Tese Doutorado Sutili
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Tese Doutorado Sutili
Tese BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL por Fabrício J. Sutili Universidade Rural de Viena Departamento de Engenharia Civil e Perigos Naturais Instituto de Bioengenharia de Solos e Planejamento da Paisagem BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL ESPÉCIES APTAS, SUAS PROPRIEDADES VEGETATIVO-MECÂNICAS E EMPREGO NA PRÁTICA Tese apresentada à Universidade Rural de Viena para obtenção do grau de doutor elaborada por Eng° Ftal, M.Sc. Fabrício J. Sutili Orientação: O. Univ. Prof. Dr. Florin Florineth (Universidade Rural de Viena / Viena / Áustria) a. o. Univ. Prof. Dr. Johannes Hübl (Universidade Rural de Viena / Viena / Áustria) Prof. Dr. Miguel Antão Durlo (Universidade Federal de Santa Maria / Rio Grande do Sul / Brasil) Viena, novembro de 2007 Nota do autor Esse trabalho foi escrito concomitantemente em idioma alemão (A) e português (BR). Com exceção de algumas das notas de rodapé, as duas versões correspondem-se identicamente em conteúdo. Titulo da versão em língua alemã: Ingenieurbiologie an Fliessgewässern in Südbrasilien geeignete Pflanzen, ihre biologisch-mechanischen Eigenschaften und Anwendung in der Praxis BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL PREFÁCIO E AGRADECIMENTOS Meu interesse pela bioengenharia de solos surgiu ainda no ano de 2000, quando, na região da chamada “Quarta Colônia de Imigração Italiana” – RS, desenvolvia-se o projeto “Revitalização da Pequena Propriedade Rural na Região Central do Rio Grande do Sul, Brasil, pelo Cultivo Florestal”. Esse projeto, realizado em cooperação entre o Instituto de Pesquisa em Crescimento Florestal (Institut für Waldwachstumsforschung) da Universidade Rural de Viena (Universität für Bodenkultur, Wien) e o Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Santa Maria, tinha por objetivo fomentar a atividade florestal na região. Mesmo não sendo a bioengenharia de solos tema deste projeto original, não tardou para que fosse notada a possibilidade de aplicação destas técnicas de intervenção, já conhecidas e difundidas na Áustria. Estas se apresentavam como solução a uma série de problemas que os pequenos agricultores enfrentavam na tentativa de estabilizar as margens dos rios e arroios de comportamento torrencial. Ao se constatar isso, foram realizados os primeiros contatos em Viena, com o Instituto de Bioengenharia de Solos (Institut für Ingenieurbiologie und Landschaftsbau – IBLB). Mais tarde – em 2003 – em conjunto com esse último instituto de pesquisa, deu-se início a um trabalho de investigação das propriedades vegetativo-mecânicas da vegetação ribeirinha local e implantação de algumas obras experimentais de estabilização de taludes fluviais, obtendo-se, assim, as condições necessárias para o desenvolvimento desta tese de doutorado. Por isso, quero, antes de tudo, agradecer aos idealizadores daquele primeiro projeto, o ASS. PROF. DR. DR. H.C. FRANZ H. ANDRAE e o PROF. DR. MIGUEL A. DURLO, que foram também responsáveis por iniciar os meus contatos com o meu futuro orientador. A esses meus professores e amigos, não só agradeço, como dedico este trabalho. Ao meu orientador O. UNIV. PROF. DR. FLORIN FLORINETH quero agradecer, tanto pela orientação, como também pela atenciosa maneira como me recebeu e tratou. Quero estender meus agradecimentos a todos os meus colegas do IBLB, que me proporcionaram, durante três anos, um excepcional ambiente de trabalho e aprendizado. Mas quero, sim, fazer especial referência ao UNIV. ASS. DR. HANS PETER RAUCH, que acabou por se revelar, tanto meu orientador informal, como também colega neste e em outros projetos. Agradeço também ao DI STEPHAN VOLLSINGER, responsável pelos primeiros contatos e por ajudar nos passos iniciais do projeto que acabou por dar origem a minha tese. . 5 Eu seria extremamente injusto se deixasse de lembrar não só a minha querida universidade de origem, a UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), mas, também, os nomes de alguns professores desta universidade, que considero responsáveis pela minha formação e que muito me ajudaram nos meus planos de doutorado. Meus sinceros agradecimentos ao PROF. DR. DELMAR A. BRESSAN, ao PROF. DR. JOSÉ N. C. MARCHIORI, ao PROF. DR. CÉSAR A. G. FINGER, ao PROF. DR. CLÓVIS HASELEIN, ao PROF. DR. PAULO R. SCHNEIDER e ao PROF. DR. MAURO V. SCHUMACHER. Menciono, em especial, o meu colega ENG° FTAL RAFAEL DORNELLES, que participou de todas as fases dos trabalhos de campo, uma ajuda muito importante para a realização desta tese. A ti, meu amigo, meu muito obrigado! Agradeço também às pessoas que, nos momentos iniciais – os mais difíceis! – me ajudaram com todo o amparo de que precisei. Aos meus pais CARMEN e IRINEU e ao meu querido irmão FERNANDO, muito obrigado! A ti, LUZIANE, só posso dizer que sem teu apoio inicial isso simplesmente não teria sido possível. Novamente na Áustria, expresso meu agradecimento aos meus queridos amigos DI KATHRIN PLUNGER e DI WERNER ALTREITER que foram pioneiros, ao desenvolverem suas dissertações de mestrado relacionadas ao tema de bioengenharia de solos, no Sul do Brasil. Desses primeiros trabalhos que realizamos juntos, nasceu não só um novo tema de interrese comum entre nossas universidades, mas também uma grande amizade. Ao DI STEPHAN LUTTER sou especialmente grato pela sua disposição em ler e fazer sugestões valiosas para a versão deste trabalho em língua alemã. Foram muitos os amigos que encontrei nesse curto período em que estive “fora de casa”, e a todos sou grato, tanto pela ajuda como pela amizade demonstrada. No entanto, agradeço e devo fazer referência nominal a dois deles: Ao BAKK. TECHN. JOSEF PAULIČ, por toda a ajuda e simpatia. Muito obrigado, Peppo! Ao DI CLEMENS WEISSTEINER de quem levo uma sincera amizade! Ver-nos-emos no Brasil! Por fim, não poderia eu deixar de mencionar e externar minha gratidão à, agora, também “minha” universidade BOKU (Universität für Bodenkultur, Wien) e às instituições que foram responsáveis pelo financiamento da minha tese de doutorado. À ÖAD (Österreichischer Austauschdienst) pela concessão da bolsa de estudos e à ÖAW / KEF (Österreichische Akademie der Wissenschaften / Kommission für Entwicklungsfragen) pelo financiamento das pesquisas e trabalhos de campo. Ao agradecer essas instituições austríacas, quero fazê-lo de maneira a demonstrar minha profunda gratidão ao país que elas representam e que de forma tão especial me recebeu e tratou durante o período em que lá fui hóspede. 6 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL RESUMO / KURZFASSUNG / ABSTRACT Técnicas de bioengenharia de solos são conhecidas e comumente utilizadas na Europa para a estabilização de taludes fluviais. Para implementar estas técnicas, espécies (plantas) adequadas devem ser selecionadas e diferentes métodos de intervenção devem ser experimentados com os materiais e sob as condições de trabalho locais. Este estudo apresenta os resultados dos testes e investigações sobre as características biotécnicas de algumas espécies do Sul do Brasil (Rio Grande do Sul). Além disso, foram instaladas e monitoradas sob as condições locais, diferentes obras de bioengenharia de solos. Entre as espécies estudadas: Phyllanthus sellowianus, Salix humboldtiana, Salix × rubens e Sebastiania schottiana revelaram-se capazes de produzir os efeitos esperados. Calliandra brevipes, Morus nigra, Pouteria salicifolia e Terminalia australis mostraram-se pouco promissoras. As técnicas de bioengenharia de solos experimentadas mostraram sucesso e puderam ser construídas com material local, de maneira prática e a um custo justificável. Palavras-chave: bioengenharia de solos, vegetação reófila, estabilização de taludes fluviais Ingenieurbiologische Bauweisen zur Sicherung von Fluss- und Bachufern haben sich in Europa durchgesetzt. Damit diese Methoden durchgeführt werden können, müssen geeignete Gehölze gesucht und getestet, und verschiedene Bauweisen dem Klima und den vorhandenen Materialien und Arbeitsbedingungen angepasst werden. In der vorliegenden Arbeit wurden verschiedene Gehölze auf ihre Eignung für ingenieurbiologische Uferschutzmaßnahmen getestet und Bauweisen unter lokalen Standortsbedingungen von Rio Grande do Sul (Südbrasilien) erprobt. Mit Ausnahme von Calliandra brevipes, Morus nigra, Pouteria salicifolia und Terminalia australis haben sich die anderen getesteten Arten, Phyllanthus sellowianus, Salix × rubens, Salix humboldtiana und Sebastiania schottiana als viel versprechend für ingenieurbiologische Maßnahmen herausgestellt. Die in situ erprobten Bauweisen konnten erfolgreich mit lokalen Baustoffen und bei annehmbaren Kosten durchgeführt werden. Schlüsselwörter: Ingenieurbiologie, Ufervegetation, Uferschutz, Südbrasilien In Europe, soil bioengineering measures are commonly used for the protection of the banks of rivers and creeks. In order to implement these techniques, appropriate plant species need to be selected and various soil bioengineering methods need to be investigated regarding their compatibility with the local climate, materials, and working conditions of Rio Grande do Sul (Southern Brazil). This study shows the results of the tests and investigations on various plant species from Southern Brazil. Moreover, different bioengineering constructions were installed and monitored in situ, focusing on their performance under local conditions. Among the studied species, Phyllanthus sellowianus, Salix humboldtiana, Salix × rubens and Sebastiania schottiana, are promising to be used in soil bioengineering. Calliandra brevipes, Morus nigra, Pouteria salicifolia and Terminalia australis did not show satisfactory results. The tested soil bioengineering structures were successfully built with local materials in an economical and practical way. Keywords: soil bioengineering, river bank vegetation, bank protection, Southern Brazil . 7 BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO E OBJETIVO 11 2 ÁREA EM ESTUDO 12 2.1 Localização e hidrografia 12 2.2 Clima 13 2.3 Geomorfologia, geologia e solos 14 2.4 Vegetação original 17 2.5 Vegetação atual e usos da terra 20 2.6 Processamento fluvial e problemas decorrentes 21 3 DESCRIÇÃO DAS ESPÉCIES 27 3.1 Calliandra tweediei Benth. 29 3.2 Calliandra brevipes Benth. 30 3.3 Phyllanthus sellowianus Müll. Arg. 31 3.4 Sebastiania schottiana (Müll. Arg.) Müll. Arg. 33 3.5 Pouteria salicifolia (Spreng.) Radlk. 34 3.6 Terminalia australis Camb. 35 3.7 Salix × rubens Schrank 36 3.8 Salix humboldtiana Willd. 38 3.9 Morus nigra L. 40 3.10 Hedychium coronarium J. König 41 3.11 Cynodon plectostachyus (K. Schum.) Pilg. 42 4 PROPRIEDADES TÉCNICAS DA VEGETAÇÃO 43 4.1 Desenvolvimento vegetativo 43 4.1.1 Metodologia dos canteiros experimentais 44 4.1.2 Resultados e discussão dos canteiros experimentais 46 4.1.3 Metodologia das estacas mantidas em água 50 4.1.4 Resultados e discussão das estacas mantidas em água 51 4.2 Flexibilidade 53 4.2.1 Metodologia do teste de flexibilidade 54 4.2.2 Resultados e discussão do teste de flexibilidade 59 4.3 Resistência ao arranquio 69 4.3.1 Metodologia do teste de resistência ao arranquio 70 4.3.2 Resultados e discussão do teste de resistência ao arranquio 73 . 9 5 OBRAS DE BIOENGENHARIA DE SOLOS 76 5.1 Parede-Krainer dupla e esteira viva com muro de pedras na base 77 5.2 Esteira viva com parede-Krainer dupla na base 79 5.3 Entrançado vivo diagonal 81 5.4 Desenvolvimento da vegetação utilizada nas obras 82 6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS 85 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 89 10 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL 1 INTRODUÇÃO E OBJETIVO Nas técnicas de bioengenharia de solos em obras que visam à perenização de cursos de água, estabilização de encostas, tratamento de voçorocas e ao controle da erosão de modo geral, não só os materiais inertes, como madeira, pedras, geotêxteis e estruturas de metal e concreto, mas também a vegetação é entendida e usada como componente estrutural. Portanto, para o sucesso destas obras, deve-se não só conhecer os modelos de intervenção preconizados, mas seu resultado fica também na dependência do conhecimento e adequado aproveitamento das características técnicas da vegetação. Surgidas inicialmente no âmbito fluvial, como medidas complementares aos métodos tradicionais de controle de torrentes (Wildbachverbauung), estas técnicas são conhecidas e utilizadas na Europa Central (Alemanha, Suíça, Norte da Itália e, sobretudo na Áustria) e também na América do Norte, há décadas. Nos métodos tradicionais lá empregados, as componentes ecológicas e estéticas foram em parte negligenciadas, em favor da “simples” solução técnica do problema. Atualmente, a bioengenharia de solos apresenta-se na Europa, em muitos casos, como alternativa aos modelos tradicionais, pois além de trazer solução aos problemas, essas práticas, quando corretamente empregadas, trazem ganhos estéticos, ecológicos, bem como possuem, normalmente, uma maior viabilidade econômica. Na Áustria, é hoje especialmente empregada na “re-naturalização” dos cursos de água que, no passado, foram quase totalmente retificados, calçados e/ou concretados pelos métodos tradicionais. Na região Sul do Brasil não se executaram e nem se tem necessidade de agora reproduzir esses métodos antecessores às técnicas de bioengenharia de solos, de modo que esta encontra assim um ponto diferente de partida. Estas técnicas apresentam-se no Brasil como alternativa na solução de uma série de problemas decorrentes do comportamento processual natural dos cursos de água, mas que, por vezes, são agravados ou mesmo, resultantes das ações antrópicas de ocupação. Esses problemas que representam tanto perdas econômicas como situações de risco, podem, com o devido conhecimento, serem mitigados ou mesmo solucionados pela bioengenharia de solos. Entretanto, os modelos de intervenção no Sul do Brasil são pouco conhecidos, como também se carece, quase que completamente, de informações sobre as características técnicas da vegetação. Sendo assim, este trabalho tem o objetivo de investigar e apresentar informações sobre algumas espécies vegetais, bem como experimentar, sob condições regionais, modelos de estabilização de taludes fluviais, baseados nas técnicas de bioengenharia de solos. . 11 2 ÁREA EM ESTUDO Neste capítulo, são reunidas informações de caráter macro-ecológico, tais como localização, hidrografia, clima, geomorfologia, geologia, solos, vegetação original e atual da área de estudo, bem como são discutidos os problemas decorrentes do processamento fluvial e das ações antrópicas de ocupação. O agrupamento destas informações tem como objetivo disponibilizar ao leitor um mínimo de informações sobre a região, tornando possível uma melhor compreensão dos problemas existentes e das proposições posteriormente apresentadas. Partes das informações aqui contidas já foram publicadas, de forma mais detalhada, por SUTILI (2001, 2004) e LUTTER / SCHERBAUM (2004), para um curso de água da região, em específico: o Arroio Guarda-mor; tanto nas publicações citadas como no presente trabalho, deu-se importância a descrições genéricas, porém práticas e que são válidas não só para as áreas de drenagem em questão, mas, com oportunas reservas, para toda a encosta sul do Rebordo da Serra Geral e Depressão Central do Rio Grande do Sul. 2.1 Localização e hidrografia O Rio Grande do Sul, juntamente com os Estados de Santa Catarina e Paraná, constituem a Região Sul do Brasil. De todos, o Rio Grande do Sul é o Estado mais meridional do Brasil e se encontra na faixa subtropical. Suas coordenadas extremas estendem-se de 27° a 34° de latitude sul e de 50° a 58° de longitude oeste. A área em estudo compreende, fundamentalmente, os domínios de drenagem dos Rios Soturno e Vacacaí-mirim. Estes cursos de água possuem suas cabeceiras ainda sobre o Planalto Gaúcho e encravadas no Rebordo Sul da Serra Geral. O Rio Soturno, no seu terço final, alcança a Depressão Central, ao confluir com o Rio Jacuí. Da mesma maneira, o Rio Vacacaí-mirim também é tributário do Rio Jacuí, no entanto tem seu maior trajeto na Depressão Central. O Rio Jacuí, por sua vez, é o principal curso de água que contribui à Laguna Guaíba (Fig. 1 e 3). A maioria dos cursos de água que descem do Planalto Gaúcho em direção à Depressão Central, apresenta similaridades no seu processamento fluvial. Com isso, acredita-se que as informações levantadas, como também as formas de manejo biotécnico testadas possam ser válidas, com as devidas adaptações, também para outros cursos de água da região do Rebordo e Depressão Central. 12 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL Estado de SANTA CATARINA Rio U rugua i Frederico Westphalen Erechim io ru gu ai R R io s ta lo U Rio Ij uí Pe Rio Passo Fundo Pir atin i Rio cuí Ja Cruz Alta Rio das Antas ri gu a R io Ja gu ai U ru R io í-m iri m Torres Rio Caí Santa Maria 30° sul Caxias do Sul o ac a turn ui Va c So Ibic Rio Taquari 29° Ri o Rio Rio Rio Jacuí Porto Alegre Uruguaiana Guaíba nti c o 53° at os AMÉRICA DO SUL Oc La gu na Rio Camaquã do sP a Mari Q ua ra í anta Rio S Ri o aí ac ac oV Ri ea no At lâ ARGENTINA Pelotas Rio Jag ão uar URUGUAI Rio Grande RIO GRANDE DO SUL 30° sul UTM Grid: SH. 21/22 J 54° oeste 54° oeste RS L M agu irim n a BRASIL Escala Chuí 50 25 0 50 100 150 200 km Fig. 1: Estado do Rio Grande do Sul (RS) com seus principais cursos de água e a área em estudo delimitada pela moldura. 2.2 Clima O clima desta região do Estado é subtropical do tipo Cfa 2, segundo a classificação de Köppen (MORENO, 1961), o que corresponde a condições climáticas úmidas, com verões quentes e chuvas bem distribuídas durante o ano. No entanto, pode ocorrer déficit hídrico nos meses de temperaturas mais elevadas (novembro a março). A temperatura média da região é de 19o C, e a precipitação anual oscila ao redor de 1.700 mm. Por outro lado, a ocorrência de precipitações que podem somar 2.500 mm anuais, alcançando mais de 400 mm nos meses mais chuvosos, marca os chamados anos de El Niño, que ocorrem com uma freqüência aproximada de cinco anos. O diagrama climático da Figura 2 mostra a variação anual da temperatura e precipitação. Em média, na região, ocorrem 25 dias de geada por ano. . 13 SANTA MARIA / BRASIL [30] (100 m) 19° C 1.700 mm 100 80 30 60 [mm] [°C] 20 40 10 20 0 0 J A S 0 N D J F M A M Mês temp. [°C] ppt. [mm] JUL 13,8 142 AGO 16,1 123 SET 16,0 151 OUT 18,7 174 NOV 21,1 133 DEZ 23,5 123 JAN 24,7 143 FEV 24,1 141 MAR 22,8 110 ABR 18,9 144 MAI 16,4 163 JUN 13,9 162 J * média de 30 anos Fig. 2: Diagrama climático da região de Santa Maria. 2.3 Geomorfologia, geologia e solos A metade norte do Rio Grande do Sul pertence ao grande compartimento geomorfológico do Planalto Meridional Brasileiro, subdividido em Topo (Planalto propriamente dito) e Rebordo do Planalto, que dá forma à Serra Geral (Fig. 3). Esta serra possui uma escarpa nordeste com cerca de 150 km de extensão, aproximadamente paralela à costa, que é a feição mais proeminente (relevos locais entre 600 até 1.000 m) e outra, bem mais extensa (mais de 600 km), conhecida como Rebordo do Planalto ou Vertente Sul da Serra Geral, que se estende de leste a oeste, formando uma borda profundamente recortada e erodida, que divide a área de estudos ao meio. A divisão geomorfológica do Estado é mostrada na Figura 3; uma pequena descrição topográfica sobre cada Formação é dada na tabela que segue a ilustração (Tab. 1). A região fisiográfica da Depressão Central, que se encontra sobre um compartimento geomorfológico de mesmo nome, é subdividida em áreas de coxilhas e de planícies aluviais. O Rio Jacuí nasce no Planalto e possui seu curso médio fortemente encaixado no Rebordo; em seguida, passa a descrever o seu curso entre planícies e coxilhas da Depressão Central, ao sopé da escarpa leste–oeste da Serra Geral. As pequenas variações altimétricas da Depressão Central só são interrompidas pelos relevos residuais relacionados à Serra Geral, que testemunham a profunda reesculturação e recuo para o norte, devido aos processos de erosão e ao entalhamento regressivo dos cursos de água que drenam a encosta. Na área em estudo, cursos de água (como o Vacacaí-mirim, o 14 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL Rio Soturno e seus afluentes Arroio Guarda-mor e Rio Mello) drenam a escarpa leste–oeste da Serra Geral, nascendo no Planalto e alcançando a Depressão Central, com diferenças altimétricas entre o topo e o talvegue superiores a 400 metros (Fig. 4 e 5). Rio í cu Ja Rio rno Sotu S. Maria Rio Jacuí Topo Rebordo Planalto -Serra Geral- Depressão Central Escudo Sul-riograndense Escala Planície Litorânea 0 50 100 150 km Fig. 3: Compartimentação geomorfológica do Estado do Rio Grande do Sul; posição do Rio Jacuí, Vacacaí-mirim e Soturno. Detalhe da área de estudo. Nome Planalto descrição Topo: platô que se estende da costa continente adentro, com altitudes decrescentes que vão de 1.400 até 200 m acima do nível do mar. Rebordo do Planalto ( = Serra Geral): forma uma escarpa em direção à costa e outra em direção ao sul. Depressão Central Planície sedimentar (aluvial) com altitudes inferiores a 100 m, localizada entre o Planalto e o Escudo Sul-riograndense. Escudo Sul-riograndense O Escudo Sul-riograndense é constituído por uma antiga formação granítica (Pré-Cambriano) que dá forma a colinas e montanhas que se elevam até 600 m acima do nível do mar. Planície Litorânea Área de planícies com presença de grandes lagunas. Tab. 1: Rápida descrição das Formações geomorfológica do Estado do Rio Grande do Sul. . 15 N S PLANALTO _500 m REBORDO Rio Mello / Arroio Guarda-mor DEPRESSÃO CENTRAL 80 m Rio Soturno Fig. 4: Seqüência topográfica do Planalto à Depressão Central, com destaque (no primeiro plano) para a mata ciliar do Rio Mello / Arroio Guarda-mor e do Rio Soturno, já nos seus terços finais, quando alcançam a Depressão Central [fev. 2002]. N Seq. superior S F. Serra Geral Seq. inferior F. Botucatu F. Caturrita PLANALTO F. Santa Maria 500 Depósitos fluviais recentes Altitude [m] 400 Morro testemunha REBORDO 300 DEPRESSÃO CENTRAL Arroio 200 Rio 100 0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 Distância [m] Fig.5: Perfil topográfico-geológico direção norte–sul, mostrando esquematicamente a seqüência litológica na transição Planalto – Rebordo – Depressão Central, normalmente encontrada em um corte transversal na região do estudo [adaptado do mapa geológico da carta de Camobi (BRASIL, 1976)]. No Planalto, onde ocorre o segmento superior da Formação Serra Geral, o relevo é suavemente ondulado e predominam solos profundos e fortemente intemperizados, os Latossolos. À medida que se aproxima do Rebordo do Planalto, as inclinações tornam-se mais acentuadas, iniciando-se a ocorrência de Argissolos de profundidade mais variável. A parte superior do Rebordo do Planalto é constituída de frentes abruptas e escarpadas, 16 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL expondo tanto a seqüência superior quanto a inferior da Formação Serra Geral. Nestas áreas, ocorrem Argissolos e também Neossolos Litólicos. Devido à instabilidade destas encostas, os deslizamentos e o entalhamento regressivo acabam expondo constantemente as rochas. Na seqüência, está a Formação Botucatu e, ao sopé dos contrafortes (já na Depressão Central), a Formação Caturrita, caracterizadas por rochas de constituição arenítica (esta última mais resistente), onde ocorrem principalmente Alissolos. Por vezes, a Formação Botucatu pode ocorrer entreposta (intertrapes) às camadas do derrame basáltico que constituem a Formação Serra Geral. Perifericamente à Formação Caturrita, estende-se uma planície aluvial que recebe o nome de Formação Santa Maria, dividida em membro Alemoa e Passo das Tropas. Essa formação dá origem aos Planossolos, por vezes associados à presença de Gleissolos. À margem dos grandes cursos de água da região, existem depósitos fluviais recentes que formam Neossolos Flúvicos. Segundo PONTELLI (1994), a formação geológica do Rebordo do Planalto pertence à seqüência sedimentar gonduânica, que preencheu a Bacia do Paraná (Formação Santa Maria, Caturrita e Botucatu), como também aos derrames fissurais do final do Jurássico e início do Cretáceo, representado pela Formação Serra Geral, com uma seqüência inferior básica (basaltos) e uma superior ácida (granófiros e vitrófiros), conforme pode ser observado na Figura 5. 2.4 Vegetação original A vegetação original da área em estudo é predominantemente florestal, e pertence à região ecológica da Floresta Estacional Decidual que, por sua vez, é compartimentada nas Formações Aluvial, Submontana e Montana (TEIXEIRA / COURA NETO, 1986; PASTORE / RANGEL FILHO, 1986; LEITE, 1994 e 2002). Veja Figura 6. As áreas de drenagem da maioria dos pequenos e médios cursos de água da região possuem suas cabeceiras em cotas que mal superam o limite de 400 m. Os pequenos cursos de água que aí se formam, em seguida passam a drenar os contrafortes da Vertente Sul da Serra Geral, alcançando, então, os vales do Rio Soturno, Vacacaí e Vacacaí-mirim, principais afluentes do Rio Jacuí (Fig. 1). A área em estudo recebe, assim, influência das três Formações da Floresta Estacional Decidual, com destaque às Formações Submontana e Aluvial. . 17 Fig. 6: Vegetação original do Estado do Rio Grande do Sul (DE QUADROS / PILLAR, 2002). Floresta Ombrófila Densa Floresta Ombrófila Mista Restinga Floresta Estacional Decidual Campos Floresta Estacional Semidecidual Água (lagunas) Conforme LEITE (2002), a Floresta Estacional Decidual apresenta estrutura distinta, que pode ser agrupada em quatro estratos: o primeiro, descontínuo, de árvores altas e emergentes; o segundo, bastante denso, de árvores com altura mais ou menos uniforme; o terceiro, de arvoretas; e o quarto, de arbustos (Fig. 7). 25 m 20 15 10 5 0 10 20 30 Fig. 7: Estratificação vertical da Floresta Estacional Decidual (RODERJAN et al., 2002). 18 . 40 50 m BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL Na formação Montana sobressai-se Parapiptadenia rigida (angico-vermelho), Cedrela fissilis (cedro), Cabralea canjerana (canjerana), Myrocarpus frondosus (cabriúva), Patagonula americana (guajuvira), Luehea divaricata (açoita-cavalo), entre outras. A Formação Florestal Submontana possui um número maior de espécies e, estruturalmente, caracteriza-se por apresentar um estrato arbóreo emergente, no qual predominam Apuleia leiocarpa (grápia), Parapiptadenia rigida (angico-vermelho), Myrocarpus frondosus (cabriúva), Cordia trichotoma (louro), Phytolacca dioica (umbú); um estrato dominado, constituído essencialmentee por: Patagonula americana (guajuvira), Luehea divaricata (açoita-cavalo), Nectandra megapotamica (canela-preta), Eugenia rostrifolia (batinga), Ocotea puberula (canela-guaicá), Pachystroma longifolium (mata-olho); e um estrato de arvoretas, onde se destacam: Actinostemon concolor (laranjeira-do-mato), Sorocea bonplandii (cincho) e Trichilia claussenii (catiguá). Na Formação Aluvial, ocorrem pequenas variações estruturais e florísticas, em função das condições locais de drenagem: Nas áreas freqüentemente inundáveis e de drenagem lenta, o estrato arbóreo é aberto, sendo dominado por Erytrina cristagalli (corticeira-do-banhado), Salix humboldtiana (salseiro), Inga vera (ingá), Sebastiania commersoniana (branquilho), Syagrus romanzoffiana (jerivá), Sapium glandulatum (toropi) e outras. Nos locais de solos drenados, esporadicamente inundáveis, a cobertura arbórea é densa, sendo formada principalmente pelas espécies: Luehea divaricata (açoita-cavalo), Patagonula americana (guajuvira), Parapiptadenia rigida (angico-vermelho), Ruprechtia laxiflora (farinha-seca) e Cupania vernalis (camboatá). No estrato das arvoretas, dominam os “sarandis” (Phyllanthus sellowianus, Pouteria salicifolia, Sebastiania schottiana e Terminalia australis), bem como Casearia sylvestris (chá-de-bugre), e Bambusa trinii (taquaraçú). Neste estrato, é comum a presença das “caliandras”, Calliandra brevipes de forma mais expressiva, e Calliandra tweediei, com menor ocorrência. 1 As informações sobre a constituição florística das Formações Montana, Submontana e Aluvial, da Floresta Estacional Decidual, pertencem ao Projeto-RADAMBRASIL (TEIXEIRA / COURA NETO, 1986; PASTORE / RANGEL FILHO, 1986). . 19 2.5 Vegetação atual e usos da terra A vegetação atual desta região colonial do Estado ainda é significativamente composta por florestas. Como em outras partes do Sul do Brasil, essa região se caracteriza pela presença de pequenas propriedades rurais (90% delas com menos de 50 ha) e produção baseada na mão-de-obra familiar (Tab. 5). A economia local fundamenta-se no policultivo e a cobertura florestal concentra-se principalmente na área do Rebordo. Área [km²] População [n°] Silveira Martins 120 3.600 Propriedades rurais [n°] 378 Faxinal do Soturno 170 6.800 São João do Polêsine 86 Dona Francisca Municípios Número de propriedades rurais por classe de tamanho [ha] 0-25 25-50 50-100 +100 266 80 20 12 690 347 263 74 6 2.800 520 380 101 33 6 114 3.900 620 383 188 47 2 Ivorá 123 2.500 481 262 151 62 6 Nova Palma 314 6.300 1.200 756 306 113 25 Pinhal Grande 477 4.700 903 360 382 82 79 Quarta Colônia 1404 30.600 4.792 2.754 1.471 431 136 Tab. 2: Área dos municípios, população (estatísticas de 2005, fonte: IBGE, 2006) e número de propriedades rurais (estatísticas de 1991; fonte: DCFL / UFSM, 1996), da região da Quarta Colônia. Nos fragmentos florestais, especialmente nas áreas de topografia acidentada, ainda se pode reconhecer a estrutura e a composição primitiva (original). Atualmente, entretanto, estas florestas possuem uma riqueza biológica bem menor que a original, sobretudo com relação às espécies euxilóforas. Os espécimes de valor e porte comercial são agora raros, e o manejo destas florestas e das capoeiras emergentes não é praticado por impedimento legal. Por este motivo, grande parte das áreas de topografia acidentada é atualmente improdutiva. A atividade produtiva, normalmente de caráter agrícola, é praticada nas áreas menos declivosas, tanto no Planalto como na Depressão, e nas áreas intermediárias do Rebordo. No Planalto, a exploração baseia-se tanto na pecuária como na agricultura, tendo como principais produtos batata, soja, trigo, milho e feijão. Nas áreas intermediárias do Rebordo, o fumo, a fruticultura e a cultura da batata são importantes. As várzeas da Depressão Central são destinadas, quase que exclusivamente, para a produção de arroz. 20 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL 2.6 Processamento fluvial e problemas decorrentes Segundo a proposta de SUTILI (2001), a bacia hidrográfica do Arroio Guarda-mor, bem como a região, de forma geral, pode ser dividida em quatro “seções”. Essa divisão leva em consideração o perfil longitudinal dos cursos de água – como, por exemplo, o do Rio Soturno, mostrado na Figura 8 – e parâmetros mensuráveis ou visualizáveis e de caráter prático, como a geologia, solos, topografia, vegetação, usos da terra e, em especial, o processamento fluvial predominante. Essa divisão é também constatável, retornando-se as Figuras 3, 4 e 5. I II III IV 500 Altitude [m] 400 300 200 100 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Distância [km] PERFIL LONGITUDINAL VISTA SUPERIOR DO CURSO DE ÁGUA PERFIL TRANSVERSAL escavação transporte e sedimentação sedimentação PRINCIPAL ATIVIDADE PROCESSUAL matacões seixos areia TIPO DE MATERIAL DEPOSITADO Fig. 8: Perfil longitudinal, vista superior e perfil transversal do Rio Soturno; principais atividades processuais e granulometría predominante do material depositado nas suas diferentes seções. . 21 Seção I Na primeira seção os rios e arroios apresentam uma declividade média, relativamente pequena e as áreas do entorno são formadas por colinas suaves. A exploração agrícola diversificada, a pecuária extensiva e os capões de mato mantêm o solo permanentemente protegido. Este padrão, somado ao pequeno volume de vazão e à manutenção de uma estreita faixa de vegetação florestal ao longo dos pequenos cursos de água, garante uma atividade processual mínima, não preocupante. Seção II Os cursos de água iniciam, na segunda seção, a descer os contrafortes da Serra Geral (o Rebordo). Suas águas, devido às altas pendentes, adquirem grande velocidade e formam cascatas. Em certos trechos toma forma um típico comportamento torrencial de montanha, com capacidade de escavação e transporte. Grandes trechos do leito dos cursos de água, no entanto, encontram-se diretamente esculpidos sobre um substrato basáltico, ou fluindo entre rochas de grandes dimensões e alta velocidade limite de transporte. Este fato faz com que as águas, embora apresentem grande velocidade, não causem problemas significativos, com exceção em eventos torrenciais de proporções singulares. Praticamente em toda a área desta seção, não se desenvolvem processos de erosão que tenham as ações antrópicas como agentes causadores. No entanto, é nesta região que os movimentos de massa devidos a causas naturais têm lugar. Após precipitações intensas e/ou cumulativas é comum a ocorrência de deslizamentos (escorregamentos) facilmente detectáveis por suas cicatrizes mais recentes. Devido à alta velocidade da água, todo o material escavado do próprio leito e/ou gerado pelos deslizamentos e que, de alguma forma, alcança o leito dos riachos, é transportado em grande velocidade para a seção seguinte ou para as demais, podendo aí se depositar. Nesta seção é que se encontra grande parcela da cobertura florestal permanente da região. Na sua maior parte a vegetação é formada por florestas nativas entremeadas por poucas e pequenas áreas de lavouras (fumo, milho, batata, fruticultura) e potreiros. Seção III Em toda a área da seção III, a cobertura vegetal já não é tão densa e homogênea, como a verificada na seção anterior. O uso da terra torna-se, outra vez, diversificado e intenso, formando, assim como na seção I, um belo mosaico. Da mesma forma, a vegetação marginal também não tem constituição tão uniforme como na seção anterior. O que se pode 22 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL observar nas margens é uma vegetação florestal, nem sempre característica da região (com espécies introduzidas e ruderais) muito variável em sua estrutura horizontal e vertical. As plantas ocorrem em pequenas manchas, por vezes densas, como a vegetação encontrada na seção II, por vezes composta por poucos indivíduos e com apenas alguns metros de extensão e largura. Muitos trechos das margens e da área da bacia de recepção não possuem cobertura vegetal; quando existente, muitas vezes não apresenta a densidade, a distribuição ou as características desejáveis e suficientes para perenizar o trajeto descrito pelos cursos de água. Os problemas são mais freqüentes e de maiores dimensões nas áreas aonde o cultivo agrícola e/ou a atividade pecuária chega até as margens. Os cursos de água que ganharam volume e força ao descer os contrafortes da Serra Geral encontram agora um leito formado por material de maior erodibilidade e menor velocidade limite de transporte. À medida que se acompanha o leito dos cursos de água no sentido nascente-foz, os problemas de erosão intensificam-se tanto no curso dos rios e riachos maiores, como nas pequenas ravinas contribuintes e ao longo das estradas e cabeceiras de pontes. Na tentativa de reconstituir a vegetação ribeirinha, os agricultores da região, usualmente, empregam taquaras de grande porte (Bambusa tuldoides Munro). No passado, esse tipo de ação foi inclusive fomentado pelas Ematers e Secretarias de Agricultura. A utilização de taquaras, porém, cumpre apenas em parte com seu propósito, conferindo estabilidade momentânea às margens dos cursos de água. Com o passar do tempo, as touceiras desenvolvem uma característica estética pouco interessante, além de altura e volume aéreo exagerados em comparação ao seu sistema radicial que, apesar de denso, é pouco profundo. Com a ação do vento, as touceiras funcionam como alavancas, facilitando a erosão das margens e a obstrução dos cursos de água, ao tombarem para seu interior (Fig. 9). O anteparo formado direciona a força da água contra as margens, resultando em novos pontos de desconfinamento e decorrente desestabilização dos taludes fluviais. Fig. 9: Touceiras de taquaras obstruindo o canal do Arroio Guarda-mor [Faxinal do Soturno / dez. 2003]. . 23 As touceiras de taquaras, bem como todo o material vindo de montante e erodido nas áreas da seção III, cedo ou tarde alcançam o leito dos rios e arroios, contribuindo com a obstrução dos canais. Materiais de menor granulometría, como seixos finos, cascalhos, areia e frações menores, dificilmente causam assoreamentos nesta seção, pois a velocidade da água é ainda alta e faz com que esses sejam transportados adiante. Entretanto, a deposição de entulhos sobrenadantes, tais como troncos e galhos que se emaranham na vegetação marginal ou em ilhotas, como também materiais mais pesados – grandes pedras e seixos – impedem, de forma bastante eficaz, a passagem da água e tornam possível o acúmulo do material mais fino que, normalmente, não seria depositado nestes pontos. Deste processo resultam ilhas efêmeras. Quando isto acontece, as pequenas ravinas muitas vezes forçam passagem por outros pontos, aumentando a erosão marginal e carreando ainda mais material. Muitas ilhas da seção III, por acumularem uma grande quantidade de material pesado, que não pode ser removido por um comportamento torrencial normal, possibilitam o desenvolvimento de vegetação que, por sua vez, auxilia na consolidação do local. Foi nestes pontos que primeiro se observou o potencial técnico de algumas espécies. O fato de algumas plantas se desenvolverem em locais de condições extremas, como entre troncos e pedras – e serem assim capazes de consolidá-los – traz a hipótese de que possuam as características técnicas, próprias para os tratamentos vegetativos necessários em outros locais. Cabe destacar que é somente nesta seção que estas espécies reófilas passam a ocorrer com freqüência. Seção IV Nesta seção, os cursos de água passam a descrever seus meandros por uma planície composta de material aluvial ainda mais friável que na seção anterior. A paisagem é dominada pela exploração intensiva através da orizicultura, atividade agrícola que encontra condições ideais nessas áreas de declividades mínimas. Os materiais mais pesados já encontraram sua velocidade-limite de transporte na seção anterior. Mas é só nesta seção de ainda menores declividades que a areia e outras partículas finas conseguem sedimentar-se. Ao depositar o material que é carreado das outras seções, as águas adquirem novamente capacidade de erosão e transporte. Isto facilita a escavação de material do raio externo dos trechos curvos, com sua respectiva sedimentação nos raios internos das curvas seguintes, obedecendo assim a um padrão de comportamento típico das torrentes de planície (Fig. 10). 24 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL Os problemas que já vinham ocorrendo na seção III intensificam-se e passam a representar prejuízos estéticos e econômicos ainda maiores. A dinâmica de corrosão e deposição causa perda de áreas agricultáveis tanto em um como no outro ponto. O intenso processamento fluvial redesenha constantemente os cursos de água, trazendo problemas de divisa em áreas que os têm como limite de propriedade. Na seção IV quase não se encontram formações florestais densas. Nas margens dos cursos de água onde não existem lavouras de arroz são encontradas apenas capoeiras com grau de fechamento e estrutura variável, por vezes substituídas, como na seção anterior, por taquarais implantados ou plantios de eucaliptos. Da mesma forma que os taquarais, o plantio de espécies de eucaliptos não garante a estabilidade das margens. Seu sistema radicular pouco apropriado e a exagerada massa aérea faz com que, paulatinamente, sejam escavados e levados pela força da água (Fig. 11). Fig. 10: Margem erodida no Rio Soturno [Faxinal do Soturno / dez. 2003]. Fig. 11: Eucaliptos instáveis na margem do Rio Soturno [Faxinal do Soturno / nov. 2005]. Em alguns trechos, os agricultores, também tentaram conferir estabilidade às margens, plantando taquaras de menor porte (Phyllostachys aurea A. & C. Riv.). Apesar de eficaz na estabilização dos barrancos, de não ser suscetível ao tombamento e de se multiplicar facilmente por divisão da touceira, esta espécie apresenta algumas características indesejáveis: os rizomas ultrapassam fácil e rapidamente os limites marginais, invadindo as áreas de agricultura. Seu controle é difícil: o uso de dessecantes é pouco eficiente e o controle só é atingido com aração e recolhimento criterioso dos rizomas. O uso de gramíneas – Pennisetum purpureum K. Schum. e Cynodon plectostachyus (K. Schum.) Pilg., por exemplo – traz resultados eficazes somente nos pequenos afluentes, normalmente de comportamento intermitente ou efêmero. No entanto, a ocorrência espontânea de espécies reófilas nos bancos de areia e margens não agricultadas torna-se ainda mais marcante que na seção anterior. . 25 A necessidade que os agricultores vêem em solucionar alguns problemas com o plantio de taquaras, eucaliptos etc., fica ainda mais evidente ao se deparar com tentativas frustradas de recanalização do leito, recomposição física das margens e de outras intervenções, como a mostrada pela Figura 12, feita sem a técnica e o conhecimento necessário. Fig. 12: Tentativa de estabilização de um talude fluvial nas margens do Rio Vacacaí-mirim [Santa Maria / nov. 2005]. Esse comportamento processual, em parte natural e em parte desequilibrado pela atividade antrópica, traz problemas e dificuldades aos proprietários que possuem áreas nas seções III e IV. Os problemas relacionam-se à perda de áreas produtivas, tanto nas áreas de erosão (corrosão) como nas de sedimentação (assoreamento). A necessidade de consolidar divisas de propriedades marcadas pelos cursos de água, bem como a perenização de rios, arroios e de canais artificiais necessários para a redistribuição da água usada nas lavouras de arroz, são alguns dos interesses particulares dos proprietários ribeirinhos. O problema torna-se comunitário, quando estradas, pontes e outras benfeitorias são ameaçadas. Destas constatações advém o interesse na busca de informações sobre a aplicabilidade prática da bioengenharia de solos como forma de estabilizar áreas (cortes e aterros naturais e/ou artificiais) e especialmente taludes fluviais, nesta região específica do Estado do Rio Grande do Sul. 26 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL 3 DESCRIÇÃO DAS ESPÉCIES A seleção das espécies potenciais para o manejo biotécnico de cursos de água baseou-se em observações a campo, tomadas em trabalhos anteriores, como os de SUTILI (2001, 2004) e ALTREITER / PLUNGER (2004), bem como na literatura botânica e na orientação direta do PROF. DR. J. N. C. MARCHIORI da Universidade Federal de Santa Maria. Segundo MARCHIORI (2004), junto aos cursos de água, adaptadas para suportar a força da correnteza ou eventual submersão por ocasião de enchentes, as reófitas2 (ou plantas reófilas) compõem uma comunidade singular de arbustos e arvoretas pequenas, geralmente conhecidas pelos nomes de “sarandi”3 ou “amarilho”, e que apresentam ampla distribuição geográfica no Estado do Rio Grande do Sul: Sebastiania schottiana, Terminalia australis, Cephalanthus glabratus, Phyllanthus sellowianus, Pouteria salicifolia. A lista tende a completar-se, quando se incluem Calliandra brevipes, C. tweediei, C. parvifolia e Salix humboldtiana. Providas de denso sistema radicular, todas estas espécies são de pequeno porte, com exceção da última, possuindo caules delgados e flexíveis, morfologicamente adequados à reofilía. Das espécies mencionadas pelo autor, Cephalanthus glabratus, quando comparado às outras espécies, parece preferir águas paradas ou de pouca correnteza. Por esse motivo não foi incluído no programa de testes. Contudo, dentre todas, essa parece ser a espécie que melhor suporta longos períodos de submersão. Das três espécies de Calliandras citadas por MARCHIORI (2004), deu-se preferência por estudar Calliandra brevipes por ser a mais comum na região. Por outro lado, foram incluídas outras duas espécies alóctonas e que não podem ser exatamente contadas no grupo das reófitas, mas que possuem claras características que as qualificam. São estas, Salix × rubens e Morus nigra. A Tabela 3 traz a lista das oito espécies estudadas. Mudas enraizadas de Calliandra tweediei, bem como uma espécie de gramínea (Cynodon plectostachyus (K. Schum.) Pilg.) e outra de porte herbáceo (Hedychium coronarium J. König), apesar de não consideradas no programa de testes, foram utilizadas em algumas obras experimentais e por isso são também rapidamente descritas neste 2 Planta adaptada para crescer em água corrente (ART, 1998). Termo de origem tupi (çarã-ty) que se aplica a diversas espécies de Euphorbiaceae, Sapotaceae, Combretaceae e Leguminosae da subfamília Mimosoideae, que crescem às margens de rios e arroios (FURTADO, 1969). Poder-se-ia afirmar que os termos “sarandi” e “amarilho” são sinônimos do termo botânico vegetação reófila. 3 . 27 capítulo. Cynodon plectostachyus e Hedychium coronarium são alóctonas, no entanto já asselvajadas no ambiente, condição esta que também pode ser atribuída a Morus nigra e Salix × rubens. Estas duas últimas são vistas como de “bom comportamento silvicultural”, ou seja, não exercem dominância sobre a vegetação nativa e nem possuem característica de se desenvolverem em grupamentos homogêneos. Pelo contrário, já se encontram integradas à vegetação nativa sem causar desequilíbrio: suas características pioneiras são úteis na melhora do ambiente, colaborando para uma rápida e bem-sucedida estabilização da vegetação nativa, esta seguramente mais própria. Cynodon plectostachyus e Hedychium coronarium, porém, devem ser considerados com ressalvas, pois se mostram capazes de suprimir a vegetação nativa e são de difícil erradicação, quando passam a se desenvolver espontaneamente em grandes áreas. De qualquer forma, entende-se que, mesmo as fortes características de resistência, dominância e pioneirismo apresentadas por essas espécies podem ser adequadamente utilizadas, quando se dispõe de conhecimento e cuidado adequado. Espécie Família Porte Calliandra brevipes Benth. Phyllanthus sellowianus Müll. Arg. Sebastiania schottiana (Müll. Arg.) Müll. Arg. Pouteria salicifolia (Spreng.) Radlk. Terminalia australis Camb. Salix × rubens Schrank Salix humboldtiana Willd. Morus nigra L. Leguminosae * Euphorbiaceae Euphorbiaceae Sapotaceae Combretaceae Salicaceae Salicaceae Moraceae arbustivo arbustivo arbustivo arbóreo-pequeno arbóreo-pequeno arbóreo-pequeno arbóreo-grande arbóreo-pequeno * subfamília Mimosoideae Tab. 3: Espécies incluídas no programa de testes. Poder-se-ia incluir na lista de espécies estudadas outras com igual potencialidade biotécnica. No entanto um número de oito espécies é suficiente para o início das investigações. A rápida descrição das espécies que é trazida neste capítulo tem dois objetivos concretos: [1] tornar possível seu reconhecimento a campo e [2] evidenciar, com base na literatura e constatações in loco, algumas das características que as apontaram como potenciais. Descrições botânico-anatômicas mais detalhadas, bem como informações fenológicas, podem ser encontradas nos trabalhos de autores como: LOMBARDO (1964); CABRERA et al. (1965); BURKART (1979); REITZ (1967, 1988); REITZ et al. (1988); HOC (1992); MUÑOZ et al. (1993); MARCHIORI / SOBRAL (1997); MARCHIORI (1984, 1997a, 1997b, 2000), entre outros. 28 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL 3.1 Calliandra tweediei Benth. MARCHIORI (1997a) descreve esta planta da família Leguminosae, subfamília Mimosoideae (Fig. 13) como um arbusto inerme de até 3 metros de altura. Segundo LORENZI / SOUZA (1995), alcança até 5 metros de altura. Os ramos, pecíolos e pedúnculos são revestidos por densa pilosidade sedosa. As folhas são alternas, bipinadas, compostas e multijugas. Os folíolos (de 2 a 6 mm de comprimento por cerca de 1 mm de largura) são glabros, com exceção do bordo Fig. 13: Calliandra tweediei (VAN HOUTTE, 1945). sedoso-ciliado, e com nervura central. As flores agrupam-se em vistosos capítulos solitários, tendo estames vermelhos muito conspícuos. Os legumes são revestidos por indumento velutino. A presença de estames conspícuos é uma característica marcante das espécies do gênero Calliandra; veja Figura 14. Essa espécie heliófila e seletiva higrófila é amplamente distribuída no Rio Grande do Sul; na natureza habita principalmente a orla da mata ciliar e a margem de cursos de água. Devido a suas qualidades ornamentais, é cultivada em jardins e parques, especialmente como cercas-vivas (MARCHIORI, 1997a). Segundo LOMBARDO (1964), a espécie é originária do Sul do Brasil e Norte do Uruguai. Recebe nomes populares, como topete-de-cardeal, quebra-foice, sarandi, mandaravê (BURKART, 1979; REITZ et al., 1988), plumerillo e plumerillo-rojo (LOMBARDO, 1964), espinho-vermelho, rabo-de-anjo, cabelo-de-anjo, angiquinho (REITZ et al., 1988), esponjinha-vermelha e mandararé (LORENZI / SOUZA, 1995). No Norte do Estado é ainda conhecida como SOUZA (1995) barbicha-de-bode. LORENZI / afirmam ainda que é tolerante ao frio e multiplica-se tanto por sementes como por estacas. A produção de sementes viáveis é abundante. Fig. 14: Gênero Calliandra (DURANDO, 1916). . 29 3.2 Calliandra brevipes Benth. Conhecida na literatura mais antiga por Calliandra selloi (Spreng.) Macbr., esta Leguminosae-Mimosoideae (Fig. 15 e 16) é descrita por MARCHIORI (1997a) como sendo um arbusto inerme, de até 2 metros de altura, glabro e muito ramificado. Assim como Caliandra tweediei, também apresenta folhas alternas e bipinadas, mas distinguese desta por ser unijuga e possuir folíolos (7 mm × 1 mm) completamente glabros. As flores, com estames conspícuos, brancos na metade inferior e rosados ou igualmente brancos na superior, reúnem-se em capítulos axilares solitários. Os legumes diferem dos de C. tweediei, Fig. 15: notadamente, por serem glabros. Calliandra brevipes (VAN HOUTTE, 1950). Conhecida por sarandi (BURKART, 1979), quebra-foice (LONGHI, 1988; REITZ et al., 1988), mandaravê, angiquinho, quebrafoice-de-flor-cor-de-rosa (REITZ et al., 1988), esponja e mandaruvá (LORENZI / SOUZA, 1995). Adaptada à reofilía, a espécie ocorre naturalmente à margem dos rios, onde suporta submersão temporária (MARCHIORI, 1997a). No entanto, segundo LORENZI / SOUZA (1995), pode estar a pleno sol, multiplicando-se tanto por sementes, dando origem a plantas mais vigorosas, como por estacas. KLEIN (1972) menciona que esta espécie participa da “vegetação de sarandis”. Embora muito dura, sua madeira, à semelhança de Calliandra tweediei, carece de importância devido à pequena dimensão dos seus caules. 30 . Fig. 16: Calliandra brevipes (FLORA BRASILIENSIS, prancha 107). BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL 3.3 Phyllanthus sellowianus Müll. Arg. Pertencente à família Euphorbiaceae4, é um arbusto com 2 a 3 metros de altura, glabro, de ramos compridos e muito divididos. São delgados, sinuosos e algo angulados. Veja a representação do seu hábito em comparação com o de Sebastiania schottiana, mostrado na Figura 17. As folhas são elípticas, delgadas e com nervuras laterais evidentes, planas, de face inferior pálida, alcançam 3 a 4 cm de comprimento (SMITH et al., 1988). A inserção das folhas é alterna e possui uma característica muito especial: suas flores nascem na base das folhas, por isso do grego phyllos: folhas e anthos: flor (BOELCKE, 1981; REITZ, 1988). Flores dióicas, bastante numerosas e dispostas em fascículos nas axilas da folhas. Os frutos são cápsulas de 2,5 mm de diâmetro, e as sementes, quase lisas, medem pouco mais de 1 mm (Fig. 18). 4m 3 Phyllanthus sellowianus 2 1 Sebastiania schottiana Fig. 17: Hábito de Phyllanthus sellowianus e Sebastiania schottiana. CABRERA et al. (1965) mencionam esta espécie como originária do Sul do Brasil, Uruguai e Nordeste da Argentina, sendo comum à margem dos rios. 4 Estudos recentes apontaram a necessidade de reestruturação da família Euphorbiaceae, segregando-a em quatro famílias distintas. Phyllanthus sellowianus passa assim a pertencer à família das Phyllanthaceae. Detalhes podem ser consultados em SOUZA / LORENZI (2005) e SOBRAL / JARENKOW (2006). . 31 Conhecida vulgarmente pelos nomes de sarandi e sarandi-branco, é segundo LOMBARDO (1964), um arbusto que vive à margem dos rios e arroios, invadindo as águas e estendendo-se, por vezes, por muitos quilômetros. SMITH et al. (1988) afirmam que Phyllanthus sellowianus possui caules e ramos rijos, mas flexíveis, que resistem às correntezas das águas durante as enchentes, sendo, por isso, indicada para fixar margens sujeitas as fortes correntezas. A espécie, juntamente com Sebastiania schottiana, Terminalia australis e Calliandra brevipes, entre outros arbustos menos freqüentes, é dominante na margem de rios e arroios. REITZ (1988) concorda, ao afirmar que a espécie é muito freqüente, característica e exclusiva das margens rochosas ou lodosas dos rios e ilhas, em praticamente todo o Sul do Brasil, fixando-se firmemente ao substrato, uma vez que se desenvolve preferencialmente nos locais de corredeiras e cachoeiras dos rios. É espécie heliófita e seletiva higrófita, até xerófita, assim adaptada às variações extremas de umidade e estio. Na região em estudo (Depressão Central do Rio Grande do Sul) a espécie é realmente muito abundante, especialmente nos cursos de água maiores, como nos Rios Vacacaí-mirim e Jacuí. Na literatura não se encontram referências quanto à utilização de sua madeira. No entanto várias pesquisas confirmam medicinal sua importância (CALIXTO et al., 1994; MIGUEL et al., 1995; HNATYSZYN et al., 2002). Fig. 18: Phyllanthus sellowianus (DEBLE, 2005). 32 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL 3.4 Sebastiania schottiana (Müll. Arg.) Müll. Arg. A descrição que MARCHIORI (2000) faz para a espécie é a seguinte: arbusto totalmente glabro, de 3 a 4 metros de altura, com ramos longos, pouco ramificados, espinescentes e muito flexíveis (Fig. 17). Folhas simples, alternas e lanceoladas, variam de 1 a 5 cm de comprimento por 4 a 15 mm de largura. As flores, pequenas e amareladas, são produzidas em espigas terminais. O fruto é uma cápsula globosa, de aproximadamente 5 mm de diâmetro. CABRERA et al. (1965) lembram que as flores são unissexuadas. As femininas ocorrem na base das espigas e, no alto, as masculinas, com 3 estames (Fig. 19). MARCHIORI (2000) alude, ainda, que a espécie apresenta vasta dispersão na bacia do Prata e região da Floresta Atlântica. Segundo SMITH et al. (1988), ocorre de forma descontínua e irregular, ao longo da margem de rios e ilhas rochosas. LOMBARDO (1964) denomina esta Euforbiácea de branquilho5. O autor a descreve como sendo uma árvore de pouca altura, que cresce à margem de rios e arroios e, até mesmo, dentro da água e lhe atribui os nomes vulgares de sarandi-negro, sarandi-vermelho e saranduba. REITZ (1988) menciona nomes como assobio-demacaco e espinho-de-olho. Para REITZ (1988), a espécie, altamente adaptada à reofilia, suporta variações extremas de umidade ou seca (seletiva higrófila até xerófita); dispõe de um denso sistema radicial e de caules rijos, embora flexíveis, capazes de suportar a força da água nas enchentes. O branquilho cresce à margem de rios e até mesmo de cachoeiras. Como espécie reófila, assume grande importância ecológica, auxiliando na fixação de barrancos e na perenização dos cursos de água. Fig. 19: Sebastiania schottiana. (FLORA BRASILIENSIS, prancha 77). 5 Nome aplicado também a outras espécies do mesmo gênero, como Sebastiania brasiliensis e S. commersoniana, estas, presumivelmente de menor importância biotécnica. . 33 3.5 Pouteria salicifolia (Spreng.) Radlk. Esta Sapotácea (Sapotaceae) é mencionada por MARCHIORI (2000, 2004) como sendo uma árvore pequena, perenifólia, de tronco curto, copa globosa e casca acinzentada. Em indivíduos muito velhos, alcança até 12 meter de altura. REITZ et al. (1988) comentam que sua altura varia de 3 a 7 metros, com até 8 cm de DAP. No entanto, na região em estudo, é comum a ocorrência de indivíduos que superam as dimensões atribuídas por esse autor. As folhas, linear-lanceoladas, subcoriáceas e brilhantes, medem de 8 a 19 cm de comprimento por 1 a 2,5 cm de largura, tendo ápice agudo, nervura principal saliente e numerosas nervuras secundárias, visíveis nas duas faces. As flores, produzidas em fascículos axilares, são esbranquiçadas e de suave perfume, que lembra o da violeta. O fruto – visível na Figura 20 – mede de 4 a 5 cm de comprimento por cerca de 1,5 cm de diâmetro, contendo uma única semente, ovóide (MARCHIORI, 2000). REITZ et al. (1988) e MARCHIORI (2000) atribuem-lhe as características de espécie ripária e reófila, freqüente e importante para o reflorestamento das margens de rios. MARCHIORI (2000) reconhece-a pelos nomes vulgares de mata-olho e sarandi-mata-olho, explicando a origem do nome pelo fato de emitir fumaça prejudicial aos olhos, quando a madeira é queimada. Também o autor uruguaio APARICIO (2003) chama esta espécie de mata-olho (mata-ojo) e comenta que possui como habitat justamente as áreas de inundação freqüente, onde a maioria das espécies não é capaz de se desenvolver. O autor faz também interessante referência ao comentar que seus troncos ramificam-se desde a base, dando a essa árvore o aspecto de um “arbusto gigante”. A madeira, com densidade mediana, é utilizada para a confecção de cabos de ferramentas (REITZ et al., 1988) e também como lenha. Fig. 20: Ramo de Pouteria salicifolia com fruto. 34 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL 3.6 Terminalia australis Camb. Trata-se de uma Combretácea (Combretaceae), descrita por MARCHIORI / SOBRAL (1997) como sendo uma árvore pequena (até 10 m), de copa baixa, com ramos muito flexíveis e delgados casca acinzentada, provida de fissuras superficiais. O tronco, que pode alcançar até 30 cm de diâmetro, é normalmente ramificado desde a base. Apresenta folhas simples, alternas, de 2 a 7 cm de comprimento por 1 cm de largura, verde-claras e glabras na face superior, são pilosas na inferior, quando jovens. As flores, pequenas (5 mm), apétalas e unissexuais, encontram-se em inflorescências. Os frutos medem de 2 a 3 cm de comprimento e são providos de duas asas opostas. REITZ et al. (1988) acrescentam tratarse de uma arvoreta decidual ou semidecidual, de flores brancas e pouco vistosas, com frutos secos. Segundo REITZ (1967), esta arvoreta pode ser reconhecida na prática por ser semidecidual, de flores brancas e pouco vistosas, geralmente inclinada por sobre os rios, muito abundante ao longo dos mesmos, tendo ramos finos e compridos, pendentes à maneira dos chorões. Folhas pequenas, quase sésseis e condensadas no ápice dos ramos (Fig. 21). O autor chama-a pelo nome vulgar de amarilho. A cor amarela e textura fina de sua madeira constituem aspecto bastante peculiar, freqüentemente mencionado na literatura. REITZ (1967) menciona que as excelentes características ornamentais da madeira qualificam-na para a confecção de laminados e objetos de luxo. REITZ (1967), REITZ et al. (1988) e MARCHIORI / SOBRAL (1997) concordam que a espécie é seletiva higrófita, juntamente com as outras reófilas, é das mais características das florestas ciliares no Sul do Brasil e suporta muito bem a força das águas nas enchentes, devido aos seus ramos flexíveis e a seu denso sistema radicular. Fig. 21: Terminalia australis (KRAPOVICKAS / VARMI, 1980). . 35 Salix × rubens Schrank 3.7 Essa Salicacea de origem européia (Fig. 22, 23 e 24) foi, no Brasil, durante muito tempo, e por vários autores – como por exemplo: CORRÊA (1978) e REITZ (1983) – erroneamente classificada como sendo Salix viminalis L.. Entretanto, informações recentes apontam com clareza tratar-se de Salix × rubens, um híbrido entre Salix alba L. e Salix fragilis L., como atestam HÖRANDL (1992), SALZMANN (1998), TAGLIARI (1998), HÖRANDL et al. (2002) e MOURA (2002). Fig. 22: Salix × rubens. Introduzida no Brasil há mais de meio século por imigrantes europeus, dispersou-se pelos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (SILVA, 1999; MOURA, 2002). De fácil propagação vegetativa e crescimento rápido no Sul do Brasil, a espécie pode atingir 16 m de altura. Suas folhas (Fig. 24) são estreitas, de margens finamente serradas e coloração verde-acinzentada até dourada (LUPION, 2004). Os ramos são normalmente de coloração vermelha. Conhecida vulgarmente como vime, na literatura recente aparece, por vezes, com o distintivo nome de vime-brasileiro. Na região em estudo a espécie é normalmente submetida a decepas anuais, pois seus ramos são utilizados como amarrilhos para parreirais e na cestaria em geral. Quando não submetida à decepa, atinge, na média, porte de pequena a média árvore, com 15 a 20 cm de diâmetro em média (Fig. 23 e 25). CARPANEZZI et al. (2002) afirmam que os troncos podem atingir 60 cm de diâmetro, em crescimento livre. Fig. 23: Aspecto de uma planta de Salix × rubens submetida à decepa anual [Faxinal do Soturno / nov. 2005]. 36 . Fig. 24: Detalhe das folhas jovens de um ramo de Salix × rubens [Vale Vêneto / nov. 2005]. BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL A difundida utilização de seus ramos como amarras e na cestaria testemunha que a espécie não herdou inteiramente a característica “fragilidade” dos ramos de Salix fragilis. Esta seria uma particularidade imprópria para a bioengenharia de solos de âmbito fluvial. Dentre as espécies estudadas, Salix × rubens é a única já conhecida pela bioengenharia européia. Apesar de atingir porte arbóreo, a sua tolerância à poda periódica torna possível a manutenção de um hábito de crescimento adequado às áreas próximas à linha d’àgua. 20 m Salix rubens 15 forma natural (crescimento livre) 10 Salix humboldtiana submetido a decepas periódicas 5 Fig. 25: Hábito de Salix humboldtiana e de Salix × rubens. Trabalhos desenvolvidos pela EPAGRI (1998) dão conta de que a espécie é encontrada com abundância e desenvolve-se espontaneamente na margem de rios e arroios no Planalto Sul-catarinense, testemunhando assim tanto seu asselvajamento como a potencialidade biotécnica. A isso poder-se-ia somar a opinião de CARPANEZZI et al. (2002) que a chamam de espécie com “bom comportamento silvicultural”, por não ser invasora; tendo assim potencialidade para a reabilitação de ecossistemas degradados em terrenos mal drenados, em climas com inverno rigoroso. Ainda, segundo o mesmo autor, seu emprego seria particularmente vantajoso para a fixação das terras das margens dos corpos de água e, como árvore isolada ou compondo grupos pequenos com espécies nativas. Cabe ainda ressaltar que as já conhecidas utilidades da espécie não se perderam no ambiente colonial, pois alguns agricultores seguem cultivando-a. Em algumas regiões, o interesse intensifica-se com a viabilidade econômica do comercio dos seus ramos. Este é mais um fator que torna a espécie interessante para a bioengenharia de solos, pois a utilização de seus ramos para outros fins estimularia o manejo nas áreas tratadas por obras de bioengenharia de solos. . 37 3.8 Salix humboldtiana Willd. MARCHIORI (2000, 2004) descreve o salseiro como árvore de porte médio (20 m), com tronco reto, inclinado ou tortuoso, que pode alcançar até 90 cm de diâmetro e copa ampla, de ramificação ascendente (Fig. 25). A casca, espessa e com profundas fissuras, é dura e castanho-acinzentada. As folhas, simples, linear-lanceoladas, glabras, margem serreada, com nervura central proeminente, alcançam até 15 cm de comprimento por 1,5 cm de largura. As flores, unissexuais, reúnem-se em amentilhos pendentes na extremidade dos ramos novos. As sementes, muito pequenas, apresentam um tufo de pêlos sedosos esbranquiçados, responsáveis pela dispersão anemocórica (Fig. 26). É uma das árvores mais características e de maior porte na mata ciliar, ocorrendo na maior parte do Rio Grande do Sul. Sua área de dispersão é, todavia, muito ampla, estendendo-se desde o México até a Argentina e Chile (FAO, 1980; MARCHIORI, 2000; MOURA, 2002). Sua folhagem é de cor variável ao longo da estação de crescimento: verdeclara no início da primavera, verdeescura durante o verão e amarela no outono, antes de perder as folhas. REITZ et al. (1988) comentam que a espécie é particularmente freqüente nas baixadas da Depressão Central do Rio Grande do Sul. Por sua ampla distribuição espécie recebe geográfica, inúmeros a nomes populares no Brasil, tais como salso, salgueiro, salseiro, chorão e eirana (REITZ et al., 1988; LORENZI, 1992; MARCHIORI, 2000). Pioneira, heliófila e seletiva higrófita que, de acordo com LORENZI (1992), é útil no controle da erosão, indicada para reflorestamentos em margens de rios, barragens e açudes. De fácil reprodução por estacas, mas com sementes de curta viabilidade. 38 . Fig. 26: Salix humboldtiana. (FLORA BRASILIENSIS, prancha 71). BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL O salseiro ocorre naturalmente ao longo de rios e canais e, como particularidade desta espécie, em áreas inundáveis, por até vários meses seguidos, mas sempre associado com água corrente, e nunca com água parada (MOURA, 2002; CARPANEZZI et al., 1999). CARPANEZZI et al. (1999) comentam que o salseiro também pode crescer com sucesso em terrenos bem drenados, desde que o lençol freático não esteja a grande profundidade (como no alto de barrancos arenosos, à beira de rios) ou que as chuvas sejam abundantes e bem distribuídas durante o ano. O salseiro tem crescimento moderadamente rápido em plantios, sendo, portanto, recomendado para reflorestamentos ciliares. Na realidade o uso dessa espécie é restrito, pois, como para a maioria das espécies nativas, carecesse de conhecimento silvicultural. A madeira, leve, clara e sem distinção entre cerne e alburno, apresenta baixa durabilidade natural, restringindo sua utilização para caixotaria e obras internas. Também se presta para a fabricação de celulose e papel, bem como possui flores nectaríferas. Do ponto de vista biotécnico, a planta possui a “desvantagem” de ser uma árvore de médio a grande porte, sendo assim inconveniente para certas áreas. No entanto, a manutenção de um porte adequado (menor) pode ser conseguida através de intervenções periódicas nas áreas tratadas. Por outro lado, o bom comprimento e diâmetro dos seus troncos são úteis em algum dos modelos de intervenção biotécnica. De maneira especial, por guardarem potencial vegetativo. Outro ponto favorável a esta espécie é a abundância e facilidade com que é encontrada nas baixadas da Depressão Central (Fig. 27). Fig. 27: Árvore de Salix humboldtiana.à margem do Rio Vacacaí-mirim [Santa Maria / nov. 2005]. . 39 3.9 Morus nigra L. Árvore caducifólia de porte pequeno (até 12 m), com tronco curto, copa globosa e casca castanho-escura, muito fibrosa e com fissuras. O ápice dos ramos é de cor verde-clara, veja Figura 29. As folhas, alternas, simples, medem de 7 a 18 cm de comprimento por cerca de 8 cm de largura e margem irregularmente dentada. Verde-escuras, ásperas e de nervuras pilosas na face superior, são de cor mais clara na face inferior. As flores encontram-se em amentilhos distintos de cor verde-clara, os masculinos são maiores que os femininos. Frutos compostos, Fig. 28: Morus alba. vermelho-escuros e comestíveis (MARCHIORI, 1997b). Reconhecida no Brasil pelos nomes de amoreira ou amoreira-preta. Originária da Ásia Central, juntamente com Morus alba L., foi trazida ao Estado do Rio Grande do Sul para alimentação do bicho-da-seda (Bombyx mori L.). Atualmente, também é utilizada como forageira na bovino e na caprinocultura. Sua madeira, durável quando exposta ao tempo, encontra bom uso no fabrico de moirões, bem como na produção de lenha. No Sul do Brasil Morus nigra já ocorre de maneira espontânea. Devido a sua dispersão zoocórica, os indivíduos desenvolvem-se solitários ou em pequenos grupos ao longo dos cursos de água. Pode ser reproduzida de forma vegetativa (estaquia) e possui grande capacidade de rebrote. Vale ainda considerar que esta espécie se assemelha muito a Morus alba, tanto em aparência (Fig. 28), comportamento, como em sua abundância na região. 40 . Fig. 29: Morus nigra (OTTO WILHELM, 1885). BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL 3.10 Hedychium coronarium J. König Zingiberacea perene, herbácea, fortemente rizomatosa, medindo 1 a 2 metros de altura, com reprodução vegetativa através de seus rizomas. Possui folhas alternas e sésseis que medem 25 a 45 cm de comprimento e 5 a 6 cm de largura. As inflorescências terminais ocorrem em espigas densas de 10 a 20 cm de comprimento, com poucas flores brancas e fortemente aromáticas (LORENZI, 2006). Veja Figuras 30, 31 e 32. Fig. 30: Hedychium coronarium (ROSCOE, 1828). Na Região Sul do Brasil é reconhecida pelos nomes de lírio-do-brejo, cardamomo, gengibre-branco, gengibre-do-mato. Planta de origem africana com propriedade ornamental, medicinal e útil na produção de fibras têxteis e celulose, é também entendida como daninha, quando invade áreas úmidas, lagos, canais de drenagem e riachos, segundo LORENZI (2006). Por outro lado, quando adequadamente empregada, pode ter suas características aproveitadas na proteção dos taludes fluviais. Fig. 31: Destaque da flor de Hedychium coronarium [Vale Vêneto / março 2006]. Fig. 32: Hedychium coronarium (FLORA BRASILIENSIS, prancha 10). . 41 3.11 Cynodon plectostachyus (K. Schum.) Pilg. Gramínea da família das Poaceae, é planta não rizomatosa de hábito prostrado, com colmos e estolões desenvolvidos, sendo os últimos arqueados. As folhas são pilosas de cor verde-clara e as inflorescências compostas de espigas dispostas digitadamente na extremidade dos colmos, veja a Figura 33 (PUPO, 1979; ARONOVICH / ROCHA apud QUADROS, 2004). A espécie, originária da África, foi introduzida no Brasil Fig. 33: Cynodon plectostachyus. na década de 40 do século 20, com finalidades forrageiras (formação de pastagens e também para fenação). Recebe no Brasil os nomes comuns de capim-estrela-africana ou estrela-da-África, capim-estrela, capim-São-João, capim-encrenca-de-vizinho. Segundo NEPPA (2007), informações a planta não da é exigente quanto à fertilidade do solo e é facilmente propagada por meio de mudas produzidas a partir de pedaços de estolões. Segundo ALCÂNTARA et al. (1993), o capim-estrela é opção para proteger o solo contra erosão. No entanto essa alóctone, de crescimento vigoroso, pode mostrar comportamento invasor, resultando, eventualmente, em problemas. PUPO (1979 apud QUADROS, 2004), diz que a espécie não tolera umidade excessiva. Já PEDREIRA (1998) afirma existir, a esse respeito, incoerência na literatura. A Figura 34 dá voz a essa última observação. 42 . Fig. 34: Cynodon plectostachyus, protegendo a margem de um pequeno córrego [Faxinal do Soturno / out. 2003]. BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL 4 PROPRIEDADES TÉCNICAS DA VEGETAÇÃO 4.1 Desenvolvimento vegetativo O desenvolvimento vegetativo de oito espécies foi estudado através de duas metodologias. Na primeira delas as plantas tiveram a taxa de sobrevivência e a produção de brotos e raízes avaliadas durante cinco meses, a partir de três canteiros experimentais. Estes foram construídos em três diferentes épocas do ano e com solo retirado das margens do Arroio Guarda-mor ou do Rio Jacuí. Na segunda metodologia as estacas foram colhidas mensalmente e mantidas com a porção basal (um terço de seu comprimento) submersa em água por três meses. Seu desenvolvimento foi acompanhado mensalmente, até o terceiro mês (Tab. 4). Espécie Canteiro experimental 1° 2° 3° em água Calliandra brevipes × Morus nigra Phyllanthus sellowianus × × × Pouteria salicifolia × Salix humboldtiana × × Salix × rubens × × Sebastiania schottiana × × × Terminalia australis Tab. 4: Espécies avaliadas nos canteiros experimentais e em água (× = avaliada). × × × × × × Os locais e períodos de avaliação dos três canteiros experimentais foram: 1° - de 11 de abril a 09 de setembro de 2003 (outono e inverno); Arroio Guarda-mor no município de Faxinal do Soturno6. 2° - de 20 de fevereiro a 17 de julho de 2004 (verão e outono); Estação de Silvicultura no campus da Universidade Federal de Santa Maria, com solo trazido do Rio Jacuí. 3° - de 4 de setembro de 2004 a 5 de fevereiro de 2005 (final do inverno, primavera, início do verão); no mesmo local e com o mesmo solo do canteiro anterior7. O acompanhamento das estacas mantidas em água foi igualmente realizado na Estação de Silvicultura, de março de 2005 a abril de 2006. 6 Esse experimento constituiu parte do trabalho de diplomação de ALTREITER / PLUNGER (2004). Tanto o solo retirado da margem do Arroio Guarda-mor como o retirado da margem do Rio Jacuí foram classificados como franco-arenosos. Ambos com valores bastante baixos de macro nutrientes: P limitante, K muito baixo, %M.O. baixa. Al alto e pH do solo baixo (5,5) para o primeiro e muito baixo (4,6) para o segundo. De acordo com SCHIECHTL (1973), experimentos que visem avaliar o desenvolvimento vegetativo de plantas para a bioengenharia de solos devem preferencialmente utilizar como substrato solos pobres em nutrientes e nunca deve ser adubados. 7 . 43 4.1.1 Metodologia dos canteiros experimentais Com a ajuda de uma retro-escavadeira os canteiros foram construídos com cerca de 1,2 a 1,7 m de altura, 4 m de largura na base e com 25 a 30 metros de comprimento (Fig. 35 e 36). Foram orientados no sentido norte–sul, para que as faces de plantio recebessem exposição leste e oeste. Cada lado do canteiro suportava duas linhas de plantio. Fig. 35: Construção do canteiro experimental no Arroio Guarda-mor [F. do Soturno / abr. 2003]. Fig. 36: Canteiro já construído na Estação de Silvicultura da UFSM [Santa Maria / fev. 2004]. Os canteiros experimentais eram divididos em quatro partes que recebiam cada uma 24 estacas de cada espécie, distribuídas nas duas faces de exposição e nas duas banquetas (linhas) de plantio. Desta forma, 96 estacas de cada espécie, com diâmetros entre 1 a 6 cm e 40 cm de comprimento eram enterradas em 30 a 35 cm de seu comprimento total. Após o plantio os canteiros foram cobertos com palha a fim de manter a umidade e evitar o crescimento da vegetação espontânea. O ataque de formigas foi controlado por inspeção diária e aplicação de formicida. As coletas de dados foram realizadas a 60, 90, 120 e 150 dias do plantio. A cada coleta, 24 estacas (plantas) de cada espécie eram escavadas com um jato de água, sob leve pressão (Fig. 37 e 38). Fig. 37: Primeira coleta de dados (60 dias) [Santa Maria / abr. 2004]. 44 . Fig. 38: Detalhe da quarta coleta de dados (150 dias) [Santa Maria / jul. 2004]. BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL O primeiro dado levantado foi a taxa de sobrevivência, obtida pelo número de estacas vivas, multiplicado por 100 e dividido pelo número total de estacas plantadas (vivas + mortas). Das plantas vivas foram anotadas as seguintes informações: estaca: - comprimento total e enterrado; diâmetro da base, meio e ponta brotos: - número e comprimento dos brotos primários raízes: - número e comprimento De posse destes dados eram calculadas as seguintes variáveis: • Número médio de brotos por planta, resultado do número total de brotos dividido pelo número de estacas vivas. • Comprimento médio dos brotos, obtido pelo somatório do comprimento de todos os brotos dividido pelo número total de brotos. • Soma do comprimento dos brotos por planta, resultado da soma do comprimento de todos os brotos dividido pelo número de estacas vivas. • Número médio de raízes por planta, obtido pelo número total de raízes dividido pelo número de plantas vivas. Como nem sempre as estacas tinham o mesmo comprimento enterrado, também foi calculado o número de raízes por metro de estaca enterrada, obtido pelo número total de raízes dividido pelo somatório do comprimento enterrado de todas as estacas vivas. • Soma do comprimento das raízes por planta, obtido pelo somatório do comprimento de todas as raízes dividido pelo número de estacas vivas. Também essa variável foi calculada por metro de estaca enterrada: soma do comprimento das raízes por metro de estaca enterrada, obtido pelo somatório do comprimento de todas as raízes produzidas dividido pelo somatório do comprimento enterrado de todas as estacas vivas. • Comprimento médio das raízes, obtido pelo somatório do comprimento de todas as raízes dividido pelo número de raízes. A metodologia de instalação, tomada de dados e cálculo das variáveis, é padrão nos experimentos que visam a tomar as primeiras informações sobre a aptidão biotécnica da vegetação. Com isso é possível que resultados conseguidos em diferentes regiões como, por exemplo, os de DEUTSCH (2001) na Áustria, MOLON (2001) no Nepal ou PETRONE / PRETI (2007) na América Central, possam ser confrontados. . 45 4.1.2 Resultados e discussão dos canteiros experimentais Na parte superior da Figura 39, ao lado do nome de cada uma das espécies, é expressa em valor porcentual a taxa de sobrevivência após 150 dias do plantio, nos três períodos de avaliação. Com exceção de Pouteria salicifolia (avaliada somente no verão / outono) todas as outras espécies tiveram taxas de sobrevivência que, segundo os critérios de SCHIECHTL (1973), podem ser consideradas de boas a excelentes. 21 17 13 2 Sebastiania schottiana - 42% Phyllanthus sellowianus - 97% rubens - 89% 2 Salix 2 Pouteria salicifolia - 7% 2 Salix humboldtiana - 40% 2 Sebastiania schottiana - 55% 3 Phyllanthus sellowianus - 60% rubens - 100% 8 Salix 8 Calliandra brevipes - 56% 0 4 7 Sebastiania schottiana - 77% 1,0 1,5 Salix humboldtiana - 96% 1,5 3,0 4 Phyllanthus sellowianus - 100% Soma do comprimento dos brotos [m/planta] 3,0 1,0 3 0 4 30 32 Soma do comprimento das raízes [m/m de estaca enterrada] 5 5 72 51 10 10 74 113 15 15 20 130 20 144 1° - 11/04 a 09/09/'03 2° - 20/02 a 17/06/'04 3° - 04/09/'04 a 07/02/'05 outono e inverno verão e outono primavera e verão Fig. 39: Comportamento vegetativo das espécies nos três períodos de avaliação, após 150 dias do plantio. As barras superiores mostram a soma do comprimento dos brotos por planta; dentro da barra indica-se o número médio de brotos por planta. As barras inferiores mostram a soma do comprimento das raízes por metro de estaca enterrada; o número abaixo indica a quantidade de raízes por metro de estaca enterrada. O percentual ao lado do nome das espécies refere-se à taxa de sobrevivência. 46 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL No entanto, somente a taxa de sobrevivência não é informação suficiente para que a aptidão biotécnica de uma espécie possa ser ajuizada. Assim, a Figura 39 também mostra a soma do comprimento e o número de brotos por planta, bem como a soma do comprimento e o número de raízes por metro de estaca enterrada. Todos esses valores refletem a média das estacas sobreviventes após 150 dias. Entre as quatro espécies avaliadas no primeiro canteiro experimental, Phyllanthus sellowianus e Salix humboldtiana foram as que mostraram maior produção de brotos e raízes. Levando-se ainda em consideração suas ótimas taxas de sobrevivência neste período, pode-se afirmar que estas espécies são capazes de imprimir o ritmo de desenvolvimento vegetativo esperado nas intervenções biotécnicas. Apesar de Sebastiania schottiana ter mostrado tanto taxas de sobrevivência como também produção de brotos e raízes menores, seus resultados são ainda suficientes para qualificá-la como espécie importante. Somente Calliandra brevipes deve ser tomada com ressalvas, pois apesar de uma sobrevivência considerável, a quantidade de raízes produzidas após 150 dias foi pequena. No segundo período de avaliação, que compreendeu o final do verão, o outono e o início do inverno, Calliandra brevipes não foi avaliada. Em compensação duas novas espécies foram incluídas no programa de testes: Salix × rubens e Pouteria salicifolia. Dentre os três períodos de avaliação, foi neste que as espécies encontraram, de modo geral, maior dificuldade de desenvolvimento. Isto, por outro lado, deu evidência aos relativos bons resultados de Salix × rubens. A espécie alcançou uma taxa de sobrevivência de 100%, no segundo período de avaliação. Na terceira avaliação teve-se como principal objetivo verificar se realmente o período do final do inverno e início da primavera, tido como o ideal para a reprodução vegetativa de plantas, realmente iria produzir os melhores resultados. Para isso foram reavaliadas três espécies que já haviam mostrado bons resultados nos experimentos anteriores, a saber: Phyllanthus sellowianus, Salix × rubens e Sebastiania schottiana. Os resultados para as duas primeiras espécies confirmam o presumível melhor desenvolvimento neste período (corte no inverno e crescimento na primavera). Por outro lado, Sebastiania schottiana chamou atenção ao mostrar resultados menos promissores que os conseguidos no canteiro implantado no período do outono e inverno (primeiro canteiro). Há que se levar em consideração, entretanto, que o primeiro canteiro não só foi realizado em época distinta, mas também em local e, especialmente, com substrato (solo) diferente do usado nos dois outros canteiros experimentais. . 47 Ainda na Figura 39, pode-se chegar ao comprimento médio dos brotos e raízes, dividindo o somatório do comprimento (brotos ou raízes, mostrado pelo comprimento das barras) pelo número médio de brotos ou raízes. Esses valores médios, no entanto, não trazem muita informação, e podem, inclusive, levar à erro de julgamento da capacidade biotécnica das plantas. Mais esclarecedora é uma análise da distribuição das raízes por classe de tamanho (comprimento). Para as três espécies estudadas no terceiro canteiro, essa análise foi feita e é mostrada na Figura 40. A ilustração foi realizada com base nos dados médios das plantas sobreviventes, de cada espécie, após 150 dias. Na ilustração podem ser lidas informações como: 40% das raízes de Phyllanthus sellowianus são capazes de ultrapassar os 20 cm de comprimento; 11% do total das raízes ultrapassam o limite de 40 cm; 3% chegam aos 60 cm e somente 1% das raízes consegue atingir valores maiores que 80 cm. Leitura análoga pode ser feita para Salix × rubens e Sebastiania schottiana. Para a composição da Figura 40 foi convencionado que os comprimentos das raízes resultam na mesma distância alcançada no entorno da estaca. Deve-se considerar ainda que a metodologia empregada somente computou o comprimento das raízes primárias, ou seja, as que tinham origem diretamente na estaca, desconsiderando as raízes secundárias. Mesmo que estas, raízes secundárias, não tenham sido avaliadas ficou evidente, durante a coleta de dados, que Phyllanthus sellowianus desenvolve um sistema radicular muito mais fasciculado do que Salix × rubens, como deixa entender a Figura 40. Da mesma maneira, Phyllanthus sellowianus mostra quantidade maior de brotos secundários que, igualmente, não foram mensurados. Sendo assim, pode-se entender que Phyllanthus sellowianus apresenta características ainda melhores que as que puderam ser ajuizados pela metodologia empregada. A expressão do volume de brotos e raízes através de sua massa seca, certamente seria solução para esse inconveniente. No entanto, adotou-se a metodologia padrão para esse tipo de experimento que, justamente, vale-se de expressões de fácil leitura para tornar possível a execução desses experimentos sob qualquer condição. Como foi o caso do primeiro canteiro experimental instalado às margens do Arroio Guarda-mor em Faxinal do Soturno – RS, onde a obtenção dos valores de massa seca de brotos e raízes não seria possível com os recursos locais. 48 . 300 4 200 Protundidade [cm] 0 11 200 Sebastiania schottiana rubens 50 Phyllanthus sellowianus Altura [cm] 3 0% 50 4% 40 cm 9% 52% 400 100 20 do comprimento das raízes [cm/planta] 0 2 Sebastiania schottiana Salix rubens 100 Phyllanthus sellowianus 100 Salix do comprimento dos brotos [cm/planta] BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL 100% cm 40 cm 60 cm 600 80 cm 43 48 1% 60 cm 3% Sebastiania schottiana 11% 40% 20 100% cm 40 cm 60 cm 80 cm 80 cm 2% 4% Phyllanthus sellowianus 11% 35% 20 100% cm 40 100% cm Phyllanthus sellowianus cm Salix Sebastiania schottiana cm rubens rubens 60 80 Salix 50 0 Sobrevivência Fig. 40: Comportamento vegetativo de estacas de Salix × rubens, Phyllanthus sellowianus e Sebastiania schottiana plantadas em setembro de 2004 e avaliadas 150 dias após (fevereiro de 2005). Os gráficos acima mostram o somatório do comprimento e o número de brotos e raízes por planta. Os desenhos das três espécies mostram a distribuição percentual de raízes a cada 20 cm do entorno da estaca. O gráfico no canto direito inferior refere-se à taxa de sobrevivência após 150 dias. . 49 4.1.3 Metodologia das estacas mantidas em água Após os experimentos anteriores (canteiros experimentais), permaneceu certa dúvida quanto a melhor época para a reprodução vegetativa de algumas espécies. O regime hídrico muito variável dos cursos de água da região em estudo, também, justifica o interesse em se reconhecer plantas que sejam capazes de desenvolver-se em diferentes épocas do ano, tornando assim possível que se coincida o período de reprodução vegetativa com os momentos em que se tenha maior acessibilidade aos taludes fluviais. Com o objetivo de trazer mais informações a esse respeito, foi realizada uma nova avaliação, utilizando-se outra metodologia. Estacas de seis diferentes espécies, a saber: Morus nigra, Phyllanthus sellowianus, Pouteria salicifolia, Salix × rubens, Sebastiania schottiana, Terminalia australis (Tab. 4, pagina 43), com diâmetros entre 0,5 a 4,0 cm e comprimento de 40 cm, foram colhidas mensalmente e mantidas com o seu terço basal submerso em água durante três meses (Fig. 41). Após esse período, contou-se o número e mediu-se o comprimento das raízes e brotos de cada estaca. As variáveis calculadas foram as mesmas dos experimentos anteriores (canteiros experimentais). Foram ainda tomados os valores de massa seca das estacas, raízes e brotos de cada planta. Isso, para que fosse possível verificar a relação entre a massa seca do material empregado e sua respectiva produção de brotos e raízes. Com o comprimento das estacas padronizado, a massa seca era, principalmente, função do seu diâmetro. estaca lona plástica nível d'água caixa de madeira Fig. 41: Esquema e foto [Santa Maria / jul. 2005] do experimento com as estacas mantidas em água. Essa rotina de acompanhamento repetiu-se durante um ano, entre março de 2005 a abril de 2006, com o objetivo de cobrir um ciclo vegetativo completo. O experimento foi realizado na Estação de Silvicultura da UFSM. 50 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL 4.1.4 Resultados e discussão das estacas mantidas em água A Figura 42 mostra a produção de brotos e raízes. A média para cada espécie é [cm/planta] VERÃO janeiro a março Terminalia australis rubens Salix Sebastiania schottiana Phyllanthus sellowianus Morus nigra Sebastiania schottiana Phyllanthus sellowianus rubens Salix 50 Salix 25 Morus nigra 0 Terminalia australis 0 Phyllanthus sellowianus 25 rubens 25 Terminalia australis 50 Morus nigra 50 Sebastiania schottiana 75 Phyllanthus sellowianus 75 rubens 100 Salix 100 75 ∑ do comprimento das raízes PRIMAVERA outubro a dezembro INVERNO julho a setembro OUTONO abril a junho [cm/planta] ∑ do comprimento dos brotos resultado de 40 estacas mantidas por três meses em água, durante a respectiva estação. 25 50 75 100 100 125 125 150 150 175 175 200 200 225 225 250 250 275 275 Fig. 42: Comportamento vegetativo das estacas mantidas em água nas quatro estações do ano. Pouteria salicifolia não se desenvolveu em nenhuma das estações, por isso não aparece na Figura 42. Morus nigra e Terminalia australis, apesar de terem providenciado alguma brotação em certos períodos, nunca foram capazes de desenvolver raízes. Brotações sem respectiva produção de raízes resultam em plantas que, em situação prática, não possuem capacidade de estabelecer-se. Mantêm-se vivas somente até o momento em que as reservas contidas na estaca-mãe se esgotem. Confirmando os resultados obtidos nos canteiros experimentais, Sebastiania schottiana mostrou maior facilidade em desenvolver-se no outono do que no período de primavera. Phyllanthus sellowianus foi a única espécie capaz de se desenvolver em qualquer estação do ano, com os melhores resultados na primavera e os piores no inverno. Salix × rubens foi a espécie que melhores resultados apresentou, com exceção do período de verão, o que pode ser explicado pela origem temperada dessa espécie. . 51 Mesmo que nem todas as plantas foram capazes de produzir brotos e raízes após três meses, todas as espécies mostraram-se resistentes a submersão parcial. Para as espécies que produziram uma quantidade e volume expressivo de brotos e raízes, como Salix × rubens e Phyllanthus sellowianus no período da primavera, foi possível encontrar uma relação entre a massa seca das estacas e a produção de brotos e raízes (Fig. 43 e 44). Podendo-se afirmar que, até os limites estudados, existe uma correlação diretamente proporcional entre a massa do material vegetativo empregado e a respectiva produção de brotos e raízes. 18 MASSA SECA [g] 16 Brotos 14 12 R²=0,70 10 8 6 4 2 50 100 150 Estaca Raízes 1 2 R²=0,45 3 4 Fig. 43: Relação entre a massa seca da estaca e a massa seca dos brotos e raízes produzidas em três meses por Salix × rubens, durante a primavera de 2005. 18 MASSA SECA [g] 16 R²=0,78 Brotos 14 12 10 8 6 4 2 50 150 Estaca 1 Raízes 100 2 R²=0,84 3 4 Fig. 44: Relação entre a massa seca da estaca e a massa seca dos brotos e raízes produzidas em três meses por Phyllanthus sellowianus, durante a primavera de 2005. Certamente o comportamento vegetativo (produção de brotos e raízes) de estacas mantidas em água é diferente daquele de plantas que tenham como substrato o solo. No entanto a metodologia de estacas mantidas em água mostra-se como uma ótima alternativa para uma rápida e fácil comparação entre espécies. Essa metodologia pode ser empregada tanto para dar as primeiras informações sobre a potencialidade de reprodução por meio vegetativo de uma espécie, como pode ser utilizada na investigação comparativa de propriedades biotécnicas de interesse. 52 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL 4.2 Flexibilidade No ambiente fluvial a parte aérea da vegetação, ou seja, suas folhas, ramos e troncos, ganham especial importância ao interagirem com a água corrente. Neste sentido, FLORINETH (2004) distingue três grupos de vegetação ribeirinha: flexível8-densa, rígidadensa e árvores-singulares. A classificação de uma planta em um ou outro destes três grupos fica na dependência de características da espécie, como a anatomia do lenho, o hábito e ritmo de crescimento, mas também se relaciona ao ambiente e/ou manejo. Isso significa que, apesar de a espécie determinar certa disposição, uma planta pode pertencer a um ou outro grupo na dependência do seu estágio de desenvolvimento, da densidade populacional ou do regime de podas. A vegetação flexível-densa é constituída por plantas que facilmente cedem à correnteza, curvando-se sobre a margem (talude). Com esse comportamento protegem fisicamente a margem e não interferem na seção de vazão do curso de água. Isso é muito importante em trechos onde o perfil transversal do leito não possui as dimensões suficientes para bem suportar a vazão nos períodos de cheia. A vegetação flexível-densa reduz pouco a velocidade da água, mas, por outro lado, não cria turbulência. Para que seu efeito de proteção se manifeste ao máximo, é necessário que as plantas se desenvolvam em agrupamentos densos. Na vegetação rígida-densa as plantas são capazes de proteger a margem não por se curvarem sobre ela, mas por obstruírem a correnteza, diminuindo a velocidade e, conseqüentemente, sua força, sem causar grande turbulência. Para isso, essa vegetação também deve se desenvolver de forma densa, com troncos e ramos não muito grossos e que (apesar de pouco ou nada flexíveis) tenham a capacidade de resistir à força da água sem sofrerem dano. Por outro lado, esse tipo de vegetação reduz a seção de deflúvio, aumentando o nível da água, comportamento esse que pode facilitar, ou mesmo ser a causa de inundações nas áreas adjacentes. A vegetação ribeirinha, quando composta por árvores-singulares (especialmente as de grande diâmetro) pode ser responsável pela perda de estabilidade dos taludes fluviais. Árvores singulares desviam a força, reduzem pouco a velocidade e criam forte turbulência na água. O resultado é uma gradual erosão das margens. Esse tipo de vegetação causa sobrepeso no talude e é capaz de transmitir ao solo tanto a força das águas como a dos ventos. Através deste mecanismo, esse tipo de vegetação é capaz de alavancar o talude, 8 FLORINETH (2004) usa o termo elastische, em alemão, cuja tradução literal seria elástica. Optou-se pelo termo flexível para evitar confusão com a definição física de elasticidade, que não é válida aqui. . 53 sendo isso causa contribuinte ou mesmo definitiva da perda de estabilidade das margens fluviais. Árvores de grandes dimensões, ao tombarem para dentro dos cursos de água, desviam o fluxo e/ou são arrastadas pela correnteza, obstruindo pontes ou represando a água em pontos de estrangulamento, o que pode resultar em sérios prejuízos. Esse tipo de vegetação deve ser evitado, o que se consegue através da escolha adequada das espécies e das metodologias de intervenção, bem como através do manejo das áreas tratadas e das matas ciliares que ofereçam risco. Uma estabilização eficiente das margens em tratamento só é conseguida com a vegetação flexível-densa e com a vegetação rígida-densa. Em razão do exposto, as espécies que apresentaram os melhores resultados de crescimento vegetativo (Phyllanthus sellowianus, Sebastiania schottiana, Salix humboldtiana e Salix × rubens) foram submetidas a testes de flexão estática com vistas a avaliar sua elasticidade e flexibilidade. 4.2.1 Metodologia do teste de flexibilidade Para cada uma das espécies estudadas foram realizados cinqüenta testes de flexão estática, utilizando-se amostras (corpos-de-prova) de diferentes diâmetros. O diâmetro mínimo foi fixado em 10 mm e o diâmetro máximo ficou limitado ao equipamento ou ao diâmetro máximo encontrado para a espécie na região. Os corpos-de-prova foram testados ainda verdes e com casca, imediatamente após a coleta a campo. A norma (DIN 52 186) determina que, para testes de flexão estática, os corpos-de-prova tenham um comprimento mínimo de 14 vezes o seu diâmetro no ponto de carga. Isso limitou os testes ao diâmetro máximo de 70 mm, pois a mesa de flexão do equipamento disponível possui vão máximo de um metro. Para Phyllanthus sellowianus e Sebastiania schottiana não se encontraram na região de estudo plantas com troncos que superassem o diâmetro de 50 mm para a primeira e 60 mm para a segunda. A mesma norma também aconselha que, para a análise de corpos-de-prova com presumível heterogeneidade, os testes sejam realizados com dois pontos de carga. Desta maneira a flexão se dá não em um ponto, mas na porção (parte) compreendida entre os dois pontos de carga, com isso evita-se que falhas exatamente no local da carga tenham alta influência sobre o resultado do teste. Como o equipamento pertencente ao Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Santa Maria só permite testes com um ponto de carga, tomou-se especial atenção na escolha dos corpos-de-prova, evitando-se aqueles que poderiam apresentar deformidades. 54 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL Os parâmetros: força (carga) F [N], deslocamento f [mm] e tempo t [s] foram automaticamente tomados pelo equipamento de testes e salvos em uma planilha digital (Fig. 45 e 46). Foi gerado um diagrama carga×deformação para cada corpo-de-prova. Fig. 45: Máquina de testes do Departamento de Ciências Florestais / UFSM. Fig. 46: Detalhe de um corpo de prova submetido à flexão estática [nov. 2005]. Com os dados automaticamente coletados (F [N], f [mm] e t [s]) e as medidas dos diâmetros d [mm] do corpos-de-prova no ponto de carga e a distância entre os pontos de apoio l [mm], foi possível chegar aos seguintes parâmetros: 9 - carga no limite proporcional, F elast [N] - carga de ruptura (máxima), FB [N] - módulo de elasticidade (MOE), E [N/mm²] - tensão no limite proporcional, σelast [N/mm²] - tensão de ruptura (módulo de ruptura, MOR), σB [N/mm²] - deformação elástica, єelast [-] - deformação plástica, єplast [-] - deformação de ruptura (máxima), єB [-] - ângulo de flexibilidade até o limite proporcional, αelast [°] - ângulo de flexibilidade até a ruptura, αB [°] Após cada teste de flexão estática, retirou-se, a 5 cm do ponto de aplicação da carga, uma amostra de 5 a 10 cm de comprimento para que pudesse ser determinado: - teor de umidade da madeira, u [%] - peso específico aparente básico da madeira, ρ [g/cm³] - espessura simples da casca, Sc [mm] - porcentagem de casca, %c [%] - idade do corpo de prova, J [anos] Com objetivo de manter correspondência entre as duas versões deste trabalho – em língua portuguesa e alemã – muitas vezes, a simbologia adotada não corresponde à que é costumeiramente utilizada no Brasil, mas sim, à dos paises de fala alemã. . 55 Obtenção e cálculo dos parâmetros: A carga de ruptura FB 10 e a carga no limite proporcional Felast foram lidas diretamente nos diagramas carga×deformação. O módulo de elasticidade E [N/mm²] para corpos-de-prova com seção transversal circular, apoiados sobre dois pontos e submetidos à carga em um ponto central, é dado pela seguinte fórmula: Felast ⋅ l 3 E= 48 ⋅ f elast ⋅ I onde: Felast carga no limite proporcional [N] l distância entre os pontos de apoio [mm] felast deslocamento até o limite proporcional [mm] I momento inercial [mm4] O momento inercial I [mm4] para uma seção circular é calculado como: I= π ⋅d4 64 sendo d [mm], o diâmetro do corpo de prova no ponto de aplicação da carga. Substituindo-se I na formula anterior, tem-se: Felast ⋅ l 3 E= π ⋅d4 3 ⋅ f elast ⋅ 4 10 Teoricamente a carga máxima nem sempre corresponde ao momento de ruptura do corpo de prova. No entanto, neste experimento, a carga de ruptura sempre coincidiu com a carga máxima, ou não se diferenciou significativamente. 56 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL A deformação є [-] é uma variável adimensional que pode ser calculada até o limite proporcional (elástico) єelast ou até a ruptura єB, incluindo assim também a porção plástica do deslocamento. É obtida pela seguinte fórmula: ε= f⋅ onde: 12 ⋅ d l2 f deslocamento (até o limite proporcional ou até a ruptura) [mm] d diâmetro do corpo de prova no ponto de aplicação da carga [mm] l distância entre os pontos de apoio [mm] A tensão de ruptura σB [N/mm²] (módulo de ruptura, MOR) para corpos de seção transversal circular é obtida por: l M FB ⋅ 2 16 ⋅ FB ⋅ l σB = = = π ⋅d3 π ⋅d3 W 32 onde: M momento máximo [N/mm] W resistência máxima [mm³] FB carga de ruptura [N] l distância entre os pontos de apoio [mm] d diâmetro do corpo de prova no ponto de aplicação da carga [mm] A tensão até o limite proporcional σelast [N/mm²] pode ser obtida pela fórmula anterior, substituindo-se a carga de ruptura FB [N] pela carga até o limite proporcional Felast [N] ou pela “Lei de Hooke”, que determina: σ elast = E ⋅ ε elast onde: E módulo de elasticidade [N/mm²] єelast deformação até o limite proporcional (elástica) [-] . 57 O ângulo de flexibilidade até o limite proporcional αelast [°] e o ângulo de flexibilidade até a ruptura αB [°] foram calculados pela seguinte fórmula: ⎛⎛ ⎛ l ⎞ ⎞ ⎞⎟ ⎜⎜ ⎟ α = 180 − ⎜ ⎜ cot ⎜⎜ 2 ⎟⎟ ⎟ ⋅ 2 ⎟ ⎜ f ⎟⎟ ⎟ ⎜⎜ ⎝ ⎠⎠ ⎠ ⎝⎝ onde: l distância entre os pontos de apoio [mm] f deslocamento (até o limite proporcional ou até a ruptura) [mm] Na posição original de repouso, não flexionada (linha horizontal tracejada na Figura 47), o ponto de flexão divide o corpo de prova em duas partes iguais que possuem ângulo zero com a horizontal e 180° entre si. Com os valores de l e de f até o limite proporcional e até a ruptura, pode-se calcular respectivamente αelast e αB (Fig. 47). l Fig. 47: Corpo de prova flexionado, indicando as variáveis utilizadas no cálculo de α. f α 180° − O teor de umidade u [%] da madeira é dado por: u= onde: 58 . mu − mo ⋅100 mu mu massa úmida do corpo-de-prova [g] mo massa seca do corpo-de-prova [g] α BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL O peso específico aparente básico da madeira ρ [g/cm³]: ρ= onde: mo massa seca da madeira [g] Vo volume da madeira11 [cm³] mo Vo A espessura simples da casca Sc [mm] foi medida com ajuda de um paquímetro digital e a porcentagem de casca %c [%] foi determinada como a relação entre a área do anel de casca com a seção transversal do corpo de prova, através da seguinte fórmula: %c = onde: At − Ao ⋅100 At At área total (madeira + casca) [cm²] Ao área sem casca [cm²] Como a visualização dos anéis de crescimento mostrou-se impossível a olho nu, mesmo após secagem e lixamento dos corpos-de-prova, as amostras12 foram preparadas a fim de tornar possível a determinação da idade. Para Salix humboldtiana e Salix × rubens, os corpos-de-prova foram amolecidos por fervura em água (aproximadamente 1 hora) e com o auxílio de um estilete extraíram-se dois cortes histológicos de cada corpo-de-prova (partindo-se da medula até a casca) para a montagem de lâminas provisórias. Para Phyllanthus sellowianus e Sebastiania schottiana, após o amolecimento da madeira em água fervente, os corpos-de-prova tiveram que ser seccionados com ajuda de um micrótomo (regulado para a espessura de 40 µm). Os cortes histológicos foram ainda brevemente tingidos com solução de azul-de-astra e safranina antes da montagem das lâminas provisórias. Observando-se estas lâminas no microscópio, foi agora possível contar o número de anéis de crescimento e assim determinar a idade dos corpos-de-prova. 11 Obtido segundo o “Princípio de Arquimedes”. As amostras foram ainda adequadamente armazenadas em câmera climatizada, para que, no futuro, possam ser realizadas análises das características anatômicas e químicas da sua madeira. 12 . 59 4.2.2 Resultados e discussão do teste de flexibilidade A tabela a seguir mostra a média dos parâmetros para as quatro espécies estudadas. O Coeficiente de Variação CV [%] é mostrado ao lado da média, entre parênteses. Phyllanthus sellowianus Sebastiania schottiana Salix × rubens Salix humboldtiana 12 – 47 10 – 60 11 – 68 12 – 70 3.666 (29) 3.850 (28) 4.002 (32) 3.014 (36) 601 (62) 658 (68) 752 (67) 833 (66) 1.138 (57) 1.222 (63) 1.279 (64) 1.396 (63) Tensão no limite proporcional, σelast [N/mm²] 57 (25) 45 (21) 43 (23) 37 (24) Tensão de ruptura, σB [N/mm²] 109 (27) 89 (30) 71 (23) 63 (27) Deformação elástica, єelast [-] 0,016 (24) 0,012 (31) 0,011 (36) 0,013 (25) Deformação plástica, єplast [-] 0,135 (39) 0,113 (57) 0,071 (46) 0,084 (47) Deformação total (ruptura), єB [-] 0,151 (35) 0,125 (52) 0,082 (41) 0,097 (41) Ângulo até o limite proporcional, αelast [°] 4,3 (25) 3,2 (31) 3,0 (36) 3,5 (25) Ângulo até a ruptura, αB [°] 40 (29) 32 (47) 22 (38) 26 (38) Teor de umidade da madeira, u [%] 123 (10) 85 (14) 96 (19) 102 (17) Peso específico da madeira, ρ [g/cm³] 0,51 (06) 0,38 (08) 0,39 (03) 0,36 (06) Espessura simples da casca, Sc [mm] 1,3 (38) 1,0 (30) 2,3 (40) 2,9 (69) Porcentagem de casca, %c [%] 17 (21) 12 (24) 23 (17) 25 (22) Idade do corpo de prova, J [anos] 6 (43) 5 (34) 4 (53) 4 (43) Variável Amplitude diamétrica dos caules d [mm] Módulo de elasticidade, E [N/mm²] Carga no limite proporcional, F elast [N] Carga de ruptura (máxima), FB [N] Tab. 5: Médias e Coeficientes de Variação (entre parênteses) dos resultados dos testes de flexão estática e dos demais parâmetros mensurados. Ao se considerar as médias mostradas na Tabela 5, deve-se ter em conta que a maioria das variáveis mensuradas relaciona-se fortemente com o diâmetro dos caules, e que a amplitude diamétrica analisada para cada espécie foi diferente. A carga nominal F (até o limite proporcional ou até a ruptura) é a variável que possui a maior relação com o diâmetro, como é óbvio. Sendo assim, melhor que comparar os valores médios é relacionar essa variável com o diâmetro dos caules d (Fig. 48). A Figura 48 informa qual a força necessária para se chegar ao limite proporcional (linha cheia) ou à ruptura (linha tracejada), para diferentes diâmetros. Para um mesmo diâmetro, Phyllanthus sellowianus é a espécie mais resistente e Salix humboldtiana a mais frágil. 60 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL 3.500 3.000 a) Phyllanthus sellowianus Felast FB b) Sebastiania schottiana Felast FB c) Salix × rubens Felast FB d) Salix humboldtiana Felast FB R 2 = 0,96 c 2 R = 0,93 b d R 2 = 0,96 2.500 R 2 = 0,94 a 2.000 F [N] R 2 = 0,91 R 2 = 0,89 c d b R 2 = 0,93 1.500 R 2 = 0,84 a 1.000 500 0 10 20 30 40 50 60 70 d Fig. 48: Relação entre o diâmetro d e a carga F, até o limite proporcional Felast e até a ruptura FB. (modelo linear13: y = a + b ⋅ x). Como tentativa de caracterizar a flexibilidade dos caules, VOLLSINGER et al. (2000) partiram do módulo de elasticidade E (também chamado de módulo de Young). Este é um parâmetro mecânico que expressa a razão entre a tensão exercida e a deformação unitária sofrida pelo material, ou seja, quanta força é necessária para que uma determinada unidade de deformação reversível seja alcançada. Neste sentido o módulo de “elasticidade” pode ser entendido melhor como uma medida de rigidez do que de flexibilidade. Testando-se as médias de E apresentadas na Tabela 5, somente Salix humboldtiana diferencia-se significativamente14 das outras três espécies. Os valores apresentados por qualquer uma das espécies podem ser considerados baixos, quando comparados aos conseguidos por VOLLSINGER et al. (2000), que determinaram o E para caules verdes de cinco espécies européias (Alnus glutinosa (L.) Gaertn., Fraxinus excelsior L., Salix alba L., Salix caprea L. e Acer pseudoplatanus L.). Os autores chegaram a valores entre 6.900 e 10.200 N/mm² para as diferentes espécies, o que deixa a entender que as espécies sul-brasileiras são visivelmente menos rígidas, segundo esse parâmetro (E). 13 O modelo de regressão escolhido gera valores negativos (portanto ilógicos) para os diâmetros próximos de 10 mm. Mesmo que um polinômio de segundo grau seja capaz de eliminar esse inconveniente, optou-se pelo modelo linear, devido a sua melhor correlação e simplicidade. 14 Teste de Tukey (5%). . 61 Assim como a carga F, o módulo de elasticidade E também deve ser considerado em relação à distribuição diamétrica dos caules (Tab. 6). Módulo de Elasticidade [N/mm²] por classe de diâmetro Espécie R² 10-20mm 20-30mm 30-40mm 40-50mm 50-60mm 60-70mm Phyllanthus sellowianus 4.513 (20) 3.793 (31) 3.329 (25) 3.028 (27) ------ ------ 0,27 Sebastiania schottiana 4.615 (26) 3.930 (29) 4.104 (31) 3.485 (12) 3.114 (18) ------ 0,14 Salix × rubens 4.940 (35) 4.562 (29) 4.296 (25) 3.555 (34) 3.625 (21) 3.031 (11) 0,19 Salix humboldtiana 4.084 (40) 3.347 (19) 3.254 (12) 2.822 (33) 2.419 (12) 2.155 (24) 0,35 Tab. 6: Média dos valores do módulo de elasticidade [N/mm²] para as diferentes classes de diâmetro para cada espécie. O Coeficiente de Variação [%] é mostrado ao lado da média, entre parênteses. Na última coluna é mostrado o coeficiente de determinação conseguido para um modelo linear, entre o módulo de elasticidade e o diâmetro dos caules (y = a + b ⋅ x). O módulo de elasticidade (Tab. 6) decresce com o aumento do diâmetro. No entanto, essa sugestiva correlação inversa entre o módulo de elasticidade e o diâmetro dos caules deve ser considerada com ressalvas devido ao alto CV e ao baixo coeficiente de determinação conseguido. Condição similar foi encontrada por VOLLSINGER et al. (2000). Salix humboldtiana é a espécie que oferece menor resistência à deformação. No entanto, o módulo de elasticidade só é válido na região elástica de tensão. Acima deste limite, o comportamento passa a ser plástico e a relação não pode mais ser explicada pela “Lei de Hooke” (Fig. 49). Para materiais inertes a deformação após o limite elástico (limite proporcional) é irreversível. Tratando-se de um material vivo, esse limite torna-se menos importante, pois as plantas não morrem e possuem a capacidade de se regenerar, mesmo quando o limite proporcional é largamente ultrapassado. Na prática esse comportamento se revela na vegetação ribeirinha, logo após uma cheia. Quando as plantas não retornam ao seu estado original imediatamente após o recuo das águas, significa que o seu limite elástico foi ultrapassado. No entanto, as plantas ainda possuem a capacidade biológica de, aos poucos, se recuperarem, ou seja, retornarem ao estado original ou adaptarem-se, crescendo com seus ramos orientados na direção da correnteza. Isso significa que não se valem da elasticidade física do material de seus caules, mas, por assim dizer, de sua “bioelasticidade”. Mesmo após a ruptura, as plantas são capazes de regenerar-se, sem que isso, necessariamente, implique em prejuízo à estabilidade do talude. De qualquer maneira, o limite de ruptura parece ser um limite mais adequado que o limite elástico para explicar a flexibilidade de um material vivo. 62 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL O módulo de elasticidade mostra a relação entre esforço e deformação dentro da área de comportamento elástico, mas não diz qual é o limite máximo desta deformação. Esse limite bem como a deformação e tensão até a ruptura são mostrados em um típico σB diagrama tensão×deformação (Fig. 49) semelhante ao diagrama carga×deformação. σ elast B Fig. 49: Típico diagrama tensão×deformação. LP E ε elast εB O primeiro trecho do diagrama é uma reta que determina o módulo de elasticidade e o limite máximo do comportamento elástico. A partir deste ponto (LP, na Figura 49) a deformação passa a ser plástica e segue até a ruptura (B, na Figura 59), de forma não proporcional. A Figura 50 mostra, analogamente à Figura 49, estes limites para cada uma das espécies estudadas. Phyllanthus sellowianus (a) 100 - Para uma melhor comparação as médias foram recalculadas, utilizando-se somente os diâmetros entre 10 a 50 mm, comuns a todas as espécies estudadas. [N/mm²] Sebastiania schottiana (b) 80 Salix rubens (c) Salix humboldtiana (d) σ Fig. 50: Deformação e tensão até o limite proporcional (linha cheia) e plástico (linha tracejada) para as quatro espécies estudadas. 60 a c b d 40 20 0 0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14 ε [-] . 63 A primeira área, delimitada pelas linhas cheias, corresponde à região de deformação elástica e a reta mostra a relação entre deformação e tensão neste trecho, o que corresponde ao módulo de elasticidade E. As linhas tracejadas mostram os limites máximos de deformação e tensão suportada antes da ruptura. Mesmo que a deformação e a tensão até o limite proporcional sejam diferentes para as espécies, a inclinação da reta (correspondente ao módulo de elasticidade) é bastante similar para as quatro espécies. Bem mais evidentes são os diferentes limites de deformação e tensão suportados até a ruptura. As duas Euforbiáceas (Sebastiania schottiana e especialmente Phyllanthus sellowianus) são capazes de suportar tanto uma deformação como uma tensão maior, antes da ruptura. Salix humboldtiana suporta uma tensão ligeiramente inferior a Salix × rubens, no entanto é capaz de deformar-se bem mais que essa última espécie, antes da ruptura. Na Figura 51 pode-se ver como a tensão σ (até o limite proporcional σelast e até a ruptura σB) relaciona-se com o diâmetro dos caules. σ elast σB 180 160 140 [N/mm²] 120 100 σ =a⋅d a 80 b 60 c a d 40 b b R² σ elast σ B a) Phyllanthus sellowianus 0,48 0,70 b) Sebastiania schottiana 0,40 0,65 c) Salix rubens d) Salix humboldtiana 0,43 0,64 0,69 0,86 c d 10 20 30 40 50 60 70 d [mm] Fig. 51: Relação entre o diâmetro d e a tensão σ até o limite proporcional (linha cheia) e até a ruptura (linha tracejada). A relação foi calculada através de um modelo exponencial (y = a ⋅ xb). 64 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL A tensão máxima suportada mostra-se diferente entre as espécies, seja até o limite proporcional, seja até a ruptura, e relaciona-se bem aos diâmetros. Mesmo que a carga nominal suportada F cresça (Fig. 48) a tensão σ decresce, com o aumento dos diâmetros (Fig. 51). A deformação adimensional є pode ser entendida como a expressão de o quanto o material foi deformado a partir de sua condição de repouso. Se o valor de є for multiplicado por 100, obtém-se o valor percentual, ou seja, quanto por cento o corpo foi deformado com referência às suas dimensões originais. Outra maneira de demonstrar essa deformação pode ser conseguida, por exemplo, através do ângulo até o limite proporcional αelast ou até a ruptura αB que se denominou de “ângulo de flexibilidade”: a Tabela 5 mostra as médias e a Figura 52 a relação de αB com o diâmetro dos ramos. 70 Phyllanthus sellowianus (a) Sebastiana schottiana (b) Salix humboldtiana (d) Salix x rubens (c) 65 R² 0,64 0,48 0,64 0,32 60 55 50 45 α B [°] 40 35 30 a 25 b 20 d c 15 10 αelast 5 0 10 20 30 40 50 60 70 d [mm] Fig. 52: Relação entre o diâmetro d e o ângulo de flexibilidade até a ruptura αB, através de um modelo exponencial (y = a ⋅ xb). A faixa na parte inferior do gráfico mostra a área de distribuição dos ângulos de flexibilidade conseguidos até o limite proporcional αelast, que não possuem correlação significativa com o diâmetro. A faixa mostra, portanto, o limite valido em qualquer diâmetro e para as quatro espécies. . 65 Para o ângulo até o limite proporcional αelast (limite elástico) não se encontrou uma correlação significativa com o diâmetro e nem mesmo diferença entre as espécies. Sendo assim, a faixa (αelast) da Figura 52 limita a área onde, na média, o ângulo até o limite proporcional é alcançado por qualquer espécie em qualquer diâmetro. O ângulo de flexibilidade até a ruptura αB é uma expressão que pode ser facilmente visualizada na prática. Ele informa a que ângulo máximo pode-se vergar um ramo de um determinado diâmetro e espécie, até a sua ruptura. Retornando à Figura 52, verifica-se que Phyllanthus sellowianus destaca-se por ser capaz de produzir ângulos de flexibilidade maiores que o das outras espécies antes de encontrar a ruptura. Por exemplo, enquanto um ramo com 20 mm de Phyllanthus sellowianus pode formar um ângulo de flexão de 45° antes de se romper, um ramo de mesmo diâmetro de Salix × rubens só alcança um ângulo de 24° antes da ruptura. Ou seja, sob análise desta característica, Phyllanthus sellowianus é a espécie mais flexível (veja Figura 52). No entanto, para que este ângulo seja formado, Phyllanthus sellowianus precisa ser submetido a uma carga nominal muito maior (veja a Figura 48). Para os objetivos deste trabalho o ângulo de flexibilidade até a ruptura αB analisado conjuntamente com a carga nominal até a ruptura FB, permite chegar a conclusões que melhor ilustram a aptidão biotécnica das plantas, do que as conseguidas pela comparação dos módulos de elasticidade. A Figura 53 combina em um mesmo nomograma as relações αB×FB para as quatro espécies ao longo da distribuição diamétrica dos caules. 70 Phyllanthus sellowianus Sebastiania schottiana Salix humboldtiana Salix rubens 10 mm 60 50 B [°] 20 mm 40 30 mm Fig. 53: Diâmetro d, ângulo de flexibilidade até a ruptura αB e carga de ruptura FB, para as quatro espécies estudadas. 40 mm 30 50 mm 60 mm 20 70 mm 10 10 100 1.000 F B [N] 66 . 10.000 - Os valores de carga FB para os diâmetros de 10 mm foram obtidos pela média dos valores lidos entre 10 e 13 mm, já que os modelos ajustados (Fig. 4) não permitem determiná-los. BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL Para qualquer das espécies, a carga necessária para a ruptura cresce com o diâmetro e o ângulo formado diminui. Comparativamente um caule de Phyllanthus sellowianus de 20 mm de diâmetro necessita receber uma carga de 670 N para chegar à ruptura, alcançando com isso um ângulo máximo de flexibilidade de 45°, enquanto Sebastiania schottiana com uma carga limite de 550 N só chega a 36°. Salix humboldtiana forma um ângulo ainda menor (32°) e necessita igualmente uma menor carga (400 N) para chegar a esse ângulo. Já Salix × rubens, apesar de possuir um ângulo de flexibilidade ainda menor que as espécies anteriores, necessita mais força (460 N) que Salix humboldtiana para chegar a no máximo 25° de ângulo de flexibilidade. Ou seja, Salix × rubens verga-se menos e com menos facilidade. Esse é o tipo de leitura que pode ser feita na Figura 53, dentro das amplitudes diamétricas estudadas. Não se pode reproduzir o nomograma da Figura 53 para os valores até o limite proporcional devido à falta de relação entre o ângulo até este limite e o diâmetro (Fig. 52). No entanto, o mesmo tipo de análise conjunta poderia ser feita, substituindo-se no gráfico 53 a carga F pela tensão σ até a ruptura. Uma próxima consideração útil leva em conta a idade dos caules (Fig. 54). A relação das variáveis E, αB ou FB, por exemplo, com a idade é informação chave na transposição destes conhecimentos para a prática. Isto não permite dizer somente a que diâmetro determinado grau de flexibilidade será alcançado, mas, também, depois de quantos anos essa característica se manifestará. Assim é possível determinar a que idade uma obra ou a vegetação ciliar deve ser submetida a manejo, para que características biotécnicas desejáveis sejam garantidas. 12 10 9 b 8 J [anos] Espécie R² Modelo Phyllanthus sellowianus (a) 0,82 J=0,24d+0,24 Sebastiania schottiana (b) 0,83 J=0,13d+1,04 Salix 0,58 J=0,12d+0,15 0,79 J=0,09d+0,47 a 11 Salix humboldtiana (d) c 7 rubens (c) d 6 5 4 3 2 1 0 10 20 30 40 50 60 70 Fig. 54: Relação entre o diâmetro d e a idade dos ramos J. d [mm] . 67 Como demonstrado, a flexibilidade é perdida gradativamente com o aumento do diâmetro, sendo assim diâmetros menores são desejados. Phyllanthus sellowianus é a espécie que mais tensão suporta e, ao mesmo tempo, pode ser vergada a ângulos maiores antes da ruptura, além de possuir uma taxa de crescimento bem menor que qualquer das outras espécies (Fig. 54). Sendo assim, poderá sofrer intervenções menos freqüentes. As relações mostradas na Figura 54 não podem ser tomadas sem ressalvas para toda sorte de sítio e condições, mas servem como uma primeira informação e mostram como esses comportamentos podem ser entendidos. Como já mencionado, na prática, a possibilidade de associar (substituir), a série diamétrica (base da apresentação e discussão dos resultados, até aqui) por uma série cronológica é muito útil. Utilizando-se das relações calculadas e mostradas na Figura 54, informações, como o ângulo de flexibilidade (Fig. 52), podem ser apresentadas agora em uma série cronológica, como a mostrada na Tabela 7. P. sellowianus S. schottiana S. x rubens S. humboldtiana J [anos] d [mm] α B [°] d [mm] α B [°] d [mm] α B [°] d [mm] α B [°] 1 3 114 3 100 7 37 6 53 2 7 77 7 58 15 28 17 35 3 12 61 15 43 24 23 28 28 4 16 51 23 34 32 21 39 23 5 20 45 30 29 40 19 50 20 6 24 41 38 25 49 17 61 18 7 28 37 46 22 57 16 73 17 8 32 34 54 20 65 15 84 15 9 37 32 61 18 74 15 95 14 10 41 30 69 17 82 14 106 13 11 45 29 77 16 90 13 117 13 12 49 27 84 15 99 13 128 12 13 53 26 92 14 107 13 139 12 14 57 25 100 13 115 12 150 11 Tab. 7: Diâmetro d e ângulo de flexibilidade até a ruptura αB nas diferentes idades J. Os valores na área hachurada correspondem à amplitude amostrada nos testes de flexão estática; os valores fora são extrapolações. O peso específico aparente básico ρ e a umidade da madeira u pouco se alteraram com o diâmetro dos caules. Pode-se dizer somente que, para Sebastiania schottiana, Salix humboldtiana e Salix × rubens, o aumento dos diâmetros possui uma leve relação (tendência) proporcional com a primeira variável (ρ) e inversa com a segunda (u). 68 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL Para Phyllanthus sellowianus não existe nem mesmo tendência. Essa condição já era denunciada pelos baixos coeficientes de variação mostrados na Tabela 5, para as médias destas variáveis. Cabe somente considerar que os valores de peso específico aparente básico da madeira de Phyllanthus sellowianus foram relativamente altos, quando comparados aos das outras três espécies, provavelmente conseqüência do crescimento mais lento e resultante maior idade média dos corpos-de-prova desta espécie (Tab. 5). Como esperado, a espessura da casca Sc correlaciona-se firmemente com os diâmetros e, portanto, mantém uma relação percentual %c relativamente constante. As espécies que na média possuem uma casca menos espessa – Phyllanthus sellowianus e Sebastiania schottiana (Tab. 5) – mostram, conseqüentemente, um aumento mais discreto da espessura da casca com o aumento do diâmetro. Salix humboldtiana é a espécie de casca mais espessa, tem entre 5 a 7 mm para os diâmetros maiores, 60 – 70 mm. Isso tem certa importância nas relações feitas entre as diversas variáveis e o diâmetro dos caules. Também pode existir influência da casca no resultado dos testes de flexão estática. A influência da casca nos parâmetros mensurados poderá ser verificada, realizando-se, comparativamente, testes em corpos-de-prova com e sem casca. A investigação das características anatômicas e químicas da madeira das espécies já estudadas poderá ajudar ainda mais no esclarecimento das características biotécnicas (biomecânicas) da vegetação, no que concerne à sua flexibilidade. . 69 4.3 Resistência ao arranquio O efeito do sistema radicular de uma planta na estabilização do solo pode ser investigado sob diferentes enfoques. Certamente o reforço providenciado pelas raízes é mais eficiente, quando sua densidade e alcance em profundidade forem maiores. Esse é o tipo de informação que se busca com a implantação de canteiros experimentais (Item 4.1). A resistência de uma raiz à tensão, flexão e compressão pode ser diretamente determinada através de ensaios em laboratórios. De maneira indireta, a contribuição das raízes na estabilidade do sistema solo-raiz pode ser determinada através de testes de resistência ao cisalhamento realizados em corpos-de-prova (amostras de solo) providos e desprovidos de raízes. Um enfoque peculiar é dado nos experimentos que visam a determinar a resistência ao arranquio. Essa resistência corresponde à força necessária para que uma planta seja arrancada do solo e – como afirma FLORINETH (2004) – pode ser uma medida da estabilidade do sistema solo-raiz e assim expressar o efeito de consolidação proporcionado por uma planta. Também BOCCALARO (2005), analisando os estudos realizados nos últimos 30 anos em território austríaco, afirma que as plantas com maior capacidade de estabilizar o terreno são aquelas que dispõem de um sistema radicular profundo, elástico e resistente ao arranquio. Fato é que a resistência ao arranquio relaciona-se fortemente com as outras duas características apontadas por este último autor e, como afirma o primeiro, pode ser entendida como um índice que agrega uma série de características do sistema radicular, que são úteis à bioengenharia de solos. Obviamente a resistência ao arranquio não está somente na dependência das características do próprio sistema radicular das plantas, mas relaciona-se também com outros fatores, como: as características físicas do solo (textura, densidade, umidade, etc.), as condições de crescimento da planta (disponibilidade de água, luz, nutrientes, etc.) e com a espécie e idade das plantas. Sendo assim, para que se consiga concluir quanto à contribuição do sistema radicular na resistência ao arranquio é necessário que estes fatores envolvidos sejam mantidos homogêneos e sob controle experimental. Os resultados conseguidos em condições experimentais controladas não podem ser diretamente transferidos à prática. Por outro lado, é assim possível ceteris paribus concluir, comparativamente, quanto à influência do sistema radicular de diferentes espécies e/ou idades, na resistência ao arranquio. 70 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL 4.3.1 Metodologia do teste de resistência ao arranquio O experimento foi implantado em uma área homogênea (400 m²) localizada no distrito de Vale Vêneto, bacia hidrográfica do Rio Vacacaí-mirim. O solo da área, apesar de não compactado, foi preparado para o plantio através de aração e gradagem (Fig. 55), com o objetivo de facilitar a implantação e eliminar a pastagem que originalmente ocupava a área. Após o preparo, foram coletadas amostras do solo em cinco diferentes pontos da área e em quatro profundidades, para a realização de análises de suas principais características físico-químicas (Tab. 8). Profundidade [cm] Propriedades Areia [%] Silte [%] Argila [%] P [mg/dm³] K [mg/dm³] %M.O. Al [cmolc/dm³] pH 0 – 20 78 16 6 76 56 1,6 0,0 6,4 20 – 40 77 15 8 76 48 1,0 0,0 6,7 40 – 60 84 9 7 13 48 0,6 0,0 6,7 60 – 80 88 7 5 7 44 0,3 0,0 5,8 Média 82 12 6 43 49 1,55 0,0 6,4 Tab. 8: Propriedades físico-químicas do solo da área de implantação do experimento de arranquio. Após cercada a área, foram preparadas 546 covas com 40 cm de profundidade e 15 cm de diâmetro, a um espaçamento de 0,9 × 0,5 m entre elas, com ajuda de uma cavadeira manual. Cada cova recebeu uma estaca com diâmetro entre 1,0 a 4,5 cm e 50 cm de comprimento, cuidadosamente plantada na vertical (Fig. 56). Fig. 55: Preparo da área para o plantio [Vale Vêneto / set. 2006]. Fig. 56: Preparo das covas e plantio [Vale Vêneto / set. 2006]. A área do plantio foi dividido em dez blocos, cada um formado por quatro linhas de plantio com 13 covas. Cada linha recebeu uma espécie: Salix humboldtiana, Salix × rubens, Phyllanthus sellowianus, Sebastiania schottiana. Para esta última espécie foram plantadas duas linhas extras, como precaução quanto à sua presumível maior mortalidade. . 71 Do total de estacas plantadas, 15% eram inertes, ou seja, foram confeccionadas com material sem potencial vegetativo (material morto), para que servissem de testemunha. Após o plantio a área foi coberta com uma fina camada de casca de arroz a fim de manter a umidade do solo e dificultar o crescimento da vegetação espontânea (Fig. 57). Procurou-se adotar intervalo regular (dois meses) entre o plantio e o primeiro teste de arranquio, bem como entre eles. Porém, existiu sempre o cuidado para que a umidade do solo nos dias de arranquio fosse similar. Isso justifica a variação de dias entre os intervalos dos três primeiros arranquios. O quarto arranquio coincidiu com um período de chuvas prolongadas, forçando a sua realização após três meses do anterior (há 9 meses do plantio). Para cada um dos quatro testes de arranquio realizados, dois dos dez blocos totais foram sorteados para avaliação. Os blocos tinham a sobrevivência de suas plantas avaliadas (Fig. 58). Quando o mínimo de 20 plantas vivas de cada espécie não era encontrado nos dois blocos, completava-se esse número com plantas das linhas extras. Desta forma, cada média foi sempre resultado de um mínimo de 20 estacas (plantas) vivas. A cada coleta de dados, foram também arrancadas quatro estacas inertes de cada espécie (16 no total), para determinar a resistência sem enraizamento. Fig. 57: Aspecto da área logo após a instalação do experimento de arranquio [Vale Vêneto / set. 2006]. Fig. 58: Aspecto da área no momento do primeiro teste de arranquio (após dois meses) [Vale Vêneto / nov. 2006]. Antes do arranquio de cada planta, foram anotados o número, comprimento e diâmetro da base dos brotos primários. Isso permitiu o cálculo do número médio de brotos por planta, comprimento médio de brotos por planta e soma do comprimento dos brotos por planta, variáveis já descritas no Item 4.1.1. Foi também calculado o diâmetro médio de brotos por planta15 e a área basal de brotos por planta16 . Após o arranquio, foi também determinada a massa seca da parte aérea. 15 16 Resultado da soma do diâmetro de todos os brotos dividido pelo seu número. Corresponde à soma das áreas das seções transversais da base de todos os brotos de uma planta. 72 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL Para que fosse possível determinar a resistência ao arranquio, foi necessário confeccionar um aparato específico constituído de uma base de madeira que suportava um dinamômetro acoplado a uma manivela (Fig. 59). O sistema permitia produzir uma carga máxima de 2,9 kN. Vista superior Detalhe (vista superior) reforço de madeira Detalhe da lateral Vista frontal Vista inferior base de madeira destorcedor dinamômetro base de madeira reforço de metal Fig. 59: Aparato para a determinação da resistência ao arranquio (medidas dadas em mm). A Figura 60 mostra uma planta de Phyllanthus sellowianus com quatro meses de idade, preparada para o arranquio. O dinamômetro ficava preso à planta disposta no orifício da base de madeira, enquanto se girava lenta e continuamente a manivela, até o arranquio total da planta. A resistência ao arranquio foi entendida como sendo a força máxima mostrada pelo dinamômetro durante o processo de completo de arranquio da planta. Após o arranquio, foi mensurado o diâmetro da base, meio e ponta da estaca e feita uma avaliação visual quanto à presença de raízes proventícias. Fig. 60: Aparato de arranquio [Vale Vêneto / jan. 2007]. . 73 4.3.2 Resultados e discussão do teste de resistência ao arranquio A sobrevivência das espécies confirma a tendência mostrada nos canteiros experimentais. Ambas as Salicáceas apresentaram uma taxa de 100%, Phyllanthus sellowianus mais de 90% e Sebastiania schottiana teve uma sobrevivência de cerca de 60%. Os valores de resistência ao arranquio são mostrados na Figura 61. Salix rubens Salix humboldtiana Sebastiania schottiana Phyllanthus sellowianus 4,5 4,0 Resistência ao arranquio [kN] 3,5 3,0 25% 2,9 kN (Max.) 10% 30% 15% 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 ∴0,1 kN 0,0 implantação 20 set. 2006 1° arranquio 27 nov. 2006 primavera 2° arranquio 24 jan. 2007 verão 3° arranquio 1° abr. 2007 4° arranquio 22 jun. 2007 outono Fig. 61: Resistência ao arranquio. O ponto central mostra a média dos valores de 20 plantas; linhas duplas e simples assinalam respectivamente o primeiro e o segundo quartil, inferior e superior. A linha de 0,1 kN mostra a média para estacas não enraizadas e a linha de 2,9 kN o limite máximo possível de ser avaliado com o aparato de arranquio. Os valores acima deste limite foram estimados por extrapolação. O valor percentual mostrado logo acima do limite máximo indica quanto por cento dos dados foram extrapolados para obtenção da média. Os outliers são marcados por um asterisco (*) e não foram considerados no cálculo dos parâmetros estatísticos. 74 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL Já no terceiro arranquio (isto é, aos 190 dias após o plantio), 25% das estacas de Salix × rubens e 10% das de Salix humboldtiana não puderam ser arrancadas pela força máxima de 2,9 kN. No quarto arranquio foi 30% e 15%, respectivamente, a porcentagem de estacas destas espécies que superaram o limite do equipamento. Devido à boa correlação entre a resistência ao arranquio e algumas das características da parte aérea, foi possível determinar os valores por extrapolação. A Tabela 9 mostra os coeficientes de determinação conseguidos para diversas variáveis independentes e a resistência ao arranquio. Salix × rubens Salix humboldtiana Sebastiania schottiana Phyllanthus sellowianus Número de brotos por planta 0,03 0,01 0,27 0,05 Diâmetro médio dos brotos 0,57 0,51 0,78 0,58 Área basal de brotos 0,70 0,78 0,80 0,77 Comprimento médio dos brotos 0,67 0,58 0,76 0,57 Somatório do comprimento dos brotos 0,59 0,54 0,76 0,72 Massa seca da parte aérea 0,69 0,65 0,74 0,87 Diâmetro da estaca (1° arranquio) 0,39 0,63 0,49 0,25 Diâmetro da estaca (4° arranquio) 0,18 0,29 0,26 0,12 Variável independente Tab. 9: Coeficientes de determinação conseguidos através de um modelo de 1° grau (y = a + b ⋅ x) entre diferentes variáveis independentes e a resistência ao arranquio. Relações sempre positivas. Das variáveis mensuradas, a área basal de brotos é a que melhor relação guarda com a resistência ao arranquio (Fig. 52). Foi essa, portanto, a variável utilizada para a extrapolação dos valores. 3,0 Sebastiania schottiana R2 = 0,80 Salix humboldtiana R2 = 0,78 Salix x rubens R2 = 0,70 Resistência ao arranquio [kN]__ 2,5 Phyllanthus sellowianus R2 = 0,77 2,0 1,5 1,0 Salix x rubens Salix humboldtiana 0,5 Sebastiania schottiana Phyllanthus sellowianus 0,0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1.000 1.100 Área basal de brotos [mm²] Fig. 62: Relação da área basal dos brotos com a resistência ao arranquio (y = a + b ⋅ x). . 75 O diâmetro das estacas utilizadas para a reprodução vegetativa tem importância no inicio do desenvolvimento das plantas, como já havia sido demonstrado na avaliação do potencial vegetativo de estacas imersas em água. No entanto, os testes de arranquio deixam entender que essa variável perde importância à medida que as plantas se estabelecem. Isso fica evidente ao se observar que os coeficientes de determinação no quarto arranquio (nove meses do plantio) são consideravelmente menores que os conseguidos no primeiro arranquio, realizado após dois meses do plantio (Tab. 9). A resistência ao arranquio relaciona-se a um detalhe em especial do sistema radicular: se as raízes são do tipo proventícias ou do tipo adventícias. Raízes proventícias são produzidas por gemas epicórnicas dormentes. Essas gemas, uma vez formadas, ainda na fase de crescimento primário, não são excluídas pelo crescimento em diâmetro (secundário) do ramo. Um raio de células meristemáticas se mantém desde a medula até a periferia. Sua capacidade de dar origem a novos ramos e/ou raízes é mantida dormente pela ação dominante do meristema apical. Na confecção das estacas, essa dominância é perdida e as gemas podem assim dar origem a raízes que, de imediato, já possuem uma forte ligação com o xilema da estaca-mãe. Raízes adventícias, por sua vez, originam-se do câmbio vascular e inicialmente possuem uma conexão mais fraca com a estaca-mãe; sua união ao xilema primário dar-se-á com o desenvolvimento da planta. Raízes adventícias jovens certamente já contribuem para a estabilização do solo, no entanto, ganha-se em estabilidade à medida que essas passam a se conectar ao xilema da estaca-mãe. Isso se reflete seguramente na resistência ao arranquio. Dito de outra forma: mesmo uma planta que produza grande quantidade de raízes terá um melhor efeito na estabilidade do solo e, também, maior resistência ao arranquio, se essas forem do tipo proventícias, ou, a partir do momento em que as adventícias passarem a apresentar uma melhor conexão com a estaca-mãe. Essa pode ser a explicação sobre a menor resistência ao arranquio apresentada por Phyllanthus sellowianus em comparação às outras espécies, mesmo sendo essa espécie sabidamente capaz de produzir um sistema radicular de grande volume e bastante fasciculado. A grande maioria dos estudos publicados analisa a produção de raízes sem diferenciar se estas são proventícias ou adventícias. Para a bioengenharia de solos a presença de gemas epicórnicas capazes de dar origem a raízes proventícias é uma característica biotécnica ainda mais importante que a simples capacidade de produzir raízes adventícias. 76 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL 5 OBRAS DE BIOENGENHARIA DE SOLOS Neste capítulo são expostas experiências com algumas obras de bioengenharia de solos já construídas na região em estudo, dando-se enfoque ao comportamento vegetativo das espécies utilizadas. Não se tem o objetivo de descrever detalhadamente as metodologias de intervenção. Estas já são conhecidas e criteriosamente abordadas na literatura especializada (por exemplo: BEGEMANN / SCHIECHTL, 1986; SCHIECHTL / STERN, 1992, 1994; FLORINETH, 2004 e 2007). No ano de 2003, concomitantemente com a implantação do primeiro canteiro experimental, foram construídas, pela primeira vez no Sul do Brasil, uma parede-Krainer17 de 40 metros de extensão (1,3 m de altura) e uma esteira viva18 de 25 metros, com objetivo de estabilizar dois trechos do Arroio Guarda-mor (Fig. 63 e 64). Como ainda não se contava com informações sobre as características biotécnicas da vegetação, optou-se por utilizar o maior número de espécies possível. Ramos de Calliandra brevipes, Phyllanthus sellowianus, Pouteria salicifolia, Salix humboldtiana, Salix × rubens, Sebastiania schottiana e Terminalia australis foram utilizados para a confecção de estacas, feixes vivos e da esteira viva. Além disto, foram utilizadas plantas já enraizadas de Calliandra tweediei e Cynodon plectostachyus (gramínea). Os resultados conseguidos confirmaram o que foi observado nos canteiros experimentais. As plantas enraizadas também se estabeleceram com sucesso. A metodologia de implantação e os resultados obtidos com estas primeiras obras encontram-se detalhadamente descritos em SUTILI (2004) e DURLO / SUTILI (2005). Fig. 63: Margem erodida no Arroio Guarda-mor [Faxinal do Soturno / jan. 2003]. Fig. 64: Aspecto dois anos e meio após a construção da parede-Krainer [ago. 2005]. Nos anos de 2005 e 2006 foram experimentadas outras três intervenções nos rios da região. Essas obras são a seguir descritas com maiores detalhes. 17, 18 Veja rodapé da próxima pagina (p. 78). . 77 5.1 Parede-Krainer dupla e esteira viva com muro de pedras na base A erosão nas cabeceiras e encaixes de pontes e passos (comumente chamados de “barragens”) são problemas comuns na região em estudo. Intervenções biotécnicas são especialmente justificáveis nesses locais, pois além de representarem ganhos ecológicos e estéticos trazem benefícios econômicos. No final do mês de agosto de 2005 a estabilização de um desses pontos situado na margem direita do Rio Soturno foi definitivamente conseguida com a construção de uma parede-Krainer17 e uma esteira viva18, conforme pode ser visto na Figura 65. Morus nigra reduzido ao toco estacas vivas e cama de capim posição original da margem erodida (S. rubens) estacas de madeira Ø6 120 cm ESTEIRA VIVA (S. rubens und S. schottiana) Foto 2 arame Ø2 mm estrada feixes vivos Ø25-30 cm Foto 3 PAREDE-KRAINER (12 m) com feixes vivos Ø25 cm (S. pedras e seixos rubens und S. schottiana) pilotos Ø20 200 cm MURO DE PEDRAS (16 m) retirado passo sentido da corrente Foto 4 Foto 1 Fig. 65: Vista superior da parede-Krainer dupla e esteira viva construídas no Rio Soturno. Na tentativa de estabilizar o local, a prefeitura municipal de Faxinal do Soturno mantinha um muro de pedras junto à margem que, por repetidas vezes, foi destruído pela força da água. Ultimamente a margem encontrava-se erodida e o muro danificado. A parte do muro em melhores condições foi mantida, o barranco de dois metros de altura foi remodelado em uma inclinação de 2:1 e estabilizado com a construção de uma esteira viva. Ramos de Salix × rubens e Sebastiania schottiana com 2 a 4 metros de comprimento foram distribuídos e firmemente fixados ao talude. O espaço entre a nova margem e o muro foi preenchido com grandes blocos de pedra e superficialmente coberto com uma camada de seixos retirados do leito do próprio rio. Ao final, a esteira viva, foi coberta por uma camada de 3 a 5 cm de solo. 17 Do alemão: Krainerwand ou ainda Uferkrainerwand. Em português, também denominada parede vegetada de madeira. Em Portugal: muro de suporte vivo em madeira tipo cribwall. O último termo vem do inglês, vegetaded log cribwall. No italiano é pallificata viva di sostegno. 18 Em Portugal chama-se: sistema de revestimento com ramos vegetativos. Em idioma alemão: Spreitlage. No inglês: living brush mattress. Em italiano: cobertura difussa con ramaglia viva. 78 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL A intervenção foi completada com a construção de uma parede-Krainer dupla de 1,5 m de altura, encaixada entre a esteira viva e a margem. A parede-Krainer foi construída com troncos de Eucalyptus grandis W. Hill e vegetada com feixes vivos confeccionados com ramos de Salix × rubens e Sebastiania schottiana. Foi preenchida com uma mistura de solo e seixos e, ao final, coberta por uma camada de seixos. Acima da parede-Krainer foram instaladas duas linhas de feixes vivos. A área foi ainda coberta por uma camada de capim e, a 50 cm umas da outras, foram plantadas estacas vivas com 50 cm de comprimento. Ligadas entre si com barbante de sisal, estas estacas prendiam a cama de capim ao talude, criando uma espécie de geotêxtil de confecção caseira. Toda a intervenção foi realizada num período de oito dias por quatro trabalhadores. Foram ainda utilizadas seis horasmáquina (retro-escavadeira). A situação anterior, o trabalho de construção e as condições após, podem ser vistas na foto-documentação da Figura 66. 1 2 3 4 Fig. 66: Foto 1 – margem erodida no Rio Soturno [9 ago. 2005]; Foto 2 – colocação dos ramos para confecção da esteira viva [28 ago. 2005]; Foto 3 – construção da parede-Krainer [4 set. 2005]; Foto 4 – aspecto 3 meses após a intervenção [16 dez. 2005]. Todas as espécies desenvolveram-se bem, e a margem apresenta-se agora estável. Períodos prolongados de chuvas e precipitações que somaram mais de 100 mm em menos de 8 horas não foram capazes de causar erosão na área. . 79 5.2 Esteira viva com parede-Krainer dupla na base Com igual justificativa técnica e econômica da obra anterior, o encaixe direito de uma ponte localizada na entrada do distrito de Vale Vêneto no município de São João do Polêsine foi estabilizado com a construção de uma esteira viva que teve sua base protegida por uma parede-Krainer dupla de 80 cm de altura (Fig. 67). A corrosão da cabeceira da ponte formava um barranco com 4 metros de altura e 24 de extensão. O dano atingia a estrada que não apresentava mais acostamento nesse trecho. A justificativa estética ganhava evidencia e o interesse tornava-se comunitário devido a ser esse um dos principais acessos ao distrito de Vale Vêneto. perfil original perfil construido ( 2:1) troncos, Ø18-25 cm ramos vivos (Salix rubens) estacas de madeira Ø6 150 cm feixe vivo de cardamomos Ø30-40 cm feixe inerte pilotos de madeira Ø18-25 200 cm Fig. 67: Detalhes da construção da esteira viva com uma parede-Krainer para a proteção da base (corte transversal). A parede-Krainer foi confeccionada com troncos de Eucalyptus saligna Smith e Eucalyptus citriodora Hook., espécies com madeira presumivelmente mais durável que a de Eucalyptus grandis, utilizada na obra anterior (Rio Soturno). Uma primeira linha de feixes inertes confeccionados com ramos mortos de eucaliptos e taquaras foi instalada, conforme se pode ver na Figura 67. Na segunda linha de feixes – estes agora vivos – foram utilizadas plantas inteiras (parte aérea e rizoma) de Hedychium coronarium (cardamomo) e alguns ramos de Salix × rubens. A esteira viva foi confeccionada com ramos de Salix × rubens e também com algumas plantas de Hedychium coronarium. Os ramos foram fixados com três linhas de 80 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL estacas de madeira e cobertos por uma camada de 3 a 5 cm de solo. Uma fotodocumentação do trabalho é mostrada na Figura 68. 1 2 3 4 Fig. 68: Foto 1 – situação original da margem do Arroio Vale Vêneto [1° out. 2005]; Foto 2 – início da construção da parede-Krainer [2 out. 2005]; Foto 3 – instalação da esteira viva [9 out. 2005]; Foto 4 – situação dezoito messes após a construção [19 março 2007]. Foram necessárias sete horas-máquina (retro-escavadeira) e o trabalho de quatro pessoas durante seis dias. Os resultados foram surpreendentemente positivos. Assim como na obra anterior, depois de alguns meses a área já se encontrava completamente recoberta pela vegetação e, após um ano, mostra-se efetivamente estável. Especialmente promissor foi o desenvolvimento das plantas de cardamomo (Hedychium coronarium). Essa planta herbácea não foi investigada no programa de testes, no entanto revelou-se, nessa obra, com grande potencial. Resta saber se essa espécie comportar-se-á realmente de maneira pioneira, cedendo lugar posteriormente a outras espécies. Como a obra anterior essa também foi capaz de resistir a períodos prolongados de chuvas e precipitações de volume singular. . 81 5.3 Entrançado vivo diagonal Em um dos pequenos córregos afluentes do Arroio Vale Vêneto foi construído, na primeira semana de outubro de 2006, um entrançado vivo19 para estabilizar um pequeno barranco de 0,8 a 1,3 metros de altura e 22 metros de extensão (Fig. 69). 1 2 3 4 Fig. 69: Foto 1 – situação da margem da pequena ravina contribuinte do Arroio Vale Vêneto [5 out. 2006]; Foto 2 – piloteamento da margem [6 out. 2006]; Foto 3 – início do entrançamento com ramos de Phyllanthus sellowianus [8 out. 2006]; Foto 4 – situação depois de quatro meses [24 jan. 2007]. A cada 50 – 80 cm, fora cravado um piloto de madeira (ø 8 cm) e um entrançado com ramos de Phyllanthus sellowianus, confeccionado até uma altura de 60 cm. Imediatamente a jusante do entrançado vivo foi construída uma pequena soleira com desnível, com a finalidade de evitar o escavamento do leito e conferir maior estabilidade ao trecho. Foram necessários dois trabalhadores, em quatro dias, para realizar o trabalho. Além da já presumível aptidão da espécie utilizada, ficou evidente a eficácia da soleira. A forte inclinação dessa ravina torrencial faz necessária essa pequena obra transversal, que realmente contribuiu à estabilidade do trecho imediatamente a montante. 19 Também chamada trança viva. Em língua alemã: Flechtzaun ou Flechtwerk. Inglês: wattle fence, living wattle work ou ainda wattling. Em italiano recebe o nome de viminata. 82 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL 5.4 Desenvolvimento da vegetação utilizada nas obras O desenvolvimento da vegetação nas obras implantadas no final do inverno / início da primavera de 2005 (Itens 5.1 e 5.2) foi periodicamente acompanhado. Em cada obra, logo após sua construção, foram marcadas duas faixas de 0,5 m de largura que partiam da linha d’água e estendiam-se até o alto do talude. Essas faixas funcionavam como parcelas permanentes, nas quais foram contados o número de brotos e medidos seus respectivos comprimentos e diâmetros basais, após 3, 6, 9 e 12 meses da implantação (Tab. 10). Meses após plantio Obra / Elemento construtivo Esteira viva [Vale Vêneto] Esteira viva [Faxinal do Soturno] Parede-Krainer [Faxinal do Soturno] Feixe (cardamomo) [Vale Vêneto] Feixe (vime) [Faxinal do Soturno] Estacas vivas [Faxinal do Soturno] 3 6 9 12 Número de brotos [n°/m²] 91 34 28 28 Comprimento dos brotos [cm] 47 73 85 98 Diâmetro dos brotos [mm] 4 7 10 10 Número de brotos [n°/m²] 106 56 27 26 Comprimento dos brotos [cm] 62 103 116 128 Diâmetro dos brotos [mm] 4 5 7 8 Número de brotos [n°/m²] 106 70 44 36 Comprimento dos brotos [cm] 42 58 63 70 Diâmetro dos brotos [mm] 3 4 5 6 Número de brotos [n°/m] 24 62 77 82 Comprimento dos brotos [cm] 40 86 104 124 Diâmetro dos brotos [mm] 8 11 15 17 Número de brotos [n°/m] 42 20 Ø Ø Comprimento dos brotos [cm] 44 88 - - Diâmetro dos brotos [mm] 3 4 - - Número de brotos [n°/estaca] 5 5 2 Ø Comprimento dos brotos [cm] 92 103 160 - Diâmetro dos brotos [mm] 7 7 11 - Ø = morto Tab. 10: Desenvolvimento da vegetação nas obras. Os valores correspondem à média aritmética dos dados coletados após 3, 6, 9 e 12 meses da implantação. Para as esteiras vivas e a parede-Krainer, o número de brotos se refere à área de 1 m². Para os feixes, a informação é apresentada por metro linear do elemento. Para as estacas vivas, informa-se o número de brotos por planta (estaca). A densidade inicial elevada de brotos, em obras como esteira viva e paredeKrainer, é esperada (~100 brotos/m², Tab.10), e tem como causa o efeito das reservas ainda contidas no material vegetativo empregado. GERSTGRASER (2000) registrou a ocorrência de 79 brotos/m² para uma esteira viva construída no Rio Viena (Áustria) e avaliada em junho de 1997, três meses após a sua construção. Essa alta densidade de brotos é rapidamente perdida já no primeiro ciclo vegetativo. Nas esteiras vivas e na parede-Krainer construídas . 83 na região em estudo, o número de brotos após um ano decresceu para 30/m². Com a perda de densidade, a altura e o diâmetro dos brotos são incrementados (Tab. 10). Nas esteiras vivas, a brotação mais vigorosa concentrou-se na faixa mais próxima à linha d’água (primeiro metro). Da mesma maneira, na parede-Krainer, os feixes instalados na metade mais próxima ao nível da água produziam, em média, o dobro de brotações que os da metade superior. As estacas vivas e feixes vivos (ambos produzidos com ramos de Salix × rubens, e instalados na parte superior do talude protegido pela parede-Krainer – Figura 65, na página 78) desenvolveram-se inicialmente de forma vigorosa, mas foram posteriormente suprimidos pelo desenvolvimento da vegetação espontânea (Tab. 10). Já os feixes produzidos com plantas de Hedychium coronarium e utilizados para vegetar a pequena parede-Krainer que protege a base da esteira viva construída em Vale Vêneto (Fig. 67, página 80) desenvolveram-se otimamente (Tab. 10). Ao contrário das outras obras e elementos, o número médio de brotos dessa espécie não decresceu com o passar do tempo. Tratando-se de uma espécie alóctone, o seu desenvolvimento deve seguir sendo acompanhado, para que se certifique seu “bom comportamento biotécnico”. Salix × rubens, ao contrário de Hedychium coronarium, inspira tranqüilidade quanto ao seu comportamento biotécnico. A espécie desenvolveu-se vigorosamente nos primeiros meses e, posteriormente, cedeu lugar tanto à vegetação espontânea como também à Sebastiania schottiana, igualmente utilizada para a confecção da esteira viva no Rio Soturno (Item 5.1). Sebastiania schottiana, que aos três meses do plantio representava em torno de 5% das brotações, passou a representar 25%, após doze meses. Nesse mesmo período, passados doze meses da implantação, cerca de 30% (em número de indivíduos) da vegetação era formada por gramíneas – especialmente do gênero Pennisetum – e herbáceas anuais e perenes que se desenvolveram espontaneamente; o percentual restante (45%) corresponde à brotação de Salix × rubens. Essa vegetação espontânea é resultado de material genético trazido junto com o solo utilizado na obra e pode vir a ser indesejável se competir fortemente com a vegetação implantada. Por outro lado, entre esse material, encontram-se também espécies lenhosas perenes (especialmente leguminosas pioneiras), certamente desejáveis. O entrançado vivo diagonal, que foi construído no mês de outubro de 2006 em Vale Vêneto (Item 5.3), não teve o desenvolvimento da sua vegetação acompanhado. De toda forma, o desenvolvimento de Phyllanthus sellowianus mostra-se vigoroso, confirmando as informações conseguidas nos canteiros experimentais. No entrançado vivo, que tem cerca de 60 cm de altura, os brotos se desenvolveram predominantemente na porção superior. 84 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL 6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS Os problemas que a bioengenharia de solos pretende mitigar ou solucionar estão na dependência de uma série de fatores processuais condicionantes, como, por exemplo: o clima, a geologia, o solo, a hidrografia e a vegetação local. Esses fatores condicionantes e seus agentes (água, vento, temperatura e homem) devem ser precisamente considerados. Dentre eles, o fator processual vegetação pode ser usado como ferramenta para a estabilização e composição da paisagem. Assim sendo, conhecer o comportamento das espécies vegetais torna-se fundamental para o sucesso das intervenções. Neste contexto, o primeiro passo deste trabalho foi identificar as espécies potenciais. Isso foi possível, consultando-se as informações ecológicas já existentes na bibliografia botânica e realizando observações a campo. No ambiente fluvial a comunidade das reófilas mostrou-se como o foco de interesse. Uma vez identificado o grupo de plantas potenciais, foi possível investigá-las – sob diferentes enfoques – e concluir quanto a real aptidão técnica de cada espécie. Calliandra brevipes, Pouteria salicifolia, Terminalia australis e Morus nigra apresentaram resultados que não as distinguiram como espécies promissoras. Apesar da sua capacidade de reprodução por meio vegetativo, elas não imprimem o ritmo de crescimento necessário para as obras de bioengenharia de solos. Essas espécies podem ser aproveitadas, quando houver interesse em aumentar a diversidade nas obras. As mudas já enraizadas de Calliandra tweediei mostraram bons resultados. No âmbito fluvial, normalmente, as intervenções não podem abdicar totalmente da reprodução por meio vegetativo. A semeadura e o plantio de estolões ou mesmo de mudas são trabalhos de apoio que colaboram com a estabilização e enriquecem a diversidade de espécies. Cynodon plectostachyus e Hedychium coronarium não foram investigados no programa de testes, no entanto, mostraram resultados promissores nas obras em que foram empregados. Cynodon plectostachyus é uma gramínea que foi multiplicada por divisão de touceira e plantada na parte superior de um talude que teve sua parte inferior protegida por uma parede-Krainer. A espécie contribuiu visivelmente para a estabilização do local. Mais surpreendentes foram os resultados conseguidos com o cardamomo (Hedychium coronarium). Com essa planta de hábito herbáceo foi possível confeccionar feixes vivos que se desenvolveram vigorosamente. A espécie não parece ser capaz de desenvolver raízes muito profundas, mas fixa-se firmemente em solos pedregosos e, com a ação da correnteza, inclina-se sobre a margem, protegendo-a com sua ampla e volumosa porção aérea (folhas). . 85 Do material estudado no programa de testes, quatro espécies apresentaram ótima aptidão biotécnica. Foram elas, duas Salicáceas (Salix × rubens e Salix humboldtiana) e duas Euforbiáceas (Phyllanthus sellowianus e Sebastiania schottiana) Salix × rubens mostrou excelentes resultados. Da mesma maneira que Salix humboldtiana e Phyllanthus sellowianus a espécie foi capaz de apresentar taxas de sobrevivência sempre próximas a 100%. Essa alóctone vem confirmando as indicações da literatura que a reportam como espécie pioneira e de “bom comportamento silvicultural”. Nas obras foi possível constatar que Salix × rubens desenvolve-se com velocidade inicial maior do que a das outras espécies mas, com o passar do tempo, tende claramente a ceder lugar a estas. A utilidade econômica que Salix × rubens possui é também característica positiva que pode servir de argumento para seu amplo uso em trabalhos de bioengenharia de solos. Salix humboldtiana é uma planta que possui capacidade de reprodução vegetativa surpreendente e produz rapidamente volumoso e profundo sistema radicular. Uma característica “indesejável” que deve ser considerada nessa espécie é o seu porte arbóreo que, em algumas circunstâncias (especialmente em pequenos cursos de água), pode significar desvantagem e exigir a manutenção de um porte menor através de podas. Por outro lado, seu tronco, de bom diâmetro, é material construtivo de segura aplicação em certos modelos de intervenção. Dentre as Euforbiáceas, Phyllanthus sellowianus apresentou os melhores resultados. Essa espécie foi capaz de reproduzir-se vegetativamente em todas as épocas do ano e produzir grande quantidade de raízes em pouco tempo. A espécie mostrou-se ser tanto flexível como resistente a danos, características biotécnicas muito importantes no ambiente fluvial. Seu porte arbustivo, sua capacidade de inclinar-se durante as cheias e de sobreviver a longos períodos de submersão a torna especialmente adequada às áreas mais próximas ao nível da água. Sebastiania schottiana mostra propriedades satisfatórias, apesar de apresentar uma taxa de sobrevivência menor e uma produção de brotos e raízes inferior, quando comparada com as outras três espécies. O fato de ser uma das espécies mais comuns na região, contribui para aumentar a sua importância no rol da vegetação útil para a bioengenharia de solos. Mais fácil que reconhecer a aptidão biotécnica de cada espécie foi verificar que os modelos de intervenção preconizados pela bioengenharia de solos podem ser transferidos à realidade regional do Sul do Brasil. Com poucas adaptações, as técnicas mais utilizadas na 86 . BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL Europa (parede-Krainer e esteira viva) puderam ser reproduzidas com sucesso na região. Questões relacionadas à necessidade tecnológica de máquinas, equipamentos e força de trabalho puderam ser, sem maiores problemas, adaptadas às condições locais. Na bioengenharia de solos trabalha-se com o conceito de que materiais inertes (madeira, pedras, aço, concreto e geotêxteis) sejam dinamicamente associados à componente viva (plantas). Especialmente quando se utiliza como material inerte a madeira, espera-se que com o passar do tempo a vegetação possa assumir integralmente a responsabilidade de estabilizar o local (margem). O acompanhamento das obras já implantadas permitirá concluir se as dimensões e a durabilidade natural da madeira utilizada serão suficientes para garantir apoio à vegetação até o momento em que essa se estabeleça segura e definitivamente. As obras de bioengenharia de solos prestam-se também para solucionar problemas não relacionados ao ambiente fluvial. A recuperação e/ou mitigação de voçorocas, bem como a estabilização de taludes artificiais, como os originados do corte de estradas são, por exemplo, áreas importantes e tradicionais de aplicação. Neste sentido há uma carência completa de informações locais. Nesses casos as metodologias apregoadas são outras e as espécies indicadas serão diferentes das utilizadas no ambiente fluvial. Novas informações biotécnicas sobre as espécies já em estudo devem ser buscadas, assim como outras espécies regionais devem ser investigadas para aumentar o cadastro de essências vegetais aptas para a bioengenharia de solos de âmbito fluvial. Neste sentido, mostram-se promissoras: Aspidosperma riedelii Müll. Arg., Callisthene inundata Bueno, Nilson et. Magalhães, Colliguaya brasiliensis Müll. Arg. e Lafoensia nummularifolia A. St. -Hil., entre outras. Também o número de exemplos práticos (obras de bioengenharia de solos construídas) na região, deve ser ampliado. Tarefa fundamental será agora repassar os conhecimentos gerados aos estudantes, técnicos e especialmente às comunidades e proprietários de áreas ribeirinhas da região. . 87 BIOENGENHARIA DE SOLOS NO ÂMBITO FLUVIAL DO SUL DO BRASIL 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALCÂNTARA, P. B. / OTSUK, I. P. / OLIVEIRA, A. A. D. et al. (1993): Aptidão de algumas espécies de forragens para a produção de feno em função da velocidade de secagem. In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Zootecnia, CD-ROM. ALTREITER, W. / PLUNGER, K. (2004): Ingenieurbiologische Maßnahmen am Rio Guarda-mor in Südbrasilien. Diplomarbeit an der Universität für Bodenkultur, Wien. APARICIO, G. (2003): Especies Nativas de la República Argentina. 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