Aos 55 anos, o engenheiro Gustavo Souto Maior ficou
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Aos 55 anos, o engenheiro Gustavo Souto Maior ficou
Ciclista tardio, mas apaixonado - Da redescoberta em Copenhague aos Granfondos italianos Aos 55 anos, o engenheiro Gustavo Souto Maior ficou impressionado com a quantidade de bicicletas em Copenhague, durante sua participação em uma conferência na cidade. Ele voltou ao Brasil com a decisão de voltar a pedalar, após 25 anos sem montar em uma bike. Hoje, aos 59 anos, Gustavo acumula participações em Audax, Granfondos e muitas amizades que nasceram dos pedais. Revista Bicicleta por Gustavo Souto Maior 28/12/2015 Foto: Gustavo Souto Maior Como eu poderia imaginar que uma viagem a Copenhague pudesse mudar radicalmente a minha vida? Era dezembro de 2009 e eu integrava a delegação brasileira que participava da Conferência do Clima (COP-15). Passei 15 dias na cidade, entupida de gente. Delegações de 192 países lotaram a rede hoteleira. Entre as idas e vindas para o Bella Center, estrutura montada para abrigar a Conferência, onde aconteciam os debates e exposições, o que mais me chamou a atenção foi que não vi um único congestionamento na cidade, nem uma única fila dupla de carros estacionados nas ruas de Copenhague. O segredo? Muito simples: um sistema fantástico de transporte público que inclui trem, metrô e ônibus, em uma cidade onde 40% da população se desloca por meio de... Bicicletas! Mulheres e homens, ricos e pobres, velhos e jovens, operários e executivos, todos circulam nas ciclovias da cidade. Voltei com uma decisão na mala: quando chegasse ao Brasil compraria uma bicicleta e voltaria a pedalar. E assim foi: aos 55 anos voltei a pedalar, após mais de 25 anos sem montar em uma bicicleta. Isto foi uma verdadeira revolução em minha vida. Primeiro, comprei uma bicicleta bem simples, dessas que são vendidas em supermercados. Hoje, tenho três bicicletas equipadas com componentes de ponta. Inicialmente, pedalava 15 km por dia, duas ou três vezes por semana. Hoje, quatro anos depois (59 anos), são em média 1.000 a 1.200 km por mês, mais aulas de spinning, planilhas de treino e seguindo as orientações de uma nutricionista, em giros praticamente diários e participação em vários Audax. Mas a revolução não parou por aí. Uma das primeiras lojas de bicicletas que conheci em Brasília foi a Lazzaretti. O dono, Romolo Lazzaretti, treinador da equipe brasileira paraolímpica de ciclismo, é de família tradicional no ciclismo italiano, proprietária de uma das mais antigas fábricas de bicicletas italianas, fundada em 1916. De uma bela amizade com o Romolo surgiu o que chamo de o ápice da minha breve carreira de ciclista: a participação em Granfondos, provas amadoras que acontecem por toda a Itália e contam com o envolvimento de milhares de ciclistas e uma organização de fazer inveja: apoio mecânico, alimentação, serviço médico, feiras de material ciclístico e visuais cinematográficos dos percursos. Primeiro me aventurei no Granfondo Roma, em outubro de 2013. Já imaginaram 5.500 ciclistas concentrados em frente ao Coliseu? É de arrepiar... Junto com mais 19 ciclistas de Brasília, participei desse que é um dos maiores eventos da modalidade no mundo e que ocorre sempre em outubro na capital italiana. Ansiedade e empolgação, nesse caso, se misturam em proporções superlativas. Um maratonista sonha em correr a Maratona de Nova York ou a São Silvestre. Para o ciclista amador, o Granfondo Roma pode ser a cereja do bolo. A Itália é o berço do ciclismo, de onde saíram alguns dos melhores do mundo. E Roma... Com certeza, uma oportunidade única de conhecer melhor o ciclismo, em uma das cidades mais belas do globo. Uma experiência inesquecível, em todos os sentidos. Mas as aventuras ciclísticas não pararam em Roma. Incentivado novamente pelo Romolo, decidi participar em maio do Granfondo Nove Colli. É o Granfondo mais antigo realizado na Itália, esta última foi a sua 44ª edição. Se você gosta de pedalar, já tem um preparo razoável e quer “respirar” ciclismo ao mesmo tempo em que conhece uma região belíssima, essa é a sua oportunidade. Com largada e chegada na charmosa Cesenatico, região da Emilia Romagna, é uma prova extremamente bem organizada. Esta é a terra natal de Marco Pantani, ciclista mais reverenciado na Itália e considerado um dos melhores de toda a história. São duas as alternativas de percurso: o longo, com 205 km e nove morros a serem superados, e o curto, com 133 km e “apenas” quatro morros. Dessa forma, entende-se a razão do nome Granfondo: grande resistência. A estrutura de Nove Colli envolve 13 pontos de apoio médico com ambulância, 10 pontos de abastecimento de água/alimentação e 12 pontos de apoio mecânico, ao longo de ambos os percursos. Todos os inscritos recebem um chip para cronometragem de seus tempos e ao final ganham uma bela medalha de participação. Muito bem. Agora alguém pode perguntar: por que tanta estrutura numa mera prova de bicicleta que nem conta pontos para campeonato algum? A resposta é dada a partir de outra pergunta: sabe quantos ciclistas alinharam na largada da Nove Colli? Doze mil ciclistas! Sim, eu nunca havia visto tanta bicicleta na minha vida. São quilômetros de ciclistas alinhados em um cenário que jamais vou esquecer. Lindo, empolgante, eletrizante, emocionante. Os números de Nove Colli são realmente impressionantes. Mas a intenção nesse tipo de prova é não só estimular a prática do ciclismo, mas também incentivar o cicloturismo e criar entre os participantes um clima de amizade e união, tendo o Granfondo como pano de fundo. E assim aconteceu. Nessas duas oportunidades fiz ótimas amizades e interagi com diversos ciclistas de outras nacionalidades, principalmente italianos. E a partir de Roma surgiu a Squadra Lazzaretti, grupo de ciclistas brasileiros que se conheceram indo para Roma, cuja amizade e camaradagem se consolidou em Cesenatico, formando um grupo de amigos que pedalam juntos sempre que possível e se encontram para trocar experiências em torno do ciclismo – e também para degustar bons vinhos italianos. Cabe também ressaltar a estrutura montada pela Lazzaretti para dar o máximo de conforto aos ciclistas brasileiros que participaram dos dois Granfondos, Roma e Nove Colli. A começar pelos hotéis, sempre muito bem localizados - o da Nove Colli com uma vista deslumbrante para o mar Adriático - e com espaços específicos para guardar as bicicletas e fazer todo tipo de ajuste mecânico necessário. Outro ponto de suma importância: não precisa levar bicicleta na mala. Isso é uma enorme comodidade, pois, se carregar malas em avião já é algo não muito agradável, imagine carregar bicicletas. Em ambos os Granfondos foram colocadas à disposição bicicletas excelentes da marca Lazzaretti em Roma, e Pinarello em Cesenatico, e mecânicos à disposição para os ajustes e consertos necessários. Fora isso, antes das provas foram realizados treinos para reconhecimento de parte dos percursos, tendo sempre um experiente ciclista italiano como guia. E como a ideia não é só pedalar, mas também conhecer a região do Granfondo, sua cultura, sua gastronomia e sua história, duas vans são colocadas à disposição dos ciclistas para passeios durante o dia e saídas noturnas. Assim conheci Maranello (a terra da Ferrari), Bolonha e Rimini. E não foram poucos os vinhos e massas de excelente qualidade que tive o prazer de saborear. Granfondo, uma aventura que recomendo a todos os que estão pedalando. Bicicleta vicia, e Granfondo também! Para ler mais matérias da Revista Bicicleta, curta nossa página no Facebook ou siga-nos no Twitter.