estudo da atividade muscular de idosos durante a marcha em
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estudo da atividade muscular de idosos durante a marcha em
ESTUDO DA ATIVIDADE MUSCULAR DE IDOSOS DURANTE A MARCHA EM ESTEIRA ERGOMÉTRICA Ródney Silva Abreua; Thiago Bruno Caparellib; Valdeci Carlos Dionisioc; Eduardo Lazaro Martins Navesd a Mestrando em Engenharia Biomédica; bDoutorando em Engenharia Biomédica; cProfessor Adjunto da Faculdade de Educação Física/Curso de Fisioterapia; dProfessor Adjunto da Faculdade de Engenharia Elétrica/Curso de Engenharia Biomédica Universidade Federal de Uberlândia, /Laboratório de Engenharia Biomédica, Uberlândia – MG, [email protected] Resumo1 – A marcha é responsável pela independência dos idosos nas atividades de vida diárias. Mudanças músculo-esqueléticas ocorrem nesta população em particular, em resposta a processos de envelhecimento. As esteiras, comumente utilizadas para pesquisa de marcha, podem ser inicialmente uma experiência diferente devido ao grande contraste com o ambiente do equipamento ao redor. O objetivo desse estudo piloto foi analisar a atividade muscular do tibial anterior e gastrocnêmio medial através do sinal eletromiográfico na marcha de mulheres idosas com e sem familiarização com a esteira. Foi visto que o sujeito III (familiarizado com esteira) teve menor pico de frequência do sinal eletromiográfico para o tibial anterior esquerdo, porém o mesmo não aconteceu em relação ao tibial anterior direito. Como a estabilização do joelho é realizada com a ativação de ambas porções do gastrocnêmio, observou-se valores maiores de contração muscular desse músculo em ambos hemicorpos em comparação com os músculos tibiais direito e esquerdo para os sujeitos I e III. Palavras-Chave – Eletromiografia, Esteira, Idosos, Marcha STUDY OF MUSCLE ACTIVITY OF THE ELDERY DURING GAIT IN TREADMILL Abstract - The gait is responsible for the independence of older people in activities of daily living. Musculoskeletal changes occur in this particular population, in response to aging processes. The treadmills, commonly used by analysis of gait, initially can be a different experience because of the stark contrast with the environment around the equipment. The aim of this pilot study was to analyze the muscle activity in tibialis anterior and medial gastrocnemius electromyographic signal through the gait of elderly women with and without familiarity with the treadmill. It was noted that the subject III (familiar with treadmill) had lower peak frequency of the electromyographic signal to the left tibialis anterior, but this did not apply in relation to right tibialis anterior. 1 As knee stabilization is accomplished with activation of both portions of gastrocnemius, there were higher values of the contraction of this muscle in both hemisphere compared with right and left tibialis anterior for the subjects I and III. Keywords - Electromyography, Elderly, Gait, Treadmill, I. INTRODUÇÃO Com o aumento da expectativa de vida, surgiu a necessidade de estratégias eficazes e viáveis para que os indivíduos idosos possam viver mais e com melhor qualidade de vida [1]. A marcha é uma das atividades funcionais mais importantes para que o idoso se mantenha capaz de realizar suas tarefas cotidianas, como higiene pessoal, sair de casa e ter uma vida social ativa. Para que o idoso prossiga vivendo independentemente na sociedade, ele deve deambular de forma segura e confortável. Assim, urge-se a necessidade de compreender as multidimensionalidades do envelhecimento em relação ao movimento humano. Para tanto, torna-se importante determinar as mudanças que ocorrem nos padrões da marcha durante o processo de envelhecimento. Os músculos são os maiores geradores de força e da amplitude articular que resulta no movimento. As unidades motoras, formadas por um neurônio motor e todas as fibras por ele inervadas, têm a propriedade de excitabilidade e são, portanto, passíveis de despolarização e de repolarização a partir de um potencial de ação (PA). O sinal eletromiográfico é formado pelo somatório dos PAs das unidades motoras subjacentes ao equipamento e é visualizado em um eletromiograma. O estudo do eletromiograma denomina-se Eletromiografia (EMG) [2]. Sabe-se que as quedas em idosos têm diversas consequências como possíveis fraturas, o risco de morte, o medo de cair, a restrição de atividades, o declínio da saúde e o aumento do risco de institucionalização [1][3]. A etiologia das quedas em idosos é multifatorial. Entretanto, estudos vêm demonstrando que 55% das quedas estão relacionados com alterações da marcha, 32% com alterações de equilíbrio e o restante com fatores extrínsecos como superfícies irregulares, escadas, sapatos inapropriados, entre outros [4][5][6]. No processo de envelhecimento, vê-se redução da liberação de neurotransmissores do sistema nervoso, degeneração da placa motora (ou junção neuromuscular) e perda de moto-neurônios que resulta na diminuição das unidades motoras [7][8]; no sistema musculo-esquelético observa-se redução da massa muscular ou sarcopenia, devido ao menor número de fibras musculares, principalmente fibras tipo II (contração rápida) e a infiltração de estruturas não contráteis, como tecido conjuntivo e adiposo. Na tentativa de relacionar os aspectos peculiares da velhice com as características físico-funcionais do indivíduo, é necessário analisar, através da eletromiografia de superfície (EMG), o efeito do envelhecimento na contração muscular. Nota-se que a esteira é comumente utilizada para pesquisa de marcha. Esteiras fornecem um ambiente conveniente para a avaliação e reabilitação com variáveis como velocidade e inclinação controladas e com os ciclos da marcha múltiplas que podem ser avaliados facilmente. O uso de esteiras, contudo, repousa ainda sobre a suposição de que medidas confiáveis e válidas da marcha durante a caminhada na esteira é comparável às medidas da marcha de andar sobre o chão. Caminhada em teoria é equivalente a andar no solo. Na realidade a marcha em esteira pode ser inicialmente uma experiência diferente devido ao grande contraste com o ambiente do equipamento ao redor. Assim, o objetivo desse estudo piloto foi analisar eletromiograficamente os músculos tibial anterior e gastrocnêmio medial na marcha de mulheres idosas com e sem familiarização com a esteira, observando o padrão de locomoção empregado e se ocorre diferenças no padrão de atividades musculares nesses sujeitos. II. MATERIAIS E MÉTODOS Os indivíduos avaliados nessa pesquisa são idosos praticantes de atividades físicas do grupo de Atividades Físicas e Recreativas para a Terceira Idade - Vida Ativa (AFRID) em Uberlândia/MG. Especificamente, esse projeto piloto analisou 3 mulheres idosas: sujeito I sem contato anterior com marcha em esteira, 56 anos, 77,9Kg, 1,55m; sujeito II sem experiência prévia de marcha em esteira, 61 anos, 49,6Kg, 1,53m; e por fim o sujeito III, familiarizada com marcha em esteira, 60 anos, 57,4Kg, 1,52m. Todos os sujeitos não faziam uso de bebida alcoólica e apenas o sujeito III era tabagista. Inicialmente, as voluntárias foram avaliadas, através de anamnese e exame físico com testes de função muscular, testes especiais (como Ely, Thomas e gaveta anterior do joelho), testes de equilíbrio de Romberg, antropometria, palpação e aferição de pressão arterial (PA). Foi utilizada uma esteira motorizada da marca REEBOK® modelo TR3 Premier Run, equipada com suportes anteriores e laterais, um display de velocidade, com motor elétrico de 3,0 HP e a área de caminhada de 153 x 51 cm. As voluntárias caminharam na esteira sem inclinação, a velocidade progressiva a partir do repouso até estabilizar em 0,61m/s, por 3 minutos. Foi coletado 30 segundos de sinal eletromiográfico, iniciando após 90 segundos de estabilização da velocidade. Deve-se ressaltar que os sujeitos caminharam na esteira descalços. A coleta dos dados foi realizada no Laboratório de Biomecânica do Centro de Excelência no Esporte (CENESP) da Faculdade de Educação Física (FAEFI/UFU). A análise computacional e estatística dos dados, bem como o desenvolvimento de materiais para publicação dos resultados foi realizada no Laboratório de Bioengenharia (BioLab), da Faculdade de Engenharia Elétrica (FEELT/UFU). Foi utilizado o equipamento marca EMG System®, utilizando 2 canais para coleta de EMG e um canal para o acelerômetro (veja figura 1). Fig. 1. Representação do equipamento utilizado para aquisição da acelerometria e eletromiografia O acelerômetro foi posicionado no eixo crânio-caudal, fixado no espaço intervertebral entre L3 e L4. Para coleta do sinal EMG foram utilizados eletrodos ativos bipolares fixados nos ventres dos músculos tibial anterior e gastrocnêmio medial, seguindo as recomendações do projeto Seniam [9]. Para a normalização dos dados eletromiográficos, foi coletado a contração isométrica voluntária máxima (CIVM) dos indivíduos. Foram adotados como critérios de exclusão participantes que apresentassem histórico de patologias de ordem neurológicas, e osteo-musculares que limitassem a marcha ou que tivessem descompensações cardiovasculares com PA sistólica acima de 140 mmHg. O estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Uberlândia (CEP/UFU), sendo registrado sob o protocolo 414/10. III. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os sujeitos analisados praticavam pelo menos duas modalidades esportivas diferentes por semana. Apenas uma voluntária fazia uso de medicamentos anti-hipertensivos, sendo que 66,67% dos sujeitos apresentaram PA inicial de 130 x 90 mmHg e 33,33% tiveram PA inicial de 110 x 70 mmHg. Os valores referentes aos dados eletromiográficos foram normalizados em relação ao valor obtido na CIVM e são apresentados a seguir como percentual desse valor máximo. O sujeito I apresentou como média do sinal eletromigráfico para o músculo tibial anterior esquerdo (TAE) 12,4%ara o tibial anterior direito (TAD) 14,8%, para o gastrocnêmio medial esquerdo (GME) 29,1%, para o gastrocnêmio medial direito (GMD) 26,6%. Já para o sujeito II, a média do sinal eletromigráfico normalizado foi para o TAE foi 50%, para o TAD foi 45,6%, para o GME foi 60,5%% e para o GMD foi 41,3%. Por fim, para o sujeito III, os dados normalizados da media do sinal eletromiográfico para TAE foi 39,1%, para o TAD foi 32,3%%, para o GME foi 21,2%% e para o GMD foi 22%%. Pode-se visualizar maiores detalhes da média do sinal eletromiográfico na tabela I. TABELA I Análise do sinal eletromigráfico - Média TAE TAD GME GMD I 0,124 0,148 0,291 0,266 II 0,5 0,456 0,605 0,413 III 0,391 0,283 0,197 0,191 Com relação aos valores quadráticos médios (RMS) dos dados eletromiográficos, após a normalização, demonstrados na tabela II, tem-se que o sujeito I apresentou para o TAE 21%, para o TAD 30%, para o GME:38,4%, e para o GMD:36,8%. Ao passo que o sujeito II mostrou valores normalizados de RMS para o TAE:57,2%, TAD:52,4%, GME:60,5% e para o GMD:51%. Por fim, para o sujeito III, tem valores RMS para o TAE 48,1%, para o TAD 41,2%, para o GME 37,4% e para o GMD 32,8%. Pode Valor nomralizado [% do máximo] Sujeitos Tibial Anterior Direito Sujeito I GME GMD 0,368 I 0,21 0,3 0,384 II 0,572 0,524 0,605 0,51 III 0,481 0,412 0,374 0,328 Por fim, os valores do pico de frequência (PF) do sinal eletromiográfico, normalizados em relação ao valor obtido pela CIVM, vistos na tabela III, no sujeito I foi para o TAE 32%, para o TAD 32%, para o GME 32% e para o GMD 7,7%. Já para o sujeito II, os dados correspondentes para o TAE foi 26%, para o TAD foi de 6%, para o GME foi de 26% e para o GMD foi de 13%. E para o sujeito III, os valores normalizados de pico de freqüência obtidos para o TAD, TAD, GME e GME foram iguais e correspondem 15,3%. TABELA III Análise do sinal eletromigráfico –Pico de Frequência Sujeitos TAE TAD GME GMD I 0,32 0,32 0,32 0,077 II 0,26 0,06 0,56 0,13 III 0,153 0,153 0,153 0,153 No gráfico das figuras 2 e 3, nota-se os valores da média, RMS e pico de frequência do sinal eletromiográfico separados por músculos. Nota-se que o sujeito III (familiarizado com esteira) teve menor pico de frequência para o TAE, porém o mesmo não aconteceu em relação ao TAD. Tibial Anterior Esquerdo Valor normalizado [% do máximo] TAD Sujeito I Sujeito II Sujeito III Fig. 3. Valores normalizados da média, RMS e PF nos 3 sujeitos para o músculo tibial anterior esquerdo. Já para os músculos GME e GMD a média dos valores normalizados dos dados eletromiográficos para o sujeito III foram sempre menores que para os sujeitos não familiarizados com a marcha em esteira, como pode ser visto nas figuras 4 e 5. Gastrocnêmio Medial Esquerdo Valor Normalizado [% do máximo] TAE Sujeito III Fig. 2. Valores normalizados da média, RMS e PF nos 3 sujeitos para o músculo tibial anterior direito. TABELA II Análise do sinal eletromigráfico -RMS Sujeitos Sujeito II Sujeito I Sujeito II Sujeito III Fig. 4. Valores normalizados da média, RMS e PF nos 3 sujeitos para o músculo gastrocnêmio medial esquerdo. Valor normalizado [% do máximo] Gastrocnêmio Medial Direito lado, os outros sujeitos que não tinham a experiência com a esteira, para compensar a insegurança sentida durante a tarefa, aumentaram a atividade elétrica dos músculos analisados. IV. CONCLUSÃO Sujeito I Sujeito II Sujeito III Fig. 5. Valores normalizados da média, RMS e PF nos 3 sujeitos para o músculo gastrocnêmio medial direito. No gráfico das figuras 2 e 3, nota-se os valores da média, RMS e pico de frequência do sinal eletromiográfico separados por músculos. Nota-se que o sujeito III (familiarizado com esteira) teve menor pico de frequência para o TAE, porém o mesmo não aconteceu em relação ao TAD. Em termos de variáveis cardiovasculares, PA final do sujeito I foi 135x x 95 mmHg, para o sujeito II foi 130 x 80 mmHg e para o sujeito III foi 140 x 95. Como esperado, deve ser notado a grande variação de PA sistólica para o sujeito II, não familiarizado com a esteira. Os músculos desempenham papel fundamental para o correto desencadeamento da marcha. A musculatura dos membros inferiores desempenha três funções distintas durante a locomoção: a frenagem dos segmentos empurrados pela energia cinética, o amortecimento dos choques e das vibrações e a aceleração dos segmentos em uma medida bastante fraca [10]. Assim, a análise da musculatura do membro inferior e sua relação com a marcha fornece informações sobre o processo de locomoção do idoso e indiretamente sobre seu grau de independência funcional. O tríceps sural (gastrocnêmio e sóleo) garante a estabilidade do joelho utilizando o pé como inserção de ancoragem e agindo por visco-elasticidade sobre o platô tibial. Mecanicamente, a estabilização do joelho pelo tríceps sural só pode ser compreendida com o pé no solo, onde o segmento tibial no final da fase de apoio avança menos rapidamente que o segmento da coxa, acarretando uma tendência à estabilização do joelho [10]. Isso pode ser verificado com valores maiores de contração muscular para os músculos GMD e GME em comparação com os músculos TAE e TAD para os sujeitos I e III. Apesar do comportamento anômalo do sujeito II, os valores para GME e GMD foram próximos aos valores para TAE e TAD. Isso pode ser devido às mudanças que ocorrem com o avanço da idade que afetam a habilidade de adaptação a modos não familiares de marcha, como foi o caso da caminhada em esteira. Observa-se que o indivíduo familiarizado com a esteira teve, em geral, melhor controle dos músculos estudados, haja visto que a análise da média, RMS e PF do sinal eletromiográfico foi menor do que os demais sujeitos. Isto sugere que o sistema nervoso foi capaz de recrutar apenas o necessário para a execução da tarefa. Por outro Urge-se a necessidade de estudos sobre o comportamento muscular de atividades motoras como a marcha. Os dados analisados sugerem que existe diferença da marcha de idosos com e sem familiarização com a esteira. Porém, este foi apenas um estudo piloto, com poucos voluntários. É necessário projetos com maior número de voluntários e maior número de variáveis analisadas para conclusões mais abrangentes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] M.R. Perracini; L.R. Ramos, “Fall-related factors in a cohort of elderly community residents”, Rev Saude Publica, vol. 36, no. 6, pp. 709-716, December 2002. [2] D.A. Winter, Biomechanics and Motor Control of Human, Movement, 2ª Edição, Waterloo, 2004. [3] P.A. Stalenhoef, J.P. Diederiks, L.P. De Witte, K.H. Schiricke, H.F. Crebolder, “Impact of gait problems and falls on functioning in independent living persons of 55 years and over: a community survey”, Patient Educ Couns, vol. 36, no. 1, pp. 23-31, January 1999. [4] J.M. Hausdorff, H.K. Edelberg, M.E.; SINGH, M.A. Cudkowicz, J.Y. Wei, “The relationship between gait changes and falls”, J Am Geriatr Soc, vol. 45, no. 11, pp. 1406, November 1997. [5] D.A. Winter, A.E. Patla, J.S. Frank, S.E. 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