Senhor, exorto-vos, pois, a que procedais de um modo digno do chamamento que recebestes; com toda a humildade e mansidão, com paciência: suportando-vos uns aos outros no amor, esforçando-vos por manter a unidade do Espírito, mediante o vínculo da paz. Há um só Corpo e um só Espírito, assim como a vossa vocação vos chamou a uma só esperança; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por todos e permanece em todos. Mas, a cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida do dom de Cristo. Palavra do Senhor. – Graças a Deus. 1ª Sexta-feira Pode encontrar esta secção escrita pelo padre Dário Pedroso no site do Apostolado da Oração. Será uma versão mais longa e completa fácil de descarregar e de ler! Presidente: No espírito da Palavra de Deus que foi proclamada, queremos fazer nossas as intenções do Papa para este mês de janeiro. Rezemos, unidos a toda a Igreja, particularmente aos membros do Apostolado da Oração, dizendo com fé e esperança: – Ouvi, Senhor a nossa prece. Leitor: Façamos nossa a intenção universal do Santo Padre Francisco: «Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça». Por esta intenção, oremos ao Senhor. – Ouvi, Senhor a nossa prece. Leitor: O Papa pede-nos para rezar por esta sua intenção pela evangelização: «Que através do diálogo e da caridade fraterna, com a graça do Espírito Santo, sejam superadas as divisões entre os cristãos». Por esta intenção, oremos ao Senhor. – Ouvi, Senhor a nossa prece. Leitor: No mês de janeiro celebramos a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Peçamos ao Senhor para que todos os seus seguidores sejam um só, dando credibilidade à Igreja e promovendo um mundo mais fraterno e unido. Por esta intenção, oremos ao Senhor. – Ouvi, Senhor a nossa prece. Presidente: Ouvi, Pai Santo, a nossa oração humilde e confiante que, inspirados nas intenções do Papa Francisco, Vos dirigimos nos começos deste novo ano que nos ofereceis para em tudo amar e servir, confiados nos méritos de Jesus Cristo Salvador e unidos no Espírito Santo. – Ámen. novidade! www.apostoladodaoracao.pt janeiro 2016 | 25 livraria janeiro -20% PROMOÇÃO DO MÊS NO SILÊNCIO DO SANTUÁRIO Cento e cinquenta orações nascidas dos cento e cinquenta salmos que compõem o livro bíblico com o mesmo nome. O VENTO SOPRA ONDE QUER O Autor analisa a experiência espiritual cristã e descreve o itinerário do crente, chamado à plenitude da vida em Cristo. Preços: Portugal: 9,65€; Europa: 12,00€; Fora da Europa: 13,40€. Preços: Portugal: 7,65€; Europa: 10,00 €; Fora da Europa: 11,40€. COMEÇA ASSIM A TUA ORAÇÃO Três anos de introduções às orações do site passo-a-rezar.net. Sugestões para começar a rezar. ACREDITAR EM DEUS Uma explicação simples dos muitos modos errados de acreditar em Deus. Preços: Portugal: 8,85€; Europa: 10,55€; Fora da Europa: 12,30€. Preços: Portugal: 3,55€; Europa: 4,60€; Fora da Europa: 5,35€. Preços já com desconto de 20% Portes de Correio incluídos nos preços Promoção não acumulável com outras 26 | Mensageiro ao é notícia notícias Diretor diocesano de Beja visita Centros de Gomes Aires, Almodôvar e Sta. Clara-a-Nova A equipa diocesana de Beja do Apostolado da Oração (AO), juntamente com o diretor diocesano, P. Luís Miguel Fernandes, visitaram o Centro do AO de Gomes Aires, no dia 13 de novembro passado. O encontro começou com a apresentação das linhas gerais do processo de recriação do AO por parte do diretor diocesano e terminou com um momento de partilha. O Centro do AO de Gomes Aires tem atualmente seis zeladoras e cerca de 50 associados. No dia 15 de novembro, a mesma equipa visitou outros dois Centros congregados: o de Almodôvar e o de Santa Clara-a-Nova. O Centro de Almodôvar tem cerca de 200 associados e oito zeladoras; o de Santa Clara tem 60 associados e quatro zeladoras. O diretor diocesano do AO reportou-se ao que a Igreja espera do AO e a ajuda que, na sua simplicidade, o mesmo oferece ao Povo de Deus. Esta tarde de formação terminou com a adoração ao Santíssimo Sacramento, durante a qual se rezou pelas intenções do Santo Padre. De salientar o acolhimento e a presença dos párocos de Almodôvar, padres Pradeep, Glório e Manuel Abreu, que manifestaram muito interesse em conhecer este projeto e garantiram o seu apoio e colaboração. A nova definição do AO centra-se num caminho espiritual que a Igreja propõe a todos os cristãos para os ajudar a ser amigos e apóstolos de Jesus na vida diária. Esta rede mundial de oração, tal como o Papa Francisco deseja, conta com mais de 40 milhões de pessoas, presentes em 86 países. Os párocos da diocese de Beja que pretendam fundar ou refundar um Centro do AO nas suas paróquias devem contactar a equipa diocesana, que entretanto, acompanhada pelo P. Luís Miguel Fernandes, vai continuar as suas visitas a outras paróquias. Linhas da recriação do AO apresentadas em Leiria O Secretário Nacional do Apostolado da Oração, P. António Valério, sj apresentou, no dia 22 de novembro passado, no Seminário de Leiria, durante um encontro diocesano para zeladores, associados e interessados do Apostolado da Oração (AO), as linhas gerais da recriação do AO. Apesar do mau tempo, o encontro, promovido pelo diretor diocesano P. Miguel Sottomayor, contou com a participação de membros do AO de toda a diocese. Na sua intervenção, o Secretário Nacional falou da história da recriação que ajuda o AO a voltar às suas fontes e fundamentos e explicou as linhas da recriação e a sua aplicação na vida dos Centros do AO. Por último, o P. António Valério, sj apresentou os novos projetos que estão a ser desenvolvidos pelo Secretariado Nacional do Apostolado da Oração, nomeadamente o Passo-a-Rezar e o Click To Pray. Os participantes mostraram-se muito satisfeitos com as iniciativas que estão a ser desenvolvidas no sentido de dinamizar o AO e incentivados na missão que lhes é confiada: aprofundar e difundir este modo de viver a fé cristã, tão rica, que é o AO. O encontro concluiu-se com a apresentação e discussão de assuntos relacionados com a vida dos grupos da diocese de Leiria-Fátima, trabalhos orientados pelo diretor diocesano e a sua equipa. Retiro do AO em Fátima O Apostolado da Oração (AO) promove, de 4 a 7 de fevereiro, na Domus Carmeli, em Fátima, um retiro em silêncio, orientado pelo P. António Valério, sj e pelo P. Marco Cunha, sj. As inscrições devem ser efetuadas através do mail [email protected] ou do telefone 253 689 446. janeiro 2016 | 27 notícias igreja é notícia Diretor-geral do JRS, André Costa Jorge, fala do acolhimento em Portugal Os refugiados «são pessoas como nós» mas que viveram situações de guerra Os refugiados marcaram a agenda política e mediática de 2015, tal a tragédia humana motivada pela guerra e pelo terror em vários países de África e do Médio Oriente, com particular incidência na Síria, Iraque e Nigéria, e a dimensão do fluxo migratório rumo à Europa. Perante esta crise humanitária, a Comissão Europeia viu-se obrigada a tomar medidas concretas em relação ao acolhimento destas pessoas nos diferentes estados membros da União Europeia. No âmbito da Agenda Europeia para as Migrações, foi fixada a redistribuição de 160 mil refugiados de nacionalidade síria, iraquiana e eritreia que já se encontram na Grécia e em Itália. Portugal recebe 4 mil 775 e, para o efeito, constituiu uma Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), cujo secretariado executivo está a cargo do JRS - Serviço Jesuíta aos Refugiados. Segundo André Costa Jorge, diretor-geral do JRS, a Plataforma está a fazer «o diagnóstico das famílias refugiadas, o “matching” entre estas e as instituições anfitriãs» e vai assegurar «apoio técnico às instituições durante o processo de acolhimento e integração». 28 | Mensageiro O objetivo, refere, é «preparar a chegada destas pessoas o mais atempadamente possível, delineando um programa de acolhimento e integração que acautela várias questões, tendo em conta os seus países de origem». Concretamente, estão a ser delineadas «aulas de português, cultura e hábitos do nosso país, ao mesmo tempo que fazemos um levantamento dos cuidados a ter em conta considerando as diferenças culturais e religiosas dos refugiados. Fazemos, por exemplo, uma lista de mesquitas, alimentos proibidos e preparamos as casas que acolherão os diferentes agregados da melhor maneira, para que consigamos dar uma resposta o mais concertada possível». O JRS já tem experiência no acolhimento de refugiados. Desde 2014 que é parceiro do Estado português no âmbito da reinstalação, que «consiste na transferência de refugiados de um país terceiro para um Estado Membro, a pedido do ACNUR Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, de modo a assegurar a proteção internacional de um nacional de país terceiro ou apátrida». JRS já reinstalou 29 refugiados Ao abrigo deste protocolo, em 2014, o JRS acolheu e acompanhou um grupo de 14 refugiados provenientes de países como a Costa do Marfim, Senegal ou Irão e que tiveram como primeiro país de asilo Marrocos. O ano passado, o JRS recebeu mais 15 refugiados, provenientes da Síria e da Eritreia, número que corresponde a uma parte da quota de reinstalação para 2014. Para o acolhimento destas pessoas, o JRS delineou um programa de acolhimento e integração, intitulado “Sementes de Esperança”, com a duração de dez meses, que prevê, entre outros aspetos, a aprendizagem da língua portuguesa, o acompanhamento junto das instituições públicas e privadas, o apoio psicológico e social e a formação para a empregabilidade. E quem são refugiados? André Costa Jorge conta que «são pessoas que tiveram de abandonar os seus países de origem por razões que se prendem com a existência de conflitos armados ou perseguições, pelo que o seu objetivo é eventualmente poder regressar ao seu país de origem quando estiverem reunidas melhores condições». «Os refugiados são pessoas como nós, que têm receios e que enfrentam as dificuldades próprias de quem chega a um país cuja língua e cultura possam ser muito diferentes da sua. A acrescer a isto temos o facto de, muitos deles, terem experienciado situações traumáticas e testemunhado cenários de guerra», acrescenta o diretor-geral do JRS. A maior parte dos refugiados que o JRS reinstalou em 2014 decidiu ficar em Portugal, no final do projeto, ao fim de um ano, tendo encontrado trabalho e continuado o seu processo de integração. O processo de acolhimento é gratificante mas nem sempre fácil. Desde logo, a dificuldade de comunicação. Apesar da existência de intérpretes, «a língua acaba por ser a maior barreira, tanto para quem acolhe como para quem é acolhido» e condiciona sobretudo o «acesso a um emprego e aos diversos serviços, especialmente no que diz respeito aos cuidados de saúde», adianta o responsável pelo JRS. O acolhimento destas pessoas representa para uns uma missão humanitária indiscutível - desde logo para o Papa Francisco - para outros, uma ameaça à estabilidade e à segurança nos países de acolhimento. Na sociedade civil trava-se a discussão em torno dos direitos e dos deveres dos refugiados comparativamente com os cidadãos nacionais. André Costa Jorge contraria os mais adversos e explica que os refugiados têm acesso a cuidados de saúde, educação e trabalho em igualdade de circunstâncias com os cidadãos nacionais. No entanto, apenas têm o apoio direto de instituições especializadas por um curto período inicial, para que o acolhimento e integração sejam o mais bem sucedidos possível. Ao nível da segurança social, os requerentes de proteção internacional só são elegíveis para beneficiarem de RSI ao fim de três anos em Portugal e os vários apoios que poderão receber são feitos a título eventual e tendo em conta o caso concreto. Diferentes formas de ajudar Com base na missão que lhe está confiada desde 1980, pelo então Superior Geral da Companhia de Jesus, P. Pedro Arrupe - acompanhar, servir e defender os refugiados, deslocados à força e todos os migrantes em situação de particular vulnerabilidade - o JRS assumiu, desde a primeira hora, as funções de secretariado técnico da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), da qual foi um dos membros fundadores. A pensar na questão de refugiados de modo abrangente, a PAR avançou com dois projetos diferentes mas complementares: PAR – Famílias e PAR– Linha da Frente. O PAR - Famílias é um projeto de acolhimento e integração de famílias refugiadas em Portugal, em contexto comunitário, disperso pelo país, com o envolvimento de instituições locais que possam assumir o compromisso da plena integração de pelo menos uma família, proporcionando-lhe alojamento autónomo, alimentação e vestuário, apoio à integração laboral, acesso à educação e à saúde e ensino do Português. O PAR Linha da Frente é uma campanha de angariação de fundos que tem como objetivo apoiar as missões da Cáritas e do JRS no Médio Oriente. Neste âmbito, os fundos revertidos a favor dos projetos do JRS irão ser aplicados nos projetos educativos que o JRS desenvolve com crianças refugiadas no Líbano, comprometendo-se a disponibilizar uma refeição por dia durante um ano a mil 720 crianças refugiadas, distribuídas por cinco escolas na região do Vale de Bekaa. janeiro 2016 | 29 Bispos discutem política, família e refugiados Política, família e refugiados são os assuntos que marcaram a agenda da última reunião da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que decorreu em Fátima. Atendendo ao contexto político gerado pelos resultados das últimas eleições legislativas, os bispos defendem a dignificação da política e o respeito pelo quadro constitucional. O presidente da CEP, D. Manuel Clemente, apelou, no final da reunião, a uma «cultura de diálogo e de encontro no respeito recíproco, à informação verdadeira e transparente, à sobreposição dos interesses nacionais acima dos particulares, à dignificação da política, aos consensos nas questões fundamentais, à reconciliação e à paz na diversidade, em que todos os cidadãos se sintam responsáveis». Relativamente à família e na sequência da reunião com o Papa, em Roma, os bispos concluíram que é necessário fazer uma renovação da pastoral da Igreja em Portugal. O Patriarca de Lisboa que, de 4 a 25 de outubro do ano passado, participou no Sínodo dos Bispos em Roma, referiu ainda que é necessário «dar muito mais importância às famílias, à preparação para o matrimónio, ao acompanhamento das famílias cristãs, mesmo aquelas que vivem em rutura, para vermos o que podemos consertar com a ajuda de todos». No que respeita aos refugiados, a Conferência Episcopal mostrou-se em sintonia com os apelos do Papa Francisco ao acolhimento. Os bispos «reafirmam o dever do acolhimento em nome das raízes humanas e cristãs da Europa» e «saúdam as instituições portuguesas que estão desde já preparadas para esta missão e congratulam-se pelas iniciativas da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR- Famílias), na qual se encontram muitas instituições da Igreja». Os membros da CEP manifestaram ainda a sua preocupação pelo atraso na recolocação dos 160 mil refugiados e recomendam às autoridades europeias e nacionais a maior celeridade na concretização deste processo. Formularam também o desejo de que possam ser acolhidos dignamente antes do frio de inverno, acabando com a cena desumana destes novos pobres diante de muros de betão e de arame farpado». Os responsáveis pelas dioceses portuguesas traçaram ainda algumas linhas para o Jubileu da Misericórdia, que se iniciou em dezembro. «Entre outros elementos, procurar-se-á uma maior atenção na celebração do sacramento da reconciliação, na peregrinação sobretudo à Catedral, na valorização da partilha e solidariedade, nas práticas das obras de misericórdia e nas catequeses sobre a misericórdia nos tempos fortes da liturgia». os homens e mulheres de boa vontade são chamados a trabalhar pela reconciliação e a paz, pelo perdão e a cura dos corações». «Peço-vos, de modo particular, que manifesteis uma autêntica preocupação com as necessidades dos pobres, as aspirações dos jovens e uma distribuição justa dos recursos naturais e humanos com que o Criador abençoou o vosso país», acrescentou o Santo Padre. Francisco viajou depois para o Uganda, onde deixou palavras de encorajamento, e terminou a sua primeira visita ao continente africano na República Centro-Africana, um país que vive, há muito, uma situação de violência e insegurança. A este território, o Papa levou «consolo e esperança». «Espero de coração que a minha visita possa contribuir, de uma forma ou de outra, para atenuar as feridas e favorecer as condições para um futuro mais sereno». Papa visita sinagoga de Roma O Papa visita, no dia 17 deste mês, a sinagoga de Roma, o principal local de culto dos judeus na capital italiana. Desde que foi eleito, Francisco tem tido importantes encontros inter-religiosos, com particular destaque para a visita à Terra Santa, onde se fez acompanhar de um rabino e de um imã argentinos. Mais tarde, presidiu, em Roma, a um encontro de oração pela paz, em que participaram o presidente de Israel, Shimon Peres, e o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas. No seu tempo de arcebispo de Buenos Aires, Bergoglio era conhecido por manter relações muito próximas de amizade com as comunidades muçulmana e judaica da cidade. Contudo, desde que se tornou Papa, Francisco não visitou a sinagoga de Roma. Ao fazê-lo, segue nas pegadas dos seus antecessores Bento XVI e João Paulo II. Papa em África Combate ao terrorismo passa pelo crescimento económico O Papa deslocou-se a África para visitar o Quénia, o Uganda e a República Centro-Africana. Apesar do ambiente de insegurança nestes países, o Santo Padre decidiu ir como «mensageiro de paz», como «ministro do Evangelho» para levar a «mensagem de reconciliação, perdão e paz». No primeiro discurso, proferido ao chegar ao Quénia, um país marcado pela ameaça da Al-Shabaab, filiados da Al-Qaeda, Francisco defendeu que a melhor forma de combater o terrorismo é através do crescimento económico. «A experiência demonstra que a violência, os conflitos e o terrorismo se alimentam com o medo, a 30 | Mensageiro desconfiança e o desespero que nascem da pobreza e da frustração. Em última análise, a luta contra estes inimigos da paz e da prosperidade deve ser conduzida por homens e mulheres que, destemidamente, acreditam e, honestamente, dão testemunho dos grandes valores espirituais e políticos que inspiraram o nascimento da nação», disse Francisco, em Nairobi, a capital do Quénia. Diante do Presidente e das mais altas figuras do Estado do Quénia, o Papa incentivou os quenianos a lutar contra as divisões sociais. «Enquanto as nossas sociedades experimentarem divisões, sejam elas étnicas, religiosas ou económicas, todos 31 | Mensageiro janeiro 2016 | 31 Mãos à Obra... Teresa Olazabal 1 2 Teresa Olazabal Uma vida entregue Como surgiu o seu desejo de ir ao encontro dos sem-abrigo, na noite do Porto? Um dia de inverno, há 20 anos, as temperaturas no Porto desceram até aos 2 graus negativos. Duas amigas e eu fomos à baixa com cobertores, ovos cozidos e chocolates, saber se era preciso ajuda. Quando vi um homem deitado no chão na rua, instintivamente ajoelhei-me junto dele e pela primeira vez percebi que era ao próprio Jesus que estava a atender. Nunca mais deixei de lá voltar. A Teresa conseguiu reunir um grupo de amigos que lhe permitem levar por diante o trabalho com os sem-abrigo sem criar nenhuma “instituição”. É fácil, trabalhar assim, sem rede? O AMOR não cabe em estatutos e normas. É gratuito, livre e espontâneo. Nunca seremos uma instituição, mas não é fácil trabalhar assim. Um dos aspetos mais originais do seu trabalho com os sem-abrigo é cuidar tanto da dimensão espiritual quanto da material. Em cada encontro mensal com eles, há tempo para celebrar a fé, para 32 | Mensageiro o convívio, para a distribuição de bens materiais. De onde nasceu este modo diferente de estar com os sem-abrigo? O nosso grupo está sempre em processo de criação, crescimento e discernimento. Foi muito claro para nós que a principal fome desta «população» é Jesus. Um dia, em oração, conversei com Jesus sobre a maneira de saciar esta fome. Jesus foi muito claro na sua resposta: «Leva-me contigo». Atordoada e sem saber como, perguntei-Lhe onde, porque não tinha sítio. Jesus voltou a falar-me muito claramente: «Vou contigo onde eles estão». E o grupo esteve de acordo. São conhecidas as suas celebrações de Natal com os sem-abrigo, que incluem sempre a celebração da Eucaristia. E também começam a ser conhecidos os «Retiros» espirituais para sem-abrigo, que organiza anualmente. Fale-nos do que acontece nestas ocasiões... A ideia da Missa de Natal apareceu como a continuação lógica da oração de rua. É o ponto alto dos nossos encontros, e a ternura de Deus que Se quer 3 aproximar de cada um dos Amigos da Rua como há 2000 anos Se aproximou dos coxos, cegos, paralíticos e leprosos. É muito especial. Quanto aos «Retiros» espirituais, são uma graça que o Senhor, na sua imensa Misericórdia, nos quer dar – aos que os recebem e aos que os orientam; as vidas e as feridas dos corações brotam dolorosamente e Jesus consola, cura, toca. São momentos de uma imensa beleza. A Teresa tem uma longa história de voluntariado. Onde começou a prestar este serviço? Recorda algum episódio ou pessoa que mais a tenha marcado? Os três sítios onde o Senhor me chamou a servi -Lo, foram os deficientes profundos, os doentes terminais oncológicos, e os sem-abrigo. Há muitos episódios marcantes na minha vida de voluntária, sendo que o principal foi o de ter sido possível receber em casa um sem-abrigo em estado terminal para o atender, tratar e amar durante três meses e acompanhá-lo até à sua morte. Um grande presente do Céu. A sua família acompanha-a e apoia-a neste serviço? É costume em casa não se falar dos deficientes e dos doentes terminais, apesar de um dos meus filhos me acompanhar há bastante tempo com os sem-abrigo. 4 5 Recentemente, viu-se inesperadamente atingida pela doença. Como integra uma realidade assim na sua vida de fé? Várias doenças atingiram-me, e à minha família, nos últimos meses. Só em Deus e na Fé é possível com-viver com Paz e Alegria a realidade da doença, tendo como certo que Deus não manda o mal nem a doença, mas que Se interlaça nela para tirar o maior bem. Isto leva a que a doença passe a ser uma graça que agradeço ao Senhor todos os dias e todo o dia. Costumo fazê-lo recitando frases do Magnificat de Nossa Senhora. Se quisesse resumir a sua vida cristã, que palavras escolheria? Entrega. fotografias 1 - O Gregório que morreu em nossa casa, uns dias antes de morrer 2 - O Rui (deficiente) comigo 3 - Diante deste homem na rua ajoelhei-me 4 - O senhor António em Soutelo 5 - Uma deficiente de que cuidei janeiro 2016 | 33 ATIVIDADES INACIANAS LIVRARIA AO janeiro/ fevereiro Em Soutelo (Vila Verde): CEC – Casa da Torre Av. dos Viscondes da Torre, 80 – 4730‑570 SOUTELO – Tel. 253 310 400; Fax: 253 310 401; E‑mail: [email protected] brevemente! VIA-SACRA COM MARIA Isabel Figueiredo Os tradicionais passos da via-sacra contemplados pelos olhos de Maria. Uma narrativa comovente e poderosa. Uma escrita leve, materna, inspirada. Uma via-sacra única. 04-12 jan.Exercícios Espirituais – P. Marco Cunha 14-17 jan.Exercícios Espirituais – P. José Frazão Correia 15-17 jan.BI – A síntese da personalidade – P. Alberto Brito 17 jan.Exercícios Espirituais na vida corrente (em colaboração com CVX e ACI) 21-24 jan.Exercícios Espirituais – P. José Carlos Belchior 21-24 jan.Exercícios Espirituais – P. António Valério [Inscrições no CAB: Telef. 253.215.592] 22-24 jan. Desafios da meia-idade (dos 40 aos 55 anos) – P. Vasco Pinto de Magalhães 04-10 fev.Exercícios Espirituais – P. António Vaz Pinto 05-07 fev.Rever para ver – P. Sérgio Diz Nunes 05-09 fev.Relações Humanas II – PP. Alberto Brito e Vasco Pinto de Magalhães 05-10 fev.Exercícios Espirituais – Alzira Fernandes 14 fev.Exercícios Espirituais na vida corrente (em colaboração com CVX e ACI) 18-26 fev.Exercícios Espirituais – P. António Costa Silva 20-21 fev.Escola de Pais (Formação e Oração) – P Carlos Carneiro [Inscrições no CREU] 25-28 fev.Exercícios Espirituais – P. Vasco Pinto de Magalhães [Inscrições no CREU] 25-28 fev.Exercícios Espirituais (Leigos para o Desenvolvimento) – P. José Eduardo Lima [Inscrições no CREU] 26-28 fev.Como viver o Ano Santo da Misericórdia – P. Dário Pedroso No Porto: CREU – Centro de Reflexão e Encontro Universitário Inácio de Loyola R. Oliveira Monteiro, 562 – 4050-440 PORTO– Tel. 226 061 410; E-mail: [email protected] 22-24 jan. “Café” – Curso de Aprofundamento da Fé – PP. José Eduardo Lima e Carlos Carneiro 26 jan.BTT (“Bamos Ter Teoria”) – Felicidade. A Graça e o Custo da Existência – P. José Frazão Correia 29-31 jan.Fim de semana para Noivos – Equipa de casais e P. Vasco Pinto de Magalhães 12-13 fev. 1 Noite & 1 Dia (Formação Humana e Religiosa) -A Força das Convicções. O Homem disperso e a vontade frágil. Como conseguir o que queremos? – P. Carlos Carneiro Em Coimbra: CUMN – Centro Universitário Manuel da Nóbrega R. Almeida Garrett, 4 – 3000-021 COIMBRA – Tel. 239 829 712; E-mail: [email protected] 12 jan.Orar, comer e gostar 15-17 jan. “Café” (Eclarecimento de dúvidas de fé) – P. António Sant’Ana 28-31 jan.Exercícios Espirituais “pé-descalço” – P. António Sant’Ana 16 fev.Orar, comer e gostar 25-28 fev.Exercícios Espirituais – P. Miguel Gonçalves Ferreira PAGELAS (PACK DE 7) como preparar a confissão como rever o dia como rezar o Terço guia para uma visita ao Santíssimo Em Lisboa: CUPAV – Centro Universitário Padre António Vieira Estrada da Torre, 26 – 1769-014 LISBOA – Tel. 217 590 516; E‑mail: [email protected] 05 jan.O que é o Eneagrama? – Uma noite para explicar esta dinâmica – P. Gonçalo Eiró 15-17 jan.Fim de semana no Campo 22-24 jan.Fim de semana Monástico – P. Nuno Tovar de Lemos 22-24 jan.CIF (Curso Intensivo de Fé) – P. Carlos Azevedo Mendes e P. João Goulão 28-31 jan.Exercícios Espirituais – P. Nuno Tovar de Lemos 29-31 jan.Fim de semana para Noivos – P. Carlos Azevedo Mendes 04-10 fev.Exercícios Espirituais – P. Carlos Azevedo Mendes 13 fev. Dia de Retiro de Quaresma – P. João Goulão 14 fev. Dia de Retiro de Quaresma – P. João Goulão 16 fev.Encontro de Quaresma I 18-20 fev.Experiência de Oração – P. Carlos Azevedo Mendes 18-21 fev.Exercícios Espirituais “pé-descalço”(Cernache) – P. Pedro Rocha Mendes 19-21 fev.Curso de Eneagrama (para casais e/ou namorados) – Clara e João Pedro Tavares 23 fev.Encontro de Quaresma II) 24 fev.Encontro Mensal. “Pequei? Qual é o mal?” 25 fev.Encontro Mensal. “Pequei? Qual é o mal?” No Rodízio – Casa de Exercícios de Santo Inácio Estrada do Rodízio, 124 – 2705-335 COLARES – Tel. 219 289 020; Fax: 219 289 026; E‑mail: [email protected] esquema para uma hora de oração orações inacianas formas de oração Preço: Pack das 7 (quantidade mínima) Portugal = 1.10€; Europa = 1.30€; Fora da Europa = 1.55€ (preços com portes de correio incluídos) Para quantidades maiores: www.livraria.apostoladodaoracao.pt ou através do telefone 253 689 443 26 dez.-01 jan.Exercícios Espirituais – P. Gonçalo Eiró 08-10 jan.Relações Humanas – Comunicação Interpessoal – P. Alberto Brito 16-17 jan.Fim de semana para Noivos – P. Carlos Azevedo Mendes e grupo de casais 21-24 jan.Exercícios Espirituais – P. António Júlio Trigueiros 21-24 jan.Exercícios Espirituais – P. António Vaz Pinto 21-24 jan.Exercícios Espirituais – P. Mário Garcia 29-31 jan.Lições Inacianas de Liderança – P. Hermínio Rico 29-31 jan. “Vivá Missa” – Para compreender e viver melhor a Missa – P. Gonçalo Eiró 02-09 fev.Exercícios Espirituais – P. Mário Garcia 04-07 fev.Exercícios Espirituais – P. Gonçalo Eiró 05-09 fev.Exercícios Espirituais – P. José Carlos Belchior 20 fev.Retiro de Quaresma – P. Gonçalo Eiró 27 fev.Rezar: falar pouco e ouvir muito (Primeiros passos na oração inaciana) – Ana Guimarães Há pouco mais de 70 anos, o irmão Roger deu vida à Comunidade de Taizé. Ela continua a contar com a adesão de milhares de jovens do mundo inteiro, em busca de um sentido para a sua vida. Os irmãos acolhem-nos na sua oração e oferecem-lhes a ocasião para fazer a experiência de uma relação pessoal com Deus. Foi para apoiar estes jovens na sua caminhada rumo a Cristo que o irmão Roger teve a ideia de começar uma «peregrinação de confiança na terra». Testemunha incansável do Evangelho da paz e da reconciliação, animado pelo fogo de um ecumenismo da santidade, o irmão Roger encorajou quantos passaram por Taizé a tornarem-se pesquisadores de comunhão. (...). No seu seguimento, sede todos portadores desta mensagem de unidade. Garanto-vos o compromisso irrevogável da Igreja Católica em prosseguir a busca de caminhos de reconciliação para alcançar a unidade visível entre os cristãos. Bento XVI, Praça de S. Pedro, 29 de dezembro de 2012 Leia Online: www.revistamensageiro.pt
Documentos relacionados
Mensageiro Janeiro 2015
Director António Valério, s.j. Administração Rua S. Barnabé, 32 4710-309 BRAGA (Portugal) Telefones: Geral: Revistas: Fax: E-mail: Web:
Leia mais