Chamada de artigos Turismo e dinâmicas identitárias Os estudos

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Chamada de artigos Turismo e dinâmicas identitárias Os estudos
Chamada de artigos
Turismo e dinâmicas identitárias
Os estudos sobre o turismo estão entre aqueles que mais cedo se interessaram pelas
questões identitárias. Ao proporcionarem o contacto e a relação de populações diferentes e que se pensam a si próprias como diferentes -, as práticas turísticas colocam desde logo os
problemas da identidade e da alteridade. Os questionamentos de tipo identitário (com ou
sem o recurso ao conceito de identidade) estão no cerne dos trabalhos de muitos
sociólogos, antropólogos e geógrafos que têm trabalhado acerca do turismo,
nomeadamente nos países do Sul. (Cohen 1988; Nash 1996; Cazes 1989).
Contudo, durante muito tempo, a maior parte das pesquisas desenvolveu-se em torno de
uma interrogação principal: em que medida as imagens que os turistas possuem acerca dos
lugares que visitam e das populações que aí vivem, bem como as práticas que adotam em
virtude dessas imagens, influenciam as populações autóctones, as suas práticas culturais e as
suas autorrepresentações.
Como diversos autores têm vindo a demonstrar, este campo de pesquisa foi durante muito
tempo obnubilado pelas influências (implicitamente julgadas como nefastas) e pelos efeitos
(à partida pensados como deletérios) dos estereótipos turísticos, da folklorização e da
mercantilização das (frequentemente reificadas) tradições culturais (veja-se, entre muitos
outros, Krippendorf 1977, Rajotte and Crocombe 1980; Turner and Ash 1975).
Mas nos últimos vinte anos têm vindo a ser feitas observações em defesa da emergência de
uma problemática alternativa. Com efeito, nas décadas de 1990 e 2000, uma nova geração
de autores começou a adotar uma perspetiva completamente diferente, menos crítica e
menos maniqueísta. Esta geração tem vindo a insistir nomeadamente na promoção das
tradições populares e dos saberes locais através do turismo, mas também na emergência de
novas formas de expressão cultural e de competências reflexivas (leia-se, de identidades)
que condicionam os modos de autodefinição coletiva no seio das sociedades em causa (vejase, nomeadamente Norhonda 1979, Harkin 1995, Krystal 2000, Picard 1996, 2001). O recurso
ao conceito de performance, por exemplo, abriu caminho a novas interpretações da agency
dos atores turísticos locais, bem como das suas identidades e das suas encenações.
O dossiê que aqui se propõe inscreve-se, assim, no prolongamento desta renovação da
problemática dos estudos turísticos no que diz respeito às dinâmicas identitárias e tratará as
seguintes questões:
1 – Ainda é atual esta dualidade dos estudos turísticos no tratamento da identidade?
2- Que síntese é possível fazer a partir dos trabalhos realizados nos últimos 20 anos?
3 – O que sabemos das implicações identitárias do turismo, no que diz respeito aos próprios
turistas?
4- Uma vez que durante muito tempo foi a escala coletiva que foi privilegiada, o que é que
sabemos hoje acerca dos reposicionamentos identitários dos indivíduos que, sendo ou não
turistas, são confrontados com as práticas turísticas e conduzidos a adotar esse modo de
vida ou de existência?
5 – Em que medida as dinâmicas identitárias suscitadas pelas práticas turísticas estão, elas
próprias, articuladas com dinâmicas identitárias desencadeadas por outros fatores como o
desenvolvimento e a transformação da coesão social e das práticas económicas – nos países
do Sul – ou as tensões geopolíticas e as questões das minorias étnicas – nos países cujos
Estados adotam políticas ativas nestes domínios (por exemplo, a China, o Vietname,
Marrocos etc)?
6 – Em que medida as teorias da identidade que apareceram e se difundiram na Filosofia
Política (Taylor, Ricoer, etc), na Sociologia (Castells, Giddens, Calhoum, etc), na Antropologia
(Appadurai, Amselle, etc) ou nos estudos de género (Butler) contribuíram ou poderão vir a
contribuir para uma renovação da questão identitária no seio dos estudos turísticos?
7 – Como se articulam, no campo turístico, as identidades de género, de classe e de «raça»,
quer do ponto de vista dos turistas, quer do das populações locais?
Este dossiê será coordenado por Ouidad Tebbaa (Marraquexe), Ouassa Tiekoura (Niamey),
Jean-François Staszak e Bernard Debarbieux (Genebra).
Calendário
A chamada será lançada com a inauguração da página Web da revista e os artigos serão
recolhidos até ao fim de março, traduzidos e publicados até ao fim do ano de 2012.
L'appel sera lancé avec du site web de la revue et les articles collectés dans le courant du
printemps (échéance: fin mars), traduits et publiés en fin d'année 2012.
Referências
Amselle, J.-L. (2010). Logiques métisses. Anthropologie de l'identité en Afrique et ailleurs.
Paris, Payot.
Appadurai, A. (1988). "Putting Hierarchy in its Place." Cultural Anthropology 3(1): 36-49.
Appadurai, A. (1996). Modernity at large, Cultural Dimensions of Globalization.
Minneapolis, University of Minnesota Press.
Castells, M. (1997). The power of identity. London, Blackwell.
Cazes, G. (1989). Le tourisme international: mirage ou stratégie d'avenir ? Paris, Hatier.
Cohen, E. (1988). "Authenticity and Commoditization in Tourism." Annals of Tourism
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Erb, M. (2001). "Le tourisme et la quête de la culture Manggarai " Anthropologie et
Sociétés 25(2): 93-108.
Giddens, A. (1994). Les conséquences de la modernité. Paris, L'Harmattan. Traduction de
The Consequences of Modernity, 1990, Stanford University Press.
Harkin, M. (1995). "Modernist Anthropology and Tourism of the Authentic." Annals of
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Krippendorf, J. (1977). Les dévoreurs de paysage, Lausanne.
Krystal, M. (2000). "Cultural Revitalization and Tourism at the Moreria NimaKicke'."
Ethnology 39: 149-161.
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Nash, D. (1996). Anthropology of Tourism. Oxford and New York, Pergamon Press.
Norhonda, R. (1979). Paradise reviewed : Tourism in Bali. Tourism : Passport to
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Rajotte, F. and R. Crocombe (1980). Pacific Tourism: As the Islanders see it. Fiji, South
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Taylor, C. (1998). The Sources of the Self. Cambridge, Harvard University Press.
Turner, L. and J. Ash (1975). The Golden Hordes. London, Constable.