Sep-Oct 09 Final.indd

Transcrição

Sep-Oct 09 Final.indd
Volume 23, n°. 4
ISSN 0970 5074
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
índia
Perspectivas
Este ano, o Bharat Sandarsh, a edição em língua hindi da
Índia Perspectivas, recebeu o primeiro prémio do programa de
Griha Patrika Puraskar Yojana promovido pelo Departamento da
Língua Oficial, Ministério do Interior, Índia.
A fotografia mostra a Presidente da Índia,
Dra. Pratibha Devi Singh Patil, a entregar o prémio a Dra.
Parbati Sen Vyas, Secretária (NE), Ministro dos Negócios Estrangeiros,
no dia 14 de Setembro 2009 em Vigyan Bhavan, Nova Deli.
Editor
Navdeep Suri
Sub-Editor
Neelu Rohra
A Índia Perspectivas é publicada mensalmente em inglês, francês, alemão, espanhol, português, russo, italiano, cingalês,
língua indonésia, persa, árabe, pashto, urdu, hindi, bengalês e tâmil. As ideias exprimidas nos artigos pertencem
aos contribuidores e não necessáriamente à Índia Perspectivas. Todos os artigos originais e re-impressões
podem ser livremente reproduzidos com reconhecimentos.
As contribuições editoriais e cartas devem ser enviadas para o
Editor da Índia Perspectivas, 140 ‘A’ Wing, Shastri Bhawan, New Delhi-110001.
Telefones: +91-11-2338 9471, 2338 8873, Fax: +91-11-2338 5549
E-mail: [email protected], Sítio: http://www.meaindia.nic.in
Para obter um exemplar de Índia Perspectivas por favor entre em contacto com a embaixada indiana no seu país.
Este número foi publicado para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Nova Deli,
por Navdeep Suri, Secretário-Adjunto, Departamento de Diplomacia Pública.
Desenho e impressão por Ajanta Offset & Packagings Ltd., Delhi-110052.
Editorial
A Índia Perspectivas continua a sua tradição de oferecer conteúdos que
são visualmente atraentes e intelectualmente estimulantes. Este número
tem uma gama extraordinariamente diversa de artigos, abrangendo
áreas tão variadas como a ciência, a arte e a história até ao artesanato, a
literature, o desporto e as viagens.
A decisão da ONU de emitir um selo comemorativo que marca a adopção
global do dia do aniversário de Mahatma Gandhi – o dia 2 de Outubro –
como o Dia Internacional da Não-Violência é uma ocasião para reflectir
sobre o profundo impacto que Gandhi teve nas lutes pela liberdade em
diferentes partes do globo.
Lakshadweep
BITTU SAHGAL
2
O Vale das Flores
DEEPANKAR ARON
8
O cume
da aventura
RAMESH TRIPATHI
Chandrayaan 1, a primeiro missão lunar da Índia, a sua histórica
descoberta de moléculas de água na superfície lunar e a chegada da
bandeira indiana à lua merecem um destaque especial. A catedral
de Medak, uma maravilha da arquitectura gótica, oferece uma nova
perspectiva sobre a rica herança secular da Índia.
O Vale das Flores nos Himalaias e o paraíso de coral em Lakshwadeep
são um espectáculo visual para turistas no nosso país, enquanto os
bordados kashida da Caxemira e os produtos artesanais de madeira dos
estados de Bengala/ Orissa realçam as habilidades dos artesãos indianos,
aperfeiçoadas ao longo das gerações.
Uma linda narrativa sobre a evolução de uma forma classica de dança
da Índia setentrional – kathak, um vislumbre do patrimônio budista
impar de Sanchi, um tributo ao célebre D.K. Pattamal e uma recensão
do inovador livro electrónico do icónico artista MF Hussain procuram
satisfazer a curiosidade cultural e literária dos nossos leitores.
Temos um toque desportivo com artigos reconhecendo a contribuição que
Sachin Tendulkar fez ao mundo de criquete e a proeza do comandante
R.C. Tripathi, que alcançou o mais alto salto de pára-quedas na região da
montanha Everest.
Vamos concluir este número a partilhar convosco o nosso sentimento de
orgulho. Bharat Sandarsh, a edição de língua hindi da Índia Perspectivas,
recebeu o primeiro prémio do programa para publicações ‘Griha Patrika
Puraskar Yojana’ do Governo da Índia.
56
Recensão literária
M F Husain – Sem títulos
APARNA S REDDY
64
A arte viva
PREETI VERMA LAL
A não-violência:
a herança global
de Gandhi
SAVITA SINGH
20
Damal Krishnaswamy
Pattamal
RENUKA NARAYANAN
26
36
72
LEELA VENKATARAMAN
O fio dourado
da Índia
PUPUL DUTTA & APARAJITA GUPTA
42
BINOO K. JOHN
73
76
Kashida
Uma sinfonia de bordados
de Caxemira
UPENDRA SOOD
48
Reportagem fotográfica
Navdeep Suri
Os bonecos de
Bengala/Orissa
DILIP BANERJEE
52
78
A dança kathak
Sachin Tendulkar
Para além da lua
RADHAKRISHNA RAO
PRAMOD KUMAR KG &
NAMITA GOKHALE
Tributo
A catedral de Medak
RAMCHANDER PENTUKER
Butão
Um vislumbre da história
Sanchi
BENOY K BEHL
68
Capa: O Vale das Flores
Fotografia: Suresh Elamon.
88
Lakshadweep
boca, virou-se e ‘voou’ sem esforço nesse seu universo azul, para além da
‘muralha’ que demarca o vasto Mar Arábico. Tinha trabalhado quase toda
a minha vida para proteger as tartarugas e essa única tartaruga selvagem
reforçou o propósito da minha missão.
UM PARAÍSO DE CORAL
Mergulhar num vasto e claro oceano é uma experiência fascinante. É como
estar no útero da natureza. Estamos à mercê da natureza e a confiança
e a sobrevivência fundem-se completamente. Depois de conquistar a
claustrofobia inicial e descobrir que respirar debaixo da água com as
bombas de ar é muito fácil… deixe-se dominar pelos elementos. Não
vai ouvir nenhum som para além da sua própria respiração. Para os
principiantes tudo é novo e mágico. Na terra também, é uma experiência
primordial e mágica dormir e acordar ao som do mar, de onde toda a vida
terrestre originou.
BITTU SAHGAL
As ilhas situam-se no meio do oceano Índico entre 220 e 440
quilómetros ao largo da costa de Kerala na cordilheira de
Chagos, que corre do norte ao sul. Partilham uma biodiversidade
comum com destinos exóticos como as Ilhas Maurícias e as
Maldivas. Remotas mas populadas, essas ilhas já são um destino
preferido para turistas indianos à procura de aventuras.
Sempre tive a vontade de visitar as ilhas de Lakshadweep, durante décadas,
mas tive a impressão (errónea) que era quase impossível chegar lá a partir
de Bombaim, onde moro. Ao fim de Dezembro de 1997, apanhei um voo
a Cochim, daí marquei uma passagem no famoso navio ‘Tipu Sultan’, que
demorou uma noite, e finalmente apanhei um ‘pablo’ – os pequenos barcos
que servem como táxis flutuantes no arquipélago.
A
tartaruga verde viu-me antes que eu vi a tartaruga. Eu ainda estava a
aprender a mergulhar e concentrei-me completamente em conseguir
respirar, sem perder Mitali Kakkar, a minha instrutora, de vista.
Reparei na tartaruga apenas quando estava mais ou menos a um metro de
distância. Veio até o meu lado, tocou (beijou!) a minha máscara com a sua
A ilha de Kalpeni.
Sumer Verma/Sanctuary Photo Library
Anish Andheria/Sanctuary Photo Library
Uma vista aérea da ilha de Agatti.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
2
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
3
Sumer Verma/Sanctuary Photo Library
Sumer Verma/Sanctuary Photo Library
Uma tartaruga-das-pentes com um mergulhador.
Foi uma viagem tranquila e a vida em Kadmat - a ilha onde Mitali e a sua
equipa na associação de conservação Reefwatch Marine Conservation
gerem uma escola excelente de mergulho - era confortável e bonita.
Como qualquer paixão, a única coisa que ocupava os meus pensamentos
em Lakshwadeep era aprender a mergulhar. Tanto que passei apenas
uma manhã em dez dias à procura de pássaros (havia grandes grupos de
andorinhas, incluindo as andorinhas do mar escuras (Sterna fuscata), A
grande andorinha (Sterna bergii), a andorinha de feições brancas (Sterna
repressa,) e gaivotas, a garça-dos-recifes ocidental (Egretta gularis),
maçarico-real (Numenius arquata) e alfaiates (Recurvirostra avosetta).
Hoje em dia, claro, há voos directos entre Cochim e Agatti, assim
assegurando que é muito mais fácil visitar as ilhas. O arquipélago de
Lakshwadeep é muito pequeno quando comparado com as ilhas de
Andaman e Nicobar. O arquipélago de Lakshadweep consiste em apenas
36 ilhas, 12 atóis, 3 recifes e 5 restingas. Tem uma superfície terrestre de
apenas 32 quilómetros quadrados mas as lagunas dentro dos atóis cobrem
cerca de 4.200 quilómetros quadrados. Apenas 10 das ilhas são habitadas,
em ordem alfabética: Agatti (que tem uma pista para aviões), Amini,
Andrott, Bitra (com apenas 100 habitantes), Chetlat, Kadmat, Kalpeni,
Kavaratti (10,000 habitantes), Kiltan e Minicoy.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
4
Coral
Kadmat, uma ilha esguia, tem uma largura de apenas 550 metros ao ponto
mais largo e mede oito quilómetros de comprimento. Tem praias de areia
branca e fina e pequenas lagunas ao este e ao oeste. Juntamente com
Agatti e Bangaram, Kadmat oferece uma óptima qualidade de alojamento
e hotéis de luxo para turistas que são comparáveis com os melhores do
mundo em termos das suas práticas ambientais. Ao contrário que as ilhas
Andaman e Nicobar, as lagunas aqui oferecem um ambiente plácido para
nadadores e são seguros durante todo o ano.
Como na maioria das culturas insulares, o povo local é mais que amigável.
Muitos dos habitantes já são peritos na arte de mergulhar também e alguns
são entre os melhores naturalistas marinhas na Índia. Podem identificar
centenas de espécies de peixes e invertebrados à vista.
Para além dos mariscos, as nozes de coco são uma importante fonte de
nutrição. Todavia, muitas das provisões dos habitantes vêm do continente
através dos navios e recebem subsídios estatais. A maioria dos habitantes
fala Jesseri, uma forma da língua malaiala com traços de árabe, mas os
residentes de Minicoy falam mahl, que é uma língua bastante diferente,
falada também nas Maldivas.
Durante séculos, a vida e as tradições dos habitantes do arquipélago
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
5
Os habitantes não pescam
durante a monção. É proibido
caçar as tartarugas e os golfinhos
embora de vez em quando pescase um animal para comer. As
tartarugas verdes, as tartarugasde-pente e as tartarugas olivas
(Lepidochelys olivacea) todas
vêm ao arquipélago para procriar
e põem os ovos em praias
onde não há cães domésticos.
Reefwatch e outras ONGs
trabalham com a administração
da ilha para educar as crianças
sobre o valor de sítios como
a ilha de Pitti, 25 quilómetros
noroeste de Kavaratti, onde as
andorinhas do mar escuras e os
anous constroem os seus ninhos
e onde recolher os ovos dos
Pitti pakshi (pássaros de Pitti)
é proibido, embora alguns dos
anciões resmungam sobre essa
medida!
Sumer Verma/Sanctuary Photo Library
Sumer Verma/Sanctuary Photo Library
Sumer Verma/Sanctuary Photo Library
(hoje em dia cerca de 60.000
habitantes) asseguraram que o
lenço de água doce e potável
debaixo da superfície continuou
puro e cristalino. Mas já não
têm nenhum controle sobre
as práticas dos outros e é um
assunto que lhes preocupa mais
que o lixo e os esgotos que os
navios despejam nas suas águas
límpidas.
◆
O autor é o editor da revista ‘Sanctuary Asia’.
Sumer Verma/Sanctuary Photo Library
Sumer Verma/Sanctuary Photo Library
Ninguém pode dizer que viu o
melhor da Índia se ainda não
visitaram este paraíso na terra!
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
6
Página de frente: um tubarão Triaenodon
obesus (em cima) e Lutjanus gibbus (em baixo).
Camarão Thor amboinensis (em cima à
esquerda); peixe-palhaço (no meio) e
Enchelycore pardalis (à esquerda).
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
7
O Vale das Flores
Texto & fotografias: DEEPANKAR ARON
O Vale das Flores, um parque nacional no seio dos
Himalaias, contém cerca de 521 espécies de plantas e foi
declarado um Património Mundial pela UNESCO.
Balsam
Potentilla
Popoula azul
Faertais cor-de-rosa
Epilobium Latifolium
Cocinea
Pendicularis
Brahmakamal (Saussurea obvallata)
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
Hyacinthus orientalis
10
Cynas thuslobatus
Solidasa
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
11
O
vale de Bhyndar é sem dúvida uma maravilha de natureza.
As plantas começam a dar flores a partir de Maio, quando
a neve começa a derreter. Esse espectáculo da natureza
continua até Setembro, quando um manto de neve cobre toda a
região mais uma vez.
O caminho até o vale começa em Govindghat, onde se pode
alugar um cavalo ou até um palki (uma espécie de palanquim). É
um passeio confortável de 10 quilómetros até Bhyndar. Depois de
atravessar o Rio Bhyndar, é necessário percorrer um trilho íngreme
durante os últimos 3 quilómetros até a vila de Ghangaria. Ouvimos
centenas de peregrinos sikhs a cantar o hino ‘Wahe Guru’ enquanto
caminhavam até Hemkund Sahib (4.300 m), a animar o ambiente.
Há numerosas dhabas (tascas), quase de 200 em 200 metros, que
oferecem refrescos ao longo do caminho.
A aldeia de Bhyndar é rodeada de montanhas, cataratas e bosques
de árvores coníferas nas encostas. Tradicionalmente, utilizava-se a
casca das árvores bétulas - chamado bhojpatra – para escrever os
textos antigos. Esta parte do percurso é repleto com as rosas cor-derosa e brancas (Rosa Webiana e Rosa Macrophylla), para além de
Bhaumin Dhaur.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
outras plantas que dão flor, como Impatiens, Rosocea purpurea, etc.
ajudando a criar um ambiente apropriado.
O nosso entusiasmo aumenta na medida em que nos aproximamos a
Ghangaria, depois de um passeio de cinco horas a pé, entre bosques
cheios de flores de asteres e senecio (durante o mês de Agosto). Para
além de um quartel militar, Ghangaria também tem uma pista para
helicópteros.
“O tempo no vale muda tão rapidamente que a moda em Bombaim!”
Esse comentário de um habitante local foi um aviso oportuno,
embora tínhamos esperanças de encontrar um dia ensolarado no
vale.
Partindo cedo na manhã seguinte, começámos o nosso passeio
através do vale atravessando a ponte sobre o Rio Pushpawati perto
de Pairra, cerca de um quilómetro longe de Ghangaria. O trilho
estava rodeado por flores potentillas vermelhas e amarelas, asteres
roxos e brancoes, lagularias amarelos, etc. Seguimos um caminho
íngreme numa direcção norte-sul, ao longo da margem direita do
Rio Pushpawati. A região perto da margem esquerda do rio nessa
parte do vale chama-se Nagtal, devido à presença de inúmeros
Uma catarata alimentada pelas águas geladas das neves a derreter.
12
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
13
Numerosos riachos descem dos altos picos, onde a neve derrete,
formando cataratas ao longo do caminho antes de se fundirem com o
Rio Pushpawati.
lírios-cobras (Arisaema Tortuosum). Pode-se atravessar para o outro
lado pelas pontes de gelo que se formam durante os invernos, que
ficam até Junho ou Julho. Todavia, é aconselhável testá-las para ver
se estão suficientemente fortes. Na medida em que prosseguimos ao
longo da margem direita do rio, vimos geránios roxos e cor-de-rosa,
pendicularis cor-de-rosa, grupos de anaphalis brancos e angelica
cylocarpa em tons de branco e amarelo.
O próximo traço geográfico do vale situa-se cerca de 2-3 quilómetros
longe de Baumin Dhaur e chama-se Bistoli-Kundaliyasayn. Essa
região tem inúmeras espécies como o Delphinium azul, as flores com
a forma de sinos do Codonopsis Viridis, grandes e contínuos grupos
de pequenas flores brancas que se chamam Selenium Tenuifolium,
pequenas e exóticas flores cor-de-rosa a nascer radialmente de
hastes de 10 centímetros conhecidas como Morino Longifolia, frutos
esféricos azuis que crescem num arbusto chamado Gaultheria
Trichophylla. A variedade de flores é deslumbrante.
Virámos à direita e começámos a caminhar na direcção norte-este.
Chegamos a um sítio no vale central que se chama Baumin Dhaur
(3.450m), cerca de 4 quilómetros longe de Ghangharia. Novas vistas
abriram-se a nossa frente com o pico de Rataban claramente visível
no fundo do vale. Há enormes rochas nesse sítio. Aliás, o sítio
chama-se Baumin Dhaur (dhaur significa caverna) devido a uma
estrutura formada por uma rocha que parece uma caverna.
Para chegar a esta região de Baumin Dhaur e ir além, temos que
atravessar muitos riachos sem pontes. Então, é bastante comum
encontrar-se no meio da água de um riacho, com os pés molhados
durante algum tempo!
Baumin Dhaur tem um tapete cor-de-rosa, com milhares de flores
da espécie impatiens sulcata, conhecido localmente como balsam.
O tapete cor-de-rosa de balsam misturado com as flores brancas
do Polygonum Polystachum é uma das mais espectaculares vistas
do vale. Ao norte e ao sul vimos altas montanhas rodeando o vale.
Cerca de 2-3 quilómetros em frente de Bistoli, o rio fica mais plano
e desvia-se, antes de convergir mais uma vez em frente. Esta região
Suresh Elamon
Hemkund Sahib.
Suresh Elamon
Visitantes ao caminho a Hemkund Sahib.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
14
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
15
chama-se Drunager-Sevachand. Ao lado do riacho, há uma profusão
de flores roxas e cor-de-rosas de Epilobium Latifolium. Começamos
a nossa viagem de regresso a partir deste ponto, cerca de 6-7
quilómetros longe de Ghangaria.
altitude. Muitas outras espécies,
como Brahmakamal (Saussera
Oblavata, a flor oficial do estado
de Uttarakhand) apenas se
encontram nas altitudes mais
altas, entre 3.600 m e 4.500 m.
Assim, foi mais fácil ver estas
espécies aqui que no vale
porque seria necessário viajar
muito longe e alto no vale para
as encontrar. A natureza exótica
desta flor é muito evidente, com
o seu exterior frágil, cor verdeamarelo, na forma de um couve.
É utilizada para ofertas religiosas
nos templos serranos.
No próximo dia partimos na direcção de Hemkund Sahib. Foi
o segundo dia consecutivo sem sol mas ao mesmo tempo os
deuses da chuva também nos pouparam! Este passeio de cerca
de 5-6 quilómetros envolve subir desde 3.000 m até cerca de
4.300 m e acabamos por alugar umas mulas para a subida, porque
decidimos conservar as nossas energias para o caminho de volta e
para fotografar a flora e fauna ao longo do percurso.
Vimos algumas lindas espécies de flores durante o passeio até
Hemkund Sahib. Aliás as plantas florescem em épocas diferentes
em Hemkund Sahib e no seio do vale, devido às diferenças de
O trilho até o vale começa em Govindghat.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
16
Suresh Elamon
O regresso foi rápido e foi quase sempre a descer. Encontrámos
muitos turistas estrangeiros da Alemanha, Espanha, Israel, Holanda,
etc. Entre os indianos, os turistas de Bengala dominaram sem dúvida,
seguidos por visitantes de Maharashtra!
Mais que meio caminho a
subir, uma vista das magníficas
papoulas azuis dos Himalaias
(Meconopsis Aculeata) com
quatro pétalas redondas e
uma cor delicada seduziu-nos
completamente. As pétalas
abrangem o pólen amarelo
no centro. Uma planta típica
tem uma altura de cerca de 50
centímetros e tem cerca de 3
a 4 flores, enquanto a haste
tem pelos como espinhos para
proteger as flores. Também se
encontra a papoula azul no vale
na região ao redor de Pairra e
Nagtal (usualmente perto de
rochas e pedras).
O Vale de Flores estende sobre uma área
de cerca de 87,5 quilómetros quadrados,
com uma altitude que varia entre 3.200m
a 6.600m. O núcleo principal, de cerca
de 10 quilómetros quadrados, corre na
direcção de este a oeste ao longo do Rio
Pushpawati. Esse rio nasce no glaciar de
Tipra, situado no canto nordeste do vale.
O vale é rodeado por montanhas em
todos os lados, os mais importantes picos
são Nar Parbat (5.245m) e Nilgiri Parbat
(6.479m) ao norte, Rataban (6.126m)
ao nordeste, Gauri (6.590m) no este e
Saptsring (5038m) no sul e Kunt Khal
(4.430m) ao sul-oeste. O Rio Pushpawati
desce ao longo do vale para se fundir
com o Laxman Ganga em Ghangaria
(3.000m), a vila que serve como a
base para as actividades turísticas, para
formar o Rio Bhyndar. Em seguida, o Rio
Bhyndar funde-se ao oeste com o Rio
Alaknanda, um tributário do Rio Ganges,
em Govindghat (1.800m), 22 quilómetros
longe de Joshimath.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
Na medida em que nos
aproximámos a Hemkund
Sahib, vimos uma profusão de
flores. As amarelas Thespesia
Lampas; Penduncularis e
Cremanthodium Arnicoides, as
roxas Phlomis Bracteosa, a azulroxo, pequena e linda Hackelia
Uncinata, as pequenas flores
cilíndricas de Bistora Affinis...
foi um banquete visual para os
olhos!
17
Logo prestámos homenagem
no templo sikh (Gurudwara)
em Hemkund Sahib, depois de
um banho sagrado no lago de
Hemkund, que é alimentado
directamente pelas neves do
glaciar ao lado. A área é rodeada
por lindos picos cobertos de
neve, incluindo Neelkanth. É
muito difícil ver os picos durante
os meses de Julho e Agosto
devido à formação de nuvens
pesadas na região. Há também
um templo dedicado a Laxman
nesta zona. A lenda reza que
Hanuman (conforme narrado na
epopeia Ramayana) veio a esta
região à procura do sanjivini,
uma planta medicinal que
era necessário para resuscitar
Laxman, que tinha sido ferido
na batalha contra Ravana. Não
sabendo como identificar a
planta desejada, Hanuman
simplesmente levou toda a
montanha consigo.
No quarto dia acordámos
com um céu limpo. Partimos
rapidamente na direcção de
Baumin Dhaur, para realizar
o nosso sonho de ver o vale
debaixo do sol. Hoje, o passeio
parecia completamente diferente.
O mesmo trilho tinha uma nova
vida, com os raios dourados
a fazer uma valsa com as
montanhas, com a neve e com as
nuvens.
Logo voltámos a Baumin
Dhaur, com o majestoso pico
de Rataban em cima de nós.
Todavia, infelizmente, havia
nuvens brancas em cima da
montanha (as nuvens formam-se
O vale de Bhyndar.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
18
O Rio Pushpawati (em cima) e rododendros
(à direita).
seria ao fim de Junho ou nos
inícios de Julho, para ter uma
vista completamente diferente do
vale. Uma vista que seria cheia
de rododendros vermelhos,
orquídeas exóticas, as primulas
em variadas cores e os grupos
de potentillas vermelhas, campos
cheios de anemones brancos.
Iamos ver mais um arco-íris de
cores nessa viagem...
muito rapidamente a essa altura
devido à presença dos glaciares),
escondendo o céu azul. Foi
o mais perto que chegámos a
realizar esse sonho!
Os cinco dias do nosso sojorno
em Ghangaria culminaram no
desenvolvimento de uma espécie
de laço emocional com o vale.
A nossa viagem de regresso
de Ghangaria a Govindghat foi
abençoada com um céu limpo e
cheio de sol. A mesma aldeia de
Bhyndar rodeada por montanhas
a brilhar no sol, contra um céu
azul com nuvens de vez em
◆
O autor escreve sobre as suas viagens.
quando foi uma vista magnífica,
um grande contraste à nossa
vista inicial num dia cinzento
quando fomos a Ghangaria há
cinco dias!
Todavia, já estávamos a fazer
planos futuros. Sabiamos que
a nossa próxima visita ao vale
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
19
A NÃO-VIOLÊNCIA:
A HERANÇA GLOBAL DE GANDHI
SAVITA SINGH
Mahatma Gandhi ensinou ao mundo a doutrina de não-violência,
como um instrumento activo e positivo para a resolução pacífica
dos conflitos internacionais. O facto que a ONU declarou o dia
2 de Outubro como o Dia Internacional da Não-Violência reafirma
a importância da visão de Gandhi.
leu os ensinamentos de Gandhi
enquanto estudava para seguir
uma vida eclesiástica. O jovem
foi inspirado pela sua filosofia
da resistência sem violência.
Viu que as técnicas radicais de
Gandhi conseguiram introduzir
grandes mudanças sociais na
Índia e perguntou-se se essas
mesmas técnicas podiam
funcionar no seu próprio país.
King ficou impressionado
que Gandhi tinha aprendido
livrar-se de qualquer ódio pelos
seus opressores. Apreciou o
raciocínio de Gandhi que ao
purgar ódio do seu corpo,
podia-se conseguir o bem da
humanidade. Gandhi levou a
mensagem de Cristo de ‘ama o
seu inimigo’ a um novo nível.
África do Sul chegou à sua
conclusão lógica com a luta
pela independência do povo da
África do Sul, sob a liderança
carismática de Nelson Mandela,
que também se transformou
num ícone. Nelson Mandela foi
inspirado pela firme crença que
o reverendo Martin Luther King
tinha nos princípios de Gandhi.
Martin Luther King, Jr., o
proeminente líder estadounidense dos direitos civis
durante as décadas dos 50 e 60,
Albert Einstein
H
oje em dia Mahatma
Gandhi é conhecido
pela sua contribuição
impar não apenas para a
independência da Índia mas
também pela causa da paz
mundial. Ensinou-nos a doutrina
da não-violência, não como
uma submissão passiva ao mal
mas como um instrumento
activo e positivo para a
resolução pacífica dos conflitos
internacionais. Mostrou-nos
que o espírito humano é mais
potente que o mais poderoso
dos armamentos.
de 1906 na África do Sul. As
raízes da palavra satyagraha
derivam-se do sânscrito. É
uma palavra composta, uma
combinação de satya e ãgraha.
A palavra satya (verdade)
deriva-se da palavra sat em
sânscrito, que significa ser ou
existir eternamente, enquanto
ãgraha significa manter-se
fiel, aderência. Juntamente,
significam uma insistência
na verdade, aconteça o que
acontecer.
Com a sua fé intensa na
Verdade e na Não-Violência,
ele conseguiu transformar
a actividade política num
movimento maciço, que
descreveu como satyagraha.
Satyagraha baseia-se no
conceito da dignidade humana
e dos esforços humanos e
gradualmente evoluiu para uma
teoria de acção política e social
sem violência, que Gandhi
lançou no dia 11 de Setembro
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
20
A viagem de satyagraha, que
começou na África do Sul,
estendeu até à costa de Dandi,
até aos campos das 700.000
aldeias da Índia e até países
distantes. A palavra satyagraha
ficou muito popular durante
a luta pela independência na
Índia e foi assimilada no léxico
político indiano.
Nas palavras do reverendo
Martin Luther King Jr., o
famoso líder do movimento
dos direitos civis nos Estados
Unidos da América, “A escolha
não é entre a violência e a
não-violência, mas é uma
escolha entre não-violência e a
aniquilação”. King afirmou que
Gandhi tinha sido o primeiro
a perceber a verdade que “A
escuridão não pode vencer a
escuridão, apenas a luz pode
vencer a escuridão. O ódio não
pode vencer o ódio, apenas
amor pode vencer o ódio…”
A novidade do movimento
de satyagraha que Gandhi
dinamizou na Índia alicerçou
Foi mera sorte que levou
Mahatma Gandhi à África do
Sul, o grande teatro de acção.
A luta contra a discriminação
racial que ele começou na
Dr. Martin Luther King Júnior (1929-1968)
cumprimenta um público de mais que
200.000 pessoas reunidas em Washington
DC depois do seu famoso “Tenho um
sonho...” discurso no dia 28 de Agosto
de 1963.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
21
uma revolução na esperança
e no amor, na esperança e na
não-violência.
Como Gandhi e Martin Luther
King, Jr., o sul-africano Nelson
Mandela transformou-se num
líder devido a circunstâncias
extraordinárias. Um activista
que passou 27 anos na prisão,
Mandela ajudou livrar a África
do Sul do apartheid e foi
nomeado como o primeiro
presidente negro desse país
em 1994. Talvez o maior
impacto que os ensinamentos
de Gandhi tiveram em Mandela
e no ANC foi a tolerância.
O partido de Mandela uniu
hindus, muçulmanos, cristãos
e judeus. Esses diversos
indivíduos tinham um objectivo
comum – livrar o país do
jugo colonial. Devido à sua
capacidade de encontrar um
‘plataforma comum’, Mandela
recebeu uma honra especial
em 1993 – o prémio Nobel de
Paz. No seu discurso ao aceitar
o prémio, Mandela ecoou as
palavras de Gandhi. Insistiu
que ele era meramente “um
representante de milhões de
pessoas em todo o mundo que
reconheceram que fazer mal a
uma pessoa significa fazer mal a
todos os habitantes do planeta”.
Durante a sua visita à Índia em
1990, logo depois de sair da
prisão, Mandela disse, “Gandhi
é a chave para o futuro da
humanidade, seguem-no com
todo o coração”.
Num outro canto do mundo,
na República Checa, um
outro admirador de Gandhi,
em diferentes partes do mundo.
A sua mensagem de paz e
tolerância continua a ter um
significado especial, mesmo
sessenta anos depois da sua
morte.
Vaclav Havel, ganhou louvores
internacionais devido a sua
aderência à não-violência
como um instrumento para a
transformação social e político.
Sob a liderança de Vaclav
Havel, acabaram-se os dias de
política complacente. Quando
Havel surgiu como o homem
do momento no seu país, as
suas qualidades de liderança e
visão inspirou a imaginação de
milhões de pessoas em todo o
mundo. Não foi surpreendente
que, para muitos dos seus
compatriotas, as palavras
‘Havel’ e ‘Checo’ foram quase
sinónimos.
Nelson Mandela
Há uma procura para novos
valores sociais e religiosos,
que nos remete para o diálogo
que Mahatma Gandhi manteve
com Ruskin, Tolstoy e outros
grandes pensadores, e os
seguidores de Gandhi como o
reverendo Martin Luther King
Jr., Nelson Mandela e Vaclav
Havel. As ideias de Gandhi
têm uma tamanha riqueza que
podem ser aplicadas igualmente
a sociedades desenvolvidas e
em via de desenvolvimento.
O próprio Ganhdi acreditou
que as suas ideias iam inspirar
pessoas dentro e fora da Índia.
Vaclav Havel admitiu a sua
profunda admiração para o
princípio de não-violência
formulado por Mahatma
Gandhi. Acreditou firmemente
que “A revolução de veludo na
Checoslováquia teria dissipado
se não fosse pelo protesto
democrático sem violência”.
Afirmou que, “Sem o exemplo
de Gandhi eu nunca teria tido a
inspiração necessária.”
O conceito que Mahatma
Gandhi formulou – de não
cooperar, sem violência,
uma técnica conhecida como
satyagraha – é uma ideia
política original. Como técnica,
a violência tem uma história
de milhares de anos. Como
uma filosofia social de acção a
não-violência está apenas numa
fase inicial. O futuro esperanos. As grandes experiências
e realizações ainda hão de
acontecer.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
As palavras de Gandhi tiveram
um impacto indelével, mas ele
quis que as suas acções fossem
eternas: “Quero que as minhas
escritas sejam queimadas com
o meu corpo. São as minhas
acções que permanecerão para
sempre, não aquilo que eu disse
ou escrevi.”
Na verdade, a herança dos
feitos de Gandhi ainda ressona
22
Mahatma Gandhi sacrificou-se
como um indivíduo para as
causas maiores da liberdade e
dos direitos humanos. Depois
da sua morte transformou-se
num símbolo dos princípios
que ele sempre defendeu – a
verdade e a não-violência.
Segundo Gandhi os dois
elementos eram essenciais
para alcançar a paz mundial.
Sabia que uma força incrível
seria necessária para a
humanidade atingir esse
objectivo, mas pensou que
esse esforço era indispensável:
“Talvez nunca seremos
suficientemente fortes para
alcançar a não-violência
global, nos nossos pensamentos,
palavras e acções. Mas temos
que manter a não-violência
como o nosso objectivo e
continuar a avançar nessa
direcção …A verdade de alguns
indivíduos fará uma diferença.
A falta de verdade de milhões
desaparecerá como se tivesse
sido varrido pelo vento.”
Talvez um mundo sem guerra,
pobreza, fome e a intolerância
ainda seja possível. Vê-se um
raio de esperança no horizonte.
Em Junho de 2007 a ONU
declarou o dia 2 de Outubro,
a data do aniversário de
Mahatma Gandhi, como o Dia
Internacional da Não-Violência.
o tecido da nossa civilização.
É um processo de diálogo com
os indivíduos que ousaram
caminhar pelos trilhos forjados
por Mahatma Gandhi.
Acima de tudo, é a nossa
homenagem humilde a um
cientista social revolucionário
- Mahatma Gandhi – e à sua
eterna mensagem à humanidade
“A minha vida é a minha
mensagem”.
Um homem simples, gentil
e aparentemente frágil que
conquistou os corações das
pessoas, Mahatma Gandhi
entendeu o risco de opor-se a
países armados e repletos de
abusos – mas não tinha medo
deles. Desde a sua juventude
até à sua morte continuou a
encontrar conforto na sua fé, na
verdade e na sua coragem.
Vaclav Havel
Albert Einstein manifestou a sua
fé em Mahatma Gandhi quando
disse: “Vamos fazer tudo que
podemos fazer para assegurar
que toda a gente do mundo
possa aceitar os ensinamentos
de Gandhi como a sua política
básica antes que seja tarde
demais.”
Quando procuro a nãoviolência,
A verdade diz, “Encontrá-la-ás
através de mim”.
Quando procuro a verdade,
A não-violência diz, “Encontrála-ás através de mim”.
Também reafirma a nossa
crença que hoje em dia a
filosofia de Mahatma Gandhi
continua a ser uma experiência
viva, que tem o potencial para
dinamizar transformações,
inspirando um movimento
global de não-violência.
– M.K. Gandhi
◆
A autora é a directora de Gandhi Smriti e
Darshan Samiti em Nova Deli.
Gandhi dedicou toda a sua vida
à causa de interpretar o espírito
eterno de satyagraha. Devemos
reflectir como é que essa
revolução maciça aconteceu
na Índia sob a liderança de
Gandhi sem a violência que
aconteceu nos outros países da
Ásia e da África. É uma tentativa
a procurar uma alternativa à
violência, que ameaça destruir
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
23
A ONU LANÇA UM SELO
DEDICADO A MAHATMA GANDHI
Em Junho de 2007 a Assembleia Geral da ONU
adoptou a Resolução nº 61/271, proposta pela Índia
e apoiada pelos 192 membros da ONU, pela qual
declarou o dia 2 de Outubro – o dia do nascimento
de Mahatma Gandhi – como o “Dia Internacional da
Não-Violência”. A resolução convida todos os estados
membros, as organizações da ONU, as organizações
regionais e não-governamentais e indivíduos a
comemorar esse dia e disseminar a mensagem da
não-violência, incluindo através da educação e
campanhas públicas para promover o conhecimento.
Lançamento do selo comemorativo e do cartão comemorativo emitidos pela
Administração Postal da ONU no dia 2 de Outubro de 2009.
Na fotografia, da esquerda à direita: Dra. Susan Rice, Representante Permanente dos EUA,
Dr. Ali A. Treki, Presidente da Assembleia Geral da ONU, Dra. Asha Rose Migiro,
Vice Secretária-Geral da ONU e Embaixador H.S. Puri, Representante Permanente da Índia.
The legacy of Mahatma Gandhi and his doctrine of non-violence
resonate deeply at the United Nations. Non-violence is central
to protecting human rights, achieving disarmament and nonproliferation, and helping secure peace in conflict-torn countries.
The United Nations will continue to advocate non-violence and
to promote a culture of peace. Ultimately, non-violence must
prevail at every level, from individuals to governments,
for peace to be lasting and true.
BAN Ki-moon
Secretary-General of the United Nations
Non-violence is the path to enduring peace.
Para comemorar o Dia Internacional da
Não-Violência, S.E. Dr. Ali Abdussalam Treki, o
presidente da Assembleia Geral da ONU, e S.E.
Drª. Asha-Rose Migiro, a Vice Secretária-Geral da
ONU, lançaram um selo comemorativo e um cartão
comemorativo no dia 2 de Outubro de 2009, num
evento realizado na Biblioteca Dag Hammarskjold
na sede da ONU em Nova Iorque. O selo, com o
valor de um dólar, foi desenhado pelo famoso artista
estado-unidense Ferdie Pacheco e foi emitido pela
Administração Postal da ONU. Apresenta um retrato
artístico de Mahatma Gandhi.
O cartão comemorativo tem um bloco dos novos
selos e uma mensagem do Ministro dos Negócios
Estrangeiros da Índia, S. E. Dr. S.M. Krishna e do
Secretário-Geral da ONU, S. E. Dr. Ban Ki-Moon.
S. M. Krishna
External Affairs Minister of India
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
24
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
25
Sanchi
A
UMA MARAVILHA DE ARTE BUDISTA
Texto e fotografias: BENOY K BEHL
A arte do período Sunga, entre 185 e 73 a.C.,
estabeleceu os alicerces das ricas tradições artísticas
dos séculos seguintes. A arte budista mais antiga,
representando temas da vida do Buda e das histórias
jatakas, floresceu durante o reinado dos reis Sunga,
que adoravam divindades hindus. Esses monarcas
generosamente doaram os rendimentos de muitas
aldeias para promover e manter sítios de culto budistas.
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
Essas formas mundanas consistem em portas e divisões, que
separam o mundo quotidiano do interior sagrado. As suas
representações ajudam-nos a apreciar todas as formas da vida na
sua verdadeira perspectiva, como um reflexo da verdade eterna,
sem forma, que devemos alcançar. Para além das portas e das
divisões há uma representação profundamente simples: um stupa,
que nos indica a verdade que devemos seguir, deixando para trás
as atracções e as coisas materiais deste mundo.
Uma outra tradição que foi claramente estabelecida durante esse
período é o patrocínio real (sempre indirecto durante a fase
Pormenor, Vessantra Jataka, porta setentrional, superfície interior. Príncipe Vessantra é uma anterior encarnação do Buda.
Nesta história jataka ele exemplifica a qualidade de generosidade. Doa tudo que tem e acaba com nada.
A porta setentrional, vista do interior.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
arte do período Sunga, entre 185 e 73 a.C., estabeleceu os
alicerces das ricas tradições artísticas dos séculos seguintes.
A harmonia e a inter-relação de toda a criação é um tema
omnipresente. Sempre há a eterna árvore da vida, que nos mostra
as numerosas riquezas do mundo ao nosso redor. Apresentam-se
as formas com uma apreciação da sua beleza e da sua fertilidade
abundante, que assegura a continuação da vida.
26
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
27
inicial) de todos os monumentos
sagrados. A arte budista mais
antiga, representando temas da
vida do Buda e das histórias
jatakas, floresceu durante o
reinado dos reis Sunga, que
adoravam divindades hindus.
Esses monarcas generosamente
doaram os rendimentos de muitas
aldeias para promover e manter
sítios de culto budistas.
A cidade de Vidisha, hoje em
dia Besnagar no estado de
Madhya Pradesh, situava-se
na rota comercial que ligava
as planícies do Rio Ganges à
costa ocidental da Índia. Era
um grande pólo comercial, um
empório no meio das vastas e
férteis planícies da Índia Central.
Entre os objectos mais antigos
que foram encontrados aqui há
uma grande coluna de pedra com
uma inscrição, datada a cerca
de 120 a 100 a.C. Foi erguida
por um devoto grego chamado
Heliodoro, para honrar Vasudeva,
um dos numerosos nomes do
deus indiano Vixnu.
Em Sanchi, numa colina baixa
ao lado de Vidisha, é possível
ver os mais magníficos stupas
budistas do período antigo. Meio
caminho pela colina há um stupa
que contém os corpos dos mais
conhecidos mestres budistas
do período Maurya. A grade ou
vedika ao redor do stupa data de
cerca de 100 a.C.
O vedika é adornado com
medalhões e metades de
O Sonho da Rainha Maya, porta oriental.
Um excelente exemplo das cenas narrativas
é a cena que representa o sonho da Rainha
Maya. Segundo a tradição budista, o Buda
veio à Rainha Maya como um elefante
branco no seu sonho e entrou no seu útero.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
28
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
29
Página de frente: Lakshmi, Divindade de Abundância e Prosperidade, banhada por elefantes,
porta oriental. Também interpretada como a Rainha Maya, a mãe do Príncipe Siddhartha. A partir
do mais antigo stupa de Sanchi e do stupa de Bharhut, uma das mais antigas divindades que
encontramos na arte índica é Lakshmi, que representa a abundância e a riqueza da natureza.
Em cima: Criatura compósita, Stupa II. Essa imagem representa a unidade de todas as formas da
vida. É uma criatura alegre e encantadora, com as qualidades de um elefante, uma vaca, um veado
e até um cavalo. Toda a criação é vista com muita ternura.
medalhões que contém relevos. Todas as superfícies das colunas nos
cantos são esculpidas. Há uma imagem da divindade da prosperidade e
abundância, Lakshmi, flanqueada por dois elefantes que a borrifam com
água. Os relevos não são muito profundos e segue um estilo semelhante
aos relevos de Bharhut.
O mais espectacular dos stupas budistas do período antes de Cristo situa-se
em cima da colina em Sanchi. É provável que tenha contido relíquias do
próprio Buda. Esse stupa foi originalmente construído no século III a.C. Há
uma coluna de Axoca à entrada do stupa, ao sul. No meio do século II a.C.
expandiram o stupa, para o dobro do seu tamanho original, e as suas mais
antigas grades de madeira foram substituídos por grades maciças de pedra.
Pelo fim do século I a.C., a dinastia Satavahana, os reis da região do
Decão, estenderam os seus domínios à Índia central. Adoravam as
divindades hindus. Todavia, realizaram renovações significantes de pedra,
assegurando que esse stupa seria um dos mais importantes monumentos
budistas de sempre. Há quatro magníficas portas de pedra ou toranas,
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
30
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
31
Pormenor, A vinha interminável da força
vital, porta meridional. A arte de Bharhut
e Sanchi nos traz a vinha ondulante, que
carrega as inúmeras formas do mundo
natural.
direitas, que apoiam três vigas ou
arquitraves horizontais. Entre as
colunas e as arquitraves, ao este e
ao norte, há magníficos elefantes.
A porta ocidental é adornada com
anões. A porta ao sul tem leões.
cada um medindo mais que
11 metros. Completaram-se
no século I d.C. As tradições
artísticas que foram estabelecidas
durante o reinado dos Sungas
alcançaram o seu auge nesses
esplêndidas portas.
Os anões ou ganas são
representados como muito
gordos, com grandes barrigas a
sair dos seus dhotis (vestuário
masculino indiano). Cada um
tem uma cara diferente, com uma
expressão facial personalizada.
Os anões continuaram ser um
motivo preferido dos artistas
indianos durante os próximos
séculos. Realçam o sentido da
realidade apresentado na arte,
onde o humor e o sublime
coexistem, lembrando-nos que
As 631 inscrições nas toranas
dizem-nos que as esculturas
eram doadas pelo povo de
Vidisha. Essa arte foi criada
para jardineiros, mercadores,
banqueiros, pescadores, donas de
casa, freiras e monges. Mulheres
contribuíram quase metade das
doações.
As enormes vedikas são simples
e despojadas de esculturas.
As toranas têm duas colunas
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
32
tudo tem o seu lugar na nossa
existência. Mais tarde, os anões
seriam um tema importante nos
templos dedicados à divindade
Xiva.
A adoração da fertilidade e da
abundância da natureza, que se
vê em Bharhut, é presente aqui
também. As portas contem vinte
e quatro mulheres auspiciosas.
Na porta ao este há uma linda
yakshi que agarra os ramos
da mangueira em cima da sua
cabeça. A noção da vitalidade
criativa da natureza e a sua
fertilidade é representada aqui
duma forma muito realista.
Embora a figura do yakshi
é ligada à matriz, também é
esculpida em três dimensões
Pormenor, Um macaco traz mel para o
Buda, coluna, porta setentrional. Quando
Siddhartha decidiu desistir do seu ascetismo
extremo, um macaco trouxe-lhe mel para
comer. Siddhartha percebeu que privar o
seu corpo de alimentos com uma abnegação
rigorosa apenas enfraquecia o seu corpo e
a sua mente. Ele precisava da saúde plena
e positiva da sua mente para concentrar e
meditar melhor.
e todos os pormenores foram
cuidadosamente esculpidos
também na parte atrás.
Como em Bharhut, há figuras
masculinas nas portas também.
Uma figura veste-se em trajes
índicos, com um dhoti e turbante.
Uma outra figura usa trajes gregos
e agarra numa lança e escudo de
desenho estrangeiro.
Os relevos esculpidos nas portas
representam as histórias dos
jatakas sobre as vidas anteriores
do Buda e eventos da vida de
Gautama Buda. Os cenários das
histórias reflectem a vida nas
cidades e aldeias dessa época,
quando este arte foi criado.
Os relevos de Sanchi são um
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
33
dimensão, para que possa ser
identificada facilmente.
Um outro stupa mais pequeno
em Sanchi continha as relíquias
de dois discípulos do Buda,
Modgalyana e Sariputra. A única
porta deste stupa também foi
construída sob a supervisão dos
Satavahanas durante o século
I d.C. Como nos stupas mais
antigos, há uma visão do mundo
que vê o ritmo infinito de toda a
criação. A vinha da criatividade
confere uma vida à vedika.
Representa a vida em muitas
formas: flores, frutas, animais,
humanos e criaturas míticas.
importante registo visual da
arquitectura e do estilo da vida
desse período.
Aqui, a personalidade do
Buda não é o foco principal.
O budismo é representado
por muitos símbolos. A
roda representa o primeiro
ensinamento da doutrina budista;
a árvore bodi representa a
iluminação; enquanto as pegadas
humanas e o pára-sol em cima
de um espaço vazio anunciam a
presença do Iluminado.
As portas do stupa em Sanchi
apresentam um vislumbre da vida
dessa época em rico pormenor.
Enquanto as figuras em Bharhut
são individuais, aqui é possível
encontrar grandes grupos com
muitas figuras. São representadas
numa variedade de posturas e
no meio de muitas actividades.
O stupa em Sanchi tem uma
inscrição na porta oriental que
refere que as lindas esculturas
nas portas eram feitas pelos
escultores de marfim de Vidisha.
Com efeito, a pedra é esculpida
tão elegantemente que reflecte
o cuidado e os pormenores
do trabalho feito sobre marfim
delicado.
vasta gama de expressões, sem
nenhum esforço.
Os artistas de Sanchi utilizaram
perspectivas múltiplas e vários
pontos de vista. Assim, podiam
apresentar a vista em que é
mais fácil reconhecer o objecto
ou a figura em questão. Os
eventos e as figuras distantes
são representados na parte
superior do painel, enquanto as
figuras que são mais perto ao
público são representadas na
parte inferior. Os painéis não
usam a técnica da perspectiva
diferenciada. Todos os elementos
são considerados a ser
importantes e são apresentados
numa dimensão grande, com
claros pormenores. Uma outra
característica da arte antiga
indiana é o facto que as folhas
das plantas ou das árvores são
representadas numa grande
Topo: Pormenor, Devas graciosos, uma cena
da Iluminação, porta ocidental, superfície
interior. Esta cena é uma das mais finas
cenas esculpidas em Sanchi, com expressões
gentis e graciosas nos rostos das figuras.
Esses devas reuniram-se na ocasião da
Iluminação, para prestar homenagem ao
Buda.
Em cima: Lorde Indra com um Vajra, coluna
da porta oriental. Uma das mais antigas
divindades vistas na arte budista é o Lorde
Indra. O vajra ou relâmpago que ele
tem na mão mais tarde se transformou no
símbolo da escola Vajrayana de budismo.
Também já não se limitam a
vistas frontais mas é também
possível ver perfis de três quartos
de uma figura. Os artistas de
Sanchi representaram uma
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
34
No entretanto, os reis Satavahanas
e os Kstrapas governaram
as vastas regiões do Decão
ocidental e oriental. Enquanto os
monarcas eram seguidores das
divindades hindus, encorajaram
os estabelecimentos budistas.
Inúmeras cavernas dedicadas ao
Buda e numerosos stupas foram
criados durante o seu reinado.
(Publicado pela primeira vez na revista
Frontline)
◆
O autor é um conhecido historiador da arte,
cinematógrafo e fotógrafo.
Adoração de um Stupa, coluna, porta
setentrional. Visto que ainda não se
representavam as imagens de indivíduos na
arte índica nesta fase inicial, os simbolos como
este stupa indicam o Buda na arte de Sanchi.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
35
UMA EXPRESSÃO VÍVIDA DA ARQUITECTURA GÓTICA
A catedral de Medak
Texto & fotografias: RAMCHANDER PENTUKER
Um espectáculo de cor, os painéis de vidro colorido
nessa catedral, que data do séc. XIX, são
uma fonte de inspiração para os fiéis.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
36
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
37
C
erca de 80 milhas longe de Hyderabad, em cima no árido
planalto do Decão, um monumento singular ergue as suas
torres na direcção do céu azul brilhante. Espalhados na zona,
é possível ver as ruínas de templos, vestígios budistas, mesquitas e
as típicas aldeias da região de Telangana, com os seus característicos
telhados vermelhos. No horizonte, em cima de uma alta colina, há
uma fortaleza que a história esqueceu. Esse é o panorama que se vê
da janela do carro quando se entra nessa vila histórica – bem-vindos a
Medak.
Medak é a sede do distrito do mesmo nome. Hoje em dia é uma
pequena vila, mas a história e a arqueologia revelam que era uma
vez Medak era uma importante metrópole da cultura budista na
antiguidade. Vim aqui para ver a grande igreja que o povo de Medak
esculpiu dos rochedos, há mais que um século.
Na medida em que me aproximei, gradualmente vi a torre da igreja,
seguido pelo seu corpo maciço. Foi uma visão esplêndida. Durante
Os anjos anunciam o nascimento de Cristo.
A seguir os ponteiros do relógio a partir de cima, à esquerda: o nascimento de Cristo;
crucifixão; aos pés do Senhor, a Virgem a ver a crucifixão; a arte dos vitrais dentro da igreja
e uma pintura luminosa na janela ocidental, feita de vidro colorido.
algum tempo senti-me como se estivesse perdido num sonho gótico.
Conhecido popularmente como ‘a igreja de Medak’, é o monumento
mais emblemático dessa vila. A igreja é famosa pelas suas expressões
vívidas da arquitectura gótica e pelas enormes janelas de vidro
colorido representando cenas da vida e da genealogia de Cristo,
incluindo a ‘Natividade’ e a ‘Ascensão’ de Cristo aos céus. A igreja é
firme como uma rocha maciça, muita alta no meio do enorme recinto.
Diz-se que é entre as maiores igrejas do país. Mais que 3.000 pessoas
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
38
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
39
mesmo em frente do mural
de vidro colorido intitulado
‘A Ascensão de Cristo’. Essa
magnífica obra de arte foi criada
no século XIX. Repleto de cores
brilhantes, o mural é uma das
mais magníficas obras a ser
realizada por mãos humanas
e evoca o fervor religioso da
Idade Média. Lá na parte mais
alta da igreja, em cima do altar,
dominando tanto o sacerdote
como os fiéis, Cristo ascende
para os céus.
reúnem-se aqui para rezar,
quando a igreja realiza uma
grande missa para os peregrinos
durante as suas comemorações
anuais.
Quando entrei na igreja, logo
senti um vento fresco. Na
medida em que os meus olhos
começaram a ajustar ao interior
escuro, um grande contraste ao
sol brilhante lá fora, logo notei a
vasta escala da catedral. Quando
entrei, ouvi as notas do órgão
a flutuar languidamente no ar.
De repente, estive rodeado por
brilhantes raios de luz colorida,
entrando através das enormes
janelas de vidro colorido nos
dois lados das altas paredes. No
próximo momento encontrei-me
Para cada fachada de vidro
colorido, o artista usou um tema
bíblico diferente. O nascimento
de Cristo aparece na janela
ocidental, enquanto a janela
oriental tem uma cena com a
sua crucificação. Na medida
em que o sol mude de posição,
cada cena é iluminada na sua
vez. A qualidade das janelas é
tão luminosa que é impossível
capturá-las bem com uma
máquina fotográfica.
Companhia, a igreja foi
construída durante a primeira
guerra mundial, entre 1914 a
1924, e demorou uma década
inteira para completar. É um
monumento aos anos de
turbulência e conflito que o
mundo sofreu durante esse
período. A lenda reza que
durante o mesmo período
houve uma seca e fome na
região de Medak. O povo local
solicitou a ajuda do reverendo
Charles Walker Posnett, um
missionário britânico que estava
a trabalhar em Medak. Ele
ajudou os pobres e pediu-lhes
a trabalhar para construir esta
igreja. A população de Medak
esforçou-se e construiu a igreja.
As janelas de vidro colorido
vieram de Londres, realizadas
pelo artista inglês, Sir Frank
Salisbury. Os ricos adornos em
pedra e vidro complementam-se
harmoniosamente e o efeito é
uma visão deslumbrante.
Desenhada pelos arquitectos
britânicos Bradshaw &
Rapando os cabelos para dar graças ao
Senhor (à direita); crianças a preparar uma
peça de teatro na igreja na véspera do seu
festival anual (em baixo) e mercadores no
festival anual da igreja (em baixo).
A igreja é firme como uma rocha sólida
entre um vasto recinto (à esquerda) e uma
missa no seu interior (em baixo).
Durante essa época, poucas
pessoas na vila sabiam ler e havia
uma falta de livros ilustrados. As
pinturas suspensas no ar, com
a sua qualidade transluzente,
serviram como um livro ilustrado
sobre a vida de Cristo. Ainda
hoje, numa idade da televisão e
das imagens digitais, essas janelas
de vidro colorido são uma vista
deslumbrante. A arte de vidro
colorido da igreja de Medak é
numa classe única.
◆
O autor é um conhecido fotógrafo e escreve
sobre as suas viagens.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
40
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
41
Para além da lua
nacionais na área de investigação
planetária. “Desde o lançamento
até chegar à orbita precisa ao
redor da lua e conseguir a
aterragem da MIP (Sonda de
Impacto Lunar - Moon Impact
Probe) na superfície da lua e
recolher os dados, conseguimos
alcançar todos os objectivos,” diz
Nair.
RADHAKRISHNA RAO
A Índia já tem um novo embaixador. Chandrayaan-1,
a primeira sonda lunar da Índia, já fez várias descobertas
ao encontrar a mais forte prova da presença de água
na lua. Chandrayaan-1 já ganhou a atenção de todo o
mundo e é um símbolo vivaz das capacidades técnicas e
científicas da Índia.
C
omo destacado por G. Madhavan Nair, o então director da
Organização Indiana de Investigação Espacial (ISRO), a
mensagem de Chandrayaan-1, que foi lançado no espaço
em Outubro de 2008, é muito clara: no sector do espaço, a Índia
é um país desenvolvido. Descrevendo a detecção de água na lua
como um evento histórico de grande importância para o futuro
do programa de explorar o espaço, Nair reparou, “Até agora,
nenhuma missão tinha confirmado a presença de água na lua
positivamente”.
Foi o Moon Mineralogy Mapper (M3), uma das cinco cargas
internacionais a bordo da missão lunar indiana, que custou Rs. 3860
milhões, que revelou que, longe de estar árida, a lua tem água na
forma de moléculas. Assim, esta descoberta pioneira, entre as mais
O veículo espacial Chandrayaan-1, completamente integrado (à esquerda)
e carregando-o no câmara Thermovac (à direita).
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
42
Segundo a ISRO, o M3 detectou
sinais de água e hidroxilo no
solo da superfície e em rochas
em zonas muito diversas
das regiões da lua que são
iluminadas pelo sol. Isso já
pôs fim à antiga crença que a
lua é completamente árida e a
água se encontraria apenas nas
crateras nas regiões polares, na
sombra. Como Nair enfatizou, a
presença de água na lua podia
livrar o caminho para uma vasta
gama de actividades, incluindo o
estabelecimento de observatórios,
bases humanas e o lançamento
de missões inter-planetárias de
espaço profundo usando a lua
como uma base e também uma
fonte de extrair combustível para
os foguetes. Claro, a extracção de
recursos lunares como Hélio-3,
uma rica e ecológica fonte de
energia, podia ser uma outra
vantagem benéfica da descoberta
de água na lua.
A integração da Sonda de Impacto Lunar (MIP) com o veículo espacial Chandrayaan-1.
importantes descobertas da
exploração de espaço, destaca-se
como um exemplo esplêndido
de cooperação entre os cientistas
da ISRO e da NASA dos EUA.
Os ricos dados conseguidos por
M3, construído pela Universidade
de Brown e Jet Propulsion
Laboratory (JPL) para NASA,
mostraram que a química da lua é
totalmente diferente daquilo que
se tinha imaginado. Detectou-se
muita água debaixo da superfície
da lua. “Temos de pensar de uma
maneira inovadora sobre este
assunto. Esperaram estas notícias
há uma década,” diz Carle
Pieters, o principal investigador
do M3 e um geólogo planetário
na Universidade de Brown.
Do mesmo modo, Jim Green,
Director da Divisão de Ciência
Planetária na sede de NASA
em Washington DC observou,
“Confirmar o gelo de água
na lua foi desde há muito um
objectivo dos cientistas lunares.
Esta descoberta surpreendente foi
conseguida devido à inovação,
persistência e cooperação
internacional entre ISRO e
NASA.”
Claramente, essa descoberta
mostrou que Chandrayaan-1
– que originalmente devia ter
tido uma vida de 2 anos – foi
um grande êxito, apesar do
facto que a missão tinha que
terminar mais cedo que previsto,
visto que alcançou todos os
seus objectivos. Nair realçou
que o veículo espacial indiano
já conseguiu realizar 95%
dos objectivos científicos da
missão. “Encontrar a presença
de água ou gelo na lua era
um dos principais objectivos
científicos de Chandrayaan-1,”
nota M. Annadurai, o director do
projecto de Chandrayaan-1. Para
além dos objectivos científicos,
Chandrayaan-1 também tinha
o propósito de actualizar as
capacidades técnicas da Índia e
para fornecer oportunidades e
desafios para os jovens cientistas
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
Numa outra descoberta
inovadora, a unidade de SARA
(Sub Kev Atom Reflecting
Analyser) que estava a bordo
de Chandrayaan-1 descobriu
que a água na lua é gerada
internamente. A unidade de SARA
foi contribuída pela Agência
Espacial Europeia (ESA) através
de uma colaboração entre o
43
que era necessário para a Índia
manter-se na vanguarda na
área de ciência e tecnologia.
“Enquanto aterrava na lua, o
MIP encontrou fortes sinais de
partículas de água. Variava desde
o equador até aos pólos lunares.
Essas variações desde o equador
até aos pólos coincidiram com
as descobertas do M3” diz Nair.
O MIP foi criado para oferecer à
ISRO um vislumbre da tecnologia
dos sistemas robóticos de
aterragem espacial.
Instituto Sueco de Física Espacial
e o Laboratório de Física Espacial
do Centro Espacial Vikram
Sarabhai (VSSC), baseado na
cidade de Thiruvananthapuram,
o maior estabelecimento espacial
sob a jurisdição de ISRO. Os
dados de SARA já revelaram que
a lua se comporta como uma
esponja gigante ao absorver
constantemente as partículas
carregadas electricamente
emitidas pelo sol. As moléculas
de hidrogénio nessas partículas
interagem com o oxigénio
presente nas partículas de pó na
superfície lunar para produzir
água.
Uma grande proeza do MIP era
implantar a bandeira indiana na
superfície da lua. A bandeira
foi incluída na missão de
Chandrayaan-1 a pedido do
então presidente da Índia, um
conhecido cientista espacial,
Dr. A.P.J. Abdul Kalam, e tem
uma pintura da bandeira indiana
em todos os lados. Com essa
iniciativa, a Índia é o quarto país
no mundo a aterrar uma sonda
robótica na lua e implantar a
bandeira nacional, Nair disse
Talvez o momento alto da sonda
lunar indiana foi a descoberta
de água pela MIP, construído
na Índia, que pesava 29 quilos,
quando aterrou na superfície
lunar no 14 de Novembro
de 2008, coincidindo com o
aniversário do primeiro primeiroministro indiano, Jawaharlal
Nehru, que tinha enfatizado
O veículo espacial Chandrayaan-1 na fase dos testes antes do seu lançamento.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
44
com alegria, “Prometemos ao
país que lhe íamos dar a lua e
conseguimos fazê-lo.”
a tecnologia de ponta no sector
do espaço com um orçamento
ínfimo” diz Nair na brincadeira.
Fazendo um perfil das proezas
de Chandrayaan-1 durante os 312
dias da sua missão, a ISRO diz
que completou cerca de 3.400
órbitas e forneceu mais que
70.000 imagens de alta qualidade,
algumas das quais são imagens
espectaculares das montanhas e
das crateras lunares nas regiões
da lua que estão sempre à
sombra. Esta missão desafiadora
e complexa era realizada pela
ISRO para fortalecer a posição da
Índia como um poder espacial
da vanguarda que pretende
explorar o espaço profundo
com maior vigor nos próximos
anos. O lançamento perfeito
de Chandrayaan-1 no dia 22 de
Outubro de 2008, através do
veículo espacial indiano PSLV
(Polar Satellite Launch Vehicle)
e a sua subsequente inserção na
órbita lunar já catapultou a Índia
num grupo elite de países – os
EUA, a Rússia, a China, o Japão
e a ESA – que lançaram sondas
para o vizinho celestial mais
perto da terra. Para uma nação
em via de desenvolvimento que
começou a sua viagem espacial
modestamente em 1963, quando
um foguete de 9.3 quilos foi
lançado na aldeia piscatória
de Thumba nos arredores
de Thiruvananthapuram,
Chandrayaan-1 marca um
enorme passo pela frente. Para
além disso, a Chandrayaan-1
custou apenas uma fracção
dos investimentos em sondas
semelhantes lançadas por outros
países espaciais, incluindo a
China e o Japão. “Dominamos
A descoberta de água na lua
por Chandrayaan-I já abriu a
possibilidade de reorientar os
objectivos da missão da seguinte
sonda lunar - Chandrayaan-II,
que vai ser lançada em 20122013 através de um GSLV
(Geosynchronous Satellite Launch
Vehicle) de três etapas. Neste
contexto, Dr. Kalam sugeriu que
a ISRO devia penetrar ainda mais
profundamente na superfície
lunar à procura da água, usando
um furador robótico. “Esta
descoberta de água é ainda mais
importante porque vem depois
de cinco décadas de esforços de
investigação espacial por muitas
nações. Sugiro que a ISRO e a
NASA trabalham no ChandrayaanII para ajudar a explorar as
profundezas nas quais a água
é disponível, depois de furar
buracos na superfície da lua,
usando um furador robótico.”
O projecto de Chandrayaan-II
vai ser uma colaboração entre
a Índia e a Rússia. Enquanto
a ISRO será responsável pelo
principal veículo de órbita, a
Rússia vai desenvolver a sonda
robótica com um sistema de
aterragem. Juntamente com a
sonda inicial russa, que pesa
50 quilos, Chandayaan-II vai
ser reconfigurado para incluir
uma sonda robótica indiana
que pesa 15 quilos. Ambas
essas sondas vão fazer uma
aterragem suave num sítio
lunar que vai ser identificado
depois de examinar os dados
recolhidos por Chandrayaan-I,
vão recolher amostras de solo
e das rochas e vão analisá-las
quimicamente para procurar
mais provas de água e Hélio-3.
“Estamos a modificar o
programa para Chandrayaan-II.
Vamos penetrar a superfície da
lua até uma maior profundidade
para encontrar mais água,” diz
Nair.
Para além de Chandrayaan-II,
a ISRO está a examinar a
possibilidade de tentar uma
missão à lua para trazer amostras
de volta. Para essa missão a
ISRO ia precisar de um foguete
pesado para o lançamento. O
sistema de propulsão de foguetes
semi-criogénica que a ISRO está
a desenvolver actualmente podia
ajudar a conseguir o ímpeto
que seria necessário para uma
missão assim. A ISRO também
já falou da possibilidade de
extrair os recursos lunares. “Se
encontrarmos minerais na lua,
o próximo passo lógico seria de
recolhê-los e trazê-los á terra”
diz Nair. Embora actualmente
O lançamento do PSLV-C11.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
45
Índia a desenvolver a sua missão
com uma tripulação humana. Pela
sua parte, a ISRO vê a missão
humana como um projecto
nacional, visto que vai envolver
diversas instituições académicas
e científicas, organizações
de investigação e empresas
industriais em todo o país.
Para ficar na vanguarda da
corrida para as fronteiras finais,
a ISRO tem programado várias
missões de espaço profundo
que vão ser lançadas durante a
próxima década. Esses projectos
incluem uma sonda orbital a
Marte e uma missão ao anel dos
asteróides. Do mesmo modo,
também está a considerar uma
missão a Vénus.
A Sonda de Impacto Lunar (MIP), que foi construída na Índia e pesa 29 quilos.
O enorme êxito da missão
de Chandrayaan-1 agora está
a inspirar a ISRO a realizar o
primeiro voo com humanos,
agendado para 2015. Neste
momento, pensa-se desenvolver
e lançar um veículo de órbita
completamente autónomo com
2 ou 3 elementos de tripulação
uma missão para aterrar
humanos na lua não faz parte
dos planos da ISRO, pensa-se
que as circunstâncias das
dinâmicas globais da exploração
espacial podia induzir a Índia a
desenvolver um projecto para
enviar uma missão para aterrar
humanos na lua até 2020.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
46
até uma órbita baixa ao redor
da terra de 400 quilómetros
e conseguir que volte são e
salvo à terra. Acha-se que uma
versão da GSLV-MKII vai ser o
veículo preferido para lançar
a cápsula indiana com uma
tripulação humana. ISRO vai
precisar de desenvolver várias
novas e inovadoras tecnologias
para assegurar um sistema
infalível para salvaguardar as
vidas humanas, a segurança,
a confiança e um sistema de
emergência caso a tripulação
precisa de escapar. Para
desenvolver as tecnologias para a
primeira missão humana da Índia
no espaço, a ISRO pensa lançar
a sua segunda experiência de
recuperar cápsulas espaciais em
2010-11.
Como parte desse voo com
uma tripulação humana, a ISRO,
em cooperação com o Instituto
de Medicina de Aviação (IAM)
vai estabelecer um centro em
Bangalore com a tecnologia de
ponta para treinar os astronautas.
Para além disso, uma terceira
pista para apoiar o voo com
uma tripulação humana vai ser
estabelecida no Centro Espacial
Satish Dhawan (SDSC), o
“cosmódromo indiano” na ilha
de Sriharikota na costa oriental
da Índia. Enquanto o fato dos
astronautas vai ser desenvolvido
pelo Centro Espacial Vikram
Sarabhai (VSSC), o menu
especial para os astronautas
indianos vai ser desenvolvido
pelo Laboratório Militar de
Investigação Alimentar (DFRL),
com a sua sede na cidade
de Mysore. Sob o acordo de
cooperação espacial assinado
entre a Índia e a Rússia, a Rússia
vai ajudar a ISRO a treinar os
seus astronautas e a construir a
cápsula. A oferta russa de levar
um astronauta indiano para a
Estação Espacial Internacional
(ISS) na primeira metade da
próxima década podia ajudar a
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
Embora o olhar da ISRO está
fixado nos planetas longínquos,
tem os seus pés firmemente no
chão. Desde a sua fundação,
o programa espacial da Índia
tem procurado aproveitar dos
benefícios da tecnologia espacial
para aumentar o desenvolvimento
nacional. “A expansão continuada
das aplicações do programa
espacial como os centros rurais
de recursos, tele-medicina,
tele-educação, apoio para a
gestão de desastres e iniciativas
como a rede de televisão,
reiteram o cada vez maior
papel que os sistemas espaciais
indianos desempenham para
oferecer benefícios directos à
sociedade” observa Nair.
◆
O autor é um escritor independente.
47
Kashida
UMA SINFONIA DE BORDADOS DE CAXEMIRA
Texto: UPENDRA SOOD
Fotografias: BIMLA VERMA
Os bordados são uma parte essencial e intrínseca das tradições
artesanais da Índia. Os bordados indianos são cada vez mais
populares internacionalmente.
O
s artesãos indianos são famosos em todo o mundo pelas suas magníficas
criações. Produzem lindos tecidos e decoram os panos com bordados
para realçar a sua beleza ainda mais. A história explica a influência
dos viajantes, artesãos, artistas e arte de outros países e estados nos bordados
indianos, que manifestam a criatividade artística do seu povo.
Isso é particularmente verdade no caso do estado de Caxemira, no norte
da Índia, conhecido globalmente pela sua beleza. A área tem uma beleza
natural encantadora e uma vasta gama de flora e fauna, lagos serenos,
A beleza deste xaile de pashmina é no desenho na forma de uma amêndoa no palluav.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
48
jardins de primavera eterna e
uma abundância de cores que
inspiraram inúmeros escritores,
poetas, artistas e artesãos. É
natural que os tecelões seriam
influenciados pela beleza
deslumbrante desse estado.
O bordado mais famoso de
Caxemira chama-se kashida. Os
xailes bordados de kashida são
famosos em todo o mundo pela
sua beleza, cores, desenhos,
aparência artística e texturas.
A indústria dos xailes floresceu
durante o reinado do sultão
Ul-Abedin, no século XV.
Identificou, seleccionou e trouxe
os mais brilhantes tecelões e
artesãos da Pérsia para Caxemira
para dar uma nova vida a
essa arte, que estava à beira
toda a composição, estrutura e
estilo dos pontos, com várias
combinações de cores. Essa
mudança assegurou que há
muitas semelhanças entre
os bordados da Pérsia e de
Caxemira, especialmente em
termos dos desenhos. Os
desenhos vegetalistas da Pérsia
transformaram-se nas flores
naturalistas da arte mogor.
Assim, é possível ver muitos
desenhos florais indo-persas
nos bordados kashida. Houve
uma maior procura para os
xailes de Caxemira durante o
período mogor e essas peças são
mencionadas também no Ain-iAkbari. No século XVIII, esses
xailes deliciaram as damas da alta
sociedade inglesa.
de extinção. Assim, começou
uma nova fase nessa arte,
introduzindo e transformando
Um artesão a trabalhar (em cima) e um lindo exemplo de um xaile de pashmina com um desenho floral do estilo mogor (em baixo).
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
49
Kashida é uma indústria artesanal
que envolve quase todos os
membros da família. É uma arte
hereditária onde os pais passam
os seus conhecimentos aos
seus filhos. Os jovens na família
começam a aprender a arte dos
bordados kashida a uma tenra
idade, treinando com uns pontos
simples feitos em xailes menos
caros. Continuam a melhorar as
suas capacidades repetindo os
desenhos em pequenas amostras.
Pela idade dos 16 anos já são
proficientes nesta arte delicada.
Depois de pelo menos 20 anos
de prática contínua começam a
trabalhar nos xailes mais finos e
caros das variedades pashmina e
shahtoosh.
Um xaile de lã com um desenho floral
criado com pontos papier-mâché (em cima
à esquerda); xailes de pashmina bordados
em diferentes cores e estilos (em cima) e
um lindo casaco bordado com desenhos
florais tradicionais (à esquerda).
A folha da árvore chinar é o
desenho mais utilizado. Os ramos
delicados e as folhas delgadas
enchem os espaços e ultrapassam
até a perícia da natureza. É
bastante raro encontrar figuras
humanas e animais mas algumas
peças mais antigas contendo
cenas de caça conhecidas como
shikargah são preservadas nos
museus de Srinagar.
Os mercadores fornecem os
tecidos e os desenhos, todavia
o artesão tem a liberdade de
escolher os fios e as combinações
de cores. Antes de começar
o trabalho do bordado, o
desenho que foi escolhido
é traçado no tecido por um
profissional especializado
conhecido como o naquashband.
Traça-se o desenho com uma
caneta. Embora os desenhos
são inspirados pela natureza
novos desenhos também foram
introduzidos gradualmente,
segundo a moda e os gostos
dos clientes. É possível ver uma
grande variedade de flores, com
ricas cores e várias dimensões e
formas, como lírios, lotos, tulipas,
açafrão, íris e uvas, juntamente
com pássaros como o martimpescador, papagaios, pica-paus,
pega-rabudas e canários nos
bordados kashida.
Mais tarde, o desenho inspirado
nas mangas, conhecido como
kalki ou badami buta (porque
o elemento tem a forma de
uma amêndoa ou botão) foi
introduzido nos bordados
de Caxemira. As raízes desse
desenho traçam-se à arte da
Pérsia e reflectem a sua influência
na arte indiana durante os
séculos XVII e XVIII. O tecido
que serve como uma base para
o bordado é feito de diferentes
tipos de lã como pashmina,
variedades de seda e algodão e
linho. Usualmente, os bordados
são feitos em tecido que não foi
Um xaile de pashmina bordado
esteticamente em cores vivazes.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
50
fios de lã e hoje em dia também
se utilizam fios de algodão
ou fios sintéticos com cores
permanentes.
Esse incomparável estilo de
bordado não apenas embelece os
xailes de Caxemira mas também
enaltece os saris de seda, tecidos
para vestidos, almofadas, mantas,
bolsas, véus e artigos quotidianos.
Conseguiu manter a sua rica
herança tradicional enquanto se
adaptou aos gostos dos clientes e
às tendências contemporâneas de
moda.
tingido, com uma base em tons
de branco ou creme. Todavia,
conforme os gostos dos clientes,
os tecidos também se tingem em
diferentes cores. Antigamente,
utilizava-se uma fina qualidade
de fios de lã para os bordados.
Gradualmente, ricos e lustrosos
fios de seda substituíram esses
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
◆
O autor é um escritor independente e
produtor de programas para a televisão.
Nota do editor: Os xailes de shahtoosh
são tecidos da lã do antílope tibetano,
conhecido como o chiru. Para proteger
esse animal da extinção foi proibido tecer,
vender ou comprar xailes de shahtoosh.
51
Reportagem fotográfica
Os bonecos de
Bengala/Orissa
A ARTE NA MADEIRA
Texto & fotografias: DILIP BANERJEE
D
esde o início da
civilização os homens
sempre tiveram uma
relação intensa com a natureza.
A madeira é um material
natural básica que os homens
usaram ao longo dos séculos
para vários fins. Usou-a para
fogos, para construir casas, para
produzir utensílios e armas
até para esculpir as imagens
das divindades e figuras de
bonecos e brinquedos. A Índia
sempre teve uma rica tradição
de trabalhar a madeira. Os
desenhos delicados de peças
marchetadas, simples esculturas
de madeira e pinturas são
populares com os conhecedores
e com os aficionados da arte.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
52
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
53
O distrito de Sambalpur em
Orissa e o distrito de Burdwan
na Bengala Ocidental têm
uma tradição particularmente
forte de esculturas de madeira.
Gerações de artesãos seguiram
essa profissão durante séculos.
Geralmente, usa-se a madeira
gambri para as esculturas,
devido a sua superfície lisa.
Inicialmente, o artesão traça
a imagem na superfície da
madeira com um lápis. Depois,
cria a imagem com um cinzel.
Usualmente, a peça é pintada
com cores artificiais mas às
vezes retêm-se a cor original
da madeira para uma aparência
natural. Às vezes, os artesãos
usam cores em pó para pintar
as peças. O artesão anima as
imagens com o seu pincel e
as cores secam ao sol. Logo
depois, as peças são polidas
para assegurar o seu brilho e a
durabilidade.
As figuras de divindades como
Durga e Jagannath são muito
populares entre os devotos.
Mas hoje em dia há uma grande
procura para imagens de
mochos em diferentes formas
e tamanhos. Mochos com
cores brilhantes ou bonecos
requintados são, sem dúvida,
uma atracção especial em
qualquer casa.
◆
O autor é um conhecido fotógrafo e escritor.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
54
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
55
O cume da aventura
UM RECORDE MUNDIAL DE PARÁ-QUEDISMO
RAMESH TRIPATHI
Desde as brumas do tempo, os homens sempre tiveram
o sonho de conquistar os elementos. O vento, a chuva,
a gravidade, os céus e a luz do sol dominam a vida
humana. Os homens fizeram proezas ousadas a seguir
esse sonho de vencer os elementos.
Comandante Tripathi a manobrar o seu pára-quedas em fortes ventos durante a sua aterragem.
A montanha Everest (8848m) é visível no fundo, atrás do pára-quedas.
Fotografia por Leo Dickinson, um famoso fotógrafo e cinematógrafo britânico de aventuras e acção.
A
arte do pára-quedismo é
uma reflexão do espírito
intrépido da humanidade.
Pára-quedismo é uma actividade
humana que vai para além dos
limites terrestres da existência
rotina humana. É um passo no
ar, longe da segurança relativa
de uma plataforma aérea. Esse
passo desafia a gravidade. É
também um desafio aos pássaros
e ao seu monopólio dos céus.
Independentemente de quanto
seja curto, é também uma
existência divina em cima da
terra, onde o homem é o mestre
do seu próprio destino.
Visto que já ensino páraquedismo desde há cerca
de duas décadas, tive a
oportunidade de fazer páraquedismo em várias ocasiões
operacionais e de treino, tanto de
dia como de noite, de altitudes
diferentes. Já tendo feito páraquedismo durante a formação
aérea das Forças Especiais de
uma altura mais alta que Everest
(10.000 metros em cima do
nível do mar, AGL), usando um
avião de asas fixas, tive o sonho
de escalar até essa altura um
dia também. Essa inspiração
motivou-me e comecei a
treinar na arte do montanhismo
em 1992. Depois disso,
invariavelmente encontrei-me em
cima de algum pico médio nas
regiões de Garhwal e Himachal.
Como qualquer outro alpinista,
sonhei de ver a montanha
Everest e a minha obsessão
teve êxito quando fui parte da
primeira expedição da Força
Aérea Indiana (IAF) à montanha
Everest em 2005.
uma faísca nesse momento, que
me inspirou a fazer um salto
de pára-quedas em cima das
montanhas. Nunca imaginei que
um dia eu ia ter a oportunidade
de saltar de pára-quedas em cima
da região de Everest.
Acho que tenho muita sorte
em ter uma dupla qualificação
de ser um alpinista e um páraquedista, uma combinação
perfeita para satisfazer a minha
paixão e experimentar com
uma aventura única – saltando
de pára-quedas em cima de
Everest. O meu interesse nesse
projecto desenvolveu no ano
passado quando tive notícias
de uma equipa britânica que já
estava a trabalhar para alcanças
essa proeza. Consegui contactar
o coordenador principal no
Reino Unido através da Internet.
Com a minha formação e
experiência deram-me logo um
lugar na equipa, que ia saltar
em Setembro de 2008. Partilhei
a minha experiência profissional
e até ajudei com o projecto em
alguns outros aspectos. Todavia,
devido a razões fora do meu
controle, eu não podia participar
no primeiro salto, de uma
altitude de 4.200 metros na base
aérea de Syangboche, na rota ao
acampamento base de Everest.
Um total de 41 pára-quedistas
fizeram saltos individuais e
duplos de um avião Pelatus, que
trouxeram da Suíça apenas para
esse projecto. O preço citado no
website por cada salto era de £
20.000!
Ramesh Tripathi
Às 0515 horas do dia 30 de
Maio de 2005, quando pus
pé em cima do mundo, tendo
subido do lado do norte, fiquei
cheio de alegria. Mas o meu
pensamento mais imediato
nesse momento era de descer o
mais rapidamente possível sem
perder tempo. Com o cansaço
e as condições inóspitas nessa
altitude, a minha mente estava
à procura de um caminho mais
curto para voltar à nossa base.
Nesse momento, tive uma ideia
brilhante e pensei que eu teria
gostado sinceramente de ter uns
pára-quedas nesse momento para
voar até a base! Depois de passar
nem 10 minutos no pico, sozinho
com o meu sherpa Ang Sona,
gozando da vista panorâmica
de todo o planalto do Tibete,
comecei rapidamente a descer.
Todo o tempo em que eu desci
pelo trilho esguio do nordeste,
pensei em como seria fantástico
poder voar perto de Everest ver
a montanha de uma forma que
nem as pessoas que escalam
Everest a conseguem ver. Havia
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
montanhas, aclimatizando-se
e preparando para o salto.
Isso deixou-me com pouco
tempo para reagir e fazer as
preparações. Logo, recebi a
licença oficial para fazer o
salto do ministro de turismo do
Nepal. Comecei a preparar-me
rapidamente e havia muitas
coisas para fazer – os bilhetes,
a pedir licença à sede da força
aérea, conseguir as roupas e o
equipamento necessário etc. Foi
no dia 18 de Setembro de 2009
(sexta-feira) que a contagem
decrescente para o salto de
Everest começou…
Marquei a minha passagem
aérea para o dia 20 de Setembro
de 2009 e devia ter deixado
Deli às 10h30. Todavia, recebi
uma chamada da agência às 5
da tarde a dizer que as linhas
aéreas tinham cancelado os
seus voos durante os próximos
três dias. Fiquei em choque!
Muito ansioso, pedi um lugar no
próximo voo disponível. Eu tive
que pagar o dobro do preço mas
asseguraram-me que eu ia chegar
em Kathmandu pelas 09h30.
Enquanto eu estava a verificar a
confirmação do bilhete, recebi
um e-mail de Kathmandu de
Himalaya Expeditions, que
estavam a coordenar o salto,
dizendo – ‘Comandante Tripathi,
se você chegar até às 09h00
no dia 20 de Setembro, pode
participar, se não, vai perder
o salto’! O helicóptero ia sair
de Kathmandu às 10h00. Mais
um problema! Tive que mudar
a minha reserva mais uma vez
mas agora o preço da passagem
quase triplicou!
Depois de uma breve sessão
de hospitalidade no Maharaja
Lounge do Aeroporto
Internacional Indira Gandhi em
Raffell, Leo Dickinson e Tripathi, da esquerda à direita.
Mais uma vez Leo Dickinson e
Ralph Mitchell ofereceram-me
um lugar. Ambos já estavam nas
58
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
59
Deli no dia 20 de Setembro,
finalmente embarquei no voo
comercial. O avião arrancou às
07h45, o tempo era óptimo e
ciente da agenda intensa que me
esperava em Kathmandu, usei
o tempo bem e adormeci logo
depois de rever mais uma vez a
lista de preparações necessárias
para o salto.
O tempo em Kathmandu era mau
e o voo de helicóptero tinha sido
atrasado até 14h00 essa tarde.
Durante a minha interacção
com a tripulação do helicóptero,
aprendi os procedimentos para
sair do helicóptero. Não foi nada
novo porque já tinha feito mais
que 700 saltos de helicópteros,
é um verdadeiro desafio, contra
todas as adversidades – a alta
altitude e os elementos brutais da
natureza. Condições de ventos
altos, temperaturas debaixo de
zero, adversas condições de
vento, uma falta de oxigénio,
uma baixa pressão, as hipóteses
de acabar em cima de glaciares
e fossas, uma área limitada para
aterrar, etc. são as verdadeiras e
difíceis condições e obstáculos
quando se tenta uma iniciativa
assim nessa região.
mas foi a primeira vez que eu
estava a saltar de um helicóptero
francês da série AS 350 B2.
Saltar na região de Everest, tão
perto à montanha do mesmo
nome, é uma experiência
especial e um enorme desafio.
Uma pessoa parece um ínfimo
ponto numa tela enorme.
Todavia é uma experiência
fantástica porque se tem uma
vista panorâmica das cordilheiras
dos Himalaias cobertas de neve
e uma vista da montanha Everest
de muito perto. Um vislumbre
de Everest me enche com uma
força interna, para ser orgulhoso
mas com humildade. O salto de
Everest é muito especial porque
Havia lenços de nuvens baixos
em cima de Lukla e o nosso
piloto fez um trabalho fantástico
a voar através das nuvens
verticais, conseguindo aterrar
Vista da cordilheira coberta de neve antes da última abordagem para aterrar.
Ramesh Tripathi
Ramesh Tripathi
Tripathi indo à pista do helicóptero antes de levantar voo.
No próximo dia, conforme
o plano, o levantamento
estava agendado para 08h00.
Eu tinha dito ao piloto de
levantar voo mais cedo, porque
as horas da manhã oferecem
excelentes condições para
saltar. Todavia, mais tarde,
soube que era um requisito
de Leo Dickenson e Ralph
Mitchell que estavam à espera
do helicóptero em Gorekhshep.
Leo é um conhecido
cinematógrafo e já fez muitos
documentários para os canais de
Discovery e National Geographic,
incluindo a famosa Expedição
num Balão em cima de Everest,
onde ele próprio estava a bordo
do balão.
são e salvo. Lukla situa-se a
3.000 metros e oferece a doença
das altitudes aos visitantes. Fui
à pensão, bebi uma chávena
de chá quente e dormi durante
duas horas para adaptar-me
melhor à altitude. Todos
os meus movimentos eram
deliberadamente lentos para
evitar o cansaço e facilitar a
adaptação à altitude. Tive que ter
muito cuidado porque tínhamos
subido tão rapidamente que
podíamos acabar com a doença
aguda das montanhas (AMS).
Passei 30 minutos a fazer os
exercícios de respiração de ioga.
Preparei o meu pára-quedas, o
equipamento de oxigénio e as
roupas essa noite.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
60
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
61
Leo estava pronto com a sua
máquina fotográfica e quis boas
condições de luz para tirar imagens
em Gorekhshep. O helicóptero
levantou voo às 07.50 de Lukla e
nos próximos 10 minutos voamos
por cima de Phireche. Densas
nuvens cobriram o vale em baixo
e estragou a nossa tentativa.
Abortamos a missão e logo
voltamos a Lakla. Em breve, todo
o vale ficou cheio de nuvens.
Finalmente decidimos adiar o
programe para o próximo dia,
mas esta vez íamos levantar voo
às 06h15.
Saltei às 07h50 a 7.333 metros
AGL, voltado para Everest na
direcção setentrional. O lado
ocidental e todo o lado sul de
Everest estavam visíveis. Apenas
4 segundos depois de saltar
abri o meu pára-quedas e logo
estava debaixo de seu chapéu
colorido – a descer. Os meus
olhos estavam fixos no glaciar
de Khumbu e eu estava a tentar
localizar o nosso acampamento
de base (que usamos durante a
subida de Everest). Não consegui
vê-lo porque os ventos frios
encheram os meus olhos com
lágrimas, distorcendo a minha
visão. Ao contrário das outras
estações, esta vez não havia
muitas expedições a subir pelo
lado sul, Em qualquer caso, um
vislumbre de Everest já era um
sonho realizado. Juntei as minhas
mãos para rezar e desejei ter a
oportunidade mais uma vez de
subir Everest do lado sul.
Espreitei pela janela do meu
quarto, que abria para o vale
ao sul. O céu parecia bom.
Conforme planeado, levantamos
voo na próxima manhã (dia
22 de Setembro de 2009) às
06h30 e o helicóptero aterrou
em Gorekhshep às 06h50.
Devido às restrições de peso
do helicóptero, apenas uma
pessoa podia saltar de uma só
vez. Então, a ordem foi Leo
Leo Dickinson pronto a capturar o salto de pára-quedas a partir do helicóptero B2.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
62
Leo Dickinson
Dickinson, Ralph Mitchell e eu,
todos a saltar individualmente.
O helicóptero B2 a aterrar em Gorakhshep para buscar os pára-quedistas depois dos seus saltos.
Havia um frio de rachar e os
meus dedos e pés estavam a
ficar sem nenhuma sensação.
Fez com que estava mais difícil
controlar o pára-quedas. Tinha
levado a bandeira indiana para
içá-la no ar mas não consegui
devido ao frio. Os meus pés
estavam muito frios e eu tinha
medo do impacto da aterragem.
Devido ao ar pouco denso a essa
altitude o pára-quedas estava
a descer muito rapidamente e
logo preparei o pára-quedas para
uma aterragem suave. Tive um
bocado de impacto ao aterrar
mas fiquei contente com a
minha aterragem. Cumprimentei
os meus amigos, cheio de
alegria e mais uma vez juntei as
dos fins-de-semana em lugares
como Florida e Chicago, mas
saltar de pára-quedas na região
de Everest é uma experiência
diferente e especial.
minhas mãos para agradecer a
montanha Sagarmatha (Everest).
O helicóptero aterrou para nos
buscar e pelas 09h00 estávamos
de volta em Lukla. Depois de
meter o combustível, saímos de
Lukla para evitar as nuvens que
estavam a aproximar e chegamos
em Kathmandu pelas 15h00.
Hoje em dia estou muito
contente. Não sei o que é que
me inspirou e me deu a faísca
de fazer esse salto memorável
em cima da região de Everest.
Mas tenho orgulho de ter feito
alguma coisa nunca antes feita,
que trouxe glória à Índia e à sua
força aérea…
Essa proeza foi feita um ano
depois que o Nepal começou
a permitir pára-quedismo na
região alta ao redor de Everest.
O anterior recorde também foi
alcançado à sombra de Everest
em Syangboche, de 4116 metros,
em 2008. O Pára-quedismo é um
desporto popular e simples em
todo o mundo. É um desporto
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
◆
O autor foi galardoado com o prémio civil
mais alto para as aventuras ‘O Prémio
Nacional de Tenzing Norgay’, e actualmente
está a liderar o projecto da Força Aérea
Indiana dos ‘Sete Picos’, que prevê subir os
picos mais altos dos sete continentes.
63
Recensão literária
M F Husain – Sem títulos
único. É talvez a primeira vez que se criou uma peça com arteanimação e isso também com a arte de Husain. Este livro electrónico
também foi produzido na língua franca da Índia moderna.
APARNA S REDDY
‘M F Husain – Untitled’ anima a arte de Husain e dá uma voz às suas
palavras. Assegurando que o universo de Husain seja vivo no ecrã,
inaugura uma nova época de edições digitais na Índia, numa maneira
inspiradora e fácil de usar.
Esta autobiografia, que foi publicada no formato de um
livro electrónico, transforma-se numa festa de multimédia,
onde os seus esboços são animados e as suas palavras têm a
sua própria voz.
M
aqbool Fida Husain vive longe da sua pátria. Mas ainda assim
os seus gostos e texturas, as suas cores e os seus contornos
ressonam com o espírito da Índia. Conta a sua história e
comunica com novas gerações através da sua autobiografia ‘M F
Husain – Untitled’, um novo e único livro electrónico que é uma obra
pioneira em muitos aspectos.
“Não é o guião para um filme. São cenas da vida real …” diz o artista
icónico sobre a sua autobiografia. E é possível ouvi-lo dizer isso neste
livro electrónico pioneiro.
Este livro electrónico transforma a autobiografia de Husain num
espectáculo de multimédia, onde os seus esboços são animados e
as suas palavras ganham voz. Aliás, o tratamento vanguardista desta
autobiografia faz com que este livro electrónico seja verdadeiramente
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
64
Aliás, leva o género do livro electrónico a um novo nível. Inspira-se
nas tradições épicas e na tecnologia da idade moderna. Usa o formato
do livro electrónico, as técnicas de desenho dos ‘manga’ japoneses
e cria uma narrativa pictórica de um homem que recusa ser limitado
a categorias, que abrange as décadas com a mesma facilidade com
que abrange a vida. Este livro electrónico procura alcançar novos
horizontes, narrando a história de M F Husain na maneira em que ele
a quis contar.
Em conformidade com a sua tradição de produzir livros sobre ícones
literários, que eram um êxito entre o seu público, a editora Jiya
Prakashan, liderada pela activista cultural Kamna Prasad, aproveitou
da tecnologia informática de ponta neste livro electrónico para
contar a história desta lenda viva. A combinação de música, leituras,
animações e as palavras escritas realçam o prazer de ler um livro,
transformando-o na riqueza de uma experiência audiovisual que se
pode ver no computador ou televisão. “Tentamos fazer alguma coisa
nova com este livro electrónico, como uma homenagem a Husain, o
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
65
Os seus esboços, o seu estilo
telegráfico de escrever e a mistura
linguística moderna juntamente
criam um mundo singular, típico
de Husain. Inspira-se na Índia
do Ramlila, de Madre Teresa, de
Satyajit Ray e de Madhuri Dixit e
a narrativa neste livro electrónico
imita as suas telas. Pensa em
imagens. A sua linguagem é viva
e o seu estilo é enraizado nas
tradições sincréticas da Índia,
numa maneira verdadeiramente
global.
“Quando sugerimos esta ideia a
Husain, ficou muito entusiasmado
e perguntava-me muitas vezes
sobre o progresso da obra.
Demoramos mais que cem dias
para produzir o livro electrónico,
que tem 40 capítulos, uma
mensagem de Husain e mais que
100 animações,” diz Kamna.
eterno vanguardista,” diz Kamna
Prasad.
Numa mensagem exclusiva, que
é o primeiro frontispício deste
tipo neste livro electrónico, M
F Husain diz, “Hoje, o mundo
da arte é unido. A beleza e a
arte são presentes em todos os
lados. Tudo que se precisa é
um olho atento. Hoje, todas as
formas de arte estão a unir-se
e as antigas sensibilidades
estão a encontrar uma
expressão fascinante
global através de
novos meios versáteis
e abrangentes. Este livro
electrónico é uma experiência
que narra a minha história numa
maneira inovadora, usando
meios contemporâneos. E achei
esta experiência de Kamna
Prasad um projecto muito
excitante.”
Husain abriu o seu coração neste
livro electrónico. Como o título
“Fantástico Maqbool, viste o M
F? Mas conheço as tuas cores,
com as quais pintas as minhas
estátuas com tanto carinho;
és um tipo pitoresco que pode
tingir qualquer um nas tuas
cores. E este M F, ele parece um
estrangeiro. Parece um agente
da Companhia Inglesa das
Índias Orientais. Um craque
do marketing. Criou quatro
museus em seu nome, nos quatro
cantos da Índia, em apenas 40
anos. Mas gostamos os dois de
uma coisa nele… os estrangeiros
simplesmente pilharam a Índia,
mas M F – como seja … todas
as suas maneiras, todos os seus
erros, são nossos.”
e a capa sugerem, é o pintor que
pinta a si mesmo. O ícone M F
Husain conversa muitas vezes
com o artista Maqbool. E às vezes
um narrador apresenta a história
dos dois e permite as pessoas a
vê-los ‘Através dos olhos de um
pintor’. Um trecho:
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
66
A claridade com que Husain
lembra incidentes da sua
juventude é espantosa. A maneira
em que Maqbool conta histórias
sobre M F é fascinante. Este livro
“O nosso objectivo era mapear a
sua viagem criativa de 94 anos,
para transmitir uma rica e viva
experiência da obra, imagens
e linguagem de Husain, para
transmitir todo o seu universo
ao leitor moderno, que agora se
transforma num espectador, num
ouvinte e num conhecedor ao
mesmo tempo. Esse é o impacto
das pinceladas de Husain. Esta
experiência faz com que a Índia
esteja na vanguarda da edição
digital a um nível mundial,”
acrescenta.
electrónico é um registo de uma
viagem criativa que abrange 94
anos. Um vislumbre daquilo
que distingue uma pessoa
extraordinária.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
◆
A autora é conhecida pelos seus
documentários e é também uma jornalista e
consultora na área de comunicação social.
67
A ARTE VIVA
PREETI VERMA LAL
Subodh Gupta, que nasceu numa pequena vila, é hoje em dia uma
estrela do mundo de arte. A autora conversou com ele no seu atelier
para tentar descobrir mais sobre esse artista enigmática.
A
primeira coisa que
encontrei foi um prego. O
atelier do artista estava em
renovação e podia-se ouvir um
ritmo frenético de marteladas.
Caminhei cuidadosamente,
havia pedaços de madeira no
chão, jarros pretos pendurados
por um fio. Num outro ângulo,
via-se um molde enorme de
uma caveira humana. Milhares
de utensílios de aço oxidado
estavam embrulhados em sacos
de plástico, à espera de escapar
o seu destino mundano para
se transformar em instalações
Subi as escadas. Entre o barulho
das marteladas ouço um riso.
É a sua pequena filha com
um saco cor-de-rosa cheio de
lápis e canetas de cor. Numa
tela branca, há as marcas de
pequenas mãos, no chão há
utensílios da cozinha feitos em
mármore branco, arranjados
cuidadosamente. Vê-se um
computador Mac em cima de
uma grande mesa de madeira,
ao lado de uma escultura de
uma coluna vertebral humana,
decorada com cores. Um
homem entrou pela porta,
caras. Ainda me faltavam dois
andares antes de conhecer
Subodh Gupta, o pintor,
escultor, artista de instalações,
criador de vídeos; nessa casa
ainda numa fase de construção
encontrei a sua arte muito antes
de encontrar o artista.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
68
bonito no seu t-shirt branco
e um casaco de linho com
riscas azuis. Tinha os cabelos
curtos, usava óculos negros,
uma pulseira de jade verde no
seu braço direito e um relógio
preto no braço esquerdo. Nunca
tinha visto uma fotografia de
Subodh Gupta, mas adivinhei
que fosse ele. Havia alguma
coisa sobre esse homem numa
camisa branca imaculada. Ele
tem que ser um artista, pensei.
Apertei-lhe a mão. Eu tinha
razão. Ele era de facto Subodh
Gupta.
“Nunca pensei que ia ser
um artista,” Gupta começa a
sua história. Essa frase quase
parece uma epifania de um
homem cujas instalações
ganharam louvores em todo
o mundo e venderam para
preços astronómicos. Atribuído
a alcunha do “infante terrível”
da sua família, ele também
ia trabalhar para a ferrovia
estatal. Todavia, o destino – e
Gupta – tinha outros planos.
Ainda sem nenhuma resposta
a essa pergunta de ‘o quê?’,
foi estudar na universidade de
Patna e participou activamente
no teatro onde, para além
de se maquilhar e recitar no
palco, também preparava
os cartazes para as peças.
Alguém notou a sua linda
caligrafia e convenceu Gupta
a inscrever-se numa faculdade
de artes. Ironicamente, a sua
primeira tentativa a inscrever-se
numa faculdade de arte foi
um fracasso; todavia, quando
conseguiu entrar no próximo
ano, o curso de cinco anos
estendeu-se para sete anos,
seguidos por anos de luta,
experiências e uma busca para
‘alguma coisa diferente’.
da arte indiana, Gupta criou
tamanho furor no mundo de
arte que hoje em dia, mesmo
antes que ele começa uma obra,
já há pessoas a oferecer-lhe
dinheiro ou a louvar os seus
talentos artísticos. Mas para
este Capricórnio, a salvação
encontra-se num outro lugar.
Primeiro, o início, as suas raízes.
“Cresci num distrito pacato em
Bihar. Sempre sabia que eu quis
fazer alguma coisa diferente. O
quê? Não tinha a mínima ideia.”
Naquela pequena vila poeirenta,
deixa estar sonhos e aspirações,
nem havia nenhuma espécie
de arte visual para ver. A única
arte que Gupta podia aceder era
a dos calendários dos deuses
e deusas que invariavelmente
adornam as paredes das famílias
hindus. Gupta frequentou a
escola local e foi decidido
que, como todos os homens
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
69
Essa busca levou-o a Deli, a
sua próxima casa. “Não podia
falar inglês nessa altura, mas eu
sabia que se eu quisesse ser o
melhor, eu tinha que estar no
meio da acção. Deli foi, nessa
altura, uma escolha óbvia,”
lembra Gupta sobre os dias
quando vivia na pousada da
Lalit Kala Academy (a academia
nacional de arte) onde pagava
10 cêntimos para o seu quarto.
Logo, o seu dinheiro esgotouse, mas a sorte abençoou-o. O
artista de Khagaul encontrou
um lugar nas galerias ao lado
dos mestres como Husains
e Tyeb Mehta. “Mas não era
aquilo que eu quis fazer, I
tinha que ser diferente.” Esse
‘diferente’ ainda não tinha
encontrado o seu lugar e o
artista quis encontrar arte para
além das telas.
Essa resposta tão procurada
veio dos mais improváveis
dos meios – 29 bancos foram
transformados numa instalação
artística no Sanskriti Kendra
em Deli, onde Gupta fez uma
residência com seis outros
artistas do estrangeiro. “Foi
o ponto de viragem, foi
alguma coisa diferente e eu
sabia logo que era aquilo que
eu quis fazer.” Gupta não
tinha nenhuma dificuldade
em procurar uma fonte de
inspiração ou um meio.
Lembrou-se da sua juventude
e da sua paixão pela cozinha.
O resultado foi a célebre fase
da cozinha no seu percurso
artístico. “Na minha juventude,
o aço oxidado era um luxo.
Lembro-me dos primeiros seis
utensílios que tínhamos em
casa. A coisa mais importante
é que aquilo que vês na tua
juventude fica para sempre
na tua mente …” Logo, essas
ligações de ‘aço’ eram um
elemento ubíquo no mundo
de Gupta – jarros, panelas e
um loto unem-se na instalação
The Way Home (‘O caminho
para casa’); inúmeros utensílios
fundem-se para formar uma
caveira enorme; panelas
enchem as portas de uma
catedral na Europa; numerosas
chimtas (pinças) pintadas são
penduradas artisticamente.
E sim, a famosa peça, Saat
Samundar Paar (‘Através dos
sete mares’), um carrossel
de bagagem com malas de
alumínio que se inspirou no
tema de migração e vendeu
para £550.000 num leilão.
mesma maneira em que a bosta
transcende a definição ocidental
do excremento de vacas em
alguma coisa pura, que se usa
para limpar o mau. “Durante
festivais e rituais especiais, eu
procurava bosta para a minha
mãe, que fazia imagens de
deuses dessa bosta,” lembra
Gupta, que já não pratica os
rituais da religião. Para além
de cobrir as suas telas sobre
vacas com bosta verdadeira
(por exemplo, a sua tela
intitulada Gauri), Gupta criou
um vídeo de 9 minutos onde
a bosta no seu corpo é lavada
com jactos de água. “Isso é
uma limpeza, uma catarse para
mim,” acrescenta o artista,
que já não pinta sobre telas
e admite que as instalações
de vídeos são uma coisa
intermitente.
Gupta já foi comparado com
Marcel Duchamp, que ousou
transformar um urinol em
Para Gupta, a arte transcendeu
a cozinha e os celeiros, na
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
70
se lamenta sobre todas as
dificuldades que tinha que
enfrentar, “Aprendi muito desses
dias, dessas experiências…Cada
pequeno momento fica contigo
para sempre. Se concentrares,
podes alcançar qualquer
coisa...”
arte, e com Damien Hurst,
o artista britânico, mas não
ficou lisonjeado com as
comparações. “Porque é que
devo ser conhecido como o
Damien Hurst da Índia? Sou
Subodh Gupta. E é assim
que quero ser conhecido,”
insiste. Subodh Gupta, o
artista, ganhou louvores no
ocidente antes que os críticos
e os coleccionadores indianos
reconheceram a sua presença.
“É triste, mas é verdade,” diz
Gupta e acrescente rapidamente
que vender para preços altos
não significa necessariamente
boa arte. “Não, a arte mais
cara não é a melhor arte. Não
necessariamente,” acrescenta
este artista, que não subscreve
a todo o entusiasmo sobre
os preços das suas obras.
Para Gupta, a arte é sobre o
processo da criatividade, a
satisfação, o desejo de criar
alguma coisa diferente...
Talvez é por isso que nunca
Gupta nunca se desviou dessa
concentração. Não quando
estava a caminhar esse trilho
poeirento sozinho, não agora
quando a fama lhe espera a
todas as esquinas. Caminhou
esse percurso poeirento,
convencido que o seu destino
tinha que ser diferente. Muito
diferente. Já alcançou esse
destino, que antigamente
parecia tão longe. Mas Gupta
não perdeu a sua concentração.
Para ele, é tudo sobre a arte. O
resto é redundante.
◆
A autora é uma conhecida escritora e
fotógrafa.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
71
Tributo
Damal Krishnaswamy Pattamal
UMA CANTORA REVOLUCIONÁRIA DA MÚSICA ‘CARNATIC’
RENUKA NARAYANAN
D
(1998-99) e Padma Vibhushan
(1999).
amal Krishnaswamy
Pattamal, galardoada com
o prémio nacional Padma
Vibhushan, faleceu na 5a feira,
dia 16 de Julho de 2009, na
sua casa em Madrasta. A frágil
cantora de música carnatic
tinha 90 anos e sofreu de artrite
severa durante mais que uma
década.
Todavia, a sua aflição não
a preveniu de cantar num
concerto de 18 horas em
Madrasta em Julho de 1999
para angariar fundos para os
soldados veteranos da guerra de
Kargil.
Pattammal é célebre na história
da música indiana como
a primeira mulher de uma
família ortodoxa a cantar a
música carnatic em público,
numa época em que as antigas
tradições impunham severas
restrições às vidas das mulheres
das castas altas.
Para além de ser a primeira
mulher a quebrar essa proibição
social também quebrou
as barreiras de género no
mundo de música, ao ser a
A sua morte foi lamentada pelas
principais estrelas do mundo da
música carnatic.
“Para pessoas como Pattammal,
cantar uma música clássica
honesta era a única maneira de
cantar. Foi uma cantora pioneira
e uma das primeiras feministas
sem chamar muita atenção a
si própria,” disse o cantor T.M.
Krishna de Salzburgo.
primeira mulher a cantar um
concerto inteiro, com peças
rigorosamente clássicas, com
uma exposição pormenorizada
de ragas nas variedades de
Ragam-Thanam-Pallavi, que
até então tinha sido cantado
exclusivamente por homens.
Disse o violinista Lalgudi
Krishnan, “DKP representava
os valores musicais e humanos.
Tinha um repertório enorme e
personificava o patriotismo e a
devoção.”
“Ela cantava as composições
mais difíceis e sempre será
uma referência para nós. O
grande tocador de mridangam
vidwan Palghat Mani Iyer, que
nunca tocava com mulheres,
tocou para ela... Ele era sempre
uma pessoa muito discreta
e amorosa,” disse a cantora
Bombay Jayashree.
Apoiado pelo seu pai, um
professor de escola, Pattammal
criou ondas na sociedade
do sul. Mais tarde na sua
carreira foi galardoada com o
prémio de Sangita Kalanidhi
pela Academia de Música de
Madrasta (1970) e com os
prémios do Padma Bhushan
(1971), Kalidas Samman
◆
Fonte: O jornal nacional ‘Hindustan Times’.
O fio dourado da Índia
A JUTA NATURAL ESTÁ NA MODA
PUPUL DUTTA & APARAJITA GUPTA
E
ra uma vez a juta era associada com os sacos usados para betão, açúcar
e fertilizadores. Hoje em dia, a imagem da indústria de juta na Índia, que
gera mais que $1 bilhão em receitas, está a ser transformada radicalmente
graças a uma série de produtos de marcas e estilistas feitos desse ‘fio dourado’,
preocupações ambientais e novas estratégias de comercialização.
Hoje em dia, é possível encontrar uma vasta gama de produtos quotidianos feitos
de juta, a fibra natural mais popular depois de algodão. A Índia não é apenas
o maior produtor dessa fibra dourada, produzindo cerca de 60% da produção
mundial, mas também é o maior consumidor e exportador de juta.
Tais produtos, que já penetraram nos mercados mais requintados nos EUA e na
Europa, incluem almofadas, peças para a mesa como os individuais, cortinas, cintos
e até as mochilas que milhões de crianças levam à escola.
“Quando falamos de juta, as pessoas normalmente pensam em sacos para produtos
industriais,” diz Atri Bhattacharya, o secretário do Conselho dos Produtores de
Juta, uma de muitas organizações promovidas pelo governo para desenvolver esta
indústria.
“Há tantos produtos atraentes feitos de juta hoje em dia. Está na moda e a
melhor coisa é que são bons para o ambiente e completamente reutilizáveis,”
afirma Bhattacharya, cuja organização representa os agricultores, produtores e
exportadores de juta.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
72
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
73
empregos industriais directos e
140.000 empregos nas actividades
associadas.
O conselho acredita que a proibição
de sacos de plástico em alguns
estados como Deli é um passo
certo para promover essa fibra
ecológica. É a razão pela qual o
conselho lançou novas campanhas
publicitárias, como os anúncios a
encorajar os estudantes a adoptar
mochilas de juta.
“Os tecidos orgânicos são cada
vez mais populares porque as
matérias são biodegradáveis.
Usando essas matérias naturais
também ajuda a criar emprego.
Dessa forma, também estamos
a contribuir para a sociedade,”
diz Ritu Kumar, uma das mais
conhecidas estilistas do país.
Os estilistas e comerciantes de
produtos de juta dizem que apenas
na área das bolsas, os produtos
disponíveis hoje em dia não se
restringem aos sacos tradicionais
de juta mas também incluem bolsas
para festas, sacos para roupa suja,
mochilas, sacos de compras e
sacos para garrafas de vinho.
“Decidi evitar as fibras artificiais
porque hoje em dia esse
trabalho é muito mecânico.
Enquanto com as fibras naturais
há muitas possibilidades para a
experimentação. Por isso, decidi
concentrar nelas agora.”
Os produtos estão disponíveis
em numerosos mercados em
todo o país e até em lojas caras
como Fab India, Santushti em
Deli, Anokhi e Nature Design
Concepts.
Segundo o conselho, a Índia é
o maior produtor mundial de
produtos de juta, com uma média
de 1,6 milhões de toneladas por
ano durante os passados cinco
anos, com vendas domésticas
de 1,4 milhões de toneladas e
exportações de 285.000 toneladas.
Essas lojas também fornecem
produtos adaptados aos gostos
da sua clientela mais abastecida
e estende desde Rs.100 ($2) para
um simples saquinho branco até
produtos que custam milhares
de rupias, dependendo dos
desenhos e cores.
já descobriram papel feito de juta
na China, que data a 200 a.C.
mesma coisa estava a ser feita nos
sítios turísticos nos estados de
Uttarakhand e Himachal Pradesh,
onde os sacos de plástico foram
proibidos.
Na Índia também, a juta foi
cultivada desde há vários
milénios. Todavia, o verdadeiro
desenvolvimento organizado
desta indústria começou no
século XVII e a primeira fábrica
foi estabelecida em 1855 em
Rishra, nas margens do rio
Hooghly, perto de Calcutá.
Apesar da longa história
desta indústria, os peritos
afirmam que a qualidade e
os preços continuam a ser os
mais importantes elementos
que impedem a promoção e
popularidade de juta. “Mas
estamos a examinar estes
factores. É necessário entender
que ao contrário do plástico,
a juta ainda não é um produto
homogéneo,” diz Bhattacharya.
“Em Deli, os sacos de juta
também se utilizam numa
maneira institucional. Há uma
procura e estamos à altura desse
desafio. Infelizmente, a mesma
coisa não acontece em Calcutá
ou em outras cidades,” diz Sanjay
Kajaria, director da Associação
Indiana de Fábricas de Juta.
“Para além dos mercados
especializados estamos a olhar
para os mercados grossistas, onde
as pessoas vão usar sacos de
juta para actividades quotidianas
e para actividades especiais.
Vamos focar também na área das
exportações,” acrescenta.
“Também estamos a explorar as
opções para uma boa cadeia de
fornecimento em cidades como
Deli, onde há uma alta procura,”
explicou, acrescentando que a
◆
(Fonte: Indo-Asian News Service)
A Índia é também responsável
para mais que 60% da produção
mundial de juta. A maioria da
produção provém do estado de
Bengala, seguido pelos estados
de Bihar, Assam, Orissa, Andhra
Pradesh e Tripura.
“Pode-se usar os sacos de juta
com orgulho,” diz Aditi Shukla,
uma aluna numa faculdade de
moda em Deli. “Esses sacos
ecológicos vão ter um grande
impacto na moda em breve.”
Segundo o ministro dos tecidos,
há 77 fábricas integradas de juta
na Índia, das quais 60 estão em
Bengala, 3 cada em Bihar e Uttar
Pradesh, 7 em Andhra Pradesh e
1 cada em Assam, Orissa, Tripura
e Chattisgarh.
Também há factores sociais e
económicos ligados com a juta.
Cria emprego para 4 milhões
de famílias dos agricultores,
especialmente na Índia oriental,
particularmente em Bengala,
e é responsável para 260.000
Globalmente, a juta tem sido
cultivada desde a antiguidade e
até é mencionada nos antigos
textos africanos e asiáticos. Aliás,
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
74
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
75
Sachin Tendulkar
BINOO K. JOHN
Sachin Tendulkar, o ícone de muitos jovens, acabou de
completar 20 anos de uma carreira internacional de
criquete e continua a deslumbrar os fãs em todo o mundo.
S
achin Tendulkar é sempre
associado com superlativos
e tem a aura de um ícone
nacional. É um óptimo exemplo
daquilo que uma devoção
concentrada pode alcançar.
Não há dúvida que ele tem
talento mas conseguiu construir
à base desse talento e criou o
seu próprio percurso com uma
determinação feroz, ganhando a
admiração nacional ao longo do
caminho.
É uma proeza suficiente passar
20 anos como um profissional
no mais alto nível do desporto
e Tendulkar nunca foi deixado
fora da esquadra nacional, a
menos que ele mesmo decidiu
fazer uma pausa devido às
lesões. É essa tenacidade que
fascina milhões dos seus fãs.
Sachin, que foi nomeado em
honra do mestre musical Sachin
Dev Burman, conseguiu criar
uma orquestra nacional de
adoração perpétua.
Durante o quarto jogo de um
dia contra a Austrália neste ano,
jogado na Índia, alcançou 175
num jogo que a Índia perdeu
por apenas 3 pontos. Foi
mais uma vez uma lembrança
de como ele é capaz de ser
Jogando primeiro nos jogos
mais curtos, Sachin já não é
tão deslumbrante como no
passado, contente a deixar
esse papel aos seus colegas. É
mais conservador e escolhe as
suas jogadas e os seus ângulos
cuidadosamente.
Mas não tem pontos fracos.
Jogando em Sidnei em 2003
alcançou uma dupla centúria
com quase todas as suas
jogadas em áreas pouco
esperadas do campo. Brian Lara
chamou o seu desempenho um
dos melhores que alguma vez
viu.
reinventar. É essa constante
inovação que ajudou Sachin
a manter e consolidar a sua
posição nesse desporto.
Como é que o seu estilo de
jogar tem mudado? Durante
quanto tempo mais vai ser
uma âncora para a equipa?
Já eliminou algumas das suas
técnicas e é mais sóbrio,
porque, como explicou muitas
vezes, o seu papel agora é
o do líder sénior da equipa.
Sachin também inventou
algumas novas jogadas: bate
a bola em frente do guardião
dos wickets (para punir
os ataques pelos spinners
australianos) e bate a bola em
cima das cabeças dos seus
Estatísticas da carreira de Tendulkar (1989-2009)
Jogos Innings Runs
Média
Taxa
de êxito
100s 50s
Test
162
265
12970
54.73
53,98
43
54
ODI
(jogos de um dia)
436
425
17178
44.5
85,79
45
91
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
76
adversários nos jogos de um dia
(que Sehwag também faz). As
suas jogadas no off-side ainda
são as melhores que há hoje
em dia (como as jogadas de
Laxman).
A nossa única lamentação hoje
em dia é que é mais cauteloso
que brilhante. Com sorte, talvez
no próximo mundial, vai ser
menos cauteloso e mostrar-nos
mais uma vez esse brilho
deslumbrante, esquecendo-se
das suas responsabilidades e
transformando-se outra vez no
jovem Tendulkar – esse génio
adolescente que não vimos
desde há muito tempo.
Todavia, Tendulkar já não é
um desportista que tem uma
carreira de vinte anos. Para
milhões de jovens indianos
Sachin é um sonho a emular
e um exemplo de aquilo que
se pode alcançar. Milhares de
crianças já foram nomeados em
sua honra, jovens em todo o
país imaginam que são Sachin
quando jogam. É o sonho e a
inspiração de uma nação e as
mães querem que os seus filhos
sejam como ele. É isso que vai
perdurar. Vão se lembrar de
Sachin pelos seus valores da
classe média e por manter-se
realista apesar de ganhar
louvores de todo o mundo e
ter empresas atrás dele com
camiões de dinheiro para
publicitar os seus produtos.
Patekar é preso e levado pela
polícia, vira-se para o seu
filho que está a jogar criquete.
Patekar lhe dá o bastão e diz,
“Filho, tens de jogar como
Sachin Tendulkar”.
É o que todos os indianos
gostariam de fazer.
◆
O autor é um conhecido escritor e jornalista.
No filme Ab Tak Chhappan,
quando o carácter de Nana
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
77
Butão
UM VISLUMBRE DA HISTÓRIA
PRAMOD KUMAR KG & NAMITA GOKHALE
O lago de Yu Tsho, Lunana.
Imagem gentilmente cedida por Sua Majestade Jigme Khesar Namgyel Wangchuck, Rei do Butão.
“A máquina fotográfica é um vislumbre da
história…” disse Mathew Brady, durante uma das
primeiras exposições de arquivos fotográficos,
sobre a Guerra Civil nos EUA. Não há dúvida
de que uma fotografia vale mil palavras e que a
veracidade objectiva do meio fotográfico faz com
que seja um “acessório à história” nas palavras do
embaixador Pavan K. Varma.
omo crianças, disseram-nos que uma máquina fotográfica não
mente. Todavia, a tecnologia digital agora combina a verdade
da lente com a liberdade criativa do pincel. Esses retratos e
paisagens de Butão vão ser expostos na Galeria Nacional da Arte
Moderna em Nova Deli em Dezembro de 2009. Mostram a história
recente de uma nação e de uma cultura que está a avançar com
confiança para um futuro moderno enraizado nas suas antigas
tradições.
C
A selecção das imagens também inclui fotografias documentarias e o
seu papel na narrativa oficial das nações. As práticas contemporâneas
da fotografia artística tendem a negar o elemento documentário
dessas fotografias e as imagens de monarcas a encontrarem-se com
outros líderes geralmente não são consideradas ter uma importância
artística. Todavia, o desenvolvimento de uma história de fotografia
em todo o mundo mostra claramente a centralidade das ocasiões
históricas como eventos importantes nas narrativas nacionais.
O uso de fotografias para criar uma narrativa nacional tem muitos
paralelos em todo o mundo, mas incluir os amigos da nação nessa
narrativa parece ter sido uma ideia adoptada entusiasticamente por
gerações sucessivas de fotógrafos, tanto na Índia como no Butão. Esta
exposição foca nas visitas por líderes políticos da Índia ao Butão e as
viagens recíprocas pelos membros da família real do Butão à Índia.
Depois da independência da Índia, o primeiro ministro
da Índia, Jawaharlal Nehru e o segundo rei do Butão, Sua
Majestade Jigme Wangchuk, assinaram um tratado de Amizade
e Cooperação em 1949. O tratado foi assinado por Gyongzim
Sonam Tobgye Dorji pelo lado do Butão e por Dr. Harishwar Dayal
pela Índia (exposta nesta exposição). A visita à Índia do terceiro
rei do Butão, Sua Majestade Jigme Dorji Wangchuk, deu um novo
Os arquitectos da amizade entre a Índia e o Butão, 1954. Primeiro-Ministro Jawaharlal Nehru
cumprimenta Sua Majestade Jigme Dorji Wangchuck, o terceiro rei do Butao, durante a
primeira visita estatal à Índia pelo monarca butanês depois da independência da Índia.
Imagem gentilmente cedida por: Sua Majestade Ashi Kesang Choeden Wangchuck,
Rainha-Mãe do Butão.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
80
Sua Majestade Jigme Dorji Wangchuck, o terceiro Rei do Butão, foi convidado falar ao vivo com
o povo indiano através de All India Radio, uma rara honra para um Chefe de Estado em visita.
Imagem gentilmente cedida por: Sua Majestade Ashi Kesang Choeden Wangchuck,
Rainha-Mãe do Butão.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
81
ímpeto às relações entre as duas
nações.
Quatro anos mais tarde, em
1958, Jawaharlal Nehru e a sua
filha, Indira Gandhi, visitaram o
Butão. Foi a primeira visita por
um primeiro-ministro indiano
a esse reino. A árdua viagem
de uma semana, transportado
por cavalo e caminhando a pé
não diluiu o entusiasmo do
primeiro-ministro, então com
69 anos de idade. Todavia, para
a maioria dos indianos dessa
geração, aquilo que lembram
são os registos fotográficos
dessa viagem. Imagens de Nehru
montado em cavalos e Indira
Gandhi montada num iaque
foram imortalizadas na memória
visual colectiva das suas nações.
A máquina fotográfica continuou
a registar cada momento dessa
visita histórica e os jornais na
Índia eram repletos de vistas do
Butão e o início de uma nova
amizade.
O carisma do rei Jigme Dorji
Wangchuk e de Jawaharlal
Nehru e a recepção acolhedora
estendida aos visitantes indianos
foram consolidados pelo discurso
histórico de Nehru ao povo do
Butão em Paro. O comentário
de Nehru que a Índia e o Butão
eram ambos membros “da
mesma família dos Himalaias
e deviam viver como vizinhos
amigáveis a ajudar um ao
outro” foi um momento histórico
e estabeleceu o espírito da
amizade entre a Índia e o Butão.
Sua Majestade Jigme Khesar Namgyel
Wangchuck sentado no Trono
Dourado depois da sua coroação, em
Tashichhodzong.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
82
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
83
Foi um momento capturado
pelas máquinas fotográficas.
Com a sua capacidade de
registar um momento na
história, as fotografias continuam
a ter um papel importante
na documentação do nosso
passado.
A viagem árdua ao Butão
tornou-se mais simples nas
próximas décadas, com a
inauguração de uma pista aérea
em Paro. Vários líderes indianos
foram visitar o Butão. Todavia,
foi durante as visitas de Indira
Gandhi em 1968 e 1972, quando
ela era primeiro-ministro da
Índia, que a máquina fotográfica
registou os frutos dos anteriores
tratados de amizade. Ela
inaugurou a auto-estrada entre
Phuentsholing e Thimphu e
lançou a primeira pedra da
Casa da Índia, ambos actos
importantes que reflectiram
os fortes laços entre os dois
países. Desde então fotógrafos
contemporâneos documentaram
cuidadosamente o progresso das
relações entre a Índia e o Butão
e a cooperação entre os dois
povos.
visitar o Butão. Armados com
máquinas fotográficas, à procura
da fotografia perfeita que podia
personificar a sua viagem, as
vistas deslumbrantes do Butão
eram avidamente capturadas
pelos visitantes. Esses visitantes
incluíram fotógrafos profissionais
cujas vistas agora expandiram
para além da beleza natural
do país e incluiram a sua rica
biodiversidade, retratos das
pessoas, as cerimónias religiosas
e os rituais, juntamente com os
festivais coloridos do Butão.
Fotógrafos já acompanharam
expedições ao Butão desde 1864,
todavia, aquilo que antigamente
era visto como uma curiosidade
exótica em tons acastanhados
já não suscita a mesma reacção,
com imagens do passado
recente, em cor. Essas imagens
incluem vários projectos que
mostram o apoio que a Índia
tem prestado para desenvolver a
infra-estrutura do Butão. A rede
de estradas que atravessam o
reino e o estabelecimento dos
projectos para gerar energia
hídrica em Chukha, Tala,
Kurichhu, Punatsangchu e
Mangdechhu são um testemunho
a essa cooperação. A maioria
desses projectos de infraestrutura foram fotografados
extensivamente e reflectem os
fortes laços entre as duas nações.
Em Dezembro de 2006 Trongsa
Penlop Jigme Khesar Namgyel
Wangchuk subiu ao trono como
o quinto druk gyalpo ou rei do
Butão. O novo monarca, então
com 28 anos de idade, foi o
soberano mais jovem do mundo
e assumiu as rédeas de poder
num momento particularmente
histórico, quando o Butão estava
a fazer a transição de uma
monarquia a ter um governo
eleito democraticamente. O
novo rei tem uma paixão pela
fotografia desde há muitos anos
e esta exposição é a primeira
ocasião em todo o mundo onde
as suas fotografias pessoais
foram exibidas. O uso da
máquina digital permite uma
maior flexibilidade para capturar
terrenos difíceis, distâncias
e pormenores com relativa
facilidade. Todavia, a arte de
conceber a imagem e seleccionar
o momento para capturar a
fotografia ainda continuam a
reflectir a clareza da visão do
fotógrafo.
Visitas à Índia por seus
homólogos do Butão alternaram
entre as visitas dos líderes
indianos. Sua Majestade o
rei Jigme Singye Wangchuk,
o quarto monarca do Butão,
visitou a Índia em 1974 depois
de assumir as rédeas do
poder e desde então visitou a
Índia várias vezes como um
hóspede honrado. Enquanto
as visitas formais entre os
líderes continuam com toda
a publicidade oficial também
houve outras visitas por
indivíduos dos dois países,
documentadas pelas suas
fotografias. As últimas décadas
do século XX viram um cada
vez maior número de turistas a
O primeiro-ministro indiano, Manmohan
Singh, com a Sua Majestade Jigme Khesar
Namgyel Wangchuck, Rei do Butão, em
Taschichhodzong, Thimphu.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
84
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
Hoje em dia, o Butão moderno
está ao caminho de uma
85
Irmãos (em cima) e Guerreiro com o seu Escudo (página de frente).
Imagens gentilmente cedidas por Sua Majestade Jigme Khesar Namgyel Wangchuck, Rei do Butão.
democracia, um processo iniciado por Sua Majestade Jigme Singye
Wangchuk. Os retratos do povo do Butão reflectem a continuidade e
as mudanças desse processo, onde os rostos enrugados das senhoras
anciãs contrastam com os rostos dos jovens, a brilhar com entusiasmo
e esperança.
A Sua Majestade Jigme Khesar Namgyel Wangchuk é um rei popular
e as suas fotografias são um registo objectivo e um testemunho
pessoal da sua empatia e da sua dedicação ao seu país. Os fortes
laços com o seu povo e as paisagens do Butão que ele documenta
distinguem as suas fotografias. O Butão continua a ser um país
idílico e estas fotografias transparentes não foram retocadas com
as tecnologias modernas para esconder as sombras nem reflectem
nenhum sentimentalismo. São imagens que registam momentos
importantes na história recente, ilustrando a transição desse antigo e
enigmático reino para uma democracia jovem e vivaz.
◆
Pramod Kumar KG é um investigador independente e o director do Festival Literário
de Jaipur. Namita Gokhale é uma escritora, editora e directora-adjunta do Festival Literário
de Jaipur.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
86
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
87
Kathak
A EVOLUÇÃO DO NARRADOR DE HISTÓRIAS
LEELA VENKATARAMAN
Kathak, a forma de dança clássica que desenvolveu na Índia
Setentrional, traça as suas raízes à arte dos narradores de
histórias popularizada pelos bardos itinerantes da Índia
antiga. Este artigo fornece-nos uma visão global da evolução
desta forma de dança.
Kathak, a dança clássica que desenvolveu nos actuais estados indianos
de Uttar Pradesh, Madhya Pradesh e Rajastão, traça as suas origens à
arte dos narradores de histórias, popularizada pelos bardos itinerantes
da Índia antiga. Utilizando um estilo dramático, narravam as histórias
das grandes epopeias como o Ramayana e o Mahabharata, usando o
meio de movimentos, ritmos, música e poesia. Entretendo, informando
e educando, esses bardos itinerantes usavam palcos como os pátios
dos templos e outros espaços públicos e serviam para unir várias
comunidades em todo o país numa única entidade cultural através das
suas narrativas e dos seus sermões. Com a passagem do tempo, essa
narração mimética, que podemos ver nas pinturas dos séculos XV a
XVIII, evoluiu para criar uma forma estilizada de dança que recebeu
o patrocínio dos templos e das famílias reais. Com a expansão do
império mogor, que tinha menos interesse em temas centrados na
cultura hindu, essa dança, particularmente nas suas manifestações
cortesãs, desenvolveu uma ênfase diferente, incorporando uma rica
dimensão de virtuosidade rítmico, que continua a ser uma das suas
características distintas ainda hoje em dia. Essa tendência também foi
influenciada pela música clássica da Índia Setentrional, que se baseia
intensamente na criatividade individual com improvisações ao redor
de uma composição mínima de duas linhas. O mesmo factor de criar
no momento é também comum à música khayal do norte da Índia e
na dança assumiu a forma de permutações rítmicas tecidas no refrão
principal do ciclo métrico ou tala. As danças dos templos e das cortes
continuaram a ser diferentes porque enfatizaram o elemento de bhakti
ou devoção aos deuses no caso desse e o domínio das técnicas no
caso deste.
TÉCNICA: Ao contrário das técnicas nas outras formas indianas de
dança clássica, onde o plié com o dançarino meio ajoelhado com os
joelhos dobrados ao lado é um elemento estilístico central, o dançarino
Página de frente: Birju Maharaj mostrando o mito de Krixna a levantar o Govardhan.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
88
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
89
de kathak usa uma abordagem
de duas dimensões, como os
bailarinos de flamenco, com
o corpo erguido, utilizando o
espaço pela frente e por trás, com
o peso distribuído igualmente em
ambas pernas – as extensões das
pernas e as flexões dos joelhos,
que se vê em Bharatanatyam ou
outras formas de dança clássica,
são ausentes. As piruetas em
velocidades diferentes são uma
parte integral desta forma de
dança e aqui o bailarino mantém
um pé firmemente no chão,
marcando o centro, enquanto o
outro pé marca o círculo ao redor
do corpo do bailarino. Batem
os pés no chão com um ritmo
distintivo, tecendo combinações
com o ciclo métrico (tala). Essa
técnica chama-se tattakara e
é um elemento crucial para a
dança. É o elemento que recebe
a maior atenção durante os
treinos. O bailarino de kathak é
um mestre de criar padrões de
ritmos com acentos que mudam
constantemente – alcançado com
uma subtil mudança no peso
do corpo e nos movimentos
dos pés. Como todas as outras
danças, kathak tem o seu rico
vocabulário de sílabas rítmicas,
mnemónicas conhecidas como
bols e em kathak cada nuance
e sílaba rítmica tocada com o
instrumento de percussão do
tabla têm que ter uma articulação
correspondente nos movimentos
dos pés do bailarino. Para o lado
interpretativo da dança (com
uma ênfase no mito de Krixna,
influenciada pela tradição da
Rasalila) onde os gestos das
mãos representam emoções
envolvendo a alma do bailarino,
a poesia em língua urdu com os
seus ghazal, as composições e
os versos de poetas de língua
hindi como Surdas, Kabir e
outros e as letras líricas de
thumri, que focam em temas de
amor, fornecem a base textual/
temática. Cada forma de dança
têm o seu próprio vocabulário
de gestos das mãos (mudras),
kathak usa poucos gestos das
mãos e usa-os de uma maneira
mais natural que estilizado.
Embora esta forma de arte foi
praticada principalmente pelas
cortesãs e tawaifs na Índia feudal,
os professores (alguns dos quais
eram excelentes intérpretes) eram
sempre homens.
seus outros deveres como o
governador do seu estado. A
sofisticação e a graça eram as
principais características desta
escola de kathak, com grandes
maestros como Kalka e Bindadin.
No século XX esta escola era
famosa devido aos três filhos
célebres de Kalka Maharaj,
nomeadamente Achhan Maharaj,
Shambhu Maharaj e Lachhu
Maharaj. Finalmente, passaram
a tradição ao filho de Achhan
Maharaj, o grande Birju Maharaj,
uma lenda já na sua própria
vida, um mestre desta forma de
GHARANAS: Três grandes escolas
ou gharanas de kathak surgiram.
A elegante escola de Lucknow
foi criada pela corte do nababo
Asaf-ud-daula (1775-1798) de
Avadh. Desenvolveu-se sob o
patrocínio de Wajid Ali Shah
(1847-1856) que, como um patrão
dedicado desta dança, concentrou
nela tanto que negligenciou os
Geetanjali Lal – fotografada durante uma postura.
Uma Sharma – um olhar tentador ao
levantar o véu.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
90
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
91
dança. A escola de Jaipur (uma
identidade que uniu diversas
tendências independentes de
kathak) evoluiu sob o patrocínio
das famílias reais hindus. É uma
escola mais vigorosa, influenciada
pelo carácter marcial do povo
de Rajastão, e é conhecido
pelos seus passos complicados.
Mohan Lal, Chranji Lal, Sohan
Lal, Narayan Prasad e, mais
recentement, Sunder Prasad,
Devi Lal, Hazari Lal, Kundan
Lal Gangani, Durga Lal e Gauri
Shankar eram todos proeminentes
professores/ artistas desta escola.
A escola de Benares, também
conhecida como a escola de
Janaki Prasad, surgiu como um
ramal da escola de Jaipur. O
seu fundador nasceu na aldeia
de Mailsur no então estado de
Bikaner, no Rajastão ocidental.
Esta escola é conhecida pela
sua tradição de fazer o tattakar
nos calcanhares e pelo seu
uso de natwari bols. Uma
outra característica distintiva é
a sua tradição de dançar com
as costas ao público. A escola
inclui intérpretes/ professores
como Puranlal, Biharilal, Hiralal,
Krishna Kumar, Sudarshan Dheer,
Gopikrishna, Hazarilal e a sua
mulher Sunayana Hazarilal,
uma dançarina muito conhecida
hoje em dia – e finalmente, a
octogenária Sitara Devi, a famosa
mestre de kathak. No estado
de Madhya Pradesh na corte de
Raigarh, soberanos entusiastas
patrocinaram intérpretes das
escolas de Jaipur e de Lucknow.
Ao mesmo tempo patrocinaram
os seus próprios bailarinos
‘nacha’ - Kartik Ram e Kalyan,
que estudaram sob Chunnilal e
Shivnarain para liderar uma outra
tendência de kathak enriquecida
pelas composições do monarca
multifacetado Chakradhar Singh,
que subiu ao trono de Raigarh
em 1935.
Shri Ram Bharatiya Kala Kendra
começou o primeiro projecto para
promover kathak na década dos
50, com uma faculdade liderada
pelo grande Pandit Shambhu
Maharaj, que ensinava a escola de
Lucknow, e Pandit Sunderprasad,
que ensinava a escola de Jaipur.
Mais tarde, durante a década
dos 60, o Kathak Kendra foi
incorporado no mais alto instituto
estatal nacional, o Sangeet Natak
Akademi, que foi estabelecido
para supervisionar as artes
interpretativas. Mestres como
Pandit Birju Maharaj, Kundan
Lal Gangani, Munna Lal Shukla
e Reba Vidyarthi ensinam aos
alunos as tradições tanto da
escola de Lucknow com as da
escola de Jaipur.
DEPOIS DA INDEPENDÊNCIA:
Com a independência da Índia
em 1947 e a abolição dos estados
reais, muitos dos principais
gurus (mestres) transferiram-se
para Deli, a capital. A primeira
instituição do seu género, a
Saswati Sen – depois de lançar uma flecha do seu arco.
Juntamente com intérpretes
veteranos como Damayanti
Joshi, novos nomes como Rohini
Bhate, Maya Rao e Uma Sharma
adornaram o palco. O génio
de Birju Maharaj forneceu o
ímpeto para profissionais como
Kumudini Lakhia, Urmila Nagar,
Rani Karna, Malavika Sarkar,
Prerana Shrimali, Saswati Sen,
Shovana Narayan, Bhaswati e
vários outros jovens bailarinos
que levaram a fama de kathak a
todas as partes do mundo.
O FORMATO DO ESPECTÁCULO:
Kathak dançado por um único
intérprete constitui diversos
géneros independentes de
composição. A sua totalidade
consiste em várias composições
efémeras contidas dentro de uma
apresentação unida. Recitando
os bols (cantos) dos tukras,
Prerna Shrimali – fotografada durante
uma postura.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
92
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
93
parans and tihais antes de
dançar e explicações sobre os
aspectos especiais das técnicas
apresentadas são uma parte
integral dos espectáculos de
kathak, onde é natural interagir
com o público, que exprime a
sua apreciação com os gritos
de “wah! wah!”. O formato
antigo dos espectáculos com
um elemento predominante
de improvisação derivado de
inspiração do momento e os
desafios do percussionista nunca
estava estabelecido de antemão.
A formalidade estruturada dos
palcos de hoje é radicalmente
diferente que essas apresentações
abertas e é aqui que kathak tem
que fazer a maior ajustamento.
Dependendo numa dança
preparada de antemão
indirectamente diminuiu as
habilidades necessárias para
improvisar. Grandes públicos
cosmopolitas, que nem sempre
entendem a literatura de poetas
de língua hindi como Tulsi,
Meera, Vidyapathi, Padmakar
ou Nirala, tendem a ficar mais
entusiasmados pelo talento
rítmico e pela virtuosidade, que
frequentemente são o elemento
usado para avaliar o bailarino
de kathak, com uma mínima
importância atribuída à dança
interpretativa.
OS EFEITOS DA
GLOBALIZAÇÃO: Kathak não
pode escapar a globalização
ou a atracção dos palcos
internacionais, onde compete
com outras formas de arte. A
forma de danças em grupo e
Um momento dramático numa coreografia
de Kumudini Lakhia.
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
94
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
95
o género de dança e drama,
em particular, resultaram em
inovações desde os anos 20
do séc. XX, com a pioneira
Madame Menaka (o seu nome
original era Lila Roy), que fez a
coreografia para produções como
Deva Viyaya Nritya. Em 1958,
Lachhu Maharaj e Birju Maharaj
fizeram a coreografia de Malti
Madhav, com Birju Maharaj e
Kumudini Lakhia nos papéis
principais. A peça foi um grande
êxito. O próprio Birju Maharaj
fez a coreografia de inúmeras
produções de dança sobre novos
temas. As suas criações mais
antigas incluíram Roopmati-Baz
Bahadur, Kumar Sambhavam
(1958), Shan-e-Avadh (1960),
Dalia (1961) e Krishnayana
(1966), seguidas por várias
outras produções. Sua peça
Angika tinha luzes focadas em
segmentos isolados dos corpos
dos bailarinos, criando uma
geometria estética de grupo com
os movimentos da cabeça, olhos,
rosto, pulseira, mãos e torso,
visualizando um vocabulário
completo dos movimentos de
kathak pelas partes do corpo.
Até fez a coreografia de uma
produção sobre como estampar
papel. A narração da vida de um
pedaço de ferro inspirou uma
produção inteira. Um excelente
professor, já treinou numerosos
discípulos. A sua experimentação
prolífica com os ritmos e com
os bols é impar. Observando os
ritmos da natureza, encontrou
padrões de som nas ondas, nos
pássaros, nos ruídos da noite e
nos sons humanos, que exprimiu
em bandishes (versos) de kathak.
Uma das mentes mais criativas de
Ruby Mishra – um momento encantador (em cima) e
Shovana Narayan – um momento emocional de abhinaya (página de frente).
sempre, toda a sua exploração foi
dentro dos limites tradicionais da
forma clássica.
compositor Atul Desai, com quem
tem uma longa colaboração, criou
o quadro melódico como o
ponto de partida fundamental
para os seus temas. As suas obras
como Atah Kim são repletas com
imagens muito fortes de grupo.
Ao optar por trajes elegantes
e simples, sem jóias, a dança
é o foco principal, libertando o
bailarino de aparências exageradas.
Criou uma mentalidade com
uma postura orgulhosa e direita
que favorece uma liberdade dos
movimentos do corpo.
Kumudini Lakhia, uma discípula
de Guru Shambhu Maharaj, fez
uma contribuição importante
em termos de explorações
contemporâneas e a sua
colaboração com bailarinos como
Ram Gopal deu-lhe um gosto
especial para os aspectos da
apresentação. Ela experimentou
com formatos, modificando
a proeminência do bailarino
individual e frontal, ao enfatizar
os movimentos em diferentes
direcções, aproveitando da
estética das formações de grupos.
Até o parhant ou recitação de
mnemónicas transformou-se
numa técnica dramática,
simbolizando a troca verbal entre
os bailarinos. Acima de tudo, ela
usou a abstracção do ritmo para
transmitir uma mensagem, como
em Dhabkar (‘Pulso’) onde o
simples tattakara transformouse no pulso do coração. O
ÍNDIA PERSPECTIVAS
SETEMBRO-OUTUBRO DE 2009
Através de iniciativas inovadoras,
como uma interacção com
flamenco em duetos, dançando
à música ocidental de Vivaldi,
como foi feito por Daksha Seth,
e a Sonata ao luar de Shovana
Narayan, os bailarinos de kathak
estão a esforçar-se para que
a dança possa responder aos
desafios da contemporaneidade.
◆
A autora é uma crítica de dança e escreveu
numerosos livros sobre a dança clássica
indiana.
96

Documentos relacionados