Por que amamos ou detestamos os objetos? Autor

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Por que amamos ou detestamos os objetos? Autor
Por que amamos ou
detestamos os objetos?
Autor do livro
Design Emocional
Edição 08 |Ago - Set - Out/2014
ISSN 2317 - 9406
Editorial
Expediente:
Editor
Camilo Belchior
Jornalista Responsável:
Cilene Impelizieri 5236/MG
Jornalistas:
Ana Cláudia Ulhôa
Danilo Borges
Pedro Vaz Perez
Pâmilla Vilas Boas
Projeto gráfico e
coordenação gráfica
Cláudio Valentin
Capa:
Divulgação Don Norman
A Revista iDeia é uma publicação da Editora
PlexuDesign, patrocinada pelo Grupo Loja
Elétrica / Templuz, com veiculação gratuita,
não podendo ser vendida.
Sua distribuição é feita para um mailing
seleto de profissionais das áreas afins ao
design e formadores de opinião.
Contato:
[email protected]
Os artigos assinados são de exclusiva
responsabilidade dos autores e não refletem
a opinião da revista.
Mesmo com todas as tecnologias, funcionalidades e usabilidades dos produtos
disponíveis atualmente, eles ainda não são suficientes para satisfazer nossas necessidades como consumidores e usuários do século XXI.
Hoje, queremos ter mais do que o “material”, queremos vivenciar uma nova experiência ao adquirir produtos, ou ao nos relacionar com objetos que já fazem parte
da história de nossas vidas.
Mais do que nunca, o Design Emocional se aprimora com o objetivo de entender e assimilar a significativa relação emocional que temos com os objetos
a nossa volta.
E, foi pensando em entender um pouco mais sobre esse vasto universo, que a
oitava edição da Revista iDeia é dedicada à relação entre design – emoção –
objeto.
Para nossa matéria de capa, convidamos o respeitado professor Don Norman,
considerado por muitos como o papa do design emocional, em função de sua
literatura dedicada a esse tema. Nas entrevistas internacionais buscamos o dinamarquês Martin Lindstrom, autor de vários livros consagrados, entre eles “Brandsense”, que nos fala sobre a relação emocional que temos com as marcas. Ao seu
lado, temos um dos principais defensores do design emocional, Marco van Hout,
integrante do conselho da Design & Emotion Society.
Na seção Perfil, optamos por mostrar o talento de dois jovens brasileiros e promissores profissionais dedicados à relação emocional que temos com os objetos. São
eles os designers Anderson Horta e Pedro Braga.
Na entrevista nacional, convidamos outro talento jovem, o jornalista e pesquisador
Frederick van Amstel, editor do blog Usabilidoido, que vive hoje na Holanda, onde
cursa seu doutorado.
Em Ícones, temos dois grandes designers, conhecidos mundialmente pelo trabalho que realizam, extremamente ligado à relação emocional: Alessandro Mendini
e Stefano Giovannoni.
Na nova seção, “Opinião”, convidamos o arquiteto Dalton Monteiro para nos
falar sobre a relação entre iluminação e emoção! E Trazendo a questão para
o lado material, apresentamos, na seção Projetos, o belíssimo projeto luminotécnico realizado pela arquiteta Mariluce Duque na reforma do teatro mineiro,
Francisco Nunes.
Em Miscelânea, abordamos dois assuntos muito interessantes: o movimento Memphis, importante para a história do design e o projeto Something Good, que fala
sobre a experiência de união do trabalho de designers e artesãos.
Temos ainda ótimas dicas de leitura com Rita Ribeiro, na seção Ler Mais. Em artigos, contamos com a colaboração de três convidados muito queridos: Andrea
Nacacche, Daniel Padilha e Marcelina Almeida.
Como vocês podem perceber, nossa oitava edição está mais do que especial...
Então, só posso desejar uma ótima leitura!
Camilo Belchior
Colaboradores
Andréa Naccache
Psicanalista e estudiosa da ética do processo
criativo, Andréa dirige a pesquisa CRIATIVIDADE BRASILEIRA, realizada com Alex Atala,
Marcelina das Graças de Almeida
os irmãos Campana e Jum Nakao. Além de
Graduação em História (1989), Mestrado
clínica, faz consultoria e treinamento em
em História (1993) e Doutorado em História
inovação. Realizou projetos com: Whirlpool-Ki-
(2007) pela Universidade Federal de Minas
tchenAid, BOX1824, USP, Rico Lins + Studio, Es-
Gerais - Docente nos cursos de graduação
cola Panamericana de Arte e Design, Editora
e pós-graduação da Escola de Design da
Abril e Possible Worldwide. Em 2009, esteve no
Universidade do Estado de Minas Gerais e
MIT para estudos de arquitetura empresarial
professora titular da Sociedade de Ensino
e design. No mesmo ano, lançou o NÚCLEO
Superior Estácio de Sá Ltda. Coordenadora
DE CRIAÇÃO, grupo de pesquisa do processo
do ASI - Arquivo de Som e Imagem, situado
criativo com orientação psicanalítica, em
atividade continuada.
no Centro de Estudos em Design da Imagem
da Escola de Design,UEMG.
Daniel Padilha
Cofundador e estrategista de marca na
Pyrsona BrandHouse, palestrante, professor de
curso livre no Centro Universitário Belas Artes
de São Paulo, professor na Pós-Graduação
da PUC de Minas Gerais, professor convidado
na ESPM/SP e Universidade Estadual de Londrina. É graduado em Comunicação Social
com ênfase em Design e especialista em
Construção de Marca pelo Centro Universitário Belas Artes, MBA Executivo em Gestão de
Marcas pelas Faculdades Integradas
Rio Branco.
Rita Ribeiro
Rita Ribeiro é Doutora em Geografia, pesquisadora na área de culturas urbanas e líder do
grupo de pesquisa Design e Representações
Sociais e professora do Programa de Pós-Graduação em Design na Universidade do
Estado de Minas Gerais – UEMG
pág. 6 - Opinião - Danton Monteiro
Opinião - Danton Monteiro - pág. 7
Luz é emoção
por Pedro Perez
Revista iDeia: Qual a importância do lighting designer num projeto arquitetônico?
Dalton Monteiro: É um parceiro que vem agregar qualidade ao trabalho, valorizar
aquilo que muitos não veem. Num projeto, o arquiteto emprega uma emoção e
uma dinâmica ao trabalho, mas são elementos que precisam ser ressaltados, e é
isso que um bom lighting designer consegue fazer. Ele abre os olhos do espectador.
Ao longo de toda uma vida dedicada à arquitetura, Dalton Gomes Monteiro pôde
observar as transformações, evoluções e permanências nos projetos arquitetônicos em
todo o mundo. Mas, para o arquiteto, se há um campo que realmente ganhou destaque, ao longo das décadas, foi a iluminação. “Luz é emoção. Fazer Lighting Design é
projetar com a própria emoção”, avalia.
Dono de uma carreira profissional marcada por projetos de prestígio – como a sede
social do Jockey Club Brasileiro; o Gabinete da Presidência da República, além de
conceituadas residências e hotéis de luxo por todo o país – Dalton Monteiro concedeu
entrevista exclusiva à Revista iDeia falando sobre a importância do Lighting Design em
projetos arquitetônicos e nos indicou uma de suas referências no campo, o projeto de
um restaurante em Paris, do designer Noé Duchaufour Lawrance.
“Em Paris, no alto da torre de Montparnasse, está instalado o restaurante Ciel de Paris, um misto de design
retrô-futurista e contemporâneo.
Seu teto é inspirado nas bolhas de
champagne, usando fontes distintas de iluminação, direta e indireta.
Sua iluminação é complementada
por pontos na cor laranja, no teto, e
linhas de luz, destacando os móveis,
de tonalidade escura, criando um clima agradável, tanto de dia como de
noite, numa feliz homenagem à Cidade Luz. Reparem no carpete com
desenhos que “espelham” as formas
das luminárias do teto. Móveis modernos dão o ar de contemporaneidade
ao ambiente. Estando em Paris, vale
uma visita.”
Ri: Como um projeto de iluminação bem realizado pode impactar ou melhorar a
vida das pessoas?
DM: Ele destaca os pontos principais desejados pelo autor do projeto, trazendo
mais realismo, mais cor para os detalhes. A emoção é um detalhe importante na
apreciação de uma obra de arte. A iluminação é como se fosse a moldura que
valoriza essa obra prima.
Fotos: Vincent Leroux/Temps Machine
Projeto: Noé Duchaufour Lawrance
pág. 8 - Opinião - Danton Monteiro
Ri: De que forma a iluminação pode mudar
a “alma” de um projeto?
DM: Valorizando essa “alma”. Se desejamos um ambiente tranquilo, calmo,
utilizamos cores suaves; ao contrário,
se queremos estimular sua apreciação,
usamos cores quentes, detalhes vigorosos. A iluminação destaca esse enfoque,
acrescenta mais afirmação, mais certeza
aos ambientes.
Ri: Então, como podemos aproximar o
Lighting Design do conceito de “design
emocional”?
DM: É simples. Luz é emoção. Fazer Light
Design, portanto, é projetar com emoção.
Ri: Quais relações você vê entre estética e
sustentabilidade no Lighting Design?
DM: Metaforicamente, assim como o
trapézio é a sustentabilidade do trapezista,
o projeto luminotécnico é o trapézio do
arquiteto. Utilizando-se dele, o profissional
pode conseguir sempre mais das suas
formas e volumes.
Ri: Como você vê o mercado para o
Lighting Designer no Brasil?
DM: Promissor. Nossos profissionais da
iluminação já são requisitados até para
projetos no exterior. Seus trabalhos costumam ser publicados em revistas especializadas do mundo inteiro. É preciso agora
convencer os compradores de serviços
de arquitetura a aceitarem o investimento
adicional que o Lighting Design agrega ao
Restaurante Convoglia
4.
Foto: divulgação
Opinião - Danton Monteiro - pág. 9
projeto arquitetônico, o que, muitas vezes,
traz, inclusive, retorno financeiro. Temos
que provar ao cliente que pagar mais por
um projeto complementar não é custo, é
investimento.
Ri: Em sua opinião, quais são os principais
designers de iluminação em atividade no
Brasil e no mundo?
DM: Não gosto de citar nomes, para não
me esquecer de ninguém. Mas, contornando as falhas, poderia citar a Esther
Stiller, com quem tive os primeiros contatos na área. Podemos citar, ainda, Peter
Gasper, que, apesar de falecido, ainda é
muito lembrado como o grande parceiro
de Oscar Niemeyer. Os nomes de Carlos
Fortes e Guinter Parschalk também me
vêm à lembrança e, para finalizar, cito a
Rafaela Romitelli, por seu projeto especial
com fitas LED para o Café 7 Molinos, no
Shopping JK, em São Paulo.
Ri: Quais foram os projetos de Lighting
Design mais marcantes e desafiadores da
sua carreira?
DM: Um deles, já bastante antigo, foi para
o salão de convenções do Rio Palace
Hotel, no Rio de Janeiro. Posso citar ainda
os tetos dos salões de convenções do
Golden Tower Hotel, em São Paulo, e o
auditório das Lojas CEM, em Salto (SP). O
mais desafiador, entretanto, está sendo o
da Capela Ecumênica das Lojas CEM, em
fase de conclusão.
pág. 10 - Opinião - Danton Monteiro
Ri: Quais são os desafios da Capela?
DM: Por tratar-se de uma obra sem qualquer vínculo
funcional com a empresa contratante, sendo apenas
mais um item de atendimento aos funcionários, teria que
ser uma obra pequena, sem maior destaque dentro do
parque industrial onde se encontra. Assim, a arquitetura
é pequena, delicada, mas de uma dinâmica forte, que
estou procurando valorizar com a iluminação. Durante o
dia, como sua estrutura e cobertura são todas de vidro, a
luz natural resolve a iluminação. Para o entardecer, entretanto, estou buscando soluções discretas na aparência,
mas significativas em termos luminotécnicos. Vamos ver
como esse desafio vai terminar...
Ri: Fale um pouco sobre seu processo de trabalho no que
concerne ao desenho de iluminação.
DM: Sou um arquiteto voltado, principalmente, aos projetos arquitetônicos e de interiores, e certamente, procuro
Opinião - Danton Monteiro - pág. 11
Fotos: Vincent Leroux/Temps Machine
Projeto: Noé Duchaufour Lawrance
valorizá-los com a iluminação. Dou muita
importância à luz. Porém, como ainda
luto contra a resistência dos clientes na
contratação de um profissional específico,
acabo eu mesmo resolvendo a questão.
Mas, sempre que posso, me consulto com
algum profissional do ramo, das lojas,
ou projetistas de luminárias. Método de
trabalho? Por aproximações sucessivas, isto
é, checando sempre, antes de concluir o
trabalho. Tenho procurado conhecer melhor as lâmpadas e fitas de LED, já que as
incandescentes estão saindo do mercado.
A arquitetura ganha com eficiência e nós,
profissionais, com novas formas e qualidade de luz.
Arquiteto Dalton Monteiro
pág. 12 - EntrevistasNacionais - Frederick van Amstel
EntrevistasNacionais - Frederick van Amstel - pág. 13
O design
e a política do
dia a dia
por Pâmilla Vilas Boas
Quando o pesquisador Frederick van Amstel começou a estudar jornalismo, a Internet ainda despontava no Brasil e ele já acreditava no
potencial revolucionário do meio digital. Na faculdade, ele percebeu que as grandes transformações na comunicação não ocorrem
por causa dos meios, mas por causa das pessoas que os utilizam e
o constroem, a partir de lento processo de mudança cultural. Ao
buscar as pessoas revolucionárias, encontrou a “tribo dos designers”
que, para ele, são os responsáveis por fazer a mudança acontecer
num campo político completamente diferente: o dia-a-dia.
van Amstel é editor do blog Usabilidoido e, atualmente, vive na
Holanda, onde realiza pesquisa de doutorado sobre design participativo na Universidade de Twente. Ele foi jurado dos concursos
IF Design Awards e Peixe Grande e prestou consultoria em Design
de Interação para empresas como Electrolux, InfoGlobo, Magazine
Luiza, Tramontina e Duty Free Dufry. Em entrevista à iDeia, Frederick
aborda como o design, ao invés de empobrecer a atividade humana, pode intervir no desenvolvimento e na valorização das pessoas,
a partir de um pensamento mais expansivo e participativo.
Revista iDeia: Como você define o conceito de design expansivo?
Como ele pode contribuir para o desenvolvimento humano?
Frederick van Amstel: Hoje em dia é cada vez maior o design que,
intencional ou não, empobrece a atividade humana, chegando
mesmo a torná-la desnecessária devido à automação. E, não é
preciso imaginar robôs futurísticos para sacar que o design pode
empobrecer a atividade humana; as redes sociais, os celulares, os
produtos de ostentação e os apartamentos minúsculos já estão aí
para isso. O design expansivo consiste em criar espaços para que as
atividades do dia-a-dia não sejam comprimidas, aceleradas, fatiadas e embaladas em pacotes.
Se as pessoas estão cansadas da rotineira falta de espaço para suas
atividades e os designers estão dispostos a fazer algo a respeito,
então o design expansivo é uma tese relevante. Slow food, intervenções urbanas e produtos afetivos são exemplos atuais do que
eu chamaria de design expansivo. A questão que eu ponho aos
designers e interessados é: que outros tipos de design podemos criar
se focalizarmos no desenvolvimento da atividade humana?
Frederick van Amstel
Fotos: arquivo pessoal
Ri: Com o Design de Interação é possível criar experiências de interação não só na Web. Como ele
pode ser incorporado em outros ramos do design
e em outras áreas do conhecimento?
Fva: Design de interação diz respeito à maneira
como as pessoas podem interagir socialmente por
meio de tecnologias. A maior parte dos especialistas nessa área trabalha com produtos de informação, tais como websites e aplicativos. Porém,
conheço alguns profissionais experimentando essa
abordagem com eletrodomésticos, brinquedos e,
até mesmo ambientes.
Em meu doutorado, estou trazendo minha experiência no design de interação para a arquitetura
e o resultado tem sido bem interessante. Pensar
um prédio como um espaço de interação abre
caminhos para a arquitetura contribuir para o
desenvolvimento de atividades humanas, não
só no quesito estético, mas também no quesito
usabilidade.
Ri: Como o design emocional vem rompendo com
a linha funcionalista do Design, muito influente
no Brasil, que ainda acredita que a forma de um
objeto segue sua função?
FvA: O funcionalismo se propõe a colocar a
função dentro do produto, como se fosse parte
da forma, daí o dito “a forma segue a função”.
Essa abordagem cai por terra quando o usuário
encontra outra função para o produto, que não
aquela pensada pelo designer. A gente faz isso
o tempo todo em nosso dia-a-dia e nem nota. A
função da cadeira não é para alcançar algo no
topo do armário, nem tampouco é função do
armário guardar coisas em seu topo. A cadeira é
projetada para sentar e o armário para guardar
objetos dentro.
Apesar de concordarmos que as funções “originais” são melhores, continuamos a subir na
cadeira e guardar coisas no topo do armário. Isso
porque não agimos racionalmente o tempo todo.
O dia-a-dia, em especial, é o espaço que encontramos para nos aliviar da exigência de racionalidade dos estudos, do trabalho, da economia e
da política.
O design emocional explora essas “outras racionalidades” do ser humano, deixando de lado a
paridade entre forma e função. O resultado do
design emocional, o produto afetivo, não tem
uma função aparente, explicada pela forma.
A forma sequer remete a um símbolo, a outra
pág. 14 - EntrevistasNacionais - Frederick van Amstel
EntrevistasNacionais - Frederick van Amstel - pág. 15
Planejamento colaborativo de
um centro de diagnóstico
coisa. O produto afetivo seduz o usuário
pelo material, pela cor, pelo cheiro, pela
interação, enfim, pela experiência sensorial
imediata que proporciona. Pode não ter
função alguma, mas a gente quer usar.
Isso pode parecer irracional num primeiro
momento, mas, considerando o contexto
de empobrecimento da atividade humana
que mencionei anteriormente, o produto
afetivo pode ser a esperança de começar
uma nova atividade.
Ri: Como o design livre pode contribuir
para uma sociedade mais criativa?
Fva: Design livre tem a ver com meu
lado ativista. Sabemos muito pouco da
origem dos produtos que estão ao nosso
redor - como eles foram projetados, com
quais materiais; qual foi o impacto social e
ambiental da fabricação. Se essas informações estiverem livres para os usuários, eles
podem não só tomar melhores decisões
de compra, como também continuar o
próprio projeto do produto através de
customizações e gambiarras.
Em longo prazo, o design livre levaria a
uma conscientização maior do papel do
design na sociedade, principalmente, do
potencial que oferece para que as pessoas desenvolvam seu potencial criativo no
dia a dia. Ao invés de usar passivamente
um produto do jeito que ele foi projetado
pra ser usado, no design livre o usuário usa
de uma forma diferente, muito mais criativa do que a original.
Diversas iniciativas atuais estão criando
condições para libertar esse potencial criativo do usuário: wiki do produto, código-fonte aberto, impressoras 3D, laboratórios
de colaboração, etc. As consequências
dessas práticas em larga escala não
podem ser antecipadas, mas acredito que
serão positivas.
Visualizando o fluxo de
atividades num centro de
diagnóstico
Ri: O Open Design rompe com algumas ideias fortes no design, como a questão da autoria. Como
essa proposta pode ser absorvida pelos designers
e pelo mercado?
FvA: Embora exista um culto gigantesco à autoria
no design, nem todos os designers estão em busca
de fama. Para a maioria, a motivação principal é
colocar boas ideias no mundo. O problema é que
muitas delas acabam guardadas numa gaveta só
porque o designer não teve recursos para registrá-la, não encontrou um investidor ou não conseguiu
terminar o projeto.
Disponibilizar a ideia num repositório de código
aberto público abre a possibilidade para algum
interessado continuar o projeto. Pode ser que ele
roube a ideia sem dar créditos, mas, pelo menos,
a ideia foi colocada no mundo. Isso não será justo
se alguém ganhar dinheiro com o roubo da ideia,
porém, fará todo sentido se o produto for usado
para fins não lucrativos, ou seja, suprir demandas
sociais não exploradas pelo comércio.
Ri: Por que o open design pode ser considerado
uma proposta política?
FvA: Todo design é uma proposta política, porém,
é da política do dia-a-dia que estou falando.
Disponibilizar o código-fonte do produto é uma
opção que o designer tem de promover a criatividade no dia-a-dia, superando o consumo passivo.
O código-fonte aberto torna o produto um bem
público, podendo ser utilizado para aprender uma
determinada técnica ou para criar novos produtos.
O problema é que no design, o código-fonte não
é suficiente para que isso aconteça. Os desenhos
em 2D ou 3D de um produto não contam toda a
história. Para continuar um projeto, é preciso ter
acesso às decisões que levaram àquele desenho. Por isso, eu prefiro usar o termo design livre
ao invés de open design: é preciso mais do que
disponibilizar códigos-fonte abertos, é preciso
projetar em público e documentar o processo. Isso
sim é uma proposta política revolucionária!
Imagine se os estádios da Copa do Mundo tivessem sido projetados assim? As chances de corrupção seriam muito menores, pois haveria milhões
de fiscais observando o projeto.
pág. 16 - EntrevistasInternacionais - Martin Lindstrom
Por um
marketing mais
emocional
EntrevistasInternacionais - Martin Lindstrom - pág. 17
Martin Lindstrom
Foto: divulgação
por Pâmilla Vilas Boas
Martin Lindstrom revela como
a emoção pode aproximar as
marcas de seus consumidores
Ri: Quais são os principais desafios
das marcas na contemporaneidade?
ML: Existem vários. O principal é
controlar as marcas em um mundo
onde o consumidor está no poder,
não as marcas, que se tornaram
extremamente dependentes da
interação com esses consumidores. E, nesse envolvimento, são
eles que podem fazê-la morrer ou
crescer – basta falar sobre ela nas
mídias sociais.
Quando criança, na Dinamarca,
o jovem Martin tinha apenas um
pensamento: LEGO. O jardim da
família tornou-se sua própria criação,
a LEGOLAND, atraindo visitantes
de diferentes lugares – incluindo os
advogados da empresa de brinquedos. É com essa narrativa, recheada
de emoção, que o publicitário Martin
Lindstron conta por que tornou-se um
dos principais estudiosos sobre marcas
no mundo.
Martin é, hoje, responsável por aconselhar executivos da Corporação
McDonald, Procter & Gamble, Nestlé,
Microsoft Corporation, The Walt Disney
Company, RedBull, GlaxoSmithKline,
PepsiCo, entre outros. Uma das principais autoridades em neuromarketing,
foi eleito, em 2009, como uma das 100
personalidades mais influentes da revista Time. É autor de vários best-sellers
e pioneiro na pesquisa sobre psicologia do consumidor, marketing, marcas
e pesquisa neurocientífica.
Livro best-seller de
Martin Lindstrom ,
em que ele analisa
o que faz com
que as pessoas
comprem.
Foto: divulgação
À iDeia, Martin fala sobre a importância dos aspectos sensoriais e emocionais das marcas, numa época em que
os consumidores têm papel cada vez
mais ativo no futuro das empresas.
Revista iDeia: Qual é o futuro das
marcas?
Martin Lindstrom: Marcas se tornarão
verdadeiramente sensoriais e começarão a apelar, sistematicamente,
para o maior número de sentidos
possíveis. Estudos mostram que quanto
mais sentidos você despertar, mais
você será lembrado. Além disso, há
uma correlação direta entre o número
de sentidos e o nível de lealdade do
consumidor.
Antigamente, o criador de uma
marca talvez tenha tido o controle
de 70% sobre ela. Isso foi reduzido
para 30% e, como a tendência é
continuar caindo, os consumidores
ganham cada vez mais poder.
Ri: Ao mesmo tempo em que estabelecem a relação entre o consumidor e as empresas, a internet e
as mídias sociais também colocam
as companhias em uma situação
vulnerável. Como lidar com isso?
ML: Trabalhar com e não contra
o consumidor. Sempre que me
pedem ajuda para transformar
uma marca, eu digo às equipes
para, em primeiro lugar, passar um
pág. 18 - EntrevistasInternacionais - Martin Lindstrom
EntrevistasInternacionais - Martin Lindstrom - pág. 19
BrandSense, livro de Martin
Lindstron que defende a
utilização dos cinco sentidos
no branding, desde a criação
do produto até sua
comunicação.
tempo nas casas dos consumidores – viver
com eles – e, em seguida, trazer à tona
seus pensamentos. Poucas empresas no
Brasil realmente vivem com o consumidor.
Em vez disso, têm uma tendência a ler
relatórios e olhar para as estatísticas nos
escritórios.
Depois de visitar os consumidores, é preciso
se envolver com eles, interagir e iniciar um
diálogo. Dessa forma, você descobrirá
não só o que eles pensam, como também
conhecerá seu paladar, visão de vida e
de esperança. Também será natural ter
um contato constante com eles, a fim de
obter um sentido para o que é certo e o
que é errado em sua comunicação. Isso
ajudará as empresas a saírem de situações
vulneráveis em que muitas marcas, em
todo o mundo (e no Brasil), estão vivendo
atualmente.
Ri: Quais são as suas técnicas para construir
marcas em um mundo tão transparente?
ML: Normalmente, gastamos de dois a
três meses vivendo nas casas dos consumidores, antes mesmo de dialogar com
a empresa e com os executivos. A partir
daí, criamos mapas emocionais altamente
sofisticados de vários daqueles humores,
opiniões, preferências e perfis, ajudando-nos a compreender a verdadeira situação
da empresa. É em “campo” que vamos ver
se a marca tem um problema, se há algum
perigo à frente ou se existem oportunidades. E isso precisa ser supervisionado. Então,
levamos o cliente conosco, a fim de fazê-lo
A United Colors of Benetton
criou um estilo ilustrativo
passível de desconstrução,
totalmente independente do
logotipo da empresa.
Foto: Divulgação Benetton
ver, em primeira mão, o que está acontecendo. Na experiência, tudo fica muito
mais convincente do que apenas compartilhar um relatório. O cliente precisa
sentir e compreender a mentalidade do
consumidor e isso não vai ocorrer por meio
de relatórios.
Ri: Por que as marcas são capazes de evocar tantos sentimentos?
ML: Porque se tornam um símbolo para
outros aspectos de nossas vidas, que
significam algo para nós. Um carro não é,
necessariamente, um veículo de transporte, mas um meio para os homens conquistarem as mulheres. É o mesmo caso de um
perfume, por exemplo. O fato é que as
grandes marcas têm a capacidade de se
adaptar e conectar emoções para além de sua proposição. Ao
longo do tempo, essas emoções se tornam tão integradas que o
produto, de repente, não é apenas um carro, um perfume ou um
papel toalha, mas o espelho de emoções que se relacionam com
a nossa vida.
Ri: Como o Design Emocional tem contribuído para essas novas
relações entre objetos, marcas e usuários?
ML: Tem contribuído bastante e continuará a fazê-lo no futuro.
Como mais esforços serão colocados em projetos de produtos,
comunicação e ambientes sensoriais, as pessoas, consequentemente se envolverão mais, o que levará a uma ligação mais forte
entre consumidores e as marcas.
pág. 20 - EntrevistasInternacionais - Marco van Hout
EntrevistasInternacionais - Marco van Hout - pág. 21
do conselho da Design & Emotion Society e
editor do projeto-emotion.com, plataforma
criada para que profissionais e pesquisadores possam discutir temas marcantes da
experiência emocional no design.
Nesta entrevista, van Hout fala sobre as
pesquisas na área, os passos para um projeto de design emocional e a aplicação
da teoria nas empresas.
Revista iDeia: O que podemos entender por
“design emocional” neste novo século?
Marco van Hout: As emoções desempenham um papel essencial em todo o
período de nossas vidas. O conceito de
emoção se refere a um fenômeno afetivo
particular e específico: um breve episódio
de coordenar um cérebro autônomo e as
mudanças de comportamento, que facilitam uma resposta a um evento externo ou
interno de significância.
Teoria e
prática do Design
Emocional
por Ana Cláudia Ulhôa
Especialista em entender, medir e projetar o impacto emocional em produtos, serviços e interações, Marco van Hout é, atualmente, um dos principais defensores do design emocional.
Com uma carreira voltada para a pesquisa, o designer atua
hoje no projeto Medialab Amsterdã, que realiza pesquisas em
aplicações de mídias interativas, em conjunto com parceiros da
indústria criativa e educação. Também é co-fundador da SusaGroup, que desenvolve e implementa ferramentas de medição,
inovação e métodos de design para otimizar a experiência e o
impacto emocional do usuário. Além disso, Marco é membro
Marco van Hout
Foto: divulgação
Emoções são cruciais para a disciplina de
design devido à sua influência - tanto de
aquisição quanto de comportamento de
uso. Se as pessoas não se sentirem bem,
elas não vão comprar e nem usar o produto/serviço. Poderíamos afirmar que essas
emoções são difíceis de gerenciar, devido
à sua natureza subjetiva.
No entanto, existem princípios universais
sobre a forma que o projeto provoca emoções. Uma vez que um designer entende
esses princípios, ele ou ela é capaz de projetar estrategicamente para um impacto
emocional específico. Chamamos então
de design emocional a “emoção projeto”
(a emoção em si não é projetada, mas sim
as circunstâncias que podem provocá-las).
Ri: Qual é a importância da criação de
uma rede internacional para discutir o
assunto?
MvH: A influência da “qualidade emocional”, nas decisões de compra está
crescendo. As empresas estão sendo
obrigadas a fazer a diferença, a fim de
proporcionar uma experiência completa e
significativa para o consumidor. Em muitos
mercados, os produtos são semelhantes
no que diz respeito às suas características
técnicas, qualidade e preço. Os consumidores, porém, estão à procura de produtos,
marcas e serviços que lhes proporcionem
uma sensação de bem-estar, felicidade ou
que criem uma experiência memorável ou
significativa. Portanto, não é surpresa que
mais e mais empresas estão desafiando
seus designers e departamento de P&D
para, positivamente, manipular o impacto
emocional de seus designs. Para eles, torna-se vital ter uma compreensão profunda
de como os produtos provocam emoções
e como as ferramentas e métodos que
avaliam ou criam o impacto emocional de
um determinado design podem ser usados.
Esse é um fenômeno global e, já há algum
tempo, estudiosos e profissionais de todo
o mundo têm tentado encontrar novas
teorias e maneiras de se trabalhar em torno
desse tema. Nós fornecemos uma plataforma para o intercâmbio de pesquisa,
inspiração e uma rede de colaboração.
Ri: A emoção relacionada com os objetos
pode se tornar previsível e controlável?
MvH: Não. Esse é realmente um dos maiores equívocos sobre o campo. É por isso
que eu prefiro referir-me à disciplina como
motivada pela emoção do design ou “design para emoção”. Como a motivação
do projeto é altamente dependente de interesses pessoais e expectativas, o impacto
emocional de seu projeto pode mudar
instantaneamente, às vezes por causa de
uma associação mais simples que o usuário tem com ele. Tomemos como exemplo
o carro da FIAT Croma, que foi introduzido
na década de 80, na Holanda. Na Itália,
ele foi um sucesso por causa do ajuste que
tinha com o cliente-alvo: os homens. No
entanto, na Holanda, no mesmo momento,
o Croma era também o nome da marca
de uma manteiga de cozimento e foi,
principalmente, anunciada e orientada
para as mães tradicionais. Essa associação
ofuscou a avaliação do carro, esse modelo
da FIAT foi um grande fracasso nos Países
Baixos.
Portanto, eu sempre me estresso quando
eu treino os designers em motivação de
projeto, pois não os oriento apenas para
orquestrar as condições e as interações
pág. 22 - EntrevistasInternacionais - Marco van Hout
EntrevistasInternacionais - Marco van Hout - pág. 23
Ri: Como as organizações podem incentivar seus designers para estarem cientes do
aspecto emocional de produtos e serviços?
MvH: Primeiro de tudo, uma organização
precisa adotar a ideia de que eles terão
de começar a desenvolver um ecossistema em que a empatia para os usuários, a
beleza da criação e a necessidade de profundo questionamento têm um papel central. Se for deixado apenas para os designers “cuidarem”, não haverá produto final,
o que pode ter um impacto significativo
sobre o usuário, seu bem-estar e sentimentos. Gestores, pesquisadores, marqueteiros,
desenvolvedores de negócios, todos eles
deverão ter uma paixão compartilhada e
reconhecimento para o impacto efetivo e
emocional do que eles estão projetando,
produzindo e vendendo. Uma vez constituído esse ecossistema, a organização deve
se certificar de que haja tempo suficiente,
recursos e instalações que possam garantir,
a todas as partes interessadas da empresa,
gastar tempo no entendimento, explorando e projetando para um produto final
“emocional”.
PosturAroma
Foto: MediaLAB Amsterdam
* www.designandemotion.org
corretas, mas também para que eles percebam que nunca terão garantia sobre o
impacto que seus projetos terão em um nível
emocional.
ampla coleção de ferramentas e métodos e
um monte de trabalhos acadêmicos, em nossa
biblioteca de conferências anteriores, que
apresentam esses métodos.
Ri: Como envolver as emoções dos usuários no
processo de design? Quais são os métodos,
teorias e técnicas específicas para despertar
emoções ou evitar um produto em particular?
MvH: Para incluir, estrategicamente, o impacto
emocional de seu projeto no processo de design, é possível distinguir três etapas principais:
Ri: Quais são os principais projetos desenvolvidos pela Design & Emotion Society hoje?
Quais são os principais exemplos de produtos
desenvolvidos a partir de sua interação com o
público?
MvH: A Design & Emotion Society oferece uma
plataforma para o debate e a partilha de
conhecimento através de nossas conferências
internacionais bianuais. Este ano, entre 06 e 10
outubro, celebraremos nossa 9 ª edição, em
Bogotá, Colômbia. Pesquisadores, designers
e pessoas da indústria irão apresentar seus
recentes trabalhos na área.
1) Entender (o que são as emoções, como elas
são provocadas, etc);
2) Medir / Explorar (o que faz com que as emoções sejam ou não provocadas a partir de um
conceito ou solução existente);
3) Meta (que emoções gostaria de provocar
com seu design);
4) Projeto (recursos e características de design
que, de tal maneira, apoiam as emoções alvo
a serem provocadas). Dentro dessas etapas
existem muitos métodos e ferramentas que estão disponíveis, a fim de obter percepções. No
site da Design & Emotion Society* , temos uma
Outra plataforma importante que temos é a
iniciativa para os capítulos locais. Temos de
Chicago, Amsterdã, Reino Unido, Austrália,
Brasil. Em nosso site, as pessoas podem solicitar
uma licença para lerem nossas diretrizes e
enviarem um bom plano. Nossos capítulos
locais organizam eventos ocasionais, seminários e iniciativas, o que é realmente bom para
a comunidade, pois ela poderá trabalhar, em
conjunto, em um nível mais local.
Ri: Quais são os princípios que orientam a
motivação do projeto? Quais são as características de um objeto que pode gerar
uma relação emocional?
MvH: Para mencionar brevemente algumas
técnicas de design que podem ser aplica-
das para melhorar o impacto emocional
de um projeto, podemos nos concentrar
em: (1) Personalidade (2) Personalização,
(3) Antropomorfismo ou (4) Avaliação, a fim
de apelar para emoções específicas.
No caso da personalidade, você está
procurando algo para incluir características da personalidade na experiência com
o produto. No caso de produtos digitais,
a personalidade pode ser um tom de voz,
comportamento ou aparência. Por exemplo, podemos pensar nos faróis bonitos do
Beetle (Volkswagen), que por terem essa
característica provocam certas emoções
agradáveis em pessoas que também o
acham bonito.
Personificação é sobre a relação entre
nossos corpos e nossas emoções sentidas.
Certas posturas ou movimentos do corpo
podem induzir emoções específicas. Uma
pesquisa mostrou que enquanto você se
move para cima, você está mais inclinado
a sentir emoções positivas do que quando
está se movendo para baixo. Enquanto
projeta as interações com seus produtos,
você pode ter esse tipo de percepção em
conta. Um exemplo é um conceito que,
recentemente, foi trabalhado no Medialab
Amsterdam, encomendado pela Cisco e
que será apresentado na conferência do
Design & Emoção em Bogotá, o “PosturAroma”. Ele consiste em um colar que
Fiat Croma - Década de 80
Foto: divulgação
210 mm
280 mm
pág. 24 - EntrevistasInternacionais - Marco van Hout
Equipe MediaLAB Amsterdam
Foto: divulgação
pretende dar suporte às mulheres para que
elas se sintam mais seguras no espaço público.
Através da detecção de comportamento, ele
exala uma fragrância para o usuário, a fim de
lembrá-lo que ele deve ficar em pé ou caminhar mais ereto. A ideia é que essas mulheres
se sintam mais positivas e tenham uma expressão mais confiante.
O antropomorfismo é sobre a tendência
humana de atribuir qualidades semelhantes
às humanas a objetos não vivos. Isso inclui
características físicas, mas também qualidades
de comportamento e interação. Nossas percepções e ideias antropomórficas influenciam
na forma como interagimos com os animais,
robôs e produtos - o quanto gostamos deles, o
quanto cofiamos, e, definitivamente, como nos
sentimos a respeito deles. Os exemplos típicos
de aplicações são os animais de pelúcia com
características humanas. Mas, aplicações mais
sutis podem ser encontradas, bem como, o
stand-by do Macbook Pro, que parece uma
“respiração” de uma pessoa que está dormindo.
Na tradição cognitiva da emoção psicológica,
uma avaliação é definida como uma avalia-
ção rápida da situação, no que diz respeito ao
bem-estar de cada um. Em relação ao design,
meu companheiro do conselho da Design &
Emotion Society, o professor Pieter Desmet,
investigou como a aparência do produto provoca emoções e propôs que a teoria de avaliação pode ser usada para explicar como os
produtos provocam emoções. A avaliação do
produto é uma avaliação automática do efeito que um produto tem sobre o bem-estar de
alguém. Pieter propôs quatro tipos principais
de avaliações de produtos: a relação entre
um produto e os objetivos de alguém, o apelo
sensorial do produto, a legitimidade de uma
ação representada pelo produto e a novidade do produto. Pelo efeito sobre o nosso bem-estar, com base nas diferentes avaliações de
produtos, podemos projetar as características
específicas de produtos que podem apoiar o
bem-estar de um usuário-alvo. Essa abordagem tem um grande potencial, se você tem
uma boa compreensão de para quem você
está projetando. As outras abordagens que
mencionei antes têm mais potenciais se você
gosta de se concentrar nos princípios mais
universais de impacto emocional.
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pág. 26 - Ícones - Alessandro Mendini
Alessandro Mendini
com sua luminária Amuleto
Foto: Ramun
Ícones - Alessandro Mendini - pág. 27
Uma
explosão
de cores
e vida
por Ana Cláudia Ulhôa
Quem nunca brincou de enxergar formas
humanas nos objetos? Ao olhar para um
carro, por exemplo, é fácil imaginar um
rosto. Os faróis formam olhos grandes e
brilhantes. Já no para-choque, normalmente, encontramos uma boca sorridente,
que nos passa um ar amigável. É com essa
sensação que o designer e arquiteto italiano, Alessandro Mendini, gosta de brincar
quando entra em seu atelier, em Milão,
para criar móveis e utensílios domésticos.
Uma das peças mais bem sucedidas de
Mendini é o saca-rolha Anna G. Conhecido como “a bailarina”, o objeto - líder absoluto de vendas da Alessi desde sua criação, em 1994 - foi inspirado em uma amiga
do designer. Ao analisar o saca-rolha, não
é preciso muito esforço para ver um cabelo chanel, orifícios que remetem a olhos e
boca, pescoço e braços alongados e um
vestido colorido de mangas bufantes.
Segundo Alessandro, as peças que lem-
pág. 28 - Ícones - Alessandro Mendini
Ícones - Alessandro Mendini - pág. 29
Poltrona Proust 1978
Foto: divulgação
bram seres vivos costumam ser mais bem sucedidas. “É muito mais fácil ver um amigo numa figura
que tem olhos”, explicou em uma palestra que
realizou no Brasil, em setembro de 2013, a convite
da Vitrine e da A Lot Of Brasil, com matéria publicada pela Casa Vogue.
entre as coisas mais belas da natureza estão as flores. Elas são coloridas, e fazer coisas que tenham
a ambição de se assemelhar às flores é interessante”. Ele ainda revelou que sua cor favorita é
o rosa. “Porque é a cor da rosa, e rosa é um dos
mais belos objetos do universo”.
Outra característica marcante da obra de Mendini é a utilização das cores. Aos 83 anos, o designer
conta que criou apenas duas obras sem qualquer
colorido. Todas as outras têm tons vibrantes e
variados, como o sofá K2, que chega a reunir oito
tonalidades diferentes. “O uso das cores deve
ser emocional. Às vezes dois tons não combinam
harmoniosamente, mas sua união cria uma vibração e é isso que importa”, diz na matéria da Casa
Vogue. Sempre poético, Alessandro afirma não
ser designer, arquiteto, artista ou artesão, “apenas
crio produtos com estética, poesia e alma”.
Sobre sua atuação como arquiteto, Alessandro
Mendini comenta que sempre fez projetos pequenos e que seu trabalho é como “uma acupuntura
estética no tecido doente da cidade”. Entre as
obras mais conhecidas estão o Museu Groninger, construído na Holanda; a Estação de trem
e ônibus, em Hannover, Alemanha, e a Galleria
Mendini, em Lörrach, também na Alemanha.
Em outra entrevista, agora para a Casa Cláudia ,
ele afirma: “As cores me importam muito, porque
Para desenvolver seus projetos, seja de arquitetura ou design, Alessandro revela que começa da
parte para depois seguir para o todo. “A ideia é
a mesma do pontilhismo: se cada pequena parte
tem qualidade, o todo também terá”, conta para
a Casa Vogue.
pág. 30 - Ícones - Alessandro Mendini
Ícones - Alessandro Mendini - pág. 31
cores fortes e formas inusitadas, características provenientes do Estúdio Alchimia de
Mendini.
Sommelier - saca-rolhas
Foto: divulgação
Sofá K2
Foto: divulgação
Além do pontilhismo, é possível perceber
a influência de diversas outras escolas
artísticas no trabalho do designer, como o
surrealismo, cubismo e pós-modernismo. A
já mencionada poltrona K2 é um exemplo
de objeto com traços cubistas, com suas
formas geométricas e variação de cores.
Mas Mendini não foi só influenciado pelas
escolas artísticas. Ele também foi precursor do Movimento Memphis. Fundado
em 1980, pelo arquiteto e designer Ettore
Sottsass, o movimento tinha como objetivo
refletir sobre a funcionalidade dos objetos,
enfatizando sua estética e rompendo com
a teoria. As obras do grupo tinham como
principais características a utilização de
Atualmente, o designer é considerado,
pela academia, como uma das maiores
referência do design emocional. Mendini é
membro honorário da Academia de Artes
e Design Bezalel, em Jerusalém. Recebeu
também um doutorado honorário da
Politécnica de Milão e da École Normale
Supérieure da China. Foi ganhador do
Compasso d’Oro de Design, em 1979 e
1981. Carrega ainda o título de “Chevalier des Arts et dês Lettres” e tem projetos
exibidos em museus como o MoMa, de
Nova York.
pág. 32 - Ícones - Stefano Geovannoni
Stefano Giovannoni
Foto: divulgação
Ícones - Stefano Geovannoni - pág. 33
O designer
mais Popular
dos últimos
tempos
Stefano Giovannoni traduz o sentimento humano em objetos que se
tornaram ícones
por Pâmilla Vilas Boas
Entro no shopping em direção ao supermercado para comprar uma cadeira.
Logo, meus olhos são levados para um
modelo colorido e me sinto em sintonia
com o futuro com aquele objeto estético
e sedutor. Quem nunca foi fisgado por
esse produto? Criado por um dos ícones
do design no mundo, o italiano Stefano
Giovannoni, o Bombo Stool mudou a ideia
sobre como um banco pode se transformar. Nesse e em tantos outros projetos,
Giovannoni conseguiu fazer a ponte entre
a concepção elitista e o design para o
mercado de massa.
Arquiteto, industrial e designer de interiores
nascido em La Spezia (1954), Giovannoni
formou-se na Facoltà di Architettura de
Florença em 1978. Atualmente, vive e
trabalha em Milão. É professor da Domus
Academy, em Milão; da Università del
Progetto, em Reggio Emilia e de Desenho
Industrial na Università di Architettura, em
pág. 34 - Ícones - Stefano Geovannoni
Ícones - Stefano Geovannoni - pág. 35
Barbeador Piripicchio - Alessi
Foto: Divulgação
Paliteiro Magic Bunny
Alessi
Foto: divulgação
Alessi - Bathroom
Foto: Divulgação
Gênova. Já desenvolveu projetos para empresas
como Alessi, Amore Pacific, Artsana, Bisazza, Fiat, LG
Hausys, L’Oreal, Telecom, Vondom, dentre outras.
O designer cria produtos emocionais que transcendem a efêmera relação de consumo. Muitos, como
as linhas Girotondo, Mami e il Bagno Alessi ainda são
best-sellers, depois de mais de vinte anos no mercado. Giovannoni incorpora um complexo sistema
de códigos afetivos a seus projetos e, para ele, ser
designer significa compreender profundamente a
sociedade e como os desejos se desenvolverão
no futuro.
Ele nos conta que sua busca sempre foi a de mudar
a abordagem de design tradicional para uma nova
cultura de consumo, com base no design emocional e na comunicação dos objetos com as pessoas.
“O design sempre evoca sentimentos relacionados
à nossa memória e imaginação. Por isso, os objetos que possuímos dizem sobre nossa identidade e
cultura”, afirma.
pág. 36 - Ícones - Stefano Geovannoni
Ícones - Stefano Geovannoni - pág. 37
Recipiente para
sal e pimenta
Lilliput - Alessi
Foto: divulgação
Giovannoni tornou-se sucesso de mercado desde
seu primeiro produto. “Sou bastante diferente de
muitos dos meus colegas. Comecei a partir de
uma declaração muito clara, quase cínica: a qualidade de um objeto é diretamente proporcional
ao apelo do produto no mercado”, explica. Com
essa perspectiva, o designer antecipou os desejos
das pessoas em uma rica e variada produção,
que passa pelo design de automóveis, de grandes
e pequenos utensílios domésticos, à reformulação
de espaços ou produtos eletrônicos, como celulares e smartphones.
A partir dessa multiplidicade de linguagens, o fio
condutor do trabalho de Giovannoni é a comunicação como expressão das emoções dos sujeitos
sobre os objetos. “A ironia foi uma forma de
expressar esse tipo de atitude, de modo que não
tínhamos mais para mostrar aos nossos objetos
ao invés de nós mesmos... minha intenção era
democratizar o contexto de design, falando uma
linguagem mais adequada para as gerações mais
jovens. Alessi era uma empresa no ramo de aço e
o marketing estava com medo de que o plástico
pudesse criar um problema de identidade. Os
Girotondo e os produtos de plástico mudaram
Duster - Aspirador de pó
Alessi
Foto: divulgação
profundamente o DNA da Alessi, com uma influência muito positiva em volume de negócios”, relata.
Ele explica que, no passado, a relação entre o
homem e os objetos era diferente. Os objetos
eram símbolo de status social ou estilo. “Através
do objeto que você possui, é possível entender se
você é rico ou pobre, se você tem cultura ou não.
Assim, minha intenção era a de desdramatizar
esse tipo de relação, criando bons objetos com
um sentimento direto com a gente”, completa.
Giovannoni acredita que hoje não é possível criar
produtos de altíssima tecnologia com uma vida
longa. Para ele, se a qualidade de um produto é
a inovação, ele não permanecerá no mercado
e nem se manterá atual por muito tempo. Nesses
casos o que importa é o processo e a pesquisa
envolvida na criação do produto. “De modo
mais geral, é cada vez mais difícil ver produtos de
sucesso real hoje em dia. Tecnologia tende a desmaterializar o objeto físico, transferindo, em alguns
casos, o foco do projeto à interface do usuário.
Muitas tipologias envelhecem após alguns meses,
enquanto o calendário apertado não permite a
pesquisa”, afirma.
www.osram.com.br
pág. 38 - Ícones - Stefano Geovannoni
Projetos:
“Girotondo” foi seu primeiro projeto,
criado em 1989 em parceria com
Guido Venturini
duas variações do original: “The
Bombo Special Stool“ e “Al Bombo
Stool”
“Family Follows Fiction” são os primeiros objetos transparentes e em
plásticos criados por Giovannoni,
em 1993
Ele ganhou o título de “Super & Popular” designer dos anos 2000 com
“Piripicchio”
A série “Mami”, projetada para a
empresa Alessi, foi um de seus best-sellers
Alessi Mary Biscuit
Foto: divulgação
Até
SUPERSTAR
SUPERSTAR
SUPERSTAR DIM
SUPERSTAR DIM
Lâmpadas LED SUPERSTAR
A família de lâmpadas LED da OSRAM que não para de crescer
Cico - Suporte para
ovo cozido e saleiro
Alessi
Foto: divulgação
Luz é OSRAM
90%
de economia
de energia
*na substituição de lâmpadas incandescentes
O “Bombo Stool” se tornou tão popular que Giovannoni desenvolveu
pág. 40 - Artigos - Andréa Naccache
Artigos - Andréa Naccache - pág. 41
Amor
CLANDESTINO
por Andréa Naccache
Convido o leitor a buscar na internet
a música Meditação, de Tom Jobim e
Newton Mendonça, antes de seguir pelo
artigo - e a rememorar Tom Jobim, por
um instante, porque é com a voz dele
que iremos em frente: “Quem acreditou / No amor, no sorriso, na flor / Então
sonhou, sonhou…”
Momento primeiro. O sonho. Quem nunca viu ou viveu um engano de amor? “E
perdeu a paz / O amor, o sorriso e a flor /
Se transformam depressa demais”.
Jobim traz em versos uma história longa
como a da nossa cultura. Já na Grécia
clássica, Platão falava a seus alunos
sobre o perigo da paixão no mundo
sensível. As coisas em nossa volta são
imperfeitas e finitas, e a tentação de
emocionar-se com elas turva o pensamento, faz julgar mal a vida. Os bons
valores estavam nas grandes verdades,
estáveis, não em tudo o que se transforma diante dos olhos. Era melhor amar as
ideias perfeitas e, entre elas, a ideia do
bem. Amar quem ama a ideia do bem.
Considerar bela a ideia do bom, do justo
- acima de todas as coisas.
Ironia da história, chamou-se “platônico”
o amor sonhador, iludido. Platão buscava o oposto. Não queria se enganar.
Depois dele, nossa tradição religiosa
cuidou de afastar o amor dos objetos
terrenos. Era preciso ter valores maiores, dirigidos ao céu. Palavra de Santo
Agostinho. Mas não só a Igreja dissera.
Também, de outras maneiras, a filosofia, a ciência, e Ricardo Reis (Fernando
Pessoa), estóico:
“Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões
que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais
aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio
sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando
que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e
carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao
pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.”
Bonequinha é personagem da
poltrona multidão, dos Irmãos
Campana.
Foto: arquivo pessoal
pág. 42 - Artigos - Andréa Naccache
Artigos - Andréa Naccache - pág. 43
Prateleira italiana, da
FirmaCasa Conceito
Foto: divulgação
Saberemos amar assim, sem sentir,
sem prazer? Amamos objetos, irremediavelmente.
(Caetano). Estamos abandonados a
uma vida de tombos, de engano e
medo?
Momento segundo. Deixamos viver
o amor clandestino, contra todas as
recomendações sábias. Amamos as
curvas e os detalhes do outro, “muito
grandes para esquecer” (Roberto).
Trocamos fotos, perfumes, roupas,
como preciosidades. Entendemos o
teatro do amor, que constrói corpos
e quartos, cama e mesa, para nos
envolver de sensualidade. Amamos
com presentes, amuletos, alianças.
Quem ousa deixar faltar? O amor é
todo de objetos. Quando termina,
lá estão eles, trocando em miúdos
- a medida do Bonfim, um disco do
Pixinguinha, e “o resto é seu” (Chico
Buarque). Ouvimos Jobim: “Quem,
no coração / abrigou a tristeza de
ver tudo isso se perder / E, na solidão,
procurou um caminho e seguiu / Já
descrente de um dia feliz”.
Jobim cantou que não. Encontrou
um momento terceiro.“Quem chorou, chorou / E tanto que seu pranto
já secou / Quem depois voltou / Ao
amor, ao sorriso e à flor / Então tudo
encontrou / E a própria dor / Revelou
o caminho do amor / E a tristeza
acabou”.
Que felicidade existiria sem o doce
das coisas? Poucos conseguem
sustentar essa via pela vida. Chama-se ascetismo a distância dos valores
mundanos. Furtar-se da sorte e do
azar do amor, em uma vida monástica. Uma vida que deveria, em tese,
proteger da dor. Fora esses poucos,
restamos nós, estupidamente felizes
com a chance de um encontro com
o belo ao alcance das mãos, de
um abraço. “Ao alcance da boca”
Luminária Tord Boontje
Foto: arquivo pessoal
É desse momento, afinal, que
precisava lhes falar. Tempo de uma
reafirmação. Amamos os objetos, sim.
Amamos pelos objetos. Nós tocamos
um ao outro pela superfície da pele,
pelo que se oferece ao olhar. Daí a
beleza dos objetos que desenhamos
e separamos uns para os outros, que
criam o “presente”, palavra forte,
para seduzir, para fazer lembrar.
É possível amar bem sem ascender
aos céus, nem se perder em nuvens.
Sem ser iludido, deslumbrado. Sem
futilidade ou consumismo. Com
cuidadosas escolhas. Amar superficialmente. Tão bem quanto quem
ama os mais elevados bens. Mas
só quando já sabemos que a dor é
vizinha, e os amantes resguardam
um ao outro. Podemos nos proteger
profundamente. Daí, então, não precisamos mais temer, evitar, esconder
os objetos mais superficiais do amor.
Cama e mesa.
pág. 44 - Artigos - Marcelina Almeida
Artigos - Marcelina Almeida - pág. 45
Anjo da saudade, mármore,
autoria desconhecida, Cemitério do Nosso Senhor do Bonfim.
Foto: arquivo pessoal
Os artefatos e o homem:
Relações e Interconexões
entre a vida e a morte
por Marcelina Almeida
“Toda sociedade projeta (investe) em sua cultura
material seus anseios ideológicos e/ou espirituais e, se
aceitarmos essa premissa, logo é possível conhecer
uma cultura – pelo menos em parte-através
do legado de objetos e artefatos que ela produz
ou produziu.”
Rafael Cardoso
O ser humano, desde sempre, se encontra em um
mundo povoado de artefatos e objetos, alguns naturais
e outros produzidos por si. Este mundo de coisas vem
sendo apropriado, redefinido e ressignificado ao longo
de sua trajetória histórica. Os artefatos externos ao corpo
biológico auxiliam e ampliam funções motoras, permitem
a realização de atividades, auxiliam na ocupação do espaço e na demarcação dos lugares, dos territórios, sejam
políticos, sociais e culturais. Deste modo, compreende-se
como um galho, um osso ou uma pedra deixam de ser
apenas matéria e adquirem outra densidade, outra profundidade, se metamorfoseiam em armas, ferramentas,
abrigo ou um objeto mágico, simbólico.
A construção das culturas evidencia os diálogos que se
estabelecem entre homem e objetos. Ao rastrearmos
nosso habitat, investigando nosso redor, identificaremos,
facilmente, objetos, artefatos que nos são úteis, inúteis,
amados ou detestados. Essa questão ambígua se explica
em decorrência do fato que, aquilo que produzimos,
cotidianamente, ou seja, os artefatos característicos da
nossa cultura material, nem sempre respondem a uma
necessidade física, prática, biológica, mas respondem
também aos reclames do nosso universo simbólico. É fato,
compreensível, a dimensão ocupada pelos artefatos, na
vida dos seres humanos, seja no passado e na contemporaneidade. Equipamentos eletrônicos, vestimentas,
utensílios domésticos ou de trabalho, de guerra, dentre
outros, povoam e dimensionam as relações humanas. Os
objetos podem ser catalisadores
de tendências, formadores de
complexas estruturas culturais,
servem como suporte para interações entre grupos e refletem
perspectivas e visões de mundo.
São os artefatos, muito mais
que objetos, em sua dimensão
concreta, através e transversalmente, desenvolvem laços
emotivos, afetivos e constroem
experiências que, ao serem
compreendidas fornecem
informações que só podem ser
capturadas através dos significados que os objetos evocam.
Nesta interrelação entre homens
e artefatos é que se constroem
as experiências que se, em sua
maioria, emergem nas relações
da vida, também se constituem
nas experiências que dizem
respeito à morte.
A princípio pode nos causar estranheza, mas a morte e o culto
aos mortos podem nos auxiliar
a refletir sobre a dimensão simbólica que é construída a partir
pág. 46 - Artigos - Marcelina Almeida
Artigos - Marcelina Almeida - pág. 47
Flores artificiais decorando
túmulo no Cemitério do
Nosso Senhor do Bonfim
Foto: discentes da disciplina
“Lendo Imagens”, Escola de
Design/UEMG, 2011
dos objetos. Sendo o homem o único,
entre os seres vivos, capaz de articular
pensamento, conhecimento e inteligência e, através desses mecanismos
expressar sentimentos, emoções e decepções, habilita-se por esses meios a
representar as concepções que possui
acerca de tudo que lhe cerca, inclusive a morte. Cria artefatos e símbolos
para exprimir suas vontades, sonhos,
desejos e medos. Um desses temores
está ligado à morte. Uma questão a
ser continuamente inquirida e muitas
formas de enfrentamento e apreensão
desse fato inexorável têm sido gestadas
pelo homem ao longo dos tempos, seja
no campo filosófico, seja no campo
religioso-simbólico.
Para o homem construir imagens
representativas da morte foi e é crucial
utilizar-se da faculdade de estabelecer
julgamentos críticos e morais e, finalmente, o despertar dos sentidos para
o significado desse fato. Não se sabe
precisar, com exatidão, quando esse
sentimento se aguçou, mas é aceito na
comunidade científica o pressuposto
de que, dentre nossos antepassados,
o homem de Neandertal é o primeiro
a enterrar os mortos. Portanto, desde
o período denominado Paleolítico
Superior, aproximadamente 30.000
anos a.C, já se praticava o sepultamento, possibilitando a conservação dos
esqueletos. De acordo com os especialistas, os neandertalenses, cuidando de
seus mortos, realizavam os enterramen-
tos intencionais, permitindo inferir que,
naquele momento, a relação entre os
seres humanos não se limitava à vida.
Oferenda de flores, marcação com
pedras e colocação, junto ao corpo,
de objetos, denota um sentimento,
uma emoção e ao mesmo tempo a
noção de que aquele ser iria precisar
daqueles utensílios, qual fosse o destino
para o qual se partia. Nesse sentido, ao
se avaliar as construções megalíticas
– menirs, dolmens, cromlecs – erguidas num passado remoto, podemos
apreendê-los como representações e
figurações do sentido da morte que,
naquela altura, parecia familiar. Essas
construções podem ser compreendidas
como lugares de ritos simbólicos, marcos de retorno e da memória do grupo
e dos mortos, indicando, também, o
sentido de grandiosidade e pompa. O
mesmo pode ser inferido ao se analisar
os cemitérios oitocentistas, na cultura
moderna, através do quais túmulos,
sepulturas, mausoléus e ornamentos
dialogam e expressam a experiência
simbólica dos seres humanos com a
dolorosa e enigmática experiência da
morte.
Portanto, podemos inferir que os
artefatos, os objetos, manipulados e
construídos pelo homem, dialogam
com experiências várias que transitam
entre o viver cotidiano e suas surpresas
e a morte, a nossa única e derradeira
certeza.
Detalhe túmulo Cemitério do
Nosso Senhor do Bonfim,
jardineira em mármore
Foto: José Rocha
pág. 48 - Artigos - Daniel Padilha
Artigos - Daniel Padilha - pág. 49
O emocional
funcional
por Daniel Padilha
No final de 2013, fui convidado para ministrar uma palestra sobre
Gestão de Marcas em Belo Horizonte. O público era, em sua maioria,
estudantes e jovens empreendedores, sedentos por assuntos ligados ao
universo das marcas. Para mim, esse tema sempre foi envolvente – não
por ser o meu “ganha pão” – mas por acreditar que, hoje, é a única
forma que temos para solucionar problemas que encontramos nas
mais diversas camadas que compõem a sociedade. Por isso, levo para
minhas aulas e palestras um pouco da minha experiência com produtos
e serviços. É uma forma de tangibilizar informações aspiracionais sobre o
que tenho experimentado.
Foto: © Olivier Le Moal | Dolar Photoclub
Meu objetivo na palestra era deixar claro
para o público que a raiz do trabalho de
construção de marcas é sua ressonância. Esse relacionamento entre marcas e
pessoas não é de hoje, mas, com o passar
dos anos, tantas mudanças aconteceram
que seu entendimento ficou mais complexo, principalmente no que diz respeito ao
nosso comportamento de consumo.
Ao finalizar o bate-papo com os estudantes, um rapaz me procurou e disse que
precisava me contar uma história. Em três
minutos, explicou por que e como conseguiu convencer sua esposa a comprar
uma das marcas que eu tinha apresentado
durante a palestra, a água norueguesa
VOSS, com posicionamento premium.
A grande estratégia foi mostrar a ela que
aquela garrafa, que mais parece um
frasco de perfume, poderia se transformar
em um lindo vaso de flores para decorar a
sala do casal. Com embalagem desenhada pelo ex-diretor artístico da Calvin Klein,
Neil Kraft, que guarda 350ml de água 100%
natural, envasada diretamente na fonte, a
VOSS conquistou o mercado premium com
o trabalho de design emocional, somado
à qualidade do produto artesanal. E, hoje,
em casa, também possuo uma garrafa de
VOSS, que foi transformada em vaso – fui
induzido positivamente.
Vivemos a onda da transformação de
commodities em produtos premium. Alguns
chamam esse fenômeno de “gourmetização”; outros, de oportunismo. Para mim,
tanto faz. O importante é o questionamento levantado a partir dessa transformação.
O momento propício em que começo
a me perguntar por que nos sentimos
envolvidos com essas marcas, como somos
conquistados e, principalmente, por que
nos deixamos conquistar...
Certo dia, ouvi uma palestra de Fernando
Rodrigues, CEO da ICN Agency, na qual
ele comentou que, provavelmente, nossos
corações haviam sido programados para
serem felizes e conquistados. E conquista
tem tudo a ver com relacionamento, não
é? Quando estudamos o “relacionar-se”
das marcas, começamos a entender o
funcionamento desse duelo entre emoção
e razão, o qual, nem sempre, é entendido
pelos profissionais, causando danos à imagem das organizações.
Então, qual será a função da emoção na
construção da identidade e reconhecimento afetivo dos consumidores? Atualmente, vejo que a melhor maneira dessa
conquista acontecer é através de métodos
que evoquem suas necessidades.
Podemos dividir esse processo em três
etapas. Primeiramente, marcas podem
usar de ações que estimulem e deem a
sensação de euforia para chamar o público. Nesse caso, estratégias sensoriais são
muito bem-vindas. A segunda consiste em
criar um ambiente harmônico, trabalhando
o romantismo através de pequenas ações
surpresas, capazes de gerar grande impacto. Ser surpreendido positivamente é uma
das sensações mais gostosas – podemos
compará-las a uma entrega emocional
que vá além do que imaginamos, como
prêmios, convites especiais ou até mesmo
uma visita exclusiva. Por fim, a etapa mais
complexa é o trabalho de indexação,
pois é nela que executamos estratégias
de fidelização e que fazem o consumidor
entender o poder de pertença, confiança
e entrega emocional e racional da promessa da marca. Vale ressaltar que essa
construção não possui uma ordem, pois o
relacionamento humano não é linear.
Th e He art Corpo rat io n
pág. 50 - Artigos - Daniel Padilha
Precisamos olhar com mais atenção para
o entendimento do design como processo
na construção de conexões. Interromper
seu uso apenas como fator estético e
começar a usá-lo como processo para
a criação de vínculos emocionais mais
duradouros, pois o desejo é despertado
pela função e a cultura da adoração do
subjetivo está longe de ser compreendida
por inteira.
Enquanto escrevia esse artigo, conversei
com algumas pessoas para entender a
opinião geral sobre o assunto. Um dos
comentários mais interessantes, e que me
despertou mais curiosidade, veio de um
dos meus contatos próximos. Para ele,
não podemos amar objetos, produtos e
marcas, mas podemos nos apegar. Então,
o que seria esse tal apego? Seria o hábito
que temos de criar vínculos?
Mais que despertar o desejo, o que temos
em mãos é a possibilidade de atender necessidades reais e revolucionar a forma de
como estamos lidando diariamente com as
pessoas. Isso mostra que nós, profissionais,
precisamos estudar o vínculo e a impressão
que as pessoas possuem sobre determinada marca. Transformar o emocional em
funcional.
C
M
Y
Luz para ler.
Luz para trabalhar.
CM
MY
Luz para relaxar.
CY
CMY
Luz para divertir.
K
A Brilia que você já conhece está de cara nova
e com um universo de possibilidades pela frente. Só o que não vai mudar é a qualidade
e a inovação, que continuam sendo a essência da nossa marca.
VOSS - Glass
Foto: divulgação
pág. 52 - MatériadeCapa - Don Norman
MatériadeCapa - Don Norman - pág. 53
O resgate
emocional
por Danilo Borges
Donald Norman
Foto: divulgação
Quando estamos diante de um objeto – seja ele um celular,
uma faca de cozinha ou um abajour – a primeira pergunta que
nos fazemos costuma ser: “como isso funciona?”, ou “para que
serve?”. Afinal, a funcionalidade e utilidade são os principais fatores que nos levam a investir tempo e dinheiro em um determinado produto, não é mesmo?
Segundo o professor da Universidade da Califórnia, em San Diego (UCSD), Don Norman, nem sempre essa é a resposta correta.
Muitas vezes, o aspecto prático pode ser a justificativa “racional” que encontramos para a compra de uma faca (que serve
para cortar) ou de um smartphone (utilizado para se conectar
à internet), por exemplo. Mas, para além da praticidade, questões de ordem emocional desempenham um papel determinante em nossas relações com os objetos, conforme afirma
Norman, autor do livro “Design Emocional – por que adoramos
(ou detestamos) os objetos do dia a dia”.
Embora a colocação possa parecer óbvia à primeira vista – afinal, já são conhecidas a força das marcas e a capacidade do
marketing em afetar nosso subconsciente –, a obra de Norman
é resultado de um intenso estudo na área da psicologia cognitiva, fazendo da expressão “design emocional” um conceito que
vem ganhando força no mercado.
O reconhecimento da importância das emoções no design
também significa, para Norman, uma revisão de seu próprio
ponto de vista. No final dos anos 1980, ele ganhou notoriedade
por ter publicado o livro “O design do dia a dia”, em que defendia, justamente, a funcionalidade dos objetos em detrimento
da estética. “Em meus primeiros trabalhos, buscava a lógica e
a racionalidade. Naquela época, estava preocupado em fazer
pág. 54 - MatériadeCapa - Don Norman
MatériadeCapa - Don Norman - pág. 55
Um medo inato de alturas ou
uma experiência prazerosa?
Foto: Sxc.hu
um produto que fosse útil e pudesse ser facilmente compreendido”,
lembra o professor da UCSD.
Com o passar dos anos, no entanto,
essa tese começou a ser questionada. “Algumas pessoas me diziam:
‘ok, seu livro nos ensina a fazer um
produto que é funcional e compreensível, mas que não é agradável,
nem bonito’. A partir daí, comecei
a estudar uma forma de combinar
prazer e emoção no mundo do
design”, afirma.
De acordo com Norman, as emoções possuem, pelo menos, três níveis distintos, que ele chama de visceral, comportamental e reflexivo.
Enquanto os dois primeiros ocorrem
de forma subconsciente, o último
está relacionado à reflexão sobre
uma determinada experiência.
A montanha-russa opõe
um nível de emoção - o
sentido visceral de medo
- a um outro nível,
o orgulho reflexivo de
realizar uma proeza.
Foto: © Cheryl Casey |
Dolar Photoclub
O nível visceral está relacionado às
nossas impressões e preferências
intrínsecas, as quais, segundo Norman, são as mesmas para a maioria
das pessoas. “Em geral, não gostamos de comidas amargas e preferimos as doces. Apreciamos cores
vivas e não nos sentimos bem na
escuridão”, exemplifica. Portanto, é
nessa etapa que olhamos para os
objetos e fazemos os primeiros julgamentos, utilizando adjetivos como
“feio”, “bonito”, “bom”, “ruim” etc.
Já o nível comportamental diz
respeito às nossas expectativas e
experiências que vivemos no dia a
dia. Dirigir um carro ou utilizar um
utensílio doméstico, por exemplo,
são ações que, apesar de realizadas de forma automática e
pág. 56 - MatériadeCapa - Don Norman
MatériadeCapa - Don Norman - pág. 57
subconsciente, impactam diretamente em
nossa relação com os produtos.
Por fim, a etapa reflexiva é aquela em que
refletimos sobre as experiências vividas.
“Nesse estágio, olhamos para o passado e
avaliamos se algo foi bom ou ruim, além de
pensarmos sobre nossas decisões. A opção
por um carro ‘ecológico’, por exemplo,
remete a uma preocupação consciente
com questões ambientais, e não necessariamente com a estética ou com o desempenho daquele veículo”, afirma.
De modo geral, o design emocional deve
envolver os três níveis, mas a ênfase entre
um ou outro pode variar de acordo com
Jaguar 1961 - Visceralmente empolgante. Esse carro é
um exemplo clássico do poder do design visceral, elegante, empolgante.
Esse carro faz parte da coleção de design do
Museu de Arte Moderna de Nova York.
Foto: © RW-Design | Dolar Photoclub
o tipo de produto ou a área de atuação.
Normam exemplifica: “Estilistas costumam
explorar as aparências e, portanto, o nível
visceral. Profissionais da área de tecnologia da informação tendem a privilegiar a
experiência e a interação entre usuário
e interface. Já o marketing preocupa-se
com o nível reflexivo, com a imagem que
formamos, conscientemente, sobre uma
determinada marca ou produto”, diz.
Design Emocional
Livro de Don Norman,
que faz uma reflexão
acerca da relação
emocional que temos
com os objetos.
6.
Além de terem originado um livro e um
novo conceito – o design emocional –,
as pesquisas de Don Norman também o
levaram a uma nova fase intelectual. Em
palestras e apresentações disponíveis na
internet, ele costuma dizer que, atualmente, tem se importado apenas com o prazer
pág. 58 - MatériadeCapa - Don Norman
e a beleza das coisas. “O novo
Norman é só beleza”, brincou
ele na abertura do Ted Talks, em
2003, um ano antes da publicação de Design Emocional.
Por vídeo-conferência, o professor da UCSD conversou com a
revista iDeia no escritório de sua
casa. Durante a entrevista, ele se
levantou para buscar exemplos
de produtos que o encantavam
mais pela estética e pela emoção do que pela funcionalidade.
Da sala de estar, trouxe uma
versão dourada do Juicy Salif,
conhecido espremedor de frutas
de Philippe Starck – o qual, aliás,
ilustra a capa do seu livro.
“Esse espremedor não é, de forma alguma, funcional. Mas eu o
aprecio de forma reflexiva, como
um símbolo artístico de como
um espremedor poderia ser. Por
MatériadeCapa - Don Norman - pág. 59
O componente sensual do
design comportamental – O
design comportamental enfatiza
o uso de objetos, neste caso a
sensação sensual do chuveiro:
um componente essencial,
frequentemente esquecido, do
bom design comportamental.
Espremedor de frutas de Philippe
Starck “juicy Salif” - um objeto
ícônico, usado não para espremer frutas, mas como adorno. Seu
criador teria dito: “ meu espremedor
de frutas não foi feito para espremer
laranjas; foi feito para
iniciar conversas”
Foto: © Кирилл Рыжов |
Dolar Photoclub
Foto: divulgação
isso, não o utilizo para fazer suco, mas
para manter uma conversa em
minha sala de estar”, conta.
A descoberta da importância das
emoções no design não quer dizer,
no entanto, que a funcionalidade
tenha sido abandonada por Don
Norman. “Quando não entendemos
como um produto funciona, isso
nos gera ansiedade e uma série de
emoções negativas. Por outro lado,
quando compreendemos bem um
objeto, tendemos a agir reflexivamente e criar uma imagem positiva
daquela experiência. Na verdade, é
um equívoco separar funcionalidade
e emotividade, como fiz no passado”,
afirma.
Uma prova disso é o recente lançamento de uma versão revisada
de “O Design das coisas do Dia a
Dia”, na qual o professor da UCSD,
literalmente, acrescenta um pouco
de emoção à obra. “O livro estava
ficando desatualizado e, por isso,
decidi complementá-lo com o que
aprendi, ao longo dos últimos anos,
sobre a atuação do design em cada
um dos três níveis de emocionalidade”, afirma.
pág. 60 - Projetos - Teatro Francisco Nunes
1.
Projetos - Teatro Francisco Nunes - pág. 61
Luz
sobre as
memórias
de um
teatro
O projeto de iluminação
do teatro Francisco
Nunes, em Belo
Horizonte, buscou aliar
o resgate histórico à
aplicação do que há
de mais sofisticado em
termos tecnológicos.
por Pâmilla Vilas Boas
As tesouras, peças que compõem o suporte do telhado, encobertas por mais de 30 anos, foram reveladas
novamente. Durante o processo de reforma do Teatro
Francisco Nunes, foram muitas as surpresas que possibilitaram novas formas de pensar a iluminação do espaço.
Interditado pelo Corpo de Bombeiros em 2009, o famoso
teatro foi reaberto em 6 de maio último, após longo processo de revitalização. A abertura ocorreu durante a 12º
edição do Festival Internacional de Teatro Palco e Rua
de Belo Horizonte (FIT-BH), com um projeto luminotécnico especial, que buscou no que há de mais sofisticado
na área, ferramentas para valorizar os traços e características originais do espaço.
Teatro Francisco Nunes
Foto: Drika Vianna
A madeira original das tesouras data dos anos 1950,
quando o Chico Nunes, como é carinhosamente
chamado, ou teatro de Emergência, como conhecido
inicialmente, foi construído. O teatro foi inaugurado
pelo prefeito Otacílio Negrão de Lima, em uma época
em que a cidade era carente de espaços destinados
Projetos - Teatro Francisco Nunes - pág. 63
1.
Fotos: Ludmila Loureiro
pág. 62 - Projetos - Teatro Francisco Nunes
à cultura e o Palácio das Artes ainda estava
em construção. Autor do projeto, o arquiteto
mineiro Luiz Signorelli, de traços clássicos e
versáteis, foi influenciado pela estética modernista de Niemeyer.
Na década de 1980, o Francisco Nunes passou por sua primeira reforma, que, do projeto
original, manteve apenas sua volumetria. Em
seu interior, foram várias descaracterizações.
Após a interdição, por apresentar sinais de
fragilidade estrutural e risco de desabar, um
cuidadoso restauro foi proposto, buscando revalorizar as características do projeto original
de Signorelli.
A estratégia da arquiteta mineira Mariluce
Duque, responsável pelo restauro, foi o de
jogar luz sobre a história do teatro Francisco
Nunes. Em parceria com a Templuz, empresa
especializada em tecnologia e iluminação,
foi possível contrapor os rastros de um tempo
antigo com o que há de mais contemporâneo em termos de luminotécnica.
Mariluce relata que, quando o telhado foi
retirado para a reforma, foi uma surpresa
encontrar as tesouras, compostas por madeira revestidas em lâmina de garapa. “Fiquei
pensando que isso era um elemento que
merecia destaque. A solução para valorizar
esse elemento foi uma iluminação especial”,
ressalta. A ideia inicial era a instalação de
refletores, mas havia a vontade de que a fonte de luz não fosse percebida pelo público,
dando apenas um efeito discreto. Para tanto,
a solução encontrada foi a utilização de uma
fita de LED inserida atrás das tesouras.
A lighting planner da Templuz, Paola Duarte, explica que esse foi justamente o local
em que ela teve o maior receio de instalar
iluminação, mas que obteve o resultado mais
interessante. “A princípio essas tesouras não
iam aparecer, mas, como se trata de uma
revitalização, cada hora surge uma novidade. O projeto de iluminação, por exemplo,
foi revisado nove vezes. Sem dúvida, a maior
surpresa foram as tesouras. Optamos por destacá-las e assumí-las de maneira conceitual.
Por isso, propusemos essa iluminação indireta
e o resultado ficou ótimo”, relata.
O conceito da iluminação foi baseado na
utilização do LED para agregar luz e segurança, uma vez que o teatro utiliza materiais
inflamáveis como madeira e carpete, ressalta
Paola. Para ela, o LED é um caminho sem
pág. 64 - Projetos - Teatro Francisco Nunes
Projetos - Teatro Francisco Nunes - pág. 65
Iluminação móvel
volta. “Fizemos muitas reuniões com a arquiteta Mariluce e toda a equipe que estava
tocando a obra para compatibilizar essas
informações. Não é um projeto de mesa, é
um projeto que exige que você vá à obra,
converse com outros profissionais e dialogue
com todo mundo. Não posso especificar
um produto que atende a minha parte, sem
consultar a todos”, afirma. O resultado, para
a arquiteta, ficou excelente. “A fita de LED
possibilitou uma luz difusa e bela que, com
outra tecnologia de iluminação, esse efeito
não teria sido alcançado”.
Outro grande destaque da reforma foi a parte cenotécnica do palco, que antes possuía
maquinaria manual e agora possui um sistema misto: motorizado e de contra pesagem
para as varas de luz e cenário, facilitando
as manobras e a consequente montagem
dos espetáculos. Como explica a arquiteta,
foi utilizada a proposta contemporânea de
instalar trilhos que possibilitassem um espaço mais flexível e abrigasse diferentes tipos
de espetáculos. “A ideia era trabalhar com
flexibilidade de luz nos trilhos e ter vários tipos
para atender as exposições móveis”, afirma.
Já o foyer do teatro foi ampliado e a remoção do mezanino, construído apenas na
reforma de 1982, deixou à mostra o pé direito
duplo do ambiente, como no projeto original.
“Tivemos esse cuidado de identificar o que foi
positivo na reforma de 82 e o que veio a descaracterizar. A luz cumpriu essa função. Na
plateia, a luz valorizou o que era original, já no
foyer ela trouxe o que há de mais contemporâneo possibilitando o melhor uso do espaço
com uma luz mais âmbar para dar um clima
intimista. Propusemos um mix de iluminação
com muitos efeitos para várias propostas,
Foto: Ludmila Loureiro
Mariluce Duque explica que foi feita uma
pesquisa extensa sobre a história do teatro,
para identificar as mudanças necessárias na
estrutura física, que possibilitasse um maior
conforto para o artista, o público e corpo
técnico, e que, ao mesmo tempo, trouxesse a tona o sistema construtivo original do
teatro. “Resgatamos essa história em todos os
sentidos, pensando sempre em intervenções
numa situação contemporânea onde as pessoas pudessem identificar claramente o que
é novo e o que é antigo. Buscamos mostrar
o sistema construtivo, influenciados por essa
arquitetura brutalista de sistemas aparentes”,
destaca.
pág. 66 - Projetos - Teatro Francisco Nunes
Projetos - Teatro Francisco Nunes - pág. 67
possibilitando o melhor uso desse espaço”,
completa.
Para a arquiteta, a luz de teatro tem essa
característica: ela é cênica, cumpre papel
estético e ao mesmo tempo, precisa ser funcional, servindo ao público que vai assistir aos
espetáculos. “A luz deve possibilitar a leitura
e a orientação do espectador sem perder a
aura intimista do teatro”, explica. Para ela,
esse é o ponto fundamental e foi um dos
maiores desafios do projeto luminotécnico. “A
Templuz é parceira, trocamos muitas ideias.
Fizemos vários testes em conjunto. Foi uma
troca muito boa”, destaca.
O restauro e modernização do Teatro Francisco Nunes é fruto de uma parceria
público-privada entre a Prefeitura de Belo Horizonte e a Unimed BH. “Consciente
da importância deste equipamento cultural para a cidade de Belo Horizonte,
a Unimed BH abraçou essa causa e assumiu a contratação dos projetos de
arquitetura e complementares, assim como a execução da obra, disponibilizando um montante de R$13 milhões nesse empreendimento”, explica a arquiteta
Mariluce Duque.
Arquiteta Mariluce Duque
Foto: Ludmila Loureiro
pág. 70 - Perfil - Pedro Braga
Perfil - Pedro Braga - pág. 71
2.
O design e
seu poder
de comunicação
Pedro Braga valoriza as possibilidades de interação em produtos que nos fazem pensar
por Pâmilla Vilas Boas
1.
As formas suaves da bandeja “Pão de Açúcar”
representam as montanhas do Rio de Janeiro. O desenho minimalista da mesa de jantar
“Gestalt” é capaz de unir o design estético ao
reflexivo. O designer Pedro Braga (RJ) busca,
em suas criações, estabelecer uma comunicação com o usuário. Para ele, um ponto
importante é transcender a função e agregar
valor intelectual aos objetos. Valor esse que
pode acontecer a partir de uma brincadeira
com a estética do produto, ou até mesmo
envolver o seu uso.
Ele exemplifica essa relação por meio do
“Pazzo”, um dosador de espaguete que criou
no formato de um rosto humano, no qual a
“boca” é o espaço para selecionar a porção necessária para o preparo do alimento.
Segundo ele, essa é a parte que representa a
estética do objeto. O usuário mede a quantidade necessária atravessando a massa por
essa boca, que possui diâmetro equivalente à
medida da porção, ou seja, sua função. “Nessa tarefa, o produto cria a comunicação, já
que, para o usuário, ao preparar sua comida,
ele também estará “alimentando” o dosador
(reflexão). Ele ainda possui imãs na parte de
trás para ser fixado na porta da geladeira,
reforçando a ideia de fetiche do objeto. De
ele estar presente no ambiente da cozinha e
contribuir para torná-lo mais divertido e envolvente, passa a ser uma peça de decoração”,
explica.
Pedro Braga possui formação em Desenho
Industrial pela PUC-RJ e iniciou sua carreira
trabalhando com o designer Marcelo Lobo, na
LB2 Design. Em 2011, lançou a “Pedro Braga
Design”, sua marca autoral. O interesse em
trabalhar com design veio cedo. “Sempre tive
muito contato com o desenho e a arte, desde
pequeno, principalmente em casa, com meu
pai. Ele gostava de arte, pintava quadros,
construía lindas maquetes de trem, possuía
vários hobbies artísticos.”
Sua escolha pelo design de produtos ocorreu
ao longo da faculdade, principalmente pela
percepção do quanto um produto pode impactar a vida das pessoas e da sociedade.
“Quem nunca na vida viu um objeto passando na rua, ou numa revista de decoração, e
simplesmente falou para si mesmo: eu preciso
pág. 72 - Perfil - Pedro Braga
Perfil - Pedro Braga - pág. 73
3.
4.
desse produto na minha sala?
Nesse momento já temos o design
emocional se manifestando através da estética, ocorre um fetiche
provocado pelo objeto”, afirma.
do), que dispensa moldes, altas
tiragens e investimentos exorbitantes. Como consequência, os
produtos oferecem uma logística
simples e barata para o transporte e estoque”, destaca.
Mas, para ele, o design emocional pode ir além e provocar
reflexões e novos pensamentos,
a partir da forma ou da estética.
“Ele diz respeito a todos os aspectos em como o produto irá se relacionar com o usuário, a interação
entre eles. Como irá trabalhar a
forma e a estética, e responder
à sua função e usabilidade. Essa
interação entre ambos pode ser
uma relação mais comportamental, puramente estética, ou pode
provocar uma reflexão ao usuário.
Nesse último caso, ela é mais
emotiva e envolve o intelecto.”
Braga faz parte da nova geração
de profissionais da chamada “Indústria Paralela” e opta por uma
produção com baixo impacto
ambiental e geração de resíduos.
São profissionais que possuem o
conhecimento produtivo necessário para concretizar suas
ideias, o que resulta num modelo
econômico de produção mais
dinâmico, que aproxima a indústria e o designer. Um exemplo é a
metodologia de criação norteada pela produção autoral em
pequena escala. “Para isso, utilizo
processos produtivos automatizados, a partir da tecnologia CNC
(Controle Numérico Computoriza-
1: Pedro Braga
Foto: Lucas Zappa
3 e 4: Pazzo Gula
Fotos: Estúdio Berinjela
2: Estante Cruzada
Foto: Estúdio Beringela
“Os processos estão se tornando
mais automatizados e menos
custosos. Estão mais acessíveis aos
designers contemporâneos e isso
gera produtos bem acabados,
com linha de produção menor
e mais pulverizada entre vários
artistas. A indústria também está
trabalhando mais o design dentro
de suas linhas de produção”, diz.
Segundo Braga, o mercado brasileiro vem começando, aos poucos, a consumir e absorver mais o
design em suas casas, havendo
uma oportunidade interessante
a ser trabalhada. “Ao mesmo
tempo, estou vendo os designers
mais comunicativos, mais unidos,
compartilhando experiências e
conhecimentos e isso tem sido
muito bom para o fortalecimento
da profissão e sua consolidação
no Brasil. O cenário futuro promete ser interessante”, destaca.
pág. 74 - Perfil - Anderson Horta
Perfil - Anderson Horta - pág. 75
Os
melhores
anos de
nossas
vidas
por Ana Cláudia Ulhôa
Imagens de personagens de jogos de vídeo game, situações que ocorrem apenas
em desenhos animados e outras referências que lembram a infância e adolescência das últimas gerações. Apresentar
peças que tragam recordações de tempos
tão agradáveis, fazendo surgir um sorriso
no rosto das pessoas, é o objetivo do trabalho do designer mineiro Anderson Horta.
Interessado nos objetos e seu processo de
criação desde pequeno, Anderson era
aquele aluno que vivia desenhando na
sala de aula. Em casa, adorava montar e
desmontar seus brinquedos e criar peças
diferentes com os materiais que achava
pelo caminho. Porém, foi só no período do
vestibular que Horta descobriu a profissão
de designer.
Após realizar um teste vocacional e fazer
uma pesquisa sobre a área, Anderson
ingressou na FUMEC, se graduando no ano
de 2006. A partir daí, o designer começou
a atuar em agências e escritórios, mas
sempre realizando projetos paralelos. A
vontade de se dedicar a um trabalho mais
autoral fez com que Horta abrisse, em
2009, a Anderson Horta Emotional Design.
Anderson Horta
Foto: Maria Eugenia Monteiro
pág. 76 - Perfil - Anderson Horta
Perfil - Anderson Horta - pág. 77
Escaping vase
Fotos: Anderson Horta
“Eu sempre tive vontade de fazer peças minhas. Aí eu
comecei a jogar as minhas criações na internet. Eu fiz
um blog e coloquei todas as peças lá. Essa exposição
fez a coisa ir tomando corpo. A gente sempre tem sites que descobrem objetos novos na web e divulgam.
Assim, eu comecei a ser entrevistado e a ter obras
publicadas em sites, blogs e revistas”, conta.
Segundo o designer, a opção pelo design emocional
veio da sua preocupação em buscar uma identidade
própria para suas luminárias, utensílios de cozinha e
móveis. “Eu sempre procurei achar uma identidade
de criação. Quando eu era estudante na graduação,
eu fazia os trabalhos de faculdade e não achava o
meu jeito de projetar. Eu comecei a descobrir uma
linguagem praticando. Fui pesquisando um pouco
mais a respeito das teorias do design, buscando referências e descobri o design emocional”.
Um exemplo de peça criada por Horta que segue
essa linha é a luminária 80’s Ghost. Inspirada no Atari,
vídeo game da década de 1980, o objeto, feito em
plástico colorido, tem o formato do fantasma do jogo
Pac Man. “Ela é uma mega recordação de infância
de duas gerações diferentes. Quando você dá de
cara com um ícone desses relido para um objeto de
design, isso te desperta alguma coisa. Aqui tem uma
lembrança, e é uma lembrança coletiva. Isso significa
muito para nós”, afirma.
O vaso Escaping também busca remontar os velhos
tempos, usando como referência os desenhos animados. Feito em barro, a peça possui um formato de
calças, que simulam o movimento de corrida, como
se estivesse tentando fugir de alguma coisa.
“O Escaping tem uma pegada meio cartoon. Quando
a gente é criança vê coisas criando pernas e saindo
correndo. Essa é uma lembrança nossa que passa da
memória racional, é uma memória afetiva”, explica.
Segundo o designer, as referências usadas para
criar seus produtos não saem apenas da sua própria
vivência, mas da observação de tudo o que está
em volta. “Quando eu estou lidando com lembran-
pág. 78 - Perfil - Anderson Horta
Perfil - Anderson Horta - pág. 79
Embalagens dos produtos
Fotos: Anderson Horta
ças da infância, eu busco as minhas
memórias. Mas não são só as minhas
especificamente. Procuro as recordações da minha noiva, dos meus
irmãos, amigos. A gente vai pegando
coisas no ar”.
Ele ainda completa “sabe aquele
efeito de quando você está sentado
em uma mesa de bar, desenhando no
guardanapo uma ideia que parece
ter caído do céu? Ela não caiu do
céu, ela está circulando na sua cabeça o tempo todo, o que você fez foi
juntar uma coisa com outra e aquela
junção ali formou uma nova coisa.
Isso pode acontecer em qualquer
momento”.
Sobre seu processo de criação,
Anderson Horta conta que é necessário “existir um método, porque eu
não posso ficar esperando a ideia
acontecer espontaneamente sempre.
Normalmente, eu tenho a ideia e
registro na hora, depois eu vou desenvolvendo aquele pensamento. Ele é
só o início. Provavelmente, no final, a
ideia que tive antes não vai estar exatamente como caiu no meu colo”.
Hoje, Horta realiza projetos tanto para
a Anderson Horta Emotional Design
quanto para empresas que buscam
desenhos exclusivos de luminárias,
estandes para eventos e lojas de
shoppings.
De acordo com o designer, independente do tipo de projeto que esteja
trabalhando, seu foco sempre será
a memória e o fun. “O que você
fala com humor tem um peso muito
grande. É um peso de impacto, que
te faz pensar sem ser desagradável.
Por isso, faço um vaso com pezinhos
que saem correndo, porque quando
a gente olha a gente ri. Eu acho que
a melhor relação que você pode ter
com alguma coisa é você olhar e dar
um sorriso. É a melhor resposta que a
gente pode ter”.
8.
pág. 80 - LerMais
LerMais - pág. 81
Ler
Mais
por Rita Ribeiro
Um passeio pela memória
Recentemente, passeando pelos sebos de nossa cidade, que agora se
concentram no Edifício Maletta, comecei a pensar em como os livros
ali ficavam em estado adormecido, esperando alguém abri-los para
despertar, no leitor, o conhecimento. Essa imagem é o motivo da seleção abaixo. Por que falar apenas de lançamentos? O conhecimento
fica ali, só nos esperando. E, se nesta edição o tema é a emoção, começamos nosso percurso com três livros que falam da memória, a chave mestra da emoção. Boa leitura!
O MUSEU DA INOCÊNCIA,
Orhan Pamuk – Cia das Letras
“ Era o momento mais feliz da minha vida, mas eu não sabia. Se soubesse, se
tivesse dado o devido valor a essa dádiva, tudo teria acontecido de outra
maneira?” A memória insiste em recriar momentos, que nem sempre foram tão
perfeitos como a sua lembrança. Em “O museu da inocência”, o autor narra a
história de Kemal que, na Turquia dos anos 70, dividida entre a modernização e
as tradições, vive um intenso amor, que vai perseguindo-o ao longo do tempo
e o obrigando a colecionar migalhas de sua amada. A frustração e paixão
contidas se revelam em pequenos objetos – grampos de cabelos, guimbas de
cigarro, que ele coleciona caprichosamente, enquanto narra sua história. E é
na impossibilidade desse amor que ele constrói seu museu. Ao atribuir valor a
esses efêmeros objetos, o autor nos mostra como eles são elementos importantes na constituição de nossas emoções. Duvida? Olhe ao seu redor.
pág. 82 - LerMais
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O TANGO DA VELHA GUARDA,
Arturo Pérez-Reverte – Ed. Record
Não existe música mais passional que o tango. Suas
origens remontam à periferia de Buenos Aires, aos
amores impossíveis, num perfeito duelo de paixões. E é
esse o clima do romance que se passa em três tempos:
os anos 20, 30 e 60 na Europa, que marcam os encontros e desencontros do dançarino de tango Max Costa,
um adorável marginal, e de Mecha Inzunza, a bela e
determinada esposa de um compositor, que busca uma
inspiração para compor um tango. Numa viagem de
navio para Buenos Aires, eles se conhecem. Dos salões
requintados do transatlântico, aos bares de tango em
Buenos Aires, na França no período entre guerras e na
Itália dos anos 60, o casal tece sua história de forma dramática, com encontros e desencontros. De acordo com
o personagem de Max, existem os tangos para se lamentar e aqueles que matam. O Tango da Velha Guarda,
certamente, está na segunda categoria.
O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA,
Gabriel Garcia Marquéz – Ed. Record
Boas histórias ficam no tempo. Se é para falar de emoções, essa é uma das melhores obras do autor colombiano, recentemente falecido. O ponto de partida é a
história real dos pais de Marquéz, que se apaixonaram,
mas pela oposição dos pais da moça, foram afastados
durante um ano. Nesse período, o casal manteve sua
paixão, já que ele era telegrafista e montou uma rede
para se comunicar com a amada onde ela estivesse.
Assim, surgiu a inspiração para o casal Florentino Ariza,
telegrafista, violinista e poeta e Fermina Daza, sua amada. É uma história de uma longa espera. Mas, as esperas
às vezes, valem muito à pena. O livro foi filmado (mas
não fez jus ao romance!) e serviu de inspiração para
outras histórias, como a do filme “Escrito nas Estrelas”,
dirigido por Peter Chelsom. Se você gostou do livro, veja
esse filme!
DESIGN-DRIVEN INNOVATION:
mudando as regras da competição, Roberto Verganti – Ed. Pritchett
do Brasil
Os designers tentam traduzir emoções dos consumidores em produtos. Isso
é tido como o normal nas teorias. Mas e, se ao invés de traduzir emoções,
eles criassem novas? Essa é a proposição instigante de Roberto Verganti.
Design-driven innovation é a inovação guiada pelo design é o processo
conduzido nas áreas de pesquisa e desenvolvimento (P&D) das empresas
para gerar significados, não apenas produzir novos produtos. Ele atribui ao
designer papel preponderante nesse processo, pois o designer parte de
sua própria experiência e visão de mundo para propor novos significados.
Como afirma o presidente da Artemide no livro: “Mercado? Que mercado?
Não olhamos as necessidades do mercado: nós as propomos às pessoas!”.
E Verganti comprova sua teoria a partir de estudos de casos de diversos
produtos. Quem nunca se encantou com uma peça da Alessi?
O FUTURO CHEGOU,
Domenico de Masi - Ed. Casa
da Palavra
O subtítulo – modelos de vida para uma sociedade desorientada – já deixa
claro duas proposições do autor, mais conhecido em nosso país por obras
como “O Ócio Criativo” e “Criatividade e Grupos Criativos”. A primeira é
que não há progresso sem felicidade. E o mundo atual oscila entre a desorientação e o medo. As grandes revoluções burguesas e proletárias que
visavam a liberdade, igualdade e fraternidade já se foram há muito. Outra
é que nossa capacidade de interpretar a realidade vive uma crise, já que
nossos modelos e categorias mentais foram criados na época industrial e
não mais são capazes de explicar o presente. Daí, acabamos sendo induzidos a desconfiar do futuro. Partindo dessas premissas, Masi discute diversos
modelos de vida, para, quem sabe, possamos pensar num modelo alternativo. Em meio à tantas desconfianças frente ao futuro, vale prestar atenção
ao último capítulo do livro, dedicado ao Brasil e que se chama “ O futuro
chegou – o modelo brasileiro”, no qual ele discute aspectos culturais, as recentes manifestações de 2013 e conclui que “ nenhum outro país é amostra
igualmente representativa e metáfora igualmente significativa do mundo inteiro em sua atual fase evolutiva. [...] Como no século XX, a mistura brasileira
tornou-se modelo e paradigma, graças à interpretação genial que dele
fizeram “os inventores do Brasil”; assim, hoje, o mundo inteiro espera alguém
que o reinvente, conferindo-lhe, através de um novo modelo, uma nova e
consciente identidade.” Às vezes é preciso que alguém de fora nos mostre
nosso valor. E Masi faz isso, com competência e emoção.
pág. 84 - Miscelânea - MEMPHIS
Miscelânea - MEMPHIS - pág. 85
1: Pintura óleo sobre tela
Nathalie Du Pasquier
Alma do
século XX
2: Pintura óleo sobre papel
Nathalie Du Pasquier
3: Escultura - Ait-baha
Martine Bedin
4: Escultura - Chaos
Martine Bedin
Fotos: divulgação
Origem musical
Apesar do nome tipicamente norte americano, o movimento nasceu nas noites frias do
inverno milanês. Martine relata que o nome apareceu, pela primeira vez, quase que por
acaso, como um rabisco no caderno do arquiteto italiano Michele De Lucchi, em meados
de dezembro do longínquo ano de 1980, em uma reunião do grupo no pequeno apartamento de Ettore Sottsass e Barbara Radice.
“Estávamos ouvindo uma música de Bob Dylan chamada ‘Stuck Inside of Mobile with
Memphis Blues Again’. Como ninguém se preocupou em mudar o disco, Bob Dylan continuou uivando ‘the Blues Memphis again’, até que Sottsass disse: ‘Já sei! Vamos chamar
1.
2.
3.
4.
O movimento Memphis influenciou o design no mundo ao ampliar
as possibilidades de comunicação dos objetos
“Mas no fundo do meu
coração/Eu sei que não
posso escapar/ Oh, mamãe, pode ser realmente
o fim/De ficar preso dentro
de móveis/Com o blues de
Memphis de novo”.
Bob Dylan
por Pâmilla Vilas Boas
Foi de uma música de Bob Dylan que veio a inspiração para o movimento que marcou a
história do design no mundo. Inicialmente despretensioso, o Memphis Group passou a dar
mais valor às possibilidades estéticas que à ergonomia dos móveis, libertando o design das
amarras da funcionalidade absoluta em prol do livre desenvolvimento criativo das formas.
Como expressão de um espírito do tempo, as ideias do grupo italiano introduziram emoção
nas linhas frias do design mundial.
A proposta do Memphis, que existiu entre 1981 a 1988, trouxe consigo uma discussão crítica
acerca dos paradigmas instaurados pela Bauhaus desde 1919, que até hoje repercutem
sobre o design. O projeto dessa escola, fruto do pensamento racionalista moderno, introduziu
formas e linhas simples nas artes, no design e na arquitetura, trazendo visuais mais limpos e
sem adornos. As formas, pensavam os alemães, deveriam ser definidas pela função do
objeto, e não mais pelo capricho pessoal ou pela tradição histórica.
Seis décadas depois, de maneira igualmente contestadora, mas às avessas, o Memphis
Group desafiou as convenções do design em sua época, que ainda privilegiava formas,
cores e texturas convencionais. Em contraste, inspirado por movimentos como o Art Déco
e a Pop Art, o grupo buscou uma alternativa mais criativa ao design e ofereceu peças que
abusavam das cores, dos brilhos e de formas que, no calor do momento, chegaram a ser
consideradas extravagantes e foram alvo de muitas críticas. “O famoso designer George
Nelson me disse, certa vez: Memphis não é um guia, é um estado de alma. Se você não
sabia que o século XX tinha uma alma, agora você sabe disso”, brinca a designer Martine
Bedin, uma das fundadoras do grupo.
pág. 86 - Miscelânea - MEMPHIS
Miscelânea - MEMPHIS - pág. 87
5: Escultura - Mandya
Martine Bedin
6: Pintura - Óleo sobre tela
Nathalie Du Pasquier
Fotos: divulgação
5.
a nossa coleção de móveis de
‘Memphis’. Todos concordaram, era
um grande nome. Trazia referências a Blues, Tennessee, rock n’ roll,
subúrbio americano e, ao mesmo
tempo, à antiga capital dos faraós
no Egito, a cidade santa do Deus
Ptah”, recorda Martine. Além dos
anfitriões Sottsass e Radice, e da
própria Martine, outros nomes estavam presentes naquela noite de
fundação: Michele De Lucchi, Aldo
Cibic, Matteo Thun e Marco Zanini.
Martine é a criadora da luminária
campeã de vendas “Super”, e desenhou outras 27 peças para todas
as coleções lançadas pelo Memphis Group. “Eu também projetei
o primeiro cartaz para o primeiro
convite do movimento”, afirma.
O conceito “design emocional”
propriamente dito é desconhecido pela designer, mas ela arrisca
alguns palpites sobre o tema. Afinal,
como ela propõe, o nome, em si,
é bastante sugestivo. Ela acredita
que, para projetar qualquer coisa,
é preciso embutir nela uma dose
de emoção. Do contrário, é melhor
não fazê-lo. “Você pode imaginar
uma música não emocional? uma
pintura não emocional?”, questiona.
A designer conheceu Ettore Sotssas,
principal ícone do Memphis, em
1979, quando ele tinha 60 anos.
Martine estava na Triennale di Milano, um museu de design e local de
eventos em Milão, apresentando a
construção de uma pequena casa
e de uma cadeira. “Ele me perguntou quem eu era, e eu respondi
perguntando-lhe: “Quem é você?”
Ele riu e, em seguida, me convidou
para trabalhar com ele em Milão.
Ele tem sido meu mentor e teve
uma enorme influência não apenas
no meu trabalho, mas também em
minha própria vida. Me ensinou a
ser livre. Passei a viver e trabalhar
sem qualquer autoridade, pura e
provocativamente livre. Comecei a
minha vida buscando a vanguarda
e ainda estou no limite do mercado”, relata.
Antes do Memphis, Sotssas já desempenhava papel fundamental
no pensamento sobre o design. Ele
integrou o Studio Alchimia, criado
em 1976, grupo que enfatizava o
papel conceitual dos objetos. Nesse
período, os fatores emocionais,
mais do que os elementos racionais,
passaram a ter grande influência no
design, potencializando relações
da ordem do sensível dos usuários
com aqueles objetos, de forma que
sua funcionalidade não desempenhava mais o papel primordial
nessa relação.
A artista Nathalie Du Pasquier,
também integrante do movimento,
explica que a experiência de seus
anos junto ao Memphis marcou o
início de sua vida profissional. Em
1987, quando o grupo foi dissolvido,
ela se tornou pintora. Nos anos seguintes, começou a produzir construções abstratas que se tornaram
tema de suas naturezas-mortas. “Eu
não posso dizer que fui influenciada
pelo estilo de Memphis, pois eu era
parte dele. Eu era jovem na época
e havia pessoas no grupo que eu
admirava muito, essas pessoas
tiveram influência sobre mim, nas
formas de fazer e de pensar sobre a
importância de objetos e dos rituais
em torno deles. Eu não posso dizer
que Memphis me influencia, mas
por essa experiência eu me tornei o
que sou agora”, relata.
Memphis e o
design brasileiro
Segundo o arquiteto italiano e
integrante do movimento, Marco
Zanini, hoje radicado no Rio de Janeiro, apesar de não terem existido
designers brasileiros representantes
do Memphis, o ofício no Brasil foi
influenciado por este movimento,
sobretudo pela quebra do velho
paradigma “forma segue função”. Para ele, no país, o Memphis
introduziu outras possibilidades ao
design, além das ergonômicas,
como funções existenciais, de comunicação e expressões de signos
culturais.
6.
No final do ano passado, ele realizou a cenografia da “Exposição
Memphis”, montada na loja de
design Firma Casa, em São Paulo.
A exposição trouxe objetos diretos
da Itália que puderam ser adquiridos na loja. “Acho que é sempre
importante para um país como o
Brasil mostrar às novas gerações
aquilo que aconteceu no passado
e que influenciou profundamente a
cultura do design”, afirma.
Ele relata que a trajetória do grupo
influenciou seu trabalho posterior
de maneira marcante, o que, no
entanto, não o impediu de realizar
projetos diferentes, com pouca relação com as pesquisas do Memphis.
“O movimento abriu várias portas e
quebrou muitos muros que fechavam a profissão de designer a um
círculo restrito. Afinal, muitos dos
artistas do grupo não tinham uma
formação oficial”, ressalta.
O mundo em
que habito
pág. 88 - Miscelânea - Giorgio Biscaro
Miscelânea - Giorgio Biscaro - pág. 89
1: Beaver - Porta vela
Design - Odo Fioravanti
2: Tournée - Espelho de maquiagem
Design - Giorgio Biscaro
Fotos: Something Good
“Something Good” reúne a experiência única do trabalho de artesãos no desenvolvimento de produtos com forte vínculo emocional
por Pâmilla Vilas Boas
“Something
Good” reúne a experiência única do trabalho de arte1.
sãos no desenvolvimento de produtos com forte vínculo emocional
Unir designers e artesãos em novos processos de fazer design é o objetivo do “Something
Good”, iniciativa de quatro amigos que decidiram fundar um novo conceito de marca.
Criado em 2013, o projeto pretende destacar pequenas empresas e artesãos, que são
o núcleo da qualidade italiana em produção. O projeto foi idealizado e promovido
pelos designers Giorgio Biscaro, Enrica Cavarzan, Marco Zavagno e Matteo Zorzenoni,
protagonistas de renome da nova geração do design da Itália, que têm em comum um
profundo conhecimento sobre a diversidade de formas de produção em seu país.
Como explica o designer Giorgio Biscaro, trata-se de uma plataforma de produção e
planejamento, que reúne diferentes parcerias, experiências criativas e novas redes. A
proposta é abrir as fronteiras do made in Italy para designers internacionais, colaborando também com as realidades dos negócios estrangeiros.
“Expandir o made in Italy não significa que queremos fechar nossa mente. Temos um
profundo respeito pela cultura e estilos estrangeiros, e pretendemos, no futuro, trabalhar
com designers de todas as partes do mundo, com a ideia de expandir nossas fronteiras
2.
culturais. Não é fácil colocar designers em
contato com artesãos, mas é uma coisa
que, sem dúvida, eu gostaria de fazer”,
explica.
Biscaro acredita que o projeto possibilita
superar os limites físicos dos objetos, para
expressar outras informações, como o
contexto que tornou possível sua existência. Segundo ele, o artesão produz objetos
quentes, nos quais a mão do homem
é realmente visível. O objetivo é que o
Something Good torne todos esses valores
visíveis, trazendo a ideia de que cada
peça é única e foi feita especialmente
para aquele cliente. “Os produtos que
vendemos são comercialmente possíveis
apenas neste tempo e neste lugar, adquirindo certo valor. Acreditamos que é por
isso que as pessoas estão redescobrindo o
artesanato. Ele nos lembra de um tempo
em que éramos felizes e despreocupados.
Assim, emancipamo-nos de elementos de
instabilidade”, relata.
Para Biscaro, todos os dias somos bombardeados por informações visuais que criam
uma linguagem, um conjunto completo
de referências que determinam nossa concepção de bom, feio, mau, feliz, triste e assim por diante, o que ajuda na concepção
de objetos próximos das pessoas. É por isso
pág. 90 - Miscelânea - Giorgio Biscaro
3.
Miscelânea - Giorgio Biscaro - pág. 91
4.
6.
5.
que ser emocional hoje, como explica o
designer, é mais importante do que nunca.
Para ele, embora não exista receita para
tocar a sensibilidade das pessoas, observar as características dos produtos que se
tornam ícones pode ser uma maneira de
assimilar melhor os objetos.
“Não é como encontrar tendências. Essa
é uma palavra fictícia que se concentra
apenas no aspecto visual das coisas. E
escolher a cor apropriada, forma, tipologia, pode fazer um objeto mais ou menos
perto da expectativa de um determinado
usuário. Nesses termos, pensamos que um
designer deve conhecer muito bem o mundo em que habita”, completa.
Concepção dos produtos
Giorgio Biscaro ressalta que as relações
entre designers, empresas e produtores se
3: Bumblebee - Lampião a óleo
Design - Giorgio Biscaro
4: Baguette - Peso de papel
Design - Giorgio Biscaro
5. Split - Porta treco
Design - Tomas Kral
6: Zebra - Porta documentos
Design - Matteo Zorzenoni
Fotos: Something Good
tornaram fortes na Itália ao longo dos anos,
desde o pós-guerra até os dias atuais. Para
ele, essa forma de abordar a produção
ainda é insuperável. “A Itália construiu sua
economia em torno da alta qualidade do
artesanato italiano. O que o país não tem
é a capacidade de comunicar o valor desses ofícios, mas temos esperança de que
podemos preencher essa lacuna, fazendo
uma forte comunicação de como as coisas são produzidas e concebidas”.
O modelo de produção do Something
Good respeita o ritmo de trabalho dos
artesãos, com um volume de venda
equilibrado e prorrogável por demanda.
Ao mesmo tempo, a distribuição on-line
permite a redução dos custos, resultando
num preço acessível para o produto final.
O projeto reinventa o processo industrial
do design tradicional e se posiciona no
cruzamento entre as empresas tradicionais,
pág. 92 - Miscelânea - Giorgio Biscaro
7.
7: MRS - Garrafa
Design - Matteo Zorzenoni
8: Miss - Garrafa
Design - Matteo Zorzenoni
Fotos: Something Good
8.
as galerias de arte e as lojas de design,
abrindo novas oportunidades de desenvolvimento para os fornecedores locais, bem
como uma experiência mais ampla de
marketing global.
Esse novo padrão contribuiu para quebrar
as fronteiras entre projetualidade, comunicação e distribuição, unindo tudo em um
processo coeso. Além disso, permite traçar
uma diretriz que combina o amor pelo
detalhe, as normas de fabricação de alta
qualidade e a sustentabilidade da produção de uma forma global.
Biscaro explica que, como optaram por
trabalhar com artesãos, não seria possível
aplicar a lógica habitual de mercado, pois
o preço se tornaria alto, e a ideia era que
os produtos fossem os mais acessíveis possíveis. “Por isso, trabalhamos em pequenos
lotes, encontrando acordos com nossos
produtores para fazer todo mundo feliz e
criar uma economia sustentável. Sustentabilidade não é apenas o uso de materiais
reciclados ou de redução do consumo,
mas também produzir a quantidade correta de mercadorias. Confiamos profundamente nisso”, completa.
PATROCÍNIO:
REALIZAÇÃO:
INCENTIVO:
CAMILOBELCHIORDESIGN
Projeto executado por meio da Lei Estadual
de Incentivo à Cultura de Minas Gerais
www.revistaideia.com / [email protected] / CA 0600-001-2013

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