Modelo de interação inclusivo para smartphones com tela

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Modelo de interação inclusivo para smartphones com tela
Modelo de interação inclusivo para smartphones
com tela sensível ao toque (touchscreen)
Claudinei Martins*, Lara Schibelsky Godoy Piccolo, Mateus Pereira Dias, Henrique Meira Costa
Este artigo apresenta um modelo de interação que viabiliza e aprimora o acesso à comunicação e à
informação através de smartphones com telas touchscreen por pessoas com deficiência visual, cegos ou
com baixa visão, idosos e pessoas com baixo letramento. A solução, apoiada por síntese de voz,
consiste em uma associação de reconhecimento de gestos e toques com a formatação de tela
simplificada e padronizada, o que permite ao público-alvo interagir com as aplicações de forma
autônoma.
Palavras-chave: Acessibilidade. Modelo de interação. Interação Humano-Computador. Inclusão digital.
Deficiente visual.
Introdução
Análises da evolução tecnológica e das
tendências da microeletrônica para dispositivos
de interação com usuários apontam para a
substituição dos teclados físicos (tipo membrana,
sensitivos, capacitivos, piezelétricos, entre
outros) por telas sensíveis ao toque (telas
touchscreen).
Essa
tendência
tem
sido
observada
principalmente em dispositivos móveis do tipo
smartphone, com telas que ocupam grande parte
da face frontal dos celulares, com o intuito de
maximizar a área útil de apresentação e melhorar
a ergonomia para os toques. Os modelos de
smartphone atuais considerados top de linha
seguem essa tendência.
Paralelamente, os números do mercado
brasileiro de telefonia celular impressionam. Em
julho deste ano, o Brasil alcançou a marca de
256 milhões de linhas ativas de celular (ANATEL,
2012) – mais de um celular por habitante. E os
indicadores de venda de dispositivos móveis
demonstram a popularização dos celulares: em
2011 foram comercializados 8,9 milhões de
unidades e a estimativa é que esse número
chegue a 15,4 milhões de unidades em 2012
(IDC BRASIL, 2012).
Apesar de serem considerados objetos de desejo
de parte da população, esses artefatos
caminham numa direção desfavorável para
determinados públicos. Entre eles, pessoas com
deficiências visuais, que geralmente utilizam o
tato para se orientar no teclado físico, pessoas
idosas que têm dificuldade na utilização e
assimilação de novas tecnologias, bem como
pessoas pouco letradas ou analfabetas. Isso
ocorre por conta da complexidade e da tendência
tecnológica das telas de toque.
A inclusão das pessoas com deficiência visual,
em especial, exige o desenvolvimento de
soluções que superem as barreiras naturais
criadas pela ausência da visão na entrada de
dados,
provendo
alternativas
a
outros
dispositivos
com
características
físicas
marcantes, como, por exemplo, teclados e
joysticks (NORMAN, 2010).
A fim de propor uma solução de interação com
características adequadas a esse público, um
grupo de deficientes visuais (cegos e pessoas
com baixa visão) tem participado continuamente
do processo de análise e desenvolvimento, de
acordo com a abordagem de projeto centrado no
usuário (NORMAN; DRAPER, 1986). Esses
participantes são alunos de informática do Centro
de Prevenção à Cegueira – CPC, entidade que
assessora um grande número de pessoas com
os mais variados graus de deficiência visual em
Americana (SP) e região.
Inicialmente, esses potenciais usuários foram
envolvidos a fim de identificar suas reais
necessidades e expectativas com relação à
utilização de celulares, apontando direções para
o desenvolvimento de uma solução inclusiva. Em
Piccolo et al. (2011), a realização da primeira
oficina de trabalho é descrita, bem como são
apresentados os principais direcionamentos
resultantes.
Da
mesma
forma,
esses
participantes continuamente validam propostas
de soluções, em diversos estágios do
desenvolvimento
(PICCOLO;
MENEZES;
BUCCOLO, 2011).
Essa dinâmica de desenvolvimento tem sido
fundamental para orientar os projetistas de
soluções que, apesar de conhecerem o públicoalvo, não são capazes de simular o modelo
mental dos deficientes visuais, principalmente o
dos cegos, que constroem maneiras particulares
de representar seu ambiente para execução das
tarefas do dia a dia. Esse modelo mental
compreende
aspectos
de
socialização,
autonomia, flexibilidade, entre outros elementos
contextuais que influenciam o uso e a
apropriação de artefatos, sejam eles digitais ou
não.
*Autor a quem a correspondência deve ser dirigida: [email protected].
Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 8, n. 2, p. 43-48, jul./dez. 2012
Modelo de interação inclusivo para smartphones com tela sensível ao toque (touchscreen)
A construção de um modelo de interação
inclusivo (MARTINS et al., 2012) tem como
objetivo estender o conceito de acessibilidade
para o mundo dos dispositivos móveis,
viabilizando assim a adoção de tecnologias de
ponta também por pessoas com deficiências
visuais.
Para
isso,
são
definidas
e
implementadas operações e funcionalidades
para interpretação de gestos e para a narração
automática de telas, de tal forma que a interação
faça sentido e seja adequada à realidade do
público-alvo da tecnologia.
A promoção da acessibilidade por meio dessas
funcionalidades viabiliza o uso autônomo de
diversos recursos disponíveis nos smartphones,
até então considerados inacessíveis (PICCOLO
et al., 2011). Assim, deficientes visuais, idosos e
pessoas com baixo letramento digital passam a
ter a possibilidade de desfrutar de mais uma
ferramenta tecnológica para promoção da
inclusão social e exercício de cidadania.
As seções subsequentes descrevem o modelo
de interação inclusivo resultante. Para a
elaboração desse modelo, o método consistiu
em:
a) levantamento de trabalhos relacionados e
estado da arte;
b) análise das referências encontradas e sua
aplicabilidade prática em um grupo de
usuários;
c) elaboração de um modelo de interação
implementado em forma de aplicativo de
software e validado por um projeto-piloto;
d) análise dos resultados do projeto e seus
reais benefícios.
Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do
Projeto Framework utilizando síntese de voz para
deficientes visuais em dispositivos móveis, com
recursos do Fundo para o Desenvolvimento
Tecnológico das Telecomunicações (FUNTTEL),
com o objetivo de desenvolver soluções para
deficientes visuais em dispositivos móveis com
tela sensível ao toque.
1
Trabalhos relacionados
A acessibilidade em interfaces touchscreen é
uma preocupação antiga nas pesquisas de
interação humano-computador. Há mais de duas
décadas investigam-se soluções para uso de
dispositivos, como quiosques touchscreen
(BUXTON et al., 1986) e PCs/tablets (BUXTON;
HILL; ROWLEY, 1985). Para Buxton et al (1986),
quando a interação é baseada em gestos
básicos, a tela de toque pode oferecer uma
experiência rica em termos de descoberta,
permitindo aos usuários manipular diretamente
os elementos da tela sem exigir memorização de
comandos de entrada.
O levantamento do estado da arte (PICCOLO et
44
al., 2011; PICCOLO; MENEZES; BUCCOLO,
2011) sugeriu diferentes abordagens para
melhorar a acessibilidade aos deficientes visuais
no contexto móvel. Algumas soluções dependem
de hardware adicional para fornecer feedback e
entrada de dados tátil, geralmente baseados no
sistema Braile (SAMMY HUB, 2006), enquanto
as soluções de software para telas touchscreen
normalmente empregam reconhecimento de
gestos associado e provêm fala, áudio e
feedback tátil como saída.
Kane, Wobbrock e Ladner (2011) propuseram
uma categorização de soluções baseadas em
gestos em três grupos:
a) menu de navegação (menu browsing):
solução baseada na exploração contínua
da tela, deslizando-se o dedo, e na
execução de uma ação por um gesto,
como, por exemplo, toque na tela;
b) gestos
discretos:
associa
ações
específicas a gestos predefinidos.
Solução viável para um pequeno
conjunto de possíveis gestos simbólicos;
c) regiões fixas: regiões específicas da tela,
como, por exemplo, cantos superior e
inferior são mapeadas para reconhecer
gestos predefinidos.
Segundo Nielsen e Norman (2010), a variedade
de combinações de técnicas e a falta de
consistência na navegação entre aplicativos
exigem que usuários assimilem novos modelos
de interação para cada aplicação que utilizam.
Além disso, segundo os autores, a falta de
padronização do uso de gestos pode levar a um
desastre de usabilidade.
Comercialmente, existem algumas soluções
disponíveis para plataformas Apple® e Android®.
Entretanto, o levantamento dos trabalhos
relacionados evidenciou que a acessibilidade
dessas soluções é restrita no contexto brasileiro
por diversos aspectos, tais como o alto custo do
aparelho, do software ou do hardware adicional,
por conta da indisponibilidade no mercado
brasileiro ou ainda pela falta de suporte ao
português falado no Brasil.
O resultado desse levantamento foi evidenciado
na prática durante entrevista inicial com
potenciais usuários, que, apesar de serem
alunos de informática e usuários de computador,
sequer conheciam a possibilidade de usar um
celular baseado em toque ou com leitores de tela
(PICCOLO; MENEZES; BUCCOLO, 2011).
2
Modelo de interação acessível
Criar uma solução que viabilize o uso autônomo
de smartphones touchscreen por pessoas com
deficiências visuais é o grande desafio no
desenvolvimento de um modelo de interação
inclusivo.
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Modelo de interação inclusivo para smartphones com tela sensível ao toque (touchscreen)
Nas oficinas realizadas com os alunos do CPC,
foi possível constatar, na prática, por meio da
interação com outros dispositivos comerciais,
vários desafios apontados na literatura sobre a
interação com os dispositivos touchscreen nos
moldes
em
que
são
disponibilizados
comercialmente. Os principais fatores limitantes
são a falta de consistência entre aplicações, a
complexidade dos comandos, a quantidade de
ícones e funcionalidades disponíveis em cada
tela e, consequentemente, tamanho reduzido dos
ícones ou itens de menu, o que dificulta a sua
localização.
Nesse cenário, foram definidas três diretrizes
básicas para a concepção do modelo de
interação inclusivo para dispositivos móveis
touchscreen:
a) necessidade de simplificação da interface,
para facilitar a localização das informações
na tela;
A utilização de grandes áreas de acesso às
funcionalidades, maiores que os ícones e menus
encontrados comumente nos smartphones,
também facilita a memorização da posição dos
itens na tela, o que contribui com o processo de
aprendizado.
Feedbacks auditivos e vibratórios foram
padronizados, assim como os gestos com o dedo
a serem executados na tela para navegação e/ou
obtenção das informações. São eles:
a) toque simples ou deslizamento contínuo
na tela: narra a opção relativa à posição
da tela que foi tocada ou por onde o dedo
está percorrendo;
b) duplo toque: acessa a função e/ou
informação relativa à posição da tela que
foi tocada;
c) deslizamento da direita para a esquerda:
avança uma página – relacionado ao
nível em que o usuário está (App, Sub ou
Item) – movimento similar ao avançar a
página de um livro;
b) padronização da apresentação das
informações para todas as aplicações,
facilitando o aprendizado;
d) deslizamento da esquerda para a direita:
retrocede uma página – relacionado ao
nível em que o usuário está (App, Sub ou
Item) – movimento similar ao voltar à
página de um livro;
c) priorização das funções dos celulares
identificadas como essenciais para os
deficientes visuais.
Com base nessas diretrizes, um modelo de
interação foi esboçado, dividindo-se a tela em
quatro ou seis áreas (quadrados ou retângulos,
de acordo com o tamanho da tela), de forma que
cada área correspondesse a uma aplicação
importante para os deficientes visuais.
O modelo com seis áreas é apresentado na
Figura 1.
Figura 1 Modelo de tela acessível para
dispositivos móveis com touchscreen
Nesse modelo, foram combinadas as principais
características dos três grupos de soluções
baseadas em gestos na interação (KANE;
WOBBROCK; LADNER, 2011): deslizamento
para exploração da tela, associação específica
de gestos e regiões fixas.
O deficiente visual preserva a lateral física do
aparelho como referência de posicionamento, o
que facilita o deslocamento do dedo para
obtenção da informação. Cada área da tela
representa uma aplicação (App), subaplicação
(Sub) ou informação referente à aplicação (Item),
conforme Figura 1.
e) deslizamento de baixo para cima: narra a
tela em que o usuário está –
funcionalidade “onde estou”;
f) deslizamento de cima para baixo:
cancela a narração corrente que
porventura esteja sendo pronunciada;
g) vibração: indica uma ação inválida.
Todas as ações e interações dos usuários são
narradas através de síntese de fala (Text to
Speech – TTS) adequada ao português falado no
Brasil.
Preservando-se essa coerência e padronização
na navegação de todas as aplicações, evita-se
que o usuário passe por um processo de
aprendizado cada vez que interage com uma
nova funcionalidade.
Em paralelo, nas pesquisas junto ao CPC,
realizou-se um levantamento para identificar as
funcionalidades consideradas mais relevantes
para os deficientes visuais. As funcionalidades
declaradas como essenciais foram:
a) realizar e receber chamadas;
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b) histórico de ligações;
c) contatos telefônicos;
d) enviar e receber mensagens de texto
(SMS);
e) nível da bateria e sinal da operadora;
f) data e hora atual.
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Modelo de interação inclusivo para smartphones com tela sensível ao toque (touchscreen)
Apesar de consideradas básicas por usuários
comuns, essas funcionalidades representam um
ganho de autonomia muito importante no dia a
dia dos deficientes visuais. Durante as oficinas,
por exemplo, foi reportada uma série de
problemas em função da falta de acesso ao nível
de bateria, além de constatada a necessidade de
adquirir outros dispositivos para consultar data e
hora de forma audível ou tátil.
Construído esse cenário, o modelo de interação
foi então tangibilizado em um protótipo de
software para validação prática das premissas
consideradas na construção da solução.
os números telefônicos pela dificuldade em
interagir com a agenda dos celulares. Tendo isso
em vista, essa função permite incluir, excluir,
consultar contatos, além de adicioná-los aos
favoritos, o que facilita a interação com contatos
mais frequentes em chamadas e envio de SMSs.
3
Nível de sinal da operadora e de bateria
Protótipo funcional
Baseado na especificação do modelo de
interação, o protótipo foi desenvolvido na
plataforma Android®, instanciando as seis
funcionalidades consideradas prioritárias pelo
grupo de usuários do CPC.
A Figura 2 apresenta a tela inicial do protótipo e
suas funcionalidades.
Mensagens de texto (SMS)
Funcionalidade que possibilita às pessoas com
deficiência visual ler e enviar mensagens, por
meio da utilização de textos pré-cadastrados
mais frequentes ou da digitação no teclado virtual
acessível.
Esta função permite que os deficientes visuais
obtenham informações de nível de sinal da
operadora móvel e de nível da bateria do
dispositivo móvel. O nível de bateria, em
especial, proporciona ao usuário a possibilidade
de programação prévia de carregamento de
bateria, considerando que os dispositivos móveis
usuais só sinalizam quando já estão muito
próximos do tempo de desligamento automático
do aparelho.
Data e hora
Informa ao deficiente visual a data e hora atual.
4
Figura 2 Tela principal de funcionalidades do
modelo de interação
Realizar chamadas
Permite ao usuário realizar e receber chamadas
telefônicas – A interação com o dispositivo
permite ainda atender as chamadas no instante
em que ocorrem.
Histórico de ligações
Todas as chamadas são registradas nos
telefones celulares para posterior consulta. A
funcionalidade disponibiliza essas informações
para os deficientes visuais classificadas como
chamadas efetuadas, recebidas e não atendidas.
Contatos
Manter uma lista de contatos telefônicos é
fundamental, especialmente para deficientes
visuais que, na maioria dos casos, memorizam
46
Projeto-piloto
Avaliações da interação em laboratório não são
suficientes para validar a solução do modelo de
interação, uma vez que o celular é um dispositivo
que deve ser incorporado à rotina diária de seu
usuário em condições diversas: em trânsito,
dentro de casa, em locais públicos. Nesses
ambientes, o uso do celular “concorre” com
outras atividades, a saber: manusear a bengala,
carregar sacolas, etc.
Por esse motivo, o projeto-piloto representa uma
importante fase do projeto, de forma que as
soluções sejam submetidas a testes em
condições reais de utilização.
Assim, um grupo de nove deficientes visuais do
CPC foi convidado a colaborar voluntariamente
com o projeto, por meio da incorporação do
protótipo em suas atividades diárias.
Esse grupo de voluntários é representativo em
termos de diversidade de faixa etária e
escolaridade, tal como descrito na Tabela 1.
Em fevereiro de 2012, os voluntários receberam
um smartphone com o protótipo da solução
instalado. Aqueles que já possuíam um celular
deveriam substituir os aparelhos atuais pelo
celular do projeto, enquanto o usuário que não
possuía celular deveria incorporar esse
dispositivo no seu dia a dia.
O acompanhamento da utilização foi realizado
através de encontros presenciais mensais. A fim
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Modelo de interação inclusivo para smartphones com tela sensível ao toque (touchscreen)
de estimular o grupo a utilizar os recursos, os
participantes recebiam esporadicamente ligações
e mensagens de texto dirigidas nominalmente a
eles.
Tabela 1 Participantes e perfis
Idade
Escolaridade
Deficiência
Possui
celular
1
50
Ensino Médio
Baixa visão
(10%)
Sim
2
59
Fundamental
Cego
Sim
3
39
Fundamental
Cego
Não
Sim
4
29
Pós-graduado
Baixa visão
(20%)
5
46
Ensino Médio
Cego
Sim
6
20
Graduado
Cego
(recente)
Sim
7
17
Ensino Médio
Baixa visão
(20%)
Sim
8
32
Fundamental
incompleto
Baixa visão
(20%)
Sim
9
60
Fundamental
Cego
Sim
Em relação aos hábitos de uso, medidos através
de entrevistas individuais com os participantes
anteriormente ao piloto e após três meses de
utilização do protótipo, foram obtidos os
seguintes resultados:
a) 55,6% (5 pessoas) dos participantes
aumentaram em três vezes, na média, o
número de chamadas efetuadas por
mês;
b) 66,7% (6 pessoas) dos participantes
passaram a enviar e receber dois SMSs
por semana em média, sendo que
inicialmente
o
uso
dessas
funcionalidades era nulo;
c) 88,9% (8 pessoas) dos participantes
atestaram que a solução proposta atende
plenamente
às
necessidades
relacionadas
à
acessibilidade,
no
contexto
das
funcionalidades
identificadas na pesquisa.
O aumento do número de chamadas e
mensagens de texto (recebidas e efetuadas)
evidencia que o modelo proposto foi considerado
de fato adequado para a promoção da
acessibilidade para esse público alvo. De
maneira subjetiva, a receptividade e o interesse
dos voluntários em colaborar também são
indicadores do valor da solução para promover a
qualidade de vida dessas pessoas, aspecto
fortemente relacionado à autonomia e à vida em
sociedade.
Conclusão
Neste trabalho foram apresentados os aspectos
de desenvolvimento e os resultados de uma
pesquisa que desenvolveu um modelo de
interação acessível e inclusivo para dispositivos
móveis com tela sensível ao toque, considerando
a realidade dos deficientes visuais brasileiros. A
abordagem de projeto centrado no usuário
orientou o desenvolvimento, de forma que
pessoas com deficiência visual participaram
constantemente do processo de construção e
validação das soluções. Esse processo culminou
no modelo de interação e no protótipo de
aplicações que utilizam os conceitos defendidos
na pesquisa.
Ainda no contexto brasileiro, podemos estender
esse tipo de solução para auxiliar outros dois
grandes grupos de cidadãos, os idosos e as
pessoas com baixo letramento. O primeiro grupo
pode apresentar perda gradativa da visão com o
avanço da idade, e ferramentas dessa natureza
podem auxiliar no acesso às tecnologias de
informação e comunicação; o segundo grupo,
dadas as características de baixa alfabetização,
pode beneficiar-se da síntese de voz como
instrumento de apoio à leitura (SMSs, por
exemplo).
Os resultados observados indicam que os
objetivos foram alcançados, uma vez que o
modelo de interação mostrou-se aderente às
necessidades do público-alvo e a implementação
do protótipo atestou, através do projeto-piloto, a
assertividade da solução como um todo. Dessa
forma, o acesso a recursos básicos de telefonia
móvel foi garantido aos deficientes visuais, e
novas funcionalidades podem surgir e evoluir de
acordo com a continuidade das pesquisas.
Agradecimentos
Os autores agradecem o apoio dado a este
trabalho, desenvolvido no âmbito do Projeto
Framework utilizando síntese de voz para
deficientes visuais em dispositivos móveis, que
contou com recursos do Fundo para o
Desenvolvimento
Tecnológico
das
Telecomunicações (FUNTTEL), do Ministério das
Comunicações,
através
do
convênio
no 01.10.0272.01 com a Financiadora de Estudos
e Projetos (FINEP).
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<http://www.samsunghub.com/2006/07/16/touchmessenger-mobile-phone-for-blind/>. Acesso em:
14 set. 2012.
Abstract
This paper presents an interaction model that improves and make it feasible to access information and
communication trough smartphones featured with touchscreen by visually impaired people, blind and
partially sighted, elderly and low literate. The proposed solution consists of a combination of gestures and
touch recognition with a simple and standardized user-interface, adequate for an autonomous interaction
by the target-audience.
Key words: Accessibility. Interaction model. Human-computer interface. Digital inclusion. Person with
visual disability.
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