Análise da Indústria Têxtil e Vestuário no Norte de
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Análise da Indústria Têxtil e Vestuário no Norte de
Análise da Indústria Têxtil e Vestuário no Norte de Portugal e Galiza: Consolidação da Complementaridade do “Cluster” Transfronteiriço na Euroregião CENIT – Centro de Inteligência Têxtil 2009 Página 1 de 74 Índice 1. Introdução ........................................................................................................................... 5 2. Enquadramento regional ..................................................................................................... 7 3. Enquadramento sectorial................................................................................................... 10 3.1. 4. 5. 6. 7. 8. Caracterização do contexto internacional.................................................................. 18 Caracterização da indústria têxtil e vestuário no Norte de Portugal ................................. 25 4.1. Evolução e contexto actual ........................................................................................ 25 4.2. Dados e indicadores sectoriais................................................................................... 28 4.3. Casos de empresas do Norte de Portugal................................................................... 33 Caracterização da indústria têxtil e vestuário na Galiza ................................................... 35 5.1. Evolução e contexto actual ........................................................................................ 35 5.2. Dados e indicadores sectoriais................................................................................... 38 5.3. Casos de empresas da Galiza..................................................................................... 43 Caso de estudo: El Niño.................................................................................................... 49 6.1. Apresentação ............................................................................................................. 49 6.2. Entrevista ................................................................................................................... 49 6.3. Parceiros .................................................................................................................... 54 Análise comparativa das duas regiões .............................................................................. 58 7.1. Comparação entre a indústria nas duas regiões ......................................................... 59 7.2. Comparação entre as empresas das duas regiões....................................................... 68 Considerações finais ......................................................................................................... 71 Referências ............................................................................................................................... 73 Página 2 de 74 Índice de siglas AIPCLOP: Asociación de Industrias de Punto y Confección (Lugo, Orense y Pontevedra) ATP: Associação Têxtil e Vestuário de Portugal IGE: Instituto Galego de Estatística INE (ES): Instituto Nacional de Estadística (Espanha) INE: Instituto Nacional de Estatística NUTS: Nomenclature of Territorial Units for Statistics Índice de figuras Figura 1: Mapa da região Norte de Portugal .............................................................................. 7 Figura 2: Mapa da Comunidade Autónoma da Galiza............................................................... 8 Figura 3: Sistema de negócios da indústria têxtil e do vestuário ............................................. 11 Figura 4: Evolução do número de empresas têxteis e vestuário na Galiza .............................. 39 Figura 5: Distribuição da dimensão da empresa em termos de pessoal ao serviço (2007) ...... 41 Figura 6: Comparação da evolução do volume de produção na indústria têxtil e vestuário.... 60 Figura 7: Gráfico com a comparação do número de empresas ................................................ 62 Figura 8: Mapa da distribuição das empresas têxteis............................................................... 63 Figura 9: Mapa da distribuição das empresas de vestuário...................................................... 64 Figura 10: Mapa das trocas comerciais .................................................................................... 68 Figura 11: Comparação do volume de negócios entre as maiores empresas das duas regiões 70 Índice de tabelas Tabela 1: Principais indicadores da indústria têxtil e vestuário portuguesa ............................ 29 Tabela 2: Principais indicadores da actividade empresarial nos sectores têxtil e vestuário..... 29 Tabela 3: Distribuição geográfica das empresas do sector têxtil ............................................. 30 Tabela 4: Distribuição geográfica das empresas do sector de vestuário .................................. 31 Tabela 5: Número de empresas têxteis e vestuário no Norte de Portugal................................ 31 Tabela 6: Evolução do número de empresas e pessoas no sector têxtil ................................... 32 Página 3 de 74 Tabela 7: Evolução do número de empresas e pessoas no sector vestuário............................. 32 Tabela 8: Principais países de destino das exportações da indústria têxtil e vestuário em valor .................................................................................................................................................. 33 Tabela 9: Principais empresas têxteis e vestuário do Norte de Portugal.................................. 34 Tabela 10: Número de empresas têxteis e de vestuário na Galiza ........................................... 38 Tabela 11: Evolução do número de empresas têxteis e vestuário na Galiza............................ 38 Tabela 12: Evolução do número de pessoas ao serviço na indústria têxtil e vestuário da Galiza .................................................................................................................................................. 39 Tabela 13: Distribuição do número de empresas na Galiza por escalão de pessoal ao serviço40 Tabela 14: Evolução do volume de produção na Galiza.......................................................... 41 Tabela 15: Evolução do valor total das exportações por categoria de artigo ........................... 42 Tabela 16: Evolução do valor total das importações por categoria de artigo .......................... 43 Tabela 17: Principais empresas têxteis e vestuário da Galiza em volume de negócios ........... 44 Tabela 18: Principais empresas de distribuição grossista de têxteis, vestuário e produtos associados................................................................................................................................. 45 Tabela 19: Principais empresas de distribuição retalhista de têxteis, vestuário e produtos associados................................................................................................................................. 46 Tabela 20: Comparação da evolução do volume de produção na indústria têxtil e vestuário . 60 Tabela 21: Valor acrescentado bruto das empresas têxteis e vestuário.................................... 61 Tabela 22: Comparação do número de empresas..................................................................... 61 Tabela 23: Distribuição das empresas têxteis por sector de actividade ................................... 65 Tabela 24: Comparação entre o total de exportações de têxteis e vestuário de Portugal e da Galiza ....................................................................................................................................... 66 Tabela 25: Comparação entre o total de importações de têxteis e vestuário de Portugal e da Galiza ....................................................................................................................................... 67 Tabela 26: Comparação entre as maiores empresas do Norte de Portugal e da Galiza ........... 69 Página 4 de 74 1. Introdução Este documento tem por objectivo caracterizar e comparar a indústria têxtil e vestuário do Norte de Portugal e a da região espanhola da Galiza, estando enquadrado no âmbito do Projecto EUROclusTEX. O Projecto “EUROclusTEX – Cluster Têxtil / Vestuário / Moda transfronteiriço Norte Portugal – Galiza” supõe a consolidação de um cluster transfronteiriço para a fileira têxtil / vestuário / moda das regiões Norte de Portugal e Galiza. A iniciativa encontra-se alicerçada num importante “capital” de cooperação acumulado pelas empresas e agentes económicos das duas regiões fronteiriças. Este projecto deve ser entendido como um catalisador dessa complementaridade natural das duas realidades sectoriais, possibilitando o incremento dos fluxos de carácter comercial e produtivo e institucionalizando as modalidades de cooperação. O objectivo estratégico do EUROclusTEX consiste em lançar e consolidar um cluster de âmbito transfronteiriço que favoreça os contactos e as práticas de cooperação entre todos os actores da fileira e do território. O Projecto “EUROclusTEX” pode desdobrar-se numa série de objectivos de carácter mais operacional: (1) apoiar a iniciativa empresarial; (2) impulsionar a criação de valor acrescentado e o surgimento de âmbitos de excelência na fileira transfronteiriça; (3) apoiar a constituição de uma rede entre as principais entidades dos sistemas tecnológico e científico das duas regiões com competências no sector; (4) fomentar a abertura internacional da Indústria Têxtil e Vestuário (ITV) e a criação de uma imagem de excelência da Euroregião Norte Portugal-Galiza num dos seus sectores de actividade com maior representatividade e projecção internacional. Esta intervenção vai estruturar-se a partir de 4 blocos de actividades: 1) Institucionalizar a cooperação: de modo a permitir o reforço das relações económicas e a formalização de uma rede de cooperação sectorial; 2) Aumentar a cooperação entre as empresas, e entre as empresas e centros de competências: através da criação de uma rede de apoio e dinamização empresarial transfronteiriça, aberta aos actores empresariais e aos agentes da envolvente Página 5 de 74 empresarial da Euroregião, a partir de um sistema de Pólos de dinamização da actividade sectorial; 3) Reforçar o capital de inovação e de desenvolvimento tecnológico: com a criação de uma rede com as entidades do sistema Inovação com competências na fileira têxtil/vestuário/moda e com a prefiguração de uma Antena Tecnológica na Galiza; 4) Internacionalizar de maneira conjunta a fileira têxtil/vestuário/moda: apoiando a internacionalização dos actores empresariais no âmbito da Euroregião e promovendo a imagem do Cluster transfronteiriço no exterior. A iniciativa conta com o apoio financeiro do Programa de Cooperação Transfronteiriça Espanha-Portugal 2007-2013 (POCTEP). Este documento é composto por sete secções, nas quais é inicialmente desenvolvido o contexto actual que caracteriza os sectores em causa, sendo posteriormente apresentada a análise da indústria têxtil e vestuário nas duas regiões. A Secção 0 (enquadramento regional) apresenta a delimitação regional do âmbito deste estudo, delimita as regiões do Norte de Portugal e da Galiza, e serve de base para a análise realizada na sequência do documento, fundamentalmente no que se refere aos dados estatísticos e respectivo tratamento. A Secção 0 (enquadramento sectorial) apresenta o contexto internacional da indústria têxtil e vestuário, focalizando os principais factores influenciadores e os acontecimentos que lhes precederam. A Secção 0 apresenta a caracterização da indústria têxtil e vestuário do Norte de Portugal, focalizando a evolução, o contexto actual e os dados e indicadores específicos. A Secção 5 apresenta a caracterização da indústria têxtil e vestuário da Galiza, focalizando a evolução, o contexto actual e os dados e indicadores específicos. A Secção 0 apresenta a comparação entre a indústria têxtil e vestuário das duas regiões. A Secção 8 apresenta as considerações finais que resultam da análise. O documento conclui com as Referências utilizadas. Página 6 de 74 2. Enquadramento regional A região Norte (NUTS II) de Portugal (PT) é composta pelas seguintes sub-regiões NUTS III (conforme definido pelo EUROSTAT): Minho-Lima (PT111), Cávado (PT112), Ave (PT113), Grande Porto (PT114), Tâmega (PT115), Entre Douro e Vouga (PT116), Douro (PT117) e Alto Trás-os-Montes (PT118). Em termos de correspondência com os distritos portugueses, a região Norte engloba os distritos de: Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real e Bragança, e parte dos distritos de Aveiro, Viseu e Guarda. A Figura 1 apresenta o mapa da região Norte. Figura 1: Mapa da região Norte de Portugal Fonte: European Communities A região da Galiza (NUTS II) é uma comunidade autónoma de Espanha (ES) composta pelas seguintes sub-regiões NUTS III (conforme definido pelo EUROSTAT): A Coruña (ES111), Lugo (ES112), Ourense (ES113) e Pontevedra (ES114). A Figura 2 apresenta o mapa da região da Galiza. Página 7 de 74 Figura 2: Mapa da Comunidade Autónoma da Galiza Fonte: European Communities Embora a Galiza (29.574,4 km²) ocupe uma área superior à ocupada pelo Norte de Portugal (21 278 km²), a população residente na região portuguesa é consideravelmente superior, com 3.745.439 habitantes, relativamente à população galega com 2.784.169 habitantes, relativamente ao ano 2008. Ao considerarmos o total para as duas regiões, a população ascende a mais de 6,5 milhões de habitantes. Em termos relativos, a região Norte de Portugal representa 24% da área continental do país e agrega 37% da população do continente, enquanto a Galiza representa apenas 5,8% da área do território espanhol e alberga pouco mais de 6% da população do país. No que se refere ao nível de escolaridade da população, considerando a faixa etária entre os 25 e os 64 anos, existiam 1,2 milhões de residentes com habilitações literárias ao nível do secundário ou do ensino superior em 2006, representando apenas 32% da população nessa faixa etária e evidenciando um nível de instrução inferior ao da Península Ibérica e da UE27, com 45,3% e 69,3%, respectivamente. Em termos do PIB (Produto Interno Bruto) agregado das duas regiões, este ascendeu aos 88,3 mil milhões de euros em 2005, representando 8,3% da riqueza em toda a Península Ibérica. Em termos do PIB per capita, em Paridade do Poder de Compra (PPC), o valor agregado para Página 8 de 74 as duas regiões situava-se em 2005 nos 15.600 euros, valor equivalente a 69,5% da média da Península Ibérica e 72,5% da média da União Europeia (UE27). No que se refere ao volume de comércio internacional de mercadorias, considerando exportações e importações, as duas regiões têm mantido uma representatividade estável no contexto da Península Ibérica, sendo responsáveis por cerca de 11% do comércio internacional total, salientando-se o facto da taxa de cobertura ser mais elevada do que a média do contexto ibérico. Entre as mais de vinte fronteiras terrestres das duas regiões, a Intensidade Média Diária (IMD) de veículos foi na ordem de 43.677 em 2004, os quais representaram 50,26% do total registado nas fronteiras luso-espanholas. No que se refere à IMD de veículos ligeiros entre Galiza e Norte de Portugal, este elevou-se em 2004 para 51,54% do tráfego entre Espanha e Portugal, enquanto o tráfego de veículos pesados registado através das fronteiras entre a Galiza e a região Norte de Portugal representou 40,85% do total verificado entre Espanha e Portugal. Ao nível rodoviário, o destaque nas vias de comunicação vai para o eixo litoral, que liga os principais núcleos habitacionais e empresariais das regiões. As duas regiões englobam ainda quatro aeroportos, três na Galiza (A Coruña, Santiago de Compostela e Vigo) e um no Norte de Portugal (Porto). Estas quatro infra-estruturas aeroportuárias movimentaram 8,7 milhões de passageiros em 2007, predominando o tráfego de passageiros essencialmente nacional nos aeroportos galegos e predominantemente internacional no Aeroporto Francisco Sá Carneiro (Porto), responsável pela movimentação de mais de 4,5 milhões de passageiros em 2008. As duas regiões contam ainda com a existência de oito portos, seis localizados na região da Galiza (San Cíbrao, Ferrol, A Coruña, Villagarcia, Marin e Vigo) e dois no Norte de Portugal (Viana do Castelo e Leixões). Ao nível do movimento de contentores nos portos das regiões, e considerando os dados de 2006, os dois portos portugueses registaram um total de 387,9 milhares de TEU (Twenty-foot Equivalent Unit), enquanto os portos galegos registaram 267,1 milhares de TEU. Página 9 de 74 3. Enquadramento sectorial As actividades produtivas de têxteis e vestuário têm acompanhado a história da humanidade, evoluindo em sintonia com as necessidades sentidas pelo ser humano. À medida que o homem modificava e se adaptava ao meio ambiente, foram necessárias novas estruturas têxteis para responder a novas necessidades. Esta procura de novas respostas resultou no desenvolvimento de estruturas e matérias-primas, capazes de responder a necessidades tão diversas que variam desde a mais básica peça de vestuário até às aplicações técnicas mais avançadas. Na indústria têxtil e vestuário podemos distinguir dois sectores fundamentais, nomeadamente o sector têxtil e o sector de vestuário. A distinção entre estes dois sectores é estabelecida com base nas actividades de produção que lhes estão associadas. O sector têxtil encontra-se associado às actividades que se iniciam na obtenção das fibras, dos fios e tecidos, passando pelos respectivos tratamentos ao nível de tinturaria e ultimação, bem como os têxteis lar e os têxteis técnicos. O sector de vestuário encontra-se associado às actividades de transformação dos materiais têxteis em vestuário, englobando actividades como o corte, a confecção e o acabamento das peças de vestuário. A Figura 3 apresenta a estrutura genérica do sistema de negócios da indústria têxtil e vestuário. Com base nesta representação, é possível distinguir a abrangência e as fronteiras dos sectores em análise. Dependendo dos produtos e mercados em causa, é possível especificar os processos e as actividades que fazem parte da rede de fornecimento, assim como os sectores que a estas se encontram associados. Página 10 de 74 Figura 3: Sistema de negócios da indústria têxtil e do vestuário Fonte: baseado em Nordås (2004) Para além dos sectores de actividade representados, existem diversos outros intervenientes, como: responsáveis pelo desenvolvimento de equipamentos produtivos, produtos químicos, serviços de transporte e distribuição, entre outros, fornecendo soluções específicas para as necessidades dos sectores têxtil e de vestuário. A indústria têxtil e vestuário europeia opera fundamentalmente em três mercados distintos: vestuário, têxteis para interiores (ex.: cortinados, alcatifas) e lar (ex.: roupa de banho, roupa de cama), e têxteis técnicos. Os dois primeiros subsectores estão fundamentalmente vocacionados para os mercados de consumo (moda e decoração de interiores) e o terceiro para as aplicações industriais e profissionais. Em anos recentes tem-se registado uma aproximação entre os sectores técnicos e os sectores ligados à moda, verificando-se uma fusão dos dois em diversos tipos de produtos. A confecção de produtos de vestuário sempre foi e continua a ser uma actividade de mão-deobra intensiva, enquanto a produção de têxteis é caracterizada como sendo de capital intensivo, desde que teve inicio a sua mecanização em Inglaterra do final do século XVIII. Sendo um sector caracterizado pela mão-de-obra intensiva e com baixos requisitos ao nível do investimento de capital, o sector de vestuário é reconhecido pelos países mais pobres como uma via para o desenvolvimento económico. Página 11 de 74 Os têxteis técnicos são um subsector da indústria têxtil e vestuário em franco crescimento, abrangendo uma vasta diversidade de aplicações, desde as aplicações específicas com elevado valor acrescentado (ex.: próteses e produtos ortopédicos), produtos com consumo elevado e baixo valor acrescentado (ex.: tecidos em poliolefina e não-tecidos para aplicações de protecção no sector agrícola), produtos têxteis especializados (ex.: têxteis para a indústria automóvel), vestuário com aplicações técnicas (ex.: vestuário para profissionais de saúde, vestuário de desporto para utilização profissional), produtos de interior (ex.: cortinas com protecção à chama) e produtos têxteis para o lar (ex.: roupa de cama com tratamento antibacteriano). As modernas empresas produtoras de têxteis recorrem a equipamentos produtivos equiparáveis, convergindo frequentemente para os mesmos fornecedores ou para fornecedores com tecnologias semelhantes. Por conseguinte, as diferenças ao nível do produto e da qualidade devem-se fundamentalmente às competências dos recursos humanos (incluindo as competências de concepção e desenvolvimento), aos procedimentos de produção e aos métodos de controlo. Por outro lado, a produção de vestuário depende menos do investimento de capital e mais das competências dos trabalhadores individuais e na sequência das operações necessárias à produção. A importância da mão-de-obra qualificada depende directamente do processo e do subsector em causa. Considerando dois extremos na cadeia de valor da indústria têxtil e vestuário, podemos considerar diversos níveis de qualificação, desde o responsável pelo desenvolvimento de uma colecção de produtos para determinado mercado ou o responsável pela concretização de soluções têxteis para problemas específicos, até ao responsável por determinada operação produtiva repetitiva realizada em centenas de peças de vestuário. No entanto, apesar da diversidade de requisitos, a relevância das competências dos recursos humanos encontra-se directamente associada ao valor acrescentado do produto em causa, ao nível da especificação e desempenho das aplicações e do segmento de mercado. A necessidade de desenvolver novos produtos encontra-se dependente do mercado alvo da empresa, do sector em que opera e da posição na cadeia de valor. No âmbito da indústria têxtil e vestuário, pode-se considerar desde empresas que trabalham apenas em regime de subcontratação, onde o desenvolvimento de novos produtos é nulo, até empresas em que a Página 12 de 74 capacidade de inovação, quer em termos de desempenho ou de “design” do produto, é um factor fundamental para a sua capacidade competitiva. No entanto, independentemente dos factores relacionados com o mercado e o sector onde a empresa opera, o desenvolvimento de novos produtos e serviços é uma característica comum a todos os processos da rede de fornecimento. Desde o desenvolvimento de novas fibras até ao desenvolvimento de novas soluções na área da distribuição e do aprovisionamento (por exemplo, um dos casos mais recentes prende-se com a aplicação de etiquetas RFID e o aproveitamento da informação que é possível obter e integrar ao longo da rede de fornecimento). O desenvolvimento de novos produtos pode ocorrer em diversas fases da cadeia de valor, desde a concepção do produto até ao desenvolvimento de processos específicos na cadeia de valor, como por exemplo no processo de acabamento têxtil. Para além do desenvolvimento de novos produtos com base em novas fibras, fios ou tecidos, resultado de iniciativas específicas de investigação e desenvolvimento, podem surgir novos produtos provenientes do desenvolvimento de novas soluções tecnológicas destinadas ao fabrico de produtos têxteis e de vestuário. Estes resultados surgem de diversos intervenientes, como: centros tecnológicos, empresas multinacionais, pequenas e médias empresas, centros de ensino e investigação, entre outros. Os subsectores relacionados com os produtos têxteis e de vestuário com aplicações especializadas, normalmente designados por têxteis técnicos, apresentam uma maior dinâmica no ciclo de vida, na medida em que incorporam nos seus produtos os desenvolvimentos que vão surgindo em diversas áreas científicas e tecnológicas. Um dos exemplos mais recentes é a utilização da nanotecnologia no desenvolvimento de estruturas têxteis de elevado desempenho. Os desenvolvimentos registados em nanotecnologia são incorporados no desenvolvimento de novas estruturas e na renovação de estruturas preexistentes, originando uma nova dinâmica no ciclo de vida dos produtos e até novos subsectores de actividade (ex.: o caso dos nanotêxteis). Ao nível das tecnologias utilizadas nos sectores, e considerando o sistema de negócios representado na Figura 3, podemos distinguir, de forma generalizada, as diferentes tecnologias envolvidas em cada uma das actividades referidas, nomeadamente: matériasprimas (é necessário distinguir entre as tecnologias envolvidas na obtenção das fibras naturais e nas fibras e filamentos não-naturais), empresas têxteis (abrangem desde a transformação das Página 13 de 74 fibras em fios através da fiação e da texturização, tecelagem de tecidos, tricotagem de malhas, e processos de ultimação), empresas de vestuário (encontram-se normalmente subdivididas em corte, costura e acabamento, sendo a costura caracterizada por uma sequência de operações que recorrem a tecnologias específicas), centros de distribuição (as tecnologias empregues estão associadas fundamentalmente a operações de embalagem, etiquetagem, identificação e armazenagem) e o ponto de venda (tecnologias associadas a sistemas de informação, cujo objectivo fundamental prende-se com a optimização da rede de fornecimento, tendo em vista objectivos específicos). O desenvolvimento tecnológico no sector de vestuário encontra-se associado ao desenvolvimento das máquinas de costura durante a década de 1850. A evolução registada no sector tem por base o desenvolvimento do desempenho das tecnologias utilizadas, a especialização dos equipamentos produtivos e a automatização de alguns processos produtivos. Em relação ao sector têxtil, existem constantes evoluções nas tecnologias empregues nos mais diversos processos, desde o desenvolvimento de novas fibras e filamentos, passando pelos processos de fiação, tecelagem, tricotagem, tingimento, acabamento, controlo da qualidade, etc. Os desenvolvimentos registados abrangem diversas orientações, desde a procura de desempenho, melhoria da qualidade, desenvolvimento de novos compostos químicos e corantes, até à automatização dos processos produtivos. Para além dos desenvolvimentos tecnológicos que são registados nos meios de produção directos, existem ainda diversos desenvolvimentos que, apesar de não serem desenvolvidos com o objectivo concreto de satisfazer as necessidades dos sectores têxtil e de vestuário, encontram aplicação em áreas destes sectores, podendo originar impactos diversos, como por exemplo: o estabelecimento de novos requisitos na qualidade, de novas capacidades para o controlo dos processos de produção, o desenvolvimento de novos produtos, ou o desenvolvimento de novas soluções com aplicação específica na indústria têxtil e vestuário. No sector têxtil, a distinção sectorial não apresenta a linearidade do sector de vestuário, na medida em que se trata, em alguns casos, de um sector intermédio, que fornece uma diversidade significativa de produtos. Em termos genéricos podemos considerar diferentes tipos de produtos, nomeadamente: fios e fibras têxteis, têxteis-lar (ex.: roupa de cama, roupa de banho), têxteis destinados à produção de vestuário (ex.: tecidos e malhas destinados ao fabrico de vestuário), e têxteis destinados a aplicações técnicas (ex.: produtos com Página 14 de 74 propriedades terapêuticas, materiais compósitos) e industriais (ex.: produtos destinados à indústria automóvel ou á indústria aeronáutica). Podem-se diferenciar fundamentalmente dois sectores no mercado de vestuário: os produtos de moda e os produtos de produção em massa, nos quais se encontram também os produtos de uso corrente (ex.: t-shirts, roupa interior de uso corrente). O sector de vestuário de moda é caracterizado por ciclos de vida do produto muito curtos, instabilidade nas preferências do consumidor e heterogeneidade das actividades de produção, marketing e aprovisionamento. O sector do retalho de vestuário de moda apresenta um mercado volátil e arriscado, com ciclos de vida do produto planeados para serem curtos, com o objectivo de cativar o interesse do consumidor. Os produtores de vestuário de moda concorrem permanentemente com novos produtos e esforços de marketing com a finalidade de capturar a imaginação, o estilo e a imagem do consumidor. Os produtores desenvolvem vantagens de diferenciação que são erodidas de forma rápida e fácil através da imitação e de novos estilos. Num ambiente volátil como este, é difícil desenvolver vantagem competitiva e é particularmente difícil manter a vantagem competitiva. O sector têxtil, na medida em que se encontra parcialmente orientado para o fornecimento de empresas produtoras de vestuário, acompanha esta sazonalidade, respondendo com os artigos adequados à estação do ano e às tendências da moda. Para além dos produtos que apresentam uma sazonalidade marcada, existem diversos produtos cuja procura se mantém estável ao longo do tempo, quer se trate de produtos de vestuário ou de têxtil. Na medida em que a produção de vestuário está significativamente dependente de recursos humanos, os compradores internacionais tentam reduzir os custos através da colocação de encomendas em países com custos de mão-de-obra inferiores. A procura é heterogénea em termos de modelos e volumes e, em alguns tipos de produtos, encontra-se muito dependente das tendências de moda. Desde o início da década de 1990 que a resposta rápida se impôs no vestuário de moda. Determinando tempos de resposta e requisitos de merchandising, a resposta rápida fomentou a necessidade de fluxos de informação claros e de uma abordagem cooperativa por parte de todas as empresas envolvidas na rede de fornecimento. O segmento de mercado de gama alta é caracterizado pela utilização de tecnologia moderna, mão-de-obra razoavelmente bem remunerada, onde se incluem os designers, e um elevado grau de flexibilidade. A vantagem competitiva das empresas que operam neste mercado Página 15 de 74 prende-se com a capacidade de produzir um design que seja capaz de cativar, ou até influenciar, os gostos e preferências dos consumidores. Para além da eficiência dos custos, as funções principais destas empresas encontram-se localizadas em países desenvolvidos e, normalmente, em zonas geográficas limitadas ou em clusters dentro dos países (ex.: EmiliaRomagna em Itália, Los Angeles nos EUA). Existem diversos factores que influenciam significativamente a rede de fornecimento de vestuário. Em termos de factores baseados nos princípios económicos básicos do comércio internacional, podemos referir: preço, taxas de câmbio, custos de expedição e taxas alfandegárias. Na medida em que estes factores não permitem explicar a existência de determinados fenómenos na indústria, existem outros factores que devem ser ponderados no âmbito das decisões tomadas na rede de fornecimento, nomeadamente: riscos de inventário, diversidade do produto, reaprovisionamento e serviço. No segmento de mercado de produção em massa de vestuário, considerados como produtos padrão, verifica-se mais a tendência para a produção estar localizada nos países em desenvolvimento, em zonas dedicadas à exportação (distritos industriais) ou com acordos estabelecidos com os principais importadores, assim como mão-de-obra pouco qualificada. No segmento de mercado de preços baixos a médios, o papel do retalhista passou a ser significativamente mais importante na organização da rede de fornecimento, na medida em que o mercado do retalho se tornou mais concentrado, originando o maior poder dos retalhistas multinacionais. Os retalhistas possuem poder de mercado não apenas no mercado de consumo, mas também, e talvez de forma ainda mais significativa, poder de compra. Para além destes factores, as cadeias de lojas de retalho desenvolveram as suas próprias marcas e adquirirem as suas próprias roupas directamente aos fornecedores, independentemente de serem estrangeiros ou locais. Em relação aos produtos de vestuário, podemos ainda distinguir os diferentes tipos de produtos pela sua necessidade de reabastecimento. Podemos ter, por um lado, os produtos com uma estação única e com limitada possibilidade de reabastecimento (ex.: vestidos, blusas de senhora, vestuário sensível à moda em geral), em que as estratégias de subcontratação vão depender dos factores de custo tradicionais. Podemos considerar os produtos com reabastecimento contínuo ao longo do ano (ex.: calças de ganga para homem) ou ao longo de uma estação, neste caso os custos directos relacionados com a mão-de-obra, matérias têxteis, Página 16 de 74 transportes e tarifas são ponderados em conjunto com os custos associados aos prazos de produção, inventário e riscos associados, pelo que a proximidade do fornecedor torna-se relevante. No retalho de vestuário, a diferenciação tem por base o produto e o serviço fornecido. No que se refere ao produto, a diferenciação dos artigos de gama média e baixa tem-se afastado das competências produtivas e laborais, passando a focalizar fundamentalmente o serviço prestado e a interacção na rede de fornecimento. Esta diferenciação no serviço é visível na assistência ao cliente durante o processo de venda e no apoio logístico e integração entre o ponto de venda e toda a rede de fornecimento, até à concepção e desenvolvimento do produto. Na rede de fornecimento, os fluxos de informação assumem um papel preponderante, principalmente ao nível do retalho de vestuário, fomentado pelas tendências actuais como a “resposta rápida”. A resposta rápida é uma estratégia de ligação entre as operações de retalho e produção, que permite fornecer a flexibilidade necessária para responder rapidamente a mercados em mudança. Com base na utilização de tecnologias de informação, os principais concorrentes em resposta rápida desenvolveram novas competências em aprendizagem rápida, comunicação e coordenação, as quais suplantaram as competências de base ao nível de design e moda. Em vez de apostarem num número limitado de novos designs desenvolvidos por designers renomeados, tentam muitos, imitam rapidamente outros e continuam a produzir apenas os que apresentam vendas superiores. Através da resposta rápida, os retalhistas e os produtores unem as operações de forma a gerar a flexibilidade necessária para reagir às alterações do mercado, permitindo ajustar as encomendas às vendas e fornecer os estilos e as quantidades necessárias para fazer face à procura registada ao longo da estação. Tendo por objectivo alcançar um funcionamento mais eficiente, menos arriscado e mais eficaz, os benefícios associados à resposta rápida surgem do reduzido custo de inventário, do menor número de produtos em rebaixa, resultante da diminuição da sobreprodução, e do aumento nas vendas de artigos mais populares, devido à redução de rupturas nas existências. A concretização destas vantagens requer a coordenação próxima entre as actividades de marketing, vendas e compras dos retalhistas e as actividades de design, produção e distribuição dos fabricantes. Por conseguinte, a coordenação próxima, o intercâmbio de informação e a partilha do risco entre a produção e a distribuição são fundamentais para a inovação em mercados de rápida mudança. Página 17 de 74 O sistema ideal de resposta rápida permitiria que o fabricante ajustasse a produção em resposta às vendas do retalho a tempo de entregar os estilos e as quantidades necessárias para responder à procura evidenciada ao longo da estação. Os benefícios da resposta rápida advêm dos reduzidos custos de inventário, diminuição das rebaixas e aumento nas vendas de artigos populares devido à redução das rupturas de stock. Para além da utilização de novas tecnologias de informação, a resposta rápida está dependente de maiores trocas de informação e maior proximidade nos relacionamentos de trabalho ao longo da rede de fornecimento. O fabricante de vestuário pode participar na selecção de modelos e no planeamento do sortido com o retalhista, e pode até trazer o fornecedor de tecidos e o retalhista para o processo de design. Os principais benefícios da resposta rápida requerem a coordenação próxima entre as actividades de marketing, vendas e aprovisionamento do retalhista e as actividades de design, produção e distribuição do fabricante. 3.1. Caracterização do contexto internacional A indústria têxtil e do vestuário encontra-se entre os sectores económicos mais distribuídos em termos mundiais. Na base desta realidade existem diversas razões, tal como o facto de fornecer artigos de consumo básico, fundamentais para qualquer país ou região, ser de mãode-obra intensiva e, fundamentalmente no caso do vestuário, ser relativamente fácil de implantar. Para muitos países, estes sectores representam uma das primeiras fases do desenvolvimento ou da diversificação industrial, afastando-se da dependência dos bens de primeira necessidade. A indústria têxtil e vestuário internacional entrou numa nova era com o fim das quotas alfandegárias, que marcaram o ritmo do comércio internacional de têxteis e vestuário desde a década de 1960 até ao dia 1 de Janeiro de 2005. As quotas de importação surgiram na década de 1960 como mecanismo de defesa para limitar as importações de têxteis e vestuário nos países mais desenvolvidos, fundamentalmente no caso da Europa Ocidental e dos Estados Unidos da América. Durante os primeiros anos de implementação, as quotas eram aplicadas sem que existisse uma estrutura formal ou coordenada, face à ausência de acordos internacionais explícitos, ficando cada país responsável por estabelecer as regras segundo as quais as quotas de importação seriam aplicadas no acesso de países terceiros ao seu mercado. Página 18 de 74 Esta situação de ausência de regras foi concluída com a assinatura do Acordo Multi-fibras (no original: “Multifibre Arrangement” ou MFA) em 1974. O MFA veio regulamentar a implementação das quotas sobre as importações de têxteis e de vestuário de diversos países. Ao abrigo deste acordo, as quotas de importação eram calculadas anualmente e aplicadas de acordo com o país e a categoria do produto em causa. Quando o MFA entrou em vigor, os países desenvolvidos eram responsáveis pela maior parte das exportações de têxteis e de vestuário, mas existiam indícios de que esta situação pudesse vir a mudar, com os países em desenvolvimento a ganharem peso no comércio internacional de têxteis e de vestuário. No final da década de 1980, a quota das exportações de têxteis e de vestuário dos países em desenvolvimento começou a ultrapassar a quota dos países industrializados. Uma década mais tarde, os países em desenvolvimento eram responsáveis por mais de metade das exportações mundiais de têxteis e por cerca de três quartos do total das exportações mundiais de vestuário, evoluindo desde uma quota inferior a 20% em termos agregados no início da década de 1960. A crescente concorrência dos produtores em alguns dos países menos desenvolvidos, começou a ameaçar seriamente o lucro e a viabilidade de alguns segmentos dos sectores têxtil e vestuário instalados nos países desenvolvidos. Mais de duas décadas após a entrada em vigor do MFA, originalmente destinado a ser uma medida temporária para gerir o fluxo de têxteis e de vestuário para os mercados dos países desenvolvidos, gerou-se o consenso sobre a necessidade de eliminar estas restrições comerciais. Com este objectivo surgiu, no âmbito das negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), o Acordo sobre Têxteis e Vestuário (no original: “Agreement on Textiles and Clothing” ou ATC). O ATC teve por objectivo assegurar a eliminação das quotas alfandegárias de forma estruturada, regulamentando o processo de supressão das quotas ao longo de um período de 10 anos, com início em 1995 e conclusão no primeiro dia de 2005. Ao longo deste processo, as exportações de têxteis e de vestuário continuaram a assumir uma relevância cada vez mais significativa nos países em desenvolvimento, face à crescente relevância do custo da mão-de-obra como vantagem competitiva, fundamentalmente nos sectores com mão-de-obra intensiva, como acontece com a maior parte das actividades associadas ao sector do vestuário. No entanto, as quotas continuaram a servir de protecção para os produtos com elevado valor acrescentado, especificidades técnicas e com elevada relevância ao nível dos elementos de design e moda. Página 19 de 74 No entanto, as quotas alfandegárias também originaram uma difusão alargada da capacidade de produção de têxteis e vestuário nos países em desenvolvimento, na medida em que as restrições quantitativas incentivaram a localização de unidades produtivas em países não directamente restringidos pelas quotas. Exemplos destes casos são os de alguns dos países abrangidos pelo Sistema Generalizado de Preferências (SGP), que beneficiam do acesso ao mercado comunitário isento de quotas e taxas alfandegárias. Na medida em que o ATC foi celebrado no âmbito da OMC, este acordo obrigava todos os membros da organização a cumprirem as disposições estabelecidas. O acordo não previa disposições para renegociação e cessaria após os dez anos em que esteve em vigor. No entanto, a entrada da China na OMC em Dezembro de 2001, um dos países com as exportações de têxteis e vestuário mais restringidas nos mercados europeu e norte-americano, veio gerar uma expressiva polémica em diversos países do mundo. De acordo com o estipulado pelo ATC, a eliminação das quotas alfandegárias decorreu de forma faseada, embora a grande maioria das restrições sobre as importações (49%) seria apenas obrigatoriamente suprimida no dia 1 de Janeiro de 2005, eliminando por completo as restrições quantitativas entre os membros da OMC. Procurando salvaguardar as suas empresas, através do adiamento da eliminação das quotas alfandegárias, os países desenvolvidos atrasaram o acesso de produtos mais baratos aos seus mercados. Daqui resultou que a última fase da integração dos sectores têxtil e de vestuário possuiu efeitos muito significativos, quer nos produtores localizados em países não restringidos ou pouco restringidos, quer nos produtores localizados em mercados previamente protegidos. Sob uma perspectiva internacional, a concentração dos operadores nos sectores têxtil e de vestuário tem apresentado variações ao longo do tempo: ao nível do número de operadores existente em determinada região, ao nível dos subsectores de actividade mais representativos de determinada região, bem como ao nível dos mercados em que actuam. Este nomadismo e versatilidade industrial, verificados com maior incidência no sector de vestuário, originam diversas questões no que se refere aos processos de formação e desfragmentação dos actores, bem como da concentração nos sectores têxtil e vestuário. Por conseguinte, de acordo com a informação divulgada pela OMC, o crescimento registado nas exportações no sector têxtil e Página 20 de 74 no sector de vestuário apresenta uma variação significativa em função do país ou da região em causa. O relatório do IFM (publicado em 2004) salientou a posição da China como a base de produção mais competitiva na análise desenvolvida. Devido à imensa oferta de mão-de-obra nas zonas rurais e ao constante fluxo de jovens trabalhadores destas áreas para as zonas industrializadas, a China consegue manter os seus salários baixos. Para além da abundância em recursos humanos, a China beneficia de uma rede de fornecimento têxtil e de vestuário integrada. A indústria têxtil e de vestuário é um sector fundamental da economia chinesa, representando 10% do PIB e registando um crescimento anual na ordem dos 8% desde 1995, sendo estes sectores responsáveis por gerar 20% do valor total das exportações de bens. Considerando o total das trocas comerciais (trocas internas e externas), a UE é um dos principais blocos comerciais nos sectores têxtil e de vestuário, sedo apenas suplantada pela China (considerando os dados da OMC para 2006). De acordo com o referido pelo Eurostat, a indústria têxtil e vestuário na União Europeia (UE 27) em 2004, era composta por um universo de 219.100 empresas, que empregavam cerca de 2,8 milhões de pessoas, representando cerca de 7,5% do total da mão-de-obra empregue na indústria transformadora. Considerando os Estados-membros em termos individuais, estes sectores apresentam uma heterogeneidade muito significativa, verificando-se a existência de países com uma elevada dependência sectorial, enquanto outros países não se encontram dependentes de forma tão significativa. No que respeita as trocas internacionais, os principais mercados de vestuário encontram-se nos países mais desenvolvidos, fundamentalmente: Estados Unidos da América, Canadá, União Europeia, Japão, Austrália e Nova Zelândia. De acordo com os dados divulgados pela OMC, em 2003 os mercados dos Estados Unidos da América, União Europeia (UE 15) e Japão, foram responsáveis por uma quota de 77,4% do valor das importações mundiais de vestuário. As diferentes análises conduzidas aos mais diversos níveis sobre o futuro dos sectores têxtil e vestuário apontam para o aumento das exportações com origem nos países em desenvolvimento, fundamentalmente para os países localizados na Ásia Oriental, como a Página 21 de 74 China e a Índia. Este desenvolvimento será operado em paralelo com a deterioração da quota total das exportações dos países industrializados, como é o caso dos Estados Unidos da América (EUA) e da União Europeia. Os países fornecedores desenvolveram estratégias de actuação com o objectivo de enfrentar as evoluções dos mercados consumidores, tendo por base os seus próprios pontos fracos e fortes. Com base nesta perspectiva, o IFM distingue as seguintes abordagens estratégicas: (i) melhorar a cadeia têxtil, (ii) apostar no design e marca, (iii) deslocar a produção, (iv) concorrer no preço e (v) diversificar o mercado (ao nível do mercado doméstico e mercado de exportação). Cada uma destas abordagens é discutida nos parágrafos seguintes. Com o objectivo de melhorar a cadeia têxtil (i), diversos factores jogam a favor de uma interacção eficiente entre os sectores têxtil e de vestuário nos países fornecedores. Com o objectivo de ser rápido, fidedigno, flexível, económico e criativo, os produtores de vestuário em tecido e em malha beneficiam da proximidade e da dinâmica dos fornecedores de tecidos e de fios para tricotagem. Para além destes factores, os retalhistas assumem cada vez mais contratos de subcontratação com os fornecedores, o que significa que querem que estes assumam a responsabilidade pelo fornecimento do tecido, do fio e do vestuário, dando aos retalhistas maior oportunidade de colocar em evidência as questões relacionadas com o marketing. Nem todos os fornecedores de vestuário e os países fornecedores se encontram numa posição de satisfazerem estes requisitos e, actualmente, poucos são capazes de adquirir ao nível local os inputs necessários. Outra estratégia prevalecente nos países fornecedores mais desenvolvidos é a de contrabalançar a quebra na competitividade baseada nos custos de produção através de uma melhoria dos produtos em termos de design e de valor da marca (ii). Em paralelo com esta escalada no sentido dos sectores com maior valor acrescentado, orientados para a moda e a marca, alguns intervenientes começaram a deslocalizar as suas bases de produção (iii). Esta deslocação pode ser impulsionada pelos custos ou pelo acesso privilegiado a determinado mercado. A capacidade competitiva com base nos preços da mão-de-obra não corresponde a desenvolvimento económico, pelo que os principais intervenientes procuram gerar outras fontes de competitividade. Mesmo no caso da China, onde o excesso de oferta laboral deverá Página 22 de 74 ainda manter-se por mais duas décadas, o país está a desenvolver estratégias de melhoria. A feroz concorrência no preço nos mercados de vestuário e pronto-a-vestir é atribuída em larga escala aos produtores chineses, apesar das consideráveis pressões exercidas por parte de outros fornecedores como: Bangladesh, Malásia, Birmânia, Vietname e Laos. No que se refere à diversificação do mercado doméstico (v), existem poucas dúvidas de que os mercados domésticos vão absorver uma fatia cada vez maior da produção de têxteis e de vestuário. As taxas de crescimento são muito maiores (cerca de 10%) nos mercados domésticos do que nos mercados de exportação, que estão saturados e maduros. Este crescimento da procura local explica parcialmente a quebra nas exportações chinesas de têxteis e de vestuário como uma percentagem do total das exportações. Em relação à diversificação dos mercados de exportação (v), a análise do IFM mostra que existiu claramente uma diversificação no sector têxtil, à medida que o desenvolvimento do comércio têxtil gerou um expressivo crescimento nos mercados asiáticos (toda a Ásia, excluindo o Japão). No Japão, a indústria têxtil conseguiu resistir com sucesso à entrada das importações. O crescimento foi significativo nos EUA e ainda mais na UE, com um forte fomento das importações com origem na Turquia, mas também da China e da Índia. No entanto, o fenómeno mais significativo é o crescimento do próprio mercado asiático, que mais do que duplicou ao longo de uma década, representando actualmente um quarto das importações mundiais, 50% das exportações coreanas de vestuário e quase 40% das exportações chinesas. A evolução do mercado internacional de vestuário e têxteis-lar apresenta uma tendência para se expandir em torno de três pólos: segmento de mercado sensível ao preço, controlado na generalidade pelos grandes retalhistas, pelo menos nas economias mais desenvolvidas; segmento de mercado sensível a marcas, que permanece na posse das principais empresas; e um segmento de mercado sensível à moda, cuja produção permanece fundamentalmente concentrada em áreas próximas dos mercados consumidores. Os retalhistas têm assumido uma relevância crescente ao nível da distribuição em determinadas gamas de mercado, fundamentalmente na gama baixa e média. No âmbito da rede de fornecimento de têxteis e de vestuário, também os retalhistas estão a registar mudanças significativas, com maiores exigências aos seus fornecedores. Os retalhistas modernos já não possuem armazéns repletos de artigos de vestuário prontos para Página 23 de 74 enviar para as lojas, mas tornaram-se lean retailers, possuindo apenas os produtos que se encontram na área comercial. Como resultado, os armazéns dos fornecedores e os centros de distribuição actuam como armazéns virtuais e centros de distribuição para os retalhistas. Na medida em que a produção de vestuário é um sector industrial de mão-de-obra intensiva, a remuneração é claramente um factor fundamental nas decisões de subcontratação. Esta realidade permite uma vantagem competitiva imediata aos produtores nos países em desenvolvimento, onde se incluem a China e a Índia. No entanto, esta vantagem em termos do custo da mão-de-obra não é reservada apenas aos países asiáticos, mas abrange também diversas nações africanas (ex.: Madagáscar e Quénia), mas nem sempre se materializa em termos da atractividade do país como fonte de subcontratação (ex.: a mão-de-obra no México não é das mais baixas do mundo, mas a proximidade geográfica e a presença no NAFTA concedem a este país um papel proeminente no mercado norte-americano de vestuário). Na medida em que nem todos os artigos de vestuário requerem a mesma quantidade de mão-deobra, os benefícios resultantes dos baixos salários variam em função do produto. Para além dos custos relacionados com a mão-de-obra, os quais nem sempre são determinantes no custo total de um produto de vestuário, outro factor determinante é o preço das matérias, associado principalmente com a aquisição do tecido, o qual pode influenciar o preço final do artigo mais do que os custos laborais. Por conseguinte, os produtores localizados na proximidade de fabricantes de têxteis possuem maior vantagem em relação aos que se encontram mais distantes. Os custos associados com a expedição são outro factor fundamental associado com os custos de exportação ou de importação de vestuário. A proximidade dos mercados retalhistas, principalmente do mercado europeu e do mercado norte-americano, tem influência sobre os custos associados com o transporte, os quais assumem uma maior ou menor relevância em função do preço dos produtos, em que a diferença entre diversas origens pode assumir uma percentagem significativa no cômputo do custo geral do produto. Para além dos custos associados com os componentes trabalho, matérias e expedição, o custo dos artigos de vestuário está também sujeito a rubricas relacionadas com taxas alfandegárias, eventuais quotas de importação, taxas adicionais (ex.: taxas anti-dumping), entre outros. Página 24 de 74 4. Caracterização da indústria têxtil e vestuário no Norte de Portugal Nesta secção é apresentada a caracterização da indústria têxtil e vestuário no Norte de Portugal, focalizando inicialmente a sua evolução e o contexto actual. A secção expõe ainda os respectivos dados e indicadores sectoriais, bem como uma análise das principais empresas da região. 4.1. Evolução e contexto actual A indústria têxtil e vestuário em Portugal possui uma vasta história e tradição, sendo de forma consistente, um dos sectores industriais mais representativos da economia portuguesa e mais assumidamente associado com a região Norte de Portugal. A forte presença industrial na região Norte de Portugal, é reconhecida como um dos aspectos mais caracterizadores da sua realidade social e económica. A produção têxtil representou desde cedo um papel fulcral em Portugal, desempenhando uma função de relevo já no século XVI, na produção das velas utilizadas pelos navios portugueses dos descobrimentos, as quais eram fabricadas com pano de treu, sendo famigerado o que era produzido e comercializado em Vila do Conde. Efectivamente, desde logo se denota a necessidade de extrema qualidade que é exigida a estes produtos, os quais deveriam ser capazes de suportar condições atmosféricas extremas e assegurar a protecção de vidas, o que salienta a necessidade de exigências elevadas. Tal é a importância e a tecnicidade exigida do pano de treu, que as suas especificidades foram ditadas por via legislativa em 1556 e 1561, especificando as técnicas de fabrico. Para o desenvolvimento industrial da região, contribuíram, por um lado, a exploração vitivinícola do Douro, iniciada em meados do século XVII e consolidada no século XVIII, e o desenvolvimento agrícola na região Norte, o qual foi acompanhado por diversas actividades protoindustriais (processo de fabrico artesanal e de baixa concentração de mão-de-obra e capital), associadas com as plantações do linho e a produção de seda, principalmente no Minho e em Trás-os-Montes, respectivamente. Página 25 de 74 A industrialização da região Norte decorreu ao longo do século XIX, em paralelo com a Revolução Industrial (finais do século XVIII, inícios do século XIX) que se verificava em diversos países europeus e no sub-continente norte-americano. Entre 1851 e 1881, o cerne da industrialização da região Norte estava localizado no Porto, distribuindo-se lentamente e de forma desigual pelas diversas áreas da região. A região do Vale do Ave foi até 1890 uma região de economia fundamentalmente rural e em estádio protoindustrial. O estádio industrial (grandes unidades mecanizadas) teve início por volta de 1890 em termos regionais, com a criação de diversas unidades industriais nos concelhos de Famalicão, Guimarães e Santo Tirso. A actividade têxtil no Vale do Ave está intrinsecamente ligada à cultura do linho, através do seu cultivo e utilização, chegando até às datas da constituição da nacionalidade. O espaço ocupado pelo linho foi gradualmente conquistado pelo algodão, que acompanhou a industrialização e assumiu um papel predominante na indústria da região. Factores como o saber de gerações anteriores, o caminho-de-ferro, a proximidade do Rio Ave (fonte de energia e de água), bem como a densidade de mão-de-obra, contribuíram para a localização da indústria têxtil e vestuário na região do Vale do Ave. Com o fim da II Guerra Mundial, Portugal passou por um período de maior abertura ao exterior e, entre 1950 e 1974, a economia portuguesa atravessou um período de forte desenvolvimento. Entre 1953 e 1973, a taxa média de crescimento do PIB foi de 5,6% e a produtividade total registou um crescimento médio de 3,5% ao ano. Com a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), que se efectivou no dia 1 de Janeiro de 1986, o país entrou num novo ciclo de desenvolvimento socioeconómico bastante favorável à actividade industrial. Em 1991, Portugal ocupava a 10.ª posição na lista dos maiores exportadores de vestuário, a nível mundial, com 3% do comércio total e uma taxa média de crescimento de 17%, nos anos de 1980. Ao longo da década de 1990 e, em especial na segunda metade deste período, as exportações assumem um papel preponderante na produção industrial, com especial relevo para as destinadas aos países da União Europeia, deixando a indústria têxtil e vestuário muito dependente destes mercados. Página 26 de 74 Por outro lado, com a integração europeia, os sectores têxtil, vestuário e couro perdem quota no mercado interno, passando dos 92% que detinham em 1970, para apenas 60% em 1996, sendo este fenómeno mais acentuado a partir de 1985. Pese embora o facto da indústria têxtil e vestuário ser considerada como o principal pólo de especialização da indústria portuguesa, essa competitividade continuava, mesmo em 1996, baseada nos custos salariais reduzidos. A este factor, acrescia a reduzida qualificação dos recursos humanos (mais de 90% dos efectivos possuíam 6 ou menos anos de escolaridade), com reflexo também na reduzida presença de efectivos com licenciatura. Um dos factores que também prejudicou a competitividade das exportações da indústria têxtil e vestuário, prende-se com a adesão de Portugal à moeda única europeia, que entrou em circulação no dia 1 de Janeiro de 2002, a qual passou a servir como instrumento cambial, acabando com o mecanismo de desvalorização do escudo face às outras moedas. A eliminação das quotas alfandegárias entre os países membros da OMC, veio aumentar ainda mais a pressão da concorrência sobre a indústria têxtil e vestuário portuguesa. Desde o dia 1 de Janeiro de 2005, que os produtos têxteis e vestuário de países como China, Índia e Paquistão, entram livremente (de ressalvar a implementação temporária de quotas de transição para algumas categorias de produtos provenientes da China) no mercado europeu. O alargamento da União Europeia a Leste também contribuiu para o acréscimo da concorrência, principalmente no sector de vestuário (devido à maior dependência nos custos de mão-de-obra), com a inclusão de 10 novos Estados-membros em 2004, e de dois novos em 2007. Considerando os dados de 2007, a indústria têxtil e vestuário continua a possuir uma presença significativa na economia portuguesa, sendo responsável por 2,6% do valor acrescentado bruto nacional e representando 11,2% do total da indústria transformadora do país. Em termos de mão-de-obra, a indústria têxtil e vestuário representava 4,7% do total de trabalhadores das empresas portuguesas e assumia 22% dos trabalhadores da indústria transformadora em 2007. Página 27 de 74 Existem diversas associações, centros tecnológicos e organizações que representam e que se encontram ligadas aos sectores têxtil e de vestuário em Portugal, e que se encontram diversas vezes relacionadas com associações internacionais. Estas organizações têm como objectivo fundamental zelar pelos interesses do sector ou do subsector que representam, em diversos níveis diferentes (ex.: promoção comercial, desenvolvimento tecnológico). Para além das associações, existem diversos centros tecnológicos que prestam os seus serviços aos sectores têxtil e de vestuário. Os sectores contam ainda com o apoio de diversos organismos governamentais que promovem medidas de apoio específicas e genéricas, destinadas à promoção e ao desenvolvimento sectorial. A indústria têxtil e vestuário portuguesa passou por diversas fases desde a sua origem como actividade artesanal, que acompanhou a revolução industrial, passou por um período de algum proteccionismo beneficiando do acesso privilegiado ao mercado e às matérias-primas das colónias portuguesas, passou por períodos de grande desenvolvimento, até chegar ao actual período de crescente concorrência internacional, com impacto na representatividade dos sectores na economia portuguesa. A concorrência actual foi fomentada pelo acesso alargado ao mercado europeu, pela deslocação de clientes tradicionais para fornecedores externos e pela maior concorrência no mercado norte-americano, resultante da desvalorização do dólar face ao euro. 4.2. Dados e indicadores sectoriais A indústria têxtil e vestuário portuguesa atravessa actualmente uma fase de extrema mudança, que está a forçar as empresas a repensarem estratégias de forma a conquistar vantagem competitiva. Com base nos dados do ano 2007, a indústria têxtil e vestuário assume uma elevada relevância no âmbito da indústria transformadora portuguesa, representando cerca de 9% do volume de negócios e 8,2% da produção. A Tabela 1 apresenta alguns dos principais indicadores da indústria têxtil e vestuário portuguesa. Página 28 de 74 Tabela 1: Principais indicadores da indústria têxtil e vestuário portuguesa Ano Indicador 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 Volume de negócios (1.000 €) Sector têxtil 3.770.961 3.774.585 3.770.055 4.053.799 4.151.960 4.448.274 4.749.963 4.453.813 Sector vestuário 3.208.492 3.156.369 3.222.680 3.425.042 3.950.692 3.749.565 3.588.927 3.509.382 Têxtil e vestuário 6.979.453 6.930.953 6.992.735 7.478.841 8.102.652 8.197.839 8.338.890 7.963.196 Valor da produção (1.000 €) Sector têxtil 3.636.806 3.679.550 3.630.477 3.948.845 4.065.445 4.363.922 4.674.843 4.396.813 Sector vestuário 3.095.934 3.069.077 3.125.631 3.299.605 3.774.394 3.560.085 3.484.325 3.447.620 Têxtil e vestuário 6.732.739 6.748.627 6.756.108 7.248.451 7.839.839 7.924.006 8.159.168 7.844.434 Emprego Sector têxtil Sector vestuário Têxtil e vestuário Fonte: INE 71.156 75.522 81.904 84.382 87.098 95.446 99.585 99.321 109.179 111.315 119.361 121.519 135.504 147.817 126.284 136.285 180.335 186.837 201.265 205.901 222.602 243.263 225.869 235.606 A Tabela 1 evidencia uma diminuição no volume de negócios e no valor da produção para os sectores têxtil e vestuário ao longo do período de 2000 a 2007. Esta evolução está em sintonia com a diminuição no número de empresas e no número de pessoas ao serviço destes sectores.A Tabela 2 apresenta os principais indicadores dos sectores têxtil e vestuário, mas considerando apenas a região Norte de Portugal. Tabela 2: Principais indicadores da actividade empresarial nos sectores têxtil e vestuário Indicador Volume de negócios (€) Volume de produção (€) Pessoal ao serviço Sector Ano 2007 2006 2005 2004 Têxtil 3.123.878.993 3.164.512.539 3.161.726.736 3.408.517.434 Vestuário 2.761.093.900 2.703.704.908 2.721.298.637 2.891.801.406 Total 5.884.972.893 5.868.217.447 5.883.025.373 6.300.318.840 Têxtil 3.013.095.605 3.090.358.211 3.050.960.039 3.332.307.662 Vestuário 2.671.878.181 2.639.425.970 2.646.081.413 2.803.783.212 Total 5.684.973.786 5.729.784.181 5.697.041.452 6.136.090.874 Têxtil 57.493 61.046 64.887 67.441 Vestuário 90.584 91.837 97.480 98.862 Total 148.077 152.883 162.367 166.303 NOTA: o sector de vestuário inclui: Indústria do vestuário; preparação, tingimento e fabricação de artigos de peles com pêlo Fonte: INE Página 29 de 74 Comparando os dados da Tabela 2 com os dados da Tabela 1, verifica-se que, para o ano de 2007, a região Norte de Portugal foi responsável por absorver cerca de 82% do pessoal ao serviço, por mais de 84% do volume de negócios e por mais de 84% do volume de produção da indústria têxtil e vestuário de Portugal. Esta preponderância ao nível nacional, coloca a região numa posição de expressivo destaque. A distribuição geográfica das empresas dos sectores têxtil e de vestuário encontra-se respectivamente na Tabela 3 e Tabela 4, onde se mostra a distribuição por sete regiões portuguesas (i.e., Açores, Alentejo, Algarve, Centro, Lisboa/Vale do Tejo, Madeira, e Norte), registada entre 1999 e 2007. Tabela 3: Distribuição geográfica das empresas do sector têxtil Região Evolução anual do número de empresas do sector têxtil 2007 Proporção 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 Norte 3.885 64,34% 4.083 4.306 4.303 3.283 3.517 3.379 3.318 3.260 Centro 854 14,14% 889 1.028 1.002 669 677 573 532 524 Lisboa/Vale Tejo 857 14,19% 916 1.209 1.146 439 393 352 580 554 Alentejo 166 2,75% 159 197 206 117 82 63 77 87 Algarve 128 2,12% 125 163 145 32 29 37 38 28 Açores 68 1,13% 77 70 62 15 17 16 17 17 Madeira Fonte: INE 80 1,32% 82 85 71 55 54 55 52 53 De acordo com o apresentado na Tabela 3, verifica-se no âmbito da distribuição geográfica das empresas do sector têxtil, que estas se encontram fundamentalmente concentradas na região Norte de Portugal. Apesar da evolução positiva no número de empresas na região Norte ao longo do período de 1999 a 2007, é de salientar a quebra acentuada que foi registada entre 2006 e 2007. Página 30 de 74 Tabela 4: Distribuição geográfica das empresas do sector de vestuário Região Evolução anual do número de empresas do sector de vestuário 2007 Proporção 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 Norte 8.257 73,55% 8.300 8.670 8.933 9.239 9.270 6.971 7.536 8.085 Centro 1.088 9,69% 1.127 1.182 1.269 1.263 1.225 789 742 882 Lisboa/Vale Tejo 1.480 13,18% 1.471 1.655 1.724 1.520 1.421 568 1.022 1.486 Alentejo 171 1,52% 177 204 206 273 120 147 112 105 Algarve 105 0,94% 108 143 143 57 54 73 60 76 Açores 54 0,48% 58 57 52 19 23 16 37 20 Madeira Fonte: INE 72 0,64% 71 62 73 25 28 30 38 35 À semelhança do que se verifica no sector têxtil, também as empresas do sector de vestuário se encontram fundamentalmente concentradas na região Norte de Portugal, conforme é evidenciado na Tabela 4. Também neste sector se verificou uma evolução positiva no número de empresas entre 1999 e 2007, mas o pico do número de empresas foi registado em 2002, com um total de 9.270 empresas e desde esse ano tem-se registado uma evolução negativa. A Tabela 5 apresenta o número de empresas têxteis e vestuário, localizadas na região Norte de Portugal, repartindo o total pela localização em termos de sub-regiões NUTS III. Conforme se evidencia na análise, as sub-regiões do Cávado e Ave apresentam uma acentuada concentração, sendo responsáveis pela localização de mais de metade das empresas da região. No que se refere à concentração das empresas, após estas duas sub-regiões encontra-se o Grande Porto. Tabela 5: Número de empresas têxteis e vestuário no Norte de Portugal Número de empresas (2007) Sector NUTS II NUTS III Entre Alto Douro e Douro Trás-osVouga Montes 91 728 1699 687 473 146 29 32 Têxtil 3.885 (2,34%) (18,74%) (43,73%) (17,68%) (12,18%) (3,76%) (0,75%) (0,82%) Vestuári 309 2066 3010 1608 963 183 54 64 8.257 o (3,74%) (25,02%) (36,45%) (19,47%) (11,66%) (2,22%) (0,65%) (0,78%) NOTA: o sector de vestuário inclui: Indústria do vestuário; preparação, tingimento e fabricação de artigos de peles com pêlo Norte MinhoLima Cávado Ave Grande Porto Página 31 de 74 Tâmega Fonte: INE A Tabela 6 e a Tabela 7 apresentam a evolução do número de empresas e pessoas ao serviço, para os sectores têxtil e de vestuário, para o período entre de 2000 a 2007, bem como a média do número de pessoas por empresa. Tabela 6: Evolução do número de empresas e pessoas no sector têxtil Evolução do número médio de pessoas ao serviço no sector têxtil Indicador 2007 Número de empresas Número serviço de pessoas ao Pessoas / empresa (média) 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 6.038 6.331 7.058 6.935 4.610 4.769 4.475 4.614 71.156 75.522 81.904 84.382 87.098 95.446 99.585 99.321 11,78 11,93 11,60 12,17 18,89 20,01 22,25 21,53 Fonte: INE A Tabela 6 mostra que no sector têxtil existe uma diminuição do número de trabalhadores do sector. Esta evolução evidencia uma redução no número de trabalhadores por empresa, que pode estar ligada à diminuição no número de trabalhadores, bem como à criação de empresas com um menor número de trabalhadores. Tabela 7: Evolução do número de empresas e pessoas no sector vestuário Evolução do número médio de pessoas ao serviço no sector vestuário Indicador Número de empresas Número serviço de pessoas Pessoas / empresa (média) ao 2007 2006 2005 2004 2003 2002 11.227 11.312 11.973 12.400 12.396 12.141 2001 8.594 2000 9.747 109.179 111.315 119.361 121.519 135.504 147.817 126.284 136.285 9,72 9,84 9,97 9,80 10,93 12,18 14,69 13,98 Fonte: INE À semelhança do que acontece no sector têxtil, também o sector de vestuário tem registado uma evolução negativa no número de pessoas ao serviço. O número de empresas do sector aumentou entre 2002 e 2004, caindo entre 2004 e 2006, sendo que entre 2001 e 2002 foi registado um crescimento superior a 40%. A Tabela 8 apresenta os principais países de destino dos produtos da indústria têxtil e do vestuário portuguesa, considerando o valor das exportações. Destaca-se a Espanha, com 27% Página 32 de 74 das exportações portuguesas de têxteis e de vestuário. A tabela evidencia ainda a importância do comércio intra-comunitário, o qual absorve mais de 84% da totalidade das exportações. Tabela 8: Principais países de destino das exportações da indústria têxtil e vestuário em valor Valor (1.000 euro) País cliente 2007 Têxtil Vestuário Total 2006 Proporção ∆ (2007/06) Espanha 278.240 885.727 1.163.967 27,0% França 176.591 337.680 514.271 11,9% 1,81% Reino Unido 159.161 309.852 469.013 10,9% Alemanha 162.587 245.486 408.073 Itália 87.231 152.239 EUA 179.127 Holanda Total Proporção ∆ (2006/05) Total 24,43% 0,96% 995.012 505.124 12,28% -2,66% 518.931 -7,26% 505.721 12,30% -5,49% 535.113 9,5% -1,59% 414.683 10,08% -1,32% 420.240 239.470 5,6% 15,74% 206.901 5,03% 3,88% 199.165 34.458 213.585 5,0% -11,64% 241.731 5,88% 1,82% 237.411 56.277 85.165 141.442 3,3% 5,00% 134.701 3,28% -12,26% 153.517 Bélgica 43.720 77.056 120.776 2,8% 2,13% 118.262 2,88% 1,15% 116.920 Suécia 35.258 62.182 97.440 2,3% 6,53% 91.469 2,22% -7,50% 98.882 Dinamarca 21.063 49.782 70.845 1,6% -2,77% 72.860 1,77% -0,44% 73.184 Outros UE_Extra UE_Intra - - - 816.699 19,86% 6,09% 769.790 655.605 15,2% 0,07% 655.167 15,93% 5,44% 621.343 1.225.167 2.423.341 3.648.508 84,8% 5,52% 3.457.587 84,07% -1,12% 3.496.821 4,65% 4.112.754 100,00% -0,13% 4.118.164 472.503 183.102 - 15,86% 1.004.604 2005 1.697.670 2.606.443 4.304.113 100,0% TOTAL Fonte: EUROSTAT (dados 2006 e 2005); ATP (dados 2007) A totalidade das exportações apresenta uma evolução positiva entre 2006 e 2007. No entanto, esta evolução traduz-se em variações distintas em função do tipo de produto (esta análise é apresentada na Tabela 24, p. 66, em termos comparativos com a região da Galiza). 4.3. Casos de empresas do Norte de Portugal A Tabela 9 apresenta as maiores empresas têxteis e vestuário localizadas na região Norte de Portugal, considerando o volume de negócios. Página 33 de 74 Tabela 9: Principais empresas têxteis e vestuário do Norte de Portugal Volume de Negócios (€) Empresa 2006 2005 ∆ 2006/2005 Lameirinho - Indústria Têxtil, S.A. 77.373.000 9,60% 70.595.224 Irmãos Vila Nova, S.A. 70.007.000 10,70% 63.239.420 Fábrica Têxtil Riopele, S.A. 64.525.000 5,65% 61.073.757 Polopique - Comércio e Indústria de Confecções, Lda. 52.103.000 -0,71% - Somelos - Tecidos, S.A. 50.681.000 4,62% 48.445.070 Indústria Têxtil do Ave, S.A. 48.120.000 13,35% 42.452.603 Mundotêxtil - Indústrias Têxteis, S.A. 44.574.000 -7,91% 48.403.490 JMA Felpos, S.A. - - 56.949.270 Textil Manuel Gonçalves, S.A. - - 48.607.080 Cotesi - Cª de Têxteis Sintéticos, S.A. - - 48.190.617 TMG - Tecidos para Vestuário e Decoração, S.A. - - 45.157.030 Confetil - Confecções Têxteis, S.A. - - 43.830.319 Ricon Industrial - Prod. de Vestuário, S.A. - - 37.801.016 Cª de Linhas Coats & Clark, S.A. - - 35.261.180 Stradivarius (Portugal) - Conf., Unipessoal Lda. - - 33.925.953 Orfama - Organização Fabril de Malhas, S.A. - - 29.440.530 Fábrica de Malhas Filobranca, S.A. - - 27.618.490 Marques Soares, S.A. - - 26.885.758 Endutex - Revestimentos Têxteis, S.A. - - 26.836.736 A. Sampaio & Filhos - Têxteis, S.A. - - 26.485.660 NOTA: valores do volume de negócios 2006 estão arredondados aos milhares Fonte: EXAME (dados de 2006); Público (dados de 2005) Com base na listagem apresentada na Tabela 9, salienta-se a diversidade de áreas de actuação nas quais se enquadram as principais empresas do sector têxtil e vestuário. Entre as maiores empresas listadas, é possível identificar empresas que desenvolvem a actividade em áreas como: têxtil lar, têxtil técnico, retalho e confecção, existindo ainda dissemelhanças ao nível da especificidade dos produtos. De salientar ainda que, para além de agregar a grande maioria das empresas têxteis e de vestuário portuguesas, a região Norte de Portugal concentra grande parte das maiores empresas destes sectores. Página 34 de 74 5. Caracterização da indústria têxtil e vestuário na Galiza Nesta secção é apresentada a caracterização da indústria têxtil e vestuário na Galiza, focalizando inicialmente a sua evolução e o contexto actual. A secção expõe ainda os respectivos dados e indicadores sectoriais, bem como uma análise das principais empresas da região. 5.1. Evolução e contexto actual Para se conseguir compreender a situação actual da indústria têxtil e vestuário da Galiza dentro da economia espanhola e galega, é necessário fazer um breve resumo desde os inícios da actividade nesta comunidade espanhola, para assim determinar os factores chave que marcaram a sua evolução, na medida em que o caso da Galiza poder-se-ia considerar uma excepção dentro do sector no território espanhol. Remontando ao início da actividade têxtil galega, a sua origem encontra-se, no mundo rural do final do século XVIII e início do século XIX, com uma ainda incipiente actividade de fabrico de linho, que surge para satisfazer quer a procura nacional, quer a das colónias espanholas no continente americano. Esta procura fez-se também sentir noutras regiões de Espanha, como no caso das regiões da Catalunha e da Comunidade Valenciana, nas quais ao longo do século XIX, decorre a consolidação de uma indústria têxtil que se vai tornando mais forte e que chega até à actualidade, sendo caracterizada por uma actividade industrial de base. No caso da Galiza, esta incipiente indústria perde mercado face a outras regiões espanholas e europeias, permanecendo na comunidade uma actividade residual que comercializava de forma precária no âmbito local e era desenvolvida por alfaiates e costureiras. Apenas no final do século XX se pode começar a falar de uma indústria têxtil consolidada na Galiza, que se diferencia da existente em Espanha pelo seu tardio aparecimento e industrialização, pela sua especialização na confecção e pelo seu carácter rural. O ressurgimento desta indústria resultou de um espírito empreendedor que se desenvolveu em diversas zonas da comunidade galega. Página 35 de 74 Os factores que propiciaram que a actividade de confecção têxtil se localizasse na Galiza, foram os seguintes: existência de uma certa tradição no meio rural nas actividades de confecção, associadas a alfaiates e costureiras; existência de mão-de-obra feminina abundante e dedicada a actividades agrónomas, que vêem neste novo tipo de actividade um complemento à sua renda familiar, bem como uma alternativa à vida no campo; e, por último, uma procura crescente dos produtos com origem na Galiza, originando que determinadas unidades de confecção se convertessem em pequenas empresas de carácter familiar. Mas foi a partir do final da década de 1970 e início da década de 1980, que se concretizou o verdadeiro desenvolvimento da indústria têxtil e confecção na Galiza, graças ao investimento em tecnologia, ao design e à imagem de marca criada a partir do slogan “Moda Gallega”. Tudo isto fez com que o sector seja hoje em dia uma das actividades mais importantes da comunidade galega, tanto no que se refere com a riqueza económica que gera, como pelo nível de emprego criado por estas empresas. A partir deste momento, podemos considerar que na Galiza coexistem, dentro dos sectores têxtil e vestuário, três realidades empresariais bem diferenciadas, não tanto pela sua origem, na medida em que na maior parte dos casos é semelhante, mas pela evolução que cada uma destas teve. Por conseguinte, podemos diferenciar entre: i. Uma grande empresa multinacional (Grupo Inditex), presente em diversos países com mais de 4.200 lojas (dados de 2009), adaptando-se a cada um dos mercados onde actua e caracterizada por possuir o controlo de todos os processos da sua actividade económica, ou seja, ela própria realiza todas as fases, desde a produção até à distribuição, logística e comercialização. ii. Um segundo grupo formado por um conjunto de empresas que foram cabeças de cartaz do slogan “Moda Gallega” e que se caracterizam pelo design, qualidade e imagem de marca. São o resultado, em muitos dos casos, da evolução de pequenas empresas, fruto do carácter inovador do seu empreendedor e que na maioria das ocasiões geram grandes laços de união com o território em que se constituem. Este vínculo é sentido sobretudo pelas implicações na povoação onde se localizam e pelo surgimento de empresas auxiliares, subcontratadas em muitas ocasiões para determinadas fases do processo de fabrico. Página 36 de 74 iii. A terceira realidade é a das cooperativas e oficinas, com uma grande presença na Galiza, apesar da redução que se está a registar ao longo dos últimos anos. Caracterizam-se por se localizarem em meio rural, em áreas onde existe abundante mão-de-obra feminina, em muitos dos casos não qualificada, com um reduzido nível tecnológico e que surgem a partir de uma pessoa empreendedora que cria a sua própria oficina. Muitas destas empresas e cooperativas são subcontratadas pelas empresas galegas para realizar as suas produções. Relativamente a outras regiões de Espanha, o processo de industrialização da indústria têxtil e vestuário da Galiza, decorreu mais tardiamente, especializando-se na confecção – e não na indústria têxtil de base – e na criação de uma imagem de marca de moda produzida na região, reconhecida ao nível internacional e associada à inovação, ao design e à qualidade, um factor que tem garantido o posicionamento das empresas galegas. Diversas empresas têm reorientado as suas estratégias através da deslocação dos seus processos produtivos para regiões ou países em que os custos de produção são inferiores, fundamentalmente no que se refere aos custos de aprovisionamentos e de produção, com especial incidência nas actividades com mão-de-obra mais intensiva Com base nos dados do segundo semestre de 2008 (AIPCLOP), existem na Galiza cerca de 300 empresas, dos sectores têxtil e vestuário, com marca própria. No entanto, é de salientar que o principal mercado de grande destas empresas é o espanhol. Por conseguinte, existe uma acentuada dependência em relação ao poder de compra e à procura interna. Para além da dependência em relação ao mercado espanhol, não é lícito supor que a grande maioria das marcas galegas dispõe de canais de distribuição próprios ou franquiados, efectivamente, de acordo com diversas fontes, a maior parte das marcas galegas são comercializadas através de canais multimarca, recorrendo a lojas independentes ou a grandes retalhistas. Ao longo do primeiro semestre de 2008, as exportações de vestuário da Galiza ultrapassaram os 552 milhões de euros, dos quais 517 milhões estão associados à sub-região de A Coruña, grande parte deste valor corresponde à actividade do Grupo Inditex. No entanto, o valor das exportações registou uma quebra de 54% em relação ao primeiro semestre de 2007. Para o período em causa, Portugal foi o principal destino das exportações de vestuário galego, absorvendo 104 milhões de euros, seguido por França, Itália, Grécia e México. Página 37 de 74 5.2. Dados e indicadores sectoriais À semelhança do que acontece na região Norte de Portugal, também as empresas de têxteis e vestuário estabelecidas na região da Galiza, estão a enfrentar um período de acentuada concorrência internacional e austeridade económica. No entanto, dentro do contexto do país, a indústria galega tem apresentado uma evolução sólida, sendo responsável em 2007 por mais de 12% do volume de produção da indústria têxtil e vestuário em Espanha. A Tabela 10 apresenta o número de empresas têxteis e vestuário localizadas na Galiza em 2007, bem como o número de empresas desagregado por sub-região (NUTS III). Tabela 10: Número de empresas têxteis e de vestuário na Galiza Número de empresas (2007) Sector NUTS II Têxtil Vestuário Fonte: IGE NUTS III Galiza A Coruña Lugo Ourense Pontevedra 479 290 17 24 148 1.383 765 81 140 397 Conforme se evidencia na Tabela 10, a concentração de empresas na Galiza verifica-se fundamentalmente nas regiões de A Coruña e Pontevedra, com especial relevância para a primeira, onde se encontram mais de 56% das empresas da indústria têxtil e vestuário galega. A Tabela 11 apresenta a evolução do número de empresas por sector. Tabela 11: Evolução do número de empresas têxteis e vestuário na Galiza Sector Têxtil Vestuário Fonte: IGE Número de empresas 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 479 458 445 388 370 349 342 365 351 1.383 1.429 1.453 1.455 1.474 1.512 1.555 1.537 1.429 Com base nos dados apresentados na Tabela 11, o gráfico da Figura 4 ilustra a evolução do número de empresas nos sectores têxtil e vestuário, considerando o período de 1999 até 2007. Com base no exposto, regista-se, a partir de 2001, uma tendência negativa na evolução do Página 38 de 74 número de empresas de vestuário, a qual contrasta com o aumento no número de empresas do sector têxtil. Em termos agregados, a representatividade da indústria têxtil e vestuário na Galiza, registou entre 2000 e 2007, uma quebra ligeiramente superior a 2%. Figura 4: Evolução do número de empresas têxteis e vestuário na Galiza Fonte: com base em dados do IGE A Tabela 12 apresenta a evolução do número de pessoas ao serviço, ficando evidente a diminuição do número de trabalhadores na indústria, especialmente quando consideramos o período de 2001 a 2007. Com base nos dados do ano 2000, verificou-se até 2007 uma quebra de 15% no número de pessoas ao serviço. Tabela 12: Evolução do número de pessoas ao serviço na indústria têxtil e vestuário da Galiza Pessoas ao serviço por ano 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 19.665 21.191 19.492 20.474 21.185 22.143 23.745 23.187 20.064 Nota: dados relativos aos sectores: têxtil, vestuário, curtumes e calçado Fonte: INE (ES) A Tabela 13 apresenta a distribuição das empresas têxteis e vestuário galegas, em função do escalão de pessoal ao serviço e considerando apenas o ano de 2007. Com base nos dados apresentados, salienta-se a grande proporção de empresas com dois ou menos trabalhadores, Página 39 de 74 bem como a significativa concentração das empresas que possuem menos de 49 pessoas ao serviço. Tabela 13: Distribuição do número de empresas na Galiza por escalão de pessoal ao serviço Sector Número de empresas por escalão de pessoal ao serviço (2007) 20- 49 50- 99 100- 249 13 18 5 4 2 Vestuário 1.383 807 145 102 148 Nota: no sector vestuário, estão incluídas empresas de curtumes 144 24 10 3 Têxtil Total 479 0-2 381 3- 5 35 6- 9 21 10-19 ≥ 250 Fonte: IGE Considerando apenas o indicador do número de pessoal ao serviço, a divisão da dimensão das empresas pode ser realizada com base nos seguintes termos: micro empresa (com 9 ou menos pessoas ao serviço), pequena empresa (10 a 49 pessoas), média empresa (menos de 250) e grande empresa (250 ou mais). Com base nos dados apresentados na Tabela 13, o quadro da Figura 5 expressa o panorama das empresas têxteis e vestuário galegas, em termos da sua dimensão por número de pessoas ao serviço. Página 40 de 74 Figura 5: Distribuição da dimensão da empresa em termos de pessoal ao serviço (2007) Fonte: própria, com base em dados do IGE Conforme é evidenciado pelo gráfico da Figura 5, verifica-se uma grande proporção de micro empresas, que representam 80% do total de empresas da indústria, e de pequenas empresas, que representam mais de 17% do total da indústria. De salientar ainda o reduzido número de empresas de grande dimensão, quer no sector têxtil, quer no de vestuário. No que se refere ao volume de produção dos sectores têxtil e vestuário da Galiza, regista-se uma evolução acentuada ao longo do período de 2000 a 2007, conforme se encontra indicado na Tabela 14. De salientar ainda o facto da proporção da Galiza estar a aumentar significativamente dentro do âmbito da indústria têxtil e vestuário espanhola. Tabela 14: Evolução do volume de produção na Galiza Região Galiza Espanha Proporção Galiza Fonte: IGE Evolução anual do volume de produção (1.000 euros) dos sectores têxtil e vestuário 2007 2006 2005 2004 2003 1.428.450 1.452.209 1.229.285 1.133.847 1.020.220 2002 959.502 2001 1.007.161 2000 920.156 11.148.778 11.267.771 11.385.901 12.286.483 12.721.014 13.199.047 13.399.952 12.900.376 12,81% 12,89% 10,80% 9,23% Página 41 de 74 8,02% 7,27% 7,52% 7,13% As tabelas seguintes apresentam a proporção e evolução das trocas comerciais da Galiza, por tipo de produto. A Tabela 15 apresenta a evolução do valor total das exportações, enquanto a Tabela 16 apresenta a evolução do valor total das importações. Tabela 15: Evolução do valor total das exportações por categoria de artigo Exportações por ano (1000 euro) NC Designação 2008 Valor 2007 Proporção ∆ (08/07) Valor Proporção ∆ (07/06) 50 Artigos de seda 37.065 1,47% 171,64% 13.645 0,57% 1,86% 51 Artigos de lã 28.268 1,12% -12,56% 32.330 1,35% 15,60% 52 Artigos de algodão 85.189 3,39% -15,79% 101.164 4,22% 18,36% 53 10.088 0,40% 81,93% 5.545 0,23% -12,39% 30.918 1,23% -10,17% 34.420 1,44% 17,85% 29.736 1,18% -20,05% 37.191 1,55% 50,56% 13.240 0,53% -13,85% 15.369 0,64% 16,66% 57 Outras fibras têxteis vegetais Filamentos sintéticos ou artificiais Fibras sintéticas ou artificiais descontínuas Pastas, feltros, artigos de cordoaria, etc Tapetes e outros revestimentos 2.407 0,10% 19,25% 2.018 0,08% 125,89% 58 Tecidos especiais e tufados 11.366 0,45% -21,12% 14.409 0,60% -41,10% 59 Tecidos impregnados, etc 5.249 0,21% 142,94% 2.161 0,09% 76,05% 9.063 0,36% 159,23% 3.496 0,15% -1,58% 881.208 35,05% 9,35% 805.857 33,63% 15,89% 1.334.919 53,10% 2,67% 1.300.208 54,26% 12,87% 35.074 1,40% 24,13% 28.257 1,18% 44,48% 2.513.789 100% 4,91% 2.396.069 100% 14,25% 54 55 56 60 Tecidos de malha Vestuário e acessórios de 61 malha Vestuário e acessórios excepto 62 de malha Outros artigos têxteis 63 confeccionados TOTAL Fonte: IGE Conforme está exposto na Tabela 15, a grande proporção das exportações galegas está associada com a categoria 61 (vestuário e acessórios de malha) com mais de 35% das exportações e 62 (vestuário e acessórios excepto de malha) com mais de 53% das exportações. As restantes categorias apresentam uma proporção bastante inferior, sendo que nenhuma destas ultrapassou os 5% em 2008 nem 2007. Página 42 de 74 Tabela 16: Evolução do valor total das importações por categoria de artigo Importações por ano (1.000 euro) NC Designação 2008 Valor 2007 Proporção ∆ (08/07) Valor Proporção ∆ (07/06) 50 Artigos de seda 47.577 2,71% 88,35% 25.260 1,32% -1,42% 51 Artigos de lã 54.866 3,12% 25,73% 43.638 2,28% -0,92% 52 Artigos de algodão 88.967 5,06% -21,08% 112.732 5,90% 5,47% 53 13.779 0,78% 3,78% 13.277 0,69% 38,90% 36.201 2,06% -10,15% 40.290 2,11% 16,25% 44.301 2,52% -22,77% 57.362 3,00% 7,89% 15.121 0,86% -7,69% 16.380 0,86% 8,81% 8.713 0,50% -32,50% 12.907 0,68% 21,88% 58 Outras fibras têxteis vegetais Filamentos sintéticos ou artificiais Fibras sintéticas ou artificiais descontínuas Pastas, feltros, artigos de cordoaria, etc Tapetes e outros revestimentos Tecidos especiais e tufados 12.578 0,72% 4,09% 12.083 0,63% -46,51% 59 Tecidos impregnados, etc 11.599 0,66% -17,02% 13.978 0,73% 28,11% Tecidos de malha Vestuário e acessórios de 61 malha Vestuário e acessórios 62 excepto de malha Outros artigos têxteis 63 confeccionados TOTAL Fonte: IGE 18.536 1,05% 56,36% 11.855 0,62% 25,55% 506.344 28,81% -12,15% 576.383 30,17% 7,66% 850.400 48,39% -7,67% 921.059 48,21% 23,09% 48.430 2,76% -9,37% 53.437 2,80% 26,27% 100,00% -8,02% 1.910.643 100,00% 14,51% 54 55 56 57 60 1.757.412 Em relação às importações, o panorama exposto na Tabela 16 é semelhante ao encontrado nas exportações, evidenciando-se de forma clara a categoria 61 (vestuário e acessórios de malha) responsável por mais de 28% das importações e a categoria 62 (vestuário e acessórios excepto de malha) com mais de 48% das importações. Entre as restantes categorias de artigos, apenas os artigos de algodão (52) apresentaram uma proporção superior a 5% em 2008 e 2007. 5.3. Casos de empresas da Galiza Entre as diversas empresas galegas de referência, o destaque vai para o Grupo Inditex, que se afirmou em termos internacionais, com uma rede de lojas que, no primeiro semestre de 2009, ultrapassou os 4.350 pontos de venda. Para além deste caso, são ainda de realçar diversas empresas, como a Adolfo Domínguez (com mais de 600 pontos de venda da sua marca Página 43 de 74 homónima), a Sociedad Textil Lonia (que detém a marca Purificación García) e a Caramelo (que detém a rede de lojas da marca homónima). A Tabela 17 apresenta a listagem das principais empresas têxteis e vestuário localizadas na Galiza, considerando como base o volume de negócios. Tabela 17: Principais empresas têxteis e vestuário da Galiza em volume de negócios Empresa Volume de Negócios (€) 2007 2006 ∆ 2007/2006 Adolfo Dominguez, S.A. 178.775.678 4,92% 170.384.419 Stear, S.A. (GI) 169.357.326 10,51% 153.254.324 - - 159.822.215 Indipunt, S.L. (GI) 153.710.150 11,33% 138.070.553 Zintura, S.A. (GI) 104.515.362 25,89% 83.024.095 Denllo, S.A. (GI) 95.059.386 -0,32% 95.364.003 Confecciones Fios, S.A. (GI) 91.812.544 0,57% 91.288.967 Glencare, S.A. (GI) 88.870.530 5,47% 84.263.165 Hampton, S.A. (GI) - - 74.047.696 Caramelo, S.A. - - 73.408.953 57.997.842 1,29% 57.258.814 - - 52.554.067 Nikole, S.A. (GI) 46.334.896 9,16% 42.448.704 Confecciones Goa, S.A. (GI) 42.114.084 12,10% 37.569.543 Plataforma Europa, S.A. (GI) 42.078.432 50,52% 27.956.012 - - 41.445.092 Choolet, S.A. (GI) 39.257.894 -3,90% 40.849.038 Selmark, S.L. 24.496.430 6,59% 22.982.042 - - 22.975.310 19.300.260 -7,12% 20.780.679 Sociedad Textil Lonia, S.A. Trisko, S.A. (GI) Samlor, S.A. (GI) Roberto Verino Difusion, S.A. Kenner, S.A. (GI) Florentino Coleccion, S.L. Legenda: (GI): empresa pertence ou está relacionada ao Grupo Inditex Fonte: ARDÁN Com base na listagem apresentada na Tabela 17, salienta-se o facto de grande parte das vinte maiores empresas de têxtil e vestuário galegas, estarem integradas no Grupo Inditex, Página 44 de 74 representando para o ano 2006, mais de 67% do volume de negócios registado entre as vinte maiores empresas têxteis e vestuário galegas. A Tabela 18 apresenta a listagem das maiores empresas galegas de distribuição grossista de têxteis e vestuário. Tabela 18: Principais empresas de distribuição grossista de têxteis, vestuário e produtos associados Empresa Industria de Diseño Textil, S.A. (GI) Volume de Negócios (€) 2007 2006 ∆ 2007/2006 3.423.513.998 15,67% 2.959.780.997 482.252.678 19,51% 403.539.252 El Secreto del Mar, S.L. 26.213.492 0,23% 26.152.164 Cial. Textil Saroni Verin, S.L. 21.424.116 71,88% 12.464.787 Gralcutex, S.L. 17.538.573 0,81% 17.397.101 - - 13.237.051 Dieguez Global, S.L. 11.636.953 -0,59% 11.705.799 Lanera Galicia, S.L. 8.801.155 -2,59% 9.035.556 Cueros Noroeste, S.A. 5.894.793 -14,31% 6.879.473 Numa Textil, S.L. 5.648.414 21,34% 4.655.055 Confecciones Dorama, S.A. 5.408.730 6,88% 5.060.624 Almacenes Prieto, S.A. 5.165.525 -3,47% 5.351.165 Angel Castro Cea, S.L. 5.153.715 19,26% 4.321.433 Medias Filigrana, S.L. 4.738.680 3,24% 4.590.080 R.C. Fil Distribuciones, S.L. 4.522.442 9,27% 4.138.744 Llobar Textil, S.L. 4.492.127 -8,37% 4.902.318 Peña Cueros y Derivados, S.A. 4.426.917 -0,22% 4.436.527 Comercial Galfer de Cueros y Pieles, S.L 4.105.015 -13,05% 4.721.094 Grupo 3 Fashion, S.L. 3.788.804 -12,91% 4.350.679 S.K. Selnova Textil, S.L. 3.500.210 -18,69% 4.304.899 Tempe, S.A. (GI) Shoes & Piel, S.L. Legenda: (GI): empresa pertence ao Grupo Inditex Fonte: ARDÁN No caso das principais empresas de distribuição grossista, apresentadas na Tabela 18, as empresas do Grupo Inditex lideram de forma muito destacada, ocupando as duas primeiras posições. Página 45 de 74 A Tabela 19 apresenta a listagem das maiores empresas galegas de distribuição retalhista de têxteis e vestuário. Tabela 19: Principais empresas de distribuição retalhista de têxteis, vestuário e produtos associados Volume de Negócios (€) Empresa Zara España, S.A. (GI) 2007 2006 ∆ 2007/2006 1.662.451.336 7,28% 1.549.671.367 Bershka Bsk España, S.A. (GI) 749.481.537 17,63% 637.136.538 Grupo Massimo Dutti, S.A. (GI) 602.066.622 12,29% 536.186.993 Pull & Bear España, S.A. (GI) 508.012.832 21,69% 417.461.842 Stradivarius España, S.A. (GI) - - 434.365.998 Kiddy's Class España, S.A. (GI) 173.355.306 11,18% 155.922.980 Oysho España, S.A. (GI) 171.961.884 26,85% 135.562.030 Zara Home España, S.A. (GI) 166.495.168 37,63% 120.968.946 11.421.520 46,44% 7.799.593 7.993.743 8,30% 7.380.891 Funcho, S.A. - - 6.433.498 Pidolti, S.L. - - 4.627.306 Veiga Vilariño, S.L. 4.440.800 -2,26% 4.543.531 Macrecormoda, S.L. 3.734.876 39,73% 2.672.839 Emprogal, S.L. 3.611.842 -10,48% 4.034.504 Froiz Textil, S.A. 3.438.997 3,03% 3.337.889 Bera 2000, S.L. 3.300.103 -1,90% 3.364.039 Aurelio Santas, S.L. 3.215.373 -6,25% 3.429.808 Vidrio Galicia, S.L. 3.177.479 -7,26% 3.426.082 Don Vaquero Sport Wear, S.L. 2.654.286 15,04% 2.307.225 Sls Salsa España Com. Difusion Vestuario, S.A. Gucamasi, S.A. Legenda: (GI): empresa pertence ao Grupo Inditex Fonte: ARDÁN Entre as empresas de distribuição retalhista, conforme é referido na Tabela 19, a posição destacada das empresas pertencentes ao Grupo Inditex é também evidente, ocupando as oitos primeiras posições com uma diferença significativa ao nível do volume de negócios. Página 46 de 74 De acordo com a análise da COINTEGA (Confederación de Industrias Textiles de Galicia), as empresas da indústria têxtil e vestuário galega podem ser agrupadas em quatro grupos distintos: retail, marcas, fabricantes e serviços auxiliares. Cada um destes agrupamentos é discutido seguidamente de forma individual. Retail: é composto por empresas cuja actividade principal é o retalho, pelo que todas as restantes actividades estão direccionadas para esta actividade. O exemplo mais representativo é o Grupo Inditex, o qual ocupa uma posição de colossal destaque em relação aos outros actores sectoriais. Para além deste caso, são ainda de salientar a Adolfo Dominguez (através da sua rede de retalho com marca homónima) e a Sociedad Textil Lonia (que detém a rede de lojas com a marca Purificación García), ambas possuindo um volume de negócios superior aos 100 milhões de euros. Dentro deste modelo de negócio, existem ainda outras empresas com redes de retalho próprias, ao nível regional e mesmo nacional, que procuram assim criar as bases para a expansão internacional, frequentemente necessária para a sustentabilidade do negócio. Marcas: este grupo é composto por empresas que contam com uma ou mais marcas próprias e que são comercializadas fundamentalmente através de canais multimarca, por intermédio de lojas independentes, como grandes retalhistas ou lojas por departamentos. Estas empresas têm procurado especializar-se, centralizando-se nas actividades que lhes permitem ser mais competitivas, como o desenvolvimento de uma identidade de marca e estilo, a comunicação com o mercado e os aspectos logísticos. Estas empresas têm sabido utilizar de forma eficiente o recurso à subcontratação, inicialmente no mercado interno e posteriormente ao nível internacional, começando pelos mais próximos e conhecidos para evoluir no sentido do controlo desta área de negócio ao nível internacional. Desta forma, conseguiram adaptar a sua estrutura, onde a maior parte dos custos passou a ser do tipo variável, o que lhes permite ser mais flexíveis à inconstância do mercado. Um dos factores que contribuiu significativamente para possibilitar a proliferação destas empresas é a dimensão do mercado interno espanhol, o qual lhes permite alcançar facilmente o ponto de equilíbrio, operando apenas ao nível interno. Esta Página 47 de 74 situação é ainda patente ao nível do relativamente reduzido volume de exportação destas empresas. Fabricantes: este grupo pode ser subdividido em três subgrupos. O primeiro é composto por empresas com uma dimensão considerável, que fizeram uma forte aposta na tecnologia e que se especializaram num determinado tipo de produção, evoluindo até no sentido da criação de novas unidades industriais noutros países. O segundo subgrupo é composto por empresas com marca ou distribuição própria que mantêm internamente uma parte da produção. Em alguns casos porque estas actividades são consideradas críticas para manter as vantagens da empresa no mercado e, noutros casos, como manutenção da sua actividade tradicional. No terceiro subgrupo encontram-se as pequenas unidade de confecção. Neste caso, observa-se que as que possuem mais possibilidades de se manter, são as que estão a adaptar continuamente a sua estrutura e focalização, no sentido dos novos requisitos e necessidades dos seus clientes, convertendo-se em empresas auxiliares destes, sincronizadas e integradas nas suas estruturas produtivas. Serviços auxiliares: a reconfiguração do sector está a proporcionar o aparecimento de novas ofertas de serviços, os quais se desenvolvem quer a partir de spin offs de empresas de maior dimensão, que procuram aproveitar uma oportunidade de mercado a partir de iniciativas empreendedoras, justificadas pela necessidade de serviços especializados para a indústria da região. Como exemplo, encontra-se o caso de empresas especializadas na gestão de compras, empresas de logística especializadas nos têxteis, empresas de novas tecnologias aplicadas ao sector, fotógrafos de moda, agências de modelos, entre outras. Com base na análise apresentada pela associação galega, é de salientar a não referência de empresas dedicadas ao desenvolvimento e produção de têxteis técnicos, o que reflecte a menor expressão desta área de actividade na indústria têxtil e vestuário da Galiza. Página 48 de 74 6. Caso de estudo: El Niño 6.1. Apresentação Desde muito cedo que as relações empresariais no âmbito da indústria têxtil e vestuário entre o Norte de Portugal e a Galiza foram fortes. Com uma experiência e know-how inigualáveis em termos de produção, a ITV nacional foi uma das eleitas pela fileira moda galega como centro de produção das suas marcas. Um dos grandes impulsionadores foi, sem dúvida, o grupo Inditex, que à medida que foi crescendo, foi recorrendo cada vez mais às empresas portuguesas para a confecção das peças vendidas nas suas lojas. E quando avançou para a internacionalização, o Porto, a capital do Norte, foi a cidade escolhida para acolher a primeira loja Zara fora de território espanhol. Para além destas, outras marcas e empresas galegas não resistiram ao apelo da indústria têxtil e vestuário portuguesa, como é o caso mais recente da El Niño, a marca do grupo El Secreto del Mar, já completamente realizada em Portugal, do design à confecção. Uma escolha que se ficou a dever “ao factor qualidade na confecção dos produtos e know-how existente na indústria têxtil e de vestuário portuguesa, à proximidade de Vigo com o Norte de Portugal e às questões financeiras”, explica Javier Guerra, administrador do grupo El Secreto del Mar, fundado em 2002. 6.2. Entrevista O administrador do grupo não quis guardar segredo da sua preferência por Portugal e revelou em entrevista concedida ao Jornal Têxtil (na edição de Setembro de 2008), os projectos de internacionalização, as ambições e os factores de sucesso da El Niño, a marca galega com alma portuguesa que tem conquistado o território espanhol. Constituída por uma equipa de design de 23 pessoas, que concebe os modelos a partir do gabinete situado no Porto, a marca espanhola conta igualmente com parcerias criadas com 37 empresas portuguesas para a produção das suas colecções. Javier Guerra, um dos Página 49 de 74 administradores do grupo e, porventura, neto de portugueses, desvendou os segredos que o levaram a decidir-se por Portugal. Jornal Têxtil (JT): A marca El Niño é produzida em Portugal. Porquê esta escolha? Javier Guerra (JG): Por três razões. A primeira deve-se ao factor qualidade na confecção dos produtos e a todo o know-how existente na indústria têxtil e de vestuário portuguesa. As empresas de Vigo conhecem muito bem a forma como é realizada a produção em Portugal. Além disso, chegamos a estabelecer uma relação com o director-geral da Boxer Short e Throttleman que nos permitiu conhecer muito bem o ambiente da produção e ganhar confiança no profissionalismo da ITV portuguesa. O que procurávamos era exactamente um produto de boa qualidade, de gama média e que não fosse básico. A segunda razão deveu-se à proximidade de Vigo com o Norte de Portugal, o que nos permite deslocar com frequência às empresas parceiras. Desta forma, podemos controlar a produção, ver como estão a ser desenvolvidas as peças e sentirmo-nos assim parte integrante do processo industrial. Por último, as questões financeiras. Em Portugal, temos uma relação directa com os fornecedores, sem intermediários, para além de termos umas condições financeiras que em Espanha não existem. JT: Quais são as empresas portuguesas que seleccionou para parceiras? JG: Contamos com a colaboração de 37 empresas portuguesas. Destas, destaco a Têxteis André Amaral, com a qual estabelecemos uma importante relação desde o início da marca e que, por isso, faz parte da “família”. Mas há outras empresas com as quais foram criadas relações extraordinárias e às quais estamos especialmente agradecidos, como a Barata & Garcia, Becri Malhas de Confecção, Caifai Malhas & Confecções, Cavidel Têxteis, Crivedi & Monteiro Têxteis, Crivedi Vestuário, Franciscos, TRL – Têxteis Em Rede e Vipaltex – Malhas e Confecções, entre outras. Consideramos o fornecedor como um amigo e como parte integrante da mesma cadeia. JT: Como foi feita essa selecção? JG: O mais importante é a seriedade. Escolhemos pessoas sérias e profissionais, que fossem capazes de cumprir prazos e manter os padrões de qualidade. Contamos com empresas que têm capacidade de responder às necessidades de mercado. Para isso, conto com a ajuda do meu sócio, José Cardoso, que conhece muito bem as empresas da ITV portuguesa. Página 50 de 74 JT: Como caracteriza o cliente que procura produtos El Niño? Qual é o público-alvo e o segmento actual da marca? JG: Trata-se de uma marca jovem, surfwear, casualwear. Um produto relacionado com o mundo do mar, areia, luz, praias do Sul e com desportos como o windsurf e o kytesurf. A gama de produtos da El Niño vai desde a linha baby até à linha adulto (16 aos 24 anos), passando pela linha de criança (6 aos 14 anos). Em todos os segmentos existe uma colecção direccionada para o público feminino e outra para o masculino. JT: Quantas colecções lança a marca por ano? JG: Temos duas colecções de base por ano, incluindo cada uma cerca de 1.000 modelos. Ao longo do ano são também lançados dois ou mais “refreshing” no meio de cada estação, dependendo das necessidades do mercado. Somos pró-activos e, assim que o mercado exija mais produtos dentro de uma estação, prontamente colocamos nas lojas novos modelos. JT: Tem uma equipa de designers a trabalhar no Porto. As colecções são elaboradas somente cá ou em conjunto com Espanha? JG: Todo o trabalho de design é realizado em Portugal. Possuímos, actualmente, uma equipa constituída por 23 pessoas. Sinto-me absolutamente honrado, orgulhoso mesmo, deste grupo de trabalho, que acreditou desde o início no projecto. Desenvolvemos tudo no Porto, desde o desenho gráfico das peças às primeiras amostras e correcção destas, assim como todos os complementos das peças: etiquetas, embalagens, entre outros. JT: Quais são os factores de sucesso da El Niño? JG: Primeiramente, atribuo esse sucesso à Bárbara Pimentel, responsável pelo departamento de Design, que foi a pessoa a concretizar o espírito da empresa. É ela que coordena todo o departamento de desenho conjuntamente com o José Cardoso e que formou esta equipa fantástica que hoje temos. A criatividade, a atractividade, o despertar interesse pelo produto são também factores-chave do sucesso da marca. E também a qualidade, o factor pelo qual a marca é conhecida e reconhecida. JT: A marca tem lojas próprias ou é distribuída através do canal multimarca? Página 51 de 74 JG: Em Espanha, a distribuição é feita através de três canais: multimarca, com 600 clientes; monomarca, com 16 lojas próprias; e através do El Corte Inglés, onde contamos com 165 pontos de venda. O crescimento em Espanha foi exponencial. Em cinco anos, multiplicamos por quinze as vendas da marca e, por isso, tivemos bastante trabalho. JT: Quais os mercados em que a marca gostaria de entrar? JG: Queremos entrar em Itália e interessa-nos também muito penetrar no Benelux, principalmente na Holanda, um mercado muito cosmopolita e que procura este tipo de produto. JT: E Portugal não é mercado a atacar em termos de vendas? JG: Estamos a pensar num plano de comercialização para Portugal. Temos já um ponto de venda na Ericeira, junto à praia, e iremos abrir uma loja no centro comercial do IKEA. Como em Portugal o canal multimarca é muito complicado, decidimos implementar o nosso próprio canal através de lojas próprias. JT: Quais são os principais concorrentes da El Niño? JG: A El Niño posiciona-se ao lado das marcas como Quiksilver, Billabong, O'Neill, entre outras. O preço médio de uma t-shirt, por exemplo, ronda entre 35 e 40 euros. JT: A marca aposta em acções de comunicação e marketing? JG: A nossa aposta recai no marketing silencioso. Patrocinamos pessoas famosas e mediáticas que servem de líderes de opinião para atrair consumidores à marca. Somos também patrocinadores de algumas provas de grupo de jovens. Há pouco tempo atrás, tivemos o privilégio de patrocinar uma experiência fantástica de um grupo de jovens que concebeu um satélite para competir num campeonato nos EUA. Em Portugal, patrocinamos duas escolas de surf, a “Inês Tralha” na Ericeira e a “Onda Pura” em Matosinhos. Em Espanha, apostamos de igual forma em acções deste tipo. A imagem dos locais de venda é também uma prioridade, não só nas lojas próprias como também nos corners instalados no El Corte Inglés. JT: Que orçamento disponibiliza para acções de promoção da imagem? Página 52 de 74 JG: Somos especialmente estritos no orçamento que disponibilizamos anualmente para acções desse género. Investimos cerca de 3 a 4% das vendas da empresa. O investimento na imagem dos corners no El Corte Inglés é um investimento de grande importância. JT: Quais são os objectivos traçados para este ano? JG: Para nós, era importante estabilizar no mercado espanhol e, principalmente, internacionalizar a marca. Queremos também alargar a oferta de produtos e renovar a imagem das lojas. JT: O grupo Segredo do Mar trabalha também em private label? JG: Trabalhamos também para marcas estrangeiras, como por exemplo a francesa Marcel Gerdan. Oferecemos um serviço completo aos nossos clientes em private label. Concebemos o design do produto, controlamos e acompanhamos, através das nossas controladoras, todo o processo produtivo, à semelhança da nossa marca própria. Na nossa opinião, trabalhar para outros é tão importante como trabalhar para nós próprios. É como se alguém perguntasse qual dos braços é mais importante? Obviamente que são os dois. JT: Qual é o volume de negócios do grupo Segredo do Mar? JG: O grupo apresenta uma facturação anual que ronda os 33 milhões de euros. JT: Ultimamente tem-se falado muito da criação de um mega-cluster Galiza-Portugal, que servirá de ligação às trocas comerciais entre os dois países. Que vantagens poderá trazer para o grupo? JG: Sou um dos motores desse projecto e também um dos membros da Associação de Fabricantes da Galiza. Penso que existem muitas sinergias a associar entre os dois países. A junção de Portugal, com a sua capacidade de produção e conhecimento do produto, e de Espanha, com a sua vocação comercial, poderá resultar num casamento perfeito. As desconfianças existentes entre estes países estão a desaparecer e as barreiras estão, pouco a pouco, a ser derrubadas com o conhecimento das empresas. Todos temos que desenvolver esforços, porque em Portugal existe uma indústria têxtil e de vestuário muito importante, talvez a mais importante na Europa, e em Espanha há uma mais-valia em termos comerciais. Por isso, temos que nos ajudar mutuamente. Neste sentido, o grupo Segredo do Mar não deixa de ser um cluster. Este é um exemplo de união perfeita entre os dois países. Página 53 de 74 6.3. Parceiros Têxtil - André Amaral, TRL – Têxteis em Rede e Becri são apenas três das 37 empresas que trabalham com a marca espanhola El Niño, detida pelo grupo galego El Secreto del Mar. Pertencendo à numerosa rede de pequenas e médias empresas têxteis portuguesas, estas três empresas têxteis, localizadas na região Norte de Portugal, são exemplificativas da excelente colaboração existente entre os dois lados da fronteira e provam que o private label, num modelo com mais-valias do que no passado, é também uma aposta com futuro para a indústria têxtil e vestuário portuguesa. TRL – Têxteis em Rede, Lda. Especializada na confecção nas áreas de activewear fitness e artigos de banho, praia e desporto, a TRL – Têxteis em Rede, fundada em 1993, é uma das empresas parceiras da El Niño, parceria esta que remonta “praticamente ao início da marca, em 2002”, como revela Alexandra Barreiras em declarações ao Jornal Têxtil. Entre os artigos que produz para a marca espanhola, destacam-se artigos de surf, artigos de praia para senhora e criança, a linha homewear em malha, também para senhora e criança, e uma linha casual composta por diferentes artigos. A empresa sedeada em Águas Santas, que detém também as marcas próprias Dafne e Intensive Sports e produz e comercializa igualmente roupa técnica para escalada e montanha, considera esta uma parceria de excelência, já que, como explica Alexandra Barreiras, “todas as parcerias com marcas reputadas dão protagonismo à empresa”. Além disso, como realça a responsável, “no caso da marca El Niño, e dado o seu nível de qualidade, o nível de preço aceitável é a maior vantagem competitiva”. O processo de produção para a marca espanhola decorre nos moldes normais, “com o desenvolvimento das matérias-primas, acessórios e modelos e a elaboração das respectivas colecções para os vendedores, seguindo-se as vendas por colecção Primavera-Verão e Página 54 de 74 Outono-Inverno, com a produção a ser entregue em três locais distintos”, explica Alexandra Barreiras. As empresas têxteis nacionais apresentam numerosas vantagens no âmbito do private label, uma vez que Portugal tem, “em primeiro lugar, uma fileira têxtil consolidada no saber fazer, em tempo útil, em proximidade e com versatilidade e nível de qualidade de transformação capaz de fornecer pequenas séries”, como explica Alexandra Barreiras. Estas vantagens competitivas têm trazido sucesso à TRL, que já exporta para diversos países da Europa, nomeadamente Espanha, França, Alemanha, Reino Unido, Escandinávia, Holanda, e para os EUA. Têxtil - André Amaral, Lda. A Têxtil - André Amaral é a principal fornecedora da El Niño. A empresa barcelense trabalha com a marca espanhola desde 2003, logo nos primórdios da insígnia, produzindo “todo o tipo de t-shirts, em vários tipos de materiais e composições”, como explica André Amaral, o administrador da empresa, em declarações ao Jornal Têxtil. E para já, a parceria tem dado bons frutos para a empresa sedeada em Abade de Neiva. De acordo com André Amaral, “esta foi uma aposta forte desde o início e que nos traz importantes vantagens, nomeadamente financeiras, já que são cerca de cinco milhões de euros de facturação anual quase garantidos. Pode sofrer oscilações, devido ao mercado, mas logo no início do ano temos este volume de negócio mais ou menos assegurado, o que nos confere uma certa segurança”. O processo de desenvolvimento das colecções segue também a mesma metodologia usada pela empresa espanhola, com o arranque a partir do gabinete de design da marca instalado no Porto, que elabora os designs e os envia para a Têxteis André Amaral. “A partir daí desenvolvemos as amostras para os agentes comerciais e gerimos todo o processo até à produção final da colecção”, explica o administrador da empresa barcelense. Para além da El Niño, que representa cerca de 80% da produção total da Têxteis André Amaral, a empresa, que emprega actualmente 80 pessoas directamente e cerca de 300 de Página 55 de 74 forma indirecta, exporta os restantes 20% da sua produção para os mercados francês e holandês. Considerando esta uma parceria valiosa, assim como todas as outras que mantém com diversas marcas, André Amaral destaca a qualidade como a grande vantagem da sua empresa. “Oferecemos acima de tudo qualidade e pontualidade na entrega. Além disso, somos os parceiros ideais porque temos sabido demonstrar capacidade para resolver qualquer problema que surja. Oferecemos uma boa qualidade de serviços”, conclui o administrador da Têxteis André Amaral. Becri – Malhas e Confecções, S.A. A confecção de vestuário em malha é a especialidade da Becri e foi esse know-how que conquistou a El Niño. Com uma história que remonta a 1983, a empresa de Barcelos produz “todo o tipo de artigos em malha circular, desde t-shirts a calças e vestidos”, como explica José Costa, administrador da Becri, em declarações ao Jornal Têxtil. Esta parceria com a marca espanhola, firmada há cerca de ano e meio, junta-se a outras já estabelecidas com diversas marcas internacionais, como a Pepe Jeans, a principal cliente da Becri, e a Zara, que no conjunto contribuem para os 95% de volume de exportação da empresa portuguesa, repartidos sobretudo pelos mercados espanhol e alemão. Apesar da marca espanhola ser um cliente recente, José Costa não minimiza a sua importância, até porque, como sublinha, “trabalhamos em private label e, por isso, todos os clientes são importantes”. Além do mais, como enfatiza o administrador da Becri, “estando a El Niño perto de Portugal, com o gabinete de design sedeado no Porto, será sempre um ponto de sucesso e, com este cliente, as perspectivas de futuro não direi que serão as mais risonhas mas serão certamente menos dramáticas”. As peças produzidas para a El Niño são controladas pelo gabinete de design do Porto, que escolhe a malha, a qualidade do estampado ou do bordado, a lavagem, etc., sendo sempre “peças de valor acrescentado, que incorporam sempre inovações”. Para além da qualidade inerente à produção e aos serviços prestados pelas empresas portuguesas, José Costa realça um outro factor que coloca a Becri e as empresas nacionais no Página 56 de 74 topo das preferências de algumas das principais marcas internacionais: “rapidez é a principal vantagem. Estando aqui tão perto, os centros de decisão estão mais próximos e as decisões são mais rápidas. Qualquer alteração é rapidamente processada”. Página 57 de 74 7. Análise comparativa das duas regiões Embora existam semelhanças na origem dos sectores têxtil e vestuário das duas regiões, ambas com estreitas ligações à actividade agrária e ao cultivo e utilização do linho, é de salientar o facto da indústria na região portuguesa se ter desenvolvido mais cedo, assumindo um carácter industrial de base, com uma forte presença do sector têxtil. Quando a indústria têxtil e vestuário arranca efectivamente na Galiza, já em finais do século XX, especializa-se no sector do vestuário. Esta especialização, associada à forte promoção da moda galega e à possibilidade de aceder de forma privilegiada ao vasto mercado espanhol, propiciam o desenvolvimento do sector de vestuário na Galiza. Esta evolução potenciou a focalização nas actividades do retalho, inibindo o desenvolvimento ao nível da indústria têxtil de base e, consequentemente, restringindo a relevância dos têxteis técnicos na indústria da região, ou mesmo do têxtil lar, sectores onde a indústria do Norte de Portugal é assumidamente mais expressiva. Outro aspecto a considerar no desenvolvimento favorável do sector de vestuário na Galiza, prende-se com o menor número de trabalhadores que as empresas da região empregam, o que, aliado ao menor número de empresas verticalmente integradas, limita os custos e a dependência associados com as actividades a montante. Efectivamente, a focalização nas actividades a jusante, associadas a valores acrescentados superiores, a independência em relação a actividades a montante e os menores custos fixos, são factores que beneficiam a flexibilidade organizacional, tão necessária em períodos de abrandamento económico. Pese embora estas vantagens relativas, a indústria têxtil e vestuário galega está a registar dificuldades em quatro áreas críticas, identificadas pela COINTEGA: (i) consumo, a diminuição do consumo no mercado espanhol, afecta de forma significativa grande parte das empresas galegas, cujas vendas estão fundamentalmente concentradas no mercado interno; (ii) custos, fundamentalmente os associados com a subutilização da capacidade instalada, resultado da diminuição no volume de negócios; (iii) capital, os reflexos da crise financeira são sentidos na maior dificuldade para a obtenção de crédito, muitas vezes fundamental para o financiamento das operações; e (iv) canais, a quebra do consumo e a maior dificuldade na concessão de crédito resultam em dificuldades acrescidas para os retalhistas multimarca, limitando as compras e diminuindo o número de actores intervenientes. Página 58 de 74 A actual conjuntura em que se encontra a indústria têxtil e vestuário no Norte de Portugal e na Galiza, advém das mudanças que ocorreram ao longo dos últimos anos, associadas fundamentalmente com a conclusão do Acordo sobre os Têxteis e Vestuário (ATV). O fim deste acordo marcou a liberalização completa das importações, em termos quantitativos, de têxteis e de vestuário nos principais mercados internacionais. Esta livre circulação de produtos, provenientes de origens com baixos custos (como: China ou Índia), veio afectar negativamente, e de forma intensa, os produtores de vestuário europeus. Por outro lado, devese também entrar em consideração com o contínuo processo de globalização, o qual tem como consequência directa a deslocação de diversas empresas. Por outro lado, também ao nível do mercado europeu foi registado um acréscimo da concorrência, com o alargamento da União Europeia a diversos países de Leste, nos quais o custo da mão-de-obra torna mais rentável a produção nessas regiões. Este alargamento originou que estas economias, nas quais a indústria têxtil e vestuário possui um peso considerável, ponderassem as suas estratégias de forma a responder às necessidades do mercado europeu. Também a conjuntura económica, com reflexos globais ao nível da diminuição generalizada do consumo, originou dificuldades acrescidas para as empresas têxteis e de vestuário das duas regiões, com efeitos marcantes a partir do segundo semestre de 2008. 7.1. Comparação entre a indústria nas duas regiões Com base na análise individual da indústria têxtil e vestuário de cada uma das regiões, realizada na Secção 4.2 para a região Norte de Portugal e na Secção 5.2 para a Galiza, são analisados nesta secção alguns dos principais indicadores de forma comparativa. A Tabela 20 apresenta a evolução do volume de produção da indústria têxtil e vestuário nas duas regiões. Com base nos dados apresentados, é notório o valor significativamente superior do volume de produção na região Norte de Portugal, o qual em 2007 foi quase quatro vezes superior ao da Galiza. Página 59 de 74 Tabela 20: Comparação da evolução do volume de produção na indústria têxtil e vestuário Região Evolução anual do volume de produção (1.000 euros) 2007 2006 2005 2004 5.684.974 5.729.784 5.697.041 6.136.091 Galiza 1.428.450 1.452.209 Fonte: INE (dados do Norte de Portugal); IGE (dados da Galiza) 1.229.285 1.133.847 Norte de Portugal Com base nos dados apresentados na Tabela 20 e ilustrados no gráfico da Figura 6, verifica-se uma tendência distinta na indústria têxtil e vestuário das duas regiões, pois no caso do Norte de Portugal regista-se uma evolução tendencialmente negativa, enquanto na Galiza se verifica uma maior estabilidade na evolução do volume de produção. Figura 6: Comparação da evolução do volume de produção na indústria têxtil e vestuário Fonte: INE (dados do Norte de Portugal); IGE (dados da Galiza) A Tabela 21 apresenta a evolução do valor acrescentado bruto (VAB) para as empresas têxteis e vestuário das duas regiões. Página 60 de 74 Tabela 21: Valor acrescentado bruto das empresas têxteis e vestuário Evolução anual do VAB (1.000 euros) Região 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 - - - - Norte de Portugal 1.841.591 1.822.978 1.853.563 1.998.226 Galiza 680.609 650.384 595.783 Fonte: INE (dados do Norte de Portugal); IGE (dados da Galiza) 572.884 594.171 561.169 479.462 Com base na análise da evolução do VAB, verifica-se uma evolução nitidamente crescente nas empresas galegas, quando comparamos o período de 2000 a 2006. Efectivamente, ao analisarmos os dados desta região, e recorrendo aos dados de 1995 (onde o VAB cifrou-se em cerca de 215 milhões de euros), verifica-se uma evolução muito acentuada neste indicador. No entanto, em termos agregados e apesar da evolução negativa neste indicador por parte das empresas da região Norte de Portugal, o VAB gerado pelas empresas da região portuguesa é muito superior ao das suas congéneres galegas. A Tabela 22 apresenta a comparação do número de empresas entre as duas regiões, considerando os dados relativos ao período de 1999 a 2007. Tabela 22: Comparação do número de empresas N.º de empresas Região (NUTS II) 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 Norte Portugal 3.885 4.083 4.306 4.303 3.283 3.517 3.379 3.318 479 458 445 388 370 349 342 365 8.257 8.300 8.670 8.933 9.239 9.270 6.971 7.536 Galiza 1.383 1.429 1.453 1.455 Fonte: INE (dados do Norte de Portugal); IGE (dados da Galiza) 1.474 1.512 1.555 1.537 Sector Têxtil Vestuário Galiza Norte Portugal A tabela evidencia a dimensão dos sectores no Norte de Portugal, no que se refere ao número de empresas no sector têxtil e no sector do vestuário. O gráfico da Figura 7 ilustra os dados apresentados na Tabela 22. Página 61 de 74 Figura 7: Gráfico com a comparação do número de empresas Fonte: INE (dados do Norte de Portugal); IGE (dados da Galiza) A Figura 8 apresenta o mapa com a distribuição das empresas têxteis nas doze sub-regiões NUTS III que compõem a Galiza e o Norte de Portugal. Conforme se encontra ilustrado nesta análise, verifica-se uma acentuada concentração de empresas nas regiões portuguesas do Ave (PT113), Cávado (PT112), Grande Porto (PT114) e Tâmega (PT115). As restantes oito subregiões, encontram-se no intervalo de até 340 empresas, embora existam diferenças acentuadas nestas regiões, onde o número de empresas varia desde as 17 localizadas em Lugo (ES112) até às 290 localizadas em A Coruña (ES111). Página 62 de 74 Figura 8: Mapa da distribuição das empresas têxteis Distribuição das empresas têxteis (2007) Região N.º Empresas Norte de Portugal 3885 Minho-Lima PT111 91 Cávado PT112 728 Ave PT113 1699 Grande Porto PT114 687 Tâmega PT115 473 Entre Douro e Vouga PT116 146 Douro PT117 29 Alto Trás-os-Montes PT118 32 Galiza 479 A Coruña ES111 290 Lugo ES112 17 Ourense ES113 24 Pontevedra ES114 148 ES111 ES112 ES114 ES113 PT111 PT112 PT118 PT115 PT117 PT116 1360 - 1700 1020 - 1360 680 - 1020 340 - 680 0 - 340 Fonte: INE (dados do Norte de Portugal); IGE (dados da Galiza) À semelhança do exposto para as empresas têxteis, o mapa da Figura 9 ilustra a distribuição das empresas de vestuário nas doze sub-regiões NUTS III. Embora seja também evidente a elevada concentração de empresas nas sub-regiões portuguesas do Ave (PT113), Cávado (PT112), Grande Porto (PT114) e Tâmega (PT115), salienta-se ainda a sub-região galega de A Coruña (ES111). De referir ainda que, no intervalo de menor densidade de empresas (menos de 602), existe uma variação acentuada, que vai desde as 54 empresas da sub-região do Douro (PT117) até às 397 empresas da sub-região de Pontevedra (ES114). Página 63 de 74 Figura 9: Mapa da distribuição das empresas de vestuário Distribuição das empresas de vestuário (2007) Região N.º Empresas 8.257 Norte de Portugal Minho-Lima PT111 309 Cávado PT112 2.066 Ave PT113 3.010 Grande Porto PT114 1.608 Tâmega PT115 963 Entre Douro e Vouga PT116 183 Douro PT117 54 Alto Trás-os-Montes PT118 64 Galiza 1.383 A Coruña ES111 765 Lugo ES112 81 Ourense ES113 140 Pontevedra ES114 397 ES111 ES112 ES114 ES113 PT111 PT112 PT118 PT115 PT117 PT116 2408 - 3010 1806 - 2408 1204 - 1806 602 - 1204 0 - 602 Fonte: INE (dados do Norte de Portugal); IGE (dados da Galiza) Em termos da evolução do número de empresas nos sectores, verifica-se uma acentuada tendência decrescente no número de empresas do sector de vestuário e a queda mais ligeira no número de empresas do sector têxtil do Norte de Portugal, cuja variação contrasta com a relativa estabilidade do número de empresas na Galiza. Em relação às empresas do sector têxtil, a Tabela 23 apresenta a repartição por subsector de actividade, comparando o número de empresas localizadas em cada região. Página 64 de 74 Tabela 23: Distribuição das empresas têxteis por sector de actividade N.º empresas (2007) Norte de Portugal Galiza Quantidad Quantidad Proporção Proporção e e 109 2,81% 8 1,67% Sector de actividade Preparação e fiação de fibras têxteis Tecelagem de têxteis 239 6,15% 2 0,42% Acabamento de têxteis Fabricação de artigos têxteis confeccionados, excepto vestuário Outras indústrias têxteis 436 11,22% 35 7,31% 893 22,99% 203 42,38% 1.219 31,38% 206 43,01% Fabricação de tecidos de malha 283 7,28% 16 3,34% Fabricação de artigos de malha 706 18,17% 9 1,88% Fabricação de têxteis (total de empresas) 3.885 Fonte: INE (dados do Norte de Portugal); IGE (dados da Galiza) 100% 479 100% Na comparação expressa na Tabela 23 entre as duas regiões, salienta-se a reduzida dimensão no número de empresas de tecelagem na Galiza, mesmo em termos relativos ao número total de empresas, bem como a maior proporção de empresas no Norte de Portugal, dedicadas ao subsector das malhas. A Tabela 24 apresenta a comparação das exportações de têxteis e vestuário das duas regiões, com a indicação da designação do tipo de produto, a respectiva Nomenclatura Combinada (NC), o valor das exportações portuguesas e galegas, bem como a respectiva proporção e variação em relação ao ano anterior. Página 65 de 74 Tabela 24: Comparação entre o total de exportações de têxteis e vestuário de Portugal e da Galiza Total de exportações (2007) em 1.000 de euros NC Portugal Designação Galiza 657 0,02% ∆ (2007/06) -10,73% 13.645 0,57% ∆ (2007/06) 1,86% 95.832 2,23% 8,94% 32.330 1,35% 15,60% 179.604 4,17% 3,59% 101.164 4,22% 18,36% 5.321 0,12% 34,71% 5.545 0,23% -12,39% Filamentos sintéticos ou artificiais 72.415 1,68% 16,63% 34.420 1,44% 17,85% 55 Fibras sintéticas ou artificiais desc. 236.471 5,49% -2,50% 37.191 1,55% 50,56% 56 Pastas, feltros, artigos de cord., etc 175.100 4,07% 15,05% 15.369 0,64% 16,66% 57 Tapetes e outros revestimentos 80.020 1,86% 9,72% 2.018 0,08% 125,89% 58 Tecidos especiais e tufados 87.732 2,04% 39,61% 14.409 0,60% -41,10% 59 Tecidos impregnados, etc 117.423 2,73% -2,62% 2.161 0,09% 76,05% 60 Tecidos de malha 56.300 1,31% 9,80% 3.496 0,15% -1,58% Vestuário e acessórios de malha 1.748.809 Vestuário e acess. excepto de 62 857.634 malha Outros artigos têxteis 63 590.795 confeccionados TOTAL 4.304.113 Fonte: INE (dados de Portugal), IGE (dados da Galiza) 40,63% 5,72% 805.857 33,63% 15,89% 19,93% 4,22% 1.300.208 54,26% 12,87% 13,73% -2,37% 28.257 1,18% 44,48% 100,00% 4,65% 2.396.069 100,00% 14,25% Valor 50 Artigos de seda 51 Artigos de lã 52 Artigos de algodão 53 Outras fibras têxteis vegetais 54 61 Proporção Valor Proporção Com base na análise da Tabela 24, verifica-se que o volume das exportações portuguesas de produtos têxteis são superiores às da Galiza para a generalidade das categorias, com a excepção dos artigos de seda (50), outras fibras têxteis vegetais (53) e no vestuário e acessórios excepto de malha (62). A Tabela 25 segue a mesma lógica da informação apresentada na tabela anterior, mas em relação às importações de têxteis e vestuário. Página 66 de 74 Tabela 25: Comparação entre o total de importações de têxteis e vestuário de Portugal e da Galiza Total de importações (2007) em 1.000 de euros NC Designação Portugal Valor 50 Artigos de seda 51 Galiza Proporção ∆ (2007/06) Valor Proporção ∆ (2007/06) 13.650 0,41% 2,37% 25.260 1,32% -1,42% Artigos de lã 149.094 4,47% 7,30% 43.638 2,28% -0,92% 52 Artigos de algodão 523.217 15,70% -4,54% 112.732 5,90% 5,47% 53 Outras fibras têxteis vegetais 29.710 0,89% -1,05% 13.277 0,69% 38,90% 54 Filamentos sintéticos ou artificiais 266.118 7,98% 1,42% 40.290 2,11% 16,25% 55 Fibras sintéticas ou artificiais desc. 238.862 7,17% 5,04% 57.362 3,00% 7,89% 56 Pastas, feltros, artigos de cord., etc 65.754 1,97% 2,17% 16.380 0,86% 8,81% 57 Tapetes e outros revestimentos 65.386 1,96% 11,20% 12.907 0,68% 21,88% 58 Tecidos especiais e tufados 58.920 1,77% -11,93% 12.083 0,63% -46,51% 59 Tecidos impregnados, etc 107.156 3,22% -10,85% 13.978 0,73% 28,11% 60 Tecidos de malha 91.933 2,76% -3,72% 11.855 0,62% 25,55% Vestuário e acessórios de malha 796.589 Vestuário e acess. excepto de 62 786.984 malha Outros artigos têxteis 63 139.492 confeccionados TOTAL 3.332.865 Fonte: INE (dados de Portugal), IGE (dados da Galiza) 23,90% 21,87% 576.383 30,17% 7,66% 23,61% 12,92% 921.059 48,21% 23,09% 4,19% 28,86% 53.437 2,80% 26,27% 100,00% 8,04% 1.910.643 100,00% 14,51% 61 No que se refere às importações apresentadas na Tabela 25, verifica-se também que o valor das importações portuguesas é superior para a generalidade dos produtos, com a excepção dos artigos de seda (50) e do vestuário e acessórios excepto de malha (62). Considerando as diferenças entre as regiões comparadas, as excepções identificadas são relevantes na análise comparativa do comércio externo. Com base nos dados actualizados disponíveis, foi construído o diagrama da Figura 10, onde se encontram representados os fluxos comerciais de têxteis e vestuário entre a Galiza e Portugal e entre Portugal e Espanha. Página 67 de 74 Figura 10: Mapa das trocas comerciais Comércio de têxteis e vestuário (2008) Comércio de têxteis e vestuário (2008) Galiza - Portugal Portugal - Galiza Trocas comerciais (1.000 euros) Região Têxtil Galicia Trocas comerciais (1.000 euros) 129.877,7 293.050,0 A Coruña ES111 109.341,9 272.224,3 Lugo ES112 987,4 386,7 Ourense ES113 1.890,3 11.623,9 Pontevedra ES114 17.658,1 8.815,0 Proporção das trocas comerciais Região Têxtil Galicia Região Vestuário Vestuário 100,00% 100,00% A Coruña ES111 84,19% 92,89% Lugo ES112 0,76% Ourense ES113 Pontevedra ES114 Têxtil Galicia Comércio de têxteis e vestuário (2008) Portugal - Espanha € 1.022.474.150 Comércio de têxteis e vestuário (2008) Espanha - Portugal € 1.115.542.485 Vestuário 102.611,8 262.411,6 218.974,8 A Coruña ES111 63.676,8 Lugo ES112 919,9 432,8 Ourense ES113 15.993,5 10.887,1 Pontevedra ES114 22.021,7 32.116,9 Proporção das trocas comerciais Região Têxtil Galicia Vestuário 100,00% 100,00% A Coruña ES111 62,06% 83,45% 0,13% Lugo ES112 0,90% 0,16% 1,46% 3,97% Ourense ES113 15,59% 4,15% 13,60% 3,01% Pontevedra ES114 21,46% 12,24% Fonte: INE (dados de Portugal), IGE (dados da Galiza) As importações de têxteis e vestuário com origem na Galiza, representam 37,9% do total das importações portuguesas, destes sectores, com origem em Espanha. Por outro lado, as exportações portuguesas de têxteis e vestuário, que têm como destino a Galiza, representam 35,7% do total das exportações com destino a Espanha. No que se refere às trocas comerciais entre Portugal e a região da Galiza, o destaque é assumido pela sub-região de A Coruña, quer ao nível da exportações (sendo responsável por mais de 84% das exportações de têxteis e por mais de 92% das de vestuário) quer das importações (62% das importações de têxteis e mais de 83% das de vestuário). É ainda de salientar o valor bastante superior das exportações e importações galegas de vestuário, relativamente aos têxteis, cuja proporção é mais do dobro. 7.2. Comparação entre as empresas das duas regiões Com base na análise individual das principais empresas localizadas nas duas regiões, realizada na Secção 4.3 para a região Norte de Portugal e na Secção 5.3 para a Galiza, são Página 68 de 74 comparados nesta secção alguns dos principais indicadores das principais empresas que compõem a indústria têxtil e vestuário nas duas regiões. A Tabela 26 apresenta a comparação entre as sete maiores empresas (em termos de volume de negócios) das duas regiões, considerando os dados do ano 2006. Tabela 26: Comparação entre as maiores empresas do Norte de Portugal e da Galiza Empresa Região Volume de Negócios (€) 2006 Adolfo Dominguez, S.A. G 170.384.419 Sociedad Textil Lonia, S.A. G 159.822.215 Lameirinho - Indústria Têxtil, S.A. NP 77.373.000 Caramelo, S.A. G 73.408.953 Irmãos Vila Nova, S.A. NP 70.007.000 Fábrica Têxtil Riopele, S.A. NP 64.525.000 Polopique - Comércio e Indústria de Confecções, Lda. NP 52.103.000 Somelos - Tecidos, S.A. NP 50.681.000 Indústria Têxtil do Ave, S.A. NP 48.120.000 Roberto Verino Difusion, S.A. G 41.445.092 Selmark, S.L. G 22.982.042 Florentino Coleccion, S.L. G 20.780.679 TOTAL (GALIZA) G 488.823.400 TOTAL (NORTE DE PORTUGAL) NP 362.809.000 NOTA 1: valores do volume de negócios das empresas do Norte de Portugal estão arredondados aos milhares NOTA 2: as empresas associadas ao Grupo Inditex, não foram incluidas nesta análise Legenda: NP: indica empresa do Norte de Portugal; G: indica empresa da Galiza Fonte: EXAME (dados Norte de Portugal); ARDÁN (dados Galiza) Com base nos dados apresentados na Tabela 26, a Figura 11 relaciona o volume de negócios total (dados relativos ao exercício de 2006) das principais empresas das duas regiões (excluindo as relacionadas com o Grupo Inditex). Conforme se evidencia, no que se refere às principais empresas, existe uma maior relevância das empresas da Galiza, relativamente às comparáveis localizadas no Norte de Portugal. Página 69 de 74 Figura 11: Comparação do volume de negócios entre as maiores empresas das duas regiões Em relação à presença de empresas de vestuário com marca própria, entre as principais empresas das duas regiões, contrastando com as empresas da Galiza, a presença do Norte de Portugal está limitada à marca Salsa (detida pela empresa Irmãos Vila Nova, S.A.), sendo ainda de destacar (com base no volume de negócios de 2005) a marca Decénio (detida pela empresa Ricon Industrial – Produção de Vestuário, S.A.). No computo geral, e excluindo as marcas do Grupo Inditex, a Adolfo Dominguez e a Sociedad Textil Lonia (com a marca Purificación García) encabeçam a listagem de forma destacada. Uma das dissemelhanças mais notória entre a indústria têxtil e vestuário das duas regiões, encontra-se no desenvolvimento e produção de produtos técnicos. Enquanto na região Norte de Portugal existe uma aposta, por parte de diversas empresas de maior dimensão, nos produtos técnicos, na Galiza não se encontram referências de relevo nesta área produtiva. Página 70 de 74 8. Considerações finais A indústria têxtil e vestuário localizada no Norte de Portugal, possui uma dimensão significativamente superior à localizada na Galiza e abrange mais áreas de actividade. Mesmo considerando a maior dimensão geográfica da região da Galiza, o Norte de Portugal possui uma densidade de empresas bastante superior. Considerando o número agregado de empresas têxteis e de vestuário em 2007, a região Norte de Portugal possuía uma densidade de 0,58 empresas por quilómetro quadrado, enquanto na Galiza, este indicador é de apenas 0,06 empresas. Esta maior densidade industrial possui reflexos ao nível da relevância relativa dos sectores no panorama industrial da região, possuindo os sectores têxtil e vestuário uma relevância muito superior na região Norte de Portugal. No que se refere à divulgação e reconhecimento das marcas, a Galiza apresenta dois aspectos diferenciadores. O primeiro está associado com a presença do Grupo Inditex, cuja expressão é reconhecida e inquestionável em termos internacionais e cuja concentração no território da Galiza, confere uma elevada expressão ao sector galego, mas não se encontram outras empresas na região que possam ser minimamente equiparadas. O segundo está associado a um conjunto restrito de empresas, que possuem uma imagem e reconhecimento internacional, e uma forte componente de moda, incluindo-se neste grupo marcas como: Adolfo Dominguez, Purificacion Garcia ou Caramelo, mas também a uma escala menor: Roberto Verino, Antonio Pernas (pertence ao Grupo Caramelo) ou Kina Fernández. A generalidade das marcas galegas, à semelhança do que aconteceu com a marca Zara do Grupo Inditex, concentram a sua expansão, numa fase inicial, no mercado galego e espanhol, beneficiando da dimensão, do poder de compra e da apetência do consumidor espanhol pelos produtos nacionais. Numa eventual segunda fase, desenvolvem o processo de internacionalização, no qual o mercado português é um passo lógico (fundamentalmente nas principais cidades do país) pela proximidade geográfica e cultural, mas também o mercado mexicano e da América Latina em geral, com diversas empresas galegas a possuírem pontos de venda nestes países. No que refere às diversas marcas de vestuário detidas por empresas do Norte de Portugal e com presença directa no retalho, salienta-se o caso da Salsa e da Decénio, embora existam diversos nomes de relevo, como: Onara, Ana Sousa, Throttleman, River Woods, Red Oak, Página 71 de 74 Mike Davis, Tiffosi, Impetus e Petit Patapon. No entanto, existem diversas empresas no Norte de Portugal que concebem e comercializam produtos com marca própria, embora não possuam uma presença expressiva no mercado de retalho. Para além da representatividade do conjunto da indústria têxtil e vestuário, as duas regiões salientam-se ainda pela sua dimensão social, nomeadamente a sua população relativamente significativa, com mais de 6,5 milhões de habitantes, representando mais de 11,3% da população da Península Ibérica. Além disso, é também de salientar a dimensão ao nível económico, sendo as duas regiões responsáveis por mais de 8% do PIB da Península Ibérica. Relativamente à estrutura industrial, a diferença mais acentuada encontra-se no sector têxtil, onde se verificam deficiências relevantes na indústria galega. Salientam-se as lacunas ao nível da fiação, tecelagem e tricotagem, as quais podem facilmente ser complementadas pela oferta das empresas localizadas na região Norte de Portugal. Entre as diversas áreas de desenvolvimento simbiótico entre as duas regiões, afigura-se ainda o interesse em explorar a ligação, cada vez mais evidente, entre a componente moda e os produtos técnicos. Embora esta ligação já seja explorada por diversas empresas do sector, nomeadamente na aplicação em produtos seamless, é licito considerar que na Galiza, com a especialização no retalho e na componente moda, o conhecimento técnico e a sua incorporação no produto, podem estar subaproveitados. Página 72 de 74 Referências Abernathy, Frederick H.; Volpe, Anthony; Weil, David (2004). The apparel and textile industries after 2005: prospects and choices. Harvard, Harvard Center for Textile and Apparel. Abernathy, Frederick H.; Volpe, Anthony; Weil, David (2005, December 22, 2005). "The future of the apparel and textile industries: prospects and choices for public and private", disponível em: www.hctar.org. Amador, João; Opromolla, Luca David (2009). 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