Volume 13, Números 1 e 2 - Revista PAG

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Volume 13, Números 1 e 2 - Revista PAG
GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
SECRETARIA DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA
FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PESQUISA AGROPECUÁRIA
ISSN 0104-9070
PESQUISA
AGROPECUÁRIA
GAÚCHA
PORTO ALEGRE
Pesq. Agrop. Gaúcha, Porto Alegre, v.13, n.1-2, p. 1-146, 2007.
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FEPAGRO - DIVISÃO DE COMUNICAÇÃO RURAL
Publicação editada pelo SETOR DE EDITORAÇÃO
Rua Gonçalves Dias, 570 - Bairro Menino Deus
Fone: (51) 3288-8050 Fax: (51) 3233-7607
e-mail: [email protected]
PORTO ALEGRE - RS
CEP 90130-060
BRASIL
Tiragem: 550 exemplares
CATALOGAÇÃO NA FONTE
PESQUISA AGROPECUÁRIA GAÚCHA / Fundação Estadual de Pesquisa
Agropecuária; Secretaria da Ciência e Tecnologia.
Porto Alegre, RS - Brasil, 1995 Semestral – ISSN 0104-9070
2007, v. 13, n. 1-2, p. 1-146.
Inclui Seções de Agronomia, Veterinária, Zootecnia e Comunicado Técnico.
CDU 63(05)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
PESQUISA AGROPECUÁRIA GAÚCHA. Porto Alegre: FEPAGRO, v.13, n.1-2,
p. 1-146, 2007.
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FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - FEPAGRO
PESQUISA AGROPECUÁRIA GAÚCHA
ISSN 0104-9070
DIVISÃO DE COMUNICAÇÃO RURAL: Lauro Beltrão – Coordenador
COMISSÃO EDITORIAL: Alexandre de Carvalho Braga
Eduardo P. de Albuquerque
José Ricardo Pfeifer Silveira
Nídio Antonio Barni
Ronaldo Matzenauer – Presidente
ASSESSORIA DA COMISSÃO EDITORIAL:
BIBLIOTECÁRIA: Nêmora Arlindo Rodrigues - CRB-10/820
JORNALISTA: Hilda Gislaine Araújo de Freitas - MTb 6637
ESTAGIÁRIO: Diogo Aguiar Neumann
CAPA: Hisayo Esaka Beltrão
CONSULTORES CIENTÍFICOS DO PRESENTE NÚMERO:
Adilson Tonietto - FEPAGRO
Alexandre Costa Varella - EMBRAPA/Pecuária Sul
Algenor da Silva Gomes - EMBRAPA/Clima Temperado
Ana Maria Girardi-Deiro - EMBRAPA/Pecuária Sul
André Abichequer - FEPAGRO
Andréia Mara Rotta de Oliveira - UERGS
Auri Brackmann - UFSM/Depto. de Fitotecnia
Carlos Alberto Ceretta - UFSM/Depto. Solos
Carlos Antonio Saraiva Osório - FEPAGRO/Fertilidade do Solo
Dalvan José Reinert - UFSM/CCR/Depto. de Solos
Diva de Souza Andrade - Instituto Agronômico do Paraná
Eliana Gertrudes de Macedo Lemos - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/Jaboticabal
Elizabeth Lisboa de Saldanha Souza - CPF/FEPAGRO
Fábio Kessler Dal Soglio - UFRGS/Depto. Fitossanidade
Francisco Amaral Villela - UFPEL
Gertrudes Corção - UFRGS/Depto. Microbiologia-ICBS
Gerzy Maraschin - FEPAGRO
Joao Carlos de Saibro - UFRGS/Agronomia
Julio Otavio Jardim Barcellos - UFRGS/Agronomia
Jussara Medeiros - UFRGS/Depto. de Botânica
Keigo Minami - ESALQ/USP
Maria Angélica M. Silveira - FEPAGRO
Marino José Tedesco - UFRGS/Agronomia
Moacir Berlato - UFRGS/Agronomia
Paulo Cezar Cassol - Udesc/Centro de Ciências Agroveterinárias
Renar João Bender - UFRGS/Depto. de Horticultura
Silvio Steinmetz - EMBRAPA/CPACT
Soeni Bellé - CEFET/BG
Solange Tonietto - FEPAGRO
Sueli Terezinha Van Der Sand - UFRGS/Depto. de Microbiologia-ICBS
Susana López - UFRGS/Agronomia
Valmir Duarte - UFRGS/Agronomia
Vivian Fisher - UFRGS/Agronomia/Depto. de Zootecnia
Zélia Castilhos - FEPAGRO
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PESQUISA AGROPECUÁRIA GAÚCHA
ISSN 0104-9070
VOLUME 13 - NÚMEROS 1-2 - 2007
LISTA DOS AUTORES
Adilson Tonietto - 7,95
Andréia Mara Rotta de Oliveira - 23,29
Aristides Câmara Bueno - 11
Bernadete Radin - 29
Bruno Brito Lisboa - 29
Carla Azambuja Centeno Bocchese - 29
Carlos Nabinger - 115
Carlos Santos Gottschall - 125
Carolina Wunsch - 131
Claudete Miranda Abreu - 79
Cristian André Prade - 39
Dario Munt de Moraes - 79
Denílson Ribeiro Viana - 11
Eduardo Castro da Costa - 131
Eduardo Tonet Ferreira - 125
Eliane Villamil Bangel - 23
Ênio Rosa Prates - 131
Evandro Neves Muniz - 137
Evandro Zacca Ferreira - 137
Gilberto Omar Tomm - 47, 61, 69
Gilmário da Silva - 23
Hélio Radke Bittencourt - 125
Henrique Belmonte Petri - 89
Henrique Pereira dos Santos - 47, 61, 69
Ilsi Iob Boldrini - 115
Ivar Antonio Sartori - 89
Jaime Ricardo Tavares Maluf - 11
João Caetano Fioravanço - 17
José Ricardo Pfeifer Silveira - 29
Júlio Otávio Jardim Barcellos - 131
Jurandir Gonçalves de Lima - 89
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Jussara Medeiros - 39
Laurie Fofonka Cunha - 11
Leonardo Araripe Crancio - 115
Leonardo Canellas - 125
Lia Rosane Rodrigues - 17
Luciano Kayser Vargas - 29
Luiz Augusto Salles das Neves - 79
Márcia dos Santos - 11
Marcos Silveira Wrege - 11
Maria Helena Fermino - 7
Miguel Dall’agnol - 23
Naylor Bastiani Perez - 23
Nei Fernandes Lopes - 79
Nelson Sebastião Model - 95
Odoni Loris Pereira de Oliveira - 137
Otto Carlos Koller - 89
Paulo César de Faccio Carvalho - 115
Paulo Roberto Simonetto - 17
Rainoldo Alberto Kochhann - 47, 61
Renato Borges de Medeiros - 105
Renato Serena Fontaneli - 69
Rodrigo Favreto - 95
Ronaldo Matzenauer - 11
Rosa Trinidad Guerrero - 39
Sergiomar Theisen - 89
Silvio Túlio Spera - 47, 61, 69
Solange Machado Tonietto - 7
Telmo Focht - 105
Thércio M.S. Freitas - 137
Yuri Regis Montanholi - 131
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PESQUISA AGROPECUÁRIA GAÚCHA
ISSN 0104-9070
Volume 13
Números 1-2
2007
Sumário / Table of contents
Agronomia / Agronomy
Artigos científicos / Papers
Germinação de sementes de porta-enxertos de citros em três substratos
Germination of seedlings of citrus at three substrates
Adilson Tonietto, Solange Machado Tonietto, Maria Helena Fermino ........................................................................ 7
Regime anual e estacional de horas de frio no Estado do Rio Grande do Sul,Brasil
Annual and seasonal regimen of chilling hours in Rio Grande do Sul State, Brazil
Ronaldo Matzenauer, Aristides Câmara Bueno, Jaime Ricardo Tavares Maluf, Marcos Silveira Wrege,
Denílson Ribeiro Viana, Márcia dos Santos e Laurie Fofonka Cunha ........................................................................ 11
Antecipação e concentração da colheita da ameixa ‘IRATI’ tratada com ETEPHON
Earlier and more uniform harvest of ‘IRATI’plums applying ETHEPHON
João Caetano Fioravanço, Paulo Roberto Simonetto, Lia Rosane Rodrigues ............................................................ 17
Caracterização genética de rizóbios isolados de Lotus corniculatus L.
Genetic characterization of rhizobia isolated from Lotus corniculatus L.
Andréia Mara Rotta de Oliveira, Naylor Bastiani Perez, Miguel Dall’agnol,
Eliane Villamil Bangel, Gilmário da Silva ..................................................................................................................... 23
Seleção de antagonistas para o controle biológico de Botrytis cinerea em tomateiro sob cultivo protegido
Selection of antagonists for the biological control of Botrytis cinerea in tomato grown under protected cultivation
Carla Azambuja Centeno Bocchese, Bruno Brito Lisboa, José Ricardo Pfeifer Silveira,
Luciano Kayser Vargas, Bernadete Radin, Andréia Mara Rotta de Oliveira ............................................................... 29
Antagonismo in vitro de Trichoderma harzianum,Trichoderma koningii e Paecilomyces variotti
a fungos patogênicos do morangueiro
Study about filamentous fungi in the cultivation of strawberry plant in three crops under ecological planting
Jussara Medeiros, Rosa Trinidad Guerrero, Cristian André Prade ............................................................................. 39
Efeito de sistemas de manejo em atributos químicos do solo
Effect of management systems in soil chemical attributes
Gilberto Omar Tomm, Henrique Pereira dos Santos, Silvio Tulio Spera, Rainoldo Alberto Kochhann ....................... 47
Efeito de sistemas de manejo em atributos físicos do solo
Effect of management systems in soil physical attributes
Silvio Tulio Spera, Henrique Pereira dos Santos, Gilberto Omar Tomm, Rainoldo Alberto Kochhann ...................... 61
Efeito de pastagens sobre o nível de fertilidade do solo em sistemas de produção
de grãos sob plantio direto após dez anos
Effect of pastures on soil fertility in crop production systems under no-tillage after ten years
Henrique Pereira dos Santos, Renato Serena Fontaneli, Silvio Tulio Spera, Gilberto Omar Tomm ............................. 69
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Vigor de sementes e atividade bioquímica em plântulas de arroz submetidas a ácidos orgânicos
Vigor of seeds and biochemical activity in rice seedlings treated with organic acids
Luiz Augusto Salles das Neves, Dario Munt de Moraes, Nei Fernandes Lopes, Claudete Miranda Abreu .............. 79
Raleio químico de tangerineira cv. ‘Montenegrina’ (Citrus deliciosa Tenore) com pulverizações de ETEPHON
Fruits thinning with growth regulators on ‘Montenegrina’ mandarins (Citrus deliciosa Tenore)
Ivar Antonio Sartori, Otto Carlos Koller, Sergiomar Theisen,
Henrique Belmonte Petri, Jurandir Gonçalves de Lima ............................................................................................... 89
Artigo de Revisão / Review
Sigatoka negra, fatores de ambiente e sistemas agroflorestais em bananais do Rio Grande do Sul, Brasil
Black Sigatoka, environmental factors and agroforestry systems in
banana plantations of Rio Grande do Sul, Brazil
Rodrigo Favreto, Nelson Sebastião Model, Adilson Tonietto ................................................................................... 95
Invasão, prevenção, controle e utilização do capim-annoni-2 (Eragrostis plana Nees) no Rio Grande do Sul, Brasil
Invasion,prevention,control and utilization of capim-annoni –2 (Eragrostis plana Nees)
in Rio Grande do Sul,Brazil
Renato Borges de Medeiros, Telmo Focht ............................................................................................................... 105
Controle de plantas nativas indesejáveis dos campos naturais do Rio Grande do Sul
Control of native undesirable species from Rio Grande do Sul natural pastures
Leonardo Araripe Crancio, Paulo César de Faccio Carvalho, Carlos Nabinger, Ilsi Iob Boldrini .............................. 115
Comunicado Técnico / Note
Avaliação do Desempenho Reprodutivo de Novilhas de Corte Acasaladas aos 14, 18 e 26 Meses de Idade
Evaluation of reproductive performance of beef heifers mated at 14, 18 and 26 months of age
Carlos Santos Gottschall, Eduardo Tonet Ferreira, Leonardo Canellas, Hélio Radke Bittencourt .......................... 125
Avaliação das alterações bromatológicas do feno de campo nativo durante o armazenamento
Evaluation of the modifications in the chemical composition of natural pasture hay during storage
Carolina Wunsch, Júlio Otávio Jardim Barcellos, Ênio Rosa Prates,
Eduardo Castro da Costa, Yuri Regis Montanholi ................................................................................................... 131
Avaliação de métodos de adubação no estabelecimento de forrageiras
cultivadas com semeadura direta em campo natural
Evaluation of fertilizing methods on the establishment of pasture species on native pasture by direct sowing
Odoni Loris Pereira de Oliveira, Evandro Neves Muniz, Thércio M.S. Freitas, Evandro Zacca Ferreira .................. 137
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GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE PORTA-ENXERTOS DE CITROS EM TRÊS SUBSTRATOS
Germinação de sementes de porta-enxertos de citros em três substratos
Adilson Tonietto1, Solange Machado Tonietto2 e Maria Helena Fermino3
Resumo - Avaliou-se a formação de porta-enxertos de citros em substratos compostos de casca de arroz queimada. O experimento
foi conduzido na Fepagro Fruticultura, Taquari RS, utilizando-se três substratos (mistura, substrato comercial e casca de arroz
queimada) e sementes de dois porta-enxertos (Poncirus trifoliata e Citrus sunki), semeados em tubetes (50 cm³) e cultivados em
estufa. O delineamento utilizado foi o completamente casualizado, constituindo-se em um fatorial 3x2, com quatro repetições e
oito sementes por parcela. A germinação das sementes e o diâmetro das plântulas não foram afetados pelo tipo de substrato. As
plântulas atingiram maior altura no substrato formado pela mistura. A casca de arroz queimada é uma alternativa para compor
substratos para a germinação de sementes de porta-enxertos de citros.
Palavras-chave: produção de mudas, casca de arroz queimada, porta-enxerto.
Germination of seedlings of rootstocks of citrus at three substrates
Abstract - It was evaluated the development of Citrus rootstock on substrates composed of burn rice husk. The experiment was
carried out in the Fepagro Fruticultura, Taquari – RS, using three substrates (mix, comercial substrate and burn rice husk) and two
rootstocks seeds (Poncirus trifoliata and Citrus sunki ), placed in plugs (50 cm³) and cultived in a greenhouse. The experimental
design was completely randomized, in a factorial (3x2), with 4 replicates and 8 seeds per plot. The seeds germination and seedlings diameter were not affected by the substrate type. The seedlings reached the biggest height in the mix substrate. The burn rice
husk is a alternative in the composition of substrates to seeds germination of Citrus rootstocks.
Key words: seedling production, burn rice husk, rootstock.
1
Engenheiro Agrônomo, Dr. em Fruticultura, Pesquisador IV da Fepagro - Sede, Rua Gonçalves Dias, 570, Menino Deus, CEP 90130-060, Porto
Alegre-RS. E-mail: [email protected]
2
Engenheira Agrônoma, Dra. em Produção Vegetal, Pesquisadora Colaboradora da Fepagro - Sede, Rua Gonçalves Dias, 570, Menino Deus,
CEP 90130-060, Porto Alegre-RS. E-mail: [email protected]
3
Engenheira Agrônoma, Dra. em Fitotecnia, Pesquisadora III da Fepagro - Sede, Rua Gonçalves Dias, 570, Menino Deus, CEP 90130-060, Porto
Alegre-RS. E-mail: [email protected]
Recebido para publicação em 10/05/2006
7
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.7-10, 2007.
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ADILSON TONIETTO, SOLANGE MACHADO TONIETTO E MARIA HELENA FERMINO
Introdução
A partir da década de 1980, a produção de mudas passou a sofrer transformações tecnológicas. O cultivo em
ambiente protegido e recipientes tornaram-se ferramentas fundamentais para o aumento dos rendimentos, praticidade e redução do tempo de formação de mudas na horticultura, fruticultura e espécies florestais. Junto com a
técnica de cultivo em recipientes surgiu a necessidade do
estudo de produtos para substituir o uso de solo.
Diversos materiais têm sido empregados como substratos, os quais são classificados, quanto à origem, em
orgânicos, minerais e artificiais ou sintéticos. Segundo
Schmitz (2000), no RS, na produção de mudas de citros,
o substrato é normalmente formado por 60% de solo mineral e 40% de bagaço de tanino, estimando-se um consumo de 300 toneladas por ano de terra de barranco. Em
mudas florestais, Calgaro (2000) cita que os viveiristas
utilizam substrato formado por 80% de solo mineral e
20% de substrato industrial. Tradicionalmente os substratos eram formulados a partir de solo mineral, ao qual
são acrescentados matéria orgânica, adubos e corretivos
com a finalidade de obter um meio propício para o desenvolvimento da planta. A retirada do solo, principalmente do horizonte superficial, além de ser uma prática
puramente extrativista e modificar negativamente a paisagem, torna o solo pobre, exigindo mais insumos para
torná-lo apto ao cultivo. Devido a isto, a busca por materiais alternativos de baixo custo, de constante oferta e
produzidos em grande quantidade é permanente.
No sul do Brasil, tanto a indústria processadora de
madeira como a de beneficiamento de arroz produzem grande quantidade de resíduos, como a serragem, a maravalha
e a casca de arroz queimada. Estes resíduos são importantes fontes de poluição e, como tal, o seu reaproveitamento
é necessário para a diminuição das agressões ao ambiente,
bem como para a continuidade do processo tecnológico.
O objetivo deste trabalho foi observar a germinação e
o crescimento de plântulas de citros em substratos compostos com casca de arroz queimada (CAQ).
Material e métodos
O experimento foi conduzido na Fepagro Fruticultura – Centro de Pesquisa de Fruticultura de Taquari, Taquari/RS.
Foram utilizadas sementes dos porta-enxertos Poncirus trifoliata L. e Citrus sunki Hort, designados respectivamente, como ‘Trifoliata’ e ‘Sunki’.
Os frutos foram colhidos em 24/03/2003; suas sementes
foram retiradas, lavadas e tratadas com Cuprogarb, 2 g/kg
de sementes e então postas para secar em ambiente sombreado durante três dias. Após, as sementes foram envasadas
em garrafas plásticas tipo PET de meio litro, transparentes e
mantidas em geladeira durante 78 dias, sem controle de tem8
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peratura. As garrafas foram previamente lavadas com hipoclorito de sódio 0,5% e postas a secar em estufa.
No dia 06/06/2003, as sementes foram semeadas em
tubetes de 50 cm³ em três diferentes substratos: a – mistura de substrato comercial + casca de arroz queimada +
vermicomposto (50%:40%:10% v/v); b – substrato comercial (Humosolo-Policultura e Minhocultura Rosa) e
c – casca de arroz queimada (CAQ).
Este material foi mantido em túnel plástico sem controle de temperatura e umidade. Através do sistema de
irrigação por aspersão, foram realizadas 4 regas diárias
de 4 minutos cada uma.
As avaliações da germinação até 63 dias após a semeadura (DAS) foram semanais. Após 175 dias de cultivo, foram medidos a altura e o diâmetro das plântulas,
com o auxílio de um paquímetro.
O experimento constituiu-se de um fatorial 3x2 (substratos e porta-enxertos) seguindo um delineamento completamente casualizado com 4 repetições e 8 unidades
amostrais por parcela. Apenas os dados de porcentagem
de germinação foram transformados para arc sen da raiz
de x/100. Os dados foram analisados através do SANEST
(ZONTA e MACHADO, 1984).
Resultados e discussão
Para a variável germinação observou-se, pelo teste F,
que houve efeito significativo apenas para o fator portaenxerto, obtendo-se 52,41 e 75,90% de germinação para
‘Trifoliata’ e ‘Sunki’, respectivamente. Shimitz et al.
(1998), comparando três substratos, não verificaram diferença na germinação de sementes de ‘Trifoliata’ alcançando, aos 50 dias após a semeadura, entre 45,7 e 51,5% de
germinação. Oliveira et al. (2003) obtiveram 95,7% de
germinação para o ‘Trifoliata’, em papel filtro, utilizando
sementes de frutos recém-colhidos. As sementes de ‘Trifoliata’ são consideradas mais sensíveis ao armazenamento (MUMFORD e PANGGABEAN, 1982) e apresentam
perda significativa do poder germinativo em poucos dias
(BUTTON et al., 1971). Esta característica pode ter ocasionado a diferença de germinação entre os experimentos
citados e a baixa germinação encontrada neste trabalho.
A tangerina ‘Sunki’ não apresentou a perda de germinação observada em ‘Trifoliata’, indicando que as sementes deste
porta-enxerto suportam maior período de armazenamento.
Notou-se que as garrafas onde as sementes permaneceram armazenadas estavam estufadas e ao serem abertas houve escape de gases. O fechamento das mesmas não permitiu
a troca de gases com o exterior e há que se testar qual a
interferência disto sobre a germinação das sementes.
Sobre o total de sementes de cada portaenxerto,‘Sunki’ atingiu mais de 50% de sementes germinadas aos 21 DAS, enquanto‘Trifoliata’ atingiu aos 45
DAS (Tabela 1), indicando que ‘Sunki’ possui maior uniformidade de germinação.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.7-10, 2007.
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GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE PORTA-ENXERTOS DE CITROS EM TRÊS SUBSTRATOS
Tabela 1 - Número de sementes germinadas e porcentagem de germinação de sementes dos porta-enxertos ‘Sunki’ e ‘Trifoliata’. Taquari, 2003.
Número de Sementes Germinadas
‘SUNKI’
‘TRIFOLIATA’
DAS *
0
15
21
27
33
39
45
51
57
63
Total
Semanal
Acumulado
Germinação (%)
Semanal
Acumulado
Germinação (%)
0
42
35
4
1
0
2
1
0
0
85
0
42
77
81
82
82
84
85
85
85
85
0
43,75
80,21
84,38
85,42
85,42
87,50
88,54
88,54
88,54
88,54
0
0
11
16
14
6
2
5
4
2
60
0
0
11
27
41
47
49
54
58
60
60
0
0
11,46
28,13
42,71
48,96
51,04
56,25
60,42
62,50
62,50
* Dias Após a Semeadura.
Os três substratos mostraram-se eficientes para a germinação das sementes, portanto a casca de arroz queimada pode ser utilizada como substrato ou na composição
de substratos para a germinação de sementes de citros.
Para o Estado do Rio Grande do Sul, o uso da CAQ como
componente ou como substrato para germinação pode
retirá-la da condição de resíduo poluente e torná-la matéria-prima economicamente viável.
Para a variável altura, pelo teste F, verificou-se que
não houve interação entre os fatores avaliados.
O porta-enxerto que alcançou a maior altura foi ‘Trifoliata’ (7,60 cm), enquanto o porta-enxerto Sunki atingiu 3,07 cm. Segundo Oliveira et al. (2001), a altura recomendada para o transplantio é de 10 a 15 cm, que é
alcançada entre 3 a 5 meses de cultivo. Desde a semeadura até a última avaliação,ultrapassou-se os cinco meses e os porta-enxertos não alcançaram a altura recomendada. O momento da semeadura coincidiu com o período
de final de outono e entrada de inverno, caracterizado
pela diminuição das temperaturas, o que pode ter reduzido a taxa de crescimento das plântulas. A semeadura logo
após a coleta das sementes possivelmente tornaria viável
a obtenção de plântulas maiores, além de maior percentual de germinação de sementes.
Quanto ao substrato, verifica-se na tabela 2 que a CAQ
proporcionou altura do porta-enxerto inferior à mistura
utilizada como substrato, sendo estatisticamente igual ao
substrato comercial. As diferenças, embora estatisticamente significativas (0,69 cm), não são de grande importância biológica, pois podem ser facilmente eliminadas
ou superadas ao longo do desenvolvimento das plantas.
Tabela 2 - Altura média de plântulas dos porta-enxertos de citros em
diferentes substratos (Taquari, 2003).
SUBSTRATO
ALTURA (cm)
Mistura
Comercial
Casca de Arroz Queimada
5,67 a
5,36 ab
4,98 b
Médias seguidas por letras distintas diferem estatisticamente pelo teste de Tukey
a 5%. CV = 9,26%.
Segundo características descritas por Pompeu Jr.
(1980), ‘Trifoliata’ e ‘Sunki’ apresentam, no viveiro, um
vigor pequeno e médio, o que lhes confere respectivamente, um tamanho pequeno e grande. Observou-se, no
entanto, que ‘Sunki’ teve um crescimento inferior a ‘Trifoliata’. Isto pode ter ocorrido devido ao tamanho dos cotilédones, pois são eles os responsáveis pelo crescimento
inicial das plântulas. Tendo ‘Trifoliata’ cotilédones maiores que ‘Sunki’, ele apresenta maior quantidade de reservas, podendo proporcionar crescimento mais rápido e suportar um período maior de carência nutricional.
Pela Tabela 3 observa-se que a maior quantidade de
nutrientes encontra-se no substrato comercial, com exceção dos nutrientes K e Mn, onde a CAQ possui valores
maiores.
Tabela 3 - Análise de pH e de nutrientes nos substratos estudados.
SUBSTRATO
ANÁLISE
QUÍMICA
pH
Mistura
9
Casca de
arroz queimada
6,5
5,5
9,54
N (mg.L-1)
3800
4800
2300
P (mg.L-1)
2600
3700
1800
K (mg.L-1)
5800
4700
6000
Ca (mg.L-1)
0,43
1,21
0,10
Mg (mg.L-1)
0,2
0,30
0,09
B (mg.L-1)
7,14
10,09
5,66
Zn (mg.L-1)
71,18
107,22
29,37
Cu (mg.L-1)
16,3
26,5
4,6
Mn (mg.L-1)
377
326,9
397,7
Segundo Joaquim (1997), a toxidez por sais provoca
necrose das folhas, desidratação, redução do crescimento,
podendo causar a morte das plântulas. Desta forma, as plantas não deveriam apresentar um crescimento normal devido ao excesso de salinidade dos substratos. No entanto, as
sementes germinaram e houve crescimento das plântulas,
independentemente do substrato usado. Assim, supõe-se
que os citros estudados apresentam alta exigência em nu9
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.7-10, 2007.
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Comercial
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ADILSON TONIETTO, SOLANGE MACHADO TONIETTO E MARIA HELENA FERMINO
trientes ou que o regime de irrigação possibilitou a lavagem de parte destes sais, reduzindo sua toxidez.
Kämpf (2000) classificou valores de pH em misturas
a base de componentes orgânicos. Segundo esta classificação o pH 5,5 é considerado ótimo; 6,5, muito alto, e
9,54, extremamente alto. Desta forma, o substrato comercial apresenta o melhor valor de pH comparado aos outros substratos.
O substrato que proporcionou maior crescimento às
plântulas foi a mistura que possui um nível intermediário
de nutrientes e pH de 6,5, um ponto maior que o classificado como ótimo e meio ponto a menos que o recomendado para citros pela ROLAS (1994). Assim, verifica-se
que os três substratos mantiveram o crescimento dos porta-enxertos durante o período experimental e, segundo
as características químicas analisadas, o pH parece ter
exercido maior influência sobre a variável altura.
No entanto, deve-se levar em conta que o espaço para
o desenvolvimento das raízes era pequeno. Shmitz et al.
(1998), utilizando solo + areia + resíduo decomposto de
casca de acácia, produziram porta-enxertos de ‘Trifoliata’ com altura de 14,8 cm em 5 meses, dentro de recipientes com 150mL, maior que os obtidos neste experi-
mento. Há uma tendência natural das plantas em manter
o equilíbrio entre a parte aérea e a radicular. Desta forma, o recipiente de 50 mL utilizado pode ter contribuído
negativamente para o crescimento das plântulas.
Para o diâmetro observou-se que houve efeito significativo apenas para o fator porta-enxerto. O ‘Trifoliata’
alcançou o maior diâmetro (1,74 mm) comparado ao do
‘Sunki’ (1,18 mm). Schmitz et al. (1998) obtiveram plântulas com diâmetro entre 1,97 e 1,62 mm, para o portaenxerto ‘Trifoliata’, dependendo do substrato utilizado.
Conclusões
Não houve efeito dos substratos sobre a germinação
das sementes dos dois porta-enxertos, estando esta variável mais dependente da viabilidade das sementes de cada
espécie.
O substrato constituído pela mistura proporcionou o
maior crescimento das plântulas.
A casca de arroz queimada apresenta-se como uma
alternativa para compor misturas na formulação de substratos para germinação de sementes de porta-enxertos de
citros.
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10
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REGIME ANUAL E ESTACIONAL DE HORAS DE FRIO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Regime anual e estacional de horas de frio no Estado do Rio Grande do Sul
Ronaldo Matzenauer1, 2, Aristides Câmara Bueno1, Jaime Ricardo Tavares Maluf3, Marcos
Silveira Wrege4, Denílson Ribeiro Viana5, Márcia dos Santos5 e Laurie Fofonka Cunha5
Resumo - Determinou-se o regime anual e estacional de horas de frio nas diferentes regiões ecoclimáticas do Rio Grande do Sul,
para temperaturas do ar abaixo de 7ºC e 10ºC, durante o período de 1956 a 2003. O número total de horas de frio durante o ano
variou de 121 horas na região do Baixo Vale do Uruguai a 487 horas na região do Planalto Superior – Serra do Nordeste, para a
temperatura abaixo de 7ºC. Para a temperatura abaixo de 10ºC, o regime anual variou de 387 a 1.114 horas, respectivamente nas
mesmas regiões. O inverno, com maior número de horas de frio, apresentou uma variação de 100 a 337 horas de frio abaixo de 7ºC,
e de 296 a 682 horas abaixo de 10ºC, respectivamente nas regiões do Baixo Vale do Uruguai e Planalto Superior – Serra do
Nordeste. Os resultados comparativos de horas de frio nas estações de outono e primavera foram semelhantes nas diferentes
regiões ecoclimáticas. No verão foi verificado um baixo número de horas de frio, e apenas para temperatura abaixo de 10ºC.
Palavras-chave: agroclimatologia, regime térmico, clima.
Annual and seasonal regimen of chilling hours in Rio Grande do Sul State, Brazil
Abstract - It was determined annual and seasonal regimen of chilling hours below 7ºC and 10ºC in different climatic regions, in
Rio Grande do Sul State, Brazil, between years of 1956 and 2003. The annual chilling hours varied from 121 hours in region of
Baixo Vale do Uruguai, to 487 hours in Planalto Superior – Serra do Nordeste for temperature below 7°C. For temperature below
10°C, annual regimen of chilling hours varied from 387 hours to 1114 hours, respectively, in the same regions. In the winter, the
chilling regimen varied from 100 to 337 hours for temperature below 7ºC, and from 296 to 682 hours for temperature below 10ºC,
respectively in the regions of Baixo Vale do Uruguai anda Planalto Superior – Serra do Nordeste. The comparative results of
autumn and spring, show similar regimen of chilling hours in different regions. In the summer, were verified low values of chilling
hours, and only for temperature below 10°C.
Key words: agroclimatology, thermal regimen, climate.
1
2
3
4
5
Engenheiro. Agrônomo, pesquisador do Centro de Meteorologia Aplicada da FEPAGRO, Rua Gonçalves Dias, 570, Bairro Menino Deus,
CEP 90130-060, Porto Alegre, RS.
Bolsista do CNPq. E-mail: [email protected]
Engenheiro Agrônomo, pesquisador convidado da FEPAGRO, Centro de Meteorologia Aplicada.
Engenheiro. Agrônomo, pesquisador da Embrapa Clima Temperado. Caixa Postal 403, CEP 96001-970, Pelotas, RS.
Estudante de Geografia da UFRGS, Bolsista do Centro de Meteorologia Aplicada da FEPAGRO.
Recebido para publicação em 01/11/2006
11
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.11-16, 2007.
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RONALDO MATZENAUER, ARISTIDES CÂMARA BUENO, JAIME RICARDO TAVARES MALUF, MARCOS SILVEIRA WREGE,
DENÍLSON RIBEIRO VIANA, MÁRCIA DOS SANTOS E LAURIE FOFONKA CUNHA
Introdução
A temperatura do ar é um elemento meteorológico
fundamental na determinação da distribuição das espécies vegetais na superfície da Terra. Além disso, afeta diretamente o crescimento e o desenvolvimento das plantas,
sendo responsável pela ativação de diversos processos
fisiológicos dos vegetais. Algumas espécies frutíferas
apresentam um período de repouso no qual as plantas
paralisam o crescimento. Esta condição fisiológica é interrompida por períodos de exposição a baixas temperaturas, o que caracteriza este tipo de espécie como criófilas. A exigência em frio para quebrar este período de repouso invernal é variável entre espécies e cultivares.
Em algumas regiões de clima temperado e nas regiões de clima subtropical, sujeitas a invernos amenos, o
frio pode ser insuficiente para provocar a quebra natural
da dormência de alguns cultivares de espécies criófilas e,
em decorrência, podem se manifestar diversas anomalias fisiológicas e fenológicas. Do ponto de vista agronômico, as conseqüências mais drásticas da insuficiência
do frio invernal resultam na diminuição da qualidade e
da quantidade da produção de frutos (PEDRO JÚNIOR
et al., 1979) e na diminuição do vigor e da longevidade
da planta (LEDESMA, 1950).
O conhecimento do regime de horas de frio nas diferentes regiões ecoclimáticas (MALUF e CAIAFFO, 2001)
é, portanto, de grande importância na avaliação da aptidão agrícola dos diferentes climas. Como o Estado do
Rio Grande do Sul se encontra entre os paralelos 27º e
34º de latitude Sul, e 49º e 58º de longitude oeste, com
regiões de altitudes superiores a 1.000 m, apresenta condições favoráveis ao cultivo de fruteiras de clima temperado. A quantificação das horas de frio e a identificação
das regiões com maior potencial ao cultivo de espécies
frutíferas em termos de exigência em frio possibilitam,
além da identificação de novas áreas, o aperfeiçoamento
dos trabalhos de zoneamentos agroclimáticos das diversas espécies, bem como o melhor aproveitamento das
áreas favoráveis ao cultivo.
Conceitualmente, entende-se por horas de frio o somatório do número de horas iguais ou inferiores a um determinado valor de temperatura. Este somatório é característico para cada espécie e cultivar para cumprir o repouso
invernal (MOTA, 1992). De acordo com Pascale e Aspiazu (1965), computa-se o resfriamento para as fruteiras de
clima temperado como o acúmulo de horas de frio, quando a temperatura do ar decresce de um nível térmico estabelecido aos 7ºC. O valor de 7ºC é utilizado como temperatura base superior das horas de frio na maioria dos países produtores de frutas de clima temperado, sendo seu
uso generalizado para a determinação das exigências em
frio das espécies, bem como para o zoneamento agroclimático das disponibilidades de frio. Entretanto, diversos
trabalhos têm demonstrado que temperaturas superiores a
12
011a016_arquivo-03-Artigo Regime anual.pmd 12
7ºC também são eficientes para a quebra de dormência de
algumas espécies de frutíferas criófilas.
Diversos pesquisadores determinaram o regime de
horas de frio no Estado do Rio Grande do Sul. Mota et al.
(1974) estimaram o número de horas de frio efetivas inferiores a 7,2ºC. Didoné et al. (1987) calcularam, a partir
de gráficos do termógrafo, para o período 1970-79, o
número de horas de frio abaixo de 7ºC e 10ºC, para os
períodos maio-agosto e maio-setembro, para dezenove
localidades do Rio Grande do Sul. Matzenauer et al.
(2005) ampliaram e atualizaram o trabalho realizado por
Didoné et al. (1987), aumentando a série histórica e o
número de localidades analisadas. Mota (1992) publicou
outro trabalho, no qual as horas de frio foram estimadas
a partir de equações de regressão entre as horas de frio e
a temperatura do mês mais frio. Damario et al. (1999)
estimaram a disponibilidade de horas de frio para o Estado do Rio Grande do Sul, utilizando a metodologia de
Damario et al. (1998), que utiliza a temperatura mínima
média mensal de maio a setembro e a temperatura mínima média anual. Wrege et al. (2003) elaboraram o mapeamento do acúmulo de horas de frio do período de maio
a setembro, no Rio Grande do Sul, disponibilizando um
maior detalhamento espacial dos dados. Todos os trabalhos apresentados identificam com semelhança as regiões mais frias do estado. No entanto, os valores do número de horas de frio divergem entre si devido, provavelmente, às diferenças na metodologia utilizada. Nenhum dos trabalhos citados avaliou o regime de horas de
frio nos demais meses do ano, considerando que o maior
acúmulo de frio acontece no período de maio a setembro.
Ocorre que a determinação das horas de frio em outros
períodos do ano pode ser importante para a realização de
outros trabalhos e, além disso, a caracterização nas diferentes estações do ano e do regime total anual, pode ser
uma informação útil em estudos agroclimatológicos.
Desta forma, o objetivo deste trabalho foi determinar, através da análise de termogramas de uma série histórica longa, o regime anual e estacional de horas de
frio abaixo de 7ºC e 10ºC, nas diferentes regiões ecoclimáticas do Estado do Rio Grande do Sul.
Material e métodos
Para a determinação do regime anual e estacional das
horas de frio com temperaturas abaixo de 7ºC e 10ºC,
nas diferentes regiões ecoclimáticas do Rio Grande do
Sul (MALUF e CAIAFFO, 2001), foram cotados termogramas de 26 localidades do Estado do Rio Grande do
Sul, obtidos no arquivo do Banco de Dados Meteorológicos pertencente ao Centro de Meteorologia Aplicada,
da Fundação Estadual de Pesquisa agropecuária – FEPAGRO/SCT-RS. Os locais, a localização geográfica e os
períodos avaliados no trabalho estão relacionados na Tabela 1.
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REGIME ANUAL E ESTACIONAL DE HORAS DE FRIO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Tabela 1 - Localidades onde foram determinadas as horas de frio no Estado do Rio Grande do Sul e períodos avaliados.
Coordenadas Geográficas
Localidade
Alegrete
Região Ecoclimática
*
Altitude
(m)
Latitude
(graus e décimos)
Longitude
(graus e décimos)
Período
Campanha
130
-29,81
-55,85
1970-1998
Bagé
Campanha
175
-31,39
-53,93
1960-1989
Cachoeirinha
Depressão Central
5
-29,95
-51,12
1975-2003
Caxias do Sul
Serra do Nordeste
840
-29,14
-50,99
1985-2003
Cruz Alta
Planalto Médio
430
-28,60
-53,67
1973-1990
Encruzilhada do Sul
Serra do Sudeste
410
-30,55
-52,41
1958-2003
Erechim
Planalto Médio
760
-27,66
-52,31
1966-2003
Farroupilha
Serra do Nordeste
680
-29,20
-51,34
1963-2003
Guaíba
Depressão Central
50
-30,09
-51,67
1968-1993
Ijui
Missioneira
280
-28,44
-54,00
1970-2003
Jaguarão
Grandes Lagoas
20
-32,55
-53,39
1970-1979
Júlio de Castilhos
Planalto Médio
490
-29,18
-53,69
1956-2002
Maquiné
Litoral
25
-29,66
-50,21
1958-2001
Passo Fundo
Planalto Médio
690
-28,23
-52,40
1970-1979
Quarai
Campanha
100
-30,39
-56,48
1977-2003
Rio Grande
Litoral
5
-32,00
-52,30
1956-1994
Santa Maria
Depressão Central
125
-29,67
-53,91
1963-1998
Santa Rosa
Médio Vale do Uruguai
330
-27,86
-54,45
1981-2003
Campanha
Santana do Livramento
**
205
-30,87
-55,43
1966-2003
Baixo Vale do Uruguai
90
-28,69
-55,96
1956-2003
São Gabriel
Depressão Central
120
-30,33
-54,26
1963-2003
Soledade
Planalto Médio
530
-28,82
-52,48
1973-1998
Taquari
Depressão Central
65
-29,79
-51,83
1963-2003
Uruguaiana
Campanha
80
-29,84
-57,08
1963-2002
Vacaria
Planalto Superior
915
-28,45
-50,95
1966-1994
Veranópolis
Serra do Nordeste
705
-28,89
-51,54
1956-2003
São Borja
*
Fechada no período 1987-1994.
**
Fechada no período 1982-1998.
Este trabalho apresenta uma complementação do estudo realizado por Matzenauer et al. (2005), os quais determinaram as horas de frio no Rio Grande do Sul abaixo de
7ºC e 10ºC, para os períodos maio-agosto e maio-setembro. Neste trabalho, foi determinado o regime de horas de
frio nos demais meses do ano (outubro a abril), fazendo-se
o cálculo anual e estacional das horas de frio para as diferentes regiões ecoclimáticas do Rio Grande do Sul (MALUF e CAIAFFO, 2001). O trabalho surgiu a partir de uma
demanda de pesquisadores da Embrapa Clima Temperado, visando o estudo das horas de frio nos demais meses
do ano, para a identificação de áreas para a produção de
mudas de morangueiro. Foram cotados termogramas do
período 1956 a 2003 disponíveis no Banco de Dados, variando o mesmo entre locais, de acordo com cada série disponível, conforme apresentado na Tabela 1.
Para cada local e para cada nível de temperatura (< 7°C
e < 10°C) realizaram-se os seguintes procedimentos:
1 – Calculou-se a média de horas de frio em cada dia
do período compreendido entre 01 de outubro a 30 de
abril. Os dados de 01 de maio a 30 de setembro foram os
computados no trabalho de Matzenauer et al. (2005). Essa
média foi obtida em relação à série de dados existentes.
Não foram estimados valores para dias com dados ausentes (sem registro). Portanto, o número de observações
que geraram a média de horas de frio diária é diferente
entre os dias do período.
2 – Calculou-se a soma de horas de frio de cada mês
(Tabela 2).
3 – Calculou-se a soma de horas de frio de cada estação do ano e o total anual (Tabela 3).
Esta metodologia permitiu, portanto, a obtenção de valores reais de horas de frio, já que em estimativas a partir de
funções matemáticas sempre ocorre um erro. Os dados foram espacializados, utilizando-se o programa Surfer 6.0.
A complementação do trabalho para todos os meses e
nas diferentes estações do ano, bem como nas diferentes
regiões ecoclimáticas, permite a obtenção de dados completos do regime de horas de frio no Estado do Rio Grande do Sul, podendo ser utilizado em diversos estudos agroclimáticos que necessitem desta informação.
Resultados e discussão
O regime anual médio de horas de frio no Estado do
Rio Grande do Sul foi de 320 horas considerando tempe13
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.11-16, 2007.
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RONALDO MATZENAUER, ARISTIDES CÂMARA BUENO, JAIME RICARDO TAVARES MALUF, MARCOS SILVEIRA WREGE,
DENÍLSON RIBEIRO VIANA, MÁRCIA DOS SANTOS E LAURIE FOFONKA CUNHA
raturas abaixo de 7ºC e 785 horas para a temperatura abaixo de 10ºC (Tabela 2). Os valores extremos nas diferentes
regiões ecoclimáticas variaram de 121 horas na região do
Baixo Vale do Uruguai a 487 horas na região do Planalto
Médio – Serra do NE, para temperatura abaixo de 7ºC.
Para a temperatura abaixo de 10ºC, os valores variaram de
387 a 1114 horas respectivamente, nas mesmas regiões.
Além da região do Baixo Vale do Uruguai com o valor mais baixo de horas de frio, as regiões do Alto e Médio Vale do Uruguai, Litoral, Missioneira e Depressão
Central, também apresentaram menores valores anuais
de horas de frio. As regiões que apresentaram os maiores
valores de horas de frio, além do Planalto Superior-Serra
do Nordeste, foram a Campanha, Grandes Lagos, Planalto Médio e Serra do Sudeste. Os trabalhos realizados
por Didoné et al. (1987) e Damario et al. (1999) também
identificaram as mesmas regiões com maior ou menor
regime de horas de frio no Rio Grande do Sul.
Para os resultados estacionais, verifica-se uma variação de zero no verão a 238 horas no inverno, para temperatura abaixo de 7ºC na média estadual, sendo que para
temperatura abaixo de 10ºC os valores médios variaram
de 3 horas no verão a 526 horas no inverno (Tabela 3). A
estação de inverno apresentou o regime mais frio com
238 horas abaixo de 7ºC e 526 horas abaixo de 10ºC,
representando, respectivamente, 74,4% e 67% do regime
anual de horas de frio. As estações de outono e primavera apresentaram valores iguais de 41 horas de frio abaixo
de 7ºC sendo semelhantes para temperatura abaixo de
10ºC, respectivamente de 126 e 130 horas.
Nas Figuras de 1 a 8, estão espacializados os valores
do número de horas de frio abaixo de 7ºC e 10ºC, para as
estações de primavera, outono e inverno, e para o total
anual. Para o verão os dados não foram espacializados,
considerando o baixo número de horas de frio verificado
na referida estação.
Conclusões
O Estado do Rio Grande do Sul apresenta regiões
ecoclimáticas com grande variabilidade no regime de
horas de frio.
Foram identificadas as regiões ecoclimáticas com
maior potencial para o estabelecimento de fruteiras de
clima temperado; as regiões com maior número de horas
de frio são Planalto Superior – Serra do Nordeste, Planalto Médio, Região dos Grandes Lagos, Campanha e
Serra do Sudeste.
A estação de inverno concentra cerca de 70% do regime anual de horas de frio no Estado do Rio Grande do
Sul, sendo o restante distribuído de forma similar nas
estações de outono e primavera.
Tabela 2 - Horas de frio abaixo de 7ºC e 10ºC, nas diferentes regiões ecoclimáticas do Estado do Rio Grande do Sul. Dados médios mensais e totais anuais.
Temperatura menor que 7°C
Alto e Médio Vale do Uruguai
Baixo Vale do Uruguai
Campanha
Depressão Central
Litoral
Missioneira
Planalto Médio
Planalto Superior – Serra do NE
Região das Grandes Lagoas
Serra do Sudeste
Média global
Jan
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Fev
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Mar
0
0
0
0
0
0
1
1
0
0
0
Abr
2
1
8
2
1
4
7
14
11
1
7
Mai
9
12
38
23
19
24
38
59
37
23
34
Jun
37
34
101
66
58
62
94
112
98
68
85
Jul
62
43
109
74
62
70
104
134
112
78
96
Ago
21
23
64
36
44
33
64
91
63
55
58
Set
8
8
34
21
19
21
40
58
41
28
33
Out
2
0
6
2
4
3
8
15
9
5
7
Nov
0
0
1
0
1
0
1
3
1
1
1
Dez
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
Total
140
121
360
224
206
217
356
487
372
259
320
Temperatura menor que 10°C
Alto e Médio Vale do Uruguai
Baixo Vale do Uruguai
Campanha
Depressão Central
Litoral
Missioneira
Planalto Médio
Planalto Superior – Serra do NE
Região das Grandes Lagoas
Serra do Sudeste
Média global
Jan
0
0
0
0
0
0
0
2
1
0
1
Fev
0
0
0
0
0
0
1
2
0
1
1
Mar
0
1
4
1
1
2
5
7
6
2
4
Abr
8
9
34
15
12
16
30
48
42
18
28
Mai
42
44
104
71
65
68
104
146
104
75
95
Jun
101
101
205
156
134
132
200
229
204
168
182
Jul
135
116
218
173
139
158
214
258
224
183
200
Ago
73
79
159
102
125
102
157
195
160
156
144
Set
43
30
96
60
60
62
108
144
90
101
91
Out
8
7
30
16
21
18
35
56
36
27
30
Nov
1
1
7
3
6
3
8
22
11
9
8
Dez
0
0
1
0
1
0
1
5
2
1
1
Total
411
387
858
596
563
561
862
1114
881
740
785
14
011a016_arquivo-03-Artigo Regime anual.pmd 14
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REGIME ANUAL E ESTACIONAL DE HORAS DE FRIO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Tabela 3 - Horas de frio abaixo de 7ºC e 10ºC, nas quatro estações do ano, nas diferentes regiões ecoclimáticas do Estado do Rio Grande do Sul.
Temperatura menor que 7°C
Alto e Médio Vale do Uruguai
Baixo Vale do Uruguai
Campanha
Depressão Central
Litoral
Missioneira
Planalto Médio
Planalto Superior – Serra do Nordeste
Região das Grandes Lagoas
Serra do Sudeste
Média global
Verão
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
Outono
11
13
46
25
20
28
46
74
48
24
41
Inverno
120
100
274
176
163
165
262
337
273
201
238
Primavera
10
8
41
23
24
24
49
76
51
33
41
Temperatura menor que 10°C
Alto e Médio Vale do Uruguai
Baixo Vale do Uruguai
Campanha
Depressão Central
Litoral
Missioneira
Planalto Médio
Planalto Superior – Serra do Nordeste
Região das Grandes Lagoas
Serra do Sudeste
Média global
Verão
0
0
2
1
1
0
2
9
3
2
3
Outono
50
53
142
86
78
86
138
201
152
95
126
Inverno
309
296
581
430
398
392
571
682
588
507
526
Primavera
52
38
133
79
87
83
151
222
137
137
130
Figura 1 - Horas de frio abaixo de 7 ºC no Rio Grande do Sul. Outono (a), inverno (b), primavera (c) e no ano(d).
15
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.11-16, 2007.
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RONALDO MATZENAUER, ARISTIDES CÂMARA BUENO, JAIME RICARDO TAVARES MALUF, MARCOS SILVEIRA WREGE,
DENÍLSON RIBEIRO VIANA, MÁRCIA DOS SANTOS E LAURIE FOFONKA CUNHA
Figura 2 - Horas de frio abaixo de 10ºC no Rio Grande do Sul. Outono (a), inverno (b), primavera (c) e no ano(d).
Referências
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16
011a016_arquivo-03-Artigo Regime anual.pmd 16
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ANTECIPAÇÃO E CONCENTRAÇÃO DA COLHEITA DA AMEIXA ‘IRATI’ TRATADA COM ETHEPHON
Antecipação e concentração da colheita da ameixa ‘Irati’ tratada com Ethephon
João Caetano Fioravanço1, Paulo Roberto Simonetto2, Lia Rosane Rodrigues3
RESUMO - Com o objetivo de avaliar o efeito do ethephon na antecipação e diminuição do número de repasses durante a colheita
da ameixa ‘Irati’ foi realizado um experimento no Centro de Pesquisa da Região da Serra – FEPAGRO SERRA, em Veranópolis,
RS. Utilizou-se o delineamento experimental completamente casualizado combinando, em um esquema fatorial 2 x 4 x 5, duas
datas de aplicação, quatro concentrações de ethephon e cinco repasses para colheita. A calda foi aplicada diretamente sobre os
frutos até o ponto de escorrimento, com o auxílio de um pulverizador costal. A aplicação de ethephon oito dias antes da colheita
permitiu a retirada de maior quantidade de frutos no primeiro repasse em relação à aplicação feita quatro dias antes. As duas
épocas de aplicação possibilitaram colher em torno de 80% dos frutos nos dois primeiros repasses. No primeiro repasse, a colheita
de frutos foi maior nos tratamentos com ethephon, não havendo diferença significativa entre as concentrações. O peso médio dos
frutos foi maior nos tratamentos 0, 120 e 240 mg/L e nos dois primeiros repasses.
Palavras-chave: Prunus salicina, ácido 2-cloroetilfosfônico, etileno.
Earlier and more uniform harvest of ‘Irati’ plums applying Ethephon
ABSTRACT - In order to evaluate the effect of ethephon on the anticipation and decrease of picking number throughout the
course of harvest time of ‘Irati’ plum, an assay was conducted on the Centro de Pesquisa da Região da Serra - FEPAGRO SERRA,
in Veranópolis, RS, Brazil. The statistical design was entirely randomized, in a factorial design 2 x 4 x 5, in which ethephon was
applied in two dates and four concentrations. Ethephon was sprayed directly on the fruits, till they dropped, with a portable
pulverizer. The application of ethephon eight days before harvest beginning resulted in higher amount of fruit in the first picking
compared to the application four days before harvest beginning. In both time of spraying with ethephon the amount of fruits
harvested in first and second picking together was approximately 80% of the total. In the first picking, the fruit harvest was higher
when they were sprayed with ethephon, without significant statistical difference among concentrations. The average fruit weight
was higher in the control treatment, 120 mg/l and 240 mg/l and in the two first picking.
Key words: Prunus salicina, 2-chloroethyl phosphonic acid, ethylene.
1
Engenheiro Agrônomo, Dr., Pesquisador da FEPAGRO – Centro de Pesquisa da Região da Serra. Caixa Postal 44, CEP 95330-000 – VeranópolisRS. Fone/fax (54) 3441 1374. E-mail: [email protected]
2
Engenheiro Agrônomo, MSc., Pesquisador da FEPAGRO – Centro de Pesquisa da Região da Serra.
3
Engenheiro Agrônomo, Dr., Pesquisador da FEPAGRO – Centro de Pesquisa da Região da Serra.
Recebido para publicação em 27/09/2006
17
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.17-21, 2007.
017a022_arquivo-04-antecipação irati.pmd
17
3/9/2007, 18:07
JOÃO CAETANO FIORAVANÇO, PAULO ROBERTO SIMONETTO, LIA ROSANE RODRIGUES
Introdução
máticas ocorridas durante o período de realização do experimento são apresentadas na Tabela 1.
O etileno é um hormônio vegetal associado a praticamente todas as etapas fenológicas do desenvolvimento e
desempenha papel fundamental na indução da maturação e senescência de frutos climatéricos (TAIZ e ZEIGER, 1998; JACOMINO et al., 2002). Sua concentração
aumenta nas flores após a polinização e nos frutos à medida que amadurecem (FELIPPE, 1986).
Várias substâncias são capazes de liberar etileno por
meio de reação química, sendo o ácido 2-cloroetilfosfônico (ethephon) uma das mais utilizadas comercialmente. Ao ser aplicado sobre os frutos, o ethephon decompõe-se e libera etileno lentamente, estimulando, com o
aumento de sua concentração, o amadurecimento dos
mesmos (BLOMMAERT et al., 1975). De acordo com
Felippe (1986), a liberação do etileno é uma simples reação base-catalisada e não envolve atividade enzimática
da planta tratada.
Resultados positivos com a aplicação do ethephon em
pré-colheita, para antecipar a colheita e/ou melhorar a
coloração dos frutos, foram obtidos em várias culturas,
como, por exemplo, macieira (COUEY e WILLIAMS,
1973; WANG e DILLEY, 2001), pessegueiro (STEMBRIDGE e RAFF, 1973), videira (POWERS et al., 1980),
maracujazeiro (DOZIER et al., 1991) e cafeeiro (CARVALHO et al., 2003).
Na cultura da ameixeira, a exemplo de outras frutíferas, a aplicação de ethephon com o objetivo de antecipar
a maturação, melhorar a coloração e diminuir o número
de repasses para a colheita total dos frutos pode constituir-se em uma técnica relevante para a redução dos custos e o aumento da lucratividade. A colheita antecipada é
economicamente vantajosa em cultivares precoces em
virtude dos preços altos no início da safra, enquanto a
redução do número de repasses para a colheita reduz os
custos com mão-de-obra. A coloração da epiderme, por
sua vez, é um dos principais atributos que o consumidor
utiliza para avaliar a qualidade da fruta, preferindo os
frutos de coloração mais intensa, associada a elevados
teores de açúcares e baixa acidez.
O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito de épocas
de aplicação e concentrações de ethephon na antecipação e diminuição dos repasses durante a colheita de ameixas do cultivar precoce Irati.
Material e métodos
O experimento foi realizado no pomar do Centro de
Pesquisa da Região da Serra (FEPAGRO SERRA), em
Veranópolis, Serra do Nordeste do Estado do Rio Grande
do Sul (latitude 28°56’14” Sul, longitude 51°31’11” Oeste
e altitude 705 m). A temperatura média anual é de 17,5ºC
e a precipitação pluviométrica média de 1.639 mm (SIMONETTO e GRELLMANN, 2003). As condições cli18
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Tabela 1 - Precipitação total e médias das temperaturas mínimas e máximas registradas no Centro de Pesquisa da Região da Serra - FEPAGRO SERRA, em Veranópolis, RS, de janeiro de 2003 a março de 2004
Mês
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Precipitação
(mm)
Temperatura (ºC)
Média das Média das
Média
mínimas
máximas
102,2
128,3
107,5
135,0
158,1
80,9
155,1
22,9
213,6
156,5
150,4
34,8
15,6
14,8
14,2
14,3
8,7
9,5
6,7
7,8
12,3
10,6
13,1
14,5
27,0
25,7
25,5
24,4
16,4
19,5
16,5
19,2
21,8
22,3
23,5
26,8
21,3
20,2
19,8
19,4
12,5
14,5
11,6
13,5
17,0
16,4
18,3
20,7
O clima da região é o temperado (Cfb1), segundo a
classificação de Köppen (MORENO, 1961), e o solo é
do tipo Latossolo Vermelho Distroférrico típico (LVdf1),
de acordo com Streck et al. (2002).
O delineamento experimental foi completamente casualizado, em um esquema fatorial 2 x 4 x 5, onde foram
combinadas duas épocas de aplicação (oito dias antes da
data do início da colheita e quatro dias antes) com quatro
concentrações de ethephon, produto comercial Ethrel (testemunha, 120, 240 e 480 mg/L) e cinco repasses até a colheita do total dos frutos. Foram utilizadas três repetições
por tratamento e uma planta por unidade experimental.
As datas de aplicação de ethephon foram 04/11/04
(oito dias antes da colheita) e 08/11/04 (quatro dias antes), em plantas com cinco anos, em espaçamento 6 x 4
m. A calda foi aplicada diretamente sobre os frutos, até
o ponto de escorrimento, com o auxílio de um pulverizador costal equipado com bico leque 80.04. No momento da aplicação, as ameixas apresentavam-se completamente desenvolvidas e a epiderme exibia coloração verde clara.
Os repasses foram efetuados nos dias 12/11/04, 16/
11/04, 19/11/04, 23/11/04 e 30/11/04. As ameixas colhidas foram contadas e pesadas para calcular a porcentagem colhida em cada repasse e o peso médio.
Os dados foram submetidos ao teste de normalidade
e de igualdade das variâncias e à análise de variância. As
médias foram comparadas pelo teste de Duncan com 5%
de probabilidade de erro.
Resultados e discussão
Quando dispostos em esquema fatorial 2 x 4 x 5, os
dados do experimento não apresentaram distribuição normal. Uma análise de variância paramétrica foi viabiliza-
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18
3/9/2007, 18:07
ANTECIPAÇÃO E CONCENTRAÇÃO DA COLHEITA DA AMEIXA ‘IRATI’ TRATADA COM ETHEPHON
da apenas quando as observações de cada repasse e cada
concentração foram analisadas separadamente.
A época de aplicação do ethephon influenciou significativamente a porcentagem de frutos colhidos no primeiro e segundo repasses. Nos demais, não houve influência de aplicação (Figura 1).
Figura 1 - Porcentagem de ameixas do cultivar precoce Irati colhidas a
cada repasse, de acordo com a data de antecipação da aplicação do
ethephon (quatro e oito dias antes da colheita), em Veranópolis, RS.
Médias seguidas pela mesma letra não diferem significativamente pelo
teste de Duncan ao nível de 5 %, na comparação de médias a partir de
análises de variância independentes por repasse
No primeiro repasse, quando o ethephon foi aplicado
oito dias antes da data prevista para a primeira colheita, a
porcentagem de frutos colhidos foi de 53,15%, significativamente superior à porcentagem colhida quando o ethephon foi aplicado quatro dias antes da data prevista para
a primeira colheita, que foi de 35,16%. No segundo repasse, verificou-se o inverso, ou seja, quando o ethephon
foi aplicado mais próximo da colheita, foram colhidos
43,31% das ameixas, proporção significativamente superior à porcentagem de 25,89%, obtida quando o ethephon foi aplicado oito dias antes da primeira coleta.
Os resultados confirmam a propriedade do ethephon
em acelerar a mudança da coloração da epiderme dos frutos, demonstrada por Powers et al. (1980), Carvalho et
al. (2003), Delú Filho et al. (2004) e Steffens et al. (2004).
Além disso, a colheita de uma maior proporção de frutos
já no primeiro repasse, favorecida pela aplicação de ethephon com oito dias de antecipação, permite o abastecimento do mercado no início da safra, quando a produção
é melhor remunerada. A colheita de 17,99% a mais de
frutos no primeiro repasse pode representar, ao final da
safra, uma remuneração adicional significativa para o
produtor. E, sobretudo, com a antecipação da colheita da
ameixa, aumenta-se o período de comercialização dessa
fruta, que é ofertada ao mercado por um curto período de
tempo.
Na soma dos dois primeiros repasses, a quantidade
de frutos colhidos foi de 79,04 e 78,47% para a aplicação
oito ou quatro dias antes da primeira colheita, respectivamente. Isso mostra que a aplicação de ethephon quatro
dias antes da colheita permite colher praticamente a mes-
ma quantidade de frutos nos primeiros repasses que a
aplicação oito dias antes da colheita, mas com a desvantagem da colheita da maior parte dos frutos ocorrer no
segundo repasse. Independentemente da época de aplicação, a maior parte dos frutos foi colhida oito dias após
a aplicação, sugerindo ser esse o intervalo de tempo mais
adequado entre a aplicação e o início da colheita da ameixa ‘Irati’, quando se pretende acelerar a mudança de cor
e antecipar a colheita de maior parte dos frutos.
Blommaert et al. (1975) recomendaram a aplicação
de ethephon 12 a 14 dias antes da colheita de ameixas,
enquanto Rom e Scott (1971) obtiveram avanço na maturação de pêssegos com aplicações feitas 21 dias antes
da colheita.
A influência da concentração de ethephon na quantidade de frutos colhidos em cada repasse pode ser observada na Figura 2. No primeiro repasse, a proporção de ameixas colhidas foi superior nos tratamentos que receberam
ethephon em comparação com o tratamento testemunha,
não havendo diferenças significativas entre as concentrações de ethephon. Isso demonstra que as três concentrações testadas são suficientes para induzir a ameixa ‘Irati’ a
antecipar a mudança de coloração verde para vermelha,
permitindo a colheita antecipada. Assim, deve-se dar preferência à menor concentração do produto (120 mgL), para
onerar menos a produção e evitar possíveis quedas de frutos em casos de interações ambientais com altas concentrações de etileno (TAIZ e ZEIGER, 1998).
Figura 2 - Porcentagem de ameixas do cultivar precoce Irati colhidas a
cada repasse, de acordo com as concentrações de ethephon aplicadas
quatro e oito dias antes do início da colheita, em Veranópolis, RS. Médias seguidas pela mesma letra não diferem significativamente pelo
teste de Duncan ao nível de (5 %), na comparação de médias a partir de
análises de variância independentes por repasse
No segundo repasse, por outro lado, não houve diferença entre os tratamentos com e sem ethephon. Esse resultado pode ser explicado pelo tempo transcorrido entre
a aplicação e o repasse, no qual grande parte das ameixas
do tratamento testemunha atingiu a coloração adequada
para ser colhida.
Nos demais repasses, quando restava pequena quantidade dos frutos, o tratamento testemunha proporcionou
19
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.17-21, 2007.
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19
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JOÃO CAETANO FIORAVANÇO, PAULO ROBERTO SIMONETTO, LIA ROSANE RODRIGUES
maior quantidade de frutos colhidos em comparação com
os tratamentos com ethephon, na maioria das vezes. No
último repasse, não havia mais frutos a serem colhidos
dentre os tratados com ethephon, mas ainda havia 7,41%
do total dos frutos do tratamento testemunha (Figura 2).
A porcentagem de frutos colhidos nos primeiros dois
repasses nas ameixeiras tratadas com ethephon somente é
alcançada pelo tratamento testemunha após três ou quatro
repasses. Nesse aspecto, a aplicação de ethephon apresentase como alternativa para diminuir o número de repasses, o
que pode representar uma economia importante de mão-deobra durante a colheita e beneficiamento das ameixas.
Resultados semelhantes foram obtidos por Blommaert et al. (1975) em que o ethephon antecipou e uniformizou o amadurecimento de frutos do cultivar ‘Santa Rosa’,
sem efeitos negativos aparentes sobre a qualidade do fruto
no armazenamento.
A diferença na porcentagem de frutos colhidos entre
os tratamentos com e sem ethephon no primeiro repasse,
evidenciada na Figura 2, pode significar um maior retorno econômico para os agricultores, pois, normalmente,
quanto mais antecipada é a comercialização, maior é o
preço médio pago pela fruta, especialmente no caso da
ameixa, produto muito valorizado no início da safra.
Foram observados efeitos significativos das interações entre época de aplicação e concentrações de ethephon e entre épocas de aplicação do ethephon e repasses
sobre o peso médio dos frutos (Tabela 2). De um modo
geral, nos tratamentos testemunha, 120 e 240 mg/L de
ethephon, foram colhidos frutos com maior peso médio
que no tratamento 480 mg/L. Isso pode ser atribuído ao
efeito da maior concentração de ethephon, que acentuou
a coloração vermelha tanto de ameixas grandes quanto
pequenas, diminuindo a média do peso dos frutos.
Observou-se, também, que os frutos com maior peso
médio foram colhidos nos primeiros dois repasses (Ta-
Tabela 2 - Peso médio, em g, de ameixas do cultivar precoce Irati tratadas com concentrações crescentes de ethephon, em Veranópolis, RS
Dias entre a Aplicação e o Início da Colheita
Oito
Quatro
Concentração
de ethephon (mg/l)
Repasses
0
120
240
480
42,5
42,8
44,8
41,1
ab
ab
a
b
44,4
44,8
43,5
41,0
a
a
ab
b
1o
2o
3o
4o
43,5
43,2
40,1
42,4
a
ab
c
bc
47,7
45,4
42,3
38,9
a
a
b
c
Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem significativamente pelo teste
de Duncan (5 %). Os pesos médios do último repasse não foram incluídos na análise
estatística porque todos os frutos tratados com ethephon já tinham sido colhidos.
bela 2). Esse resultado parece bastante lógico, porque,
normalmente, primeiramente são colhidos os frutos mais
desenvolvidos.
Conclusões
A aplicação de ethephon oito dias antes da colheita
da ameixa ‘Irati’ possibilita colher maior quantidade de
frutos no primeiro repasse em comparação com a aplicação quatro dias antes.
A aplicação de ethephon oito e quatro dias antes da
colheita permite colher em torno de 80% dos frutos nos
dois primeiros repasses e diminui o número de passadas
para a retirada do total de frutos.
A aplicação de ethephon aumentou a colheita de frutos no primeiro repasse em relação ao tratamento testemunha, não havendo diferença significativa entre as concentrações testadas.
O peso médio dos frutos foi maior nos tratamentos
testemunha 120 mg/L e 240 mg/L e maior nos primeiros
dois repasses.
Referências
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CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DE RIZÓBIOS ISOLADOS DE Lotus corniculatus L.
1
Caracterização genética de rizóbios isolados de Lotus corniculatus L.
Andréia Mara Rotta de Oliveira2, Naylor Bastiani Perez3, Miguel Dall’agnol4,
Eliane Villamil Bangel5 e Gilmário da Silva6
Resumo - Trinta e três isolados de Rhizobium sp obtidos a partir de nódulos de cornichão (Lotus corniculatus L.), coletados em
diferentes regiões do Rio Grande do Sul, foram caracterizados pela técnica da PCR (reação em cadeia da polimerase), utilizando
oligonucleotídeos específicos para a amplificação de seqüências repetitivas Box. Os isolados apresentaram perfis de amplificação
distintos entre si e das estirpes de Mesorhizobium loti, SEMIA 806 e SEMIA 816, atualmente recomendadas para a produção de
inoculantes para cornichão. O índice de similaridade genética determinado pelo coeficiente de Jaccard variou entre 0,5 e 0,9%
indicando uma grande variabilidade entre os isolados. A análise de agrupamento dos isolados demonstrou a formação de três grupos,
não tendo sido possível estabelecer relação entre o perfil de amplificação, grupos formados e origem geográfica dos isolados.
Palavras-chave: Cornichão, Box-PCR, Fixação Biológica de Nitrogênio, Rhizobium sp., variabilidade genética.
Genetic characterization of Rhizobia isolated from Lotus corniculatus L.
Abstract - Thirty three Rhizobium sp isolates obtained from birdsfoot trefoil (Lotus corniculatus L.) collected on different regions
of Rio Grande do Sul were characterized using Box-PCR. The isolates presented distinct amplification profiles among then, as
well as from the isolates recommended nowadays for the production of birdsfoot trefoil inoculants, SEMIA 806 and SEMIA 816.
The genetic similarity index, determined by the Jaccard coefficient, ranged from 0.5 to 0.9%, pointing out to a large genetic
variability among the isolates. The cluster analysis isolates showed a formation of tree large groups and was not possible to
establish a relationship among the amplification profiles, groups formed and geographic origin of the isolates.
Key words: Birdsfoot trefoil, Rhizobium sp., genetic variability.
1
Trabalho desenvolvido pelo primeiro autor, durante o período de bolsa Recém - Doutor - CNPq.
Bióloga. Dra. UERGS, Rua Inconfidentes, 395, CEP 93340-140, Novo Hamburgo - RS.
3
Pesquisador EMBRAPA-Pecuária Sul, Prof. Dr. UERGS, BR153, km595, Caixa Postal 242. E-mail: [email protected]
4
Engenheiro Agrônomo Dr. Depto. de Plantas Forrageiras, UFRGS, Caixa Postal 776, CEP 90130-060, Porto Alegre - RS
5
Médico Veterinário MSc. FEPAGRO, Rua Gonçalves Dias, 570, CEP 900130-060, Porto Alegre - RS
6
Técnico de Laboratório. FEPAGRO, Rua Gonçalves Dias, 570, CEP 900130-060, Porto Alegre - RS
Recebido para publicação em 18/03/2006
2
23
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ANDRÉIA MARA ROTTA DE OLIVEIRA, NAYLOR BASTIANI PEREZ, MIGUEL DALL’AGNOL,
ELIANE VILLAMIL BANGEL E GILMÁRIO DA SILVA
Introdução
Material e métodos
O cornichão (Lotus corniculatus L.), leguminosa perene de clima temperado, tem grande importância para a
região Sul do Brasil, por ser adaptado às condições edafoclimáticas e por suas características desejáveis para
corte ou pastejo (ARAÚJO e JACQUES, 1974). Além
disso, o cornichão é uma forrageira que se destaca por
sua tolerância à acidez e à baixa fertilidade do solo, sendo muito utilizado em misturas de espécies de inverno e
para introdução sobre o campo nativo, proporcionando
uma melhor distribuição da forragem ao longo do ano e
aumentando a qualidade e a produção de massa seca
(SOSTER et al., 2004; BROSE, 1994).
Uma das principais justificativas para o uso e a manutenção de leguminosas em pastagens, reside na capacidade dessas em obter nitrogênio, via fixação simbiótica, o que torna possível melhorar a produtividade e a
qualidade protéica da forragem, quando estabelecida uma
simbiose eficiente planta-rizóbio (SCHEFFER-BASSO
et al., 2002).
Do ponto de vista taxonômico, a determinação de espécies de rizóbio associadas à família Lotus ainda não
está bem estabelecida. Porém, em L. corniculatus, tem
sido demonstrado que a nodulação ocorre por Mesorhizobium loti sin. Rhizobium loti, (JARVIS et al., 1997;
SULIVAN et al., 1996; BARAIBAR et al., 1999; KWON,
et al., 2005).
O conhecimento da ecologia, da capacidade simbiótica e da variabilidade genética de populações nativas de
rizóbio é um pré-requisito para a seleção de novas estirpes, uma vez que, por serem altamente competitivas, dificultam o estabelecimento e a permanência de estirpes
selecionadas introduzidas através de inoculantes
(YOUNG, 1985; BRONFIELD et al. 1995; PERES et.
al., 1993; VANCE e GRAHAM, 1995; BRADIC, 2003).
Diferentes métodos moleculares estão disponíveis
para a caracterização genética.
A caracterização genética de rizóbios por métodos moleculares, como RAPD, REP-PCR e PCR-RFLP, tem
demonstrado que estas bactérias diferem na estrutura intra e interespecífica de suas populações, possibilitando o
entendimento da variabilidade fenotípica de populações
de rizóbios (BRUIJN, 1992; LUNGE et al., 1994; LAGUERRE et al.,1996; CHUEIRE et al., 2000; ANDRONOV et al. 2003, OLIVEIRA et. al., 2002).
Embora a importância da caracterização de rizóbios
para a seleção de novas estirpes para Lotus corniculatus
esteja bastante fundamentada, poucos estudos têm sido
realizados no Brasil nesse sentido. Este trabalho teve por
objetivo determinar a variabilidade genética de rizóbios
noduladores de cornichão isolados de plantas coletadas
em áreas experimentais e em campo nativo sob diferentes condições de sucessão de vegetação nativa, utilizando marcadores Box-PCR.
Isolamento de rizóbios - Os isolados foram obtidos
a partir de nódulos de raízes de plantas de cornichão, coletadas em áreas experimentais de plantio de cornichão
na região Metropolitana de Porto Alegre e em campo
nativo nas regiões da Campanha e Depressão Central do
Rio Grande do Sul. As coletas foram realizadas no ano
de 2002 em áreas sob diferentes condições de sucessão
de vegetação nativa (Tabela 1). Os isolamentos foram
realizados em meio de cultivo agarizado, contendo extrato de levedura e manitol YM (VINCENT, 1970), acrescido de vermelho congo.
24
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Tabela 1 - Isolados de Rizobium sp analisados por Box-PCR
Estirpe/Isolados
Local – Histórico da Área de Coleta
1
3
USDA 3471
SEMIA 806
SEMIA 816
RLc 1
RLc 2
RLc 3
RLc 7
RLc 8
RLc 9
RLc 10
RLc 11
RLc 12
RLc 13
RLc 14
RLc 15
RLc 16
RLc F2 A
RLc N1
RLc N3
RLc N2
RLc M1
RLc M4
RLc M6
RLc P2
RLc P4
RLc P1 C
RLc CN1
RLc CN3
RLc F1
RLc F3
RLc V1A
RLc V2A
RLc V1B
RLc V2B
RLc V1
RLc V3
2
ATCC 33669; 4NZP 2213
FEPAGRO
FEPAGRO
Rio Pardo/Campo Nativo
Faz. Alqueire/Rio Pardo/Campo Nativo
Faz. Alqueire/Rio Pardo/Campo Nativo
EEA/Eldorado do Sul/ Solo preparado
EEA/Eldorado do Sul/ Solo preparado
EEA/Eldorado do Sul/ Experim. pastejado
EEA/Eldorado do Sul/ Experim. pastejado
EEA/Eldorado do Sul/ Experim. pastejado
EEA/Eldorado do Sul/ Solo preparado
EEA/Eldorado do Sul/ Solo preparado
EEZ/São Gabriel/ Campo Nativo
EEZ/São Gabriel/ Campo Nativo
EEZ/São Gabriel/ Campo Nativo
EEZ/ São Gabriel/ Campo Nativo
EEZ/São Gabriel/ Campo Nativo
EEZ/São Gabriel/ Campo Nativo
EEZ/São Gabriel/ Campo Nativo
EEZ/São Gabriel/ Campo Nativo
EEZ/São Gabriel/ Campo Nativo
EEZ/São Gabriel/ Campo Nativo
Guatambú/D. Pedrito/ Campo Nativo
Guatambú/D. Pedrito/ Campo Nativo
Guatambú/D. Pedrito/ Campo Nativo
Colônia Nova/ Campo Nativo
Colônia Nova/ Campo Nativo
EEZ/ São Gabriel/ Campo Nativo
EEZ/ São Gabriel/ Campo Nativo
Guatambú/ Dom Pedrito/ Campo Nativo
Guatambú/ Dom Pedrito/ Campo Nativo
Guatambú/ Dom Pedrito/ Campo Nativo
Guatambú/ Dom Pedrito/ Campo Nativo
Guatambú/ Dom Pedrito/ Campo Nativo
Guatambú/ Dom Pedrito/ Campo Nativo
5
1
USDA = United States Department of Agriculture
SEMIA = Seção de Microbiologia Agrícola
ATCC= American Type Culture Collection
4
NZP = Culture Collection of the Department for Scientific and Industrial Research
5
FEPAGRO = Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária
2
3
Caracterização por Box-PCR - O DNA dos isolados foi extraído de acordo com o método de Boucher et
al. (1987) e amplificado com o oligonucleotídeo iniciador Box A1R (5´-CTACGGCAAGGCGACGCTGACG-3´), de acordo com o protocolo descrito por Bruijn
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CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DE RIZÓBIOS ISOLADOS DE Lotus corniculatus L.
(1992), com modificações. As reações foram realizadas
em um volume final de 25 ml, contendo 30 ng de DNA,
0,1 mM dNTPs (Amersham Pharmacia), 1,5 mM MgCl2,
1 ml de BSA (0,085 mg/mL-1), 1 mM do oligonucleotídeo iniciador, tampão de reação (10 mM Tris-HCl, 50
mM KCl), 1 U Taq DNA polimerase (Invitrogen). As
amplificações foram desenvolvidas no termociclador
Techne-Progene (Uniscience) com os seguintes ciclos:
um ciclo inicial de 94°C, 7 min; 34 ciclos de 94°C, 1
min; 53°C, 1 min, e 65°C, 5 min; com um período de
extensão final de 65°C, 10 min. Os produtos das amplificações foram submetidos à eletroforese em gel de agarose 1,5% (Invitrogen), corados com brometo de etídio,
visualizados sob luz ultravioleta e documentados pelo
sistema de fotodocumentação computadorizada EDAS
120 (Kodak).
Análise de agrupamento - As bandas produzidas por
Box-PCR foram analisadas pelo programa NTSYS – pc
2.02 (ROHLF, 1990), para o qual foi determinada a similaridade genética utilizando o coeficiente de Jaccard e
construídos os agrupamentos de acordo com o método
UPGMA – Unweighted Pair-Group Method, arithmetic
averages (CRISCI et al. 1983).
Resultados e discussão
A amplificação do DNA dos isolados com o oligonucleotídeo Box A1R (Figuras 1 e 2) gerou produtos entre
250 pb e 2.500 pb. A técnica de Box – PCR mostrou ser
eficiente tanto para a diferenciação entre os isolados,
quanto das estirpes atualmente recomendadas para a produção de inoculantes, SEMIAs 806 e 816 (Figura 1). Estes resultados se assemelham aos já obtidos por outros
autores, que demonstraram que seqüências repetitivas
BOX apresentam um grande poder de resolução para separarem isolados de rizóbio estreitamente relacionados
(CHUEIRE et al., 2000; CARVALHO, 2003).
Figura 1 - Box PCR dos isolados. Marcador de peso molecular 1Kb
Plus (M).1-18:USDA 3471,SEMIA 816,SEMIA 806, RLc 1, RLc 2,
RLc 3, RLc 7, RLc 8, RLc 9, RLc 10, RLc 11, RLc 12, RLc 14, RLc
F2A, RLc CN1, RLc V2B, , RLc15, RLc CN3.
Figura 2 - Box PCR dos isolados. Marcador de peso molecular 1Kb
Plus (M). 1-18: RLc V1, RLc F3, RLc M4, RLc P4, RLc 16, RLc V1B,
RLc V1A, RLc P1C, RLc N3, RLc V2A, RLc 13, RLc V3, RLc N1, RLc
M4, RLc N2, RLc M6, RLc F1, RLc P2.
Os isolados RLc CN1, proveniente de Colônia Nova,
e RLc V2B, proveniente de Dom Pedrito, assim como
RLc15, de São Gabriel, e RLc CN3, de Colônia Nova,
apresentaram perfis de amplificação idênticos entre si
(Figura 1), sugerindo a possibilidade de uma origem comum. O isolado RLc 8, proveniente de Eldorado do Sul,
apresentou um perfil bastante semelhante à estirpe SEMIA 816, atualmente recomendada para a produção de
inoculantes para cornichão.
Além da possibilidade dos isolados serem variantes de uma mesma estirpe, a hipótese da transferência
lateral de genes deve ser considerada, para os isolados que apresentaram o mesmo perfil de amplificação. Estudos demonstraram que a transferência lateral
de genes tem contribuído de forma significativa para
mudanças na estrutura genética de populações de rizóbios, aumentando sua diversidade ou tornado-as mais
homogêneas (RAO et al.,1994; RUVKUN e AUSUBEL, 1980). Sulivan et al.(1995), em estudos realizados com estirpes de R. loti, isoladas de cornichão, constataram a transferência de genes simbióticos e de fixação do nitrogênio entre bactérias simbióticas nativas
do solo, de estirpes que compunham inoculantes para
populações nativas e destas últimas, para populações
não-simbióticas. Utilizando a técnica de RFLP, os autores observaram a ocorrência de perfis idênticos entre as populações analisadas, quando hibridizadas com
genes de fixação do nitrogênio.
A análise de agrupamento dos isolados demonstrou
a formação de três grandes grupos, não tendo sido possível estabelecer relação entre estes e a origem geográfica dos isolados (Figura 3). O índice de similaridade genética determinado pelo coeficiente de Jaccard
ficou entre 0,5 e 0,9% indicando uma grande variabi25
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ANDRÉIA MARA ROTTA DE OLIVEIRA, NAYLOR BASTIANI PEREZ, MIGUEL DALL’AGNOL,
ELIANE VILLAMIL BANGEL E GILMÁRIO DA SILVA
lidade genética entre os isolados. Considerando a similaridade dos isolados em relação à estirpe padrão
USDA 3471 - Mesorhizobium loti, exceto os isolados
RLc 16 e RLc N1 (0,5%), RLc V1A e RLc 3 (0,7%),
todos apresentaram índices de similaridade igual ou
acima de 0,8% (Figura 3).
Conclusão
Os isolados de rizóbio obtidos de nódulos de Lotus
corniculatus (cornichão) de diferentes regiões do Estado
do Rio Grande do Sul, apresentam grande variabilidade
genética e a maioria apresentou perfil de Box-PCR distinto das estirpes recomendadas para inoculação dessa
leguminosa.
Figura 3 - Dendrograma baseado no método UPGMA, de acordo com
perfis de amplificação gerados por BOX-PCR dos isolados de Rhizobium sp.
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SELEÇÃO DE ANTAGONISTAS PARA O CONTROLE BIOLÓGICO DE
Botrytis cinerea EM TOMATEIRO SOB CULTIVO PROTEGIDO
Seleção de antagonistas para o controle biológico de
Botrytis cinerea em tomateiro sob cultivo protegido1
Carla Azambuja Centeno Bocchese2, Bruno Brito Lisboa3, José Ricardo Pfeifer Silveira4,
Luciano Kayser Vargas5, Bernadete Radin6, Andréia Mara Rotta de Oliveira7
Resumo - Os isolados foram obtidos de amostras de tecido vegetal do filoplano e rizoplano de tomateiro e solo da região produtora
do Rio Grande do Sul. Os testes in vitro foram baseados no método de culturas pareadas, na produção de compostos voláteis e no
crescimento em meio de cultura contendo fungicida. Os testes in vivo avaliaram a eficiência dos dois melhores antagonistas
selecionados in vitro por meio da incidência de Botrytis cinerea em flores de tomateiro, sob diferentes formas de aplicação. Os
resultados obtidos evidenciaram que o isolado de Gliocladium viride apresenta potencial para o controle de B. cinerea, pois
ocasionou uma redução de 62%, em relação ao tratamento de controle. Esse resultado foi similar ao encontrado pelo método de
culturas pareadas, efetuado em laboratório, cujo percentual inibitório à B. cinerea foi de 58,14%. Já o isolado de Trichoderma
harzianum não diferenciou-se significativamente do tratamento de controle.
Palavras-chave: controle biológico, mofo cinza, ambiente protegido.
Selection of antagonists for the biological control of Botrytis cinerea in tomato grown
under protected cultivation
Abstract - The isolates were obtained from vegetal tissue, phylloplane-rhyzoplane of tomato and soil in the growing region of Rio
Grande do Sul. “In vitro” tests were based in the method of paired crops culture, in the production of volatile compounds and
growth in culture media containing fungicide. “In vivo” tests measured the efficiency of the two most efficient isolates selected by
“in vitro” experiments through the evaluation of the incidence of Botrytis cinerea in tomato flowers under different forms of
application. Gliocadium viride led to a 62% reduction and was considered a promising alternative for the biological control of B.
cinerea. This result was similar to that obtained through the test of paired crops ran under laboratory conditions. In this test, the
efficiency of G. viride was 58.14%. Trichoderma harzianum did not differ significantly from the control treatment.
Key words: Biological control, gray mold, environmental protection.
1
Trabalho realizado com recursos do CNPq e FAPERGS.
Eng. Agr. Dra., Bolsista do CNPq, UERGS/Prof., [email protected] - Autor para correspondência.
3
Eng. Agr.B. Sc., FEPAGRO/Fitopatologia.
4
Eng. Agr. Dr., FEPAGRO/Fitopatologia.
5
Eng. Agr. Dr., FEPAGRO/Fitopatologia.
6
Eng. Agr. Dra., FEPAGRO/Centro de Meteorologia Aplicada.
7
Biol. Dra., UERGS/Prof.
Recebido para publicação em 13/03/2006
2
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CARLA AZAMBUJA CENTENO BOCCHESE, BRUNO BRITO LISBOA, JOSÉ RICARDO PFEIFER SILVEIRA,
LUCIANO KAYSER VARGAS, BERNADETE RADIN, ANDRÉIA MARA ROTTA DE OLIVEIRA
Introdução
A produção de tomates na safra e entressafra sob cultivo protegido oferece maior versatilidade e rendimento
para os produtores, mas predispõe esta cultura a condições ideais para o desenvolvimento do mofo cinza, cujo
agente Botrytis cinerea causa severas perdas de rendimento neste sistema de produção. A principal forma de
controle ainda é a química, onde a grande variabilidade
genética e esporulação deste patógeno representa alto risco para obtenção de resistência aos principais fungicidas
(GHINI, 1996).
A incidência de B. cinerea é favorecida por temperaturas em torno de 20°C e alta umidade, coincidentes com
o inverno e início da primavera no Rio Grande do Sul. As
flores e folhas do tomateiro são altamente suscetíveis a
B. cinerea e são os primeiros tecidos a exibirem as lesões. O dano econômico ocasionado por esse patógeno é
oriundo das manchas necróticas nos frutos maduros, que
os desqualificam para a comercialização, das infecções
que circundam o caule e matam a planta antes da colheita
(KIMATI et al., 1997).
Trichoderma sp., antagonista típico de solo, vem sendo testado para o controle de Botrytis cinerea em diferentes culturas. Zimand et al., (1996) verificaram que T. harzianum T39 reduziu a germinação e a elongação do tubo
germinativo de B. cinerea em folhas de feijoeiro. Elad e
Shitienberg (1996) demonstraram a efetividade de T. harzianum (T39) em adição a fungicidas no controle de
B.cinerea em pepino. Gliocladium roseum vem sendo comercializado para controle de B. cinerea do morangueiro
cultivado em casa de vegetação. Este antagonista tem se
mostrado tão efetivo quanto os fungicidas quando aplicado no período do florescimento da cultura (VALDEBENITO-SANHUEZA et al., 1995). Utkhede et al., (2001)
compararam a eficiência de tratamentos químicos e biológicos, em casa de vegetação, para o controle de B. cinerea
em tomateiro. Os resultados obtidos por este pesquisador
evidenciaram o potencial de T harzianum para o controle
de B. cinerea em cultivos protegidos.
A utilização de Trichoderma sp. e Gliocladium sp.
como biocontroladores apresenta inúmeras vantagens:
apresentam bom desempenho no controle de fungos fitopatogênicos, são inócuos ao ser humano, não apresentam
impacto negativo ao meio ambiente, apresentam estruturas de reprodução de fácil propagação, principalmente
em substratos naturais, apresentam uma meia-vida de
prateleira formulada, razoavelmente longa e com boa viabilidade (MARIANO, 1993).
A grande maioria dos trabalhos publicados em controle biológico de doenças de plantas abrange uma seleção realizada em laboratório. A grande ênfase na rejeição
dos testes de seleção “in vitro” é baseada em que, na
maioria das vezes, os resultados não coincidem ou são
totalmente discrepantes daqueles realizados “in vivo”, seja
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em casa-de-vegetação, sob condições controladas, seja a
campo (ANDREWS, 1992). Apesar das restrições quanto à eficácia da seleção de antagonistas “in vitro”, essa
técnica ainda é bastante utilizada na detecção de potenciais biocontroladores em grandes populações (MARIANO, 1993). Ethur et al. (2005), utilizaram várias das
metodologias preconizadas por Mariano (1993) para a
seleção de fungos antagonistas a Sclerotinia sclerotiorum em pepineiro cultivado em estufa.
O objetivo deste trabalho foi selecionar isolados de
Trichoderma sp. e Gliocladium sp. de culturas de tomateiro de diferentes localidades do Rio Grande do Sul, que
possam reduzir a ação de B. cinerea e outros fungos fitopatogênicos na cultura do tomateiro em ambiente protegido, a fim de diminuir a utilização de fungicidas químicos e gerar um sistema alternativo de controle que apresente menor impacto ambiental.
Material e métodos
1 Obtenção de isolados de Trichoderma sp. e Gliocladium sp com potencial antagônico a Botrytis cinerea
Os isolados Trichoderma sp. e Gliocladium sp. foram
obtidos a partir de amostras de tecido vegetal do filoplano e
rizoplano de plantas adultas de tomateiro e solo da região
produtora do Rio Grande do Sul. O isolado de B. cinerea foi
obtido de flores de tomateiro da localidade de Eldorado do
Sul (RS). Os isolados de Fusarium oxysporum e Septoria
lycopersici foram obtidos de amostras do rizoplano e filoplano, respectivamente, de plantas de tomateiro.
As flores, folhas e raízes de tomateiro foram inicialmente desinfestadas em solução de hipoclorito a 1%, por
1 minuto, seguido por imersão em água destilada autoclavada. Após, partes de folhas,raízes, e flores foram plaqueadas separadamente em BDA ( meio Agar batata dextrose). Porções de 10 g de solo e substrato, separadamente, foram imersas em 50 mL de água destilada autoclavada e mantidas sob agitação por 10 minutos. Alícotas de
100 mL desta solução foram espalhadas com auxílio de
uma alça de Drigalski em placas contendo meio de cultura BDA. As colônias com as características morfológicas
de Trichoderma sp., Gliocladium sp., B. cinerea, F. oxysporum e S. lycopersici foram repicadas isoladamente em
placas de Petri contendo meio de cultura BDA para identificação segundo Domsch et al. (1980). Foram obtidos,
inicialmente, 300 isolados, dentre os quais apenas 36 foram identificados como Trichoderma harzianum e Gliocladium viride.
A coleção de antagonistas e patógenos utilizada neste
trabalho consta de 39 isolados(Tabela 1): Trichoderma
sp. (23), Gliocladium sp. (13) oriundos, principalmente,
da rizosfera,do solo e do substrato de culturas de tomateiro; Os isolados de B. cinerea (1), F. oxysporum (1) e S.
lycopersici (1) foram obtidos, respectivamente, de flores
com sintomas característicos do mofo cinzento, de amos-
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SELEÇÃO DE ANTAGONISTAS PARA O CONTROLE BIOLÓGICO DE
Botrytis cinerea EM TOMATEIRO SOB CULTIVO PROTEGIDO
tras de rizoplano e filoplano, com manchas necróticas,
de plantas de tomateiro.
Tabela 1 - Coleção de isolados. Laboratório de Fitopatologia da FEPAGRO. Porto Alegre, RS, 2003-2004.
Isolados
Gliocladium viride
Trichoderma harzianum
Trichoderma harzianum
Trichoderma harzianum
Trichoderma harzianum
Botrytis cinerea
Fusarium oxysporum
Septoria lycopersici
Número
13
8
5
9
1
1
1
1
Origem
Porto Alegre
Porto Alegre
Viamão
Eldorado do Sul
Vacaria
Eldorado do Sul
Eldorado do Sul
Eldorado do Sul
2 Identificação e preservação dos antagonistas aos
fitopatógenos
Os isolados de Trichoderma sp. e de Gliocladium sp.,
selecionados em testes “in vitro”, foram identificados em
nível de espécie, com o auxílio de microscópio esteroscópico e ótico, considerando-se a coloração da colônia,
em meio BDA, e a morfologia dos conidióforos, fiálides
e conídios, de acordo com a chave de Domsch et al.(1980),
como T. harzianum e G. viride. Os isolados foram preservados em papel e em tubos com meio de cultura BDA
para as repicagens durante o trabalho. A coleção foi mantida à temperatura de 4°C no Laboratório de Fitopatologia da FEPAGRO.
3 Seleção in vitro dos antagonistas (segundo metodologia de Mariano, 1993)
3.1 Avaliação do potencial antagônico a Botrytis cinerea.
Esta avaliação foi precedida pela elaboração de uma
curva de crescimento e plaqueamento diferencial, onde
foram avaliadas as condições competitivas de ambos os
fungos, a fim de que obtivessem no teste a igualdade de
condições de crescimento. B. cinerea apresentou crescimento micelial mais lento em meio de cultura BDA que
os antagonistas, necessitando de 216 horas de incubação
à 23°C para obter 9 cm de diâmetro nas colônias. Os isolados de T. harzianum e G. viride obtiveram o mesmo
crescimento em apenas 168 horas.
A avaliação do potencial de controle dos antagonistas in vitro foi realizada por meio do método de
culturas pareadas. A aplicação deste método consistiu
na deposição de dois discos de 5 mm de diâmetro, em
placas com meio BDA, dispostos em dois pontos opostos e eqüidistantes das bordas das placas, contendo estruturas do provável antagonista e do fitopatógeno. Na
montagem do pareamento houve antecipação de dois
dias na deposição dos discos de B. cinerea nas placas
com meio de cultura BDA, em vista de seu crescimento micelial em relação aos antagonistas. Após a colocação dos antagonistas nas placas estas foram incuba-
das por 7 dias na temperatura de 23°C e fotoperíodo
de 12 horas.
O tratamento de controle consistiu da deposição centralizada de um disco de 5 mm de diâmetro de meio contendo B. cinerea em placas com meio BDA. Os diâmetros das colônias do fitopatógeno foram medidos e comparados com o crescimento do tratamento de controle. O
percentual de inibição de B. cinerea foi calculado do seguinte modo:
I (%) = (1 – [crescimento de B .cinerea – crescimento
do controle] x 100)
O ensaio foi realizado com 36 isolados de antagonistas,
1 isolado de B. cinerea (controle), com 4 repetições (cada
placa = 1 repetição), totalizando a avaliação de 148 placas.
A avaliação visual também foi realizada, após 10 dias
de incubação, com base em escala, proposta por Bell et
al. (1982), mostrada a seguir.
Escala:
Nota 1: Antagonista crescendo sobre toda a placa de Petri.
Nota 2: Antagonista crescendo sobre, aproximadamente, 75% da placa de Petri.
Nota 3: Antagonista crescendo sobre aproximadamente, 50% da placa de Petri.
Nota 4: Patógeno crescendo sobre, aproximadamente, 75% da placa de Petri.
Nota 5: Patógeno crescendo sobre toda a placa de Petri.
3.2 Avaliação do crescimento micelial e produção
de conídios dos isolados de T. harzianum e G. viride
em meio de cultura BDA
O crescimento micelial dos isolados de T. harzianum
e G. viride foi avaliado por meio da medição do diâmetro
das colônias crescidas em meio de cultura BDA, a 23°C
e fotoperíodo de 12 horas, por 48 horas.
A produção de conídios dos isolados potencialmente
antagonistas à B. cinerea foi avaliada, em condições semelhantes às anteriores, porém após 7 dias de incubação.
O preparo da suspensão de conídios para a contagem foi
realizado do seguinte modo: acrescentou-se um volume
de 10 mL de água destilada esterilizada às placas de Petri
e, com o auxílio de uma alça de Drigalsky, realizou-se
uma remoção da massa micelial, com o objetivo de suspender os conídios na água. Após, 100 µL da suspensão
homogeneizada foram utilizados para a contagem em
Câmara de Neubauer.
Para este ensaio foram utilizados 36 isolados (1 isolado = 1 tratamento) com 4 repetições (1 placa = 1 repetição), totalizando a avaliação de 144 placas.
3.3 Avaliação do potencial antagônico a outros fungos fitopatogênicos para cultura do tomateiro
A metodologia aplicada foi semelhante à descrita
no item 3.1. A avaliação competitiva de F. oxysporum e S. lycopersici determinou que houvesse uma
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antecipação de 48 horas no plaqueamento de Septoria lycopersici para a montagem do pareamento nas
placas de Petri.
Neste ensaio foram utilizados apenas 9 isolados ( isolado = 1tratamento) representativos da coleção de antagonistas, 1 isolado de F. oxysporum e 1 de S. lycopersic.
Foi elaborado com 20 tratamentos (1 tratamento = 1 isolado) com 4 repetições (1 repetição = 1 placa), totalizando a avaliação de 80 placas.
Os tratamentos de controle consistiram apenas na
deposição centralizada de 1 disco de 5 mm de diâmetro
de meio contendo F. oxysporum e S. lycopersici, separadamente, em placas com meio BDA.
3.4 Avaliação da compatibilidade entre os agentes
de biocontrole selecionados
Em trabalhos recentes, Guetsky et al.(2001) preconizaram que a aplicação de mais de um antagonista, com
diferentes requerimentos ecológicos, pode aumentar a
eficiência e diminuir a variabilidade do controle biológico. Logo, aplicações simultâneas de T. harzianum e
G. virens podem melhorar a eficiência do controle biológico para B. cinerea e de outros fungos patogênicos à
cultura do tomate em ambiente protegido. Em vista da
possibilidade da utilização de tratamentos com aplicação simultânea de dois antagonistas (no solo, sementes
e foliar), fez-se necessária a avaliação do antagonismo
entre os agentes de biocontrole selecionados. A metodologia foi similar à descrita no item 3.1, sendo que
neste ensaio foram utilizados 5 isolados de T. harzianum e 3 isolados de G. viride.
Os tratamentos de controle consistiram apenas na
deposição centralizada de 1 disco de 5 mm de diâmetro de meio contendo 1 isolado (T. harzianum ou G.
viride) em placas com meio BDA. Todas as placas foram incubadas por 7 dias em temperatura de 23°C e
fotoperíodo de 12 horas. Foi realizada a avaliação visual, após 10 dias de incubação, baseada na escala,
proposta por Bell et al. (1982) (modificada pelos autores), mostrada a seguir.
Escala:
Nota 1: O isolado de T. harzianum cresce sobre, aproximadamente, 75% da placa de Petri; inibe 25% o crescimento de G. viride.
Nota 2: O isolado de G. viride cresce sobre, aproximadamente, 75% da placa de Petri; inibe 25% o crescimento de T. harzianum.
Nota 3: T. harzianum cresce 50% e G. viride, 50% da
placa.
Nota 4: Formação de halo entre as duas colônias pareadas, sem a presença de conídios.
Este ensaio constou de 18 tratamentos (1 tratamento
= 1 isolado de T. harzianum x 1 isolado de G. viride) e 8
tratamentos de controle, com 4 repetições (1 repetição =
1 placa), totalizando a avaliação de 104 placas.
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3.5 Avaliação da capacidade dos antagonistas para
produção de compostos voláteis
Os isolados representativos de antagonistas da coleção também foram testados para a avaliação da produção
de metabólitos voláteis, com atuação sobre o desenvolvimento de B.cinerea. Neste ensaio foi utilizado o cultivo em placas de Petri sobrepostas contendo meio de cultura BDA, uma delas inoculada com o patógeno e outra
com antagonista. As placas foram incubadas a 23°C com
fotoperíodo de 12 horas, por 7 dias. A avaliação da capacidade dos antagonistas para produção de compostos voláteis foi realizada pela medição do diâmetro das colônias de B. cinerea crescidas no meio após o período de incubação e em contato com gases produzidos pelos possíveis antagonistas. Essa medição foi comparada com o
controle, onde B. cinerea cresceu sem a presença de antagonistas.
Este ensaio constou de 10 tratamentos e 4 repetições,
totalizando a avaliação de 40 placas.
4 Efeito de Benomil sobre o crescimento dos antagonistas testados (segundo metodologia de Ghini e
Vitti, 1996)
Avaliou-se “in vitro”o efeito de Benomil (ingrediente ativo: 500 g/kg), fungicida comumente utilizado no
controle de doenças do tomateiro em estufa, sobre o crescimento de T. harzianum e G. viride.
O fungicida foi testado a 0, 1, 2, 5 e 10 ppm do ingrediente ativo de Benomil, adicionado ao meio de BDA fundido (± 45°C) e em seguida vertido em placas. Após a solidificação do meio, no centro de cada placa, foi colocado
um disco de micélio de 5 mm de diâmetro, retirado das
margens de colônias de T. harzianum e G. viride cultivados em BDA, com 10 dias de cultivo. As placas foram
mantidas em temperaturas de laboratório (±25°C) sob fotoperíodo de 12 horas, por 48 horas, determinado-se os
diâmetros médios das colônias. O ensaio constou de 40
tratamentos com 4 repetições, totalizando 196 placas.
5 Testes in vivo
5.1 Efeito de T. harzianum e G. viride na emergência e no desenvolvimento de plântulas de tomateiro
O experimento foi conduzido na Estação Experimental da FEPAGRO localizada em Eldorado do Sul (RS),
em casa de vegetação. O experimento constou dos seguintes tratamentos: T0: Controle (sem aplicação de antagonistas na semente e substrato comercial Plantmax,
sem esterilização); T1: TRIC –30 no substrato e sementes de tomateiro; T2: aplicação de GLIO –10 no substrato e sementes de tomateiro; T3: aplicação simultânea de
TRIC –30 e GLIO –10 no substrato e sementes de tomateiro. Os tratamentos foram feitos com 4 repetições, sendo que cada um deles constou do plantio de 26 sementes
de tomateiro. As sementes foram revestidas com uma
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SELEÇÃO DE ANTAGONISTAS PARA O CONTROLE BIOLÓGICO DE
Botrytis cinerea EM TOMATEIRO SOB CULTIVO PROTEGIDO
suspensão de 4 x 108 conídios mL-1 do(s) antagonista(s)
acrescida de um agente adesivo (KLEIFELD e CHET,
1992). Ao substrato, foram adicionados 5 g de antagonista (cultivado em arroz), na concentração de 108 conídios g-1, para cada 1 kg de substrato.
A avaliação foi feita pelo número de plantas emergidas
após sete e dez dias de cultivo onde foram determinados
altura da parte aérea (cm), comprimento da raiz (cm) e
peso da matéria seca (g) de 10 plantas coletadas por repetição. A avaliação da altura de planta e comprimento de
raiz foi realizada com o auxílio de régua milimetrada,
medindo do colo da planta até a axila da última folha e do
colo até o final da última radícula inserida na raiz principal, respectivamente. Já para a avaliação da matéria seca
(raiz desidratada), as raízes das plantas foram lavadas em
água corrente e acondicionadas, separadamente, em sacos
de papel, e em seguida secas em estufa com temperatura
regulada a 60°C, até o material atingir peso constante.
5.2 Persistência de T. harzianum e G. viride nas raízes de plântulas de tomateiro
O ensaio na casa de vegetação consistiu dos seguintes tratamentos:
(t0): Nenhum tratamento com os biocontroladores.
(t1): Inoculação de GLIO – 10 nas sementes de tomateiro.
(t2): Inoculação de TRIC – 30 nas sementes de tomateiro.
(t3): Inoculação simultânea de GLIO – 10 e TRIC –
30 nas sementes de tomateiro.
As sementes foram revestidas com uma suspensão de
4 x 108 conídios mL-1 do(s) antagonista(s) acrescida de
um agente adesivo (KLEIFELD e CHET, 1992).
Os 4 tratamentos foram realizados, com 4 repetições,
sendo que cada um deles constou da avaliação de 40 radículas oriundas de 20 plântulas de tomateiro, após 15
dias da emergência. Duas radículas de cada plântula foram removidas e desinfestadas, com hipoclorito a 1%,
durante 2 minutos. Após foram transferidas para placa de
Petri contendo BDA mais tetraciclina (250 mq/L), sendo
dispostas 5 radículas por placa. As avaliações foram efetuadas aos 4 dias de incubação a 23°C, fotoperíodo de 12
horas, pela contagem do número de radículas com crescimento dos antagonistas, sendo posteriormente determinada a média de incidência. Os antagonistas foram repicados para placas contendo BDA para o procedimento
de identificação segundo Domsch et al. (1980).
5.3 Efeito dos tratamentos com T. harzianum e G.
viride na incidência de B. cinerea em flores planta-1
O ensaio em estufa consistiu dos seguintes tratamentos:
Testemunha: Nenhum tratamento com os biocontroladores.
G. viride (T1): Biocontrolador no substrato, semente
e cova (plantio).
G. viride (T2): Biocontrolador apenas em pulverizações foliares semanais 7 dias após o plantio.
G. viride (T3): Biocontrolador no substrato, semente,
cova (plantio) e nas pulverizações semanais foliares.
T. harzianum (t1): Biocontrolador no substrato, semente e cova (plantio).
T. harzianum (t2): Biocontrolador apenas em pulverizações foliares semanais 7 dias após o plantio.
T. harzianum (t3): Biocontrolador no substrato, semente, cova (plantio) e nas pulverizações foliares semanais.
Os tratamentos foram repetidos 4 vezes, sendo que
cada um deles constou de 12 plantas de tomateiro. As
sementes foram revestidas com uma suspensão de 4 x
108 conídios/mL do(s) antagonista(s) acrescida de um
agente adesivo (KLEIFELD e CHET, 1992). No substrato, foram adicionados 5 g de antagonista (cultivado em
arroz), na concentração de 108 conídios/g, para cada 1 kg
de substrato. As aplicações dos antagonistas (3 x 108 conídios mL-1) foram feitas com pulverizador costal, a partir da emergência, em intervalos de sete dias.
A avaliação foi realizada por meio de 2 coletas aleatórias, a primeira após 15 dias e a segunda 30 dias do
início do florescimento, de 10 flores parcela-1. As flores
coletadas foram removidas, assepticamente, e transferidas para placa contendo BDA mais tetraciclina (250 mg/
L), sendo dispostas 5 flores por placa. As avaliações foram efetuadas aos 4 dias de incubação a 23°C, fotoperíodo de 12 horas, pela contagem do número de flores com
crescimento do patógeno, sendo posteriormente determinada a média de incidência.
6 Análise estatística
Os dados foram submetidos à análise de variância e
para comparação de médias empregou-se o Teste Tukey,
utilizando o programa computacional SAS.
Resultados e discussão
A inibição de B. cinerea por T. harzianum em relação
ao tratamento de controle variou de 42,31 a 74,41% (Tabela 2). Os isolados de T. harzianum que apresentaram
maior efeito inibitório foram: TRIC – 30 (74,41%), TRIC
– 36 (72,49%), TRIC – 35 (70,42 %), TRIC – 17 (70,42%)
e TRIC – 33 (70,42%). Já os isolados de G. viride apresentaram uma menor variação, de 50,74 a 60,06%. Os
melhores isolados de G. viride para o controle de B. cinerea foram: GLIO – 12 (60,06%), GLIO – 7 (60,06%),
GLIO – 10 (58,14%) e GLIO – 6 (57,70%).
As notas da avaliação visual foram feitas após um
período de 10 dias, quando foi possível observar o crescimento dos melhores isolados de T. harzianum e G. viride sobre a colônia de B. cinerea, o que pode justificar a
ausência de correlação entre o percentual de inibição contra B. cinerea e as notas da avaliação visual do antago33
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CARLA AZAMBUJA CENTENO BOCCHESE, BRUNO BRITO LISBOA, JOSÉ RICARDO PFEIFER SILVEIRA,
LUCIANO KAYSER VARGAS, BERNADETE RADIN, ANDRÉIA MARA ROTTA DE OLIVEIRA
Testes in vitro
Tabela 2 - Ação inibitória contra Botrytis cinerea (%) e notas da avaliação visual do antagonista em presença do patógeno; crescimento micelial
(diâmetro da colônia) e produção de conídios em meio de cultura BDA.
Isolados
% Inibição Botrytis
cinerea
TRIC – 30
TRIC – 36
TRIC – 35
TRIC –17
TRIC – 33
GLIO – 12
TRIC – 37
GLIO – 7
TRIC – 11
TRIC – 29
GLIO – 10
TRIC – 15
GLIO – 6
TRIC – 31
TRIC – 21
TRIC – 32
TRIC – 19
TRIC – 3
GLIO – 13
GLIO – 14
TRIC – 34
TRIC – 18
GLIO – 4
GLIO – 5
TRIC – 8
GLIO – 1
TRIC – 14
TRIC – 24
GLIO – 2
GLIO – 9
TRIC – 16
GLIO – 11
TRIC – 23
TRIC –22
TRIC – 26
TRIC – 20
74,41
72,49
70,42
70,42
70,42
60,06
62,58
60,06
59,62
58,14
58,14
58,14
57,70
57,59
57,70
57,11
57,11
57,11
56,66
56,66
56,66
56,22
56,22
56,22
56,22
55,14
54,64
53,70
53,66
51,19
51,19
50,74
50,30
46,26
43,35
42,31
5%
Avaliação visual
(nota)
a
ab
abc
abc
abc
abc
abcd
abcde
abcdef
abcdef
abcdef
abcdef
abcdef
abcdef
abcdef
abcdef
abcdef
abcdef
bcdef
bcdef
bcdef
bcdef
bcdef
bcdef
bcdef
bcdef
cdef
cdef
cdef
def
def
def
def
def
ef
f
1
2
2
2
2
2
2
2
2
2
1
2
1
2
1
1
1
2
2
2
2
2
2
2
1
2
2
2
2
1
2
2
1
1
2
2
Crescimento
micelial
6,96
6,70
7,23
4,13
7,5
3,66
5,93
4,43
4,83
7,23
5,96
4,43
5,96
6,60
4,86
7,46
4,6
3,83
2,93
4,16
7,63
4,90
5,33
4,13
7,83
4,46
3,76
4,86
4,3
3,46
5,33
3,5
4,76
4,23
4,6
4,16
bcd
cde
abcd
hijkl
abc
jklm
ef
hji
gh
abcd
ef
hji
ef
de
gh
abc
ghi
ijkl
m
hijkl
ab
gh
fg
hijkl
a
hij
jkl
gh
hijk
lm
fg
klm
gh
hijkl
ghi
hijkl
Produção de conídios
X 50.000 mL-1
21,66
15,0
47,33
1,33
48,0
9,66
55,66
5,66
26,66
33,0
18,33
4,0
13,0
5,33
17,66
28,0
1,67
3,33
8,66
7,66
27,33
9,0
6,66
4,0
120,0
23,0
2,33
9,0
10,0
7,0
6,33
3,0
15,66
3,33
2,33
6,0
bcd
cd
bc
d
bc
d
b
d
bcd
bcd
cd
d
cd
d
cd
bcd
d
d
d
d
bcd
d
d
d
a
cbd
d
d
d
d
d
d
cd
d
d
d
*
Médias seguidas de mesma letra não diferem pelo teste de Tukey a 5%.
Escala:
Nota 1: Antagonista crescendo sobre toda a placa de Petri.
Nota 2: Antagonista crescendo sobre, aproximadamente, 75% da placa de Petri.
Nota 3: Antagonista crescendo sobre aproximadamente, 50% da placa de Petri.
Nota 4: Patógeno crescendo sobre, aproximadamente, 75% da placa de Petri.
Nota 5: Patógeno crescendo sobre toda a placa de Petri.
Codificação dos isolados:
As abreviações TRIC e GLIO correspondem a isolados de Trichoderma harzianum e Gliocladium viride, respectivamente. Os números são utilizados para diferenciálos dentro da coleção, uma vez que cada isolado apresenta diferenças genéticas frente a outro isolado da mesma espécie.
nista em presença do patógeno. Os dados obtidos com a
avaliação visual foram decisivos para a seleção de um
grupo de isolados para os demais testes “in vitro”. Os
isolados selecionados, que obtiveram a nota 1, foram:
TRIC – 30, GLIO – 10, TRIC – 8, TRIC – 32, GLIO – 9,
TRIC – 23, TRIC – 21, TRIC – 19 e GLIO – 6.
Os dados referentes ao crescimento micelial (diâmetro da colônia [cm]) e produção de conídios (Tabela 2)
não apresentaram correlação significativa com a ação
inibitória dos isolados de T. harzianum e G. viride à B.
cinerea. Dentre os isolados de G. viride, GLIO – 10, destacou-se dos demais tanto no crescimento micelial (5,95
34
029a038_arquivo-06-botrytis cinerea.pmd
cm) como na produção de conídios (18,33 x 50.000 conídios/mL), obtendo os maiores valores dentro da sua espécie. O isolado de T. harzianum, TRIC – 30, apesar de
apresentar o maior valor inibitório sobre B. cinerea, em
relação ao crescimento micelial e produção de conídios
obteve valores intermediários quando comparado com os
demais isolados.
A inibição do crescimento de S. lycopersici e F. oxysporum, dois patógenos que ocasionam danos de relevância na cultura do tomateiro, pelos isolados de T. harzianum e G. viride (Tabela 3) variou de 22,29 a 49,32% e
13,63 a 44,15%, respectivamente. O isolado TRIC – 32
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SELEÇÃO DE ANTAGONISTAS PARA O CONTROLE BIOLÓGICO DE
Botrytis cinerea EM TOMATEIRO SOB CULTIVO PROTEGIDO
obteve o maior percentual de inibição tanto contra S. lycopersici (49,32%) como para F. oxysporum (44,15%). O
isolado TRIC – 30 apresentou um nível médio de inibição contra S. lycopersici (33,77%) e um baixo nível de
inibição contra F. oxysporum (13,63%). Entretanto, na
avaliação visual obteve nota 2 nos percentuais de inibição ocasionados à F. oxysporum e S. lycopersici. O isolado GLIO – 10 também apresentou nível médio de inibi-
ção em relação a S. lycopersici (27,02%) e em relação a
F. oxysporum (31,16%). As avaliações visuais do pareamento de GLIO – 10 com isolados dos patógenos, evidenciaram baixa eficiência no controle de S. lycopersici
e alta para F. oxysporum. Segundo Fokkema (1996), o
sucesso dos antagonistas é determinado não somente por
sua ação antagônica direta, mas também pela possível
duração da interação entre antagonista e patógeno.
Tabela 3 - Ação inibitória de isolados de Trichoderma harzianum e Gliocladium viride contra Septoria lycopersici e Fusarium oxysporum (%) e
notas da avaliação visual do antagonista em presença do patógeno.
Tratamentos
Inibição (%)
Septoria lycopersici
TRIC – 30
GLIO – 10
TRIC – 8
TRIC – 32
GLIO – 9
TRIC – 23
TRIC – 21
TRIC – 9
GLIO – 6
33,77
27,02
43,91
49,32
24,04
38,51
47,29
45,26
22,29
Avaliação Visual
(Nota)
ab
ab
ab
a
ab
ab
ab
ab
b
2
3
1
2
3
1
1
2
2
Inibição (%)
Fusarium oxysporum
13,63
31,16
31,81
44,15
27,91
28,56
21,42
31,81
37,01
c
abc
abc
a
abc
abc
bc
abc
ab
Avaliação Visual
(Nota)
2
1
3
1
3
2
3
1
2
*
Médias seguidas de mesma letra não diferem pelo teste de Tukey a 5%.
Escala:
Nota 1: Antagonista crescendo sobre toda a placa de Petri.
Nota 2: Antagonista crescendo sobre, aproximadamente, 75% da placa de Petri.
Nota 3: Antagonista crescendo sobre aproximadamente, 50% da placa de Petri.
Nota 4: Patógeno crescendo sobre, aproximadamente, 75% da placa de Petri.
Nota 5: Patógeno crescendo sobre toda a placa de Petri.
O crescimento micelial (diâmetro das colônias [cm])
de B. cinerea em presença de compostos voláteis oriundos de isolados de T. harzianum e G. viride (Tabela 4)
apresentou redução de até 46,8%, obtido pelo isolado
GLIO – 6, em relação ao tratamento controle. Os isolados que se destacaram na produção de compostos voláteis foram: GLIO – 6 (46,8%), TRIC – 19 (40,47%), TRIC
– 21 (40,47%), TRIC – 23 (39,73%), GLIO – 9 (38,24%),
TRIC – 32 (36%). Os isolados GLIO – 10 e TRIC – 30
demonstraram produzir baixa quantidade de compostos
voláteis com efeito inibitório sob o crescimento micelial
de B. cinerea.
A avaliação da compatibilidade entre os isolados de
T. harzianum e G. viride (Tabela 5), pelo método de culTabela 4 - Crescimento micelial de Botrytis cinerea em culturas desenvolvidas em presença de metabólitos voláteis
Tratamentos
Diâmetro das colônias
Controle
TRIC – 30
GLIO – 10
TRIC – 8
TRIC – 32
GLIO – 9
TRIC – 23
TRIC – 21
TRIC – 19
GLIO – 6
6,72
6,30
5,07
4,32
4,30
4,15
4,05
4,00
4,00
3,57
a*
ab
bc
cd
cd
cd
cd
cd
cd
d
de isolados de Trichoderma harzianum e de Gliocladium viride.
Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo Teste de
Tukey a 5%.
turas pareadas, demonstrou que podem existir relações
antagônicas mesmo dentre os agentes biocontroladores.
O isolado de T. harzianum, TRIC – 19, apresentou redução de 25% em seu crescimento micelial quando pareado, com os três isolados de G. viride. Outra reação de
incompatibilidade para crescimento micelial simultâneo
foi observado com o isolado de T. harzianum, TRIC –
21, que apresentou formação de halo e inexistência de
conídios quando pareado com os isolados de G. viride.
Os demais isolados testados apresentaram compatibilidade, pois houve uniformidade no crescimento micelial
entre os isolados, quando pareados em placas contendo
meio de cultura BDA. Além disso, não foram observadas
reações antagônicas entre eles. Segundo Guetsky et al.
(2002), a introdução de 2 ou mais agentes biocontroladores na filosfera, com diferentes requerimentos ecológicos, poderá facilitar e aumentar a consistência do controle da doença sem afetar a eficácia dos biocontroladores.
Entretanto, de acordo com os resultados obtidos, deve
ser testada previamente a compatibilidade entre eles, uma
vez que podem apresentar reações antagônicas.
Como as doenças associadas à filosfera não são de
ocorrência isolada, o uso de bioagentes deve ser integrado com outras práticas agrícolas. Muitas dessas práticas
interferem com o bioagente diretamente e/ou alteram o
equilíbrio da comunidade microbiana do filoplano
(MELO, 1996). Deste modo, tornou-se necessária a seleção de isolados com maior resistência aos produtos mais
utilizados na cultura, como o Benomil, recomendado para
35
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CARLA AZAMBUJA CENTENO BOCCHESE, BRUNO BRITO LISBOA, JOSÉ RICARDO PFEIFER SILVEIRA,
LUCIANO KAYSER VARGAS, BERNADETE RADIN, ANDRÉIA MARA ROTTA DE OLIVEIRA
Tabela 5 - Compatibilidade entre os isolados de Trichoderma harzianum e Gliocladium viride pelo método de culturas pareadas.
Trichoderma harzianum
Isolado n°
Gliocladium viride
Isolado n°
Nota
TRIC – 19
TRIC – 21
TRIC – 23
TRIC – 30
TRIC – 32
TRIC – 19
TRIC – 21
TRIC – 23
TRIC – 30
TRIC – 32
TRIC – 19
TRIC – 21
TRIC – 23
TRIC – 30
TRIC – 32
2
4
3
3
3
2
4
3
3
3
2
4
3
3
3
GLIO – 6
GLIO – 6
GLIO – 6
GLIO – 6
GLIO – 6
GLIO – 9
GLIO – 9
GLIO – 9
GLIO – 9
GLIO – 9
GLIO – 10
GLIO – 10
GLIO – 10
GLIO – 10
GLIO – 10
A avaliação visual da compatibilidade foi baseada na seguinte escala de notas:
Nota 1: O isolado de Trichoderma harzianum cresce sobre, aproximadamente,
75% da placa de Petri; inibe 25% o crescimento de Gliocladium viride.
Nota 2: O isolado de Gliocladium viride cresce sobre, aproximadamente, 75% da
placa de Petri; inibe 25% o crescimento de Trichoderma harzianum.
Nota 3: Trichoderma harzianum cresce 50% e Gliocladium viride, 50% da placa
de Petri.
Nota 4: Formação de halo entre as duas colônias pareadas, sem a presença de
conídios.
o controle de S. lycopersici, Stemphylium solani, B. cinerea, F. oxysporum, Verticillium alboatrum, e Sclerotium
rolfsii. A concentração de Benomil recomendada para o
controle de patógenos foliares em tomateiro é de 0,7g /L
(COMPÊNDIO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS,
1999), o que equivale a 350 mg/L do ingrediente ativo.
A avaliação do crescimento micelial de T. harzianum e
G. viride em meio BDA com diferentes concentrações de
Benomil (Tabela 6) demonstrou que houve diferenças significativas entre os isolados quanto à resistência a esse fungicida. Os isolados GLIO – 10 e TRIC – 30, obtidos em
cultivos de tomate a campo, apresentaram o maior nível
de resistência ao fungida em relação aos demais isolados, cujos percentuais de redução no crescimento micelial, em concentrações de 10 mg/L do ingrediente ativo
do Benomil, foram de 29,77% e 35,75%, respectivamente. Os isolados TRIC – 19 e TRIC – 32, também obtidos
em cultivos de tomate à campo, apresentaram nível intermediário de resistência ao fungicida. Os percentuais
de redução no crescimento, na concentração de 10 ppm,
foram de 70,23% e 55,46%, respectivamente. Por outro
lado, os isolados GLIO 6, GLIO 9, TRIC 21 e TRIC 23,
também oriundos de cultivos de tomate sob ambiente
protegido, apresentaram uma inibição de aproximadamente 50% do crescimento micelial na concentração de 2 mg/
L do ingrediente ativo, e 100% na concentração de 5 mg/
L. Estes resultados podem estar associados ao fato de que
Benomil não é comumente recomendado para cultivos sob
ambiente protegido, o que não promoveu uma pressão de
seleção em favor das estirpes fúngicas resistentes, permitindo a sobrevivência das sensíveis.
Tabela 6 - Diâmetro das colônias de Trichoderma harzianum e Gliocladium viride crescidas em meio BDA contendo diferentes concentrações de
Benlate 500 (Ingrediente ativo: Benomil, 500g /kg).
Concentração de Benomil (ppm)/ litro de BDA
Isolados
0 ppm
GLIO – 6
GLIO – 9
GLIO – 10
TRIC – 19
TRIC – 21
TRIC – 23
TRIC – 30
TRIC – 32
9,0
8,97
9,0
8,97
8,97
8,95
8,95
8,87
1 ppm
Aa
Aa
Aa
Aa
Aa
Aa
Aa
Aa
8,75
8,87
8,95
8,70
8,77
8,80
8,82
8,77
2 ppm
Aa
Aa
Aa
Aa
Aa
Aa
Aa
Aa
4,52
5,62
8,85
8,52
4,60
4,05
8,80
7,67
Eb
Db
Aa
Bb
Eb
Fb
Aa
Cb
5 ppm
0
0
7,52
7,67
0
0
7,52
5,65
10 ppm
Cc
Cc
Ab
Ac
Cc
Cc
Ab
Bc
0
0
6,32
2,67
0
0
5,75
3,95
Dc
Dc
Ac
Cd
Dc
Dc
Bc
Cd
Médias de mesma letra, maiúscula na coluna e minúscula na linha, não diferem estatísticamente pelo teste de Tukey a 5%.
A aplicação de T. harzianum e de G. viride no substrato para produção da mudas de tomateiro, conforme
dados apresentados na Tabela 7, não mostrou incremento significativo para as variáveis analisadas. No
experimento, as plantas estavam em condições controladas, livres de patógenos, em substrato homogêneo e com nutrientes suficientes para seu desenvolvimento. O efeito dos antagonistas sobre a emergência e
o crescimento das plântulas de tomateiro não foi evidenciado, possivelmente, devido ao fato de a absorção
de nutrientes ter ocorrido de forma semelhante pelas
plantas tratadas com antagonistas e pelas plantas do
tratamento de controle. T. harzianum e G. viride promovem o crescimento das plantas quando estas estão
submetidas a algum estresse biológico ou edáfico, pois
36
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conferem tolerância a vários fatores de estresse às plantas (HARMAN, 2000). Outro ponto a ser considerado
seria que o período de ocorrência da interação entre o
biocontrolador e a planta é bem maior do que 15 dias,
utilizado neste trabalho, para ocasionar diferenças significativas nas variáveis analisadas. Além disso, o lote,
o nível de infecção e o tipo de microrganismo presente nas sementes também poderiam afetar a eficiência
do desempenho dos antagonistas (LUZ, 1993). As sementes de tomate, utilizadas neste trabalho, eram certificadas, com uma baixa incidência de patógenos que
pudessem prejudicar a emergência das mesmas, o que
justifica a inexistência de aumento na taxa de emergência de plântulas em relação ao tratamento de controle.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.29-38, 2007.
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SELEÇÃO DE ANTAGONISTAS PARA O CONTROLE BIOLÓGICO DE
Botrytis cinerea EM TOMATEIRO SOB CULTIVO PROTEGIDO
Testes in vivo
Tabela 7 - Efeito de isolados de Trichoderma harzianum e de Gliocladium viride, TRIC – 30 e GLIO – 10 inoculados no substrato sobre o
desenvolvimento de tomateiros; médias do número de plantas emergidas após sete e dez dias; altura da parte aérea; comprimento da raiz e peso da
matéria seca de 10 plantas coletadas. Eldorado do Sul, RS. 2004.
Variável analisada
Dias após plantio
Nºde plantas/emerg
Nºde plantas/emerg *
Altura da planta (cm)
Medida da raiz(cm)
Peso seco g
7 dias
15 dias
15 dias
15 dias
15 dias
Controle
9,5
21
8,5
2,0
0,09
Trichoderma
TRIC – 30
a
a
a
a
a
7,4
21,4
8,3
1,60
0,08
a
a
a
a
a
Gliocladium
GLIO – 10
7,4
22,0
8,0
1,50
0,08
TRIC+GLIO
a
a
a
a
a
6,9
23,4
8,1
2,19
0,09
a
a
a
a
a
* O número máximo de emergência seria 26, correspondente a todas as sementes que foram plantadas.
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente pelo Teste de Tukey a 5%.
A incidência de T. harzianum e G. viride, nas radículas das plântulas de tomateiro oriundas de sementes
inoculadas (Tabela 8), apresentou diferença significativa em relação ao tratamento de controle. Não foi evidenciada diferença na incidência entre os dois antagonistas em radículas, oriundas de sementes inoculadas.
A desinfestação com hipoclorito de sódio a 1%, durante
2 minutos, demonstrou que os antagonistas já haviam
colonizado a maioria dos tecidos superficiais do sistema radicular, no período de 15 dias.
A incidência de B. cinerea na cultura do tomateiro foi
observada durante todo o período de florescimento, com
intensidade variável. A ocorrência de mofo cinza em flores de tomateiro variou dependendo do tratamento utilizado. A maior incidência de B. cinerea ocorreu no tratamento de controle.
Tabela 8 - Incidência de Trichoderma harzianum e Gliocladium viride nas radículas de plântulas de tomateiro.
Tratamentos
t0:
t1:
t2:
t3:
% Incidência de T. harzianum e G. viride
Nenhum tratamento com os biocontroladores;
Inoculação de GLIO – 10 nas sementes de tomateiro;
Inoculação de TRIC – 30 nas sementes de tomateiro;
Inoculação simultânea de GLIO – 10 e TRIC – 30 nas sementes de tomateiro
1,32
9,5
7,75
8,75
B
A
A
A
Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo Teste de Tukey a 5%.
O teste in vivo utilizando isolados de T. harzianum e
de G. viride, TRIC – 30 e GLIO –10, respectivamente,
sob formas diferenciadas de aplicação (Tabela 9), evidenciou a eficiência de GLIO – 10 na redução da incidência de B. cinerea em flores de tomateiro. Não foram
observadas frutificações de G. viride em flores e frutos
de tomateiros nas parcelas tratadas, característica que
evidencia o potencial desse organismo para o controle de
B. cinerea em tomateiros sob cultivo protegido. Os tratamentos t2 e t3, utilizando o isolado de G. viride GLIO –
10, apresentaram uma redução de 62%, em relação ao
tratamento de controle, na incidência de B. cinerea em
flores de tomateiros. Esse resultado foi similar ao encontrado pelo método de culturas pareadas, efetuado em laboratório, cujo percentual inibitório contra B. cinerea foi
de 58,14%. Já no tratamento t1, que envolvia apenas aplicações no substrato, sementes e cova de plantio não ocorreu indução de resistência, uma vez que não foi eficiente
para controlar o patógeno. Provavelmente, o sucesso deste
antagonista foi determinado, principalmente, por sua ação
antagônica direta nos órgãos mais suscetíveis ao patógeno. Logo, neste trabalho, a forma preferencial de aplicação de antagonistas, para o controle de B. cinerea em
tomateiro sob cultivo protegido, são as pulverizações semanais a partir do florescimento.
Os tratamentos utilizando isolado de T. harzianum,
TRIC – 30, não diferenciaram-se do tratamento controle
sob nenhum modo de aplicação. Ghini e Vitti (1993) também não obtiveram controle de B. cinerea em morango
com o uso de T. harzianum selecionado de solo cultivado
com a cultura e efetivo na inibição do patógeno in vitro.
Gulliano et al. (1991), comparando a utilização de Trichoderma spp. em controle biológico e integrado de B. cinerea em tomate, observaram que Trichoderma spp. sozinho, usado em pulverizações foliares, não apresentou controle consistente da doença. No entanto, obteve controle
completo da doença e redução, acima de 50%, do número
de aplicações, quando utilizou a mistura de dicarboximida
+ thiram ou a alternância dessa mistura com Trichoderma
spp. Em trabalhos posteriores, esses autores aplicaram simultaneamente isolados de Trichoderma spp. (com resistênca ao fungicida) e Benomil e obtiveram um controle
promissor. Elad e Shitienberg (1996) também demonstraram a efetividade de T. harzianum em adição a fungicidas
no controle de B. cinerea em pepino. O isolado selecionado neste trabalho também pode ter efeito sob B. cinerea,
quando utilizado em controle integrado, uma vez que apresenta, dentre os demais testados, bom nível de resistência
a este fungicida. Outra possibilidade para aumentar a eficiência do isolado de T. harzianum seria o enriquecimento
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029a038_arquivo-06-botrytis cinerea.pmd
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CARLA AZAMBUJA CENTENO BOCCHESE, BRUNO BRITO LISBOA, JOSÉ RICARDO PFEIFER SILVEIRA,
LUCIANO KAYSER VARGAS, BERNADETE RADIN, ANDRÉIA MARA ROTTA DE OLIVEIRA
Tabela 9 - Efeito dos tratamentos com isolados de Trichoderma harzianum e Gliocladium viride, TRIC – 30 e GLIO– 10, na incidência de Botrytis
cinerea em flores de tomateiro. Eldorado do Sul, RS. 2005.
Tratamentos
Botões florais necrosados por B. cinerea
Testemunha
Gliocladium viride (t1)
Gliocladium viride (t2)
Gliocladium viride (t3)
Trichoderma harzianum (t1)
Trichoderma harzianum (t2)
Trichoderma harzianum (t3)
12,29
9,542
4,717
4,708
11,92
11,13
11,50
a
a
b
b
a
a
a
Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente pelo Teste de Tukey a 5%.
Testemunha: Nenhum tratamento com os biocontroladores.
Gliocladium viride (t1): Biocontrolador no substrato, semente e cova (plantio);. Gliocladium viride (t2): Biocontrolador apenas em pulverizações foliares semanais 7
dias após o plantio.
Gliocladium viride (t3): Biocontrolador no substrato, semente ,cova (plantio) e nas pulverizações foliares.
Trichoderma harzianum (t1): Biocontrolador no substrato, semente e cova (plantio).
Trichoderma harzianum (t2): Biocontrolador apenas em pulverizações foliares semanais 7 dias após o plantio.
Trichoderma harzianum (t3): Biocontrolador no substrato, semente, cova (plantio) e nas pulverizações foliares;
do filoplano com nutrientes, que, além de agir diretamente
sobre as microbiotas antagônica e patogênica, pode incitar
mudanças no próprio hospedeiro.
A utilização de G. viride para o controle de B. cinerea
em tomateiros sob cultivo protegido, de acordo com os
resultados deste trabalho, apresenta grande potencial para
tornar-se importante alternativa para os produtores de
tomates em estufas, uma vez que B. cinerea adquire resistência a fungicidas com maior freqüência nestas condições de ambiente.
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EFEITO DE SISTEMAS DE MANEJO EM ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO
Efeito de sistemas de manejo em atributos químicos do solo
Gilberto Omar Tomm1, Henrique Pereira dos Santos2, Silvio Tulio Spera3,
Rainoldo Alberto Kochhann1
Resumo - Após nove anos de condução de um experimento em Latossolo Vermelho Distrófico típico, em Passo Fundo, RS,
avaliaram-se os atributos químicos deste solo em quatro sistemas de manejo de solo: 1) plantio direto (PD), 2) cultivo mínimo
(CM), 3) preparo convencional de solo com arado e grade de discos (PCD), 4) preparo convencional de solo com arado de aivecas
e grade de discos (PCA).Também foram utilizados para a avaliação três sistemas de rotação de culturas: sistema I (trigo/soja),
sistema II (trigo/soja e ervilhaca/milho), e sistema III (trigo/soja, ervilhaca/milho e aveia branca/soja). Em novembro de 2001,
após a colheita das culturas de inverno, foram coletadas amostras de solo compostas nas profundidades 0-5, 5-10, 10-15 e 15-20
cm. O delineamento experimental foi em blocos completos ao acaso, com parcelas subdivididas e três repetições. A parcela
principal (4 x 90 m) foi constituída pelos sistemas de manejo de solo, e as subparcelas (4 x 10 m), pelos sistemas de rotação de
culturas. Os valores de pH e os teores de P extraível e K disponível diferiram entre os sistemas de manejo de solo. Os teores de P,
K e MO, na camada 0-5 cm, foram mais elevados nos sistemas conservacionistas (CM e PD), em relação àqueles observados nos
tipos de preparo convencional de solo (PCD e PCA). Os teores de MO, P e K foram mais elevados na camada 0-5 cm, quando
comparados com os observados em 15 a 20 cm de profundidade, em todos os sistemas de manejo de solo e de rotação de culturas,
enquanto para pH ocorreu o contrário. Nos sistemas conservacionistas houve acidificação do solo. O rendimento de grãos de aveia
branca, soja e trigo cultivado em PD e CM foi superior a aveia branca, soja e trigo cultivados em PCD e PCA. O menor rendimento
de grãos de soja e trigo ocorreu quando em monocultura.
Palavras-chave: manejo de solo, C orgânico, pH do solo, disponibilidade de P.
Effect of management systems in soil chemical attributes
Abstract - Soil chemical attibutes were assessed after nine years on a typical Dystrophic Red Latosol located in Passo Fundo,
State of Rio Grande do Sul, Brazil. Four soil management systems – 1) no-tillage, 2) minimum tillage, 3) conventional tillage
using a disk plow followed by use of a disk harrow, and 4) conventional tillage using a moldboard plow followed by use of a disk
harrow – and three crop rotation systems [I (wheat/soybean), II (wheat/soybean and common vetch/corn), and III (wheat/soybean,
common vetch/corn, and white oat/soybean)] were evaluated. In November 2001 after winter crops were harvested compound soil
samples were collected at the following depths (cm): 0-5, 5-10, 10-15, and 15-20. A randomized complete block design, with splitplots and three replicates, was used. The main field plots (4 x 90 m) were formed by soil management systems, while the subplots (4
x 10 m) consisted of crop rotation systems. The values of pH and concentration of extractable P, and exchangeable K was affected by
soil management. Higher contents of soil organic matter, extractable P, and exchangeable K were observed in the 0-5 cm layer for the
conservation tillage systems (minimum tillage and no-tillage), as compared to the conventional tillage systems (disk plow and moldboard plow). The values of soil organic matter, P, and K were higher in the 0-5 cm layer, when compared to the ones observed in the
15-20 cm layer, in all soil management and cropping systems, while the opposite occurred with pH. Soil acidification was detected
under both conservation tillage systems. The yield of white oat, wheat and soybean grown under no-tillage and minimum tillage was
were than the yield obtained for white oat, wheat and soybean after conventional tillage systems (disk plow and moldboard plow). The
lowest soybean and wheat yield obtained in monoculture.
Key words: soil managment, organic C, soil pH, disponibility of P.
1
Engenheiro Agrônomo, Ph.D., Embrapa – Centro Nacional de Pesquisa de Trigo (CNPT), Caixa Postal 451, CEP 99001-970, Passo Fundo (RS).
E-mail: [email protected]; [email protected]
2
Engenheiro Agrônomo, Dr., Embrapa – Centro Nacional de Pesquisa do Trigo. Bolsista CNPq-PQ. E-mail: [email protected]
3
Engenheiro Agrônomo, M.Sc., Embrapa – Centro Nacional de Pesquisa do Trigo. Doutorando do Curso de Sistema de Produção da UPF/FAMV.
E-mail: [email protected]
Recebido para publicação em 24/03/2006
47
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.47-59, 2007.
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GILBERTO OMAR TOMM, HENRIQUE PEREIRA DOS SANTOS, SILVIO TULIO SPERA, RAINOLDO ALBERTO KOCHHANN
Introdução
O plantio direto (PD) foi introduzido no Brasil, no
início da década de setenta, como um método alternativo
de manejo de solo, para controlar a erosão nas lavouras
cultivadas com a sucessão de culturas de trigo e soja na
Região Sul do país (KOCHHANN e DENARDIN, 2000).
Entretanto, somente a partir do início da década de oitenta é que o PD passou a ser conceituado como sistema de
exploração agropecuário que envolve diversificação de
espécies, em rotação de culturas estabelecidas mediante
mobilização de solo exclusivamente na linha de semeadura, mantendo-se resíduos vegetais das culturas anteriores na superfície do solo.
A permanência desses resíduos vegetais na superfície do solo, após alguns anos, tem causado modificações
nas propriedades químicas, físicas e biológicas do solo,
em comparação ao preparo convencional de solo com
arado de discos (PCD) (MUZILLI, 2002).
As modificações nas propriedades químicas entre PD
e PCD foram relatadas por Rheinheimer et al. (1998), De
Maria et al. (1999) e Silveira e Stone (2001), com base
em experimentos de longa duração, porém sem rotação
de culturas. Existem relativamente poucos trabalhos de
longa duração comparando PD e PCD sob sistemas de
rotação de culturas (MUZILLI, 2002; SIDIRAS e PAVAN, 1985; SANTOS et al., 1995; SALET, 1998; CIOTTA et al., 2002). Além disso, são raros os trabalhos que
comparam sistemas de manejo de solo, no que se refere
às propriedades químicas.
O PD promoveu acúmulo de matéria orgânica, carbono, fósforo, potássio, cálcio e magnésio na camada
superficial do solo, em relação às camadas mais profundas (SÁ, 1993; BAYER e BERTOL, 1999; DE MARIA
et al., 1999; SILVEIRA e STONE, 2001; AMADO et al.,
2001; CIOTTA et al., 2002). Por outro lado, o PCD promove a diminuição rápida da matéria orgânica
e,consequentemente, a emissão de CO2 aumenta. Com a
evolução desse sistema, ocorre acidificação do solo, tendo como conseqüência a diminuição de pH e o aumento
de alumínio tóxico (SALET, 1994).
No PD, ocorreu acúmulo de determinados nutrientes
nos centímetros superficiais, decorrente da aplicação de
fertilizantes, da mineralização dos nutrientes presentes
dos resíduos vegetais depositados na superfície e da maior capacidade de troca de cátions dessas camadas em virtude do maior teor de matéria orgânica e de carbono orgânico (BAYER e BERTOL, 1999; DE MARIA et al.,
1999; BAYER et al., (2000); CIOTTA et al., 2002). Em
sistemas adequados de rotação de culturas sob PD, o nível do solo tende a se aproximar do nível da floresta, em
virtude da cobertura vegetal. Porém, o acúmulo superficial de P normalmente é mais acentuado do que o dos
demais nutrientes, por causa da baixa mobilidade de P no
solo (BAYER e MIELNICZUK, 1997). Isso pode alterar
48
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a distribuição de nutrientes no perfil do solo em PD, influenciando a disponibilidade e o aproveitamento desses
nutrientes pelas plantas.
O trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de práticas culturais na fertilidade do solo, após nove anos de
cultivo, em Passo Fundo, RS.
Material e métodos
O experimento foi conduzido em área da Embrapa
Trigo, município de Passo Fundo, RS, desde 1985, em
Latossolo Vermelho Distrófico típico (STRECK et al.,
2002),com textura muito argilosa e relevo suave ondulado. Antes da instalação do experimento, foram conduzidas no local lavouras de trigo no inverno e de soja no
verão, sob preparo convencional de solo desde 1975. A
evolução da fertilidade e da matéria orgânica foi avaliada de 1993 a 2001.
Os tratamentos foram constituídos por quatro sistemas de manejo de solo (SMS): 1) plantio direto (PD), 2)
preparo de solo com implemento de hastes para cultivo
mínimo – escarificador (CM), 3) preparo convencional
de solo com arado de discos mais grade de discos (PCD)
e 4) preparo convencional de solo com arado de aivecas
mais grade de discos (PCA).Também foram utilizados
três sistemas de rotação de culturas (SRC): sistema I (trigo/soja), sistema II (trigo/soja e ervilhaca/milho) e sistema III (trigo/soja, ervilhaca/milho e aveia branca/soja).
Um fragmento de floresta subtropical com araucárias,
adjacente ao experimento, também foi amostrado, com o
mesmo número de repetições, e admitido como referencial do estado físico e químico do solo antes de ser submetido às alterações antrópicas, situando-se 150 m da
área estudada, com relevo suave ondulado e 5% de declive. O delineamento experimental usado foi em blocos
completos ao acaso, com parcelas subdivididas e três repetições. A parcela principal foi constituída pelos sistemas de manejo de solo, e a subparcela, pelos sistemas de
rotação de culturas. A parcela principal media 360 m2
(4 m de largura por 90 m de comprimento), e a subparcela, 40 m2 (4 m de largura por 10 m de comprimento).
Em novembro de 1985, antes da semeadura das culturas de inverno, para instalação do experimento, a camada de solo de 0-20 cm foi amostrada, e os resultados
das análises foram: pH em água = 4,8; Al trocável =
12,0 mmolc/dm3; Ca + Mg trocáveis = 49,0 mmolc/dm3;
matéria orgânica = 34,0 g/kg; P extraível = 23,0 mg/kg;
e K disponível = 104 mg/kg. Na instalação do experimento, o solo foi escarificado por meio de escarificador
com hastes rígidas (Jumbo) e submetido à correção de
acidez com 7,0 t/ha de calcário dolomítico (PRNT 90%),
visando a elevar o pH em água a 6,0. O calcário foi aplicado em duas vezes: metade antes da aração (arado de discos) e metade antecedendo a gradagem (grade niveladora
de discos). A adubação de manutenção foi baseada na mé-
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EFEITO DE SISTEMAS DE MANEJO EM ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO
dia dos valores observados nas análises químicas da área
experimental. Valores de pH, Al, Ca, e Mg trocáveis,
matéria orgânica, P extraível e K trocável, nas camadas
0-5, 5-10, 10-15 e 15-20 cm, determinado após as culturas de inverno, em quatro SMSs e três SRCs, em 1993,
são apresentados na Tabela 1.
Tabela 1 - Valores de pH em água, de alumínio, de cálcio, de magnésio trocáveis, de matéria orgânica, de fósforo extraível, potássio trocável, em Latossolo
Vermelho Distrófico típico, determinado após culturas de inverno, em quatro sistemas de manejo de solo e três sistemas de rotação de culturas, em 1993
Profundidade (cm)
Sistema de manejo de solo e de rotação de culturas
0-5
Plantio direto
Preparo convencional de solo com arado de discos
Preparo convencional de solo com arado de discos
Cultivo mínimo
5,43
5,57
5,37
5,55
Plantio direto
Preparo convencional de solo com arado de discos
Preparo convencional de solo com arado de discos
Cultivo mínimo
0,3
0,3
0,4
0,2
Plantio direto
Preparo convencional de solo com arado de discos
Preparo convencional de solo com arado de discos
Cultivo mínimo
48
46
41
49
Plantio direto
Preparo convencional de solo com arado de discos
Preparo convencional de solo com arado de discos
Cultivo mínimo
23
23
22
24
Plantio direto
Preparo convencional de solo com arado de discos
Preparo convencional de solo com arado de discos
Cultivo mínimo
38
31
29
36
Plantio direto
Preparo convencional de solo com arado de discos
Preparo convencional de solo com arado de discos
Cultivo mínimo
34,5
17,7
13,5
28,0
Plantio direto
Preparo convencional de solo com arado de discos
Preparo convencional de solo com arado de discos
Cultivo mínimo
277
211
217
277
Rotação de culturas I
Rotação de culturas II
Rotação de culturas III
5,44
5,59
5,49
Rotação de culturas I
Rotação de culturas II
Rotação de culturas III
0,3
0,3
0,5
Rotação de culturas I
Rotação de culturas II
Rotação de culturas III
45
45
47
Rotação de culturas I
Rotação de culturas II
Rotação de culturas III
21
23
23
Rotação de culturas I
Rotação de culturas II
Rotação de culturas III
33
33
34
Rotação de culturas I
Rotação de culturas II
Rotação de culturas III
26,6
21,1
23,9
Rotação de culturas I
Rotação de culturas II
Rotação de culturas III
240
244
249
5-10
10-15
pH (1:1)
5,32
5,34
5,57
5,56
5,39
5,36
5,45
5,47
Al (mmolc/dm3)
0,4
0,5
0,2
0,2
0,4
0,5
0,3
0,5
Ca (mmolc /dm3)
45
44
47
47
41
40
47
48
Mg (mmolc /dm3)
23
23
25
25
21
22
23
25
Matéria orgânica (g/kg1
30
28
31
29
30
29
32
28
P (mg /kg)
18,8
12,2
17,1
13,9
11,9
9,3
21,9
12,5
K (mg/kg)
178
134
158
132
165
135
197
139
pH (1:1)
5,47
5,47
5,47
5,44
5,40
5,42
Al (mmolc /dm3)
0,3
0,3
0,3
0,5
0,3
0,3
Ca (mmolc dm-3)
47
44
45
44
44
45
Mg (mmolc /dm3)
23
23
23
24
23
24
Matéria orgânica (g/kg)
30
29
30
29
31
29
P (mg /kg)
22,2
11,4
16,3
12,8
16,9
11,6
K (mg/kg)
198
163
177
136
166
126
15-20
5,33
5,45
5,32
5,45
0,5
0,4
0,5
0,5
42
43
39
44
23
24
22
25
28
27
27
27
7,9
8,2
8,9
7,7
97
91
98
97
5,42
5,40
5,37
0,4
0,5
0,5
43
42
42
23
24
23
27
27
27
7,3
8,4
8,4
126
95
87
Sistemas de rotação de culturas: I: trigo/soja; sucessão II: trigo/soja e ervilhaca/milho; e sucessão III: trigo/soja, ervilhaca/milho e aveia branca/soja.
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GILBERTO OMAR TOMM, HENRIQUE PEREIRA DOS SANTOS, SILVIO TULIO SPERA, RAINOLDO ALBERTO KOCHHANN
Em novembro de 2001, após a colheita ou o manejo
das culturas de inverno, foram coletadas com pá-de-corte amostras de solo compostas (duas subamostras por
parcela), aproximadamente 1,0 kg de solo por parcela,
nas profundidades 0-5, 5-10, 10-15 e 15-20 cm, seguindo o método descrito por Sociedade, 2004. As análises
(pH em água, P, K, matéria orgânica, Al e Ca + Mg) seguiram a metodologia descrita por Tedesco et al. (1985).
Os SMSs e os SRCs foram comparados para cada atributo químico de solo, em uma determinada profundidade de amostragem. As profundidades de amostragem de
solo foram comparadas no mesmo SMS ou SRC. Todas
as comparações foram realizadas por meio de contrastes
com um grau de liberdade (STEEL e TORRIE, 1980). A
significância dos contrastes foi dada pelo teste F, levando-se em conta o desdobramento dos graus de liberdade
do erro. Foi efetuada análise de variância do rendimento
de grãos de soja (dentro de cada ano e na média conjunta
dos anos de 1997/98 a 2002/03), de trigo (dentro de cada
ano e na média conjunta dos anos de 1988 a 1997), de
aveia branca (dentro de cada ano e na média conjunta
dos anos de 1990 a 1997) e de milho (dentro de cada ano
e na média conjunta dos anos de 1997/98 a 2000/01).
Considerou-se o efeito tratamento (diferentes SMSs e
SRCs) como fixo, e o efeito ano, como aleatório. As médias foram comparadas entre si, pelo teste de Duncan, ao
nível de 5% de probabilidade.
Resultados e discussão
Sistemas de manejo de solo
O pH de todos os tratamentos, após nove anos de cultivos (Tabela 2), para todas as camadas e para todos os
sistemas de manejo de solo (SMS), apresentou valores
absolutos menores do que os verificados inicialmente,
na instalação do experimento (Tabela 1). Isso ainda evidencia o efeito residual das 7,0 t/ha de calcário aplicadas
em 1985 (pH: 4,8). Entre todos os SMSs observaram-se
Tabela 2 - Valores de pH em água e de alumínio trocável, em Latossolo Vermelho Distrófico típico, avaliados após nove anos de cultivos, em
quatro camadas e diferentes sistemas de manejo de solo
Sistema de
manejo
de solo
Profundidade (cm)
0-5
5-10
10-15
15-20
————————— pH (1:1) —————————
5,08
5,11
5,22
5,29
5,28
5,27
5,27
5,30
5,24
5,21
5,23
5,27
5,17
5,13
5,17
5,27
4,30
4,40
4,23
4,23
Contraste entre manejo
PD x PCD
**
**
ns
*
PD x PCA
**
**
ns
ns
PD x CM
**
**
ns
ns
PD x FST
**
**
**
*
PCD x PCA
ns
ns
ns
ns
PCD x CM
*
**
ns
*
PCD x FST
**
**
**
**
PCA x CM
**
**
ns
ns
PCA x FST
**
*
**
**
CM x FST
**
**
**
**
PD
PCD
PCA
CM
FST
PD
PCD
PCA
CM
FST
PD x PCD
PD x PCA
PD x CM
PD x FST
PCD x PCA
PCD x CM
PCD x FST
PCA x CM
PCA x FST
CM x FST
——————— Al (mmolc /dm3 ) ———————
7,9
10,9
9,7
9,0
8,2
8,1
8,1
7,9
8,5
9,8
9,3
9,5
7,2
9,2
9,4
8,1
29,1
26,8
36,1
37,8
Contraste entre manejo
ns
*
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
**
**
**
**
0-5
x
5-10
0-5
x
10-15
0-5
x
15-20
5-10
x
10-15
5-10
x
15-20
10-15
x
15-20
——————— Contraste entre profundidades (P > F) ————————
ns
ns
**
ns
*
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
*
ns
**
**
ns
ns
ns
ns
ns
ns
————————— Contraste entre profundidades (P > F) ————————
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
*
*
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
*
ns
ns = não significativo; * = nível de significância de 5%; ** = nível de significância de 1%.
PD: plantio direto; PCD: preparo convencional de solo com arado de discos; PCA: preparo de solo com arado de aivecas; CM: cultivo mínimo; e FST: floresta
subtropical.
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EFEITO DE SISTEMAS DE MANEJO EM ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO
diferenças quanto ao valor de pH em cada uma das profundidades de amostragem. Nas camadas 0-5 cm e 5-10
cm, os valores de pH, dos sistemas de preparo convencional de solo com arado de discos (PCD) e com arado de
aivecas (PCA), foram superiores em relação a plantio
direto (PD) e cultivo mínimo (CM). O decréscimo do pH
no PD e no CM pode estar relacionado à decomposição
do material orgânico, com provável liberação de ácidos
orgânicos e do efeito acidificante decorrente da utilização contínua de adubos nitrogenados solúveis de fontes
amoniacais. Porém, isso não afetou o rendimento de grãos
das espécies cultivadas sob sistemas conservacionistas
(aveia branca, milho, soja e trigo), que foi maior do que
nos preparos convencionais de solo. Na floresta subtropical (FST), a acidez foi maior para todas as profundidades analisadas, quando comparadas como os SMSs. Resultados semelhantes, em parte, encontrados por Silveira e Stone (2001), em Latossolo Vermelho Perférrico,
verificaram que preparo convencional de solo com arado
apresentou valor de pH mais elevado do que preparo convencional com grade e PD, nas camadas 0-10 e 10-20
cm, e resultados encontrados por por Santos et al. (1995),
em Latossolo Vermelho Distrófico típico, mostraram diferenças no valor de pH para a seqüência aveia branca/
soja, cevada/soja e ervilhaca/milho, na qual PCD foi superior a PD, nas camadas 0-5 cm e 5-10 cm.
Para PD e CM, houve diferenças significativas de
valores de pH de solo entre as profundidades estudadas
(Tabela 2). O valor de pH em PD aumentou da camada 05 cm para a camada 15-20 cm. Isso indica que no PD
houve acidificação na camada superficial do solo. Esses
resultados estão de acordo com os obtidos por Salet
(1994),Paiva et al. (1996) e Ciotta et al. (2002). De acordo com Ernani et al. (2001), a dissolução dos fertilizantes fosfatados e a nitrificação dos nitrogenados amoniacais ou amídicos podem contribuir para a acidificação da
camada superficial de solo, principalmente quando se
consideraram longos períodos de cultivo sem aplicação
de calcário ou quando elevadas doses desses fertilizantes
foram aplicadas. Por sua vez, o revolvimento de solo com
aração e gradagens no preparo convencional dilui a acidez originada por fertilizantes em toda a camada arável.
Sidiras e Pavan (1985), em Latossolo Roxo Distrófico e
em Terra Roxa Estruturada, verificaram que o valor de
pH diminuiu da superfície (0-10 cm) para a subsuperfície (10-20 cm). Na camada 5-10 cm, PD e CM apresentaram menor valor de pH que na camada 15-20 cm.
O valor de Al trocável de solo (Tabela 2), em todos os
SMSs e em todas as profundidades, foi maior após nove
anos do que em 1993 (Tabela 1). O aumento no teor de
Al é conseqüência da acidificação. Observou-se, nesse
caso, que a calagem realizada em 1985 perdeu, em parte,
o efeito. Houve diferença entre o valor de Al de solo, em
todos os SMSs, para todas as profundidades avaliadas,
somente em relação a FST. Verificou-se que FST apre-
senta maior valor de Al em relação a todos os SMSs estudados. Esse maior valor de Al do solo da FST, em relação
aos demais tratamentos, se deve ao fato de ter o solo estudado em condições naturais, apresentado teor de Al mais
elevado que nos demais tratamentos, nos quais a calagem neutralizou o Al, bem como reduziu a saturação do
mesmo. A explicação para isso é que não foi aplicado
calcário na FST para corrigir a acidez e, conseqüentemente, as bases ou os ácidos não foram neutralizados. O
PD mostrou valor maior de Al que PCD, na camada 5-10
cm. De acordo com Salet (1994), a provável complexação desse elemento químico pelos compostos orgânicos,
gerados no processo de decomposição dos resíduos vegetais, pode ter menor efeito tóxico em PD, em relação a
PCD, em decorrência dos ligantes orgânicos. Espera-se
que PD aumente o nível de matéria orgânica do solo, elevando o estoque de N e beneficiando sua estrutura , com
menor densidade, maior aeração e porosidade, uma vez
que um solo com estruturação física adequada oferece
melhores condições para as operações de semeadura e
evita o aparecimento de fatores físicos que prejudicam o
desenvolvimento de plantas. No presente trabalho, as
espécies cultivadas sob preparo convencional de solo têm
apresentado menor rendimento de grãos do que sob sistemas conservacionistas (Santos et al., 2000; Santos e
Lhamby, 2001; Santos et al., 2003). Santos et al. (1995)
observaram diferenças para valor de Al, em que PCD foi
superior a PD, em dois sistemas de rotação de culturas
(cevada/soja, ervilhaca/milho e aveia branca/soja; ervilhaca/milho, aveia branca/soja e cevada/soja), na camada 0-5 cm, respectivamente. Dados similares foram obtidos por Silveira e Stone (2001), em Latossolo Vermelho
Perférrico, verificando que os valores de Al em PD, no
preparo convencional de solo com grade aradora e em
PCA foram mais elevados do que somente no preparo
convencional de solo com arado, na camada 0-10 cm.
O valor de Al em CM aumentou da camada 0-5 cm
para a camada 10-15 cm. Para se comparar a condição
original, FST apresentou maior teor de Al na camada 510 cm, em relação à camada 15-20 cm. Entretanto, PD,
PCD e PCA não diferiram entre profundidades quanto a
esse elemento. Sidiras e Pavan (1985) observaram que o
Al aumentou entre 3 a 6%, da camada 0-10 cm para 4 a
7% na camada 10-20 cm, respectivamente, enquanto Santos et al. (1995) não encontraram diferenças significativas no valor de Al entre as camadas estudadas.
Os teores de Ca + Mg trocáveis do solo (Tabela 3),
em todas as camadas dos SMSs, são considerados altos,
em relação às seqüências das culturas tradicionais da região (SOCIEDADE, 2004). Contudo, esses teores foram
menores que os observados nas camadas estudadas, após
nove anos de cultivo (Tabela 1). A acidez do solo da área
experimental havia sido corrigida com calcário dolomítico dezoito anos antes da referida avaliação. A aplicação
de calcário dolomítico forneceu Ca e Mg em quantida51
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GILBERTO OMAR TOMM, HENRIQUE PEREIRA DOS SANTOS, SILVIO TULIO SPERA, RAINOLDO ALBERTO KOCHHANN
des necessárias adequadas para elevar os níveis acima
dos pontos críticos exigidos pelas espécies vegetais componentes dos SMSs e da rotação de culturas, cujos níveis
são 40 e 10 mmolc/dm3,respectivamente(SOCIEDADE,
2004). Santos et al. (1995) obtiveram teores de Ca + Mg
trocáveis de solo, na camada 0-5 cm, mais elevados que
os obtidos antes do início do experimento, na camada 020 cm. Como era de se esperar, em todos os SMSs e
profundidades, o teor de Ca + Mg, foi superior a FST.
Porém, os mesmos SMSs não diferiram entre si para esses elementos químicos.
Somente em PCD os teores de Ca + Mg trocáveis
aumentaram da camada 0-5 cm para a camada 15-20 cm.
Para os demais SMSs e em FST, não houve diferença
significativa entre as profundidades de solo. Resultados
semelhantes foram encontrados por Ciotta et al. (2002),
em Latossolo Bruno Álico, verificando que maiores concentrações dos teores de Ca e Mg trocáveis na superfície
do solo em PD, enquanto o solo em PCD apresentou con-
centrações praticamente uniformes no perfil do solo.
O teor de matéria orgânica – MO (Tabela 3), em algumas camadas e em SMS, foi superior ao registrado há nove
anos (Tabela 1). No PD, foi observado acúmulo de MO
nas camadas próximas à superfície do solo, indicando que
esse manejo de solo pode contribuir para o aumento do
nível de MO e, conseqüentemente, da fertilidade de solo.
Dados similares foram obtidos por Santos et al. (1995),
nos primeiros anos de adoção do PD, observando-se tendência à elevação dos níveis de MO nas camadas próximas à superfície do solo. De acordo com Salet (1994), o
PD apresenta maior teor de MO superficial e, como conseqüência, maior concentração de substâncias húmicas
solúveis. De acordo com Wiethölter (2000), o aumento do
nível de MO deverá também elevar o teor total de N do
solo, uma vez que o teor de N da matéria orgânica vegetal
é relativamente constante (5%). Houve diferenças entre as
médias dos SMSs para o teor de MO, na camada 0-5 cm.
Na camada 0-5 cm, PD apresentou teor de MO maior que
Tabela 3 - Valores de cálcio + magnésio trocáveis e de matéria orgânica, em Latossolo Vermelho Distrófico típico, avaliados após nove anos de
cultivos, em quatro camadas e diferentes sistemas de manejo de solo
Sistema de
manejo
de solo
PD
PCD
PCA
CM
FST
PD x PCD
PD x PCA
PD x CM
PD x FST
PCD x PCA
PCD x CM
PCD x FST
PCA x CM
PCA x FST
CM x FST
PD
PCD
PCA
CM
FST
PD x PCD
PD x PCA
PD x CM
PD x FST
PCD x PCA
PCD x CM
PCD x FST
PCA x CM
PCA x FST
CM x FST
Profundidade (cm)
0-5
5-10
10-15
15-20
—————— Ca + Mg (mmolc /dm3) ——————
50,9
46,1
47,9
50,5
49,1
51,1
51,1
52,9
47,8
47,5
48,0
47,8
49,9
48,2
48,2
50,9
18,8
18,5
6,1
4,1
Contraste entre manejo
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
**
**
**
**
—————— Matéria orgânica (g/kg) ——————
38
32
28
27
30
30
29
29
29
29
28
28
35
32
30
28
37
38
36
39
Contraste entre manejo
**
ns
ns
ns
**
ns
ns
ns
**
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
0-5
x
5-10
0-5
x
10-15
0-5
x
15-20
5-10
x
10-15
5-10
x
15-20
10-15
x
15-20
——————— Contraste
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
entre profundidades (P > F) ———————
ns
ns
ns
ns
*
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
——————— Contraste
**
**
ns
ns
ns
*
**
**
ns
ns
entre profundidades (P > F) ———————
**
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
*
ns
ns
ns
**
ns
*
ns
ns
ns
ns
ns
ns = não significativo; * = nível de significância de 5%; ** = nível de significância de 1%.
PD: plantio direto; PCD: preparo convencional de solo com arado de discos; PCA: preparo de solo com arado de aivecas; CM: cultivo mínimo; e FST: floresta
subtropical.
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EFEITO DE SISTEMAS DE MANEJO EM ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO
CM, PCD e PCA. O teor de MO no PD esteve relativamente próximo da FST, que seria a referência da condição
original do solo. Esse resultado sugere que PD contribui
para a manutenção da MO na superfície e, após vários anos,
provavelmente para o aumento da capacidade de suprimento de nitrogênio do solo. Resultados semelhantes foram obtidos por Santos et al. (1995), verificando teor de
MO maior em PD em relação a PCD, na camada 0-5 cm, e
por De Maria et al. (1999), em Rhodic Ferralsol, observando teor de MO superior em PD, em comparação a CM
e a PCD, na camada 0-5 cm.
Na Tabela 3, observou-se que houve diferenças no
nível de MO entre as profundidades em PD, em PCA e
em CM, decrescendo da camada 0-5 cm para a camada
15-20 cm. Tendência semelhante foi observada por Sá
(1993), com redução de 53 para 35 g/kg1, e por Santos et
al. (1995), com redução variando de 27-33 para 23-25 g/kg1.
A manutenção do nível de MO em valores mais elevados
na camada superficial do solo, principalmente nos sistemas conservacionistas, decorre do acúmulo de resíduos
vegetais sobre a superfície sob PD, pela ausência de incorporação física através do revolvimento do solo, praticado em PCD, o que diminui a taxa de mineralização em
PD. Para o PCD e para a FST, não se observou diferença
entre as profundidades quanto ao nível de MO.
O teor de P extraível de solo, em todas as camadas e
todos os sistemas de manejo de solo, foi superior ao valor considerado crítico (9,0 mg/kg) nesse tipo de solo para
o crescimento e desenvolvimento de culturas tradicionais (SOCIEDADE, 2004) (Tabela 4). O teor de P, em
algumas camadas e em SMS, foi mais elevado que o teor
avaliado em 1993 (Tabela 1). Provavelmente, isso se deve
à aplicação superficial desse nutriente,à baixa mobilidade no solo e ao não-revolvimento das camadas cultivadas. Na análise estatística, entre os SMSs, houve diferenças no teor de P em todas as profundidades estudadas.
Tabela 4 - Valores de fósforo extraível e de potássio trocável, em Latossolo Vermelho Distrófico típico, avaliados após nove anos de cultivos, em
quatro camadas e diferentes sistemas de manejo de solo
Sistema de
manejo
de solo
PD
PCD
PCA
CM
FST
PD x PCD
PD x PCA
PD x CM
PD x FST
PCD x PCA
PCD x CM
PCD x FST
PCA x CM
PCA x FST
CM x FST
PD
PCD
PCA
CM
FST
PD x PCD
PD x PCA
PD x CM
PD x FST
PCD x PCA
PCD x CM
PCD x FST
PCA x CM
PCA x FST
CM x FST
Profundidade (cm)
0-5
5-10
10-15
15-20
0-5
x
5-10
0-5
x
10-15
0-5
x
15-20
5-10
x
10-15
5-10
x
15-20
10-15
x
15-20
———————— P (mg /kg) ————————
36,2
36,7
18,1
10,7
24,1
19,9
17,1
14,3
19,7
17,4
15,5
12,1
29,1
28,2
19,1
10,7
3,8
5,0
2,8
2,8
Contraste entre manejo
**
**
ns
*
**
**
ns
ns
**
**
ns
ns
**
**
**
*
ns
ns
ns
ns
*
**
ns
*
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**
**
**
*
——————— Contraste
ns
**
ns
**
*
**
ns
**
ns
ns
entre profundidades (P > F) ———————
**
**
**
ns
**
ns
*
ns
**
ns
**
ns
**
**
**
**
ns
ns
ns
ns
———————— K (mg/kg) ———————
227
194
161
132
200
160
145
119
217
176
146
127
240
196
158
125
54
55
31
25
Contraste entre manejo
ns
*
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
ns
ns
ns
ns
**
*
ns
ns
**
**
**
**
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
**
**
**
**
——————— Contraste
ns
**
*
**
**
**
*
**
ns
ns
entre profundidades (P > F) ———————
**
ns
**
ns
**
ns
*
ns
**
*
**
ns
**
*
**
ns
ns
ns
ns
ns
ns = não significativo; * = nível de significância de 5%;** = nível de significância de 1%.
PD: plantio direto; PCD: preparo convencional de solo com arado de discos; PCA: preparo de solo com arado de aivecas; CM: cultivo mínimo; e FST: floresta
subtropical.
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GILBERTO OMAR TOMM, HENRIQUE PEREIRA DOS SANTOS, SILVIO TULIO SPERA, RAINOLDO ALBERTO KOCHHANN
Nas camadas 0-5 cm e 5-10 cm, o teor de P em PD e CM
foi superior a PCD, PCA e FST. O menor teor de P encontrado sob FST reflete a sua baixa disponibilidade natural em latossolos (BRASIL, 1973). Dados similares
foram obtidos por Santos et al. (1995), na comparação de
PD com PCD, por De Maria et al. (1999), na relação de
PD com CM e com PCD, por Matowo et al. (1999), comparando PD com CM, e por Ciotta et al. (2002), na relação de PD com PCD, na camada 0-5 cm. Por outro lado,
na última camada estudada, PCD mostrou maior teor de
P que PD, CM e FST. O acúmulo de P na camada superficial nos sistemas de manejo conservacionistas decorre
do pouco revolvimento de solo por ocasião da incorporação de sementes e de fertilizantes e da baixa mobilidade
desse nutriente no solo (WIETHÖLTER, 2000).
Os SMSs estudados diferiram quanto ao teor de P na
maioria das profundidades estudadas, diminuindo da camada 0-5 cm para a camada 15-20 cm. Esse comportamento foi mais evidente em PD e em CM que em PCD e
em PCA, determinando diferenças de 2,7 a 3,4 vezes superiores no teor de P extraído na camada de 0-5 cm, em
relação à camada 15-20 cm. Resultados semelhantes foram registrados para acúmulo de P em PD, na camada 05 cm, em relação à camada 15-20 cm, com 36 versus 28
mg/kg1 (DE MARIA et al., 1999) e com 88 versus 15
mg/kg1 (MATOWO et al., 1999). Além disso, em áreas
após longo período sob PD, a adição sucessiva de fertilizantes fosfatados, associada à intensa atividade microbiana na camada superficial do solo coberta por resíduos
vegetais, pode favorecer a penetração desse nutriente pelo
movimento de compostos orgânicos de P no perfil de solo
(DICK, 1983). Segundo Sidiras e Pavan (1985), o acúmulo de P próximo à superfície do solo decorre das aplicações anuais de fertilizantes fosfatados, da liberação de
P durante a decomposição dos resíduos vegetais e da
menor fixação de P, em razão do menor contato desse
elemento com os constituintes inorgânicos de solo, pela
não incorporação de resíduos vegetais através do revolvimento do solo em PD (WISNIEWSKI e HOLTZ, 1997).
Para FST, não houve diferença entre as profundidades
com relação ao teor de P.
O teor de K trocável, em todas as camadas e todos os
SMSs (Tabela 4), foi superior ao valor considerado crítico (80 mg/kg) para o crescimento e desenvolvimento das
culturas tradicionais (SOCIEDADE, 2004). Por outro
lado, o teor de K observado nas duas camadas mais profundas (10-15 cm e 15-20 cm) e em todos os SMSs manteve-se acima do teor encontrado na avaliação de 1993
(Tabela 1). O teor de K trocável diferiu significativamente
entre alguns SMSs. Como era de se esperar, os SMSs
mostraram, em todas as camadas estudadas, teor superior a FST. Além disso, CM apresentou maior teor de K
trocável, nas camadas 0-5 cm e 5-10 cm, que PCD. Por
sua vez, PD foi superior a PCD somente na camada 5-10
cm. Resultados semelhantes foram obtidos por De Ma54
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ria et al. (1999), na comparação de PD e CM com PCD,
na camada 0-5 cm.
Houve diferença significativa do teor de K na maioria das profundidades estudadas, diminuindo o valor da
camada 0-5 cm, em relação à camada mais profunda (1520 cm). Essa tendência foi mais evidente em PD e em
CM que em PCD e em PCA, ou seja, 1,72 a 1,92 vez
superior no teor de K, na camada 0-5 cm, em comparação à camada 15-20 cm. Dados similares foram registrados por De Maria et al. (1999) (23 versus 19 mg/kg1).
Em FST, não houve diferença significativa entre as profundidades para o teor de K trocável. Nos sistemas conservacionistas, os fertilizantes à base de K são depositados na superfície ou na linha de semeadura e, além disso,
os resíduos vegetais são deixados na superfície, o que faz
com que esse elemento se acumule nas camadas mais
superficiais do solo.
Sistemas de rotação de culturas
Nessa avaliação, todos os sistemas de rotação de culturas (SRC) estudados apresentaram valores de pH, Ca +
Mg trocáveis, P extraível e K trocável maiores que FST,
enquanto para os valores de Al trocável ocorreu o inverso (Tabelas 5 e 6). Por outro lado, não houve diferença
significativa entre os valores de pH, Al trocável, Ca +
Mg trocáveis e MO para diferentes SRCs. Isso indica
que as espécies componentes dos sistemas de rotação não
promoveram alterações na concentração de nutrientes
presentes no solo. Todavia, a monocultura trigo/soja, na
profundidade de 0-5 cm, apresentou maior teor de P, em
relação ao sistema trigo/soja, ervilhaca/milho e aveia
branca/soja, e, na mesma camada, o teor de potássio foi
maior no sistema trigo/soja e ervilhaca/milho do que na
monocultura trigo/soja (Tabela 6). Essa diferença entre
os SRCs pode ser explicada, em parte, pelo fato de a ervilhaca ser estabelecida como cultura de cobertura de solo
e sem aplicação de adubação de manutenção. Resultado
similar foi obtido por Santos e Tomm (1999), verificando teor maior de P na monocultura trigo/soja, na camada
0-5 cm, sob PD, em comparação aos SRCs: trigo/soja e
aveia branca/soja; trigo/soja, ervilhaca/milho e aveia branca/soja; e trigo/soja, ervilhaca/milho, cevada/soja e aveia
branca/soja. Nesse caso, houve acúmulo de P do solo na
primeira camada estudada, em razão da adubação de
manutenção anual.
Os SRCs diferiram quanto aos valores de pH, P e
K do solo entre algumas profundidades (Tabelas 5 e
6). Em todos os SRCs, os valores de pH somente aumentaram da camada 0-5 cm para a camada 15-20 cm.
Para os teores de P e K ocorreu o contrário, ou seja,
diminuíram da camada 0-5 cm para a camada 15-20
cm. Acúmulos similares de P e de K na camada 0-5
cm, em relação à camada 15-20 cm, foram relatados
por Sá (1993), Matowo et al. (1999) e Santos e Tomm
(1998, 1999). Na seqüência trigo/soja, ervilhaca/mi-
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.47-59, 2007.
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EFEITO DE SISTEMAS DE MANEJO EM ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO
lho e aveia branca/soja, o teor de Al aumentou da camada 0-5 cm para 5-10 cm e diminuiu nas camadas
mais profundas. Na Tabela 5, verificara-se que, para
os teores de Ca + Mg, não houve diferença significativa entre as profundidades estudadas. Os valores de pH,
Al e Ca + Mg refletem diferenças na distribuição de
calcário na camada arável, em virtude dos SRCs. Na
seqüência trigo/soja e ervilhaca/milho, o nível de MO
decresceu da camada 0-5 cm para a camada 15-20 cm,
concordando com Santos e Tomm (1998, 1999) e Santos et al. (1995), que sob plantio direto, observaram
que os níveis de MO decresceram progressivamente
da camada 0-5 cm para a camada 15-20 cm. Os valores de MO, P e K refletem as diferenças de seu acúmulo na superfície da camada arável, em razão da diferença na proporção de revolvimento do solo nos distintos SMSs. Os resultados observados comprovam o
efeito benéfico da rotação de culturas na ciclagem e
na distribuição de nutrientes no solo. Na floresta subtropical, não se constataram diferenças significativas
quanto à distribuição de elementos químicos e ao nível de MO nas camadas avaliadas. Ao se compararem
os valores dos atributos químicos dos SRCs com FST,
verificou-se que o uso do solo com agricultura incluindo correções e fertilização induz a melhorias relevantes em sua fertilidade química. No caso estudado,
a MO manteve-se nos mesmos níveis, discordando da
tendência de que a agricultura reduz a MO.
Efeitos dos SMSs e de SRC no rendimento de grãos
das culturas
Apesar do pH de PCD e PCA ter sido superior aos
de PD e CM, nas camadas, 0-5 e 5-10 cm, isso não
afetou o rendimento de grãos das espécies cultivadas
sob sistemas conservacionistas que foi maior do que
nos preparos convencionais do solo. Para Al trocável,
Tabela 5 - Valores de pH em água, de alumínio e de cálcio + magnésio trocáveis, em Latossolo Vermelho Distrófico típico, avaliados após nove anos
de cultivos, em quatro camadas e diferentes sistemas de rotação de culturas
Sistema de
manejo
de solo
I
II
III
FST
I x II
I x III
I x FST
II x III
II x FST
III x FST
I
II
III
FST
I x II
I x III
I x FST
II x III
II x FST
III x FST
I
II
III
FST
I x II
I x III
I x FST
II x III
II x FST
III x FST
Profundidade (cm)
0-5
5-10
10-15
15-20
———————— pH (1:1) ————————
5,16
5,17
5,20
5,28
5,19
5,20
5,24
5,31
5,19
5,20
5,22
5,27
4,30
4,40
4,23
4,23
Contraste entre rotação
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
**
**
**
**
——————— Al (mmolc /dm3 ) ———————
8,8
10,0
9,4
8,8
7,9
9,1
8,9
8,4
7,6
9,6
9,2
8,7
29,1
26,8
36,1
37,8
Contraste entre rotação
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
**
**
**
**
———————
47,0
49,8
49,7
18,8
ns
ns
**
ns
**
**
Ca + Mg (mmolc /dm3) ———————
47,4
47,3
49,7
48,8
49,5
51,5
48,1
48,8
50,2
18,5
6,1
4,1
Contraste entre rotação
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
**
ns
ns
ns
**
**
**
**
**
**
0-5
x
5-10
0-5
x
10-15
0-5
x
15-20
5-10
x
10-15
5-10
x
15-20
10-15
x
15-20
———————— Contraste entre profundidades (P > F) ————————
ns
ns
*
ns
*
ns
ns
ns
*
ns
*
ns
ns
ns
*
ns
**
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
———————— Contraste
ns
ns
ns
ns
*
*
ns
ns
entre profundidades (P > F) ————————
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
*
ns
——————— Contraste
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
entre profundidades (P > F) ———————
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns = não significativo; * = nível de significância de 5%; ** = nível de significância de 1%.
Sistema I: trigo/soja; sistema II: trigo/soja e ervilhaca/milho; sistema III: trigo/soja, ervilhaca/milho e aveia branca/soja; e FST: floresta subtropical.
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PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.47-59, 2007.
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GILBERTO OMAR TOMM, HENRIQUE PEREIRA DOS SANTOS, SILVIO TULIO SPERA, RAINOLDO ALBERTO KOCHHANN
ocorreu o inverso para PD, na camada 5-10 cm, em
relação ao PCD. A cultura que poderia ser prejudicada
em desempenho agronômico seria a soja; porém, na
análise conjunta dos anos (1997/98 a 2002/03), o rendimento de grãos de soja (Tabela 7) cultivada sob PD
(2.852 kg/ha) e CM (2.893 kg/ha) foi superior ao de
soja cultivada sob PCD (2.696 kg/ha1) e PCA (2.666
kg/ha). O rendimento de grãos de soja (Tabela 8) cultivada após trigo (2.866 kg/ha) no sistema II foi superior ao de soja cultivada após aveia branca (2.799 kg/
ha) e após trigo (2.804 kg/ha) no sistema II e após trigo (2.636 kg/ha) no sistema I. O menor rendimento de
grãos de soja ocorreu quando em monocultura. O maior teor de P da monocultura de soja, em comparação
com trigo/soja e ervilhaca/milho, não foi suficiente para
elevar o rendimento de grãos acima do da soja em rotação de verão. Pelo observado, outros fatores impe-
dem as espécies de expressarem seu potencial, como
por exemplo o não uso de rotação de culturas, como
pode ter sido o caso de soja e de trigo. Na análise conjunta de 1988 a 1997, realizada por Santos et al. (2000),
houve diferença entre os sistemas de rotação de culturas para trigo. O SRC com dois invernos sem trigo
mostrou rendimento de grãos mais elevado do que sob
monocultura e sob um inverno sem trigo (Tabela 9). O
menor rendimento de grãos de trigo ocorreu na monocultura desse cereal. Trabalhos mais antigos, revelaram que, quando a monocultura era praticada durante
anos seguidos, evidenciava-se a liberação de alguns
compostos durante a decomposição dos resíduos vegetais, que se acumulavam no solo até atingirem concentrações inibidoras do crescimento da própria planta (ALMEIDA, 1988; SANTOS e REIS, 2001. Na
média do período (1990 a 1997), do trabalho conduzi-
Tabela 6 - Valores de matéria orgânica, de fósforo extraível e de potássio trocável, em Latossolo Vermelho Distrófico típico, avaliados após nove anos
de cultivos, em quatro camadas e diferentes sistemas de rotação de culturas
Sistema de
manejo
de solo
I
II
III
F
I x II
I x III
Ix F
II x III
II x F
III x F
I
II
III
F
I x II
I x III
Ix F
II x III
II x F
III x F
I
II
III
F
I x II
I x III
Ix F
II x III
II x F
III x F
Profundidade (cm)
0-5
5-10
10-15
15-20
0-5
x
5-10
0-5
x
10-15
0-5
x
15-20
5-10
x
10-15
5-10
x
15-20
10-15
x
15-20
—————— Matéria orgânica (g /kg) ——————
31
30
29
28
33
31
30
28
33
31
29
29
38
39
37
40
Contraste entre rotação
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
———————— Contraste
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
entre profundidades (P > F) ————————
ns
ns
ns
ns
*
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
————————— P (mg /kg) —————————
31,3
28,4
18,5
13,8
26,8
26,2
16,6
12,5
25,2
24,1
17,6
11,0
3,8
5,0
2,8
2,8
Contraste entre rotação
ns
ns
ns
ns
*
ns
ns
ns
**
**
**
**
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
**
**
**
**
———————— Contraste
ns
**
ns
**
ns
**
ns
ns
entre profundidades (P > F) ————————
**
*
**
ns
**
**
**
ns
**
**
**
**
ns
ns
ns
ns
————————— K (mg /k)- —————————
199
170
154
129
229
194
159
135
223
178
147
119
54
55
31
25
Contraste entre rotação
*
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
**
**
**
**
———————— Contraste
**
**
**
**
**
**
ns
ns
entre profundidades (P > F) ————————
**
ns
**
*
**
**
**
ns
**
**
**
**
ns
ns
ns
ns
ns = não significativo; * = nível de significância de 5%;** = nível de significância de 1%.
Sistema I: trigo/soja; sistema II: trigo/soja e ervilhaca/milho; sistema III: trigo/soja, ervilhaca/milho e aveia branca/soja; e F: floresta.
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EFEITO DE SISTEMAS DE MANEJO EM ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO
Tabela 7 - Efeito de sistema de manejo de solo no rendimento de grãos
de soja, cultivar BR-16, em 1997, BRS 137, de 1998 e 1999, e BRS
154, de 2000 a 2002. Passo Fundo, RS
Tabela 8 - Efeito de rotação de culturas no rendimento de grãos de soja,
cultivar BR-16, em 1997, BRS 137, de 1998 e 1999, e BRS 154, de
2000 a 2002. Passo Fundo, RS
Sistema de rotação
Manejo de solo
Ano
PD
PCD
PCA
CM
Média
Ano
........................... Rendimento de grãos (kg/ha) .........................
1997/98
1998/99
1999/00
2000/01
2001/02
2002/03
Média
2.803 Ac
2.126 Ae
3.106 Ab
3.536 Aa
2.591 Ad
2.952 Ab
2.852 A
2.770 Ab
2.196 Ac
2.853 Bb
3.250 Ba
2.408 Bc
2.698 Ab
2.696 B
2.746 Aab
2.223 Ac
2.748 Cab
2.948 Ca
2.540 Abb
2.788 Aa
2.666 B
2.731 Ac
2.272 Ad
3.132 Ab
3.560 Aa
2.773 Ac
2.887 Ab
2.893 A
2.762 c
2.204 e
2.960 b
3.324 a
2.578 d
2.831 bc
2.777
1997/98
1998/99
1999/00
2000/01
2001/02
2002/03
Média
Sistema I:
soja/trigo
Sistema II:
soja/trigo
milho/ervilhaca
Sistema III:
soja/aveia branca, soja/trigo e
milho/ervilhaca
Sistema III:
soja/trigo
milho/ervilhaca
e soja aveia
branca
Média
..........................Rendimento de grãos (kg /ha) ............................
2.636 Cc
2.932 Ac
2.789 Bc
2.692 Bc
2.762 c
2.153 Ae
2.269 Ae
2.187 Ae
2.208 Ad
2.204 e
2.703 Cc
3.167 Ab
3.098 Ab
2.870 Bb
2.960 b
3.036 Ba
3.421 Aa
3.422 Aa
3.416 Aa
3.324 a
2.427 Bd
2.720 Ad
2.466 Bd
2.699 Ac
2.578 d
2.865 Ab
2.689 Bd
2.830 Ac
2.941 Ab
2.831 bc
2.636 C
2.866 A
2.799 B
2.804 B
2.777
PD: plantio direto.
PCD: preparo convencional de solo com arado de discos, no inverno e semeadura
direta, no verão.
PCA: preparo convencional de solo com arado de aivecas, no inverno e semeadura direta, no verão.
CM: cultivo mínimo.
Médias seguidas da mesma letra, minúscula na vertical e maiúscula na horizontal, não
apresentam diferenças significativas, a 5% de probabilidade, pelo teste de Duncan.
Sistema I: trigo/soja.
Sistema II: trigo/soja e ervilhaca/milho ou sorgo, em 2001.
Sistema III: trigo/soja, ervilhaca/milho ou sorgo, em 2001 e aveia branca/soja.
Médias seguidas da mesma letra, minúscula na vertical e maiúscula na horizontal, não
apresentam diferenças significativas, a 5% de probabilidade, pelo teste de Duncan.
Tabela 9 - Efeito de sistemas de rotação de culturas no rendimento de
grãos de trigo, em 1988 e em 1989, cultivar BR-14, de 1990 a 1993,
cultivar BR-23, e de 1994 a 1997, cultivar Embrapa 16. Passo Fundo, RS
Tabela 10 - Efeito de sistemas de manejo de solo no rendimento de grãos
de aveia branca, de 1990 a 1994, cultivar UFRGS 7, em 1995, cultivar
UPF 16, e em 1996 e 1997, cultivar UFRGS 14. Passo Fundo, RS
Ano
Sistema de rotação
Monocultura
Um inverno
sem trigo
Ano
2.006 Ac1
2,970 Aa
2.527 Bb
2.532 Bb
3.158 Ca
1.012 Be
2.663 Bb
1.988 Bc
1.526 Cd
1.648 Bd
2.203 C
2.088 Ac
2.919 Ab
2.968 Ab
3.089 Ab
4.076 Ba
2.248 Ac
3.210 Ab
2.059 Bcd
1.829 Bd
1.714 Be
2.620 B
2.048 Ag
2.925 Ad
3.105 Ac
3.216 Ab
4.724 Aa
2.443 Ae
3.395 Ab
2.637 Ae
2.274 Af
1.975 Ag
2.874 A
2.047 e
2.938 bc
2.866 c
2.946 b
3.986 a
1.901 e
3.089 b
2.228 d
1.876 f
1.779 f
2.566
1
Médias seguidas da mesma letra, minúscula na vertical e maiúscula na horizontal, não apresentam diferenças significativas, a 5% de probabilidade, pelo teste de
Duncan.
Tabela 11 - Efeito de sistemas de manejo de solo no rendimento de
grãos de milho, híbrido C 901, de 1997/98 a 2000/01. Passo Fundo, RS
Manejo de solo
Ano
PD
PCD
PCA
CM
7.517 A c
9.019 A b
7.536 A c
9.886 A a
8.490 A
6.019 B c
6.861 B a
6.746 B b
7.350 B a
6.744 C
6.225 B b
7.201 B a
6.639 B b
7.384 B a
6.862 C
7.092 A b
8.718 A a
7.012 B b
9.196 A a
8.005 B
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Média
4.271 A
3.515 A
3.303 A
2.520 A
2.796 A
2.256 A
2.165 A
2.845 A
2.959 A
PCD
6.713 c
7.950 b
6.983 c
8.454 a
7.525
PD: plantio direto.
PCD: preparo convencional de solo com arado de discos, no inverno, e semeadura direta, no verão.
PCA: preparo convencional de solo com arado de aivecas, no inverno, e semeadura direta, no verão.
CM: cultivo mínimo, no inverno, e semeadura direta, no verão .
Médias seguidas de mesma letra, minúscula na vertical e maiúscula na horizontal,
não apresentam diferenças significativas, ao nível de 5% de probabilidade, pelo
teste de Duncan.
3.787 B
3.175 C
3.197 B
2.541 A
2.427 B
1.797 B
2.109 A
2.638 A
2.709 B
57
CM
Média
3.989 AB
3.234 C
3.070 C
2.430 A
2.432 B
1.751 B
1.992 A
2.554 A
2.682 B
4.262 A
3.419 B
3.321 A
2.844 A
2.669 A
2.213 A
2.098 A
2.679 A
2.938 A
4.077
3.336
3.223
2.584
2.581
2.004
2.091
2.679
2.822
Tabela 12 - Efeito de sistemas de manejo de solo no rendimento de grãos
de trigo, em 1988 e em 1989, cultivar BR-14, de 1990 a 1993, cultivar
BR-23, e de 1994 a 1997, cultivar Embrapa 16. Passo Fundo, RS
Manejo de solo
Ano
PD
PCD
PCA
CM
Média
.....................Rendimento de grãos de trigo (kg/ha) .................
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Média
2.183 Ad2
2.909 Ac
3.167 Ab
2.968 Ac
4.151 Aa
2.318 Ad
3.407 Ab
2.385 Ad
1.868 Ae
1.910 Ae
2.727 A
1.905 Ad
3.013 Ab
2.429 Cc
2.971 Ab
4.031 Aa
1.665 Be
2.776 Bb
2.181 Ac
1.874 Ade
1.790 Ae
2.463 B
1.906 Ac
2.871 Ab
2.789 Bb
2.886 Ab
3.820 Ba
1.379 Be
2.853 Bb
2.101 Ac
1.810 Acd
1.702 Ad
2.412 B
2.194 Ad
2.959 Ac
3.082 Ab
2.957 Ac
3.942 Aba
2.243 Ad
3.322 Ab
2.244 Ad
1.953 Ad
1.714 Ae
2.661 A
2.047 e
2.938 bc
2.866 c
2.946 b
3.986 a
1.901 e
3.090 b
2.228 d
1.876 f
1.779 f
2.566
1
PD: plantio direto; PCD: preparo convencional de solo com arado de discos;
PCA: preparo convencional de solo com arado de aivecas; e CM: cultivo mínimo.
2
Médias seguidas da mesma letra, minúscula na vertical e maiúscula na horizontal, não
apresentam diferenças significativas, a 5% de probabilidade, pelo teste de Duncan.
57
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.47-59, 2007.
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PCA
PD: plantio direto.
PCD: preparo convencional de solo com arado de discos.
PCA: preparo convencional de solo com arado de aivecas.
CM: cultivo mínimo marca JAN.
Médias seguidas da mesma letra maiúscula, na horizontal, não apresentam diferenças significativas, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de Duncan.
Média
.............................................. kg/ha .............................................
1997/98
1998/99
1999/00
2000/01
Média
PD
.............................................. kg/ha .............................................
.................... Rendimento de grãos (kg/ha) ...............................
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Média
Manejo de solo
Média
Dois invernos
sem trigo
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GILBERTO OMAR TOMM, HENRIQUE PEREIRA DOS SANTOS, SILVIO TULIO SPERA, RAINOLDO ALBERTO KOCHHANN
do por Santos e Lhamby (2001), o rendimento de grãos
de aveia branca (Tabela 10) em PD (2.959 kg/ha) e
CM (2.938 kg/ha) foi superior ao rendimento em PCD
(2.709 kg/ha) e PCA (2.682 kg/ha). Na análise conjunta realizada por Santos et al. (2003), o rendimento
de grãos de milho (Tabela 11) cultivado sob PD (8.490
kg/ha) foi superior ao obtido sob CM (8.005 kg/ha),
sob PCD (6.744 kg/ha) e sob PCA (6.862 kg/ha). Ainda no trabalho de Santos et al. (2000), o rendimento
de grãos de trigo (Tabela 12) mais elevado ocorreu em
PD (2.727 kg/ha) e no CM (2.661 kg/ha), em comparação com PCD (2.463 kg/ha) e PCA (2.412 kg/ha).
Pelo verificado nesse trabalho, o nível de MO em PD
foi similar a FST, na camada 0-5 cm, que seria o ponto de
referência do estado natural do solo. Isso por si mostra
esse sistema de manejo de solo próximo da sustentabilidade. Deve ser considerado que isso por sua vez foi reflexo do acúmulo dos resíduos vegetais deixado na superfície do solo, pelas espécies componentes dos SRCs.
Além disso, antecedendo o milho ou o sorgo, foi cultivada a ervilhaca, sem adubação de manutenção, que recicla
e incorpora N ao sistema. Por sua vez, o milho foi semeado após ervilhaca ainda em fase vegetativa, sendo dessecada posteriormente com herbicida de pré ou pós-emergência. Além disso, nesse período de estudo, não foi aplicado N em cobertura na cultura de milho.
Conclusões
Os valores de pH, de MO e de P diferiram entre os
sistemas de manejo do solo.
Os teores de P e K foram maiores nos sistemas conservacionistas (PD e CM) do que no preparo convencional
(arado de discos e de aivecas), na camada 0-5 cm do solo.
Os teores de MO, P e K diminuíram da camada 0-5
cm para a camada 15-20 cm, em todos os SMSs e SRCs.
Para pH ocorreu o contrário.
Na camada superficial (0-5 cm) dos sistemas conservacionistas (PD e CM) e dos sistemas de rotação de culturas houve acidificação do solo.
FST não diferiu significativamente entre as camadas
de solo amostradas quanto aos valores de acidez, matéria
orgânica, Ca + Mg, P e K disponível.
Na média das safras e independentemente de rotação,
a aveia branca, a soja e o trigo cultivado sob plantio direto e sob cultivo mínimo apresentaram maior rendimento
de grãos que a aveia branca, a soja e o trigo cultivados
sob preparo convencional de solo com arado de discos
ou com arado de aivecas.
A rotação de culturas com um cultivo de verão (milho
ou sorgo) propicia maior rendimento de grãos de soja, em
comparação com os demais sistemas estudados. O menor
rendimento de grãos de soja ocorreu em monocultura.
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EFEITO DE SISTEMAS DE MANEJO EM ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO
Efeito de sistemas de manejo em atributos físicos do solo
Silvio Tulio Spera1, Henrique Pereira dos Santos2,
Gilberto Omar Tomm3 e Rainoldo Alberto Kochhann3
Resumo - O manejo inadequado de solo pode levar à formação de camada compactada próxima à superfície. Após dezesseis anos
de instalação de experimento em Latossolo Vermelho Distrófico típico, em Passo Fundo, RS, avaliou-se atributos físicos de solo
em quatro sistemas de manejo de solo: plantio direto (PD); cultivo mínimo (CM); preparo convencional de solo com arado de
discos e grade de discos (PCD); preparo convencional de solo com arado de aivecas e grade de discos (PCA) - e três sistemas de
rotação de culturas: sistema I (trigo/soja); sistema II (trigo/soja e ervilhaca/milho) e sistema III (trigo/soja, ervilhaca/milho e aveia
branca/soja). O delineamento experimental foi em blocos completos ao acaso, com parcelas subdivididas, e três repetições. As
parcelas foram constituídas pelos sistemas de manejo de solo, e as subparcelas, pelos sistemas de rotação de culturas. O PD
mostrou maior densidade de solo que PCA, CM e floresta subtropical. A floresta subtropical apresentou porosidade total e macroporosidade maiores que as dos solos sob diversos sistemas de manejo e de rotações de culturas estudados, enquanto para densidade
e microporosidade ocorreu o contrário. A densidade do solo aumentou da camada 0-5 cm para 10-15 cm, em todos os sistemas de
manejo e de rotações estudados, enquanto para porosidade total e macroporosidade ocorreu o inverso.
Palavras-chave: rotação de culturas, densidade do solo, porosidade total, sucessão trigo-soja.
Effect of management systems in soil physical attributes
Abstract - Inadequated soil tillage can induce the formation of compacted layer near soil surface. Soil physical attributes were
assessed after sixteen years of distinct soil management on a typical dystrophic red latosol located in Passo Fundo, Rio Grande do
Sul State, Brazil. Four soil tillage systems – no-tillage, minimum tillage, conventional tillage using a disk plow plus disk harrow,
and conventional tillage using a moldboard plow plus disk harrow – and three crop rotation systems - system I (wheat/soybean),
system II (wheat/soybean and common vetch/corn), and system III (wheat/soybean, white oat/soybean, and common vetch/corn)
were evaluated. A randomized complete block design, with split-plots and three replicates, was used. The main plots were soil
tillage systems, while the split consisted of crop rotation systems. Soil cores were also collected in a fragment of subtropical forest
adjacent to the experiment. No-tillage showed higher soil density than conventional tillage using a moldboard plow plus disk
harrow, minimum tillage, and subtropical forest. The subtropical forest showed the highest total porosity and macroporosity, as
compared to the all soil tillage systems and crop rotation systems, and the lowest bulk density and microporosity. Soil bulk density
was increased from the top layer (0-5 cm) to deeper layer (10-15 cm) in all soil tillage systems and rotation systems and presented
the lowest total porosity and macroporosity.
Key words: crop rotation, soil bulk density, soil porosity, soybean-wheat crops.
1
Engenheiro Agrônomo – M.Sc, Embrapa – Centro Nacional de Pesquisa de Trigo (CNPT), Caixa Postal 451, CEP 99001-970, Passo Fundo (RS).
Doutorando do Curso de Produção Vegetal da UPF/FAMV. E-mail: [email protected]
2
Engenheiro Agrônomo – Dr., Embrapa – Centro Nacional de Pesquisa de Trigo. Bolsista CNPq-PQ. E-mail: [email protected]
3
Engenheiro Agrônomo – Ph.D., Embrapa – Centro Nacional de Pesquisa de Trigo. E-mail: [email protected]; [email protected]
Recebido para publicação em 24/03/2006
61
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.61-68, 2007.
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SILVIO TULIO SPERA, HENRIQUE PEREIRA DOS SANTOS, GILBERTO OMAR TOMM E RAINOLDO ALBERTO KOCHHANN
Introdução
Entre os sistemas de manejo de solo praticados no
Sul do Brasil, o sistema plantio direto destaca-se como o
mais conservacionista, devido à mínima mobilização de
solo,rotação de culturas requerida e manutenção de resíduos culturais na superfície do solo que promove. A crescente conscientização da eficiência técnica, econômica e
ambiental promovida por esse sistema tem proporcionado sua adoção em cerca de quatro milhões de hectares no
Rio Grande do Sul (FEBRAPDP, 2003). A continuidade
do plantio direto em sistemas agrícolas anuais produtores de grãos tem despertado atenção para uma aparente
degradação estrutural do solo, constatada por dados de
pesquisa que demonstram elevação da densidade do solo
e redução na porosidade. Tem sido verificado que esse
problema é originário do pé-de-arado remanescente do
preparo convencional, que persiste por vários anos após
a adoção do sistema plantio direto (BERTOL et al., 2004).
Atualmente muitos produtores, usuários de sistema plantio direto, tornaram a lavrar ou a escarificar o solo sob
alegação de que a compactação tem sido a mais importante causa de redução de rendimento das culturas.
O manejo inadequado pode levar à formação de camada compactada próximo à superfície do solo. Esse fato
tem sido apontado como um dos principais indicadores
de degradação e causa de decréscimo da produtividade
de culturas. A camada compactada é conseqüência do
revolvimento de solo, trânsito de máquinas, tipo de equipamento, sistemas de manejo, presença de resíduos vegetais e condições hídricas no momento de preparo (STONE e SILVEIRA, 2001).
O preparo de solo por meio de grade aradora foi, no
passado, o mais usado na Região Sul do Brasil. O uso
contínuo desse implemento levou à formação de camadas compactadas sub-superficiais, denominadas pé-degrade. O arado de aivecas era pouco usado, pois requeria
mais tempo e energia nas operações de preparo de solo,
embora tenha tendência de apresentar maior produtividade de milho (KLUTHCOUSKI, 1998), em comparação ao preparo convencional de solo com grade aradora
e ao plantio direto.
O sistema plantio direto tem contribuído para a sustentabilidade de sistemas de produção agrícolas intensivos, por manter o solo coberto com resíduos vegetais,
minimizando os efeitos da erosão (ALBUQUERQUE et
al., 1995). Entretanto, após algum tempo de adoção, apresenta na camada superficial valores mais elevados de
densidade de solo, e microporosidade e menores valores
de macroporosidade e porosidade total (ALBUQUERQUE et al., 2001; STONE e SILVEIRA, 2001). Kochhann et al. (1999), entretanto, sustentam que a suposição
de que a continuidade do sistema plantio direto implicaria em problemas de degradação estrutural do solo na
camada superficial nem sempre é comprovada.
62
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62
Derpsch et al. (1991) constataram que a densidade de
solo é maior e a porosidade total e a macroporosidade são
menores sob plantio direto, em comparação com preparo
convencional com arado de discos. Porém, de acordo com
Reeves (1995), com o passar dos anos a densidade de solo
sob plantio direto pode diminuir, em razão do aumento do
nível de matéria orgânica na camada superficial.
Compactação de solo tem sido verificada em latossolos do Rio Grande do Sul independentemente de estarem
sendo manejados sob sistema plantio direto, cultivo mínimo ou preparo convencional. Spera et al. (2000) observaram valores de densidade do solo semelhantes em lavouras manejadas sob sistema plantio direto com rotação
de culturas que incluem pastagens anuais de inverno e
em preparo convencional com aração e gradagem. Esses
dados indicam que problemas relacionados à compactação de solo não ocorrem apenas no sistema plantio direto
e evidenciam que há probabilidade de serem remanescentes do preparo convencional antecedente.
A rotação de culturas, pela introdução de espécies com
sistema radicular agressivo e pelo acúmulo de resíduos
orgânicos de diferentes naturezas e quantidades, pode
também alterar os atributos físicos do solo. Albuquerque
et al. (1995) verificaram que a densidade de solo na profundidade de 0 a 8,5 cm é maior e a porosidade total é
menor na sucessão soja/trigo que nos sistemas de rotação de culturas que incluíam aveia branca (Avena sativa
L.), ervilhaca (Vicia villosa Roth.) e milho (Zea mays L.),
independentemente do sistema de manejo de solo adotado. Esse fato foi atribuído à presença de aveia branca
que, com seu sistema radicular de elevada densidade,
contribuiu para a reestruturação do solo.
Este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de
distintos sistemas de manejo de solo e rotação de culturas
sobre alguns atributos físicos de solo nas condições edafoclimáticas da região subtropical úmida do Sul do Brasil.
.
Material e métodos
O experimento foi conduzido em área do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo, em Passo Fundo, RS, no
período de 1986 a 2001, em Latossolo Vermelho Distrófico típico (STRECK et al., 2002). Antes da instalação
do experimento, foram conduzidas no local lavouras de
trigo no inverno e de soja no verão, sob preparo convencional de solo desde 1975.
Os tratamentos foram constituídos por quatro sistemas de manejo de solo: 1) plantio direto (PD); 2) preparo
de solo com implemento de hastes para cultivo mínimo –
escarificador (CM); 3) preparo convencional de solo com
arado de discos mais grade de discos (PCD); 4) preparo
convencional de solo com arado de aivecas mais grade
de discos (PCA) e três sistemas de rotação de culturas:
sistema I (trigo/soja); sistema II (trigo/soja e ervilhaca/
milho) e sistema III (trigo/soja, ervilhaca/milho e aveia
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.61-68, 2007.
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EFEITO DE SISTEMAS DE MANEJO EM ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO
branca/soja). Um fragmento de floresta subtropical com
araucárias, adjacente ao experimento, também foi amostrado com o mesmo número de repetições, admitindo-se
como referencial do estado estrutural do solo antes das
alterações antrópicas.
O delineamento experimental usado foi blocos ao
acaso, com parcelas subdivididas e três repetições. A parcela principal foi constituída pelos sistemas de manejo, e
a subparcela, pelos sistemas de rotação de culturas. Cada
parcela principal mediu 360 m2 (4 m de largura por 90 m
de comprimento) e cada subparcela mediu 40 m2 (4 m de
largura por 10 m de comprimento).
Em maio de 2001, após a colheita das culturas de verão, foram coletadas três amostras indeformadas de solo
por subparcela, nas profundidades 0-5 e 10-15 cm. Para
determinar densidade do solo e porosidade total, foi usado o método do anel volumétrico. A microporosidade foi
considerada como conteúdo volumétrico de água equilibrada na mesa de tensão a 60 cm de coluna de água, e a
macroporosidade calculada por diferença entre a porosidade total e a microporosidade segundo Embrapa (EMBRAPA, 1997).
Os sistemas de manejo de solo e os sistemas de rotação de culturas foram comparados, para cada atributo físico de solo, em uma determinada profundidade de amostragem. As profundidades de amostragem foram comparadas em um mesmo sistema de manejo de solo e sistema
de rotação de culturas. Todas as comparações foram realizadas por meio de contrastes com um grau de liberdade
(STEEL e TORRIE, 1980). A significância dos contrastes foi dada pelo teste F, levando-se em conta o desdobramento dos graus de liberdade do erro. As médias dos
rendimentos de grãos de cada cultura foram comparadas
pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade.
Resultados e discussão
Sistemas de manejo de solo
O solo sob plantio direto (PD) mostrou maior densidade do solo quando comparado com a maioria dos sistemas de manejo estudados nas duas profundidades. A floresta, que ainda preserva a condição estrutural original
do solo, apresentou menor densidade de solo em relação
a todos os sistemas de manejo estudados (Tabela 1).
Derpsch et al. (1991) observaram em Latossolo Vermelho Distroférrico de Londrina, PR, maior densidade de
solo no PD, na camada 0-5 cm, em comparação com PCD.
Resultados semelhantes ao presente trabalho foram obtidos por Albuquerque et al. (2001), em Nitossolos Vermelhos, no município Lages, SC, nos quais PD apresentou
na média das profundidades estudadas maior densidade
de solo do que no PCD e na floresta. Da Ros et al. (1997)
em Latossolo Vermelho em Cruz Alta, RS, verificaram
menor densidade de solo nos tratamentos submetidos ao
PCD em relação ao PD, em todas as camadas estudadas.
Stone e Silveira (2001), estudando um Latossolo Vermelho Distroférrico, em Santo Antônio de Goiás, GO, observaram que PD apresentou densidade superior ao PCD,
ao preparo somente com arado de disco e ao preparo somente com grade na camada 0-10 cm.
Após dezesseis anos, era de esperar que o valor da
densidade de solo diminuísse nos sistemas conservacionistas (REEVES, 1995), porém isso não aconteceu, apesar da matéria orgânica do solo, nesse experimento (avaliada em 1993) ter sido maior no PD (38 g kg-1) em relação ao PCD (31 g kg-1) e ao PCA (29 g kg-1) na camada 05 cm (SANTOS e TOMM, 2003). Dados similares foram
obtidos por Anjos et al. (1994), estudando sistemas de
manejo de solo, em três tipos de solos distróficos: Latossolo, Cambissolo e Argissolo, onde verificaram que, nas
médias desses solos, a floresta apresentou menor densidade de solo que no PCD e no PD na camada 0-20 cm.
Tabela 1 - Valores de densidade de solo e de porosidade total nas camadas de solo 0-5 e 10-15 cm de profundidade, em quatro sistemas de
manejo de solo e em floresta subtropical (Embrapa Trigo, Passo Fundo,
RS, 2004)
Sistema
de manejo
Profundidade (cm)
0-5
PD
PCD
PCA
CM
FST
PD x PCD
PD x PCA
PD x CM
PD x FST
PCD x PCA
PCD x CM
PCD x FST
PCA x CM
PCA x FST
CM x FST
PD
PCD
PCA
CM
FST
PD x PCD
PD x PCA
PD x CM
PD x FST
PCD x PCA
PCD x CM
PCD x FST
PCA x CM
PCA x FST
CM x FST
1,30
1,41
1,27
1,34
1,25
1,35
1,26
1,35
0,88
1,02
Contraste entre sistemas
**
ns
**
*
*
ns
**
**
ns
ns
*
ns
*
**
*
*
*
**
**
**
Porosidade total (m3 m-3)
0,50
0,46
0,51
0,49
0,52
0,49
0,52
0,49
0,67
0,62
Contraste entre sistemas
**
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
ns
ns
ns
ns
*
**
ns
ns
**
**
**
**
0-5 x 10-15
Contraste entre
profundidades (P > F)
**
*
**
ns
ns
Contraste entre
profundidades (P > F)
*
**
**
*
ns
ns = não-significativo; = nível de significância de 5%; ** = nível de significância
de 1%.
PD: plantio direto; PCD: preparo convencional de solo com arado de discos; PCA:
preparo de solo com arado de aivecas; CM: cultivo mínimo; FST: floresta sutropical.
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10-15
Densidade de solo (Mg m-3)
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SILVIO TULIO SPERA, HENRIQUE PEREIRA DOS SANTOS, GILBERTO OMAR TOMM E RAINOLDO ALBERTO KOCHHANN
Houve diferença significativa para densidade do solo
entre as profundidades avaliadas em três sistemas de
manejo, exceto na floresta e CM (Tabela 1). A densidade
de solo aumentou da camada 0-5 cm para 10-15 cm em
todos os sistemas de manejo estudados. Como a densidade do solo é uma característica usada na avaliação do
estado estrutural do solo, não houve indícios de severa
compactação (na camada superficial 0-5 cm) nos sistemas de manejo, pois estes valores estiveram abaixo dos
níveis críticos para latossolos que, de acordo com Resende (1995), e são maiores que 1,40 Mg m-3. Derpsch et al.
(1986), Trein et al. (1991) e Albuquerque et al. (2001)
observaram, em PD, maior densidade de solo na camada
superficial, decrescendo com a profundidade. Neste estudo, a menor densidade do solo verificada na camada 05 cm pode ser atribuída à presença de maior quantidade
de matéria orgânica e resíduos vegetais em superfície que,
em razão de apresentarem menor peso específico, conferem menor densidade ao solo da camada.
O PD apresenta menor porosidade total quando comparado com o PCD na camada 0-5 cm, em todos os sistemas de manejo, nas duas profundidades estudadas (Tabela 1). Dados similares foram obtidos por Albuquerque
et al. (2001). Porém, contrariando os resultados do presente estudo, Da Ros et al. (1997) observaram menor porosidade total sob preparo convencional com aração e gradagem do que sob PD em duas camadas de solo, e Anjos
et al. (1994), estudando diferentes sistemas de manejo de
solo e floresta subtropical, não encontraram diferenças
entre os tratamentos para porosidade total na camada 020 cm.
Para porosidade total houve diferença entre as duas
profundidades de amostragem em todos os sistemas de
manejo de solo estudados, com exceção da floresta (Tabela 1). A porosidade total é maior na camada 0-5 cm do
que na 10-15 cm, provavelmente pelo maior nível de
matéria orgânica do solo resultante da deposição de restos culturais, independentemente do tipo de manejo de
solo (DE-POLLI et al., 1996).
O plantio direto apresentou maior valor para microporosidade do que PCD, PCA, CM e floresta, na camada
0-5 cm. A microporosidade do CM foi maior que as de
PCD, PCA e floresta na mesma camada. Além disso, a
floresta apresentou menor valor de microporosidade em
relação a PCD e PCD na camada 0-5 cm. Stone e Silveira
(2001) observaram que PD e preparo somente com grade
apresentaram maior valor para microporosidade na camada 0-10 cm.
O plantio direto mostrou redução do valor de microporosidade da camada 0-5 cm para a 10-15 cm, enquanto
PCD e PCA apresentaram incremento nesse valor (Tabela 2). Albuquerque et al. (1995), Andreola et al. (2000) e
Stone e Silveira (2001), estudando sistemas de manejo
de solo, não encontraram diferenças para os valores de
microporosidade entre as camadas de solo.
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A floresta apresentou maior valor para macroporosidade do que os sistemas de manejo de solos em ambas as
camadas estudadas (Tabela 2). Como esperado, o solo na
floresta possui maior volume de macroporos do que nos
sistemas de manejo de solo estudados. Na camada 0-5
cm, PD mostrou menor valor de macroporosidade que
PCD. Albuquerque et al. (2001) encontraram em floresta
maior valor de macroporosidade do que PD nas camadas
0-5 cm e 10-15 cm, respectivamente. Stone e Silveira
(2001) verificaram em preparo com arado e grade, preparo com arado e preparo com grade maiores valores de
macroporosidade que PD, na camada 0-10 cm.
Na Tabela 2 são mostradas as diferenças para macroporosidade entre os sistemas de manejo de solo PD e PCD.
O valor da macroporosidade diminuiu da camada 0-5 cm
para a 10-15 cm na maioria dos solos sob cultivo. Trein
et al. (1991) verificaram em PD maior macroporosidade
Tabela 2 - Valores de microporosidade e de macroporosidade, nas camadas de solo 0-5 e 10-15 cm de profundidade, em quatro sistemas de
manejo de solo e em floresta subtropical (Embrapa Trigo, Passo Fundo,
RS, 2004)
Sistema
de produção
Profundidade (cm)
0-5
10-15
Microporosidade (m3 m-3)
PD
PCD
PCA
CM
FST
PD x PCD
PD x PCA
PD x CM
PD x FST
PCD x PCA
PCD x CM
PCD x FST
PCA x CM
PCA x FST
CM x FST
PD
PCD
PCA
CM
FST
PD x PCD
PD x PCA
PD x CM
PD x FST
PCD x PCA
PCD x CM
PCD x FST
PCA x CM
PCA x FST
CM x FST
0,41
0,40
0,37
0,40
0,38
0,41
0,39
0,40
0,34
0,33
Contraste entre sistemas
**
ns
**
*
*
ns
**
**
ns
ns
*
ns
*
**
*
*
*
**
**
**
Macroporosidade (m3 m-3)
0,09
0,07
0,14
0,09
0,15
0,08
0,13
0,09
0,33
0,29
Contraste entre sistemas
**
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
ns
ns
ns
ns
*
**
ns
ns
**
**
**
**
0-5 x 10-15
Contraste entre
profundidades (P > F)
**
*
**
ns
ns
Contraste entre
profundidades (P > F)
*
**
**
*
ns
ns = não-significativo; = nível de significância de 5%; ** = nível de significância de 1%.
PD: plantio direto; PCD: preparo convencional de solo com arado de discos; PCA:
preparo de solo com arado de aivecas; CM: cultivo mínimo; FST: floresta subtropical.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.61-68, 2007.
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EFEITO DE SISTEMAS DE MANEJO EM ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO
na camada 0-7,5 cm do que na camada 7,5-15,0 cm. A
macroporosidade na floresta não apresentou diferença
entre as camadas estudadas (Tabela 2).
Os atributos físicos de solo avaliados são interdependentes; assim, os efeitos do manejo de solo sobre os mesmos valem para todos. Observa-se em PD tendência de
ocorrerem maiores valores para densidade do solo e macroporosidade, e menores valores de porosidade total e
macroporosidade, em ambas camadas estudadas (Tabelas 1 a 2). A área onde se instalou o experimento foi submetida, durante longo período, ao preparo convencional
com aração e gradagens. Isso pode explicar a diferença
entre os valores de cada atributo físico, verificada entre
as camadas 0-5 e 10-15 cm. Normalmente, no Rio Grande do Sul, a profundidade de mobilização do solo pelo
preparo convencional de solo raramente se aprofundava
abaixo de 10 cm (KOCHHANN et al., 1999).
Nesse trabalho, não houve intenção, entretanto, de
estabelecer comparações entre as alterações promovidas
pelos tratamentos e o estado natural do solo observado
na condição de floresta, uma vez que o experimento foi
instalado em área que já encontrava-se submetida à ação
antrópica, sendo, portanto, impossível avaliar as alterações dos tratamentos promovidas nas condições originais de estruturação. Os dados de condição original, porém, são úteis para se balizar até que ponto os valores
dos atributos físicos poderiam atingir para uma completa
recuperação da estrutura.
Sistemas de rotação de culturas
Os sistemas de rotação de culturas não apresentaram diferenças entre si na densidade de solo (Tabela 3).
Por serem atividades antrópicas, os sistemas de rotação
de culturas mostraram maior densidade do solo que a
floresta em ambas as camadas. No sistema I (trigo/soja),
uma sucessão de culturas com caráter de monocultura,
a densidade de solo foi maior que no sistema II (trigo/
soja e ervilhaca/milho) na camada 0-5 cm. Albuquerque et al. (1995) verificaram que a monocultura trigo/
soja apresentou igualmente maior densidade de solo do
que as seqüências trigo/soja e aveia preta + ervilhaca/
milho e trigo/soja, aveia preta/soja e aveia preta/soja na
camada 0-5 cm. Isso pode ter ocorrido em virtude da
presença de aveia preta nas duas últimas seqüências,
que, em razão do sistema radicular mais desenvolvido,
favorece o restabelecimento de agregados de solo. De
acordo com Reinert (1993), cada espécie cultivada tem
efeito diferenciado sobre a densidade de solo, em virtude dos respectivos sistema radicular e tipo e quantidade
de resíduo vegetal remanescente; assim, podem contribuir ou não para a conservação e restauração da estrutura. A densidade do solo encontrada nos sistemas de
rotação de culturas sugere que não houve indícios de
severa compactação de solo, embora os valores observados na superfície situem-se próximos do valor consi-
derado, por Resende (1995), como crítico para latossolos argilosos, com grau de saturação hídrica abaixo de
50%.
Stone e Silveira (2001), estudando seis diferentes rotações de culturas, verificaram densidade do solo mais
elevada na camada 0-10 cm nas monoculturas e em rotação sem presença de milho ou adubo verde, e Albuquerque et al. (1995) observaram que a monocultura trigo/
soja propiciou maior valor de densidade do solo na camada 1,0-8,6 cm que os demais sistemas de rotação, indicando que a produção de maior quantidade de biomassa contribui para a redução da densidade do solo.
Na Tabela 3 observam-se as diferenças para a densidade do solo entre as camadas de solo dos sistemas de
rotação de culturas estudados. Assim como no presente
trabalho, Spera et al. (2002), estudando sistemas mistos
de produção, em Passo Fundo, RS, observaram menor
valor de densidade do solo na camada 0-5 cm em relação
à camada 10-15 cm. Stone e Silveira (2001), estudando
sistemas de rotação de culturas, não encontraram diferenças entre as médias para esse atributo.
Houve diferenças na porosidade total entre os sistemas de rotação de culturas I e II. Nos sistemas de rotação
de culturas, a porosidade total do solo foi menor que na
Tabela 3 - Valores densidade de solo e de porosidade total, nas camadas de solo 0-5 e 10-15 cm de profundidade, em três sucessões de culturas e em floresta subtropical (Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS, 2004)
Sistema de
rotação
de culturas
Profundidade (cm)
0-2
Rotação I
Rotação II
Rotação III
FST
I x II
I x III
I x FST
II x III
II x FST
III x FST
Rotação I
Rotação II
Rotação III
FST
I x II
I x III
I x FST
II x III
II x FST
III x FST
1,30
1,38
1,25
1,35
1,27
1,36
0,88
1,02
Contraste entre sistemas
**
ns
ns
ns
**
**
ns
ns
**
**
*
**
Porosidade total (m3 m-3)
0,50
0,49
0,52
0,49
0,51
0,48
0,67
0,62
Contraste entre sistemas
**
ns
ns
ns
**
**
ns
ns
**
**
**
**
0-2 x 10-15
Contraste entre
profundidades (P > F)
**
**
**
ns
Contraste entre
profundidades (P > F)
**
**
**
ns
ns = não-significativo; = nível de significância de 5%; ** = nível de significância
de 1%.
Sistemas de rotação de culturas:sucessão I: trigo/soja; sucessão II: trigo/soja e
ervilhaca/milho; sucesão III: trigo/soja, ervilhaca/milho e aveia branca/soja; FST:
floresta subtropical.
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PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.61-68, 2007.
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10-15
Densidade de solo (Mg m-3)
3/9/2007, 18:19
SILVIO TULIO SPERA, HENRIQUE PEREIRA DOS SANTOS, GILBERTO OMAR TOMM E RAINOLDO ALBERTO KOCHHANN
floresta em ambas as camadas (Tabela 3). Por outro lado,
o sistema I mostrou menor porosidade total do que o sistema II na camada 0-5 cm. Albuquerque et al. (1995)
observaram em monocultura trigo/soja menor porosidade total em comparação com as demais rotações estudadas. Stone e Silveira (2001) compararam a porosidade
total para as rotações milho/feijão, milho/feijão e arroz/
feijão, arroz consorciado com calopogônio/feijão, e soja/
trigo/soja/feijão/arroz/feijão; somente no primeiro sistema constataram porosidade total mais elevada na camada 0-10 cm em relação a soja/trigo.
As diferenças de densidade do solo entre as camadas estudadas para todos os sistemas de rotação refletiram-se na porosidade total (Tabela 3). Assim, a porosidade total do solo foi maior na camada 0-5 cm do que
na 10-15 cm, refletindo as alterações na densidade do
solo. Spera et al. (2002) também verificaram, em sistemas mistos de produção, redução da porosidade total
na camada 10-15 cm relação à 0-5 cm. Albuquerque et
al. (1995) e Stone e Silveira (2001) não encontraram
diferença para o valor de porosidade entre as profundidades estudadas; entretanto, no presente estudo o histórico de uso do solo difere das condições dos referidos
trabalhos, pois neste a área foi submetidas ao preparo
com arado e grade por mais de 30 anos, apresentando
evidente pé-de-grade na camada 10-15 cm.
Na floresta foram encontrados os menores valores de
microporosidade em comparação aos sistemas de rotação de culturas estudados e não houve diferenças entre o
valor de microporosidade nos sistemas de rotação de culturas (Tabela 4). Dados similares foram obtidos por Albuquerque et al. (1995), estudando sistemas de rotação
de culturas da mesma região. As seqüências trigo/soja,
ervilhaca/milho e aveia branca/soja apresentaram diferenças para microporosidade entre as camadas estudadas. Nesse caso, a microporosidade foi maior na camada
10-15 cm. Albuquerque et al. (1995) não encontraram,
nos sistemas de rotação de culturas e em floresta, diferenças entre as profundidades para microporosidade.
Ao contrário da microporosidade, na floresta foram
observados maiores valores de macroporosidade em
comparação aos sistemas de rotação de culturas (Tabela 4). Isso demonstra que há melhor distribuição de macroporos em solo sob floresta. Stone e Silveira (2001)
encontraram maior macroporosidade na camada 0-10
cm dos sistemas milho/feijão, milho/feijão e arroz/feijão, e arroz consorciado com calopogônio, e menor na
monocultura soja/trigo. Albuquerque et al. (1995) não
encontraram diferenças para macroporosidade entre sistemas de rotação.
Foram constatadas diferenças de macroporosidade
entre as camadas estudadas dos sistemas de rotação de
culturas (Tabela 4). Isso indica que a macroporosidade
está mais sujeita a mudanças impostas pelo manejo do
que a microporosidade. A macroporosidade foi menor na
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camada 10-15 cm. Resultados similares foram obtidos
por Spera et al. (2002) com sistemas mistos de produção,
no qual a macroporosidade foi menor na camada 10-15
cm. Para floresta, não houve diferença para macroporosidade entre as profundidades estudadas. Albuquerque et
al. (1995) não encontraram diferenças entre as profundidades e entre os sistemas de rotação de culturas para
macroporosidade.
Efeitos no rendimento de culturas
O aumento da densidade do solo e a redução da
porosidade total podem ser considerados como indicadores de degradação estrutural e de presença de compactação; entretanto, maior densidade do solo e menor microporosidade na camada 0-5 cm do PD em comparação aos demais sistemas de manejo (Tabela 1) não
estão afetando negativamente o rendimento de culturas. Trigo, soja e milho tenderam a apresentar maior
rendimento de grãos sob manejos conservacionistas de
solo (Tabela 5). Valores significativamente diferentes
para rendimento ocorreram sob diferentes rotações de
culturas (Tabela 6). Verifica-se que os maiores rendimentos de trigo e de milho foram obtidos em sistemas
de rotação de culturas com duas safras sem milho e
Tabela 4 - Valores de microporosidade e de macroporosidade, nas camadas de solo 0-2 e 10-15 cm de profundidade, em três sucessões de culturas e em floresta subtropical (Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS, 2004)
Sistema de
rotação
de culturas
Profundidade (cm)
0-2
10-15
Microporosidade (m3 m-3)
Rotação I
Rotação II
Rotação III
FST
I x II
I x III
I x FST
II x III
II x FST
III x FST
0,39
0,41
0,39
0,40
0,39
0,40
0,34
0,33
Contraste entre sistemas
ns
ns
ns
ns
**
**
ns
ns
**
**
**
**
Macroporosidade (m3 m-3)
Rotação I
Rotação II
Rotação III
FST
I x II
I x III
I x FST
II x III
II x FST
III x FST
0,12
0,07
0,14
0,09
0,12
0,08
0,33
0,29
Contraste entre sistemas
ns
ns
ns
ns
**
**
ns
ns
**
**
**
**
0-2 x 10-15
Contraste entre
profundidades (P > F)
ns
ns
*
ns
Contraste entre
profundidades (P > F)
**
**
**
ns
ns = não-significativo; = nível de significância de 5%; ** = nível de significância
de 1%.
Sistemas de rotação de culturas:sucessão I: trigo/soja; sucessão II: trigo/soja e
ervilhaca/milho; sucessão III: trigo/soja, ervilhaca/milho e aveia branca/soja: FST:
floresta subtropical.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.61-68, 2007.
3/9/2007, 18:19
EFEITO DE SISTEMAS DE MANEJO EM ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO
Tabela 5 - Rendimento de grãos de culturas (ou biomassa seca) em diferentes sistemas de manejo de solo (Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS, 2004)
Sistema de
manejo de solo
Trigo
Cultura de inverno (safra 2000)
Aveia branca
Ervilhaca*
PD
PCD
PCA
CM
2.565a
2.354bc
2.282c
2.543ab
3.791ns
3.818
3.861
3.739
2.702ns
2.873
2.655
3.357
3.536a
3.250ab
2.948b
3.560a
9.886a
7.551b
7.384b
9.197a
7.235ns
6.490
6.580
7.230
C.V. (%)
13,9
7,1
14,2
11,6
8,6
6,8
Soja
Cultura de verão (safra 2000/2001)
Milho
Sorgo
Médias seguidas das mesmas letras na coluna não diferem entre si pelo teste de Duncan (5%). *Kg ha-1 de biomassa seca.
Tabela 6 - Rendimento de grãos de culturas em diferentes sistemas de rotação de culturas (Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS, 2004)
Sistemas de rotação de culturas
Sistema I (trigo/soja em monocultura)
Sistema II (trigo/soja e ervilhaca/milho)
Sistema III (trigo/soja, ervilhaca/milho e aveia branca/soja)
C.V. (%)
trigo. Derpsch et al. (1986) verificaram maior densidade do solo em plantio direto em comparação com
cultivo mínimo e preparo convencional de solo; porém, os rendimentos de trigo e soja obtidos foram maiores sob plantio direto. Assim, concluíram que o nãorevolvimento do solo, combinado com a rotação de
culturas é eficiente na redução dos efeitos da compactação de solos.
A densidade do solo ainda tem sido o atributo mais
usado para avaliação de compactação de solos em ensaios sobre manejo de solo, mas, por ser uma medida estática, não é sensível para detectar a condição física do solo.
Normalmente esse parâmetro é afetado por uma combinação tanto de fatores de ponderação desconhecida quanto
de natureza mecânica, biológica, física e química, além
de oferecer valor único para diferentes condições estruturais do solo (McGARRY et al., 2000). Assim, fatores
de outra natureza podem estar afetando mais o rendimento
de culturas do que os atributos físicos.
Trigo
Soja
Milho
1.612c
1.817b
2.014a
3.036b
3.421a
3.424a
8.176b
8.733a
13,9
11,6
8,6
Conclusões
O sistema plantio direto apresentou maior densidade
de solo que os demais sistema de manejo e que a floresta
na camada superficial.
O solo sob floresta apresentou maiores porosidade
total e macroporosidade e menores densidade do solo e
microporosidade que os sistemas de manejo de solo e os
sistemas de rotação de culturas.
A densidade de solo foi menor na camada 0-5 cm do
que na camada 10-15 cm na maioria dos sistemas de
manejo de solo e de rotação de culturas, enquanto para a
porosidade total e macroporosidade ocorreu o inverso.
A densidade do solo sob rotação de culturas foi menor
que sob monocultura trigo/soja (Sistema I), indicando efeito
benéfico dessa prática agrícola sobre a estrutura de solo.
O PD, apesar de apresentar maior densidade do solo
que os demais sistemas de manejo na camada superficial, não induziu redução no rendimento de grãos.
Referências
ALBUQUERQUE, J. A.; REINERT, D. J.; FIORIN, J. E.; RUEDELL,
J.; PETRERE, C.; FONTINELLI, F. Rotação de Culturas e Sistemas de
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EFEITO DE PASTAGENS SOBRE O NÍVEL DE FERTILIDADE DO SOLO EM
SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GRÃOS SOB PLANTIO DIRETO APÓS DEZ ANOS
Efeito de pastagens sobre o nível de fertilidade do solo em sistemas de
produção de grãos sob plantio direto após dez anos
Henrique Pereira dos Santos1, Renato Serena Fontaneli2,
Silvio Tulio Spera3 e Gilberto Omar Tomm4
Resumo - O objetivo do presente estudo foi avaliar a fertilidade de um Latossolo Vermelho Distrófico típico, em Passo Fundo,
RS, dez anos após o estabelecimento de quatro sistemas de produção de grãos e de pastagens sob plantio direto: sistema I -– trigo/
soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho; sistema II – trigo/soja, aveia branca/soja e pastagem de aveia preta + ervilhaca/milho;
sistema III – pastagem perene de estação fria (festuca + trevo branco + trevo vermelho + cornichão); sistema IV – pastagem perene
de estação quente (pensacola + aveia preta + azevém + trevo branco + trevo vermelho + cornichão); e sistema V – alfafa para feno,
que foi acrescentado como tratamento adicional, com repetições em áreas contíguas ao experimento, em 1994. As áreas sob os
sistemas III, IV e V retornaram ao sistema I a partir do verão de 1996. Os sistemas I, II, III, IV e V elevaram o nível de matéria
orgânica e os teores de P extraível e de K trocável, principalmente na camada de solo 0-5 cm. Nos sistemas I, II, III, IV e V, os
níveis de matéria orgânica e os teores de Al trocável, P extraível e de K trocável diminuíram da camada 0-5 cm para a camada 1520 cm, enquanto para os valores de pH e de Ca e Mg trocáveis ocorreu o inverso.
Palavras-chave: rotação de culturas, integração lavoura-pecuária, pastagem anual, pastagem perene.
Effect of pastures on soil fertility in crop production systems under no-tillage after ten years
Abstract - The objective of this study was to assess the soil fertility on a typical dystrophic Red Latosol (Typic Haplorthox)
located in Passo Fundo, State of Rio Grande do Sul, Brazil, ten years after the introduction of mixed production systems, using
production systems integrating grain production with pastures under no-tillage. Four production systems were evaluated: system
I (wheat/soybean, white oat/soybean, and common vetch/corn); system II (wheat/soybean, white oat/soybean, and grazed black
oat + grazed common vetch/corn); system III [perennial-cool season pastures (fescue + white clover + red clover + birdsfoot
trefoil)]; system IV [perennial-warm season pastures (bahiagrass + black oat + rye grass + white clover + red clover + birdsfoot
trefoil)]; and system V (alfalfa as hay crop), which was established in an adjacent area in 1994. The areas under systems III, IV, and
V returned to system I after the summer of 1996. The systems I, II, III, IV e V increased the soil contents of organic matter,
extractable P, and exchangeable K, mainly at 0-5 cm depth. The systems I, II, III, IV e V organic matter, exchangeable Al,
extractable P, and exchangeable K levels decreased from the 0-5 cm layer to the 20-30 cm layer, while the opposite occurred with
pH and exchangeable Ca and Mg contents.
Key words: crop rotation, ley farming, annual pasture, perennial pasture.
1
Engenheiro Agrônomo, Dr., Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Trigo (Embrapa Trigo), Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo
(RS). E-mail: [email protected]. Bolsista CNPq-PQ.
2
Engenheiro Agrônomo, Ph.D., Embrapa Trigo, e Professor Titular da UPF-FAMV. E-mail: [email protected]. Bolsista CNPq-PQ.
3
Engenheiro Agrônomo, M.Sc., Embrapa Trigo. Doutorando do Curso de Sistema de Produção da UPF/FAMV. E-mail: [email protected]
4
Engenheiro Agrônomo, Ph.D., Embrapa Trigo. E-mail: [email protected]
Recebido para publicação em 24/03/2006
69
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HENRIQUE PEREIRA DOS SANTOS, RENATO SERENA FONTANELI, SILVIO TULIO SPERA E GILBERTO OMAR TOMM
Introdução
O conjunto de práticas que constituem a agricultura
conservacionista representa notável progresso no desenvolvimento agrícola das últimas duas décadas no Brasil.
A redução ou eliminação do revolvimento para preservar
os resíduos vegetais sobre a superfície do solo, a ampliação da biodiversidade por meio de rotação de culturas e
cultivos múltiplos, o uso de plantas de cobertura, a integração lavoura-pecuária e os sistemas agroflorestais constituem os pilares de sustentação de um modelo holístico
de produção, principalmente pelos seus benefícios na
proteção do solo, da água, do ar e da biota em terras cultivadas.
No contexto da agricultura conservacionista, uma das
modalidades mais eficazes para garantir a sustentabilidade e combater os problemas da degradação ambiental
é o plantio direto, que hoje ocupa aproximadamente 70
milhões de hectares em todo o mundo. Nesse sistema de
manejo de solo, tem sido observado acúmulo de matéria
orgânica, Ca, Mg, P e K, principalmente na camada superficial do solo (SÁ, 1993; DE MARIA et al., 1999;
MATOWO et al., 1999; SANTOS e TOMM, 1999; SILVEIRA e STONE, 2001). Ademais, tem sido verificada,
igualmente na camada superficial, acidificação do solo
(SALET, 1994; PAIVA et al., 1996).
Nesse contexto, a integração lavoura-pecuária sob
plantio direto destaca-se como uma estratégia promissora para desenvolver sistemas de produção menos intensivos no uso de insumos e mais sustentáveis a longo prazo.
Tem sido relatado que o uso de pastagens perenes pode
beneficiar as culturas produtoras de grãos subseqüentes,
em razão da melhoria da fertilidade do solo, por meio da
reciclagem de nutrientes, adicionando N ao solo via leguminosas (GIACOMINI et al., 2003).
Este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de
sistemas de produção de grãos e de pastagens anuais de
inverno e pastagens perenes, sob sistema plantio direto,
após dez anos de cultivo, sobre os atributos de fertilidade
de solo.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no Centro Nacional de
Pesquisa de Trigo (Embrapa Trigo), município de Passo
Fundo, RS (longitude 28º 15’ S, latitude 52º 24’ W e altitude 684 m), no período de 1993 a 2002, em Latossolo
Vermelho Distrófico típico (STRECK et al., 2002), textura muito argilosa e relevo suave-ondulado.
Os tratamentos consistiram em quatro sistemas de produção integrando culturas de grãos: aveia branca (Avena
sativa L.), milho (Zea mays L.), soja (Glycine max (L.)
Merril) e trigo (Triticum aestivum L.); forrageiras anuais
de inverno: aveia preta (Avena strigosa Schreb.), azevém
(Lolium multiflorum L.) e ervilhaca (Vicia sativa L.); e
70
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forrageiras perenes: alfafa (Medicago sativa L.), cornichão
(Lotus corniculatus L.), festuca (Festuca arundinacea
Schreb.), pensacola (Paspalum notatum Flügge), trevo
branco (Trifolium repens L.) e trevo vermelho (Trifolium
pratense L.). Compararam-se os seguintes sistemas: sistema I – trigo/soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho; sistema II – trigo/soja, aveia branca/soja e pastagem de aveia
preta + ervilhaca/milho; sistema III – pastagem perene de
estação fria (festuca + trevo branco + trevo vermelho +
cornichão); sistema IV – pastagem perene de estação quente
(pensacola + trevo branco + trevo vermelho + cornichão);
e sistema V – alfafa para feno, acrescentado como tratamento adicional, com repetições em áreas contíguas ao
experimento, em 1994. As áreas sob os sistemas III, IV e
V retornaram ao sistema I, a partir do verão de 1996. Todas as espécies, tanto no inverno como no verão, foram
estabelecidas sob plantio direto.
Em abril de 1993, antes da semeadura das culturas de
inverno, foram coletadas amostras de solo em cada parcela, à profundidade de 0-20 cm, e os valores médios
observados foram: argila = 480 g kg-1; pH = 6,0; Al trocável = 0,5 mmolc dm-3; Ca + Mg trocáveis = 102,8 mmolc
dm-3; matéria orgânica = 23,0 g kg-1; P extraível = 5,3
mg kg-1; e K trocável = 60 mg kg-1. Três anos antes da
instalação do experimento, foi efetuada calagem com
calcário dolomítico, baseada no método SMP (pH 6,0).
As parcelas semeadas com alfafa foram corrigidas novamente com 6,0 t ha-1 de calcário (PRNT 100%), para elevar o pH para 6,5, aplicadas em duas vezes: metade antes
da aração (arado de discos) e metade antecedendo a gradagem (grade de disco). Um fragmento de floresta subtropical com araucárias, adjacente ao experimento, também foi amostrado, com o mesmo número de repetições,
e admitido como referencial do estado de fertilidade do
solo antes de este ser submetido às alterações antrópicas.
A adubação de manutenção foi baseada na média dos
valores observados nas análises químicas da área experimental. Amostras de solo foram coletadas após cada três
anos, depois da colheita das culturas de verão. Em maio
de 2002, após a colheita das culturas de verão, foram
coletadas amostras de solo compostas de duas subamostras por parcela, em cada uma das seguintes profundidades: 0-5 cm, 5-10 cm, 10-15 cm e 15-20 cm. As análises
(pH em água, P extraível, K trocável, matéria orgânica,
Al trocável e Ca + Mg trocáveis)seguiram os métodos
descritos por Tedesco et al. (1985).
O delineamento experimental adotado foi em blocos
ao acaso, com quatro repetições e parcelas de 400 m2. Os
diversos sistemas de produção integrando forrageiras
anuais de inverno e forrageiras perenes com culturas produtoras de grãos foram comparados para cada atributo
de fertilidade de solo em uma determinada profundidade
de amostragem. As profundidades de amostragem de solo
foram comparadas em cada sistema de produção estudado. Todas as comparações foram realizadas por meio de
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EFEITO DE PASTAGENS SOBRE O NÍVEL DE FERTILIDADE DO SOLO EM
SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GRÃOS SOB PLANTIO DIRETO APÓS DEZ ANOS
contrastes com um grau de liberdade (STEEL e TORRIE, 1980). A significância dos contrastes foi dada pelo
teste F, levando-se em conta o desdobramento dos graus
de liberdade do erro.
Resultados e discussão
Após quatro anos de cultivo, o atributo pH do solo
(Tabela 1), para todas as camadas e sistemas de produção, apresentou valores absolutos menores do que os verificados nas camadas estudadas (0-5 cm: 5,96; 5-10 cm:
6,29; 10-15 cm: 6,48; e 15-20 cm: 6,27) (SANTOS et al.,
2001). Em todos os sistemas estudados, observou-se perda gradual do efeito residual da calagem, que foi realizada antes do estabelecimento deste experimento. Em todos os sistemas, houve acidificação da camada 0-5 cm,
requerendo nova calagem após dez anos, para possibilitar o cultivo eficiente de leguminosas (SOCIEDADE,
2004). Resultados semelhantes foram obtidos por Santos
e Tomm (1996), por Paiva et al. (1996) e por Ciotta et al.
(2002). A nitrificação dos nitrogenados amoniacais ou
amídicos provavelmente contribuíram para a acidifica-
Tabela 1 - Valores médios de pH em água e de alumínio trocável, avaliados após as culturas de verão de 2002, em quatro camadas de solo e para
diferentes sistemas de produção
Sistema de
produção
Sistema
Sistema
Sistema
Sistema
Sistema
Floresta
I
II
III
IV
V
(F)
I x II
I x III
I x IV
IxV
IxF
II x III
II x IV
II x V
II x F
III x IV
III x V
III x F
IV x V
IV x F
VxF
Sistema
Sistema
Sistema
Sistema
Sistema
Floresta
I x II
I x III
I x IV
IxV
IxF
II x III
II x IV
II x V
II x F
III x IV
III x V
III x F
IV x V
IV x F
VxF
I
II
III
IV
V
(F)
Profundidade (cm)
0-5
5-10
10-15
15-20
——————— pH (água 1:1) ———————
5,54
5,72
5,98
5,97
5,58
5,48
5,97
6,06
5,43
5,51
5,92
6,13
5,20
5,56
6,10
5,98
5,58
5,83
6,06
6,04
4,63
4,73
4,50
4,43
Contrastes entre sistemas
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
*
**
**
ns
ns
ns
**
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
*
**
ns
ns
ns
ns
**
ns
ns
ns
**
ns
*
**
**
ns
ns
ns
**
ns
*
*
**
**
*
**
——————— Al (mmolc dm-3 ) ———————
1,03
0,48
0,16
0,27
1,92
1,21
0,32
0,16
2,90
2,52
0,75
0,63
3,54
2,40
0,56
0,70
1,50
1,46
0,91
2,13
11,30
17,50
27,95
30,63
Contrastes entre sistemas
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
*
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
**
**
**
**
0-5
x
5-10
0-5
x
10-15
0-5
x
15-20
5-10
x
10-15
5-10
x
15-20
10-15
x
15-20
——————— Contraste entre profundidades (P > F) ————————
ns
**
**
*
*
ns
ns
**
**
**
**
ns
ns
**
**
**
**
*
**
**
**
**
**
ns
*
**
**
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
——————— Contrastes
**
**
ns
**
ns
**
ns
**
ns
ns
ns
**
entre profundidades (P > F) ———————
**
ns
ns
ns
**
*
**
ns
**
**
**
ns
**
*
*
ns
ns
ns
ns
ns
**
*
*
ns
ns = não significativo; * = nível de significância de 5%; ** = nível de significância de 1%. I: trigo/soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho; II: trigo/soja, aveia branca/
soja e pastagem de aveia preta + ervilhaca/milho; III: trigo/soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho após pastagem perene de estação fria; IV: trigo/soja, aveia branca/
soja e ervilhaca/milho após pastagem perene de estação quente; V: trigo/soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho após alfafa; e F: floresta subtropical.
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HENRIQUE PEREIRA DOS SANTOS, RENATO SERENA FONTANELI, SILVIO TULIO SPERA E GILBERTO OMAR TOMM
ção da camada superficial de solo, principalmente quando se consideraram longos períodos de cultivo sem aplicação de calcário ou quando elevada dose de fertilizante
foi aplicada (PAIVA et al., 1996; FRANCHINI et al.,
2000; ERNANI et al., 2001).
Apenas na camada superficial houve diferença significativa entre os sistemas estudados para os valores de
pH do solo. Os sistemas II (trigo/soja, aveia branca/soja
e aveia preta + ervilhaca/milho) e V (trigo/soja, aveia
branca/soja e ervilhaca/milho após alfafa) mostraram
valores de pH superiores aos dos sistemas III (trigo/soja,
aveia branca/soja e ervilhaca/milho após pastagem perene de estação fria) e IV (trigo/soja, aveia branca/soja e
ervilhaca/milho após pastagem perene de estação quente) na camada 0-5 cm. Provavelmente, as leguminosas
(cornichão, trevo branco e trevo vermelho) utilizadas para
pastagem perene de estação fria ou de estação quente,
nos sistemas III e IV, podem ter perdido mais Ca trocável
do que a ervilhaca dos sistemas II e V, de 1993 a 2002.
Por sua vez, a floresta subtropical, que ainda preserva a
condição edáfica original, apresentou valor de pH menor
do que os de todos os sistemas na maioria das camadas
estudadas. O valor de pH do solo nos sistemas estudados, exceto no sistema II, aumentou gradativamente da
camada 0-5 cm para a camada 10-15 cm. Provavelmente, deva ter ocorrido nitrificação da camada superficial
pelo não – revolvimento do solo. Santos e Tomm (1996),
estudando durante 4 anos e meio os sistemas de rotação
de culturas para trigo sob plantio direto, em Latossolo
Bruno álico do Paraná, observaram que o pH aumentou
da camada 0-5 cm (4,8) para a camada 15-20 cm (5,2).
Parte da resposta positiva das culturas à calagem pode
ocorrer pelo aumento de absorção de N pelas plantas,
tendo em vista que a diminuição da acidez proporciona
ambiente mais favorável à atividade de microrganismos
decompositores liberando N e outros nutrientes (EDMEADES et al., 1981).
O valor de Al trocável do solo (Tabela 1), em todas as
camadas amostradas e sistemas de produção estudados,
foi mais elevado do que na avaliação de maio de 1998
(0-5 cm: 0,54; 5-10 cm: 0,09; 10-15 cm: 0,00; e 15-20
cm: 0,14 mmolc dm-3) (SANTOS et al., 2001). O aumento no teor de Al é conseqüência da acidificação. Somente
na primeira camada avaliada houve diferença significativa entre os sistemas estudados. O valor de Al trocável do
solo no sistema IV (trigo/soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho após pastagem perene de estação quente) foi
maior do que o obtido no sistema I (trigo/soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho) na camada 0-5 cm. Provavelmente, as leguminosas (cornichão, trevo branco e trevo
vermelho) utilizadas para pastagem perene de estação
quente, no sistema IV, podem ter perdido mais Ca trocável do que a ervilhaca do sistema I, de 1993 a 2002, o
que alteraria o valor de Al. Para as demais camadas, não
houve diferença para o valor de Al trocável entre os sis72
069a078_arquivo-10-pastagens 10 anos.pmd 72
temas estudados. Santos e Tomm (1998; 1999), Franchini et al. (2000) e Santos et al. (2003), usando sistemas de
rotação de culturas, em Latossolo Bruno álico, em Latossolo Roxo distrófico e em Latossolo Vermelho Distrófico típico, sob plantio direto, respectivamente, não
observaram diferença significativa para o valor de Al trocável nas camadas estudadas. Ademais, a floresta subtropical apresentou Al trocável do solo superior ao de todos
os sistemas estudados, por não ter recebido calagem.
Nos cinco sistemas de produção, exceto no sistema
V, foram observadas diferenças significativas no nível
de Al trocável entre as profundidades de amostragem de
solo. Nos sistemas I, II, III e IV, o valor de Al trocável do
solo diminuiu da camada 0-5 cm para a camada 10-15
cm. Esses valores de Al estão relacionados aos de pH.
Além disso, o sistema IV favoreceu maior acidificação,
pois há relação entre o aumento do nível de Al trocável e
a diminuição do pH. Santos e Tomm (1996) obtiveram
dados semelhantes somente em um sistema de rotação
de culturas para trigo sob plantio direto, em Latossolo
Bruno álico, no Paraná (trigo/soja: de 10,4 mmolc dm-3
para 4,9 mmolc dm-3). Em trabalho conduzido por Sidiras
e Pavan (1985), usando sistemas de rotação de culturas
incluindo trigo sob plantio direto em Latossolo Roxo distrófico, em Rolândia, PR, e em Terra Roxa Estruturada,
em Londrina, PR, os resultados foram inversos, ou seja,
houve incremento no teor de Al trocável da camada 0-10
cm para a 10-20 cm.
Nesta avaliação e em todos os sistemas de produção
estudados, houve diminuição do valor de pH e aumento
do teor de Al trocável na camada 0-5 cm, em relação ao
observado em maio de 1998, cujos valores foram de 5,956,30 e 0,13-0,63 mmolc dm-3, respectivamente (SANTOS
et al., 2001), caracterizando acidificação nos primeiros
centímetros do solo. Isso pode ser atribuído à aplicação
de fertilizantes nitrogenados em todos os sistemas e à
mineralização de resíduos culturais na superfície do solo
(SALET, 1994).
Os valores de Ca e Mg trocáveis do solo (Tabela 2),
em todas as camadas, são considerados elevados para o
crescimento e desenvolvimento de culturas tradicionais
da região (SOCIEDADE, 2004). Entretanto, os valores
de Ca + Mg estiveram abaixo do observado quatro anos
antes, em todas as camadas estudadas ( 0-5 cm: 92 mmolc
dm-3; 5-10: 95 mmolc dm-3; 10-15 cm: 99 mmolc dm-3; e
15-20 cm: 94 mmolc dm-3) (SANTOS et al., 2001). A
aplicação de calcário dolomítico, antes da instalação do
experimento, forneceu Ca e Mg em quantidades adequadas para que ultrapassassem o nível crítico exigido pelas
espécies vegetais dos sistemas estudados, que são 40 e
10 mmolc dm-3, respectivamente (SOCIEDADE, 2004).
O sistema I superou o sistema II em teor de Ca trocável do solo na camada 0-5 cm. Provavelmente aveia preta + ervilhaca, no sistema I, podem ter retirado mais Ca
via pastagem do que a ervilhaca do sistema I, que perma-
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.69-78, 2007.
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EFEITO DE PASTAGENS SOBRE O NÍVEL DE FERTILIDADE DO SOLO EM
SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GRÃOS SOB PLANTIO DIRETO APÓS DEZ ANOS
neceu como cobertura de inverno, de 1993 a 2002. O sistema V apresentou teor de Ca trocável mais elevado do
que o dos sistemas I, II, III e IV nas camadas 0-5 cm, 510 cm e 10-15 cm. Isso pode ser atribuído à aplicação de
calcário, em 1994, no sistema V, o que não foi efetuado
nos demais sistemas. Assim, o sistema V foi superior ao
sistema II para teor de Mg trocável do solo nas camadas
0-5 cm, 5-10 cm e 10-15 cm. Além disso, o sistema V
apresentou teor de Mg trocável mais elevado do que o do
sistema I na camada 5-10 cm, provavelmente em razão
da calagem em 1994. Resultados semelhantes foram ob-
tidos por Franchini et al. (2000), em estudos de sistemas
de rotação de culturas em dois tipos de solo, no Paraná.
Na floresta subtropical, evidentemente, os teores de Ca e
de Mg trocáveis foram menores em relação aos de todos
os sistemas de produção na maioria das camadas estudadas. Silveira e Stone (2001), estudando sistemas de rotação de culturas, em Latossolo Vermelho distrófico perférrico, durante cinco anos, observaram teores de Ca +
Mg trocáveis mais elevados nos dois sistemas soja/trigo
(29,7 mmolc dm-3) e soja/trigo/soja/feijão/arroz/feijão
(27,2 mmolc dm-3), em comparação com os sistemas ar-
Tabela 2 - Valores médios de cálcio e magnésio trocáveis, avaliados após as culturas de verão de 2002, em quatro camadas de solo e para diferentes
sistemas de produção
Sistema de
produção
Profundidade (cm)
0-5
5-10
10-15
15-20
0-5
x
5-10
0-5
x
10-15
0-5
x
15-20
5-10
x
10-15
5-10
x
15-20
10-15
x
15-20
——————— Ca (mmolc dm-3) ———————
——————— Contrastes entre profundidades (P > F) ———————
49
53
58
55
*
**
**
**
ns
ns
43
48
55
54
*
**
**
**
**
ns
48
50
58
59
ns
**
**
**
**
ns
45
49
58
56
*
**
**
**
**
ns
59
63
65
61
ns
*
ns
ns
ns
ns
34
23
11
7
*
**
**
ns
*
ns
Contrastes entre sistemas
I x II
*
ns
ns
ns
I x III
ns
ns
ns
ns
I x IV
ns
ns
ns
ns
IxV
**
**
*
ns
IxF
**
**
**
**
II x III
ns
ns
ns
ns
II x IV
ns
ns
ns
ns
II x V
**
**
**
ns
II x F
*
**
**
**
III x IV
ns
ns
ns
ns
III x V
**
**
*
ns
III x F
**
**
**
**
IV x V
**
**
*
ns
IV x F
**
**
**
**
VxF
**
**
**
**
——————— Mg (mmolc dm-3) ———————
——————— Contrastes entre profundidades (P > F) ———————
Sistema I
29
30
31
33
ns
*
**
ns
*
ns
Sistema II
27
28
32
31
ns
**
**
*
*
ns
Sistema III
29
31
36
37
ns
**
**
**
**
ns
Sistema IV
30
31
36
35
ns
**
**
**
**
ns
Sistema V
34
36
37
37
ns
ns
ns
ns
ns
ns
Floresta (F)
26
14
9
6
*
**
**
ns
ns
ns
Contrastes entre sistemas
I x II
ns
ns
ns
ns
I x III
ns
ns
ns
ns
I x IV
ns
ns
ns
ns
IxV
ns
*
ns
ns
IxF
ns
**
**
**
II x III
ns
ns
ns
*
II x IV
ns
ns
ns
ns
II x V
**
**
*
ns
II x F
ns
**
**
**
III x IV
ns
ns
ns
ns
III x V
ns
*
ns
ns
III x F
ns
**
**
**
IV x V
ns
ns
ns
ns
IV x F
ns
**
**
**
VxF
*
**
**
**
ns = não significativo; * = nível de significância de 5%; ** = nível de significância de 1%. I: trigo/soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho; II: trigo/soja, aveia branca/
soja e pastagem de aveia preta + ervilhaca/milho; III: trigo/soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho após pastagem perene de estação fria; IV: trigo/soja, aveia branca/
soja e ervilhaca/milho após pastagem perene de estação quente; V: trigo/soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho após alfafa; e F: floresta subtropical.
Sistema
Sistema
Sistema
Sistema
Sistema
Floresta
I
II
III
IV
V
(F)
73
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.69-78, 2007.
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HENRIQUE PEREIRA DOS SANTOS, RENATO SERENA FONTANELI, SILVIO TULIO SPERA E GILBERTO OMAR TOMM
roz/feijão (22,6 mmolc dm-3) e arroz consorciado com
calopogônio/feijão (22,4 mmolc dm-3) na camada 0-10 cm.
Em todos os sistemas de produção, exceto no sistema
V e na floresta subtropical, foram verificadas diferenças
significativas para a maioria das profundidades de amostras quanto aos teores de Ca e Mg trocáveis do solo, com
exceção das duas camadas mais profundas. Nos sistemas
I, II, III e IV, os teores de Ca e Mg trocáveis aumentaram
da camada 0-5 cm para a camada 10-15 cm, enquanto
para floresta subtropical ocorreu o inverso. Apesar, desses sistemas serem conduzidos sob plantio direto, provavelmente houve maiores perdas desses elementos químicos pela enxurrada na camada superficial do que nas demais camadas. Santos e Tomm (1996), estudando sistemas de rotação de culturas para trigo, em Latossolo Bruno álico, após 4 anos e meio no Paraná, nas mesmas profundidades, obtiveram dados semelhantes para o teor de
Ca + Mg trocável (de 70,0 para 85,9 mmolc dm-3). Por
outro lado, Silveira e Stone (2001), avaliando sistemas
de rotação de culturas para arroz e feijão, no estado de
Goiás, observaram valores de Ca + Mg que decresciam
de 25,4 para 24,8 mmolc dm-3, respectivamente, na camada 0-10 cm em relação aos da camada 10-20 cm. No
presente estudo, o sistema V não diferiu entre as profundidades de amostragem para o teor de Mg trocável.
O valor de matéria orgânica do solo (Tabela 3), em
todas as camadas e sistemas de produção em 2002, foi
superior ao valor registrado quatro anos antes ( 0-5 cm:
32 g kg-1; 5-10 cm: 25 g kg-1; 10-15 cm: 23 g kg-1; e 15-20
cm: 24 g kg-1) (SANTOS et al., 2001). Isso, pode ser devido à menor taxa de decomposição dos resíduos vegetais, o que aumenta a fertilidade de solos ácidos com cargas dependentes de pH associado à matéria orgânica. Na
maioria dos estudos sob plantio direto, tem sido observado acúmulo de matéria orgânica nas camadas próximas à
superfície do solo. Por sua vez, esse acúmulo de matéria
orgânica no sistema plantio direto aumenta a força iônica
da solução de solo na camada superficial (SALET, 1994).
A menor atividade iônica do alumínio explica, em parte,
a não – ocorrência de toxicidade de alumínio.
Nos sistemas de produção estudados, em duas das
quatro camadas houve diferenças significativas entre os
níveis médios de matéria orgânica do solo. O sistema V
foi superior aos sistemas II e IV para o nível de matéria
orgânica nas camadas 10-15 cm e 15-20 cm. Além disso,
o sistema V apresentou nível mais elevado de matéria
orgânica do que o sistema III na camada 15-20 cm. Provavelmente, a aração e a gradagem por ocasião da aplicação de calcário, no sistema V, para o cultivo da alfafa,
uniformizou o nível de matéria orgânica do solo, tornando o mesmo mais elevado nessas camadas de solo. Santos et al. (2003), estudando sistemas de produção de grãos
com pastagens anuais de inverno, no mesmo tipo de solo
do presente ensaio, verificaram que o nível de matéria
orgânica do sistema trigo/soja, pastagem de aveia preta +
74
069a078_arquivo-10-pastagens 10 anos.pmd 74
ervilhaca/soja e pastagem de aveia preta + ervilhaca/milho (36 g kg-1) e do sistema trigo/soja, pastagem de aveia
preta/soja e pastagem de aveia preta/soja (29 g kg-1) foi
superior ao do sistema trigo/soja e pastagem de aveia preta
+ ervilhaca/milho (32 e 27 g kg-1) nas camadas 0-5 cm e
5-10 cm, respectivamente. Pelo observado, com o passar
dos anos, as pastagens perenes de estação fria e de estação quente, juntamente com a alfafa para feno, tornaramse semelhantes, em valores de matéria orgânica, aos sistemas de produção de grãos ou com pastagens anuais de
inverno na maioria das camadas estudadas. Todavia, houve, em todos os sistemas estudados, acúmulo de matéria
orgânica, principalmente na camada 0-5 cm. Por sua vez,
a floresta subtropical foi superior a todos os sistemas estudados para o nível de matéria orgânica na camada 0-5
cm. Além disso, a floresta subtropical apresentou nível
de matéria orgânica mais elevado do que o sistema II na
camada 5-10 cm.
Foram observadas diferenças no nível de matéria orgânica na maioria das camadas de solo em todos sistemas de produção e na floresta subtropical. O nível de
matéria orgânica do solo diminuiu da camada superficial
para a camada mais profunda. Como todos os sistemas
foram conduzidos sob plantio direto, exceto o sistema V,
que foi preparado convencionalmente para incorporação
de calcário, em 1994, ao acumular resíduo vegetal na
superfície, apresentaram maior nível de matéria orgânica
nessa camada em relação às demais. Resultado semelhante entre comportamento dos níveis de matéria orgânica
da camada 0-5 cm para a camada 15-20 cm foram obtidos por Sá (1993), de 53 para 35 g kg-1, por Santos e
Tomm (1999), de 72-74 para 69-71 g kg-1, e por Santos et
al. (2003), de 32-36 para 23-24 g kg-1, em sistemas de
rotação de culturas para trigo sob plantio direto. A manutenção do nível de matéria orgânica em valores mais elevados apenas na camada superficial do solo decorre do
acúmulo de resíduos vegetais sobre a superfície do solo
sob plantio direto, resultante da ausência de incorporação física destes por meio do revolvimento, que é praticado no preparo convencional de solo, a qual diminui a
taxa de mineralização. Resultados similares foram obtidos por Bayer e Mielniczuk (1997).
O teor de P extraível do solo (Tabela 3) nas camadas
0-5 cm e 5-10 cm, em todos os sistemas estudados, foi
superior ao valor considerado crítico (9,0 mg kg-1), nesse
tipo de solo, para crescimento e desenvolvimento de culturas tradicionais (SOCIEDADE, 2004). O teor de P na
floresta subtropical foi inferior a esse nível, atestando a
melhoria advinda de fertilizantes. O teor de P extraível
do solo em todos os sistemas estudados aumentou nas
camadas 0-5 cm e 5-10 cm em relação ao teor medido
em 1998, cujos valores foram 15,3, e 8,1 mg kg-1, respectivamente (SANTOS et al., 2001). Conforme tem sido
observado, o plantio direto provoca alterações nas propriedades químicas do solo, as quais, por sua vez, refle-
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EFEITO DE PASTAGENS SOBRE O NÍVEL DE FERTILIDADE DO SOLO EM
SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GRÃOS SOB PLANTIO DIRETO APÓS DEZ ANOS
tem-se na fertilidade e na eficiência de uso de nutrientes
pelas espécies (SÁ, 1993; PAIVA et al., 1996). A rotação
de culturas tem importante papel na ciclagem de nutrientes, uma vez que as espécies vegetais diferem entre si no
que se refere à quantidade e à qualidade de resíduos fornecidos, à eficiência de absorção de íons e à exploração
de diferentes profundidades de solo pelo sistema radical
(MENGEL e KIRKBY, 1979).
Houve diferenças significativas entre os sistemas de
produção estudados para o valor do P extraível do solo
nas camadas 0-5 cm e 5-10 cm. O teor de P extraível do
solo foi maior nos sistemas I e V do que no sistema III na
camada 0-5 cm. Além disso, o sistema V foi superior ao
sistema IV na mesma camada. Por sua vez, o sistema II
apresentou maior teor de P extraível do solo do que os
sistemas III e IV nas camadas 0-5 cm e 5-10 cm. Provavelmente, houve mais acúmulo de P nos solos, nos sistemas I e II, que vinham sendo adubados (adubação de
manutenção) duas vezes ao ano, desde 1993, do que os
sistemas III e IV, com somente uma vez ao ano. A partir
do verão de 1996/97, todos os sistemas foram adubados
com a mesma quantidade de fertilizante. Resultados si-
Tabela 3 - Valores médios de matéria orgânica e de fósforo extraível, avaliados após as culturas de verão de 2002, em quatro camadas de solo e para
diferentes sistemas de produção
Sistema de
produção
Sistema
Sistema
Sistema
Sistema
Sistema
Floresta
I
II
III
IV
V
(F)
I x II
I x III
I x IV
IxV
IxF
II x III
II x IV
II x V
II x F
III x IV
III x V
III x F
IV x V
IV x F
VxF
Sistema
Sistema
Sistema
Sistema
Sistema
Floresta
I x II
I x III
I x IV
IxV
IxF
II x III
II x IV
II x V
II x F
III x IV
III x V
III x F
IV x V
IV x F
VxF
I
II
III
IV
V
(F)
Profundidade (cm)
0-5
5-10
10-15
15-20
———— Matéria orgânica (g kg-1) —————
44
32
28
28
44
31
28
27
45
33
29
27
44
31
28
27
46
34
31
30
58
36
30
26
Contrastes entre sistemas
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
*
*
**
*
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
*
**
ns
ns
ns
ns
ns
*
*
**
ns
ns
ns
**
ns
ns
ns
——————— P (mg kg-1) ———————
30,3
16,5
6,3
4,5
34,0
21,2
6,9
5,0
21,2
12,2
6,5
4,5
23,4
12,0
5,3
4,3
34,5
16,9
7,1
4,6
6,3
3,4
2,6
2,0
Contrastes entre sistemas
ns
ns
ns
ns
*
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
*
**
**
**
ns
ns
**
**
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
*
**
ns
ns
ns
ns
**
ns
ns
ns
**
ns
*
**
**
ns
ns
ns
**
ns
ns
**
**
**
**
**
0-5
x
5-10
0-5
x
10-15
0-5
x
15-20
5-10
x
10-15
5-10
x
15-20
10-15
x
15-20
——————— Contrastes
**
**
**
**
**
**
**
**
**
**
*
**
entre profundidades (P > F) ———————
**
**
**
ns
**
**
**
ns
**
*
**
ns
**
**
**
ns
**
**
**
*
**
ns
ns
ns
——————— Contrastes
**
**
**
**
**
**
**
**
**
**
**
**
entre profundidades (P > F) ———————
**
**
**
ns
**
**
**
ns
**
*
**
ns
**
**
**
ns
**
**
**
ns
**
ns
*
ns
ns = não significativo; * = nível de significância de 5%; ** = nível de significância de 1%. I: trigo/soja, aveiabranca/soja e ervilhaca/milho; II: trigo/soja, aveia branca/
soja e pastagem de aveia preta + ervilhaca/milho; III: trigo/soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho após pastagem perene de estação fria; IV: trigo/soja, aveia branca/
soja e ervilhaca/milho após pastagem perene de estação quente; V: trigo/soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho após alfafa; e F: floresta subtropical.
75
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.69-78, 2007.
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HENRIQUE PEREIRA DOS SANTOS, RENATO SERENA FONTANELI, SILVIO TULIO SPERA E GILBERTO OMAR TOMM
Tabela 4 - Valores médios de potássio trocável, avaliados após as culturas de verão de 2002, em quatro camadas de solo e para diferentes sistemas
de produção
Sistema de
produção
Sistema
Sistema
Sistema
Sistema
Sistema
Floresta
I x II
I x III
I x IV
IxV
IxF
II x III
II x IV
II x V
II x F
III x IV
III x V
III x F
IV x V
IV x F
VxF
I
II
III
IV
V
(F)
Profundidade (cm)
0-5
5-10
10-15
———— K (mg kg-1) ————
263
165
110
219
137
90
208
119
68
206
113
73
290
214
148
106
73
59
Contrastes entre sistemas
*
ns
ns
**
**
**
**
**
**
ns
**
**
**
**
*
ns
ns
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
*
ns
ns
ns
ns
**
**
**
**
ns
ns
**
**
**
**
ns
ns
**
**
**
15-20
77
65
44
54
103
38
0-5
x
5-10
0-5
x
10-15
0-5
x
15-20
5-10
x
10-15
5-10
x
15-20
10-15
x
15-20
—————— Contrastes entre profundidades (P > F) ———————
**
**
**
**
**
*
**
**
**
**
**
*
**
**
**
**
**
*
**
**
**
**
**
ns
**
**
**
**
**
**
*
**
**
ns
*
ns
ns
**
*
**
**
*
ns
**
*
ns
**
ns
**
ns
**
ns = não significativo; * = nível de significância de 5%; ** = nível de significância de 1%. I: trigo/soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho; II: trigo/soja, aveia branca/
soja e pastagem de aveia preta + ervilhaca/milho; III: trigo/soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho após pastagem perene de estação fria; IV: trigo/soja, aveia branca/
soja e ervilhaca/milho após pastagem perene de estação quente; V: trigo/soja, aveia branca/soja e ervilhaca/milho após alfafa; e F: floresta subtropical.
milares foram obtidos por Santos e Tomm (1999) e por
Santos et al. (2003), usando sistemas de rotação de culturas ou sistemas de produção de grãos com pastagens anuais de inverno, respectivamente. Ademais, a floresta subtropical mostrou menor teor de P extraível do que todos
os sistemas de produção na maioria das camadas estudadas, indicando baixa disponibilidade desse nutriente no
solo em condições naturais, em razão da natureza oxidante (que retém o P nos óxidos de Fe e Al) do Latossolo
Vermelho distrófico (BRASIL, 1973).
Todos os sistemas de produção avaliados diferiram significativamente quanto ao teor de P extraível em cada profundidade de amostragem. Em todos os sistemas, o teor de
P extraível na camada 0-5 cm foi 5,4 a 7,5 vezes maior do
que o valor registrado na camada 15-20 cm. Sob plantio
direto, o fertilizante fosfatado praticamente permanece
imóvel e concentrado onde é depositado, diminuindo a
possibilidade de adsorção específica pelas partículas do
solo, mas aumentando a probabilidade de ser carreado enquanto partícula de fertilizante. Resultados semelhantes
foram obtidos em outros estudos em plantio direto: Sá
(1993) observou redução com a profundidade de 87,8 para
6,4 mg kg-1; Matowo et al. (1999), de 87,7 para 14,6 mg
kg-1; Santos e Tomm (1999), de 9,6 para 3,4 mg kg-1; e
Santos et al. (2003), de 28,6 para 2,0 mg kg-1. O acúmulo
de P extraível próximo à superfície do solo decorre das
aplicações anuais de fertilizantes fosfatados na camada
superficial, da liberação de P durante a decomposição de
76
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resíduos vegetais e da menor fixação de P em razão do
menor contato deste elemento com os constituintes inorgânicos do solo, uma vez que não há incorporação de resíduos vegetais por meio do revolvimento de solo no plantio
direto (WISNIEWSKI e HOLTZ, 1997).
O teor de K trocável do solo (Tabela 4) observado
nas camadas 0-5 cm e 5-10 cm em todos os sistemas estudados foi superior ao valor considerado crítico (80 mg
kg-1) para crescimento e desenvolvimento de culturas tradicionais (SOCIEDADE, 2004). Além disso, o teor de K
trocável observado em todos os sistemas de produção e
camadas estudadas manteve-se acima do teor encontrado na avaliação de 1998 ( 0-5 cm:106 mg kg-1, 5-10 cm:
65 mg kg-1, 10-15 cm: 47 mg kg-1 e 15-20 cm 38 mg kg-1)
(SANTOS et al., 2001).
Neste período de estudo, os valores de K trocável do
solo diferiram entre todos os sistemas de produção, com
exceção dos sistemas III e IV. O teor de K trocável na
camada 0-5 cm foi mais elevado no sistema I do que no
sistema II. Além disso, o sistema I foi superior aos sistemas III e IV para o teor de K trocável em todas as camadas estudadas. Por sua vez, o sistema V apresentou teor
de K trocável maior do que o do sistema I nas camadas 510 cm, 10-15 cm e 15-20 cm. Da mesma forma, o sistema V foi superior aos sistemas II, III e IV para o teor de
K trocável em todas as camadas estudadas. Essas diferenças a favor do sistema V podem estar relacionadas ao
maior teor de K trocável propiciado pela adubação de
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EFEITO DE PASTAGENS SOBRE O NÍVEL DE FERTILIDADE DO SOLO EM
SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GRÃOS SOB PLANTIO DIRETO APÓS DEZ ANOS
manutenção ou pelo resíduo cultural da alfafa que antecedeu as culturas produtoras de grãos, de 1994 a 1997. A
floresta subtropical apresentou menor teor de K trocável
na maioria das camadas, em comparação com os sistemas I, II e V. Silveira e Stone (2001) encontraram diferenças significativas para K trocável entre sistemas de
rotação de culturas somente na camada 10-20 cm, em
Latossolo Vermelho distrófico perférrico, no município
de Santo Antônio de Goiás, GO.
Foram verificadas diferenças significativas no teor
de K trocável entre a maioria das profundidades de amostragem de solo de todos os sistemas de produção avaliados. A exemplo do verificado com P extraível, também houve acúmulo de K trocável na camada próxima
à superfície nos diferentes sistemas avaliados. O teor
de K trocável na camada 0-5 cm foi de 2,8 a 4,7 vezes
maior que a concentração verificada na camada 15-20
cm. Acúmulos semelhantes de K trocável na camada 05 cm, em relação à camada 15-20 cm, em sistemas de
rotação de culturas sob plantio direto, foram observados por De Maria et al. (1999), de 47 para 17 mg kg-1;
por Bayer e Bertol (1999), de 21 para 16 mg kg-1; e por
Santos e Tomm (1999), de 189 para 79 mg kg-1. Nos
sistemas conservacionistas, os fertilizantes à base de K
são depositados na superfície ou na linha de semeadura
e, além disso, os resíduos vegetais são deixados na superfície, o que permite que esse elemento se acumule
na camada superficial do solo. Os resultados observados apontam que poderá haver redução na quantidade
de fertilizantes à base de P e K indicada para aplicação
em plantio direto.
Conclusões
Os valores de Ca trocável, de matéria orgânica do solo,
de P extraível e de K trocável do solo foram afetados pelos
sistemas I, II, III, IV e V, após quatro anos de cultivos.
Os níveis de matéria orgânica do solo e os teores de P
extraível e de K trocável, principalmente na camada de
solo 0-5 cm, nos sistemas I, II, III, IV e V, aumentaram
em relação aos valores observados quatro anos antes.
O nível de matéria orgânica do solo e os teores de Al
trocável, de P extraível e de K trocável diminuíram progressivamente da camada 0-5 cm para a camada 15-20
cm, enquanto para os valores de pH e de Ca e Mg trocáveis ocorreu o inverso nos sistemas I, II, III, IV e V.
O efeito das pastagens perenes (sistemas III, IV e V)
sobre a manutenção de níveis de matéria orgânica é semelhante ao de cultivo de culturas anuais (aveia branca,
milho, soja e trigo) nos sistemas I e II.
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VIGOR DE SEMENTES E ATIVIDADE BIOQUÍMICA EM PLÂNTULAS DE ARROZ SUBMETIDAS A ÁCIDOS ORGÂNICOS
Vigor de sementes e atividade bioquímica em plântulas
de arroz submetidas a ácidos orgânicos1
Luiz Augusto Salles das Neves1, Dario Munt de Moraes2,
Nei Fernandes Lopes3, Claudete Miranda Abreu4
Resumo - Resíduos vegetais em decomposição anaeróbica em lavouras irrigadas de arroz produzem ácidos orgânicos, tais como
acético, propiônico, butírico, fórmico, vanílico, que afetam o estabelecimento das plântulas. Portanto, o presente trabalho teve por
objetivo analisar a qualidade fisiológica de sementes e a atividade bioquímica em plântulas de arroz BR IRGA-409 submetidas a
concentrações zero, 1; 2; 4; 8 e 16 ml/L de ácido acético e propiônico. Para isso, utilizam-se testes de vigor (primeira contagem,
CE, IVE e emergência, composição química (amido, açúcares solúveis totais e proteína totais), atividade das enzimas α-amilase e
fosfatase ácida e medidas de crescimento (teor de clorofila total e área foliar). A análise de regressão mostrou que a germinação,
o índice de velocidade de emergência de plântulas, a emergência de plântulas e a condutividade elétrica foram significativamente
afetados com o aumento nas concentrações dos ácidos. O conteúdo de amido, açúcares solúveis totais e proteína foi reduzido a
partir da concentração de 8 ml/L, por ambos os ácidos. A atividade total da α-amilase foi mais estimulada pelo ácido acético do
que pelo propiônico, enquanto que a fosfatase ácida não foi alterada. Os teores de clorofila e a área foliar foram reduzidos com o
incremento na concentração de ambos os ácidos.
Palavras-chave: ácido acético, ácido propiônico, germinação, α-amilase, fosfatase ácida, clorofila, área foliar.
Vigor of seeds and biochemical activity in rice seedlings treated with organic acids
Abstract - Vegetal residues in anaerobic decomposition in irrigated farmings of rice produce organic acids, such as, acetic,
propionic, butiric, formic, vanilic, which affect the establishment of seedlings. Therefore the present work had for objective to
analyze the physiological quality of seeds and bioquimical activity of rice BR IRGA-409 seedlings, treated with several concentrations (zero; 1; 2; 4; 8 and 16 ml/L) of acetic and propionic acids. In order to performer this some assay were conducted such as:
tests of vigor (first count, electrical conductivity, emergency speed index and emergency), chemical composition (starch, total
soluble sugars and protein contents), determinations of the activity of α-amylase and fosfatase acid, and measurements of growth
(chlorophyll concentration and leaf area). The regression analysis showed that the germination, emergency speed index, the emergency of seedlings and the electric conductivity were significantly affected with the increase in the concentrations of acid. Starch,
total soluble sugars and protein contents were reduced on higher concentrations (≥8 ml/L) for both acids. The total activity of
α-amylase was more enhanced by acetic acid than propionic acid, while the activity of phosfatase-acid was not modified. The
chlorophyll contents and leaf area decreased with increment on concentrations of acetic and propionic acids.
Key words: acetic acid, propionic acid, germination, α-amylase, fosfatase acid, chlorophyll concentration, leaf area.
1
Engenheiro Agrônomo, Dr. Prof. Depto. de Biologia/CCNE/UFSM, autor da Tese. E-mail: [email protected]
Engenheiro Agrônomo, Dr. Prof. Depto. de Botânica/IB/UFPEL, orientador.
3
Engenheiro Agrônomo, Dr. Prof. Depto. de Botânica/IB/UFPEL, co-orientador.
4
Bióloga, Drª., Profª. Depto. de Botânica/UPEL.
Recebido para publicação em 23/02/2006
2
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LUIZ AUGUSTO SALLES DAS NEVES, DARIO MUNT DE MORAES, NEI FERNANDES LOPES, CLAUDETE MIRANDA ABREU
Introdução
No Brasil, o arroz ocupa atualmente uma área de 3,58
milhões de hectares com um rendimento médio de 3,54
t/ha,sendo um dos maiores produtores desse cereal no
mundo. No Rio Grande do Sul são cultivados cerca de
1,0 milhão de hectares com arroz irrigado, sendo um dos
estados que mais produz (IBGE, 2005).
As tecnologias de cultivo aplicadas à cultura do arroz, como a semeadura sobre a resteva e/ou cultivo mínimo, permitiram que as terras de várzeas pudessem recuperar a estrutura e a fertilidade do solo; entretanto, observa-se que com esses sistemas, associados à inundação,
há produção de ácidos orgânicos que prejudicam o estande final da cultura (BOHNEN et al., 2005).
Devido ao alagamento do solo e o esgotamento do
oxigênio molecular, ocorre a decomposição anaeróbica
da matéria orgânica e a formação de substâncias tóxicas
para as plântulas (PONNAMPERUMA, 1972). Dentre
os compostos formados estão os ácidos orgânicos de cadeia curta, tais como acético, propiônico e butírico (PATRICK, 1971), sendo que o primeiro é encontrado em
maiores concentrações (CAMARGO et al., 2001; SOUSA, 2001 e 2002). Já foi verificado que tais ácidos prejudicam o desenvolvimento do sistema radicular das plântulas (CAMARGO et al., 1993; AGOSTINETTO et al.,
2001; NEVES et al., no prelo).
No processo de germinação ocorre o reinício do crescimento do embrião paralisado nas fases finais do desenvolvimento da semente. Esse processo requer a mobilização de
reservas, tais como amido, açúcares e proteínas. Além disso, ocorre também a ativação do sistema enzimático, pois
enzimas hidrolíticas como a a-amilase e a fosfatase ácida
são produzidas para desdobrarem as reservas nutricionais e
alimentarem o eixo embrionário na semente.
No aspecto fisiológico, a germinação inicia pela embebição das sementes, enquanto que no físio-bioquímico
está o aumento da respiração, a digestão enzimática das
reservas,a mobilização e a assimilação dessas reservas
pelo embrião, permitindo o alongamento e as diferenciações celulares (BEWLEY e BLACK, 1994).
Com base nas informações citadas, o objetivo desse
trabalho foi o vigor de sementes e a atividade bioquímica
em plântulas de arroz submetidas a diferentes concentrações de ácidos acético e propiônico.
Material e métodos
O experimento foi conduzido no Laboratório de Fisiologia Vegetal, do Departamento de Botânica, da Universidade Federal de Pelotas. Sementes de arroz do cultivar BR
IRGA-409, da safra 2003/2004, foram embebidas por 90
minutos em soluções de ácido acético e em ácido propiônico nas concentrações zero, 1, 2, 4,8 e 16 mL/L e a seguir
submetidas aos testes de vigor e viabilidade.
80
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Teste de germinação (G) – 2.400 sementes divididas
em quatro repetições de 100 sementes por tratamento utilizando-se como substrato papel do tipo germitest previamente umedecido com água destilada (2,5 vezes o peso do
papel). Os rolos foram colocados em sacos plásticos vedados e postos em câmara BOD na temperatura de 25ºC. A
contagem foi realizada aos 14 dias após a semeadura e os
valores foram expressos em porcentagem de plântulas normais (BRASIL, 1992). Primeira contagem da germinação (PCG) – realizada conjuntamente com o teste de germinação aos 5 dias após a semeadura. Os valores foram
expressos em porcentagem de plântulas normais (BRASIL, 1992). Condutividade elétrica (CE) – foi determinada nos períodos de 3 e 24 horas de incubação, conforme
metodologia de Vieira e Carvalho (1994). Índice de velocidade de emergência (IVE) – 2.400 sementes divididas
em quatro repetições de 100 sementes por tratamento foram semeadas em bandejas de poliestireno expandido com
200 células cada uma, contendo areia, sendo que a semeadura foi realizada manualmente na profundidade de três
centímetros e umedecida periodicamente. As observações
foram realizadas diariamente durante 21 dias e foi anotado o número de plântulas emergidas por dia até que esse
número permanecesse constante. Os valores lidos foram
colocados na seguinte fórmula: IVE = (E1 – E0)N1 + (E2 –
E1)/N2 +...+(En – En-1)/Nn; onde E0 é a contagem no primeiro dia, E1 no segundo dia, ..., En no enésimo dia, N1 é o
primeiro dia após a semeadura, N2 o segundo dia, ..., Nn o
enésimo dia. Emergência de plântulas em casa de vegetação (E) – foi instalado de forma idêntica ao teste de velocidade de emergência em casa de vegetação, com apenas uma contagem aos 21 dias após a data da semeadura e
os resultados foram expressos em porcentagem de emergência das plântulas, segundo Vieira e Carvalho (1994).
Para a análise de açúcares solúveis, amido e proteínas solúveis foram coletados 10 gramas de sementes por
tratamento e embebidos pelo tempo de 90 minutos. Após,
foram secos e moídos em moinho, para obter a farinha
que foi acondicionada em vidros etiquetados e armazenados em dessecador, para análise posterior.
Teor de açúcar solúvel – obtido conforme metodologia de Clegg (1956). As leituras foram transformadas
pela fórmula: Açúcar Solúvel = {[(µg. 72)/1000) (20/alíquota]}/(1g de semente/0,25 de farinha), onde µg = (leitura – a)/b; a e b são valores obtidos na curva-padrão. Os
resultados foram expressos em µg açúcar/g semente. Teor
de amido – no resíduo do açúcar, nos tubos da centrífuga, se adicionou 20 mL de H2SO4 a 0,2N e seguiu-se a
metodologia de McCready et al (1950). Os resultados
foram expressos em µg amido/g semente.Teor de proteínas totais – da farinha foram coletadas quatro amostras
de 0,5 g por tratamento e colocadas em tubos de centrífuga juntamente com 20 mL de KH2PO4, seguindo a metodologia descrita por Bradford (1976). Os resultados foram expressos em µg/g semente.
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3/9/2007, 18:45
VIGOR DE SEMENTES E ATIVIDADE BIOQUÍMICA EM PLÂNTULAS DE ARROZ SUBMETIDAS A ÁCIDOS ORGÂNICOS
Para a determinação da atividade enzimática, as extrações foram feitas nos tempos zero (semente), aos 5
dias e aos 14 dias após a semeadura (plântulas) utilizando 0,5 g, sementes e/ou plântulas de cada concentração.
As sementes e/ou as plântulas foram maceradas em graal
com 20 mL de tampão acetato de potássio. A mistura foi
centrifugada a 3.000 rpm por 10 minutos; o sobrenadante foi coletado em tubos de ensaio e colocado em refrigeração para as análises a seguir:
Atividade total da α -amilase – conforme metodologia desenvolvida por Ching (1986). As leituras foram realizadas em espectrofotômetro E – 225D a 620 nm. Os
valores foram expressos em µg de amido hidrolisado/min/
g de semente ao zero dia e µg de amido hidrolisado min/
g de plântula, aos 5 e 14 dias. Atividade total da fosfatase ácida – para essa determinação usou-se a metodologia descrita por Ching (1986); as leituras foram realizadas em espectrofotômetro E – 225D a 620 nm e os resultados expressos em nanomoles/min/g semente, ao zero
dia e µg de amido hidrolisado/min/g de plântula, aos 5 e
14 dias.
Determinação da clorofila – a extração dos pigmentos e a determinação dos teores de clorofila a (Cl a) e clorofila b (Cl b) foram realizadas conforme metodologia
descrita por Arnon (1949) e os resultados foram expressos
em mg do pigmento g-1 matéria fresca. Determinação da
área foliar – realizada aos 21 dias após a instalação do
teste de emergência das plântulas de arroz. Foram coletadas 10 plântulas por repetição, por tratamento, e a parte
aérea foi levada ao medidor de área foliar da marca Li-Cor
3000. Os resultados foram expressos em mm2/plântula.
O delineamento estatístico utilizado para todos os testes foi o inteiramente casualizado, com quatro repetições.
Os dados em porcentagem foram previamente transformados pela fórmula: x = arc sen (X/100)1/2 e as médias
foram submetidas à análise de regressão pelo programa
Statistica 6.0.
Resultados e discussão
A figura 1 representa a germinação (A) e a primeira
contagem da germinação (B) das sementes de arroz BR
IRGA-409 submetidas à ação dos ácidos acético (ACA)
e propiônico (ACP). Nessa figura percebe-se que, com o
aumento das concentrações dos ácidos, houve diminuição na germinação e na primeira contagem da germinação das sementes de arroz.
Ambos os ácidos mostraram comportamento semelhante até a concentração de 2 mL/L, inclusive. A
partir da concentração de 4 mL/L o ácido acético teve
efeito mais inibitório do que o ácido propiônico, pois,
nesse caso, ocorreu maior redução da germinação.
O efeito dos ácidos orgânicos sobre a germinação e
a primeira contagem da germinação das sementes tem
Figura 1 - Germinação (A) e primeira contagem da germinação – PCG (B) de sementes de arroz BR IRGA-409 submetidas às concentrações zero,
1, 2, 4, 8 e 16 mL/L de ácidos acético (ACA) e propiônico (ACP).
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sido pouco descrito, haja vista que a maior preocupação estava voltada para o estágio de plântula, quando os
ácidos orgânicos estão em alta concentração no solo
(CAMARGO et al., 2001). Entretanto, redução da germinação e da primeira contagem da germinação foi encontrada também por Neves e Moraes (2005) quando
submeteram sementes de arroz BR IRGA-410 à ação
do ácido acético nas mesmas concentrações aqui trabalhadas. Esses autores verificaram drástica redução da
germinação na concentração de 16 mL/L, pois apenas
2% das sementes germinaram.
Igualmente, Lynch (1980) descreve que o ácido acético reduziu em 77% a germinação das sementes de cevada,
enquanto que o ácido propiônico reduziu em apenas 35%.
A condutividade elétrica foi medida a 3 (A) e 24 (B)
horas do início do teste (Figura 2 ). Verifica-se na Figura
(2A) que a liberação de eletrólitos para a água de incubação é crescente com o incremento das concentrações dos
ácidos acético e propiônico. tratadas com ácido propiônico do que com o ácido acético. Na concentração de 4
mL/L houve equiparação dos efeitos pela ação de ambos
os ácidos e nas concentrações acima observa-se que o
ácido acético provocou maior liberação de exsudatos das
sementes que o ácido propiônico.
Na figura 2B observa-se que a liberação de eletrólitos causada por ambos os ácidos tem o mesmo compor-
tamento, apesar do ácido propiônico, nas concentrações
de 1, 2 e 4 mL/L, provocar maior liberação do que o ácido acético. Nas concentrações de 8 e 16mL/L ambos os
ácidos provocam efeitos semelhantes.
O teste de condutividade elétrica é de uso freqüente
na análise da qualidade fisiológica de sementes, na medição dos efeitos de hormônios, soluções salinas, biocidas; entretanto há poucas descrições com referência aos
efeitos na condutividade elétrica de sementes tratadas com
ácidos orgânicos.
Sementes de arroz Epagri 111, tratadas com ácido
acético, mostraram aumento na condutividade elétrica
com o aumento da concentração do ácido (NEVES et al.
no prelo).
Na figura 3A está a curva de regressão referente ao
índice de velocidade de emergência (IVE) das plântulas
de arroz cujas sementes foram submetidas aos ácidos
acético e propiônico; no final dos 21 dias, obteve-se a
emergência (Figura 3B).
Na figura 3A percebe-se que o IVE decresce com o
aumento da concentração de ambos os ácidos. Nas concentrações zero 1 e 2 mL/L, não há diferença entre os
efeitos dos ácidos, porém a partir da concentração 4 mL/
L, o ácido acético reduz acentuadamente o IVE, enquanto que o ácido propiônico produz redução significativa
somente nas concentrações 8 e 16 mL/L. Comparativa-
Figura 2 - Condutividade elétrica medida a 3 horas (A) e a 24 horas (B), do início do teste, em sementes de arroz BR IRGA-409 submetidas às
concentrações zero, 1, 2, 4, 8 e 16 mL/ L de ácido acético (ACA) e propiônico (ACP).
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mente, nas concentrações maiores o ácido acético afetou
mais o IVE do que o ácido propiônico.
Com referência à emergência (Figura 3B), o comportamento é semelhante ao IVE, pois, pela ação dos ácidos
acético e propiônico, o percentual de emergência se reduz com o incremento da concentração; entretanto, a partir
da de 4 mL/L a redução, pelo ácido acético, torna-se mais
acentuada. Já o ácido propiônico reduz a emergência de
forma expressiva somente na concentração de 16 ml/L.
Por fim, o ácido acético afetou mais o percentual de emergência das plântulas de arroz do que o ácido propiônico,
nas concentrações mais elevadas.
Poucas são as referências sobre a emergência de plântulas sob ação de ácidos orgânicos. As que relatam utilizam-se de palhadas em incubação anaeróbica onde os
ácidos orgânicos são produzidos. Guenzi et al. (1967)
verificaram que palhadas de trigo, cevada, sorgo e milho em incubação produziram diferentes quantidades de
ácidos orgânicos. Em vista disso, testaram suas fitotoxicidades na cultura do trigo, analisando a emergência
de plântulas durante dois anos consecutivos. Dentre os
resíduos vegetais, o de trigo foi o mais fitotóxico, pois
apresentou inibição de até 90%, sendo considerado pelos autores como autotoxicidade. O resíduo do sorgo
foi o menos fitotóxico, pois somente 52% das plântulas
não emergiram.
O IVE foi estudado por Neves et al (no prelo) na cultivar de arroz Epagri 111 sob ação do ácido acético. Esses
autores verificaram que, com o aumento da concentração
do ácido, ocorreu decréscimo no IVE, sendo que a partir
da concentração de 4 mL/L o IVE decaiu em mais de 50%.
Na Figura 4 estão descritos os efeitos dos ácidos, acético e propiônico, sobre a solubilidade do amido, açúcares totais e proteínas totais.
Na Figura 4A observa-se que os teores de amido e
proteína foram estimulados pela ação do ácido acético
nas concentrações 1 e 2 mL/L, sendo que na proteína esse
estímulo estende-se até a concentração de 4 mL/L. Quanto
aos açúcares totais, percebe-se que o teor decresce com o
incremento da concentração do ácido, apesar de nas concentrações 1, 2 e 4 mL/L não diferirem entre si.
Na Figura 4B verifica-se que os teores de amido, açúcares totais e proteínas totais foram estimulados nas concentrações 1 e 2 mL/L por efeito do ácido propiônico.
Nas concentrações 4 e 8 mL/L não houve diferença entre
os teores; entretanto, na concentração 16 mL/L houve
significativa redução nos teores de todos os constituintes
celulares analisados. De forma geral, ambos os ácidos
provocaram efeitos semelhantes.
Ao se comparar a germinação das sementes (Figura
1) com as solubilidades do amido, açúcares totais e proteínas totais (Figura 4), observa-se que a redução da ger-
Figura 3 - Índice de Velocidade de Emergência – IVE (A) e emergência (B) de plântulas de arroz BR IRGA-409 submetidas às concentrações
zero, 1, 2, 4, 8 e 16 mL/ L de ácido acético (ACA) e propiônico (ACP).
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minação a partir da concentração de 8 mL/L do ácido
acético, principalmente, pode ter ocorrido devido aos efeitos tóxicos que esse ácido provocou nos constituintes
químicos, enquanto que o ácido propiônico não produziu
efeito na mesma proporção.
A ação dos ácidos orgânicos sobre a atividade dos
constituintes celulares durante a germinação não havia
sido descrita ainda, haja vista que a maior preocupação
está voltada para o desenvolvimento das plântulas. Entretanto, Neves e Moraes (2005) verificaram que houve
incremento na solubilidade do amido no cultivar BR
IRGA-410, quando as sementes foram submetidas ao
ácido acético nas mesmas concentrações utilizadas no
presente trabalho. Todavia, o comportamento do cultivar
Epagri 111 foi semelhante ao cultivar BR IRGA-409.
Na Figura 5 está o efeito dos ácidos acético e propiônico na atividade total da α-amilase considerando o período da semente (zero dia) até plântula (5 e 14 dias).
Na Figura 5 A está o efeito da α-amilase na semente.
Percebe-se que houve diferença significativa entre os
ácidos, pois, enquanto há estímulo causado pelo ácido
acético, há inibição pelo ácido propiônico, com o incremento da concentração. Este resultado pode ser atribuído ao efeito do ácido sobre a solubilidade do amido (Figura 4 A). Segundo Bewley e Black (1994) a atividade
dessa enzima é lenta na semente, aumenta na plântula
aos 5 dias e decresce posteriormente aos 14 dias, entre-
tanto, no caso presente, a atividade foi semelhante na
semente e aos 5 dias e decresceu aos 14 dias.
Os valores altos observados para a atividade total da
α-amilase, provavelmente, sejam devidos à reativação do
mRNA maduro em dormência na semente seca, que é
ativado pelo processo de germinação, somado a novas
sínteses da enzima que ocorrem nesse momento.
A atividade da α-amilase, sob ação de ácidos orgânicos, foi estudada por Neves e Moraes (2005) em sementes de arroz BR IRGA-410 e Epagri 111. No primeiro
cultivar, nos períodos considerados, houve crescimento
da atividade total da enzima com o incremento da concentração da dose; porém, essa mesma atividade decresceu no cultivar Epagri 111.
Na Figura 6 estão os efeitos dos ácidos, acético e propiônico, sobre a atividade da fosfatase ácida sobre as sementes e plântulas de arroz BR IRGA-409.
Na semente, a atividade da enzima fosfatase ácida
(Figura 6A) não apresentou diferenças significativas por
ação dos ácidos acético e propiônico. Percebe-se que,
apenas nas concentrações 4 e 8 mL/L, é que o ácido acético estimula a atividade da fosfatase ácida mais do que o
ácido propiônico. Já aos 5 dias, nas plântulas (Figura 6B),
o estímulo do ácido acético, em relação ao propiônico,
torna-se mais acentuado. Nas concentrações 4, 8 e 16 mL/
L, do ácido propiônico, percebe-se inibição da atividade
da fosfatase ácida, em relação ao controle. Nessa última
Figura 4 - Solubilidade do amido, açúcares totais e proteínas totais das sementes de arroz BR IRGA-409 submetidas à ação do ácido acético (A)
e do ácido propiônico (B) nas concentrações zero, 1, 2, 4, 8 e 16 mL/L.
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concentração, observa-se efeito semelhante dos dois ácidos sobre as plântulas de arroz.
Aos 14 dias, nas plântulas (Figura 6C), verifica-se
que há redução da atividade da fosfatase ácida com o
incremento da concentração dos ácidos. Nas concentrações 1, 2 e 4 mL/L o ácido propiônico afetou para menos a atividade da enzima, enquanto que, nessas mesmas concentrações, o ácido acético provocou efeito
menos significativo em relação ao controle. Nas concentrações 8 e 16 mL/L os efeitos dos ácidos se equivalem, pois ambos reduziram a atividade da fosfatase ácida nas plântulas de arroz.
A fosfatase ácida é uma hidrolase que participa de
reações de hidrólise de ésteres, podendo agir sobre os
fosfolipídeos de membrana, provocando a peroxidação
destes, principalmente da fosfatil colina, fosfatidil etanolamina e fosfatidil inositol. Esta enzima está envolvida na manutenção do fosfato celular, podendo sua atividade afetar o metabolismo do fosfato em sementes, como
os níveis de ATP e nucleotídeos (SANTOS et al., 2004).
A fosfatase ácida foi estudada por Neves et al. (no
prelo b) em sementes e plântulas de arroz Epagri 111.
Esses autores verificaram que, nesse cultivar, o ácido
acético não provocou variação significativa na atividade
da fosfatase ácida nos períodos considerados.
Na Figura 7, estão os efeitos dos ácidos, acético e
propiônico, sobre os teores de clorofila total e na área
foliar de plântulas de arroz.
O teor de clorofila total e a área foliar (Figura 7 A e
B) foram prejudicados com o incremento das concentra-
Figura 5 - α-amilase na semente (A) e nas plântulas – 5 dias (B) e 14 dias (C) de arroz BR IRGA-409 submetidas à ação de ácidos acético (ACA)
e propiônico (ACP).
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Figura 6 - Fosfatase ácida na semente (A) e nas plântulas – 5 dias (B) e 14 dias (C) de arroz BR IRGA-409 submetidas à ação de ácidos acético
(ACA) e propiônico (ACP).
ções dos ácidos, não se percebendo, praticamente, diferença entre os efeitos de ambos os ácidos.
A análise de teores de clorofila total e da área foliar
de plântulas de arroz cujas sementes foram tratadas com
ácidos orgânicos não tem sido ainda descrita. Por isso,
para se comparar os resultados aqui obtidos, serão usados aqueles que foram verificados em plântulas submetidas a estresse salino.
O teor de clorofila total, aos 21 dias, em plântulas de
arroz cv El Passo L 144 cujas sementes foram submetidas a diferentes níveis de salinidade, não foi reduzido
com o aumento de sal nas soluções de embebição; entretanto, em plântulas de feijão, cv FT Nobre, cujas semen86
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tes foram tratadas nas mesmas concentrações, ocorreu
redução de até 50% no teor de clorofila nas concentrações de 30, 60 e 90 mM de NaCl (GALINA, 2004).
Em plântulas de arroz El Passo L 144 (GALINA,
2004) e em trigo BRS 179 (DUARTE, 2004), cujas sementes foram submetidas a estresse salino, ocorreu redução na área foliar com o aumento da concentração de
NaCl na água de embebição. Em plântulas de feijão FT
Nobre oriundas das sementes tratadas com as mesmas
concentrações salinas,ocorreu redução acima de 50% a
partir da concentração de 60 mM de NaCl. A concentração máxima de 150 mM de sal provocou forte redução
da área foliar (GALINA, 2004).
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Figura 7 - Teores de clorofila total (A) e na área foliar (B) de plântulas de arroz BR IRGA-409, cujas sementes foram submetidas às concentrações
zero, 1, 2, 4, 8 e 16 mL/L de ácidos acético (ACA) e propiônico (ACP).
A análise de regressão linear evidenciou que, de
forma geral, o ácido acético (ACA) foi mais fitotóxico
do que o ácido propiônico (ACP), em todas as análises
realizadas. Na germinação, primeira contagem da germinação das sementes, no IVE, na emergências das
plântulas, no teor de clorofila total e na área foliar, o
efeito foi negativo e aumentou com o incremento da
concentração dos ácidos. Na atividade total da α-amilase os efeitos dos ácidos também foram negativos do
período de sementes (zero dia) para o de plântulas (5 e
14 dias).
Na condutividade elétrica (3 e 24 horas), os ácidos
acético e propiônico mostraram efeitos semelhantes entre si. Na atividade da fosfatase ácida os efeitos também
foram crescentes do período de sementes (zero dia) para
o de plântulas (5 e 14 dias) e, ainda, nesse caso, o ácido
acético afetou mais do que o propiônico.
Conclusões
Os ácidos acético e propiônico afetam negativamente o vigor, o IVE e a emergência de plântulas de arroz,
além da solubilidade do amido, açúcares totais e proteínas totais, o teor de clorofila total e a área foliar.
A atividade total da α-amilase decresceu do período
de semente (zero dia) para o de plântula (14 dias), enquanto que a fosfatase ácida foi normal no mesmo período, pela ação de ambos os ácidos.
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RALEIO QUÍMICO DE TANGERINEIRA CV. ‘MONTENEGRINA’ (CITRUS DELICIOSA TENORE) COM PULVERIZAÇÕES DE ETEFON
Raleio químico de tangerineira cv. ‘Montenegrina’ (Citrus deliciosa Tenore)
com pulverizações de etefon1
Ivar Antonio Sartori1, Otto Carlos Koller2, Sergiomar Theisen1,
Henrique Belmonte Petri3; Jurandir Gonçalves de Lima4
Resumo - Com o propósito de estudar aplicações exógenas de etefon para quebrar a alternância de produção e melhorar a qualidade físico-química dos frutos de tangerineiras ‘Montenegrina’ (Citrus deliciosa Tenore), enxertadas sobre laranjeira ‘Caipira’ (Citrus sinensis L. Osb.), em um pomar comercial de 7 anos de idade, da empresa Panoramas Citrus, situada no município de ButiáRS, na latitude 29°57’S e longitude 51°40’W, foram submetidas aos seguintes tratamentos: Testemunha, sem aplicação de etefon;
pulverizações com etefon em concentrações de 200, 300 e 400 mg L-1, sob a forma de Ethrel (24 %). As aplicações de etefon foram
realizadas em 19 de novembro de 2001, durante a plena queda natural de frutos, que estavam com diâmetro médio de 8mm. Foram
avaliados: o número de flores; número de frutos vingados; o número e a massa dos frutos produzidos; a massa média dos frutos; os
frutos produzidos nas classes de primeira, segunda e terceira. Verificou-se que o etefon só exerce efeito de raleio de frutos quando
pulverizado em concentrações superiores a 200 mg L-1, as quais, por terem ação fitotóxica, são mais prejudiciais às plantas e à
produção de frutos do que benéficas.
Palavras-chave: Citrus deliciosa, reguladores de crescimento, raleio de frutos.
Fruits thinning with growth regulators on ‘Montenegrina’ mandarins (Citrus deliciosa Tenore)
Abstract - With the purpose to evaluate the effects ethephon sprays to control alternate bearing and ameliorate fruit quality of
‘Montenegrina’ mandarins (Citrus deliciosa Tenore), grafted on ‘Caipira’ Orange, a experiment was conducted in a seven-year old
comercial orchard, located in Butiá-RS, southern Brazil (29°57’S - 51°40’W). The experiment evaluated the effects as chemical
thinner of different concentrations of ehtephon: 0, 200, 300 and 400 mg L-1. The treatments were applied in a randomized block
design with four replicates and 3 plants as experimental unit. The number of flowers and fruitset, fruit development, number,
weight and average weight of fruits, fruit classification in first, second and third category Were analyzed. Ethephon sprays only
have a thinning effect with concentrations up to 200 mg L-1, which shoved effect resulting in leaf yellowing and abscission.
Key words: Citrus deliciosa, growth regulators, tangerine.
1
Engº Agrº MSc, alunos de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia da UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 7712, Bairro Agronomia,
Cx.P 776, CEP 91501-970 Porto Alegre – RS. E-mail: [email protected]
2
Dr. Prof. Convidado da Faculdade de Agronomia da UFRGS, Bolsista 1A do CNPq. Rua Largo Setembrina, 126 Viamão, RS, CEP 94415-400.
E-mail: [email protected]
3
Bolsista de Iniciação Científica. Av. Bento Gonçalves 7712, Bairro Agronomia, Cx.P 776, CEP 91501-970 Porto Alegre – RS
4
Técnico Agrícola da Empresa Panoramas Citrus. Butiá – RS.
Recebido para publicação em 09/03/2006
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IVAR ANTONIO SARTORI, OTTO CARLOS KOLLER, SERGIOMAR THEISEN,
HENRIQUE BELMONTE PETRI; JURANDIR GONÇALVES DE LIMA
Introdução
O RS é o segundo maior produtor de tangerinas no
país, confirmando a tendência da citricultura gaúcha de
ser direcionada para o mercado de frutas para o consumo-fresco. No Vale do rio Caí se destacam como maiores produtores os municípios de Montenegro, Pareci
Novo, São Sebastião do Caí, Harmonia e São José do
Sul, onde as cultivares mais plantadas são a Montenegrina, Caí, Ponkan, Pareci, Satsuma Okitsu e Murcott
(JOÃO, 2004).
Os cultivares tardios, principalmente Montenegrina, têm, a partir de agosto, um mercado favorável em
diversos Estados, faltando, contudo, maior volume de
produção, com padrão mínimo de qualidade e apresentação, para a venda no mercado interno e externo
(JOÃO, 2004).
Além da produção tardia, a tangerineira ‘Montenegrina’ apresenta como vantagem a boa conservação póscolheita, facilidade de descascar, polpa firme que confere resistência ao transporte, maior tempo de conservação
pós-colheita, bom sabor, aroma característico e número
reduzido de sementes, quando comparada com a tangerina ‘Caí’ (Schwarz e Koller, 1991; Rodrigues et al., 1998).
Entretanto essa tangerineira apresenta como inconveniente a alternância de produção.
Tentando controlar a alternância de produção, Marodin (1986) observou que o etefon a 300 mg L-1 proporcionou o aumento do tamanho dos frutos remanescentes
do raleio, com efeito semelhante ao raleio manual deixando só um fruto por ramo. Nas concentrações 100, 200
e 300 mg L-1, o etefon proporcionou expressiva diminuição da alternância de produção. A melhor época de aplicação de etefon em tangerineiras ‘Montenegrina’ é durante a plena queda natural de frutinhos.
Em tangerineiras ‘Montenegrina’, Souza et al. (1991)
estudaram o efeito do raleio de frutos nas concentrações
de 100, 200 e 300 mg L-1 de etefon, associados a 3% de
uréia e aplicados com quatro pressões de pulverização
foliar: 50, 100, 150 e 200 libras/pol2, durante a plena queda
natural dos frutinhos. O aumento da pressão de pulverização não afetou o raleio químico e a qualidade dos frutos, mas o aumento das concentrações de etefon incrementou a porcentagem de raleio.
Castro et al. (1998) estudaram o raleio manual e químico em Citrus deliciosa Tenore cv. Mexerica-do-Rio,
salientando que o etefon a 300 mg L-1 reduziu o número
total de frutos por árvore.
Em um experimento conduzido em Ludhiana, Índia, para
determinar o efeito raleante do etefon (200, 300 e 400 mg L-1)
em tangerineiras ‘Kinnow’, Parmpal et al. (2002) concluíram que o raleio com a concentração de 400 mg L-1 de etefon resultou em maior tamanho de fruto, massa, teor de sólidos solúveis totais, relação sólidos solúveis totais/acidez
total titulável e conteúdo de carotenóide na casca.
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O propósito deste trabalho de pesquisa foi de avaliar
o efeito de concentrações exógenas de etefon para quebrar a alternância de produção e melhorar a qualidade
físico-química dos frutos de tangerineiras ‘Montenegrina’ (Citrus deliciosa Tenore).
Material e métodos
O experimento foi iniciado em agosto de 2002, num
pomar comercial de tangerineiras da cv. Montenegrina,
enxertadas sobre Laranjeira ‘Caipira’ com 7 anos de idade, espaçamento de 3 x 6 metros, pertencente à empresa
Panoramas Citrus. O pomar está situado no município de
Butiá/RS, junto à rodovia BR-290, distante 70 Km de
Porto Alegre, na latitude 29°57’ S e longitude 51°40’ W e
altitude média de 50 metros. O solo é classificado como
Laterítico Bruno Avermelhado Distrófico de textura argilosa (EMBRAPA, 1999). O clima da região é classificado como Cfa, ou seja, temperado sem estação seca definida. A região segundo a classificação de Köeppen, apresenta clima subtropical úmido com verão quente. A temperatura média anual em 2002 foi de 19,1°C sendo as
médias das temperaturas mínimas e máximas de 14,0°C
e 24,9°C, respectivamente. A precipitação pluviométrica
média anual é de 1440 mm e a umidade relativa média
do ar de 77,3% (BERGAMASCHI e GUADAGNIN,
1990). Os tratos culturais que não foram objeto de avaliação, tais como: adubações, controle de pragas e moléstias, manejo e cobertura do solo, foram uniformes em
todos os tratamentos, como normalmente executados nos
pomares da empresa, Panorama Citrus.
Neste experimento delineado em blocos ao acaso, com
4 tratamentos, 4 repetições e usando 3 plantas úteis por
parcela, em plantas com carga excessiva de frutos, foram
testados pulverizações com os seguintes tratamentos: 0
(testemunha), 200, 300 e 400 mg L-1 de etefon.
O etefon foi aplicado sob a forma de produto comercial Ethrel (24% de etefon) em 19/11/2002, na plena queda
natural, quando os frutinhos se encontravam, em média,
com 8 mm de diâmetro. A temperatura do ar, no momento
de aplicação, das 9 às 11 horas da manhã, do horário de
verão, ficou entre 23 e 260C. A presença de sol foi constante, sem nuvens e sem vento. Realizou-se primeiro a aplicação dos tratamentos de concentrações mais baixas, evoluindo para os de concentrações mais elevadas.
Em dois ramos previamente marcados por planta, um
em cada lado das linhas de plantas, orientados em sentido
leste-oeste, foi realizada a contagem do número de flores e
frutos retidos antes da queda natural, em 22 de outubro e
em 12 de novembro de 2002 e, após a queda natural, nas
datas de 26 de dezembro de 2002, 10 e 31 de janeiro de
2003 e 20 de março de 2003. A medida do crescimento do
diâmetro dos frutos foi realizada nas datas de 16/12/02;
10/01/03; 31/01/03; 26/03/03; 08/05/03 e 23/06/03. A colheita foi realizada em 21 de agosto de 2003.
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RALEIO QUÍMICO DE TANGERINEIRA CV. ‘MONTENEGRINA’ (CITRUS DELICIOSA TENORE) COM PULVERIZAÇÕES DE ETEFON
Os seguintes parâmetros foram avaliados: Número de
flores e frutinhos vingados, porcentagem do raleio de frutinhos, produção total em número e massa de frutos por
planta, produção total em número e massa de frutos classificados em 3 classes: frutos de primeira cujo diâmetro variou de 65 a 78mm, de segunda com 57 a 65mm e de terceira com 40 a 57mm de diâmetro. Essa classificação foi
realizada manualmente, comparando os frutos com amostras padrões, previamente estabelecidos para cada classe.
Os dados experimentais obtidos foram submetidos a
análises de variância segundo modelo de delineamento
de blocos casualizados. Utilizou-se o teste F ao nível de
5% de probabilidade para testar a significância das diferenças. No caso de ser significativa esta diferença, as
médias serão comparadas pelo teste de Tukey, também a
5% de probabilidade.
Resultados e discussão
Verifica-se, na Figura 1, que antes da aplicação dos
tratamentos, nos ramos previamente marcados das plantas que seriam pulverizadas com 200 mg L-1 de etefon,
por acaso, em 22 de outubro e 12 de novembro de 2003,
havia mais frutos do que nos ramos das plantas em que
seriam pulverizadas com 300 e 400 mg L-1 de etefon. Essa
situação se manteve até 20 de março de 2004, após a aplicação de etefon, sem diferença estatística em relação à
testemunha. Isto indica que embora o número de frutos
presentes nos ramos marcados das plantas tratadas com
300 e 400 mg L-1 de etefon tivesse sido bem menor do
que com aplicação de 200 mg L-1, em princípio essa diferença não pode ser atribuída aos tratamentos.
Pode-se observar também na Figura 1 que o número
de frutos colhidos no tratamento 200 mg L-1 de etefon não
diferiu da testemunha, indicando que nesta concentração
o etefon não exerceu raleio de frutos, ao contrário da resposta encontrada por Marodin (1986) e Souza et al. (1991),
que obtiveram um raleio de aproximadamente 57%.
Em 26 de novembro, uma semana após a aplicação
de etefon, observou-se uma queda de folhas nas plantas
tratadas com 400 mg L-1, indicando que nesta concentração, o etefon exerceu efeito de fitotoxicidade, conforme
havia sido constatado também por Marodin (1986).
A concentração de 300 mg L-1 de etefon (Figura 1) diminuiu em 35% o número de frutos produzidos em relação à testemunha que, entretanto, foi inferior aos 66% ou
mais que seriam necessários para a quebra da alternância
de produção. Resultados similares também foram obtidos
por Castro et al. (1998), em tangerineira ‘Mexerica do Rio’
para a mesma concentração de 300 mg L-1 de etefon. No
entanto, Marodin (1986) observou que a concentração de
300 mg L-1 de etefon reduz a produção de frutos em 81,66%,
porém tendo causado toxidez às plantas.
Com aplicação de 400 mg L-1 de etefon (Figura 1), a
porcentagem de frutos raleados ficou em 65% em comparação com a testemunha, próximo do raleio satisfatório de 66% para a quebra da alternância de produção para
frutos de boa qualidade. Dados de raleio de frutos semelhantes também foram verificados nessa concentração em
tangor ‘Murcott’ por Domingues et al. (2001).
Antes
da queda
natural
Após à
queda
natural
Concentração de etefon em mg L-1
Figura 1 - Presença de frutos em ramos previamente marcados, antes e depois da queda natural e pulverização de tangerineiras ‘Montenegrina’
com 200, 300 e 400 mg L-1 de etefon, outubro de 2002 a março de 2003, Panoramas Citrus.
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IVAR ANTONIO SARTORI, OTTO CARLOS KOLLER, SERGIOMAR THEISEN,
HENRIQUE BELMONTE PETRI; JURANDIR GONÇALVES DE LIMA
Contudo, foi observado visualmente e através de fotografias, que na concentração de 400 mg L-1 de etefon, a
maior parte dos frutos da parte superior da copa foi raleada e maior quantidade de frutos permaneceu na parte
inferior. Isso prejudicou a distribuição dos frutos na planta,
diminuindo seu número, principalmente em locais que
recebem maior incidência de radiação solar, onde a qualidade dos mesmos é normalmente melhor. Tal fato pode
ter acontecido, segundo suposição levantada por Marodin (1986), de que temperaturas elevadas aumentam a
porcentagem de raleio do etefon, sendo possível que na
parte superior da copa, a incidência direta da luz solar
tenha aumentado a temperatura e incrementado o raleio
de frutos, em relação a parte inferior da copa. Também
pode ter acontecido que, por falta de atenção ou cuidado,
o operador tenha pulverizado menor quantidade de solução na parte inferior da copa.
A produção de frutos, em massa e número, (Figura 2)
diminuiu com o aumento da concentração de etefon de
200 para 400 mg L-1 e a massa média dos frutos aumentou. Esta resposta evidencia que o tratamento com 200
mg L-1 de etefon foi insuficiente para efetuar o raleio
químico de frutos.
Na figura 3 pode-se observar que houve um pequeno aumento do número de frutos de primeira classe com
o incremento das concentrações de etefon e diminuíram acentuadamente as produções de frutos de segunda
e de terceira classe. A diminuição da produção de frutos
Figura 2 - Número de frutos, massa (kg) e massa média (g) dos frutos produzidos por tangerineiras ‘Montenegrina’, submetidas ao raleio químico.
Panoramas Citrus, Butiá - RS. 2003.
Figura 3 - Número de frutos de primeira, segunda, primeira + segunda e terceira classe de tangerineiras ‘Montenegrina’, submetidas ao raleio
químico. Panoramas Citrus, Butiá - RS, 2003.
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RALEIO QUÍMICO DE TANGERINEIRA CV. ‘MONTENEGRINA’ (CITRUS DELICIOSA TENORE) COM PULVERIZAÇÕES DE ETEFON
de terceira classe é desejável, tendo em vista que eles
são de baixo valor comercial e oneram a colheita. Entretanto a acentuada diminuição da produção de frutos
de segunda classe é um fator negativo, pois estes, juntamente com os de primeira, apresentam apreciável valor. Assim sendo, provavelmente devido ao efeito fitotóxico, evidenciado pela abscisão foliar, não há vantagem em realizar o raleio de frutos com pulverizações
de etefon, nas concentrações de 300 e 400 mg L-1, porque além delas diminuírem a produção total de frutos,
reduzem também a produção de segunda classe, diminuindo a renda do citricultor.
Também deve ser ressaltado que num pomar de tangerineiras ‘Montenegrina’ existem plantas em diversos
graus de alternância, desde plantas sem frutos até outras
com índices variáveis de sobrecarga. Isso traz o dilema
de saber qual planta pulverizar com etefon e qual não
deve ser pulverizada. Além disso, poderia ser necessário
pulverizar com solução mais concentrada de etefon as
plantas com maior carga e pulverizar com menor concentração aquelas que necessitam menor raleio de frutos.
Todos esses aspectos tornam complicada a aplicabilidade do raleio de frutos com etefon.
Conclusão
Para exercer efeito de raleio de frutos, o etefon deve
ser pulverizado em concentrações superiores a 200 mg
L-1, que, por terem ação fitotóxica, são mais prejudiciais
às plantas e à produção de frutos do que benéficas.
Referências
BERGAMASCHI, H.; GUADAGNIN, M.R. Agroclima da Estação
Experimental Agronômica/UFRGS. Porto Alegre: Departamento de
Plantas Forrageiras e Agrometeorologia da UFRGS, 1990. 96 p.
CASTRO, P. R. C.; PACHECO; MEDINA, C. L. Thinning Citrus deliciosa ten. with Growth Regulators. Proceedings of the Interamerican Society for Tropical Horticultural, Alexandria, v. 42, n. 2, 161165, 1998.
DOMINGUES, M. C. S.; ONO, E.O.; RODRIGUES, J.D. Reguladores Vegetais e o Desbaste Químico de Frutos de Tangor Murcote. Scientia Agrícola, Piracicaba, v. 58, n. 3, 2001.
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Rio de Janeiro, 1999. 412 p.
FAO. Produção Mundial de Frutas Cítricas. Disponível em: <http://
www.fao.org.> Acesso em: 11 jan. 2005.
IBGE. Produção Vegetal: Agricultura: Laranja, Limão e Tangerina, 2005.
Disponível em: <http://www.ibge. Org.br>. Acesso em: 11 jan. 2005.
JOÃO, P. L. (Coord.). Levantamento da Fruticultura Comercial do
Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EMATER/RS-ASCAR, 2004. 89 p.
KOLLER, O. C. Citricultura: Laranja, Limão e Tangerina. Porto Alegre: Rigel, 1994. 446 p.
MARODIN, G. A. B. Raleio Químico e Manual de Frutinhos em Tangerineira (Citrus deliciosa Tenore) cv. Montenegrina. 1986. 124f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em Fitotecnia, Faculdade de
Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1986.
PARMPAL, S.; DHATT, A. S.; SINGH, P. Effect of Thinning Agents
on Fruit Quality in Kinnow. Haryana Journal of Horticultural Sciences, Ludhiana, v. 31, n. 1, p. 35-37, 2002.
RODRIGUES, L. R. et al. Raleio Manual de Frutos em Tangerinas
‘Montenegrina’. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 33, n.
8, p. 14-21, 1998.
SCHWARZ, S.F.; KOLLER. O.C. Características de Três Safras de
Tangerineiras ‘Montenegrina’ após Raleio Manual de Frutos. Revista
Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas, v. 13, n. 1, p. 41-47, 1991.
SOUZA, P. V. D. de. ; KOLLER. O. C.; SCHWARZ, S. F. Efeito do Raleamento Químico e de Pressões de Pulverização na Qualidade dos Frutos de
Tangerineiras (Citrus deliciosa Tenore) cv. Montenegrina. Revista Brasileira de Fruticultura, Cruz das Almas, v. 13, n. 1, p. 99-105, 1991.
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SIGATOKA NEGRA, FATORES DE AMBIENTE E SISTEMAS AGROFLORESTAIS EM BANANAIS DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
ARTIGO DE REVISÃO
Sigatoka Negra, fatores de ambiente e sistemas agroflorestais
em bananais do Rio Grande do Sul, Brasil
Rodrigo Favreto1, Nelson Sebastião Model2, Adilson Tonietto3
Resumo - A Sigatoka Negra é atualmente o principal problema fitossanitário da bananicultura no mundo. Neste contexto, o
conhecimento dos fatores de ambiente relacionados à doença é fundamental para a proposição de técnicas de manejo dos bananais
e redução de danos. Este trabalho apresenta aspectos da Sigatoka Negra, fatores de ambiente relacionados à incidência desta
moléstia, e indicativos de manejo. Ao mesmo tempo, fazem-se inferências sobre o comportamento da doença no extremo sul do
Brasil. Considerando-se os bananais do Rio Grande do Sul, é importante que se evite a disseminação da Sigatoka Negra e se faça
o manejo integrado das doenças, levando em conta aspectos de solo práticas culturais e utilização de cultivares resistentes. Os
sistemas agroflorestais despontam também como alternativas para os bananais, no sentido de promover sombreamento e concomitantemente produzir outros cultivos agrícolas de forma diversificada e sustentável.
Palavras-chave: banana, doença, Musa spp., Mycosphaerella fijiensis, sombreamento.
Black Sigatoka, environmental factors and agroforestry systems
in banana plantations of Rio Grande do Sul, Brazil
Abstract - Nowadays the black sigatoka is the major fitosanitary constrain of the banana cultivation in the world. In this context,
the knowledge of the environmental factors related to the disease is essential for proposing management techniques and damage
reductions. This paper presents some aspects of black Sigatoka disease, environmental factors related to the disease, and possibilities of management. Besides, it infers about the behavior of the disease at the extreme South of Brazil. Regarding the banana
plantations of Rio Grande do Sul, the black Sigatoka dissemination should be avoided and the disease management should be
integrated, considering aspects of soil, cultural practices, and the use of resistant cultivars. Agroforestry systems are also alternatives to the banana plantations as they can promote shading, and concomitantly produce other crops, in a diversified and sustainable way.
Key words: banana, disease, Musa spp., Mycosphaerella fijiensis, shading.
1
Engenheiro Agrônomo, MSc. Pesquisador da FEPAGRO Litoral Norte, doutorando PPG-Botânica/UFRGS. Rod. RS 484, km 05, Maquiné/RS,
CEP 95530-000. E-mail: [email protected].
2
Engenheiro Agrônomo, MSc., Pesquisador da FEPAGRO, R. Gonçalves Dias, nº 570, Bairro Menino Deus, CEP 90130-060, Porto Alegre/RS.
3
Engenheiro Agrônomo, Dr. Fruticultura, Pesquisador da FEPAGRO, R. Gonçalves Dias, nº 570, Bairro Menino Deus, CEP 90130-060, Porto
Alegre/RS.
Recebido para publicação em 08/08/2006
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RODRIGO FAVRETO, NELSON SEBASTIÃO MODEL, ADILSON TONIETTO
Introdução
A bananicultura possui grande importância econômica e social. O Brasil é um dos maiores produtores mundiais, produzindo anualmente mais de 6,5 milhões de toneladas, em área superior a 500 mil hectares (FAO, 2004).
Considerando somente o Estado do Rio Grande do Sul
(RS), para mais de 3 mil famílias de agricultores a atividade é a principal fonte de renda, e mais de 90% da produção estão concentrados na região do litoral norte gaúcho (EMATER, 2002).
Entretanto, os problemas fitossanitários estão entre
os maiores entraves para a bananicultura mundial, e atualmente a doença da Sigatoka Negra é uma das principais preocupações dos agricultores, sendo considerada a
mais grave e destrutiva doença da bananeira em quaisquer regiões do mundo onde ocorre (FANCELLI et al.,
2004). No Brasil, apesar de sua ocorrência recente, já
está causando grandes perdas em diversas regiões (CAVALCANTE et al., 2004b), pois os cultivares de banana
(Musa spp.) mais utilizados – tipo ‘Prata’, ‘Nanica’ e
‘Maçã’ – são altamente suscetíveis à moléstia.
Apesar da importância da doença, existem poucas
publicações sobre epidemiologia e biologia do agente
causal e, dessa forma, pouco se conhece os efeitos das
condições climáticas e variações genéticas do hospedeiro (HANADA et al., 2002). Além disso, não há informações científicas sobre o comportamento da doença no
extremo sul do Brasil.
Considerando a recente ocorrência da doença, a sua
rápida disseminação no território brasileiro e a pouca informação sobre esse tema no Sul do Brasil, este trabalho
objetiva expor e discutir aspectos da doença da Sigatoka
Negra. Dessa forma, são relacionados fatores de ambiente e opções de manejo para bananais do Sul do Brasil,
especialmente no Rio Grande do Sul. Ao mesmo tempo,
são discutidos aspectos sobre sistemas agroflorestais
como alternativas para o manejo dos bananais, na perspectiva de redução de danos pela Sigatoka Negra, de diversificação de cultivos e de aumento da biodiversidade.
A Sigatoka Negra e sua disseminação
A Sigatoka Negra foi descrita inicialmente nas Ilhas
Fiji, em 1963, como estria negra (“Black Leaf Streak”) (CAVALCANTE e GONDIM, 1999), tendo-se disseminado rapidamente pela Ásia e África. Todavia,
com base em materiais herborizados, Stover (1976)
sugere que o agente causal estava presente no Sudeste
Asiático, em Taiwan, desde 1927. Em 1972, foi detectada pela primeira vez na América Latina, em Honduras, difundindo-se posteriormente por diversos países,
estando hoje na maioria das principais regiões produtoras do mundo. No Brasil, a doença foi inicialmente
detectada em 1998 no Amazonas, e hoje ocorre em
vários estados.
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Quando presente, a doença é o principal fator de queda na produtividade dos bananais, com reduções de até
100% na produção comercial de bananas dos tipos prata
e nanicão. É extremamente destrutiva e causa morte prematura de folhas, exigindo, nas regiões quentes e úmidas, até 52 pulverizações por ano com fungicidas protetores ou 26 com sistêmicos para seu controle (GASPAROTTO et al., 2003b). Além dos problemas ambientais e
de saúde humana que pode causar, estima-se que seu controle com fungicidas representa 35 a 45% dos custos de
produção de bananas no México (OROZCO SANTOS et
al., 2001).
Em bananais no Brasil a sintomatologia verificada é
descrita por Gasparotto et al. (2003b). Inicialmente são
observadas pequenas pontuações claras na face abaxial
das folhas da bananeira. Essas pontuações progridem formando estrias de coloração marrom-clara, podendo atingir 2 a 3 mm de comprimento. Progressivamente, essas
estrias se expandem radial e longitudinalmente, sendo
então visualizadas na face adaxial, com até 3 cm de comprimento. Nos estádios finais, as lesões apresentam o
centro deprimido e de cor branco-palha, com um halo
interno proeminente marrom-escuro, circundado por um
pequeno halo amarelo. Em alguns casos, no centro das
lesões verifica-se pontuações escuras constituídas pelos
estromas com os peritécios da fase sexuada do patógeno.
A partir do estádio de manchas, observa-se alta freqüência de infecções próximo à nervura principal, caracterizando a maior agressividade da doença em relação à Sigatoka Amarela. Por não haver emissão de novas folhas
após o florescimento, a doença torna-se severa após a
emissão do cacho, perde todas as folhas após algumas
semanas e, assim, produz frutos pequenos com maturação precoce e desuniforme.
A moléstia apresenta como agente causal o fungo
Mycosphaerella fijiensis Morelet (fase anamórfica: Paracercospora fijiensis [Morelet] Deighton) sendo os conídios e ascosporos as estruturas de disseminação. A fase
assexual (P. fijiensis) é encontrada durante a fase de estrias ou manchas jovens da doença, onde se percebe a
presença de conidióforos, emergindo de forma isolada
ou em menor número, a partir dos estômatos foliares,
sendo visíveis principalmente na face inferior das folhas.
A fase sexuada caracteriza-se pela produção de elevado
número de ascosporos e, por isso, considera-se esta fase
como a mais importante no aumento da doença (MOREIRA, 2004). A concentração de ascosporos em um
bananal pode ser até 100 vezes superior à produção de
conídios (CORDEIRO e KIMATI, 1997).
Os ascosporos são produzidos em tecido necrosado e
mantêm-se por vários meses em folhas mortas até a decomposição. Os ascosporos são liberados dos peritécios
quando submetidos ao molhamento foliar, em maior abundância após uma hora de molhamento (VARGAS, 1996
citado por GASPAROTTO et al., 2003b). Em dias sem
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SIGATOKA NEGRA, FATORES DE AMBIENTE E SISTEMAS AGROFLORESTAIS EM BANANAIS DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
chuva a liberação de ascosporos ocorre só pela manhã,
após algumas horas de orvalho. O vento é o principal
agente de disseminação dos esporos, que são depositados principalmente nas folhas vela, um e dois. Se a umidade for adequada, os esporos emitem tubo germinativo,
penetrando pelos estômatos e em seguida colonizam células vizinhas, originando os sintomas (CORDEIRO e
KIMATI, 1997).
A dispersão de ascosporos de pequenas áreas para
novos locais, através do vento, é muito eficiente, atingindo distâncias superiores a 50 km (Stover, 1980). Calvo e
Romero (1998), na Costa Rica, constataram que não ocorre variação na concentração de esporos até 4 km da fonte
de inóculo. No entanto, Jones (1990) considera o transporte de mudas e folhas infectadas como o principal meio
de disseminação para longas distâncias. Hanada et al.
(2002) demonstraram que os conídios de P. fijiensis aderidos em folhas de bananeira e tecido de algodão permaneceram viáveis até 60 dias; em papelão, madeira, plástico e pneu, até 30 dias; em frutos, até 18 dias; e ferro, 10
dias. Por isso, o transporte de mudas infectadas e de folhas junto com os frutos, assim como a entrada de caminhões e pessoas em áreas infectadas são eficientes dispersores desse patógeno para longas distâncias (GASPAROTTO et al., 2003b).
Desse modo, a disseminação do patógeno ocorre através do vento, mudas infectadas, frutos e folhas doentes
transportados, caixas utilizadas como embalagens, veículos e pessoas. Nas poucas regiões onde a doença ainda
não ocorre, deve-se pôr em prática os princípios de exclusão: regulamentar o trânsito de materiais botânicos de
hospedeiros suscetíveis e controlar o acesso de pessoas e
veículos. Além disso, deve-se ter o cuidado com a obtenção de mudas livres do fungo, dando preferência para
regiões sem a Sigatoka Negra, evitando assim a sua introdução.
Controle da Sigatoka Negra, fatores de ambiente
e manejo dos bananais
Fungicidas protetores e sistêmicos são de uso corrente no controle da Sigatoka Negra. Compostos químicos
vêm sendo testados (SÁNCHEZ RODRIGUEZ et al.,
2002; HANADA et al., 2004), sendo alguns de menor
toxicidade e eficientes no controle da Sigatoka Negra ou
na desinfestação da superfície de materiais utilizados no
transporte. Fungicidas como Mancozeb, Trifloxistrobin,
Tebuconazole, Propiconazole, Difenoconazole, Imibenconazole, Tiofanato metílico, Flutriafol, Bitertanol e Ecolife, foram avaliados e se mostraram eficientes no controle da doença (GASPAROTTO e PEREIRA, 2004).
A moléstia pode ser controlada eficientemente por
práticas de cultivo adequadas e diversas aplicações de
fungicidas específicos. Porém no litoral norte gaúcho, a
aplicação de fungicidas em larga escala é bastante onerosa, pois a maioria dos bananais está localizada em áreas
íngremes, onde o trabalho é predominantemente braçal.
Assim, nesses locais, se a Sigatoka Negra se propagasse,
o aumento do número de aplicações de fungicidas poderia inviabilizar economicamente o cultivo da banana, além
de causar maiores danos ambientais.
Um método vem sendo proposto por Gasparotto et al.
(2004) para aplicação de pequenas quantidades de fungicidas sistêmicos concentrados nas axilas das folhas. O
método apresenta diversas vantagens, como redução do
peso transportado pelo aplicador, redução de custo, de deriva e de intoxicações, aumento da eficiência, entre outros. Entretanto, em caso de contato com o produto, a intoxicação poderá ser mais grave devido à sua maior concentração. Além disso, devido à fitotoxicidade são poucos os
fungicidas sistêmicos que podem ser aplicados dessa forma, e o uso contínuo de um mesmo composto pode promover o surgimento de resistência de M. fijiensis, como
descrito por Sánchez Rodriguez et al. (2002).
O fato de manter uma fruteira com aplicações de fungicidas sistêmicos durante o ano todo propicia condições
para seleção de estirpes de M. fijiensis resistentes a fungicidas (MOREIRA, 1987; GASPAROTTO et al., 2003a).
Problemas com resistência de M. fijiensis a fungicidas
sistêmicos são relatados (CASTRO et al., 1995), assim
como problemas com resíduos de fungicidas em águas,
sendo alguns considerados carcinogênicos e teratogênicos. Uma forma de evitar ou retardar o aparecimento da
resistência é alternar o uso de fungicidas sistêmicos e
protetores, e reduzir ao máximo as aplicações (GASPAROTTO et al., 2003a).
Em alguns países, sistemas de alerta bioclimático têm
auxiliado na redução da freqüência de aplicação de fungicidas (PÉREZ VICENTE, 1998). Estes sistemas de alerta permitem definir o momento da aplicação pelo estado
de evolução dos sintomas nas folhas e sua interação com
dados climáticos (PÉREZ VICENTE et al., 2000a, b).
Desse modo, a menor aplicação de agrotóxicos implica
em menores custos de produção, menor contaminação
ambiental e menor probabilidade de surgimento de resistência dos fungos aos fungicidas.
Atualmente, uma das principais estratégias da pesquisa para controlar a doença é o desenvolvimento de
cultivares resistentes por meio de melhoramento genético. Além de ser uma tecnologia ao alcance de todos os
agricultores, o uso de cultivares resistentes reduz o custo
de produção e os impactos ambientais decorrentes do uso
de agrotóxicos, além de proporcionar maior eficiência
no controle (MOREIRA, 2004). O uso de novos cultivares pode promover também a diversificação de cultivares na bananicultura, pois atualmente grande parte da
produção de banana no Rio Grande do Sul depende basicamente de dois cultivares.
No Brasil, vários cultivares resistentes são recomendados: Caipira, Mysore, Thap Maeo, Prata Zulu, FHIA
01, FHIA 02, FHIA 18, Pacovan Ken, Prata Caprichosa,
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Prata Garantida, Pelipita, entre outros. Todavia, a diversidade dos sistemas de produção deve ser considerada
quando se propõe intervenções ou introduções de novos
cultivares (COESSENS et al., 2002). A substituição de
um cultivar, tradicionalmente cultivado em uma determinada região, deve considerar o mercado e características agronômicas, como rendimento, porte, resistência a
outras doenças e ao frio, entre outros caracteres (PEREIRA et al., 2002).
O uso de cultivares resistentes é uma das maneiras
mais eficientes de controle de doenças nos cultivos agrícolas. Contudo, em muitas ocasiões, surgem novas raças
virulentas dos patógenos, ou novos patógenos, inviabilizando o uso de um cultivar que outrora fora difundido
como resistente a uma determinada doença, reiniciando
o uso intensivo de agrotóxicos. A utilização de cultivares
resistentes como única forma de controle de doenças pode,
então, não ser a estratégia mais adequada. Neste sentido,
é necessário usar outras estratégias, que devem fazer parte
do manejo integrado de doenças, onde se permita “conviver” com as doenças, ou seja, mantê-las em níveis adequados e não comprometer a viabilidade do cultivo. Nesta situação, o conhecimento dos fatores de ambiente relacionados à Sigatoka Negra é fundamental.
Temperaturas superiores a 21oC, e temperatura ótima
entre 25 e 28oC, umidade relativa alta e período chuvoso
prolongado são condições predisponentes à ocorrência da
Sigatoka Negra. Entretanto, tem sido mencionado que a
germinação dos ascosporos ocorre a partir de 10ºC (PÉREZ, 1996 citado por MARTÍNEZ et al., 2002). A duração do ciclo de vida do patógeno é influenciada pelas condições climáticas e pela suscetibilidade do hospedeiro.
Jacome et al. (1991) e Jacome e Schuh (1992, 1993)
verificaram que a infecção, o desenvolvimento e a severidade da doença foram influenciados pelo período de
molhamento foliar, ou seja, maior período de tempo com
lâmina d’água sobre as folhas correspondia a uma maior
severidade da Sigatoka Negra. Em regiões com diferentes estações climáticas, o período chuvoso é favorável à
doença (OROZCO SANTOS et al., 2001).
Gasparotto et al. (2003b), citando diversos autores,
destacam algumas práticas culturais como possibilidades de manejo para o controle ou a redução de danos da
Sigatoka Negra. A drenagem do solo e o controle de plantas daninhas, evitando microclima favorável ao patógeno, é uma estratégia recomendada. Entretanto, em regiões que naturalmente apresentam alta umidade do ar, essas práticas provavelmente não surtirão o efeito desejado, que é o de reduzir o molhamento foliar (GASPAROTTO et al., 2003b).
Alguns dados sobre as condições climáticas do litoral norte do RS são apresentados (Figura 1). Verifica-se
que a umidade relativa do ar média permanece relativamente alta, acima de 80%, e constante durante todo o
ano, sendo condição favorável ao patógeno. Quanto à
temperatura, a média mensal sofre uma redução a partir
de meados do outono (abril), até a primavera (outubro),
quando apresenta novamente temperaturas altas, favoráveis ao fungo. Quanto à precipitação pluvial, observa-se
que há dois períodos de maior pluviosidade, um no início
da primavera (setembro) e outro entre janeiro e abril. Essas
informações indicam que no litoral norte do RS, o período entre janeiro e abril provavelmente é o de maior predisposição à ocorrência de Sigatoka Negra, devido às altas temperatura e precipitação.
Também deve ser considerada a diferença sazonal na
radiação solar global que se verifica no RS (Figura 2). No
verão, com maior radiação solar, a toxina do patógeno provavelmente apresenta maior atividade, pois precisa de fotossensibilização para atuar (DAUB e EHRENSHAFT,
2000). Assim, maior pluviosidade, maior temperatura e
maior luminosidade condicionariam as plantas, então, para
situações de maiores danos pela Sigatoka Negra neste período de verão. Por outro lado, na maior parte restante do
ano, acredita-se que as condições climáticas do RS sejam
desfavoráveis à doença, e que o fungo M. fijiensis somente passaria a causar danos após um período de seleção natural para as condições climáticas do Sul do país.
Figura 1 - Médias mensais de temperatura, umidade relativa do ar (UR) e precipitação pluviométrica, em Torres, média de 1931-1960 (INSTITUTO DE PESQUISAS AGRONÔMICAS, 1989).
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Ressalta-se que os dados climáticos apresentados são
médias mensais históricas, e variações anuais são freqüentes e intensas, podendo provocar alterações na severidade
da doença. Variações em curtos períodos ou do ambiente
microclimático também podem ter influência sobre o patógeno. Devido à falta de informações técnicas regionais,
todas essas observações sobre o comportamento de M. fijiensis no RS ainda são motivo de dúvida e especulações.
Paralelamente, para melhor conhecimento sobre os
efeitos das condições climáticas sobre a Sigatoka Negra,
deve-se considerar o período de molhamento foliar. Esta
informação é obtida em estações meteorológicas a partir
de sensores específicos, ou estimados por meio de algoritmos que utilizam outras variáveis climáticas.
Diferenças ambientais ou de manejo promovem variações significativas na incidência e severidade da Sigatoka Negra da bananeira (EMEBIRI e OBIEFUNA, 1992;
MOBAMBO et al., 1994; MOULIOM PEFOURA et al.,
1996; UDU et al., 2002; CAVALCANTE et al., 2004a;
OLUMA et al., 2004). Em trabalho realizado em diferentes altitudes da República dos Camarões, Mouliom Pefoura et al. (1996) verificaram diferenças no desenvolvimento de Sigatoka Amarela (Mycosphaerella musicola
Leach) e Sigatoka Negra (M. fijiensis) em bananais. Por
meio de inoculações, os autores verificaram que M. fijiensis se desenvolvia mais rapidamente do que M. musicola em altitudes menores, e o inverso foi observado em
altitudes maiores. Da mesma forma, Mouliom Pefoura e
Mourichon (1990) verificaram menor agressividade da
Sigatoka Negra em maiores altitudes. Tem sido observado que M. fijiensis substitui M. musicola nas regiões onde
ocorre (CARDONA SANCHEZ e CASTAÑO ZAPATA,
2002). Esses autores verificaram maior ou menor produção de conídios de um ou de outro patógeno, dependendo das condições climáticas e da suscetibilidade dos cultivares. Esses trabalhos então demonstram que diferenças locais tendem a promover variações no desenvolvimento das doenças.
Variações na fertilidade do solo estão relacionadas à
severidade da moléstia (MOBAMBO et al., 1994; NAVA
e VILARREAL, 2000). Em solos com maior fertilidade,
especialmente maior teor de matéria orgânica, a incidência de Sigatoka Negra é menor (OLUMA et al., 2004).
Resultados semelhantes são observados para o Mal do
Panamá (Fusarium oxysporum f. sp. cubense), onde maiores teores de matéria orgânica no solo estão relacionados à menor incidência da doença nas bananeiras (SILVA JÚNIOR et al., 2000).
Bananais afetados por Sigatoka Negra tendem a apresentar melhor produtividade com a aplicação de micronutrientes (NAVA e VILARREAL, 2000). Adequados
teores de nitrogênio e potássio no solo, porém não em
excesso, também são mencionados como favoráveis para
uma maior produtividade em situações de ataque da Sigatoka Negra (PÉREZ-VICENTE, 1998).
A cobertura do solo por restos culturais em plantios de
plátano (Musa AAB) propiciou melhor desenvolvimento
das plantas e reduziu os danos causados por M. fijiensis
(NGONGO, 2002). A manutenção do solo coberto por restos vegetais conserva a umidade, melhora a taxa de infiltração de água e reduz as amplitudes térmicas no solo
(MODEL et al., 1995). Adubações verdes com leguminosas como Cajanus cajan (L.) Millsp. (guandu), Crotalaria
juncea L. (crotalaria), Vigna unguiculata (L.) Walp (feijão
caupi), entre outras, também são recomendadas (HAARER,
1966). A cobertura de solo disponibiliza nutrientes durante a decomposição, melhora as condições físicas e hídricas
do solo, além de auxiliar na decomposição de patógenos
no solo (SHCROTH et al., 2000).
O manejo das condições nutricionais e práticas agronômicas em plátanos reduziram a aplicação de fungicidas e os danos da Sigatoka Negra (GÓMEZ BALBÍN e
CASTAÑO ZAPATA, 2001). Uma boa condição nutricional do solo é importante para a redução dos danos causados pela doença, pois uma melhor nutrição promove
uma maior velocidade de expansão foliar, em alguns casos maior que a destruição pela Sigatoka Negra.
A desfolha sanitária, visando diminuir a quantidade
de inóculo, normalmente também é sugerida (PÉREZ
VICENTE, 1998). Gasparotto et al. (2003b) ressalvam
Figura 2 - Médias mensais de radiação global média (calorias/cm2/dia), em Osório, média de 1957-1984 (INSTITUTO DE PESQUISAS AGRONÔMICAS, 1989).
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que esta recomendação ainda requer comprovação científica, uma vez que a produção de conídios ocorre em
folhas com sintomas em fases que não são removidas pela
desfolha. Na prática observa-se que a desfolha ou o manejo da fertilidade, isoladamente, são ineficientes para a
redução dos danos (EMATER, 2005), e cada prática deve
ser entendida como parte do manejo integrado.
Sistemas agroflorestais como estratégia de manejo
A bananeira, em sua origem, é uma planta de subbosque, ou seja, sob outras árvores em bosques claros,
em bordas de florestas ripárias, dificilmente em locais
totalmente sombreados e nem sob plena luz (CHAMPION, 1968). Assim, o seu processo de evolução ocorreu
nessas áreas semi-sombreadas, e a base genética atual é
derivada dessas variedades silvestres, adaptadas a essas
condições microclimáticas.
Considerando a sua origem, especula-se que o ambiente mais adequado à bananeira seria em situações de
semi-sombreamento. Este sombreamento tende a reduzir
a severidade de moléstias, fato observado para a Sigatoka Amarela (CHAMPION, 1968). O sombreamento tem
tido resultados satisfatórios para controle da Sigatoka
Amarela, como verificado em sombreamento de 50% por
Inga spp., sem controle químico (SCHROTH et al., 2000).
Em trabalho no Acre também fica demonstrado que o
sombreamento da bananeira, através do consórcio com
seringueiras, promove reduções significativas da severidade da Sigatoka Negra (CAVALCANTE et al., 2004a).
Assim, pesquisadores recomendam a redução da luz incidente e dos ventos através de sombreamento por árvores, em sistemas agroflorestais (SAFs) para pequenos agricultores (FANCELLI et al., 2004).
Segundo Gasparotto et al. (2003b), com o cultivar Prata Anã, estabelecido em clareiras em áreas de capoeira com
diferentes níveis de sombreamento, constatou-se que, nas
plantas sombreadas parcialmente, com radiação solar reduzida para 17 a 45%, houve redução significativa na severidade da doença, e as plantas produziram cachos comerciais, apesar do aumento do ciclo de produção.
Emeberi e Obiefuna (1992) verificaram que, na fase
de estabelecimento do bananal, o sombreamento por
meio do cultivo consorciado com mandioca (Manihot
esculenta Crantz) promoveu redução significativa da
severidade de Sigatoka Negra em 10%. A remoção de
folhas velhas e atacadas pela doença promoveu reduções de até 18% na severidade da doença, fato este que
poderia ser explicado pela redução de inóculo. A interação entre a remoção das folhas com o cultivo consorciado proporcionou reduções de até 25% da severidade
da doença, se comparado ao cultivo em monocultura e
sem remoção de folhas velhas.
Com a redução da luminosidade, há menor atividade
da cercosporina, toxina envolvida na patogênese que depende de fotossensibilização para atuar (DAUB e
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EHRENSHAFT, 2000). Ao mesmo tempo, Hanada et al.
(2002) verificaram que em condições artificiais com ausência de luz não houve esporulação do fungo.
O aumento da densidade de plantio também provoca
maior sombreamento no bananal, o que poderia reduzir a
severidade da Sigatoka Negra. No entanto, observa-se
maior severidade da doença em maiores densidades de
plantio (PÉREZ VICENTE, 1998). Isso pode ser atribuído à menor ventilação e ao conseqüente aumento da
umidade relativa do ar no interior do dossel, além de as
folhas novas superiores, mais suscetíveis à infecção pelo
fungo, ficarem expostas ao sol.
A utilização de medidas culturais que reduzem as
condições favoráveis ao progresso da doença, ou pela
redução do molhamento foliar ou pela redução da luz incidente, permite um convívio harmonioso com a doença,
como em SAFs, apesar da possibilidade de menor peso
de cachos e maior ciclo (FANCELLI et al., 2004). Esses
fatores associados podem explicar, em parte, a menor
severidade da Sigatoka Negra em SAFs.
O efeito de quebra-ventos também tem sido satisfatório para a redução da severidade das Sigatokas Amarela e Negra. Este efeito pode ser devido à redução do vento que danifica folhas e ao acréscimo de cobertura e do
teor de matéria orgânica do solo (ONUEGBU et al., 2002).
Maior cobertura de solo e maior teor de matéria orgânica em bananais sombreados podem ser resultado indireto do sombreamento, já que nesses sistemas de cultivo
há maior aporte de matéria orgânica oriunda da poda das
árvores que fazem o sombreamento (MARTÍNEZ GARNICA, 2000). Este autor verificou que plátanos conduzidos sob 50% de sombreamento de um SAF apresentaram
menor severidade da Sigatoka Negra, atribuindo este efeito ao maior teor de potássio verificado no solo, devido à
grande quantidade de material vegetal podado das árvores. Entretanto, o mesmo autor considera que este fator
isoladamente não é suficiente para explicar as grandes
diferenças em severidade em comparação a plátano sem
sombreamento. De forma semelhante, verificou-se que
plantas sob sombreamento apresentaram maior teor de
potássio nas folhas, provavelmente pelo maior teor no
solo e pela menor concentração de cálcio verificada nas
folhas, pois o cálcio compete com o potássio na absorção. O autor faz suposições de que esse menor teor de
cálcio nas folhas sombreadas seja devido à menor transpiração das folhas das bananeiras nesta condição (ECKSTEIN et al., 1997).
Segundo Norgrove (1998), em regiões tropicais a saturação luminosa para a bananeira ocorre em situações de
sombreamento parcial, sem a necessidade de sol pleno.
Em adição, em altas intensidades luminosas a fotorrespiração e as necroses reduzem o rendimento de frutas comercializáveis. Também se observam adaptações morfofisiológicas em situações de menor luminosidade, tais como
folhas mais delgadas e com maior teor de clorofila, maior
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superfície foliar e eficiência fotossintética específica
(MURRAY, 1961), compensando a redução da luminosidade. Murray (1961) também apresenta dados que demonstram maiores teores de nitrogênio, fósforo e potássio nas
folhas de bananeiras sob menor luminosidade.
Norgrove (1998) revisou diversos trabalhos (ECKSTEIN et al., 1997; ISRAELI et al., 1996; MURRAY, 1961;
TORQUEBIAU e AKYEAMPONG, 1994; VICENTECHANDLER et al., 1966) que avaliaram os efeitos da
sombra sobre bananais. Em todos os estudos, o ciclo de
crescimento e a taxa de emissão de folhas foram mais
longos, e houve uma maior quantidade de folhas. Nas
regiões tropicais, os estudos demonstraram efeito positivo da sombra sobre a produtividade, ou seja, maior produtividade com 30 a 50% de sombreamento em relação
ao cultivo a pleno sol. Em regiões subtropicais o inverso
foi verificado, apesar de não terem sido estudadas baixas
porcentagens de sombreamento.
Ambientes agrícolas com maior diversidade, como
SAFs, apresentam tendência de menor severidade de pragas e doenças (SCHROTH et al., 2000). Todavia, em
alguns casos os danos podem aumentar devido ao manejo inadequado e à combinação de espécies que compartilham patógenos. No consórcio de bananeira com
outras espécies para aumento da produtividade total da
área e para supressão de uma determinada moléstia,
deve-se evitar o favorecimento à outras doenças e pragas. O simples aumento da diversidade não garante o
sucesso do sistema implementado, do ponto de vista
agrícola, e as interações entre espécies e o conhecimento sobre o manejo ainda requerem bastante estudo. A
combinação de espécies e o manejo devem ser estudados caso a caso, e a pesquisa deve desenvolver programas de experimentação em cooperação com os agricultores (SCHROTH et al., 2000).
Segundo Schroth et al. (2000), que apresentam uma
abrangente revisão sobre fitossanidade de SAFs, o sombreamento causa diversos efeitos benéficos ou adversos,
diretos ou indiretos, no controle de doenças (Tabela 1).
Por causa disso, algumas doenças podem ser inibidas e
outras estimuladas nessas condições. Assim, o manejo
deve manter o sistema em equilíbrio e promover o efeito
desejado pelo agricultor. As interações e a escolha das
espécies em SAFs ainda constitui um grande campo aberto para a pesquisa agrícola mundial.
O manejo da poda das árvores para controlar o sombreamento é um desafio para a pesquisa (VIVAN, 2002).
No Rio Grande do Sul, a luminosidade e a temperatura
no inverno são menores, e especula-se que muitas das
árvores usadas para sombrear bananais devam ser preferencialmente caducifólias ou podadas, para evitar o excesso de sombra no inverno. Umidade elevada em situações de sombreamento excessivo pode favorecer o desenvolvimento de patógenos, ao mesmo tempo que pode
favorecer determinados microrganismos antagonistas
(SCHROTH et al., 2000).
Para a pesquisa, estas considerações implicam em avaliações de diferentes espécies para sombreamento, em especial aquelas que podem aumentar a renda do agricultor,
como árvores produtoras de madeiras, frutas, ornamentais,
entre outras. Também devem ser estudadas as interações
(antagonismos e sinergismos) entre as espécies de sombra
e as bananeiras, bem como o comportamento de pragas e
doenças (MARTÍNEZ GARNICA, 2000).
Toda vantagem biofísica de um policultivo em relação ao monocultivo depende da combinação de espécies,
de suas densidades e dos fatores limitantes do ambiente.
Os benefícios da combinação, constituídos pelos processos ecológicos de facilitação e complementariedade, devem ser superiores às desvantagens, como alelopatia, fa-
Tabela 1 - Alguns efeitos diretos e indiretos do sombreamento sobre doenças em sistemas agroflorestais (SCHROTH et al., 2000)
Fator
Efeito desejável
Efeito indesejável
Menor radiação ultravioleta
Redução de esporulação fúngica
Proteção do patógeno contra radiação
Menor temperatura
Maior crescimento de determinados patógenos
Menor crescimento de determinados patógenos
Menor amplitude térmica
Redução de danos às folhas
Menor ventilação
Menor disseminação de esporos
Tempo de molhamento foliar prolongado
Maior germinação de esporos e crescimento
microbiano
Maior umidade relativa do ar
Interceptação da chuva
Menor dispersão de esporos pelo impacto de
gotas sob folhas pequenas
Coalescência de gotas em folhas grandes:
maior dispersão de esporos pelo impacto de
gotas maiores
Efeitos mecânicos
Redução de danos por vento
Danos por quedas de galhos
Biodiversidade associada
Barreiras físicas ou químicas aos patógenos,
e presença de antagonistas
Presença de hospedeiros alternativos
Fertilidade e água no solo
Maior teor de matéria orgânica e nutrientes,
promovendo maior vigor
Competição por nutrientes e por água
Suscetibilidade das plantas
Menor estresse por radiação, temperatura e
transpiração elevadas
Estiolamento e menor metabolismo sob sombreamento excessivo
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vorecimento ao patógeno e competição por espaço, luz,
água e nutrientes, de modo que a produtividade do sistema a longo prazo seja maior (NORGROVE, 1998).
No litoral norte do RS, com acompanhamento de instituições governamentais e não-governamentais, agricultores vêm conduzindo bananais consorciados com árvores, caracterizando SAFs (SCHMITT et al., 2003). Os
objetivos dos SAFs constituem em otimizar as interações
positivas de modo a obter, a partir dos recursos disponíveis e nas condições técnicas, ecológicas e socioeconômicas existentes, uma produção total mais elevada, diversificada e sustentada (SILVA e SAIBRO, 1998). Procedimentos dessa natureza abrem a perspectiva para
incentivar os agricultores a adotar e reproduzir esse modo
de uso da propriedade, tendo em vista benefícios ambientais e aumento de renda e, conseqüentemente, melhoria de qualidade de vida.
Conclusões
A Sigatoka Negra está causando grandes transtornos à
bananicultura. Considerando a sua recente disseminação
no Brasil, a adoção de diversas técnicas de controle da
doença, na forma de manejo integrado dos bananais, é fundamental para a redução de danos e de uso de fungicidas.
Nos locais ainda livres da doença, deve-se evitar sua
introdução controlando o acesso de pessoas, materiais
contaminados e veículos aos bananais, além de obter
mudas sadias, preferencialmente de regiões onde a moléstia não ocorre. O uso de cultivares resistentes é um
dos principais mecanismos de controle da doença, pois
proporciona facilidade e eficácia do controle. Da mesma
maneira, a desfolha sanitária, o manejo das condições
nutricionais, da cobertura do solo, da densidade de plantio, entre outros, podem contribuir para o desenvolvimento da bananeira em detrimento do patógeno.
As condições climáticas do Sul do Brasil, marcadamente definidas por estações, indicam para a possibilidade de variações sazonais na severidade da Sigatoka Negra.
Isto também implica em adequações das práticas de controle da doença, que devem levar em conta as flutuações
sazonais de temperatura, pluviosidade e luminosidade.
Os sistemas agroflorestais também são sistemas de
cultivo relevantes, quando se considera o manejo como
um todo das propriedades agrícolas. Considerando a possibilidade da “convivência” com a Sigatoka Negra nesses sistemas, a produção de outras espécies em meio às
bananeiras pode significar acréscimo de renda e de biodiversidade no agroecossistema da Encosta Atlântica do
Rio Grande do Sul.
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INVASÃO, PREVENÇÃO, CONTROLE E UTILIZAÇÃO DO CAPIM-ANNONI-2
(Eragrostis plana Nees) NO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
Invasão, prevenção, controle e utilização do capim-annoni-2
(Eragrostis plana Nees) no Rio Grande do Sul, Brasil1
Renato Borges de Medeiros2, Telmo Focht 3
Resumo - As pastagens naturais do Rio Grande do Sul (RS) vêm sendo degradadas por pastejo excessivo, queimadas, práticas de
cultivo, erosão e pela invasão da gramínea sul-africana Eragrostis plana (capim-annoni-2), introduzida acidentalmente na década
de 1950. A multiplicação de sementes e utilização como forrageira favoreceu a sua dispersão e o estabelecimento nas margens de
estradas e na vegetação campestre. A área de campo infestada no RS é estimada em um milhão de hectares. Controle integrado,
regulamentação do transporte de animais, desinfestação de locais de remates e a eliminação de focos dispersores auxiliarão na
redução da expansão da espécie. Práticas preventivas de manejo do campo nativo poderão evitar a infestação de novas áreas. A
avaliação dos efeitos de sistemas de manejo sobre a dinâmica da vegetação e da performance dos animais poderão revelar práticas
de manejo capazes de reduzir ou deter a área ocupada por esta invasora, aumentar a biodiversidade e a produtividade do campo
natural.
Palavras-chave: campo nativo, degradação ambiental, dispersão de sementes, espécie invasora.
Invasion, prevention, control and utilization of capim-annoni-2
(Eragrostis plana Nees) in Rio Grande do Sul, Brazil
Abstract - The natural grasslands of Rio Grande do Sul (RS) have been deteriorated due to widespread overgrazing, use of fire,
soil tillage, erosion and by the invasion of the south african grass Eragrostis plana (capim-annoni-2), accidentally introduced in
the 1950’s. Seed multiplication and use as a forage crop favored its dispersion establishment in roadsides and in the natural
grassland vegetation. The invaded area in RS is estimated to be one million hectares. Integrated control, regulations of animal
transport, weeding of sale yard areas, and the elimination of weed nursery will help to reduce the spreading of this species.
Preventive grassland management practices might avoid invasion of new fields. The evaluation of the effects of management
systems over the vegetation dynamics and the animals performance may reveal new tools capable to decrease or retain the abundance of this invasive species and improve biodiversity and productivity of the natural grassland.
Key words: environmental degradation, invasive species, native grassland, seed dispersion.
1
Revisão Bibliográfica.
Engenheiro Agrônomo, Doutor, Professor Adjunto, Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia, Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, CP 776, Av. Bento Gonçalves, 7712, CEP 91570-970, Porto Alegre, RS. E-mail: [email protected] Autor para correspondência.
3
Biólogo, MSc, Doutorando pelo Programa de Pós-graduação em Ecologia/UFRGS. E-mail: [email protected]
Recebido para publicação em 08/02/2006
2
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PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.105-114, 2007.
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RENATO BORGES DE MEDEIROS, TELMO FOCHT
Introdução
As primeiras modificações na flora nativa campestre, determinadas pela introdução de espécies exóticas e
pelo uso do fogo no Cone Sul, foram observadas em 1850
nos campos de Buenos Aires, Argentina, pelo naturalista espanhol Azara (ARAÚJO, 1971; CROSBY, 1993).
Araújo (1971) alertou para o risco da degradação dos
campos, lembrando a preocupação de um agrostologista
australiano que, em visita ao Rio Grande do Sul sentenciou: “se o pastoreio intensivo continuar, este será o precursor da vegetação desértica”.
Os 10,5 milhões de hectares de pastagens naturais do
RS, representam 37% do seu território (IBGE, 2003). Neles
são conhecidas cerca de 400 espécies de Poaceae e 150 de
Fabaceae (BOLDRINI, 1997), entre outras famílias, constituindo a base alimentar de 12,6 milhões de bovinos e 4,3
milhões de ovinos (IBGE, 2004). Apesar da sua importância econômica e ambiental, este recurso natural renovável está sendo degradado por superpastejo, uso inadequado do fogo, de práticas mecanizadas de cultivo (ARAÚJO, 1971; MEDEIROS et al., 2004a) e plantio em áreas
sem aptidão agrícola com efeitos negativos sobre o ambiente. A degradação do solo acelerou-se pela erosão hídrica e eólica e, nas últimas décadas, pela expansão da área
invadida por Eragrostis plana Nees (capim-annoni-2),
gramínea sul-africana estival perene, introduzida acidentalmente na década de 1950 (REIS, 1993). Sua tolerância
às flutuações do clima, especialmente a geada, sugeriram
ser ótima planta forrageira e, por isto, foi multiplicada e
suas sementes comercializadas no RS pelo Grupo Rural
Annoni, de Sarandi, RS, a partir de 1970, sob o nome de
“capim-annoni-2”. A distribuição de sementes aumentou
a pressão de propágulos e acelerou o processo invasor.
Estes fatores de degradação respondem pela drástica redução na freqüência e riqueza de muitas espécies nativas
e da heterogeneidade da vegetação do bioma Campos
(MEDEIROS et al., 2004b) e queda da produtividade pecuária (REIS, 1993), com prováveis prejuízos também à
riqueza biológica do solo.
A espécie se estabelece nos espaços abertos das comunidades, em campos degradados por pastejo e pisoteio excessivos ou cultivo intenso do solo (OLIVEIRA,
1993) e em margens de estradas. Atualmente, é considerada a invasora mais agressiva e de mais difícil controle
nos campos do RS (REIS, 1993) e acredita-se que a área
invadida seja superior a um milhão de hectares, ou aproximadamente 10% da área do bioma Campos no RS
(MEDEIROS et al., 2004b). Para 2008, é projetada a
ocupação de 2 200 000 hectares por esta invasora, ou
cerca de 20% da superfície dos campos nativos do RS
(MEDEIROS et al., 2004b).
Esta revisão discute a situação atual do problema da
invasão do capim-annoni-2 sobre a vegetação campestre
e em áreas agrícolas no RS, os resultados mais relevantes
106
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106
na pesquisa sobre o tema, as lacunas existentes no conhecimento da espécie e possíveis soluções para a prevenção
da sua expansão, seu controle e sua utilização.
Invasão
A invasão do capim-annoni-2 já é um fenômeno de
larga escala geográfica no RS, com presença também
registrada em MG, BA e PR (INSTITUTO HÓRUS,
2004). Todavia, é de senso comum que também ocorre
em outros estados (SC, SP, MS, MT, TO, PA e Distrito
Federal) e no Uruguai e Argentina. A espécie chegou ao
RS como impureza em lotes de sementes de capim-derhodes (Chloris gayana Kunth) e capim-chorão (Eragrostis curvula (Schrader) Nees), importadas da África
do Sul, no final da década de 1950 (REIS, 1993). Domina certos tipos de savanas africanas, sendo mais freqüente
em regiões de solos pobres. Na África é considerada uma
planta indesejável e invasora dos locais destinados à agropecuária (KIRKMAN e MORRIS, s.d.).
Desde a sua entrada no Estado, a espécie tem sido
objeto de discussões em dias de campo, seminários e congressos. Apesar de ter chegado como impureza, o Grupo
Rural Annoni passou a produzir e comercializar suas sementes no RS e em outros Estados do Brasil, divulgando
a espécie como uma forrageira excelente e revolucionária, por seu porte vigoroso e boa produção de massa verde
e de sementes (REIS e COELHO, 2000a). Este fato motivou pecuaristas a semeá-la em seus campos, contribuindo
na difusão da espécie. MARCANTONIO (2002) considera que a queda no índice de parição e a dificuldade da
engorda de novilhos poderão agravar-se com a continuidade da expansão da espécie no Estado. Dentro deste quadro, o autor utiliza a expressão “Campos de Inço” para
descrever o futuro das pastagens no RS.
As primeiras pesquisas realizadas no RS para avaliar o
desempenho de novilhos em campo nativo, em comparação com o capim-annoni-2, mostraram que este superou o
campo nativo em ganho de peso vivo/ha; todavia, o ganho
por animal, reflexo direto do valor nutritivo da espécie, foi
inferior ao obtido no campo nativo (SILVA et al., 1973;
LEAL et al., 1973). Porém, estes trabalhos compararam
vegetação campestre de baixo valor nutritivo em Tupanciretã sobre solos arenosos de baixa fertilidade natural. Estudos posteriores apontaram a espécie como deficiente em
qualidade e palatabilidade (NASCIMENTO, 1976; NASCIMENTO e HALL, 1978), não oferecendo suporte nutricional para ovelhas adultas e cordeiros (FIGUEIRÓ, 1976).
Estas informações levaram pesquisadores, extensionistas e
produtores a reconhecerem a espécie como de baixo valor
forrageiro, com características de planta invasora, dominante e de difícil erradicação (REIS e OLIVEIRA, 1978).
Com base nestas avaliações, a portaria MA nº 205, de 13 de
março de 1979 do Ministério da Agricultura, proibiu a comercialização, o transporte, a importação e a exportação de
suas sementes e mudas no RS.
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.105-114, 2007.
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INVASÃO, PREVENÇÃO, CONTROLE E UTILIZAÇÃO DO CAPIM-ANNONI-2
(Eragrostis plana Nees) NO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
A hipótese de que a invasora apresentava mecanismos de defesa de origem alelopática determinou a realização de pesquisas para testar este efeito de partes da
planta colocadas em vasos. A germinação de sementes e
o desenvolvimento das plântulas de trevo-branco (Trifolium repens L.) e azevém-anual (Lolium multiflorum
Lam.) foram prejudicadas quando expostas a extratos
de capim-annoni-2, sugerindo a presença de mecanismos ativos de defesa alelopática da espécie em relação a
estas forrageiras cultivadas (COELHO, 1986). As plântulas de cornichão (Lotus corniculatus L.), ao contrário,
não foram afetadas pelos mesmos extratos. O efeito de
níveis de cobertura (0, 50 e 100%) de partes da planta de
capim-annoni-2 (folhas e colmos), colocadas em caixas
de germinação (Gerbox), também foi estudado por Ferreira et al. (2006a), que comparou Lactuca sativa L. (alface crespa - testemunha, de rápido crescimento inicial)
com gramíneas perenes de ciclo estival nativas Paspalum notatum Flüggé (grama-forquilha) e P. regnelli Mez,
Repert (macega-do-banhado) e as exóticas Megathyrsus
maximus B.K.Simon & S. W.L.Jacobs (capim-mombraça) (ex-Panicum maximum) e Setaria sphacelata (Schumach) Staff & C.E.Hubb ex Chipp (capim-kazungula).
Os autores verificaram que as sementes viáveis de alface e de capim-colonião germinaram praticamente antes
do início da decomposição aeróbica dos tecidos de capim-annoni-2, escapando do efeito alelopático. As sementes de capim-kazungula e grama-forquilha, ao contrário, ao germinarem posteriormente, ficaram expostas
aos efeitos alelopáticos dos tecidos de capim-annoni-2,
ocasionando prejuízos nas taxas de germinação. Na macega-do-banhado, o efeito alelopático só se manifestou
no nível de 100%, ocasionando significativa redução na
taxa de germinação.
Outro aspecto importante em relação ao capim-annoni-2 é o seu alto potencial de produção de sementes
de pequeno tamanho e sua alta capacidade germinativa
(MEDEIROS et al., 2006a). Estas sementes apresentam
habilidade para enterrar-se, evitar a germinação precoce
e formar bancos de sementes no solo. Este mecanismo
de escape prolonga a longevidade da semente, habilitando a espécie a regenerar-se e reinstalar novas populações em resposta a eventuais distúrbios no solo (MEDEIROS et al., 2006a). A recuperação e a germinação
de sementes enterradas em diferentes profundidades no
perfil do solo (superfície, 2,5, 5, 10 e 20 cm) foram descritas por modelos exponenciais negativos (MEDEIROS
et al. 2006a). A germinação das sementes da superfície,
após dois anos, foi de 4,5% e, para as sementes a 20 cm
de profundidade, o valor foi de 40,3%. De acordo com
os modelos, 0,1% das sementes na superfície ainda sobrevive após cinco anos e 0,01% daquelas enterradas a
20 cm ainda estará viável após 24 anos de enterrio. Isto
demonstra que, quanto mais profunda estiver a semente,
mais preservada estará sua capacidade germinativa. Neste
caso, a utilização do sistema de plantio direto deve ser
preferida para evitar que sementes viáveis localizadas
nas zonas mais profundas do solo sejam trazidas à superfície, germinem e estabeleçam novas populações da
invasora. Amostras de fezes de bovinos, coletadas em
campos dominados por capim-annoni-2 no final do estágio reprodutivo, entre março e abril, em Rio Pardo,
RS, colocadas em casa de vegetação e mantidas irrigadas, apresentaram expressiva quantidade de plântulas
germinadas (MEDEIROS e FOCHT, s.d.). Este fato demonstra que uma fração considerável de sementes passa
incólume no trato digestivo de bovinos, fenômeno já registrado em espécies de gramíneas com sementes pequenas como as de E. curvula (KIRKMAN e MORRIS,
s.d.) e Sporobolus indicus (L.) R.Br. (ANDREWS, 1995).
Em função dos atributos biológicos descritos, o capim-annoni-2 apresenta alta habilidade competitiva podendo modificar a estrutura e a diversidade da comunidade vegetal, alterando o seu equilíbrio. Com o tempo, a
espécie torna-se dominante e a comunidade assume o
aspecto de “monocultura” (REIS e COELHO, 2000a).
Esta dominância decorre, provavelmente, do fato de ter
encontrado nos solos do RS um ambiente mais favorável para seu estabelecimento e persistência do que o existente em seu local de origem, onde, de acordo com Kirkman e Morris (s.d.), os solos são mais pobres e degradados, com regime hídrico mais seco. De acordo com Craine (2003), o teor de N de gramíneas está associado com
a disponibilidade de N dos ecossistemas. As espécies
com baixo teor de N, associadas a solos pobres em N,
são denominadas espécies baixo-N, e aquelas com alto
teor de N, associadas a solos ricos em N, são ditas espécies alto-N (CRAINE et al., 2001). As gramíneas baixoN são mais competitivas em ambientes com baixo N do
que as com alto-N. Aquelas apresentam maior duração
de vida de folhas e raízes, maior densidade radicular e,
em conseqüência, maior proporção raiz:parte aérea do
que as alto-N. As baixo-N têm perfilhos muito próximos, resultando em hábito cespitoso, e seus colmos são
eretos para manter a inflorescência em posição elevada
e suportar uma pequena área foliar. Entretanto, as altoN tendem a ser de hábito rizomatoso e estolonífero (caulescentes), com hábito rastejante, e apresentam colmos
não só para sustentar flores, mas para suportar uma maior área foliar com folhas paralelas ao solo. Estas adaptações estrutural-morfológicas das gramíneas baixo-N estão presentes no capim-annoni-2 e podem, por este fato,
explicar em parte, a sua vantagem adaptativa para colonizar aberturas da vegetação campestre em solos degradados com alta abundância de espécies alto-N como a
grama-forquilha (Paspalum notatum Flüggé) e a gramatapete (Axonopus affinis Chase). No estudo realizado por
Abichequer et al. (2006), ao compararem a distribuição
da massa de raízes de espécies nativas, em sua maioria
de hábito caulescente, com a de capim-annoni-2 de há107
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bito cespitoso, em um campo nativo dominado por esta
espécie, verificaram que a massa de raízes de capimannoni-2 foi 66% superior às das espécies caulescentes
nos 30 cm de profundidade avaliados. A superioridade
da massa de raízes de capim-annoni-2 deve-se à sua
maior massa nos 0-10 cm superficiais. A massa de raízes nas camadas de 11-20 e 21-30 cm entre espécies caulescentes e de capim-annoni-2 não diferiu entre si. Embora sejam dados ainda preliminares, eles sugerem que
o capim-annoni-2 poderia ser mais eficiente na captação
dos recursos do solo na camada 0-10 cm.
A rápida expansão e dominância do capim-annoni-2
decorre também da sua rejeição pelos animais durante a
época de maior crescimento do campo natural (primavera-verão) e, em conseqüência, a espécie se expande
rapidamente na vegetação campestre (MEDEIROS et al.,
2004b). Nesta condição, as plantas estabelecidas, com
maior biomassa aérea e subterrânea, capturam mais recursos do ambiente (nutrientes, luz, água, etc.) do que as
forrageiras nativas, desenvolvendo-se e produzindo grandes quantidades de sementes, a cada estação de crescimento. Os autores consideram que, de ano para ano, ocorrem aumentos de freqüência e cobertura, e a espécie torna-se dominante na área.
Com a existência de focos de capim-annoni-2 em
todas as regiões ecoclimáticas do RS (REIS e COELHO, 2000a; MEDEIROS et al., 2004b), no inventário
de campo, no qual foi utilizada a seguinte escala de
abundância: 0 = ausente, 1 = rara, 2 = esparsa, 3 = abundante, 4 = muito abundante, registrou-se a ocorrência
da espécie em 387 pontos, que corresponde a 86,6 %
dos 447 pontos visitados (Figura 1A). Em 135 locais,
registrou-se abundância 4, equivalendo a 30,2 % do total
(Figura 1B). O Diagnóstico de Sistemas de Produção
de Bovinocultura de Corte do RS, em um universo
amostral de 540 produtores entrevistados, distribuídos
em 117 municípios, revelou que 41% dos produtores
têm 17% de seus campos invadidos com capim-annoni-2, os quais apresentam uma porcentagem média de
41% de infestação (UFRGS/IEPE, 2005).
Prevenção
A prevenção ainda é a melhor estratégia contra invasoras, pois, uma vez presentes e acumulando banco de
sementes do solo no novo ambiente, a sua erradicação é
muito difícil (MOHLER, 2001). Em geral, os procedimentos para reduzir o impacto das invasoras pretendem
atingir seus objetivos no curto prazo, raramente superior a cinco anos (MOHLER, 2001). Para este autor, fenômenos relacionados à diversidade, composição da comunidade e evolução das invasoras afetam a comunidade destas em escalas de tempo que podem atingir séculos. Sugere ainda a observação de três pontos, em razão
da ausência de estudos acompanhando modificações de
longo prazo nestas comunidades: a) primeiro, as plantas
respondem evolutivamente aos recursos disponíveis em
campos cultivados, desencadeando um contínuo aumento
na diversidade das invasoras em áreas agrícolas, o que
poderá exigir um desenvolvimento contínuo de técnicas
de manejo para que um nível constante de controle seja
atingido; b) segundo, as plantas invasoras são facilmente adaptáveis a uma alta pressão de seleção e aos herbicidas, podendo se desenvolver novas populações resistentes, fato já documentado para Lolium rigidum Gaudin (POWLES et al., 1998). Por esta razão, a pressão de
seleção pode ser reduzida, usando-se múltiplas técnicas
de controle ecológico de invasoras, dentro de um sistema de plantio diversificado, o que evitaria a adaptação
Figura 1 - Mapas da ocorrência do capim-annoni-2 em diferentes regiões ecoclimáticas do RS. (A) apresenta o trajeto percorrido, onde foi
registrada a ocorrência da espécie em 447 pontos, e (B) indica os locais onde o capim-annoni-2 apresenta uma abundância 4 (ver detalhes no texto).
(Fonte: MEDEIROS et al. 2004b.)
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INVASÃO, PREVENÇÃO, CONTROLE E UTILIZAÇÃO DO CAPIM-ANNONI-2
(Eragrostis plana Nees) NO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
destas ao manejo; c) terceiro, mudanças genéticas nas
comunidades de invasoras são estimuladas por sua dispersão entre diferentes regiões ecológicas. Assim, manejos de longo prazo exigem a prevenção e/ou o controle da dispersão das invasoras e uma prévia erradicação
dos novos focos. Estudos indicam que ambientes com
uma alta riqueza de espécies na comunidade recipiente
apresentam maior resistência à invasão (TILMAN, 1997;
NAEEM et al., 2000). Blumenthal et al. (2003) sugerem
que a restauração de uma área pode controlar pragas e
que a invasibilidade de comunidades vegetais pode decair com uma maior idade sucessional e diversidade.
Medeiros et al. (2006b) submeteram um campo nativo
originalmente livre de capim-annoni-2 a diferentes níveis
de distúrbio (campo alto: altura superior a 10 cm; campo
baixo : altura inferior a 5 cm - e campo baixo escarificado)
e regimes de manejo (pastejos contínuo, rotativo e exclusão). Após a imposição inicial do distúrbio, a área recebeu
sementes de capim-annoni-2 e a partir de então adotaramse os regimes de manejo. Nos dois anos iniciais do experimento, observou-se que o menor nível de distúrbio (campo
alto), combinado com o pastejo rotativo ou exclusão, mostra-se resistente à germinação das sementes, não sendo registrado o recrutamento de uma única plântula de capimannoni-2. Ao contrário, o distúrbio mais intenso (campo
baixo escarificado) sob pastejo contínuo registrou o maior
número de plântulas. Estes resultados confirmam a hipótese de que o campo alto, por apresentar uma comunidade
herbácea mais densa, vigorosa e com maior densidade de
raízes, limita a disponibilidade de nutrientes para a entrada
e o desenvolvimento da espécie invasora. Além disso, este
tipo de campo acumula material morto, elimina espaços
abertos, reduz a entrada de luz e a temperatura na superfície do solo, causando prejuízos à germinação e estabelecimento das sementes invasoras. Outro efeito importante decorre diretamente do sistema de pastejo rotativo, que exerce um certo controle do pastejo seletivo, fator este que reduz as chances de uma invasora de baixo valor nutritivo,
como o capim-annoni-2, de desenvolver-se rapidamente em
função da rejeição pelos animais.
Deve ser destacado o estudo da vegetação de margem de estrada dominadas por capim-annoni-2, com o
objetivo de restaurar a vegetação com espécies nativas
ou pela introdução de forrageiras cultivadas, em andamento no município de Rio Pardo, RS (FERREIRA et
al., 2006b). No levantamento do banco de sementes do
solo foram encontradas sementes de 68 espécies distribuídas em 30 famílias botânicas. Estes dados demonstram que, apesar do pleno domínio do capim-annoni-2
em acostamentos de estradas, nestes locais existe potencial de restauração da vegetação original a partir da presença de BSS rico e heterogêneo.
Em razão de sua plasticidade ecológica, competitividade, expressiva produção de sementes e capacidade
de dispersão, que habilitam o capim-annoni-2 a coloni-
zar e se estabelecer em uma ampla variedade de condições ambientais, mais ações de pesquisa visando a prevenção da invasão de áreas de campo ainda não infestadas devem ser colocadas em prática, tais como: a) estudos de caráter básico sobre biologia, ecofisiologia e fenologia de capim-annoni-2; b) dinâmica do banco de
sementes no solo; c) dinâmica de dispersão com atenção
especial para a dispersão de sementes ingeridas pelos
animais; d) controle de focos da espécie em margens de
rodovias e em locais de remates.
Medidas de caráter oficial devem ser postas em prática, visando a regulamentação do deslocamento de animais de regiões já infestadas para áreas ainda livres da
espécie. Adicionalmente, será necessário realizar campanhas de esclarecimento sobre a real dimensão do problema e suas possíveis implicações junto a entidades
representativas do meio rural e nos eventos relacionados ao setor.
Controle
Vários estudos envolvendo controle de capim-annoni-2 em campos infestados foram conduzidos desde a década de 1970. Cultivos sucessivos de forrageiras anuais
de inverno, aveia (Avena sp.) e azevém anual, e de verão,
milheto (Pennisetum americanum (L.) Leeke) e soja (Glycine max (L.) Merr), durante quatro anos, reduziram drasticamante a presença de capim-annoni-2, permitindo, na
seqüência, o estabelecimento de forrageiras perenes como
Megathyrsus maximus (Jacq.) B.K. Simon & S.W.L. Jacobs (ex-Panicum maximum) cv. Gatton, Chloris gayana
L. e B. humidicola (GUTERRES, 1993). O capim-annoni-2 foi quase eliminado com o uso de B. humidicola. No
estudo de Couto (1994), B. humidicola demonstrou ser a
melhor opção de controle do capim-annoni-2, quando
comparada a Brachiaria brizantha (Hochst. ex A. Rich.)
Stapf. Entretanto, estas espécies também podem se tornar
invasoras no RS (INSTITUTO HÓRUS, 2005). Reis e
Coelho (2000a), utilizando o sistema de controle integrado, combinando cultivos convencionais e sistemas de plantio direto e o uso de herbicidas durante dois ciclos agrícolas, obtiveram expressiva redução no nível de abundância
da espécie, bem como do tamanho do banco de sementes
viáveis do solo. Em outro trabalho, Reis e Coelho (2000b),
utilizando três sucessões culturais – soja, sorgo granífero
(Sorghum bicolor (L.) Moench) ou sorgo forrageiro (Sorghum sudanense (Piper) Stapf) na estação quente e aveia
preta (Avena strigosa Schreb.) na estação fria,com o uso
de herbicidas – e obtiveram expressiva redução na emergência de plântulas e na diminuição das sementes viáveis
de capim-annoni-2 no banco de sementes do solo. Na
seqüência, Reis e Coelho (2000c) utilizaram um campo
com menos de 3% de cobertura pelo capim-annoni-2 previamente cultivado, por 3 anos, com uma sucessão soja
com herbicidas e aveia preta, para introduzir B. brizantha
e B. humidicola (Rendle) Schweick. Neste estudo, obser109
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varam, ao final de dois ciclos agrícolas, que a presença de
plantas de capim-annoni-2 estava reduzida a zero. Estes
resultados confirmaram a B. humidicola como espécie
mais adequada a este propósito, quando comparada a B.
brizantha. Gonzaga e Coelho (1993), em uma área previamente submetida à rotação soja x aveia por três anos
consecutivos, utilizaram uma consorciação das leguminosas forrageiras cornichão e trevo-branco e da gramínea
Agrostis capillaris L. (brown top), sob diferentes pressões de pastejo (2, 4 e 6% PV), para impedir a reinfestação pelo capim-annoni-2. A presença deste, ao final do
quarto ano de experimento, permaneceu baixa nas três
pressões de pastejo.
Ainda com relação ao controle, uma elevada densidade de plantas arbóreas pode exercer o controle de gramíneas com baixa tolerância à sombra. Costa et al.
(2000), ao comparar espécies de gramíneas estivais sob
duas densidades arbóreas de acácia negra (Acacia mearnsii De Wild.), em sistema silvipastoril sob pastejo
contínuo, observaram, no primeiro ano, uma tendência
de diminuição do diâmetro das plantas de capim-annoni-2. Trabalhando na mesma área, Lucas (2004) verificou que no final do terceiro ano a população de plantas
de capim-annoni-2 foi reduzida a zero.
A produção de sementes das espécies nativas de maior
valor forrageiro colocaria à disposição de produtores e
de instituições envolvidas com a preservação ambiental
uma ferramenta importante na reabilitação de áreas degradadas pela invasão do capim-annoni-2, pela semeadura destas espécies nos campos. Esta medida, de um
lado, poderia amenizar os prejuízos da invasão desta espécie e de outras plantas indesejadas nos campos e, de
outro lado, oportunizaria o desenvolvimento de um mercado ativo de sementes de espécies nativas de importância como planta forrageira. A semeadura de espécies
dominantes da flora local, em épocas favoráveis ao seu
estabelecimento, certamente contribuiria no controle e
na desaceleração da expansão do capim-annoni-2 e de
outras espécies invasoras.
Utilização
Devido à extensão da área já invadida pelo capimannoni-2 e da grave situação econômica em que se encontra uma significativa parcela dos pecuaristas do Estado, é necessário desenvolver um conjunto de práticas
de manejo para a utilização racional destes campos, tanto do ponto de vista técnico como econômico. O dilema
para desenvolver estas técnicas reside no pastejo seletivo que varia com a espécie vegetal e com a idade das
plantas, com a carga e a espécie animal, sendo maior em
ovinos do que em bovinos (VAN SOEST, 1994). Com
base nestes tópicos, poder-se-ia indagar se a manipulação da pressão de pastejo de espécies de herbívoros menos seletivos, ajustada para cada estação de crescimento, uso de pastejo rotativo ou diferimentos, suplementa110
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ção protéica e/ou energética, roçadas estratégicas para
evitar a sementação ou para fenação, promoveria a restauração dos campos nativos próxima à biodiversidade
original. A possibilidade de resposta a esta indagação
depende da proposição e execução de projetos de pesquisa alicerçados em princípios ecológicos, conforme
sugeridos por Sheley e Krueger-Mangold (2003). Experimentos em comunidades complexas de campos nativos de regiões montanhosas da Escócia, dominados pela
gramínea cespitosa Nardus stricta L., de baixo valor
nutritivo e com alto índice de rejeição pelos animais,
tendo, entre suas touceiras, gramíneas finas de hábito
rastejante, de alto valor nutritivo e preferidas pelos animais (Agrostis spp., Anthoxanthum odoratum L., Festuca spp., Deschampsia flexuosa (L.) Trin.), com o objetivo de reduzir os prejuízos desta invasora à economia e à
biodiversidade destes campos, são discutidos por Gordon (2000). Na primeira fase, os estudos envolveram
medidas da biomassa, composição botânica e estrutura
da pastagem, qualidade da dieta e níveis de remoção de
uma particular espécie pelos ruminantes. Na fase seguinte, foram determinados os efeitos da pressão de pastejo
sobre a dinâmica da vegetação, a performance dos animais e a biodiversidade. Esta seqüência de estudos revelou que, por meio da manipulação da oferta e do consumo de forragem, em situação de pastejo misto com bovinos e ovinos ou somente com bovinos, existem possibilidades de aumentar a capacidade de carga destas pastagens bem como de redução ou retenção da área ocupada por esta invasora (GORDON, 2000). A utilização
destas comunidades complexas, por seis anos consecutivos, formadas por touceiras da invasora Nardus e espécies finas, com pressão de pastejo ajustada para manter a vegetação rasteira, entre touceiras, com alturas de
4,5 cm para bovinos e de 4,5 e 3,5 cm para ovinos, revelou que os bovinos têm potencial para controlar ou reduzir a presença da invasora e aumentar a proporção de
material vivo de espécies de gramíneas de maior valor
nutritivo (GRANT et al., 1996; ARMSTRONG et al.,
1999). Em contraste, o pastejo com ovinos aumentou a
cobertura de Nardus, mesmo quando as gramíneas finas
preferidas eram mantidas com altura de 3,5 cm. Os autores concluíram que a utilização com ovinos, em baixa
pressão de pastejo, aumenta a cobertura de Nardus, sugerindo que a utilização contínua com esta espécie animal reduzirá a diversidade da pastagem e a renda da atividade pecuária. Ao contrário, a utilização com bovinos, na maior pressão de pastejo, proporciona aumentos
na capacidade de suporte e na diversidade da pastagem,
sugerindo que este regime de manejo agrega benefícios
ao sistema de produção. Geralmente os aumentos na capacidade de carga estiveram positivamente associados
com maiores porcentagens específicas de material vivo
e com as espécies de gramíneas mais produtivas da pastagem. O pastejo misto com ovinos e bovinos mostrou-
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INVASÃO, PREVENÇÃO, CONTROLE E UTILIZAÇÃO DO CAPIM-ANNONI-2
(Eragrostis plana Nees) NO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
se benéfico para a redução da cobertura de Nardus; entretanto, a espécie bovina foi prejudicada na sua performance produtiva (GORDON et al., 1995, citado por
GORDON, 2000). O sistema de pastejo contínuo e superpastejo em comunidades campestres da África do Sul
torna E. plana e E. curvula dominantes (KIRKMAN e
MORRIS, s.d.). De acordo com estes autores, o sistema
de pastejo rotativo e o corte reduzem a seletividade e
tornam a dominância destas espécies menos marcante.
Em relação à utilização eficiente de áreas de campo
nativo dominadas por capim-annoni-2, com altos teores
de fibra e baixos de proteína, uma das ferramentas de
manejo de fácil aplicação seria a suplementação dos animais, a fim de promover uma melhoria na qualidade da
dieta, incrementar a atividade microbiana do rúmen, estimular o consumo de forragem e melhorar o desempenho dos animais. Estudos nesta direção começaram a ser
realizados no RS. Brüning et al. (2006) avaliaram três
tipos de suplementação mineral: sal mineral (Fosbovi
Pronto®) (SM), sal mineral proteinado (Foscromo
Seca®) (SP) e sal mineral proteinado (Foscromo Seca®)
+ sal mineral (Fosbovi Reprodução®) (SP + R) em comparação com sal comum (SC) sobre o desempenho de
novilhas de sobreano em pastagem nativa da Depressão
Central do RS dominada por capim-annoni-2 durante o
período de 06 de setembro a 12 de dezembro de 2005. O
peso vivo final e o ganho médio diário foram maiores
nos tratamentos SP e SP + R (309 kg; 0,424 kg/dia; 307
kg; 0,411 kg/dia) do que em sal comum (288 kg; 0,218
kg/dia), respectivamente. A condição corporal das novilhas foi maior no tratamento SP + R em relação a SC e o
ganho de peso vivo/ha foi maior no tratamento SP (75
kg/ha) do que no SC (34 kg/ha).
A utilização de capim-annoni-2 na forma de feno
amonizado foi sugerida por Alfaya et al. (2000a) e Alfaya et al. (2000b). Estes autores verificaram que a amonização com uréia a 4% proporciona um aumento de
6,91% para 8,05% nos teores de proteína bruta (PB), e
uma queda de 48,1% para 42,8% nos teores de fibra detergente ácido (FDA). O tratamento foi realizado em feno
cortado entre os 60-90 dias de crescimento para evitar
prejuízos no seu valor nutritivo e formação de panículas
e deiscência das sementes (ALFAYA et al., 2000b).
Estas informações representam mais uma contribuição na elaboração de modelos de manejo, visando melhorar a relação custo benefício da utilização de áreas
dominadas pelo capim-annoni-2.
Implicações ecológicas
As plantas invasoras são hoje a segunda maior ameaça mundial à biodiversidade, perdendo apenas para a destruição de hábitats pela exploração humana direta (ZILLER, 2001). Para Souza (1984), as comunidades vegetais
campestres formam sistemas dinâmicos e espacialmente
heterogêneos, com trocas constantes com o meio. Estas
mudanças na vegetação devem-se ao desenvolvimento
estacional das espécies presentes, ao ciclo de vida (em
especial das espécies dominantes), aos processos de autoregeneração, a desenvolvimentos evolutivos, à variação
no clima, a alterações na vegetação por pastejo, fogo, vento
e exposição a processos fisiográficos (MILES, 1978), e à
competição com espécies exóticas. Em geral, ambientes
degradados são locais potenciais para ocupação por espécies invasoras (MOHLER, 2001).
Conforme Williamson e Fitter (1996) e Radosevich
et al. (2003), espécies exóticas, como o capim-annoni-2,
atingem diferentes níveis de sucesso de acordo com o
tipo de invasão: a) introduzida, quando pode ser encontrada no novo ambiente de forma casual, com uma população potencialmente auto-sustentável; b) estabelecida ou colonização, situação na qual já apresenta uma
população auto-sustentável, naturalizada; e c) praga, em
que produz efeitos econômicos negativos.
Cumming (2002) defende a necessidade de estudos
que relacionem informações do organismo invasor com
dados sobre o ambiente receptor, tais como distúrbios e
interações bióticas, para um melhor entendimento dos
processos envolvidos. Alguns ambientes parecem ser
mais suscetíveis à invasão do que outros (ZILLER, 2001;
RADOSEVICH et al., 2003). As condições mais destacadas são: a) quanto menor a diversidade natural do ecossistema, maior o risco de invasão; b) as espécies exóticas com potencial de invasoras não encontram competidores, predadores e parasitas; e c) quanto maior o distúrbio da vegetação natural, maior o potencial de estabelecimento e invasão de plantas exóticas. Conforme Harper (1977), esta última resposta pode ser atribuída à alta
freqüência de locais seguros para a germinação e o estabelecimento do invasor. Perrings et al. (2002) afirmam
que práticas que reduzem a biodiversidade do ecossistema, envolvendo um pequeno número de espécies animais e vegetais, eliminam predadores e competidores e
geralmente tornam tais sistemas mais vulneráveis ou
menos resistentes a invasões. Para Davis et al. (2000),
entretanto, a suscetibilidade de uma comunidade a invasões está relacionada à quantidade dos recursos disponíveis, ou quanto mais recursos disponíveis e menor a sua
utilização pela comunidade residente, maior a chance
de entrada de espécies invasoras.
A ampla distribuição do capim-annoni-2 no território
do RS (Figura 1) torna o problema muito mais grave do
que parece, pois cada local que apresenta uma única planta é um foco potencial para uma infestação total. Uma
das características da espécie é a alta produção de sementes viáveis (REIS, 1993; COELHO, 1993), de pequeno
tamanho e adaptadas ao enterrio (MEDEIROS, 2004a).
O RS apresenta várias regiões ecoclimáticas, com
suas peculiaridades edáficas e diferentes classes de uso
da terra, não havendo solução única a ser adotada. Neste
contexto, vale lembrar a idéia defendida por Schuma111
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cher (1973) de que, para problemas locais, as soluções
também devem ser locais.
As várias práticas de manejo discutidas podem ser
adotadas pelos produtores, com a finalidade de contribuir
para o controle e a redução da expansão do capim-annoni-2. Oliveira (1993) alerta para o fato de que apenas
medidas de controle permanentes poderão prevenir a disseminação da espécie. As diversas instituições públicas e
privadas, vinculadas à produção agropecuária, nos âmbitos federal, estadual e municipal, constituem a infra-estrutura necessária para a aplicação destas propostas. Sugere-se também a erradicação dos focos de capim-annoni-2 dos corredores viários entre propriedades, acostamentos de estradas e rodovias, para permitir a restauração da
vegetação nativa de ervas e arbustos, típica destes locais,
as quais são poderosas barreiras naturais de prevenção da
invasão biológica. Os custos destas ações poderão ser divididos entre os proprietários das terras atingidas,as prefeituras e os governos estadual e federal, por meio de programas e/ou operações conjuntas ou, ainda, na forma de
cooperação local (proprietários/prefeituras). Entretanto,
tais medidas deverão ser planejadas, obedecer a orientações técnicas rigorosas e adequadamente estruturadas e,
finalmente, acompanhadas de um monitoramento de longo prazo para evitar o agravamento do problema ou que
outro(s) seja(m) criado(s), visto que os processos ecológicos só se fazem notar após longos períodos de tempo.
preensão da dinâmica de sua dispersão e das estratégias
de controle e prevenção; b) pesquisas em ecofisiologia
sobre a sensibilidade a estresses luminoso, hídrico e mineral; c) avaliação de sistemas de manejo que envolvam
ajuste de carga, uso de suplementação protéica e/ou energética e mineral, dentre outras, combinada com roçadas
estratégicas e uso de pastejo misto e de espécies ruminantes menos seletivas como bovinos e bubalinos, que proporcionem modificações na dinâmica da flora campestre
nativa mantendo alta produtividade animal; d) identificação e produção de sementes de espécies nativas de maior
valor forrageiro com o objetivo de contribuir na restauração de acostamentos de rodovias e de campos infestados,
ou para auxiliar na restauração da vegetação nativa de áreas
destinadas ao pousio após anos de cultivos.
Outro ponto importante seria motivar os produtores
para utilizarem as recomendações disponíveis de controle integrado, desinfestação dos locais de realização
de eventos e eliminação de focos da espécie em margens de rodovias com a finalidade de deter a expansão
do capim-annoni-2.
Deve-se, ainda, estimular ações conjuntas do setor
público e associações de produtores com o objetivo de
executar e regulamentar o transporte de animais para controlar a dispersão de sementes, bem como realizar campanhas de esclarecimento sobre os prejuízos econômicos e
as conseqüências ecológicas e sociais da degradação dos
campos nativos pela invasão do capim-annoni-2.
Conclusão
Agradecimentos
Em razão da plasticidade ecológica, expressiva produção de sementes e capacidade de dispersão que habilitam o capim-annoni-2 a colonizar e se estabelecer em uma
ampla variedade de condições ambientais, ações de pesquisa visando a prevenção da invasão de áreas de campo
ainda não infestadas e sua utilização devem ser colocadas
em prática, tais como: a) estudos de caráter básico sobre
biologia e fenologia, em particular, para uma melhor com-
Os autores agradecem ao Prof. PhD. João Carlos de
Saibro pela revisão e sugestões ao manuscrito original,
à Profa. Dra. Denise Fontana pela elaboração do mapa,
as contribuições dos revisores e o apoio financeiro recebido de FAPERGS, CNPq, CAPES, Sindicato Rural de
Dom Pedrito, Estância Guatambu, Fazenda São Lucas e
Tortuga Companhia Zootécnica Agrária.
Referências
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O. Crescimento e Distribuição de Raízes de Capim-Annoni-2: Vantagem Competitiva em Relação ao Campo Nativo. In: REUNIÃO DO
GRUPO TÉCNICO EM FORRAGEIRAS DO CONE SUL, 21., 2006,
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CONTROLE DE PLANTAS NATIVAS INDESEJÁVEIS DOS CAMPOS NATURAIS DO RIO GRANDE DO SUL
Controle de plantas nativas indesejáveis dos
campos naturais do Rio Grande do Sul
Leonardo Araripe Crancio1, Paulo César de Faccio Carvalho2,
Carlos Nabinger3 e Ilsi Iob Boldrini4
Resumo - A conservação do campo nativo é importante para o Rio Grande do Sul, pois, além do aspecto econômico, tem também
importantes implicações ambientais. O manejo inadequado da pastagem natural pode causar o aumento da freqüência de espécies
nativas indesejáveis. Elas podem causar uma diminuição da produção do campo,pela da competição exercida com as plantas
forrageiras de interesse, ou afetar diretamente a produção animal por causarem redução na ingestão de alimento ou mesmo efeitos
tóxicos que podem, inclusive, ser letais. As espécies nativas indesejáveis, mais freqüentes no Rio Grande do Sul do ponto de vista
da produção animal, são o caraguatá (Eryngium horridum Malme), a carqueja (Baccharis trimera Less.), a chirca (Eupatorium
buniifolium Hook.), o mio-mio (Baccharis coridifolia DC.) e o alecrim (Vernonia nudiflora Less.). Dentre as estratégias disponíveis para controlar estas espécies podemos citar o controle mecânico, por meiode roçadas ou arraste de vigas de ferro; o controle
químico, com a utilização de herbicidas; o controle biológico, por meio do pastejo, além de outras interferências que favorecem o
campo nativo nas relações de competição intra-específicas, como a adubação. Algumas dessas intervenções influenciam a dinâmica da vegetação, como por exemplo o pastejo e o fogo. Obviamente , a eficácia de todos esses métodos depende das características
morfofisiológicas e fenológicas, dentre as espécies. Portanto, é importante que sejam observadas as épocas corretas de utilização.
Experiências demonstram que a interação entre os métodos pode promover uma maior eficiência no controle das espécies. Esta
revisão tem como objetivo reunir as informações existentes sobre as principais plantas nativas indesejáveis do Rio Grande do Sul
e seus métodos de controle.
Palavras chave: plantas indesejáveis, pastagem nativa, herbicida, roçada, intensidade de pastejo.
Control of native undesirable species from Rio Grande do Sul natural pastures
Abstract - The preservation of natural pastures is important to Rio Grande do Sul because, in addition to its economic value, it has
ecological implications. Inadequate or poor management of native pasture can cause an increase in frequency of undesirable
native species. Undesirable species can decrease production from pastures, through competition with desirable forage species, or
by directly affecting livestock production through reduced intake, or even through toxic effects. Undesirable species, from the
animal production point of view, most frequently found in Rio Grande do Sul, are caraguatá (Eryngium horridum Malme), carqueja (Baccharis trimera Less.), chirca (Eupatorium buniifolium Hook.), mio-mio (Baccharis coridifolia DC.) and alecrim (Vernonia
nudiflora Less.). Some strategies to control these species include mechanical control, by mowing or dragging iron shanks; chemical control, by herbicides; biological control, by grazing, as well as other management strategies (e.g., fertilization) that could
favor native pasture in intraspecific competition. Some of these interventions influence vegetation dynamics, such as grazing and
burning. Obviously, the efficacy of all these methods depends on morphological and phenological characteristics, which vary
among species. Therefore, it is important to implement the management strategy during the right utilization period. Experiences
show that interaction between methods can promote greater efficiency upon species control. The aim of this review is to aggregate
the information about undesirable native plants in Rio Grande do Sul and methods for their control.
Key words: invasive plants, native pastures, herbicide, cutting, grazing intensity.
1
Engenheiro Agrônomo, MSc. E-mail: [email protected]
Zootecnista, Doutor, Professor Adjunto do Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia, UFRGS, Av. Bento Gonçalves, 7712,
CEP 91501-970, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected]. Autor para correspondência.
3
Engenheiro Agrônomo, Doutor, Professor Adjunto do Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia, UFRGS.
4
Bióloga, Doutora, Professora Ajunta do Departamento de Botânica, UFRGS.
Recebido para publicação em 02/01/2006
2
115
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.115-124, 2007.
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3/9/2007, 19:04
LEONARDO ARARIPE CRANCIO, PAULO CÉSAR DE FACCIO CARVALHO, CARLOS NABINGER E ILSI IOB BOLDRINI
Introdução
A base da alimentação dos rebanhos bovinos e ovinos no Rio Grande do Sul é o campo nativo. Além do
aspecto econômico que representa, a conservação do ecossistema Campos Sulinos, recentemente reconhecido como
tal (IBAMA, 2004), também é importante pela fauna que
abriga e pela diversidade botânica que possui. Segundo
Boldrini (1997), a vegetação campestre compreende cerca de 150 espécies de leguminosas e 400 de gramíneas.
Esta biodiversidade representa não somente um valioso
banco de germoplasma in situ de espécies forrageiras,
mas também atua no equilíbrio climático, na preservação de polinizadores, no seqüestro de carbono, dentre
outros. Também destaca-se a importância do campo nativo na conservação do solo e da água, bem como a reciclagem de nutrientes que realiza.
A sustentabilidade de ecossistemas para a produção
animal requer um manejo que mantenha os recursos do
solo e assegure um balanço favorável entre plantas desejáveis e indesejáveis. Isto significa controlar o pastejo
para manter a produção de espécies de interesse, tanto
para a produção de herbívoros domésticos, quanto para
alimentar a fauna local, e limitar o aumento da freqüência de espécies indesejáveis (ARCHER, 1996). Conceitualmente, uma planta nativa indesejável para produção
animal é aquela que, embora fazendo parte do ecossistema, ou não integra de forma constante a dieta do animal
ou, mesmo fazendo parte dela, não contribui a longo prazo com o pleno atendimento dos requerimentos nutricionais dos animais. Além disso, diminui a proporção de
espécies de interesse forrageiro pela ocupação de área,
pela competição por água, luz e nutrientes ou pela interação destes dois fatores, podendo ou não apresentar efeitos tóxicos sobre os animais. A conseqüência direta das
plantas indesejáveis é a diminuição da capacidade de suporte do campo, podendo também trazer prejuízos indiretos danificando o couro ou a lã dos animais,.
As plantas indesejáveis nativas mais freqüentes nos
campos nativos do Rio Grande do Sul, e para as quais,
comumente, se faz necessária alguma intervenção com o
intuito de diminuir sua freqüência, são: carqueja (Baccharis trimera Less.), caraguatá (Eryngium horridum
Malme), alecrim (Vernonia nudiflora Less.), chirca (Eupatorium buniifolium Hook.) e mio-mio (Baccharis coridifolia DC.). Nesta revisão bibliográfica serão abordadas as características biológicas dessas plantas, assim
como seus métodos de controle.
Principais espécies nativas indesejáveis do Campo Nativo
Uma das espécies nativas indesejáveis de maior freqüência e que apresenta maior número de trabalhos realizados para estudar seu controle é o caraguatá. Esta espécie, da família Apiaceae, apresenta as folhas crassas,
116
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com espinhos nas margens e dispostas em roseta. Essas
folhas estão inseridas em uma coroa, onde se localizam
as gemas; logo abaixo, está o rizoma, órgão responsável
pelo acúmulo de reservas, que serão utilizadas pela planta para rebrotes posteriores ou desenvolvimento da inflorescência, sendo este momento o mais propício para esgotá-las, quando o objetivo é o controle da espécie. Seu
ciclo e sua população são dependentes das variações climáticas de cada ano (CARÁMBULA et al., 1995), assim
como do tipo de solo e do manejo empregado na área, o
que pode influenciar sua distribuição. Normalmente, as
plantas encontram-se distribuídas em todo o potreiro, mas
também podem ocorrer na forma de “manchas”. A inflorescência é emitida na primavera, quando há um alongamento do pedúnculo e da ráquis. Segundo Kissmann e
Groth (1999), as flores estão dispostas em capítulos de
cor branca que formam uma estrutura globosa de superfície espinescente, dispostos na forma de uma panícula.
A produção de sementes é abundante, mas não há informações sobre sua viabilidade; como são pequenas e leves, se dispersam com muita facilidade pelo vento, pela
ação de animais e pelo escorrimento superficial da água
da chuva. As plantas indesejáveis, em geral, apresentam
grande variabilidade quanto à maturação de sementes
tanto entre indivíduos quanto entre distintas partes da
inflorescência. Por isso, sua dispersão ocorre desde o
verão até o outono (GONZAGA, 1998).
Na tentativa de quantificar a diminuição da produção
de forragem causada pela competição com esta espécie,
Montefiori e Vola (1990) demonstraram que uma cobertura de 40 a 70% de caraguatá pode provocar uma diminuição na produção de forragem da ordem de 43%. Devese salientar que, além da diminuição de produção de forragem devido à competição por água, luz e nutrientes,
também há o efeito da diminuição da área pastoril. Esses
autores comentam que generalizações não são apropriadas por ser um ensaio pontual e necessitam de mais repetições ao longo dos anos, mas de qualquer forma é útil
para dimensionar o efeito prejudicial da espécie.
A carqueja é outra espécie tida como indesejável, freqüentemente encontrada nos campos naturais da região
sul do Brasil, Uruguai e norte da Argentina e que pode
ocorrer na forma de densas manchas, mas é mais comum
que ocorra como plantas isoladas. Pertence à família Asteraceae, é um subarbusto ramificado, ereto e entouceirado. Os ramos são trialados, com alas membranáceas
interrompidas de forma desigual. As folhas, quando presentes, são reduzidas, de formato ovalado com menos de
5 mm de comprimento, não contribuindo em termos de
fotossíntese, atividade essa desempenhada pelos ramos
(KISSMANN e GROTH, 1999). A inflorescência é na
forma de capítulos, geralmente aglomerados, com flores
unissexuais de coloração amarelada formando espigas
interrompidas (SIMÕES et al., 1998). Nuñez e Puerto
(1988) relatam que podem ocorrer até três mil capítulos
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.115-124, 2007.
3/9/2007, 19:04
CONTROLE DE PLANTAS NATIVAS INDESEJÁVEIS DOS CAMPOS NATURAIS DO RIO GRANDE DO SUL
por planta e afirmam que as raízes têm capacidade de
brotar. De acordo com Kissmann e Groth (1999), seus
frutos são aquênios dotados de pápus, permitindo a dispersão anemófila. Segundo Berreta (1997), a espécie rebrota na primavera a partir destes órgãos subterrâneos,
tanto quanto de gemas de caules lignificados, continuando seu ciclo até a floração, que se estende de fevereiro a
maio. Já Nuñez e Puerto (1988) e Gonzaga (1998) citam
que a planta cresce na primavera, e que seu crescimento
se prolonga até o verão quando começa seu período de
repouso e frutificação, para apresentar novo rebrote no
outono. Devido ao seu sistema radicular superficial, é
suscetível à seca. As plantas de carqueja sementam abundantemente. O período de frutificação ocorre de fevereiro até maio, com uma intensidade máxima em abril. O
número de sementes depende do tamanho, da idade da
planta (NUÑEZ e PUERTO, 1988) e das condições ambientais. Esses autores, em trabalho onde estudaram a
biologia da espécie, encontraram poder germinativo das
sementes próximo a 52,2%, não havendo diferenças quando colhidas em março, abril ou maio. Uma planta produz
em torno de 50.000 sementes e, como são pequenas, são
dispersas pelo vento e pela ação dos animais. A cobertura por espécies nativas e ou cultivadas, em um potreiro,
elimina espaços vazios onde poderiam estabelecer-se
novas plantas dessa espécie (GONZAGA, 1998). Durante o período frio sua parte aérea seca, permanecendo viva
a parte basilar do caule e o sistema radicular. Porém, em
anos de inverno ameno, as plantas podem seguir verdes
ou somente secarem as partes basilares. Quanto ao acúmulo de substâncias de reservas, este ocorre quando a
planta está vegetando e se dá na base dos caules, permitindo novo crescimento na primavera ou no outono (GONZAGA, 1998). No entanto, este local de acúmulo é mais
efetivo para as gramíneas, existindo a necessidade de
estudos para verificar a hipótese de, nesta espécie, as raízes e a coroa serem os locais de maior contribuição para
armazenagem de tais substâncias.
Pertencente à família Asteraceae, a chirca tem sua maior
ocorrência na região sudoeste do Estado do Rio Grande do
Sul, Uruguai, centro e norte da Argentina, Paraguai e sul
da Bolívia. É um arbusto estival, perene, cespitoso, com
caules ramificados e lenhosos, alcançando até 2,5 m de
altura (MARCHESINI, 2004). Possui folhas sésseis, opostas, simples lineares a pinatisectas, com 3 a 6 cm de comprimento e largura de 4 mm e ápice agudo (KISSMANN e
GROTH, 1999), chegando a desenvolver um forte sistema
radicular do tipo pivotante, onde armazena suas reservas.
A floração e a sementação ocorrem no final do verão e
outono. São produzidas muitas flores, de coloração castanha a marrom-escura, em numerosos capítulos agrupados
em panículas laxas com pedicelos curtos. Os frutos são
aquênios, os quais por possuírem pápus piloso, proporcionam ampla dispersão, tanto pelo vento, quanto pelos animais (MARCHESINI, 2004). Conforme Gonzaga (1998),
a chirca inicia o rebrote no final do inverno, desenvolvendo-se na primavera-verão. É prejudicial à produção animal por competir com as espécies de interesse por água,
nutrientes e luz, podendo extingui-las por sombreamento
excessivo. Na Argentina, onde a produção de carne alcança
valores próximos a 90-95 kg/ha/ano, a infestação dessa espécie pode determinar uma redução da produção de carne
para aproximadamente 25 kg/ha/ano, demonstrando ser necessária a aplicação de técnicas de melhoramento e manejo
(MARCHESINI, 2004). Isto demonstra o efeito prejudicial
da espécie sobre a produção animal, pois, além de diminuir
sua produtividade, ainda acarreta em custos devido à necessidade de empregar-se algum método de controle.
O mio-mio é um subarbusto dióico, de 50 a 80 cm de
altura, pertencente à família Asteraceae. Segundo Tokarnia et al. (2000), a planta ocorre em áreas mais secas do
Uruguai, da Argentina e do Rio Grande do Sul, principalmente na fronteira entre estes países, podendo ser encontrada em Santa Catarina, Paraná e até em São Paulo.
Suas folhas são lineares, agudas, com 1,5 a 5 cm de comprimento e aproximadamente 1,5 a 5 mm de largura
(BARROS, 1993). Apresenta sua inflorescência na forma de racemos na parte terminal dos ramos, formando
uma pseudopanícula. As flores, de coloração amarelada,
estão dispostas em capítulos, dispostos na extremidade
dos ramos e em grande número. As plantas masculinas
possuem em torno de 15 flores por capítulo, enquanto
que a feminina, de 8 a 10 flores brancas e filiformes. Seus
frutos são aquênios subcilíndricos dotados de pápus (KISSMANN e GROTH, 1999). Seu rebrote ocorre na primavera, a partir de seu rizoma; a floração se estende de janeiro a maio e, após, perde suas folhas e atravessa o inverno com baixa área foliar, permitindo acesso dos animais à forragem. No entanto, é na primavera que apresenta maior problema, pois é aí que exerce a maior competição por luz com as espécies de interesse forrageiro,
uma vez que perde suas folhas a partir do outono. Porém,
seu efeito não chega a ser significativo sobre a produção
de forragem (MONTEFIORI e VOLA, 1990).
É importante destacar que esta planta é tida como indesejável não pela sua capacidade competitiva, mas por
sua toxidez, podendo levar animais à morte. Tokarnia et
al. (2000) afirmam que todas as partes da planta são tóxicas, em ordem crescente: raiz e caule, folhas, sementes e
flores. Há variação da toxicidade ao longo do ano, pois
na floração em março a planta é quatro a oito vezes mais
tóxica do que no período de brotação, em outubro/novembro, existindo diferença entre os indivíduos de diferentes sexos. As plantas femininas são até 32 vezes mais
tóxicas do que as masculinas. O princípio tóxico é o tricotoceno macrocíclico, sendo seus principais componentes a roridina A e a roridina E. Segundo os autores, a planta
tem a capacidade de absorver e armazenar estes compostos, que são produzidos pelo fungo Myrothechium verrucaria que vive na sua rizosfera. No entanto, Jarvis et al.
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LEONARDO ARARIPE CRANCIO, PAULO CÉSAR DE FACCIO CARVALHO, CARLOS NABINGER E ILSI IOB BOLDRINI
(1991) se contrapõem a esta hipótese devido à pequena
quantidade do fungo encontrado na planta, frente à grande concentração da toxina, e supõem que a planta tenha
capacidade de sintetizar esta substância. Sua ingestão
causa edemas e erosões na mucosa do rúmem e retículo
(BARROS, 1993 e TOKARNIA et al., 2000). Os sinais
clínicos ocorrem entre 5 e 29 horas em bovinos e entre 3
e 23 horas em ovinos, podendo ser fatais. Em ovinos, os
sinais clínicos são: interrupção do consumo; o animal se
afasta do lote; assume a posição de decúbito esternal;
apatia, tremores musculares e respiração ofegante; e finalmente, permanece em decúbito lateral, culminando
com a morte. Em bovinos, os sinais são semelhantes:
perda do apetite, timpanismo moderado, instabilidade nos
membros posteriores, tremores musculares, inquietação,
focinho seco, secreção ocular, parada ruminal, fezes ressequidas e escassas e em alguns casos gemidos e
taquicardia,com o animal permanecendo em decúbito
esternal e, posteriormente, decúbito lateral, culminando
com a morte. Segundo Gonzaga (1998), em ruminantes,
quando a intoxicação não é letal, pode causar abortos.
Outra espécie bastante freqüente e com ocorrência no
sul do Brasil, presente em todo o Rio Grande do Sul, e
também pertencente à família Asteraceae, é o alecrim.
Assim como o mio-mio, possui ação irritante sobre a
mucosa do tubo digestivo, porém, devido à sua baixa
palatabilidade, é muito improvável que bovinos a consumam (TOKARNIA et al., 2000). Trata-se de um subarbusto perene, ereto, com 60-80 cm de altura. Conforme
Kissmann e Groth (1999), seu caule é cilíndrico e ramificado na parte superior. As folhas são coriáceas e lineares,
com 1,5 a 3 cm de comprimento e 0,5 a 0,2 mm de largura e ápice agudo, com disposição alterno-helicoidal no
caule. A inflorescência é na forma de numerosos capítulos de cor rósea a violácea. Os frutos são aquênios oblongo-lanceolados e pilosos. Devido à sua arquitetura, seu
efeito sobre a produção de forragem provavelmente se
deva à competição por luz e nutrientes.
Tipos de controles
Dentre as estratégias disponíveis mais comumente
utilizadas para controlar as plantas nativas indesejáveis
dos campos naturais do Rio Grande do Sul pode-se citar
o controle mecânico ou físico, através de roçadas ou arraste de vigas de ferro; o controle químico, com a utilização de herbicidas; e o controle biológico, por meio do
fogo e do pastejo.
Controle mecânico
Um dos métodos empregados para controlar estas
espécies indesejáveis são as roçadas (cortes). Quanto ao
caraguatá, é necessário realizar esta intervenção quando
a planta mobiliza as reservas de seu rizoma para a parte
aérea. Isto é confirmado por Mas et al. (1997), que testaram a interação de quatro datas de corte, números de cor118
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tes (um, dois e quatro) e diferentes intervalos (três, seis e
nove meses). Independentemente do número e da freqüência dos cortes, em março, houve diminuição da cobertura
de 70 para 20% demonstrando que o momento em que o
corte ocorre é mais importante do que o número e a freqüência. É necessário esclarecer que o número de cortes,
independente da época, só é importante quando em uma
freqüência suficiente para esgotar as reservas contidas
no rizoma da planta. Portanto, deve ser ressaltado que
também é importante considerar o estádio fisiológico das
plantas. Estes resultados corroboram com Carámbula et
al. (1995) que, estudando o efeito da época de cortes sobre o caraguatá, concluíram que os cortes de outono (março ou abril) são mais eficientes para o controle de plantas
adultas, causando, maior redução da área de cobertura,
sendo que o efeito depressivo desses cortes únicos decresce à medida que avança o ano. Os realizados no final
da primavera são os menos eficientes para controle. Foi
registrado que em todos os tratamentos de corte ocorreu
aumento na população de plantas, especialmente quando
este se realizou em dezembro. Tal comportamento se deve
ao efeito positivo do corte em favorecer o surgimento de
novas plântulas, ao mesmo tempo em que reduz a capacidade competitiva da pastagem, e de uma ativação das
gemas latentes dos rizomas das plantas adultas.
Fontaneli (1986), estudando diferentes manejos do
campo nativo (corte e queima realizados em julho e diferimento) avaliados a cada oito semanas, relatou que cortes tendem a diminuir a participação de caraguatá. O corte dos caules impediria a produção de sementes, o que é
importante, mas não reduziria o número de plantas e o
seu crescimento, a não ser que o corte seja realizado com
uma freqüência tal que esgotasse as reservas do rizoma
da planta (GONZAGA, 1998). Segundo Puerto (1990), a
planta é sensível a ferimentos na coroa. Sendo assim, outra
forma de controle mecânico é o arraste de vigas de ferro,
mas seria necessário esperar que as plantas florescessem,
pois os caules, ao estarem alongados, permitem um efeito de alavanca, que facilitaria o arranquio pelo impacto
da barra de ferro sobre as plantas, sendo mais eficiente se
o solo estiver úmido. Deve-se observar o momento correto para a realização desta atividade, pois as plantas devem estar florescidas, mas não devem sementar (FORMOSO, 1997).
Uma das formas de controle mais importantes e fáceis de serem realizadas é o controle preventivo, onde a
simples utilização de uma carga animal adequada à disponibilidade de forragem reduz a quantidade de solo descoberto, impossibilitando, assim, além do livre desenvolvimento de plantas adultas, que sementes de caraguatá
encontrem condições adequadas para germinação. Esta
forma de controle deve ser adotada não só em áreas com
pequena infestação desta planta, mas também em áreas
onde já se realizou algum tipo de controle, impedindo a
reinfestação.
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CONTROLE DE PLANTAS NATIVAS INDESEJÁVEIS DOS CAMPOS NATURAIS DO RIO GRANDE DO SUL
Quanto ao controle mecânico da carqueja, Gonzaga
(1998) informa que o acúmulo de substâncias de reservas ocorre na base dos caules, quando a planta está vegetando, o que permite novo crescimento na primavera ou
no outono. Esta informação é importante para o sucesso
do controle, pois é inútil promover cortes enquanto a planta está em um período de dormência (período frio), uma
vez que suas reservas, estando nas raízes e na base dos
caules, não serão eliminadas no momento do corte, permitindo o rebrote na primavera seguinte. O mesmo ocorre se o corte for realizado antes da brotação do outono.
Entretanto, o nível de reservas para promoção de novo
crescimento será muito baixo se as plantas forem cortadas imediatamente após a brotação do outono. Nuñez e
Puerto (1988) também se referem a esta época como a
mais eficiente. As informações anteriores corroboram com
o trabalho realizado por Aleman e Gómez (1989), os quais,
visando estudar a dinâmica do acúmulo de reservas em
carqueja, mio-mio e chirca, realizaram cortes de primavera para avaliar a concentração de tais substâncias nas
raízes e na base de caules destas plantas. Nestas três espécies, a concentração de carboidratos de reserva foi
maior nas raízes do que nos caules. A maior concentração ocorreu no inverno, momento que a planta estava com
seu crescimento paralisado, diminuindo ao longo do ano
até o outono, quando chegou aos menores valores, tanto
nas raízes quanto nos caules, pois é o momento em que
ocorre a frutificação da espécie. A reposição de reservas
começou logo após este evento. A carqueja utiliza primeiramente as reservas contidas nos caules para depois
utilizar as reservas das raízes. Por este motivo, as plantas
cortadas na primavera apresentam rebrotes abundantes,
além de apresentarem um alongamento do ciclo.
Ainda segundo Aleman e Gómez (1989), é sugerido
que, após um corte de limpeza na primavera, seja realizado um segundo corte no final do verão, momento em
que começa a haver armazenagem novamente, principalmente nas raízes, de tal modo que as plantas cheguem à
próxima primavera com baixos níveis de reservas de carboidratos. Para estes autores, a eliminação da chirca mediante cortes deve ser feita até o fim do verão, no início
do florescimento, pois, fisiologicamente, este é o momento em que os níveis de reservas estão baixos, o que pode
favorecer a ação de qualquer método de controle. No
entanto, a mobilização diferencial das reservas (caules
em primeiro lugar, depois raízes) destaca a resistência da
planta em preservar seus mecanismos de rebrote. Por
conseguinte, é aconselhável realizar tratamentos de corte e pastejo nas datas indicadas ano após ano, até chegar
a uma efetiva redução da área invadida. O desaparecimento drástico só é possível com o uso de herbicidas,
porém seu uso em áreas pastoris é muito questionado
(FORMOSO, 1997). No entanto, experiências demonstram que também é possível controlar esta espécie pela
adoção de um manejo correto e de fertilização da área.
Deve-se levar em consideração que a roçada é um
método não-seletivo que não chega a matar as plantas e
que pode reduzir a forragem disponível. Em situações
em que a massa de forragem é elevada, é sugerido que
antes da roçada ocorra um pastejo prévio na área, pois
assim evita-se que uma grande quantidade de forragem
seja cortada e se deposite sobre a pastagem, provocando,
durante sua decomposição, a redução temporária da taxa
de mineralização de nitrogênio do solo, particularmente
em pastagens dominadas por gramíneas.
Controle químico
Com relação ao controle químico, a aplicação de herbicidas sistêmicos é um método útil e possível de ser
empregado no controle de plantas indesejáveis. Porém, a
sua eficiência é dependente do produto, da época, da
concentração e da forma que são aplicados, assim como
da adoção de um tratamento prévio.
Gimenez e Rios (1997), em ensaio avaliando o efeito
de diferentes herbicidas, entre eles Tordon 24 K®, em várias doses aplicadas sobre plantas de caraguatá com diferentes diâmetros, diferentes estágios fenológicos, com e
sem tratamento prévio (roçadas e arraste de correntes),
chegaram à conclusão de que há grande resistência das
plantas ao controle químico. Concluíram também pela
necessidade de avaliar a integração com outras práticas
como pastejo, gradagem (lavração) e cortes com e sem a
aplicação de herbicidas e sendo ainda necessário mais
estudos sobre a fisiologia da espécie, absorção e translocação de herbicida, etc. Quanto ao controle químico da
carqueja, Gimenez e Rios (1997), utilizando diferentes
combinações de doses de 2,4 D éster ou sal, com Tordon
24 K®, aplicados dia 26 de outubro, concluíram que houve bom efeito do herbicida sobre as plantas, sendo os
tratamentos 2,4 D éster ou sal + Tordon 24 K® (1,5 + 0,75
L PC/ha) e 2,4 D éster (4 L PC/ha) os mais eficientes.
Em relação à chirca, recomenda-se a aplicação no outono de Tordon D 30® (3 a 3,5 L/ha), com volume de aplicação de 150 a 200 L/ha (MARCHESINI, 2004), alertando-se a necessidade de se avaliar os custos da operação.
Para o controle químico do mio-mio, Gimenez e Rios
(1997) observaram que a aplicação de Metsulfuron-methyl (20 g PC/ha) sobre plantas com 15 a 20 cm, na primavera, proporcionou um controle de 100% das plantas
cem dias após a aplicação, enquanto com a aplicação de
Metsulfuron-methyl + Tordon 24 K® (10 g + 0,5 L) após
cem dias, 80% das plantas não rebrotaram ou apresentaram rebrote incipiente. Berretta (1997) também cita o
controle químico como alternativa. No entanto, deve-se
considerar seu possível efeito sobre as leguminosas existentes na área.
São escassos os trabalhos sobre o controle do alecrim
e um dos poucos relatos diz respeito a uma planta do
mesmo gênero, chamada assa-peixe (Vernonia polyanthes), muito freqüente no restante do Brasil. Rassini e
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LEONARDO ARARIPE CRANCIO, PAULO CÉSAR DE FACCIO CARVALHO, CARLOS NABINGER E ILSI IOB BOLDRINI
Coelho (1994) realizaram um trabalho visando seu controle pelo uso de Glifosato em três formas de aplicação e
três doses (na parte aérea, por meio de pulverização foliar, a 4, 3 e 2%; no toco, após a roçada, a 8, 6 e 4%; e no
caule, após anelamento, a 20, 15 e 10%), tendo como
padrão de comparação 2,4 D + Picloram a 4% no toco, a
10% no anelamento e a 2% em pulverização foliar. Os
autores concluíram que Glifosato foi eficiente no controle quando aplicado por pulverização foliar a 2%, 3% e
4%. Não houve controle quando aplicado após roçada ou
anelamento do caule. O 2,4 D + Picloram também controlou esta espécie. Para Afonso e Pott (2001), o controle
dessa espécie por meio de roçada não é eficiente devido
à grande capacidade de rebrote que possui.
Prestes (2002) comparou utilização de Tordon®, em
três doses: quatro, cinco e seis L/ha aplicados no verão, e
métodos culturais: roçada (realizada em 18 de janeiro),
roçada de primavera (em 06 de setembro), queima (em
27 de janeiro) e arranquio (em 18 de janeiro), visando o
controle da carqueja. O autor encontrou maior produção
de forragem aplicando 5 L/ha (3297 kg MS/ha) de Tordon®, em relação à aplicação de 4 L/ha (2428 kg de MS/
ha). O aumento da dose para 6 L/ha não afetou a produção de forragem. Contudo, em trabalhos que avaliam a
eficiência de diferentes doses deve-se ter atenção, pois
estes são rodeados de inúmeros detalhes que influem nos
resultados como, por exemplo, as condições ambientais
no momento da aplicação dos produtos, a composição
botânica da pastagem e a adoção de procedimentos prévios como, por exemplo, roçadas.
Allegri (1978) verificou que o uso de Tordon® na primavera permitiu 100% de controle da chirca, caraguatá,
carqueja e mio-mio, não observando efeito posterior sobre as leguminosas nativas, enquanto que o mesmo produto ao ser aplicado no outono não controlou a carqueja
e a chirca, mas controlou cerca de 50% das plantas de
caraguatá e 58% das plantas de mio-mio. A explicação
para as leguminosas não terem sido afetadas pode estar
na ocorrência do efeito “guarda-chuva”, ou seja, as leguminosas não foram afetadas pelo produto por este ter sido
interceptado pelas espécies de maior porte.
Controle biológico
Fogo
Entre as ações antrópicas que podem modificar a composição botânica e a estrutura de uma pastagem está o
fogo. Visando o controle do caraguatá, o fogo no outono
pode ser só de utilidade passageira, pelo fato de não afetar a parte subterrânea das plantas e estas se recuperarem
facilmente a partir dos rizomas. Muitas vezes é maléfico
por eliminar a capacidade competitiva da pastagem, criando áreas livres para o pleno crescimento do caraguatá
(CARÁMBULA et al., 1995). No entanto, Gonzaga
(1998) afirma que sua utilização poderá ser benéfica em
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áreas onde há alta densidade desta planta, pois eliminará
as folhas velhas e promoverá rebrotes novos que poderão vir a ser consumidos pelos animais, assim como facilitará outro tipo de trabalho de limpeza.
Heringer (2000), testando diferentes manejos de campo nativo envolvendo roçada, fogo, pastejo e melhoramento
de campo nativo, verificou que o caraguatá teve alta freqüência (63,9%) no tratamento com queima bienal há mais
de 100 anos. A autora comenta que esta espécie é pouco
danificada pelo fogo porque somente suas folhas mais externas são queimadas, ficando a roseta central inalterada,
demonstrando a ineficiência do método para combater esta
espécie. Para a carqueja, foi constatada a freqüência de
25% no tratamento roçado e 16,6% no tratamento queima
bienal há mais de 100 anos, demonstrando a dificuldade
de controle desta espécie devido ao grande número de gemas próximas ao solo. Outras espécies encontradas em
maior freqüência no tratamento que utilizou o fogo são
Baccharis dracunculifolia e Aristida jubata.
Para Fontaneli (1986) o uso do fogo favorece o caraguatá, devido à abertura da comunidade, e por diminuir a
capacidade competitiva das demais espécies. Esse método também favorece o alecrim. Já a carqueja seria controlada por este tipo de intervenção. No entanto, o curto
período em que o trabalho foi realizado não permite concluir que este tipo de controle seja realmente efetivo a
médio e longo prazo.
Pastejo
Segundo Archer (1996), o pastejo influencia de forma direta e indireta os processos do ecossistema, bem
como a dinâmica da vegetação, variando de acordo com
a espécie animal em questão, carga animal, tipo de solo,
topografia e distância de recursos, como água e sombra.
O efeito direto dos herbívoros está associado ao consumo ou pisoteio de plantas e subseqüentes alterações no
crescimento, biomassa e estágio fenológico. O papel dos
animais como agentes de dispersão de sementes também
é importante na regulação da dinâmica da população de
plantas. Efeitos indiretos do pastejo incluem alteração do
microambiente, mudanças nas propriedades físicas e químicas do solo, hidrologia e erosão, e distribuição e reciclagem de nutrientes. No entanto, também se deve levar
em consideração as espécies vegetais envolvidas, pois
possuem mecanismos de resistência ao pastejo (BRISKE,
1996) que as tornam mais ou menos suscetíveis à ação
do pastejo. Isto está relacionado com a afirmação de Archer (1996), segundo a qual espécies mais adaptadas ao
clima e ao solo devem ser as dominantes em uma competição sob condições de leve pressão de pastejo, mas podem ser dominadas ou até mesmo desaparecer quando a
pressão de pastejo aumentar.
O pastejo pode ser classificado como controle biológico por utilizar animais e alterar a dinâmica da vegetação.
O efeito da carga animal sobre a freqüência de espécies
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CONTROLE DE PLANTAS NATIVAS INDESEJÁVEIS DOS CAMPOS NATURAIS DO RIO GRANDE DO SUL
indesejáveis foi demonstrado em trabalho conduzido por
Gonçalves e Girardi-Deiro (1986). Quando foi utilizada
uma carga animal baixa (0,5 UA/ha) houve um aumento
da freqüência de chirca. Já o caraguatá e a carqueja permaneceram constantes e Eryngium echinatum apresentou forte
redução. Utilizando carga intermediária (0,75 UA/ha), ocorreu o aparecimento da chirca e mio-mio, pequeno aumento de carqueja, e não foram observadas alterações para
caraguatá e Eryngium echinatum. Já em alta carga animal
(1 UA/ha), foram observados ausência de chirca e aparecimento de mio-mio, enquanto a carqueja permaneceu
constante. A freqüência de Eryngium echinatum aumentou na alta carga, enquanto que a de caraguatá diminuiu.
Algumas gramíneas de bom valor forrageiro (Paspalum
notatum, Paspalum dilatatum, Axonopus affinis e Coelorhachis selloana) diminuíram suas freqüências com carga baixa, mantiveram com carga média e aumentaram em
carga alta; porém, nesta última situação, o consumo é limitado. Concluem os autores que as cargas baixas permitem a rápida transformação dos campos dominados por
espécies de baixo valor forrageiro e plantas indesejáveis,
exigindo assim a realização de limpezas freqüentes para
manter a produtividade da área.
Zanoniani e Ducamp (2002) citam a importância do
pastejo misto com altas cargas instantâneas (carga animal
de 1,0 UA/ha e relação ovino/bovino próxima a três) em
situações de baixa freqüência de caraguatá, já que evita o
aumento do número de plantas (mas não o aumento da
área ocupada). Porém, quando o caraguatá se encontra em
alta freqüência inicial, o pastejo misto mostrou não ser uma
prática que afete de forma significativa a dinâmica populacional e o tamanho das plantas, sendo necessário recorrer a outras estratégias para atingir o controle da espécie.
No entanto, é possível que o não-consumo pelos animais
estivesse relacionado à idade das plantas. Para Carámbula
et al. (1995), o pastejo é uma prática eficiente para controlar o caraguatá, apesar de ter baixa aceitabilidade dos animais, principalmente ovinos, os quais somente comem as
folhas novas e tenras em épocas de carência de forragem
ou em lotações muito altas. Observações de campo com
bovinos adultos e novilhos atestam o consumo de caraguatá no outono. A hipótese para explicar este fato é que,
no outono, de acordo com Berreta (1998), a concentração
de K e P em Eryngium nudicaule é aproximadamente o
dobro daquela ao longo do ano, e muito provavelmente
Eryngium horridum teria comportamento semelhante. Estas plantas seriam, então, consumidas pelos animais para
suprir a deficiência desses elementos. Esta hipótese ainda
necessita de confirmação, sendo necessária a realização
de trabalhos que verifiquem a dinâmica da composição de
E. horridum e o estado nutricional dos animais ao longo
do ano, assim como estudos de comportamento dos animais em pastejo. Sendo assim, muitas vezes é possível utilizar o pastejo como um método complementar, colocando em prática a combinação de métodos, como citado an-
teriormente. Gonzaga (1998) cita o pastejo como uma alternativa eficaz de controle de carqueja, principalmente
por meio de ovinos.
Existem relatos na literatura (FORMOSO, 1997) que
afirmam que com o pastejo controlado com altas lotações de bovinos e ovinos é possível controlar um “chircal”. Segundo o mesmo autor, isto ocorre por reduzir a
possibilidade de recuperação da chirca e por favorecer o
crescimento da pastagem. Para Marchesini (2004) e Rosengurt (1979), esta tarefa é melhor desempenhada por
ovinos, devido ao seu hábito de pastejo.
Quanto ao pastejo de alecrim, segundo Tokarnia et al.
(2000), ovinos ingerem voluntariamente a planta e, em
campos pastejados por ovelhas, a planta tende a desaparecer. No entanto, esta informação é contestada por Miolo (1996), onde os animais recusaram-se a ingeri-la, mesmo quando misturadas ao feno. Este último autor também afirma que, em condições normais, ovinos dificilmente a ingerem em curto espaço de tempo e em quantidade suficiente para que se verifique intoxicação, sendo
para isto necessário mais de 20 g/kg de peso vivo.
Combinação de métodos
Gonzaga et al. (1998) demonstraram que, em área nãoroçada, o uso de Glifosato e Sulfosato, nas doses 3,0 e 4,0
L/ha, avaliado 61 dias após aplicação, não apresentou efeito
sobre o caraguatá, mas foi eficiente no controle de chirca
(85%), mio-mio (77%) e carqueja (95%), porém causando
injúria ao campo nativo. Paraquat (3 e 4 L/ha),
Paraquat+Diuron (4 L/ha), 2,4 D éster (1,5 e 2 L/ha), Dicamba (0,6 e 0,8 L/ha) e 2,4 D+Picloram (4 L/ha) não controlaram chirca, caraguatá e mio-mio, mas controlaram
carqueja (80%) sem danificar as gramíneas. O 2,4
D+Picloram (6 L/ha) apresentou controle mediano sobre a
chirca e a carqueja (65%), mas sem controle sobre o miomio e o caraguatá e “sem efeito negativo sobre o campo
nativo” (sic). Metsulfuron-methyl (0,006 e 0,012 kg/ha)
não afetou as espécies indesejáveis, tampouco o campo.
Aproximadamente 88% do mio-mio e 93% da carqueja
foram controlados com a mistura de tanque de Glifosato e
Sulfosato (1,5 e 2,0 L/ha), associados com Metsulfuronmethyl (0,006 e 0,010 kg/ha), mas as espécies campestres
também foram prejudicadas. Com relação aos tratamentos
com manejo mecânico prévio, imposto para debilitar as
plantas indesejáveis (roçada 65 dias antes da aplicação), e
avaliado 28 dias após aplicação de Glifosato e Sulfosato
nas doses 3,0 e 4,0 L/ha, relatou-se adequado controle de
chirca (99%), mio-mio (100%), carqueja (100%) e caraguatá (73%), mas com danos ao campo. Paraquat (3 e 4 L/
ha), Paraquat+Diuron (4 L/ha) e Picloram (4 e 6 L/ha) controlaram 93% das plantas de chirca, 95% de mio-mio, 82%
de carqueja e 75% de caraguatá, com pequeno dano sobre
a pastagem natural. Já 2,4 D éster (1,5 e 2 L/ha), Dicamba
(0,6 e 0,8 L/ha) e Metsulfuron-methyl (0,006 e 0,012 kg/
ha) não causaram injúria ao campo nativo, mas também
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não controlaram as espécies indesejáveis. Neste trabalho,os
autores concluíram que a combinação de métodos de controle (roçada e herbicida) foi mais eficiente no controle
das plantas indesejáveis do que o controle químico isolado, ficando evidente a necessidade de, em determinados
casos, se utilizar a combinação de métodos para garantir o
controle efetivo das plantas. No entanto, os resultados deste
trabalho foram obtidos em uma curta escala temporal, sendo
importante que ocorram avaliações em uma escala maior
de tempo para a obtenção de conclusões mais precisas.
Esta maior eficiência do controle pela combinação
de métodos também foi observada por Carámbula et al.
(1995), que verificaram uma redução de 98% da área
ocupada por caraguatá e redução do número de plantas
da ordem de 84% quando se efetuou cortes em abril, seguidos de aplicação de Tordon 101M® (2,5 L/ha) em outubro, durante dois anos consecutivos. Segundo o autor,
o efeito seria de 45 e 62% para área ocupada e número de
plantas, respectivamente, se estes fossem aplicados em
anos alternados.
Nesses trabalhos fica visível a existência de duas alternativas quanto à adoção do controle químico: uma é o
emprego de herbicidas seletivos (Tordon® e Metsulfuronmethyl) e a outra é a utilização de herbicidas não-seletivos (Glifosato e Sulfosato); porém, esses últimos, apesar
de serem capazes de realizar o controle das espécies indesejáveis, causam danos às espécies do campo nativo
maiores que os benefícios proporcionados.
Outro trabalho na linha de combinação de métodos
foi apresentado por Fontoura Júnior (2003). Foram avaliados os seguintes métodos: roçada de primavera, roçada de primavera + controle químico e roçada de primavera + roçada de outono; todos em média e baixa intensidade de pastejo (ofertas de 8 e 14 kg de matéria seca/100
kg de peso vivo/dia). O autor concluiu que a carqueja foi
controlada por qualquer um dos métodos utilizados, independente da intensidade de pastejo. O alecrim teve sua
freqüência reduzida no tratamento roçada de primavera
+ controle químico (Tordon® 4 L/ha) e o caraguatá teve
sua freqüência aumentada nos tratamentos de média intensidade de pastejo. Quanto ao desempenho animal, a
menor perda de peso vivo por área durante o inverno ocorreu nos tratamentos de roçada de primavera e roçada de
primavera + controle químico.
A afirmação de Aleman e Gomez (1989) sobre a melhor época para se realizar o controle da chirca pôde ser
confirmada por Gonzaga (1998), onde as alternativas estudadas para o controle da chirca incluíam: épocas de
roçada (primavera e outono), freqüência (1 ou 2 anos
consecutivos), queima e utilização de pastejo por ovinos
(2,0 UA/ha) no período de primavera, após a roçada.
Concluiu-se que a roçada de outono foi o tratamento que
causou maior redução na chirca, enquanto que a roçada
de outono + primavera produziu reduções de altura e diâmetro das plantas, sem reduzir o número de plantas vi122
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vas. Os resultados obtidos foram semelhantes, no entanto a roçada de outono apresentou menor custo econômico. Roçadas de primavera não diminuíram o número de
plantas pelo fato de, nesta época, a planta estar em crescimento intenso.
Obviamente que melhoria do manejo da pastagem
após a utilização da combinação dos métodos deve fazer
parte das estratégias adotadas, já que é provável o retorno das espécies indesejáveis se o manejo inadequado
empregado anteriormente for retomado.
Função ecológica
Como afirmado anteriormente, as plantas indesejáveis, além de reduzirem a superfície útil de um potreiro,
também diminuem a produção de forragem pela competição. No entanto, existem situações em que também há
o impedimento físico ao acesso à forragem. No caso do
caraguatá, suas folhas espinhosas são um empecilho para
os animais. Isto é demonstrado por Zanoniani e Ducamp
(2002), que quantificaram a forragem existente sob o
caraguatá. No final do inverno, a forragem disponível sob
essas plantas representou 5, 76 e 29% da forragem, em
solos superficais, médios e profundos, respectivamente.
Isto significa que, em solos médios e profundos, a baixa
produção hibernal de forragem, à qual se associa um baixo desempenho animal, poderia ser atenuada se os animais tivessem acesso a esta forragem “protegida”. A redução da área de pastejo não afeta somente a quantidade
de forragem, mas também influencia diretamente a qualidade da mesma, pois em zonas “protegidas”, espécies
desejáveis encontram nichos favoráveis para seu desenvolvimento e reprodução, já que não podem ser acessadas pelos animais. Este efeito de proteção também é citado por Barreto e Boldrini (1990), que afirmam ser comum a ocorrência de Adesmia sp. vegetando entre touceiras de caraguatá na região do Vale do Alto Uruguai
(RS). Isto demonstra, sob um ponto de vista ecológico,
que a presença desta espécie permite a manutenção de
espécies forrageiras de elevado valor, as quais seriam eliminadas pelo superpastejo. No entanto, em uma perspectiva agronômica, não só existe uma redução na área de
pastejo, mas a forragem existente sob as plantas indesejáveis é quantitativamente importante e deixa de ser potencialmente transformada em produto animal. Esta situação determina a necessidade de caracterizar quais espécies estão sob estas plantas, e, sobretudo, a freqüência de
ocorrência das indesejáveis, antes de decidir por qualquer medida de controle. A capacidade de resposta da
pastagem pode estar subestimada em algumas pastagens
previamente diagnosticadas como degradadas, além do
risco de incrementarmos a erosão genética de algumas
espécies que só sobrevivem ao superpastejo pelo fato de
estarem protegidas pela espécie indesejável, o que faz
com que a aplicação de herbicidas não deva ser de uso
indiscriminado (ZANONIANI e DUCAMP, 2002).
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CONTROLE DE PLANTAS NATIVAS INDESEJÁVEIS DOS CAMPOS NATURAIS DO RIO GRANDE DO SUL
No entanto, destaca-se que nem sempre esta função
ecológica é compatível com a produção animal, podendo
ser mais adequado aplicar algum método de controle de
espécies indesejáveis e, posteriormente, beneficiar as espécies de interesse, quer seja por diferimento, fertilização ou simplesmente pelo ajuste correto da carga animal.
Sendo assim, são necessários estudos que definam a partir de quais níveis de freqüência as espécies indesejáveis
representam um problema para a produção animal, e até
que ponto isto é compensado por eventuais efeitos benéficos. Além disso, outros aspectos ainda desconhecidos,
como a capacidade de reciclagem de nutrientes dessas
espécies, também necessitam ser elucidados. Em resumo, a questão fundamental que se coloca é a quantificação das assim chamadas “funções ecológicas” destas plantas, além de se saber o quanto estas funções podem ser
substituídas por práticas agronômicas, no caso de sua eliminação do ecossistema.
Conclusões
É indiscutível a necessidade de estudos básicos, onde
se possa conhecer melhor a morfologia e a fisiologia,
em particular a fenologia, das espécies em questão, con-
siderando o momento de maior mobilização das reservas, assim como a localização dos meristemas, visando
um controle efetivo. O momento indicado para se realizar o controle das espécies nativas indesejáveis que armazenam seus carboidratos de reserva nas estruturas
subterrâneas ou nas partes aéreas basilares ainda é uma
incógnita, embora trabalhos indiquem como melhor
momento a época do florescimento, quando a máxima
quantidade destes compostos estaria alocada na porção
superior da planta. Ainda assim, a grande diversidade
de estruturas de reserva e de propagação dessas plantas
indica que não se pode ter uma recomendação definitiva, tendo em vista a ausência de estudos conclusivos
neste sentido. Ainda que não haja uma recomendação
definitiva, este levantamento bibliográfico permite, se
não uma recomendação, a proposta de um cenário de
qual seria a expectativa para o efeito dos diferentes
métodos de controle em relação às principais plantas
nativas indesejáveis do campo nativo (Tabela 1). Ela
conclui que a combinação entre os métodos seria a forma mais garantida para se obter maior eficiência no
controle das espécies indesejáveis em questão, devendo-se dar preferência àquelas menos agressivas ao meio
ambiente.
Tabela 1 - Efeito dos principais métodos de controle de plantas nativas indesejáveis do campo nativo do Rio Grande do Sul.
Métodos de controle
Espécie
Roçada
Químico
Fogo
Pastejo
Caraguatá
E
E
I
Baixa e média carga: IAlta carga: E
Combinação de métodos
E
Carqueja
E
E
E
Baixa, média e alta carga: I
E
Chirca
E
E
-
Baixa e média carga: IAlta carga: E
E
Mio-mio
-
E
-
Média e alta carga:I
-
Alecrim
-
-
I
E (ovinos)
E
I: Ineficiente E: Eficiente - Sem registro
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AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO REPRODUTIVO DE NOVILHAS DE CORTE ACASALADAS AOS 14, 18 E 26 MESES DE IDADE
COMUNICADO TÉCNICO
Avaliação do desempenho reprodutivo de novilhas de corte
acasaladas aos 14, 18 e 26 meses de idade
Carlos Santos Gottschall1, Eduardo Tonet Ferreira2,
Leonardo Canellas3, Hélio Radke Bittencourt4
Resumo - O trabalho teve por objetivo avaliar o desempenho reprodutivo de novilhas de corte acasaladas aos 14, 18 e 26 meses de
idade. Foram coletados, durante os anos de 2003, 2004 e 2005, dados de 270 novilhas de corte de raças britânicas Aberdeen Angus,
Devon e cruzas Angus x Devon x Nelore, acasaladas aos 14 (A14, n = 70), 18 (A18, n = 36) e 26 meses de idade (A26, n = 164).
As características analisadas para os diferentes grupos foram peso ao início do acasalamento (PIA), ganho médio diário do nascimento ao acasalamento (GMD N-A) e taxa de prenhez (TP). A taxa de prenhez foi testada pelo Qui-quadrado, enquanto o peso ao
início do acasalamento e o ganho médio diário entre os grupos foram avaliados pela análise de variância, teste-t. O PIA foi de
312,0 kg para o grupo A14, 333,0 kg para o grupo A18 e 297,4 kg para o grupo A26 , sendo que A18 diferiu de A14 e A26 (P <
0,01). O GMD N-A foi de 0,658 kg/dia, 0,507 kg/dia e 0,353 kg/dia para os grupos A14, A18 e A26, respectivamente, apresentando diferença estatística significativa entre os grupos (P < 0,01). A taxa de prenhez (TP) foi de 84,3 % para o grupo de novilhas do
A14, 94,4% para as novilhas do A18 e 90,9% para o grupo de animais A26 (P > 0,05). Com estes resultados pode-se concluir que
as diferentes idades ao acasalamento em que as novilhas foram submetidas não interferiram na taxa de prenhez.
Palavras-chave: novilhas de corte, peso ao acasalamento, puberdade, taxa de prenhez.
Evaluation of reproductive performance of beef heifers mated at 14, 18 and 26 months of age
Abstract - The objective of this study was to evaluate the reproductive performance of heifers mated at 14, 18 and 26 months of
age. The study was based on data collected from 2003 to 2005 from 270 heifers (Aberdeen Angus, Devon and cross-breeds) and
mated at 14 (A14, n = 70), 18 (A18, n = 36) and 26 months old (A26, n = 164). The attributes analyzed among the different groups
were age at mating (AM), average weight gain from birth to mating (AWG-BM), weight at mating (WM) and pregnancy rate (PR).
The PR was tested using Qui-square test and the average weight gains and weight at mating were tested using the test t of Student.
The WM was 312.0 kg for the A14 group, 333.0 kg for the A18 and 297.4 kg for the A26 group, where the A18 was different than
A14 and A26 (P < 0.01). The AWG-BM was 0.658 kg, 0.507 kg and 0.353 kg for the A14, A18 and A26 groups, respectively,
showing significance differences (P < 0.01). The PR was 84.3% for the A14 group, 94.4% for the A18 and 90.9% for the A26
animals group (P > 0.05). Thus, it is possible to conclude that the different ages at mating did not influence on the pregnancy rate.
Key words: beef heifers, pregnancy rate, puberty, weight at mating.
1
Médico Veterinário, MSc, Professor Adjunto da Faculdade de Medicina Veterinária da ULBRA – Canoas/RS. Av. Farroupilha, 8001.
CEP: 90470-120. E-mail: [email protected]. Fone/fax: 477-9284.
2
Acadêmico do curso de Medicina Veterinária da ULBRA – Canoas/RS, e aluno de Iniciação Científica (PROICT-ULBRA).
3
Acadêmico do curso de Medicina Veterinária da ULBRA – Canoas/RS, e aluno de Iniciação Científica (FAPERGS).
4
Professor Adjunto do Departamento de Estatística da PUCRS.
Recebido para publicação em 02/05/2006
125
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.125-129, 2007.
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3/9/2007, 19:06
CARLOS SANTOS GOTTSCHALL, EDUARDO TONET FERREIRA, LEONARDO CANELLAS, HÉLIO RADKE BITTENCOURT
Introdução
Materiais e métodos
O objetivo principal de um sistema de recria de reposição é desenvolver novilhas que tenham alcançado a
puberdade e ciclem regularmente antes do início da primeira estação de acasalamento. As falhas no manejo e no
planejamento da alimentação podem levar a um aumento
da idade à puberdade, baixa taxa de prenhez e baixos índices de reconcepção quando primíparas, contribuindo
para a baixa eficiência produtiva e reprodutiva do rebanho bovino (SEMMELMANN et al., 2001).
Segundo Patterson et al. (2002), a idade tardia com
que as novilhas chegam ao primeiro acasalamento é reflexo, inicialmente, do baixo ganho médio diário do nascimento ao acasalamento e do crescimento insuficiente
durante a fase de recria. Uma solução capaz de melhorar
a eficiência produtiva e reprodutiva do rebanho bovino,
afirmam Gottschall et al. (2005), é pela redução do número de animais em recria e do tempo de duração desta
fase, ou seja, intensificar a produção com a diminuição
da idade ao primeiro parto. Entretanto, para que as novilhas entrem em puberdade mais cedo, é necessário um
ótimo manejo nutricional e estabelecimento de metas de
ganho de peso a serem atingidas, desde o nascimento até
o acasalamento (HOLMES, 1989).
É preciso ficar claro que existem vantagens e desvantagens ao acasalar novilhas mais precoces. Como vantagens pode-se citar o retorno mais rápido dos investimentos na recria, o aumento da vida produtiva da vaca e a
menor relação entre reposição e reprodução, onde diminui a quantidade de fêmeas em recria (SHORT et al.,
1994), maior produção de kg por área (BERETTA et al.,
2001) e maior taxa de desfrute (POTTER et al., 1998).
Em contrapartida, as desvantagens seriam os aumentos
dos custos para que a novilha possa entrar em reprodução mais jovem, o aumento de partos distócicos, o baixo
peso ao desmame na primeira cria e a menor taxa de retorno ao cio em relação às vacas mais velhas (SHORT et
al., 1994).
Portanto, estabelecer a idade em que a novilha será
acasalada é uma importante estratégia de manejo que deve
ser planejada pela propriedade de acordo com a sua realidade de sistema de produção, levando em consideração
o grau de utilização da terra, máquinas, mão-de-obra,
insumos, entre outros (BARCELLOS et al., 2003b). De
uma maneira geral, o sucesso na redução da idade ao primeiro serviço da novilha depende de uma série de estratégias de manejo integradas, tendo relação com peso a
desmama dos animais, manejo nutricional pós-desmama,
idade à puberdade, tipo animal, genética inerente para
ganho de peso e precocidade sexual (MONTANHOLI et
al., 2004).
O objetivo do presente trabalho foi avaliar a resposta
reprodutiva de novilhas de corte submetidas a diferentes
idades ao início do acasalamento.
O trabalho foi realizado a partir de informações obtidas de uma propriedade particular situada no município
de Cristal, no estado do Rio Grande do Sul. Foram analisados dados de 270 novilhas de corte acasaladas aos 14
(A14), aos 18 (A18) e aos 26 meses de idade (A26), entre 19 de novembro de 2004 e 20 de janeiro de 2005.
Deste total, 70 animais formavam o grupo A14, 36 novilhas formaram o grupo A18 e 164 animais formaram o
grupo A26.
Cada grupo foi submetido ao manejo nutricional padrão da propriedade, com o objetivo de atingirem cerca
de 300 kg por ocasião da primeira estação de acasalamento. No dia 22/03/2004, os animais do grupo A14,
nascidos na primavera de 2003, foram desmamados com
um peso médio de 194,0 kg. Após o desmame, esse grupo foi suplementado, em campo nativo, até junho de 2004,
com um suplemento à base de resíduos de pré–limpeza
do arroz, concentrado protéico, quirela e farelo de arroz
na quantidade de 1,2% do PV, com 16% de PB e 74% de
NDT. Após o período de suplementação, em junho de
2004, as terneiras do A14 foram alocadas em pastagem
cultivada de azevém (Lolium multiflorum), sob pastejo
contínuo, com carga animal média de 570 a 700 kg de
peso vivo/ha, até o início da estação de acasalamento. Os
animais pertencentes ao grupo A18, nascidos no outono
de 2003, foram desmamados em 17/09/2003 ,com um
peso médio de 145,7 kg, e alocados em pastagem de azevém (sem suplementação) até novembro. Após, foram
movidos para o campo nativo, onde permaneceram até
junho de 2004, sendo então submetidos ao mesmo manejo do grupo A14 até o acasalamento (suplementação com
concentrado na base de 1,2% do PV). As novilhas do grupo A26, nascidas na primavera de 2002, foram desmamadas em 05/05/2003, com um peso médio de 137,3 kg.
A partir do desmame, esse grupo foi manejado exclusivamente em campo nativo. O grupo destinado ao acasalamento aos 26 meses consistiu na parcela representada
por animais com menor peso do lote desmamado. No
manejo desta propriedade, os animais maiores e mais
pesados são acasalados com 14 meses, auxiliando a explicar parcialmente a diferença entre os pesos ao desmame.
Todos animais tiveram acesso à mistura mineral com
65 g de fósforo por kg da mistura e foram submetidos ao
controle sanitário usual da propriedade.
A temporada de acasalamento teve duração de 62 dias,
iniciando no dia 19 de novembro de 2004 e terminando
no dia 20 de janeiro de 2005. Os animais eram das raças
Aberdeen Angus e Devon e suas respectivas cruzas com
diferentes proporções de sangue zebuíno, distribuídos
aleatoriamente entre os grupos. O manejo durante a estação reprodutiva consistiu na inseminação por sete dias,
seguida pela administração de prostaglandina em todos
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AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO REPRODUTIVO DE NOVILHAS DE CORTE ACASALADAS AOS 14, 18 E 26 MESES DE IDADE
os animais não–inseminados até este dia e inseminação
por mais cinco dias. Após os 12 dias de inseminação, os
animais foram submetidos ao repasse com touros na proporção de 1:30 vacas. Foram utilizados touros de raça
Aberdeen Angus entre 3 e 4 anos de idade, previamente
aprovados no exame andrológico.
Os animais foram pesados por ocasião do desmame e
ao início do acasalamento. Para estimativa do ganho
médio diário do nascimento ao acasalamento, foi atribuído um peso médio ao nascer de 30 kg para todos os animais.
O diagnóstico de prenhez, por meio de palpação retal, foi realizado em março de 2005, após 60 dias do término da estação de acasalamento. As variáveis analisadas foram idade (I) e peso ao início do acasalamento
(PIA), ganho médio diário do nascimento ao acasalamento
(GMD-NA) e taxa de prenhez final dos grupos A14, A18
e A26 (TP).
A análise estatística foi feita pelo Modelo Linear Generalizado (GLM) através do software SPSS, sendo a taxa
de prenhez testada pelo Qui-quadrado. As demais variáveis foram avaliadas por meio da análise de variância
(ANOVA) e as médias foram comparadas pelo teste de
Tukey. Com o objetivo de controlar as diferenças entre o
peso a desmama dos três grupos, o peso a desmama foi
utilizado como co–variável em um modelo linear para
ajustar o peso ao início do acasalamento. Também foi
realizada uma análise de regressão logística avaliando os
efeitos do peso a desmama,a idade e o peso ao inicio do
acasalamento sobre a prenhez.
Resultados e discussão
A Tabela 1 apresenta o desempenho reprodutivo de
novilhas de corte (TP) acasaladas com diferentes idades
ao início do acasalamento (A14, A18 e A26), idade em
dias (I) e peso ao início do acasalamento (PIA) e ganho
de peso médio diário do nascimento ao acasalamento
(GMD-NA).
A resposta reprodutiva de novilhas de corte, expressa
pela TP, não apresentou diferença estatística significativa entre os grupos A14, A18 e A26 (P > 0,01). Estes resultados são semelhantes aos demonstrados por Holmes
(1989), que verificou uma porcentagem de prenhez em
novilhas britânicas de raça Hereford, com 14 meses de
idade e peso de 300 kg, de 90%. Silva et al. (2005) reportam menores TP para novilhas de corte acasaladas aos 18
e 24 meses, sendo a TP de 52,2% e 86,7% para um PIA
de 286,7 kg e 350,6 kg, respectivamente. Gottschall et al.
(2005), trabalhando com novilhas acasaladas aos 14 e 24
meses de idade, obtiveram taxas de prenhez similares às
do presente experimento, sendo a TP de 86,1% e 88% e
PIA de 311,19 kg e 297,37 kg, respectivamente.
O PIA do grupo A18 (333,00 kg) foi superior ao atingido pelos grupos A14 (311,96 kg) e A26 (301,46 kg) (P
< 0,01). De acordo com Clanton et al. (1983), o peso
atingido pela novilha ao início do acasalamento é um dos
fatores mais importantes para alcançar índices reprodutivos satisfatórios. Diversos trabalhos mostram que a taxa
de prenhez aumenta à medida que se atingem maiores
pesos ao início da estação reprodutiva (PATTERSON et
al., 1992; AZAMBUJA, 2003; FREITAS et al., 2003;
GOTTSCHALL et al., 2005), evidenciando assim, uma
correlação positiva entre peso ao acasalamento e resposta reprodutiva. De modo geral, a novilha está apta para
ser acasalada ao alcançar 60-65% do peso vivo de vaca
adulta (ROVIRA, 1996; BARCELLOS et al., 2002). Assim, para raças britânicas com peso médio em torno de
470 kg, como no presente experimento, as novilhas deveriam estar pesando entre 280-305 kg por ocasião do
acasalamento.
A evidência de que a ocorrência de um peso vivo
mínimo, associado à idade cronológica em novilhas de
corte, seria o principal mecanismo desencadeador da expressão da atividade reprodutiva é de consenso de vários autores (PATTERSON et al., 1992, ROVIRA, 1996;
GOTTSCHALL et al., 2005). Entretanto, conforme
Rovira (1996), parece existir uma relação linear entre
peso e fertilidade de novilhas de corte até os 300 kg de
peso vivo (para novilhas com base racial britânica), sendo que acima deste peso a fertilidade e a velocidade de
concepção não apresentam incremento significativo. Tal
fato foi observado no presente trabalho, onde o maior
peso alcançado por parte das novilhas acasaladas aos
18 meses de idade (A18, 333,00 kg) não refletiu um
melhor desempenho reprodutivo em relação aos demais
Tabela 1 - Idade ao acasalamento (I), peso ao início do acasalamento (PIA), ganho de peso médio diário do nascimento ao acasalamento (GMDNA) e taxa de prenhez (TP) de novilhas de corte acasaladas com diferentes idades.
Table 1 - Age at mating (AM), weight at mating (WM), average weight gain from birth to mating (AWG-BM) and pregnancy rate (PR) in beef
heifers mated at differents ages.
n
AM (days)
I (dias)
WM (kg)
PIA (kg)
AWG-BM (kg/day)
GMD - NA (kg/dia)
PR (%)
TP (%)
A14
70
429 ± 17,918
312,0 ± 31,648 a
0,658 ± 0,073 a
84,3
A18
36
598 ± 15,696
333,0 ± 32,493 b
0,507 ± 0,058 b
94,4
A26
164
772 ± 57,486
301,5 ± 27,878 a
0,353 ± 0,040 c
90,9
a, b, c. Médias seguidas de letras diferentes, na mesma coluna diferem significativamente entre si (P < 0,01), pelo teste de Tukey
a, b, c. Means followed by different letters in the same column differ statistically (P < 0.01), by Tukey test.
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CARLOS SANTOS GOTTSCHALL, EDUARDO TONET FERREIRA, LEONARDO CANELLAS, HÉLIO RADKE BITTENCOURT
grupos (A14 e A26). A análise de regressão logística
indicou não ser possível estimar a probabilidade de prenhez a partir do PIA (os valores de P associados aos
coeficientes foram todos maiores que 0,1). Estes resultados associados às elevadas taxas de prenhez parecem
indicar que os três grupos atingiram o peso mínimo crítico ao início da estação de acasalamento. Nesta mesma
linha de raciocínio, um estudo conduzido por Barcellos
(2001) inserindo a variável condição corporal indica que,
o efeito do peso sobre a idade à puberdade é menor à
medida que a novilha se torna mais gorda, sugerindo
que a partir de um nível mínimo de tecido adiposo, outros fatores passam a atuar na modulação do surgimento da puberdade.
Como pode ser observado na Tabela 1, as novilhas
A26 (mais velhas) atingiram a mesma TP que as novilhas A14 e A18; porém, os GMD-NA foram diferentes.
Estes resultados mostram uma possibilidade de projetar
distintos ganhos de peso para os acasalamentos nas diferentes idades, concordando com as afirmações de Barcellos et al. (2003b). No presente experimento, possivelmente ocorreram diferenças na condição e composição
corporal ao início da estação de acasalamento, pois as
novilhas apresentavam pesos semelhantes obtidos com
velocidade diferente de ganho. Segundo Di Marco (1998),
maiores taxas de ganho de peso são acompanhadas por
maior crescimento de tecido adiposo e este, por sua vez,
auxilia na redução da idade à puberdade (BARCELLOS,
2001). Logo, novilhas acasaladas mais jovens necessitam de um ganho de peso maior para atingirem a puberdade e conceberem.
As afirmações de Rovira (1996) e Barcellos (2001)
sobre a necessidade das novilhas atingirem 60-65% do
peso vivo da vaca adulta antes do início da estação de
acasalamento auxiliam a explicar a ausência da diferença estatística significativa entre o PIA e o GMD-NA de
novilhas prenhes e vazias (Tabela 2); ou seja, no presente
trabalho, os animais atingiram pesos superiores ao mínimo crítico tanto para fêmeas prenhes como para vazias.
O GMD-NA apresentou diferença estatística entre os
grupos de acasalamento (p < 0,01), sendo de 0,658, 0,507
e 0,353 kg/dia para as novilhas em A14, A18 e A26, respectivamente (Tabela 1). Assim, é possível notar que animais acasalados com menor idade (A14) necessitam de
maior ganho de peso diário do nascimento ao acasalamento para atingirem taxas de prenhez similares às de
animais mais velhos (A26).
Barcellos (2001), em um experimento com novilhas Braford, notou que animais submetidos ao acasalamento antecipado necessitaram de maior ganho de peso,
assim como no presente trabalho. Este autor verificou
que ganhos de peso pós – desmame de 0,500, 0,750,
1,00 e 1,25 kg/dia, resultaram em uma idade à puberdade de 433, 319, 337 e 358 dias, respectivamente. Segundo Rovira (1996), com um GMD-NA ao redor de
0,600 kg é possível atingir índices satisfatórios de prenhez para novilhas britânicas acasaladas aos 14-15 meses de idade, ao passo que este ganho pode ser diminuído para 0,300 kg/dia caso o acasalamento ocorra aos 2
anos de idade (BARCELLOS et al., 2003b), reforçando
a idéia de que quanto menor for a idade ao primeiro
acasalamento, maior será a necessidade de se empregar
sistemas alimentares mais eficientes que resultem em
maiores ganhos de peso.
Em um estudo avaliando a taxa de ganho de peso
necessária para alcançar o peso de 300 kg no início do
acasalamento a partir de um peso ao desmame de 170
kg, Barcellos et al. (2003a) também verificaram a necessidade de animais mais jovens apresentarem maior
ganho de peso. Este autor demonstra que são necessários ganhos de 0,570, 0,360 e 0,220 kg/dia para acasalar
animais de 14, 18 e 24 meses, respectivamente. Da mesma forma, Short e Bellows (1971) relatam que animais
acasalados precocemente necessitam de altas taxas de
ganho de peso, obtidas por meio de altos níveis de alimentação, possibilitando maior precocidade sexual e
pesos ao início da estação reprodutiva. Cabe salientar,
também, a importância do peso ao desmame na tomada
de decisões em relação à idade ao acasalamento, pois
baixo peso ao desmame exige ganho de peso diário elevado e muitas vezes difícil de ser obtido, colocando em
risco sistemas mais intensivos como o acasalamento aos
14-15 meses. Por esse motivo, as terneiras de maior peso
ao desmame no presente trabalho (média de 194,00 kg ,
grupo A14) foram destinadas ao acasalamento com 14
meses de idade, ao passo que aquelas terneiras mais leves ao desmame (média de 137,34 kg, grupo A26) foram destinadas ao acasalamento com 26 meses de ida-
Tabela 2 - Peso ao início do acasalamento (PIA) e ganho de peso médio diário do nascimento ao acasalamento (GMD-NA) entre novilhas prenhes
e vazias dentro de cada grupo de acasalamento.
Table 2 - Weight at mating (WM) and average weight gain from birth to mating (AWG-BM) between the pregnant and not pregnant beef heifers.
PIA (kg)
WM (kg)
GMD-NA (kg/dia)
AWG-BM (kg/day)
Prenhes
Pregnant
Vazias
Not Pregnant
Prenhes
Pregnant
Vazias
Not Pregnant
A14
314,53 ± 32,717
298,18 ± 21,325
0,663 ± 0,075
0,633 ± 0,054
A18
334,56 ± 32,530
306,50 ± 23,335
0,509 ± 0,058
0,464 ± 0,056
A26
301,05 ± 28,507
305,33 ± 20,931
0,352 ± 0,042
0,357 ± 0,024
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AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO REPRODUTIVO DE NOVILHAS DE CORTE ACASALADAS AOS 14, 18 E 26 MESES DE IDADE
de. Segundo Barcellos et al. (2003b), o sistema “um ano”
(acasalamento aos 14 meses) só terá sucesso quando a
terneira desmamada alcançar um peso de no mínimo 180
kg aos 6 meses de idade e após, mediante ganhos de 0,3500,450 kg/dia, alcançar em torno de 55-60% do peso da
vaca adulta no início da primavera. Portanto, fica evidente a necessidade de adotar sistemas de alimentação que
permitam aos animais atingir cerca de 60-65% do peso da
vaca na idade desejada ao primeiro acasalamento. Para isso,
existem diversas alternativas alimentares que maximizem
o uso de nutrientes para antecipar a idade ao primeiro parto (LALMAN et al., 1993; PURVIS e WHITTIER, 1996;
FREITAS et al., 2003). Logo, uma vez definido o ganho
de peso para alcançar o objetivo proposto, que é a idade ao
primeiro acasalamento, sistemas alimentares bioeconomicamente viáveis devem ser empregados na propriedade.
Conclusões
Não houve diferença na taxa de prenhez de novilhas
acasaladas aos 14, 18 e 26 meses de idade.
Um peso mínimo crítico ao início da estação de acasalamento, de 300 kg, para os grupos genéticos em questão, é necessário para atingir taxas de prenhez superiores
a 84%, independentemente da idade ao primeiro acasalamento.
Novilhas acasaladas com menor idade necessitaram
de maior GMD-NA para apresentarem um desempenho
reprodutivo semelhante ao de animais mais velhos.
A redução da idade ao primeiro acasalamento é exeqüível desde que haja um correto planejamento e manejo
nutricional, possibilitando que a novilha atinja um peso
mínimo crítico ao início da estação reprodutiva.
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PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.125-129, 2007.
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AVALIAÇÃO DAS ALTERAÇÕES BROMATOLÓGICAS DO FENO DE CAMPO NATIVO DURANTE O ARMAZENAMENTO
Avaliação das alterações bromatológicas do feno
de campo nativo durante o armazenamento
Carolina Wunsch1, Júlio Otávio Jardim Barcellos2,5, Ênio Rosa Prates2,
Eduardo Castro da Costa3, Yuri Regis Montanholi4
Resumo - A composição bromatológica de dez rolos cilíndricos de feno de campo nativo da Campanha do Rio Grande do Sul foi
avaliada no material armazenado a campo. De cada rolo foram retiradas três amostras de diferentes porções do fardo: uma da parte
externa (E), uma da região central (Centro) e outra intermediária entre elas (I), a cada 28 dias. Foi determinada a matéria seca
(MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), lignina, proteína insolúvel em
detergente neutro (PIDN) e em ácido (PIDA). Não ocorreram alterações consistentes nos teores de PB com o tempo de armazenamento, mas verificou-se um aumento nos teores de PIDN e PIDA (P < 0,05), caracterizando uma diminuição da proteína disponível no feno. Os teores de FDA aumentaram com o tempo de armazenamento (P < 0,05). Quanto à porção do rolo, a parcela de E
apresentou maiores valores de PIDA (P < 0,05). Os teores de PIDN não variaram (P > 0,05) conforme a porção do rolo. Concluiuse que a porção externa foi a mais prejudicada pela exposição ao tempo durante o período de armazenamento.
Palavras-chave: feno do campo nativo, fibra, nitrogênio insolúvel, valor nutricional.
Evaluation of the modifications in the chemical composition
of natural pasture hay during storage
Abstract - The nutritive value of round bales hay from natural pasture from the Campanha area of Rio Grande of Sul stocked
under field conditions were evaluated over a three months period. Three samples from different places in the bale were taken every
28 days: one from the outside of the bale; one from the center and one from the middle space between those two. The following
constituents were analyzed: dry matter (DM), crude protein (CP), neutral detergent fiber (NDF), acid detergent fiber (ADF),
lignin, neutral detergent insoluble protein (NDIP) and acid detergent insoluble protein (ADIP). It was observed an increase in the
concentration of NDIP and ADIP (P < 0.05), indicating a decrease in the concentration of available protein of the hay. The samples
taken from the outer layer showed higher values for ADIP (P < 0.05). The values of NDIP did not show a variation in relation to the
positions in the bale (P > 0.05). It was concluded that the outer layer was more negatively influenced by the period of storage.
Key words: forage conservation, haying, fiber, insoluble nitrogen, nutritive value.
1
Zootecnista, MSc., Professora, UERGS. E-mail: [email protected]
Professor, Doutor, do Departamento de Zootecnia – UFRGS. E-mail: [email protected] e [email protected]
3
Zootecnista, MSc., Aluno Doutorado, PPG – Zootecnia – UFRGS.
4
Médico Veterinário, MSc., Aluno Doutorado, Department of. Animal Science – University of Guelph – Canadá.
5
Pesquisador II do CNPq.
Recebido para publicação em 21/01/2006
2
131
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CAROLINA WUNSCH, JÚLIO OTÁVIO JARDIM BARCELLOS, ÊNIO ROSA PRATES,
EDUARDO CASTRO DA COSTA, YURI REGIS MONTANHOLI
Introdução
O ciclo anual de crescimento das pastagens no Rio
Grande do Sul se caracteriza por uma flutuação na oferta
de forragem, com maior taxa de crescimento na primavera
e no verão e menor crescimento no outono e no inverno,
com variações dependentes da região e do ano de produção (FREITAS et al., 1976; BARCELLOS et al., 2003).
Esta marcada estacionalidade da produção forrageira tem
efeitos evidentes sobre a pecuária, influindo no ganho de
peso, no índice de natalidade, na idade de abate e na taxa
de mortalidade, principalmente durante os invernos mais
rigorosos. Para superar estas inconveniências cíclicas, algumas ações precisam ser postas em prática.
Deve haver uma adequada provisão de forragem para
o gado durante os períodos em que o crescimento natural
das pastagens não permite atender às necessidades nutricionais dos animais, seja por meio de práticas de manejo,
conservação de forragem ou suplementação alimentar. Em
muitas situações, a fenação constitui uma prática viável
para conservar o excedente de forragem produzido durante os períodos de máximo crescimento das pastagens
para administrá-lo nos períodos críticos (RIBEIRO et al.,
2001). As práticas de conservação de forragens são importantes para regular o uso da produção das pastagens
na região Sul.
A utilização de feno de campo nativo para categorias
críticas ou em determinadas fases do sistema de produção pode melhorar os índices produtivos obtidos. Barcellos et al. (1999) demonstraram que o uso da suplementação com feno no período pré-parto de vacas de corte
aumentou a taxa de prenhez de 76,1para 87,3%.
Atualmente, a conservação de forragem em rolos cilíndricos tem-se propagado na América Latina pela rapidez na sua confecção e a possibilidade de se mecanizar
praticamente todo o processo da fenação, desde a colheita até o fornecimento aos animais. Esses rolos são de grande tamanho, com peso entre 500 e 700 kg de peso, e compactados a grande pressão, o que possibilita mantê-los a
campo sem qualquer tipo de proteção até a posterior utilização pelos animais. No entanto, pode haver perdas significativas que reduzem a qualidade do feno, o que acaba
incrementando o seu custo e influenciando a resposta
animal à semelhança do que acontece com a forragem do
campo nativo. Evidentemente, a qualidade do feno depende também do tipo de cultivo, do estádio vegetativo
no momento do corte e de uma correta fenação (AUGSBURGER e METHOL, 1993).
De acordo com Schneider e Flatt (1975), normalmente
ocorrem perdas de folhas e nutrientes durante o processo
de secagem e manuseio do feno, o que pode reduzir seu
valor nutritivo e digestibilidade. Collins et al. (1987) afirmam que as perdas na qualidade durante o armazenamento são atribuídas à respiração e à atividade de microrganismos, especialmente fungos, no feno. A maioria
132
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das perdas ocorre nos primeiros 30 dias de armazenamento (ROTZ e ABRAMS, 1988). Segundo o Agfacts
(1986), as perdas em rolos de feno sem proteção são estimadas em 20% ao ano, e em 10% para rolos protegidos
com plástico. No entanto, essas informações não são conhecidas a partir de rolos expostos ao ambiente no inverno do Rio Grande do Sul. Assim, este trabalho teve como
objetivo quantificar, por meio da análise bromatológica,
as variações no valor nutritivo do feno de campo nativo,
armazenado no formato de rolos cilíndricos a campo.
Material e métodos
O experimento foi conduzido em uma fazenda no município de Bagé, na região da Campanha do Rio Grande do
Sul. O clima da região é tipo subtropical, com chuvas regularmente distribuídas durante o ano e ocasionais períodos
de seca. A vegetação predominante é a grama-forquilha (Paspalum notatum Flügge) e pequena incidência de trevos nativos. A existência de matéria seca, no local do experimento,
no período de final de verão e no outono varia de 1.000 a
1.600 kg de MS/hectare (BARCELLOS et al., 1999).
O processo de fenação iniciou em 10 de fevereiro de
2002, em uma área de campo nativo previamente diferida
em um período de 90 dias, no turno da manhã com o corte
da massa de forragem e enleiramento. No turno da tarde,
foi realizada a fenação com enfardadeira do tipo “rolo”,
sendo concluída a confecção dos rolos experimentais em
14 de fevereiro de 2002. Os rolos de feno apresentavam
formato cilíndrico, com 1,5 m de diâmetro, 1,5 m de comprimento e com peso aproximado de 700 kg. Foram selecionados, aleatoriamente, dez rolos cilíndricos de feno de
campo nativo, identificados e armazenados a campo. De
cada rolo foram retiradas três amostras em 21 de fevereiro
(Fev), 20 de março (Mar), 17 de abril (Abr) e 15 de maio
(Mai). As amostras foram coletadas na parte externa do
rolo (E) em uma porção intermediária (I), com aproximadamente 35 cm em relação à parte externa e na parte central (C) do rolo, que estava a 70 cm da superfície externa.
O acesso para coletar as amostras intermediária e central
foi através da extremidade do fardo, pois a compactação
da superfície externa não permitia alcançar as camadas mais
profundas do mesmo. Foram coletadas três amostras de
aproximadamente 200g de cada porção, as quais, após serem processadas, originavam uma amostra composta que
representava o local de coleta no fardo.
No período de 12 horas após o corte, foram coletadas
amostras do material destinado à confecção dos fardos
de feno para determinação bromatológica.
No período de 90 dias em que os rolos ficaram expostos, ocorreram 20 dias com chuvas, sendo registrados 32
mm no final de fevereiro, 224 mm em março, 397 mm em
abril e 104 mm em maio, totalizando 757 mm. Após o
período experimental de amostragem, os rolos foram utilizados na suplementação do rebanho bovino da fazenda.
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AVALIAÇÃO DAS ALTERAÇÕES BROMATOLÓGICAS DO FENO DE CAMPO NATIVO DURANTE O ARMAZENAMENTO
As amostras coletadas foram secas em estufa de circulação forçada de ar a 60oC até alcançarem peso constante e, então, levadas ao Laboratório de Nutrição Animal da Faculdade de Agronomia da UFRGS. A análise
bromatológica do material foi realizada de acordo com a
metodologia proposta por Silva e Queiróz (2002), incluindo as determinações de matéria seca (MS), proteína
bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em
detergente ácido (FDA), lignina, nitrogênio insolúvel em
detergente neutro (NIDN) e nitrogênio insolúvel em detergente ácido (NIDA). Os teores de proteína insolúvel
em detergente neutro (PIDN) e proteína insolúvel em
detergente ácido (PIDA) foram obtidos multiplicando-se
NIDN e NIDA pelo fator 6,25.
O delineamento experimental utilizado foi o completamente casualizado com 10 repetições (fardos). Para a
interpretação estatística dos resultados utilizou-se o modelo GLM (General Linear Model) do programa estatístico SPSS 11.5 (2002), segundo o modelo:
Yij = M + Pi + Ci + Eij, onde:
Yij = Valor observado;
M = Efeito médio;
Pi = Efeito da porção do rolo;
Ci = Efeito do mês de coleta;
Eij = Erro.
A comparação entre médias foi efetuada pelo teste de
Tukey ao nível de significância de 5% de probabilidade.
Resultados e discussão
Na Tabela 1 está demonstrada a composição bromatológica do material cortado antes de enfardar. Esses valores foram apresentados para possibilitar uma análise
das possíveis alterações da composição dos fardos em
relação ao momento do corte da forragem.
Na análise dos dados da Tabela 2 pode ser observado
que houve diferença (P < 0,05) nos teores de PB com o
tempo de armazenamento. É provável que a variação
observada tenha sido devida ao fato de o feno de campo
nativo não ser um material muito homogêneo, embora o
P. notatum tenha predominado. No entanto, a concentração de PB tendeu a aumentar (P < 0,05) do centro (C)
para fora (E) nos rolos de feno (Tabela 3). Esse aumento
da concentração de PB nas camadas mais externas pode
ser atribuído à perda de constituintes não-protéicos do
feno, provavelmente os carboidratos solúveis, o que em
uma base relativa é expressa em maiores percentuais de
PB. Entretanto, Pigurina e Methol (1991), trabalhando
com material semelhante, não verificaram variações no
conteúdo de PB com o tempo de armazenamento.
Entretanto, apenas os níveis de PB não são suficientes para determinar a disponibilidade da proteína para o
animal, já que a porção da proteína ligada à fração FDA
não está disponível. Um critério mais recente para avaliar a disponibilidade da proteína é a determinação dos níveis de nitrogênio ou proteína insolúvel em detergente
neutro (NIDN ou PIDN) ou em ácido (NIDA ou PIDA),
que podem ser considerados uma estimativa dos danos
causados pelo calor durante o armazenamento ou processamento do alimento, apesar de estarem presentes
naturalmente nas plantas (VAN SOEST, 1984; SILVA e
QUEIRÓZ, 2002).
Na Tabela 2 pode ser observado que o tempo de exposição ao ambiente resultou em um aumento nos teores de
PIDA e PIDN (P < 0,05). Quanto à posição no rolo (Tabela
3), a parcela externa apresentou o maior valor de PIDA
(P < 0,05), caracterizando uma diminuição da proteína disponível no feno. Augsburger e Methol (1993), em trabalho
semelhante, encontraram que a proteína disponível diminuiu com o tempo de armazenamento, devido ao aquecimento dos rolos por um excesso de umidade causado pelas chuvas nas camadas mais externas. Nascimento et al.
(2000), estudando métodos de fenação e tempos de armazenamento sobre a composição bromatológica e a ocorrência de fungos em feno de alfafa, encontraram baixos
teores de NIDA em todos os tratamentos, os quais não se
Tabela 1 - Composição bromatológica do campo nativo, 12 horas após o corte, antes de enfardar.
VALOR
MS (%)
PB (%)
PIDN (%)
PIDA (%)
FDN (%)
FDA (%)
Mínimo
86,23
6,54
0,09
2,50
73,74
43,82
Lignina (%)
5,56
Máximo
90,89
9,80
8,34
9,25
82,66
59,40
10,72
Média
88,91
7,83
5,22
4,64
78,73
49,54
8,00
Desvio-padrão
1,31
0,82
1,53
1,02
1,92
2,71
1,36
Tabela 2 - Variação na composição bromatológica dos rolos de feno de campo nativo conforme o mês de coleta das amostras (período de armazenamento), em % da MS.
MS (%)
PB (%)
PIDN (%)
PIDA (%)
FDN (%)
FDA (%)
Lignina (%)
Fev
89,67a
7,94ab
3,95c
4,11c
79,62a
48,18b
7,83
Mar
89,94a
7,58b
5,19b
4,41bc
78,92ab
49,62ab
7,96
Abr
87,38c
7,56b
5,48ab
4,98ab
77,99b
50,71a
8,69
Mai
88,02b
8,16a
6,25a
5,03a
78,63ab
49,66ab
7,85
a, b, c: Letras diferentes na coluna diferem significativamente (P < 0,05) pelo teste de Tukey.
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CAROLINA WUNSCH, JÚLIO OTÁVIO JARDIM BARCELLOS, ÊNIO ROSA PRATES,
EDUARDO CASTRO DA COSTA, YURI REGIS MONTANHOLI
Tabela 3 - Variação na composição bromatológica dos rolos de feno de campo nativo conforme a posição das amostras, em % da MS.
Porção do Rolo
MS (%)
PB (%)
PIDN (%)
PIDA (%)
FDN (%)
FDA (%)
Lignina (%)
Centro
88,97
7,54b
5,35
4,29b
78,41ab
48,74b
7,73ab
Intermediária
89,04
7,70ab
5,10
4,55b
79,45a
49,18ab
7,34b
Externa
88,71
8,14a
5,20
5,08a
78,30b
50,43a
8,95a
a, b: Letras diferentes na coluna diferem significativamente (P < 0,05), pelo teste de Tukey.
alteraram durante 60 dias de armazenamento, o que, segundo os mesmos autores, evidencia que os processos de
secagem e armazenamento foram bem conduzidos. No
presente experimento, os teores de PIDN não variaram
conforme a posição amostrada no rolo (P > 0,05).
O método de fracionamento das forrageiras proposto
por Van Soest (1967) separa o conteúdo celular da parede celular, a qual é classificada como fibra em detergente
neutro (FDN). A FDN é constituída de celulose, hemicelulose, lignina, proteína danificada pelo calor, proteína
da parede celular e minerais. Os teores de FDN avaliados no feno de campo nativo apresentaram ligeira tendência à redução (P < 0,05) de acordo com o tempo de
armazenamento dos rolos (Tabela 2). Praticamente ocorreram pequenas diferenças entre os teores de FDN quanto à posição do rolo amostrada (Tabela 3). Os valores
encontrados neste trabalho são muito semelhantes aos
teores de FDN em fenos de gramíneas tropicais apresentados em uma revisão de Pereira (1998).
A fibra em detergente ácido (FDA) é constituída principalmente de celulose e lignina, além de proteína danificada
pelo calor, parte da proteína da parede celular e minerais
insolúveis. É a porção menos digerível da parede celular
pelos microrganismos do rúmen (VAN SOEST, 1967; SILVA e QUEIRÓZ, 2002). É um indicador do conteúdo energético das forragens, onde teores altos de FDA indicam
material de baixa qualidade. Neste trabalho, os teores de
FDA tenderam a aumentar com o tempo de armazenamento
e com a posição no rolo (P < 0,05), encontrando-se valores
bastante altos, próximos a 50% (Tabelas 1, 2 e 3). Os maiores teores de FDA na porção externa dos rolos (E) sugerem
uma menor digestibilidade da matéria seca nesta porção.
Augsburger e Methol (1993), analisando as alterações bromatológicas do feno de campo nativo no Uruguai, encontraram valores de FDA entre 39,9 a 51,6%, variando com o
tempo de armazenamento (até seis meses).
Segundo Silva e Queiróz (2002), a importância da lignina na nutrição animal deve-se à sua influência negativa
sobre a digestibilidade de outros nutrientes. Apesar de não
ter apresentado variação significativa (P > 0,05) nos teores
de lignina conforme o tempo de armazenamento (Tabela
2), provavelmente em virtude do pequeno número de amostras, observa-se na Tabela 3 um aumento no teor de lignina
de acordo com o local de amostragem no rolo (P < 0,05).
O maior teor de lignina na porção externa dos rolos pode
indicar uma menor digestibilidade da MS nesta porção.
No entanto, o teor de lignina parece estar relacionado com
o estádio de maturidade da planta no momento do corte e
não com os efeitos do tempo de armazenamento (OLIVEIRA, 1998; PEREIRA, 1998). Isso pode ser observado na
Tabela 1, o que evidencia que o campo nativo já estava
envelhecido no momento do corte.
As variações observadas no teor de matéria seca com
o tempo de armazenamento (Tabela 2) podem ser explicadas pelas alterações devido às condições climáticas, já
que o feno, por ser higroscópico, absorve e perde água
para o ambiente. Segundo Raymond et al. (1978), a umidade relativa do ar influencia o teor de umidade deste
tipo de forragem armazenada. Os teores de MS não variaram (P > 0,05), conforme a posição no rolo (Tabela 3).
Conclusões
O feno de campo nativo apresentou alto teor de matéria seca, o que demonstra uma adequada cura do material. Como conseqüência, não houve um efeito danoso nos
constituintes químicos determinados nos fenos. Por outro lado, as análises de PB, FDN e FDA podem não ser
suficientes para expressar o valor nutricional do feno,
devendo-se realizar também análises de PIDN e PIDA.
O tempo de armazenamento diminuiu a disponibilidade da proteína bruta para o animal, medida pelo nível
de PIDA e, portanto, a qualidade desse feno.
A porção externa foi a mais prejudicada pela exposição ao tempo durante o período de armazenamento, tomando como referência os maiores teores de FDA e PIDA
encontrados nesta fração, o que indica uma menor digestibilidade de sua matéria seca.
Ainda que ocorram algumas alterações bromatológicas na composição do feno, estas são de pequena magnitude, o que justifica pelas perdas o armazenamento de
rolos cilíndricos a campo sem qualquer proteção.
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AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE ADUBAÇÃO NO ESTABELECIMENTO DE FORRAGEIRAS CULTIVADAS
COM SEMEADURA DIRETA EM CAMPO NATURAL
Avaliação de métodos de adubação no estabelecimento de forrageiras
cultivadas com semeadura direta em campo natural
Odoni Loris Pereira de Oliveira1, Evandro Neves Muniz2,
Thércio M. S. Freitas3, Evandro Zacca Ferreira4
Resumo - O experimento foi conduzido Sul do Brasil, com a semeadura direta do azevém (Lolium multiflorum Lam.), trevo
branco (Trifolium repens L.), cornichão (Lotus corniculatus L.) e trevo vermelho (Trifolium pratense L.), sobre campo nativo
dessecado com Glyfosato. Os tratamentos foram T1 semeadura em linha, adubação metade em linha e metade a lanço; T2
semeadura e adubação em linha; T3 semeadura em linha, adubação a lanço; T4 semeadura e adubação a lanço. As avaliações
ocorreram em 1998 e 1999. As maiores produções de matéria seca (MS) e o melhor equilíbrio entre leguminosa e gramínea foram
em T1 e T2, sem diferença entre ambos, entretanto diferiram (P < 0,05) de T3 e T4. A distribuição do fertilizante em T1 e T2
assegurou o estabelecimento e a densidade das leguminosas. O P disponível no solo em T1 e T2 na profundidade de 0 a 5 cm foi
acima do nível crítico, contribuindo para o melhor desempenho das leguminosas.
Palavras-chave: Métodos de fertilização, gramíneas, leguminosas, pastagem nativa, semeadura direta, nível crítico.
Evaluation of fertilizing methods on the establishment of pasture
species on native pasture by direct sowing
Abstract - The experiment was carried out in the southern of Brazil, by direct sowing ryegrass (Lolium multiflorum Lam.), white
clover (Trifolium repens L). birds foot trifolium (Lotus corniculatus L.) and red clover (Trifolium pratense L.) on native pasture.
Herbicide Glyfosate was previously applied. The treatments were T1 -seed sowing in row with half fertilizer in row and half
broadcasting; T2 – seed sowing in row with all fertilizer in row; T3 – seed sowing in row and all fertilizer broadcasting; T4 – seed
and fertilizer broadcasting. The evaluation period was in 1998 and 1999. Considering cut means for two years, treatments T1 and
T2 produced the highest dry matter yield and no difference were observed between them, however, both treatments differed
(P<0.05) from T3 and T4. The fast pasture establishment and the best legume-grass mixture were obtained in the treatments T1
and T2 where soil available phosphorus was close to the critical level for pasture growth.
Key words: fertilizing methods, grasses, legumes, native pasture, direct sowing, critical level.
1
Pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, Bento Gonçalves, Caixa Postal, 130, Bento Gonçalves, RS. E-mail: [email protected]
Pesquisador da Embrapa Roraima, Br 174, Km 8, Caixa Postal 133, Distrito Industrial, Boa Vista RR. E-mail: [email protected]
3
Engenheiro Agrônomo da Roullier do Brasil SA. Porto Alegre, RS. E-mail: [email protected]
4
Estagiário da Escola Estadual Ildefonso Simões Lopes – Osório, RS. E-mail:[email protected]
Recebido para publicação em 03/05/2006
2
137
PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.137-142, 2007.
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ODONI LORIS PEREIRA DE OLIVEIRA, EVANDRO NEVES MUNIZ, THÉRCIO M. S. FREITAS, EVANDRO ZACCA FERREIRA
Introdução
O melhoramento de pastagens pela semeadura direta
de espécies forrageiras sobre campos nativos é utilizado
e recomendado para a maioria das regiões do Estado do
Rio Grande do Sul, com base em resultados de trabalhos
de pesquisa realizados por Brasil et al. (1973), Oliveira e
Barreto (1976), Scholl et al. (1976) e Salerno (1977).
Apesar das excelentes informações geradas por esses trabalhos pioneiros no Estado do Rio Grande do Sul, novas
informações e técnicas surgiram desde então visando ao
aprimoramento e à melhoria na utilização da técnica.
Assim, a semeadura de algumas forrageiras com as semeadoras denominadas “renovadoras de pastagens”,
principalmente com espécies de sementes pequenas de
crescimento inverno-primavera, como os trevos, apresenta
alguns problemas. Tais problemas foram observados através de um extenso trabalho realizado no Estado do Rio
Grande do Sul, em um programa conjunto da Embrapa
Pecuária Sul de Bagé e a Emater, denominado Programa
Campos (Oliveira, 2005) – informação pessoal.
A maior dificuldade é o estabelecimento de leguminosas (trevos), quando semeadas diretamente sobre campo
natural, em mistura com gramíneas, na maioria azevém
e/ou aveia, com as “renovadoras de pastagem”. Essas
semeadoras, na sua maioria, possuem sulcadores para o
rompimento da camada superficial do solo onde são depositados tanto o fertilizante quanto as sementes. Ocorre
que ambos são colocados no mesmo sulco na seguinte
ordem: fertilizante no fundo do sulco, sementes maiores
(aveia, centeio, cevada) logo acima do fertilizante e sementes pequenas (trevo, cornichão, azevém) mais acima, ficando praticamente na superfície do solo. As espécies de sementes pequenas como os trevos, principalmente
o trevo branco (Trifolium repens L.), de crescimento inicial lento, quando semeadas em misturas com espécies
de crescimento inicial mais rápido, como a aveia, ficam
prejudicadas pela concorrência por nutrientes, luz e água.
Essa concorrência pode prejudicar ou impedir o estabelecimento das espécies de crescimento inicial lento.
Os primeiros trabalhos realizados no Estado do Rio
Grande do Sul por Scholl et al. (1976) e Salerno (1977)
mostram esse efeito com o uso das renovadoras de pastagens com a semeadura de aveia e leguminosas. Conforme Miller et al. (1993), em semeadura de gramíneas e
leguminosas juntas, durante a fase de crescimento das
plântulas, há uma forte competição das raízes de cada
espécie até que seja assegurada a sobrevivência da pastagem. De acordo com Stone (1998), a colocação do fertilizante próximo às sementes, preferencialmente abaixo, é fundamental para acelerar o crescimento inicial e
assegurar o estabelecimento das plantas. A aplicação do
fertilizante próximo às plantas na camada de 0 a 10 cm
da superfície do solo acelera o crescimento inicial e garante a produção e a persistência das mesmas, conforme
138
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foi observado por Cullen (1971), Sheard et al. (1971)
Oliveira (1976), e Lobato et al. (1986).
Este trabalho foi conduzido com o objetivo de minimizar a competição inicial das gramíneas sobre as leguminosas quando semeadas juntas com renovadoras de
pastagens. Visando atingir esse objetivo, foram avaliadas diferentes formas de aplicação de fertilizantes, no
estabelecimento de mistura forrageira de inverno – primavera, com a semeadura direta sobre campo nativo na
região sudoeste do Estado do Rio Grande do Sul.
Material e métodos
O experimento foi estabelecido em 27 de maio de
1998, no Centro de Pesquisa de Pecuária dos Campos
Sul Brasileiros (EMBRAPA Pecuária Sul), localizado em
Bagé, RS, sobre uma área de campo nativo que foi dessecado aproximadamente 40 dias antes com 3 L ha-1 de
Glyfosato na solução de 120 L de calda.
O clima da região é o mesotérmico subtropical, da
classe Cfa na classificação de Köppen. A precipitação
média anual é de 1.300 mm.
O solo é um Luvissolo Hipocrômico Órtico típico
(EMBRAPA, 1997). A análise do solo coletado no início
do experimento (para a determinação da fertilidade natural da área experimental), à profundidade de 0 a 10 cm
utilizando-se um trado calador especial para a estratificação do perfil, mostrou os seguintes resultados: argila =
13g kg-1; pH em água = 4,8; P disponível = 2,3 mg dm-3;
K = 68 mg dm-3 ; M.O. = 34 g dm-3 Al = 0,7 mmolc
dm-3. As determinações analíticas de fertilidade do solo
foram realizadas pelo laboratório de análises de solo da
UFRGS, Faculdade de Agronomia, conforme metodologia descrita por Tedesco et al. (1995).
A amostra do solo em que foi feita a adubação em linha
foi realizada na mesma profundidade de 0 a 10 cm, com o
mesmo trado calador especial que facilita a estratificação
do perfil. Nesses tratamentos as amostras foram coletadas
na linha e na entrelinha, aproximadamente 07 a 08 cm da
linha, na intensidade de 01 amostra de cada lado da linha
e 01 na linha. A adubação de correção de fertilidade foi
feita com base nos resultados da análise de solo, utilizandose uma formulação de NPK na relação 05:20:20, sendo aplicada a quantidade de 400 kg ha-1, seguindo o sistema de
aplicação recomendado em cada tratamento.
Os tratamentos utilizados foram: T1 – metade do fertilizante em linha e metade a lanço com semeadura em linha (FlilaSli); T2 – fertilizante em linha com semeadura
em linha (FliSli); T3 – fertilizante a lanço com semeadura
em linha (FlaSli); T4 – semeadura a lanço com adubação
a lanço e solo escarificado superficialmente (FlaSlaE).
As espécies semeadas foram o azevém comum (Lolium multiflorum Lam.) – 30 kg ha-1, trevo branco (Trifolium repens L.) cv. BR-1-Bagé – 3 kg ha-1, cornichão (Lotus corniculatus L.) cv. São Gabriel – 12 kg ha-1 e trevo
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AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE ADUBAÇÃO NO ESTABELECIMENTO DE FORRAGEIRAS CULTIVADAS
COM SEMEADURA DIRETA EM CAMPO NATURAL
vermelho (Trifolium pratense L.) – 6 kg ha-1. A semeadura e a aplicação do fertilizante em linhas foram realizadas com uma máquina de plantio direto modelo “Fundiferro” com espaçamento entre linhas de 17,5 cm e profundidade de trabalho de 5 cm. A semeadura e a adubação a lanço foram realizadas manualmente. As leguminosas foram inoculadas com o Rhizobim específico. Não
foi feita aplicação de calcário.
O delineamento utilizado foi de blocos completos ao
acaso, com quatro repetições. Foram utilizadas parcelas
de 3,6 x 5,0 m. As avaliações de matéria seca produzida
foram realizadas nas seguintes datas: 17/08/98, 14/10/
98, 07/06/99, 05/08/99 e 14/10/99. Essas avaliações foram efetuadas coletando-se a forragem através de cortes
a uma altura de 2,5 cm do nível do solo, quando as plantas em um dos tratamentos apresentavam uma altura
média de 20 cm, sendo as amostras secas a 65ºC por 48
horas. A composição botânica foi determinada por separação manual das espécies. As variáveis analisadas foram a produção de matéria seca (MS) total e fósforo
disponível no solo. As diferenças entre tratamentos foram avaliadas pelo teste de Tukey.
Resultados e discussão
Em todos os tratamentos, a produção de matéria seca (MS)
aumentou do primeiro para o segundo ano (figura 1). Os dados mostram que o tratamento com semeadura em linha, com
metade da adubação em linha e metade a lanço (T1), apresentou a maior produção em todos os cortes e no total anual dos
dois anos, exceto no corte de 14/10/99, quando a maior produção foi determinada no tratamento com semeadura em linha e adubação em linha (T2). Entretanto, os tratamentos T1
e T2 nunca diferiram nos dois anos de avaliação. A maior
produção para esses tratamentos deve-se, provavelmente, à
Tabela 1 - Teores de Fósforo* no solo nos anos de 1998 a 2000.
Tratamento
Profundidade
Cm
1998
mg dm-3
2000
T1 - Semeadura em linha / 1/2
fertilizante a lanço1/2
fertilizante em linha
0-5
5 - 10
0 - 10
2,5
1,9
1,9
23,0
5,5
15,0
T2 - Semeadura em linha /
Fertilizante em linha
0-5
5 - 10
0 - 10
2,3
2,0
2,6
24,3
7,6
19,2
T3 - Semeadura em linha /
Fertilizante a lanço
0-5
5 - 10
0 - 10
0-5
5 - 10
0 - 10
2,3
2,0
2,6
2,5
2,9
2,9
5,3
3,4
4,3
5,7
6,3
5,4
T4 - Semeadura a lanço /
Fertilizante a lanço
* Extração com extrator Mehlich I (Tedesco et al., 1995).
maior disponibilidade de fósforo no perfil do solo, como observa-se no resultado das análises de amostras retiradas na
profundidade de 0 a 10 cm na superfície do solo (figura 4).
Na literatura revisada não foram encontrados relatos de comparações com a utilização de tratamentos semelhantes aos
utilizado no experimento. Entretanto, em outros trabalhos,
utilizando misturas de forrageiras de ciclo inverno/primavera
ou de comportamento semelhante, foram obtidas respostas
similares, isto é, aumento de produção do primeiro para o
segundo ano, (CULLEN,1971; SHEARD et al.,(1971); OLIVEIRA, 1976, e LOBATO et al., 1986).
No ano de 1998, o tratamento com semeadura em linha e adubação a lanço (T3) produziu um total de 3.620
kg de MS ha-1 e o tratamento com semeadura e adubação
a lanço (T4), 2.380 kg de MS ha-1; em 1999 ocorreu o
inverso, o tratamento T4 produziu 5.920 kg de MS ha-1e
o tratamento T3 produziu 5.300 kg de MS ha-1. Entretanto, em ambos os anos essas diferenças não foram significativas (figura 1).
Valores seguidos de letras diferentes num mesmo ano, diferem significativamente (P<0,05).
T1 = FlilaSli; T2 = FliSli; T3 = FlaSli; T4 = FlaSlaE
Figura 1 - Efeito de tratamentos sobre a produção de matéria seca nos dois anos e total.
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O estudo da composição botânica da pastagem no
primeiro ano (figuras 2 e 3) indicou que o azevém e o
trevo vermelho apresentaram maior contribuição em todos os tratamentos, sendo a maior presença do trevo vermelho observada nos tratamentos T1 e T2. Essas duas
espécies, além de bem adaptadas a uma amplitude de
condições de solo e clima, normalmente apresentam sementes com elevado poder germinativo e vigor, o que
favorece um rápido estabelecimento já no primeiro ano
da pastagem. O trevo branco, ao contrário, germina lentamente no ano do estabelecimento, por apresentar sementes pequenas com pouca reserva para um rápido crescimento inicial, e apresentando também um considerável percentual de sementes dormentes devido à dureza
do tegumento, as quais podem germinar somente no se-
gundo ano. Além disso, essa espécie requer maior fertilidade do solo, principalmente altos teores de matéria orgânica e a eficiência na utilização do fósforo, que é muito baixa (SCOTT, 1976).
Pastagens com espécies similares às utilizadas no experimento, em condições de solo e de clima similares, levam
de 100 a 120 dias para se estabelecerem, utilizando-se o
método convencional de preparo de solo, isto é, com a escarificação da camada superficial, adubação e semeadura a
lanço. O tratamento T1, com semeadura em linha e metade
do fertilizante em linha e metade a lanço (figura 1), possibilitou o estabelecimento da pastagem em apenas 82 dias, o
que antecipa o uso da pastagem em 20 a 40 dias. A metodologia de distribuir todo ou parte do fertilizante na linha e
parte na entrelinha mostrou ser eficiente, considerando que
T1 = FlilaSli; T2 = FliSli; T3 = FlaSli; T4 = FlaSlaE
Figura 2 - Efeito de tratamentos sobre a composição botânica da pastagem nos anos de 1998 e 1999.
Valores seguidos de letras diferentes num mesmo ano, diferem significativamente (P<0,05).
T1 = FlilaSli; T2 = FliSli; T3 = FlaSli; T4 = FlaSlaE
Figura 3 - Efeito de tratamentos sobre a composição botânica da pastagem. Média de dois anos.
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AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE ADUBAÇÃO NO ESTABELECIMENTO DE FORRAGEIRAS CULTIVADAS
COM SEMEADURA DIRETA EM CAMPO NATURAL
pastagens de inverno/primavera devem ser estabelecidas o
mais rápido possível no outono quando ainda existe luminosidade associada à temperatura adequada.
No segundo ano, os tratamentos T1 e T2 (figuras 2 e 3)
apresentaram aumento da presença de trevo vermelho, trevo
branco e espécies forrageiras nativas; por outro lado, tanto
o azevém como as invasoras ou indesejáveis decresceram.
Esse fato já era esperado, considerando-se que o ciclo de
crescimento do azevém é anual bem como da maioria das
invasoras, ao contrário das demais espécies utilizadas, que
são de ciclo mais longo ou perenes, como é o caso do trevo
branco, cornichão e forrageiras nativas. A presença de trevo vermelho, cujo ciclo é bienal e de rápido estabelecimento, aumentou do primeiro para o segundo ano nos tratamentos T1 e T2, mas diminuiu nos tratamentos T3 e T4,
com o aumento da presença do cornichão. O trevo branco
foi a única espécie que aumentou do primeiro para o segundo ano em todos os tratamentos, o que normalmente
ocorre devido, principalmente, ao seu lento estabelecimento
no primeiro ano, conforme as características descritas anteriormente. Por outro lado, o azevém foi a única espécie
cultivada que diminuiu do primeiro para o segundo ano,
em todos os tratamentos e praticamente não foi influenciada pelo método de aplicação do fertilizante nem pelo
método de semeadura (figuras 2 e 3).
As maiores produções expressadas principalmente pela
maior presença das espécies cultivadas, azevém no primeiro ano e trevo vermelho do primeiro ano para o segundo,
apresentam boa resposta à adubação fosfatada, dependendo do método de aplicação do fertilizante, como mostram
os resultados na figura 4, onde o nível de P disponível foi
sempre mais elevado nos tratamentos T1 e T2 (adubação na
linha, parcial no T1 e total no T2). O trevo branco apresentou maior presença nestes tratamentos, creditada ao maior
nível de fósforo disponível em ambos e, provavelmente, à
melhor distribuição do fertilizante, tanto na superfície como
no perfil do solo. Nesses tratamentos, o fertilizante foi incorporado, principalmente, na camada de 0-10 cm da superfície do solo em linhas espaçadas de 17,5 cm (figura 4).
Apresença de invasoras (Ciperus spp., Plantago sp.,
Eragrostis plana – Capim Annoni) diminuiu do primeiro
para o segundo ano nos tratamentos com adubação na
linha, principalmente, devido à competição com os trevos vermelho, branco e azevém; o contrário foi observado nos tratamentos T3 e T4, onde aumentaram a presença (figuras 2 e 3). Nesses tratamentos, o fertilizante foi
distribuído todo a lanço na superficie do solo, diminuindo a presença das espécies cultivadas do primeiro para o
segundo ano, com exceção do cornichão, que aumentou,
porém com baixa densidade. A diminuição da competição pelas espécies cultivadas proporcionou o aumento
da ocorrência das espécies nativas e indesejáveis.
Conclusões
As maiores produções de forragem foram obtidas nos
tratamentos com aplicação de metade do fertilizante em
linha e metade a lanço e com semeadura em linha (T1) e
com aplicação do fertilizante e semeadura em linha (T2),
tanto no primeiro como no segundo ano, com a presença
expressiva das leguminosas, minimizando a competição
das gramíneas.
Os teores de fósforo disponível na profundidade de
0-10 cm do solo foram sempre superiores nos tratamentos T1 e T2, assegurando um rápido estabelecimento da
pastagem com a maior presença das leguminosas.
O trevo vermelho aumentou sua contribuição na composição da matéria seca do primeiro para o segundo ano
nos tratamentos T1 e T2, onde a disponibilidade do fertilizante foi maior na profundidade de 0-10 cm do solo.
Valores seguidos de letras diferentes num mesmo ano, diferem significativamente (P<0,05).
T1 = FlilaSli; T2 = FliSli; T3 = FlaSli; T4 = FlaSlaE
Figura 4 - Teores de P disponível no solo na camada de 0 a 10 cm de profundidade em 1998 e em 2000.
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ODONI LORIS PEREIRA DE OLIVEIRA, EVANDRO NEVES MUNIZ, THÉRCIO M. S. FREITAS, EVANDRO ZACCA FERREIRA
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PESQ. AGROP. GAÚCHA, PORTO ALEGRE, v.13, n.1-2, p.137-142, 2007.
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