Capela de N. Sra. das Mercês

Transcrição

Capela de N. Sra. das Mercês
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃO DO ACERVO CULTURAL
ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS E URBANÍSTICAS
Município
Distrito
Designação
Endereço
Propriedade/situação
Responsável
Ouro Preto
Glaura
Capela de Nossa Senhora das Mercês
Rua Dona Glaura
Eclesiástica: Arquidiocese de Mariana
Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré de Cachoeira do Campo/Senhora
Albertina Figueiredo Chagas, Praça das Mercês, nº10 – Glaura (local)
Situação de ocupação Própria
Uso atual Culto Religioso
Análise de entorno-situação e ambiência
O entorno da Capela de Nossa Senhora das Mercês caracteriza-se por ocupação majoritária de edificações
residenciais térreas e de tipologia colonial similar e muito típica em Glaura, como as alvenarias de pau-apique com esteios aflorados, telhado em duas águas com beiral acachorrado, cumeeira e implantação
paralelas a rua, janelas de folhas cegas e guarnições em madeira, ambas pintadas em cores fortes. Essa
ocupação, não adensada, possui uma regularidade e harmonia na distribuição e manutenção das partes
edificadas e vazios vegetados. As ruas estreitas são calçadas com pedra e os passeios são quase
inexistentes. A rua que passa em frente à capela, liga-se diretamente à Praça da Matriz de Santo Antônio,
local de encontro e sociabilidade do distrito. A praça triangular, em relação a qual se desenvolve a
ocupação no entorno da capela, não tem equipamentos públicos e nunca sofreu intervenção. Além de
acentuada declividade em alguns pontos, possui apenas algumas árvores aleatoriamente dispostas e
gramado que não recebe manutenção. Merece destaque o alto Cruzeiro de madeira com quinas chanfradas
que nela está erguido com base de pedra, no qual se vêem regularmente distribuídos, os símbolos do
martírio de Cristo em madeira, uns em alto relevo e outros bidimensionais, todos com pintura decorativa.
Há presença de iluminação pública no local e o atendimento por transporte coletivo efetuado por
microônibus. A atmosfera bucólica é marcante, havendo pouca movimentação no local e não se verificando
tendência a mudanças nesse sentido, como construção de novos edifícios ou ampliação dos já existentes,
implantação de equipamentos de lazer ou implantação de novos usos, a não ser de uma possível pousada,
mas que não deverá alterar a ambiência do lugar.
Documentação fotográfica:
Foto: Guilherme I. Nunes Ataídes.
Data: 24/01/08
Capela e entorno imediato.
Cruzeiro e Capela.
Frontispício da Capela de N. Sra. das Mercês.
Fachada Lateral Direita.
Interior da Capela.
Forro e tesoura aparente do telhado.
Histórico
Essa capela foi edificada provavelmente ainda em meados do século XIX, como sugere sua tipologia e as
técnicas empregadas em sua construção. Porém, não foram encontrados registros sobre sua fatura ou
sobre as intervenções pelas quais a capela passou no decorrer dos anos. Seu interior é singelo e bem
cuidado, apresentando apenas um retábulo em estilo neoclássico – provavelmente instalado
posteriormente. A Festa de Nossa Senhora das Mercês tem lugar em setembro e era uma das mais
importantes do distrito, quando a região se enchia de romeiros e os festejos se estendiam noite adentro.
Porém, com o passar dos anos a Festa declinou e atualmente somente os ofícios religiosos são realizados,
não havendo mais as grandes comemorações de outrora.
Descrição
A Capela de Nossa Senhora das Mercês de Glaura está implantada em terreno cuja declividade acompanha
a da rua que divisa frontalmente com o edifício. O adro é pequeno, gramado, delimitado lateralmente e
pelos fundos por edificações residenciais, e pela frente por rua calçada com pedra e praça de mesma
designação da Capela. Esta praça, apenas gramada e com algumas árvores de médio porte, possui um
cruzeiro mais alto que a Capela, feito em madeira com os estigmas da Paixão de Cristo, erguido sobre
escadaria de pedra. Ele dista aproximadamente 10 m da Igreja, estando posicionado centralmente a esta.
A capela configura-se por partido retangular, em volume único, não existindo Coro, Sacristia, campanário e
nem ao menos sino e a distinção de nave e capela-mor. As alvenarias são de pau-a-pique, com esteios e
vigas aflorados. As fachadas são simples e não ornamentadas. O frontispício é composto por porta
encimada pelo escudo característico da Ordem dos Mercedários trazendo ao centro a Cruz de Malta e óculo
central sobre o frontão. A porta é do tipo “porta de calha” com verga alteada ou “canga de boi” e guarnição
de madeira, ambos pintados na cor verde escura, mesma cor aplicada aos esteios e vigas. O óculo, em
curvas, é telado e tende à forma de um losango. O frontão triangular, segue a inclinação do telhado e está
encimado por cruz metálica ao centro, com as extremidades dos braços em forma de trevo, e aves
(pombos) bidimensionais também metálicas e pintadas de branco nos vértices inferiores. As fachadas
laterais são idênticas e originalmente cegas, tendo ocorrido uma inclusão posterior de porta de madeira e
escada na esquerda. A fachada posterior também é cega. O telhado, em duas águas e com galbo, tem
cobertura em telhas do tipo capa-canal aparentemente ainda não substituídas. Os beirais são acachorrados
sobre forro, este pintado de branco e aqueles na mesma cor dos portais e esteios. As bordas das telhas de
arremate do beiral são pintadas na cor branca. O interior da Capela é simples e possui apenas altar-mor
arqueado, com camarim, trono e dois nichos, destituído de ornamentação profusa e detalhes artísticos em
relevo. Curioso é a cartela presente no coroamento deste altar, com a inscrição “CHARITAS”, cuja tradução
é caridade, própria da Ordem Franciscana dos Mínimos e das Igrejas de São Francisco de Paula, patrono
desta ordem. O piso de todo o interior, certamente reformado, é cerâmico, à exceção do Presbitério, que
se localiza sobre tablado de madeira com acesso por dois degraus de quinas curvas também de madeira. O
forro, de esteira pintada de branco e em perfeito estado de conservação, acompanha a inclinação das
águas do telhado deixando à mostra a tesoura pintada de verde escuro. As paredes internas e de superfície
rugosa são pintadas de branco e não ostentam nenhum elemento decorativo ou bem móvel ou integrado.
Proteção legal
existente
Proteção legal
proposta
Estado de
conservação
Análise do estado de
conservação
Nenhuma
Inventário e tombamento em conjunto (núcleo histórico)
Ótimo
A edificação não apresenta problemas estruturais aparentes, tendo sofrido
obras de manutenção (intervenção), como pintura interna e externa, colocação
de piso cerâmico e de porta na lateral esquerda. Internamente e próximos aos
esteios, as alvenarias apresentam pequenas fissuras. Apresenta fiação elétrica
exposta.
Fatores de Falta de manutenção no entorno imediato da Capela e aparente intervenção
degradação nos elementos artísticos.
Medidas de Deve-se fazer uma manutenção periódica dos aspectos físicos e estruturais da
conservação edificação, bem como adequar as instalações elétricas.
Intervenções – Não há relatos de intervenções.
Responsável/Data
Referências Bibliográficas
- BARBOSA, W. de Almeida. Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1995.
- Bens Móveis e Imóveis inscritos no livro de tombo do Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico Nacional,
Memorial da Cultura, 1994.
- BOHRER, Alex Fernandes. Os Campos. Cachoeira do Campo: Inf. Região Cultural, 2002.
- ________. Imaginário da Paixão de Cristo. Cultura Artística e Religiosa no Alto Rio das Velhas nos Séculos
XVIII e XIX. Mariana: ICHS/UFOP (Monografia de Bacharelado), 2004.
- BOSCHI, Caio César (org). Inventário dos manuscritos avulsos relativos a Minas Gerais existentes no
Arquivo Histórico Ultramarino. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1998. 3v
- CADERNOS DO IFAN - USF N. 02. Arte Sacra. In Iconografia Religiosa: história e teologia dos
crucifixos franciscanos. Por Orlando Bernardi. Bragança Paulista, 2000.
- Códice Costa Matoso: coleção das notícias dos primeiros descobrimentos das minas na América que fez o
Doutor Caetano da Costa Matoso sendo ouvidor-geral das do Ouro Preto, que tomou posse em fevereiro de
1749 & vários papéis. Coordenação Geral Luciano Raposo de Almeida Figueiredo, Maria Verônica
Campos. BH: Fundação João pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1999. 2v.
- CUNHA, Maria José de Assunção da. Iconografia Cristã (caderno de pesquisa) - UFOP / Int. de artes
e cultura. 1993.
- DUCHER, Robert. Características dos Estilos. 2 ed.; São Paulo, Martins Fontes. 2001.
- FORTES, Solange. Ouro Preto conta Ouro Preto. Tradições da terra do ouro. Ouro Preto: Escola Estadual
Dom Pedro II, 1996.
- LIMA JR. Augusto de. A Capitania das Minas Gerais. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1978.
- LURKER, Manfred, Dicionário de Figuras e Símbolos Bíblicos. São Paulo, Paulus.1993.
- LUXIKON, Herder. Dicionário de Símbolos . São Paulo, Cultrix. 1990.
- MAIA, Adhamir Elias dos Santos. Ouro Preto, Momentos. Belo Horizonte: Editora Santa Edwiges, s/d.
- MARTINS, Judith. Dicionário de Artistas e Artífices dos séculos XVIII e XIX em Minas Gerais. Rio de
Janeiro: Publicações do IPHAN, 1974. 2 vols.
- OLIVEIRA, Ronald Polito de. Visitas Pastorais de Dom Frei José Da Santíssima Trindade (1821-1825). Belo
Horizonte: Fundação João Pinheiro/Centro de Estudos Históricos e Culturais/IEPHA, 1998.
- OZZORI, Manuel. Almanack. Administrativo, mercantil, industrial, scientifico e litterario do Município de
Ouro Preto. Ouro Preto: Typographia d’A Ordem: 1890.
- PETROBRÁS, Inventário das Festas Religiosas de Ouro Preto.
- POHL, Johann Emanuel. Viagem no interior do Brasil. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1976.
- Revista do Arquivo Público Mineiro. Ano XII, 1908
- RUAS, Eponina. Ouro Preto, Sua História, Seus Templos e Monumentos. Belo Horizonte, Estabelecimentos
Gráficos Santa Maria, 1964.
- SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem Pelo Distrito dos Diamantes e Litoral do Brasil. Belo Horizonte:
Editora Itatiaia, 1974.
-____________. Viagem pelas províncias de Rio de Janeiro e Minas Gerais. [trad: Cláudio Ribeiro Lessa].
Tomo I. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1938. 377p.
- TRINDADE, Cônego Raimundo. Archidiocese de Marianna; Subsídios para a sua História. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1929. 3v.
- ________. Instituições de Igrejas no Bispado de Mariana. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde,
1945.
- VASCONCELOS, Diogo. História Antiga de Minas Gerais, Vol I e II, Belo Horizonte, 1974.
- XAVIER DA VEIGA, José Pedro, Ephemerides Mineiras (1664-1897), Volume I , II, III e IV, Imprensa
Oficial do Estado de Minas Ouro Preto, 1897.
Informações
complementares
Surgido na Europa durante o século XIII e disseminado pelo militar francês
Pedro Nolasco, o culto a Nossa Senhora das Mercês tem como principal
bandeira a libertação de cativos. A crença aportou no Brasil no século XVIII,
trazida pelos frades Mercedários, membros ligados à Ordem Real e Militar de
Nossa Senhora das Mercês da Redenção dos Cativos, e se espalhou primeiro
pelo Nordeste e logo depois pela região das Minas Gerais. O culto da Virgem
das Mercês desenvolveu-se mais entre os pardos cativos, por isso ele se
espalhou principalmente nas vilas do ouro como Ouro Preto, Diamantina, São
João Del Rei, Mariana, Sabará, etc., onde são encontrados vários templos a ela
dedicados.
Levantamento arquitetônico
Ficha Técnica
Arquitetura:
Lev. Campo: Guilherme Ismar Nunes Ataídes
Elaboração: Guilherme Ismar Nunes Ataídes
Revisão: Cristiana Guimarães
História:
Lev. Campo: Bernardo Andrade
Pesquisa documental: Viviane Sabato
Elaboração e Revisão Final: Bernardo Andrade
Data: 31/01/2008
Data: 31/01/2008
Data: 05/03/2008
Data: 27/01/2008
Data: dezembro de 2007
e janeiro de 2008
Data: 25/02/2008

Documentos relacionados

Gruta de Nossa Senhora de Lourdes

Gruta de Nossa Senhora de Lourdes INVENTÁRIO DE PROTEÇÃO DO ACERVO CULTURAL

Leia mais

Igrejas e Capelas - Ouro Preto Cultural

Igrejas e Capelas - Ouro Preto Cultural por ordem do Conde de Assumar. A capela se conservou, apesar do incêndio e do posterior abandono. Há dois mata-burros de pedra nas entradas laterais, construídos para impedir a entrada de animais n...

Leia mais