2 - Unifeb

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CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
Ciência e Cultura
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Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
CENTRO UNIVERSITÁRIO
DAFUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE BARRETOS
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
CIÊNCIA E CULTURA
Revista Científica Multidisciplinar do
Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos
Endereço:
Centro de Pós Graduação (CPG/FEB)
Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 – Aeroporto
14783-226 – Barretos – SP – Brasil
[email protected]
www.feb.br/revista/revista.htm
Publicação Semestral / Semi-annual publication
Solicita-se permuta / Exchange desired / Si chiede lo cambio / On demande l’échange / Man bittet um Austausch
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v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
CIÊNCIA E CULTURA
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE BARRETOS
Conselho Diretor
Luiz Carlos Diniz Buch - Presidente
Ezisto Hélio Fernandes Césari - Conselheiro
Rogério Ferreira da Silva - Vice Presidente
Ronaldo Fenelon Santos Filho - Conselheiro
Orlando de Paula Filho - Tesoureiro
Augusto César Arcuri Antoniazzi - Suplente
Paulo Roberto Teixeira Júnior - Secretário
Roberto Arutim - Suplente
Diretoria Acadêmica
Prof. Dr. Alvaro Fernandes Gomes – Diretor Geral Acadêmico
Prof. Dr. Alfredo Argus – Vice Diretor Geral Acadêmico
Centro de Pós-Graduação
Prof. Dr. Romildo Martins Sampaio – Diretor
Prof. Dr. Sebastião Hetem – Vice Diretor
Comissão Editorial
Adriana Galvão Moura (Direito – FEB)
Ciro Sérgio Abe (Administração – FEB)
Agnaldo Arroio (Ensino de Química – Educação – USP/São Carlos)
Claudia Regina Bonini Domingos (Biologia – UNESP/São José do Rio Preto)
Alberto Cargnelutti Filho (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Cláudio Roberto Pacheco (Engenharia Elétrica - FEB)
Alexandre Bryan Heinemann (CIRAD – França)
Clovis Sansigolo (INPE)
Alfredo Argus (Serviço Social – FEB)
Cristina Cunha Carvalho Terrone (Química – FEB)
Álvaro Fernandes Gomes (Física – FEB)
Daniela Jorge de Moura (Engenharia Agrícola – UNICAMP)
Ana Maria de Souza (Farmácia – USP/Ribeirão Preto)
Danísio Prado Munari (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
André Cordeiro Leal (Direito - PUC MG e Milton Campos/MG)
David Chacon Álvares (Eng. Alimentos – Univ. Est. Paraná/Guarapuava)
André Del Negri (Direito – UNIUBE)
David Luciano Rosalen (Engenharia Civil - FEB)
Ângelo Rubens Migliore Júnior (Engenharia Civil – FEB)
Deise Maria Fontana Capalbo (Meio Ambiente - EMBRAPA/Jaguariúna)
Antonio Aparecido Pupim Ferreira (Química - Unesp/Araraquara)
Deise Pazeto Falcão (Farmácia - UNESP/Araraquara)
Antonio Baldo Geraldo Martins (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Delly Oliveira Filho (Engenharia Agrícola – Universidade Federal de Viçosa)
Antonio Carlos Delaiba (Engenharia Elétrica – UFU)
Deny Munari Trevisani (Odontologia – FEB)
Antonio Carlos Pizzolitto (Farmácia – UNESP/Araraquara)
Dietrich Schiel (Ensino de Física – USP/São Carlos)
Arlindo José de Souza Júnior (Educação Matemática – UFU)
Dílson Gabriel dos Santos (Administração – FEA/USP)
Benedicto Egbert Correa de Toledo (Odontologia – UNESP/Araraquara)
Dirceu da Silva (Educação – UNICAMP)
Carlos Eduardo Angeli Furlani (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Durval Dourado Neto (Ciências Agrárias - USP)
Carlos José dos Santos Pellegrino (Odontologia – FEB)
Édson Alves Campos (Odontologia – FEB)
Carlos Reisser Junior (Agrometeorologia – EMBRAPA/Clima Temperado)
Eduardo Katchburian (Medicina – UNIFESP)
Carlos Teixeira Puccini (Engenharia Civil – FEB)
Eduardo Teixeira da Silva (Eng. Agrícola – Universidade Federal do Paraná)
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Élcio Marcantônio Júnior (Odontologia – UNESP/Araraquara)
Lindamar Maria de Souza (Farmácia – FEB)
Eleny Balducci Roslindo (Odontologia – UNESP/Araraquara)
Lisete Diniz Ribas Casagrande (Educação – FEB/UNAERP)
Elisabete Frollini (Química – USP/São Carlos)
Lizeti Toledo de Oliveira Ramalho (Odontologia – UNESP/Araraquara)
Elisabeth Pimentel Rosseti (Odontologia – FEB)
Lorival Larini (Farmácia – FEB)
Fernanda Scarmato de Rosa (Farmácia – FEB)
Lúcia Helena Sipaúba Tavaraes (Engenharia Agrícola – UNESP/Jaboticabal)
Fernando Horta Tavres (Direito – PUC/MG)
Luiz Antonio Hungria Cecci (Serviço Social – FEB)
Flávio Dutra de Rezende (Zootecnia - APTA/AM – Secret. Agricultura de SP)
Luiz Carlos Pardini (Odontologia – USP/Ribeirão Preto)
Francisco José Vela (Engenharia Civil – FEB)
Luiz Macelaro Sampaio (Odontologia – FEB)
Geraldo Nunes Correa (Sistema de Informação – FEB)
Luiz Manoel Gomes Junior (Direito – UNAERP)
Hélio Massaiochi Tanimoto (Odontologia – FEB)
Luiz Paulo Geraldo (Física – FEB)
Gustavo Rezende Siqueira (Zootecnia - APTA/AM – Secret. Agricultura de SP)
Luiz Rodrigues Wambier (Direito - UNAERP)
Heizir Ferreira de Castro (Engenharia Química – FAENQUIL/Lorena)
Luiz Rogério Dinelli (Química – FEB)
Helio Grassi Filho (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Luiza Maria Pierini Machado (Engenharia de Alimentos – FEB)
Hérida Regina Nunes Salgado (Farmácia – UNESP/Araraquara)
Manoel de Jesus Simões (Medicina – UNIFESP)
Hidetake Imasato (Química – USP/São Carlos)
Manoel Victor Franco Lemos (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Holmer Savastano Júnior (Eng. Civil/Agrícola – FZEA/USP Pirassununga)
Marcelo Borges Mansur (Engenharia Química – Univ. Federal de Minas Gerais)
Hugo Barbosa Suffredini (Química – UNIJUÍ)
Marcelo Henkemeier (Engenharia de Alimentos - Univ. de Passo Fundo)
Humberto Tonhati (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Marcelo Henrique de Faria (Zootecnia - APTA/AM – Secret. Agricultura de SP)
Ignácio Maria dal Fabro (Engenharia Agrícola – UNICAMP)
Márcia Justino Rossini Mutton (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Irenilza de Alencar Naas (Engenharia Agrícola – UNICAMP)
Márcia Luzia Rizzatto (Engenharia de Alimentos – FEB)
Isabel Cristina Moraes Freitas (Engenharia de Alimentos – FEB)
Marco Aurélio Neves da Silva (Zootecnia – ESALQ/USP- Piracicaba)
Jackson Rodrigues de Souza (Química – Universidade Federal do Ceará)
Marcos Eduardo de Mattos (Administração – FEB)
Jairo Osvaldo Cazetta (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Maria Auxiliadora Brigliador Conti (Química – FEB)
Janice Rodrigues Perussi (Química – USP/São Carlos)
Maria Cristina Thomaz (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Jean Carlo Alanis (Engenharia de Alimentos – FEB)
Maria José de Almeida (Educação – UNICAMP)
Jeosadaque José de Sene (Química – FEB)
Maria José Soares Mendes Giannini (Farmácia – UNESP/Araraquara)
João Antonio Galbiatti (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Maria Teresa do Prado Gambardella (Química – USP/São Carlos)
João Domingos Biagi (Engenharia Agrícola – UNICAMP)
Maria Tereza Ribeiro Silva Diamantino (Engenharia de Alimentos – FEB)
João Marino Júnior (Administração – FEB)
Marília Oetterer (Agroindústria – ESALQ/USP – Piracicaba)
Jorge Aberto Vieira Costa (Eng. de Alimentos – Univ. Fed. do Rio Grande/RS)
Marilú Pereira Serafim Parsekian (Engenharia Civil – FEB)
José Carlos Barbosa (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Mário José Filho (Serviço Social – UNESP/Franca)
José Eduardo Cora (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Mário Rolim (Engenharia Agrícola – Univ. Federal Rural de Pernambuco)
José Luiz Guimarães (Educação – UNESP/Assis)
Marlei Aparecida Seccani Galassi (Odontologia – FEB)
José Marques Júnior (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Mauro dal Secco de Oliveira (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
José Tadeu Jorge (Engenharia Agrícola – UNICAMP)
Miguel Carlos Madeira (Odontologia – UNESP/Araçatuba)
José Walter Canoas (Serviço Social – UNESP/Franca)
Miriam Eiko Katuki Tanimoto (Odontologia – FEB)
Juliemy Aparecida de Camargo Scuoteguazza (Odontologia – FEB)
Neyton Fantoni Junior (Direito – FEB)
Júlio César dos Santos (Engenharia Química – FAENQUIL/Lorena)
Nilza Maria Martinelli (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Karina Silva Moreira Macari (Odontologia – FEB)
Odair A. Fernandes (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Késia Oliveira da Silva (Engenharia Agrícola – ESALQ/USP)
Odila Florêncio (Química – UFSCAR)
Khosrow Ghavami (Engenharia Civil – PUC/RJ)
Orlando Fatibello Filho (Química – UFSCAR)
Kil Jin Park (Engenharia Agrícola – UNICAMP)
Oselys Rodrigues Justo (Engenharia de Alimentos - FEA/UNICAMP)
Kleiber David Rodrigues (Engenharia Elétrica – UFU)
Osvaldo Eduardo Aielo (Física – FEB)
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Patrícia Amoroso (Odontologia – FEB)
Roberta Toledo Campos (Direito – UNIUBE)
Patrícia Helena Rodrigues de Souza (Odontologia – FEB)
Roberto Braga (Planejamento Urbano – UNESP/Rio Claro)
Patrícia Nassar (Química – FEB)
Roberto Holland (Odontologia – UNESP/Araçatuba)
Paula Homem de Mello (Química – USP/São Carlos)
Romildo Martins Sampaio (Engenharia de Alimentos – FEB)
Paulo César Hardoim (Engenharia Agrícola – Univ. Federal de Lavras)
Rosemiro Pereira Leal (Direito – UFMG e PUC/MG)
Paulo Estevão Cruvinel (Embrapa – São Carlos)
Rouverson Pererira da Silva (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Paulo José Freire Teotônio (Direito – FEB)
Salete Linhares Queiroz (Química – USP/São Carlos)
Paulo Sérgio Cerri (Odontologia – UNESP/Araraquara)
Sally Cristina Moutinho Monteiro (Farmácia – FEB)
Pedro Leite de Santana (Engenharia Química – Univ. Federal de Sergipe)
Sebastião Hetem (Odontologia – FEB)
Pedro Paulo Scandiazzo (Educação Matemática – UNESP/S. J. do Rio Preto)
Sérgio de Freitas (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Rael Vidal (Biologia – FEB)
Sérgio do Nascimento Kronka (Estatística - UNOESTE)
Ranulfo Monte Alegre (Engenharia de Alimentos – UNICAMP)
Sérgio Henrique Tiveron Juliano (Direito – UNIUBE)
Raphael Carlos Comeli Lia (Odontologia – FEB)
Shirley Aparecida Garcia Berbari (Engenharia de Alimentos – ITAL)
Regina Célia de Matos Pires (Recursos Hídrico – IAC/Campinas)
Silvano Bianco (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Regina Helena Porto Francisco (Química – FEB)
Sissi Kawai Marcos (Engenharia de Alimentos – FEB)
Regina Kitagawa (Engenharia de Alimentos – ITAL)
Sônia Maria Alves Jorge (Química – UNESP/Botucatu)
Reginaldo da Silva (Direito – FEB)
Sonia Regina Meira (Educação - FAEX)
Renata Camacho Miziara (Odontologia – FEB)
Sylvio Luís Honório (Engenharia Agrícola – UNICAMP)
Renato de Mello Prado (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Telmo Antonio Dinelli Estevinho (Sociologia/Ciência Política – UFMT)
Renato Moreira Ângelo (Física – Univ. Federal do Paraná)
Tetuo Okamoto (Odontologia – UNESP/Araçatuba)
Ricardo Dias Signoretti (Eng. Agronômica - APTA/AM – Secret.Agricultura- SP)
Ueide Fernando Fontana (Odontologia – FEB)
Rinaldo César de Paula (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Victor Haber Perez (Engenharia de Alimentos – FEB)
Rober Tufi Hetem (Medicina – UNICAMP)
Walter Antonio de Almeida (Odontologia – FEB)
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Editorial
Setembro de 2007 será marcado pela comunidade da FEB. Será lembrado para sempre,
pois deverá constar de seus arquivos como o mês e ano em que a FEB teve autorizado pela
CAPES o seu primeiro Curso de Pós-Graduação “stricto sensu” na área de Periodontia e
Implantodontia. Esse fato, sem dúvida, será um marco divisor entre o que houve na FEB até
então e o que ocorrerá no futuro, para o que se espera o envolvimento de todos os membros
da sua comunidade para suplantar os entraves com o objetivo de criar novos cursos de PósGraduação dessa natureza na Instituição.
Em setembro de 2007 a FEB também recebeu a notícia da aprovação do seu pedido para
elevar-se à categoria de Centro Universitário, o que significa adquirir uma nova condição,
um novo conceito em termos de Instituição de Ensino galgando um degrau mais alto na
hierarquia em que elas são enquadradas.
Face a esses avanços cabem votos de congratulações pelos progressos almejados e
alcançados, o desejo e o incentivo para aumentar o empenho de todos para a mantença
desse novo patamar e a continuidade de sua evolução. Para isso são necessários a união de
todos e a conjugação de esforços, o interesse e o desprendimento de toda a coletividade
Febiana visando o engrandecimento da Instituição como entidade maior que os objetivos e
os anseios individuais que emperram a evolução de qualquer entidade.
Ao cumprimentar a FEB pelos êxitos alcançados e desejar seu contínuo progresso e
desenvolvimento e concitando seus membros integrantes a participarem ativamente das
suas atividades visando esses objetivos é respeitoso, digno e salutar sinceramente agradecer
a todos que se empenharam, lutaram e conseguiram superar os entraves, despender esforços e reunir as condições necessárias para que esses objetivos fossem alcançados e esses
sonhos tornados realidade.
É motivo de regozijo também para a Instituição a auspiciosa notícia de que o presente
número de Ciência e Cultura comemora seu primeiro aniversário tendo conseguido manterse fiel a seus princípios e a ser recebida com entusiasmo pela comunidade acadêmica que a
ela tem prestigiado e espera-se continue a fazê-lo.
Novembro/2007
Sebastião Hetem
Editor Chefe
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v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
SUMÁRIO
Artigos Científicos
Original Articles
Estudos Voltamétricos Sobre Eletrodo de Ouro com Monocamada de Cistamina e Glutaraldeído para o Desenvolvimento de
Sensores
Voltammetric Studies On Gold Electrode With Cysteamine And Glutaraldehyde Monolayer For The Sensors Development
Antonio Ap. Pupim FERREIRA1, Hideko YAMANAKA2, Assis Vicente BENEDETTI1
..................................................................................................................................................................................................................................11
Percepções dos Estudantes do Ensino Médio Sobre o Ensino de Física nas Escolas da Cidade de Barretos*
Student´s Perceptions About The Physics Theaching In A High School In Barretos City
* Parte do trabalho de conclusão de curso (TCC) - Curso de Física - do primeiro autor - Fundação Educacional de Barretos. Av.
professor Roberto Frade Monte, 389. CEP 14784-226. Barretos-SP. Fone: (17) 3321-6411
Daiane Martins GALVÃO1; Vágner Ricardo A. PEREIRA2 e Jurandyr C. N. LACERDA Neto3
.....................................................................................................................................................................................................................................18
Avaliação da Eficácia do Paraformaldeído na Esterilização Química dos Cones de Guta-percha e de Papel Absorvente no Recipiente em que São Comercializados
Evaluation Of Effectiveness Of Paraformaldehyde In The Chemical Sterilization Of Guta-percha‘s Cones And Absorbent Paper In
The Container In That They Are Marketed.
Walter Antonio de ALMEIDA 1 , Maria José Pereira de ALMEIDA1 , Cecília Kedhi CREPALDI 2
..................................................................................................................................................................................................................................29
Entamoeba gingivalis (Gros, 1849)
um protozoário de interesse para a Odontologia: Revisão de literatura.
Entamoeba gingivalis (Gros, 1849) - a protozoan of interest for the Dentistry: Literature review.
Fabiano de Sant’Ana dos SANTOS1, Alex Tadeu MARTINS1, Rodrigo Ventura RODRIGUES2
....................................................................................................................................................................................................................................35
Estudo da Sobrevivência e do Enraizamento de Folhas Destacadas de Soja e de Métodos de Inoculação das Mesmas para Avaliação
da Resistência de Plantas ao Oídio*
Endurance And Rooting Study Of Detached Leaves Of Soybean Plant, And Its Inoculation Methods For The Evaluation Of The
Resistance Of Plants To The Powdery Mildew
* Parte do trabalho de graduação de primeira autora - Curso de Agronomia - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP,
Campus de Jaboticabal, SP. 1999.
Elaine Cristine Piffer GONÇALVES1, Maria Aparecida Pessoa da Cruz CENTURION2, Antonio Orlando DI MAURO3
...................................................................................................................................................................................................................................41
Avaliação dos Métodos de Ensino das Aulas Práticas na Disciplina de Clínica Integrada
Clinical Working And Teaching In The Discipline Of Integrated Clinic
Fábio PETROUCIC1 , Rubens Ferreira ALBUQUERQUE JÚNIOR2; Guilherme Marques FERRAUDO3
..................................................................................................................................................................................................................................48
Mudanças de Paradigmas Odontológicos:
O uso de textos visuais como estratégia de ensino em oficinas pedagógicas de docentes.
Change of Dentistry Paradigms:
The use of visual texts as pedagogical strategies on workshops for professors.
Caren Elisabeth STUDER
................................................................................................................................................................................................................................55
Produção de Biodiesel:Um experimento em sala de aula
Biodiesel production:
An experiment in class-room
Luis Rogério DINELLI, Crislaine Rodrigues SALVATIERRA, Renata Tomaseli PEIXINHO, Jeosadaque J. SENE e Luis Nelson
Prado CASTILHO
..................................................................................................................................................................................................................................63
Estudo sobre a Cristalização da Lactose em Doce de Leite Pastoso Elaborado com Diferentes Concentrações de Soro de Queijo e
Amido de Milho Modificado
Study of Lactose Crystallization in Dulce de Leche Produced With Different Proportions of Whey and Modified Corn Starch
Luiza Maria Pierini MACHADO1; Walkiria Hanada VIOTTO 2
.................................................................................................................................................................................................................................69
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v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
Estudos Voltamétricos Sobre Eletrodo de Ouro com
Monocamada de Cistamina e Glutaraldeído para o
Desenvolvimento de Sensores
Voltammetric Studies On Gold Electrode With Cysteamine And Glutaraldehyde
Monolayer For The Sensors Development
Antonio Ap. Pupim FERREIRA1, Hideko YAMANAKA2, Assis Vicente BENEDETTI1
Departamento de Físico-Química, Instituto de Química/UNESP, 14800-900, Araraquara, SP, E-mail: [email protected],
Tel.: 1633016652, Fax: 1633016692
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Departamento de Química Analítica, Instituto de Química/UNESP, 14800-900, Araraquara, SP.
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RESUMO
Monocamadas auto-organizadas (SAM) têm sido empregadas para a modificação de eletrodos com vantagens em
análises eletroquímicas. Eletrodo de ouro policristalino (poli) modificado com SAM de cistamina (CYS) e glutaraldeído
(GA) foi avaliado para o desenvolvimento de sensores. Experimentos de voltametria cíclica (VC) demonstraram
que o eletrodo modificado com SAM é uma forma atrativa para a imobilização da enzima peroxidase (HRP). Os
estudos sugeriram o monitoramento amperométrico da enzima HRP ao redor de -0,45 V vs AgAgCl|KClsat..
Palavras-Chave: voltametria, iodeto, iodo, monocamadas auto-organizadas, sensores eletroquímicos
ABSTRACT
Self-assembled monolayers (SAM) have been employed for electrodes modification with benefit in electrochemistry
analysis. A polycrystalline (poly) gold electrode modified with SAM of cysteamine (CYS) and glutaraldehyde (GA)
was evaluated in the sensors development. The cyclic voltammetric (CV) experiments demonstrated that the electrode
modified with SAM is an attractive ability in the peroxidase (HRP) enzyme immobilization. The studies suggest the
amperometric monitoring of the HRP enzyme around –0.45 V vs AgAgCl|KClsat..
Keywords: voltammetry, iodide, iodine, self-assembled monolayers, electrochemical sensors
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Estudos Voltamétricos Sobre Eletrodo de Ouro com
Monocamada de Cistamina e Glutaraldeído para o
Desenvolvimento de Sensores
INTRODUÇÃO
FERREIRA et al.
de cadeias sobre superfície do eletrodo de ouro empregando EIS e voltametria cíclica. Os resultados de
O emprego de monocamadas auto-organizadas (SAM
voltametria cíclica revelaram que as propriedades redoxes
– “self-assembled monolayers”) é uma alternativa que
das moléculas influenciam na modificação da superfície
tem crescido nos últimos anos e com expressiva aplica-
do eletrodo. Martins et al. (2003) empregaram
ção na área de eletroanalítica, principalmente na modifi-
cronopotenciometria no estudo da adsorção de
cação de superfícies eletródicas para a construção de
soroalbumina humana (SAH) sobre eletrodos de ouro
(bio)sensores (FERRET et al., 2000; CHAKI e
modificados com monocamadas de alcanotióis (CH3,
VIJAYAMOHANAN, 2002; FREIRE et al., 2003; LOVE
COOH e OH). A adsorção de SAH em diferentes eletro-
et al., 2005; FILHO et al., 2006; JANS et al., 2007). Es-
dos modificados com SAM aumentou na seguinte ordem:
sas camadas monomoleculares têm demonstrado alta or-
OH<COOH<CH3-terminal SAM.
ganização e com formação espontânea como conseqü-
A metodologia usando a técnica de voltametria cíclica
ência da imersão de uma superfície sólida (transdutor)
é baseada na comparação dos resultados obtidos entre a
em uma solução constituída de moléculas anfóteras ou
superfície do eletrodo não modificada e modificada com
pelo método de Langmuir-Blodgett (LB) (FERREIRA,
monocamada. A extensão da transferência de elétrons
M. et al., 2005). Encontra-se uma variedade de superfí-
entre espécies em solução e a superfície do eletrodo for-
cies, e. g., Pt, Au, Cu, Ag, Al2O3, sobre as quais tem sido
nece uma idéia da integridade da SAM, que é muito im-
estudado o sistema organizado de moléculas. As vanta-
portante para o desenvolvimento de (bio)sensores
gens na aplicação de SAM incluem simplicidade de pre-
eletroquímicos. A imobilização de enzimas em SAM de
paração, estabilidade, reprodutibilidade e possibilidade de
alcanotióis sobre superfície de ouro tem sido aplicada como
imobilização de diferentes moléculas (MANDLER e
um método na construção de eletrodos enzimáticos
TURYAN, 1996). Entretanto, os fatores experimentais
(CREAGER e OLSEN, 1995). Em nosso grupo a modifi-
(solventes, temperatura, concentração e tempo de imersão
cação de superfícies dos eletrodos tem sido usada e a
e limpeza do substrato) podem afetar a estrutura da
enzima peroxidase utilizada como marcadora no
monocamada resultante, a reprodutibilidade e o
monitoramento das reações de afinidade (YAMANAKA
recobrimento da superfície do transdutor. O emprego de
e SKLÁDAL, 2001; FERREIRA et al., 2005; FERREIRA
moléculas anfóteras (como derivados de tióis, aminas,
et al., 2006).
dissulfetos, álcoois etc.) sobre superfície de ouro tem atra-
O presente trabalho consistiu em estudos voltamétricos
ído a atenção de muitos investigadores (BRETT et al.,
de eletrodos de ouro policristalino (poli) modificado por
2003; FERREIRA et al., 2005; CAMPUZANO et al.,
SAM de cistamina (CYS) e glutaraldeído (GA) e
2006).
monitoramento da reação enzimática (HRP) em meio de
Técnicas eletroquímicas como voltametria cíclica (VC)
iodeto.
e espectroscopia de impedância eletroquímica (EIS) têm
sido aplicadas no monitoramento das propriedades das
MATERIAL E MÉTODOS
monocamadas (CHAKI et al., 2001). Outras técnicas têm
sido empregadas no estudo das propriedades das
Os reagentes cistamina (C 4 H 12 N 2 S 2 .2HCL),
monocamadas sobre superfície de ouro (TABORELLI
soroalbumina bovina (SAB) e enzima Horseradish
et al., 1995; SHEN et al., 2001; TAKAHARA et al., 2002;
Peroxidase (HRP, E.C. 1.11.1.7, lote 085H8912) foram
FERREIRA et al., 2006). Estas técnicas fornecem infor-
adquiridas da Sigma-Aldrich e glutaraldeído da Merck.
mações sobre a distribuição e defeitos da estrutura, pro-
Os reagentes H2O2 (Merck, 99,8%) e KI (Aldrich, 99,9%)
priedades redox, cinética e mecanismos do processo de
foram usados para preparar soluções 1x10-3 e 3x10-3 mol
formação das monocamadas etc. Ding et al. (2005) estu-
L-1, respectivamente, em solução tampão fosfato 0,1 mol
daram SAM de alcanotióis com diferentes comprimentos
L-1, pH 6,9. Água Milli-Q (r = 18.2 MW ?cm) foi utilizada
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v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
na preparação das soluções e lavagem das amostras e
materiais. Os estudos voltamétricos foram realizados
usando um potenciostato/galvanostato AUTOLAB
PGSTAT 302 com uma célula convencional (10 mL) de
três eletrodos contendo solução tampão fosfato de sódio
0,1 mol L-1, pH 6,9, como eletrólito de suporte. O eletrodo
de trabalho foi um eletrodo Au policristalino (Ageom =
0,0314 cm2). Ag|AgCl|KClsat. e fio de Pt (Ageom = 4 cm2),
respectivamente, foram utilizados como eletrodos de referência e auxiliar. A superfície do eletrodo de ouro foi
polida com uma suspensão de alumina (Arotec, 0,05 mm)
e lavada com água Milli-Q.
Modificação da superfície do eletrodo de ouro e imobilização da enzima peroxidase: a superfície de ouro foi
incubada durante 2 horas com solução aquosa de cistamina
(CYS) 2x10-2 mol L-1. Após lavagem com água, por
imersão, duas vezes durante dez segundos, a superfície
de ouro com a monocamada de cistamina foi incubada
Figura 1. Esquema das modificações da superfície de ouro
policristalino com SAM e imobilização da enzima HRP.
com 120 mL da solução de glutaraldeído (GA) 2,5% em
solução tampão fosfato de sódio 0,05 mol L-1, pH 7,5.
Após 1 hora de incubação à temperatura ambiente, a su-
No monitoramento da enzima peroxidase em superfí-
perfície foi lavada novamente com água conforme des-
cie de ouro modificada com SAM empregaram-se solu-
crito acima. Superfícies de ouro modificadas com
ções de peróxido de hidrogênio (substrato) e iodeto de
glutaraldeído receberam 200 mL de solução tampão fosfato
potássio (mediador) na proporção de 1:3, respectivamen-
de sódio 0,05 mol L , pH 7,5, contendo a enzima HRP
te, preparadas em solução tampão fosfato de sódio 0,1
(987 Umg ) na diluição de 30U com incubação por uma
mol L-1, pH 6,9 e incubação de 10 minutos à temperatura
noite a 4oC seguido da lavagem com água de acordo com
ambiente. Voltamogramas da solução tampão fosfato de
procedimento descrito. A metodologia de ligação
sódio 0,1 mol L-1, pH 6,9, com adição de KI e/ou H2O2
covalente de bioligantes à superfície do eletrodo de ouro
foram obtidos com a superfície do eletrodo de ouro modi-
policristalino, modificação química com cistamina e ati-
ficado com cistamina e cistamina + glutaraldeído e não
vação com glutaraldeído (Figura 1) foi realizada segundo
modificada.
-1
-1
Horácek e Skládal (1997).
Após modificação e imobilização da enzima HRP
RESULTADOS E DISCUSSÃO
na superfície do eletrodo de ouro, foram aplicados 200
mL de solução tampão PBS-T 0,02% (solução tampão
A Figura 2 mostra o comportamento voltamétrico do
salina fosfato contendo Tween 20 a 0,02%, pH 7,5) sobre
sistema iodeto/iodo sobre eletrodo de ouro policristalino
a superfície do eletrodo de ouro com incubação de dez
em potenciais positivos entre +0,3 e +0,8V. A curva (a)
minutos seguido do mesmo procedimento de lavagem. Em
refere-se ao voltamograma com solução tampão fosfato
seguida a superfície de ouro foi bloqueada com 200 mL
de sódio 0,1 mol L-1, pH 6,9 (curva a), contendo KI (cur-
da solução tampão PBS-T 0,02% contendo 0,1% de
va b), e KI + H2O2 (curva c), na presença da enzima
soroalbumina bovina (solução de bloqueio) e incubada por
HRP em solução (curva d) e imobilizada na superfície de
20 minutos à temperatura ambiente. A superfície foi no-
ouro modificada com SAM e bloqueada com solução tam-
vamente lavada conforme descrito anteriormente.
pão PBS-T 0,02% contendo 0,1% de soroalbumina bovi-
Ciência e Cultura
13
Estudos Voltamétricos Sobre Eletrodo de Ouro com
Monocamada de Cistamina e Glutaraldeído para o
Desenvolvimento de Sensores
FERREIRA et al.
na em meio de KI + H2O2 (curva e).
Os experimentos demonstraram que na presença de
I , os picos -0,7 < E <-0,4 V (1b/2b e 1c/2c) são similares
-
aos obtidos por Stickney et al. (1991). Este comportamento voltamétrico também tem sido estudado com paládio
e eletrodo impresso (Au-2%m/mPd como eletrodo de trabalho). Os resultados indicaram que os picos de corrente
catódica estão associados com a dessorção de iodeto/
iodo na superfície do eletrodo de ouro (LINDGREN et
al., 1997). O pico entre -0,6 a -0,8 V pode ser sugerido
Figura 2. Voltamogramas cíclicos obtidos para
eletrodo de ouro policristalino em solução tampão
fosfato de sódio 0,1 mol L-1, pH 6,9 (a) e contendo KI (b)
e KI + H 2O 2 (c) e enzima HRP em solução (d) e
(e) enzima HRP imobilizada sobre SAM + SAB em
solução KI + H 2 O 2 vs. eletrodo Ag|AgCl|KCl sat. ,
ν = 20 mVs-1, 25 oC.
como devido à redução do oxigênio dissolvido no eletrólito
de suporte e/ou espécies oxigenadas formadas no meio
de reação. Comportamento similar foi observado na presença ou ausência da enzima HRP com aumento da intensidade de corrente ao redor de -0,5 e -0,7 V (Figura 3,
curvas c e d).
Portanto, o pico ao redor de
-0,5 V possivelmente está relacionado com a dessorção
Na Figura 2 não se observa variação significativa na
de I2 da superfície do eletrodo de ouro e mostra uma pe-
intensidade de corrente dos picos de redução entre a
quena variação na intensidade de corrente entre KI/H2O2
enzima HRP solúvel e imobilizada sobre SAM na superfí-
e essa mesma solução contendo HRP solúvel. O
cie do eletrodo de ouro em solução tampão contendo KI
monitoramento da enzima HRP demonstrou não ser fa-
+ H2O2. Este comportamento demonstra a inviabilidade
vorável neste pico catódico.
do monitoramento da enzima HRP em potencias positivos empregando o sistema iodeto/iodo.
A Figura 4 mostra os voltamogramas cíclicos entre 0
e -0,8 V empregando superfície de ouro modificada com
Na Figura 3 encontram-se os voltamogramas do sis-
cistamina (curva b) e cistamina + GA (curva c) e HRP
tema iodeto/iodo sobre eletrodo de ouro policristalino en-
imobilizada sobre ouro modificado com SAM (curva d).
tre 0 e -0,8 V. Os voltamogramas foram obtidos em solução tampão fosfato de sódio 0,1 mol L-1 pH 6,9 (curva a),
e contendo KI (curva b), e KI + H2O2 (curva c) e na
presença da enzima HRP em solução KI + H2O2 (curva
d).
Figura 4. Voltamogramas cíclicos da solução tampão fosfato de
sódio 0,1 mol L-1, pH 6,9 + KI obtidos com eletrodo de ouro
policristalino (a) modificado com CYS (b) e CYS + GA + SAB (c)
e enzima HRP imobilizada sobre SAM + SAB em solução KI +
H2O2 (d) vs. eletrodo Ag|AgCl|KClsat., n = 20 mVs-1, 25 oC.
Figura 3. Voltamogramas cíclicos obtidos para eletrodo de
ouro policristalino em solução tampão fosfato de sódio 0,1
mol L-1 pH 6,9 (a) e contendo KI (b) e KI + H2O2 (c) e (d)
enzima HRP em solução KI + H2O2 vs. eletrodo Ag|AgCl|KClsat.,
n = 20 mVs-1, 25 oC.
14
Ciência e Cultura
O pico A, ao redor de -0,45 V, apresentou uma dimi-
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
nuição na intensidade de corrente com as camadas de
enzimática têm sido investigados com diversas técnicas.
modificações do eletrodo de ouro (curvas b e c). Esse
A reação enzimática da peroxidase (HRP) ocorre em três
resultado demonstra a presença de monocamada auto-
diferentes estágios, como mostram as reações de 1-3
organizada de tióis funcionalizados (cistamina) e a
(LINDGREN et al., 1997). A enzima catalisa a redução
interação cistamina + glutaraldeído sobre a superfície do
do peróxido de hidrogênio oxidando o grupo hemi (1):
eletrodo de ouro. Com a enzima HRP imobilizada em SAM
(Figura 4, curva d), o pico de redução é deslocado para
HRP(Fe+3) + H2O2 ® Composto-I + H2O
(1)
potencial mais negativo, ao redor de -0,5 V (pico B).
Microscopia de força atômica também mostrou algumas
A enzima oxidada (Composto I) é reduzida a Com-
informações sobre SAMs em superfície de ouro empre-
posto II (2) no qual é favorecido a redução da HRP(Fe+3)
gando cistamina e glutaraldeído (FERREIRA et al., 2006).
na forma ativa(3):
Outros estudos com espectroscopia de impedância
eletroquímica (EIS) estão em andamento para melhor
Compound-I + AH ® Compound-II + A
(2)
caracterizar a superfície de ouro.
Compound-II + AH ® HRP(Fe+3) + A + H2O
(3)
A Figura 5 mostra os voltamogramas cíclicos da enzima
HRP imobilizada sobre a superfície do eletrodo de ouro
Agentes redutores (AH) como iodeto, fenóis e outros
modificado com SAM em solução tampão fosfato de sódio
são utilizados como doadores de elétrons para ambos os
0,1 mol L , pH 6,9 (curva a), e contendo KI + H2O2 (cur-
Compostos I e II. Conseqüentemente a redução de espé-
va b).
cies A sobre a superfície do eletrodo pode ser usada para
-1
analisar a reação catalisada pela peroxidase. No
monitoramento da atividade da enzima HRP, H2O2 e Itêm sido empregados como substrato e mediador (AH),
respectivamente. O monitoramento amperométrico da
enzima HRP tem sido investigado ao redor de
-0,45 V (FERREIRA et al., 2005; FERREIRA, et al.,
2006).
CONCLUSÕES
Figura 5. Voltamogramas cíclicos da solução tampão fosfato de
sódio 0,1 mol L-1, pH 6,9 (a) e contendo KI + H2O2 (b) obtidos
com HRP imobilizada sobre ouro policristalino modificado com
SAM vs. eletrodo Ag|AgCl|KClsat., ν = 20 mVs-1, 25 oC.
Os estudos voltamétricos com cistamina e cistamina
+ glutaraldeído indicaram a presença de SAM sobre eletrodo de ouro. O monitoramento da enzima peroxidase
sobre SAM foi verificado ao redor de -0,5 V. O compor-
No intervalo de 0 a -0,8 V foi observado um aumento
tamento da SAM demonstrou ser favorável à imobiliza-
na intensidade de corrente com a enzima HRP imobiliza-
ção de moléculas no desenvolvimento de (bio)sensores
da (Figura 5, curva b). Isto demonstra a catálise enzimática
eletroquímicos.
na presença de iodeto e H2O2 com formação de iodo, que
se reduz em potenciais menores do que -0.45 V.
A imobilização de enzimas ou a realização de
AGRADECIMENTOS
imunoensaios enzimáticos sobre SAM tem sido interessante para o desenvolvimento de (bio)ssensores. Os processos de redução e/ou oxidação por meio da reação
Os autores agradecem à FAPESP e CNPq pelo apoio
financeiro.
Ciência e Cultura
15
Estudos Voltamétricos Sobre Eletrodo de Ouro com
Monocamada de Cistamina e Glutaraldeído para o
Desenvolvimento de Sensores
FERREIRA et al.
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Ciência e Cultura
17
Percepções dos Estudantes do Ensino Médio Sobre o
Ensino de Física nas Escolas da Cidade de Barretos*
Student´s Perceptions About The Physics Theaching In A High School In
Barretos City
* Parte do trabalho de conclusão de curso (TCC) - Curso de Física - do primeiro autor - Fundação Educacional
de Barretos. Av. professor Roberto Frade Monte, 389. CEP 14784-226. Barretos-SP. Fone: (17) 3321-6411.
Daiane Martins GALVÃO1; Vágner Ricardo A. PEREIRA1 e Jurandyr C. N. LACERDA Neto1
1
1
1
Licenciada em Física pela Fundação Educacional de Barretos- e-mail:[email protected]
Licenciada em Física pela Fundação Educacional de Barretos – e-mail: [email protected]
Licenciada em Física pela Fundação Educacional de Barretos – e-mail: [email protected]
RESUMO
O objetivo principal deste estudo foi estabelecer
a percepção do aluno da 3ª série do nível médio, sobre o
ensino de Física. Foi utilizado um questionário do tipo Likert
que agrupou as respostas dos alunos em quatro categorias; são elas: repertório instrucional, repertório
representacional, conhecimento da matéria e conhecimento
da compreensão do aluno. A coleta de dados foi realizada
em seis escolas públicas e quatro escolas particulares da
cidade de Barretos. Através do software Statistical
Package for the Social Sciences (SPSS), os dados foram
submetidos à análise fatorial, que possibilitou estabelecer
a estrutura das respostas apresentadas pelos alunos. Os
resultados indicaram que os alunos, de maneira geral, acreditam que os seus professores de Física têm domínio do
conhecimento que ensinam, entretanto, há diferenças sig-
nificativas com relação às contribuições de seus professores no processo de ensino e aprendizagem. Enquanto
os alunos das escolas particulares tiveram uma visão positiva em relação ao processo, os alunos das escolas públicas identificaram que os seus professores apresentam
certas dificuldades, no que se refere à avaliação e a representação do conhecimento físico. Esses resultados mostram que um ensino tradicional e propedêutico, centrado
na transmissão de conteúdos e no treinamento de exercícios, são bem aceitos pelos alunos das escolas privadas,
porém não motivam os alunos de escolas públicas. Isso
reforça a necessidade de uma reflexão na formação dos
docentes destas instituições.
Palavras-chave: Ensino de Física, percepções de alunos,
ensino médio.
ABSTRACT
The main purpose of this study was to establish the
students’ perceptions about Physics teaching, in a high
school, in Barretos city. The work was developed using a
“Likert” questionnaire, which joins students’ answers in
four categories: instructional fund, representational fund,
knowledge of the subject and knowledge of the
comprehension of students. The research was developed
in six public schools and four private schools in Barretos
city. Through a statistical package for the social sciences
(SPSS) software, the results were submitted to a factorial
analysis which established the structure of answers given
by the students. The results showed that the students, in a
general way, believe that their Physics teachers have the
entire knowledge of what they are teaching, however, there
18
Ciência e Cultura
are some significant differences related to the contribution
of their teachers in the process of learning and teaching.
While the private schools students had a positive vision in
relation to the process, students of public schools identified
that their teachers have some difficulties in evaluation and
representation of physics knowledge. These results show
that a traditional teaching, focused in a conceptual
transmission and in exercises training are very well
accepted by students of the private school, but not the
same in a public school. Is very important we think about
the change in the formation of the public school teachers.
Keywords: Physics teaching, student’s perceptions, high
school.
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
INTRODUÇÃO
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
consenso. Porém, a despeito dos avanços que a literatura
tem mostrado na área de ensino de Ciências, percebe-se
Em diferentes oportunidades, os professores deparam-
a resistência que os professores têm oferecido para mu-
se com o desconforto dos alunos do ensino médio frente
darem suas práticas em sala de aula. Em parte essa resis-
aos conteúdos de Física. São diversos os fatores aponta-
tência se deve à própria instituição escolar, que criou va-
dos para justificar suas dificuldades. A Física é habitual-
lores e instrumentalizou uma prática de transmissão de
mente considerada uma matéria difícil, exigindo grande
saberes. Assim, desde o espaço da sala de aula até a dis-
capacidade de abstração, alto grau de precisão lógica na
tribuição do tempo em aulas para as disciplinas podem
resolução de problemas, sofisticação dos tipos de raciocí-
estar inadequados a uma mudança na atuação dos pro-
nios requeridos, e conhecimentos matemáticos, conforme
fessores. Não raras vezes, uma mudança de conduta tam-
afirma GEBARA (2001) em seu trabalho de pesquisa.
bém pode ser interpretada pela comunidade escolar (alu-
A realidade da sala de aula se faz pelo trabalho
nos, pais, diretores) como uma má atuação profissional, o
interpretativo por parte dos alunos e do professor. A ação
que desestimula qualquer mudança de prática pelos pro-
do professor, que pesquisa a sala de aula onde atua, impli-
fessores.
ca num diálogo permanente entre a prática pedagógica e
Mas além desses problemas extrínsecos, também po-
a prática investigativa. É, então, fundamental detectar a
demos apontar dificuldades do professor de mudar a sua
causa das dificuldades que o aluno apresenta.
prática, relacionadas à sua própria formação.
Pesquisas em ensino de Ciências, realizadas nas últi-
O professor, no seu processo de formação inicial, re-
mas décadas, têm apontado para uma mudança de
cebe conhecimentos da sua disciplina específica e das dis-
paradigma na forma de conduzir o processo de ensino-
ciplinas da área de educação. Supõe-se que a aplicação
aprendizagem (OSBORNE, 1996; GIL PERES, 1996;
desse conhecimento no contexto de trabalho resolveria os
WHEATLEY, 1991). Nesse novo paradigma, a sala de
seus problemas como docente. Na sua formação pedagó-
aula deixa de ser um espaço de alunos silenciosos e pro-
gica, o futuro professor estará entrando em contato com
fessores transmitindo saberes, para ser um ambiente de
modelos teóricos da sociologia, da psicologia. Tais teorias
pesquisa, no qual o professor atua orientando atividades
foram desenvolvidas historicamente por uma comunidade
para os alunos que procuram construir idéias mais próxi-
que procurou responder a determinadas questões e nem
mas das idéias científicas, num ambiente de trocas.
sempre são fáceis de serem transpostas diretamente para
WHEATLEY (1991) propõe uma síntese do que seria essa nova estratégia de ensino:
os problemas encontrados no ambiente escolar.
Tais idéias formam um conhecimento acadêmico que
1. Tarefas que devem ser resolvidas com diferentes
não se aplica de maneira direta ao cotidiano do professor.
estratégias, mas enfocando o centro do conceito, que deve
Quando este estiver exposto à sua realidade profissional,
ser acessível ao aluno e incentivá-lo à discussão. É preci-
terá que oferecer respostas a problemas enfrentados den-
so encorajá-los a usar seus próprios métodos, promover
tro e fora da sala de aula, e não raras vezes, em tempo
discussões e trocas, fomentar o trabalho em grupo, ser
curto que não permite uma longa reflexão. Some-se a isso
instigador e mostrar outras aplicações.
uma sobrecarga de trabalho, que dificulta uma análise pro-
2. Criar grupos cooperativos, fazendo com que os alu-
longada utilizando as teorias antes aprendidas.
nos trabalhem em pequenos grupos para buscar soluções
Como o exercício da profissão ocorre em tempo real,
conjuntas e criar um clima de constantes desafios, inter-
o novo professor terá que achar, dentro dos conhecimen-
namente aos grupos ou no grupo classe.
tos adquiridos na sua experiência de vida, algum cuja lem-
3. Compartilhar as idéias, permitir que os alunos tro-
brança se pareça encaixar na situação presente.
quem com a classe os seus métodos, as suas sínteses e
Por ser um profissional novato, é bem provável que
suas conclusões, sem que o professor faça julgamentos,
esta lembrança se refira à sua experiência como aluno.
mas buscando um clima de negociação no sentido de um
Após um longo período de formação inicial, este profes-
Ciência e Cultura
19
Percepções dos Estudantes do Ensino Médio Sobre o
Ensino de Física nas Escolas da Cidade de Barretos*
sor pode apenas reproduzir as práticas pedagógicas e di-
GALVÃO et al.
METODOLOGIA
dáticas de seus próprios professores.
Dois conhecimentos estarão convivendo, com pouca
Este trabalho utilizou o questionário do tipo Likert ela-
conexão: um saber acadêmico, aprendido no seu proces-
borado por Thuan et al (2000), que foi traduzido e aplica-
so de formação, e um saber cotidiano, extraído das lem-
do em seis escolas públicas e quatro escolas particulares
branças do seu cotidiano como aluno e alimentado e mo-
da cidade de Barretos, totalizando 320 alunos participan-
dificado pela nova experiência profissional. Dois resulta-
tes, sendo 215 alunos de escolas públicas e 105 alunos de
dos desse processo podem ser observados:
escolas particulares.
Na tabela 1, a seguir, apresentamos o questionário,
1. A pouca ou nenhuma modificação da profissão de
professor ao longo de décadas.
sendo que QN significa quase nunca; R, raramente; AV,
algumas vezes; F, freqüentemente e QS, quase sempre.
2. Um certo desprezo dos professores pelo saber aca-
Este questionário foi validado em Taiwan, através de um
dêmico, tido como pouco relevante para o exercício da
estudo piloto com 634 alunos, e posteriormente, utilizado
profissão.
na Austrália e novamente em Taiwan.
Dessa forma, não é difícil de esperar que a realidade
na sala de aula não tenha se transformado, a despeito das
recomendações de especialistas e de trabalhos como os
Parâmetros Curriculares Nacionais.
Uma forma de verificar a realidade da sala de aula é
procurar as percepções dos alunos a respeito das aulas
de Física. De acordo com Thuan et al (2000) e Monteiro
(2003), investigações sobre as concepções dos alunos,
relativas ao conhecimento dos professores, têm demonstrado grande importância em pesquisas, pois elas suprem
informações sobre o conhecimento cognitivo no processo
de aprendizagem em sala de aula.
É preciso salientar que um levantamento das concepções dos alunos a respeito do conhecimento dos professores não pode servir como uma avaliação da atuação
destes últimos, visto que falta aos alunos um preparo mais
rigoroso para emitirem um juízo de valor sobre o trabalho
docente. Porém, tal levantamento pode mostrar detalhes
Tabela 1. Questionário utilizado para a coleta de dados sobre a
percepção dos alunos referente ao ensino de Física.
de uma realidade que precisa ser levada em consideração
quando se analisa o ensino, e, principalmente, se planeja a
As questões de 1 a 6 foram classificadas como de
formação dos professores, seja ela inicial ou em exercí-
visão do aluno sobre o repertório instrucional dos profes-
cio.
sores (RI), as questões de 7 a 13, como de sua percepção
O principal objetivo deste trabalho foi estabelecer a
sobre o repertório representacional, as questões de 14 a
percepção que os alunos da 3ª série do ensino médio, de
19, como de conhecimento da matéria pelo professor e as
algumas escolas públicas e particulares de Barretos, têm
questões de 20 a 24 foram classificadas como de conhe-
sobre o ensino de Física.
cimento, pelo professor, da compreensão do aluno sobre o
conteúdo (Thuan et al, 2000).
O repertório instrucional do docente está relacio-
20
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
nado com as ações de planejar, desenvolver e aplicar situ-
reconhece que o saber não é um dado objetivo, pronto e
ações didáticas específicas, que incorporam, em todas as
acabado, mas algo em construção.
fases, mecanismos que favoreçam a contextualização e a
flexibilização do conteúdo, contribuindo para o aperfeiço-
RESULTADOS
amento do processo ensino-aprendizagem.
O repertório representacional do professor está
A figura 1, a seguir, apresenta o resultado obtido das
relacionado com a promoção da aprendizagem significati-
respostas dos alunos em cada questão, sendo que a barra
va, em que extensão o professor considera as concep-
escura corresponde às escolas particulares e a barra cla-
ções anteriores dos alunos, inclui analogias, metáforas,
ra corresponde às escolas públicas. Os dados foram or-
exemplos e explicações no processo de ensino.
ganizados de acordo com os seguintes critérios: o valor 1
O conhecimento da matéria ensinada refere-se à
foi associado à resposta quase nunca (QN), o valor 2 à
quantidade e organização do conhecimento na mente do
resposta raramente, o valor 3 à resposta às vezes, o va-
professor. Está associado com o processo de construção
lor 4 à resposta freqüentemente, e o valor 5 à resposta
do conhecimento e, também, com a maneira como este
quase sempre.
conhecimento é transmitido ao aluno.
O valor obtido para a resposta em cada questão
O conhecimento da compreensão do aluno, des-
corresponde à soma das respostas dos alunos dividida pelo
taca em que nível o professor valoriza o momento e o ato
número total de alunos na categoria, escola pública ou
da compreensão do aluno, início e fim do processo, se
particular.
Figura 1 - Diagrama resposta x questão correspondente às escolas públicas e particulares.
Ciência e Cultura
21
Percepções dos Estudantes do Ensino Médio Sobre o
Ensino de Física nas Escolas da Cidade de Barretos*
GALVÃO et al.
Com o objetivo de verificar a normalidade das amos-
dois princípios básicos que se deve ter em conta. Princí-
tras, foi realizado o teste Kolmogorov-Smirnov (KS) utili-
pio da parcimônia: tem-se que explicar as correlações en-
zando-se o software SPSS (1999). Os resultados obtidos
tre as variáveis observadas, utilizando o menor número de
ficaram abaixo de 5%, indicando que as amostras dife-
fatores possíveis; e interpretabilidade: deseja-se que os
rem da distribuição normal.
fatores tenham um significado no contexto estudado, guar-
Desta forma, para comparar as amostras, decidiu-se
dando em si mesmos uma coerência lógica (SPSS 1999).
pelo teste qui-quadrado, cujo resultado foi de 0,956. O
Com o objetivo de identificar a estrutura fatorial das
resultado indica que as amostras são significativamente
respostas coletadas junto aos sujeitos do estudo, os dados
diferentes entre si.
foram submetidos à análise fatorial, utilizando-se o méto-
Para realizar a análise fatorial, foi utilizado o teste
do de rotação ortogonal Varimax, o qual minimiza o nú-
Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) que indica o grau de
mero de variáveis que cada agrupamento terá, simplifi-
suscetibilidade ou o ajuste dos dados à análise fatorial
cando a interpretação dos fatores. Verificaram-se tam-
(SPSS, 1999). O valor obtido para as escolas públicas foi
bém as comunalidades, ou seja, a proporção da variância
de 0,920 e para as escolas particulares foi de 0,741. Os
de cada variável explicada pelos fatores comuns. As aná-
resultados indicam que o método de análise fatorial é acei-
lises entre os fatores foram realizadas através da matriz
tável para o tratamento dos dados.
de rotação, com corte de 50%.
A análise fatorial é um método multivariado de análise
Mediante os resultados, foi possível estabelecer alguns
das interdependências, que permite criar constructos que
fatores que sintetizam as respostas das duas amostras, ou
agrupam as variáveis, sendo muito recomendada para
seja, escolas públicas e particulares. A tabela 2, a seguir,
análises educacionais. Não existe uma solução única para
mostra os fatores obtidos da matriz de rotação e sua in-
a análise fatorial de um conjunto de dados, mas apenas
terpretação, para as escolas públicas.
22
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
Tabela 2. Fatores obtidos da matriz de rotação realizada pelo software SPSS e sua
interpretação para as escolas públicas.
A tabela 3, a seguir, mostra os fatores obtidos da matriz de rotação e sua interpretação, para as escolas particulares
Ciência e Cultura
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Percepções dos Estudantes do Ensino Médio Sobre o
Ensino de Física nas Escolas da Cidade de Barretos*
GALVÃO et al.
Tabela 3. Fatores obtidos da matriz de rotação realizada pelo software SPSS e sua interpretação
para as escolas particulares.
As questões que não constam na coluna correspon-
ficuldades e que precisam de reforço.
dente ao agrupamento ficaram isoladas na matriz de rota-
De acordo com os fatores obtidos, conforme apresen-
ção, e por este motivo foram excluídas da interpretação.
tados nos resultados, os alunos das escolas públicas e
particulares, da cidade de Barretos, demonstraram algu-
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
mas percepções diferentes em relação ao ensino de Física proporcionado pelos seus professores. Entretanto, há
A avaliação das dificuldades e necessidades educaci-
um fator comum: os alunos acreditam que, de maneira
onais é difícil e requer a conjunção de vários métodos.
geral, seus professores têm domínio sobre a matéria que
Porém, ao se avaliar a percepção dos alunos por meio do
ensinam, demonstrando compreensão nos processos de
questionário, transpareceram alguns aspectos, nos quais
produção, representação e validação dos conteúdos.
os professores de Física do ensino médio parecem ter di-
24
Ciência e Cultura
Satisfazendo o que se espera para o ensino de Física
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
no nível médio, alguns fatores referentes às escolas parti-
Percebemos uma diferença de percepção entre os alu-
culares demonstraram, sob o ponto de vista dos alunos,
nos de escolas particulares e públicas a respeito dos tra-
que os professores contribuem positivamente no proces-
balhos de seus professores. É razoável supor que em
so de ensino e aprendizagem. Ao contrário, nas escolas
ambos os casos o trabalho docente continua sendo a trans-
públicas, os alunos afirmaram que os professores apre-
missão de conhecimento e o treinamento de exercícios,
sentam dificuldades, tanto em relação à avaliação sobre a
aquilo que chamamos de ensino tradicional. Porém, as
sua aprendizagem, quanto em relação à representação do
condições encontradas são diferentes, pois os professo-
conhecimento no processo de ensino. Tais representações
res de escola pública têm trabalhado com alunos mais
poderiam estimular a aprendizagem do aluno.
desmotivados, com escolas em condições precárias e com
menor retorno financeiro. Essas condições podem tornar
CONCLUSÕES
o ensino tradicional mais complicado e com poucos resultados, e é justamente na escola pública que uma mudança
As dificuldades, de maneira geral, apontadas pela aná-
na prática docente é mais premente.
lise dos resultados, podem ser provenientes da realidade
É verdade que uma mudança metodológica e curricular,
que os professores encontram em sala de aula. De acor-
como mostram os resultados das pesquisas em ensino de
do com Zagury (2006), as maiores dificuldades dos pro-
ciências, se faz necessária em ambas as escolas. Porém
fessores estão em manter a disciplina, motivar os alunos,
na comunidade que cerca a escola privada, o ensino tradi-
fazer a avaliação, manter-se constantemente atualizados,
cional ainda se apresenta como válido: são alunos que não
avaliar e escolher adequadamente uma metodologia a cada
dividem o tempo de estudo com trabalho, com acesso a
unidade de ensino. Os motivos destas dificuldades podem
meios de informação como internet, livros, revistas, etc,
estar na falta de tempo e falta de recursos financeiros
com apoio familiar e para quem a função principal do en-
para o professor manter-se atualizado, a falta de interes-
sino ainda é o acesso a um bom curso superior. As condi-
se dos alunos, a motivação que eles têm em atividades
ções de vida destes alunos e os objetivos que suas famíli-
fora de sala de aula (comunicação, jogos, Internet, espor-
as esperam do ensino condizem com o ensino tradicional.
tes, etc).
Na escola pública, podemos encontrar com maior fre-
Esse quadro pode não decorrer unicamente do
qüência, alunos que dividem o estudo com o trabalho, com
despreparo dos professores, nem de limitações impostas
pouco acesso aos meios de informação, mais expostos
pelas condições escolares deficientes. É possível que seja
aos problemas sociais e que não priorizam a formação
decorrente de uma deformação estrutural, que é gradual-
num curso superior. Nesta realidade, um ensino que se
mente introjetada pelos participantes do sistema escolar e
fundamenta na transmissão de um saber fragmentado e
que passou a ser considerada como algo natural. Zagury
descontextualizado, e no treinamento exaustivo de exer-
(2006) apresenta três fatores que contribuem para a que-
cícios, (os quais, não raras vezes, não têm outro objetivo
da da qualidade de ensino, são eles: a inexistência de trei-
além do acesso ao ensino superior), se mostra inadequa-
namento docente adequado, antes da implantação de pro-
do, desmotivante e não atende às necessidades do seu
jetos pedagógicos inovadores; a falta de um estudo piloto
público.
que possa fornecer subsídios para a adequação do projeto
As teorias de aprendizagem podem ajudar os pro-
à realidade escolar, e o raro acompanhamento dos resul-
fessores a proporcionarem uma aula mais atrativa, na qual
tados obtidos com a implantação de um novo projeto pe-
aluno e professor se sintam bem. Se o ambiente favorece
dagógico. Assim, torna-se necessário, entre os próprios
a interação, a aprendizagem, sem dúvida, será facilitada.
professores, refletirem sobre qual Física ensinar, suas ne-
Uma mudança curricular pode tornar os objetivos do en-
cessidades e opções metodológicas, para que superem
sino mais próximos da necessidade dessa população, ex-
certas dificuldades detectadas neste trabalho.
periências interessantes como a orientação CTS (ciência,
Ciência e Cultura
25
Percepções dos Estudantes do Ensino Médio Sobre o
Ensino de Física nas Escolas da Cidade de Barretos*
GALVÃO et al.
tecnologia e sociedade) tem mostrado saídas para essa
A Proposal. American J. Education. N: 101: 99-115,
questão (FITZGERALD, 1993; GILBERT, 1995;
1993.
GRISPUN, 1999; IGLESIA,1997; SOLBES E VILCHES,
1992; SOLOMON, 1988) .
GEBARA, M. J. F. O Ensino e a Aprendizagem de Físi-
Segundo MEES (2005), possíveis mudanças não pre-
ca: Contribuições da História da Ciência e do Movimento
cisam, nem devem ser radicais. A experimentação e a
das Concepções Alternativas. Um estudo de caso. Dis-
avaliação constante de uma prática dirão se ela é válida
sertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campi-
ou não.
nas. Faculdade de Educação. 2001.
Para que essas mudanças possam se realizar, é preciso que as instituições de formação docente promovam
GIL
PEREZ,
D.
New
Trends
in
Science
uma reflexão sobre a realidade das escolas e dos alunos,
Education. International J.Sci. Education. Vol. 18, N. 8,
as contribuições da literatura na área de ensino de ciênci-
889-901, 1996.
as, e uma aproximação entre o trabalho dos professores e
dos pesquisadores em educação. Um espaço privilegiado
GRINSPUN, M. P. S. Z. Educação Tecnológica. In:
pode ser encontrado nas disciplinas de didática, estágio e
Grinspun, M. P. S. (org.).Educação Tecnológica-Desafi-
prática pedagógica, desde que se rompa com o estágio de
os e Pespectivas. São Paulo: Cortez, 1999.
simples observação e repetição, levando-o para uma prática reflexiva (PERRENOUD et al, 2001; SCHON, 2000).
IGLESIA, P. M. Una revisión del movimiento educativo
Espera-se que, frente ao diagnóstico expresso neste
ciencia – tecnología – sociedad. Enseñanza de las
trabalho, através da percepção de alunos da 3ª série do
Ciencias. v.15, n.1, p. 51-57,1957.
ensino médio em Barretos, possamos ter contribuído para
uma reflexão que busque superar algumas dificuldades
MEES, A. A. Implicações das teorias de aprendizagem
pedagógicas, visando a melhoria do ensino de Física.
para o ensino de Física. Teorias de aprendizagem. UFRGS.
2005. Disponível em: <http:// www.if.ufrgs.br/~amees/
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Percepções dos Estudantes do Ensino Médio Sobre o
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v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
Avaliação da Eficácia do Paraformaldeído na Esterilização Química dos Cones de Guta-percha e de Papel
Absorvente no Recipiente em que São Comercializados
Evaluation Of Effectiveness Of Paraformaldehyde In The Chemical Sterilization
Of Guta-percha‘s Cones And Absorbent Paper In The Container In That They
Are Marketed.
Walter Antonio de ALMEIDA 1 , Maria José Pereira de ALMEIDA1 , Cecília Kedhi CREPALDI 2
1- Curso de Odontologia - Fundação Educacional de Barretos. Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389, CEP 14783-226. Barretos-SP, fone
(17) 3321-6411.
2- Cirurgiã-Dentista
RESUMO
O presente trabalho avaliou a eficácia do
paraformaldeído na esterilização química dos cones de guta
percha e dos cones de papel absorvente no recipiente em
que são comercializados. Neste experimento o material
testado foi submetido a dois grupos: no grupo 1, a pastilha
do paraformaldeído foi colocada no recipiente, e este permaneceu fechado, sendo aberto apenas nos períodos experimentais e no grupo 2 o recipiente permaneceu aberto,
ficando os cones expostos no ambiente da clínica de
endodontia. Os períodos experimentais foram de 15, 30,
45, 60 minutos após a inserção da pastilha no recipiente
que continham os referidos cones, e a cada período alguns cones de guta percha e de papel absorvente de diferentes diâmetros, foram retirados, e individualmente
imersos em tubos de ensaio que continham o meio de cul-
tura de Thioglicolato, levados à estufa a 37ºC por 24 horas. Para obtenção dos resultados, foi observado em cada
tudo de ensaio se havia crescimento bacteriano ou não,
através da turvação do meio. Na análise dos resultados,
tanto para os cones de guta percha, quanto para os cones
de papel absorvente, não foram encontrados em nenhum
tubo, turvação do meio de cultura, portanto, não houve
crescimento bacteriano. Estes resultados nos levaram a
concluir que a pastilha de paraformaldeído mostrou-se
eficaz na esterilização química de cones de guta percha e
de papel absorvente, nos períodos testados.
Palavras-chave: Pastilhas de Paraformaldeido, Esterilização química, Cones de guta-percha, cones de papel
absorvente.
ABSTRACT
The present work estimated the effectiveness of
paraformaldehyde tablets in the chemical sterilization of
gutta-percha cones and absorbent paper points in the
container in that they are marketed. In this experiment
the tested material was submitted to two groups: in the
group 1, the paraformaldehyde tablets was put in the
container, and this stayed closed, being just opened in the
experimental periods and in the group 2 the container
stayed open, being the exposed cones in the atmosphere
of the endodontic clinic. The experimental periods were
of 15, 30, 45, 60 minutes after the insert the tablet in the
container that cone, is storage and to each period some
of gutta-percha point and paper absorbent of different
diameters, they were only, and individually immersed in
test tubes that contained the middle of culture of
thioglicolato, taken to the greenhouse to 37ºC for 24 hours.
For obtaining of the results, it was observed in each
everything of rehearsal if there was bacterial growth or
no, through the turbidity of the middle. In the analysis of
the results, so much for the of gutta-percha point, as for
the of absorbent paper point, they were not found in any
tube, turbidity of the middle of culture, therefore, there
was not bacterial growth. These results we took to
conclude that the paraformaldehyde tablets was shown
effective in the chemical sterilization of gutta-percha and
of absorbent paper points, in the tested periods.
Keywords: Paraformaldehyde tablets; Chemical
sterilization; Gutta-percha cones; absorbent paper points
Ciência e Cultura
29
Avaliação da Eficácia do Paraformaldeído na Esterilização
Química dos Cones de Guta-percha e de Papel Absorvente
no Recipiente em que São Comercializados
INTRODUÇAO
ALMEIDA et al.
sultados obtidos com os cones colhidos dos alunos do curso de graduação, que os manipulam e os transportam muitas
A esterilização e desinfecção do instrumental e mate-
vezes, sugerem que estes cones devam sofrer
rial utilizados durante o tratamento de canais radiculares,
descontaminação prévia, para que a obturação radicular
constituem princípios fundamentais para se atingir o su-
possa ocorrer de maneira mais segura.
cesso, não só com relação ao próprio tratamento, como
Embora os cones de guta-percha sejam conside-
também no aspecto de saúde geral dos pacientes (LEO-
rados como material de escolha para a obturação dos ca-
NARDO, 1998).
nais radiculares, eles apresentam a desvantagem de não
A obturação do canal radicular é uma das fases do
resistirem aos processos convencionais de esterilização
tratamento de canais radiculares onde o conteúdo da ca-
pelo calor úmido ou seco. Por esta razão, apesar de se-
vidade pulpar é substituído por substâncias que, além de
rem comercializados acondicionados em caixas fechadas,
permitirem um selamento o mais hermético possível, de-
geralmente não se apresentam esterilizados. Assim, para
verão ser inertes ou anti-sépticas, bem toleradas pelo or-
não quebrar a cadeia asséptica, os cones de guta-percha
ganismo que, de preferência, estimulem a reparação apical
necessitam de uma esterilização rápida no momento do
e periapical (LEONARDO, 1998).
uso.
A presença da umidade no interior do sistema de ca-
Vários métodos para a esterilização rápida dos
nais radiculares, após o preparo biomecânico e sua desin-
cones de guta-percha no consultório odontológico, são
fecção, pode influenciar no selamento apical e no êxito da
descritos na literatura, incluindo, entre outros, o emprego
obturação endodôntica.
dos seguintes agentes químicos: pastilhas de formaldeído,
A manobra de secagem do canal radicular durante a
glutaraldeído, álcool etílico e iodado, hipoclorito de sódio,
fase da obturação é obtida, com eficiência, pela utilização
merthiolate, água oxigenada, clorexidina, não existindo, até
de cones de papel absorvente. Dentre as qualidades
o momento, um consenso entre especialistas nacionais e
exigidas desses ressalta-se a capacidade de absorção.
estrangeiros sobre o melhor a ser utilizado com esta fina-
Para tanto há necessidade de serem esteriliza-
lidade.
dos. Os métodos propostos para esterilização são: calor a
Como todo o instrumental e material de uso
seco, através de estufa, calor úmido pela autoclagem,
endodôntico, deverão ser previamente esterilizados, e per-
esterilizador elétrico e por vapores de formaldeído (Aguiar
manecerem assepticamente durante o tratamento deseja-
& Pinheiro, 1998; Holland et al., 1990; Kubo et al., 2000).
do, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a eficá-
A guta-percha tem sido largamente usada e acei-
cia da pastilha de paraformaldeído na esterilização quími-
ta como um material de preenchimento dos canais
ca dos cones de guta-percha e de papel absorvente den-
radiculares. Várias são as vantagens destes cones, tais
tro do recipiente em que são comercializados.
como: não mancham a estrutura dentária, são
biocompatíveis, dimensionalmente estáveis, anti-
MATERIAL E MÉTODOS
bacterianos, radiopacos, facilmente retidos do canal
radicular e quando necessário, podem ser amolecidos por
solventes orgânicos (SIQUEIRA JR. et al., 1998).
Materiais utilizados: cones de guta-percha, cones de
papel absorvente, recipiente que são comercializados (mar-
SILVA e SANTOS (2002), demonstraram que a de-
ca Tanari), meio de cultura de Thioglicolato, placa de petri
sinfecção ou esterilização prévia dos cones de guta-percha
e tubos de ensaio. Agente químico: Pastilhas de
usados para obturação dos canais radiculares parece ser
paraformaldeído a 99,9% , como mostra a figura 1.
desnecessária, fato que talvez possa ser explicado pelas
Metodologia: Este experimento foi dividido em dois
suas propriedades antibacterianas. Considerando que o
grupos. Inicialmente colocou-se a pastilha de
transporte e manipulação exagerada destes cones pode
paraformaldeído nos recipientes que continham os referi-
levar a contaminação, como parecem demonstrar os re-
dos cones.
30
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
No Grupo 1, o recipiente foi fechado, como mostra a
figura 2, permanecendo os cones sobre o efeito do agente
químico, sendo abertos apenas nos períodos experimentais de 15, 30, 45, 60 minutos, onde a cada período o recipiente era aberto e aleatoriamente selecionado alguns
cones de guta percha e de papel absorvente de diferentes
diâmetros, onde foram imersos cada um dos cones em
diferentes tubos de ensaio que continham o meio de cultura de Thioglicolato. Logo após foram levados à estufa a
Figura 3 - Pastilha de paraformaldeído colocada em recipiente
aberto ( Grupo 2)
37ºC, onde permaneceram por 24 horas.
RESULTADOS
No Grupo 2, o recipiente permaneceu aberto, como
mostra a figura 3, ficando os cones expostos ao ambiente
da clínica de endodontia do Curso de Odontologia, durante o período em que os alunos do 3º ano de graduação
realizavam os tratamentos de canais radiculares, e nos
mesmos períodos acima citados, os cones foram também
aleatoriamente selecionados e imersos no meio de
Thioglicolato e incubados como acima descrito.
O critério de avaliação utilizado foi verificar a presen-
RECIPIENTE
FECHADO
ça da turvação do meio de cultura, sendo considerado
positivo para o crescimento bacteriano e o meio de cultura límpido considerado negativo para o crescimento
RECIPIENTE
ABERTO
Os resultados obtidos foram agrupados na tabela 1.
bacteriano.
Tabela 1 – Resultado do crescimento bacteriano
GRUPO
G1
e
G2
Figura 1 - Recipiente Comercial de cones de Guta-percha e
papel absorvente e Pastilha de Paraformaldeído 99,9%
CRESCIMENTO BACTERIANO
Não houve crescimento bacteriano em
nenhuma amostragem
DISCUSSÃO
No tratamento de canais radiculares, a cadeia
asséptica pode ser quebrada caso ocorra à veiculação de
bactérias para o interior da cavidade endodôntica, através
dos cones de papel absorvente e cones de guta-percha.
Alguns métodos de esterilização tem sido empregados,
como o calor seco, calor úmido, pastilhas de
paraformaldeído e esterilizadores elétricos.
O cone de papel absorvente, tem como função
Figura 2 - Pastilha de paraformaldeído colocada em recipiente
fechado (Grupo 1)
primordial, a secagem das paredes internas dos canais
radiculares, porém a capacidade e velocidade de absor-
Ciência e Cultura
31
Avaliação da Eficácia do Paraformaldeído na Esterilização
Química dos Cones de Guta-percha e de Papel Absorvente
no Recipiente em que São Comercializados
ALMEIDA et al.
ção sofrem influência dos métodos de esterilização, do
fabricante apresentavam-se contaminados, o que reforça
número de ciclos de esterilização, bem como da marca
a necessidade de uma esterilização rápida antes do uso
comercial dos cones avaliados (KUBO et al., 2000).
clínico.
Quando eles são submetidos às sucessivas esteriliza-
As substâncias mais utilizadas para a esteriliza-
ções em estufa, que é o calor seco, sofrem alterações na
ção de cones de guta-percha são: glutaraldeído, hipoclorito
capacidade de absorção, tornam-se mais rígidos, ocorrem
de sódio, formaldeído, água oxigenada, merthiolate e
modificações na trama das fibras, ficando mais
clorexidina.
compactadas, além da mudança da coloração, indo do
O glutaraldeído é um excelente bactericida, e pro-
branco até o amarelo escuro, conseqüentemente ficando
move a esterilização de cones de guta-percha após um
impermeáveis a absorção de líquidos por capilaridade,
período de 10 ou 15 minutos, mergulhados nesta solução
comprovados por KUBO et al., 1999; Kuga et al., 1991 e
(CARDOSO, et al., 1997 e Mota et al., 2001); o hipoclorito
Carvalho et al., 1995.
de sódio a 1% leva um tempo de 1 minuto (KOTAKA et
A autoclavação mostrou-se um procedimento viável,
al., 1997), o hipoclorito de sódio a 0,5%, leva cerca de 5
em até 10 ciclos, para a esterilização de cones de papel
minutos (CARDOSO et al., 1999), por outro lado Mota et
absorvente da marca Tanari, segundo Kubo et al., 2000.
al., 2001 relataram que a eficácia do hipoclorito como so-
Semelhante achados foram relatados por Bramante et al.,
lução irrigadora foi demonstrada na concentração de 2,5%,
1994, onde a autoclavação foi o processo de esterilização
após 5 minutos de contato com os cones de guta-percha
que menos alterou, seguido do esterilizador rápido, sendo
previamente contaminados.
a estufa o que mais alterou o poder de absorção dos co-
O álcool é solvente de lipídeo, seu efeito sobre as bac-
nes de papel, e os cones da Tanari, Dentsply e Odachan
térias é promover a desorganização da estrutura lipídica
foram os que sofreram menos alteração na sua capacida-
da membrana e também desnaturam proteínas celulares
de de absorção.
(SIQUEIRA JR., et al., 1998); o gluconato de clorexidina
De qualquer forma, do ponto de vista clínico, o importante é procurar minimizar este problema. Nas condições
a 2% não foi capaz de esterilizar cones de guta-percha
revestidos com esporos após 10 minutos de exposição.
em que os cones são oferecidos em nosso mercado, resta
Embora haja quem conteste a eficácia do método de
ao clínico contornar o problema através da esterilização
esterilização de cones de guta-percha com vapores de
em estufa, de pequenas quantidades de cones de papel a
formol, alguns trabalhos de HOLLAND et al., 1990; e
serem empregados em cada intervenção, ou utilizar de
1991; LOPES et al., 1997, mostram sua eficácia diante de
outra forma de esterilização, através da pastilha de
vários tipos de bactérias.
paraformaldeído, que promove esta esterilização em um
A eficácia da esterilização de cones de guta-percha
tempo muito curto, e apresenta maior capacidade de ab-
com vapores de formaldeído, tem sido demonstrada sobre
sorção que a esterilizado por calor úmido e calor a seco
vários tipos de bactérias, por MOTA et al., 2001 além de
(KUGA et al, 1991).
não serem irritantes aos tecidos periapicais, segundo
Foi verificado neste trabalho, que a pastilha de
HOLLAND, et al., 1990 e 1991, de não sofrerem altera-
paraformaldeído utilizada, promoveu a esterilização dos
ções conforme LOPES, et al., 1997. Este trabalho vem
cones de papel absorvente, pois não houve crescimento
corroborar com os demais, onde foi verificada a eficácia
bacteriano no meio de cultura, nos dois grupos testados,
na esterilização de cones de guta-percha e papel absor-
ou seja, nos recipientes onde são comercializados os co-
vente no recipiente em que são comercializados, bem como
nes Tanari, ficando fechados ou abertos ao ambiente da
houve a manutenção desta esterilização, mesmo quando
clínica.
ficaram expostos ao ambiente de clínica durante os períoTrabalhos como de Cardoso et al., 1997; Leonar-
do et al., 1997 e Namazikhah, et al., 2000, mostraram que
cones de guta-percha retirados diretamente da caixa do
32
Ciência e Cultura
dos de 15, 30, 45 e 60 minutos.
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
CONCLUSÃO
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
cones na endodontia – influência do método de esterilização dos cones de papel e de guta-percha no comporta-
De acordo com a metodologia empregada e analisando os resultados obtidos nos meios de cultura, pôde-se
mento do tecido conjuntivo subcutâneo do rato. RGO (Porto Alegre), v. 38, n. 2, p. 133, 1990.
observar que em nenhum dos tubos houve a turvação, o
que levou a seguinte conclusão:
1.
A pastilha de paraformaldeído 99,9% foi eficaz
na esterilização dos cones de guta-percha e papel absor-
KOTAKA, C.R. et al. Descontaminação rápida de
cones de guta-percha na prática endodôntica. Rev.FOB,
S.Paulo, v. 6, n.2, p. 73-80, abr/jun. 1998.
vente;
2.
A pastilha de paraformaldeído 99,9% manteve
KUBO, C.H. et al. Efeitos da autoclavação na velo-
esterilizados os cones de guta-percha e de papel absor-
cidade e capacidade absorvente de cones de papel em-
vente em todos os períodos testados, e nos recipientes
pregados em endodontia. Rev. Odontol. Univ. São Paulo,
aberto ao ambiente da clínica e fechado.
v. 13, n. 4, p. 383-9, out.-dez. 1999.
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Química dos Cones de Guta-percha e de Papel Absorvente
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34
Ciência e Cultura
ALMEIDA et al.
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
Entamoeba gingivalis (Gros, 1849) - um protozoário de
interesse para a Odontologia: Revisão de literatura.
Entamoeba gingivalis (Gros, 1849) - a protozoan of interest for the Dentistry:
Literature review.
Fabiano de Sant’Ana dos SANTOS1, Alex Tadeu MARTINS1, Rodrigo Ventura RODRIGUES2
1- Curso de Odontologia - Fundação Educacional de Barretos
Av. 27 n°. 931, Centro, CEP: 14.780-340 - Barretos-SP - Fones: 17 8132-6963; 17 3323-2023 - e-mail: [email protected]
2- Curso de Odontologia - UNIRP - São José do Rio Preto
RESUMO
A Entamoeba gingivalis é um protozoário da cavidade
sideraram prematuro afirmar a não patogenicidade da
bucal humana e foi inicialmente descrito por Gros em 1849.
Entamoeba gingivalis devido a outros microrganismos, que
O objetivo desta revisão de literatura foi reaver o atual
anteriormente foram considerados comensais e atualmente
estágio de conhecimento sobre este microrganismo, con-
apresentam o status de patogênicos.
siderado inicialmente como o principal patógeno da doença periodontal e posteriormente como comensal, em função da atribuição da etiologia da referida doença a bactérias que colonizam a boca. Contudo, diversos autores con-
Palavras-chave: Entamoeba gingivalis, protozoário bucal, doença periodontal.
ABSTRACT
The Entamoeba gingivalis is a protozoan of the human
affirm the non pathogenicity of the Entamoeba gingivalis,
mouth and it was described initially by Gros in 1849. The
once that other microorganisms, that previously were
aim of this literature revision was to recover the effective
considered commensals and now they present the status
knowledge on this microorganism, considered initially as
of pathogenics.
the main pathogenic of the periodontal disease and later
as commensal, due to the attribution of the aetiology of
the referred disease to bacterias that colonize the mouth.
Keywords: Entamoeba gingivalis, oral protozoa,
However, several authors have considered premature to
periodontal diseases.
Ciência e Cultura
35
Entamoeba gingivalis (Gros, 1849) - um protozoário de
interesse para a Odontologia: Revisão de literatura.
INTRODUÇÃO
GALVÃO et al.
contrada para a E. gingivalis (MAYRINK, 1965; ZDERO
et al., 1996). Sua transmissão é direta pessoa-a-pessoa,
A Entamoeba gingivalis (E. gingivalis) é um protozoário
por meio de perdigotos, beijos e objetos contaminados
eucariota, constituído por uma única célula, que para so-
(ALONSO-VERRI e SALATA, 1961; NEVES et al.,
breviver realiza todas as funções mantenedoras da vida:
2005).
alimentação, respiração, reprodução, excreção e locomoção (ALONSO-VERRI e SALATA, 1961).
A esse protozoário que compõe a microbiota oral,
no passado, foi atribuído o papel de principal responsável
Esse protozoário é cosmopolita e pode ser encontrado em qualquer país do mundo, pois acompanha o homem em sua distribuição geográfica (ALONSO-VERRI
e SALATA, 1961; SOUZA, 1982).
pela doença periodontal (BARRET, 1914; BASS e
O objetivo deste artigo foi rever questões perti-
JOHNS, 1914). No entanto, outros estudos não compro-
nentes ao potencial patogênico da Entamoeba gingivalis,
varam o seu potencial patogênico, considerando-o comen-
por meio de uma revisão literária.
sal (PESSÔA e MARTINS, 1982; NEVES et al., 2005).
As pesquisas sobre a E. gingivalis constituem em
sua maioria levantamentos para verificação da freqüên-
REVISÃO DA LITERATURA
cia desse amebídeo em uma determinada população. Em
geral, os autores consideraram nesses estudos variáveis
A E. gingivalis foi considerada patogênica, por condu-
como, a idade, o sexo, o pH do meio bucal, a higiene oral,
zir bactérias para a área pericementária, embora nem to-
a presença de doenças periodontal e sistêmica
dos os casos de doença periodontal sejam de natureza
(FAVORETO-JUNIOR e MACHADO, 1995; SANTOS
amebiana ou sofreram sua influência (BARRET, 1914;
e ZAIA 2002).
BASS e JOHNS, 1914; SMITH e BARRET, 1915).
A freqüência da E. gingivalis é variável, de acor-
Bass e Johns (1914) encontraram a E. gingivalis
do com diversos métodos de diagnóstico utilizados para o
nas periodontites crônica ou aguda e observaram sua au-
seu reconhecimento (SANTOS e ZAIA 2002). O método
sência nos casos de saúde periodontal. Os portadores de
de diagnóstico utilizando bochecho, proposto por Corrêa
periodontite receberam tratamento com uma droga a base
et al. (1998), é simples, rápido e de fácil execução, confe-
de hidrocloreto de emetina, que foi eficiente no combate a
rindo índice de confiabilidade alto sem comprometer a
doença e ao parasita.
qualidade das amostras.
Gottlieb et al. (1968) estudaram a relação entre a E.
A presença da E. gingivalis pode estar relaciona-
gingivalis e a doença periodontal e constataram a presen-
da com as condições de higiene bucal de seu hospedeiro,
ça do amebídeo em portadores de gengivite necrosante
podendo ser encontrada em condições satisfatórias ou até
aguda. Para o diagnóstico, os pesquisadores coletaram
mesmo em situação de escassa higiene, condição em que
material da placa adjacente ao epitélio do sulco, e relacio-
foi verificada uma maior freqüência do amebídeo
naram o amebídeo com a doença periodontal.
(WANTLAND e LAUER, 1970; ZDERO et al., 1996).
A E. gingivalis, por um mecanismo de fagocitose,
A E. gingivalis é anaeróbia ou aeróbia facultativa,
carrea hemácias para o interior de seu citoplasma, fenô-
sendo capaz de sobreviver em atmosfera contendo me-
meno este atribuído a microrganismos patogênicos. A
nos de 5% de oxigênio. A energia é obtida por meio da
morfologia dessa ameba é semelhante à da Entamoeba
ingestão de partículas de carboidratos, que são digeridas
histolytica, que é patogênica e no passado foi dada como
e transformadas em glicose e ATP (SOUZA, 1982;
não patogênica, portanto é importante procurar esclare-
MCLAUGHLIN e ALEY, 1985).
cer o potencial sinérgico envolvido entre a patogenicidade
Pesquisas demonstraram três formas evolutivas
para as amebas: a trofozoíta ou vegetativa, a pré-cística e
o cisto. Dentre estas, somente a forma trofozoíta foi en-
36
Ciência e Cultura
do protozoário e a doença periodontal (GOTTLIEB e
MILLER, 1971).
A E. gingivalis mantém relacionamento com mi-
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
crorganismos específicos da região do epitélio sulcular
dade de fagocitar hemácias. Os trofozoítos da E.
gengival, como a Spirochaete sp e a Candida albicans
histolytica apresentam essa característica particular (NE-
(GOTTLIEB e MILLER, 1971; KEYES e RAMS, 1983).
VES et al., 2005).
Perez-Jaffe et al. (1998) encontraram a E. gingivalis
Chen et al. (2000) relataram que em pacientes
em um nódulo cervical de um portador de carcinoma de
imunodeprimidos a E. gingivalis causou abscesso
língua, e demonstraram que a via de acesso utilizada para
periodontal. A E. gingivalis é um protozoário patogênico
o amebídeo se deslocar à área mencionada foi por meio
oportunista que junto com bactérias simbiônticas podem
de uma fístula, que o paciente apresentava na cavidade
causar doenças periodontais em hospedeiros
bucal, observaram ainda que o paciente estava com
imunodeprimidos (LIU et al., 2001).
periodontite avançada e escassa higiene bucal.
Lyons e Scholten (1983) estudaram os efeitos do
Pessôa e Martins (1982); Neves et al. (2005) relata-
hidrocloreto de emetina e do metronidazol, drogas especí-
ram que a E. gingivalis não é patogênica, embora reco-
ficas para tratamento de amebíases, em grupos de porta-
nhecessem que a sua freqüência aumenta nos casos de
dores de periodontite avançada e constataram que a eli-
periodontites. Para esses autores o amebídeo não deter-
minação da E. gingivalis foi fator relevante no processo
mina a doença periodontal, porém exerce um aproveita-
de cura da periodontopatia; resultados semelhantes fo-
mento das condições alteradas pela periodontopatia, sen-
ram observados também por um grupo de pesquisadores
do um comensal inofensivo na cavidade oral.
na China (CHEN et al., 2000).
A E. gingivalis foi descrita como sendo um comensal
inofensivo e sem capacidade invasora e que a sua pre-
DISCUSSÃO
sença nos processos inflamatórios periodontais seria decorrência do aproveitamento dessa situação, sendo um
A E. gingivalis foi relacionada com a etiologia da
microrganismo comensal, que convive entre bactérias,
doença periodontal por estar presente na grande maioria
fungos, vírus e protozoários (PESSÔA e MARTINS, 1982;
dos casos desta odontopatia (KEYES e RAMS, 1983). A
NEVES et al., 2005; CIMERMAN e CIMERMAN, 2001).
capacidade de o parasita fagocitar hemácias, macrófagos,
Entretanto, o metabolismo da E. gingivalis deve propiciar
partículas virais e restos bacterianos corroboraram em tese,
um ambiente favorável para a multiplicação de microrga-
para afirmação do potencial patogênico deste microrga-
nismos patogênicos (LAPIERRE e ROUSSET, 1973).
nismo (BARRET, 1914; BASS e JOHNS, 1914; SMITH
Gottlieb e Miller (1971) relataram ser prematuro afir-
e BARRET, 1915; GOTTLIEB et al., 1968; GOTTLIEB
mar que a E. gingivalis é comensal, uma vez que parasitas
e MILLER, 1971; LYONS, 2006).
que no passado foram considerados como tal, posterior-
O relacionamento entre a E. gingivalis e as células do
mente tiveram seu potencial patogênico demonstrado,
sistema imunológico foi estudado por Gomes e Carobrez
como é o caso da E. histolytica e da Trichomonas vaginalis.
(1992), que também observaram hemácias dispersas no
interior citoplasmático do microrganismo. Lyons e Scholten
(1983) demonstraram a presença de partículas virais in-
COMENTÁRIOS FINAIS
crustadas no genoma amebiano e dispersas no citoplasma.
Esta revisão permitiu verificar que:
A semelhança da E. gingivalis com a E. histolytica,
que é patogênica, foi estudada por Gottlieb e Miller (1971),
·
a E. gingivalis está presente nos processos infec-
que ressaltaram a importância de se investigar mais pro-
ciosos do periodonto, principalmente em pacientes
fundamente a relação entre a E. gingivalis e a doença
imunodeprimidos e com escassa higiene bucal; e
periodontal, pois acreditaram que essa ameba tem partici-
·
a presença de hemácias no interior do citoplasma
pação ativa em processos periodontais, salientando que
da E. gingivalis deve ser investigada, pois são microrga-
somente microrganismos patogênicos possuem a capaci-
nismos patogênicos que se nutrem dessas células.
Ciência e Cultura
37
Entamoeba gingivalis (Gros, 1849) - um protozoário de
interesse para a Odontologia: Revisão de literatura.
AGRADECIMENTOS:
GALVÃO et al.
GOTTLIEB, D.S.; DIAMOND, L.S.; FEDI, P.F.
Prevalence of oral protozoa in acute necrotizing ulcerative
Ao Prof. Dr. Régis Alonso Verri pela orientação
e ao Prof. Dr. Rael Vidal pelo estímulo e amizade.
gingivitis. 46° IADR: General Meeting, 46, USA; 1968,
New Jersey.
GOTTLIEB, D.S.; MILLER, L.H. Entamoeba
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interesse para a Odontologia: Revisão de literatura.
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Ciência e Cultura
GALVÃO et al.
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
Estudo da Sobrevivência e do Enraizamento de Folhas
Destacadas de Soja e de Métodos de Inoculação das
Mesmas para Avaliação da Resistência de Plantas ao
Oídio*
Endurance And Rooting Study Of Detached Leaves Of Soybean Plant, And Its
Inoculation Methods For The Evaluation Of The Resistance Of Plants To The
Powdery Mildew
* Parte do trabalho de graduação de primeira autora - Curso de Agronomia - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP,
Campus de Jaboticabal, SP. 1999.
Elaine Cristine Piffer GONÇALVES1, Maria Aparecida Pessoa da Cruz CENTURION2, Antonio Orlando DI
MAURO2
1 - Pesquisadora Científica da APTA Regional Alta Mogiana. Avenida Rui Barbosa, s/nº, CEP: 14770-000, Caixa Postal 35, Colina–SP.
Fone/Fax: (17) 3341-1400/1155; E-mail: [email protected]
2 - Departamento de Produção Vegetal - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP. E-mail: [email protected] ;
E-mail: [email protected]
RESUMO
O presente trabalho apresentou como objetivo avaliar
período de até três meses, e que as mesmas enraizaram
a sobrevivência e o enraizamento de folhas destacadas
com cerca de um mês na temperatura de 18 ºC, duas
de soja, sob diferentes temperaturas, bem como, dois
semanas em temperatura ambiente e, com uma semana
métodos de inoculação destas ao oídio. Os testes foram
nas temperaturas de 24 ºC e 30 ºC. Com relação aos
realizados no laboratório do Departamento de Produção
métodos de inoculação testados o mais eficiente foi o de
Vegetal da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias
exposição das folhas ao inóculo.
– UNESP/Jaboticabal. Os resultados obtidos permitiram
concluir que as folhas destacadas sobreviveram por um
Palavras-chave: Glycine max, doença, técnica alternativa.
ABSTRACT
The present work presented as objective to evaluate
the powdery mildew. The results have shown that detached
the survival and the rooting of detached leves of soybean,
leaves survived up to three months, and that rooting started
under different temperatures, as well as, two methods of
after one month at 18oC, two weeks at room temperature,
inoculation of these to the powdery mildew. Assays
and one week at 24oC or 30oC. The exposure of leaves to
conducted in the Department of Vegetal Production at the
the inoculum has shown to be the most efficient method
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP
for inoculation purposes.
in Jaboticabal, were carried out at two different
temperatures, using two inoculation methods of plants to
Key-words: Glycine max, disease, alternative technique.
Ciência e Cultura
41
Estudo da Sobrevivência e do Enraizamento de Folhas
Destacadas de Soja e de Métodos de Inoculação das
Mesmas para Avaliação da Resistência de Plantas ao Oídio
INTRODUÇÃO
GONÇALVES et al.
uma pequena área, até toda a parte aérea da planta, sendo menos freqüente nas vagens. Esta camada de micélios
O Brasil ocupa lugar de destaque no cenário mundial
e esporos, sob condição de infecção severa, impede a
do complexo soja, como segundo maior produtor e expor-
fotossíntese, provocando seca e queda prematura das fo-
tador (AGRIANUAL, 2007). Essa posição privilegiada
lhas. Os prejuízos serão tanto maiores, quanto mais cedo
sem dúvida se deve ao desenvolvimento e emprego de
ocorrer a infecção (YORINORI, 1997). Alguns relatos
tecnologias em diversas áreas de conhecimento, dentre
sobre a variabilidade patogênica do fungo E. diffusa, es-
as quais, pode-se destacar o melhoramento genético, que
tão sendo levados em consideração, uma vez que, varia-
num programa contínuo, tem buscado aumento de produ-
ções na reação de resistência de cultivares de soja foram
tividade, maior adaptabilidade a diferentes condições de
observadas. Variações ambientais têm feito com que cul-
cultivo, resistência a doenças, nematóides e pragas entre
tivares apresentem maior ou menor grau de severidade
outras características desejáveis. No Estado de São Pau-
da doença, constatando-se assim que existe variabilidade
lo, por exemplo, conseguiu-se uma consistente elevação
patogênica do fungo, porém não existem estudos detalha-
no rendimento das lavouras de soja, passando de 744 kg/
dos sobre a determinação de raças (GRAU, 1985;
ha em 1945 (MIRANDA et al., 1982) para 2669 kg/ha na
SARTORATO & YORINORI, 2001).
safra 2005/06 (AGRIANUAL, 2006).
O desenvolvimento da doença pode ocorrer em tem-
As doenças, um dos fatores limitantes à obtenção de
peraturas de 18ºC a 30ºC, tanto em variedades resisten-
maiores rendimentos na cultura, têm merecido atenção
tes como em variedades suscetíveis. Temperatura de 24ºC
redobrada nos programas de melhoramento, pois a ex-
também favorece a ocorrência de infecção severa em
pansão da cultura tem favorecido aumento na incidência
variedades suscetíveis, entretanto, a temperatura de 18ºC,
de doenças já constatadas. Um grande número de doen-
é mais favorável ao desenvolvimento da doença, e permi-
ças causadas por fungos, bactérias, nematóides e vírus
te distinguir reações de resistência e de suscetibilidade
foi identificado no Brasil (YORINORI, 1997), e esse tem
logo aos sete dias após a inoculação (MIGNUCCI et al.,
aumentado a cada ano com a expansão da soja para no-
1977). No campo, existem evidências de que o desenvol-
vas fronteiras.
vimento da doença é mais rápido quando a temperatura
A expansão de áreas irrigadas nos cerrados tem pos-
do ar é inferior a 30ºC, quando a soja se encontra nos
sibilitado o cultivo da soja no outono/inverno, para produ-
estádios de desenvolvimento entre o início da floração e
ção de sementes, porém essa prática tem favorecido a
pleno enchimento das vagens (GRAU & LAURENCE,
sobrevivência de alguns patógenos, entre eles, Erysiphe
1975; LEATH & CARROL, 1982).
diffusa, agente causal do oídio. Até a safra 1995/96, o
Embora se tenha recomendado a aplicação de
oídio era considerado como doença de pouca importância
fungicidas na parte aérea da planta em caráter emergencial,
no Brasil, sendo observada, principalmente, no final da
o método de controle mais eficaz é o uso de cultivares
safra em sojas tardias (YORINORI, 1997). Porém na safra
resistentes a moderadamente resistentes, principalmente
1996/97, houve severa incidência da doença em diversos
em épocas mais favoráveis à ocorrência da doença, tais
cultivares, favorecida por um clima chuvoso e temperatu-
como semeaduras tardias ou safrinha e cultivo sob irriga-
ras amenas, atingindo todas as regiões produtoras do Brasil,
ção no inverno, quando ocorrem as condições ambientes
com perdas entre 30-40% no rendimento (YORINORI,
mais favoráveis (YORINORI, 1997).
1997). Nos Estados Unidos perdas de produtividade de
O estudo de métodos alternativos, como o emprego da
até 26%, ocasionadas pelo oídio foram relatadas por
folha destacada, para avaliação da resistência de cultiva-
Dunleavy (1980).
res soja as principais doenças, são de grande importância
O sintoma mais típico do oídio é a presença de uma
em programas de melhoramento genético.
fina camada de micélio e esporos (conídios) pulverulentos,
A cultura da folha destacada é definida como a manu-
de cor branca, ou castanho-acinzentada, cobrindo desde
tenção de folhas vivas por um certo período após ter sido
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Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
destacada da planta-mãe (YARWOOD, 1946; TUITE,
estas apresentem uma alta relação carboidratos / proteí-
1969). Inicialmente esta técnica foi utilizada em estudos
nas, coleta de folhas jovens ou de média idade com cuida-
de fisiologia vegetal como absorção de água, transpiração,
dos para que não murchem, preferir folhas provenientes
respiração e fotossíntese. Alguns anos após sua desco-
de casa de vegetação, manter as folhas em recipientes
berta, os fitopatologistas começaram a utilizá-la para tes-
fechados sob luz fluorescente e evitar altas temperaturas
tes de inoculação e estudos de fisiologia do parasitismo
(YARWOOD, 1946; BROWDER, 1964; TUITE, 1969).
Diante disso, o objetivo do presente trabalho foi verifi-
(YARWOOD, 1946).
A cultura da folha destacada apresenta vantagens como
car a sobrevivência e o enraizamento de folhas destaca-
economia de espaço; economia de material vegetal; eco-
das de soja, sob diferentes temperaturas, bem como, tes-
nomia de inóculo; facilidade e exatidão nas observações,
tar dois métodos de inoculação das folhas para serem usa-
uma vez que se pode examinar o material sob microscó-
das em posteriores estudos para avaliação da resistência
pio sem prejudicar a cultura; redução na contaminação;
de genótipos ao oídio e outros parasitas obrigatórios.
uniformidade da unidade experimental; facilidade de controle e manipulação dos fatores ambientes; eliminação da
necessidade de luz quando o cultivo é feito em solução de
MATERIAL E MÉTODOS
sacarose; crescimento exuberante de alguns parasitas
obrigatórios como ferrugem e oídios (YARWOOD, 1946;
HOOKER & YARWOOD, 1966; TUITE, 1969;
HENESSY & SACKSTON, 1970; MIGNUCCI, 1978).
Testes de sobrevivência e enraizamento das folhas
destacadas.
Ao longo dos anos, testaram-se diferentes méto-
Os testes de sobrevivência e enraizamento das folhas
dos de cultivar a folha destacada, todos com uma carac-
foram realizados no laboratório do Departamento de Pro-
terística em comum, a simplicidade.
dução Vegetal da Faculdade de Ciências Agrárias e Vete-
A técnica da fo-
lha destacada, por ser simples e apresentar inúmeras van-
rinárias – UNESP/Jaboticabal.
tagens, tem sido empregada principalmente para estudos
As folhas utilizadas para os testes em laboratório fo-
do desenvolvimento de parasitas obrigatórios (WARD,
ram destacadas de plantas de soja cultivadas em casa de
1959; WILCOXSON et al., 1974; MORAES & SALGA-
vegetação. Essas plantas foram coletadas no estádio de
DO, 1982; MORAES & SAVY FILHO, 1983); para es-
desenvolvimento V1 (FEHR & CAVINESS, 1977), de
tudos das relações patógeno-hospedeiro, especialmente
acordo com as recomendações de TUITE (1969). Após a
nos casos das ferrugens (HOOKER & YARWOOD, 1966;
coleta, as plantas foram levadas ao laboratório, onde foi
HENESSY & SACKSTON, 1970; LUMBROSO et al.,
feito: o corte do pecíolo com o auxílio de uma tesoura, na
1977); para a quantificação de parâmetros epidemiológicos
região da inserção do pecíolo com o caulículo. Este foi
monocíclicos da ferrugem do feijoeiro (MENDES, 1985)
envolvido por algodão embebido em água destilada e, a
e para a seleção de microrganismos antagônicos à ferru-
folha foi transferida para placa de Petri com diâmetro de
gem do feijoeiro (CENTURION, 1994 a; CENTURION,
90mm, contendo uma fina camada de algodão sob um dis-
1994 b).
co de papel de filtro previamente umedecido com cerca
O grande obstáculo para o uso da folha destaca-
de 20 ml de água destilada. O limbo foliar foi apoiado
da está na ocorrência da morte precoce da folha. Entre-
sobre uma lâmina de vidro para evitar o contato direto da
tanto, existem estudos demonstrando que sob condições
folha com a superfície úmida do papel de filtro.
adequadas, folhas das várias espécies como batata, menta,
Estas placas foram incubadas em condições ambien-
milho, maçã, fumo, feijão e outras, podem sobreviver por
tes, e, em câmaras de germinação com fotoperíodo ajus-
longos períodos (YARWOOD, 1946). Dentre as suges-
tado para 12 horas de luz, sob três diferentes faixas de
tões para aumentar o período de sobrevivência da folha
temperatura: 17 – 18ºC, 23 – 24ºC e 29 – 30ºC.
destacada, incluem-se: coleta de folhas à tarde para que
Foram mantidas oito placas em cada uma das condi-
Ciência e Cultura
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Estudo da Sobrevivência e do Enraizamento de Folhas
Destacadas de Soja e de Métodos de Inoculação das
Mesmas para Avaliação da Resistência de Plantas ao Oídio
GONÇALVES et al.
ções testadas, sendo colocadas duas folhas destacadas
foram depositados conídios nas placas contendo as folhas
por placa. A porcentagem de sobrevivência (número de
destacadas. Estas foram incubadas em câmara de germi-
folhas vivas/tratamento) e o período de sobrevivência das
nação a temperatura de 24ºC, e fotoperíodo de 12 horas.
folhas foram, avaliados semanalmente.
O teste foi realizado com quatro repetições, sendo cada
parcela constituída por uma placa de Petri contendo duas
folhas destacadas primárias ou folha trifolíolada. O deli-
Testes de inoculação de E. diffusa.
neamento utilizado foi o inteiramente casualizado, sendo
que, para todos os tratamentos incluiram-se duas placas
O inóculo foi produzido através da infecção natural do
com folhas destacadas sem inoculação como testemunhas.
fungo, em cultivares altamente suscetíveis (FT- Estrela e
A avaliação do nível de infecção foi realizada através
IAC Foscarim –31). A partir do inóculo produzido da for-
de uma escala de notas de 0 a 5, onde, 0 = folha sem
ma descrita anteriormente, foram realizados alguns testes
sintomas, 1 = traços a 10% da superfície foliar inoculada
em cultivares suscetíveis para se determinar o método
com sintomas, 2 = 11 a 25% da superfície foliar inoculada
mais eficiente de inoculação.
com sintomas, 3 = 26 a 50% da superfície foliar inoculada
Os métodos de inoculação testados foram:
com sintomas, 4 = 51 – 75% da superfície foliar inoculada
a) inoculação através de discos de folhas com sinto-
com sintomas, 5 = mais de 75% da superfície foliar inocu-
mas: cortou-se com um cilindro de metal vazado, discos
lada com sintomas.
de folhas com sintomas de oídio, com diâmetro de aproxi-
Esta difere daquela que foi proposta por Yorinori
madamente um centímetro. Esses discos foram coloca-
(1997), pois considera como área foliar, apenas a superfí-
dos sobre a superfície das folhas destacadas, conforme
cie da folha inoculada (dorsal).
metodologia descrita por Mignucci (1978). Neste caso
também, as folhas destacadas inoculadas foram incubadas em câmara de germinação, à temperatura de 24ºC e
RESULTADOS E DISCUSSÃO
fotoperíodo de 12 horas.
b) exposição das folhas ao inóculo: folhas destacadas
foram colocadas em contato com folhas de soja com sin-
Avaliação da sobrevivência e do enraizamento de folhas destacadas
tomas de oídio por duas vezes, em dias alternados e atra-
Os resultados da avaliação da sobrevivência das fo-
vés da agitação das folhas de soja infectadas com oídio,
lhas destacadas de soja estão apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. Porcentagem de folhas destacadas verdes (FDV) e enraizadas (FDE).
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Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
As folhas destacadas sobreviveram por um período de
des por um período de tempo suficiente para a realização
tempo de até três meses, suficiente para que se realizem
da avaliação da resistência de genótipos de soja à parasi-
as avaliações de resistência de oídio, e outros parasitas
tas obrigatórios. Kamikoga (2001) observou que 14 dias
obrigatórios em condições de laboratório. Em condições
após o acondicionamento das folhas de soja nas placas de
de temperatura, tanto à 18°C, 24°C ou 30°C e luz alterna-
Petri, estas apresentaram capacidade de enraizamento da
da (12 horas de fotoperíodo) a sobrevivência foi de 100%
ordem de 90 a 100%.
por um período de 70 dias. Dentre as temperaturas testadas, a de 24ºC, foi a que propiciou enraizamento mais rápido com uma maior porcentagem de folhas destacadas
Avaliação dos métodos de inoculação
enraizadas, bem como, maior tempo de sobrevivência da
folha destacada. Resultado semelhante foi observado por
Através dos resultados obtidos nos testes de
Kamikoga (2001), no estudo de diferentes faixas de tem-
inoculação, pode-se verificar que o método de inoculação
peratura e fotoperíodo.
mais eficiente nas condições testadas foi o método de
As folhas enraizaram com cerca de um mês na tem-
exposição (Tabela 2). Folhas inoculadas através deste
peratura de 18ºC, duas semanas na temperatura ambien-
método apresentaram níveis de infecção mais elevados,
te e, com uma semana nas temperaturas de 24ºC e 30ºC.
quando comparados aos do método de inoculação por dis-
Mesmo as folhas que não enraizaram permaneceram ver-
co, tanto em folhas primárias como em trifolioladas.
Tabela 2. Nível de infecção (NI) de oídio (Erysiphe diffusa) em folhas destacadas de duas cultivares de soja suscetíveis inoculadas
através de diferentes métodos.
Nível de infecção: nota 0 = ausência de sintomas; 1 = traços até 10% da área foliar inoculada infectada; 2 = 11 a 25% da área foliar
inoculada infectada; 3 = 26 a 50% da área foliar inoculada infectada; 4 = 51 a 75% da área foliar inoculada infectada; 5= mais de 75
% da área foliar inoculada infectada.
1/
Nota-se que algumas folhas destacadas usadas como
têm sido cada vez mais empregados para avaliação de
testemunha apresentaram sintomas de oídio, embora em
resistência em plantas, pois além, de utilizar pouco espaço
níveis baixos de infecção, indicando que embora se tenha
e inóculo, a planta não é eliminada podendo ainda vir a ser
feito a coleta de folhas sem sintomas, estas já deviam
utilizada. Gonçalves (2002), utilizando a técnica da folha
estar infectadas quando foram acondicionadas nas placas
destacada para avaliação da resistência de genótipos de
de Petri.
soja ao oídio verificaram correlação entre as avaliações
De acordo com Beraldo (2007), estudos sobre a utili-
em folhas destacadas e casa de vegetação, evidenciando
zação de métodos alternativos como o da folha destacada
desta forma, a importância da mesma. Alguns ajustes nos
Ciência e Cultura
45
Estudo da Sobrevivência e do Enraizamento de Folhas
Destacadas de Soja e de Métodos de Inoculação das
Mesmas para Avaliação da Resistência de Plantas ao Oídio
GONÇALVES et al.
métodos de inoculação permitirão que a técnica seja usa-
CENTURION, M.A.P.C.; KIMATI, H.; PEREIRA,
da com bastante sucesso nos programas de avaliação de
G.T. Mecanismos de atuação antagonistas selecionados
resistência de plantas à doenças.
para o controle biológico da ferrugem do feijoeiro
(Uromyces phaseoli (Reben.) Wint.) Científica, Piracicaba,
v.22, n.2, p.163-175, 1994.
CONCLUSÕES
DUNLEAVY, J.M. Yeld losses in soybean induced by
a)
As folhas destacadas sobreviveram por um perí-
odo de tempo, suficiente para que se realizem as avalia-
powdery mildew. Plant Disease, St. Paul, v.64, n.3, p. 291292, 1980.
ções de resistência de oídio;
FEHR, W.R.; CAVINESS, J.A. Stages of soybean
b)
O método de inoculação mais eficiente nas con-
dições testadas foi o método de exposição das folhas des-
development. Ames: Yowa State University, Cooperative
Extension Service, 1977, 11p. (Special Report, 80).
tacadas ao inóculo;
GONÇALVES, E.C.P. Genética da resistência da soja
O uso da técnica poderá ser uma importante fer-
ao oídio (Microsphaera diffusa) e correlação entre duas
ramenta aos fitopatologistas e melhoristas, em estudos de
metodologias de avaliação. Dissertação Mestrado (Ge-
resistência;
nética e Melhoramento de Plantas) - Universidade Esta-
c)
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Ciência e Cultura
47
Avaliação dos Métodos de Ensino das Aulas Práticas
na Disciplina de Clínica Integrada
Clinical Working And Teaching In The Discipline Of Integrated Clinic
Fábio PETROUCIC1 , Rubens Ferreira ALBUQUERQUE JÚNIOR2; Guilherme Marques FERRAUDO3
1 - Doutor em Dentística Restauradora Unesp – Araraquara – Rua Barão do Rio Branco, 773 - 14870-330 - Jaboticabal, SP.
2 - Disciplina de Clínica Integrada USP - Faculdade de Odontologia – Ribeirão Preto
3 - Bacharel em Estatística UFSCar- São Carlos
RESUMO
Com o objetivo de investigar as formas de trabalho
trabalham em duplas durante 8 horas de aulas práticas
clínico praticado pelos professores que compõem a Disci-
semanais e os professores orientam o mesmo grupo de
plina de Clínica Integrada das 5 (cinco) faculdades públi-
alunos desde o planejamento até a finalização do caso
cas de odontologia do Estado de São Paulo que possuem
clínico, metodologia que tem proporcionado bons resulta-
corpo docente próprio, os autores visitaram essas institui-
dos e que deve ser incentivada. Demonstrações de pro-
ções de ensino durante os meses de abril e maio de 2004
cedimentos clínicos ao vivo, trabalhos extra muro e orien-
e através de um questionário pré-estruturado, colheram
tações aos grupos antes de cada aula prática foram, as
informações sobre o funcionamento da Clínica Integrada
estratégias pedagógicas inovadoras aplicadas durante o
e após a análise do conteúdo, concluíram que a forma de
ensino prático na Disciplina de Clínica Integrada.
trabalho mais adotada pelos professores durante as aulas
práticas, é o sistema em que cada professor acompanha e
orienta uma quantidade de 8 a 12 alunos, dos quais 80%
Palavras-chave: Clínica Integrada, ensino, tendência,
currículo
ABSTRACT
With the aim to investigate the working clinical
of two and during 8 hours of practical activities for week
ways developed by the professors of the discipline of
and the professors are responsible during all the treatment
Integrated Clinic in the 5 (five) Public Dental Schools of
since the establishment of the schedule until its finishing,
the State of São Paulo (Brazil) whose have an exclusive
methodology which have provided good results and should
teaching members for this Discipline, those institutions
be stimulated. Alive demonstrations of clinical procedures,
were visited in April and May of 2004 and through a pre-
extra wall activities and group orientations preceding each
elaborated questionnaire were obtained informations upon
practice class were the innovator pedagogical strategies
the working way of the Integrated Clinic and after
applied during the practical teaching of the Clinical
analyzing the results was possible to conclude that the
Integrated Discipline.
more work adopted way during the class practical activities
is a system in which each professor take care of 8 to12
students, and that 80% of them normally work in number
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Ciência e Cultura
KEYWORDS : Integrated clinic, teaching, tendency,
curriculum.
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
Com a maior carga horária dentro dos cursos de odon-
Para se determinar como vêm sendo ministradas as
tologia a Disciplina de Clínica Integrada (D.C.I.) geral-
aulas práticas nas D.C.I. das 5 (cinco) faculdades públi-
mente é obrigatória nos dois últimos semestres da gradu-
cas de odontologia do Estado de São Paulo, que possuem
ação, e vem sendo ministrada através de aulas teóricas,
corpo docente próprio de professores: USP- São Paulo e
juntamente com um estágio supervisionado no qual se
Ribeirão Preto; UNESP- Araraquara, Araçatuba e São
pretende dar continuidade aos conhecimentos teóricos e
Jose dos Campos, foi elaborado um questionário. Os da-
práticos adquiridos pelos alunos nas disciplinas já cursa-
dos eram obtidos mediante respostas que foram formula-
das, terminando geralmente com uma pequena reabilita-
das ao professor responsável pela D.C.I. durante os me-
ção oral em um ou mais pacientes.
ses de abril e maio de 2004, período este em que foram
Tal disciplina tem por objetivo o diagnóstico, o planeja-
visitadas todas as faculdades e também obtidos os planos
mento, a realização dos tratamentos propostos e a
de aula para posterior levantamento dos resultados atra-
proservação dos resultados obtidos, exigindo que o corpo
vés da análise do conteúdo (Anexo I ).
docente tenha como habilidades principais: a capacidade
de examinar, diagnosticar, prevenir e tratar lesões da cavidade bucal, além de comunicar-se com a sociedade,
RESULTADO E DISCUSSÃO
acompanhar e incorporar o desenvolvimento tecnológico
e científico nas diferentes especialidades odontológicas e
A graduação em odontologia carrega, em sua história,
também de trabalhar em equipes interdisciplinares, atuan-
um processo exigente de formação teórico-prático, com
do como promotor de saúde.
ênfase na associação dos conhecimentos teóricos à atua-
As equipes são formadas por professores de odonto-
ção clínica. Segundo Hernandes em 1998 e Perrenoud em
logia que têm diferentes formações específicas em rela-
1999, a preparação do aluno por parte das faculdades
ção às suas pós-graduações e com aptidões para serem
deveria possibilitar mais do que a pura transmissão de
clínicos gerais ou professores generalistas, com o com-
conhecimento, envolvendo uma formação humanista de
promisso voltado para a saúde e atentos a bioética.
preparação para enfrentar as diferentes situações da vida
Todavia, dependendo da formação docente da equipe,
profissional. A D.C.I. deverá ter consciência desta reali-
a D.C.I. vem sendo ministrada de forma diferente entre
dade para organizar o que já foi aprendido pelos alunos de
as várias faculdades de odontologia. Assim, de acordo
modo que estes possam cumprir tanto o programa pro-
com a formação especializada do professor, geralmente
posto de uma forma mais desenvolta, quanto vivenciar as
destaca-se mais a prótese, ou a dentística, ou a
principais situações de um consultório dentário, evitando
periodontia, ou a cirurgia, entre outras, fazendo com que o
assim uma repercussão negativa na performance destes
aluno não desenvolva todas as habilidades necessárias para
alunos ao cursarem tal disciplina.
a futura prática da clínica geral que deverá executar depois de formado.
Fazer com que a D.C.I. tenha a sua personalidade
dentro do curso de odontologia e não usá-la como uma
Baseados nesta realidade o nosso objetivo foi obser-
extensão de uma determinada disciplina específica, que
var no panorama atual das faculdades públicas de odon-
por algum motivo, como a falta de tempo ou a complexi-
tologia do Estado de São Paulo, como vêm sendo minis-
dade do conteúdo programático ou o número reduzido de
tradas as aulas práticas da D.C.I. e assim fornecer subsí-
professores entre outros, impediram o término do plano
dios para que os cursos de odontologia interessados pos-
de aula proposto, foi uma unanimidade na opinião dos pro-
sam se nortear e elaborar uma conduta de trabalho clínico
fessores entrevistados neste trabalho e acorde com
mais atual.
Crispino em 2001e Petroucic e Albuquerque Jr. em 2005.
Ciência e Cultura
49
Avaliação dos Métodos de Ensino das Aulas
Práticas na Disciplina de Clínica Integrada
Várias foram as maneiras de arregimentação de professores para a formação das equipes nas D.C.I., que
PETROUCIC et al.
ta o maior número de professores na equipe (11 professores) (Tabela1).
atuavam em aulas práticas. O modelo mais antigo citado,
É a única unidade que não possui trabalho em dupla(
era formado por um elenco de professores de odontolo-
Gráfico 1). Além de ser a unidade que apresenta a menor
gia que eram somente especialistas nas suas áreas espe-
quantidade em horas de aulas práticas semanais por alu-
cíficas, ou seja, o professor de cirurgia só dava assistên-
no(4 horas), (Gráfico 2).
cia aos alunos que estivessem fazendo cirurgia, ou o pro-
A última fase do tratamento clínico chamada
fessor de prótese só acompanhava os alunos que estives-
reabilitadora, só era acompanhada pelos protesistas e
sem naquele momento trabalhando com prótese,cabendo-
mesmo assim próximo ao final do curso, pois somente após
lhe além dos ensinamentos específicos que iria transmitir
a fase preparadora estes entravam em ação e algumas
ao aluno, toda a parte de avaliação prática daquele dia.
vezes eram até necessárias clínicas em horários especi-
Assim, observou-se que esta forma de atuação
ais para finalizar os casos. Esta forma antiga de supervi-
de trabalho dos professores nas aulas práticas, não era
são clínica, gerava de certa forma a arrogância dos espe-
adequada, visto que, nos primeiros dias de clínica o pro-
cialistas, ao dizerem que nenhum professor generalista ti-
fessor de periodontia era muito solicitado para avaliação
nha a capacidade de ensinar a sua disciplina melhor que
periodontal dos casos que iriam se iniciar, ou para os pro-
ele, o que não deixa de ser verdade; porém nessas clíni-
cedimentos básicos de raspagem e polimento corono -
cas a produtividade era baixa, alguns professores fica-
radicular preconizados antes do início do tratamento, e
vam por mais tempo ociosos, chegando às vezes nem a
que era feito por todos os alunos ao mesmo tempo, en-
trabalhar, se nenhum aluno estivesse realizando naquele
quanto os outros professores (cirurgia, endodontia,
momento uma determinada atividade relacionada à sua
dentística e prótese), ficavam esperando para resolver
especialidade.
alguma dúvida ou emergência (dor, estética). Passadas
finalização do caso clínico, pois o
algumas sessões, os professores de periodontia já traba-
especialista não era familiarizado em prever o tempo ne-
lhavam mais tranqüilos e até agendavam algumas cirurgi-
cessário para a realização das outras etapas clínicas.
Ou mesmo raramente, chegava-se a
professor dito
as periodontais. Entrava a fase da endodontia que obriga-
Por isto originou-se a segunda forma de atuação
va o professor específico da endodontia a uma atuação
clínica dos professores da D.C.I., formada por professo-
maior junto aos alunos durante a clínica, subseqüentemente
res de odontologia generalistas que passaram a estudar e
era a vez da cirurgia.
a ensinar, além da área da sua pós-graduação, outras dis-
No modelo antigo de supervisão clínica, os procedi-
ciplinas clínicas. Assim começaram a acompanhar os alu-
mentos clínicos mais realizados durante a fase preparadora
nos por regiões dentro da clínica, geralmente 8 a 12 alu-
eram na área da dentística, os quais poderiam ser realiza-
nos, evitando um deslocamento longo do professor para
dos a qualquer momento, inclusive nos pacientes chama-
acompanhar um serviço no primeiro box e o outro último
dos de apoio, que substituíam os pacientes faltosos para
box da clínica, por exemplo.
que os alunos tivessem alguma atividade clínica naquele
Comparando as unidades, USP- São Paulo (120 alu-
dia. Com isso os professores da dentística tinham que dar
nos) e UNESP- Araçatuba (110 alunos), as quais apre-
assistência além dos alunos que estivessem fazendo
sentam o maior número de alunos por ano (Tabela 1),
dentística naquele dia aos pacientes de apoio durante as
verifica-se que a UNESP- Araçatuba apresenta um défi-
aulas práticas, o que fazia com que este professor traba-
cit de 45% no número total de professores nas equipes
lhasse mais do que os das outras disciplinas.
em relação à USP- São Paulo. Para as unidades UNESP
Como demonstrado pela pesquisa a USP –São Paulo
– Araraquara e UNESP- São José dos Campos que apre-
diferencia –se das demais unidades por, apresentar o maior
sentam o número de alunos por ano de 75 e 80, respecti-
número de alunos por ano (120 alunos) ; sendo 80 no cur-
vamente, o déficit é de 55% no número total de professo-
so diurno e 40 no curso noturno e, talvez por isso apresen-
res na equipe em relação à USP- São Paulo. E a USP-
50
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
Ribeirão Preto, com 80 alunos por ano, apresenta um dé-
a perda da qualidade, além das novas tecnologias, visando
ficit de 45% em relação à USP-São Paulo (Gráfico 3).
que o futuro cirurgião dentista consiga o seu espaço de
A UNESP- Araçatuba apresentou no ano de 2004, o
trabalho num país com uma renda per capita mal distribu-
maior valor para a relação professor / aluno - durante as
ída, presença de um grande número de Faculdades de
aulas práticas 1 professor supervisiona 8 alunos - além
Odontologia, além de estarmos vivenciando a diminuição
do maior número de alunos por ano (110 alunos) dentre
da doença cárie, destinando cirurgiões dentistas, princi-
as unidades da UNESP.
palmente os recém formados a se frustrarem ou até mes-
Com a formação dos grupos de alunos que passa-
mo desistirem da profissão após alguns anos de trabalho,
ram a ser dirigidos por cada professor, este passou a res-
pois não foram treinados para o futuro (CECCON, 2000;
ponder por todo o serviço clínico e a produtividade clínica
PERES, et al, 2004).
aumentou, a avaliação se tornou mais integral e as dificuldades do grupo passaram a ser vividas pelo professor que
pode, em determinado momento, solicitar trabalhos, semi-
CONCLUSÃO
nários, etc, para solucionar uma dúvida comum, ou mesmo antes de iniciar a clínica reunir os alunos e questioná-
Através deste trabalho pode-se concluir que na parte
los sobre o que cada um vai fazer naquele dia, por exem-
prática a Disciplina de Clínica Integrada, apresentou-se
plo: o aluno irá fazer uma classe III na mesial do dente 21,
no ano de 2004, nas faculdades públicas de odontologia
o professor pode perguntar quais dentes irão ser isolados,
do estado de São Paulo, com um elenco de professores
vai usar quais grampos, quais fresas e pontas diamantadas,
que orientam os alunos por grupos de 8 a 12 alunos, em
qual o sistema adesivo, vai ou não terminar com resina de
que 80% destes trabalhavam em duplas e praticavam 8
micropartículas, como vai ser o polimento, etc. Com isso
horas de aulas práticas semanais e estes professores ori-
os alunos irão se familiarizando com os ensinamentos e
entavam o mesmo grupo desde o planejamento do caso
mesmo que não forem fazer uma restauração classe III,
clínico até a sua finalização, acompanhando todas as eta-
irão vivenciar um maior número de casos clínicos.
pas do tratamento proposto.
Outro destaque é a UNESP-Araraquara, que apresenta o menor número de alunos por ano (75 alunos). A
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
UNESP Araraquara e a USP- Ribeirão Preto apresentam somente cursos diurnos. A UNESP – Araraquara e a
UNESP- São José dos Campos apresentam o menor nú-
CECCON, M.F. A Odontologia em Prova. Rev. Assoc.
Paul. Cir. Dent., v. 54, n.5, p. 353-362, 2000.
mero de professores na equipe (5 professores). E a
UNESP – Araraquara apresenta o menor valor para a
CRISPINO, P.S. Uma Análise Crítica das Práticas
relação professor/aluno durante as aulas práticas, um pro-
Avaliativas Realizadas no Ensino de Graduação de uma
fessor supervisiona 12 alunos(Gráfico 4) .
Faculdade Brasileira de Odontologia. Dissertação de
Através dos anos, devido a exigência de um mercado
de trabalho cada vez mais competitivo, as competências
Mestrado da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto
– USP. 227p, 2001.
gerais (atenção à saúde, tomada de decisão, comunicação, liderança, educação continuada, administração e
GOMES, S.S.R., FERNANDES NETO, A.S., PERRI
gerenciamento), estão se tornando cada vez mais neces-
DE CARVALHO, A.C., SIMANOTO Jr., P.C. Análise
sárias (LOMBARDO, 2001; GOMES et al, 2002) e ca-
sobre as “Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos
bem aos professores da D.C.I. as lapidações dos alunos
de Graduação em Odontologia”. In: 19ª REUNIÃO DA
na parte teórica, para provas de admissão para o serviço
SOCIEDADE
público, e na parte prática ao trabalho com convênios
ODONTOLÓGICA. v. 16, Anais, suplemento 2002, São
odontológicos, para uma produtividade mais elevada sem
Paulo, p. 20.
BRASILEIRA
DE
PESQUISA
Ciência e Cultura
51
Avaliação dos Métodos de Ensino das Aulas
Práticas na Disciplina de Clínica Integrada
HERNANDEZ, F.. A organização do currículo por
Projetos de trabalho. 5ªed. Porto Alegre: Artes Médicas
PETROUCIC et al.
ma Único de Saúde – Uma reflexão. Rev. Abeno, v. 4, n.
1, p. 38-41, 2004.
Sul, 1998.
PERRENOUD, P. Construir as competências desde a
LOMBARDO, I. Reflexão sobre o planejamento do
escola. Porto Alegre, Artes Médicas Sul, 1999.
ensino de Odontologia, Rev. Abeno, v. 1, n. 1, p. 17-24,
2001.
PETROUCIC, F.; ALBUQUERQUE JR., R.F. O ensino na Disciplina de Clínica Integrada. Rev. Abeno v .5,
PERES, A. S.; OLYMPIO, K. P. K.; CUNHA, L. S.
n.1, p.60 – 64, 2005.
C., BARDAL, P. A. P. Odontologia do Trabalho e Siste-
Tabela 1. Número de alunos nas Disciplinas de Clínica Integrada das faculdades públicas de odontologia do Estado de São Paulo
,em 2004, que trabalham com equipe própria de professores.
Gráfico 1. Trabalho em duplas (quatro mãos)
A USP- São Saulo é a única unidade que não possui trabalho em duplas.
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v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
Gráfico 2. Trabalho em horas de aulas semanais
A USP- São Paulo é a unidade que apresenta a menor quantidade em horas de aulas práticas semanais por aluno (4 horas)
Gráfico 3. Total de professores na equipe
A UNESP-Araraquara e a UNESP de São José dos Campos são as unidades com menor número é a USP-SP a que apresenta maior
número de professores
Gráfico 4. Relação professor/ aluno durante as aulas práticas
Para a relação professor/aluno durante as aulas práticas, as unidades USP-São Paulo, USP-Ribeirão preto e UNESP-São José dos
Campos apresentam 1 professor para supervisionar 10 alunos. Na UNESP-Araraquara, 1 professor supervisiona 12 alunos e na
UNESP-Araçatuba 1 professor supervisiona 8 alunos.
Ciência e Cultura
53
Avaliação dos Métodos de Ensino das Aulas
Práticas na Disciplina de Clínica Integrada
PETROUCIC et al.
Anexo I
Questionário
Faculdade:
data:
assinatura:
Nome professor responsável:
1. Qual o número de alunos na sua faculdade cursando a Disciplina de Clínica Integrada.
Resp:......................................................................................................................................
2.Qual o número total de professores da equipe
Com tempo integral
Com tempo parcial
Com aulas em outras disciplinas
Com mais de 12 anos de docência
3. Número de horas aulas/práticas semanais
Resp:.......................................................................................................................................
4. Relação professor/aluno nas aulas práticas.
Resp:.....................................................................................................................................
5.Trabalham em dupla ( ) sim ( ) não
Tem clínica própria ( ) sim ( ) não
6. Quais são as limitações ou bloqueios encontrados pelos professores da C. I. nos trabalhos clínicos ou teóricos em
sua instituição de ensino?
Resp:......................................................................................................................................
7. O que faz da disciplina de C.I. da sua instituição ser singular em sua trajetória:
a) Histórica:
b) Administrativa:
c) Acadêmica:
d) Pedagógicas:
8. Comentários sobre a pesquisa.
Resp:......................................................................................................................................
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Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
Mudanças de Paradigmas Odontológicos:
O uso de textos visuais como estratégia de ensino em
oficinas pedagógicas de docentes.
Change of Dentistry Paradigms:
The use of visual texts as pedagogical strategies on workshops for professors.
Caren Elisabeth STUDER
Curso de Odontologia da Fundação Educacional de Barretos
Rua, 30, 2251. Bairro Fortaleza. 14783-215 - Barretos, S. Paulo. Brasil.
Telefones: (17) 3324-5917 / 9777-5832 - e-mail: [email protected]
RESUMO
Este artigo tem como objetivo relatar a experiência de
da Educação em 2002, que têm como conteúdo uma mu-
uso de textos visuais como estratégia pedagógica de atu-
dança paradigmática, tanto na concepção de ensino, como
alização, em oficinas docentes no Curso de Odontologia
na concepção das práticas odontológicas atuais.
das Faculdades Unificadas de Barretos – SP entre 2004 e
2006. A iniciativa se insere como instrumento de adequa-
Palavras-chave: oficinas, docentes, ensino, paradigmas,
ção das mudanças curriculares propostas pelo Ministério
ilustrações
ABSTRACT
This article has the purpose to report the experience
alterations proposed by the Ministry of Education in 2002,
of using visual texts as an updating pedagogical strategy
which have as their content a paradigmatic change, both
in workshops for professors at the Course of Dentistry
in the teaching concept and in the conceiving of the present
from Faculdades Unificadas de Barretos - SP (Barretos
dental practices.
Unified Faculties) between 2004 and 2006. The initiative
is introduced as means of adaptation to the curricular
K EYWORDS : workshops, professors, teaching,
paradigms, illustrations.
Ciência e Cultura
55
Mudanças de Paradigmas Odontológicos:
O uso de textos visuais como estratégia de ensino em oficinas pedagógicas de docentes.
Introdução
STUDER, caren elisabeth
individual e social. Este novo enfoque já se encontra
em estado adiantado de elaboração, conforme atestam as
O objetivo deste texto consiste no relato da experiên-
publicações, tanto da Associação Brasileira de Odontolo-
cia pedagógica, de introdução de novas estratégias de for-
gia Preventiva (ABOPREV, 2003), como também, por
mação continuada aos docentes no Ensino Superior. Des-
parte das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cur-
creve uma estratégia específica, na qual foram utilizados
sos Universitários da Área de Saúde. (ALMEIDA, 2003).
textos visuais de grandes obras de arte como meio de
A introdução da flexibilização curricular por parte do
atualizar conteúdos, bem como a introdução dos novos
Ministério da Educação (MEC), em meados da década
paradigmas no ensino de odontologia em oficinas peda-
de 90, evidenciou a necessidade de adequações por parte
gógicas, propostas para o Curso de Odontologia das Fa-
de cada uma das instituições de ensino superior, princi-
culdades Unificadas da Fundação Educacional de Barretos,
palmente, a partir da construção de projetos pedagógicos
entre os anos de 2004 e 2006, tendo a autora trabalhado
próprios e específicos. Concomitantemente à introdução
como assessora pedagógica.
dessas mudanças curriculares, o MEC institucionalizou a
avaliação externa da graduação, sob a forma de Exames
Mudanças de Paradigmas:
Ensino e Odontologia
Nacionais de Cursos anuais.
Segundo Cunha (2005), houve um forte impacto inicial do Provão, não somente nos cursos, como tmbém
Há um tempo - toda a década de 90 - que nos defron-
nos respectivos docentes. Tal impacto pode ser explicado
tamos com a introdução da expressão “mudança de
tanto pela ausência de uma tradição avaliativa, como tam-
paradigmas” em vários meios: nos textos acadêmicos, atra-
bém, pelas dificuldades organizacionais frente às novas
vés de novas concepções epistemológicas, no meio em-
exigências do Ministério da Educação. Ainda, conforme a
presarial, através das diversas ondas de “qualidade total”,
mesma pesquisadora, constatou-se um “divórcio” entre o
e, por último, na imprensa diária, em forma de explica-
conteúdo dos cursos e as problemáticas correspondentes
ções para referendar e traduzir as aceleradas mudanças
na realidade nacional. Conceitos como “cidadania” e “res-
na sociedade em geral. Na academia, resgatou-se a obra-
ponsabilidade social”, apenas recentemente, estão sendo
referência de Kuhn (1978), “A estrutura das revoluções
incorporados aos projetos institucionais.
científicas”, reiniciou-se a discussão do tema, e, a partir
No caso dos cursos de odontologia, segundo Narvai
daí, passou a ser um tema recorrente em todas as áreas
(2003), voltar-se para o atendimento das realidades soci-
profissionais. (CAPRA, 1989)
ais mais abrangentes não significa aderir a uma política
Na área das humanas temos observado uma série de
assistencialista mas, em compartilhar, com seriedade pro-
tentativas em estabelecer alguns consensos mínimos, quan-
fissional, a responsabilidade pelas graves lacunas da saú-
to às características paradigmáticas deste período atual,
de bucal atual. Noutro texto, Narvai (2002) insiste na real
denominado como pós-modernidade (BOAVENTURA,
distinção entre a simples inclusão de disciplinas isola-
1987) . Mais especificamente, na área de ensino
das nos cursos (como “Saúde Coletiva” por exemplo), e
odontológico, podemos observar estas tentativas em duas
a mudança filosófica de finalidades e responsabilidades,
frentes: primeiro pelo lado do ensino, na forma de um
em forma de projetos institucionais. A cobrança de um re-
questionamento das práticas pedagógicas atualmente vi-
direcionamento das práticas de ensino atuais, em forma
gentes, e fortemente influenciadas pela “geração currícu-
de um projeto institucional comum a todos os envolvi-
los mínimos” dos anos 70-80 (MASETTO, 1997). Em
dos em cada curso, passou a tornar-se uma exigência for-
segundo lugar, pelo tratamento do conteúdo odontológico
mal, tanto pela Lei de Diretrizes Bases da Educação
propriamente dito: a partir da ação sobre o dente do paci-
(LDB) de 1996, como em conseqüência da Reforma Sa-
ente/objeto houve uma ampliação de foco que contempla,
nitarista e a nova Constituição de 1988. Nesse sentido,
a partir de uma visão de saúde integral, a saúde bucal
podemos perceber a ancoragem longínqua destas propos-
56
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
tas de ensino atuais, evidenciando um nível de
ses quadros podiam ser realizadas ou em forma de trans-
aprofundamento muito além de leis temporárias, próprias
parências coloridas através de retroprojetor, ou então em
de governos pontuais, fazendo parte do processo de
apresentações no power-point).
institucionalização das políticas de saúde como um todo
no país.
A escolha dos diferentes “textos visuais” de suporte, visava a introdução de conteúdos gerais, relacionados
A partir desse cenário, podem ser encontrados dois
a todas as áreas odontológicas, como aqueles relaciona-
paradigmas, atualmente vigentes no ensino da área
dos à história da constituição do campo odontológico como
odontológica: aquele tradicional, denominado como
ciência, a explicitação dos diferentes cenários de saúde
“positivista prático”, marcado pelos “currículos mínimos”da
bucal, além da introdução dos determinantes econômicos,
década de 70, e o atual, com novos enfoques e procedi-
políticos e sociais da saúde bucal. A partir da apresenta-
mentos. Segundo Gomes Pinto (2000), um dos grandes
ção dos conteúdos, que serviram como “pano de fundo”
autores de referência no campo de Saúde Coletiva da área
interdisciplinar, abria-se a possibilidade de trabalhar dife-
odontológica, “quando a odontologia efetivamente trans-
rentes aspectos pontuais, tais como, o entendimento das
formar-se em uma ciência social e preventiva, as discipli-
novas Diretrizes Curriculares, a confecção de Perfil de
nas correspondentes deixarão de existir, uma vez que seus
Egresso e diferentes Planos de Ensino, ou mesmo a ela-
conteúdos estarão embutidos em cada passo do currí-
boração de diferentes estratégias de avaliação.
culo e do fazer diário da profissão” (grifo nosso).O
Sob o nome de “textos visuais”, conforme a proposta
uso de textos visuais como adequação pedagógica
de Zamboni (2001), figuras e imagens que podem ser fo-
aos conteúdos propostos.
tografias ou reproduções de arte de todos os tipos, que
Ante o hiato existente entre a prática docente tradicional e o novo paradigma em ascensão houve a preocupa-
contenham informações codificadas através do tipo de linguagem de estética visual .
ção, por parte da coordenação do Curso de Odontologia
Didaticamente, isso significou a busca de mecanismos
da Fundação Educacional de Barretos, em oferecer, por
pedagógicos que, a partir de uma experiência pedagógica
meio de oficinas pedagógicas próprias, atualização na for-
profunda por parte dos professores, agora como alu-
mação pedagógica de seu corpo docente. Havia duas pre-
nos, pudesse facilitar a absorção de tais conteúdos e pro-
ocupações: uma de caráter didático - pedagógico, e outra
cedimentos, a serem incorporados em suas próprias práti-
de conteúdos. Quanto à primeira, optou-se em procurar
cas pedagógicas cotidianas no curso. A utilização desses
formas didaticamente adequadas, para que o aprendizado
textos visuais, tem se demonstrado como um meio efici-
do professor possa alcançar o nível de aprendizagens
ente para a apresentação de conteúdos, tais como as “mu-
significativas, tal como explicitado pelo Prof. Masetto
danças paradigmáticas” ora em curso. Conteúdos estes
em 1998, durante o Congresso da Associação Brasileira
que, por sua natureza, privilegiam uma ótica pouco co-
de Ensino de Odontologia (ABENO) . Nesse sentido, pro-
mum no cotidiano profissional, tais como: conceitos, olha-
curamos formas didáticas alternativas, com o objetivo de
res de longo prazo e distância, como proposto pelos traba-
sensibilizar o corpo docente, quanto a necessidade da in-
lhos de Zamboni (2001) em seu pequeno livro “A pesqui-
trodução dos novos conteúdos, nossa segunda preocupa-
sa em arte: Um paralelo entre arte e ciência”. A partir da
ção. Foram organizados diferentes encontros, como os de
compreensão desta nova abordagem conceitual, facilitou-
planejamento, no início de cada um dos semestres, entre
se o entendimento da interdependência de cada uma das
2004 e 2006, e também, a organização de workshops
especificidades odontológicas ao promover um denomi-
específicos, para o trabalho em diretrizes curriculares, pla-
nador comum às diferentes disciplinas de um curso. Como
nos de ensino e técnicas de avaliação, entre outros. Em
mencionado, em outras palavras por Valéry, “uma obra
algumas destas oficinas, foram utilizadas como artifício
de arte deveria ensinar-nos sempre que não havíamos visto
pedagógico, a projeção de “textos visuais”, como meio de
o que vemos. A educação profunda consiste em desfazer
facilitar a introdução do novo paradigma ( a projeção des-
a educação primitiva”. ZAMBONI (2001) Ou seja, pelo
Ciência e Cultura
57
Mudanças de Paradigmas Odontológicos:
O uso de textos visuais como estratégia de ensino em oficinas pedagógicas de docentes.
STUDER, caren elisabeth
fato de haver uma excessiva fragmentação dos conteú-
foram utilizados os textos de Darcy Ribeiro (1997 ;1998),
dos (de ensino) em áreas cada vez mais distantes entre si,
para as análises de cunho social, e os textos de Krieger
buscou-se um artifício para o estabelecimento de um novo
(2003) e Weyne (2003), encontrados na obra da
horizonte em comum. No caso, pelo resgate dos propósi-
ABOPREV (Associação Brasileira de Ensino de Odon-
tos do ensino odontológico comum a todos envolvidos.
tologia, 2003) como suporte para a parte propriamente
A utilização dos textos visuais como recurso pedagó-
odontológica. A título de exemplo e, respeitando o espaço
gico alternativo necessita, como todas as outras estratégi-
deste artigo, exemplificamos com 4 figuras utilizadas nes-
as de ensino, de uma cuidadosa preparação. Primeira-
ta oficina. O fio condutor da seleção das imagens é cro-
mente, há necessidade de se saber selecionar, com clare-
nológico, como podemos observar a seguir.
za, os objetivos, os conteúdos pertinentes e os conceitos a
serem veiculados, em um encontro ou em uma seqüência
deles. A partir destas primeiras definições, procurar por
imagens que possam traduzir estes conceitos em uma
linguagem pictórica própria. Portanto, a utilização de imagens artísticas deve complementar os conteúdos
conceituais tradicionalmente presentes em uma oficina,
ou em uma aula. O uso de textos visuais
descontextualizados do conteúdo conceitual a ser transmitido, pode desviar o objetivo de uma aprendizagem significativa, desperdiçando o sempre escasso tempo dos
docentes envolvidos.
Respeitando a limitação de espaço deste artigo, procura-se exemplificar, através de uma oficina pedagógica,
realizada pelo Curso de Odontologia de Barretos em dezembro de 2004, ocasião em que se trabalhou com cerca
de 30 docentes, durante um dia de sábado, para a confecção das novas ementas, da reforma curricular em
andamento.Esta oficina foi realizada como o início de um
longo processo que perdurou até o final de 2006. Após a
Figura 1 - Realidade indígena brasileira.
apresentação com os textos visuais, no total entre 20 a 25
figuras, procurou-se refazer as ementas e os objetivos
Como primeiro texto visual, utilizamos uma
gerais das disciplinas do primeiro ano de graduação. (Ana-
pintura sobre a contextualização da realidade
tomia, Bioquímica, Sociologia, Fisiologia, Histologia, Intro-
brasileira antes da colonização européia de1500 (Figura
dução à Odontologia, Microbiologia )
1). Uma ilustração que traz as informações mínimas para
O tema, ora apresentado, refere-se à apresenta-
a sobrevivência dessa formação social. A primeira pergunta
ção de um panorama do desenvolvimento histórico da
que se faz, para o direcionamento do olhar “odontológico”,
odontologia, com ênfase em três aspectos: a constituição
se refere às condições da saúde bucal dessa comunidade
da odontologia como campo científico, a apresentação dos
antes e depois da colonização. Uma análise sobre as
três paradigmas odontológicos, considerados como
condições de saúde/doença, em realidades autóctones, e
“mutilador, curativo e preventivo”, e a explicação socioló-
anteriores à expansão européia, introduz o aluno/docente,
gica dos diferentes cenários odontológicos, tais como po-
aos elementos pelos quais ele possa entender a origem e
dem ser encontrados ainda hoje, na realidade brasileira
os parâmetros iniciais, tanto do que se convencionou
atual. Como fonte bibliográfica das análises realizadas,
chamar de “odontologia mutiladora”, com também de
58
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
“odontologia curativa”. O antes e o depois da colonização,
perpassaram a análise de todos os textos visuais, do
permite uma comparação genérica entre duas realidades
primeiro ao último, de forma a ser lentamente consolidado
muito distintas, o que pode facilitar a compreensão de
como um parâmetro de um novo paradigma de análise
elementos sociais mais amplos, que também fazem parte
das práticas odontológicas.
dos determinantes da saúde bucal atual, como por exemplo:
As figuras 2 e 3 ampliam o universo de elementos con-
a existência ou não de saneamento básico, tratamento de
siderados: são introduzidos os avanços tanto da medici-
água, tipo de alimentação, estilos de vida (sedentário ou
na como da odontologia como ciência e práticas curati-
não) e formas de manutenção da saúde em geral e a bucal
vas.
em particular. Esses determinantes, conforme a bibliografia
complementar utilizada, constitui-se nos elementos que
Figura 2: A prática do paradigma
“mutilador-restaurador”
Figura 3: A medicina se desenvolve
em forma de ciência.
As figuras 2 e 3 retratam o momento específico da
bucal, a organização da odontologia como ciência, cujos
formação do campo odontológico, agora como ciência. O
frutos, passam a redirecionar constantemente não só as
século XVII representa o avanço científico dos estudos
práticas de tratamento, como também o processo de
na medicina, ao mesmo tempo em que se definem os
formação das especializações hoje existentes.
parâmetros do profissional como cirurgião dentista,
Como última figura, escolhida para a exemplificação
momento este de transição entre o paradigma mutilador e
do terceiro momento da apresentação, destacamos uma
o curativo-restaurador. As práticas curativas se consolidam
pintura de Tarcila do Amaral (figura 4), em que podemos
nos países da Europa Central, inclusive na cobertura das
visualizar uma síntese da formação populacional brasilei-
áreas públicas de saúde, concomitantemente à
ra. Ao apresentarmos os diferentes cenários odontológicos
industrialização dos alimentos como o açúcar, e à
brasileiros, percorremos, em forma de seis a dez figuras,
consolidação de grandes populações nos centros urbanos
diferentes aspectos da saúde da população atual: desde
em formação. Portanto, como uma segunda etapa da
as realidades longínquas do norte, nordeste e centro-oes-
apresentação, adiciona-se aos determinantes da saúde
te, como as populações de baixa renda, situados nos gran-
Ciência e Cultura
59
Mudanças de Paradigmas Odontológicos:
O uso de textos visuais como estratégia de ensino em oficinas pedagógicas de docentes.
STUDER, caren elisabeth
des centros urbanos, ou então, aquelas situadas nos níveis
por parte do corpo docente de 57 profissionais, dos ele-
de classe média e média/alta, de cidades como Rio de
mentos relacionados às mudanças de paradigmas dentro
Janeiro e S. Paulo, além das realidades encontradas na
da área de ensino de odontologia como um todo. Os fru-
parte sul do país.
tos de tal trabalho podem ser visualizados, à medida que a
reforma curricular seja concluída (prevista para final de
2007). Com a adequação de cada uma das antigas disciplinas e seu conteúdos correspondentes, dentro do novo
formato proposto pelo Ministério da Educação, de forma
a contribuir positivamente para a consolidação de um bom
ensino de odontologia, e consequentemente, para a
melhoria da saúde bucal de nosso país como um todo.
Referências Bibliográficas
Figura 4: Diversificação étnica do Brasil
ALMEIDA, M. (org.) Diretrizes Curriculares NacioCom o instrumental teórico utilizado desde o início das
apresentações, pode se viabilizar um entendimento mais
nais para Cursos Universitários da Área da Saúde. Londrina: Rede UNIDA. 2003.
amplo e complexo das variáveis que contribuem para a
saúde bucal. Há de se ter em mente, que este trabalho
ocorre com a sedimentação das informações através do
uso de muitos exemplos, cada qual correspondendo a uma
série de textos visuais escolhidos para cada tema ou con-
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ODONTOLOGIA PREVENTIVA. (ABOPREV)
Promoção de Saúde Bucal: Paradigma, Ciência e
Humanização.3ªed.São Paulo:Artes Médicas. 2003.
ceito proposto.
BOAVENTURA DE S. S., Um discurso sobre as ciConclusão
ências. Porto: Portugal: Afrontamento. 1987.
Com a apresentação da proposta do uso de textos
visuais em oficinas pedagógicas docentes, conforme as
colocações iniciais deste pequeno texto, procura-se
CAPRA, F; O Ponto de Mutação. S. Paulo: Cultrix.
1989. Trad. A. Cabral Cap. 1, p.24 – 46.
exemplificar uma estratégia pedagógica, que seja adequada, para a introdução de conteúdos que tenham como foco,
CUNHA, M I (org), Formatos Avaliativos e Concep-
as mudanças paradigmáticas na área do ensino da odon-
ção de Docência. Campinas: Editores Associados. 2005.
tologia atual. Trata-se de um relato de experiência, ocorrido no Curso de Odontologia das Faculdades Unificadas
de Barretos, entre os anos de 2004 e 2006, que consistiu
GOMES PINTO, V. Saúde Bucal Coletiva. 4ªed. São
Paulo: Santos. 2000. p5
na adequação das novas propostas de formação
generalista da graduação, conforme as Diretrizes
Curriculares Nacionais propostas pelo Ministério da Edu-
KRIEGER, L (coord.); ABOPREV; Promoção de
Saúde Bucal. P. Alegre : Artes Médicas. 2003.
cação.
No caso, utilizou-se reiteradas vezes o recurso do
uso de textos visuais, como suporte para o processo de
implantação das mudanças curriculares em fase de implantação, o que por sua vez, implicava na compreensão,
60
Ciência e Cultura
KUHN T, A estrutura das revoluções científicas.
[Trad. B.V Boeira e N. Boeira]
2a. ed. S. Paulo, Ed Perspectiva, 1978.
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
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Ciência e Cultura
61
62
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
Produção de Biodiesel:
Um experimento em sala de aula
Biodiesel production:
An experiment in class-room
Luis Rogério DINELLI, Crislaine Rodrigues SALVATIERRA, Renata Tomaseli PEIXINHO, Jeosadaque J.
SENE e Luis Nelson Prado CASTILHO
.
.
@
, 389
14784 220,
Ð
.
RESUMO
No processo de ensino-aprendizagem de química a
simplificado para a produção do biodiesel, que pode ser
vivência de situações reais é de grande importância para
realizado em situação de sala de aula, mesmo em escolas
a compreensão e correlação dos diversos conteúdos. Di-
desprovidas de laboratórios, equipamentos, vidrarias e
ante disso, o ensino experimental tem sido utilizado como
reagentes convencionais, uma vez que os materiais pro-
uma estratégia para promover a aprendizagem no ensino
postos são de baixo custo e de fácil aquisição.
de ciências. Sabendo-se da importância de atividades ex-
Palavras-chave: experimento em sala de aula; energia
perimentais, o seguinte experimento propõe um método
renovável;Biodiesel
ABSTRACT
Experiments that emulate real situations are of outstanding
conducted in a usual class-room without the need of a
importance to improve the Teaching/Learning Process in
laboratory, equipments and standard chemicals. Instead,
general science. Accordingly, the practice of laboratory
all materials are low cost products and can be easily
has been used as an approach to teach the main subjects
acquired in the market.
in Chemistry. Taking that into account, this paper reports
on a simple experiment that show how biodiesel can be
Keywords: experiment in class-room, renewable energy,
fabricated from simple materials. The experiment can be
Biodiesel
Ciência e Cultura
63
Produção de Biodiesel:
Um experimento em sala de aula
INTRODUÇÃO
DINELLI et al
do, purificado e utilizado para outros fins, na industria química, de alimentos e farmaceutica.
Biodiesel é definido quimicamente como uma mistura de
ésteres monoalquilicos de ácidos graxos de cadeia longa
derivado de fontes de lipídios renováveis de óleos vegetais tais como o óleo de soja, girassol, algodão, mamona
entre outros, ou ainda de gorduras animais (COSTA NETO
et al., 2000). Das diversas metodologias descritas na literatura para obtenção do biodiesel, a transesterificação é
atualmente a mais utilizada, principalmente porque as características físico-químicas dos ésteres de acido graxos
são muito próximas daquelas do diesel (SCHUCHARDT
et al., 1998).
Figura 2 – Reação de transesterificação
Na reação de transestérificação para a produção do
biodiesel a relação molar estequiométrica triacilglicerídeo:
alcool é de 1:3 respectivamente, entretanto, devido ao
carater reversível da reação, é recomendado que se adicione um exesso de álcool, para descolcar o equilíbrio no
sentido de formação do biodiesel, promovendo um aumento
de rendimento. Os catalizadores mais utilizados são
basicos, como o hidróxido de potássio (KOH) ou o hidroxido
de sódio (NaOH), divido ao seu maior rendimento e
seletividade (FREDDMAN et al., 1986).
O metanol é o alcool mais utilizado devido ao seu baixo
custo na maioria dos paises e principalmente por suas
vantagens físicas e químicas, como polaridade, cadeia de
alcool mais curta e dissolve facilmente o catalisador. En-
Figura 1: Fluxograma simplificado de produção do Biodiesel
A fabricação de biodiesel é feita a partir da reação destes
óleos vegetais ou gorduras com um álcool (metílico ou
etílico) na presença de um catalisador (ácido, básico,
heterogênio ou ainda enzimático) (GERIS et al., 2007). A
Figura 1 mostra um fluxograma simplificado da produção
de Biodiesel.
Transesterificação é um termo geral usado para descrever uma importante classe de reações orgânicas onde um
ester é transformado em outro através da troca do resíduo alcoxila (VOLLHARDT e SCHORE, 2004). Esta
reação é reversível e lenta, entretanto a presença de um
catalisador (ácido ou base) acelera consideralvelmente esta
conversão. Na transestérificação de óleos vegetais, um
triacilglicerídeo reage com um alcool na presença de um
ácido ou uma base forte, produzindo uma mistura de
ésteres de ácidos graxos (biodiesel) e glicerol (Figura 2) e
quando a reação não é completa uma mistura de mono, di
e triacilglicerídios. O glicerol produzido pode ser separa-
64
Ciência e Cultura
tretanto, o Brasil é um grande produtor e etanol, e o seu
uso promoverá um processo de produção de biodiesel totalmente renovável. O inconveniente neste processo é a
presença de agua no alcool, que pode prejudicar a separação do glicerol (SCHUCHARDT et al., 1998).
Em relação ao combustível fóssil, biodiesel apresenta vantagens no que se refere à preservação ambiental, por ser
uma fonte de energia renovável e também por não conter
enxofre, que é um dos responsáveis pela chuva ácida.
Combustíveis renováveis são aqueles que utilizam matéria-prima renovável como a cana-de-açúcar, utilizada para
fabricar álcool etílico e também vários outros vegetais como
a soja e a mamona utilizadas para fabricar biodiesel.
O experimento proposto apresenta um procedimento simples para demonstrar a produção de biodiesel em situação
de sala de aula, mesmo em escolas desprovidas de laboratório, equipamentos, vidrarias e reagentes convencionais, uma vez que os materiais utilizados são de baixo custo
e fácil aquisição. A escolha do tema biodiesel foi feita por
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
ser um tema atual e de importancia política, econômica e
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
Produção do Biodiesel
ambiental.
Medir 100 mL de óleo vegetal (qualquer tipo de óleo venMATERIAIS E REAGENTES
dido em supermecado ou até mesmo óleo já utilizado em
frituras, este ultimo deve ser previamente filtrado com al-
Óleo vegetal novo ou usado (100 mL), obtido em super-
godão para retirar os resíduos sólidos) com o auxílio do
mercado ou em pastelaria, respectivamente;
béquer ou copo plastico (previamente aferido) e transfe-
Álcool etílico (25 mL ), obtido em supermercado ou far-
rir para a solução de etóxido de sódio, já preparada ante-
mácia;
riormente, que está dentro da garrafa pet agitadora. Agi-
Hidróxido de sódio (soda cáustica)*, obtido em supermer-
tar manualmente durante 30 minutos (revezar a agitação
cado;
com todos os alunos do grupo). Para uma melhor agita-
Cloreto de sódio (sal de cozinha), obtido em supermerca-
ção a garrafa pet deve estar fechada. Em seguida, trans-
do;
ferir para o funil de separação previamente preparado
1 béquer de 100 mL (ou copo descartável);
(Figura 3). O funil de separação pode ser preparado se-
1 seringa de 20 mL, obtida em farmácia;
guindo o seguinte porcedimento: corta-se uma garrafa pet
2 colheres de chá de metal;
de 600 mL um pouco acima da metade e fura-se a tampa
2 garrafas pet de 600 mL com tampa (agitador e funil de
da garrafa com o auxílio de um prego. Coloca-se neste
separação);
orifício o controlador de gotas (equipo de soro) como
2 prendedores de madeira, obtidos em supermercado;
mostrado na Figura 3. Certifique-se de que o equipo fique
1 equipo de soro, obtido em farmácia;
bem ajustado para evitar vazamentos.
* A soda cáustica (hidróxido de sódio comercial) é uma
base forte que causa lesões à pele e aos olhos quando em
contato direto. Em caso de acidente, lavar imediatamente
o local afetado com água em abundância durante pelo
menos 10 minutos. Se a lesão for grave, ou se ocorrer
ingestão, procurar assistência medica.
Cuidado. A soda cáustica é uma substancia tóxica que
pode causar danos graves à saúde e se ingerida pode ser
fatal!
PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
Produção do Catalisador (Etóxido de Sódio)
Colocar um pouco de álcool etílico em um béquer de 100
mL ou copo (ou copo plástico descartável) e com o auxílio
da seringa, transferir 35 mL do álcool para a garrafa pet
agitadora. Cuidadosamente, adicionar uma colher de chá
rasa de soda cáustica (aproximadamente 1,5 grama) na
garrafa e agitar constantemente até que a soda tenha se
dissolvido completamente.
Figura 3 – Demonstração da construção do funil de separação
(garrafa pet + equipo soro)
Separação da glicerina do biodiesel
Adicionar lentamente, com o auxílio de um béquer, 50 mL
de água e 20 mL de álcool etílico ao funil de separação
contendo a mistura de biodiesel e glicerina. Neste ponto
pode ocorrer a formação de espuma (formação de sabão) que deve ser dissipada com a adição de um pouco de
Ciência e Cultura
65
Produção de Biodiesel:
Um experimento em sala de aula
DINELLI et al
sal de cozinha (cloreto de sódio). Mexer cuidadosamente
bão) dos esteres etílicos (biodiesel) ou dos próprios
até que a mistura se separe em duas fases (glicerina e
triglicerídios. A formação de sabão pode causar dificulda-
biodiesel). O etanol e a água irão solubilizar-se na fase
des na separação do biodiesel da glicerina. Experimental-
que contem a glicerina. A glicerina é mais densa do que o
mente esse problema pode ser resolvido com a adição de
biodiesel, portanto a fase superior no funil de separação é
um pouco de sal, como o cloreto de sódio, para dissipar a
o biodiesel. Iniciar a separação da glicerina do biodiesel
emulsão. Embora esse processo não seja utilizado na pro-
abrindo a válvula do equipo de soro. Retirar toda a fase
dução de biodiesel, optou-se por utilizá-lo. Entretanto, a
que contém a glicerina. Retirar em seguida o biodiesel
formação de sabão causa um problema quimico, que é o
que pode pode ser armazenado na garrafa pet agitadora.
consumo da base utilizada na catálise de transesterificação.
Queima do Biodiesel: Um teste simples
Além do catalisador, a temperatura também pode afetar o
rendimento da reação de transesterificação. O experimento
Colocar em uma colher de chá de metal cerca de 20 go-
foi conduzido à temperatura ambiente. Entretanto, se-
tas (1 mL) do óleo utilizado para fabricar o biodiesel; em
gundo Rabelo (2001) a temperatura de 40 °C foi a que
outra colher, colocar a mesma quantidade do biodiesel
apresentou o melhor rendimento.
recém preparado. Com um isqueiro, colocar fogo nos dois
óleos e comparar as características da combustão, cor da
O álcool em excesso (que não reagiu) deve ser retirado
chama e cor da fumaça. A combustão dos óleos não é tão
lavando-se o biodiesel com água, uma vez que o álcool
rápida, portando deve se manter na chama até a combus-
presente no biodiesel, mesmo em pequenas quantidades,
tão.
pode reduzir drasticamente o ponto de fulgor (de 170°C
para menor que 40°C) (KNOTHE e GERPEN, 2005).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O rendimento da reação pode ser determinado, compaAs quantidades de 35 mL de etanol e 1,5 gramas de
rando o volume inicial de óleo vegetal com o volume de
hidróxido de sódio utilizadas para a produção do etóxido
biodiesel obtido. Pode-se medir esse volume utilizando a
de sódio garantem que este reagente esteja em excesso
mesma seringa utilizada para transportar o álcool. Não se
quando adicionado a 100 mL do óleo vegetal, para favoracer
deve esperar um rendimento muito elevado, uma vez que
a formação de biodiesel. Segundo Rabelo (2001) o me-
o álcool utilizado é comercial (hidratado) e não tem o con-
lhor rendimento ocorreu em 1,5 g de base e 35% do álcool
trole da temperatura (ambiente).
em relação a 100 mL de óleo. Essas quantidades garan-
O teste final da queima realizado com o biodiesel tem por
tem um exesso de álcool, sendo a relação molar óleo ve-
objetivo a caracterização qualitativa do produto. O biodiesel
getal/alcool de 1:6.
sofre combustão com mais facilidade que o óleo de soja e
não apresenta a mesma fumaça escura apresentada pelo
Outras quantidades de catalisador não foram apresenta-
óleo original.
das, entretanto, deve-se fazer algumas ponderações. Como
um catalisador atua diretamente na cinética da reação,
CONCLUSÃO
seria de se esperar que um aumento de sua quantidade
aumentaria a velocidade de reação. Entretanto, o aumen-
O experimento proposto neste artigo foi elaborado de for-
to da quantidade de catalisador, pode resultar na ocorrên-
ma simplificada para que possa ser realizado em sala de
cia de reações paralelas, gerando subprodutos, diminuin-
aula, uma vez que muitas escolas de ensinos fundamental
do a seletividade da reação (RINALDI et al., 2007). Ou-
e médio são desprovidas de laboratórios, sendo que os
tro incoveniente do excesso de catalisador básico é a pos-
materiais utilizados são de fácil aquisição e baixo custo.
sibilidade da reação de saponificação (formação de sa-
Tal proposta pode promover discussões com os alunos
66
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CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
não somente a produção do biodiesel, mas também
práticas de química orgânica”. Química Nova, v. 30, n. 5,
conseitos importantes de química, como densidade, fun-
p. 1369-1373, 2007.
ções organicas, reação de tranesterificação etc. Não se
pretende tranformar os alunos em produtores de biodiesel,
KNOTHE, G.; GERPEN, J. The Biodiesel Handbook,
mas sim de contrubuir com a construção de vários con-
AOCS Press: Champaing, Illinois, 2005, Cap 2 e 4.
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Ciência e Cultura
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68
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
Estudo sobre a Cristalização da Lactose em Doce de
Leite Pastoso Elaborado com Diferentes Concentrações
de Soro de Queijo e Amido de Milho Modificado
Study of Lactose Crystallization in Dulce de Leche Produced With Different
Proportions of Whey and Modified Corn Starch
Luiza Maria Pierini MACHADO1; Walkiria Hanada VIOTTO 2
1
Curso de Engenharia de Alimentos, Fundação Educacional de Barretos. Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389, 14783-226, Barretos, SP
- e-mail: [email protected]
2
Departamento de Tecnologia de Alimentos, Faculdade de Engenharia de Alimentos, UNICAMP.
RESUMO
As condições fisico-químicas que caracterizam o
doce de leite induzem a cristalização da lactose em função do estado de supersaturação decorrente da presença
simultânea de sacarose e lactose. A cristalização torna o
doce arenoso o que influencia sua qualidade. Com o objetivo de avaliar a formação de cristais de lactose em doce
de leite, avaliou-se 16 formulações de doce elaborados
com substituição de diferentes porcentagens de leite por
soro de queijo (0, 15, 30 e 45%), e adição de diferentes
concentrações de amido de milho modificado (0; 0,25; 0,50
e 0,75%). A mistura de leite e soro foi ajustada com bicarbonato de sódio para 13ºD, acrescida de 25% de açúcar e
diferentes porcentagens de amido, concentrada a temperatura de aproximadamente 105ºC até 57ºBrix, adicionada de 2% de glicose, concentrada até 68ºBrix. O doce
resultante foi embalado em potes de vidro e armazenado
à temperatura ambiente durante 12 meses. A cada 3 me-
ses os cristais verificados por microscopia foram
dimensionados e o número de cristais por grama de doce
foi calculado. Como a arenosidade é uma relação entre o
tamanho e número dos cristais presentes, estabeleceu-se
esta relação e verificou-se que não houve formação de
cristais de lactose em tamanho e nº perceptíveis sensorialmente, durante os primeiros seis meses de estocagem,
independente da formulação do doce de leite. Tal fato é
justificado em função do amido reter água e dificultar a
movimentação das partículas, evitando assim a cristalização. O soro de queijo, por proporcionar um aumento de
lactose no doce, poderia induzir a cristalização, o que não
ocorreu devido ao correto controle do resfriamento dos
doces, após o envase.
Palavras-chave: doce de leite, soro de queijo, amido de
milho, cristalização, arenosidade.
ABSTRACT
The physico-chemical conditions that characterize Dulce
for 12 months. Each three month the crystals verified were
de leche lead a lactose crystals formation by
measurements and the number of crystal per grame of
supersaturating state result from simultaneous sucrose and
dulce was calculated. How the sandiness is a relation of
lactose presence. The crystallization lead a sandiness
the size and the number of present crystals, was relationship
dulce that influencing its quality. With the objective of
and verified that was not lactose crystals formation, in
evaluate the lactose crystals formation in dulce de leche,
size and number perceived sensority, during the first six
evaluated 16 dulce processing bathes with substitution of
months of storage, independent of batch processing. This
different % of milk for whey (0, 15, 30 e 45%) and different
fact is justified for the starch lead to a water retention and
concentrations of modified corn starch addition (0; 0,25;
to make difficult a particles movement, avoiding
0,5 e 0,75%). The acidity of milk and whey mixtures were
crystallization. The whey by provide a increased of lactose
corrected with sodium bicarbonate, until 13ºD, increased
in a dulce, could lead a crystallization induction, meanwhile
with 25% of sugar and different starch concentrations,
did not happened, due to correct chilled of dulce after a
concentrated at temperature about 105ºC until 57ºBrix,
packed.
increased with 2% of glucose and than concentrated until
Keys-word: dulce de leche, whey, corn starch,
68ºBrix, packed in a glass and stored at room temperature
crystallization, sandiness.
Ciência e Cultura
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Estudo sobre a Cristalização da Lactose em Doce de Leite Pastoso Elaborado
com Diferentes Concentrações de Soro de Queijo e Amido de Milho Modificado
MACHADO e Viotto
armazenamento, ocorra o aparecimento de cristais no doce
INTRODUÇÃO
(SANTOS et al., 1977).
O doce de leite é um produto lácteo característico dos
países do Mercosul, principalmente da Argentina e do
De acordo com Hosken (1969), à temperatura de 55oC,
Brasil. A produção nacional de doce de leite nos últimos
o doce de leite apresenta uma solução saturada de lactose.
cinco anos se encontra ao redor de 34 t/ano.
Durante o resfriamento, a quantidade de lactose em excesso é pequena e a formação de cristais é lenta. À me-
Tecnologicamente, o doce de leite se enquadra entre
dida que a temperatura do doce diminui, a supersaturação
os leites conservados pela evaporação e adição de açú-
da lactose aumenta e a velocidade da cristalização tam-
car, de modo que, em função da alta pressão osmótica
bém aumenta, atingindo seu máximo a 30oC.
criada, pode ser conservado à temperatura ambiente.
Fox e McSweeney (1998) afirmaram que a solução
Apresenta normalmente uma consistência cremosa ou pas-
de lactose possui larga faixa de saturação, suportando alto
tosa e homogênea, textura fechada, sem grumos, flocos
grau de supersaturação antes que a cristalização espon-
ou bolhas, cor castanho caramelado brilhante proveniente
tânea ocorra, podendo levar até meses para formar cris-
da Reação de Maillard, aroma próprio e sabor caracterís-
tais. De acordo com Santos et al. (1977), os cristais de
tico, não enjoativo nem demasiadamente doce, deve dis-
lactose, no doce de leite, aparecem geralmente durante o
solver bem na boca, sem cristais perceptíveis sensorial-
primeiro mês de estocagem. Já Pinto (1979) afirma que a
mente. Em sua composição uma extensa lista de aditivos
cristalização se torna aparente, geralmente, após 45 dias
e coadjuvantes de processamento são permitidos. O em-
de estocagem.
prego de amidos ou amidos modificados em até 0,5g/100mL
de leite é permitido e considerado como ingrediente (BRA-
Hosken (1969), em um estudo abrangente sobre vida
útil e cristalização do doce de leite elaborado pelo proces-
SIL, 1997).
so padrão e armazenado por até 120 dias, avaliou separaCom um teor de umidade e açúcares (excluída a
damente o efeito do emprego de lactose em pó (0,04%);
lactose) estabelecidos em 30% e 60%, respectivamente,
substituição de parte da sacarose por quantidades iguais
segundo a resolução n 12/78 da Comissão Nacional de
de glicose (1, 2, 3 e 5%); redução da quantidade de
Normas e Padrões para Alimentos, o doce de leite é um
sacarose de 19,4% para 18,5% com diferentes combina-
produto que apresenta boa estabilidade química e
ções de amido (0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%); substituição da
microbiológica, porém baixa estabilidade física provocada
sacarose por 16% de açúcar invertido e a combinação do
pela cristalização, tanto da lactose como dos açúcares
emprego de 13% de açúcar invertido e 6% de leite em pó
adicionados, o que confere ao produto uma textura areno-
desnatado. O estudo indicou que o processo de semeadu-
sa.
ra da lactose foi eficiente para evitar a cristalização, po-
o
rém resultou em aumento do tempo de produção, além de
Nas condições, portanto, do doce de leite, é inevitável
induzir à formação de bolhas. A adição do amido embora
que ocorra a cristalização da lactose devido à baixa solu-
tenha promovido um aumento de até 20% no rendimento
bilidade da lactose aliada à adição de sacarose em uma
e evitado a formação de cristais, alterou significativamen-
solução supersaturada de lactose, onde ocorre agitação e
te as características do doce de leite. O emprego do açú-
resfriamento. O controle da cristalização é o principal pro-
car invertido resultou em um doce de boa qualidade, po-
blema na produção do leite concentrado açucarado, soro
rém mais doce e de coloração mais intensa. Os melhores
em pó e outros produtos lácteos como o sorvete e leite em
resultados foram obtidos com o emprego de 2% de glicose
pó, entre outros. No doce de leite, com a adição de cerca
e, segundo o autor, quantidades maiores resultaram em
de 25% de sacarose e com o aumento da concentração
alterações no paladar, coloração e consistência.
de sólidos, é inevitável que após algum tempo de
70
Ciência e Cultura
Segundo Bolanowski (1965), citado por Margas et al.
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
(1982), o controle da cristalização pode ocorrer pelo au-
O emprego de amido de milho, nativo ou modifi-
mento da viscosidade, à medida que os ingredientes são
cado, na fabricação do doce de leite pode contribuir na
resfriados. A viscosidade retarda a cristalização e a taxa
consistência e rendimento do produto em função da re-
de transferência de calor, o que gera a necessidade da
tenção de água proporcionada, além de auxiliar no con-
agitação e escolha do equipamento adequado.
trole da cristalização da lactose. O amido nativo é pro-
A ocorrência da cristalização gerou alguns estudos
penso à retrogradação, enquanto nos modificados esta
(HOSKEN, 1969; VALLE & FIGUEIREDO, 1980; SOU-
transformação é minimizada ou mesmo eliminada, por
ZA et al., 1980; COELHO, 1980; SOUZA et al., 1981;
gerarem um gel com viscosidade de pasta estável, apre-
MARGAS et al., 1982; SILVA et al., 1984; SABIONI et
sentar boa resistência mecânica, melhor poder de
al., 1984; PIRES, 1994) visando promover melhorias na
espessamento e menor tendência à retrogradação.
tecnologia de fabricação do doce de leite e solucionar o
problema da cristalização da lactose no produto, seja através
O emprego de amido e soro de queijo na fabricação do
da diminuição da concentração da lactose, adição de
doce de leite pode afetar as características de textura,
caseinato de sódio, hidrólise enzimática da lactose por β-
consistência e cor, além do rendimento e vida útil do doce
galactosidase ou cristalização induzida da lactose pela
de leite. O conhecimento do efeito da adição de soro de
semeadura com lactose.
queijo e de amido modificado na qualidade, rendimento e
vida útil do doce de leite é um primeiro passo para a
Considerando-se a importância econômica do doce de
otimização do processo de fabricação e aumento da
leite, normalmente associado a pequenas e médias indús-
competitividade da indústria nacional. Neste contexto o
trias, verifica-se a necessidade de desenvolvimento e apli-
objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do emprego de
cação de processos tecnológicos mais eficientes que con-
soro de queijo e amido de milho modificado em diferentes
templem uma maior estabilidade físico-química e
proporções no processamento de doce de leite pastoso,
microbiológica, melhor padronização de cor, textura, bri-
em relação à cristalização da lactose.
lho, sabor, aroma e conseqüentemente maior vida de prateleira. É sabido que inúmeras indústrias têm adicionado
MATERIAL E MÉTODOS
soro de queijo ao leite ou substituído parcialmente o leite
pelo soro com o objetivo de aumentar o rendimento e di-
O leite, o soro de queijo e o creme de leite, em-
minuir os custos de fabricação do doce de leite. Entretan-
pregados no processamento do doce de leite pastoso fo-
to, não há nenhum estudo a esse respeito nem conheci-
ram doados pelo Centro de Processamento e Pesquisa de
mento de como a adição de soro afeta a qualidade e a
Desenvolvimento de Produtos Lácteos da Fundação Edu-
vida útil do produto.
cacional de Barretos. O xarope de glicose (Cargil) foi doado
pelo laboratório de Frutas da Faculdade de Engenharia de
O soro de queijo, subproduto das queijarias, possui em
Alimentos – FEA/UNICAMP. O açúcar e o bicarbonato
sua composição quantidades consideráveis de lactose,
de sódio foram adquiridos do mercado local. O amido de
proteínas solúveis e sais, o que lhe confere grandes possi-
milho ceroso modificado (N1390S) foi doado pela empre-
bilidades de emprego pelas indústrias alimentícias, porém
sa National Starch & Chemical Industrial Ltda.
ainda não totalmente explorado. Há a necessidade de maior
incentivo de aproveitamento do soro em função do valor
A fabricação do doce de leite seguiu o processo
nutricional, enorme volume de produção devido à plena
tradicional proposto por Hosken (1969). Foram processa-
expansão das queijarias, além de gerar benefícios com a
das 16 formulações de doce elaboradas com substituição
redução do volume de resíduos a ser tratado pelas
de diferentes % de leite por soro de queijo (0, 15, 30 e
queijarias.
45%), e adição de diferentes concentrações de amido de
milho modificado (0; 0,25; 0,50 e 0,75%). A acidez titulável
Ciência e Cultura
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Estudo sobre a Cristalização da Lactose em Doce de Leite Pastoso Elaborado
com Diferentes Concentrações de Soro de Queijo e Amido de Milho Modificado
MACHADO e Viotto
da mistura de leite e soro foi ajustada para 13ºD com bi-
A tabela empregada para detecção da arenosidade foi
carbonato de sódio. Adicionado 25% de açúcar e diferen-
a sugerida por Hough et al. (1990), que estabelece os
tes % de amido; concentrada a temperatura de aproxima-
tamanhos dos cristais variando de 0 a 105 µm, sendo que
damente 105ºC até 57ºBrix; adicionada de 2% de glicose,
o caráter arenoso do doce de leite, conferido pelos cris-
e concentrada até 68ºBrix. O doce foi então resfriado à
tais de lactose, é uma função do tamanho e número de
70ºC, embalado em potes de vidro e armazenado à tem-
cristais. Com cristais menores que 6µm, o caráter areno-
peratura ambiente durante 12 meses.
so não é percebido, mesmo que toda lactose do doce esteja cristalizada (HOUGH et al., 1990). Acima deste ta-
A avaliação da cristalização da lactose foi realizada a
manho a percepção é dependente do número de cristais
cada três meses, durante o período de armazenamento
para os diferentes tamanhos. O número de cristais foi
dos doces, à temperatura ambiente, através do método
calculado, considerando a área do campo microscópico,
proposto por Hough et al. (1990).
nos aumentos utilizados.
A amostra de doce de leite foi pesada sobre uma
RESULTADOS E DISCUSSÕES
lâmina, na quantidade aproximada de 0,003g. Sobre a
amostra colocou-se uma lamínula. Com o apoio de outra
As condições fisico-químicas que caracterizam o doce
lâmina foi exercida uma pressão sobre a lâmina com o
de leite, induzem a cristalização da lactose em função do
doce, a fim de que a amostra formasse uma fina camada
estado inicial do produto ser de supersaturação, devido à
de aspecto circular de, aproximadamente, 10 mm de diâ-
presença simultânea de sacarose e lactose, o que reduz
metro.
sensivelmente a solubilidade da lactose (WEEB, 1980). A
cristalização torna o doce de leite arenoso, com textura
A lâmina preparada foi avaliada por microscopia
indesejável, influenciando sua aparência e, portanto, a
de campo claro, em microscópio marca Olympus BX-40,
aceitabilidade do produto. Assim, o controle do número de
com objetivas de 10x e 40x. A amostra foi avaliada em 10
cristais em doce de leite é fator determinante na avalia-
campos microscópicos, escolhidos de maneira aleatória.
ção da qualidade do produto. Na Figura 1 pode-se obser-
A calibração em micrômetros foi estabelecida a partir da
var vários cristais de lactose presentes em doce de leite,
imagem capturada da escala micrométrica calibrada, Zeiss,
elaborado com formulação padrão e estocado sob refri-
com a menor divisão correspondente a 100 µm.
geração, durante 5 meses.
Nos doces produzidos com 0% de amido de milho
As medidas foram classificadas de acordo com a
modificado e 0% de soro de queijo, a primeira verificação
faixa de percepção do limiar de arenosidade para doce de
de formação de cristais ocorreu no nono mês de
leite, proposta por Hough et al. (1990). O número de
estocagem, conforme apresentado na Figura 2, em quan-
cristais foi calculado empregando-se a equação 1.
tidades (2,4E + 06 cristais/g) e tamanhos (2,0 – 6,0 µm)
que não atingiram o limiar de percepção de arenosidade
N = n x π x R2 / F x m (equação 1)
doce, com esta formulação foi de nove meses, até o final
Onde:
N= número de cristais / grama
da vida útil não houve formação de cristais que pudessem
n= média do numero de cristais / campo
ser percebidos sensorialmente, contrariando Santos et al.
R= raio da amostra (mm)
(1977) e Pinto (1979) que apontam o tempo de 30 a 45
M= massa da amostra (g)
dias de estocagem à temperatura ambiente, para o inicio
F= área do campo (mm )
da formação de cristais de lactose.
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(3,5E + 09 – 8,0E + 08 cristais/g). Como a vida útil do
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CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029
tamanho compreendido entre 28,1 – 45,0 µm, ultrapassando o limiar de percepção sensorial (3,0E + 05 - 1,0E +
05 cristais/g), estabelecido por Hough et al (1990).
A fabricação de doce de leite com emprego de 45%
de soro de queijo, em função do aumento do teor de lactose
presente no produto, sugere que a formação de cristais
ocorra em um curto período de estocagem. Entretanto, a
Figura 1. Fotomicrografia de cristais de lactose presentes em
doce de leite estocado sob refrigeração.
detecção de cristais no doce produzido sem adição de amido
de milho modificado, só ocorreu após seis meses de
estocagem, o que sugere que o processo de resfriamento
do produto, que proporciona um aumento da viscosidade
e diminuição da taxa de transferência de calor, tenha sido
bem conduzido.
Adições de 0,25%, 0,5% e 0,75% de amido de milho
modificado proporcionaram um aumento progressivo no
tempo de estocagem sem formação de cristais, nos doces
produzidos com 45% de soro de queijo. A adição de 0,75%
de amido de milho modificado proporcionou a obtenção
de doces isentos de cristais de lactose por mais de seis
meses. Entretanto, aos nove meses de estocagem a quan-
Figura 2. Fotomicrografia do doce de leite produzido com 0%
amido de milho modificado e 0% soro de queijo aos nove meses
de estocagem.
tidade (3,5E + 05 cristais/g) e o tamanho dos cristais (28,1
– 45 µm), já seriam perceptíveis sensorialmente, de acordo com a escala proposta por Hough et al (1990), que
estabelece para esta faixa de tamanho de cristais a quan-
O emprego de amido de milho modificado na fabrica-
tidade máxima de 3,0E + 05 – 1,0E + 0,5 cristais/g. A
ção de doce de leite proporciona a retenção de água, o
Figura 3 mostra a ocorrência de um cristal de lactose re-
que dificulta a movimentação das moléculas de lactose,
lativamente grande (15,1 – 28,0µm), no doce de leite pro-
impedindo assim que a cristalização ocorra, conforme
duzido com 0,75% de amido de milho modificado e 45%
observado por Margas et al. (1982). Os resultados obti-
de soro de queijo, aos nove meses de estocagem.
dos evidenciaram que o emprego de amido de milho modificado nas formulações sem adição de soro de queijo,
retardou a formação de cristais em até doze meses de
estocagem, sem atingir a percepção sensorial. Provavelmente, fatores como o controle do tempo e temperatura
do resfriamento, podem ter contribuído para a não formação de cristais.
O emprego de maiores quantidades de soro de queijo
na fabricação de doce de leite proporcionou a formação
de cristais em menor tempo de estocagem, a partir de seis
meses. O doce de leite produzido com 15% de soro de
queijo e 0,5% de amido de milho modificado aos nove
meses de estocagem, apresentou 4,4E + 05 cristais/g, de
Figura 3. Fotomicrografia do doce de leite produzido com 0,75%
de amido de milho modificado e 45% de soro de queijo aos nove
meses de estocagem.
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Estudo sobre a Cristalização da Lactose em Doce de Leite Pastoso Elaborado
com Diferentes Concentrações de Soro de Queijo e Amido de Milho Modificado
CONCLUSÕES
A percepção da arenosidade é uma relação entre o tamanho e o número de cristais presentes. O soro de queijo por
proporcionar um aumento de lactose no doce, poderia induzir a cristalização, no entanto, não interferiu na estabilidade do doce durante o armazenamento, o que se justifica
pelo fato do amido reter água e dificultar a movimentação
das partículas, evitando assim a cristalização, aliado ao
correto controle do resfriamento dos doces, após o envase.
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