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CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 Ciência e Cultura 1 2 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 CENTRO UNIVERSITÁRIO DAFUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE BARRETOS PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO CIÊNCIA E CULTURA Revista Científica Multidisciplinar do Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos Endereço: Centro de Pós Graduação (CPG/FEB) Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 – Aeroporto 14783-226 – Barretos – SP – Brasil [email protected] www.feb.br/revista/revista.htm Publicação Semestral / Semi-annual publication Solicita-se permuta / Exchange desired / Si chiede lo cambio / On demande l’échange / Man bittet um Austausch Ciência e Cultura 3 4 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 CIÊNCIA E CULTURA FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE BARRETOS Conselho Diretor Luiz Carlos Diniz Buch - Presidente Ezisto Hélio Fernandes Césari - Conselheiro Rogério Ferreira da Silva - Vice Presidente Ronaldo Fenelon Santos Filho - Conselheiro Orlando de Paula Filho - Tesoureiro Augusto César Arcuri Antoniazzi - Suplente Paulo Roberto Teixeira Júnior - Secretário Roberto Arutim - Suplente Diretoria Acadêmica Prof. Dr. Alvaro Fernandes Gomes – Diretor Geral Acadêmico Prof. Dr. Alfredo Argus – Vice Diretor Geral Acadêmico Centro de Pós-Graduação Prof. Dr. Romildo Martins Sampaio – Diretor Prof. Dr. Sebastião Hetem – Vice Diretor Comissão Editorial Adriana Galvão Moura (Direito – FEB) Ciro Sérgio Abe (Administração – FEB) Agnaldo Arroio (Ensino de Química – Educação – USP/São Carlos) Claudia Regina Bonini Domingos (Biologia – UNESP/São José do Rio Preto) Alberto Cargnelutti Filho (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Cláudio Roberto Pacheco (Engenharia Elétrica - FEB) Alexandre Bryan Heinemann (CIRAD – França) Clovis Sansigolo (INPE) Alfredo Argus (Serviço Social – FEB) Cristina Cunha Carvalho Terrone (Química – FEB) Álvaro Fernandes Gomes (Física – FEB) Daniela Jorge de Moura (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Ana Maria de Souza (Farmácia – USP/Ribeirão Preto) Danísio Prado Munari (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) André Cordeiro Leal (Direito - PUC MG e Milton Campos/MG) David Chacon Álvares (Eng. Alimentos – Univ. Est. Paraná/Guarapuava) André Del Negri (Direito – UNIUBE) David Luciano Rosalen (Engenharia Civil - FEB) Ângelo Rubens Migliore Júnior (Engenharia Civil – FEB) Deise Maria Fontana Capalbo (Meio Ambiente - EMBRAPA/Jaguariúna) Antonio Aparecido Pupim Ferreira (Química - Unesp/Araraquara) Deise Pazeto Falcão (Farmácia - UNESP/Araraquara) Antonio Baldo Geraldo Martins (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Delly Oliveira Filho (Engenharia Agrícola – Universidade Federal de Viçosa) Antonio Carlos Delaiba (Engenharia Elétrica – UFU) Deny Munari Trevisani (Odontologia – FEB) Antonio Carlos Pizzolitto (Farmácia – UNESP/Araraquara) Dietrich Schiel (Ensino de Física – USP/São Carlos) Arlindo José de Souza Júnior (Educação Matemática – UFU) Dílson Gabriel dos Santos (Administração – FEA/USP) Benedicto Egbert Correa de Toledo (Odontologia – UNESP/Araraquara) Dirceu da Silva (Educação – UNICAMP) Carlos Eduardo Angeli Furlani (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Durval Dourado Neto (Ciências Agrárias - USP) Carlos José dos Santos Pellegrino (Odontologia – FEB) Édson Alves Campos (Odontologia – FEB) Carlos Reisser Junior (Agrometeorologia – EMBRAPA/Clima Temperado) Eduardo Katchburian (Medicina – UNIFESP) Carlos Teixeira Puccini (Engenharia Civil – FEB) Eduardo Teixeira da Silva (Eng. Agrícola – Universidade Federal do Paraná) Ciência e Cultura 5 v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos Élcio Marcantônio Júnior (Odontologia – UNESP/Araraquara) Lindamar Maria de Souza (Farmácia – FEB) Eleny Balducci Roslindo (Odontologia – UNESP/Araraquara) Lisete Diniz Ribas Casagrande (Educação – FEB/UNAERP) Elisabete Frollini (Química – USP/São Carlos) Lizeti Toledo de Oliveira Ramalho (Odontologia – UNESP/Araraquara) Elisabeth Pimentel Rosseti (Odontologia – FEB) Lorival Larini (Farmácia – FEB) Fernanda Scarmato de Rosa (Farmácia – FEB) Lúcia Helena Sipaúba Tavaraes (Engenharia Agrícola – UNESP/Jaboticabal) Fernando Horta Tavres (Direito – PUC/MG) Luiz Antonio Hungria Cecci (Serviço Social – FEB) Flávio Dutra de Rezende (Zootecnia - APTA/AM – Secret. Agricultura de SP) Luiz Carlos Pardini (Odontologia – USP/Ribeirão Preto) Francisco José Vela (Engenharia Civil – FEB) Luiz Macelaro Sampaio (Odontologia – FEB) Geraldo Nunes Correa (Sistema de Informação – FEB) Luiz Manoel Gomes Junior (Direito – UNAERP) Hélio Massaiochi Tanimoto (Odontologia – FEB) Luiz Paulo Geraldo (Física – FEB) Gustavo Rezende Siqueira (Zootecnia - APTA/AM – Secret. Agricultura de SP) Luiz Rodrigues Wambier (Direito - UNAERP) Heizir Ferreira de Castro (Engenharia Química – FAENQUIL/Lorena) Luiz Rogério Dinelli (Química – FEB) Helio Grassi Filho (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Luiza Maria Pierini Machado (Engenharia de Alimentos – FEB) Hérida Regina Nunes Salgado (Farmácia – UNESP/Araraquara) Manoel de Jesus Simões (Medicina – UNIFESP) Hidetake Imasato (Química – USP/São Carlos) Manoel Victor Franco Lemos (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Holmer Savastano Júnior (Eng. Civil/Agrícola – FZEA/USP Pirassununga) Marcelo Borges Mansur (Engenharia Química – Univ. Federal de Minas Gerais) Hugo Barbosa Suffredini (Química – UNIJUÍ) Marcelo Henkemeier (Engenharia de Alimentos - Univ. de Passo Fundo) Humberto Tonhati (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Marcelo Henrique de Faria (Zootecnia - APTA/AM – Secret. Agricultura de SP) Ignácio Maria dal Fabro (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Márcia Justino Rossini Mutton (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Irenilza de Alencar Naas (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Márcia Luzia Rizzatto (Engenharia de Alimentos – FEB) Isabel Cristina Moraes Freitas (Engenharia de Alimentos – FEB) Marco Aurélio Neves da Silva (Zootecnia – ESALQ/USP- Piracicaba) Jackson Rodrigues de Souza (Química – Universidade Federal do Ceará) Marcos Eduardo de Mattos (Administração – FEB) Jairo Osvaldo Cazetta (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Maria Auxiliadora Brigliador Conti (Química – FEB) Janice Rodrigues Perussi (Química – USP/São Carlos) Maria Cristina Thomaz (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Jean Carlo Alanis (Engenharia de Alimentos – FEB) Maria José de Almeida (Educação – UNICAMP) Jeosadaque José de Sene (Química – FEB) Maria José Soares Mendes Giannini (Farmácia – UNESP/Araraquara) João Antonio Galbiatti (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Maria Teresa do Prado Gambardella (Química – USP/São Carlos) João Domingos Biagi (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Maria Tereza Ribeiro Silva Diamantino (Engenharia de Alimentos – FEB) João Marino Júnior (Administração – FEB) Marília Oetterer (Agroindústria – ESALQ/USP – Piracicaba) Jorge Aberto Vieira Costa (Eng. de Alimentos – Univ. Fed. do Rio Grande/RS) Marilú Pereira Serafim Parsekian (Engenharia Civil – FEB) José Carlos Barbosa (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Mário José Filho (Serviço Social – UNESP/Franca) José Eduardo Cora (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Mário Rolim (Engenharia Agrícola – Univ. Federal Rural de Pernambuco) José Luiz Guimarães (Educação – UNESP/Assis) Marlei Aparecida Seccani Galassi (Odontologia – FEB) José Marques Júnior (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Mauro dal Secco de Oliveira (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) José Tadeu Jorge (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Miguel Carlos Madeira (Odontologia – UNESP/Araçatuba) José Walter Canoas (Serviço Social – UNESP/Franca) Miriam Eiko Katuki Tanimoto (Odontologia – FEB) Juliemy Aparecida de Camargo Scuoteguazza (Odontologia – FEB) Neyton Fantoni Junior (Direito – FEB) Júlio César dos Santos (Engenharia Química – FAENQUIL/Lorena) Nilza Maria Martinelli (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Karina Silva Moreira Macari (Odontologia – FEB) Odair A. Fernandes (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Késia Oliveira da Silva (Engenharia Agrícola – ESALQ/USP) Odila Florêncio (Química – UFSCAR) Khosrow Ghavami (Engenharia Civil – PUC/RJ) Orlando Fatibello Filho (Química – UFSCAR) Kil Jin Park (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Oselys Rodrigues Justo (Engenharia de Alimentos - FEA/UNICAMP) Kleiber David Rodrigues (Engenharia Elétrica – UFU) Osvaldo Eduardo Aielo (Física – FEB) 6 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 Patrícia Amoroso (Odontologia – FEB) Roberta Toledo Campos (Direito – UNIUBE) Patrícia Helena Rodrigues de Souza (Odontologia – FEB) Roberto Braga (Planejamento Urbano – UNESP/Rio Claro) Patrícia Nassar (Química – FEB) Roberto Holland (Odontologia – UNESP/Araçatuba) Paula Homem de Mello (Química – USP/São Carlos) Romildo Martins Sampaio (Engenharia de Alimentos – FEB) Paulo César Hardoim (Engenharia Agrícola – Univ. Federal de Lavras) Rosemiro Pereira Leal (Direito – UFMG e PUC/MG) Paulo Estevão Cruvinel (Embrapa – São Carlos) Rouverson Pererira da Silva (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Paulo José Freire Teotônio (Direito – FEB) Salete Linhares Queiroz (Química – USP/São Carlos) Paulo Sérgio Cerri (Odontologia – UNESP/Araraquara) Sally Cristina Moutinho Monteiro (Farmácia – FEB) Pedro Leite de Santana (Engenharia Química – Univ. Federal de Sergipe) Sebastião Hetem (Odontologia – FEB) Pedro Paulo Scandiazzo (Educação Matemática – UNESP/S. J. do Rio Preto) Sérgio de Freitas (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Rael Vidal (Biologia – FEB) Sérgio do Nascimento Kronka (Estatística - UNOESTE) Ranulfo Monte Alegre (Engenharia de Alimentos – UNICAMP) Sérgio Henrique Tiveron Juliano (Direito – UNIUBE) Raphael Carlos Comeli Lia (Odontologia – FEB) Shirley Aparecida Garcia Berbari (Engenharia de Alimentos – ITAL) Regina Célia de Matos Pires (Recursos Hídrico – IAC/Campinas) Silvano Bianco (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Regina Helena Porto Francisco (Química – FEB) Sissi Kawai Marcos (Engenharia de Alimentos – FEB) Regina Kitagawa (Engenharia de Alimentos – ITAL) Sônia Maria Alves Jorge (Química – UNESP/Botucatu) Reginaldo da Silva (Direito – FEB) Sonia Regina Meira (Educação - FAEX) Renata Camacho Miziara (Odontologia – FEB) Sylvio Luís Honório (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Renato de Mello Prado (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Telmo Antonio Dinelli Estevinho (Sociologia/Ciência Política – UFMT) Renato Moreira Ângelo (Física – Univ. Federal do Paraná) Tetuo Okamoto (Odontologia – UNESP/Araçatuba) Ricardo Dias Signoretti (Eng. Agronômica - APTA/AM – Secret.Agricultura- SP) Ueide Fernando Fontana (Odontologia – FEB) Rinaldo César de Paula (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Victor Haber Perez (Engenharia de Alimentos – FEB) Rober Tufi Hetem (Medicina – UNICAMP) Walter Antonio de Almeida (Odontologia – FEB) Ciência e Cultura 7 v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos Editorial Setembro de 2007 será marcado pela comunidade da FEB. Será lembrado para sempre, pois deverá constar de seus arquivos como o mês e ano em que a FEB teve autorizado pela CAPES o seu primeiro Curso de Pós-Graduação “stricto sensu” na área de Periodontia e Implantodontia. Esse fato, sem dúvida, será um marco divisor entre o que houve na FEB até então e o que ocorrerá no futuro, para o que se espera o envolvimento de todos os membros da sua comunidade para suplantar os entraves com o objetivo de criar novos cursos de PósGraduação dessa natureza na Instituição. Em setembro de 2007 a FEB também recebeu a notícia da aprovação do seu pedido para elevar-se à categoria de Centro Universitário, o que significa adquirir uma nova condição, um novo conceito em termos de Instituição de Ensino galgando um degrau mais alto na hierarquia em que elas são enquadradas. Face a esses avanços cabem votos de congratulações pelos progressos almejados e alcançados, o desejo e o incentivo para aumentar o empenho de todos para a mantença desse novo patamar e a continuidade de sua evolução. Para isso são necessários a união de todos e a conjugação de esforços, o interesse e o desprendimento de toda a coletividade Febiana visando o engrandecimento da Instituição como entidade maior que os objetivos e os anseios individuais que emperram a evolução de qualquer entidade. Ao cumprimentar a FEB pelos êxitos alcançados e desejar seu contínuo progresso e desenvolvimento e concitando seus membros integrantes a participarem ativamente das suas atividades visando esses objetivos é respeitoso, digno e salutar sinceramente agradecer a todos que se empenharam, lutaram e conseguiram superar os entraves, despender esforços e reunir as condições necessárias para que esses objetivos fossem alcançados e esses sonhos tornados realidade. É motivo de regozijo também para a Instituição a auspiciosa notícia de que o presente número de Ciência e Cultura comemora seu primeiro aniversário tendo conseguido manterse fiel a seus princípios e a ser recebida com entusiasmo pela comunidade acadêmica que a ela tem prestigiado e espera-se continue a fazê-lo. Novembro/2007 Sebastião Hetem Editor Chefe 8 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 SUMÁRIO Artigos Científicos Original Articles Estudos Voltamétricos Sobre Eletrodo de Ouro com Monocamada de Cistamina e Glutaraldeído para o Desenvolvimento de Sensores Voltammetric Studies On Gold Electrode With Cysteamine And Glutaraldehyde Monolayer For The Sensors Development Antonio Ap. Pupim FERREIRA1, Hideko YAMANAKA2, Assis Vicente BENEDETTI1 ..................................................................................................................................................................................................................................11 Percepções dos Estudantes do Ensino Médio Sobre o Ensino de Física nas Escolas da Cidade de Barretos* Student´s Perceptions About The Physics Theaching In A High School In Barretos City * Parte do trabalho de conclusão de curso (TCC) - Curso de Física - do primeiro autor - Fundação Educacional de Barretos. Av. professor Roberto Frade Monte, 389. CEP 14784-226. Barretos-SP. Fone: (17) 3321-6411 Daiane Martins GALVÃO1; Vágner Ricardo A. PEREIRA2 e Jurandyr C. N. LACERDA Neto3 .....................................................................................................................................................................................................................................18 Avaliação da Eficácia do Paraformaldeído na Esterilização Química dos Cones de Guta-percha e de Papel Absorvente no Recipiente em que São Comercializados Evaluation Of Effectiveness Of Paraformaldehyde In The Chemical Sterilization Of Guta-percha‘s Cones And Absorbent Paper In The Container In That They Are Marketed. Walter Antonio de ALMEIDA 1 , Maria José Pereira de ALMEIDA1 , Cecília Kedhi CREPALDI 2 ..................................................................................................................................................................................................................................29 Entamoeba gingivalis (Gros, 1849) um protozoário de interesse para a Odontologia: Revisão de literatura. Entamoeba gingivalis (Gros, 1849) - a protozoan of interest for the Dentistry: Literature review. Fabiano de Sant’Ana dos SANTOS1, Alex Tadeu MARTINS1, Rodrigo Ventura RODRIGUES2 ....................................................................................................................................................................................................................................35 Estudo da Sobrevivência e do Enraizamento de Folhas Destacadas de Soja e de Métodos de Inoculação das Mesmas para Avaliação da Resistência de Plantas ao Oídio* Endurance And Rooting Study Of Detached Leaves Of Soybean Plant, And Its Inoculation Methods For The Evaluation Of The Resistance Of Plants To The Powdery Mildew * Parte do trabalho de graduação de primeira autora - Curso de Agronomia - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP, Campus de Jaboticabal, SP. 1999. Elaine Cristine Piffer GONÇALVES1, Maria Aparecida Pessoa da Cruz CENTURION2, Antonio Orlando DI MAURO3 ...................................................................................................................................................................................................................................41 Avaliação dos Métodos de Ensino das Aulas Práticas na Disciplina de Clínica Integrada Clinical Working And Teaching In The Discipline Of Integrated Clinic Fábio PETROUCIC1 , Rubens Ferreira ALBUQUERQUE JÚNIOR2; Guilherme Marques FERRAUDO3 ..................................................................................................................................................................................................................................48 Mudanças de Paradigmas Odontológicos: O uso de textos visuais como estratégia de ensino em oficinas pedagógicas de docentes. Change of Dentistry Paradigms: The use of visual texts as pedagogical strategies on workshops for professors. Caren Elisabeth STUDER ................................................................................................................................................................................................................................55 Produção de Biodiesel:Um experimento em sala de aula Biodiesel production: An experiment in class-room Luis Rogério DINELLI, Crislaine Rodrigues SALVATIERRA, Renata Tomaseli PEIXINHO, Jeosadaque J. SENE e Luis Nelson Prado CASTILHO ..................................................................................................................................................................................................................................63 Estudo sobre a Cristalização da Lactose em Doce de Leite Pastoso Elaborado com Diferentes Concentrações de Soro de Queijo e Amido de Milho Modificado Study of Lactose Crystallization in Dulce de Leche Produced With Different Proportions of Whey and Modified Corn Starch Luiza Maria Pierini MACHADO1; Walkiria Hanada VIOTTO 2 .................................................................................................................................................................................................................................69 Ciência e Cultura 9 10 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 Estudos Voltamétricos Sobre Eletrodo de Ouro com Monocamada de Cistamina e Glutaraldeído para o Desenvolvimento de Sensores Voltammetric Studies On Gold Electrode With Cysteamine And Glutaraldehyde Monolayer For The Sensors Development Antonio Ap. Pupim FERREIRA1, Hideko YAMANAKA2, Assis Vicente BENEDETTI1 Departamento de Físico-Química, Instituto de Química/UNESP, 14800-900, Araraquara, SP, E-mail: [email protected], Tel.: 1633016652, Fax: 1633016692 2 Departamento de Química Analítica, Instituto de Química/UNESP, 14800-900, Araraquara, SP. 1 RESUMO Monocamadas auto-organizadas (SAM) têm sido empregadas para a modificação de eletrodos com vantagens em análises eletroquímicas. Eletrodo de ouro policristalino (poli) modificado com SAM de cistamina (CYS) e glutaraldeído (GA) foi avaliado para o desenvolvimento de sensores. Experimentos de voltametria cíclica (VC) demonstraram que o eletrodo modificado com SAM é uma forma atrativa para a imobilização da enzima peroxidase (HRP). Os estudos sugeriram o monitoramento amperométrico da enzima HRP ao redor de -0,45 V vs AgAgCl|KClsat.. Palavras-Chave: voltametria, iodeto, iodo, monocamadas auto-organizadas, sensores eletroquímicos ABSTRACT Self-assembled monolayers (SAM) have been employed for electrodes modification with benefit in electrochemistry analysis. A polycrystalline (poly) gold electrode modified with SAM of cysteamine (CYS) and glutaraldehyde (GA) was evaluated in the sensors development. The cyclic voltammetric (CV) experiments demonstrated that the electrode modified with SAM is an attractive ability in the peroxidase (HRP) enzyme immobilization. The studies suggest the amperometric monitoring of the HRP enzyme around –0.45 V vs AgAgCl|KClsat.. Keywords: voltammetry, iodide, iodine, self-assembled monolayers, electrochemical sensors Ciência e Cultura 11 Estudos Voltamétricos Sobre Eletrodo de Ouro com Monocamada de Cistamina e Glutaraldeído para o Desenvolvimento de Sensores INTRODUÇÃO FERREIRA et al. de cadeias sobre superfície do eletrodo de ouro empregando EIS e voltametria cíclica. Os resultados de O emprego de monocamadas auto-organizadas (SAM voltametria cíclica revelaram que as propriedades redoxes – “self-assembled monolayers”) é uma alternativa que das moléculas influenciam na modificação da superfície tem crescido nos últimos anos e com expressiva aplica- do eletrodo. Martins et al. (2003) empregaram ção na área de eletroanalítica, principalmente na modifi- cronopotenciometria no estudo da adsorção de cação de superfícies eletródicas para a construção de soroalbumina humana (SAH) sobre eletrodos de ouro (bio)sensores (FERRET et al., 2000; CHAKI e modificados com monocamadas de alcanotióis (CH3, VIJAYAMOHANAN, 2002; FREIRE et al., 2003; LOVE COOH e OH). A adsorção de SAH em diferentes eletro- et al., 2005; FILHO et al., 2006; JANS et al., 2007). Es- dos modificados com SAM aumentou na seguinte ordem: sas camadas monomoleculares têm demonstrado alta or- OH<COOH<CH3-terminal SAM. ganização e com formação espontânea como conseqü- A metodologia usando a técnica de voltametria cíclica ência da imersão de uma superfície sólida (transdutor) é baseada na comparação dos resultados obtidos entre a em uma solução constituída de moléculas anfóteras ou superfície do eletrodo não modificada e modificada com pelo método de Langmuir-Blodgett (LB) (FERREIRA, monocamada. A extensão da transferência de elétrons M. et al., 2005). Encontra-se uma variedade de superfí- entre espécies em solução e a superfície do eletrodo for- cies, e. g., Pt, Au, Cu, Ag, Al2O3, sobre as quais tem sido nece uma idéia da integridade da SAM, que é muito im- estudado o sistema organizado de moléculas. As vanta- portante para o desenvolvimento de (bio)sensores gens na aplicação de SAM incluem simplicidade de pre- eletroquímicos. A imobilização de enzimas em SAM de paração, estabilidade, reprodutibilidade e possibilidade de alcanotióis sobre superfície de ouro tem sido aplicada como imobilização de diferentes moléculas (MANDLER e um método na construção de eletrodos enzimáticos TURYAN, 1996). Entretanto, os fatores experimentais (CREAGER e OLSEN, 1995). Em nosso grupo a modifi- (solventes, temperatura, concentração e tempo de imersão cação de superfícies dos eletrodos tem sido usada e a e limpeza do substrato) podem afetar a estrutura da enzima peroxidase utilizada como marcadora no monocamada resultante, a reprodutibilidade e o monitoramento das reações de afinidade (YAMANAKA recobrimento da superfície do transdutor. O emprego de e SKLÁDAL, 2001; FERREIRA et al., 2005; FERREIRA moléculas anfóteras (como derivados de tióis, aminas, et al., 2006). dissulfetos, álcoois etc.) sobre superfície de ouro tem atra- O presente trabalho consistiu em estudos voltamétricos ído a atenção de muitos investigadores (BRETT et al., de eletrodos de ouro policristalino (poli) modificado por 2003; FERREIRA et al., 2005; CAMPUZANO et al., SAM de cistamina (CYS) e glutaraldeído (GA) e 2006). monitoramento da reação enzimática (HRP) em meio de Técnicas eletroquímicas como voltametria cíclica (VC) iodeto. e espectroscopia de impedância eletroquímica (EIS) têm sido aplicadas no monitoramento das propriedades das MATERIAL E MÉTODOS monocamadas (CHAKI et al., 2001). Outras técnicas têm sido empregadas no estudo das propriedades das Os reagentes cistamina (C 4 H 12 N 2 S 2 .2HCL), monocamadas sobre superfície de ouro (TABORELLI soroalbumina bovina (SAB) e enzima Horseradish et al., 1995; SHEN et al., 2001; TAKAHARA et al., 2002; Peroxidase (HRP, E.C. 1.11.1.7, lote 085H8912) foram FERREIRA et al., 2006). Estas técnicas fornecem infor- adquiridas da Sigma-Aldrich e glutaraldeído da Merck. mações sobre a distribuição e defeitos da estrutura, pro- Os reagentes H2O2 (Merck, 99,8%) e KI (Aldrich, 99,9%) priedades redox, cinética e mecanismos do processo de foram usados para preparar soluções 1x10-3 e 3x10-3 mol formação das monocamadas etc. Ding et al. (2005) estu- L-1, respectivamente, em solução tampão fosfato 0,1 mol daram SAM de alcanotióis com diferentes comprimentos L-1, pH 6,9. Água Milli-Q (r = 18.2 MW ?cm) foi utilizada 12 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 na preparação das soluções e lavagem das amostras e materiais. Os estudos voltamétricos foram realizados usando um potenciostato/galvanostato AUTOLAB PGSTAT 302 com uma célula convencional (10 mL) de três eletrodos contendo solução tampão fosfato de sódio 0,1 mol L-1, pH 6,9, como eletrólito de suporte. O eletrodo de trabalho foi um eletrodo Au policristalino (Ageom = 0,0314 cm2). Ag|AgCl|KClsat. e fio de Pt (Ageom = 4 cm2), respectivamente, foram utilizados como eletrodos de referência e auxiliar. A superfície do eletrodo de ouro foi polida com uma suspensão de alumina (Arotec, 0,05 mm) e lavada com água Milli-Q. Modificação da superfície do eletrodo de ouro e imobilização da enzima peroxidase: a superfície de ouro foi incubada durante 2 horas com solução aquosa de cistamina (CYS) 2x10-2 mol L-1. Após lavagem com água, por imersão, duas vezes durante dez segundos, a superfície de ouro com a monocamada de cistamina foi incubada Figura 1. Esquema das modificações da superfície de ouro policristalino com SAM e imobilização da enzima HRP. com 120 mL da solução de glutaraldeído (GA) 2,5% em solução tampão fosfato de sódio 0,05 mol L-1, pH 7,5. Após 1 hora de incubação à temperatura ambiente, a su- No monitoramento da enzima peroxidase em superfí- perfície foi lavada novamente com água conforme des- cie de ouro modificada com SAM empregaram-se solu- crito acima. Superfícies de ouro modificadas com ções de peróxido de hidrogênio (substrato) e iodeto de glutaraldeído receberam 200 mL de solução tampão fosfato potássio (mediador) na proporção de 1:3, respectivamen- de sódio 0,05 mol L , pH 7,5, contendo a enzima HRP te, preparadas em solução tampão fosfato de sódio 0,1 (987 Umg ) na diluição de 30U com incubação por uma mol L-1, pH 6,9 e incubação de 10 minutos à temperatura noite a 4oC seguido da lavagem com água de acordo com ambiente. Voltamogramas da solução tampão fosfato de procedimento descrito. A metodologia de ligação sódio 0,1 mol L-1, pH 6,9, com adição de KI e/ou H2O2 covalente de bioligantes à superfície do eletrodo de ouro foram obtidos com a superfície do eletrodo de ouro modi- policristalino, modificação química com cistamina e ati- ficado com cistamina e cistamina + glutaraldeído e não vação com glutaraldeído (Figura 1) foi realizada segundo modificada. -1 -1 Horácek e Skládal (1997). Após modificação e imobilização da enzima HRP RESULTADOS E DISCUSSÃO na superfície do eletrodo de ouro, foram aplicados 200 mL de solução tampão PBS-T 0,02% (solução tampão A Figura 2 mostra o comportamento voltamétrico do salina fosfato contendo Tween 20 a 0,02%, pH 7,5) sobre sistema iodeto/iodo sobre eletrodo de ouro policristalino a superfície do eletrodo de ouro com incubação de dez em potenciais positivos entre +0,3 e +0,8V. A curva (a) minutos seguido do mesmo procedimento de lavagem. Em refere-se ao voltamograma com solução tampão fosfato seguida a superfície de ouro foi bloqueada com 200 mL de sódio 0,1 mol L-1, pH 6,9 (curva a), contendo KI (cur- da solução tampão PBS-T 0,02% contendo 0,1% de va b), e KI + H2O2 (curva c), na presença da enzima soroalbumina bovina (solução de bloqueio) e incubada por HRP em solução (curva d) e imobilizada na superfície de 20 minutos à temperatura ambiente. A superfície foi no- ouro modificada com SAM e bloqueada com solução tam- vamente lavada conforme descrito anteriormente. pão PBS-T 0,02% contendo 0,1% de soroalbumina bovi- Ciência e Cultura 13 Estudos Voltamétricos Sobre Eletrodo de Ouro com Monocamada de Cistamina e Glutaraldeído para o Desenvolvimento de Sensores FERREIRA et al. na em meio de KI + H2O2 (curva e). Os experimentos demonstraram que na presença de I , os picos -0,7 < E <-0,4 V (1b/2b e 1c/2c) são similares - aos obtidos por Stickney et al. (1991). Este comportamento voltamétrico também tem sido estudado com paládio e eletrodo impresso (Au-2%m/mPd como eletrodo de trabalho). Os resultados indicaram que os picos de corrente catódica estão associados com a dessorção de iodeto/ iodo na superfície do eletrodo de ouro (LINDGREN et al., 1997). O pico entre -0,6 a -0,8 V pode ser sugerido Figura 2. Voltamogramas cíclicos obtidos para eletrodo de ouro policristalino em solução tampão fosfato de sódio 0,1 mol L-1, pH 6,9 (a) e contendo KI (b) e KI + H 2O 2 (c) e enzima HRP em solução (d) e (e) enzima HRP imobilizada sobre SAM + SAB em solução KI + H 2 O 2 vs. eletrodo Ag|AgCl|KCl sat. , ν = 20 mVs-1, 25 oC. como devido à redução do oxigênio dissolvido no eletrólito de suporte e/ou espécies oxigenadas formadas no meio de reação. Comportamento similar foi observado na presença ou ausência da enzima HRP com aumento da intensidade de corrente ao redor de -0,5 e -0,7 V (Figura 3, curvas c e d). Portanto, o pico ao redor de -0,5 V possivelmente está relacionado com a dessorção Na Figura 2 não se observa variação significativa na de I2 da superfície do eletrodo de ouro e mostra uma pe- intensidade de corrente dos picos de redução entre a quena variação na intensidade de corrente entre KI/H2O2 enzima HRP solúvel e imobilizada sobre SAM na superfí- e essa mesma solução contendo HRP solúvel. O cie do eletrodo de ouro em solução tampão contendo KI monitoramento da enzima HRP demonstrou não ser fa- + H2O2. Este comportamento demonstra a inviabilidade vorável neste pico catódico. do monitoramento da enzima HRP em potencias positivos empregando o sistema iodeto/iodo. A Figura 4 mostra os voltamogramas cíclicos entre 0 e -0,8 V empregando superfície de ouro modificada com Na Figura 3 encontram-se os voltamogramas do sis- cistamina (curva b) e cistamina + GA (curva c) e HRP tema iodeto/iodo sobre eletrodo de ouro policristalino en- imobilizada sobre ouro modificado com SAM (curva d). tre 0 e -0,8 V. Os voltamogramas foram obtidos em solução tampão fosfato de sódio 0,1 mol L-1 pH 6,9 (curva a), e contendo KI (curva b), e KI + H2O2 (curva c) e na presença da enzima HRP em solução KI + H2O2 (curva d). Figura 4. Voltamogramas cíclicos da solução tampão fosfato de sódio 0,1 mol L-1, pH 6,9 + KI obtidos com eletrodo de ouro policristalino (a) modificado com CYS (b) e CYS + GA + SAB (c) e enzima HRP imobilizada sobre SAM + SAB em solução KI + H2O2 (d) vs. eletrodo Ag|AgCl|KClsat., n = 20 mVs-1, 25 oC. Figura 3. Voltamogramas cíclicos obtidos para eletrodo de ouro policristalino em solução tampão fosfato de sódio 0,1 mol L-1 pH 6,9 (a) e contendo KI (b) e KI + H2O2 (c) e (d) enzima HRP em solução KI + H2O2 vs. eletrodo Ag|AgCl|KClsat., n = 20 mVs-1, 25 oC. 14 Ciência e Cultura O pico A, ao redor de -0,45 V, apresentou uma dimi- CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 nuição na intensidade de corrente com as camadas de enzimática têm sido investigados com diversas técnicas. modificações do eletrodo de ouro (curvas b e c). Esse A reação enzimática da peroxidase (HRP) ocorre em três resultado demonstra a presença de monocamada auto- diferentes estágios, como mostram as reações de 1-3 organizada de tióis funcionalizados (cistamina) e a (LINDGREN et al., 1997). A enzima catalisa a redução interação cistamina + glutaraldeído sobre a superfície do do peróxido de hidrogênio oxidando o grupo hemi (1): eletrodo de ouro. Com a enzima HRP imobilizada em SAM (Figura 4, curva d), o pico de redução é deslocado para HRP(Fe+3) + H2O2 ® Composto-I + H2O (1) potencial mais negativo, ao redor de -0,5 V (pico B). Microscopia de força atômica também mostrou algumas A enzima oxidada (Composto I) é reduzida a Com- informações sobre SAMs em superfície de ouro empre- posto II (2) no qual é favorecido a redução da HRP(Fe+3) gando cistamina e glutaraldeído (FERREIRA et al., 2006). na forma ativa(3): Outros estudos com espectroscopia de impedância eletroquímica (EIS) estão em andamento para melhor Compound-I + AH ® Compound-II + A (2) caracterizar a superfície de ouro. Compound-II + AH ® HRP(Fe+3) + A + H2O (3) A Figura 5 mostra os voltamogramas cíclicos da enzima HRP imobilizada sobre a superfície do eletrodo de ouro Agentes redutores (AH) como iodeto, fenóis e outros modificado com SAM em solução tampão fosfato de sódio são utilizados como doadores de elétrons para ambos os 0,1 mol L , pH 6,9 (curva a), e contendo KI + H2O2 (cur- Compostos I e II. Conseqüentemente a redução de espé- va b). cies A sobre a superfície do eletrodo pode ser usada para -1 analisar a reação catalisada pela peroxidase. No monitoramento da atividade da enzima HRP, H2O2 e Itêm sido empregados como substrato e mediador (AH), respectivamente. O monitoramento amperométrico da enzima HRP tem sido investigado ao redor de -0,45 V (FERREIRA et al., 2005; FERREIRA, et al., 2006). CONCLUSÕES Figura 5. Voltamogramas cíclicos da solução tampão fosfato de sódio 0,1 mol L-1, pH 6,9 (a) e contendo KI + H2O2 (b) obtidos com HRP imobilizada sobre ouro policristalino modificado com SAM vs. eletrodo Ag|AgCl|KClsat., ν = 20 mVs-1, 25 oC. Os estudos voltamétricos com cistamina e cistamina + glutaraldeído indicaram a presença de SAM sobre eletrodo de ouro. O monitoramento da enzima peroxidase sobre SAM foi verificado ao redor de -0,5 V. O compor- No intervalo de 0 a -0,8 V foi observado um aumento tamento da SAM demonstrou ser favorável à imobiliza- na intensidade de corrente com a enzima HRP imobiliza- ção de moléculas no desenvolvimento de (bio)sensores da (Figura 5, curva b). Isto demonstra a catálise enzimática eletroquímicos. na presença de iodeto e H2O2 com formação de iodo, que se reduz em potenciais menores do que -0.45 V. A imobilização de enzimas ou a realização de AGRADECIMENTOS imunoensaios enzimáticos sobre SAM tem sido interessante para o desenvolvimento de (bio)ssensores. Os processos de redução e/ou oxidação por meio da reação Os autores agradecem à FAPESP e CNPq pelo apoio financeiro. Ciência e Cultura 15 Estudos Voltamétricos Sobre Eletrodo de Ouro com Monocamada de Cistamina e Glutaraldeído para o Desenvolvimento de Sensores FERREIRA et al. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS OLIVEIRA, D. R.; COSTA P. I.; GÜELL, A. G.; SANZ, F.; BENEDETTI, A. V.; YAMANAKA, H. Investigation BRETT, C. M. A.; KRESAK, S.; HIANIK, T.; of the interaction between Tc85-11 protein and antibody BRETT, A. M. O. Studies on self-assembled alkanethiol anti-T. cruzi by AFM and amperometric measurements. monolayers formed at applied potential on polycrystalline Electrochim. Acta, 2006, v.51, p.5046-5052, 2006. gold electrodes. Electroanalysis, v.15, p.557-565, 2003. FERRET, S.; PAYNTER, S.; RUSSELL, D.A.; M.; SAPSFORD, K.E.; RICHARDSON, D. J. Self- MONTEMAYOR, C.; FATÁS, E.; PINGARRÓN, J. 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LACERDA Neto1 1 1 1 Licenciada em Física pela Fundação Educacional de Barretos- e-mail:[email protected] Licenciada em Física pela Fundação Educacional de Barretos – e-mail: [email protected] Licenciada em Física pela Fundação Educacional de Barretos – e-mail: [email protected] RESUMO O objetivo principal deste estudo foi estabelecer a percepção do aluno da 3ª série do nível médio, sobre o ensino de Física. Foi utilizado um questionário do tipo Likert que agrupou as respostas dos alunos em quatro categorias; são elas: repertório instrucional, repertório representacional, conhecimento da matéria e conhecimento da compreensão do aluno. A coleta de dados foi realizada em seis escolas públicas e quatro escolas particulares da cidade de Barretos. Através do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), os dados foram submetidos à análise fatorial, que possibilitou estabelecer a estrutura das respostas apresentadas pelos alunos. Os resultados indicaram que os alunos, de maneira geral, acreditam que os seus professores de Física têm domínio do conhecimento que ensinam, entretanto, há diferenças sig- nificativas com relação às contribuições de seus professores no processo de ensino e aprendizagem. Enquanto os alunos das escolas particulares tiveram uma visão positiva em relação ao processo, os alunos das escolas públicas identificaram que os seus professores apresentam certas dificuldades, no que se refere à avaliação e a representação do conhecimento físico. Esses resultados mostram que um ensino tradicional e propedêutico, centrado na transmissão de conteúdos e no treinamento de exercícios, são bem aceitos pelos alunos das escolas privadas, porém não motivam os alunos de escolas públicas. Isso reforça a necessidade de uma reflexão na formação dos docentes destas instituições. Palavras-chave: Ensino de Física, percepções de alunos, ensino médio. ABSTRACT The main purpose of this study was to establish the students’ perceptions about Physics teaching, in a high school, in Barretos city. The work was developed using a “Likert” questionnaire, which joins students’ answers in four categories: instructional fund, representational fund, knowledge of the subject and knowledge of the comprehension of students. The research was developed in six public schools and four private schools in Barretos city. Through a statistical package for the social sciences (SPSS) software, the results were submitted to a factorial analysis which established the structure of answers given by the students. The results showed that the students, in a general way, believe that their Physics teachers have the entire knowledge of what they are teaching, however, there 18 Ciência e Cultura are some significant differences related to the contribution of their teachers in the process of learning and teaching. While the private schools students had a positive vision in relation to the process, students of public schools identified that their teachers have some difficulties in evaluation and representation of physics knowledge. These results show that a traditional teaching, focused in a conceptual transmission and in exercises training are very well accepted by students of the private school, but not the same in a public school. Is very important we think about the change in the formation of the public school teachers. Keywords: Physics teaching, student’s perceptions, high school. CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos INTRODUÇÃO v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 consenso. Porém, a despeito dos avanços que a literatura tem mostrado na área de ensino de Ciências, percebe-se Em diferentes oportunidades, os professores deparam- a resistência que os professores têm oferecido para mu- se com o desconforto dos alunos do ensino médio frente darem suas práticas em sala de aula. Em parte essa resis- aos conteúdos de Física. São diversos os fatores aponta- tência se deve à própria instituição escolar, que criou va- dos para justificar suas dificuldades. A Física é habitual- lores e instrumentalizou uma prática de transmissão de mente considerada uma matéria difícil, exigindo grande saberes. Assim, desde o espaço da sala de aula até a dis- capacidade de abstração, alto grau de precisão lógica na tribuição do tempo em aulas para as disciplinas podem resolução de problemas, sofisticação dos tipos de raciocí- estar inadequados a uma mudança na atuação dos pro- nios requeridos, e conhecimentos matemáticos, conforme fessores. Não raras vezes, uma mudança de conduta tam- afirma GEBARA (2001) em seu trabalho de pesquisa. bém pode ser interpretada pela comunidade escolar (alu- A realidade da sala de aula se faz pelo trabalho nos, pais, diretores) como uma má atuação profissional, o interpretativo por parte dos alunos e do professor. A ação que desestimula qualquer mudança de prática pelos pro- do professor, que pesquisa a sala de aula onde atua, impli- fessores. ca num diálogo permanente entre a prática pedagógica e Mas além desses problemas extrínsecos, também po- a prática investigativa. É, então, fundamental detectar a demos apontar dificuldades do professor de mudar a sua causa das dificuldades que o aluno apresenta. prática, relacionadas à sua própria formação. Pesquisas em ensino de Ciências, realizadas nas últi- O professor, no seu processo de formação inicial, re- mas décadas, têm apontado para uma mudança de cebe conhecimentos da sua disciplina específica e das dis- paradigma na forma de conduzir o processo de ensino- ciplinas da área de educação. Supõe-se que a aplicação aprendizagem (OSBORNE, 1996; GIL PERES, 1996; desse conhecimento no contexto de trabalho resolveria os WHEATLEY, 1991). Nesse novo paradigma, a sala de seus problemas como docente. Na sua formação pedagó- aula deixa de ser um espaço de alunos silenciosos e pro- gica, o futuro professor estará entrando em contato com fessores transmitindo saberes, para ser um ambiente de modelos teóricos da sociologia, da psicologia. Tais teorias pesquisa, no qual o professor atua orientando atividades foram desenvolvidas historicamente por uma comunidade para os alunos que procuram construir idéias mais próxi- que procurou responder a determinadas questões e nem mas das idéias científicas, num ambiente de trocas. sempre são fáceis de serem transpostas diretamente para WHEATLEY (1991) propõe uma síntese do que seria essa nova estratégia de ensino: os problemas encontrados no ambiente escolar. Tais idéias formam um conhecimento acadêmico que 1. Tarefas que devem ser resolvidas com diferentes não se aplica de maneira direta ao cotidiano do professor. estratégias, mas enfocando o centro do conceito, que deve Quando este estiver exposto à sua realidade profissional, ser acessível ao aluno e incentivá-lo à discussão. É preci- terá que oferecer respostas a problemas enfrentados den- so encorajá-los a usar seus próprios métodos, promover tro e fora da sala de aula, e não raras vezes, em tempo discussões e trocas, fomentar o trabalho em grupo, ser curto que não permite uma longa reflexão. Some-se a isso instigador e mostrar outras aplicações. uma sobrecarga de trabalho, que dificulta uma análise pro- 2. Criar grupos cooperativos, fazendo com que os alu- longada utilizando as teorias antes aprendidas. nos trabalhem em pequenos grupos para buscar soluções Como o exercício da profissão ocorre em tempo real, conjuntas e criar um clima de constantes desafios, inter- o novo professor terá que achar, dentro dos conhecimen- namente aos grupos ou no grupo classe. tos adquiridos na sua experiência de vida, algum cuja lem- 3. Compartilhar as idéias, permitir que os alunos tro- brança se pareça encaixar na situação presente. quem com a classe os seus métodos, as suas sínteses e Por ser um profissional novato, é bem provável que suas conclusões, sem que o professor faça julgamentos, esta lembrança se refira à sua experiência como aluno. mas buscando um clima de negociação no sentido de um Após um longo período de formação inicial, este profes- Ciência e Cultura 19 Percepções dos Estudantes do Ensino Médio Sobre o Ensino de Física nas Escolas da Cidade de Barretos* sor pode apenas reproduzir as práticas pedagógicas e di- GALVÃO et al. METODOLOGIA dáticas de seus próprios professores. Dois conhecimentos estarão convivendo, com pouca Este trabalho utilizou o questionário do tipo Likert ela- conexão: um saber acadêmico, aprendido no seu proces- borado por Thuan et al (2000), que foi traduzido e aplica- so de formação, e um saber cotidiano, extraído das lem- do em seis escolas públicas e quatro escolas particulares branças do seu cotidiano como aluno e alimentado e mo- da cidade de Barretos, totalizando 320 alunos participan- dificado pela nova experiência profissional. Dois resulta- tes, sendo 215 alunos de escolas públicas e 105 alunos de dos desse processo podem ser observados: escolas particulares. Na tabela 1, a seguir, apresentamos o questionário, 1. A pouca ou nenhuma modificação da profissão de professor ao longo de décadas. sendo que QN significa quase nunca; R, raramente; AV, algumas vezes; F, freqüentemente e QS, quase sempre. 2. Um certo desprezo dos professores pelo saber aca- Este questionário foi validado em Taiwan, através de um dêmico, tido como pouco relevante para o exercício da estudo piloto com 634 alunos, e posteriormente, utilizado profissão. na Austrália e novamente em Taiwan. Dessa forma, não é difícil de esperar que a realidade na sala de aula não tenha se transformado, a despeito das recomendações de especialistas e de trabalhos como os Parâmetros Curriculares Nacionais. Uma forma de verificar a realidade da sala de aula é procurar as percepções dos alunos a respeito das aulas de Física. De acordo com Thuan et al (2000) e Monteiro (2003), investigações sobre as concepções dos alunos, relativas ao conhecimento dos professores, têm demonstrado grande importância em pesquisas, pois elas suprem informações sobre o conhecimento cognitivo no processo de aprendizagem em sala de aula. É preciso salientar que um levantamento das concepções dos alunos a respeito do conhecimento dos professores não pode servir como uma avaliação da atuação destes últimos, visto que falta aos alunos um preparo mais rigoroso para emitirem um juízo de valor sobre o trabalho docente. Porém, tal levantamento pode mostrar detalhes Tabela 1. Questionário utilizado para a coleta de dados sobre a percepção dos alunos referente ao ensino de Física. de uma realidade que precisa ser levada em consideração quando se analisa o ensino, e, principalmente, se planeja a As questões de 1 a 6 foram classificadas como de formação dos professores, seja ela inicial ou em exercí- visão do aluno sobre o repertório instrucional dos profes- cio. sores (RI), as questões de 7 a 13, como de sua percepção O principal objetivo deste trabalho foi estabelecer a sobre o repertório representacional, as questões de 14 a percepção que os alunos da 3ª série do ensino médio, de 19, como de conhecimento da matéria pelo professor e as algumas escolas públicas e particulares de Barretos, têm questões de 20 a 24 foram classificadas como de conhe- sobre o ensino de Física. cimento, pelo professor, da compreensão do aluno sobre o conteúdo (Thuan et al, 2000). O repertório instrucional do docente está relacio- 20 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 nado com as ações de planejar, desenvolver e aplicar situ- reconhece que o saber não é um dado objetivo, pronto e ações didáticas específicas, que incorporam, em todas as acabado, mas algo em construção. fases, mecanismos que favoreçam a contextualização e a flexibilização do conteúdo, contribuindo para o aperfeiço- RESULTADOS amento do processo ensino-aprendizagem. O repertório representacional do professor está A figura 1, a seguir, apresenta o resultado obtido das relacionado com a promoção da aprendizagem significati- respostas dos alunos em cada questão, sendo que a barra va, em que extensão o professor considera as concep- escura corresponde às escolas particulares e a barra cla- ções anteriores dos alunos, inclui analogias, metáforas, ra corresponde às escolas públicas. Os dados foram or- exemplos e explicações no processo de ensino. ganizados de acordo com os seguintes critérios: o valor 1 O conhecimento da matéria ensinada refere-se à foi associado à resposta quase nunca (QN), o valor 2 à quantidade e organização do conhecimento na mente do resposta raramente, o valor 3 à resposta às vezes, o va- professor. Está associado com o processo de construção lor 4 à resposta freqüentemente, e o valor 5 à resposta do conhecimento e, também, com a maneira como este quase sempre. conhecimento é transmitido ao aluno. O valor obtido para a resposta em cada questão O conhecimento da compreensão do aluno, des- corresponde à soma das respostas dos alunos dividida pelo taca em que nível o professor valoriza o momento e o ato número total de alunos na categoria, escola pública ou da compreensão do aluno, início e fim do processo, se particular. Figura 1 - Diagrama resposta x questão correspondente às escolas públicas e particulares. Ciência e Cultura 21 Percepções dos Estudantes do Ensino Médio Sobre o Ensino de Física nas Escolas da Cidade de Barretos* GALVÃO et al. Com o objetivo de verificar a normalidade das amos- dois princípios básicos que se deve ter em conta. Princí- tras, foi realizado o teste Kolmogorov-Smirnov (KS) utili- pio da parcimônia: tem-se que explicar as correlações en- zando-se o software SPSS (1999). Os resultados obtidos tre as variáveis observadas, utilizando o menor número de ficaram abaixo de 5%, indicando que as amostras dife- fatores possíveis; e interpretabilidade: deseja-se que os rem da distribuição normal. fatores tenham um significado no contexto estudado, guar- Desta forma, para comparar as amostras, decidiu-se dando em si mesmos uma coerência lógica (SPSS 1999). pelo teste qui-quadrado, cujo resultado foi de 0,956. O Com o objetivo de identificar a estrutura fatorial das resultado indica que as amostras são significativamente respostas coletadas junto aos sujeitos do estudo, os dados diferentes entre si. foram submetidos à análise fatorial, utilizando-se o méto- Para realizar a análise fatorial, foi utilizado o teste do de rotação ortogonal Varimax, o qual minimiza o nú- Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) que indica o grau de mero de variáveis que cada agrupamento terá, simplifi- suscetibilidade ou o ajuste dos dados à análise fatorial cando a interpretação dos fatores. Verificaram-se tam- (SPSS, 1999). O valor obtido para as escolas públicas foi bém as comunalidades, ou seja, a proporção da variância de 0,920 e para as escolas particulares foi de 0,741. Os de cada variável explicada pelos fatores comuns. As aná- resultados indicam que o método de análise fatorial é acei- lises entre os fatores foram realizadas através da matriz tável para o tratamento dos dados. de rotação, com corte de 50%. A análise fatorial é um método multivariado de análise Mediante os resultados, foi possível estabelecer alguns das interdependências, que permite criar constructos que fatores que sintetizam as respostas das duas amostras, ou agrupam as variáveis, sendo muito recomendada para seja, escolas públicas e particulares. A tabela 2, a seguir, análises educacionais. Não existe uma solução única para mostra os fatores obtidos da matriz de rotação e sua in- a análise fatorial de um conjunto de dados, mas apenas terpretação, para as escolas públicas. 22 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 Tabela 2. Fatores obtidos da matriz de rotação realizada pelo software SPSS e sua interpretação para as escolas públicas. A tabela 3, a seguir, mostra os fatores obtidos da matriz de rotação e sua interpretação, para as escolas particulares Ciência e Cultura 23 Percepções dos Estudantes do Ensino Médio Sobre o Ensino de Física nas Escolas da Cidade de Barretos* GALVÃO et al. Tabela 3. Fatores obtidos da matriz de rotação realizada pelo software SPSS e sua interpretação para as escolas particulares. As questões que não constam na coluna correspon- ficuldades e que precisam de reforço. dente ao agrupamento ficaram isoladas na matriz de rota- De acordo com os fatores obtidos, conforme apresen- ção, e por este motivo foram excluídas da interpretação. tados nos resultados, os alunos das escolas públicas e particulares, da cidade de Barretos, demonstraram algu- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS mas percepções diferentes em relação ao ensino de Física proporcionado pelos seus professores. Entretanto, há A avaliação das dificuldades e necessidades educaci- um fator comum: os alunos acreditam que, de maneira onais é difícil e requer a conjunção de vários métodos. geral, seus professores têm domínio sobre a matéria que Porém, ao se avaliar a percepção dos alunos por meio do ensinam, demonstrando compreensão nos processos de questionário, transpareceram alguns aspectos, nos quais produção, representação e validação dos conteúdos. os professores de Física do ensino médio parecem ter di- 24 Ciência e Cultura Satisfazendo o que se espera para o ensino de Física CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 no nível médio, alguns fatores referentes às escolas parti- Percebemos uma diferença de percepção entre os alu- culares demonstraram, sob o ponto de vista dos alunos, nos de escolas particulares e públicas a respeito dos tra- que os professores contribuem positivamente no proces- balhos de seus professores. É razoável supor que em so de ensino e aprendizagem. Ao contrário, nas escolas ambos os casos o trabalho docente continua sendo a trans- públicas, os alunos afirmaram que os professores apre- missão de conhecimento e o treinamento de exercícios, sentam dificuldades, tanto em relação à avaliação sobre a aquilo que chamamos de ensino tradicional. Porém, as sua aprendizagem, quanto em relação à representação do condições encontradas são diferentes, pois os professo- conhecimento no processo de ensino. Tais representações res de escola pública têm trabalhado com alunos mais poderiam estimular a aprendizagem do aluno. desmotivados, com escolas em condições precárias e com menor retorno financeiro. Essas condições podem tornar CONCLUSÕES o ensino tradicional mais complicado e com poucos resultados, e é justamente na escola pública que uma mudança As dificuldades, de maneira geral, apontadas pela aná- na prática docente é mais premente. lise dos resultados, podem ser provenientes da realidade É verdade que uma mudança metodológica e curricular, que os professores encontram em sala de aula. De acor- como mostram os resultados das pesquisas em ensino de do com Zagury (2006), as maiores dificuldades dos pro- ciências, se faz necessária em ambas as escolas. Porém fessores estão em manter a disciplina, motivar os alunos, na comunidade que cerca a escola privada, o ensino tradi- fazer a avaliação, manter-se constantemente atualizados, cional ainda se apresenta como válido: são alunos que não avaliar e escolher adequadamente uma metodologia a cada dividem o tempo de estudo com trabalho, com acesso a unidade de ensino. Os motivos destas dificuldades podem meios de informação como internet, livros, revistas, etc, estar na falta de tempo e falta de recursos financeiros com apoio familiar e para quem a função principal do en- para o professor manter-se atualizado, a falta de interes- sino ainda é o acesso a um bom curso superior. As condi- se dos alunos, a motivação que eles têm em atividades ções de vida destes alunos e os objetivos que suas famíli- fora de sala de aula (comunicação, jogos, Internet, espor- as esperam do ensino condizem com o ensino tradicional. tes, etc). Na escola pública, podemos encontrar com maior fre- Esse quadro pode não decorrer unicamente do qüência, alunos que dividem o estudo com o trabalho, com despreparo dos professores, nem de limitações impostas pouco acesso aos meios de informação, mais expostos pelas condições escolares deficientes. É possível que seja aos problemas sociais e que não priorizam a formação decorrente de uma deformação estrutural, que é gradual- num curso superior. Nesta realidade, um ensino que se mente introjetada pelos participantes do sistema escolar e fundamenta na transmissão de um saber fragmentado e que passou a ser considerada como algo natural. Zagury descontextualizado, e no treinamento exaustivo de exer- (2006) apresenta três fatores que contribuem para a que- cícios, (os quais, não raras vezes, não têm outro objetivo da da qualidade de ensino, são eles: a inexistência de trei- além do acesso ao ensino superior), se mostra inadequa- namento docente adequado, antes da implantação de pro- do, desmotivante e não atende às necessidades do seu jetos pedagógicos inovadores; a falta de um estudo piloto público. que possa fornecer subsídios para a adequação do projeto As teorias de aprendizagem podem ajudar os pro- à realidade escolar, e o raro acompanhamento dos resul- fessores a proporcionarem uma aula mais atrativa, na qual tados obtidos com a implantação de um novo projeto pe- aluno e professor se sintam bem. Se o ambiente favorece dagógico. Assim, torna-se necessário, entre os próprios a interação, a aprendizagem, sem dúvida, será facilitada. professores, refletirem sobre qual Física ensinar, suas ne- Uma mudança curricular pode tornar os objetivos do en- cessidades e opções metodológicas, para que superem sino mais próximos da necessidade dessa população, ex- certas dificuldades detectadas neste trabalho. periências interessantes como a orientação CTS (ciência, Ciência e Cultura 25 Percepções dos Estudantes do Ensino Médio Sobre o Ensino de Física nas Escolas da Cidade de Barretos* GALVÃO et al. tecnologia e sociedade) tem mostrado saídas para essa A Proposal. American J. Education. N: 101: 99-115, questão (FITZGERALD, 1993; GILBERT, 1995; 1993. GRISPUN, 1999; IGLESIA,1997; SOLBES E VILCHES, 1992; SOLOMON, 1988) . GEBARA, M. J. F. O Ensino e a Aprendizagem de Físi- Segundo MEES (2005), possíveis mudanças não pre- ca: Contribuições da História da Ciência e do Movimento cisam, nem devem ser radicais. A experimentação e a das Concepções Alternativas. Um estudo de caso. Dis- avaliação constante de uma prática dirão se ela é válida sertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campi- ou não. nas. Faculdade de Educação. 2001. Para que essas mudanças possam se realizar, é preciso que as instituições de formação docente promovam GIL PEREZ, D. New Trends in Science uma reflexão sobre a realidade das escolas e dos alunos, Education. International J.Sci. Education. Vol. 18, N. 8, as contribuições da literatura na área de ensino de ciênci- 889-901, 1996. as, e uma aproximação entre o trabalho dos professores e dos pesquisadores em educação. Um espaço privilegiado GRINSPUN, M. P. S. Z. Educação Tecnológica. In: pode ser encontrado nas disciplinas de didática, estágio e Grinspun, M. P. S. (org.).Educação Tecnológica-Desafi- prática pedagógica, desde que se rompa com o estágio de os e Pespectivas. São Paulo: Cortez, 1999. simples observação e repetição, levando-o para uma prática reflexiva (PERRENOUD et al, 2001; SCHON, 2000). IGLESIA, P. M. Una revisión del movimiento educativo Espera-se que, frente ao diagnóstico expresso neste ciencia – tecnología – sociedad. Enseñanza de las trabalho, através da percepção de alunos da 3ª série do Ciencias. v.15, n.1, p. 51-57,1957. ensino médio em Barretos, possamos ter contribuído para uma reflexão que busque superar algumas dificuldades MEES, A. A. Implicações das teorias de aprendizagem pedagógicas, visando a melhoria do ensino de Física. para o ensino de Física. Teorias de aprendizagem. UFRGS. 2005. Disponível em: <http:// www.if.ufrgs.br/~amees/ teorias.htm>. Acesso em: 22 de agosto de 2006. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MONTEIRO, A. M. F. C. Entre saberes e práticas. A ALTET, M. As competências do professor profissional: relação entre professores com os saberes que ensinam. entre conhecimentos, esquemas de ação e adaptação, Rev. 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Barretos-SP, fone (17) 3321-6411. 2- Cirurgiã-Dentista RESUMO O presente trabalho avaliou a eficácia do paraformaldeído na esterilização química dos cones de guta percha e dos cones de papel absorvente no recipiente em que são comercializados. Neste experimento o material testado foi submetido a dois grupos: no grupo 1, a pastilha do paraformaldeído foi colocada no recipiente, e este permaneceu fechado, sendo aberto apenas nos períodos experimentais e no grupo 2 o recipiente permaneceu aberto, ficando os cones expostos no ambiente da clínica de endodontia. Os períodos experimentais foram de 15, 30, 45, 60 minutos após a inserção da pastilha no recipiente que continham os referidos cones, e a cada período alguns cones de guta percha e de papel absorvente de diferentes diâmetros, foram retirados, e individualmente imersos em tubos de ensaio que continham o meio de cul- tura de Thioglicolato, levados à estufa a 37ºC por 24 horas. Para obtenção dos resultados, foi observado em cada tudo de ensaio se havia crescimento bacteriano ou não, através da turvação do meio. Na análise dos resultados, tanto para os cones de guta percha, quanto para os cones de papel absorvente, não foram encontrados em nenhum tubo, turvação do meio de cultura, portanto, não houve crescimento bacteriano. Estes resultados nos levaram a concluir que a pastilha de paraformaldeído mostrou-se eficaz na esterilização química de cones de guta percha e de papel absorvente, nos períodos testados. Palavras-chave: Pastilhas de Paraformaldeido, Esterilização química, Cones de guta-percha, cones de papel absorvente. ABSTRACT The present work estimated the effectiveness of paraformaldehyde tablets in the chemical sterilization of gutta-percha cones and absorbent paper points in the container in that they are marketed. In this experiment the tested material was submitted to two groups: in the group 1, the paraformaldehyde tablets was put in the container, and this stayed closed, being just opened in the experimental periods and in the group 2 the container stayed open, being the exposed cones in the atmosphere of the endodontic clinic. The experimental periods were of 15, 30, 45, 60 minutes after the insert the tablet in the container that cone, is storage and to each period some of gutta-percha point and paper absorbent of different diameters, they were only, and individually immersed in test tubes that contained the middle of culture of thioglicolato, taken to the greenhouse to 37ºC for 24 hours. For obtaining of the results, it was observed in each everything of rehearsal if there was bacterial growth or no, through the turbidity of the middle. In the analysis of the results, so much for the of gutta-percha point, as for the of absorbent paper point, they were not found in any tube, turbidity of the middle of culture, therefore, there was not bacterial growth. These results we took to conclude that the paraformaldehyde tablets was shown effective in the chemical sterilization of gutta-percha and of absorbent paper points, in the tested periods. Keywords: Paraformaldehyde tablets; Chemical sterilization; Gutta-percha cones; absorbent paper points Ciência e Cultura 29 Avaliação da Eficácia do Paraformaldeído na Esterilização Química dos Cones de Guta-percha e de Papel Absorvente no Recipiente em que São Comercializados INTRODUÇAO ALMEIDA et al. sultados obtidos com os cones colhidos dos alunos do curso de graduação, que os manipulam e os transportam muitas A esterilização e desinfecção do instrumental e mate- vezes, sugerem que estes cones devam sofrer rial utilizados durante o tratamento de canais radiculares, descontaminação prévia, para que a obturação radicular constituem princípios fundamentais para se atingir o su- possa ocorrer de maneira mais segura. cesso, não só com relação ao próprio tratamento, como Embora os cones de guta-percha sejam conside- também no aspecto de saúde geral dos pacientes (LEO- rados como material de escolha para a obturação dos ca- NARDO, 1998). nais radiculares, eles apresentam a desvantagem de não A obturação do canal radicular é uma das fases do resistirem aos processos convencionais de esterilização tratamento de canais radiculares onde o conteúdo da ca- pelo calor úmido ou seco. Por esta razão, apesar de se- vidade pulpar é substituído por substâncias que, além de rem comercializados acondicionados em caixas fechadas, permitirem um selamento o mais hermético possível, de- geralmente não se apresentam esterilizados. Assim, para verão ser inertes ou anti-sépticas, bem toleradas pelo or- não quebrar a cadeia asséptica, os cones de guta-percha ganismo que, de preferência, estimulem a reparação apical necessitam de uma esterilização rápida no momento do e periapical (LEONARDO, 1998). uso. A presença da umidade no interior do sistema de ca- Vários métodos para a esterilização rápida dos nais radiculares, após o preparo biomecânico e sua desin- cones de guta-percha no consultório odontológico, são fecção, pode influenciar no selamento apical e no êxito da descritos na literatura, incluindo, entre outros, o emprego obturação endodôntica. dos seguintes agentes químicos: pastilhas de formaldeído, A manobra de secagem do canal radicular durante a glutaraldeído, álcool etílico e iodado, hipoclorito de sódio, fase da obturação é obtida, com eficiência, pela utilização merthiolate, água oxigenada, clorexidina, não existindo, até de cones de papel absorvente. Dentre as qualidades o momento, um consenso entre especialistas nacionais e exigidas desses ressalta-se a capacidade de absorção. estrangeiros sobre o melhor a ser utilizado com esta fina- Para tanto há necessidade de serem esteriliza- lidade. dos. Os métodos propostos para esterilização são: calor a Como todo o instrumental e material de uso seco, através de estufa, calor úmido pela autoclagem, endodôntico, deverão ser previamente esterilizados, e per- esterilizador elétrico e por vapores de formaldeído (Aguiar manecerem assepticamente durante o tratamento deseja- & Pinheiro, 1998; Holland et al., 1990; Kubo et al., 2000). do, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a eficá- A guta-percha tem sido largamente usada e acei- cia da pastilha de paraformaldeído na esterilização quími- ta como um material de preenchimento dos canais ca dos cones de guta-percha e de papel absorvente den- radiculares. Várias são as vantagens destes cones, tais tro do recipiente em que são comercializados. como: não mancham a estrutura dentária, são biocompatíveis, dimensionalmente estáveis, anti- MATERIAL E MÉTODOS bacterianos, radiopacos, facilmente retidos do canal radicular e quando necessário, podem ser amolecidos por solventes orgânicos (SIQUEIRA JR. et al., 1998). Materiais utilizados: cones de guta-percha, cones de papel absorvente, recipiente que são comercializados (mar- SILVA e SANTOS (2002), demonstraram que a de- ca Tanari), meio de cultura de Thioglicolato, placa de petri sinfecção ou esterilização prévia dos cones de guta-percha e tubos de ensaio. Agente químico: Pastilhas de usados para obturação dos canais radiculares parece ser paraformaldeído a 99,9% , como mostra a figura 1. desnecessária, fato que talvez possa ser explicado pelas Metodologia: Este experimento foi dividido em dois suas propriedades antibacterianas. Considerando que o grupos. Inicialmente colocou-se a pastilha de transporte e manipulação exagerada destes cones pode paraformaldeído nos recipientes que continham os referi- levar a contaminação, como parecem demonstrar os re- dos cones. 30 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 No Grupo 1, o recipiente foi fechado, como mostra a figura 2, permanecendo os cones sobre o efeito do agente químico, sendo abertos apenas nos períodos experimentais de 15, 30, 45, 60 minutos, onde a cada período o recipiente era aberto e aleatoriamente selecionado alguns cones de guta percha e de papel absorvente de diferentes diâmetros, onde foram imersos cada um dos cones em diferentes tubos de ensaio que continham o meio de cultura de Thioglicolato. Logo após foram levados à estufa a Figura 3 - Pastilha de paraformaldeído colocada em recipiente aberto ( Grupo 2) 37ºC, onde permaneceram por 24 horas. RESULTADOS No Grupo 2, o recipiente permaneceu aberto, como mostra a figura 3, ficando os cones expostos ao ambiente da clínica de endodontia do Curso de Odontologia, durante o período em que os alunos do 3º ano de graduação realizavam os tratamentos de canais radiculares, e nos mesmos períodos acima citados, os cones foram também aleatoriamente selecionados e imersos no meio de Thioglicolato e incubados como acima descrito. O critério de avaliação utilizado foi verificar a presen- RECIPIENTE FECHADO ça da turvação do meio de cultura, sendo considerado positivo para o crescimento bacteriano e o meio de cultura límpido considerado negativo para o crescimento RECIPIENTE ABERTO Os resultados obtidos foram agrupados na tabela 1. bacteriano. Tabela 1 – Resultado do crescimento bacteriano GRUPO G1 e G2 Figura 1 - Recipiente Comercial de cones de Guta-percha e papel absorvente e Pastilha de Paraformaldeído 99,9% CRESCIMENTO BACTERIANO Não houve crescimento bacteriano em nenhuma amostragem DISCUSSÃO No tratamento de canais radiculares, a cadeia asséptica pode ser quebrada caso ocorra à veiculação de bactérias para o interior da cavidade endodôntica, através dos cones de papel absorvente e cones de guta-percha. Alguns métodos de esterilização tem sido empregados, como o calor seco, calor úmido, pastilhas de paraformaldeído e esterilizadores elétricos. O cone de papel absorvente, tem como função Figura 2 - Pastilha de paraformaldeído colocada em recipiente fechado (Grupo 1) primordial, a secagem das paredes internas dos canais radiculares, porém a capacidade e velocidade de absor- Ciência e Cultura 31 Avaliação da Eficácia do Paraformaldeído na Esterilização Química dos Cones de Guta-percha e de Papel Absorvente no Recipiente em que São Comercializados ALMEIDA et al. ção sofrem influência dos métodos de esterilização, do fabricante apresentavam-se contaminados, o que reforça número de ciclos de esterilização, bem como da marca a necessidade de uma esterilização rápida antes do uso comercial dos cones avaliados (KUBO et al., 2000). clínico. Quando eles são submetidos às sucessivas esteriliza- As substâncias mais utilizadas para a esteriliza- ções em estufa, que é o calor seco, sofrem alterações na ção de cones de guta-percha são: glutaraldeído, hipoclorito capacidade de absorção, tornam-se mais rígidos, ocorrem de sódio, formaldeído, água oxigenada, merthiolate e modificações na trama das fibras, ficando mais clorexidina. compactadas, além da mudança da coloração, indo do O glutaraldeído é um excelente bactericida, e pro- branco até o amarelo escuro, conseqüentemente ficando move a esterilização de cones de guta-percha após um impermeáveis a absorção de líquidos por capilaridade, período de 10 ou 15 minutos, mergulhados nesta solução comprovados por KUBO et al., 1999; Kuga et al., 1991 e (CARDOSO, et al., 1997 e Mota et al., 2001); o hipoclorito Carvalho et al., 1995. de sódio a 1% leva um tempo de 1 minuto (KOTAKA et A autoclavação mostrou-se um procedimento viável, al., 1997), o hipoclorito de sódio a 0,5%, leva cerca de 5 em até 10 ciclos, para a esterilização de cones de papel minutos (CARDOSO et al., 1999), por outro lado Mota et absorvente da marca Tanari, segundo Kubo et al., 2000. al., 2001 relataram que a eficácia do hipoclorito como so- Semelhante achados foram relatados por Bramante et al., lução irrigadora foi demonstrada na concentração de 2,5%, 1994, onde a autoclavação foi o processo de esterilização após 5 minutos de contato com os cones de guta-percha que menos alterou, seguido do esterilizador rápido, sendo previamente contaminados. a estufa o que mais alterou o poder de absorção dos co- O álcool é solvente de lipídeo, seu efeito sobre as bac- nes de papel, e os cones da Tanari, Dentsply e Odachan térias é promover a desorganização da estrutura lipídica foram os que sofreram menos alteração na sua capacida- da membrana e também desnaturam proteínas celulares de de absorção. (SIQUEIRA JR., et al., 1998); o gluconato de clorexidina De qualquer forma, do ponto de vista clínico, o importante é procurar minimizar este problema. Nas condições a 2% não foi capaz de esterilizar cones de guta-percha revestidos com esporos após 10 minutos de exposição. em que os cones são oferecidos em nosso mercado, resta Embora haja quem conteste a eficácia do método de ao clínico contornar o problema através da esterilização esterilização de cones de guta-percha com vapores de em estufa, de pequenas quantidades de cones de papel a formol, alguns trabalhos de HOLLAND et al., 1990; e serem empregados em cada intervenção, ou utilizar de 1991; LOPES et al., 1997, mostram sua eficácia diante de outra forma de esterilização, através da pastilha de vários tipos de bactérias. paraformaldeído, que promove esta esterilização em um A eficácia da esterilização de cones de guta-percha tempo muito curto, e apresenta maior capacidade de ab- com vapores de formaldeído, tem sido demonstrada sobre sorção que a esterilizado por calor úmido e calor a seco vários tipos de bactérias, por MOTA et al., 2001 além de (KUGA et al, 1991). não serem irritantes aos tecidos periapicais, segundo Foi verificado neste trabalho, que a pastilha de HOLLAND, et al., 1990 e 1991, de não sofrerem altera- paraformaldeído utilizada, promoveu a esterilização dos ções conforme LOPES, et al., 1997. Este trabalho vem cones de papel absorvente, pois não houve crescimento corroborar com os demais, onde foi verificada a eficácia bacteriano no meio de cultura, nos dois grupos testados, na esterilização de cones de guta-percha e papel absor- ou seja, nos recipientes onde são comercializados os co- vente no recipiente em que são comercializados, bem como nes Tanari, ficando fechados ou abertos ao ambiente da houve a manutenção desta esterilização, mesmo quando clínica. ficaram expostos ao ambiente de clínica durante os períoTrabalhos como de Cardoso et al., 1997; Leonar- do et al., 1997 e Namazikhah, et al., 2000, mostraram que cones de guta-percha retirados diretamente da caixa do 32 Ciência e Cultura dos de 15, 30, 45 e 60 minutos. CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos CONCLUSÃO v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 cones na endodontia – influência do método de esterilização dos cones de papel e de guta-percha no comporta- De acordo com a metodologia empregada e analisando os resultados obtidos nos meios de cultura, pôde-se mento do tecido conjuntivo subcutâneo do rato. RGO (Porto Alegre), v. 38, n. 2, p. 133, 1990. observar que em nenhum dos tubos houve a turvação, o que levou a seguinte conclusão: 1. A pastilha de paraformaldeído 99,9% foi eficaz na esterilização dos cones de guta-percha e papel absor- KOTAKA, C.R. et al. Descontaminação rápida de cones de guta-percha na prática endodôntica. Rev.FOB, S.Paulo, v. 6, n.2, p. 73-80, abr/jun. 1998. vente; 2. A pastilha de paraformaldeído 99,9% manteve KUBO, C.H. et al. 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Entamoeba gingivalis devido a outros microrganismos, que O objetivo desta revisão de literatura foi reaver o atual anteriormente foram considerados comensais e atualmente estágio de conhecimento sobre este microrganismo, con- apresentam o status de patogênicos. siderado inicialmente como o principal patógeno da doença periodontal e posteriormente como comensal, em função da atribuição da etiologia da referida doença a bactérias que colonizam a boca. Contudo, diversos autores con- Palavras-chave: Entamoeba gingivalis, protozoário bucal, doença periodontal. ABSTRACT The Entamoeba gingivalis is a protozoan of the human affirm the non pathogenicity of the Entamoeba gingivalis, mouth and it was described initially by Gros in 1849. The once that other microorganisms, that previously were aim of this literature revision was to recover the effective considered commensals and now they present the status knowledge on this microorganism, considered initially as of pathogenics. the main pathogenic of the periodontal disease and later as commensal, due to the attribution of the aetiology of the referred disease to bacterias that colonize the mouth. Keywords: Entamoeba gingivalis, oral protozoa, However, several authors have considered premature to periodontal diseases. Ciência e Cultura 35 Entamoeba gingivalis (Gros, 1849) - um protozoário de interesse para a Odontologia: Revisão de literatura. INTRODUÇÃO GALVÃO et al. contrada para a E. gingivalis (MAYRINK, 1965; ZDERO et al., 1996). Sua transmissão é direta pessoa-a-pessoa, A Entamoeba gingivalis (E. gingivalis) é um protozoário por meio de perdigotos, beijos e objetos contaminados eucariota, constituído por uma única célula, que para so- (ALONSO-VERRI e SALATA, 1961; NEVES et al., breviver realiza todas as funções mantenedoras da vida: 2005). alimentação, respiração, reprodução, excreção e locomoção (ALONSO-VERRI e SALATA, 1961). A esse protozoário que compõe a microbiota oral, no passado, foi atribuído o papel de principal responsável Esse protozoário é cosmopolita e pode ser encontrado em qualquer país do mundo, pois acompanha o homem em sua distribuição geográfica (ALONSO-VERRI e SALATA, 1961; SOUZA, 1982). pela doença periodontal (BARRET, 1914; BASS e O objetivo deste artigo foi rever questões perti- JOHNS, 1914). No entanto, outros estudos não compro- nentes ao potencial patogênico da Entamoeba gingivalis, varam o seu potencial patogênico, considerando-o comen- por meio de uma revisão literária. sal (PESSÔA e MARTINS, 1982; NEVES et al., 2005). As pesquisas sobre a E. gingivalis constituem em sua maioria levantamentos para verificação da freqüên- REVISÃO DA LITERATURA cia desse amebídeo em uma determinada população. Em geral, os autores consideraram nesses estudos variáveis A E. gingivalis foi considerada patogênica, por condu- como, a idade, o sexo, o pH do meio bucal, a higiene oral, zir bactérias para a área pericementária, embora nem to- a presença de doenças periodontal e sistêmica dos os casos de doença periodontal sejam de natureza (FAVORETO-JUNIOR e MACHADO, 1995; SANTOS amebiana ou sofreram sua influência (BARRET, 1914; e ZAIA 2002). BASS e JOHNS, 1914; SMITH e BARRET, 1915). A freqüência da E. gingivalis é variável, de acor- Bass e Johns (1914) encontraram a E. gingivalis do com diversos métodos de diagnóstico utilizados para o nas periodontites crônica ou aguda e observaram sua au- seu reconhecimento (SANTOS e ZAIA 2002). O método sência nos casos de saúde periodontal. Os portadores de de diagnóstico utilizando bochecho, proposto por Corrêa periodontite receberam tratamento com uma droga a base et al. (1998), é simples, rápido e de fácil execução, confe- de hidrocloreto de emetina, que foi eficiente no combate a rindo índice de confiabilidade alto sem comprometer a doença e ao parasita. qualidade das amostras. Gottlieb et al. (1968) estudaram a relação entre a E. A presença da E. gingivalis pode estar relaciona- gingivalis e a doença periodontal e constataram a presen- da com as condições de higiene bucal de seu hospedeiro, ça do amebídeo em portadores de gengivite necrosante podendo ser encontrada em condições satisfatórias ou até aguda. Para o diagnóstico, os pesquisadores coletaram mesmo em situação de escassa higiene, condição em que material da placa adjacente ao epitélio do sulco, e relacio- foi verificada uma maior freqüência do amebídeo naram o amebídeo com a doença periodontal. (WANTLAND e LAUER, 1970; ZDERO et al., 1996). A E. gingivalis, por um mecanismo de fagocitose, A E. gingivalis é anaeróbia ou aeróbia facultativa, carrea hemácias para o interior de seu citoplasma, fenô- sendo capaz de sobreviver em atmosfera contendo me- meno este atribuído a microrganismos patogênicos. A nos de 5% de oxigênio. A energia é obtida por meio da morfologia dessa ameba é semelhante à da Entamoeba ingestão de partículas de carboidratos, que são digeridas histolytica, que é patogênica e no passado foi dada como e transformadas em glicose e ATP (SOUZA, 1982; não patogênica, portanto é importante procurar esclare- MCLAUGHLIN e ALEY, 1985). cer o potencial sinérgico envolvido entre a patogenicidade Pesquisas demonstraram três formas evolutivas para as amebas: a trofozoíta ou vegetativa, a pré-cística e o cisto. Dentre estas, somente a forma trofozoíta foi en- 36 Ciência e Cultura do protozoário e a doença periodontal (GOTTLIEB e MILLER, 1971). A E. gingivalis mantém relacionamento com mi- CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 crorganismos específicos da região do epitélio sulcular dade de fagocitar hemácias. Os trofozoítos da E. gengival, como a Spirochaete sp e a Candida albicans histolytica apresentam essa característica particular (NE- (GOTTLIEB e MILLER, 1971; KEYES e RAMS, 1983). VES et al., 2005). Perez-Jaffe et al. (1998) encontraram a E. gingivalis Chen et al. (2000) relataram que em pacientes em um nódulo cervical de um portador de carcinoma de imunodeprimidos a E. gingivalis causou abscesso língua, e demonstraram que a via de acesso utilizada para periodontal. A E. gingivalis é um protozoário patogênico o amebídeo se deslocar à área mencionada foi por meio oportunista que junto com bactérias simbiônticas podem de uma fístula, que o paciente apresentava na cavidade causar doenças periodontais em hospedeiros bucal, observaram ainda que o paciente estava com imunodeprimidos (LIU et al., 2001). periodontite avançada e escassa higiene bucal. Lyons e Scholten (1983) estudaram os efeitos do Pessôa e Martins (1982); Neves et al. (2005) relata- hidrocloreto de emetina e do metronidazol, drogas especí- ram que a E. gingivalis não é patogênica, embora reco- ficas para tratamento de amebíases, em grupos de porta- nhecessem que a sua freqüência aumenta nos casos de dores de periodontite avançada e constataram que a eli- periodontites. Para esses autores o amebídeo não deter- minação da E. gingivalis foi fator relevante no processo mina a doença periodontal, porém exerce um aproveita- de cura da periodontopatia; resultados semelhantes fo- mento das condições alteradas pela periodontopatia, sen- ram observados também por um grupo de pesquisadores do um comensal inofensivo na cavidade oral. na China (CHEN et al., 2000). A E. gingivalis foi descrita como sendo um comensal inofensivo e sem capacidade invasora e que a sua pre- DISCUSSÃO sença nos processos inflamatórios periodontais seria decorrência do aproveitamento dessa situação, sendo um A E. gingivalis foi relacionada com a etiologia da microrganismo comensal, que convive entre bactérias, doença periodontal por estar presente na grande maioria fungos, vírus e protozoários (PESSÔA e MARTINS, 1982; dos casos desta odontopatia (KEYES e RAMS, 1983). A NEVES et al., 2005; CIMERMAN e CIMERMAN, 2001). capacidade de o parasita fagocitar hemácias, macrófagos, Entretanto, o metabolismo da E. gingivalis deve propiciar partículas virais e restos bacterianos corroboraram em tese, um ambiente favorável para a multiplicação de microrga- para afirmação do potencial patogênico deste microrga- nismos patogênicos (LAPIERRE e ROUSSET, 1973). nismo (BARRET, 1914; BASS e JOHNS, 1914; SMITH Gottlieb e Miller (1971) relataram ser prematuro afir- e BARRET, 1915; GOTTLIEB et al., 1968; GOTTLIEB mar que a E. gingivalis é comensal, uma vez que parasitas e MILLER, 1971; LYONS, 2006). que no passado foram considerados como tal, posterior- O relacionamento entre a E. gingivalis e as células do mente tiveram seu potencial patogênico demonstrado, sistema imunológico foi estudado por Gomes e Carobrez como é o caso da E. histolytica e da Trichomonas vaginalis. (1992), que também observaram hemácias dispersas no interior citoplasmático do microrganismo. Lyons e Scholten (1983) demonstraram a presença de partículas virais in- COMENTÁRIOS FINAIS crustadas no genoma amebiano e dispersas no citoplasma. Esta revisão permitiu verificar que: A semelhança da E. gingivalis com a E. histolytica, que é patogênica, foi estudada por Gottlieb e Miller (1971), · a E. gingivalis está presente nos processos infec- que ressaltaram a importância de se investigar mais pro- ciosos do periodonto, principalmente em pacientes fundamente a relação entre a E. gingivalis e a doença imunodeprimidos e com escassa higiene bucal; e periodontal, pois acreditaram que essa ameba tem partici- · a presença de hemácias no interior do citoplasma pação ativa em processos periodontais, salientando que da E. gingivalis deve ser investigada, pois são microrga- somente microrganismos patogênicos possuem a capaci- nismos patogênicos que se nutrem dessas células. Ciência e Cultura 37 Entamoeba gingivalis (Gros, 1849) - um protozoário de interesse para a Odontologia: Revisão de literatura. AGRADECIMENTOS: GALVÃO et al. GOTTLIEB, D.S.; DIAMOND, L.S.; FEDI, P.F. Prevalence of oral protozoa in acute necrotizing ulcerative Ao Prof. Dr. Régis Alonso Verri pela orientação e ao Prof. Dr. Rael Vidal pelo estímulo e amizade. gingivitis. 46° IADR: General Meeting, 46, USA; 1968, New Jersey. GOTTLIEB, D.S.; MILLER, L.H. Entamoeba REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS gingivalis in periodontal disease. J Periodontol, v. 42, n. 7, p. 412-415, 1971. ALONSO-VERRI, R.; SALATA, I. Estudos sobre protozoários parasitas da boca humana I – Endamoeba KEYES, P.H.; RAMS, T.E. A rationale for gingivalis (Gros, 1849). Rev Assoc Paul Cir Dent, v.15, management of periodontal diseases: rapid identification n.5, p.252-260, 1961. of microbial “therapeutic targets” with phase-contrast microscopy. J Am Dent Assoc, v. 106, p. 803-812, 1983. BARRET, M.T. 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CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 Estudo da Sobrevivência e do Enraizamento de Folhas Destacadas de Soja e de Métodos de Inoculação das Mesmas para Avaliação da Resistência de Plantas ao Oídio* Endurance And Rooting Study Of Detached Leaves Of Soybean Plant, And Its Inoculation Methods For The Evaluation Of The Resistance Of Plants To The Powdery Mildew * Parte do trabalho de graduação de primeira autora - Curso de Agronomia - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP, Campus de Jaboticabal, SP. 1999. Elaine Cristine Piffer GONÇALVES1, Maria Aparecida Pessoa da Cruz CENTURION2, Antonio Orlando DI MAURO2 1 - Pesquisadora Científica da APTA Regional Alta Mogiana. Avenida Rui Barbosa, s/nº, CEP: 14770-000, Caixa Postal 35, Colina–SP. Fone/Fax: (17) 3341-1400/1155; E-mail: [email protected] 2 - Departamento de Produção Vegetal - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP. E-mail: [email protected] ; E-mail: [email protected] RESUMO O presente trabalho apresentou como objetivo avaliar período de até três meses, e que as mesmas enraizaram a sobrevivência e o enraizamento de folhas destacadas com cerca de um mês na temperatura de 18 ºC, duas de soja, sob diferentes temperaturas, bem como, dois semanas em temperatura ambiente e, com uma semana métodos de inoculação destas ao oídio. Os testes foram nas temperaturas de 24 ºC e 30 ºC. Com relação aos realizados no laboratório do Departamento de Produção métodos de inoculação testados o mais eficiente foi o de Vegetal da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias exposição das folhas ao inóculo. – UNESP/Jaboticabal. Os resultados obtidos permitiram concluir que as folhas destacadas sobreviveram por um Palavras-chave: Glycine max, doença, técnica alternativa. ABSTRACT The present work presented as objective to evaluate the powdery mildew. The results have shown that detached the survival and the rooting of detached leves of soybean, leaves survived up to three months, and that rooting started under different temperatures, as well as, two methods of after one month at 18oC, two weeks at room temperature, inoculation of these to the powdery mildew. Assays and one week at 24oC or 30oC. The exposure of leaves to conducted in the Department of Vegetal Production at the the inoculum has shown to be the most efficient method Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP for inoculation purposes. in Jaboticabal, were carried out at two different temperatures, using two inoculation methods of plants to Key-words: Glycine max, disease, alternative technique. Ciência e Cultura 41 Estudo da Sobrevivência e do Enraizamento de Folhas Destacadas de Soja e de Métodos de Inoculação das Mesmas para Avaliação da Resistência de Plantas ao Oídio INTRODUÇÃO GONÇALVES et al. uma pequena área, até toda a parte aérea da planta, sendo menos freqüente nas vagens. Esta camada de micélios O Brasil ocupa lugar de destaque no cenário mundial e esporos, sob condição de infecção severa, impede a do complexo soja, como segundo maior produtor e expor- fotossíntese, provocando seca e queda prematura das fo- tador (AGRIANUAL, 2007). Essa posição privilegiada lhas. Os prejuízos serão tanto maiores, quanto mais cedo sem dúvida se deve ao desenvolvimento e emprego de ocorrer a infecção (YORINORI, 1997). Alguns relatos tecnologias em diversas áreas de conhecimento, dentre sobre a variabilidade patogênica do fungo E. diffusa, es- as quais, pode-se destacar o melhoramento genético, que tão sendo levados em consideração, uma vez que, varia- num programa contínuo, tem buscado aumento de produ- ções na reação de resistência de cultivares de soja foram tividade, maior adaptabilidade a diferentes condições de observadas. Variações ambientais têm feito com que cul- cultivo, resistência a doenças, nematóides e pragas entre tivares apresentem maior ou menor grau de severidade outras características desejáveis. No Estado de São Pau- da doença, constatando-se assim que existe variabilidade lo, por exemplo, conseguiu-se uma consistente elevação patogênica do fungo, porém não existem estudos detalha- no rendimento das lavouras de soja, passando de 744 kg/ dos sobre a determinação de raças (GRAU, 1985; ha em 1945 (MIRANDA et al., 1982) para 2669 kg/ha na SARTORATO & YORINORI, 2001). safra 2005/06 (AGRIANUAL, 2006). O desenvolvimento da doença pode ocorrer em tem- As doenças, um dos fatores limitantes à obtenção de peraturas de 18ºC a 30ºC, tanto em variedades resisten- maiores rendimentos na cultura, têm merecido atenção tes como em variedades suscetíveis. Temperatura de 24ºC redobrada nos programas de melhoramento, pois a ex- também favorece a ocorrência de infecção severa em pansão da cultura tem favorecido aumento na incidência variedades suscetíveis, entretanto, a temperatura de 18ºC, de doenças já constatadas. Um grande número de doen- é mais favorável ao desenvolvimento da doença, e permi- ças causadas por fungos, bactérias, nematóides e vírus te distinguir reações de resistência e de suscetibilidade foi identificado no Brasil (YORINORI, 1997), e esse tem logo aos sete dias após a inoculação (MIGNUCCI et al., aumentado a cada ano com a expansão da soja para no- 1977). No campo, existem evidências de que o desenvol- vas fronteiras. vimento da doença é mais rápido quando a temperatura A expansão de áreas irrigadas nos cerrados tem pos- do ar é inferior a 30ºC, quando a soja se encontra nos sibilitado o cultivo da soja no outono/inverno, para produ- estádios de desenvolvimento entre o início da floração e ção de sementes, porém essa prática tem favorecido a pleno enchimento das vagens (GRAU & LAURENCE, sobrevivência de alguns patógenos, entre eles, Erysiphe 1975; LEATH & CARROL, 1982). diffusa, agente causal do oídio. Até a safra 1995/96, o Embora se tenha recomendado a aplicação de oídio era considerado como doença de pouca importância fungicidas na parte aérea da planta em caráter emergencial, no Brasil, sendo observada, principalmente, no final da o método de controle mais eficaz é o uso de cultivares safra em sojas tardias (YORINORI, 1997). Porém na safra resistentes a moderadamente resistentes, principalmente 1996/97, houve severa incidência da doença em diversos em épocas mais favoráveis à ocorrência da doença, tais cultivares, favorecida por um clima chuvoso e temperatu- como semeaduras tardias ou safrinha e cultivo sob irriga- ras amenas, atingindo todas as regiões produtoras do Brasil, ção no inverno, quando ocorrem as condições ambientes com perdas entre 30-40% no rendimento (YORINORI, mais favoráveis (YORINORI, 1997). 1997). Nos Estados Unidos perdas de produtividade de O estudo de métodos alternativos, como o emprego da até 26%, ocasionadas pelo oídio foram relatadas por folha destacada, para avaliação da resistência de cultiva- Dunleavy (1980). res soja as principais doenças, são de grande importância O sintoma mais típico do oídio é a presença de uma em programas de melhoramento genético. fina camada de micélio e esporos (conídios) pulverulentos, A cultura da folha destacada é definida como a manu- de cor branca, ou castanho-acinzentada, cobrindo desde tenção de folhas vivas por um certo período após ter sido 42 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 destacada da planta-mãe (YARWOOD, 1946; TUITE, estas apresentem uma alta relação carboidratos / proteí- 1969). Inicialmente esta técnica foi utilizada em estudos nas, coleta de folhas jovens ou de média idade com cuida- de fisiologia vegetal como absorção de água, transpiração, dos para que não murchem, preferir folhas provenientes respiração e fotossíntese. Alguns anos após sua desco- de casa de vegetação, manter as folhas em recipientes berta, os fitopatologistas começaram a utilizá-la para tes- fechados sob luz fluorescente e evitar altas temperaturas tes de inoculação e estudos de fisiologia do parasitismo (YARWOOD, 1946; BROWDER, 1964; TUITE, 1969). Diante disso, o objetivo do presente trabalho foi verifi- (YARWOOD, 1946). A cultura da folha destacada apresenta vantagens como car a sobrevivência e o enraizamento de folhas destaca- economia de espaço; economia de material vegetal; eco- das de soja, sob diferentes temperaturas, bem como, tes- nomia de inóculo; facilidade e exatidão nas observações, tar dois métodos de inoculação das folhas para serem usa- uma vez que se pode examinar o material sob microscó- das em posteriores estudos para avaliação da resistência pio sem prejudicar a cultura; redução na contaminação; de genótipos ao oídio e outros parasitas obrigatórios. uniformidade da unidade experimental; facilidade de controle e manipulação dos fatores ambientes; eliminação da necessidade de luz quando o cultivo é feito em solução de MATERIAL E MÉTODOS sacarose; crescimento exuberante de alguns parasitas obrigatórios como ferrugem e oídios (YARWOOD, 1946; HOOKER & YARWOOD, 1966; TUITE, 1969; HENESSY & SACKSTON, 1970; MIGNUCCI, 1978). Testes de sobrevivência e enraizamento das folhas destacadas. Ao longo dos anos, testaram-se diferentes méto- Os testes de sobrevivência e enraizamento das folhas dos de cultivar a folha destacada, todos com uma carac- foram realizados no laboratório do Departamento de Pro- terística em comum, a simplicidade. dução Vegetal da Faculdade de Ciências Agrárias e Vete- A técnica da fo- lha destacada, por ser simples e apresentar inúmeras van- rinárias – UNESP/Jaboticabal. tagens, tem sido empregada principalmente para estudos As folhas utilizadas para os testes em laboratório fo- do desenvolvimento de parasitas obrigatórios (WARD, ram destacadas de plantas de soja cultivadas em casa de 1959; WILCOXSON et al., 1974; MORAES & SALGA- vegetação. Essas plantas foram coletadas no estádio de DO, 1982; MORAES & SAVY FILHO, 1983); para es- desenvolvimento V1 (FEHR & CAVINESS, 1977), de tudos das relações patógeno-hospedeiro, especialmente acordo com as recomendações de TUITE (1969). Após a nos casos das ferrugens (HOOKER & YARWOOD, 1966; coleta, as plantas foram levadas ao laboratório, onde foi HENESSY & SACKSTON, 1970; LUMBROSO et al., feito: o corte do pecíolo com o auxílio de uma tesoura, na 1977); para a quantificação de parâmetros epidemiológicos região da inserção do pecíolo com o caulículo. Este foi monocíclicos da ferrugem do feijoeiro (MENDES, 1985) envolvido por algodão embebido em água destilada e, a e para a seleção de microrganismos antagônicos à ferru- folha foi transferida para placa de Petri com diâmetro de gem do feijoeiro (CENTURION, 1994 a; CENTURION, 90mm, contendo uma fina camada de algodão sob um dis- 1994 b). co de papel de filtro previamente umedecido com cerca O grande obstáculo para o uso da folha destaca- de 20 ml de água destilada. O limbo foliar foi apoiado da está na ocorrência da morte precoce da folha. Entre- sobre uma lâmina de vidro para evitar o contato direto da tanto, existem estudos demonstrando que sob condições folha com a superfície úmida do papel de filtro. adequadas, folhas das várias espécies como batata, menta, Estas placas foram incubadas em condições ambien- milho, maçã, fumo, feijão e outras, podem sobreviver por tes, e, em câmaras de germinação com fotoperíodo ajus- longos períodos (YARWOOD, 1946). Dentre as suges- tado para 12 horas de luz, sob três diferentes faixas de tões para aumentar o período de sobrevivência da folha temperatura: 17 – 18ºC, 23 – 24ºC e 29 – 30ºC. destacada, incluem-se: coleta de folhas à tarde para que Foram mantidas oito placas em cada uma das condi- Ciência e Cultura 43 Estudo da Sobrevivência e do Enraizamento de Folhas Destacadas de Soja e de Métodos de Inoculação das Mesmas para Avaliação da Resistência de Plantas ao Oídio GONÇALVES et al. ções testadas, sendo colocadas duas folhas destacadas foram depositados conídios nas placas contendo as folhas por placa. A porcentagem de sobrevivência (número de destacadas. Estas foram incubadas em câmara de germi- folhas vivas/tratamento) e o período de sobrevivência das nação a temperatura de 24ºC, e fotoperíodo de 12 horas. folhas foram, avaliados semanalmente. O teste foi realizado com quatro repetições, sendo cada parcela constituída por uma placa de Petri contendo duas folhas destacadas primárias ou folha trifolíolada. O deli- Testes de inoculação de E. diffusa. neamento utilizado foi o inteiramente casualizado, sendo que, para todos os tratamentos incluiram-se duas placas O inóculo foi produzido através da infecção natural do com folhas destacadas sem inoculação como testemunhas. fungo, em cultivares altamente suscetíveis (FT- Estrela e A avaliação do nível de infecção foi realizada através IAC Foscarim –31). A partir do inóculo produzido da for- de uma escala de notas de 0 a 5, onde, 0 = folha sem ma descrita anteriormente, foram realizados alguns testes sintomas, 1 = traços a 10% da superfície foliar inoculada em cultivares suscetíveis para se determinar o método com sintomas, 2 = 11 a 25% da superfície foliar inoculada mais eficiente de inoculação. com sintomas, 3 = 26 a 50% da superfície foliar inoculada Os métodos de inoculação testados foram: com sintomas, 4 = 51 – 75% da superfície foliar inoculada a) inoculação através de discos de folhas com sinto- com sintomas, 5 = mais de 75% da superfície foliar inocu- mas: cortou-se com um cilindro de metal vazado, discos lada com sintomas. de folhas com sintomas de oídio, com diâmetro de aproxi- Esta difere daquela que foi proposta por Yorinori madamente um centímetro. Esses discos foram coloca- (1997), pois considera como área foliar, apenas a superfí- dos sobre a superfície das folhas destacadas, conforme cie da folha inoculada (dorsal). metodologia descrita por Mignucci (1978). Neste caso também, as folhas destacadas inoculadas foram incubadas em câmara de germinação, à temperatura de 24ºC e RESULTADOS E DISCUSSÃO fotoperíodo de 12 horas. b) exposição das folhas ao inóculo: folhas destacadas foram colocadas em contato com folhas de soja com sin- Avaliação da sobrevivência e do enraizamento de folhas destacadas tomas de oídio por duas vezes, em dias alternados e atra- Os resultados da avaliação da sobrevivência das fo- vés da agitação das folhas de soja infectadas com oídio, lhas destacadas de soja estão apresentados na Tabela 1. Tabela 1. Porcentagem de folhas destacadas verdes (FDV) e enraizadas (FDE). 44 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 As folhas destacadas sobreviveram por um período de des por um período de tempo suficiente para a realização tempo de até três meses, suficiente para que se realizem da avaliação da resistência de genótipos de soja à parasi- as avaliações de resistência de oídio, e outros parasitas tas obrigatórios. Kamikoga (2001) observou que 14 dias obrigatórios em condições de laboratório. Em condições após o acondicionamento das folhas de soja nas placas de de temperatura, tanto à 18°C, 24°C ou 30°C e luz alterna- Petri, estas apresentaram capacidade de enraizamento da da (12 horas de fotoperíodo) a sobrevivência foi de 100% ordem de 90 a 100%. por um período de 70 dias. Dentre as temperaturas testadas, a de 24ºC, foi a que propiciou enraizamento mais rápido com uma maior porcentagem de folhas destacadas Avaliação dos métodos de inoculação enraizadas, bem como, maior tempo de sobrevivência da folha destacada. Resultado semelhante foi observado por Através dos resultados obtidos nos testes de Kamikoga (2001), no estudo de diferentes faixas de tem- inoculação, pode-se verificar que o método de inoculação peratura e fotoperíodo. mais eficiente nas condições testadas foi o método de As folhas enraizaram com cerca de um mês na tem- exposição (Tabela 2). Folhas inoculadas através deste peratura de 18ºC, duas semanas na temperatura ambien- método apresentaram níveis de infecção mais elevados, te e, com uma semana nas temperaturas de 24ºC e 30ºC. quando comparados aos do método de inoculação por dis- Mesmo as folhas que não enraizaram permaneceram ver- co, tanto em folhas primárias como em trifolioladas. Tabela 2. Nível de infecção (NI) de oídio (Erysiphe diffusa) em folhas destacadas de duas cultivares de soja suscetíveis inoculadas através de diferentes métodos. Nível de infecção: nota 0 = ausência de sintomas; 1 = traços até 10% da área foliar inoculada infectada; 2 = 11 a 25% da área foliar inoculada infectada; 3 = 26 a 50% da área foliar inoculada infectada; 4 = 51 a 75% da área foliar inoculada infectada; 5= mais de 75 % da área foliar inoculada infectada. 1/ Nota-se que algumas folhas destacadas usadas como têm sido cada vez mais empregados para avaliação de testemunha apresentaram sintomas de oídio, embora em resistência em plantas, pois além, de utilizar pouco espaço níveis baixos de infecção, indicando que embora se tenha e inóculo, a planta não é eliminada podendo ainda vir a ser feito a coleta de folhas sem sintomas, estas já deviam utilizada. Gonçalves (2002), utilizando a técnica da folha estar infectadas quando foram acondicionadas nas placas destacada para avaliação da resistência de genótipos de de Petri. soja ao oídio verificaram correlação entre as avaliações De acordo com Beraldo (2007), estudos sobre a utili- em folhas destacadas e casa de vegetação, evidenciando zação de métodos alternativos como o da folha destacada desta forma, a importância da mesma. Alguns ajustes nos Ciência e Cultura 45 Estudo da Sobrevivência e do Enraizamento de Folhas Destacadas de Soja e de Métodos de Inoculação das Mesmas para Avaliação da Resistência de Plantas ao Oídio GONÇALVES et al. métodos de inoculação permitirão que a técnica seja usa- CENTURION, M.A.P.C.; KIMATI, H.; PEREIRA, da com bastante sucesso nos programas de avaliação de G.T. Mecanismos de atuação antagonistas selecionados resistência de plantas à doenças. para o controle biológico da ferrugem do feijoeiro (Uromyces phaseoli (Reben.) Wint.) Científica, Piracicaba, v.22, n.2, p.163-175, 1994. CONCLUSÕES DUNLEAVY, J.M. Yeld losses in soybean induced by a) As folhas destacadas sobreviveram por um perí- odo de tempo, suficiente para que se realizem as avalia- powdery mildew. Plant Disease, St. Paul, v.64, n.3, p. 291292, 1980. ções de resistência de oídio; FEHR, W.R.; CAVINESS, J.A. Stages of soybean b) O método de inoculação mais eficiente nas con- dições testadas foi o método de exposição das folhas des- development. Ames: Yowa State University, Cooperative Extension Service, 1977, 11p. (Special Report, 80). tacadas ao inóculo; GONÇALVES, E.C.P. Genética da resistência da soja O uso da técnica poderá ser uma importante fer- ao oídio (Microsphaera diffusa) e correlação entre duas ramenta aos fitopatologistas e melhoristas, em estudos de metodologias de avaliação. 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Summa Phytopathol, v.20, 1966. n.3/4, p.174-178, 1994. 46 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 LEATH, S.; CARROL, R.B. Powdery mildew on SARTORATO, A., YORINORI, J. T. Oídios de soybean Glycine max in Delaware. Plant Disease Report, Leguminosas: Feijoeiro e Soja. In: SADNIK, M. J., St. Paul, v.66, p. 70 – 71, 1982. RIVERA, M. C. Oídios. Jaguariúna, SP. Embrapa Meio Ambiente, 2001. 484p. LUMBROSO, E. et al. Completion life cycles os Puccinia hordei and Uromyces sillarum on detached leaves on their host. Phytopathology, St. Paul, v.67, p.941-944, TUITE, J. Plant pathological methods. Mineapolis: Burgess Publishing Company, 1969. 239 p. 1977. WARD, C.H. The detached-leaf techinique for testing MENDES, B.M.J. 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Ciência e Cultura 47 Avaliação dos Métodos de Ensino das Aulas Práticas na Disciplina de Clínica Integrada Clinical Working And Teaching In The Discipline Of Integrated Clinic Fábio PETROUCIC1 , Rubens Ferreira ALBUQUERQUE JÚNIOR2; Guilherme Marques FERRAUDO3 1 - Doutor em Dentística Restauradora Unesp – Araraquara – Rua Barão do Rio Branco, 773 - 14870-330 - Jaboticabal, SP. 2 - Disciplina de Clínica Integrada USP - Faculdade de Odontologia – Ribeirão Preto 3 - Bacharel em Estatística UFSCar- São Carlos RESUMO Com o objetivo de investigar as formas de trabalho trabalham em duplas durante 8 horas de aulas práticas clínico praticado pelos professores que compõem a Disci- semanais e os professores orientam o mesmo grupo de plina de Clínica Integrada das 5 (cinco) faculdades públi- alunos desde o planejamento até a finalização do caso cas de odontologia do Estado de São Paulo que possuem clínico, metodologia que tem proporcionado bons resulta- corpo docente próprio, os autores visitaram essas institui- dos e que deve ser incentivada. Demonstrações de pro- ções de ensino durante os meses de abril e maio de 2004 cedimentos clínicos ao vivo, trabalhos extra muro e orien- e através de um questionário pré-estruturado, colheram tações aos grupos antes de cada aula prática foram, as informações sobre o funcionamento da Clínica Integrada estratégias pedagógicas inovadoras aplicadas durante o e após a análise do conteúdo, concluíram que a forma de ensino prático na Disciplina de Clínica Integrada. trabalho mais adotada pelos professores durante as aulas práticas, é o sistema em que cada professor acompanha e orienta uma quantidade de 8 a 12 alunos, dos quais 80% Palavras-chave: Clínica Integrada, ensino, tendência, currículo ABSTRACT With the aim to investigate the working clinical of two and during 8 hours of practical activities for week ways developed by the professors of the discipline of and the professors are responsible during all the treatment Integrated Clinic in the 5 (five) Public Dental Schools of since the establishment of the schedule until its finishing, the State of São Paulo (Brazil) whose have an exclusive methodology which have provided good results and should teaching members for this Discipline, those institutions be stimulated. Alive demonstrations of clinical procedures, were visited in April and May of 2004 and through a pre- extra wall activities and group orientations preceding each elaborated questionnaire were obtained informations upon practice class were the innovator pedagogical strategies the working way of the Integrated Clinic and after applied during the practical teaching of the Clinical analyzing the results was possible to conclude that the Integrated Discipline. more work adopted way during the class practical activities is a system in which each professor take care of 8 to12 students, and that 80% of them normally work in number 48 Ciência e Cultura KEYWORDS : Integrated clinic, teaching, tendency, curriculum. CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS Com a maior carga horária dentro dos cursos de odon- Para se determinar como vêm sendo ministradas as tologia a Disciplina de Clínica Integrada (D.C.I.) geral- aulas práticas nas D.C.I. das 5 (cinco) faculdades públi- mente é obrigatória nos dois últimos semestres da gradu- cas de odontologia do Estado de São Paulo, que possuem ação, e vem sendo ministrada através de aulas teóricas, corpo docente próprio de professores: USP- São Paulo e juntamente com um estágio supervisionado no qual se Ribeirão Preto; UNESP- Araraquara, Araçatuba e São pretende dar continuidade aos conhecimentos teóricos e Jose dos Campos, foi elaborado um questionário. Os da- práticos adquiridos pelos alunos nas disciplinas já cursa- dos eram obtidos mediante respostas que foram formula- das, terminando geralmente com uma pequena reabilita- das ao professor responsável pela D.C.I. durante os me- ção oral em um ou mais pacientes. ses de abril e maio de 2004, período este em que foram Tal disciplina tem por objetivo o diagnóstico, o planeja- visitadas todas as faculdades e também obtidos os planos mento, a realização dos tratamentos propostos e a de aula para posterior levantamento dos resultados atra- proservação dos resultados obtidos, exigindo que o corpo vés da análise do conteúdo (Anexo I ). docente tenha como habilidades principais: a capacidade de examinar, diagnosticar, prevenir e tratar lesões da cavidade bucal, além de comunicar-se com a sociedade, RESULTADO E DISCUSSÃO acompanhar e incorporar o desenvolvimento tecnológico e científico nas diferentes especialidades odontológicas e A graduação em odontologia carrega, em sua história, também de trabalhar em equipes interdisciplinares, atuan- um processo exigente de formação teórico-prático, com do como promotor de saúde. ênfase na associação dos conhecimentos teóricos à atua- As equipes são formadas por professores de odonto- ção clínica. Segundo Hernandes em 1998 e Perrenoud em logia que têm diferentes formações específicas em rela- 1999, a preparação do aluno por parte das faculdades ção às suas pós-graduações e com aptidões para serem deveria possibilitar mais do que a pura transmissão de clínicos gerais ou professores generalistas, com o com- conhecimento, envolvendo uma formação humanista de promisso voltado para a saúde e atentos a bioética. preparação para enfrentar as diferentes situações da vida Todavia, dependendo da formação docente da equipe, profissional. A D.C.I. deverá ter consciência desta reali- a D.C.I. vem sendo ministrada de forma diferente entre dade para organizar o que já foi aprendido pelos alunos de as várias faculdades de odontologia. Assim, de acordo modo que estes possam cumprir tanto o programa pro- com a formação especializada do professor, geralmente posto de uma forma mais desenvolta, quanto vivenciar as destaca-se mais a prótese, ou a dentística, ou a principais situações de um consultório dentário, evitando periodontia, ou a cirurgia, entre outras, fazendo com que o assim uma repercussão negativa na performance destes aluno não desenvolva todas as habilidades necessárias para alunos ao cursarem tal disciplina. a futura prática da clínica geral que deverá executar depois de formado. Fazer com que a D.C.I. tenha a sua personalidade dentro do curso de odontologia e não usá-la como uma Baseados nesta realidade o nosso objetivo foi obser- extensão de uma determinada disciplina específica, que var no panorama atual das faculdades públicas de odon- por algum motivo, como a falta de tempo ou a complexi- tologia do Estado de São Paulo, como vêm sendo minis- dade do conteúdo programático ou o número reduzido de tradas as aulas práticas da D.C.I. e assim fornecer subsí- professores entre outros, impediram o término do plano dios para que os cursos de odontologia interessados pos- de aula proposto, foi uma unanimidade na opinião dos pro- sam se nortear e elaborar uma conduta de trabalho clínico fessores entrevistados neste trabalho e acorde com mais atual. Crispino em 2001e Petroucic e Albuquerque Jr. em 2005. Ciência e Cultura 49 Avaliação dos Métodos de Ensino das Aulas Práticas na Disciplina de Clínica Integrada Várias foram as maneiras de arregimentação de professores para a formação das equipes nas D.C.I., que PETROUCIC et al. ta o maior número de professores na equipe (11 professores) (Tabela1). atuavam em aulas práticas. O modelo mais antigo citado, É a única unidade que não possui trabalho em dupla( era formado por um elenco de professores de odontolo- Gráfico 1). Além de ser a unidade que apresenta a menor gia que eram somente especialistas nas suas áreas espe- quantidade em horas de aulas práticas semanais por alu- cíficas, ou seja, o professor de cirurgia só dava assistên- no(4 horas), (Gráfico 2). cia aos alunos que estivessem fazendo cirurgia, ou o pro- A última fase do tratamento clínico chamada fessor de prótese só acompanhava os alunos que estives- reabilitadora, só era acompanhada pelos protesistas e sem naquele momento trabalhando com prótese,cabendo- mesmo assim próximo ao final do curso, pois somente após lhe além dos ensinamentos específicos que iria transmitir a fase preparadora estes entravam em ação e algumas ao aluno, toda a parte de avaliação prática daquele dia. vezes eram até necessárias clínicas em horários especi- Assim, observou-se que esta forma de atuação ais para finalizar os casos. Esta forma antiga de supervi- de trabalho dos professores nas aulas práticas, não era são clínica, gerava de certa forma a arrogância dos espe- adequada, visto que, nos primeiros dias de clínica o pro- cialistas, ao dizerem que nenhum professor generalista ti- fessor de periodontia era muito solicitado para avaliação nha a capacidade de ensinar a sua disciplina melhor que periodontal dos casos que iriam se iniciar, ou para os pro- ele, o que não deixa de ser verdade; porém nessas clíni- cedimentos básicos de raspagem e polimento corono - cas a produtividade era baixa, alguns professores fica- radicular preconizados antes do início do tratamento, e vam por mais tempo ociosos, chegando às vezes nem a que era feito por todos os alunos ao mesmo tempo, en- trabalhar, se nenhum aluno estivesse realizando naquele quanto os outros professores (cirurgia, endodontia, momento uma determinada atividade relacionada à sua dentística e prótese), ficavam esperando para resolver especialidade. alguma dúvida ou emergência (dor, estética). Passadas finalização do caso clínico, pois o algumas sessões, os professores de periodontia já traba- especialista não era familiarizado em prever o tempo ne- lhavam mais tranqüilos e até agendavam algumas cirurgi- cessário para a realização das outras etapas clínicas. Ou mesmo raramente, chegava-se a professor dito as periodontais. Entrava a fase da endodontia que obriga- Por isto originou-se a segunda forma de atuação va o professor específico da endodontia a uma atuação clínica dos professores da D.C.I., formada por professo- maior junto aos alunos durante a clínica, subseqüentemente res de odontologia generalistas que passaram a estudar e era a vez da cirurgia. a ensinar, além da área da sua pós-graduação, outras dis- No modelo antigo de supervisão clínica, os procedi- ciplinas clínicas. Assim começaram a acompanhar os alu- mentos clínicos mais realizados durante a fase preparadora nos por regiões dentro da clínica, geralmente 8 a 12 alu- eram na área da dentística, os quais poderiam ser realiza- nos, evitando um deslocamento longo do professor para dos a qualquer momento, inclusive nos pacientes chama- acompanhar um serviço no primeiro box e o outro último dos de apoio, que substituíam os pacientes faltosos para box da clínica, por exemplo. que os alunos tivessem alguma atividade clínica naquele Comparando as unidades, USP- São Paulo (120 alu- dia. Com isso os professores da dentística tinham que dar nos) e UNESP- Araçatuba (110 alunos), as quais apre- assistência além dos alunos que estivessem fazendo sentam o maior número de alunos por ano (Tabela 1), dentística naquele dia aos pacientes de apoio durante as verifica-se que a UNESP- Araçatuba apresenta um défi- aulas práticas, o que fazia com que este professor traba- cit de 45% no número total de professores nas equipes lhasse mais do que os das outras disciplinas. em relação à USP- São Paulo. Para as unidades UNESP Como demonstrado pela pesquisa a USP –São Paulo – Araraquara e UNESP- São José dos Campos que apre- diferencia –se das demais unidades por, apresentar o maior sentam o número de alunos por ano de 75 e 80, respecti- número de alunos por ano (120 alunos) ; sendo 80 no cur- vamente, o déficit é de 55% no número total de professo- so diurno e 40 no curso noturno e, talvez por isso apresen- res na equipe em relação à USP- São Paulo. E a USP- 50 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 Ribeirão Preto, com 80 alunos por ano, apresenta um dé- a perda da qualidade, além das novas tecnologias, visando ficit de 45% em relação à USP-São Paulo (Gráfico 3). que o futuro cirurgião dentista consiga o seu espaço de A UNESP- Araçatuba apresentou no ano de 2004, o trabalho num país com uma renda per capita mal distribu- maior valor para a relação professor / aluno - durante as ída, presença de um grande número de Faculdades de aulas práticas 1 professor supervisiona 8 alunos - além Odontologia, além de estarmos vivenciando a diminuição do maior número de alunos por ano (110 alunos) dentre da doença cárie, destinando cirurgiões dentistas, princi- as unidades da UNESP. palmente os recém formados a se frustrarem ou até mes- Com a formação dos grupos de alunos que passa- mo desistirem da profissão após alguns anos de trabalho, ram a ser dirigidos por cada professor, este passou a res- pois não foram treinados para o futuro (CECCON, 2000; ponder por todo o serviço clínico e a produtividade clínica PERES, et al, 2004). aumentou, a avaliação se tornou mais integral e as dificuldades do grupo passaram a ser vividas pelo professor que pode, em determinado momento, solicitar trabalhos, semi- CONCLUSÃO nários, etc, para solucionar uma dúvida comum, ou mesmo antes de iniciar a clínica reunir os alunos e questioná- Através deste trabalho pode-se concluir que na parte los sobre o que cada um vai fazer naquele dia, por exem- prática a Disciplina de Clínica Integrada, apresentou-se plo: o aluno irá fazer uma classe III na mesial do dente 21, no ano de 2004, nas faculdades públicas de odontologia o professor pode perguntar quais dentes irão ser isolados, do estado de São Paulo, com um elenco de professores vai usar quais grampos, quais fresas e pontas diamantadas, que orientam os alunos por grupos de 8 a 12 alunos, em qual o sistema adesivo, vai ou não terminar com resina de que 80% destes trabalhavam em duplas e praticavam 8 micropartículas, como vai ser o polimento, etc. Com isso horas de aulas práticas semanais e estes professores ori- os alunos irão se familiarizando com os ensinamentos e entavam o mesmo grupo desde o planejamento do caso mesmo que não forem fazer uma restauração classe III, clínico até a sua finalização, acompanhando todas as eta- irão vivenciar um maior número de casos clínicos. pas do tratamento proposto. Outro destaque é a UNESP-Araraquara, que apresenta o menor número de alunos por ano (75 alunos). A REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UNESP Araraquara e a USP- Ribeirão Preto apresentam somente cursos diurnos. A UNESP – Araraquara e a UNESP- São José dos Campos apresentam o menor nú- CECCON, M.F. A Odontologia em Prova. Rev. Assoc. Paul. Cir. Dent., v. 54, n.5, p. 353-362, 2000. mero de professores na equipe (5 professores). E a UNESP – Araraquara apresenta o menor valor para a CRISPINO, P.S. Uma Análise Crítica das Práticas relação professor/aluno durante as aulas práticas, um pro- Avaliativas Realizadas no Ensino de Graduação de uma fessor supervisiona 12 alunos(Gráfico 4) . Faculdade Brasileira de Odontologia. Dissertação de Através dos anos, devido a exigência de um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, as competências Mestrado da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto – USP. 227p, 2001. gerais (atenção à saúde, tomada de decisão, comunicação, liderança, educação continuada, administração e GOMES, S.S.R., FERNANDES NETO, A.S., PERRI gerenciamento), estão se tornando cada vez mais neces- DE CARVALHO, A.C., SIMANOTO Jr., P.C. Análise sárias (LOMBARDO, 2001; GOMES et al, 2002) e ca- sobre as “Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos bem aos professores da D.C.I. as lapidações dos alunos de Graduação em Odontologia”. In: 19ª REUNIÃO DA na parte teórica, para provas de admissão para o serviço SOCIEDADE público, e na parte prática ao trabalho com convênios ODONTOLÓGICA. v. 16, Anais, suplemento 2002, São odontológicos, para uma produtividade mais elevada sem Paulo, p. 20. BRASILEIRA DE PESQUISA Ciência e Cultura 51 Avaliação dos Métodos de Ensino das Aulas Práticas na Disciplina de Clínica Integrada HERNANDEZ, F.. A organização do currículo por Projetos de trabalho. 5ªed. Porto Alegre: Artes Médicas PETROUCIC et al. ma Único de Saúde – Uma reflexão. Rev. Abeno, v. 4, n. 1, p. 38-41, 2004. Sul, 1998. PERRENOUD, P. Construir as competências desde a LOMBARDO, I. Reflexão sobre o planejamento do escola. Porto Alegre, Artes Médicas Sul, 1999. ensino de Odontologia, Rev. Abeno, v. 1, n. 1, p. 17-24, 2001. PETROUCIC, F.; ALBUQUERQUE JR., R.F. O ensino na Disciplina de Clínica Integrada. Rev. Abeno v .5, PERES, A. S.; OLYMPIO, K. P. K.; CUNHA, L. S. n.1, p.60 – 64, 2005. C., BARDAL, P. A. P. Odontologia do Trabalho e Siste- Tabela 1. Número de alunos nas Disciplinas de Clínica Integrada das faculdades públicas de odontologia do Estado de São Paulo ,em 2004, que trabalham com equipe própria de professores. Gráfico 1. Trabalho em duplas (quatro mãos) A USP- São Saulo é a única unidade que não possui trabalho em duplas. 52 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 Gráfico 2. Trabalho em horas de aulas semanais A USP- São Paulo é a unidade que apresenta a menor quantidade em horas de aulas práticas semanais por aluno (4 horas) Gráfico 3. Total de professores na equipe A UNESP-Araraquara e a UNESP de São José dos Campos são as unidades com menor número é a USP-SP a que apresenta maior número de professores Gráfico 4. Relação professor/ aluno durante as aulas práticas Para a relação professor/aluno durante as aulas práticas, as unidades USP-São Paulo, USP-Ribeirão preto e UNESP-São José dos Campos apresentam 1 professor para supervisionar 10 alunos. Na UNESP-Araraquara, 1 professor supervisiona 12 alunos e na UNESP-Araçatuba 1 professor supervisiona 8 alunos. Ciência e Cultura 53 Avaliação dos Métodos de Ensino das Aulas Práticas na Disciplina de Clínica Integrada PETROUCIC et al. Anexo I Questionário Faculdade: data: assinatura: Nome professor responsável: 1. Qual o número de alunos na sua faculdade cursando a Disciplina de Clínica Integrada. Resp:...................................................................................................................................... 2.Qual o número total de professores da equipe Com tempo integral Com tempo parcial Com aulas em outras disciplinas Com mais de 12 anos de docência 3. Número de horas aulas/práticas semanais Resp:....................................................................................................................................... 4. Relação professor/aluno nas aulas práticas. Resp:..................................................................................................................................... 5.Trabalham em dupla ( ) sim ( ) não Tem clínica própria ( ) sim ( ) não 6. Quais são as limitações ou bloqueios encontrados pelos professores da C. I. nos trabalhos clínicos ou teóricos em sua instituição de ensino? Resp:...................................................................................................................................... 7. O que faz da disciplina de C.I. da sua instituição ser singular em sua trajetória: a) Histórica: b) Administrativa: c) Acadêmica: d) Pedagógicas: 8. Comentários sobre a pesquisa. Resp:...................................................................................................................................... 54 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 Mudanças de Paradigmas Odontológicos: O uso de textos visuais como estratégia de ensino em oficinas pedagógicas de docentes. Change of Dentistry Paradigms: The use of visual texts as pedagogical strategies on workshops for professors. Caren Elisabeth STUDER Curso de Odontologia da Fundação Educacional de Barretos Rua, 30, 2251. Bairro Fortaleza. 14783-215 - Barretos, S. Paulo. Brasil. Telefones: (17) 3324-5917 / 9777-5832 - e-mail: [email protected] RESUMO Este artigo tem como objetivo relatar a experiência de da Educação em 2002, que têm como conteúdo uma mu- uso de textos visuais como estratégia pedagógica de atu- dança paradigmática, tanto na concepção de ensino, como alização, em oficinas docentes no Curso de Odontologia na concepção das práticas odontológicas atuais. das Faculdades Unificadas de Barretos – SP entre 2004 e 2006. A iniciativa se insere como instrumento de adequa- Palavras-chave: oficinas, docentes, ensino, paradigmas, ção das mudanças curriculares propostas pelo Ministério ilustrações ABSTRACT This article has the purpose to report the experience alterations proposed by the Ministry of Education in 2002, of using visual texts as an updating pedagogical strategy which have as their content a paradigmatic change, both in workshops for professors at the Course of Dentistry in the teaching concept and in the conceiving of the present from Faculdades Unificadas de Barretos - SP (Barretos dental practices. Unified Faculties) between 2004 and 2006. The initiative is introduced as means of adaptation to the curricular K EYWORDS : workshops, professors, teaching, paradigms, illustrations. Ciência e Cultura 55 Mudanças de Paradigmas Odontológicos: O uso de textos visuais como estratégia de ensino em oficinas pedagógicas de docentes. Introdução STUDER, caren elisabeth individual e social. Este novo enfoque já se encontra em estado adiantado de elaboração, conforme atestam as O objetivo deste texto consiste no relato da experiên- publicações, tanto da Associação Brasileira de Odontolo- cia pedagógica, de introdução de novas estratégias de for- gia Preventiva (ABOPREV, 2003), como também, por mação continuada aos docentes no Ensino Superior. Des- parte das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cur- creve uma estratégia específica, na qual foram utilizados sos Universitários da Área de Saúde. (ALMEIDA, 2003). textos visuais de grandes obras de arte como meio de A introdução da flexibilização curricular por parte do atualizar conteúdos, bem como a introdução dos novos Ministério da Educação (MEC), em meados da década paradigmas no ensino de odontologia em oficinas peda- de 90, evidenciou a necessidade de adequações por parte gógicas, propostas para o Curso de Odontologia das Fa- de cada uma das instituições de ensino superior, princi- culdades Unificadas da Fundação Educacional de Barretos, palmente, a partir da construção de projetos pedagógicos entre os anos de 2004 e 2006, tendo a autora trabalhado próprios e específicos. Concomitantemente à introdução como assessora pedagógica. dessas mudanças curriculares, o MEC institucionalizou a avaliação externa da graduação, sob a forma de Exames Mudanças de Paradigmas: Ensino e Odontologia Nacionais de Cursos anuais. Segundo Cunha (2005), houve um forte impacto inicial do Provão, não somente nos cursos, como tmbém Há um tempo - toda a década de 90 - que nos defron- nos respectivos docentes. Tal impacto pode ser explicado tamos com a introdução da expressão “mudança de tanto pela ausência de uma tradição avaliativa, como tam- paradigmas” em vários meios: nos textos acadêmicos, atra- bém, pelas dificuldades organizacionais frente às novas vés de novas concepções epistemológicas, no meio em- exigências do Ministério da Educação. Ainda, conforme a presarial, através das diversas ondas de “qualidade total”, mesma pesquisadora, constatou-se um “divórcio” entre o e, por último, na imprensa diária, em forma de explica- conteúdo dos cursos e as problemáticas correspondentes ções para referendar e traduzir as aceleradas mudanças na realidade nacional. Conceitos como “cidadania” e “res- na sociedade em geral. Na academia, resgatou-se a obra- ponsabilidade social”, apenas recentemente, estão sendo referência de Kuhn (1978), “A estrutura das revoluções incorporados aos projetos institucionais. científicas”, reiniciou-se a discussão do tema, e, a partir No caso dos cursos de odontologia, segundo Narvai daí, passou a ser um tema recorrente em todas as áreas (2003), voltar-se para o atendimento das realidades soci- profissionais. (CAPRA, 1989) ais mais abrangentes não significa aderir a uma política Na área das humanas temos observado uma série de assistencialista mas, em compartilhar, com seriedade pro- tentativas em estabelecer alguns consensos mínimos, quan- fissional, a responsabilidade pelas graves lacunas da saú- to às características paradigmáticas deste período atual, de bucal atual. Noutro texto, Narvai (2002) insiste na real denominado como pós-modernidade (BOAVENTURA, distinção entre a simples inclusão de disciplinas isola- 1987) . Mais especificamente, na área de ensino das nos cursos (como “Saúde Coletiva” por exemplo), e odontológico, podemos observar estas tentativas em duas a mudança filosófica de finalidades e responsabilidades, frentes: primeiro pelo lado do ensino, na forma de um em forma de projetos institucionais. A cobrança de um re- questionamento das práticas pedagógicas atualmente vi- direcionamento das práticas de ensino atuais, em forma gentes, e fortemente influenciadas pela “geração currícu- de um projeto institucional comum a todos os envolvi- los mínimos” dos anos 70-80 (MASETTO, 1997). Em dos em cada curso, passou a tornar-se uma exigência for- segundo lugar, pelo tratamento do conteúdo odontológico mal, tanto pela Lei de Diretrizes Bases da Educação propriamente dito: a partir da ação sobre o dente do paci- (LDB) de 1996, como em conseqüência da Reforma Sa- ente/objeto houve uma ampliação de foco que contempla, nitarista e a nova Constituição de 1988. Nesse sentido, a partir de uma visão de saúde integral, a saúde bucal podemos perceber a ancoragem longínqua destas propos- 56 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 tas de ensino atuais, evidenciando um nível de ses quadros podiam ser realizadas ou em forma de trans- aprofundamento muito além de leis temporárias, próprias parências coloridas através de retroprojetor, ou então em de governos pontuais, fazendo parte do processo de apresentações no power-point). institucionalização das políticas de saúde como um todo no país. A escolha dos diferentes “textos visuais” de suporte, visava a introdução de conteúdos gerais, relacionados A partir desse cenário, podem ser encontrados dois a todas as áreas odontológicas, como aqueles relaciona- paradigmas, atualmente vigentes no ensino da área dos à história da constituição do campo odontológico como odontológica: aquele tradicional, denominado como ciência, a explicitação dos diferentes cenários de saúde “positivista prático”, marcado pelos “currículos mínimos”da bucal, além da introdução dos determinantes econômicos, década de 70, e o atual, com novos enfoques e procedi- políticos e sociais da saúde bucal. A partir da apresenta- mentos. Segundo Gomes Pinto (2000), um dos grandes ção dos conteúdos, que serviram como “pano de fundo” autores de referência no campo de Saúde Coletiva da área interdisciplinar, abria-se a possibilidade de trabalhar dife- odontológica, “quando a odontologia efetivamente trans- rentes aspectos pontuais, tais como, o entendimento das formar-se em uma ciência social e preventiva, as discipli- novas Diretrizes Curriculares, a confecção de Perfil de nas correspondentes deixarão de existir, uma vez que seus Egresso e diferentes Planos de Ensino, ou mesmo a ela- conteúdos estarão embutidos em cada passo do currí- boração de diferentes estratégias de avaliação. culo e do fazer diário da profissão” (grifo nosso).O Sob o nome de “textos visuais”, conforme a proposta uso de textos visuais como adequação pedagógica de Zamboni (2001), figuras e imagens que podem ser fo- aos conteúdos propostos. tografias ou reproduções de arte de todos os tipos, que Ante o hiato existente entre a prática docente tradicional e o novo paradigma em ascensão houve a preocupa- contenham informações codificadas através do tipo de linguagem de estética visual . ção, por parte da coordenação do Curso de Odontologia Didaticamente, isso significou a busca de mecanismos da Fundação Educacional de Barretos, em oferecer, por pedagógicos que, a partir de uma experiência pedagógica meio de oficinas pedagógicas próprias, atualização na for- profunda por parte dos professores, agora como alu- mação pedagógica de seu corpo docente. Havia duas pre- nos, pudesse facilitar a absorção de tais conteúdos e pro- ocupações: uma de caráter didático - pedagógico, e outra cedimentos, a serem incorporados em suas próprias práti- de conteúdos. Quanto à primeira, optou-se em procurar cas pedagógicas cotidianas no curso. A utilização desses formas didaticamente adequadas, para que o aprendizado textos visuais, tem se demonstrado como um meio efici- do professor possa alcançar o nível de aprendizagens ente para a apresentação de conteúdos, tais como as “mu- significativas, tal como explicitado pelo Prof. Masetto danças paradigmáticas” ora em curso. Conteúdos estes em 1998, durante o Congresso da Associação Brasileira que, por sua natureza, privilegiam uma ótica pouco co- de Ensino de Odontologia (ABENO) . Nesse sentido, pro- mum no cotidiano profissional, tais como: conceitos, olha- curamos formas didáticas alternativas, com o objetivo de res de longo prazo e distância, como proposto pelos traba- sensibilizar o corpo docente, quanto a necessidade da in- lhos de Zamboni (2001) em seu pequeno livro “A pesqui- trodução dos novos conteúdos, nossa segunda preocupa- sa em arte: Um paralelo entre arte e ciência”. A partir da ção. Foram organizados diferentes encontros, como os de compreensão desta nova abordagem conceitual, facilitou- planejamento, no início de cada um dos semestres, entre se o entendimento da interdependência de cada uma das 2004 e 2006, e também, a organização de workshops especificidades odontológicas ao promover um denomi- específicos, para o trabalho em diretrizes curriculares, pla- nador comum às diferentes disciplinas de um curso. Como nos de ensino e técnicas de avaliação, entre outros. Em mencionado, em outras palavras por Valéry, “uma obra algumas destas oficinas, foram utilizadas como artifício de arte deveria ensinar-nos sempre que não havíamos visto pedagógico, a projeção de “textos visuais”, como meio de o que vemos. A educação profunda consiste em desfazer facilitar a introdução do novo paradigma ( a projeção des- a educação primitiva”. ZAMBONI (2001) Ou seja, pelo Ciência e Cultura 57 Mudanças de Paradigmas Odontológicos: O uso de textos visuais como estratégia de ensino em oficinas pedagógicas de docentes. STUDER, caren elisabeth fato de haver uma excessiva fragmentação dos conteú- foram utilizados os textos de Darcy Ribeiro (1997 ;1998), dos (de ensino) em áreas cada vez mais distantes entre si, para as análises de cunho social, e os textos de Krieger buscou-se um artifício para o estabelecimento de um novo (2003) e Weyne (2003), encontrados na obra da horizonte em comum. No caso, pelo resgate dos propósi- ABOPREV (Associação Brasileira de Ensino de Odon- tos do ensino odontológico comum a todos envolvidos. tologia, 2003) como suporte para a parte propriamente A utilização dos textos visuais como recurso pedagó- odontológica. A título de exemplo e, respeitando o espaço gico alternativo necessita, como todas as outras estratégi- deste artigo, exemplificamos com 4 figuras utilizadas nes- as de ensino, de uma cuidadosa preparação. Primeira- ta oficina. O fio condutor da seleção das imagens é cro- mente, há necessidade de se saber selecionar, com clare- nológico, como podemos observar a seguir. za, os objetivos, os conteúdos pertinentes e os conceitos a serem veiculados, em um encontro ou em uma seqüência deles. A partir destas primeiras definições, procurar por imagens que possam traduzir estes conceitos em uma linguagem pictórica própria. Portanto, a utilização de imagens artísticas deve complementar os conteúdos conceituais tradicionalmente presentes em uma oficina, ou em uma aula. O uso de textos visuais descontextualizados do conteúdo conceitual a ser transmitido, pode desviar o objetivo de uma aprendizagem significativa, desperdiçando o sempre escasso tempo dos docentes envolvidos. Respeitando a limitação de espaço deste artigo, procura-se exemplificar, através de uma oficina pedagógica, realizada pelo Curso de Odontologia de Barretos em dezembro de 2004, ocasião em que se trabalhou com cerca de 30 docentes, durante um dia de sábado, para a confecção das novas ementas, da reforma curricular em andamento.Esta oficina foi realizada como o início de um longo processo que perdurou até o final de 2006. Após a Figura 1 - Realidade indígena brasileira. apresentação com os textos visuais, no total entre 20 a 25 figuras, procurou-se refazer as ementas e os objetivos Como primeiro texto visual, utilizamos uma gerais das disciplinas do primeiro ano de graduação. (Ana- pintura sobre a contextualização da realidade tomia, Bioquímica, Sociologia, Fisiologia, Histologia, Intro- brasileira antes da colonização européia de1500 (Figura dução à Odontologia, Microbiologia ) 1). Uma ilustração que traz as informações mínimas para O tema, ora apresentado, refere-se à apresenta- a sobrevivência dessa formação social. A primeira pergunta ção de um panorama do desenvolvimento histórico da que se faz, para o direcionamento do olhar “odontológico”, odontologia, com ênfase em três aspectos: a constituição se refere às condições da saúde bucal dessa comunidade da odontologia como campo científico, a apresentação dos antes e depois da colonização. Uma análise sobre as três paradigmas odontológicos, considerados como condições de saúde/doença, em realidades autóctones, e “mutilador, curativo e preventivo”, e a explicação socioló- anteriores à expansão européia, introduz o aluno/docente, gica dos diferentes cenários odontológicos, tais como po- aos elementos pelos quais ele possa entender a origem e dem ser encontrados ainda hoje, na realidade brasileira os parâmetros iniciais, tanto do que se convencionou atual. Como fonte bibliográfica das análises realizadas, chamar de “odontologia mutiladora”, com também de 58 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 “odontologia curativa”. O antes e o depois da colonização, perpassaram a análise de todos os textos visuais, do permite uma comparação genérica entre duas realidades primeiro ao último, de forma a ser lentamente consolidado muito distintas, o que pode facilitar a compreensão de como um parâmetro de um novo paradigma de análise elementos sociais mais amplos, que também fazem parte das práticas odontológicas. dos determinantes da saúde bucal atual, como por exemplo: As figuras 2 e 3 ampliam o universo de elementos con- a existência ou não de saneamento básico, tratamento de siderados: são introduzidos os avanços tanto da medici- água, tipo de alimentação, estilos de vida (sedentário ou na como da odontologia como ciência e práticas curati- não) e formas de manutenção da saúde em geral e a bucal vas. em particular. Esses determinantes, conforme a bibliografia complementar utilizada, constitui-se nos elementos que Figura 2: A prática do paradigma “mutilador-restaurador” Figura 3: A medicina se desenvolve em forma de ciência. As figuras 2 e 3 retratam o momento específico da bucal, a organização da odontologia como ciência, cujos formação do campo odontológico, agora como ciência. O frutos, passam a redirecionar constantemente não só as século XVII representa o avanço científico dos estudos práticas de tratamento, como também o processo de na medicina, ao mesmo tempo em que se definem os formação das especializações hoje existentes. parâmetros do profissional como cirurgião dentista, Como última figura, escolhida para a exemplificação momento este de transição entre o paradigma mutilador e do terceiro momento da apresentação, destacamos uma o curativo-restaurador. As práticas curativas se consolidam pintura de Tarcila do Amaral (figura 4), em que podemos nos países da Europa Central, inclusive na cobertura das visualizar uma síntese da formação populacional brasilei- áreas públicas de saúde, concomitantemente à ra. Ao apresentarmos os diferentes cenários odontológicos industrialização dos alimentos como o açúcar, e à brasileiros, percorremos, em forma de seis a dez figuras, consolidação de grandes populações nos centros urbanos diferentes aspectos da saúde da população atual: desde em formação. Portanto, como uma segunda etapa da as realidades longínquas do norte, nordeste e centro-oes- apresentação, adiciona-se aos determinantes da saúde te, como as populações de baixa renda, situados nos gran- Ciência e Cultura 59 Mudanças de Paradigmas Odontológicos: O uso de textos visuais como estratégia de ensino em oficinas pedagógicas de docentes. STUDER, caren elisabeth des centros urbanos, ou então, aquelas situadas nos níveis por parte do corpo docente de 57 profissionais, dos ele- de classe média e média/alta, de cidades como Rio de mentos relacionados às mudanças de paradigmas dentro Janeiro e S. Paulo, além das realidades encontradas na da área de ensino de odontologia como um todo. Os fru- parte sul do país. tos de tal trabalho podem ser visualizados, à medida que a reforma curricular seja concluída (prevista para final de 2007). Com a adequação de cada uma das antigas disciplinas e seu conteúdos correspondentes, dentro do novo formato proposto pelo Ministério da Educação, de forma a contribuir positivamente para a consolidação de um bom ensino de odontologia, e consequentemente, para a melhoria da saúde bucal de nosso país como um todo. Referências Bibliográficas Figura 4: Diversificação étnica do Brasil ALMEIDA, M. (org.) Diretrizes Curriculares NacioCom o instrumental teórico utilizado desde o início das apresentações, pode se viabilizar um entendimento mais nais para Cursos Universitários da Área da Saúde. Londrina: Rede UNIDA. 2003. amplo e complexo das variáveis que contribuem para a saúde bucal. Há de se ter em mente, que este trabalho ocorre com a sedimentação das informações através do uso de muitos exemplos, cada qual correspondendo a uma série de textos visuais escolhidos para cada tema ou con- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ODONTOLOGIA PREVENTIVA. (ABOPREV) Promoção de Saúde Bucal: Paradigma, Ciência e Humanização.3ªed.São Paulo:Artes Médicas. 2003. ceito proposto. BOAVENTURA DE S. S., Um discurso sobre as ciConclusão ências. Porto: Portugal: Afrontamento. 1987. Com a apresentação da proposta do uso de textos visuais em oficinas pedagógicas docentes, conforme as colocações iniciais deste pequeno texto, procura-se CAPRA, F; O Ponto de Mutação. S. Paulo: Cultrix. 1989. Trad. A. Cabral Cap. 1, p.24 – 46. exemplificar uma estratégia pedagógica, que seja adequada, para a introdução de conteúdos que tenham como foco, CUNHA, M I (org), Formatos Avaliativos e Concep- as mudanças paradigmáticas na área do ensino da odon- ção de Docência. Campinas: Editores Associados. 2005. tologia atual. Trata-se de um relato de experiência, ocorrido no Curso de Odontologia das Faculdades Unificadas de Barretos, entre os anos de 2004 e 2006, que consistiu GOMES PINTO, V. Saúde Bucal Coletiva. 4ªed. São Paulo: Santos. 2000. p5 na adequação das novas propostas de formação generalista da graduação, conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais propostas pelo Ministério da Edu- KRIEGER, L (coord.); ABOPREV; Promoção de Saúde Bucal. P. Alegre : Artes Médicas. 2003. cação. No caso, utilizou-se reiteradas vezes o recurso do uso de textos visuais, como suporte para o processo de implantação das mudanças curriculares em fase de implantação, o que por sua vez, implicava na compreensão, 60 Ciência e Cultura KUHN T, A estrutura das revoluções científicas. [Trad. B.V Boeira e N. Boeira] 2a. ed. S. Paulo, Ed Perspectiva, 1978. CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos MASETTO, M T, Processo de Aprendizagem no En- v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 Ilustrações sino Superior e suas Conseqüências para a Docência Universitária. In: Revista da ABENO, Julho de 1998, Figura 1 - Andrade e Silva, W-M de A Arutsãm. In: Lendas e Mitos dos Índios Brasileiros. S. Paulo: FTD. p.9 . 1997. 52 p. il. color.Áries, P.; Duby, G. História da Vida NARVAI, P C, Odontologia e Saúde Bucal Coletiva. p.38. il color. 2a. ed. São Paulo: Santos. 2002. NARVAI, P C, Recursos Humanos para Promoção de Saúde Bucal: Um Olhar no Início do Século XXI. In: Associação de Brasileira Odontologia Figura 2 - Steen, Sem nome. In: Ring, M.E. História da Odontologia. São Paulo: Manole. 1998. capa. il. color Pre- ventiva. (ABOPREV) Promoção de Saúde Bucal: Paradigma, Ciência e Privada. Vols: 2, 3 e 4. S. Paulo: Cia das Letras. 1991. Humanização. 3ª. ed São Paulo: Artes Médicas. 2003.cap22, p.475-494. Figura 3 – Ilustração do livro hebreu Sefer Haolsmot o Maaseb Tovia de Tobias Kohn. In: Steen, Sem nome. In: Ring, M.E. História da Odontologia. São Paulo: Manole. 1998. il. color p.31 RIBEIRO, D. O Povo Brasileiro. São Paulo: Companhi Figura 4 - Amaral T, Operários. In: Gotlib, N. B. Tarsila das Letras.1997. do Amaral: A Modernista. 2ªed. S. Paulo: Senac. 2000. RIBEIRO, D. O Processo Civilizatório: Etapas da 171 p. il.color. Evolução Sociocultural. S. Paulo: Ed. Schwarcz. 1998. WEYNE, S.C., A construção do Paradigma de promoção de saúde – Um Desafio para as Novas Gerações. In: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO ODONTOLOGIA PREVENTIVA. (ABOPREV) Promoção de Saúde Bucal: Paradigma, ed S. Paulo: Artes Médicas. Ciência e Humanização. 3ª. 2003. cap 1. ZOMBONI S, A Pesquisa em Arte: Um paralelo entre Arte e Ciência. Campinas, SP: Autores Associados, 2001. p.22. Ciência e Cultura 61 62 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 Produção de Biodiesel: Um experimento em sala de aula Biodiesel production: An experiment in class-room Luis Rogério DINELLI, Crislaine Rodrigues SALVATIERRA, Renata Tomaseli PEIXINHO, Jeosadaque J. SENE e Luis Nelson Prado CASTILHO . . @ , 389 14784 220, Ð . RESUMO No processo de ensino-aprendizagem de química a simplificado para a produção do biodiesel, que pode ser vivência de situações reais é de grande importância para realizado em situação de sala de aula, mesmo em escolas a compreensão e correlação dos diversos conteúdos. Di- desprovidas de laboratórios, equipamentos, vidrarias e ante disso, o ensino experimental tem sido utilizado como reagentes convencionais, uma vez que os materiais pro- uma estratégia para promover a aprendizagem no ensino postos são de baixo custo e de fácil aquisição. de ciências. Sabendo-se da importância de atividades ex- Palavras-chave: experimento em sala de aula; energia perimentais, o seguinte experimento propõe um método renovável;Biodiesel ABSTRACT Experiments that emulate real situations are of outstanding conducted in a usual class-room without the need of a importance to improve the Teaching/Learning Process in laboratory, equipments and standard chemicals. Instead, general science. Accordingly, the practice of laboratory all materials are low cost products and can be easily has been used as an approach to teach the main subjects acquired in the market. in Chemistry. Taking that into account, this paper reports on a simple experiment that show how biodiesel can be Keywords: experiment in class-room, renewable energy, fabricated from simple materials. The experiment can be Biodiesel Ciência e Cultura 63 Produção de Biodiesel: Um experimento em sala de aula INTRODUÇÃO DINELLI et al do, purificado e utilizado para outros fins, na industria química, de alimentos e farmaceutica. Biodiesel é definido quimicamente como uma mistura de ésteres monoalquilicos de ácidos graxos de cadeia longa derivado de fontes de lipídios renováveis de óleos vegetais tais como o óleo de soja, girassol, algodão, mamona entre outros, ou ainda de gorduras animais (COSTA NETO et al., 2000). Das diversas metodologias descritas na literatura para obtenção do biodiesel, a transesterificação é atualmente a mais utilizada, principalmente porque as características físico-químicas dos ésteres de acido graxos são muito próximas daquelas do diesel (SCHUCHARDT et al., 1998). Figura 2 – Reação de transesterificação Na reação de transestérificação para a produção do biodiesel a relação molar estequiométrica triacilglicerídeo: alcool é de 1:3 respectivamente, entretanto, devido ao carater reversível da reação, é recomendado que se adicione um exesso de álcool, para descolcar o equilíbrio no sentido de formação do biodiesel, promovendo um aumento de rendimento. Os catalizadores mais utilizados são basicos, como o hidróxido de potássio (KOH) ou o hidroxido de sódio (NaOH), divido ao seu maior rendimento e seletividade (FREDDMAN et al., 1986). O metanol é o alcool mais utilizado devido ao seu baixo custo na maioria dos paises e principalmente por suas vantagens físicas e químicas, como polaridade, cadeia de alcool mais curta e dissolve facilmente o catalisador. En- Figura 1: Fluxograma simplificado de produção do Biodiesel A fabricação de biodiesel é feita a partir da reação destes óleos vegetais ou gorduras com um álcool (metílico ou etílico) na presença de um catalisador (ácido, básico, heterogênio ou ainda enzimático) (GERIS et al., 2007). A Figura 1 mostra um fluxograma simplificado da produção de Biodiesel. Transesterificação é um termo geral usado para descrever uma importante classe de reações orgânicas onde um ester é transformado em outro através da troca do resíduo alcoxila (VOLLHARDT e SCHORE, 2004). Esta reação é reversível e lenta, entretanto a presença de um catalisador (ácido ou base) acelera consideralvelmente esta conversão. Na transestérificação de óleos vegetais, um triacilglicerídeo reage com um alcool na presença de um ácido ou uma base forte, produzindo uma mistura de ésteres de ácidos graxos (biodiesel) e glicerol (Figura 2) e quando a reação não é completa uma mistura de mono, di e triacilglicerídios. O glicerol produzido pode ser separa- 64 Ciência e Cultura tretanto, o Brasil é um grande produtor e etanol, e o seu uso promoverá um processo de produção de biodiesel totalmente renovável. O inconveniente neste processo é a presença de agua no alcool, que pode prejudicar a separação do glicerol (SCHUCHARDT et al., 1998). Em relação ao combustível fóssil, biodiesel apresenta vantagens no que se refere à preservação ambiental, por ser uma fonte de energia renovável e também por não conter enxofre, que é um dos responsáveis pela chuva ácida. Combustíveis renováveis são aqueles que utilizam matéria-prima renovável como a cana-de-açúcar, utilizada para fabricar álcool etílico e também vários outros vegetais como a soja e a mamona utilizadas para fabricar biodiesel. O experimento proposto apresenta um procedimento simples para demonstrar a produção de biodiesel em situação de sala de aula, mesmo em escolas desprovidas de laboratório, equipamentos, vidrarias e reagentes convencionais, uma vez que os materiais utilizados são de baixo custo e fácil aquisição. A escolha do tema biodiesel foi feita por CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos ser um tema atual e de importancia política, econômica e v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 Produção do Biodiesel ambiental. Medir 100 mL de óleo vegetal (qualquer tipo de óleo venMATERIAIS E REAGENTES dido em supermecado ou até mesmo óleo já utilizado em frituras, este ultimo deve ser previamente filtrado com al- Óleo vegetal novo ou usado (100 mL), obtido em super- godão para retirar os resíduos sólidos) com o auxílio do mercado ou em pastelaria, respectivamente; béquer ou copo plastico (previamente aferido) e transfe- Álcool etílico (25 mL ), obtido em supermercado ou far- rir para a solução de etóxido de sódio, já preparada ante- mácia; riormente, que está dentro da garrafa pet agitadora. Agi- Hidróxido de sódio (soda cáustica)*, obtido em supermer- tar manualmente durante 30 minutos (revezar a agitação cado; com todos os alunos do grupo). Para uma melhor agita- Cloreto de sódio (sal de cozinha), obtido em supermerca- ção a garrafa pet deve estar fechada. Em seguida, trans- do; ferir para o funil de separação previamente preparado 1 béquer de 100 mL (ou copo descartável); (Figura 3). O funil de separação pode ser preparado se- 1 seringa de 20 mL, obtida em farmácia; guindo o seguinte porcedimento: corta-se uma garrafa pet 2 colheres de chá de metal; de 600 mL um pouco acima da metade e fura-se a tampa 2 garrafas pet de 600 mL com tampa (agitador e funil de da garrafa com o auxílio de um prego. Coloca-se neste separação); orifício o controlador de gotas (equipo de soro) como 2 prendedores de madeira, obtidos em supermercado; mostrado na Figura 3. Certifique-se de que o equipo fique 1 equipo de soro, obtido em farmácia; bem ajustado para evitar vazamentos. * A soda cáustica (hidróxido de sódio comercial) é uma base forte que causa lesões à pele e aos olhos quando em contato direto. Em caso de acidente, lavar imediatamente o local afetado com água em abundância durante pelo menos 10 minutos. Se a lesão for grave, ou se ocorrer ingestão, procurar assistência medica. Cuidado. A soda cáustica é uma substancia tóxica que pode causar danos graves à saúde e se ingerida pode ser fatal! PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Produção do Catalisador (Etóxido de Sódio) Colocar um pouco de álcool etílico em um béquer de 100 mL ou copo (ou copo plástico descartável) e com o auxílio da seringa, transferir 35 mL do álcool para a garrafa pet agitadora. Cuidadosamente, adicionar uma colher de chá rasa de soda cáustica (aproximadamente 1,5 grama) na garrafa e agitar constantemente até que a soda tenha se dissolvido completamente. Figura 3 – Demonstração da construção do funil de separação (garrafa pet + equipo soro) Separação da glicerina do biodiesel Adicionar lentamente, com o auxílio de um béquer, 50 mL de água e 20 mL de álcool etílico ao funil de separação contendo a mistura de biodiesel e glicerina. Neste ponto pode ocorrer a formação de espuma (formação de sabão) que deve ser dissipada com a adição de um pouco de Ciência e Cultura 65 Produção de Biodiesel: Um experimento em sala de aula DINELLI et al sal de cozinha (cloreto de sódio). Mexer cuidadosamente bão) dos esteres etílicos (biodiesel) ou dos próprios até que a mistura se separe em duas fases (glicerina e triglicerídios. A formação de sabão pode causar dificulda- biodiesel). O etanol e a água irão solubilizar-se na fase des na separação do biodiesel da glicerina. Experimental- que contem a glicerina. A glicerina é mais densa do que o mente esse problema pode ser resolvido com a adição de biodiesel, portanto a fase superior no funil de separação é um pouco de sal, como o cloreto de sódio, para dissipar a o biodiesel. Iniciar a separação da glicerina do biodiesel emulsão. Embora esse processo não seja utilizado na pro- abrindo a válvula do equipo de soro. Retirar toda a fase dução de biodiesel, optou-se por utilizá-lo. Entretanto, a que contém a glicerina. Retirar em seguida o biodiesel formação de sabão causa um problema quimico, que é o que pode pode ser armazenado na garrafa pet agitadora. consumo da base utilizada na catálise de transesterificação. Queima do Biodiesel: Um teste simples Além do catalisador, a temperatura também pode afetar o rendimento da reação de transesterificação. O experimento Colocar em uma colher de chá de metal cerca de 20 go- foi conduzido à temperatura ambiente. Entretanto, se- tas (1 mL) do óleo utilizado para fabricar o biodiesel; em gundo Rabelo (2001) a temperatura de 40 °C foi a que outra colher, colocar a mesma quantidade do biodiesel apresentou o melhor rendimento. recém preparado. Com um isqueiro, colocar fogo nos dois óleos e comparar as características da combustão, cor da O álcool em excesso (que não reagiu) deve ser retirado chama e cor da fumaça. A combustão dos óleos não é tão lavando-se o biodiesel com água, uma vez que o álcool rápida, portando deve se manter na chama até a combus- presente no biodiesel, mesmo em pequenas quantidades, tão. pode reduzir drasticamente o ponto de fulgor (de 170°C para menor que 40°C) (KNOTHE e GERPEN, 2005). RESULTADOS E DISCUSSÃO O rendimento da reação pode ser determinado, compaAs quantidades de 35 mL de etanol e 1,5 gramas de rando o volume inicial de óleo vegetal com o volume de hidróxido de sódio utilizadas para a produção do etóxido biodiesel obtido. Pode-se medir esse volume utilizando a de sódio garantem que este reagente esteja em excesso mesma seringa utilizada para transportar o álcool. Não se quando adicionado a 100 mL do óleo vegetal, para favoracer deve esperar um rendimento muito elevado, uma vez que a formação de biodiesel. Segundo Rabelo (2001) o me- o álcool utilizado é comercial (hidratado) e não tem o con- lhor rendimento ocorreu em 1,5 g de base e 35% do álcool trole da temperatura (ambiente). em relação a 100 mL de óleo. Essas quantidades garan- O teste final da queima realizado com o biodiesel tem por tem um exesso de álcool, sendo a relação molar óleo ve- objetivo a caracterização qualitativa do produto. O biodiesel getal/alcool de 1:6. sofre combustão com mais facilidade que o óleo de soja e não apresenta a mesma fumaça escura apresentada pelo Outras quantidades de catalisador não foram apresenta- óleo original. das, entretanto, deve-se fazer algumas ponderações. Como um catalisador atua diretamente na cinética da reação, CONCLUSÃO seria de se esperar que um aumento de sua quantidade aumentaria a velocidade de reação. Entretanto, o aumen- O experimento proposto neste artigo foi elaborado de for- to da quantidade de catalisador, pode resultar na ocorrên- ma simplificada para que possa ser realizado em sala de cia de reações paralelas, gerando subprodutos, diminuin- aula, uma vez que muitas escolas de ensinos fundamental do a seletividade da reação (RINALDI et al., 2007). Ou- e médio são desprovidas de laboratórios, sendo que os tro incoveniente do excesso de catalisador básico é a pos- materiais utilizados são de fácil aquisição e baixo custo. sibilidade da reação de saponificação (formação de sa- Tal proposta pode promover discussões com os alunos 66 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 não somente a produção do biodiesel, mas também práticas de química orgânica”. Química Nova, v. 30, n. 5, conseitos importantes de química, como densidade, fun- p. 1369-1373, 2007. ções organicas, reação de tranesterificação etc. Não se pretende tranformar os alunos em produtores de biodiesel, KNOTHE, G.; GERPEN, J. The Biodiesel Handbook, mas sim de contrubuir com a construção de vários con- AOCS Press: Champaing, Illinois, 2005, Cap 2 e 4. ceitos envolvidos na produção de biodiesel, e algumas propriedades deste combustível alternativo. RABELO, I.D. Estudo de Desempenho de combustíveis convensionáris associados a biodiesel obtidos pela transesterificação de óleo usado em frituras. Dissertação REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS de mestrado em Tecnologia, Centro de Federal de Educação Tecnológica do Paraná, 2001. COSTA NETO, P.R.; ROSSI, L.F.S.; ZAGONEL, G. F. & RAMOS, L. P. “Produção de biocombustível alternati- RINALDI, R.; GARCIA, C.; MARCINIUK, L.L.; vo ao óleo diesel através da transesterificação de óleo de ROSSI, A.V. & SCHUCHARDT, U. “Sintese de soja usado em frituras”. Química Nova, v. 23, n. 4, p. 531- Biodiesel: uma proposta contextualizada de experimento 537, 2000. para laboratório de Química Geral”. Quim. Nova, v.30, n. 5, p. 1374-1380, 2007. FREDDMAN, B.; BUTTERFIELD, R.O. & PRYDE, SCHUCHARDT, U; SERCHELIA, R. & VARGAS, R.M. E.H. “Transesterification kinetics of soybean oil”. J. Am. “Transesterification of Vegetable Oils: a Review” J. Braz. Oil Chem. Soc., v. 63, p.1375-1380, 1986. Chem. Soc., v.9, n. 1, p. 199-210, 1998. GERIS, R; DOS SANTOS, N.A.C.; AMARAL, B.A.; VOLLHARDT, K.P.C.; SCHORE, N.E.; Química Or- MAIA, I.S.; CASTRO, V.D. & CARVALHO, J.R.M. gânica: Estrutura e Função, 4.ed Bookman. Porto Alegre. “Biodiesel de soja – reação de transesterificação para aulas 2004. Ciência e Cultura 67 68 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 Estudo sobre a Cristalização da Lactose em Doce de Leite Pastoso Elaborado com Diferentes Concentrações de Soro de Queijo e Amido de Milho Modificado Study of Lactose Crystallization in Dulce de Leche Produced With Different Proportions of Whey and Modified Corn Starch Luiza Maria Pierini MACHADO1; Walkiria Hanada VIOTTO 2 1 Curso de Engenharia de Alimentos, Fundação Educacional de Barretos. Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389, 14783-226, Barretos, SP - e-mail: [email protected] 2 Departamento de Tecnologia de Alimentos, Faculdade de Engenharia de Alimentos, UNICAMP. RESUMO As condições fisico-químicas que caracterizam o doce de leite induzem a cristalização da lactose em função do estado de supersaturação decorrente da presença simultânea de sacarose e lactose. A cristalização torna o doce arenoso o que influencia sua qualidade. Com o objetivo de avaliar a formação de cristais de lactose em doce de leite, avaliou-se 16 formulações de doce elaborados com substituição de diferentes porcentagens de leite por soro de queijo (0, 15, 30 e 45%), e adição de diferentes concentrações de amido de milho modificado (0; 0,25; 0,50 e 0,75%). A mistura de leite e soro foi ajustada com bicarbonato de sódio para 13ºD, acrescida de 25% de açúcar e diferentes porcentagens de amido, concentrada a temperatura de aproximadamente 105ºC até 57ºBrix, adicionada de 2% de glicose, concentrada até 68ºBrix. O doce resultante foi embalado em potes de vidro e armazenado à temperatura ambiente durante 12 meses. A cada 3 me- ses os cristais verificados por microscopia foram dimensionados e o número de cristais por grama de doce foi calculado. Como a arenosidade é uma relação entre o tamanho e número dos cristais presentes, estabeleceu-se esta relação e verificou-se que não houve formação de cristais de lactose em tamanho e nº perceptíveis sensorialmente, durante os primeiros seis meses de estocagem, independente da formulação do doce de leite. Tal fato é justificado em função do amido reter água e dificultar a movimentação das partículas, evitando assim a cristalização. O soro de queijo, por proporcionar um aumento de lactose no doce, poderia induzir a cristalização, o que não ocorreu devido ao correto controle do resfriamento dos doces, após o envase. Palavras-chave: doce de leite, soro de queijo, amido de milho, cristalização, arenosidade. ABSTRACT The physico-chemical conditions that characterize Dulce for 12 months. Each three month the crystals verified were de leche lead a lactose crystals formation by measurements and the number of crystal per grame of supersaturating state result from simultaneous sucrose and dulce was calculated. How the sandiness is a relation of lactose presence. The crystallization lead a sandiness the size and the number of present crystals, was relationship dulce that influencing its quality. With the objective of and verified that was not lactose crystals formation, in evaluate the lactose crystals formation in dulce de leche, size and number perceived sensority, during the first six evaluated 16 dulce processing bathes with substitution of months of storage, independent of batch processing. This different % of milk for whey (0, 15, 30 e 45%) and different fact is justified for the starch lead to a water retention and concentrations of modified corn starch addition (0; 0,25; to make difficult a particles movement, avoiding 0,5 e 0,75%). The acidity of milk and whey mixtures were crystallization. The whey by provide a increased of lactose corrected with sodium bicarbonate, until 13ºD, increased in a dulce, could lead a crystallization induction, meanwhile with 25% of sugar and different starch concentrations, did not happened, due to correct chilled of dulce after a concentrated at temperature about 105ºC until 57ºBrix, packed. increased with 2% of glucose and than concentrated until Keys-word: dulce de leche, whey, corn starch, 68ºBrix, packed in a glass and stored at room temperature crystallization, sandiness. Ciência e Cultura 69 Estudo sobre a Cristalização da Lactose em Doce de Leite Pastoso Elaborado com Diferentes Concentrações de Soro de Queijo e Amido de Milho Modificado MACHADO e Viotto armazenamento, ocorra o aparecimento de cristais no doce INTRODUÇÃO (SANTOS et al., 1977). O doce de leite é um produto lácteo característico dos países do Mercosul, principalmente da Argentina e do De acordo com Hosken (1969), à temperatura de 55oC, Brasil. A produção nacional de doce de leite nos últimos o doce de leite apresenta uma solução saturada de lactose. cinco anos se encontra ao redor de 34 t/ano. Durante o resfriamento, a quantidade de lactose em excesso é pequena e a formação de cristais é lenta. À me- Tecnologicamente, o doce de leite se enquadra entre dida que a temperatura do doce diminui, a supersaturação os leites conservados pela evaporação e adição de açú- da lactose aumenta e a velocidade da cristalização tam- car, de modo que, em função da alta pressão osmótica bém aumenta, atingindo seu máximo a 30oC. criada, pode ser conservado à temperatura ambiente. Fox e McSweeney (1998) afirmaram que a solução Apresenta normalmente uma consistência cremosa ou pas- de lactose possui larga faixa de saturação, suportando alto tosa e homogênea, textura fechada, sem grumos, flocos grau de supersaturação antes que a cristalização espon- ou bolhas, cor castanho caramelado brilhante proveniente tânea ocorra, podendo levar até meses para formar cris- da Reação de Maillard, aroma próprio e sabor caracterís- tais. De acordo com Santos et al. (1977), os cristais de tico, não enjoativo nem demasiadamente doce, deve dis- lactose, no doce de leite, aparecem geralmente durante o solver bem na boca, sem cristais perceptíveis sensorial- primeiro mês de estocagem. Já Pinto (1979) afirma que a mente. Em sua composição uma extensa lista de aditivos cristalização se torna aparente, geralmente, após 45 dias e coadjuvantes de processamento são permitidos. O em- de estocagem. prego de amidos ou amidos modificados em até 0,5g/100mL de leite é permitido e considerado como ingrediente (BRA- Hosken (1969), em um estudo abrangente sobre vida útil e cristalização do doce de leite elaborado pelo proces- SIL, 1997). so padrão e armazenado por até 120 dias, avaliou separaCom um teor de umidade e açúcares (excluída a damente o efeito do emprego de lactose em pó (0,04%); lactose) estabelecidos em 30% e 60%, respectivamente, substituição de parte da sacarose por quantidades iguais segundo a resolução n 12/78 da Comissão Nacional de de glicose (1, 2, 3 e 5%); redução da quantidade de Normas e Padrões para Alimentos, o doce de leite é um sacarose de 19,4% para 18,5% com diferentes combina- produto que apresenta boa estabilidade química e ções de amido (0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%); substituição da microbiológica, porém baixa estabilidade física provocada sacarose por 16% de açúcar invertido e a combinação do pela cristalização, tanto da lactose como dos açúcares emprego de 13% de açúcar invertido e 6% de leite em pó adicionados, o que confere ao produto uma textura areno- desnatado. O estudo indicou que o processo de semeadu- sa. ra da lactose foi eficiente para evitar a cristalização, po- o rém resultou em aumento do tempo de produção, além de Nas condições, portanto, do doce de leite, é inevitável induzir à formação de bolhas. A adição do amido embora que ocorra a cristalização da lactose devido à baixa solu- tenha promovido um aumento de até 20% no rendimento bilidade da lactose aliada à adição de sacarose em uma e evitado a formação de cristais, alterou significativamen- solução supersaturada de lactose, onde ocorre agitação e te as características do doce de leite. O emprego do açú- resfriamento. O controle da cristalização é o principal pro- car invertido resultou em um doce de boa qualidade, po- blema na produção do leite concentrado açucarado, soro rém mais doce e de coloração mais intensa. Os melhores em pó e outros produtos lácteos como o sorvete e leite em resultados foram obtidos com o emprego de 2% de glicose pó, entre outros. No doce de leite, com a adição de cerca e, segundo o autor, quantidades maiores resultaram em de 25% de sacarose e com o aumento da concentração alterações no paladar, coloração e consistência. de sólidos, é inevitável que após algum tempo de 70 Ciência e Cultura Segundo Bolanowski (1965), citado por Margas et al. CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 (1982), o controle da cristalização pode ocorrer pelo au- O emprego de amido de milho, nativo ou modifi- mento da viscosidade, à medida que os ingredientes são cado, na fabricação do doce de leite pode contribuir na resfriados. A viscosidade retarda a cristalização e a taxa consistência e rendimento do produto em função da re- de transferência de calor, o que gera a necessidade da tenção de água proporcionada, além de auxiliar no con- agitação e escolha do equipamento adequado. trole da cristalização da lactose. O amido nativo é pro- A ocorrência da cristalização gerou alguns estudos penso à retrogradação, enquanto nos modificados esta (HOSKEN, 1969; VALLE & FIGUEIREDO, 1980; SOU- transformação é minimizada ou mesmo eliminada, por ZA et al., 1980; COELHO, 1980; SOUZA et al., 1981; gerarem um gel com viscosidade de pasta estável, apre- MARGAS et al., 1982; SILVA et al., 1984; SABIONI et sentar boa resistência mecânica, melhor poder de al., 1984; PIRES, 1994) visando promover melhorias na espessamento e menor tendência à retrogradação. tecnologia de fabricação do doce de leite e solucionar o problema da cristalização da lactose no produto, seja através O emprego de amido e soro de queijo na fabricação do da diminuição da concentração da lactose, adição de doce de leite pode afetar as características de textura, caseinato de sódio, hidrólise enzimática da lactose por β- consistência e cor, além do rendimento e vida útil do doce galactosidase ou cristalização induzida da lactose pela de leite. O conhecimento do efeito da adição de soro de semeadura com lactose. queijo e de amido modificado na qualidade, rendimento e vida útil do doce de leite é um primeiro passo para a Considerando-se a importância econômica do doce de otimização do processo de fabricação e aumento da leite, normalmente associado a pequenas e médias indús- competitividade da indústria nacional. Neste contexto o trias, verifica-se a necessidade de desenvolvimento e apli- objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do emprego de cação de processos tecnológicos mais eficientes que con- soro de queijo e amido de milho modificado em diferentes templem uma maior estabilidade físico-química e proporções no processamento de doce de leite pastoso, microbiológica, melhor padronização de cor, textura, bri- em relação à cristalização da lactose. lho, sabor, aroma e conseqüentemente maior vida de prateleira. É sabido que inúmeras indústrias têm adicionado MATERIAL E MÉTODOS soro de queijo ao leite ou substituído parcialmente o leite pelo soro com o objetivo de aumentar o rendimento e di- O leite, o soro de queijo e o creme de leite, em- minuir os custos de fabricação do doce de leite. Entretan- pregados no processamento do doce de leite pastoso fo- to, não há nenhum estudo a esse respeito nem conheci- ram doados pelo Centro de Processamento e Pesquisa de mento de como a adição de soro afeta a qualidade e a Desenvolvimento de Produtos Lácteos da Fundação Edu- vida útil do produto. cacional de Barretos. O xarope de glicose (Cargil) foi doado pelo laboratório de Frutas da Faculdade de Engenharia de O soro de queijo, subproduto das queijarias, possui em Alimentos – FEA/UNICAMP. O açúcar e o bicarbonato sua composição quantidades consideráveis de lactose, de sódio foram adquiridos do mercado local. O amido de proteínas solúveis e sais, o que lhe confere grandes possi- milho ceroso modificado (N1390S) foi doado pela empre- bilidades de emprego pelas indústrias alimentícias, porém sa National Starch & Chemical Industrial Ltda. ainda não totalmente explorado. Há a necessidade de maior incentivo de aproveitamento do soro em função do valor A fabricação do doce de leite seguiu o processo nutricional, enorme volume de produção devido à plena tradicional proposto por Hosken (1969). Foram processa- expansão das queijarias, além de gerar benefícios com a das 16 formulações de doce elaboradas com substituição redução do volume de resíduos a ser tratado pelas de diferentes % de leite por soro de queijo (0, 15, 30 e queijarias. 45%), e adição de diferentes concentrações de amido de milho modificado (0; 0,25; 0,50 e 0,75%). A acidez titulável Ciência e Cultura 71 Estudo sobre a Cristalização da Lactose em Doce de Leite Pastoso Elaborado com Diferentes Concentrações de Soro de Queijo e Amido de Milho Modificado MACHADO e Viotto da mistura de leite e soro foi ajustada para 13ºD com bi- A tabela empregada para detecção da arenosidade foi carbonato de sódio. Adicionado 25% de açúcar e diferen- a sugerida por Hough et al. (1990), que estabelece os tes % de amido; concentrada a temperatura de aproxima- tamanhos dos cristais variando de 0 a 105 µm, sendo que damente 105ºC até 57ºBrix; adicionada de 2% de glicose, o caráter arenoso do doce de leite, conferido pelos cris- e concentrada até 68ºBrix. O doce foi então resfriado à tais de lactose, é uma função do tamanho e número de 70ºC, embalado em potes de vidro e armazenado à tem- cristais. Com cristais menores que 6µm, o caráter areno- peratura ambiente durante 12 meses. so não é percebido, mesmo que toda lactose do doce esteja cristalizada (HOUGH et al., 1990). Acima deste ta- A avaliação da cristalização da lactose foi realizada a manho a percepção é dependente do número de cristais cada três meses, durante o período de armazenamento para os diferentes tamanhos. O número de cristais foi dos doces, à temperatura ambiente, através do método calculado, considerando a área do campo microscópico, proposto por Hough et al. (1990). nos aumentos utilizados. A amostra de doce de leite foi pesada sobre uma RESULTADOS E DISCUSSÕES lâmina, na quantidade aproximada de 0,003g. Sobre a amostra colocou-se uma lamínula. Com o apoio de outra As condições fisico-químicas que caracterizam o doce lâmina foi exercida uma pressão sobre a lâmina com o de leite, induzem a cristalização da lactose em função do doce, a fim de que a amostra formasse uma fina camada estado inicial do produto ser de supersaturação, devido à de aspecto circular de, aproximadamente, 10 mm de diâ- presença simultânea de sacarose e lactose, o que reduz metro. sensivelmente a solubilidade da lactose (WEEB, 1980). A cristalização torna o doce de leite arenoso, com textura A lâmina preparada foi avaliada por microscopia indesejável, influenciando sua aparência e, portanto, a de campo claro, em microscópio marca Olympus BX-40, aceitabilidade do produto. Assim, o controle do número de com objetivas de 10x e 40x. A amostra foi avaliada em 10 cristais em doce de leite é fator determinante na avalia- campos microscópicos, escolhidos de maneira aleatória. ção da qualidade do produto. Na Figura 1 pode-se obser- A calibração em micrômetros foi estabelecida a partir da var vários cristais de lactose presentes em doce de leite, imagem capturada da escala micrométrica calibrada, Zeiss, elaborado com formulação padrão e estocado sob refri- com a menor divisão correspondente a 100 µm. geração, durante 5 meses. Nos doces produzidos com 0% de amido de milho As medidas foram classificadas de acordo com a modificado e 0% de soro de queijo, a primeira verificação faixa de percepção do limiar de arenosidade para doce de de formação de cristais ocorreu no nono mês de leite, proposta por Hough et al. (1990). O número de estocagem, conforme apresentado na Figura 2, em quan- cristais foi calculado empregando-se a equação 1. tidades (2,4E + 06 cristais/g) e tamanhos (2,0 – 6,0 µm) que não atingiram o limiar de percepção de arenosidade N = n x π x R2 / F x m (equação 1) doce, com esta formulação foi de nove meses, até o final Onde: N= número de cristais / grama da vida útil não houve formação de cristais que pudessem n= média do numero de cristais / campo ser percebidos sensorialmente, contrariando Santos et al. R= raio da amostra (mm) (1977) e Pinto (1979) que apontam o tempo de 30 a 45 M= massa da amostra (g) dias de estocagem à temperatura ambiente, para o inicio F= área do campo (mm ) da formação de cristais de lactose. 2 72 (3,5E + 09 – 8,0E + 08 cristais/g). Como a vida útil do Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 2, Novembro/2007 - ISSN 1980 - 0029 tamanho compreendido entre 28,1 – 45,0 µm, ultrapassando o limiar de percepção sensorial (3,0E + 05 - 1,0E + 05 cristais/g), estabelecido por Hough et al (1990). A fabricação de doce de leite com emprego de 45% de soro de queijo, em função do aumento do teor de lactose presente no produto, sugere que a formação de cristais ocorra em um curto período de estocagem. Entretanto, a Figura 1. Fotomicrografia de cristais de lactose presentes em doce de leite estocado sob refrigeração. detecção de cristais no doce produzido sem adição de amido de milho modificado, só ocorreu após seis meses de estocagem, o que sugere que o processo de resfriamento do produto, que proporciona um aumento da viscosidade e diminuição da taxa de transferência de calor, tenha sido bem conduzido. Adições de 0,25%, 0,5% e 0,75% de amido de milho modificado proporcionaram um aumento progressivo no tempo de estocagem sem formação de cristais, nos doces produzidos com 45% de soro de queijo. A adição de 0,75% de amido de milho modificado proporcionou a obtenção de doces isentos de cristais de lactose por mais de seis meses. Entretanto, aos nove meses de estocagem a quan- Figura 2. Fotomicrografia do doce de leite produzido com 0% amido de milho modificado e 0% soro de queijo aos nove meses de estocagem. tidade (3,5E + 05 cristais/g) e o tamanho dos cristais (28,1 – 45 µm), já seriam perceptíveis sensorialmente, de acordo com a escala proposta por Hough et al (1990), que estabelece para esta faixa de tamanho de cristais a quan- O emprego de amido de milho modificado na fabrica- tidade máxima de 3,0E + 05 – 1,0E + 0,5 cristais/g. A ção de doce de leite proporciona a retenção de água, o Figura 3 mostra a ocorrência de um cristal de lactose re- que dificulta a movimentação das moléculas de lactose, lativamente grande (15,1 – 28,0µm), no doce de leite pro- impedindo assim que a cristalização ocorra, conforme duzido com 0,75% de amido de milho modificado e 45% observado por Margas et al. (1982). Os resultados obti- de soro de queijo, aos nove meses de estocagem. dos evidenciaram que o emprego de amido de milho modificado nas formulações sem adição de soro de queijo, retardou a formação de cristais em até doze meses de estocagem, sem atingir a percepção sensorial. Provavelmente, fatores como o controle do tempo e temperatura do resfriamento, podem ter contribuído para a não formação de cristais. O emprego de maiores quantidades de soro de queijo na fabricação de doce de leite proporcionou a formação de cristais em menor tempo de estocagem, a partir de seis meses. O doce de leite produzido com 15% de soro de queijo e 0,5% de amido de milho modificado aos nove meses de estocagem, apresentou 4,4E + 05 cristais/g, de Figura 3. Fotomicrografia do doce de leite produzido com 0,75% de amido de milho modificado e 45% de soro de queijo aos nove meses de estocagem. Ciência e Cultura 73 Estudo sobre a Cristalização da Lactose em Doce de Leite Pastoso Elaborado com Diferentes Concentrações de Soro de Queijo e Amido de Milho Modificado CONCLUSÕES A percepção da arenosidade é uma relação entre o tamanho e o número de cristais presentes. O soro de queijo por proporcionar um aumento de lactose no doce, poderia induzir a cristalização, no entanto, não interferiu na estabilidade do doce durante o armazenamento, o que se justifica pelo fato do amido reter água e dificultar a movimentação das partículas, evitando assim a cristalização, aliado ao correto controle do resfriamento dos doces, após o envase. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. 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