Porque discipulado é melhor do que evangelismo
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Porque discipulado é melhor do que evangelismo
Porque discipulado é melhor do que evangelismo Bill Hull e Bobby Harrington Evangelismo é uma palavra desconsiderada por muitos cristãos. Isso pode ser uma coisa boa. Jesus nos disse para pregar “o evangelho” (Mc 13.10), mas ele nunca ordenou apenas evangelismo. Ele nos mandou “fazer discípulos”. Ele deu a ordem de fazer discípulos em Mateus 28.19-20. Duas frases subordinadas descrevem como fazer discípulos. A primeira parte de “fazer discípulos” é quando uma pessoa chega à fé em Jesus. Mateus 28.19 vê esse processo concretizando-se por meio do batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. É comum pensar nisso como evangelismo. A segunda parte de fazer discípulos é “ensinar as pessoas a guardar tudo o que Jesus ordenou”. Costumamos pensar nesta segunda parte como discipulado. Mas a segunda parte não é mais do que o seguimento da primeira parte. Evangelismo e discipulado (como entendemos vulgarmente) — são realmente a frente e o verso de uma mesma moeda. A moeda é o discipulado. O evangelismo é simplesmente discipulado pré-conversão. ---------Ao longo de anos servindo e liderando o ministério em uma igreja local, ambos concordamos que o mais difícil problema da igreja não é o crescimento ou a “porta giratória”, como alguns poderiam dizer. O desafio mais profundo da igreja está em convencer seus cidadãos de que quem eles são e o que fazem fora de cultos da igreja é a verdadeira obra de Deus. Alguns chamaram isso de “estar no mundo”, ou “estar em missão”. Achamos que há um amplo acordo entre os líderes da igreja que levar as pessoas a fazer o que devem lá fora é mais difícil do que fazê-las se reunirem aqui. Por essa razão, muitos líderes e igrejas reduziram a expectativa de que o cristão comum vai realmente colher qualquer tipo de colheita em suas vida normal. [...] Mas é possível que o discipulado e evangelismo não sejam concorrentes? Será que eles são como irmãos de um mesmo pai? Eles continuam gerando celebrações e eventos especiais para cada um. As pessoas falam deles nas mesmas frases e usam os nomes em cursos acadêmicos. Eles são muitas vezes o ponto crucial de uma pergunta, durante um painel de discussão ou estudo: “Qual é a relação da evangelização com o discipulado?” Ou a pergunta mais provocativa: “O que vem primeiro, o evangelismo ou discipulado — é possível ter um sem o outro?” Pode parecer que existe um conflito entre um e outro [...]. Talvez sintamos a necessidade de nos concentrar, ou enfatizar, um sobre o outro. No entanto, claramente, quando você tem apenas um e não os dois, as coisas não vão bem. Evangelismo sem discipulado tende a ser de curta duração, com foco em embalagem, apresentação, contabilização e impressão. A conversão torna-se a linha de chegada; está tudo bem, e quaisquer outros deveres são opcionais. Eu (Bobby) cresci como um não-cristão e ainda tenho muitos amigos nãocrentes. Um dos meus maiores arrependimentos é Gayle, uma de nossas melhores amigas. Minha esposa e eu a levamos a Cristo. Num primeiro momento, ela parecia muito animada e fervorosa, mas, então, era como se ela já tivesse o suficiente [...]. Sinceramente, naquela época nós poderíamos ter feito melhor, em termos de Por que discipulado é melhor do que evangelismo | 1 ensino. Era como se Gayle tivesse feito um acordo com Deus; seu seguro eterno foi comprado. Apesar dos nossos esforços, ela nunca conseguiu compreender conversão como confiar e seguir Jesus por toda a vida. Tenho certeza de que você já teve uma Gayle em sua própria vida. Por outro lado, o discipulado sem evangelismo cria a condição pouco saudável de esterilidade nos seguidores de Cristo. Cristãos que não evangelizam não são realizados em suas vidas e assumem uma certa mesquinhez intramural. Quando as pessoas são educadas para além do seu nível de obediência [enchem-se de teorias não praticadas], elas se tornam esquizofrênicas religiosas [creem em uma outra e praticam outra], especialistas sobre o que elas mesmas não experimentam [o típico teórico do evangelismo que não evangeliza]. Ambos, discipulado e evangelismo, são necessários. Será que o evangelismo é a parte dianteira discipulado e o amadurecimento, como alguns acreditam, a parte de trás? Quando um ou outro faltam, cristãos e igrejas sofrem. Mais importante ainda, o que Jesus nos disse para fazer sofre. Palavras importam. Portanto, antes de irmos adiante, devemos definir o que entendemos por evangelismo e discipulado. Evangelismo Até certo ponto, evangelismo e discipulado são palavras inventadas, cunhadas para descrever funções importantes. Evangelismo está enraizado na palavra grega euaggelion, que significa uma boa notícia. Historicamente, “evangelizar” é anunciar a Boa Nova. Agora, usamos evangelismo como um termo genérico para todo o campo de estudo, pesquisa e processo de propagação do evangelho. Não podemos esperar para explorar completamente o estado atual da evangelização neste eBook, mas podemos identificar três observações que podem ser úteis na descrição de evangelismo no Hemisfério Ocidental. 1. Universalmente, os cristãos evangélicos concordam que o evangelismo deve ser feito. E enquanto a maioria de nós nunca admita isso, também há consenso quase universal de que você pode ser um bom cristão e não evangelizar. Dizemos isto com confiança. Considere a estatística recente que menos de um quarto dos frequentadores de igreja protestantes se envolve em contar aos outros sobre Cristo de uma forma que ajuda o ouvinte a tomar uma decisão informada. 2. Não temos nenhuma expectativa consistente real de que o crente comum reproduzirá a si próprio1 e ensinará outros em resposta direta ao mandamento de Cristo de fazer discípulos. Precisamos perguntar a professores e mestres da igreja: “Qual é a sua razão para não obedecer a comissão do Senhor de fazer discípulos?” 3. Ao longo dos últimos 50 anos, vários tipos de evangelismo agressivo, não produziram a safra esperada de novos crentes que poderia ter penetrado todos os domínios da sociedade, de modo a transformar a cultura. Isso não tem nada a ver com quantos decidiram seguir Jesus, mas sim quantos foram ensinados que se espera deles que penetrem sua esfera de influência. Os evangélicos têm sido bem sucedidos em suas cruzadas, fóruns públicos, televisão e novas mídias. Estes esforços, enquanto produzem uma descarga de adrenalina para os cristãos, não tocam o caráter nacional, especialmente na igreja. A igreja perdeu terreno, cada vez mais vivendo nas margens. E o 1 Em meu livro Discipulado Integral, argumento que discipular não é reproduzir a pessoa do discipulador no discipulando, mas reproduzir Cristo. [Nota do Tradutor]. Por que discipulado é melhor do que evangelismo | 2 público em geral pensa em evangelismo como simplesmente incomodar as pessoas. A boa notícia é que a igreja está desesperada para encontrar uma maneira melhor [de evangelizar], o que pode ser que alcançar as pessoas é mais privado do que público, e é pessoal e enraizado nos relacionamentos. Pode ser que a solução seja de mão em mão, pessoa por pessoa, nas situações ordinárias comuns da vida. Discipulado Como o evangelismo, a palavra “discipulado” não está na Bíblia. Ao acrescentar “ado” [a discípulo], o discipulado significa, literalmente, “a relação de aprendizagem” ou “seguir um professor”. Algumas pessoas gostam de se referir a ele como aprendizado, o que nós pensamos que é uma boa descrição. Em suas raízes, o discipulado cristão significa seguir e aprender com Jesus. Em Mateus 28.18-20, fazer discípulos é descrito como um “mandato fundamental” (que tomamos como um sinônimo para o discipulado). Então, Jesus aproximou-se deles e disse: “Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos (NVI). Sugerimos uma definição para o discipulado (e fazer discípulos) com base em Mateus 28.18-20 e exemplo de Jesus: “Discipulado é, confiando na presença de Deus, entrar intencionalmente nas vidas de outras pessoas a fim de orientá-las a confiar em Jesus e segui-lo, obedecendo a todos os seus ensinamentos”. Infelizmente, a igreja tem reduzido discipulado para um programa ao invés de uma vida de seguimento de Cristo e aprendizado com ele, como ele exemplificou aos seus discípulos. Essa abordagem programática criou uma percepção negativa do discipulado em muitos que “tentaram” algum currículo ou programa que não os ajudou. Como introdução, oferecemos algumas observações sobre o estado do discipulado. 1. O [atual] movimento de discipulado deve produzir mais do que uma mera identidade de nicho cultural. A maturidade espiritual é medida apenas por desempenho cognitivo ou conhecimento bíblico, em vez de frutificação. Para os que se preocupam com o conteúdo da fé, este nicho se torna um porto seguro. O discipulado é centrado na cabeça, com foco na educação bíblica. A pessoa comum, que não está comprometida com profundo estudo da Bíblia, tende a afastar-se [do discipulado]. 2. O [atual] movimento de discipulado encontra-se muitas vezes em crise devido à desconexão entre discipulado e reprodução. [O discipulado bíblico] baseia-se na ideia de que ele vai reproduzir-se e não perecer. O “ensinandoos a guardar tudo o que Cristo ordenou”, parte da Grande Comissão, não reproduziu-se porque caiu no abismo de baixas expectativas — as mesmas expectativas que muitas vezes afundam o evangelismo. Em vez disso, precisamos descobrir como lançar uma visão de grandes expectativas de multiplicação. 3. Ao lado de reprodução, a parte mais difícil do discipulado é a mútua prestação de contas, que é absolutamente necessária e muito propensa a abusos. Tendemos a ser muito controladores ou muito frouxos [...]. As pessoas precisam de incentivo, apoio e muitas vezes uma mão firme para ajudá-las a manter os seus compromissos para com Deus. O legalismo e Por que discipulado é melhor do que evangelismo | 3 controle não funcionam, mas como líderes precisamos encontrar maneiras de neutralizar a forte pressão do libertinismo na igreja quando se trata de responsabilidade pessoal. Este é o marco zero-onde a batalha é muitas vezes travada. A comissão de fazer discípulos é o cerne onde evangelismo e discipulado se encontram. Jesus proferiu a Grande Comissão para dar aos seus seguidores tanto uma razão (salvar o mundo) quanto um plano (encontrar e fazer mais discípulos). Nossa perspectiva: Evangelismo e discipulado não são duas coisas; eles são uma só. Jesus nos ordenou a “fazer discípulos”. Duas frases subordinadas descrevem como realizar a Grande Comissão. A primeira parte de fazer discípulos é o processo de uma pessoa “confiar em Jesus e dispor-se a segui-lo”. A Bíblia vê esse processo na confirmação do batismo. A segunda parte de fazer discípulos é “ensinar as pessoas a obedecer tudo o que Jesus ordenou”. Costumamos pensar desta segunda parte como discipulado, uma viagem ao longo da vida, aprendendo com Jesus como viver a vida como se [o próprio] Jesus estivesse vivendo isso. Mateus 28 é um mandamento de Jesus que contém uma expectativa de reprodução. Os novos discípulos se tornam discípulos bem ensinados que, por sua vez abraçam a missão e fazem outros novos discípulos. Qualquer coisa menos do que isso é sabotagem ao Plano Mestre. O evangelismo é simplesmente uma forma de discipulado pré-conversão. Os dois — evangelismo e discipulado — são a frente e o verso de uma mesma moeda. Quando nos envolvemos neste processo de fazer discípulos, Jesus nos diz que ele estará presente conosco, até o fim dos tempos (Mt 28.20). A pergunta: Trinta anos após a formatura no seminário, eu (Bill) fui convidado para abordar o corpo docente e corpo discente em minha alma mater.2 Comecei com uma questão: “Depois de trinta anos de ministério, eu ainda me pergunto: Por que a igreja insiste em tentar alcançar o mundo sem fazer discípulos?” Esta pergunta atinge o cerne da questão discipulado-evangelismo. A igreja continua a lutar com uma missão desconectada. Discípulos têm uma missão, e a missão é alcançar as pessoas. Evangelismo necessita de discípulos que amadureçam até o ponto de reprodução. Discipulado inclui evangelismo e evangelismo é uma parte do discipulado. Disponível em: <http://discipleship.org/uncategorized/why-discipleship-is-betterthan-evangelism/>. Acesso em: 19 Ago. 2014. Este artigo é um trecho do e-book Evangelismo ou Discipulado, disponível através da Amazon, em: <http://www.amazon.com/Evangelism-DiscipleshipThey-Effectively-Together-ebook/dp/B00LD62AWQ/ref=sr_1_1?s=digitaltext&ie=UTF8&qid=1405620895&sr=11&keywords=evangelism+or+discipleship>. Acesso em: 19 Ago. 2014. Traduzido e adaptado por Misael Nascimento. 2 Alma mater é uma expressão latina que designa a instituição de ensino onde o aluno se graduou. [Nota do Tradutor]. Por que discipulado é melhor do que evangelismo | 4