14 de martelo de 1375 - Os Cavaleiros da Costa

Transcrição

14 de martelo de 1375 - Os Cavaleiros da Costa
14 D E M A R TE LO D E 1375
14 de martelo de 1375
É m anhã cedo agora. O sol ergueu-se no horizonte a pouco tem po atrás, m as já
estam os em movim ento. O inverno castigou a paisagem durante a noite com sua rajada
cortante de neve, m as agora o sol parece curar as feridas do solo e a neve aos poucos
derrete e dá lugar à grama e às pedras. O frio, porém , continua. O vento tam bém .
A pós m ais um ano enclausurado em m inha torre em Iriaebor, sentindo-me
extrem am ente entediado e cansado de tantos estudos e pesquisas em tom os antigos e
em poeirados, recebi um a carta de M ourgram, na qual solicitava a m inha presença em
Beregost. N ão necessito dizer que m e senti m uito ansioso em colocar-m e novam ente na
estrada, depois de tanto tem po de reclusão. A lém disso, as am izades adquiridas em
m eio a tantos perigos fizeram com que eu tivesse um motivo a m ais para ir até lá.
A final, nunca m ais havia visto M ourgram e os outros. Portanto, na m anhã do outro
dia já estava a cam inho do pequeno vilarejo.
N ão dem orei muito para chegar até lá, um a vez que disponho de um a m ontaria
superior a qualquer outro ser vivo capaz de conduzir alguém pela estrada. M inha
m ontaria arcana fez com que um a viagem que norm alm ente duraria um a sem ana
durasse apenas três dias.
Cheguei em Beregost no dia 4 de M artelo. Confesso que exagerei um pouco em
m inha aparição, m as tanto tem po de estudo e esforço contínuo no m anejo da A rte não
podem passar despercebidos...
E ncontrei M ourgram na com panhia de outro hom em . U m sujeito um tanto
pitoresco, graças ao seu porte físico intim idante e a cicatriz no rosto, atravessando o
olho esquerdo em um a trajetória vertical incerta, o que dava a ele um a aparência ainda
m ais duvidosa. M ourgram m e apresentou seu hóspede com o sendo H agen, um clérigo de
Tem pus vindo da distante Fortaleza de Ferro, o tem plo de sua divindade, localizado
nos arredores do agora ruído Castelo Lança D racônica. E le m ostrava um ar
preocupado, com o se tivesse um a notícia ruim a dizer.
Para m inha surpresa, antes de ele m e dizer o que o trazia ao pequeno vilarejo,
pude notar a chegada de outro visitante. Trazido por um a carruagem luxuosa e
escoltado por dois capangas congelados de frio e em briagados de vinho, eis que vi
chegar Indrid Cold, provavelm ente de sua taverna em Á guas Profundas. Foi bom revêlos novamente, depois de tanto tem po...
H agen parecia im paciente para contar-nos o que trazia consigo desde o seu
tem plo. Com o se quisesse livrar-se de um peso que houvera carregado por um a longa
distância. Finalm ente nos contou que viera pedindo por ajuda, visto que tivem os certo
reconhecimento entre os clérigos de seu tem plo depois de cum prir-lhes um a m issão.
Contou-nos entre gagueiras e sussurros que as pessoas das redondezas estavam
m orrendo, vítim as de um fenômeno estranho. Elas pareciam entrar em com bustão sem
qualquer motivo aparente. Confesso que m e senti sem respostas. N unca ouvira nada
parecido com isso em todas as m inhas experiências ou estudos. Propus que eu estudasse
o caso na grande biblioteca do Tem plo de Lathander onde estávam os, ao que todos
consentiram .
M eus estudos duraram exatam ente nove dias, e nesse tem po pude ler relatos
interessantes sobre casos sem elhantes ao narrado por H agen. Tratava-se de
m anifestações sobrenaturais, causadas pela presença de forças provindas de outros
planos de existência. Com ecei então a ligar os pontos, a costurar hipóteses e intuições,
concluindo que a presença de um portal ligado ao 4º círculo do inferno, localizado nas
ruínas do Castelo de D aerus, seria provavelm ente o responsável por tais fenôm enos.
Lem brei, porém , que fom os nós que acham os a chave desse portal e o selam os,
entregando-a para os m esm os clérigos que enviaram H agen ao nosso encontro. Lem brei
tam bém que o local estava na época sob o com ando de drow s, o que trouxe para o caso
m ais um a hipótese: É sabido entre os estudiosos que os drow s m antêm bom contato
com seres extraplanares m alignos. Concluí que, talvez, eles houvessem retornado ao
local e aberto outro portal nas proxim idades, liberando criaturas de poder considerável,
o que estaria causando a m orte de pessoas inocentes. N ão podia dizer nada ao certo,
eram apenas especulações. A inda são. Porém , para saber ao certo o que estava
acontecendo, teríam os de ver com nossos próprios olhos. Por isso estam os na estrada.
A ntes de partir, porém, Tronur, o velho ancião responsável pelo templo de
Lathander de Beregost, nos presenteou com um a m agnífica espada longa, cravejada de
jóias no cabo e de um fio inacreditavelmente m ortal. Sua lâm ina fora cuidadosam ente
forjada e envolta em m agia, o que se percebe pelo brilho pálido e suave que em ana dela
como reflexos de luz em um a bacia de prata polida. H agen tam bém recebeu uma
arm adura de cota de m alha com o proteção, visto que levava consigo apenas um
m achado e um escudo. Parecia entusiasm ado com o que recebera, e eu pude ver o
quanto estava ansioso para pô-la em prática. U m novato, pensei com igo, talvez um
estorvo para a viagem , m as não podia negar que sua fisionom ia mostrava o quanto
houvera praticado a arte do com bate em algum lugar qualquer, e sua cicatriz m ostrava
não um ferim ento, m as um troféu.
Partim os no dia seguinte, logo pela m anhã, com a carruagem de Indrid
arrastada por Rothés e guiada por M ourgram. O dia foi calmo e de sol, com o tem sido
nos últim os dias, m as o vento frio e a neve que se derretia aos poucos dificultaram o
início da viagem. A o fim do dia, encontrávam o-nos exaustos, porém felizes de estarm os
m ais um a vez viajando em grupo, relem brando os velhos tem pos de aventuras e os
perigos pelos quais passam os. Com o pôr-do-sol, a nevasca retomou seu castigo sobre a
terra de form a intensa. O vento soprava violento com o ondas quebrando na encosta de
um penhasco e ruidoso com o um grito de guerra. D ecidim os passar a noite à beira da
estrada, dorm indo dentro da carruagem , e revezando a vigília noturna entre nós.
H agen foi o prim eiro a sair da carruagem e iniciar a vigilância. Seu capuz de inverno se
inflou de vento quando botou a cabeça para fora da carruagem e encheu-se de neve
grossa. A noite seria fria.
N ão lem bro m uito do que aconteceu depois. Sim plesm ente peguei no sono no
interior do veículo, e não sei o quanto dorm i, quando fui acordado por sons de aço
retinindo e grunhidos estranhos do lado de fora da carruagem . A bri os olhos e vi
M ourgram saindo porta afora com sua grande espada em punhos, e Indrid aprontando-
se para a batalha de igual form a. Instintivamente, conjurei um a m agia de proteção e
m e dirigi para fora com os outros.
O que vi m e surpreendeu um bocado: H agen estava parado, ainda em posição de
com bate, o braço sangrando, assim com o a lâmina de seu m achado. Ao seu redor, cinco
corpos de orcs encontravam -se estirados com profundos cortes na cabeça e no pescoço.
O clérigo arquejava, a respiração tão ofegante que se podia ouvi-la m esmo com o
assobio selvagem do vento. O rosto contraído de dor e fúria. A testa banhada em suor,
m esmo com a neve a castigar sua pele. Os olhos brilhavam intensam ente, com o se o
próprio Tem pus lhes houvesse ateado fogo e enrijecido seu corpo. U m iniciante, m as
não tão indefeso quanto eu julgara.
Concluímos então que se tratava de saqueadores das redondezas e, após um a
breve inspeção pela área, voltam os para dentro da carruagem. Revezam os nossos
turnos de vigília, m as não fomos m ais im portunados pelo resto da noite. H agen dorm iu
profundam ente, como se a pequena batalha tivesse exaurido toda sua energia.
A aurora chegou para confortar-nos depois um a noite de sono desconfortável e
dissipar a neve com seus raios de sol. M ourgram e H agen realizaram suas preces
m atinais, enquanto eu realizei m eus estudos arcanos. Logo após, partim os novamente.
Chegamos, finalmente, ao ponto em que m e encontro agora. Sentado no interior
da carruagem , a escrever em m eu diário, enquanto Indrid m e observa atentam ente e
fum a seu cachim bo. Gostaria de saber o que está pensando...N ão, pensando bem , não
gostaria nem um pouco de saber. M ourgram e H agen estão lá fora, conduzindo a
carruagem enquanto conversam em voz alta. H agen parece anim ado com o com bate da
noite anterior, porém , garanto que ele não faz a m ínim a idéia do que ainda tem os pela
frente...
E LORFA N VA L’SÍRIA R
A
FROLE N A
V S
L IRIAR

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